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Copyright © 2022 Isabella Silveira
PLAYLIST
SINOPSE
NOTAS DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
CAPÍTULO 53
CAPÍTULO 54
CAPÍTULO 55
CAPÍTULO 56
CAPÍTULO 57
CAPÍTULO 58
CAPÍTULO 59
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
ENTRE EM CONTATO
SOBRE A AUTORA
Aproveite!
Milionário, ardiloso, cafajeste e poderoso como nunca, Alex Zur está de
volta para reconquistar tudo o que perdeu anos atrás. Acostumado a ter o
mundo a seus pés, sua obsessão por vingança só perde para o desejo insano
de ter de volta a única mulher que amou, Laura Morais.
Laura é uma jovem boa e generosa que ainda precisa lidar com a depressão
ocasionada por traumas do passado. E em uma reviravolta do destino se vê
obrigada a aceitar um contrato de casamento falso, oferecido pelo pior
inimigo do seu pai, e torcer para que assim consiga ajudar a sua família.
Ele passou anos planejando minuciosamente como destruir o seu maior
inimigo e reconquistar a única mulher que amou. Agora, precisa descobrir
como não se perder em uma história de vingança, poder e paixão.
Olá, goxtosa (o),
Obrigada por ter optado pelo livro: A Obsessão do CEO Grego – Um
contrato com a virgem! Esse livro é muito especial para mim. Lançado
anteriormente na Amazon com o nome Meu Infinito ele foi a minha
segunda história publicada, e senti em meu coração que precisava revisitá-la
e repaginá-la. Essa nova versão ganhou 20 novos capítulos e algumas coisas
foram alteradas no percurso para deixar o texto mais fluido e não ter
nenhum tipo de erro de continuidade.
Apesar de não ser um livro dark, aqui tratamos de um drama que pode lhe
trazer alguns gatilhos:
- Tentativa de suicídio
- Depressão
- Uso de substâncias como remédios e Álcool
- Violência física
Essa história é intensa, mas ao mesmo passo que é muito bonita! Espero
que você possa aproveitar esse tempo com esses personagens incríveis, e
que goste desse livro tanto quanto eu.
Ah! E se você achar que eu mereço, avalie o livro, por favor, evitando
spoilers. Isso ajuda muito os autores iniciantes.
PS: Caso você tenha pego essa obra de forma ilegal por qualquer outro
meio que não seja a Amazon/Kindle Unlimited, saiba que esse tipo de
compartilhamento não foi autorizado por mim e dessa forma, atrapalha o
meu trabalho, além de ferir os meus direitos.
Aproveite,
Com amor, Isabella Silveira.
Dedico esse livro para todos que estão
lutando para sair da depressão assim como eu.
O sol brilhará, e se ele ainda não brilhou,
não chegamos no fim. Confia!
Sentado à mesa na sala de reuniões, eu não consigo disfarçar o meu
descontentamento.
Todos já estão sentados em seus devidos lugares, inclusive o cuzão
do Otávio, que parece ansioso e trêmulo ao olhar em minha direção. Bom,
todos estão na sala de reuniões, menos ela, a razão de todo esse teatro, e o
motivo pelo qual eu preciso cumprir a minha vingança. Foi por isso que eu
voltei depois de tantos anos, disposto a acabar com a vida de quem tentou
acabar com a minha.
Laura Morais não está presente, isso começa a me irritar, afinal,
Rodrigo garantiu que ela estaria aqui. Algum idiota começa uma
apresentação, mas meu foco total é no relógio, que completa voltas e voltas
enquanto a ruivinha não chega. Me sinto patético, e quase pergunto onde ela
está para os outros presentes na reunião, mas contenho meu impulso assim
que escuto a porta se abrir.
Laura entra a passos rápidos, parecendo envergonhada pelo atraso e
eu não consigo desviar meus olhos da ruivinha. Ela se tornou ainda mais
confiante, sexy e insanamente linda.
Como isso pode ser possível?
É claro que eu vi fotos, vídeos e todo tipo de coisa sobre ela antes de
chegar a São Paulo, mas nada me preparou para olhar em seus olhos
novamente e ver que, apesar de ter se transformado em uma mulher linda,
ela ainda se parece muito com a minha menina de dez anos atrás. Minha.
Um anjo de olhos azuis e cabelos vermelhos, que agora estão mais
compridos, quase acima de sua bunda, mas apesar dos cabelos longos,
Laura continuou pequena e delicada. Não consigo desviar o meu olhar de
seu corpo, e assim que ela pede desculpas pelo atraso, sinto meu pau se
manifestar dentro da minha calça apertada.
Isso é demais para mim, e mesmo sabendo que tenho um plano a
cumprir, a parte que mais me dará prazer não será mais acabar com o
desgraçado do Otávio Morais, e sim, me casar com a sua princesinha. Isso
sim, eu farei com muita satisfação.
Uma garota de quatorze anos tem as suas prioridades naturais.
A minha, obviamente, não era tão comum quanto as de todas as
outras garotas da minha idade, e eu juro que não estou fazendo um
tremendo drama quando digo isso. Afinal de contas, quando os meus pais
falam que não sou todo mundo, eu provavelmente deveria acreditar.
Todas as outras garotas dessa idade, paulistas, com perfeita saúde
física e mental são repletas de amigos, frequentam festas com alguma
frequência e já tiveram algum contato com garotos. Já eu, estudei a minha
vida inteira em um colégio interno religioso, no interior, livre de qualquer
pessoa do sexo masculino. Literalmente! Até a porteira era mulher, então,
realmente as coisas eram… complexas.
Mas, agora tudo vai mudar!
O ensino médio chegou, finalmente, e eu não poderia estar mais
animada para ir para o exclusivo, temido e pouco falado, Elite
Internacional. Minha família inteira estudou nesse pequeno antro elitista e,
aparentemente, eu sou o legado do legado, o que obrigou o meu pai a me
matricular para cumprir certas "convenções sociais". Graças a Deus.
A competição realmente é muito incentivada por ali, e querendo ou
não, dentro da minha família eu nunca posso "perder". Meu objetivo para o
exame de admissão é, e sempre foi, obter uma nota alta para poder estar na
classe A, primeira seção, a qual pertencem os alunos mais inteligentes, que
possuem as melhores oportunidades e os melhores contatos quando nos
formarmos. Pelo menos, foi o que me disseram.
— Você tem que obter uma nota maior do que noventa em seu
exame de admissão. Só assim, você entra na primeira seção, onde estão os
melhores, é lógico! — minha irmã, Gabriela, não para de me dizer isso. Se
é para me incentivar ou me amedrontar eu ainda não descobri. — Eu só
consegui oitenta e sete, por isso, estive na segunda seção em meu primeiro
ano, e fiquei presa nela até meu último ano. Ter estudado no colégio interno
não me ajudou em nada, então, pelo amor de Deus, não siga o meu exemplo
e arrase no exame amanhã.
Como mais uma garfada do meu jantar, ignorando completamente o
que ela diz. Não é como se eu fosse ficar batendo boca sobre isso, até
porque, em uma discussão, minha irmã mais velha sempre ganha, já que me
perco nos argumentos e começo a chorar de frustração.
Gabriela acabou de terminar os estudos, e por algum milagre,
conseguiu uma vaga em uma Ivy League, para a felicidade de toda a
família, calando a boca das tias fofoqueiras. Pronta para dedicar o resto da
sua vida a se preparar para assumir a administração das empresas de papai,
seu direito por ter nascido primeiro. Pelo menos, é isso que ela diz para si
mesma para aceitar esse fardo que eu de maneira nenhuma gostaria de ter
para mim mesma. Gabriela tem uma postura perfeita para isso, preciso
ressaltar, depois de tanto tempo se preparando para tal feito. Extrovertida,
bonita, ambiciosa, impaciente, inteligente e altamente consciente do status
que temos. Assim como o papai.
Eu os chamo de soberbos em meus pequenos devaneios. Mas,
obviamente, eles não sabem disso.
— Gabriela, chega de pressionar sua irmã. Laura sempre foi uma
garota muito inteligente. Tenho certeza de que ela pode conseguir pegar a
primeira sessão facilmente. E não se esqueça de que ela também foi para o
internato no primário. — minha mãe diz, e recebe o apoio do meu pai,
Otávio Morais, um dos homens de negócios mais ricos do Brasil.
Por algum motivo isso não me motiva, apenas aumenta o meu medo
de falhar.
É difícil sempre ter que se provar, a todo momento.
Dois dias depois, observo Joaquim, o motorista, dar partida no carro
e entro no prédio do Elite suando frio. Se em uma prova para entrar no
ensino médio estou desse jeito, não imagino como vai ser a minha
performance na faculdade, isso me faz tremer só de pensar.
Bom, é agora ou nunca, não é? Será que dá tempo de eu me
esconder dentro de algum armário e fingir que fui sequestrada?
Procuro onde será a minha sala e entro, quase uma hora antes do
início. Sei que cheguei cedo, mas ficar em casa, com Gabriela me
enlouquecendo, estava fora de cogitação. Literalmente, tive até um caso
sério de piriri antes de vir para cá, e eu nunca tenho esse tipo de problema,
já que meu intestino é preso pra caramba.
Quase cinquenta calouros, amontoados em um auditório abafado. O
que há de errado com esse ar-condicionado? Recebo a prova e começo a
suar. A mensalidade daqui é um absurdo, deveria ter o mínimo de estrutura,
afinal, vamos passar seis horas do nosso dia nesse auditório, respondendo
mais de cento e oitenta questões! Meu Jesus Cristinho, serão só dois
minutos por questão, se o lápis ficar escorregando da minha mão porque eu
estou suando vou perder tempo demais e não vou conseguir terminar essa
prova. Minhas mãos começam a tremer e eu não consigo me concentrar.
Que pânico!
Um adolescente de cabelos castanhos e olhos azuis elétricos se senta
bem ao meu lado, e eu fico um pouco incomodada com a sua proximidade.
Além de ser bonito de um jeito desconcertante, o cara não para de bater o
lápis em sua mesa e, mesmo não sendo tão alto, isso distrai minha
concentração.
— Ei, qual é sua resposta para a questão número dois? — Ele me
pergunta, em um tom debochado. O ignoro, com a testa franzida.
Que descaramento! Colar durante o exame de admissão é o melhor
exemplo de como ser expulso sem nem entrar na escola.
Finjo não ouvir e continuo fazendo a minha prova, como se ele não
existisse. Deus me proteja de ser humilhada na frente de toda a escola
porque fui pega colando. Socorro.
Um exame gigantesco, mais um teste de QI e um de raciocínio
abstrato. Aparentemente, eles estão testando também o nosso instinto de
sobrevivência e a capacidade de ficar milhares de horas sem comer, já que
no edital estava escrito que é proibido trazer qualquer tipo de comida.
Bom, mas ninguém disse nada sobre beber, não é?
Tiro da minha bolsa um Toddynho salva vidas, bebendo quase tudo
em uma golada só, morrendo de fome. E engasgo. Puta merda, que coisa
horrível! Isso não pode estar certo. Definitivamente.
Olho a data de validade e meus olhos saltam das órbitas. Vencido há
três meses. Só pode ser brincadeira. Está mais do que azedo, e, assim que
ele chega em meu estômago, eu tenho certeza de que vou vomitar. É isso, a
humilhação veio sem eu precisar me preocupar com qualquer outra coisa,
muito menos, colar de alguém durante o exame. Termino de fazer o teste
com a maior pressa que um ser humano nessa situação pode ter, e quando
eu finalmente entrego as minhas folhas, saio correndo para o banheiro,
pronta para colocar tudo para fora.
Infelizmente, havia alguém que não estava com a mesma pressa que
eu, e só percebo quando sinto o impacto. Bato com tudo em uma parede
macia e quase caio de bunda no chão, cambaleando alguns passos para trás,
desnorteada.
— Ei, qual é a pressa, ruivinha? — O mesmo menino que estava
sentado ao meu lado durante o exame pergunta, e eu não consigo nem
disfarçar o meu ranço. Olho fixamente para ele e fico surpresa com o que
vejo. Onde antes havia uma testa franzida, agora há sobrancelhas arqueadas,
espantadas com a aparência do menino. Ele não é bonitinho, é
impressionantemente lindo. Alto, magro, com um corpo levemente atlético.
De repente, fico abobalhada e não consigo me mexer.
— Ainda fingindo não me ouvir? Que desperdício, o gato comeu a
sua língua? — ele ri.
Aff. Que babaca! Com certeza, está irritado por eu não ter passado
as respostas do exame. Não é minha culpa se ele é burro e não consegue se
virar sozinho. Eu hein!
Minha raiva aumenta de zero a cem de uma forma muito rápida. Eu
estou prestes a dar-lhe um sermão de boas maneiras e conduta quando, de
repente, meu estômago se torce e náuseas me atingem.
Ai, meu Jesus Cristinho!
É nessa hora que a pior coisa do mundo acontece: eu não consigo
mais segurar meu vômito e despejo tudo em cima de sua camisa.
— Puta merda! — Ele exclama em estado de choque.
MEU DEUS! O que eu fiz?
Fico tão envergonhada que imediatamente o deixo no corredor e corro
em direção ao banheiro feminino, desejando que o chão se abra nesse
momento e me engula lá para o fundo.
Eu realmente espero nunca mais ver esse garoto novamente.
Observo a fachada do colégio Elite Internacional e reviro os olhos
antes de entrar. Como bolsista, eu preciso todos os anos, religiosamente,
fazer a prova de seleção especial para que os supervisores pobres, que não
têm cacife para colocar os filhos no colégio, tenham certeza de que eu sou
bom o suficiente para me misturar aos filhos dos mais ricos de São Paulo.
Sim. É isso que eu preciso aguentar para que a minha educação seja
perfeita, e todo o tipo de coisas que a minha mãe está disposta a argumentar
todas as vezes em que eu me sinto desmotivado com as patricinhas, que
faltam chorar porque quebraram uma unha.
Estudar, jogar basquete e ainda fazer uns bicos no fast food durante
o fim de semana. Essa é a minha vida.
Entro no auditório lotado de calouros que parecem tremer mais do
que vara verde, e abro um sorriso faceiro para a Alexia, a morena por volta
dos trinta anos, coordenadora da escola, que está sempre muito disposta a
conversar comigo.
— De novo aqui, Martins? — ela pergunta, e eu dou de ombros,
antes de pegar a minha prova, feita especialmente para os bolsistas.
— Aparentemente, eu preciso ter a melhor nota de toda a escola. Por
mais um ano seguido… — digo brincando, e ela adota as bochechas
vermelhas que eu gosto tanto — você sabe, tenho um recorde a bater.
— Exibido! Vai se sentar. — ela diz com um aceno de mãos, e eu
vou até um dos únicos lugares vazios, ansioso para terminar essa merda e
me mandar daqui.
Uma ruivinha, caloura, me chama a atenção e começo a reparar em
como ela fala sozinha, murmurando palavras de incentivo para si mesma
durante toda a prova. Apesar de serem difíceis, as provas do Elite nunca são
extraordinárias, e enquanto batuco o lápis, fazendo a conta de matemática
na minha cabeça, percebo que ela simplesmente não consegue disfarçar o
descontentamento.
O que torna tudo, obviamente, muito mais interessante.
— Ei, qual é sua resposta para a questão número dois? — pergunto,
sem conseguir me controlar.
Nem estamos fazendo a mesma prova, isso nunca daria nenhum tipo
de problema, mas mexer com ela, além de observá-la, passou a ser algo
extremamente prazeroso nessa tarde quente e insuportavelmente tediosa.
A ruivinha escuta e resolve me ignorar, mas como seria sacanagem
continuar a importuná-la, resolvo deixar esse tipo de distração para lá. É
melhor chegar em casa e jogar meu lolzinho, ou qualquer outro tipo de
coisa, do que ser responsável pela desgraça alheia.
Nem sou um cara ruim para ficar mexendo com a menina a ponto de
ela ir mal na prova. Apesar de que ela é uma gatinha, isso não dá para
negar.
Termino o teste e, depois do tempo aceitável, me levanto, deixando
a prova com Alexia que parece mais interessada em mexer no seu celular do
que em observar os alunos fazendo a prova em pleno sábado.
— Já vou indo. — digo abrindo um sorriso, que ela retribui antes de
completar:
— Agora vai sair com alguma namorada…? — até percebo seu
interesse, mas ignoro, negando com a cabeça.
— Não tenho tempo para isso… hoje vou fazer um freela no
fastfood. — respondo, sem vergonha nenhuma. Tem gente que nasce com
dinheiro, eu nasci com disposição.
— Então, bom trabalho. Até segunda. — ela responde, e eu retribuo
com um sorriso. Caminho ansioso para sair desse antro claustrofóbico,
ainda sorrindo e segundos depois, sou atingido com tudo por alguém
apressado.
Me viro, pronto para xingar o babaca, mas quando vejo a ruivinha
parecendo atordoada, abro um sorriso grande. O universo está de prova que
não fui eu quem comecei a mexer com ela, e sim ela quem praticamente se
jogou em cima de mim.
— Ei, qual é a pressa, ruivinha? — pergunto e a vejo estreitar os
olhos desconfiada.
De lado, ela parecia bonita, mas de frente, observando bem, a
menina é realmente linda. Os cabelos ruivos são diferentes para o Brasil, e
isso a torna totalmente original, mas é o seu rosto angelical e a boca em
formato de coração que rouba a minha atenção.
Ela também parece surpresa e, como quando vejo um olhar
admirado, consigo reconhecer, resolvo provocá-la, para ver até onde isso
pode ir:
— Ainda fingindo não me ouvir? Que desperdício, o gato comeu a
sua língua? — pergunto rindo, e ela estreita os olhos, parecendo não gostar
muito da minha brincadeira.
Antes que eu possa me desculpar, ou fazer qualquer comentário que
mostre que eu não sou um babaca idiota qualquer, ela começa a mudar a sua
expressão, e em um segundo a coisa mais bizarra do mundo acontece:
Eu tomo um banho de vômito.
— Puta merda! — é a única coisa em que eu consigo pensar,
porque, sendo muito sincero, eu nunca imaginei que a ruivinha estivesse
passando mal dessa forma.
Mas antes que eu possa ajudá-la, perguntar se ela está bem ou fazer
qualquer coisa, ela sai correndo, me deixando todo sujo, um pouco confuso
e impressionado.
É. Essa é a primeira vez que eu sou respondido com um jato de
vômito, e sendo honesto, não é nem um pouco interessante.
UM MÊS DEPOIS…
Posso dizer que o ensino não está sendo nada ruim como Gabriela
tanto reclamou, e eu assisti nos filmes de comédia romântica adolescente.
Na verdade, eu estou adorando.
Estar na terceira seção já não importa mais, agora que eu me adaptei
à dinâmica e fiz amigos. Honestamente, não ter mais aquele peso nas
costas, de ser o melhor em tudo, é libertador. Sou boa no que consigo, e é
isso aí. Claro que todos da minha família terem sido muito compreensíveis
ajudou, depois que souberam dos acontecimentos do dia da prova.
Sinceramente, ter passado mal foi uma ótima desculpa para o meu
resultado.
Ninguém pode me julgar por ter vomitado em um colega de classe
logo depois do exame, não é? Apesar disso, eu prometi a eles que faria o
meu melhor para obter notas altas, e no próximo ano ter uma média
suficiente para ser transferida para a primeira seção.
Grande parte da minha felicidade é porque fiz muitos amigos na
escola. Principalmente, as melhores amigas que alguém poderia ter no
mundo: Fernanda, Sarah e Duda. Nós quatro estamos sempre juntas,
compartilhando todas as coisas que garotas de quatorze anos compartilham:
segredos, músicas, séries, roupas e paixões, é claro. Cada uma tem o seu
motivo, mas o fato de não sermos experientes quando se trata de garotos
nos uniu de uma forma bastante intensa.
Fala sério, eu estudei em um colégio interno durante toda a minha
vida. Se eu não tivesse curiosidade em experimentar coisas novas com o
sexo oposto, eu nem poderia ser considerada normal.
Mas, nem tudo são flores, e a minha lista de micos tem aumentado
dia a dia, seja por alguma gafe que falo, algum tipo de piada que não
entendo, ou por ter apenas convivido com freiras durante toda a minha vida.
Falando em garotos, descobri que o cara irritante em quem vomitei durante
o exame de admissão é primo da Duda, e que eles são praticamente irmãos.
Depois que ela soube do meu pequeno delito, vira e mexe fica me zuando
sobre o "desastre de Igor Martins". Nome trágico que ela usa para se referir
ao momento mais vergonhoso de toda a minha vida.
Sempre que Duda fala sobre ele, todos começam a revirar os olhos,
pelo seu tom maternal orgulhoso, o que nem cabe nessa situação, já que o
tal Igor é mais velho. Mas, não posso ser hipócrita e fingir que essa
admiração não tem um fundo de verdade, afinal, ele está na primeira seção,
em seu último ano do colegial. Além de também ser o principal atleta do
time de basquete da escola. Com toda essa propaganda, todos já tinham
entendido que ele era o pacote completo. Sonho de todas as meninas do
colégio.
A única coisa que me deixou com uma pulguinha atrás da orelha foi:
Por que ele me pediu as respostas se é tão inteligente e passou para a
primeira seção? Principalmente, por ele ser um veterano, e eu uma simples
caloura… isso nunca fez o menor sentido.
Por ele ser completamente desejável, e eu ter uma quedinha, bem
pequena, e definitivamente secreta, por ele, fiz o que toda e qualquer garota
em meu lugar faria: fugi dele, como o diabo foge da cruz.
Na medida do possível, passei a evitá-lo, como se a minha vida
dependesse disso. Sempre que o via se aproximando, eu ia para o outro
lado. Inventava todo tipo de desculpa para não estar perto dele, e correr o
risco de ele me humilhar perto dos meus colegas, por causa do incidente
que aconteceu. Apesar de saber que, provavelmente, estou sendo paranoica,
e que, em teoria, ele não me nota, eu vomitei nele! Não teria como ser pior.
— Filho, eu já disse que não precisa me dar esse dinheiro. Eu
consigo manter a nossa casa, é por isso que eu trabalho tanto. — dona
Helena reclama, assim que eu coloco em sua mão as poucas notas que
ganhei pelo fim de semana trabalhando no fastfood. — Sei disso,
mas não vejo problema nenhum em ajudar. Além do mais, é só no fim de
semana, pelo menos até eu completar o ensino médio e ser maior de idade.
— pelo menos, é o que todos que me contratam dizem, com medo das leis
trabalhistas que podem se voltar contra os proprietários a qualquer
momento. Não que eu fosse denunciar, ou qualquer coisa do tipo.
— Igor… você é impossível, filho. — ela diz, mas me abraça forte,
antes de respirar fundo e tentar disfarçadamente engolir o choro.
Nossa vida nunca foi fácil.
Meu pai foi um filho da puta e nos abandonou em algum momento
da minha infância, deixando minha mãe sozinha, sem dinheiro, sem casa e
com um filho pequeno para cuidar. Não tem como dizer que ela não foi uma
guerreira. Muito menos, que ele não foi um filho da puta.
A vida é assim, eu preciso aceitar e correr atrás e fazer o meu.
— Caraca, Duda, você não me dá um minuto de paz! — reclamo
quando minha prima me liga pela vigésima vez, em pleno sábado à noite.
— Nossa, finalmente atendeu. Está achando o quê meu filho? Que a
gente vive ao seu redor, para fazer apenas o que você quiser? — ela diz,
parecendo ansiosa, e eu consigo escutar ao fundo as risadinhas das suas
amigas.
— Se isso for um trote, eu não vou cair. Quem está aí com você? —
pergunto como quem não quer nada, esperando para saber se ela vai
confidenciar que quem está com ela é a ruivinha que nunca mais saiu da
minha cabeça.
Laura Morais, como eu descobri logo na primeira semana de aula, é
uma menina doce. Pelo menos, parece ser, já que ela nunca se dignou a
trocar meia dúzia de palavras comigo. A menina foge de mim como o diabo
foge da cruz, e o fato de eu ter sido um babaca, atrapalhando-a na hora do
seu teste, e depois não ter ajudado quando ela estava passando mal, não
contribui em nada para mudar a sua impressão.
— Não precisa ser tão dramático, eu estou com algumas amigas em
casa e preciso de um favor seu. — ela responde, e eu sinto um leve frio na
barriga. Com certeza, boa coisa não deve ser, se não, ela pediria a ajuda de
outra pessoa.
— Eu estou um pouco ocupado agora. — respondo para cortá-la,
mas ela me pega de jeito com a sua fala seguinte.
— Bom, eu tenho absoluta certeza de que você vai gostar da minha
proposta, já que envolve a Laura e você é doido por ela. — Depois de eu
perguntar várias e várias vezes sobre as suas amigas com o intuito de saber
um pouco mais da ruivinha que me interessava, ela simplesmente me fez
contar todo o incidente do dia do teste de admissão. Desde então, ela me
inferniza com a possibilidade de um dia ficarmos juntos e ela ser madrinha
do nosso casamento. Antes que eu possa contestar sua afirmação,
envergonhado por ela ter percebido minhas segundas intenções, me tirando
dos meus devaneios, ela continua: — Mas, se isso não for motivação o
suficiente, posso perdoar a dívida do conserto do seu vídeo game.
— Você só pode estar maluca. É muito dinheiro! — falo indignado
— Além disso, o que você poderia propor que eu fosse gostar, envolvendo
sua amiguinha?
— Deixa de ser chato e pare de pensar tanto. Estou te esperando em
quinze minutos. Fala com papai quando chegar, diz que veio assistir um
filme com a gente porque a sua televisão não está funcionando. Ele nem vai
perceber a mentira. — ela desliga o telefone, me deixando completamente
no escuro.
O que essa menina está aprontando?
E, por que eu estou correndo até o banheiro para tomar um banho a
jato e me arrumar para ir até a sua casa?
Com absoluta certeza, eu não estou em meu juízo perfeito.
Mas, durante o caminho, eu tento me convencer de que estou indo
até a sua casa apenas porque a oportunidade de não ter que ralar durante a
madrugada na próxima semana para pagar a minha dívida é muito
vantajosa. Nada tem a ver com a ruivinha de olhos meigos, que se tornam
assustados quando olham para mim.
Em poucos minutos chego, e meu tio me cumprimenta com o
semblante surpreso. Geralmente, eu não apareço sem avisar.
— Oi tio, tudo bem? A Duda me chamou para ver o lançamento do
último episódio de uma série que gostamos muito. A televisão de casa
estragou. — digo a desculpa estúpida que ela inventou e, sem maiores
explicações, ele abre caminho para que eu suba, onde a minha prima me
espera, com um sorriso sinistro.
— Demorou por quê? Achei que tinha desistido.
— Não sei do que se trata para desistir ou não! — retruco, porque é
verdade, e ela tira do bolso uma venda para tapar os meus olhos.
— Duda…, mas que merda! Eu vou te matar.
— Não vai nada. Vai me agradecer!
Eu não pude acreditar na minha sorte, quando percebi os planos
malignos de Duda. Muito menos, depois do melhor beijo da minha vida,
soube como consegui descer as escadas, inventando uma mentira qualquer
para o meu tio, e me mandar dali, antes que a ruivinha se desse conta do
que realmente aconteceu e viesse tirar satisfações ou qualquer coisa do tipo.
Que puta beijo, meus amigos! Nem dá para acreditar que foi a
primeira experiência da menina linda de olhos azuis curiosos.
Como conseguir tirá-la da minha cabeça, agora que provei o seu
sabor?
Assim que chego em casa, ainda meio abobalhado, olho para o meu
telefone, com o seu número em mãos, e pondero como eu deveria proceder
agora. Meus amigos do time de basquete, com certeza, me incentivariam a
não demonstrar que gostei tanto do tal beijo, muito menos, que ela me
afetou tanto. Mas, depois de duas horas remoendo o que eu deveria fazer,
mandei tudo para o alto e simplesmente decidi fazer o que me deu vontade,
e nesse caso, era mandar uma mensagem para a ruivinha que aparecia em
meus pensamentos todas as vezes em que tentava fechar os olhos:
Igor: Laura, você está por aí? Queria que soubesse que gostei muito
do nosso beijo. O que acha de sair comigo?
Acho que nunca fiquei tão ansioso em toda a minha vida. Apesar de
saber que estamos em plena madrugada, e que, provavelmente, a ruivinha já
está dormindo há tempos, fico ansioso pela sua resposta, que chega quase
dez minutos depois:
Laura: Eu preciso confessar que também gostei muito. Adoraria sair
com você, e inclusive, pode escolher o lugar, mas como meus pais são
muito rígidos, preferiria que você me encontrasse na casa da Duda. Pode
ser?
Igor: Combinado! Vou pensar em algo legal e te mando uma
mensagem.
Yes! Ela também gostou, e principalmente, aceitou o nosso passeio.
Com um sorriso enorme no rosto, começo a procurar o que fazer em São
Paulo tendo baixa renda e sendo menor de idade. Tenho a impressão de que
a ruivinha não se aventuraria em nada ilegal, já que para passar uma
simples colinha de brincadeira no teste de admissão ela quase teve um
piripaque.
O piquenique no Ibirapuera foi ideia da minha mãe.
Segundo ela, toda mulher adoraria passar o dia em um lugar bonito e
ser surpreendida por um piquenique romântico, com coisas gostosas de
comer. E, mesmo envergonhado por correr até a minha mãe para receber
conselhos de como lidar com garotas, coisa que antes eu nunca tive que
fazer, já que eu nunca tinha tido interesse real em nenhuma delas, pedi para
que ela me ajudasse a montar algo especial.
A ruivinha parece ter gostado da surpresa, pelo seu sorriso amplo, e
passamos a tarde inteira conversando sobre tudo o que poderíamos falar e,
surpreendentemente, eu realmente queria saber a sua opinião sobre tudo o
que me interessava.
Quando Laura levantou o rosto, absorvendo a luz do sol, eu me senti
hipnotizado. Como alguém poderia ser tão bonita assim? Honestamente, eu
nunca saberia dizer.
— Laura… não sei como dizer isto, mas… — comecei a dizer,
odiando me embolar com as palavras.
Sei que estou sendo precipitado, mas não teria como não pensar em
algo do tipo quando eu estou tão próximo a ela, ansioso para tocá-la
novamente. Ela se vira para mim, parecendo surpresa, mas não desvia os
olhos dos meus, me fazendo engolir seco.
— O que foi, Igor? — pergunta gentilmente.
— Eu não quero que sejamos amigos. — as palavras não saem como
eu esperava, e percebo que ela se ofende, parecendo magoada.
— Se você não quer que eu seja sua amiga, então, por que estamos
aqui? O que é que você quer de mim? — ela pergunta confusa, e estreita os
olhos, se afastando um pouco.
Merda! Ela entendeu tudo errado. Parabéns, gênio.
Esfrego meu rosto com as duas mãos, e olho para baixo, muito
desconfortável com a minha falta de tato. Como posso recuperar a minha
chance com a ruivinha agora? O que eu preciso fazer para que ela entenda
que eu estou completamente enfeitiçado pelos seus cabelos ruivos?
— Eu não quero que sejamos amigos, eu quero mais do que isso,
ruivinha. — digo sério, e ela parece muito surpresa com a minha revelação.
— O que quer dizer com isso? — ela sonda, parecendo incrédula, mas
eu abro um sorriso tímido, antes de explicar com todas as letras qual é a
minha verdadeira vontade.
— Eu quero ser seu namorado, Laura.
A antecipação me corrói por dentro, e enquanto ela parece processar
a minha revelação, me sinto gelado. Só beijei a garota uma vez na vida, é
claro que fui precipitado em dizer que queria namorar. Com certeza, ela tem
muitas opções, ou eu a assustei…
— Igor, acabamos de nos conhecer. — sua fala é incerta, e sinto a
rejeição doer em meu peito. Nunca tinha sentido isso antes, é claro que eu
também nunca havia pedido ninguém em namoro, mas porra… não faria
esse tipo de estupidez tão cedo.
— Tudo bem, eu entendo. Me desculpe, eu não deveria ter dito isso.
Você está completamente chocada, eu consigo ver na sua cara. — digo,
abaixando a cabeça, um pouco envergonhado. Mas, que inferno! Eu posso
ser rejeitado, mas preciso dizer tudo o que estou sentindo, pelo menos,
assim, a ruivinha vai entender o que eu estou querendo com ela. — Na
realidade, Laura, desde quando te vi, não consigo te tirar da cabeça. Isso vai
muito além do que aconteceu no seu aniversário. Está gravado na pele já.
Fico te procurando nos corredores, sempre que você está com a Duda eu
tento me aproximar… nosso beijo foi a cereja do bolo para que eu
entendesse que realmente te quero. Mas, entendo que você não sente o
mesmo que eu, por isso, eu vou esperar. Por enquanto, seremos o que você
quiser, e se realmente for isso, seremos apenas amigos.
— Igor. — ela parece estar sem palavras, mas segura a minha mão
com firmeza, e isso me dá uma confiança que eu nunca imaginei que
tivesse.
— Vou esperar.
E esperaria pelo tempo que fosse necessário.
Aceitei feliz e sem pensar duas vezes, a rotina discreta do nosso
relacionamento, porque, no fim, Laura sempre valeria a pena.
Mas é um saco ter que namorar alguém escondido, ainda mais
chato, quando o folgado do calouro do time de basquete começa a
atormentar a sua vida dando em cima da sua namorada. Lucas, mais um dos
riquinhos metidos a besta que frequentavam aquele colégio, resolveu que
Laura era a vítima da vez, fazendo com que todos vissem a minha ruivinha
como um grande troféu. Mesmo sabendo que quem tinha levado a melhor
nessa história era eu, não podia defendê-la, e isso começou a me deixar
irritado em níveis estratosféricos.
Não é à toa que existe uma música que afirma que: meninos serão
sempre meninos. Mas, no ensino médio, todos parecem perder cinco
neurônios a cada vez que abrem a boca, e o tanto de asneira que aquele cara
falou me deixou por um triz. Só me controlei porque, entre perder a cabeça,
e perder a ruivinha, eu não tinha dúvida de qual opção eu escolheria, por
isso, fui embora na sexta-feira cheio de raiva, mas ansioso para o dia
seguinte, afinal, era o nosso dia.
Na tentativa de inovar, fomos passear na paulista, onde encontramos
uma feira de artesanatos dentro de um museu. Tinha ganhado uma graninha
a mais na semana anterior, e achei que seria legal impressionar a minha
garota com esse tipo de passeio, já que, ali, havia algumas opções legais
que só turistas visitavam, e não seríamos pegos por algum conhecido. Não
que eu seja muito ligado em quinquilharias, mas me pareceu uma ideia legal
ver o que tinha por ali, e perdemos bastante tempo olhando as coisas antigas
e novas. Rindo e nos divertindo com as roupas e acessórios diferentes.
— Que lindo! — Laura exclamou admirada, e eu parei para
observar o que tinha chamado a sua atenção.
O par de alianças antigas, com o símbolo do infinito, provavelmente
pertenceu à algum casal que se divorciou, e mesmo não achando lá grandes
coisas, ela olhou os anéis com tanta admiração que eu me senti tentado a lhe
dar presente, apenas para termos algo com o que nos apegar quando a
distância e saudade apertasse.
A senhorinha pareceu feliz quando começou a nos contar a história
mentirosa sobre um casal que se apaixonou perdidamente, se separou e se
reencontrou no futuro. Dentro estava gravado "pertenço eternamente a
você", como se fosse uma promessa e um juramento.
Percebi quando Laura limpou a lateral dos seus olhos, tentando
ocultar as lágrimas, mas eu já as tinha visto, e em um impulso, que
provavelmente acabaria com todas as minhas economias, comprei os anéis
de prata, pedindo para acrescentar os nossos nomes ao final da frase.
— Esse juramento é pra sempre, ruivinha. — digo, assim que
deslizo o anel em seu dedo, tendo ciência da loucura que estou dizendo,
sendo apenas um menino de dezessete anos, apaixonado pra caramba.
— Pertenço eternamente a você, Igor. — Laura responde feliz e
admirada, antes de me dar um selinho rápido.
— Polícia, Igor? Sério mesmo? Você, entre todos, sabe o quanto o
seu futuro só depende de você. Agora seu histórico perfeito será manchado
por uma queixa de agressão! E, ainda por cima, teremos que pagar um
advogado para te defender da queixa que prestaram! — minha mãe
esbraveja, com os olhos cheios de lágrimas e eu respiro fundo, sem saber ao
certo o que devo fazer.
Resolvo optar pela opção mais segura, e por isso me mantenho
calado.
— Você vai perder a bolsa, tenho quase certeza disso. — ela
murmura chateada, e eu nego com a cabeça.
— Não. Isso não. — como eu vou ver a Laura, se perder essa
bolsa? penso, desesperado — De jeito nenhum.
— Pensasse nisso antes de fazer essa cagada monumental. — ela
diz, e eu olho para os nós dos meus dedos que ainda estão machucados,
sentindo o peso da minha impudência pesar nas minhas costas. Minha mãe
me olha chateada, e com pena também, por isso, vou até ela e lhe envolvo
em um abraço.
— Me desculpa, mãe. Vai dar tudo certo, você vai ver. — digo,
porque, no fundo, é a isso que eu quero me apegar com unhas e dentes. É
tudo que eu preciso.
Eu não consigo dormir, estou sem forças para fazer qualquer coisa
além de chorar. Foi estúpido ter acabado com o Igor daquele jeito, e vendo
agora, com mais tranquilidade, sem a pressão impossível que meus pais
colocaram em minhas costas, sei que cometi o maior erro do mundo! Eu
vou lutar por Igor, porque a vida é inútil sem ele.
Como posso escolher ignorá-lo para sempre?
Não ter suas mensagens todas as noites?
Como eu vou viver sem ter seu toque carinhoso?
Olho para o despertador em minha mesa de cabeceira, confirmando a
longa noite que viria pela frente. Ainda são onze e meia. Amanhã preciso
bolar um plano, nem que seja entrar no banheiro masculino, para conseguir
falar com ele à sós na escola. Estou cogitando chantagear Duda para ela me
ajudar de alguma forma. Eu só preciso pedir perdão, e implorar para que ele
volte comigo.
Decido assistir um pouco de TV para desviar minha atenção e parar
de pensar nele, e na tarde horrível que passamos juntos. Amanhã, tudo vai
ficar bem entre nós novamente, vou explicar tudo o que aconteceu e Igor
vai me perdoar. Digo a mim mesma, apenas para buscar um pouco de
consolo. Passo de canal em canal, sem achar nada realmente interessante
quando um flash de uma casa em chamas me chama a atenção no jornal
local.
— Momentos terríveis estão sendo vividos em uma casa no subúrbio
de São Paulo. O fogo consumiu todo o local, e ainda não se sabe a extensão
dos estragos. Tudo indica que o incidente aconteceu devido a um curto-
circuito em uma fiação elétrica, mas ainda não é possível saber se essa é a
real causa do incêndio. Infelizmente, dois corpos foram achados pelos
bombeiros, e tudo indica que são de mãe e filho, Helena e Igor Martins.
Meu Deus! Não é possível, não pode ser. Essa casa se parece muito
com a do meu Igor, e a mãe dele também se chama Helena… Como se eu
estivesse assistindo a tudo em câmera lenta, vejo o controle escorregar das
minhas mãos.
— MEU DEUS, ISSO SÓ PODE SER MENTIRA! IGOR! — grito
em plenos pulmões, tentando apartar um pouco da dor em meu coração —
Não é verdade… Igor não está morto...só pode ser mentira… Igor não está
morto!
Fico completamente em choque, confusa e descontrolada. De repente,
minha mãe entra em meu quarto, e eu a olho suplicante, esperando que seja
algum tipo de brincadeira de mal gosto.
— Laura, o que aconteceu?
Aponto para o jornal na TV e minha mãe empalidece, vendo a
manchete da notícia.
— Mãe, eles estão mentindo... eles disseram que o Igor está morto!
Eu preciso ver ele agora! — grito histericamente, me colocando de pé em
um pulo.
Mamãe ainda assustada com a notícia, e principalmente com a
minha reação, pega o carro na garagem, sem pensar muito. Em todo o
caminho, rezo para todos os santos, pedindo por um milagre. Ele não pode
estar morto, porque se ele estiver, eu também estou.
Quando chegamos até o local, encontramos Duda e sua família aos
prantos também. Meu coração não consegue assimilar tudo o que está
acontecendo. Caio de joelhos, mal conseguindo respirar, e em completo
pânico, começo a gritar enlouquecidamente. Uma sensação arrasadora e
claustrofóbica toma conta de mim, e perco a noção do tempo e espaço. Meu
cérebro e meu coração não conseguem assimilar o que está confirmado.
Ele está morto.
Onde estou?
Que lugar é esse?
Por que está tudo tão malditamente branco?!
Será que eu morri?
Estou no céu?
Sinto uma dor física em meu peito, e me lembro do incêndio. No céu
não existe dor. Puta que pariu! Tenho certeza de que houve um incêndio em
nossa casa! Mamãe! Onde está a minha mãe?!
Abro os olhos, mas não consigo ver nada, tudo não passa de um
borrão. As luzes brilham tanto que ferem os meus olhos. Escuto algumas
vozes conversando distantes e olho fixamente para os vultos, tentando
enxergar alguma coisa, ou, no mínimo, entender o que eles conversam.
Mas, tudo o que eu consigo ver são silhuetas e sombras.
Quem são eles?
Por que eu estou aqui?
— Ele é um garoto muito forte. Foi incrível, um milagre, como ele
sobreviveu a ser esfaqueado, mesmo depois de ter perdido tanto sangue.
Você deve estar muito orgulhoso dele. — tento entender o que estão
dizendo. Quem será que sobreviveu a facadas?
Um homem com a voz rouca e um sotaque forte diz, enquanto o outro
solta uma gargalhada.
— Eu estou, acredite em mim. O sangue Zur corre em suas veias.
Forte, poderoso e lutador.
— Como você, sr. Zur. A cirurgia plástica reconstrutiva que fizemos
em sua mandíbula está cicatrizando bem. Ele pode parecer um pouco
diferente, mas ainda assim é, e continuará sendo, um garoto muito bonito.
Não sei como conseguiu aguentar a dor de ter a mandíbula quebrada e
descolada como ele teve. Assim como o nariz, que ficou completamente
desfigurado.
— Não há dúvidas sobre isso. Você fez um bom trabalho em suas
feridas, Doutor Smith. Graças a você e à sua equipe, meu neto está bem. E
por isso, eu sou muito grato.
— Estamos apenas fazendo nosso trabalho. Você é muito bem-vindo,
sr. Zur. Não ficarão cicatrizes visíveis, se todos as recomendações forem
cumpridas à risca.
Quero perguntar para esses senhores onde eu estou, sobre quem é esse
tal Zur de quem estão falando e principalmente, o que aconteceu comigo.
Mas minha garganta está em brasas de tão seca, e uma dor quase
enlouquecedora não permite que eu me mova um centímetro sequer, não me
deixando escolha alguma, além de ficar calado. Mas estou com tanta sede,
que dói. Movo minha mão esquerda lentamente, e a levanto com extrema
dificuldade. O homem de branco, provavelmente o médico, me vê e vem
imediatamente para o meu lado.
— Ele está acordado!
— Eu preciso… de água. — peço para o médico, tentando recuperar a
fala. Percebo que tenho uma grande dificuldade em falar, e sinto uma dor
excruciante ao tentar expressar algo.
Ele, lentamente, puxa a minha cabeça para cima e me ajuda a beber
uma quantidade muito pequena de água em um canudinho, me irritando.
Quero muito mais do que isso doutor, será que você poderia
cooperar?
O homem mais velho também vem para o meu lado da maca, olha
para mim e sorri, com lágrimas nos olhos.
— Olá, Igor, você me assustou muito, meu rapaz. Bem-vindo de
volta!
Tento me lembrar se já vi esse senhor alguma vez, mas não tenho
nenhuma recordação. Será que eu o conheço?
— Quem... é você? Onde... eu estou? — pergunto a ele, ainda com
grande dificuldade para falar.
— Você está em um hospital em Havdiam, meu rapaz, e eu sou seu
avô, Arnaldo Zur.
— Sr. Zur, a limusine já está pronta. — Rachel Becker, minha nova
assistente pessoal, diz com uma voz doce, igual a um gatinho manhoso.
Seus olhos piscam muito mais do que o normal, em uma tentativa
frustrada de me seduzir, assim como as duas últimas que passaram pelo
cargo. Sua minissaia está um pouco acima do tamanho ideal, e seu decote é
tão baixo que não deixa nada para a imaginação. Vulgar, é a única coisa em
que eu consigo pensar quando a vejo, mas não tenho tempo para treinar
outra pessoa no momento, então, Rachel terá que servir.
Aceno com a cabeça, sem paciência para esse tipo de coisa,
principalmente, hoje.
— Então vamos, não temos tempo a perder. Traga meu notebook e
minha maleta, por favor, preciso analisar alguns documentos, antes de
chegar ao Brasil.
— Sim, senhor! — ela responde em um ronronar.
—Você fez uma reserva no hotel?
— Sim, senhor. Suíte presidencial do melhor hotel de São Paulo,
como você instruiu. E meu quarto será em frente ao seu. — ela diz,
sedutoramente.
— Sério? — falo um pouco irritado. Uma simples secretária não
deveria gastar tanto dinheiro assim com um quarto para ela. Além de esse
tipo de insinuação ser impróprio.
— Sim, senhor. Então, eu posso estar em seu quarto em apenas um
estalar de dedos... especialmente, no meio da noite… basta você pedir. —
reviro os meus olhos sem disfarçar.
— Ok, Srta. Becker. — meu telefone toca, uma distração bem-vinda,
e eu atendo ignorando totalmente a secretária, que parece estar muito mais
corajosa hoje do que nos outros dias. Rachel consegue ser extremamente
irritante quando quer.
— Rafael. — meu representante no Brasil, provavelmente me ligou
com notícias, e fico ansioso para saber o que ele tem a me dizer. Agora,
falta pouco para que eu consiga cumprir com o meu objetivo. Meu plano de
vingança será colocado em prática, depois de anos.
— Bom dia, Sr. Zur. O Sr. Morais já foi informado de sua chegada. A
diretoria, incluindo os chefes de departamento, também ficaram sabendo da
reunião e foram convocados. Você os verá amanhã de manhã, como já está
marcado. Estou ligando apenas para confirmar que tudo está correndo como
o senhor nos instruiu.
— Ótimo, Rafael. Você tem instruções diretas para se certificar de
que a filha do velho esteja lá. Ela precisa assistir de camarote quando eu
colocar os pregos no caixão do filho da puta.
— Com certeza, senhor. Laura Morais estará lá, já confirmou a
presença por e-mail, e também no invite da agenda. — Rafael respondeu.
Solto um suspiro audível, sem me importar com o homem do outro
lado da linha. Só a menção do nome de Laura me traz de volta um aperto
dentro do meu peito, infelizmente a ruivinha é como uma droga pesada para
mim. Tentei por muito tempo negar, por simplesmente não conseguir
acreditar que depois de todos estes anos, eu ainda poderia ser
completamente apaixonado por ela. Como um lembrete diário de como ela
e sua família marcaram a minha alma. Meu corpo de repente endurece, eu
preciso me controlar, não sou mais aquele garoto de anos atrás. Não posso
me deixar levar por conta de uma lembrança boa, que arruinou a minha
vida.
A ruivinha não vai me reconhecer mais, isso é fato. Além disso, ela
tem certeza absoluta de que eu estou morto, como o meu avô fez questão de
orquestrar quando tudo aconteceu. Forço minha cabeça a funcionar, e a
balanço em negativa, me odiando por fazer com que os meus pensamentos
sempre vão de encontro a ela. Isso não é sobre a Laura. Isso é sobre o seu
pai, Otávio Morais. O homem que tentou tirar minha vida e a da minha
mãe. O desgraçado que tirou tudo o que eu tinha. Ele é impiedoso, um
assassino, um demônio, e eu vou fazer com que ele pague por seus pecados.
Agora, mais do que nunca, eu vou fazê-lo sofrer, rastejar e implorar por
misericórdia. Amanhã, eu vou tirar tudo dele, seu estilo de vida, sua casa,
seu dinheiro, sua filha. E esse vai ser apenas o começo da minha vingança.
Otávio vai desejar morrer, assim como eu desejei milhares de vezes, antes
que eu termine com ele.
É estranha a sensação de voltar para o Brasil depois de tanto tempo.
Depois de dez anos, será como ressuscitar dos mortos, mesmo que Igor
Martins tenha sido deixado para trás há muitos anos. Ver o lugar onde
cresci, reencontrar pessoas com quem convivi em minha infância, e, é claro,
reencontrar Laura Morais, a única mulher que eu amei, vai ser desafiador.
Eles não vão me reconhecer agora, e eu nem quero que isso aconteça. Por
isso, fizemos tantas cirurgias plásticas reconstrutivas, já que meu nariz,
minha mandíbula e dentes foram totalmente destruídos. Apesar dos médicos
terem feito um ótimo trabalho para restaurar meu rosto, eu não sou mais o
mesmo homem de antes. Meu maxilar ficou mais acentuado, me dando uma
imagem mais feroz e madura, um preenchimento precisou ser feito, para
que eu parecesse simétrico e normal, e agora, mesmo depois de anos eu
mantenho a prática, para me reconhecer no espelho. Meu cabelo curto,
sempre raspado, passou a ser um pouco maior, em um visual mais sério e
poderoso. A barba densa esconde todas as cicatrizes, e me dá um ar muito
mais sério do que o rosto limpo. Estou ainda mais alto, e depois de muita
dedicação na academia, meus músculos estão enormes. Um outro homem,
definitivamente.
Meu avô, quando me mudei para a sua casa, insistiu em mudar meu
sobrenome de Martins para Zur, afinal eu deveria levar no nome o orgulho
do meu sangue grego e poderoso. Um parente rico e distante, que antes era
o meu sonho para resolver todos os nossos problemas financeiros,
finalmente apareceu, por eu ser seu único herdeiro, me esforcei para deixá-
lo orgulhoso. Descobri que meu pai morreu em uma missão na África,
pouco antes de eu nascer, e para homenagear Alexandre Zur, optei por
adotar esse novo nome, me tornando assim Alex Zur, não restando nada de
Igor Martins em mim, além da obsessão pela ruivinha e a vontade de
vingança. Ele era um menino bobo, cheio de sonhos e sem um pingo de
maldade no corpo. Fácil de matar. Muito diferente do homem que eu me
tornei, implacável, ardiloso e orgulhoso.
No avião, tento me concentrar em qualquer coisa que possa me
distrair nas horas intermináveis da viagem, mas não consigo disfarçar a
ansiedade que eu estou sentindo para chegar logo ao meu destino. A
ruivinha passa em minha mente, e eu sinto meu peito apertar de ansiedade.
Escuto Rachel rir ao meu lado, assistindo a um filme romântico em seu iPad
e me levanto irritado, nervoso e desesperado para ficar sozinho, quando
cruzo o caminho de Luiz Carlos, meu segurança. Ele era nosso novo
vizinho no Brasil, contratado pelo meu avô para cuidar de mim à distância.
Por diversas vezes ele me contratou para cuidar do seu quintal me dando
muito mais dinheiro do que o serviço realmente merecia, por apenas
algumas horas de trabalho. Essas coisas aconteciam com frequência, apenas
para monitorar minhas ações e relatar tudo ao meu avô, o jeito que o velho
encontrou para se manter próximo. Foi ele também quem me resgatou no
incêndio e me transportou para Havdiam, capital de Vongher, às pressas.
Além disso, Luiz Carlos foi pessoalmente investigar o que realmente
aconteceu, e quem havia pagado aos investigadores designados ao incidente
para manter o silêncio, nos declarando mortos. Além dele, eu tenho outros
três guarda-costas sentados atrás de mim, não importa o quão forte, rico e
diferente eu esteja, minhas costas nunca mais estarão descobertas, isso é
fato. Onde quer que eu vá, eles me seguem, prontos para lutar e morrer por
mim, esse é o trato. Não que eu não consiga lutar as minhas batalhas
sozinho, mas mais nenhuma ameaça iria me atingir. Nunca mais.
Quem teria acreditado que eu era Igor Martins, nesse momento? Um
bolsista pobre que trabalhava em uma cadeia de fast-food em um shopping
suburbano, jardinava e limpava o chão, em troca de alguns trocados para
ajudar em casa? Quando eu poderia imaginar que eu era neto de um
magnata multimilionário de renome mundial?
Meu avô se rendeu assim que nos conhecemos pessoalmente, e desde
então, não deixou faltar amor e carinho, tentando se redimir pelos anos em
que estivemos afastados. Ele me ensinou a como me tornar um homem de
verdade. Poderoso, implacável quando necessário, forte e corajoso. Eu devo
tudo a ele, inclusive a minha vida.
Estudei na Universidade real de Lanuver, me especializei em
Business e me destaquei em tudo o que fiz, graças a muito esforço e
dedicação. Me tornei ativo nos negócios e criei conexões desde muito
jovem. Arnaldo Zur foi responsável por me apresentar a todas as pessoas
influentes do mundo, me colocar como seu sucessor e mostrar para todos os
investidores que eu era capaz. Viajamos juntos da Grécia para Roma,
Oriente Médio, Estados Unidos, Ásia e Austrália, mas nunca para o Brasil.
Contudo, eu sou apenas humano, e o desejo de vingança nunca saiu
de mim, com uma raiva que nunca consegui apagar. Independentemente de
qualquer coisa que eu fizesse, eu odiava aquele homem.
Ele tinha que pagar, e amanhã, eu cobraria suas dívidas.
Já passava das nove horas da noite quando deixei o escritório e
cheguei em casa. Assim que entrei pela porta principal, vi meu pai, Otávio
Morais, bebendo um uísque duplo do bar da sala de estar.
Esse tipo de comportamento se tornou um hábito nos últimos dois
anos. Ele teve uma espécie de surto psicótico, e depois entrou em
depressão, quando começou a perder dinheiro em todos os seus negócios.
Otávio começou a beber todas as noites, se afogando em álcool até ficar
bêbado, na esperança de esquecer o status atual de suas empresas falidas.
Encontrá-lo assim hoje, não é nada de novo sobre o sol.
Há três anos, quando uma empresa internacional multimilionária, Zur
International Company, com sede em Havdiam, um dos melhores paraísos
fiscais do mundo, concedeu um empréstimo de milhares e milhares de
dólares em equipamentos de comunicação para a nossa companhia, foi
como ganhar na loteria. Meu pai ficou em êxtase e acabou gastando todos
os ativos em novos aparelhos e títulos. Durante um ano, nossa empresa se
tornou um sucesso estrondoso no país, começou a produzir as melhores
criações de entretenimento no streaming, se equiparando a redes
americanas. As assinaturas começaram a chegar e, no final do ano, a
maioria das pessoas no Brasil se inscreveu em nossa rede.
Mas, depois de mais de um ano, surgiu uma rede concorrente,
extremamente inovadora e com alta tecnologia. O serviço era muito
moderno e apelava para o gosto de todos os tipos de assinantes, de jovens a
idosos. Sua rede inclusive era assustadoramente rápida. Papai, como sempre
arrogante, não se sentiu ameaçado pelo concorrente no início, confiando em
seu produto, mas quando a maioria de nossos assinantes começou a nos
abandonar, ele entrou em pânico. Mais ainda, quando nossos principais
investidores transferiram seus investimentos para a referida empresa. Foi
um desastre completo. Perdemos assinantes, perdemos status e,
principalmente, dinheiro. Depois, descobrimos que esta rede nova de
comunicação era da Zur International Company, e que eles nos passaram a
perna.
A empresa se afundou em dívidas, e essas perdas afetaram outros
negócios menores de papai, como a transportadora e os negócios de atacado
de eletrônicos. A empresa liquidou alguns ativos para pagar as contas,
especialmente, as parcelas mensais do empréstimo que pegamos, mas uma
dívida ativa é a corda no pescoço de qualquer empresa. E, foi assim que
declaramos falência.
A tragédia mesmo só aconteceu quando, após alguns meses, minha
mãe descobriu um câncer horrível. Foi aí que as nossas vidas viraram de
cabeça para baixo. Dona Marta precisou de fazer uma cirurgia com
urgência, papai ficou arrasado e muito perdido. A metástase atingiu grande
parte do seu intestino, e o grande e poderoso Otávio simplesmente não
conseguiu funcionar bem depois disso, extremamente preocupado com a
sua recuperação.
Minha mãe era sua vida, eles eram inseparáveis. E só depois que ela
se recuperou das quimioterapias, ele conseguiu voltar a sua atenção
novamente aos negócios. Mas a esse ponto, já era tarde demais. A empresa
se afundou em um prejuízo irrecuperável, o pior foi a Zur International
Company exigir o pagamento total do empréstimo, que já estava vencido.
Entendo o lado deles, afinal, ninguém obrigou meu pai a pegar o dinheiro
dos grandões, ainda assim, é esmagador chegar em casa depois de um longo
dia de trabalho e encontrá-lo dessa forma.
Hoje, a empresa teve uma reunião com os chefes de departamento,
diretores de finanças e advogados. Todos os edifícios da empresa, os bens e
propriedades pessoais de papai, veículos e nossa mansão já foram
transferidos para o nome da Zur, e, mesmo assim, não foi suficiente. Ainda
nos faltam doze milhões de fundos para pagar, e não temos ideia de como
poderemos resolver esse problema.
Não ousamos contar isto para minha mãe. Ela ainda estava se
recuperando da cirurgia e estava sob observação, não valeria a pena deixá-la
preocupada dessa forma. Com absoluta certeza, ela iria ficar preocupada,
ansiosa e devastada com a nossa situação, e isso poderia acarretar algum
problema mais sério. As contas do hospital e remédios diários, agora
também eram parte do nosso problema, e se do jeito que está, já está difícil,
imagine com um quadro de piora? Seria um desastre! Não teríamos mais
condições para manter seus remédios e este é só outro dilema que meu pai e
eu tínhamos que enfrentar.
Olho com compaixão para o homem que vejo em minha frente e
meu coração se aperta. Nem sempre nossa relação foi boa, e piorou
consideravelmente enquanto eu me relacionei com Igor no ensino médio.
Na realidade, por ter estudado em um colégio interno por grande parte da
minha infância, nós não tivemos a oportunidade de realmente nos
conhecermos antes. Sempre vi o seu lado agressivo e um pouco arrogante,
que nos comprava com presentes e não aceitava ser contrariado.
Mas, tudo mudou quando nossa família passou a enfrentar a minha
depressão de forma unida. Depois de quase tentar suicídio, meus pais
mudaram da água para o vinho comigo. Me levaram para os melhores
especialistas, me deram todo o amor e suporte possível e pareciam
verdadeiramente angustiados com tudo o que eu estava passando. Para ser
honesta, eles nunca souberam da missa a metade, mas chegou um ponto em
que eu cansei de ver os meus olhos fundos e tristes refletidos em seus
rostos, e por isso, passei a esconder como eu realmente me sentia. A tristeza
e a depressão nunca me deixaram, mas aprendi a conviver e deixar a apatia
da minha vida não afetar mais ninguém, além de mim mesma.
Esse caminho eu precisava percorrer sozinha, e há anos os remédios
me acompanhavam, para que eu pudesse ser um terço da pessoa que eu fui.
Caminho lentamente em direção ao meu pai, no bar da sala de estar,
pronta para ajudá-lo. Sua cabeça está caída e percebo que ele está chorando.
— Pai, você está bem? — digo suavemente, correndo minha mão em
suas costas.
— Estou tão confuso, Laura. Tudo se foi. Esta casa, o carro, todas as
propriedades pelas quais eu me esforcei tanto, para vocês e sua mãe. E…
ainda temos uma dívida enorme, que eu não sei de onde conseguir dinheiro
para pagar. Zur é um homem impiedoso, tenho medo do que ele pode fazer.
— Pai, vamos falar com ele e ele vai entender! Vamos pedir para que
ele nos dê mais tempo… tenho certeza de que ele tem coração.
— O homem não tem piedade, Laura. — ele diz, engolindo outro gole
de uísque.
— Pai...você vai ficar doente se continuar bebendo. Por favor, pare
com isso.
— Aquele homem me arruinou. — meu pai volta a chorar, fazendo
meu coração afundar — Rodrigo me ligou informando que Zur está vindo
pessoalmente cobrar a dívida. Ele vai levar tudo do prédio da empresa,
nossas propriedades pessoais, todos os nossos bens, e esta mansão. — ele
respira fundo, falando em um fio de voz — Ele vai tirar esta casa de nós.
Sua mãe vai se sentir miserável quando descobrir, — ele soluça, miserável
— isso irá matá-la!
— Pai, Deus vai nos ajudar… por favor, não fique assim...
— Laura, onde está Deus quando precisamos tanto dele?
— Pai, não diga isso, Deus está conosco. Ele vai nos ajudar. — nós
nos abraçamos, dando um grande suspiro.
— Você é sempre tão doce, Laura, tão boa. Tenho sorte de ter uma
filha como você. Você e Gabriela são tão diferentes.
Gabriela foi morar com o seu marido no Canadá há cinco anos e
nunca mais deu valor à nossa família. Eu assumi seu lugar como diretora de
marketing e gostava muito de trabalhar com meu pai em nossa empresa.
Sim, ser a filha do proprietário tinha muitas vantagens, mas fiz o melhor
que pude para me destacar em meu trabalho e dar um bom exemplo para os
funcionários. Esta brusca reviravolta me pegou de surpresa também. Estou
me sentindo impotente e miserável, mas tenho que ser forte. Só assim
permaneceremos firmes e enfrentaremos este momento complicado com os
pés no chão.
O plano era simples, porém a execução não foi fácil, mas um
homem em uma missão, realmente está disposto a tudo.
Apesar do ramo de negócios do meu avô ser voltado para a área
naval, abri uma companhia de streaming, e tornei a empresa grande e
poderosa nos EUA, assim, quando ofereci o empréstimo, Otávio já conhecia
o meu nome, e aceitou de olhos fechados. Foi fácil ver como o velho se
enrolou nas dívidas, e como as coisas fugiram do seu controle, como o
esperado. Um mau administrador geralmente é orgulhoso. E isso, eu sempre
soube que ele era, portanto, foi fácil dar o empurrãozinho na direção que eu
queria. Levar a Zur para o Brasil, fazendo um trabalho muito melhor do que
ele também foi fácil e esperado.
Agora, eu só precisava coletar os louros da minha vitória, e dessa
vez, a ruivinha seria o melhor troféu que eu poderia pedir.
Antes de sair para a reunião, vejo uma ligação perdida e retorno,
sabendo que, com certeza, serei repreendido:
— Alex, você não me disse se chegou bem. Fico preocupada dessa
forma.
— Não precisa se preocupar, sabe que vaso ruim não quebra fácil.
— escuto seu suspiro do outro lado da minha, mas mantendo a minha
postura.
— Ainda dá tempo de desistir. Esse tipo de vingança só vai te fazer
mal! Não compactuo com isso… — ela começa a reclamar, mas corto sua
investida, antes que eu realmente tenha um lapso de consciência.
— Você se lembra de tudo o que aconteceu, não é? Eu preciso
continuar.
— Vai se arrepender, e ninguém poderá te ajudar. Ela vai descobrir a
verdade.
— Não vai. Tenho certeza disso. Laura acha que eu morri, e de certa
forma, não resta nada daquele menino em mim. Vou seguir com meu plano
até o final.
— Resta a sua obsessão por ela.
— Não é obsessão… é amor. Ela vai aprender a me amar também,
tenho certeza disso.
— Bom, minha parte eu fiz. Te avisei.
— Volto em breve. — respondo e desligo, irritado e nervoso com
essa ligação.
É claro que, a princípio, Laura não vai declarar amor eterno a mim,
mas com o tempo, eu tenho certeza de que vamos nos entender.
Isso já aconteceu antes, por que seria diferente agora?
Finalmente eu terei o melhor dos dois mundos, a ruivinha de volta a e
vingança contra o homem mais odioso do mundo.
Ninguém vai me tirar isso.
Sentado na mesa de reuniões eu não consigo disfarçar o meu
descontentamento.
Todos já estão sentados em seus devidos lugares, inclusive o cuzão
do Otávio, que parece ansioso e trêmulo ao olhar em minha direção. Bom,
todos estão na sala de reuniões, menos ela, a razão de todo esse teatro, e o
motivo pelo qual eu preciso cumprir a minha vingança. É por isso que eu
voltei, depois de tantos anos, disposto a acabar com a vida de quem tentou
acabar com a minha.
Laura Morais não está presente, isso começa a me irritar, afinal,
Rodrigo me garantiu que ela estaria aqui. Algum idiota começa uma
apresentação, mas meu foco total é no relógio, que completa voltas e voltas
enquanto a ruivinha não chega. Me sinto patético, e quase pergunto aonde
ela está para os outros presentes na reunião, mas contenho meu impulso,
assim que escuto a porta se abrir.
Laura entra a passos rápidos, parecendo envergonhada pelo atraso e
eu não consigo desviar meus olhos da ruivinha. Ela se tornou mais
confiante, sexy e insanamente linda.
Como isso pode ser possível?
É claro que eu vi fotos, vídeos e todo tipo de coisa sobre ela, antes
de chegar a São Paulo, mas nada me preparou para olhar em seus olhos
novamente e ver que, apesar de ter se transformado em uma mulher linda,
ela ainda se parece muito com a minha menina de dez anos atrás.
Um anjo de olhos observadores e cabelos vermelhos, que agora
estão mais compridos. Laura continuou pequena e delicada, mesmo com
todos os anos que se passaram. Não consigo desviar o meu olhar de seu
corpo e, assim que ela pede desculpas pelo atraso, sinto meu pau se
manifestar dentro da minha calça apertada.
Isso é demais para mim, e apesar de saber que eu tenho um plano
para cumprir, a parte que mais me dará prazer não será acabar com o
desgraçado do Otávio Morais, mas me casar com a sua princesinha. Isso,
sim, eu farei com muita satisfação.
Na arte da guerra, eu tenho certeza de que a melhor opção é:
conheça seu inimigo. E nesse caso, o nome dele é Alex Zur.
Por isso, pesquiso seu nome em meu iPad e fico levemente
impressionada.
Alex Zur, nascido na Grécia, é o único neto e herdeiro do magnata
grego multimilionário da navegação mundial Arnaldo Zur, segundo o site
de pesquisas. Ele obteve seu diploma de Business na Universidade real de
Lanuver, com honras e prêmios, o que em si já é um fato muito
impressionante. Além disso, foi considerado um gênio na administração da
sua empresa de streaming, quando ainda estava na faculdade. Após a
graduação, ele dedicou seu tempo à empresa da família, cuidando com
maestria dos dois ramos da Zur empreendimentos. O perfeito menino de
ouro.
Tento achar alguma foto sua, mas encontro poucas delas. A maioria
não mostra seu rosto. Ou ele está abaixando a cabeça, usando um boné,
mostrando apenas um lado do rosto, ou seus olhos estão cobertos de
sombras escuras. Um artigo dizia que ele não permitia entrevistas ou que a
imprensa tirasse fotos, simplesmente, porque queria que sua vida pessoal
permanecesse privada.
Ai ai, você quer ser um boy misterioso né? Vamos ver se meu stalker
é bom mesmo.
Resolvo, então, passar a procurar nas redes sociais das garotas que ele
já namorou. Ninguém consegue ser tão anônimo assim, e talvez, dessa
forma, eu consiga saber um pouco mais sobre ele. Só quero olhar para o
rosto do homem, é pedir demais? Entre fotos com uma famosa modelo da
Victoria Secrets, a filha linda de um bilionário, uma atriz famosa e uma
cantora pop, consigo ver um pouco mais de Alex Zur. Começo então a me
perguntar, quantas vezes ele mudou de namorada no último mês, e fico
levemente enjoada.
Ele é um conquistador safado, com certeza!
Apesar de ser um imbecil mulherengo, tenho que agradecer a essas
meninas que me forneceram algum material, porque, só assim, consigo
olhar um pouco para Zur antes da reunião e tentar decifrar o homem dos
milhões.
O que começa mesmo a me perturbar é que Alex me lembra muito
Igor. Por incrível que pareça, eles são muito parecidos! Fico surpresa no
início, e preciso esfregar meus olhos várias vezes, para ter certeza do que eu
estou vendo, mas assim como aqueles famosos que poderiam ser irmãos na
vida real, como a Kate Perry e a Zooey Deschanel, Zur e Igor são realmente
parecidos. Contudo, Igor estava morto, eu vi seu corpo queimado, e Alex
Zur era um homem manipulador e prepotente que destruiu a minha família.
Seco uma lágrima que cai silenciosa pelo meu rosto, e resolvo fazer
alguns exercícios de respiração para que eu consiga me acalmar. Por mais
que eu queira muito me iludir, achando que Igor possa voltar, eu preciso
aceitar em meu coração que para a morte não tem volta. Tenho esse desejo
louco dentro de mim, esperando e desejando que ele ainda esteja vivo de
alguma forma mirabolante. Desde quando eu soube do acidente, não
consegui desapegar dessa sensação de que ele estava vivo por aí, apenas
esperando a hora certa para voltar. Depois de anos de terapia e remédios, eu
pensei que tivesse conseguido superar essa obsessão, mas só de ver a foto
desse completo estranho meu coração se acelera e eu começo a suar frio.
Eu não vou ceder, vou me manter sã.
Alex Zur não tem nada a ver com o homem que eu amei, e mais do
que nunca, estou determinada a não gostar dele. Não serão algumas
semelhanças com meu amor do passado que farão com que eu me iluda e
passe a simpatizar com o homem que está tentando destruir a minha família
por prazer. Não tem como gostar de alguém que quer tornar a vida do meu
pai miserável, e por consequência, a minha também.
Não posso fraquejar, não posso me deixar levar agora pela saudade e
tristeza. Preciso enfrentar Zur na reunião mais difícil das nossas vidas, e ver
de perto ele tomando posse de tudo o que é nosso.
O cretino exigiu todos os diretores na reunião, provavelmente para
nos humilhar, e provar o seu ponto. A empresa agora era dele, e se ele quer
conhecer todas as pessoas com quem ele vai trabalhar, não posso ignorar
essa decisão. Com sorte, talvez eu consiga manter meu emprego, e meu
salário possa cobrir alguns gastos do tratamento da minha mãe. Espero que
ele não queira demitir todos os funcionários da empresa também. Seria
muito doloroso ver todas as famílias que empregamos passando dificuldade
por um erro nosso. Não conseguiria me perdoar.
Sem muita vontade de me mover, me levanto e vou até o banheiro,
tentar arrumar a bagunça que está minha roupa amassada, meu rosto
banhado de lágrimas e o meu cabelo. Meus olhos estão fundos, e com
círculos arroxeados em sua volta, e quem olha para mim, em meus 1,56m,
não acredita que hoje tenho 25 anos.
Arrumo tudo o melhor que posso e caminho para a guerra. No meio
do caminho, me lembro que esqueci as pastas com todos os dados
importantes do marketing da empresa, e volto correndo para buscar,
tropeçando em meus saltos pelo caminho. Quando finalmente consigo
entrar na sala de reuniões, ainda um pouco ofegante pela corrida, sinto o
clima pesado. Olho para a ponta da mesa e vejo que o senhor Zur já está a
postos, me olhando fixamente.
Ainda perturbada, me sento na única cadeira disponível e abaixo o
rosto, esperando que as minhas bochechas não entreguem a vergonha que
sinto por ter me atrasado para uma reunião tão importante. Murmuro um
“me atrasei, perdão”, sem esperar que ele realmente escute, apenas para
cumprir com a educação.
A reunião continua o seu andamento, e quando eu tenho coragem de
levantar os olhos para observar Zur, quase não consigo segurar a
exclamação de surpresa. Nossos olhos se encontram, porque,
aparentemente, ele estava olhando fixamente para mim, com uma cara
muito irritada. E, Meu Jesus Cristinho! Ele é muito mais bonito
pessoalmente.
Me sinto completamente envergonhada pelo seu olhar inquisidor,
provavelmente irritado pelo meu atraso, e jogo o cabelo em uma tentativa
disfarçada de fazer uma cortina entre nós. Mesmo assim sinto seu olhar
queimando sobre mim, e quando é a minha vez de apresentar os números e
os relatórios, mal consigo falar. O azul tempestuoso de seus olhos é como
uma faca, me queimando por dentro. É como olhar para o passado, e juro
que nunca estive tão confusa.
Estou vivendo uma situação impossível.
Quando finalmente a reunião termina, papai, com a sua postura
destruída, solicita um minuto de atenção do implacável moreno de olhos
azuis. Ele vai implorar, se for possível, para manter a nossa casa, e talvez,
apenas talvez, Zur seja misericordioso o suficiente para nos deixar ficar.
Aperto os ombros de papai ao sair, tentando lhe transmitir força e só após
cruzar a porta, consigo respirar novamente. Esse estranho campo magnético
que me atrai e me massacra, vem exclusivamente daqueles olhos tão
familiares e ao mesmo tempo tão diferentes.
Eu sabia que ele iria implorar por alguma coisa. A minha resposta já
estava na ponta da língua para isso, mas nada me preparou para o que foi
despejado no meu colo. Imaginei que ele iria apenas pedir um prazo maior,
talvez a casa, e eu pediria a mão de Laura em casamento como garantia.
Um casamento por contrato, como sempre vejo por aí entre a alta
sociedade, mas ele começou a chorar e contar sobre o tratamento de câncer
da esposa.
Por que ninguém me contou sobre esse detalhe? Eu não fazia a
menor ideia. Mas, porra, doenças sempre me pegam desprevenido e são o
meu ponto fraco.
— Por favor, eu imploro pela casa e mais um prazo. Precisamos
pagar o tratamento de câncer de Marta, e ela pode morrer a qualquer
momento se eu não pagar as parcelas do plano de saúde. Para conseguir um
tratamento como esse na rede pública eu demoraria tempo demais, e ela não
tem tempo a perder. É a única coisa que eu peço! Estou implorando, Zur.
— Eu posso arcar com os tratamentos da sua esposa, Otávio… —
digo sucinto, e ele levanta a cabeça, em choque pela minha fala.
— Mas…? Vindo de você, provavelmente tem um mas. — ele
comenta, e eu dou ao velho os devidos créditos. Posso não ser a pior pessoa
do mundo, mas cheguei até aqui para conseguir o que eu sempre quis, e é
nesse momento que eu preciso negociar.
— Posso deixar a sua casa, e um carro de sua escolha para a
locomoção dela para o hospital. Perdoo trinta por cento da dívida e o resto
você pode me pagar durante um ano. — digo, e me sento na poltrona
presidencial da sua antiga sala, mostrando para ele, que quem manda aqui
sou eu — Mas…, eu preciso de uma garantia de que terei a minha dívida
paga.
— Como assim, uma garantia? — ele pergunta em um fio de voz, e
eu sinto o gostinho doce da vingança, quando conto a ele os meus planos:
— Preciso de uma esposa, para cumprir com o social. Você tem uma
filha linda, que serviria muito bem para esse papel. Laura poderia ser a
minha garantia. — jogo as cartas na mesa, e ele parece sentir a sua alma sair
do corpo.
Como será que deve ser a sensação de perceber que a única que
pode salvar a sua família é a garotinha pequena, que me foi negada e
proibida quando eu era mais novo?
O velho parece ficar sem palavras, mas aguardo o seu tempo para
processar a minha proposta.
— Você só pode estar louco! Minha filha não é uma prostituta! —
ele diz lívido, e eu confirmo com a cabeça.
— Naturalmente. Se fosse, eu não iria querer me casar com ela. —
digo, como se isso fosse uma transação de negócios fria e comum,
ignorando a chama que me consome por dentro, quando penso em Laura ao
meu lado durante esse ano que darei ao Otávio para se reerguer e me pagar.
— Não entendo o que você quer dela, então. Minha filha é inocente,
Zur. Ela é boa. Não vai se envolver nesse tipo de sujeira com você! Isso está
fora de cogitação. — sua voz é firme, mas eu levanto uma sobrancelha
inquisidora.
— Tem certeza? — pergunto, me servindo do uísque que está em
cima da mesa, provavelmente, no copo do próprio Otávio — É claro, que
seria um casamento de fachada, nunca forçaria nada com a moça, até
porque, eu não sou um monstro. Preciso me casar, mostrar que mudei para
convencer alguns acionistas a fecharem negócios comigo. Sou novo, as
pessoas acham que precisamos constituir uma família para sermos homens
direitos, esse tipo de merda que ouvi muito por aí antes de fazer tal
sugestão. — começo a fala ensaiada, e quando percebo que ele está me
acompanhando, continuo — Vocês precisam de dinheiro, eu preciso de uma
esposa. Tenho certeza de que Laura estaria disposta a discutir os detalhes
desse acordo comigo.
— Ela nunca se casará com você, Zur. — sua fala é cheia de rancor,
mas eu me levanto, sem tempo para esse tipo de discussão.
— Veremos. Falei com você primeiro e o inteirei sobre a minha
proposta, porque pediu uma reunião comigo, mas a levarei à sua filha mais
tarde. Tenho certeza de que Laura será muito mais aberta à ideia do contrato
que pode salvar a sua família. Veja isso como uma cortesia, assim, terá
tempo para prepará-la antes de nossa conversa. Até mais, Otávio. — dou a
minha cartada final, e saio da sala presidencial, deixando o homem que
tentou me matar, confuso e acabado.
Parte um do meu plano está quase concluída.
Vou até a minha sala, curiosa e ansiosa para saber exatamente o que
eles estão conversando.
Ah, como eu queria ser uma mosquinha nesse momento!
Sem muito mais o que fazer, coloco em uma sacola a maioria dos
meus pertences pessoais. Não sei até quando essa sala será minha, e quanto
mais rápido eu conseguir limpá-la, melhor. Retiro os porta-retratos, alguns
livros e uma caixinha que guardo no fundo da minha gaveta, contendo
algumas fotos antigas. Resgato a única recordação que tenho de Igor, uma
foto do anuário da escola, e analiso bem o menino bonito de dezessete anos.
Tão parecido com Zur e tão diferente ao mesmo tempo. Essa aproximação
toda, está me deixando neurótica e nostálgica.
Igor morreu, e eu preciso aceitar!
Pego as minhas coisas e caminho, ainda com lágrimas nos olhos, até a
sala de meu pai, curiosa para saber o que eles conversaram e,
principalmente, qual foi a solução encontrada.
Tento limpar meus olhos, que insistem em chorar, quando bato
inexplicavelmente em uma montanha de músculos, que vêm rápido,
colidindo em minha direção. Ele me segura pela cintura com um aperto
firme e intenso. Sinto uma eletricidade impossível, e quando me firmo
finalmente, suspiro alto.
— Laura. — ele diz.
— Igor... — eu sussurro confusa.
Esses olhos… meu Jesus Cristinho! São praticamente os mesmos
olhos do Igor, me encarando de volta!
— O que você disse? — Alex Zur pergunta, com um olhar penetrante
que me deixa um pouco desconcertada. Sua voz parece divertida, mas ao
mesmo tempo petulante, como se estivesse querendo me irritar.
Arregalo meus olhos, assustada e extremamente confusa. Ele
realmente se parece muito com Igor, mas ao mesmo tempo, eles são
completamente diferentes, Igor está morto. Esse homem é mau, ele é Alex
Zur: o inimigo! Seu porte físico é diferente também, sua postura é mais
agressiva e arrogante. O olhar é maldoso, cheio de segundas intenções.
Me endireito e retiro as mãos de seus ombros, imediatamente lhe
dando um leve empurrão. Só de pensar em tocá-lo meu corpo já se arrepia.
Isso não é normal.
Laura, você está enlouquecendo, eu tenho certeza!
Dou dois passos para trás, tentando manter uma distância respeitosa
entre nós, e ao mesmo tempo, necessária para que eu volte a pensar com
clareza. Isso precisa acabar, eu preciso voltar a agir sem parecer uma louca,
obcecada pelo passado.
— Ah… na verdade, nada. É sério. Eu pensei que você fosse outra
pessoa, Sr. Zur. Mas, me desculpe pelo esbarrão. Geralmente, não sou tão
desastrada. — ele sufoca uma risada, como se estivesse curtindo uma piada
particular, mas consegue se conter, me olhando de cima a baixo.
— Eu te machuquei? — ele pergunta, parecendo realmente
preocupado. Suas mãos vêm ao meu encontro, tentando me tocar para se
certificar de que está tudo bem, mas recuo dois passos para trás,
instintivamente.
— Não. Estou bem, juro! — digo um pouco exasperada. Se esse
homem me tocar, eu não sei o que pode acontecer, então, é melhor deixar
isso pra lá.
Como se apreciasse a deixa, Alex sorri e transfere seu olhar do meu
rosto para os meus seios. Que merda! Além de tudo, é um pervertido,
safado, cachorro, sem vergonha! A raiva invade o meu ser e eu cruzo os
braços, tentando me proteger.
— Me desculpe, mas tenho um assunto importante a tratar, Sr. Zur. —
digo com ironia.
— Está bem, então, nos vemos à noite. — ele diz, sorrindo com
malícia.
— Hoje à noite? — pergunto confusa.
— Sim, hoje à noite. Não me faça esperar, senhorita Morais. Já enviei
os dados do meu hotel para o seu e-mail, tenho certeza de que você e seu
pai tem muito o que conversar. — ele diz enigmático, andando para trás
lentamente, com as duas mãos no bolso das calças e um sorriso nos lábios.
Em um piscar de olhos, ele se vira e vai embora.
Hoje à noite? Não sei de nenhuma reunião hoje à noite.
Por que ele precisa me deixar assim, com essa cara de boba no
meio do corredor?
Para quê ser tão estranho e enigmático?
Eu quero perguntar ao Sr. Zur sobre exatamente o que ele está
falando, mas o bandido não me dá oportunidade. Só me resta perguntar ao
papai, já que esse, com certeza, sabe do que se trata.
Entro em seu escritório cautelosa. Sei que estamos passando pela sua
pior fase, e me preocupa muito como foi a conversa decisiva que eles
tiveram, e principalmente, qual é o estado em que ele se encontra.
O maldito parecia extremamente feliz no corredor, e meu coração diz
que há algo de muito errado nessa história.
Quando entro, encontro o sr. Otávio Morais está atrás de sua mesa,
encostado na cadeira e olhando para a parede com os olhos fundos,
perdidos, parecendo sem saber o que fazer. Ele nem sequer me ouviu entrar
em seu escritório, e assim que abro a boca, ele se assusta, como se eu fosse
o próprio diabo em sua frente.
Sinto tanta pena por meu pai. Sei que não tive uma infância fácil, que
nós nunca fomos realmente próximos, mas depois, ele tentou me
recompensar de todas as formas possíveis, e posso dizer que conseguimos
superar essa fase ruim em nosso relacionamento. Ver ele assim hoje, tão
devastado, tão perdido, tão triste, me parte o coração. Já não tínhamos mais
nada. Agora, ele é apenas a sombra de um homem que um dia já foi. Todas
as propriedades e bens já foram legalmente transferidos para Zur, hoje à
tarde, agora precisamos nos despedir deste edifício o mais rápido possível.
E mais tarde, quando voltamos para casa, teremos que arrumar nossas
coisas pessoais, para que amanhã a gente possa nos mudar para a velha casa
de campo da tia Tânia. A única que nos estendeu a mão nesses tempos
difíceis.
— Pai… você está bem? — pergunto, me sentando no chão, e
colocando a cabeça em seu colo.
Ele me olha fixamente por muito tempo, seus ombros derrotados,
demonstrando uma fraqueza que eu nunca havia visto antes. Depois de
alguns segundos, de repente, ele diz:
— Você sabe que não estou bem. Então, por favor pare de me
perguntar isso.
— Sinto muito, pai. — digo baixo, e ele afaga meus cabelos com
carinho.
— Laura, eu te amo tanto, meu anjo. Você é a filha perfeita. Tão
obediente, amorosa e compreensiva. Eu sempre rezei para que um dia você
encontrasse um homem bom que realmente te amasse, cuidasse de você,
permanecesse fiel ao seu amor e te desse alegria e plenitude em sua vida.
Não alguém como Zur, que é um filho do diabo! — ele respira fundo, e diz
lentamente — Me perdoe. — franzo o cenho, sem entender o que ele está
dizendo.
— Do que você está falando, pai?
— O homem te quer, Laura. Ele está cobiçando você, e não vai
desistir.
— O quê? Eu não entendo! — digo enfática.
Como assim o homem ME quer?
— Eu pedi uma margem de manobra... para nos dar um pouco mais
de tempo para pagar nossa dívida. Também pedi que nos deixasse ficar na
mansão por um tempo, já que sua mãe ainda está se recuperando do
tratamento… foi um pedido desesperado, porque sei como ele é.
— E...? O que ele disse? — pergunto curiosa, ansiosa e,
principalmente, cheia de esperança.
— Ele concordou. Ele até se ofereceu para arcar com as despesas
médicas da sua mãe e nos fornecer todas as nossas necessidades básicas…,
mas… — seus ombros caem em completo sofrimento.
— Mas o quê, pai? Um homem como ele não se limita a fazer esse
tipo de coisa sem uma condição. — me levando angustiada, esperando
qualquer tipo de monstruosidade vindo dele, pelo estado do meu pai.
— Ele te quer como garantia, Laura. Quer um casamento por
contrato. — suas palavras saem em um fio de voz, mas eu fico tão perplexa
que preciso que ele repita para que eu entenda bem o que ele está dizendo.
— O quê? — minha voz sobre três oitavas e eu fico de boca aberta.
Eu?
— Ele quer que você fique com ele, em um casamento por contrato,
até que eu consiga pagar minha dívida! Aparentemente, ele precisa desse
casamento de fachada e te achou interessante para isso. Perdoaria uma parte
da dívida e nos deixaria ficar com a casa, um carro e pagaria o tratamento
da sua mãe.
— Isso é uma loucura, pai! Ele está me tratando como um pedaço de
terra ou sei lá… um documento importante… nunca ouvi falar disso, um
casamento por contrato como garantia para quitar uma dívida. Caramba!
Eu nunca estive tão puta em minha vida!
Este Zur realmente é um demônio. Como pode me tratar assim,
como um pedaço de carne?
— Definitivamente, ele não está te tratando como um objeto, Laura.
Ele estava babando por você na sala da diretoria, isso é a mesma coisa que
uma prostituta.
Meus olhos se arregalam com a fala do meu pai. Ele não estava
babando por mim na sala de reuniões, era mais como um olhar de ferro,
irritado, hostil. Além disso, nunca imaginei meu pai, aquele tão clemente a
Deus, se referindo a mim dessa forma.
Tudo isso parece um filme de terror, e eu entro em completo choque.
Não existe esse tipo de transação no mundo dos negócios, você não pode
simplesmente comprar a companhia de uma pessoa. Principalmente, em um
quesito mais íntimo, um casamento. Pode?
— O quê? Ele disse isso?
— Não, ele não precisou dizer. As ações falam mais alto do que as
palavras. Eu sei que ele a quer e, aparentemente, está disposto a negociar
para isso… — como se tivesse tomado um choque de realidade, papai se
levanta enérgico, com uma fúria em seu olhar — Pode ficar tranquila, eu
vou matar aquele cara se ele alguma vez colocar um dedo em você. Não vai
ser a primeira vez, nem a última que eu faço de tudo para te manter intacta,
minha filha. Pode ter certeza disso.
Eu suspiro assustada, tanto pela atitude de papai, quanto pela proposta
de Alex. Zur realmente não estava de brincadeira. Entre todas as
possibilidades, eu nunca pensei que ele sugeriria algo assim, tão infame.
Será que ele quer que eu seja seu brinquedo sexual?
Justo eu, uma virgem?
Me encolho só de pensar em me deitar com ele.
Neste momento, mais do que nunca eu realmente o odeio.
Olho mais uma vez para o relógio de pulso, sentado no quarto de
hotel, com ódio. Já passou das nove da noite e eu estou, literalmente, parado
na mesma posição desde às cinco da tarde, esperando a ruivinha tomar uma
atitude. Começo a me perguntar se ela realmente virá ou se fui prepotente
demais em pensar que, de uma só vez, eu iria conseguir tudo o que eu
quero.
O que essa mulher fez comigo? Pareço um adolescente, sem
conseguir me comportar direito.
Laura passou a ser uma obsessão.
Muito antes de nos trancarmos naquele armário, eu já a seguia de
longe, esperando a minha chance. Desde os dezessete anos eu a segui como
um cachorrinho, encantado pelo seu sorriso fácil e a sua bondade
inabalável. Agora que eu tinha a chance de fazer seu pai pagar por tudo o
que ele fez, ainda vacilava ao seu redor, pensando muito mais em ter ela pra
mim novamente do que em destruir o homem que tentou arruinar a minha
vida.
Quando nos encontramos mais cedo, ela me chamou de Igor. Será que
ela percebeu quem eu era? Mesmo estando diferente o suficiente para não
gerar esse tipo de dúvida, eu tenho certeza de que se fosse o contrário, eu a
reconheceria. Ela reconheceu meus olhos.
Me levanto e tiro o par de anéis do bolso da calça. Recuperei a aliança
dela depois que fui humilhado anos atrás, e sempre guardei os dois comigo,
como uma lembrança de quem eu era, e de como seriam as coisas, se
Otávio não tivesse se intrometido em nossas vidas. Observo-os em minhas
mãos por vários minutos, me lembrando novamente daquela época e
examino as palavras gravadas no anel de Laura.
Pertenço eternamente a Igor.
Em seguida, olho para meu anel e leio as palavras gravadas.
Pertenço eternamente a Laura.
Um juramento que eu involuntariamente fiz questão de cumprir.
Nunca amei nenhuma outra mulher, ou me comprometi como fiz com ela há
dez anos, quando fizemos esse juramento que hoje me parece uma piada de
mal gosto, já que ela não apareceu.
Coloco-os na mesa central da sala de estar, com raiva de mim, dela,
do seu pai e do mundo, e caminho até o frigobar em busca de uma cerveja.
Preciso tomar um ar fresco, só assim para que eu consiga pensar direito e
colocar a minha cabeça no lugar. A varanda, no coração de São Paulo, tem
uma vista linda e fico por um tempo apreciando a cidade que nunca morre,
contudo, a cada dez minutos, eu verifico as horas em meu Rolex.
Já passou das onze e, provavelmente, ela não vem.
Que caralho! Se ela realmente não vier tudo isso será em vão! O
plano era certo, e esse casamento tem que acontecer de um jeito ou de
outro.
Entro, me sentindo derrotado. Do que adianta destruir o velho, se
não conseguirei reconquistar a minha ruivinha?
O demônio do seu pai provavelmente não lhe contou sobre minhas
condições. Ele prefere perder tudo a entregar a sua pequena Chapeuzinho
Vermelho ao lobo mal. Isso me deixa puto pra caralho! Preciso pensar em
outro plano.
A campainha do quarto me assusta e me levanto em um pulo, já
alerta. Meus seguranças estão em ronda nos corredores, não pode ser
ninguém que não seja esperado, então, forço a minha respiração, para que
ela se acalme, e caminho até a porta. A esse horário, só pode ser a Laura!
Passo a mão pelo meu cabelo, tentando arrumá-lo, e depois de um suspiro
alto, eu abro a porta sem nem olhar pelo olho mágico.
O que se mostra um grande erro.
Fico chocado ao ver uma mulher loira, em uma roupa de enfermeira
muito inapropriada e reveladora, sorrindo para mim, batendo seus longos
cílios negros.
— Oi, chefe… vi que sua luz ainda estava acesa. Você quer brincar de
médico comigo? Sei ser uma enfermeira muito safada, se você quiser. —
Rachel diz, lambendo seu lábio inferior, em uma tentativa frustrada de
parecer sexy.
— O que você está fazendo aqui? — falo, depois de alguns segundos,
surpreso demais para esboçar uma reação — Por favor, volte para o seu
quarto agora, ou amanhã assino a sua carta de demissão por justa causa.
— Vamos lá, Sr. Zur, só esta noite, por favor. Me deixa te dar prazer...
você não vai se arrepender, sou ótima em agradar a um homem. Tenho
certeza de que vai ser bom para você… — ela ronrona como um gatinho
novamente, me fazendo perder a paciência.
— De jeito nenhum! Volte para o seu quarto agora. Você está bêbada
Rachel, mesmo que eu quisesse, e deixo claro aqui que não estou
interessado, não faria nada com você desse jeito. — reviro os olhos, puto
por ter que lidar com esse tipo de coisa.
— Por favor… Sr. Zur… estou tão sozinha, só por uma noite. — ela
diz e desmaia em meus braços.
— Mas que merda! Rachel? Acorde! — começo a sacudi-la, mas ela
não reage. Sem escolha, carrego-a para dentro do quarto.
No momento em que eu abaixo para colocá-la em uma cadeira, a
maldita agarra o meu pescoço e me beija.
Puta que pariu! Essa mulher é uma ninfomaníaca, e perdeu a noção
do perigo! Só pode.
Ela tenta beijar meu rosto, meu pescoço e lábios, enquanto eu fico
sem reação, surpreso pela sua ousadia. De repente, alguém atrás de mim
fala, e meu corpo todo fica rígido.
— Acho que não sou mais necessária aqui. Alguém já tomou o meu
lugar.
Fico tão chocado quando escuto a voz de Laura, que até Rachel
parece se comportar. Caralho! Esqueci de fechar a porta quando levei essa
maluca para dentro. Não que eu soubesse que a louca iria me agarrar, é
óbvio.
—Vá. Para. O. Inferno. E. De. O. Fora. Daqui. — digo alto e com
raiva para a Rachel, que se levanta apressadamente e sai da minha suíte,
entendendo o nível de raiva que eu estou sentindo.
Me endireito, viro lentamente, e olho para Laura.
Ela está de pé, parada na porta aberta da suíte, carregando uma mala
pequena, tremendo levemente. Seus olhos brilham com tanta raiva que por
alguns segundos, e pela primeira vez em muito tempo, fico sem palavras.
Não era isso que eu tinha em mente quando marquei nosso encontro aqui, e
nesse momento eu não sei o que dizer, deslumbrado com a sua presença. A
ruivinha está ainda mais bonita com essa fúria exalando de dentro de si.
E, puta merda, ela veio. Veio mesmo!
— Laura, você veio, — abro um sorriso ansioso, e me aproximo dela
— entre!
— Você não me deixou escolha. Se eu pudesse, não estaria aqui. Mas
parece que eu interrompi algo. — ela respira fundo, como que para tomar
coragem, e continua — E mudei de ideia. Tomei a decisão errada de vir
aqui hoje à noite. Adeus, Sr. Zur. — ela, então, se vira com firmeza e, de
repente, começa a caminhar em direção ao elevador.
O quê?! Ela veio até aqui para desistir e ir embora? De jeito
nenhum. Não vou permitir que isso aconteça.
— Ei, Morais, para. Volte aqui e vamos conversar primeiro. — digo
imponente, e vou caminhando em sua direção a passos rápidos, começando
a entrar em pânico. Ela não está blefando, pelo visto, realmente está
disposta a ir embora.
— Laura, você vai parar e me escutar! — falo firme, praticamente
gritando. Ela me olha com desprezo e eu recupero o tom de voz normal —
Por favor? O que você viu, não é o que você pensa que é. Rachel e eu...
— Sr. Zur, você não precisa me explicar! Eu conheço os homens,
principalmente, os safados e manipuladores como você. Mas, vim aqui
porque pensei que você queria me fazer uma proposta de casamento, e
mesmo que ele seja de fachada, eu não vou ser desrespeitada dessa forma.
O que quer que você faça não é da minha conta, mas se quer qualquer coisa
que seja comigo, esse tipo de evento não vai acontecer. — ela diz
firmemente.
A sua explosão me deixa sem palavras. Realmente, ela não esperava
muito de mim, mas, de fato, eu a desrespeitei, mesmo sem nenhuma
intenção. Não posso julgá-la por pensar isso, mas posso recompensá-la de
alguma forma. E mostrar que isso não é algo comum, ou que eu queria.
Enquanto penso, ela aperta freneticamente os botões do elevador e quando a
porta de metal se abre ela entra imediatamente. Sem parar para pensar,
agarro a sua bolsa, em uma tentativa desesperada de fazê-la ficar.
É isso, eu me tornei um psicopata desesperado pela atenção dela.
— Solta a minha bolsa! — ela exclama com raiva.
— Vamos conversar… Não vou te devolver até que você saia do
elevador e me escute. — digo em tom de ameaça, e me arrependo um
segundo depois, quando ela revira os olhos e abre um sorriso sarcástico.
— Sério? Tudo bem! — ela diz em tom de deboche — Você pode
ficar com a bolsa. Dê as minhas coisas para a sua namorada, talvez, a ensine
a ter classe. Estou indo embora agora.
— Ela não é minha namorada. É a minha secretária, e estava bêbada.
De repente, bateu em minha porta e desmaiou! — me junto a Laura no
elevador e a porta se fecha instantaneamente.
— Ah! Claro. Como você é tão prestativo, estava fazendo respiração
boca a boca. Como você é gentil, Sr. Zur, tão preocupado com seus
funcionários… estou realmente impressionada agora. — ela revira os olhos,
sendo extremamente sarcástica.
— Você já parece enciumada, Srta. Morais, imagino quando for a
minha esposa. — digo para provocá-la, com um sorriso nos lábios.
— Você é louco, isso nunca vai acontecer. Eu não gosto de você. Na
realidade, eu te odeio por fazer a vida do meu pai miserável. — ela respira
fundo, engolindo as lágrimas — Ele estava tão preocupado sabendo que eu
viria para cá. Mas… agora ele vai ficar contente por eu ter mudado de ideia.
— Laura diz, olhando para os números iluminados dos andares,
provavelmente, desesperada para sair daqui.
Meu olhar vai de encontro aos botões, e em uma medida desesperada,
aperto o botão de pane, fazendo com que o elevador pare em um baque
grande. Resolvo abraçar a minha insanidade. Se é isso que vai fazer com
que ela me escute, que seja.
— O que você está fazendo? — Laura começa a entrar em pânico —
Eu sou claustrofóbica! Não posso ficar em um lugar fechado assim! — ela
diz, hiperventilando.
— Precisamos conversar. Não vamos sair deste elevador até que o
façamos. — digo firme, mas por dentro muito angustiado. Vê-la assim é um
martírio, e agora preciso ser firme. Ela não pode voltar para casa com uma
impressão tão errada sobre mim, não agora que começou a aceitar a ideia do
meu contrato de casamento.
— Eu não quero conversar, só quero ir para casa. — ela diz ofegante
— Já te disse que mudei de ideia, por favor me deixe ir.
— Você não pode desistir agora. Já chegou até aqui, Laura.
Precisamos conversar.
— Eu não me lembro de ter assinado nenhum contrato ainda, Sr. Zur.
Posso sair, se quiser, você não é o meu dono. Além disso, não gosto da ideia
de ser sua esposinha troféu enquanto você se engraça com as suas
funcionárias na minha frente. — ela diz com raiva e continua — Por favor,
me esclareça, Sr. Zur, o que envolveria o nosso casamento? Você espera que
eu seja obediente? Uma empregada? Uma escrava sexual? Uma prostituta?
Ou uma mistura de tudo isso junto?
Olho para ela como se tivesse nascido outro olho em sua testa e ela
parece perceber a minha expressão confusa. Nunca ouvi tanta merda em
toda a minha vida! Que história é essa? Quem colocou essas ideias em sua
cabeça? Uma escrava sexual? Uma prostituta? Uma empregada? Laura só
pode estar louca se achou que eu faria algo do tipo com ela. Deixei muito
claro para Otávio que eu não era um monstro e que nunca forçaria nada
com a ruivinha.
— Eu nunca faria isso com você. Existe uma opção mais viável, a que
geralmente envolve esse tipo de acordo entre duas partes beneficiadas, e
que não envolve nenhuma das opções acima. Eu só quero que você seja
minha amiga, minha companheira para os meus clientes e minha anfitriã em
todas as festas que eu der. Uma pessoa que estará ao meu lado nos eventos,
e mostrará para o mundo que eu sou um homem confiável.
— Você está falando sério? — ela diz, parecendo desconfiada —
Você é inimigo do meu pai, e agora quer que eu seja sua amiga, sua esposa.
Só pode ser uma piada de mal gosto, eu assisti à Bela e a Fera! Eu sei o que
um monstro pode fazer com uma mulher indefesa que vai em busca de
ajudar o seu pai.
Eu abro um sorriso enorme pra ela.
— A Bela e a Fera? Sério, Laura? Eu realmente pareço tão
monstruoso assim? Seu pai aceitou o dinheiro, não pagou a dívida, e como
acontece com qualquer outro homem de negócios, uma hora a conta chega.
Mas estou disposto a pagar as contas do hospital para que a sua mãe
continue a ser assistida, deixei a casa e um carro para que eles não passem
necessidade, e ainda perdoei trinta por cento do valor. Não é uma proposta
tão ruim, sendo que eu só peço em troca a sua amizade e companhia por no
mínimo um ano, ou até ele quitar por completo toda a dívida. Eu te
prometo, essa é a descrição do trabalho.
— Você tem certeza? Sem sexo? — ela diz, ainda um pouco
temerosa.
— Desapontada, srta. Morais? — pergunto, com um sorriso malicioso
nos lábios, apenas para deixá-la um pouco desconfortável.
— Claro que não! Eu estou tentando deixar tudo claro! — ela
responde ofendida.
— Não posso te prometer isso, sinto muito. — digo honestamente —
Me sinto atraído por você, não vou negar. E, tenho certeza de que já sabe
disso. Mas nunca forçaria nada entre nós, eu não sou um monstro, pelo
amor de Deus! Claro que não vou te forçar a fazer algo que você não
queira. — respondo, passando as mãos pelos cabelos, tentando me acalmar
— Você tem que confiar em mim.
— Você é engraçado, Sr. Zur. Me acha atraente, sabia que havia a
possibilidade de eu estar aqui hoje e, mesmo assim, estava se agarrando
com outra pessoa em seu quarto. — ela pondera, me olhando fixamente —
Eu não acredito nem por um segundo em você. Com relação à confiança,
acho que jamais poderia confiar em você. Amizade? Duvido muito. Você
tornou a vida da minha família miserável. Eu ainda te odeio e acho que
nunca poderia gostar de você ou querer algo mais profundo como um
envolvimento íntimo.
Ok, essa doeu. Mas não deixa de ser verdade.
— Eu entendo como você se sente, e como eu já te disse, Rachel
bebeu muito e passou de um limite rígido, já estipulado previamente. Ela
arcará com as consequências, mas esse episódio lamentável não foi culpa
minha. — digo, mantendo a calma, e ela confirma com a cabeça a
contragosto — Agora, podemos voltar à minha suíte e terminar nossa
discussão lá? Já passou da meia-noite, o pessoal das câmeras de segurança
deve estar ansioso para saber o que estamos conversando, e eu gosto muito
da minha privacidade. Além do mais, tenho certeza de que você está
cansada. — digo, determinado a não a deixar ir embora.
— Ainda não estou de acordo com seus termos. — ela responde,
cruzando os braços, mas tem o esboço de um sorriso nos lábios.
— Certo, o que mais você quer? — pergunto mal-humorado,
querendo acabar logo com isso. Sei que preciso ouvir as suas concessões, e
para ser franco, tinha certeza de que elas viriam de alguma forma, mas esse
não é o melhor momento, nem o melhor lugar para isso.
Ainda temos muitos contratos para assinar, inclusive um acordo pré-
nupcial e o próprio contrato de casamento. As condições dela podem ser
acordadas depois, quando o advogado estiver organizando toda a papelada.
— Quero meu próprio quarto, além de, claro, manter contato com
minha família.
— Vou pensar sobre isso. — digo sucinto, não querendo entregar tudo
o que ela exigir de bandeja.
— O quê? — ela grita, furiosa — Você realmente queria me manter
longe da minha família? Só pode ter fugido de um hospício.
— Ah, pelo amor de Deus! Eu estava me referindo ao quarto! —
respondo, jogando os braços para cima — Você venceu. Pode conversar
com o seu papaizinho querido, sua mamãe e a puta que pariu. Vou
providenciar um quarto para você quando chegarmos a Havdiam. Agora,
nós vamos voltar para a minha suíte. — ordeno com raiva.
Eu só não quero mais discutir com ela. A ideia do quarto separado me
perturba profundamente, mas resolvo não discutir mais, para não parecer
ainda mais patético.
— Ok, tudo bem, você venceu. Estou bastante cansada. — ela diz,
com o primeiro resquício de um sorriso.
Laura fica com a cama, enquanto eu me disponho a dormir no sofá da
sala de estar. Vejo ela tomar alguns remédios antes de dormir, e faço uma
anotação mental para perguntar sobre a sua saúde o quanto antes. Na
realidade, vou colocar um check up no nosso contrato, para saber se ela está
mentindo ou não, caso me diga que está bem. Com o seu histórico familiar,
e a sua mãe tratando do câncer, é importante ter certeza de que ela não está
doente também. Eu me mataria se depois de tudo, tivesse que lidar com a
sua perda.
Enquanto olho para o teto, começo a relembrar de toda a nossa
conversa, não acreditando que eu estou mesmo vivendo essa situação,
finalmente. Simplesmente não consigo acreditar que ela está comigo nesse
quarto de hotel. Parece bom demais para ser verdade.
Que cama é essa? Onde eu estou? Meus olhos vagueiam pelo quarto
escuro, ainda confusa demais para entender o que estou fazendo aqui.
Geralmente, quando acordo, fico desorientada por um tempo, tudo culpa
dos remédios tarja preta que eu faço uso para dormir. Minha cabeça gira e
eu mal consigo abrir os olhos, mas tenho absoluta certeza de que há algo
errado, por isso, não volto para o mundo dos sonhos, como o meu corpo
praticamente me força a fazer. Tento me lembrar da noite passada, e uma
avalanche de memórias vem em minha direção.
Ai meu Jesus Cristinho, estou no quarto de hotel de Alex Zur. O
inimigo.
Sinto tanta sede, que sou forçada a jogar meus pés para fora da cama
e sair do quarto em busca de uma garrafa d'água. Minha língua parece uma
lixa e eu tenho certeza de que não vou conseguir pregar o olho novamente
antes disso. Apesar de cambaleante e ainda zonza, procuro pela suíte
enorme onde está a porcaria do frigobar, e me lembro que tem uma cozinha
americana na tal antessala.
A lua está tão brilhante hoje que, mesmo sem acender a luz, consigo
ver nitidamente Alex deitado no sofá em um sono pesado, usando um
pijama preto, parecendo muito relaxado. Não quero perturbar o seu sono
nem, principalmente, ser pega espionando-o, por isso, vou o mais
silenciosamente possível até a cozinha.
Bebo a água gelada, que mata a minha sede, como se fosse a melhor
coisa do mundo, e quando finalmente estou prestes a voltar para o quarto,
sou atraída pelo brilho de algo em cima da mesa de centro da sala de estar.
Fico tão hipnotizada com a peça que a minha mente me pregou, que preciso
me aproximar para ver melhor. Não é possível que essa merda de remédio
esteja me dando alucinações. Eu não estou louca a esse ponto. O reflexo da
lua, apesar de claro, não é suficiente para eu descobrir se é realmente o que
estou pensando a essa distância, e o mais silenciosamente possível, dou
alguns passos em direção à mesa, me agachando como uma criminosa.
Quando estou prestes a pegar o item vislumbrado, Alex se mexe
subitamente, murmurando algo, e me deixa paralisada no local. Não vale a
pena correr o risco de ser pega espionando-o apenas para saciar minha
curiosidade louca. Claro que esses não são os mesmos anéis. É impossível,
até porque, o meu ficou perdido naquela maldita grama anos atrás.
Acordo horas depois, sentindo alguém dentro do quarto. Lembro-me
de que esqueci de trancar a porta depois de sair para beber um pouco de
água e começo a me amaldiçoar por dentro. Burra, burra, burra. Abro os
olhos lentamente, e sou surpreendida quando vejo Alex se trocando perto de
um armário aberto.
Ah, meu Jesus Cristinho!
Ele está totalmente nu!
Pelo amor de Deus, homem, não são nem oito horas da manhã!
Suas costas são incrivelmente lindas, fortes, bem musculosas e
atléticas. Apesar disso, existem algumas leves cicatrizes que, mesmo de
longe, eu consigo enxergar. Onde será que ele conseguiu isso? Abaixo um
pouco o meu olhar e vejo seu bumbum redondinho, lindo. E me sinto muito
quente de uma hora para outra.
Sua cabeça se vira de repente, e seus olhos se fixam em mim. Eu,
imediatamente, fecho os olhos, fingindo que ainda estou dormindo. De jeito
nenhum vou assumir que estava espiando e ser pega no flagra.
Alguns segundos depois, escuto-o fechar a porta do banheiro.
Suspiro e abro amplamente meus olhos, assustada. Que vergonha! A
primeira vez que eu vejo um homem pelado, mesmo que de costas, foi
completamente sem querer. E ainda por cima, Alex Zur. Isso é o que eu
chamo de azar.
Ele é realmente um homem impossível. Por que ele está desfilando
dentro do quarto, totalmente nu, comigo deitada ainda dormindo? Isso é
cumprir com o combinado? "Apenas amigos…", sei.
Olho para o relógio e ainda são seis da manhã. Vou ficar na cama um
pouco mais, eu mereço. Estando aqui eu não preciso responder aos
questionamentos de Alex, nem ficar sob o seu olhar instigante. É isso, vou
esperar, pelo menos, até que ele saia do banheiro, para que eu possa trancar
novamente a porta.
Alguns minutos depois, escuto-o saindo do banheiro e fecho bem
meus olhos, fingindo dormir novamente.
Quanto menos conversa fiada, melhor. Esse é o meu lema.
Quando dou por mim, ele está sentado na cama e passando a mão
pelo meu cabelo.
— Vamos, linda, abra os olhos. Eu sei que você está acordada.
Eu não me mexo, e mal ouso respirar. Então, sua mão passa
gentilmente para a minha mandíbula e seu polegar acaricia minha bochecha.
— Laura… temos um voo para pegar.
Sua mão passa para o meu braço, acariciando para cima e para baixo.
Meu corpo se aquece de repente, com desejo, e seu toque queima como
fogo, mas, mesmo assim, não ouso me mover.
— Laura. Se você não abrir os olhos, eu vou te beijar. Vou apenas
contar até dez.
Ah, faça-me o favor. Agora vai começar a me ameaçar?
Simplesmente o ignoro, ainda fingindo dormir.
— Linda, estou falando sério. — ele diz, e começa a contar — Dez…
nove… oito… sete… seis… cinco… quatro… três… dois...
Sem saída, abro imediatamente meus olhos, com o cenho franzido,
fuzilando-o com o olhar.
— Poxa… que pena. Eu estava realmente desejando que você não
abrisse os olhos e continuasse com a sua atitude infantil. Seria muito mais
divertido. — resolvo ignorar a sua provocação, sendo sarcástica.
— Como você desejar. — digo com raiva, me sentando na cama.
Meu pijama de botões está praticamente todo aberto, mostrando
bem mais do que ele deveria ver, e sinto as minhas bochechas queimarem
de vergonha quando percebo seus olhos escurecerem e vagarem sobre meu
corpo. Arrumo o pijama o melhor e mais rápido que consigo, abaixando um
pouco a cabeça, tímida, mas sua voz potente faz com que eu o encare
novamente.
— Desejo isso desde que te vi, — ele sorri e continua dizendo —
você é ainda mais bonita pela manhã, sem maquiagem. Deus sabe que
quero beijar cada centímetro do seu corpo... seus lábios, seu pescoço… —
ele continua dizendo, e eu preciso manter uma distância, para que a minha
saúde mental não vá por água abaixo.
— Para, por favor. — eu o interrompo, sentindo as minhas bochechas
queimarem de vergonha.
Meu Jesus Cristinho! Ninguém nunca falou isso para mim antes, e
pela primeira vez, tem que ser esse troglodita sem noção? Que ódio!
Esse homem só pode estar querendo acabar com a minha sanidade. Só
com as suas palavras, ele conseguiu incendiar meu corpo, e preciso reunir
todas as forças do meu ser para me lembrar que ele arruinou o meu pai. Ele
não presta. Eu nunca vou poder ceder às suas investidas.
Ele se levanta e me encara com o cenho franzido.
— Você acha que eu estou mentindo, Laura? Olha para mim.
Viro minha cabeça para o lado, de repente, me sentindo muito
envergonhada ao vê-lo com tão pouca roupa. Alex Zur está usando apenas
uma toalha ao redor de seus quadris. Sua v line e seu tanquinho são
gloriosos e, obviamente, muito acima da média do que existe por aí. Além
de, claro, sua ereção estar totalmente evidente sob a toalha branca. Alex,
aparentemente, não brincou ao dizer que me desejava. Não sei se me sinto
lisonjeada, irritada ou ofendida. E, nesses poucos segundos que se passam
com a minha indecisão, ele vai até o armário e começa a se vestir, sem se
importar com a plateia.
— Comece a se mover, Laura. Vamos para Havdiam agora de manhã.
— O quê? — pergunto, completamente chocada. Como assim,
Havdiam? Ele disse algo sobre um voo, mas pensei que seria… sei lá… Rio
de Janeiro?
— Você esqueceu do acordo? Vamos nos casar. Moraremos juntos e,
obviamente, conviveremos por no mínimo um ano, ou até o seu pai me
pagar. Esse é o trato. — ele diz, falando lentamente, como se eu fosse uma
criança — Você sabe que eu moro em Havdiam e toda a minha vida e
empresas estão lá. Só vim ao Brasil para a reunião de ontem, então, por
favor, meu amor, não complique a minha vida. — ele diz, enquanto veste as
calças. Apesar de sério, seu tom de voz é amável e isso me confunde um
pouco.
— Eu sei disso, — respondo envergonhada, e vacilo um pouco na
última sílaba — é que eu ainda não pedi permissão para a minha mãe. Ela
não sabe que eu estou aqui com você agora, eu só saí ontem à noite quando
ela já estava dormindo. Não contamos ainda sobre a nossa atual condição,
com medo de seu estado piorar.
Alex me olha como se eu tivesse duas cabeças, provavelmente,
tentando assimilar tudo o que eu falei.
— Permissão? Como assim? Você não tem vinte e cinco anos? — ele
diz indignado, mas respira fundo e dá dois passos em minha direção —
Bom, então pense em algo para aliviar as suas preocupações. Não precisa
falar que vamos nos casar, se não quiser...
— É lógico que eu não vou fazer isso. Apesar de não gostar muito da
ideia de mentir para ela, sei que é necessário. — solto um suspiro, torcendo
as mãos em meu colo — De qualquer forma, eu estava pensando em dizer a
ela que tenho que participar de um treinamento empresarial em Havdiam,
para uma nova vaga que me foi ofertada. — respondo, ainda torcendo as
mãos. Vai ser muito mais difícil do que eu esperava, e mais rápido também.
— E se ela perguntar por quanto tempo? — sou pega de surpresa e
isso me faz pensar.
Por quanto tempo eu ficaria com Alex Zur? O contrato diz no
mínimo um ano, ou até a dívida ser quitada. Quando meu pai vai conseguir
pagar a sua dívida? Por quanto tempo eu terei que manter esse casamento
absurdo?
— Não sei o que lhe dizer. — respondo sinceramente, e então,
pergunto, externando a dúvida que há em meu coração — Por quanto tempo
o senhor me terá como garantia, Sr. Zur? Se esse pagamento durar mais de
um ano?
— Estou torcendo para que dure cem, Laura. Será um prazer tê-la
comigo. — ele responde, com um sorriso enorme no rosto. Com certeza, o
safado já pensou exatamente sobre isso e está satisfeito com a perspectiva.
— Você é louco, Sr. Zur.
— Para de me chamar de Sr. Zur, por favor. Me chame de Alex.
— Não consigo. — respondo veementemente.
— Mas você precisa se acostumar. Afinal, você já me viu pelado, até
amanhã estaremos casados e, mesmo assim, ainda quer me chamar de Sr.
Zur? — fico completamente vermelha, e muito sem graça.
— Meu Deus! Você é completamente impossível! — digo com
rispidez — Eu te odeio, sr. Zur.
— Estou te avisando, Laura. Se você soltar outro Sr. Zur, eu vou te
jogar nessa cama em menos de um segundo, e vou me certificar de que você
também esteja pelada. Só para tornar as coisas mais justas. Assim, ninguém
fica constrangido ou em desvantagem.
Meus olhos se arregalam, e pelo que eu já conheci do homem, sei que
ele não está blefando. Seu olhar penetrante não abre brechas para duvidar
de que ele faria qualquer coisa para não ter as suas vontades contrariadas. O
típico mimado e egoísta com os quais eu tanto convivi desde quando saí do
colégio interno.
— Você não vai fazer isso. — uso toda a minha calma e autoridade
para impor a minha vontade e ele apenas abre um sorriso para mim.
— Bom, não me teste, linda.
— Tenho que ir buscar minhas roupas e meu passaporte em casa. —
respondo sucinta, tentando desesperadamente mudar de assunto — Só
trouxe uma bolsa com um pijama ontem à noite.
— Podemos passar em sua casa no caminho para o aeroporto. Não se
preocupe com suas roupas, apenas pegue o seu passaporte. — ele diz, como
se o assunto já estivesse descartado, e eu fosse simplesmente mais um item
em seu checklist.
Me visto rapidamente depois de sair do quarto e juntos tomamos um
café da manhã dentro da suíte. Fico surpresa com o quão cavalheiro ele é
nas pequenas atitudes, como puxar a cadeira para que eu me sente, ou me
passar todos os utensílios, sem eu, ao menos, pedir. Como ele não parece
estar pensando nem se esforçando para isso, me surpreendo. Não esperaria
essa atitude de alguém tão mandão e arrogante.
Olho para a mesinha de centro, do outro lado da sala e me lembro
vagamente de uma lembrança com algo brilhante. Mas, como meus
pensamentos estão totalmente embaralhados, resolvo deixar pra lá.
Provavelmente, não deve ser nada demais, e mesmo se fosse, os remédios
me pregam peças noturnas. Não confio em mim mesma, nem se a minha
vida dependesse disso.
Quem diria que eu acordaria com tamanho bom humor?
Ter Laura por perto, depois de tantos anos ansiando a sua presença,
realmente me deixa completamente extasiado e faz muito bem para o meu
ego. A ruivinha não abaixa a cabeça para as minhas provocações, mas de
certa forma, isso é ainda mais interessante do que se ela fosse totalmente
complacente. Apesar da sua vergonha, vejo a leoa dentro dela querendo
aparecer de todas as formas possíveis, e isso me encanta de uma maneira
que mal sei explicar.
Laura, com certeza, será um refresco para os meus dias mais
sombrios e estressantes. Por anos, eu vivi arquitetando este plano, com o
único objetivo de tê-la por perto, e agora, que eu posso ter e consegui tudo o
que eu queria, nada mais justo do que aproveitar.
Enquanto observo a minha futura esposa tomar seu café da manhã,
repasso em minha mente tudo o que preciso mudar para que ela se sinta
bem e acolhida em minha casa. Corrijo-me mentalmente, enquanto observo,
como um depravado, ela colocar um morango na boca, “nossa casa”.
— Já que vamos nos casar, eu acho que mereço saber um pouco
mais sobre os seus gostos… não quero que sejamos estranhos um para o
outro. — comento, com os olhos focados no meu prato, e percebo que a
ruivinha ofega, antes de confirmar lentamente com a cabeça.
— Certo. O que quer saber? — pelo menos, ela não foi arisca, o que
eu já considero um grande avanço.
— Qual é a sua comida preferida? — A Laura do passado diria
macarrão…, mas dez anos se passaram…
— Macarrão, e a sua? — não consigo evitar o sorriso em meu rosto,
e solto a primeira bobagem que passa em minha cabeça.
— Moussaka… é uma comida do meu país. — digo, dando de
ombros, e ela confirma com a cabeça.
— Já experimentei. É gostoso. — e assim, o silêncio se instala,
ficando estranho rapidamente.
— Qual é a sua cor preferida, Laura? — pergunto, e ela abre um
sorriso pequeno antes de responder:
— Roxo, e a sua?
— Azul.
— Típico! — ela revira os olhos e sinto necessidade de me explicar.
— Azul igual ao mar de Mykonos, onde meu avô mora
atualmente. Eu sinto saudade de lá… apesar de ir com certa frequência para
cuidar pessoalmente da frota naval que temos na região. — Ela tenta fingir
indiferença, mas parece impressionada.
— Nunca fui para a Europa, apesar de ter muita vontade de
conhecer todos os lugares. — fico curioso com a sua afirmação, já que, com
certeza, não foi por falta de dinheiro, como a maioria dos meros mortais do
mundo.
— Por quê? — pergunto, e ela parece envergonhada.
— Eu sou claustrofóbica, Zur. — ela diz, e eu estreito os olhos, sem
entender o que quer dizer — Tenho pânico de voar. Agora, eu estou me
tremendo inteira só de pensar em ir para Havdiam com você.
Me sinto um bosta com essa declaração.
Nunca tinha pensado que voar fosse realmente um problema, mas se
eu tivesse pesquisado mais, perguntado mais, poderia deixá-la de alguma
forma mais confortável com essa situação. Cogito cancelar o voo, mas antes
que eu abra a boca para fazer essa sugestão, Laura se levanta, parecendo
confiante.
— Alguns medos são irracionais, outros nem tanto. Voar, dias atrás,
seria o meu pior pesadelo, mas agora o meu maior medo é o que vem
depois disso, sr. Zur. — Laura nunca foi tão honesta como está sendo nesse
momento, e pela primeira vez em muito tempo, me vejo sem palavras —
Confesso que eu estou apavorada com toda essa situação. Não é fácil, e por
mais que você não esteja agindo como um monstro, por hora, me assusta o
que eu devo esperar para o futuro. Mas, continuarei com o plano porque
meus pais precisam de mim.
Pisco algumas vezes, surpreso com a sua fala, mas apenas confirmo
com a cabeça, ciente de que não posso fraquejar e lhe dar a sua liberdade
por hora. Aos poucos, Laura vai entender que eu só quero o seu bem, que
sou apaixonado por ela, e farei com que ela se apaixone por mim também.
Com atitudes, eu vou quebrar todas as suas barreiras, é para isso que eu
voltei, para finalmente ficarmos juntos.
— Espero que você entenda que eu quero que você seja feliz.
Desculpe se a situação parece absurda, mas eu tenho grande estima por
você. — digo sucinto, e ela balança em negativa a cabeça.
— Zur, você me conheceu ontem… sei que pareço inocente, mas
nem com toda a minha inocência, eu cairia em algo assim. Você quer atingir
meu pai, que por algum motivo que ninguém entende, você resolveu que
seria o seu inimigo número um. Sabe que eu sou o jeito mais fácil de fazer
com que ele se sinta ameaçado, e atingido de alguma forma. Eu estou
conformada em seguir adiante com esse casamento por contrato, porque
preciso ajudá-los, como eles me ajudaram em meu pior momento. Devo
isso a eles. Por isso, não precisamos nos iludir de forma alguma, eu o odeio,
mas farei o que for preciso. — engulo em seco, me levantando também.
— Então, Laura. Está na hora de irmos. — respondo sucinto,
absorvendo tudo o que ela falou.
Esse momento era o mais esperado de todos, sempre que repassava
em minha mente o meu plano de vingança. Entrar na mansão dos Morais,
levando embora a princesinha da família, e vendo como o desgraçado do
pai dela pagou por tudo o que me fez. Mas, agora, o gosto amargo em
minha boca anuncia que fazer isso não será nem um terço tão bom quanto
eu gostaria que fosse. Não esperava sofrer tanto vendo o quanto a ruivinha
está sofrendo por minha causa.
Mal consigo me despedir da minha família, e Alex já me arrasta
para o avião, me levando para longe de tudo e todos que eu conheço e amo.
Tudo bem que ele não saiu me puxando pelos cabelos, e foi até bem
paciente enquanto eu fiquei aos prantos por mais de vinte minutos
abraçando os meus pais. Ainda assim, cá estou eu, indo em direção à gaiola
metálica detestável, com destino ao desconhecido.
Entramos em um jato ostensivo e luxuoso, e por mais que me doa,
preciso admitir o quão impressionada estou pelo seu interior. Zur me
apresenta a todos os seus empregados com um sorriso no rosto, e eles
parecem já me conhecer, porque ninguém fica surpreso com a minha
presença. Secretário executivo, chefe da segurança particular, e outros dois
homens de preto, sérios e carrancudos, o piloto e, claro, a safada da sua
secretária, Rachel. Ela me olha com tanta inveja e ultraje, que mesmo não
tendo nada com Alex, e Deus me livre de ter algo com ele um dia, me sinto
vingada pela cena absurda que presenciei noite passada.
Alex Zur parece completamente extasiado, mostrando o quão feliz
está para todos ali, e isso, além de me deixar extremamente nervosa, me
deixa triste. Já que sua felicidade parece ter a ver com destruir o meu pai e,
por que não dizer, estar levando seu brinquedinho novo para casa. O novo
pet, que precisa de muito menos cuidado, já que consegue se virar sozinho.
Apesar de não concordar nem um pouco com os seus motivos, observo
como a sua expressão se suavizou desde quando entramos no avião, e não
consigo deixar de reparar o quão bonito ele está neste momento. Parece que
um peso grande deixou as suas costas, e, infelizmente, sinto que eles foram
colocados nas minhas.
Quando o avião começa a decolar, uma onda de pânico cresce dentro
de mim e eu começo a hiperventilar. Eu simplesmente odeio aviões, odeio
voar e odeio mais ainda os pousos e decolagens. Busco meus remédios em
minha bolsa, apavorada e claustrofóbica, ansiosa para apagar e não ver ou
sofrer por nada disso, mas não os acho. Alex percebe o meu desconforto e
segura a minha mão, como um leve apoio moral. Como neste momento
qualquer ajuda é válida, seguro firme a sua mão, esperando o pior passar. E,
quando elas se encontram, aquele choque gostoso, que só a eletricidade do
seu toque produz, volta com tudo, me fazendo estremecer.
— Você está bem? Parece nervosa. — ele diz suavemente, apenas
aumentando ainda mais o meu desespero.
— Um pouco. Eu definitivamente odeio voar, — digo, nervosa —
sempre que eu posso evitar, não voo.
— Então, você nunca esteve na Europa? Simplesmente, não posso
acreditar. — ele diz, um pouco debochado.
— Bom, já estive em outros voos. Fui para a Disney algumas vezes,
quando era criança. E no casamento da minha irmã em Chicago, quando eu
tinha dezenove anos. Desse eu não consegui fugir…, mas, nunca estive na
Europa, muito menos em Vongher ou Havdiam. — digo, tagarelando para
ver se o desespero passa. Sem os remédios, vai ser muito difícil não ter um
ataque de pânico a qualquer momento. Será que existe alguém com curso
de primeiros socorros aqui? Espero que sim.
Alex sorri, parecendo feliz e me dá um aperto de mão cúmplice, me
tirando dos meus devaneios.
— Você vai adorar Havdiam, tenho certeza.
— Espero que sim. — digo, tentando conter a curiosidade. Não quero
bombardeá-lo de perguntas, mas ao mesmo tempo, não consigo evitar
imaginar como vai ser minha vida a partir de agora.
Será que eu vou poder visitar a cidade? Será que eu vou gostar
mesmo? E o frio? Será que eu vou ficar presa dentro de uma casa como um
enfeite?
— De qualquer forma, há um quarto na parte de trás do avião, se você
quiser se deitar mais tarde.
— Obrigada. — respondo, sem ter mais o que dizer.
— Apenas relaxe, está bem? Você está em boas mãos. — ele diz, e
eu, claro, não acredito em nenhuma palavra sequer. Se as mãos forem as
dele, não tenho certeza de que um dia estarei a salvo.
Me viro um pouco, tentando quebrar o contato visual e o ar carregado
que nos envolve, mas se ele toma isso como ignorá-lo ou não, eu não sei.
Por que alguém precisa ser tão intenso? Isso deveria ser imoral! Como se
tivesse entendido a minha intenção, Zur abre o seu notebook e passa a me
ignorar, aparentemente, começando a trabalhar incansavelmente, se
esquecendo de mim.
Precisava ser tão insensível?
Meu estado é deplorável, e estou quase implorando por atenção,
quando resolvo me retirar. A que ponto eu cheguei?
Já passou muito tempo desde quando o avião decolou, e Zur não se
deu ao trabalho de falar comigo novamente, está tão alheio que nem me
olhou de relance. E o cretino ainda disse que me queria como amiga. Reviro
os olhos, extremamente revoltada. Amiga o caramba, eu estou muito mais
para um troféu de batalha. Acabou com o meu pai e me levou de brinde,
apenas para fazer pirraça e demarcar território.
Homem impossível! Além de ser insensível! Que ódio! E isso não
devia me afetar tanto.
Ele sabia que seria embaraçoso encontrar Rachel após o flagra de
ontem à noite. Mesmo assim, agiu como se nada tivesse acontecido e até
tripudiou, mandando que ela atendesse às minhas necessidades. Como se eu
fosse pedir alguma coisa para aquela vagabunda, e correr o risco de ser
envenenada ou coisa assim.
Eles provavelmente são amantes. Não importa o quanto Alex negue,
eu sei que ele está mentindo, depois de ontem, não tem como acreditar.
Como dizia a minha avó: nesse angu tem caroço.
Me sinto sugada emocionalmente, tentando muito não surtar nem
entrar em uma crise de pânico sem precedentes. A cama parece uma boa
alternativa, pelo menos, se parece mais com um quarto qualquer, do que
com um avião apavorante. Me levanto e deixo o meu assento assim que o
piloto dá o aval, com Alex tão absorto em seu trabalho que nem nota a
minha ausência. Preciso manter a distância entre nós, isso é importante para
a minha saúde mental já tão frágil. Minha psicóloga precisará abrir horários
extras em nossa sessão online para entender a reviravolta que aconteceu em
minha vida.
Encontro o quarto que ele mencionou, na parte de trás do avião, e
realmente, se parece bem confortável por dentro. A decoração é
completamente masculina, com tons de marrom e branco proeminentes, e
no meio do quarto, uma grande cama de casal. Fecho a porta e me sento
nela, testando a sua maciez, fico surpresa ao encontrar em um sofá lateral
um urso gigante de pelúcia segurando um buquê de rosas cor de rosa.
Imediatamente, vou em sua direção, ficando lisonjeada e feliz com o
gesto. Aparentemente, o cretino não é tão cretino assim. Pego o buquê e
respiro fundo, sentindo o aroma das flores. Quando vejo a caixinha de
Ferrero Rocher, me desmancho por ali mesmo.
Como ele adivinhou qual é o meu chocolate preferido?
Junto ao presente, encontro um cartão.
Laura,
Estou feliz por ter você em minha vida.
Seu,
Alex
Volto para a cama sorrindo e levando todos os meus presentes junto
comigo. Para ser justa, apenas quando quer, Zur consegue ser um cara doce.
Abraço meu novo companheiro, mesmo sendo velha demais para isso,
buscando um alento e uma companhia para a nova jornada que está se
iniciando em minha vida hoje. E pensando nos próximos dias, começo a
ficar sonolenta, imaginando como será quando eu chegar... O que eu vou
fazer? Onde eu vou morar? Terei alguma companhia? Eu realmente vou
trabalhar? Quando estou quase adormecendo, escuto a porta do quarto se
abrir e vejo Alex entrar.
— Ei, você está bem? — Seus olhos vagueiam pelo local em uma
inspeção minuciosa.
— Eu estou bem. Obrigada pelas flores e pelo ursinho, eu realmente
adorei.
— Que bom que você gostou. — ele sorri, colocando as mãos dentro
dos bolsos das calças.
— O que está fazendo aqui? Você estava tão ocupado trabalhando. —
digo em um tom de crítica, e no mesmo momento me repreendo. Não quero
parecer alguém carente, desesperada por atenção. Mesmo que nesse caso,
eu realmente seja um pouco dos dois.
Ele encolhe os ombros, sem saber exatamente o que dizer.
— Eu só quero ter certeza de que você está bem. Você saiu sem dizer
nada… fiquei preocupado.
Me sento na cama, encostando de costas na cabeceira almofadada,
olhando em sua direção.
— Só quis me deitar um pouco, nada demais. Acho que o tempo pode
passar mais rápido se eu dormir. — enquanto falo, Alex tira seu casaco e o
coloca sobre a cadeira, por cima do meu casaco. Depois, ele se senta na
cama e tira os sapatos. Observo com atenção cada um de seus movimentos.
— Eu também preciso me deitar, não consegui dormir bem ontem à
noite. — seu sorriso safado é extremamente debochado, e isso faz com que
eu entre em pânico.
— Eu… — digo, com a boca seca — eu vou lá fora para que você
possa descansar. — quando estou prestes a me levantar, sua mão se aperta
em meu braço.
— Pode ficar onde está. Essa cama é enorme e cabe nós dois com
tranquilidade, sem nos tocarmos. Eu já te disse, Laura, não farei nada sem a
sua permissão. Não precisamos agir como dois estranhos. — meu coração
dá um duplo mortal carpado, quando, sem aviso, ele se deita ao meu lado.
Fico muda, sem saber o que fazer — Venha cá. Você estava morrendo de
sono quando eu entrei, com certeza, vai dormir rapidinho.
— Eu não estou mais com sono. — digo, petulante. Alex parece
perdido em pensamentos, e começo a me perguntar se ele realmente ouviu o
que eu disse. — Não foi você quem comprou isso, não é? Com certeza sua
adorada Rachel se encarregou das compras.
Seu cenho se franze, imediatamente.
— Não. Eu comprei as rosas e o ursinho depois da nossa reunião de
ontem. Disse ao florista para incluir os chocolates. Pessoalmente. — ele
frisa a palavra.
— Sério? — pergunto, completamente chocada.
— Sério. Não tenho por que mentir, Laura. — ele fala com tanta
intensidade, que eu começo a sentir as minhas bochechas esquentarem.
— Sua assistente não gosta de mim. — digo para provocá-lo.
É, seu babacão... eu sei que ela não é só a sua assistente.
— Então passe a ignorá-la. Ela está com ciúmes porque sabe que
estou louco por você, e nunca olhei para ela. Assim que chegarmos a
Havdiam vou realocá-la, o que ela fez ontem foi inaceitável. — ele diz, com
uma voz muito sedutora.
— Não fala isso. — o repreendo, me deitando na cama novamente, e
o enfrento.
— Por que não? É a verdade. — ele parece tão sincero, que eu
simplesmente acredito.
— Eu pensei que você havia dito que seríamos apenas amigos. —
digo em um suspiro, e ele nega com a cabeça.
— Não, eu não disse isso. Disse que não forçaria nada entre nós, e
realmente não vou. E que gostaria que fossemos amigos, mas não apenas
amigos. — ele dá ênfase no apenas, e continua — Você precisa saber que eu
quero mais. — ele me envolve com suas palavras, e eu quase perco o fôlego
olhando para os seus olhos azuis — Quero que a gente comece como
amigos, para que você aprenda a confiar em mim, — sua mão corre
suavemente pelo meu cabelo — e não quero colocar nenhuma pressão sobre
o que você precisa ou não fazer. Vamos devagar, está bem? Em breve, você
vai querer estar comigo tanto quanto eu quero estar com você, porque vai
perceber que somos feitos um para o outro.
Sua fala extremamente confiante me confunde, e ao mesmo tempo,
me assusta. Como eu vou perceber isso? Parece uma piada de mau gosto
para mim. Mas ao mesmo tempo… Que confusão, Laura!
— Eu não sei, — digo simplesmente — ainda não consigo perdoar o
que você fez ao meu pai. Você destruiu uma das pessoas que eu mais amo
no mundo.
Sua mão cai imediatamente de lado, fazendo com que eu sinta uma
falta extremamente descabida do seu toque, e sua expressão endureça.
— Ele tem uma dívida a pagar, não fiz nada absurdo, Laura. Pelo
contrário, se eu fosse qualquer outro homem, não teria sido tão benevolente
ao deixar a casa para seu usufruto, nem ao arcar com o tratamento da sua
mãe. Espero que logo perceba que eu não sou o monstro dessa história.
Por um momento, ficamos em silêncio, apenas olhando um para o
outro.
— Só espero que você encontre uma mulher para se casar, uma que
vai amar te amar e te fazer feliz, para que eu possa voltar para casa, para
minha família.
Será? Uma vozinha irritante e incomoda questiona no fundo da
minha mente.
— Eu tenho certeza de que já a encontrei. — ele diz, e eu sinto um
desconforto absurdo com a sua fala.
Isso é algum tipo de piada de mau gosto?
— Você tem alguém assim? — pergunto imediatamente, tentando
esconder o súbito ataque de ciúmes que sinto.
— Sim. Ela está bem na minha frente, e assinará os papéis do nosso
casamento hoje à noite. Você está exatamente onde deveria estar, linda. Ao
meu lado.
— Isso não é engraçado. — digo, tentando conter o meu
constrangimento. Zur, com certeza, percebeu o meu ataque de ciúmes
inapropriado, e pelo sorriso em seu rosto, está achando graça disso tudo.
— É só uma brincadeira, tudo bem? Não precisa ter uma parada
cardíaca ou qualquer coisa do tipo. — ele diz, desviando o olhar. Depois de
alguns segundos em silêncio, ele completa — Pensei que você fosse dormir.
— ele comenta, quando eu me sento e pego um chocolate.
Alex me observa com muita atenção e eu não consigo conter o dar de
ombros, antes de responder.
— Não consigo resistir, apesar de tentar manter o peso.
Alex começa a rir, e se senta na cama, pegando o chocolate da minha
mão. Ele abre a embalagem e o coloca delicadamente na minha boca. Eu
seguro a sua mão e mordo metade do chocolate, me sentindo quente sob o
seu olhar atento. Respiro fundo, e mastigo lentamente olhando em seus
olhos.
Acho que nunca tive uma experiência mais erótica ou íntima em
toda a minha vida.
Zur come a outra metade me olhando nos olhos. Repetimos o
processo, mais um, dessa vez eu lhe dando na boca a outra metade. Alex,
então, segura a minha mão e come o chocolate, morde a ponta dos meus
dedos de leve, e os lambe, tornando esse ato extremamente sedutor.
Fico completamente em choque.
— Por favor, não faça isso. — digo, tentando recuperar o meu fôlego
e raciocínio lógico.
— Não fazer o quê? — Alex brinca, chupando meu dedo indicador e
beijando a palma da minha mão.
— Alex... — eu tento pedir para que ele pare, mas não consigo. Ele
simplesmente mexe com alguma coisa dentro de mim, despertando um
monstrinho há muitos anos adormecido.
— Laura. — seus olhos suplicam por algo que eu ainda não consegui
desvendar, em toda a sua complexidade.
Seu rosto se aproxima ainda mais do meu, e ele inclina levemente a
sua boca para encontrar a minha. Quando percebo o que está prestes a fazer,
sou tomada por um impulso de sanidade e viro o meu rosto, fazendo com
que o beijo se firme em minha bochecha.
— Linda, estou morrendo de vontade de te beijar. Não me mande
sinais controversos, por favor. — ele sussurra em meu ouvido, e deixa um
beijo em meu pescoço, me deixando toda arrepiada.
— Para, — eu empurro ligeiramente seu peito, sem de fato afastá-lo
de mim — você prometeu não me tocar contra a minha vontade. — lembro
a ele, com a voz vacilante.
— Então, pare de me encarar assim, por favor. — ele diz, suprimindo
um sorriso.
— Assim, como? — pergunto, sem compreender.
— Como se você estivesse implorando para ser beijada. Como se o
seu corpo estivesse implorando para ser tocado por mim. — ele diz, em
uma voz baixa, olhando fixamente para a minha boca.
Fico completamente chocada com as suas palavras, e um misto de
sentimentos se passa dentro de mim. Sinto raiva, vontade de chorar, vontade
de beijá-lo e principalmente ódio de mim mesma, por ser fraca e cair nesse
papo furado com menos de um dia de convivência.
O que será de mim no final deste ano?
— Eu não estou te olhando de forma nenhuma. Você está me
interpretando mal. — digo, tentando parecer firme, e demonstrar toda a
minha indignação. Mas não passo de uma criança fazendo birra aos seus
olhos.
— Sim, você está agindo dessa forma, mesmo que queira se enganar.
Agora, por exemplo, seus olhos estão implorando para que arranque a sua
roupa e te beije em todos os lugares possíveis. Mas, você vai precisar pedir,
porque eu prometi que não seria invasivo.
A vergonha me consome, e eu posso ter certeza de que estou
vermelha do couro cabeludo até os dedos dos pés. O pior de tudo é perceber
que ele está falando isso só para me provocar, mal contendo um riso preso
em sua garganta. Alex, com certeza, vai fazer de mim sua boba da corte,
tirando sarro da minha cara o tempo inteiro.
— Ah, faça-me o favor! Você só pode estar louco, Zur. Leu tudo
errado. Mantenha essa minhoquinha longe de mim, — digo, revirando os
meus olhos e atirando um travesseiro nele — eu realmente te odeio. Já disse
isso hoje?
Alex pega o travesseiro e o coloca de lado.
— Eu sei, Laura. Você não tem que me lembrar o tempo inteiro. —
ele parece realmente chateado, e se levanta com os olhos baixos — Vou te
deixar sozinha para dormir, ainda tenho muito trabalho para fazer. Te
acordo mais tarde para o almoço. — ele diz, e vai direto para a porta.
Como um furacão, ele vai embora, me deixando confusa, chocada,
desejosa e muito, muito brava. Com a cabeça cheia de pensamentos
confusos, pego no sono. Os sonhos são caóticos, uma mistura de um sorriso
infantil e fácil de Igor, e os olhos tempestuosos e duros de Alex.
Tão parecidos e tão diferentes.
Malditos russos, sempre me atrapalhando de uma forma ou de outra.
Primeiro, tentaram boicotar nosso negócio, agora que viram que não
deu certo, estão tentando negociar conosco para conseguir uma "rebarba"
no lucro. E, neste momento, ao invés de estar com a ruivinha, mostrando a
nossa casa para ela, estou aqui, tendo que lidar com esse tipo de coisa. Pelo
menos, foi rápido e em uma hora estou liberado para ao menos conseguir
jantar e resolver os pormenores do nosso casamento com ela.
Fiz um último teste com a Rachel, e percebi que a mulher é muito
mais ardilosa do que eu imaginei. Quando pedi que ela levasse Laura para
casa, deixei o motorista encarregado de ser meus olhos e ouvidos, e percebi
que sim, ela tentou envenenar Laura contra mim, o que tornou a decisão de
demiti-la ainda mais fácil.
Por outro lado, agora que Laura sabia dos meus encontros de sexta,
precisava tomar ainda mais cuidado para que ela não desconfiasse de nada.
Preciso cuidar para que ela não descubra tudo tão rápido, e assim, me dê a
oportunidade de se apaixonar pelo homem que eu me tornei.
— Quero o contrato de casamento pronto em minha mesa agora. —
disco o ramal do meu advogado, Kevin Russell, falo e desligo, sem esperar
respostas.
Espero que ele tenha colocado a cláusula sobre o check-up, já que no
avião Laura parecia realmente nervosa, procurando algum remédio em sua
bolsa. Isso tem me preocupado bastante, sei que não posso parecer muito
invasivo, mas apesar de muito parecida com a menina que costumava ser,
Laura aparenta estar fechada em um casulo, presa e muito mais medrosa do
que era dez anos atrás.
— Me chamou, sr. Zur? — Kevin entra na minha sala, com uma pasta
cheia de folhas em mãos.
— Chamei. Preciso do contrato de casamento o quanto antes. Não
posso correr o risco de Laura mudar de ideia.
— Sim, eu fiz as alterações que me pediu, e coloquei de uma forma
que não pareça nada absurdo, assim, você também fará o check-up. Além
disso, o contrato pré-nupcial está pronto, e todas as cláusulas absorvem a
dívida do pai dela. Quer realmente manter isso? Você vai perder bastante
dinheiro…
— Quero. Foi combinado, e trato é trato. Ela precisa sentir que eu
estou mergulhado de cabeça nessa história tanto quanto ela, dessa forma, o
casamento será vantajoso para os dois. — digo sério, mas meu advogado
me lança um olhar enviesado.
É nítido que ele acha esse o pior acordo que eu já fiz em toda minha
vida. Totalmente passional, sem lucro nenhum para mim, apenas um
prejuízo sem previsão de retorno, financeiramente falando.
— Realmente, essa boceta é de milhões. — ele brinca, mas franzo o
cenho, fazendo a minha expressão mais fechada e ele engole em seco, antes
de dar um passo para trás.
— Está falando da minha futura esposa, sr. Russell. Cuidado.
— Desculpe, passei do limite. O senhor tem razão. — ele responde,
me entregando a pasta, e sem maiores delongas, sai da minha frente com o
rabinho entre as pernas.
Imbecil.
Leio tudo para ver se está realmente correto, e quando me dou por
satisfeito coloco a papelada em minha pasta, pronto para enfrentar a fera e
me casar.
Quem diria.
O dia foi exaustivo, mas vamos fechar com chave de ouro. Consigo
chegar às oito para o jantar, e percebo que a sra. Lopes organizou tudo do
jeitinho que eu pedi. A mesa posta no jardim indica que está tudo pronto e,
provavelmente, Laura já recebeu meu presente de boas-vindas, e está se
arrumando.
— Tudo certo? — pergunto para Charlie que, como sempre, é o
primeiro a me recepcionar, e ele abre um sorriso gigante, antes de confirmar
com a cabeça.
— Tudo certo, senhor. Laura já recebeu o vestido, e minha mãe
disse que o jantar está pronto. Só faltava o senhor chegar para avisarmos a
ela. — ele diz de prontidão e eu confirmo com a cabeça.
— Vou tomar um banho rápido, mas pode deixar que eu mesmo a
chamo, ok?
— Combinado.
Subo as escadas correndo, de dois em dois degraus, me sentindo um
adolescente ansioso. Sei que um casamento de verdade envolveria muito
mais do que uma simples assinatura contratual, mas impossível não ficar
ansioso com esse tipo de acontecimento, principalmente porque eu vou me
casar com ela que é e sempre será a mulher da minha vida.
Tomo um banho rápido e visto o terno cinza que escolhi para essa
ocasião antes de ir para o Brasil. Assim como o jantar, as flores, o vestido e
todos os detalhes, para que Laura se sentisse acolhida e bem dentro dessa
casa enorme, que agora parece completa com a sua presença.
Assim que termino de me arrumar em tempo recorde, bato duas
vezes na porta do seu quarto, e ela atende com um sorriso no rosto, que
morre assim que coloca os olhos em mim. Percebo que, assim como antes,
ela se esforça muito para parecer brava comigo, mas seus olhos estão
carregados de desejo, provavelmente, refletindo os meus.
O vestido branco é simples, porém, cumpre o papel do casamento
pouco convencional. Sei que um vestido de noiva seria demais para essa
situação e, com certeza, ela não aceitaria, mas prefiro pensar que estou
adiantando a papelada para que a cerimônia aconteça em um futuro
próximo.
— Você está linda, — digo baixo, e ela pisca duas vezes, como se
não soubesse o que responder — me acompanha?
— Obrigada. — Laura resolve responder, e encaixa o braço no meu,
enquanto começamos a caminhar.
— Chegou cedo, achei que demoraria mais com a reunião
importante que tinha.
— Adiantei o máximo que consegui. Queria jantar com você. —
respondo, dando de ombros, tentando não parecer tão ansioso — Você
gostou da casa?
— Sua casa é linda, sr. Zur. — a ruivinha responde, eu reviro os
olhos, um pouco impaciente.
— Nossa casa, Laura… se você quiser mudar qualquer coisa, tem
autoridade para isso. — respondo, tentando ser paciente, e chegamos ao
primeiro andar, onde a mesa com o nosso jantar já está posta no jardim.
— Não sei se consigo me acostumar com isso… tudo é muito novo.
— ela responde, e eu puxo a cadeira para que ela se sente.
— Eu também acho que tudo é muito novo, mas essa é a nossa nova
realidade, precisamos aceitar e nos acostumar, por isso, se algo não estiver
do seu agrado, eu preciso saber. — minha voz é imperativa, mas tento
parecer o mais aberto possível. Só quando ela confirma duas vezes com a
cabeça, consigo respirar aliviado.
O jantar é servido do jeito que eu instruí: macarrão com camarões, e
Laura parece encantada com o prato à sua frente. A ruivinha come com
vontade, enquanto conversamos sobre a cidade e tudo o que eu gostaria de
levá-la para conhecer. Pela primeira vez no dia, vejo uma empolgação
genuína, e mesmo sabendo que as coisas podem ser boas demais para ser
verdade, me permito entrar nesse devaneio e tenho um vislumbre de como a
minha vida poderia ser com ela ao meu lado para sempre.
Quando terminamos a sobremesa, sinto o clima pesar, e tiro os
papéis da pasta que estava ao meu lado.
— Laura, nosso contrato de casamento está aqui. Gostaria que você
lesse com calma todos os acordos pré-nupciais, o de casamento, e o de
divórcio. O último não tem data, e ainda não é válido, obviamente. Só
assinaremos quando seu pai quitar a dívida, o ano acabar, ou optarmos por
isso. — percebo que ela engole seco, com os olhos arregalados.
— Optarmos? — sua pergunta sai em um fio de voz, e eu dou de
ombros.
— Atualmente, não vejo nenhum motivo para querer me divorciar.
Se nosso casamento evoluir para algo real, eu não teria nenhuma objeção,
mas provavelmente precisaríamos mudar alguns termos do acordo pré-
nupcial. — digo de forma prática e ela solta uma risada audível.
— Talvez você tenha bebido um pouco demais, sr. Zur. Nosso
casamento não irá evoluir para algo real. — sua fala é pior do que uma
navalha, cortando a minha alma, mas respiro fundo, tentando me controlar.
— Ninguém sabe o que pode acontecer no futuro, Laura. Estou
apenas expondo todas as opções. — digo, soltando um suspiro.
Ela pega os papéis e começa folhear, lendo página por página com
extrema atenção, mas vira e mexe seus olhos se voltam para mim.
— O que acontece se quebrarmos o contrato? — ela pergunta, e eu
sinto um frio na minha espinha.
Não existirá um motivo no mundo que me faça quebrar esse
contrato, já ela, tem milhares para nomear, e nesse momento sinto medo.
Talvez exista algo que seja mais importante do que a dívida do seu pai, algo
que ela não possa suportar, e, tenho a leve impressão que descobrir a minha
verdadeira identidade seria uma dessas coisas que a faria quebrar o
contrato.
UM MÊS DEPOIS…
Desde o momento em que Laura realmente topou se casar, e
resolveu vir comigo para Havdiam, eu estou me sentindo completo e muito
feliz. Não importam as milhares de vezes em que ela diz me odiar, não
importa ela não estar aqui pelos meios convencionais. O que realmente
importa é que, depois de tantos anos, estamos juntos novamente. É apenas
uma questão de tempo até tudo se acertar, e passarmos por cima de mais
essa dificuldade.
Aos poucos, tenho quebrado as suas barreiras. Todo o tempo livre
que possuo, tenho dedicado a levá-la aos principais lugares da cidade, para
que ela conheça e se apaixone por Havdiam do mesmo jeito que eu me
apaixonei. Todas as noites jantamos juntos, e aos pouquinhos, Laura tem se
aberto mais para mim. Não é fácil, não é o ideal, mas é o que eu tenho, por
enquanto, e é com isso que eu vou trabalhar.
Estou tentando dar o espaço que ela precisa para a adaptação,
tentando tornar mais fácil a sua nova vida, com a esperança de que, um dia,
ela me perdoe e me aceite. Mas, puta merda, isso não é nada fácil. Estou
tentando não ser um cara pegajoso que fica mandando mensagens e ligando
o tempo inteiro, mas percebo que passo o dia com a mão no celular,
esperando receber uma de suas breves e poucas mensagens.
Pego o telefone em meu escritório pela trigésima vez, pronto para
ligar para Laura e saber como foi o seu dia, o que fez durante a tarde e
como está a sua adaptação. Apesar dela sempre me responder de forma
vaga, minha cabeça gira em loops, pensando no que posso fazer para que
ela se sinta melhor e mais adaptada. A minha vida é toda aqui, não seria
nada bom se ela resolvesse que odeia viver em Havdiam. Ter que mudar
tudo vai me dar o maior trabalho, sem contar a dor de cabeça.
Resolvo, por fim, completar a maldita ligação. Que mal faz saber
como ela passou o dia, não é mesmo?
— Sra. Lopes, boa noite, quero falar com a Laura.
— Ela já está dormindo, senhor, disse mais cedo que estava cansada.
Fico em silêncio por um tempo, pensando. Realmente, já passou das
onze da noite, e por mais patético que isso possa parecer, eu só queria dizer
boa noite à Laura e ouvir sua voz. Avisei que não conseguiria chegar a
tempo para o jantar, mas esperava que ela estivesse acordada, para que eu
pudesse ao menos trocar meia dúzia de palavras, antes de dormir.
— Tudo bem... não importa, Sra. Lopes. Obrigado, boa noite. —
desligo o telefone categórico. Amanhã, vou compensá-la, com certeza.
Finalizo todas as reuniões, termino de analisar as planilhas, e já passa
da uma hora da manhã quando, finalmente, chego em casa. Com nenhum
dos funcionários acordados, subo em silêncio, diretamente para o quarto da
Laura, e para a minha frustração, a porta está trancada.
Sei que pareço um stalker maluco, mas depois dos seus exames e de
saber que ela tem alguns problemas psicológicos, que envolvem vários
remédios tarja preta, eu passei a ficar ainda mais vigilante e preocupado.
Minha ruivinha é frágil, mas uma das coisas que eu pretendo fazer nesse
período que estamos juntos, é ajudá-la a sair dessa prisão mental. Para isso,
ela precisa me deixar entrar, e não me matar de preocupação, trancando a
sua porta.
— Laura? — digo, batendo na porta — Laura, abra a porta.
Droga! Ela, com certeza, está exausta, deve ter tomado o remédio
para dormir e apagou. Não vai ser essa batidinha de nada que vai conseguir
despertá-la. Mas que porra... Minha cabeça começa a criar milhares de
cenários onde ela toma vários comprimidos de uma vez, e a paranoia me
consome. Além da culpa e do remorso. Sei que seus problemas começaram
quando eu fui dado como morto, anos atrás, e por mais que eu esteja
tentando deixar o ambiente saudável e feliz para ela, de todas as formas que
eu conheço, meu maior medo é a ruivinha fazer algo contra si mesma em
um ato desesperado.
Eu realmente preciso vê-la, só saber se ela está bem mesmo. Se não
cometeu nenhuma loucura… ou sei lá, algo pior do que isso. Ela seria
capaz?
Tento bater mais algumas vezes e não obtenho nenhuma resposta, e
depois de mais de meia hora, eu realmente fico preocupado. Caminho
decidido até o lado de fora da casa, e analiso a situação debaixo da janela
do quarto da Laura. Nenhuma luz acesa. Nenhum sinal de alguém acordado
ou no quarto. Que droga! Olho fixamente por todo o trajeto, e me
amaldiçoo por ter colocado seu quarto no terceiro andar. No que eu estava
pensando? Ah é, nela ficar mais próxima do meu quarto. Que inferno! Vou
escalar!
Começo a subir em direção a sua janela. Eu posso fazer isso, digo a
mim mesmo. Lentamente, vou subindo, pisando nas molduras e tijolos da
casa. Quando começo a realmente avaliar se vale a pena todo o trabalho
para dar apenas uma espiadinha em seu sono, escuto soar o alarme da casa,
e o latido distante dos cães, sedentos por sangue. Que merda!
— Pare agora ou eu atiro em você! — Luiz Carlos grita,
extremamente nervoso para mim.
Eu me viro para pedir para ele cancelar todo esse circo, e o clarão das
luzes me cega momentaneamente, fazendo com que eu perca o equilíbrio.
— Sr. Zur? O que você está fazendo aí? Quer me infartar, homem? —
Escuto Charlie gritar, correndo ainda de pijama e solto uma gargalhada.
— Desculpe a interrupção, senhor. Por favor, continue o que você está
fazendo, não iremos mais interromper. Todos, abortar! — meu chefe de
segurança, Luiz Carlos, grita para seus homens.
A janela de Laura se abre instantaneamente, e ela, ainda um pouco
descabelada, olha para mim com os olhos franzidos.
— Alex, o que você está fazendo?
— Bati em sua porta, mas você não estava respondendo. — digo
como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, no fundo, um pouco sem
graça. Não tinha a intenção de que ela descobrisse. Só queria saber se ela
estava viva, bem e em seu quarto.
— Então, você decidiu ser o Homem-Aranha, hein? — ela diz,
quebrando o clima, com um sorriso travesso em seu rosto de anjo.
— Exatamente. Só queria dizer boa noite. — continuo a escalada, em
direção à janela.
— Você está sendo estúpido. Pelo amor de Deus, homem! Vai cair e
se estropiar inteiro. Desce daí, tudo bem? Eu abro a porta.
— Não, eu estou quase aí.
—Você ainda nem está na metade do caminho, não seja ridículo! —
ela diz, e o meu orgulho se torna mais forte. É claro que eu consigo, agora
se tornou questão de honra.
— Não. Eu já estou chegando. — ela solta um longo suspiro e revira
os olhos, em um claro sinal de irritação.
— Tudo bem, você é quem sabe. — ela tamborila os dedos no rosto,
como se estivesse pensando, e escolho esse exato momento para
desequilibrar, soltando uma das mãos — Ok! — ela grita — Desce daí, e eu
te dou o que você disse que mais quer no mundo. Eu não estou muito
impressionada com a sua performance, Alex. Então, vai ser de piedade,
entendeu?
— Sério? Um beijo de verdade? — pergunto, parecendo uma criança
em frente a um pote de Nutella. Laura parece ponderar, mas antes que ela
mude de ideia, grito animado — DESCENDO!
Desço em menos de um minuto. Literalmente, igual a um adolescente,
entro em casa correndo e vou direto para o quarto de Laura. Ela está me
esperando com a porta aberta e um sorriso de descrença no rosto. Mas,
antes que ela faça algum tipo de piada, ou comentário espirituoso, eu agarro
a sua cintura com os dois braços, e a puxo em direção ao meu corpo
endurecido.
— Senti a sua falta. — digo, inclinando a minha boca para beijá-la,
mas ela vira a cabeça no último segundo, com tudo. Meu beijo aterrissa ao
lado de seus lábios, e eu posso apostar que a minha expressão está muito
pior do que a de um cachorrinho abandonado.
— Espera. Antes de nos beijarmos, me diga uma coisa: — ela
pergunta, com uma expressão curiosa e ao mesmo tempo culpada — Existe
alguma mulher na sua vida?
— Sim. — respondo categoricamente.
— Quem? — ela pergunta, com um misto de ciúmes, e meu peito se
infla de felicidade.
— Você. — respondo simplesmente.
Laura, então, tenta me afastar, e eu aperto ainda mais a sua cintura,
desesperado com o seu ataque de fúria. O que está acontecendo?
— Eu realmente te odeio, Zur. — seu tom de voz é baixo e parece
decepcionado — Você é um mentiroso, salafrário. Hoje é sexta, e você
estava com a outra! Sei tudo sobre ela! Tire suas mãos de cima de mim.
— Claro que não! Hoje é terça-feira, Laura. Do que você está
falando? — digo sem pensar, e pelo seu olhar vejo que errei feio.
— Você continua me provocando, me enganando, me fazendo
acreditar que se sente atraído por mim. Mas, na primeira oportunidade, me
deixa te esperando e vai se encontrar com outra mulher! — ela diz,
parecendo bastante chateada, mas percebo que sua voz está arrastada, e
talvez, isso seja algum tipo de efeito de algum remédio. Busco em minha
memória qualquer coisa que possa ter lhe dado essa impressão errada, mas
não encontro nada. Até porque, não há nada, apenas o episódio ridículo com
Rachel semanas atrás, que já foi resolvido.
— Eu estou te dizendo a verdade. Eu continuo pensando em você a
cada segundo, não consigo me concentrar nas reuniões desde quando nos
casamos, porque eu apenas fico obcecado em saber como você está. Não
quero esse beijo agora, quando você mal consegue parar em pé e,
provavelmente, não vai se lembrar de nada amanhã. Mas, vou cancelar
todos os meus compromissos e vamos conversar sobre isso à luz do dia,
tudo bem? — digo francamente, e ela me olha com desconfiança.
— Eu não acredito em você. Sei que tem outra. — ela diz,
simplesmente.
— Laura, eu sou seu. — admito.
Assim que abrimos a porta de casa, circundo a sua cintura, trazendo-
a para mais perto de mim, antes de beijar a sua testa:
— Hoje, eu declarei o dia oficial da Laura, então, por favor, me use
como quiser. — digo brincalhão, e a ruivinha abre um sorriso tímido, antes
de confirmar com a cabeça.
— Gostaria de comprar os novos remédios, e… sei lá… me
cadastrar em uma aula de ioga. O que você acha? — ela pergunta,
mordendo o lábio e eu confirmo com a cabeça.
— Considere feito. Vou pedir para minha secretária encontrar um
bom estúdio por perto, que tenha aulas coletivas, assim você pode ir quando
quiser. Os remédios, logo logo Damian vai trazer para você, já enviei a
receita por mensagem e pedi para ele comprar. — digo, trazendo soluções, e
ela abre um sorriso.
— Tudo isso, antes do meio-dia. Estou impressionada, sr. Zur. —
Laura brinca, e eu dou de ombros, adotando uma postura mais séria.
— Bom, não consigo abandonar a minha postura de CEO, sinto
muito. — respondo presunçoso e ganho um tapa de leve no meu braço.
— Sempre soube que você era mandão, mas convencido é novidade!
— ela brinca, e eu reviro os olhos.
— Você precisa de endorfina, pequena. Vou pegar no seu pé para
fazer atividades físicas comigo assim que eu acordo, vai ver como o seu dia
vai ser outro. — digo, passando o nariz pelo seu pescoço.
— Deus me livre! Se eu acordar cinco e meia para treinar, vou fazer
o que com o resto do meu dia, sozinha, presa nesse casarão? Prefiro acordar
depois das nove, obrigada. — ela responde brincalhona, e meu peito se
aquece ao ver seu bom humor.
Tomara que essa maré boa continue por muito tempo.
— Bom, não seja por isso. Você é a mulher do dono de uma empresa
enorme, sabia? — respondo, caminhando com ela até o sofá, e sentando-a
no meu colo — Tenho certeza de que ele consegue uma vaguinha para você
trabalhar e ter a sua vida ocupada pelas pessoas chatas, te enchendo o saco
sobre prazos, serviço malfeito dos outros e reclamações sobre o
autoritarismo do chefe.
— Puxa, não consigo imaginar nada melhor do que isso. — ela fala
sarcástica, e eu abro um sorriso maroto — Mas, antes de voltar a trabalhar,
eu gostaria de ver como vai ser a adaptação dos remédios. Tenho medo das
alterações de humor, imagina se eu começo a chorar do nada, ou pior,
resolvo matar o meu chefe porque ele é todo autoritário e malvado no
horário de trabalho?
Não consigo evitar a risada, e ela me acompanha, se aconchegando
ao meu lado. Ficamos em um silêncio gostoso por um tempo, até que vejo
seu sorriso amplo vindo em minha direção.
— Obrigada por ter feito isso por mim. O primeiro empurrão é o
mais importante, e eu sei que não conseguiria sozinha, principalmente, aqui
em Havdiam. — seu tom de voz é mais sério, e eu confirmo com a cabeça,
antes de abrir um sorriso amplo.
— Farei de tudo para que você se sinta melhor, Laura. O que você
quiser e sentir que precisa, é só pedir, que eu lhe darei. Mais do que isso, eu
estou disponível, vinte e quatro horas por dia, se as coisas ficarem muito
difíceis. Não é só o sistema de apoio do psiquiatra que você tem, ok? —
digo, porque é a verdade. Eu amo você, ruivinha. Me sinto tentado a
completar, mas sei que ela ainda está confusa com o nosso primeiro beijo.
Foi como reviver o passado para mim, e sei que para ela também,
pela forma que me olhou assustada e confusa. Aos poucos, Laura vai
aprender a amar o homem que eu sou hoje, porque daquele menino que
quase morreu no incêndio, só sobrou o desejo de vingança e o amor
descontrolado por ela. Não poderia me apresentar como Igor, nem se eu
quisesse. Ele não existe mais, e isso seria uma decepção grande para ela.
Hoje, eu sou Alex Zur, e minha personalidade é essa, minha vida é essa, e é
esse novo eu que ela precisa aprender a amar. Felizmente, pelo seu olhar
carinhoso, ela parece estar dando certa abertura para isso.
— Eu quero muito te beijar de novo. — digo baixo, e vejo suas
bochechas adotarem uma coloração rosa, antes de ela tomar uma atitude e
me dar um selinho rápido.
Abro um sorriso safado, antes de beijá-la novamente, com toda a
vontade que existe dentro de mim. Nossas línguas dançam juntas, e minhas
mãos estão em todos os lugares, sentido cada pedaço do seu corpo,
enquanto me conecto com ela em um beijo delicioso e sensual. Sinto que
Laura ofega, quando passo a mão próximo demais da sua intimidade, e me
afasta com cautela. Apesar disso, a ruivinha não descola a sua boca da
minha, e passamos o resto da tarde assim, conversando, rindo, e nos
beijando.
A bolha de felicidade é frágil, e eu tenho plena consciência disso.
Mas, neste momento, a única coisa que importa é Laura e como ela me faz
feliz.
— Há quanto tempo você trabalha com a família Zur, Sra. Lopes?
— Há cerca de trinta anos. Por que, Srta. Morais?
— Estou apenas curiosa sobre Alex, nada demais... Então, você
conheceu os pais dele, certo? — pergunto determinada a ter mais
informações.
— É claro. Eu costumava trabalhar para seu pai antes de tudo. O sr.
Marc Alexandre Zur era um homem muito bom, assim como seu filho,
Alex.
— E como ele conheceu a mãe do meu Alex? — pergunto, sem saber
como se referir direito à Zur, já que os dois tem o mesmo nome.
— Eles se apaixonaram loucamente depois de um encontro em
balada, me parece. Mas o avô, Arnaldo Zur, pai de Marc Alexandre, era
contra o casamento e fez de tudo para acabar com o amor dos dois. Eles
romperam laços, e permaneceram assim até a morte do pai de Alex. A mãe
da criança ficou tão arrasada que deixou o país.
Fico chocada com a história de vida de Alex, e quase peço uma
pipoca para escutar o resto. Que tragédia digna de sessão da tarde!
— Ela levou Alex? — pergunto curiosa, e leva tanto tempo para a
Sra. Lopes responder, que fico na dúvida se ela quer fazer suspense, ou se
realmente está editando a história.
— Ah... não... não... claro que não. Sr. Arnaldo Zur e sua esposa
Adelaide criaram Alex quando Marc Alexandre morreu. Eu... eu era a babá
de Alex. — ela parece agitada, mas continua — Na verdade, fui eu que
ajudei com tudo, mas ele era pequeno quando tudo isso aconteceu. Sofreu
muito, sabe… — seu embaraço mostra claramente que a resposta foi
editada, mas evito forçá-la a falar. Afinal, a história em que eu estou
interessada não é da vida dela, e sim da dele.
— Então, Alex cresceu aqui em Vongher? — digo, tentando aplacar o
seu constrangimento.
— Não. Na Grécia. Mas fez o ensino médio e a faculdade aqui.
Trouxe consigo todos os funcionários que mais gostava, e por isso vim
junto. — ela esclarece a história, e eu confirmo com a cabeça, percebendo
que não conseguirei extrair mais nenhuma informação.
— Entendi. Obrigada sra. Lopes.
Minha rotina está bem estabelecida, e isso é bom, mas agora, com
esse distanciamento de Alex, passa a ser um pouco frustrante. Suas
mensagens diárias, e a espera para o jantar, ou qualquer compromisso em
que ele quisesse me ter ao seu lado, era o que estava movendo os meus dias.
Claro que, as aulas em que me matriculei são um respiro bem-vindo para a
minha sanidade, porém, tudo parece um pouco maçante agora.
Acordo às oito da manhã, tomo um café da manhã leve, nado na
piscina ou jogo tênis com um dos funcionários, para fazer com que a tal
endorfina circule no meu corpo, como o psiquiatra frisou bem em nossa
última consulta. Depois almoço, leio um livro, assisto TV, passo horas no
Instagram, faço academia ou aula de ioga, depende do dia da semana. Às
terças e quintas, tenho aula de uma especialização de marketing, apenas
para não ficar tão parada e sair um pouco de casa. Depois, lá para as seis,
começo a me preparar para o jantar com Alex. Não que seja uma imposição,
ou qualquer coisa do tipo, mas sabia que deveria estar pronta e, de
preferência, bonita para a ocasião. Essa segunda parte eu mesma me impus,
porque gosto do jeito que ele me admira quando estamos jantando e
conversando sobre nosso dia.
Ele esperava por mim na sala de estar, exatamente às sete da noite,
com seus olhos brilhando frequentemente ao me ver. Como em um ritual,
ele beija a minha testa e diz, todo santo dia, “Você está muito bonita,
Laura”. Uma coisa nossa, que acabou se tornando frequente, e agora que
estamos um pouco mais distantes, necessária para que eu mantenha a minha
sanidade. Essa é a única coisa que ainda me mantém bem nessa casa: o
brilho no seu olhar quando me encontra.
Odeio brigas. Sempre que possível eu as evito, porque é muito difícil
sair ilesa de uma sem começar a chorar igual a uma criança. Mas nossa
última discussão não chegou a ser nem isso… e eu preferia que fosse uma
briga daquelas, onde os vasos de flores saem voando, igual nas novelas, do
que seu distanciamento e indiferença.
Nossas conversas agora estão sempre leves, nunca sérias e pessoais.
Geralmente, elas giram em torno do que eu fiz no dia, qual livro li ou a qual
filme assisti, ou qualquer coisa sobre mim. Sempre eu, nunca ele. É como
conversar com um robô, todas as noites conferindo o checklist diário do que
eu fiz.
Verdade seja dita, realmente existe algo muito estranho nessa sua
obsessão em destruir o meu pai e me manter aqui, trancafiada. Essa dívida
com o sr. Otávio não pode ser o único motivo para ele fazer isso, não faz o
menor sentido. Quantas outras dívidas ele não deve ter que cobrar todos os
dias? Eu tenho bastante certeza de que sou a única filha de magnata que ele
mantém em um cativeiro de ouro.
Mas, mesmo sabendo de tudo isso, meu coração é burro e não
consegue entender que eu não posso me apaixonar pelo Alex. Ainda fico
ansiosa esperando, todas as noites, por ele chegar. Seu toque, seu beijo, seu
sorriso e a maneira como ele me provoca, mesmo que agora, mais contidos,
mexem demais comigo. Não pude evitar, realmente, o homem quebrou
todas as minhas barreiras, uma a uma.
Eu estou me vestindo para o jantar, como de praxe, quando Alex me
liga, e, ansiosa, atendo correndo. Estranho ele me ligar da forma
convencional, porque sempre fazemos chamadas de vídeo. Aconteceu
alguma coisa.
— Laura.
— Oi. — respondo apreensiva.
— Linda, não vou jantar com você hoje à noite. Surgiu um
compromisso importante que eu simplesmente não posso cancelar. Sei que
você geralmente me espera, então, estou te ligando para me desculpar. —
ele explica, com uma voz neutra, sem demonstrar nenhuma emoção. Fico
sem palavras por alguns minutos, tentando entender o que realmente está
acontecendo nas entrelinhas, e, ao fundo, escuto uma voz feminina
chamando o seu nome:
"Querido, o jantar está pronto."
Imediatamente, me lembro da Rachel falando sobre a tal mulher
com quem ele se encontrava com frequência, e mesmo que nesses últimos
meses ele nunca tenha me dado nenhum motivo para desconfiar que ela
existia, me sinto burra em pensar que era a única em sua vida.
É claro, hoje é sexta feira.
Uma súbita onda de ciúmes me atinge com tudo, e eu praticamente
caio sentada na cama, com ódio. Minha garganta se aperta e não consigo
falar nada por algum tempo.
— Tudo bem. Divirta-se, então. — digo finalmente, tentando soar
bem, e um pouco sarcástica.
— A Sra. Lopes vai cuidar de você, nem vai notar que eu não estou
aí.
— Provavelmente. — digo evasiva, tentando machucá-lo de volta.
Ele faz um silêncio ensurdecedor por alguns segundos, e com um suspiro,
diz simplesmente:
— Eu tenho que ir, te vejo amanhã. — desligando na minha cara.
Se ele mantém uma outra mulher, o que eu estou fazendo aqui?
Será que é a mesma de antes, ou um caso de apenas uma noite?
Com uma espiral de pensamentos e emoções, começo a tentar
racionalizar o que realmente está acontecendo, e toda explicação plausível
me deixa ainda mais puta.
Que ódio!
Será que eu não sou o suficiente?
Quem é essa outra mulher?
Será que ela é bonita? Não, Laura, não vá por esse caminho, ele é
perigoso!
Sinto as lágrimas queimarem meu rosto, em um misto de tristeza,
raiva e ciúmes. Se eu não soubesse o que estava perdendo, se me
mantivesse na ignorância, eu me sairia melhor dessa furada. Com certeza,
sem um coração partido, pelo menos.
De agora em diante, tenho que lutar contra esta atração que sinto por
ele. Tenho que ser forte para ignorar seus encantos, e, definitivamente, não
corresponder novamente ao seu toque nem aos seus beijos. Só assim, sairei
ilesa dessa barca furada, ou pelo menos, menos magoada possível.
Na manhã seguinte, eu desço a passos largos, intencionalmente
cedo, para o café da manhã. Quero saber se Alex dormiu em casa ontem,
apenas curiosidade mórbida de uma esposa de mentirinha traída.
Ainda são seis e meia da manhã, a curiosidade me corroeu a
madrugada inteira, e quando a cama me pareceu sufocante demais, resolvi
descer e ver com os meus próprios olhos se estava ou não correta. Dizem
que a intuição feminina nunca falha, será mesmo?
— Bom dia, Laura, caiu da cama hoje? — a governanta brinca, e eu
abro um sorriso sem graça.
— Bom dia, Sra. Lopes, acordei com fome, só isso. — digo,
disfarçando. Olho ao redor, mas não vejo nada diferente — Ah.... onde está
Alex? Ele já foi para o escritório?
A pobre senhora até tenta disfarçar, mas não consegue esconder seu
olhar envergonhado. Peguei ele no flagra. Salafrário!
— Não, ele não voltou para casa ontem à noite. Mas, com certeza, vai
estar aqui em breve.
— Ah… entendo. Obrigada! — dou de ombros, e olho para a porta,
esperando o cretino aparecer.
É. Eu estava certa, ele não voltou para casa ontem à noite. Ficou até
tarde com a sua amante. Que bonito!
Não me lembro de ter sentido tanta raiva de alguém, como eu estou
sentindo dele no momento. O filho da mãe não conseguiu manter a
minhoquinha me esperando, e resolveu enterrá-la no primeiro buraco
disponível. Mas, isso não quer dizer que eu não possa mostrar a ele o que
perdeu. Porque, de mim, ele não chega perto nunca mais!
É, queridinho, eu vou te dar uma lição.
Tomo café da manhã como uma desesperada, e subo as escadas
correndo, de dois em dois degraus. Tive uma ideia que vai fazer com que
ele se arrependa, e muito, de ter feito isso comigo!
Procuro em duas gavetas, fazendo uma grande bagunça, e pego meu
biquini preto, fio dental, da linha beach da Brumpel, que Sarah me deu três
anos atrás, e que nunca foi usado. Não sei por que trouxe isso para
Havdiam, mas, neste momento, agradeço aos céus por tê-lo aqui comigo.
Esse corpinho agora será exibido e estou torcendo muito para que isso
realmente tenha algum efeito.
Visto o biquíni preto e me olho no espelho.
Ele é tão sexy, que cobre apenas o extremamente necessário, e
definitivamente, não é o meu habitual, mas quem se importa?
Passar o dia com o um casal de amigos não estava nos meus planos,
mas quando eu vi o sorriso amplo no rosto da ruivinha, não consegui dizer
não para ela. Se a mulher pedisse para pisar de salto fino nas minhas bolas,
provavelmente, eu diria sim também, apenas para vê-la feliz.
Luana e Laura ficaram amigas instantaneamente, e por ela gostar
muito dos livros, e sentir saudade do Brasil, formaram uma boa dupla. Por
isso, durante o dia, resolvemos aproveitar as instalações do resort do meu
amigo, e enquanto conversávamos sobre os negócios, e sobre o filho recém-
descoberto dele, elas bateram vários papos na piscina do hotel. Dessa vez,
sem o biquíni indecente e totalmente provocante, graças a Deus.
Mas, quando a noite caiu, e a babá apareceu com Piter, para Luana o
amamentar, resolvi que já era hora de acabar com a nossa festa por hoje,
nos despedimos, e nos recolhermos. Onde, no caso, a minha festa estava
prestes a começar. Se eu desse sorte, claro.
Assim que entramos no quarto, Laura estuda bem todos os
cantinhos, e agradeço aos céus por não ter nenhum sofá dessa vez. Do jeito
que a ruivinha é manhosa, provavelmente, ela me mandaria dormir lá, e,
pela primeira vez, eu quero acordar ao seu lado. Nem precisamos fazer nada
que ela não queria, mas só de dormir com o seu corpo junto ao meu, eu já
estou mil vezes no lucro.
Apesar de, obviamente, eu querer que role algo mais, não sou de
ferro.
— Então… enfim sós. — Laura brinca, deixando a sua bolsa de
praia em cima da mesa lateral. Percebo que a ruivinha está envergonhada,
mas quando seus olhos se voltam para mim, ela parece muito mais
determinada do que em qualquer outra vez que a vi.
— Você está bem? — pergunto, circulando a sua cintura e trazendo-
a mais para perto.
— Eu estou. E você? — Laura parece confiante, e eu confirmo com
a cabeça, com os olhos focados nos seus — Adorei conhecer seus amigos e
passar o dia com a Luana. Ela é muito divertida…
— Fico satisfeito por te ver feliz… apesar de querer aproveitar o
tempo com você, é bom te ver sorrindo e fazendo amizades por aí. — digo,
beijando a sua testa, e ela me abraça apertado, me pegando de surpresa.
— Mas, agora estamos sozinhos… — ela diz, e eu confirmo com a
cabeça, abrindo um sorriso, enquanto ela faz um carinho em meu abdômen.
— Não me provoca se você não tiver a intenção de seguir em frente,
Laura… — aviso, porque me sinto na obrigação de falar. A garota em toda
a sua inocência tirou o dia para me deixar maluco, e a ereção que eu estou
no meio das minhas pernas é um grande indício de que as coisas podem sair
do controle se ela não se comportar.
— Bom, é exatamente isso que eu tenho em mente…, se você
quiser, é lógico. — sem esperar a minha resposta, ela cola seus lábios nos
meus, não me dando nenhuma outra opção, a não ser segurar firme em seus
cabelos, e beijá-la de um jeito exigente e sensual. Ela tenta me pressionar
contra a parede, mas tomo o controle da situação, mudando a nossa posição.
Independentemente de qualquer coisa, eu sou um homem
dominante, está em meu sangue. Ela geme contra o meu beijo, e abre um
sorriso lindo, antes de sussurrar, cheia de coragem.
— Você me deixa quente! — ela diz, arranhando as minhas costas, e
eu solto um risinho baixo, antes de beijar seu pescoço.
— Tem certeza de que você quer isso…? — pergunto, porque tudo
parece bom demais para ser verdade.
— Se continuar me perguntando a mesma coisa, vou passar a achar
que você é quem não me quer. — ela brinca, e fico preso em seu olhar
penetrante.
Laura, então, ergue a sua perna, enlaçando-a em meu quadril, e sem
conseguir me controlar por mais nenhum segundo sequer, beijo-a com tudo
de mim. Ela, ainda tomada de coragem, me segura pela camisa, e juntos
caímos na cama enorme do hotel. Ela não espera por mais nada, vem por
cima de mim, colocando uma perna de cada lado do meu corpo, me
montando, e cola a sua boca na minha, nossas línguas dançando afoitas e
cheias de ansiedade.
Apesar de não saber exatamente o que está fazendo, Laura parece
muito curiosa com todas as sensações que o seu corpo reprimiu por tanto
tempo, por isso, assim que nota a minha ereção dura e proeminente, ela se
esfrega ali, gemendo baixinho, parecendo surpresa e me deixando fora de
mim.
Ela beija minha boca com vontade, enquanto passeia as suas mãos
pelo meu corpo, parecendo apreciar muito tudo o que encontra pelo
caminho. Já eu, percorro o seu com devoção, apertando as suas coxas, a
barriga lisa e, por fim, chegando a sua bunda, onde dito o ritmo, ajudando
na fricção que ela tanto procura. Hoje e todos os meus próximos dias serão
feitos apenas com o intuito de lhe dar todo o tipo de prazer e felicidade
possível.
— Laura… caralho… você é perfeita, — sussurro em seu ouvido,
traçando uma trilha de beijos no seu pescoço — estou perdendo o controle.
— aviso, e ela apenas abre um sorriso safado, que nunca tinha visto antes.
— Quero ser sua. — ela choraminga, provavelmente, prestes a
chegar lá, ainda dentro das roupas.
Ela se levanta, esfregando os seios na minha cara, e mesmo por cima
do seu vestido, os abocanho de leve, mordendo os seus mamilos por cima
da roupa e do sutiã. Laura grita assustada, mas posso ver quando os
estímulos começam a ficar cada vez mais intensos, e por puro instinto, toco
sua bocetinha por cima da calcinha, que parece derreter de tão úmida, a
ajudando chegar lá.
Ver a ruivinha se entregar ao orgasmo é a coisa mais sensual que eu já
vi em toda a minha vida. Ela fecha os olhos, jogando a cabeça para trás e
assisto os seus músculos contraírem e relaxarem, se jogando em cima de
mim, provavelmente, sem forças. Beijo sua testa e acomodo minha ereção
que, a esse ponto, está explodindo a minha cueca e calça, enquanto espero a
sua respiração voltar ao normal.
Assim que Laura abre os olhos e olha para mim novamente, ela
parece envergonhada, mas o brilho está ali, me mostrando o quanto ela
gostou dessa experiência.
— Você também gozou? — a pergunta que ela faz me surpreende, e
sem conseguir me controlar, solto uma risada incrédula.
— É com isso que você está se preocupando, pequena? — digo,
beijando sua testa, bochecha e lhe dando um selinho casto — Não se
importe com isso… Como você está se sentindo? — respondo interessado e
ela franze o cenho, parecendo confusa.
— Eu estou bem. — ela tira o cabelo do rosto, e abre um sorriso
pequeno, mas feliz. Ao contrário do que eu imaginei, ela espalma a mão em
minha ereção, me fazendo soltar um gemido involuntário, entre a dor e o
prazer, já que meu pau parece cada vez mais apertado dentro dessa maldita
calça.
Laura abre a minha calça, e eu fecho os olhos, respirando fundo,
tentando me controlar. Sua mão pequena me toca, mesmo que reticente, e
eu espero para ver o que ela pretende com isso. Não vou forçar nada, mas
que está bom pra caralho, ah… isso está.
Ela me libera da prisão da cueca e passa a mão em minha glande já
úmida, acariciando de leve, parecendo curiosa.
— Me ensina. — ela diz, e eu abro os meus olhos, chocado com a
sua coragem, e ansioso para sentir o seu toque.
— Você pode mover a sua mão para cima e para baixo. — digo, com
uma voz mais rouca do que o normal, enquanto envolvo sua mão pequena
com a minha, e a ensino os movimentos que serão, com toda a certeza, a
minha ruína.
Ela pega rápido o ritmo, e enquanto Laura me masturba, tenho
certeza de que nunca senti tanto tesão em toda minha vida. Em poucos
segundos, tenho certeza de que vou gozar, e sem querer acabar com isso
ainda, seguro sua mão, a obrigando a parar.
— Se não pararmos aqui, eu vou gozar, ruivinha. — digo, beijando
sua bochecha e ela parece contrariada.
— Mas é essa a minha intenção. — responde petulante, e eu nego
com a cabeça, indo em sua direção como um predador.
— Mas não é a minha. Você merece mais do que isso.
Vou em sua direção com um sorriso no rosto e a assisto engolir em
seco, ansiosa para saber o que vem por aí. Aos poucos, me livro da calça,
cueca e blusa, ficando completamente nu e vejo seu olhar de admiração.
Desço as alças do seu vestido com lentidão, e abaixo-o junto com o bojo do
sutiã, antes de observar os mamilos rosados que saltam em minha direção,
totalmente intumescidos.
— Você é linda, Laura. — digo, antes de passar a língua suavemente
em seu seio esquerdo, fazendo-a arrepiar — A mulher mais linda que eu já
conheci em toda a minha vida. É de tirar o fôlego.
— Você também é lindo, Zur. — ela fala em um suspiro, enquanto
começo a descer o zíper do seu vestido, e distribuo beijos em seus ombros.
Meu nariz desliza pelo seu corpo, e eu beijo sua boca com tanta
fome, que a sinto arfar extasiada. Quero lhe dar prazer de todas as formas
possíveis, desejo me conectar a ela como nunca fizemos antes, mas mais do
que isso, quero que ela goste de estar aqui comigo. Que me ame como eu a
amo.
Deslizo o vestido pelo resto do seu corpo, arrancando o sutiã no
meio do caminho. Vendo-a apenas de calcinha, esparramada na cama, sei
que tudo valeu a pena. Tudo que fiz para tê-la comigo, sob mim, sendo
minha, como eu sonhei a vida inteira.
Ela parece ofegante sob o meu olhar, e eu peço uma permissão
silenciosa, antes de continuar. Laura confirma com a cabeça, dizendo sim
para mim, e com vontade pressiono o seu corpo contra o meu, ainda
segurando o animal preso dentro do meu corpo, que anseia por cada parte
dela.
Nossas bocas se unem e o beijo não é mais delicado, é explosivo.
Uma erupção de sensualidade que eu mal consigo controlar, me esfregando
nela com vontade, enquanto ela geme descontrolada. Pronta para a próxima.
Caio de boca em seus seios, chupando com vontade um, enquanto
meus dedos trabalham no outro com maestria. Será que Laura conseguiria
gozar novamente só com esse tipo de estímulo? Talvez, em outra hora eu
resolva descobrir.
A ruivinha puxa o meu cabelo com força, gemendo palavras
incoerentes, enquanto tenta se esfregar em mim de todas as formas
possíveis, louca de tesão. É disso que eu gosto e o que eu quero, fazê-la
ficar tão louca, ansiosa e cheia de tesão que, no fim da noite, ela vai estar
em um estado pleno de pura felicidade. Assim como eu.
— Quero te ver, ruivinha. — falo rouco, desentrelaçando nossas
pernas, segurando seus pulsos e erguendo-os no alto — Linda e corada.
Ofegante. Gritando meu nome enquanto eu te deixo louca. — provoco e ela
abre um sorriso.
— Estou ansiosa. — ela confessa, deixando suas bochechas ainda
mais coradas e bonitas. Beijo novamente seus lábios, em uma carícia
rápida, e vejo como ela se arrepia e a vermelhidão se espalha por todo o
corpo.
— Você fica toda vermelha quando te provoco. — sugo com mais
força, um pouco acima do seu seio, enquanto ela me observa — Acho que
encontrei uma nova cor favorita. Os tais cinquenta tons de vermelho de
Laura. — brinco, e ela parece envergonhada, mas seu olhar se volta para o
meu abdômen e um pouco mais ao sul, provando que sim, ela está ansiosa
para esse momento.
Tiro a sua calcinha com lentidão, enquanto beijo sua barriga plana, e
paro entre as suas coxas, hipnotizado pela sua bocetinha linda e intocada,
aberta e melada para mim. Passo a língua pela sua extensão, observando
enquanto ela se contrai e geme baixinho, mas me volto para as suas coxas
torneadas, distribuindo uma trilha de beijos que a faz se remexer em cima
dos lençóis.
— Alex… não me torture! — ela implora, e como o seu pedido é
uma ordem, eu caio de boca, chupando e lambendo com vontade. Laura
parece ofegante, surpresa e desejosa, enquanto puxa os meus cabelos, sem
saber mais o que fazer além de gemer e se movimentar de encontro a minha
boca, em busca da sua libertação.
Sugo com vontade, movimentando a língua em seu ponto mais
sensível, e ela parece perdida em sensações quando começa a gozar em
minha boca. Não paro, mesmo mediante seus protestos, e prolongando ao
máximo o seu prazer, enfio um dedo em sua abertura estreita e quente,
fazendo-a gritar ainda mais.
Ali, eu movimento com cuidado, alargando-a, lhe dando prazer,
enquanto continuo chupando com vontade, e assim que eu coloco o
segundo dedo, sinto-a massacrá-los, gozando novamente em meus braços.
Só quando percebo que ela está trêmula e ofegante eu paro, subindo na
cama e a puxando para um abraço apertado.
— Isso foi… — ela parece sem fala por alguns minutos, mas puxo-a
mais pra perto, praticamente fundo meu corpo com o seu, e espero sua
respiração normalizar, sussurrando em seu ouvido o quanto ela é incrível,
linda e sensual.
Meu pau pulsa e dói ao vê-la tão aberta, delicada e nua na minha
frente, mas hoje não é o meu dia, e sim o dela, e ficará ao critério de Laura,
continuar ou não, a partir daqui.
Mas, de uma coisa eu tenho certeza, a minha parte eu fiz, e que ela
gozou como nunca imaginou ser possível antes, ah… ela gozou.
Acordo um pouco dolorida, me lembrando da noite passada e abro
um sorriso enorme, ainda nos braços de Alex. Meu Deus! Se eu soubesse
que era assim que as pessoas se sentiam quando estavam fazendo amor, eu
teria feito antes, apesar de que Alex é incomparável. O homem é uma
máquina, incansável em todos os sentidos, perfeito em cada detalhe.
Ansioso para me agradar, me dar prazer em todos os momentos. Ávido por
mais.
Fizemos amor durante a noite toda, tão imersos em nós mesmos, tão
apaixonados, tão intensos, que me perdi completamente nele.
Zur é um amante gentil, soube exatamente o que fazer, como me
tratar, agir, me tocar. Ele sabia que era a minha primeira vez, e fez todo o
possível para que eu tivesse uma boa experiência. O homem soube
exatamente como me dar prazer, entrando em mim com gentileza, e depois,
quando já estava acostumada, fazendo tudo o possível para me fazer delirar
de prazer, e ainda me arrastou para o limite do êxtase. Não conseguimos nos
fartar um do outro. Cada vez que fazíamos amor, nossa fome continuava a
aumentar.
Zur é viciante! Isso é fato.
Sim, eu amo Alex. Aprendi a amá-lo, apesar do que ele fez com meu
pai. Foi tão fácil me apaixonar por ele, como respirar. Além de ser
devastadoramente bonito, lindo e brilhante, ele também é muito carinhoso,
gentil e protetor. Qualquer mulher facilmente teria a mesma atitude que eu,
e mesmo tendo algumas ressalvas, sei que sou sortuda por essa devoção que
ele diz e demonstra ter por mim.
Nós dissemos que nos amávamos, e mesmo sentindo em meu coração
que estava traindo Igor de alguma forma, não consegui me conter.
Ele realmente se infiltrou em meu coração, e aparentemente, não
tem a menor intenção de sair dele.
Na terça-feira, depois da montanha russa de emoções vividas no fim
de semana, e uma segunda monótona, tentando me recuperar fisicamente
dos exercícios pouco convencionais que comecei a praticar, resolvi que
precisava me movimentar. Ficar sem Alex o dia inteiro é complicado, ainda
mais ontem, que ele precisou fazer uma viagem rápida a trabalho para a
Grécia e não nos vimos depois da viagem.
Como as coisas vão ser daqui pra frente? Na melhor das hipóteses,
muito quentes, por isso, resolvo ir em um horário diferente do habitual, às
seis horas da manhã, para a ioga, a fim de tentar melhorar um pouco mais a
minha elasticidade e ansiedade. Pelo que percebi, acho que posso realmente
precisar disso para as peripécias que Zur tem em mente. E hoje ele volta
para casa.
Ainda com um sorrisinho no rosto, entro na sala distraída, e uma mão
vem de encontro ao meu ombro, me surpreendendo ao ser virada e dar de
cara com a Duda.
— Laura? Eu não acredito! — ela praticamente grita, antes de me
abraçar apertado.
Fico um pouco confusa, sem entender o que a minha amiga de longa
data está fazendo aqui, na minha singela aula de ioga e vejo seu sorriso
enorme no rosto, além da sua boa forma.
— Duda! Meu Deus, quanto tempo! Como você está? Faz anos e
anos que eu não te vejo! — digo, e ela abre um sorriso surpreso, parecendo
não acreditar que nos reencontramos dessa forma.
— Eu me mudei para Vongher com meu marido, assim que nos
casamos. Já faz seis anos que eu moro em Havdiam. Faz anos que eu não
tenho notícias suas! — abro um sorriso sem graça, porque sei que devido à
depressão me afastei de todas as pessoas que poderiam me lembrar de Igor
— Nós estávamos nos perguntando o que aconteceu com você, se ficou
chateada com algo… não respondeu mais aos nossos e-mails... Suas contas
nas redes sociais foram desativadas.
Sinto minhas bochechas arderem de vergonha, mas dou de ombros,
pedindo desculpa.
— Sim, eu sei… perdi a minha senha de tudo, acredita? — dou a
desculpa mais esfarrapada possível, e ela abre um sorrisinho investigativo
que eu conheço bem.
— Bom, então, foi o destino nos unindo novamente. Precisa me
passar o seu contato para marcarmos um almoço e colocarmos a conversa
em dia! — ela diz, e eu confirmo, animada.
— Ah, Duda, sinto muito a sua falta, sabia? Você continua a mesma,
cheia de mistério e drama.
— Exatamente! — ela gargalha — Estou dando aula de teatro na
Academia de Cinema de Havdiam e na Escola de Cinema. Eu me formei lá.
— Isso é ótimo, parabéns!
— Então, e você, está gostando de sua estadia aqui em Havdiam?
— Sim! Estou adorando! Já visitei quase todos os pontos turísticos da
cidade. Amei o lugar e as pessoas daqui, não conhecia a Europa, muito
menos Vongher… — digo meio sonhadora, e isso não lhe passa
despercebido.
— Você está amando as pessoas, hein? Está apaixonada, amiga? —
seu olhar é de curiosidade genuína, mas ainda não me sinto confortável em
contar sobre mim e Alex para ela. Principalmente, porque Duda era prima
de Igor, e a nossa história simplesmente foi complicada demais.
— Não... não… não é isso que eu quero dizer, Duda.
— Entendi… eu ouvi dizer, que o todo poderoso Zur tinha se casado
com uma brasileira ruiva. Vendo você por aqui, e considerando que não
existem tantos ruivos assim no Brasil, fico me perguntando quais são as
possibilidades de essa mulher ser você.
— O quê? — pergunto chocada — Como você sabe sobre Alex?
— Viu? Eu sabia! — ela parece satisfeita com a sua perspicácia, e
eu sinto as minhas bochechas esquentarem, antes de me defender:
— Não é um casamento de verdade… é apenas um acordo de
negócios.
— Ah, vamos lá, você deve sentir algo por ele! Alex Zur é um pedaço
de mal caminho! — Começo a achar toda essa conversa muito estranha. Por
que Duda quer saber de Alex, e principalmente, por que ela está falando
assim sobre ele? Meu radar de estranhezas apita em nível máximo.
— Pera aí, você o conhece? — pergunto, sondando.
— Claro! Todo mundo em Havdiam o conhece. Ele é famoso por
aqui. E vamos combinar, o país não é grande o bastante para não ficarmos
sabendo de todas as fofocas. O magnata naval mais rico, elegante, bonito e
multimilionário. Muitas mulheres querem arrastá-lo até o altar. Mas, você,
mesmo não querendo, conseguiu. — ela parece desconfiada, e levanta uma
sobrancelha, cruzando os braços no peito — Você não se sente atraída por
ele? Impossível! — ela sonda.
Lembro do fim de semana e não consigo mentir, nem se eu quisesse.
Meu corpo corresponde bem demais a todas as lembranças. Mas, ao mesmo
tempo, ela é prima do meu grande amor, e admitir em voz alta que eu estou
apaixonada por Zur, principalmente para a sua família, é como manchar a
reputação e memória do Igor. Dentro desse conflito interno, apesar de sentir
verdadeiramente atração e até mesmo paixão por Alex, resolvo ocultar essa
informação.
— Talvez sim, porque ele me faz lembrar o Igor.
— Igor? Você está brincando, não é? Ainda está de luto pelo Igor? —
ela parece verdadeiramente chocada.
— Duda, eu ainda amo o Igor, e sinto muito a falta dele. Todos os
dias. E, toda vez que olho para Alex, vejo Igor nele. Eu não sei… Você acha
que eles são parecidos? Seus olhos, lábios… — questiono, apenas para ter
uma segunda opinião.
— Laura, eles são completamente diferentes! O que aconteceu com
você, amiga? Continua indo aos médicos? — ela pergunta, parecendo
preocupada e eu balanço minha cabeça duas vezes, sem entender
exatamente o que está acontecendo.
— Eu não sei. Honestamente… é tudo muito difícil de explicar. —
digo baixo, deixando claro que não quero mais falar sobre isso e ela
confirma com a cabeça.
— Tudo bem, eu não vou te pressionar. — ela diz, complacente —
Vamos sair sexta-feira à tarde?
— Está bem, claro.
— Vamos que estamos atrasados! — Igor diz, me apressando, e
assim que eu entro dentro do carro e afivelo o cinto, ele dá partida,
parecendo animado.
— Para onde vamos?
— Tenho uma surpresa, mas não vai demorar, prometo.
Nos poucos minutos que ficamos dentro do carro, percebo que não
saímos do condomínio onde está a casa da minha família, e imediatamente
fico desconfiada. Só quando paramos em frente a uma casa linda, branca e
arrojada, que me permito questioná-lo, sem entender absolutamente nada.
— Quem mora aí? — busco em minha memória, mas não consigo
me lembrar de nada. O sorriso maroto em seu rosto me mostra que ele está
aprontando alguma coisa, e entrando na sua, abro um sorriso também.
— Achei a casa perfeita. Não é muito ostensiva, mas é perfeita para a
gente, quando estivermos no Brasil. Dá para vir da casa dos seus pais em
poucos segundos, é segura e o melhor de tudo, um lugar para nós dois. —
ele diz, descendo do carro, e abrindo a porta do carona para mim.
Olho para a casa linda, com um jardim colorido na entrada, árvores
grandes e uma vista panorâmica da cidade. O lugar é absolutamente de tirar
o fôlego e parece verdadeiramente um lar, não uma casa projetada por
algum arquiteto doido que quis ganhar a capa de alguma revista.
— Você gostou? — ele pergunta, ansioso.
— Sim! — praticamente pulo de felicidade — É uma casa linda,
amor. Perfeita.
— Espere até ver o interior, você vai amar! — ele diz, pegando em
minha mão.
Igor abre a porta principal da casa, e entramos. O espaço é
absolutamente lindo, com uma sala espaçosa, toda em branco, com grandes
janelas de vidro e portas de correr. As estruturas e desenhos são estilo
vintage, combinando com os móveis e ornamentos. Além de ter uma grande
piscina na parte de trás da casa. Algo difícil de se ver por essa região.
— Então, o que você acha?
— Estou sem palavras. É uma casa perfeita.
Ele sorri, parecendo aliviado, e abre uma ampla porta dupla de vidro
que conduz à área da piscina. Eu o sigo, ansiosa para explorar o local.
Passamos pelos quartos já decorados, pela sala de jantar e pela cozinha.
Tudo em uma decoração vintage, colorida e muito alegre.
Em poucos segundos o clima muda entre nós, e consigo notar seu
olhar sedutor. Abro um sorriso, e olhando em seus olhos, lambo o lábio
inferior, tendo certeza de que ele está pensando exatamente o mesmo que
eu.
— Acho que não podemos fazer isso aqui… — digo reticente,
sondando as suas expectativas. Igor me dá um sorriso diabólico e avança
lentamente em minha direção, sem tirar seus olhos dos meus.
— Acho que você duvida do que eu posso ou não fazer, ruivinha.
—Não foi isso que eu quis dizer… Igor! — grito, quando ele vem em
minha direção. Corro para trás do sofá da sala de estar, tentando raciocinar
com ele — Não estava te desafiando, só que essa casa não é nossa… e se
alguém chegar?
— Ah, gatinha… movimento errado. — ele me persegue, me
encurralando entre a parede e o sofá. Entro na brincadeira, mandando para o
espaço todo o tipo de bom senso, e quando ele está prestes a me agarrar
pela cintura, escalo o sofá e escapo gargalhando.
— Viu só? Eu sou mais rápida que você.
— Agora virou pessoal, espere até eu te pegar. — ele sorri, e eu já
prevejo o quão gostosa será essa brincadeira.
— Bom, se você deseja, venha me pegar. — digo, correndo em
direção ao quarto principal, ignorando completamente o quão inapropriado
é ser pega no flagra pela corretora em uma visita para compra do imóvel.
— Hmm... continue desse jeito, amor, você está indo na direção certa.
— ele me provoca, correndo em minha direção, com um sorriso bobo no
rosto.
Tento fechar a porta, em meio a gargalhadas, mas espero, para que ele
consiga me pegar. Igor agarra a minha cintura e me puxa com força em sua
direção, fazendo com que eu ofegue ao sentir sua extensão dura e excitada.
Fico elétrica no mesmo momento, ansiosa por mais.
Ah, Igor, eu nunca vou me cansar de estar com você.
— Eu te peguei, ruivinha! — solto uma risadinha e ele me arrasta
para dentro do quarto, me prendendo em seus braços — Você não vai
conseguir escapar de mim agora! — ele também ri, compartilhando da
minha felicidade.
— Não… Igor… me deixa ir. — digo manhosa, com a sua barba
roçando o meu pescoço.
— De jeito nenhum, pode parar de lutar, eu nunca vou te deixar. —
ele me leva para a minha cama e, juntos, caímos abraçados.
Igor, então, toma meus lábios de forma voraz, e me derreto nele,
sendo sua para que ele faça o que quiser comigo. Sinto os lençóis frios,
embaixo de mim e me estremeço de ansiedade e excitação. Aprofundamos
nosso beijo, nossas línguas duelando entrelaçadas. É como uma sede que
não pode ser saciada, e eu não quero que seja. Ele beija então, meu maxilar
e depois o pescoço, lambendo e chupando gentilmente. Igor então sobe a
sua mão lentamente, debaixo da minha blusa, até tocar meu seio já
intumescido.
— Ah, meu Deus, Igor! — murmuro baixo, tomada pelo prazer.
Ele continua sua carícia, torcendo meu mamilo em suas mãos, me
levando à loucura.
— Você é a mulher mais linda desse mundo, Laura. Quero acordar e
te encontrar ao meu lado pro resto da minha vida! — ele, então, tira a minha
blusa e sutiã, com foco total em meus seios, acariciando suavemente, depois
me beijando, lambendo, mordendo e chupando cada mamilo. Perco o ar, o
equilíbrio e a concentração.
Esse homem vai ser a minha perdição.
— Amor, você é a mulher mais sexy que existe. — ele diz, tirando a
minha saia. Igor volta a beijar meus seios novamente, lambendo e depois
descendo até a barriga.
— Preciso sentir você. – ele sussurra.
O sol do fim de tarde atravessa a janela, lançando uma luz dourada
sobre nossos corpos que se entrelaçam nus sobre a cama, enquanto ele me
beija praticamente em adoração. Sinto um fogo queimar, percorrendo
minhas veias e indo parar em meu íntimo. Eu o quero tanto que chega a
doer.
— Por favor, Igor. — eu me esfrego nele descaradamente, o
provocando. Ele desliza os dentes por meu pescoço, mordendo. Suas mãos
passeiam pelo limite da minha excitação, mas ele não faz nada, me
obrigando a implorar.
— O que você quer, Laura? Você quer assim? — ele pergunta, com
uma voz abafada em meu ouvido, tocando meu ponto mais sensível.
— Mais…
— Onde? — Eu abro as pernas em um convite e ele aprofunda o
toque. Solto um gemido descontrolado.
— Aqui?
— Dentro…
— Assim? — Igor então desliza um dedo para dentro de mim, me
fazendo gritar.
— Sim... — ergo os quadris do colchão, ansiando por mais.
— Mais? — sua voz sai contra meus lábios e estremeço, confirmando
com um aceno de cabeça.
— Mais... Por favor. — e ele me dá mais. Gozo rápido e forte em seus
dedos, meus gemidos sendo absorvidos por seus lábios.
— Quero você dentro de mim.
— Como? — ele pergunta com um sorriso sacana.
— Do jeito que quiser, contanto que seja rápido! — ele me beija e
fixa o olhar no meu enquanto me penetra devagar.
Eu o abraço e me movo junto, adorando sentir nossos corpos
encontrando um ritmo perfeito, só nosso, o prazer renasce, incansável,
imensurável. Olho em seus olhos, porque há tanto sentimento, que derrete
não só meu corpo, também meu coração.
Igor se move comigo fazendo com que a gente se perca um no outro,
e quando gozamos juntos, testas coladas, sinto meu corpo e meu coração
explodirem em puro êxtase.
Ainda estou flutuando, quando ele se move para o lado, me levando
junto. Ficamos ali, abraçados, deixando nossas respirações voltarem ao
ritmo normal. Saio do torpor quando escuto um miado em algum lugar.
— Amor? — ele pergunta, depois de alguns minutos.
— O quê? — respondo um pouco preguiçosa, ainda imersa em minha
própria bolha pós-clímax.
— Que bom que você gostou da casa, porque ela já é nossa.
Laura Morais
Depois de estreamos a casa nova em todos os lugares, várias vezes, eu
definitivamente me apaixonei por ela. Nunca estivemos tão juntos, e tão à
vontade, sem preocupações com horário, local ou com qualquer outra coisa
do tipo.
Há quase três meses estamos morando juntos, e Igor disse que isso
foi o mais perto que ele chegou de férias desde quando ele se lembra. Mas,
mesmo assim, ele trabalhou todos os dias, incansavelmente.
Namorar com ele é uma delícia, fácil e incrível. Sei que todas as
minhas incertezas e dúvidas foram sanadas, mas ele parece destinar mais e
mais tempo para que eu pense e reflita no que eu realmente quero.
Mas, eu já sei desde o começo: o quero para sempre. Só não descobri
ainda como falar isso, já que ele está tão preocupado em me dar o tempo
que eu preciso e tudo o que eu disse quando tivemos aquela conversa,
meses atrás.
O grande dia chegou, e por mais ansioso que eu esteja para saber qual
será a sua reação, sei que estou em paz com a minha decisão, e confiante de
que ela dirá sim. Que é o que realmente importa.
Saímos de casa para almoçar fora, e estendemos em um cineminha
enquanto deixei a minha casa sob os cuidados de Duda e da sra. Lopes, que
se encarregaram de cuidar de tudo, junto ao buffet, para que, no fim, tudo
saia perfeito. Aproveito que preciso fazer hora e resolvo mimar Laura,
fazendo-a experimentar vários vestidos e joias, apenas para passar o tempo,
e quando ela escolhe um branco clássico, fico deslumbrado com a sua
beleza.
Assim que chegamos em casa, não dou tempo para que ela perceba
que há algo diferente, e subo com ela pelas escadas, ansioso para lhe deixar
de pernas bambas novamente. Depois de amá-la, como ela merece, e eu
precisava, finjo mexer no celular, e em um teatro armado que ensaiei muito,
lhe digo que precisamos nos arrumar correndo para um compromisso
urgente.
— Mas, compromisso de quem? Eu fiquei tão cansada, amor…
podemos cancelar? — ela diz manhosa, esparramada na cama, mas recuso
com a cabeça, carregando-a para o chuveiro.
— Infelizmente, é um negócio muito importante e eu quero o meu
amuleto da sorte ao meu lado. Preciso de você. — digo, encerrando o
assunto, e ela confirma, tomando um banho e começando a se arrumar.
Recebo a mensagem de Duda confirmando que está tudo pronto, e
que os nossos convidados já chegaram, mas apenas quando ela termina de
passar o batom, veste o vestido novo e anuncia que está pronta que eu
começo a ficar nervoso.
Descemos as escadas da casa, com tudo apagado e silencioso, e um
barulho alto vem do jardim a assustando:
— Você ouviu isso? — ela questiona, e, fingindo surpresa digo para
darmos uma olhada antes de sair, porque pode ser algum disjuntor, ou o
motor na hidromassagem.
Caminhamos até a área externa, com meus braços em volta da sua
cintura, para onde todos estão esperando. É nesse momento que as minhas
mãos começam a suar, e eu fico subitamente nervoso.
Quis ensaiar o que dizer à Laura enquanto estava no chuveiro, mas
não consegui construir palavras ou frases. Eu não sou um cara bom em
colocar meus sentimentos para fora dessa forma e agora, me arrependo de
não ter pensado com mais calma no que dizer. Toco discretamente meu
bolso da frente para verificar novamente se a caixa ainda está dentro do
meu bolso interno e cruzo as portas que nos levam em direção ao jardim.
Sim, eu posso fazer isso, digo a mim mesmo. É agora ou nunca.
Quando chegamos ao jardim, Laura congela no lugar, parecendo tão
surpresa ao ver seus pais, sua irmã, seus amigos e minha família que acho
que ela pode desmaiar.
Nossos convidados nos cumprimentam, sorridentes e cheios de
entusiasmo.
— Surpresa! — todos gritam entusiasmados.
— Mãe? Pai? Gabi? Por que vocês estão aqui? — fico tão chocada ao
ver minha família e amigos na casa de Igor. Gabriella? Faz anos que não a
vejo.
A família dele também está presente. O que está acontecendo? Eu
olho para ele em busca de alguma informação, ele sorri, me abraçando com
força.
— Eles estão aqui porque eu os convidei.
— Mas, por quê? Não é o meu aniversário. — tento buscar alguma
lógica no que está acontecendo.
— Eu sei, querida. Eles estão aqui porque eu quero que eles
testemunhem algo muito especial.
Meu coração começa a bater rápido, entendendo lentamente o que
está acontecendo aqui.
— Especial? O quê?
— Ali. — ele aponta para a vista atrás de mim.
Eu me viro, assim como todos os outros, e juntos, testemunhamos a
vista ao fundo, com luzes brilhando em diferentes cores na cidade de
pedras. O corpo de Igor pressionado nas minhas costas e seus braços ao
redor da minha cintura me dão uma sensação de calor, segurança e conforto.
É como estar em casa, independentemente do lugar do mundo em que eu
esteja.
Então, sem que eu possa me preparar para o susto, uma grande
explosão de fogos de artifício risca o céu no horizonte. Fogos que,
provavelmente, todos os moradores dessa parte de São Paulo podem ver. Eu
leio, antes que eles se apaguem, e começo a tremer inesperadamente.
Laura, você quer se casar comigo?
Todos os convidados começam a bater palmas, entre vivas e gritos,
revezando os olhares entre Igor e eu.
Meu Deus! Isso é para mim? Fico boquiaberta, sem acreditar e volto
meu olhar para Igor, o responsável por toda essa loucura.
— Igor…
Ele sorri e se ajoelha em minha frente. Seus olhos colados aos meus.
— Igor, o que você está fazendo? — sussurro, ainda desnorteada.
Ele abre uma caixinha vermelha e a estende na minha direção e é
nesse momento que eu vejo os anéis. O mesmo par de alianças antigo que
ele me deu quando éramos adolescentes. Eu olho de perto, surpresa, e não
consigo conter uma lágrima que escorre pelo meu rosto. Igor guardou por
todo esse tempo, enquanto eu pensava que estivessem perdidos.
— Laura, eu sei que fiz coisas horríveis e te magoei muito. Fui
desleal e magoei a sua família também. Por tudo isso, me arrependo
profundamente, e não sei dizer o quanto eu sinto muito. Quero que saiba
que me apaixonei por você na primeira vez em que a vi, quando eu tinha
dezessete anos. Naquele momento, eu simplesmente sabia que você era a
garota com quem eu queria passar o resto de minha vida. Desde então, eu
nunca deixei de te amar, Laura, nem por um segundo. Admito, depois de ter
sofrido e quase enfrentado a morte, tentei te esquecer, te apagar
completamente da minha mente, mas não funcionou. — ele abre um sorriso
culpado e eu limpo discretamente uma lágrima — No momento em que nos
reencontramos, não pude deixar de te amar a cada dia mais. Eu te amo com
todo o meu coração, com toda a minha alma. Minha vida será inútil sem
você ao meu lado, e eu quero passar o resto dos meus dias contigo. Daqui a
sessenta ou setenta anos, ainda te amarei da mesma forma que te amo agora,
ou até mais. Você é a única pessoa que tem o meu infinito. — ele pausa, e
diz respirando fundo — Laura, você me dará a honra de ser minha esposa, e
de me fazer o homem mais feliz do mundo?
Eu me engasgo e coloco as minhas mãos na boca.
Será que eu estou sonhando? Olho para seu rosto bonito e a
realização se instala, junto com as lágrimas de alegria que correm pelas
minhas bochechas.
— Laura, por favor, diga sim.
Eu toco seu rosto e o abraço com força.
— Claro que sim!
De repente, Igor se levanta e coloca o anel em meu dedo. Em seu
melhor sorriso tímido, ele sussurra no meu ouvido:
— Posso te beijar, amor? — eu confirmo com a cabeça, beijando-o
docemente.
Os fogos de artifício explodem e podemos ouvir os gritos, as palmas e
os parabéns das pessoas de longe. Nossa família e amigos nos aplaudem e
nos parabenizaram também, parecendo estar extremamente felizes por nós
dois.
— Igor, eu... não consigo explicar como estou feliz neste momento.
Ele toca meu rosto e beija meus lábios novamente, com um sorriso
enorme no rosto.
— Eu também.
O pai é o CEO
Anthony Watson só pensa em uma coisa: trabalho.
Tempo é dinheiro, dinheiro é poder e poder é tudo o que uma pessoa pode
querer. Um dos homens mais ricos de Lanuver, dono de uma rede de hotéis
de luxo e também de um Condado, ele não se envolve com ninguém, tendo
a sua vida milimetricamente calculada.
Pelo menos era assim até conhecer a loirinha viajante que conseguiu para
abalar as suas estruturas.
Luana Albuquerque é uma escritora romântica e certinha.
Após o sucesso do seu último lançamento, ela embarca em uma viagem
sozinha para o país que inspirou suas histórias: Lanuver. Mas, ela não
esperava cruzar o caminho de um homem sério e incrivelmente bonito, que
parece ter como objetivo de vida estar em todos os lugares que ela vai
apenas para roubar o seu juízo.
Um envolvimento, momentos quentes e avassaladores, uma despedida cheia
de mal-entendidos.
Alguns meses depois ele ainda não conseguiu tirá-la de seu sistema, e ela
teve como herança da viagem o seu bem mais precioso: seu filho. Será que
apesar de todas as dificuldades eles conseguirão ficar juntos?
De uma coisa Luana tem certeza: O pai é o CEO.
A obsessão do CEO grego – Um contrato com a virgem
Milionário, ardiloso, cafajeste e poderoso como nunca, Alex Zur está de
volta para reconquistar tudo o que perdeu anos atrás. Acostumado a ter o
mundo a seus pés, sua obsessão por vingança só perde para o desejo insano
de ter de volta a única mulher que amou, Laura Morais.
Laura é uma jovem boa e generosa que ainda precisa lidar com a depressão
ocasionada por traumas do passado. E em uma reviravolta do destino se vê
obrigada a aceitar um contrato de casamento falso, oferecido pelo pior
inimigo do seu pai, e torcer para que assim consiga ajudar a sua família.
Ele passou anos planejando minuciosamente como destruir o seu maior
inimigo e reconquistar a única mulher que amou. Agora, precisa descobrir
como não se perder em uma história de vingança, poder e amor.