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Neres, M. A.
O Gangster: quando o ódio se torna amor /
M. A. Neres. -- São Paulo: Ed. da Autora, 2021. -(Irmãos Trevizan;
2)
1. Romance brasileiro I. Título. II. Série.
CDD
Índices para catálogo sistemático:
Copyright© By M. A. NERES
O GANGSTER
Produção Editorial
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico,
mecânico, inclusive por meio de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de
seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Está é uma obra de ficção, nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor qualquer semelhança com acontecimentos
reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição reservados pela autora.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1º
de janeiro de 2009.
Sumário
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
EPÍLOGO
BÔNUS
Dedico essa obra para todas as pessoas que estiveram
ao meu lado durante meu processo de escrita, incentivando-me
e apoiando-me.
Sejam persistentes com os sonhos de vocês e eles se
tornarão realidade. Tenham fé nisso e lutem por eles.
Obrigada!
Esse livro contém cenas de sexo, violência e tortura,
abordando também algo que é visto como um tabu pela
sociedade. Portanto, é indicado apenas para maiores de
dezoitos anos. Leiam com a mente aberta.
Boa leitura!
Lucca Martiero
Luke e Nicolai estão demorando, eles falaram que iam contar hoje
para o meu irmão sobre mim.
Treze anos atrás, meu pai engravidou uma das prostitutas de
um dos bordéis que ele comanda, quando ela me teve ele a matou e
me entregou para Luke criar. Nunca entendi sobre não poder morar
com ele, sua família vivia bem, meu irmão vivia bem. E eu? Vivia
das migalhas de Nicolai. Ele, para mim, sempre será só o
progenitor.
Luke me ensinou tudo que eu precisava saber, me deu amor,
mesmo que as vezes o amor dele fosse demais. Os socos eram
para me deixar forte, os cortes eram para me deixar rápido e atento,
mas tem os momentos em que ele se senta no sofá para assistir
filme comigo, me ensina como é ter uma mulher na cama, me
levando nos bordéis, falando sobre o mundo e como eu serei o
maior dos predadores.
Seus ensinamentos são o único jeito de me deixar esperto
para a vida, porque quando eu tiver idade suficiente, serei o Capo
da família Trevizan. Luke me prometeu, Nicolai me prometeu.
Dominic não é bom para ser Capo, pois deixou seu coração falar
mais alto, se apaixonou por uma garota e está deixando os negócios
de lado. Está traindo a família por uma buceta, como diz Nicolai.
Meus pais falaram que aquele é meu lugar de direito e hoje iriam
falar para meu irmão isso.
Olho pela janela da casa dos fundos da mansão deles, sinto
que algo está estranho. Vejo um carro entrar pelos portões e
Dominic sai, olha para minha janela e acena para mim. Ele não sabe
que sou seu irmão, acha que sou o filho bastardo de Luke, um
moleque quebrado e que roubou o amor do seu pai, porque Nicolai
demonstrava mais amor por mim do que por ele, me levava nas
festas e nas reuniões da Máfia, falava para ele como eu era bom em
atirar, mas eu queria ser próximo dele, não seu inimigo.
Saio da janela e me sento com os braços cruzados, não
consigo tirar da cabeça que algo muito ruim vai acontecer.
Passa pela minha mente todas as possíveis coisas que
podem sair dessa conversa. Dominic pode querer eliminar a
concorrência, me fazer aproximar mais dele, banir Nicolai por ele ter
tido um filho fora do casamento ou matar meu pai. Esse último me
deixa com as vistas embaçadas, ele pode querer fazer o que quiser
com Nicolai, mas se tocar em Luke eu o mato, sendo meu irmão ou
não!
As horas se passam e já não aguento mais esperar, quando
estou indo para sair a porta se abre e Nicolai entra, olho atrás dele
procurando meu pai, mas ele não está lá.
— O que aconteceu? Deu certo? Cadê meu pai?
Ele passa as mãos pelo cabelo e vai para o meu quarto, pega
uma bolsa e começa a colocar várias roupas e objetos lá dentro.
— A partir de agora você está por sua conta, você vai sair por
aquela porta e não vai voltar mais, está me entendendo?
Me assustei com o tom de comando em sua voz, com o que
ele estava falando.
— Por que eu tenho que ir embora? Você disse que tudo ia se
resolver, que eu iria para outra casa e que Dominic iria aceitar.
Ele se virou e me deu um tapa na cara.
— Não seja estúpido, moleque! Você nunca iria para lá. Você
acha que ele quer ficar com meu bastardo dentro de casa? Luke foi
lá conversar com ele sobre isso e sabe o que ele fez? — soltou uma
risada debochada. — O matou com vários tiros! Só por querer juntar
os dois irmãos.
— É mentira, Luke disse que seria fácil, que vocês dois já
estavam preparando o terreno e que seria uma conversa fácil — falo
tentando acreditar nas minhas palavras, mas sabia que eram vazias.
— Nós te falamos como Dominic é, ele é frio, calculista. Nós
te falamos que ele teve a coragem de matar várias pessoas
inocentes para se manter no poder, que foi ele que armou para me
tirar do comando. Você acha que um cara que teve coragem de
matar várias secretarias porque elas gostavam de mim, não teria
coragem de matar um moleque para se manter no poder? Não teria
coragem de matar o seu pai, meu braço direito? A melhor coisa que
você faz agora é ir embora, ele vai vir atrás de você. Você quer estar
aqui quando ele entrar nessa casa procurando o empecilho? A mim
ele não irá matar, mas nada o impede de fazer o mesmo com você,
ninguém sabe sobre você ser meu filho, ele pode até inventar uma
história sobre você ser um traidor ou cúmplice de um traidor. Porque
foi isso que ele acabou de falar na sala para todos, que Luke era um
traidor e morreu por isso!
Não ouvi o restante do que ele disse, na minha cabeça só
estava passando a parte “o matou” e “traidor”. Meu pai não era um
traidor, ele era o antigo braço direito do Capo! Tinha honra! E o
desgraçado tirou até isso dele, o chamando de traidor. Me virei e saí
do quarto.
— Eu vou matá-lo!
— Você não vai matar ninguém, o que um garoto magricela
vai fazer com um mafioso? — me segurou pelo colarinho e me
arrastou para o quarto novamente — você vai me ouvir e fazer
exatamente o que eu falar. Vai sair dessa casa e nunca vai olhar
para trás, pelo menos por enquanto.
O que eu ia fazer? Sem ninguém por mim, Luke morreu
tentando me proteger, tentando me aproximar do meu irmão, e o
que ele ganhou? A morte.
Olho em seus olhos e respiro fundo, nesse momento algo se
quebrou irrevogavelmente dentro de mim.
— Eu vou, mas irei voltar e quando isso acontecer vou botar
essa família abaixo, Dominic se arrependerá de ter matado meu pai.
— Falo e me viro indo para a porta da casa.
— Eu sou o seu pai — falou irônico.
Não me virei para responder, não olhei para trás
novamente, atrás não tinha mais nada para mim, mas na minha
frente tem muitas possibilidades, entre elas a minha única chance.
Quando eu voltar irei destruir todos. Afinal, era só isso que os
Trevizan sabiam fazer. Matar e destruir!
Lucca Martiero
Dias atuais...
M e sento fundo do
salão de baile com
meu copo de
whisky na mão. Ao meu redor estão os maiores criminosos dos
últimos tempos, mas só um me interessa. Se as pessoas dessa sala
não estivessem tão com a cara em seus traseiros notariam nossa
semelhança, começariam a se perguntar quem era o homem que se
parecia tanto com o Capo da Família Trevizan. Mas não, eles estão
submersos em bebida e em como se acham poderosos, mal sabem
eles que isso está prestes a acabar.
No meio do salão um dos meus futuros alvos dança como
uma bailarina, não posso negar sua beleza, puxou a mãe e a avó
nesse aspecto, começo a ver por que meu irmão se deixou abater
por sua mulher.
Nos últimos trinta minutos a vi passar de mão em mão,
rodopiando pelo salão, sorriso no rosto, vestida para matar com um
elegante vestido preto com pedrarias no mesmo tom e seu cabelo
vermelho flamejante. Uma verdadeira vida de princesa.
Ao me lembrar por tudo que passei por causa deles, meus
dentes rangem. No entanto, por um lado foi bom, eu subi ao topo,
me tornei o predador que meu pai queria que eu fosse, que ele
sabia que me tornaria. Foi uma subida difícil, ninguém nessa sala
me reconheceu quando apareci, quem pensaria que um investidor
bilionário das ilhas Maldivas, que estava a passeio pela toscana, era
o menino magricela que teve que sair correndo para não morrer na
mão do seu capo? Ninguém imaginou, nem mesmo ele.
Foi tão fácil entrar no círculo social deles, apenas precisei
pagar para um trombadinha tentar sequestrar a esposa, aparecer
como se no acaso e salvá-la de um destino cruel matando o
sequestrador. Fácil, ganhei um convite para o baile da princesa
Maria Valentina Trevizan, que nessa noite completa 18 anos.
— Você poderia tentar se enturmar, não é toda vez que uma
pessoa vem para a Toscana, minha filha gostaria de dançar com
você — uma voz fala atrás de mim, Dominic. — Na verdade, fico
meio desconcertado, ela não para de falar sobre como você salvou
minha mulher, ainda não tive a oportunidade de te agradecer — vem
para a minha frente e estende a mão para mim — Dominic Trevizan,
tenho uma dívida com você, o que precisar, pode me falar.
O que eu precisar? Que tal sua cabeça em uma bandeja?
Sorrio com esse pensamento e estendo a mão.
— Qualquer um no meu lugar teria feito a mesma coisa, então
não precisa me agradecer e você não me deve nada — falo levando
o copo a boca, tomo um gole e volto a olhar o salão — Vejo que ela
está se divertindo, afinal você só faz 18 anos uma vez na vida, me
lembro quando eu fiz essa idade, foi libertador.
Ele olha para mesma direção em que eu estava olhando e
sorri ao ver sua filha, logo depois olha para a direção que está sua
esposa com algumas mulheres.
— Confesso que algumas vezes me sinto mais velho do que
já sou, essas duas um dia vão me matar — dá uma gargalhada
estrondosa.
Fico surpreso, na época em que estive aqui nunca o vi com
um mísero sorriso no rosto, agora ele não só sorriu como está
conversando normalmente, sem formalidades e com alguém que ele
mal conhece. Ou ele ficou mais descuidado do que parece ou está
atuando por pensar que não sei o que ele é.
— Você ainda é novo, quantos anos tem, se me permite
perguntar?
— Estou com 54, mas minha esposa fala que pareço o
mesmo cara de 35 que ela conheceu — da risada — E você,
quantos anos tem Martiero?
Foi estranho ouvir o sobrenome de Luke sair de sua boca,
esperei ver reconhecimento em sua feição, dado o fato que ele
queria me matar quando eu morava aqui, mas os vinte anos corridos
deve ter feito sua memória falhar, sorri com isso. Apesar que não
será tão bom abater um coelho ferido.
— Tenho 33 anos.
— Novo, qual o seu ramo de negócios?
—Trabalho com transportes, compra e venda de imóveis,
artes… sou versátil — sorrio e tomo mais um gole da minha bebida.
O que eu queria dizer mesmo era: você sabe, transporto
armas, escravos, drogas, compro e vendo obras de artes famosas e
que nunca mais aparecerão para o público, porque alguém muito
rico a queria só para ele.
— Eu trabalho com vinhos, minha família é a maior produtora
deles na Itália — dá de ombros e fala — você sabe, dê uma massa
e uma taça de vinho para um italiano e ele faz disso uma
comemoração.
— Sim, eu sei, amo um bom vinho. — E como será sua cara
ao saber que daqui a menos de cinco minutos três dos seus
principais vinhedos estarão queimados?
— Minha esposa irá fazer um jantar beneficente amanhã,
arrecadar fundos para uma obra que ela está fazendo no hospital
local, uma ala totalmente especializada para o tratamento do câncer.
Se quiser aparecer por lá — chama um homem no fundo do salão.
Quando ele chega perto, fala algo baixo e o homem lhe entrega um
papel, depois vai embora — esse é o convite, será um prazer
recebê-lo.
— Claro, vou ver se consigo ir — olho para trás dele e fico
rígido, sua filha está vindo em nossa direção.
— Oi, paizinho — chega abraçando-o e sorri para mim — Oi,
você é o homem que salvou a mamãe, né? Prazer, me chamo
Valentina, mas pode me chamar de Tina. — Fico surpreso quando
ela vem me abraçar também.
— Tina, você está assustando nosso convidado — vejo que
ele ficou sério, na verdade os seus olhos mostravam tudo, menos
calma.
— Relaxa pai, foi só um abraço, acho que todo mundo
deveria aprender a dar mais — seus olhos estavam pegando fogo,
franzi a sobrancelha com isso, ela não se parecia mais com a
menina de poucos minutos atrás, estava meio alterada, então
descobri. Estava bêbada. Uma ideia me veio à mente com isso e
resolvo encerrar a noite.
— Preciso ir, estou cansado da viagem — cumprimento os
dois com um aceno de cabeça — amanhã estarei aqui. Boa noite,
senhor e senhorita Trevizan.
— Venha mesmo, lindinho, eu estarei no leilão, que tal uma
noite comigo? — soltou uma risadinha.
— Maria Valentina! — agora ele estava furioso, saí do local
rapidamente, mas não sem antes ouvi-la falar.
— Papai, vocês estão me sufocando! Eu só quero ter uma
noite normal, eu serei leiloada para um jantar e não para ir para
cama, eu tenho 18 anos, poxa!
Sorrio e pego meu telefone ao sair da mansão, entro no meu
carro e ligo para meu contato.
— Cancele os planos, tenho algo melhor do que queimar
vinhedos.
Valentina
M
inha mãe passou
as últimas duas
horas falando como
meu
comportamento ontem foi indiscreto, que eu era muito bonita para
ficar me jogando em cima de um homem. Minha vontade era revirar
os olhos, nada que eu faço está certo ultimamente.
Semana passada quis ir tomar um drink com as amigas, mas
não tive permissão, o motivo era sempre o mesmo, os inimigos de
papai. As vezes queria ter nascido em outra família, não que não
ame meus pais, eu morreria por eles, mas eu quero liberdade, poder
sair sozinha e anonimamente. Era um saco sair rodeada de
seguranças, me sinto em uma prisão.
Suspiro pronta para falar o que está entalado em mim.
— Mamãe, você poderia parar para me ouvir só um
momento? — me sentei e bati a mão do meu lado do sofá, ela me
olha e se senta — Eu sei que a senhora e o papai me amam e só
querem o meu bem, deve ser difícil para vocês porque não tiveram
um menino para suceder ao papai quando ele precisar sair. Mas
mãe, eu quero ser eu, preciso me sentir eu mesma, ultimamente me
sinto ou como uma rosa presa em uma redoma ou uma aspiração
que a senhora sempre sonhou. Cada dia que passa isso vai se
afundando mais em mim, meu pai está procurando marido para mim
mãe! E se eu não quiser me casar? E se eu quiser cursar uma
faculdade? E se eu não quiser ter filhos? Estou me sentindo um
simples objeto de manobra, com medo de falhar — não me seguro e
começo a chorar, vejo que mamãe também está chorando.
Ela me segura com força, passando as mãos em meus
cabelos, passando a mão no rosto para afastar as lágrimas.
— Querida eu nunca quis que você se sentisse assim, mas
vou tirar pelo menos uma dessas dúvidas que você tem, o restante
você tem que conversar com o seu pai. Você nunca foi uma
aspiração para mim, você não é meu sonho e nem o meu desejo de
ser. Você é minha realidade, meu presente! Você sempre vai ser
minha menininha para proteger e cuidar — põe uma mão em meu
rosto e com a outra enxuga minhas lágrimas — você tem o nome de
duas pessoas guerreiras, eu nunca duvidei que você teria a força
delas. Vejo agora que eu e seu pai temos tanto medo de que algo
aconteça com você que acabamos te sufocando, se você pelo
menos pudesse entender...
Mamãe ficou pensativa novamente, quando ela ficada assim
uma melancolia se apossa do seu rosto.
— Mãe...
— Valentina, eu já perdi pessoas demais! Eu acho que se
perdesse você eu não conseguiria me levantar novamente, você é
meu coração — me abraça forte.
— Mãe, amor é liberdade — faço ela olhar para mim — Você
sabe o que vai acontecer se eu tiver que me casar com alguém
agora? Eu vou murchar! Se pelo menos eu pudesse escolher, eu
fiquei sabendo pela filha do tio Demétrius mãe! E Charlotte me
odeia, jogou na minha cara o quanto eu era incompetente até para
escolher meu próprio marido. E não é só isso, é o fato de eu sempre
confiar em vocês e me senti traída.
Ela olha para mim e dá um sorriso triste.
— Eu nunca quis que você se sentisse assim com a gente
filha, vamos fazer o seguinte. Vou tentar falar com seu pai, mas
você sabe que não é muito fácil, enquanto isso evite... — vi que ela
estava procurando palavras para falar — ficar alterada nas festas e
abraçar homens estranhos e charmosos - sorri com a última parte.
— Sério mamãe? — pulei do sofá feliz e levantei ela em um
abraço de urso. — Juro juradinho que beberei no máximo duas
taças de champanhe e só irei dançar com os amigos da família.
Tive que cruzar os dedos atrás das costas na última
promessa. E se aquele homem de ontem viesse? Ele era tão quente
com aqueles cabelos pretos com um corte estilo pós foda, e o
olhos? De um azul tão lindo, parecia as profundezas do mar da
Toscana.
Ela me olha e cruza os braços batendo um dos seus pés com
os saltos dez centímetros no chão.
— Olha aqui, garota, eu tenho 42 anos e não 2, também já
tive sua idade, e pode apostar que eu era muito esperta. Então
descruze esses dedos e trate de cumprir com nosso acordo.
Soltou uma gargalhada, mamãe ainda era uma mulher muito
linda, papai ainda se atraca com alguns caras por causa disso. Por
incrível que pareça parece que os anos amadureceu sua beleza,
seus cabelos continuavam vívidos e seus olhos castanho mel estão
radiantes.
— Tudo bem Rainha Katy Trevizan, oráculo do milênio,
senhora que sabe e olha tudo — também me divirto com esse nosso
momento descontraído.
Ela me olha arqueando as sobrancelhas, balança a cabeça
em negação e vai até a porta.
— O jantar beneficente está para começar, vá se vestir que
eu tenho que arrumar essa bagunça de rímel em meu rosto, porque
ao contrário daquela moça do BBB Brasil que a gente estava
assistindo ontem. Eu não sou maquiadora, passei a mão e borrei —
sai rindo.
— Só não deixa o senhor Dominic ver! Ele vai falar que você
está fazendo VT para ganhar uns likes em formato de diamante! —
gritei rindo. Toda vez que mamãe chora papai compra uma joia para
tentar alegrar a vida dela, mesmo quando a lágrima é de felicidade.
Me viro e vou até o guarda-roupa. O que vestir para atrair um
homem? Ainda mais um homem daqueles? Aí ele aparece, aquele
vestido que saí escondida para comprar no meu aniversário de 17
anos, nunca tive a oportunidade de usar. Papai iria pirar, mamãe
teria um treco. Sorrio. Mas "ele" irá me notar.
Com o plano que eu montei ontem na minha cabeça vou ao
banheiro tomar meu banho.
Posso não ter algumas escolhas vivendo com a máfia, mas e
se eu causar um sentido de dever? Já vi muitos mal-entendidos se
resolverem com uma conversa ou.... com um acordo!
Lucca Martiero
Q uando chego, a
música
tocando,
já
passa e peço uma taça de champanhe, não vejo nenhum dos três
anfitriões no local, ando em direção a uma pilastra e me encosto,
porém, não fico sozinho por muito tempo.
Uma garota muito bonita se aproxima, cabelos negros e olhos
verdes, sei pela aparência que ela é da família, tanto meu falecido
pai como a falecida mãe de Dominic tinham olhos verdes.
— Olá, famoso, já ouvi falar muito de você, titia e Valentina,
na verdade, não param de falar, agora vejo o porquê.
Sorri e morde o canto dos lábios, se aproxima de mim e
coloca as mãos na lapela do meu terno. Ergo as sobrancelhas com
seu atrevimento, uma garota peculiar, confesso. Afasto suas mãos
de mim e me endireito, vendo por algum ângulo poderia dar a
impressão de que estamos muito íntimos, não quero confusão, pelo
menos por enquanto.
— Lucca Martiero. — Estendo a mão e ela rejeita, se
aproxima e fala em meu ouvido.
— Charlotte Viniert... E é um prazer te conhecer, Lucca
Martiero. — Se afasta e pisca um olho.
Então a pirralhada era filha de Demétrius, outro que sempre
fingiu que eu não existia. Me sinto em Êxtase ao pensar na reação
deles quando minha identidade for revelada, quando descobrirem
que seu reinado de traições e mentiras está para ter um fim.
Desvio dos meus pensamentos quando vejo que todos estão
parados olhando para a escada, meu queixo quase cai. No topo da
escada está uma Valentina totalmente diferente da noite passada,
seus cachos agora estão moldados só de um lado do pescoço,
mostrando sua simetria delicada, olhos esfumaçados pretos e batom
vermelho sangue, brincos grandes com pequenos diamantes caem
até o começo dos seus ombros, um vestido apertado até um pouco
antes das coxas em um vermelho vibrante cheio de brilho, saltos
pretos altíssimos completam seu figurino. Ela está magnífica.
Sinto minha boca secar, meu pau salta, me ajeito e tento
pensar em outra coisa. Ouço um resmungo ao meu lado e olho em
direção da garota.
— Algum problema, senhorita? — Ela cora e abaixa a
cabeça.
— Não é nada, só que me sinto deslocada perto dela, é uma
pessoa difícil, sabe? Não gosta muito de mim, na escola era um
pesadelo, vivia puxando meus cabelos, ninguém fazia nada por ser
filha de quem é — confessa, suspirando. — Não gosto de falar
muito disso, ainda é doloroso para mim. Prefiro ficar na minha, é
melhor passar despercebida. Falando nela, ela está vindo, disfarça.
— Você veio — Valentina sorri para mim e estreita os olhos
para Charlotte — e em péssima companhia, pelo que eu vejo. Me
diz, Charlotte, você não tem mais ninguém para envenenar? Acho
que está sobrando.
Não gosto do seu tom de voz, a garota é muito esnobe,
igualzinha o pai, pelo visto. Seguro na cintura de Charlotte e a
encaro.
— Na verdade, estávamos em um papo muito interessante, e
sinto informar, mas quem está sobrando aqui, é você. Nós
estávamos saindo para dançar nesse instante.
Falo e não espero sua resposta, saio de lá e vou para pista
de dança.
Valentina
Quatro horas, contei cada segundo que tive que passar com
minha prima. Garota mimada, chata, racista e ainda é xenófoba.
Tive que conversar com a atendente que ela humilhou para
não processar, Charlote chamou a moça de escurinha e ainda
brincou, falando se ela tomou todos os cuidados para não trazer
doenças para o país dela. Minha vontade era oferecer meu próprio
advogado para a moça meter um processo nas costas dela. Em vez
disso, tive que conversar e oferecer dinheiro. Se essa idiota fosse
processada iria trazer problemas para meu pai e o tio Demétrius.
Mas ela não ia escapar disso, sei que tio Demétrius tem uma mão
de ferro quando quer.
No caminho para casa ficou falando sobre direito de se
expressar, até que me irritei e parei o carro no acostamento.
— Olha aqui Charlotte, eu sei que para você é difícil entender,
porque não tem muitos neurônios nessa cabecinha, mas vou falar
mesmo assim. O mundo não gira ao seu redor, o seu direito acaba
quando o do outro começa e de maneira nenhuma você pode
chegar em uma pessoa e a ofender. Fora o que os jornais falariam
de nossa família e ainda tem o fato que a pessoa atingida pode se
ferir muito, você é privilegiada e mimada, mas não é melhor que
ninguém! Quando morrer vai feder igual, apodrecer igual e vai para
debaixo da terra igual todo mundo!
A deixei sem palavras, me acalmei um pouco e voltei para a
estrada.
Quando chegamos tinha duas pessoas na sala, Lucca e
Pietro. Os dois estavam em um clima estranho. Olharam para nós
entrando, Pietro veio em minha direção.
— Oi, como foi as compras? — rodeou seu braço direito em
minha cintura.
Charlotte se aproxima de Lucca e fala algo em seu ouvido,
ele me olha e fecha a cara. Eu realmente estava cansada disso
tudo. Me estico e dou um selinho em Pietro, ele corresponde com
fervor. Quando nos soltamos a sala está vazia.
— Nossa, nem um tchauzinho? — sorrio e me afasto dele —
estou cansada. Podemos conversar depois?
Seu rosto fica abatido, mas confirma.
— Claro, podemos marcar de sair essa semana.
— Beleza, só me mandar mensagem — falo enquanto pego
seu celular e anoto meu número.
Ele me dá outro selinho e vai embora, me sento no sofá.
— Que dia foi esse...
Não percebi quão cansada estava, meus olhos foram
fechando. Acho que dormi no sofá, estava com muito sono e não
conseguia abrir os olhos. Sinto alguém me levantar e me segurar
em seus braços. Não era um corpo familiar. Me aconchego mais e o
sono me pega de vez...
Charlotte Viniert
A
os dez anos, vi o
menino que eu
gostava chegar em
mim e dizer oi, fiquei
superfeliz por ele me notar. Só para eu ver meu coração de criança
se despedaçar quando ele me pediu para entregar uma rosa para
ela, minha prima talentosa, linda e popular.
Aos treze, tudo se repetiu, mas tentei tirar isso do meu
coração. Então comecei a atacar do jeito que eu podia. Falava da
sua aparência, falava da sua postura, era a filha, sobrinha e amiga
perfeita para todos. Porque percebi naquele tempo que a vida é uma
grande peça de teatro.
Aos dezessete, perdi minha virgindade no baile de formatura,
com o atacante da equipe de futebol. Clichê, não é? Mas essa foi a
única coisa que ela não tirou de mim. Foi uma noite alucinante, e o
melhor, ninguém percebeu. Até que eu tive que encenar que a perdi
novamente dias atrás, porém, foi fácil.
Eu simplesmente peguei o diário da Senhorita perfeita e segui
passo a passo, mas quando chegou na parte da virgindade eu fingi
sentir muita dor, o empurrei, pedi um tempo. Quando ele saiu eu
peguei uma navalha de barbear do armário e fiz um pequeno corte
no interior da minha coxa, vi o sangue manchar a frente do meu
vestido branco com a felicidade brotando no meu peito. Eu teria a
única coisa que ela não poderia ter: Ele.
Foi muito fácil mentir, principalmente quando saí do banheiro
e Papai estava caminhando em nossa direção. O olhar em seu rosto
ao notar a mancha em meu vestido e me ver ao lado de Lucca todo
bagunçado teria feito eu correr de medo, isso se eu não soubesse
como terminaria.
Eu a odeio, odeio por ela ser quem ela é, odeio por ela ser
bonita, odeio por ela ter tudo que deseja, odeio por todo mundo ficar
babando em cima dela. Eu a odeio por existir!
— Xeque-mate em você, priminha — gargalhei e me joguei
na cama. Minha felicidade atingindo níveis estratosféricos.
Me levanto e busco seu diário, leio algumas lorotas de como
ela amava gastronomia, seus pais, sua vida perfeita, sua futura
liberdade e blá, blá, blá. Vou até o banheiro e jogo dentro do lixo de
inox, jogo um pouco de acetona que estava na pia e ponho fogo
nele. Me delicio ao ver as chamas lambendo página por página.
Suas recordações, seus planos. Quase consigo imaginar Valentina
no lugar dele, gritando de dor, pedindo clemência. Me sinto quase
excitada por isso. Sem diário, sem provas. Sem ninguém para falar
que era um plano dela.
No final, a menina perfeita não é tão perfeita. Eu ganhei
dessa vez, eu a venci. Eu fui a melhor. Agora me sinto vingada por
todos os anos sendo sempre a segunda mais bonita, a segunda
mais inteligente, mais doce, meiga. Eu tornarei a vida dela um
inferno...
Hoje eu sou a primeira, a rainha!
Lucca Martiero
Quando você começa algo tem que terminar, no meu caso foi
algo que planejei no aniversário de Valentina Trevizan. Por que
queimar uns vinhedos quando eu poderia ter tudo? Eu poderia ver
de perto o desespero dele quando eu tomasse tudo que lhe
pertencia. Um plano simples e sem falhas. Ganharia o jantar com
sua filha, depois tiraria sua virgindade em algum lugar que alguém
pudesse nos flagrar da mansão.
Como marido de sua única filha eu seria o próximo sucessor
de Dominic, quando isso acontecesse eu teria todo o controle da
Máfia, aí a destruiria junto com ele. Não importava se demorasse
dias ou anos, mas iria acontecer.
Então conheci a verdadeira Valentina Trevizan. Garota
mimada que gosta de humilhar sua própria família. Nesse momento
percebi que nem ela valeria a pena salvar.
Charlotte se sentia oprimida por ela, mesmo quando a levei
para um dos banheiros do térreo da mansão e transei com ela, ela
era tímida e sofreu de começo, não quis deixar eu continuar e
mostrar o que era sentir prazer, me expulsou do banheiro e pediu
para ficar sozinha. Quando resolveu sair, foi o momento que seu
pai apareceu.
Desde então tudo estava indo como o planejado, só mudou a
noiva. E eles pensando que me obrigaram a casar com a menina.
Tolos, isso que se tornaram.
Porém algo dentro de mim insiste em dizer que algo está
errado, começando pela briga delas. Me fez ver que existe algo a
mais entre as duas, mas não é meu assunto para resolver. Hoje
achei irônico ver tanta amabilidade entre elas, qualquer um percebe
que elas não se suportam. Charlotte me falou como Valentina tratou
a atendente e isso me deixou com nojo, mas não tão enojado como
quando ela beijou o noivo engomado dela. Ele não duraria um
minuto nesse ninho de serpentes.
Saio da reunião que tive com Dominic e Demétrius e me
encaminho em direção a saída, ao chegar na sala vejo Valentina
deitada no sofá, sua expressão estava serena, transmitia paz. Algo
que falta em mim no momento. Quem olhasse de fora não saberia
dizer o quanto é mesquinha e má. Me aproximo e a pego no colo,
ela tenta abrir os olhos, mas o sono vence, se aconchega mais em
mim. Ando rápido para ninguém me pegar nos corredores com ela
nos braços.
Ontem eu explorei a casa inteira, decorei as saídas e rotas de
fuga. Dominic está ficando descuidado deixando qualquer um que
faz uma boa ação conhecer onde mora, onde seus tesouros
descansam.
— Vai ser mais fácil do que eu imaginava.
Chego no seu quarto e a porta está aberta, olho ao redor e
não tem ninguém nele. Coloco-a na cama e por impulso, afasto seus
cabelos do rosto, me inclino e sinto o gosto dos seus lábios.
— Tão linda — sussurro — e tão venenosa...
Antes de cometer algo que possa atrapalhar meus planos, me
forço a sair do quarto.
Dominic não tem um herdeiro masculino para ser seu próximo
na liderança, então Demétrius como seu consigliere será o próximo
na sucessão. Isso porque estou tirando Valentina Trevizan fora do
páreo, ela não irá se casar.
Pessoas mortas não se casam.
Valentina
A
bro os olhos e olho
em volta, não estou
na sala, alguém deve
ter me carregado até
aqui. O quarto tem um cheiro levemente familiar, muito bom, por
sinal.
Alguém bate na porta, me sento e espero a pessoa entrar. É
minha mãe.
— Oi, querida, te acordei? — vai até mim e me dá um beijo
na face.
— Não, eu já estava acordada — sorrio e retribuo o beijo.
— Vim te chamar porque Pietro e Lucca estão lá embaixo.
Vieram conversar com seu pai e Demétrius sobre o casamento. Sua
prima já tem uma data. Agora falta a sua.
Me olha triste, mas tenta esconder atrás do seu sorriso.
Mamãe nunca deixou de ser otimista. Uma mulher forte dentro de si.
Papai sempre escolheu abrir o jogo comigo, me falou como
conheceu mamãe e como a tratou antes de se casar. Falou como
quase a perdeu pelas mãos do vovô. Outra palavra que ele odeia
que saia da minha boca, pois, para ele Nicolai não merecia
consideração nenhuma, mas como eu poderia falar mal de alguém
que eu não cheguei a conhecer?
Me levanto e vou fazer minha higiene pessoal, quando volto
mamãe está olhando para minha penteadeira com o cenho franzido.
— Algum problema mamãe? — Ando em sua direção e me
sento na cadeira da penteadeira.
— Cadê seu diário?
Não sabia o que responder, desde que o ganhei, três anos
atrás ele nunca saiu dali. Mas sempre falei a verdade para ela e não
seria agora que esconderia.
— Você vai acreditar em mim se eu te contar? Charlotte não é
o que você pensa, o que todos pensam. — Não que eu não
confiasse em mamãe, mas Charlotte sempre ficou se fazendo de
boa moça na frente de todos.
— Princesa, você sabe que sempre pode confiar em mim —
pegou uma cadeira e se sentou na minha frente — e se for medo do
seu pai, pode confiar que não contarei a ele. Será nosso segredo —
sorriu e mostrou o dedo mindinho para nós jurarmos. Como eu amo
essa mulher.
— Eu aceitei me casar mamãe, mas eu fiz algo impensado.
Me interessei pelo Lucca no dia que ele te salvou, aí depois ele veio
em meu aniversário e cheguei a flertar com ele. Estava decidida a
coagi-lo para ficar comigo — a última parte fiquei super
envergonhada em dizer.
— Querida...
— Mamãe, me deixa terminar, ou vou perder a coragem —
corto seu possível sermão e prossigo. — Fiz um plano que anotei
em meu diário. Como senti que Lucca começou a se interessar por
mim, faria algo para ele comprar uma noite comigo. Depois do
jantar, como iria me trazer para casa, pensei em arrastá-lo para o
banheiro do térreo, iria beijá-lo e ficar nos amassos com ele. Então
daria um jeito para o papai ou algum dos seguranças encontrar a
gente ali e o obrigaria a se casar comigo. Pelo menos, eu me
casaria por quem me interessei, mamãe. Não que Pietro seja feio,
mas não rola nenhuma faísca.
Ela respira fundo, tentando absorver tudo que falei.
— Ok, e como Charlotte está envolvida nisso?
— Ela entrou no meu quarto e pegou meu diário, viu meus
planos e fez o que eu ia fazer, fez até mais. Ela fez ele me odiar,
comprar uma noite com ela e até deu sua virgindade para ele —
estava ficando nervosa só de tocar no nome dela. — Foi por isso
que brigamos naquele dia, porque ela assumiu que o roubou, e
agora tudo que eu quero é acabar com a raça dela, mamãe.
Não me sentia menos pesada, mas com certeza me sentia
menos oprimida do que antes. Mamãe ficou um tempo pensando no
que acabei de contar, abaixou a cabeça e ficou pensando, quando
levantou ela novamente o seu semblante estava frio.
— O meu mal foi achar que vocês ainda eram crianças, mas
pelo visto vocês cresceram faz tempo. E se tem uma coisa que um
Trevizan não faz, é perder. Se prepare, Valentina, pois você não
perdeu esse jogo. Temos pouco mais de duas semanas, ela vai se
casar no ano novo. Até lá, temos que agir. Eu prometi uma coisa
quando aceitei me casar com seu pai. Prometi sempre enfrentar
tudo com ele e ai de quem se metesse conosco.
Nunca tinha visto minha mãe desse jeito, ela estava diferente
nesse momento, como se outra Katy tivesse tomado conta do seu
corpo.
— Mamãe...
— Agora não é hora de conversar mais, vamos, que seu pai
está nos esperando, quero estar presente nessa reunião.
Estamos a quase duas horas conversando, mamãe tomou
conta da reunião de um jeito surpreendente. Bateu o pé e fez meu
pai concordar que eu só me casaria após a faculdade, aos 21 anos.
Quem não gostou muito foi Charlotte e Pietro. Ela junto com tia
Katrina fez a programação toda do casamento de Lucca e Charlotte.
Quem visse de fora até pensaria que mamãe estava interessada
mesmo nesse casamento. Nunca vi esse lado dela e confesso que
me dava um pouco de medo.
— Bom, então você fica encarregada dessas coisas de
mulheres, querida — papai fala acariciando a mão da minha mãe —
e os homens ficam com a parte divertida, as papeladas.
P
aro ao lado de um
restaurante onde
Dominic vinha com
frequência fazer
reuniões com a Família. Thomas sai do carro que estava atrás da
gente e vem para nosso lado. Mas o que tenho que conversar com
Valentina não pode ser escutado por ninguém, por isso vim aqui.
Tenho certeza de que não tem escuta em nenhuma das salas de
reuniões.
— Obrigada, Thomas, mas pode comer algo com os homens,
eu e minha filha iremos nos demorar um pouco, quero comemorar
com ela as novidades — sorrio e pego na mão de Valentina.
— Claro senhora Trevizan — acena e se afasta.
Não demonstro nada para Valentina, mas queria muito me
virar e falar mais uma vez para Thomas deixar de ser formal comigo.
Mais de 18 anos se passaram do ocorrido, não sei se ele superou o
que sentia por mim, mas até hoje não consegue olhar em meus
olhos. Não se casou, também não se afastou de mim, cuidou e me
protegeu todos esses anos. As vezes penso o que teria sido da
minha vida se eu tivesse escolhido ficar com ele, sair da Máfia. Mas
sei bem lá no fundo que não tinha escolha. Uma vez dentro da
Máfia, sempre na máfia.
— Mãe? — Valentina está olhando para mim com cara de
interrogação, percebo que estava submersa em meus pensamentos
mais uma vez.
— Desculpa querida, saí da terra novamente, não é? — Dei
risada disfarçando.
— Já tiro isso como normal mãe — ri também. — Estava
perguntando em qual sala iremos comer.
— Por aqui. — Caminho em direção a sala de reuniões onde
eu e Dominic costumamos comer, aonde ele me levou anos atrás
para comemorar a suposta morte de seu pai. Entro e parece que
tudo volta — Acho que essa não é uma boa sala para esse tipo de
reunião, vamos naquela ali.
Entramos e nos sentamos. Escolhemos um vinho e alguns
petiscos. O garçom trás nossos pedidos e peço para não sermos
interrompidos novamente.
Comemos em silêncio, até que minha filha não aguenta mais.
— Ok, mãe. O vinho está gostoso, os queijos também, mas,
por favor, estou morrendo aqui. — Reviro os olhos com seu drama.
— Tudo bem, temos quinze dias para arranjar tudo Valentina,
sem erros. Se acontecer algo a Família cairá em cima do seu pai,
você entende isso?
— Eu não quero que nada aconteça com vocês mamãe,
nunca me conformaria se algo acontecer. — Põe sua mão em cima
da minha e isso me aquece por dentro, faria tudo por ela.
— Eu nunca me perdoaria se deixasse sua felicidade e seu
poder de escolha ser suprimido. Então não terá erros. Iremos passar
tudo a limpo hoje. Todos nossos passos. Não terá papel, Valentina,
você vai ter que gravar sua parte aqui — bato com os dedos em
minha cabeça. — A maioria dos crimes são descobertos por causa
de planos em papéis, provas só serão achadas se envolvermos
muitas pessoas e deixarmos rastros.
— Mamãe, a senhora está parecendo a Bonnie de Bonnie e
Clyde. Ela era a cabeça maquiavélica do grupo — Sua risada era
contagiante, acabei rindo também das suas peripécias, mas me
controlei.
— Não é hora de rir, docinho, eu bolei um plano. Vou escrever
só aqui, mas irei destruir o papel. Quero que você leia e decore em
sua cabeça. Cada dia será uma peça encaixada, quinze dias, cada
dia uma parte. Sem suspeitas, tem que ser eficaz, para nem seu pai
desconfiar.
— Tudo bem, irei ser séria, eu prometo — ela fala e me olha
concentrada.
Pego minha agenda na bolsa e escrevo os dias um embaixo
do outro, na frente de cada dia uma parte do plano. Quando chego
no dia 1 de janeiro coloco sequestro.
— Agora quero que você decore minha filha, leia com
atenção, grave como se fosse um menu de um jantar que você tem
que apresentar para o melhor chefe do mundo.
Vejo ela arregalar os olhos ao ler enquanto escrevo. Sei que é
extremo, mas tem que ser verídico, se não for assim não tem como
dar certo, todos sofreremos se algo der errado.
— Tudo isso é necessário, mamãe? Como você vai conseguir
a façanha do número 1? Alguém vai sair ferido ou morto.
Fecho os olhos pensando em como explicar para ela a
situação.
— Querida, chegamos na parte da história onde a decisão
final é tomada. A decisão que mudará o percurso de tudo. Quando
eu saí do hospital anos atrás, após levar um tiro, eu decidi o meu
caminho, escolhi não ser a vítima — me uso de exemplo. — Escolhi
ser a protagonista do meu destino, aquela que finalmente iria
escolher qual direção tomar, porque até então, a vida estava me
jogando para todos os lados. Quando realmente escolhi o caminho a
seguir, eu consegui minha felicidade. Essa é sua vez, Valentina —
afirmo. — Saiba que qualquer decisão que tomar, eu estarei com
você, mas escolha sabendo que terá consequências dos dois lados
— dou o aviso. — Terá que arcar com cada decisão feita durante o
percurso. Mas não escolha por medo do que as pessoas pensarão
ou o que você terá que fazer para conseguir. Escolha porque é
aquilo que precisa, porque é aquilo que tem certeza de que quer.
Porque de uma coisa eu sei, querida. Você tem dois caminhos, mais
só um deles você terá uma possibilidade de ser feliz. — Estendo a
folha de papel para ela ler e entrego um envelope com vários
documentos que fiz para ela anos atrás, caso acontecesse algo
comigo e meu marido.
Aquela era minha opinião sincera, mas se eu fosse dar minha
opinião como mãe eu iria querer arrastar Valentina de lá, falar para
escolher a menos arriscada, seguir os costumes e tentar se
encaixar. Mas que tipo de mãe eu seria? Se até a mim foi dada o
poder de escolha? Fico em silêncio enquanto vejo ela ler linha por
linha, quando ela termina de ler foca seu olhar na parede. Se
levanta e vai até a lareira que está no canto oposto da sala.
— Quem disse que o lado fácil tem algo a ver com nossa
família? A única coisa que me preocupo é alguém se machucar,
mas serei uma miserável se deixar de fazer minhas escolhas.
Mesmo que seja dentro do nosso círculo. Mamãe, eu não vou fugir!
Não ficarei longe da minha família. Eu sou uma Trevizan! — Fala e
joga os documentos e a folha no fogo.
E assim ela escolheu o destino dela. Espero que minha
menina tenha feito a escolha certa, pois o inferno seria gelo
comparado ao que ia acontecer aqui na Toscana.
Valentina
17 de dezembro de 2034…
Mas como tudo na vida, eu fiz minha escolha e não tem como
voltar atrás. mamãe ficou em casa para entreter todos enquanto eu
falei que ia fazer compras. Meus seguranças estão nesse momento
do lado de fora do banheiro feminino do shopping e eu estou
tentando sair pela minúscula janela do banheiro.
— Senhor, tenho certeza de que não estou tão gorda — falo,
começando a sentir o suor descer pelo meu pescoço com o esforço
que estou fazendo.
Lucca Martiero
18 de dezembro de 2034…
H
oje amanheceu um
dia ensolarado, meu
íntimo está
transbordando de
felicidade. Não que eu esteja deixando isso transparecer para eles
porque o clima ainda está tenso. Ontem meu pai pela primeira vez
quase me bateu.
Estava furioso por eu ter me distanciado dos seguranças, isso
porque tive que ser convincente, então gritei para todo mundo que
estava me sentindo sufocada e por isso escapei para passear
sozinha. Mas quando contei do sequestro comecei a chorar e contei
que não esperava ser sequestrada. Falei para ele que nunca mais
faria algo assim e que foi horrível ser machucada. Dei um abraço
nele e em minha mãe. Isso pareceu tranquilizá-lo.
Mamãe me levou para o quarto e ficamos conversando por
um bom tempo, falou que deu tudo certo, mas contou também dos
seguranças que morreram. Me senti muito mal, mesmo que eles não
fossem homens bons, sei que eles também já mataram pessoas,
mas isso não tira os efeitos colaterais do qual nosso plano causou.
Indiretamente eu matei pessoas, não sou mais inocente.
Mamãe falou também sobre o planejamento do casamento de
Charlotte, sobre danças e degustações. Agora estou planejando
como prosseguir com a segunda parte do plano. Estamos em um
salão de dança renomado, ensaiando para o casamento.
No local está mamãe, tia Katrina, tio Demétrius, Lucca e
papai. Olho para minha mãe de canto de olho. Passo a mão em
meu vestido tentando me acalmar, essa parte é muito importante.
Ontem foi uma parte fundamental, mas hoje irá decidir como será os
outros dias. Mamãe me dá um aceno de cabeça e vai até uma
mesinha, pega uma xícara de café e caminha onde está Charlotte e
tia Katrina. Saio de perto de meu pai e me junto a elas.
— Você acha que o professor de dança vai demorar muito
Katy? — Katrina pergunta enquanto toma um gole de seu chá.
— Acho que não. Nós que estamos adiantados — pega sua
xicara, mas a mesmo acaba escorregando.
— Ahhh!!! — Vejo Charlotte gritar pulando quando o café que
minha mãe deixou cair suja sua roupa.
— Charlotte... — Minha mãe põe a mão na boca assustada
—, a xícara escapou dos meus dedos, alguém ajuda a menina!
Vou para seu lado tentando ajudar, mas ela está pulando com
o líquido quente, deixando todos nervosos, vejo o olhar de minha
mãe e quando Charlotte começa a correr para ir para o banheiro eu
finjo me adiantar e coloco um pé na frente, ela cai com um baque
estridente no chão.
— Charlotte, me perdoa — falo desesperada olhando para
todos com pavor nos olhos. — Eu ia te ajudar a se limpar, mas você
correu ao mesmo tempo, me desculpa...
Ela rola no chão segurando seu joelho.
— Está doendo muito, mãe!!!
19 de dezembro de 2034…
seguranças.
Aposto que aquele idiota foi falar com meu pai sobre eu me
levantar.
— Você não percebe, pai? Eu que tenho que estar indo para
esses lugares com Lucca, não Valentina! Ela não é a noiva!
Aquela víbora acha que não sei o que ela quer. Passar um
tempo com meu noivo para fazer com que ele a ame, a possua. Ele
é meu e serei condenada se deixar ela pegar a atenção de mais
alguém para si.
— Se você não for coerente, será uma noiva em uma cadeira
de rodas sendo empurrada para o altar — veio até mim e segurou
em meus braços, me fazendo olhar diretamente em seu rosto. —
Você vai se deitar naquela cama e vai repousar, se eu tiver que vir
aqui novamente para te dar algum sermão eu não pegarei leve.
Ele me olha muito sério, esperando-me concordar, balanço a
cabeça afirmando e me cubro com o lençol. Se dando por satisfeito
meu pai sai do quarto, olho para o segurança em minha porta.
— Saia do meu quarto, seu idiota!
Tudo está dando errado, meu casamento perfeito está sendo
feito e preparado por aquela cobra da Valentina e eu aqui deitada na
cama. O que meu pai poderia fazer comigo? Me bater por eu me
levantar? Eu não vou deixá-la tomar o que é meu!
Me levanto da cama com pressa, mas na hora de tirar o
lençol acabo me enroscando e caio de cara no chão.
— Aí! — Sinto meu pé latejar ainda mais do que antes, eu
não acredito no tamanho do meu azar. — Só pode ser praga
daquela diaba!
Valentina
Lucca Martiero
20 de dezembro de 2034…
21 de dezembro de 2034…
E
u estava cansada de
sempre ser a garota
perfeita, porque eu
não poderia
simplesmente ser uma mulher como as outras? Não coloco a culpa
no meu pai e nem em minha mãe, mas as vezes cansa.
Estou na sala com Pietro, não gosto dele, mas respeito, a
única coisa que me incomoda é o fato dele ficar querendo passar a
mão em mim toda hora. Ele usa sua beleza como arma, acha que
todas as mulheres têm o dever de se submeter ao seu carisma e
beleza.
Se fosse em outro momento da minha vida, se eu não fosse a
pessoa que sou hoje até poderia pensar em ser uma delas. Mas
depois que conheci Lucca Martiero não consigo achar outro homem
bonito. Ontem, quando o deixei no restaurante, me senti poderosa,
algo que eu nunca senti sendo protegida constantemente. Confesso
que me fazer de difícil foi algo que me abalou internamente. Nada
me preparou para sua expressão de deleite, como se esperasse que
eu fosse dar aquela resposta.
O grande problema é meu corpo! Ele não age em
concordância com minha cabeça. Minha mente diz para eu cozinhar
devagar para não queimar os ingredientes, já meu corpo diz para
fazer o mais rápido possível e me deliciar com o sabor. As duas
opções estão erradas, nesse momento tenho que ser fria, calma e
fazer de um jeito que possa usar os dois, unir meu corpo e mente
para terminar com meu plano.
Pietro fala algo e não entendo, então passa a mão em minha
coxa esquerda, arrastando-a devagar. Olho para ele furiosa.
— Você pode por favor tirar suas mãos de mim? — falo
afastando sua mão do meu corpo.
— Calma, eu sou seu noivo, qual problema tem em um
carinho? — Sorri maliciosamente.
Ele só pode estar brincando com minha cara, até dias atrás
eu não falava nem um oi com ele direito, agora o idiota acha que
tem alguma autoridade ou direito de passar a mão em mim?
— Como você mesmo disse, estamos noivos, tem muita
diferença, eu não quero você passando a mão em mim — suspiro e
passo a mão em meus cabelos — eu concordei em ficar com você
aqui para nos conhecermos melhor, não para dar uns amassos no
sofá — o encaro com raiva — e se meu pai descobrir que você anda
passando suas mãos em mim você não vai gostar do que vai
acontecer.
Diferente de Lucca ele ficou branco feito papel quando
ameacei ele. Isso confirmou o que já sabia, ele não serve para mim.
Eu queria alguém que fosse homem, alguém que não tivesse
medo do meu pai, que enfrentasse todos por mim. Alguém que
chegaria e falaria com todas as letras que eu era dele e só dele, que
mais ninguém ficaria comigo além dele. Eu queria alguém que fosse
mais alto que eu, cabelos pretos bagunçados e olhos Verdes da cor
de esmeraldas.
Me desanimo ao pensar que esse alguém no momento está
lá em cima no quarto de Charlotte. Fazendo não sei lá o que.
Ninguém mais ligava deles estarem sozinhos, já fizeram o que não
podia fazer mesmo. Me levanto e vou até o bar.
— Você não tem idade para beber, isso seu pai também não
gostaria — falou se ajeitando no sofá e cruzando as pernas.
Isso me fez rir demais, caí em um ataque de riso histérico que
tive que me controlar para parar.
— Você não acha engraçado? Não ter idade para beber, mas
ter idade para se casar? E ainda por cima se casar com alguém
esnobe, que se acha a última bolacha do pacote, a oitava maravilha
do mundo, o presente que Zeus deixou para os homens? — ainda
com raiva continuei — um homem que acha que todas as mulheres
têm que cair aos seus pés, que são só objetos? Pare de ser "você"
só por um momento!
Isso o deixou com raiva, muita raiva na verdade. Ele se
levantou e veio até mim, sua mandíbula trancada, dava para ver a
raiva em seus olhos. Dei um pequeno passo para trás no intuito de
me afastar e colocar distância entre nós.
— Você vai me respeitar — rosnou apertando meu braço —
no momento você é a princesinha do papai, mas será minha
esposa. Vamos ver se vai continuar com essa língua ferina...
Tento me soltar, mas o aperto está muito forte, olho em seus
olhos começando a ficar com medo. Sua expressão era de alguém
quase no limite da loucura, tento acalmá-lo.
— Pietro você está me machucando... Calma, vamos
conversar — ponho a mão em cima da sua, tentando soltar meu
braço.
— Conversar? Eu não quero conversar com você! Acha que
não notei o jeito que você me trata e o jeito que trata aquele Lucca?
Me acha tão idiota assim ao ponto de achar que sou cego?
Ok, isso está ficando estranho. Nunca tinha visto Pietro desse
jeito antes. Os poucos momentos que conversamos no passado me
deu a impressão dele ser um homem controlado, que sabia
conversar, falar com as pessoas. Um homem culto e de boas
maneiras. Esse Pietro que estava na minha frente era totalmente o
oposto do que eu pensava. O pior é que estava em um cômodo
onde mais cedo dispensei os seguranças por achar que estava
segura, afinal estava em casa.
— Eu não sei do que você está falando Pietro, sugiro que
você me solte e vamos conversar como adultos!
Parece que não resolveu muito porque no momento seguinte
ele estava me agarrando e prensando na parede.
— Vou te mostrar que sou melhor que ele. Que você em mim
você encontrará tudo...
— O que...
Calou o que eu iria falar com sua boca, segurou meu cabelo
com força e forçou sua língua, tranquei meus lábios, mas ele puxou
mais meus cabelos, fazendo eu soltar um grito que foi abafado.
Senti lágrimas se formando em meus olhos. Tentei empurrar e socá-
lo, mas claramente ele era mais forte que eu. Me sentia sem
esperança, insegura. Estava realmente com medo dele.
De repente senti seu corpo ser arrancado de cima de mim.
Caí no chão soluçando, olhei para cima e papai estava lá. Seu rosto
uma máscara de fúria.
— Pelo visto não teremos mais casamento. — Seu sorriso
não era de uma pessoa feliz, mas de alguém demoníaco.
Saiu arrastando Pietro com a ajuda de alguns seguranças, os
gritos do meu ex-noivo davam dó.
— Dominic você não pode fazer isso comigo, não pode!
Vamos conversar!
Papai não estava se importando, nem respondia. Mamãe
chegou no cômodo e me abraçou.
— Calma princesa, acabou, tudo vai ficar bem, venha, vamos
nos sentar.
Me levantei com sua ajuda e fui para o sofá. As lágrimas não
paravam de cair, escutei um barulho e levantei os olhos assustada.
Lucca estava lá olhando para mim, seus olhos estavam gelados,
com um sorriso frio em sua boca. Seguiu para fora, onde papai tinha
levado Pietro.
Não sei o que papai vai fazer com Pietro, mas não tenho um
pingo de dó da sua alma. Mas o que Lucca queria ao ir junto?
Pensando agora como tudo se desenrolou, era para eu me
sentir livre. Mas não me sinto assim. Acho que por medo, pois sei
que não há mais o porquê seguir com o plano. Mas não tem mais
volta para mim. Percebi isso agora. Eu sei o que quero, eu quero
Lucca Martiero.
— Não vamos desistir, mamãe!
Dominic Trevizan
E
stou em meu
escritório resolvendo
assuntos da família,
resolvo olhar nas
câmeras de segurança. Desde que aconteceu a situação com
Charlotte estou mais ligado. Essas coisas não podem acontecer
aqui dentro. Demétrius queria sangue, mas de nada resolveria matar
Lucca Martiero. Pelo menos ele aceitou de pronto casar-se com
Charlotte.
Vou passando as câmeras de segurança, não vendo nada
anormal, mas quando chego na câmera da sala minha visão fica
vermelha, o tique que tenho no olho direito ativa. Me levanto
derrubando a cadeira no processo, saio do escritório com passos
decididos, já fazia tempos que não matava alguém com minhas
próprias mãos.
No meio do caminho encontro com Lucca, mas não paro para
conversar, pego o telefone e ligo para Thomas.
— Gostaria de saber quem foi a porra do idiota que deixou
minha filha sozinha! — falo quase gritando no telefone.
Quando estou chegando na sala os seguranças resolvem
aparecer, atrás deles vem minha esposa e Lucca.
— O que foi Dominic? — Katy pergunta preocupada.
— Agora não, querida. — Vou até a sala e o que vejo faz meu
rosto se contorcer em um sorriso. — Pelo visto, não teremos mais
casamento.
Arranco-o de cima de Valentina, minha filha cai no chão
chorando e aceno para Katy ir até ela.
Saio arrastando Pietro para fora de casa, há muitos anos
prometi para Katy que não traria mais a Máfia para dentro de nossa
casa. Desde então tenho cumprido com minha promessa. Arrasto
ele com a ajuda dos seguranças para o carro. Ponho ele no porta-
malas ainda gritando para eu ouvi-lo. Mas o que eu o vi fazendo
com minha filha não precisava de explicação.
Sento-me no volante e vejo Lucca saindo da casa.
— Vou com vocês — entra no carro do meu lado.
— Você tem certeza de que tem estômago para isso?
— Se vou entrar então tenho que ver essas coisas não? Aliás
Também quero fazer parte disso — fala acenando para a parte de
trás onde Pietro está, dou partida no carro e aceno.
Tenho que concordar que ele tem bolas, se não estivesse
com a filha de meu primo seria um marido a considerar para
Valentina.
Chegamos no local e meus homens retira Pietro do carro
levando para dentro do meu galpão.
— Por favor, Dominic, por favor... Eu não queria fazer aquilo,
por favor — grita desesperado.
Meus homens o prendem suspenso nas correntes que tinha
no teto.
— Antes de eu terminar você irá entender o porquê me
chamam de diabo — seu rosto tem uma mistura de terror e
incredulidade — Você foi mexer com uma das duas pessoas que
significam tudo para mim.
Vou até a mesa com as coisas que uso para torturar, já tinha
um tempo que não pegava nelas. Vejo uma das coisas que mais
gostava, pego o rolo de arame farpado e caminho em sua direção.
Nessas horas deixo tudo de lado, crio uma barreira ao meu redor,
nunca contei isso para minha esposa, mas sentia falta da dor que eu
causava nas pessoas e do sangue em minhas mãos, hoje em dia
deixo essas partes por conta dos meus homens.
Rasgo suas roupas e o deixo exposto, pego o rolo de arame e
começo a enrolar sua perna, as primeiras lâminas deixa fios de
sangue escorrendo e seus gritos irritam meus ouvidos.
— Dominic, eu sou seu sócio! Você não pode fazer isso
comigo! — tenta se soltar das correntes e isso acaba por enterrar
mais fundo as lâminas em sua pele.
— Traga a mesa para perto de mim, Thomas — falo para
meu chefe de segurança enquanto termino de enrolar seu corpo,
Pietro para de se mexer quando percebe que cada movimento
brusco cortava mais sua pele. Quanto Thomas se aproxima com a
mesa, eu sorrio. — Vamos ver agora o quão bom você é em
implorar, vou soltar o vídeo que os seguranças pegaram de você
machucando minha filha, as vezes que ela pediu para você a soltar
será as vezes que vou te cortar.
Ele se apavora e volta a se debater, mas já não estou
prestando atenção, meu foco está todo no vídeo, Valentina pareceu
tão forte, sinto orgulho da minha menina. Quando o vídeo termina,
eu pego o bisturi, mas uma mão toca em meus braços.
— Espera, me deixa fazer isso — Lucca me pede, iria negar,
mas quero ver até onde ele está disposto a ir.
Libero o espaço e o deixo fazer sua cena.
Lucca Martiero
Não sei por que de toda aquela raiva que sinto, tento ao
máximo não demonstrar para Dominic, falei para ele que era para
mostrar que posso fazer parte disso, mas até para mim era uma
mentira. Quero rasgar esse desgraçado de tantas maneiras
possíveis, fazê-lo sentir o desespero que vi nos olhos de Valentina.
Ela me pegou de jeito, de uma maneira que nenhuma outra me
pegou. E isso porque só dei um beijo nela, imagina mais?
Pego o bisturi e faço um trajeto do seu peito até seu umbigo,
seus gritos ficam cada vez mais altos, isso me irrita mais.
— Cala a boca — falo e aperto sua mandíbula, pego um
alicate e aperto sua língua puxando para fora — Vai ficar mais difícil
de falar agora. — Largo sua mandíbula e puxo sua língua com o
alicate, vejo ele se engasgar com o sangue enquanto arranco sua
língua. Seria mais fácil cortar com o bisturi, mas assim ele sofreria
mais.
Me afasto um pouco e vejo o resultado, o sangue agora
escorre pelo seu pescoço, ele está desfalecendo. Jogo sua língua
de lado e pego um pouco de sal, abro sua ferida do peito com o
dedo e ponho sal dentro, isso o faz despertar com gritos. Imagino a
ardência que deve estar causando. Não quero me demorar muito
mais vejo a furadeira no canto e quero experimentar. Pego e ligo,
seus olhos se arregalam e começa a lutar novamente com as
correntes. Faço um furo em seu braço.
— Uhuuuhuuuhuuuuunnuuunn... uhhhhhn — dessa vez seus
gritos são mais baixos, não sei se pela falta de forças ou pela falta
da língua. Mas sei que isso me deixou mais inspirado a prosseguir.
Faço vários furos pelo seu corpo, formando um padrão neles.
As vezes olho em seus olhos e vejo Dominic, fecho os olhos e Pietro
reaparece em minha visão. Toda vez que isso acontece me dá
vontade de furar seus olhos. E é exatamente isso que faço nesse
momento. Pego a furadeira e introduzo a broca em seu olho direito.
Ele se debate e para de se mover, vejo que apressei as coisas
demais e ele está morrendo, antes dele morrer pego o bisturi e o
alicate, levanto seu pau com o alicate e corto com o bisturi.
— Esse foi o seu erro, mexeu com a pessoa errada e pagou o
preço. — Continuei frio enquanto ele grita e solta seu último suspiro.
Coloquei tudo na mesa e me virei, todos estavam olhando
para mim com espanto, menos Dominic. Ele estava sorrindo para
mim.
— Conheço isso, Lucca, mas tome cuidado com que vai fazer
daqui em diante porque não tem volta.
Não respondo, tinha terminado o que vim fazer, saio do
galpão e vou para a casa deles, preciso ver Valentina.
Valentina
22 de dezembro de 2034…
F
ico até tarde
acordada, pensando
no que aconteceu.
Uma verdadeira
reviravolta dos acontecimentos. Me sinto estranha por pensar de
que maneiras papai teria torturado Pietro. Sabe quando você
percebe que não se importa mais com o destino de alguém? Nesse
momento você perde uma parte de você.
Me reviro na cama, o sono não vem de jeito nenhum, me
levanto e abro o frigobar, pego uma água. Se eu tivesse meu diário
ainda, pelo menos teria algo para fazer, como pode você sentir falta
de um objeto? Acho que sinto mais falta porque foi um presente da
minha vó. Não cheguei a conhecê-la pessoalmente, mas mamãe me
falou muito dela, falou que vovó Valentina era uma pessoa
maravilhosa, caridosa. Uma verdadeira guerreira. Falou também
muito da minha outra vó, a mãe dela.
Disse que era uma mulher forte, determinada, que lutou muito
a vida inteira, amou muito sua filha e que amava cuidar da sua casa
e das suas coisas, que se importava muito com sua aparência e
vivia arrumada e comprando coisas para ela. Minha vó Maria era
uma verdadeira acumuladora de roupas, mal comprava uma e já
partia para outra. Queria muito ter conhecido elas, mas ninguém
sabe os quereres do destino. Mamãe diz que um dia todos iríamos
nos encontrar, que a morte não era uma despedida.
Sento-me na cama e ligo a TV. Não sei por que comecei a
pensar nessas coisas logo agora, acho que é porque me sinto
sozinha e confusa.
Ponho em Inuyasha, meu anime preferido, a Kagome é idiota
de ficar correndo atrás do Inuyasha, eu já teria deixado ele todinho
para Kikyou. O cara não esquece da outra que morreu tentando
matá-lo, depois que ela ressuscita com metade da alma de Kagome
ele não perde a oportunidade de correr feito um filhote de cachorro
atrás dela, faz de tudo por ela.
Pensando nisso eu tenho um estalo na mente. Será que
minha situação é parecida? Que eu estou fazendo o mesmo com
Lucca? Ai meu Deus, eu não quero parecer uma louca desesperada
por atenção, que faz de tudo por um homem.
— Prefiro cortar meu pescoço... — resmungo — tenho
motivos para fazer isso...
— E eu prefiro que você não faça isso, é um belo pescoço.
Levo um susto e dou um pulo na cama, Lucca estava dentro
do meu quarto. Como ele entrou e eu não ouvi? Estava tão absorta
assim?
— Já está tarde não? Para você ficar perambulando pela
casa dos outros — olho no relógio e já era 3:00 da madrugada.
Ele fecha a porta e se senta na poltrona do lado da minha
cama, seu rosto não mostra nada.
— Eu queria ver como você está — fala suavemente — pelo
visto não está bem já que está acordada. Quer falar sobre isso?
Fico surpresa com suas palavras, claro que eu esperava isso
da minha família, mas Lucca ainda não faz parte e está preocupado
comigo, isso me deixa muito feliz e estranha.
— Estou tentando assimilar o que aconteceu, mas a culpa foi
minha — abaixo a cabeça envergonhada — meu pai sempre disse
para eu não ficar sozinha com homens, eu desobedeci. —
Pensando nisso olhei para ele — Isso me leva a pensar que você
não deveria estar aqui comigo Lucca, nós temos câmeras de
segurança nos corredores. Eles vão saber que você está aqui.
Tento me levantar, mas ele põe a mão em meu braço.
— Não se Preocupe, eu tenho um bloqueador de sinal. Eles
não vão me ver...
— Por que diabos você anda com um bloqueador de sinal?
Isso é meio bizarro — Franzo arqueio a sobrancelha.
— Um homem na minha idade, com uma conta bancária
razoável não pode ficar sem proteção ou não saber de alguns
truques mocinha — Sorri — mas voltando ao assunto. Você não tem
culpa de nada no que aconteceu ontem, você deveria se sentir
segura em sua casa. O único culpado é ele, mas já pagou por isso.
— O que aconteceu? — perguntei curiosa.
— Eu o matei.
Olho em seus olhos surpresa, a vergonha sendo substituída
por descrença.
— Pensei que tinha sido meu pai. Qual motivo você teria para
matar Pietro?
Ele se levanta e se senta do meu lado da cama.
— Eu poderia falar que ninguém toca no que é meu, mas
você não é minha... Ou, é, Valentina? — pegou em meu queixo e o
levantou um pouco. — Mas sendo sincero comigo. Eu o matei pelo
simples fato de ter tocado em você.
Arfo com a adrenalina percorrendo o meu corpo. Não era
para ele estar falando essas coisas para mim, me fazendo pensar e
sentir coisas proibidas, como, por exemplo, ele em cima de mim e
corpos emaranhados nos lençóis.
Balanço minha cabeça para tirar as imagens, o encaro e o
que vejo lá faz minhas partes íntimas esquentarem, os bicos dos
meus seios endurecem e sinto meu centro ficando úmido. Ele tinha
desejo no olhar, posse.
— Eu não sou sua, Char... — Sou interrompida quando ele
avança e cola nossas bocas, arregalo os olhos surpresa.
Pega meu cabelo com uma das mãos e puxa um pouco
minha cabeça para trás, vai soltando beijos pelo meu rosto até
chegar na curva do meu pescoço.
— Não consigo resistir a você... — fala contra minha pele —
por mais que eu tente é impossível tirá-la da minha cabeça.
Suas palavras tinham um tom desesperado, diferente da
sensação que eu tive com Pietro, com Lucca eu estava pegando
fogo. Em minha mente passava várias coisas que eu queria fazer
com ele. Será que eu deveria? O que aconteceria depois? Será que
ele me veria com outros olhos? Será que iria doer? E se ele não
gostasse? E se eu não gostasse? Tento parar de pensar em coisas
negativas. O que minha sensatez todos esses anos trouxe de bom?
O meu medo do desconhecido me trouxe o que? Pelo menos uma
vez eu queria sentir como era ser insensata, como era ser uma
mulher normal, ficando com um homem normal, sentindo um prazer
que era normal.
Não sou uma criança e tenho guardado meus sentimentos
por muito tempo, esse pode ser o único momento que terei ao seu
lado. Não sei se meu plano vingará no final e se tudo der certo eu
quero saber se não me amarrarei ao homem errado. Não quero
cometer o mesmo erro que muitas mulheres cometem ao se amarrar
com um homem que sequer tocaram uma única vez.
Eu quero Lucca Martiero e eu irei tê-lo, não importa o que irá
acarretar, não importa o preço que terei que pagar. Eu só quero
senti-lo uma vez. Depois lido com as consequências!
Lucca Martiero
N
ão sei o que deu em
mim para vir ao
quarto de Valentina.
Dei uma desculpa de
olhar como ela estava, mas sei que não é isso. Vê-la na cama com
sua camisola minúscula vermelha e seus cabelos bagunçados fez
meu pau latejar em minhas calças. Tentei me segurar, pensar que
algo poderia dar errado, que eu poderia ser pego em flagrante em
seu quarto. Mas a tentação é grande demais.
Agora olhando para seu rosto, seu corpo, estou prestes a
cometer um erro: Sexo com a filha do meu inimigo, minha sobrinha.
No entanto, não me sinto como se estivesse ao ponto de
praticar incesto, não considero Dominic como irmão, nem me
considero como parte da família. A partir do momento que resolvi
colocar o Martiero como meu sobrenome legítimo, eu abandonei
qualquer laço que eu tinha com os Trevizan, só o que quero é
vingança, mas nem isso sei mais, não tenho tanta certeza se quero
a vingança com o que tanto sonhei. Dominic não me pareceu ser o
que Nicolai falava, mas sei que pode parecer uma desculpa
esfarrapada só para tentar apagar o sacrilégio que estou tentado a
fazer. Mas estou disposto a arriscar.
Então quando ela me pergunta o motivo de eu querer matar
Pietro eu só tenho uma resposta.
— Eu poderia falar que ninguém toca no que é meu, mas
você não é minha, ou é Valentina? — pego em seu queixo e levanto
um pouco — Mas sendo sincero comigo e com você. Eu o matei
pelo simples fato dele tocar em você.
Vejo ela arfar com minhas palavras, balança sua cabeça, isso
me esquenta por dentro, ainda mais quando vejo seus picos duros,
o desejo se apossa de mim e acredito que meu olhar reflete isso.
— Eu não sou sua... Char... — a interrompo, não há lugar
para Charlotte aqui, não hoje pelo menos.
Avanço e colo sua boca na minha, pego em seus cabelos
com uma das mãos e puxo um pouco sua cabeça para trás, solto
beijos pelo seu rosto até chegar na curva do seu pescoço. Ela tinha
cheiro de pecado, de tentação. E estou disposto a me deixar levar.
— Não consigo resistir a você... — falo contra sua pele,
dando pequenas mordidas nela — por mais que eu tente é
impossível tirá-la da minha cabeça.
Minhas palavras tinha um tom desesperado, mas nesse
momento não me importava se soaria assim.
Percebi o exato momento que ela desistiu de lutar contra isso.
Seu corpo relaxou. Agarrou meu cabelo e pressionou seu corpo no
meu, suas curvas se moldando com perfeição, como se ela tivesse
sido feita para mim. Minha mente gritava minha... E meu corpo
queria também.
A deitei na cama e fiquei por cima, tão pequena em
comparação com meu 1,90mt, parecia uma boneca de porcelana, só
de pensar no que aquele crápula poderia ter feito com ela meu
corpo endurece. Ela percebe e coloca as duas mãos em meu rosto.
— Ei, aqui é só nós dois — se inclina e morde meu queixo —
deixa o mundo lá fora, eu te quero Lucca, me faça sua...
Com essas palavras meu corpo voltou a se aquecer.
— Sim, minha... Você é minha...
Me levanto um pouco e pego dos dois lados da sua camisola,
ela me olha em expectativa. Uma visão sexy em vermelho. Dou um
puxão e a camisola se rasga, termino de tirá-la e olho seu corpo.
Era uma visão que jamais esquecerei.
— Lucca... — tenta se cobrir, mas afasto suas mãos.
— Não se esconda de mim. — Me inclino e beijo a curva dos
seus seios — estou admirando o que é meu...
Passo a língua entre seus seios e pego um bico em minha
boca, seu gosto é ainda melhor que seu cheiro, ela se contorce em
necessidade.
A
cordo e continuo
com os olhos
fechados, com um
sorriso no canto dos
lábios ao lembrar do delicioso sonho que tive com Lucca, me senti
tão bem ao seu lado, como se pertencesse a ele, como se tudo que
eu precisasse estava ali. Abro os olhos devagar e olho ao redor.
— Merda... — Minha cama está uma bagunça, minha
camisola está rasgada na beira da cama, me levanto e corro para o
banheiro. O que vejo faz meus olhos arregalarem. — Minha mãe do
céu... Não foi sonho...
No meu pescoço tinha marcas de barba e na curva do
pescoço uma marca de mordida. Meus olhos estavam brilhantes,
minhas bochechas estão coradas. Parando para focar, percebo
agora que entre minhas pernas está dolorido. Olho para o relógio
que tem no canto do gabinete e arregalo os olhos. Dormi até tarde,
mamãe vai vir a qualquer momento para irmos planejar a cerimônia
de Natal. Corro do quarto e arrumo a bagunça da cama, pego a
camisola e jogo no guarda-roupas.
Escuto passos vindo do corredor, eles param e alguém bate
na porta. Subo na cama e me cubro com a coberta, puxo o cobertor
e cubro totalmente a cabeça.
— Querida, você está atrasada — Mamãe põe a cabeça pela
porta — acorda Valentina, vamos nos atrasar.
Ponho só a cabeça para o lado de fora, e sorrio para ela,
mesmo estando nesse plano juntas não contaria para mamãe de
jeito nenhum sobre a noite de ontem. Tem limites que não podem
ser ultrapassados. Mas pelo menos sei o que devo fazer.
— Trinta minutos e desço mãe — mandei um beijo para ela.
Ela sorri e sai fechando a porta. Espero mais um pouco, me
levanto e escolho um vestido rodado e um sapato boneca, pego
minhas roupas íntimas e vou para o banheiro. Tinha que inventar
algo e ir à farmácia comprar uma pílula do dia seguinte, não usamos
camisinha e não posso me descuidar. Fico muito feliz por mamãe ter
me ensinado tudo quando fiz 12 anos, porque não sei se aguentaria
se tudo isso não desse certo e eu acabasse ficando com um filho
nos braços. Não só por isso claro, mas também pelo fato que não
quero filhos agora, quero estudar primeiro, depois sentar e planejar
um filho com meu marido.
A água batendo em meu corpo estava tão gostosa, ela atingia
pontos onde eu estava dolorida, toco em minha parte íntima para
lavar e lembro do seu membro dentro de mim, massageio meu
clitóris pensando em seus movimentos ontem, sua boca em mim,
suas mãos em meu corpo, puxando meu cabelo, mordendo meu
pescoço. Falando para eu gozar. Acelero os movimentos e chego ao
clímax pensando no jeito que ele me agarrou quando senti sua
liberação dentro de mim e seu grunhido em meu ouvido. Abro os
olhos e me vejo no espelho, não sou mais uma menina, agora sou
uma mulher.
Acho que não sou uma mulher normal, fico mais feliz quando
papai me leva para atirar do que planejando recepções, jantares e
bailes. Era muito chato isso e já estava ficando com raiva de ficar
sentada escolhendo guardanapos e flores, também não estou me
sentindo confortável, estou dolorida em partes muito íntimas e ficar
sentada ereta assim não estava ajudando a aliviar. Acho que
mamãe percebeu, porque desde que cheguei não parava de me
olhar. Fiquei vermelha quando perguntou o porquê de tanta
maquiagem, respondi que estava testando algumas técnicas.
— Eu acho que está muito bom não acha Katy? Já
resolvemos tudo. Se me derem licença vou ver como está minha
filha — Katrina falou e foi embora.
Ficamos só eu e mamãe, se recostou na poltrona e olhou
para os seguranças.
— Nos deixe a sós por favor — sorriu, quando se voltou para
mim não estava mais sorrindo — desembucha Valentina, você
nunca mentiu para mim, vai começar agora?
— Não mamãe... É que é algo particular e...
Ela não me deixou terminar, se levanta e fala indo para mim.
— Não me fale que ver minha filha cheia de maquiagem
porque está cobrindo algo não seja da minha conta. Você sempre
será da minha conta Valentina — se senta e põe a mão em meu
rosto — Ontem ele te machucou mais do que eu pensava?
Quê? Minha mãe está pensando que me cobri de maquiagem
porque Pietro me machucou? Agora era minha decisão, deixava ela
continuar pensando isso ou falava a verdade. O problema é que as
vezes não é tão fácil assim.
— Mamãe... Você não vai ficar brava?
— Se você não me esconder então não terei motivo para ficar
brava — sorriu e pegou um chocolate no potinho da mesa, me
oferecendo também. — Pode me contar filha.
baixei os olhos envergonhada e fiquei torcendo a mão no
colo. Como você fala para sua mãe que você não esperou o plano
acabar e acabou transando com o noivo da sua prima? Ou que você
tem que correr para comprar uma pílula porque se descuidou?
Respiro fundo e começo a falar.
Ao contrário do que pensei mamãe não surtou, não ficou feliz
pulando de alegria, mas também não gritou, mas disse o quanto fui
irresponsável em me deitar com alguém sem camisinha. O que eu
merecia ouvir porque venhamos e convenhamos, as pessoas
esquecem que a camisinha serve para doenças, muitas acham que
filhos são os maiores dos problemas. É porque essas pessoas não
sabem o que é ter HIV, ou sífilis. Quando ia no hospital com minha
mãe eu via o sofrimento das pessoas. Me sentia doente por eles.
Então entenderia se minha mãe tivesse ficado com raiva,
falado da minha irresponsabilidade. Mas como sempre ela me
surpreendeu, me explicou como deveria ser feito que era para meu
bem, e isso fez toda a diferença. Claro que falou também que não
quer que isso aconteça mais, que era para eu esperar o fim de tudo.
Entendo totalmente, se eu tivesse filha faria a mesma coisa, o difícil
é cumprir, principalmente com a química que eu e Lucca temos.
Ela também falou que não precisava ir comprar a pílula
porque ela tinha. Não quis saber dos detalhes, todos sabem como
meus pais são apaixonados.
Meu dia passou rápido, tomei a pílula e ajudei um pouco com
a loja da minha mãe. No almoço não vi Lucca, nem na Janta, a noite
fiquei esperando até tarde. Cansada de esperar acabei pegando no
sono. Mas não sem antes pensar.
“Será que ele se arrependeu?”
Valentina
23 de dezembro de 2034…
H
oje eu tirei o dia para
cuidar de mim. Não
pensar em Lucca,
planos ou problemas
que não posso resolver no momento.
Resolvi passear um pouco por Florença, faz tanto tempo que
não ando pela minha cidade, uma nostalgia me bate ao ver de longe
a Ponte Vecchio com sua estrutura linda e medieval, o rio Arno com
suas lojas de ponta a ponta.
Os guardas estão nas minhas costas, mas os ignoro para
apreciar a beleza a minha volta. Quando eu era pequena mamãe
sempre me trazia aqui para fazer compras e tomar sorvete. Nunca
me cansarei desse lugar.
Vou até minha sorveteria favorita e me sento na mesa de
costume. Vejo muitos turistas indo e vindo com suas câmeras
fotográficas tentando capturar a magia do local com suas lentes. Se
eles soubessem o quanto essas calçadas estão manchadas de
sangue nunca mais pisariam aqui.
Tento não pensar nos problemas de casa, mas como sendo
que faço parte deles?
Paollo, um dos garçons da sorveteria me vê e se apressa
para me atender.
— Olá bambina, como você cresceu, está muito bela — seu
sorriso era contagiante.
— Bom dia Paollo, você não envelheceu nada hein — sorrio
— como está Lolita? Continua te deixando de cabelo em pé?
Ele gargalha até seus olhos começar a lacrimejar, vou no
embalo também.
— Aquela velha um dia me mata, dá para acreditar que ontem
ela colocou o café para esquentar e esqueceu o vidro do fogão
abaixado?
— Nossa, ela poderia ter se machucado muito — falo
preocupada.
— Que nada, acho que nem a morte ia querer aquela
desvairada perto dela.
— Não fala assim, Paollo... — tento dar uma bronca, mas
acabo rindo mais com suas falas engraçadas.
— Mas tudo bem, ela é perfeita para mim. Escute bem minha
filha. Se case com quem te tire o equilíbrio, ninguém merece viver
uma vida pacata e sem graça — Sorri meigo — Eu amo minha
Lolita, ela é o meu motivo de sorrir todos os dias.
Olho em seus olhos e vejo todo o amor que ele sente por ela,
uma pitada de inveja tenta se agarrar em mim. Os dois são casados
a mais de cinquenta anos, dá para ver o amor e companheirismo
que um tem pelo outro. Eu quero isso para mim.
— Vocês são perfeitos — murmuro — dê um beijo nela por
mim.
— Pode deixar. O que vai querer hoje? O mesmo de sempre?
— Claro, não dispenso meu milk-shake de limão siciliana por
nada — digo orgulhosa — ainda mais o melhor milk-shake de todo o
país.
— Assim você me deixa sem graça, querida... — vejo-o ficar
vermelho. — Já trago.
Sai apressado e seguro outra risada. Só agora percebi que há
muito tempo eu não ria com vontade. Algumas horas fora de casa
me fez perceber que existe duas de mim. A Valentina em preto e
branco e sem graça e a Valentina com cores vivas em aquarela,
pronta para voar.
Mas por uma noite senti as duas se misturar, só de pensar na
minha noite com Lucca sinto minha bochecha esquentar. Foi uma
noite inesquecível, pelo menos para mim.
Senhor Paollo volta apressado com meu milk-shake.
— Me desculpe não poder ficar conversando com você minha
bela, mas tenho que ir para a cozinha, Lorenzo aprontou
novamente, quer botar minha cozinha abaixo inventando um novo
tipo de Gellato — fala com pressa — Fique à vontade... Lorenzo!
Não se usa cedro no Gellato bambino infeliz!
Vejo ele sair correndo. Essa família é muito unida e muito
engraçada. Pego dois euros e ponho em cima da mesa, me levanto
e resolvo subir a ponte.
O vento bate em meu rosto, jogando meus cabelos para trás.
É uma sensação tão boa queria poder ser como o vento, livre e sem
amarras.
Chego na ponte e me debruço, o ser humano é ridículo. Um
rio tão bonito e mesmo depois de tantos anos e inovações os
governantes não tomaram vergonha na cara, os rios continuam
poluídos.
Me afasto e sigo o caminho de volta, tomo um gole do milk-
shake e sinto o sabor adocicado do sorvete junto com os doces
azedinhos de limão siciliano.
Fico triste por ter que voltar, amanhã terá a festa de Natal.
Todo mundo fingindo que estão felizes. Pelo menos uma coisa vai
ser boa, Lucca com certeza vai estar lá, vou tirar o sumiço dele a
limpo.
— O que eu estou pensando...
Eu não posso cobrar nada dele, nossa história já está toda
errada. Se quero que meu plano dê certo eu não posso brigar com
ele.
Paro em uma lojinha pequena e vejo algumas lembrancinhas
bonitas, entro e compro para dar de presente para a família. Saio de
lá e vou para o carro.
Tenho que parar de pensar toda hora em Lucca. O certo é a
próxima vez que nos encontrarmos eu o ignorar, fazê-lo sentir tudo
que estou sentindo. Tenho que ser fria e calculista, não é só minha
vida que está na balança, mas também a reputação de minha mãe.
Se alguém descobrir que ela está armando junto comigo, eles vão
cobrar do meu pai uma punição para nós duas.
Chego em casa e vou direto para meu quarto, não estou a fim
de conversar com ninguém. Meu dia foi tão bom para deixar
Charlotte ou tia Katrina estragar com suas falações sobre
casamento.
Entro e tranco a porta para ninguém me perturbar, separo
minha roupa para amanhã e ponho os presentes que comprei no
canto da mesinha para eu embalar de manhã.
Entro no banheiro para me lavar e faço minha higiene
pessoal. Olho para as marcas em meu corpo pelo reflexo, penso em
como ele me apertou e me deu prazer. Desço minhas mãos por
onde as suas mãos passaram, até chegar em minha parte íntima.
Um choque de prazer toma conta de mim quando meus dedos se
esfregam em meu clitóris, sinto minhas dobras molhadas. Gemo
com a sensação que está se formando aos poucos.
Fecho os olhos e imagino que é Lucca me tocando, ele aperta
meus seios e morde meu pescoço, enquanto isso introduz dois
dedos dentro de mim, eu arfo e minhas pernas ameaçam ceder. Me
escoro na parede para me manter firme e esfrego mais rápido meu
clitóris, meus gemidos bastante audíveis agora, me sinto explodir
em um milhão de fragmentos quando o clímax cai sobre mim.
— Lucca!!!
Grito seu nome enquanto subo nas alturas. Depois de um
tempo meu corpo começa a relaxar, sorrio feliz com o orgasmo.
Minhas pernas fraquejam e escorrego pela parede, languida em
meu prazer insano.
Nunca senti esse prazer quando me tocava, sempre foi um
prazer raso, sem adrenalina, também demorava um pouco para
acontecer. Pelo visto até meus orgasmos solitários e insípidos foram
roubados de mim por ele. Será que sempre será assim quando ele
estiver em meus pensamentos? Ou foi só a fantasia de querer ele
aqui me tocando que ocasionou esse orgasmo explosivo?
Ainda bem que as paredes são a prova de som, o grito que
eu dei acordaria os mortos.
Me levanto e lavo a confusão que fiz entre as pernas, me
seco e saio do banheiro. Coloco meu camisão de dormir e vou para
a cama.
Amanhã tenho que acordar com todas as forças intactas,
inclusive a força da mente.
Valentina
24 de dezembro de 2034…
M
inha barriga está
numa ebulição só.
Lucca ainda não
apareceu, ele não
está em casa também. Fiquei com medo de perguntar para alguém
e eles acharem que estou muito interessada nele.
Se eles soubessem da metade da história...
A festa está prestes a começar e ainda estou no quarto
escolhendo a roupa que vou usar. Tinha três opções, um com
lantejoulas douradas, um preto básico com decote de coração, mais
rodado, e um rosa neon bem chamativo. Todos eles até o joelho.
Comprei o Dourado para o ano novo/casamento de Charlotte
quando fosse pôr em prática a última etapa do plano, o preto para a
suposta cerimônia de casamento. Então fico com a última opção,
porque ainda não desisti de tudo. Mesmo sem sinal de Lucca
Tomo banho e coloco o vestido, faço uma chapinha no cabelo
e uma maquiagem básica. Olho para as marcas que estão
desaparecendo e ponho um pouco de base no pescoço e nos
ombros.
— Desgraçado, me marca e depois desaparece...
Quando estou colocando meus saltos ouço uma batida na
porta.
— Senhorita? — ouço uma voz conhecida, franzo o cenho e
vou abrir a porta.
— Oi, Adelaide... — sorrio para a cozinheira, ela nunca vem
aqui.
— Desculpa incomodá-la, senhorita, mas me pediram para te
entregar isso - sorriu tímida.
— Quem? — agora estou curiosa.
— Um Senhor — Sussurra e sai quase correndo.
Olho só por um momento ela correndo e fecho a porta rápido.
Será que era Lucca? Abro o papel e meu sorriso deve estar até a
orelha.
25 de dezembro de 2034…
N
ão sei o que estou
fazendo mais, creio
que o plano que eu e
minha mãe bolamos
não cabe mais aqui, não tem como sequestrar Charlotte e fazê-la
admitir que não era mais virgem sabendo o que sei agora. Faltando
seis dias para seu casamento. O problema? Acho que estou
amando Lucca, mas não sei o que fazer. Não por aquela noite, não
sou tão inocente, é mais profundo. Vejo nele o que falta em mim,
desde a noite do meu aniversário. Quer ver outro problema? Não sei
se o que estou sentindo é tão seguro assim.
Hoje é Natal, dia 25 de dezembro, uma época que era para
ser de felicidade e harmonia, de passar um tempo a mais com quem
nós amamos.
Como se não bastasse o susto de ontem, hoje acordei com
um novo recado da pessoa de ontem.
C
coisas sem acabar estragando ainda mais?
omo consertar as
Vejo Valentina sair da sala, mas não posso arriscar, é melhor assim.
Não posso colocar sua vida em risco. Foi rápido, mas essa menina
fisgou meu coração.
Se ela soubesse o quanto me doía ter que afastá-la, pelo
menos até eu conseguir resolver as coisas.
Tenho que encontrar a pessoa do telefonema. Porque se ela
chegar a Valentina antes de mim eu não sei o que farei.
Todos me chamam de o temido Gangster nas ilhas Maldivas,
mas aqui não sou ninguém. Cheguei à procura de vingança e
descobri ontem que tudo que senti todos esses anos foi uma
mentira. Agora tem alguém que sabe quem sou e está disposto a
me delatar se eu não me afastar de Valentina, a mesma pessoa que
ontem ameaçou matá-la se eu não cumprisse com o combinado. Me
lembrar do jantar que fui obrigado a comparecer me faz trincar os
dentes.
Flashback On
Flashback Off
26 de dezembro de 2034…
E
stou desesperada, não
sei mais o que fazer,
não posso contar para
minha mãe e nem para
meu pai e ainda acordo com outro bilhete com apenas um nome:
Luke Martiero. Tenho vontade de confrontar Lucca, de perguntar o
que está acontecendo, mas o jeito que ele me tratou ontem me
deixa receosa.
— A vida não poderia ser mais fácil? Por que agora eu tenho
que tomar as decisões difíceis? — olho mais uma vez para os
bilhetes que guardei. — Não posso deixar ninguém encontrar isso...
Rasgo e jogo na privada, fico olhando enquanto a descarga
leva as únicas provas que tenho.
Olho para o relógio e fico assustada com o horário. estava
quase na hora de ir fazer a última prova do vestido e ainda estava
com minha camisola. Não posso perder isso, é o único momento
que tenho para ficar a sós com Lucca e por mais que eu tenha medo
eu farei o que for preciso para descobrir a verdade. Inclusive
interrogá-lo.
Me arrumo rapidamente e de último momento pego a arma
que meu pai me deu de presente no meu aniversário pego um
coldre e coloco nas minhas coxas, encaixando a arma lá. Saio do
quarto. Dessa vez Lucca está sozinho no sofá, saio de casa sem
falar nada, entro no seu carro e espero. Torço minhas mãos em meu
colo quando ele entra e dá partida.
— Boa tarde Valentina — dessa vez sua voz está doce e isso
me confunde.
Espero ele se afastar de casa e tomo coragem para enfrentar
a situação.
— Preciso falar com você — ele me olha e assente com a
cabeça — agora Lucca, sem ninguém por perto.
— Valentina não pode... — tenta argumentar, mas o corto.
— Quem é Você Lucca? E o que quer com minha família?
Ele se vira novamente para mim, dessa vez com um olhar
triste.
— Ele chegou até você... — tinha um tom de tristeza em sua
voz que me fez pensar que realmente ele sentia algo.
— Lucca eu preciso saber a verdade entende?
Ele para o carro no acostamento e me puxa para seus braços,
beijando o topo da minha cabeça.
— Ele te machucou? — sussurrou.
O que era tão aterrorizante que fez Lucca ter medo de alguém
me machucar? O que o passado dele tem de tão amedrontador?
— Lucca você está me assustando, você precisa de ajuda? -
me afasto um pouco e beijo seu queixo. — Me deixa te ajudar, você
está correndo perigo? Se for isso talvez meu pai possa te ajudar e...
— Ele corta minhas palavras com sua boca.
Seu beijo é desesperado, como se fosse a última vez que nos
veríamos, que nos beijaríamos. Quando terminamos ele me afasta
um pouco e acaricia meu rosto. Ele está tão diferente de uns dias
atrás.
— Acho que nunca foi para ser. — Me afastou e se endireitou
no banco, olhando para frente. — Talvez, depois do que eu te contar
não vai fazer muita diferença mesmo, você vai me odiar.
O que ele tinha para me contar ao ponto de fazê-lo pensar
que eu o odiaria? Era tão grave assim?
— Me conta e veremos, que tal? — tentei tranquilizá-lo, mas a
quem eu estava tentando enganar? Nem eu estava tranquila com
esses acontecimentos.
— Vou contar o que interessa no momento — faz uma pausa,
acho que procurando palavras. — Não foi acidental eu ter salvado
sua mãe naquele dia Valentina, eu planejei tudo nos mínimos
detalhes para conseguir entrar na sua família, planejei me casar
com você, depois mudei de planos e fiquei com Charlotte, meu
plano era me casar com ela, esperar um tempo e matar sua família.
Cada palavra que ele falava era como se enfiasse um punhal
em mim, me sentia tão traída, tão idiota.
— Como você po... — me corta novamente.
— Deixa eu terminar tudo bem? Depois pode me falar o que
quiser.
O que tinha para ser falado mais? Ele acabou de falar que
seu plano era matar toda a minha família... Inclusive a mim. Mas
tento me controlar até que consigo, não ouso olhar para ele
novamente, viro meu rosto para a janela observando a paisagem lá
fora.
— Fale.
— Eu queria vingança por seu pai ter matado o meu, não meu
pai verdadeiro, mas o que eu considerava como tal, seu nome era
Luke Martiero. Eu morava na sua propriedade, na casa que fica
atrás da sua, vivíamos bem até que um dia Nicolai veio e disse que
Dominic tinha matado Luke friamente, porque tentou falar quem eu
era. Nicolai me falou para fugir e nunca mais voltar, porque Dominic
sabia quem eu era e estava vindo me matar. Eu tinha 13 anos, mal
sabia me sustentar sozinho, mas tive que fugir por causa de um
homem ganancioso. Passei anos planejando minha vingança, mas
agora que posso me vingar eu percebi que não era nada daquilo
que me contaram. Que eu fui um pião nas mãos daqueles dois.
Percebi que seu pai não é o que pintaram e descobri algo mais.
Com as últimas palavras, volto minha cabeça novamente em
sua direção, estou tão abalada com o que me disse, queria acreditar
que não era verdade, porque se fosse, então como tudo isso
poderia dar certo?
— O que você descobriu? — sussurrei.
— Não posso destruir a família da mulher que amo — olhou
em meus olhos, sua voz continha uma emoção que estava
querendo derreter a barreira que eu forcei em meu coração ontem.
— Mas não está mais em minhas mãos porque uma pessoa entrou
em contato comigo ameaçando contar meu segredo se eu não
fizesse como planejei. Entretanto, isso não é com o que estou
preocupado.
— Lucca...
— Eles falaram que vão matá-la, Valentina. Você quer que eu
escolha seu pai ao invés de você? Eu tive que me afastar, tenho que
pensar em algo para parar isso. Eles têm um infiltrado dentro da
Máfia do seu pai!
— Mas porque de tanto medo Lucca? O que você está
escondendo de todos que não pode contar isso para meu pai? Por
que a pessoa de ontem disse que meu pai não é o único que pode
ser Capo? — gritei com o desespero ameaçando me dominar.
Se passou alguns segundos sem ele falar nada, até que o
que disse me jogou em um poço fundo, onde não sei se poderei
subir sem ajuda.
— Sou filho de Nicolai Trevizan, irmão de Dominic — dessa
vez no seu olhar tinha um brilho pesaroso. — Seu tio.
Valentina
27 de dezembro de 2034…
C
omo tudo de repente
deu errado? Com
certeza em outra
vida eu joguei pedra
na cruz ou matei bebezinhos. Porque está sendo um azar atrás do
outro, uma pedrada atrás da outra. Primeiro Charlotte me rouba,
depois fico noiva e agora descubro que o homem que comecei a
amar não é nada mais e nada menos que meu tio. Tenho até ânsia
de vomito ao pensar nessa palavra. Não sentia nenhum sentimento
fraternal por ele, mas o que essa informação pode mudar em
nossas vidas? Ele com certeza não me vê como sobrinha e eu
agradeço por isso.
O que farei com essa informação é que é complicado. Ontem
quando ele me contou fiquei sem reação, preferi ficar calada do que
fazer algo que possa me arrepender depois. Ele também preferiu
deixar em off, a única coisa que eu disse era que precisava pensar.
Paro na porta do escritório do meu pai pela quarta vez,
levanto a mão para bater. O que será que ele fará com Lucca?
Estou entre a cruz e a espada. Se eu contar para meu pai Lucca
pode morrer, mas se eu não contar meu pai também.
Respiro fundo e bato na porta, ponho a cabeça para dentro e
papai está em sua mesa mexendo em uns papéis.
— Posso entrar, pai?
Ele sorri e aponta para a cadeira
— Claro princesa, você sempre será bem-vinda — quando eu
sento ele se inclina e me dá um beijo no rosto.
— Como você está? — pergunta preocupado.
Deve estar falando do acontecimento com Pietro.
— Estou bem, não se preocupe — sorrio tímida.
Ele me observa por um momento e volta a fazer suas coisas.
— Você gostaria de conversar sobre alguma coisa comigo?
— me olha novamente.
É agora, tento pensar em algo para dizer, mas nada sai.
Então percebi que não podia fazer isso com nenhum dos dois. Perdi
a coragem porque mesmo sabendo que Lucca é meu tio eu não o
vejo assim e agora sabendo disso tenho certeza dos meus
sentimentos.
Irei arrumar um jeito de arrumar essa bagunça, mas não
sacrificarei nenhum dos homens da minha vida. Pensando nisso me
levantei, dei a volta na mesa e o abracei.
— Só vim ver se você precisava de algo, você anda tão
ocupado ultimamente. — Me afasto e te dou um beijo na testa.
Ele suspira e coça a cabeça como se estivesse pensando.
— Estou para anunciar algo que vai mudar o futuro da nossa
família, mas acho que é para melhor. Mas você saberá amanhã ou
depois — sorri e volta a escrever. — Agora vá fazer alguma coisa de
menina e deixe seu pai trabalhar.
Levanto as mãos para cima de brincadeira e fui até a porta.
Acho que ele não percebeu e de uma certa forma fico feliz de não
trazer mais uma preocupação para ele. Eu e Lucca podemos
resolver isso. Pensando nisso vou furtivamente até seu quarto.
Quando chego na frente da sua porta me bate uma
insegurança. Bato ou entro sem bater? Também não posso ficar me
demorando no corredor então abro a porta e fecho logo em seguida,
quando me viro vejo Lucca saindo do banheiro.
Seu cabelo ainda está pingando do banho, ele olha para mim
surpreso pela minha presença em seu quarto. Enquanto isso eu
passo os olhos em seu corpo, seu abdômen definido e seu caminho
da felicidade sendo parcialmente coberto pela toalha, acho que
estou de boca meio aberta. Volto a olhar em seu rosto.
— Valentina, o que você está fazendo aqui? — pergunta
sério.
O que estou fazendo aqui? Não me lembro mais, mas sei o
que quero fazer nesse momento.
Caminho em sua direção não cortando nosso olhar, paro a
centímetros de distância e sussurro.
— Eu só queria te ver... — Não precisei mais de palavras, eu
o queria, pelo menos mais uma vez queria sentir seu gosto.
Me inclino e rodeio seu pescoço com meus braços, colando
seu corpo ao meu. Ele tenta me parar dizendo.
— Você tem certeza do que está fazendo? — aperta minha
cintura — porque quando começarmos, eu não vou parar.
Não respondi com palavras, meus lábios disseram tudo o que
eu queria dizer. Ele era meu e eu era dele. Nosso beijo começou
com urgência, ele me levantou e rodeou sua cintura com minhas
pernas, me encostou na parede e moeu sua cintura em mim. A
sensação do seu membro esfregando em minha parte íntima me fez
gemer em sua boca.
— Última chance de escapar pequena... — gemeu em meu
ouvido.
Mas quem disse que eu queria escapar?
— Tenho que contar algo... — sussurrei em seu ouvido. —
Estou sem calcinha.
Bati o martelo da minha sentença, ele levantou meu vestido e
tocou em minha buceta, estava tão molhada, ela estava carente do
seu toque como eu.
Puxou a toalha de sua cintura e senti seu membro duro bater
em minha bunda. Se afastou um pouco e parou na minha abertura,
com um movimento duro estava todo dentro de mim, arfei de
surpresa e a pontada de dor misturada com prazer que passou pelo
meu corpo. Para não gritar mordi seu ombro.
— Pensei que era minha imaginação... — falou enquanto saia
todo dentro de mim e voltava com tudo —, mas você é ainda mais
gostosa do que me lembro.
Depois disso não precisamos mais de palavras, minhas
costas batiam na parede com os impulsos de suas batidas, sentia o
calor e a euforia crescer, meus gemidos foi ficando cada vez mais
desesperados conforme ele aumentava o ritmo.
— Lucca eu vou... — e veio, bateu em mim e me senti como
fogos de artifícios.
Gozei duro, gritando seu nome. Ainda bem que as paredes
dos quartos era a prova de som. Ele segurou firme minha bunda e
aumentou mais ainda o ritmo, fazendo com que eu sentisse um
segundo orgasmo vindo, seu pau martelando meu ponto G
repetidamente. Dessa vez Lucca veio comigo e nos beijamos em um
beijo profundo até nos acalmarmos.
— Valentina...
— Lucca, não vamos estragar o momento tudo bem —
seguro seu rosto e lhe dou um beijo no nariz. — Eu me sinto tão
bem nos seus braços — sorrio.
Ele me encara apenas por um momento, mas depois me
abraça.
— Se você soubesse o quanto se tornou importante para
mim...
Sorri com essa declaração. Não era um eu te amo, mas era
quase isso.
— Se for o tanto que você é importante para mim, então eu
sei...
E é isso, por hoje eu só queria fingir que não tem uma
guilhotina em nossas cabeças.
Valentina
28 de dezembro de 2034…
P ulo da cama me
sentindo nas nuvens,
ontem fiquei até às 20h no quarto de Lucca, que era a hora que as
câmeras dos corredores eram ligadas.
Conversamos de tudo um pouco, ele me contou sobre a
infância dele e sobre sua vida adulta, também contei da minha vida
e como passei grande parte dela. Por trás daquele homem
sarcástico ele era um menino desprezado que só queria amor, mas
a vida só lhe trouxe dor. Se dependesse de mim ele nunca mais se
sentiria sozinho, eu estaria ali por ele.
Nós conversamos também sobre a pessoa que está
chantageando Lucca e mandando recados para mim. Infelizmente
não tenho ninguém em mente. Não entra na minha cabeça que
alguém de casa possa estar envolvido nisso, a maioria deles eram
grandes amigos dos meus pais e me viram nascer. Mas Lucca me
falou que o mundo do crime não existe isso. Que aquela pessoa que
jura ser seu amigo hoje pode ser o mesmo a atirar nas suas costas
amanhã. Mesmo assim não quero acreditar nisso.
29 de dezembro de 2034…
30 de Dezembro de 2034…
H
oje o dia amanheceu
nublado, acho que
até o tempo não
gostou da reviravolta
dos acontecimentos. Mamãe está inconsolável, na verdade todos
estamos.
No caminho para o enterro ninguém falou sobre o ocorrido.
Todos pensam que foi a oposição que fez o atentado contra a minha
vida. Isso me faz sentir tão mal.
Hoje quando fui ao quarto de Lucca desabei em seus braços.
Não era para nada disso acontecer, estava tudo errado. Era como
se eu o tivesse matado e nunca iria me perdoar por isso.
Saio do carro e pego na mão de mamãe. Todos ficam ao lado
do caixão. O padre se posiciona e começa a recitar.
— Hoje acordamos com uma notícia triste, mas não temam
pela morte e nem pela partida desse grande homem, a morte é só
uma passagem. Os passos dele nessa terra foram trilhados com
glória e honra. Serviu a família por anos com grande força e
lealdade. Agora chega o tempo do seu corpo voltar para o barro e
seu espírito para o Criador. Vamos orar pelo os que ficaram e
agradecer por Deus ter nos permitido conhecer esse homem
honrado.
Fecho meus olhos e tudo o que consigo pensar é pedir
perdão pelo mal que causei a todos, por não ter conseguido fazer
nada por ele e por último por ter dado sua vida pela minha. O padre
acaba a oração e minha mãe dá um passo a frente para falar.
— Gostaria de falar algumas palavras — ela sorri triste, mas
se mantém firme, seu semblante com fortes emoções passando por
ele. — Thomas era mais que um segurança do meu marido, ao
longo dos anos nós nos tornamos amigos. Ele deu a vida para
salvar a pessoa que mais amo e isso nunca poderei pagar e nem
recompensar, só peço para Deus ter piedade de sua alma e pesar
seus erros e acertos, veja a bondade do seu coração — ela tentava
segurar as lágrimas, mas não conseguia. Papai foi para seu lado e a
abraçou. — Ele nunca foi apenas um segurança, ele era da Família,
e a família a gente cuida, por isso enterraremos ele aqui, junto com
os Trevizan. Obrigada amigo, descanse em paz.
Os homens começaram a descer o caixão e todos os
mafiosos presentes levantaram suas armas, inclusive eu. Papai foi
falando e com cada palavra uma saraivada de tiros para o alto
soava no ambiente.
— Pela Honra, lealdade e pelo Sangue!
Lucca Martiero
Não sei se consigo continuar com isso, ontem quase a perdi.
Como posso protegê-la se seu pai acabou de colocar um alvo
gigante na cabeça de sua filha? Para piorar Charlotte se recusou a
atrasar o casamento. Se eu tinha alguma dúvida sobre quem ela
realmente era eu não tenho mais. A dor dos outros não te comove, o
que importa é ela e somente ela.
Tenho uma decisão difícil para fazer e a escolha pode não ser
a mais fácil para mim mas será o melhor para ela. Ficaria muito feliz
com ela sendo Capo mas no momento isso não pode acontecer, os
riscos não vale a recompensa.
Pego meu telefone para ligar para um dos meus contatos e
ele se acende em minha mão com uma ligação. O número é privado
e sei quem é ao atender.
— Fale — digo duro, já sabendo o teor da conversa.
— Mudanças de planos, infelizmente o pai dela quis mudar as
regras do jogo. Valentina tem que morrer.
— Se você tocar nela, eu te mato, nem que eu passe a vida
inteira te rastreando.
A voz ri do outro lado, como se estivesse debochando das
minhas palavras.
— Sua resposta já diz tudo, não está apto para esse serviço.
Mas não precisa se preocupar, a noite passada foi só um aviso, não
se engane, a hora dela chegará. Minha rede de aliados é grande.
Pode escondê-la nos confins do mundo, mas no final ela ainda
morrerá, pode tentar mudar sua identidade e eu ainda a encontrarei.
Ela é somente uma morta andando — ri e depois escuto o som da
ligação que tinha caído.
Se eu tinha dúvidas do que fazer antes, agora todas
acabaram. Ela pode não gostar, mas não a verei morrer. O que mais
me deixa enojado é escutar de outra pessoa o que eu mesmo queria
fazer dias atrás.
Dominic Trevizan
31 de dezembro de 2034…
— Você está indo bem, querida, agora quero que mire naquele alvo
- meu pai fala apontando para uma árvore que estava a uns 10
metros de distância.
— Acho que é muito longe para mim ainda, pai — eu passei
duas horas para acertar num alvo com dois metros de distância e
ele queria que eu atirasse em um de dez?
— Se você pensar assim, não conseguirá. — Passa a mão
em minha cabeça. — Agora pare de reclamar e faça logo, você tem
que aprender pelo menos um pouco para o casamento da sua prima
amanhã. Tem que se defender das ameaças.
Horas depois, eu tenho certeza de que morri e ficou só minha
alma para contar a história. Ele não pegou leve comigo, mas gostei
disso. Se não fez, quer dizer que me considera sua igual e isso me
deixa muito feliz.
Chego em meu quarto e vou direto para o banheiro, enquanto
espero a banheira encher fico pensando nos últimos
acontecimentos, como as coisas aconteceram, como peças de
dominós enfileiradas, uma caiu e derrubou as outras. O desejo de
poder de uns causou tanto mal, ninguém saiu ileso até agora.
Testo a água e sinto o prazer correr pelo meu corpo, tiro
minha roupa e mergulho. Estava tão bom que fecho os olhos e
gemo.
— Realmente, uma bela visão... — abro os olhos assustada e
vejo Lucca parado na porta.
— O que você está fazendo aqui? Pensei que você fosse ficar
em um hotel hoje. — Me encolho mais na água.
Não conversamos desde ontem e depois de tudo que passou,
senti que de alguma forma nós nos afastamos um pouco. Ele não
falou nada ainda sobre não se casar e isso estava me magoando,
apesar que sei do porquê ele está aceitando esse casamento.
— Eu queria te chamar para ficarmos um pouco a sós. —
Saiu da porta e se aproximou da borda da banheira, estava me
devorando com os olhos. — Mas aqui não dá. — Coloca um papel
em cima da pia.
Passo a língua nos meus lábios, que ficam repentinamente
secos.
— Acho que não poderei ir, meu pai dobrou a segurança e
sem falar que o treino está me cobrando um preço alto.
Ele me olha por um tempo e vai até à porta.
— Eu contei para sua mãe sobre a gente, ela disse que daria
um jeito de tirar você daqui. — Passa as mãos pelos cabelos e se
vira novamente. — Queria poder me despedir de você direito, antes
de amanhã.
Dói saber que o que ele diz é verdade, que não tem jeito de
continuarmos do jeito que estamos.
É loucura pensar que tudo isso pode mudar para algo
melhor?
Como tudo de repente deu tão errado?
Será que o nosso amor estava fadado a não dar certo?
Me mexi na banheira me sentindo desconfortável, o que eu
queria na verdade era gritar para ele desistir dessa loucura, para
ficar comigo e nunca mais me deixar. Eu queria que ele me
escolhesse. Mesmo sabendo que um de nós poderia não sobreviver.
Porque já não me importava com isso, eu queria viver.
— Estarei lá. — Não ousei encará-lo novamente, pois sabia
que meus olhos estavam dizendo tudo.
Ele saiu e olhei para o teto. Se eu for mesmo me tornar chefe
da Máfia não posso ficar desviando o olhar toda vez que estou me
sentindo detonada. Tenho que mudar isso.
1 de janeiro de 2035…
A
bro os olhos e ponho
a mão na cabeça,
minhas vistas estão
doendo. Parece que
tomei um porre de whisky com cerveja e vinho. Me sento e a ânsia
vem com tudo. Sinto alguém tocar minha cabeça e me afasto
assustada.
— Não me toca!
Arranho o rosto da pessoa e as luzes se acendem. Lucca
está na minha frente, seu rosto com marcas das minhas unhas.
— Se acalme, Valentina — tenta me acalmar.
Respiro fundo tentando absorver as coisas, os
acontecimentos voltando a minha mente.
— Você me drogou. — O encaro e minha raiva sobe mais
ainda. — O que você pensa que está fazendo, seu desgraçado?
O empurro e me levanto. O ambiente ao redor não era o
mesmo do hotel. Ele me sequestrou?
De repente, sinto o chão balançar e corro para a porta. Era
uma cabine? Abro e me deparo com a visão do mar e o cheiro da
maresia, ando em direção da proa e olho ao redor, estávamos em
um iate e não dava para ver nada. Era só eu, ele e o mar.
Não tenho coragem de me virar, mas sinto sua presença em
minhas costas.
— Você fez muitas coisas para ficar comigo, e deu certo. —
Colocou suas mãos em minha cintura. — Mas também tenho uma
parcela de culpa pelo que aconteceu.
Me abraçou e beijou o meu pescoço. A noite estava
estrelada, estava uma noite perfeita para amantes, mas nós não
poderíamos ser assim. Estávamos mais para Romeu e Julieta. Não
tinha em nenhum prisma como isso dar certo.
— Lucca... — Me afastei um pouco e me virei, coloco minhas
mãos em seu rosto. — Daqui a poucas horas as pessoas estarão
em casa para o casamento, a gente tem que voltar.
— Eu disse que faria o que fosse preciso, Valentina, sua mãe
me ajudou a te trazer aqui e não me chamo Lucca Martiero se eu te
levar para sua morte. Você não percebeu que seu pai assinou seu
atestado de óbito? Uma hora essa pessoa iria conseguir o seu
intento.
Pensei apenas por um tempo sobre o que ele disse.
— Mas se não fosse eu, seria o meu pai, se tem uma coisa
que um Trevizan não faz, é fugir. — Desdenho e ele aperta minha
cintura.
— E o que vale mais? Um Trevizan com honra e morto ou
uma pessoa normal, feliz, sem um sobrenome e vivo?
— Então é isso que você quer que eu faça? Sair pelo mundo
escondida? Sempre olhando para os lados, pensando que tem
alguém me seguindo? Quem te garante que estarei segura?
Claro que eu amaria viver com ele pelo mundo, mas nós nem
sabemos quem está nos espionando, seria loucura sair por aí as
cegas.
Ele fica um tempo sem responder, quando volta a falar sinto
meu coração saltar do peito.
—Valentina eu te amo, me dê um voto de confiança e te
prometo que jamais ninguém irá te tocar. — Acaricia meu rosto. —
Se entregue para mim, dê a confiança que sua mãe me deu para
protegê-la. Se torne minha mulher.
Estava com medo, não queria fugir, mas a outra alternativa
era voltar e entregá-lo para Charlotte. Sou uma pessoa egoísta
demais para isso, mesmo não sabendo o que o futuro nos
reservava, resolvi lhe dar um voto de confiança.
— Nossa vida não será fácil, você sabe disso, não? — sorri e
me virei para o mar, o horizonte já dava sinais do amanhecer.
— A vida nunca é fácil, mas imagina quão chata seria sem
um pouco de diversão? — riu e me pegou no colo. — Agora vamos
descansar, porque será um longo dia, temos que nos afastar o
máximo possível antes de sumir.
Sorrio em expectativa com nosso futuro.
— E qual será nosso destino, capitão?
— A liberdade, amor..., a liberdade. — Ele nos leva para a
cabine e nós nos deitamos na cama.
— Eu te amo, Lucca...
— Claro que sim..., sou irresistível — brinca e lhe dou um
soco no braço.
— Convencido...
Lucca Martiero
Sinto que algo está errado, tento me mexer, mas estou preso.
Forço meus olhos a abrirem e o que vejo me deixa furioso. Valentina
está de frente para mim amarrada em uma cadeira. Ela está
desacordada e um fio de sangue escorre da sua cabeça. Como eles
nos acharam e como conseguiram nos amarrar sem nós
acordarmos? A única pessoa que sabia onde estávamos era Katy e
acho praticamente impossível ela ter nos traído, Valentina era sua
filha.
V
ejo os dois saírem e bate uma revolta dentro de mim.
O que a gente tem a ver com o que meu avô fez?
Um tempo depois
— Vai mais rápido idiota! — grito para o motorista de táxi,
enquanto aponto a arma para sua cabeça.
Não me leve a mal, eu não iria agir assim se não fosse
necessário. Acontece que quando ele me viu cheia de sangue não
quis me levar, então tive que fazê-lo aceitar a corrida por mal.
Ele pisa no acelerador, quando estou perto de casa, falo para
ele parar, tiro meus brincos de diamante e jogo em seu colo.
— Isso é o suficiente, eu acho. — Abro a porta. — Você
nunca me viu, entendeu?
Ele assente assustado e eu saio, ele arranca com o carro
assim que estou fora, não o julgo. Faria a mesma coisa.
Vou pela parte de trás da casa para evitar os seguranças, não
sei em quem confiar agora. Encontro um buraco no labirinto que
costumava usar quando era pequena e entro. Corro, pois, ele é
enorme.
Quando chego no final escuto o padre terminar a cerimônia e
ando firme para onde eles estão. As pessoas ao meu redor me
encaram, surpresas pelo meu estado.
— Não vai ter casamento! — falo fria, olhando para Katrina.
Ela agora está tremendo, não sei se de ódio ou por eu ter
conseguido fugir. Meu pai dá um passo à frente.
— O que está acontecendo, Valentina? Onde você estava e
por que está cheia de sangue? — seu comando era forte, mas eu
estava cansada disso.
Me aproximo, parando uns três metros de distância.
— Pergunta para "tia" Katrina, afinal, ela sequestrou o noivo,
me sequestrou e ameaçou me matar caso Lucca não se cassasse!
— sorrio para ela. — Conta, tia, diz o porquê você fez tudo isso.
Eu esperava qualquer reação dela, mas nunca pensei que
pagaria uma arma e apontaria para mim na frente de todos.
— Sua puta! Você estragou tudo! Como conseguiu fugir? —
até seu falso sotaque sumiu nesse momento.
— Simples, ele é homem. — Dei de ombros. — O fiz me
soltar e o matei — acrescentei e a vi tremer a mão que segurava a
arma. — Por favor, solte essa arma e se entregue.
Ela começou a gargalhar feito uma louca, todos viam agora a
sua fachada desmoronar, incluindo o marido e a filha, e ela não
estava gostando disso.
— Você destruiu tudo, tudo — às lágrimas escorriam pelo seu
rosto, enquanto ela dava uma risada cheia de desespero. — Eu sei
que vou morrer, mas você irá comi...
Não a espero responder, a melhor defesa é o ataque e uma
morte a mais na minha lista não faria diferença agora. Sem falar que
ela morrendo, tudo iria morrer junto, até o segredo de Lucca.
Me abaixei para sair do seu campo de mira e fiz o que tio
Demétrius tinha me ensinado no campo de tiro dias atrás. Levantei a
arma e atirei em seu coração, chocando a todos. Depois, para não
restar dúvidas, descarrego o revólver em seu corpo. E posso ouvir
os gritos histéricos da minha querida e amada priminha vadia.
Espero que com Katrina tudo tenha sido enterrado também,
porque agora eu só queria me sentar, descansar, aproveitar a
comida e a família.
Olho ao redor e todos estão olhando para mim, sorrio e largo
a arma.
— Eu vou explicar, mas agora quero comer. — E assim,
termino me virando e saindo de lá.
Como se eu não tivesse acabado de matar a mãe da noiva, a
mulher do consigliere.
Mas, na verdade, não importava se eu explicaria agora ou
depois, nada iria se resolver naquele momento. O que importa é que
agora todos sabem:
Ninguém mexe com um Trevizan e permanece vivo.
Lucca Martiero
Horas depois...
Q
uando Valentina
entrou no
casamento, matou
Katrina e mostrou a
verdade por de trás
de tudo, as pessoas passaram a vê-la realmente como é. Uma
mulher forte e decidida.
Ao redor, os comentários eram diversos, desde a entrada
tempestuosa como o assassinato de Katrina. Muitos estavam
falando que ela seria uma assassina de sangue frio igual o pai, já
outros falavam que ela levaria o sobrenome Trevizan para outra era.
Mas de uma coisa todos a chamavam agora. A dama flamejante.
Charlotte, mesmo fragilizada com a morte da mãe, ainda deu
um jeito de querer ser esperta e sair ilesa, mas Valentina esfregou
na cara de todos que ela não era mais virgem quando ficou comigo
e senti no olhar da minha ex-noiva a vontade que ela estava
sentindo de jurar vingança pelo assassinato de Katrina e por ter sido
desmascarada diante de todos.
Já Demétrius ficou com vergonha de não ter enxergado quem
Katrina era de verdade e como a filha era mentirosa, então pediu
licença do cargo de consigliere para Dominic e está nesse momento
a caminho do aeroporto com minha ex-noiva, vai passar um tempo
com sua família, a máfia francesa Viniert.
Sinto pena dele, como um homem de honra, o certo seria
puni-las. Ninguém mais o respeitaria por ter as mulheres da família
envolvidas em um escândalo desses. Mas tudo iria se resolver
Abraço Valentina por trás e olho ao redor, está um clima
festivo nesse momento.
Antes de Valentina chegar para ficar comigo, seu pai me
chamou para conversar a sós, agora me lembrando da conversa me
sinto aliviado, pois não quero começar nossa vida com receio do
passado.
Flashback On
Estou sentado à mesa, que seria dos noivos, com meu copo
de whisky na mão. Vejo Dominic caminhar em minha direção. Puxa
uma cadeira e se senta de frente para mim, pega um whisky e me
encara.
— Quero que você saiba que eu sabia quem você era assim
que pisou em minha casa e chegou perto da minha família.
— Então, por que não fez nada — indago, surpreso, pois
pensava que ele não fazia ideia de nada.
Dominic se encosta em sua cadeira e cruza as pernas,
olhando para seu copo.
— Eu queria ver até onde você chegaria, estava perto de
matá-lo quando supostamente se aproveitou de Charlotte, mas os
dias foram passando e você não fez nada. Também vi o jeito que
olhava para minha filha e como quis matar Pietro por tê-la
machucado, então não agi. — Toma um gole da sua bebida.
— Então, você aceita nosso envolvimento?
— Aceitar? Não. Mas sei que minha filha é uma mulher forte e
determinada. — Se levanta e me encara. — Você não é meu irmão,
não te considero como minha família e se algum dia machucar
minha filha, eu irei te matar, Lucca Martiero. Porém, antes vou te
torturar até você implorar pela morte.
Concordo com a cabeça e devolvo seu olhar.
— Se eu fizer isso, você não precisará fazer nada, eu mesmo
acabo com minha vida.
Flashback Off
Valentina
H
oje é um dia muito
especial para mim,
acordei com todos
me mimando. Estou
em um estado de felicidade tão grande que fiz até os seguranças
rirem.
Se passaram três anos desde o dia que reivindiquei o que é
meu por direito e que aceitei me casar com Lucca.
Por escolha conjunta nós decidimos nos casar quando eu
fizesse 21 anos.
Consegui fazer a faculdade de gastronomia que eu tanto
desejava, apesar de não poder exercê-la para mim foi uma vitória.
Conheci mais a fundo o passado do homem com quem decidi me
casar. Nós viajamos para as ilhas Maldivas e fiquei surpresa por ele
ser um Gangster lá. Apesar de eu achar que não tem muita
diferença entre Gangster e mafioso.
Nós aproveitamos muito nossas férias, de todos os sentidos.
Me sinto realizada atualmente. Foram anos de muito esforço,
mas agora sei que posso comandar a família, embora seja uma
mulher, o que não é normal. Hoje em dia todos me respeitam.
Não me tornei fria e calculista, no entanto tive que sujar
minhas mãos algumas vezes. Não cheguei a contar quantos matei
ou quantos torturei, mas sei que fiz e faria tudo de novo, só basta
um motivo.
Me olho no espelho em meu vestido de noiva, não serei
modesta, estou maravilhosa, esplêndida, magnifica!
Mamãe entra no quarto e lágrimas saem dos seus olhos.
— Por que está chorando, Mamãe? — fico preocupada. —
Era para ser um dia feliz.
Ela anda em minha direção com uma caixa na mão.
— E é, apenas lembrei do dia do meu casamento com seu
pai. Eu estava aí, onde você está, exatamente do mesmo jeito, me
olhando no espelho — sorri e abre a caixa.
Dentro dela estava uma coroa linda de diamantes com
pérolas nas pontas, coloquei a mão na boca emocionada, tentando
segurar as lágrimas.
— É linda... — sussurrei.
— É, sim, igual a próxima dona dela.
Mamãe me virou e pegou a coroa, colocou em minha cabeça
e me abraçou.
— Eu ganhei do seu pai quando fizemos um ano de casados.
Agora ela é sua, sua primeira joia de família, querida — tenta limpar
as lágrimas sem borrar e não consegue. — Agora você não é mais,
minha princesa.
Olhei para ela, chocada.
— Por quê? — ameacei chorar nesse momento, pensando na
perda.
— Porque você, nesse momento e durante muitos anos, será
Rainha, minha querida — sorri e se afasta, olhando para o relógio.
— E rainhas não se atrasam, então vamos, que seu pai está te
esperando.
— Só um momento que já vou, tá bom?
Ela assentiu e passei as mãos pelo vestido, nervosa. As
últimas palavras dela tocaram bem fundo no meu coração.
Será que todos me viam assim?
Não tenho como saber, mas testarei o meu melhor.
Saio do quarto e meu pai me espera no topo da escadaria
para o salão de baile, que agora está enfeitado para a cerimônia.
— Pronta? — papai sorri e pega em meus braços.
— Como nunca estive alguma vez...
E era verdade, se tinha algo que eu não tinha dúvidas é sobre
o amor de Lucca por mim e vice-versa.
Vou descendo os degraus devagar e os rostos vão
aparecendo conforme fazemos a curva, tinha muita gente, todos
aliados da família, os que não aceitaram meu comando ou
desistiram ou foram mortos. Respiro fundo tentando não aparentar
nervosismo. Estou muito nervosa até vê-lo no final. Desço os
últimos degraus e mal percebo que estou andando até que chego ao
seu lado
— Cuida bem da minha menina — ele adverte mais uma vez
e meu coração palpita de amor por ele.
— Com minha vida — Lucca afirma.
O padre pigarreia e papai vai até ele para sussurrar em seu
ouvido. O padre arregala os olhos, mas assente.
— Antes de começar o casamento, o senhor Trevizan
gostaria de fazer um pronunciamento.
Todos balançam a cabeça e papai começa a falar.
— Como todos sabem, passei muitos anos a cargo da família,
hoje sinto que não é mais meu lugar, meu sucessor é uma pessoa
forte, confiável e trará novos ares para a organização. E como o
combinado, prometi entregar o cargo após três anos e depois que
ela estivesse preparada. Então, querida, a partir de hoje você não é
mais a filha do Capo. Apresento a vocês a nova chefe da família,
Maria Valentina Trevizan.
Todos batem palmas, papai me abraça e me dá um beijo na
face.
— Obrigada, papai, eu te amo...
Com lágrimas nos olhos me viro e olho para Lucca, ele está
com um sorriso enorme no rosto, não me importo se não nos
casamos ainda, rodeio seu pescoço e lhe dou um beijo.
Escuto o padre pigarrear novamente e me separo dele. Ele
começa a recitar os habituais votos de matrimônio até chegar na
parte que me interessa.
— Senhorita Maria Valentina Trevizan, você aceita Lucca
Martiero como seu legítimo esposo, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, para amá-lo e
respeitá-lo até que a morte os separe?
As palavras saem de mim sem esforço nenhum, porque elas
não eram baseadas em mentiras e padrões, elas eram minha mais
pura realidade.
— Quando te conheci, eu vi em você uma oportunidade de
escapar de tudo isso. Mas te querer e tramar para tê-lo para mim
me fez ver que eu não estava fugindo por liberdade, eu estava com
medo dela. Você me fez amar, desejar e compreender qual é o meu
lugar no mundo. E como toda rainha eu preciso de um rei. Por isso
com todas as forças do meu coração eu aceito, aceito você Lucca
Martiero porque você é o meu coração, minha coroa e minha mão
direita — encerro, não conseguindo segurar mais minhas lágrimas.
Ele acariciou meu rosto, mas antes de fazer algo mais o
padre nos cortou.
— Senhor Lucca Martiero, você aceita Maria Valentina
Trevizan como sua legítima esposa, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, para amá-la e
respeitá-la até que a morte os separe?
— Quando coloquei os pés nessa casa, foi procurando
vingança, mas uma diabinha ruiva entrou em meu caminho e me fez
ver que tudo que eu buscava era pouco comparado ao prazer em tê-
la em meus braços. Seus sorrisos maliciosos e sarcásticos e
principalmente seu coração doce. Obrigado por não ter desistido de
mim meu amor, prometo que todos os dias te mostrarei o porquê me
escolheu para ser seu parceiro de vida. Em um jogo de xadrez
quem manda é a rainha e fico feliz de estar ao lado dela para
sempre. Aceito.
Escutamos novos aplausos por todos os lados.
— Deixo claro que o que Deus uniu homem nenhum pode
separar, Pelos poderes concedidos a mim, vos declaro marido e
mulher, Pode beijar a noiva.
Dessa vez nosso beijo foi doce, sem desespero ou pressa
pois sabíamos que teríamos muito tempo pela frente.
— Está Feliz, Senhor Trevizan? — murmuro em seus lábios.
— Excitado e querendo sair daqui logo, Senhora Trevizan —
me pega no colo e sai do salão com som dos aplausos atrás da
gente.
Esse não foi um casamento tradicional e não terminamos de
forma tradicional. Mas temos uma desculpa.
Nós não somos tradicionais, somos Maria Valentina e Lucca
Trevizan!
Os novos chefes da Máfia, porque dividiremos. Afinal,
casamento é compartilhamento!
Valentina
E
stou ansiosa
esperando meu
marido voltar para a
nossa casa nas
Maldivas. Decidimos tirar umas férias de todo o trabalho da máfia na
Itália.
Coloco uma fantasia de coelhinha, aquela da playboy, e um
batom vermelho escarlate.
Me olho no espelho, vejo que os anos amadureceram não só
minha mente, mas também meu corpo. O espartilho ergue meus
seios, minha bunda redonda é realçada pela calcinha preta e o
pompom rosa.
Me sinto uma mulher realizada em todos os sentidos da vida.
Eu e Lucca temos um relacionando maravilhoso, comandamos a
máfia muito bem juntos e agora nosso prêmio chegou.
Hoje contarei que estou grávida, esperamos muito tempo
porque queríamos ter certeza de que tudo estava em seu devido
lugar.
Meus pais estão viajando pelo mundo a pedido de minha
mãe. Tio Demétrius voltou para onde ele pertence, nossa família, e
agora está se relacionando com a filha de Adelaide nossa
cozinheira, os dois são fofos juntos apesar da diferença de idade de
quase 25 anos. Charlotte foi mandada para Rússia para ser
educada por uma Matrona de uma Máfia aliada dos Viniert, ela está
lá até agora, não se interessou em voltar, e sendo sincera, espero
que não volte nem tão cedo.
Escuto passos fora da casa e sorrio, de repente, a porta da
frente explode e me encosto na parede do closet.
— Parece que não tem ninguém aqui, você não disse que a
mulher dele estaria sozinha? — uma voz diz com raiva.
— Você que disse, idiota! Agora como vamos chantagear
aquele maldito? — escuto um barulho de soco.
Olho para a gaveta onde colocamos armas, pego minha
Glock. No reflexo do vidro da janela dá para ver dois homens
aparentando uns quarenta anos. Eles andam em direção ao
banheiro, aproveito que estão de costas e saio.
— Acho que vocês não estão errados — atiro na mão do
homem que está com a arma e no outro homem atiro nos dois
joelhos. — Mas pensaram que encontrariam uma esposa indefesa?
— Desgraçada! — os dois gritam.
Balanço a cabeça, inconformada com a ousadia deles de
acharem que podiam chegar aqui e fazer algo comigo.
— Eu vou dizer o que vai acontecer, vou me sentar nessa
cadeira e vocês vão me contar por que arrombaram minha casa e
tentaram estragar minha surpresa para meu marido. — Me sento e
cruzo as pernas, um dos homens tenta pegar a arma e atiro em sua
cabeça. — Acho que posso tirar informação só de um. — Dou de
ombros. — Primeiro, qual seu nome e por que veio aqui?
Quando ele ia responder Lucca entra no quarto com alguns
seguranças. Olha para mim, sentada e fantasiada.
— Que porra está acontecendo aqui, Valentina?
Reviro os olhos, homens...
— Boa noite, querido. — Me levanto e ando em sua direção,
ele olha para os seguranças, que arrastam o homem do nosso
quarto, me agarra e cola sua boca na minha. — Se eu soubesse
que minha fantasia deixaria você tão selvagem, eu teria feito antes...
— mordo seus lábios.
Fim…
Valentina
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Instagram: @m.a.neres
O Mafioso
O Gangster
Conduzidos pelo amor
O torneio de Heros
Destinada