Você está na página 1de 435

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © 2022 Isabella Silveira

Todos os direitos reservados


 
 
Capa: Thainá Brandão
Revisão: Mariana Acquaro
Diagramação: Isabella Silveira
 
 
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
 
É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma ou quaisquer meios
eletrônicos, mecânico e processo xerográfico, sem autorização por escrito dos editores.
 
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo
184 do Código Penal.
SUMÁRIO

PLAYLIST

SINOPSE

NOTAS DA AUTORA

PRÓLOGO

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11

CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 32

CAPÍTULO 33

CAPÍTULO 34

CAPÍTULO 35

CAPÍTULO 36

CAPÍTULO 37

CAPÍTULO 38

CAPÍTULO 39

CAPÍTULO 40

CAPÍTULO 41

CAPÍTULO 42

CAPÍTULO 43

CAPÍTULO 44

CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46

CAPÍTULO 47

CAPÍTULO 48

CAPÍTULO 49

CAPÍTULO 50

CAPÍTULO 51

CAPÍTULO 52

CAPÍTULO 53

CAPÍTULO 54

CAPÍTULO 55

CAPÍTULO 56

CAPÍTULO 57

CAPÍTULO 58

CAPÍTULO 59

EPÍLOGO

AGRADECIMENTOS

ENTRE EM CONTATO

SOBRE A AUTORA

CONHEÇA AS MINHAS OUTRAS OBRAS


 
Para ouvir:
1 | Abra o app do Spotify;
2 | Vá na aba Pesquisar;
3 | Toque sobre o ícone da câmera;
4 | Aponte para o código abaixo:
 

 
Aproveite!
 
Milionário, ardiloso, cafajeste e poderoso como nunca, Alex Zur está de
volta para reconquistar tudo o que perdeu anos atrás. Acostumado a ter o
mundo a seus pés, sua obsessão por vingança só perde para o desejo insano
de ter de volta a única mulher que amou, Laura Morais.
 
Laura é uma jovem boa e generosa que ainda precisa lidar com a depressão
ocasionada por traumas do passado. E em uma reviravolta do destino se vê
obrigada a aceitar um contrato de casamento falso, oferecido pelo pior
inimigo do seu pai, e torcer para que assim consiga ajudar a sua família.
 
Ele passou anos planejando minuciosamente como destruir o seu maior
inimigo e reconquistar a única mulher que amou. Agora, precisa descobrir
como não se perder em uma história de vingança, poder e paixão.
 
 
Olá, goxtosa (o),
 
Obrigada por ter optado pelo livro: A Obsessão do CEO Grego – Um
contrato com a virgem! Esse livro é muito especial para mim. Lançado
anteriormente na Amazon com o nome Meu Infinito ele foi a minha
segunda história publicada, e senti em meu coração que precisava revisitá-la
e repaginá-la. Essa nova versão ganhou 20 novos capítulos e algumas coisas
foram alteradas no percurso para deixar o texto mais fluido e não ter
nenhum tipo de erro de continuidade.
Apesar de não ser um livro dark, aqui tratamos de um drama que pode lhe
trazer alguns gatilhos:
- Tentativa de suicídio
- Depressão
- Uso de substâncias como remédios e Álcool
- Violência física
Essa história é intensa, mas ao mesmo passo que é muito bonita! Espero
que você possa aproveitar esse tempo com esses personagens incríveis, e
que goste desse livro tanto quanto eu.
Ah! E se você achar que eu mereço, avalie o livro, por favor, evitando
spoilers. Isso ajuda muito os autores iniciantes.
PS: Caso você tenha pego essa obra de forma ilegal por qualquer outro
meio que não seja a Amazon/Kindle Unlimited, saiba que esse tipo de
compartilhamento não foi autorizado por mim e dessa forma, atrapalha o
meu trabalho, além de ferir os meus direitos.
Aproveite,
 
Com amor, Isabella Silveira.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico esse livro para todos que estão
lutando para sair da depressão assim como eu.
O sol brilhará, e se ele ainda não brilhou,
não chegamos no fim. Confia!
 
 
 
Sentado à mesa na sala de reuniões, eu não consigo disfarçar o meu
descontentamento.
Todos já estão sentados em seus devidos lugares, inclusive o cuzão
do Otávio, que parece ansioso e trêmulo ao olhar em minha direção. Bom,
todos estão na sala de reuniões, menos ela, a razão de todo esse teatro, e o
motivo pelo qual eu preciso cumprir a minha vingança. Foi por isso que eu
voltei depois de tantos anos, disposto a acabar com a vida de quem tentou
acabar com a minha.
Laura Morais não está presente, isso começa a me irritar, afinal,
Rodrigo garantiu que ela estaria aqui. Algum idiota começa uma
apresentação, mas meu foco total é no relógio, que completa voltas e voltas
enquanto a ruivinha não chega. Me sinto patético, e quase pergunto onde ela
está para os outros presentes na reunião, mas contenho meu impulso assim
que escuto a porta se abrir.
Laura entra a passos rápidos, parecendo envergonhada pelo atraso e
eu não consigo desviar meus olhos da ruivinha. Ela se tornou ainda mais
confiante, sexy e insanamente linda.
Como isso pode ser possível?
É claro que eu vi fotos, vídeos e todo tipo de coisa sobre ela antes de
chegar a São Paulo, mas nada me preparou para olhar em seus olhos
novamente e ver que, apesar de ter se transformado em uma mulher linda,
ela ainda se parece muito com a minha menina de dez anos atrás. Minha.
Um anjo de olhos azuis e cabelos vermelhos, que agora estão mais
compridos, quase acima de sua bunda, mas apesar dos cabelos longos,
Laura continuou pequena e delicada. Não consigo desviar o meu olhar de
seu corpo, e assim que ela pede desculpas pelo atraso, sinto meu pau se
manifestar dentro da minha calça apertada.
Isso é demais para mim, e mesmo sabendo que tenho um plano a
cumprir, a parte que mais me dará prazer não será mais acabar com o
desgraçado do Otávio Morais, e sim, me casar com a sua princesinha. Isso
sim, eu farei com muita satisfação.
 
 

 
Uma garota de quatorze anos tem as suas prioridades naturais.
A minha, obviamente, não era tão comum quanto as de todas as
outras garotas da minha idade, e eu juro que não estou fazendo um
tremendo drama quando digo isso. Afinal de contas, quando os meus pais
falam que não sou todo mundo, eu provavelmente deveria acreditar.
Todas as outras garotas dessa idade, paulistas, com perfeita saúde
física e mental são repletas de amigos, frequentam festas com alguma
frequência e já tiveram algum contato com garotos. Já eu, estudei a minha
vida inteira em um colégio interno religioso, no interior, livre de qualquer
pessoa do sexo masculino. Literalmente! Até a porteira era mulher, então,
realmente as coisas eram… complexas.
Mas, agora tudo vai mudar!
O ensino médio chegou, finalmente, e eu não poderia estar mais
animada para ir para o exclusivo, temido e pouco falado, Elite
Internacional. Minha família inteira estudou nesse pequeno antro elitista e,
aparentemente, eu sou o legado do legado, o que obrigou o meu pai a me
matricular para cumprir certas "convenções sociais". Graças a Deus.
A competição realmente é muito incentivada por ali, e querendo ou
não, dentro da minha família eu nunca posso "perder". Meu objetivo para o
exame de admissão é, e sempre foi, obter uma nota alta para poder estar na
classe A, primeira seção, a qual pertencem os alunos mais inteligentes, que
possuem as melhores oportunidades e os melhores contatos quando nos
formarmos. Pelo menos, foi o que me disseram.
— Você tem que obter uma nota maior do que noventa em seu
exame de admissão. Só assim, você entra na primeira seção, onde estão os
melhores, é lógico! — minha irmã, Gabriela, não para de me dizer isso. Se
é para me incentivar ou me amedrontar eu ainda não descobri. — Eu só
consegui oitenta e sete, por isso, estive na segunda seção em meu primeiro
ano, e fiquei presa nela até meu último ano. Ter estudado no colégio interno
não me ajudou em nada, então, pelo amor de Deus, não siga o meu exemplo
e arrase no exame amanhã.
Como mais uma garfada do meu jantar, ignorando completamente o
que ela diz. Não é como se eu fosse ficar batendo boca sobre isso, até
porque, em uma discussão, minha irmã mais velha sempre ganha, já que me
perco nos argumentos e começo a chorar de frustração.
Gabriela acabou de terminar os estudos, e por algum milagre,
conseguiu uma vaga em uma Ivy League, para a felicidade de toda a
família, calando a boca das tias fofoqueiras. Pronta para dedicar o resto da
sua vida a se preparar para assumir a administração das empresas de papai,
seu direito por ter nascido primeiro. Pelo menos, é isso que ela diz para si
mesma para aceitar esse fardo que eu de maneira nenhuma gostaria de ter
para mim mesma. Gabriela tem uma postura perfeita para isso, preciso
ressaltar, depois de tanto tempo se preparando para tal feito. Extrovertida,
bonita, ambiciosa, impaciente, inteligente e altamente consciente do status
que temos. Assim como o papai.
Eu os chamo de soberbos em meus pequenos devaneios. Mas,
obviamente, eles não sabem disso.
— Gabriela, chega de pressionar sua irmã. Laura sempre foi uma
garota muito inteligente. Tenho certeza de que ela pode conseguir pegar a
primeira sessão facilmente. E não se esqueça de que ela também foi para o
internato no primário. — minha mãe diz, e recebe o apoio do meu pai,
Otávio Morais, um dos homens de negócios mais ricos do Brasil.
Por algum motivo isso não me motiva, apenas aumenta o meu medo
de falhar.
É difícil sempre ter que se provar, a todo momento.
 
 
Dois dias depois, observo Joaquim, o motorista, dar partida no carro
e entro no prédio do Elite suando frio. Se em uma prova para entrar no
ensino médio estou desse jeito, não imagino como vai ser a minha
performance na faculdade, isso me faz tremer só de pensar.
Bom, é agora ou nunca, não é? Será que dá tempo de eu me
esconder dentro de algum armário e fingir que fui sequestrada?
Procuro onde será a minha sala e entro, quase uma hora antes do
início. Sei que cheguei cedo, mas ficar em casa, com Gabriela me
enlouquecendo, estava fora de cogitação. Literalmente, tive até um caso
sério de piriri antes de vir para cá, e eu nunca tenho esse tipo de problema,
já que meu intestino é preso pra caramba.
Quase cinquenta calouros, amontoados em um auditório abafado. O
que há de errado com esse ar-condicionado? Recebo a prova e começo a
suar. A mensalidade daqui é um absurdo, deveria ter o mínimo de estrutura,
afinal, vamos passar seis horas do nosso dia nesse auditório, respondendo
mais de cento e oitenta questões! Meu Jesus Cristinho, serão só dois
minutos por questão, se o lápis ficar escorregando da minha mão porque eu
estou suando vou perder tempo demais e não vou conseguir terminar essa
prova. Minhas mãos começam a tremer e eu não consigo me concentrar.
Que pânico!
Um adolescente de cabelos castanhos e olhos azuis elétricos se senta
bem ao meu lado, e eu fico um pouco incomodada com a sua proximidade.
Além de ser bonito de um jeito desconcertante, o cara não para de bater o
lápis em sua mesa e, mesmo não sendo tão alto, isso distrai minha
concentração.
— Ei, qual é sua resposta para a questão número dois? — Ele me
pergunta, em um tom debochado. O ignoro, com a testa franzida.
Que descaramento! Colar durante o exame de admissão é o melhor
exemplo de como ser expulso sem nem entrar na escola.
Finjo não ouvir e continuo fazendo a minha prova, como se ele não
existisse. Deus me proteja de ser humilhada na frente de toda a escola
porque fui pega colando. Socorro.
Um exame gigantesco, mais um teste de QI e um de raciocínio
abstrato. Aparentemente, eles estão testando também o nosso instinto de
sobrevivência e a capacidade de ficar milhares de horas sem comer, já que
no edital estava escrito que é proibido trazer qualquer tipo de comida.
Bom, mas ninguém disse nada sobre beber, não é?
Tiro da minha bolsa um Toddynho salva vidas, bebendo quase tudo
em uma golada só, morrendo de fome. E engasgo. Puta merda, que coisa
horrível! Isso não pode estar certo. Definitivamente.
Olho a data de validade e meus olhos saltam das órbitas. Vencido há
três meses. Só pode ser brincadeira. Está mais do que azedo, e, assim que
ele chega em meu estômago, eu tenho certeza de que vou vomitar. É isso, a
humilhação veio sem eu precisar me preocupar com qualquer outra coisa,
muito menos, colar de alguém durante o exame. Termino de fazer o teste
com a maior pressa que um ser humano nessa situação pode ter, e quando
eu finalmente entrego as minhas folhas, saio correndo para o banheiro,
pronta para colocar tudo para fora.
Infelizmente, havia alguém que não estava com a mesma pressa que
eu, e só percebo quando sinto o impacto. Bato com tudo em uma parede
macia e quase caio de bunda no chão, cambaleando alguns passos para trás,
desnorteada.
— Ei, qual é a pressa, ruivinha? — O mesmo menino que estava
sentado ao meu lado durante o exame pergunta, e eu não consigo nem
disfarçar o meu ranço. Olho fixamente para ele e fico surpresa com o que
vejo. Onde antes havia uma testa franzida, agora há sobrancelhas arqueadas,
espantadas com a aparência do menino. Ele não é bonitinho, é
impressionantemente lindo. Alto, magro, com um corpo levemente atlético.
De repente, fico abobalhada e não consigo me mexer.
— Ainda fingindo não me ouvir? Que desperdício, o gato comeu a
sua língua? — ele ri.
Aff. Que babaca! Com certeza, está irritado por eu não ter passado
as respostas do exame. Não é minha culpa se ele é burro e não consegue se
virar sozinho. Eu hein!
Minha raiva aumenta de zero a cem de uma forma muito rápida. Eu
estou prestes a dar-lhe um sermão de boas maneiras e conduta quando, de
repente, meu estômago se torce e náuseas me atingem.
Ai, meu Jesus Cristinho!
É nessa hora que a pior coisa do mundo acontece: eu não consigo
mais segurar meu vômito e despejo tudo em cima de sua camisa.
— Puta merda! — Ele exclama em estado de choque.
MEU DEUS! O que eu fiz?
Fico tão envergonhada que imediatamente o deixo no corredor e corro
em direção ao banheiro feminino, desejando que o chão se abra nesse
momento e me engula lá para o fundo.
Eu realmente espero nunca mais ver esse garoto novamente.
 

 
Observo a fachada do colégio Elite Internacional e reviro os olhos
antes de entrar. Como bolsista, eu preciso todos os anos, religiosamente,
fazer a prova de seleção especial para que os supervisores pobres, que não
têm cacife para colocar os filhos no colégio, tenham certeza de que eu sou
bom o suficiente para me misturar aos filhos dos mais ricos de São Paulo.
Sim. É isso que eu preciso aguentar para que a minha educação seja
perfeita, e todo o tipo de coisas que a minha mãe está disposta a argumentar
todas as vezes em que eu me sinto desmotivado com as patricinhas, que
faltam chorar porque quebraram uma unha.
Estudar, jogar basquete e ainda fazer uns bicos no fast food durante
o fim de semana. Essa é a minha vida.
Entro no auditório lotado de calouros que parecem tremer mais do
que vara verde, e abro um sorriso faceiro para a Alexia, a morena por volta
dos trinta anos, coordenadora da escola, que está sempre muito disposta a
conversar comigo.
— De novo aqui, Martins? — ela pergunta, e eu dou de ombros,
antes de pegar a minha prova, feita especialmente para os bolsistas.
— Aparentemente, eu preciso ter a melhor nota de toda a escola. Por
mais um ano seguido… — digo brincando, e ela adota as bochechas
vermelhas que eu gosto tanto — você sabe, tenho um recorde a bater.
— Exibido! Vai se sentar. — ela diz com um aceno de mãos, e eu
vou até um dos únicos lugares vazios, ansioso para terminar essa merda e
me mandar daqui.
Uma ruivinha, caloura, me chama a atenção e começo a reparar em
como ela fala sozinha, murmurando palavras de incentivo para si mesma
durante toda a prova. Apesar de serem difíceis, as provas do Elite nunca são
extraordinárias, e enquanto batuco o lápis, fazendo a conta de matemática
na minha cabeça, percebo que ela simplesmente não consegue disfarçar o
descontentamento.
O que torna tudo, obviamente, muito mais interessante.
— Ei, qual é sua resposta para a questão número dois? — pergunto,
sem conseguir me controlar.
Nem estamos fazendo a mesma prova, isso nunca daria nenhum tipo
de problema, mas mexer com ela, além de observá-la, passou a ser algo
extremamente prazeroso nessa tarde quente e insuportavelmente tediosa.
A ruivinha escuta e resolve me ignorar, mas como seria sacanagem
continuar a importuná-la, resolvo deixar esse tipo de distração para lá. É
melhor chegar em casa e jogar meu lolzinho, ou qualquer outro tipo de
coisa, do que ser responsável pela desgraça alheia.
Nem sou um cara ruim para ficar mexendo com a menina a ponto de
ela ir mal na prova. Apesar de que ela é uma gatinha, isso não dá para
negar.
Termino o teste e, depois do tempo aceitável, me levanto, deixando
a prova com Alexia que parece mais interessada em mexer no seu celular do
que em observar os alunos fazendo a prova em pleno sábado.
— Já vou indo. — digo abrindo um sorriso, que ela retribui antes de
completar:
— Agora vai sair com alguma namorada…? — até percebo seu
interesse, mas ignoro, negando com a cabeça.
— Não tenho tempo para isso… hoje vou fazer um freela no
fastfood. — respondo, sem vergonha nenhuma. Tem gente que nasce com
dinheiro, eu nasci com disposição.
— Então, bom trabalho. Até segunda. — ela responde, e eu retribuo
com um sorriso. Caminho ansioso para sair desse antro claustrofóbico,
ainda sorrindo e segundos depois, sou atingido com tudo por alguém
apressado.
Me viro, pronto para xingar o babaca, mas quando vejo a ruivinha
parecendo atordoada, abro um sorriso grande. O universo está de prova que
não fui eu quem comecei a mexer com ela, e sim ela quem praticamente se
jogou em cima de mim.
— Ei, qual é a pressa, ruivinha? — pergunto e a vejo estreitar os
olhos desconfiada.
De lado, ela parecia bonita, mas de frente, observando bem, a
menina é realmente linda. Os cabelos ruivos são diferentes para o Brasil, e
isso a torna totalmente original, mas é o seu rosto angelical e a boca em
formato de coração que rouba a minha atenção.
Ela também parece surpresa e, como quando vejo um olhar
admirado, consigo reconhecer, resolvo provocá-la, para ver até onde isso
pode ir:
— Ainda fingindo não me ouvir? Que desperdício, o gato comeu a
sua língua? — pergunto rindo, e ela estreita os olhos, parecendo não gostar
muito da minha brincadeira.
Antes que eu possa me desculpar, ou fazer qualquer comentário que
mostre que eu não sou um babaca idiota qualquer, ela começa a mudar a sua
expressão, e em um segundo a coisa mais bizarra do mundo acontece:
Eu tomo um banho de vômito.
— Puta merda! — é a única coisa em que eu consigo pensar,
porque, sendo muito sincero, eu nunca imaginei que a ruivinha estivesse
passando mal dessa forma.
Mas antes que eu possa ajudá-la, perguntar se ela está bem ou fazer
qualquer coisa, ela sai correndo, me deixando todo sujo, um pouco confuso
e impressionado.
É. Essa é a primeira vez que eu sou respondido com um jato de
vômito, e sendo honesto, não é nem um pouco interessante.
 

Um mês depois do fatídico dia, eu volto para o colégio, ansiosa para


ter o primeiro dia de aula. Para aumentar um pouco a pressão, eles apenas
enviaram um e-mail falando se fomos aprovados ou não, mas a sua sessão
você só descobre no primeiro dia de aula, como em um vestibular à moda
antiga, o que é bem irritante.
Hoje é o dia em que, oficialmente, sabemos onde vamos ficar e,
principalmente, onde pertencemos. Por isso, saio de casa cedo, sem
conseguir controlar a ansiedade, e me vejo observando várias pessoas e suas
reações, antes de me aproximar para ver em qual lugar da maldita lista eu
estou. Meu coração dispara quando vejo que não fiquei na primeira sessão,
o que vai ser, com certeza, um desapontamento para o meu pai. Fico triste,
mas realmente já era algo esperado, depois do maldito toddynho, então,
tento não me chatear muito. Vou direito para a segunda sessão, mas nada de
achar Laura Morais.
Morais…. Morais... ainda nada.
Onde eles colocaram meu nome?
Eu estava inscrita, fiz o exame de admissão e recebi o e-mail, certo?
Eles não podem ter errado logo agora.
Só me falta ter que voltar para o internato. Acho que prefiro morrer.
Encontro meu nome na terceira seção, a Jade, e fico muito
decepcionada comigo mesma. Queria tanto estar com as pessoas
inteligentes que nem me passou pela cabeça ficar na terceira, e última
classe. Me viro resignada e dou de cara com um menino bonito e sorridente
que derruba todas as minhas coisas no chão com o esbarrão.
— Nossa, me desculpa. — ele se abaixa automaticamente e pega
tudo, me deixando constrangida com a atenção indesejada.
— Está tudo bem, minha culpa também. — respondo, pegando o
material quando ele me oferece e dando licença para os que ainda estão na
missão de procurar o seu nome nas tais listas. Quando foco o olhar em seu
rosto, me pego curiosa pelos seus cabelos castanhos espetados.
— Eu te machuquei? — o menino parece realmente preocupado, por
isso balanço levemente a cabeça em negativa.
— Não, fique tranquilo, eu estou bem. — digo baixo, e ele abre um
sorriso gigantesco que me deixa um pouco envergonhada.
— Você está entrando agora também? — ele pergunta, e eu confirmo
com a cabeça.
— Sim. Na verdade, estou procurando a minha sala. Você sabe onde
fica a sala 203, seção Jade?
— Claro, estou indo para lá agora. Você pode ir comigo, se quiser. —
ele diz indicando o caminho e começamos a caminhar — Ah, e eu sou
Lucas.
— Eu sou Laura. — respondo, aceitando o seu aperto de mão —
Então, vamos estudar juntos?
— Isso. — ele sorri, mostrando seus dentes brancos e certinhos — Se
depender de mim, seremos companheiros em todos os trabalhos. — ele fala,
claramente flertando comigo, e eu não sei o que fazer.
A minha primeira conversa com um menino e eu fico sem palavras…,
mas pelo menos, dessa vez eu não vomitei.
— Ah… Claro. — não consigo conter o meu embaraço, mas sorrio
em resposta.
Ao caminharmos em direção à escada, para subirmos para o segundo
andar, vejo o menino em quem eu acidentalmente vomitei durante o exame
de admissão. Seus olhos me acompanham, olhando diretamente para mim,
seguindo cada movimento meu.
Ele me reconheceu! Ah, mas é claro, depois do estrago que eu fiz
nele, provavelmente está com ódio de mim.
O bonitão passou também. Esse é o segundo pensamento que me
ocorre. No fim, ele não precisava das respostas para conseguir entrar no
colégio, o que me leva a pensar que o menino só queria me desestabilizar de
forma desleal. Fico extremamente irritada, com vergonha e incomodada,
mas apresso o meu passo, antes que ele me alcance.
Para alguém que não sabe absolutamente nada sobre garotos, Lucas é
bem bonito, mas aquele cara é algo à parte. O que quer dizer que eu devo
ficar o mais longe possível dele, depois de toda a vergonha que eu passei.
 

UM MÊS DEPOIS…
 
Posso dizer que o ensino não está sendo nada ruim como Gabriela
tanto reclamou, e eu assisti nos filmes de comédia romântica adolescente.
Na verdade, eu estou adorando.
Estar na terceira seção já não importa mais, agora que eu me adaptei
à dinâmica e fiz amigos. Honestamente, não ter mais aquele peso nas
costas, de ser o melhor em tudo, é libertador. Sou boa no que consigo, e é
isso aí. Claro que todos da minha família terem sido muito compreensíveis
ajudou, depois que souberam dos acontecimentos do dia da prova.
Sinceramente, ter passado mal foi uma ótima desculpa para o meu
resultado.
Ninguém pode me julgar por ter vomitado em um colega de classe
logo depois do exame, não é? Apesar disso, eu prometi a eles que faria o
meu melhor para obter notas altas, e no próximo ano ter uma média
suficiente para ser transferida para a primeira seção.
Grande parte da minha felicidade é porque fiz muitos amigos na
escola. Principalmente, as melhores amigas que alguém poderia ter no
mundo: Fernanda, Sarah e Duda. Nós quatro estamos sempre juntas,
compartilhando todas as coisas que garotas de quatorze anos compartilham:
segredos, músicas, séries, roupas e paixões, é claro. Cada uma tem o seu
motivo, mas o fato de não sermos experientes quando se trata de garotos
nos uniu de uma forma bastante intensa.
Fala sério, eu estudei em um colégio interno durante toda a minha
vida. Se eu não tivesse curiosidade em experimentar coisas novas com o
sexo oposto, eu nem poderia ser considerada normal.
Mas, nem tudo são flores, e a minha lista de micos tem aumentado
dia a dia, seja por alguma gafe que falo, algum tipo de piada que não
entendo, ou por ter apenas convivido com freiras durante toda a minha vida.
Falando em garotos, descobri que o cara irritante em quem vomitei durante
o exame de admissão é primo da Duda, e que eles são praticamente irmãos.
Depois que ela soube do meu pequeno delito, vira e mexe fica me zuando
sobre o "desastre de Igor Martins". Nome trágico que ela usa para se referir
ao momento mais vergonhoso de toda a minha vida.
Sempre que Duda fala sobre ele, todos começam a revirar os olhos,
pelo seu tom maternal orgulhoso, o que nem cabe nessa situação, já que o
tal Igor é mais velho. Mas, não posso ser hipócrita e fingir que essa
admiração não tem um fundo de verdade, afinal, ele está na primeira seção,
em seu último ano do colegial. Além de também ser o principal atleta do
time de basquete da escola. Com toda essa propaganda, todos já tinham
entendido que ele era o pacote completo. Sonho de todas as meninas do
colégio.
A única coisa que me deixou com uma pulguinha atrás da orelha foi:
Por que ele me pediu as respostas se é tão inteligente e passou para a
primeira seção? Principalmente, por ele ser um veterano, e eu uma simples
caloura… isso nunca fez o menor sentido.
Por ele ser completamente desejável, e eu ter uma quedinha, bem
pequena, e definitivamente secreta, por ele, fiz o que toda e qualquer garota
em meu lugar faria: fugi dele, como o diabo foge da cruz.
Na medida do possível, passei a evitá-lo, como se a minha vida
dependesse disso. Sempre que o via se aproximando, eu ia para o outro
lado. Inventava todo tipo de desculpa para não estar perto dele, e correr o
risco de ele me humilhar perto dos meus colegas, por causa do incidente
que aconteceu. Apesar de saber que, provavelmente, estou sendo paranoica,
e que, em teoria, ele não me nota, eu vomitei nele! Não teria como ser pior.
 

 
— Filho, eu já disse que não precisa me dar esse dinheiro. Eu
consigo manter a nossa casa, é por isso que eu trabalho tanto. — dona
Helena reclama, assim que eu coloco em sua mão as poucas notas que
ganhei pelo fim de semana trabalhando no fastfood.              — Sei disso,
mas não vejo problema nenhum em ajudar. Além do mais, é só no fim de
semana, pelo menos até eu completar o ensino médio e ser maior de idade.
— pelo menos, é o que todos que me contratam dizem, com medo das leis
trabalhistas que podem se voltar contra os proprietários a qualquer
momento. Não que eu fosse denunciar, ou qualquer coisa do tipo.
— Igor… você é impossível, filho. — ela diz, mas me abraça forte,
antes de respirar fundo e tentar disfarçadamente engolir o choro.
Nossa vida nunca foi fácil.
Meu pai foi um filho da puta e nos abandonou em algum momento
da minha infância, deixando minha mãe sozinha, sem dinheiro, sem casa e
com um filho pequeno para cuidar. Não tem como dizer que ela não foi uma
guerreira. Muito menos, que ele não foi um filho da puta.
A vida é assim, eu preciso aceitar e correr atrás e fazer o meu.
 

 
— Caraca, Duda, você não me dá um minuto de paz! — reclamo
quando minha prima me liga pela vigésima vez, em pleno sábado à noite.
— Nossa, finalmente atendeu. Está achando o quê meu filho? Que a
gente vive ao seu redor, para fazer apenas o que você quiser? — ela diz,
parecendo ansiosa, e eu consigo escutar ao fundo as risadinhas das suas
amigas.
— Se isso for um trote, eu não vou cair. Quem está aí com você? —
pergunto como quem não quer nada, esperando para saber se ela vai
confidenciar que quem está com ela é a ruivinha que nunca mais saiu da
minha cabeça.
Laura Morais, como eu descobri logo na primeira semana de aula, é
uma menina doce. Pelo menos, parece ser, já que ela nunca se dignou a
trocar meia dúzia de palavras comigo. A menina foge de mim como o diabo
foge da cruz, e o fato de eu ter sido um babaca, atrapalhando-a na hora do
seu teste, e depois não ter ajudado quando ela estava passando mal, não
contribui em nada para mudar a sua impressão.
— Não precisa ser tão dramático, eu estou com algumas amigas em
casa e preciso de um favor seu. — ela responde, e eu sinto um leve frio na
barriga. Com certeza, boa coisa não deve ser, se não, ela pediria a ajuda de
outra pessoa.
— Eu estou um pouco ocupado agora. — respondo para cortá-la,
mas ela me pega de jeito com a sua fala seguinte.
— Bom, eu tenho absoluta certeza de que você vai gostar da minha
proposta, já que envolve a Laura e você é doido por ela. — Depois de eu
perguntar várias e várias vezes sobre as suas amigas com o intuito de saber
um pouco mais da ruivinha que me interessava, ela simplesmente me fez
contar todo o incidente do dia do teste de admissão. Desde então, ela me
inferniza com a possibilidade de um dia ficarmos juntos e ela ser madrinha
do nosso casamento. Antes que eu possa contestar sua afirmação,
envergonhado por ela ter percebido minhas segundas intenções, me tirando
dos meus devaneios, ela continua: — Mas, se isso não for motivação o
suficiente, posso perdoar a dívida do conserto do seu vídeo game.
— Você só pode estar maluca. É muito dinheiro! — falo indignado
— Além disso, o que você poderia propor que eu fosse gostar, envolvendo
sua amiguinha?
— Deixa de ser chato e pare de pensar tanto. Estou te esperando em
quinze minutos. Fala com papai quando chegar, diz que veio assistir um
filme com a gente porque a sua televisão não está funcionando. Ele nem vai
perceber a mentira. — ela desliga o telefone, me deixando completamente
no escuro.
O que essa menina está aprontando?
E, por que eu estou correndo até o banheiro para tomar um banho a
jato e me arrumar para ir até a sua casa?
Com absoluta certeza, eu não estou em meu juízo perfeito.
Mas, durante o caminho, eu tento me convencer de que estou indo
até a sua casa apenas porque a oportunidade de não ter que ralar durante a
madrugada na próxima semana para pagar a minha dívida é muito
vantajosa. Nada tem a ver com a ruivinha de olhos meigos, que se tornam
assustados quando olham para mim.
Em poucos minutos chego, e meu tio me cumprimenta com o
semblante surpreso. Geralmente, eu não apareço sem avisar.
— Oi tio, tudo bem? A Duda me chamou para ver o lançamento do
último episódio de uma série que gostamos muito. A televisão de casa
estragou. — digo a desculpa estúpida que ela inventou e, sem maiores
explicações, ele abre caminho para que eu suba, onde a minha prima me
espera, com um sorriso sinistro.
— Demorou por quê? Achei que tinha desistido.
— Não sei do que se trata para desistir ou não! — retruco, porque é
verdade, e ela tira do bolso uma venda para tapar os meus olhos.
— Duda…, mas que merda! Eu vou te matar.
— Não vai nada. Vai me agradecer!
 

Eu e as meninas nos tornamos inseparáveis, o que é muito mais do


que eu poderia pedir. Depois de morar com as suas amigas nos dormitórios
do colégio, e viver intensamente ao lado delas no internato, eu fiquei
completamente apavorada com a adaptação ao novo colégio, mas agora,
realmente percebi que não há com o que me preocupar.
Todos os sábados dormimos juntas, vamos ao shopping, ao salão e,
às vezes, descemos para a praia. Cinema, compras e filmes. Até meus pais,
que são superprotetores, passaram a gostar dessa rotina. E, quando contei a
elas que meu aniversário de quinze anos estava chegando, finalmente, as
meninas ficaram superanimadas.
Naturalmente, eu vou ter um baile extremamente tradicional, para a
família e pouquíssimos amigos, selecionados pelos meus pais, para
comemorar a ocasião como manda o figurino. Mas, eu, sinceramente, estou
muito mais focada na surpresa que elas me prometeram, e da qual fizeram
tanta propaganda durante toda a semana.
Então, aqui estou eu, um dia antes do meu aniversário, sentada no
chão do quarto de Duda, me entupindo de pipoca, sem entender o porquê de
esse dia ser “memorável”, já que ele se parece com qualquer outro. Bom,
mas sem nada muito especial.
— Bom, amiga, agora é a hora, viu? Você vai ganhar um ótimo
presente de aniversário. — Duda diz, me levantando do chão e fazendo com
que eu fique com a maior cara de interrogação já vista na história.
— Você vai amar, tenho certeza! — Sarah completou, como se eu
precisasse de estímulo.
— Alguém pode me explicar, por favor? — pergunto parada, sem
entender nada.
Fernanda me puxa pelo braço, e Duda me conduz para que eu ande
ainda mais rápido em direção ao closet. Juntas, elas me empurram para
dentro do armário, e Sarah solta um gritinho, parecendo extremamente feliz.
— Laura, essa é a nossa surpresa. Agora, você tem quinze anos e
queremos lhe dar uma experiência que toda garota nessa idade deve ter. Ou,
pelo menos, já ter tido, se não tivesse estudado a vida inteira em um colégio
interno só para garotas — Sarah diz, e elas soltam uma risada.
Uma experiência claustrofóbica? Que incrível!
Fico parada dentro do armário fechado e completamente escuro,
tentando adaptar os meus olhos contra a luz e entender o que que está
acontecendo.
— Espere e veja, está bem? Você é nossa amiga, e nós a amamos.
Não faremos nada que possa prejudicá-la. Apenas confie em nós. —
Fernanda diz, tentando me acalmar, mas falando super mandona — Você
vai ficar aí por quinze minutos.
— Eu vou sufocar aqui. Quinze minutos é muito tempo. Quando
vocês abrirem esse closet de novo, eu vou estar desmaiada, durinha no
chão. — tento racionalizar com elas, já que, aparentemente, a única que não
está sob efeitos alucinógenos sou eu.
— Não vai, não! Tem ventilação, bobinha. — Duda diz, e eu
confirmo com o olhar.
— Muito bem, então, vamos começar agora. — digo cruzando os
braços, querendo acabar logo com isso.
— Ainda não. — Sarah diz, com um sorriso criminoso nos lábios —
Estamos esperando alguém.
— Alguém? — começo a entrar em pânico — Ai, meu Jesus
Cristinho! Por favor, não, meninas, nem pensar! Eu não posso fazer isso…
imagina que constrangedor vai ser? Não pode ser desse jeito! — eu imploro
ás minhas amigas, mas isso não faz com que elas mudem de ideia.
— Confie que vai dar tudo certo! — Sarah diz, e eu nem me dou ao
trabalho de responder.
Como se fosse planejado, o celular de Duda apita e ela dá pulinhos de
excitação.
— Ei, pessoal, o Igor chegou.
— Igor? — pergunto baixinho para Duda, que eu consigo ver pela
fresta do armário, ela mantém uma sobrancelha levantada, como se tivesse
tido a melhor ideia de toda a sua vida.
Por quê, dentre todos os garotos do mundo, elas precisam armar esse
circo justo com ele?
Então, a porta se abre e de relance, quando a luminosidade entra pelo
feche da porta aberta, eu vejo Igor Martins, de olhos vendados, entrando no
quarto de Duda, com ela arrastando-o para dentro.
Nossa, ele está tão bonito em sua camisa branca lisa e jeans azul
rasgado. Fico olhando-o fixamente, completamente envergonhada. Sua pele
bronzeada, faz com que ele pareça brilhar, e isso não tem nada a ver com o
crush mor que sinto por ele. Percebo que ele protesta, mas, em seguida, ele
se rende ao furacão Duda. No fim, todo mundo se rende, ela é uma força do
universo.
Ela empurra-o para dentro do armário, e eu tento me afastar ao
máximo para que ele não encoste em mim, mas suas costas me achataram
contra a parede. Uma centelha repentina de eletricidade se acende por todo
o meu corpo quando sua pele toca a minha, mesmo que de forma
involuntária. Eu sei que estou corando, porque sinto meu rosto em brasas,
mas isso não me impede de avaliar a situação com curiosidade. Nunca
estive tão perto de ninguém assim antes, e é um sentimento esmagador.
— Duda! Que diabos você está fazendo? Me deixa sair daqui! Você
me enganou! — ele grita a plenos pulmões, arrancando a venda de seus
olhos.
— Shhh... fique quieto. — falo, principalmente, para não atrair a
atenção dos pais da minha amiga. Não sei nem por onde começaria a
explicar toda essa situação se eles nos pegassem no flagra.
— Ei! Quem é você, e o que estamos fazendo aqui, dentro deste
armário? — Igor pergunta com raiva, batendo a mão no armário com força.
— Hoje é meu aniversário, e esta é a surpresa que Duda e minhas
amigas planejaram para mim. — digo, mortalmente envergonhada.
— A sua surpresa é ficar trancada em um armário comigo? Isso é
estúpido. — fala ríspido. 
— Eu sei. Fiquei chocada no início, quando me disseram para ir para
dentro do armário. Agora que você está aqui, tudo faz sentido. — respiro
fundo, tentando me explicar — Não sabia que elas tinham esse plano em
mente, mas estou cooperando para que nenhum adulto descubra. Seria
difícil demais explicar.
— Por que me escolheu? — ele pergunta desconfiado, e eu reviro os
olhos, mesmo sabendo que ele não pode ver.
— Acabei de dizer que não sabia de nada disso. Tenho certeza de que
Duda o escolheu por ser o mais fácil. Você é primo dela e pode vir aqui sem
levantar suspeitas. Os pais dela não se importariam.
— Bem, ela me enganou, — ele diz parecendo bravo, e eu me sinto
desconfortável e claustrofóbica dentro desse cubículo. Agora, o menino
mais lindo da história vai me achar uma boba, que o enganou para estar
perto dele — ficar preso aqui, definitivamente, não é a minha ideia de
diversão.
— Você pode se virar e me encarar. — digo com toda a coragem que
me resta.
Afinal de contas, eu já estou aqui pagando essa vergonha no débito,
posso, pelo menos, aproveitar o momento.
Ele se vira lentamente e ficamos frente a frente. Meu coração se
acelera tanto que, por um momento, acho que vou vomitar em cima dele de
novo, de tanta emoção. Ele cheira tão bem que eu sinto vontade de chorar,
pensando que logo não vamos estar mais tão perto um do outro.
O seu corpo inteiro está tocando o meu, e isso é enlouquecedor!
Como as pessoas lidam com isso o tempo inteiro?
Será que é só por conta de ser a primeira vez?
— Então, vocês são amigas de classe da minha prima? — ele me
pergunta, e eu o olho desconfiada.
— Sim. Nós saímos juntas quase todos os fins de semana. Por quê?
— pergunto, curiosa com o rumo da conversa.
— Na verdade, nada... Bom, eu sou a fim de uma menina da sala dela,
mas a garota parece me odiar.
— Sério? Você já disse a ela como se sente? — pergunto, incomodada
em saber que ele gosta de alguém, mas não deixo de ficar curiosa.
Por que ele me contaria isso, em primeiro lugar? Afinal, nem sabe
qual das amigas dela eu sou. Ou sabe?
— Claro que não, quero dizer, ainda não. — ele diz, praticamente em
pânico — Ainda não houve oportunidade para isso. Não somos nem
amigos. Eu evito dizer à Duda, para que esse tipo de coisa não aconteça. —
ele ri, se autodepreciando, e eu me sinto extremamente enciumada. Quem
será a sortuda?
— Então, talvez eu possa te ajudar, te apresentando a ela. — digo,
determinada a saber o nome da meliante.
— Não sei, você pode ser tão traiçoeira quanto Duda. — ele sonda, e
eu protesto.
— Obviamente, eu não sou assim. Olha onde eu estou! — protesto, e
ele solta uma risada melodiosa. Tento segurar, mas também abro um
pequeno sorriso.
— Muito bem, então, se você realmente pretende ajudar, eu vou
anotar o seu número. Primeiro, vou tentar a minha abordagem, se não der
certo, eu te procuro para pegar algumas dicas.
Ele tira o celular do bolso e anota o número que eu falo. Pela
luminosidade do aparelho, sei que ele consegue ver meu rosto, assim como
eu consigo ver o dele, e pela surpresa em sua expressão, ele parece
chocado. Mas, continua fingindo, como se não me conhecesse, ou não
tivesse visto que sou eu que estou aqui.
— Tudo bem… qual é seu nome? — ele pergunta, e eu quase dou um
tapa na minha cara.
Óbvio que eu sei quem ele é, mas ele não sabe quem eu sou, ainda.
— Laura. Laura Morais.
Igor ilumina o meu rosto, e pela sombra que consigo ver do seu
semblante, ele parece mortificado pelo choque. É nesse momento que eu
atinjo o pico máximo de bochechas vermelhas. Será que ele se lembra que
fui eu quem vomitou nele?
— Puta que pariu! — ele simplesmente exclama.
— Eu sou a garota que vomitou em você. Eu sei, chocante... Sinto
muito… — dou uma tossidinha, tentando recuperar a fala, ainda
extremamente envergonhada — por não ter tido a oportunidade de me
desculpar antes.
Silêncio.
Com certeza, ele pensa que é a pessoa mais azarada do mundo, por
estar agora nessa furada comigo.
— Meu nome é Igor. — ele se apresenta, depois de alguns minutos
em silêncio.
— Eu sei. — respondo, sem pensar.
— Você me conhece? Desde quando? — ele pergunta confuso.
— Desde a primeira semana de escola. Duda nos falou de você, seu
primo de ouro. — ele solta uma risada sonora, parecendo envergonhado.
— Espero que ela tenha dito apenas coisas boas! — depois de alguns
segundos, cheios de constrangimento, ele exclama um pouco mais relaxado
— Não posso acreditar na minha sorte em estar aqui com você.
— O quê? — digo, surpresa com a sua afirmação.
Será que ele acabou de dizer que teve sorte de ficar preso no armário
comigo?
— Quero dizer... Por que estamos aqui? Por que você permitiu que
suas amigas a prendessem no armário comigo?
— Eu já te falei, foi uma surpresa de aniversário, delas para mim, —
digo, em um fio de voz — eu não sabia.
— Ah, me desculpe, eu esqueci. Feliz aniversário, Laura. — ele diz
baixinho.
— Obrigada. Quantos anos você tem, Igor? — pergunto, curiosa.
— Fiz dezessete anos no mês passado. Mas, eu ainda não entendi.
Qual é o principal objetivo desta surpresa de aniversário? — ele insiste.
— Eu estudei em um colégio interno só para garotas. Então, na
cabeça de Duda, eu preciso ter mais experiências... E você seria alguém
seguro para isso. — falo rápido, tentando aplacar a vergonha.
Agora eu já estou atolada na merda mesmo, isso não vai fazer a
menor diferença.
— Você quer dizer, experiência com meninos, particularmente. — ele
esclarece o que eu disse. — Era só Duda te levar a qualquer festa da escola,
seria mais barato para ela.
— Você quer dizer que ela lhe pagou para fazer isso? — meus olhos
se alargam.
— Sim, eu lhe devia 250 reais, e ela perdoou a dívida por esses
quinze minutos.
Fico chocada, mas recupero o pouco da dignidade que me resta, e
uma ideia se forma na minha cabeça.
— Eu não quero desapontar minhas amigas. Ainda mais, quando elas
pagaram tão caro por essa experiência. Você deveria me beijar. — digo
firme, como se ordenasse que ele fizesse isso.
— O quê? — ele fala, levantando a voz — Você acabou de dizer que
devemos nos beijar?
— Sim.
— Eu não posso. — ele diz categórico, e eu me vejo desesperada para
sair desse lugar e me esconder pro resto da vida.
Ok! A única vez na vida em que eu resolvo ser ousada, tomo um fora
monumental.
Respiro fundo, tentando não chorar. Eu fui totalmente rejeitada! Em
uma escala de zero a dez, o quão estúpida eu não pareço ser agora?
— Eu entendo se você não quiser me beijar. Esqueça que falei isso,
vamos fingir que isso nunca aconteceu. — digo rapidamente e suspiro.
— Acho que você não entendeu. Eu quero te beijar, só não gosto da
ideia de ser pago para isso. — sua voz parece bastante sincera, o que me
surpreende.
— Então, esqueça o seu acordo com a Duda, — eu raciocino,
tentando conquistar o meu tão sonhado pote de ouro no fim do arco-íris —
eu só quero saber como é.
— Sinto muito, Laura, não posso fazer isso. — ele diz, categórico.
— Tudo bem... eu já entendi. Você não quer, porque não me acha
atraente o suficiente. Eu te entendo, sendo veterano e popular, pode
conseguir qualquer menina que quiser. — constato o óbvio, com uma pitada
de tristeza na voz.
— Claro que não, Laura, você está errada. Eu te acho incrivelmente
bonita.
— Então, me beije. Agora. — Igor geme e respira com força. Sinto
seu coração bater super-rápido e prendo a respiração, ansiosa.
Ou é o meu próprio coração que está batendo tão descompensado?
— Está bem, então. Estou perdendo a batalha aqui. — admite ele —
Laura, você tem certeza disso?
— Com toda a certeza.
Em poucos segundos, sinto suas mãos tocando meus ombros, depois,
lentamente deslizando e acariciando meus braços. Uma repentina onda de
eletricidade invade todo o meu corpo. A sensação de arrepios e borboletas
no estômago toma conta de mim. Igor pega as minhas duas mãos, as beija e
depois as coloca ao redor de seu pescoço. Seus braços contornaram
lentamente minha cintura e me puxaram com força até ele, e então nos
abraçamos, nos unindo.
Sinto seus lábios beijando a parte de trás da minha orelha direita. Meu
Deus! Isso sim, são as famosas borboletas no estômago! Quando Igor beija
o meu pescoço, inalando o meu perfume, parece que está tentando guardá-
lo na memória, e depois, o garoto me surpreende, mordendo o lóbulo da
minha orelha.
Igor toca meu rosto gentilmente, como se estivesse me estudando, e
passa a mão pela extensão do meu cabelo ruivo. Lentamente, ele distribui
beijos castos em meus lábios, e então, sou surpreendida quando sua língua
delineia a minha boca. Sem saber o que fazer, o empurro para longe apenas
o suficiente, a fim de respirar.
Ele me deixa ir parecendo um pouco magoado. Coloco minhas mãos
em seu peito e as deslizo de volta em torno de seu pescoço. Puxo-o em
minha direção e, instantaneamente, nos beijamos novamente. Dessa vez,
abro a minha boca e percebo que ele espera que eu imite sua ação.
— Você aprende rápido. — ele ri, suavemente.
Me vejo entre: mortalmente envergonhada para falar sobre o assunto,
e ao mesmo tempo, ansiosa para aproveitar a nova experiência ao máximo.
Fui transportada para outro planeta diferente, com certeza! Um que
roda em torno do Sol Igor, porque só isso explica essa sensação. Sinto-me
flutuar.
Ele me beija novamente, com as suas mãos acariciando a minha
cintura. Eu me agarro a ele com força e toco o seu cabelo, explorando todo
o seu corpo. Sinto que vou desmaiar com tantas sensações dentro de mim,
mas, de repente, ele para. Igor pressiona minha cabeça contra seu peito, sua
mão direita acariciando meu cabelo muito suavemente.
— Você está bem? — ele pergunta, um pouco preocupado.
— Sim. Isso foi... incrível! — meus batimentos cardíacos estão uma
loucura, e eu não consigo nem pensar em entender o que está acontecendo
no momento.
— Porque você é incrível, Laura. — ele diz, e imediatamente se
afasta.
— Obrigada pela experiência, Igor.
— Não, eu é que deveria agradecer. — ele diz intensamente.
— Por quê?
De repente, a porta do armário se abre e a luz entra. Eu sinto o vento
frio do ar-condicionado no meu rosto, e o clima se quebra.
— O tempo acabou, pessoal. Como foi a experiência? — Duda diz,
segurando a porta do armário aberta. Sarah e Fernanda me olham com caras
muito animadas.
Igor, então, respira muito fundo e deixa o armário.
— Te vejo por aí, ruivinha. — ele diz, sem olhar para mim.
— Claro. — respondo, mantendo minha voz calma.
 

 
Eu não pude acreditar na minha sorte, quando percebi os planos
malignos de Duda. Muito menos, depois do melhor beijo da minha vida,
soube como consegui descer as escadas, inventando uma mentira qualquer
para o meu tio, e me mandar dali, antes que a ruivinha se desse conta do
que realmente aconteceu e viesse tirar satisfações ou qualquer coisa do tipo.
Que puta beijo, meus amigos! Nem dá para acreditar que foi a
primeira experiência da menina linda de olhos azuis curiosos.
Como conseguir tirá-la da minha cabeça, agora que provei o seu
sabor?
Assim que chego em casa, ainda meio abobalhado, olho para o meu
telefone, com o seu número em mãos, e pondero como eu deveria proceder
agora. Meus amigos do time de basquete, com certeza, me incentivariam a
não demonstrar que gostei tanto do tal beijo, muito menos, que ela me
afetou tanto. Mas, depois de duas horas remoendo o que eu deveria fazer,
mandei tudo para o alto e simplesmente decidi fazer o que me deu vontade,
e nesse caso, era mandar uma mensagem para a ruivinha que aparecia em
meus pensamentos todas as vezes em que tentava fechar os olhos:
 
Igor: Laura, você está por aí? Queria que soubesse que gostei muito
do nosso beijo. O que acha de sair comigo?
 
Acho que nunca fiquei tão ansioso em toda a minha vida. Apesar de
saber que estamos em plena madrugada, e que, provavelmente, a ruivinha já
está dormindo há tempos, fico ansioso pela sua resposta, que chega quase
dez minutos depois:
 
Laura: Eu preciso confessar que também gostei muito. Adoraria sair
com você, e inclusive, pode escolher o lugar, mas como meus pais são
muito rígidos, preferiria que você me encontrasse na casa da Duda. Pode
ser?
 
Igor: Combinado! Vou pensar em algo legal e te mando uma
mensagem.
 
Yes! Ela também gostou, e principalmente, aceitou o nosso passeio.
Com um sorriso enorme no rosto, começo a procurar o que fazer em São
Paulo tendo baixa renda e sendo menor de idade. Tenho a impressão de que
a ruivinha não se aventuraria em nada ilegal, já que para passar uma
simples colinha de brincadeira no teste de admissão ela quase teve um
piripaque.
 

 
O piquenique no Ibirapuera foi ideia da minha mãe.
Segundo ela, toda mulher adoraria passar o dia em um lugar bonito e
ser surpreendida por um piquenique romântico, com coisas gostosas de
comer. E, mesmo envergonhado por correr até a minha mãe para receber
conselhos de como lidar com garotas, coisa que antes eu nunca tive que
fazer, já que eu nunca tinha tido interesse real em nenhuma delas, pedi para
que ela me ajudasse a montar algo especial.
A ruivinha parece ter gostado da surpresa, pelo seu sorriso amplo, e
passamos a tarde inteira conversando sobre tudo o que poderíamos falar e,
surpreendentemente, eu realmente queria saber a sua opinião sobre tudo o
que me interessava.
Quando Laura levantou o rosto, absorvendo a luz do sol, eu me senti
hipnotizado. Como alguém poderia ser tão bonita assim? Honestamente, eu
nunca saberia dizer.
— Laura… não sei como dizer isto, mas… — comecei a dizer,
odiando me embolar com as palavras.
Sei que estou sendo precipitado, mas não teria como não pensar em
algo do tipo quando eu estou tão próximo a ela, ansioso para tocá-la
novamente. Ela se vira para mim, parecendo surpresa, mas não desvia os
olhos dos meus, me fazendo engolir seco.
— O que foi, Igor? — pergunta gentilmente.
— Eu não quero que sejamos amigos. — as palavras não saem como
eu esperava, e percebo que ela se ofende, parecendo magoada.
— Se você não quer que eu seja sua amiga, então, por que estamos
aqui? O que é que você quer de mim? — ela pergunta confusa, e estreita os
olhos, se afastando um pouco.
Merda! Ela entendeu tudo errado. Parabéns, gênio.
Esfrego meu rosto com as duas mãos, e olho para baixo, muito
desconfortável com a minha falta de tato. Como posso recuperar a minha
chance com a ruivinha agora? O que eu preciso fazer para que ela entenda
que eu estou completamente enfeitiçado pelos seus cabelos ruivos?
— Eu não quero que sejamos amigos, eu quero mais do que isso,
ruivinha. — digo sério, e ela parece muito surpresa com a minha revelação.
— O que quer dizer com isso? — ela sonda, parecendo incrédula, mas
eu abro um sorriso tímido, antes de explicar com todas as letras qual é a
minha verdadeira vontade.
— Eu quero ser seu namorado, Laura.
A antecipação me corrói por dentro, e enquanto ela parece processar
a minha revelação, me sinto gelado. Só beijei a garota uma vez na vida, é
claro que fui precipitado em dizer que queria namorar. Com certeza, ela tem
muitas opções, ou eu a assustei…
— Igor, acabamos de nos conhecer. — sua fala é incerta, e sinto a
rejeição doer em meu peito. Nunca tinha sentido isso antes, é claro que eu
também nunca havia pedido ninguém em namoro, mas porra… não faria
esse tipo de estupidez tão cedo.
— Tudo bem, eu entendo. Me desculpe, eu não deveria ter dito isso.
Você está completamente chocada, eu consigo ver na sua cara. — digo,
abaixando a cabeça, um pouco envergonhado. Mas, que inferno! Eu posso
ser rejeitado, mas preciso dizer tudo o que estou sentindo, pelo menos,
assim, a ruivinha vai entender o que eu estou querendo com ela. — Na
realidade, Laura, desde quando te vi, não consigo te tirar da cabeça. Isso vai
muito além do que aconteceu no seu aniversário. Está gravado na pele já.
Fico te procurando nos corredores, sempre que você está com a Duda eu
tento me aproximar… nosso beijo foi a cereja do bolo para que eu
entendesse que realmente te quero. Mas, entendo que você não sente o
mesmo que eu, por isso, eu vou esperar. Por enquanto, seremos o que você
quiser, e se realmente for isso, seremos apenas amigos.
— Igor. — ela parece estar sem palavras, mas segura a minha mão
com firmeza, e isso me dá uma confiança que eu nunca imaginei que
tivesse.
— Vou esperar.
E esperaria pelo tempo que fosse necessário.
 

As meninas me lotaram de perguntas sobre o tempo que passei com


Igor no armário, mas não quis dividir com elas tudo o que senti e vivi ali. É
como se cada beijo, cada toque e cada palavra tivesse sido marcada em
mim, e eu não quisesse que ninguém estragasse meu momento feliz
colocando urucubaca, ou fazendo perguntas demais. Quando estávamos
fechados dentro do armário, eu estava tão nervosa que meu coração foi de
zero a cem em um segundo, insegura e sem saber o que fazer. Até agora
estou me questionando como tive coragem para pedir para que ele me
beijasse.
O beijo foi incrível. Realmente espetacular. Mesmo depois de dias,
não consigo apagar a sensação de formigamento no pescoço, mandíbula e
bochechas, onde seus lábios me tocaram.
Na realidade, eu não sei exatamente o que pensar a respeito dele
depois de tudo. Antes, eu o achava obviamente atraente, e ficava
mortificada de vergonha por ter vomitado em cima dele quando nos
conhecemos. Não sei se seu status subiu ou decaiu, já que agora, ele é o
menino que foi pago para me dar o meu primeiro beijo.
Não! Ele não queria ter sido pago para isso, não posso colocá-lo
como aproveitador dessa forma. Ele deixou isso muito claro naquele
momento. Igor é um cara muito legal, doce, carinhoso, bonito e inteligente.
O típico garoto que você quer namorar, casar e ter uma casa com uma cerca
branquinha igual as dos filmes americanos.
Percebi que ele não é aquele tipo de garoto "convencional" que, para
provar alguma coisa, precisa dar um gelo e tratar mal as garotas. Isso,
definitivamente, ficou claro quando ele me mandou mensagem algumas
horas depois, falando sobre o quanto gostou do nosso encontro inesperado,
e me convidou para sair.
Ainda sem acreditar em toda a minha sorte, deixei que ele
escolhesse o lugar, contanto que pudéssemos nos encontrar na casa de Duda
antes de sairmos. Apenas para evitar que meu pai e seu tom de voz
possessivo e intimidante fosse motivo o suficiente para fazê-lo desistir. Às
vezes, o seu jeito autoritário e superprotetor me intimida, e me deixa louca
de raiva, mas como sei que em uma queda de braços, serei a primeira a
ceder, sempre abaixo a cabeça acatando ás suas decisões. Pelo menos,
assim, ele não me faz voltar para o colégio interno, onde eu ficaria trancada
até atingir a maioridade.
Para evitar o murmurinho, ainda sem saber o que tínhamos
exatamente, sempre que nos encontramos nos corredores do colégio, nos
cumprimentávamos com um sorriso cúmplice e cheio de segundas
intenções. Mas foi no sábado que nos encontramos e fomos ao Ibirapuera
que isso mudou, caminhando por ali, enquanto achávamos uma sombra boa
o suficiente para fazermos um piquenique. Conversamos sobre tudo: o que
queríamos fazer no futuro, gostos e antipatias, hobbies, comidas favoritas,
artistas musicais e filmes que gostávamos, mas, principalmente, sobre a
escola. Naquele momento, eu senti vontade de conhecer o verdadeiro Igor, e
isso me fez perceber como ele era bonito. Não apenas sua beleza exterior,
mas também o interior de seu coração.
Um pouco antes do pôr do sol, ele pegou a minha mão, e observamos
o pôr do sol de uma maneira muito íntima e emocionante. Abraçados, ele
me confessou que este era um dos seus lugares preferidos no mundo, aonde
realmente vinha para se sentar e relaxar. Como esta era a minha primeira
vez ali, o local ficou para sempre guardado com a lembrança doce de um
dos dias mais felizes da minha vida. Nossa conversa foi empolgante e muito
esclarecedora, e quando ele prometeu que iria me esperar, nunca me senti
tão feliz e importante para alguém.
A partir deste dia, Igor começou a me mandar mensagens de texto
todos os dias. Na maioria das vezes, apenas cantadas sem sentido e
declarações de amor baratas, mas elas sempre me faziam sorrir.
O menino dos olhos eletrizantes começou a se infiltrar de uma forma
intensa e eterna em meu coração.
 
 
Eventualmente, eu aceitei o seu pedido, e essa se tornou uma rotina
feliz.
Todas as noites, conversávamos por mensagem de texto, ou então
Igor me ligava. Além de me contar o seu dia, seus treinos e jogos de
basquete, e, até mesmo, como foi o trabalho extra que ele faz aos fins de
semana, quando não estamos juntos, ele sempre me dizia o quão bonita e
especial eu sou, além de que ele realmente gostava muito de mim.
Nós nos víamos com frequência na escola, mas sempre desviávamos
um do outro, para evitar chamar atenção. A única condição que eu coloquei
para realmente começarmos essa loucura foi o distanciamento social. Os
boatos se espalham pelo vento, e poderiam chegar aos ouvidos de meus pais
em apenas alguns segundos. E se isso acontecesse, era voltar para colégio
interno, sem discussões. Igor entendeu a situação, e não se importou, disse
que aceitaria isso por mim, e que o que nós tínhamos valeria a pena.
Porém, com os meses se passando, a situação começou a ficar
insustentável, e só o telefone passou a não bastar. Comecei a sofrer de
saudade e queria sentir o seu toque novamente, além de ver a tristeza e o
descontentamento em seu olhar.
Apesar de todas as dificuldades, nossos encontros eram perfeitos, e
assim que eu o via, todas as dúvidas viravam certezas. Igor era realmente O
cara para mim. O toque incrível, o abraço parecia o certo. As borboletas no
estômago estavam enlouquecidas, e meu sangue parecia estar aquecido pelo
fogo, querendo explodir. Suas palavras doces se tornaram ainda mais
necessárias, como um alimento. E, quando ele disse o seu primeiro “eu te
amo”, parecia que meu coração ia sair pela minha boca. Em meio aos
beijos, eu confessei que também sentia o mesmo.
Todos os sábados nos encontrávamos depois do trabalho de Igor, e
fazíamos passeios distantes, sempre mantendo a discrição. Se esse teatro me
destruía por dentro, ele parecia sofrer mil vezes mais do que eu. Cinema,
fast-food, shopping, praças, sempre tomando muito cuidado para não
frequentar nenhum lugar com algum conhecido por perto.
Essa rotina se tornou extremamente frustrante.
Em diversos momentos tentei argumentar com a minha família a
respeito da imposição ridícula de que eu era proibida de namorar, mas era
como lutar contra um grande tsunami: você não tem a menor chance.
Uma semana se transformou em um mês, um mês se transformou em
dois. E sempre tínhamos as mesmas discussões. Igor estava frustrado e
irritado por não podermos estar juntos por completo, e eu acuada, sem saber
o que fazer.
Namorar mesmo que escondido não é melhor do que nunca mais se
ver?
Para completar o show de horrores com chave de ouro, ainda havia
o ciúme descabido de Lucas, que passou a investir pesado em mim depois
de um tempo de convivência. Ele se insinuava, Igor enlouquecia, eu sugeria
acabarmos com tudo e evitarmos o sofrimento, ele desistia.
Durante seis meses, mantivemos nosso relacionamento em segredo,
como sugeri, agindo de forma lenta e discreta. Até que tudo mudou…
 

 
Aceitei feliz e sem pensar duas vezes, a rotina discreta do nosso
relacionamento, porque, no fim, Laura sempre valeria a pena.
Mas é um saco ter que namorar alguém escondido, ainda mais
chato, quando o folgado do calouro do time de basquete começa a
atormentar a sua vida dando em cima da sua namorada. Lucas, mais um dos
riquinhos metidos a besta que frequentavam aquele colégio, resolveu que
Laura era a vítima da vez, fazendo com que todos vissem a minha ruivinha
como um grande troféu. Mesmo sabendo que quem tinha levado a melhor
nessa história era eu, não podia defendê-la, e isso começou a me deixar
irritado em níveis estratosféricos.
Não é à toa que existe uma música que afirma que: meninos serão
sempre meninos. Mas, no ensino médio, todos parecem perder cinco
neurônios a cada vez que abrem a boca, e o tanto de asneira que aquele cara
falou me deixou por um triz. Só me controlei porque, entre perder a cabeça,
e perder a ruivinha, eu não tinha dúvida de qual opção eu escolheria, por
isso, fui embora na sexta-feira cheio de raiva, mas ansioso para o dia
seguinte, afinal, era o nosso dia.
 

 
Na tentativa de inovar, fomos passear na paulista, onde encontramos
uma feira de artesanatos dentro de um museu. Tinha ganhado uma graninha
a mais na semana anterior, e achei que seria legal impressionar a minha
garota com esse tipo de passeio, já que, ali, havia algumas opções legais
que só turistas visitavam, e não seríamos pegos por algum conhecido. Não
que eu seja muito ligado em quinquilharias, mas me pareceu uma ideia legal
ver o que tinha por ali, e perdemos bastante tempo olhando as coisas antigas
e novas. Rindo e nos divertindo com as roupas e acessórios diferentes.
  — Que lindo! — Laura exclamou admirada, e eu parei para
observar o que tinha chamado a sua atenção.
O par de alianças antigas, com o símbolo do infinito, provavelmente
pertenceu à algum casal que se divorciou, e mesmo não achando lá grandes
coisas, ela olhou os anéis com tanta admiração que eu me senti tentado a lhe
dar presente, apenas para termos algo com o que nos apegar quando a
distância e saudade apertasse.
A senhorinha pareceu feliz quando começou a nos contar a história
mentirosa sobre um casal que se apaixonou perdidamente, se separou e se
reencontrou no futuro. Dentro estava gravado "pertenço eternamente a
você", como se fosse uma promessa e um juramento.
Percebi quando Laura limpou a lateral dos seus olhos, tentando
ocultar as lágrimas, mas eu já as tinha visto, e em um impulso, que
provavelmente acabaria com todas as minhas economias, comprei os anéis
de prata, pedindo para acrescentar os nossos nomes ao final da frase.
— Esse juramento é pra sempre, ruivinha. — digo, assim que
deslizo o anel em seu dedo, tendo ciência da loucura que estou dizendo,
sendo apenas um menino de dezessete anos, apaixonado pra caramba.
— Pertenço eternamente a você, Igor. — Laura responde feliz e
admirada, antes de me dar um selinho rápido.
 

Como segredos são sempre segredos, e estão prontos para serem


descobertos com o tempo, tudo começou a ruir em uma tarde de sábado
como outra qualquer. Eu e Igor havíamos combinado de nos encontrarmos
no Jardim Botânico para comermos e ficarmos juntos, como sempre
fazíamos.
Por algum motivo misterioso, enquanto estava esperando Igor, em
nosso ponto de encontro, Lucas surgiu, praticamente brotando do chão,
diretamente do inferno, e jogou os braços ao meu redor. Agradeci aos céus
por Igor estar atrasado, porque não conseguiria pensar em um cenário pior
do que ele me pegar nessa situação comprometedora, e me afastei
gentilmente do meu colega de sala, levemente intrometido, antes de
questioná-lo:
— Lucas? O que você está fazendo aqui?
— Meu pai veio participar de algum tipo de comício, então, viemos
acompanhá-lo. — ele aponta para o palanque improvisado há poucos
metros da construção arquitetônica do lugar e eu solto um suspiro surpresa.
Ele me lança seu sorriso barato e eu quase reviro os olhos, impaciente —
Mas, a pergunta que não quer calar é: por que você está sozinha nesse
parque sem graça?
— Gosto de vir aqui pensar. Acho relaxante — digo sucinta, querendo
acabar logo com isso.
— Então, eu chamo isso de destino. — Lucas vem em minha direção,
querendo me beijar e eu viro o rosto rapidamente, fazendo com que ele
beije a minha bochecha.
O empurro com força e ele solta uma risada debochada, tentando me
abraçar novamente. Credo! Sinto nojo e repulsa por sua atitude, mas antes
que eu consiga abrir a boca para me defender, Igor chega já lhe acertando
um soco no rosto.
Lucas cai no chão, e Igor parece um touro desgovernado, lutando com
ódio no olhar. Quando o nariz do outro garoto se quebra e o sangue começa
a escorrer, sinto meu corpo inteiro gelado. A briga acontece sem que eu
possa fazer absolutamente nada, e todos testemunharam o ataque de ciúmes
do meu namorado secreto. Que agora, provavelmente, já não é mais tão
secreto assim.
 
 
Uma coisa é ter que aturar o mauricinho na escola, outra,
completamente diferente, é vê-lo tentar beijar a minha namorada bem na
minha frente.
O filho da mãe me viu chegando e tentou beijá-la à força, como o
babaca sem escrúpulos que sempre foi, e é com essa cena em mente que eu
quebro a cara dele. Foda-se que ele talvez possa precisar de cirurgia plástica
para respirar direito novamente, nesse momento, tudo o que eu quero é
descontar a raiva e a frustração dessa situação absurda que estamos
vivendo.
Segundos depois, sinto vários pares de braços me tirando de cima
do almofadinha, que ficou orgulhosamente desfigurado, e quando percebo
que estou sendo segurado por policiais, sinto que fodeu pra mim.
Laura chora baixinho, assustada com a minha explosão, mas assim
que eles me largam e eu consigo me acalmar, eu dou um passo em sua
direção, ela apenas balança a cabeça em negativa, como se eu fosse uma
decepção ambulante.
Não era eu quem estava assediando a ruivinha, mas começo a ouvir
o som de uma viatura distante e resolvo cooperar, porque sei que não vou
ter as costas quentes como o tal Lucas. E, apenas por isso, me mantenho em
silêncio, enquanto todos tentam resolver a situação entre acusações e
defesas de quem assistiu a cena.
Meus olhos estão cravados em Laura, e os dela em mim, mas
quando alguém me chama para que eu o acompanhe, consigo murmurar
apenas um silencioso "desculpa", que ela nega com a cabeça, me deixando
ainda mais magoado.
 

 
— Polícia, Igor? Sério mesmo? Você, entre todos, sabe o quanto o
seu futuro só depende de você. Agora seu histórico perfeito será manchado
por uma queixa de agressão! E, ainda por cima, teremos que pagar um
advogado para te defender da queixa que prestaram! — minha mãe
esbraveja, com os olhos cheios de lágrimas e eu respiro fundo, sem saber ao
certo o que devo fazer.
Resolvo optar pela opção mais segura, e por isso me mantenho
calado.
— Você vai perder a bolsa, tenho quase certeza disso. — ela
murmura chateada, e eu nego com a cabeça.
— Não. Isso não. — como eu vou ver a Laura, se perder essa
bolsa? penso, desesperado — De jeito nenhum.
— Pensasse nisso antes de fazer essa cagada monumental. — ela
diz, e eu olho para os nós dos meus dedos que ainda estão machucados,
sentindo o peso da minha impudência pesar nas minhas costas. Minha mãe
me olha chateada, e com pena também, por isso, vou até ela e lhe envolvo
em um abraço.
— Me desculpa, mãe. Vai dar tudo certo, você vai ver. — digo,
porque, no fundo, é a isso que eu quero me apegar com unhas e dentes. É
tudo que eu preciso.
 

— Como você pode fazer isso conosco? Nós confiamos em você,


Laura! — minha mãe, Marta, parece ter saído de um manicômio, à beira de
um surto psicótico — Se dividindo entre dois homens, a ponto de fazer com
que os dois entrassem em uma briga física? Nós tiramos você do colégio
interno para isso? Você prometeu se comportar e focar em seus estudos!
Meu Deus! Você ainda é uma criança que não sabe nada sobre o amor ou
sobre ter um relacionamento!
Franzo o cenho, encolhida na grande poltrona creme da minha sala de
estar. Justo ela, que largou o convento quando se apaixonou pelo meu pai?
Que hipócrita! Mamãe era praticamente uma freira e não pensou duas vezes
em largar o convento e se casar com ele, e agora vem me falar sobre não
saber nada sobre o amor. Até parece!
Um pandemônio se instalou em minha vida desde quando Igor
resolveu quebrar a cara de Lucas na porrada. Eu estou extremamente
preocupada desde então, apesar de ter ido para a delegacia, nada de pior
aconteceu com ele, como Duda me disse pelo telefone, para me tranquilizar.
Agora que o segredo já tinha ido para o ralo, pude questionar a minha
amiga com toda a insistência que existia dentro do meu corpo, apenas para
ela rir e me perguntar como eu tinha feito para esconder isso delas por tanto
tempo.
— Eu o conheço, mãe. Igor é superinteligente, responsável e
trabalhador. Ele cuida de mim, se preocupa comigo. Ele me ama, mamãe!
— tento convencê-la, apesar de saber que é praticamente impossível.
— Ah, faça-me o favor! Você é muito jovem para pensar em amor,
namorar, ou qualquer outra coisa. Amor? Você ainda não sabe o que é isso,
minha filha! Está deslumbrada pelo primeiro menino bonito que viu pela
frente, mas a vida não é assim, eu lhe garanto. Você precisa se concentrar
em seus estudos, não em namora! — papai esbraveja e quebra um vaso
Murano, fazendo minha mãe ofegar de susto.
Faço o que qualquer pessoa em sã consciência faria em meu lugar:
fico em silêncio.
Discutir com meu pai é loucura! Só a nossa família sabe o quão
violento isso pode se tornar em um passe de mágica. Na última vez em que
discutimos, eu fui espancada com seu cinto, e ele tinha uma fivela de metal.
Doeu, e muito. Isso porque ele ama muito a sua família, ironicamente
falando. Claro que depois os mimos apareciam, as desculpas esfarrapadas e
as bolsas de grife. Otávio é um homem muito controlador e protetor, e
obviamente queria que as mulheres da sua família fossem mansas,
submissas e obedientes. Agora que somos mais crescidas, Gabriela e eu não
tínhamos visto mais a sua ira, mas ela estava sempre na margem, pronta
para surgir novamente e nos amedrontar.
— Você não vai voltar a ver esse garoto, Laura. — ele diz sério, em
uma voz fria e calculista — Se eu descobrir que você manteve contato com
ele, além de ficar de castigo e voltar para o colégio interno, eu vou acabar
com a vida desse bolsista. Disso você pode ter certeza, e todos nós sabemos
do que sou capaz para defender a minha garotinha.
Suas ameaças nunca são em vão, e meu coração se aperta neste
momento.
Tento raciocinar, mas sei que eu nunca venceria a batalha apenas
com argumentos. Fisicamente, então, seria algo completamente perdido,
isso é um fato. Respiro fundo, tentando controlar a raiva que eu estou
sentindo, para não meter os pés pelas mãos, e confirmo com a cabeça.
O futuro de Igor, seus sonhos e suas ambições, se transformarão em
cinzas se eu não desistir, por hora, desse relacionamento. O anel de prata
com a inscrição, que agora mais se parece como uma espécie de promessa
ou profecia, pesa em minha mão.
 
 
Depois de todas as ameaças possíveis, sábado, eu entro no carro dos
meus pais, em direção ao nosso lugar preferido no mundo, o Ibirapuera.
Fiquei sem celular durante toda a semana, e no colégio um segurança
passou a me acompanhar pelos corredores. Um constrangimento total! O
único momento em que eu pude enviar uma mensagem para Igor, foi
confirmando o nosso encontro de hoje. Meu coração está tão apertado, que
sinto que mal consigo respirar. Além de, claro, meus olhos estarem
inchados de tanto chorar. Meu pai estacionou o carro em um local próximo
ao ponto de encontro e marcou no relógio. Serão apenas vinte minutos para
terminar tudo com ele, porque isso é o “certo” a se fazer.
— Você sabe o que fazer, não demore e nem tente me enganar. Caso
contrário, ele sofrerá as consequências da sua teimosia. — papai diz, sem
demonstrar nenhuma emoção.
Caminho pela trilha lentamente e assim que encontro Igor, ele me
cumprimenta com um beijo e me abraça com força. Pela sua expressão
angustiada, ele sabe do nosso destino, mas parece pronto para lutar contra a
maré. Sustento o abraço forte por alguns minutos, e quando realmente sinto
que não posso mais suportar, me desvencilho, enxugando as lágrimas.
— Meus pais sabem de tudo, Igor, — ele se retrai, mas não fala nada.
Com certeza, percebeu isso pela presença do segurança, e pela falta de
comunicação — eles estão me esperando no carro. Só vim aqui me
despedir, e terminar definitivamente com você.
— O quê? — a cor foge do seu rosto, e ele toca a sua testa como se
precisasse comprovar que isso era real.
— Estou terminando com você. É o melhor a se fazer e, de qualquer
forma, não poderíamos continuar com essa loucura pro resto da vida. —
digo, tentando sufocar a dor em meu peito.
— Eu não vou deixar isso acontecer, Laura. Pelo amor de Deus,
vamos conversar com seus pais! Eles vão entender, tenho certeza. Luta por
mim como eu estou lutando por você.
Ah meu amor, eu estou fazendo isso por você.
Sua frase me quebra, e eu mal consigo respirar de tanta angústia em
meu peito.
— Igor, isso é difícil para mim e você está tornando tudo ainda pior.
Entenda, eu não vou ficar contra a minha família por um mero capricho. —
digo, engolindo todo o meu amor por ele, e deixando-o pensar que eu não
me importo tanto assim.
— Por quê? É difícil para mim também, — ele grita, chamando
atenção de algumas pessoas que também estavam ali — eu não vou te
deixar ir assim, pelo amor de Deus! Eu vou falar com o seu pai.
— Claro que você não vai falar com o meu pai. Você não é louco! Ele
já está furioso, vai acabar com o seu futuro, se isso não acabar! — confesso,
mas ele tenta argumentar um pouco mais, mas eu o corto com um aceno de
mão — Eu sinto muito, de verdade, Igor. Sei que você vai ficar muito
melhor sem mim, e nesse momento, é o que eu quero.
Igor parece descrente, e seu silêncio é ensurdecedor.
Meu coração, já despedaçado em mil pedaços, vê os olhos azuis
elétricos que eu tanto amava em um poço de tristeza e começo a
hiperventilar. Ele me abraça, em um movimento desesperado, e permaneço
com a minha cabeça apoiada em seu peito por alguns segundos, antes de
empurrá-lo para longe.
— Igor, com o tempo você vai entender que será melhor assim. Meus
pais não vão aceitar, e eu simplesmente não posso fazer nada. — junto toda
a minha força de vontade para dizer essas palavras. 
Por mais que essa decisão me mate aos poucos, ela precisa ser
tomada. Ele pode ficar quebrado no início, mas, eventualmente, vai se
recuperar. E depois vai vir o ódio, e com isso eu também vou conseguir
lidar. Com a indiferença não, essa seria a única coisa que me destruiria
também. Sei disso, porque eu nunca vou deixar de amá-lo, nem por um
segundo sequer.
Eu acredito em segundas oportunidades e sei que estamos destinados
a ficar juntos. No futuro, eu posso explicar tudo a ele e lhe pedir perdão. E,
se nosso amor realmente for forte o bastante, vamos poder ficar juntos
novamente, no momento certo, sem barreiras.
Eu o enfrento e olho diretamente em seus olhos, os mesmos que me
enfeitiçaram e me encantaram. Endureço a minha voz e digo a maior
mentira de toda a minha vida, rezando para que ele, algum dia, me perdoe.
— Você precisa me deixar ir, — digo com firmeza, enfatizando cada
palavra — você não entendeu ainda, o que você sente por mim não é o
mesmo que eu sinto por você. Eu nunca disse que te amo, porque não estou
apaixonada por você. Posso estar correspondendo aos seus abraços e beijos,
mas isso não significa que eu não corresponderia a nenhum outro cara que
me abraçasse e me beijasse também. Você me estrangula com sua
possessividade, eu quero minha liberdade, para poder sair com meus
amigos novamente e ser uma adolescente normal. Liberdade para fazer o
que eu quero, e acima de tudo, liberdade de você. — seus olhos me fitam
com descrença, e é nesse momento que eu sei que preciso fazer a única
coisa que eu sei vai fazer com que ele me deixe ir — Você é pobre, Igor.
Não temos nenhum futuro, e nós dois sabemos disso. No momento estava
me divertindo com essa possibilidade, porque você é bonito e me trata bem,
mas, no fim, não há muito o que fazer. Eu vou seguir a minha vida com
alguém de família boa e cheio de dinheiro, e você vai entregar pizzas em
algum lugar. Esse é o caminho natural da vida.
Faço, então, a coisa mais dolorosa do mundo, retiro o anel do meu
dedo e o jogo contra ele.
— Acabou.
Igor parece tão chocado, que o meu coração queima no peito. E,
momentaneamente, ele fica sem palavras. Então, corro o mais rápido que
posso até o carro onde meu pai e minha mãe estavam esperando.
 

 
Eu não consigo dormir, estou sem forças para fazer qualquer coisa
além de chorar. Foi estúpido ter acabado com o Igor daquele jeito, e vendo
agora, com mais tranquilidade, sem a pressão impossível que meus pais
colocaram em minhas costas, sei que cometi o maior erro do mundo! Eu
vou lutar por Igor, porque a vida é inútil sem ele.
Como posso escolher ignorá-lo para sempre?
Não ter suas mensagens todas as noites?
Como eu vou viver sem ter seu toque carinhoso?
Olho para o despertador em minha mesa de cabeceira, confirmando a
longa noite que viria pela frente. Ainda são onze e meia. Amanhã preciso
bolar um plano, nem que seja entrar no banheiro masculino, para conseguir
falar com ele à sós na escola. Estou cogitando chantagear Duda para ela me
ajudar de alguma forma. Eu só preciso pedir perdão, e implorar para que ele
volte comigo. 
Decido assistir um pouco de TV para desviar minha atenção e parar
de pensar nele, e na tarde horrível que passamos juntos. Amanhã, tudo vai
ficar bem entre nós novamente, vou explicar tudo o que aconteceu e Igor
vai me perdoar. Digo a mim mesma, apenas para buscar um pouco de
consolo. Passo de canal em canal, sem achar nada realmente interessante
quando um flash de uma casa em chamas me chama a atenção no jornal
local.
— Momentos terríveis estão sendo vividos em uma casa no subúrbio
de São Paulo. O fogo consumiu todo o local, e ainda não se sabe a extensão
dos estragos. Tudo indica que o incidente aconteceu devido a um curto-
circuito em uma fiação elétrica, mas ainda não é possível saber se essa é a
real causa do incêndio. Infelizmente, dois corpos foram achados pelos
bombeiros, e tudo indica que são de mãe e filho, Helena e Igor Martins.
Meu Deus! Não é possível, não pode ser. Essa casa se parece muito
com a do meu Igor, e a mãe dele também se chama Helena… Como se eu
estivesse assistindo a tudo em câmera lenta, vejo o controle escorregar das
minhas mãos.
— MEU DEUS, ISSO SÓ PODE SER MENTIRA! IGOR! — grito
em plenos pulmões, tentando apartar um pouco da dor em meu coração —
Não é verdade… Igor não está morto...só pode ser mentira… Igor não está
morto!
Fico completamente em choque, confusa e descontrolada. De repente,
minha mãe entra em meu quarto, e eu a olho suplicante, esperando que seja
algum tipo de brincadeira de mal gosto.
— Laura, o que aconteceu?
Aponto para o jornal na TV e minha mãe empalidece, vendo a
manchete da notícia.
— Mãe, eles estão mentindo... eles disseram que o Igor está morto!
Eu preciso ver ele agora! — grito histericamente, me colocando de pé em
um pulo.
Mamãe ainda assustada com a notícia, e principalmente com a
minha reação, pega o carro na garagem, sem pensar muito. Em todo o
caminho, rezo para todos os santos, pedindo por um milagre. Ele não pode
estar morto, porque se ele estiver, eu também estou.
Quando chegamos até o local, encontramos Duda e sua família aos
prantos também. Meu coração não consegue assimilar tudo o que está
acontecendo. Caio de joelhos, mal conseguindo respirar, e em completo
pânico, começo a gritar enlouquecidamente. Uma sensação arrasadora e
claustrofóbica toma conta de mim, e perco a noção do tempo e espaço. Meu
cérebro e meu coração não conseguem assimilar o que está confirmado.
Ele está morto.
 

 
Onde estou?
Que lugar é esse?
Por que está tudo tão malditamente branco?!
Será que eu morri?
Estou no céu?
Sinto uma dor física em meu peito, e me lembro do incêndio. No céu
não existe dor. Puta que pariu! Tenho certeza de que houve um incêndio em
nossa casa! Mamãe! Onde está a minha mãe?!
Abro os olhos, mas não consigo ver nada, tudo não passa de um
borrão. As luzes brilham tanto que ferem os meus olhos. Escuto algumas
vozes conversando distantes e olho fixamente para os vultos, tentando
enxergar alguma coisa, ou, no mínimo, entender o que eles conversam.
Mas, tudo o que eu consigo ver são silhuetas e sombras.
Quem são eles?
Por que eu estou aqui?
— Ele é um garoto muito forte. Foi incrível, um milagre, como ele
sobreviveu a ser esfaqueado, mesmo depois de ter perdido tanto sangue.
Você deve estar muito orgulhoso dele. — tento entender o que estão
dizendo. Quem será que sobreviveu a facadas?
Um homem com a voz rouca e um sotaque forte diz, enquanto o outro
solta uma gargalhada.
— Eu estou, acredite em mim. O sangue Zur corre em suas veias.
Forte, poderoso e lutador.
— Como você, sr. Zur. A cirurgia plástica reconstrutiva que fizemos
em sua mandíbula está cicatrizando bem. Ele pode parecer um pouco
diferente, mas ainda assim é, e continuará sendo, um garoto muito bonito.
Não sei como conseguiu aguentar a dor de ter a mandíbula quebrada e
descolada como ele teve. Assim como o nariz, que ficou completamente
desfigurado.
— Não há dúvidas sobre isso. Você fez um bom trabalho em suas
feridas, Doutor Smith. Graças a você e à sua equipe, meu neto está bem. E
por isso, eu sou muito grato.
— Estamos apenas fazendo nosso trabalho. Você é muito bem-vindo,
sr. Zur. Não ficarão cicatrizes visíveis, se todos as recomendações forem
cumpridas à risca.
Quero perguntar para esses senhores onde eu estou, sobre quem é esse
tal Zur de quem estão falando e principalmente, o que aconteceu comigo.
Mas minha garganta está em brasas de tão seca, e uma dor quase
enlouquecedora não permite que eu me mova um centímetro sequer, não me
deixando escolha alguma, além de ficar calado. Mas estou com tanta sede,
que dói. Movo minha mão esquerda lentamente, e a levanto com extrema
dificuldade. O homem de branco, provavelmente o médico, me vê e vem
imediatamente para o meu lado.
— Ele está acordado!
— Eu preciso… de água. — peço para o médico, tentando recuperar a
fala. Percebo que tenho uma grande dificuldade em falar, e sinto uma dor
excruciante ao tentar expressar algo.
Ele, lentamente, puxa a minha cabeça para cima e me ajuda a beber
uma quantidade muito pequena de água em um canudinho, me irritando.
Quero muito mais do que isso doutor, será que você poderia
cooperar?
O homem mais velho também vem para o meu lado da maca, olha
para mim e sorri, com lágrimas nos olhos.
— Olá, Igor, você me assustou muito, meu rapaz. Bem-vindo de
volta!
Tento me lembrar se já vi esse senhor alguma vez, mas não tenho
nenhuma recordação. Será que eu o conheço?
— Quem... é você? Onde... eu estou? — pergunto a ele, ainda com
grande dificuldade para falar.
— Você está em um hospital em Havdiam, meu rapaz, e eu sou seu
avô, Arnaldo Zur.
 

A vida sem Igor é como viver em um inferno.


Durante vários dias, eu apenas fiquei em meu quarto, chorando, sem
conseguir acreditar que isso realmente tinha acontecido. Me recusei a ir
para a escola, encontrar meus amigos e conversar com qualquer pessoa,
principalmente, com minha família.
Eu não senti fome, não senti sede, e isso fez com que minha mãe
passasse a me alimentar à força, sob ameaças vazias, que não significavam
nada para mim. A vida passou a ser miserável depois que eu o perdi, e o
remorso de ter falado tantas mentiras em nosso último encontro, passou a
me corroer. Fiquei de luto pela sua morte, como se fosse realmente sua
recém esposa, e confesso, também queria morrer. Apenas para que
pudéssemos estar juntos no céu, ou no inferno. Não me importava, desde
que estivéssemos juntos.
Depois de uma semana na miséria e extrema tristeza, meu corpo
finalmente desistiu. Gabriela abriu a porta do meu quarto e me encontrou no
chão, pálida, fria, com o pulso muito fraco e inconsciente. Todos em minha
casa entraram em pânico e me levaram no mesmo instante para o hospital
mais próximo, tive um choque hipovolêmico. Uma semana internada no
hospital, e um diagnóstico: estava deprimida. Mas, mais do que isso, eu
parecia um fantasma.
A depressão me dominou e, em vez de aceitar minha perda, eu me
tornei suicida. Queria vê-lo novamente, estar com ele, lhe dar um último
abraço e um último beijo. Queria lhe pedir perdão pelas coisas que disse e
explicar que só estava tentando protegê-lo das ameaças do meu pai.
É então que, em um sábado, o nosso dia especial, tomo uma decisão.
Abro meu guarda-roupa e pego meu cinto cor-de-rosa favorito, indo
até o espelho do meu armário. Me olho e tento manter a expressão neutra,
mas o choque de me ver dessa forma ainda me perturba. Pareço uma
lembrança do que um dia eu fui. Estou muito mais magra, com os olhos
mais fundos, com a expressão perturbada e sem nenhum brilho no olhar.
Um zumbi.
Deixo esses pensamentos de lado, prendendo o cinto ao redor do
meu pescoço. Com as duas mãos, puxo as duas pontas juntas e me
estrangulo. Tusso, tusso, tusso, mas nenhum resultado efetivo. Isto não vai
funcionar.
Procuro por algum apoio no teto. Uma barra, gancho ou algo em que
eu consiga amarrar o cinto de forma eficiente. Quando, finalmente,
encontro a barra da cortina. Pego a cadeira, subo nela e prendo o cinto com
força. Em seguida, amarro a outra extremidade ao redor do pescoço.
É isso aí, um passo e esse sofrimento acaba! penso.
Mas, alguns segundos antes de pular, eu me lembro que não fui capaz
de escrever uma carta para minha mãe, meu pai e minha irmã Gabriela.
É necessário? Sim, é claro que preciso escrever algo. São a minha
família, eu os amo apesar de tudo.
Desço com cuidado do banco, e desamarro o cinto, experimentando a
sensação de liberdade. Nesse momento, eu percebo uma coisa, como se
uma lâmpada se acendesse em meu cérebro. Minha família ficaria tão
miserável, quebrada e infeliz se eu morresse, que seria um ato egoísta
demais, para alguém como eu. Especialmente mamãe. Ela não seria capaz
de lidar com isso. Eu destruiria a vida de várias pessoas ao meu redor,
arruinando-os, assim como ficarei arruinada para sempre por Igor ter ido
embora tão jovem. Então, aos prantos, saio do meu quarto e desço até a sala
de estar.
Após semanas de reclusão em meu quarto, nossa casa faz com que eu
me sinta estranha. Estava tão tranquila e sem vida, com absolutamente
ninguém por perto. Percorro os cômodos à procura de alguém que possa me
dar algum tipo de conforto. Encontro minha mãe, e só de olhar para ela meu
coração tem um fio de esperança. Eu amo a minha mãe, e sentiria falta
dela.
Ela percebe o meu olhar e me encara de volta, com uma expressão
cheia de esperança. Então, ela sorri, enquanto algumas lágrimas correm por
suas bochechas, estendendo seus braços, me chamando.
Corro em sua direção e a abraço com força.
Por ela, eu preciso seguir em frente.
 
 

 
— Sr. Zur, a limusine já está pronta. — Rachel Becker, minha nova
assistente pessoal, diz com uma voz doce, igual a um gatinho manhoso.
Seus olhos piscam muito mais do que o normal, em uma tentativa
frustrada de me seduzir, assim como as duas últimas que passaram pelo
cargo. Sua minissaia está um pouco acima do tamanho ideal, e seu decote é
tão baixo que não deixa nada para a imaginação. Vulgar, é a única coisa em
que eu consigo pensar quando a vejo, mas não tenho tempo para treinar
outra pessoa no momento, então, Rachel terá que servir.
Aceno com a cabeça, sem paciência para esse tipo de coisa,
principalmente, hoje.
— Então vamos, não temos tempo a perder. Traga meu notebook e
minha maleta, por favor, preciso analisar alguns documentos, antes de
chegar ao Brasil.
— Sim, senhor! — ela responde em um ronronar.
—Você fez uma reserva no hotel?
— Sim, senhor. Suíte presidencial do melhor hotel de São Paulo,
como você instruiu. E meu quarto será em frente ao seu. — ela diz,
sedutoramente.
— Sério? — falo um pouco irritado. Uma simples secretária não
deveria gastar tanto dinheiro assim com um quarto para ela. Além de esse
tipo de insinuação ser impróprio.             
— Sim, senhor. Então, eu posso estar em seu quarto em apenas um
estalar de dedos... especialmente, no meio da noite… basta você pedir. —
reviro os meus olhos sem disfarçar.
— Ok, Srta. Becker. — meu telefone toca, uma distração bem-vinda,
e eu atendo ignorando totalmente a secretária, que parece estar muito mais
corajosa hoje do que nos outros dias. Rachel consegue ser extremamente
irritante quando quer.
— Rafael. — meu representante no Brasil, provavelmente me ligou
com notícias, e fico ansioso para saber o que ele tem a me dizer. Agora,
falta pouco para que eu consiga cumprir com o meu objetivo. Meu plano de
vingança será colocado em prática, depois de anos.
— Bom dia, Sr. Zur. O Sr. Morais já foi informado de sua chegada. A
diretoria, incluindo os chefes de departamento, também ficaram sabendo da
reunião e foram convocados. Você os verá amanhã de manhã, como já está
marcado. Estou ligando apenas para confirmar que tudo está correndo como
o senhor nos instruiu.
— Ótimo, Rafael. Você tem instruções diretas para se certificar de
que a filha do velho esteja lá. Ela precisa assistir de camarote quando eu
colocar os pregos no caixão do filho da puta.
— Com certeza, senhor. Laura Morais estará lá, já confirmou a
presença por e-mail, e também no invite da agenda. — Rafael respondeu.
Solto um suspiro audível, sem me importar com o homem do outro
lado da linha. Só a menção do nome de Laura me traz de volta um aperto
dentro do meu peito, infelizmente a ruivinha é como uma droga pesada para
mim. Tentei por muito tempo negar, por simplesmente não conseguir
acreditar que depois de todos estes anos, eu ainda poderia ser
completamente apaixonado por ela. Como um lembrete diário de como ela
e sua família marcaram a minha alma. Meu corpo de repente endurece, eu
preciso me controlar, não sou mais aquele garoto de anos atrás. Não posso
me deixar levar por conta de uma lembrança boa, que arruinou a minha
vida.
A ruivinha não vai me reconhecer mais, isso é fato. Além disso, ela
tem certeza absoluta de que eu estou morto, como o meu avô fez questão de
orquestrar quando tudo aconteceu. Forço minha cabeça a funcionar, e a
balanço em negativa, me odiando por fazer com que os meus pensamentos
sempre vão de encontro a ela. Isso não é sobre a Laura. Isso é sobre o seu
pai, Otávio Morais. O homem que tentou tirar minha vida e a da minha
mãe. O desgraçado que tirou tudo o que eu tinha. Ele é impiedoso, um
assassino, um demônio, e eu vou fazer com que ele pague por seus pecados.
Agora, mais do que nunca, eu vou fazê-lo sofrer, rastejar e implorar por
misericórdia. Amanhã, eu vou tirar tudo dele, seu estilo de vida, sua casa,
seu dinheiro, sua filha. E esse vai ser apenas o começo da minha vingança.
Otávio vai desejar morrer, assim como eu desejei milhares de vezes, antes
que eu termine com ele.
É estranha a sensação de voltar para o Brasil depois de tanto tempo.
Depois de dez anos, será como ressuscitar dos mortos, mesmo que Igor
Martins tenha sido deixado para trás há muitos anos. Ver o lugar onde
cresci, reencontrar pessoas com quem convivi em minha infância, e, é claro,
reencontrar Laura Morais, a única mulher que eu amei, vai ser desafiador.
Eles não vão me reconhecer agora, e eu nem quero que isso aconteça. Por
isso, fizemos tantas cirurgias plásticas reconstrutivas, já que meu nariz,
minha mandíbula e dentes foram totalmente destruídos. Apesar dos médicos
terem feito um ótimo trabalho para restaurar meu rosto, eu não sou mais o
mesmo homem de antes. Meu maxilar ficou mais acentuado, me dando uma
imagem mais feroz e madura, um preenchimento precisou ser feito, para
que eu parecesse simétrico e normal, e agora, mesmo depois de anos eu
mantenho a prática, para me reconhecer no espelho. Meu cabelo curto,
sempre raspado, passou a ser um pouco maior, em um visual mais sério e
poderoso. A barba densa esconde todas as cicatrizes, e me dá um ar muito
mais sério do que o rosto limpo. Estou ainda mais alto, e depois de muita
dedicação na academia, meus músculos estão enormes. Um outro homem,
definitivamente.
Meu avô, quando me mudei para a sua casa, insistiu em mudar meu
sobrenome de Martins para Zur, afinal eu deveria levar no nome o orgulho
do meu sangue grego e poderoso. Um parente rico e distante, que antes era
o meu sonho para resolver todos os nossos problemas financeiros,
finalmente apareceu, por eu ser seu único herdeiro, me esforcei para deixá-
lo orgulhoso. Descobri que meu pai morreu em uma missão na África,
pouco antes de eu nascer, e para homenagear Alexandre Zur, optei por
adotar esse novo nome, me tornando assim Alex Zur, não restando nada de
Igor Martins em mim, além da obsessão pela ruivinha e a vontade de
vingança. Ele era um menino bobo, cheio de sonhos e sem um pingo de
maldade no corpo. Fácil de matar. Muito diferente do homem que eu me
tornei, implacável, ardiloso e orgulhoso.
No avião, tento me concentrar em qualquer coisa que possa me
distrair nas horas intermináveis da viagem, mas não consigo disfarçar a
ansiedade que eu estou sentindo para chegar logo ao meu destino. A
ruivinha passa em minha mente, e eu sinto meu peito apertar de ansiedade.
Escuto Rachel rir ao meu lado, assistindo a um filme romântico em seu iPad
e me levanto irritado, nervoso e desesperado para ficar sozinho, quando
cruzo o caminho de Luiz Carlos, meu segurança. Ele era nosso novo
vizinho no Brasil, contratado pelo meu avô para cuidar de mim à distância.
Por diversas vezes ele me contratou para cuidar do seu quintal me dando
muito mais dinheiro do que o serviço realmente merecia, por apenas
algumas horas de trabalho. Essas coisas aconteciam com frequência, apenas
para monitorar minhas ações e relatar tudo ao meu avô, o jeito que o velho
encontrou para se manter próximo. Foi ele também quem me resgatou no
incêndio e me transportou para Havdiam, capital de Vongher, às pressas.
Além disso, Luiz Carlos foi pessoalmente investigar o que realmente
aconteceu, e quem havia pagado aos investigadores designados ao incidente
para manter o silêncio, nos declarando mortos. Além dele, eu tenho outros
três guarda-costas sentados atrás de mim, não importa o quão forte, rico e
diferente eu esteja, minhas costas nunca mais estarão descobertas, isso é
fato. Onde quer que eu vá, eles me seguem, prontos para lutar e morrer por
mim, esse é o trato. Não que eu não consiga lutar as minhas batalhas
sozinho, mas mais nenhuma ameaça iria me atingir. Nunca mais.
Quem teria acreditado que eu era Igor Martins, nesse momento? Um
bolsista pobre que trabalhava em uma cadeia de fast-food em um shopping
suburbano, jardinava e limpava o chão, em troca de alguns trocados para
ajudar em casa? Quando eu poderia imaginar que eu era neto de um
magnata multimilionário de renome mundial? 
Meu avô se rendeu assim que nos conhecemos pessoalmente, e desde
então, não deixou faltar amor e carinho, tentando se redimir pelos anos em
que estivemos afastados. Ele me ensinou a como me tornar um homem de
verdade. Poderoso, implacável quando necessário, forte e corajoso. Eu devo
tudo a ele, inclusive a minha vida.
Estudei na Universidade real de Lanuver, me especializei em
Business e me destaquei em tudo o que fiz, graças a muito esforço e
dedicação. Me tornei ativo nos negócios e criei conexões desde muito
jovem. Arnaldo Zur foi responsável por me apresentar a todas as pessoas
influentes do mundo, me colocar como seu sucessor e mostrar para todos os
investidores que eu era capaz. Viajamos juntos da Grécia para Roma,
Oriente Médio, Estados Unidos, Ásia e Austrália, mas nunca para o Brasil.
Contudo, eu sou apenas humano, e o desejo de vingança nunca saiu
de mim, com uma raiva que nunca consegui apagar. Independentemente de
qualquer coisa que eu fizesse, eu odiava aquele homem.
Ele tinha que pagar, e amanhã, eu cobraria suas dívidas.
 

 
Já passava das nove horas da noite quando deixei o escritório e
cheguei em casa. Assim que entrei pela porta principal, vi meu pai, Otávio
Morais, bebendo um uísque duplo do bar da sala de estar.
Esse tipo de comportamento se tornou um hábito nos últimos dois
anos. Ele teve uma espécie de surto psicótico, e depois entrou em
depressão, quando começou a perder dinheiro em todos os seus negócios.
Otávio começou a beber todas as noites, se afogando em álcool até ficar
bêbado, na esperança de esquecer o status atual de suas empresas falidas.
Encontrá-lo assim hoje, não é nada de novo sobre o sol.
Há três anos, quando uma empresa internacional multimilionária, Zur
International Company, com sede em Havdiam, um dos melhores paraísos
fiscais do mundo, concedeu um empréstimo de milhares e milhares de
dólares em equipamentos de comunicação para a nossa companhia, foi
como ganhar na loteria. Meu pai ficou em êxtase e acabou gastando todos
os ativos em novos aparelhos e títulos. Durante um ano, nossa empresa se
tornou um sucesso estrondoso no país, começou a produzir as melhores
criações de entretenimento no streaming, se equiparando a redes
americanas. As assinaturas começaram a chegar e, no final do ano, a
maioria das pessoas no Brasil se inscreveu em nossa rede.
Mas, depois de mais de um ano, surgiu uma rede concorrente,
extremamente inovadora e com alta tecnologia. O serviço era muito
moderno e apelava para o gosto de todos os tipos de assinantes, de jovens a
idosos. Sua rede inclusive era assustadoramente rápida. Papai, como sempre
arrogante, não se sentiu ameaçado pelo concorrente no início, confiando em
seu produto, mas quando a maioria de nossos assinantes começou a nos
abandonar, ele entrou em pânico. Mais ainda, quando nossos principais
investidores transferiram seus investimentos para a referida empresa. Foi
um desastre completo. Perdemos assinantes, perdemos status e,
principalmente, dinheiro. Depois, descobrimos que esta rede nova de
comunicação era da Zur International Company, e que eles nos passaram a
perna.
A empresa se afundou em dívidas, e essas perdas afetaram outros
negócios menores de papai, como a transportadora e os negócios de atacado
de eletrônicos. A empresa liquidou alguns ativos para pagar as contas,
especialmente, as parcelas mensais do empréstimo que pegamos, mas uma
dívida ativa é a corda no pescoço de qualquer empresa. E, foi assim que
declaramos falência.
A tragédia mesmo só aconteceu quando, após alguns meses, minha
mãe descobriu um câncer horrível. Foi aí que as nossas vidas viraram de
cabeça para baixo. Dona Marta precisou de fazer uma cirurgia com
urgência, papai ficou arrasado e muito perdido. A metástase atingiu grande
parte do seu intestino, e o grande e poderoso Otávio simplesmente não
conseguiu funcionar bem depois disso, extremamente preocupado com a
sua recuperação.
Minha mãe era sua vida, eles eram inseparáveis. E só depois que ela
se recuperou das quimioterapias, ele conseguiu voltar a sua atenção
novamente aos negócios. Mas a esse ponto, já era tarde demais. A empresa
se afundou em um prejuízo irrecuperável, o pior foi a Zur International
Company exigir o pagamento total do empréstimo, que já estava vencido.
Entendo o lado deles, afinal, ninguém obrigou meu pai a pegar o dinheiro
dos grandões, ainda assim, é esmagador chegar em casa depois de um longo
dia de trabalho e encontrá-lo dessa forma.
Hoje, a empresa teve uma reunião com os chefes de departamento,
diretores de finanças e advogados. Todos os edifícios da empresa, os bens e
propriedades pessoais de papai, veículos e nossa mansão já foram
transferidos para o nome da Zur, e, mesmo assim, não foi suficiente. Ainda
nos faltam doze milhões de fundos para pagar, e não temos ideia de como
poderemos resolver esse problema.
Não ousamos contar isto para minha mãe. Ela ainda estava se
recuperando da cirurgia e estava sob observação, não valeria a pena deixá-la
preocupada dessa forma. Com absoluta certeza, ela iria ficar preocupada,
ansiosa e devastada com a nossa situação, e isso poderia acarretar algum
problema mais sério. As contas do hospital e remédios diários, agora
também eram parte do nosso problema, e se do jeito que está, já está difícil,
imagine com um quadro de piora? Seria um desastre! Não teríamos mais
condições para manter seus remédios e este é só outro dilema que meu pai e
eu tínhamos que enfrentar.
Olho com compaixão para o homem que vejo em minha frente e
meu coração se aperta. Nem sempre nossa relação foi boa, e piorou
consideravelmente enquanto eu me relacionei com Igor no ensino médio.
Na realidade, por ter estudado em um colégio interno por grande parte da
minha infância, nós não tivemos a oportunidade de realmente nos
conhecermos antes. Sempre vi o seu lado agressivo e um pouco arrogante,
que nos comprava com presentes e não aceitava ser contrariado.
Mas, tudo mudou quando nossa família passou a enfrentar a minha
depressão de forma unida. Depois de quase tentar suicídio, meus pais
mudaram da água para o vinho comigo. Me levaram para os melhores
especialistas, me deram todo o amor e suporte possível e pareciam
verdadeiramente angustiados com tudo o que eu estava passando. Para ser
honesta, eles nunca souberam da missa a metade, mas chegou um ponto em
que eu cansei de ver os meus olhos fundos e tristes refletidos em seus
rostos, e por isso, passei a esconder como eu realmente me sentia. A tristeza
e a depressão nunca me deixaram, mas aprendi a conviver e deixar a apatia
da minha vida não afetar mais ninguém, além de mim mesma.
Esse caminho eu precisava percorrer sozinha, e há anos os remédios
me acompanhavam, para que eu pudesse ser um terço da pessoa que eu fui.
Caminho lentamente em direção ao meu pai, no bar da sala de estar,
pronta para ajudá-lo. Sua cabeça está caída e percebo que ele está chorando.
— Pai, você está bem? — digo suavemente, correndo minha mão em
suas costas.
— Estou tão confuso, Laura. Tudo se foi. Esta casa, o carro, todas as
propriedades pelas quais eu me esforcei tanto, para vocês e sua mãe. E…
ainda temos uma dívida enorme, que eu não sei de onde conseguir dinheiro
para pagar. Zur é um homem impiedoso, tenho medo do que ele pode fazer.
— Pai, vamos falar com ele e ele vai entender! Vamos pedir para que
ele nos dê mais tempo… tenho certeza de que ele tem coração.
— O homem não tem piedade, Laura. — ele diz, engolindo outro gole
de uísque.
— Pai...você vai ficar doente se continuar bebendo. Por favor, pare
com isso.
— Aquele homem me arruinou. — meu pai volta a chorar, fazendo
meu coração afundar — Rodrigo me ligou informando que Zur está vindo
pessoalmente cobrar a dívida. Ele vai levar tudo do prédio da empresa,
nossas propriedades pessoais, todos os nossos bens, e esta mansão. — ele
respira fundo, falando em um fio de voz — Ele vai tirar esta casa de nós.
Sua mãe vai se sentir miserável quando descobrir, — ele soluça, miserável
— isso irá matá-la!
— Pai, Deus vai nos ajudar… por favor, não fique assim...
— Laura, onde está Deus quando precisamos tanto dele?
— Pai, não diga isso, Deus está conosco. Ele vai nos ajudar. — nós
nos abraçamos, dando um grande suspiro.
— Você é sempre tão doce, Laura, tão boa. Tenho sorte de ter uma
filha como você. Você e Gabriela são tão diferentes.
Gabriela foi morar com o seu marido no Canadá há cinco anos e
nunca mais deu valor à nossa família. Eu assumi seu lugar como diretora de
marketing e gostava muito de trabalhar com meu pai em nossa empresa.
Sim, ser a filha do proprietário tinha muitas vantagens, mas fiz o melhor
que pude para me destacar em meu trabalho e dar um bom exemplo para os
funcionários. Esta brusca reviravolta me pegou de surpresa também. Estou
me sentindo impotente e miserável, mas tenho que ser forte. Só assim
permaneceremos firmes e enfrentaremos este momento complicado com os
pés no chão.
 

 
O plano era simples, porém a execução não foi fácil, mas um
homem em uma missão, realmente está disposto a tudo.
Apesar do ramo de negócios do meu avô ser voltado para a área
naval, abri uma companhia de streaming, e tornei a empresa grande e
poderosa nos EUA, assim, quando ofereci o empréstimo, Otávio já conhecia
o meu nome, e aceitou de olhos fechados. Foi fácil ver como o velho se
enrolou nas dívidas, e como as coisas fugiram do seu controle, como o
esperado. Um mau administrador geralmente é orgulhoso. E isso, eu sempre
soube que ele era, portanto, foi fácil dar o empurrãozinho na direção que eu
queria. Levar a Zur para o Brasil, fazendo um trabalho muito melhor do que
ele também foi fácil e esperado.
Agora, eu só precisava coletar os louros da minha vitória, e dessa
vez, a ruivinha seria o melhor troféu que eu poderia pedir.
Antes de sair para a reunião, vejo uma ligação perdida e retorno,
sabendo que, com certeza, serei repreendido:
— Alex, você não me disse se chegou bem. Fico preocupada dessa
forma.
— Não precisa se preocupar, sabe que vaso ruim não quebra fácil.
— escuto seu suspiro do outro lado da minha, mas mantendo a minha
postura.
— Ainda dá tempo de desistir. Esse tipo de vingança só vai te fazer
mal! Não compactuo com isso… — ela começa a reclamar, mas corto sua
investida, antes que eu realmente tenha um lapso de consciência.
— Você se lembra de tudo o que aconteceu, não é? Eu preciso
continuar.
— Vai se arrepender, e ninguém poderá te ajudar. Ela vai descobrir a
verdade.
— Não vai. Tenho certeza disso. Laura acha que eu morri, e de certa
forma, não resta nada daquele menino em mim. Vou seguir com meu plano
até o final.
— Resta a sua obsessão por ela.
— Não é obsessão… é amor. Ela vai aprender a me amar também,
tenho certeza disso.
— Bom, minha parte eu fiz. Te avisei.
— Volto em breve. — respondo e desligo, irritado e nervoso com
essa ligação.
É claro que, a princípio, Laura não vai declarar amor eterno a mim,
mas com o tempo, eu tenho certeza de que vamos nos entender.
Isso já aconteceu antes, por que seria diferente agora?
Finalmente eu terei o melhor dos dois mundos, a ruivinha de volta a e
vingança contra o homem mais odioso do mundo.
Ninguém vai me tirar isso.
 

 
Sentado na mesa de reuniões eu não consigo disfarçar o meu
descontentamento.
Todos já estão sentados em seus devidos lugares, inclusive o cuzão
do Otávio, que parece ansioso e trêmulo ao olhar em minha direção. Bom,
todos estão na sala de reuniões, menos ela, a razão de todo esse teatro, e o
motivo pelo qual eu preciso cumprir a minha vingança. É por isso que eu
voltei, depois de tantos anos, disposto a acabar com a vida de quem tentou
acabar com a minha.
Laura Morais não está presente, isso começa a me irritar, afinal,
Rodrigo me garantiu que ela estaria aqui. Algum idiota começa uma
apresentação, mas meu foco total é no relógio, que completa voltas e voltas
enquanto a ruivinha não chega. Me sinto patético, e quase pergunto aonde
ela está para os outros presentes na reunião, mas contenho meu impulso,
assim que escuto a porta se abrir.
Laura entra a passos rápidos, parecendo envergonhada pelo atraso e
eu não consigo desviar meus olhos da ruivinha. Ela se tornou mais
confiante, sexy e insanamente linda.
Como isso pode ser possível?
É claro que eu vi fotos, vídeos e todo tipo de coisa sobre ela, antes
de chegar a São Paulo, mas nada me preparou para olhar em seus olhos
novamente e ver que, apesar de ter se transformado em uma mulher linda,
ela ainda se parece muito com a minha menina de dez anos atrás.
Um anjo de olhos observadores e cabelos vermelhos, que agora
estão mais compridos. Laura continuou pequena e delicada, mesmo com
todos os anos que se passaram. Não consigo desviar o meu olhar de seu
corpo e, assim que ela pede desculpas pelo atraso, sinto meu pau se
manifestar dentro da minha calça apertada.
Isso é demais para mim, e apesar de saber que eu tenho um plano
para cumprir, a parte que mais me dará prazer não será acabar com o
desgraçado do Otávio Morais, mas me casar com a sua princesinha. Isso,
sim, eu farei com muita satisfação.
 

 
Na arte da guerra, eu tenho certeza de que a melhor opção é:
conheça seu inimigo. E nesse caso, o nome dele é Alex Zur.
Por isso, pesquiso seu nome em meu iPad e fico levemente
impressionada.
Alex Zur, nascido na Grécia, é o único neto e herdeiro do magnata
grego multimilionário da navegação mundial Arnaldo Zur, segundo o site
de pesquisas. Ele obteve seu diploma de Business na Universidade real de
Lanuver, com honras e prêmios, o que em si já é um fato muito
impressionante. Além disso, foi considerado um gênio na administração da
sua empresa de streaming, quando ainda estava na faculdade. Após a
graduação, ele dedicou seu tempo à empresa da família, cuidando com
maestria dos dois ramos da Zur empreendimentos. O perfeito menino de
ouro.
Tento achar alguma foto sua, mas encontro poucas delas. A maioria
não mostra seu rosto. Ou ele está abaixando a cabeça, usando um boné,
mostrando apenas um lado do rosto, ou seus olhos estão cobertos de
sombras escuras. Um artigo dizia que ele não permitia entrevistas ou que a
imprensa tirasse fotos, simplesmente, porque queria que sua vida pessoal
permanecesse privada.
Ai ai, você quer ser um boy misterioso né? Vamos ver se meu stalker
é bom mesmo.
Resolvo, então, passar a procurar nas redes sociais das garotas que ele
já namorou. Ninguém consegue ser tão anônimo assim, e talvez, dessa
forma, eu consiga saber um pouco mais sobre ele. Só quero olhar para o
rosto do homem, é pedir demais? Entre fotos com uma famosa modelo da
Victoria Secrets, a filha linda de um bilionário, uma atriz famosa e uma
cantora pop, consigo ver um pouco mais de Alex Zur. Começo então a me
perguntar, quantas vezes ele mudou de namorada no último mês, e fico
levemente enjoada.
Ele é um conquistador safado, com certeza!
Apesar de ser um imbecil mulherengo, tenho que agradecer a essas
meninas que me forneceram algum material, porque, só assim, consigo
olhar um pouco para Zur antes da reunião e tentar decifrar o homem dos
milhões.
O que começa mesmo a me perturbar é que Alex me lembra muito
Igor. Por incrível que pareça, eles são muito parecidos! Fico surpresa no
início, e preciso esfregar meus olhos várias vezes, para ter certeza do que eu
estou vendo, mas assim como aqueles famosos que poderiam ser irmãos na
vida real, como a Kate Perry e a Zooey Deschanel, Zur e Igor são realmente
parecidos. Contudo, Igor estava morto, eu vi seu corpo queimado, e Alex
Zur era um homem manipulador e prepotente que destruiu a minha família.
Seco uma lágrima que cai silenciosa pelo meu rosto, e resolvo fazer
alguns exercícios de respiração para que eu consiga me acalmar. Por mais
que eu queira muito me iludir, achando que Igor possa voltar, eu preciso
aceitar em meu coração que para a morte não tem volta. Tenho esse desejo
louco dentro de mim, esperando e desejando que ele ainda esteja vivo de
alguma forma mirabolante. Desde quando eu soube do acidente, não
consegui desapegar dessa sensação de que ele estava vivo por aí, apenas
esperando a hora certa para voltar. Depois de anos de terapia e remédios, eu
pensei que tivesse conseguido superar essa obsessão, mas só de ver a foto
desse completo estranho meu coração se acelera e eu começo a suar frio.
Eu não vou ceder, vou me manter sã.
Alex Zur não tem nada a ver com o homem que eu amei, e mais do
que nunca, estou determinada a não gostar dele. Não serão algumas
semelhanças com meu amor do passado que farão com que eu me iluda e
passe a simpatizar com o homem que está tentando destruir a minha família
por prazer. Não tem como gostar de alguém que quer tornar a vida do meu
pai miserável, e por consequência, a minha também.
Não posso fraquejar, não posso me deixar levar agora pela saudade e
tristeza. Preciso enfrentar Zur na reunião mais difícil das nossas vidas, e ver
de perto ele tomando posse de tudo o que é nosso.
O cretino exigiu todos os diretores na reunião, provavelmente para
nos humilhar, e provar o seu ponto. A empresa agora era dele, e se ele quer
conhecer todas as pessoas com quem ele vai trabalhar, não posso ignorar
essa decisão. Com sorte, talvez eu consiga manter meu emprego, e meu
salário possa cobrir alguns gastos do tratamento da minha mãe. Espero que
ele não queira demitir todos os funcionários da empresa também. Seria
muito doloroso ver todas as famílias que empregamos passando dificuldade
por um erro nosso. Não conseguiria me perdoar.
Sem muita vontade de me mover, me levanto e vou até o banheiro,
tentar arrumar a bagunça que está minha roupa amassada, meu rosto
banhado de lágrimas e o meu cabelo. Meus olhos estão fundos, e com
círculos arroxeados em sua volta, e quem olha para mim, em meus 1,56m,
não acredita que hoje tenho 25 anos.
Arrumo tudo o melhor que posso e caminho para a guerra. No meio
do caminho, me lembro que esqueci as pastas com todos os dados
importantes do marketing da empresa, e volto correndo para buscar,
tropeçando em meus saltos pelo caminho. Quando finalmente consigo
entrar na sala de reuniões, ainda um pouco ofegante pela corrida, sinto o
clima pesado. Olho para a ponta da mesa e vejo que o senhor Zur já está a
postos, me olhando fixamente.
Ainda perturbada, me sento na única cadeira disponível e abaixo o
rosto, esperando que as minhas bochechas não entreguem a vergonha que
sinto por ter me atrasado para uma reunião tão importante. Murmuro um
“me atrasei, perdão”, sem esperar que ele realmente escute, apenas para
cumprir com a educação.
A reunião continua o seu andamento, e quando eu tenho coragem de
levantar os olhos para observar Zur, quase não consigo segurar a
exclamação de surpresa. Nossos olhos se encontram, porque,
aparentemente, ele estava olhando fixamente para mim, com uma cara
muito irritada. E, Meu Jesus Cristinho! Ele é muito mais bonito
pessoalmente.
Me sinto completamente envergonhada pelo seu olhar inquisidor,
provavelmente irritado pelo meu atraso, e jogo o cabelo em uma tentativa
disfarçada de fazer uma cortina entre nós. Mesmo assim sinto seu olhar
queimando sobre mim, e quando é a minha vez de apresentar os números e
os relatórios, mal consigo falar. O azul tempestuoso de seus olhos é como
uma faca, me queimando por dentro. É como olhar para o passado, e juro
que nunca estive tão confusa.
Estou vivendo uma situação impossível.
Quando finalmente a reunião termina, papai, com a sua postura
destruída, solicita um minuto de atenção do implacável moreno de olhos
azuis. Ele vai implorar, se for possível, para manter a nossa casa, e talvez,
apenas talvez, Zur seja misericordioso o suficiente para nos deixar ficar.
Aperto os ombros de papai ao sair, tentando lhe transmitir força e só após
cruzar a porta, consigo respirar novamente. Esse estranho campo magnético
que me atrai e me massacra, vem exclusivamente daqueles olhos tão
familiares e ao mesmo tempo tão diferentes.
 

 
Eu sabia que ele iria implorar por alguma coisa. A minha resposta já
estava na ponta da língua para isso, mas nada me preparou para o que foi
despejado no meu colo. Imaginei que ele iria apenas pedir um prazo maior,
talvez a casa, e eu pediria a mão de Laura em casamento como garantia.
Um casamento por contrato, como sempre vejo por aí entre a alta
sociedade, mas ele começou a chorar e contar sobre o tratamento de câncer
da esposa.
Por que ninguém me contou sobre esse detalhe? Eu não fazia a
menor ideia. Mas, porra, doenças sempre me pegam desprevenido e são o
meu ponto fraco.
— Por favor, eu imploro pela casa e mais um prazo. Precisamos
pagar o tratamento de câncer de Marta, e ela pode morrer a qualquer
momento se eu não pagar as parcelas do plano de saúde. Para conseguir um
tratamento como esse na rede pública eu demoraria tempo demais, e ela não
tem tempo a perder. É a única coisa que eu peço! Estou implorando, Zur.
— Eu posso arcar com os tratamentos da sua esposa, Otávio… —
digo sucinto, e ele levanta a cabeça, em choque pela minha fala.
— Mas…? Vindo de você, provavelmente tem um mas. — ele
comenta, e eu dou ao velho os devidos créditos. Posso não ser a pior pessoa
do mundo, mas cheguei até aqui para conseguir o que eu sempre quis, e é
nesse momento que eu preciso negociar.
— Posso deixar a sua casa, e um carro de sua escolha para a
locomoção dela para o hospital. Perdoo trinta por cento da dívida e o resto
você pode me pagar durante um ano. — digo, e me sento na poltrona
presidencial da sua antiga sala, mostrando para ele, que quem manda aqui
sou eu — Mas…, eu preciso de uma garantia de que terei a minha dívida
paga.
— Como assim, uma garantia? — ele pergunta em um fio de voz, e
eu sinto o gostinho doce da vingança, quando conto a ele os meus planos:
— Preciso de uma esposa, para cumprir com o social. Você tem uma
filha linda, que serviria muito bem para esse papel. Laura poderia ser a
minha garantia. — jogo as cartas na mesa, e ele parece sentir a sua alma sair
do corpo.
Como será que deve ser a sensação de perceber que a única que
pode salvar a sua família é a garotinha pequena, que me foi negada e
proibida quando eu era mais novo?
O velho parece ficar sem palavras, mas aguardo o seu tempo para
processar a minha proposta.
— Você só pode estar louco! Minha filha não é uma prostituta! —
ele diz lívido, e eu confirmo com a cabeça.
— Naturalmente. Se fosse, eu não iria querer me casar com ela. —
digo, como se isso fosse uma transação de negócios fria e comum,
ignorando a chama que me consome por dentro, quando penso em Laura ao
meu lado durante esse ano que darei ao Otávio para se reerguer e me pagar.
— Não entendo o que você quer dela, então. Minha filha é inocente,
Zur. Ela é boa. Não vai se envolver nesse tipo de sujeira com você! Isso está
fora de cogitação. — sua voz é firme, mas eu levanto uma sobrancelha
inquisidora.
— Tem certeza? — pergunto, me servindo do uísque que está em
cima da mesa, provavelmente, no copo do próprio Otávio — É claro, que
seria um casamento de fachada, nunca forçaria nada com a moça, até
porque, eu não sou um monstro. Preciso me casar, mostrar que mudei para
convencer alguns acionistas a fecharem negócios comigo. Sou novo, as
pessoas acham que precisamos constituir uma família para sermos homens
direitos, esse tipo de merda que ouvi muito por aí antes de fazer tal
sugestão. — começo a fala ensaiada, e quando percebo que ele está me
acompanhando, continuo — Vocês precisam de dinheiro, eu preciso de uma
esposa. Tenho certeza de que Laura estaria disposta a discutir os detalhes
desse acordo comigo.
— Ela nunca se casará com você, Zur. — sua fala é cheia de rancor,
mas eu me levanto, sem tempo para esse tipo de discussão.
— Veremos. Falei com você primeiro e o inteirei sobre a minha
proposta, porque pediu uma reunião comigo, mas a levarei à sua filha mais
tarde. Tenho certeza de que Laura será muito mais aberta à ideia do contrato
que pode salvar a sua família. Veja isso como uma cortesia, assim, terá
tempo para prepará-la antes de nossa conversa. Até mais, Otávio. — dou a
minha cartada final, e saio da sala presidencial, deixando o homem que
tentou me matar, confuso e acabado.
Parte um do meu plano está quase concluída.
 

 
Vou até a minha sala, curiosa e ansiosa para saber exatamente o que
eles estão conversando.
Ah, como eu queria ser uma mosquinha nesse momento!
Sem muito mais o que fazer, coloco em uma sacola a maioria dos
meus pertences pessoais. Não sei até quando essa sala será minha, e quanto
mais rápido eu conseguir limpá-la, melhor. Retiro os porta-retratos, alguns
livros e uma caixinha que guardo no fundo da minha gaveta, contendo
algumas fotos antigas. Resgato a única recordação que tenho de Igor, uma
foto do anuário da escola, e analiso bem o menino bonito de dezessete anos.
Tão parecido com Zur e tão diferente ao mesmo tempo. Essa aproximação
toda, está me deixando neurótica e nostálgica.
Igor morreu, e eu preciso aceitar!
Pego as minhas coisas e caminho, ainda com lágrimas nos olhos, até a
sala de meu pai, curiosa para saber o que eles conversaram e,
principalmente, qual foi a solução encontrada.
Tento limpar meus olhos, que insistem em chorar, quando bato
inexplicavelmente em uma montanha de músculos, que vêm rápido,
colidindo em minha direção. Ele me segura pela cintura com um aperto
firme e intenso. Sinto uma eletricidade impossível, e quando me firmo
finalmente, suspiro alto.
— Laura. — ele diz.
— Igor... — eu sussurro confusa.
Esses olhos… meu Jesus Cristinho! São praticamente os mesmos
olhos do Igor, me encarando de volta!
— O que você disse? — Alex Zur pergunta, com um olhar penetrante
que me deixa um pouco desconcertada. Sua voz parece divertida, mas ao
mesmo tempo petulante, como se estivesse querendo me irritar.
Arregalo meus olhos, assustada e extremamente confusa. Ele
realmente se parece muito com Igor, mas ao mesmo tempo, eles são
completamente diferentes, Igor está morto. Esse homem é mau, ele é Alex
Zur: o inimigo! Seu porte físico é diferente também, sua postura é mais
agressiva e arrogante. O olhar é maldoso, cheio de segundas intenções.
Me endireito e retiro as mãos de seus ombros, imediatamente lhe
dando um leve empurrão. Só de pensar em tocá-lo meu corpo já se arrepia.
Isso não é normal.
Laura, você está enlouquecendo, eu tenho certeza!
Dou dois passos para trás, tentando manter uma distância respeitosa
entre nós, e ao mesmo tempo, necessária para que eu volte a pensar com
clareza. Isso precisa acabar, eu preciso voltar a agir sem parecer uma louca,
obcecada pelo passado.
— Ah… na verdade, nada. É sério. Eu pensei que você fosse outra
pessoa, Sr. Zur. Mas, me desculpe pelo esbarrão. Geralmente, não sou tão
desastrada. — ele sufoca uma risada, como se estivesse curtindo uma piada
particular, mas consegue se conter, me olhando de cima a baixo.
— Eu te machuquei? — ele pergunta, parecendo realmente
preocupado. Suas mãos vêm ao meu encontro, tentando me tocar para se
certificar de que está tudo bem, mas recuo dois passos para trás,
instintivamente.
— Não. Estou bem, juro! — digo um pouco exasperada. Se esse
homem me tocar, eu não sei o que pode acontecer, então, é melhor deixar
isso pra lá.
Como se apreciasse a deixa, Alex sorri e transfere seu olhar do meu
rosto para os meus seios. Que merda! Além de tudo, é um pervertido,
safado, cachorro, sem vergonha! A raiva invade o meu ser e eu cruzo os
braços, tentando me proteger.
— Me desculpe, mas tenho um assunto importante a tratar, Sr. Zur. —
digo com ironia.
— Está bem, então, nos vemos à noite. — ele diz, sorrindo com
malícia.
— Hoje à noite? — pergunto confusa.
— Sim, hoje à noite. Não me faça esperar, senhorita Morais. Já enviei
os dados do meu hotel para o seu e-mail, tenho certeza de que você e seu
pai tem muito o que conversar. — ele diz enigmático, andando para trás
lentamente, com as duas mãos no bolso das calças e um sorriso nos lábios.
Em um piscar de olhos, ele se vira e vai embora.
Hoje à noite? Não sei de nenhuma reunião hoje à noite.
Por que ele precisa me deixar assim, com essa cara de boba no
meio do corredor?
Para quê ser tão estranho e enigmático?
Eu quero perguntar ao Sr. Zur sobre exatamente o que ele está
falando, mas o bandido não me dá oportunidade. Só me resta perguntar ao
papai, já que esse, com certeza, sabe do que se trata.
Entro em seu escritório cautelosa. Sei que estamos passando pela sua
pior fase, e me preocupa muito como foi a conversa decisiva que eles
tiveram, e principalmente, qual é o estado em que ele se encontra.
O maldito parecia extremamente feliz no corredor, e meu coração diz
que há algo de muito errado nessa história.
Quando entro, encontro o sr. Otávio Morais está atrás de sua mesa,
encostado na cadeira e olhando para a parede com os olhos fundos,
perdidos, parecendo sem saber o que fazer. Ele nem sequer me ouviu entrar
em seu escritório, e assim que abro a boca, ele se assusta, como se eu fosse
o próprio diabo em sua frente.
Sinto tanta pena por meu pai. Sei que não tive uma infância fácil, que
nós nunca fomos realmente próximos, mas depois, ele tentou me
recompensar de todas as formas possíveis, e posso dizer que conseguimos
superar essa fase ruim em nosso relacionamento. Ver ele assim hoje, tão
devastado, tão perdido, tão triste, me parte o coração. Já não tínhamos mais
nada. Agora, ele é apenas a sombra de um homem que um dia já foi. Todas
as propriedades e bens já foram legalmente transferidos para Zur, hoje à
tarde, agora precisamos nos despedir deste edifício o mais rápido possível.
E mais tarde, quando voltamos para casa, teremos que arrumar nossas
coisas pessoais, para que amanhã a gente possa nos mudar para a velha casa
de campo da tia Tânia. A única que nos estendeu a mão nesses tempos
difíceis.
— Pai… você está bem? — pergunto, me sentando no chão, e
colocando a cabeça em seu colo.
Ele me olha fixamente por muito tempo, seus ombros derrotados,
demonstrando uma fraqueza que eu nunca havia visto antes. Depois de
alguns segundos, de repente, ele diz:
— Você sabe que não estou bem. Então, por favor pare de me
perguntar isso.
— Sinto muito, pai. — digo baixo, e ele afaga meus cabelos com
carinho.
— Laura, eu te amo tanto, meu anjo. Você é a filha perfeita. Tão
obediente, amorosa e compreensiva. Eu sempre rezei para que um dia você
encontrasse um homem bom que realmente te amasse, cuidasse de você,
permanecesse fiel ao seu amor e te desse alegria e plenitude em sua vida.
Não alguém como Zur, que é um filho do diabo! — ele respira fundo, e diz
lentamente — Me perdoe. — franzo o cenho, sem entender o que ele está
dizendo.
— Do que você está falando, pai?
— O homem te quer, Laura. Ele está cobiçando você, e não vai
desistir.
— O quê? Eu não entendo! — digo enfática.
Como assim o homem ME quer?
— Eu pedi uma margem de manobra... para nos dar um pouco mais
de tempo para pagar nossa dívida. Também pedi que nos deixasse ficar na
mansão por um tempo, já que sua mãe ainda está se recuperando do
tratamento… foi um pedido desesperado, porque sei como ele é.
— E...? O que ele disse? — pergunto curiosa, ansiosa e,
principalmente, cheia de esperança.
— Ele concordou. Ele até se ofereceu para arcar com as despesas
médicas da sua mãe e nos fornecer todas as nossas necessidades básicas…,
mas… — seus ombros caem em completo sofrimento.
— Mas o quê, pai? Um homem como ele não se limita a fazer esse
tipo de coisa sem uma condição. — me levando angustiada, esperando
qualquer tipo de monstruosidade vindo dele, pelo estado do meu pai.
— Ele te quer como garantia, Laura. Quer um casamento por
contrato. — suas palavras saem em um fio de voz, mas eu fico tão perplexa
que preciso que ele repita para que eu entenda bem o que ele está dizendo.
— O quê? — minha voz sobre três oitavas e eu fico de boca aberta.
Eu?
— Ele quer que você fique com ele, em um casamento por contrato,
até que eu consiga pagar minha dívida! Aparentemente, ele precisa desse
casamento de fachada e te achou interessante para isso. Perdoaria uma parte
da dívida e nos deixaria ficar com a casa, um carro e pagaria o tratamento
da sua mãe.
— Isso é uma loucura, pai! Ele está me tratando como um pedaço de
terra ou sei lá… um documento importante… nunca ouvi falar disso, um
casamento por contrato como garantia para quitar uma dívida. Caramba!
Eu nunca estive tão puta em minha vida!
Este Zur realmente é um demônio. Como pode me tratar assim,
como um pedaço de carne?
— Definitivamente, ele não está te tratando como um objeto, Laura.
Ele estava babando por você na sala da diretoria, isso é a mesma coisa que
uma prostituta.
Meus olhos se arregalam com a fala do meu pai. Ele não estava
babando por mim na sala de reuniões, era mais como um olhar de ferro,
irritado, hostil. Além disso, nunca imaginei meu pai, aquele tão clemente a
Deus, se referindo a mim dessa forma.
Tudo isso parece um filme de terror, e eu entro em completo choque.
Não existe esse tipo de transação no mundo dos negócios, você não pode
simplesmente comprar a companhia de uma pessoa. Principalmente, em um
quesito mais íntimo, um casamento. Pode?
— O quê? Ele disse isso?
— Não, ele não precisou dizer. As ações falam mais alto do que as
palavras. Eu sei que ele a quer e, aparentemente, está disposto a negociar
para isso… — como se tivesse tomado um choque de realidade, papai se
levanta enérgico, com uma fúria em seu olhar — Pode ficar tranquila, eu
vou matar aquele cara se ele alguma vez colocar um dedo em você. Não vai
ser a primeira vez, nem a última que eu faço de tudo para te manter intacta,
minha filha. Pode ter certeza disso.
Eu suspiro assustada, tanto pela atitude de papai, quanto pela proposta
de Alex. Zur realmente não estava de brincadeira. Entre todas as
possibilidades, eu nunca pensei que ele sugeriria algo assim, tão infame.
Será que ele quer que eu seja seu brinquedo sexual?
Justo eu, uma virgem?
Me encolho só de pensar em me deitar com ele.
Neste momento, mais do que nunca eu realmente o odeio.
 

 
Olho mais uma vez para o relógio de pulso, sentado no quarto de
hotel, com ódio. Já passou das nove da noite e eu estou, literalmente, parado
na mesma posição desde às cinco da tarde, esperando a ruivinha tomar uma
atitude. Começo a me perguntar se ela realmente virá ou se fui prepotente
demais em pensar que, de uma só vez, eu iria conseguir tudo o que eu
quero.
O que essa mulher fez comigo? Pareço um adolescente, sem
conseguir me comportar direito.
Laura passou a ser uma obsessão.
Muito antes de nos trancarmos naquele armário, eu já a seguia de
longe, esperando a minha chance. Desde os dezessete anos eu a segui como
um cachorrinho, encantado pelo seu sorriso fácil e a sua bondade
inabalável. Agora que eu tinha a chance de fazer seu pai pagar por tudo o
que ele fez, ainda vacilava ao seu redor, pensando muito mais em ter ela pra
mim novamente do que em destruir o homem que tentou arruinar a minha
vida.
Quando nos encontramos mais cedo, ela me chamou de Igor. Será que
ela percebeu quem eu era? Mesmo estando diferente o suficiente para não
gerar esse tipo de dúvida, eu tenho certeza de que se fosse o contrário, eu a
reconheceria. Ela reconheceu meus olhos.
Me levanto e tiro o par de anéis do bolso da calça. Recuperei a aliança
dela depois que fui humilhado anos atrás, e sempre guardei os dois comigo,
como uma lembrança de quem eu era, e de como seriam as coisas, se
Otávio não tivesse se intrometido em nossas vidas. Observo-os em minhas
mãos por vários minutos, me lembrando novamente daquela época e
examino as palavras gravadas no anel de Laura.
Pertenço eternamente a Igor.
Em seguida, olho para meu anel e leio as palavras gravadas.
Pertenço eternamente a Laura.
Um juramento que eu involuntariamente fiz questão de cumprir.
Nunca amei nenhuma outra mulher, ou me comprometi como fiz com ela há
dez anos, quando fizemos esse juramento que hoje me parece uma piada de
mal gosto, já que ela não apareceu.
Coloco-os na mesa central da sala de estar, com raiva de mim, dela,
do seu pai e do mundo, e caminho até o frigobar em busca de uma cerveja.
Preciso tomar um ar fresco, só assim para que eu consiga pensar direito e
colocar a minha cabeça no lugar. A varanda, no coração de São Paulo, tem
uma vista linda e fico por um tempo apreciando a cidade que nunca morre,
contudo, a cada dez minutos, eu verifico as horas em meu Rolex.
Já passou das onze e, provavelmente, ela não vem.
Que caralho! Se ela realmente não vier tudo isso será em vão! O
plano era certo, e esse casamento tem que acontecer de um jeito ou de
outro.
Entro, me sentindo derrotado. Do que adianta destruir o velho, se
não conseguirei reconquistar a minha ruivinha?
O demônio do seu pai provavelmente não lhe contou sobre minhas
condições. Ele prefere perder tudo a entregar a sua pequena Chapeuzinho
Vermelho ao lobo mal. Isso me deixa puto pra caralho! Preciso pensar em
outro plano.
A campainha do quarto me assusta e me levanto em um pulo, já
alerta. Meus seguranças estão em ronda nos corredores, não pode ser
ninguém que não seja esperado, então, forço a minha respiração, para que
ela se acalme, e caminho até a porta. A esse horário, só pode ser a Laura!
Passo a mão pelo meu cabelo, tentando arrumá-lo, e depois de um suspiro
alto, eu abro a porta sem nem olhar pelo olho mágico.
O que se mostra um grande erro.
Fico chocado ao ver uma mulher loira, em uma roupa de enfermeira
muito inapropriada e reveladora, sorrindo para mim, batendo seus longos
cílios negros.
— Oi, chefe… vi que sua luz ainda estava acesa. Você quer brincar de
médico comigo? Sei ser uma enfermeira muito safada, se você quiser. —
Rachel diz, lambendo seu lábio inferior, em uma tentativa frustrada de
parecer sexy.
— O que você está fazendo aqui? — falo, depois de alguns segundos,
surpreso demais para esboçar uma reação — Por favor, volte para o seu
quarto agora, ou amanhã assino a sua carta de demissão por justa causa.
— Vamos lá, Sr. Zur, só esta noite, por favor. Me deixa te dar prazer...
você não vai se arrepender, sou ótima em agradar a um homem. Tenho
certeza de que vai ser bom para você… — ela ronrona como um gatinho
novamente, me fazendo perder a paciência.
— De jeito nenhum! Volte para o seu quarto agora. Você está bêbada
Rachel, mesmo que eu quisesse, e deixo claro aqui que não estou
interessado, não faria nada com você desse jeito. — reviro os olhos, puto
por ter que lidar com esse tipo de coisa.
— Por favor… Sr. Zur… estou tão sozinha, só por uma noite. — ela
diz e desmaia em meus braços.
— Mas que merda! Rachel? Acorde! — começo a sacudi-la, mas ela
não reage. Sem escolha, carrego-a para dentro do quarto.
No momento em que eu abaixo para colocá-la em uma cadeira, a
maldita agarra o meu pescoço e me beija.
Puta que pariu! Essa mulher é uma ninfomaníaca, e perdeu a noção
do perigo! Só pode.
Ela tenta beijar meu rosto, meu pescoço e lábios, enquanto eu fico
sem reação, surpreso pela sua ousadia. De repente, alguém atrás de mim
fala, e meu corpo todo fica rígido.
— Acho que não sou mais necessária aqui. Alguém já tomou o meu
lugar.
Fico tão chocado quando escuto a voz de Laura, que até Rachel
parece se comportar. Caralho! Esqueci de fechar a porta quando levei essa
maluca para dentro. Não que eu soubesse que a louca iria me agarrar, é
óbvio.
—Vá. Para. O. Inferno. E. De. O. Fora. Daqui. — digo alto e com
raiva para a Rachel, que se levanta apressadamente e sai da minha suíte,
entendendo o nível de raiva que eu estou sentindo.
Me endireito, viro lentamente, e olho para Laura.
Ela está de pé, parada na porta aberta da suíte, carregando uma mala
pequena, tremendo levemente. Seus olhos brilham com tanta raiva que por
alguns segundos, e pela primeira vez em muito tempo, fico sem palavras.
Não era isso que eu tinha em mente quando marquei nosso encontro aqui, e
nesse momento eu não sei o que dizer, deslumbrado com a sua presença. A
ruivinha está ainda mais bonita com essa fúria exalando de dentro de si.
E, puta merda, ela veio. Veio mesmo!
— Laura, você veio, — abro um sorriso ansioso, e me aproximo dela
— entre!
— Você não me deixou escolha. Se eu pudesse, não estaria aqui. Mas
parece que eu interrompi algo. — ela respira fundo, como que para tomar
coragem, e continua — E mudei de ideia. Tomei a decisão errada de vir
aqui hoje à noite. Adeus, Sr. Zur. — ela, então, se vira com firmeza e, de
repente, começa a caminhar em direção ao elevador.
O quê?! Ela veio até aqui para desistir e ir embora? De jeito
nenhum. Não vou permitir que isso aconteça.
— Ei, Morais, para. Volte aqui e vamos conversar primeiro. — digo
imponente, e vou caminhando em sua direção a passos rápidos, começando
a entrar em pânico. Ela não está blefando, pelo visto, realmente está
disposta a ir embora.
— Laura, você vai parar e me escutar! — falo firme, praticamente
gritando. Ela me olha com desprezo e eu recupero o tom de voz normal —
Por favor? O que você viu, não é o que você pensa que é. Rachel e eu...
— Sr. Zur, você não precisa me explicar! Eu conheço os homens,
principalmente, os safados e manipuladores como você. Mas, vim aqui
porque pensei que você queria me fazer uma proposta de casamento, e
mesmo que ele seja de fachada, eu não vou ser desrespeitada dessa forma.
O que quer que você faça não é da minha conta, mas se quer qualquer coisa
que seja comigo, esse tipo de evento não vai acontecer. — ela diz
firmemente.
A sua explosão me deixa sem palavras. Realmente, ela não esperava
muito de mim, mas, de fato, eu a desrespeitei, mesmo sem nenhuma
intenção. Não posso julgá-la por pensar isso, mas posso recompensá-la de
alguma forma. E mostrar que isso não é algo comum, ou que eu queria.
Enquanto penso, ela aperta freneticamente os botões do elevador e quando a
porta de metal se abre ela entra imediatamente. Sem parar para pensar,
agarro a sua bolsa, em uma tentativa desesperada de fazê-la ficar.
É isso, eu me tornei um psicopata desesperado pela atenção dela.
— Solta a minha bolsa! — ela exclama com raiva.
— Vamos conversar… Não vou te devolver até que você saia do
elevador e me escute. — digo em tom de ameaça, e me arrependo um
segundo depois, quando ela revira os olhos e abre um sorriso sarcástico.
— Sério? Tudo bem! — ela diz em tom de deboche — Você pode
ficar com a bolsa. Dê as minhas coisas para a sua namorada, talvez, a ensine
a ter classe. Estou indo embora agora.
— Ela não é minha namorada. É a minha secretária, e estava bêbada.
De repente, bateu em minha porta e desmaiou! — me junto a Laura no
elevador e a porta se fecha instantaneamente.
— Ah! Claro. Como você é tão prestativo, estava fazendo respiração
boca a boca. Como você é gentil, Sr. Zur, tão preocupado com seus
funcionários… estou realmente impressionada agora. — ela revira os olhos,
sendo extremamente sarcástica.
— Você já parece enciumada, Srta. Morais, imagino quando for a
minha esposa. — digo para provocá-la, com um sorriso nos lábios.
— Você é louco, isso nunca vai acontecer. Eu não gosto de você. Na
realidade, eu te odeio por fazer a vida do meu pai miserável. — ela respira
fundo, engolindo as lágrimas — Ele estava tão preocupado sabendo que eu
viria para cá. Mas… agora ele vai ficar contente por eu ter mudado de ideia.
— Laura diz, olhando para os números iluminados dos andares,
provavelmente, desesperada para sair daqui.
Meu olhar vai de encontro aos botões, e em uma medida desesperada,
aperto o botão de pane, fazendo com que o elevador pare em um baque
grande. Resolvo abraçar a minha insanidade. Se é isso que vai fazer com
que ela me escute, que seja.
— O que você está fazendo? — Laura começa a entrar em pânico —
Eu sou claustrofóbica! Não posso ficar em um lugar fechado assim! — ela
diz, hiperventilando.
— Precisamos conversar. Não vamos sair deste elevador até que o
façamos. — digo firme, mas por dentro muito angustiado. Vê-la assim é um
martírio, e agora preciso ser firme. Ela não pode voltar para casa com uma
impressão tão errada sobre mim, não agora que começou a aceitar a ideia do
meu contrato de casamento.
— Eu não quero conversar, só quero ir para casa. — ela diz ofegante
— Já te disse que mudei de ideia, por favor me deixe ir.
— Você não pode desistir agora. Já chegou até aqui, Laura.
Precisamos conversar.
— Eu não me lembro de ter assinado nenhum contrato ainda, Sr. Zur.
Posso sair, se quiser, você não é o meu dono. Além disso, não gosto da ideia
de ser sua esposinha troféu enquanto você se engraça com as suas
funcionárias na minha frente. — ela diz com raiva e continua — Por favor,
me esclareça, Sr. Zur, o que envolveria o nosso casamento? Você espera que
eu seja obediente? Uma empregada? Uma escrava sexual? Uma prostituta?
Ou uma mistura de tudo isso junto?
Olho para ela como se tivesse nascido outro olho em sua testa e ela
parece perceber a minha expressão confusa. Nunca ouvi tanta merda em
toda a minha vida! Que história é essa? Quem colocou essas ideias em sua
cabeça? Uma escrava sexual? Uma prostituta? Uma empregada? Laura só
pode estar louca se achou que eu faria algo do tipo com ela. Deixei muito
claro para Otávio que eu não era um monstro e que nunca forçaria nada
com a ruivinha.
— Eu nunca faria isso com você. Existe uma opção mais viável, a que
geralmente envolve esse tipo de acordo entre duas partes beneficiadas, e
que não envolve nenhuma das opções acima. Eu só quero que você seja
minha amiga, minha companheira para os meus clientes e minha anfitriã em
todas as festas que eu der. Uma pessoa que estará ao meu lado nos eventos,
e mostrará para o mundo que eu sou um homem confiável.
— Você está falando sério? — ela diz, parecendo desconfiada —
Você é inimigo do meu pai, e agora quer que eu seja sua amiga, sua esposa.
Só pode ser uma piada de mal gosto, eu assisti à Bela e a Fera! Eu sei o que
um monstro pode fazer com uma mulher indefesa que vai em busca de
ajudar o seu pai.
Eu abro um sorriso enorme pra ela.
— A Bela e a Fera? Sério, Laura? Eu realmente pareço tão
monstruoso assim? Seu pai aceitou o dinheiro, não pagou a dívida, e como
acontece com qualquer outro homem de negócios, uma hora a conta chega.
Mas estou disposto a pagar as contas do hospital para que a sua mãe
continue a ser assistida, deixei a casa e um carro para que eles não passem
necessidade, e ainda perdoei trinta por cento do valor. Não é uma proposta
tão ruim, sendo que eu só peço em troca a sua amizade e companhia por no
mínimo um ano, ou até ele quitar por completo toda a dívida. Eu te
prometo, essa é a descrição do trabalho.
— Você tem certeza? Sem sexo? — ela diz, ainda um pouco
temerosa.
— Desapontada, srta. Morais? — pergunto, com um sorriso malicioso
nos lábios, apenas para deixá-la um pouco desconfortável. 
— Claro que não! Eu estou tentando deixar tudo claro! — ela
responde ofendida.
— Não posso te prometer isso, sinto muito. — digo honestamente —
Me sinto atraído por você, não vou negar. E, tenho certeza de que já sabe
disso. Mas nunca forçaria nada entre nós, eu não sou um monstro, pelo
amor de Deus! Claro que não vou te forçar a fazer algo que você não
queira. — respondo, passando as mãos pelos cabelos, tentando me acalmar
— Você tem que confiar em mim.
— Você é engraçado, Sr. Zur. Me acha atraente, sabia que havia a
possibilidade de eu estar aqui hoje e, mesmo assim, estava se agarrando
com outra pessoa em seu quarto. — ela pondera, me olhando fixamente —
Eu não acredito nem por um segundo em você. Com relação à confiança,
acho que jamais poderia confiar em você. Amizade? Duvido muito. Você
tornou a vida da minha família miserável. Eu ainda te odeio e acho que
nunca poderia gostar de você ou querer algo mais profundo como um
envolvimento íntimo.
Ok, essa doeu. Mas não deixa de ser verdade.
— Eu entendo como você se sente, e como eu já te disse, Rachel
bebeu muito e passou de um limite rígido, já estipulado previamente. Ela
arcará com as consequências, mas esse episódio lamentável não foi culpa
minha. — digo, mantendo a calma, e ela confirma com a cabeça a
contragosto — Agora, podemos voltar à minha suíte e terminar nossa
discussão lá? Já passou da meia-noite, o pessoal das câmeras de segurança
deve estar ansioso para saber o que estamos conversando, e eu gosto muito
da minha privacidade. Além do mais, tenho certeza de que você está
cansada. — digo, determinado a não a deixar ir embora.
— Ainda não estou de acordo com seus termos. — ela responde,
cruzando os braços, mas tem o esboço de um sorriso nos lábios.
— Certo, o que mais você quer? — pergunto mal-humorado,
querendo acabar logo com isso. Sei que preciso ouvir as suas concessões, e
para ser franco, tinha certeza de que elas viriam de alguma forma, mas esse
não é o melhor momento, nem o melhor lugar para isso.
Ainda temos muitos contratos para assinar, inclusive um acordo pré-
nupcial e o próprio contrato de casamento. As condições dela podem ser
acordadas depois, quando o advogado estiver organizando toda a papelada.
— Quero meu próprio quarto, além de, claro, manter contato com
minha família.
— Vou pensar sobre isso. — digo sucinto, não querendo entregar tudo
o que ela exigir de bandeja.
— O quê? — ela grita, furiosa — Você realmente queria me manter
longe da minha família? Só pode ter fugido de um hospício.
— Ah, pelo amor de Deus! Eu estava me referindo ao quarto! —
respondo, jogando os braços para cima — Você venceu. Pode conversar
com o seu papaizinho querido, sua mamãe e a puta que pariu. Vou
providenciar um quarto para você quando chegarmos a Havdiam. Agora,
nós vamos voltar para a minha suíte. — ordeno com raiva.
Eu só não quero mais discutir com ela. A ideia do quarto separado me
perturba profundamente, mas resolvo não discutir mais, para não parecer
ainda mais patético.
— Ok, tudo bem, você venceu. Estou bastante cansada. — ela diz,
com o primeiro resquício de um sorriso.
Laura fica com a cama, enquanto eu me disponho a dormir no sofá da
sala de estar. Vejo ela tomar alguns remédios antes de dormir, e faço uma
anotação mental para perguntar sobre a sua saúde o quanto antes. Na
realidade, vou colocar um check up no nosso contrato, para saber se ela está
mentindo ou não, caso me diga que está bem. Com o seu histórico familiar,
e a sua mãe tratando do câncer, é importante ter certeza de que ela não está
doente também. Eu me mataria se depois de tudo, tivesse que lidar com a
sua perda.
Enquanto olho para o teto, começo a relembrar de toda a nossa
conversa, não acreditando que eu estou mesmo vivendo essa situação,
finalmente. Simplesmente não consigo acreditar que ela está comigo nesse
quarto de hotel. Parece bom demais para ser verdade.
 

 
Que cama é essa? Onde eu estou? Meus olhos vagueiam pelo quarto
escuro, ainda confusa demais para entender o que estou fazendo aqui.
Geralmente, quando acordo, fico desorientada por um tempo, tudo culpa
dos remédios tarja preta que eu faço uso para dormir. Minha cabeça gira e
eu mal consigo abrir os olhos, mas tenho absoluta certeza de que há algo
errado, por isso, não volto para o mundo dos sonhos, como o meu corpo
praticamente me força a fazer. Tento me lembrar da noite passada, e uma
avalanche de memórias vem em minha direção.
Ai meu Jesus Cristinho, estou no quarto de hotel de Alex Zur. O
inimigo.
Sinto tanta sede, que sou forçada a jogar meus pés para fora da cama
e sair do quarto em busca de uma garrafa d'água. Minha língua parece uma
lixa e eu tenho certeza de que não vou conseguir pregar o olho novamente
antes disso. Apesar de cambaleante e ainda zonza, procuro pela suíte
enorme onde está a porcaria do frigobar, e me lembro que tem uma cozinha
americana na tal antessala.
A lua está tão brilhante hoje que, mesmo sem acender a luz, consigo
ver nitidamente Alex deitado no sofá em um sono pesado, usando um
pijama preto, parecendo muito relaxado. Não quero perturbar o seu sono
nem, principalmente, ser pega espionando-o, por isso, vou o mais
silenciosamente possível até a cozinha.
Bebo a água gelada, que mata a minha sede, como se fosse a melhor
coisa do mundo, e quando finalmente estou prestes a voltar para o quarto,
sou atraída pelo brilho de algo em cima da mesa de centro da sala de estar.
Fico tão hipnotizada com a peça que a minha mente me pregou, que preciso
me aproximar para ver melhor. Não é possível que essa merda de remédio
esteja me dando alucinações. Eu não estou louca a esse ponto. O reflexo da
lua, apesar de claro, não é suficiente para eu descobrir se é realmente o que
estou pensando a essa distância, e o mais silenciosamente possível, dou
alguns passos em direção à mesa, me agachando como uma criminosa.
Quando estou prestes a pegar o item vislumbrado, Alex se mexe
subitamente, murmurando algo, e me deixa paralisada no local. Não vale a
pena correr o risco de ser pega espionando-o apenas para saciar minha
curiosidade louca. Claro que esses não são os mesmos anéis. É impossível,
até porque, o meu ficou perdido naquela maldita grama anos atrás.
 

 
Acordo horas depois, sentindo alguém dentro do quarto. Lembro-me
de que esqueci de trancar a porta depois de sair para beber um pouco de
água e começo a me amaldiçoar por dentro. Burra, burra, burra. Abro os
olhos lentamente, e sou surpreendida quando vejo Alex se trocando perto de
um armário aberto.
Ah, meu Jesus Cristinho!
Ele está totalmente nu!
Pelo amor de Deus, homem, não são nem oito horas da manhã!
Suas costas são incrivelmente lindas, fortes, bem musculosas e
atléticas. Apesar disso, existem algumas leves cicatrizes que, mesmo de
longe, eu consigo enxergar. Onde será que ele conseguiu isso? Abaixo um
pouco o meu olhar e vejo seu bumbum redondinho, lindo. E me sinto muito
quente de uma hora para outra.
Sua cabeça se vira de repente, e seus olhos se fixam em mim. Eu,
imediatamente, fecho os olhos, fingindo que ainda estou dormindo. De jeito
nenhum vou assumir que estava espiando e ser pega no flagra.
Alguns segundos depois, escuto-o fechar a porta do banheiro.
Suspiro e abro amplamente meus olhos, assustada. Que vergonha! A
primeira vez que eu vejo um homem pelado, mesmo que de costas, foi
completamente sem querer. E ainda por cima, Alex Zur. Isso é o que eu
chamo de azar.
Ele é realmente um homem impossível. Por que ele está desfilando
dentro do quarto, totalmente nu, comigo deitada ainda dormindo? Isso é
cumprir com o combinado? "Apenas amigos…", sei.
Olho para o relógio e ainda são seis da manhã. Vou ficar na cama um
pouco mais, eu mereço. Estando aqui eu não preciso responder aos
questionamentos de Alex, nem ficar sob o seu olhar instigante. É isso, vou
esperar, pelo menos, até que ele saia do banheiro, para que eu possa trancar
novamente a porta.
Alguns minutos depois, escuto-o saindo do banheiro e fecho bem
meus olhos, fingindo dormir novamente.
Quanto menos conversa fiada, melhor. Esse é o meu lema.
Quando dou por mim, ele está sentado na cama e passando a mão
pelo meu cabelo.
— Vamos, linda, abra os olhos. Eu sei que você está acordada.
Eu não me mexo, e mal ouso respirar. Então, sua mão passa
gentilmente para a minha mandíbula e seu polegar acaricia minha bochecha.
— Laura… temos um voo para pegar.
Sua mão passa para o meu braço, acariciando para cima e para baixo.
Meu corpo se aquece de repente, com desejo, e seu toque queima como
fogo, mas, mesmo assim, não ouso me mover.
— Laura. Se você não abrir os olhos, eu vou te beijar. Vou apenas
contar até dez.
Ah, faça-me o favor. Agora vai começar a me ameaçar?
Simplesmente o ignoro, ainda fingindo dormir.
— Linda, estou falando sério. — ele diz, e começa a contar — Dez…
nove… oito… sete… seis… cinco… quatro… três… dois...
Sem saída, abro imediatamente meus olhos, com o cenho franzido,
fuzilando-o com o olhar.
— Poxa… que pena. Eu estava realmente desejando que você não
abrisse os olhos e continuasse com a sua atitude infantil. Seria muito mais
divertido. — resolvo ignorar a sua provocação, sendo sarcástica.
— Como você desejar. — digo com raiva, me sentando na cama.
Meu pijama de botões está praticamente todo aberto, mostrando
bem mais do que ele deveria ver, e sinto as minhas bochechas queimarem
de vergonha quando percebo seus olhos escurecerem e vagarem sobre meu
corpo. Arrumo o pijama o melhor e mais rápido que consigo, abaixando um
pouco a cabeça, tímida, mas sua voz potente faz com que eu o encare
novamente.
— Desejo isso desde que te vi, — ele sorri e continua dizendo —
você é ainda mais bonita pela manhã, sem maquiagem. Deus sabe que
quero beijar cada centímetro do seu corpo... seus lábios, seu pescoço… —
ele continua dizendo, e eu preciso manter uma distância, para que a minha
saúde mental não vá por água abaixo.
— Para, por favor. — eu o interrompo, sentindo as minhas bochechas
queimarem de vergonha.
Meu Jesus Cristinho! Ninguém nunca falou isso para mim antes, e
pela primeira vez, tem que ser esse troglodita sem noção? Que ódio!
Esse homem só pode estar querendo acabar com a minha sanidade. Só
com as suas palavras, ele conseguiu incendiar meu corpo, e preciso reunir
todas as forças do meu ser para me lembrar que ele arruinou o meu pai. Ele
não presta. Eu nunca vou poder ceder às suas investidas.
Ele se levanta e me encara com o cenho franzido.
— Você acha que eu estou mentindo, Laura? Olha para mim.
Viro minha cabeça para o lado, de repente, me sentindo muito
envergonhada ao vê-lo com tão pouca roupa. Alex Zur está usando apenas
uma toalha ao redor de seus quadris. Sua v line e seu tanquinho são
gloriosos e, obviamente, muito acima da média do que existe por aí. Além
de, claro, sua ereção estar totalmente evidente sob a toalha branca. Alex,
aparentemente, não brincou ao dizer que me desejava. Não sei se me sinto
lisonjeada, irritada ou ofendida. E, nesses poucos segundos que se passam
com a minha indecisão, ele vai até o armário e começa a se vestir, sem se
importar com a plateia.
— Comece a se mover, Laura. Vamos para Havdiam agora de manhã.
— O quê? — pergunto, completamente chocada. Como assim,
Havdiam? Ele disse algo sobre um voo, mas pensei que seria… sei lá… Rio
de Janeiro?
— Você esqueceu do acordo? Vamos nos casar. Moraremos juntos e,
obviamente, conviveremos por no mínimo um ano, ou até o seu pai me
pagar. Esse é o trato. — ele diz, falando lentamente, como se eu fosse uma
criança — Você sabe que eu moro em Havdiam e toda a minha vida e
empresas estão lá. Só vim ao Brasil para a reunião de ontem, então, por
favor, meu amor, não complique a minha vida. — ele diz, enquanto veste as
calças. Apesar de sério, seu tom de voz é amável e isso me confunde um
pouco.
— Eu sei disso, — respondo envergonhada, e vacilo um pouco na
última sílaba — é que eu ainda não pedi permissão para a minha mãe. Ela
não sabe que eu estou aqui com você agora, eu só saí ontem à noite quando
ela já estava dormindo. Não contamos ainda sobre a nossa atual condição,
com medo de seu estado piorar.
Alex me olha como se eu tivesse duas cabeças, provavelmente,
tentando assimilar tudo o que eu falei.
— Permissão? Como assim? Você não tem vinte e cinco anos? — ele
diz indignado, mas respira fundo e dá dois passos em minha direção —
Bom, então pense em algo para aliviar as suas preocupações. Não precisa
falar que vamos nos casar, se não quiser...
— É lógico que eu não vou fazer isso. Apesar de não gostar muito da
ideia de mentir para ela, sei que é necessário. — solto um suspiro, torcendo
as mãos em meu colo — De qualquer forma, eu estava pensando em dizer a
ela que tenho que participar de um treinamento empresarial em Havdiam,
para uma nova vaga que me foi ofertada. — respondo, ainda torcendo as
mãos. Vai ser muito mais difícil do que eu esperava, e mais rápido também.
— E se ela perguntar por quanto tempo? — sou pega de surpresa e
isso me faz pensar.
Por quanto tempo eu ficaria com Alex Zur? O contrato diz no
mínimo um ano, ou até a dívida ser quitada. Quando meu pai vai conseguir
pagar a sua dívida? Por quanto tempo eu terei que manter esse casamento
absurdo?
— Não sei o que lhe dizer. — respondo sinceramente, e então,
pergunto, externando a dúvida que há em meu coração — Por quanto tempo
o senhor me terá como garantia, Sr. Zur? Se esse pagamento durar mais de
um ano?
— Estou torcendo para que dure cem, Laura. Será um prazer tê-la
comigo. — ele responde, com um sorriso enorme no rosto. Com certeza, o
safado já pensou exatamente sobre isso e está satisfeito com a perspectiva.
— Você é louco, Sr. Zur.
— Para de me chamar de Sr. Zur, por favor. Me chame de Alex.
— Não consigo. — respondo veementemente.
— Mas você precisa se acostumar. Afinal, você já me viu pelado, até
amanhã estaremos casados e, mesmo assim, ainda quer me chamar de Sr.
Zur? — fico completamente vermelha, e muito sem graça.
— Meu Deus! Você é completamente impossível! — digo com
rispidez — Eu te odeio, sr. Zur.
— Estou te avisando, Laura. Se você soltar outro Sr. Zur, eu vou te
jogar nessa cama em menos de um segundo, e vou me certificar de que você
também esteja pelada. Só para tornar as coisas mais justas. Assim, ninguém
fica constrangido ou em desvantagem.
Meus olhos se arregalam, e pelo que eu já conheci do homem, sei que
ele não está blefando. Seu olhar penetrante não abre brechas para duvidar
de que ele faria qualquer coisa para não ter as suas vontades contrariadas. O
típico mimado e egoísta com os quais eu tanto convivi desde quando saí do
colégio interno.
— Você não vai fazer isso. — uso toda a minha calma e autoridade
para impor a minha vontade e ele apenas abre um sorriso para mim.
— Bom, não me teste, linda.
— Tenho que ir buscar minhas roupas e meu passaporte em casa. —
respondo sucinta, tentando desesperadamente mudar de assunto — Só
trouxe uma bolsa com um pijama ontem à noite.
— Podemos passar em sua casa no caminho para o aeroporto. Não se
preocupe com suas roupas, apenas pegue o seu passaporte. — ele diz, como
se o assunto já estivesse descartado, e eu fosse simplesmente mais um item
em seu checklist.
Me visto rapidamente depois de sair do quarto e juntos tomamos um
café da manhã dentro da suíte. Fico surpresa com o quão cavalheiro ele é
nas pequenas atitudes, como puxar a cadeira para que eu me sente, ou me
passar todos os utensílios, sem eu, ao menos, pedir. Como ele não parece
estar pensando nem se esforçando para isso, me surpreendo. Não esperaria
essa atitude de alguém tão mandão e arrogante.
Olho para a mesinha de centro, do outro lado da sala e me lembro
vagamente de uma lembrança com algo brilhante. Mas, como meus
pensamentos estão totalmente embaralhados, resolvo deixar pra lá.
Provavelmente, não deve ser nada demais, e mesmo se fosse, os remédios
me pregam peças noturnas. Não confio em mim mesma, nem se a minha
vida dependesse disso.
 

 
Quem diria que eu acordaria com tamanho bom humor?
Ter Laura por perto, depois de tantos anos ansiando a sua presença,
realmente me deixa completamente extasiado e faz muito bem para o meu
ego. A ruivinha não abaixa a cabeça para as minhas provocações, mas de
certa forma, isso é ainda mais interessante do que se ela fosse totalmente
complacente. Apesar da sua vergonha, vejo a leoa dentro dela querendo
aparecer de todas as formas possíveis, e isso me encanta de uma maneira
que mal sei explicar.
Laura, com certeza, será um refresco para os meus dias mais
sombrios e estressantes. Por anos, eu vivi arquitetando este plano, com o
único objetivo de tê-la por perto, e agora, que eu posso ter e consegui tudo o
que eu queria, nada mais justo do que aproveitar.
Enquanto observo a minha futura esposa tomar seu café da manhã,
repasso em minha mente tudo o que preciso mudar para que ela se sinta
bem e acolhida em minha casa. Corrijo-me mentalmente, enquanto observo,
como um depravado, ela colocar um morango na boca, “nossa casa”.
— Já que vamos nos casar, eu acho que mereço saber um pouco
mais sobre os seus gostos… não quero que sejamos estranhos um para o
outro. — comento, com os olhos focados no meu prato, e percebo que a
ruivinha ofega, antes de confirmar lentamente com a cabeça.
— Certo. O que quer saber? — pelo menos, ela não foi arisca, o que
eu já considero um grande avanço.
— Qual é a sua comida preferida? — A Laura do passado diria
macarrão…, mas dez anos se passaram…
— Macarrão, e a sua? — não consigo evitar o sorriso em meu rosto,
e solto a primeira bobagem que passa em minha cabeça.
— Moussaka… é uma comida do meu país. — digo, dando de
ombros, e ela confirma com a cabeça.
— Já experimentei. É gostoso. — e assim, o silêncio se instala,
ficando estranho rapidamente.
— Qual é a sua cor preferida, Laura? — pergunto, e ela abre um
sorriso pequeno antes de responder:
— Roxo, e a sua?
— Azul.
— Típico! — ela revira os olhos e sinto necessidade de me explicar.
— Azul igual ao mar de Mykonos, onde meu avô mora
atualmente. Eu sinto saudade de lá… apesar de ir com certa frequência para
cuidar pessoalmente da frota naval que temos na região. — Ela tenta fingir
indiferença, mas parece impressionada.
— Nunca fui para a Europa, apesar de ter muita vontade de
conhecer todos os lugares. — fico curioso com a sua afirmação, já que, com
certeza, não foi por falta de dinheiro, como a maioria dos meros mortais do
mundo.
— Por quê? — pergunto, e ela parece envergonhada.
— Eu sou claustrofóbica, Zur. — ela diz, e eu estreito os olhos, sem
entender o que quer dizer — Tenho pânico de voar. Agora, eu estou me
tremendo inteira só de pensar em ir para Havdiam com você.
Me sinto um bosta com essa declaração.
Nunca tinha pensado que voar fosse realmente um problema, mas se
eu tivesse pesquisado mais, perguntado mais, poderia deixá-la de alguma
forma mais confortável com essa situação. Cogito cancelar o voo, mas antes
que eu abra a boca para fazer essa sugestão, Laura se levanta, parecendo
confiante.
— Alguns medos são irracionais, outros nem tanto. Voar, dias atrás,
seria o meu pior pesadelo, mas agora o meu maior medo é o que vem
depois disso, sr. Zur. — Laura nunca foi tão honesta como está sendo nesse
momento, e pela primeira vez em muito tempo, me vejo sem palavras —
Confesso que eu estou apavorada com toda essa situação. Não é fácil, e por
mais que você não esteja agindo como um monstro, por hora, me assusta o
que eu devo esperar para o futuro. Mas, continuarei com o plano porque
meus pais precisam de mim.
Pisco algumas vezes, surpreso com a sua fala, mas apenas confirmo
com a cabeça, ciente de que não posso fraquejar e lhe dar a sua liberdade
por hora. Aos poucos, Laura vai entender que eu só quero o seu bem, que
sou apaixonado por ela, e farei com que ela se apaixone por mim também.
Com atitudes, eu vou quebrar todas as suas barreiras, é para isso que eu
voltei, para finalmente ficarmos juntos.
— Espero que você entenda que eu quero que você seja feliz.
Desculpe se a situação parece absurda, mas eu tenho grande estima por
você. — digo sucinto, e ela balança em negativa a cabeça.
— Zur, você me conheceu ontem… sei que pareço inocente, mas
nem com toda a minha inocência, eu cairia em algo assim. Você quer atingir
meu pai, que por algum motivo que ninguém entende, você resolveu que
seria o seu inimigo número um. Sabe que eu sou o jeito mais fácil de fazer
com que ele se sinta ameaçado, e atingido de alguma forma. Eu estou
conformada em seguir adiante com esse casamento por contrato, porque
preciso ajudá-los, como eles me ajudaram em meu pior momento. Devo
isso a eles. Por isso, não precisamos nos iludir de forma alguma, eu o odeio,
mas farei o que for preciso. — engulo em seco, me levantando também.
— Então, Laura. Está na hora de irmos. — respondo sucinto,
absorvendo tudo o que ela falou.
Esse momento era o mais esperado de todos, sempre que repassava
em minha mente o meu plano de vingança. Entrar na mansão dos Morais,
levando embora a princesinha da família, e vendo como o desgraçado do
pai dela pagou por tudo o que me fez. Mas, agora, o gosto amargo em
minha boca anuncia que fazer isso não será nem um terço tão bom quanto
eu gostaria que fosse. Não esperava sofrer tanto vendo o quanto a ruivinha
está sofrendo por minha causa.
 

Um motorista nos leva até a minha casa, e depois da conversa


estranha no café da manhã, nos mantemos em silêncio, cada um imerso em
seus próprios pensamentos. No momento em que saímos do carro, meu pai,
que já tinha sido avisado pelo porteiro do condomínio, confronta Alex na
porta de casa.
— Você tem que muita coragem de vir até aqui, Zur. — seu rosto
vermelho denuncia a raiva que está sentindo no momento.
— Por que eu não viria? Essa propriedade, por acaso, não é minha?
— ele abre um sorriso sádico no rosto, provocando papai, que agora parece
temeroso — Não tome a minha generosidade como fraqueza, Otávio. Nosso
acordo de cavalheiros pode ser facilmente dissolvido, já que Laura e eu
ainda não assinamos a papelada do casamento.
Meu pai fica em silêncio, derrotado, e sei que ele está dando o seu
melhor para controlar a raiva. Provavelmente, se sentindo encurralado. Seu
Otávio se vira para mim, ignorando totalmente o sr. Zur, e fala com uma
voz preocupada.
— Laura, sua mãe notou que você não dormiu aqui ontem à noite.
Fico em estado de alerta, isso não estava nos meus planos. Por mais
que eu realmente não precise de nenhuma permissão para dormir fora,
como dei a entender à Alex, eu não gosto de deixá-la preocupada.
— O que você disse a ela?
— Eu precisei mentir, ainda mais sabendo que você tomou a sua
decisão e que em breve irá se casar com ele. — o desprezo em sua voz é tão
grande, que eu não tenho certeza se é destinado a mim ou ao homem
próximo a nós — Na hora da raiva, precisei dizer algo para que ela não se
preocupasse muito, então contei, em partes, a verdade. Disse que você
passou a noite com Zur. — perco a respiração e ele percebe o meu susto,
completando — Na realidade, disse que vocês se aproximaram em outra
visita que ele fez ao Brasil, e que estavam mantendo esse relacionamento à
distância em segredo.
— O quê? — praticamente grito para ele. Não tem a menor
possibilidade de ela ter acreditado nessa história sem pé nem cabeça. Eu
nunca conseguiria manter um relacionamento escondido dessa forma.
— Foi o melhor a se fazer, filha. Ela teria uma recaída se descobrisse
os termos horríveis pelos quais você irá nos deixar por hora.
Provavelmente, morreria de desgosto. — sei que o demônio está nos
ouvindo e, por mais exagerado que papai esteja sendo, sei que tem um
fundo de verdade em sua fala.             
Olho para Alex e a sua expressão é engraçada. Ele está com a
sobrancelha arqueada, parecendo se divertir bastante com essa história.
— O que mais você disse a ela, pai? — pergunto acusadoramente.
Meu pai olha para mim, como se pedisse desculpas, e depois endurece
o seu olhar, se dirigindo ao Alex.
— Eu lhe disse que você foi convidada por Zur para ir a Havdiam,
para conhecer a família dele, fazer uma especialização e se aproximarem.
Morando em lugares separados, obviamente. Sem o casamento na igreja, ela
provavelmente também morreria de desgosto se vocês se juntassem de
qualquer jeito.
— Ah, meu Deus… — digo, completamente perdida. 
Tudo isso é culpa dele. Todas essas mentiras. Todo esse teatro.
— Os dois precisam fingir estar apaixonados. Por favor, Laura, eu
não quero ferir sua mãe. Ela ficou tão feliz quando descobriu que você
encontrou alguém depois de tudo o que passou, não podemos magoá-la.
— Eu também não quero feri-la, papai. Mas… — sem me deixar
terminar, ele se vira de costas para a gente, como se não tivesse mais forças
para continuar essa conversa e entra na casa, nos deixando para trás. Fico
perdida por alguns segundos, mas sinto quando Alex se aproxima de mim,
colocando uma mão em meu ombro, num sinal de apoio.
— Seu pai está exagerando, não? — ele pergunta, sondando a
situação.
— Infelizmente, não, — digo com amargura — ela está realmente
muito debilitada. — digo baixo, antes de olhar em seus olhos — Preciso te
pedir um favor. Compre essa história absurda, e finja ser meu namorado,
pelo menos, por alguns minutos, até irmos embora. — Alex apenas olha
para mim intensamente, antes de segurar firme a minha mão.
— Eu não preciso fingir nada, Laura. Você vai ser minha esposa em
breve, o que, entre muitas aspas, já nos torna mais que namorados. Não se
preocupe, tudo bem? — ele diz de forma doce, me surpreendendo. —
Agora, vamos. Temos que nos apressar para o nosso voo. Tenho alguns
compromissos a cumprir em Havdiam ainda hoje. — ele diz, colocando seu
braço em volta do meu ombro, me puxando para mais perto, e eu retribuo
instantaneamente, colocando meu braço em torno de sua cintura, achando
estranha, mas ao mesmo tempo gostosa essa sensação. Juntos vamos em
direção à casa, prontos para interpretar esse teatro.
Minha mãe nos cumprimenta assim que entramos em casa, com um
sorriso enorme no rosto, sentada em sua cadeira de rodas, sozinha. Vejo
esperança em seus olhos e não conseguiria contar a verdade nem se eu
quisesse. Ela parece estar tão feliz por mim, que seria mais danoso
desmentir essa história, do que realmente mentir para ela. Tenho um bom
palpite do que se passa na cabeça dela nesse momento: depois de dez anos,
finalmente estou deixando outra pessoa se aproximar.
Ela não precisa saber que isso é a maior mentira já contada desde
quando eu me conheço por gente.
— Bom dia, Sra. Morais! — Alex a cumprimenta com um beijo em
sua mão, deixando-a encantada.
— Oh… Bom dia, Sr. Zur! Estou tão feliz por finalmente conhecê-lo!
— bom, essa provavelmente não é a verdade, já que ele é o responsável
pela nossa ruína financeira. Mas mamãe parece estar realmente encantada
em conhecê-lo, do mesmo jeito. Alternando o olhar entre ele, eu e sua mão
que permanece de forma possessiva em meu ombro, quando ele volta para o
seu lugar ao meu lado.
— Eu também, Sra. Morais. É um prazer finalmente conhecer a mãe
da mulher que eu amo, e agora eu sei de onde ela herdou sua beleza. —
Alex aperta minha mão, levando nossa atuação a um nível que eu sequer
poderia imaginar.
"A mulher que eu amo". Até parece!
Minha mãe fica completamente vermelha e envergonhada com a sua
afirmação, e tudo me parece tão absurdo que eu reviro os olhos sem
disfarçar. Ela parece uma adolescente, encantada por Alex e ele está
extremamente empolgado em cumprir o papel de meu namorado fake. Os
dois são patéticos.
— Sabe, Alex, parece que eu já te conheço de algum lugar…, mas
não sei dizer de onde… — ela bate no queixo, parecendo pensativa, e seu
lenço escorrega um pouco pela cabeça calva, um dos muitos efeitos de seu
tratamento.
— Sério? — ele diz surpreso — Deve ser porque meu rosto é bastante
comum. — ele ri um pouco sem graça, e nesse momento, até eu que estou
mortificada de vergonha pela situação, não consigo conter uma risada. De
comum, Zur não tem nada, eu tenho certeza.
— Não, é claro que não. Você tem um rosto muito bonito, não foi isso
que eu quis dizer. — ela se embaralha nas palavras, e, involuntariamente, eu
e Alex trocamos um olhar cúmplice, fazendo com que minha mãe dirija o
olhar para mim, com o rosto iluminado — Então, vocês dois vão para
Havdiam agora? Esse era o grande segredo que estava me escondendo? —
sinto a sua cutucada, mas dou de ombros como se isso explicasse tudo, o
que, definitivamente, não é o caso.
— Sim, mãe. Só passamos para pegar meu passaporte e algumas
roupas. Vou fazer um curso e, claro… me aproximar mais do meu… hm…
namorado? — digo, sem saber exatamente o que dizer e Alex confirma com
a cabeça.
— Isso! Ofereci uma vaga para Laura na matriz da minha empresa
em Havdiam, porque o relacionamento à distância não estava mais sendo
suficiente. Então, ela vai fazer uma especialização e começar a trabalhar
comigo lá. Vai ser um teste para ver como vamos nos sair… a senhora
entende, não é? — ele pergunta, com toda a sua lábia, e mesmo sem muitos
detalhes, minha mãe confirma com a cabeça, como se tudo estivesse
cristalino.
— Bem, não vou tomar muito do seu tempo então, vocês parecem
estar com pressa. É um prazer conhecê-lo, Alex. Desejo muito amor e
felicidade a vocês dois. Só nós sabemos como Laura merece.
— Obrigado, Sra. Morais. — ele responde, e minha mãe sonda, em
seu jeitinho particular de ser:
— A gente se vê em breve, eu espero.
— É claro!
Caminhamos juntos até o meu quarto, apenas para conseguir frear a
minha mãe e suas infinitas perguntas sobre sua vida, seus negócios e sua
família. É claro que em alguma delas ele simplesmente iria derrapar e
entregar nossa mentira, e é apenas por isso que eu segurei firme a sua mão e
o arrastei para o meu quarto.
Extremamente confusa e sem saber o que fazer, pego uma mala
grande e começo a colocar todos os meus pertences mais importantes,
algumas roupas e artigos de higiene. Mesmo com ele insistindo que não
preciso me preocupar com nada disso, não consigo imaginar do que vou
precisar, ou o que ele realmente quer dizer, então, pego de tudo um pouco e
só torço para não ter esquecido nada de essencial.
É tão estranho ver um homem como Alex nesse quarto cor de rosa,
onde nenhum outro ousou passar perto, que começo a hiperventilar. Largo
tudo de qualquer jeito, fecho a mala e murmuro um “estou pronta”, sem
realmente estar, apenas para sair correndo dali, lembrando, pouco tempo
depois, que essa não foi a decisão mais inteligente. Afinal, eu saí correndo
do que já me era conhecido, para mergulhar em algo que eu não faço a
menor ideia do que seja. "Estou pronta", murmuro mentalmente mais uma
vez, para que meu cérebro entenda o comando. Essa é, com certeza, uma
das maiores mentiras que já contei para mim mesma. Nunca estarei pronta
para abandonar a minha vida e ir viver em outro país, com um homem que
eu mal conheço e que me forço a odiar com todas as minhas forças.
Não poderia ser diferente. Poderia?
 

 
Mal consigo me despedir da minha família, e Alex já me arrasta
para o avião, me levando para longe de tudo e todos que eu conheço e amo.
Tudo bem que ele não saiu me puxando pelos cabelos, e foi até bem
paciente enquanto eu fiquei aos prantos por mais de vinte minutos
abraçando os meus pais. Ainda assim, cá estou eu, indo em direção à gaiola
metálica detestável, com destino ao desconhecido.
Entramos em um jato ostensivo e luxuoso, e por mais que me doa,
preciso admitir o quão impressionada estou pelo seu interior. Zur me
apresenta a todos os seus empregados com um sorriso no rosto, e eles
parecem já me conhecer, porque ninguém fica surpreso com a minha
presença. Secretário executivo, chefe da segurança particular, e outros dois
homens de preto, sérios e carrancudos, o piloto e, claro, a safada da sua
secretária, Rachel. Ela me olha com tanta inveja e ultraje, que mesmo não
tendo nada com Alex, e Deus me livre de ter algo com ele um dia, me sinto
vingada pela cena absurda que presenciei noite passada.
Alex Zur parece completamente extasiado, mostrando o quão feliz
está para todos ali, e isso, além de me deixar extremamente nervosa, me
deixa triste. Já que sua felicidade parece ter a ver com destruir o meu pai e,
por que não dizer, estar levando seu brinquedinho novo para casa. O novo
pet, que precisa de muito menos cuidado, já que consegue se virar sozinho.
Apesar de não concordar nem um pouco com os seus motivos, observo
como a sua expressão se suavizou desde quando entramos no avião, e não
consigo deixar de reparar o quão bonito ele está neste momento. Parece que
um peso grande deixou as suas costas, e, infelizmente, sinto que eles foram
colocados nas minhas.
Quando o avião começa a decolar, uma onda de pânico cresce dentro
de mim e eu começo a hiperventilar. Eu simplesmente odeio aviões, odeio
voar e odeio mais ainda os pousos e decolagens. Busco meus remédios em
minha bolsa, apavorada e claustrofóbica, ansiosa para apagar e não ver ou
sofrer por nada disso, mas não os acho. Alex percebe o meu desconforto e
segura a minha mão, como um leve apoio moral. Como neste momento
qualquer ajuda é válida, seguro firme a sua mão, esperando o pior passar. E,
quando elas se encontram, aquele choque gostoso, que só a eletricidade do
seu toque produz, volta com tudo, me fazendo estremecer.
— Você está bem? Parece nervosa. — ele diz suavemente, apenas
aumentando ainda mais o meu desespero.
— Um pouco. Eu definitivamente odeio voar, — digo, nervosa —
sempre que eu posso evitar, não voo.
— Então, você nunca esteve na Europa? Simplesmente, não posso
acreditar. — ele diz, um pouco debochado.
— Bom, já estive em outros voos. Fui para a Disney algumas vezes,
quando era criança. E no casamento da minha irmã em Chicago, quando eu
tinha dezenove anos. Desse eu não consegui fugir…, mas, nunca estive na
Europa, muito menos em Vongher ou Havdiam. — digo, tagarelando para
ver se o desespero passa. Sem os remédios, vai ser muito difícil não ter um
ataque de pânico a qualquer momento. Será que existe alguém com curso
de primeiros socorros aqui? Espero que sim.
Alex sorri, parecendo feliz e me dá um aperto de mão cúmplice, me
tirando dos meus devaneios.
— Você vai adorar Havdiam, tenho certeza.
— Espero que sim. — digo, tentando conter a curiosidade. Não quero
bombardeá-lo de perguntas, mas ao mesmo tempo, não consigo evitar
imaginar como vai ser minha vida a partir de agora.
Será que eu vou poder visitar a cidade? Será que eu vou gostar
mesmo? E o frio? Será que eu vou ficar presa dentro de uma casa como um
enfeite?
— De qualquer forma, há um quarto na parte de trás do avião, se você
quiser se deitar mais tarde.
— Obrigada. — respondo, sem ter mais o que dizer.
— Apenas relaxe, está bem? Você está em boas mãos. — ele diz, e
eu, claro, não acredito em nenhuma palavra sequer. Se as mãos forem as
dele, não tenho certeza de que um dia estarei a salvo.
Me viro um pouco, tentando quebrar o contato visual e o ar carregado
que nos envolve, mas se ele toma isso como ignorá-lo ou não, eu não sei.
Por que alguém precisa ser tão intenso? Isso deveria ser imoral! Como se
tivesse entendido a minha intenção, Zur abre o seu notebook e passa a me
ignorar, aparentemente, começando a trabalhar incansavelmente, se
esquecendo de mim.
Precisava ser tão insensível?
Meu estado é deplorável, e estou quase implorando por atenção,
quando resolvo me retirar. A que ponto eu cheguei?
Já passou muito tempo desde quando o avião decolou, e Zur não se
deu ao trabalho de falar comigo novamente, está tão alheio que nem me
olhou de relance. E o cretino ainda disse que me queria como amiga. Reviro
os olhos, extremamente revoltada. Amiga o caramba, eu estou muito mais
para um troféu de batalha. Acabou com o meu pai e me levou de brinde,
apenas para fazer pirraça e demarcar território.
Homem impossível! Além de ser insensível! Que ódio! E isso não
devia me afetar tanto.
Ele sabia que seria embaraçoso encontrar Rachel após o flagra de
ontem à noite. Mesmo assim, agiu como se nada tivesse acontecido e até
tripudiou, mandando que ela atendesse às minhas necessidades. Como se eu
fosse pedir alguma coisa para aquela vagabunda, e correr o risco de ser
envenenada ou coisa assim.
Eles provavelmente são amantes. Não importa o quanto Alex negue,
eu sei que ele está mentindo, depois de ontem, não tem como acreditar.
Como dizia a minha avó: nesse angu tem caroço.
Me sinto sugada emocionalmente, tentando muito não surtar nem
entrar em uma crise de pânico sem precedentes. A cama parece uma boa
alternativa, pelo menos, se parece mais com um quarto qualquer, do que
com um avião apavorante. Me levanto e deixo o meu assento assim que o
piloto dá o aval, com Alex tão absorto em seu trabalho que nem nota a
minha ausência. Preciso manter a distância entre nós, isso é importante para
a minha saúde mental já tão frágil. Minha psicóloga precisará abrir horários
extras em nossa sessão online para entender a reviravolta que aconteceu em
minha vida.
Encontro o quarto que ele mencionou, na parte de trás do avião, e
realmente, se parece bem confortável por dentro. A decoração é
completamente masculina, com tons de marrom e branco proeminentes, e
no meio do quarto, uma grande cama de casal. Fecho a porta e me sento
nela, testando a sua maciez, fico surpresa ao encontrar em um sofá lateral
um urso gigante de pelúcia segurando um buquê de rosas cor de rosa.
Imediatamente, vou em sua direção, ficando lisonjeada e feliz com o
gesto. Aparentemente, o cretino não é tão cretino assim. Pego o buquê e
respiro fundo, sentindo o aroma das flores. Quando vejo a caixinha de
Ferrero Rocher, me desmancho por ali mesmo.
Como ele adivinhou qual é o meu chocolate preferido?
Junto ao presente, encontro um cartão.
 
Laura,
Estou feliz por ter você em minha vida.
Seu,
Alex
 
Volto para a cama sorrindo e levando todos os meus presentes junto
comigo. Para ser justa, apenas quando quer, Zur consegue ser um cara doce.
Abraço meu novo companheiro, mesmo sendo velha demais para isso,
buscando um alento e uma companhia para a nova jornada que está se
iniciando em minha vida hoje. E pensando nos próximos dias, começo a
ficar sonolenta, imaginando como será quando eu chegar... O que eu vou
fazer? Onde eu vou morar? Terei alguma companhia? Eu realmente vou
trabalhar? Quando estou quase adormecendo, escuto a porta do quarto se
abrir e vejo Alex entrar.
— Ei, você está bem? — Seus olhos vagueiam pelo local em uma
inspeção minuciosa.
— Eu estou bem. Obrigada pelas flores e pelo ursinho, eu realmente
adorei.
— Que bom que você gostou. — ele sorri, colocando as mãos dentro
dos bolsos das calças.
— O que está fazendo aqui? Você estava tão ocupado trabalhando. —
digo em um tom de crítica, e no mesmo momento me repreendo. Não quero
parecer alguém carente, desesperada por atenção. Mesmo que nesse caso,
eu realmente seja um pouco dos dois.
Ele encolhe os ombros, sem saber exatamente o que dizer.
— Eu só quero ter certeza de que você está bem. Você saiu sem dizer
nada… fiquei preocupado.
Me sento na cama, encostando de costas na cabeceira almofadada,
olhando em sua direção.
— Só quis me deitar um pouco, nada demais. Acho que o tempo pode
passar mais rápido se eu dormir. — enquanto falo, Alex tira seu casaco e o
coloca sobre a cadeira, por cima do meu casaco. Depois, ele se senta na
cama e tira os sapatos. Observo com atenção cada um de seus movimentos.
— Eu também preciso me deitar, não consegui dormir bem ontem à
noite. — seu sorriso safado é extremamente debochado, e isso faz com que
eu entre em pânico.
— Eu… — digo, com a boca seca — eu vou lá fora para que você
possa descansar. — quando estou prestes a me levantar, sua mão se aperta
em meu braço.
— Pode ficar onde está. Essa cama é enorme e cabe nós dois com
tranquilidade, sem nos tocarmos. Eu já te disse, Laura, não farei nada sem a
sua permissão. Não precisamos agir como dois estranhos. — meu coração
dá um duplo mortal carpado, quando, sem aviso, ele se deita ao meu lado.
Fico muda, sem saber o que fazer — Venha cá. Você estava morrendo de
sono quando eu entrei, com certeza, vai dormir rapidinho.
— Eu não estou mais com sono. — digo, petulante. Alex parece
perdido em pensamentos, e começo a me perguntar se ele realmente ouviu o
que eu disse. — Não foi você quem comprou isso, não é? Com certeza sua
adorada Rachel se encarregou das compras.
Seu cenho se franze, imediatamente.
— Não. Eu comprei as rosas e o ursinho depois da nossa reunião de
ontem. Disse ao florista para incluir os chocolates. Pessoalmente. — ele
frisa a palavra.
— Sério? — pergunto, completamente chocada.
— Sério. Não tenho por que mentir, Laura. — ele fala com tanta
intensidade, que eu começo a sentir as minhas bochechas esquentarem.
— Sua assistente não gosta de mim. — digo para provocá-lo.
É, seu babacão... eu sei que ela não é só a sua assistente.
— Então passe a ignorá-la. Ela está com ciúmes porque sabe que
estou louco por você, e nunca olhei para ela. Assim que chegarmos a
Havdiam vou realocá-la, o que ela fez ontem foi inaceitável. — ele diz, com
uma voz muito sedutora.
— Não fala isso. — o repreendo, me deitando na cama novamente, e
o enfrento.
— Por que não? É a verdade. — ele parece tão sincero, que eu
simplesmente acredito.
— Eu pensei que você havia dito que seríamos apenas amigos. —
digo em um suspiro, e ele nega com a cabeça.
— Não, eu não disse isso. Disse que não forçaria nada entre nós, e
realmente não vou. E que gostaria que fossemos amigos, mas não apenas
amigos. — ele dá ênfase no apenas, e continua — Você precisa saber que eu
quero mais. — ele me envolve com suas palavras, e eu quase perco o fôlego
olhando para os seus olhos azuis — Quero que a gente comece como
amigos, para que você aprenda a confiar em mim, — sua mão corre
suavemente pelo meu cabelo — e não quero colocar nenhuma pressão sobre
o que você precisa ou não fazer. Vamos devagar, está bem? Em breve, você
vai querer estar comigo tanto quanto eu quero estar com você, porque vai
perceber que somos feitos um para o outro.
Sua fala extremamente confiante me confunde, e ao mesmo tempo,
me assusta. Como eu vou perceber isso? Parece uma piada de mau gosto
para mim. Mas ao mesmo tempo… Que confusão, Laura!
— Eu não sei, — digo simplesmente — ainda não consigo perdoar o
que você fez ao meu pai. Você destruiu uma das pessoas que eu mais amo
no mundo.
Sua mão cai imediatamente de lado, fazendo com que eu sinta uma
falta extremamente descabida do seu toque, e sua expressão endureça.
— Ele tem uma dívida a pagar, não fiz nada absurdo, Laura. Pelo
contrário, se eu fosse qualquer outro homem, não teria sido tão benevolente
ao deixar a casa para seu usufruto, nem ao arcar com o tratamento da sua
mãe. Espero que logo perceba que eu não sou o monstro dessa história.
Por um momento, ficamos em silêncio, apenas olhando um para o
outro.
— Só espero que você encontre uma mulher para se casar, uma que
vai amar te amar e te fazer feliz, para que eu possa voltar para casa, para
minha família.
Será? Uma vozinha irritante e incomoda questiona no fundo da
minha mente.
— Eu tenho certeza de que já a encontrei. — ele diz, e eu sinto um
desconforto absurdo com a sua fala.
Isso é algum tipo de piada de mau gosto?
— Você tem alguém assim? — pergunto imediatamente, tentando
esconder o súbito ataque de ciúmes que sinto.
— Sim. Ela está bem na minha frente, e assinará os papéis do nosso
casamento hoje à noite. Você está exatamente onde deveria estar, linda. Ao
meu lado.
— Isso não é engraçado. — digo, tentando conter o meu
constrangimento. Zur, com certeza, percebeu o meu ataque de ciúmes
inapropriado, e pelo sorriso em seu rosto, está achando graça disso tudo.
— É só uma brincadeira, tudo bem? Não precisa ter uma parada
cardíaca ou qualquer coisa do tipo. — ele diz, desviando o olhar. Depois de
alguns segundos em silêncio, ele completa — Pensei que você fosse dormir.
— ele comenta, quando eu me sento e pego um chocolate.
Alex me observa com muita atenção e eu não consigo conter o dar de
ombros, antes de responder.
— Não consigo resistir, apesar de tentar manter o peso.
Alex começa a rir, e se senta na cama, pegando o chocolate da minha
mão. Ele abre a embalagem e o coloca delicadamente na minha boca. Eu
seguro a sua mão e mordo metade do chocolate, me sentindo quente sob o
seu olhar atento. Respiro fundo, e mastigo lentamente olhando em seus
olhos.
Acho que nunca tive uma experiência mais erótica ou íntima em
toda a minha vida.
Zur come a outra metade me olhando nos olhos. Repetimos o
processo, mais um, dessa vez eu lhe dando na boca a outra metade. Alex,
então, segura a minha mão e come o chocolate, morde a ponta dos meus
dedos de leve, e os lambe, tornando esse ato extremamente sedutor.
Fico completamente em choque.
— Por favor, não faça isso. — digo, tentando recuperar o meu fôlego
e raciocínio lógico.
— Não fazer o quê? — Alex brinca, chupando meu dedo indicador e
beijando a palma da minha mão.
— Alex... — eu tento pedir para que ele pare, mas não consigo. Ele
simplesmente mexe com alguma coisa dentro de mim, despertando um
monstrinho há muitos anos adormecido.
— Laura. — seus olhos suplicam por algo que eu ainda não consegui
desvendar, em toda a sua complexidade.
Seu rosto se aproxima ainda mais do meu, e ele inclina levemente a
sua boca para encontrar a minha. Quando percebo o que está prestes a fazer,
sou tomada por um impulso de sanidade e viro o meu rosto, fazendo com
que o beijo se firme em minha bochecha.
— Linda, estou morrendo de vontade de te beijar. Não me mande
sinais controversos, por favor. — ele sussurra em meu ouvido, e deixa um
beijo em meu pescoço, me deixando toda arrepiada.
— Para, — eu empurro ligeiramente seu peito, sem de fato afastá-lo
de mim — você prometeu não me tocar contra a minha vontade. — lembro
a ele, com a voz vacilante.
— Então, pare de me encarar assim, por favor. — ele diz, suprimindo
um sorriso.
— Assim, como? — pergunto, sem compreender.
— Como se você estivesse implorando para ser beijada. Como se o
seu corpo estivesse implorando para ser tocado por mim. — ele diz, em
uma voz baixa, olhando fixamente para a minha boca.
Fico completamente chocada com as suas palavras, e um misto de
sentimentos se passa dentro de mim. Sinto raiva, vontade de chorar, vontade
de beijá-lo e principalmente ódio de mim mesma, por ser fraca e cair nesse
papo furado com menos de um dia de convivência.
O que será de mim no final deste ano?
— Eu não estou te olhando de forma nenhuma. Você está me
interpretando mal. — digo, tentando parecer firme, e demonstrar toda a
minha indignação. Mas não passo de uma criança fazendo birra aos seus
olhos.
— Sim, você está agindo dessa forma, mesmo que queira se enganar.
Agora, por exemplo, seus olhos estão implorando para que arranque a sua
roupa e te beije em todos os lugares possíveis. Mas, você vai precisar pedir,
porque eu prometi que não seria invasivo.
A vergonha me consome, e eu posso ter certeza de que estou
vermelha do couro cabeludo até os dedos dos pés. O pior de tudo é perceber
que ele está falando isso só para me provocar, mal contendo um riso preso
em sua garganta. Alex, com certeza, vai fazer de mim sua boba da corte,
tirando sarro da minha cara o tempo inteiro.
— Ah, faça-me o favor! Você só pode estar louco, Zur. Leu tudo
errado. Mantenha essa minhoquinha longe de mim, — digo, revirando os
meus olhos e atirando um travesseiro nele — eu realmente te odeio. Já disse
isso hoje?
Alex pega o travesseiro e o coloca de lado.
— Eu sei, Laura. Você não tem que me lembrar o tempo inteiro. —
ele parece realmente chateado, e se levanta com os olhos baixos — Vou te
deixar sozinha para dormir, ainda tenho muito trabalho para fazer. Te
acordo mais tarde para o almoço. — ele diz, e vai direto para a porta.
Como um furacão, ele vai embora, me deixando confusa, chocada,
desejosa e muito, muito brava. Com a cabeça cheia de pensamentos
confusos, pego no sono. Os sonhos são caóticos, uma mistura de um sorriso
infantil e fácil de Igor, e os olhos tempestuosos e duros de Alex.
Tão parecidos e tão diferentes.
 

Assim que pousamos, apesar do silêncio opressor, percebo que Alex


quer falar algo comigo, por isso olho-o fixamente, lhe dando abertura para
isso.
— Laura, eu estou atolado de coisas para fazer no escritório, estamos
quase fechando um negócio importante com um fornecedor russo, e por
isso, preciso avaliar alguns relatórios para a reunião de amanhã. Eu
realmente queria estar com você e te mostrar a casa, mas algumas pessoas
estão esperando por mim, me desculpe, linda. — ele diz, parecendo bastante
triste — Rachel vai te acompanhar e te ajudar a se sentir à vontade em casa.
Faço uma careta óbvia, mas não acho que ele tenha feito por
maldade, e, sim, por ser um tapado. Mas justo ela? Que ódio.
Pondero se devo ou não pedir para que outra pessoa, literalmente
qualquer outra, me leve para casa, mas ele provavelmente manterá Rachel,
apenas para me irritar. O papinho de que vai realocá-la ainda hoje, com
certeza, não deve ser verdade, isso já está óbvio. Aceno, então, com a
cabeça e pergunto:
— A que horas vai estar em casa? — será que eu devo me preparar,
ou algo assim? Existe algum procedimento? Ele disse que iríamos assinar
os contratos ainda hoje…
— Eu realmente não sei, mas ligo para você. — ele diz, parecendo
cansado — Me desculpe, mas vou te recompensar, eu prometo.
Alex me acompanha até a limusine, já aberta por Rachel, que está
dependurada na porta, me olhando como se eu fosse o mosquito do cocô do
cavalo do bandido.
— Vejo você mais tarde, ok? — ele diz, com os olhos preocupados,
antes de beijar a minha testa de forma respeitosa.
Aceno com a cabeça, apenas para não deixar de respondê-lo. Não há
muito mais a ser dito, já que não vou reclamar de estar aqui, muito menos
de ir com Rachel para a tal casa. Surpreendentemente, antes de ir embora
para entrar no outro carro que está nos esperando na pista particular, ele
levanta a minha mão e beija os nós dos meus dedos, como um perfeito
cavalheiro. Ele, então, me ajuda a entrar na limusine e diz sério para a
secretária, em uma postura perfeita para os negócios.
— Srta. Becker, cuide bem de Laura, e faça-a sentir-se confortável em
casa. Depois, volte para o escritório porque temos um assunto muito sério a
tratar. — ele pede para ela, me fazendo revirar os olhos.
— Claro, Sr. Zur, tudo o que você quiser. Tchau. — ela diz
sedutoramente e pisca o olho para ele.
Ah! Que meigo, romance juvenil. Eca!
— Olá, senhorita Morais, — Rachel diz, no momento em que a
limusine se fecha — bem-vinda a Havdiam. — seu sorriso sarcástico não
me engana.
— Obrigada. — eu lhe respondo a contragosto. Não sou fã de
rivalidade feminina, mas, a esse ponto, não consigo gostar dessa mulher.
— Você é tão simples, Srta. Morais. O que será que Alex vê em você?
— ela tamborila os dedos no banco de couro, com um sorriso assassino —
Me parece tão chata, sabe… sem sal. — Rachel diz, rolando os olhos e
rindo de mim.
— Alex e eu somos apenas amigos. — digo baixo, porque não sei o
quanto ela sabe sobre o acordo de casamento, mas sua reação é a pior
possível, e faz com que eu me sinta um lixo humano.
Ela gargalha, e eu rolo os olhos, sem deixar que ela note que me
atingiu.
— É o que ele sempre diz quando se trata das mulheres. Inclusive, foi
o que falou sobre a sua outra mulher.
— Outra mulher? — questiono, tentando descobrir se ela está
mentindo ou não. Surpreendentemente, a sua afirmação parece verdadeira, e
isso me deixa um pouco curiosa.
— Senhorita Morais, você achou que seria a única mulher em sua
vida, não é? Ele tem outra mansão nos arredores de Havdiam, e a sua outra
amiga está morando lá. Ele banca desde necessidades básicas até luxos,
vestidos de marcas europeias caríssimas, joias, carros, viagens e tudo mais.
Enfim, a outra amiga tem muito mais poder em sua vida do que você, que
chegou agora terá, e ele é tão louco por ela que, por exemplo, visita-a toda
sexta-feira à noite. Não seja tola, iludida, achando que você é única porque,
no fim, vai quebrar a cara.
Fico tão furiosa ao ouvir o que ela acabou de dizer, que esqueço de
responder.
Será que ele realmente tem uma namorada, e não me disse?
Bom, não que ele me deva qualquer tipo de satisfação, mas isso não
deixa de me emputecer. Apenas presumi que ele era solteiro, e não
comprometido com ninguém, já que me trouxe para morar aqui com ele,
mediante um contrato de casamento.
Ah Laura, pelo amor de Deus. Você é só a esposa troféu, ele vai se
divertir com pessoas como a tal Rachel, e é até melhor que seja assim.
Apesar de Alex ter dito com todas as letras que se sentia atraído por
mim, e de estar me tratando como se eu fosse alguém especial para ele, não
posso exigir nenhuma exclusividade. Pelo menos, não posso fazer isso
quando eu mesma o obriguei a se manter o mais longe possível de mim.
Sei que comecei a ser uma pessoa totalmente irracional, quando
percebo que nada disso importa, e que saber que ele mantém outra mulher,
uma amante ou sei lá o que, me deixa fora de mim. Por que eu fui pensar
em acreditar que ele realmente se importava comigo? Burra e ingênua, é
isso que eu sou.
Mas, e se Rachel estiver mentindo?
Minha cabeça entra em uma espiral de pensamentos, e quase me
esqueço de que não estou sozinha no carro. Me lembro de que Rachel está
aqui comigo, provavelmente, se sentindo vitoriosa por colocar essas
caraminholas em minha cabeça, então, me forço a sair dessa espiral maluca.
Ignoro tudo e resolvo alfinetá-la.
— Você parece enciumada, Srta. Becker. — afirmo, com um sorriso
contido. Vou arrancar os cabelos dessa vaca oxigenada.
— Eu? Com ciúmes? Não tenho ciúmes de você, Srta. Morais, já que
tenho Alex comigo, dezesseis horas por dia no escritório. Almoçamos e
jantamos juntos quase todas as noites. — ela sorri, como se isso fosse uma
grande vantagem — Ciúmes de você? Jamais! Tenho certeza de que vai
ficar esquecida naquele mausoléu. Toda sexta-feira à noite, ele dorme em
sua outra mansão, com sua outra "amiga". Todos os fins de semana, ele
viaja comigo para o exterior, e durante a semana, está mergulhado no
trabalho intenso ao meu lado. O que vai sobrar para a pobre brasileira?
Nada. 
— Srta. Becker, eu realmente não me importo. Ele é todo seu, viu?
Não se preocupe, não vou ficar aqui por muito tempo. — corto-a, com um
aceno de mão, tentando manter a classe e a compostura, garantindo-o a ela,
com o orgulho ferido.
Para que esse filho da mãe resolveu me tirar da minha família, para
me esquecer dentro de uma mansão e passar os dias e as noites com outras
mulheres?
— O que você quer dizer? Você partirá em breve? — ela pergunta,
parecendo esperançosa.
— Talvez. — respondo sucinta e viro para o outro lado, claramente,
encerrando a conversa.
Não quero ouvir mais nenhuma palavra sobre Zur e suas mulheres, e
estou sem vontade nenhuma de tentar entender o meu ciúme por saber
disso. Meu sangue ferve de raiva, e eu mal consigo respirar, de tão
claustrofóbica.
Chegamos à mansão de Zur e quando, finalmente, me vejo sozinha,
resolvo explorar o que, provavelmente, será a minha nova casa. Mesmo não
sendo surpreendente, a mansão é enorme, moderna e muito linda. As
paredes e o piso são todos em um porcelanato branco. Um longo pavimento
liga o jardim ao portão principal. Árvores, flores e arbustos rodeiam a
mansão. Além disso, existe uma piscina, uma quadra de tênis e uma de
basquete, uma garagem enorme, uma biblioteca e até mesmo uma capela.
Visito tudo, aprendendo bastante sobre o local, e assim que acabo o tour me
sinto extremamente massificada pela quantidade de informações. Zur é tão
rico e tudo é tão ostensivo que chega a ser exagerado.
A Sra. Lopes, governanta da casa e responsável pelo tour milionário,
me apresenta à uma longa fila de funcionários vestidos com uniformes
cinzas e brancos. Todos são muito simpáticos, animados e parecem
realmente alegres em me conhecerem. Felizmente, eles conseguiram fazer
com que eu me sentisse bem-vinda nessa casa, apesar de ter a constante
sensação de que estavam todos me esperando.
No fim do tour, Charlie, o filho adolescente da Sra. Lopes, me entrega
um lindo buquê de rosas vermelhas e me conta animado que ajuda seu pai a
cuidar do jardim.
— Finalmente, conhecemos a senhora! Já faz tempo que temos
esperado por este momento. — seu sorriso se alarga, e eu fico
extremamente envergonhada — Agora que você finalmente está aqui, o Sr.
Zur, com certeza, vai ser um homem muito feliz.
— Como assim, todos vocês sabiam que eu estava vindo? —
pergunto a Charlie desconfiada.
— Claro que sim! Durante anos, já nos preparávamos para sua
chegada. — ele responde, com os olhos brilhando, e imediatamente é
cortado por sua mãe.
— Charlie, para de falar besteira! — ela diz rápido, com o pescoço
vermelho — Por favor, desculpe meu filho, Srta. Morais. Todos estávamos
esperando pelo dia em que o sr. Zur encontrasse uma pessoa da qual
gostasse e resolvesse se casar. Esse é o motivo de todos estarem esperando
pela senhora. Você conhece as crianças, às vezes elas falam de bobagens. —
ela diz categórica, sem abrir brechas para que eu pergunte mais nada —
Você está com fome? Gostaria de comer primeiro, antes de eu lhe mostrar o
seu quarto?
— Eu já jantei no avião com o sr. Zur. Se você não se importar,
gostaria de descansar agora. — digo, reprimindo um bocejo.
— Claro, Srta. Morais. Venha, eu vou te mostrar o seu quarto.
Damian trará sua bagagem mais tarde.
Juntas, subimos para o quarto que foi designado como "meu", e fico
impressionada com a sua beleza. Uma cama gigantesca e um dossel com
detalhes em dourado chama atenção por ser extremamente impressionante.
Todos os outros detalhes são em tons de roxo e branco, ornando
perfeitamente entre si. E fico instantaneamente feliz, porque se eu pudesse,
escolheria um quarto exatamente igual a esse.
— Você gostou de seu quarto, Srta. Morais?
— Sim, claro. É lindo, muito obrigada! — respondo, ansiosa por
explorar tudo o que estou vendo.
— Tenho certeza de que o Sr. Zur vai ficar feliz em ouvir isso. — ela
diz sorrindo — Bem, vou deixar você sozinha agora, mas, por favor, não
hesite em nos chamar se precisar de alguma coisa. Há um interfone perto da
porta.
— Tudo bem, muito obrigada. — digo, sem graça com toda a atenção.
Assim que ela sai do quarto, pego meu celular e ligo para meus pais,
para informá-los de que cheguei em segurança. Papai ainda está muito
chateado com a minha decisão de aceitar a oferta de Zur, e preciso repetir
várias vezes que estou bem e segura, até que ele se sinta confortável para
acreditar.
— Eu vou pegar o dinheiro e pagar esse diabo! Eu lhe prometo isto,
Laura. Vou tirar você daí, o mais rápido possível.
— Obrigada, papai. Mas realmente, estou bem. Não se preocupe. —
digo, pela milésima vez, tentando acalmá-lo.
— Você tem certeza? Ele está te deixando com fome? Ele te tocou?
Forçou algo? Porque, se isso tiver acontecido, eu vou matar o desgraçado.
— Pai! Claro que não! Ele está me tratando como uma convidada
aqui em sua casa, todos os funcionários são muito simpáticos. E não… eu
não dormi com ele, e não tenho nenhuma intenção de fazê-lo. Pare de se
preocupar, pai, está bem? Cuide-se, pare de beber e cuide bem da mamãe.
Você tem que ser forte por ela. Em um ano, se tudo der certo estarei de
volta!
— Eu sei, minha princesa. Eu te amo. Se cuida, meu anjo.
— Eu também te amo, papai. Tchau.
 

 
Malditos russos, sempre me atrapalhando de uma forma ou de outra.
Primeiro, tentaram boicotar nosso negócio, agora que viram que não
deu certo, estão tentando negociar conosco para conseguir uma "rebarba"
no lucro. E, neste momento, ao invés de estar com a ruivinha, mostrando a
nossa casa para ela, estou aqui, tendo que lidar com esse tipo de coisa. Pelo
menos, foi rápido e em uma hora estou liberado para ao menos conseguir
jantar e resolver os pormenores do nosso casamento com ela.
Fiz um último teste com a Rachel, e percebi que a mulher é muito
mais ardilosa do que eu imaginei. Quando pedi que ela levasse Laura para
casa, deixei o motorista encarregado de ser meus olhos e ouvidos, e percebi
que sim, ela tentou envenenar Laura contra mim, o que tornou a decisão de
demiti-la ainda mais fácil.
Por outro lado, agora que Laura sabia dos meus encontros de sexta,
precisava tomar ainda mais cuidado para que ela não desconfiasse de nada.
Preciso cuidar para que ela não descubra tudo tão rápido, e assim, me dê a
oportunidade de se apaixonar pelo homem que eu me tornei.
— Quero o contrato de casamento pronto em minha mesa agora. —
disco o ramal do meu advogado, Kevin Russell, falo e desligo, sem esperar
respostas.
Espero que ele tenha colocado a cláusula sobre o check-up, já que no
avião Laura parecia realmente nervosa, procurando algum remédio em sua
bolsa. Isso tem me preocupado bastante, sei que não posso parecer muito
invasivo, mas apesar de muito parecida com a menina que costumava ser,
Laura aparenta estar fechada em um casulo, presa e muito mais medrosa do
que era dez anos atrás.
— Me chamou, sr. Zur? — Kevin entra na minha sala, com uma pasta
cheia de folhas em mãos.
— Chamei. Preciso do contrato de casamento o quanto antes. Não
posso correr o risco de Laura mudar de ideia.
— Sim, eu fiz as alterações que me pediu, e coloquei de uma forma
que não pareça nada absurdo, assim, você também fará o check-up. Além
disso, o contrato pré-nupcial está pronto, e todas as cláusulas absorvem a
dívida do pai dela. Quer realmente manter isso? Você vai perder bastante
dinheiro…
— Quero. Foi combinado, e trato é trato. Ela precisa sentir que eu
estou mergulhado de cabeça nessa história tanto quanto ela, dessa forma, o
casamento será vantajoso para os dois. — digo sério, mas meu advogado
me lança um olhar enviesado.
É nítido que ele acha esse o pior acordo que eu já fiz em toda minha
vida. Totalmente passional, sem lucro nenhum para mim, apenas um
prejuízo sem previsão de retorno, financeiramente falando.
— Realmente, essa boceta é de milhões. — ele brinca, mas franzo o
cenho, fazendo a minha expressão mais fechada e ele engole em seco, antes
de dar um passo para trás.
— Está falando da minha futura esposa, sr. Russell. Cuidado.
— Desculpe, passei do limite. O senhor tem razão. — ele responde,
me entregando a pasta, e sem maiores delongas, sai da minha frente com o
rabinho entre as pernas.
Imbecil.
Leio tudo para ver se está realmente correto, e quando me dou por
satisfeito coloco a papelada em minha pasta, pronto para enfrentar a fera e
me casar.
Quem diria.
 
 
O dia foi exaustivo, mas vamos fechar com chave de ouro. Consigo
chegar às oito para o jantar, e percebo que a sra. Lopes organizou tudo do
jeitinho que eu pedi. A mesa posta no jardim indica que está tudo pronto e,
provavelmente, Laura já recebeu meu presente de boas-vindas, e está se
arrumando.
— Tudo certo? — pergunto para Charlie que, como sempre, é o
primeiro a me recepcionar, e ele abre um sorriso gigante, antes de confirmar
com a cabeça.
— Tudo certo, senhor. Laura já recebeu o vestido, e minha mãe
disse que o jantar está pronto. Só faltava o senhor chegar para avisarmos a
ela. — ele diz de prontidão e eu confirmo com a cabeça.
— Vou tomar um banho rápido, mas pode deixar que eu mesmo a
chamo, ok?
— Combinado.
Subo as escadas correndo, de dois em dois degraus, me sentindo um
adolescente ansioso. Sei que um casamento de verdade envolveria muito
mais do que uma simples assinatura contratual, mas impossível não ficar
ansioso com esse tipo de acontecimento, principalmente porque eu vou me
casar com ela que é e sempre será a mulher da minha vida.
Tomo um banho rápido e visto o terno cinza que escolhi para essa
ocasião antes de ir para o Brasil. Assim como o jantar, as flores, o vestido e
todos os detalhes, para que Laura se sentisse acolhida e bem dentro dessa
casa enorme, que agora parece completa com a sua presença.
Assim que termino de me arrumar em tempo recorde, bato duas
vezes na porta do seu quarto, e ela atende com um sorriso no rosto, que
morre assim que coloca os olhos em mim. Percebo que, assim como antes,
ela se esforça muito para parecer brava comigo, mas seus olhos estão
carregados de desejo, provavelmente, refletindo os meus.
O vestido branco é simples, porém, cumpre o papel do casamento
pouco convencional. Sei que um vestido de noiva seria demais para essa
situação e, com certeza, ela não aceitaria, mas prefiro pensar que estou
adiantando a papelada para que a cerimônia aconteça em um futuro
próximo.
— Você está linda, — digo baixo, e ela pisca duas vezes, como se
não soubesse o que responder — me acompanha?
— Obrigada. — Laura resolve responder, e encaixa o braço no meu,
enquanto começamos a caminhar.
— Chegou cedo, achei que demoraria mais com a reunião
importante que tinha.
— Adiantei o máximo que consegui. Queria jantar com você. —
respondo, dando de ombros, tentando não parecer tão ansioso — Você
gostou da casa?
— Sua casa é linda, sr. Zur. — a ruivinha responde, eu reviro os
olhos, um pouco impaciente.
— Nossa casa, Laura… se você quiser mudar qualquer coisa, tem
autoridade para isso. — respondo, tentando ser paciente, e chegamos ao
primeiro andar, onde a mesa com o nosso jantar já está posta no jardim.
— Não sei se consigo me acostumar com isso… tudo é muito novo.
— ela responde, e eu puxo a cadeira para que ela se sente.
— Eu também acho que tudo é muito novo, mas essa é a nossa nova
realidade, precisamos aceitar e nos acostumar, por isso, se algo não estiver
do seu agrado, eu preciso saber. — minha voz é imperativa, mas tento
parecer o mais aberto possível. Só quando ela confirma duas vezes com a
cabeça, consigo respirar aliviado.
O jantar é servido do jeito que eu instruí: macarrão com camarões, e
Laura parece encantada com o prato à sua frente. A ruivinha come com
vontade, enquanto conversamos sobre a cidade e tudo o que eu gostaria de
levá-la para conhecer. Pela primeira vez no dia, vejo uma empolgação
genuína, e mesmo sabendo que as coisas podem ser boas demais para ser
verdade, me permito entrar nesse devaneio e tenho um vislumbre de como a
minha vida poderia ser com ela ao meu lado para sempre.
Quando terminamos a sobremesa, sinto o clima pesar, e tiro os
papéis da pasta que estava ao meu lado.
— Laura, nosso contrato de casamento está aqui. Gostaria que você
lesse com calma todos os acordos pré-nupciais, o de casamento, e o de
divórcio. O último não tem data, e ainda não é válido, obviamente. Só
assinaremos quando seu pai quitar a dívida, o ano acabar, ou optarmos por
isso. — percebo que ela engole seco, com os olhos arregalados.
— Optarmos? — sua pergunta sai em um fio de voz, e eu dou de
ombros.
— Atualmente, não vejo nenhum motivo para querer me divorciar.
Se nosso casamento evoluir para algo real, eu não teria nenhuma objeção,
mas provavelmente precisaríamos mudar alguns termos do acordo pré-
nupcial. — digo de forma prática e ela solta uma risada audível.
— Talvez você tenha bebido um pouco demais, sr. Zur. Nosso
casamento não irá evoluir para algo real. — sua fala é pior do que uma
navalha, cortando a minha alma, mas respiro fundo, tentando me controlar.
— Ninguém sabe o que pode acontecer no futuro, Laura. Estou
apenas expondo todas as opções. — digo, soltando um suspiro.
Ela pega os papéis e começa folhear, lendo página por página com
extrema atenção, mas vira e mexe seus olhos se voltam para mim.
— O que acontece se quebrarmos o contrato? — ela pergunta, e eu
sinto um frio na minha espinha.
Não existirá um motivo no mundo que me faça quebrar esse
contrato, já ela, tem milhares para nomear, e nesse momento sinto medo.
Talvez exista algo que seja mais importante do que a dívida do seu pai, algo
que ela não possa suportar, e, tenho a leve impressão que descobrir a minha
verdadeira identidade seria uma dessas coisas que a faria quebrar o
contrato.
 

— O que acontece se quebrarmos o contrato? — pergunto muito


mais curiosa do que qualquer coisa, e vejo Zur se retrair, parecendo
desconfortável.
Um silêncio mortal se instala entre nós dois, mas aguardo a sua
resposta, curiosa com a sua atitude.
— Bom, se eu quebrar o contrato, nada mudará. Continuarei
pagando o tratamento da sua mãe, e os trinta por cento serão perdoados. Já
se você quebrar, a dívida volta ao ponto de partida, com os juros corrigidos
desde o dia da assinatura do contrato, e eu corto todo tipo de ajuda. — ele
responde sucinto e eu confirmo com a cabeça.
Não é nada injusto, mesmo assim, não consigo me acostumar com a
ideia de me casar dessa forma, apenas para livrar a minha família da ruína.
No fim, a dúvida que fica é se Zur é um homem benevolente ou apenas um
cretino que está sapateando em cima da desgraça alheia.
Continuo lendo o contrato, e percebo que ele parece muito com um
contrato de casamento real, deixando poucas cláusulas para
questionamento. Aparentemente eu vou ganhar um cartão com uma renda
mensal, que eu posso gastar com o que quiser, menos mandar o dinheiro
para terceiros, e quando assinarmos o divórcio ele deixará em meu nome
uma propriedade residencial de minha escolha.
Preciso confiar quando ele diz que não me forçará a nada, mas ao
mesmo tempo, me sinto perdida sobre o que esperar desse acordo tão pouco
convencional. Alex parece realmente satisfeito quando vê a minha
assinatura em todos os papéis, exceto o contrato de divórcio, e assim que
ele termina de assinar a minha via, estamos oficialmente casados.
— Então, é isso… estamos casados. — afirmo em um suspiro, e ele
confirma com a cabeça.
— Só falta uma coisa. — ele diz, e eu fico surpresa quando o vejo
tirar uma caixinha de veludo do bolso, e me entregar um anel extremamente
ostensivo e brilhante. O diamante rosa é enorme, e eu mal consigo respirar
quando o assisto deslizar pelo meu dedo, do tamanho perfeito para mim.
— Isso é desnecessário e ostensivo demais, sr. Zur. — falo para
irritá-lo, e noto a sua careta assim que me escuta falar.
— Por que eu tenho a impressão de que você me chama dessa forma
para me testar, Laura? — ele diz, e se aproxima um pouco mais, segurando
a minha mão com delicadeza — Esse anel não é ostensivo e desnecessário.
Você agora é a minha esposa, e como eu poderia explicar para qualquer
amigo o fato de não ter um anel tão bonito quanto você no seu dedo anelar?
— seu sorriso se abre, como se apreciasse alguma piada particular, e depois
continua — Eu mandei fazer essa joia para você, porque achei que
combinava com a sua delicadeza e beleza. Mas, mais do que isso, enquanto
estivermos casados, ela será uma prova de que eu estou comprometido de
corpo e alma com esse acordo. Não foi do jeito convencional, estamos
longe de ser um casal de verdade, mas eu prometo que irei tentar ao
máximo te fazer feliz. Essa é uma promessa que eu nunca irei descumprir
de propósito. Quando te trouxe para cá, e fiz essa proposta louca, sabia de
todas as consequências, mas estava disposto a tentar fazer dar certo. De
alguma forma, você é preciosa para mim, linda.
— Sendo amigos, certo? — pergunto cautelosa, porque toda a sua
fala desperta sentimentos muito controversos em meu peito.
Noite passada, eu jurei odiá-lo para sempre, hoje eu já estou
cogitando o fato de ele não ser o monstro que aparenta ser. O que será de
mim daqui a seis meses? Quando nosso contrato acabar, e ele me mandar
para escanteio, eu não posso ter criado vínculos aqui. Tudo isso é fadado ao
fracasso, mas quando escuto sua voz envolvente me falar coisas tão bonitas,
é difícil me lembrar de tudo o que acabou de acontecer.
— Claro. Seremos amigos, Laura. — ele confirma com a cabeça,
mas parece levemente chateado — Mas, não posso fingir que não me sinto
atraído por você. Estou aqui, disposto a te esperar, mesmo que, no fundo,
você realmente nunca esteja pronta para mim, ou não queria nada do tipo
comigo. O que eu posso fazer é ser paciente, e estar a sua disposição, o que
eu tentarei ao máximo. Isso é uma promessa.
— Você não pode me falar esse tipo de coisa. — falo baixo,
sentindo em meu pescoço um arrepio gostoso que se conecta com as partes
baixas.
— Como seu marido, eu acho que posso sim, — ele solta uma
risada, e dá um aperto de leve em minha mão — mas, te entendo. E, é por
isso que vou parar por aqui. Você tem alguma dúvida? Precisa de alguma
coisa? A hora de fazer as suas exigências é agora, eu sou todo ouvidos.
— Bom, já que você está me dando tanta liberdade… eu quero que
você troque de secretária, — me surpreendo com a minha fala, da mesma
forma que ele parece surpreso — ela é desrespeitosa, e me tratou mal.
Tenho certeza de que um homem como você pode muito bem encontrar
alguém mais profissional. — tento me justificar, ignorando os ciúmes que
cresce dentro de mim — Eu quero passe livre para fazer o que eu quiser na
cidade, passear, conhecer todos os lugares… enfim…, não quero ser uma
prisioneira no seu castelo de mármore.
— Acho justas as suas duas colocações. — ele confirma com a
cabeça, como se estivéssemos em uma reunião de negócios — Eu gostaria
de jantar todas as noites que estiver na cidade com você, exceto momentos
extraordinários que possam vir a acontecer e, se for o caso, conversamos
durante o dia. Pode ser?
Pondero e não vejo nada absurdo em sua fala, por isso, confirmo
com a cabeça.
— Por mim, tudo bem. — digo baixo, e ele levanta as sobrancelhas
surpreso.
— Então, se você pensar em mais alguma coisa no futuro, me avise.
O silêncio se torna constrangedor, e não consigo resistir a um bocejo
baixo. Ele abre um sorriso e se levanta, me oferecendo a mão que, a
contragosto, aceito.
— Vamos dormir, o dia hoje foi completamente exaustivo para nós
dois. — ele diz, simplesmente, e eu confirmo com a cabeça.
Subimos juntos, e antes de entrar em meu quarto, ele beija a minha
testa, me desejando boa noite.
— Estou feliz em te ter em minha vida, Laura. — Zur fala, antes de
se virar e caminhar em direção ao seu quarto, sem esperar por uma resposta.
 

UM MÊS DEPOIS…
 
Desde o momento em que Laura realmente topou se casar, e
resolveu vir comigo para Havdiam, eu estou me sentindo completo e muito
feliz. Não importam as milhares de vezes em que ela diz me odiar, não
importa ela não estar aqui pelos meios convencionais. O que realmente
importa é que, depois de tantos anos, estamos juntos novamente. É apenas
uma questão de tempo até tudo se acertar, e passarmos por cima de mais
essa dificuldade.
Aos poucos, tenho quebrado as suas barreiras. Todo o tempo livre
que possuo, tenho dedicado a levá-la aos principais lugares da cidade, para
que ela conheça e se apaixone por Havdiam do mesmo jeito que eu me
apaixonei. Todas as noites jantamos juntos, e aos pouquinhos, Laura tem se
aberto mais para mim. Não é fácil, não é o ideal, mas é o que eu tenho, por
enquanto, e é com isso que eu vou trabalhar.
Estou tentando dar o espaço que ela precisa para a adaptação,
tentando tornar mais fácil a sua nova vida, com a esperança de que, um dia,
ela me perdoe e me aceite. Mas, puta merda, isso não é nada fácil. Estou
tentando não ser um cara pegajoso que fica mandando mensagens e ligando
o tempo inteiro, mas percebo que passo o dia com a mão no celular,
esperando receber uma de suas breves e poucas mensagens.
Pego o telefone em meu escritório pela trigésima vez, pronto para
ligar para Laura e saber como foi o seu dia, o que fez durante a tarde e
como está a sua adaptação. Apesar dela sempre me responder de forma
vaga, minha cabeça gira em loops, pensando no que posso fazer para que
ela se sinta melhor e mais adaptada. A minha vida é toda aqui, não seria
nada bom se ela resolvesse que odeia viver em Havdiam. Ter que mudar
tudo vai me dar o maior trabalho, sem contar a dor de cabeça.
Resolvo, por fim, completar a maldita ligação. Que mal faz saber
como ela passou o dia, não é mesmo?
— Sra. Lopes, boa noite, quero falar com a Laura.
— Ela já está dormindo, senhor, disse mais cedo que estava cansada.
Fico em silêncio por um tempo, pensando. Realmente, já passou das
onze da noite, e por mais patético que isso possa parecer, eu só queria dizer
boa noite à Laura e ouvir sua voz. Avisei que não conseguiria chegar a
tempo para o jantar, mas esperava que ela estivesse acordada, para que eu
pudesse ao menos trocar meia dúzia de palavras, antes de dormir.
— Tudo bem... não importa, Sra. Lopes. Obrigado, boa noite. —
desligo o telefone categórico. Amanhã, vou compensá-la, com certeza.
Finalizo todas as reuniões, termino de analisar as planilhas, e já passa
da uma hora da manhã quando, finalmente, chego em casa. Com nenhum
dos funcionários acordados, subo em silêncio, diretamente para o quarto da
Laura, e para a minha frustração, a porta está trancada.
Sei que pareço um stalker maluco, mas depois dos seus exames e de
saber que ela tem alguns problemas psicológicos, que envolvem vários
remédios tarja preta, eu passei a ficar ainda mais vigilante e preocupado.
Minha ruivinha é frágil, mas uma das coisas que eu pretendo fazer nesse
período que estamos juntos, é ajudá-la a sair dessa prisão mental. Para isso,
ela precisa me deixar entrar, e não me matar de preocupação, trancando a
sua porta.
— Laura? — digo, batendo na porta — Laura, abra a porta.
Droga! Ela, com certeza, está exausta, deve ter tomado o remédio
para dormir e apagou. Não vai ser essa batidinha de nada que vai conseguir
despertá-la. Mas que porra... Minha cabeça começa a criar milhares de
cenários onde ela toma vários comprimidos de uma vez, e a paranoia me
consome. Além da culpa e do remorso. Sei que seus problemas começaram
quando eu fui dado como morto, anos atrás, e por mais que eu esteja
tentando deixar o ambiente saudável e feliz para ela, de todas as formas que
eu conheço, meu maior medo é a ruivinha fazer algo contra si mesma em
um ato desesperado.
Eu realmente preciso vê-la, só saber se ela está bem mesmo. Se não
cometeu nenhuma loucura… ou sei lá, algo pior do que isso. Ela seria
capaz?
Tento bater mais algumas vezes e não obtenho nenhuma resposta, e
depois de mais de meia hora, eu realmente fico preocupado. Caminho
decidido até o lado de fora da casa, e analiso a situação debaixo da janela
do quarto da Laura. Nenhuma luz acesa. Nenhum sinal de alguém acordado
ou no quarto. Que droga! Olho fixamente por todo o trajeto, e me
amaldiçoo por ter colocado seu quarto no terceiro andar. No que eu estava
pensando? Ah é, nela ficar mais próxima do meu quarto. Que inferno! Vou
escalar!
Começo a subir em direção a sua janela. Eu posso fazer isso, digo a
mim mesmo. Lentamente, vou subindo, pisando nas molduras e tijolos da
casa. Quando começo a realmente avaliar se vale a pena todo o trabalho
para dar apenas uma espiadinha em seu sono, escuto soar o alarme da casa,
e o latido distante dos cães, sedentos por sangue. Que merda!
— Pare agora ou eu atiro em você! — Luiz Carlos grita,
extremamente nervoso para mim.
Eu me viro para pedir para ele cancelar todo esse circo, e o clarão das
luzes me cega momentaneamente, fazendo com que eu perca o equilíbrio.
— Sr. Zur? O que você está fazendo aí? Quer me infartar, homem? —
Escuto Charlie gritar, correndo ainda de pijama e solto uma gargalhada.
— Desculpe a interrupção, senhor. Por favor, continue o que você está
fazendo, não iremos mais interromper. Todos, abortar! — meu chefe de
segurança, Luiz Carlos, grita para seus homens.
A janela de Laura se abre instantaneamente, e ela, ainda um pouco
descabelada, olha para mim com os olhos franzidos.
— Alex, o que você está fazendo?
— Bati em sua porta, mas você não estava respondendo. — digo
como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, no fundo, um pouco sem
graça. Não tinha a intenção de que ela descobrisse. Só queria saber se ela
estava viva, bem e em seu quarto.
— Então, você decidiu ser o Homem-Aranha, hein? — ela diz,
quebrando o clima, com um sorriso travesso em seu rosto de anjo.
— Exatamente. Só queria dizer boa noite. — continuo a escalada, em
direção à janela.
— Você está sendo estúpido. Pelo amor de Deus, homem! Vai cair e
se estropiar inteiro. Desce daí, tudo bem? Eu abro a porta.
— Não, eu estou quase aí.
—Você ainda nem está na metade do caminho, não seja ridículo! —
ela diz, e o meu orgulho se torna mais forte. É claro que eu consigo, agora
se tornou questão de honra.
— Não. Eu já estou chegando. — ela solta um longo suspiro e revira
os olhos, em um claro sinal de irritação.
— Tudo bem, você é quem sabe. — ela tamborila os dedos no rosto,
como se estivesse pensando, e escolho esse exato momento para
desequilibrar, soltando uma das mãos — Ok! — ela grita — Desce daí, e eu
te dou o que você disse que mais quer no mundo. Eu não estou muito
impressionada com a sua performance, Alex. Então, vai ser de piedade,
entendeu?
— Sério? Um beijo de verdade? — pergunto, parecendo uma criança
em frente a um pote de Nutella. Laura parece ponderar, mas antes que ela
mude de ideia, grito animado — DESCENDO!
Desço em menos de um minuto. Literalmente, igual a um adolescente,
entro em casa correndo e vou direto para o quarto de Laura. Ela está me
esperando com a porta aberta e um sorriso de descrença no rosto. Mas,
antes que ela faça algum tipo de piada, ou comentário espirituoso, eu agarro
a sua cintura com os dois braços, e a puxo em direção ao meu corpo
endurecido.
— Senti a sua falta. — digo, inclinando a minha boca para beijá-la,
mas ela vira a cabeça no último segundo, com tudo. Meu beijo aterrissa ao
lado de seus lábios, e eu posso apostar que a minha expressão está muito
pior do que a de um cachorrinho abandonado.
— Espera. Antes de nos beijarmos, me diga uma coisa: — ela
pergunta, com uma expressão curiosa e ao mesmo tempo culpada — Existe
alguma mulher na sua vida?
— Sim. — respondo categoricamente.
— Quem? — ela pergunta, com um misto de ciúmes, e meu peito se
infla de felicidade.
— Você. — respondo simplesmente.
Laura, então, tenta me afastar, e eu aperto ainda mais a sua cintura,
desesperado com o seu ataque de fúria. O que está acontecendo?
— Eu realmente te odeio, Zur. — seu tom de voz é baixo e parece
decepcionado — Você é um mentiroso, salafrário. Hoje é sexta, e você
estava com a outra! Sei tudo sobre ela! Tire suas mãos de cima de mim.
— Claro que não! Hoje é terça-feira, Laura. Do que você está
falando? — digo sem pensar, e pelo seu olhar vejo que errei feio.
— Você continua me provocando, me enganando, me fazendo
acreditar que se sente atraído por mim. Mas, na primeira oportunidade, me
deixa te esperando e vai se encontrar com outra mulher! — ela diz,
parecendo bastante chateada, mas percebo que sua voz está arrastada, e
talvez, isso seja algum tipo de efeito de algum remédio. Busco em minha
memória qualquer coisa que possa ter lhe dado essa impressão errada, mas
não encontro nada. Até porque, não há nada, apenas o episódio ridículo com
Rachel semanas atrás, que já foi resolvido.
— Eu estou te dizendo a verdade. Eu continuo pensando em você a
cada segundo, não consigo me concentrar nas reuniões desde quando nos
casamos, porque eu apenas fico obcecado em saber como você está. Não
quero esse beijo agora, quando você mal consegue parar em pé e,
provavelmente, não vai se lembrar de nada amanhã. Mas, vou cancelar
todos os meus compromissos e vamos conversar sobre isso à luz do dia,
tudo bem? — digo francamente, e ela me olha com desconfiança.
— Eu não acredito em você. Sei que tem outra. — ela diz,
simplesmente.
— Laura, eu sou seu. — admito.
 
 

Mal consigo pregar o olho, e quando finalmente o dia amanhece e o


horário se torna aceitável, mando um e-mail para a minha nova secretária,
avisando que não irei trabalhar hoje. Eu e Laura precisamos conversar sobre
isso tudo. Não dá para ficar no escuro e situações como as de ontem
acontecerem novamente.
Eu preciso saber que ela vai estar bem, e não ficar apavorado de
medo, mas, além disso, eu preciso ajudá-la a sair dessa. E só a ruivinha vai
conseguir me guiar para que eu faça a coisa certa.
Saio determinado a ter uma conversa franca com a minha esposa. Ela
precisa saber que eu me preocupo e, principalmente, que estou disposto a
fazer tudo o que for possível para que ela fique bem.
— Laura, precisamos conversar. — digo, batendo na sua porta,
firme. Em poucos segundos ela abre, já vestida e pronta para tomar café da
manhã.
— Alex? Achei que você já estava no trabalho. Bom dia! — ela diz,
e eu estreito os meus olhos, com desconfiança. Ela realmente não vai
comentar nada sobre ontem e suas acusações infundadas?
— Bom dia. Dormiu bem? — questiono, e ela confirma com a
cabeça, com um sorriso grande no rosto.
— Muito bem, e você? Não consegui te esperar ontem, sinto muito.
— ela fala baixo, e eu levanto as sobrancelhas surpreso.
A ruivinha realmente não se lembra de nada.
— Nós nos vimos ontem à noite, Laura. Você não se lembra? —
pergunto, e ela nega com a cabeça.
— Acho que estava sonolenta demais… aconteceu algo importante?
— sua expressão passa a ser de pura preocupação, e eu a guio para dentro
do seu quarto, mantendo a porta aberta, para que ela se sinta mais
confortável.
Com os olhos estreitos ela se senta na cama, parecendo desconfiada.
— Laura, você ontem parecia… chapada. Eu fiquei preocupado de
verdade. — minha voz soa aflita e ela abaixa a cabeça, parecendo
envergonhada — Me conta o que está acontecendo, por favor.
— Você já sabe do meu diagnóstico… eu tenho depressão, síndrome
do pânico e alto nível de ansiedade, por isso tomo alguns remédios. O
noturno, para dormir, me deixa um pouco drogada… sei disso, mas não é
algo com que você precise se preocupar.
— Laura, eu sou seu marido. Mesmo se não fosse, me considero seu
amigo e me preocupo muito com você, pequena. — faço um carinho em seu
rosto, e ela não protesta, parecendo triste — Me conta, por favor, como eu
posso te ajudar?
— Eu não sei como você pode me ajudar, tomo remédios há tantos
anos que eu nem me lembro mais como eu sou sem o auxílio deles. A vida
era sufocante demais para suportar sem ajuda. Mas, eu continuo fazendo o
tratamento com a psicóloga religiosamente, toda semana, tenho o meu
acompanhamento com o psiquiatra e peço a Deus todos os dias para que ele
me livre desse sentimento horrível que existe dentro do meu peito.
Suas palavras cortam o meu coração, e sem conseguir me segurar, a
puxo para um abraço apertado. Não sei quanto tempo ficamos nessa
posição, mas sinto que ela chora baixinho em meu peito, e eu me sinto a
pior pessoa que existe no mundo. Eu e Otávio, neste momento, não somos
tão diferentes, como a vida inteira pensei e quis que fôssemos. Juntos,
destruímos parte da pessoa mais importante do mundo para nós, e é por
saber da minha grande parcela de culpa em não ter revelado a minha
identidade e aparecido anos antes, que coloco como objetivo de vida fazer
com que Laura realmente se torne uma pessoa feliz, e que ela fique bem.
— Você quer realmente se livrar dos remédios em algum momento,
e desse sentimento que te aprisiona? — pergunto, apenas para confirmar se
entendi direito. A primeira pessoa que tem que querer sair dessa situação é
ela, não posso lutar sozinho.
— É tudo o que eu mais quero, e sei que ninguém pode me ajudar.
Mas, eu não tenho forças para isso… tudo é muito complicado para mim.
Primeiro, eu tive que lidar com o luto que me quebrou em milhares de
pedaços, depois, com o alcoolismo do meu pai, e o jeito se ele afundou
diante dos meus olhos, me colocando como uma espécie de bote salva-vidas
que eu nunca tive capacidade de ser pra ninguém, muito menos para mim
mesma. Minha irmã abandonou a família e me deixou sozinha para lidar
com tudo, e, principalmente, depois que mamãe adoeceu tudo se
potencializou de uma forma absurda. Não tenho esperança de melhora, só
tento lutar todos os dias para não cair.
— Eu estou do seu lado para te ajudar.
— Alex, você é uma das razões para que tudo isso seja
potencializado, eu estou aqui contra a minha vontade, apenas para ajudar a
minha família. É um fardo grande que eu estou carregando, por mais que
não seja detestável o tempo inteiro, e que realmente esteja se esforçando,
não existe nada que você possa fazer para me ajudar quanto a isso.
A verdade bate em minha cara de um jeito chocante. Laura tem toda
razão, mas a esse ponto, eu sei que não sou forte o bastante para abrir mão
de tudo e deixá-la ir.
— Peço desculpas se tenho causado ainda mais sofrimento a você, eu
realmente me sinto mal por isso. — começo a dizer, e ela nega com a
cabeça.
— Eu sei das minhas responsabilidades. Poderia ser muito pior…
— Mas pode ser melhor também. Se você quiser, vamos encontrar o
melhor psiquiatra de Havdiam, para que reavalie os seus remédios e
entendermos o que pode ser feito para que você melhore. Eu vou estar ao
seu lado o tempo inteiro, se você quiser… e te ajudo no que for preciso. Me
comprometo em fazer isso. — Laura me estuda com seus olhos estreitos,
tentando entender alguma coisa que eu mesmo ainda não sei o que é.
— Por que você faria isso? Tenho consciência de que uma mulher
mentalmente frágil é muito mais fácil de ser manipulada. — sua fala me
pega de surpresa, e eu me afasto um pouco, ofendido.
— Não quero te manipular. Eu quero te ver bem. Quero dormir
tranquilo, sabendo que você não vai enfiar trinta comprimidos goela abaixo
porque odeia muito a mim e a sua nova vida. Mais do que isso, eu não
quero que você seja mentalmente frágil, para que ninguém faça esse tipo de
coisa com você. — a revolta e a verdade que passo em minha voz,
provavelmente, é o que faz com que ela confirme duas vezes com a cabeça,
parecendo assustada e um pouco surpresa.
— Aceito a sua ajuda, então.
— Fico aliviado. Quero ajudar em tudo o que eu puder. — digo,
segurando uma mecha do seu cabelo entre os dedos — Ontem você me
assustou pra caramba!
— Não precisa se preocupar tanto, o remédio é um pouquinho
alucinógeno, mas inofensivo. Sério.
— Inofensivo nenhum remédio é. Mas, a parte do alucinógeno agora
faz sentindo… você ficou afirmando que só não me beijaria porque eu tinha
outra mulher. — abro um sorrisinho sarcástico e ela parece envergonhada.
— Bom, pelo menos, meio chapada de remédios para dormir não
perdi totalmente a cabeça, deslumbrada por você. — consigo ver o
resquício de humor em sua voz, e me aproximo um pouco mais, percebendo
que ela não se afasta.
— Eu acho que mereço um beijo, tendo em vista que eu realmente
não tenho nenhuma outra mulher, e sou completamente louco por você. —
vejo ela focar seu olhar em meus lábios, mas nega com a cabeça depois de
alguns segundos.
— Você não vai conseguir hoje, garanhão. — ela diz baixo, e eu colo
nossos narizes, o mais próximo que cheguei dela depois de tantos anos.
— Laura, você quer tanto quando eu… sei disso. — comento baixo,
em um leve resvalar de lábios. Faço um carinho em seu cabelo, rodeando
sua cintura fina com uma mão.
— Você está sendo impossível novamente. — ela diz, em um fio de
voz, muito concentrada em não se derreter com o meu carinho.
— Sim, estou. O lado bom é que você está gostando dessa vez. —
puxo seu cabelo lentamente e a sua cabeça sobe, expondo seu pescoço. Dou
um beijo ali, morto de saudade de ter qualquer contato com a mulher dos
meus sonhos, e lambo a área atrás de sua orelha. Ela geme baixinho, me
dando o aval que eu preciso para partir com tudo em direção a sua boca,
quando não consigo mais me segurar, dou um selinho, mas isso não é nem
de longe o suficiente. Eu preciso de mais.
— Deixa eu te beijar, Laura. Me deixa sentir o seu sabor. — falo
baixinho, e como se todas as barreiras fossem rompidas, Laura me beija de
volta, dando tudo de si e recebendo tudo de mim.
 

Abro a minha boca, sem conseguir mais me controlar e recebo o


beijo de Alex, que exige tudo de mim, provavelmente, ansioso por esse
momento. Ele chupa meus lábios e aprofunda o beijo com força, me
fazendo suspirar. Zur beija tão bem, que as minhas pernas ficam bambas, e
eu poderia cair, se não estivéssemos sentados. O homem tem uma pegada
que eu nunca senti em toda a minha vida. Aliás, só vi uma vez, em Igor, e
mesmo assim, tímida, se fosse comparada no momento com meu marido.
Chocada com a minha comparação, uma onda de tristeza me invade, e
eu imediatamente me afasto com força de Alex. Minha cabeça está me
pregando peças, e isso não é nada legal. Como eu posso beijar uma pessoa,
lembrando ainda tão nitidamente de outra?
Seu beijo fez eu me lembrar de Igor, e se eu fechar novamente os
meus olhos, consigo sentir meu ex-namorado presente nesse momento.
Que loucura!
Eu estou realmente ficando doida! Ele é Alex, o homem que acabou
de me oferecer ajuda, a pessoa que, por mais improvável e enlouquecedora
que seja, viu como eu estou frágil nesse momento, e quer que eu melhore.
Igor está morto. Preciso superá-lo. Preciso superar esses momentos em que
minha cabeça fica tão cheia de pensamentos opressivos que sinto vontade
de me trancar em algum lugar e gritar alto, para que isso ofusque toda a
minha confusão mental.
Alex espera pacientemente, percebendo que algo não está certo. E,
depois de alguns segundos, eu balanço a cabeça em negativa.
Zur não é Igor, eles podem até ser parecidos, mas a semelhança
física acaba por aí. Um está morto, e o outro está vivo, querendo e lutando
bravamente para me ter ao seu lado. Ainda que não de forma muito justa.
— Ei, o que está errado, meu amor? — ele se aproxima novamente,
fazendo um carinho em meu rosto, e eu não o afasto, gostando muito mais
do seu toque do que eu poderia admitir — Parece que você viu um
fantasma.
— Sim, acho que sim. — digo, desconexa.
— Como assim, um fantasma? — sua fala parece ter um pouco de
surpresa, e um pouco de deboche, e eu abro um sorriso tímido, antes de
negar com a cabeça.
— Fazia muito tempo que eu não era beijada… só isso. Me trouxe
algumas memórias. Mas está tudo bem. — digo, e levanto um pouco mais o
queixo, antes de olhar em seus olhos eletrificados e sedutores — Vai ficar
tudo bem, não vai?
— Vai, linda. Vamos fazer com que tudo fique bem, juntos. Eu
prometo.
— Acho que preciso de alguns minutos para entender o que aconteceu
aqui… te encontro no café da manhã em alguns minutos. — não dou
abertura para que ele questione a minha decisão, e entendendo a minha
deixa, Alex deixa o meu quarto com as mãos nos bolsos da calça, parecendo
feliz.
É errado de tantas formas gostar de Alex que começo a me martirizar.
É errado por não ter superado Igor ainda. Errado por tudo o que ele fez com
a minha família. Errado por ele ter me obrigado a me casar, sem que eu de
fato quisesse algo do tipo com ele. Mas, quando nossos lábios se tocaram,
tudo pareceu tão certo, que naquele momento eu esqueci de qualquer outra
coisa.
Por mais odioso que possa parecer, e difícil que seja admitir isso pra
mim mesma, pela primeira vez na vida, sinto vontade de ser egoísta e me
entregar ao homem que tem tornado minha vida mais emocionante. Afinal,
quando foi que outra pessoa esteve tão disposta a me ver bem, feliz e me
proteger?
 
 
Sempre vivi confortável, sendo abençoada com muito mais dinheiro
do que realmente precisava. Mas, é impressionante ver que isso não se
compara a um terço do poder financeiro que Zur tem. Antes de terminarmos
o café da manhã, ele já tinha conseguido um encaixe com o psiquiatra mais
caro, exclusivo e competente de Havdiam. Apesar de ansiosa e um pouco
temerosa, segurei firme a sua mão e juntos entramos no consultório, onde,
por mais de uma hora, conversamos sobre o meu estado mental e o que
poderíamos fazer para começar o "desmame" dos remédios.
Por muito tempo, eu vivi dependente dessas substâncias, e, um
alerta soou em minha cabeça com toda a conversa que tive com Alex. Não
posso viver dessa forma pelo resto da minha vida, e agora, mais do que
nunca, eu tenho tempo e condições financeiras para colocar tudo o que eu
quiser ao meu dispor e começar a pensar mais em mim.
Atividades físicas, chás calmantes antes de dormir, meditação, ioga,
e mudanças de hábitos. Essa será a minha nova rotina, por enquanto, além
de estar com um telefone do pânico, para que possa chamar ajuda vinte e
quarto horas por dia, quando precisar. Alex ficou ao meu lado durante toda
a consulta, me dando apoio moral, mas se manteve quieto, ouvindo com
atenção a todas as instruções.
— Você realmente quer fazer isso, não é? Não estou te pressionando
de alguma forma…? — ele começa a dizer, assim que entramos dentro do
carro, e eu confirmo com a cabeça.
— Eu quero ao menos tentar. Estou tão conformada em ser
miserável durante tanto tempo, que agora que eu realmente tenho a
oportunidade e atinei que preciso mudar de alguma forma, me sinto
empolgada para começar! — digo sinceramente — Sei que terei oscilações
de humor, que as coisas ficarão difíceis em alguns dias, mas é tudo
adaptação.
— Vou estar com você sempre, pode jogar um pouco desse fardo
para cima de mim, tudo bem? — ele diz, e eu confirmo com a cabeça.
— Tudo bem.
Olho para a sua boca, e me lembro do beijo maravilhoso que
aconteceu mais cedo. Faz tanto tempo que eu não me sinto viva daquela
forma, que fico tentada a inclinar a cabeça e me deixar levar pelas
sensações, sem entrar em nenhum dilema moral, ou me afogar nas
lembranças opressoras.
— Se continuar me encarando dessa forma, eu realmente não vou
conseguir me controlar. — ele brinca, e eu sinto as minhas bochechas
esquentarem.
— Então, não se controle. — digo, e em poucos segundos sua boca
vem de encontro a minha, nossas línguas dançando de uma forma deliciosa.
Suas mãos vão para o meu cabelo, e sinto um arrepio perpassar por
todo o meu corpo. Sinto minha calcinha umedecer e, nesse momento, eu
deixo tudo de lado. Só foco em meus sentimentos, pensamentos, prazer e no
homem ao meu lado.
 

 
Assim que abrimos a porta de casa, circundo a sua cintura, trazendo-
a para mais perto de mim, antes de beijar a sua testa:
— Hoje, eu declarei o dia oficial da Laura, então, por favor, me use
como quiser. — digo brincalhão, e a ruivinha abre um sorriso tímido, antes
de confirmar com a cabeça.
— Gostaria de comprar os novos remédios, e… sei lá… me
cadastrar em uma aula de ioga. O que você acha? — ela pergunta,
mordendo o lábio e eu confirmo com a cabeça.
— Considere feito. Vou pedir para minha secretária encontrar um
bom estúdio por perto, que tenha aulas coletivas, assim você pode ir quando
quiser. Os remédios, logo logo Damian vai trazer para você, já enviei a
receita por mensagem e pedi para ele comprar. — digo, trazendo soluções, e
ela abre um sorriso.
— Tudo isso, antes do meio-dia. Estou impressionada, sr. Zur. —
Laura brinca, e eu dou de ombros, adotando uma postura mais séria.
— Bom, não consigo abandonar a minha postura de CEO, sinto
muito. — respondo presunçoso e ganho um tapa de leve no meu braço.
— Sempre soube que você era mandão, mas convencido é novidade!
— ela brinca, e eu reviro os olhos.
— Você precisa de endorfina, pequena. Vou pegar no seu pé para
fazer atividades físicas comigo assim que eu acordo, vai ver como o seu dia
vai ser outro. — digo, passando o nariz pelo seu pescoço.
— Deus me livre! Se eu acordar cinco e meia para treinar, vou fazer
o que com o resto do meu dia, sozinha, presa nesse casarão? Prefiro acordar
depois das nove, obrigada. — ela responde brincalhona, e meu peito se
aquece ao ver seu bom humor.
Tomara que essa maré boa continue por muito tempo.
— Bom, não seja por isso. Você é a mulher do dono de uma empresa
enorme, sabia? — respondo, caminhando com ela até o sofá, e sentando-a
no meu colo — Tenho certeza de que ele consegue uma vaguinha para você
trabalhar e ter a sua vida ocupada pelas pessoas chatas, te enchendo o saco
sobre prazos, serviço malfeito dos outros e reclamações sobre o
autoritarismo do chefe.
— Puxa, não consigo imaginar nada melhor do que isso. — ela fala
sarcástica, e eu abro um sorriso maroto — Mas, antes de voltar a trabalhar,
eu gostaria de ver como vai ser a adaptação dos remédios. Tenho medo das
alterações de humor, imagina se eu começo a chorar do nada, ou pior,
resolvo matar o meu chefe porque ele é todo autoritário e malvado no
horário de trabalho?
Não consigo evitar a risada, e ela me acompanha, se aconchegando
ao meu lado. Ficamos em um silêncio gostoso por um tempo, até que vejo
seu sorriso amplo vindo em minha direção.
— Obrigada por ter feito isso por mim. O primeiro empurrão é o
mais importante, e eu sei que não conseguiria sozinha, principalmente, aqui
em Havdiam. — seu tom de voz é mais sério, e eu confirmo com a cabeça,
antes de abrir um sorriso amplo.
— Farei de tudo para que você se sinta melhor, Laura. O que você
quiser e sentir que precisa, é só pedir, que eu lhe darei. Mais do que isso, eu
estou disponível, vinte e quatro horas por dia, se as coisas ficarem muito
difíceis. Não é só o sistema de apoio do psiquiatra que você tem, ok? —
digo, porque é a verdade. Eu amo você, ruivinha. Me sinto tentado a
completar, mas sei que ela ainda está confusa com o nosso primeiro beijo.
Foi como reviver o passado para mim, e sei que para ela também,
pela forma que me olhou assustada e confusa. Aos poucos, Laura vai
aprender a amar o homem que eu sou hoje, porque daquele menino que
quase morreu no incêndio, só sobrou o desejo de vingança e o amor
descontrolado por ela. Não poderia me apresentar como Igor, nem se eu
quisesse. Ele não existe mais, e isso seria uma decepção grande para ela.
Hoje, eu sou Alex Zur, e minha personalidade é essa, minha vida é essa, e é
esse novo eu que ela precisa aprender a amar. Felizmente, pelo seu olhar
carinhoso, ela parece estar dando certa abertura para isso.
— Eu quero muito te beijar de novo. — digo baixo, e vejo suas
bochechas adotarem uma coloração rosa, antes de ela tomar uma atitude e
me dar um selinho rápido.
Abro um sorriso safado, antes de beijá-la novamente, com toda a
vontade que existe dentro de mim. Nossas línguas dançam juntas, e minhas
mãos estão em todos os lugares, sentido cada pedaço do seu corpo,
enquanto me conecto com ela em um beijo delicioso e sensual. Sinto que
Laura ofega, quando passo a mão próximo demais da sua intimidade, e me
afasta com cautela. Apesar disso, a ruivinha não descola a sua boca da
minha, e passamos o resto da tarde assim, conversando, rindo, e nos
beijando.
A bolha de felicidade é frágil, e eu tenho plena consciência disso.
Mas, neste momento, a única coisa que importa é Laura e como ela me faz
feliz.
 

Já passa das oito da manhã quando acordo, me sento na cama, ainda


um pouco perdida. Olho ao redor do quarto, lembrando dos últimos dias e
de como a ioga e tudo o que eu tenho feito para melhorar a depressão tem
me feito bem. Claro que os picos de humor ainda são um dilema que eu
preciso enfrentar, mas no geral, a abstinência não está tão pesada quanto eu
imaginei que estaria. Tudo isso, por causa dele.
Alex tentou muito entrar na minha vida, de todas as formas, e
quando se ofereceu para me ajudar a superar a doença que me assola há
tantos anos, como ninguém nunca tinha feito antes, não consegui me manter
firme. Ele rompeu uma grande barreira em meu coração e começou a se
instalar ali, mesmo sem ser convidado.
É claro, que eu ainda tenho milhares de dilemas internos, como o
fato de ele simplesmente odiar o meu pai, e obviamente, de se parecer tanto
com Igor que as vezes eu não consigo identificar quem é quem, mas de
modo geral, estou me sentindo bem.
É um estado de quase felicidade que me parece muito melhor do que
quase tristeza extrema, a ponto de morrer de dor.
Acabo de terminar meu banho, quando a Sra. Lopes bate em minha
porta, e mesmo estando apenas de toalha, a deixo entrar.
— Bom dia, Srta. Morais. — ela diz, sorridente, e sua expressão vai
de feliz para horrorizada em menos de um segundo — Ah meu Deus, você
ainda não está vestida, eu vou voltar. Me perdoe. — contenho uma risada e
faço um sinal para que ela entre.
— Está tudo bem, Sra. Lopes. Por favor, entre.
— Você dormiu bem? — Ela pergunta, entrando no quarto, e
desviando o olhar para todos os lados, sem olhar diretamente para mim.
— Perfeitamente, obrigada.
Tenho a impressão de que todos os funcionários da casa estão de
vigia, mas não questiono, sei que de certa forma é uma espécie de cuidado
comigo.
— Isso é ótimo. O Sr. Zur ficará encantado… Enfim, de qualquer
forma, eu já estou de saída. Só vim lhe entregar isso. — ela me entrega uma
rosa vermelha, com o caule longo e um pequeno embrulho.
— Muito obrigada! — digo, aceitando o presente com um sorriso nos
lábios.
Ela, então, sai do quarto, murmurando mais uma vez "desculpe", e me
deixa sozinha com o presente que não pode esperar o café da manhã.
A rosa é tão bonita, que eu não consigo me conter e inalo
profundamente seu cheiro, e depois a acaricio com meus lábios. Abro o
embrulho e vejo uma caixa branca dentro dele, retiro-a de dentro, curiosa e
encontro a última versão caríssima de um iPhone, com um bilhete anexado
à caixa.
 
Laura,
Para você, minha esposa. Me liga.
Alex
 
Abro a caixa e vejo que ele, além de já estar funcionando
perfeitamente com um chip, tem uma capinha personalizada com o meu
nome gravado em pequenos diamantes de uma loja de grife. Com certeza,
um exagero, mesmo sendo supermoderno e lindo. Sondo o conteúdo dos
contatos e vejo apenas um número de telefone que, obviamente, é o do
Alex.
Pressiono o botão de chamada, e ele toca duas vezes, antes da
chamada ser rejeitada. Ele recusou minha ligação?
Em menos de um minuto, o telefone toca novamente, com ele
pedindo uma chamada de vídeo. Ah, francamente, Alex. Você é impossível!
Aceito seu pedido, sem pensar muito e imediatamente o vejo na tela,
apoiado em sua cadeira. Seus olhos se arregalam quando ele me vê, e eu
olho para baixo, conferindo o meu traje. Ou a falta dele.
Ótimo!
— Você está querendo me enlouquecer, Laura? Puta que pariu, que
mulher gostosa! — ele diz, boquiaberto, e por mais que eu me sinta bem
com a sua admiração, sinto as minhas bochechas esquentarem, enquanto
tento cobrir um pouco mais do meu colo exposto com a minha outra mão.
— Tinha acabado de terminar meu banho quando a Sra. Lopes me
deu seu presente… — falo, como se isso justificasse tudo, o que,
definitivamente, não é o caso.
— Eu vou aumentar o salário dessa santa, — Alex diz rindo — você
está tão bonita… tão natural. Sei que não conversamos sobre isso ainda,
mas minha mente se tornou muito impura desde quando eu atendi a sua
ligação. — ele diz com um sorriso, me provocando — Você me ligou para
fazermos uma sex call? Porque se sim, eu vou baixar as cortinas da minha
sala agora. — sua risada é contagiante, e por mais que eu esteja
extremamente sem graça, ainda assim, me sinto confortável com a sua
presença. 
— Para com isso, por favor. Vou passar mal de vergonha dessa forma!
De qualquer jeito, obrigada pela rosa e pelo celular, apesar de ser
desnecessário. Eu já tinha a versão anterior, funcionando perfeitamente
bem.
— Eu sei. Mas fico feliz em saber que você está usando um presente
que eu te dei. — ele diz, sorrindo, como se isso fosse a resolução de todos
os seus problemas.
— Tudo bem, como você quiser. Posso desligar para me vestir agora?
— pergunto, e vejo que ele arfa do outro lado da câmera.
— Sério? Laura... você está me torturando. — ignoro seu comentário,
mesmo sabendo que foi estupidez da minha parte ligar para ele dessa
maneira. Parece que eu estou lhe provocando.
— Nos vemos no jantar? — pergunto, desviando do rumo que essa
conversa tomou.
— É o plano. Estou morrendo de vontade de jantar com você. — diz
ele, e acrescenta — Hoje vai ser um dia agitado aqui no escritório, só queria
te ver para alegrar o meu dia, antes de enfrentar as reuniões. — Alex diz,
como se eu realmente tivesse o poder de tornar o seu dia mais leve, e não
consigo conter o sorriso.
— Você está em seu escritório? Sozinho? — pergunto, ainda sem
querer desligar.
— Isso. Estou te vendo agora de uma tela enorme e você está tão
bonita, que se eu pudesse printar a tela e te emoldurar, faria isso. Mas, sou
um cara ciumento, e quando recebesse outras pessoas para reuniões em meu
escritório, as coisas sairiam um pouco do controle. A vontade que eu tenho
é de largar tudo e ir agora mesmo pra casa, passar a mão em todas as partes
do seu corpo… — ele diz sedutor, e eu sinto minhas bochechas queimarem.
— Do que você está falando? Meu Deus, Alex… você... você é um
homem impossível! — digo gaguejando, completamente sem graça, e o
escuto dar uma gargalhada.
— Ah, linda, pensei que você ia me dar um show de strip, para
começar o dia animado.
— Você realmente quer isso, não é? — digo, sem coragem alguma de
fazer nada do tipo, mas gostando muito de provocá-lo.
— Você está certa, eu te desejo vinte e quatro horas por dia. Mas não
vai ficar na imaginação por muito tempo, pode ter certeza, Laura. Agora vai
se vestir, ruivinha, a gente se vê à noite. — ele sorri para mim, com os olhos
ainda desejosos, apesar de conterem também bastante carinho.
— Tudo bem, tchau, Zur. — encerro a ligação com a cabeça girando e
desço para tomar o café da manhã e conversar com a sra. Lopes.
Se eu quero saber mais sobre o homem que se tornou o meu marido,
eu preciso sondar sobre a sua vida, e ninguém melhor do que a governanta
da casa, que foge de mim sempre que possível.
 

 
— Há quanto tempo você trabalha com a família Zur, Sra. Lopes?
— Há cerca de trinta anos. Por que, Srta. Morais?
— Estou apenas curiosa sobre Alex, nada demais... Então, você
conheceu os pais dele, certo? — pergunto determinada a ter mais
informações.
— É claro. Eu costumava trabalhar para seu pai antes de tudo. O sr.
Marc Alexandre Zur era um homem muito bom, assim como seu filho,
Alex.
— E como ele conheceu a mãe do meu Alex? — pergunto, sem saber
como se referir direito à Zur, já que os dois tem o mesmo nome.
— Eles se apaixonaram loucamente depois de um encontro em
balada, me parece. Mas o avô, Arnaldo Zur, pai de Marc Alexandre, era
contra o casamento e fez de tudo para acabar com o amor dos dois. Eles
romperam laços, e permaneceram assim até a morte do pai de Alex. A mãe
da criança ficou tão arrasada que deixou o país.
Fico chocada com a história de vida de Alex, e quase peço uma
pipoca para escutar o resto. Que tragédia digna de sessão da tarde!
— Ela levou Alex? — pergunto curiosa, e leva tanto tempo para a
Sra. Lopes responder, que fico na dúvida se ela quer fazer suspense, ou se
realmente está editando a história.
— Ah... não... não... claro que não. Sr. Arnaldo Zur e sua esposa
Adelaide criaram Alex quando Marc Alexandre morreu. Eu... eu era a babá
de Alex. — ela parece agitada, mas continua — Na verdade, fui eu que
ajudei com tudo, mas ele era pequeno quando tudo isso aconteceu. Sofreu
muito, sabe… — seu embaraço mostra claramente que a resposta foi
editada, mas evito forçá-la a falar. Afinal, a história em que eu estou
interessada não é da vida dela, e sim da dele.
— Então, Alex cresceu aqui em Vongher? — digo, tentando aplacar o
seu constrangimento.
— Não. Na Grécia. Mas fez o ensino médio e a faculdade aqui.
Trouxe consigo todos os funcionários que mais gostava, e por isso vim
junto. — ela esclarece a história, e eu confirmo com a cabeça, percebendo
que não conseguirei extrair mais nenhuma informação.
— Entendi. Obrigada sra. Lopes.
 

Apesar da sombra que existe entre nós dois, chamada contrato


matrimonial, porque seu pai é um filho da puta que tentou me matar, eu e
Laura estamos nos dando bem. É lógico que resolvemos não tocar no
assunto "Otávio Morais", nem na dívida, nem em nenhum assunto do
Brasil, e assim, os dias foram passando.
Minha ruivinha tem se aberto cada vez mais para mim, o que me
deixa feliz e animado, mas não passamos da primeira fase, e,
aparentemente, estamos longe disso. Laura me confidenciou em um dos
nossos jantares que é virgem, e eu, por mais ansioso que esteja por
finalmente poder tocar seu corpo do jeito que eu sempre quis, não irei
forçá-la a nada. Será do jeito dela, e quando tiver de ser. Simples assim.
Sempre que posso, a acompanho em suas aulas de ioga, e aos
poucos, fui conhecendo uma nova Laura, que passou a desabrochar diante
dos meus olhos. Ela parece mais confiante, mais feliz e muito mais
espontânea do que antes, e não consigo dizer o quanto isso me encanta. É
muito bom vê-la melhorar a cada dia, principalmente, agora que a
abstinência dos remédios passou a amenizar, e suas oscilações de humor
estão cada vez menores.
Nosso namoro "casto" é uma das melhores coisas que já me
aconteceram na vida, e fico me questionando, porque esperei tanto tempo
para voltar ao Brasil e ter Laura de volta comigo. Uma única coisa me deixa
tenso em todo esse compilado de coisas incríveis: Otávio está se
movimentando para conseguir pagar a dívida, ainda mais bravo, e com mais
ódio de mim.
Ele não aceita perder, e Laura estar em Havdiam comigo, parecendo
bem e feliz, é algo que o deixa fora de si.
Tenho um infiltrado me informando de todos os seus passos, e por
mais seguro que eu esteja durante esse ano de casamento, sei que o tempo
passa rápido, e logo esse ano acaba. Se ele conseguir quitar essa dívida,
Laura assinará o divórcio. Isso me deixa apavorado e puto.
E se nosso amor não for o suficiente e a ruivinha resolver que o
melhor para ela é voltar para o Brasil e me deixar para trás?
Será que eu realmente serei capaz de aceitar a sua decisão, e deixá-
la ir?
 
 
— Laura, tudo bem, linda? — pergunto, assim que ela atende o
telefone — Sei que não conversamos muito durante o horário de trabalho,
mas surgiu um convite especial para um leilão, e como convidado de honra
não posso recusar. Você consegue se arrumar e estar pronta por volta das
sete? — pergunto, ansioso e a vejo abrir um sorriso do outro lado da tela.
— Então, finalmente, você vai me exibir por aí, como o nosso
contrato de casamento manda. Já estava ficando preocupada de tudo isso ter
sido uma mentira para que você me mantivesse em cárcere privado. — ela
brinca do outro lado da linha, e antes que eu possa me defender, completa
— Estarei pronta a esse horário. O motorista me leva, ou você vem me
buscar?
— Eu te busco.
— Combinado, então. — ela completa sorrindo, e eu não consigo
resistir.
— Já estou ansioso. Tenho certeza de que você vai ser a mulher
mais bonita do salão. — digo, e ela abre um sorriso tímido.
— Você é muito puxa-saco, sabia?
— Discordo. Sou louco por você, só isso. — a facilidade com que as
palavras saem da minha boca me surpreendem, e assim que desligamos a
ligação, encomendo um buquê de flores enorme para lhe dar, antes de sair
de casa. Minha mulher merece tudo de melhor.
O dia se arrasta, e quando percebo que está quase no fim do
expediente, abandono o escritório, ansioso para encontrar minha ruivinha.
Assim que chego em casa, vou direto para o meu quarto, tomo banho e me
visto, para ficar pronto e lhe dar o tempo necessário para que ela acabe de
se arrumar, e quando não posso mais esperar, bato na porta do seu quarto,
segurando as flores com ansiedade.
— Laura? Posso entrar? — pergunto, antes de girar a maçaneta.
Fico embasbacado com a sua beleza por alguns segundos, e quando
passa do tempo aceitável, pisco duas vezes, abrindo um sorriso abobalhado.
— Você está perfeita! — digo, porque não existe nenhum outro
adjetivo que se compare a sua beleza, e ela parece sem graça quando
responde que eu também estou muito bonito.
Com um vestido esmeralda brilhante e ajustado ao seu corpo, de
alcinhas e decote em v, a minha menina parece uma mulher poderosa e até
mesmo fatal. A visão faz maravilhas com as minhas partes baixas, muito
pouco usadas desde quando ela se mudou para essa casa.
Laura dá uma voltinha, mostrando como o vestido se ajustou
perfeitamente às suas curvas, e envergonhada, completa:
— A pessoa que você contratou para comprar as minhas roupas,
realmente acha que eu tenho uma personalidade femme fatale, não é? — ela
parece achar graça com esse comentário, mas eu dou dois passos em sua
direção, encurtando a nossa distância e a seguro pela cintura, olhando em
seus olhos.
— Eu acho que você pode ser quem quiser, inclusive, femme fatale.
— brinco, e ela abre um sorriso doce em minha direção — Mas, por favor,
se escolher essa opção, não me deixa na seca por mais tempo. Eu imploro.
— brinco, roçando de leve a minha ereção proeminente em seu corpo. Ela
parece envergonhada, mas não diz nada, apenas confirma com a cabeça.
Aproveito para lhe estender o buquê de flores, que ela cheira, parecendo
feliz e encantada ao recebê-las — São para você. Agora, precisamos ir, se
não, eu não respondo por mim.
Ganho uma tapa leve no meu ombro, e Laura abre caminho, indo em
direção às escadas.
— É melhor se segurar, Zur, porque, por mais bonito que seja esse
vestido, acho que gosto mais da minha personalidade tímida, recatada e
virgem. — ela brinca, me deixando chocado.
— Laura, estou chocado! Você, falando em voz alta esse tipo de
coisa? — caminho em sua direção e ela apressa o passo, gargalhando alto
em direção à porta da casa.
É nesse momento que eu sinto meu coração se encher de orgulho e
felicidade. A minha ruivinha está se abrindo para o mundo, e a sua
gargalhada feliz é uma das coisas que eu mais senti falta em toda a minha
vida. Vê-la tão leve é sinônimo de que o tratamento está dando certo, e essa
é a melhor notícia que eu já tive em muito tempo.
 

Como quase todos os dias, às sete horas da noite eu acabo de me


arrumar com um sorriso no rosto. Decido usar um vestido preto acetinado
com as costas abertas, porque sei que hoje Alex teve uma reunião
estressante, depois de uma viagem a trabalho, e vai gostar de me ver dessa
forma. Parece ridículo me sentir ansiosa para tê-lo em casa, mas a vida tem
estado monótona sem ele por perto. Apesar disso, eu me sinto leve, e ouso
dizer, feliz. Quando começo a checar novamente a minha maquiagem,
escuto uma batida na porta.
— Pode entrar. — respondo, com um frio na barriga característico.
Alex, então, entra em meu quarto, com um ar tão despojado, em uma
polo branca e calças pretas, que eu simplesmente perco a linha de
raciocínio, com o coração disparado.
Ele precisava mesmo ser tão bonito assim?
— Oi. — respondo baixo, andando em sua direção.
Sem dizer uma só palavra, ele se aproxima de mim, sem perder o foco
em meu corpo. Seu olhar me devora, e confesso que esse é o melhor
momento do meu dia: quando ele chega e faz com que eu me sinta a mulher
mais desejada e incrível do mundo. Com destreza, ele circunda a minha
cintura, me trazendo para o seu peito, e me envolve em um abraço firme.
— Senti saudade, Laura! — ele diz suavemente, e beija o ponto
sensível atrás da minha orelha — Você também sentiu minha falta?
Ainda não me sinto à vontade para falar sobre sentimentos com ele,
mas é claro que senti. Nossa rotina é gostosa, e por mais que, às vezes, ele
realmente precise viajar, como foi o caso do dia de ontem, estamos quase
sempre juntos.
— Alex, por favor… — murmuro baixo, perdida.
— Por favor, o quê? Por favor, não faça isso? — ele beija meu
pescoço, com fome, e lambe a pele atrás de minha orelha — Ou, por favor,
se afaste? — ele brinca me soltando, e imediatamente sinto sua falta. — Ou,
melhor ainda, por favor, nunca mais viaje e fique comigo pra sempre? —
ele volta a colar seu corpo no meu, beijando minha testa.
— O que você está fazendo comigo, hein? — sussurro em tom de
brincadeira, apesar de estar um pouco confusa com os meus sentimentos.
— Você deveria fazer a mesma pergunta a si mesma. — ele diz, antes
de inclinar a boca e beijar meus lábios com vontade. Seu beijo é profundo,
nossas línguas se entrelaçam e duelam deliciosamente, como se tivéssemos
fome um do outro. O beijo se aprofunda, e em pouco tempo estamos
ofegantes, nos esfregando um no outro de forma totalmente despudorada.
— Você é tão bonita, Laura. Tenho muita sorte de te ter aqui comigo.
— ele diz, acariciando as minhas costas nuas, depois de alguns minutos
abraçados em silêncio.
Já se passaram mais de quatro meses desde quando eu vim morar com
Alex em Havdiam. Nesse período, tivemos altos e baixos, é claro, mas
agora que o tempo realmente parece passar cada vez mais rápido, fico
ansiosa e tensa sobre como vai ser o meu futuro.
— O que você quer de mim? — pergunto, sondando.
Será que ele tem a mesma preocupação que eu?
Sei que nunca falamos sobre o meu pai, sobre tudo o que aconteceu
no Brasil, muito menos sobre o contrato que estipula que eu ficarei aqui por
um período determinado. Um ano, se tudo der certo com os negócios no
Brasil.
— Eu quero você, Laura. De todas as formas, de todos os jeitos, como
você quiser. Espero que entenda que, para mim, você é única.
— Por quanto tempo, Alex? Você sabe que quando o meu pai pagar a
dívida, e o contrato de um ano acabar, eu não vou mais ser obrigada a estar
aqui. — sondo, e sinto seus músculos se contraírem.
— Seu pai não vai conseguir pagar a dívida, é uma quantia muito
grande para ele recuperar nesse pouco tempo. Tenho certeza disso. — ele
abre um sorriso arrogante, que me deixa com raiva — Mas, mesmo se tiver,
eu vou te dar motivos para querer ficar. O contrato foi uma garantia, mas o
que temos é real. — responde firme, e eu suspiro alto. Confusa e chateada.
Lembrar de tudo, parece algo pesado demais para fazer em seus braços, e
por isso, o afasto, para que eu consiga raciocinar novamente com clareza.
Ele reluta, e eu brigo para que ele me deixe ir.
— Você não vê que também está me machucando quando machuca
meu pai? — digo, tentando limpar uma lágrima inconveniente, que insiste
em rolar — Tinha me esquecido como você pode ser ruim, Zur.
— Ele não é um homem bom, Laura. Gostaria que você o visse como
eu consigo enxergar. — Alex me diz, com firmeza.
Dou alguns passos para trás, tentando recuperar a minha compostura,
e olho para ele com raiva. Como eu pude me esquecer, cega pelas gentilezas
e atitudes doces, que esse é o homem que fez de tudo para destruir a minha
família? O ataco com ódio, mas também sinto raiva de mim, por ter me
deixado levar pelo rosto bonito e atitudes sedutoras. Ele é o mesmo Alex de
sempre, o inimigo impiedoso, cruel e arrogante de meu pai.
— Por que você está sempre dizendo isso? Meu pai é um homem
bom, sim! Ele é um pai muito carinhoso, que cuida de sua família e de seus
amigos. É ativo em muitas instituições de caridade. — respiro fundo,
tentando achar alguma lógica — O que ele fez com você para te deixar tão
irredutível e irritado? — volto a me aproximar dele, tentando entender —
Me diz, por favor. Você está assim por causa da dívida? Isso tudo é fome de
dinheiro, Alex? Ou há alguma razão por trás disso? Porque não faz o menor
sentido você gastar tanto, com coisas tão inúteis, só para me agradar, e
cobrar dele uma dívida tão a ferro e fogo dessa forma. Não se trata apenas
disso, não é?
— Como você pode defendê-lo dessa forma, sendo que ficou
doente, carregando essa prisão mental por anos e anos, sem que ele te
ajudasse? Otávio apenas te usou, se apoiou nos seus ombros e ignorou que a
filha mais nova precisava de cuidado, carinho, atenção e principalmente:
tratamento. Como você pode esquecer como ele te tratou… — ele quer
continuar, mas engole as palavras, tremendo de raiva.
Pisco duas vezes tentando assimilar tudo o que ele disse, e por mais
que tenha, sim, um fundo de verdade, não vou dar o braço a torcer. Não é
isso que torna meu pai uma pessoa ruim e digna dessa ira toda.
Alex não diz mais nada, apenas esfrega o rosto, parecendo cansado e
muito nervoso, uma mania que eu já percebi ser sua, quando está perdido e
sem palavras. Mesmo sabendo que ele não vai dizer nada, aguardo. Depois
de um minuto de silêncio, caminho até a porta e digo firme:
— Estou com fome. Podemos comer agora? — digo, querendo
encerrar o assunto.
— Claro. — ele responde, me acompanhando até um mirante no
jardim cheio de roseiras, onde tivemos nosso primeiro jantar em sua
mansão.
O silêncio se torna ensurdecedor enquanto jantamos. Zur fica assim
sempre que eu menciono meu pai, reservado e distante, me tratando como
uma estranha. Quando finalmente acabamos o jantar, vou para o meu
quarto, com a sensação de que uma muralha se ergueu novamente entre nós
dois.
 
 
Depois da nossa discussão, onde eu, mais uma vez, defendi meu pai,
Zur se tornou um pouco mais frio. Quase uma semana se passou, e ainda
jantávamos juntos, conversávamos o básico, até trocamos beijos e algumas
carícias. Mas ele se tornou distante, me olhando como se eu fosse me
quebrar a qualquer momento. A maior parte do tempo, ele apenas me olha
fixamente, e eu me pergunto no que ele tanto está pensando.
 

Estou deitado em minha cama, olhando para o teto, analisando tudo


o que pesa entre mim e Laura, depois do nosso jantar desastroso. O
contrato, a dívida e seu pai, o assassino.
Eu odeio o homem. Isso é um fato muito maior do que eu e ela.
Poderia facilmente banhá-lo com querosene e queimar seu corpo, até ele se
transformar em cinzas, como ele quis fazer comigo, anos atrás. Mas, ao
contrário dele, e de tudo o que Laura insinuou mais cedo, eu não sou um
homem sem escrúpulos… ruim. Otávio Morais, o diabo em forma de gente,
e lutar uma guerra contra ele, é afastar a mulher que eu amo de mim.
Mesmo ganhando, eu acabaria perdendo de alguma forma.
Ele é o seu pai, e mesmo cega, sei que ela está certa. Quanto mais eu
ferrar com a vida dele, mais vou magoá-la. Acabar com os seus negócios e
trazê-la para perto de mim foi uma coisa, mas agora que estamos aqui,
juntos, preciso frear esse tipo de pensamento e conversa. Preciso achar uma
forma de sair pela tangente até que, finalmente, eu esteja tão impregnado
em seu coração, que ela não possa me afastar mais.
Sei que Laura ainda não me perdoou por ter destruído a vida de seu
pai, a vida de sua família. Eles perderam tudo o que tinham por causa da
minha vingança. E, o pior de tudo, é que eu não consigo sentir nenhum tipo
de remorso. O que eu fiz foi pouco mediante tudo o que sofri quando era
um moleque.
Eu poderia perdoar o homem, em nome da Laura? Honestamente,
não sei.
Ele me arruinou. Eu quase morri por causa dele, e, é claro, minha
mãe… queimada por absolutamente nenhuma razão, apenas maldade.
Lembrar da dona Helena, minha mãe, faz com que eu sinta um gosto
amargo na boca. Por anos sofri, remoendo aquela noite inteira em minha
mente, tentando entender onde eu tinha errado tanto, para merecer ser
largado daquela forma doentia, em meio ao fogo, pronto para morrer. Se
não fosse Luís Carlos, provavelmente, não estaria aqui para contar a
história. Tudo, culpa do ordinário, que além de me fazer mal, não deu
assistência a sua filha enquanto ela chorava a minha morte.
Eu nunca vou perdoar o homem. NUNCA!
Levanto da cama e pego meu celular na mesa próxima, parando em
frente a um espelho de corpo inteiro no caminho de volta para a cama. Alex
Zur, realmente, é um homem diferente do Igor Martins, o menino que eu
um dia fui.
Olho meu rosto no espelho, e não me reconheço mais. Os
procedimentos estéticos para me deixar simétrico, depois que meu maxilar e
nariz foram quebrados na porrada, foram feitos com perfeição. As plásticas
mais importantes aconteceram naquela mesma noite, antes que eu acordasse
e resolvesse manter a aparência daquela forma horrível, apenas para me
lembrar de tudo o que aconteceu. Meu avô fez bem em autorizar as
cirurgias, e aprovar a mudança. Foi bom para a minha personalidade, afinal,
o meu eu de agora, é diferente. Mesmo plastificado, pareço mais real.
Abro botão por botão lentamente, antes de ver as marcas aparentes
que restaram da pior noite da minha vida. Me viro de costas e vejo as
cicatrizes feias que ainda carrego, marcas das facadas. Marcas da noite
terrível em que me apunhalaram, literalmente, pelas costas. Cuidar dessas
cicatrizes não foi prioridade quando dei entrada no hospital, por isso, elas
ainda estavam lá, linhas desconexas, bem no meio das minhas omoplatas.
Se restava alguma dúvida, agora não resta mais. Basta me olhar no
espelho, que eu tenho certeza de que o homem é um demônio. Ele me
esfaqueou, me largou no meio das brasas de uma casa pegando fogo,
esperando que eu morresse. Tive sorte de as facadas não terem atingido
nenhum órgão vital, sorte de ter sido encontrado, mas não tive a sorte de
esquecer uma coisa dessas. Vou carregar comigo para o resto da vida,
infelizmente.
Agora, o que me resta, é tentar de alguma forma fazer com que
Laura perceba que seu lugar é ao meu lado. E, se eu precisar usar todas as
armas que tenho, para que ela caia na real, é isso que eu vou fazer.
Abro meus contatos em meu telefone e pressiono o nome de uma
mulher.
— Oi, Igor! — diz a jovem com uma voz doce, provavelmente, com
saudade, e desconfiada do meu contato.
— Preciso da sua ajuda. — digo a ela.
 

Minha rotina está bem estabelecida, e isso é bom, mas agora, com
esse distanciamento de Alex, passa a ser um pouco frustrante. Suas
mensagens diárias, e a espera para o jantar, ou qualquer compromisso em
que ele quisesse me ter ao seu lado, era o que estava movendo os meus dias.
Claro que, as aulas em que me matriculei são um respiro bem-vindo para a
minha sanidade, porém, tudo parece um pouco maçante agora.
Acordo às oito da manhã, tomo um café da manhã leve, nado na
piscina ou jogo tênis com um dos funcionários, para fazer com que a tal
endorfina circule no meu corpo, como o psiquiatra frisou bem em nossa
última consulta. Depois almoço, leio um livro, assisto TV, passo horas no
Instagram, faço academia ou aula de ioga, depende do dia da semana. Às
terças e quintas, tenho aula de uma especialização de marketing, apenas
para não ficar tão parada e sair um pouco de casa. Depois, lá para as seis,
começo a me preparar para o jantar com Alex. Não que seja uma imposição,
ou qualquer coisa do tipo, mas sabia que deveria estar pronta e, de
preferência, bonita para a ocasião. Essa segunda parte eu mesma me impus,
porque gosto do jeito que ele me admira quando estamos jantando e
conversando sobre nosso dia.
Ele esperava por mim na sala de estar, exatamente às sete da noite,
com seus olhos brilhando frequentemente ao me ver. Como em um ritual,
ele beija a minha testa e diz, todo santo dia, “Você está muito bonita,
Laura”. Uma coisa nossa, que acabou se tornando frequente, e agora que
estamos um pouco mais distantes, necessária para que eu mantenha a minha
sanidade. Essa é a única coisa que ainda me mantém bem nessa casa: o
brilho no seu olhar quando me encontra.
Odeio brigas. Sempre que possível eu as evito, porque é muito difícil
sair ilesa de uma sem começar a chorar igual a uma criança. Mas nossa
última discussão não chegou a ser nem isso… e eu preferia que fosse uma
briga daquelas, onde os vasos de flores saem voando, igual nas novelas, do
que seu distanciamento e indiferença.
Nossas conversas agora estão sempre leves, nunca sérias e pessoais.
Geralmente, elas giram em torno do que eu fiz no dia, qual livro li ou a qual
filme assisti, ou qualquer coisa sobre mim. Sempre eu, nunca ele. É como
conversar com um robô, todas as noites conferindo o checklist diário do que
eu fiz.
Verdade seja dita, realmente existe algo muito estranho nessa sua
obsessão em destruir o meu pai e me manter aqui, trancafiada. Essa dívida
com o sr. Otávio não pode ser o único motivo para ele fazer isso, não faz o
menor sentido. Quantas outras dívidas ele não deve ter que cobrar todos os
dias? Eu tenho bastante certeza de que sou a única filha de magnata que ele
mantém em um cativeiro de ouro.
Mas, mesmo sabendo de tudo isso, meu coração é burro e não
consegue entender que eu não posso me apaixonar pelo Alex. Ainda fico
ansiosa esperando, todas as noites, por ele chegar. Seu toque, seu beijo, seu
sorriso e a maneira como ele me provoca, mesmo que agora, mais contidos,
mexem demais comigo. Não pude evitar, realmente, o homem quebrou
todas as minhas barreiras, uma a uma.
Eu estou me vestindo para o jantar, como de praxe, quando Alex me
liga, e, ansiosa, atendo correndo. Estranho ele me ligar da forma
convencional, porque sempre fazemos chamadas de vídeo. Aconteceu
alguma coisa.
— Laura.
— Oi. — respondo apreensiva.
— Linda, não vou jantar com você hoje à noite. Surgiu um
compromisso importante que eu simplesmente não posso cancelar. Sei que
você geralmente me espera, então, estou te ligando para me desculpar. —
ele explica, com uma voz neutra, sem demonstrar nenhuma emoção. Fico
sem palavras por alguns minutos, tentando entender o que realmente está
acontecendo nas entrelinhas, e, ao fundo, escuto uma voz feminina
chamando o seu nome:
"Querido, o jantar está pronto."
Imediatamente, me lembro da Rachel falando sobre a tal mulher
com quem ele se encontrava com frequência, e mesmo que nesses últimos
meses ele nunca tenha me dado nenhum motivo para desconfiar que ela
existia, me sinto burra em pensar que era a única em sua vida.
É claro, hoje é sexta feira.
Uma súbita onda de ciúmes me atinge com tudo, e eu praticamente
caio sentada na cama, com ódio. Minha garganta se aperta e não consigo
falar nada por algum tempo.
— Tudo bem. Divirta-se, então. — digo finalmente, tentando soar
bem, e um pouco sarcástica.
— A Sra. Lopes vai cuidar de você, nem vai notar que eu não estou
aí.
— Provavelmente. — digo evasiva, tentando machucá-lo de volta.
Ele faz um silêncio ensurdecedor por alguns segundos, e com um suspiro,
diz simplesmente:
— Eu tenho que ir, te vejo amanhã. — desligando na minha cara.
Se ele mantém uma outra mulher, o que eu estou fazendo aqui?
Será que é a mesma de antes, ou um caso de apenas uma noite?
Com uma espiral de pensamentos e emoções, começo a tentar
racionalizar o que realmente está acontecendo, e toda explicação plausível
me deixa ainda mais puta.
Que ódio!
Será que eu não sou o suficiente?
Quem é essa outra mulher?
Será que ela é bonita? Não, Laura, não vá por esse caminho, ele é
perigoso!
Sinto as lágrimas queimarem meu rosto, em um misto de tristeza,
raiva e ciúmes. Se eu não soubesse o que estava perdendo, se me
mantivesse na ignorância, eu me sairia melhor dessa furada. Com certeza,
sem um coração partido, pelo menos.
De agora em diante, tenho que lutar contra esta atração que sinto por
ele. Tenho que ser forte para ignorar seus encantos, e, definitivamente, não
corresponder novamente ao seu toque nem aos seus beijos. Só assim, sairei
ilesa dessa barca furada, ou pelo menos, menos magoada possível.
 

 
Na manhã seguinte, eu desço a passos largos, intencionalmente
cedo, para o café da manhã. Quero saber se Alex dormiu em casa ontem,
apenas curiosidade mórbida de uma esposa de mentirinha traída.
Ainda são seis e meia da manhã, a curiosidade me corroeu a
madrugada inteira, e quando a cama me pareceu sufocante demais, resolvi
descer e ver com os meus próprios olhos se estava ou não correta. Dizem
que a intuição feminina nunca falha, será mesmo?
— Bom dia, Laura, caiu da cama hoje? — a governanta brinca, e eu
abro um sorriso sem graça.
— Bom dia, Sra. Lopes, acordei com fome, só isso. — digo,
disfarçando. Olho ao redor, mas não vejo nada diferente — Ah.... onde está
Alex? Ele já foi para o escritório?
A pobre senhora até tenta disfarçar, mas não consegue esconder seu
olhar envergonhado. Peguei ele no flagra. Salafrário!
— Não, ele não voltou para casa ontem à noite. Mas, com certeza, vai
estar aqui em breve.
— Ah… entendo. Obrigada! — dou de ombros, e olho para a porta,
esperando o cretino aparecer.
É. Eu estava certa, ele não voltou para casa ontem à noite. Ficou até
tarde com a sua amante. Que bonito!
Não me lembro de ter sentido tanta raiva de alguém, como eu estou
sentindo dele no momento. O filho da mãe não conseguiu manter a
minhoquinha me esperando, e resolveu enterrá-la no primeiro buraco
disponível. Mas, isso não quer dizer que eu não possa mostrar a ele o que
perdeu. Porque, de mim, ele não chega perto nunca mais!
É, queridinho, eu vou te dar uma lição.
Tomo café da manhã como uma desesperada, e subo as escadas
correndo, de dois em dois degraus. Tive uma ideia que vai fazer com que
ele se arrependa, e muito, de ter feito isso comigo!
Procuro em duas gavetas, fazendo uma grande bagunça, e pego meu
biquini preto, fio dental, da linha beach da Brumpel, que Sarah me deu três
anos atrás, e que nunca foi usado. Não sei por que trouxe isso para
Havdiam, mas, neste momento, agradeço aos céus por tê-lo aqui comigo.
Esse corpinho agora será exibido e estou torcendo muito para que isso
realmente tenha algum efeito.
Visto o biquíni preto e me olho no espelho.
Ele é tão sexy, que cobre apenas o extremamente necessário, e
definitivamente, não é o meu habitual, mas quem se importa?
 

Pareço uma psicopata. Tenho certeza disso. Mas, observo da janela do


meu quarto a movimentação da casa, enquanto espero o carro de Alex
chegar. Aquele cretino vai me pagar!
Assim que ele chega, pego os meus fones de ouvido e abro
despretensiosamente a porta do quarto. Quando estou prestes a descer as
escadas, vejo Alex entrar pela porta principal. O vagabundo entra
assobiando! Assobiando! Fico ainda mais revoltada com isso! Sua amante,
com certeza, fez um bom serviço ontem à noite e, obviamente, também hoje
de manhã. Cachorro!
Reparo bem em suas roupas, e estreito os olhos. Os ternos caros já
eram. Agora ele está usando jeans azul desbotado e uma camisa preta lisa.
Ele, com certeza, deve ter também um armário a sua disposição em sua
outra casa, o que só me faz pensar que ele realmente mantém essa outra a
mais tempo, não é um casinho de uma noite só.
O pior de tudo, é que nesse seu bom humor invejável, ele não me
notou no topo das escadas! E eu estou usando um biquíni tão minúsculo que
se eu fosse para a praia usando isso aqui nos EUA, com certeza, seria presa
por atentado ao pudor.
Pelo amor de Deus! A que ponto eu cheguei.
Reviro os olhos e desço lentamente as escadas, tomando cuidado para
fazer o maior barulho possível. Finalmente, seus olhos se concentram nos
meus. Sua expressão muda completamente, me olhando de cima a baixo.
É disso que o Brasil gosta, meu amor. Agora, você baba.
— Bom dia! — cumprimento com a minha voz mais doce.
Alex fica sem palavras, me encarando como se eu realmente fosse um
bolo de chocolate, seus olhos parecem perdidos e anuviados de desejo.
— Tudo bem? Ah… uh… você vai nadar? — ele pergunta de forma
desconexa, piscando algumas vezes.
— Sim, obviamente. — tento sorrir de forma sedutora, mas tenho
certeza de que em meus olhos há raiva. Passo por ele e continuo a minha
caminhada até a piscina externa, ignorando totalmente a sua presença.
Alex me segue até a área da piscina, como eu planejei, e, fingindo não
notar, ou não me importar, prendo o meu cabelo em um coque e me deito
em uma espreguiçadeira.
— Laura. — escuto-o dizer do outro lado da piscina, me encarando.
— Sim? Posso te ajudar com alguma coisa? — pergunto,
inocentemente me virando de costas para tomar sol.
Eu o escuto ofegar e abro um sorriso internamente. Agora, você vai
ver tudo o que perdeu nesses dias e dias de indiferença, além da óbvia
recente traição. Arrisco um olhar para ele, que parece paralisado, com a
boca ligeiramente aberta. Seus olhos quase saltaram para fora da órbita, e
me seguro para não me levantar e fazer uma dancinha da felicidade. Engula
seu próprio veneno, filho da mãe. Passo a ignorá-lo completamente e
coloco os fones de ouvido, balançando as pernas na batida da música.
— Laura. — escuto-o chamar meu nome, e o ignoro novamente.
Você gosta disso, Alex?
Ser ignorado, como tem feito comigo nos últimos tempos? Eu espero
muito que não!
— Ah, Laura, pare de me torturar, por favor! Sei que está fazendo
isso de propósito.
Continuo sem lhe dar respostas, e então, de repente, meus fones de
ouvido são arrancados. Olho para ele com o cenho franzido e o vejo se
curvar sobre mim, com uma expressão extremamente selvagem.
— O que você está fazendo? Posso saber? — pergunto ríspida, e ele
dá um passo para trás.
— Não me ignore, Laura. — ele toca a minha bochecha com seus
dedos, mas me esquivo com raiva.
— Do que você está falando? Tem semanas que você tem sido
ausente, que não fala direito comigo, e sou eu quem estou te ignorando?
Francamente!
— Isso não é verdade… e mesmo se fosse, não pagamos na mesma
moeda, conversamos, como os adultos que somos. — ele diz, fazendo um
biquinho ridículo.
— Só me deixa em paz, ok? Vai para a puta que pariu com a sua
amante, seu bandido! Acha que eu realmente preciso aguentar isso? — as
lágrimas começam a se acumular em meus olhos, e sei que, se eu não
encerrar isso agora, vou começar a chorar.
— Que amante? Você só pode estar brincando! — ele diz, revirando
os olhos — Senti sua falta ontem, e fiquei muito animado em te ver de
manhã, se quer saber… — ele diz, se esquivando da minha acusação, e eu
estreito os olhos em sua direção — E, pensar que você está fazendo isso
exatamente para me torturar.
Mesmo falando o óbvio, não caio em seu papo furado. Alex, então,
muda de tática, e se senta ao meu lado, acariciando meu braço lentamente.
— Eu sempre te deixo sozinha por tempo demais, e você está se
acostumando, mas isso precisa mudar. Prometo que vou ser melhor. — ele
diz, praticamente conversando consigo mesmo — Como estão as coisas?
Adaptação a nova medicação? — Não respondo, com raiva dele e de mim
mesma, por me submeter a esse tipo de coisa, e ele tenta me tocar
novamente. Me afasto ainda mais, não dando brechas para isso. Parece que
essa atitude é o mesmo que lhe dar um soco no estômago, porque vejo um
lampejo de dor em seus olhos. — Você não quer que eu te toque.
— Puxa, sucessor de Einstein. Você é realmente inteligente, hein? —
uso a minha voz mais sarcástica, antes de continuar. Estou magoada, e
sempre dizem que a melhor defesa é o ataque. Nisso, eu concordo bem —
Portanto, por favor, me deixa em paz.
— Não. — ele diz, determinado.
— Não? Que pena, acho que vou precisar te ignorar um pouco mais,
então.
— O que aconteceu com você, Laura? Por que do nada resolveu
armar esse circo? Você está me castigando por ontem à noite? Eu não posso
jantar com você todos os dias, existem outras pessoas que também precisam
de mim.
— Puxa, tudo foi esclarecido agora. — respondo, com um rolar de
olhos, mas também uma angústia no coração. Ele está praticamente
assumindo que tem outra mulher na minha cara! Bandido!
— Eu não sou tão superficial assim, sei disso. Inclusive, ontem foi
uma das minhas melhores noites nessa casa, porque fiquei sozinha e não
precisei tolerar mais um jantar monossilábico como os que estamos tendo,
desde quando você resolveu que eu não era mais o brinquedinho brilhante e
interessante, e passou a me ignorar. — tento usar todas as minhas armas
para lhe atingir.
— Eu quero que as coisas funcionem bem com você, me desculpe por
passar essa impressão errada. Eu não estou te ignorando e realmente acho
que nosso casamento precisa dar certo. Laura? — ele diz, fazendo um
carinho em meu cabelo, e em toda a minha carência, aceito — Eu não tenho
nenhuma amante, posso te prometer isso. Acha mesmo que eu teria olhos
para outra mulher? — ele pergunta, e seus olhos me queimam, apesar de
sentir verdade em sua voz, eu não consigo me convencer a confiar — Nós
vamos sair juntos, hoje e amanhã. Eu vou te compensar pelos jantares
tediosos e por ter te deixado aqui trancada, sozinha por tanto tempo. Eu só,
simplesmente, não sei o que fazer com você, me preocupo vinte e quatro
horas por dia com o seu bem-estar… as coisas no trabalho não estão indo
como eu imaginei… é só isso.
Aceno para ele em concordância. Apesar de querer muito acreditar,
ainda não sei bem o que fazer.
Não temos nenhum compromisso de fidelidade para que ele me dê
explicações, por mais que eu queira desesperadamente saber onde ele estava
ontem à noite. Alex pode fazer inúmeras suposições sobre isso, e eu não
quero dar brecha para ele descobrir a verdade: eu estou com ciúmes. Se ele
souber como eu me sinto, vou lhe dar munição para destruir o meu coração.
Enquanto eu me perco em pensamentos, ele tira a sua camisa, e logo
em seguida seus sapatos e sua calça, restando apenas a sua box preta, e não
deixa nada para a imaginação. Minha boca se abre involuntariamente, e a
sua ereção evidente se sobressai bem minha cara.
— O que você está fazendo? — pergunto, em pânico, sem conseguir
desviar meu olhar. Qualquer um pode ver essa monstruosidade pulsando a
quilômetros de distância!
— Obviamente, indo nadar com você. — ele ri.
Então, como se estivéssemos completamente resolvidos, ele se senta
novamente ao meu lado e começa a passar protetor solar em mim. Cara de
pau.
— Eu posso muito bem fazer isso. — respondo, ainda me esquivando.
— Claro que pode, mas qual seria a graça? Além do mais, estou em
dívida com você, então, se quiser, posso ser o seu escravo hoje, — ele diz
em tom de brincadeira e completa — sexual.
— Você é louco! — respondo, tentando muito manter a raiva dele.
Mas com essas mãozonas no meu corpo, a luta se torna muito difícil.
— Sim, totalmente louco por você. — ele diz, espalmando a mão em
meu bumbum e dando uma apalpada que faz ligação direta com a minha
intimidade, e que fica melada na mesma hora.
Antes que eu consiga pensar em protestar, ele começa a acariciar meu
corpo com tanta maestria que me deixa tonta. Alex, então, beija meu
pescoço e começa a sussurrar coisas que ninguém em meu lugar conseguiria
resistir.
“Você é tão linda, Laura”, “Esse biquíni está me deixando louco”,
“Quero tocar cada centímetro do seu corpo”, “Quero beijar as partes
cobertas e descobertas, até você delirar gritando meu nome”. Cada frase
dita, vem acompanhada de beijos, que me deixam louca. Então, ele
pressiona o seu corpo contra o meu e eu o sinto duro como uma rocha.
Pronto para mim. Sua mão está grudada em minha cintura, em um aperto
firme, cheio de posse e atitude. Me derreto em seus braços, e ele se
aproveita da situação para distribuir beijos no meu pescoço, garganta,
maxilar, bochecha...
Então, vindo do além, para me salvar das garras do lobo mal, outra
voz diz alegremente:
— Bom dia, senhorita Morais! — e depois, em pleno choque — Oh!
Bom dia, senhor Zur. — Charlie aparece em nosso campo de visão com
uma rede de piscina na mão.
Alex tenta cobrir o meu corpo com o seu, praticamente rosnando para
o garoto.
— Charlie! Esse não é um bom momento!
Os olhos de Charlie se alargam e ele corre, imediatamente, para longe
da fúria do seu chefe. Eu caio na gargalhada, instantaneamente.
— Precisava assustar o garoto?
— Garoto? Ele já tem quinze anos!
Eu levanto uma sobrancelha, o questionando.
— Laura, você é linda, perfeita, mas, por favor, nunca mais use essa
coisinha sexy… minúscula… pequena, de novo, aqui ou em qualquer lugar.
— ele diz, com os olhos passeando pelo meu corpo novamente.
— Por que não? Eu já o usei várias vezes na praia. — uma mentira da
qual ele não precisa saber.
Alex geme e fica pálido, instantaneamente.
— Eu não quero que nenhum homem te veja assim, provavelmente,
eles vão ficar transtornados. Como eu, ou Charlie. Assim que eu te vi, me
tornei um animal, enlouquecido de desejo.
Fico chocada e satisfeita com a sua honestidade. E, apesar da amante,
é bom saber que eu tenho esse efeito sobre ele. Mas, não posso deixar que
ele perceba o efeito que tem sobre mim, isso lhe daria armas demais para
me machucar.
 

Maldito Charlie, quebrou todo o clima.


— Foi muito bom Charlie chegar, porque, assim, você pode parar
com essa sem vergonhice. Ainda não estou boa com você! Eu não sou sua
namorada, não tenho vocação para ser peguete e muito menos amante! —
gemo de frustração. Há menos de cinco minutos ela estava igual a uma
gatinha manhosa em meus braços, e agora, voltamos à estaca zero
novamente.
— Sim, você é, ruivinha. Minha esposa.
— Eu. Não. Sou. Pelo menos, não de verdade. — ela diz,
pausadamente, ficando vermelha de raiva.
— Laura, desde o momento em que você entrou naquele quarto de
hotel, te considero minha namorada. Mais do que isso, inclusive, minha
noiva. — respiro fundo, tentando fazê-la entender — Somos casados.
— Bom, eu não considero. — ela responde petulante e meu queixo
cai — Se eu pudesse, nunca teria te escolhido, Zur. Somos incompatíveis.
Inclusive, já conheci melhores em todos os sentidos. — sua fala me deixa
louco de raiva, como sei que é a sua intenção. Laura está magoada porque
não dormi em casa ontem, sei que as suspeitas óbvias são de que eu a estou
traindo, e, infelizmente, não posso contar o meu paradeiro apenas para
tranquilizá-la. As coisas não funcionam desse jeito. Mas, ouvi-la dizer que
não me escolheria porque já conheceu melhores, dói de um jeito que eu não
esperava.
Esfrego meus olhos com as duas mãos, tentando controlar o ciúme
que corre em minhas veias. Me levanto, precisando me movimentar um
pouco, e olho fixamente para ela. A ruivinha é tão bonita que dói! Claro
que havia homens interessados, ninguém aqui é cego. E, até mesmo os
deficientes visuais, se apaixonariam pela personalidade incrível e bondosa,
pela voz doce e por ela toda em geral.
— Sei que eu nunca te perguntei isso antes, mas existiram muitos
antes de mim? — pergunto, me sentindo subitamente muito ansioso.
Sei que, provavelmente, ela namorou alguns caras… e o fato de ser
tão puritana em nossas carícias, só me reforça que ela é virgem, mas depois
de ouvi-la dizer que eu não sou o seu tipo, fiquei tenso e preocupado.
Percebo que ela parece incomodada com a situação e me levanto da
espreguiçadeira, puxando-a para um abraço apertado. Mesmo tentando se
esquivar, percebo que ela não reclama quando eu a pego no colo, cruzando
suas pernas ao redor da minha cintura.
— Isso não te diz respeito. Por que você quer tanto saber? — ela
responde, depois de algum tempo, e eu beijo o seu pescoço.
— Uma curiosidade mórbida de saber quantos homens eu vou
precisar investigar…, mas você sabe o que dizem, não é? Um marido
apaixonado é capaz de fazer cada besteira… — brinco, indo com ela em
direção à beirada da parte mais funda da piscina.
— Marido apaixonado, hein? Até parece… — seu tom é de
descrença, mas seus olhos brilham com a possibilidade, curiosos.
— Você pode duvidar de tudo, Laura… menos disso! — confirmo, e
ela retruca — Quero te conhecer ainda mais, não é nenhum pecado…
— Então, comece por você. Quantas namoradas já teve? — ela
pergunta, e na mesma hora, sei que estou lascado.
— Não muitas. Provavelmente, se você jogar meu nome no site de
buscas, vai encontrar meia dúzia de mulheres com as quais eu já me envolvi
em algum momento da minha vida. Mas nunca foi sentimental, ou
duradouro. Estava esperando por você. — respondo sinceramente, e ela
revira os olhos.
— Típica resposta de um cafajeste! — ela responde, tentando se
desvencilhar do meu colo.
— Ah! Você não disse isso! — brinco, parecendo revoltado —
Merece um corretivo!
Em um impulso, me jogo com ela na piscina, arrancando um
gritinho surpreso do fundo da sua garganta. Mergulhamos com tudo no
fundo, e, assim que subimos, vejo uma sombra de tristeza em seu olhar.
Juntos, com ela ainda colada em meu corpo, saio até a borda.
— Igor… — ela diz baixinho, escondendo o rosto no meu pescoço.
Fico paralisado. Ela me chamou de Igor? Meu coração acelera e
embora eu não esteja disposto a admitir, eu amo o som do nome em sua
voz.
— O que você disse? — pergunto cauteloso.
— Igor… ele foi meu primeiro e único namorado. — ela diz baixo,
contendo muita tristeza em sua voz.
Puta que pariu!
Ela está falando sobre mim, sobre nós. Ignoro, momentaneamente, o
que ela quer dizer, parte para lhe dar tempo de organizar a ideias, parte
porque não sei se estou preparado para isso. Pego várias toalhas dos
armários à beira da piscina e enrolo uma ao redor de seus ombros frios. Ela
seca seu cabelo com uma toalha, distraidamente, quando começa a falar.
— Eu me apaixonei pela primeira vez quando tinha quinze anos. Seu
nome era Igor. Ele era um rapaz doce, bem-humorado, do tipo “bom-
moço”, muito inteligente e simplesmente incrível… — ela começa a dizer
— Todo mundo o adorava, apesar de ser um bolsista no colégio em que
estudávamos e existir algumas pessoas esnobes. Igor era um rapaz pobre,
essa é a verdade, ele trabalhava duro para ajudar a mãe a pagar as contas de
casa. Acho que, de tudo, isso era o que eu mais admirava nele, nunca
reclamou, nunca fez nada por obrigação. Era apenas seu jeito: ajudar a
todos, e depois, pensar em si mesmo. Tivemos um namoro secreto, porque
meus pais, apesar de serem muito amorosos, sempre foram irredutíveis
quanto a isso. Estava tudo bem, existiam brigas, é lógico, mas, no fundo, os
dois sabiam que aquilo era provisório. Enfim, até que meu pai descobriu e
ficou fora de si. Ele queria que eu terminasse com o Igor de qualquer jeito,
me ameaçou, o ameaçou, e só quando realmente deu a cartada final, resolvi
aceitar sua exigência. Minha ideia era esperar a poeira baixar, e depois
retomar o relacionamento. Então, eu menti para Igor, disse coisas horríveis,
e senti vontade de morrer quando vi como ele ficou arrasado. Mas eu tinha
certeza de que ele ia me perdoar. Nosso amor era pra sempre.
Laura começa a chorar e eu a abraço, lhe dando um conforto.
— Não precisa me dizer mais nada, linda… só, por favor, relaxe e
pare de chorar.
— Por favor, acho que preciso terminar, e finalmente tirar isso do
meu coração. É bom pra você entender também.
— Ok… então estou todo ouvidos. — a abraço com força, tentando
lhe dar apoio, enquanto eu mesmo estou à deriva, com tanta nostalgia.
— Na noite em que eu terminei com ele, ele morreu. Vi a notícia na
TV e não consegui acreditar. Ainda é nítido, como se tivesse acontecido
ontem. Entrei em pânico e fiquei histérica, desesperada. Minha mãe me
acompanhou até a casa de Igor para que eu visse com meus próprios olhos e
era realmente verdade. — ela dá uma leve fungada, atormentada — Quase
fiquei louca quando vi os sacos pretos sendo retirados da casa. Eu não comi
nem dormi por dias, tomada por uma depressão tão forte, que me perdi em
minha própria cabeça. Um dia, minha irmã entrou no meu quarto, e me
achou desmaiada, com pulso fraco, pálida e sem conseguir respirar direito.
Foi a minha sorte. Minha família me levou imediatamente para o hospital,
e, se fosse poucos minutos mais tarde, eu teria morrido. Quando meu corpo
se recuperou, minha mente ainda estava um caos completo, e a minha
depressão continuou a aumentar, até o momento em que eu tive certeza de
que queria cometer suicídio. — Laura soluça de tanto chorar, e isso quebra
o meu coração em um milhão de partes. Não posso acreditar nisso… nunca
imaginei que ela tinha sofrido tanto. Em nosso término, ela me fez pensar
que não se importava tanto assim — Eu amava tanto o Igor que não queria
aceitar que ele tinha ido embora. Ainda sinto falta dele, a cada momento do
dia e da noite. Em todos os meus sonhos, ele está lá. Mas eu fiz terapia
intensiva, e me mediquei para aceitar que ele realmente se foi. Isso é parte
do motivo de estar tão deprimida quando nos conhecemos, a outra parte foi
acumulando com o tempo, e agora, está tudo um pouco menos dolorido. E o
pior de tudo é que, depois de dez anos, a minha memória começa a falhar, e
eu não consigo me lembrar exatamente de mais nada. Como eram os seus
beijos? Como era o seu toque? Como ele gargalhava? Não lembro mais. A
cada homem que conheço, a comparação é inevitável, entende? E qual é o
parâmetro? Não sei mais dizer, só sei que ninguém, nunca se equiparou.
Simplesmente, não consigo seguir em frente e superar. Pensei que tinha
finalmente conseguido, e, então, conheci você, que é tão parecido com ele
que chega a doer. Seus olhos, lábios… eu não sei… pelo menos eu acho que
é parecido. Não sei mais dizer, ainda amo tanto ele que acho que nunca
poderia amar mais ninguém da mesma maneira. Até que você chegou, e me
deixou ainda mais confusa.
— Laura… — beijo sua bochecha e a abraço emocionado.
Fico tão chocado ao ouvir o que ela passou, que sofreu tanto
emocionalmente, que uma culpa sem tamanhos e sem precedentes me
invade. Sinto uma agonia enorme ao ouvir o que ela acabou de me dizer. E
eu, que nunca chorei na frente de ninguém, sinto que minhas lágrimas
começam a cair e eu me recuso a pará-las.
— Sinto muito, Alex, mas é a verdade. Você me faz lembrar do Igor.
Sempre que você me toca, como agora, não consigo deixar de pensar que é
ele me tocando, não você. Quando você me beija, eu sinto o beijo do Igor.
Sei que estou sendo injusta com você, mas... não consigo esquecer, não
consigo deixar de amar. É, e sempre vai ser ele.
Meu coração se compadece e se entristece aos saber de tudo o que ela
passou. Minha menina é uma guerreira, e a culpa de não ter voltado antes,
de não expor quem eu realmente sou, e de não estar com ela por todo esse
tempo, fazendo esse sofrimento passar, me invade de uma forma sufocante.
Otávio é um monstro por ter mandado me matar e proporcionar todo
esse sofrimento para a sua filha, mas eu também sou por não ter voltado,
por ter mentido.
Eu removo meus braços com cuidado, guardando-os para mim, cheio
de emoções mistas. Ela estava falando de mim, como Igor, e finalmente,
depois de todos esses anos, ela assumiu que me amava, coisa que nunca
falou pessoalmente em toda a nossa história. Mas, por que eu estou com a
sensação de que ela estava falando de outra pessoa? Esse Igor do qual ela
se lembra, não sou eu... talvez, nunca tenha sido.
Laura ama com todo o seu ser uma parte de mim do passado. Agora,
como Alex, ela realmente me odeia, como vira e mexe gosta de afirmar?
É como se estivesse competindo com meu antigo eu, morto. E em sua
visão, essa batalha eu nunca ganharia.
 

— Ok! Precisamos tirar férias, não aguento mais ficar longe de


você! — Alex diz, beijando meu ombro, enquanto entramos na sala de estar
ainda molhados, com os trajes de banho — Pelo menos dois dias, faço
questão.
— E o seu trabalho, o império de milhões e toda essa história? —
pergunto, com um sorriso nos lábios, e ele dá de ombros.
— Amanhã é feriado nacional. Aniversário do príncipe George, e eu
já iria tirar o fim de semana para nós mesmo, então, acho que merecemos
ter a nossa lua de mel. O que acha? — ele pergunta, parecendo tão
empolgado, que eu não tenho a menor coragem de quebrar a sua vibe.
— Tudo bem… — digo, simplesmente e vejo seus olhos brilharem.
— Sério? Sem mas… sem objeções… sem colocar milhares de
empecilhos? — ele estreita os olhos brincando, e cutuca minha costela, me
fazendo rir — Quem é você e o que fez com a Laura que chegou aqui meses
atrás?
Acho graça da sua fala, e reviro os olhos.
— Bom, ela está dormindo, então, não faça muito alarde, antes que
a maníaca por controle acorde. Por favor, obrigada. — respondo, me
sentindo realmente mais leve, depois de ter contado tudo para ele e Zur não
ter me rejeitado.
Milhares de quilos saíram das minhas costas, agora que pude
realmente colocar para fora tudo o que aconteceu comigo e, principalmente,
como eu me sinto em relação a ele. Não falamos em palavras como
realmente nos sentimos, mas acho que ele entendeu bem como eu me sinto
em relação a ele. Além disso, senti verdade em sua voz, quando me garantiu
que não existia nenhuma outra mulher. O sumiço de ontem é estranho, mas
não vou ficar pensando sobre isso e me deixar levar pela paranoia.
Por hora, preciso pensar que estou no caminho certo, e é isso que vai
fazer com que eu me cure.
Não vai ser uma viagem com Zur que vai me quebrar, mais do que
eu já estava, muito pelo contrário, é possível que ela consiga me deixar
ainda melhor.
 
 
Meeresblume é a cidade litorânea mais famosa de Vongher, segundo
Alex. A mais badalada, cobiçada pelos turistas, e claro, romântica. Há duas
horas de carro de Havdiam, ela fica no lado da costa mais bonito do país, e
é onde todos que moram aqui gostam de passear e se divertir quando estão
de férias, sendo assim, o destino está lotado devido ao feriado do príncipe
herdeiro.
Alex fez milhares de ligações, e parece que não foi fácil conseguir
uma vaga no hotel em que ele queria se hospedar, por isso, aprecio um
pouco mais a sua insistência em fazer algo por nós dois. Finalmente, a
nossa discussão foi deixada de lado, e as coisas voltaram para o "nosso"
normal.
— Estamos chegando. — ele diz, e eu olho pela janela do carona,
ansiosa para ver a arquitetura tão famosa do país. Tudo é meio antigo, e ao
mesmo tempo, possui um charme especial, mas é só na última curva,
quando eu consigo ver o azul intenso do mar, que arfo impressionada.
— Nossa, aqui é maravilhoso! — digo, e ele abre aquele sorriso
animado que eu aprendi a amar.
— Muito! É um dos lugares que eu mais gosto no mundo. Claro,
também adoro a Grécia, mas lá é onde minha família está… um dia, vou te
apresentar ao meu avô. Em muitos sentidos, ele me salvou. — sua fala é
muito séria, e consigo ver a devoção que ele tem pelo homem, por isso,
confirmo com a cabeça, animada.
— Combinado! Já estou ansiosa para conhecê-lo! — digo, com os
olhos ainda colocados no vidro da janela. Quando olho para ele, para
perguntar uma bobagem qualquer, percebo que está com um sorriso tão
grande no rosto, que me contagia também.
Acho que é a primeira vez que eu vejo Alex realmente feliz, e isso
se espelha dentro do meu coração de uma forma surpreendente.
Assim que chegamos ao tal hotel, somos recepcionados por um
homem moreno, alto, que exibe um sorriso muito peculiar no rosto.
— Se eu soubesse que você iria cobrar o seu favor dessa forma, não
teria perdido noites de sono pensando no que o implacável Zur estava
planejando fazer. — o homem diz, e Alex responde o puxando para um
abraço másculo, cheio de tapinhas.
— Se eu soubesse que teria que cobrar o favor dessa forma, teria
escolhido a suíte presidencial de Dubai. Mas, a daqui de Meeresblume é
boa o suficiente para passarmos a nossa primeira lua de mel, então,
obrigado! — ele responde, abrindo o sorriso sedutor que me deixa de pernas
bambas — Laura, esse aqui é Anthony, estudamos juntos na faculdade. Ele
é dono da maioria dos hotéis de Lanuver, e agora adquiriu uma rede aqui
em Vongher também.
— Então, você é a Laura! — Anthony exclama, parecendo curioso
— Muito prazer… essa aqui é… — a loira, um pouco atrás dele revira os
olhos, parecendo contrariada, provavelmente com a postura do seu parceiro,
por não a ter apresentado rápido o suficiente.
— Quando Anthony me falou que você era brasileira, me enfiei
dentro do avião correndo, com medo de ser deixada para trás! — a mulher
pequena, porém bonita e com roupas engraçadas, fala em português, e eu
fico surpresa quando ela vem em minha direção me abraçar.
— Não acredito! Faz tanto tempo que eu estou aqui só falando
inglês pra lá, inglês para cá, que puxar o “r” paulista estava me dando
saudade. Ninguém entende o que é paçoca por aqui! — comento animada,
segurando-a pelos ombros.
Que surpresa boa, encontrar outra pessoa que fala a minha língua,
que entende as minhas referências!
Juntas, olhamos para os homens, que parecem abobalhados com a
nossa aproximação. Lado a lado, Alex e o tal Anthony, ficam com cara de
patetas, tentando entender o que está acontecendo.
— Vocês se conhecem? — Zur pergunta, e eu nego com a cabeça,
encaixando meu braço no da loira, que eu não sei nem o nome ainda.
— Não nos conhecíamos antes, mas agora que passamos a nos
conhecer, vamos ser amigas. — comento, como se fosse a coisa mais óbvia
do mundo, e a loira confirma com a cabeça, com um sorriso satisfeito.
— É o jeitinho brasileiro, amor… já te falei sobre isso. — ela
comenta para o moreno com cara de malvadão, e ele só dá de ombros,
provavelmente, conhecendo a mulher que tem — Sou Luana Albuquerque,
por falar nisso.
— Watson. — Anthony corrige, e ela revira os olhos.
— Não sou casada, ao contrário de você. — ela pega a minha mão e
analisa bem o diamante enorme que carrego no dedo — Vai ter que me
contar tudo sobre isso! Eu vou escrever um romance com a sua história, já
comecei a maquinar tudo por aqui. — ela começa a falar e me dá um estalo
na cabeça.
— Pera aí! Você é a Luana Albuquerque, autora de “Um amor para
Arthur”? — praticamente grito de empolgação, fazendo com que Alex
levante as sobrancelhas — MENTIRA! Você desapareceu! Eu fiquei
arrasada!
— Euzinha! — ela parece animada, e gargalha, feliz — Mas, agora
escrevo com um pseudônimo, porque a mídia fica em cima. Namoro um
conde. — ela aponta para Anthony, que, provavelmente, entende alguma
coisa de português e corrige a namorada/esposa.
— Somos casados. Ela não namora um conde, é casada com um
conde, e é mãe do filho dele.
— Detalhes…, mas não nos casamos não. — eles começam uma
discussão, e Alex vem para o meu lado, envolvendo minha cintura, antes de
beijar meus cabelos.
— Você parece feliz em conhecer a esposa do Watson… — ele fala
em meu ouvido, e sei que meus olhos estão brilhando, quando respondo:
— Tá brincando? Eu sou fã! Além do mais, sinto falta de ter
algumas amizades… para conversar… você entende. — ele brinca com a
aliança no meu dedo, e beija a minha mão.
— Achei que era seu amigo.
— Você é. Mas quando eu fico puta com você, preciso de suporte
feminino… e, para ser sincera, depois de tudo o que passei, me afastei de
todas as pessoas que eu conheço.
— Fico feliz que você tenha encontrado alguém, nem que seja uma
pessoa para falar mal de mim pelas costas. — ele responde, antes de eu
voltar a atenção para Luana, que começa a falar, novamente em português,
sobre tudo o que precisamos fazer, antes de eu voltar pra Havdiam.
 

Passar o dia com o um casal de amigos não estava nos meus planos,
mas quando eu vi o sorriso amplo no rosto da ruivinha, não consegui dizer
não para ela. Se a mulher pedisse para pisar de salto fino nas minhas bolas,
provavelmente, eu diria sim também, apenas para vê-la feliz.
Luana e Laura ficaram amigas instantaneamente, e por ela gostar
muito dos livros, e sentir saudade do Brasil, formaram uma boa dupla. Por
isso, durante o dia, resolvemos aproveitar as instalações do resort do meu
amigo, e enquanto conversávamos sobre os negócios, e sobre o filho recém-
descoberto dele, elas bateram vários papos na piscina do hotel. Dessa vez,
sem o biquíni indecente e totalmente provocante, graças a Deus.
Mas, quando a noite caiu, e a babá apareceu com Piter, para Luana o
amamentar, resolvi que já era hora de acabar com a nossa festa por hoje,
nos despedimos, e nos recolhermos. Onde, no caso, a minha festa estava
prestes a começar. Se eu desse sorte, claro.
Assim que entramos no quarto, Laura estuda bem todos os
cantinhos, e agradeço aos céus por não ter nenhum sofá dessa vez. Do jeito
que a ruivinha é manhosa, provavelmente, ela me mandaria dormir lá, e,
pela primeira vez, eu quero acordar ao seu lado. Nem precisamos fazer nada
que ela não queria, mas só de dormir com o seu corpo junto ao meu, eu já
estou mil vezes no lucro.
Apesar de, obviamente, eu querer que role algo mais, não sou de
ferro.
— Então… enfim sós. — Laura brinca, deixando a sua bolsa de
praia em cima da mesa lateral. Percebo que a ruivinha está envergonhada,
mas quando seus olhos se voltam para mim, ela parece muito mais
determinada do que em qualquer outra vez que a vi.
— Você está bem? — pergunto, circulando a sua cintura e trazendo-
a mais para perto.
— Eu estou. E você? — Laura parece confiante, e eu confirmo com
a cabeça, com os olhos focados nos seus — Adorei conhecer seus amigos e
passar o dia com a Luana. Ela é muito divertida…
— Fico satisfeito por te ver feliz… apesar de querer aproveitar o
tempo com você, é bom te ver sorrindo e fazendo amizades por aí. — digo,
beijando a sua testa, e ela me abraça apertado, me pegando de surpresa.
— Mas, agora estamos sozinhos… — ela diz, e eu confirmo com a
cabeça, abrindo um sorriso, enquanto ela faz um carinho em meu abdômen.
— Não me provoca se você não tiver a intenção de seguir em frente,
Laura… — aviso, porque me sinto na obrigação de falar. A garota em toda
a sua inocência tirou o dia para me deixar maluco, e a ereção que eu estou
no meio das minhas pernas é um grande indício de que as coisas podem sair
do controle se ela não se comportar.
— Bom, é exatamente isso que eu tenho em mente…, se você
quiser, é lógico. — sem esperar a minha resposta, ela cola seus lábios nos
meus, não me dando nenhuma outra opção, a não ser segurar firme em seus
cabelos, e beijá-la de um jeito exigente e sensual. Ela tenta me pressionar
contra a parede, mas tomo o controle da situação, mudando a nossa posição.
Independentemente de qualquer coisa, eu sou um homem
dominante, está em meu sangue. Ela geme contra o meu beijo, e abre um
sorriso lindo, antes de sussurrar, cheia de coragem.
— Você me deixa quente! — ela diz, arranhando as minhas costas, e
eu solto um risinho baixo, antes de beijar seu pescoço.
— Tem certeza de que você quer isso…? — pergunto, porque tudo
parece bom demais para ser verdade.
— Se continuar me perguntando a mesma coisa, vou passar a achar
que você é quem não me quer. — ela brinca, e fico preso em seu olhar
penetrante.
Laura, então, ergue a sua perna, enlaçando-a em meu quadril, e sem
conseguir me controlar por mais nenhum segundo sequer, beijo-a com tudo
de mim. Ela, ainda tomada de coragem, me segura pela camisa, e juntos
caímos na cama enorme do hotel. Ela não espera por mais nada, vem por
cima de mim, colocando uma perna de cada lado do meu corpo, me
montando, e cola a sua boca na minha, nossas línguas dançando afoitas e
cheias de ansiedade.
Apesar de não saber exatamente o que está fazendo, Laura parece
muito curiosa com todas as sensações que o seu corpo reprimiu por tanto
tempo, por isso, assim que nota a minha ereção dura e proeminente, ela se
esfrega ali, gemendo baixinho, parecendo surpresa e me deixando fora de
mim. 
Ela beija minha boca com vontade, enquanto passeia as suas mãos
pelo meu corpo, parecendo apreciar muito tudo o que encontra pelo
caminho. Já eu, percorro o seu com devoção, apertando as suas coxas, a
barriga lisa e, por fim, chegando a sua bunda, onde dito o ritmo, ajudando
na fricção que ela tanto procura. Hoje e todos os meus próximos dias serão
feitos apenas com o intuito de lhe dar todo o tipo de prazer e felicidade
possível.
— Laura… caralho… você é perfeita, — sussurro em seu ouvido,
traçando uma trilha de beijos no seu pescoço — estou perdendo o controle.
— aviso, e ela apenas abre um sorriso safado, que nunca tinha visto antes.
— Quero ser sua. — ela choraminga, provavelmente, prestes a
chegar lá, ainda dentro das roupas.
Ela se levanta, esfregando os seios na minha cara, e mesmo por cima
do seu vestido, os abocanho de leve, mordendo os seus mamilos por cima
da roupa e do sutiã. Laura grita assustada, mas posso ver quando os
estímulos começam a ficar cada vez mais intensos, e por puro instinto, toco
sua bocetinha por cima da calcinha, que parece derreter de tão úmida, a
ajudando chegar lá.
Ver a ruivinha se entregar ao orgasmo é a coisa mais sensual que eu já
vi em toda a minha vida. Ela fecha os olhos, jogando a cabeça para trás e
assisto os seus músculos contraírem e relaxarem, se jogando em cima de
mim, provavelmente, sem forças. Beijo sua testa e acomodo minha ereção
que, a esse ponto, está explodindo a minha cueca e calça, enquanto espero a
sua respiração voltar ao normal.
Assim que Laura abre os olhos e olha para mim novamente, ela
parece envergonhada, mas o brilho está ali, me mostrando o quanto ela
gostou dessa experiência.
— Você também gozou? — a pergunta que ela faz me surpreende, e
sem conseguir me controlar, solto uma risada incrédula.
— É com isso que você está se preocupando, pequena? — digo,
beijando sua testa, bochecha e lhe dando um selinho casto — Não se
importe com isso… Como você está se sentindo? — respondo interessado e
ela franze o cenho, parecendo confusa.
— Eu estou bem. — ela tira o cabelo do rosto, e abre um sorriso
pequeno, mas feliz. Ao contrário do que eu imaginei, ela espalma a mão em
minha ereção, me fazendo soltar um gemido involuntário, entre a dor e o
prazer, já que meu pau parece cada vez mais apertado dentro dessa maldita
calça.
Laura abre a minha calça, e eu fecho os olhos, respirando fundo,
tentando me controlar. Sua mão pequena me toca, mesmo que reticente, e
eu espero para ver o que ela pretende com isso. Não vou forçar nada, mas
que está bom pra caralho, ah… isso está.
Ela me libera da prisão da cueca e passa a mão em minha glande já
úmida, acariciando de leve, parecendo curiosa.
— Me ensina. — ela diz, e eu abro os meus olhos, chocado com a
sua coragem, e ansioso para sentir o seu toque.
— Você pode mover a sua mão para cima e para baixo. — digo, com
uma voz mais rouca do que o normal, enquanto envolvo sua mão pequena
com a minha, e a ensino os movimentos que serão, com toda a certeza, a
minha ruína.
Ela pega rápido o ritmo, e enquanto Laura me masturba, tenho
certeza de que nunca senti tanto tesão em toda minha vida. Em poucos
segundos, tenho certeza de que vou gozar, e sem querer acabar com isso
ainda, seguro sua mão, a obrigando a parar.
— Se não pararmos aqui, eu vou gozar, ruivinha. — digo, beijando
sua bochecha e ela parece contrariada.
— Mas é essa a minha intenção. — responde petulante, e eu nego
com a cabeça, indo em sua direção como um predador.
— Mas não é a minha. Você merece mais do que isso.
Vou em sua direção com um sorriso no rosto e a assisto engolir em
seco, ansiosa para saber o que vem por aí. Aos poucos, me livro da calça,
cueca e blusa, ficando completamente nu e vejo seu olhar de admiração.
Desço as alças do seu vestido com lentidão, e abaixo-o junto com o bojo do
sutiã, antes de observar os mamilos rosados que saltam em minha direção,
totalmente intumescidos.
— Você é linda, Laura. — digo, antes de passar a língua suavemente
em seu seio esquerdo, fazendo-a arrepiar — A mulher mais linda que eu já
conheci em toda a minha vida. É de tirar o fôlego.
— Você também é lindo, Zur. — ela fala em um suspiro, enquanto
começo a descer o zíper do seu vestido, e distribuo beijos em seus ombros.
Meu nariz desliza pelo seu corpo, e eu beijo sua boca com tanta
fome, que a sinto arfar extasiada. Quero lhe dar prazer de todas as formas
possíveis, desejo me conectar a ela como nunca fizemos antes, mas mais do
que isso, quero que ela goste de estar aqui comigo. Que me ame como eu a
amo.
Deslizo o vestido pelo resto do seu corpo, arrancando o sutiã no
meio do caminho. Vendo-a apenas de calcinha, esparramada na cama, sei
que tudo valeu a pena. Tudo que fiz para tê-la comigo, sob mim, sendo
minha, como eu sonhei a vida inteira.
Ela parece ofegante sob o meu olhar, e eu peço uma permissão
silenciosa, antes de continuar. Laura confirma com a cabeça, dizendo sim
para mim, e com vontade pressiono o seu corpo contra o meu, ainda
segurando o animal preso dentro do meu corpo, que anseia por cada parte
dela.
Nossas bocas se unem e o beijo não é mais delicado, é explosivo.
Uma erupção de sensualidade que eu mal consigo controlar, me esfregando
nela com vontade, enquanto ela geme descontrolada. Pronta para a próxima.
Caio de boca em seus seios, chupando com vontade um, enquanto
meus dedos trabalham no outro com maestria. Será que Laura conseguiria
gozar novamente só com esse tipo de estímulo? Talvez, em outra hora eu
resolva descobrir.
A ruivinha puxa o meu cabelo com força, gemendo palavras
incoerentes, enquanto tenta se esfregar em mim de todas as formas
possíveis, louca de tesão. É disso que eu gosto e o que eu quero, fazê-la
ficar tão louca, ansiosa e cheia de tesão que, no fim da noite, ela vai estar
em um estado pleno de pura felicidade. Assim como eu.
— Quero te ver, ruivinha. — falo rouco, desentrelaçando nossas
pernas, segurando seus pulsos e erguendo-os no alto — Linda e corada.
Ofegante. Gritando meu nome enquanto eu te deixo louca. — provoco e ela
abre um sorriso.
— Estou ansiosa. — ela confessa, deixando suas bochechas ainda
mais coradas e bonitas. Beijo novamente seus lábios, em uma carícia
rápida, e vejo como ela se arrepia e a vermelhidão se espalha por todo o
corpo.
— Você fica toda vermelha quando te provoco. — sugo com mais
força, um pouco acima do seu seio, enquanto ela me observa — Acho que
encontrei uma nova cor favorita. Os tais cinquenta tons de vermelho de
Laura. — brinco, e ela parece envergonhada, mas seu olhar se volta para o
meu abdômen e um pouco mais ao sul, provando que sim, ela está ansiosa
para esse momento.
Tiro a sua calcinha com lentidão, enquanto beijo sua barriga plana, e
paro entre as suas coxas, hipnotizado pela sua bocetinha linda e intocada,
aberta e melada para mim. Passo a língua pela sua extensão, observando
enquanto ela se contrai e geme baixinho, mas me volto para as suas coxas
torneadas, distribuindo uma trilha de beijos que a faz se remexer em cima
dos lençóis.
— Alex… não me torture! — ela implora, e como o seu pedido é
uma ordem, eu caio de boca, chupando e lambendo com vontade. Laura
parece ofegante, surpresa e desejosa, enquanto puxa os meus cabelos, sem
saber mais o que fazer além de gemer e se movimentar de encontro a minha
boca, em busca da sua libertação.
Sugo com vontade, movimentando a língua em seu ponto mais
sensível, e ela parece perdida em sensações quando começa a gozar em
minha boca. Não paro, mesmo mediante seus protestos, e prolongando ao
máximo o seu prazer, enfio um dedo em sua abertura estreita e quente,
fazendo-a gritar ainda mais.
Ali, eu movimento com cuidado, alargando-a, lhe dando prazer,
enquanto continuo chupando com vontade, e assim que eu coloco o
segundo dedo, sinto-a massacrá-los, gozando novamente em meus braços.
Só quando percebo que ela está trêmula e ofegante eu paro, subindo na
cama e a puxando para um abraço apertado.
— Isso foi… — ela parece sem fala por alguns minutos, mas puxo-a
mais pra perto, praticamente fundo meu corpo com o seu, e espero sua
respiração normalizar, sussurrando em seu ouvido o quanto ela é incrível,
linda e sensual.
Meu pau pulsa e dói ao vê-la tão aberta, delicada e nua na minha
frente, mas hoje não é o meu dia, e sim o dela, e ficará ao critério de Laura,
continuar ou não, a partir daqui.
Mas, de uma coisa eu tenho certeza, a minha parte eu fiz, e que ela
gozou como nunca imaginou ser possível antes, ah… ela gozou.
 

Eu me sinto flutuar, e só sei que tudo o que eu estou sentindo e


vivendo é de verdade, porque não teria imaginação para criar tantas
sensações deliciosas, incríveis e intensas dessa forma.
A sensação de que estou vivendo é um misto de: “por que esperei
por tanto tempo?” Com “não mudaria em nada essa noite”. E ainda nem
chegamos às vias de fato.
Alex murmura em meu ouvido palavras doces, enquanto a minha
respiração começa a voltar ao normal, e quando abro os olhos, vejo o quão
comprometido ele está em fazer com que eu esteja feliz e me sinta bem.
— Ruivinha? — depois de um tempo, ele pergunta, e eu abro os
olhos, ainda aconchegada em seu peito.
— Sim?
— Preciso ir ao banheiro… para… hm… resolver minha situação.
— ele diz, e eu olho para baixo. Seu pau enorme ainda está duro, mesmo
depois de tanto tempo sem estímulo. Fico impressionada e um pouco
boquiaberta com a situação, mas de jeito nenhum vou deixá-lo finalizar
sozinho e perder esse tipo de coisa. Nunca vi um homem gozando. Na
realidade, até hoje, eu nunca tinha visto ninguém gozar, nem mesmo eu, e
agora que descobri todo esse novo mundo, eu quero mais. Eu quero tudo.
— Não. — respondo séria e ele me olha divertido, cheio de malícia.
— Como assim “não”, Laura? Eu vou explodir a qualquer
momento, só de ver você pelada, e vai fazer a maior sujeira. — ele começa
a se justificar, e eu o calo com um beijo, levando minha mão novamente
para o seu membro rijo.
— Eu quero você dentro de mim. — respondo baixo, contra os seus
lábios e sinto seu pau se contrair em minha mão, enquanto ele geme
baixinho, não conseguindo segurar o desejo, da mesma forma que eu.
— Laura, você vai me matar. — ele murmura, e se posiciona por
cima, lambendo meus seios no processo, e me fazendo revirar os olhos de
prazer.
Suas lambidas, toques, chupões são calculados para me deixar
louca, tenho certeza disso, porque a cada passada de língua, acompanhada
do seu olhar penetrante, eu me sinto mais quente, próxima de entrar em
combustão.
— Preciso te preparar amor, se não, você vai se machucar. — ele
diz, eu não entendo muito bem a sua fala, mas acompanho com o olhar
quando ele leva seu dedo indicador e o médio à boca, e logo em seguida,
procura meu sexo ainda sensível do orgasmo para me tocar. Sinto sua mão
dentro de mim, e gemo alto, surpresa com a invasão, e em como é gostoso o
seu toque possessivo.
Em poucos segundos, ele começa a movimentá-los, me olhando nos
olhos, enquanto jogo a minha cabeça para trás de prazer. É loucura me
sentir assim, mas ao mesmo tempo, é tão bom que não consigo fazer nada, a
não ser implorar por mais, e isso, Alex me dá com prazer.
Quando ele enfia o terceiro dedo e começa a buscar o meu clitóris
para me estimular, eu preciso morder o travesseiro para aplacar um pouco
as sensações.
— Eu. Quero. Você. Dentro. De. Mim. Agora! — consigo falar em
meio aos gemidos, e ele retira a mão de mim, parecendo muito satisfeito.
De uma forma obscena e, com os olhos tempestuosos cravados nos
meus, ele chupa seus dedos, antes de posicionar seu pau em minha entrada.
— Me avisa se doer muito, linda. Não sei exatamente o que fazer
nesse momento. — ele diz, beijando meu pescoço, antes de vir à minha
boca.
Nossas línguas dançam, e ele vai entrando devagar, aos poucos, me
estimulando de todas as formas para que eu não estranhe a invasão em meu
corpo. Ele me dá um tempo para que eu me acostume, mas antes que eu
possa falar alguma coisa, ou pedir para que vá mais devagar, Alex
impulsiona o seu corpo com tudo contra o meu, em um movimento certeiro.
Seu corpo está sobre o meu, me aprisionando do jeito mais primitivo
de todos, e eu arfo chocada, e sem saber exatamente o que está
acontecendo. Depois, sinto um ardor que doeu em minha alma, e, por mais
que eu esperasse, já que todas as minhas amigas alertaram que a primeira
vez era estranha, eu não estava esperando algo dessa forma.
Alex passa a beijar meus lábios, bochechas e cabelos, esperando
provavelmente por alguma reação, mas só quando uma lágrima rola pelo
meu rosto, ele parece realmente preocupado.
— Te machuquei muito, amor? Fala comigo, quer que eu saia? Você
está massacrando o meu pau. — ele comenta e eu pisco duas vezes, olhando
para ele.
Sua expressão preocupada me compadece, e quando sinto que
consigo me mexer, passado o susto e o ardor, beijo sua bochecha, negando
com a cabeça.
— Só é estranho… e arde um pouco. — comento, e ele confirma
com a cabeça.
— Acha que eu posso me mexer? — pergunta, e eu confirmo.
— Devagarzinho, primeiro. — digo, com uma inspiração profunda,
e essa é a melhor coisa que eu poderia fazer, porque sinto o seu cheiro tão
particular e me sinto mais tranquila.
Eu confio em Zur, por mais estranho e absurdo que isso possa
parecer. Passei a amá-lo. Não tem como explicar melhor do que isso.
Quando fiz a escolha de, finalmente, me entregar a um homem,
sabia das consequências. Mas, agora, depois de ter gozado em sua boca e
em suas mãos, sei que quando essa sensação estranha passar, ele vai fazer
com que eu me sinta bem, confiante, feliz e amada. Porque é isso que Alex
me passa desde o primeiro dia, por mais brava e amedrontada que eu
estivesse para assumir isso antes.
— Laura? — Percebo que estou tão perdida em pensamentos, que
sua voz me traz de volta ao momento — Quer parar?
Como assim?
— Já terminou? — Franzo a testa, confusa. Ele já tinha gozado?
Alex dá uma risada, mas se movimenta de levinho, como se fosse
sair de mim.
— Ainda temos muito tempo… — e percebo que ele não está
confortável com a situação quando limpa a minha lágrima solitária, e beija
minha testa. Parece que está se sentindo culpado —, mas é sua primeira vez
e acho que comecei errado. Te machuquei.
— Eu quero você, amor. Não entende? — murmuro, o abraçando e
o vejo mudar de semblante, quando sem querer, me movimento um
pouquinho e ele geme de prazer — Estou sentindo um ardor leve, mas dou
conta.
— Não precisamos continuar.
— Mas eu quero, e muito. — digo, beijando seus lábios e, assim que
deslizo minhas mãos pelas suas costas, e ele parece tomar uma decisão.
Seu quadril faz um movimento circular e gemo alto, imersa em
tantos sentimentos que não consigo pronunciar o que sinto. Dor e prazer,
uma mistura de sensações que quero, e muito, continuar a sentir.
Confirmo com a cabeça que estou bem em sua pergunta silenciosa, e
ele começa a se mover, arrancando um suspiro de dentro de mim. Meus
olhos se mantêm atentos aos seus e, mais lento, ele volta a se movimentar.
Aos poucos o ardor dá lugar ao prazer, e enquanto ele se movimenta
lentamente, eu vou ganhando coragem e força para ir ao seu encontro,
aproveitando tudo o que ele tem a me oferecer.
Se esfregando em mim, Alex passa a gostar também, demonstrando
a sua expressão de prazer mais sensual de todas até então.
— Assim é bom? — ele pergunta, sem parar de se mexer,
provavelmente querendo saber o que eu estou achando.
— Acho que vou gozar mais uma vez. — murmuro baixo, já
sentindo o clímax crescer dentro de mim, inexplicavelmente.
— Você vai. — decreta, antes de beijar minha boca.
O beijo é viciante, e entre lábios e língua, me permito falar tudo o
que eu quis, sem freios e sem barreiras, me expressando pela primeira vez
com palavras.
Enquanto seu quadril faz um vai e vem gostoso, substituindo o
resquício de dor por prazer em sua totalidade, eu me sinto surpresa,
desejada e muito feliz.
Abraço seu pescoço com força, quando estou me sentindo cada vez
mais perto, e ele aumenta os movimentos, ofegando e gemendo próximo do
meu ouvido. Relaxo as pernas e o deixo comandar como quiser, lhe dando
tudo de mim no meio do caminho. A cada estocada, eu o sinto cada vez
mais fundo, e meu orgasmo está a um entra e sai de ser alcançado. Quando
finalmente chego lá, ofegando de prazer e surpresa pela sensação intensa
que me invade, gemo alto em seu ouvido e Alex aperta ainda mais firme seu
corpo contra o meu, gemendo também, estremecendo o seu corpo e me
acompanhando em nossa avalanche de prazer. Juntos, gozamos pela
primeira vez, e nesse momento, eu tenho certeza de que não mudaria nada,
porque dessa forma, foi tudo absolutamente perfeito.
Ofegantes, nós nos encaramos, como se estivéssemos nos vendo
pela primeira vez. Cansados, nus de corpo e alma, e mais do que isso,
coração.
— Não sei nem explicar o quanto eu te amo nesse momento. — ele
é o primeiro a dizer, e apesar de ter desmoronado em cima de mim, e rolado
para eu ficar por cima do seu corpo, sinto Alex em todos os meus músculos.
— Eu… também. — respondo, envergonhada, abaixando a cabeça,
sem saber como chegamos a esse ponto.
Zur percebe como estou sem graça, e sai de dentro de mim, antes de
me puxar para um abraço apertado, beijando o topo da minha cabeça.
— Você está bem? — pergunta, e eu confirmo com a cabeça. Mas,
ele puxa meu queixo para olhar em meus olhos, forçando que eu o
responda.
— Estou. Achei que iria doer mais, na verdade. Mas, tudo certo,
pronta para a próxima. — brinco, e seus olhos escurecem de prazer.
— O que eu faço com você, hein, Laura? — brinca, e eu sinto as
minhas bochechas ficarem vermelhas — Não quero abusar, mas para ser
honesto, eu tenho muitas outras ideias…
— Mal posso esperar para conhecer cada uma delas.
 

 
Acordo um pouco dolorida, me lembrando da noite passada e abro
um sorriso enorme, ainda nos braços de Alex. Meu Deus! Se eu soubesse
que era assim que as pessoas se sentiam quando estavam fazendo amor, eu
teria feito antes, apesar de que Alex é incomparável. O homem é uma
máquina, incansável em todos os sentidos, perfeito em cada detalhe.
Ansioso para me agradar, me dar prazer em todos os momentos. Ávido por
mais.
Fizemos amor durante a noite toda, tão imersos em nós mesmos, tão
apaixonados, tão intensos, que me perdi completamente nele.
Zur é um amante gentil, soube exatamente o que fazer, como me
tratar, agir, me tocar. Ele sabia que era a minha primeira vez, e fez todo o
possível para que eu tivesse uma boa experiência. O homem soube
exatamente como me dar prazer, entrando em mim com gentileza, e depois,
quando já estava acostumada, fazendo tudo o possível para me fazer delirar
de prazer, e ainda me arrastou para o limite do êxtase. Não conseguimos nos
fartar um do outro. Cada vez que fazíamos amor, nossa fome continuava a
aumentar.
Zur é viciante! Isso é fato.
Sim, eu amo Alex. Aprendi a amá-lo, apesar do que ele fez com meu
pai. Foi tão fácil me apaixonar por ele, como respirar. Além de ser
devastadoramente bonito, lindo e brilhante, ele também é muito carinhoso,
gentil e protetor. Qualquer mulher facilmente teria a mesma atitude que eu,
e mesmo tendo algumas ressalvas, sei que sou sortuda por essa devoção que
ele diz e demonstra ter por mim.
Nós dissemos que nos amávamos, e mesmo sentindo em meu coração
que estava traindo Igor de alguma forma, não consegui me conter.
Ele realmente se infiltrou em meu coração, e aparentemente, não
tem a menor intenção de sair dele.
Na terça-feira, depois da montanha russa de emoções vividas no fim
de semana, e uma segunda monótona, tentando me recuperar fisicamente
dos exercícios pouco convencionais que comecei a praticar, resolvi que
precisava me movimentar. Ficar sem Alex o dia inteiro é complicado, ainda
mais ontem, que ele precisou fazer uma viagem rápida a trabalho para a
Grécia e não nos vimos depois da viagem.
Como as coisas vão ser daqui pra frente? Na melhor das hipóteses,
muito quentes, por isso, resolvo ir em um horário diferente do habitual, às
seis horas da manhã, para a ioga, a fim de tentar melhorar um pouco mais a
minha elasticidade e ansiedade. Pelo que percebi, acho que posso realmente
precisar disso para as peripécias que Zur tem em mente. E hoje ele volta
para casa.
Ainda com um sorrisinho no rosto, entro na sala distraída, e uma mão
vem de encontro ao meu ombro, me surpreendendo ao ser virada e dar de
cara com a Duda.
​— Laura? Eu não acredito! — ela praticamente grita, antes de me
abraçar apertado.
Fico um pouco confusa, sem entender o que a minha amiga de longa
data está fazendo aqui, na minha singela aula de ioga e vejo seu sorriso
enorme no rosto, além da sua boa forma.
— Duda! Meu Deus, quanto tempo! Como você está? Faz anos e
anos que eu não te vejo! — digo, e ela abre um sorriso surpreso, parecendo
não acreditar que nos reencontramos dessa forma.
— Eu me mudei para Vongher com meu marido, assim que nos
casamos. Já faz seis anos que eu moro em Havdiam. Faz anos que eu não
tenho notícias suas! — abro um sorriso sem graça, porque sei que devido à
depressão me afastei de todas as pessoas que poderiam me lembrar de Igor
— Nós estávamos nos perguntando o que aconteceu com você, se ficou
chateada com algo… não respondeu mais aos nossos e-mails... Suas contas
nas redes sociais foram desativadas.
Sinto minhas bochechas arderem de vergonha, mas dou de ombros,
pedindo desculpa.
— Sim, eu sei… perdi a minha senha de tudo, acredita? — dou a
desculpa mais esfarrapada possível, e ela abre um sorrisinho investigativo
que eu conheço bem.
— Bom, então, foi o destino nos unindo novamente. Precisa me
passar o seu contato para marcarmos um almoço e colocarmos a conversa
em dia! — ela diz, e eu confirmo, animada.
— Ah, Duda, sinto muito a sua falta, sabia? Você continua a mesma,
cheia de mistério e drama.
— Exatamente! — ela gargalha — Estou dando aula de teatro na
Academia de Cinema de Havdiam e na Escola de Cinema. Eu me formei lá.
— Isso é ótimo, parabéns!
— Então, e você, está gostando de sua estadia aqui em Havdiam?
— Sim! Estou adorando! Já visitei quase todos os pontos turísticos da
cidade. Amei o lugar e as pessoas daqui, não conhecia a Europa, muito
menos Vongher… — digo meio sonhadora, e isso não lhe passa
despercebido.
— Você está amando as pessoas, hein? Está apaixonada, amiga? —
seu olhar é de curiosidade genuína, mas ainda não me sinto confortável em
contar sobre mim e Alex para ela. Principalmente, porque Duda era prima
de Igor, e a nossa história simplesmente foi complicada demais.
— Não... não… não é isso que eu quero dizer, Duda.
— Entendi… eu ouvi dizer, que o todo poderoso Zur tinha se casado
com uma brasileira ruiva. Vendo você por aqui, e considerando que não
existem tantos ruivos assim no Brasil, fico me perguntando quais são as
possibilidades de essa mulher ser você.
— O quê? — pergunto chocada — Como você sabe sobre Alex?
— Viu? Eu sabia! — ela parece satisfeita com a sua perspicácia, e
eu sinto as minhas bochechas esquentarem, antes de me defender:
— Não é um casamento de verdade… é apenas um acordo de
negócios.
— Ah, vamos lá, você deve sentir algo por ele! Alex Zur é um pedaço
de mal caminho! — Começo a achar toda essa conversa muito estranha. Por
que Duda quer saber de Alex, e principalmente, por que ela está falando
assim sobre ele? Meu radar de estranhezas apita em nível máximo.
— Pera aí, você o conhece? — pergunto, sondando.
— Claro! Todo mundo em Havdiam o conhece. Ele é famoso por
aqui. E vamos combinar, o país não é grande o bastante para não ficarmos
sabendo de todas as fofocas. O magnata naval mais rico, elegante, bonito e
multimilionário. Muitas mulheres querem arrastá-lo até o altar. Mas, você,
mesmo não querendo, conseguiu. — ela parece desconfiada, e levanta uma
sobrancelha, cruzando os braços no peito — Você não se sente atraída por
ele? Impossível! — ela sonda.
Lembro do fim de semana e não consigo mentir, nem se eu quisesse.
Meu corpo corresponde bem demais a todas as lembranças. Mas, ao mesmo
tempo, ela é prima do meu grande amor, e admitir em voz alta que eu estou
apaixonada por Zur, principalmente para a sua família, é como manchar a
reputação e memória do Igor. Dentro desse conflito interno, apesar de sentir
verdadeiramente atração e até mesmo paixão por Alex, resolvo ocultar essa
informação.
— Talvez sim, porque ele me faz lembrar o Igor.
— Igor? Você está brincando, não é? Ainda está de luto pelo Igor? —
ela parece verdadeiramente chocada.
— Duda, eu ainda amo o Igor, e sinto muito a falta dele. Todos os
dias. E, toda vez que olho para Alex, vejo Igor nele. Eu não sei… Você acha
que eles são parecidos? Seus olhos, lábios… — questiono, apenas para ter
uma segunda opinião.
— Laura, eles são completamente diferentes! O que aconteceu com
você, amiga? Continua indo aos médicos? — ela pergunta, parecendo
preocupada e eu balanço minha cabeça duas vezes, sem entender
exatamente o que está acontecendo.
— Eu não sei. Honestamente… é tudo muito difícil de explicar. —
digo baixo, deixando claro que não quero mais falar sobre isso e ela
confirma com a cabeça.
— Tudo bem, eu não vou te pressionar. — ela diz, complacente —
Vamos sair sexta-feira à tarde?
— Está bem, claro.
 
 

Estou tomando café da manhã, depois de chegar de uma viagem


rápida para a Grécia e vir direto para o escritório, com um sorriso no rosto.
Steve Moore, meu diretor de TI está ao meu lado discutindo as nossas
próximas reuniões, quando minha prima Duda chega espalhafatosa, falando
alto e chamando a atenção por onde passa nos corredores.
— Oi, lindos... como vocês estão? — ela diz, imitando uma
adolescente.
Duda beija minha bochecha, depois, vai até o seu marido Steve e se
senta em seu colo, roubando um beijo quase pornográfico. Mesmo depois
de anos de casamento, uma filha linda, eles são extremamente
desagradáveis aos olhos de todas as pessoas que têm algum tipo de senso.
Tipo eu.
— Você se encontrou com a Laura? — pergunto a ela, tentando
interromper o momento deles e saber se minha priminha cumpriu com a sua
palavra e fez o que eu pedi.
Depois que vi Laura com Luana na viagem, simplesmente fiquei
pensando no que eu poderia fazer para que ela tivesse mais momentos como
aquele, sem atrapalhar a nossa rotina. Luana mora em Lanuver, tem um
filho e minha ruivinha se recusa a entrar em um avião, então, o mais fácil e
lógico a fazer seria trazer alguém para a sua vida e tornar os seus dias
menos monótonos.
A ideia de levar Duda de novo para a sua vida veio quando encontrei
com Steve, seu marido, em uma reunião na segunda à primeira hora do dia.
E, assim que surgiu a primeira oportunidade, marquei o encontro entre as
duas amigas de infância, para parecer uma coincidência e elas voltarem a
conversar.
Ela se vira para mim, com um sorriso sabichão nos lábios.
— Sim, e ela pareceu muito surpresa por ter me encontrado...
— Ah não. Você estragou tudo, Duda. Puta merda! — resmungo, mal-
humorado. Como posso explicar que conheço a sua amiga de infância e
prima do seu ex morto? Laura não é tão ingênua assim.
— Na verdade, não… Pareceu realmente uma grande coincidência tê-
la encontrado na ioga naquele horário, porque não é o seu habitual. Demos
sorte. — ela diz, piscando para mim, e eu consigo respirar um pouco
aliviado.
— Você a chamou para sair sexta?
— Claro que sim, fiz como o senhor deseja, meu mestre. — Duda
debocha, roubando um morango da bandeja, enquanto reviro os olhos,
ignorando sua provocação.
— O que vocês conversaram? — pergunto, curioso para saber se
Laura disse algo a meu respeito.
— Igor… foi uma conversa de amigas. — Duda ainda me chama de
Igor, apesar eu de eu já ter lhe dito muitas vezes para me chamar apenas de
Alex. Mas, para ela, eu sempre sou e sempre vou ser Igor, não importa
quanto tempo passe.
— Duda!
— Ei, relaxe... ela disse que se apaixonou por você no momento em
que vocês dois se conheceram. Ela quer se casar com você de verdade
amanhã e ter uma dúzia de filhos.
— Sério? — pergunto chocado.
— Claro que não! Em que planeta você vive, Igor? — ela gargalha e
Steve tenta com muita braveza conter as risadas — Você deveria ter visto
seu rosto. Ficou super vermelho de repente.
— E então? Sou uma piada para você, ótimo! — digo, impaciente —
O que Laura disse?
— Ela disse que só está de férias em sua casa, e que partirá em breve.
Eu a provoquei sondando sobre você e ela disse que se sentia atraída.
— Ela disse? — eu falo sorrindo. Ela realmente admitiu que se sente
atraída por mim, como Alex, e isso me faz ter uma pontinha de esperança.
— Sim, porque você a faz se lembrar de Igor.
Eu gemo em voz alta e me levanto, andando pela sala. Que merda!
Depois de tudo, ela ainda não consegue se desvincular do passado, e estou
ficando sem opções aqui. Não sei mais o que fazer.
— Ela ainda o ama e sente muito a sua falta. É só dizer a ela a
verdade, que você é o Igor do passado.
— Você sabe que eu não posso. E o pai dela? Não posso descartar o
fato de que ele tentou nos matar e que deveria ser punido. Nossos
investigadores tiveram um vazamento ontem à noite, sobre uma possível
nova testemunha, e nós reabriremos o caso. O pai dela deve ser crucificado
e apodrecer no inferno, se as novas provas o apontarem culpado. É o que
ele merece! — grito, com raiva.
— E então, o que acontece? — ela pergunta, sabichona — Você deve
pensar na consequência, se o pai dela for provado culpado. Ele vai
apodrecer no inferno, como você disse. E Laura? O que acontecerá com
você e Laura? Ela nunca vai te perdoar.
— Não sei, provavelmente não vai mesmo. — esfrego meu rosto,
odiando a ideia de perder Laura novamente.
— É só dizer a verdade, Igor, sobre seu pai e o seu verdadeiro eu.
— Eu não posso. Ainda não há provas válidas de que seu pai
realmente o fez, e ela nunca vai acreditar em mim apenas pela palavra.
Preciso de mais provas para apresentar a ela, para fazê-la acreditar no
demônio que seu pai é. Só assim vou poder dizer que eu sou o Igor. Mesmo
depois de anos, eu não desisti de achar a pessoa que me esfaqueou, Duda. E
agora, não estou poupando nenhum recurso para ir até o final com essa
história. Eu preciso disso!
— Ela ainda ama você. Acho que não tem que provar nada para ela,
tenho certeza de que ela vai ficar do seu lado.
— Duda, ela ama o Igor, inocente, pobre, bom garoto. — digo com
raiva — Ela é tão idealista! Você acha que ela vai me amar agora, como
Alex? O homem que arruinou o pai dela? Ela pensa que eu sou o filho do
diabo, mau, impiedoso e cruel. Eu sou uma pessoa totalmente diferente e
até pareço diferente, agora. Ela não me veria mais como Igor, e deixaria de
me amar. A versão editada e a versão real...
— Então, o que você realmente está esperando? Que ela te ame como
Alex?
Fico em silêncio por um tempo. No fim de semana, ela disse que me
amava, mas não sei o quanto disso foi calor do momento, ou o quanto isso é
verdade. Sei que estou me esforçando, mas ela precisa me querer por
completo, como eu realmente sou.
— Sim, quero que ela me ame como sou agora, eu sou Alex. Quero
que ela ame e aceite quem eu sou hoje, a pessoa que me tornei, depois do
que aconteceu dez anos atrás.
Duda balança a cabeça em concordância.
— Então, continue fazendo o que você está fazendo. Mostre quem
você é agora. — ela diz, fazendo um carinho em meu ombro — Você é fácil
de amar, Igor, eu o conheço. — Duda fala pensativa, e depois, abre um
sorriso como se soubesse de todos os segredos do mundo — Quem sabe?
Ela já está apaixonada por você agora, mas odeia admitir isso para si
mesma. Ela está bastante confusa sobre você, Igor. Eu notei pelo seu olhar.
Você está se esforçando e tenho certeza de que, no fim, o bem vencerá.
Só espero que a Duda tenha razão.
 

Desço para jantar, pontualmente, como todos os dias, quando um


homem mais velho me cumprimenta, com um sorriso enorme no rosto. Ele
está, provavelmente, na casa dos setenta anos e é uma réplica mais antiga de
Alex, ainda bonito e arrojado, apesar de sua idade avançada. Fico surpresa,
mas abro um sorriso amplo, indo em sua direção.
— Finalmente, vou conhecer a sra. Zur! — diz o homem, olhando
para mim enquanto eu desço as escadas.
Um pouco envergonhada por não saber seu nome, estendo a mão para
ele com um sorriso tímido. Ele a aperta com suavidade e abre um grande
sorriso.
— Eu sou Arnaldo Zur, avô de Alex. — Assim que ele diz, confirmo
com a cabeça. É claro, o avô tão querido de Alex! Como não sei exatamente
se ele está a par de todos os trâmites do nosso casamento, não nego quando
ele me chama de sra. Zur, mas não me sinto confortável com esse tipo de
tratamento tão impessoal.
— Boa noite, Sr. Zur, é um prazer conhecer o senhor, e saber que
teremos uma companhia alegre para o jantar. Por favor, me chame de Laura.
— digo, e ele sorri pra mim, parecendo feliz.
— O prazer é todo meu, minha querida. Ouvi falar tanto de você… e
agora, te conhecendo, entendo por que meu neto está apaixonado. Você é
realmente linda, por dentro e por fora, como ele disse. — seu sorriso é
caloroso e, na hora, me sinto acolhida.
— Ele disse isso? — pergunto curiosa.
— Sim, sim, muitas vezes. O que você quer beber antes do jantar?
Talvez vinho tinto? — ele diz, como se a casa fosse sua, e me sinto
envergonhada em negar, apesar de não beber, por causa dos remédios.
— Laura não bebe álcool, vô. — Alex diz alto, ainda no topo das
escadas.
Com certeza, ele era impressionante com os ternos, mas ficava ainda
mais bonito com uma camisa simples, preta e calça jeans. Totalmente
delicioso. Alex fixa então seus olhos nos meus, um azul elétrico, que
realmente faz com que eu tenha arrepios. Sem que eu perceba, meu coração
já começa a palpitar novamente, batendo em um ritmo muito rápido, cheio
de saudade, apesar de estarmos a apenas um dia sem nos vermos.
A viagem que fizemos juntos para Meeresblume foi tão incrível, me
senti amada, e no fim, quase torci para que a gente fosse realmente um
casal. Adorei cada segundo que eu e Alex passamos juntos e, depois de
quatro dias perfeitos, passar os dias sozinha, ontem e hoje, foi horrível. Só
de olhar para ele, já sinto vontade de correr e o abraçar com força. Mas,
claro, apesar desses instintos loucos, firmo ainda mais meus pés no chão,
me recusando a fazer qualquer coisa do tipo. Não sei ainda em que pé
estamos, agora que voltamos ao normal, e ainda tenho um medo louco, e
talvez até mesmo involuntário, de ser rejeitada.
Avô e neto se abraçam, ambos batendo em suas costas com sorrisos
no rosto, e fico feliz ao perceber que são tão próximos. Arnaldo Zur diz
algo para Alex e, de repente, os dois gargalham, rindo divertidos. Posso
apostar que tem algo a ver comigo, pela forma cúmplice como os dois se
olham, e fico ainda mais vermelha. Alex balança a cabeça em negativa e
vem em minha direção, colocando seus braços ao meu redor e me dando um
beijo na bochecha. Com um sorriso, ele sussurra em meu ouvido, e fico
completamente arrepiada.
— Fiquei com saudade de você. Fui até o seu quarto te entregar um
presente, mas você já estava aqui embaixo. Ficou em cima da sua cama.
— O que é? — pergunto curiosa.
— Você vai ver, mais tarde. — seu tom de voz é cheio de promessas,
e preciso muito controlar o meu impulso curioso, para não subir correndo e
descobrir o que é.
Ah, foda-se. Me afasto dele com um sorriso no rosto, pronta para
correr em disparada subindo as escadas. Sim, quando se trata de surpresas
eu sou praticamente uma criança de seis anos, sem controle algum sobre as
suas próprias ações.
— Onde você está indo? — ele diz, me segurando firme pela cintura.
— Claro que estou subindo para o meu quarto para descobrir o que é.
Você não pode fazer esse tipo de coisa com alguém que tem ansiedade
crônica diagnosticada! — respondo, com os olhos brilhando e ele nega com
a cabeça.
— Você é muito curiosa, ruivinha. Mas, não vou deixar, vamos
encarar isso como um exercício. — ele diz rindo, voltando a me abraçar, me
prendendo em seus braços.
Me aconchego nele, como um gatinho querendo atenção, e esqueço
de seu avô por alguns segundos. Ele está nos observando, com um sorriso
satisfeito nos lábios, mas quando foco meus olhos no senhor, ele abre o
celular parecendo distraído, antes de anunciar em voz alta:
— Alex, Laura, vou fazer uma ligação importante e já volto, tudo
bem? — ele não espera resposta, e sai em disparada para o jardim.
— Claro, vô, fique à vontade! — Alex grita para que ele escute, e
abre um sorriso diabólico, me arrastando para o cômodo mais próximo.
— Onde estamos indo? — pergunto em um sussurro.
Alex se vira para mim com um olhar demoníaco e meu corpo se
aquece no mesmo instante. A excitação e a expectativa de estar sozinha
com ele de novo me dominam, e me esqueço de quem sou quando ele abre
a porta, me jogando para dentro de um espaço apertado, que eu descubro ser
um banheiro. Seu corpo se cola ao meu, como uma rocha e suas mãos
passeiam entre a minha cintura e as minhas costas, com uma rapidez fora do
comum.
— Senti saudade, Laura. Fiquei dois dias inteiros sem conseguir te
tirar da cabeça. — ele diz, segurando meu rosto com as duas mãos — Por
favor, deixa eu te beijar?
Eu toco seu rosto e tomo a iniciativa, beijando seu lábio inferior. Ele
não é o único que está morrendo de vontade disso. Corro as minhas mãos
pelo seu peito, seus ombros e seu pescoço e consigo perceber que meu
toque o deixa completamente louco. Alex me puxa com força para ele, e eu
começo a ter dificuldade em respirar, tamanha a profundidade do nosso
contato. Provavelmente, vou desmaiar de tanto prazer se continuarmos
desse jeito.
Ai, meu Jesus Cristinho! Ele me provoca e lambe o interior da
minha boca, aprofundando o beijo e chupando meus lábios lentamente.
Imito seus gestos e isso o deixa ainda mais selvagem.
— Laura, pelo amor de Deus, não faz mais isso, — ele parece
ansioso, mas não me solta em momento nenhum — porque eu te quero
tanto que chega a doer. Preciso de você, agora! — ele diz tão desesperado,
que faz com que sua urgência passe instantaneamente para mim.
— Mas seu avô está lá fora. — sussurro, não me importando muito,
realmente.
— Ele espera.
Seus lábios passam das minhas bochechas, para o meu pescoço. Alex
beija, chupa e o morde com vontade, e isso desperta um milhão de
sensações inexplicáveis dentro do meu corpo. Com uma súbita coragem,
corro as mãos pelas suas costas, por dentro da blusa. Sinto as suas
cicatrizes, e me estremeço em meio aos beijos.
Como alguém poderia querer machucar Alex? O que será que
aconteceu? Essa é uma pergunta que passou pela minha cabeça durante
toda a nossa viagem, mas ainda não tive coragem de perguntar. Quando ele
se sentir à vontade, vai compartilhar comigo a sua história, assim como eu
fiz com ele.
Meu toque o deixa mais quente e selvagem, e Alex me puxa para
cima com seus braços poderosos, colocando as minhas pernas ao redor da
sua cintura. Fico imprensada entre ele e a parede, de uma forma, muito,
muito deliciosa. Depois, Alex volta a me beijar, começando uma carícia
erótica em meus seios.
— Laura, se você quiser parar, por favor precisa me dizer agora…
depois, eu posso não conseguir mais me controlar.
Peraí, ele está se controlando?
Minha mente fica completamente em branco. Eu também não quero
que ele pare, na realidade, quero que ele continue ainda mais rápido e mais
forte. E, com uma leve batida no banheiro, nosso clima esfria alguns graus.
— Alex, Laura… Sei que é um momento delicado, mas eu estou
morrendo de fome! — seu avô gargalha — E todos estamos escutando,
então, acho melhor vocês terminarem isso mais tarde.
Fico completamente chocada e com muita vergonha.
— Que merda! — Alex fala baixinho, me escorregando para o chão.
Meu corpo ainda treme, ansiosa por mais, mas sei que, no momento, não
vamos poder continuar.
— Laura… — ele levanta meu queixo, me desafiando a olhar para
ele. Abro um sorriso tímido e ele parece ficar hipnotizado.
Em nossos olhares existe uma promessa do que está por vir, e se eu
pensei que as coisas voltariam a ser como eram antes da nossa viagem,
estava enganada. Zur, aparentemente, quer tudo e mais um pouco comigo.
Ele conserta o meu cabelo e se ajoelha em minha frente, levantando a
bainha do meu vestido azul.  Sua expressão é impagável ao olhar as minhas
coxas, e como se não conseguisse tirar as mãos de mim, ele começa a me
alisar.
— O que você está fazendo? Seu avô está esperando, meu bem! —
digo, em um sussurro.
— Eu sei… eu sei… — ele fala, me olhando com um sorriso maroto,
e antes que eu possa processar, ele beija a parte interna da minha coxa
esquerda, lambendo todo o comprimento, descaradamente.
— Ai, meu Deus, Alex! — protesto, empurrando sua cabeça para
longe. Ele solta uma risada e desce a bainha do meu vestido, se levantando.
— Seu cheiro é tão bom… sua pele, tão macia… confesso que estou
ficando louco. — ele se levanta e me beija profundamente. Ele me arrasta,
então, até a porta do banheiro e entre beijos e risadas, saímos porta a fora.
— Promete, por favor, que mais tarde vamos continuar? — ele
pergunta, parecendo desesperado, e eu abro um sorriso, antes de confirmar.
— Eu prometo.
O sim foi realmente libertador. Aceitar que Igor se foi e que Alex está
aqui na minha frente, disposto a dar tudo de si para me fazer feliz é um
sopro de alívio, e mais um peso imenso que sai das minhas costas. Seus
olhos brilham, e ele parece feliz. Talvez, não tenha sido só eu a pessoa
preocupada em como as coisas iriam ficar depois de tudo o que vivemos. 
— Sério? Jura? Obrigado, Laura. — ele me abraça, e me passa todos
os sentimentos que não consegue colocar em palavras, beijando meu rosto,
com carinho. Com as mãos em volta da minha cintura, ele diz em meu
ouvido, me fazendo gargalhar — Perdi o apetite, agora só consigo pensar na
sobremesa.
Sinto meu rosto esquentar, e lhe dou um tapinha no braço.
— Seu avô já está esperando, se comporte!
 

Ter que esperar o jantar, e suportar as conversas amenas, sabendo o


que me aguarda de noite, quando meu avô for dormir, é quase insuportável.
Eu e Laura ficamos nos encarando durante todo o jantar, e posso perceber
que ela também não está muito interessada na comida, já que suas
bochechas coram violentamente, o tempo inteiro.
Eu sei que a antecipação a está matando também e, provavelmente,
ela está tão ansiosa quanto eu. Depois da nossa viagem intensa e cheia de
descobertas, tenho certeza de que a ruivinha quer mais um pouco do que
começou a descobrir. Ela pareceu bem empenhada em conhecer e explorar
tudo o que poderia existir nesse novo universo comigo, e nunca me senti tão
sortudo em ser o primeiro a fazê-la se sentir dessa forma. Primeiro, e com
sorte, o único.
Vovô, na realidade, é quem está tentando fazer algum esforço para
mantermos uma conversa cordial, contando para Laura a mesma história
cansativa que ele conta todas as vezes. Sobre a guerra, como a família
sobreviveu e lutou, como quase morreu de sede e fome e sua tia foi
estuprada pelos nazistas e assim por diante. Como a família começou o
negócio, como ele conheceu minha avó e o amor infinito de um pelo outro.
Eu não estava ouvindo aquela ladainha, para ser sincero. Meus pensamentos
estavam cheios de Laura... na cama... no chuveiro... na banheira... nesta
longa mesa e até mesmo na cozinha, com a minha testosterona correndo
forte em minhas veias.
Depois do jantar, Arnaldo Zur ainda quis continuar com suas
histórias, e não sei se motivado pela ansiedade do que eu sei que está por
vir, ou se é porque eu simplesmente não consigo aguentar mais a mesma
história tantas e tantas vezes, começo a traçar rotas de fuga para que ele
desista e vá dormir. Mas, o velho estava completamente fascinado por
Laura que, apesar dos meus olhares sedutores, escuta suas histórias
avidamente. Estamos sentados um ao lado do outro, em um sofá de frente
para o meu avô, com o meu braço esquerdo ao redor da sua cintura e é
nesse momento que eu começo a realmente ficar impaciente.
Laura está tão quente e linda essa noite, e eu só quero me afundar
em seu corpo delicioso. Tudo o que eu quero é interromper a conversa
deles, dizendo que estamos cansados e irmos para o quarto. Porém, eu
conheço meu avô, e ele ficaria super magoado com esse tipo de atitude.
Tanto tempo esperando para conhecer Laura, tantos anos ouvindo falar
sobre como ela era incrível. Não posso lhe tirar o prazer de conversar com
ela por alguns segundos, já que agora está se tornando sensível e emotivo
por estar ficando velho. Mas, quando passa das dez horas, solto um bufo
alto, ouvindo a velha história de como eles fugiram da Alemanha em um
comboio, e vovô finalmente decide dormir.
— Estou bastante cansado, agora vou deixar vocês dois sozinhos. Já
percebi que Alex quer muito que eu vá me deitar e não está sendo nada
discreto, inclusive. — ele ri, se divertindo.
— Você não pode me culpar vovô, eu já ouvi suas histórias mais de
mil vezes, inclusive, já as memorizei para contar para os meus próprios
netos. — eu solto uma risada, e ele apenas sorri para mim, parecendo muito
satisfeito.
— Eu gostei muito de suas histórias, sr. Zur, foram muito inspiradoras
e divertidas. Obrigada por compartilhar comigo. — Laura diz,
surpreendendo-o com um abraço.
— Obrigado, Laura. Bem, agora vou para a cama, ainda tenho um
voo de volta para a Grécia amanhã de manhã, e preciso de uma boa noite de
sono. — ele diz, se levantando.
— Um voo? Mas acabou de chegar, achei que ficaria um pouco mais.
— Laura diz, com o cenho franzido e um olhar chateado.
— Não, querida. Infelizmente, fica para a próxima. Tenho algumas
reuniões importantes na Grécia.
— Ah… — Laura acena com a cabeça, mas parece um pouco
decepcionada.
— De qualquer forma, Alex vai estar comigo, querida.
— Você vai voltar para a Grécia? — Laura questiona um pouco
estridente, virando seu lindo rosto para mim. Acabei de chegar, e já estou
indo de novo. Na verdade, obriguei o vovô a voltar para Havdiam comigo,
apenas para encontrar novamente com a minha ruivinha, e inclusive, isso
foi motivo de uma gozação sem fim entre ele e os funcionários.
Não consigo resistir e toco o seu cabelo, passando a mão pelas suas
costas.
— Sim, foi um problema repentino. Estamos com um problema em
uma das nossas empresas de navegação por lá e preciso estar pessoalmente
em cada porto. Mas, fica tranquila, eu vou voltar rápido e você nem vai
perceber, — pego a sua mão e a beijo, com um olhar cheio de desejo —
prometo.
Ela apenas sorri e acena com a cabeça. Pelo seu olhar, aposto que
ela não quer que eu vá, e isso me deixa muito feliz.
— Mas, você pode vir conosco, se quiser. — puxo-a para um abraço,
dando um beijo em sua bochecha. Ela tem um cheiro tão gostoso.
— Não… não… eu prefiro ficar. Eu não gosto muito de voar.
— Eu sei, mas um dia vou fazer você superar esse medo bobo. —
falo, sussurrando em seu ouvido.
Vovô tem um ataque de tosse, muito falso, por sinal, e diz com
convicção:
— Boa noite, então. Vejo vocês, pombinhos, pela manhã.
— Boa noite, vô.
— Boa noite, sr. Zur.
— Boa noite, filho. — ele diz, batendo em meu ombro e se vira para
Laura, dando um beijo em sua bochecha — Boa noite, Laura. Não canse
muito meu neto, centenas de milhares de funcionários e suas famílias
dependem dele vivo e bem. — ele ri em voz alta, deixando-a mortificada de
vergonha — Estou só brincando, querida. Você vai se acostumar às minhas
piadas.
No momento em que vovô sai da sala, pego Laura no colo, subindo as
escadas, dois degraus de cada vez. Quando chegamos à porta de seu quarto,
eu a puxo pela cintura e a beijo com fome. Suas pernas contornam minha
cintura, pressionando o centro de sua excitação em minha ereção. O prazer
é esmagador, a ansiedade maior ainda.
Abro a porta do seu quarto, e coloco seus pés no chão, olhando em
direção a sua cama com um sorriso. Ela se afasta dos meus braços, com a
curiosidade aguçada e vai até o embrulho, ansiosa.
— O que é isto? — Laura pergunta, segurando a caixa de veludo
preta com um sorriso no rosto.
— Abre.
Ela abre a caixinha e encontra um colar delicado de diamantes com
uma turmalina pequena no centro.
— Nossa! É lindo! Muito obrigada. — enquanto ela olha para o colar,
eu tranco a porta e me posiciono atrás dela.
— Mas não tão bonito quanto você, é claro.
— Não posso aceitar Alex, parece ser supercaro. — ela se afasta,
dando um passo para trás.
— Você merece as coisas mais caras, e mais exclusivas Laura, ainda
assim, nada chegaria nem perto do quão preciosa você é pra mim. Eu só
quero dar-lhe o melhor, porque eu posso e porque você merece.
— Mas eu prefiro joias mais simples, menos ostentosas, sabe? Não
me sinto bem em carregar o preço de um apartamento no pescoço… não
parece certo. — ela começa a questionar e eu reviro os olhos, antes de abrir
um sorriso sarcástico.
— Você está pedindo o impossível, seu marido é rico e gosta de te
exibir, Laura.
— E convencido. — ela acrescenta resmungando.
Ela concordou! Pela primeira vez, Laura não desmentiu quando
afirmei que éramos casados, e ouvir isso me deixa tão feliz que mal consigo
me controlar. Gemo alto e agarro sua cintura, colando seu corpo no meu.
— Sim. Muito convencido, orgulhoso, implacável, e insanamente
louco por você.
— Louco por mim? — ela pergunta, em dúvida.
— Muito! Eu faço de tudo por você, ruivinha. Achei que já soubesse
disso. Não consigo parar de pensar em você, tanto que tem até me
atrapalhado no escritório. Minhas capacidades analíticas estão
desaparecendo, porque sua imagem pelada permanece em minha mente. —
confesso e a vejo corar.
— Isso é verdade? — a gatinha manhosa começa a se esfregar em
mim novamente, e eu circulo a sua cintura com os meus braços,
aprisionando-a em um abraço apertado.
— Eu juro que estou falando a verdade. — como ela dá a deixa, pego
a caixa de veludo da mão dela e a abro, mudando de assunto, antes que a
gente comece qualquer discussão boba e meu objetivo de me afundar em
seu corpo a noite inteira não sejam cumpridos — Vire de costas pra mim,
linda, eu quero ver esse colar em você.
Estamos em frente ao espelho de corpo inteiro, nos olhando pelo
reflexo, e quando coloco o colar ao redor de seu pescoço, beijo sua nuca, e
começo uma trilha de beijos pelos seus ombros, com os seus olhos focados
em mim, diante do espelho. Sua respiração acelera, e eu continuo ansioso
por mais.
— Sou o homem mais sortudo do mundo, porque a mulher mais
linda, doce e sensual que existe é minha.
A puxo de volta contra o meu peito, acariciando a sua barriga, com
seu bumbum pressionando deliciosamente a minha ereção. Começo a beijar,
a lamber e a chupar o pescoço dela. Os sons de seus gemidos são música
para os meus ouvidos. Laura inclina a cabeça para trás para se expor ainda
mais pra mim e eu gemo com puro desejo. Ela, então, levanta seus braços,
segurando minha cabeça com suas mãos, dando acesso aos seus seios
perfeitos para a minha exploração.
Com um impulso, giro Laura, fazendo com que ela fique de frente
para mim, e beijo sua boca com fome novamente. Nossas línguas se
entrelaçam e duelam. Essa paixão nunca vai terminar, simplesmente não
vejo como poderia me fartar dela. E, devagar, puxo o fecho na parte de trás
do seu vestido. Beijo novamente seu pescoço e lentamente removo seu
vestido até que ele caia aos seus pés.
— Ruivinha, você é tão perfeita, que faz com que eu seja o homem
mais sortudo, meu amor.
— Seu amor? — sua expressão é ilegível.
—Sim, meu amor. — respondo firme.
Não tenho escolha a não ser admitir a ela que sou completamente
apaixonado por cada traço do seu rosto e do seu corpo e, principalmente, da
sua essência. Tenho que dizer a ela o que sinto por ela, Laura merece saber.
— Eu te amo, linda. Pensei que já estivesse óbvio. — abro um sorriso
e lhe roubo outro beijo.
— Não… eu pensei que você só queria transar comigo. — ela fala,
em um tom de brincadeira, mas consigo ver dúvida em seu olhar.
— Sexo? Você acha que isto entre nós é apenas sexo? — pergunto
ofendido — Não! Nós fizemos amor, Laura. Porque te amo, e quero
transmitir isso em ações. — passo as mãos levemente sobre seus seios, com
meu polegar esfregando seus mamilos sobre o sutiã rendado.
— Alex…
— Sim? — pergunto, com um sorriso.
Desabotoo seu sutiã e toco seu mamilo rosado com minhas mãos,
antes de me abaixar e o beijar, lambendo e chupando suavemente.
— Eu te amo tanto, Laura, por favor, me diz que você também me
ama. Que também me deseja...
— Alex...
— Me diz Laura, me diz o que quero ouvir de você, por favor.
— Oh, Deus, Alex...
— Laura, o que você sente por mim? — pergunto mais uma vez,
tirando as mãos dela, com um olhar sério e ansioso.
— Eu… — ela vacila, engole em seco, mas responde decidida — eu
também te amo.
A confissão de Laura me pega de surpresa, por mais que eu estivesse
forçando uma resposta, não imaginei que ela diria isso, porque sabia que ela
seria honesta em sua resposta.
Se dissesse que não, eu entenderia.
Mas, puta que pariu, ela disse que sim.
Ela realmente me ama agora, como Alex e, nesse momento, não sei
explicar o tamanho da minha felicidade.
 

Estar com Alex é fácil. Descomplicado, e apesar de sentir sua falta,


agora que está viajando, as memórias das nossas noites juntos são o
combustível necessário para que eu siga em frente, tendo ainda mais certeza
de que fiz a escolha certa.
Apesar disso, ainda me sinto culpada por não contar a verdade para
a minha família e ser julgada por não ter conseguido resistir ao homem que
acabou com os negócios do meu pai. É claro, que ainda nos falamos com
frequência, e que, por mais superficial que sejam as minhas respostas, meu
pai está desconfiado do que alguma coisa mudou em mim. Mas, no fundo,
tudo o que eu quero é ficar em paz. Por isso, tento manter a maioria das
nossas conversas em um ponto neutro, geralmente baseadas em como estão
as coisas por lá e como mamãe está reagindo ao tratamento de ponta que
Zur me prometeu que está financiando.
Assim, quando meu pai fala sobre negócios comigo no telefone, fico
desconfortável e surpresa.             
— Seu tio Fabrício e eu colocamos novamente nosso negócio de
transporte de cargas em prática, filha. — consigo sentir a animação em sua
voz, e não deixo de ficar feliz pela sua conquista, quero vê-lo prosperar
novamente, e sair do alcoolismo e da depressão em que se encontra — Está
indo tudo bem até agora, nossos clientes anteriores estão voltando
lentamente para nós. É um alívio, na verdade, ver alguma coisa finalmente
dar certo. Estou confiante, filha.
— Isso é ótimo, papai! Fico muito feliz em te ver recuperando o
controle dos negócios novamente, e estou torcendo muito para que tudo dê
certo! — respondo animada, e sinto que ele está feliz do outro lado da linha
também.
— Sim. Tenho que tirar você das mãos do Zur o mais rápido possível,
meu anjo. É o meu projeto de vida.
Me sinto culpada em não lhe contar como estão realmente as coisas
aqui, e é por isso que tomo coragem para começar a briga épica que sei que
vai acontecer assim que eu defender o seu maior inimigo.
— Pai, não se preocupe comigo, eu estou bem aqui em Havdiam,
juro. — suspiro alto e continuo — Alex me trata muito bem. — é claro, que
ainda preciso ter cuidado ao falar de Alex com ele, mas não posso esconder
pra sempre a nossa relação. Sei que vai ser difícil, por eles se odiarem, mas
não posso ter que escolher entre os dois.
— O quê? Você está o defendendo agora? Ele arruinou a nossa
família, Laura! Nunca se esqueça disso! Esse homem faz tudo para
conseguir o que quer, e está brincando com você para me atingir, com
certeza. Ele é um impiedoso e cruel, não seja burra! — seu tom de voz nem
dá margem para conversa, mesmo assim, tento argumentar.
— Pai… — digo em tom de aviso e repreensão, mas ele me ignora.
— Eu não gosto do Zur, e você, pelo amor de Deus, não sonhe em se
envolver com esse homem, Laura. Está fazendo isso para me afrontar? Só
pode! — Ok, nem tudo gira em torno de você, pai.
— Pai… chega! — digo com uma voz estridente, tentando mostrar o
meu ponto.
— Laura! Me escuta filha! Estou fazendo o meu melhor para pagar o
desgraçado e, ter você aqui conosco o mais rápido possível, meu anjo. Seu
tio Fabrício está me ajudando a levantar o dinheiro, vai vender alguns
hectares na fazenda da Paraíba, e assim que conseguir, ele prometeu me
emprestar o dinheiro. Vou te tirar daí! — ele parece tão confiante que sinto
meu peito apertar.
— Eu sei que você está tentando se reerguer, e espero muito que
consiga sucesso nos seus negócios. Mas eu e Alex tivemos uma conversa, e
sei que existe um lado nele que é bom, e me trata muito bem. Está me
ajudando a melhorar diversas questões, então, por favor, vamos parar de
discutir. — sei que não vou conseguir mudar a sua cabeça quanto a Alex,
mas ao menos evitar a discussão eu posso tentar, mas isso é algo que ele
não está nem um pouco disposto a ceder, aparentemente.
— Pelo amor de Deus! — ele grita horrorizado, do outro lado da
minha. Se é porque eu estou defendendo Zur, ou se é porque eu o questionei
pela primeira vez na vida, eu não sei, mas quando ele continua a falar, sinto
uma fúria dentro de mim — Você está se apaixonando por esse diabo! Já vi
tudo! Não seja estúpida, Laura, você vai acabar se machucando novamente,
tenho certeza de que ele não é o homem certo para você! Você é uma
mulher muito bonita, vai ser fácil encontrar um homem decente, com boa
criação e que venha de uma família respeitável. Posso escolher
pessoalmente a pessoa, se você quiser. Aliás, você se lembra de como você
ficou destruída da última vez em que se apaixonou? Não sabe fazer as
escolhas corretas, por isso eu preciso te proteger. — ele dá a sua cartada
final, jogando álcool na minha ferida, mas pela primeira vez não abaixo a
cabeça.
Falar isso, dessa forma, foi pura maldade, e uma maldade que eu
não posso, nem preciso mais aceitar.
— Isso foi há muito tempo, e eu soube, sim, fazer a escolha correta!
Você quem atrapalhou toda a minha vida me proibindo de estar com Igor no
passado. Lembra que eu quase morri de depressão? Que há dez anos eu
tomava remédios por causa disso? Agora eu não preciso mais, porque Alex
me ajudou a me curar. Eu estou bem, sou uma mulher agora, e sei lidar com
meus sentimentos. Não preciso que você escolha alguém para mim, posso
fazer esse tipo de escolha sozinha, e sem precisar da sua aprovação, na
realidade.
— Você não é durona, Laura, sejamos sinceros. Sua delicadeza é
admirável, mas a torna fraca, filha. Você não tem muita experiência com
homens, especialmente, homens como Zur. Preciso te proteger.
— Não tenho mais seis anos, pai, tenho vinte e cinco. Eu sou uma
mulher adulta e posso decidir o que é certo para mim. Não cabe a você
decidir com quem eu devo ficar, ou o que eu devo fazer.
— Estou apenas te dando um alerta, Laura. Zur é um homem perigoso
e vai te machucar.
— Eu não quero mais discutir, então, vamos parar por aqui.
Papai fica em silêncio por alguns segundos, provavelmente, bravo
demais com a minha decisão, e, obviamente, muito desapontado comigo.
Mas, mantenho o meu ponto e espero pelo que ele vai fazer depois disso,
ansiosa para entender se eu sou mais importante, ou não, do que a sua rixa
com Alex.
Depois de mais de dois minutos, ele diz, com uma voz mais baixa,
transmitindo uma tensão que eu raramente presenciei. Já vi milhares de
facetas do seu Otávio, até quando perdeu tudo, ele foi prepotente, mas
agora, seu tom de voz soa apenas assustado, e isso me desarma.
— De qualquer forma, eu também liguei para lhe contar uma coisa…
— ele floreia — Não sei nem como dizer isso, porque provavelmente vai te
machucar, mas tenho más notícias. A Polícia Federal brasileira reabriu o
caso da morte de Igor Martins.
— O quê? Por quê? — pergunto incrédula — Isso foi há dez anos.
— Não sei dizer exatamente o que mudou em dez anos, mas surgiram
novas pistas e eu me tornei o suspeito número um do caso. Recebi a
intimação ontem para ir à delegacia, fui e eles me interrogaram. — ele diz,
com uma voz cansada — Perguntaram onde eu estava no momento do
crime e todo o mesmo questionário de anos atrás. Disse a verdade, que eu
estava em um evento de caridade e que tenho até fotos para provar que eu
estava lá, apesar de ter passado tanto tempo. Mas, não sei… parece alguém
armando para cima de mim.
— Por que eles estão fazendo isso? Agora eles te colocaram como
suspeito de ter queimado a casa deles e matado os Martins? Isso não faz o
menor sentido!
— Pois é. Acho que eu era um dos suspeitos, já que vocês eram
namorados e eu fui contra o relacionamento. No passado, isso foi resolvido
facilmente, mas agora… não sei.
— Mas pai, quem o acusou? Que coisa mais horrível… — reviver
isso me dói na alma, mas, agora tendo meu pai como suspeito, a coisa passa
a ser praticamente insuportável. Será que foi ele?
— Eu não sei, Laura. Alguém está determinado a me incriminar.
— Eu não sei nem o que dizer… — digo com a voz embargada,
segurando o choro preso na garganta.
— Não se preocupe, meu anjo. Eu sou inocente, tenho provas e
testemunhas de que não sou culpado. — ele diz com firmeza, me dando
uma garantia de que não fez isso pessoalmente. Mas, quem me garante que
não foi ele quem mandou matar? Agora não sei de mais nada.
— Que a verdade apareça, então. — é a única coisa que eu falo,
porque não sei mais o que dizer.
 

No momento em que embarco no avião, meu avô me cumprimenta


com um sorriso cúmplice. O velho safado, provavelmente, está feliz por
mim, mas não deixa de ser inconveniente sempre que possível. Ele adora
me provocar.
— Olhe para você, com esses olhos cansados de quem não pregou o
olho a noite inteira. É óbvio o que ficou fazendo ontem! — ele solta uma
risada sonora, enquanto reviro os olhos, com um sorriso nos lábios —
Fiquei com pena da Laura.
Resolvo ignorá-lo, porque nesses casos é o melhor a fazer, mas ele
continua, como se não tivesse mais nada para fazer, além de me provocar.
— Você deveria pedir ela em casamento de verdade… com festa, um
contrato válido, e votos de amor eterno. Estou ficando velho e quero ver
meu bisneto ou minha bisneta antes de morrer. — ele não cansa de falar
isso, desde quando contei que estávamos nos entendendo, mas, como
sempre, eu respondo a única coisa possível:
— Que exagero, vovô! Você é mais forte do que um cavalo e com
certeza vai chegar aos cem anos, dançando nas festas gregas, como sempre.
— ele ri alto.
— Espero filho, eu espero muito mesmo que isso aconteça, porque eu
adoro uma boa festa. Mas me dê a felicidade de ver você se casando com a
menina que sempre amou, antes que ela mude de ideia. Bonita, doce e
sensível como ela, deve ter muito urubu em cima. — o reprovo com o olhar,
não gostando de sua ideia. Laura não vai encontrar outro homem, nem aqui,
nem na China.
— Vovô, ela me ama, isso não vai acontecer. Além do mais…
estamos em um processo de conhecimento.
— Como pode ter certeza sobre esses sentimentos? — ele pergunta,
com uma sobrancelha levantada.
— Ela me disse, que nunca deixou de me amar. Eu sou seu primeiro e
único namorado, e certamente, pretendo ser seu último. — digo orgulhoso,
e ele nega com a cabeça, reprovando minha arrogância.
— Você contou para ela, então? Achei que ela achasse que vocês são
duas pessoas diferentes ainda. — ele questiona, e desvio o olhar
envergonhado.
— Ainda não, mas estou decidido a contar quando voltar da Grécia.
Estamos perto de uma resolução, vô. Vai dar tudo certo, Otávio vai pagar, e
assim que ele for preso eu poderei contar tudo para ela.
— Só espero que ela não mude de ideia quando souber da verdade. —
seu tom de voz é agourento, e eu confirmo com a cabeça, derrotado.
— Eu também. — digo, encostando a cabeça na poltrona, e fechando
os olhos assim que o avião levanta voo.
Eu estou cansado, e finjo dormir para não precisar conversar com
vovô, que pode ser muito legal e incrível na maioria dos momentos, mas
também um pé no saco em outros, como agora.
Não consegui dormir bem ontem à noite, obviamente. A ruivinha
sugou tudo de mim, e mesmo sendo apenas um dia longe, eu já estava
morto de saudade das suas carícias e amassos. Depois de tudo o que
fizemos, e se antes eu já a desejava, hoje, tenho certeza de que não consigo
me fartar dela. Ela é realmente perfeita para mim! O negócio já foi além de
uma simples obsessão.
Há anos eu ansiei seu toque, seu cheiro e seu gosto e, agora que
tenho tudo isso ao meu dispor, sei que tudo o que fiz valeu a pena. Laura
despertou todos os meus sentidos, e eu simplesmente não consigo mais tirar
os meus olhos dela por nenhum segundo sequer. A ruivinha é sedutora de
todas as formas, e até sua voz suave e sonolenta me arrastou para o limite
da excitação em poucos segundos, depois que acordamos. Se antes eu já era
louco por ela, hoje eu nem sei mais dizer o que sinto.
Fizemos amor várias vezes durante a noite, em todos os lugares,
demarcando e profanando a nossa casa pela primeira vez, desde quando
voltamos da viagem que tudo mudou. Em sua cama, no tapete, na frente de
sua cômoda, em sua banheira, na cozinha ao amanhecer, depois fomos para
minha cama e fizemos amor repetidas vezes. E, no meio tempo,
conversamos sobre tudo, experiências de infância e momentos hilários no
colegial e na faculdade.
Lembrando de cada segundo perfeito ao lado da mulher mais
incrível que eu já conheci em toda a minha vida, adormeço, e sonho com
ela.
Quando desembarcamos, um SUV já está a postos para nos levar
para a casa do Arnaldo Zur, no centro da Grécia. Luiz Carlos, meu chefe de
segurança, começa a falar assim que entramos no carro, em uma voz séria e
até temerosa, o que me assusta, porque, geralmente, ele é extremamente
profissional.
— Senhor, eu queria ter lhe dito isso antes, mas você parecia bem
cansado. A Polícia Federal brasileira já reabriu o caso da sua morte, e
agora, todas as investigações estão contra o Sr. Otávio Morais. Ele foi
interrogado ontem, e descobriram que ele não estava realmente no local do
crime, como foi falado no primeiro depoimento. Naquela noite ele havia
sido convidado como orador em um evento de arrecadação de fundos de
caridade, e o Sr. Morais estava fazendo seu discurso no momento em que o
crime aconteceu. As provas que seu advogado apresentou provaram ser
confiáveis, e as testemunhas puderam realmente atestar que ele participou
do evento, mesmo depois de tantos anos.
— Isso é impossível! Tem que ter sido ele, não existe outra pessoa
que faria algo do tipo contra mim. Eu não tinha nenhum inimigo! — fico
transtornado com a ideia de ele se provar inocente para a polícia novamente
— Apesar de que ele é um homem bem esperto, provavelmente, contratou
alguém para me matar.
— Possivelmente, senhor. Eles ainda estão reunindo provas para
fortalecer o caso contra ele. Neste momento, um a um, eles estão
perguntando a seus vizinhos anteriores sobre o que eles lembraram sobre o
incidente e se alguém notou a pessoa que queimou sua casa. Agora é mais
difícil, porque se passaram mais de dez anos, e antes, tinha sido dado como
um acidente elétrico, então, as pessoas estão confusas com o caso. Mas foi
o melhor a fazer para te proteger, não sabíamos a extensão da ira contra
você, nem o poder da pessoa que mandou fazer isso. — ele fala
pacientemente, me mostrando o que eu já sei, mas às vezes esqueço, cego
pelo ódio.
Franzo o cenho e respiro fundo, tentando encaixar tudo em minha
mente. Alguma coisa não está batendo nessa história, e eu preciso descobrir.
Agora tenho dinheiro, poder e Otávio não tem mais o respaldo desses
mesmos atributos para se ocultar e se defender. Se ele estiver escondendo
alguma coisa, não tem mais como pagar alguém para ocultar as provas,
coisa que, provavelmente, deve ter feito quando eu fui dado como morto.
Na época, meu avô não quis investigar a fundo e achou que se eu e
minha mãe fossemos dados como mortos, tudo se resolveria facilmente.
Claro que ele não imaginou o ódio que ia crescer em meu coração, muito
menos o desejo de vingança e a obsessão pela ruivinha. É por ela que eu
estou fazendo tudo isso. Assim que conseguir as provas para incriminar seu
pai, vou poder mostrar a minha verdadeira identidade e ela vai confiar no
que eu disser, porque estarei expondo toda a verdade.
— Certo. Peça para que nos mantenham informados. Eu quero
atualizações frequentes de qualquer coisa que possa acontecer no caso. —
digo, encerrando o assunto.
— Tudo bem, senhor.
Pego o telefone para ligar para Laura assim que chegamos em casa, já
morrendo de saudades dela. Sendo sincero comigo mesmo, eu nunca deixei
de amá-la, e sempre sonhei em tê-la comigo para sempre. Mas, agora que a
tenho e tive o vislumbre do que pode ser a nossa vida, eu não vou deixar
ninguém nem nada atrapalhar nosso amor.
É, por isso, que eu preciso resolver este caso contra o pai dela. Não
tenho outros suspeitos, ele é a única pessoa que eu penso ter tido motivos
para tentar matar a mim e a minha mãe.
Me lembro como se fosse ontem, o quão bravo o filho da puta estava
quando foi me confrontar em minha própria casa, ordenando que eu
terminasse com a sua filhinha.
Na época, ele tinha certeza de que eu estava atrás da fortuna da
família, e vi como alvo fácil a sua menina inocente. Como pagamento para
que eu a largasse, ele me deu uma BMW vermelha conversível. Hoje, me
forço a rir da falta de bom gosto até para carros, mas na época, eu fiquei
completamente ofendido e chocado com a sua audácia. Otávio sempre foi
um homem muito arrogante, e ter um não sonoro de um pirralho menor de
idade, com certeza, feriu o seu ego. Nunca estive interessado em dinheiro,
e, mesmo se estivesse, não seria tão facilmente comprado.
Poucas horas depois, tive homens me perseguindo no caminho da
escola, quase me atropelando, dia após dia naquela semana infernal.
É claro que o sr. Morais os mandou me matar, não teria outra pessoa
que poderia fazer isso. E é por isso que eu queria reunir todas as provas,
para, assim, poder contar a Laura sobre isso. Ela vai ficar ferida, mas
precisa saber da verdade, precisa saber o quanto seu pai é cruel.
 
 

A semana foi horrível sem Alex.


Fiquei em casa lendo romances da Luana, malhando, nadando,
assistindo séries de TV, jogando tênis, e assim por diante. Todos os dias,
desesperada para ter alguma coisa para fazer e ocupar o meu tempo. Minha
psicóloga até me aconselhou a voltar a trabalhar porque já notou uma
melhora absurda no meu quadro, graças a Deus! Esse é um dos pontos que
quero conversar com ele, assim que voltar para casa.
Nesse meio tempo, senti muito a sua falta, preciso confessar.
Apesar de termos conversado por chamada de vídeo todos os dias,
pela manhã, durante o almoço e à noite, após o jantar, a saudade nunca foi
algo tão intenso como está sendo agora, sem ele nesse mausoléu. As nossas
conversas noturnas foram o ponto alto do meu dia, com certeza. Nelas, Alex
sempre ficava mais safado, me provocando o tempo todo, o que é um jeito
muito diferente e interessante de dizer que também sente a minha falta. No
fim, posso até considerar essa distância boa, afinal de contas, conversamos
sobre muitas coisas diferentes, exploramos nossos gostos e aversões,
descobrimos a nós mesmos e conhecemos melhor um ao outro. Cada coisa
nova que ele fala sobre a Grécia ou sobre alguma coisa que ele gosta
bastante, faz com que eu me sinta tentada a aceitar a oferta do avião
disponível e me juntar a ele para ver tudo com os meus próprios olhos.
Talvez, realmente as coisas estejam melhores para mim, agora que
não fico mais tão dopada de remédios, me vejo fazendo várias coisas que
antes não tinha a menor coragem, como falar putaria ao telefone. Quem
sabe o avião e a claustrofobia não sejam o próximo passo?
— Estou com saudade, Laura. — ele diz manhoso do outro lado da
linha, e eu abro um sorriso, rolando na cama, como uma adolescente.
— Quando você vai voltar para casa? — pergunto ansiosa.
— Eu não sei, linda…, mas vamos estar novamente juntos em um
piscar de olhos, eu te prometo. Estou fazendo o meu melhor para resolver
toda essa situação.
— Mal posso esperar. Já sinto tanto a sua falta! — digo, tentando
conter a minha frustração, e ele ri.
— Eu também estou com saudades, você não imagina o quanto. Eu
quero fazer tanta coisa quando chegar…
 
Quando chega a tarde de sexta-feira, ele não apareceu ainda e nem me
confirmou a sua viagem, por isso, já estou convencida de que só vou vê-lo
no outro dia de manhã. Alex não respondeu mais as minhas mensagens,
pelo visto, onde está nem tem conexão com a internet, porque as mensagens
sequer chegaram em seu aparelho, o que é estranho, já que o homem tem
dinheiro para ter o melhor plano, com a melhor cobertura. É estranho
também imaginar quanta saudade eu estou sentindo dele, basicamente,
como se uma parte de mim não estivesse mais completa. Ao que parece,
Zur me marcou tão profundamente que levou uma parte de mim consigo.
Duda me ligou mais cedo, combinando o nosso encontro e foi como
um sopro de liberdade, em mais uma semana presa dentro dos muros altos
da mansão, saindo apenas para as aulas, e passeios esporádicos, que não
tem graça nenhuma sem Alex ao meu lado.
Às quatro horas da tarde, estou esperando Duda dentro do café, na
praça principal da cidade, olhando a paisagem e as fontes que são
carregadas das águias, mascote oficial do país.
— Laura, amiga! Cheguei! — ela diz alto, em português, vindo em
minha direção — Estava ansiosa pelo nosso reencontro, que bom que você
topou!
— Eu também estava ansiosa! Muito bom termos mais tempo para
conversar, agora que estamos morando novamente no mesmo país. —
brinco, e ela ri feliz.
— Já faz tanto tempo, né? Seis anos… por aí?
— Sim, seis longos anos, mas você não mudou nada, Duda. Uma
peça! — brinco e ela pisca para mim.
— Você também, Laurinha, está ainda mais bonita. — ela sorri.
Pedimos nossos cafés e começamos a conversar sobre a vida. Sobre
as outras garotas, Sarah e Fernanda, nossos colegas de classe, no ensino
médio, nossas famílias, como foi a faculdade etc. Ela me conta sobre seu
casamento e o motivo por ter se mudado para Vongher, como tudo aqui é
muito mais organizado e pacífico do que no Brasil. A conversa flui leve, e
realmente me divirto muito com a sua companhia. Não é mais tão
melancólica quanto era no passado, que eu só conseguia enxergar Igor ao
olhar para ela.
Quando Duda começa a contar sobre a sua filha, e como ela está
esperta, aprendendo tudo rápido, meu telefone toca e a foto de Alex aparece
na tela. Meu coração dá um salto mortal e eu atendo sua ligação com um
sorriso no rosto, sob o olhar atento da minha amiga curiosa.
— Oi, amor, como você está? — ele diz, do outro lado.
— Eu estou ótima, mas com saudade. — respondo, por cima do
barulho.
— Onde você está agora? — ele questiona, e eu acho estranho não me
responder com animação como em todas as outras vezes em que
conversamos.
— Agora estou em um café com minha amiga de colegial, Duda. Eu
comentei sobre ela, você se lembra? Encontrei na aula de ioga…
— Sim, sim... que ótimo! Estou feliz por você ter saído com ela. É
bom termos amigos!
— Obrigada. Quando você vai voltar? — o questiono, e escuto uma
voz feminina ao fundo, sem conseguir distinguir o que a mesma está
dizendo.
— A gente se vê amanhã de manhã. Prometo. — sua resposta é curta
e grossa, mas não me deixo abalar, feliz por finalmente a espera acabar.
— Sério? — fico animada instantaneamente.
— Eu prometo, e espero que você me espere pelada usando apenas
saltos altos, Laura. — ele diz com provocação, e eu solto uma risada alta.
— Estou sempre pronta para você! — respondo, em uma outra
provocação, vendo minha amiga levantar uma sobrancelha surpresa.
— Fico feliz meu amor, não esquece que eu te amo! — ele diz, e eu
escuto uma mulher falando: "Ei! Estou esperando!” ao fundo.
— Eu também. — respondo simplesmente, um pouco desconfiada.
Nós desligamos a chamada e fico sob o olhar atento de Duda, que
provavelmente tem milhares de perguntas sobre essa conversa que acabou
de presenciar. Tento disfarçar a minha inquietação, mas sei que existe
alguma coisa além do que está diante dos meus olhos.
Existe algo errado, essa mulher o chamando carinhosamente não é
bom sinal, tenho certeza disso.
Será que ele tem uma amante na Grécia?
Mas, se fosse esse o caso, ele não me ligaria estando próximo a ela,
não é?
Se eu descobrir outra mulher, sou capaz de cortar seu pinto na
tesoura durante a noite! Não é possível que eu me entreguei completamente
para um vagabundo… cachorro…  sem vergonha…
— Laura… está tudo bem? — Duda pergunta e eu saio do meu
devaneio para lhe dar atenção. Preciso resolver isso, mas vai ser em outro
momento.
Volto a conversar com Duda, e já passa das seis e meia quando nos
despedimos. Prometemos manter contato, explorar Vongher juntas, e fico
feliz por ter uma amiga nesse país tão distante da minha casa e de todas as
pessoas que eu conheço. Duda realmente é uma pessoa engraçada e feliz.
Assim que eu entro no carro, a dúvida me envolve com tudo.
A voz de Rachel, aquela secretária safada me invade com tudo: "ele
mantém outra mulher, em outra mansão, nos arredores de Havdiam e se
encontra com ela todas as sextas feiras". Olho novamente para o celular na
dúvida se ligo novamente para ele ou não, mas quando vejo a data e
percebo que hoje é sexta, jogo o maior verde de toda a minha vida para o
motorista, torcendo muito para estar errada com toda essa suposição maluca
de que ele tem outra mulher.
Faz sentido ele já estar na cidade, o celular sem sinal mais cedo é
um indício de que ele poderia estar voando de volta. Paranoica, sem saber o
que é invenção da minha cabeça ou não, arrisco, sabendo que posso estar
muito certa, ou muito errada, e nesse momento, são sei dizer o que eu
realmente prefiro.
— Josh. — digo firmemente ao motorista.
— Sim, sra. Zur? — ele pergunta surpreso, porque raramente temos
assunto, nas poucas vezes em que ele me leva a algum lugar.
— Alex já chegou da Grécia e está me esperando para me apresentar
à sua outra mansão nos arredores da cidade. Quero me leve para lá agora,
por favor.
— Claro, Srta. Morais, como quiser.
 

Josh passou a dirigir para o subúrbio de Havdiam sem fazer maiores


questionamentos, o que só me leva a crer que, se ele não está lá com ela, ela
de fato existe. Por mais que eu fique torcendo mentalmente para que não
tenha ninguém nessa casa e que seja apenas um boato infundado, meu sexto
sentido está apitando cada vez mais alto. Tem alguma coisa errada
acontecendo, eu só não sei exatamente o que ainda.
O que ele está me escondendo?
Preciso tirar essa história a limpo, e saber se ele realmente tem uma
amante, e só estava me enganando para me levar para a cama. Se for essa a
verdade, não sei como conseguirei continuar aqui, enquanto meu pai não
paga a tal dívida para me tirar desse cativeiro. Nunca pensei dessa forma
antes, porque Alex sempre me deixou muito à vontade em sua casa e em
sua vida, mas agora, é inevitável não lembrar de todas as palavras do meu
pai. Eu confiei nele! Acreditei quando ele disse que me amava, e agora, eu
só consigo pensar no quão otária eu sou em ter feito isso se toda essa
suposição for verdade.
Durante essa uma hora de carro até a mansão do Alex em Chester, eu
remoí cada uma das minhas maiores inseguranças e questionei o quanto
valeria à pena confrontá-lo dessa forma. Mas, não posso mais deixar isso
pra lá, como fiz da última vez em que suspeitei de alguma coisa, agora, eu
já estou praticamente curada da depressão e livre dos remédios, não posso
ficar paranoica e me deixar levar pelas loucuras da minha cabeça. Chegou a
hora de colocar tudo em pratos limpos.
Josh me informou no caminho que a propriedade era do pai de Alex,
e agora ele a mantinha pelas memórias e saudades, o que me deixou ainda
mais enciumada. Se ele tem essa casa cheia de memórias, por que levar
uma amante qualquer para morar ali? A resposta grita em minha cabeça:
Ela não é uma mulher qualquer, é alguém especial.
Quando cruzamos os portões, fico surpresa com a grandiosidade do
lugar. A mansão se parece com um castelo, e provavelmente, a monarquia
do país ficaria impressionada com a propriedade feita de grandes pedras
cinzas e tijolos envelhecidos. Uma casa enorme e maravilhosa.
O portão se abre automaticamente quando nos aproximamos, e a cada
segundo meu coração dispara ainda mais. Vejo pela janela uma fonte
redonda, que foi colocada na frente da mansão e duas águias vigilantes,
feitas de mármore, guardaram a porta de entrada. O símbolo do país indica
que essa é uma mansão antiga e, provavelmente, muito valiosa, porque tudo
ainda é contemplado por um jardim enorme cheio de flores e cores. Não se
parece com um local feito para esconder uma amante, e, sim, para abrigar
uma rainha.
Quando o carro estaciona na porta de entrada, eu respiro fundo
tentando aplacar o nervoso.
O que você está fazendo aqui, Laura? Em um momento covarde,
cogito dizer ao Josh que mudei de ideia, mas já é tarde demais, não posso
amarelar dessa forma e continuar com a pulga atrás da orelha para sempre.
Eu preciso saber!
A porta dupla de madeira da entrada se abre, assim que o motorista
desce para abrir a minha porta. Um senhor, vestindo um uniforme cinza me
cumprimenta, logo que eu desço do carro, e fico congelada no lugar, sem
saber o que fazer.
— Boa noite, Srta. Morais. Bem-vinda à mansão dos Zur.
— Boa noite. — falo sucinta, com medo de gaguejar, surpresa por ele
saber o meu nome, como se a minha visita já fosse esperada.
— Por favor, venha para dentro, a senhora está esperando por você.
— ele sorri, me indicando a entrada.
— Senhora? — questiono curiosa — Ela sabia que eu estava vindo…
— digo baixo, tentando colocar a cabeça no lugar.
— É claro. — Ah, caramba! A amante de Alex sabe sobre mim. E,
pior, ela existe mesmo. Que merda.
Será que eu estou disposta a brigar com alguém por causa dele?
Essa é uma pergunta que nem eu sei responder.             
Entro na mansão aprumando minha postura, tentando parecer mais
alta do que eu realmente sou. Observo de soslaio a elegância e a
sofisticação dos móveis e ornamentos luxuosos e fico ligeiramente
impressionada. Tudo remete aos tempos medievais, com objetos que se
parecem raros e inestimáveis. A casa onde eu moro com Alex, no centro de
Havdiam, é exatamente o oposto desta.
Me assusto com a porta se fechando, e fico um pouco claustrofóbica,
como se eu estivesse sendo presa lá dentro. Tento controlar a respiração, e
não ter uma crise de ansiedade, mas qualquer movimento parece ser muito
difícil. Isso não está normal, muito menos me fazendo bem.
“Por favor, siga-me, senhorita Morais”, diz o mordomo
agradavelmente e sorri. Ele, provavelmente, sentiu meu nervosismo. Aqui
não sou tratada por senhora Zur, como todos os outros funcionários de Alex
me tratam, e isso me incomoda mais do que eu gostaria de admitir. O anel
no meu dedo pesa uma tonelada, e respiro fundo, antes de continuar.
Sigo o mordomo, enquanto andamos pela elegante sala de estar e pelo
corredor. Passamos pelas longas escadas de mármore, paredes com pinturas
impagáveis, muitas portas de madeira, estantes, antiguidades e muitos itens
de colecionador. A casa fala de enorme riqueza e poder, e sinceramente, me
sinto um ratinho acuado, oprimida por tanta ostentação. Quando finalmente,
ultrapassamos uma porta, outra sala de estar, porém, maior.
— A senhora estará com você em um minuto, Srta. Morais. Por favor,
fique à vontade.
— Obrigada. — digo ao mordomo, antes de ele sair da sala.
Um arrepio passa pela minha coluna e imediatamente me acovardo.
Não deveria ter vindo aqui confrontá-la, confrontá-lo… nem sei o que vim
fazer aqui, na realidade. O lugar começa a me sufocar, fazendo com que eu
me sinta muito pequena e assustada, e me lembro com amargor que fazia
meses que não tinha tido nenhuma crise desse tipo.
O silêncio é ensurdecedor.
Vou mais além dentro da sala, explorando o local para passar o
tempo, enquanto espero pela “Senhora”.
Por que o mordomo me chamou de senhorita, e a chamou de
senhora?
Será que ela é mais velha, ou é casada?
Será que ela é a primeira esposa do Alex? Se ele já for casado, eu
tenho absoluta certeza de que sou capaz de matá-lo.             
Sigo até a lareira, olhando as fotos emolduradas para passar o
tempo. Começo pela foto mais próxima. É uma foto de um bebê muito fofo
sorrindo para a câmera. Este bebê não poderia ser Alex, poderia? Eu não
posso deixar de sorrir. Claro, este era ele, são os mesmos olhos azuis. Toco
a foto me perguntando: se um dia tivermos um menino, como ele será?
A foto seguinte é de Alex andando de bicicleta na frente de uma
pequena casa, como uma cabana, mas estava embaçada, obviamente tirada
de longe. Ele, provavelmente, deveria ter quatro anos de idade.
A terceira foto era Alex em um uniforme de camisa de basquete. Ele
estava jogando com um grupo de crianças, provavelmente na escola
primária, segurando a bola, prestes a fazer um lançamento.
A quarta foto era Alex em um uniforme escolar. Ele estava bem maior
agora, e parecia muito bonito, cerca de doze anos de idade. Estreito os meus
olhos, olhando novamente e congelo no lugar. Sinto o suor frio escorrer
pela minha nuca. Meus olhos se alargam, e meu coração começa a bater tão
rápido que eu acho que vai sair pela boca. Não pode ser.
Por que Alex se parece com o Igor aqui? Idênticos!
Me afasto alguns passos da foto, e viro a cabeça para o lado, olhando
para a enorme sala de estar.
Não pode ser! Isso, com certeza, é coisa da minha cabeça. Uma
alucinação. Uma brincadeira cerebral nesse momento tão tenso que estou
vivendo. Meu corpo está me pregando peças, é isso! A psiquiatra disse que
isso era algo normal depois que retirássemos os remédios por completo,
mas isso aconteceu dois meses atrás.
Inalo profundamente e fecho meus olhos por alguns segundos,
absorvendo tudo o que estou vendo e sentindo. É uma alucinação, não pode
ser real. Isso é uma peça da minha cabeça. Igor está morto. Reafirmo tudo o
que eu sei e sou convicta, para que não caia em uma espiral de paranoia e
loucura mental. Quando abro meus olhos novamente e volto para a imagem,
olhando-a de novo, mais intensamente.
Esse não é Alex, esse é Igor, com certeza.
Corro em direção ao quadro seguinte. Eu não erraria algo assim, era o
Igor sentado na grama do Ibirapuera. Eu conheço essa foto, porque fui eu
quem tirei, em sua câmera antiga. Foto essa que nunca vi, e desejei por
tantos anos ter para relembrar a imagem do menino que começou a falhar
em minha memória. O tempo me deixou confusa, não sabia se estava
ficando louca ou realmente esquecendo os detalhes do meu primeiro
namorado…, mas agora, eu tenho absoluta certeza, esse aqui na foto é o
Igor!
Minha mão toca a imagem, e algumas lágrimas começam a escorrer
pelo meu rosto.
O que está acontecendo?
Por que a foto de Igor está pendurada aqui?
Eu não posso estar ficando doida, tenho absoluta certeza de que é
ele.
Ainda chocada e um pouco trêmula, passo para a próxima foto e
espalmo a mão em meu peito. Nela, estamos Igor e eu sentados em um
banco do shopping, com um grande sorriso no rosto. Uma das pouquíssimas
fotos que tiramos juntos, e que eu nunca mais tive acesso. Com o ataque de
fúria do papai, ele me fez apagar todos os registros, antes de Igor falecer.
Ai meu Deus... O que está acontecendo?
Será que estou sonhando? Isso não pode ser verdade.
Vou para a próxima foto… E é Alex se formando na faculdade, a
próxima Alex recebendo um prêmio… todas as outras são Alex nas fotos.
Isso é algum tipo de piada de péssimo gosto?
O que está acontecendo aqui?
Volto ao quadro onde estou com Igor, e definitivamente, somos nós
dois. Igor e eu. Igor… Alex… Igor… O que está acontecendo, Igor e Alex
são gêmeos? Ou irmãos? Ou a mesma pessoa?
— Laura.
A voz de uma mulher diz meu nome e eu me viro assustada. Estou tão
confusa que não notei ninguém entrando na sala. E, quando meus olhos
focam, fico zonza com o que vejo.
Com certeza estou alucinando, vendo pessoas mortas agora.
— Senhora Martins? — pergunto em um fio de voz, com os olhos
arregalados ao ver a mãe de Igor em pé na minha frente. Dou um passo para
trás assustada, com a mão espalmada no peito. Vi a mulher apenas duas
vezes em toda a minha vida, e ela, na época, era muito diferente da pessoa
que eu estou vendo hoje.
Seus braços e parte do rosto queimados me deixa completamente
chocada, e por alguns momentos, pisco algumas vezes para tentar assimilar
tudo o que eu estou vendo. Ela sorri gentilmente para mim e diz:
— Sim, querida, é um prazer te ver de novo. Já faz muito tempo,
Laura.
— Eu pensei... nós pensamos... você estava morta! — tento controlar
os pensamentos, falando desconexa e assustada.
— Estamos vivos, Laura, eu e Igor. — ela sorri novamente, e eu
reparo nas suas marcas de queimadura por todo o pescoço e mãos. O
incêndio foi realmente horrível, mas ela está viva bem na minha frente.
— Igor? — sussurro baixinho — O que você quer dizer?  — franzo o
cenho, ainda não acreditando no que estou vendo. O Igor está vivo? Eu
estou definitivamente ficando louca. Delirando. Minhas mãos estão
tremendo, e eu tento esfregar minha testa várias vezes com minha mão
direita, tentando aplacar a dor de cabeça e entender a lógica na situação.
Como pode ser possível?
— Se ele está vivo, onde está agora? — pergunto ainda confusa.
A senhora Martins não me responde, ao invés disso, ela aponta para
alguém atrás de mim e pulo de susto ao ouvir a sua voz. Ele está de costas,
mas fico assustada, de um jeito que eu nunca pensei que ficaria quando se
tratasse dele.
— Estou aqui, Laura. — eu me viro lentamente e vejo Igor pela
primeira vez, depois de dez anos. Ele está vestindo seu traje habitual, jeans
azul desbotado e camisa branca.
— Igor. — digo baixo, ainda sem entender tudo o que está
acontecendo.
Esse é Igor? Dou alguns passos em sua direção, e ele se vira pra mim,
me deixando perplexa. Paro em sua frente, em choque, me esforçando
muito para entender o que aconteceu. Ele sorri envergonhado, e eu fixo
meus olhos nos seus, tentando entender como isso pode estar acontecendo.
Esse é Alex.
Quando a realidade cai sobre mim, não consigo me conter, e dou o
tapa mais forte que consigo em seu rosto, saindo às pressas da mansão dos
Zur.
 
 

Foi uma sorte o motorista, Josh, me enviar uma mensagem avisando


que Laura estava vindo para a mansão Chester. Mesmo surpreso e
preocupado porque menti para ela dizendo que ainda estava na Grécia,
fiquei feliz em saber que iria reencontrá-la.
Quão louco eu sou por pensar assim?
Como ela sabia que eu já estava em Havdiam?
Fui conversar com a minha mãe, e avisá-la de que Laura estava
chegando, já suando frio de ansiedade e preocupação. Dona Helena,
acreditando na benevolência e no perdão que o coração de Laura pode me
oferecer, achou que era a hora de contar a ela toda a verdade. Ela, então,
sugeriu levar Laura para a sala de estar, lhe dar um tempo para ver os
quadros e fazer a ligação por si só. Seria fácil ver que eu e Igor somos a
mesma pessoa com toda a linha cronológica das fotos que conseguimos
salvar no incêndio. Assim que ela assimilasse isso, mamãe apareceria para
tirar qualquer vestígio de dúvida. E, por último, eu entraria e Laura ficaria
tão feliz por eu estar vivo, que correria para meus braços e me abraçaria
com força.
Pelo menos, na melhor das hipóteses, é claro.
Então, fizemos tudo conforme o plano, ansioso para estar com ela
novamente em meus braços, livre de todas as mentiras e confusões que eu
mesmo nos meti. Fico hipnotizado pela sua beleza, e tão ansioso para
abraçá-la, que não noto seu olhar magoado. Estava com tanta saudade que
não consegui ler a sua postura corporal, já que uma semana me pareceu
uma década sem ela. Eu fiquei entusiasmado naquele momento, por não
termos mais segredos entre nós dois, que poderíamos viver nossa vida
juntos, sem mais segredos.
— Ai!
Fico confuso, e atordoado, no lugar de sentir dor quando Laura me dá
um tapa. Ok! Isso foi inesperado, apesar de nunca ter pensado realmente em
qual seria o pior dos cenários. Não poderia imaginar que ela era capaz de
recorrer à violência, sendo uma gatinha sempre tão doce e gentil, que nunca
se atrevia a machucar uma mosca.
O que aconteceu com ela?
Fico paralisado, segurando minha bochecha dormente. Ela deveria
estar feliz por eu estar vivo, e assim poderíamos viver juntos, felizes para
sempre!
Olho para a minha mãe, pedindo alguma instrução do que fazer, e ela
parece impaciente quando grita:
— Igor! Que merda você está esperando? Vai atrás dela, agora!
Franzo o cenho, pensando no que fazer. Eu não merecia levar tapas,
merecia ganhar beijos. Sou os dois homens que ela amou, em um só. Tudo
bem que eu menti para ela, mas também sofri a minha parcela. Muito
provavelmente, cem vezes mais do que ela, porra! Quase perdi minha vida.
Minha mãe precisa viver confinada nesta casa porque ficou deformada
depois do incêndio. Laura, você precisa me ouvir, precisa entender as
minhas motivações, não fugir sem ouvir minhas explicações. Com certeza,
é isso.
Por favor, Deus, não posso perdê-la.
Levo meu tempo caminhando em direção à porta de entrada. Tenho
plena consciência de que Laura não consegue sair daqui sozinha, as portas
são complicadas demais para quem não tem costume de abri-las. Além de,
provavelmente, estarem trancadas.
Laura se vira e me encara quando me ouve chegar:
— Abra esta porta! Pelo amor de Deus, eu não posso… Eu realmente
não… não posso ficar aqui.
— É bom ver você também! — fico a poucos metros dela, tentando
conter meu temperamento e me aproximar.
— Você está tentando me irritar? Eu disse: abra a porta agora! —
Laura diz devagar, sua respiração pesada enquanto age como se estivesse
explicando a uma criança o que fazer.
— Laura, por favor, nós precisamos conversar. — digo, com uma
firmeza que não sinto. — Vamos conversar como adultos.
— Adultos? Você só pode estar de brincadeira! Seu mentiroso,
arrogante, traiçoeiro! Como você se atreve? — ela respira fundo, ficando
muito vermelha, em pura fúria — E você quer falar agora? Me poupe, você
está dez anos atrasado! — ela grita e agita a maçaneta da porta novamente
— Quero sair desse lugar e me afastar de você, sr. Zur! Ou seja, lá quem
você for! — Laura diz, destilando sarcasmo — Estou ficando louca!
— Não me chame de senhor, eu ainda sou seu marido. — lembro-a
desse detalhe, com o meu temperamento subitamente fora de controle. Eu
não sou um estranho para ela.
— Pirou? É lógico que você não é mais meu marido! Você é um
mentiroso! Pior do que um verme! — As lágrimas começam a vir com tudo,
e ela tenta se controlar em vão — Como você pôde fazer isso comigo? Eu
não achei que poderia te odiar dessa forma, Alex… Igor… seja lá qual for
seu nome! — Laura me ataca com raiva.
— Então, você está terminando comigo porque descobriu que eu sou
Igor e Alex ao mesmo tempo? — caralho! Não era para ser assim! — Me
explica, por favor, qual é a diferença? Você disse que me ama como Alex, e
me disse também que ainda ama o Igor! Eu entendo que seja muita
informação, mas sou eu, linda! Igor ou Alex, não importa! Ainda sou eu!
Laura parece prestes a desmaiar, explodir de raiva e desabar de
chorar, tudo ao mesmo tempo.
— Eu não consigo lidar com isso agora. Tudo isso é demais para
mim, eu... eu preciso ficar sozinha. Por favor, me deixa ir. — ela diz
esgotada, em um choro sofrido.
— Laura... Precisamos resolver isso agora. Precisamos conversar e
resolver tudo, você não pode simplesmente ir embora e me deixar aqui. Me
desculpa se eu menti e a magoei, vou te recompensar, prometo. Se levar
uma vida inteira, eu não me importo. Estou disposto a fazer tudo e qualquer
coisa por você. Eu posso explicar tudo! Sei que conseguimos superar isso.
Percebo que disse a coisa errada assim que ela crava seus olhos
intensos sobre mim com a pura expressão da raiva.
— Pura que pariu! Você realmente não entendeu! — ela respira fundo
buscando ar, e quando volta a falar, dispara todo o seu veneno de uma só
vez — Eu sofri e lamentei sua morte... Quase morri, aliás, eu quis morrer!
Fiquei louca porque você estava morto. Entrei em profunda depressão e até
tentei cometer suicídio! Meu Deus… e todo o tempo, você estava vivo…
e… e nem mesmo considerou como eu me sentia, como eu estava. Nunca se
deu ao trabalho de me dizer a verdade, que você estava vivo, nem mesmo
um telefonema, uma mensagem de texto ou um e-mail! — ela esbraveja —
Por dez anos, Igor! Como você aguentou? Pensei que você me amava! —
seu choro era ainda mais sofrido agora, e vê-la desse jeito me deixa ainda
mais desnorteado. — E então, você apareceu e eu vim morar com você,
Alex! E você viu como tudo me destruiu de perto! Viu que mesmo depois
de dez anos eu estava fechada e vivendo uma subvida! Nem assim, você se
dignou a me contar! Eu não posso acreditar que tudo isso foi um jogo pra
você, que foi interessante me torturar mentalmente, a ponto de me deixar
pensando que estava louca, por achar você e Igor parecidos. Nunca pensei
que você pudesse ser tão cruel, nem quando destruiu a minha família por
puro prazer!
— Laura... eu posso explicar. Não chora, por favor. — me aproximo e
tento tocar seu rosto, com o remorso me corroendo, mas ela se afasta — Eu
sinto muito! Meu Deus! Eu não consegui entrar em contato com você,
estava assustado e, honestamente, com medo. E se você não me
reconhecesse, por que eu estava diferente? Tentaram me assassinar, Laura!
Incendiaram a minha casa! — sinto as lágrimas correrem pelo meu rosto,
mas não me importo. Ela quer a verdade, não é? — Além disso, você disse
em alto e bom tom que não me amava, lembra? Essa também foi uma das
razões de eu hesitar em entrar em contato com você.
Ela finalmente para de chorar, olhando fixamente pro chão. Decido
explicar um pouco melhor tudo o que aconteceu, para aliviar sua dor e para
que entenda meus motivos.
— Depois que acordei na unidade de terapia intensiva em Havdiam,
meu avô levou a mim e minha mãe para Atenas e começamos uma nova
vida lá. Conheci a família e os parentes de meu pai, ganhei muitos amigos e
me adaptei à cultura. Terminei meu ensino médio lá. Comecei a ajudar meu
avô em nosso negócio de navegação em Havdiam quando comecei a
faculdade, e dividi meu tempo, estudando Administração de Empresas nos
dias de semana e dirigindo os negócios durante os fins de semana. Eu tentei
seguir em frente…, mas como eu poderia?
— Mas, obviamente, não tão preocupado com o impacto de tudo em
mim, não é? Aliás, por que eu estou escutando sobre as maravilhas da sua
vida sendo um Zur? Esqueceu que eu fiquei definhando porque você tinha
morrido e eu não? — Laura interrompe, revoltada.
Era isso que Laura realmente pensava sobre mim?
— O que você está dizendo, Laura? Realmente acha que eu não me
importava com você?
Ela me dá mais um tapa na cara e eu a olho com um misto de raiva e
surpresa. Por que isso agora? Seus olhos estavam cansados e ela estava
tentando não deixar cair suas lágrimas.
— E eu? Você chegou a considerar o que aconteceu comigo? Durante
dez anos... não fui capaz de seguir em frente e viver normalmente! O que
aconteceu para você voltar para a otária que não tinha outra opção a não ser
te aceitar e te querer de volta? — ela respira fundo, com a sua raiva
voltando com tudo — Minha vida ficou despedaçada. Eu parei no tempo,
porque estava de luto, sempre pensando em você... e todo o tempo, você
estava vivendo normalmente em algum lugar. Você é o homem mais escroto
que eu conheço, e não consigo entender o quão cega eu estava para ter
pensado que em algum momento você era uma pessoa decente.
— Eu sinto muito, Laura. Não podia simplesmente voltar! Porra! Que
garantia eu tinha de que não iriam tentar terminar o que começaram?
— E é isso o que você tem a dizer? Sinto muito? Isso é o suficiente
para consertar meu coração partido? Você realmente acha que um “sinto
muito” vai consertar todas as suas cagadas? Você traiu minha confiança.
— Não diz isso, por favor! Eu também estive com o coração partido,
durante dez anos, eu também sofri por não poder te ver. Eu nunca deixei de
te amar, Laura. Seu pai tinha mandado me matar uma vez, o que me garante
que não tentaria de novo? Você viu minha mãe… viu como ela ficou. Viu as
minhas costas. Você sabe que eu sofri. Só voltei quando tive certeza de que
ele não poderia fazer mais nada contra mim. — digo, sem saber mais o que
fazer para que ela me entenda — Me diz o que eu devo fazer para que me
perdoe! — suplico, tentando achar uma saída. — Eu te amo, Laura. Por
favor.
Ela fica em silêncio novamente por alguns segundos, e quando volta a
falar, diz de forma decidida.
— Eu não sei. Não posso acreditar que tenha sido meu pai que tenha
tentado te matar, Igor! Não acredito em nada que saia da sua boca nesse
momento! — ela parece se segurar para não desabar, e isso me corta o
coração — Estou muito confusa, e, honestamente, só quero ficar sozinha.
Preciso de tempo para pensar sobre nós. Sobre tudo.
— Certo! — sinto certo alívio quando vejo que ela ao menos
considera pensar em nós — Você precisa descansar. Vou te mostrar meu
quarto para que você possa ficar por aqui, depois podemos conversar
novamente e esclarecer as coisas...
— Você entendeu o que eu disse, ou preciso desenhar? Eu quero ficar
sozinha. Isso inclui não ver a sua cara, nem pintada de ouro. Quero ir para
casa agora, para minha família, no Brasil. — ela diz, com os braços
cruzados no peito, irredutível.
O desespero corre pelas minhas veias e ameaça me sufocar. Meu
destempero e anos de rancor e mágoa tiram a melhor sobre mim.
— É assim que você pretende lidar com isso? Fugindo da situação e
de mim? E se nós já tivéssemos uma família, você iria correr de volta ao
papai toda vez que brigássemos ou tivéssemos um problema? Precisamos
conversar e resolver este assunto agora, Laura. Como adultos. Você não vai
voltar para o Brasil. E espero que você entenda meu ponto de vista, porque
temos um contrato que me resguarda.
— Eu não sou a sua mulher, sr. Zur, eu nunca vou ser. Eu sou a
prisioneira das suas mentiras. — ela diz calmamente, com uma voz fria —
Meu pai foi convidado pela Polícia Federal brasileira a ser interrogado
outro dia, sobre a sua casa em chamas, e sobre a sua morte. Realmente acha
que ele fez isso?
— Sim. — afirmo, me sentindo culpado por acrescentar ainda mais
lenha na fogueira. Eu não quero que nossa situação piore. Precisava de
provas para que essa conversa fosse totalmente diferente e ela entendesse o
meu lado. Essa era a droga do plano!
— Você o acusou de queimar sua casa e tentar matar vocês… —
Laura diz, tentando falar calmamente, obviamente, controlando sua raiva —
Foi por isso que você arruinou os negócios de meu pai, o perseguindo?
Laura é muito mais esperta do que eu imaginei, juntou um mais um
com grande facilidade, e agora, ela realmente vai me odiar.
Não respondo, porque a verdade é óbvia, e vejo ela fechar os olhos,
parecendo confusa. Me aproximo tentando pegar as suas mãos, mas ela as
retira com raiva.
— Não me toque. — ela diz firmemente.
— Laura… eu te amo…
Ela me encara com olhos assassinos, e meu mundo começa a ruir
nesse momento, com medo do que virá a seguir.
— Eu não sei descrever o que estou sentindo agora. — a voz baixa e
ferida cala meu coração — Você não é a mesma pessoa que eu conheci e
amei. Só agora percebo que eu nunca te conheci por inteiro. A pessoa que
está na minha frente é um estranho para mim. Por favor, eu quero ir para
casa, para a minha família. Eles, sim, eu sei que me amam de verdade. O
que você sente não é amor, é posse.              
Sua voz quebra na última sílaba e ela começa a chorar. Eu só quero
abraçá-la e tentar aliviar a sua dor. Eu mesmo, estou completamente
bagunçado e sofrendo. Como eu poderia fazê-la entender?
— Eu entendo como se sente, mas sofri tanto quanto você, ou mais,
Laura, — digo baixo e esfrego meu rosto com as duas mãos — física e
emocionalmente. Há dez anos, fui esfaqueado seis vezes nas costas
enquanto dormia. Tive a sorte de as facadas não terem alcançado meus
órgãos vitais, embora uma delas tenha passado de raspão no pulmão. Eu não
tinha em quem confiar, não sabia quem tinha feito aquilo, porque nem
como. No mesmo dia em que terminamos porque seu pai a obrigou, eu sou
esfaqueado, minha mãe é praticamente queimada viva e nossa casa vai às
ruínas? Coincidência demais, não acha? Como eu poderia voltar, revelar a
minha identidade e confiar que nada mais aconteceria? Sofri com a
distância, mas o medo foi companhia constante também. Por mais dinheiro,
posses, seguranças… nada disso conseguiu aplacar o trauma de olhar para
as minhas costas, e principalmente, de ver a minha mãe deformada pelas
chamas.
Os olhos de Laura se arregalam, ouvindo o meu relato.
— Você foi esfaqueado seis vezes?
— Sim.
— Meu Deus! Que horror! — suas mãos cobrem a sua boca, e ela fica
paralisada por alguns minutos tentando entender.
— A parte inferior do meu rosto estava gravemente queimada e
quebrada, de tanta porrada que eu levei. Por isso uso barba, e fiz várias
cirurgias reconstrutivas, preenchimento e fiquei um pouco diferente. —
digo um pouco mais baixo, e ela se compadece.
—Deus, Igor! Não consigo imaginar você sendo esfaqueado seis
vezes e deitado na cama do hospital, lutando por sua vida… Jesus Cristo!
Queria ter podido estar lá com você, para segurar sua mão e sussurrar
palavras de encorajamento em seus ouvidos. — E ali está ela: a minha
Laura. A mulher por quem fui apaixonado a vida inteira. Me perdoe. Me
entenda. — Tenho certeza de que meu pai nunca faria algo do tipo com
você, mas se foi ele, nunca o perdoarei! — ela começa a chorar novamente,
e eu aproveito sua compaixão para abraçá-la, apertando-a com força em
meus braços.
— Laura, por favor, para de chorar, você vai ficar doente. — sussurro
em seu ouvido — Além disso, eu estou bem agora, foi um milagre. Dormi
por quase um mês no hospital, e sonhei com você o tempo todo. Meu amor
por você me deu forças para lutar por minha vida. — eu faço um carinho
em seu cabelo — Na verdade, tive sorte de Luís Carlos ter sido designado
por meu avô para monitorar meu paradeiro naquela época. Ele estava
morando perto de nós, notou o incêndio, chamou os paramédicos, e nos
resgatou.
— Mas eu vi cadáveres em sacos, Igor! — ela diz, revoltada, se
desvencilhando — Eu fui ao seu enterro.
— Provavelmente, almofadas e lençóis queimados. Luiz negociou
com a PF para manter nosso paradeiro em segredo e declarar as vítimas
mortas. Tínhamos medo do que poderia acontecer comigo se soubessem
que a tentativa não tinha sido concluída com sucesso. Agora, além de não
ter morrido, eu tinha visto o rosto dos homens que foram pagos para me
matar.
— Eu fiquei tão miserável naquela noite. — ela diz em um sussurro,
com a mão no rosto.
— E eu estava lutando pela vida. — digo, tentando recuperar o
contato e lhe dar um beijo, para provar para ela e para mim mesmo que
iriamos ficar bem, mas Laura lentamente empurra meu peito para longe.
— Igor, para.
— Por quê? Estou com tanta saudade sua, estive fora por quase uma
semana, e agora estou sofrendo por você. Tenha piedade de mim, mulher.
— Não. — ela diz firme.
— Não? — pergunto ainda mais confuso.
Nós não estávamos nos entendendo?
— Quero voltar para casa, no Brasil, para recomeçar as coisas.
Preciso ficar sozinha, para pensar em tudo isso e, principalmente, sobre nós
dois.
— Eu não vou deixar você, Laura, pertencemos um ao outro. Nós nos
amamos e isso é o mais importante. Você não precisa pensar em nada, posso
fazer tudo o que você quiser ou precisar, menos isso.
— Espero que você entenda que eu não sou um fantoche ou uma
marionete que aceita qualquer coisa e se submete a esse teatro que você
armou. Eu vou embora, e você vai me deixar ir. Não pode mais me prender
aqui, eu não pertenço a você, Igor. Você não é o meu dono. Se um dia eu
voltar, vai ser porque eu quis, não porque você me obrigou, entendeu? Não
será por uma porcaria de contrato de casamento baseado em mentiras. —
ela diz devagar, mas com muita determinação na voz — Eu preciso de
espaço. Foda-se o contrato. Foda-se a dívida. Foda-se esse circo. Eu tenho
opinião, voz própria e eu preciso disso. Se você me amar, vai entender e
aceitar.
Isso dói, e muito.
— Por quanto tempo? Dias? Por uma semana? Um mês? Um ano?
Me diz, por favor, por quanto tempo você precisa de espaço? Preciso saber
o que esperar disso.
— Obviamente, eu não sei, Igor. Você precisou de dez anos, não pode
julgar isso de jeito nenhum.
— Você não sabe? Meu Deus, Laura, para de me torturar! — digo
derrotado, finalmente entendendo o que está acontecendo — Você sabe que
eu te amo, vai ser difícil te deixar ir.
— Eu preciso de tempo para me encontrar. Não posso fazer isso
quando estou com você. Amor não é o suficiente para mim. Há muita coisa
na minha cabeça neste momento, preciso de tempo para estar sozinha e ser
finalmente livre.
Eu inalo profundamente, com a minha mente há mil por hora.
— Se é isso que você realmente quer, eu não vou te prender, Laura,
faço isso porque eu te amo muito. E, dói, mas tenho que aceitar sua decisão.
No momento em que você sair por esta porta, prometo que não vou te
perseguir mais, e você não ouvirá uma palavra minha, mas espero que você
entenda minhas decisões e escolha voltar para mim, porque eu sempre
estarei à sua espera. Eu pertenço a você.
Cinco minutos depois, Laura me deixou na Mansão Chester. Cinco
horas depois, ela estava a bordo do Zur Private Jet, acompanhada pelo meu
chefe de segurança, Luiz Carlos e sua equipe, voando de volta para São
Paulo, Brasil.
 

Quando chego ao Brasil, já passa das seis horas da tarde, e depois de


uma longa viagem de avião, tudo o que eu quero é dormir, sem precisar dar
satisfação a ninguém, o que obviamente não vai acontecer assim que entrar
na casa dos meus pais. Estou me sentindo tão emocionalmente exausta que
mal consigo respirar.
Ainda não consigo acreditar que Alex e Igor são a mesma pessoa.
Claro que eles eram muito parecidos, e notei isso quando vi Alex
pela primeira vez. Mas ignorei a ideia, principalmente, por achar ser algo da
minha cabeça, pela diferença de outras características de seu rosto,
personalidade e postura. Tantos remédios, uma depressão fodida, e tanto
tempo depois, fizeram com que a confusão mental fosse ainda maior.
Naquele momento, eu não estava confiando nem em minha própria sombra.
Além disso, eles eram muito diferentes em termos de formação, herança,
educação e status, pelo menos, em minha cabeça.
Como eu poderia saber, se foi incutido em minha mente que Igor já
estava morto? Ninguém ressuscita dos mortos para te atormentar. Pelo
menos, foi isso que eu pensei na época. Em minha cabeça, nas minhas
maiores fantasias loucas, se Igor voltasse, ele seria o homem honrado e
verdadeiro de sempre. Meu príncipe! Não um demônio que veio para
destruir meu pai. Ledo engano, é claro.
Como ele pôde mentir dessa forma, sem se importar comigo, mesmo
sabendo que eu estava sofrendo?
Como ele pode fazer isso comigo? Foi extremamente cruel,
desumano.
Mais do que isso, como ele conseguiu suportar, durante dez anos, não
me ver, se realmente me amava, como encheu a boca para falar? Nem
mesmo uma mensagem de texto ou um e-mail dizendo: “Olá, Laura, estou
vivo”.
Quase metade da minha vida, eu vivi como uma sombra de mim
mesma porque pensei que ele estava morto. Eu estava de luto por ele e,
durante todo o tempo, ele estava em algum lugar vivendo uma vida normal.
Ou não tão normal assim. Não posso desprezar toda a história da tentativa
de assassinato, o incêndio e tudo o que veio a seguir, mas ainda assim, a
sensação de ter sido enganada dói.
Para ser honesta comigo mesma, não estou chorando por descobrir
que Igor está vivo, mas, simplesmente, porque tenho pena de mim mesma.
Nunca me senti tão otária quanto estou me sentindo agora.
A vida não é justa, e Igor muito menos. Ele mentiu, enganou, brincou
e pisoteou, para depois afirmar que me ama.
Era essa sua definição de amor?
Neste momento, eu tenho emoções mistas em relação a ele. Os
sentimentos ambivalentes são tão potentes que enfraqueceram todas as
minhas defesas e eu estou destruída. Sim, eu ainda o amo muito, é
inevitável, praticamente como respirar.
O amo como o meu menino Igor, simples e sensível. E o amo como
Alex, implacável e que consegue tudo o que quer. Mas, nunca estive tão
desapontada, triste, e, é claro, muito, muito revoltada com ele.
Como ele pode ser tão insensível? A única coisa de que eu tenho
certeza agora, é que ele é a personificação do egoísta. E, com certeza, eu
preciso pensar sobre tudo isso com calma.
Igor queria conversar, para consertar as coisas entre nós, “perdoar e
esquecer” ele disse. Mas, na realidade, não é tão fácil assim, não vamos
resolver as coisas num piscar de olhos! E quanto aos meus sentimentos? E o
pesar pelo qual passei? Ele nunca considerou isso! Claro que,
aparentemente, ele sofreu muito também, mas não precisamos de uma
competição entre quem foi que sofreu mais, e sim de uma resolução para o
agora.  Os anos que eu perdi foram de muita dor e sofrimento, e só eu sei
como é viver em um mar aberto de ansiedade e depressão.
Ele mentiu sobre sua identidade, sua vingança contra meu pai, seus
motivos e seus sentimentos. Ele me enganou. Como eu posso voltar a
confiar nele?
Ainda tem meu pai, em toda essa equação. Alguém é o culpado por
ele ter quase morrido naquele incêndio. Não existe a possibilidade de ter
sido acidental, como foi passado pela polícia anos atrás, se houve luta
corporal e até mesmo facadas! Coitado! Entre a vida e a morte, mãe e filho
deformados por alguém que o queria tão mal, a ponto de fazer algo tão
horrível dessa forma. Alex, Igor, sei lá como chamá-lo agora, nesse
momento, está convicto de que meu pai foi o mandante do crime, e se ele
estiver certo, eu não sei como poderia suportar mais esse baque em minha
vida.
Otávio Morais pode ser muitas coisas, mas assassino, eu duvido
muito! Agora, não me resta outra opção, a não ser questioná-lo também e
colocar todas as cartas na mesa, mesmo que todo o meu esforço para me
recuperar mentalmente vá por água abaixo.
Tudo o que eu queria nesse momento era um remédio para dormir e
não ter de pensar em toda essa loucura que está acontecendo por aqui. Mas,
no fim, é isso. Eu não posso fraquejar. Se existiu alguma coisa boa que o
Zur fez por mim, foi me incentivar a melhorar, e isso é mérito meu. Não
posso cair novamente nessa loucura na qual vivi por mais de dez anos.
Perdoar e esquecer? Perdoar, eu posso até tentar, mas não consigo
não liberar o perdão em meu coração. Até consigo entender o seu lado,
apesar de suas ações terem sido sujas. Mas, nesse momento, eu não posso
facilmente esquecer e fingir que não fui grotescamente enganada.
Eu sou humana, com sentimentos, também. Eu não posso
simplesmente engolir meu orgulho e passar por cima das minhas convicções
para fazer tudo o que ele quiser. Eu preciso me amar mais do que isso. Para
conseguir me colocar em primeiro lugar eu preciso, é necessário me afastar
de Igor e também da minha família, colocar um espaço entre nós, para que
eu possa pensar sobre as coisas. Tenho que avaliar meus sentimentos por
eles, essa é a verdade.
Como eu poderia viver e passar por cima de tudo, sabendo que ele
não teve a mesma chance? Pensei isso por tantos anos, que agora não me
reconheço mais. Eu teria vivido de maneira diferente, se não estivesse
lamentando por ele todo esse tempo. Provavelmente, eu seria mais feliz,
mais animada e teria tido uma vida mais significativa. Saber que Igor está
vivo me deixou feliz por ele estar bem, mas, ao mesmo tempo, triste por
mim.
Estou me sentindo emocionalmente drenada. Desperdicei dez anos de
luto por nada.
Assim que entro em casa, vejo meu pai na sala de estar ao lado do
minibar, bebendo um Whisky, provavelmente, esperando minha mãe para o
jantar.
— Laura? É você mesmo? — meu pai se levanta, indo em minha
direção.
— Pai! — digo baixo, sem saber como me comportar.
Se realmente mandou matar meu ex-namorado, um garoto de apenas
dezessete anos, eu não quero mais nenhum tipo de contato. Ele seria apenas
um monstro. Mas, por algum motivo, quando olho em seus olhos, não
consigo enxergar nada desse tipo. Arrogante, infantil e até mesmo
prepotente, ele é, mas assassino? Não sinto isso vindo dele.
— Meu anjo! — ele vem em minha direção e me abraça apertado —
Eu tive mais saudades, com certeza, minha princesa. Pensei que estava
sonhando, vendo você na porta. — ele ri e continua — O que aconteceu?
Por que você está aqui? Onde está Zur?
— Alex está em Havdiam. — dou um passo para trás, o olhando.
— O que você quer dizer com isso? — seu tom de voz é desconfiado.
— Ah, pai… não sei nem por onde começar. — não consigo segurar,
e me afogo em lágrimas, o abraçando com força.
A desconfiança sobre a sua índole é deixada de lado por cinco
minutos, porque, no momento, tudo o que eu preciso é de amparo. Não
tenho mais forças para continuar.
— Me fala, Laura. O que aquele filho da puta fez com você? Ele te
fez mal? Te forçou? Eu juro, eu vou matar Zur se ele fez alguma coisa que
te machucou!
— Não, pai. Ele não me machucou fisicamente, nem me forçou… —
eu me afasto, subitamente, com vergonha de mim mesma.
— Então, por que você está chorando? O que realmente aconteceu,
Laura? — ele diz, preocupado.
— Ele é o Igor, pai.
— Como assim, ele é o Igor? — ele me olha de uma forma estranha,
como se desconfiasse do que eu estou falando, e não sinto a menor vontade
de explicar toda a história para ele.
— Alex é Igor.
— O quê? Como? — seu Otávio parece pálido, provavelmente,
tentando juntar todas as peças do quebra cabeça em sua própria mente. Não
é algo fácil de aceitar, isso é fato.
— Sim, pai, Alex Zur e meu ex-namorado, que supostamente morreu
em um incêndio, Igor Martins, são a mesma pessoa.
— Você quer dizer que ele não morreu? — ele pergunta chocado.
— Sim. — digo com a boca amarga de desgosto — Ele voltou como
Alex Zur. — explico brevemente como o Igor se tornou Alex Zur, contando
a sua história. Drenando a última força que tenho, e observando cada uma
de suas ações.
Se ele for mesmo o culpado pelo incêndio, provavelmente, dará
indícios agora. E, isso, é algo que eu realmente preciso saber.
— Meu inimigo… — papai range os dentes — então, isso explica
tudo! Ele arruinou minha reputação, minha empresa, e arrancou todo o meu
dinheiro, porque me acusou de queimar a casa deles e de tentar assassiná-
los! — vejo em seu rosto raiva, descrença e choque, mas não vejo medo —
Os interrogatórios que passei na sede da PF na semana passada só provaram
isso. Agora eu sei, aquele homem quer se vingar!
— Então, é verdade? — pergunto e vejo sua expressão ultrajada.
— Acha que eu sou assassino, Laura? Meu Deus! Onde eu errei
tanto para você ter essa visão de mim? Ele, eu até entendo, mas você? Não
consigo aceitar. — meu pai fica ultrajado, e eu estreito os olhos em sua
direção. Vejo verdade na sua fala e postura, mas se não foi ele, quem foi?
— Pai, você deve ter feito algo que fez de você seu principal suspeito,
não fez? — pergunto desconfiada. 
— Eu não fiz nada. Mas admito, não gostei da ideia de você sair com
ele antes. Vocês eram ambos muito jovens, se apaixonaram intensamente e
isso não podia ser bom. Você mentiu para nós, dizendo que saía para
estudar na casa das suas amigas todos os sábados e, durante todo o tempo,
estava com o pobretão da escola. Suas notas caíram e sua mãe e eu
tínhamos medo de que você engravidasse ainda muito jovem. — ele fala
tudo muito rápido, e por mais que já tenha escutado esse discurso mil vezes,
ainda sinto raiva e rancor de tudo o que me obrigaram a fazer — Você sabe
que sempre fomos muito protetores com você.
— Sei de tudo isso, mas não compro a ideia. — falo, descartando
todo o seu drama — Ainda assim, não entendo, por que ele te acusou? —
ele rodeou, rodeou, e não disse com todas as palavras o que eu quero ouvir.
Mas, pela sua expressão eu sei que existe algo a mais.
— Bom, eu posso ter feito algo além de te obrigar a terminar o
relacionamento… Quando sua mãe e eu descobrimos que você tinha um
namorado, nós nos preocupamos. Eu só fiz o que achei que estava certo
naquela época. — ele tenta minimizar, mas cruzo os meus braços,
escutando o que ele tem a dizer — Fui até a casa de Igor para lhe obrigar a
terminar com você. Eu até o ameacei... só um pouco... e o chamei de
oportunista, joguei verde para ver se ele realmente estava atrás do nosso
dinheiro, já que era um pobretão. — papai tinha, pelo menos, a decência de
parecer um pouco envergonhado — Mas, ele era um cabeça dura arrogante.
Disse com todas as letras que não terminaria com você porque a amava, e
me garantiu que suas intenções eram honrosas e que não te machucaria. Eu
o testei e até tentei suborná-lo. Ofereci um carro esportivo novo, em troca
de sua liberdade, mesmo assim, ele recusou minha oferta. Disse que nada
material poderia substituir seu amor por você. Foi irredutível, e eu, na
época, fiquei ofendido e sai dizendo que ele iria se arrepender e muito, do
que estava fazendo.
— Ah pai. Faça-me o favor! Como você pôde fazer isso com ele?
Não me admira Igor ter te acusado com tanta certeza por todo esse tempo!
— digo, revoltada — É claro que ele tem você como o suspeito número um.
O que me leva novamente à pergunta: foi você, que com o ego ferido
mandou esfaqueá-lo?
— Ele foi esfaqueado? Como assim? — sua expressão chocada me
confirma que ele realmente não fez isso, e pela primeira vez em tantas horas
sinto alívio. Ninguém seria capaz de fingir uma expressão de surpresa como
essa, nessa situação. Ainda mais bêbado, como ele está. — Estávamos
apenas fazendo o que achávamos ser melhor para você. Nunca iria fazer
nada mais sério, você sabe disso. Eu não sou um monstro. — balanço a
minha cabeça em positivo, apenas para que ele pare de falar.
— Pai, estou cansada. Onde está minha mãe?
— Ela está em nosso quarto, se vestindo para o jantar. Você ficará
surpresa ao vê-la. Ela está se recuperando agora! — ele diz, parecendo
radiante — Estou tão feliz que você esteja de volta, princesa.
— Obrigada, pai.
Durante o jantar, eu me esforço muito para manter uma conversa
normal com meus pais. Como mamãe não sabe do real motivo que eu tive
para ir para Havdiam, o jeito é fingir, e ela não para de perguntar sobre
Alex.
— Agora, eu sei por que Alex me era tão familiar filha. — ela diz,
com um sorriso.
— Por quê? — me concentro em seus olhos, tentando não demonstrar
emoção.
— Ele se parece com Igor, seu primeiro namorado. Fiquei pensando
muito tempo sobre isso, e cheguei a essa conclusão dias atrás.
Fico confusa sobre o que dizer a ela.
Será que eu realmente preciso mentir sobre isso? Ela descobriria
mais cedo ou mais tarde, de qualquer maneira.
Era seguro dizer agora? Olho para meu pai e ele acena com a
cabeça, confirmando e me encorajando a contar a verdade.
— Sim, ele é... porque ele é o Igor, mãe. — abro um pequeno sorriso
para ela.
— Você está falando sério? Ele está morto, Laura. — minha mãe
franze o cenho, provavelmente, achando que eu estou doida de vez.
— Relaxa, mãe, se acalma, tudo bem? Igor Martins é Alex Zur, eles
são a mesma pessoa. Eu não estou maluca.
— Eu sabia! — ela grita empolgada.
— Mãe… cuidado com as emoções, não precisamos de outro susto
por aqui. — fico instantaneamente preocupada.
— Ah, Laura, fiquei tão triste quando você pensou que o tinha
perdido, você estava tão arrasada. Mas, também estou feliz por vocês dois.
Agora que ele está de volta, vocês estarão juntos para sempre e deixarão
todas as suas tristezas para trás. A vida é tão preciosa para desperdiçá-la
amuada por causa do tempo que perderam, filha! — ela sorri e pisca o olho
para mim — De qualquer forma, como ele está vivo? Como ele sobreviveu
ao fogo?
Conto, então, para mamãe parte da história, fazendo parecer um conto
de fadas lindo e cor de rosa. Ela escuta com atenção, sorrindo e pontuando
de vez em quando. Mas, papai, que ainda está com raiva, range os dentes e
o xinga em toda e qualquer oportunidade.
— Ele ainda é um homem cruel e ordinário.
— Otávio, não diga isso! Temos que aceitar que Igor e Laura
pertencem um ao outro e que estão, obviamente, apaixonados, sempre
estiveram. Agora que se encontraram novamente, não podemos interferir,
ambos são adultos. — mamãe diz sorrindo para o meu pai, e me deixando
ainda mais confusa.
Em meu escritório, permaneço em profunda reflexão.
Não bastasse o ódio que estou sentindo de mim mesmo por ter
deixado Laura ir embora daquele jeito, sem tentar me explicar melhor,
agora, preciso lidar com o remorso. Acho que nunca me senti tão derrotado
em toda a minha vida!
Tantos anos nutrindo um sentimento de ódio, rancor, traçando o
plano de vingança perfeito para, no fim, descobrir que Otávio não passava
de um babaca prepotente, e que afinal, não chegava a ser um assassino.
Tantos anos remoendo isso dentro de mim, me olhando no espelho sem me
reconhecer, para enfim descobrir que outra pessoa tentou me matar.
Tantos anos longe da única mulher que eu amei e que habitou todos
os meus pensamentos, com medo do seu pai. Com vontade de me vingar,
antes de me entregar ao amor.
Tantos anos jogados no lixo. Assim como o meu casamento e o
relacionamento com Laura, que, se antes já era, agora, passou a ser fonte de
toda a minha obsessão.
Luiz Carlos acabou de me entregar um relatório que me fez querer
gritar, matar alguém, pular do último andar de um prédio, ou melhor ainda,
atirar em mim mesmo, tamanha a frustração que estou sentindo no
momento. Nunca senti tanta raiva de mim mesmo, em toda a minha vida.
Foi comprovado, e acabo de receber em primeira mão o resultado das
investigações. Nos papéis, depois da investigação mais longa de toda a
história, descobri que Diego Barbosa, condenado por tráfico de drogas e
homicídio, foi o responsável por queimar nossa casa e tentar matar a mim e
a minha mãe.
O filho da puta era pai de Lucas Barbosa, meu colega do ensino
médio, e tomou as dores do filho, depois que eu o enchi de porrada por ter
dado em cima da Laura em frente àquele comício absurdo. Isso ocasionou
em uma queda de pontos, e o fato de ter humilhado seu filho na frente das
câmeras e possíveis eleitores, fez com que o homem ficasse transtornado.
Há cinco anos, ele foi brutalmente assassinado por seus
companheiros de prisão, provavelmente, por sempre ter sido um arrogante
desalmado. Seu vício em cocaína fez dele o que ele era e agora, nem posso
me virar contra o infeliz e descontar um pouco da raiva e frustração que
existe dentro de mim.
A esposa de Diego, Vanessa Barbosa, foi ontem à sede da Polícia
Federal brasileira quando soube que nosso caso estava sendo reaberto. Ela
se submeteu de boa vontade aos interrogatórios e respondeu a todas as
perguntas feitas, para inocentar Otávio, que estava prestes a ser novamente
interrogado, por falta de provas. Afirmei tão firmemente que tinha sido ele
quem tinha tentado me matar, que com todo o dinheiro e poder que possuo
hoje, mesmo sem provas, quase coloquei meu sogro na cadeira.
Diego confessou para Vanessa, alguns meses antes de morrer, a
maioria dos seus crimes, incluindo que foi responsável por queimar nossa
casa e me apunhalar várias vezes nas costas. Segundo ela, ele fez isso para
retaliar a briga que tive com Lucas, há dez anos, porque o filho não poderia
ter fama de "marica". Um filho da puta, e ainda por cima, homofóbico.
Lucas estava desesperado pela atenção de seu pai, tentando
impressionar com sua boa aparência e sua lábia. Pelo que Vanessa disse, ele
quis mostrar como era um garanhão de primeira, indo até Laura e tentando
beijá-la. Porém, tudo deu errado quando cheguei naquele momento, e
começamos a brigar. Foi feio, para ele. Todos os sócios dos negócios ilegais
de seu pai viram Lucas apanhar, sendo humilhado na frente de todos.
Que merda! Foi o pai de Lucas que tentou nos matar, não Otávio
Morais. A vida inteira jurei vingança ao homem errado, e é por isso que eu
perdi a ruivinha, por pura ignorância.
Nunca estive tão perdido. Fiz o possível e o impossível para acabar
com seu pai e agora eu que acabei arruinado, sozinho e me sentindo o pior
dos homens.
Fui implacável, tirando tudo o que ele tinha e fazendo-o sofrer o
máximo possível, para descobrir agora que ele, durante todo o tempo, era
inocente. Eu o estava punindo pelos pecados de outro imbecil.
Preciso fazer alguma coisa para amenizar o mal que fiz a ele, à sua
família e aos seus negócios. É o justo, e talvez, só talvez, Laura perceba que
eu estou tentando consertar as coisas para ficarmos juntos novamente.
Antes, contava com o seu perdão quando eu a fizesse ver o monstro que seu
pai era, mas agora que descobri que ele não é o real monstro, não sei o que
fazer.
— Estou tão confuso. — digo baixo com a cabeça entre as mãos, para
Luiz Carlos, que está sentado do meu lado.
— Posso imaginar. — meu segurança diz, compadecido — Então, o
que você está planejando fazer agora?
— Eu vou devolver tudo o que eu adquiri dele. Nunca foi pelo
dinheiro, você sabe disso. Otávio pode ter tudo, eu vou anular as suas
dívidas, é o justo.
— Parece, então, que Otávio Morais ganhou na loteria. — ele
debocha com o seu humor ácido.
— Acho que tenho que agradá-lo, para que ele me aceite como seu
futuro genro. — respondo simplesmente, dando de ombros. A cagada já foi
feita, agora é começar a correr atrás do prejuízo — Eu amo a Laura e quero
que ela seja feliz, começando por não precisar se preocupar com nenhuma
questão financeira relacionada à família.
— Com certeza. Faça isso antes que seja tarde demais.
— Temos que agir o mais rápido possível. Vou pedir a Steve que entre
em contato com o Sr. Morais amanhã, e marque uma reunião com ele.
Isto deve ser resolvido imediatamente.
 
 
ALGUM TEMPO DEPOIS…
 
Fiquei completamente perdido depois que Laura foi embora.
Magoado, revoltado, confuso e, principalmente, com raiva. Raiva de mim
mesmo por ter errado o alvo da minha vingança por todo esse tempo, raiva
de como ela agiu ao descobrir toda a verdade, raiva de não poder fazer nada
contra Diego Barbosa, raiva de mim mesmo por não ter agido da forma que
ela merecia. Meu único foco, para não enlouquecer, entrar em um avião e
arrastá-la pelos cabelos de volta para mim, eram meus esforços em localizar
Lucas, e destinar a ele toda essa a raiva canalizada.
Não foi difícil para Luiz Carlos localizá-lo, e assim que soubemos do
seu paradeiro, peguei o próximo voo para Mumbai, Índia, onde o cretino
estava escondido. O mal dentro de mim não descansaria até que eu o visse
em carne e osso, de preferência pagando por seus pecados. Eu queria
confrontá-lo, fazer com que ele sentisse dor e pagasse pelos pecados de seu
pai. Todos os anos de caos e sofrimento acumulados dentro de mim vieram
à tona novamente, e eu estava com sede de vingança. O sentimento me
acompanhou por anos, e agora que soube que eu nunca o destinei à pessoa
certa, me sinto na obrigação de reaver todo o tempo perdido.
Fui pessoalmente até ele, ansioso para colocar meus olhos novamente
no cretino. Foi organizada toda uma situação, no meio do caminho, quebrei
três homens na porrada, e no final das contas, Lucas estava praticamente
morrendo, doente pra caralho. Câncer no pulmão nível quatro, pele e ossos,
um pouco roxo em todos os lugares e já sofrendo muito. Tive pena dele, e
não quis mais sobrecarregá-lo com minha vingança. Ele já sofria e isso era
o suficiente. Ele merecia morrer pacificamente, sem enfrentar o meu punho.
Dez anos ansiando por vingança, para nada. Esse é o destino de
quem colocou o amor abaixo do ódio.             
Voltei para Havdiam, derrotado. A maior vontade em meu peito era
de mandar uma mensagem, ou trazer Laura de volta. Fiquei, confesso,
esperando que agora eu pudesse voltar a funcionar normalmente, sem esse
caos que estava em minha cabeça. No fim, de um jeito ou de outro, eu tinha
conseguido finalmente concluir um ciclo vicioso, mas não aconteceu desse
jeito.
Fazia dias que eu não trabalhava. Por mais que eu estivesse uma
bagunça, a empresa definitivamente não parou e meu serviço passou a se
acumular mais e mais, formando uma bola de neve.
Tentei entrar de cabeça no trabalho, mas a sensação de vazio se
agravou, principalmente, quando eu voltava para casa e não tinha Laura me
esperando para o jantar. O lugar parecia tão sombrio, que eu não me sentia
mais em casa sem ela.
Pelo amor de Deus! Eu estava ficando louco.
Todas as noites, eu me afogava na bebida, esperando conseguir
dormir bem e parar de pensar nela. Ainda assim, sua imagem ficou em
minha mente o tempo inteiro. Acabei me mudando para o seu quarto,
sentindo seu cheiro nos travesseiros e lençóis antes de dormir.
Os dias se transformaram em semanas, e cada segundo sem uma
mensagem sua, sem estar perto e sem sentir o seu cheiro foi sufocante.
Será que ela não está sentindo a minha falta?
E se ela estiver aproveitando sua vida no Brasil agora?
E se ela perceber que não precisa mais de mim?
E se ela encontrar outra pessoa e estiver se esquecendo de mim?
O pânico começou a crescer em meu peito. E se ela não voltar para
mim?
Assumo, finalmente, para mim mesmo que fui muito arrogante,
prepotente e imbecil por tratá-la daquela forma, antes de ir embora. Sem
ela, eu não era mais nada, além de uma carcaça vazia.
Sei que sofri muito por todo esse tempo, mas minha menina sofreu
também, provavelmente, até mais do que eu. Fui egocêntrico e egoísta,
enquanto ela sempre foi tão benevolente e boa.
Definitivamente, eu não a mereço, mas, meu Deus, como eu a amo.
A ideia de perder Laura para sempre está me matando aos poucos, e
decido, depois de duas noites sem dormir, que tenho que vê-la o mais rápido
possível, se não, eu vou ficar louco. Enfio o meu orgulho no cu, disposto a
rastejar e fazer de tudo para implorar por seu perdão.
Eu amo a Laura com todas as minhas forças, e a quero de volta em
meus braços, muito mais do que já quis qualquer outra coisa em toda a
minha vida.
Eu imploraria um milhão de vezes se fosse preciso, faço de tudo por
essa mulher.
 

Durante as primeiras semanas desde que saí de Havdiam e voltei


para o Brasil, fiquei em casa, tentando colocar a minha cabeça no lugar e
consertar meu coração partido. Quando saiu o resultado da investigação
policial, e meu pai foi dado como inocente, consegui respirar aliviada, sem
a desconfiança de que ele estava mentindo para mim. Foi nesse momento
que eu consegui entender um pouco do que Igor sentiu, porque por mais
verdade que eu visse em meu pai, a desconfiança passou a pairar sobre nós
a todos os momentos.
Se eu passei a desconfiar do meu próprio pai, homem que eu
conheci a vida inteira, quem dirá Igor, que foi ameaçado por ele horas
antes de quase ser assassinado? Compreensível, porém, não concordo com
as suas atitudes.
Descobri que foi o pai de Lucas quem resolveu fazer todas essas
barbaridades para vingar uma briguinha inútil entre adolescentes. Como o
ser humano pode ser mau! Em pensar que convivi três anos com Lucas, e
ele viu todo o meu sofrimento e ainda tentou me consolar romanticamente
várias e várias vezes. Pai e filho são farinha do mesmo saco, isso é fato.
Não quero vê-lo nem pintado de ouro na minha frente, não sei o que seria
capaz de fazer se algo do tipo acontecesse.
Agora, quando penso na situação, raramente choro, acho que depois
de tanto tempo, as minhas lágrimas drenaram.
Ao mesmo tempo em que eu ainda não consigo acreditar que Igor e
Alex são a mesma pessoa, me questiono como eu fui burra e inocente para
não perceber logo de cara toda essa armação. Agora, passei a aceitar o que
o destino me reservou. O misto de sentimentos é inevitável.
Tudo aconteceu tão rápido, seu reaparecimento, sua revelação de seu
verdadeiro eu, nosso reencontro, sua vingança contra meu pai, e nosso
amor… foi avassalador. Como um trator passando em cima de todos os
meus sentimentos e convicções. É por isso que eu preciso de espaço, para
estar sozinha, pensar e compreender tudo com calma. Por mais que eu o
ame com todo o meu coração, em suas duas facetas, eu não sei se consigo
perdoar toda a armação que ele fez comigo.
Assim que o resultado saiu, meu pai recebeu todos os nossos bens
de volta, e por mais que ainda odeie Zur com todas as suas forças, até ele
admitiu que se colocou em uma posição complicada, e que, no lugar do meu
ex, teria pensado a mesma coisa. Apesar de meu pai não aceitar de volta as
empresas, sendo orgulhoso na fala de que precisa pagar as suas dívidas,
sinto que esse foi o primeiro passo para que ele tentasse se redimir com a
minha família, e comigo. Ninguém pode dizer que ele não está tentando.
Apesar disso, Alex está respeitando o meu espaço, e não me ligou ou
mandou mensagens até agora. Apenas flores, com recados implorando pelo
meu perdão, que chegam todos os dias em minha casa. Virou rotina receber
um buquê com um motivo para perdoá-lo, e o que nos primeiros dias me fez
chorar desesperada, agora já está me fazendo sorrir com as suas maluquices.
 
“Você precisa me perdoar, porque eu sem você
sou a mesma coisa que um cachorro sem dono.
Se não ficou claro, eu sou o cachorro.
Amo você, Laura, por favor, me perdoe.”
 
Estou tentando me manter firme, mas eu sinto tanta saudade que dói.
Eu o amo tanto, que estar longe passou a me provocar uma dor física.
Principalmente, agora que eu senti o gostinho do que é ter um
relacionamento de verdade, não dá para mentir e dizer que cada segundo
que passamos juntos não foi maravilhoso. Apesar das brigas e do fantasma
do contrato entre nós, ele nunca fez com que eu me sentisse menos do que
sua mulher durante todo o tempo em que estive em Havdiam. E, nesse
momento, entendo que ele realmente não fingiu, afinal, Igor sempre me
amou também, e assim como eu, não me esqueceu.
Desde que cheguei ao Brasil, minhas amigas Sarah e Fernanda me
ligaram com frequência, e eu não tinha entendido o quanto eu sentia falta
delas, até estar em contato com elas de novo. Isso nada teve a ver com ter
me mudado de país por quase um ano, e sim, porque eu estava tão perdida
em mim mesma antes, que me afastei sem ao menos perceber. Não sei se foi
por influência de Duda, que retomou contato conosco, ou por saudade
realmente, mas agora, voltamos a nos falar, e isso é algo que acalma o meu
coração. Estar firme em minha decisão de acabar com os remédios, e não
cair novamente na espiral de autossabotagem, depressão e ansiedade é o
que me move e me faz continuar. Contei a elas sobre Igor, mas não sobre
tudo. Não precisam saber que eu aceitei me casar por contrato com um
homem que tinha visto apenas duas vezes na vida, para salvar a minha
família. Apesar disso, elas sabem como eu fiquei miserável e que ainda
estava consertando meu coração partido, e, sem me julgar, entenderam o
meu distanciamento.
Compartilhamos muitos momentos bons e ruins desde o ensino
médio, e mesmo durante o meu período de luto, elas estavam presentes para
tentar me alegrar, sair da cama e reagir, e me ajudaram como podiam a
tentar superar a depressão. Sarah e eu nos tornamos inseparáveis até a
faculdade, principalmente, porque fizemos o mesmo curso, nos tornamos
colegas de classe em todas as nossas disciplinas e até nos formamos ao
mesmo tempo.
Depois de muita insistência, decido aceitar o convite de irmos para
um barzinho jantar, colocar o papo em dia e espairecer a cabeça. Sei que
preciso sair desse estado de apatia em que estou, e pode ser bom estar com
outras pessoas, conversar e me divertir. Além de que estou com saudade,
nunca ficamos tanto tempo distantes.
Abro meu closet e faço uma varredura em meus vestidos, decidindo
usar algo sedutor e sexy, testando uma nova personalidade que ainda não sei
se gosto ou não. No fundo, eu só quero me sentir rebelde e sedutora,
passando longe do meu “eu” sem graça que usa vestidos rodados e
recatados no dia a dia.
O vestido preto é diferente do habitual, mas veste perfeitamente, e
para completar, coloco sandálias douradas e um batom vermelho. Escovo
meus longos cabelos várias vezes, dando um pouco mais de volume. E
quando olho para o espelho não me reconheço.
Se Alex me visse nesse momento iria, com certeza, ficar
completamente louco. Ah, que saudade.
O que será que ele está fazendo nesse momento?
Onde ele está agora?
E, principalmente, com quem?
Tiro da bolsa o telefone que ele me deu, e escrevo uma mensagem:
 
Laura: Oi, Igor, como você está? Estou com saudades.
Faço uma pausa e olho fixamente para minha mensagem. Não…
deleto tudo rapidamente.
Ele, com certeza, vai me ligar e pedir para voltar para Havdiam, e se
isso acontecer, não sei se terei forças para dizer não. Sei que preciso de
mais tempo para ficar sozinha, para avaliar o que eu realmente sinto por ele
e o que eu quero para a minha vida.
Apago o que escrevi e decido descartar a ideia de mandar uma
mensagem. Nesse momento, o silêncio vai ser o meu melhor e o meu pior
amigo.
 

Chega um ponto da nossa vida, que precisamos estar dispostos a


tudo. Principalmente, a implorar, rastejar e aceitar que, talvez, eu possa
levar um chute nas minhas bolas, se ela ainda estiver me odiando. Mas, é
melhor ser miserável sendo rejeitado pessoalmente, do que miserável em
casa, sozinho, se afundando em álcool e autocomiseração.
Já passa das nove e meia da noite quando chego à casa dos Morais, no
Brasil.
Fico tão ansioso e animado para ver a Laura, que nem me preocupo
em trocar a roupa do avião, vindo até a sua casa diretamente do aeroporto.
Colocar os olhos na ruivinha, nem que seja para escutar seus gritos de raiva,
é melhor do que nada, e com um sorriso no rosto, vou o caminho inteiro
treinando as minhas falas de desculpa.
É só quando cruzo os portões que me lembro do seu pai, e que
confrontar o senhor Otávio vai ser um problema. Meus advogados entraram
em contato com ele, mas o velho estava irredutível, querendo pagar a dívida
de qualquer jeito. Aceitou um prazo melhor, e também a redução dos juros.
Mas, Otávio Morais é um homem cabeça dura e cheio de orgulho, ignorou a
minha oferta e ainda está decidido a pagar cada centavo. “Não troco
nenhuma quantia de dinheiro por minha filha” foi a sua palavra final, e
agora que vamos estar cara a cara, pessoalmente, espero muito que ele
mude de ideia. Não estou fazendo isso para tentar comprá-la, ou algo do
tipo, e sim porque a consciência pesou muito depois que descobri toda a
verdade.
Toco a campainha, Otávio Morais abre a porta de sua casa, e quando
vê que sou eu parado em sua soleira, me avalia da cabeça aos pés, com os
olhos furiosos.
— Zur, o que você está fazendo aqui? — ele diz, tentando se
controlar, e me vejo encolher, como um menino de dezessete anos de novo.
O homem ainda está irado comigo.
— Boa noite, Otávio. Eu... estou aqui para falar com o senhor e ver
Laura. — digo, com respeito, tentando não gaguejar. Minha nuca começa a
suar, em um sinal claro de ansiedade, mas mantenho minha expressão
impassível, como aprendi há anos a controlar.
— Laura não está em casa, saiu com umas amigas, mas chega já, já.
— ele diz, encerrando o assunto e faz menção de fechar a porta, sem me
deixar entrar.
Apenas aceno com a cabeça, porque não sei o que fazer e começo a
me sentir desconcertado. Sinto uma pontada de vergonha por causa do meu
comportamento na última vez em que nos encontramos. Fui arrogante,
grosseiro e até o ameacei, focado em uma vingança que nem deveria ser
destinada a ele. Agora que o jogo virou, não sei bem o que fazer.
O pior de tudo, Laura nem aqui está para mediar essa conversa
bizarra. Ele me analisa, e quando percebe que não vou embora solta um
bufo alto, abrindo novamente a porta e me dando passagem.
— Entre, então, se você quer falar comigo. — o sr. Morais diz
finalmente, permitindo a minha passagem.
— Obrigado. — respondo sucinto, mas da forma mais educada
possível.
Sei que, no fim, ainda que eu tivesse feito várias e várias coisas para
que a família falisse, ele mesmo amarrou a corda no pescoço e pela sua
postura em não aceitar de volta o dinheiro, ele também sabe disso. Não agi
de forma ilegal, muito menos agressiva, e isso é a única coisa que me
salvou nessa história. A vingança não me ajudou de nada, mas pelo menos,
não resolvi dar o troco na mesma moeda. Assim, mesmo que mínima, ainda
tenho alguma chance de redenção. 
Assim que eu entro em sua sala de estar, vejo a sra. Morais sentada
em um sofá confortável. Ela sorri calorosamente para mim, parecendo
muito melhor do que da última vez em que nos encontramos, e me sinto
aliviado em saber que ela está bem. Sua expressão é bem diferente da
postura do seu marido, e vejo imediatamente nela uma aliada.
— Alex... ou eu deveria te chamar de Igor? Estou tão feliz por você
estar aqui! Finalmente resolveu aparecer, ao invés de mandar flores todos os
dias. Nossa casa já estava ficando com ares de velório! — ela brinca,
piscando para mim — Nossa Laurinha vai ficar muito feliz em te ver. —
Dona Marta estende seus braços, para me abraçar, e eu vou imediatamente
em sua direção e lhe dou um abraço suave e um beijo na bochecha.
— Boa noite, sra. Morais. Como você está? Está parecendo mais
saudável agora, radiante, se me permite dizer. — ela sorri, encabulada e me
dá tapinhas no braço.
— Obrigada, Igor, graças a Deus, estou bem melhor agora.
Contratamos um bom médico e uma enfermeira particular para monitorar a
minha recuperação. Soube que você nos ajudou nisso, então, muito
obrigada. Venha, venha, sente-se, por favor! — Ela aponta para uma
poltrona em sua frente. Otávio se senta ao lado de sua esposa, e eu me
acomodo um pouco sem graça, sem saber como me comportar nessa
situação.
—  Laura nos contou como você e sua mãe sobreviveram ao incêndio.
Isso foi um milagre, Igor.
— Realmente, foi sim um milagre. Nós tivemos sorte de meu avô ter
contratado alguém para me monitorar... Mesmo de longe, ele queria saber
como eu estava, me ajudando o máximo que conseguisse sem interferir,
como minha mãe havia pedido. — digo, relembrando dos piores momentos
da minha vida.
Vejo seus olhos marejados, maravilhada por eu estar em sua frente e
relaxo. Resolvo contar tudo e acabar de vez com todos os mal-entendidos.
Conto o que realmente aconteceu, lembrando o evento de dez anos atrás. A
agonia que sofri, lutando por minha vida, as cirurgias pelas quais passei, as
seis facadas que quase me mataram, a gravidade dos danos no meu rosto e a
cirurgia reconstrutiva. Vejo, gradativamente, o rosto do sr. Otávio Morais
amolecer, e sinto que ele me entende agora, e talvez até sinta empatia pelo
que eu passei.
Depois de uma longa conversa, ele me oferece um Whisky e se junta
à nossa conversa. Otávio, então, me faz muitas perguntas sobre minha nova
família na Grécia, minha vida pessoal e nosso negócio multimilionário. Está
interessado em saber mais sobre mim, agora que não somos mais inimigos
mortais, e provavelmente, será meu sogro, se tudo der certo. Respondo
quase tudo o que ele me pergunta, querendo que ele confie em mim e me
conheça melhor. Acima de tudo, eu quero que eles me aceitem como seu
futuro genro. Porque é isso que eu vou ser.
Eles, então, me perguntam sobre meu relacionamento com Laura,
quais eram as minhas reais intenções e como havia sido a nossa estadia em
Havdiam. Conto para eles o quanto eu a amo e dou a garantia de que minha
intenção é muito honrada.
Quero me casar com essa mulher desde os dezessete anos de idade,
porra!
Por volta das onze horas, a sra. Morais resolve ir dormir, já cansada
de um dia inteiro de fisioterapias. Otávio e eu ficamos na sala de estar,
bebendo whisky e conversando sobre negócios. O homem ainda insiste em
pagar sua dívida, mesmo eu lhe dizendo que não havia necessidade, já que,
em breve, seremos uma família. Eu nunca tomaria todos os seus bens,
propriedades e negócios em uma situação normal, não há a menor
necessidade de pagar toda a dívida que eu mesmo causei. Mas, ele insiste, e
começo a ignorar para não continuar discutindo sobre dinheiro. Velho
orgulhoso!
 

Entro no bar, e espero a chegada de Sarah e Fernanda, percebendo


que estou adiantada, como sempre. Eu e minha mania de sempre chegar
adiantada. Mando uma mensagem para elas, avisando que estou no bar do
restaurante, quando um homem se senta ao meu lado. Escuto ele tossir, e
pela minha visão periférica, vejo-o olhando fixamente para mim.
— Olá, boa noite. Posso te pagar uma bebida? — o homem diz com a
voz grave.
Inalo profundamente e digo, sem sequer olhar para ele:
— Não, obrigada. — e me viro para o lado oposto, deixando clara a
minha falta de interesse.
Escuto-o rir, como se meu desinteresse fosse algo inacreditável, e o
ouço dizer:
— Você é tão esnobe. É uma pena, porque parece ser muito bonita.
— Como é? — enfrento-o, olhando em seus olhos, com a testa
franzida para o que ele disse.
Não precisa ofender uma pessoa apenas porque ela não está
interessada, otário. Analiso-o de forma indiscreta e percebo que homem é
bem bonito, preciso admitir. Parece um ator famoso, com uma postura
convencida e um sorriso torto. Alto, magro e com um corpo atlético. Seus
olhos são verdes e seus cabelos loiros escuros. Apesar disso, não faz o meu
tipo.
— Olha, olha, agora eu chamei sua atenção porque eu te deixei com
raiva. Nós nos esbarramos quando você entrou no bar, mas você
simplesmente me ignorou. Disse apenas um ‘sinto muito’, sem sequer olhar
para mim. Então, eu me pergunto, você realmente é esnobe desse jeito, ou
está querendo chamar a minha atenção pelo desafio? — cerro meus dentes,
incomodada com a sua análise.
Eu não sou uma pessoa má educada, e não gostei de ele ter
insinuado isso. Muito menos, estou querendo chamar a sua atenção desse
jeito, o que é um tanto absurdo e prepotente da sua parte. 
— Como você disse, eu já pedi desculpas. Então, você poderia me
desculpar? — reviro os olhos, mostrando a minha falta de paciência —
Estou esperando as minhas amigas.
— Amigas? Sem namorado, então? — ele diz sedutor.
— Me desculpe, mas isso não é da sua conta. Porém, para sua
informação, eu sou casada, — exibo o anel enorme no meu dedo que ainda
não tive coragem de tirar — mas ele não anda colado em mim.
Ele olha para mim e acena com a cabeça.
— Tudo bem, esquentadinha, você me convenceu. — ele sorri
novamente, mostrando seus dentes perfeitos — A propósito, sou Rodrigo
Salvatori. Posso saber o seu nome? — ele estende sua mão.
— Laura Morais. — aperto a sua mão, tentando não ser ainda mais
rude.
— Laura... um nome muito bonito. — seu olhar é de predador.
Com certeza, não acreditou na história de ser casada, ou se
acreditou, não se importa nem um pouco.
— Obrigada. — me afasto e olho desesperada para a entrada,
procurando por Sarah ou Fernanda. Uma intervenção divina cairia bem.
— Se eu fosse seu marido, não te deixaria sair sozinha. É muita areia
andando solta por aí. — ele diz, notando meu desconforto. E, quanto mais
desconfortável estou, mais ele parece gostar da situação.
— Não preciso disso. Meu marido confia em mim, e eu não sou
propriedade de ninguém. — digo me defendendo. Babaca arrogante.
— Provavelmente. Mas ele não pode confiar e controlar os homens
que olham para você. — ele diz de uma forma asquerosa, e eu me controlo
muito para não revirar os olhos.
— O que você quer dizer?
— Que você é linda. — ele pisca o olho, com um sorriso de
provocação.
Fico tão grata em ver Sarah e Fernanda cruzando o bar, que nem
disfarço o sorriso aliviado.
— Tenho que ir, minhas amigas chegaram. — digo, saltando do banco
e indo em direção às meninas.
— Foi um prazer te conhecer, Laura. — ele responde, sorrindo para
mim.
Caminho em direção a elas, e depois de uns cumprimentos, Sarah me
puxa eufórica pelo braço com um sorriso no rosto.
— Meu Deus, Laura, esse era Rodrigo Salvatori! O ator da última
novela das nove! — Sarah quase grita comigo quando nos sentamos na
mesa reservada.
— Quem? — franzo o cenho para Sarah.
— Esqueci que você estava vivendo no mundo da lua, ou melhor,
Vongher. Ele é o ator revelação do momento. Maravilhoso. — Fernanda diz
em um suspiro — Olha como o homem é gostoso! Nem você, em todo o
seu puritanismo pode fingir que ele não é incrível.
— Sério? — pergunto, um pouco descrente.
— Lógico. Depois você pode nos apresentar né? Por favor, amiga…
— Sarah fala e eu franzo o cenho, sem saber o que responder.
— Eu não o conheço…, mas, vamos ver, ok?
Nos divertimos, conversamos, fofocamos e relembramos de nossos
dias de colegial e faculdade durante o jantar. As gargalhadas e risadas foram
ótimas, e muito nostálgicas. As caipirinhas ajudaram a nos soltar e, assim
que terminamos de comer, fomos para o bar ao lado, com música e pessoas
dançando. Estávamos tomando shots de tequila quando o tal do Rodrigo
Salvatori se juntou a nós.
Já que o chato de galocha resolveu não me deixar em paz, cumpri
com o prometido e o apresentei às meninas, Sarah e Fernanda, que o
convidaram para nossa mesa. Ele e seus amigos, então, se juntaram a nós, e
a conversa fluiu muito melhor, depois de tanto álcool, estávamos rindo
descontroladamente por qualquer bobagem.
Para ser justa, foi fácil me dar bem com Rodrigo depois da primeira
péssima impressão. Ele ri frequentemente das nossas piadas estúpidas, e se
sente à vontade para conversar. Sua atenção está voltada exclusivamente
para nós e isso faz com que as meninas, e porque não dizer eu, nos
sentamos especiais. No caso delas, extremamente atraídas por ele, no meu
caso, como um possível amigo.
— Rodrigo, eu sou 100% solteira e disponível, viu? Não adianta
arrastar esse caminhão por Laura, porque ela já tem um marido… na
Europa! — A Fê fala bêbada, me matando de vergonha. Rodrigo ri,
achando divertida a sua declaração e faz um beicinho, como se estivesse
muito chateado. Fernanda ri mais uma vez da sua expressão e continua —
Eu posso me casar com você amanhã, se você quiser…
— Você é maravilhosa, Fernanda. Mas, eu não posso simplesmente
mandar em meu coração. — ele diz, em uma imitação barata de um galã de
novela, espalmando a mão no peito, fazendo um drama tão engraçado que
não conseguimos segurar a risada — No momento em que vi Laura, foi
amor à primeira vista. Mesmo sendo algo impossível, é claro. Romeu e
Julieta… a um marido de se concretizar algo a mais. — ele diz engraçado,
mas com um fundo de verdade em sua voz.
Finjo que não estou ouvindo tanta asneira, e continuo dançando, no
mesmo lugar, com a cabeça distante. O que será que Alex está fazendo no
momento? Estou tão bêbada que não consigo pensar com clareza em nada,
de qualquer forma.
No fim da noite, todos os Ubers cancelam as nossas corridas, e meia
hora depois, Rodrigo aparece como o salvador da pátria, nos oferecendo
carona e jurando de pés juntos que não estava bêbado. Mesmo não gostando
da ideia, as meninas aceitaram de prontidão, e entre ficar nas ruas de São
Paulo, às três horas da manhã, sozinha e pegar uma carona com um ator
famoso, prefiro pegar a maldita carona.
— Estou feliz por finalmente ter a chance de ter você sozinha comigo.
— ele diz, assim que deixa Sarah em casa.
— Você está me assustando, Rodrigo. — digo séria, subitamente
sóbria e ele gargalha alto.
— Você deveria mesmo estar assustada. Imagina, acabamos de nos
conhecer esta noite, e vocês confiaram em mim para levá-las em casa… —
seu tom é debochado, e eu sinto minha espinha gelar.
— Eu sei. Mas você não é realmente um estranho, é uma figura
pública. — digo, em tom de aviso. Se ele fizer algo comigo, todos vão
saber.
— Confesso que me sinto muito azarado, em ter te encontrado tarde
demais. — Rodrigo muda de assunto drasticamente.
— Ah! — sua fala me deixa um pouco desconfortável — Você vai
encontrar alguém certa para você, Rodrigo. Você é um homem bonito,
brilhante, engraçado, rico... vai ser fácil encontrar uma mulher que esteja
interessada. — digo, tentando mostrar que, no caso, essa mulher não sou eu.
— Eu não sei. Tive apenas algumas namoradas, e ninguém deu
realmente certo.
— Com certeza, não daria certo comigo também. — digo, torcendo
para que chegue rápido em casa.
— Você é diferente.
— Como você sabe? — nesse momento, o segurança abre e cruzamos
os portões. Respiro aliviada, e quando estou prestes a sair de seu carro,
Rodrigo segura meu braço.
— Laura, obrigado por esta noite maravilhosa.
— Obrigada também pela carona. Foi divertido. — eu abro um
sorriso, tentando controlar a situação.
Fico surpresa quando ele se inclina para frente e de repente me beija
afoito. E, antes que eu possa impedi-lo, a porta do meu lado do carro se
abre.
— Que porra é essa, Laura? — Escuto uma voz furiosa atrás de mim,
e quando me viro o vejo.
Ah, meu Deus! Fico chocada ao ver os olhos de Igor brilhando de
raiva. Seu rosto pronto para matar alguém.
É, fodeu.
 

Já passa da três da manhã quando ouvimos um carro se aproximando


da mansão. A ansiedade já me corroendo por dentro de uma forma que eu
nunca pensei que aconteceria. Meu coração acelera, apenas por saber que eu
vou reencontrá-la, e eu nem sei dizer qual será a sua reação.
Laura, que saudade! Abro um sorriso e Otávio percebe a minha
felicidade.
— Vá recebê-la. Eu sei que você está ansioso para ver a Laura. Vou
para a cama agora, já estou com sono, podem ficar à vontade, mas não
muito! — diz o sr. Morais, sorrindo.
— Obrigado e boa noite. — digo me levantando, pronto para receber
a minha ruivinha.
Por que será que ela está demorando tanto para entrar?
Resolvo abrir a porta, estragando a minha própria surpresa, e
encontro um carro preto parado bem no hall de entrada, a apenas alguns
metros de distância da porta principal. Olho para as duas pessoas dentro do
carro, ajustando a minha visão e quando me aproximo, percebo que os
passageiros estão se beijando.
Laura está beijando outro homem!
Eu nunca pensei que eu veria algo do tipo, e puta que pariu, dói pra
caramba! Sem pensar em mais nada, corro até a porta do carro, e a abro à
força.
— Que porra é essa, Laura? — eu grito para eles, assustando-os.
— Igor! — Laura grita assustada, com seus olhos se alargando em
choque.
Não sei nem dizer o que eu estou sentindo no momento, e tentando
controlar a raiva, respiro fundo, fechando os olhos e contando até dez.
— Sai do carro, Laura. — tento controlar a minha raiva. Ela parece
congelada no lugar, enquanto o imbecil exibe um sorriso vencedor no rosto,
como se ele fosse de alguma forma ganhador em uma competição. —
Agora. — tento manter a voz branda, mas quando ele bloqueia a sua saída,
rosno, dando um soco no topo do carro com força. — Mais que porra! Eu
vou te matar, seu filho da puta! — grito, rodeando o carro e indo em direção
ao banco do motorista.
— Igor, pelo amor de Deus! Não o machuque, por favor! — ela grita
atrás de mim.
Meu temperamento que já não estava dos melhores, vai por água
abaixo e uma fúria enlouquecedora toma conta de mim.
Há quanto tempo esses dois se conhecem?
Quantas vezes já saíram para encontros?
Por que ela está me trocando por ele?
— Saia do carro, seu filho da puta! — paro na porta e o agarro pelo
colarinho.
— Ela não me disse que tinha alguém, achei que a gatinha estava
solteira. Se você é corno, o problema é todo seu que não soube amarrar seu
gado direito. — é isso, esse cara quer morrer. Só pode!
Puxo ele pelo colarinho no vidro aberto, e lhe dou um soco no rosto
com força, calando a sua boca. Abro a porta do carro e o coloco de pé em
minha frente, nunca fui injusto, então, se ele foi capaz de falar esse
caminhão de merda, precisa aprender a arcar com as consequências. Mas,
Laura se coloca entre nós dois, me olhando aterrorizada.
— Igor, para, pelo amor de Deus! O que há de errado com você? Você
quer matar esse cara na porrada? Pirou? É figura pública, vai te processar!
— ela grita, como se isso fosse um ótimo motivo para eu parar com a
violência.
Será que ela não ouviu o que ele disse? Não é possível, chamou a
mulher de gado e ela ainda o está defendendo.
— Laura, não se intrometa, por favor. — eu lhe digo com firmeza e
olho para o babaca que parece perceber o que está acontecendo aqui e tenta
desesperadamente voltar para o carro — Sai daqui agora, antes que eu não
consiga parar de socar essa sua cara. — digo, entre dentes.
O ratinho covarde entra no carro dando partida. Quando se sente
seguro o suficiente, ele abre a janela do carona e grita:
— Tchau, Laura. Foi um prazer te conhecer, quando quiser meter
mais um par de chifres no brutamontes pode me procurar. — ele grita, antes
de acelerar o carro e sair cantando pneu.
— Filho da Puta. — murmuro baixo, olhando pro carro que sai em
disparada.
Meus olhos se fixam instantaneamente em Laura, a avaliando. Que
merda aconteceu aqui, não é possível que ela esteja normal. Seu discurso
arrastado e sua caminhada desengonçada são provas de que ela está bêbada,
e como nunca teve resistência por conta de todos os remédios que tomava,
provavelmente, nem sabe o que está fazendo.
Mas, se existe uma coisa que os bêbados fazem, é falar a verdade. E,
nesse momento, eu preciso saber:
— Você disse que precisava de espaço... apesar de doer, eu te dei tudo
o que quis. Não se passou nem um mês e eu levei um belo par de chifres. É
isso o que você quer? Acabar com tudo e seguir em frente, para ficar com
caras como esse arrombado? — pergunto magoado.
— O quê? Claro que não! Precisava de espaço para refletir sobre as
coisas entre nós, mas não quero outro homem. — ela tenta raciocinar.
— Não? E por que você voltou com esse imbecil pra casa, e estava
beijando-o? Preciso entender, por favor, não minta para mim. — digo baixo,
e ela parece confusa, como se estivesse tentando organizar as ideias antes
de me responder.
— Eu não estava sozinha no bar, estava com as minhas amigas.
— Ah, é? E onde elas estão agora? Por que você voltou sozinha com
esse babaca? — questiono, tentando entender que merda aconteceu nessa
noite.
— Fernanda estava bêbada, todos os ubers cancelaram, e ele se
ofereceu para nos levar para casa. Rodrigo estava apenas sendo um
cavalheiro.
Quê? Ela nem o conhecia, então? Puta que pariu!
— Você foi a última que ele deixou, e nem o conhecia? Laura eu sei
que você é ingênua, mas puta que pariu. Não dá nem para acreditar! Ele
poderia ser alguém ruim, que fizesse algum tipo de maldade com vocês! A
não ser que esse fosse o seu objetivo. — olho para ela chocado — Foi por
isso que você permitiu que ele te beijasse?
Ela franze o cenho e me encara de frente, com os olhos cheios de
raiva. As duas mãos dela descansam sobre a cintura, mostrando o quão
irritada ela está e, ainda que eu esteja puto de raiva, não consigo deixar de
admirá-la, e sentir uma saudade absurda.
— Claro que não! Eu tentei impedir, um pouco antes de ouvir você
gritar atrás de mim. — afirmo com a cabeça, porque sei que ela não está
mentindo, mas ainda estou tão cheio de ciúmes e raiva que mal consigo
manter a compostura. Ela é minha, porra!
— Igor… — ela me chama, mas quando a encaro, percebo que ela
não tem nada a dizer.
Para evitar mais brigas, me afasto, de repente, indo em direção ao
meu carro estacionado ao lado da casa. Preciso esfriar a cabeça, ela precisa
ficar sóbria e quando tudo se acalmar, precisamos conversar.
— Para onde você está indo? — ela pergunta, e eu cruzo os braços,
nervoso.
— Embora. Nada de bom vai sair daqui, pelo menos, não hoje.
— Ah Igor, você é tão dramático! Pelo amor de Deus! Se for só por
causa desse beijo, saiba que não significa nada pra mim. Não faça disso um
circo, algo enorme que vai pairar entre nós dois. Ele não é nada... foi apenas
um beijo, que eu nem queria, para falar a verdade.
Por mais que eu saiba o quanto isso é verdade, e que ela nem está
em condições de conversarmos direito e nos resolvermos, não consigo não
discutir.             
— Então, isso foi apenas um beijo? Como você se sentiria se me
visse beijando outra mulher? Com certeza, você também iria surtar. Não
acho que pode me julgar. Eu ainda estou sendo bastante controlado,
considerando a situação, e que há cinco minutos o homem estava gritando
que eu era corno para os quatro ventos.
— Me desculpa, Igor, não quis que nada disso acontecesse. — ela
começa a chorar, e eu reviro os olhos. Se fosse em outra situação iria rir da
sua falta de resistência para a bebida, mas agora eu só estou puto e cansado.
— Vá para dentro, linda. Estamos cansados, e tenho certeza de que
nada vai ser resolvido hoje. Amanhã conversamos, tudo bem? — digo,
porque ver Laura chorar, mesmo nessa situação absurda me dói na alma.
Abraço minha pequena, mostrando que vai ficar tudo bem e, de repente, ela
se afasta, me empurrando.
— Não… não… não.
Mas que merda! Ela está se fazendo de difícil agora? Me aproximo
novamente, ficando cara a cara com ela, tentando entender o que isso quer
dizer.
— O que está acontecendo, Laura? — um segundo se passa e ela
vomita em cima de mim.
— Caramba! É como relembrar nosso primeiro encontro. — olho para
o vômito dela em minha camisa e acabo rindo.
— Ah, meu Deus, eu sinto muito, Igor! — ela diz, com uma voz
mortificada.
— Relaxa, Laura… — tiro a minha blusa suja, e a jogo no chão —
Ok, dessa vez eu realmente vou embora, mas antes, eu vou te colocar na
cama porque não tenho certeza de que você vai conseguir subir as escadas
sem cair e morrer igual a Nazaré fazia com os maridos.
— Me leva no colo? — ela pergunta, parecendo cansada, e eu que já
estou na chuva para me molhar mesmo, a pego no colo, aninhando-a em
meus braços.
Para ser honesto, minha raiva já diminuiu, principalmente, depois
dela vomitar em mim de novo. A ruivinha não está bem, a primeira
bebedeira deveria ter sido mais bem supervisionada, e se eu não tivesse sido
relapso, poderia ter colocado um segurança para lhe proteger, assim como
eu tenho a minha equipe comigo a todos os momentos. Vim aqui para pedir
o seu perdão, e mesmo se eu quisesse muito, não sentiria raiva dessa
mulher.
— Nós vamos conversar sobre isso amanhã, tudo bem? Espero que
você esteja melhor, quando acordar. — digo, colocando-a na cama, e beijo
sua testa.
— Me desculpa? — ela pergunta já de olhos fechados, e eu confirmo
com a cabeça, mesmo que ela não possa ver.
Claro que eu vou perdoar um milhão de vezes, não importa quantas
facadas nas costas sejam. Eu sou expert nisso, posso dizer.
— Amanhã conversamos, amor.
 

Onze horas! Meu Deus, nunca acordei tão tarde antes!


Gemo em voz alta e me sento na cama, com a cabeça girando.
— Ai.
Toco minha testa, esfregando com meus nós dos dedos.
Meu Jesus Cristinho, o que está acontecendo? Minha cabeça está
explodindo.
Bom, é isso que você ganha por beber demais ontem à noite Laura,
esperava o quê? Eu nem consigo me lembrar de quantos shots eu tomei.
Controlo o impulso de colocar tudo para fora, e pego meu telefone na
mesa de cabeceira. Seis chamadas perdidas de Igor! Que merda, nem ouvi
o telefone chamar. Já que está tudo errado mesmo, ligo para ele mais tarde,
depois de tomar um banho e tirar essa inhaca de uma noite cheia de álcool.
O que aconteceu ontem à noite? Só lembro de estar tão bêbada que
mal conseguia parar em pé.
Na verdade, foi a primeira vez que bebi, e tenho certeza de que foi a
tequila que arrebentou a minha cabeça. Me lembro em flashes, de tudo o
que aconteceu, com algumas lacunas chatas para preencher.
A expressão de Igor quando abriu o carro de Rodrigo vem em minha
mente, seus olhos brilhando de raiva, como se ele estivesse pronto para
matar alguém. Sempre soube que ele era ciumento, mas isso foi um pouco
exagerado… Apesar de que se o visse aos beijos com outra mulher,
provavelmente, também iria enlouquecer.
Uma ressaca moral toma conta de mim.
Por que eu tinha que ser tão estúpida? Beber irresponsavelmente e
aceitar caronas de estranhos foi o auge da idiotice para mim!
Demoro o máximo possível me trocando, secando o meu cabelo e me
arrumando para enfrentá-lo. Hoje o dia não vai ser fácil, com certeza.
Ligo para Igor depois de toda a enrolação possível, mas ele não me
atende. Droga! Desisto depois da segunda tentativa e resolvo aplacar o
monstro mais próximo, antes de começar uma nova briga, meu estômago.
Eu realmente estou com fome e morrendo de vontade de tomar uma xícara
de café. Assim que chego na cozinha, minha mãe me cumprimenta com um
sorriso engraçado nos lábios.
— Laura, graças a Deus que você está acordada. Igor esteve aqui há
duas horas, queria te levar para o café da manhã, mas você ainda estava
dormindo, então, resolveu não perturbar o seu sono. Ele disse que te ligaria.
— Sim, ele ligou, — rolo os olhos com uma expressão cansada —
várias vezes, mas eu ainda estava dormindo. Tentei de novo, mas ele não
atendeu. Então, vocês conversaram ontem? — pergunto curiosa e ela
confirma com a cabeça.
— Bastante. Até seu pai parece tê-lo perdoado, depois de toda a
explicação que ele deu sobre as coisas que passou. — em sua expressão, ela
parece chocada e chateada, e suspiro alto, também compadecida. Todas as
vezes que me lembro do seu sofrimento, parece que dói em mim também —
Ah! Provavelmente, ele deve estar muito ocupado, filha. Não se preocupe.
Homens e seus negócios, tente se acostumar, — ela sorri debochada,
tentando me animar — seu café da manhã está esperando por você na mesa
de jantar. Coma bastante! Você está ficando muito magra, filha.
Começo a tomar o café da manhã, quando meu celular toca
novamente.
— Olá, bom dia! — atendo meu telefone com uma voz feliz.
Ele não teria coragem de brigar com alguém que parece feliz, teria?
— Você parece sóbria, está tudo bem? — ele diz, alfinetando, mas
parece também preocupado. Meu rosto fica quente de repente e eu respiro
fundo antes de responder:
— Hm… me desculpe por ontem à noite, mas agora estou melhor. —
digo, sem saber mais o que falar.
— Não estou com raiva, pequena, só acho que não deveria ficar
bêbada. Ou, se quiser beber, que seja em casa, comigo ou com alguém que
vá te proteger. Seu cérebro não pode tolerar muito álcool, com esse corpo
tão pequeno e sem prática. — sua voz parece calma e, no entanto, muito
mandona.
— Eu sei, aprendi minha lição. — faço uma pausa, e como ele não
responde, continuo — Precisamos conversar.
— Sim. — ele suspira.
— Me desculpe por ter pisado na bola ontem à noite. Não vai
acontecer novamente, mas não vou ficar rastejando aos seus pés. — digo,
cansada — Mesmo te pedindo um tempo para pensar, você veio aqui e não
respeitou a minha vontade. Entre nós dois, tenho certeza de que quem errou
mais não fui eu. Estou disposta a tentar, porque eu te amo, mas não quero
que use o lapso de ontem como vantagem para querer que eu ignore seus
erros. Além do mais, a sua preocupação e raiva, não são pelo risco e perigo
em que eu me coloquei estando alcoolizada, o que seria compreensível, mas
sim porque você me viu beijando outra pessoa.
— Eu sei. Nem tenho o direito de te cobrar nada do tipo, mas fiquei
irado quando te vi nos braços de outro homem, você não faz ideia de como
foi ruim. Peço desculpas por ter sido grosseiro, e estou também disposto a
tentar. Vamos aos poucos, ok? — ele fica em silêncio por um tempo. Então,
me diz firmemente — Estou em uma reunião agora, e preciso desligar. Mas,
assim que der eu vou passar aí para conversarmos. Pode ser?
— Tudo bem. Vamos conversar e tentar nos resolver.
— Isso. Vejo você mais tarde. — ele diz, parecendo animado, e
desliga o celular em seguida.
 
 
E o mais tarde demorou a acontecer.
Fiquei rolando na cama por mais algum tempo depois que terminei o
café. Assisti a dois episódios de uma série que eu estava acompanhando,
mas sem vontade ou curiosidade nenhuma de saber qual era o final. Liguei
para as meninas, para contar a confusão da noite passada e elas ficaram
chocadas, e descrentes com as atitudes do Rodrigo. Li um livro inteiro da
Luana, seu último lançamento, e quando já se passavam das oito horas da
noite, ele apareceu.
Por mais que Igor disfarce bem, depois de conviver tanto tempo ao
seu lado, passei a conseguir ler muito bem a sua expressão corporal, e sinto
sua apreensão. Seu andar não é mais o matador de sempre, e sim acuado,
como um leão enjaulado. Desço as escadas devagar e nossos olhares se
cruzam com a eletricidade de sempre.
O homem é bonito demais, meu Deus!
— Boa noite.
— Boa noite, Igor, tudo bem? — pergunto baixo, quando ficamos
frente a frente — Vamos lá para fora, conversar.
Percebo que a postura dos meus pais em relação a Igor mudou, sem a
tão frequente hostilidade e veneno, e fico feliz. Essa era uma das minhas
exigências para voltarmos a nos relacionar, ele pedir desculpas por tudo o
que fez e tentar resolver a situação com eles, para que a gente não viva em
um pé de guerra constante. Agora que sabemos a verdade, e não existe mais
o passado massacrante sobre as nossas cabeças, não tem por que não nos
resolvermos dessa forma. E, pelo que minha mãe contou, ele tomou essa
atitude por si só ontem à noite, sem que eu precisasse pedir, o que foi um
ponto muito bom para ele que está em busca de redenção.
— Tudo bem. — ele diz, segurando em minha mão. Caminhamos
porta a fora, com as cabeças cheias de pensamentos, e quando menos
espero, ele me abraça com força — Fiquei com muita saudade, ruivinha. —
Igor diz, beijando o topo da minha cabeça, como costumava fazer em
Havdiam — Me acostumei tanto a ter a sua companhia, que os dias sem
você foram horríveis. Me desculpa por tudo que te fiz passar, e por favor, eu
imploro, volta para mim.
— Eu também senti sua falta. — confesso, tocada pela sua confissão
e atitude — Mas, precisamos conversar, colocar os pingos nos i's e nos
resolvermos. Só assim ultrapassaremos essa barreira, e poderemos construir
algo bom e real. Não quero ser apenas um troféu de uma vingança
planejada, quero estar com você porque eu escolhi, e que você esteja
comigo porque me ama, não para atingir alguém. — digo, tomando a
iniciativa, e vejo-o confirmar com a cabeça, parecendo um menino acuado.
— Estou disposta a tentar novamente, como disse antes. Sempre fui
apaixonada por você, e provavelmente, serei pelo resto da minha vida. Você
foi o meu primeiro beijo, meu primeiro homem e quero que seja o último.
Não me arrependo do que vivemos, mas não posso ser sua prisioneira. Não
quero que você tenha esse poder sobre mim.
— Mas, eu nunca quis… — ele tenta questionar, e eu o calo, por
alguns segundos.
— Me deixe terminar, por favor. Você voltou, me manteve ao seu lado
em um casamento por contrato, e por mais que você tenha me tratado com
amor e cuidado, sei que também era parte de um plano cruel. Aceitei me
submeter a isso, porque meu pai realmente precisava de mim. Me sinto uma
heroína para a minha família, e não quero que você tire o meu mérito. Mas,
o pior, na realidade, não foi isso, foi você mentir durante todo esse tempo
sobre a sua verdadeira identidade. Você me enganou tanto, que me fez
pensar que estava louca, isso é o mais difícil de perdoar, e provavelmente
nunca irei esquecer. — guio-o até um banquinho de frente ao nosso jardim,
e nós nos sentamos, olhando um nos olhos do outro — A vida inteira tive
pessoas me controlando. Meu pai, durante toda a minha infância foi assim,
depois, veio a depressão, que me controlava de dentro para fora e, por mais
que eu quisesse ser livre, ela não me deixou ser. O luto me consumiu e vivi
à sua sombra por anos.
— Laura… me desculpe, de novo. Eu nunca imaginei que você sofria
tanto por mim, sempre achei que eu era o único que te amava nessa relação.
Quando percebi, já era tarde demais, e fiz de tudo para te ajudar a sair dessa
prisão mental que eu, involuntariamente, te coloquei. Não sei o que fazer,
como pedir perdão e como também me perdoar por tudo o que você
passou… por tudo o que eu te fiz passar. — Igor diz, perturbado.
— Eu te perdoo sim. Entendi todos os seus motivos, e mesmo não
concordando com eles, cheguei a me colocar em seu lugar. Sei que não foi
fácil e, honestamente, não precisa ficar se martirizando por isso. Está tudo
bem, só não vamos repetir os erros do passado. Não quero ser tratada como
uma boneca de porcelana, quero ter a minha individualidade, quero poder
fazer as minhas escolhas e, principalmente, que você nunca mais minta para
mim. Não quero ter que te dar satisfações sobre cada passo, e sim contar as
coisas porque somos parceiros. Quero ter uma vida ao seu lado, mas uma
vida leve, sem essas cobranças doentes, sem essa loucura toda. Precisamos
nos conhecer de novo, dessa vez, do jeito certo. E espero que você aceite
essas condições, porque só consigo aceitar voltar a me relacionar com você
dessa maneira. — sinto que um peso enorme saiu de dentro do meu
coração, e aguardo ansiosa a sua resposta. Igor me olha pensativo por um
tempo, pega a minha mão e beija os nós dos meus dedos, depois de um
tempo, abrindo um sorriso tímido.
— Eu aceito tudo o que você quiser, Laura. Te amo, ontem, hoje e
sempre. Você tem o meu infinito para fazer o que quiser.
— Agora que estamos acertados, só me tira uma dúvida... — brinca,
mexendo em uma mecha do meu cabelo. Olho para ele curiosa, e o safado
tem a decência de parecer envergonhado, antes de completar: — posso te
beijar?
Reviro os olhos, antes de me jogar em cima dele, ansiosa e
morrendo de saudade dos seus beijos e das suas carícias. Como se fossemos
realmente fogo e gasolina, pegando fogo de uma forma que eu tenho certeza
que nunca mais acontecerá com ninguém. Nós somos destinados a ficar
juntos.
 

Não foi difícil convencê-la a ir para o meu hotel, e sendo honesto,


acho que nem os seus pais imaginavam algo diferente. Por isso, quando abri
a porta, com uma expressão faceira no rosto, ela também parecia ansiosa
pelo meu toque e por tudo o que estava por vir.
— Não sei nem como posso explicar o tamanho da saudade que
senti de você. — digo, beijando seu ombro e ela confirma com a cabeça.
— Provavelmente, não é maior do que a que eu senti, Zur. — seu
tom de voz é sensual, e praticamente gemo de ansiedade e antecipação antes
de trancar a porta, beijando-a ardentemente.
Me dando total abertura para fazer o que eu quiser, como Laura
geralmente faz, eu a beijo, apoiando-a contra a parede, enquanto a ruivinha
me beija de volta, dando tudo de si no processo. Percorro seu corpo com as
suas mãos, até encontrar a barra da sua camiseta, puxando-a para cima, sem
perder tempo. Ela levanta os braços, ansiosa para o meu toque bruto,
deixando que eu a tirasse com presteza.
Percorro seu pescoço com a boca, provando cada parte da sua pele,
e mordendo o lóbulo da sua orelha, ansioso por mais, por tudo. Desço
minha boca para a curva dos seus seios, que se movimentam em um ritmo
frenético devido a sua respiração descompassada.
— Você me deixa louca! — ela diz baixo, e eu sorrio, antes de
responder:
— Pelo menos, dessa vez, estou fazendo isso no melhor dos
sentidos.
Desabotoo seu sutiã com maestria, e libero os mamilos rosados e
empinadinhos na minha direção, enquanto levo a boca até eles, dando a
devida atenção. Mordisco, arrancando um leve gemido do fundo da sua
garganta, com o objetivo de vida de lhe dar o máximo possível de prazer.
Percebo que o meu coração também está acelerado, e a saudade que eu
estava da ruivinha vai além da compreensão. Meu corpo clama pelo dela,
nossas peles precisam dessa troca para estarmos bem e em paz.
Pensar que ela poderia nunca mais voltar para os meus braços, tinha
sido uma dor muito maior do que eu poderia prever. Tudo o que eu já fiz, e
continuo fazendo, é por ela. Laura é, e sempre será, a mulher da minha vida.
E, agora que ela está comigo novamente, tenho certeza de que não existe
outra possibilidade, ela será minha para a vida inteira.
Quando paro de chupar seus peitos, ansioso por mais, pego-a no
colo e vou em direção a cama, ignorando qualquer outra coisa que não seja
beijá-la e amá-la como ela merece e eu preciso.
Com cuidado, a deito na cama, Laura vem pra cima de mim e
começa a arrancar as peças do meu terno com avidez. A ruivinha sabe bem
o que precisa fazer para me enlouquecer, e nesse momento, parece estar
muito disposta a isso.
Assim que ela me despe, com os olhos desejosos ao passar a mão
pelo meu abdômen, tiro seu jeans e a calcinha, deixando-a pelada, quente e
pronta pra mim. Seu bumbum durinho, suas pernas torneadas e sua barriga
plana são incríveis, mas nada se compara a visão dos cabelos ruivos
despenteados e sua boca aberta, sentindo prazer.
Sem lhe pedir permissão, começo a descer a minha boca por todo o
seu corpo, indo de encontro à bocetinha molhada, da qual eu estava com
tanta saudade. Ali, começo a chupar, alterando a língua e o dedo, enquanto
ela começa a gemer alto, sem conseguir controlar as sensações.
— Igor! — ela grita, e eu não paro, chupando cada pedaço dela —
Não para! Quando percebo que Laura está próxima ao clímax,
continuo as carícias, acrescentando mais um dedo dentro dela, e com um
grito estrangulado, ela goza em minha boca, enquanto eu continuo
chupando toda a sua excitação.
Satisfeito por ela estar ofegante, depois de gozar gostoso em minha
boca, me deito ao seu lado na cama, e a puxo ao meu encontro,
posicionando-a em cima de mim. Ela se curva e nossas bocas voltam a se
encontrar, ansiosas por todo tipo de contato possível. Seguro o seu cabelo,
prendendo-o em um rabo improvisado, e volto a descer com as mãos para a
sua cintura, a levantando e me dando passagem, me acomodando dentro
dela de uma só vez.
Laura vem em minha direção, para voltar a me beijar e nossas
línguas se encontram, enquanto ela começava a ditar os movimentos. O
prazer começa a tomar conta de mim pouco a pouco, e esse, tem um sabor
diferente. Muito mais sincero e sem nenhum tipo de amarras.
Laura é a mulher pela qual eu havia me apaixonado muitos anos
atrás, e estar com ela, sem nenhum segredo ou mentira, tem uma infinidade
de novos significados.
Laura para de me beijar para recuperar o fôlego, e eu levo uma mão
de volta para o seu rosto, contornando os seus lábios úmidos e gelados com
o meu polegar.
— Eu amo você. — sussurro em meio a um gemido.
— Senti muito a sua falta! — ela responde com um olhar
apaixonado, antes de completar — Te amo mais.
Neste momento não existia mais nada no mundo além de Laura e
eu, e para ser honesto, nunca fui tão feliz em toda a minha vida. Sem o peso
da vingança, do ódio e do rancor no meu coração, só restou espaço para
amar Laura em cada uma de suas nuances, sem me preocupar com mais
nada, além de fazê-la feliz.
 

Depois da conversa assustadora e esclarecedora que eu e Igor


tivemos, resolvemos tentar novamente, sem o peso ou as amarras de
relacionamentos antigos. Tanto o nosso, quando éramos jovens, quanto o
falso, quando ele ainda usava o nome Alex. Definitivamente, esse é o
melhor, e único, caminho para finalmente ficarmos juntos.
Para resolver a questão da distância, Igor nem questionou quando
disse que preferia ficar um pouco no Brasil. Ele entendeu que se fossemos
juntos para Havdiam eu viveria ao seu redor novamente, e tudo o que
conversamos não valeria de nada. Voltei para o meu emprego, mesmo
sabendo que provavelmente seria algo temporário.
Um dia iremos assumir algo mais sério e minha residência vai ser
em Vongher, onde está o império do meu futuro marido. Mas, ficar à toa
novamente, está, com certeza, fora de cogitação. Eu quero fazer alguma
coisa além de ser parte da mobília da casa e sou, modéstia à parte, boa no
que eu faço.
Continuei morando com meus pais, porém passei quase todo o meu
tempo livre com ele. E juntos, redescobrimos a cidade, visitando todos os
lugares que frequentamos quando éramos mais jovens e passamos a fazer
coisas que nossos eu "adultos" éramos capazes. Sem, é claro, dessa vez
sentir o peso do segredo, isso não existia mais entre nós.
Igor e Alex eram uma mistura aos meus olhos. O meu garoto idealista
cresceu e se transformou em um homem implacável nos negócios, tão
determinado e impressionante como poderia ser. Mas, para mim, ele ainda
destinava todos os seus melhores sorrisos e atitudes, sendo um homem bom,
doce e gentil. Apesar disso, eu era a única pessoa do seu convívio que ele
permitia que o chamasse pelo nome antigo, para todos os outros, ele era o
implacável e ardiloso Alex Zur.
Entre as coisas mais simples e as mais requintadas, passeamos juntos
com um sorriso no rosto. Todas as reuniões, almoços e tempo livres que
podíamos conciliar, estávamos juntos, e passamos a ter, e demonstrar para
os outros, um relacionamento saudável e chiclete. Sempre juntos, sorrindo,
apaixonados. Quase todas as noites, em seu quarto de hotel, Igor me
mostrava a sua devoção, paixão e insaciedade. Se antes restava alguma
dúvida, agora eu tenho certeza: nunca vou me cansar desse homem, com
certeza absoluta.
 

 
— Vamos que estamos atrasados! — Igor diz, me apressando, e
assim que eu entro dentro do carro e afivelo o cinto, ele dá partida,
parecendo animado.
— Para onde vamos?
— Tenho uma surpresa, mas não vai demorar, prometo.
Nos poucos minutos que ficamos dentro do carro, percebo que não
saímos do condomínio onde está a casa da minha família, e imediatamente
fico desconfiada. Só quando paramos em frente a uma casa linda, branca e
arrojada, que me permito questioná-lo, sem entender absolutamente nada.
— Quem mora aí? — busco em minha memória, mas não consigo
me lembrar de nada. O sorriso maroto em seu rosto me mostra que ele está
aprontando alguma coisa, e entrando na sua, abro um sorriso também.
— Achei a casa perfeita. Não é muito ostensiva, mas é perfeita para a
gente, quando estivermos no Brasil. Dá para vir da casa dos seus pais em
poucos segundos, é segura e o melhor de tudo, um lugar para nós dois. —
ele diz, descendo do carro, e abrindo a porta do carona para mim.
Olho para a casa linda, com um jardim colorido na entrada, árvores
grandes e uma vista panorâmica da cidade. O lugar é absolutamente de tirar
o fôlego e parece verdadeiramente um lar, não uma casa projetada por
algum arquiteto doido que quis ganhar a capa de alguma revista.
— Você gostou? — ele pergunta, ansioso.
— Sim! — praticamente pulo de felicidade — É uma casa linda,
amor. Perfeita.
— Espere até ver o interior, você vai amar! — ele diz, pegando em
minha mão.
Igor abre a porta principal da casa, e entramos. O espaço é
absolutamente lindo, com uma sala espaçosa, toda em branco, com grandes
janelas de vidro e portas de correr. As estruturas e desenhos são estilo
vintage, combinando com os móveis e ornamentos. Além de ter uma grande
piscina na parte de trás da casa. Algo difícil de se ver por essa região.
— Então, o que você acha?
— Estou sem palavras. É uma casa perfeita.
Ele sorri, parecendo aliviado, e abre uma ampla porta dupla de vidro
que conduz à área da piscina. Eu o sigo, ansiosa para explorar o local.
Passamos pelos quartos já decorados, pela sala de jantar e pela cozinha.
Tudo em uma decoração vintage, colorida e muito alegre.
Em poucos segundos o clima muda entre nós, e consigo notar seu
olhar sedutor. Abro um sorriso, e olhando em seus olhos, lambo o lábio
inferior, tendo certeza de que ele está pensando exatamente o mesmo que
eu.
— Acho que não podemos fazer isso aqui… — digo reticente,
sondando as suas expectativas. Igor me dá um sorriso diabólico e avança
lentamente em minha direção, sem tirar seus olhos dos meus.
— Acho que você duvida do que eu posso ou não fazer, ruivinha.
—Não foi isso que eu quis dizer… Igor! — grito, quando ele vem em
minha direção. Corro para trás do sofá da sala de estar, tentando raciocinar
com ele — Não estava te desafiando, só que essa casa não é nossa… e se
alguém chegar?
— Ah, gatinha… movimento errado. — ele me persegue, me
encurralando entre a parede e o sofá. Entro na brincadeira, mandando para o
espaço todo o tipo de bom senso, e quando ele está prestes a me agarrar
pela cintura, escalo o sofá e escapo gargalhando.
— Viu só? Eu sou mais rápida que você.
— Agora virou pessoal, espere até eu te pegar. — ele sorri, e eu já
prevejo o quão gostosa será essa brincadeira.
— Bom, se você deseja, venha me pegar. — digo, correndo em
direção ao quarto principal, ignorando completamente o quão inapropriado
é ser pega no flagra pela corretora em uma visita para compra do imóvel.
— Hmm... continue desse jeito, amor, você está indo na direção certa.
— ele me provoca, correndo em minha direção, com um sorriso bobo no
rosto.
Tento fechar a porta, em meio a gargalhadas, mas espero, para que ele
consiga me pegar. Igor agarra a minha cintura e me puxa com força em sua
direção, fazendo com que eu ofegue ao sentir sua extensão dura e excitada.
Fico elétrica no mesmo momento, ansiosa por mais.
Ah, Igor, eu nunca vou me cansar de estar com você.
— Eu te peguei, ruivinha! — solto uma risadinha e ele me arrasta
para dentro do quarto, me prendendo em seus braços — Você não vai
conseguir escapar de mim agora! — ele também ri, compartilhando da
minha felicidade.
— Não… Igor… me deixa ir. — digo manhosa, com a sua barba
roçando o meu pescoço.
— De jeito nenhum, pode parar de lutar, eu nunca vou te deixar. —
ele me leva para a minha cama e, juntos, caímos abraçados.
Igor, então, toma meus lábios de forma voraz, e me derreto nele,
sendo sua para que ele faça o que quiser comigo. Sinto os lençóis frios,
embaixo de mim e me estremeço de ansiedade e excitação. Aprofundamos
nosso beijo, nossas línguas duelando entrelaçadas. É como uma sede que
não pode ser saciada, e eu não quero que seja. Ele beija então, meu maxilar
e depois o pescoço, lambendo e chupando gentilmente. Igor então sobe a
sua mão lentamente, debaixo da minha blusa, até tocar meu seio já
intumescido.
— Ah, meu Deus, Igor! — murmuro baixo, tomada pelo prazer.
Ele continua sua carícia, torcendo meu mamilo em suas mãos, me
levando à loucura.
— Você é a mulher mais linda desse mundo, Laura. Quero acordar e
te encontrar ao meu lado pro resto da minha vida! — ele, então, tira a minha
blusa e sutiã, com foco total em meus seios, acariciando suavemente, depois
me beijando, lambendo, mordendo e chupando cada mamilo. Perco o ar, o
equilíbrio e a concentração.
Esse homem vai ser a minha perdição.
— Amor, você é a mulher mais sexy que existe. — ele diz, tirando a
minha saia. Igor volta a beijar meus seios novamente, lambendo e depois
descendo até a barriga.
— Preciso sentir você. – ele sussurra.
O sol do fim de tarde atravessa a janela, lançando uma luz dourada
sobre nossos corpos que se entrelaçam nus sobre a cama, enquanto ele me
beija praticamente em adoração. Sinto um fogo queimar, percorrendo
minhas veias e indo parar em meu íntimo. Eu o quero tanto que chega a
doer.
— Por favor, Igor. — eu me esfrego nele descaradamente, o
provocando. Ele desliza os dentes por meu pescoço, mordendo. Suas mãos
passeiam pelo limite da minha excitação, mas ele não faz nada, me
obrigando a implorar.
— O que você quer, Laura? Você quer assim? — ele pergunta, com
uma voz abafada em meu ouvido, tocando meu ponto mais sensível.
— Mais…
— Onde? — Eu abro as pernas em um convite e ele aprofunda o
toque. Solto um gemido descontrolado.
— Aqui?
— Dentro…
— Assim? — Igor então desliza um dedo para dentro de mim, me
fazendo gritar.
— Sim... — ergo os quadris do colchão, ansiando por mais.
— Mais? — sua voz sai contra meus lábios e estremeço, confirmando
com um aceno de cabeça.
— Mais... Por favor. — e ele me dá mais. Gozo rápido e forte em seus
dedos, meus gemidos sendo absorvidos por seus lábios.
— Quero você dentro de mim.
— Como? — ele pergunta com um sorriso sacana.
— Do jeito que quiser, contanto que seja rápido! — ele me beija e
fixa o olhar no meu enquanto me penetra devagar.
Eu o abraço e me movo junto, adorando sentir nossos corpos
encontrando um ritmo perfeito, só nosso, o prazer renasce, incansável,
imensurável. Olho em seus olhos, porque há tanto sentimento, que derrete
não só meu corpo, também meu coração.
Igor se move comigo fazendo com que a gente se perca um no outro,
e quando gozamos juntos, testas coladas, sinto meu corpo e meu coração
explodirem em puro êxtase.
Ainda estou flutuando, quando ele se move para o lado, me levando
junto. Ficamos ali, abraçados, deixando nossas respirações voltarem ao
ritmo normal. Saio do torpor quando escuto um miado em algum lugar.
— Amor? — ele pergunta, depois de alguns minutos.
— O quê? — respondo um pouco preguiçosa, ainda imersa em minha
própria bolha pós-clímax.
—  Que bom que você gostou da casa, porque ela já é nossa.
 

Sei bem que não tenho direito de escolher ou determinar quanto


tempo uma pessoa precisa para estar pronta ou não para o próximo passo
das nossas vidas. Mas, três meses é o suficiente? Não sei dizer…
Pisei muito na bola. Laura foi benevolente em me aceitar de volta, sei
disso. Talvez se fosse o contrário eu demorasse muito mais para perdoá-la,
tendo em vista tudo o que eu fiz sua família passar. Mas, agora que estamos
juntos novamente, eu praticamente fiz uma força tarefa para mudar o meu
escritório pro Brasil, porque ela preferiu assim. Não que eu esteja
reclamando, porque, a esse ponto, se Laura pedir para que eu role no chão
igual a um cachorrinho, provavelmente, eu vou fazer isso sem reclamar,
mas tudo seria mais fácil se ela me aceitasse por completo.
Sinto que estamos prontos para uma próxima fase de verdade, sem um
contrato cheio de cláusulas no final, apenas prometendo amor e fidelidade
até que a morte nos separe. E, é por isso que passei a planejar o pedido de
casamento perfeito, para que ela aceite ser minha esposa, dessa vez, de
verdade, pro resto da vida.
Dessa vez, tudo precisava ser perfeito, e com a ajuda e benção dos meus
sogros, comecei a me movimentar para que tudo saísse do jeito esperado, e
ela aceitasse se tornar, de uma vez por todas, a minha mulher.
Agora, a poucas horas do pedido oficial, começo a lembrar de tudo o que
passamos, e percebo que realmente o nosso amor é infinito. Só espero que
ela também pense assim…
 

 
Laura Morais
 
Depois de estreamos a casa nova em todos os lugares, várias vezes, eu
definitivamente me apaixonei por ela. Nunca estivemos tão juntos, e tão à
vontade, sem preocupações com horário, local ou com qualquer outra coisa
do tipo.
Há quase três meses estamos morando juntos, e Igor disse que isso
foi o mais perto que ele chegou de férias desde quando ele se lembra. Mas,
mesmo assim, ele trabalhou todos os dias, incansavelmente.
Namorar com ele é uma delícia, fácil e incrível. Sei que todas as
minhas incertezas e dúvidas foram sanadas, mas ele parece destinar mais e
mais tempo para que eu pense e reflita no que eu realmente quero.
Mas, eu já sei desde o começo: o quero para sempre. Só não descobri
ainda como falar isso, já que ele está tão preocupado em me dar o tempo
que eu preciso e tudo o que eu disse quando tivemos aquela conversa,
meses atrás.

O grande dia chegou, e por mais ansioso que eu esteja para saber qual
será a sua reação, sei que estou em paz com a minha decisão, e confiante de
que ela dirá sim. Que é o que realmente importa.
Saímos de casa para almoçar fora, e estendemos em um cineminha
enquanto deixei a minha casa sob os cuidados de Duda e da sra. Lopes, que
se encarregaram de cuidar de tudo, junto ao buffet, para que, no fim, tudo
saia perfeito. Aproveito que preciso fazer hora e resolvo mimar Laura,
fazendo-a experimentar vários vestidos e joias, apenas para passar o tempo,
e quando ela escolhe um branco clássico, fico deslumbrado com a sua
beleza.
Assim que chegamos em casa, não dou tempo para que ela perceba
que há algo diferente, e subo com ela pelas escadas, ansioso para lhe deixar
de pernas bambas novamente. Depois de amá-la, como ela merece, e eu
precisava, finjo mexer no celular, e em um teatro armado que ensaiei muito,
lhe digo que precisamos nos arrumar correndo para um compromisso
urgente.
— Mas, compromisso de quem? Eu fiquei tão cansada, amor…
podemos cancelar? — ela diz manhosa, esparramada na cama, mas recuso
com a cabeça, carregando-a para o chuveiro.
— Infelizmente, é um negócio muito importante e eu quero o meu
amuleto da sorte ao meu lado. Preciso de você. — digo, encerrando o
assunto, e ela confirma, tomando um banho e começando a se arrumar.
Recebo a mensagem de Duda confirmando que está tudo pronto, e
que os nossos convidados já chegaram, mas apenas quando ela termina de
passar o batom, veste o vestido novo e anuncia que está pronta que eu
começo a ficar nervoso.
Descemos as escadas da casa, com tudo apagado e silencioso, e um
barulho alto vem do jardim a assustando:
— Você ouviu isso? — ela questiona, e, fingindo surpresa digo para
darmos uma olhada antes de sair, porque pode ser algum disjuntor, ou o
motor na hidromassagem.
Caminhamos até a área externa, com meus braços em volta da sua
cintura, para onde todos estão esperando. É nesse momento que as minhas
mãos começam a suar, e eu fico subitamente nervoso.
Quis ensaiar o que dizer à Laura enquanto estava no chuveiro, mas
não consegui construir palavras ou frases. Eu não sou um cara bom em
colocar meus sentimentos para fora dessa forma e agora, me arrependo de
não ter pensado com mais calma no que dizer. Toco discretamente meu
bolso da frente para verificar novamente se a caixa ainda está dentro do
meu bolso interno e cruzo as portas que nos levam em direção ao jardim.
Sim, eu posso fazer isso, digo a mim mesmo. É agora ou nunca.
Quando chegamos ao jardim, Laura congela no lugar, parecendo tão
surpresa ao ver seus pais, sua irmã, seus amigos e minha família que acho
que ela pode desmaiar.
Nossos convidados nos cumprimentam, sorridentes e cheios de
entusiasmo.
— Surpresa! — todos gritam entusiasmados.
 

— Mãe? Pai? Gabi? Por que vocês estão aqui? — fico tão chocada ao
ver minha família e amigos na casa de Igor. Gabriella? Faz anos que não a
vejo.
A família dele também está presente. O que está acontecendo? Eu
olho para ele em busca de alguma informação, ele sorri, me abraçando com
força.
— Eles estão aqui porque eu os convidei.
— Mas, por quê? Não é o meu aniversário. — tento buscar alguma
lógica no que está acontecendo.
— Eu sei, querida. Eles estão aqui porque eu quero que eles
testemunhem algo muito especial.
Meu coração começa a bater rápido, entendendo lentamente o que
está acontecendo aqui.
— Especial? O quê?
— Ali. — ele aponta para a vista atrás de mim.
Eu me viro, assim como todos os outros, e juntos, testemunhamos a
vista ao fundo, com luzes brilhando em diferentes cores na cidade de
pedras. O corpo de Igor pressionado nas minhas costas e seus braços ao
redor da minha cintura me dão uma sensação de calor, segurança e conforto.
É como estar em casa, independentemente do lugar do mundo em que eu
esteja.
Então, sem que eu possa me preparar para o susto, uma grande
explosão de fogos de artifício risca o céu no horizonte. Fogos que,
provavelmente, todos os moradores dessa parte de São Paulo podem ver. Eu
leio, antes que eles se apaguem, e começo a tremer inesperadamente.
Laura, você quer se casar comigo?
Todos os convidados começam a bater palmas, entre vivas e gritos,
revezando os olhares entre Igor e eu.
Meu Deus! Isso é para mim? Fico boquiaberta, sem acreditar e volto
meu olhar para Igor, o responsável por toda essa loucura.
— Igor…
Ele sorri e se ajoelha em minha frente. Seus olhos colados aos meus.
— Igor, o que você está fazendo? — sussurro, ainda desnorteada.
Ele abre uma caixinha vermelha e a estende na minha direção e é
nesse momento que eu vejo os anéis. O mesmo par de alianças antigo que
ele me deu quando éramos adolescentes. Eu olho de perto, surpresa, e não
consigo conter uma lágrima que escorre pelo meu rosto. Igor guardou por
todo esse tempo, enquanto eu pensava que estivessem perdidos.
— Laura, eu sei que fiz coisas horríveis e te magoei muito. Fui
desleal e magoei a sua família também. Por tudo isso, me arrependo
profundamente, e não sei dizer o quanto eu sinto muito. Quero que saiba
que me apaixonei por você na primeira vez em que a vi, quando eu tinha
dezessete anos. Naquele momento, eu simplesmente sabia que você era a
garota com quem eu queria passar o resto de minha vida. Desde então, eu
nunca deixei de te amar, Laura, nem por um segundo. Admito, depois de ter
sofrido e quase enfrentado a morte, tentei te esquecer, te apagar
completamente da minha mente, mas não funcionou. — ele abre um sorriso
culpado e eu limpo discretamente uma lágrima — No momento em que nos
reencontramos, não pude deixar de te amar a cada dia mais. Eu te amo com
todo o meu coração, com toda a minha alma. Minha vida será inútil sem
você ao meu lado, e eu quero passar o resto dos meus dias contigo. Daqui a
sessenta ou setenta anos, ainda te amarei da mesma forma que te amo agora,
ou até mais. Você é a única pessoa que tem o meu infinito. — ele pausa, e
diz respirando fundo — Laura, você me dará a honra de ser minha esposa, e
de me fazer o homem mais feliz do mundo?
Eu me engasgo e coloco as minhas mãos na boca.
Será que eu estou sonhando? Olho para seu rosto bonito e a
realização se instala, junto com as lágrimas de alegria que correm pelas
minhas bochechas.
— Laura, por favor, diga sim.
Eu toco seu rosto e o abraço com força.
— Claro que sim!
De repente, Igor se levanta e coloca o anel em meu dedo. Em seu
melhor sorriso tímido, ele sussurra no meu ouvido:
— Posso te beijar, amor? — eu confirmo com a cabeça, beijando-o
docemente.
Os fogos de artifício explodem e podemos ouvir os gritos, as palmas e
os parabéns das pessoas de longe. Nossa família e amigos nos aplaudem e
nos parabenizaram também, parecendo estar extremamente felizes por nós
dois.
— Igor, eu... não consigo explicar como estou feliz neste momento.
Ele toca meu rosto e beija meus lábios novamente, com um sorriso
enorme no rosto.
— Eu também.
 

Eu a vejo quando entro em nossa casa de Havdiam, tão linda, sentada


em um banco do jardim, que fico imediatamente eufórico ao ver minha
princesinha. Todo o cansaço que senti durante o dia, de repente, desaparece
e estar bem, para passar algum tempo com eles é a única coisa que importa.
Sua pele branca a torna visível e cintilante ao anoitecer, e ela brilha,
assim como a sua mãe. Seu cabelo comprido, ondulado e acobreado está
cobrindo seu rosto, e seus olhos estavam fixos em algo entre as mãos,
cabisbaixa. Ela está perdida em seu próprio mundo e nem notou minha
chegada em casa. Alguma coisa está errada, ela geralmente, não age dessa
forma.
Subo os degraus que levam à porta principal de dois em dois, ansioso
para saber o que está acontecendo, e caminho em sua direção. Assim que
me aproximo, percebo que ela está chorando, apertando um colar com força
em suas mãozinhas. E, com um alerta vermelho, meu cérebro cansado se
acende de repente.
Por quê? O que aconteceu?
— Zoe? O que aconteceu? — digo ansioso, indo em sua direção
apressado. Ela sempre será a minha garotinha, apesar de já ter completado
seus 14 anos. Toco seu rosto, e me ajoelho em sua frente, tentando entender
o que está acontecendo — Por que você está chorando, meu anjo?
— Papai… — ela solta um lamento grande, chorando ainda mais alto
e me abraça com força. Eu, imediatamente, fico apavorado. Alguma coisa
grave aconteceu, ela não é de agir assim!
Será que alguém morreu? Por favor, Deus, não.
Laura? Onde ela está?
— O que aconteceu, meu amor? Me fala. Onde está sua mãe?
Aconteceu alguma coisa com Apolo? — Me levanto rápido, tirando os
braços de Zoe do meu redor. Um aperto opressor se apossa do meu peito e
eu mal consigo respirar.
— Laura? Laura!... Apolo! — grito em plenos pulmões e corro em
direção à porta.
— Pai! — ela grita, puxando meu braço — Não aconteceu nada, eles
estão bem. Você está surtando à toa. — ela para de chorar e coloca as mãos
na cintura, franzindo o cenho.
Faço uma pausa e caminho de volta em direção a ela. Minha
ansiedade sendo, imediatamente, substituída por um alívio. Graças a Deus!
Para morte e doença não têm o que fazer, o resto dá para lidar.
— Então, conta para o seu pai, por que você está chorando? — esse
lenga-lenga adolescente já está me deixando muito impaciente.
— É Apolo.
Claro que é Apolo, sempre Apolo. Ele nunca vai parar de implicar
com a sua irmã mais nova. Zoe estava sempre reclamando.
— O que aconteceu com Apolo? — Será que ele está bem mesmo?
Meu coração bate mais uma vez, mais rápido.
Ela está chorando, então algo errado aconteceu.
— Ele deu um soco no rosto de Paul… e… seu nariz quebrou, papai!
— ela puxa o ar, mostrando toda a sua indignação — Sangrou! Você pode
acreditar? Uma briga estúpida. Eu nunca senti tanta raiva de Apolo, pai... eu
o odeio! — Zoe volta a chorar — Pelo amor de Deus, peça para ele me
deixar em paz, pai, por favor. Ele é muito protetor, eu não sou mais uma
criança!
— Shh... desacelere. Você quer dizer que Apolo deu um soco em
Paul? Por que ele fez isso?
Não faz o menor sentido, e é difícil de acreditar que meu filho de
dezesseis anos tenha batido em Paul, filho de Steve e Duda. Eles são
família, poxa.
Nossa! Isto pode ser um problema para nossa amizade também.
Preciso ligar para Steve e perguntar o realmente aconteceu.
Paul e Apolo são melhores amigos desde que eram crianças, eram
como irmãos. Houve momentos em que discutiram, mas nunca chegaram ao
ponto de bater um no outro. Além disso, eu conheço meu filho, e ele nunca
bateu em ninguém, a menos que estivesse sendo provocado. Sim, ele é uma
réplica de mim, mesmo em aparência, quando eu era adolescente. Mas, em
atitude, ele era mais calmo, bem-humorado e maduro para sua idade. Apolo
nunca esteve em apuros, pelo menos, não até agora.
— Ele… ele viu o Paul… e… — ela parece constrangida, mexendo
em suas mãozinhas, tentando encontrar as palavras para descrever o que
houve.
— E...? Você pode me contar o que quiser, querida. — eu a encorajo a
continuar sua história.
Escuto Laura e Apolo chegarem. Ela segurando uma risada,
parecendo se divertir muito com a situação e ele com o olho roxo e os
braços cruzados, com uma expressão revoltada em seu rosto.
— Eles estavam se pegando no porão, pai.
— O quê? — eu grito alto, com os olhos saltando das órbitas. Laura
não consegue se segurar mais e começa a rir, levando um olhar repreensivo
de pai e filho.
Fico tão chocado ao ouvir o que minha filha fez que mal consigo
raciocinar.
Minha filhinha está por aí distribuindo beijos? Como assim?
Então, desvio meus olhos para meu filho, Apolo, já com 1,80m de
altura, aos dezesseis anos de idade. Ele parece extremamente sério e
irritado, como um verdadeiro irmão mais velho, e no fundo, sinto orgulho
do meu garoto.
Defendeu a honra da sua irmãzinha, está mais do que certo.
— Eu estava procurando meu taco de beisebol e os vi escondidos lá
no porão, no maior amasso. Não sei se estavam fazendo nada pior, né…,
mas não duvido. — continua Apolo.
— Nós não estávamos fazendo nada demais! Ele está mentindo,
papai. Estávamos apenas nos beijando. — Zoe diz com raiva e avança em
Apolo para estapeá-lo.
Contenho a minha garotinha em puro reflexo, sem saber exatamente o
que fazer nessa situação. Laura me olha com compaixão e abre a boca pela
primeira vez, me salvando dessa confusão.
— Zoe, Apolo. Podem parar os dois, agora! — ela diz imponente, e
eles a respeitam no mesmo momento, Zoe fazendo um biquinho e Apolo
cruzando os braços — Você não poderia ter batido em seu melhor amigo
dessa forma Apolo, foi errado e por mais que eu saiba que você quis
resgatar a honra da sua irmã caçula, ela sabe se defender sozinha.
— Ah, sabe sim! Claro que sabe, estava engolindo a língua dele, mãe!
— Apolo diz, revoltado e eu fico também de parcela.
Então, esse pirralho estava beijando-a DE LÍNGUA? Eu mesmo
poderia ter quebrado o seu nariz, se tivesse presenciado essa cena.
— Mãe! — Zoe reclama e Laura a interrompe.
— Zoe, não terminei com você! Já conversamos milhares de vezes, e
você sabe que deveria ter me contado tudo. Não existem segredos na nossa
família, por isso sempre vamos aceitar as suas decisões. Mas você sabe pela
história que eu e seu pai temos, que o segredo destrói. Estou muito
decepcionada.
Se ela tivesse brigado, nossos filhos poderiam até querer questionar
algo, mas minha mulher sabe exatamente o que fazer. Com a decepção eles
não conseguem argumentar. Fico tão orgulhoso de Laura, que a minha raiva
até amolece um pouco. Sabemos como é ser adolescente, cheios de
hormônios e cheios de dúvidas. Ela é uma mãe incrível, uma esposa incrível
e sabe fazer exatamente tudo certo por nossa família.
— Mãe… — Zoe diz baixinho, como se pedisse perdão, com os olhos
voltando a se encher de lágrimas — me desculpa. Foi a primeira vez.
Eu e Laura trocamos um olhar cúmplice, nos lembrando do nosso
primeiro beijo.
— Tudo bem filha, vamos conversar sobre isso mais tarde. — digo,
acabando com o show em frente a nossa casa — Você e seu irmão vão fazer
as pazes, e amanhã vamos ter um almoço em família. — enfatizo o meu
olhar mortal e ela se encolhe — E espero que Paul esteja pronto para ter
uma conversinha de homem para homem.
Vejo de soslaio Laura segurar outra risada, e Apolo não ter o mesmo
sucesso que a mãe, gargalhando estridentemente. Zoe parece um coelhinho
assustado, e espero alguns segundos antes de abraçá-la, e pegar a mão de
Laura, entrando em casa.
 
Agradeço imensamente a você que deu uma nova chance para essa
história e chegou até aqui. Zur e Laura são personagens que me cativaram,
roubaram meu coração em 2020 e agora me fez perder o fôlego. Espero que
você tenha gostado dessa jornada, e se já tinha lido a versão antiga, gostado
das modificações. Se você amou este livro tanto quanto eu, não deixe de
avaliar, por favor.
 
Existem pessoas que são fundamentais para a minha existência,
sanidade e resiliência. Então, esse livro vai para vocês:
 
Para as minhas leitoras goxtosas, porque sem elas eu já teria desistido dessa
jornada a muito tempo. Como sempre digo: sem vocês eu não sou nada!
Obrigada por todo o apoio, as interações, indicações e leituras são
fundamentais para mim. Amo vocês com todo o meu coração!
 
Pri, amo você. Obrigada pelo apoio, por estar por mim quando preciso e
nunca soltar a minha mão. Grande parte do motivo de eu estar sã hoje
depois dessa montanha russa que se tornou a minha vida, é você. Agradeço
de coração por tudo sempre. Te amo infinito. #Prisa
 
Juju, minha primeira leitora, agora amiga e beta. Fico feliz em ver que
apesar de já conhecer a história, você ainda se empolga com as minhas
 
Minhas “momoladas”, vocês são demais. Ana, Thata e Jaque. Pelo apoio
surreal que vocês me dão todos os dias, nossos meets, conversas, e até
consultas de cabelereiros, eu sou muito grata. Vocês têm todo o meu
coração!
 
Vanessa, sem o seu apoio o que seria de mim? A gratidão que eu sinto por
te ter comigo é tão grande que não consigo expressar em palavras! Sua
amizade, sua assessoria, sua dedicação são admiráveis. Eu amo você!
 
Grupo do Desafio Mari Salles obrigada por todo apoio meninas. Eu sou
grata por todo o aprendizado e “prometo escrever mil palavras, todos os
dias até o livro ficar pronto.” Funcionou para esse que foi escrito em 22
dias. Sim! Isso é verdade e graças ao apoio de todas essas mulheres
incríveis.
 
Por fim, mas não menos importante, para a minha família por todo o apoio.
À Deus por me capacitar e aos meus amigos por aguentarem as minhas
“sumidas” em períodos pré-lançamento. Amo vocês.
 
 
QUERO MUITO TE CONHECER MELHOR!
Parece inalcançável a relação autor/leitor, e por isso estou sempre aberta,
tanto nas minhas redes sociais quanto no meu grupo de leitoras para
conversarmos.
Se você gostou do meu trabalho, vem conversar comigo!
 
Entre em contato pelas redes sociais:
Instagram: @isabellasilveiraautora
Página do Facebook: Autora Isabella Silveira
 
E-mail: ism.escritora@gmail.com
 
Participe do meu grupo de leitoras (es) no WhatsApp e venha ser um(a)
Goxtosa (o):
https://chat.whatsapp.com/C8f8G60sNseH6iN95pA2RA
 
Isabella Silveira é natural de São Paulo, porém cresceu na capital de
Minas Gerais. Publicitária e comunicóloga, desde cedo percebeu que a se
comunicar era algo muito além da fala.
Na literatura descobriu inúmeros novos mundos, e ainda criança
sentia a maior felicidade em ter um livro nas mãos. Ainda nova arriscou
alguns rascunhos que nunca saíram do papel, porém após ler estórias que
não correspondiam às suas expectativas e conversavam com a mulher
decidida que ela sempre quis ser, resolveu colocar as suas ideias no papel, e
posteriormente mostrá-las ao mundo.
Amante da literatura nacional se aventurou na escrita por não se
conformar com o óbvio e ainda hoje tem o objetivo de surpreender seus
leitores com enredos diferentes do usual.
Escritora de mulheres fortes, independentes e donas do seu próprio
destino.
 
Ainda não conhece as minhas outras obras?
Te convido a ler e depois vir comentar comigo!
 
Achei você em Paris
Lara é uma aeromoça que sempre sonhou em conhecer a cidade Luz.
Feliz, destemida, dedicada, cheia de garra e com o coração enorme ela
passa por cima de todos os obstáculos para conseguir o seu objetivo, visitar
Paris.
Mesmo com as adversidades, e enfrentando preconceitos pela cor de sua
pele, ela não se abala e passa por cima de todos os percalços para ver a
sonhada Torre Eiffel. Mas, quem diria, que quando ela realmente chegasse
em seu objetivo, o seu coração bateria mais rápido por outro motivo?
Victor ainda está tentando encontrar o seu lugar no mundo. Adotado por
uma família muito bem sucedida, sempre se viu como a ovelha negra.
Arquiteto cheio de talento, o nerd atrapalhado resolve se mudar para o outro
lado do mundo em busca de algo mais. Quem diria que ele encontraria o seu
"mais" atropelando a bela donzela, com a sua mala, correndo para o
embarque em um avião?
 
Entre Posts e Amores
Laís é uma menina sonhadora.
Quando viu a oportunidade de sair do interior de Minas e conseguir uma
vida melhor para si e para a sua família a agarrou com unhas e dentes. Hoje,
formada em Relações Públicas pela USP se vê mais quebrada do que nunca.
Ela precisa de dinheiro!
Na ânsia de mostrar para todos de sua cidade do interior que conseguiu
“vencer na vida”, ela resolveu anos atrás mostrar todas as suas experiências
da cidade grande pelas redes sociais, e foi assim que sua carreira um
pouquinho mentirosa de blogueira começou.
Apesar disso, sem ainda conseguir ganhar dinheiro efetivamente com a
blogueiragem ela parte com tudo para o seu maior sonho: ser cerimonialista
no mercado de casamentos. Situações extremas pedem medidas
desesperadas, e por isso ela faz de tudo para conseguir o seu emprego dos
sonhos, tentando manter a qualquer custo a pose de boa vida nas redes
sociais.
Ela só não esperava conhecer o homem mais incrível do mundo durante
esse processo, e nem que ele fosse sobrinho da sua futura chefe.
Diego é o verdadeiro príncipe dos contos de fadas! Lindo e muito
simpático, sua meta de vida e ajudar as pessoas, sejam elas próximas ou
não. Depois de 2 anos em uma missão na Indonésia ele volta por um
ultimato: ele precisa entrar para os negócios da família. Mas um esbarrão
em uma linda caipirinha faz com que esse trabalho prometa ficar muito
mais leve e divertido.
Entre trapalhadas, casamentos, amores e mentiras, Laís tenta equilibrar tudo
sem se perder no processo. Mas até quando ela conseguirá sustentar toda a
pose sem acabar se quebrando?
Laís é casamenteira por profissão e blogueira por vocação. Conheçam essa
história e se encantem.
 
Entre Luzes e Romances
Depois de muitas aventuras, Laís conseguiu enfim o seu "feliz para sempre"
com o seu príncipe ativista Diego.
O que ela não sabe é que depois do tão sonhado SIM, é que as coisas
começariam a ficar interessantes.
Época de natal sempre nos reservam grandes surpresas, e para uma
blogueira gravidíssima isso não poderia ser diferente. Mais apaixonada pelo
seu enfim marido do que nunca, Laís está vivendo seu conto de fadas. Entre
casamentos, vídeos e uma família muito bagunceira passando o natal pela
primeira vez na capital, ela precisará equilibrar tudo e fazer com que seu
bem mais precioso não sofra no processo. Luíza, sua filha
 
E se eu me apaixonar por você?
Liz é uma médica, cirurgiã obstetra, renomada, dona do seu próprio nariz e
do seu próprio destino. Extremamente independente, ela tem como objetivo
ser feliz e por isso não aceita migalhas de homem nenhum.
Carlos é um tímido professor de música, que sonha em encontrar alguém
que faça o seu coração suspirar, e ser digna o suficiente para recitar as mais
belas canções de sua banda preferida. The Beatles.
Um incêndio cruza o caminho dos dois, e une esse casal improvável. Mas
será que isso é o suficiente para mantê-los unidos?
Venha se aventurar, rir e se apaixonar por Liz e Carlos, ao som da banda
mais famosa de todos os tempos. The Beatles.
 
Antologia LUNY – Lucy
Seja muito bem-vindo à LUNY!
Conhecida não apenas pelos belos jardins ao redor do campus, mas
principalmente por ser considerada uma das universidades mais renomadas
do mundo, a centenária Liber University of New York é um sonho realizado
para muitos.
Há quem diga que a faculdade é a melhor fase da vida.
Verdade ou não, na LUNY, entre salas de aula, dormitórios, festas, jogos do
Zion — o lendário time de futebol americano —, fraternidades e encontros
no Titans — o bar mais badalado da região —, o amor acontece.
É tempo de descobertas;
De (re)começar;
Errar e aprender;
Se aceitar;
Fazer amigos;
Sair sem hora para voltar;
Roubar um beijo;
Ser beijada ou beijado;
É tempo de se apaixonar.
E você vai ter a oportunidade de desfrutar desses encontros especiais, que
irão te arrancar suspiros, do início ao fim.
Uma Universidade, onze amores.
Que tal passar um tempinho acompanhado dessa coletânea de contos
românticos que se passam na LUNY?
 
Por trás dos Bastidores
Lia Reed volta para Los Angeles com um único objetivo, fazer a sua estreia
em Hollywood.
Desde a morte traumática de seu pai, um ator famoso da indústria
cinematográfica americana, ela enfrentou uma mudança para o Brasil e
iniciou a sua própria carreira sob os holofotes.
Hoje, mais velha e espalhafatosa, com nove ex-namorados, traumas ainda
não superados e insegurança em seus próprios atos, ela tem uma única
certeza: sua carreira é o que mais importa.
Ela jurou não se apaixonar e o objetivo era claro: fazer a sua estreia sem
nenhum efeito colateral. Só não contava que encontraria seu futuro marido
no primeiro dia de filmagens. E, principalmente, com a confusão que ela vai
se meter depois disso.
 
Antologia Era uma vez? – O mergulho da Sereia
Era uma vez, um pequeno reino localizado em uma ilha ao norte da Europa.
Um lugar lindo, cheio de belezas naturais e muitas histórias. Histórias essas
que até parecem ter sido inspiradas em contos de fadas.
Elsker é a terra de um povo muito tradicional e patriota, que cativa a todos
que ali visitam, e, tendo o país como palco dessa história, oito destinos se
cruzarão.
Em uma releitura moderna e adulta dos mais fantásticos contos de fadas,
vocês irão rir e se apaixonar. Afinal, eles não são feitos apenas para crianças
e nunca se é velho demais para encontrar o amor verdadeiro.
 
Top Model: A modelo do CEO
 
Luiza Franco precisa desesperadamente de dinheiro para cuidar da casa e
pagar o tratamento de câncer de seu pai. Por isso, tem passado por inúmeras
entrevistas frustradas, até que, por uma obra do destino, é atropelada por
uma montanha de músculos a caminho do seu emprego dos sonhos.
Pedro Alcoforado tem um único objetivo: trabalhar duro e fazer valer a
pena a vaga de CEO que sua prima lhe ofereceu. Pelo menos até esbarrar
em uma morena linda e desastrada de olhos azuis.
Em um encontro duplamente inesperado, Luiza se vê obrigada a ser
secretária na tão exclusiva Brumpel, e ter como chefe o homem
tempestuoso que mexe com o seu coração.
Mas, uma oportunidade surge e ela começa a trabalhar como modelo,
trazendo consigo o pior lado de Pedro.
Quanto mais ela cresce na carreira, mais possessivo ele se torna.
Será que o amor sobreviverá a tantos percalços?
 
Por trás de um Contrato
Layla Miller sempre lutou para ter o mundo aos seus pés. Com a sua
carreira de modelo já consolidada, ela decidiu se aventurar como atriz em
busca de novas emoções e um novo propósito.
Desde o seu último término, as coisas não andaram muito bem pra ela, tanto
em seu coração quanto com a mídia. As fake news repercutiram e ela
batalhou demais para conseguir limpar o seu nome e voltar a ter uma boa
reputação. Para ela, o trabalho é o seu bem mais importante e nada nem
ninguém vai desviar o foco no seu destino.
Por isso, quando um figurante contratado para ser o seu acompanhante em
uma premiação cai de joelhos aos seus pés, dando a impressão de que a
estava pedindo em casamento, ela não vê outra alternativa: precisa
participar dessa loucura de um casamento por contrato.
O arranjo que deveria ser simples tem apenas uma complicação: Tyler
Lewis. Sua língua afiada, seus músculos aparentes e seu humor ácido,
fazem com que ela se perca ainda mais entre mentira e realidade.
 
Cedendo à Tentação
Quatorze anos a separam da menina que teve o seu coração partido para a
mulher que adora pisar no coração dos outros.
Marcos Bessa voltou para o Brasil em busca de redenção.
Há anos ele deixou para trás uma menina confusa e apaixonada em uma
cidadezinha do interior, sabendo que isso seria o melhor para os dois e foi
se aventurar no exterior. Com a sua volta para o Brasil, encontra uma
proposta irrecusável de trabalho na empresa que Clara Machado fundou.
O que ele não esperava era que a menina de olhos claros e sorriso fácil,
depois de tantos anos se tornaria a mulher linda, sensual, ardilosa, com um
humor ácido e nenhuma paciência para as suas cantadas baratas.
O pior? Ele se vê intimado pela mulher que o leva a loucura: em três meses
o adendo em seu contrato acaba e ela poderá demiti-lo como planeja fazer
desde o seu retorno.
Marcos tem um prazo para reconquistar a mulher por quem sempre foi
apaixonado e que ainda guarda mágoa pelo passado, embora não seja
totalmente indiferente às suas investidas.
Será que ela conseguirá resistir?
 
Um Amor para o Pai Viúvo
Arthur perdeu a sua esposa no parto de Alice, e hoje, depois de dois meses
se vê completamente perdido e sem saber o que fazer. Cuidar de uma
criança recém-nascida é difícil, mas sem ajuda, se torna uma missão quase
impossível.
Letícia está sobrevivendo em sua vida monótona de enfermeira, cuidando
de todos e esquecendo de cuidar de si, tentando superar a perda de sua filha.
Um encontro no corredor de fraldas acontece tarde da noite e os antigos
colegas de escola se reencontram. Arthur desalentado e sem saber o que
comprar. Letícia se compadece, resolve ajudar e se apaixona pela bebê de
cabelos loiros, e, porque não dizer, pelo projeto de lenhador completamente
tatuado, segurando a criança com tanta proteção.
Uma amizade, uma família fora do padrão e um bebê que une um casal
improvável.
Será que eles estão destinados a ficarem juntos?
 
Amor nas Alturas
Guilherme Alcântara é um piloto sério e tímido que sempre viveu
respeitando as regras. Filho de uma família tradicional gaúcha, que trabalha
no ramo do empreendedorismo, ele lutou bravamente para conquistar a sua
independência e seguir a profissão que sempre sonhou.
Quando, por uma coincidência do destino, ele se esbarra em Loara Castro,
uma morena linda de olhos enlouquecedores no aeroporto, Guilherme
percebe que a vida pode ser muito mais do que ele sempre imaginou.
Um encontro ao acaso, momentos quentes em uma cabine de banheiro, uma
despedida despretensiosa.
O que ele não esperava era que o destino os colocaria frente a frente de
novo, e agora, sob novas regras, que nenhum dos dois está disposto a
cumprir.
 
Segunda Chance: Um bebê para o Médico
O jovem médico e pai solo, Murilo Mazzini, após ter um filho com sua
melhor amiga ainda adolescente, se dedicou aos estudos e à carreira,
deixando a vida amorosa em segundo plano. Pelo menos, até se encantar
por Lou.
Louise Vieira é uma mulher batalhadora que desistiu de confiar nos homens
quando acabou sendo abandonada grávida pelo ex. Até que encontra em
Murilo um bom amigo e alguém com quem pode contar.
O charmoso milionário se vê apaixonado pela mulher frágil e, disposto a
conquistá-la e evitar a todo custo a friendzone, precisa lidar com a
resistência da moça e suas inseguranças. Murilo está mais do que
determinado a tê-la para si.
Será que Lou vai ser capaz de resistir ao seu charme de bom moço?
 
Sem Retorno
Matteo Rizzi não sabia bem em que estava se envolvendo quando se rendeu
ao dinheiro fácil oferecido por um parente. Fato é, ele poderia ter saído do
negócio escuro e perigoso enquanto podia, mas o poder e o dinheiro falaram
mais alto. O que o atraente criminoso não esperava, era envolver seu amor
da adolescência na confusão que se tornou sua vida.
Luna Castro sempre foi uma mulher certinha e cercada de cuidados.
Empresária bem sucedida, ela não contava que se envolveria nas confusões
do homem por quem sempre foi apaixonada e para quem se guardou a vida
toda.
Em uma situação extraordinária, eles se veem juntos e obrigados a fugir dos
perigos que perseguem Matteo e que agora, envolvem a doce e inocente
Luna. Em uma jornada perigosa e repleta de ação, o improvável casal tem
que se unir para escapar dos mafiosos que os ameaçam.
Entre tantas emoções e enrascadas, ambos precisam lidar com os
sentimentos que se tornam cada vez mais fortes nesse amor em fuga.
 
Escolhida para o Príncipe
William Charles Scott Carter,  príncipe herdeiro  do trono de Lanuver,  está
em busca de uma esposa. Impopular, visto como arrogante e hostil, ele
acredita que não merece ser feliz. Para cumprir sua obrigação, aceita
um casamento por conveniência e ascender ao trono. Ele só não contava em
ter que procurar a "escolhida" em terras rivais, aonde o passado voltará para
lhe atormentar, e segredos antigos estarão prestes a serem revelados.
Leah Elizabeth Lancaster Reimond sempre quis uma vida simples. Apesar
de ser princesa de Vongher, ela  nunca  almejou a coroa, o poder, nem os
deveres que vinham atrelados a ela. O que ela não esperava, era que
seu maior inimigo voltasse para assombrá-la e mudasse a sua vida inteira de
uma hora para outra.
Um casamento arranjado.
Duas pessoas que se odeiam.
Um embate.
Em meio ao caos, o amor surgirá?

O pai é o CEO
Anthony Watson só pensa em uma coisa: trabalho.
Tempo é dinheiro, dinheiro é poder e poder é tudo o que uma pessoa pode
querer. Um dos homens mais ricos de Lanuver, dono de uma rede de hotéis
de luxo e também de um Condado, ele não se envolve com ninguém, tendo
a sua vida milimetricamente calculada.
Pelo menos era assim até conhecer a loirinha viajante que conseguiu para
abalar as suas estruturas.
Luana Albuquerque é uma escritora romântica e certinha.
Após o sucesso do seu último lançamento, ela embarca em uma viagem
sozinha para o país que inspirou suas histórias: Lanuver. Mas, ela não
esperava cruzar o caminho de um homem sério e incrivelmente bonito, que
parece ter como objetivo de vida estar em todos os lugares que ela vai
apenas para roubar o seu juízo.
Um envolvimento, momentos quentes e avassaladores, uma despedida cheia
de mal-entendidos.
Alguns meses depois ele ainda não conseguiu tirá-la de seu sistema, e ela
teve como herança da viagem o seu bem mais precioso: seu filho. Será que
apesar de todas as dificuldades eles conseguirão ficar juntos?
De uma coisa Luana tem certeza: O pai é o CEO.
 
A obsessão do CEO grego – Um contrato com a virgem
Milionário, ardiloso, cafajeste e poderoso como nunca, Alex Zur está de
volta para reconquistar tudo o que perdeu anos atrás. Acostumado a ter o
mundo a seus pés, sua obsessão por vingança só perde para o desejo insano
de ter de volta a única mulher que amou, Laura Morais.
Laura é uma jovem boa e generosa que ainda precisa lidar com a depressão
ocasionada por traumas do passado. E em uma reviravolta do destino se vê
obrigada a aceitar um contrato de casamento falso, oferecido pelo pior
inimigo do seu pai, e torcer para que assim consiga ajudar a sua família.
Ele passou anos planejando minuciosamente como destruir o seu maior
inimigo e reconquistar a única mulher que amou. Agora, precisa descobrir
como não se perder em uma história de vingança, poder e amor.
 
 

Você também pode gostar