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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Neres, M. A.
O Gangster: quando o ódio se torna amor /
M. A. Neres. -- São Paulo: Ed. da Autora, 2021. -(Irmãos Trevizan;
2)
1. Romance brasileiro I. Título. II. Série.

CDD
Índices para catálogo sistemático:

1. Romances: Literatura brasileira

Copyright© By M. A. NERES

O GANGSTER

Todos os direitos reservados pela autora

Produção Editorial

Revisão: Lud Oliveira


Capa: Lunas Editorial
Diagramação: Lud Oliveira

É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,
mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de
seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Está é uma obra de ficção, nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor qualquer semelhança com acontecimentos
reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição reservados pela autora.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1º
de janeiro de 2009.
Sumário

PRÓLOGO

CAPÍTULO 01

CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03

CAPÍTULO 04

CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06

CAPÍTULO 07

CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27

CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

EPÍLOGO
BÔNUS
Dedico essa obra para todas as pessoas que estiveram
ao meu lado durante meu processo de escrita, incentivando-me
e apoiando-me.
Sejam persistentes com os sonhos de vocês e eles se
tornarão realidade. Tenham fé nisso e lutem por eles.
Obrigada!
Esse livro contém cenas de sexo, violência e tortura,
abordando também algo que é visto como um tabu pela
sociedade. Portanto, é indicado apenas para maiores de
dezoitos anos. Leiam com a mente aberta.
Boa leitura!
Lucca Martiero

Vinte anos atrás...

T em uma palavra que


me define
ansiedade.
agora,

Luke e Nicolai estão demorando, eles falaram que iam contar hoje
para o meu irmão sobre mim.
Treze anos atrás, meu pai engravidou uma das prostitutas de
um dos bordéis que ele comanda, quando ela me teve ele a matou e
me entregou para Luke criar. Nunca entendi sobre não poder morar
com ele, sua família vivia bem, meu irmão vivia bem. E eu? Vivia
das migalhas de Nicolai. Ele, para mim, sempre será só o
progenitor.
Luke me ensinou tudo que eu precisava saber, me deu amor,
mesmo que as vezes o amor dele fosse demais. Os socos eram
para me deixar forte, os cortes eram para me deixar rápido e atento,
mas tem os momentos em que ele se senta no sofá para assistir
filme comigo, me ensina como é ter uma mulher na cama, me
levando nos bordéis, falando sobre o mundo e como eu serei o
maior dos predadores.
Seus ensinamentos são o único jeito de me deixar esperto
para a vida, porque quando eu tiver idade suficiente, serei o Capo
da família Trevizan. Luke me prometeu, Nicolai me prometeu.
Dominic não é bom para ser Capo, pois deixou seu coração falar
mais alto, se apaixonou por uma garota e está deixando os negócios
de lado. Está traindo a família por uma buceta, como diz Nicolai.
Meus pais falaram que aquele é meu lugar de direito e hoje iriam
falar para meu irmão isso.
Olho pela janela da casa dos fundos da mansão deles, sinto
que algo está estranho. Vejo um carro entrar pelos portões e
Dominic sai, olha para minha janela e acena para mim. Ele não sabe
que sou seu irmão, acha que sou o filho bastardo de Luke, um
moleque quebrado e que roubou o amor do seu pai, porque Nicolai
demonstrava mais amor por mim do que por ele, me levava nas
festas e nas reuniões da Máfia, falava para ele como eu era bom em
atirar, mas eu queria ser próximo dele, não seu inimigo.
Saio da janela e me sento com os braços cruzados, não
consigo tirar da cabeça que algo muito ruim vai acontecer.
Passa pela minha mente todas as possíveis coisas que
podem sair dessa conversa. Dominic pode querer eliminar a
concorrência, me fazer aproximar mais dele, banir Nicolai por ele ter
tido um filho fora do casamento ou matar meu pai. Esse último me
deixa com as vistas embaçadas, ele pode querer fazer o que quiser
com Nicolai, mas se tocar em Luke eu o mato, sendo meu irmão ou
não!
As horas se passam e já não aguento mais esperar, quando
estou indo para sair a porta se abre e Nicolai entra, olho atrás dele
procurando meu pai, mas ele não está lá.
— O que aconteceu? Deu certo? Cadê meu pai?
Ele passa as mãos pelo cabelo e vai para o meu quarto, pega
uma bolsa e começa a colocar várias roupas e objetos lá dentro.
— A partir de agora você está por sua conta, você vai sair por
aquela porta e não vai voltar mais, está me entendendo?
Me assustei com o tom de comando em sua voz, com o que
ele estava falando.
— Por que eu tenho que ir embora? Você disse que tudo ia se
resolver, que eu iria para outra casa e que Dominic iria aceitar.
Ele se virou e me deu um tapa na cara.
— Não seja estúpido, moleque! Você nunca iria para lá. Você
acha que ele quer ficar com meu bastardo dentro de casa? Luke foi
lá conversar com ele sobre isso e sabe o que ele fez? — soltou uma
risada debochada. — O matou com vários tiros! Só por querer juntar
os dois irmãos.
— É mentira, Luke disse que seria fácil, que vocês dois já
estavam preparando o terreno e que seria uma conversa fácil — falo
tentando acreditar nas minhas palavras, mas sabia que eram vazias.
— Nós te falamos como Dominic é, ele é frio, calculista. Nós
te falamos que ele teve a coragem de matar várias pessoas
inocentes para se manter no poder, que foi ele que armou para me
tirar do comando. Você acha que um cara que teve coragem de
matar várias secretarias porque elas gostavam de mim, não teria
coragem de matar um moleque para se manter no poder? Não teria
coragem de matar o seu pai, meu braço direito? A melhor coisa que
você faz agora é ir embora, ele vai vir atrás de você. Você quer estar
aqui quando ele entrar nessa casa procurando o empecilho? A mim
ele não irá matar, mas nada o impede de fazer o mesmo com você,
ninguém sabe sobre você ser meu filho, ele pode até inventar uma
história sobre você ser um traidor ou cúmplice de um traidor. Porque
foi isso que ele acabou de falar na sala para todos, que Luke era um
traidor e morreu por isso!
Não ouvi o restante do que ele disse, na minha cabeça só
estava passando a parte “o matou” e “traidor”. Meu pai não era um
traidor, ele era o antigo braço direito do Capo! Tinha honra! E o
desgraçado tirou até isso dele, o chamando de traidor. Me virei e saí
do quarto.
— Eu vou matá-lo!
— Você não vai matar ninguém, o que um garoto magricela
vai fazer com um mafioso? — me segurou pelo colarinho e me
arrastou para o quarto novamente — você vai me ouvir e fazer
exatamente o que eu falar. Vai sair dessa casa e nunca vai olhar
para trás, pelo menos por enquanto.
O que eu ia fazer? Sem ninguém por mim, Luke morreu
tentando me proteger, tentando me aproximar do meu irmão, e o
que ele ganhou? A morte.
Olho em seus olhos e respiro fundo, nesse momento algo se
quebrou irrevogavelmente dentro de mim.
— Eu vou, mas irei voltar e quando isso acontecer vou botar
essa família abaixo, Dominic se arrependerá de ter matado meu pai.
— Falo e me viro indo para a porta da casa.
— Eu sou o seu pai — falou irônico.
Não me virei para responder, não olhei para trás
novamente, atrás não tinha mais nada para mim, mas na minha
frente tem muitas possibilidades, entre elas a minha única chance.
Quando eu voltar irei destruir todos. Afinal, era só isso que os
Trevizan sabiam fazer. Matar e destruir!
Lucca Martiero

Dias atuais...

M e sento fundo do
salão de baile com
meu copo de
whisky na mão. Ao meu redor estão os maiores criminosos dos
últimos tempos, mas só um me interessa. Se as pessoas dessa sala
não estivessem tão com a cara em seus traseiros notariam nossa
semelhança, começariam a se perguntar quem era o homem que se
parecia tanto com o Capo da Família Trevizan. Mas não, eles estão
submersos em bebida e em como se acham poderosos, mal sabem
eles que isso está prestes a acabar.
No meio do salão um dos meus futuros alvos dança como
uma bailarina, não posso negar sua beleza, puxou a mãe e a avó
nesse aspecto, começo a ver por que meu irmão se deixou abater
por sua mulher.
Nos últimos trinta minutos a vi passar de mão em mão,
rodopiando pelo salão, sorriso no rosto, vestida para matar com um
elegante vestido preto com pedrarias no mesmo tom e seu cabelo
vermelho flamejante. Uma verdadeira vida de princesa.
Ao me lembrar por tudo que passei por causa deles, meus
dentes rangem. No entanto, por um lado foi bom, eu subi ao topo,
me tornei o predador que meu pai queria que eu fosse, que ele
sabia que me tornaria. Foi uma subida difícil, ninguém nessa sala
me reconheceu quando apareci, quem pensaria que um investidor
bilionário das ilhas Maldivas, que estava a passeio pela toscana, era
o menino magricela que teve que sair correndo para não morrer na
mão do seu capo? Ninguém imaginou, nem mesmo ele.
Foi tão fácil entrar no círculo social deles, apenas precisei
pagar para um trombadinha tentar sequestrar a esposa, aparecer
como se no acaso e salvá-la de um destino cruel matando o
sequestrador. Fácil, ganhei um convite para o baile da princesa
Maria Valentina Trevizan, que nessa noite completa 18 anos.
— Você poderia tentar se enturmar, não é toda vez que uma
pessoa vem para a Toscana, minha filha gostaria de dançar com
você — uma voz fala atrás de mim, Dominic. — Na verdade, fico
meio desconcertado, ela não para de falar sobre como você salvou
minha mulher, ainda não tive a oportunidade de te agradecer — vem
para a minha frente e estende a mão para mim — Dominic Trevizan,
tenho uma dívida com você, o que precisar, pode me falar.
O que eu precisar? Que tal sua cabeça em uma bandeja?
Sorrio com esse pensamento e estendo a mão.
— Qualquer um no meu lugar teria feito a mesma coisa, então
não precisa me agradecer e você não me deve nada — falo levando
o copo a boca, tomo um gole e volto a olhar o salão — Vejo que ela
está se divertindo, afinal você só faz 18 anos uma vez na vida, me
lembro quando eu fiz essa idade, foi libertador.
Ele olha para mesma direção em que eu estava olhando e
sorri ao ver sua filha, logo depois olha para a direção que está sua
esposa com algumas mulheres.
— Confesso que algumas vezes me sinto mais velho do que
já sou, essas duas um dia vão me matar — dá uma gargalhada
estrondosa.
Fico surpreso, na época em que estive aqui nunca o vi com
um mísero sorriso no rosto, agora ele não só sorriu como está
conversando normalmente, sem formalidades e com alguém que ele
mal conhece. Ou ele ficou mais descuidado do que parece ou está
atuando por pensar que não sei o que ele é.
— Você ainda é novo, quantos anos tem, se me permite
perguntar?
— Estou com 54, mas minha esposa fala que pareço o
mesmo cara de 35 que ela conheceu — da risada — E você,
quantos anos tem Martiero?
Foi estranho ouvir o sobrenome de Luke sair de sua boca,
esperei ver reconhecimento em sua feição, dado o fato que ele
queria me matar quando eu morava aqui, mas os vinte anos corridos
deve ter feito sua memória falhar, sorri com isso. Apesar que não
será tão bom abater um coelho ferido.
— Tenho 33 anos.
— Novo, qual o seu ramo de negócios?
—Trabalho com transportes, compra e venda de imóveis,
artes… sou versátil — sorrio e tomo mais um gole da minha bebida.
O que eu queria dizer mesmo era: você sabe, transporto
armas, escravos, drogas, compro e vendo obras de artes famosas e
que nunca mais aparecerão para o público, porque alguém muito
rico a queria só para ele.
— Eu trabalho com vinhos, minha família é a maior produtora
deles na Itália — dá de ombros e fala — você sabe, dê uma massa
e uma taça de vinho para um italiano e ele faz disso uma
comemoração.
— Sim, eu sei, amo um bom vinho. — E como será sua cara
ao saber que daqui a menos de cinco minutos três dos seus
principais vinhedos estarão queimados?
— Minha esposa irá fazer um jantar beneficente amanhã,
arrecadar fundos para uma obra que ela está fazendo no hospital
local, uma ala totalmente especializada para o tratamento do câncer.
Se quiser aparecer por lá — chama um homem no fundo do salão.
Quando ele chega perto, fala algo baixo e o homem lhe entrega um
papel, depois vai embora — esse é o convite, será um prazer
recebê-lo.
— Claro, vou ver se consigo ir — olho para trás dele e fico
rígido, sua filha está vindo em nossa direção.
— Oi, paizinho — chega abraçando-o e sorri para mim — Oi,
você é o homem que salvou a mamãe, né? Prazer, me chamo
Valentina, mas pode me chamar de Tina. — Fico surpreso quando
ela vem me abraçar também.
— Tina, você está assustando nosso convidado — vejo que
ele ficou sério, na verdade os seus olhos mostravam tudo, menos
calma.
— Relaxa pai, foi só um abraço, acho que todo mundo
deveria aprender a dar mais — seus olhos estavam pegando fogo,
franzi a sobrancelha com isso, ela não se parecia mais com a
menina de poucos minutos atrás, estava meio alterada, então
descobri. Estava bêbada. Uma ideia me veio à mente com isso e
resolvo encerrar a noite.
— Preciso ir, estou cansado da viagem — cumprimento os
dois com um aceno de cabeça — amanhã estarei aqui. Boa noite,
senhor e senhorita Trevizan.
— Venha mesmo, lindinho, eu estarei no leilão, que tal uma
noite comigo? — soltou uma risadinha.
— Maria Valentina! — agora ele estava furioso, saí do local
rapidamente, mas não sem antes ouvi-la falar.
— Papai, vocês estão me sufocando! Eu só quero ter uma
noite normal, eu serei leiloada para um jantar e não para ir para
cama, eu tenho 18 anos, poxa!
Sorrio e pego meu telefone ao sair da mansão, entro no meu
carro e ligo para meu contato.
— Cancele os planos, tenho algo melhor do que queimar
vinhedos.
Valentina

M
inha mãe passou
as últimas duas
horas falando como
meu
comportamento ontem foi indiscreto, que eu era muito bonita para
ficar me jogando em cima de um homem. Minha vontade era revirar
os olhos, nada que eu faço está certo ultimamente.
Semana passada quis ir tomar um drink com as amigas, mas
não tive permissão, o motivo era sempre o mesmo, os inimigos de
papai. As vezes queria ter nascido em outra família, não que não
ame meus pais, eu morreria por eles, mas eu quero liberdade, poder
sair sozinha e anonimamente. Era um saco sair rodeada de
seguranças, me sinto em uma prisão.
Suspiro pronta para falar o que está entalado em mim.
— Mamãe, você poderia parar para me ouvir só um
momento? — me sentei e bati a mão do meu lado do sofá, ela me
olha e se senta — Eu sei que a senhora e o papai me amam e só
querem o meu bem, deve ser difícil para vocês porque não tiveram
um menino para suceder ao papai quando ele precisar sair. Mas
mãe, eu quero ser eu, preciso me sentir eu mesma, ultimamente me
sinto ou como uma rosa presa em uma redoma ou uma aspiração
que a senhora sempre sonhou. Cada dia que passa isso vai se
afundando mais em mim, meu pai está procurando marido para mim
mãe! E se eu não quiser me casar? E se eu quiser cursar uma
faculdade? E se eu não quiser ter filhos? Estou me sentindo um
simples objeto de manobra, com medo de falhar — não me seguro e
começo a chorar, vejo que mamãe também está chorando.
Ela me segura com força, passando as mãos em meus
cabelos, passando a mão no rosto para afastar as lágrimas.
— Querida eu nunca quis que você se sentisse assim, mas
vou tirar pelo menos uma dessas dúvidas que você tem, o restante
você tem que conversar com o seu pai. Você nunca foi uma
aspiração para mim, você não é meu sonho e nem o meu desejo de
ser. Você é minha realidade, meu presente! Você sempre vai ser
minha menininha para proteger e cuidar — põe uma mão em meu
rosto e com a outra enxuga minhas lágrimas — você tem o nome de
duas pessoas guerreiras, eu nunca duvidei que você teria a força
delas. Vejo agora que eu e seu pai temos tanto medo de que algo
aconteça com você que acabamos te sufocando, se você pelo
menos pudesse entender...
Mamãe ficou pensativa novamente, quando ela ficada assim
uma melancolia se apossa do seu rosto.
— Mãe...
— Valentina, eu já perdi pessoas demais! Eu acho que se
perdesse você eu não conseguiria me levantar novamente, você é
meu coração — me abraça forte.
— Mãe, amor é liberdade — faço ela olhar para mim — Você
sabe o que vai acontecer se eu tiver que me casar com alguém
agora? Eu vou murchar! Se pelo menos eu pudesse escolher, eu
fiquei sabendo pela filha do tio Demétrius mãe! E Charlotte me
odeia, jogou na minha cara o quanto eu era incompetente até para
escolher meu próprio marido. E não é só isso, é o fato de eu sempre
confiar em vocês e me senti traída.
Ela olha para mim e dá um sorriso triste.
— Eu nunca quis que você se sentisse assim com a gente
filha, vamos fazer o seguinte. Vou tentar falar com seu pai, mas
você sabe que não é muito fácil, enquanto isso evite... — vi que ela
estava procurando palavras para falar — ficar alterada nas festas e
abraçar homens estranhos e charmosos - sorri com a última parte.
— Sério mamãe? — pulei do sofá feliz e levantei ela em um
abraço de urso. — Juro juradinho que beberei no máximo duas
taças de champanhe e só irei dançar com os amigos da família.
Tive que cruzar os dedos atrás das costas na última
promessa. E se aquele homem de ontem viesse? Ele era tão quente
com aqueles cabelos pretos com um corte estilo pós foda, e o
olhos? De um azul tão lindo, parecia as profundezas do mar da
Toscana.
Ela me olha e cruza os braços batendo um dos seus pés com
os saltos dez centímetros no chão.
— Olha aqui, garota, eu tenho 42 anos e não 2, também já
tive sua idade, e pode apostar que eu era muito esperta. Então
descruze esses dedos e trate de cumprir com nosso acordo.
Soltou uma gargalhada, mamãe ainda era uma mulher muito
linda, papai ainda se atraca com alguns caras por causa disso. Por
incrível que pareça parece que os anos amadureceu sua beleza,
seus cabelos continuavam vívidos e seus olhos castanho mel estão
radiantes.
— Tudo bem Rainha Katy Trevizan, oráculo do milênio,
senhora que sabe e olha tudo — também me divirto com esse nosso
momento descontraído.
Ela me olha arqueando as sobrancelhas, balança a cabeça
em negação e vai até a porta.
— O jantar beneficente está para começar, vá se vestir que
eu tenho que arrumar essa bagunça de rímel em meu rosto, porque
ao contrário daquela moça do BBB Brasil que a gente estava
assistindo ontem. Eu não sou maquiadora, passei a mão e borrei —
sai rindo.
— Só não deixa o senhor Dominic ver! Ele vai falar que você
está fazendo VT para ganhar uns likes em formato de diamante! —
gritei rindo. Toda vez que mamãe chora papai compra uma joia para
tentar alegrar a vida dela, mesmo quando a lágrima é de felicidade.
Me viro e vou até o guarda-roupa. O que vestir para atrair um
homem? Ainda mais um homem daqueles? Aí ele aparece, aquele
vestido que saí escondida para comprar no meu aniversário de 17
anos, nunca tive a oportunidade de usar. Papai iria pirar, mamãe
teria um treco. Sorrio. Mas "ele" irá me notar.
Com o plano que eu montei ontem na minha cabeça vou ao
banheiro tomar meu banho.
Posso não ter algumas escolhas vivendo com a máfia, mas e
se eu causar um sentido de dever? Já vi muitos mal-entendidos se
resolverem com uma conversa ou.... com um acordo!
Lucca Martiero

Q uando chego, a
música
tocando,

estão alegres e o clima festivo permeia o ambiente. Um garçom


está
todos

passa e peço uma taça de champanhe, não vejo nenhum dos três
anfitriões no local, ando em direção a uma pilastra e me encosto,
porém, não fico sozinho por muito tempo.
Uma garota muito bonita se aproxima, cabelos negros e olhos
verdes, sei pela aparência que ela é da família, tanto meu falecido
pai como a falecida mãe de Dominic tinham olhos verdes.
— Olá, famoso, já ouvi falar muito de você, titia e Valentina,
na verdade, não param de falar, agora vejo o porquê.
Sorri e morde o canto dos lábios, se aproxima de mim e
coloca as mãos na lapela do meu terno. Ergo as sobrancelhas com
seu atrevimento, uma garota peculiar, confesso. Afasto suas mãos
de mim e me endireito, vendo por algum ângulo poderia dar a
impressão de que estamos muito íntimos, não quero confusão, pelo
menos por enquanto.
— Lucca Martiero. — Estendo a mão e ela rejeita, se
aproxima e fala em meu ouvido.
— Charlotte Viniert... E é um prazer te conhecer, Lucca
Martiero. — Se afasta e pisca um olho.
Então a pirralhada era filha de Demétrius, outro que sempre
fingiu que eu não existia. Me sinto em Êxtase ao pensar na reação
deles quando minha identidade for revelada, quando descobrirem
que seu reinado de traições e mentiras está para ter um fim.
Desvio dos meus pensamentos quando vejo que todos estão
parados olhando para a escada, meu queixo quase cai. No topo da
escada está uma Valentina totalmente diferente da noite passada,
seus cachos agora estão moldados só de um lado do pescoço,
mostrando sua simetria delicada, olhos esfumaçados pretos e batom
vermelho sangue, brincos grandes com pequenos diamantes caem
até o começo dos seus ombros, um vestido apertado até um pouco
antes das coxas em um vermelho vibrante cheio de brilho, saltos
pretos altíssimos completam seu figurino. Ela está magnífica.
Sinto minha boca secar, meu pau salta, me ajeito e tento
pensar em outra coisa. Ouço um resmungo ao meu lado e olho em
direção da garota.
— Algum problema, senhorita? — Ela cora e abaixa a
cabeça.
— Não é nada, só que me sinto deslocada perto dela, é uma
pessoa difícil, sabe? Não gosta muito de mim, na escola era um
pesadelo, vivia puxando meus cabelos, ninguém fazia nada por ser
filha de quem é — confessa, suspirando. — Não gosto de falar
muito disso, ainda é doloroso para mim. Prefiro ficar na minha, é
melhor passar despercebida. Falando nela, ela está vindo, disfarça.
— Você veio — Valentina sorri para mim e estreita os olhos
para Charlotte — e em péssima companhia, pelo que eu vejo. Me
diz, Charlotte, você não tem mais ninguém para envenenar? Acho
que está sobrando.
Não gosto do seu tom de voz, a garota é muito esnobe,
igualzinha o pai, pelo visto. Seguro na cintura de Charlotte e a
encaro.
— Na verdade, estávamos em um papo muito interessante, e
sinto informar, mas quem está sobrando aqui, é você. Nós
estávamos saindo para dançar nesse instante.
Falo e não espero sua resposta, saio de lá e vou para pista
de dança.

Valentina

Humilhada, estou me sentindo desse modo nesse momento.


Sigo com os olhos enquanto vejo os dois indo em direção à pista de
dança, Charlotte cobrinha vira um pouco o rosto e me dá um sorriso
de escárnio, travo os dentes de raiva. Ela disse algo, com certeza.
Mas também pensando no modo como a tratei na frente dele foi
errado, por mais que ela sempre tenha tentado me ferir ela nunca
fez na frente de ninguém, por isso as pessoas vivem falando o
quanto ela é uma boa garota. Quem olhasse de fora e visse minha
conversa com eles iria me taxar como a errada da história. Fechei
os olhos com força vendo o tamanho da minha burrice. Respiro
fundo e ergo meu queixo, irei superar as dificuldades.
No canto do salão vejo minha mãe sair de uma das salas
junto com meu pai, os dois arrumando as roupas, sinto minhas
bochechas quentes. Eles não têm jeito, até numa festa formal
dessas. Penso em repreendê-los e caminho em sua direção, mas no
minuto seguinte sei que estou encrencada, meu pai olha em minha
direção e sua expressão muda de felicidade para raiva. Me encontra
na metade do caminho.
— Você vai subir agora e tirar essa roupa Maria Valentina
Trevizan — agora sei que estou ferrada, ele acabou de me chamar
pelo nome completo, tento parecer calma. — Pai, é só um vestido,
está cobrindo tudo nos lugares que deveria cobrir, agora venha que
já vai começar o leilão.
Ele sabe que não dá tempo de trocar, iria atrasar tudo.
— Amanhã teremos uma conversa muito séria, Valentina,
chega dessas frivolidades, eu tentei entender e ser compreensivo,
mas você não enxerga meu lado, sua mãe conversou comigo, iria
pensar no caso mas você simplesmente não ajuda na sua causa —
pega em meus braços e corta a multidão em direção ao palco
montado onde Charlotte e mais três meninas estavam esperando —
Olha como elas estão vestidas e como você está vestida, vão
pensar que você está leiloando outra coisa além da presença em
um jantar. É isso que você quer? Que eu mate um dos meus
homens?
Percebo quão impensada foi minha decisão, abaixo minha
cabeça, envergonhada da situação. Abraço meu pai e falo em seu
ouvido.
— Me perdoa, pai, eu juro que não queria. — Me afasto e
tento colocar uma expressão neutra no rosto.
— Amanhã conversaremos. — Ele sai e eu subo no palco,
Charlotte rindo da situação, fecho a cara e finjo que ela não está
aqui.

Cinco horas depois eu estou em meu jantar, mas não com


quem eu queria, Lucca não ofereceu nenhuma oferta por mim, todas
foram para Charlotte. Isso, de alguma maneira, me fez sentir algo
estranho. Ver os dois saírem juntos depois do leilão me fez sentir
ciúmes, raiva e inveja. Um dos sócios de papai na fábrica de vinhos
me "comprou", não que ele seja feio, Pietro é até bonito demais.
Cabelos loiros e olhos cinzas, galinha demais também, se o que os
tabloides falam for verdade. Mas esse fim de noite inesperado fez
meus planos tomarem um rumo diferente, me casar com quem não
gosto não é uma opção, sei que tenho que me casar, mas se for tem
que ser nos meus termos e com alguém que pelo menos faça eu ter
um pouco de excitação.
— Você está muito pensativa Senhorita - ouço Pietro falar e
me assusto.
— Me desculpe, é que estou com a cabeça um pouco
dolorida — coro de vergonha — lamento não ser uma boa
companhia hoje, muita coisa na minha cabeça.
— Podemos ir embora, se desejar — ele sorri —, não é como
se morássemos longe um do outro, terá outras oportunidades.
Ele se levanta e vai pagar a conta, saio da mesa e vou para a
saída esperar.
Passamos a viagem de volta em silêncio, eu não estava com
clima para conversa e ele não puxou assunto.
— Obrigada pela noite, Pietro — dou um beijo em sua
bochecha.
— Foi um prazer, boa noite — devolve o carinho.
Saio do carro e dou um aceno para ele antes de entrar em
casa, mas o que encontro faz todos os pelos do corpo arrepiarem.
Tio Demétrius está com uma arma apontada para Lucca.
— O que está acontecendo aqui?
— O que está acontecendo? Esse filho da puta não vai deixar
minha filha assim, Dominic, ou ele resolve essa situação, ou morre
agora.
Eu sei do que ele está falando, Charlotte está no canto do
salão com o seu vestido branco amassado e um pouco de sangue
na frente. Sinto bile subir na garganta, ele olha para mim sem
demonstrar nada, Já Charlotte tem um pequeno sorriso contente
que esconde muito bem, menos de mim. E nesse momento sei que
era um plano dela. Lucca Martiero fala as palavras que me destrói
por dentro.
— Eu me caso com sua filha, Demétrius Viniert.
Capítulo 04
Valentina

D izer que minha


manhã foi um caos
total é
eufemismo. Gostaria de saber o que aconteceu, em que parte meu
um

plano deu errado. Estava tudo planejado em minha cabeça, Lucca


iria comprar um jantar comigo, então o seduziria e levaria ele para
alguma parte da mansão, meu pai nos pegaria em alguma posição
comprometedora e fim, iria pelo menos me casar com alguém que
me deixou atraída. Não tinha como dar errado, eu anotei tudo.
Espera aí, eu anotei.
Vou correndo para meu quarto e abro as gavetas da minha
penteadeira.
— Não está aqui... Não está aqui! — grito e começo a revirar
o quarto atrás do diário que minha mãe me deu quando fiz 15 anos,
disse que era um presente da vovó Valentina, ela guardou todos
esses anos, e agora sumiu.
Não percebo que alguém entrou no quarto até ouvir a voz de
mamãe.
— Por que está gritando? E o que sumiu? — olha para o
quarto todo bagunçado como se achasse que eu tinha ficado louca.
Tento disfarçar o desespero, lá tinha muitas coisas minhas,
coisas importantes que eu prezo, além do meu plano detalhado.
— Não é nada mãe, eu estou bem — minto. — Só não estou
encontrando o colar que papai me deu no meu aniversário, mas
tenho certeza de que está em algum lugar por aqui.
— Bem, mais tarde você arruma direitinho o quarto, não é só
porque temos empregados que eles têm que fazer todo o nosso
trabalho — se aproxima de mim e me dá um abraço. — Seu pai me
pediu para te chamar, querida, acho que você sabe o porquê.
É inevitável essa conversa, então não tem razão para adiar
mais ainda.
— Obrigada mamãe — me afasto e respiro fundo. — A
senhora vai estar junto?
— Infelizmente não posso querida, é uma conversa que os
dois já deveriam ter tido sozinhos a muito tempo. Chegou em um
momento que eu passei por cima das ordens dele como pai para te
proteger, isso acabou tirando a autoridade dele, olha o que
aconteceu ontem? Bem de baixo do nosso nariz!
Confirmo com a cabeça resignada, essa luta é minha para
lutar, ela está certa.
— Tudo bem, quando terminar de conversar com ele eu vou
falar com a senhora.
Ela acena e nós duas saímos do meu quarto, nos separamos
e vou na direção oposta. Cada passo que dou em direção do
escritório é uma sentença por tudo que fiz nesses últimos anos. Até
então eu não aceitava meu destino, queria me rebelar, queria ser
livre. Mas olha o que minha dita aspiração a liberdade causou.
Entro em seu escritório e ele está sozinho, olha para mim e
balança a cabeça para que eu me sente na cadeira em frente à
mesa.
— Bom dia, princesa — anda em minha direção e me dá um
beijo no rosto, bagunça um pouco meus cabelos e depois se senta
em sua cadeira. — Acho que você sabe o porquê está aqui.
— Sei, sim, papai, encontrou a pessoa certa? — Eu não vou
chorar, nem implorar, mas também não vou desistir, alguma saída
teria que ter dessa situação. Eu só tenho que encontrar depois.
— Pietro Basile, ele é educado, sabe o que nossa família faz
e vai te tratar bem — começa a assinar uns papéis e não olha para
mim enquanto fala. — Além do mais, ele gosta de você e foi me
procurar para te propor casamento.
Então o jantar de ontem não foi bem ocasional. Poderia ter
um final pior, mas não é o fim que eu quero para mim.
— Tudo bem, pai. — Me levanto da cadeira — Só isso? Já
posso ir?
— Por enquanto sim, depois iremos falar sobre datas e os
detalhes. — Seu rosto não estava feliz — Lamento que teve que ser
assim querida, eu sempre quis o seu bem e sei que Basile te tratará
como uma rainha.
— Não precisa se desculpar pai, eu entendo o seu lado.
Afinal, você não teve um menino, não é? Agora se me der licença.
— Valentina...
Saio do escritório calma e devagar, prefiro não me virar e
ouvir o que ele falaria. Papai não teve culpa de nada disso, essa é a
nossa vida. Você não sai da Máfia, ou você vive por ela ou morre
por ela, as duas escolhas não têm nenhuma possibilidade de
liberdade. Quando estou do lado de fora, começo a correr. Preciso
desabafar com alguém e já que meu diário não está comigo, vou em
direção ao quarto da minha mãe, mas no caminho acabo
esbarrando em alguém.
— Ei, você não olha por onde anda, palito de fósforo?
Ótimo, para coroar minha manhã, eu tenho que me encontrar
com Charlotte e seus apelidos sobre meu cabelo. Estou cansada
disso.
— Olha, não me leve a mal, mas não estou com cabeça para
seus joguinhos hoje. Por que não vai sonhar com seu noivo? Só me
deixa em paz, sim? — falar a última palavra me deu enjoo. Passei
por ela e continuei meu caminho, mas ela me segue.
— Ah, o Lucca Martiero — sorri cinicamente. — A propósito,
eu tenho que te agradecer pelo ótimo plano, me ajudou muito,
priminha.
Merda, foi ela. Me virei, o ódio tomando posse do meu corpo,
agarro seu cabelo e bato sua cabeça na parede.
— Sua puta dos infernos! Cadê meu diário?
Ela Também pega em meus cabelos e caímos no chão. Seu
rosto estava sangrando. Puxa meu brinco da orelha e grito com a
dor que sinto a pele se rasga.
— Você mesmo é a culpada, quem é a criança que escreve
em diário ainda? — Me vira e dá um tapa no rosto — Mas foi de
grande ajuda, devo admitir.
Cega, eu fico totalmente cega com isso. Tiro forças da raiva
que se acumulou em mim durante anos com ela me infernizando e
viro o jogo, pego em seus cabelos e a derrubo no chão, enrolo seu
cabelo em minhas mãos e começo a socar seu rosto.
— Você não passa de uma vadia invejosa, sua cobra, eu te
odeio!
— Para, Valentina! Meu rosto, para!
Mas quanto mais ela implorava mais eu tenho vontade de
acabar com a cara dela. Infelizmente não vi o que estava vindo,
sinto alguém me agarrar por trás e me tirar de cima dela. Tento me
soltar, mas não consigo, a pessoa é muito forte. Quando paro e
começo a relaxar eu olho para a pessoa e travo.
— Lucca...
Ele me larga e vai socorrer Charlotte, então vejo o que eu fiz.
Ela está roxa dos socos que eu dei. Agarra na lapela do terno dele e
chora, se fazendo de vítima.
— Eu estava andando e ela veio por trás de mim... — os
soluços dela era digno de um Oscar, as lágrimas também. — Eu não
pude me defender, estava tão cansada...
Ele olha para mim com nojo, me sinto desconfortável e desvio
o olhar.
— Isso é mentira, diga a verdade Charlotte! — Me aproximo
mais e ele estende o braço para me parar.
— Acho que você já fez o suficiente por hoje, senhorita
Trevizan.
Fico sem palavras para contestar sua afirmação, novamente
ele me pegou em uma posição errada na história, e mais uma vez
eu caí feito uma idiota nas tramoias de Charlotte. Vejo seu pequeno
sorriso escondido.
— Quer saber? Acredite no que quiser, seu idiota! Eu não te
devo explicações, estou dentro da minha casa e aqui vale o que eu
digo, me entendeu? — questiono com o tom firme e não espero
resposta.
Passo por eles e desisto de falar com mamãe, indo direto
para meu quarto arrumar a bagunça, por um curativo na minha
orelha e me isolar da bagunça que minha vida se tornou.
Tenho que encontrar meu diário, de preferência antes do
casamento, e tenho que arrumar minha vida. Porque acabei
percebendo algo, se tem uma coisa que aprendi com meus pais foi
nunca desistir do que quero. E nesse momento eu quero acabar
com a felicidade deles!
Valentina

Uma semana depois…

S e tem uma coisa que


eu mataria para não
fazer, é isso. Ficar na
sala conversando sobre o tão esperando casamento de Charlotte,
tia Katrina está no meio de nós duas, acho que para separar uma
provável briga.
Ela está certa, cada vez que minha prima abre a boca, é para
falar sobre o quanto está feliz com seu casamento que está por vir.
Uma semana se passou desde o ocorrido no corredor, minha
mãe ficou uma fera, tia Katrina ficou três dias palestrando sobre a
união familiar, tio Demétrius não falou nada, isso foi o mais
estranho, já papai quis dar uma bronca, mas vi nos seus olhos o
orgulho de ser o pai da garota que não ficou toda arrebentada.
Minha orelha está em processo de cicatrização, iria demorar
um pouco para se curar, mas ficaria bem. Charlotte foi fazer uma
pequena cirurgia hoje de manhã, acho que peguei um pouco
pesado.
— É hoje que você vai escolher o modelo de vestido
Charlotte? — minha mãe pergunta enquanto mostra alguns modelos
de tecidos para os guardanapos de mesa para tia Katrina.
— Sim tia — Charlotte fala pouco, assim evitando de mexer a
bandagem no seu olho.
— Escolheu alguma estilista, filha? — Katrina pergunta e
aponta para um tecido marfim, mamãe assente e pula para outro
portfólio.
Meu pai entra na sala, acompanhado de tio Demétrius, Pietro
e Lucca. Os três olharam para onde eu e Charlotte estávamos
sentadas. Lucca se demorou olhando para mim, eu não estava feia.
Na verdade, me arrumei até demais hoje. Quer atacar uma mulher?
Fique mais bonita que ela e chame a atenção do cara que ela gosta.
— Pelo visto, está tudo bem por aqui — papai sorri para mim
e mamãe.
— Sim, querido, apesar que eu gostaria de falar com você no
escritório — sorri meiga para ele.
Sei o conversar deles, reviro os olhos, todos na sala sabem
que eles não vão conversar, eles são piores que coelho.
Mamãe se levanta e pega na mão do meu pai o levando
embora da sala. Solto uma risadinha chamando a atenção de todos.
— O que foi? É fofo — falo e tento segurar para não rir.
— Fofo? Você quer dizer nojento, não é, prima?
Quer me deixar irritada? Fale algo insultando meus pais de
alguma maneira, a pessoa vai ver a morte piscar em meus olhos.
— Eu acho bom você lembrar de quem está falando,
Charlotte, porque senão esses machucados na sua cara serão o
mesmo que nada perto do que farei com você.
A sala fica em silêncio até tia Katrina falar para amenizar o
clima.
— Ei, meninas, se acalmem, ela não quis ser desrespeitosa
com o Capo, não é, Charlotte? — vejo minha tia apertar um pouco
os braços de sua filha.
— Claro que não, mamãe, eu estava brincando, afinal, somos
família, não é Valentina? — me olha sorrindo, será que ninguém
percebe o sorriso falso dela? — E para provar isso, eu gostaria que
você fosse comigo para escolher meu vestido.
Que garota cara de pau! Estou para negar, mas tenho uma
ideia. Chego perto dela e a abraço por cima de tia Katrina.
— Eu não deveria aceitar, porque estamos brigadas, mas
como você disse, somos família. Me desculpe, prima, eu vou com
você escolher — a abraço um pouco mais forte e sussurro em seu
ouvido — E quanto mais perto eu ficar de você, mas fácil será te
destruir.
Me afasto e levanto-me do sofá.
— Vocês vão que horas? Posso levar vocês — Pietro diz.
Estava tentando ignorar sua presença desde que chegou, sei que
parece infantilidade, mas ainda não estou preparada para vê-lo
como meu noivo.
— Não precisa, eu vou dirigir, quero testar o carro que minha
mãe me deu de presente — solto um sorriso enorme ao pensar na
Bugatti Veyron vermelha e preto.
— Uma bela máquina aquela, sabia que foi a única a ser
montada? O La Finale traz um propulsor 8.0 turbo W16, que produz
cerca de 1.200 cavalos, sua potência e torque suficientes para que o
carro alcance 100 km por hora em apenas 2,6 segundos e chegue a
410 km por hora. — Esse é meu tio Demétrius, superfã de carros.
— E é todinho meu — rodopio feliz.
— Minha mãe vai me dar um — Charlotte diz, sorrindo.
— Acho que você não entendeu, prima, esse é exclusivo, foi
feito apenas ele e minha mãe comprou, mas tem outros modelos
que com certeza você vai gostar, agora com licença. Vou me
arrumar para irmos.
Sorrio para todos da sala e saio.

Quatro horas, contei cada segundo que tive que passar com
minha prima. Garota mimada, chata, racista e ainda é xenófoba.
Tive que conversar com a atendente que ela humilhou para
não processar, Charlote chamou a moça de escurinha e ainda
brincou, falando se ela tomou todos os cuidados para não trazer
doenças para o país dela. Minha vontade era oferecer meu próprio
advogado para a moça meter um processo nas costas dela. Em vez
disso, tive que conversar e oferecer dinheiro. Se essa idiota fosse
processada iria trazer problemas para meu pai e o tio Demétrius.
Mas ela não ia escapar disso, sei que tio Demétrius tem uma mão
de ferro quando quer.
No caminho para casa ficou falando sobre direito de se
expressar, até que me irritei e parei o carro no acostamento.
— Olha aqui Charlotte, eu sei que para você é difícil entender,
porque não tem muitos neurônios nessa cabecinha, mas vou falar
mesmo assim. O mundo não gira ao seu redor, o seu direito acaba
quando o do outro começa e de maneira nenhuma você pode
chegar em uma pessoa e a ofender. Fora o que os jornais falariam
de nossa família e ainda tem o fato que a pessoa atingida pode se
ferir muito, você é privilegiada e mimada, mas não é melhor que
ninguém! Quando morrer vai feder igual, apodrecer igual e vai para
debaixo da terra igual todo mundo!
A deixei sem palavras, me acalmei um pouco e voltei para a
estrada.
Quando chegamos tinha duas pessoas na sala, Lucca e
Pietro. Os dois estavam em um clima estranho. Olharam para nós
entrando, Pietro veio em minha direção.
— Oi, como foi as compras? — rodeou seu braço direito em
minha cintura.
Charlotte se aproxima de Lucca e fala algo em seu ouvido,
ele me olha e fecha a cara. Eu realmente estava cansada disso
tudo. Me estico e dou um selinho em Pietro, ele corresponde com
fervor. Quando nos soltamos a sala está vazia.
— Nossa, nem um tchauzinho? — sorrio e me afasto dele —
estou cansada. Podemos conversar depois?
Seu rosto fica abatido, mas confirma.
— Claro, podemos marcar de sair essa semana.
— Beleza, só me mandar mensagem — falo enquanto pego
seu celular e anoto meu número.
Ele me dá outro selinho e vai embora, me sento no sofá.
— Que dia foi esse...
Não percebi quão cansada estava, meus olhos foram
fechando. Acho que dormi no sofá, estava com muito sono e não
conseguia abrir os olhos. Sinto alguém me levantar e me segurar
em seus braços. Não era um corpo familiar. Me aconchego mais e o
sono me pega de vez...
Charlotte Viniert

A
os dez anos, vi o
menino que eu
gostava chegar em
mim e dizer oi, fiquei
superfeliz por ele me notar. Só para eu ver meu coração de criança
se despedaçar quando ele me pediu para entregar uma rosa para
ela, minha prima talentosa, linda e popular.
Aos treze, tudo se repetiu, mas tentei tirar isso do meu
coração. Então comecei a atacar do jeito que eu podia. Falava da
sua aparência, falava da sua postura, era a filha, sobrinha e amiga
perfeita para todos. Porque percebi naquele tempo que a vida é uma
grande peça de teatro.
Aos dezessete, perdi minha virgindade no baile de formatura,
com o atacante da equipe de futebol. Clichê, não é? Mas essa foi a
única coisa que ela não tirou de mim. Foi uma noite alucinante, e o
melhor, ninguém percebeu. Até que eu tive que encenar que a perdi
novamente dias atrás, porém, foi fácil.
Eu simplesmente peguei o diário da Senhorita perfeita e segui
passo a passo, mas quando chegou na parte da virgindade eu fingi
sentir muita dor, o empurrei, pedi um tempo. Quando ele saiu eu
peguei uma navalha de barbear do armário e fiz um pequeno corte
no interior da minha coxa, vi o sangue manchar a frente do meu
vestido branco com a felicidade brotando no meu peito. Eu teria a
única coisa que ela não poderia ter: Ele.
Foi muito fácil mentir, principalmente quando saí do banheiro
e Papai estava caminhando em nossa direção. O olhar em seu rosto
ao notar a mancha em meu vestido e me ver ao lado de Lucca todo
bagunçado teria feito eu correr de medo, isso se eu não soubesse
como terminaria.
Eu a odeio, odeio por ela ser quem ela é, odeio por ela ser
bonita, odeio por ela ter tudo que deseja, odeio por todo mundo ficar
babando em cima dela. Eu a odeio por existir!
— Xeque-mate em você, priminha — gargalhei e me joguei
na cama. Minha felicidade atingindo níveis estratosféricos.
Me levanto e busco seu diário, leio algumas lorotas de como
ela amava gastronomia, seus pais, sua vida perfeita, sua futura
liberdade e blá, blá, blá. Vou até o banheiro e jogo dentro do lixo de
inox, jogo um pouco de acetona que estava na pia e ponho fogo
nele. Me delicio ao ver as chamas lambendo página por página.
Suas recordações, seus planos. Quase consigo imaginar Valentina
no lugar dele, gritando de dor, pedindo clemência. Me sinto quase
excitada por isso. Sem diário, sem provas. Sem ninguém para falar
que era um plano dela.
No final, a menina perfeita não é tão perfeita. Eu ganhei
dessa vez, eu a venci. Eu fui a melhor. Agora me sinto vingada por
todos os anos sendo sempre a segunda mais bonita, a segunda
mais inteligente, mais doce, meiga. Eu tornarei a vida dela um
inferno...
Hoje eu sou a primeira, a rainha!
Lucca Martiero

Quando você começa algo tem que terminar, no meu caso foi
algo que planejei no aniversário de Valentina Trevizan. Por que
queimar uns vinhedos quando eu poderia ter tudo? Eu poderia ver
de perto o desespero dele quando eu tomasse tudo que lhe
pertencia. Um plano simples e sem falhas. Ganharia o jantar com
sua filha, depois tiraria sua virgindade em algum lugar que alguém
pudesse nos flagrar da mansão.
Como marido de sua única filha eu seria o próximo sucessor
de Dominic, quando isso acontecesse eu teria todo o controle da
Máfia, aí a destruiria junto com ele. Não importava se demorasse
dias ou anos, mas iria acontecer.
Então conheci a verdadeira Valentina Trevizan. Garota
mimada que gosta de humilhar sua própria família. Nesse momento
percebi que nem ela valeria a pena salvar.
Charlotte se sentia oprimida por ela, mesmo quando a levei
para um dos banheiros do térreo da mansão e transei com ela, ela
era tímida e sofreu de começo, não quis deixar eu continuar e
mostrar o que era sentir prazer, me expulsou do banheiro e pediu
para ficar sozinha. Quando resolveu sair, foi o momento que seu
pai apareceu.
Desde então tudo estava indo como o planejado, só mudou a
noiva. E eles pensando que me obrigaram a casar com a menina.
Tolos, isso que se tornaram.
Porém algo dentro de mim insiste em dizer que algo está
errado, começando pela briga delas. Me fez ver que existe algo a
mais entre as duas, mas não é meu assunto para resolver. Hoje
achei irônico ver tanta amabilidade entre elas, qualquer um percebe
que elas não se suportam. Charlotte me falou como Valentina tratou
a atendente e isso me deixou com nojo, mas não tão enojado como
quando ela beijou o noivo engomado dela. Ele não duraria um
minuto nesse ninho de serpentes.
Saio da reunião que tive com Dominic e Demétrius e me
encaminho em direção a saída, ao chegar na sala vejo Valentina
deitada no sofá, sua expressão estava serena, transmitia paz. Algo
que falta em mim no momento. Quem olhasse de fora não saberia
dizer o quanto é mesquinha e má. Me aproximo e a pego no colo,
ela tenta abrir os olhos, mas o sono vence, se aconchega mais em
mim. Ando rápido para ninguém me pegar nos corredores com ela
nos braços.
Ontem eu explorei a casa inteira, decorei as saídas e rotas de
fuga. Dominic está ficando descuidado deixando qualquer um que
faz uma boa ação conhecer onde mora, onde seus tesouros
descansam.
— Vai ser mais fácil do que eu imaginava.
Chego no seu quarto e a porta está aberta, olho ao redor e
não tem ninguém nele. Coloco-a na cama e por impulso, afasto seus
cabelos do rosto, me inclino e sinto o gosto dos seus lábios.
— Tão linda — sussurro — e tão venenosa...
Antes de cometer algo que possa atrapalhar meus planos, me
forço a sair do quarto.
Dominic não tem um herdeiro masculino para ser seu próximo
na liderança, então Demétrius como seu consigliere será o próximo
na sucessão. Isso porque estou tirando Valentina Trevizan fora do
páreo, ela não irá se casar.
Pessoas mortas não se casam.
Valentina

A
bro os olhos e olho
em volta, não estou
na sala, alguém deve
ter me carregado até
aqui. O quarto tem um cheiro levemente familiar, muito bom, por
sinal.
Alguém bate na porta, me sento e espero a pessoa entrar. É
minha mãe.
— Oi, querida, te acordei? — vai até mim e me dá um beijo
na face.
— Não, eu já estava acordada — sorrio e retribuo o beijo.
— Vim te chamar porque Pietro e Lucca estão lá embaixo.
Vieram conversar com seu pai e Demétrius sobre o casamento. Sua
prima já tem uma data. Agora falta a sua.
Me olha triste, mas tenta esconder atrás do seu sorriso.
Mamãe nunca deixou de ser otimista. Uma mulher forte dentro de si.
Papai sempre escolheu abrir o jogo comigo, me falou como
conheceu mamãe e como a tratou antes de se casar. Falou como
quase a perdeu pelas mãos do vovô. Outra palavra que ele odeia
que saia da minha boca, pois, para ele Nicolai não merecia
consideração nenhuma, mas como eu poderia falar mal de alguém
que eu não cheguei a conhecer?
Me levanto e vou fazer minha higiene pessoal, quando volto
mamãe está olhando para minha penteadeira com o cenho franzido.
— Algum problema mamãe? — Ando em sua direção e me
sento na cadeira da penteadeira.
— Cadê seu diário?
Não sabia o que responder, desde que o ganhei, três anos
atrás ele nunca saiu dali. Mas sempre falei a verdade para ela e não
seria agora que esconderia.
— Você vai acreditar em mim se eu te contar? Charlotte não é
o que você pensa, o que todos pensam. — Não que eu não
confiasse em mamãe, mas Charlotte sempre ficou se fazendo de
boa moça na frente de todos.
— Princesa, você sabe que sempre pode confiar em mim —
pegou uma cadeira e se sentou na minha frente — e se for medo do
seu pai, pode confiar que não contarei a ele. Será nosso segredo —
sorriu e mostrou o dedo mindinho para nós jurarmos. Como eu amo
essa mulher.
— Eu aceitei me casar mamãe, mas eu fiz algo impensado.
Me interessei pelo Lucca no dia que ele te salvou, aí depois ele veio
em meu aniversário e cheguei a flertar com ele. Estava decidida a
coagi-lo para ficar comigo — a última parte fiquei super
envergonhada em dizer.
— Querida...
— Mamãe, me deixa terminar, ou vou perder a coragem —
corto seu possível sermão e prossigo. — Fiz um plano que anotei
em meu diário. Como senti que Lucca começou a se interessar por
mim, faria algo para ele comprar uma noite comigo. Depois do
jantar, como iria me trazer para casa, pensei em arrastá-lo para o
banheiro do térreo, iria beijá-lo e ficar nos amassos com ele. Então
daria um jeito para o papai ou algum dos seguranças encontrar a
gente ali e o obrigaria a se casar comigo. Pelo menos, eu me
casaria por quem me interessei, mamãe. Não que Pietro seja feio,
mas não rola nenhuma faísca.
Ela respira fundo, tentando absorver tudo que falei.
— Ok, e como Charlotte está envolvida nisso?
— Ela entrou no meu quarto e pegou meu diário, viu meus
planos e fez o que eu ia fazer, fez até mais. Ela fez ele me odiar,
comprar uma noite com ela e até deu sua virgindade para ele —
estava ficando nervosa só de tocar no nome dela. — Foi por isso
que brigamos naquele dia, porque ela assumiu que o roubou, e
agora tudo que eu quero é acabar com a raça dela, mamãe.
Não me sentia menos pesada, mas com certeza me sentia
menos oprimida do que antes. Mamãe ficou um tempo pensando no
que acabei de contar, abaixou a cabeça e ficou pensando, quando
levantou ela novamente o seu semblante estava frio.
— O meu mal foi achar que vocês ainda eram crianças, mas
pelo visto vocês cresceram faz tempo. E se tem uma coisa que um
Trevizan não faz, é perder. Se prepare, Valentina, pois você não
perdeu esse jogo. Temos pouco mais de duas semanas, ela vai se
casar no ano novo. Até lá, temos que agir. Eu prometi uma coisa
quando aceitei me casar com seu pai. Prometi sempre enfrentar
tudo com ele e ai de quem se metesse conosco.
Nunca tinha visto minha mãe desse jeito, ela estava diferente
nesse momento, como se outra Katy tivesse tomado conta do seu
corpo.
— Mamãe...
— Agora não é hora de conversar mais, vamos, que seu pai
está nos esperando, quero estar presente nessa reunião.
Estamos a quase duas horas conversando, mamãe tomou
conta da reunião de um jeito surpreendente. Bateu o pé e fez meu
pai concordar que eu só me casaria após a faculdade, aos 21 anos.
Quem não gostou muito foi Charlotte e Pietro. Ela junto com tia
Katrina fez a programação toda do casamento de Lucca e Charlotte.
Quem visse de fora até pensaria que mamãe estava interessada
mesmo nesse casamento. Nunca vi esse lado dela e confesso que
me dava um pouco de medo.
— Bom, então você fica encarregada dessas coisas de
mulheres, querida — papai fala acariciando a mão da minha mãe —
e os homens ficam com a parte divertida, as papeladas.

Todos dão risada, menos eu. Se eu já estava na pilha antes


de saber a data, imagina agora com tudo concreto?
— Não é emocionante prima? Irei me casar no ano novo e
você no dia do seu aniversário, estou mega feliz — sorriu
ingenuamente.
— Claro... Eu acho que seu casamento será de matar —
entro em seu jogo e lhe dou um abraço.
Mamãe, com medo de eu acabar entregando tudo, me arrasta
para fora da sala.
— Até mais, queridos, prometi que ia fazer compras com
Valentina — ela fala enquanto anda.
Rapaz, quem diria, dona Katy Trevizan bolando planos de
destruição. Por isso amo minha mãe.
— Eu já te disse o quanto te amo? — saímos de casa e
entramos no carro, outro carro de seguranças vai atrás da gente,
reviro os olhos.
— Não o suficiente — fala ironicamente. — Vamos falar sério
agora, querida, porque nada pode sair errado. Temos que ver os
horários dos guardas no dia do casamento, afastar seu pai, o que
vai ser fácil, deixa comigo. Atrasar a noiva, e tirar seus pais do
páreo.
— Para que tudo isso, mamãe? Parece até que está
planejando um assassinato — falo, começando a me assustar.
— Não é assassinato... — demora um pouco, o suspense
tirando minha mente do lugar e me fazendo pensar em várias
coisas.
— Então... — tento fazer ela se apressar.
— Temos um sequestro perfeito para planejar.
O silêncio reina, e nesse momento descubro que não era de
papai que as pessoas deveriam ter medo, era da mulher dele.
Katy Trevizan

P
aro ao lado de um
restaurante onde
Dominic vinha com
frequência fazer
reuniões com a Família. Thomas sai do carro que estava atrás da
gente e vem para nosso lado. Mas o que tenho que conversar com
Valentina não pode ser escutado por ninguém, por isso vim aqui.
Tenho certeza de que não tem escuta em nenhuma das salas de
reuniões.
— Obrigada, Thomas, mas pode comer algo com os homens,
eu e minha filha iremos nos demorar um pouco, quero comemorar
com ela as novidades — sorrio e pego na mão de Valentina.
— Claro senhora Trevizan — acena e se afasta.
Não demonstro nada para Valentina, mas queria muito me
virar e falar mais uma vez para Thomas deixar de ser formal comigo.
Mais de 18 anos se passaram do ocorrido, não sei se ele superou o
que sentia por mim, mas até hoje não consegue olhar em meus
olhos. Não se casou, também não se afastou de mim, cuidou e me
protegeu todos esses anos. As vezes penso o que teria sido da
minha vida se eu tivesse escolhido ficar com ele, sair da Máfia. Mas
sei bem lá no fundo que não tinha escolha. Uma vez dentro da
Máfia, sempre na máfia.
— Mãe? — Valentina está olhando para mim com cara de
interrogação, percebo que estava submersa em meus pensamentos
mais uma vez.
— Desculpa querida, saí da terra novamente, não é? — Dei
risada disfarçando.
— Já tiro isso como normal mãe — ri também. — Estava
perguntando em qual sala iremos comer.
— Por aqui. — Caminho em direção a sala de reuniões onde
eu e Dominic costumamos comer, aonde ele me levou anos atrás
para comemorar a suposta morte de seu pai. Entro e parece que
tudo volta — Acho que essa não é uma boa sala para esse tipo de
reunião, vamos naquela ali.
Entramos e nos sentamos. Escolhemos um vinho e alguns
petiscos. O garçom trás nossos pedidos e peço para não sermos
interrompidos novamente.
Comemos em silêncio, até que minha filha não aguenta mais.
— Ok, mãe. O vinho está gostoso, os queijos também, mas,
por favor, estou morrendo aqui. — Reviro os olhos com seu drama.
— Tudo bem, temos quinze dias para arranjar tudo Valentina,
sem erros. Se acontecer algo a Família cairá em cima do seu pai,
você entende isso?
— Eu não quero que nada aconteça com vocês mamãe,
nunca me conformaria se algo acontecer. — Põe sua mão em cima
da minha e isso me aquece por dentro, faria tudo por ela.
— Eu nunca me perdoaria se deixasse sua felicidade e seu
poder de escolha ser suprimido. Então não terá erros. Iremos passar
tudo a limpo hoje. Todos nossos passos. Não terá papel, Valentina,
você vai ter que gravar sua parte aqui — bato com os dedos em
minha cabeça. — A maioria dos crimes são descobertos por causa
de planos em papéis, provas só serão achadas se envolvermos
muitas pessoas e deixarmos rastros.
— Mamãe, a senhora está parecendo a Bonnie de Bonnie e
Clyde. Ela era a cabeça maquiavélica do grupo — Sua risada era
contagiante, acabei rindo também das suas peripécias, mas me
controlei.
— Não é hora de rir, docinho, eu bolei um plano. Vou escrever
só aqui, mas irei destruir o papel. Quero que você leia e decore em
sua cabeça. Cada dia será uma peça encaixada, quinze dias, cada
dia uma parte. Sem suspeitas, tem que ser eficaz, para nem seu pai
desconfiar.
— Tudo bem, irei ser séria, eu prometo — ela fala e me olha
concentrada.
Pego minha agenda na bolsa e escrevo os dias um embaixo
do outro, na frente de cada dia uma parte do plano. Quando chego
no dia 1 de janeiro coloco sequestro.
— Agora quero que você decore minha filha, leia com
atenção, grave como se fosse um menu de um jantar que você tem
que apresentar para o melhor chefe do mundo.
Vejo ela arregalar os olhos ao ler enquanto escrevo. Sei que é
extremo, mas tem que ser verídico, se não for assim não tem como
dar certo, todos sofreremos se algo der errado.
— Tudo isso é necessário, mamãe? Como você vai conseguir
a façanha do número 1? Alguém vai sair ferido ou morto.
Fecho os olhos pensando em como explicar para ela a
situação.
— Querida, chegamos na parte da história onde a decisão
final é tomada. A decisão que mudará o percurso de tudo. Quando
eu saí do hospital anos atrás, após levar um tiro, eu decidi o meu
caminho, escolhi não ser a vítima — me uso de exemplo. — Escolhi
ser a protagonista do meu destino, aquela que finalmente iria
escolher qual direção tomar, porque até então, a vida estava me
jogando para todos os lados. Quando realmente escolhi o caminho a
seguir, eu consegui minha felicidade. Essa é sua vez, Valentina —
afirmo. — Saiba que qualquer decisão que tomar, eu estarei com
você, mas escolha sabendo que terá consequências dos dois lados
— dou o aviso. — Terá que arcar com cada decisão feita durante o
percurso. Mas não escolha por medo do que as pessoas pensarão
ou o que você terá que fazer para conseguir. Escolha porque é
aquilo que precisa, porque é aquilo que tem certeza de que quer.
Porque de uma coisa eu sei, querida. Você tem dois caminhos, mais
só um deles você terá uma possibilidade de ser feliz. — Estendo a
folha de papel para ela ler e entrego um envelope com vários
documentos que fiz para ela anos atrás, caso acontecesse algo
comigo e meu marido.
Aquela era minha opinião sincera, mas se eu fosse dar minha
opinião como mãe eu iria querer arrastar Valentina de lá, falar para
escolher a menos arriscada, seguir os costumes e tentar se
encaixar. Mas que tipo de mãe eu seria? Se até a mim foi dada o
poder de escolha? Fico em silêncio enquanto vejo ela ler linha por
linha, quando ela termina de ler foca seu olhar na parede. Se
levanta e vai até a lareira que está no canto oposto da sala.
— Quem disse que o lado fácil tem algo a ver com nossa
família? A única coisa que me preocupo é alguém se machucar,
mas serei uma miserável se deixar de fazer minhas escolhas.
Mesmo que seja dentro do nosso círculo. Mamãe, eu não vou fugir!
Não ficarei longe da minha família. Eu sou uma Trevizan! — Fala e
joga os documentos e a folha no fogo.
E assim ela escolheu o destino dela. Espero que minha
menina tenha feito a escolha certa, pois o inferno seria gelo
comparado ao que ia acontecer aqui na Toscana.
Valentina

17 de dezembro de 2034…

tudo pode acontecer com esse plano.


E u estava nervosa,

1 – Meu pai poderia descobrir e eu nunca iria entregar


minha mãe, então sofreria as consequências.
2 – As pessoas contratadas poderiam morrer.
3 – Eu poderia realmente me machucar.

Mas como tudo na vida, eu fiz minha escolha e não tem como
voltar atrás. mamãe ficou em casa para entreter todos enquanto eu
falei que ia fazer compras. Meus seguranças estão nesse momento
do lado de fora do banheiro feminino do shopping e eu estou
tentando sair pela minúscula janela do banheiro.
— Senhor, tenho certeza de que não estou tão gorda — falo,
começando a sentir o suor descer pelo meu pescoço com o esforço
que estou fazendo.

Depois de uns minutos me esforçando finalmente consigo


passar por ela, desço com um pouco de esforço do outro lado da
parede, estou em uma espécie de sala escura cheio de vassouras e
produtos de limpeza. Ouço um barulho do lado de fora da salinha
apertada e penso se deveria me esconder ou não, mas tenho que
sair daqui em algum momento para seguir com o plano. Me ajeito e
abro a porta, duas senhoras me olham assustadas, finjo que estou
passando mal e me escoro na parede.
— Senhorita, você está bem? — a primeira senhora me
pergunta e chega mais perto. Suspiro e passo a mão no rosto.
— Eu estava tentando achar a saída de emergência porque
acho que estou sendo seguida, não posso sair pela porta da frente,
agora acho que minha pressão baixou — coloco uma expressão de
angústia.
As senhoras olham uma para outra e me verificam
novamente. Eu tinha colocado uma peruca loira no banheiro e
estava com óculos de sol escuro, para o caso de alguém me
reconhecer. A segunda senhora cochicha algo no ouvido da outra e
pega minhas mãos.
— Venha por aqui, menina, saia pela saída dos fundos. Só os
funcionários a usam.
Me puxou e caminhamos por um corredor estreito, eu estava
contando os minutos pois os seguranças já deveriam ter notado
minha demora no banheiro. Olhei para os cantos da parede em
busca de câmeras de segurança, não queria trazer problemas para
as duas. Elas foram muito boas comigo. Não achei nenhuma, acho
que os donos do Shopping não se preocupavam com seus
funcionários. Chegamos na porta, abracei as duas.
— Obrigada Senhoras, não sei como agradecer — me afasto
e tiro do bolso da minha calça alguns dólares, ponho na mão das
duas — Por favor, aceitem meu presente.
Elas ficaram envergonhadas, mas aceitaram. Eu sorri e saí
pelo beco lateral do Shopping, olho para trás e elas não estão mais
lá, retiro a peruca e jogo de canto. Quando chego na rua pego o
telefone descartável e envio o sinal para o contato que minha mãe
me deu. Comecei a andar de cabeça baixa, já era umas 14:00 da
tarde. O sol estava no seu pico, não sei se eu suava de nervoso ou
era o calor. Nessas horas os seguranças já teriam entrado no
banheiro e meu pai já estaria me procurando.
Quando estou passando por um beco sinto uma presença,
logo depois vejo um homem de capuz preto sair de lá e me puxar
para dentro dele, ele coloca um pano em meu nariz e o cheiro forte
me faz apagar.

Lucca Martiero

Estávamos todos na sala mexendo em computadores e


celulares. Vendo imagens de câmeras de segurança.
— Como vocês conseguem perder de vista uma garota de 18
anos? — Dominic grita furioso para um segurança, tinha dois corpos
no chão e o segurança que ele estava falando estava todo
estourado dos socos que Dominic tinha dado.
Katy estava chorando sentada no sofá, Katrina estava
consolando-a em um abraço e Demétrius estava mexendo no
computador.
— Dominic tenha calma, nós iremos encontrá-la, mas você
não pode sair matando todos os seus seguranças — fala firme
tentando acalmá-lo.
Mas eu entendia Dominic, se fosse minha filha eu estaria
revirando cada canto da cidade nesse momento. Na verdade, estou
pensando em fazer exatamente isso. Algo dentro de mim está
gritando, não sei por que me importo se algo acontece com ela, mas
não consigo imaginar ela ferida e não socorrer, não ver se ela está
bem. De repente o Chefe dos seguranças, Thomas eu acho, dá um
pulo na frente do computador e grita.
— Achei algo, senhor Trevizan.
Todos vão para a frente do computador. Ele passa as
imagens e o que vejo faz todos os pelos do meu corpo se
arrepiarem. Maria Valentina está caminhando em uma calçada
quando um homem com capuz preto a puxa para um beco e põe um
pano em seu nariz, a arrasta para um carro que estaciona logo em
seguida e eles partem. Dominic grita furioso, Katy chora ainda mais.
E eu? Sobe uma raiva homicida dentro de mim, mas tento disfarçar.
— Eu quero todo mundo na porra das ruas, revirem essa
cidade de cabeça pra baixo! — olha para os seguranças que não
foram mortos — e rezem porque se algo acontecer com ela não vai
sobrar nada de vocês e de suas famílias.
Todos começaram a correr, escuto barulhos de portas de
carros batendo. Dominic vai para perto de sua esposa e vou em
direção de Demétrius.
— Irei ajudar nas buscas — ele me olha e assente, não
prestando muita atenção pois está olhando outras câmaras para
tentar achar pistas, mas quem fez esse sequestro foi muito esperto,
o carro não tinha placa, vidros escuros e o capuz do cara não
mostrava nada, na verdade não dava para saber se era mesmo um
homem ou mulher.
Saio da casa e vou em direção de onde ela foi raptada, paro e
penso um pouco. Se eu fosse sequestrar alguém onde o levaria?
Já estava anoitecendo e ninguém tinha encontrado ela ainda,
eu estava passando pela praia. O sentimento de perda começando
a se apossar de mim. Como uma pessoa que eu odeio pode me
fazer sentir assim?
Resolvo parar e espairecer a cabeça, saio do carro e vou
andando pela areia da praia. Não percebo quanto tempo passou,
quando vejo já estou nos limites da praia, onde tem muitas rochas,
olho para elas e vejo algo que faz minha respiração travar em meu
peito. Uma pessoa jogada entre o meio das pedras. Corro até ela e
sinto uma mistura de alívio e ódio. Valentina estava com as roupas
rasgadas, algumas escoriações no rosto e braços. Me abaixo e sinto
sua pulsação. Solto a respiração aliviado, ela estava viva.
A pego em meus braços ainda desacordada e faço o caminho
de volta para meu carro, quando chego coloco ela no banco de trás
e pego meu telefone, mando uma mensagem de texto para Dominic.
Achei sua filha, ela está bem. Estamos a caminho.
Jogo o celular no banco de carona e me sento no banco de
motorista, olho pelo espelho retrovisor e vejo ela se mexer, viro meu
rosto e a encaro.
— Meu corpo dói... — fala, sua voz rouca, tenta se sentar,
mas desiste, deve estar fraca, não sei pelo que passou.
— Fique calma, você vai ficar bem, acabou. Eu te achei —
tento acalmá-la um pouco.
Ela me olha e dá um pequeno sorriso agradecido antes de
fechar os olhos novamente.
— Eu sabia que você era um homem bom..., gosto de você...
Essa fala me faz sentir inadequado, como se eu fosse o vilão
tentando tirar proveito do protagonista da história.
Essa garota está começando a me fazer repensar tudo que
eu estou fazendo, e isso definitivamente não pode acontecer.
TENHO QUE ME AFASTAR DELA!
Valentina

18 de dezembro de 2034…

H
oje amanheceu um
dia ensolarado, meu
íntimo está
transbordando de
felicidade. Não que eu esteja deixando isso transparecer para eles
porque o clima ainda está tenso. Ontem meu pai pela primeira vez
quase me bateu.
Estava furioso por eu ter me distanciado dos seguranças, isso
porque tive que ser convincente, então gritei para todo mundo que
estava me sentindo sufocada e por isso escapei para passear
sozinha. Mas quando contei do sequestro comecei a chorar e contei
que não esperava ser sequestrada. Falei para ele que nunca mais
faria algo assim e que foi horrível ser machucada. Dei um abraço
nele e em minha mãe. Isso pareceu tranquilizá-lo.
Mamãe me levou para o quarto e ficamos conversando por
um bom tempo, falou que deu tudo certo, mas contou também dos
seguranças que morreram. Me senti muito mal, mesmo que eles não
fossem homens bons, sei que eles também já mataram pessoas,
mas isso não tira os efeitos colaterais do qual nosso plano causou.
Indiretamente eu matei pessoas, não sou mais inocente.
Mamãe falou também sobre o planejamento do casamento de
Charlotte, sobre danças e degustações. Agora estou planejando
como prosseguir com a segunda parte do plano. Estamos em um
salão de dança renomado, ensaiando para o casamento.
No local está mamãe, tia Katrina, tio Demétrius, Lucca e
papai. Olho para minha mãe de canto de olho. Passo a mão em
meu vestido tentando me acalmar, essa parte é muito importante.
Ontem foi uma parte fundamental, mas hoje irá decidir como será os
outros dias. Mamãe me dá um aceno de cabeça e vai até uma
mesinha, pega uma xícara de café e caminha onde está Charlotte e
tia Katrina. Saio de perto de meu pai e me junto a elas.
— Você acha que o professor de dança vai demorar muito
Katy? — Katrina pergunta enquanto toma um gole de seu chá.
— Acho que não. Nós que estamos adiantados — pega sua
xicara, mas a mesmo acaba escorregando.
— Ahhh!!! — Vejo Charlotte gritar pulando quando o café que
minha mãe deixou cair suja sua roupa.
— Charlotte... — Minha mãe põe a mão na boca assustada
—, a xícara escapou dos meus dedos, alguém ajuda a menina!
Vou para seu lado tentando ajudar, mas ela está pulando com
o líquido quente, deixando todos nervosos, vejo o olhar de minha
mãe e quando Charlotte começa a correr para ir para o banheiro eu
finjo me adiantar e coloco um pé na frente, ela cai com um baque
estridente no chão.
— Charlotte, me perdoa — falo desesperada olhando para
todos com pavor nos olhos. — Eu ia te ajudar a se limpar, mas você
correu ao mesmo tempo, me desculpa...
Ela rola no chão segurando seu joelho.
— Está doendo muito, mãe!!!

Três horas depois estamos todos dentro de casa, Charlotte


está chorando nos braços da mãe, o pé imobilizado. Doutor
Frederick disse que ela sofreu uma torção grave e que teria que
ficar de repouso absoluto se quisesse caminhar no dia do
casamento.
— Mas o que vou fazer, mamãe? Tem tantas coisas que os
noivos têm que fazer juntos, o ensaio da dança, a degustação... —
Cada palavra a fazia chorar mais.
Olhei para todos da sala e abaixei a cabeça, cheguei perto da
cama dela e me ajoelhei.
— Prima me desculpa, eu só queria ajudar — lhe dou um
abraço fraco. — Ainda estou um pouco dolorida, o médico me falou
para repousar, mas como eu que causei esse transtorno então me
deixe remediar. — Olho para tia Katrina e tio Demétrius. — Eu
posso ir no lugar de Charlotte para fazer as coisas, me deixem
ajudar, estou me sentindo tão culpada.
Charlotte está me fuzilando com os olhos.
— Não precisa, eu posso... — tenta falar, mas tia Katrina não
a deixa terminar.
— Maravilhoso, querida, e não precisa se sentir culpada —
sorri e me ajuda a me levantar, me abraça. — Se não for te
atrapalhar, nós adoraríamos, Charlotte tem que descansar bem.
Balanço a cabeça concordando e olho para mamãe, ela sorri
discretamente para mim. Me solto do abraço e falo.
— Então deixa eu cumprir com o compromisso de hoje, Lucca
tem que treinar os passos da dança.
Todos balançam a cabeça concordando e saio do quarto para
buscar Lucca.

Estamos há trinta minutos dançando, o professor de dança é


realmente muito bom, Lucca está me conduzindo com uma leveza
de profissional, até parece que estava mentindo que não sabia
dançar.
— Agora eu quero que você gire com ela pelo salão, depois a
incline e beije seu pescoço. — Olhamos para ele com as
sobrancelhas franzidas. — Vamos, queridos, a Valsa pode ser
sensual também, uma dança de amantes, é o seu casamento!
Então, entendi. Ele pensava que eu era a noiva de Lucca.
Olho para os seguranças, eles fingem que não estão vendo. Será
que mais tarde papai ficará sabendo? Não posso arriscar perder o
plano.
— Eu acho melhor não, Lucca... — Ele me pega forte e nos
move fazendo, os movimentos pelo salão.
— É só uma dança — sorri malicioso. — Não se preocupe,
tomarei cuidado, você ainda deve estar dolorida de ontem.
A sensação de estar em seus braços era muito boa, mesmo
eu estando de salto alto ele era uns bons quinze centímetros mais
alto que eu. Meus seios estão pressionados nele, sinto meus
mamilos endurecerem. Ele me faz sentir coisas que eu não senti
antes, como o calor que está se formando em meu ventre.
Terminamos de rodar pelo salão e ele para. Olho em seus
olhos enquanto me inclina devagar, nossos olhares nunca deixando
um ao outro, seu rosto se aproxima do meu, desvio o olhar para
seus lábios, consigo sentir o hálito de menta saindo de sua boca.
Sinto uma vontade louca de beijá-lo, com sua outra mão ele vira
meu pescoço e beija a pulsação que tem nele. Minhas veias
parecem que estão pegando fogo, minha pulsação forte, seus lábios
em minha pele são suaves e faz um arrepio subir pela minha
espinha.
— Parabéns!!! — Me assusto com a voz do professor, eu
esqueci onde estava ou o que estava fazendo aqui, parecia que
estava em outro lugar, só eu e Lucca.
Me levanto constrangida, Lucca se endireita e não deixo de
notar algo duro cutucando minha barriga. Me afasto embaraçada e
olho para o professor.
— Realmente é um jeito diferente de dançar valsa... — sorrio
e caminho em direção da minha bolsa, a pego e finalmente olho
para Lucca. — Vamos?
Ele me encara e concorda com a cabeça.
— Obrigado pela aula, nós nos veremos em breve — Lucca
fala e saímos do estúdio de dança.
O caminho para casa é desconfortável, dava para cortar com
uma faca de tão denso que estava o ar, paramos o carro em frente à
casa e saio com pressa, espero, mas ele não sai.
— Você não vai entrar para ver Charlotte? — pergunto
baixinho, evitando seu olhar.
— Não irei entrar, amanhã te pego às dez para os
compromissos — fala e dá partida no carro.
Fico olhando-o sair, o plano da mamãe deu certo, mas
acabou acontecendo mais coisas do que previmos, como o fato dele
ficar estranho depois da dança. Balanço a cabeça para tirar essas
coisas da cabeça.
— Se nem eu estou conseguindo digerir o que aconteceu,
que dirá ele...
Charlotte Viniert

19 de dezembro de 2034…

— Charlotte, você não vai causar mais estragos do


que já fez! — Meu pai entra no quarto junto com um dos

seguranças.

Aposto que aquele idiota foi falar com meu pai sobre eu me
levantar.

— Você não percebe, pai? Eu que tenho que estar indo para
esses lugares com Lucca, não Valentina! Ela não é a noiva!
Aquela víbora acha que não sei o que ela quer. Passar um
tempo com meu noivo para fazer com que ele a ame, a possua. Ele
é meu e serei condenada se deixar ela pegar a atenção de mais
alguém para si.
— Se você não for coerente, será uma noiva em uma cadeira
de rodas sendo empurrada para o altar — veio até mim e segurou
em meus braços, me fazendo olhar diretamente em seu rosto. —
Você vai se deitar naquela cama e vai repousar, se eu tiver que vir
aqui novamente para te dar algum sermão eu não pegarei leve.
Ele me olha muito sério, esperando-me concordar, balanço a
cabeça afirmando e me cubro com o lençol. Se dando por satisfeito
meu pai sai do quarto, olho para o segurança em minha porta.
— Saia do meu quarto, seu idiota!
Tudo está dando errado, meu casamento perfeito está sendo
feito e preparado por aquela cobra da Valentina e eu aqui deitada na
cama. O que meu pai poderia fazer comigo? Me bater por eu me
levantar? Eu não vou deixá-la tomar o que é meu!
Me levanto da cama com pressa, mas na hora de tirar o
lençol acabo me enroscando e caio de cara no chão.
— Aí! — Sinto meu pé latejar ainda mais do que antes, eu
não acredito no tamanho do meu azar. — Só pode ser praga
daquela diaba!

Valentina

Tivemos que atrasar nossa partida porque Charlotte se


machucou ainda mais. Tio Demétrius estava furioso e tia Katrina
nervosa. Me encontrei com mamãe em seu quarto mais cedo e ela
me entregou um pote de sonífero, para eu trocar os remédios de dor
de Charlotte por eles. Mas como eu trocaria se ninguém saía da
merda do quarto? Mesmo com a cobra dormindo?
Olho em direção de mamãe e depois olho para o relógio, o
tempo estava passando e logo Lucca estaria aqui. Ela concorda.
— Gente, acho melhor deixá-la dormir, não tem muito o que
fazer nesse momento. — Minha mãe olha para tia Katrina e
Demétrius — Você não tinha que sair com meu marido Demétrius?
E nós temos que escolher as flores Katrina. Vamos, Valentina pode
ficar um pouco com ela até Lucca chegar para levá ‐ la na prova do
vestido — Olha para mim e sorri — ainda bem que as duas tem
praticamente as mesmas medidas, não é? Parece destino.
Sério, eu tenho medo da minha mãe as vezes, ela parece tão
calma enquanto mente para as pessoas que moram embaixo do seu
teto, seus amigos. Será que existe realmente alguém inocente
dentro da Máfia?
Todos concordam e saem do quarto, espero um momento
para ver se ninguém volta e caminho até sua mesinha de cabeceira,
pego o frasco com as capsulas para dor, retiro algumas e
acrescento um pouco das cápsulas de sonífero. Incrível como as
duas são iguais, mamãe é perfeita.
Pensei que ao olhá-la assim, com seu aspecto frágil eu teria
pena, ou arrependimento. Mas não consigo sentir essas coisas por
alguém que sempre fez de tudo para eu me ferrar, nesse aspecto
sinto que puxei meu pai, pois nesse momento se Charlotte morresse
eu dançaria ao redor do seu caixão.

Lucca Martiero

Valentina entrou dentro do vestiário para experimentar o


vestido já tem uns bons vinte minutos, enquanto isso pego meu
celular e repasso algumas instruções para meus empregados, não
gosto de ficar tanto tampo longe dos meus negócios. Mas sei que
para ter o que quero terei que desistir de uma parte do que construí
nas Ilhas Maldivas. O problema é que depois dos últimos
acontecimentos eu já não sei se odeio tanto Valentina Trevizan
como pensava, vê-la ferida naquela noite e depois ontem toda
meiga e delicada fez aflorar em mim um instinto que jurava não
possuir: possessão e proteção. Algo louco de sentir dado ao fato
que eu planejava destruir toda sua família e ela inclusa.
Me incomodo com sua demora e me levanto, caminho até o
vestiário e abro a cortina.
— Valentina, você...
A visão que eu tenho vai ficar em minha mente por muito
tempo. Ela está de costas para mim, com o vestido só até a cintura,
seu sutiã meia taça mal cobre seus seios firmes e empinados, daqui
dá para ver algumas sardas no topo deles. Levanto meu olhar e ela
está me encarando, suas bochechas rosadas.
— Lucca...
Sua voz rouca faz meu pau começar a endurecer. Sem
perceber, quando vejo já estou atrás das suas costas, olho em seus
olhos pelo espelho. Vejo seus seios subir e descer cada vez mais
rápido, pela respiração descompassada. O clima no cubículo
esquenta em níveis cada vez mais alto.
Em um ato impensado coloco minhas mãos em sua cintura e
a puxo para meus braços, sinto-a enrijecer, mas não paro. Aproximo
meu rosto do seu pescoço e mordo-o devagar, lambendo logo em
seguida, ela arfa e tenta se soltar, mas a prendo em meus braços.
— Calma, eu não vou te machucar.
— Alguém pode entrar e...
Não a deixo terminar, calo o que ia falar com minha boca.
Seus lábios eram doces como mel, sua boca suave e pequena me
fazia pensar em várias maneiras de como ela poderia me dar prazer.
Movo minha mão mais para baixo e aperto sua bunda. Ela se
parece tão gostosa com esse vestido que era difícil resistir. Minha
mente se desliga do nosso redor e prenso ela na parede, levantando
um pouco seu vestido e fazendo suas pernas rodear meu quadril.
Flexiono entre suas pernas enquanto intensifico o beijo. Ela
finalmente se rende e retorna com fervor as investidas que dou tanto
com a língua quanto com os quadris.
— Me diz..., se eu colocar minha mão nessa bocetinha, ela
estará pingando por mim? — rosno em seu ouvido.
Aquilo pareceu fazer ela ficar mais excitada pois tirou a boca
da minha e mordeu forte meu pescoço, isso foi inesperado, tanta
ferocidade numa menina tão pequena, me encheu de tesão.
— Provavelmente... — diz e se afasta —, mas tesão não
pode dominar todas as partes de nossas vidas e você se casará
com minha prima — sussurrou e abaixou seu rosto — por favor
Lucca, não piore mais a situação fazendo alguém pegar a gente tão
próximos um do outro, eu sou noiva de outra pessoa e você está
prestes a se casar...
Desenroscou suas pernas de mim e desceu, não olhou para
mim e percebi o que eu estava prestes a fazer. Iria mesmo tirar a
virgindade da filha de Dominic em um vestiário? Passei as mãos
pelos cabelos e saí de lá antes que fizesse alguma besteira. Como
agarrá-la e tacar um foda-se para as consequências.
Essa menina estava arruinando com minha mente.
Valentina

20 de dezembro de 2034…

Lucca estava estranho hoje, em nenhum momento olhou


diretamente em meus olhos. Não sei se é porque tenho o
gênio forte do meu pai, mas eu não gostava de coisas indecisas.
Mas também não posso culpá-lo pois eu fiquei fazendo jogo de
morde e assopra ontem. Tentei puxar assunto para ver se o clima
muda.
— Então..., você já tem uma ideia do que vai querer para
servir no casamento? — Olho para ele, que não desvia o olhar da
estrada, e aperta o volante do carro.
— Não tenho nada em mente, essas coisas quem decidiria é
Charlotte, como ela não está aqui, então você quem vai decidir.
Arqueei as sobrancelhas, ele acha que vou fazer de tudo por
esse casamento? Se ele soubesse que se dependesse de mim, não
haveria nem a festa de noivado...
— Sim, estou aqui para "auxiliar", mas não vou fazer "tudo" —
falo ironicamente. — E Charlotte não vai gostar nem um pouco de
saber que eu escolhi tudo.
Ele suspira e me olha de relance.
— Charlotte não tem que achar nada, se ela quisesse que
fosse do jeito dela não seria tão desastrada a ponto de se machucar
duas vezes.
Por um momento fiquei tentada a defender Charlotte, porque
minha prima poderia ser qualquer coisa, mas se tem algo que não
posso dizer que ela é, é ser desastrada. Aquela garota venceu
campeonatos de corrida, entrou para a equipe de natação, se tornou
uma pessoa competitiva e com o próprio esforço. Mas como sou
quem sou fiquei quieta, não podia esquecer que Charlotte também
era a pessoa que roubou meu diário, que roubou meu plano de fuga
e sempre é a pedra em meu caminho.
— Olha, o lugar que iremos tem uma das melhores comidas
do mundo, um chefe renomado e conhecido internacionalmente. Se
você chegar lá falando que qualquer coisa serve você pode apostar
que Luiggi terá um treco. Você sabe quanto tempo de espera
alguém tem que ficar na fila para ter um jantar em seu restaurante?
Meses, já vi comentários que a espera pode chegar até um ano.
Papai conseguiu isso para Charlotte e ele não vai gostar se você
estragar, e pode apostar. Você não gostaria de ver meu pai com
raiva.
Ele não responde. Chegamos no restaurante e saímos do
carro, quando vou sair ele puxa meu braço, olho por cima do ombro.
— Eu não vou ficar adulando chefe nenhum, claramente a
princesinha nunca passou fome, mas posso te falar porque eu já
passei. Comida é comida e se você estiver com fome comerá até
sopa de pedra. Sobre seu pai, não tenho medo dele, ele pode
amedrontar a todos, mas eu não estou na lista.
Fiquei olhando em seus olhos. Nunca pensei que ele tinha
passado fome, mas novamente o que sei sobre o passado dele.
Percebi agora que não sei nada do homem que quero "roubar" da
minha prima. Também fico chocada pois são poucos que não temem
meu pai, só dele falar para a filha do Capo isso, mostra que ou ele
tem um grande desejo de morte ou realmente não teme o nome que
meu pai formou a quase 30 anos atrás.
Concordo com a cabeça e saio. Na porta um segurança
confirma nossas identidades e nos deixa entrar. Somos atendidos
por uma moça muito simpática, mas que não parava de olhar para
ele.
— Boa tarde, vocês já têm em mente o que querem como
entrada do buffet? — fala olhando diretamente para Lucca, como se
eu não estivesse aqui. Isso me deixa com raiva.
— Então mocinha, pensamos que o chefe Luiggi que nos
atenderia, não você — ela tinha quase a minha idade e eu
chamando-a de mocinha, acho melhor controlar a raiva — mas tudo
bem, nos traga canapés doces e salgados, saladas frias e aquele
frango a Carbonara que é famoso no restaurante. — Ela olha para
Lucca pedindo autorização e isso me deixa com mais raiva — Só
isso por enquanto, pode sair.
Lucca me olha estranho e fico meio insegura, na verdade
toda vez que estou ao seu lado me sinto frágil.
— Por que você sempre tem que tratar as pessoas assim?
Você não acha que deve respeito a elas? — me encara com uma
expressão nada agradável. — Primeiro você tratou mal sua prima
Charlotte, agora você trata mal uma moça que mal conhece?
Fiquei calada, como dizer para ele que nas duas situações
era por ele estar envolvido. Eu pareceria uma boba apaixonada. Me
lembrei de algo.
— Você fala tanto de respeito, mas dias atrás estava trocando
farpas com Pietro, acho meio hipócrita isso — sorrio de lado. —
Aliás, você não conhece Charlotte, mas pelo visto foi o suficiente
para ficar entre as pernas dela.
Na mesma hora que falei me arrependi, que burra iria falar
isso? Eu quero que ele preste atenção em mim e não que fique com
mais raiva e que cimente a opinião sobre mim.
— Quer saber minha opinião? Acho que está com raiva por
eu ter escolhido sua prima quando claramente estava dando em
cima de mim no seu aniversário. — Se inclina na mesa e fala
baixinho. — Me diz, Valentina..., se eu não tivesse saído ontem e
persistido no que estávamos fazendo, você teria deixado, não?
Senhor, sinto que estou vermelha, muito vermelha. Ainda bem
que nessa hora a garçonete aparece e me salva de responder sua
pergunta. Não olho mais para ele enquanto como os primeiros
pratos.
Quando terminei de experimentar não me lembrava do gosto
de nenhum deles, minha mente estava toda ocupada com sua
pergunta. Se ele tivesse insistido eu teria cedido?
— Por favor, nos traga brigadeiro de limão siciliano, tortinhas
de ricota com ganache branco e amargo — falo para a garçonete
que esse tempo todo ficou do nosso lado para nos auxiliar no que
precisarmos.
— Sim, senhorita.
Crio coragem e volto meus olhos para ele, ainda está
comendo sem prestar muita atenção na comida, na verdade seus
olhos estão fixos em mim. Dou um pigarro e pego um pouco de
água. Olho para a taça como se fosse a coisa mais maravilhosa do
mundo inteiro. Minha coragem foi para o espaço. O medo da
pergunta se instalando cada vez mais em meu íntimo.
— Não vai responder minha pergunta? — fala de supetão me
fazendo engasgar com a água.
— Não tenho nada para responder — fujo da indagação, mas
de repente me lembro do que fiz para chegar aqui, quando vou
responder a garçonete chega.
— Aqui, aproveitem — sorri e dessa vez sai.
Mas não queria ficar mais ali, não depois do que tenho para
falar. Me levanto e pego minha bolsa, olho em seus olhos, tomo
coragem e respondo.
— Eu acho que, sim, teria feito sexo com você, teria gostado
provavelmente, mas sabe o quê? Não seria bom para mim, não
sirvo para ser amante de homem nenhum. Eu sou uma Trevizan, ou
sou a única ou não sou nenhuma!
Não espero resposta e saio de lá, espero que não tenha
colocado tudo a perder.
Valentina

21 de dezembro de 2034…

E
u estava cansada de
sempre ser a garota
perfeita, porque eu
não poderia
simplesmente ser uma mulher como as outras? Não coloco a culpa
no meu pai e nem em minha mãe, mas as vezes cansa.
Estou na sala com Pietro, não gosto dele, mas respeito, a
única coisa que me incomoda é o fato dele ficar querendo passar a
mão em mim toda hora. Ele usa sua beleza como arma, acha que
todas as mulheres têm o dever de se submeter ao seu carisma e
beleza.
Se fosse em outro momento da minha vida, se eu não fosse a
pessoa que sou hoje até poderia pensar em ser uma delas. Mas
depois que conheci Lucca Martiero não consigo achar outro homem
bonito. Ontem, quando o deixei no restaurante, me senti poderosa,
algo que eu nunca senti sendo protegida constantemente. Confesso
que me fazer de difícil foi algo que me abalou internamente. Nada
me preparou para sua expressão de deleite, como se esperasse que
eu fosse dar aquela resposta.
O grande problema é meu corpo! Ele não age em
concordância com minha cabeça. Minha mente diz para eu cozinhar
devagar para não queimar os ingredientes, já meu corpo diz para
fazer o mais rápido possível e me deliciar com o sabor. As duas
opções estão erradas, nesse momento tenho que ser fria, calma e
fazer de um jeito que possa usar os dois, unir meu corpo e mente
para terminar com meu plano.
Pietro fala algo e não entendo, então passa a mão em minha
coxa esquerda, arrastando-a devagar. Olho para ele furiosa.
— Você pode por favor tirar suas mãos de mim? — falo
afastando sua mão do meu corpo.
— Calma, eu sou seu noivo, qual problema tem em um
carinho? — Sorri maliciosamente.
Ele só pode estar brincando com minha cara, até dias atrás
eu não falava nem um oi com ele direito, agora o idiota acha que
tem alguma autoridade ou direito de passar a mão em mim?
— Como você mesmo disse, estamos noivos, tem muita
diferença, eu não quero você passando a mão em mim — suspiro e
passo a mão em meus cabelos — eu concordei em ficar com você
aqui para nos conhecermos melhor, não para dar uns amassos no
sofá — o encaro com raiva — e se meu pai descobrir que você anda
passando suas mãos em mim você não vai gostar do que vai
acontecer.
Diferente de Lucca ele ficou branco feito papel quando
ameacei ele. Isso confirmou o que já sabia, ele não serve para mim.
Eu queria alguém que fosse homem, alguém que não tivesse
medo do meu pai, que enfrentasse todos por mim. Alguém que
chegaria e falaria com todas as letras que eu era dele e só dele, que
mais ninguém ficaria comigo além dele. Eu queria alguém que fosse
mais alto que eu, cabelos pretos bagunçados e olhos Verdes da cor
de esmeraldas.
Me desanimo ao pensar que esse alguém no momento está
lá em cima no quarto de Charlotte. Fazendo não sei lá o que.
Ninguém mais ligava deles estarem sozinhos, já fizeram o que não
podia fazer mesmo. Me levanto e vou até o bar.
— Você não tem idade para beber, isso seu pai também não
gostaria — falou se ajeitando no sofá e cruzando as pernas.
Isso me fez rir demais, caí em um ataque de riso histérico que
tive que me controlar para parar.
— Você não acha engraçado? Não ter idade para beber, mas
ter idade para se casar? E ainda por cima se casar com alguém
esnobe, que se acha a última bolacha do pacote, a oitava maravilha
do mundo, o presente que Zeus deixou para os homens? — ainda
com raiva continuei — um homem que acha que todas as mulheres
têm que cair aos seus pés, que são só objetos? Pare de ser "você"
só por um momento!
Isso o deixou com raiva, muita raiva na verdade. Ele se
levantou e veio até mim, sua mandíbula trancada, dava para ver a
raiva em seus olhos. Dei um pequeno passo para trás no intuito de
me afastar e colocar distância entre nós.
— Você vai me respeitar — rosnou apertando meu braço —
no momento você é a princesinha do papai, mas será minha
esposa. Vamos ver se vai continuar com essa língua ferina...
Tento me soltar, mas o aperto está muito forte, olho em seus
olhos começando a ficar com medo. Sua expressão era de alguém
quase no limite da loucura, tento acalmá-lo.
— Pietro você está me machucando... Calma, vamos
conversar — ponho a mão em cima da sua, tentando soltar meu
braço.
— Conversar? Eu não quero conversar com você! Acha que
não notei o jeito que você me trata e o jeito que trata aquele Lucca?
Me acha tão idiota assim ao ponto de achar que sou cego?
Ok, isso está ficando estranho. Nunca tinha visto Pietro desse
jeito antes. Os poucos momentos que conversamos no passado me
deu a impressão dele ser um homem controlado, que sabia
conversar, falar com as pessoas. Um homem culto e de boas
maneiras. Esse Pietro que estava na minha frente era totalmente o
oposto do que eu pensava. O pior é que estava em um cômodo
onde mais cedo dispensei os seguranças por achar que estava
segura, afinal estava em casa.
— Eu não sei do que você está falando Pietro, sugiro que
você me solte e vamos conversar como adultos!
Parece que não resolveu muito porque no momento seguinte
ele estava me agarrando e prensando na parede.

— Vou te mostrar que sou melhor que ele. Que você em mim
você encontrará tudo...
— O que...
Calou o que eu iria falar com sua boca, segurou meu cabelo
com força e forçou sua língua, tranquei meus lábios, mas ele puxou
mais meus cabelos, fazendo eu soltar um grito que foi abafado.
Senti lágrimas se formando em meus olhos. Tentei empurrar e socá-
lo, mas claramente ele era mais forte que eu. Me sentia sem
esperança, insegura. Estava realmente com medo dele.
De repente senti seu corpo ser arrancado de cima de mim.
Caí no chão soluçando, olhei para cima e papai estava lá. Seu rosto
uma máscara de fúria.
— Pelo visto não teremos mais casamento. — Seu sorriso
não era de uma pessoa feliz, mas de alguém demoníaco.
Saiu arrastando Pietro com a ajuda de alguns seguranças, os
gritos do meu ex-noivo davam dó.
— Dominic você não pode fazer isso comigo, não pode!
Vamos conversar!
Papai não estava se importando, nem respondia. Mamãe
chegou no cômodo e me abraçou.
— Calma princesa, acabou, tudo vai ficar bem, venha, vamos
nos sentar.
Me levantei com sua ajuda e fui para o sofá. As lágrimas não
paravam de cair, escutei um barulho e levantei os olhos assustada.
Lucca estava lá olhando para mim, seus olhos estavam gelados,
com um sorriso frio em sua boca. Seguiu para fora, onde papai tinha
levado Pietro.
Não sei o que papai vai fazer com Pietro, mas não tenho um
pingo de dó da sua alma. Mas o que Lucca queria ao ir junto?
Pensando agora como tudo se desenrolou, era para eu me
sentir livre. Mas não me sinto assim. Acho que por medo, pois sei
que não há mais o porquê seguir com o plano. Mas não tem mais
volta para mim. Percebi isso agora. Eu sei o que quero, eu quero
Lucca Martiero.
— Não vamos desistir, mamãe!
Dominic Trevizan

E
stou em meu
escritório resolvendo
assuntos da família,
resolvo olhar nas
câmeras de segurança. Desde que aconteceu a situação com
Charlotte estou mais ligado. Essas coisas não podem acontecer
aqui dentro. Demétrius queria sangue, mas de nada resolveria matar
Lucca Martiero. Pelo menos ele aceitou de pronto casar-se com
Charlotte.
Vou passando as câmeras de segurança, não vendo nada
anormal, mas quando chego na câmera da sala minha visão fica
vermelha, o tique que tenho no olho direito ativa. Me levanto
derrubando a cadeira no processo, saio do escritório com passos
decididos, já fazia tempos que não matava alguém com minhas
próprias mãos.
No meio do caminho encontro com Lucca, mas não paro para
conversar, pego o telefone e ligo para Thomas.
— Gostaria de saber quem foi a porra do idiota que deixou
minha filha sozinha! — falo quase gritando no telefone.
Quando estou chegando na sala os seguranças resolvem
aparecer, atrás deles vem minha esposa e Lucca.
— O que foi Dominic? — Katy pergunta preocupada.
— Agora não, querida. — Vou até a sala e o que vejo faz meu
rosto se contorcer em um sorriso. — Pelo visto, não teremos mais
casamento.
Arranco-o de cima de Valentina, minha filha cai no chão
chorando e aceno para Katy ir até ela.
Saio arrastando Pietro para fora de casa, há muitos anos
prometi para Katy que não traria mais a Máfia para dentro de nossa
casa. Desde então tenho cumprido com minha promessa. Arrasto
ele com a ajuda dos seguranças para o carro. Ponho ele no porta-
malas ainda gritando para eu ouvi-lo. Mas o que eu o vi fazendo
com minha filha não precisava de explicação.
Sento-me no volante e vejo Lucca saindo da casa.
— Vou com vocês — entra no carro do meu lado.
— Você tem certeza de que tem estômago para isso?
— Se vou entrar então tenho que ver essas coisas não? Aliás
Também quero fazer parte disso — fala acenando para a parte de
trás onde Pietro está, dou partida no carro e aceno.
Tenho que concordar que ele tem bolas, se não estivesse
com a filha de meu primo seria um marido a considerar para
Valentina.
Chegamos no local e meus homens retira Pietro do carro
levando para dentro do meu galpão.
— Por favor, Dominic, por favor... Eu não queria fazer aquilo,
por favor — grita desesperado.
Meus homens o prendem suspenso nas correntes que tinha
no teto.
— Antes de eu terminar você irá entender o porquê me
chamam de diabo — seu rosto tem uma mistura de terror e
incredulidade — Você foi mexer com uma das duas pessoas que
significam tudo para mim.
Vou até a mesa com as coisas que uso para torturar, já tinha
um tempo que não pegava nelas. Vejo uma das coisas que mais
gostava, pego o rolo de arame farpado e caminho em sua direção.
Nessas horas deixo tudo de lado, crio uma barreira ao meu redor,
nunca contei isso para minha esposa, mas sentia falta da dor que eu
causava nas pessoas e do sangue em minhas mãos, hoje em dia
deixo essas partes por conta dos meus homens.
Rasgo suas roupas e o deixo exposto, pego o rolo de arame e
começo a enrolar sua perna, as primeiras lâminas deixa fios de
sangue escorrendo e seus gritos irritam meus ouvidos.
— Dominic, eu sou seu sócio! Você não pode fazer isso
comigo! — tenta se soltar das correntes e isso acaba por enterrar
mais fundo as lâminas em sua pele.
— Traga a mesa para perto de mim, Thomas — falo para
meu chefe de segurança enquanto termino de enrolar seu corpo,
Pietro para de se mexer quando percebe que cada movimento
brusco cortava mais sua pele. Quanto Thomas se aproxima com a
mesa, eu sorrio. — Vamos ver agora o quão bom você é em
implorar, vou soltar o vídeo que os seguranças pegaram de você
machucando minha filha, as vezes que ela pediu para você a soltar
será as vezes que vou te cortar.
Ele se apavora e volta a se debater, mas já não estou
prestando atenção, meu foco está todo no vídeo, Valentina pareceu
tão forte, sinto orgulho da minha menina. Quando o vídeo termina,
eu pego o bisturi, mas uma mão toca em meus braços.
— Espera, me deixa fazer isso — Lucca me pede, iria negar,
mas quero ver até onde ele está disposto a ir.
Libero o espaço e o deixo fazer sua cena.

Lucca Martiero
Não sei por que de toda aquela raiva que sinto, tento ao
máximo não demonstrar para Dominic, falei para ele que era para
mostrar que posso fazer parte disso, mas até para mim era uma
mentira. Quero rasgar esse desgraçado de tantas maneiras
possíveis, fazê-lo sentir o desespero que vi nos olhos de Valentina.
Ela me pegou de jeito, de uma maneira que nenhuma outra me
pegou. E isso porque só dei um beijo nela, imagina mais?
Pego o bisturi e faço um trajeto do seu peito até seu umbigo,
seus gritos ficam cada vez mais altos, isso me irrita mais.
— Cala a boca — falo e aperto sua mandíbula, pego um
alicate e aperto sua língua puxando para fora — Vai ficar mais difícil
de falar agora. — Largo sua mandíbula e puxo sua língua com o
alicate, vejo ele se engasgar com o sangue enquanto arranco sua
língua. Seria mais fácil cortar com o bisturi, mas assim ele sofreria
mais.
Me afasto um pouco e vejo o resultado, o sangue agora
escorre pelo seu pescoço, ele está desfalecendo. Jogo sua língua
de lado e pego um pouco de sal, abro sua ferida do peito com o
dedo e ponho sal dentro, isso o faz despertar com gritos. Imagino a
ardência que deve estar causando. Não quero me demorar muito
mais vejo a furadeira no canto e quero experimentar. Pego e ligo,
seus olhos se arregalam e começa a lutar novamente com as
correntes. Faço um furo em seu braço.
— Uhuuuhuuuhuuuuunnuuunn... uhhhhhn — dessa vez seus
gritos são mais baixos, não sei se pela falta de forças ou pela falta
da língua. Mas sei que isso me deixou mais inspirado a prosseguir.
Faço vários furos pelo seu corpo, formando um padrão neles.
As vezes olho em seus olhos e vejo Dominic, fecho os olhos e Pietro
reaparece em minha visão. Toda vez que isso acontece me dá
vontade de furar seus olhos. E é exatamente isso que faço nesse
momento. Pego a furadeira e introduzo a broca em seu olho direito.
Ele se debate e para de se mover, vejo que apressei as coisas
demais e ele está morrendo, antes dele morrer pego o bisturi e o
alicate, levanto seu pau com o alicate e corto com o bisturi.
— Esse foi o seu erro, mexeu com a pessoa errada e pagou o
preço. — Continuei frio enquanto ele grita e solta seu último suspiro.
Coloquei tudo na mesa e me virei, todos estavam olhando
para mim com espanto, menos Dominic. Ele estava sorrindo para
mim.
— Conheço isso, Lucca, mas tome cuidado com que vai fazer
daqui em diante porque não tem volta.
Não respondo, tinha terminado o que vim fazer, saio do
galpão e vou para a casa deles, preciso ver Valentina.
Valentina

22 de dezembro de 2034…

F
ico até tarde
acordada, pensando
no que aconteceu.
Uma verdadeira
reviravolta dos acontecimentos. Me sinto estranha por pensar de
que maneiras papai teria torturado Pietro. Sabe quando você
percebe que não se importa mais com o destino de alguém? Nesse
momento você perde uma parte de você.
Me reviro na cama, o sono não vem de jeito nenhum, me
levanto e abro o frigobar, pego uma água. Se eu tivesse meu diário
ainda, pelo menos teria algo para fazer, como pode você sentir falta
de um objeto? Acho que sinto mais falta porque foi um presente da
minha vó. Não cheguei a conhecê-la pessoalmente, mas mamãe me
falou muito dela, falou que vovó Valentina era uma pessoa
maravilhosa, caridosa. Uma verdadeira guerreira. Falou também
muito da minha outra vó, a mãe dela.
Disse que era uma mulher forte, determinada, que lutou muito
a vida inteira, amou muito sua filha e que amava cuidar da sua casa
e das suas coisas, que se importava muito com sua aparência e
vivia arrumada e comprando coisas para ela. Minha vó Maria era
uma verdadeira acumuladora de roupas, mal comprava uma e já
partia para outra. Queria muito ter conhecido elas, mas ninguém
sabe os quereres do destino. Mamãe diz que um dia todos iríamos
nos encontrar, que a morte não era uma despedida.
Sento-me na cama e ligo a TV. Não sei por que comecei a
pensar nessas coisas logo agora, acho que é porque me sinto
sozinha e confusa.
Ponho em Inuyasha, meu anime preferido, a Kagome é idiota
de ficar correndo atrás do Inuyasha, eu já teria deixado ele todinho
para Kikyou. O cara não esquece da outra que morreu tentando
matá-lo, depois que ela ressuscita com metade da alma de Kagome
ele não perde a oportunidade de correr feito um filhote de cachorro
atrás dela, faz de tudo por ela.
Pensando nisso eu tenho um estalo na mente. Será que
minha situação é parecida? Que eu estou fazendo o mesmo com
Lucca? Ai meu Deus, eu não quero parecer uma louca desesperada
por atenção, que faz de tudo por um homem.
— Prefiro cortar meu pescoço... — resmungo — tenho
motivos para fazer isso...
— E eu prefiro que você não faça isso, é um belo pescoço.
Levo um susto e dou um pulo na cama, Lucca estava dentro
do meu quarto. Como ele entrou e eu não ouvi? Estava tão absorta
assim?
— Já está tarde não? Para você ficar perambulando pela
casa dos outros — olho no relógio e já era 3:00 da madrugada.
Ele fecha a porta e se senta na poltrona do lado da minha
cama, seu rosto não mostra nada.
— Eu queria ver como você está — fala suavemente — pelo
visto não está bem já que está acordada. Quer falar sobre isso?
Fico surpresa com suas palavras, claro que eu esperava isso
da minha família, mas Lucca ainda não faz parte e está preocupado
comigo, isso me deixa muito feliz e estranha.
— Estou tentando assimilar o que aconteceu, mas a culpa foi
minha — abaixo a cabeça envergonhada — meu pai sempre disse
para eu não ficar sozinha com homens, eu desobedeci. —
Pensando nisso olhei para ele — Isso me leva a pensar que você
não deveria estar aqui comigo Lucca, nós temos câmeras de
segurança nos corredores. Eles vão saber que você está aqui.
Tento me levantar, mas ele põe a mão em meu braço.
— Não se Preocupe, eu tenho um bloqueador de sinal. Eles
não vão me ver...
— Por que diabos você anda com um bloqueador de sinal?
Isso é meio bizarro — Franzo arqueio a sobrancelha.
— Um homem na minha idade, com uma conta bancária
razoável não pode ficar sem proteção ou não saber de alguns
truques mocinha — Sorri — mas voltando ao assunto. Você não tem
culpa de nada no que aconteceu ontem, você deveria se sentir
segura em sua casa. O único culpado é ele, mas já pagou por isso.
— O que aconteceu? — perguntei curiosa.
— Eu o matei.
Olho em seus olhos surpresa, a vergonha sendo substituída
por descrença.
— Pensei que tinha sido meu pai. Qual motivo você teria para
matar Pietro?
Ele se levanta e se senta do meu lado da cama.
— Eu poderia falar que ninguém toca no que é meu, mas
você não é minha... Ou, é, Valentina? — pegou em meu queixo e o
levantou um pouco. — Mas sendo sincero comigo. Eu o matei pelo
simples fato de ter tocado em você.
Arfo com a adrenalina percorrendo o meu corpo. Não era
para ele estar falando essas coisas para mim, me fazendo pensar e
sentir coisas proibidas, como, por exemplo, ele em cima de mim e
corpos emaranhados nos lençóis.
Balanço minha cabeça para tirar as imagens, o encaro e o
que vejo lá faz minhas partes íntimas esquentarem, os bicos dos
meus seios endurecem e sinto meu centro ficando úmido. Ele tinha
desejo no olhar, posse.
— Eu não sou sua, Char... — Sou interrompida quando ele
avança e cola nossas bocas, arregalo os olhos surpresa.
Pega meu cabelo com uma das mãos e puxa um pouco
minha cabeça para trás, vai soltando beijos pelo meu rosto até
chegar na curva do meu pescoço.
— Não consigo resistir a você... — fala contra minha pele —
por mais que eu tente é impossível tirá-la da minha cabeça.
Suas palavras tinham um tom desesperado, diferente da
sensação que eu tive com Pietro, com Lucca eu estava pegando
fogo. Em minha mente passava várias coisas que eu queria fazer
com ele. Será que eu deveria? O que aconteceria depois? Será que
ele me veria com outros olhos? Será que iria doer? E se ele não
gostasse? E se eu não gostasse? Tento parar de pensar em coisas
negativas. O que minha sensatez todos esses anos trouxe de bom?
O meu medo do desconhecido me trouxe o que? Pelo menos uma
vez eu queria sentir como era ser insensata, como era ser uma
mulher normal, ficando com um homem normal, sentindo um prazer
que era normal.
Não sou uma criança e tenho guardado meus sentimentos
por muito tempo, esse pode ser o único momento que terei ao seu
lado. Não sei se meu plano vingará no final e se tudo der certo eu
quero saber se não me amarrarei ao homem errado. Não quero
cometer o mesmo erro que muitas mulheres cometem ao se amarrar
com um homem que sequer tocaram uma única vez.
Eu quero Lucca Martiero e eu irei tê-lo, não importa o que irá
acarretar, não importa o preço que terei que pagar. Eu só quero
senti-lo uma vez. Depois lido com as consequências!
Lucca Martiero

N
ão sei o que deu em
mim para vir ao
quarto de Valentina.
Dei uma desculpa de
olhar como ela estava, mas sei que não é isso. Vê-la na cama com
sua camisola minúscula vermelha e seus cabelos bagunçados fez
meu pau latejar em minhas calças. Tentei me segurar, pensar que
algo poderia dar errado, que eu poderia ser pego em flagrante em
seu quarto. Mas a tentação é grande demais.
Agora olhando para seu rosto, seu corpo, estou prestes a
cometer um erro: Sexo com a filha do meu inimigo, minha sobrinha.
No entanto, não me sinto como se estivesse ao ponto de
praticar incesto, não considero Dominic como irmão, nem me
considero como parte da família. A partir do momento que resolvi
colocar o Martiero como meu sobrenome legítimo, eu abandonei
qualquer laço que eu tinha com os Trevizan, só o que quero é
vingança, mas nem isso sei mais, não tenho tanta certeza se quero
a vingança com o que tanto sonhei. Dominic não me pareceu ser o
que Nicolai falava, mas sei que pode parecer uma desculpa
esfarrapada só para tentar apagar o sacrilégio que estou tentado a
fazer. Mas estou disposto a arriscar.
Então quando ela me pergunta o motivo de eu querer matar
Pietro eu só tenho uma resposta.
— Eu poderia falar que ninguém toca no que é meu, mas
você não é minha, ou é Valentina? — pego em seu queixo e levanto
um pouco — Mas sendo sincero comigo e com você. Eu o matei
pelo simples fato dele tocar em você.
Vejo ela arfar com minhas palavras, balança sua cabeça, isso
me esquenta por dentro, ainda mais quando vejo seus picos duros,
o desejo se apossa de mim e acredito que meu olhar reflete isso.
— Eu não sou sua... Char... — a interrompo, não há lugar
para Charlotte aqui, não hoje pelo menos.
Avanço e colo sua boca na minha, pego em seus cabelos
com uma das mãos e puxo um pouco sua cabeça para trás, solto
beijos pelo seu rosto até chegar na curva do seu pescoço. Ela tinha
cheiro de pecado, de tentação. E estou disposto a me deixar levar.
— Não consigo resistir a você... — falo contra sua pele,
dando pequenas mordidas nela — por mais que eu tente é
impossível tirá-la da minha cabeça.
Minhas palavras tinha um tom desesperado, mas nesse
momento não me importava se soaria assim.
Percebi o exato momento que ela desistiu de lutar contra isso.
Seu corpo relaxou. Agarrou meu cabelo e pressionou seu corpo no
meu, suas curvas se moldando com perfeição, como se ela tivesse
sido feita para mim. Minha mente gritava minha... E meu corpo
queria também.
A deitei na cama e fiquei por cima, tão pequena em
comparação com meu 1,90mt, parecia uma boneca de porcelana, só
de pensar no que aquele crápula poderia ter feito com ela meu
corpo endurece. Ela percebe e coloca as duas mãos em meu rosto.
— Ei, aqui é só nós dois — se inclina e morde meu queixo —
deixa o mundo lá fora, eu te quero Lucca, me faça sua...
Com essas palavras meu corpo voltou a se aquecer.
— Sim, minha... Você é minha...
Me levanto um pouco e pego dos dois lados da sua camisola,
ela me olha em expectativa. Uma visão sexy em vermelho. Dou um
puxão e a camisola se rasga, termino de tirá-la e olho seu corpo.
Era uma visão que jamais esquecerei.
— Lucca... — tenta se cobrir, mas afasto suas mãos.
— Não se esconda de mim. — Me inclino e beijo a curva dos
seus seios — estou admirando o que é meu...
Passo a língua entre seus seios e pego um bico em minha
boca, seu gosto é ainda melhor que seu cheiro, ela se contorce em
necessidade.

— Lucca... Por favor... — geme mordendo seus lábios.


Tão gostosa, de um jeito inocente, não sei se ela sabe direito
o que ela está pedindo. Mas quero empurrá-la até os limites.
— O que você quer? — arrasto minha mão pelo seu pescoço
delicado e desço até seus seios, aperto o bico — Você me quer
aqui? — mudo novamente e levo minha mão até seus lábios
enfiando um dedo, ela o chupa — Aqui... — gemo com o gesto
erótico, tiro meu dedo da sua boca não querendo apressar as
coisas, desço minha mão pelo seu corpo e toco sua buceta que está
descoberta — ou aqui — massageio seu clitóris devagar e ela geme
alto.
— Lucca..., eu... eu te quero..., por favor... — geme mais forte
e puxa meu corpo pela camisa colando sua boca na minha. Seu
beijo era desajeitado, mas isso só fez meu pau ficar mais duro, tomo
o comando do beijo mordendo seus lábios enquanto ela se esfrega
em mim.
Levo meu dedo indicador até sua abertura e sondo, tão
fechada. Tenho que lacear para não a machucar. Me afasto e tiro
minha camisa e o restante das roupas. Sinto seu olhar pelo meu
corpo, quando chega em meu membro seus olhos se arregalam.
Sorrio satisfeito.
— Calma, não vou te machucar... — saio da cama, a pego
pelas pernas e arrasto até a beira — Você sentirá só prazer essa
noite princesa...
— Sim... — fala com sua voz inflamada.
Caio de boca em sua buceta, abro seus lábios com meus
dedos e a visão me dá água na boca, rosinha com um pequeno
botão, puxo o capuz e dou uma pequena mordida lambendo logo
em seguida. Ela tenta fechar as pernas, mas não deixo.
— Fica parada, ou você quer que eu pare? — falo contra sua
pele úmida e quente.
Enfio um dedo devagar e suas paredes se fecham ao redor
dele.
— Agora..., por favor..., por favor... — implora, ela agarra os
lençóis, jogando sua cabeça para trás.
Enfio outro dedo e faço leves movimentos enquanto chupo
seu clitóris. Sinto suas paredes se contraírem e sei que ela está
chegando, aumento a velocidade dos meus dedos.
— Goza pra mim, princesa... — enfio outro e chupo seu
clitóris com força. Ela solta um grito que logo cobre com sua mão,
enquanto seu corpo entra em ebulição.
— Ah... Lucca...
Ela é tão linda quando está gozando, sinto-a relaxando,
aproveito seu clímax, e subo em cima dela, encaixando meu
membro em sua entrada. Empurro devagar para não a machucar,
mas ela agarra meus ombros e rodeia suas pernas em minha
cintura, forçando meu comprimento dentro de si, tento parar, mas é
tarde demais, sinto quando seu hímen se rompe. Ela se contraí de
dor, paro e deixo-a se acostumar com o tamanho e a espessura.
Espero um tempo até sentir Valentina relaxando novamente,
volto a me mexer, saio todo de dentro dela e entro em um
movimento longo. Agora sou eu que estou gemendo e tentando me
controlar. Suas paredes são tão apertadas, tão quentes.
— Gostosa pra caralho... — gemo e mordo a curva do seu
ombro, tentando me controlar.
Ela me surpreende quando me acompanha em minhas
investidas, se eu não tivesse sentido seu hímen se romper, poderia
dizer que não era mais virgem. Mas como tudo nela isso também é
natural, ela nasceu para isso. Para ser minha, dar prazer para mim,
só para mim.
Saio de dentro dela e a viro, ela fica de joelhos, aperto sua
bunda e lhe dou um tapa, fazendo-a saltar. Pego em seu quadril e
enrolo seus cabelos em minha mão. Entro nela com um movimento
duro. Ela solta um soluço e continua gemendo.
— Isso Lucca..., mais..., me fode... forte
Sua boca suja foi uma deliciosa surpresa, acelero os
movimentos batendo em sua buceta molhada. Me inclino e mordo
sua orelha, sussurro em seu ouvido.
— Você gosta, não é? De como estou te comendo? — bato
firme nela com cada palavra que falo — do meu pau fodendo com
essa bucetinha... Fala de quem você é... fala a quem você pertence!
— rosno e bato cada vez mais forte e rápido, puxando-a comigo
pelos cabelos, ela se apoia em meu peito enquanto grita o que
quero ouvir.
— Sou sua, toda sua! — beijo sua boca e levo meus dedos
no seu clitóris, sinto minha liberação chegar e acelero meus
movimentos no seu ponto sensível.
— Goza comigo, gostosa...
Suas paredes me apertam, ela rodeia meu pescoço com seus
braços e arranha ele enquanto grita sua liberação, cubro com minha
boca abafando enquanto sinto meu próprio clímax chegar.
Solto ela devagar na cama, ela está com uma expressão
satisfeita, como uma mulher bem comida aparenta. Sorrio satisfeito.
Deito-me do seu lado e rodeio sua cintura com meus braços.
Não falamos nada enquanto nossa respiração vai se
estabilizando, não quero estragar esse momento. Fico assim até
ouvir sua respiração regular. Me mexo com cuidado para não a
acordar e saio da cama me vestindo.
Agora que tudo aconteceu tenho que pensar o que fazer em
seguida, nunca fui de fugir das minhas responsabilidades. Não é
agora que farei.
Valentina

A
cordo e continuo
com os olhos
fechados, com um
sorriso no canto dos
lábios ao lembrar do delicioso sonho que tive com Lucca, me senti
tão bem ao seu lado, como se pertencesse a ele, como se tudo que
eu precisasse estava ali. Abro os olhos devagar e olho ao redor.
— Merda... — Minha cama está uma bagunça, minha
camisola está rasgada na beira da cama, me levanto e corro para o
banheiro. O que vejo faz meus olhos arregalarem. — Minha mãe do
céu... Não foi sonho...
No meu pescoço tinha marcas de barba e na curva do
pescoço uma marca de mordida. Meus olhos estavam brilhantes,
minhas bochechas estão coradas. Parando para focar, percebo
agora que entre minhas pernas está dolorido. Olho para o relógio
que tem no canto do gabinete e arregalo os olhos. Dormi até tarde,
mamãe vai vir a qualquer momento para irmos planejar a cerimônia
de Natal. Corro do quarto e arrumo a bagunça da cama, pego a
camisola e jogo no guarda-roupas.
Escuto passos vindo do corredor, eles param e alguém bate
na porta. Subo na cama e me cubro com a coberta, puxo o cobertor
e cubro totalmente a cabeça.
— Querida, você está atrasada — Mamãe põe a cabeça pela
porta — acorda Valentina, vamos nos atrasar.
Ponho só a cabeça para o lado de fora, e sorrio para ela,
mesmo estando nesse plano juntas não contaria para mamãe de
jeito nenhum sobre a noite de ontem. Tem limites que não podem
ser ultrapassados. Mas pelo menos sei o que devo fazer.
— Trinta minutos e desço mãe — mandei um beijo para ela.
Ela sorri e sai fechando a porta. Espero mais um pouco, me
levanto e escolho um vestido rodado e um sapato boneca, pego
minhas roupas íntimas e vou para o banheiro. Tinha que inventar
algo e ir à farmácia comprar uma pílula do dia seguinte, não usamos
camisinha e não posso me descuidar. Fico muito feliz por mamãe ter
me ensinado tudo quando fiz 12 anos, porque não sei se aguentaria
se tudo isso não desse certo e eu acabasse ficando com um filho
nos braços. Não só por isso claro, mas também pelo fato que não
quero filhos agora, quero estudar primeiro, depois sentar e planejar
um filho com meu marido.
A água batendo em meu corpo estava tão gostosa, ela atingia
pontos onde eu estava dolorida, toco em minha parte íntima para
lavar e lembro do seu membro dentro de mim, massageio meu
clitóris pensando em seus movimentos ontem, sua boca em mim,
suas mãos em meu corpo, puxando meu cabelo, mordendo meu
pescoço. Falando para eu gozar. Acelero os movimentos e chego ao
clímax pensando no jeito que ele me agarrou quando senti sua
liberação dentro de mim e seu grunhido em meu ouvido. Abro os
olhos e me vejo no espelho, não sou mais uma menina, agora sou
uma mulher.
Acho que não sou uma mulher normal, fico mais feliz quando
papai me leva para atirar do que planejando recepções, jantares e
bailes. Era muito chato isso e já estava ficando com raiva de ficar
sentada escolhendo guardanapos e flores, também não estou me
sentindo confortável, estou dolorida em partes muito íntimas e ficar
sentada ereta assim não estava ajudando a aliviar. Acho que
mamãe percebeu, porque desde que cheguei não parava de me
olhar. Fiquei vermelha quando perguntou o porquê de tanta
maquiagem, respondi que estava testando algumas técnicas.
— Eu acho que está muito bom não acha Katy? Já
resolvemos tudo. Se me derem licença vou ver como está minha
filha — Katrina falou e foi embora.
Ficamos só eu e mamãe, se recostou na poltrona e olhou
para os seguranças.
— Nos deixe a sós por favor — sorriu, quando se voltou para
mim não estava mais sorrindo — desembucha Valentina, você
nunca mentiu para mim, vai começar agora?
— Não mamãe... É que é algo particular e...
Ela não me deixou terminar, se levanta e fala indo para mim.
— Não me fale que ver minha filha cheia de maquiagem
porque está cobrindo algo não seja da minha conta. Você sempre
será da minha conta Valentina — se senta e põe a mão em meu
rosto — Ontem ele te machucou mais do que eu pensava?
Quê? Minha mãe está pensando que me cobri de maquiagem
porque Pietro me machucou? Agora era minha decisão, deixava ela
continuar pensando isso ou falava a verdade. O problema é que as
vezes não é tão fácil assim.
— Mamãe... Você não vai ficar brava?
— Se você não me esconder então não terei motivo para ficar
brava — sorriu e pegou um chocolate no potinho da mesa, me
oferecendo também. — Pode me contar filha.
baixei os olhos envergonhada e fiquei torcendo a mão no
colo. Como você fala para sua mãe que você não esperou o plano
acabar e acabou transando com o noivo da sua prima? Ou que você
tem que correr para comprar uma pílula porque se descuidou?
Respiro fundo e começo a falar.
Ao contrário do que pensei mamãe não surtou, não ficou feliz
pulando de alegria, mas também não gritou, mas disse o quanto fui
irresponsável em me deitar com alguém sem camisinha. O que eu
merecia ouvir porque venhamos e convenhamos, as pessoas
esquecem que a camisinha serve para doenças, muitas acham que
filhos são os maiores dos problemas. É porque essas pessoas não
sabem o que é ter HIV, ou sífilis. Quando ia no hospital com minha
mãe eu via o sofrimento das pessoas. Me sentia doente por eles.
Então entenderia se minha mãe tivesse ficado com raiva,
falado da minha irresponsabilidade. Mas como sempre ela me
surpreendeu, me explicou como deveria ser feito que era para meu
bem, e isso fez toda a diferença. Claro que falou também que não
quer que isso aconteça mais, que era para eu esperar o fim de tudo.
Entendo totalmente, se eu tivesse filha faria a mesma coisa, o difícil
é cumprir, principalmente com a química que eu e Lucca temos.
Ela também falou que não precisava ir comprar a pílula
porque ela tinha. Não quis saber dos detalhes, todos sabem como
meus pais são apaixonados.
Meu dia passou rápido, tomei a pílula e ajudei um pouco com
a loja da minha mãe. No almoço não vi Lucca, nem na Janta, a noite
fiquei esperando até tarde. Cansada de esperar acabei pegando no
sono. Mas não sem antes pensar.
“Será que ele se arrependeu?”
Valentina

23 de dezembro de 2034…

H
oje eu tirei o dia para
cuidar de mim. Não
pensar em Lucca,
planos ou problemas
que não posso resolver no momento.
Resolvi passear um pouco por Florença, faz tanto tempo que
não ando pela minha cidade, uma nostalgia me bate ao ver de longe
a Ponte Vecchio com sua estrutura linda e medieval, o rio Arno com
suas lojas de ponta a ponta.
Os guardas estão nas minhas costas, mas os ignoro para
apreciar a beleza a minha volta. Quando eu era pequena mamãe
sempre me trazia aqui para fazer compras e tomar sorvete. Nunca
me cansarei desse lugar.
Vou até minha sorveteria favorita e me sento na mesa de
costume. Vejo muitos turistas indo e vindo com suas câmeras
fotográficas tentando capturar a magia do local com suas lentes. Se
eles soubessem o quanto essas calçadas estão manchadas de
sangue nunca mais pisariam aqui.
Tento não pensar nos problemas de casa, mas como sendo
que faço parte deles?
Paollo, um dos garçons da sorveteria me vê e se apressa
para me atender.
— Olá bambina, como você cresceu, está muito bela — seu
sorriso era contagiante.
— Bom dia Paollo, você não envelheceu nada hein — sorrio
— como está Lolita? Continua te deixando de cabelo em pé?
Ele gargalha até seus olhos começar a lacrimejar, vou no
embalo também.
— Aquela velha um dia me mata, dá para acreditar que ontem
ela colocou o café para esquentar e esqueceu o vidro do fogão
abaixado?
— Nossa, ela poderia ter se machucado muito — falo
preocupada.
— Que nada, acho que nem a morte ia querer aquela
desvairada perto dela.
— Não fala assim, Paollo... — tento dar uma bronca, mas
acabo rindo mais com suas falas engraçadas.
— Mas tudo bem, ela é perfeita para mim. Escute bem minha
filha. Se case com quem te tire o equilíbrio, ninguém merece viver
uma vida pacata e sem graça — Sorri meigo — Eu amo minha
Lolita, ela é o meu motivo de sorrir todos os dias.
Olho em seus olhos e vejo todo o amor que ele sente por ela,
uma pitada de inveja tenta se agarrar em mim. Os dois são casados
a mais de cinquenta anos, dá para ver o amor e companheirismo
que um tem pelo outro. Eu quero isso para mim.
— Vocês são perfeitos — murmuro — dê um beijo nela por
mim.
— Pode deixar. O que vai querer hoje? O mesmo de sempre?
— Claro, não dispenso meu milk-shake de limão siciliana por
nada — digo orgulhosa — ainda mais o melhor milk-shake de todo o
país.
— Assim você me deixa sem graça, querida... — vejo-o ficar
vermelho. — Já trago.
Sai apressado e seguro outra risada. Só agora percebi que há
muito tempo eu não ria com vontade. Algumas horas fora de casa
me fez perceber que existe duas de mim. A Valentina em preto e
branco e sem graça e a Valentina com cores vivas em aquarela,
pronta para voar.
Mas por uma noite senti as duas se misturar, só de pensar na
minha noite com Lucca sinto minha bochecha esquentar. Foi uma
noite inesquecível, pelo menos para mim.
Senhor Paollo volta apressado com meu milk-shake.
— Me desculpe não poder ficar conversando com você minha
bela, mas tenho que ir para a cozinha, Lorenzo aprontou
novamente, quer botar minha cozinha abaixo inventando um novo
tipo de Gellato — fala com pressa — Fique à vontade... Lorenzo!
Não se usa cedro no Gellato bambino infeliz!
Vejo ele sair correndo. Essa família é muito unida e muito
engraçada. Pego dois euros e ponho em cima da mesa, me levanto
e resolvo subir a ponte.
O vento bate em meu rosto, jogando meus cabelos para trás.
É uma sensação tão boa queria poder ser como o vento, livre e sem
amarras.
Chego na ponte e me debruço, o ser humano é ridículo. Um
rio tão bonito e mesmo depois de tantos anos e inovações os
governantes não tomaram vergonha na cara, os rios continuam
poluídos.
Me afasto e sigo o caminho de volta, tomo um gole do milk-
shake e sinto o sabor adocicado do sorvete junto com os doces
azedinhos de limão siciliano.
Fico triste por ter que voltar, amanhã terá a festa de Natal.
Todo mundo fingindo que estão felizes. Pelo menos uma coisa vai
ser boa, Lucca com certeza vai estar lá, vou tirar o sumiço dele a
limpo.
— O que eu estou pensando...
Eu não posso cobrar nada dele, nossa história já está toda
errada. Se quero que meu plano dê certo eu não posso brigar com
ele.
Paro em uma lojinha pequena e vejo algumas lembrancinhas
bonitas, entro e compro para dar de presente para a família. Saio de
lá e vou para o carro.
Tenho que parar de pensar toda hora em Lucca. O certo é a
próxima vez que nos encontrarmos eu o ignorar, fazê-lo sentir tudo
que estou sentindo. Tenho que ser fria e calculista, não é só minha
vida que está na balança, mas também a reputação de minha mãe.
Se alguém descobrir que ela está armando junto comigo, eles vão
cobrar do meu pai uma punição para nós duas.

Chego em casa e vou direto para meu quarto, não estou a fim
de conversar com ninguém. Meu dia foi tão bom para deixar
Charlotte ou tia Katrina estragar com suas falações sobre
casamento.
Entro e tranco a porta para ninguém me perturbar, separo
minha roupa para amanhã e ponho os presentes que comprei no
canto da mesinha para eu embalar de manhã.
Entro no banheiro para me lavar e faço minha higiene
pessoal. Olho para as marcas em meu corpo pelo reflexo, penso em
como ele me apertou e me deu prazer. Desço minhas mãos por
onde as suas mãos passaram, até chegar em minha parte íntima.
Um choque de prazer toma conta de mim quando meus dedos se
esfregam em meu clitóris, sinto minhas dobras molhadas. Gemo
com a sensação que está se formando aos poucos.
Fecho os olhos e imagino que é Lucca me tocando, ele aperta
meus seios e morde meu pescoço, enquanto isso introduz dois
dedos dentro de mim, eu arfo e minhas pernas ameaçam ceder. Me
escoro na parede para me manter firme e esfrego mais rápido meu
clitóris, meus gemidos bastante audíveis agora, me sinto explodir
em um milhão de fragmentos quando o clímax cai sobre mim.
— Lucca!!!
Grito seu nome enquanto subo nas alturas. Depois de um
tempo meu corpo começa a relaxar, sorrio feliz com o orgasmo.
Minhas pernas fraquejam e escorrego pela parede, languida em
meu prazer insano.
Nunca senti esse prazer quando me tocava, sempre foi um
prazer raso, sem adrenalina, também demorava um pouco para
acontecer. Pelo visto até meus orgasmos solitários e insípidos foram
roubados de mim por ele. Será que sempre será assim quando ele
estiver em meus pensamentos? Ou foi só a fantasia de querer ele
aqui me tocando que ocasionou esse orgasmo explosivo?
Ainda bem que as paredes são a prova de som, o grito que
eu dei acordaria os mortos.
Me levanto e lavo a confusão que fiz entre as pernas, me
seco e saio do banheiro. Coloco meu camisão de dormir e vou para
a cama.
Amanhã tenho que acordar com todas as forças intactas,
inclusive a força da mente.
Valentina

24 de dezembro de 2034…

M
inha barriga está
numa ebulição só.
Lucca ainda não
apareceu, ele não
está em casa também. Fiquei com medo de perguntar para alguém
e eles acharem que estou muito interessada nele.
Se eles soubessem da metade da história...
A festa está prestes a começar e ainda estou no quarto
escolhendo a roupa que vou usar. Tinha três opções, um com
lantejoulas douradas, um preto básico com decote de coração, mais
rodado, e um rosa neon bem chamativo. Todos eles até o joelho.
Comprei o Dourado para o ano novo/casamento de Charlotte
quando fosse pôr em prática a última etapa do plano, o preto para a
suposta cerimônia de casamento. Então fico com a última opção,
porque ainda não desisti de tudo. Mesmo sem sinal de Lucca
Tomo banho e coloco o vestido, faço uma chapinha no cabelo
e uma maquiagem básica. Olho para as marcas que estão
desaparecendo e ponho um pouco de base no pescoço e nos
ombros.
— Desgraçado, me marca e depois desaparece...
Quando estou colocando meus saltos ouço uma batida na
porta.
— Senhorita? — ouço uma voz conhecida, franzo o cenho e
vou abrir a porta.
— Oi, Adelaide... — sorrio para a cozinheira, ela nunca vem
aqui.
— Desculpa incomodá-la, senhorita, mas me pediram para te
entregar isso - sorriu tímida.
— Quem? — agora estou curiosa.
— Um Senhor — Sussurra e sai quase correndo.
Olho só por um momento ela correndo e fecho a porta rápido.
Será que era Lucca? Abro o papel e meu sorriso deve estar até a
orelha.

“Me encontre no labirinto de Michelangelo às 00:00”

Me contenho para não sair pulando de felicidade, só pode ser


Lucca, então ele não se esqueceu.
Depois do bilhete volto para o espelho e mudo a maquiagem,
faço uma mais elaborada e ponho meus saltos pretos agulha, um
pouco de perfume e estou pronta e ansiosa para dar 00:00.
A festa está correndo como o planejado, eu amo a época de
Natal, que pena que as pessoas não se importam mais com o
verdadeiro sentido dessa data tão especial. Elas usam qualquer
data comemorativa para beber, encher o bucho e serem hipócritas.
Aqui do canto do salão eu vejo pelo menos quatro mulheres que se
odeiam conversando, todas elas em um relacionamento com o
mesmo homem?
O porquê de aceitarem a situação? Ele tem dinheiro e dá tudo
que elas almejam. Também consigo ver as irmãs Dreidos, elas
fingem que se gostam, mas, na verdade, uma fura o olho da outra
em seus respectivos relacionamentos. Também tem Niklas Seyfrew,
um magnata muito gato que se mudou para a Toscana há pouco
tempo, ele estava fazendo negócios com meu pai, até Senhor
Dominic saber que ele tinha ligações com a máfia Russa. Depois
disso cortou qualquer tipo de relacionamento profissional que
poderiam ter.
A maioria das pessoas desse jantar natalino não passava de
farsantes, eles achavam que poderiam entrar aqui e seriam
privilegiados com a amizade dos Trevizan, o que eles não sabem é
que não temos amigos. Eles são só peças de um jogo de poder,
meros piões que papai manobra com uma sagacidade
surpreendente.
Passo as últimas horas procurando por Lucca, mas não o
encontro em lugar algum, sinto alguém tocar em meu braço e pulo
assustada, é minha mãe.
— Eu tenho que colocar você em um curso de teatro urgente
— ela gargalha debochando da minha cara - você tem que disfarçar,
estava com seu pai e ele me perguntou o que tanto você procurava
pelo salão, tive que dizer que era uma amiga que você tinha
convidado.
Me senti mal por mamãe ter que mentir para meu pai. O
relacionamento deles sempre foi tão aberto, nunca vi uma mentira
sequer entre os dois.
— Desculpa, mamãe... — abracei ela e lhe dei um beijo na
bochecha.
— Não se preocupe querida, tudo vai dar certo e vamos rir
muito disso no futuro — acariciou meu cabelo. — Agora vamos que
já vai dar 00:00.
— Você sabe onde "ele" está? — pergunto baixinho e ela me
olha risonha.
— Falou que foi chamado para comemorar com um dos seus
parceiros de negócios, como ele não é da Família ainda então seu
pai não se importou.
Então era isso, fiquei aliviada. Todos pegaram suas taças de
champanhe e esperaram dar meia noite, quando deu cada um
cumprimentou a pessoa do seu lado e deu feliz Natal. Pulei em cima
do meu pai e minha mãe.
— Feliz Natal, amores da minha vida — beijei a bochecha
deles e abracei bem forte.
Aprendi a apreciar todos os momentos, porque você não sabe
até quando terá as pessoas que ama do seu lado.
— Feliz Natal minha pequena — papai disse e me pegou no
colo, me abraçando forte. — Eu te amo.
Nem dava para acreditar que ele era chefe de uma máfia
nessas horas, mamãe disse que antes que eu nascesse ele era um
homem muito frio e cruel. Olhando-o assim não dava para acredita,
mas nunca desacreditei dela.
— Dá aqui, minha pequena — Mamãe ralhou com meu pai,
ele me desceu e ela me abraçou. — Espero que você consiga tudo
que deseja nesse Natal, meu amor — sussurrou em meu ouvido. —
Feliz Natal, Princesa.
Me sentia a pessoa mais sortuda do mundo, eu tinha
realmente tudo que uma garota poderia desejar, e só tinha a
agradecer a Deus por isso.
— Obrigada Senhor... — murmuro fechando os olhos.
Converso mais um pouco com meus pais e me despeço, falo
que vou dormir. Um dos seguranças está em meu encalço, como
hoje a nossa casa está aberta meu pai não polpa segurança. Chego
em meu quarto e sorrio para Sebastian, o segurança que me vigia
hoje. Ele fica me olhando parada na porta.
— Deseja alguma coisa, senhorita Valentina? — pergunta
solicito.
— Não, só que hoje é Natal e você ainda não foi ver sua
família, não sairei mais do quarto, se você quiser ir embora
comemorar então está livre.
— Tenho ordens para não sair da sua porta de maneira
nenhuma senhorita.
Escuto passos e mamãe e papai aparecerem no corredor
indo para seus quartos, mamãe para e franze as sobrancelhas.
— Não vai comemorar com a família Sebastian?
— Querida ele tem que proteger nossa filha — papai fala
sério e Sebastian abaixa a cabeça.
— Ela está muito protegida Dominic, ele tem família e eles
devem estar esperando-o para comemorar o Natal. — Ela dá um
beijo em papai. — Libere-o, querido, e vamos fazer nossa
comemoração.
Papai ficou sem graça, mas sorriu, com certeza pensando no
que estava prestes a acontecer.
— Está dispensado Sebastian, mas esteja aqui amanhã de
manhã.
— Sim senhor, muito obrigado — agradeceu e saiu quase
correndo do local.
Dei boa noite para meus pais e entrei. Fiquei escorada na
porta até ouvir seus passos se afastando. O quarto deles ficava no
terceiro andar, meu quarto ficava no segundo. Meus tios e Charlotte
tinham seus quartos do outro lado da casa, Lucca estava com eles
também. Nunca parei para pensar no quanto nossa casa era
grande. Parei de pensar nessas coisas e saí do quarto, tive que me
esgueirar pelos cantos e me esconder das câmeras e dos
seguranças. Ainda bem que sabia onde todas elas ficavam, então
foi fácil aproveitar seus pontos cegos, que não eram muitos.
Cheguei no Jardim e entrei no labirinto, quando eu era
pequena brincava de esconde-esconde com mamãe aqui. Era uma
época muito boa, sorri com o pensamento.
Fiquei esperando Lucca no meio do labirinto, ele estava
demorando. Estava começando a me sentir estranha. Sinto uma
presença em minhas costas, quando vou me virar alguém põe a
mão em minha boca. Entro em pânico e tento me debater. Não era
Lucca, sei que não era.
— Quietinha, não vou fazer nada com você — gelo com a voz
que diz em meu ouvido, por que uma pessoa usaria um aparelho
para mudar a voz se não queria fazer mal?
Confirmo com um pequeno movimento de cabeça e a pessoa
tira a mão. Fico parada pois não adiantava nada eu correr, a pessoa
conseguiria facilmente me alcançar, estava com saltos enormes.
— Foi você que mandou o bilhete para mim? — Era melhor ir
para o que importava, não adiantava nada ficar rodeando.
A pessoa se escora nas paredes do labirinto. Não tenho
coragem de me virar totalmente para encarar, mas vi de relance, era
alguém alto, mas quase todos que conheço são pessoas altas, não
dava para perceber se era homem ou mulher por causa das roupas
muito largas e as botas de militar.
— Eu quero ajudar, iria falar com seu pai, mas acho que ele
me mataria antes de contar o que sei. Sua mãe é muito vigiada. Já
você eu consegui te seguir sem seus seguranças umas vezes.
Nossa, por que não dou ouvidos ao meu pai?
Se acontecer alguma coisa comigo hoje papai vai achar o
bilhete no meu quarto, mamãe vai deduzir que foi Lucca, o
segurança que mamãe dispensou iria sofrer as consequências
também. E tudo isso porque fui estúpida. Lucca sequer apareceu
hoje, ele teria assinado o bilhete, não?
Mas não assinou, então não foi ele. Tento parar de tremer e
tomo coragem me virando para encarar o problema. Não serei
covarde, ou pelo menos não demonstrarei.
— O que você tem para me dizer? — pergunto firme.
A pessoa fica alguns segundos sem responder, mas quando
faz sinto arrepios na coluna, mil pensamentos na minha cabeça e
dúvidas começam a surgir.
— Lucca Martiero não é quem vocês pensam que é.
— O que você quer dizer com isso?
Vejo seus olhos brilharem, sinto que a pessoa está sorrindo
por trás do gorro negro.
— Se eu contasse tudo de uma vez não teria graça
bonequinha... — deu risada e se afastou do muro, começou a andar
mais para dentro do labirinto. — Espere mais informações, a
expectativa é o melhor do show.
E com isso sumiu de vista. Agora estava com medo, corri
para casa pensando no que ele disse. Estava com medo de
descobrir que tudo que eu fiz foi um erro.
Valentina

25 de dezembro de 2034…

N
ão sei o que estou
fazendo mais, creio
que o plano que eu e
minha mãe bolamos
não cabe mais aqui, não tem como sequestrar Charlotte e fazê-la
admitir que não era mais virgem sabendo o que sei agora. Faltando
seis dias para seu casamento. O problema? Acho que estou
amando Lucca, mas não sei o que fazer. Não por aquela noite, não
sou tão inocente, é mais profundo. Vejo nele o que falta em mim,
desde a noite do meu aniversário. Quer ver outro problema? Não sei
se o que estou sentindo é tão seguro assim.
Hoje é Natal, dia 25 de dezembro, uma época que era para
ser de felicidade e harmonia, de passar um tempo a mais com quem
nós amamos.
Como se não bastasse o susto de ontem, hoje acordei com
um novo recado da pessoa de ontem.

“Será que só seu pai tem direito a ser Capo?”

Aí podem se perguntar. O que sei disso? Nada! Mas sei que


tem algo a ver com Lucca. Não me sai da cabeça que a pessoa
também disse que Lucca não era quem nós pensávamos que fosse.
Meu coração já doía pelas possibilidades. Será que ele era
algum inimigo? Ou um adúltero com muitas mulheres pelo caminho
tentando dar o golpe na gente? Ou um parente distante querendo
tomar o lugar de papai? Mas meu pai saberia se fosse a última e
penúltima opção. Tenho medo de contar e acabar prejudicando
Lucca sem saber. Não aguentaria ter sangue inocente em minhas
mãos. Também não aguentaria ferir alguém que está se enraizando
em meu coração.
O que posso fazer no momento é tentar investigar, saber o
que essa pessoa quer e tentar estar um passo à frente dela.
Tenho que ir a mais uma aula de dança com Lucca hoje.
Apesar do mesmo não ter me procurado desde o dia 23 eu estou
ansiosa para vê-lo. Me sinto tão idiota por querer estar ao seu lado.
Ao mesmo tempo me sinto no dever de ir ao fundo desse mistério
que ronda minha família no momento. Não posso deixar ninguém
machucar meus pais. Nem que para isso eu tenha que sujar minhas
mãos.
Me arrumo e desço para a sala, me ajeito antes de entrar,
estou nervosa. Respiro fundo e entro com a cabeça erguida. Sinto
uma fisgada no coração ao ver Lucca abraçado com Charlotte no
sofá. Meu olho direito começa com o tique nervoso dele. Tento
aparentar calma quando cumprimento os dois na sala. Minha
vontade? Arrancar os olhos deles.
— Feliz Natal, Charlotte. Feliz Natal, Lucca — coloco meu
sorriso mecânico no rosto.
— Feliz Natal, Valen — Charlote diz irônica.
— Feliz Natal, senhorita Valentina — Lucca diz sério.
Sério que ele só tem isso para me dizer? Penso, mas depois
balanço a cabeça mentalmente, lógico que é só isso, o que eu
esperava que ele dissesse na frente dela? Em todos os casos eu
sou a "OUTRA". caminho para a saída e falo por cima do ombro.
— Te esperarei lá fora, Lucca.

O caminho para o estúdio de dança foi tenso, nenhum dos


dois deu o primeiro passo. Quando a aula começou não foi
diferente, estávamos tão duros que o professor ralhou.
— O que aconteceu com os pés de Valsa de antes? Vamos
queridos, se aproximem mais, Bambino pegue a moça como se
fosse uma amante, Bambina segure o rapaz como se estivesse
prestes a beijá-lo.
Se ele soubesse o quão perto da verdade estava. Fiz o que
pediu e me aproximei mais, pondo às mãos em seus ombros.
— O que aconteceu, Lucca? — sussurrei para o professor
não ouvir. — Você sumiu durante três dias.
Senti seu corpo tencionar enquanto me levava com fluidez
pelo salão. Onde eu estou com a cabeça para ficar pedindo
explicação?
— Saí para cuidar dos meus negócios — falou normal, não se
importando com quem ouvisse —, mas não te devo satisfação
Valentina, nem minha noiva me cobrou, por que você acha que tem
o direito?
Doeu, como se ele estivesse arrancando meu coração. Sinto
as lágrimas querendo sair e paro de dançar.
— Então, vai ser assim? Você vai começar a agir como um
idiota?
— Por que pararam? Não temos muito tempo para ensaiar.
Me virei para o professor com um pedido de desculpas
pronto, mas Lucca se adiantou.
— Você pode nos deixar sozinhos, por favor? — falou frio.
Aquilo estava mais para uma ordem do que para um pedido.
— Sim, sim. Quando terminarem é só me chamar na sala ao
lado. — Saiu apressado do salão.
Quando estávamos sozinhos ele me agarrou pelos cabelos e
inclinou minha cabeça para olhá-lo nos olhos. Meus seguranças
tinham saído para esperar a gente lá fora. Estávamos só nós dois
nesse momento.
— O que você quer de mim, Valentina? Já não dei o que você
queria? — sua voz saiu dura e fria.
— O que eu queria? — Estava começando a ficar com muita
raiva. — Olha aqui, primeiramente solta meu cabelo seu imbecil —
ponho a mão na sua e afasto ele de mim. — Segundo, foi você que
foi me procurar em meu quarto, foi você que começou, e ao
contrário do que você pensa de mim eu não sou nenhuma
vagabunda! Lógico que gostaria de saber para onde você foi, eu
pensei que nós tínhamos algo — me arrependi na mesma hora das
últimas palavras.
Ele passou a mão pelos cabelos, estressado.
— Você percebe o que a gente fez? Como ferramos com
tudo?
Era isso que eu temia, o arrependimento. Eu poderia lidar
com tudo, mas como lutar por uma pessoa arrependida?
— Foi maior que nós dois, mas não se preocupe - levanto
minha cabeça, passando a mão para afastar as lágrimas que tinham
escorrido, meu coração rachando com tudo aquilo. — Não ficarei no
seu caminho tudo bem? Pode ficar sossegado, não sairei
espalhando para ninguém o que aconteceu.
Ele tenta pegar em minha mão, mas o afasto.
— Valentina, me deixa explicar.
— Explicar o que Lucca? Que você tirou minha virgindade e
depois sumiu por três dias? E quando tento saber calmamente o
porquê do sumiço você vem com mil pedras e me joga na cara que
não sou sua noiva para dar satisfação? Eu tenho dezoito anos, sei
que sou nova comparada a você, mas não sou burra e sei quando
parar.
Ele não fala nada, eu também não tenho mais nada a dizer.
Saio de lá rapidamente, não ouço seus passos.
Então esse é o sentimento de ser rejeitada? É simplesmente
horrível.
Lucca Martiero

C
coisas sem acabar estragando ainda mais?
omo consertar as

Vejo Valentina sair da sala, mas não posso arriscar, é melhor assim.
Não posso colocar sua vida em risco. Foi rápido, mas essa menina
fisgou meu coração.
Se ela soubesse o quanto me doía ter que afastá-la, pelo
menos até eu conseguir resolver as coisas.
Tenho que encontrar a pessoa do telefonema. Porque se ela
chegar a Valentina antes de mim eu não sei o que farei.
Todos me chamam de o temido Gangster nas ilhas Maldivas,
mas aqui não sou ninguém. Cheguei à procura de vingança e
descobri ontem que tudo que senti todos esses anos foi uma
mentira. Agora tem alguém que sabe quem sou e está disposto a
me delatar se eu não me afastar de Valentina, a mesma pessoa que
ontem ameaçou matá-la se eu não cumprisse com o combinado. Me
lembrar do jantar que fui obrigado a comparecer me faz trincar os
dentes.
Flashback On

Saio do quarto de Valentina e vou direto para o meu que fica


do outro lado da casa, menti para ela sobre o dispositivo, só precisei
saber o tempo perfeito entre as rotações das câmeras para escapar,
andei observando-as desde que cheguei, foi fácil me aproveitar dos
seus pontos cegos. A primeira coisa que eu faria quando me
casasse com Valentina seria tirar todos esses pontos cegos da
casa. Porque de jeito nenhum eu a deixaria ficar dentro de um lugar
que não fosse 100% seguro.
Como eu disse para ela e não volto atrás do que falo. Ela é
minha, e será com ela que me casarei. Só aceitei me casar com
Charlotte para entrar pela porta da frente e me vingar, porém não
pense que não senti a falta de pureza nela, mas escolhi prosseguir.
O problema é conseguir fazer Charlotte confessar com quem perdeu
a virgindade, mas faria, nem que para isso tivesse que torturá-la.
Nada e nem ninguém me afasta de algo que quero, e Valentina
Trevizan é minha!
Entro no quarto que estou hospedado e vou direto para o
banheiro tomar banho, quando saio meu celular está tocando, pego
e atendo.
— Lucca Martiero falando.
— Eu sei bem quem você é Martiero... Ou seria Trevizan?
Afasto o telefone da orelha e olho o número, não identificado.
— Quem está falando?
Ninguém que eu convivo conhece meu passado e poucas
pessoas tinham meu número, isso só pode significar uma coisa. Fui
descoberto e alguém daqui sabe quem sou.
— Não importa quem sou e sim quem você é e o que fará
para manter Valentina Trevizan segura e seu segredo guardado.
Furioso, esse é o estado em que me encontro, quem me
conhece sabe que não lido muito bem com ameaças.
— Não me sub... — Fui cortado.

— Me encontre para um jantar amanhã na véspera de Natal,


estarei ansioso para te conhecer. Se faltar, ela morre e seu segredo
aparecerá em cada jornal desse país — com sua ameaça feita a
pessoa desligou.
Acabei de ser ameaçado, se fosse pela ameaça de ser
descoberto eu não daria a mínima, mas Valentina estava na jogada.
A pergunta era: Quem saberia que eu estava interessado nela? Ou
que me importava caso algo lhe acontecesse?
Alguns minutos se passaram e recebo uma mensagem de
texto com o endereço do local. Tenho que saber qual passo dar,
porque agora não só a minha vida estava em jogo, mas também a
vida da mulher que está tomando conta do meu coração.

Dia 24 chega e com ele a certeza do que tenho que fazer,


mesmo que no processo tenha que sacrificar o que quero.
Pego as chaves do meu carro, minha pistola e saio. Mais
cedo dei uma desculpa para Dominic sobre ter um jantar com um
cliente, então não poderia participar da ceia de Natal.
Chego no meu destino e desligo o carro, era uma casa
afastada da cidade, isso poderia ser uma emboscada, olho ao redor
e não tinha ninguém. Não irei ganhar nada ficando aqui então saio
do carro e caminho para a frente da casa, antes de chegar no
patamar a porta se abre e um mordomo aparece.
— Senhor Martiero, por aqui. Seu jantar está te esperando.
— Não estou aqui para jantar, quero saber o que a pessoa
que me chamou quer — ele não me responde, apenas se vira e
começa a andar.
Não tenho tempo para perder, apenas quero ouvir o que ele
quer comigo e ir encontrar Valentina na festa, então não me importo
se fui grosso com o mordomo.
Andamos por um corredor longo até pararmos em frente de
uma porta.
— Chegamos senhor, quando terminar te acompanharei até a
saída.
Sem mais uma palavra se vira e vai embora. Não me detenho
mais que o esperado e entro na sala, o que vejo me deixa com cego
de raiva.
A sala não tinha ninguém, nela continha uma mesa com
comida para umas vinte pessoas, mas somente um prato com
talheres e uma cadeira, em frente da mesa um telão que se
acendeu com minha chegada.
— Seja bem bem-vindo, Martiero, fico contente que você
pode vir, mas infelizmente não posso estar presente hoje — a voz
mecânica enche a sala.
— Covarde... — trinco os dentes e me viro para sair, mas a
voz me para.
— Cuidado, você irá gostar de ouvir o que sei. — Sinto um
tom de ameaça em sua voz.
Não gostava de estar em desvantagem, mas se para salvar o
que quero com Valentina eu tivesse que ficar e escutar então isso é
o que farei. Me sento na mesa e espero. Até que ele começa a falar.
— Vamos começar com o que aconteceu anos atrás? Por que
você veio até aqui, Lucca? Quando tinha feito sua vida em outro
lugar? — perguntou.
— Não fui eu que me convidei aqui, então não te responderei
nada. Fale o que você quer comigo ou me deixe em paz.
A voz dá uma risada sarcástica, ainda não conseguia definir
se era de homem ou mulher. Pensei ser um homem que ligou para
mim ontem, mas agora escutando essa voz percebi que estava
usando um dispositivo para mudar sua voz. Fico atento com suas
próximas palavras.
— Sim, sim... Vamos então ao que interessa — fez uma
pausa. — Nicolai mentiu para você. Mas isso você deve ter
começado a perceber. Dominic não sabia da sua existência, ele
também não matou Luke sem motivo, seu pai tentou estuprar a
mulher de Dominic.
Ouvir essas coisas de um estranho me faz sentir ludibriado,
um sentimento de traição. Não tinha por que essa pessoa mentir
para mim, e sabia que Nicolai e Luke não eram santos. O que me
deixa com raiva é saber que todo o Ódio que senti esses anos me
levaram a fazer coisas horríveis, entrei na vida dos Trevizan e
planejei até como matar Valentina. Tudo por sede de uma vingança
que não tem mais fundamento.
— Mas como tudo na vida tem um propósito, receio dizer que
você é somente uma peça de xadrez, nós somos uma equipe bem
planejada, estamos há anos esperando o momento certo para tomar
posse da Máfia Trevizan. Com o seu retorno podemos pôr em
andamento nosso plano — disse a voz. — Temos uma pessoa lá há
anos, mas tudo só irá dar certo com seu casamento com Charlotte
Viniert. Então entenda quando digo que não posso deixar você
estragar tudo não se casando com ela — determinou. — E será o
seguinte: você vai se casar com Charlotte e quando passar um
tempo, matará Dominic Trevizan e Demétrius Viniert, como foi seu
plano desde o começo — acrescentou. — Assim você será Capo e
entregará o comando para nós. Se não fizer isso, sinto informar que
além de ser desmascarado, também sentenciará a mulher que você
gosta. Não se engane, ela não é nada para gente, é só uma peça
em um jogo muito importante. Mas se fizer tudo certo, quando
acabar poderá se livrar de Charlotte e ficar com Valentina Trevizan.
Com isso, a tela apaga e poucos segundos depois ouço a
porta abrir e o mordomo aparece.
— Posso te acompanhar até a saída senhor ou espero você
terminar seu jantar?
— Não, obrigado. Já fiz o que vim fazer aqui.

Flashback Off

Tenho até o casamento para resolver o que fazer, mas


arriscar a vida dela não é uma delas. Então se precisar serei frio,
cruel e tudo que puder para proteger minha mulher, nada irá me
parar. Se for preciso eu contar para Dominic sobre o que está
acontecendo então assim farei.
Cheguei aqui procurando vingança e acabei entrando em
uma rede de mentiras, poder e aquisição. Destruiria Valentina saber
que seu pai está marcado para morrer e sei que ela nunca ficaria
com o homem que o matou. Tenho que usar meus anos no mundo
do crime para descobrir quem é o infiltrado, matá-lo e tentar salvar a
pessoa que jurei matar, isso em menos de seis dias. Se eu quisesse
ter um futuro com Valentina ninguém jamais poderá saber que sou
Lucca Trevizan. Ele tem que morrer para sempre.
Procurei vingança e encontrei o meu veneno, mas ficarei feliz
se ela estiver no fim comigo!
Valentina

26 de dezembro de 2034…

E
stou desesperada, não
sei mais o que fazer,
não posso contar para
minha mãe e nem para
meu pai e ainda acordo com outro bilhete com apenas um nome:
Luke Martiero. Tenho vontade de confrontar Lucca, de perguntar o
que está acontecendo, mas o jeito que ele me tratou ontem me
deixa receosa.
— A vida não poderia ser mais fácil? Por que agora eu tenho
que tomar as decisões difíceis? — olho mais uma vez para os
bilhetes que guardei. — Não posso deixar ninguém encontrar isso...
Rasgo e jogo na privada, fico olhando enquanto a descarga
leva as únicas provas que tenho.
Olho para o relógio e fico assustada com o horário. estava
quase na hora de ir fazer a última prova do vestido e ainda estava
com minha camisola. Não posso perder isso, é o único momento
que tenho para ficar a sós com Lucca e por mais que eu tenha medo
eu farei o que for preciso para descobrir a verdade. Inclusive
interrogá-lo.
Me arrumo rapidamente e de último momento pego a arma
que meu pai me deu de presente no meu aniversário pego um
coldre e coloco nas minhas coxas, encaixando a arma lá. Saio do
quarto. Dessa vez Lucca está sozinho no sofá, saio de casa sem
falar nada, entro no seu carro e espero. Torço minhas mãos em meu
colo quando ele entra e dá partida.
— Boa tarde Valentina — dessa vez sua voz está doce e isso
me confunde.
Espero ele se afastar de casa e tomo coragem para enfrentar
a situação.
— Preciso falar com você — ele me olha e assente com a
cabeça — agora Lucca, sem ninguém por perto.
— Valentina não pode... — tenta argumentar, mas o corto.
— Quem é Você Lucca? E o que quer com minha família?
Ele se vira novamente para mim, dessa vez com um olhar
triste.
— Ele chegou até você... — tinha um tom de tristeza em sua
voz que me fez pensar que realmente ele sentia algo.
— Lucca eu preciso saber a verdade entende?
Ele para o carro no acostamento e me puxa para seus braços,
beijando o topo da minha cabeça.
— Ele te machucou? — sussurrou.
O que era tão aterrorizante que fez Lucca ter medo de alguém
me machucar? O que o passado dele tem de tão amedrontador?
— Lucca você está me assustando, você precisa de ajuda? -
me afasto um pouco e beijo seu queixo. — Me deixa te ajudar, você
está correndo perigo? Se for isso talvez meu pai possa te ajudar e...
— Ele corta minhas palavras com sua boca.
Seu beijo é desesperado, como se fosse a última vez que nos
veríamos, que nos beijaríamos. Quando terminamos ele me afasta
um pouco e acaricia meu rosto. Ele está tão diferente de uns dias
atrás.
— Acho que nunca foi para ser. — Me afastou e se endireitou
no banco, olhando para frente. — Talvez, depois do que eu te contar
não vai fazer muita diferença mesmo, você vai me odiar.
O que ele tinha para me contar ao ponto de fazê-lo pensar
que eu o odiaria? Era tão grave assim?
— Me conta e veremos, que tal? — tentei tranquilizá-lo, mas a
quem eu estava tentando enganar? Nem eu estava tranquila com
esses acontecimentos.
— Vou contar o que interessa no momento — faz uma pausa,
acho que procurando palavras. — Não foi acidental eu ter salvado
sua mãe naquele dia Valentina, eu planejei tudo nos mínimos
detalhes para conseguir entrar na sua família, planejei me casar
com você, depois mudei de planos e fiquei com Charlotte, meu
plano era me casar com ela, esperar um tempo e matar sua família.
Cada palavra que ele falava era como se enfiasse um punhal
em mim, me sentia tão traída, tão idiota.
— Como você po... — me corta novamente.
— Deixa eu terminar tudo bem? Depois pode me falar o que
quiser.
O que tinha para ser falado mais? Ele acabou de falar que
seu plano era matar toda a minha família... Inclusive a mim. Mas
tento me controlar até que consigo, não ouso olhar para ele
novamente, viro meu rosto para a janela observando a paisagem lá
fora.
— Fale.
— Eu queria vingança por seu pai ter matado o meu, não meu
pai verdadeiro, mas o que eu considerava como tal, seu nome era
Luke Martiero. Eu morava na sua propriedade, na casa que fica
atrás da sua, vivíamos bem até que um dia Nicolai veio e disse que
Dominic tinha matado Luke friamente, porque tentou falar quem eu
era. Nicolai me falou para fugir e nunca mais voltar, porque Dominic
sabia quem eu era e estava vindo me matar. Eu tinha 13 anos, mal
sabia me sustentar sozinho, mas tive que fugir por causa de um
homem ganancioso. Passei anos planejando minha vingança, mas
agora que posso me vingar eu percebi que não era nada daquilo
que me contaram. Que eu fui um pião nas mãos daqueles dois.
Percebi que seu pai não é o que pintaram e descobri algo mais.
Com as últimas palavras, volto minha cabeça novamente em
sua direção, estou tão abalada com o que me disse, queria acreditar
que não era verdade, porque se fosse, então como tudo isso
poderia dar certo?
— O que você descobriu? — sussurrei.
— Não posso destruir a família da mulher que amo — olhou
em meus olhos, sua voz continha uma emoção que estava
querendo derreter a barreira que eu forcei em meu coração ontem.
— Mas não está mais em minhas mãos porque uma pessoa entrou
em contato comigo ameaçando contar meu segredo se eu não
fizesse como planejei. Entretanto, isso não é com o que estou
preocupado.
— Lucca...
— Eles falaram que vão matá-la, Valentina. Você quer que eu
escolha seu pai ao invés de você? Eu tive que me afastar, tenho que
pensar em algo para parar isso. Eles têm um infiltrado dentro da
Máfia do seu pai!
— Mas porque de tanto medo Lucca? O que você está
escondendo de todos que não pode contar isso para meu pai? Por
que a pessoa de ontem disse que meu pai não é o único que pode
ser Capo? — gritei com o desespero ameaçando me dominar.
Se passou alguns segundos sem ele falar nada, até que o
que disse me jogou em um poço fundo, onde não sei se poderei
subir sem ajuda.
— Sou filho de Nicolai Trevizan, irmão de Dominic — dessa
vez no seu olhar tinha um brilho pesaroso. — Seu tio.
Valentina

27 de dezembro de 2034…

C
omo tudo de repente
deu errado? Com
certeza em outra
vida eu joguei pedra
na cruz ou matei bebezinhos. Porque está sendo um azar atrás do
outro, uma pedrada atrás da outra. Primeiro Charlotte me rouba,
depois fico noiva e agora descubro que o homem que comecei a
amar não é nada mais e nada menos que meu tio. Tenho até ânsia
de vomito ao pensar nessa palavra. Não sentia nenhum sentimento
fraternal por ele, mas o que essa informação pode mudar em
nossas vidas? Ele com certeza não me vê como sobrinha e eu
agradeço por isso.
O que farei com essa informação é que é complicado. Ontem
quando ele me contou fiquei sem reação, preferi ficar calada do que
fazer algo que possa me arrepender depois. Ele também preferiu
deixar em off, a única coisa que eu disse era que precisava pensar.
Paro na porta do escritório do meu pai pela quarta vez,
levanto a mão para bater. O que será que ele fará com Lucca?
Estou entre a cruz e a espada. Se eu contar para meu pai Lucca
pode morrer, mas se eu não contar meu pai também.
Respiro fundo e bato na porta, ponho a cabeça para dentro e
papai está em sua mesa mexendo em uns papéis.
— Posso entrar, pai?
Ele sorri e aponta para a cadeira
— Claro princesa, você sempre será bem-vinda — quando eu
sento ele se inclina e me dá um beijo no rosto.
— Como você está? — pergunta preocupado.
Deve estar falando do acontecimento com Pietro.
— Estou bem, não se preocupe — sorrio tímida.
Ele me observa por um momento e volta a fazer suas coisas.
— Você gostaria de conversar sobre alguma coisa comigo?
— me olha novamente.
É agora, tento pensar em algo para dizer, mas nada sai.
Então percebi que não podia fazer isso com nenhum dos dois. Perdi
a coragem porque mesmo sabendo que Lucca é meu tio eu não o
vejo assim e agora sabendo disso tenho certeza dos meus
sentimentos.
Irei arrumar um jeito de arrumar essa bagunça, mas não
sacrificarei nenhum dos homens da minha vida. Pensando nisso me
levantei, dei a volta na mesa e o abracei.
— Só vim ver se você precisava de algo, você anda tão
ocupado ultimamente. — Me afasto e te dou um beijo na testa.
Ele suspira e coça a cabeça como se estivesse pensando.
— Estou para anunciar algo que vai mudar o futuro da nossa
família, mas acho que é para melhor. Mas você saberá amanhã ou
depois — sorri e volta a escrever. — Agora vá fazer alguma coisa de
menina e deixe seu pai trabalhar.
Levanto as mãos para cima de brincadeira e fui até a porta.
Acho que ele não percebeu e de uma certa forma fico feliz de não
trazer mais uma preocupação para ele. Eu e Lucca podemos
resolver isso. Pensando nisso vou furtivamente até seu quarto.
Quando chego na frente da sua porta me bate uma
insegurança. Bato ou entro sem bater? Também não posso ficar me
demorando no corredor então abro a porta e fecho logo em seguida,
quando me viro vejo Lucca saindo do banheiro.
Seu cabelo ainda está pingando do banho, ele olha para mim
surpreso pela minha presença em seu quarto. Enquanto isso eu
passo os olhos em seu corpo, seu abdômen definido e seu caminho
da felicidade sendo parcialmente coberto pela toalha, acho que
estou de boca meio aberta. Volto a olhar em seu rosto.
— Valentina, o que você está fazendo aqui? — pergunta
sério.
O que estou fazendo aqui? Não me lembro mais, mas sei o
que quero fazer nesse momento.
Caminho em sua direção não cortando nosso olhar, paro a
centímetros de distância e sussurro.
— Eu só queria te ver... — Não precisei mais de palavras, eu
o queria, pelo menos mais uma vez queria sentir seu gosto.
Me inclino e rodeio seu pescoço com meus braços, colando
seu corpo ao meu. Ele tenta me parar dizendo.
— Você tem certeza do que está fazendo? — aperta minha
cintura — porque quando começarmos, eu não vou parar.
Não respondi com palavras, meus lábios disseram tudo o que
eu queria dizer. Ele era meu e eu era dele. Nosso beijo começou
com urgência, ele me levantou e rodeou sua cintura com minhas
pernas, me encostou na parede e moeu sua cintura em mim. A
sensação do seu membro esfregando em minha parte íntima me fez
gemer em sua boca.
— Última chance de escapar pequena... — gemeu em meu
ouvido.
Mas quem disse que eu queria escapar?
— Tenho que contar algo... — sussurrei em seu ouvido. —
Estou sem calcinha.
Bati o martelo da minha sentença, ele levantou meu vestido e
tocou em minha buceta, estava tão molhada, ela estava carente do
seu toque como eu.
Puxou a toalha de sua cintura e senti seu membro duro bater
em minha bunda. Se afastou um pouco e parou na minha abertura,
com um movimento duro estava todo dentro de mim, arfei de
surpresa e a pontada de dor misturada com prazer que passou pelo
meu corpo. Para não gritar mordi seu ombro.
— Pensei que era minha imaginação... — falou enquanto saia
todo dentro de mim e voltava com tudo —, mas você é ainda mais
gostosa do que me lembro.
Depois disso não precisamos mais de palavras, minhas
costas batiam na parede com os impulsos de suas batidas, sentia o
calor e a euforia crescer, meus gemidos foi ficando cada vez mais
desesperados conforme ele aumentava o ritmo.
— Lucca eu vou... — e veio, bateu em mim e me senti como
fogos de artifícios.
Gozei duro, gritando seu nome. Ainda bem que as paredes
dos quartos era a prova de som. Ele segurou firme minha bunda e
aumentou mais ainda o ritmo, fazendo com que eu sentisse um
segundo orgasmo vindo, seu pau martelando meu ponto G
repetidamente. Dessa vez Lucca veio comigo e nos beijamos em um
beijo profundo até nos acalmarmos.
— Valentina...
— Lucca, não vamos estragar o momento tudo bem —
seguro seu rosto e lhe dou um beijo no nariz. — Eu me sinto tão
bem nos seus braços — sorrio.
Ele me encara apenas por um momento, mas depois me
abraça.
— Se você soubesse o quanto se tornou importante para
mim...
Sorri com essa declaração. Não era um eu te amo, mas era
quase isso.
— Se for o tanto que você é importante para mim, então eu
sei...
E é isso, por hoje eu só queria fingir que não tem uma
guilhotina em nossas cabeças.
Valentina

28 de dezembro de 2034…

P ulo da cama me
sentindo nas nuvens,
ontem fiquei até às 20h no quarto de Lucca, que era a hora que as
câmeras dos corredores eram ligadas.
Conversamos de tudo um pouco, ele me contou sobre a
infância dele e sobre sua vida adulta, também contei da minha vida
e como passei grande parte dela. Por trás daquele homem
sarcástico ele era um menino desprezado que só queria amor, mas
a vida só lhe trouxe dor. Se dependesse de mim ele nunca mais se
sentiria sozinho, eu estaria ali por ele.
Nós conversamos também sobre a pessoa que está
chantageando Lucca e mandando recados para mim. Infelizmente
não tenho ninguém em mente. Não entra na minha cabeça que
alguém de casa possa estar envolvido nisso, a maioria deles eram
grandes amigos dos meus pais e me viram nascer. Mas Lucca me
falou que o mundo do crime não existe isso. Que aquela pessoa que
jura ser seu amigo hoje pode ser o mesmo a atirar nas suas costas
amanhã. Mesmo assim não quero acreditar nisso.

Agora estou me arrumando porque meu pai quer me ver em


seu escritório, espero que não seja nada sério. Amanhã é a "festa"
de noivado de Charlotte e Lucca, nós planejamos não fazer nada
até ter um plano, afinal tinha muitas vidas em jogo. Então ele iria
fazer seu papel de noivo comprometido e principalmente ficar longe
de mim.
Não gosto dessa ideia, mas é a melhor no momento.
Coloco uma calça legging que meu pai pediu, um blusão até o
meio das coxas e prendo meu cabelo em um rabo de cavalo. Me
olho mais uma vez no espelho e saio do quarto.
Quando entro em seu escritório me surpreendo com as
pessoas que estão lá. Thomas o chefe de segurança e amigo de
mamãe, tio Demétrius, os homens de confiança de papai, Paolo
Guerrin e Geovanne Luzzo. Mas o que mais me deixa com uma
sensação de que algo está acontecendo é que Niklas Seyfrew
também está aqui. Pensei que meu pai tinha cortado ligações com
ele depois de saber da sua ligação com a máfia Russa.
— Bom dia Senhores, bom dia pai — sorrio para ele.
— Querida sente-se por favor — ele fala e me sento, mas me
sinto agoniada com todos eles em pé e me levanto.
— Estou muito bem em pé, mas se vocês se sentarem eu me
sento — falo firme, os homens do meu pai dão uma risadinha que
logo é cortada com o olhar de Thomas.
— Não falei para vocês? Ela tem o gênio da mãe - meu pai dá
risada e fico surpresa, ele nunca se mostra assim na frente dos
outros.
— Você tem razão Dominic — Seyfrew fala olhando
atentamente para mim.
O clima estava muito esquisito, fico olhando de um para outro
até que me canso das trocas de olhares.
— Sabe, não está muito agradável aqui... — falo ironicamente
— se o senhor puder me falar o que está acontecendo eu
agradeceria papai.
Ainda esperam um tempo, acho que para testar minha
paciência. Até que meu pai se senta em sua cadeira e os outros
fazem o mesmo.
— Como você bem sabe eu planejava casar você com
alguém para quando me aposentasse tivesse um novo Capo.
Infelizmente aconteceu aquele imprevisto — trincou os dentes nas
últimas falas.
Eu não sei em que ponto ele queria chegar, mas aí me veio o
porquê ter todos eles ali e Nicklas.
— Você não espera que eu me case com ele né? Me
desculpe, mas dessa vez prefiro ir para um convento. Escuta aqui
Dominic Trevizan eu não sou uma mercadoria para ser comprada,
trocada e empurrada de um lado para outro! — sei que não deveria
estar gritando com ele, principalmente na frente dos outros, mas não
suportaria outro noivado por interesses.
Meu pai se levanta e bate na mesa.
— Você vai se sentar e ouvir até o fim Valentina e não
esqueça com quem você está falando.
Isso me magoou, mas não deixei eles notarem, ergui meu
queixo e o encarei.
— Estou ouvindo.
— Mas percebi que não precisava disso, porque tenho meu
herdeiro, já tenho meu Capo, ou melhor dizendo a Capo — sorriu e
me olhou com afeto — Os tempos mudaram e sua mãe me fez ver
que não há nada que um homem possa fazer que uma mulher
também não possa. Então decidi que você será a próxima da linha
de sucessão e anunciarei amanhã. Claro que você terá que treinar
muito pois não te ensinei desde cedo. Mas confio em você e esses
homens estão aqui para ensinar tudo que você precisa.
Eu nunca imaginei que fosse algo assim. Eu Valentina
Trevizan Chefe da Máfia italiana?
— Tenho alguma opinião nisso? — pergunto já sabendo a
resposta.
— Não. É assim ou se cas... — Não o deixo terminar.
— Quando começamos o treinamento? — falo apressada
com medo dele mudar de ideia. Todos caem na risada.

Quebrada, eu me pareço com uma boneca de porcelana


remendada. Passei duas horas com tio Demétrius me ensinando a
lutar, depois mais uma hora no clube de tiro com Thomas me
ensinando a atirar. Depois Niklas me ensinou um pouco sobre as
máfias rivais e sobre minha própria máfia. Confesso que ainda me
sentia estranha com a palavra “minha”. Paolo e Geovanne me
ensinaram a pilotar, dirigir e como atirar em um carro para fazê-lo
perder o controle.
Nunca pensei que seria tão difícil, meu pai tinha listas de
juízes, policiais, políticos, atores, empresários. Ele tinha todo mundo
no bolso, até padres. Me deixava apavorada pensar que em breve
eu comandaria tudo sozinha sem ninguém para me dizer que eu
estava errada. Ter todas as decisões em minhas mãos. Agora sei
por que papai está sempre tão concentrado.
Ainda tenho muito a aprender, mas pelo menos meu pai me
deu o mesmo prazo que era para eu me casar, três anos.
Isso tanto me tranquiliza como me apavora. Mas tudo é
melhor do que me casar por conveniência.
Em breve não serei mais a princesinha da Máfia, serei Maria
Valentina Trevizan, A chefe da Família, a Capo!
Valentina

29 de dezembro de 2034…

O tempo está bom,


bem que eu queria
que estivesse
chovendo. Charlotte decidiu que o jantar ficaria mais alegre feito lá
fora. Não consegui falar com Lucca ontem e nem hoje, e já está
perto de começar o noivado. Não queria que ele soubesse das
"novidades" pela boca de mais ninguém além da minha.
Com a decisão de papai a Máfia tomaria um novo rumo, mas
também teria muita oposição, fora o fato que a pessoa que está nos
ameaçando voltaria suas forças totalmente em minha direção.
Começo a achar que deveria ter contato para as pessoas daquela
sala pelo menos sobre as ameaças contra mim, sem expor Lucca,
mas agora é tarde demais.
Ponho um vestido preto e meu coldre nas coxas. Falaram
para eu nunca mais sair sem uma arma, minha vida agora seria
triplamente cercada de perigos. Faço um Coque frouxo com alguns
fios se soltando na frente e termino a produção com um batom rosa
claro e brincos de diamantes em formato de coração. Me olho no
espelho e pareço uma menina.
— Imagem errada...
Tiro o batom rosa e ponho um vermelho sangue, uma sombra
escura e brincos grandes de esmeralda. Me olho novamente e
agora estou satisfeita. Vejo uma mulher confiante olhando para mim,
uma que é capaz de encarar tudo e todos, só não posso deixar essa
máscara cair hoje.
Coloco meus saltos vermelhos e saio do quarto, esbarro em
alguém e quase caio, mas sinto braços fortes me segurando.
Conhecendo bem esse cheiro inspiro fundo.
— Você não acha melhor me agarrar em outro lugar? —
Lucca brinca baixinho.
Sorrio e me endireito, olho ao redor e não vejo ninguém.
— Agora são que horas? — pergunto baixinho. — Ele me
encara com cara de safado.
— Às 19:30... — fala.
Seguro em sua lapela e roubo um beijo, ficamos nos beijando
por um tempo até me afastar relutante.
— Ainda bem que as câmeras só funcionam às 20h. — Limpo
sua boca com meus dedos. — Acho melhor você ir limpar esse
batom senhor Martiero, não queremos ter uma noiva revoltada em
seu noivado — falo maliciosamente.
— E eu acho melhor você retocar seu batom, senhorita
Trevizan, não queremos ver comentários do porquê você está com a
aparência de que foi beijada... — fala acariciando meus lábios. —
Seu pai pediu para eu te chamar, todos os convidados já chegaram
e ele disse que vocês tinham que comunicar algo.
Quando ele fala isso me lembro que tenho que falar para ele
ainda.
— Tenho que te contar algo... — ele me corta com um
selinho.
— Mais tarde, agora vá se arrumar. — Me vira e dá um tapa
em minha bunda. Dou risada e entro.
Quando saio novamente ele não está mais lá. Vou para a
festa. Ela está agitada. Todos ligados a família estão ali, meus pais
estão na mesa deles na parte da frente do salão, onde um palco
com uma banda em cima está tocando. Do outro lado do palco está
meus tios e os noivos, Lucca está olhando para mim, dou um meio
sorriso e ando em direção dos meus pais.
— Você acha mesmo uma boa ideia fazer isso hoje, papai? —
sussurro em seu ouvido. — Estamos ao ar livre, se quiserem fazer
algo?
— Você está preocupada demais, Valentina, é um anúncio e
eles sabem que se fizerem algo não sairão daqui. Olha para a torre
no meio do labirinto, discretamente.
Finjo olhar algo na mesa e volto minha visão como se ao
acaso para a direção que ele me mostrou. Quem olhar de relance
não verá, mas vi uma luzinha vermelha.
— Tem um franco atirador lá? — falei mais baixo ainda.
Ele não respondeu, só confirmou com a cabeça.
A expectativa cada vez me fazia mexer mais ainda na
cadeira. Meu pai estava sorrindo de canto e mamãe estava
beliscando-o para parar. Até que ele finalmente se levantou e
estendeu sua mão para mim. Me levantei e aceitei. Caminhamos até
o palco com Thomas e tio Demétrius nos franqueando. Todos
pararam de dançar e conversar para o ouvir falar.
— Boa noite, caros amigos. Primeiramente, gostaria de
felicitar os noivos por essa data importante em suas vidas, espero
que seja um casamento bem-sucedido — falou firme e com voz de
comando, minha vontade era de falar que não ia acontecer mesmo,
não comigo aqui, mas me calei. Ele continuou. — Como todos
sabem, estou à procura do próximo Capo, mas minha busca
terminou. Estamos em novos tempos e não devemos nos prender
ao passado. — Deu de ombros e sorriu. — Enfim, venho comunicar
que daqui três anos, minha filha Valentina se tornará a chefe da
Família e a nova Capo da organização. Até lá, a treinarei para isso.
Acho que dava para ouvir o som de uma agulha caso caísse,
mas foi por pouco tempo, começou as interrogações e as
acusações, chefes de outras famílias falando que seus filhos
deveriam ser Capo e não uma mulher. Ficou assim até que meu pai,
cansado, tirou sua arma e atirou para cima, olhou para mim,
esperando.
Tomei fôlego e olhei para onde Lucca estava. Ele não estava
com uma cara muito boa, tentei pedir desculpas com o olhar, mas
não sei se surtiu efeito, já que resolveu sair de lá. Olhei para a
multidão e fiz o que tinha que fazer.
— Espero trabalharmos bem juntos e que não haja mais
conversas sexistas novamente. Não são os filhos de vocês quem
têm direito aqui, sou eu, e não aceitarei insubordinação, mas...
— Valentina, cuidado! — olho em direção da voz e Lucca está
abrindo espaço, vindo em minha direção.
Olho para onde ele estava olhando e vejo uma pessoa com
um gorro escuro sair do labirinto e apontar uma arma para mim, vi a
luz vermelha em sua cabeça, mas não foi rápida o suficiente, o
atirador disparou e senti alguém me empurrar para o lado.
Caio do palco com a força do empurrão, olho para onde o
atirador estava e ele estava caído no chão. O Franco atirador tinha o
abatido, mas não a tempo.
Corro novamente para o palco e o que vejo faz meus olhos
lacrimejarem. Mamãe está no chão chorando, enquanto tio
Demétrius afasta todos de cima do corpo.
Chego perto dele e ainda está vivo. Fala tão baixo, que
apenas mamãe e eu escutamos.
— Eu te amo, querida, sempre te amei e sempre vou te
amar...
E com seu último suspiro, ele nos deixa.
Essa família nunca mais seria a mesma sem ele.
Valentina

30 de Dezembro de 2034…

H
oje o dia amanheceu
nublado, acho que
até o tempo não
gostou da reviravolta
dos acontecimentos. Mamãe está inconsolável, na verdade todos
estamos.
No caminho para o enterro ninguém falou sobre o ocorrido.
Todos pensam que foi a oposição que fez o atentado contra a minha
vida. Isso me faz sentir tão mal.
Hoje quando fui ao quarto de Lucca desabei em seus braços.
Não era para nada disso acontecer, estava tudo errado. Era como
se eu o tivesse matado e nunca iria me perdoar por isso.
Saio do carro e pego na mão de mamãe. Todos ficam ao lado
do caixão. O padre se posiciona e começa a recitar.
— Hoje acordamos com uma notícia triste, mas não temam
pela morte e nem pela partida desse grande homem, a morte é só
uma passagem. Os passos dele nessa terra foram trilhados com
glória e honra. Serviu a família por anos com grande força e
lealdade. Agora chega o tempo do seu corpo voltar para o barro e
seu espírito para o Criador. Vamos orar pelo os que ficaram e
agradecer por Deus ter nos permitido conhecer esse homem
honrado.
Fecho meus olhos e tudo o que consigo pensar é pedir
perdão pelo mal que causei a todos, por não ter conseguido fazer
nada por ele e por último por ter dado sua vida pela minha. O padre
acaba a oração e minha mãe dá um passo a frente para falar.
— Gostaria de falar algumas palavras — ela sorri triste, mas
se mantém firme, seu semblante com fortes emoções passando por
ele. — Thomas era mais que um segurança do meu marido, ao
longo dos anos nós nos tornamos amigos. Ele deu a vida para
salvar a pessoa que mais amo e isso nunca poderei pagar e nem
recompensar, só peço para Deus ter piedade de sua alma e pesar
seus erros e acertos, veja a bondade do seu coração — ela tentava
segurar as lágrimas, mas não conseguia. Papai foi para seu lado e a
abraçou. — Ele nunca foi apenas um segurança, ele era da Família,
e a família a gente cuida, por isso enterraremos ele aqui, junto com
os Trevizan. Obrigada amigo, descanse em paz.
Os homens começaram a descer o caixão e todos os
mafiosos presentes levantaram suas armas, inclusive eu. Papai foi
falando e com cada palavra uma saraivada de tiros para o alto
soava no ambiente.
— Pela Honra, lealdade e pelo Sangue!

Lucca Martiero
Não sei se consigo continuar com isso, ontem quase a perdi.
Como posso protegê-la se seu pai acabou de colocar um alvo
gigante na cabeça de sua filha? Para piorar Charlotte se recusou a
atrasar o casamento. Se eu tinha alguma dúvida sobre quem ela
realmente era eu não tenho mais. A dor dos outros não te comove, o
que importa é ela e somente ela.
Tenho uma decisão difícil para fazer e a escolha pode não ser
a mais fácil para mim mas será o melhor para ela. Ficaria muito feliz
com ela sendo Capo mas no momento isso não pode acontecer, os
riscos não vale a recompensa.
Pego meu telefone para ligar para um dos meus contatos e
ele se acende em minha mão com uma ligação. O número é privado
e sei quem é ao atender.
— Fale — digo duro, já sabendo o teor da conversa.
— Mudanças de planos, infelizmente o pai dela quis mudar as
regras do jogo. Valentina tem que morrer.
— Se você tocar nela, eu te mato, nem que eu passe a vida
inteira te rastreando.
A voz ri do outro lado, como se estivesse debochando das
minhas palavras.
— Sua resposta já diz tudo, não está apto para esse serviço.
Mas não precisa se preocupar, a noite passada foi só um aviso, não
se engane, a hora dela chegará. Minha rede de aliados é grande.
Pode escondê-la nos confins do mundo, mas no final ela ainda
morrerá, pode tentar mudar sua identidade e eu ainda a encontrarei.
Ela é somente uma morta andando — ri e depois escuto o som da
ligação que tinha caído.
Se eu tinha dúvidas do que fazer antes, agora todas
acabaram. Ela pode não gostar, mas não a verei morrer. O que mais
me deixa enojado é escutar de outra pessoa o que eu mesmo queria
fazer dias atrás.
Dominic Trevizan

— Eu quero que você me bata com Força, Valentina! —


ordeno enquanto me posiciono em defesa.
Ela está com as roupas grudadas de suor, assim que
chegamos do velório de Thomas, eu a arrastei para treinar. Eu
sempre fui adepto do lema: se você quer algo certo, então faça você
mesmo. Valentina já estava ofegante enquanto tentava controlar a
respiração.
— Não... podemos... deixar... para amanhã? — falava sem
fôlego.
Tive que ser duro porque parecia que ela não entendia a
gravidade do que aconteceu ontem.
— A pessoa que tentou te matar esperou você descansar?
Acha que as pessoas que tentarão te matar quando for a chefe vão
esperar você descansar? Não, Valentina, elas vão esperar você
relaxar, ficar descuidada. Preferencialmente, quando você estiver de
costas, elas vão fazer você confiar nelas para depois te atacarem.
Vão tentar te atingir e quando não conseguirem vão tentar atingir
quem você ama. Então, Valentina, não pode descansar, iremos
parar só quando você tiver, pelo menos, conseguido me derrubar
uma vez.
Ela me olha assustada mas assente, tive que ser duro. Eu
queria que ela soubesse e tivesse noção do que tinha aceitado.
Porque a escolhi para ser minha substituta, mas no final foi sua
escolha. Não quero que ela entre pensando que será só poder e
dinheiro. Terá responsabilidades e muitas pessoas para comandar e
tomar cuidado. Também terá que sujar as mãos e matar quando for
preciso, ou só para mandar um recado.
Conquistar seu lugar como chefe será difícil, mas tenho
certeza de que tirará de letra, pois, é esforçada. Mas acredito que se
dará bem por um motivo.
Ela é uma Trevizan e nós nunca desistimos do que
queremos, mesmo com um rastro de sangue pelo caminho.
Valentina

31 de dezembro de 2034…

uma arma na minha frente.


S ão sete da manhã e
não aguento mais ver

— Você está indo bem, querida, agora quero que mire naquele alvo
- meu pai fala apontando para uma árvore que estava a uns 10
metros de distância.
— Acho que é muito longe para mim ainda, pai — eu passei
duas horas para acertar num alvo com dois metros de distância e
ele queria que eu atirasse em um de dez?
— Se você pensar assim, não conseguirá. — Passa a mão
em minha cabeça. — Agora pare de reclamar e faça logo, você tem
que aprender pelo menos um pouco para o casamento da sua prima
amanhã. Tem que se defender das ameaças.
Horas depois, eu tenho certeza de que morri e ficou só minha
alma para contar a história. Ele não pegou leve comigo, mas gostei
disso. Se não fez, quer dizer que me considera sua igual e isso me
deixa muito feliz.
Chego em meu quarto e vou direto para o banheiro, enquanto
espero a banheira encher fico pensando nos últimos
acontecimentos, como as coisas aconteceram, como peças de
dominós enfileiradas, uma caiu e derrubou as outras. O desejo de
poder de uns causou tanto mal, ninguém saiu ileso até agora.
Testo a água e sinto o prazer correr pelo meu corpo, tiro
minha roupa e mergulho. Estava tão bom que fecho os olhos e
gemo.
— Realmente, uma bela visão... — abro os olhos assustada e
vejo Lucca parado na porta.
— O que você está fazendo aqui? Pensei que você fosse ficar
em um hotel hoje. — Me encolho mais na água.
Não conversamos desde ontem e depois de tudo que passou,
senti que de alguma forma nós nos afastamos um pouco. Ele não
falou nada ainda sobre não se casar e isso estava me magoando,
apesar que sei do porquê ele está aceitando esse casamento.
— Eu queria te chamar para ficarmos um pouco a sós. —
Saiu da porta e se aproximou da borda da banheira, estava me
devorando com os olhos. — Mas aqui não dá. — Coloca um papel
em cima da pia.
Passo a língua nos meus lábios, que ficam repentinamente
secos.
— Acho que não poderei ir, meu pai dobrou a segurança e
sem falar que o treino está me cobrando um preço alto.
Ele me olha por um tempo e vai até à porta.
— Eu contei para sua mãe sobre a gente, ela disse que daria
um jeito de tirar você daqui. — Passa as mãos pelos cabelos e se
vira novamente. — Queria poder me despedir de você direito, antes
de amanhã.
Dói saber que o que ele diz é verdade, que não tem jeito de
continuarmos do jeito que estamos.
É loucura pensar que tudo isso pode mudar para algo
melhor?
Como tudo de repente deu tão errado?
Será que o nosso amor estava fadado a não dar certo?
Me mexi na banheira me sentindo desconfortável, o que eu
queria na verdade era gritar para ele desistir dessa loucura, para
ficar comigo e nunca mais me deixar. Eu queria que ele me
escolhesse. Mesmo sabendo que um de nós poderia não sobreviver.
Porque já não me importava com isso, eu queria viver.
— Estarei lá. — Não ousei encará-lo novamente, pois sabia
que meus olhos estavam dizendo tudo.
Ele saiu e olhei para o teto. Se eu for mesmo me tornar chefe
da Máfia não posso ficar desviando o olhar toda vez que estou me
sentindo detonada. Tenho que mudar isso.

Chego no hotel às 18:43. Arrumo minha peruca loira e entro.


Pego as chaves que minha mãe entregou e vou para o quarto.
Quando entro o quarto está cheio de velas, a cama está cheia de
pétalas e em cima dela está uma fantasia de noiva.
Meus olhos se enchem de lágrimas, por que ele está fazendo
isso comigo?
— Só pode ser brincadeira... — limpo as lágrimas que não
param de cair.
— Eu não queria te ver chorando — ele fala atrás de mim, me
viro furiosa.
— Então é isso que você queria me mostrar? Que só posso
ser sua noiva em uma fantasia? Porque você escolheu se casar
com Charlotte? — grito enquanto soco seu peito.
Ele segura meus braços e restringe meus movimentos.
— Nunca pensei que você pensaria isso e nem passou pela
minha cabeça te tornar minha amante — me solta confiando que
estou calma e ergue meu rosto. — Foi exatamente o que disse,
quero mais um momento com você antes que tudo exploda.
As lágrimas voltam e junto com ela o desespero. Nunca
pensei que ficaria desesperada por um homem. Mas nunca amei um
antes de Lucca para saber.
O abraço e ele me levanta e me pega no colo nos levando
para a cama, me deposita nela e enche duas taças de champanhe.
— Desculpe pela explosão — respondo envergonhada. —
Estou uma pilha, Lucca, pensei que daria certo, que pudéssemos
ficar juntos, estou me sentindo uma idiota por tudo. Eu fiz tantas
coisas para ficar com você... — Não aguento e começo a chorar
novamente.
E com as lágrimas o plano que minha mãe e eu formamos
também saiu, não queria mais nada me prendendo. Ele contou seus
segredos e eu me sentia horrível porque também estava
escondendo. Falei todos os detalhes.
Quando terminei me senti mais leve, mas ainda não ousei
encará-lo. Levantou minha cabeça novamente.
— Eu faria a mesma coisa, princesa — sorriu e me deu um
selinho.
Sorri também, parecia que um peso enorme tinha saído e eu
estava nas nuvens, também resultado que ele não me achou
monstruosa ou uma megera. Bebi um gole do champanhe e me
encostei na cama.
— Tinha tanto medo de você não me perdoar — murmurei.
Sentou-se na cama e me colocou em seu colo.
— Há coisas que precisam ser feitas.
Concordei e tomei outro gole. Estava ficando sonolenta,
balancei a cabeça para tentar desanuviar a mente.
— Estou com sono... — falei, mas, de repente, percebi que
nesse tempo que estávamos conversando ele não tinha tocado em
sua bebida.
Tentei me soltar dos seus braços, mas meus membros
estavam pesados. Olhei em seus olhos procurando uma resposta.
Ele estava sério enquanto me segurava firme.
— Você... me drogou? — Minhas pálpebras se fecharam.
— Me desculpe — foram as últimas palavras que ouvi antes
de cair na escuridão.
Valentina

1 de janeiro de 2035…

A
bro os olhos e ponho
a mão na cabeça,
minhas vistas estão
doendo. Parece que
tomei um porre de whisky com cerveja e vinho. Me sento e a ânsia
vem com tudo. Sinto alguém tocar minha cabeça e me afasto
assustada.
— Não me toca!
Arranho o rosto da pessoa e as luzes se acendem. Lucca
está na minha frente, seu rosto com marcas das minhas unhas.
— Se acalme, Valentina — tenta me acalmar.
Respiro fundo tentando absorver as coisas, os
acontecimentos voltando a minha mente.
— Você me drogou. — O encaro e minha raiva sobe mais
ainda. — O que você pensa que está fazendo, seu desgraçado?
O empurro e me levanto. O ambiente ao redor não era o
mesmo do hotel. Ele me sequestrou?
De repente, sinto o chão balançar e corro para a porta. Era
uma cabine? Abro e me deparo com a visão do mar e o cheiro da
maresia, ando em direção da proa e olho ao redor, estávamos em
um iate e não dava para ver nada. Era só eu, ele e o mar.
Não tenho coragem de me virar, mas sinto sua presença em
minhas costas.
— Você fez muitas coisas para ficar comigo, e deu certo. —
Colocou suas mãos em minha cintura. — Mas também tenho uma
parcela de culpa pelo que aconteceu.
Me abraçou e beijou o meu pescoço. A noite estava
estrelada, estava uma noite perfeita para amantes, mas nós não
poderíamos ser assim. Estávamos mais para Romeu e Julieta. Não
tinha em nenhum prisma como isso dar certo.
— Lucca... — Me afastei um pouco e me virei, coloco minhas
mãos em seu rosto. — Daqui a poucas horas as pessoas estarão
em casa para o casamento, a gente tem que voltar.
— Eu disse que faria o que fosse preciso, Valentina, sua mãe
me ajudou a te trazer aqui e não me chamo Lucca Martiero se eu te
levar para sua morte. Você não percebeu que seu pai assinou seu
atestado de óbito? Uma hora essa pessoa iria conseguir o seu
intento.
Pensei apenas por um tempo sobre o que ele disse.
— Mas se não fosse eu, seria o meu pai, se tem uma coisa
que um Trevizan não faz, é fugir. — Desdenho e ele aperta minha
cintura.
— E o que vale mais? Um Trevizan com honra e morto ou
uma pessoa normal, feliz, sem um sobrenome e vivo?
— Então é isso que você quer que eu faça? Sair pelo mundo
escondida? Sempre olhando para os lados, pensando que tem
alguém me seguindo? Quem te garante que estarei segura?
Claro que eu amaria viver com ele pelo mundo, mas nós nem
sabemos quem está nos espionando, seria loucura sair por aí as
cegas.
Ele fica um tempo sem responder, quando volta a falar sinto
meu coração saltar do peito.
—Valentina eu te amo, me dê um voto de confiança e te
prometo que jamais ninguém irá te tocar. — Acaricia meu rosto. —
Se entregue para mim, dê a confiança que sua mãe me deu para
protegê-la. Se torne minha mulher.
Estava com medo, não queria fugir, mas a outra alternativa
era voltar e entregá-lo para Charlotte. Sou uma pessoa egoísta
demais para isso, mesmo não sabendo o que o futuro nos
reservava, resolvi lhe dar um voto de confiança.
— Nossa vida não será fácil, você sabe disso, não? — sorri e
me virei para o mar, o horizonte já dava sinais do amanhecer.
— A vida nunca é fácil, mas imagina quão chata seria sem
um pouco de diversão? — riu e me pegou no colo. — Agora vamos
descansar, porque será um longo dia, temos que nos afastar o
máximo possível antes de sumir.
Sorrio em expectativa com nosso futuro.
— E qual será nosso destino, capitão?
— A liberdade, amor..., a liberdade. — Ele nos leva para a
cabine e nós nos deitamos na cama.
— Eu te amo, Lucca...
— Claro que sim..., sou irresistível — brinca e lhe dou um
soco no braço.
— Convencido...

Lucca Martiero
Sinto que algo está errado, tento me mexer, mas estou preso.
Forço meus olhos a abrirem e o que vejo me deixa furioso. Valentina
está de frente para mim amarrada em uma cadeira. Ela está
desacordada e um fio de sangue escorre da sua cabeça. Como eles
nos acharam e como conseguiram nos amarrar sem nós
acordarmos? A única pessoa que sabia onde estávamos era Katy e
acho praticamente impossível ela ter nos traído, Valentina era sua
filha.

Vejo ela se mexer um pouco e geme, provavelmente por


causa da pancada na cabeça.
— Querida, olha para mim. — Ela levanta a cabeça e vejo o
terror em seus olhos.
— Lucca, o que... — parou ao ouvir uma porta atrás dela se
abrir.
Não queria acreditar no que estava vendo, de todas as
pessoas que cogitei, nunca passou pela minha cabeça que era ela.
— Os pombinhos acordaram, finalmente! Nós temos um
casamento para comparecer, Lucca, querido.
Até a voz mudou, não era mais a mulher compreensiva e
gentil que falava com todos. Valentina se assustou e tentou se virar.
— Tia Katrina? — indagou assustada.
— Por que a surpresa, querida? Me diz, eu não fui bem em
meu papel? Meu irmão estaria orgulhoso agora. — Começou a dar
pulinhos de alegria.
Valentina ainda não conseguia acreditar, se eu fosse sincero
comigo mesmo, também não acreditava. Qual era sua motivação?
— Mas por quê? Nós somos Famí...
Katrina bate em seu rosto e tento me soltar da cadeira, mas
está muito apertado.
— Não toca nela, maldita!
— Se você cooperar, Lucca, querido — sorri maliciosamente
e vem em minha direção, toca em meu peito —, mas se não fizer,
pode ter certeza de que arrancarei o coração dela e te mandarei de
presente em uma caixa. — Volta a olhar para Valentina, que olha as
mãos dela em mim com nojo. — Você quer saber o porquê?
— Com certeza — Valentina fala com raiva.
— Bom, temos que voltar vinte e cinco anos atrás... — Katrina
pegou uma cadeira e se sentou, colocando as mãos no encosto e
apoiando sua cabeça nelas. — Eu sou russa, estava na Itália de
férias com meus dois irmãos e em uma noite fomos para uma
balada. — Sua expressão estava neutra, parecia que estava falando
em piloto automático. — Eu estava meio bêbada já, mas não queria
ir embora, então meu irmão tentou me arrastar para o hotel e foi aí
que ele apareceu, Nicolai Trevizan. Ele pegou meu irmão pela gola
da blusa e jogou para seus seguranças, pensei que ele iria só
afastá-lo de mim e ir embora, mas ouvi um disparo. Vi meu irmão
cair morto com um tiro na cabeça, gritei com ele e o chamei de
assassino. — Se afastou da cadeira e começou a rir. — O que eu
não sabia era que ele era um Trevizan, família maldita que podia
tudo nessa cidade. Ele me arrastou para dentro da balada, me jogou
em uma sala e me estuprou.
— Tia...
— Cala essa boca! Eu não sou sua tia! Eu odeio os Trevizan
e vou acabar com vocês até não sobrar nenhum! — Puxa o cabelo
de Valentina e puxo mais forte os braços, mas só sinto a pele
rasgar.
— Quando eu me soltar... — rosno
— Você não vai fazer nada, senão, ela morre — me corta,
sorrindo. Agora via o que ela estava escondendo todo esse tempo, a
loucura. — Agora seja bonzinho e me deixe terminar, sim? — Vai
até o bar e se serve uma dose de vodca. — Se passou algum tempo
e descobri estar grávida dele, eu sentia tanto nojo que abortei.
Então me perguntei, por que sofrer sozinha? Eu iria matar Nicolai,
mas o que fizeram? Mataram antes de mim! Tiraram a vida dele e
ele me pertencia! A morte dele era minha! — Bebeu tudo com um
gole e encheu o copo novamente. — Então resolvi me vingar da
Família Trevizan. Usei todo o meu dinheiro para investigar a família
e o que descubro através de uma prostituta aposentada de bordel?
Que Nicolai teve um filho bastardo — gargalhou. — Mas ainda não
podia usar essa informação. O que fiz? Planejei um falso roubo, me
fiz de mocinha pura e aquele idiota do Demétrius caiu feito um
patinho. Não só ele como todos confiaram em mim — se vangloriou.
— Então passei a puxar informações, me tornei amiga íntima da
idiota da sua mãe e enquanto isso, meu irmão ia juntando mais
informações. — Caminhou em minha direção novamente. — Os
anos se passaram e você apareceu, não sei como eles não viram,
você é a cara do seu pai — cuspiu no chão. — Tive a ideia perfeita
quando tive curiosidade de ver o que essa mimada idiota escrevia
naquela porcaria de diário. Iria usar o plano dela em se casar com
você para colocar Charlotte no jogo — riu, diabólica. — Minha filha
concordou, desde que pudesse tirar tudo de Valentina, claro que ela
não sabia sobre eu querer matar seu pai e tio, ela só queria tirar
algo da prima. Tadinha da minha filha, Valentina sempre foi a garota
perfeita e ela sua sombra. Mas não por muito tempo.
— Ti... Katrina, você não precisa fazer isso — Valentina diz
calmamente. — Eu e Lucca iremos embora e...
— Você está maluca? — vociferou com Valentina. Esses anos
todos aturando sua família para deixar vocês escaparem? Aquele
homem que o assassino do seu pai matou no noivado da minha filha
era meu irmão, sua maldita! — gritou, fazendo mais uma revelação.
— Você não sabe o final do meu plano? Minha filha se casará com
Lucca, eu mato todos os Trevizan e governo junto com ela. — Volta
seus olhos para mim novamente. — Como você renunciou o
sobrenome do porco asqueroso do seu pai, vou te deixar em paz.
Quando todos eles morrerem, eu posso até deixar você viver com
Valentina. Mas para isso, tem que subir naquele altar.
— E se eu me negar? — sabia a resposta então, não sei por
que perguntei.
— Ela morre aqui e agora. — Retira uma arma da bolsa e
aponta para a cabeça de Valentina.
— Lucca, não faz isso... — Valentina pede, mas sei o que
tenho que fazer.
— E só para o caso de você querer dar um de espertinho,
tem um homem que ficará aqui com ela a cerimônia inteira, um
toque no celular e diga adeus ao seu amor.
Esse é o ponto final, não tenho coragem de olhar para
Valentina quando tomo minha decisão.
— Tudo bem, vamos.

Duas horas depois

O Jardim da mansão está cheio, não consegui falar com Katy,


pois cheguei em cima da hora. Mas sinto seu olhar cima de mim e
não posso olhar para onde ela está. Um movimento em falso meu e
Valentina morrerá.
A cerimônia começa e Charlotte está sorrindo para mim,
enquanto o padre recita as baboseiras costumeiras.
Quando ele pergunta se ela aceita, a menina grita um sim
entusiasmado, meu desprezo cresce cada vez mais. E acho que fico
absorto por um tempo, porque Charlotte aperta meu braço.
— Lucca? — olho para ela e para o padre, depois para
Katrina, que discretamente pega o telefone.
— Aceito... — saiu mais como o último prego do caixão.
Ele fala mais algumas coisas e quando está para finalizar o
casamento, um tumulto chama sua atenção. Do meio da confusão
sai uma Valentina possessa, com sangue nas mãos.
— Não vai ter casamento!
Valentina

V
ejo os dois saírem e bate uma revolta dentro de mim.
O que a gente tem a ver com o que meu avô fez?

— Maldita... — murmuro e olho para onde as cordas estão


amarrando minhas mãos.
Já tinha conseguido afrouxar um pouco a corda, mas estava
doendo muito torcer os pulsos. Gemo com o esforço e a ardência.
Trinta minutos depois minhas mãos estão sangrando e não
consegui nada além disso, me machucar.
O que está acontecendo lá fora? Será que eles já chegaram
em casa?
Escuto um barulho fora da cabine. Ela disse que teria alguém
para me vigiar. Então um plano começa a se formar em minha
mente.
— Ei, tem alguém aí? Por favor, estou com sede — tento,
mas ninguém responde. — Estou com frio, eu não estou preparada
para esse tempo, meu vestido é curto demais...
Está para nascer um homem que negue um apelo de uma
mulher seminua, bom, pelo menos os héteros não negariam, espero
que esse seja.
Alguns segundos se passam e a porta finalmente se abre. Um
homem baixinho e calvo aparece e me olha de cima à baixo, seu
olhar com desejo me faz engolir a bile que sobe pela minha
garganta. Ele fecha a porta atrás de si e vem em minha direção.
— Você quer alguma coisa, gracinha? — fala enquanto me
come com os olhos.
Era hora de entrar em ação, faço minha cara de pidona,
aquela que eu usava quando queria algo na infância, mas
acrescento sensualidade no ato.
— Eu daria qualquer coisa por um cobertor e um pouco de
água... — finjo que estou fraca.
Afinal, sou apenas uma garota de dezoito anos indefesa e
frágil.
— Posso te desamarrar... — sorri e põe a mão em seu saco.
— Mas só se você fizer algo por mim — abre a boca quando sorri e
mostra seus dentes amarelos.
Faço de tudo para manter a expressão, mas sinto nojo.
— Faço qualquer coisa, por favor — peço carente.
Ele chega atrás de mim e começa a desamarrar minhas mãos
e pernas. Quase perco a coragem, porque não estou com minha
arma, Katrina a tirou de mim ou Lucca deixou no hotel.
— Deita na cama, docinho, primeiro vou dar um trato nessa
buceta, assim você vai esquentar.
— Tudo bem... — de cabeça baixa me levanto e finjo que irei
para a cama, é hora de pôr em prática o pouco que aprendi com
meu pai e os outros.
Vou para a lateral da cama e me sento, ele vem até mim e
quando está perto, eu puxo minhas pernas e empurro com todas as
forças. Meus pés batem em seu peito e ele cai para trás, ignoro os
membros que doem, por ficar muito tempo na mesma posição, e
sento-me em cima dele, furando seus olhos com minhas unhas.
— Maldita! — grita com dor e me empurra de cima dele, caio
de lado e ele tenta me agarrar.
Tento pensar em algo rápido para fazer, então vejo o abajur
na mesinha de cabeceira. Me arrasto até ele e o pego, o homem
puxa meus pés e levanto o abajur, batendo em sua cabeça. Ele me
solta e me levanto.
— Acha mesmo que eu ia tocar em você, seu porco imundo?
Acho que minha raiva e desespero é tão grande, que continuo
batendo em sua cabeça, vejo o sangue se acumular e sua carne se
abrir. Quando paro, vejo o que fiz, seu rosto era uma massa
sangrenta e deformada. Me viro para o lado e vômito tudo que tinha
comido anteriormente.
Volto minha atenção para ele e pego em seu pulso, não
queria ter alguém procurando vingança mais tarde, ele estava fraco,
mas estava vivo.
Saio de perto, procurando alguma arma, acho um revólver do
lado de fora da cabine em uma cadeira. Reviro os olhos. Sério que
ele pensou que eu era tão fraca que deixou a arma aqui?
Volto e olho o que fiz, é nesse momento que decido como vai
ser e não sinto nenhum remorso. Atiro duas vezes em sua cabeça.

Um tempo depois
— Vai mais rápido idiota! — grito para o motorista de táxi,
enquanto aponto a arma para sua cabeça.
Não me leve a mal, eu não iria agir assim se não fosse
necessário. Acontece que quando ele me viu cheia de sangue não
quis me levar, então tive que fazê-lo aceitar a corrida por mal.
Ele pisa no acelerador, quando estou perto de casa, falo para
ele parar, tiro meus brincos de diamante e jogo em seu colo.
— Isso é o suficiente, eu acho. — Abro a porta. — Você
nunca me viu, entendeu?
Ele assente assustado e eu saio, ele arranca com o carro
assim que estou fora, não o julgo. Faria a mesma coisa.
Vou pela parte de trás da casa para evitar os seguranças, não
sei em quem confiar agora. Encontro um buraco no labirinto que
costumava usar quando era pequena e entro. Corro, pois, ele é
enorme.
Quando chego no final escuto o padre terminar a cerimônia e
ando firme para onde eles estão. As pessoas ao meu redor me
encaram, surpresas pelo meu estado.
— Não vai ter casamento! — falo fria, olhando para Katrina.
Ela agora está tremendo, não sei se de ódio ou por eu ter
conseguido fugir. Meu pai dá um passo à frente.
— O que está acontecendo, Valentina? Onde você estava e
por que está cheia de sangue? — seu comando era forte, mas eu
estava cansada disso.
Me aproximo, parando uns três metros de distância.
— Pergunta para "tia" Katrina, afinal, ela sequestrou o noivo,
me sequestrou e ameaçou me matar caso Lucca não se cassasse!
— sorrio para ela. — Conta, tia, diz o porquê você fez tudo isso.
Eu esperava qualquer reação dela, mas nunca pensei que
pagaria uma arma e apontaria para mim na frente de todos.
— Sua puta! Você estragou tudo! Como conseguiu fugir? —
até seu falso sotaque sumiu nesse momento.
— Simples, ele é homem. — Dei de ombros. — O fiz me
soltar e o matei — acrescentei e a vi tremer a mão que segurava a
arma. — Por favor, solte essa arma e se entregue.
Ela começou a gargalhar feito uma louca, todos viam agora a
sua fachada desmoronar, incluindo o marido e a filha, e ela não
estava gostando disso.
— Você destruiu tudo, tudo — às lágrimas escorriam pelo seu
rosto, enquanto ela dava uma risada cheia de desespero. — Eu sei
que vou morrer, mas você irá comi...
Não a espero responder, a melhor defesa é o ataque e uma
morte a mais na minha lista não faria diferença agora. Sem falar que
ela morrendo, tudo iria morrer junto, até o segredo de Lucca.
Me abaixei para sair do seu campo de mira e fiz o que tio
Demétrius tinha me ensinado no campo de tiro dias atrás. Levantei a
arma e atirei em seu coração, chocando a todos. Depois, para não
restar dúvidas, descarrego o revólver em seu corpo. E posso ouvir
os gritos histéricos da minha querida e amada priminha vadia.
Espero que com Katrina tudo tenha sido enterrado também,
porque agora eu só queria me sentar, descansar, aproveitar a
comida e a família.
Olho ao redor e todos estão olhando para mim, sorrio e largo
a arma.
— Eu vou explicar, mas agora quero comer. — E assim,
termino me virando e saindo de lá.
Como se eu não tivesse acabado de matar a mãe da noiva, a
mulher do consigliere.
Mas, na verdade, não importava se eu explicaria agora ou
depois, nada iria se resolver naquele momento. O que importa é que
agora todos sabem:
Ninguém mexe com um Trevizan e permanece vivo.
Lucca Martiero

Horas depois...

Q
uando Valentina
entrou no
casamento, matou
Katrina e mostrou a
verdade por de trás
de tudo, as pessoas passaram a vê-la realmente como é. Uma
mulher forte e decidida.
Ao redor, os comentários eram diversos, desde a entrada
tempestuosa como o assassinato de Katrina. Muitos estavam
falando que ela seria uma assassina de sangue frio igual o pai, já
outros falavam que ela levaria o sobrenome Trevizan para outra era.
Mas de uma coisa todos a chamavam agora. A dama flamejante.
Charlotte, mesmo fragilizada com a morte da mãe, ainda deu
um jeito de querer ser esperta e sair ilesa, mas Valentina esfregou
na cara de todos que ela não era mais virgem quando ficou comigo
e senti no olhar da minha ex-noiva a vontade que ela estava
sentindo de jurar vingança pelo assassinato de Katrina e por ter sido
desmascarada diante de todos.
Já Demétrius ficou com vergonha de não ter enxergado quem
Katrina era de verdade e como a filha era mentirosa, então pediu
licença do cargo de consigliere para Dominic e está nesse momento
a caminho do aeroporto com minha ex-noiva, vai passar um tempo
com sua família, a máfia francesa Viniert.
Sinto pena dele, como um homem de honra, o certo seria
puni-las. Ninguém mais o respeitaria por ter as mulheres da família
envolvidas em um escândalo desses. Mas tudo iria se resolver
Abraço Valentina por trás e olho ao redor, está um clima
festivo nesse momento.
Antes de Valentina chegar para ficar comigo, seu pai me
chamou para conversar a sós, agora me lembrando da conversa me
sinto aliviado, pois não quero começar nossa vida com receio do
passado.

Flashback On

Estou sentado à mesa, que seria dos noivos, com meu copo
de whisky na mão. Vejo Dominic caminhar em minha direção. Puxa
uma cadeira e se senta de frente para mim, pega um whisky e me
encara.
— Quero que você saiba que eu sabia quem você era assim
que pisou em minha casa e chegou perto da minha família.
— Então, por que não fez nada — indago, surpreso, pois
pensava que ele não fazia ideia de nada.
Dominic se encosta em sua cadeira e cruza as pernas,
olhando para seu copo.
— Eu queria ver até onde você chegaria, estava perto de
matá-lo quando supostamente se aproveitou de Charlotte, mas os
dias foram passando e você não fez nada. Também vi o jeito que
olhava para minha filha e como quis matar Pietro por tê-la
machucado, então não agi. — Toma um gole da sua bebida.
— Então, você aceita nosso envolvimento?
— Aceitar? Não. Mas sei que minha filha é uma mulher forte e
determinada. — Se levanta e me encara. — Você não é meu irmão,
não te considero como minha família e se algum dia machucar
minha filha, eu irei te matar, Lucca Martiero. Porém, antes vou te
torturar até você implorar pela morte.
Concordo com a cabeça e devolvo seu olhar.
— Se eu fizer isso, você não precisará fazer nada, eu mesmo
acabo com minha vida.

Flashback Off

Ela cabe perfeitamente em meus braços, acaricio seu cabelo


e olho para onde sua atenção está. Seus pais estão dançando um
grudado no outro. Dá para ver o amor que eles sentem de longe.
— Será que a gente vai ficar igual eles? — Valentina pergunta
enquanto coloca mais um pedaço de bolo na boca, limpo as
migalhas que caem no seu colo.
— Espero que sim, o que você vê ao olhar para eles? — Vejo
Dominic apertar a bunda de Katy e sorrio com a ousadia.
— Fora o fato dos dois serem dois safados? — dá risada e se
aconchega mais em mim. — Vejo duas pessoas que se amam
muito, ótimos pais e companheiros incríveis. Eu os amo muito.
Quero ter um relacionamento igual ao deles.
— E teremos — beijo o topo da sua cabeça.

Valentina

— Vamos dançar? — Me levanto e o arrasto para a pista de


dança.
Nós ficamos do lado dos meus pais, minha mãe me olha e
piscamos o olho uma para a outra, já meu pai está mal-humorado,
mas fica calado, acho que está começando a entender que cresci.
— Eu me lembro da nossa primeira dança, você estava muito
sexy — sussurra em meu ouvido.
— Você estava muito animado, seu amigo lá de baixo estava
louco para jogar — provoco e ele ri.
Me conduz pelo gramado e me inclina.
— Ele já sabia que você era minha, só queria reivindicar —
beijou meu pescoço.
Me afastei um pouco para olhar diretamente para ele.
— Então, ainda bem que as duas cabeças entraram em
concordância, não é? — Mordo os lábios.
— Ou uma diabinha ruiva me fez enxergar a verdade — fala e
me levanta, beijando meus lábios logo em seguida.
Me perco em seu olhar com o amor que vejo refletido nele.
— E que verdade é essa?
— Você só saberá se aceitar o meu pedido — brinca com
uma mexa do meu cabelo.
Que pedido será que ele quer me fazer?
Curiosa, fico esperando, mas ele não continua, então sou
obrigada a perguntar.
— Qual pedido? — Espero em expectativa.
— Eu sei que nos conhecemos faz pouco tempo, mas não
vejo motivos para esperar. — Se ajoelha no chão e segura em
minha mão.
Arregalo os olhos e olho para todos ao redor. O que ele pensa
que está fazendo?
Ele é louco?
Meu pai está sério, mas não fala nada, minha mãe está com a
mão na boca, contendo uma risada, e eu devo parecer a noiva do
Chuck toda ensanguentada e, ainda por cima, vermelha feito
beterraba, de tanta vergonha.
— Levanta daí, Lucca... — peço baixinho e tento fazê-lo se
levantar, mas ele está irredutível.
— Valentina Trevizan, você é a mulher mais incrível que eu
tive o prazer de conhecer, será uma chefe forte e com certeza uma
futura mãe amorosa. Porém, nesse momento eu gostaria que você
dissesse, sim, e se tornasse meu outro lado da moeda. Você é
perfeita para mim e te amo por isso. Aceita se casar comigo e ser a
senhora Martiero?
Ponho a mão na boca para conter os soluços que está
ameaçando sair, meu rosto está banhado em lágrimas. Olho dentro
dos seus olhos e tenho certeza de que ele sente cada palavra que
disse. Sei o que devo fazer nesse momento. Porque tenho certeza
de que o futuro nos reserva coisas maravilhosas. E
independentemente de para onde nossas vidas nos leve, eu sei que
sempre vou o amar e ele também me amará.
— Não Lucca, não aceito — falo firme, e sinto o choque em
seu rosto. — Eu não quero ser a senhora Martiero, você será um
Trevizan!
Sorrio, agarro a lapela do seu terno e o puxo para um beijo,
selando assim nosso compromisso.
Valentina

Três anos depois...


06 de dezembro de 2037…

H
oje é um dia muito
especial para mim,
acordei com todos
me mimando. Estou
em um estado de felicidade tão grande que fiz até os seguranças
rirem.
Se passaram três anos desde o dia que reivindiquei o que é
meu por direito e que aceitei me casar com Lucca.
Por escolha conjunta nós decidimos nos casar quando eu
fizesse 21 anos.
Consegui fazer a faculdade de gastronomia que eu tanto
desejava, apesar de não poder exercê-la para mim foi uma vitória.
Conheci mais a fundo o passado do homem com quem decidi me
casar. Nós viajamos para as ilhas Maldivas e fiquei surpresa por ele
ser um Gangster lá. Apesar de eu achar que não tem muita
diferença entre Gangster e mafioso.
Nós aproveitamos muito nossas férias, de todos os sentidos.
Me sinto realizada atualmente. Foram anos de muito esforço,
mas agora sei que posso comandar a família, embora seja uma
mulher, o que não é normal. Hoje em dia todos me respeitam.
Não me tornei fria e calculista, no entanto tive que sujar
minhas mãos algumas vezes. Não cheguei a contar quantos matei
ou quantos torturei, mas sei que fiz e faria tudo de novo, só basta
um motivo.
Me olho no espelho em meu vestido de noiva, não serei
modesta, estou maravilhosa, esplêndida, magnifica!
Mamãe entra no quarto e lágrimas saem dos seus olhos.
— Por que está chorando, Mamãe? — fico preocupada. —
Era para ser um dia feliz.
Ela anda em minha direção com uma caixa na mão.
— E é, apenas lembrei do dia do meu casamento com seu
pai. Eu estava aí, onde você está, exatamente do mesmo jeito, me
olhando no espelho — sorri e abre a caixa.
Dentro dela estava uma coroa linda de diamantes com
pérolas nas pontas, coloquei a mão na boca emocionada, tentando
segurar as lágrimas.
— É linda... — sussurrei.
— É, sim, igual a próxima dona dela.
Mamãe me virou e pegou a coroa, colocou em minha cabeça
e me abraçou.
— Eu ganhei do seu pai quando fizemos um ano de casados.
Agora ela é sua, sua primeira joia de família, querida — tenta limpar
as lágrimas sem borrar e não consegue. — Agora você não é mais,
minha princesa.
Olhei para ela, chocada.
— Por quê? — ameacei chorar nesse momento, pensando na
perda.
— Porque você, nesse momento e durante muitos anos, será
Rainha, minha querida — sorri e se afasta, olhando para o relógio.
— E rainhas não se atrasam, então vamos, que seu pai está te
esperando.
— Só um momento que já vou, tá bom?
Ela assentiu e passei as mãos pelo vestido, nervosa. As
últimas palavras dela tocaram bem fundo no meu coração.
Será que todos me viam assim?
Não tenho como saber, mas testarei o meu melhor.
Saio do quarto e meu pai me espera no topo da escadaria
para o salão de baile, que agora está enfeitado para a cerimônia.
— Pronta? — papai sorri e pega em meus braços.
— Como nunca estive alguma vez...
E era verdade, se tinha algo que eu não tinha dúvidas é sobre
o amor de Lucca por mim e vice-versa.
Vou descendo os degraus devagar e os rostos vão
aparecendo conforme fazemos a curva, tinha muita gente, todos
aliados da família, os que não aceitaram meu comando ou
desistiram ou foram mortos. Respiro fundo tentando não aparentar
nervosismo. Estou muito nervosa até vê-lo no final. Desço os
últimos degraus e mal percebo que estou andando até que chego ao
seu lado
— Cuida bem da minha menina — ele adverte mais uma vez
e meu coração palpita de amor por ele.
— Com minha vida — Lucca afirma.
O padre pigarreia e papai vai até ele para sussurrar em seu
ouvido. O padre arregala os olhos, mas assente.
— Antes de começar o casamento, o senhor Trevizan
gostaria de fazer um pronunciamento.
Todos balançam a cabeça e papai começa a falar.
— Como todos sabem, passei muitos anos a cargo da família,
hoje sinto que não é mais meu lugar, meu sucessor é uma pessoa
forte, confiável e trará novos ares para a organização. E como o
combinado, prometi entregar o cargo após três anos e depois que
ela estivesse preparada. Então, querida, a partir de hoje você não é
mais a filha do Capo. Apresento a vocês a nova chefe da família,
Maria Valentina Trevizan.
Todos batem palmas, papai me abraça e me dá um beijo na
face.
— Obrigada, papai, eu te amo...
Com lágrimas nos olhos me viro e olho para Lucca, ele está
com um sorriso enorme no rosto, não me importo se não nos
casamos ainda, rodeio seu pescoço e lhe dou um beijo.
Escuto o padre pigarrear novamente e me separo dele. Ele
começa a recitar os habituais votos de matrimônio até chegar na
parte que me interessa.
— Senhorita Maria Valentina Trevizan, você aceita Lucca
Martiero como seu legítimo esposo, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, para amá-lo e
respeitá-lo até que a morte os separe?
As palavras saem de mim sem esforço nenhum, porque elas
não eram baseadas em mentiras e padrões, elas eram minha mais
pura realidade.
— Quando te conheci, eu vi em você uma oportunidade de
escapar de tudo isso. Mas te querer e tramar para tê-lo para mim
me fez ver que eu não estava fugindo por liberdade, eu estava com
medo dela. Você me fez amar, desejar e compreender qual é o meu
lugar no mundo. E como toda rainha eu preciso de um rei. Por isso
com todas as forças do meu coração eu aceito, aceito você Lucca
Martiero porque você é o meu coração, minha coroa e minha mão
direita — encerro, não conseguindo segurar mais minhas lágrimas.
Ele acariciou meu rosto, mas antes de fazer algo mais o
padre nos cortou.
— Senhor Lucca Martiero, você aceita Maria Valentina
Trevizan como sua legítima esposa, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, para amá-la e
respeitá-la até que a morte os separe?
— Quando coloquei os pés nessa casa, foi procurando
vingança, mas uma diabinha ruiva entrou em meu caminho e me fez
ver que tudo que eu buscava era pouco comparado ao prazer em tê-
la em meus braços. Seus sorrisos maliciosos e sarcásticos e
principalmente seu coração doce. Obrigado por não ter desistido de
mim meu amor, prometo que todos os dias te mostrarei o porquê me
escolheu para ser seu parceiro de vida. Em um jogo de xadrez
quem manda é a rainha e fico feliz de estar ao lado dela para
sempre. Aceito.
Escutamos novos aplausos por todos os lados.
— Deixo claro que o que Deus uniu homem nenhum pode
separar, Pelos poderes concedidos a mim, vos declaro marido e
mulher, Pode beijar a noiva.
Dessa vez nosso beijo foi doce, sem desespero ou pressa
pois sabíamos que teríamos muito tempo pela frente.
— Está Feliz, Senhor Trevizan? — murmuro em seus lábios.
— Excitado e querendo sair daqui logo, Senhora Trevizan —
me pega no colo e sai do salão com som dos aplausos atrás da
gente.
Esse não foi um casamento tradicional e não terminamos de
forma tradicional. Mas temos uma desculpa.
Nós não somos tradicionais, somos Maria Valentina e Lucca
Trevizan!
Os novos chefes da Máfia, porque dividiremos. Afinal,
casamento é compartilhamento!
Valentina

Três anos depois...

E
stou ansiosa
esperando meu
marido voltar para a
nossa casa nas
Maldivas. Decidimos tirar umas férias de todo o trabalho da máfia na
Itália.
Coloco uma fantasia de coelhinha, aquela da playboy, e um
batom vermelho escarlate.
Me olho no espelho, vejo que os anos amadureceram não só
minha mente, mas também meu corpo. O espartilho ergue meus
seios, minha bunda redonda é realçada pela calcinha preta e o
pompom rosa.
Me sinto uma mulher realizada em todos os sentidos da vida.
Eu e Lucca temos um relacionando maravilhoso, comandamos a
máfia muito bem juntos e agora nosso prêmio chegou.
Hoje contarei que estou grávida, esperamos muito tempo
porque queríamos ter certeza de que tudo estava em seu devido
lugar.
Meus pais estão viajando pelo mundo a pedido de minha
mãe. Tio Demétrius voltou para onde ele pertence, nossa família, e
agora está se relacionando com a filha de Adelaide nossa
cozinheira, os dois são fofos juntos apesar da diferença de idade de
quase 25 anos. Charlotte foi mandada para Rússia para ser
educada por uma Matrona de uma Máfia aliada dos Viniert, ela está
lá até agora, não se interessou em voltar, e sendo sincera, espero
que não volte nem tão cedo.
Escuto passos fora da casa e sorrio, de repente, a porta da
frente explode e me encosto na parede do closet.
— Parece que não tem ninguém aqui, você não disse que a
mulher dele estaria sozinha? — uma voz diz com raiva.
— Você que disse, idiota! Agora como vamos chantagear
aquele maldito? — escuto um barulho de soco.
Olho para a gaveta onde colocamos armas, pego minha
Glock. No reflexo do vidro da janela dá para ver dois homens
aparentando uns quarenta anos. Eles andam em direção ao
banheiro, aproveito que estão de costas e saio.
— Acho que vocês não estão errados — atiro na mão do
homem que está com a arma e no outro homem atiro nos dois
joelhos. — Mas pensaram que encontrariam uma esposa indefesa?
— Desgraçada! — os dois gritam.
Balanço a cabeça, inconformada com a ousadia deles de
acharem que podiam chegar aqui e fazer algo comigo.
— Eu vou dizer o que vai acontecer, vou me sentar nessa
cadeira e vocês vão me contar por que arrombaram minha casa e
tentaram estragar minha surpresa para meu marido. — Me sento e
cruzo as pernas, um dos homens tenta pegar a arma e atiro em sua
cabeça. — Acho que posso tirar informação só de um. — Dou de
ombros. — Primeiro, qual seu nome e por que veio aqui?
Quando ele ia responder Lucca entra no quarto com alguns
seguranças. Olha para mim, sentada e fantasiada.
— Que porra está acontecendo aqui, Valentina?
Reviro os olhos, homens...
— Boa noite, querido. — Me levanto e ando em sua direção,
ele olha para os seguranças, que arrastam o homem do nosso
quarto, me agarra e cola sua boca na minha. — Se eu soubesse
que minha fantasia deixaria você tão selvagem, eu teria feito antes...
— mordo seus lábios.

Ele me prensa na parede e arranca minha calcinha.


— Nenhum homem pode te olhar assim — fala roucamente
em meu ouvido e tira seu membro para fora. — Você é minha para
olhar, tocar e possuir...
Entra em mim e gemo, agarrando seu ombro enquanto
empurro para acompanhar seus movimentos.
— Seu Gangster possessivo — mordo seu ombro —, me fode
com força.
— Com todo prazer...

Depois de algumas rodadas de sexo quente, agora estamos


quase mortos na cama, estou pensando em como contar. Será que
é um bom momento?
Mais cedo ele me disse que os caras que entraram aqui eram
velhos rivais dele. Que queriam seu posto de Gangster, o que eles
não sabem é que não tem como pegar algo, ou você é ou você se
torna. Lucca passou por muita coisa para ser quem é hoje. Sofreu
muito, lutou por tudo que tem e não terá ninguém que possa tirar
isso dele.
— Tenho algo para te contar... — passo a mão em seu tórax,
acariciando.
— Pode dizer, diabinha... — ele está com os olhos fechados e
sorrindo.
Como não sei como dizer e não quero enrolar então solto de
uma vez.
— Estou grávida.
Ele abre rapidamente os olhos e se levanta. Nós nos olhamos
e não precisamos de palavras para descrever o sentimento que se
passa entre nós. Põe sua mão em minha barriga e dá um beijo,
sorrindo.
— Vai ser uma linda garotinha com cabelos de fogo e alma
flamejante, igual a mãe.
— Ou um lindo garotinho igual ao pai, de olhos azuis e
cabelos pós-foda que vai enfeitiçar as meninas e me deixar de
cabelos brancos cedo.
Sobe sua mão e põe em cima do meu coração.
— Você foi a melhor coisa que aconteceu em minha vida
querida, se eu soubesse que ir para a Itália fosse me trazer
felicidade eu teria procurado vingança muito antes... — beija meus
lábios — Você é meu coração esposa.
Meu coração está explodindo de felicidade. Quem disse que
viver na escuridão fosse algo ruim? Quando você vive nela você
aprende com ela.
— Eu te amo meu Gangster malvado — mordo meus lábios e
sorrio de um jeito safado, o abraço — você completou a escuridão
que habita em mim, você trouxe uma liberdade totalmente diferente
daquela que eu procurava.
— Eu sempre estarei aqui para você, querida...
— Ou enquanto vivermos...
— Eu te amo... — falamos os dois ao mesmo tempo.
Nosso final pode não ser o perfeito, mas não queremos que
seja! Nós não somos exemplos perfeitos da sociedade. Eu o amo e
ele me ama. Passei por todas as barreiras possíveis por ele.
Minha mãe achou o mafioso dela.
E eu?
Eu achei o meu Gangster.
Entre o amor e o ódio nós escolhemos nosso destino.
Porque não importa o que falaram para nós de como
devemos agir, ou a informação passada por alguém. O que importa
é o que faremos.
E assim eu escolhi meu Gangster e ele me escolheu.
Escolhemos passar por cima de tabus, rancor, vingança.
Escolhemos abandonar o passado e sermos felizes.
Porque tudo são escolhas: Escolhi ficar na máfia, lutar pelo
meu lugar e ficar com Lucca. Escolhi abraçar a escuridão que habita
em mim e acolher a escuridão que habita nele.
Porque é assim que tem que ser...
Agora somos um só. E conseguimos tudo que queríamos.
Somos Trevizan!
Quando o errado se tornou o certo nos tornamos imbatíveis!
Porque é assim! Nada pode parar dois corações... quando o
Ódio se torna Amor!

Fim…
Valentina

Já se passaram muitos anos desde que me tornei a


chefe da Família Trevizan. Hoje em dia, assumo completamente

todas as tarefas, inclusive as cobranças e torturas.


O segredo?
Adoro torturar, gosto de ver os olhares assustados das
pessoas quando bato em suas portas. Então, não deixo que
ninguém faça essas coisas por mim.
Claro que tento separar minha vida pessoal. Faço como meu
pai fez, da porta para dentro eu somente a Valentina, a mãe e
esposa.
Amo meu filho, Matteo é tão esperto, puxou o pai em vários
aspectos, incluindo o charme.
Lucca sempre me apoia em minhas decisões e nosso amor
só faz crescer depois dos anos que estamos juntos. Nós nos damos
muito bem comandando a Máfia, somos um time perfeito.
Hoje, meu marido escolheu passar o dia com nosso filho e eu
estou designada para a “ação”.
Saio de casa e pego meu Sedan preto luxuoso. Ando
atualmente apenas com dois seguranças, para não chamar muita
atenção. Como sempre, coloquei meu disfarce, que consiste em
uma peruca loira, lentes de contato em um tom de castanho escuro,
vestido preto tubinho bem discreto e meu coldre com a minha arma
na coxa.
Tento também não chamar atenção para minha verdadeira
identidade, não por medo que aconteça algo comigo ou Lucca, mas
tento preservar ao máximo a integridade física e emocional do meu
filho.
Claro que nem sempre posso estar disfarçada, mas quando
posso, faço sem hesitar. O disfarce não é para as pessoas de dentro
da máfia, são para as de fora, para ninguém associar a socialite à
mafiosa.
Hoje estou indo até à casa de um dos meus associados. Um
dos subchefes relatou que estava faltando informações sobre dois
carregamentos de armas, os relatórios dele indicam que essas
armas foram extraviadas. E acontece que só uma pessoa está
encarregada dessa parte dos nossos negócios e por mais que eu
queira acreditar que ele não faria isso, sei também que a ambição
pode muitas vezes transformar um soldado leal em um traidor.
Marco toma conta do contrabando de armas desde que meu
pai era Capo, nunca tivemos nenhuma reclamação dele. Mas
percebi que desde que me tornei a chefe ele ficou estranho, mal me
cumprimenta. Muitas vezes não gostava de socializar, porém, como
nunca me faltou com respeito, deixei passar.
Enquanto ele estivesse fazendo seu trabalho direito, não teria
motivos para chutar suas bolas. Até o dia de hoje. E ele terá mais do
que bolas amassadas depois do que fez.
O carro para em frente à sua casa, uma área isolada de tudo,
nos limites de Florença. Faço um sinal para meus seguranças
ficarem atentos e vigiarem o local. Quando eles dão o sinal positivo,
eu saio do carro.
Caminho decidida até à porta, bato por educação e espero.
— Olá, Magda. Gostaria de falar com o Marco — sorrio.
— Ele não está, senhora…
Dava para perceber que está mentindo através de sua voz.
Durante esses anos, aprendi a identificar coisas como essa.
— Saia e espere no carro, Magda, não quero que você se
machuque — falo baixo para que somente ela escute, caso tenha
alguém à espreita.
Ela arregala os olhos, mas faz o que digo. Percebo que
Magda começa a tremer. Tenho pena, ela já é uma senhora idosa,
cuidarei bem dela depois que resolver o que vim fazer aqui.
Pego minha SR-1 do coldre e entro vagarosamente na casa.
Está tudo muito silencioso e isso é um mal presságio, a meu ver. Só
não sei se para o meu lado, ou o lado de Marco.
Vasculho cada cômodo, só para me deparar com espaços
vazios. Mas, de repente, escuto um barulho vindo do escritório da
casa. Um dos seguranças segue na frente e o outro logo atrás,
fazem o sinal de contagem e no três eles arrombam a porta.
Apontam as armas para alguém lá dentro, mas nenhum disparo é
feito.
Ando na direção deles e o que vejo me deixa furiosa.
Depois de tantos anos comandando, pela primeira vez, fui
enganada.
Na minha frente está um Marco preso em uma cadeira, com
marcas de escapamento pelo corpo e alguns dedos cortados. Nas
suas costas está o subchefe que me avisou sobre a “traição”.
— Nunca pensei que seria tão fácil atrair a rainha sanguinária
— Stefano zomba. — Mas, afinal, o que mais podia se esperar de
uma mulher, não é? Seu pai não teria caído com tanta facilidade
assim.
Sinto algo encostar em minha cabeça, o frio do cano da arma
não me deixa com medo. Primeiro porque sei dos perigos que corro
toda vez que saio de casa. Segundo porque a morte é só uma
passagem. E terceiro porque esses merdas não sabem com quem
estão mexendo.
— Então, você admite que usou de uma falsa acusação para
me trazer até aqui? — Ergui a sobrancelha. — Marco é inocente? —
Preciso da confirmação. Apesar da vida que levo, procuro ser justa.
— Esse idiota, trair vocês? — Stefano riu alto. — Nem sendo
torturado ele quis soltar os segredos da sua família, um cachorrinho
fiel é o que vocês têm aqui…
Isso era tudo o que eu precisava ouvir.
Com um pequeno sinal de dedo, indiquei aos meus dois
seguranças o que deveria ser feito. Eram em poucos, mas Felipo e
Vitório pareciam raio e trovão, perfeitos e sincronizados.
O melhor?
Sabiam o que eu queria nesse momento. Stefano vivo e
pronto para mim.
O homem em minhas costas não conseguiu ter uma reação
rápida quando Felipo com sua agilidade disparou um tiro em sua
cabeça.
Saí do caminho para seu corpo não cair em cima de mim.
Enquanto isso, Vitório acertou três disparos em Stefano, claro que
nada mortal.
— Olha, como as coisas mudam, hein? — debochei. — Me
diz, tem mais de onde veio esse? — apontei para o cadáver.
— Sua puta, você nunca vai ser aceita, eu não sou o único
que acha que você não serve para governar! — fala, tentando se
manter de pé, mas os tiros que levou nos joelhos e em sua mão não
deixam.
— Por que sou mulher? — ri. — Você acha que não posso
fazer o mesmo que os homens fazem? — agora solto uma
gargalhada debochada.
— Mulheres foram feitas para foder e parir! Pode pensar que
tirou todas as maçãs podres da sua pequena árvore, mas tem
muitas de onde eu venho. Sua família será destituída, vocês serão
apenas uma lembrança muito em breve — disse, sorrindo.
Mantenho a calma, porque sei o que ele quer. Um tiro na
cabeça desse desgraçado não é o suficiente para mim, então, me
contenho.
— Soltem Marco e ligue para alguém vir cuidar dele —
ordeno. — Amarrem o traidor também, eu já volto.
Saio sem esperar por uma resposta, vou até o carro, sempre
vigilante e com a arma empunhada. Busco minha maleta e volto
para Stefano. Acho que nunca senti o prazer que terei com a tortura
de hoje.
Chego no escritório e tudo está preparado para mim, não
peço para os três saírem. Eu gosto de uma plateia, mas queria que
Lucca estivesse aqui comigo, me excitava ver sua cara de orgulho
quando eu fazia o meu Show.
— Bom, por onde começamos? — Assumo uma expressão
neutra, enquanto analiso minhas opções.
— O que você vai fazer, sua louca?! — Era essa expressão
que eu gostava, quando eles se davam conta da merda que tinham
feito ao pisar no lugar errado.
Nesse caso, com a família e a pessoa errada.
— Ora, Stefano, você não sabe o porquê ganhei o vulgo de
rainha sanguinária? — sorri. — Vou te contar. — Pego meu jogo de
agulhas de aço. — Eu derramo o sangue das pessoas que ousam
entrar em meu caminho. Quando algum imbecil pensa que irá
conseguir derrubar os Trevizan, eu estou lá para mostrar o nosso
poder, além de Capo da máfia, eu sou a carrasca, a torturadora e a
juíza!
Encerro meu discurso abrindo seu olho esquerdo e
perfurando sua pálpebra com uma das agulhas. Ele solta um grito
esganiçado quando entorto a agulha e puxo sua pele até o começo
da sua testa, perfurando-o ali também e deixando seu olho bem
aberto. Repito o processo com o olho direito e me afasto.
— Eu sou uma mulher boa, no começo eu tentei fugir da
máfia, achei que liberdade era não ter responsabilidade com a
família, mas depois descobri que aquilo que eu pensava era
totalmente o oposto de liberdade. Fugir nunca é a solução, eu
estava sendo covarde — conclui. — Quando meu pai falou que eu
era a sua sucessora e comecei meu treinamento, sabe o que
percebi?
Fico esperando sua resposta, mas ele continua calado e me
olhando com ódio.
Pego meu alicate de pressão e forço sua boca a se abrir.
— Eu percebi que não nasci para ser uma princesinha da
máfia ou para me casar com um mafioso, eu nasci para ser a dona!
— Prendo o alicate em sua língua e puxo-a, fazendo-a se rasgar e
se desprender de sua boca, o que faz com que ele se engasgue
com o sangue que desce por sua garganta. — Eu poderia ficar aqui
o dia todo, te fazendo pagar por sua traição, Stefano. Poderia
praticar vários métodos de te manter consciente e sofrendo, mas eu
tenho alguns assuntos mais importantes para cuidar. Hoje é o
aniversário de dez anos do meu filho e toda minha família estará
presente.
— Hua haxia! — ele tenta dizer entre o sangue escorrendo. É
um filho da puta, mesmo sem a porcaria da língua.
Me viro e limpo minhas mãos em um dos lenços umedecidos
com álcool que sempre deixo à disposição.
— Você vai ficar aqui e ser o exemplo para qualquer um que
pensar em mexer com os Trevizan novamente. — Pego meu celular
descartável e tiro uma foto dele. — Sorria, Stefano, você vai ter o
que sempre quis, atenção. Todos vão ver você agora.
Ele já está meio inconsciente, ponho as coisas dentro da
maleta e entrego o celular para Felipo.
— Termine com ele, tire mais algumas fotos e mande para
todos que têm conhecimento da nossa máfia — ordeno. — Coloque
um aviso para aqueles que queiram nos desafiar também. Esperarei
no carro, tenho coisas para fazer — digo e me viro para Marco,
dando-lhe um sorriso. — Espero que melhore logo e possa voltar
para a ativa, esperarei seu retorno com alegria. — Estendo minha
mão e ele a aperta com a sua que não está ferida.
Saio da sala e logo escuto barulho de gritos sufocados.
A vida de chefe da máfia não é fácil. Hoje eu mostrei meu
outro lado, um que eu descobri quando matei aquele homem na
cabine do iate, um lado que gostei muito.
Eu sou Maria Valentina Trevizan.
Capo, esposa, mãe e a rainha sanguinária!
Q
uero primeiro
agradecer a Deus
por nunca me
abandonar e estar
comigo me dando
forças todos os dias.
O processo de escrita de um livro tem muitas etapas. Quando
estava escrevendo esse livro, muitas pessoas estiveram do meu
lado.
Obrigada, Ronaldo, por sempre me apoiar e ler meus livros,
você é um marido maravilhoso.
Agradeço também meus filhos Marcos, Raphael e Alícia. Eles
sempre me dão algumas ideias legais em todos os livros que estou
escrevendo e ainda por cima me ajudam com a casa enquanto
estou escrevendo.
Gabriela, você entrou na minha vida no momento certo, além
de você ser minha diagramadora também se tornou uma amiga
muito querida. Suas ideias e pontos de vista me ensinou muitas
coisas, muito obrigada Gabi.
Agradeço muito aos meus leitores por sempre me
acompanhar em cada livro que escrevo, vocês são muito especiais
para mim. Espero que saibam disso. Um livro é para deixar a alma
leve e açucarada, é um modo de tirar os problemas pelo menos um
pouco dos nossos pensamentos. Então leia um livro e seja feliz.
Muito obrigada.
M
arcela de Almeida
Neres é uma jovem
brasileira, nascida
em Teixeira de
Freitas – Bahia, e criada em São Paulo. Sempre foi apaixonada por
histórias.
Quando pequena se imaginava no lugar dos personagens dos
animes que ela assistia. Amava assistir Inuyasha e SailorMoon, a
cada episódio se imaginava nas aventuras junto com seus
personagens favoritos.
Aos nove anos de idade, sua prima lhe apresentou ao mundo
mágico da leitura, onde você poderia ir a qualquer lugar apenas
lendo um livro. Sua primeira leitura: Katy, Gatinha manhosa, da
Carole Mortimer, a fez conhecer o amor doce e aventureiro em um
país lindo, o Canadá. A partir daí ela não parou mais de ler, cada
leitura era um país diferente, um jeito diferente de amar.
Sua fome de livros cresceu ao ponto de ela querer fazer seu
próprio Romance. Seu primeiro livro, O Mafioso, foi escrito em 2014,
quando ela começou a ter uma vontade louca de ler sobre Máfias.
Aí surgiu sua inspiração, e como não podia ser diferente, colocou o
nome da sua personagem de Katy, como a mocinha do primeiro livro
que leu.
Hoje ela é casada e mãe de três filhos lindos, mesmo vivendo
seu romance real, Marcela ama escrever sobre a importância do
amor na vida das pessoas.
Afinal, o amor é como um livro: cada página é uma
descoberta emocionante que vale apena viver.
Twitter: @MarcelaANeres

Wattpad: @MarcelaAlmeidaNeres

Facebook: Marcela Almeida Neres

Instagram: @m.a.neres
O Mafioso
O Gangster
Conduzidos pelo amor
O torneio de Heros
Destinada

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