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Copyright © 2020 Evilane

Oliveira

Honra Distorcida
1ª Edição

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens e acontecimentos
que aqui serão descritos são produto da
imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera
coincidência. Esta obra segue as regras
da Nova Ortografia da Língua
Portuguesa. É proibido o armazenamento
e/ou a reprodução de qualquer parte
desta obra, através de quaisquer meios,
sem o consentimento escrito da autora. A
violação dos direitos autorais é crime
estabelecido pela lei nº. 9.610. /98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.

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Edição Digital | Criado no Brasil.


SINOPSE
PRÓLOGO
PRÓLOGO 2
01
02
03
04
05
06
07
08
09
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PRÓXIMO LIVRO
AGRADECIMENTOS
CONTATO
OUTRAS OBRAS
Cada passo, decisão e momentos
da minha vida estavam selados. Eu
aceitei meu destino assim que me foi
imposto. Fui uma verdadeira princesa,
elegante e maleável. Me casaria com o
consigliere da Cosa Nostra e seria uma
rainha.
Ou foi o que achei até que ele
entrou em meu caminho e quebrou minha
coroa, antes mesmo dela ser posta sobre
minha cabeça.
Rocco Trevisan pegou ela entre
os dedos e a despedaçou.
Em seu lugar, fui presenteada
com uma gaiola que me manteria presa
para sempre.
Ele me escolheu e pela primeira
vez eu odiei ser a boa garota da
famiglia.
Eu odiei a elegância e educação
me dada. Eu quis ser diferente. Quis
odiá-lo e fugir.
Agora, eu não podia.
Porque ele via dentro de mim.
Ele sabia.
Eu amava a escuridão.
ENRICO BELLUCCI
Observei o computador diante de
mim enquanto meus capos se reuniram
ao redor vendo o mesmo que eu. Meus
dedos estavam relaxados e eu levei o
copo de uísque a boca, engolindo
enquanto via a movimentação de
Francesco pela minha visão periférica.
— Você tentou me tirar do poder,
Bellucci. Essa é uma demonstração do
que acontece quando você pisa no meu
território. — Rocco Trevisan se pôs ao
lado do garoto recém iniciado. Filho do
Francesco.
Rocco sorriu para a câmera, mas
era um sorriso que não alcançava seus
olhos. Um sorriso que apenas um sádico
de merda daria. Eu não tentei tirá-lo do
poder. Essa porra foi feita pelas minhas
costas e se eu um dos homens que
entraram em Chicago tivesse retornado
vivo, eu o mataria por suas tolices.
Rocco tomou o poder há quase um ano.
Ele destruiu as pessoas que não
o aceitavam como o chefe da Outfit.
Rocco era o que gostavam de chamar de
bastardo. Obviamente, ninguém se
atreveria a dizer isso na sua frente. Filho
de uma mulher cujo paradeiro do qual
não se sabe, e do antecessor dele na
Outfit. O que ele matou. Um filho fora
do casamento.
Eu traguei meu charuto e
observei Rocco deslizar sua faca no
peito do garoto desmaiado. O sangue
deslizou pela pele do menino e se eu
pudesse sentiria pena. O filho da puta
Trevisan era um lunático.
Quando a tela ficou preta,
Francesco foi o primeiro a me encarar.
— Vou matá-lo e peço sua
permissão. — Suas palavras eram
firmes e eu por um momento pude
colocar fé nisso, mas estávamos falando
de Rocco.
— Você morrerá assim que
entrar nos limites de Chicago. Rocco é
um homem sádico. Sabemos que Giulio
não sairá de lá com vida.
Francesco encarava seus pés,
nunca me olhando diretamente, e
respirou fundo. Ele sabia que era morte
certa. Nunca conseguiríamos entrar em
Chicago e eu não queria uma guerra com
a Outfit. Só seria derramamento de
sangue.
— Os homens que atacaram
Rocco estão mortos. Todos. Seria tolice
tentar invadir — Juliano falou firme ao
meu lado e Dino acenou a alguns metros,
próximo a janela. — Algum de vocês
tinha ciência desse ataque idiota do
caralho?
Eu observei os homens diante de
mim, cada um deles e apertei meu copo
quando vi Alessandro engolindo em
seco.
— A frente Alessandro — falei
em um tom firme e ele ergueu o rosto
assustado. — Fale tudo. Eu não tenho
tempo. Rocco deve estar tentando entrar
na porra da Itália nesse momento.
Alessandro contou cada uma das
coisas que eu já havia previsto. Um
grupo de idiotas decidiu entrar em
Chicago e matar Rocco. Sabíamos que a
família Trevisan estava matando os
aliados da Outfit que ficaram contra eles
no poder. Pensaram que ele estaria
focado apenas nos seus porcos
traidores.
Foi imprudente. Não é à toa que
todos estão mortos.
— Saiam — ordenei calmamente
e olhei para Dino que sabiamente ficou.
Ele era capo há alguns anos. Encarei
Juliano me servindo mais uísque. Ele
era meu consigliere. Meu braço direito
desde que eu assumi.
Sebastian foi morto em um
confronto com a Bratva há alguns anos e
eu subi mais uma vez. Quando assumi
desejei que Vincent, meu irmão,
estivesse ao meu lado. No poder
comigo. Porém, eu sabia que isso jamais
aconteceria. Então, pensei em Dino, o
homem que tomou um tiro por meu filho,
mas ele nem deixou que eu propusesse.
Dino era leal a famiglia, mas seu
envolvimento era o mínimo. Eu o
entendia. Seus filhos precisavam dele.
Juliano era um capo leal como
Dino, mas ao contrário do meu amigo,
ele queria. Eu o subi de posição sem
hesitar.
— Precisamos conversar com
Rocco — Juliano propôs andando até a
cadeira diante de mim.
— Ele vai nos matar se
entrarmos em Chicago — falei o óbvio
vendo os dois se sentarem.
— Ele vai nos estraçalhar. Ainda
não entendo o que esses idiotas do
caralho pensavam. — Dino semicerrou
os olhos, irritado e eu pensei o mesmo.
— Não precisamos entrar. Eu
posso ligar — Juliano disse olhando
para mim e depois para Dino. — Com a
Bratva no nosso encalço, precisamos de
aliados. A Outfit é a solução. Rocco
precisa de nós.
— Rocco não vai se aliar a nós
depois do circo que esse fodidos
fizeram — afirmei tenso e Juliano deu
de ombros.
— Alianças se fazem trocando
coisas. Podemos oferecer nossos
laboratórios. Rocco sabe que nossas
drogas têm mais qualidade. Chicago
precisa de algo novo e podemos
oferecer isso.
— Ele vai rir na nossa cara —
Dino disse se encostando na cadeira.
— Não se completarmos a
aliança. — Juliano sorriu e Dino
arqueou as sobrancelhas.
— O que tem em mente? —
questionei tentando acompanhar o
raciocínio de Juliano. Ele era a lógica
da famiglia.
— Tudo na máfia começa e
termina com morte, sangue e casamento.
— Você acha que Rocco aceitará
uma das nossas mulheres? — eu
perguntei apático e Juliano sorriu,
diabólico. Dino parecia em dúvida.
— Sim. Ele vai querer.
Eu não tinha tanta certeza, mas
eu seguiria seu conselho. Eu não queria
Rocco Trevisan atravessando o oceano
para tentar nos matar. Eu não quero uma
fodida guerra.
Meus olhos correram para minha
aliança e o rosto de Giovanna brilhou na
minha mente. Eu não daria a mínima
para a guerra se eu não a tivesse e
Matteo.
Rocco aceitaria o casamento. Eu
faria essa porra acontecer.
ROCCO TREVISAN
— Você em um casamento? —
Romeo me encarou com o olhar morto
que ele dava a todo mundo e que eu
odiava. Meu irmão respirou fundo
quando eu só o olhei de volta.
Ter um aro de ouro no dedo, uma
mulher ao meu lado para o fodido
sempre e uma igreja não estavam nos
meus planos futuros. Nem nunca. Tenho
mais mulheres a minha disposição que
soldados. Eu não seguia os costumes e
não os enfiava goela abaixo nos meus
soldados, casamento não era algo feito
sem motivos. Eu não ordenava
casamentos sem ter algo muito
importante por trás dessa decisão.
Porém meu antecessor, vulgo meu pai,
levava os costumes tão enraizados
quanto a educação. Casamentos eram o
costume. Lembro de ter um quase todo
mês. Uma besteira fodida, se me
perguntarem.
— Você tem ideia melhor? —
questionei de saco cheio. Enrico Fodido
Bellucci desligou a chamada minutos
atrás com essa proposta.
Eu matei seus homens e ele me
oferece a paz. Uma de suas mulheres.
Enrico estava cada vez mais fraco e não
percebia. Um idiota que agia em nome
da paz. Eu sabia onde doeria nele,
porém meu problema é apenas com ele,
com a famiglia. Eu não envolvia pessoas
que não tinham culpa das escolhas dele.
Já usaram isso contra mim.
Ninguém quer saber como os matei.
Enrico vai sangrar por si só.
— Não, não tenho — Romeo
murmurou girando o anel de ouro no
dedo.
— Precisamos das cargas e
podemos movê-las pela fronteira sem
riscos. Enrico concordou com meus
termos — afirmei o que ele já tinha
escutado na chamada e peguei meu copo
cheio de uísque.
— Eu não faço ideia do que
Enrico tem na cabeça de enviar uma de
suas mulheres para Chicago. — Romeo
balbuciou ainda fascinado com a
decisão. Era uma loucura, ninguém faria
isso em sã consciência. Quando você
cresce na máfia algo em sua mente
sempre sai danificado. Talvez, esse
fosse o motivo de Enrico.
— Em uma semana eu vou
escolher a mulher — anunciei e meu
irmão apenas acenou.
— Que mulher? — Prince entrou
no local e eu respirei fundo, observando
meu irmão mais novo.
— Vou casar — disse
rapidamente e o merdinha insolente
começou a rir.
— Next.
— O quê? — Romeo perguntou
franzindo a testa e Prince nos olhou
ainda rindo.
— Você está vendo o jeito que
esse idiota fala? Meu Deus, deve ter
comido muita merda — resmunguei me
afastando e levei o copo aos lábios.
Escutei Prince bufar, mas o ignorei.
— Você vai casar. Ok. Onde eu,
Matteo e Lake vamos morar?
— Conosco — falei
abertamente, não entendendo qual era o
ponto. — Nada vai mudar. Só uma
pessoa a mais na mansão.
— Não deixarei Lake perto de
uma desconhecida. — Prince se ergueu
rápido e eu me aproximei jogando meu
copo no chão. O vidro se espatifou e os
cacos voaram.
— Você acha que eu vou deixar
algo acontecer a ela? Olhe para mim
quando eu falar com você! — gritei
próximo ao seu rosto tanto quanto podia
quando ele baixou os olhos. Meu irmão
mais novo ficou rígido, porém ergueu o
queixo para me encarar. — Não baixe a
guarda, Prince. Não baixe a porra da
guarda. Quando alguém for para você,
mantenha os olhos nela. Em um segundo,
você pode estar morto, se ficar olhando
para os seus pés.
Eu me afastei quando ele acenou.
— O casamento é um fim para o
meio. — Eu sorri, pegando um novo
copo e me virei. — Eu vou esperar
ansioso o dia em que Enrico aparecerá
na minha frente. O dia em que o figlio di
puttana chegará a Chicago para tentar
salvar a garota.
— Ele não vai se arriscar por
causa de uma garota qualquer — Romeo
me lembrou enquanto Matteo entrou na
sala.
— Eu não vou escolher uma
qualquer.
Meus irmãos me encararam em
silêncio e eu me virei, sorrindo e
olhando pelas janelas que davam vista
para o lago Michigan. Chicago era
minha, a Outfit também e logo a Cosa
Nostra saberia por que não deveria
mexer comigo ou com a minha cidade.
Era uma promessa e eu a fiz sob
o sangue dos homens da famiglia que
encharcavam meus sapatos depois que
os matei.
Minhas mãos estavam apertando
a borda do vestido preto como se a
costura pudesse me tirar desse lugar.
Tracei cuidadosamente o tecido
enquanto ouvia os passos da minha mãe
pelo quarto. Ela estava aflita, mas
jamais ousaria dizer.
— Não precisa se preocupar,
Sienna. Ele não vai escolher você.
Vamos deixá-la ao fundo. — Sua voz
soou alarmada e eu respirei fundo a
encarando pela primeira vez desde que
chegamos na mansão dos Bellucci. O
don da famiglia estava reunido com seus
homens enquanto esperavam o horário
da chamada de vídeo.
— Não vai — meu irmão falou
convicto e mamãe suspirou me olhando.
— Não entendo como Enrico lhe
convocou. Sabemos que é a mulher que
Juliano pedirá a mão. Você é a melhor
garota da famiglia...
— Mãe. — A voz de Salvatore
foi cortante. Poderia ter sido ele no
lugar do garoto que a Outfit torturou. Os
dois foram iniciados juntos. Salvatore o
conhecia.
— É a verdade...
— Jamais questione a decisão
dele. — Sal falou em um tom seco que
nunca tinha usado com mamãe ou
comigo. Desde que nosso pai morreu há
alguns anos, meu irmão cresceu rápido.
— Vai ficar tudo bem. — Eu
forcei minha voz querendo que eles
parassem de discutir.
Me ergui da poltrona confortável
e andei até o espelho. Era a primeira vez
que víamos a casa do Enrico e
Giovanna. A esposa do chefe da máfia
italiana era um anjo que ninguém
conseguia entender. Ela era de Enrico,
depois de tudo.
— Mantenha os olhos no chão —
mamãe pediu ficando atrás de mim.
Nosso medo não era algo
extraordinário. Dezenas de garotas da
Cosa Nostra estava na mansão para ser
escolhida como a noiva de Rocco
Trevisan. O demônio. Não que na
famiglia não tivesse alguns, mas
Rocco... ele era louco. Meu corpo
estremeceu enquanto relembrei as
histórias que rondavam a Sicília.
Enrico está tentando um tratado
de paz entre a famiglia e a Outfit,
segundo Salvatore. Na máfia tudo
acabava em sangue, guerra ou
casamento. Eles não queriam nenhuma
das duas primeiras opções. O casamento
era a única saída. O elo entre as duas
máfias. A paz.
— Vamos lá. Faltam poucos
minutos. — Sal gesticulou para a porta e
eu acenei, me olhando novamente no
espelho. Meus cabelos loiros estavam
em ondas suaves que alcançavam a
metade da minha coluna. Minhas
bochechas estavam vermelhas pelo
blush que passei e meus cílios, pintados
de preto, adornavam meus olhos azuis
que brilhavam com medo.
Lambendo meus lábios rosados
que estavam com batom, eu suspirei. Vai
ficar tudo bem.
Assim que descemos as escadas
todos os rostos se viraram para mim.
Tentei ignorar cada olhar e me afastei da
minha mãe e irmão. As meninas da
famiglia não eram minhas fãs. Eu, às
vezes, dizia a mim mesma que era por
mamãe. Ela amava me endeusar para as
outras mães. Eu também me ressentiria
de alguém que era frequentemente
denominada como perfeita. Porém, eu
não acreditava nisso.
O ódio que sentiam é por
Juliano. Todos sabem que eu seria dele.
Sua esposa. Elas queriam o meu lugar ao
lado dele.
Se dependesse de mim, isso não
aconteceria.
Me posicionei ao lado de Ágata,
uma das poucas garotas que gostava de
mim, e sorri, contida.
— Ele vai matar a noiva assim
que ela entrar em Chicago e enviará a
cabeça dela para Enrico — ela
murmurou alto o bastante para que eu
pudesse ouvir e pelos olhares chocados,
algumas meninas também.
— Pare.
— É a verdade. — Ela deu de
ombros e riu.
— Você não está preocupada de
poder ser essa garota? — questionei
enquanto uma câmera era posicionada
diante da gente.
— Oh, não. Ele não me
escolheria. — Ela parecia convicta
disso. Eu queria ter a mesma sensação
de proteção, mas a cada vez que
encarava minha mãe eu tremia. Ela
estava batendo a mão sobre a coxa e
seus olhos não paravam. Mamãe parecia
saber que ele me escolheria. Isso me
assustava.
— Bom dia, senhoritas —
Juliano, o consigliere de Enrico, e meu
talvez futuro noivo, murmurou parando
diante de nós.
— Bom dia! — todas nós
respondemos rapidamente. Juliano era
perspicaz e um tanto sem controle. E
claro, ele era lindo.
Meu quase noivo. A famiglia e
minha mãe esperavam por isso. No
entanto, se eu estava aqui, isso queria
dizer que eu não era uma opção. Certo?
— Honra, lealdade e dever são
coisas que aprendemos desde cedo na
máfia. Vocês têm deveres a cumprir e é
para isso que estamos aqui. Hoje, uma
de vocês sairá da Itália e começará uma
nova vida em Chicago. Sejam
cuidadosas — Juliano afirmou tão sério
que eu estremeci. Ele nos olhou por
alguns segundos e se virou. — Vamos
começar!
Juliano e Enrico ficaram na
nossa frente. Quando a projeção da
imagem foi para a parede eu suspirei.
Instantaneamente eu soube quem era o
noivo. Rocco estava sentado em uma
poltrona recostado enquanto três homens
estavam de pé atrás dele. Sem camisa, a
única coisa que o cobria era uma calça
de moletom. As tatuagens e cicatrizes
quase me fizeram ofegar. Alguns pontos
ainda estavam vermelhos, feridas se
curando.
Ele sorriu e eu pisquei
respirando profundamente. Seu sorriso
era sem vida, sem alegria. Seus olhos
eram tão azuis que os meus pareciam
cinzas em comparação. Seu cabelo loiro
era curto nas laterais, rente à cabeça, e
em cima um pouco maior. Ele era lindo
de uma maneira escura e distorcida, eu
admiti em pensamentos.
— Enrico. — Sua voz saudou e
ele sorriu novamente. — Suponho que
você já conheça meus irmãos.
— Sim. — Enrico deu um aceno
pequeno e os três homens fizeram o
mesmo. — Vamos começar.
— Me deixe vê-las. — Minha
pele arrepiou ouvindo sua voz rouca e
eu engoli em seco, tentando manter a
compostura.
Enrico saiu da frente junto com
Juliano e o homem que segurava a
câmera apontou para todas nós. Eu
estava na ponta e quando suspirei de
alívio o soldado começou a se mover
em nossa direção. Ele passou por cada
menina de perto, tão devagar que era
excruciante.
Assim que ela passou por mim
eu deixei meus olhos presos em Rocco.
Seu olhar era apenas neutro, eu não
conseguia saber o que ele pensava.
Desci os olhos pelo seu corpo
novamente e quando percebi que estava
gostando do que via, baixei os olhos.
— 2, 5, 7, 9, 11 e 14 um passo à
frente — Rocco ordenou friamente e por
um momento fiquei confusa. Não
tínhamos números.
Eu contei rapidamente e suspirei
de alívio ao ver que eu era a 10, porém
durou pouco ao ver que Ágata foi uma
das escolhidas. Ela deu um passo à
frente e eu vi seu corpo estremecendo.
— Saiam. — Meus olhos se
arregalaram diante da sua demanda e
logo as meninas andaram rapidamente
para fora da sala. Ele fez isso a cada
passada do soldado com a câmera por
nós até restar apenas eu e outra garota
que eu não conhecia.
— Então? — Enrico perguntou
olhando para nós duas, esperando a
escolha de Rocco. Eu olhei para minha
mãe e me arrependi, instantaneamente. A
derrota era visível em seu rosto. —
Qual das duas?
— Você sabe qual — Rocco
falou firme e sorriu. A câmera estava de
frente para nós duas e quando encarei o
chefe, eu sabia que estava perdida. O
olhar de Enrico era vazio.
— Você quer falar com ela? —
Enrico perguntou se movendo e Rocco
pegou um copo com bebida e engoliu
tudo em uma virada, ainda com os olhos
presos na tela a sua frente. Em mim.
— Enviem-na hoje. — A tela
ficou preta assim que ele desligou.
Meu batimento cardíaco estava
acelerado e meu estômago rodou, quase
me levando a vomitar. Olhei para
mamãe e seus olhos brilhavam. Enrico
andou até mim e eu engoli em seco.
— Arrume suas coisas. O avião
sai em algumas horas.
Eu não o questionei, jamais faria
isso. Ele era o chefe, ninguém jamais o
contrariaria.
Fomos informadas de que o
casamento não aconteceria na Itália
antes mesmos de nos reunirmos aqui.
Rocco não aceitou entrar no território
inimigo. Ninguém estaria comigo,
Enrico jamais viajaria para Chicago e
nem aceitaria alguém da minha família ir
comigo. Ele não desejava a morte de
todos.
Acenei, rapidamente e ele saiu
sem outra palavra. Andei diretamente
para minha mãe e ela segurou meu braço
me levando para fora da casa. Todas as
meninas me olharam com pesar e eu
odiei cada segundo. Seus olhares de
pena me levaram há anos, depois da
morte do meu pai, da gente sendo
rebaixadas dentro da famiglia porque
papai não era mais o chefe.
Enrico sempre nos protegeu
obviamente, mas não éramos sua
prioridade. A famiglia era. Não
importava se Rocco me matasse no
processo.
Entrei no carro com mamãe, e
Salvatore estava no volante apertando-o
até seus punhos estarem brancos.
— Não posso acreditar que
Enrico vai mandar você para Chicago.
Você é filha de Sebastian. Por Deus...
— Mãe, pare — Salvatore falou
novamente agora com tanta raiva que eu
peguei na mão da minha mãe acalmando-
a.
— Está tudo bem — murmurei
para ela e respirei fundo tentando reunir
coragem dentro da minha alma. — Sou o
elo da paz. Rocco não vai me matar.
— Seja uma esposa boa, Sienna.
Ele não terá motivos para machucá-la —
Sal falou firme e eu acenei encontrando
seu olhar no retrovisor.
— Rocco não precisa de
motivos — mamãe falou rápido e eu
senti meu estômago revirar mais uma
vez.
Mamãe estava certa. O diabo
não precisava de motivos para te fazer
queimar.

Olhei pela janela enquanto


cutucava minha unha longa e o mar azul
me fez suspirar, era tão lindo, tão azul. A
comissária de voo entrou segurando uma
bandeja e me deu um sorriso tenso.
— Bom dia, Senhorita Rizzi. Seu
café da manhã. — Ela me entregou a
comida e eu agradeci.
Comi devagar e quando o jato
pousou em Chicago eu já tinha voltado a
minha posição, olhando pela janela. Eu
estava cansada, não consegui dormir nas
longas horas de voo. Sempre que minhas
pálpebras se fechavam o rosto choroso
da minha mãe aparecia em frente aos
meus olhos.
— Chegamos, Senhorita.
— Obrigada. — Sorri me
erguendo e a segui.
Segurei a alça da minha bolsa
com tanta força que meus dedos estavam
brancos, e desci as escadas do avião.
Apertei meu casaco sentindo o vento
frio jogar meus cabelos para longe.
Minha calça agarrava minhas coxas e o
blusão justo cobria minha bunda. Ergui
meu rosto seguindo a comissária
enquanto alguém pegava minhas malas.
Respirei profundamente quando
vi um helicóptero preto parado com as
hélices girando. Dois homens estavam
parados diante dele e eu senti minha
pulsação acelerar quando percebi que
era Rocco e um dos seus irmãos.
A comissária me deu um sorriso
e seus olhos brilhavam com pesar. Ela
saiu em seguida e Rocco deu um passo à
frente. Seu sorriso torcido estava longe
de ser visto. Rocco me encarou sério e
semicerrou os olhos por alguns segundos
enquanto eu estava parada com os
cabelos voando para todos os lugares.
— Bem-vinda, Passarinha. —
Sua voz me fez estremecer e dar um
passo para trás procurando seus olhos.
O azul era escuro agora. Eu não tinha
ideia de que a escuridão era tão bonita.
— Vamos, Rocco — o homem
atrás dele chamou rapidamente e eu o
encarei. Seus olhos eram cinzentos e o
cabelo diferente de Rocco, era escuro.
— Esse é Romeo, meu irmão —
Rocco falou ainda parado me encarando
e eu engoli em seco. — Vamos lá.
Rocco e Romeo subiram no
helicóptero e eu os segui. Me sentei
longe dos dois mantendo meus olhos na
janela. Quando subimos eu fixei meu
olhar no lago Michigan. Era bonito e
chamativo. Ele me acalmou e eu não
sabia por quê.
O silêncio se estendeu durante a
viagem. Rocco estava mexendo em um
IPad e Romeo no celular franzindo a
testa de poucos em poucos segundos.
Quando o helicóptero pousou
Rocco me ajudou a descer e eu fiquei
tensa com seu toque. Ele voltou a franzir
o cenho e se inclinou sobre mim, me
fazendo tremer.
— Você vai ficar tensa quando
eu foder sua boceta, Passarinha? — Ele
se afastou para assistir minha reação e
eu engoli em seco, ainda em silêncio.
Rocco sorriu e continuou me segurando.
Seu polegar apertou meu pulso e ficou
lá.
Estávamos em uma propriedade
arborizada. Os arredores do heliporto
eram verdes e eu vi os soldados se
reunindo diante de nós. Rocco me
colocou em um carro de golfe e dirigiu
com Romeo ao seu lado.
Assim que avistei a mansão eu
fiquei tensa. A fonte em frente à entrada
era um leão com a boca aberta. A água
saia de lá como se ele estivesse rugindo.
Era bonito de um jeito cruel.
A casa era larga e a porta era tão
alta que quase alcançava o andar de
cima. Quando ela se abriu, Rocco me
puxou novamente e eu entrei. Os dois
irmãos que estavam na transmissão me
encararam parados. O mais alto, Matteo,
poderia ter vinte anos, no máximo e
Prince, o mais novo, uns dezessete.
Os Trevisan.
O sobrenome me fez arrepiar. Os
dois diante de mim eram parecidos com
Romeo. Cabelos escuros e olhos
cinzentos. Apenas Rocco era loiro.
— Matteo e Prince. Essa é
Sienna Rizzi. A noiva — Rocco
murmurou soltando meu pulso e
passando por mim, se colocando ao lado
dos seus irmãos seguido por Romeo.
A boca de Matteo se estendeu e
ele sorriu, ironia dançando em seus
olhos. Prince não fez nada que pudesse
indicar que ele tinha me visto.
— Você tem até quatro da tarde
para se arrumar.
Eu pisquei arregalando os olhos
e Rocco sorriu novamente, sádico.
— Vamos nos casar, passarinha.
— Ela é muda? — Matteo
questionou e riu. — Que sorte do
caralho, hein Rocco.
— Eu não sou muda. — Forcei
minha voz a sair e os quatro Trevisan me
encararam sem expressões. — Olá. Eu
sou Sienna Rizzi.
— Continue... — Rocco me
desafiou com o olhar e eu estremeci. O
que ele queria que eu falasse? — O que
você é, Sienna? — Sua voz fez
entendimento cair em mim. Não gostava
do termo, mas ele queria respostas.
— A princesa da famiglia.
— A rainha da Outfit — Rocco
me corrigiu rápido e Matteo sorriu mais
amplamente.
— O ponto alto do meu dia. —
Ele piscou para mim e eu senti meu
estômago revirar. — Bem-vinda a
Chicago, Sienna Trevisan.
Eu queria sumir.
Romeo me encarou com os olhos
apáticos de sempre enquanto eu me movi
para o bar tirando a camisa. Eu odiava a
coisa. Me servi de uísque e peguei o
olhar de Prince para as escadas. Sienna
Rizzi tinha acabado de subir.
— Mostre o quarto a ela —
Romeo falou o que guardava e eu ergui a
sobrancelha. — Você apenas a soltou na
mansão, Rocco.
— Ela vai se encontrar... —
murmurei com firmeza, pois eu tinha
explicado onde ficava seu quarto. Não
era difícil achar.
— Ou esbarrar com Tebow, ou
pior, com Lake. — Prince abriu a boca
pela primeira vez e eu apertei minha
mandíbula.
Soltei o copo ainda cheio e subi
os degraus da escada. Sorri quando
encontrei Tebow, e como Prince previa,
Sienna estava na frente dele
completamente paralisada. Me
aproximei devagar, encostando meu pau
em sua bunda perfeita e levando minha
mão para sua boca. O corpo dela se
retesou e eu sorri. Porra.
Enfiei minha cabeça em seu
pescoço e cheirei devagar sentindo o
perfume doce e sensual na pele branca
dela. Sienna era a mais perfeita princesa
da máfia. Seu cabelo loiro, seus olhos
azuis, uma italiana dos pés à cabeça.
E era minha.
— Sou eu, passarinha —
murmurei contra sua orelha, mas isso só
a fez ficar ainda mais tensa. — Tebow
— saudei e ele me encarou por alguns
segundos e depois voltou a observar
Sienna. Soltei a mão dos seus lábios e
ela respirou fundo.
— Me solte, por favor — ela
pediu baixinho e eu a virei. Os olhos
grandes e expressivos dela me
agraciaram e eu tirei seu cabelo rebelde
do rosto.
— Para quê? — questionei firme
e Sienna engoliu em seco.
— Preciso me arrumar.
— Temos tempo — falei sério
deixando meus olhos caírem em seus
seios. Se é que isso é possível, Sienna
ficou ainda mais rígida.
— Ainda não nos casamos.
— Qual o problema? —
questionei rápido e vi seu rosto ficar
vermelho.
— Só pode me tocar depois do
casamento — falou isso tão baixo que eu
apostava Prince que nem ela acreditava
nisso.
— Eu posso tocar você quando
eu quiser, passarinha. Você é minha.
Sienna engoliu em seco e
estremeceu desviando os olhos dos
meus.
— Vamos lá, vou te mostrar seu
quarto. — Eu a soltei e passei por ela
chamando Tebow. Ele me seguiu mais
rápido que Sienna.
— Ele morde? — Sua voz
chegou em mim e eu abri a porta do
quarto, onde suas malas já estavam.
— Sim. Não pareça medrosa na
frente dele. Ele vai atacar ao mínimo
sinal de hesitação — falei a verdade
olhando para o cachorro maior que a
maioria. Tebow descansou no corredor e
eu olhei para Sienna que ainda parecia
temer ele. — Achei que a famiglia
criava mulheres fortes.
Sienna ergueu o rosto ao me
ouvir e engoliu em seco. Ela andou para
mim e entrou no quarto. Seus olhos
capturaram cada lugar e sua boca se
abriu ao ver o vestido de noiva.
— Logo alguém vem ajudá-la
com cabelo — avisei rapidamente e ela
se virou acenando.
Deixei Sienna sozinha, e fechei a
porta guardando a chave em meu bolso.
Eu não a queria fora do quarto. Era
melhor assim.
— Preciso ir ao Village —
Romeo falou assim que desci as
escadas. Matteo e Prince estavam na
sala de jogos que ficava ao lado e eu
andei para lá com Romeo.
— Vou casar em duas horas —
avisei pegando meu copo agora vazio e
lancei um olhar firme para Matteo que
deu de ombros, filho da puta. Me servi
novamente e me sentei perto deles.
— Será rápido. Preciso ver se a
droga chegou corretamente. Você sabe
que não confio em Enrico — meu irmão
afirmou me encarando e eu acenei.
Olhei para o copo cheio de
líquido âmbar e senti minha pulsação
acelerar lembrando do chefe da Itália. O
fodido idiota. Enrico disse que não
sabia do ataque que sofremos há alguns
dias. Eu duvidava fortemente. Se seus
soldados faziam esse tipo de merda nas
suas costas, Enrico precisava matar
alguns para dar uma lição. Era o que eu
faria.
Romeo saiu, deixando nós três
sozinhos. Escutei passos e vi Mama L
nos olhando. Ela trabalhava com a gente
há poucas semanas. Eu não gostava de
criados pela casa, mas depois de
algumas semanas percebi que era
impossível sobreviver no lixão que
Matteo e Prince transformam na casa.
Agora tínhamos ela como cozinheira e
governanta. A equipe da limpeza vinha
uma vez por semana. Porém, ela só
ficava aqui até a hora do almoço. Era
meu limite.
— A cabeleireira chegou. Hum,
o quarto está fechado — Mama L falou
com os olhos cravados no chão. Eu tirei
a chave e joguei para ela, que a pegou
rapidamente.
— Você a trancou? — Prince
questionou franzindo as sobrancelhas,
assim que a governanta saiu, e eu o
encarei.
— Sim. Não a quero pela casa.
— Ela será sua esposa.
— Não importa — o cortei
terminando a bebida e Prince calou a
boca. — Limpem essa merda. — Eu
apontei para as caixas de pizzas e latas
de refrigerante.
Entrei em meu escritório e me
sentei na poltrona acolchoada ouvindo
meu celular tocar. O nome de Enrico me
faz revirar os olhos. Já caralho?
— Trevisan.
— Ela já chegou? O casamento
será no horário combinado? — A voz
dele soou desinteressada e eu sabia que
era apenas uma máscara. Se ele não
desse a mínima para Sienna, não estaria
me ligando.
— Obviamente. Sim, será. —
Peguei meu notebook e abri a foto de
Sienna na tela. — Eu espero que a droga
esteja boa. Ou eu vou rasgar a garganta
dela como fiz com seu soldado recém-
iniciado.
— Não sou idiota e cumpro com
minha palavra. — Enrico parecia
letárgico e isso me fez revirar os olhos.
— Você sabia que eu a
escolheria — eu disse passando a mão
na mesa de mogno, segurei uma das
canetas e apertei sobre uma folha.
— Sienna é a primeira coisa que
os homens veem quando entram numa
sala onde ela esteja. Você não foi
diferente.
— Giovanna sabe que você olha
para Sienna?
— Não toque no nome da minha
mulher.
— Nunca mais pronuncie o nome
da minha — respondi rápido e ele ficou
em silêncio. — Faça sua parte que eu
faço a minha.
Eu desliguei o celular e joguei
na mesa diante de mim. De ontem para
hoje, eu já reuni informações sobre
Sienna que ninguém nunca conseguiria.
Seu pai era o chefe da Cosa Nostra antes
de morrer e Enrico assumir. Seu irmão
foi iniciado há alguns anos como Matteo
e os dois tinham a mesma idade.
A batida suave me fez erguer o
rosto. Lake me olhou com seus olhos
escuros e eu esperei que falasse o que
queria.
— Posso ir vê-la? — minha irmã
mais nova perguntou tensa e eu
semicerrei os olhos. Lake tinha apenas
quatorze anos e ninguém sabia sobre ela.
Lake Trevisan era uma fábula.
— Não. Amanhã — eu falei
cortante e seus ombros desceram. —
Erga seus ombros e olhe para frente.
Você me deve respeito, não submissão.
— Lake fez isso rapidamente e me
encarou engolindo em seco. — Quando
ela for da família você a conhecerá, até
lá, Sienna é apenas uma desconhecida
que você deve manter distância.
— Ok, Rocco. — Ela acenou
ainda parada e eu me levantei andando
até ela. Seu queixo se projetou para
cima e ela continuou me encarando. —
Me desculpe.
— Não se desculpe. Nunca. —
Lake estremeceu ao ouvir minha voz
furiosa e acenou, piscando os olhos. —
Somos sangue e honra, Lake, mas
também orgulho e lealdade. Não peça
desculpas.
— Tudo bem. — Ela acenou e eu
ergui a mão para tocar seu rosto, mas
Lake se abaixou, tremendo. — Por
favor, não.
— Lake... — chamei e ela se
ergueu me encarando. Meus olhos
estavam semicerrados e o ódio correu
líquido em minhas veias. — Eu nunca
vou bater em você — disse firme e seu
olhar se encheu de lágrimas. — Nunca,
Lake.
— Des... obrigada, Rocco. —
Ela piscou afastando a umidade dos
olhos.
— Não implore novamente.
Lake acenou e eu apontei para a
porta, dispensando-a. Voltando para
minha mesa, apertei meus punhos e
mandíbula com força assim que ela saiu.
Eu o matei rápido demais. Deveria ter
prolongado sua tortura por semanas, não
apenas dias. Ele arruinou todos nós, mas
Lake tinha feridas tão profundas que
jamais seriam recuperadas.

Prince e Matteo estavam no altar


da igreja junto comigo. Romeo estava
com o braço de Sienna dentro do seu,
trazendo-a para mim. Sienna não
conseguia olhar para ninguém, nem eu
mesmo. Seus olhos que pareciam a porra
do céu estavam presos na imagem de
Jesus, acima da minha cabeça. Ela
parecia implorar a ele, por uma saída. A
princesa da máfia estava sendo entregue
ao diabo e nem o divino iria salvá-la.
Seu cabelo loiro estava preso em uma
trança grande e larga e seu corpo tenso
deixava nítido seu desconforto.
Peguei sua mão assim que
chegou e Romeo foi para o lado de
Matteo me dando um aceno. Apertei o
pulso de Sienna e me aproximei,
chegando próximo do seu ouvido.
— Finja um sorriso, Passarinha.
É nosso casamento, não um enterro.
Sienna suspirou e sorriu, tão
manipulável.
A cerimônia não foi longa, e eu
tive um dedo nisso. Quando o padre me
mandou beijar minha noiva eu me virei
para Sienna. Seu olhar assustado fazia
uma risada borbulhar em minha
garganta, porém me contive. Segurei seu
pulso e me inclinei, juntando minha boca
a sua. Surpreendendo-me ela não se
afastou quando eu peguei seu lábio e
mordi a carne rosa.
— Você acabou de trancar a
gaiola — disse baixo encarando o seu
lábio inferior. O fio de sangue sujava o
batom rosa e eu sorri tocando-o, sujando
meu polegar. Sienna fechou os olhos
quando me viu lambendo seu sangue. —
E eu acabei de jogar a chave fora.
Me virei para meus soldados e
capos segurando Sienna. Passei meus
olhos por todos batendo palmas e
sorrindo. Pensar que dentre eles ainda
restavam ratos me fez ficar alerta.
Arrastei Sienna para fora da
igreja e eu peguei seu olhar em direção
a lanchonete velha do outro lado da rua,
onde uma garota estava sentada mexendo
em um celular. Eu não precisava que
Sienna me desse explicações. Aquilo
era liberdade.
E Sienna nunca a teria.

Rocco me guiou para dentro do


salão de festas e seus irmãos ficaram ao
nosso redor, tensos, olhando sobre o
ombro, como se em um segundo, alguém
pudesse atacar. Isso me deixou curiosa,
estávamos na Outfit, na cidade deles,
por que estavam tensos? A ameaça
estava aqui?
— Você quer uma bebida? —
Rocco perguntou quando nos sentamos
na mesa depois de falarmos com
algumas pessoas. Quer dizer, Rocco
falar, eu só dei sorrisos rasos as
pessoas.
— Vinho — pedi, lambendo
meus lábios, ainda sentindo o gosto de
Rocco neles. Era bom de um jeito que
me deixava com medo. Não queria
gostar tanto da sua boca, mas o beijo me
deixou nas nuvens. Eu precisava admitir.
Rocco acenou e chamou o
garçom. Assim que a taça estava entre
meus dedos eu suspirei e beberiquei o
vinho devagar. Um casal se aproximou e
Rocco relaxou na cadeira, nem mesmo
se erguendo para cumprimentá-los.
— Sienna, seja bem-vinda. Você
é linda — a mulher murmurou tentando
ser simpática, mas o franzido em suas
sobrancelhas deixou claro que estava
sendo obrigada a falar isso.
— Obrigada — murmurei lhe
dando um pequeno sorriso.
— Seu vestido é lindo — outra
mulher falou se aproximando com seu
companheiro e eu virei o rosto para ver
ela. Meu vestido era lindo, realmente.
Fiquei até surpresa com o bom gosto de
quem o escolheu. A maquiagem e cabelo
também tinham ficado impecáveis. Eu
estava linda, como uma princesa, mamãe
ficaria orgulhosa. Sufoquei a emoção e
agradeci a mulher tentando não chorar.
Assim que se afastaram eu
encarei Matteo e Romeo. Os dois
estavam vestidos com ternos pretos e tão
lindos quanto aqueles homens de
negócios de filmes. Matteo e Prince
eram novos, mas tão altos quanto Rocco
e Romeo. O irmão Trevisan mais novo
não estava na festa, no entanto.
— Você quer dançar? — Matteo
me olhou desinteressado e eu sabia que
ele só perguntou para ser educado. Ele
não queria.
Eu aceitei, exatamente por isso.

Observei Matteo dançando com


Sienna enquanto eu e Romeo estávamos
sentados longe. Prince não veio a festa,
ele voltou para a mansão depois da
cerimônia, para ficar de olho em Lake.
— Você deveria dançar com a
sua esposa — Romeo falou advertindo e
eu o encarei. Eu não tinha dançado com
Sienna. Matteo era o dançarino da
família e ele estava fazendo isso há três
músicas.
— Eu não danço — disse rápido
e Romeo olhou para Matteo na pista. Eu
o chamei e ele trouxe Sienna. Quando
ela se sentou ao meu lado, Matteo se
afastou junto com Romeo. — Vamos
embora.
— O que? — Seus olhos se
arregalaram e eu observei seus lábios.
— Eu quero você, Sienna.
— Mas estamos aqui há apenas
alguns minutos — ela murmurou
mordendo o lábio e eu o puxei da sua
boca. Me ergui lhe estendendo a mão.
— São desconhecidos. Eles só
querem beber e comer.
Sienna não falou mais nada.
Quando entramos no carro eu deslizei a
porta que dava para ver Romeo e
Matteo. Estávamos a sós e eu queria
assim. Estava me segurando desde que a
vi. Eu queria Sienna e esse desejo era
cru e insano.
— Rocco — Sienna chiou
quando me viu indo em sua direção.
— Você é minha, Sienna.
— Você vai me forçar? — Sua
voz tremeu e eu sorri.
— Você vai querer meu pau tanto
quanto eu quero a sua boceta, Sienna.
Seu rosto ruborizou e eu enfiei a
mão em seu cabelo, segurando sua
cabeça e puxando-a para mim. Eu mordi
seu pescoço assustando-a, e chupei a
carne sensível deixando uma marca
vermelha e irritada na pele branca como
mármore.
Continuei fazendo minhas marcas
em seu pescoço até o carro parar na
nossa mansão. Quando eu me afastei de
Sienna um sorriso grande se estendeu
pela minha boca.
Marcada. Possuída. Minha.
Ela estava perfeita.
Matteo e Romeo tentaram e o
primeiro falhou em não olhar para o
pescoço de Sienna.
Meus irmãos sumiram em
segundos e eu guiei minha esposa até o
seu quarto. Tebow estava sentado no
corredor e eu o mandei embora com um
aceno de mão. Fechei a porta depois que
entramos e olhei para Sienna, me
encostando na parede.
— Tire a roupa — ordenei e
Sienna estremeceu. — Agora,
Passarinha.
Ela se virou puxando a trança e
eu relaxei vendo-a tentar descer o zíper.
Me aproximei quando Sienna desistiu
com um suspiro. Desci o zíper devagar
tocando na sua coluna com a ponta do
meu dedo no processo. Ela estremeceu e
eu me afastei vendo seu vestido cair no
chão.
Sienna se virou e eu senti meu
pau saltar ao ver seus peitos e seu
corpo. Suas curvas eram suaves e seus
montes pesados eram grandes com
mamilos rosados.
— Fique de joelhos — pedi
firme e ela engoliu em seco, tensa. —
Agora, Passarinha.
Os olhos dela se expandiram e
eu abri minha blusa vendo-a fazer o que
mandei. Sienna me observou enquanto
tirei minha roupa inteira e fiquei diante
do seu rosto.
— Rocco, eu não sei...
— Eu vou ensinar — falei rouco
e encostei meu pau em seus lábios
rosados. — Abra seus lábios,
Passarinha.
Sienna abriu devagar e eu entrei
em sua boca. Ela começou a chupar
apreensiva e eu segurei seu cabelo. Seus
olhos bonitos do caralho se fecharam
enquanto ela me levou para sua garganta
desajeitadamente.
— Abra os olhos, Sienna.
Observe — ordenei rápido, ansioso, e
ela o fez.
Me afundei em sua boca e gemi
vendo Sienna me observando. O brilho
em seus olhos não passou despercebido
por mim.
Desejo.
Minha passarinha estava de
joelhos chupando meu orgasmo fora do
meu corpo e estava amando cada
segundo disso. Ela podia mentir para si
mesma, mas os olhos nunca mentem.
Eu sabia seu segredo.
Quando Rocco estremeceu ao
redor da minha boca, minhas bochechas
já estavam vermelhas e eu estava com
tanta vergonha que eu poderia apenas
ser enterrada. Ele entrou e saiu
lentamente até gozar. Forcei minha bile
para baixo e, ao ver que engoli seu
esperma, ele sorriu.
Rocco Trevisan poderia ser um
demônio, mas ele era o mais belo de
todos.
Eu me odiei por notar.
Senti o tecido do meu vestido
roçar em meu pé e lembrei dele a alguns
metros embolado. Ele era lindo,
contrariando as expectativas. A renda,
pérolas e a seda se juntaram e
transformaram a peça. Era impecável.
A igreja, a festa. Tudo estava
perfeito. Eu só queria estar me casando
com minha família ao redor, eu queria
dançar com meu irmão. Rocco nem se
deu o trabalho de fazer isso. Era quase
cômico. Eu desejei entregar meu buquê a
minha mãe depois de chegar com
Salvatore no altar. Era triste que eu não
pensei em meu pai nesse momento, mas
realmente ele nunca foi próximo.
Voltei ao presente quando Rocco
me ergueu e estendeu a mão até meu
rosto. Ele deslizou o dedo pelo canto da
minha boca e eu vi a gota perolada no
seu polegar antes dele enfiar o dedo
pelos meus lábios. Eu chupei devagar e
suspirei corando quando ele afastou a
mão.
Peguei meu reflexo no espelho e
suspirei ao ver as marcas que ele fez
ainda no carro. Seus irmãos não
pareciam chocados com a cena quando
viram. Apenas curiosos. Meu estômago
vibrou e eu olhei para Rocco. Ele
acenou para a cama e eu andei até ela
depois de sair dos meus sapatos.
— Deite de costas — Rocco
falou atrás de mim e eu me sentei na
cama e depois desci. O colchão macio
me engoliu. — Perfeição do caralho —
ele murmurou abrindo minhas pernas e
vendo minha calcinha rendada branca.
Tudo estava arrumando quando
cheguei. Meu vestido escolhido, até a
calcinha que eu usaria. A cabeleireira
era simpática, mas o mesmo pesar que
vi nos olhos da comissária de bordo
estava nos seus.
O dedo de Rocco pressionou
minhas dobras e eu fechei os olhos
envergonhada pela umidade. Minha
calcinha estava encharcada.
— Olhe para mim, passarinha.
Eu fiz o que ele pediu depois de
alguns segundos de hesitação. Rocco
sorriu e mordeu minha coxa me fazendo
ficar tensa. Seu dedo esfregou minhas
dobras novamente e eu estremeci quando
ele tocou meu clítoris.
Rocco colocou mais pressão
enquanto lambeu a mordida e eu
suspirei, tremendo. Algo se construía em
meu ventre. Era tenso, apertado e
dolorido. Quando ele explodiu, Rocco
não tinha nem tirado minha calcinha. Seu
sorriso torcido era o mesmo de quando
ele me beijou e mordeu meu lábio na
igreja.
Casar diante de pessoas
desconhecidas era algo que eu aprendi a
pensar enquanto ia crescendo. Mamãe
sempre disse que não tínhamos amigos.
Eu nunca tive nenhum, mas eu tinha
família e os queria lá.
— Você está pronta — Rocco
disse me fazendo olhar para o seu rosto.
Eu engoli em seco vendo-o subir
pelo meu corpo. Rocco rasgou minha
calcinha e subiu lambendo minha barriga
até meus seios. Seus olhos escureceram
ao olhar para meus mamilos. Quando
sua língua lambeu eles e seus dentes
rasparam na pele eu suspirei.
Não conseguia acreditar que
estava tão ligada. Não parecia ser
possível, mas Rocco era uma tentação.
Deus me perdoe, mas o homem era lindo
mesmo sob as tatuagens e as cicatrizes.
Com apenas um toque eu estava
estremecendo e umedecendo.
Quando senti ele contra minha
entrada eu fiquei tensa, esperando.
Rocco desceu a mão entre nós e deslizou
os dedos em meu clítoris. Gemi,
tremendo e ele entrou em mim, de uma
vez, tão rápido que eu fiquei sem ar por
alguns segundos.
— Porra — Rocco grunhiu com
os lábios em volta do meu mamilo
enquanto eu tentava respirar. Ele
começou a se movimentar e minhas
lágrimas se reuniram, enquanto eu sentia
a dor queimando me invadir.
Rocco se afastou e olhou para
mim, viu minhas lágrimas, mas ele não
as reconheceu. Eu não esperava que
fizesse. Ele era o chefe da Outfit, e para
estar no topo, Rocco não deveria se
abalar com sentimentos. Eu sabia disso.
Ele continuou me encarando e se
mexeu enquanto eu estremecia. Rocco
não demorou muito para levar os dedos
em meu clítoris. Eu gemi com a
sensação dos seus dedos e relaxei um
pouco sentindo meu corpo e mente se
perderem em meio ao prazer.
Eu não conseguia controlar a
resposta que meu corpo dava a Rocco.
Era intenso e avassalador.
Meu marido lambeu meu
pescoço e continuou a arremeter dentro
de mim me mostrando um prazer
dolorido que eu nunca pensei
experimentar.
Quando eu alcancei um novo
clímax, Rocco se enterrou em mim,
gemendo e gozando enquanto suas mãos
apertavam meus quadris com força. Ele
deslizou para fora e eu estremeci com a
dor. Rocco ficou de pé encarando
minhas pernas ainda abertas e sorriu de
uma maneira doentia me fazendo fechar
minhas coxas. Ele continuou sorrindo ao
voltar para a cama. Rocco colocou seu
joelho no colchão macio e segurou
minhas panturrilhas. Ele as moveu sem
pressa, me deixando aberta para ele. Me
deixando tão desconfortável com seu
olhar como nunca estive.
Rocco se inclinou tocando
minhas dobras e eu tremi, sem saber o
que ele estava fazendo. Quando sua mão
se ergueu eu vi meu sangue em seus
dedos. Sufoquei um arfar e observei ele
sorrindo.
— Rocco... — murmurei,
ofegante e vi ele levar os dedos a boca.
Seus lábios chuparam e ele lambeu meu
sangue. — Oh meu Deus — ofeguei
desconcertada e ele veio para cima de
mim. Seus lábios grossos ainda tinham
resquícios das gotas vermelhas. Iguais
aos meus depois do beijo na igreja.
— Seu sangue é doce,
passarinha. — Ele lambeu meus lábios e
sorriu como se estivesse falando sobre o
sol. Rocco juntou nossas bocas e eu
provei meu sangue em seus lábios
tremendo.
Segurei seus ombros, receosa
por tocá-lo, e o beijei de volta enquanto
suas mãos seguravam minha bunda.
Rocco se afastou e mordiscou meu
lábio. Fiquei na cama respirando fundo
e observei ele ir até o banheiro e sair,
minutos depois, vestindo sua cueca.
— Boa noite, passarinha —
Rocco murmurou pegando suas roupas e
eu assisti sem fala ele sair pela porta.
Demorei alguns segundos até
entender que ele não dormiria comigo.
Que esse quarto não era o seu. Eu não
sei por que me senti doente, mas eu me
senti. Eu não deveria esperar nada de
Rocco, aliás, sim, eu deveria. Apenas
dor e sangue. Os dois pareciam ser
adorados por ele.
Demorei para me erguer e
quando o fiz eu estava tremendo com a
pontada fina de dor. Me movi para o
banheiro e coloquei a banheira para
encher enquanto observava as marcas
que Rocco deixou em meu corpo. Suas
mãos estavam marcadas em meus
quadris e pescoço, com tantas mordidas
e chupões que a visão me fazia
estremecer.
— Vai ficar tudo bem —
murmurei envolta no silêncio olhando
para o meu reflexo no espelho.
Suspirei me afastando e entrei na
banheira. Agarrei minhas pernas e
descansei minha cabeça nos joelhos
sentindo as lágrimas chegarem.
Eu não chorei ao ver Enrico
diante de mim, falando sobre
responsabilidades, e nem quando me
despedi da minha família, mas agora, do
outro lado do oceano, com um homem
que me desestabilizava era inútil tentar
conter.
Pensei em mamãe e respirei
fundo. Ela deveria pensar que estava
morta a essa hora. Não trouxe celular,
pois Salvatore não deixou. Ele disse que
eu teria que pedir permissão a Rocco.
Eu daria um jeito. Precisava conversar
com minha mãe.
Ouvi a porta abrir e fiquei tensa
por alguns segundos. Quando eu vi
Rocco de pé na porta eu engoli em seco
e olhei para a água.
— Comprimidos. — Ele jogou
os remédios na bancada de mármore e
me olhou antes de sair novamente.
Escutei a chave sendo virada e chorei
enterrando o rosto nas mãos.
Eu sempre fui uma prisioneira.
Nunca tive liberdade, não era novidade
nenhuma ser trancada em meu quarto,
mas saber que agora era o meu marido
que me trancava, me despedaçou.
Os lençóis sujos de sangue
tinham sumido quando retornei ao
quarto. Rocco os pegara. Será que os
mostrou para Enrico como prova da
minha virgindade? A famiglia não tinha
a tradição de mostrar lençóis enraizada,
mas eu sabia que acontecia.
Quando acordei na manhã
seguinte eu tomei um banho e vesti um
vestido de algodão cinza que ia até meus
joelhos. Ele era justo em meu corpo.
Meu cabelo estava uma bagunça por eu
ter o molhado na banheira ontem e não
ter arrumado, mas hoje eu o lavei e ele
estava seco em cima dos meus ombros.
Tentei abrir a porta, mas falhei.
Rocco me trancou ontem, relembrei
suspirando. Bati na porta algumas vezes
e vi uma sombra pela fresta de baixo.
Escutei uma respiração pesada e
lembrei de Tebow. O cachorro de pelo
caramelo e olhos amarelos era grande e
seu semblante fechado, me deixava em
alerta.
— Tebow — murmurei e ouvi
sua respiração aumentar. — Eu quero
sair — falei novamente, e ri para mim
mesma. Eu estava falando com um
cachorro.
— Tebow! — o grito chamando
o cachorro me fez afastar da porta. Era
Romeo.
— Romeo! — chamei batendo na
porta e vi uma segunda sombra aparecer.
— Me deixe sair.
— Não tenho a chave.
— Chame Rocco — pedi
arfando e ouvi o silêncio em resposta.
— Ele não está.
— Eu estou com fome. Ele vai
me manter presa? — Minha voz soou tão
deprimente. Eu era fraca. Fraca com
Rocco, e com seus irmãos.
— Trarei seu café da manhã. —
Ele se afastou sem dizer mais nada.
Depois de alguns minutos eu
escutei a porta abrir. Sentada na cama,
observei Romeo entrar com uma
bandeja.
— Você disse que não tinha a
chave — acusei, franzindo o cenho.
— Eu não tinha. Tive que buscar
— ele respondeu sem se intimidar e
deixou a comida na cama. — Coma.
— Ele vai me manter presa? —
perguntei piscando, mas Romeo não me
encarou. Ele estava olhando algo pela
minha janela.
— Sei dos planos do meu irmão
tanto quanto você, Sienna — ele
respondeu sério e eu puxei a bandeja
para o meu colo. Romeo saiu do quarto
sem dizer mais nada, porém escutei ele
fechando a porta novamente.
Comi as frutas e dei apenas duas
mordidas na torrada e ovos. Quando
terminei o suco, me ergui e andei até a
janela. Alguns homens vestidos todo de
preto estavam pelo jardim e eu sabia
que eram os soldados que vigiavam a
mansão. Um carro vermelho de luxo
entrou na propriedade e eu o observei
até ver Rocco saindo dele. Ele estava
com uma camisa preta de mangas longas
e calça apertada. Parecendo sentir meu
olhar sua cabeça se ergueu e ele me viu.
Recuei engolindo em seco, e quando
voltei para lá, ele já tinha entrado.
Andei de volta para a cama e me
sentei contra a cabeceira. Esperei quase
vinte minutos até escutar a chave
virando. Eu esperava Rocco, mas os
olhos cinzas e cabelos escuros de uma
garota me assustaram.
— Oi. — Ela sorriu depois de
falar e eu vi a sombra de Prince na
porta. — Eu sou a Lake.
— Olá, Lake. — Eu engoli em
seco, e sorri. — Eu sou Sienna.
A garota de cabelos curtos sorriu
mais à vontade e eu toquei na cama,
indicando para ela sentar. Ela parecia
nova, talvez uns quinze anos.
— Eu sou uma Trevisan — ela
falou isso com tanto orgulho na voz que
eu fiquei tocada.
— Eu sou uma Rizzi... — falei
sem perceber, mas recuei ao lembrar
que não era mais.
— Está tudo bem. — Lake me
deu um sorriso entendedor e eu olhei
para Prince na porta. — Ele ainda não
confia em ninguém em torno de mim. —
Ela engoliu em seco e eu fiquei tentada a
questionar, mas não fiz.
— Você é irmã do Rocco? —
perguntei suavemente e ela assentiu.
— Sim, somos todos irmãos —
Lake falou com orgulho novamente e
isso me fez relaxar na presença dela. Ela
ainda era uma criança, mas seus olhos
nublados eram mais vividos que os
meus. — Você vai morar conosco agora,
certo? É bom ter outra garota na casa —
Lake questionou ainda sorridente e eu
acenei. — Você poderia ficar na minha
ala. Eu não tenho permissão para sair de
lá...
— Lake. — A voz de Prince fez
nós duas estremecermos.
Eu estava confusa, mas não
ousaria perguntar nada com Prince nos
observando.
— Obrigada por vir me ver,
Lake. — Eu forcei minha voz e sorri,
tocada com o carinho da garota. Eu
estava com saudades de Salvatore e
mamãe. Lake foi a primeira Trevisan a
ser gentil.
— Vou pedir a Rocco para
subirmos — ela falou mais baixo assim
Prince não conseguiria nos ouvir.
— Não se preocupe. — Eu
afaguei sua mão e Prince entrou no
quarto me observando como um falcão.
— Eu não a machucaria.
— Quando somos prisioneiros,
fazemos qualquer coisa para escapar.
As palavras de Prince foram
como socos em meu estômago. Ele
estava certo. Rocco me manteria presa
para sempre. Eu era uma prisioneira.
— Prince. — Lake o encarou
franzindo a testa e ele semicerrou os
olhos para mim.
— É melhor irmos. — As
palavras do irmão Trevisan foram
firmes e eu vi a menina suspirar,
acenando. Prince estava me tratando
como uma inimiga. E na verdade, eu era.
Meu sangue me fazia o inimigo.
Mas eu estava aqui agora. Rocco
era meu don. Eu lhe devia lealdade. Não
era?
Prince e Lake me deixaram
sozinha e eu andei novamente para a
janela quando escutei a chave
girando. Mais uma vez trancada. Rocco
estava saindo de casa ao lado de Romeo
quando olhei pela janela. Dessa vez,
quando ele olhou para cima, eu estava
escondida atrás da cortina.
Rocco ficou parado por alguns
segundos e semicerrou os olhos. Ele
estava pensando em algo. Quando ele se
afastou, eu me sentei no peitoril da
janela e abracei minhas pernas tentando
pensar no que eu iria fazer para
sobreviver aos Trevisan.
Nada me veio à mente.
Meus passos para dentro de uma
das nossas casas de prostituições foram
lentos enquanto eu olhava ao redor.
Romeo se aproximou do bar e pediu
uísque a Andy, a responsável pelas
meninas.
— Onde está Lily? — questionei
ainda de pé e Andy olhou para mim por
alguns segundos até voltar a encarar
seus sapatos. — Não tenho o dia todo do
caralho.
— No quarto dois, ela está com
cliente. Em cinco minutos ela estará
livre — Andy respondeu rapidamente e
eu acenei, aguardando.
Quando Lily apareceu eu a
peguei pelo braço e a levei de volta ao
quarto. A morena era bonita, mas eu já
me joguei em sua boceta tantas vezes
que já estava cansado.
— Tire a roupa — eu ordenei em
um rugido e ela o fez rapidamente. Seus
peitos eram pequenos e sua boceta
depilada. — Faça xixi na porra do teste
e aqui. Agora. — Joguei o teste rápido
em seus pés e seus olhos se arregalaram.
Lily achava que eu queria sexo.
Não mesmo. Eu queria ver seu terror ao
meu pedido. Era uma confirmação.
Essas porras achavam que poderiam me
enganar.
— Rocco, por favor.
— Onde encontrou? Quem
vendeu a você? — questionei rápido. Eu
não dava a mínima se as prostitutas
usavam essa porra, mas Lily usou da
Bratva e ela não me foderia. —
Encontraram drogas no seu quarto e elas
não são minhas.
— Deve ter sido um cliente.
— Não foi. Fale a verdade antes
que eu peça Matteo para arrancá-la de
você. — Minha voz estava baixa em um
nível perigoso e ela percebeu.
— Um dos caras da minha rua
vende.
— Diga o nome e endereço dele
a Romeo — ordenei encarando seu rosto
choroso e retorci o meu em nojo. —
Pegue suas porcarias e saia da minha
cidade. Se voltar aqui, eu vou matar
você.
Saí do quarto e andei direto para
fora. Apontei para o quarto de Lily ao
passar por Romeo. Entrei em meu carro
e dirigi rápido para casa. Porra.
Aqueles filhos da puta estavam
vendendo aqui, caralho? Apertei o
volante e pisei no acelerador até está
dentro das instalações da mansão.
Entrei em casa e passei por
Matteo deitado no sofá com fones e
celular, jogando enquanto comia batatas
chips. Subi o lance das escadas e parei
ao ver que Tebow ainda estava na porta
de Sienna. Segui meu caminho e subi um
novo lance de escadas até chegar à ala
de Lake. A encontrei com Prince
assistindo filmes. Voltei para o térreo e
fui para a academia.
Puxei minha camisa fora e me
aproximei do saco de pancadas. Chutei e
soquei enquanto eu pensava no que fazer
com a Bratva tão perto. Filhos da puta.
Eu estava empenhado a matar meus
próprios ratos, agora eu precisava ter
olhos em todas as direções.
— Lake falou com Sienna —
Prince avisou ao se aproximar e eu
soquei mais forte. Porra.
— Sim?
— Ela quer Sienna na ala dela
— ele bufou e se jogou no chão, fazendo
flexões. Era para rir, só pode.
— Você não as deixou sozinhas,
certo?
— É obvio. Sua esposa me olhou
como se eu a estivesse esfaqueado. Ela
acha que confiamos nela? — Prince
falou abafado e eu balancei a cabeça.
— Ela não é burra — afirmei
rapidamente e Prince parou para
descansar, me olhando de lado.
— Você vai deixá-la trancada?
— meu irmão perguntou e eu parei de
bater no saco e garrei o couro cheio de
areia.
— Por enquanto, sim. Por quê?
— questionei semicerrando os olhos.
Prince ainda tinha uma áurea de bom
rapaz que me irritava.
— Lake.
— Sim, Lake, Lake, Lake —
grunhi irritado e soquei o saco. — Lake
já está grande o suficiente para aprender
coisas, Prince. Uma delas é que eu
mando na porra dessa casa.
Prince deu de ombros e eu me
afastei em direção a cozinha tirando as
ataduras que envolviam minhas mãos.
Assim que entrei peguei minha água e
dei vários goles. Quando baixei ela, vi
Tebow parado balançando o rabo. Ele ia
e vinha rapidamente e eu o segui como
ele parecia querer.
Assim que atingi as escadas ouvi
a batida na porta. Sienna.
— Tebow? Chame um deles —
ela balbuciou e eu fiquei parado
ouvindo-a falar com um cachorro. — Eu
estou com fome. Eu quero sair. — Sua
voz era baixa e isso me irritou.
Assim que me aproximei ela
parou de falar. Abri a porta e Sienna
estava de pé no meio do quarto,
encarando meu peito.
— Venha — chamei me
afastando e ela me seguiu. Puxei seu
pulso e a levei até a cozinha. Mama L já
tinha feito o almoço de manhã, que é a
hora que ela era permitida na
propriedade. Apenas.
Matteo, Prince e Lake
apareceram e nos sentamos juntos. Me
servi e comi observando Sienna fazer o
mesmo. Ela colocou apenas carne e
salada no prato e começou a comer.
Lake a observava com um sorriso
enquanto Prince e Matteo só estavam
focados na comida.
— Sienna pode subir para minha
ala? — Lake questionou assim que
terminou sua comida.
— Lake — todos falaram juntos,
porém a única voz que não era
repreendendo era de Sienna.
— Sienna vai dar um passeio
comigo. Quando voltarmos, eu pensarei
nisso — falei a encarando e minha irmã
acenou.
Os meninos se espalharam
depois de almoçar e Lake subiu sozinha.
Enquanto me ergui vi Sienna pegando os
pratos e segurei seu pulso com minha
atenção cravada nele.
— Solte-os.
— O que? — Sienna arregalou
os olhos, surpresa e eu apertei
novamente.
— Solte agora, Sienna.
— Você acha que vou jogá-los
em você ou algo do tipo? — ela
perguntou horrorizada enquanto soltava
as louças. — Precisamos conversar,
Rocco.
— Você não confia em mim do
mesmo jeito que eu não confio em você.
— Eu sou sua esposa.
— Ainda assim, não vou lhe dar
oportunidade de machucar Lake ou um
dos meus irmãos.
— Você está sendo ridículo. —
Sienna puxou seu braço, ecoando ainda
surpresa. — Eu jamais machucaria
alguém. Seus irmãos ou você. Isso
apenas não é da minha natureza. — Ela
se afastou e eu semicerrei os olhos ao
ver ela correr.
Tebow que estava em seus pés se
ergueu e foi atrás dela correndo. Que
porra tem de errado com esse cachorro?
— Volte aqui, Sienna! — eu
gritei andando a sua procura e a achei
sentada na escada com Tebow nas
pernas dela. Ele a derrubou. — Tebow,
sai, agora! — ordenei rápido e ele
baixou as orelhas se afastando. — Não
corra de mim, Sienna. É desperdício de
tempo. Eu sempre vou te pegar.
Sienna encarou meus pés se
erguendo e eu a vi engolir em seco.
— Vou voltar para o quarto...
— Vamos dar uma volta.
— Não. Pare. — Sua voz ecoou
firme pela primeira vez e eu subi as
escadas até ficar diante dela. — Me
deixe voltar para o quarto, Rocco.
— Você quer foder, passarinha?
Podemos transar no nosso passeio. —
Sienna arfou com as bochechas corando
e eu me inclinei mordendo seu ombro
devagar. — Eu ainda sinto seu sabor na
minha língua.
— Estou dolorida, Rocco — ela
avisou baixinho e eu segurei seu queixo
me inclinando até escovar sua boca na
minha. Sienna amoleceu quando eu a
beijei. Agarrei sua cintura e a imprensei
na parede enfiando minha língua em sua
boca.
— O que você quer conversar,
passarinha? — questionei empurrando
meus quadris e Sienna sentiu meu pau
duro em sua barriga.
— Sobre nós — ela respirou
profundamente e eu segurei sua cabeça
enfiando meus dedos por seu cabelo.
— Não existe nós. É um
casamento tão falso quanto de um
estrangeiro tentando o visto para
permanecer no país. Você foi uma moeda
de troca para a paz, passarinha. É minha.
Apenas isso.
Eu me afastei e vi o olhar
magoado em seus olhos e isso me fez
sorrir. Bom. Quanto mais rápido ela
entendesse esse jogo, melhor.
— Você vai dizer que está
apaixonada agora? — questionei rindo e
Sienna balançou a cabeça.
— Não, eu jamais amaria alguém
como você — ela falou firme projetando
seu queixo para cima e eu a encarei, sem
responder. — Agora, me deixe ir para o
quarto.
— Você vai comigo a um
passeio. Eu não estou pedindo, Sienna.
É uma ordem direta.
Seus olhos azuis piscaram e ela
apertou a mandíbula. Peguei sua mão e a
puxei em direção a vasta paisagem
traseira da propriedade. Sienna viu o
lago antes de mim e eu percebi a sutil
mudança do seu corpo.
Eu me aproximei junto com ela
até o cais e me inclinei na madeira
vendo-a sentar e enfiar os pés no lago.
Sienna suspirou e sorriu encarando a
água. Por que ela estava sorrindo para a
água?
— Por que decidiu casar se não
queria, Rocco? — ela questionou
devagar e eu tirei um cigarro do bolso.
Não fumava com frequência, mas com a
conversa fodida que Sienna insistia,
parecia necessário.
— Quando você está à frente na
máfia, você não faz apenas o que quer,
Sienna. Você deveria saber disso. Você
era uma princesa da Cosa Nostra — eu
disse soltando a fumaça pelos meus
lábios e ela acenou ainda fixa na água.
— Eu quero tentar, Rocco. Não
quero ficar presa em um quarto. Peço
que reconsidere, eu jamais machucaria
Lake. — A voz dela baixou e eu me
agachei ao seu lado me sentando.
Coloquei uma perna sobre suas coxas e
a outra atrás do seu corpo. Sienna me
encarou e eu apaguei o cigarro.
— Sienna, eu vou dizer agora
antes que você comece a imaginar muito.
Estou casado com você porque é a
minha obrigação. Eu vou proteger e
cuidar de você até o meu último suspiro,
mas eu não vou me apaixonar por você
ou qualquer coisa que alguém tenha te
falado. Eu sou leal aos meus irmãos e
com o tempo, serei a você.
— Leal? E fiel? Você vai ser fiel
a mim, Rocco? — Seu olhar azul se
fixou no meu e eu segurei sua atenção.
Era sério?
— Não sei.
— Você vai me trair — ela
constatou voltando a encarar o lago. —
Eu poderei ficar com outros homens
também? — Sienna não me encarou
quando propôs.
— Se quiser — respondi
preguiçosamente e ela me olhou
franzindo as sobrancelhas.
— Você vai matá-los.
— Pode ter certeza — afirmei
me inclinando. O sol batia nos cabelos
loiros de Sienna e ela estava ainda mais
bonita, se essa porra fosse possível. —
Vou torturá-los, matar e desmembrar
cada um deles, e farei você assistir.
Sienna respirou fundo e eu me
afastei, lhe devolvendo seu espaço.
— Vou pensar sobre trancar
você. Por enquanto, fique no seu quarto.
— Deixe Tebow comigo — ela
pediu assim que terminei de falar.
— Como? — perguntei
imaginando que ouvi errado. Ela perdeu
a cabeça?
— Ele gosta de mim.
— Ele derrubou você há pouco
tempo.
— Ele estava tentando me
acompanhar — ela o defendeu rápido e
eu a encarei como se ela fosse doida. —
Rocco.
— Não. Ele pode ficar agressivo
e machucar você.
— Ele gosta de mim.
— Você o conhece há dois dias
— resmunguei descansando minhas
costas na madeira do cais.
— Eu...
— Não, Sienna. Ele não vai ficar
dentro do quarto com você, sem saídas
para você fugir caso ele se torne
agressivo — falei mais firme e Sienna
não voltou a retrucar, apenas acenou.
Minha esposa ficou quieta por
algum tempo e quando ia chamá-la para
entrar eu a vi se afastar e pular na água.
Porra.
— Isso deve estar um gelo do
caralho, por que fez isso? — perguntei
vendo seus cabelos grudados em seu
rosto enquanto ela flutuava.
— Eu nunca entrei em um lago.
— Sienna sorriu e afundou. Quando ela
retornou sua cabeça estava inclinada
para trás e seus lábios estavam roxos.
— Saia. Agora. — Eu estendi
minha mão e ela a pegou. Puxei Sienna e
ela se sentou tremendo. — Tire o
vestido.
— O quê? — ela gritou e eu lhe
dei um olhar firme. Olhando para os
lados antes, Sienna se ergueu e tirou o
vestido. Eu puxei minha blusa e me
levantei colocando pela sua cabeça.
— Vamos. — Eu a puxei pela
mão e nós voltamos para a mansão.
— Você a afogou? — Prince foi
o primeiro a falar quando eu e Sienna
entramos na sala de jogos, para subir as
escadas.
— Você perdeu a mente? —
perguntei semicerrando os olhos e
Matteo empurrou ele rindo. Romeo
apareceu enfiando as mãos nos bolsos e
eu o encarei em buscas de respostas.
— Tebow — Sienna continuou
andando e chamou o cachorro que a
seguiu escadas acima.
— Por que ele gosta dela? —
Matteo questionou e eu respirei fundo,
me fazendo a mesma pergunta.
Tebow me seguiu, enquanto
Rocco ficou para trás. Entrei no quarto
ainda tremendo de frio e fechei a porta
com o cachorro dentro. Eu sabia que
Rocco disse que o cachorro não deveria
ficar comigo, mas a porta estava aberta.
Ele não veio fechá-la ainda. Andei para
meu banheiro deixando Tebow deitado e
tirei a camiseta de Rocco.
Tentei me controlar, porém
quando me olhei no espelho, lá estava
eu, de cabelos loiros molhados, lábios
roxos e o tecido preto contra meu nariz
enquanto eu inalava o perfume do meu
marido. Fechei meus olhos e afastei a
blusa. Pare com isso.
Tomei um banho quente mais
demorado tentando parar de pensar em
Rocco. Ele falou que nosso casamento
era uma farsa. Eu era apenas uma troca.
Tudo estava claro e eu precisava enfiar
isso na minha cabeça.
Voltei para o quarto depois de
secar mal e porcamente o meu cabelo, e
deitei na cama, batendo na lateral,
convidando Tebow a se juntar a mim. Só
precisei chamá-lo uma vez e ele pulou
em cima da cama, se aconchegando em
meu corpo.
Acariciei seu pelo claro e
Tebow me olhou com seus pequenos
olhos amarelos. Ele era grande e parecia
feroz, mas meu medo estava cessando.
Eu adormeci sem perceber e quando
acordei, Tebow não estava na cama.

Dias depois a porta se abriu


enquanto eu estava sentada no peitoril
da janela. Eu tinha assistido uma série e
estava apenas encarando a paisagem.
Prince colocou uma TV no quarto e me
deu um celular, porém eu sabia que
estava sendo vigiada. Tentei falar com
mamãe ontem, mas não tive sucesso.
Tentarei amanhã novamente.
Fiquei um pouco aliviada ao ver
Romeo entrando. Prince e Matteo
pareciam me odiar, não que Romeo me
tratasse bem, mas pelo menos ele não
estava por perto por tempo suficiente
para me olhar com julgamento. Nos dias
que se passaram eu percebi que ele era
o único que não morava na mansão.
Matteo, Prince e Lake eram novos ainda,
talvez por isso ainda moravam com
Rocco. Falando na Trevisan mais nova,
ela tinha vindo algumas vezes, a cada
dia pedindo para que eu fosse para seu
andar. Porém, Rocco ainda não me
deixava fora do quarto sem que um dos
seus irmãos estivesse por perto.
— Rocco mandou você se
arrumar — Romeo murmurou e saiu sem
outra palavra. Me arrumar?
Tomei cuidado ao escolher uma
roupa. Íamos sair? Era para o jantar? Eu
só saía do quarto no almoço e jantar. As
outras refeições eram trazidas para mim.
Porém, Rocco jamais pedira que eu me
arrumasse para os jantares.
Tomei um banho rápido e passei
a chapinha em meu cabelo enquanto
escutei Tebow na minha porta. Peguei
um vestido preto que ia até acima do
meu joelho e o passei pela minha
cabeça. O decote dele era profundo e
iam até as laterais dos meus ombros.
Suas mangas eram compridas e cobriam
meus pulsos. Olhei para o espelho e
suspirei, contente.
Peguei meus sapatos louboutin e
os calcei testando ficar de pé. Eu amava
saltos e aprendi desde cedo a andar
sobre as pontas finas, porém esses eram
ainda mais finos e desconfortáveis. Me
olhei no espelho e suspirei. Eu ficaria
bem.
Peguei minhas maquiagens e fui
para a bancada. Quando finalizei, fiquei
parada me olhando. O batom que passei
era rosa, porém o vermelho estava me
chamando. Eu nunca tinha usado a cor e
meus dedos estavam tremendo quando
peguei a bala preta. Tirei
cuidadosamente o rosa e passei o batom
de cor forte. Quando me olhei no
espelho, eu sorri.
Eu estava muito bonita.
Me sentei na cama tocando meus
brincos de pérola e suspirei quando
percebi o quanto estava arrumada. Me
produzi demais. Rocco poderia pensar
que era para ele. Mordi meu lábio,
indecisa se trocava de roupa e diminuía
a maquiagem. Encarei minhas unhas
pintadas de renda e endireitei meus
ombros. Não. Eu estou linda e me
arrumei para mim mesma, pensei
confiante.
A porta foi aberta e eu me ergui
vendo Rocco de terno. Era a primeira
vez, depois do nosso casamento, que eu
o via vestido tão formal. Pela casa ele
sempre estava sem blusa e com calças
de moletom. Fiquei agradecida por ter
caprichado no meu visual. Rocco estava
bonito. Muito mais do que eu queria
admitir. Me senti esquentar olhando para
os seus braços largos.
Rocco não veio ao meu quarto
nos dias que se passaram. Eu estava com
medo de imaginar o motivo. Eu fui ruim
na cama? Ele estava com outra mulher?
As questões me deixavam tensas.
Por que eu me importava? Eu
deveria agradecer por ele não querer me
tocar.
Seus olhos azuis viajaram pelo
meu corpo e pararam em meu decote.
Meus seios eram mais cheios e nem
sempre eu ficava confortável com
decotes, mas esse era delicado, não
vulgar. Me remexi e mordi meu lábio
inferior ainda sob seu olhar.
— Você está linda — Rocco
enfim falou algo e eu engoli em seco,
erguendo meus olhos para os seus. —
Vamos lá. — Ele acenou para fora e eu
me aproximei esperando que ele saísse
da frente, mas ele não se mexeu.
— O que... — parei de balbuciar
quando Rocco segurou o meu punho e o
levou a boca. Ele beijou a minha
pulsação e se inclinou escovando seus
lábios nos meus. — Rocco...
— Nosso jantar é de negócios,
mas eu tenho quase certeza de que vou
matar todos para voltar rápido o
suficiente para foder seu corpo.
Apertei minhas coxas juntas
estremecendo. Ele se afastou e sua mão
descansou em minha coluna. Eu não
deveria me sentir tão confortável com as
palavras de Rocco. Eu não queria ser
apenas um corpo que ele poderia foder e
sair. Minha mãe foi feliz com meu pai.
Seu casamento foi arranjado, mas ela o
amou e ele a ela, obviamente que a sua
maneira. Essa felicidade que para alguns
era tão escassa, para Rocco e eu parecia
ser inalcançável.
— O que foi? — Rocco
questionou assim que paramos na sala.
Escutei seus irmãos que estavam na sala
de jogos, ao lado.
— Nada. Você pode me dizer
onde estamos indo?
Rocco me observou atentamente
e mesmo que ele tivesse percebido
minha mentira, ele não forçou o assunto.
Ele me contou que iríamos a um
restaurante jantar com um dos seus
capos. Um dos mais antigos.
Quando Rocco saiu do carro em
frente ao restaurante elegante eu respirei
profundamente e me forcei a esquecer a
ideia de um casamento feliz e fiel com
Rocco. Era perca de tempo, ele mesmo
falou.
Rocco abriu minha porta e eu
agradeci com um aceno. Sua mão voltou
para minha espinha e eu deixei ele me
guiar. A recepcionista estava tremendo
quando viu e ouviu o nome de Rocco.
Ele parecia divertido com a reação dela.
Confortável com o medo.
— Por aqui, Sr. e Sra. Trevisan.
— Eu estremeci quando a ouvi me
chamar assim e Rocco apertou minha
cintura, deixando claro que percebeu.
A mulher nos mostrou uma mesa
onde um senhor de idade avançada
estava sentado com duas mulheres, sua
esposa e filha, eu presumia.
— Patrício — Rocco saudou e
eu sorri para os três educadamente. —
Essa é minha esposa, Sienna. Sienna,
esses são Patrício, Milena e Basílica,
filha e esposa.
— Boa noite, é um prazer —
falei honestamente. O casal sorriu
acenando e a mulher mais jovem, estava
com a atenção fixa em Rocco, não em
mim.
Eu tentei não dar atenção a
Milena, porém durante o jantar ficou
claro que ela e Rocco tinham algo. Ele
estava irritado com a atenção dela e
ficou tenso quando eu o encarei
abertamente. Eu não podia fazer uma
cena. Eu sabia meu lugar e Rocco não
me prometeu fidelidade, mas me trazer a
um lugar onde sua amante estaria?
— Vou ao toalete, com licença
— pedi me erguendo e Rocco fez o
mesmo, mas toquei em sua mão. — Vai
ser rápido — eu falei firme e ele
acenou, à contragosto.
Andei devagar para o banheiro e
entrei fechando a porta nas minhas
costas. Ele transou com Milena. Eu
sabia só pelos olhares. Como ele pôde
me humilhar dessa maneira? Me fazer
jantar com uma das suas amantes? Eu
tremi andando até a pia e lavei minhas
mãos. Tomei meu tempo enxugando-as e
quando as batidas furiosas soaram eu
sabia que era ele.
Andei até lá e abri a porta. Sai
do local sem encará-lo e passei,
alisando meu vestido e colocando meu
cabelo atrás do meu ombro.
— Você disse que seria rápido
— ele rosnou me seguindo e eu fiquei
em silêncio até chegarmos à mesa.
Voltei a me sentar e Milena
sorriu para Rocco. Eu estava apertando
meus punhos, enfiando a unha em minha
carne. Não sabia por que estava tão
irritada, mas a sensação de humilhação
era tão forte em meu peito que parecia
difícil até respirar.
— Respeite a minha esposa,
Milena. — A voz furiosa de Rocco
cortou a conversa que Patrício começou
e eu pulei em meu lugar como Milena e
sua mãe. — Se não, eu vou enfiar uma
bala na sua cabeça.
Patrício congelou da mesma
forma que sua esposa e Milena. Ela
engoliu em seco baixando os olhos e se
desculpou murmurando que sentia muito.
Meu estômago estava revirando
e eu desejei voltar para casa. Para meu
quarto. A minha prisão. Para o único
lugar que, contrariando todas as
perspectivas, eu me sentia segura hoje.
— Desculpe, Rocco — Patrício
pediu e Rocco acenou. Eu revirei minha
sobremesa, mas estava muito agitada.
Meu desejo pelo doce de limão sumiu.
Quando o jantar se encerrou,
Rocco me levou para fora e eu entrei no
carro depois dele abrir a porta. Fixei
minha atenção na janela cruzando as
pernas e Rocco entrou no carro,
acelerando. A paisagem borrada passou
pelos meus olhos e eu respirei fundo.
— Você pode falar de uma vez.
Eu fiquei em silêncio.
— Sienna.
— Você não quer me ouvir. E
tudo bem, eu não quero falar nada.
— Sienna, essa puta...
— Não. Eu só quero chegar em
casa.
— O que você quer que eu faça?
— Rocco questionou apertando o
volante e eu fingi que não escutei. —
Estou falando com você, Sienna.
— Talvez, não ter me levado a
um jantar onde sua amante estaria. Isso
seria um começo bom — murmurei
firme e Rocco acelerou ainda mais.
— Sienna, Milena não é minha
amante.
— Você dormiu com ela nesses
dias que não me procurou? — perguntei
me virando para o encarar. Rocco não
me olhou e minha humilhação chegou a
outro nível.
Nós entramos na propriedade
dele e eu saí do carro antes dele. Andei
com passos apressados e Tebow me
encontrou na escada. Rocco não me
seguiu e eu agradeci por isso. Eu não
poderia sequer olhar para ele.
Abri a porta com Tebow ao meu
lado e peguei a chave pendurada,
trancando-a por dentro. Andei pelo
quarto e segurei a queimação em meus
olhos. Pare com isso, ele é um homem
feito. Ele jamais será fiel a você.
Eu sabia disso. Eu cresci na
máfia, eu escutei histórias.
Então por que eu me sentia tão
doente?
Eu escutei passos na porta
enquanto tirava meu vestido. Peguei o
tecido e dobrei colocando na poltrona.
Sai dos meus sapatos e peguei uma blusa
grande de Salvatore, vestindo-a. A
umidade inundou meus olhos e eu
respirei fundo, lembrando do meu irmão.
Queria falar com ele. Com mamãe. Eu
me sentia sozinha nessa casa.
Eu queria minha família.
— Abre a porta, Sienna! —
Rocco gritou pela porta e Tebow ficou
em alerta se erguendo. — Tebow está
com você? O que eu falei para você,
Sienna?
O cachorro estava rondando
como se soubesse que algo estava
errado.
— Tebow, aqui — Rocco gritou
e ele o respondeu se aproximando da
porta e ficando sentado. — Sienna, abre
a porta antes que eu atire na fechadura e
assuste Tebow. É uma ordem.
Eu estremeci e enxuguei a lateral
dos meus olhos me aproximando. Passei
a mão na cabeça de Tebow e abri a
porta pegando a chave, após. Rocco
entrou no quarto e mandou Tebow sair
com apenas um aceno de mão. O
cachorro o obedeceu.
— De quem é a porra dessa
blusa? — Rocco semicerrou os olhos e
eu disse o nome do meu irmão. Ele
ainda parecia irritado. — Tire-a.
— Não vou ficar nua na sua
frente.
— Eu sou seu marido. Eu já vi
você nua. Ou você esqueceu? — Os
olhos de Rocco desceram pelo meu
corpo e eu peguei as pontas da camisa,
tirando-a.
Era apenas isso que ele queria.
Meu corpo.
Rocco me encarou dos pés à
cabeça e se aproximou me puxando pela
cintura, esmagando meus seios em seu
peito.
— Por que você está tão irritada,
Sienna? Eu menti para você? Não. Eu
disse que não sabia se seria fiel e eu não
sou. — Suas palavras eram duras,
gélidas. Eu ergui meu rosto e o observei
de perto.
— Ok.
— Nunca mais mantenha uma
porta entre você e eu. Não se tranque
com Tebow novamente...
— Você vai me foder ou vai
continuar falando? — eu questionei
encarando seus olhos azuis e ele apertou
minha cintura.
Rocco finalmente parou de se
controlar e me agarrou. Sua boca desceu
sobre a minha e ele segurou minha bunda
me erguendo. Ele puxou minha calcinha
para o lado e me tocou por alguns
segundos, sentindo minha excitação.
Rocco afundou em mim enquanto me
empurrava contra a parede. Eu inclinei a
cabeça encarando o teto branco
enquanto ele lambia meu pescoço e
descia para chupar meus mamilos, me
fazendo ofegar.
— Sua boceta é tão apertada.
Nunca senti essa porra — Rocco
balbuciou contra minha pele e eu gemi,
tremendo e gozando. Ele me
acompanhou mordendo meu seio e eu
suspirei.
Ficamos parados na mesma
posição por algum tempo, até eu reunir
de volta minha dignidade. Empurrei o
peito de Rocco e desci dos seus braços,
me afastando. Peguei a blusa do meu
irmão do chão e me cobri com ela
esperando Rocco sair.
Não demorou muito.
Quando a porta se fechou eu me
sentei no chão, sozinha mais uma vez.
Engolindo as lágrimas eu encarei o céu
escuro pela janela.
A porta se abriu novamente e eu
encarei a parede diante de mim, sem
querer ver Rocco ou seus irmãos. Vi a
sombra de Tebow e virei, vendo-o. Eu
solucei e bati ao meu lado, chamando-o.
Não percebi que a porta ainda estava
aberta, até ouvir o clique suave.
Tebow se deitou perto de mim e
eu o abracei. Ele era tudo que tinha
nessa casa. Nessa nova vida.
Tebow era o único que parecia
sentir algo por mim.
Era triste admitir.
Eu estava engolindo uísque com
os olhos presos na tv, onde passava luta
de boxe quando ouvi Tebow. Ele estava
choramingando. Me ergui e subi as
escadas. O encontrei na porta de Sienna
andando de um lado para o outro. Que
porra ela fez com esse cachorro?
Escutei um soluço e me
aproximei sabendo que era ela. Eu não
sabia o que fazer com Sienna. Ela era a
porra de um enigma que me dava dor de
cabeça.
Eu tinha um plano traçado para
ela. Porém, Sienna de alguma maneira
estava me surpreendendo, e isso, estava
me irritando profundamente.
Peguei minha chave ainda
receoso a deixar os dois juntos, porém
Tebow me encarou também e eu abri a
porta, deixando-o entrar. Sienna estava
sentada e chorou assim que viu o
cachorro. Eu voltei a fechar a porta, mas
não tranquei. Não confiava plenamente
em Tebow com ela. Lake e meus irmãos
cresceram com ele, Tebow não os
atacaria, mas Sienna? Eu não tinha tanta
certeza.
Desci as escadas e voltei a me
sentar na poltrona vendo a TV. Romeo
apareceu em seguida na sala de jogos e
eu o ignorei. Meu irmão deveria estar
em casa, mas ele sempre aparecia nas
horas mais loucas.
— Prince disse que Sienna
voltou irritada do jantar, passou por ele
e Matteo e nem mesmo os viu.
Aconteceu algo? — Romeo se
acomodou na poltrona afastada de mim e
eu o encarei.
— Ela quer fidelidade do
caralho — murmurei irritado e meu
irmão me olhou por alguns segundos.
— Isso é sério?
— Eu queria que não fosse —
falei me erguendo e me servindo de mais
uísque. Virei o copo de uma vez e vi
Romeo respirar fundo.
— O que vai fazer? Sienna é sua
esposa. É normal uma mulher esperar
fidelidade, porém somos homens feitos.
Ela cresceu na famiglia, sabe a sujeira
por baixo dos casamentos. Sienna não
deveria pensar nisso.
Eu o encarei por alguns segundos
e Romeo afastou o olhar quando
percebeu o que eu estava pensando.
— Milena estava com Patrício
— eu expliquei, deixando a fidelidade
do meu irmão de lado. — Ela nunca vai
a jantares e nesse foi. Eu vou matá-la na
próxima vez que ousar ficar no mesmo
lugar que Sienna.
Eu apertei o copo e lembrei de
Sienna se erguendo da mesa e indo para
o banheiro. As cabeças dos homens
girando para olhá-la, mesmo os que
estavam acompanhados. Sienna era
linda, ninguém podia dizer o contrário e
era óbvio que as pessoas olhariam para
ela, mas eu desejei arrancar os olhos de
todos que ousaram.
— O que vai fazer?
— Eu não sei.
Eu não sabia mesmo. Eu não
dava a mínima sobre ser fiel ou não.
Isso não era um problema, mas o que me
preocupava era o que Sienna acharia.
— Ela não vai achar isso —
Romeo falou firme lendo meus
pensamentos e eu voltei a encará-lo. —
Ela sabe que não tem poder sobre você.
É um casamento arranjado.
Eu semicerrei os olhos, e por fim
acenei.
— E Lily? — questionei me
aproximando novamente. Sentei no sofá
enquanto assistia a luta, esperando que
ele falasse sobre a prostituta.
— Em algum lugar longe daqui.
Peguei o garoto que vendeu a ela. Está
no porão do Village.
Eu acenei, me erguendo.
— Farei isso. Vou levar Matteo e
Prince. Você fica.
— Por quê? — Romeo perguntou
sério.
— Porque alguém precisa
proteger Sienna e quero que Prince
aprenda algo com Matteo e eu.
— Temos soldados...
— Eu não confio neles para
cuidar dela — falei rápido e meu irmão
ficou ponderando isso por alguns
segundos até acenar. — Sairei em dois
minutos — o avisei e mandei mensagens
para Matteo e Prince. Os dois
precisavam trabalhar suas habilidades
de tortura. Achei uma cobaia perfeita.

Prince estava de pé encarando o


garoto que parecia ter a idade dele. Ele
não se mexeu desde que mandei ele
arrancar a unha do dedo indicador do
menino.
— Prince — Matteo falou em um
rugido e meu irmão engoliu em seco e
me encarou.
Prince não gostava de machucar
as pessoas. Era uma bobagem do
caralho porque na Outfit só sobrevivia
quem se destacava. E em nosso mundo
isso era feito pela violência.
— Quem vendeu as drogas a
você? — questionei deixando Prince de
lado. Eu lidaria com ele mais tarde.
— Vocês vão me deixar ir? — o
menino loiro perguntou e eu sorri.
— Não. Porque eu não estou
fazendo uma troca. Você vai falar. Eu
sempre faço falarem.
Matteo e Prince assistiram eu
tirar as informações que eu queria e
quando terminei, estávamos todos
ensanguentados. Eu me aproximei de
Prince e segurei seu queixo manchando
sua pele com o sangue.
— Você precisa crescer. Pare de
demonstrar fraqueza na frente das
pessoas. Elas vão usá-la contra você.
Prince acenou ainda preso em
minha mão e eu me afastei.
— Quando sua mente do caralho
se perder em compaixão lembre-se que
se fosse você sentado na cadeira,
ninguém lhe daria uma chance. Eles o
matariam sem remorso algum.
Prince acenou novamente e eu
me virei olhando de Matteo, que estava
parado encarando Prince, de volta para
o meu irmão mais novo.
— Romeo e eu nem sempre
estaremos com vocês, fazendo o
trabalho sujo de vocês, então, cresçam.
Eu saí do quarto a prova de sons
com os dois no meu encalço. Parei no
banheiro e tomei banho, vestindo novas
roupas em seguida.
Quando saí meus irmãos já
estavam limpos também. Dirigi para
casa com o sol já alto no céu e encontrei
Romeo na entrada andando de um lado
para o outro. Que porra tinha acontecido
agora?
— Sienna não está no quarto —
ele falou antes que eu pudesse perguntar.
— Fui deixar seu café da manhã e ela
tinha sumido. Você o deixou aberto?
Deixei. Sim, eu deixei a porra
aberta.
— Ela está pela mansão —
Matteo apontou o óbvio enquanto
entravamos.
— Onde está Lake? — Prince
correu escadas acima soando
preocupado e eu o segui.
Lake estava dormindo e Sienna
não estava no quarto ou banheiro. Eu a
procurei no cais, mas ela também não
estava. Onde ela pode ter ido? Lembrei
de Tebow e assobiei, chamando-o. Ele
latiu de volta e eu segui o barulho até a
cozinha.
Sienna estava lá e Tebow em
alerta aos seus pés. Que porra era essa?
Mama L estava de pé tensa e Sienna
sentada de frente para a mulher mais
velha.
— Saia! — eu gritei para Mama
L que se retesou, mas fez o que ordenei.
Sienna estava de costas para mim e não
se virou em nenhum momento. Se não
fosse pelo tremor em seu corpo, eu diria
que ela nem mesmo me notou. — Eu
procurei você pela casa inteira.
— Eu estava aqui com Mama L
— ela respondeu baixo e eu me
aproximei.
— Você saiu sem permissão,
Sienna.
— Tebow queria sair para fazer
xixi. A porta estava aberta e eu desci
com ele — ela explicou com os olhos no
prato diante dela. Seu café da manhã. —
Encontrei ela e fiquei conversando. Eu
vou voltar. — Ela empurrou o prato e se
ergueu.
— Olhe para mim.
Sienna se virou e eu a puxei para
mim.
— O que? — ela perguntou em
um suspiro.
— Vou deixar a porta aberta a
partir de hoje. Mas você não está
autorizada a ir para o andar do Matteo
ou Prince. Apenas o de Lake.
Sienna arregalou os olhos azuis e
eu segurei seu rosto. Eu ainda ficava
admirado com o quão linda era ela.
Minha passarinha.
— Obrigada. — Ela engoliu em
seco e eu me inclinei, beijando seu
pescoço. Sienna estremeceu e sua pele
se arrepiou me fazendo sorrir.
— Não mudei de ideia sobre
Tebow, no entanto. Não vou deixá-lo
ficar em seu quarto.
Seus ombros caíram, mas, ela
acenou rápido, temendo que eu
reconsiderasse os outros.
Sienna se afastou e eu a observei
no short jeans curto e blusa apertada.
Empurrei o desejo e subi para meu
andar. A casa era dividida em quatro
partes e andares. O último era o de Lake
e o meu o penúltimo. Sienna estava no
andar de Matteo.
Deitei em minha cama minutos
depois e tentei dormir. Depois de muito
tempo eu finalmente me entreguei ao
sono.

Desci as escadas, na manhã


seguinte, ouvindo risadas. Encontrei
Lake e Sienna na sala de jogos. Lake
tinha algumas restrições dentro de casa
por conta dos soldados. Nada de
janelas. Eles não entravam na
residência, então ela podia andar
livremente.
Quando entrei na sala as duas
pararam de rir e me encararam por
segundos.
— Você já estudou? — perguntei
a Lake e ela balançou a cabeça já se
erguendo. Quando ela saiu, Sienna olhou
para o seu colo por um tempo.
— Eu posso falar com minha
mãe e irmão? — Sienna abriu os lábios
e eu me sentei no sofá. Ponderei seu
pedido. Mandei Prince lhe dar um
celular, mas estava programado para não
ligar para fora do país.
— Ligue. — Eu entreguei o meu
celular a ela e Sienna o pegou rápido
teclando os números. — Viva-voz —
mandei e ela fez, desconfortável.
— Rizzi. — A voz de um homem
soou e eu sabia que era seu irmão. Os
dois poderiam ser gêmeos de tão
parecidos. Salvatore tinha apenas um
ano a menos que Sienna.
— Sal, sou eu.
— Porra, Sienna. Você está bem?
— A urgência na voz dele não me
chocou. Ela era sua irmã.
— Sim. Você está com mamãe?
— questionou Sienna mordendo o lábio,
sem me encarar.
— Ela está no quarto. Estou
subindo. Ele machucou você? —
Salvatore perguntou e eu olhei para o
teto descansando minha cabeça no
encosto do sofá.
— Não. Ele não fez. — Eu não a
encarei quando ela falou. Sim, eu não a
machuquei. Eu não machucava mulheres,
nem mesmo a minha.
— Não minta — ele ecoou
irritado e ela suspirou, quando eu a
encarei.
— Não estou mentindo. Eu juro.
— Sienna desviou os olhos de mim e eu
já estava com raiva da conversa. Ela
não lhe devia explicações.
— Sienna? — A voz feminina
era preocupada em um nível que
Salvatore não chegou nem perto. —
Você está bem? Enrico disse que Rocco
não lhe atendeu nas últimas vezes. Eu
queria saber de você...
— Estou bem, mamãe. Como
você está? — Sienna mordeu o lábio
novamente, piscando os olhos azuis e eu
me ergui.
— Ele a machucou? Ele foi bom
para você na sua noite de núpcias? E seu
casamento? Eu não consigo me perdoar
por não estar com você. Juliano seria um
marido bem melhor...
— Mamãe — Sienna a cortou
rápido e eu me virei. Que porra é essa?
— Eu estou bem. Não se preocupe, por
favor.
Eu odiava a palavra. Odiava a
fraqueza do desculpe e do por favor.
Sienna vai aprender em breve que não
deve falar isso a ninguém.
— Você não está! Ele te
machucou. Como não? Ele é o
demônio...
— Fico feliz pelo seu carinho,
Senhora Rizzi — falei alto encarando
Sienna e ela afundou no sofá ouvindo
sua mãe arfar, horrorizada. — Vou
machucar minha esposa agora.
— Rocco...
— Desligue — ordenei rápido e
ela suspirou acenando. Sienna disse
adeus e desligou o celular.
Fiquei parado observando-a
encarar a TV. Me aproximei devagar e
parei na sua frente, me inclinando.
Sienna ficou completamente rígida
quando eu segurei seu rosto colocando
meu joelho no sofá, entre as suas pernas,
e empurrei meu peito no seu, fazendo ela
quase deitar no sofá.
— Você ia casar com Juliano. —
Não era a porra de uma pergunta. Eu
sabia que Sienna era a princesa da
famiglia assim que coloquei os olhos
nela. Na foto que Enrico enviou antes
até da chamada de vídeo. Escolhi Sienna
antes daquela besteira do caralho. Eu a
olhei e ela era minha.
Sienna engoliu em seco e
colocou as mãos no meu peito.
— Ele renunciou a você pela
famiglia.
— São deveres.
— Você queria, no entanto —
falei abertamente e ela balançou a
cabeça, mentindo. — Não minta para
mim. Eu sou seu capo. Você me deve
lealdade.
— Eu queria ficar na Itália. Se
fosse casada com Juliano, ótimo, se não,
pouco me importava.
Sienna respirou fundo e me
olhou com os olhos que pareciam a
porra do céu brilhando.
— Você está com ciúmes? —
Sua voz era baixa, insegura. Eu
semicerrei os olhos e sorri.
— Não, passarinha. Eu não tenho
ciúmes de ninguém. De nada — falei
firme ainda segurando seu rosto pelo
queixo. Sienna não estava mais tensa,
ela apenas ficou me encarando,
esperando. — Mas eu não divido o que
é meu e você me pertence.
Sienna me olhou por um tempo e
eu me inclinei, mordendo seu ombro.
— Você me ouviu?
— Sim — Sienna murmurou
suspirando e eu me afastei, ficando de
pé.
— Suba.
Sienna fechou os olhos e ficou
parada ainda sentada. Quando ela abriu
suas pálpebras eu vi o azul límpido me
saudar.
— Hum. — A voz de Prince
apareceu e eu me virei, vendo-o olhar
para Sienna. — Você bateu nela?
Eu semicerrei os olhos para meu
irmão. Eu estava me cansando de Prince.
— E se eu tivesse, Prince? Será
que assim bolas cresceriam em você?
Desse jeito, talvez, você começaria a
levar a sério a porra do seu dever?
— Não. Ele não me bateu —
Sienna falou nas minhas costas e passou
ao meu lado. — Está tudo bem.
Ela subiu as escadas e Prince
ficou com os olhos presos em mim.
— Terá um clique na minha
cabeça e eu farei isso. Só que ainda não
consigo...
— O único clique que vai soar
perto do seu ouvido, será da minha arma
— falei cruelmente e meu irmão desviou
os olhos de mim.
— Vou sair com Travis. Vamos
Prince? — Matteo apareceu falando e
Prince acenou, rapidamente. — Você vai
precisar da gente protegendo Lake e
Sienna?
— Não. Saiam daqui.
Os dois foram embora e eu
respirei frustrado. Odiava ameaçar
Prince ou qualquer um dos meus irmãos.
Porém, eu precisava dele. Não era
apenas uma questão de dever. Era
lealdade e necessidade.
Estava chegando a hora de
exterminar os ratos que ainda rondavam
minha casa e eu precisaria de Prince
para ocupar um dos lugares vagos. Isso
não seria um tópico para se discutir. Ele
era real.
Peguei meu celular assim que
entrei em meu quarto. Me sentei na cama
e apertei o aparelho entre os dedos.
Pensei em mamãe imaginando Rocco me
machucando e fiquei apavorada. Tentei
reprimir meu medo, ela ficaria bem.
Porém, eu sabia mais dela.
Engolindo o medo de Rocco
brigar eu instalei um aplicativo de
mensagens e adicionei o número de
Salvatore. Teclei rápido uma mensagem
e suspirei.
Rocco não me machucou.
Acalme a mamãe, por favor.
Meu irmão não me respondeu,
mas a mensagem chegou até ele. Isso era
o importante. Ele veria em breve.
Passei meus dedos pelo meu
queixo e engoli em seco. Rocco me
tocava de uma maneira firme, mas não
machucava. Isso precisava acabar, no
entanto. Ele não precisava me tocar para
eu ouvi-lo.
A porta foi aberta e eu não me
surpreendi ao ver ele. Rocco entrou e
fechou a porta com os olhos fixos no
celular na minha mão. Apertei o
aparelho e o coloquei na mesa de
cabeceira. Ele não brigaria. Era só uma
mensagem. Certo?
— O que estava fazendo? — ele
questionou, se apoiando na porta ao
cruzar os braços.
— Falei com Salvatore por um
aplicativo de mensagens — murmurei
engolindo em seco e Rocco se
aproximou.
— Cuidado com o que fala ao
seu irmão.
Ele se sentou na minha frente e
puxou meu tornozelo. Seus dedos
pressionaram massageando e eu acenei,
respirando devagar.
— Você não faz mais parte da
Cosa Nostra. Você é a rainha da Outfit.
Você me deve lealdade. Somos a sua
família agora — Rocco afirmou
acariciando minha pele, porém sua voz
era dura.
— Então, faça eu me sentir em
casa — as palavras voaram pelos meus
lábios e ele puxou meu tornozelo até sua
boca. Ele beijou a parte de dentro e
estremeci sentindo o toque úmido da sua
língua.
Rocco deslizou sua boca pela
minha panturrilha e deixou um novo
beijo na parte interna da minha coxa.
Estremeci mais uma vez, sentindo meu
centro se contrair e minhas dobras serem
umedecidas. Ele continuou me
torturando com sua boca até chegar em
meu vestido. Suas mãos o ergueram e eu
engoli em seco quando Rocco puxou
minha calcinha para o lado.
— Você já se tocou, Passarinha?
— Sua voz soou ainda mais rouca e eu
tremi novamente com o seu hálito quente
em meu sexo.
— Não — respondi, corando e
ele sorriu.
— Outro dia — ele prometeu, e
se inclinou lambendo meu clitóris. Eu
gemi fechando os olhos, mas Rocco
parou. — Olhos em mim.
Eu obedeci, ansiosa pelo seu
toque.
Rocco lambeu, mordeu e chupou
minha boceta enquanto seus olhos
ficaram nos meus. Eu estava lutando
contra minhas pálpebras. Meu orgasmo
estava se construindo e eu me rendi
quando seu dedo pressionou minha
entrada.
— Oh meu Deus...
Rocco sorriu e eu fiquei sem ar.
Pela primeira vez não era o sorriso
sarcástico e irônico que ele sempre
distribui. Ele parecia realmente feliz e
isso me fez ficar relaxada.
Sua cabeça se afastou e ele se
ajoelhou na cama tirando a blusa. Eu não
esperei por ele, puxei meu vestido e
deslizei para fora da minha calcinha. O
pênis dele saltou quando suas roupas
foram jogadas. Recordei de quando
tomei ele na minha boca e suspirei. Eu
gostei de dar prazer a Rocco. Mesmo
inexperiente eu me senti no controle pela
primeira vez.
— Abra as pernas.
Eu fiz me deitando e Rocco
cobriu meu corpo com o seu. Sua boca
chupou a lateral do meu seio esquerdo e
eu gemi, desejando que fosse meu
mamilo. Não demorou, no entanto.
Rocco lambeu e prendeu meu mamilo
entre os lábios. Ele deslizou para dentro
do meu corpo e eu arqueei ao sentir ele
todo dentro de mim. Rocco saiu dos
meus mamilos e começou a chupar meu
colo, entrando e saindo de mim com uma
lentidão excruciante.
Segurei os seus braços e
procurei sua boca enquanto abraçava
sua cintura com as pernas, o querendo
mais fundo e duro. Quando ele me
beijou, eu o deixei possuir meu corpo.
Mordi seu lábio e chupei enquanto
Rocco abriu os olhos e me encarou. O
azul dos seus olhos me envolveu e eu o
beijei mais devagar.
Seus quadris ficaram mais
ritmados e eu gemi quando ele alcançou
um ponto doce dentro de mim. Rocco se
afastou e levou seus dedos para meu
clitóris. Eu gritei seu nome, gozando, e
ele me moveu. Rocco deitou e me
colocou em seu colo. Minhas bochechas
coraram e senti ele ainda mais profundo,
ao ficar nessa posição. Me apoiei em
seu peito e mexi meus quadris enquanto
Rocco sorriu torto e apertou meu
mamilo esquerdo entre os dedos. A dor
me fez gritar, mas também fez minha
boceta pulsar mais molhada. Rocco me
ajudou a voltar a mexer e eu fiz,
gemendo sensível.
— Minha.
A voz de Rocco ecoou e eu senti
sua mão entrar em meus cabelos. Ele
puxou os fios, me levando para mais
perto e eu empurrei meus quadris
rebolando. Sua língua lambeu meu
pescoço e eu gemi.
— Rocco... — arfei quando
gozei novamente em cima dele.
Dessa vez, Rocco me seguiu.
Eu caí em seu peito respirando
profundamente e senti a ponta dos seus
dedos deslizarem pela minha coluna.
Tremi em cima dele e Rocco lambeu
meu pescoço mais uma vez.
— Por que não dorme comigo?
— eu deixei a pergunta sair e Rocco
ficou parado, sem dizer nada.
Depois do que pareciam ser
horas ele apertou meu quadril e me tirou
de cima dele. Eu puxei as cobertas para
meu corpo enquanto ele se erguia ainda
em silêncio.
— Não durmo com ninguém.
— Dormir ao lado de alguém
requer confiança. É seu estado mais
indefeso — eu falei devagar e Rocco me
encarou ainda nu, de pé no final da
cama.
— Sim, isso é verdade — ele
concordou — Você me mataria, Sienna?
— Seu olhar se tornou frio e eu mesma
me fiz essa pergunta. Se eu tivesse
oportunidade, eu o mataria?
— Nunca.
E era a verdade. Eu não
conseguiria.
Rocco saiu do quarto depois de
se vestir. Eu fiquei sozinha, nua e
desejando que Rocco confiasse em mim.
Desci as escadas quando meu
estômago roncou. Amarrei meu cabelo
no alto da cabeça e toquei na gola alta
da minha camisa que escondiam as
marcas que Rocco deixou em mim ontem
à noite. Ela não tinha mangas e meu
short era curto. Era inverno em Chicago,
mas a casa estava sempre aquecida.
Entrei na cozinha e engoli em
seco quando vi os irmãos Trevisan
juntos. Rocco me encarou com os outros
e Lake sorriu.
— Estava quase subindo para te
buscar — ela avisou sorrindo e eu me
aproximei, sentando-me ao lado dela.
— A fome me fez descer — eu
brinquei e ela riu. O som aqueceu meu
coração.
Todos se serviram e eu vi Prince
me encarando junto com Matteo. Desviei
os olhos rapidamente e eu comecei a
comer.
— Giulio acordou — Romeo
avisou entrando na cozinha, olhando o
celular e eu arregalei os olhos ficando
tensa.
— Ele está vivo? — Minha voz
saiu em um fio. Rocco me observou por
um tempo e acenou.
— Depois de hoje, no entanto,
ele vai morrer — Matteo disse enquanto
cortava a carne como se estivesse
comentando sobre o sabor dela e não a
vida de alguém. Eu senti meu estômago
revirar. Não conhecia Giulio, mas
Salvatore sim. A famiglia pensava que
ele estava morto.
— Com licença — eu pedi,
colocando o guardanapo na mesa, e me
erguendo. Rocco, no entanto, me segurou
pelo pulso.
— Sente e termine de comer.
Eu segurei seu olhar, querendo
me negar, mas eu não queria
desobedecer Rocco diante dos seus
irmãos. Pior, eu não queria que ele
voltasse a se irritar comigo. Eu voltei
para a cadeira e Rocco me soltou.
Pensei em Giulio novamente e
minha fome sumiu. Remexi a comida até
todo mundo terminar. Rocco saiu com
Romeo e ficaram apenas eu, Lake,
Matteo e Prince.
Eu me ergui e comecei a pegar
os pratos já que Rocco não estava aqui
para me impedir.
— Você é da Outfit agora. Sua
lealdade está em seu marido. Não
esqueça disso, Sienna — Matteo falou
firme se erguendo e eu o encarei.
— Vocês me tratam como uma
intrusa, não da família. Porém, eu sei
onde está minha lealdade, Matteo —
falei devagar e suavemente. Ele
semicerrou os olhos e eu senti a mão de
Lake na minha perna, por baixo da mesa.
— Deixe-a. — Prince olhou para
o irmão e eu arregalei os olhos,
surpresa. — Ela está longe da família.
Fica trancada dia e noite naquele quarto
com ninguém além de Tebow. Pare de
atormentá-la.
— Criou garras para defender
Sienna? — Matteo riu do irmão e eu
suspirei levando os pratos para a pia.
— Não briguem — pedi
voltando e os dois saíram da sala de
jantar, sem me responder.
— Eu trato você bem? — Lake
questionou com as sobrancelhas
franzidas e eu me aproximei.
— Você e Tebow. Muito
obrigada por isso, aliás — falei olhando
para ela e procurei Tebow ao redor. Ele
estava na porta me encarando com seus
olhos amarelos bonitos.
— Podemos pintar as unhas? —
Lake me olhou ansiosa e isso me fez
bem. Porque, de uma maneira simples,
eu me senti importante.
— Claro! Eu trouxe alguns. Vou
lavar as louças e subimos. Pode ser?
Lake acenou e se ergueu para me
ajudar. Nós subimos depois de enxugar e
guardar todas as louças.
A irmã de Rocco escolheu o
renda que usei antes do meu casamento e
eu um rosa queimado. Depois de
terminarmos nós duas ficamos em seu
quarto assistindo filme.
Lake dormiu quando já era noite.
Eu puxei seu edredom e a cobri pegando
a vasilha onde ela fez pipoca. Quando
me endireitei eu vi um porta-retrato na
sua cômoda. Era Lake, Matteo, Prince e
Romeo. Tinha uma mulher e um homem
com eles na foto. Seus pais, eu diria. A
mulher era parecida com eles, já o
homem era uma versão mais velha de
Rocco. Pensar nisso me faz questionar
onde ele estava. Cadê ele na foto?
Minha atenção derivou para outra
imagem e eu sorri ao ver Rocco e Lake.
Ela estava na frente dele e sorria
para ele, não para a câmera. Rocco, no
entanto estava sério.
— O que você está fazendo? —
Romeo apareceu na porta e eu me
assustei, porém guardei o grito temendo
acordar Lake. Ele morava em outra casa,
mas sempre estava aqui. Isso era
estranho.
— Nada. — Devolvi as fotos
para o lugar e me movi para a porta.
Romeo saiu da minha frente e me seguiu
até às escadas.
Eu parei de andar e Romeo fez o
mesmo. Me virei e encarei meu cunhado,
apreensiva.
— Rocco não confia em mim.
Você, Matteo e Prince também, mas eu
juro por minha vida e honra que jamais
machucaria Lake — eu disse orgulhosa e
Romeo me encarou sem expressão por
alguns segundos.
— Se Rocco não confiasse em
você, Lake não teria permissão para
ficar perto e você ainda estaria dentro
do seu quarto, com a porta trancada. —
Romeo acenou para que eu continuasse
descendo.
— Ele achou que eu avisaria
Salvatore. Sobre Giulio — falei ainda
parada e Romeo me encarou mais sério
do que o normal.
— Você faria?
— Giulio é amigo de Sal.
— Ele é o inimigo. Seu irmão,
no momento, não é, mas a paz com a
famiglia não vai durar para sempre. Não
vou dizer que deve fazer uma escolha,
ela já foi feita por Rocco quando a
escolheu como esposa. Você é a Outfit,
Sienna.
As palavras de Romeo me
fizeram engolir forte. Ele passou por
mim e desapareceu. Terminei de descer
os degraus e parei ao ver a porta dupla
completamente preta. Eu já a tinha visto
em outro dia.
Voltei a andar em direção a
escada, mas parei novamente. Quando
olhei para a porta Rocco estava parado
me encarando. Era seu andar. Era aqui
que ele dormia, depois que me deixava
nua na cama.
— É do Matteo? Prince? — eu
perguntei antes que a coragem sumisse.
Rocco franziu os olhos, confuso. — O
andar onde eu durmo.
— Matteo.
Ele respondeu quando
compreendeu e eu acenei, desviando
meus olhos dos seus. Segui para a
escada e desci segurando minha bolsa
pequena com meus esmaltes.
Tebow estava na minha porta e
quando eu entrei no quarto ele me
seguiu. Sentei no peitoril da janela e
acariciei a cabeça de Tebow.
— Por que você gosta de mim?
— questionei curiosa e Tebow lambeu
meus dedos. — Você e Lake, aliás.
Sorri balançando a cabeça, eu
estava falando com um cachorro. No
entanto, Tebow não era mais apenas um
cachorro para mim. Ele era meu amigo.
Meu aliado.
— Nós vamos sair. — A voz de
Rocco soou e eu me virei, vendo-o
parado na minha porta.
— Com a Milena? — questionei
olhando pela janela. — Se for, eu
prefiro ficar em casa.
— Sienna.
— Ela me humilhou a cada vez
que trocou olhares com você. A cada
vez que sorriu e insinuou que tinham
algo a mais. Obviamente ela estava
sendo honesta. Você me traiu com ela.
A dor em minha voz era ridícula.
Senti vergonha ao me ouvir. Eu estava
soando infantil e fragilizada. E isso era
tudo que eu não deveria ser em relação a
Rocco.
— Não vamos sair com ela —
Rocco falou, mas eu não conseguia
encará-lo. — Isso não vai se repetir.
Você nunca mais ficará no mesmo lugar
que ela.
— Mas você vai — falei firme e
escutei seus passos. Rocco puxou
minhas coxas e se colocou entre elas, se
inclinando. Eu pisquei, encarando seus
olhos azuis.
— Não, eu também não.
Seus lábios bateram nos meus e
eu deixei meu corpo amolecer contra seu
peito. Rodeei seu pescoço com meus
braços e o puxei para mim. Rocco
segurou minha cintura e me beijou de
volta.
Eu não queria criar expectativa,
mas ele não a ver mais era algo, certo?
Eu precisava que fosse.
Eu não sabia o quanto.
Romeo e Matteo estavam prontos
quando eu apareci na sala, já arrumado.
Deixei Sienna em seu quarto há meia
hora. Ela também deve estar descendo.
Me servi de uísque diante deles e tomei
um gole tentando não pensar no que fiz.
Eu realmente desisti de ficar com outras
mulheres.
Isso realmente não era um
problema. Eu não era um viciado do
caralho em sexo. Sabia me controlar e
só fodia mulheres que eu queria e
desejava. Não é como se ficar apenas
com Sienna fosse algo extraordinário.
Ela era bonita, gostosa e sabia foder.
Porém, eu precisava ficar me lembrando
que ela não detinha poder sobre
ninguém.
Eu a tinha. Ela pertencia a mim.
Mesmo que eu a traísse com trinta
mulheres, ela ainda seria minha e
sempre será.
— Ela vai demorar? — Matteo
questionou passando a mão pelo cabelo
escuro, interrompendo meus
pensamentos.
— Não. Já estou aqui. — Eu
virei meu pescoço ao escutar a voz
suave da minha esposa. Sienna me deu
um sorriso pequeno e meus olhos
derivaram pelo seu corpo. Ela estava
com um vestido vermelho de seda que
agarrava suas curvas. As alças eram
tiras finas e seus seios estavam
empurrando o tecido, cheios e
volumosos.
— Se prepare, o porão será
utilizado hoje.
— O quê?
Me virei vendo Romeo
encarando Matteo, confuso.
— Rocco vai matar alguém.
Eu fingi que não escutei, porém
Matteo estava certo. Eu mataria alguém.
Sienna estava ainda mais bela que o dia
do jantar. Seu cabelo estava ondulado e
caia em suas costas em cascatas loiras.
— Está tudo bem? — Ela olhou
para a própria roupa franzindo as
sobrancelhas.
— Sim. Vamos lá.
Eu andei até ela e a levei para
fora. Meus soldados ficaram inquietos
quando viram Sienna e baixaram o olhar
rápido. Espertos.
Ajudei ela a entrar no carro
enquanto Matteo e Romeo entravam na
frente. Segurei a coxa dela assim que
deslizei para dentro. Sienna sorriu e
cobriu minha mão com a sua deslizando
os dedos pelas minhas tatuagens.
— Qual foi sua primeira? — Sua
voz ecoou e eu vi Romeo nos encarar
pelo retrovisor, dirigindo.
— Fiz seis no mesmo dia. Vou
mostrar a você mais tarde — eu disse
firme e Sienna acenou, corando.
Ela não falou mais nada e nós
seguimos a viagem em silêncio enquanto
Matteo mudava a estação de rádio a
cada segundo procurando alguma porra
que obviamente não estava tocando.
Guiei Sienna para dentro do
prédio com o letreiro neon e ela se
aproximou mais quando passamos por
várias pessoas. Romeo liderou o
caminho e nós chegamos ao nosso
camarote. A tenda era grande e
destinada apenas a minha família.
Éramos os donos, obviamente.
— Rocco.
Me virei e vi Romeo acenar. Eu
me ergui e deixei Sienna sentada.
— Peça uma bebida. Não saia
daqui. Matteo ficará com você — falei a
encarando e ela balançou a cabeça,
colocando uma mexa do cabelo para
trás.
Me afastei devagar e desci as
escadas ao lado do meu irmão.
— Não a trouxe por quê? —
questionei andando diretamente para a
sala privada. Romeo me deu um olhar
vazio e eu deixei passar. Não era uma
novidade.
Quando afastei a cortina, eu sorri
olhando para Leonardo, Vitor e Pedraza.
Eles me viram tarde demais. O olhar
arregalado seria uma confirmação, se eu
já não a tivesse.
— Oak Park está monótona,
Vitor? — questionei acendendo meu
isqueiro e o levando aos meus lábios
para acender meu cigarro.
— Rocco...
— Vitor veio dar uma volta.
Mudar o ar. Comer boceta nova, você
sabe. — Leonardo colocou os braços
sobre os ombros de Vitor e apertou
Pedraza.
— Não, eu não sei. Sentem.
Vamos conversar. — Eu apontei para o
sofá e eles seguiram minha ordem.
Pedraza engolindo em seco, Vitor
enxugando o suor da testa e Leonardo
completamente calmo. Era por isso que
ele era um dos melhores. Uma perda que
doeria, se eu já não tivesse um
substituto.
— Parabéns pelo casamento.
Uma noiva perfeita. — Leonardo sorriu
levando o copo aos lábios e eu pedi uma
garrafa de Bourbon ao garçom enquanto
Romeo ficou de pé, nos observando.
— Sim, ela é.
— Quando vai matá-la? —
Pedraza abriu a boca pela primeira vez
e eu assisti seus punhos se
fecharem. Curioso.
— Matar minha esposa? Não sei.
O que você acha? — Me inclinei no
sofá, observando o homem de cabelos
grisalhos tomar confiança.
— Faça o mais rápido possível.
Ela é uma mulher, mate-a primeiro e
depois arranque a cabeça dela. Envie
apenas ela de volta a Bellucci — ele
falou firme, irritado e eu ergui as
sobrancelhas, fingindo surpresa.
— É ridículo essa trégua. A
famiglia tomou vários territórios de
Nova Iorque que pertenciam a Bratva...
— Você acha que eles podem
tomar Chicago de mim? Illinois? —
questionei a Vitor, ao pegar minha dose
de uísque e aproximar dos meus lábios.
— É claro...
— Essa conversa está sendo
proveitosa para você, Romeo? —
questionei ao meu irmão e ele encarou
os três e negou lentamente. — Vocês não
deveriam questionar minhas decisões.
Chicago é minha cidade. A Outfit é
minha — murmurei ainda relaxado e me
inclinei ainda segurando meu copo. —
Onde está a lealdade de vocês?
Devagar o rosto de todos
ficaram mais brancos.
— Eu sei que são ratos. Nós
vamos conversar logo, logo e vocês vão
me dar uma lista com os nomes dos
outros. — Eu bebi minha bebida e sorri.
— Vai levar um tempo, vocês sabem a
maneira que eu gosto.
— Se me matar, sua esposa
morre — Leonardo falou se recuperando
e eu sorri. Enrolei meus dedos na
garrafa de uísque e bati ela sobre a
mesa, quebrando-a. Senti a bebida
respingar em mim enquanto eu me movi
rapidamente, enfiando o gargalho na
coxa de Leonardo. Ele gritou e seus
olhos se arregalaram surpresos.
— Eu vou me divertir com você,
Leonardo. — Eu empurrei a garrafa
mais fundo e me inclinei sobre ele. —
Não faça ameaças a mim ou a minha
esposa. Você vai morrer hoje, ela não.
Eu me afastei e Romeo com mais
três soldados pegaram os traidores do
caralho. Hackear os celulares, era fácil,
mas eles não eram burros. Nunca
falavam nada demais nas conversas em
chat ou em chamadas. Eu precisei ir
mais fundo. Colocando escutas nas casas
dos meus capos e soldados. Isso levou
tempo, mas eu já tinha uma lista com
fodidos miseráveis.
Exterminar esses filhos da puta
era um trabalho lento. Eu tinha poucos
homens em quem confiava plenamente e
por isso tínhamos que fazer tudo com
cautela. Porém, eu estava perto. Todos
morreriam pelas minhas mãos e eu me
banharia no sangue deles.
A máfia tudo era sobre honra.
Sangue era o que nos movia. Eu tinha o
sangue deles, mas ainda assim, muitos
me achavam indigno por ser um filho
fora do casamento. Meu pai me chamava
de bastado. Ele foi o único que ousou.
Eu lhe avisei que o mataria e ficaria
com a Outfit. Foi por isso que tentou me
matar. Para que seu plano fodido de
colocar Romeo no poder, em meu lugar
de direito como seu primogênito, fosse
alcançado. Eu o matei antes.
Meu irmão nunca quis liderar a
Outfit. Romeo sempre esteve comigo, ao
meu lado. Ele me apoiou no meu pior e
no meu melhor. Romeo era a única
pessoa que detinha minha total
confiança.
Os homens que eram fiéis ao
meu pai, eram contra mim. Queriam
minha cabeça e a Outfit. Romeo e eu os
mataríamos antes disso. Da mesma
maneira que matamos nosso pai.
Juntos.
Lavei minhas mãos e saí da
tenda andando de volta para Sienna e
Matteo. Semicerrei os olhos para meu
irmão ao vê-lo sentado sozinho.
— Onde ela está? — rugi para
Matteo, que estava com a cara no
celular, assustando-o.
— Ali, cara. — Ele se virou
para apontar e eu segui seu dedo. Sienna
dançava na pista remexendo seus
quadris, seu vestido subindo pela sua
bunda, ficando ainda mais curto. Ela
segurava uma taça com champanhe ou
vinho, não consegui distinguir.
Andei em sua direção vendo os
homens ao redor observando-a. Sienna
estava com os olhos fechados
completamente envolvida na música. Me
aproximei até está atrás dela e toquei
sua barriga plana.
— Rocco — ela balbuciou sem
nem mesmo me ver.
— Como sabia? Poderia ser
outro homem — murmurei em seu
ouvido e Sienna estremeceu.
— Nenhum deles ousaria.
— Não? Por quê? — questionei
segurando seus quadris e a virando para
mim. Sienna piscou com os olhos azuis e
inclinou a cabeça para me olhar.
— Porque sou sua.
Eu me inclinei e beijei seu
pescoço. As marcas que fiz mais cedo
estavam cobertas por maquiagem.
— Você é.
Sienna sorriu mordendo o lábio
e se pôs nas pontas dos pés tocando meu
peito.
— Eu quero você. — Suas
palavras foram acompanhadas com
vermelhidão se espalhando pelas suas
bochechas. Eu toquei seu rosto e
pressionei seu lábio inferior observando
suas pupilas dilatadas. Poderia ser
desejo, mas eu sabia que era a bebida.
— Em casa.
Sienna acenou rápido e eu a
guiei pela cintura de volta a nossa área.
Eu me sentei e a puxei para o meu lado.
Matteo nos encarou e eu virei minha
bebida. Sienna se encostou em meu
braço enquanto eu agarrei sua coxa.
— O que você está bebendo? —
perguntei a ela quando a vi virar a taça.
— Vinho branco.
Romeo retornou e eu o observei
acenar, respondendo à pergunta
silenciosa que fiz com os olhos. Eu
passaria a noite me divertindo, pensei
relaxando.
Deixei Sienna beber mais duas
taças e tomei dela. Vi Matteo se
erguendo e olhei sobre seu ombro para
Mandy e Milena, se aproximando. Eu
evitava matar sem ser traição, mas
estava tentado a enfiar uma bala nela.
— Rocco. — Sienna ficou tensa
ao meu lado e eu me levantei, pegando
sua mão.
— Vamos para casa — chamei
quando ela se ergueu e ficou ao meu
lado. Passei a mão por sua cintura e
apertei, fazendo Sienna me encarar.
— Ok.
Milena estava conversando com
Matteo e nos olhou de lado enquanto
colocava o cabelo loiro atrás da orelha.
— Estamos indo — avisei ao
meu irmão que acenou concentrado em
Mandy.
— Sra. Trevisan. — Milena se
aproximou e eu dei um passo colocando
Sienna para o lado.
— Não se atreva — ordenei
furioso e ela baixou os olhos. Sienna
tocou meu peito e eu a puxei para longe
dela, me inclinando. — Esse é meu
último aviso. Não fale, olhe ou fique em
torno da minha esposa.
Andei para fora e Sienna me
seguiu em silêncio. Romeo ficou para
trás então eu iria dirigir. Ajudei Sienna a
entrar no carro e ela agradeceu ao sentar
no banco.
— Ela não é uma garota da
Outfit? Ela é autorizada a ir a boates? —
Sienna questionou assim que acelerei em
direção pista.
— Ela é. Porém, foge dos pais.
— E quando ela casar? Sua
virgindade...
— Ela não dá a mínima — cortei
sua fala e Sienna parecia horrorizada.
— Na máfia, tudo que temos é a
nossa virgindade. Sem ela não somos
ninguém.
Eu não a corrigi. Era a verdade.
— Você é minha esposa. Não é
mais uma preocupação sua — falei
firme com os olhos presos no trânsito e
Sienna mordeu o lábio acenando.
Assim que passamos pelo portão
na entrada da propriedade, Sienna e eu
tiramos o cinto de segurança.
— Você ainda vai sair? — ela
questionou quando eu deixei as chaves
dentro do carro.
— Sim, mas depois — falei
puxando-a para dentro de casa. Sienna
engoliu em seco e nós andamos para o
seu quarto.
— Vai voltar para a boate? —
sua voz questionou enquanto eu descia o
zíper do seu vestido e distribuía
mordidas em seu ombro.
— Não — respondi à
contragosto. Seu vestido caiu e Sienna
se virou devagar. Meu pau pulsou vendo
seus mamilos rosados e sua calcinha
pequena também vermelha.
Segurei seu pescoço perto da
base do seu cabelo e me inclinei
beijando sua boca. A maneira que
Sienna derreteu contra mim, era a porra
do céu.
— Rocco... — ela gemeu quando
deslizei meus dedos pelas suas dobras
escorregadias.
Me afastei e ajudei Sienna a tirar
sua calcinha. Peguei ela em meus braços
e ela voltou a me beijar com um
desespero que me deixou
momentaneamente satisfeito. Andei até a
cama e depositei Sienna nela já
deslizando pela sua boceta. Não menti
quando disse que sua boceta era a mais
apertada que já entrei. O corpo de
Sienna era uma tentação e eu me via
viciado nela como um maldito
dependente de drogas. Empurrei meus
quadris gemendo ao ver seus peitos se
moverem. Apertei a carne rosada com
meus dedos e senti Sienna pulsar ao
redor.
Sienna tinha um olhar lascivo e o
corpo feito para o sexo, mas ainda era
inocente. Eu estava planejando ensiná-la
todas as coisas que poderíamos fazer
entre as quatro paredes do quarto, e até
fora dela, e ela vai amar cada uma
delas. Seus olhos azuis se fecharam e
ela mordeu meu peito quando gozou, me
fazendo seguir seu clímax.
Pela primeira vez, eu me detive
ao lado de Sienna. Ela se sentou e
descansou sua mão ao lado da minha
barriga, ficando quase sobre mim. Ela
delineou minhas tatuagens enquanto eu
tentava não dar importância para isso.
— A primeira que fiz está aqui
— falei apontando para a lateral das
minhas costelas. Era o nome dos meus
irmãos um ao lado do outro. A caligrafia
era tão pequena que ninguém a percebe
se não olhar de perto.
— São lindas. — Sienna sorriu e
me olhou sonolenta. Seu dedo
pressionou a caveira com uma plantação
de flores saindo pelos olhos,
florescendo. — O que significa?
— Que na morte há vida — falei
baixo encarando sua mão pálida
pressionada em meu peito.
— Como? — Seus olhos
brilhantes me encararam e eu respirei
fundo.
— Eu renasci no sangue do meu
pai, Sienna. Eu o matei e pela primeira
vez em toda a minha vida fodida eu me
senti vivo.
Sienna ficou em silêncio, talvez
me deixando perceber que tinha falado
algo pessoal. Coisa que eu jamais fiz.
Não me arrependi, no entanto. Era bom
ela saber do que eu era capaz.
— O que aconteceu? — ela
perguntou enquanto eu deslizava meus
dedos pela sua coxa nua. Sua pergunta
era suave, preocupada.
— Ele me queria morto. Eu o
matei primeiro.
Sienna arfou, mas não questionou
mais nada. Fiquei um tempo com ela, até
eu escutar uma vibração. Olhei para meu
celular ao lado e tentei me erguer, mas
ela não me soltou.
— Durma comigo.
Seu pedido foi feito com sono.
Suas pálpebras estavam pesadas e eu
decidi esperar ela adormecer para sair.
Puxei ela para deitar, e toquei sua
espinha com meus dedos.
— Durma.
Sienna se agarrou a mim em seu
sono. Sua coxa descansava sobre as
minhas e seu braço me abraçava
enquanto sua cabeça estava em meu
peito. Sua pele estava vermelha das
minhas mãos e eu acariciei-as ouvindo a
suave respiração de Sienna.
Meu celular vibrou novamente e
eu saí da cama sem acordá-la. Peguei o
aparelho ainda nu e atendi Romeo.
— Estou a caminho. Matteo está
com você?
— Sim, se apresse.
Meu irmão desligou e eu me
vesti, saindo do quarto. Tebow estava na
porta, deitado.
— Ela te enfeitiçou, não foi?
Essa bruxa. — Acariciei seu pelo me
agachando e ele virou, animado.
Eu me ergui e andei para as
escadas. Eu precisava me concentrar em
Leonardo, Vitor e Pedraza. Eu os
cortarei por dias se preciso, até ter mais
nomes dos traidores no papel.
Ninguém tentaria me tirar a
Outfit. Nem meu pai conseguiu, seus
capachos vão morrer tentando,
exatamente como ele.
Quando acordei na manhã
seguinte Rocco estava longe de ser
visto. Tebow estava na minha porta e me
seguiu quando desci as escadas.
Encontrei apenas Lake e Prince na
cozinha com Mama L. Ela era simpática
e eu gostei de conversar com ela até
Rocco chegar e enlouquecer.
Meu estômago esfriou lembrando
de ontem. Do seu toque, sua boca e sua
decisão de ficar. Eu não sabia se ele
tinha dormido comigo, e apostava que
não, mas eu fiquei aliviada. Não sabia
bem por que, no entanto.
Milena retornou aos meus
pensamentos por alguns segundos e eu a
afastei. Por um momento, eu quis ouvir o
que ela iria falar para mim, mas depois
que Rocco a ameaçou novamente à
vontade sumiu. Ela iria se desculpar?
Ou me dar detalhes de quando eles
estiveram juntos depois do nosso
casamento?
— Está tudo bem? — Prince
questionou a mim e eu percebi que
estava parada olhando para eles.
— Sim — respondi com um
sorriso e me sentei ao lado de Lake, que
estava à frente dele.
— Minha nova professora de
balé é linda — Lake murmurou sorrindo
e eu ergui meus olhos. — Tivemos uma
aula hoje. São on-line. Rocco e Romeo
não me deixaram ir à escola como
Matteo e Prince. — Sua voz baixou e
Prince a encarou, sério.
— Você sabe o motivo — ele
falou sucinto e eu me servi com ovos e
bacon.
— Por que eles não podem
saber? Eu...
— Porque é para sua proteção.
— Mas, papai sabia de mim... —
Ela encarou seu colo e Prince respirou
fundo.
Eu não entendia por que Lake era
tão protegida também. Ela é da máfia, da
famiglia, era questão de tempo até ela
ter suas atividades. Lake ficaria noiva.
— Sim, e ele tentou matar todos
nós. Eu lembro — Prince a cortou
furioso e Lake mordeu o lábio.
— Quando, então, Prince?
— Quando você tiver quinze e
ficar noiva. Ansiosa? — A voz de
Prince era irônica e Lake me olhou, com
as bochechas vermelhas.
— Não quero me casar — ela
murmurou para mim e eu peguei sua
mão.
— Você será feliz em seu
casamento. Seus irmãos vão garantir
isso — falei firme e Lake acenou,
suspirando.
— Você é feliz, Sienna? — ela
perguntou quando eu voltei a comer.
Encarei os olhos cinzas e os cabelos
marrons dela e pensei em sua pergunta.
Era feliz? Não, respondi em
pensamentos, porém pensei em Rocco e
ponderei. Quando ele estava em meu
quarto me tocando eu era feliz. Mas,
isso resumia felicidade?
— A felicidade vem com o
tempo e é subestimada — respondi
quando entendi que apenas sexo não era
sinônimo de felicidade.
Prince e Lake me olharam por
alguns segundos me fazendo ficar
desconfortável.
— Ele te machuca? Força você?
— Lake tinha lágrimas nos olhos quando
questionou.
— Ele nunca faria isso, Lake —
Prince respondeu por mim tão rápido e
firme que eu fiquei tensa.
— Pode falar, Sienna. Eu juro
que não vou contar...
— Lake... — Prince a encarou
como se ela o rejeitasse, pior, rejeitasse
Rocco.
— Nunca, Lake. Prince está
certo. Rocco nunca me machucou ou
forçou. Eu sou sua esposa e eu o desejo.
É tudo consentido — respondi
honestamente, porque Lake parecia
desesperada.
A irmã Trevisan mais nova
respirou aliviada e olhou para o seu
próprio colo.
— Vamos subir, Lake — Prince
pediu se erguendo e Lake fez o mesmo,
acenando e limpando seus olhos.
Fiquei sozinha completamente
confusa. Por que Lake parecia tão
desamparada? Meus olhos se
arregalaram e eu senti meu coração ser
rasgado. Não, por favor, não, implorei
fechando os olhos. A bile forçou em
minha garganta e eu me ergui vomitando
em meus próprios pés. Alguém tinha
abusado da Lake.
— Sra. Trevisan? — Mama L
apareceu diante de mim e eu limpei
minha boca endireitando meus ombros.
— A Sra. está bem?
Não. Eu estava longe de estar
bem.
— Sim. Vou limpar, não se
preocupe...
— Não. Eu faço. Vá descansar.
— Não. Eu...
— O senhor Trevisan irá ficar
com raiva se eu deixar que limpe. Por
favor, suba. — Mama L sorriu delicada
e eu acenei, ainda atônita.
Tebow, pela primeira vez não
estava comigo. Ele subiu com Lake.
Quando entrei em meu quarto eu tentei
parar de pensar, mas minha preocupação
cresceu em poucos segundos. Quem
tinha abusado de Lake? Ela era uma
criança, por Deus.
Peguei meu celular tentando
focar em algo além disso. Eu perguntaria
a Rocco depois. Isso estava me
enlouquecendo e eu precisava de
respostas. Sabia que apenas ele as daria
a mim.
"Acalmei mamãe ontem. Não
se preocupe com ela."
Li o texto de Salvatore e engoli
em seco. Queria ligar para vê-lo, mas
não faria sem a permissão de Rocco.
Balancei a cabeça para mim mesma.
Não preciso acatar tudo que Rocco
mandava, ponderei e suspirei, clicando
no ícone da câmera.
— Você está louca? — Salvatore
questionou assim que apareceu na tela.
Ele estava de terno e dentro de um lugar
com pouca claridade.
— Queria ver você. Está tudo
bem mesmo? — questionei fingindo não
notar seu tom ríspido.
— Sim, Sienna. Não ligue
novamente. Seu marido pode não querer
que você mostre a famiglia seu quarto.
Você não acha?
— Você está certo.
— Se cuide e seja maleável.
Maleável? Eu fiz careta para o
termo.

Passei dois dias sem ver Rocco,


eu não entendia o que estava
acontecendo e não quis questionar a
Prince. Lake me evitou nos dois dias e
se pudesse existir uma solidão maior
que a minha eu duvidava. Apenas Tebow
me brindou com sua presença. Ninguém
estava disposto a me aturar.
Puxei a camisola da gaveta de
dentro do closet e entrei no quarto
vestindo-a. Eu assisti a duas séries e
comecei uma terceira. Não tinha nada
para fazer na casa. Fiquei tentada a ir ao
cais, mas temi que Prince enlouquecesse
se não me achasse em casa. Me sentei na
minha cama e fiz uma trança no cabelo
enquanto pensava em quanto tempo
Rocco ficaria fora.
Ele estava bem? A pergunta
martelava na minha cabeça mais e mais
e eu não queria me sentir preocupada,
mas estava. Por que eu estava? Rocco
me tratava como um mero objeto. Eu não
deveria querer ele bem. Não deveria me
preocupar.
Me deitei sobre as cobertas e
peguei meu celular procurando alguma
mensagem dele. Seu número estava
salvo, mas eu não me atrevi a ligar. Não
queria que Rocco achasse que eu estava
tentando controlá-lo.
Forcei meus olhos a se fecharem
e dormi, imaginando que ele estaria
aqui.
Uma mão me acordou depois de
um tempo. Tentei me sentar, mas a mão
segurava minha bunda me mantendo no
lugar. Oh meu deus.
— Sou eu, passarinha. — A voz
de Rocco foi como um copo de água em
meio ao deserto.
Relaxei de volta na cama e sua
mão subiu minha camisola. Sua boca
mordeu minha nádega esquerda e eu
estremeci. Rocco continuou mordendo
minha bunda e eu senti sua língua em
cada mordida, lambendo e acariciando.
Ele segurou meus quadris e me
virou forçando meu peso em meus
joelhos. Rocco tocou minha coluna e eu
colei meus seios no colchão, ficando a
sua mercê. Seus dedos me tocaram por
cima da calcinha e eu pulei, me
arrepiando.
— Você já está molhada —
Rocco rosnou quando tocou minha
calcinha branca. Respirei fundo sentindo
seus dedos afastarem o tecido, e
entrarem dentro de mim, lentamente. —
Porra.
Rocco puxou minha calcinha
para baixo, esticando o tecido frágil
entre as minhas coxas. Quando o senti
me preencher eu mordi o meu lençol
para não gritar. Rocco empurrou seus
quadris a cada vez mais forte e eu soltei
o pano para gritar seu nome. Meu corpo
tremia do orgasmo enquanto ele
continuava me fodendo, agora lento e
agoniante.
Meu corpo se acendeu
novamente e Rocco me deu um tapa na
bunda, fazendo eu tremer. Oh meu Deus.
A queimação enviou um arrepio até meu
clitóris. Rocco parecia desesperado por
meu prazer e a cada vez que quebrei
entregando-o, ele exigiu mais um.
Quando ele gozou eu caí, exausta e
sensível.
— Não faz um mês que tirei sua
virgindade e você já é uma deusa do
sexo — Rocco murmurou contra minhas
costas e eu sorri. Eu queria dar-lhe
prazer como ele fazia comigo.
— Você me toca em lugares que
fazem isso.
Ele me virou e eu suspirei
sentindo sua boca em meu colo. Rocco
puxou minha camisola e terminou de
tirar minha calcinha. Eu suspirei,
ansiosa, mas ele apenas lambeu meus
mamilos.
— Senti sua falta — falei em um
sussurro enquanto Rocco se afastou,
deitando e me puxando para si.
— Eu sei. — Ele riu e eu
agradeci pela escuridão, estava
envergonhada pela confissão.
— Você chegou agora? —
questionei depois de um longo tempo em
silêncio.
— Sim. Você se comportou? —
Rocco me encarou e a luz da lua que
batia no chão do quarto pela janela,
iluminou em seu rosto.
— Eu sempre faço.
— Nem sempre.
Eu sorri e descansei minha
bochecha em seu peito. As tatuagens
cobriam a maior parte da sua pele e as
cicatrizes de ferimentos eram finas, pude
perceber ao passar meus dedos.
— Arrume suas coisas — Rocco
falou e eu o encarei, confusa. — Você
vai para a minha ala.
A euforia em meu peito me
deixou triste. Rocco me dava tão pouco
e eu achava que era muito. Meu coração
e corpo ficavam contentes pelas suas
migalhas. Era doloroso admitir.
— Tudo bem — falei firme e
bocejei. — Você vai dormir comigo?
— Durma, passarinha.
Sua voz e seus dedos em minha
coluna me acalmaram até que eu
adormeci.

Mais uma vez, Rocco não estava


comigo quando acordei. Pela manhã ele
não estava em lugar nenhum e o café da
manhã eu fiz sozinha. Lake não desceu,
Matteo estava com Rocco, Romeo,
contrariando tudo, em sua casa, e Prince
eu não fazia ideia. À tarde, eu me sentei
sozinha na cozinha para almoçar.
— A senhora melhorou? —
Mama L estava pronta para ir embora
quando a vi.
— Sim, obrigada. — Sorri,
querendo que ela não se preocupasse e
ouvi passos. O corpo de Mama L ficou
rígido e eu sabia que era Rocco.
— Melhorou de quê? — ele
questionou enquanto Mama saía. Rocco
se sentou na ponta da mesa, ao meu lado
e eu engoli em seco.
— Lake me fez algumas
perguntas — comecei erguendo meu
rosto para olhar o seu —, ela parecia
assustada e eu cheguei a pensar que...
— O que ela te perguntou? —
Rocco semicerrou os olhos e a
desconfiança nas suas irises azuis me fez
ficar triste. Até quando?
— Se você me machucava, se me
forçava — falei de uma vez e Rocco
respirou fundo levando o punho cerrado
a boca. — Eu falei a verdade, que
jamais fez isso. Ela estava assustada e
isso me levou a imaginar que alguém a
violou.
— Sua imaginação está certa —
ele falou firme e eu segurei minha
barriga, me sentindo doente mais uma
vez. — Ele está morto, no entanto. Eu o
fiz pagar.
Olhei para a comida tocada
poucas vezes e afastei o prato. Eu não
podia.
— Posso falar com ela —
indiquei, mas Rocco negou.
— Ela não desejaria que você
soubesse. Lake tem vergonha de algo
que não é culpa dela. Ela faz terapia,
tem psicólogos. Mas, isso é mais forte.
Leva tempo.
Eu não o respondi, porque eu
não conseguia. Rocco bebeu a água
posta e devagar seus irmãos chegaram.
Quando todos estavam sentados, eu não
conseguia olhar para a boneca de
cabelos castanhos que eu já era
apaixonada. Eu não poderia encará-la,
sem chorar. Lake não merecia ou queria
minha pena.
— Você vai para as corridas no
Navy Pier? — Rocco perguntou a
Matteo cortando o silêncio.
— Sim.
— Eu também vou — Prince
avisou e eu peguei minha taça de água
levando-a aos meus lábios secos.
— Preciso de roupas novas —
Lake falou e eu deixei meus olhos
vagarem até ela. Tão linda, tão perfeita.
Eu queria matar quem ousou tocar nela.
— Sienna pode ir comigo a alguma loja?
— Não — os três homens
falaram firmemente e eu vi Lake acenar,
cabisbaixa.
— Podemos comprar no
aplicativo. Eles deixam na nossa casa
com pouco tempo. É tão divertido
quanto ir à loja — falei rapidamente e
ela me encarou, com os olhos brilhantes.
— Pode ser?
— Claro. Podemos subir depois
do almoço?
— Sim.
Prince me olhou agradecido
enquanto o restante só me encarou por
alguns segundos. Tirei a mesa com
Prince enquanto Rocco ficou parado nos
encarando. Eu estava cansada dos seus
olhares. Coloquei tudo na máquina de
lavar-louças e me virei vendo-o ainda
parado. Prince já tinha sumido.
— Você gosta dela — Rocco
murmurou firme e eu acenei,
confirmando.
— Ela é muito legal — eu falei
dando de ombros e Rocco andou até
mim em passos lentos e metódicos. Ele
parecia um leão enjaulando sua presa,
pronto para devorá-la.
— Se você a magoar eu farei
você sentir a mesma dor — Rocco
terminou sua ameaça enquanto eu sentia
meu coração batendo contra minhas
costelas. Ele franziu a testa e recuou. —
Ela não precisa de mais pessoas
magoando-a. Os quatro irmãos dela
fazem o bastante. Lembre-se disso.
Rocco saiu da cozinha e eu
fiquei parada encarando a parede clara.
A cada vez que eu achava que Rocco e
eu tínhamos atingido algo, eu era
empurrada para longe mais uma vez.
Eu precisava me acostumar, no
entanto.
Observei Sienna parada em
frente à sua janela. Ela e Lake passaram
a tarde juntas e por mais que eu quisesse
empurrar minha preocupação, era de
Lake que estávamos falando. Eu nunca
baixaria minha guarda com a minha
irmã.
— Ele continua vivo — Romeo
chegou silencioso e murmurou baixo.
Não conseguia acreditar.
— Que porra é essa? Ele é o
que, imortal? — questionei me afastando
do corredor, falando baixo.
Romeo me seguiu até nossa
academia e eu peguei o saco de areia.
— Ele continua lá, respirando.
Não sei. Você quer que eu enfie uma
bala na cabeça dele? Assim, ele vai
morrer, obviamente — meu irmão
propôs sentando em um sofá.
— Não. Deixe-o. Não volte na
cela dele.
Pensei sobre Giulio quase morto
naquela cela, mas ainda respirando. Ele
não me servia. Era um rato nojento da
Cosa Nostra, mas algo na força que ele
tinha de sobreviver a tortura, me deixou
intrigado.
— Você treinou Matteo? —
questionei ao meu irmão e ele acenou
segurando o celular.
— Sim, aquele merdinha está
mais rápido. — Romeo ergueu a camisa
e eu sorri ao ver que sua costela estava
irritada.
— Prince precisa começar a
treinar mais. Leve-o para o ginásio dos
soldados. Mande-o lutar com eles.
Romeo ficou calado e isso era
uma das atitudes dele que mais me
irritava. Meu irmão era completamente
sério desde criança. Sempre observando
e nunca falando.
— Não vão machucá-lo de
verdade — Romeo falou rápido,
franzindo a testa.
— Mate o primeiro que não lutar
de verdade — falei sério e Romeo me
encarou ainda em silêncio. — O que foi,
porra?
— Prince não está pronto.
— O caralho que não. Ele já é
um homem feito. Eu vou fazê-lo ser a
porra de um capo e isso não será
discutido. Matei Pedraza ontem, quem
você acha que vai ficar lá? O filho dele?
Nem fodendo — rugi encarando-o e
soquei o saco com mais força.
— Você vai entregar uma cidade
a Prince? Isso é sério?
— Obvio que não. Mas,
precisamos de homens de confiança.
Não vou arriscar tentarem nos matar de
novo — falei perdendo o resto de
paciência e Romeo se ergueu acenando.
— Vou levar ele amanhã. Vou
pedir pizzas.
— Ok.
— Pergunte sua esposa qual ela
gosta — Romeo pediu e eu me afastei do
saco respirando fundo. Peguei meu
celular e abri o número de Sienna nas
mensagens. Nenhuma trocada.
"Quer pizza? Qual sabor?
Romeo vai pedir algumas."
Esperei sua resposta e depois de
alguns segundos apareceu.
Muçarela.
— Muçarela — avisei ao meu
irmão e ele saiu sem outra palavra.
Joguei o celular na mesa e voltei
a socar. Só parei quando ouvi alguém na
porta. Lake apareceu com um sorriso
tenso e eu acenei, lhe dando permissão
para entrar.
Por alguns segundos, quando
Sienna me contou a pergunta que Lake a
fez, eu me senti mal. Lake achava que eu
era capaz de estuprar alguém. Porém,
pensando, eu entendi. Eu era um monstro
aos seus olhos. Mesmo que eu nunca
tivesse desejado ser. Não para ela.
— Queria me desculpar — Lake
murmurou se aproximando e eu ergui
minhas sobrancelhas. — Você e os
meninos são as únicas pessoas que peço
desculpas — ela se apressou em
explicar, sabendo que eu odiava quando
fazia isso, e eu suspirei. — Sei que
Prince deve ter dito sobre minhas
perguntas, mas eu não acho isso, tá?
— Lake.
— Não, Rocco, por favor. —
Ela piscou e a umidade em seus olhos
me fez desviar o olhar por alguns
segundos. — Foi uma pergunta estúpida.
Você me salvou e sei que jamais faria
algo assim com Sienna. Foi só meu
medo que falou mais alto.
— Eu não sou uma pessoa boa,
Lake. Você pode se questionar sobre
meus atos.
— Você nos manteve e continua
nos mantendo protegidos. Não julgo as
escolhas que faz pensando em nos
manter bem. Eu nunca poderia, Rocco.
— Lake limpou o rosto e eu me
aproximei apertando meu dedão abaixo
dos seus olhos, enxugando sua pele.
— Ele sofreu, Lake.
— Eu sei e isso é tudo que me
fortalece.
Lake me abraçou e eu deixei.
Nós nos separamos e saímos da
academia juntos. Fui para meu quarto
tomar banho e Lake para o seu. Quando
entrei vi a sala pequena com TV e o
corredor que levava aos quartos. Eu
tinha que pegar as coisas de Sienna e
trazer para cá.
Eu não queria movê-la, era
melhor que estivéssemos longe, mas
depois que Matteo me avisou que ouviu
Sienna em uma das noites em que
fizemos sexo, isso se tornou sólido. Os
gemidos e gritos dela eram meus, não do
fodido idiota do meu irmão.
Depois de limpo eu desci para o
andar dele e abri a porta de Sienna. Ela
estava sentada na janela, olhando a lua.
Seu rosto se virou para mim e eu me
apoiei no portal.
— As pizzas chegaram — avisei
vendo-a descer e calçar os chinelos.
Sienna andou até mim e acenou.
— Vamos.
Eu a deixei passar e a
acompanhei até a parte inferior da casa
olhando sua bunda pelo jeans que vestia.
Desviei meus olhos tentando acalmar a
porra do meu pau. Sienna parou quando
viu todos sentados na sala de jogos e eu
empurrei seu quadril. Me sentei no sofá
e a puxei. Romeo e Matteo estavam com
cervejas e eu peguei uma para mim.
— Você quer? — questionei a
Sienna e ela acenou. Observei ela beber
e seu rosto se contorceu fazendo Matteo,
Prince e Lake rirem.
— É horrível.
— Você nunca tinha tomado? —
Matteo perguntou rindo e Sienna
balançou a cabeça, negando.
— Coma. — Dei um pedaço de
pizza a ela que tomou das minhas mãos
agradecendo.
Olhei para a TV e fixei minha
atenção na luta que passava. Matteo e
Prince começaram a falar sobre a
corrida do cais e eu esqueci os dois.
Sienna comeu dois pedaços da sua pizza
e os meninos terminaram o resto.
— Vou subir. Boa noite! — Lake
avisou se erguendo e andou para a sala.
Seus passos pararam e eu franzi o cenho.
— Lake? — chamei afastando a
caixa de pizza e me erguendo. Andei até
a porta enquanto meus irmãos e Sienna
me observavam.
Lake estava paralisada no meio
da sala. Anthony olhou de Lake para
mim e franziu as sobrancelhas.
— Ela é a...
— Cale-se. Lake, suba, agora!
— gritei andando até ele e ouvi os
passos rápidos da minha irmã depois de
segundos. Puxei Anthony pelo colarinho
e o empurrei contra a parede. — O que
você está fazendo dentro da minha casa?
— questionei sentindo meu coração
bater em meus ouvidos.
— Rocco. — Ele arregalou os
olhos, suando e eu empurrei meu punho
em seu rosto.
— Fale.
— Dimitri estava à procura de
Romeo. Eu tentei ligar para todos, mas
não estava dando certo — ele explicou
firme e eu o soltei, pensando,
ponderando se eu o mataria ou não.
Ele sabe de Lake. Sabe quem ela
é.
— Rocco. — Romeo se
aproximou tocando em mim e eu me
afastei.
— Leve-o para o porão.
— Rocco, não precisamos
chegar a isso — Anthony ecoou em
pânico e eu encarei meu irmão.
— É uma ordem do seu capo,
Romeo — falei apertando meus olhos.
Romeo era amigo de Anthony, e eu
entendia até certo ponto seu modo de
agir, mas sua lealdade era a mim. A
Lake.
— Vamos. — Romeo passou por
mim e arrastou Anthony que já estava
tremendo para a cozinha.
Me virei vendo Matteo, Sienna e
Prince.
— Vá para o quarto — falei a
Sienna e ela acenou, ainda de olhos
arregalados. — Vocês dois, desçam para
o porão. — Matteo seguiu minha ordem
rapidamente, mas Prince ficou parado.
— Você vai matá-lo. Você.
— Rocco...
— Não é a primeira vez, Prince!
— Foi minha iniciação, eu tinha
que matar. — Ele franziu a testa e eu
apertei meu punho, pronto para socá-lo,
mas o cabelo loiro passou pela minha
frente e Sienna tocou meu peito entre
meu irmão e eu.
— Nunca mais faça isso — falei
me inclinando e Sienna engoliu em seco
tremendo. — Prince, porão agora.
Ele sumiu e Sienna se afastou.
Eu apertei minha mão e encurralei ela
contra a parede.
— Eu não quis...
— Você quis. Não faça isso
novamente. Você não pode me deter,
Sienna.
Deixei Sienna sozinha e segui
meus irmãos.
Anthony começou a jurar que não
diria nada sobre Lake a ninguém assim
que me viu, mas eu não confiava em
ninguém além dos meus irmãos. Sienna
era minha esposa, eu era quase obrigado
a reconsiderar, porém, ainda, tinha
precaução na sua frente.
— Você é um soldado leal,
Anthony. Mas a segurança de Lake é
mais importante — disse andando pelo
porão a prova de sons. Ninguém nos viu
trazendo Anthony aqui e isso era o mais
importante. Eu devia lealdade a Outfit,
mas meus irmãos estavam acima dela.
Eu andei para fora da porta e
fechei, encontrando meus irmãos.
Romeo estava andando enquanto Prince
parecia a um passo de vomitar.
— Você não precisa fazer isso.
Anthony é leal e depois disso, ele vai
morrer antes de falar sobre Lake.
— E em uma tortura? —
questionei furioso a Romeo. — Você
acha que ele não falaria?
— Não vamos arriscar a vida
dela — Prince falou, me surpreendendo.
Não era ele que estava se cagando para
não matar o filho da puta?
— Temos poucas pessoas para
confiar dentro da Outfit. Sabemos disso,
Rocco. Anthony cresceu conosco, é leal
a você e a mim — Romeo tentou de
novo e eu respirei fundo. Porra do
caralho. Ele estava certo.
— É sua responsabilidade. Se
algo acontecer a Lake, eu vou matar
você — jurei olhando dentro dos seus
olhos cinzas e ele acenou.
— Rocco — Prince rosnou e eu
o encarei. — Não faça isso. Eu o
matarei.
— Prince — Romeo advertiu
tenso e eu continuei olhando para o meu
irmão mais novo.
Ele e Lake eram unha e carne, se
tinha alguém que dava a vida por Lake,
era Prince. Por isso ele era o único que
a protegia. Eu confiava nele com a
segurança dela.
— Eu o matarei. Não vou deixar
a levarem. Nunca.
Eu acenei e abri a porta. Romeo
balançou a cabeça, mas eu o ignorei.
Essa era a primeira vez que Prince
falava abertamente sobre matar alguém.
Eu moldaria meu irmão. Eu perderia um
soldado hoje, mas outro estava
nascendo.

Encontrei Sienna em seu quarto,


sentada na janela, horas depois. O
cabelo dela estava solto e ela estava
abraçando as coxas com a atenção fixa
lá fora.
— Você admira tanto a
paisagem. O que te encanta nessa
imensidão de árvores? — questionei
entrando e ela suspirou olhando por
cima do ombro para mim.
— A liberdade.
Sua resposta me fez parar contra
seu corpo. Ela inclinou a cabeça e me
encarou mordendo o lábio.
— Você nunca vai ser livre,
passarinha — falei tirando seu cabelo
da frente do seu rosto e empurrando-o
para trás do seu ombro.
— Eu não falei que a queria. Ela
apenas me fascina — Sienna respondeu
firme enquanto eu toquei seu queixo. —
Você o matou?
— Quem? — questionei olhando
sua íris azul.
— O homem que estava aqui,
que viu Lake — ela explicou
estremecendo quando deslizei meus
dedos pelo seu pescoço.
— Você já arrumou suas coisas?
— perguntei, mudando de assunto e
Sienna engoliu em seco, acenando. —
Então vamos.
Sienna me mostrou suas malas e
eu as peguei. Ela abraçou algumas
bolsas pequenas e ainda ficaram duas
caixas no chão do quarto. Amanhã eu as
pegaria. Quando chegamos em meu
andar, deixei suas coisas na entrada
vendo Sienna olhar para cada canto do
lugar.
— Onde vou ficar?
Eu andei para o corredor e abri a
segunda porta. Sienna entrou e engoliu
em seco, virando para me olhar.
— Não é o seu quarto — ela
murmurou o óbvio e eu fiquei parado
sem responder. — Somos casados.
— Não gosto de dormir com
companhia. Não é pessoal.
Mesmo com minha explicação,
Sienna parecia chateada. Eu saí do
quarto não querendo esse drama e
busquei suas coisas. Deixei-as no closet
e desci para o andar de Matteo tentando
evitar falar com Sienna novamente.
Peguei suas caixas e voltei para o meu
andar.
Quando a encontrei, Sienna
estava dentro do closet arrumando suas
coisas. Deixei suas caixas perto e ela
agradeceu sem me encarar.
— Você vai arrumar isso tudo a
essa hora? — questionei encostado na
porta.
— Sim — respondeu sem me
olhar.
— Por que quer dormir comigo,
Sienna? — perguntei, curioso, e Sienna
se virou segurando o vestido que usou
no dia em que fomos a boate.
— Porque você é meu marido.
Eu quero pelo menos, um pouco de
normalidade, mas se você não me quer
na sua cama, eu não vou mais tocar
nesse assunto — falou, apertando o
tecido e eu respirei fundo.
— Você ouviu o que falei? Não
gosto de dormir com ninguém. É isso.
— Ok. É isso.
— Você está testando minha
paciência, Sienna — avisei apertando
meus olhos e ela ergueu o queixo,
atrevida.
— E você, me irritando. Vá para
o seu quarto. Eu preciso terminar isso.
— Ela se curvou para abrir a caixa entre
nós e eu me aproximei, puxando sua
cintura, prendendo-a contra mim.
— É a primeira vez que vejo um
passarinho irritado.
Eu quis sorrir diante da sua
careta, ainda mais furiosa.
Eu apertei os olhos, tentando não
derreter diante de Rocco. Seu sorriso
me arruinava. Eu queria ser mais forte,
porém a cada dia em nosso casamento,
eu me via mais envolvida. Eu sabia que
acabaria apaixonada. Porém, como eu
poderia me apaixonar por alguém que
era chamado de demônio? O que isso
dizia sobre mim?
Rocco não era um homem que se
deixava ser ignorado. Sua brincadeira
agora era um exemplo disso. Ele estava
irritado com minha discussão sobre
dormimos juntos. Eu não tocaria mais no
assunto. Eu estava sendo ridícula.
— Me deixe terminar de arrumar
minhas coisas — pedi, tentando me
afastar e Rocco se inclinou beijando
meu pescoço.
— Como você quiser,
passarinha. — Ele se afastou e saiu do
quarto, me deixando envolta de solidão.
Estávamos bem, ou quase isso,
mas depois de Lake ele se afastou
novamente. Quando entrei na sua frente,
defendendo Prince, eu vi o desejo cru
em seus olhos. Ele queria me punir. Eu
estremeci pensando nisso.
Nosso casamento se resumia a
dever e desejo. Sempre que estávamos
juntos era por algum compromisso ou
porque nossos corpos pediam um pelo
outro. Nada mais.
Eu voltei para minha caixa e
continuei meu trabalho tentando manter
Rocco fora da minha mente.

Fazia uma semana que eu não via


Rocco. Eu o escutava no andar fechando
e abrindo sua porta tarde da noite, mas
ele não voltou ao meu quarto. Os
almoços eu fazia apenas com Lake.
Matteo e Prince também sumiram. Eu
estranhei, pois eles não costumavam
deixar Lake sozinha comigo, mas nos
últimos dias foi tudo que fizeram.
— Ficou perfeito — murmurei
quando Lake saiu do closet vestindo uma
das roupas que escolhemos dias atrás.
— Eu amei também. Achei que
ficariam feios, mas não. São lindos. —
Ela passou a mão no tecido caro e eu
sorri, ela parecia uma princesa.
— Você está linda — elogiei me
erguendo e arrumei as mangas do
vestido.
— Prince falou que eles vão me
apresentar a sociedade quando eu fizer
quinze, no próximo mês. — Seus olhos
se fixaram nos meus e Lake suspirou. —
Você acha que alguém vai me fazer mal?
— Não! Nunca. Eles teriam que
passar por cima dos seus irmãos e de
mim. Ninguém jamais vai machucá-la
novamente. — Minha voz saiu firme e
Lake sorriu acenando rápido.
— Eu estou feliz que uma das
esposas dos meus irmãos possa ficar
comigo. — Lake apertou minhas mãos e
eu franzi o cenho. Esposas?
— Como assim? — questionei,
confusa. — Quem tem esposa?
— Hum, Romeo é casado há
alguns anos. — Lake parecia incerta
sobre falar e eu arregalei os meus olhos.
O quê?
— Mas, como assim? Eu nunca a
vi e ele fica mais aqui do que em casa...
— Eu estava além de surpresa, eu estava
chocada. Por que Romeo não deixava a
esposa aqui? Não a trazia quando vinha
a mansão?
— Ela não é autorizada a me ver.
Eles a mantêm longe por minha causa.
— Ela engoliu em seco e sentou na
cama, passando a mão pela borda
rendada do vestido. — Eu nunca a vi,
mas sei que é linda. Tão linda quanto
você.
Eu olhei ao redor, com os olhos
arregalados e tentei respirar. Ela ficava
sozinha? Com quem ela almoçava,
jantava, se Romeo quase sempre estava
aqui? Eu senti pena dela e eu nem a
conhecia. Eu queria, no entanto.
— Mas se eles vão te apresentar,
ela poderá vir, certo? O Natal está
chegando — eu supliquei, e Lake me
encarou surpresa. Um nó se formou em
minha garganta. Eles não passavam o
Natal juntos?
— Por mim ela estaria aqui. Ela
moraria conosco. Mas, Romeo... —
Lake parou de falar quando abriram a
porta e Prince apareceu. Ele estava
suado, com cortes na sobrancelha e
lábio. O sangue estava escorrendo em
seu rosto.
— Você está bem? — perguntei
correndo em sua direção e ele franziu a
testa, gemendo ao tocar no ferimento. —
Senta — pedi tocando em seu braços
indicando a cama. Corri para o banheiro
de Lake. Eu sabia que tinha kit médico
em todos os banheiros. Esse não era
diferente.
— Não precisa, Sienna —
Prince murmurou assim que retornei. Eu
o ignorei e o puxei para a cama. Ele
sentou ao lado da irmã e eu limpei seus
ferimentos enquanto ele me observava.
— Obrigado.
— De nada. — Eu sorri ao
terminar e lembrei de Lake. Ela sorriu
para mim, tão feliz que fiquei surpresa.
Ela parecia grata por eu ter cuidado do
seu irmão. Isso não era nada demais.
— Só vim ver como estavam.
Vou descer — Prince disse se erguendo
e desapareceu ao fechar a porta
parecendo confuso.
Me sentei ao lado de Lake e a
encarei segurando sua mão.
— Precisamos trazer a esposa de
Romeo para perto da gente. Ela deve
ficar muito solitária — falei firme e
Lake suspirou, acenando.
— Eu estava com medo de ser
apresentada, mas agora que você falou,
eu percebi que é verdade. Eu não
precisarei mais ficar escondida do
mundo e ela poderá ficar comigo. Estou
muito feliz, Sienna. Tenho um motivo e
serei forte — Lake disse me
surpreendendo e me fazendo abraçá-la.
— Estou tão orgulhosa de você,
Lake. Você é um anjo — disse
suavemente e beijei seu rosto. Lake me
abraçou de volta e respirou fundo. —
Qual o nome dela?
— Lunna.
Lunna. Eu sorri testando o nome
em minha boca. Eu estava ansiosa para
conhecê-la.

Mais uma semana passou e eu


estava convicta de que precisava
conhecer Lunna. Rocco continuou com a
dinâmica de sair cedo e chegar tarde, e
por mais que eu quisesse algumas
explicações, eu não o procurei. Por que
ele não estava mais vindo me ver? Ele
tinha voltado a ficar com Milena?
A última questão me fez
encolher. Pedi aos céus para que não
fosse o caso. Eu não queria que Rocco
ficasse com outras mulheres. Eu não o
amava, mas queria que ele fosse leal a
mim como eu sempre seria a ele.
Andei mais rápido, fingindo
correr. Ninguém prestou atenção em mim
e quando cheguei a casa tão grande
quanto a que eu morava eu suspirei.
Lake disse que Romeo e sua esposa
moravam aqui, perto da gente. Isso me
fez ficar mais aliviada. Seria mais fácil
chegar a Lunna com ela por perto.
Acordei cedo e esperei Rocco
sair, quando ouvi a porta fechando, me
vesti como se fosse fazer uma
caminhada e sai em direção a casa. Era
longe da nossa, alguns quilômetros
cheios de árvores e jardins. A paisagem
era linda e me tirou o fôlego.
Um carrinho de golfe, igual ao
que Rocco usou para me levar até a
mansão, no dia em que cheguei a
Chicago, estava parado em frente à casa
e eu me escondi na paisagem. Não
tinham soldados por perto e eu estranhei
isso. Se Romeo não ficava com ela,
quem ficava?
Quando vi Romeo sair da casa
sozinho eu engoli em seco. Ele entrou no
carrinho e dirigiu, passando por mim,
em direção a mansão. Eu saí do
esconderijo e andei até a porta da frente.
Hesitei a tocar a campainha, porém
pressionei o botão e olhei para os lados,
nervosa. Se Rocco me pegar aqui, eu
nem sei do que ele seria capaz.
Quando a porta foi aberta o eu
dei um passo para trás ao ver uma
mulher do meu tamanho me encarando
com os olhos arregalados. Eu fiquei
surpresa com sua beleza tanto quanto ela
parecia estar comigo.
— Sienna? — Lunna murmurou
olhando para os lados e eu engoli em
seco. Ela puxou meu braço e me fez
entrar na casa rápido. — O que você...
Romeo...
— Você sabe meu nome —
murmurei piscando para ver ela. O
cabelo de Lunna era longo, preto e seus
olhos azuis. Sua pele era tão branca
quanto a minha.
— Sim. Você é a esposa de
Rocco.
— E você de Romeo — afirmei
suavemente e ela acenou, tensa. — Você
está bem? Com quem fica?
— Você está preocupada
comigo? — Lunna parecia confusa e
isso me fez relaxar. Ela sorriu e seus
ombros tensos se soltaram. — Eu estou
bem e você?
— Eu também — sussurrei e
mordi meu lábio.
— Por que está aqui? — Ela
olhou para a porta, parecendo
preocupada e eu me questionei de quem
ela tinha tanto medo. Era de Romeo?
— Queria muito conhecer você
— confessei, baixo e Lunna sorriu se
aproximando. Ela pegou em minhas
mãos e me puxou para sua sala. Ela era
tão grande quanto a minha. Era linda,
delicada. Nós nos sentamos e Lunna
tocou seu vestido longo, preto como seu
cabelo.
— Eu também queria conhecer
você. Romeo nunca me deixou ir à casa
dos irmãos, então eu nem pedi. — Lunna
soava triste e seus olhos baixaram para
seu colo.
— Eu vim sem permissão —
revelei, envergonhada, e Lunna me olhou
com os olhos arregalados e a boca
aberta.
— Mas, e Rocco? Você precisa
ir. Ele vai ficar furioso. — Ela se ergueu
rapidamente e pegou minha mão
segurando com força. — Não contarei a
ninguém que veio. Não se preocupe.
— Está tudo bem. Rocco saiu...
— Romeo vai voltar logo. Não
quero que entre em encrenca por minha
causa — Lunna pediu me puxando e eu
me ergui, sabendo que Lunna estava
certa. — Eu gostei de conhecê-la. Você
é muito linda.
— Você é mais. — Sorri, com as
bochechas pegando fogo e Lunna piscou
afastando as lágrimas que brilhavam em
seus olhos. — Você tem algum celular?
Podemos trocar mensagens — indiquei
pegando o meu celular. Lunna me deu
seu número e eu adicionei rapidamente.
Ele começou a vibrar e eu
suspirei. Era mensagem de Salvatore.
"Mamãe quer ver você. Pode
marcar um horário para ligar? Fale
com seu marido antes."
— É meu irmão — expliquei a
Lunna que parecia curiosa. — Você fica
sozinha? — questionei ansiosa e ela
acenou, suspirando.
— Não preciso de seguranças,
se não saio de casa. — Ela sorriu, sem
graça e eu respirei fundo.
— Logo poderemos sair juntas
— falei lambendo meus lábios e Lunna
desviou os olhos de mim.
— Romeo não deixaria, mas
tudo bem. Eu posso pedir a ele e você, a
Rocco. Juntas talvez, eles deixem —
Lunna murmurou, mas suas palavras não
convenceram nem ela mesma.
— Sim... — Eu parei de falar
quando ouvi vozes do lado de fora.
— Oh meu Deus. Se esconda —
ela pediu me empurrando em um lugar
vazio ao lado do armário. Lunna se
afastou e se virou no segundo em que a
porta foi aberta. Fechei meus olhos
firme, porém não consegui por muito
tempo.
— Onde Sienna está? — Romeo
foi o único a falar. Sua voz era baixa,
porém firme. Eu conseguia ver Lunna de
onde eu estava e ela ficou com os olhos
presos a janela, sem o responder. —
Lunna.
— Do que está falando? —
Lunna perguntou, mas a tremulação na
sua voz foi o indício da sua mentira.
— Lunna, Rocco está vindo —
Romeo avisou e eu vi Lunna erguer a
cabeça para encará-lo. — Não minta
para mim.
— Ou? — Lunna apertou as
mãos juntas e meu corpo ficou rígido.
Oh senhor.
— Ela fez algo a você? —
Romeo questionou se aproximando e ele
entrou em minha linha de visão. — Eu
vou matá-la, se fez — meu cunhado
jurou furioso e eu arregalei os olhos.
— Pare... oh meu! — Lunna
estremeceu quando a porta foi aberta e
um barulho forte soou. Parecia madeira
batendo na parede. A porta.
— Olá, Lunna. Quanto tempo. —
A voz de Rocco soou controlada demais
e eu sabia que ele estava furioso. —
Onde está Sienna? Lembre-se de que eu
sou seu capo, você me deve lealdade e a
verdade.
Eu estremeci, fechando meus
olhos.
— Ela não está aqui — Lunna
mentiu para ele, cumprindo sua
promessa a mim e eu vi Romeo ficar na
frente dela, a encarando.
— Você vai ser castigada se não
falar onde ela está. Nós sabemos que
Sienna está aqui. Nós a rastreamos
assim que Prince percebeu que ela não
estava em casa. Não minta para nós,
Lunna! — Romeo gritou perdendo a
paciência e eu dei um passo para fora do
meu esconderijo.
Rocco me viu primeiro e ele
semicerrou os olhos furiosos. Os ossos
do meu corpo tremeram de medo.
Percebi, encarando seus olhos, que hoje
seria o dia em que eu conheceria a fúria
de Rocco.
HORAS ANTES...
— Eu espero que seja
importante, porra — falei assim que
peguei o celular. Minhas mãos estavam
vermelhas, manchadas com o sangue de
Costa. Era um dia importante. Costa era
o homem por trás da rebelião assim que
fiquei à frente da Outfit. Dias atrás
peguei mais dois soldados traidores e
ambos disseram onde Costa estava. Eu
estava com ele há dias, machucando-o,
tirando sangue.
— Sienna sumiu — Prince falou
firme e eu joguei a toalha que estava em
meu ombro no chão.
— Sumiu como? — eu vociferei
para meu irmão e comecei a andar. Não,
a correr. — Explique essa merda a mim,
Prince!
— Lake pediu para ir ao andar
de vocês e eu fui acompanhá-la. Sienna
não está em lugar nenhum. Já procurei
em toda a porra da propriedade — meu
irmão explicou tenso e eu conectei a
chamada ao carro assim que entrei.
— Chame Romeo.
— Ele já está aqui — Prince
avisou enquanto eu deslizava pela pista
em alta velocidade e mexia em meu
celular. Coloquei no aplicativo de
rastreio e semicerrei os olhos. Que
porra é essa?
— Ela está na casa de Romeo.
Mande-o até lá — eu lati alto e pisei no
acelerador.
Quando os portões da minha
casa se abriram, eu passei direto para a
casa de Romeo, no fundo da
propriedade. Desci do carro com os
músculos tensos e com a raiva fervendo.
Quem Sienna achava que era? Sair
escondida de mim, vir a casa de
Romeo... porra, Lunna.
Desci do carro correndo e
soquei a porta fazendo a madeira
sacudir contra a parede. Eu vi meu
irmão com sua esposa e me aproximei,
pronto para matar todos que ficassem em
meu caminho.
— Olá, Lunna. Quanto tempo —
saudei a minha cunhada que estava
olhando para seus pés. Romeo estava
perto dela, a protegendo. — Onde está
Sienna? Lembre-se que eu sou seu capo,
você me deve lealdade e a verdade —
gritei, pouco me importando se Romeo
queria ir devagar com ela.
Lunna não era nada para mim.
Exatamente como Sienna. Eu podia
matar ambas.
— Ela não está aqui — Lunna
mentiu na minha cara e Romeo se
moveu, a encarando.
— Você vai ser castigada se não
falar onde ela está. Nós sabemos que
Sienna está aqui. Nós a rastreamos
assim que Prince percebeu que ela não
estava em casa. Não minta para nós,
Lunna! — Romeo gritou completamente
fora de si e minha atenção foi puxada
para a direção de um dos armários.
Assim que o cabelo loiro da
minha esposa impertinente apareceu eu a
encarei dos pés à cabeça. Sua roupa de
ginástica era apertada e suas curvas
estavam tão aparentes quanto quando ela
ficava nua. Sienna encarou seus pés
depois que me olhou nos olhos.
— Ande. — Minha voz fez as
mulheres pularem e Romeo encarar sua
esposa, que mentiu para nós dois. —
Lunna, da próxima vez que mentir para
mim, eu vou matá-la.
Sienna andou para fora e eu saí
da casa do meu irmão. Romeo ficou lá e
eu não desejei estar no mesmo lugar que
ele. Lunna se arrependeria de manter
Sienna.
— Rocco... — Sienna começou a
falar, mas eu a prendi contra o meu carro
segurando seu rosto, apertando sem
conseguir controlar minha raiva ou o
peso dos meus movimentos.
— Cale a boca. Quem você acha
que é, Sienna? — questionei furioso.
Sienna estremeceu, me encarando e me
aproximei tocando meu nariz no seu. —
Você é nada. Porra nenhuma e na
próxima vez em que você sair de casa
sem a minha permissão, eu vou matá-la.
Sem remorso nenhum e enviarei sua
cabeça de volta para sua família.
As lágrimas que se reuniram em
seus olhos poderiam ter me feito recuar,
mas não fizeram. Sienna colocou um
medo em mim que não senti desde Lake.
Eu não vou recuar quando o assunto for
a segurança dela. Nunca.
Mesmo que eu não possa
cumprir minha ameaça.
Assim que chegamos em casa eu
a fiz subir para o seu quarto. Sienna se
empoleirou na janela, que agora ficava
de frente para o cais, e ficou sem me
olhar. As poucas lágrimas que tinha
derramado já estavam secas.
Peguei a chave da porta e me
movi andando para a porta. Eu saí e a
tranquei. Dessa vez, no entanto, procurei
a satisfação, mas não encontrei.

Quando Romeo apareceu eu


estava virando meu copo e engolindo
minha bebida. Meu irmão se aproximou
e sua áurea do demônio estava presente,
eu sabia o que ele faria antes mesmo de
fazer.
— Não ouse nunca mais. — Ele
parou na minha frente me encarando
tenso.
— Lunna mentiu para mim. Você
sabe que se ela não fosse sua esposa,
estaria fora da cidade ou morta —
murmurei firme e meu irmão desviou os
olhos frios dos meus por míseros
segundos.
— Ela é minha esposa. Minha,
Rocco. Do seu irmão, seu sangue, sua
força do caralho. Lunna é um problema
meu e é por isso que nunca a envolvi
com meus irmãos. Você deveria ter feito
o mesmo com Sienna. Ela não seria a
dor de cabeça do caralho que é. —
Romeo permaneceu parado, falando com
calma e a raiva em seus olhos dirigida
apenas para mim.
— Você tem razão — disse
virando o restante da minha bebida e
colocando o copo para baixo. Romeo se
afastou passando a mão na cabeça.
— O que Sienna quer? Ela ia
machucar Lunna? Por quê?
— Eu não sei. Não falei com
Sienna ainda. Eu estava com raiva
demais para lidar com ela.
— Pois somos dois. Lunna não
parecia assustada, ela defendeu Sienna
quando saíram. Eu estou tão confuso,
porra. — Romeo pegou uma garrafa de
uísque e virou, tomando-a diretamente
do gargalo.
Eu me sentei no sofá depois de
servir mais um copo e encarei o teto.
Sienna Rizzi se transformou em uma dor
de cabeça do caralho que eu não estava
preparado.
— Pensei que Lunna não era
nada para mim, mas... — Romeo
balbuciou e eu o encarei, esperando. —
Quando imaginei, por um momento, que
Sienna a tivesse machucado, eu fiquei
sem ar. Em pânico.
Romeo era um homem de poucas
palavras. Lunna era um assunto do qual
ele não falava ou compartilhava. Os
dois eram casados há alguns anos, mas
Romeo nunca tocou no nome dela
conosco.
— Ela é sua companhia há anos.
Você sentir algo por ela é normal.
— Não é, Rocco. Você sabe que
não é. — Ele encarou a parede e eu
acenei, ficando calado. — Se Sienna a
tivesse machucado, você me deixaria
matá-la? — Romeu perguntou me
olhando de frente, completamente sério.
— Não — falei firme e meu
irmão respirou fundo. — Eu me imaginei
matando-a quando a ameacei ainda na
sua casa, do lado de fora, mas eu só
senti agonia — confessei ao meu irmão,
fazendo uma careta. — Nós dois
estamos fodidos pra caralho.
— É, nós estamos. — Ele virou
a garrafa de uísque e eu o meu copo,
engolindo tudo.
Os homens diante de mim me
encaravam altivos, sem se deixar abalar.
Eu sempre tirava um dia qualquer para
reunir meus homens e lutar com alguns.
Hoje era mais que isso. Era para
empurrar todos em direção a um
precipício. Eu queria saber quem cairia.
— Vocês sabem que a paz entre a
Cosa Nostra e a Outfit está em curso.
Nós aumentamos nosso lucro com os
produtos que vem da Itália. Pelas
fronteiras que eles deixam passar. A
Bratva estava perto novamente e eu
matei quem compilava com eles. — Eu
andei pelo tatame do ginásio onde eu os
reuni. Ergui minha cabeça encarando
todos, e olhei até o final. — E matarei
ainda mais, porque eu sei que aqui
diante de mim ainda tem ratos imundos
que rastejam pelas minhas costas, que
farejam meus passos e tentam me
derrubar. Porém, eu prometo sobre o
meu sangue que farei seu juramento
valer. Você morrerá pela Outfit, pela sua
traição.
Romeo ficou ao meu lado como
Prince e Matteo. Meus irmãos estavam
com os olhos em todos, encarando-os
com seriedade.
— O primeiro — Romeo gritou
chamando e Prince junto com Matteo se
afastaram.
Eu lutei primeiro e o meu
soldado ficou no chão me encarando. Eu
dei a mão a Enzo e o puxei para cima.
Ele acenou se afastando e eu fiquei com
mais três. Depois foi a vez de Romeo e
em seguida Matteo. Quando meu irmão
mais novo se colocou no ringue Romeo
o encarou falando baixo.
— Olho no seu oponente — ele
ordenou e eu acenei concordando e me
afastei.
Prince estava grande e forte. Ele
tinha crescido nos últimos anos. A sua
luta foi rápida. E todos ficaram
chocados quando Prince socou a
garganta do soldado e ele caiu de
joelhos segurando seu pescoço.
— Porra, cara. — Matteo sorriu
maravilhado e puxou Prince, orgulhoso.
— Você poderia ter matado —
Romeo avisou semicerrando os olhos e
eu me aproximei.
— Não faça essa merda
novamente.
Nós nos afastamos e eu acenei
para Romeo que sumiu porta adentro.
— Eu passei algumas semanas
bastante ocupado. Matteo, Prince e
Romeo ficaram mais à frente lidando
com vocês e hoje eu quero dizer o
motivo que me levou a ficar longe. Não,
dizer não, eu quero mostrar — falei
abrindo os braços e sorrindo para todos,
sentindo meu suor descer pelo meu peito
nu.
Quando Romeo apareceu eu
sorri ainda mais. Leonardo, Vitor, Costa
e Fabiano estavam andando
ensanguentados. Suas roupas sujas e
manchadas. Leonardo estava de olhos
presos ao chão quando chegou diante de
mim. Eu me virei para todos e acenei
para os quatro homens.
— Esses são os que ficaram
vivos com a tortura — disse dando de
ombros. Os homens caíram ajoelhados
quando Romeo ordenou e eu me movi
para o lado, ficando na ponta. — Eu
peguei muitos e todos estão mortos. E eu
sei que ainda vou pegar mais. No
entanto, esses aqui, são as cabeças.
Meus capos. Que deviam lealdade a
mim, a Outfit. Eles vão morrer hoje e
vou subir o filho de alguns e o soldado
de outros.
Os homens olharam entre si e eu
olhei para Romeo.
— Nosso sangue é o nosso maior
vínculo, mas a lealdade está acima dele.
Matarei todos que forem contra mim e
colocarei em seu lugar alguém com
sangue indigno, como gostam tanto de
frisar. Eu não dou a mínima para o
sangue. Eu quero honra, e soldados fiéis.
Eu não preciso de sangue manchado com
traição.
Eles acenaram e eu mirei minha
arma na cabeça de Vitor. Ele caiu para
frente assim que a bala entrou em sua
cabeça. Eu passei por cima dele e
apertei o gatilho novamente, dessa vez
Vitor caiu, fiz o mesmo com Costa e
quando cheguei a Leonardo, relembrei
sua ameaça a Sienna.
— Vá para o inferno —
amaldiçoei e atirei à queima-roupa.
Os homens diante de mim
ficaram encarando e eu sorri vendo os
quatro mortos no chão.
— É isso por hoje. Lutem uns
com os outros — ordenei vendo o
sangue deslizar pelo tatame. — Alguém
limpe essa porra — pedi me afastando
com Romeo, Prince e Matteo.
Observei todos eles lutando um
contra o outro e ouvi Prince e Matteo
falando sobre a corrida no Navy Pier.
Era uma idiotice que inventaram no
último ano. Vários idiotas em uma moto,
pedindo para morrer.
— Lake quer ir até Sienna —
Prince me avisou mostrando o celular e
eu balancei a cabeça.
— Não. Ela está trancada
novamente e a chave comigo.
— Ela comeu algo? — Prince
questionou, me encarando, e eu suspirei.
— Vamos voltar até o almoço.
Não vou deixá-la morrer de fome. Mais
alguma coisa, porra? — questionei
começando a me irritar.
Meu irmão negou e se afastou
digitando uma resposta a Lake.
Depois de uma da tarde nós
chegamos em casa. Subi as escadas e
procurei Lake. Ela estava no quarto,
assistindo TV. Eu saí antes que ela
começasse a questionar. Entrei no meu
andar e vi Tebow deitado na porta do
quarto de Sienna.
Eu o chamei e coloquei comida
para ele. Em cada andar da casa tinha
um lugar para ele comer. Decidimos isso
porque ele come demais. Andei para o
meu quarto e os lençóis escuros brilham
contra o sol que entrava pela janela. Eu
entrei no banheiro para tomar banho e
demorei alguns minutos.
Me apoiei na parede e envolvi
meu pau com a minha palma. Não
precisei de muito, somente lembrar da
boca de Sienna lambendo e chupando, e
eu me perdi. Porra, eu estava sentindo
falta da sua boceta apertada. Passei dias
longe, porque estava ocupado, com a
cabeça a mil e tentando muito caçar
quem me queria morto.
Eu quase podia sentir a calmaria
se aproximando depois de hoje. A Outfit
estaria limpa em breve e eu pararia de
olhar sobre o ombro dentro da minha
própria cidade.
Deslizei a mão pela minha pele e
os pelos brilharam contra a luz do sol
que passava pela janela e entrava no
quarto. Eu encarei o cais e respirei
fundo, tentando pensar em algo.
Qualquer coisa que não fosse Rocco.
Passei a manhã sozinha, trancada e eu
sabia que isso se estenderia. Rocco
estava com raiva. Tanta que estremeci
lembrando do que me disse. Que eu não
era ninguém, que me mataria sem
remorso.
Eu apertei minhas pálpebras
querendo, necessitando, tirar isso da
minha mente. Eu me sentia doente. Tão
mal que já vomitei diversas vezes e não
consigo parar. Minhas lágrimas
explodiram assim que ele saiu e me
acompanharam até esse momento.
Queria não sentir essa dor
absurda. Queria não sentir. Ser
anestesiada para não sofrer por causa de
Rocco, mas eu continuava sofrendo.
Com sua distância, com a desconfiança e
agora com a realidade. A que eu não sou
ninguém além do elo da paz. Sua esposa.
Apenas alguém que nem faria falta caso
matassem.
Tebow arranha a porta e eu
desço do peitoril da janela.
— Não estou com a chave —
falei, devagar e ele parou como se só
precisasse me ouvir. Saber que eu
estava bem.
Meu celular estava com Rocco, e
nem saber como Lunna estava, eu podia.
Será que Romeo a castigou, como disse
que faria? Eu implorei em pensamento
para que não.
Fui para minha cama e puxei meu
cobertor quando deitei a cabeça no
travesseiro. Agarrei o objeto macio e
suspirei encarando a parede. Eu viveria
assim para sempre? pensei me
questionando. Rocco me trancaria a
cada vez que eu fosse desobediente ou
fizesse algo para irritá-lo?
Ouvi a chave em minha porta,
porém continuei como estava. Não
queria encarar ninguém.
— Si? — A voz cautelosa de
Lake soou e eu me virei devagar,
sentando. — Você está bem? Está
pálida. — Lake franziu a testa,
preocupada e eu tentei sorrir.
— Estou. Estou sim — murmurei
forçando um sorriso. Encarei suas mãos
e mesmo sem querer meus ombros
caíram. Ela trazia meu almoço. —
Obrigada, Lake. — Peguei a bandeja e a
coloquei na cama.
— Você a viu? — Lake mordeu o
lábio e eu suspirei, acenando. Bati na
cama e ela sentou perto de mim, tocando
minha mão. — Desculpa. Eu não deveria
ter falado nada... — Lake fungou e eu
limpei suas bochechas.
— Não faça isso. Você não fez
nada. Eu fui lá porque eu quis. Lunna é
linda e muito legal. Prometo trazer ela
para nos visitar depois de você ser
apresentada. Rocco e Romeo vão deixar.
Lake parecia incerta, mas
mencionar Lunna a fez relaxar.
— Como ela é? — minha
cunhada perguntou e eu suspirei,
contando o pouco que eu sei sobre
Lunna.
Eu comi todo meu almoço e Lake
ficou no quarto murmurando que estava
ansiosa para conhecer Lunna. Eu
também estava para que Lunna enfim,
pudesse estar conosco, porém a
apresentação de Lake também me
preocupava. Rocco estava atrás de um
noivo para Lake? Eu não queria pensar
nessa possibilidade. Lake não precisava
de um marido.
Quando ela saiu, levando a
bandeja, eu não me incomodei com a
chave. Lake não tinha culpa.
Passei o restante do dia
assistindo série e a noite entrei no
banho. Fiquei dentro da banheira quente
passando a mão na espuma. Ouvi uma
porta fechando e apertei os olhos
suspirando. Eu sabia que era Rocco. Eu
me odiei um pouco querendo voltar no
tempo. A noite em que me movi para cá.
Eu era tão fraca. Minha mãe teria
vergonha de mim.
Lavei meu corpo devagar e
quando a água começou a esfriar, eu saí.
Peguei meu roupão e o amarrei enquanto
mordia meu lábio. Rocco viria aqui?
Falar sobre Lunna? De manhã ele não
conversou. Na verdade, depois que
gritou comigo ainda na casa de Romeo e
Lunna, ele sequer me encarou.
Liguei meu secador e comecei a
secar as mexas tentando fazer com que o
barulho do aparelho silenciasse minha
mente. Eu costumava demorar secando o
cabelo por ser longo, mas hoje eu só o
sequei parcialmente. Ele ainda estava
úmido.
Assim que saí do banheiro eu
fiquei tensa ao ver Rocco parado na
janela. Ele estava com uma calça de
moletom preta e a parte superior nua.
Seus ombros largos e as tatuagens o
deixavam com um ar tão escuro quanto a
noite. Eu tremi suavemente lembrando
da sua fúria.
— O que foi fazer na casa deles?
— Rocco questionou sem se virar e eu
apertei minhas mãos segurando a corda
de tecido que deixava meu roupão
fechado.
— Apenas conhecer Lunna — eu
o respondi honestamente e Rocco
colocou as mãos na janela, contra o
vidro observando a lua beijando o lago.
— Você descumpria muitas
regras na famiglia, Sienna? — meu
marido perguntou ainda controlado,
baixo. Eu respirei fundo e disse a
verdade.
— Não. Nunca.
Eu era uma menina exemplar.
Educada, quieta e obediente. As mães
admiravam mamãe por isso e as meninas
me odiavam pelo mesmo motivo. Eu
nunca fui castigada. Eu não fiz coisas
que causassem isso. Pelo menos até
agora. A diferença é que eu não era mais
uma criança. Eu era uma mulher adulta.
— Então por que você fez isso?
Eu não lhe dei permissão de ir. Romeo
não deu permissão a Lunna para receber
ninguém em casa. A questão é, por quê?
— Rocco virou lentamente e cruzou seus
braços. O sorriso estava tão distante,
mesmo o torcido e cruel, que ele tanto
gostava de me dar.
— Eu queria conhecer Lunna. Só
isso, Rocco. Lake me contou sobre ela e
eu fiquei triste por ela estar sozinha
enquanto Romeo ficava aqui conosco.
Eu só queria ajudá-la...
— Lunna é esposa de Romeo,
não uma prisioneira...
— Diferente de mim — falei
firme e Rocco me encarou dos pés à
cabeça, em silêncio.
— Você é minha esposa, mas não
confio em você e quando comecei a
confiar, você me enganou. Então, talvez,
sim, você seja uma prisioneira. — A voz
de Rocco me fez apertar meus punhos,
irritada.
— Eu não sou uma criança para
ser presa dentro de um quarto de
castigo. E eu com certeza não sou
perfeita. Eu vou seguir opções erradas,
eu vou te desapontar, mas isso... — eu
apontei ao redor e principalmente para a
porta —, isso não está certo.
— Se eu seguisse regras sobre
certo e errado, eu não seria um mafioso,
Sienna — Rocco respondeu
preguiçosamente e eu balancei a cabeça
suspirando.
— Me devolva — eu pedi
parada encarando-o e Rocco sorriu pela
primeira vez na noite. Era um pedido
estúpido. Se eu voltasse a famiglia sem
minha virgindade, eu seria uma pária.
— Nunca — falou rápido e eu
olhei para a parede, evitando Rocco. —
Você é minha e se alguém tentar tirar
você de mim, eu matarei cada um. —
Sua voz me fez arrepiar, temendo sua
promessa.
— Não me tranque mais — falei
firme quando o vi se movimentando em
direção a porta.
— Amanhã quem sabe.
Rocco saiu e o barulho da chave
girando ecoou em minha mente.
Me sentei em minha cama e
fechei meus olhos respirando fundo. Vi
uma tela acender e me ergui. Ao chegar
perto vi que era o celular de Rocco e o
meu. Ele voltaria para buscá-lo, em
breve. Peguei o meu e suspirei ao ver
mensagens de Lunna. Salvatore também
tinha enviado.
"Você está bem? Por que não
responde?"
"Sienna? Responda!"
Estremeci imaginando o quão
preocupado Sal estava. Eu me atrapalhei
teclando na tela e o celular caiu, me
abaixei para pegá-lo e cliquei em enviar
quando o recuperei.
"Tive um mal-estar. Estou
bem. Amanhã eu ligo para falar com
ela. Te digo o horário depois de falar
com Rocco."
Salvatore não respondeu e eu
abri a mensagem de Lunna.
"Você está bem? Me sinto
culpada. Você não deveria ter vindo me
conhecer."
"Sienna, está tudo bem? Por
favor, me responda."
Eu suspirei tocada com a
preocupação de Lunna.
"Lunna, estou bem. Como você
está? Romeo fez algo? Ele disse que ia
castigá-la. Espero que nada tenha
acontecido."
"Oh graças a Deus! Romeo
não me tocaria. Nunca. Não se
preocupe com isso. Ele acabou de
chegar, mas não quis me dizer
nada. Você está bem mesmo? Rocco a
machucou?"
"Não! Ele não me machucou.
Eu estou bem, não se preocupe
também."
"Que bom, Sienna. Amei
conhecê-la. Espero poder te ver
novamente, mesmo Romeo sendo tão
teimoso."
"Está no sangue, Rocco é do
mesmo jeito."
Eu me despedi dela e ouvi a
chave. Deixei o celular comigo e me
movi para a cama. Rocco abriu a porta e
entrou pegando o seu celular. Eu não o
encarei, apenas andei para a janela.
— Onde está o seu?
— Meu?
— Sim, seu celular.
— Ele é meu, então está comigo
— respondi me atrevendo e ouvi os
passos de Rocco. Ele se aproximou até
seu corpo colar ao meu. Fiquei tensa e
tentei me afastar, mas ele pressionou
mais forte elevando a mão até estar
segurando meu pescoço entre os dedos.
— Você é minha e não está
comigo. Temos problemas? — Rocco
deslizou os dedos na minha pulsação e
eu tremi, nem lembrando mais o que ele
falou. — Você pode ficar com seu
celular, mas lembre-se você me deve
lealdade. — Eu acenei olhando para o
cais ainda sentindo seu toque incendiar
minha pele.
— Eu sei disso, Rocco. Eu sei.
Por que continua não confiando em
mim? — perguntei sentindo um caroço
crescer em minha garganta e ele mordeu
meu ombro devagar, sem machucar.
— Porque você me enganou hoje
— falou firme e eu mordi meu lábio,
sabendo que ele estava certo. Eu o
enganei. — Lunna não virá aqui até
Romeo querer e Lake ser apresentada.
Não saia novamente. Não a visite
novamente. Você está me ouvindo,
passarinha?
Engoli a afirmação e apenas
acenei. Rocco deixou sua mão cair e se
afastou, me deixando sozinha. A porta
fechou novamente, mas dessa vez o som
da chave não soou.

Na manhã seguinte eu fiquei


dividida se deveria descer ou não, por
isso fiquei no quarto. Prince veio deixar
meu café da manhã e ficou no quarto
andando enquanto eu comia. Mais uma
vez, ele estava machucado.
— Você está bem? — perguntei a
ele enquanto pegava uma das tigelas de
frutas e começava a comer. Prince olhou
pela janela em silêncio e eu engoli a
banana esperando.
— Estou. Só comecei um
treinamento mais intenso — murmurou
se virando e eu deixei a comida de lado,
o encarando. Prince suspirou encarando
o punho com todas as juntas esfoladas.
— Você não parece bem.
— Mas, estou. É minha vida. Eu
darei um jeito.
Eu acenei, não querendo
empurrar o assunto. Prince me deu um
sorriso quando terminei de comer e saiu,
indo para fora com a bandeja em suas
mãos. Tomei um banho e quando entrei
no quarto Lake estava na cama olhando
para o teto. Faltava duas semanas para o
seu aniversário de quinze anos.
— Rocco disse que eu serei
apresentada nesse final de semana.
Acontecerá o casamento de um dos
capos e ele quer usar essa ocasião —
Lake falou assim que escutou meus
passos.
— Como você está?
— Ansiosa para conhecer Lunna.
— Ela sorriu encarando o teto e eu
andei até o closet. Peguei uma roupa e
voltei ao quarto. Lake agora estava
sentada, encarando as mãos. — Você
acha que ela vai gostar de mim? Será
que ela vai se ressentir?
— Lunna é tão doce quanto você.
Não acho que ela ficará ressentida. Ela
vai amar você. Tenho certeza — falei
firme e vesti meu vestido sobre a toalha.
Lake suspirou e acenou encarando a
janela. Peguei a toalha e a joguei no
banheiro, voltando para ela.
— Você vai comigo, não é?
— Claro. Estaremos juntas —
afirmei me aproximando e sentei ao seu
lado. — Vai ficar tudo bem, Lake.
Nós duas saímos do quarto e
subimos para o seu andar. Passei o dia
com Lake tentando fazê-la relaxar, e
consegui. Fiquei parada na porta quando
ela dormiu. Senti Tebow por perto e me
virei vendo-o me olhando.
— Ei, garotão — chamei
sorrindo e ele me seguiu escadas abaixo.
Quando parei no andar de Prince
eu ouvi passos. Tebow ficou em alerta
passando para minha frente e ofeguei ao
ver um homem desconhecido atingir o
topo das escadas. Seus olhos eram
escuros e a frieza deles me paralisou.
Sua roupa estava suja, como se ele
estivesse no mato.
Meu corpo ficou rígido e eu
soube encarando os olhos dele, de duas
coisas, uma; esse homem não era um
soldado da Outfit e duas; eu estava em
perigo.
— Você é a putinha dele — o
homem vestindo uma calça cargo e blusa
de mangas longas afirmou se
aproximando. Seus olhos eram escuros
como seu cabelo. Sua íris brilhou me
encarando dos pés à cabeça.
— Quem é você? — perguntei
engolindo em seco.
— Seu pesadelo.
Tebow latiu ao ouvir o grunhido
do invasor e o barulho foi tão alto que
eu levei minhas mãos a minha cabeça,
tampando meus ouvidos.
— Cale a boca dele ou vou
matá-lo! — o homem gritou erguendo
uma arma e eu ofeguei caindo ao lado de
Tebow.
— Tudo bem, Tebow. Tudo bem
— eu tentei acalmar o cachorro com o
coração na boca. Não queria que esse
homem o machucasse.
— Se erga — o homem exigiu e
eu fiz, mas parei quando ouvi Tebow
rosnar mais uma vez, ainda mais feroz.
O homem o encarou por alguns segundos
e mirou a arma nele. Eu fui para a frente
de Tebow gritando.
— Não faça isso! Eu vou
prender ele... — Eu fiquei na frente de
Tebow enquanto ele balançou a cabeça.
— Como você se coloca entre
uma arma e um cachorro? Deixe de ser
idiota. Me siga. Se ele latir novamente
eu vou matá-lo. — Ele se aproximou
pegando em meu braço, e eu ouvi Tebow
latir mais alto. Não percebi quando o
cachorro pulou no homem. Fui jogada ao
chão pelo invasor e o barulho
ensurdecedor do tiro me tirou o ar junto
com a pancada na lateral do corpo.
Rastejei me virando à procura de
Tebow e o encontrei com a boca no
pescoço do homem, que estava no chão.
Tebow se afastou e o sangue pingando
da sua boca me fez querer vomitar.
Engoli à vontade e me aproximei
sentindo meu quadril vibrar com dor.
— Seu cachorro desgraçado! —
o homem sujo balbuciou quando
começou a se erguer, mas Tebow se
virou e novamente e o mordeu, dessa
vez balançando a cabeça, estraçalhando
a carne. Eu ofeguei tremendo e ouvi
passos no piso inferior.
Tebow se afastou e ficou acuado,
no canto, me olhando como se estivesse
com medo da minha reação. Eu estava
sem forças, mas quando vi que o sangue
no chão vinha dele eu me coloquei sobre
os joelhos e me arrastei até Tebow.
— Socorro! — gritei, chorando
e tremendo. — Socorro, me ajudem!
Meu cachorro se deitou no chão
frio e eu me aproximei tremendo com a
visão totalmente embaçada com as
lágrimas. O tiro pegou nele. Oh meu
deus.
— Você vai ficar bem — eu
murmurei soluçando e apertei seu
ferimento sentindo o sangue quente
encharcar meus dedos. Tebow nem
mesmo reagiu aos meus dedos contra sua
ferida.
— O que... — a voz de Rocco
ecoou e eu me abaixei vendo os olhos de
Tebow me encarando. Eu nunca tinha
visto tanto amor em um olhar. Eu estava
despedaçada.
— Ele queria me levar. Tebow
atacou e ele atirou. Oh meu deus...
Ajude ele. Ajude ele! — eu gritei
implorando a Rocco que me encarava
completamente sério. Eu olhei para
minhas mãos sujas, encharcadas com
sangue, e ele me tirou de perto do
Tebow.
Abracei meu próprio corpo e vi
quando Rocco pegou Tebow nos braços.
Matteo e Romeo apareceram em seguida
e o olhar chocado deles ia e vinha do
homem no chão, para mim e depois
Tebow.
— Leve-o ao porão e o deixe
vivo! — Rocco gritou para os irmãos e
eu olhei para o homem ainda vendo seus
olhos se moverem. Eu caí para trás,
tremendo e Prince apareceu ao meu
lado.
— Você está segura. Está tudo
bem...
— Tebow. Não o deixe morrer,
por favor — eu implorei soluçando e
Prince me levantou, me segurando contra
ele.
— Ele não vai. Tebow é forte
demais para isso, Sienna — Prince
murmurou me levando por onde Rocco
foi. Minhas pernas estavam fracas, mas
reuni forças e continuei.
Assim que chegamos no térreo
eu ouvi Rocco e segui para a sala.
Tebow estava no sofá enquanto Rocco
pressionava sua ferida. Me ajoelhei
diante do rosto de Tebow e deslizei a
mão pelo seu rosto. Seus olhos estavam
meio abertos e o sangue do invasor
ainda estava por sua boca.
— Vou te dar dois minutos. — A
voz de Rocco me chamou atenção e eu
me segurei a Tebow vendo-o falar ao
celular.
— Ele vai ficar bem, não vai?
— Minha voz soou fraca, medrosa,
quando Rocco desligou a chamada.
— Ele vai. A bala pegou de
raspão, mas ele está perdendo muito
sangue por ter pegado em uma veia —
Rocco murmurou ficando ao meu lado
olhando para Tebow junto comigo. —
Tebow não é qualquer cachorro. Ele foi
treinado para proteger Lake. Esse é o
seu dever. Hoje ele a protegeu, porque
viu que estava em perigo. Tebow é um
cachorro leal e forte. Ele ficará bem,
Sienna.
Eu acenei diversas vezes
tentando parar a onda de lágrimas. Foi
em vão. Quando o veterinário chegou,
ele nos tranquilizou e começou a tratar
Tebow. Rocco o moveu para nosso
andar e eu fiquei por perto o
observando, com medo dele sumir
diante de mim.
— Você precisa tomar um banho
— Rocco afirmou em algum lugar do
quarto e eu olhei para minhas roupas. Eu
estava ensanguentada. Com o sangue de
Tebow e talvez, do invasor. — Voltarei
em algumas horas. Tome banho e coma
alguma coisa.
Rocco saiu do quarto me
deixando sozinha encarando o corpo de
Tebow na cama. Me movi para o
banheiro e me limpei tentando respirar
fundo. Meu quadril doeu quando me
movi e parei debaixo do chuveiro vendo
a água límpida se tornar rosa. Sangue.
Fechei meus olhos e o rosto do
homem apareceu diante de mim. Seus
olhos escuros e cabelo também. Seu
ódio ao me olhar. Quem ele era? O que
ele queria? As questões bombardeiam
minha mente. Por que eu? Ele era da
Bratva?
"Você é a putinha dele."
Lembrei da sua fala saindo do
banho e estremeci. Isso era sobre
Rocco? Era algum inimigo dele?
Tebow ainda estava dormindo
quando retornei ao quarto, já de pijama
e cansada. Eu me deitei ao seu lado, tão
afastada quanto a cama permitia, com
medo de machucá-lo durante o sono.
Toquei suavemente em sua pata e
engoli em seco. Ele ficaria bem. Afastei
meu cabelo molhado para trás, tentando
não incomodar ele e meus olhos
novamente brilharam. Ninguém nunca
me defendeu como Tebow fez. Ele se
machucou por mim. Eu já o amava antes,
mas agora eu sentia o sentimento
multiplicado.
Eu adormeci em algum momento
e acordei sentindo alguém se mover
comigo nos braços. Me retesei,
imaginando que o intruso voltou e tentei
me soltar, mas a pessoa me segurou mais
forte.
— Pare. Sou eu — Rocco
murmurou apertando o domínio sobre
mim e eu suspirei, descansando meu
rosto no peito nu dele.
Senti macieis em minhas costas e
me aconcheguei na cama, agarrando o
travesseiro. Rocco me cobriu com o
edredom enquanto eu suspirei e voltei a
dormir.
Observei Sienna adormecer no
meio da cama me encostando na parede.
A imagem dela no chão com sangue
espalhado por seu corpo e Tebow
machucado assombrou minha mente e eu
suspirei saindo do quarto. Desci as
escadas e não me surpreendi ao ver
meus irmãos de pé, na sala.
— Não consigo acreditar que ele
ousou. Alessandro realmente achou que
sairia daqui vivo? — Romeo estava
andando pela sala, apertando os punhos.
O filho de Costa se arriscou
tentando entrar aqui e pegar Sienna para
se vingar pelo seu pai. Esse era seu
plano, o que ele confessou enquanto eu
arrancava suas unhas. Se ele a tivesse
pegado, eu não queria pensar nessa
merda, porque eu estava ficando maluco.
E eu odiei isso.
— Virão outros. Coloque
soldados de confiança com Lunna. Nós
matamos quatro homens que eles
respeitavam. A fúria deles é silenciosa,
e é exatamente por isso, que é a mais
perigosa — afirmei me movendo para o
bar. Me servi uma dose de uísque e bebi
em um único gole.
— Como Sienna está? — Prince
perguntou, preocupado e eu respirei
fundo.
— Dormindo — disse me
sentando na baqueta alta. — Tebow
ficará bem. Ela só pensou nele. Quando
cheguei no quarto ela estava na cama
com ele — falei a eles passando a mão
pelo cabelo e Matteo estava encarando a
janela.
— Nunca realmente precisamos
que ele brigasse. É um alívio ver que ele
a protegeu. Tebow gosta dela — Matteo
murmurou e eu acenei porque era
verdade. — Espero que eles fiquem
bem.
— Vou para casa — Romeo
murmurou e eu acenei, dispensando-o.
Prince e Matteo foram para os
seus quartos e eu me sentei no sofá
encarando o teto. Os olhos de
Alessandro me olhando ao morrer me
fizeram ficar tenso. Eu sabia que muitos
homens eram traidores, mas nunca
imaginei que ousariam entrar aqui. Ele
veio como um soldado, ficou na floresta
esperando o anoitecer na chuva, na
lama, e entrou.
Meus irmãos e eu estávamos no
ginásio, treinando. Se tivéssemos
demorado um pouco a voltar, Sienna
poderia não está na minha cama,
dormindo. A famiglia desejaria a guerra
depois disso, eu não tinha dúvidas.
Subi as escadas e passei no
quarto de Sienna vendo Tebow deitado,
porém com a cabeça erguida. Me
aproximei e sentei perto dele, passando
a mão na sua cabeça.
— Você fez um bom trabalho —
murmurei no escuro para ele. Tebow
baixou a cabeça e eu me ergui,
deixando-o sozinho.
Voltei ao meu quarto e a visão de
Sienna abraçada ao travesseiro me fez
me aproximar. Sua boca de lábios
carnudos estava entreaberta e seu cabelo
loiro espalhado ao redor da sua cabeça
como uma auréola.
Eu me sentei na cama e depois
de muito tempo, me deitei. Eu não
gostava de dormir com ninguém. Na
verdade, eu odiava. Porém, eu estava
cansado e precisava dormir. Me
perguntei uma e outra vez o motivo de
ter trazido Sienna para a cama. Eu não
queria que ela machucasse Tebow em
seu sono.
Eu forcei minha mente a
desconectar, e relaxei entrando embaixo
da coberta. Em segundos, como uma
mariposa atraída pela luz, Sienna virou
e se agarrou ao meu peito. Respirei
fundo e descansei minha mão em sua
coluna. Eu dormi mais rápido do que
achava ser possível.
O lugar estava escuro, eu
apertei meus olhos encarando os lados
e fiquei tenso quando o vi, de pé perto
de uma poltrona, me encarando.
— Você demorou. — Ele riu,
sentando na poltrona e eu apertei meus
pulsos, sentindo meu corpo tremer. —
Bastardo.
Eu corri puxando algo da minha
blusa e ao chegar diante do seu rosto,
enfiei a lâmina afiada tão lento quanto
eu consegui. O sangue deslizou por ela,
me dando satisfação.
— Você nunca será um homem
feito. Nunca fará parte da família. — A
voz dele chegou a mim novamente, e
seu corpo sumiu junto com o sangue.
Me virei respirando com dificuldade e
ele estava de pé, a alguns metros. —
Você e aquela rata, nunca serão um
Trevisan. Você e ela são lixo.
— Não fale dela! — eu gritei,
furioso e ele sorriu, dando passos para
a lateral da escuridão. — Nunca fale
dela.
— Seus irmãos te
odeiam. Você é um bastardo e eles se
envergonham.
— Mentira. Eles me respeitam e
me amam...
— Eles sentem medo do monstro
que você se tornou. Nada é mais forte
que o medo e é por isso que eles nunca
vão contra você. Têm pavor. No fundo,
tudo o que sentem por você é ódio,
Rocco. Eles vão trair você.
— Nunca — murmurei rápido e
firme, porque eu sabia onde a lealdade
de Prince, Matteo, Romeo e Lake
estava.
Em mim.
— Você não merece lealdade.
Você é o lixo exatamente como a sua
mãe. Você acabará como ela, em uma
vala de indigente. Você sabe disso
tanto quanto eu.
Eu corri, pulei em cima dele e
dessa vez a faca entrou em seu olho
rápido. O sangue respingou em meu
rosto e eu empurrei com mais força,
vendo seu corpo cair. Eu sorri vendo a
vida se esvair do seu corpo.
— Rocco. — A voz em pânico
estava longe, no meio da névoa da minha
mente. — Acorda — ela pediu, mais
alto e eu abri meus olhos, esticando
minha mão em um impulso rápido. Puxei
minha arma de cima da mesa de
cabeceira e me ergui mirando no vulto
preto acima de mim.
Sienna me encarou de olhos
arregalados e o medo em sua íris, me
paralisou. Porra.
Senti um solavanco ao meu lado
e isso me despertou. Os lençóis escuros
não eram os meus e o quarto onde eu
estava não se parecia com o lugar que
passei dias dormindo. O movimento
brusco me chamou atenção novamente e
eu me virei, vendo Rocco se debatendo
e grunhido. Senti que seu corpo estava
rígido quando me sentei e toquei sua
pele suada. A escuridão ainda estava
banhando o quarto e isso deixou o rosto
de Rocco ainda mais escuro, perigo
gritava em toda sua expressão.
— Rocco — murmurei
balançando seu ombro. — Acorda —
pedi devagar, sentindo meu peito
acelerar com sua reação. Rocco se
mexeu ainda de olhos fechados e eu
ofeguei quando ele pegou a arma na
mesa de cabeceira e se ergueu, mirando-
a diretamente na minha cabeça.
Quando seus olhos me
reconheceram, ele baixou a arma e a
colocou novamente em seu lugar. Eu
tentei respirar mais calmamente e falhei.
Rocco ficou de pé, me observando e eu
engoli as perguntas sobre seu sonho.
— Você está bem? — perguntei,
encontrando minha voz e ele acenou sem
responder.
Me afastei mais, ficando na
ponta da cama e olhei ao redor. Eu sabia
que era o seu quarto. Por que ele me
trouxe para cá? Engoli minhas perguntas,
porém quando retornei a olhar para
Rocco, ele estava pegando uma blusa
preta. Ele ia sair.
— Não saia. Eu voltarei para o
meu quarto — falei firme me erguendo.
Meu chinelo estava longe de ser visto e
eu andei no chão frio.
— Não. Volte para a cama e
durma. Preciso me exercitar. Voltarei em
breve. — Rocco não me deixou
responder, apenas virou e saiu. Eu o
segui, temendo ficar sozinha novamente.
Rocco não me viu, ou ignorou que eu
estava o seguindo.
Quando cheguei a academia
suspirei com os equipamentos e o ringue
improvisado no meio. Rocco estava ao
lado, socando o saco de areia. Eu andei
devagar e me sentei a alguns metros,
observando-o.
— Eu sei que está aí — Rocco
avisou com a voz grave que tanto me
fazia estremecer. — Venha lutar comigo
— ele chamou quando não respondi
nada e eu arregalei os olhos. Meu
marido virou me encarando de longe e
eu engoli em seco.
— Não sei lutar.
— Eu vou ensiná-la. — Rocco
acenou para sua frente e eu me ergui,
mordendo meu lábio, incerta. Rocco era
conhecido como forte e um exímio
lutador. Eu não sabia nem bater.
Assim que cheguei à sua frente,
ele pegou meus punhos e colocou luvas
iguais às que eu via na tv, quando ele
assistia lutas. Estremeci com seu toque
firme e Rocco posicionou meus braços à
frente do meu corpo.
— Dê um soco — ele ordenou
firme e eu fiquei parada, engolindo em
seco. — Um soco, Passarinha. — O
apelido me fez encarar seus olhos azuis.
Eu acenei e soquei Rocco. Ele desviou e
meu corpo se impulsionou para frente,
me fazendo pisar com força. A dor
aguda em meu quadril se espalhou me
fazendo gemer.
Droga, eu tinha esquecido.
— Ah — grunhi tentando voltar
a posição inicial e Rocco franziu a testa
quando eu não consegui e desci, caindo
de joelhos.
— Você está bem? — ele
questionou, se aproximando e sua mão
segurou meu quadril para me erguer, me
fazendo gritar. — Porra. — Rocco me
deitou no tapete e puxou minha camisa
de seda para cima e meu short e calcinha
para baixo. — Por que não me avisou
sobre essa merda? — ele perguntou
irritado e eu olhei para baixo vendo a
mancha roxa na minha pele. Ofeguei com
o latejar. — Vou passar pomada e
amanhã você vai ao médico.
Eu não consegui responder a ele.
A dor me deixou muda.
Rocco se afastou e voltou
segundos depois. Ele passou a pomada
nos dedos e deslizou por minha pele.
Tremi, me impedindo de chorar, e Rocco
suspirou terminando seu serviço
rapidamente.
— Vou pegar você — ele avisou
antes de me pegar nos braços.
Eu suspirei com a pontada, mas
me segurei em Rocco enquanto ele
andava. Seu cheiro me inundou e eu
esqueci dos motivos de não querer ele
de volta em meu corpo. Fechei meus
olhos descansando a bochecha em seu
peito.
Ele me colocou na cama e tirou
as luvas de mim. Rocco deslizou meu
short para fora e eu deixei, ficando
apenas com a calcinha sobre o
ferimento. Percebi que voltamos ao seu
quarto e engoli em seco, assistindo-o no
cômodo. Ele estava completamente
suado e o cheiro dele ainda estava em
todo meu corpo.
— Rocco... — chamei quando
ele começou a se mover em direção a
porta.
— Vou tomar banho — avisou
apontando para a porta e eu acenei,
lambendo meus lábios.
Fechei meus olhos quando ele
sumiu dentro do banheiro. Pare com
isso, Sienna. Por favor, não faça
isso. Eu implorei para mim mesma. Me
forcei a tentar dormir, mas eu estava
ligada demais. Minha calcinha já estava
úmida e meu centro latejando tanto
quanto minha ferida.
— Tome. — Rocco voltou ao
quarto com um comprimido e eu peguei
das suas mãos. Ele colocou água em um
copo e eu bebi o líquido engolindo o
remédio.
— Obrigada.
Rocco acenou e se afastou com o
copo. Ele retornou ao banheiro e quando
saiu, minutos depois, eu estava deitada
de lado, com a perna em cima de um dos
travesseiros para não tornar a machucar
meu quadril.
— Eu vou dormir na ala do
Matteo. — Sua voz chegou a mim e eu
fiquei parada, olhando para a janela. A
luz da lua passava pelas cortinas finas e
iluminava o quarto. — Você vai ficar
bem?
— Sim — respondi,
honestamente, cansada.
Quando a porta se fechou, não
foi uma surpresa.
Na manhã seguinte, eu voltei ao
meu quarto e dormi lá todas as noites
que se seguiram, mesmo quando Rocco
falou sobre Tebow. Minha ferida estava
curada agora e depois de exames, o
médico disse que tinha uma fratura,
porém com medicamento e descanso eu
ficaria bem. Ele estava certo. Eu estava
bem agora.
— Esse? — Lake perguntou
erguendo um dos vestidos que eu
comprei na internet com ela. Ele era
bonito. Compramos peças juvenis, não
infantis. Lake já tinha quase quinze anos.
Era da minha altura e linda.
— Acho que o verde suave é
delicado e lindo para a ocasião — eu
disse sorrindo e passando a mão pelo
corpo de Tebow, aos meus pés. Ele
estava novo em folha. O curativo ainda
estava na pele protegendo, mas ele já
estava tão saudável quanto antes, graças
a Deus. Ele lambeu meu pé e eu ri.
Lake entrou no banheiro e saiu
com o vestido que indiquei. Eu deixei
escapar um suspiro de contentamento. A
manga do vestido era lateral, deixando
seu colo exposto, porém de um jeito
belo, não vulgar. A cintura era marcada
e o tecido descia até alguns dedos acima
do joelho. A renda verde cobria o tecido
e era tão delicado quando as mangas.
— Você está linda — falei firme
e Lake sorriu, contente. Ela passou o dia
nervosa, porém, quando começamos a
nos arrumar, ela relaxou. — Me deixe
finalizar sua maquiagem.
Eu deixei seus olhos escuros
marcados com uma sombra suave e seus
lábios com um rosa queimado que eu
amava antes de casar. Seus cílios
estavam pintados de preto e maiores.
— Vou me vestir e te encontro lá
embaixo — eu disse sorrindo ao acabar
de passar blush em suas bochechas. Seu
cabelo escuro e curto estava em ondas
grossas, lhe dando um ar despojado,
quebrando um pouco a elegância do
vestido.
Saí do seu quarto e fui para o
meu. Deslizei o vestido que eu coloquei
depois do banho e fiquei de calcinha no
closet. Peguei meu vestido marsala e
suspirei. Eu o tinha comprado dias atrás.
O vesti devagar cuidando da renda que
cobria o tecido na parte de cima e
quando terminei, sorri.
Peguei meus brincos de diamante
e os coloquei. O colar fazia parte do
conjunto e eu o coloquei, tocando-o e
sorrindo para o espelho do chão ao teto.
Meu vestido era longo, sem mangas,
com uma fenda e decote proeminentes.
Exatamente por isso não usei sutiã.
Soltei meus cabelos dos grampos
e as ondas caíram. Pensei em prendê-lo,
porém desisti vendo que meu tempo
estava acabando. Peguei meus sapatos e
comecei a calçá-los, ansiosa, pois veria
Lunna hoje. Romeo não ficou mais na
minha presença e eu achava que ele
ainda estava irritado comigo. Eu não
queria ninguém chateado, porém não
pediria desculpas. Eu não me
arrependia.
Segurei minha bolsa carteira e
coloquei meu celular dentro junto com o
meu batom vermelho. Meus olhos
estavam esfumados com sombra preta e
meus olhos azuis ficaram ainda mais
vibrantes. Eu adorei o efeito.
Saí do quarto e parei quando vi
Tebow andando pela sala. Me
aproximei, lembrando daquela noite,
porém ele estava sozinho. Eu deixei a
porta fechada e ele não conseguiu sair.
Sorri andando e abri a porta, seguindo-o
até as escadas.
Quando cheguei a sala todos já
estavam nela e ergueram a cabeça para
mim. Lake sorriu, balbuciando sem
ecoar a voz que eu estava perfeita. Eu
sorri, grata e me aproximei, sem olhar
para ninguém. Matteo e Prince se
fizeram ser observados, no entanto.
— Como estamos? — Matteo
perguntou sorrindo para mim e eu o
olhei dos pés à cabeça, fazendo o
mesmo com Prince. Os dois vestiam um
terno preto com gravata também preta.
— Estão lindos. Nós estamos
atrasados? — perguntei preocupada e
Lake balançou a cabeça.
— Se estivéssemos, eu não daria
a mínima. — Me arrepiei com a voz de
Rocco. Eu me virei, não querendo fingir
não o ter ouvido.
Minha boca ficou seca vendo-o.
Seu cabelo loiro sujo tinha sido cortado
e estava rente à cabeça. O terno
completamente preto era a perfeição e
eu engoli em seco, ao sentir meu
coração batendo descontrolado contra
minhas costelas. Os primeiros botões da
camisa dele estavam abertos e sem
gravata por perto. Eu estava sem fala.
— Vamos lá. — Rocco acenou
para fora e eu pisquei saindo do meu
estupor.
Me virei ficando ao lado de
Lake e nós saímos da casa. Quando os
soldados viram Lake alguns franziram a
testa e outros arregalaram os olhos. As
reações na igreja foram as mesmas. A
noiva teve seu dia ofuscado pela
presença da irmã Trevisan mais nova.
Todos estavam falando sobre isso.
Enquanto nos movíamos em
direção a entrada da festa senti a mão de
Rocco em minha cintura. Estremeci
sentindo seu cheiro me rodear. Vi Prince
se aproximar de Lake e nós fomos
guiados pelos noivos para a nossa mesa.
Assim que me sentei, Rocco tirou a mão
de mim.
— Você está linda, passarinha —
ele murmurou sentando e eu engoli o nó
em minha garganta.
— Obrigada.
— Não agradeça. Vou matar
alguns homens por sua beleza hoje —
Rocco afirmou me encarando e eu mordi
meu lábio. Seus olhos escureceram e eu
tremi com desejo. Estava sentindo falta
do seu corpo e me odiei por isso. Rocco
não me procurou como ultimamente
fazia.
— Você está me traindo? — a
pergunta voou dos meus lábios antes que
eu pudesse me parar. Rocco respirou
fundo e me olhou seriamente. — É por
isso que não está indo a mim? Ela o
satisfaz plenamente? — continuei
soando patética e Rocco desviou os
olhos, me dando a minha resposta.
Eu segurei meu vestido entre os
dedos tão forte que as juntas ficaram
brancas. Ele continuava me traindo. A
dor que apertou meu estômago foi
sufocante.
— Vou ao banheiro. Com
licença. — Eu me ergui sorrindo para
todos na mesa. Rocco não me impediu,
ou se ergueu para me acompanhar e eu
agradeci por isso.
Andei entre as pessoas
segurando meu celular e apertei as
teclas devagar.
"Onde você está?"
Enviei a mensagem a Lunna e
entrei no banheiro. Ao ver Milena na
frente de um dos espelhos eu ergui meus
ombros, me aproximando. Era com ela
que ele estava novamente? Ou com
outra?
Meu celular tremeu e eu li a
mensagem de Lunna.
"Aqui."
— Sra. Trevisan — Milena
saudou e eu guardei meu celular
erguendo os olhos para ela. Milena
sorriu e dessa vez, não era simpático ou
de desculpas. Era ardiloso. Eu soube
quase que imediatamente que ele dormia
com ela enquanto me deixava em casa.
— Não fale comigo. Você ouviu
Rocco, na próxima ele enfiaria uma bala
na sua cabeça — eu sibilei séria e me
aproximei mais.
— Rocco enfiaria algo em mim,
mas não é uma bala...
Suas palavras se perderam
quando as costas dos meus dedos
colidiram com sua bochecha. Milena
segurou sua pele, e eu vi o sangue no
lábio cortado enquanto seus olhos me
encaravam chocados. Encarei meu anel
de diamante com um rastro pequeno do
seu sangue e a encarei.
— Nunca mais fique no mesmo
ambiente que eu. Na próxima, eu mesma
colocarei uma bala na sua cabeça e vou
amar isso. Eu não preciso que Rocco
faça por mim — afirmei lentamente e
rodei minha aliança fina em meu dedo
anelar. Me olhei no espelho e limpei a
borda do meu batom escuro.
Peguei papel toalha e limpei meu
diamante enquanto me virava para
Milena. Eu sorri.
— Divirta-se na festa. Porém,
você deveria estancar... sabe? — Toquei
meu lábio erguendo as sobrancelhas,
indicando o que ela deveria fazer.
Milena baixou os olhos e não me
encarou enquanto eu saía e a deixava
acuada no canto, como um animal
quebrado.
Que eu amei quebrar.
Ela estava demorando.
Apenas isso ficou se repetindo
na porra da minha mente a cada vez que
cumprimentei alguém. Olhei pelo
caminho que ela foi e me ergui, pronto
para segui-la, porém seu cabelo loiro
apareceu. Seus quadris balançaram e sua
coxa apareceu pela fenda enquanto
andava. Meu pau pulsou, desejo me
fazendo ver escuro. Seu decote era
demais para mim, fundo demais e seus
peitos pesados estavam empurrando o
tecido vermelho escuro. Os olhos dos
homens a acompanharam e eu encarei
cada um querendo tirar minhas facas e
enfiar no olho de cada um deles. Esses
fodidos miseráveis não sabiam que ela
era minha?
— Não mate ninguém — Matteo
pediu divertido e eu percebi que ainda
estava de pé e tenso.
— Cale a porra da boca —
rosnei para meu irmão, e ele ergueu as
mãos. Sienna chegou e sentou em seu
lugar. — Por que você demorou? —
perguntei, irritado e Sienna nem mesmo
fingiu me ouvir. Ela me ignorou.
Simples.
— Eles chegaram — Prince
anunciou antes que eu pudesse fazer
Sienna me responder. Vi Romeo e sua
esposa entrando juntos. As pessoas
encaravam Lunna do mesmo jeito que
encaravam Lake. Pelo passado e pelo
sangue de ambas.
Romeo guiou Lunna até a gente e
Sienna tentou se erguer, porém apertei
sua coxa, parando-a. Ela me olhou
franzindo o cenho e eu me inclinei
sentindo seu cheiro.
— Você não vai sair do meu lado
outra vez. Se contente em ver Lunna de
longe.
Seu corpo ficou rígido e suas
mãos se fecharam em punhos. Eu sorri
encostando minhas costas na cadeira,
olhando Romeo.
— Lunna, é um prazer revê-la —
eu disse firme e escutei Sienna suspirar.
— Minha esposa pensa o mesmo,
aposto.
— Lunna, você está linda —
Sienna falou sorrindo, mas eu não
chequei a esposa do meu irmão. Sienna
era a mulher mais linda no local, Lunna
deveria estar bonita também, mas não
como ela.
— É um prazer conhecê-la. —
Lake se ergueu e sorriu. Eu assisti com a
garganta apertada as duas se abraçarem.
— O prazer é meu. Você é linda
— Lunna murmurou se afastando. Lake
sorriu feliz e Lunna se sentou ao lado do
meu irmão que acenou para mim.
A festa se encaminhou sem
nenhum acontecimento. Não iriamos
apresentar Lake como em um leilão ou
alguma porcaria perto disso. Era uma
apresentação silenciosa. Eles a viram,
sabiam quem ela era e os que não
soubessem, ficariam sabendo em breve.
Era um casamento, eu não iria
ameaçar meu povo com isso agora. Em
breve, no entanto. Eles precisavam
saber que Lake era a Outfit. Eles
deveriam aceitá-la e protegê-la. Fazia
uma semana que não sabia mais de
nenhum traidor, eu matei todos.
Esperava que isso continuasse. Queria
minha cidade limpa.
— Vamos para a mansão — Lake
pediu a Lunna enquanto saímos do local
da festa depois de nos despedir do
noivo e noiva.
— Lake. — Romeo semicerrou
os olhos para nossa irmã enquanto
ficava ao lado de Lunna.
— Por favor, Romeo? Só vamos
comer pizza e assistir um filme. Depois
vocês vão...
— Não insista — Prince pediu
tocando o ombro dela.
— Ainda é cedo — Sienna falou
pela primeira vez ao meu lado e eu
toquei sua cintura. O corpo rígido não
era mais uma novidade. — Só um filme
e depois vocês vão para casa.
Romeo me encarou e acenei, sem
vontade de impedir três garotas de
assistirem a merda de um filme.
Nós fomos para casa juntos e
quando chegamos as três começaram a
subir as escadas, porém detive Sienna
apertando sua cintura e a puxando contra
meu peito.
— Não tire o vestido.
Sienna estremeceu com a
promessa em minha voz e eu me inclinei
beijando sua pulsação, sentindo-a contra
meus lábios. Quando a soltei, ela seguiu
as meninas, sem me responder.
Tirei o paletó e me virei
andando para a sala de jogos, onde
Matteo e Prince estavam em uma partida
de vídeo game. Peguei o cardápio da
pizzaria e enviei imagens a Sienna. Não
demorou para elas escolherem os
sabores que queriam.
Pedi as pizzas habituais que
meus irmãos e eu gostávamos e
acrescentei as delas. Me sentei no sofá e
fiquei assistindo a corrida.
— Você vai precisar de mim
amanhã? — Matteo questionou e eu o
encarei, erguendo a sobrancelha. —
Quero ir a Oak Park. Vou com Travis.
— Continue — pedi, me
inclinando e descansando meus
cotovelos em meus joelhos.
— É só uma festa — ele
resmungou colando os olhos na tela
novamente.
— Tanto faz. Não se meta em
merda.
Ele acenou revirando os olhos e
Prince riu por trás do seu controle.
— Lunna ficará conosco? — ele
perguntou depois de finalizar sua
partida. Ele tinha ganho. Grande
novidade.
— Claro que não. Temos nossa
casa — Romeo falou rápido e eu fiquei
calado. — Logo cada um de vocês vão
embora também. Rocco e Sienna em
breve terão a casa só para eles.
— E para os filhos deles —
Matteo murmurou me fazendo o olhar. —
Imaginou pequenos Roccos? Meu deus,
o mundo acaba nesse dia. — Meu irmão
riu e eu apenas o ignorei.
— Eu não vou embora e Lake
também não — Prince falou rápido e
todos nós o encaramos.
— Você vai casar um dia, se não
pela máfia, será porque vai encontrar
uma garota — Romeo teve a paciência
de explicar.
— Não vou.
— Vai. E Lake também, então,
pense nisso com mais carinho — o
cortei abruptamente e Prince apertou os
olhos.
— Ela não vai casar, ela não
está pronta para isso...
— Ela vai estar quando eu
decidir. Não forçarei Lake a casar antes
de saber que ela está pronta, não se
preocupe — murmurei o encarando
firme.
— Enfim, todos vão embora, eu
estou na minha casa há anos. Não tem
motivos para mudanças. Lunna só virá
mais vezes aqui, se não se importarem,
obvio — Romeo falou percebendo a
tensão e me olhou. Dei de ombros,
Lunna não me incomodava.
Tempos depois a pizza chegou e
Romeo foi deixar as das meninas. Horas
depois todo mundo se separou e eu subi
com Romeo. Parei no quarto de Lake e
entrei vendo as três na cama com a
atenção fixa na tv. Sienna foi a primeira
a perceber nossa chegada.
— Vamos, Lunna — Romeo
chamou ao meu lado e sua esposa se
sentou. Ela se despediu das meninas e
pegou seus sapatos caminhando para
fora. Romeo a seguiu.
Sienna pegou seus sapatos
também e beijou Lake que já estava de
pijama.
— Tire a maquiagem — Sienna a
avisou e minha irmã acenou me dando
um sorriso.
— Boa noite, Lake.
— Boa noite, Rocco.
Sienna passou por mim e eu
fechei a porta de Lake. Segui a loira que
estava na minha mente mais vezes do
que eu desejava. Assim que chegamos
ao meu andar, ela se dirigiu ao seu
quarto.
— Para o meu — falei firme e
Sienna parou de costas, tensa. — Quero
você nua nos meus lençóis. Quero ver o
contraste da sua pele branca e dos
lençóis negros.
— Não. Vá atrás da Milena ou
das mulheres que estavam o satisfazendo
até hoje — Sienna negou se virando e eu
a encarei sem expressão. Essa porra é
séria?
— Eu disse que não a veria
mais.
— Mentiu. Você mentiu para
mim, porque ela insinuou que continuam
se vendo horas atrás na festa — Sienna
rosnou, tão irritada como nunca a vi.
Ciúme é uma praga, mesmo.
Me aproximei devagar e Sienna
ficou parada, esperando, me
surpreendendo por alguns segundos.
— Eu não minto para ninguém.
Sou verdadeiro, Sienna. Se eu tivesse
lhe traído eu falaria, porque nós dois
sabemos que se eu tivesse feito, não
significaria nada. Você ainda estaria
aqui, ao meu lado.
— Mas não na sua cama.
— Tem certeza? — perguntei
sorrindo vendo suas bochechas pegarem
fogo de raiva e vergonha. — Antes do
casamento, das nossas alianças e do
nosso dever, existe desejo. E,
passarinha, não queira se enganar, nós
nos desejamos como uma mariposa
deseja a luz. Incansavelmente.
Sienna engoliu em seco e eu
parei diante do seu corpo. Levei minha
mão ao seu pescoço pálido e segurei seu
rosto, tocando no diamante em sua
orelha.
— Quarto, Sienna.
Eu beijei e lambi seus lábios
vermelhos fazendo-a entreabrir a boca
para minha língua. Segurei sua cintura e
a puxei contra meu corpo, afundando
meu pau em sua barriga. Sua boca exigiu
a minha em troca enquanto ela segurou
meu rosto e aprofundou nosso beijo.
Andei em direção ao quarto e
Sienna tropeçou em seus próprios pés
enquanto eu a empurrava sutilmente.
Quando chegamos ao quarto eu me
afastei vendo o batom intacto.
— Vire.
Assim que Sienna me deu as
costas, eu baixei as mangas do seu
vestido. Sua pele limpa contra minha
mão tatuada era quase um quadro
pintado à mão, uma obra de arte. Beijei
seu pescoço enquanto descia o zíper
pequeno que deixou o vestido justo na
cintura. Quando o tecido caiu eu me
afastei vendo a calcinha vermelha
pequena. Sienna se virou e eu perdi
minha cabeça vendo seus peitos.
Me aproximei pegando seu
cabelo na base do pescoço e beijei sua
boca, com fome e desespero. Fazia
muito tempo, eu não seria suave hoje.
Sienna seria fodida, no melhor sentido
da palavra.
Deslizei as mãos até sua bunda e
ela me segurou quando a ergui. Coloquei
Sienna na cama e desci lambendo seus
mamilos ouvindo seus gemidos. Puxei
sua calcinha, rasgando-a. Sienna tirou
minha blusa e eu abri minha calça
descendo o zíper e tirando meu pau
inchado e irritado. Joguei as roupas para
longe e abri as pernas macias e longas
de Sienna.
— Se segure, passarinha —
avisei, grunhindo e entrei em seu corpo,
fodendo-a com força e rapidez. Sienna
gritou enquanto seus seios balançavam
me fazendo quase gozar. Seus olhos
grandes azuis me brindaram brilhando
de desejo e eu quase perdi a cabeça.
— Rocco... — ela implorou
gritando e eu levei minha mão ao seu
clítoris enquanto me inclinei mordendo
seu mamilo rosa. Sienna gozou me
apertando e sugando minha porra,
implorando por ela, e eu a dei. Cada
gota.
Caí em cima do seu corpo
gemendo e Sienna beijou meu ombro. Eu
me virei, apoiando meu peso em meus
cotovelos e colei meus lábios nos seus.
Sua língua varreu minha boca e eu mordi
seu lábio ainda pintado com o batom.
Tão linda merda.
Meu pau ficou duro novamente e
eu virei, colocando Sienna sobre mim.
Ela já sabia o que fazer, por isso se
moveu rápido. Ela apoiou suas mãos em
meu peito e gemeu rebolando no meu
pau.
— Passarinha — murmurei
gemendo e busquei seu clítoris sensível
com meus dedos. Sienna gemeu trêmula
e eu chupei seu mamilo mais uma vez.
Quando acabamos, ela caiu
sobre mim, cansada e eu agarrei seu
corpo, deslizando meus dedos pela sua
espinha, uma mania que eu tinha, mas
que não entendia bem.
— Por que ficou longe? —
Sienna questionou sonolenta e eu
ponderei isso em minha mente. Eu sabia
o motivo, mas não falaria a ela. Sienna
era perigosa. Perigosa para mim, pelo
menos. E isso não era sobre força, isso
era óbvio. Desde o dia em que ela me
desobedeceu e eu nem mesmo consegui
castigá-la, eu entendi o que ela
representava.
— Trabalho, Sienna. Muito
trabalho — murmurei sentindo seus
dedos deslizarem pelo meu peito
fazendo o mesmo movimento que minha
mão.
— Você sentiu minha falta? —
Sua voz soou tão baixa que eu quase
pensei que foi minha imaginação
pregando peças em mim.
— Você sabe a resposta para
essa pergunta. Eu gozei duas vezes em
menos de meia hora. Voltei a ser um
adolescente do caralho — murmurei
sério e senti sua risada vibrando em meu
peito.
Eu não deixei Sienna dormir
muito tempo, sempre voltando ao seu
corpo. Passei a noite assim e quando
amanheceu, eu ainda estava dentro da
sua boceta apertada.
Sienna se afastou e nós fomos
para o banheiro. Ela encheu a banheira
enquanto eu fui para o chuveiro.
Observei quando Sienna entrou na
espuma e descansou a cabeça na toalha.
Saí de dentro do box e me juntei a ela
depois de desligar o chuveiro. Deslizei
minha mão pela sua coluna enquanto ela
me olhou por cima do ombro.
— Não me afaste novamente —
Sienna pediu com os olhos azuis presos
nos meus e eu a puxei para o meu colo.
Não a respondi, porque
realmente não sabia mais o que diabos
fazer com essa mulher. Sienna fazia
parte de um plano do qual eu não abri
mão, porém pensava cada vez menos.
E eu não podia fazer isso.
Rocco me ajudou a sair da
banheira quando meus lábios já estavam
roxos. Ele se vestiu e desceu para
encontrar seus irmãos e sair. Não
esperei uma despedida, eu sabia que
Rocco não faria. Suspirei me
aproximando da janela e olhei o lago.
Era de tirar o fôlego. Girei observando
o quarto do Rocco e mordi meu lábio.
As cortinas eram pretas como os
seus lençóis e alguns dos móveis. Meu
olhar foi atraído para a cama e eu tentei
encontrar arrependimento por ter cedido
mais uma vez a Rocco. Ontem foi
incrível e eu desejei ardentemente a sua
aproximação. Amei seus toques e a
maneira que apenas ele sabe me tocar.
Porém agora, sozinha em seu quarto, as
palavras dele de semanas atrás golpeiam
a minha mente.
"— Quem você acha que é,
Sienna? Você não é nada. Porra
nenhuma e na próxima vez em que você
sair de casa sem a minha permissão, eu
vou matá-la. Sem remorso nenhum e
enviarei sua cabeça de volta para sua
família."
Eu cresci ouvindo que as
mulheres em nosso mundo deveriam ser
submissas. Baixar a cabeça, saber
quando deveríamos recuar. Perdoar sem
pedidos de perdão. Eu aprendi a ser
assim, sabia que faria todas essas coisas
em meu casamento, mas com Rocco... o
medo também me move. Eu confio nele
tanto quanto ele confia em mim. Nem um
pouco. Não existe confiança e eu temo o
momento em que algo saia do controle e
ele possa me machucar. Eu também
aprendi que o medo seria minha
companhia em um casamento. E eu
deveria contornar todas essas situações.
Mas eu não queria colocar em
prática as coisas que aprendi. Não me
sinto bem sendo submissa, não me sinto
feliz perdoando o que Rocco me falou,
sem ele realmente me pedir para
perdoá-lo. Ele nunca fará e eu sei disso.
Mas, ainda sim, me sinto sufocando por
ter aceitado ele de tão boa vontade.
Eu respirei profundamente e me
afastei da janela. Vesti uma roupa
qualquer e saí do quarto. Tebow estava
parado me esperando e eu me abaixei
acariciando suas orelhas. Ele estava
ótimo, nem parecia que tinha sofrido o
que sofreu dias atrás. Ele era tão forte.
— Vamos lá? — chamei me
erguendo e saindo em direção as
escadas.
Quando cheguei a cozinha Lake
estava com Matteo tomando café.
Procurei Prince, mas não o encontrei em
nenhum lugar próximo.
— Bom dia! — murmurei me
sentando e Lake sorriu enquanto Matteo
acenou focado em comer.
— Eu amei conhecer a Lunna.
Ela é tão linda. Romeo é sortudo.
Lake estava certa. Lunna não era
apenas bonita, ela era legal e simpática.
Ontem ficamos as três tentando assistir
filmes, porém Lake estava tão animada
por ter outra garota por perto que não
parava de falar um segundo. Lunna
também não ficava para trás. Ela estava
tão animada quanto Lake.
— Não se acostume. Lunna não
vai ficar vindo aqui — Matteo falou
antes que eu pudesse responder Lake.
— Por quê? Moramos perto, ela
é minha cunhada como Sienna...
Matteo encarou Lake e depois
seus olhos seguiram até mim. Eu me
senti derreter com o olhar acusatório
dele.
— Romeo não confia em Sienna.
Eu não o culpo, ela enganou todos para
ir a mansão dele. Ela poderia ter
machucado Lunna...
— Matteo... — Lake arregalou
os olhos, chocada e eu senti meu
estômago retorcer.
— Eu só queria conhecê-la...
— Você não tem de querer,
Sienna. Você faz o que seu marido
permite. Na próxima vez, peça a ele —
Matteo me cortou e eu engoli em seco
balançando a cabeça.
— Sei que não foi certo, sei
disso, mas vocês me tratam como uma
ameaça de nível máximo. Vocês acham
que Enrico me treinou para entrar aqui e
matar todos? Eu sou uma mulher da
Famiglia, uma mulher na máfia, Matteo.
Você sabe muito bem o que isso
significa. Eu não sei lutar, peguei em
uma arma uma única vez e fiquei de
castigo por isso. Eu não quero e nem
posso machucar quem quer que seja.
Lake e Lunna seriam as últimas pessoas
que eu machucaria.
Matteo se recostou na cadeira e
respirou fundo. Salvatore me ensinou
atirar e essa foi a única vez que toquei
em uma arma. Eu sabia o que fazer com
ela, por causa do meu irmão, mas
Matteo não precisava saber disso. Só
lhe daria mais munição para me atacar.
— Você veio do inimigo, Sienna.
Enrico nos quer mortos e comandar a
Outfit ele mesmo...
— Ele não quer isso. Enrico
quer a paz. Apenas isso...
— Um homem feito não deveria
desejar a paz. — Matteo se ergueu e
jogou o guardanapo na mesa. — Prince e
Lake podem confiar em você, mas a
minha confiança não é tão fácil. Vou
manter meus olhos em você, Sienna.
O irmão de Rocco saiu da sala
de jantar e eu fiquei encarando o lugar
vazio que ele deixou. Não me enganei,
eles realmente não confiavam em mim.
— Sienna...
— Está tudo bem — eu a
interrompi e tentei sorrir. Lake suspirou
enquanto eu me movi e peguei minha
comida. Engoli tudo a força, fingindo um
bem estar que eu não sentia.
Quando Rocco voltou no final da
noite eu estava na sala com Prince e
Lake. Os dois estavam jogando e a irmã
Trevisan estava furiosa por ter perdido
todas as rodadas. Rocco parou na
entrada da sala e eu tentei não olhar
diretamente para ele. Foquei meus olhos
na TV e vi Lake jogar a almofada na
cara de Prince por ter perdido mais uma
vez.
— O que está fazendo? —
Rocco perguntou e eu estremeci levando
meus olhos ao seu rosto. Ele estava
focado em Lake, no entanto.
— Jogando com Prince, mas ele
não me deixa ganhar.
— Você precisa se esforçar.
Aprenda, estude e depois ganhe. Não
espere que os outros lhe deem a vitória
de mão beijada. A vida não é assim —
Rocco falou firme enquanto Lake o
olhou de volta. Ela ficou em silêncio por
alguns segundos e depois acenou.
Algo estava errado com ele,
percebi quando olhei para meu marido.
Seu olhar estava escuro, seus ombros
tensos e os punhos cerrados.
— Estou saindo — Prince
avisou a Rocco enquanto se erguia e eu
vi seus machucados novos nas juntas das
mãos. Ele tinha saído com Rocco pela
manhã, mas retornou sozinho à tarde.
— Vou tomar banho e desço para
o jantar — Lake disse deixando o
controle do jogo na mesa de centro.
Quando ela sumiu eu me ergui.
Rocco andou até o bar e se
serviu de uísque. Observei enfeitiçada
seu pomo de adão subir e descer
lentamente enquanto ele tomava a
bebida.
— Seu irmão está em Chicago.
— As palavras soaram e eu arregalei os
olhos dando um passo até Rocco, rápido
demais. — Você o avisou sobre o
ataque?
— Não. Eu não...
— Suba — Rocco ordenou tão
firme que eu não reconheci o homem que
me beijou e deixou que eu dormisse com
ele ontem.
— Onde ele está? — implorei,
soando tão fraca quanto eu realmente
era. Se Sal estava aqui, ele poderia estar
machucado. Eu sabia que existia a trégua
entre a Outfit e a Cosa Nostra, porém a
vinda de Salvatore não foi solicitada e
nem avisada previamente. Eu sabia que
tinha algo errado.
— Para o quarto, Sienna.
Rocco retornou a mandar e eu
fiquei parada. Ele se virou com o copo
entre os dedos e eu quis chorar ao ver o
sorriso distorcido, malvado e impiedoso
no seu rosto.
— Eu estou implorando...
— Não o faça! — ele me
interrompeu com um berro e eu mordi
meu lábio.
— Ele está bem? Só diga isso...
— Não implore. Não peça por
ninguém. Você é uma Trevisan agora e
nós não pedimos. Não imploramos nada
a ninguém.
— Rocco, ele é meu irmão! Me
diga isso. Você iria querer saber se
fosse um dos seus! — eu gritei,
assustada com sua recusa e Rocco andou
até mim tão cheio de si, de confiança.
— Ele vai morrer, Sienna —
Rocco murmurou e meus joelhos
fraquejaram. — Leve ela para o quarto
— ele ordenou a alguém e eu senti
braços me pegarem, porém me mexi,
cheia de forças e finquei minhas unhas
na pessoa que ousou me tocar. Caí no
chão e a pancada me fez resfolegar de
dor.
— Não faça isso! Rocco, não
faça isso! — eu gritei me erguendo e
toquei em suas pernas. Ele me olhou de
cima e eu tremi, com tanto medo como
nunca senti.
Ele mataria meu irmão. Eu me
sentia fracassada, derrotada no jogo
doentio que Rocco amava jogar.
A pessoa que ele ordenou me
pegou novamente e dessa vez eu deixei
me levarem.
Salvatore. O rosto do meu irmão
piscou em minha mente e eu fui colocada
para baixo. Romeo me encarou e eu
deixei as lágrimas descerem em uma
velocidade insana. Meus soluços
ecoaram pelo andar de Rocco e seu
irmão assistiu eu cair dentro de mim
mesma.
— Eu odeio vocês dois — eu
disse firme empurrando meus ombros
para trás. — Eu vou matar vocês.
— Não ouse, Sienna.
— Se você o deixar matar meu
irmão...
— Não termine. Não finalize
isso ou eu vou levar sua ameaça a
Rocco e eu pedirei pessoalmente sua
execução por traição. Não faça. —
Romeo andou para trás e eu o observei
enquanto tremia de ódio e medo. Tanto
medo.
Quando a porta bateu fechada eu
peguei meu celular e o liguei. Chamou
várias vezes e quando achei que iria
cair, eu o ouvi.
— Passarinha.
Eu arranquei o celular do meu
ouvido e desci pela parede, tremendo e
soluçando. Oh meu Deus. Sal está
realmente aqui. Apertei minhas
pálpebras e liguei para Enrico. Minhas
mãos tremiam e quando ele atendeu, eu
suspirei de alívio.
— Onde está meu irmão? —
questionei sem deixar ele falar.
— Ele foi pegar você ou
qualquer merda que ele tenha
alimentado. O rumor de um homem na
mansão tentando matá-la chegou aqui.
Salvatore agiu pelas minhas costas.
Rocco o pegou ainda na fronteira —
Enrico murmurou, parecendo cansado e
eu solucei.
— Ele vai matá-lo. Ele vai.
— É, ele vai — Enrico não
demorou a confirmar e eu passei a mão
pelos meus cabelos enquanto tremia
chorando. — Rocco deve estar ouvindo
nossa ligação, então saiba que a trégua
estará acabada assim que Salvatore cair
morto. E eu vou matar você, Rocco.
Eu fiquei muda, sem saber o que
pensar. Enrico desligou e eu segurei o
celular contra meu peito. Me arrastei até
a cama e ajoelhada, me aproximei da
cômoda. Meus dedos seguraram o objeto
preto e eu suspirei sentindo o cabo
gelado.
Quando Rocco entrou no quarto
eu estava na cama olhando para a janela,
vendo os pássaros voando em liberdade,
a mesma liberdade que eu nunca teria.
Ele se aproximou e parou na minha
frente, tampando a janela. Tirando de
mim a liberdade.
— Senta. — Sua voz estava
ainda mais firme, tão autoritária. Eu me
sentei me afastando e Rocco se sentou
também. Sua mão segurou meu rosto e eu
engoli a vontade de empurrá-lo. — Seu
irmão entrou em meu território, Sienna.
Para me matar e tirar você de mim —
Rocco anunciou trilhando minha
bochecha com os dedos. — Eu preciso
matá-lo.
— Rocco... — solucei com
novas lágrimas, e me movi sentando em
seu colo. Descansei meus joelhos em
cada lado da sua cintura e ergui os
olhos, vendo seu olhar azul tão parecido
com o oceano, límpido na superfície e
nas profundezas, uma escuridão
traumatizante. — Eu não quero implorar,
mas é meu irmão. Ele é meu irmão, ele
ainda é jovem como Matteo. Você sabe
disso...
— Não posso poupá-lo.
Eu peguei a arma embaixo do
travesseiro e puxei a trava. Rocco ouviu
e viu quando eu a ergui e apontei para a
sua cabeça. Na sua têmpora. Minha mão
tremia e as lágrimas em meus olhos
eram cruéis.
— Solte-o. Deixe que ele volte a
Itália — ordenei tentando soar firme
enquanto segurava a arma pesada contra
a cabeça do meu marido. Rocco só me
olhou, ele não parecia nervoso ou com
medo, Rocco só estava me estudando
com os olhos azuis que eu adorava. —
Rocco...
— Aperte o gatilho. — Eu
arregalei os olhos e Rocco segurou
minha cintura. Suas mãos apertaram meu
quadril, dedos fincando em minha pele,
e ele se inclinou, deixando a cabeça
colada ao cano da arma. — Ou você me
mata ou eu mato-o. Escolha, Sienna.
Meu ar cortou e Rocco se
aproximou mais, deixando sua boca tão
próxima da minha quanto quando nos
beijávamos.
— Me mate, Sienna.
Não. Sim.
Sal viveria se eu fizesse, ele...
parei, me afastando e desci do colo do
meu marido ainda mirando nele. Rocco
se ergueu também e eu tremi, segurando
a arma com força.
— Romeo o matará — disse,
sabendo que era a verdade. — Ele me
matará assim que você cair.
— Ele não fará — Rocco falou e
sorriu, cínico, perigoso, mortal. —
Aperte o gatilho, Sienna. Faça. Me mate
e eu juro sobre a Outfit que seu irmão
sairá daqui vivo.
Rocco me pediu pela morte
sorrindo, tentando me convencer, mas eu
não poderia lhe dar. Mesmo que eu
desejasse no fundo da minha alma,
mesmo que eu implorasse a mim mesma
para fazer. Eu não consegui.
Eu não fui adiante, porque eu o
amava. Eu amava Rocco e eu morreria
por isso.
Minha mão tremeu e eu puxei a
arma em minha direção. O cano frio
tocou minha têmpora e eu ergui o olhar
para Rocco. Ele semicerrou os olhos,
sua primeira resposta a arma, e eu
engoli em seco.
— Eu vou atirar — avisei,
erguendo o queixo e Rocco me olhou
tenso, porém não se mexeu. — Peça a
Romeo para deixá-lo ir.
Rocco olhou para mim, dos pés à
cabeça, e sorriu. Quando ele o fez, eu
sabia que era o fim.
Imaginei Salvatore morto em
algum lugar, no sofrimento da minha mãe
em perder mais uma pessoa. Eu pensei
em mim, amando o homem que matou
meu irmão. Eu não precisei de muito.
Meu dedo apertou o gatilho e fechei os
olhos, tremendo.
Vai ficar tudo bem.
A coragem é para poucos. As
pessoas acham que apontar uma arma
para a própria cabeça é um sinal de
fraqueza, eu discordo. Pensar em tirar a
porra da sua vida, perder tudo que tem e
as pessoas que gosta, é a porra da
coragem. Você precisa ter coragem para
tirar o que é mais precioso no mundo,
nossas vidas.
Porém, a coragem é burra.
Ela nem sempre é louvável, pelo
contrário. Ela te deixa ignorante e
idiota, ela te faz fazer coisas imbecis.
Como o que Sienna fez. Eu nunca
senti medo como na noite em que salvei
Lake. Porém, ao ouvir o clique da arma
contra a têmpora de Sienna, eu senti o
sentimento repugnante se impregnar em
mim.
Dei um passo em sua direção,
mas nada aconteceu. A arma estava
descarregada. Sienna soltou a minha
Glock e caiu de joelhos tremendo e
chorando diante de mim, abraçando a si
mesma.
— Você apertou — murmurei
parado e ela soluçou mais alto.
— Saia. — Sua voz soou
enfraquecida e eu me aproximei,
pegando-a pelos ombros. Sienna se
soltou rapidamente e manteve distância
dando passos para trás. — Só vai. Saia
daqui Rocco! — ela gritou erguendo os
olhos e eu a alcancei.
— Você sabia que ela estava
descarregada? — questionei com raiva
inundando minhas veias. Sienna me
olhou com ódio em sua íris azul. Eu não
dei a mínima, eu queria saber sobre a
arma. — Você sabia.
— Não. Eu não sabia.
— E por que fez? Por que você
fez isso? — questionei baixo, apertando
seu corpo.
— Porque eu prefiro morrer a
viver com um homem que matou meu
irmão. Eu prefiro morrer a deixar você
me tocar, me beijar e me ter. Eu odeio
você, Rocco! — Sienna despertou
gritando a plenos pulmões e eu a soltei,
quando ela me empurrou. — Saia!
— Tudo bem — murmurei a
encarando e me virei para sair. Porém,
parei ao tocar na maçaneta da porta.
Voltei para a cama e peguei a arma que
ela deixou cair.
Quando saí novamente eu me
virei. Sienna estava me olhando e as
lágrimas banhavam seu rosto com
bochechas rosadas e lábio molhado.
— Venha.
Eu me virei e saí. Não olhei para
trás para ver se ela me seguia. Eu sabia
que faria, porque Sienna pode ser tudo,
menos burra. Ela sabia onde eu a
levaria.
Quando desci ao porão no
Village, Sienna estava mais calma e seus
cabelos presos no alto da cabeça.
Romeo estava ao redor encarando a mim
e Sienna, em silêncio. Eu abri a porta do
quarto ignorando meu irmão. Salvatore
estava de pé no centro do quarto, me
observando. Ele era jovem, mas, como
sua irmã, corajoso. Quando ele viu
Sienna, o brilho de alívio foi nítido,
porém ele mascarou rapidamente.
— Você veio me matar? — Eu
inclinei a cabeça e peguei um dos meus
cigarros. Eu o acendi e traguei a fumaça,
soltando-a depois. — Nossa trégua está
acabada.
— Eu não dou a mínima para a
sua trégua. Queria ver se Sienna estava
bem, já que você não a protegeu. Não
sou idiota, sei que jamais o mataria,
porém, Sienna é minha irmã. Eu devo
lealdade a ela.
— Sienna é uma Trevisan. A
lealdade dela está em mim, na Outfit.
— Então, por que a Outfit não a
protegeu? Não confia nela? Por que
você não confia nela? — Salvatore
perguntou mordaz e eu sorri. Ele era um
garoto corajoso, eu admiti para mim
mesmo.
— Se eu não confiasse em minha
esposa, ela não estaria aqui — disse me
sentando na poltrona confortável.
Salvatore não me deu as costas um
minuto, ele virou e me encarou com a
mesma atenção que dava a Romeo na
entrada.
Movi meus olhos para Sienna e
ela engoliu em seco dando um passo até
seu irmão. Ela não o abraçou, apenas
segurou sua mão enquanto seus olhos se
enchiam de lágrimas.
— Desculpa. Eu não fui boa...
— Não se desculpe — ordenei
sobre a sua voz e Sienna estremeceu,
engolindo em seco.
— Você não tem culpa, Si.
Nenhuma. Agora, saia daqui. Mamãe
ficará bem.
— Não! — Sienna se virou para
mim, ficando na frente do irmão. Quando
ela me olhou, eu senti meu corpo ser
rasgado ao meio. Toda a dor que estava
em seus olhos me sufocou. — Rocco,
por favor. Eu faço o que quiser. Tudo.
Eu prometo, mas deixe ele ir.
— Sienna — Salvatore a
repreendeu, mas os olhos dela estavam
cravados nos meus. Olhei para Romeo e
acenei, mandando-o levar Salvatore
para fora. Ele o fez, porém Sienna não
se mexeu. Ela sabia que eu o mataria,
não Romeo.
— Não — murmurei me
erguendo e ela piscou, deixando mais
lágrimas caírem.
— Eu vou conseguir na próxima
vez. — Suas palavras me encheram de
fúria. Eu me movi rápido e a peguei,
puxando-a contra mim. Sienna sufocou
uma respiração, surpresa e eu me
inclinei olhando dentro dos seus olhos.
— Se você fizer isso
novamente...
— Deixe-o ir. Eu não farei. Eu
juro. — Sienna me olhou firme, lágrimas
ainda nadando em seu olhar. — Rocco.
Eu prometo.
— Você não tem poder sobre
mim, Sienna — avisei, porém, as
palavras pareciam ser jogadas para
mim, na minha cara, não na dela.
— Eu sou a única chorando. Eu
sou a única pessoa com tanto medo que
nem consegue respirar direito. Eu sou a
única implorando, Rocco. Como diabos
você pode sequer pensar que eu acho
que tenho poder sobre você? Eu nunca
imaginei isso e eu sei que isso nunca
aconteceria. — Sienna tocou minha
blusa e apertou o tecido entre os dedos.
— Você realmente acha isso? Olhe para
meus olhos e veja você mesmo, Rocco.
Você é o único que tem poder sobre
outras pessoas, sobre mim.
Eu a encarei pelo que pareciam
ser anos, porém Sienna se aproximou
mais, rodeando meu pescoço com os
braços.
— Não faça isso, Rocco. Por
favor, reconsidere. Por favor...
— Pare de implorar — cortei
sua fala, irritado e Sienna se afastou
limpando o rosto. — A trégua acabou,
Sienna. Eu vou matar cada membro da
Famiglia que entrar em meu território.
Seu irmão vai voltar para casa, mas vai
com uma mensagem.
Sienna engoliu em seco, porque
ela não era ingênua. Ela sabia o que eu e
seu irmão fazíamos. Sienna é a máfia
tanto quanto nós.
Matteo levou Sienna para casa e
eu continuei no quarto esperando por
Romeo e Salvatore. Quando eles
retornaram, eu me ergui e vi meu
cunhado ficar de pé ao lado da cama.
— Onde Sienna está? — ele
questionou enquanto eu me movi para
Romeo. — Rocco! — meu cunhado
gritou, porém apenas fechei a porta e me
virei para meu irmão.
Andei para o final do corredor e
Romeo ficou em silêncio, me
observando.
— Você vai deixá-lo voltar —
Romeo afirmou antes que eu dissesse
algo. Inferno.
— Vou — confirmei erguendo os
olhos e meu irmão balançou a cabeça.
— O que vai dizer aos que
capturaram ele?
— Eu não preciso dizer nada! Eu
sou o dono dessa cidade, eles me devem
lealdade e obediência — respondi com
firmeza e irritação pela pergunta
ridícula.
— Por causa dela? É, sério?
Você gosta da Sienna — Romeo afirmou,
e nem se mexeu quando eu puxei seu
colarinho e o empurrei na parede. —
Olhe para si mesmo, Rocco. Eu sou seu
sangue, sua carne, eu lutei por você. Não
faça essa merda. Mate-o, agora.
Eu me afastei encarando tão
firme quanto eu podia. Meus punhos se
enrolaram e eu apertei, querendo socar
algo.
— Não vou matá-lo. Isso não
está em discussão. Ele vai para casa e
levará com ele um lembrete do que farei
com os próximos que ousarem.
Romeo respirou fundo e acenou,
se afastando.
Quando eu estive mais uma vez
diante de Salvatore eu não recuei, não
titubeei. Seus gritos abafados não me
causaram nada. O ódio na sua íris, não
fez nada a mim.
Eu estava dormente.
Mais uma vez.
Sienna estava na banheira
quando cheguei em casa. Os olhos
vermelhos e inchados denunciavam que
ela chorou mais um pouco quando voltou
para cá. Eu tirei minha blusa quando eu
pisei mais forte, e ela ouviu meus
passos. Tirei o restante da roupa e entrei
atrás dela na banheira. Sienna ficou
tensa quando peguei em seus ombros,
porém relaxou em seguida.
Eu não falei nada, ela também
não.
Segurei seus quadris e a fiz
sentar em mim, deslizei minha mão entre
as suas pernas e brinquei com sua
boceta. Sienna não gemeu como todas as
vezes, mas eu sentia sua lubrificação
mesmo na água. Eu sentia sua boceta
sugar meus dedos. Troquei meus dedos
pelo meu pau e segurei o queixo de
Sienna, fazendo ela me olhar. Quando vi
o sangue caindo do seu lábio, causado
por seus dentes ao tentar abafar seus
gemidos, eu me inclinei e lambi. O gosto
era doce, tanto quanto o da sua
virgindade.
Brinquei com sua boca enquanto
fodia sua boceta e Sienna gemeu, alto,
forte, sem conseguir se conter quando
gozou e puxou meu sêmen para ela. Sua
cabeça descansou na borda da banheira
e eu me afastei para me erguer. Peguei
Sienna nos braços e a carreguei até o
meu quarto, até a minha cama.
Deitei ao seu lado e a puxei para
mim, enquanto ainda estávamos nus e
molhados. Sienna ficou tensa quando eu
a encarei.
— Eu sei que me odeia, Sienna.
Está tudo bem. Eu entendo você. Se eu
fosse você, também me odiaria.
Ela fechou os olhos, e se
aconchegou em meu peito. Puxei a nossa
coberta e cobri nossos corpos. Sienna
adormeceu, mas eu não conseguia.
Quando a madrugada deu lugar aos raios
de sol, eu ainda estava de olhos abertos,
tentando entender o que fiz.
Romeo estava certo. Eu não
podia ter deixado Salvatore ir embora
com vida.
Saí do quarto depois de vestir
uma roupa e desci, encontrando Matteo
na sala, chegando de algum lugar.
— Onde estava? — questionei,
semicerrando os olhos.
— Com Travis no Village e
depois partimos para a casa dele, em um
after — Matteo respondeu caminhando
até as escadas e eu fiquei em silêncio.
Meu irmão parou e virou me
observando. — O que foi?
— Nada. Vá descansar. — Eu o
dispensei e andei até a cozinha. Mama L
estava preparando café quando entrei.
Ela me serviu tremendo e eu bebi a
bebida quente sem açúcar.
Não me surpreendi ao ver
Romeo entrando. Ele sentou ao meu lado
e a empregada o serviu, porém com
açúcar.
— Lunna quer vir passar o dia
aqui. Ela pediu ontem — meu irmão
avisou e eu dei de ombros, realmente
não me preocupava com Lunna aqui. —
Ficarei com elas.
— Pare de ser tão protetor.
Sienna não faria mal a ninguém — falei
o encarando e Romeo respirou fundo.
— Você deve estar certo. Aliás,
Lunna odiaria se eu ficasse ao redor.
— Prince melhorou nos golpes
— avisei mudando de assunto e
mostrando minha barriga. Tinha um roxo
que o merdinha deixou em mim ontem.
— Bom. Matteo já luta bem,
Prince está se encaminhando. Tudo vai
se sair bem até lá — Romeo afirmou e
eu acenei. Tudo sairia do jeito que eu
planejei.
Saí de casa logo em seguida com
Romeo e fomos para alguns
empreendimentos mais afastados de
Chicago. Reuni meus homens de lá e fiz
reuniões com meus capos para
prestações de contas. Eu sorri, animado
quando tudo acabou e entramos em
nosso carro.
— Triplicamos a porra dos
lucros. Porra — Romeo murmurou rindo
e eu sorri de volta.
— Trabalhando. Eu queria ver a
cara do fodido vendo meus números. Ele
ia explodir de ódio — resmunguei
acelerando e Romeo me olhou.
— Somos melhores que ele em
tudo.
— Cada maldita coisa.
E eu vou morrer sendo, porque
um dia ele me olhou nos olhos e me
disse que eu era lixo. Que eu não seria
um homem feito, que eu não seria digno,
que eu morreria na rua, abandonado. Um
bastado.
Você estava enganado, pai.
Eu sou um homem feito.
Eu sou o rei da Outfit.
E eu a tirei dos seus dedos
enquanto você sangrava aos meus pés.
Acordei mais tarde do que eu
costumava. Relutei em sair do quarto
penteando meu cabelo e olhando para as
roupas que estavam se amontoando no
closet de Rocco. Ele percebeu que elas
estão aqui? Mordi meu lábio amassando
a borda do meu vestido.
Quando minha barriga roncou, eu
desci com Tebow ao meu lado deixando
isso longe da minha cabeça.
A noite de ontem foi excruciante
para dizer o mínimo. O rosto tenso e
forte de Salvatore ficava se repetindo
em minha mente e eu estremecia a cada
vez que imaginava o que Rocco fez a
ele. Porém, eu estava tentando não
pensar. Eu queria apenas ser grata ao
universo e a Deus, por Rocco o ter
deixado voltar para casa vivo.
Eu apertei meu vestido quando
ouvi risadas femininas. Ao me
aproximar da cozinha sorri
instantaneamente vendo Lunna e Lake
juntas. A esposa de Romeo estava com
molho na bochecha enquanto Lake
apenas ria.
— O que estão aprontando? —
perguntei me aproximando e ambas
sorriram ao me ver. — Bom dia!
— Bom dia, Sienna! Cheguei há
algumas horas. Vim passar o dia com
vocês — Lunna anunciou e eu sorri,
animada e a abracei.
— Deveriam ter me acordado.
Perdi as horas dormindo. — Fiz uma
careta e beijei a cabeça de Lake.
— Hum, Rocco não deixou —
Lake explicou e eu lhe dei um sorriso
tenso. É claro que ele não deixou.
— O que está fazendo? —
perguntei a Lunna e ela me mostrou a
lasanha de carne deliciosa no forno. Já
era quase a hora do almoço, me toquei.
— Não sei cozinhar tão bem,
mas estou aprendendo algumas coisas.
Lasanha é a minha especialidade —
Lunna sorriu murmurando.
— Está linda. Estou faminta. —
Eu sorri me sentando ao lado de Lake.
Eu pus a mesa para todos,
mesmo sem saber se Rocco e Romeo
estavam na mansão. Quando Lunna
colocou a lasanha enorme na mesa os
homens da casa começaram a aparecer.
— Lunna — Matteo a
cumprimentou sem olhá-la e Prince
estava com o rosto virado para a janela
que dava vista para a floresta.
Romeo apareceu com Rocco e eu
deixei meus olhos presos ao meu prato.
Lunna cortou a lasanha e se serviu.
Todos nós fizemos o mesmo e logo
estávamos comendo.
— Está deliciosa. Você deveria
me ensinar — eu pedi, olhando para a
mulher de cabelos escuros e olhos azuis.
— Oh, é claro! Eu tenho um
caderno de receitas que eu trouxe de
Nova Iorque... — Sua voz baixou e seus
olhos se arregalaram, me fazendo ficar
confusa. Quando olhei para todos na
mesa, eles estavam encarando-a,
fazendo ela ficar desconfortável. Lake
era a única tão confusa quanto eu.
Se Lunna era de Nova Iorque,
isso queria dizer que ela não era da
Outfit.
— Vou pegar com você depois
— falei, tentando quebrar a tensão. Os
homens voltaram a comer e Lunna me
deu um sorriso agradecido.
Nós almoçamos e eu vi que o
tempo estava mais firme. O sol tinha
saído e não estava tão frio quanto dias
atrás.
— Vamos ao lago? — chamei as
duas quando os homens saíram para
algum lugar.
— Eu não trouxe biquíni —
Lunna murmurou e eu subi as escadas
com elas.
— Eu tenho alguns que nunca
usei. Você pode ficar com um deles.
Ela acenou e nós saímos de casa
meia hora depois. Tirei meu vestido e o
biquíni branco apareceu. Ele era
pequeno na parte inferior, mas foi o que
mais se ajustou em meus peitos. Lake
estava com um vermelho e Lunna com
um preto que contrastava com sua pele
tão branca.
Andei até a borda do cais e
pulei. A água tão gelada quando entrei
na vez em que Rocco me trouxe aqui,
agora estava mais morna, gostosa de
entrar. Lunna pulou assim que emergi
sorrindo. Lake veio em seguida e nós
rimos jogando água uma na outra.
— Você avisou a Prince que
estaríamos aqui, certo? — perguntei a
Lake enquanto nadava.
— Sim. Eles estão na academia
treinando — respondeu e eu acenei,
aliviada. Não queria que eles surtassem
procurando por nós.
— Você já foi prometida a
alguém, Lake? Eu tinha sua idade
quando fui prometida a Romeo — Lunna
murmurou sorrindo e eu fiquei tensa.
Lake negou com um suave balanço da
cabeça.
— Vocês estão casados há muito
tempo? — perguntei, tentando mudar de
assunto.
— Dois anos. — Lunna sorriu
para mim.
— Por que ainda não tiveram
filhos? — A voz de Lake questionou e
Lunna engoliu em seco com seu sorrindo
deslizando.
— Não era o momento, eu acho.
Não sei se Lake percebeu, mas
eu sim. Lunna parecia triste. Ela queria
bebês?
— Você quer ter filhos? —
perguntei, curiosa e Lunna se acendeu,
acenando firme.
— Muito. Quero três filhos. —
Ela sorriu e Lake também. — E quero
que eles se pareçam com Romeo.
Imaginei filhos parecidos com
Rocco. Crianças correndo nesse jardim,
pela casa e brincando com Lake, Prince
e Matteo. Eu estremeci, empurrando a
onda de desejo. Eu não podia trazer
bebês a essa loucura.
— Você não quer? — Lunna
perguntou boiando na água e eu engoli
em seco.
— É cedo demais.
Nós mudamos de assunto e nos
sentamos no cais pegando sol. Eu
encarei o céu e os pássaros
sobrevoaram logo acima de mim.
Suspirei, ouvindo Lake cantando
baixinho.
— Vocês os amam? — A música
dela parou, e a pergunta soou em
seguida.
— Loucamente — Lunna não
titubeou ao responder. Eu a olhei e seu
rosto era sereno. — Eu o amei desde o
dia em que o vi. Ok, vocês podem não
acreditar em mim, mas eu me apaixonei
à primeira vista.
— Nossa, Lunna. Será que vai
ser assim comigo? Será se vou gostar do
meu marido? — Lake questionou e a
ansiedade em sua voz era palpável.
— Não se sabe, mas eu e Sienna
esperamos que sim. Não é, Sienna? —
Lunna puxou minha atenção para si e eu
acenei, pegando a mão de Lake.
— Você vai se casar apenas com
quem amar, Lake. Eu prometo.
Lake acenou, suspirando e eu me
sentei, olhando para o lago. O sol estava
baixando e a água refletia a luz. Era
lindo.
— Você não respondeu. Você
ama Rocco? — Lake recordou a
pergunta e eu abracei minhas pernas me
sentando de lado, para ver ambas.
— Eu não sei — menti
encarando-as e desviei o rosto para o
pôr do sol novamente. — Eu nunca me
apaixonei, então não sei — reforcei
quando não falaram nada.
— Você saberá quando o amar.
Nós sempre sabemos — Lunna disse e
eu suspirei, acenando.
Eu já sabia.
Lake e Lunna correram pelo
jardim e eu as segui carregando meu
vestido e chinelos. Parei de andar
quando vi uma sombra no andar de
Matteo, na academia. O arrepio em meu
corpo me disse quem era.
Romeo estava na sala quando
entramos e encarou Lunna dos pés à
cabeça no biquíni, porém desviou
quando viu que estávamos vendo.
— Vamos nos trocar e descemos
para fazer o jantar — Lunna o avisou
subindo as escadas e eu acenei,
seguindo-a.
Lake e ela foram para o quarto e
eu fui para o meu. Puxei a corda do
biquíni, porém antes dele descer ouvi
Rocco. Me virei segurando a peça
pequena e vi ele fechar a porta. Seu
olhar era de puro desejo e eu estremeci
em antecipação.
— Preciso ir ao médico — falei
assim que ele virou de volta para me
olhar depois de fechar a porta. Rocco
semicerrou os olhos e se aproximou
tirando meu cabelo quase seco da frente
do meu rosto.
— Por quê?
— Preciso entrar no controle de
natalidade — falei firme e Rocco se
afastou um pouco. Porém, retornou se
inclinando em direção ao meu pescoço.
Ele beijou minha pulsação e eu suspirei.
— Você não quer meus filhos,
passarinha? — Rocco mordeu minha
pele e eu soltei o biquíni sem perceber.
Suas mãos agarraram meus mamilos e eu
suspirei, gemendo. — Responda.
— Sim, não... Só não é o
momento, Rocco — murmurei sob minha
respiração e ele me pegou nos braços,
segurando minha bunda.
Rocco me empurrou contra a
parede e puxou a corda lateral do meu
biquíni. Sua boca pegou meu mamilo
esquerdo enquanto a calcinha caiu, me
deixando nua. Ele empurrou seu pênis
para dentro de mim lentamente e eu gemi
sentindo sua língua sacudir em meu seio.
Rocco me fez gozar com alguns
toques em meu clitóris e mais uma vez
ele despejou dentro de mim,
desprotegido.
— Sua boceta deseja meu
herdeiro, pelo que parece — Rocco
murmurou com a voz rouca e eu encostei
minha testa em seu ombro enquanto ele
se retirou de mim. Desci dos seus
braços e me coloquei sobre as minhas
pernas instáveis, ainda sem respondê-lo.
— Você vai ter meu herdeiro,
passarinha. Uma hora ou outra. —
Rocco segurou meu queixo e me fez
erguer o olhar para o seu. — Mas, se
você quer, por agora, tomar
anticoncepcionais, tudo bem. Vamos ao
médico.
Eu acenei, engolindo em seco,
aliviada.

Encontrei Lunna na cozinha


depois de tomar banho. Ela sorriu para
mim enquanto separava os ingredientes
que pediu para Lake pedir a Matteo para
comprar. Ajudei cortando os legumes e
ela deixou música tocando. Eu ri quando
ela dançou e me juntei a ela, me sentindo
leve. Bem.
Meu celular vibrou em meu
bolso e eu o peguei. Meu coração
acelerou quando vi o nome de Salvatore.
Cliquei na mensagem e suspirei.
"Estou em casa. Obrigado,
Sienna."
"Você está bem? Realmente?"
"Sim. Não se preocupe comigo.
Preciso ir."
Eu suspirei, e mordi meu lábio.
Lunna me olhou e eu forcei um sorriso.
Ainda estava dividida em alívio
e raiva. Não conseguia tirar a cena de
ontem da minha cabeça. Da minha mão
tremendo e eu apontando a arma para a
cabeça de Rocco. Eu ficava me
perguntando por quê. Por que não atirei?
No entanto, dentro de mim, a
verdade era sangrenta, dolorida e difícil
de digerir ou pronunciar.
Eu amava Rocco. Porém, como?
Como eu o amava? Como eu me
apaixonei assim? Em qual momento? E
por quê? Eu amava o que nele? O sexo,
as intimidações, a possessividade?
A cada vez que eu parava para
pensar, mas culpada eu me sentia por
amá-lo.
Nós terminamos de preparar o
jantar rindo e dançando. Em seguida,
nós subimos para tomar banho. Vi Rocco
na cama, com o notebook no colo, assim
que entrei no seu quarto. Passei por ele
até o closet e peguei um vestido preto
bonito que eu havia usado e deixado
aqui junto com as outras coisas. O levei
para Lunna no quarto de Lake e ela me
agradeceu sorrindo.
Subi para meu quarto e escolhi
um vestido prata, curto e com mangas
finas. Não era nada demais, porém era a
primeira vez que Lunna jantaria
conosco. Eu queria estar bonita.
Voltei ao quarto do Rocco para
pegar um dos meus saltos que estavam
em seu closet e o vi na cama, ainda com
o computador.
— Você está bonita — Rocco
falou me olhando de cima a baixo
depois que saí com os sapatos.
Seu notebook agora estava
fechado e ele estava deitado, com a mão
atrás da cabeça. Sua barriga a mostra e a
linha da cueca visível acima da calça de
moletom.
— Vamos descer? É um jantar
importante — pedi, me aproximando e
ele segurou minha cintura, me puxando,
fazendo eu cair na cama. Rocco ficou
sobre mim e eu ofeguei assustada com
seu peso. — Rocco!
— Tire a calcinha.
— O quê? — arqueei, chocada e
Rocco lambeu meu pescoço me fazendo
ficar tensa.
— Eu quero sua calcinha. Tire-a.
Eu me odiei por sentir umidade
se projetar em minhas dobras. Eu amava
a sujeira que Rocco fazia. Eu acenei,
querendo descer logo — e curiosa sobre
o que ele faria —, e Rocco se afastou.
Eu me ergui e subi meu vestido sentindo
meus dedos trêmulos. Rocco observou o
tecido prata em volta da minha cintura
enquanto segurei a calcinha rendada e
preta. Desci ela devagar pelas minhas
pernas e a entreguei a Rocco. Meu
ventre se apertou ao ver ele levar o
tecido pequeno ao rosto, cheirando.
Desci meu vestido e me afastei em cima
dos meus sapatos.
— Vem aqui — pediu, porém,
fiquei firme no chão.
— Rocco, por favor, não quero
descer atrasada...
— Quanto mais rápido vier, mais
rápido desceremos — indicou e eu
suspirei, me aproximando. Sua mão
entrou embaixo do meu vestido e seus
dedos tocaram minhas dobras. Minhas
bochechas ficaram em chamas quando
ele levou o dedo encharcado aos lábios
e lambeu. — Vamos.
Eu tremi e me afastei. Rocco
vestiu uma blusa e nós descemos juntos.
Me sentei depois de servir a comida
com Lunna, e Rocco colocou a mão
possessivamente em minha coxa,
enrolando os dedos até escovar o local
onde minha calcinha deveria estar.
— Está muito bom. Vocês duas
cozinham muito bem — Lake elogiou
comendo e eu suspirei, grata. Rocco
deslizou os dedos pela minha perna e me
fez abrir as coxas, me fazendo ficar
tensa. — Você está bem, Sienna?
— Hum, sim. Aliás, Lunna fez
tudo. Eu apenas cortei alguns legumes
— murmurei mudando de assunto e
Rocco enfiou os dedos dentro de mim,
brincando, enquanto comia com a outra
mão. Eu não conseguia comer direito,
estava em chamas e queria minha
libertação. — Pare — sussurrei,
implorando, ao me inclinar em direção a
orelha de Rocco.
— Sua boceta está me pedindo
algo diferente.
Eu ofeguei, com as bochechas e
colo vermelhos. Olhei ao redor, mas sua
família estava focada em conversas
paralelas entre eles ou na comida. Seus
dedos voltaram a me atormentar e pulei
quando Rocco derrubou um dos seus
talheres no chão. Ele se abaixou e
lambeu os dedos molhados escondido.
Eu tremi, alcançando o clímax e
tentei engolir meu gemido. Rocco voltou
a sentar e comeu sua comida
normalmente enquanto eu tentava não
deixar transparecer a sua família que ele
estava me fodendo com os dedos na
frente de todos.
E que eu apreciei cada maldito
segundo.
Sienna estava com as bochechas
vermelhas enquanto mexia na comida.
Ela nem conseguia comer e eu sabia que
era porque sua boceta estava
encharcada. Seu colo visível estava
vermelho também e eu desejei lamber
sua pele enquanto bebia o uísque que
estava na mesa.
— Você vai? — Prince
questionou, enquanto Matteo me encarou
na ponta da mesa. Eles estavam
murmurando sobre a corrida.
— Sim. Vou saber que porra
vocês veem naquele lugar — murmurei
de volta depois de afastar meu prato já
vazio. — Você vai conosco? —
perguntei a Romeo segurando meu
celular e ele acenou.
— Navy Pier está movimentada
ultimamente. Você vai agir em cima
deles? — Romeo deixou o gafo
descansar no prato, sondando.
— Está nos meus planos. Matteo
tem uma bolsa de dinheiro embaixo da
cama. Talvez, ele seja o melhor indicado
para dizer como Navy Pier está dando
lucro e nada do que é ganho está vindo
para a Outfit. — Eu virei meu rosto para
meu irmão e ele ficou com os ombros
tensos.
As meninas olharam entre nós,
incomodadas com a conversa, e Matteo
suspirou.
— Posso ficar à frente da Navy
Pier. Prince pode me ajudar...
— Vamos falar sobre isso depois
que eu ver o que acontece lá, mais tarde.
Nós terminamos o jantar e
seguimos para a sala. Sienna andou para
longe de mim, mas a segurei e me sentei
puxando-a para o meu lado. Lunna sorriu
perto de Prince enquanto Romeo ficou
próximo a parede, de braços cruzados.
Encarei sua esposa ao lado Lake.
Lunna não me olhou quando percebeu
minha atenção, apenas seus ombros
tensos, me deram a indicação de que ela
sabia.
— Você é bem-vinda a mansão,
Lunna. Venha quando desejar e Romeo
permitir, obviamente.
Ela ergueu o rosto e sorriu
olhando de mim para Sienna, que
relaxou ao meu lado.
— Sienna pode ir à minha casa
também? — sua pergunta fez Romeo me
encarar. Eu sabia que ele não queria
minha esposa na sua casa, estava visível
em seu rosto tenso.
— Por enquanto, não —
respondi segurando o olhar do meu
irmão. Essa desconfiança de Romeo
com Sienna tinha minha compreensão
antes, mas agora estava me irritando.
— Vou subir. Tenho que estudar
— Lake avisou colocando a almofada de
lado e beijou a bochecha de Lunna. Eu
me virei, olhando para Sienna que se
despediu de Lake com um sorriso.
— Vou trocar de roupa para
irmos — Matteo avisou e Prince o
seguiu dizendo que pegaria seu celular.
Sienna me olhou de lado e Lunna
começou a traçar a costura da almofada.
— Podemos ir com vocês? —
ela perguntou sem nos olhar e eu ri,
balançando a cabeça.
— Não, Lunna. Agora vamos.
Preciso deixá-la em casa. — Romeo se
moveu para a porta e Lunna acenou, se
erguendo.
— Tchau, Si. Foi muito bom
passar o dia com você e Lake — a
minha cunhada se despediu e saiu em
seguida, seguindo seu marido.
Sienna se remexeu ao meu lado e
ergueu os olhos para mim.
— O que tem em Navy Pier? —
Sua voz era cautelosa e baixa. Eu
segurei seu queixo e sorri.
— Corridas de motos, festas e
drogas. — Dei uma resposta vaga e
Sienna engoliu em seco. A veia saltada
em seu pescoço me chamou e eu me
inclinei lambendo e mordendo. Puxei
seu corpo para cima de mim e Sienna
ficou tensa em meu colo.
— Rocco, aqui não. — Sua voz
era baixa, e o tremor não passou
despercebido. — Seus irmãos vão
descer...
— No instante em que ouvirem
seus gemidos eles voltarão pelo mesmo
caminho — disse, tocando suas coxas e
Sienna mordeu o lábio me olhando. —
Eu sei que quer.
— Mas...
— Sienna, eu não quero que
meus irmãos ou qualquer fodido escutem
seus gemidos. Eu faço você gemer e
gritar. Seus barulhos são meus, todos
eles e eu não divido, passarinha —
afirmei, fixo em seu olhar e ela engoliu
em seco, acenando.
Subi seu vestido e apertei sua
bunda enquanto libertava meu pau das
minhas calças. Sienna deslizou em cima
de mim e eu mordi seu mamilo por cima
do vestido, fazendo-a gemer. Os quadris
dela rebolaram em cima de mim
enquanto eu segurava sua cintura e
mergulhava meus dedos em seu clitóris.
Suas mãos puxaram o vestido
para baixo e eu gemi assistindo seus
seios pularem diante dos meus olhos.
Capturei um mamilo e balancei minha
língua mordendo devagar. Senti sua
boceta pulsar e Sienna gozou, chupando
minha porra para seu útero
desprotegido. Sua cabeça pousou em
meu ombro e eu baixei seu vestido,
cobrindo sua bunda.
Sienna arrumou o topo,
guardando os seios e beijou meu
pescoço. Foi gentil, demorado e eu
franzi as sobrancelhas encarando a
parede da sala.
— Saia — ordenei firme e
Sienna ficou tensa. Ela tentou se afastar,
mas a segurei com os olhos presos em
Matteo. — Saia antes que eu enfie minha
faca em seus olhos.
Meu irmão revirou os olhos e se
afastou. Tirei Sienna do meu pau e ela
ficou de pé enquanto eu me ergui e me
vesti.
— Eu avisei a você — Sienna
acusou com o rosto vermelho e eu a
puxei para mim. — Ele nos viu. Que
vergonha...
— Meu irmão sabe o que é sexo,
Sienna.
— Eu sei — ela suspirou quando
mordi seu lábio inferior. — Cuidado em
Navy Pier ou o que quer que seja isso.
— Sienna riu ao falar e eu me afastei
soltando sua cintura.
— Vamos subir, preciso me
arrumar. — Acenei para a escada
ignorando sua fala. Eu tinha cuidado em
cada passo que eu dava. Os traidores da
Outfit estavam exterminados, mas eu
ainda continuava olhando sobre meu
ombro.
Deixei Sienna no quarto e depois
de tomar banho encontrei meus irmãos
na sala. Passei por Prince e andei
diretamente a Matteo. Empurrei meu
punho e soquei sua barriga. Ele
engasgou sem esperar e eu o empurrei
até a parede. Romeo e Prince nos
encararam enquanto eu fuzilava meu
irmão.
— Você a ouviu, sabia o que
estávamos fazendo, mas ainda assim,
entrou na sala. Você queria ver minha
mulher, Matteo? — gritei questionando e
Matteo balançou a cabeça franzindo as
sobrancelhas.
— Eu estava com fones de
ouvido. Não quero ouvir você fodendo,
Rocco. Sai fora! — Ele me empurrou me
olhando de volta. Eu me afastei soltando
sua camisa e Matteo se ajeitou. — Você
perdeu sua mente por causa de uma
mulher. É vergonhoso.
— Rocco! — Romeo gritou
quando eu soquei Matteo, porém, dessa
vez, no rosto. Ele segurou a bochecha
me encarando sem titubear. — Porra,
fiquem calmos caralho.
— Nunca mais fale assim
comigo — avisei a Matteo e me afastei
olhando para os três. — Eu não ligo se
vocês estão irritados comigo ou com a
maneira que conduzo a porra da minha
vida e a Outfit, mas eu exijo respeito de
todos, e isso inclui vocês. Meu sangue.
Se tem algum problema com Sienna
falem. No entanto, arquem com a minha
reação em seguida.
Prince acenou primeiro enquanto
Romeo e Matteo apenas me encararam.
— É sua fraqueza. Você vai cair
por ela.
— Não vou cair, Romeo, muito
menos por Sienna — devolvi a Romeo
que balançou a cabeça, sério.
— O pai estava certo. — Matteo
abriu a boca e eu me virei rápido,
pronto para enforcá-lo. — O amor é
para tolos. Para homens que desejam a
fraqueza. Eu nunca irei casar ou ficar
com uma mulher que me domina.
— Sienna não me domina. Eu
apenas exigi respeito. Ela nunca fez
nada a você, seu merdinha insolente.
Agora pare de falar porcarias e saia.
Matteo respirou fundo e se
afastou, indo para a cozinha. Prince o
seguiu e Romeo ficou no mesmo lugar.
— Se controle. Matteo é nosso
irmão, não seu inimigo.
— Por que eu me controlaria?
Matteo está sendo um idiota. E você
também — avisei baixo e meu irmão
respirou fundo.
— Só não quero que se
decepcione quando ela o esfaquear
pelas costas. Sienna é perigosa.
— Você olhou realmente a ela?
Aposto que Lunna é mais perigosa —
ironizei e meu irmão semicerrou os
olhos. — O quê? Você pode falar da
minha esposa e eu não posso falar da
sua?
— Lunna não tem nada a ver com
nossa merda, Sienna sim.
— Lunna não tem? — Encarei os
olhos do meu irmão e ele desviou
primeiro. — Cuidado, Romeo.
Me movi para o bar e me servi
virando o copo. Romeo se moveu para o
meu lado e fez o mesmo.
— Matteo e eu não temos nada
contra Sienna, mas no nosso mundo,
mulheres servem a um propósito e por
mais que a gente goste delas de verdade,
nunca devemos demonstrar aos outros,
Rocco. Esse sentimento deve ficar entre
as paredes do seu quarto. As pessoas
usam nossos sentimentos contra nós
mesmos.
— Não amo Sienna, Rocco. Pelo
amor de Deus...
— Ótimo. Isso é maravilhoso,
mas se alguma parte de você acha que
esse sentimento pode surgir, se afaste.
Eu fiz e faço isso há dois anos desde que
percebi que eu poderia amar Lunna e é
um inferno, mas eu nunca colocaria
minha esposa em perigo, porque eu não
a amo. Eles não podem usá-la contra
mim.
Romeo se afastou com sua
bebida e eu fiquei encarando o copo de
vidro entre meus dedos. Apertei,
sufocando por dentro e ele quebrou me
dando satisfação por alguns segundos.
— Somos seus irmãos. Eu nunca
lhe trairia, Matteo, Prince e Lake,
também não. Mas você pode ter essa
certeza com Sienna? Você dorme ao lado
dela sem se preocupar que ela possa
colocar uma arma em sua cabeça?
Romeo não sabia que isso já
tinha acontecido.
— Ela já fez isso — admiti
baixo me virando e meu irmão arregalou
os olhos, em pânico. — Ela não
conseguiu apertar o gatilho, então o
levou para a própria cabeça. Sienna não
me machucaria. Ela atirou em si mesma,
mas não puxou o gatilho.
— Que porra é essa?
— A arma estava descarregada.
Eu durmo tranquilo, Romeo, porque
Sienna preferiu machucar a si mesma,
que a mim — afirmei olhando para o
meu irmão e ele ainda parecia chocado.
— Não consigo acreditar que ela
fez isso... — Ele franziu a testa e eu me
movi deixando os cacos de vidro para
trás.
— Sienna pode te surpreender.
Romeo não respondeu nada e
logo Prince e Matteo voltaram.
— Vamos ver o que Navy Pier
tem a nos oferecer — falei pegando meu
casaco e eles acenaram.
Saí com meus irmãos e quando
entrei em meu carro Prince me
acompanhou. Matteo foi no seu e Romeo
também. Eu dirigi rápido e quando
passamos pela entrada do lugar, ninguém
nos parou. Estacionei perto da largada e
as pessoas olharam ao redor, tensas,
encarando a mim e meus irmãos.
— Rocco. — Um homem com a
minha idade ou algo próximo disso se
aproximou e eu vislumbrei um tremor
em sua mão estendida. Olhei dela para o
seu rosto sentindo meus irmãos ao meu
lado.
— Acho que a Outfit deveria
saber sobre seus negócios, ou não? —
questionei abertamente e o homem
engoliu em seco olhando ao redor, em
busca de uma saída. Não tinha uma.
— Podemos falar sobre...
— Não é necessário. Matteo está
assumindo o andamento das corridas e
as apostas. Você já estava se
aposentando, certo? — anunciei
sorrindo e o homem engoliu em seco.
Seu aceno foi feito segundos após. —
Que bom. Vamos lá, quero ver uma de
suas corridas.
O homem se apressou e nós
ficamos perto de um dos carros
assistindo. Matteo não saiu do meu lado
igual Romeo e Prince. Sua bochecha
estava vermelha, mas o gelo que ele
enfiou na cara deve ter ajudado. Não
confronto meus irmãos, principalmente
Matteo e Prince. Romeo cresceu
brigando comigo, tínhamos prática, mas
os mais novos não. No entanto, não era a
primeira vez que soquei Matteo, e eu
sabia que não seria a última, mas o
motivo disso me causa irritação.
Eu sabia que Sienna era um
problema desde que a vi, mas agora,
isso estava nítido até para a minha
família.
E eu não gostava disso.
Não se deve esperar algo bom,
mesmo que ele tenha sido lhe dado
antes. É a vida. A minha vida. Mamãe
sempre me dizia isso, mas eu não
acreditei. Desde pequena eu tentei a
todo custo encontrar brechas para que
um matrimônio se tornasse bem
sucedido. Eu estava sendo tola.
Casamento não é uma empresa. Ele
envolve duas pessoas distintas. E na
máfia, ele envolve apenas honra e dever.
Andei de um lado para o outro
no quarto e a luz da lua inundava o
quarto pela janela. Eu não via Rocco
desde ontem à noite. Ele não voltou para
o quarto e durante o dia não estava em
lugar algum. Mordi meu lábio tentando
me convencer de que ele está apenas
ocupado. Que está trabalhando e não
teve tempo, mas já passava de uma da
manhã e ele não tinha vindo até aqui
mais uma vez. Onde Rocco estava?
Parei de andar e respirei fundo.
Abri a porta do quarto e desci as
escadas tentando não fazer barulho.
Assim que cheguei ao térreo fui em
direção a sala de jogos, porém estava
vazia. Andei para a cozinha e novamente
me vi olhando para o cômodo solitário.
Ao me virar vi o cais pelo vidro
da porta e me encostei, respirando
fundo. Procurei Rocco, mas era em vão.
Ele não estava em lugar nenhum. Andei
de volta para a sala e quando pisei na
escada ouvi a porta abrir. Medo
disparou pelo meu corpo, relembrando a
noite em que o homem entrou aqui e
machucou Tebow.
A visão de Rocco entrando fez
meu estômago esfriar graus absurdos.
Seu cabelo estava assanhado, sua
camisa amassada e o cheiro de uísque
chegou a mim. Porém, nada disse me fez
ficar doente. Era as marcas.
Rocco se aproximou sem
realmente me ver e eu o cheiro da
bebida misturado a um perfume doce e
barato atacou meu nariz. Demorei
apenas um segundo para saber que ele
estava com outra mulher. Rocco dormiu
com outra mulher.
— Passarinha. — A voz dele me
fez ficar tensa e me afastar,
abruptamente.
— Onde você estava? — Minha
voz quebrou no final e Rocco
semicerrou os olhos, se aproximando
mais.
— Sienna...
— Não se aproxime. Seu
cheiro... — Eu me afastei novamente e
balancei a cabeça, com nojo. — Você
está fedendo a puta dos pés à cabeça.
— Vai para o quarto. — Ele
acenou para as escadas e eu me movi
querendo ficar longe dele.
Subi as escadas me sentindo
sufocada e limpei a lágrima que
escapou. Rocco não merece isso. Ele
nunca mereceu e nem vai. Por que eu
continuo tentando? Por que eu me
engano dessa maneira doentia?
Assim que entrei no seu andar eu
fechei a porta, mas ela se abriu quando
alcancei o corredor.
— Sienna, vem aqui. — A voz
dele fez minha coluna se enrijecer. Me
virei vendo Rocco tirar a blusa e abrir o
zíper da calça.
— Não se atreva...
— Você está irritada por quê? —
Rocco sorriu e isso fez meu estômago
revirar. — Passarinha, eu não prometi
fidelidade.
— Tudo bem. Mas você não me
toca mais. Nunca mais, Rocco — eu
devolvi tremendo de ódio, ciúmes e
muita impotência. O que eu faria? As
lágrimas se reuniram novamente, mas eu
pisquei, afastando-as. Não daria esse
gosto a Rocco.
— Você é minha Sienna. Eu toco
em você quando eu quiser. — Suas
palavras foram firmes, com raiva e eu
me questionei repetidamente o que tinha
acontecido. Ontem estávamos bem, no
nosso tipo de bem pelo menos. Depois
que saiu, ele mudou. Não dormiu comigo
em seu quarto e fodeu outra mulher.
— O que aconteceu? Por que
está agindo assim? — perguntei,
engolindo em seco, afastando suas
palavras de posse.
— Venha aqui.
— Pare! Só me responde com
honestidade. O que fiz? Você está
irritado comigo? Por que você me traiu,
mais uma vez, Rocco? — eu questionei
tentando compreender, enquanto ele
apenas se aproximou com o cheiro da
outra mulher nele. A cada respiração eu
tinha vontade de vomitar.
— Tire o cheiro dela de mim.
Coloque o seu... — Rocco se inclinou e
eu desviei meu rosto olhando para o
lado.
— Eu estava aqui, esperando por
você ontem. Você não voltou. Preferiu
tocar uma mulher qualquer a mim e você
acha que vou dormir com você?
Rocco puxou minha cintura e
meu corpo colidiu com seu peito.
— Sim, eu acho. — Ele levou a
mão a minha calcinha e seus dedos
afastaram o tecido, me prendendo.
— Não faça isso — pedi,
tremendo, tentando empurrá-lo. Rocco
apenas lambeu minha pele. O cheiro da
outra mulher atacou meus sentidos
novamente e eu o encarei.
— Por quê? — Rocco
questionou sorrindo e mordeu meu
lóbulo. — Sua boceta está molhada,
passarinha. Por que será? — ele
questionou tirando os dedos de dentro
de mim. O líquido nas pontas dos seus
dedos brilhou antes dele lamber.
— Você vai me forçar? —
perguntei, ignorando sua fala, e Rocco
ficou sério enquanto suas mãos caíram
ao lado do seu corpo. Seu olhar azul
ficou petrificado e eu me afastei,
encarando-o e andando para trás. — Foi
o que pensei. Boa noite, Rocco.
Eu entrei em seu quarto, onde eu
dormia com ele e onde minhas coisas
estavam se acumulando, e fechei a porta.
Minhas costas deslizaram pela madeira
escura e eu colei minhas pernas ao peito
apertando minhas pálpebras, querendo
enganar as lágrimas. Querendo fugir das
minhas emoções.
Tebow se ergueu e caminhou até
mim. Ele colocou a cabeça em meu pé e
eu o acariciei devagar, engolindo em
seco.
— Ele não me merece, Tebow.
Nunca vai e quanto antes eu entender
isso, mas rápido meu coração vai parar
de esperar amor da parte dele —
murmurei na escuridão para o meu
cachorro e solucei incapaz de segurar as
lágrimas. Tebow lambeu meus dedos e
eu encarei a lua, visível pela janela,
pedindo a quem quer que estivesse me
ouvindo que me fizesse parar de amá-lo.
Que destruísse esse sentimento dentro
do meu peito. Para que eu parasse de
implorar pelo amor de Rocco.
O diabo não é capaz de amar.
Ele finge bem, mas o sentimento nunca
está presente. Agora eu sabia.
Fui para a cama e Tebow me
seguiu. Eu parei de chorar em algum
momento e quando enfim, adormeci pedi
forças para continuar vivendo com
Rocco, aturando as suas traições.

— Você tem certeza de que está


bem? — Lake perguntou mais uma vez
enquanto eu terminava meu café da
manhã. Consegui marcar uma consulta
no ginecologista e era hoje. Ontem, eu
passei o dia esperando por Rocco para
avisar, mas ele não apareceu.
— Sim. Está tudo bem. — Eu
sorri e afastei a xícara com café.
Encarei Matteo e Prince e deixei um
suspiro audível escapar. Os dois me
olharam e eu engoli em seco. — Tenho
médico em uma hora. Algum de vocês
pode me acompanhar? Eu iria sozinha,
mas não tenho permissão.
Os dois semicerraram os olhos e
olharam um para o outro.
— Rocco deixou?
— Sim. Ele sabe que preciso ir
ao médico — respondi Matteo e ele deu
de ombros.
— Eu te levo.
Eu acenei aliviada e me ergui
quando todos acabaram de comer.
Matteo me acompanhou até o carro dele
depois que subi e peguei minha bolsa e
casaco. Assim que ele fechou a porta do
carro, eu coloquei meu casaco.
O vestido preto alcançava meus
joelhos e era apertado. O dia não estava
tão frio, mas o tempo virava em Chicago
como em nenhuma cidade. Segurei
minha bolsa apertada enquanto Matteo
colocou música. Olhei pela janela vendo
a paisagem borrada e suspirei.
— Por que Rocco não veio com
você? — meu cunhado questionou e eu
virei para encará-lo. Seu rosto estava
focado na pista.
— Não o vi hoje. Eu não o quero
comigo também — falei rápido e engoli
em seco ao ver o rosto de Matteo se
contorcer.
— Ele é seu marido.
— Sim. Eu sei perfeitamente, seu
irmão é o único que esquece. — Minha
voz soou mordaz e ele ficou em silêncio.
Assim que chegamos na clínica
Matteo me seguiu e nós entramos no
elevador. Meu celular tocou e eu abri
minha bolsa, à sua procura. Porém, a
chamada caiu antes. O de Matteo
começou assim que vi o nome de Rocco
na tela do meu celular.
— E aí? — Matteo respondeu
despreocupado e com alguns segundos
me encarou. — Ela disse que você
sabia.
Rocco.
— Estamos em uma clínica.
Levarei ela assim que acabarmos. Ok.
Matteo guardou o celular e
cruzou os braços em cima da blusa
preta.
— Rocco não sabia do seu
médico. Você mentiu para mim. — Ele
parecia irritado e eu tive a certeza
quando sua mão apertou.
— Eu o avisei e pedi permissão
para ir ao médico. Ontem, eu marquei e
o esperei chegar para dizer, porém, ele
estava entretido com uma prostituta e só
chegou de madrugada. Não consegui
avisar.
Matteo ergueu as sobrancelhas e
eu acenei, sorrindo amargamente.
— Não menti. Desculpe se não
ficou claro — eu disse engolindo em
seco e as portas se abriram. — Não vai
demorar.
Matteo acenou e sentou na sala
de espera. Eu fui até a atendente e ela
sorriu, dizendo que a médica estava a
minha espera.
— Bom dia, Senhora Trevisan.
Eu sou Lessa — a médica me saudou e
eu sorri estendendo a mão para ela. Nós
nos sentamos.
Lessa fez algumas perguntas e
pediu para colher sangue. Eu estremeci
diante da agulha, mas fiquei firme.
Quando ela me pediu para tirar a roupa
e vestir uma bata simples, eu fiquei mais
tensa. Com um sorriso simpático ela me
explicou que faríamos uma
ultrassonografia. Relaxei e troquei de
roupa. Me deitei na maca e ela começou
o exame.
— Você está ovulando. Se não
quer bebês, não namore sem proteção —
ela avisou em tom de brincadeira e eu
sorri, acenando.
Depois de me vestir, Lessa me
receitou um anticoncepcional e quando
eu saí, vi Matteo andando de um lado
para o outro. Quando me viu, ele relaxou
e se virou andando para o elevador.
— O que foi? — questionei
franzindo as sobrancelhas.
— Seu marido enchendo o meu
saco. Você demorou — Matteo acusou
chateado e eu suspirei, agarrando minha
bolsa.
— É uma consulta, Matteo.
Demora um pouco — resmunguei de
volta e ele revirou os olhos.
— Na próxima eu não venho —
avisou, mal humorado e eu suspirei
acenando.
Nós chegamos em casa depois
de vinte minutos. O carro de Romeo
estava estacionado e eu pedi
silenciosamente que Lunna estivesse
aqui. Assim que entramos eu vi Lake e
Prince jogados no sofá. Ela sorriu
enquanto ele apenas acenou.
— Já almoçaram? — perguntei
parando de andar e Matteo passou por
mim, subindo as escadas.
— Sim. O seu está micro-ondas.
Está tudo certo? — Lake questionou e eu
acenei andando para a cozinha. Ela me
seguiu, deixando Prince para trás.
— Foi apenas uma consulta de
rotina. Eu precisava de
anticoncepcionais. — Deixei escapar
colocando minha comida para esquentar
e Lake franziu a testa.
— Você não quer filhos — ela
concluiu sozinha e eu abri a boca para
explicar, porém não consegui. — Eu sei
que algumas mulheres não têm esse
desejo.
O micro-ondas apitou e eu tirei
meu prato. Queria que esse fosse o caso,
mas não era. Me sentei na mesa e
suspirei, tentando encontrar palavras.
— Eu amo crianças. Sonho em
ser mãe desde pequena e acho que vou
amar meu filho mais que a mim mesma,
porém estou casada há apenas alguns
meses. É cedo. Rocco e eu temos tempo
— expliquei sentindo um gosto amargo
ao falar o nome dele.
Me imagino grávida, com
enjoos, barriga inchada e chorosa tendo
que assimilar as traições de Rocco e
nossa vida. A máfia. Eu não queria que o
momento em que eu estivesse tão
realizada fosse ofuscado pela dor de
saber que Rocco via outra mulher.
Eu poderia mentir mil vezes e
nas mil, eu ainda me sentiria fracassada.
Eu estava apaixonada e sua traição
estava doendo. Machucando tão
profundamente quanto a de Milena. Só
que diferente dessa, a com Milena foi
antes de tudo. Antes de eu me entregar
sem reservas, de dormirmos juntos.
Antes de eu saber que o amava.
— Eu entendi e não te julgo.
Vocês ainda serão muito felizes.
Eu desejei ardentemente que
Lake estivesse certa, mas ela não estava.
Terminei de almoçar e subi as
escadas até o quarto. Quando entrei no
closet do quarto escuro olhei ao redor e
me senti doente. As coisas dele tinham
sumido. Tudo.
Dei alguns passos com as pernas
instáveis e vi que a maior parte do
closet estava vazia. Lutei contra minha
respiração, tentando ficar calma, mas a
cada cabide deixado, meu coração
trincou em milhões de pedaços. Eu não
percebi que estava caindo até parar no
chão.
Não sei por quanto tempo fiquei
na mesma posição, mas eu não
conseguia me mexer. Quando uma mão
tocou meu ombro, eu estava soluçando
baixo, tremendo de medo. De tudo. De
mim, do meu coração, de Rocco.
— Você está bem? — Prince
perguntou acima de mim e eu acenei
piscando e mordendo meu lábio.
— Sim.
Não. Eu estava longe de estar
bem.
Eu me sentia destruída e me
odiava por isso.
Prince saiu assim que me ergui.
Ele me olhou como se sentisse pena de
mim, como se me ver fosse quase
demais. Eu odiava que sentissem pesar.
Eu não deveria estar em posição de
coitada. Eu não era assim. Minha família
me ensinou muitas coisas deturpadas,
mas com certeza, ser forte não era uma
delas.
Saí do closet pegando meu
celular e entrei em meu quarto. Me
sentei na cama depois de tirar as botas e
peguei meu travesseiro. Abri minha
conversa com Lunna e tentei pensar se
eu deveria falar sobre isso. Sobre
Rocco. Sua lealdade estava com Romeo
e eu entendia, porém eu estava me
sentindo sozinha e precisava conversar
com alguém. Minha mãe nunca
entenderia isso, Lake era uma criança e
o restante na casa era homem. Eles me
achariam tola.
"Você está ocupada?"
Mordi meu lábio e enviei a
mensagem. Não demorou muito para ela
responder.
"Não. Está tudo bem?"
"Romeo já traiu você?"
Dessa vez, Lunna não respondeu
rápido e eu ponderei se eu tinha ido
longe demais.
"Sim."
Foi apenas uma palavra e eu
senti, mesmo longe dela, o quanto essa
única palavra estava doendo.
"Eu sinto muito, Lunna."
Enviei e suspirei teclando
novamente.
"Como você superou? Rocco
está vendo outras mulheres. Eu me
sinto fracassada."
"Eu não superei. Minha mãe
me disse que eu deveria fingir que ele
não faz isso. Mas, como? Não dá."
Me encolhi ao ler o conselho da
mãe de Lunna. Eu jamais conseguiria.
"No entanto, não é nossa
culpa, Sienna."
"Eu sei. Estou machucada.
Isso é tudo."
"E eu entendo. Vai ficar tudo
bem. Podemos tomar um café por
esses dias? Romeo está flexibilizando
minhas saídas. Peça a Rocco. Use a
traição contra ele."
"Farei isso. Obrigada, Lunna e
eu sinto muito."
"Eu também."
Deixei meu celular de lado e
levei a mão aos meus cabelos,
suspirando. Tebow arranhou a porta e eu
me ergui para abri-la. Sorri ao ver ele
entrar rápido. Me virei para voltar a
cama e parei ao ver meu reflexo no
espelho ao lado da porta do closet.
Meus olhos e nariz ainda estavam
vermelhos do choro. Fiz uma careta e
pressionei meus dedos contra meu rosto.
Escutei meu celular tocar e
voltei para a cama. O nome de Sal no
visor me fez tremer. Relembrar meu
irmão aqui dias atrás me deixa
novamente em pânico. Até aquele
momento eu não sabia que sentia algo
tão forte por Rocco. Eu soube que o
amava apertando aquela arma contra sua
cabeça.
A ligação de Salvatore parou e
uma mensagem chegou instantaneamente.
"Eles querem matar você."
O que? Franzi o cenho teclando
para o responder.
"Do que está falando?"
"Os Trevisan querem você
morta. Eles farão isso em breve para
que Enrico entre em Chicago. Eles
querem uma reação."
Não. Era mentira.
"Isso não pode ser verdade.
Sal, eles não farão isso. Eles nunca
me machucariam."
"É o que eu ouvi enquanto
estava aí, Sienna. Não é uma mentira.
Conversei com Enrico. Nós vamos
buscá-la."
Não!
"Eu não irei. Rocco não faria
isso comigo. Confie em mim, Sal. Por
favor, ele não fará isso."
"Não vou arriscar sua vida. Eu
morrerei dessa vez, mas você vai estar
segura."
"Sal, eu sou a mais velha de
nós dois. Eu não estou enganada. Ele
não faria isso comigo."
"Um ano mais velha. Só isso.
Não discuta, Sienna. Esteja
preparada."
As lágrimas embaçaram a minha
visão enquanto eu teclava e meu celular
tocou segundos depois que enviei a
mensagem. O nome de Rocco apareceu e
eu estremeci. Ele seria capaz disso?
Rocco me queria morta?
— Oi — respondi ao atender e
vi uma nova mensagem de Sal chegar.
Fechei meus olhos e sentei na cama.
— Por que você demorou no
médico? — A voz de Rocco soou
irritada e eu engoli em seco.
— Não demorei. Foi uma
consulta de rotina e ela leva tempo.
Ele não me respondeu e eu
suspirei sentindo o celular vibrar com
uma mais uma mensagem.
— Era somente isso? —
perguntei querendo encerrar a chamada.
— Sim.
— Ok. Aliás, gostaria de tomar
um café com Lunna. — Deixei as
palavras saírem e Rocco ficou em
silêncio por alguns segundos.
— Prince irá com você.
E ele desligou.
Corri para minhas mensagens e
mordi meu lábio.
"Não estamos em uma
conversa onde debate é plausível,
Sienna. Não vou deixar esse filho da
puta matar você. Juliano e eu vamos
buscá-la. Rocco não espera isso e
dessa vez, eu não serei descuidado."
Eu apertei o celular entre os
dedos enquanto balançava a cabeça.
"Ele vai matá-lo. Eu não posso
deixar que você e Juliano se
arrisquem."
"Ele não espera nossa ida."
"E se ele estiver vendo nossas
mensagens?"
Apontei, tentando colocar algum
juízo na cabeça doida de Salvatore.
"Ele não está. Sienna, não dê
as costas ao seu sangue. Eu quero
você bem, enquanto Rocco quer matá-
la pela Outfit. Para chegar a Enrico.
Não dificulte isso."
"O que farei aí? Não tenho
minha virgindade. Casei com o
inimigo. Eu serei uma pária e você
sabe disso, Sal."
"Juliano casará com você. Vai
ficar tudo bem, Si. Eu prometo."
Meu irmão me prometeu, mas eu
ainda estava sufocando. Por quê? Era
uma saída, não era? Eu estaria longe de
Rocco e de suas traições. E se Salvatore
estava certo, eu estaria salva. Salva da
morte.
"Estou com medo."
"Tudo ficará bem, Si."
Eu me apeguei as suas palavras e
apaguei nossa conversa do celular.
Tebow me olhou deitado aos meus pés e
eu senti meu coração ser rasgado ao
perceber que eu não ficaria longe só de
Rocco. Eu não veria mais Tebow, Lake e
Lunna.
Isso se Sal e Juliano
conseguissem. Entrar em Chicago foi
uma ilusão antes, como eles
conseguiriam agora? Mordi meu lábio
me deitando e bati na cama chamando
Tebow. Ele subiu e eu acariciei seu pelo
devagar.
Não percebi quando ele se
aproximou e lambeu meu pulso. Suspirei
e fiquei quieta esperando algo clarear
meus pensamentos. Estava cansada de
me questionar se Rocco realmente
estava planejando isso. Por um
momento, eu pensei tão firme que não,
mas em seguida lembrei que eu não o
conhecia. Rocco era um mistério e eu
odiava não conseguir decifrá-lo.

Quando Rocco chegou à noite eu


ouvi passos na entrada do nosso andar.
Saí do seu quarto, onde eu estava
dormindo sozinha, enquanto ele ficava
Deus sabe onde, e parei no corredor.
Rocco estava de costas curvado
sobre o sofá. Fiquei em silêncio o
observando e vi quando ele tirou uma
das suas armas do coldre. Ela era prata
e brilhava na luz. Rocco a jogou no sofá
e respirou fundo.
— Não posso — ele balbuciou e
eu percebi o celular em suas mãos. —
Eu quero você fora de Chicago.
Com quem ele falava?
— Milena, eu estou cansado pra
caralho dessa sua chantagem de merda.
Ainda não a matei porque está grávida.
Por mim você já estaria apodrecendo a
sete palmos do chão.
Eu ouvi suas palavras e elas se
assentaram dentro de mim como
cimento, predando e rachando tudo. A
dor que saiu do meu coração e se
espalhou pelo meu corpo foi intensa e
agoniante.
Milena estava grávida de Rocco.
Eu não senti as lágrimas até que
elas pingaram em meu colo.
Manchando tudo.
Destruindo meu amor por Rocco.

Na manhã seguinte eu desci as


escadas depois de tentar camuflar
minhas olheiras. Não consegui. A
palavra grávida estava martelando
dentro da minha cabeça. Martelando em
meu coração que parecia despedaçado.
Lunna disse que nosso café seria
no centro de Chicago, em uma cafeteria
que ela encontrou no Google. Puxei as
mangas do meu casaco e olhei as botas
pretas de salto. Minha calça grossa
desaparecia dentro dos canos médios da
bota.
— Uau! Você está linda. — Lake
se aproximou sorrindo e eu sorri
concordando com ela. Eu tinha
caprichado, apesar de tudo.
— Obrigada. Eu irei com Lunna
tomar um café — murmurei e só nesse
momento percebi que poderia ter
incluído Lake. — Desculpe, não lembrei
de pedir a Rocco que fosse também.
— Eu adoraria, mas tenho aula
on-line. — Ela fez uma careta e eu ri,
acenando. — Divirtam-se.
Eu agradeci e segui Prince para
fora. Um carro estacionou e eu vi Rocco
sair vestido de preto dos pés à cabeça.
Ontem, depois de ouvir sua conversa
com Milena eu voltei para o quarto e
chorei. Meus olhos ainda ardiam com o
desejo, mas eu o reprimi. Não choraria
mais por Rocco. Nunca mais.
Não parei de andar como Prince,
apenas me aproximei do carro que ele
destravou e entrei. Antes de bater à
porta, no entanto, uma mão a segurou.
Ergui meus olhos para Rocco e ele se
inclinou invadindo meu espaço.
— Estou de olho em você.
Cuidado, Sienna — a ameaça no seu tom
não passou despercebida. Eu pisquei e
olhei seus olhos azuis. Algo em mim se
apagou lembrando de Salvatore e da
informação que me deu. Eu soube
instantaneamente, que Rocco me
mataria, se precisasse.
— Bom dia, Rocco — murmurei
de volta e ele semicerrou os olhos.
Rocco segurou meu queixo e eu puxei
minha cabeça, me afastando do seu
toque. Ele segurou novamente e dessa
vez eu estava presa contra o encosto do
banco.
Seu toque deixou rastros de fogo
em minha pele. Eu queria cuspir em seu
rosto e nunca mais o ver. Queria que,
pela primeira vez, ele me deixasse em
paz.
— Estou repensando se devo
deixar você sair — balbuciou e me deu
seu sorriso sádico e irônico. Eu apenas
o encarei de volta. — Curta seu café.
— Eu irei.
Ele se afastou, e quando seu
corpo estava longe, eu fechei a porta.
Rocco trocou algumas palavras com
Prince e logo seu irmão mais novo se
aproximou.
Quando Prince parou na
cafeteria só estávamos nós dois. Franzi
o cenho, porque os soldados sempre
ficaram por perto.
— Onde estão os seguranças? —
perguntei quando ele ficou ao meu lado
fora do carro.
— Lunna está com um. Como eu
vim também, não era preciso tantos
homens. Estamos na nossa cidade —
Prince me respondeu como se eu tivesse
feito uma pergunta idiota e seguiu para
dentro do local.
Eu vi Lunna assim que passei
pelas portas. Ela sorriu, acenando e eu
me movi deixando Prince sozinho. Ele
sentou em uma mesa afastado e começou
a mexer no celular.
— Bom dia! — Tentei sorrir ao
murmurar e abracei a mulher de cabelos
pretos. Ela sorriu se afastando.
— Como você está? — Lunna
sentou assim que me acomodei na
cadeira.
— Bem. Desculpe por ontem. Eu
estava emotiva — sussurrei forçando um
novo sorriso. Lunna suspirou e quando
abriu a boca para falar algo, o garçom
chegou.
Nós fizemos os nossos pedidos e
quando ele se afastou, Lunna me olhou.
— Eu sei o que está sentindo e
queria dizer algo que pudesse aliviar,
porém nunca consegui encontrar.
Eu mordi meu lábio e segurei sua
mão. Suas unhas eram longas e como seu
cabelo, estavam pintadas de preto.
Prestando atenção agora, eu só vi Lunna
de preto.
— Ele me traiu assim que nos
casamos. Eu pedi que não fizesse isso, e
eu pensei que ele tinha parado, mas dias
atrás ele chegou fedendo a mulher
barata. Eu só sinto que fracassei...
— Já tive meus momentos com
Romeo também. — Lunna se inclinou
respirando fundo e seus olhos focaram
na taça de água a sua frente. — É só se
acostumar. Romeo e Rocco não serão
fiéis. Nunca.
Eu suspirei acenando. Ela estava
certa. Eu deveria me acostumar.
— Alguma ficou grávida de
Romeo? — As palavras saíram antes
que eu pudesse pensar se era certo falar
isso para Lunna. Não queria meter a
cunhada de Rocco em nosso casamento
fracassado.
— O quê? — Lunna arregalou os
olhos e meu peito doeu vendo seu olhar
ficar úmido. — Rocco engravidou
alguém?
— Sim, Milena. — expliquei por
cima quem era e como descobri. Lunna
se ergueu e veio para o meu lado. Seu
abraço me deixou à beira de lágrimas e
mais uma vez eu chorei. Afundei em
seus braços e solucei.
— Eu sinto tanto, Si. Tanto. Sei
que você deve estar despedaçada.
Eu estava, porque contrariando
tudo, eu amava Rocco.
Amava desesperadamente.
Salvatore voltou a minha mente e
eu me afastei para encarar Lunna. Eu
gostava dela e queria mais tempo. Esta
seria a última vez que nos veríamos?
— Você merece ser feliz, Lunna.
Eu espero que seu bebê faça isso quando
você o tiver — disse engolindo em seco
e sorri, assistindo as bochechas dela
ficarem vermelhas.
— Ele me fará. Imensamente. —
Lunna sorriu e eu via em seus olhos o
quanto ela esperava por isso. — Espero
que tudo se resolva, Si. Do fundo do
meu coração.
Nos afastamos e ela voltou para
o seu lugar. Limpei meu rosto e olhei
para Prince. Ele ainda estava entretido
em seu celular.
O garçom retornou e pedi a
Lunna que mudássemos de assunto.
Logo, entramos em uma conversa sobre
bolsas. Lunna me mostrou alguns
modelos novos de uma marca que ambas
amávamos e eu escolhi dois para
comprar.
— Vocês estão prontas? —
Prince perguntou se aproximando e eu o
olhei.
— Só vamos terminar o café. —
Eu sorri para ele tentando desfasar meu
choro e meu cunhado acenou se
afastando mais uma vez.
— Ele me odeia. Matteo me
olha, acena, mas Prince... Ele mal me
encara — Lunna me contou baixinho e
eu encarei seu rosto franzido.
— Matteo é o que me odeia.
Romeo também — murmurei e Lunna
arregalou os olhos.
— Sério?
— Sim. Ambos me toleram.
Porém, Romeo é o que mais deixa claro
que não gosta de mim — disse dividida
entre alívio por finalmente falar isso a
alguém, e medo ao pensar que Lunna
poderia comentar com seu marido.
— Eu sinto muito. Romeo é
difícil.
O eufemismo do ano.
— Todo Trevisan é, certo? —
Sorri triste para aliviar a tensão e Lunna
acenou, relaxando.
Nós voltamos a comer e eu senti
meu celular vibrar. Peguei o aparelho e
abri a mensagem de Sal.
"Onde está?"
Enviei o nome do local e Sal
mandou apenas um ponto de
exclamação.
"É um café no centro da
cidade. O que houve?"
Salvatore não me respondeu e eu
suspirei guardando o celular. Lunna
estava me encarando e eu sorri, pegando
o meu café.
— Sua família visita você? —
perguntei tentando voltar a conversar e
ela desviou os olhos dos meus e encarou
a mesa.
— A minha família é inimiga da
Outfit. — Lunna deixou as palavras
saírem e eu arregalei os olhos, chocada.
Lunna era da mesma famiglia que a
minha?
— Você também é...
— Era da Cosa Nostra. Como
você — me interrompeu e respirou
fundo. Pude sentir e ouvir a repreensão
na sua voz.
Eu estava chocada com a
coincidência, mas sabia que poderia
acontecer. Lunna cresceu nos Estados
Unidos, em Nova Iorque, onde a
famiglia tinha poder e comandava,
enquanto eu cresci na Itália, residência
do nosso don, de Enrico.
— Não mantenho contato com
ninguém. Eles são os nossos inimigos e
eu nunca trairia Romeo. É meu passado
e ele está enterrado.
A voz de Lunna era firme e eu a
invejei. Desejei que, por um momento,
eu fosse assim também. Mas, a vida de
Lunna não estava em perigo, a minha
sim. O marido dela não tinha
engravidado a amante, o meu sim.
A Cosa Nostra era minha única
saída. Eles me manteriam salva, não a
Outfit.
— Vamos lá — Lunna chamou se
erguendo e eu a segui engolindo minha
saliva.
Prince suspirou aliviado e se
aproximou com o segurança de Lunna.
Eu sorri para ela quando entrei no carro
e acenei.
Prince dirigiu para longe e eu
relaxei, olhando a paisagem. Lembrei da
mensagem de Sal e quando fui pegar
meu celular, Prince freou o carro, me
jogando para a frente. O cinto apertou,
me segurando e eu olhei para meu
cunhado com os olhos arregalados.
— Que porra? — ele gritou
pegando o celular e tirando uma pistola
do cós da sua calça.
Ergui o rosto vendo dois carros
cruzados na pista, nos fechando e
sufoquei um grito de pânico. Quando
homens saíram do carro eu me lembrei
de Sal e comecei a tremer.
— Abaixa, Sienna — Prince
gritou e começou a atirar enquanto
segurava o celular no ouvido.
Os tiros ressoaram em minha
mente e eu me abaixei.
— Me encurralaram na estrada
para casa. Rápido — ele gritou e eu
sabia que ele estava falando com um dos
seus irmãos. — Eles não estão atirando.
Eles... Porra, eles querem Sienna.
Eu me encolhi e encarei Prince.
Ele estava furioso, porém o medo em
sua íris me fez querer vomitar.
— Estamos chegando. — A voz
de Romeo ecoou e eu fechei os olhos
pedindo para que isso parasse.
Quando abriram minha porta,
Prince estava sem balas e apenas ergueu
as mãos.
— Vamos — alguém falou e no
mesmo instante eu soube que era Sal. Eu
o encarei sob a máscara preta e olhei
sua mão estendida. Meus olhos se
fecharam e eu senti lágrimas me
sufocando. — Agora! — meu irmão
gritou e eu peguei sua mão. Sai do carro
e Sal encarou Prince com a arma em
punho.
— Não o machuque — pedi
puxando seu braço e Prince me encarou.
Algo em seus olhos me fez encolher. Ele
sabia.
— Vamos! — Outra voz grossa
soou e eu reconheci Juliano.
Sal me puxou enquanto eu estava
presa aos olhos de Prince. A decepção,
o nojo e a raiva me paralisaram. Eu
desviei os olhos sem conseguir suportar
e me colocaram em um carro.
O barulho de outros veículos se
aproximando me fizeram olhar pelo
vidro. O carro de Rocco estava à frente,
e eu vi seu rosto pelo para-brisa.
Nunca o vi demonstrar tanta
raiva e determinação. Seus olhos azuis
estavam focados em meu carro e eu
duvidei de que eu conseguisse sair de
Chicago.
Rocco mataria todos antes de
permitir isso.
Meus irmãos estacionaram ao
meu lado e eu saí do carro tentando com
toda a força do meu corpo não
transparecer que eu iria destruir todos.
Cada um deles. Eu mataria todos.
— Sienna sabia. O modo que ela
me olhou. Ela sabia, Rocco — Prince
começou a falar furioso e eu vi Lunna
descer do carro de Romeo tremendo sem
conseguir me encarar.
— Algum rastro? — perguntei a
um dos soldados ignorando meu irmão.
Ele balançou a cabeça e eu segurei seu
pescoço entre meus dedos. Eu apertei
vendo seus olhos se arregalarem.
Procurei a satisfação, a paz que eu
precisava, mas não a encontrei. Eu não a
encontraria novamente. Soltei o homem
e ele cambaleou segurando seu pescoço
enquanto eu me afastei. — Encontre-os.
— Rocco. — Meu irmão foi
para a frente da sua esposa, a
protegendo de mim, assim que viu que
eu ia na direção dela.
— Não fale! — gritei na cara de
Romeo. — Saia da minha frente.
— Você vai me derrubar para
chegar a ela. — Eu empurrei Romeo e
peguei minha arma. Lunna gritou, saindo
de trás do marido e ficou diante de mim.
— Lunna — Romeo rosnou e eu baixei a
arma. Não queria mirar essa merda na
cara dela.
— Ela não me disse nada sobre
fugir. Eu juro, Rocco...
— O que conversaram? — eu
perguntei semicerrando os olhos e
apertando a pistola. — Diga tudo que
ela falou. Cada palavra do caralho,
Lunna!
A mulher pequena tremeu e
acenou, ficando completamente imóvel.
Tensão se espalhando por ela e por mim.
— Ela falou das suas traições.
Nós falamos sobre bolsas e... — Lunna
parou e olhou para Romeo por um
segundo, engolindo em seco. — Sobre
mim. Meu passado, mas ela não disse
nada sobre fugir. Eu juro.
— Ela só disse isso? Você tem
certeza? — Eu apontei minha arma para
Romeo e ela deu um passo em minha
direção.
— Ela disse que você
engravidou sua amante. Ela ouviu você
falando ao celular... — As palavras de
Lunna eram raivosas e eu semicerrei
meus olhos.
— O quê? — questionei, furioso
e Lunna ergueu o queixo. — Isso não é
verdade, merda!
Romeo balançou a cabeça
pegando sua esposa e se afastou. Eu
guardei minha arma me virando
enquanto tentava pensar. Sienna foi
embora. Ela quis ir. Por causa da merda
de uma gravidez.
Apenas os meus soldados mais
fiéis estavam diante de mim e dos meus
irmãos.
— Vão para casa. — Todos me
encararam chocados, porém eu não me
importava. Eu agiria do meu modo. Eles
não me ajudariam nisso, eu não os
queria.
Entrei em casa seguido por meus
irmãos. Lunna foi levada para casa,
Romeo não arriscaria a presença dela
diante de mim. Eu não o culpava. Eu
poderia matar Lunna ou qualquer um
nesse momento. Andei até meu sofá e me
sentei com os olhos cravados na parede.
— O que vai fazer? — Matteo
perguntou parado e ao seu lado estava
Prince, tão sério como nunca vi.
— Vou machucar cada um. Vou
derrubar todos.
— Você realmente engravidou
Milena? — Matteo fez mais uma
pergunta e eu neguei, sem querer
enforcar meu irmão por causa de
perguntas idiotas.
Eu nunca transei com Milena
sem proteção e desde Sienna eu não
toquei na porra do corpo de mulher
nenhuma. Ela continuava duvidando de
mim.
Romeo respirou fundo e andou
até a parede de vidro que dava vista ao
jardim. Eu o ignorei, porque eu estava
com tanto ódio dentro de mim, que eu
poderia atirar nele.
— Você deveria ter matado
Salvatore. Ele aprendeu sobre nós
enquanto esteve aqui. Ele sabia para
onde ir, como fugir de nós em nossa
própria cidade — Romeo começou a
falar e eu o cortei.
— Se você abrir a boca para
falar algo que não seja uma maneira de
buscar minha esposa, guarde para si —
ameacei me erguendo e andei até Prince.
— Como isso aconteceu?
Prince suspirou e falou que
carros o fecharam. Os homens
esperaram suas balas acabarem e se
aproximaram. Levaram Sienna, em
seguida. Ela foi com eles.
— Sei que quer retaliação. Eles
pediram por guerra, mas precisamos
pensar com calma...
— Eu estou pensando. Se Enrico
está com coragem para entrar em
Chicago e roubar minha esposa, ele está
pronto para o que eu vinha guardando.
Eu usaria esse trunfo para
conseguir seu território, mas agora eu só
queria Sienna.
Todo o meu plano estava se
desfazendo. O propósito de ter Sienna
aqui. De nos casarmos estava
desmoronando e por quê?
Por eu ter entregado meu
coração distorcido a ela.
— Juliano estava com Salvatore.
— A informação que Prince derrama só
me deixa mais irritado.
Juliano achava que podia vir a
minha cidade, pegar minha esposa e sair
ileso? Lembro de Sienna falando que ele
seria seu noivo e eu vejo vermelho.
Eu precisava matar alguém.
Rápido.

Assim que entrei no quarto


Tebow ergueu a cabeça. Ele esperava
por ela. Me aproximei da janela e
peguei meu celular, rastreando o dela.
Eu sabia que a essa hora o celular
estaria no lago ou abandonado, mas,
mesmo assim, tentei.
— Eu vou trazê-la de volta,
Tebow — avisei ao cachorro e a mim
mesmo.
Eu nunca imaginei sentir ódio
por uma pessoa na mesma intensidade
em que eu a desejava. Eu mataria
Sienna, se eu não a quisesse tanto.
Meu celular vibrou e a
mensagem de Romeo apareceu na tela.
"Saímos daqui a duas horas."
Eu não o respondi. Voltei a tela
do rastreio e semicerrei os olhos. Estava
se movendo. Eu liguei em seguida e
quando ouvi sua voz, eu me segurei para
não quebrar o quarto.
— Você ia me matar. — Sienna
não deixou que eu pronunciasse uma
palavra. — Você realmente faria isso.
Como e por que eu não tenho ideia.
— Você sabia? — ignorei sua
fala e questionei sobre sua traição. —
Você sabia que eles estavam vindo?
— Sim. Sal me alertou um dia
antes. Eu não sabia que iria ser hoje, no
entanto. — Sua voz quebrou e ela
fungou. — Não tive nem como me negar
a fugir. Eu ficaria e seria morta. Eu não
preciso desse amor. Não posso me
prestar a isso, mesmo que eu deseje
fortemente. Eu só não posso pisar no
meu orgulho como você vinha fazendo.
Eu teria amado você, Rocco. Amado
além de mim. Eu só queria que você
fosse capaz de fazer o mesmo.
Eu tentei ignorar suas palavras,
mas o que ela queria dizer? Como assim
teria me amado? Eu afastei a confusão
focando na guerra e segurei a janela.
— Você engravidou outra
mulher. Sabe o que você faz com meu
orgulho? Você o torce a cada traição,
mas dessa vez, foi pior. Você me
despedaçou, Rocco. Eu não posso.
— Eu não engravidei ninguém!
Eu não traí você com ninguém! Se você
tivesse me perguntado eu falaria como
eu sempre fiz, porque eu não sou um
homem que mente. Eu te falei isso várias
vezes e ainda sim, você continua agindo
como a porra de uma adolescente.
— É mentira.
— Você deveria ter me matado,
Sienna.
Ela soluçou na linha e eu olhei o
cais respirando fundo.
— Por que eu deveria? — ela
questionou baixinho e eu apertei meu
pulso, assistindo a água calma do lago
diante de mim.
— Porque eu vou matar todos
que ficarem entre você e eu. E dessa
vez, suas lágrimas não vão me parar.
Sienna ficou sem respirar por
alguns segundos e eu apreciei seu medo
como nunca.
— Adeus, Rocco.
— Até logo, Passarinha.
Eu desliguei o celular e me
afastei da janela. Saí do nosso quarto e
fui ao de hóspedes. Peguei minha
mochila, algumas roupas e minhas
armas.
Quando desci as escadas, Lake
me esperava, abraçando a si mesma.
Seus olhos azuis, mais nublados que os
meus, estavam inchados. Ele estava
chorando.
— Prince disse que Si foi
embora — Lake tentou falar sem
soluços, mas não conseguiu. — O que
aconteceu?
— Isso não é assunto seu, Lake.
— Rocco, por favor — ela
implorou e eu respirei fundo jogando
minha mochila no sofá.
— Sienna fugiu. Sua família a
ajudou. Não chore. Ela estará aqui antes
que você perceba que ela sumiu.
E eu vou matar todos que
ficarem em meu caminho.
Lake mordeu o lábio e acenou,
suspirando.
— Prince está muito chateado
por tê-la deixado ir. Ele se sente
culpado — minha irmã falou e eu
inclinei a cabeça para o lado.
— Ele não tinha chance.
Eu falei para acalmar Lake, mas
mesmo que fosse verdade, eu estava
irritado com meu irmão. Ele não
merecia, no entanto.
Eu concentraria minha raiva em
quem importava.

O barulho do jato não me


acalmou como fazia nas raras vezes em
que voei. Eu estava segurando uma das
minhas facas olhando para ela como se
ela fosse a solução dos meus problemas
e ela seria quando eu a enfiasse na
garganta de Enrico.
— Enrico está na ligação. —
Romeo apareceu vindo da parte da
frente do jato. Apenas nós dois tínhamos
vindo a essa viagem. O que estávamos
indo fazer não envolvia a Outfit. Eles
nunca poderiam saber.
— Você acha que ganhou? — eu
assobiei assim que peguei o celular que
meu irmão estendia.
— Dessa vez, sim. Eu não
deixaria Sienna morrer nas suas mãos,
Rocco. Eu devo muito ao pai dela —
Enrico falou em meu ouvido e eu sorri,
encarando as cadeiras vazias do jatinho.
— Você acha que eu acredito
nisso? Você a deixaria morrer sem
piscar, Enrico. Você está ficando um pau
mole depois que se casou e teve
Matteo...
— Não toque no nome dele!
— Mas ainda é um sádico de
merda — eu ignorei sua interrupção e
continuei. — Eu vou fazer você sangrar,
mas será por dentro. Onde eu sei que
dói. Não na sua pele, você está
acostumado a dor, mas dentro da sua
alma.
Ele ficou em silêncio, e eu sorri.
— Eu vou adorar cada segundo
maldito.
— Você nunca mais a verá. Ela
se casará com Juliano e será reinserida
a Cosa Nostra. Eu espero que esteja
doendo saber que ela vai ser dele.
Ele desligou deixando sua última
palavra e eu esfaqueei o banco,
rasgando o tecido, e ouvindo as batidas
do meu coração explodirem em meus
ouvidos.
— O que ele disse? — Romeo
perguntou se sentando e tirando a faca
do assento ao lado dele.
— Nada. Enrico acha que
ganhou isso.
— Ele vai se arrepender, Rocco.
Eu sabia bem disso e mal podia
esperar para ver seu rosto ao saber o
que eu tinha preparado para ele.

Romeo acenou e apontou para a


casa com o queixo. Nós pulamos o muro
alto e quando meus pés colidiram com o
chão de terra batida eu puxei minha
arma, segurando minha faca na outra
mão. Romeo fez o mesmo enquanto
andava atrás de mim.
A lua estava no alto e eu sabia
que todos estavam dormindo. Romeo
invadiu o sistema de segurança pelo
computador que carregava na mochila e
destrancou a porta sem fazer nenhum
barulho. Eu fui o primeiro a entrar e
quando senti uma arma na minha cabeça,
eu nem titubeei. Romeo puxou a faca de
cima para baixo e a lâmina entrou no
antebraço dele, fazendo-o derrubar a
arma.
Eu sorri para Vincent Bellucci e
ele me olhou com ódio cintilando em
suas irises.
— Rocco.
Ele sabia quem eu era. Que bom.
— Ora, ora, não sabia que
mortos andavam — eu balbuciei
enquanto Romeo apontava a arma para a
cara do irmão de Enrico. O irmão morto.
— O que quer que esteja
pensando, deixe-as fora disso. — Sua
voz ficou furiosa e eu sorri, olhando ao
redor. A casa era grande, porém
simples. Nada que um Bellucci já
tivesse visto na vida. Voltei a encarar
Vincent e fingi pensar por um segundo.
— Acho que não. — Eu peguei o
cabo da minha arma e bati tão forte
quanto consegui na sua cabeça, fazendo-
o desabar, desmaiado. Suspirei
acenando para que Romeo o levasse
para a cozinha.
Assim que Vincent estava preso
na cadeira, eu deixei Romeo com ele e
subi as escadas. Quando atingi o
primeiro degrau, no entanto, uma sombra
pequena estava em uma das portas.
— Olá, Anna. — Eu sorri e ela
me olhou cautelosa. — Você quer
brincar na sala comigo e o papai?
Anna não falou nada, e quando
me aproximei ela não esboçou reação.
Peguei a garota de cabelos loiros e
olhos verdes e andei com ela no colo até
a outra porta. A visão de Teodora
dormindo me saudou quando abri a
porta.
— Teodora.
Ela não demorou a acordar e
quando o fez, seu olhar foi de mim para
sua filha, em pânico.
— Estou levando Anna até a sala
para brincar. Você quer se juntar a nós?
— questionei, sorrindo para ela e para a
filha dela. Engolindo em seco, ela se
ergueu e acenou. — Você primeiro.
— Rocco, não faça isso — ela
pediu, com lágrimas nos olhos e eu
bocejei.
— Mas, amor, eu não estou
fazendo nada. Vamos apenas brincar lá
embaixo, certo, Anna? — Olhei a filha
deles que acenou, sorrindo pela
primeira vez.
Teodora engoliu em seco e
acenou, andando. Quando chegamos à
sala eu fiquei com Anna e pedi a ela que
sentasse.
— Me dá ela — Teodora pediu e
eu neguei com um balanço de cabeça. —
Onde Vince está?
— Logo se juntará a vocês, mas
agora, eu preciso que o anfitrião da
noite compareça. O motivo de estarmos
juntos nessa noite. — Eu me virei e o
computador já estava aberto. Cliquei
para ligar e esperei, sentindo as mãos de
Anna em meu cabelo. — Sorria,
Teodora. Anna, sorria também. O titio
quer as meninas dele felizes — eu pedi
olhando para Teodora que estava com os
olhos vermelhos concentrados na tela.
Quando Enrico apareceu na tela,
Juliano e Dino estavam em cada lado.
Assim que ele viu onde e com quem eu
estava, eu sorri, olhando para Anna e
Teodora, que agora estava chorando
baixo.
— Vamos começar — murmurei
firme olhando para a câmera e vi o exato
momento em que Enrico quebrou.
Eu disse que adoraria cada
maldito segundo e eu estava, porra.
HORAS ANTES...
Observei meu irmão falando com
Juliano do lado de fora do carro e
guardei meu celular. Assim que
terminaram, Salvatore me ajudou a sair
do carro. Um helicóptero, parecido com
o que Rocco me colocou quando cheguei
a Chicago, estava a alguns metros e Sal
me guiou até ele. Assim que me sentei
senti meu estômago embrulhar e meus
olhos se encherem de lágrimas. Juliano e
Salvatore viram, porém não falaram
nada. Eles não pareciam suportar me ver
chorar e eu sabia o motivo.
Eu amava Rocco e agora os dois
tinha certeza disso.
Salvatore se aproximou depois
de um longo tempo de voo. Eu estava
abraçando a mim mesma, com os olhos
secos, focada em olhar a paisagem e
pensar sobre o que Rocco falou. Milena
estava grávida, mas não era de um filho
dele. Eu fechei meus olhos e meu
coração ficou dolorido. Eu presumi tudo
e acabei vindo embora muito mais
machucada.
Eu era uma idiota.
— Ele mataria você, Sienna. A
informação veio de dentro — Sal
murmurou sem me encarar e eu respirei
fundo, lambendo meus lábios secos.
— Eu não duvido — consegui
dizer calmamente e pisquei quando
novas lágrimas surgiram.
— Então, por que está chorando?
— Juliano questionou sério e eu olhei
para as minhas mãos.
— Eu não sei...
— Você sabe — Juliano me
interrompeu e eu encarei a janela
novamente. — Rocco não gosta de
ninguém além dele mesmo. Lembre-se
que ele iria matá-la, a cada vez que seu
coração pedir por ele.
Eu fiquei em silêncio e suspirei,
quando o medo me empurrou.
— Eu não tenho mais nada para
a família. — Eu engoli em seco, e
Juliano arqueou a sobrancelha. — Serei
uma pária...
— Você será minha esposa. Iria
ser antes dessa confusão, eu não me
importo se é virgem ou não.
— Eu não sou — respondi
rapidamente sentindo meu rosto pegar
fogo e Juliano acenou, sem dar
importância.
— Não importa. Dessa vez, no
entanto, você tem escolha, Sienna. Case
comigo e seja recolocada na sociedade
ou fique com sua mãe. Ninguém vai
obrigar você a casar.
Eu suspirei em alívio e agradeci.
Não queria me casar. Eu ainda era uma
Trevisan. A esposa de Rocco. A aliança
em meu dedo brilhou quando a encarei.
Ele realmente me mataria? Por quê? Não
faz sentido.
Assim o helicóptero pousou fora
dos limites de Chicago, segui Sal e
Juliano até um jato, o mesmo que me
levou a cidade de Rocco.
Quando deixei os Estados
Unidos, eu tentei parar de sentir pena de
mim mesma. Tentei empurrar Rocco dos
meus pensamentos e de mim. Tentei não
chorar, porém, quando Tebow, Lake e
Lunna apareceram em minha mente, foi
inútil.
"Me desculpe. Foi bom te
conhecer. Diga a Lake que a amo.
Sentirei saudades."
Enviei a mensagem a Lunna e
desliguei o celular. Sal se aproximou e
sentou diante de mim me dando um
breve sorriso.
— Enrico está nos esperando.
— Estamos em guerra com a
Outfit agora e isso era a última coisa
que Enrico queria — eu disse baixo,
devagar, e Salvatore parou de sorrir
ficando com os ombros tensos. — Por
que Enrico arriscou tanto? Só por mim?
Meu irmão engoliu em seco e
desviou os olhos de mim. Eu sabia que
tinha algo mais. Parando para pensar,
tudo sobre esse resgate é uma besteira
imensa. Furos e muitos furos.
— A Bratva quer a cabeça de
Rocco. Se ele fizer o que achamos que
fará, eles vão matá-lo.
— O quê? — eu gritei sentindo
meus olhos crescerem. — O que você
está falando?
— A Bratva fará o trabalho.
Enrico ou a Cosa Nostra não quer a
Outfit, mas a Bratva sim. Iremos dividir
o território depois de ele cair...
— Vocês arquitetaram isso para
ele sair de Chicago... Vocês me usaram...
— Minha voz soou baixa e trêmula. A
dor em meu coração triplicou e eu me
senti queimar. Traição ardendo em
minhas veias. — Como pôde me trair
dessa maneira, Salvatore?
— Rocco é um psicopata. Ele
merece a morte e eu terei prazer em
assistir... — Salvatore não titubeou ao
afirmar e eu me encolhi. Oh meu deus.
— Ele nunca faria isso. —
Consegui encontrar minha voz e Sal
franziu o cenho, confuso. — Ele nunca
usaria os irmãos dele para conseguir a
cabeça de Enrico. — Eu olhei para o
meu irmão sentindo meu corpo tremer de
raiva.
— Olhe o que ele fez comigo,
Sienna. — Sal se ergueu e abriu a
camisa. Eu ofeguei ao ver as marcas
vermelhas que iam e vinham pela
extensão do seu peito. — Ele e os
irmãos me torturaram, Sienna. Não me
peça para ter pena dele, porque eu não
vou.
Eu desviei os olhos apertando
minhas mãos em meus joelhos. Quando a
dor se tornou pior, eu voltei a olhar para
Salvatore.
— A morte. A minha morte,
quando você disse que ele me mataria...
— comecei a falar, no entanto, quando
observei o rosto de Salvatore baixar, eu
já sabia que era uma mentira. — Oh meu
Deus, Sal. Você me enganou. Você me
usou. A Outfit me arrancou dele com
mentiras.
— Rocco merece...
— Não é sobre ter pena de
Rocco! Isso aqui não é sobre ele, droga.
É sobre me usar, me colocar em perigo
para ter a sua vingança. Sua! Não
minha.
Salvatore olhou para a janela e
não me respondeu. Limpei minhas
lágrimas e afundei as unhas em minha
palma. Eu não conseguia acreditar nisso.
Tentei ficar calma, mas a voz de Rocco
no celular voltou a mim. A fúria
silenciosa e a firme.
— Ele vai matar você dessa vez
e minhas lágrimas e pedidos
desesperados não vão pará-lo.
Salvatore sequer me olhou,
dessa vez.
Assim que cheguei a Roma,
Salvatore tentou me tocar para me guiar
até o carro, mas assim que senti sua
mão, eu me esquivei. Eu queria ver
mamãe, queria saber como ela estava,
apenas isso, mas Juliano não permitiu.
Já passava das onze da noite e o voo foi
longo, mas não consegui dormir.
— Enrico quer ver você —
Juliano avisou enquanto entravamos no
carro e eu o ignorei. — Não foi pessoal,
Sienna.
— Ele é meu marido. Então,
Juliano, sim, foi. Eu odeio admitir isso,
mas eu espero que o seu plano dê certo.
Porque nós sabemos que se não der,
você irá morrer. — Minhas palavras o
fizeram semicerrar os olhos e Salvatore
correr para me recriminar.
— Cuidado, Sienna.
— Eu não devo lealdade ou
obediência a nenhum de vocês. Não me
minimize, Salvatore. Eu sou uma
Trevisan. — Eu encarei meu irmão séria
e voltei a olhar Juliano. — Como eu
disse, que dê certo.
Por dentro, no entanto, eu estava
dividida. Eu desejava ardentemente ter
Rocco novamente, mas não queria que
ele matasse Salvatore. Mesmo depois de
sua mentira, eu ainda me preocupava.
Sal era meu irmão. Meu sangue e meu
coração.
Assim que entramos na casa de
Enrico nós fomos levados ao seu
escritório. Giovanna estava de pé ao
lado dele tão linda quanto eu me
lembrava. Seu cabelo castanho e
ondulado ia até sua cintura. Seus olhos
sorriram para mim antes mesmo que
seus lábios pudessem.
— Sienna. — Enrico se ergueu e
andou até mim estendendo a mão que
ignorei. Suas sobrancelhas se ergueram
e eu segurei seu olhar no meu, sem
baixar a guarda.
— Você mandou Salvatore me
enganar. Você me arrancou do meu
marido para benefício próprio. Não
ouse me tocar. — Minhas palavras
fizeram Enrico olhar para Sal.
— Pensei que você não gostasse
dele. Que estivesse infeliz. Não foi isso,
Salvatore? — A voz de Enrico era tão
grave e firme quanto a de Rocco e isso
quase me fez tremer suavemente.
— Foi o que pensei. Sienna o
ama, pelo que parece — Juliano
murmurou se movendo e Salvatore
concordou, sem me encarar. — Não
podemos voltar atrás. Então, Sienna, se
acostume. Você não voltará para Rocco.
Eu encarei todos na sala e ergui
o queixo parando em Enrico. Ele
começou a se afastar e eu respirei fundo.
— Espero que nunca tenha que
passar por isso, que Giovanna não seja
arrancada de você. — Minhas palavras
o fizeram ficar rígido e Gio se
aproximou tocando em seu marido.
— Eu sinto muito, Sienna — ela
murmurou e eu sabia que ela estava
falando sério. Ela sentia mesmo. Eu lhe
dei um aceno e assisti Enrico voltar para
a mesa.
— O que você quer de mim? —
perguntei a Enrico e ele ergueu o dedo
quando seu celular começou a tocar. Ele
me encarou assim que atendeu.
— O que você quer, Romeo? —
ele rosnou irritado e eu perdi o folego.
— Por quê? Rocco quer ver Sienna? —
Ele riu friamente e eu dei um passo em
sua direção, porém Sal me segurou. —
Ok.
— O que Romeo quer? — Dino
questionou do canto da parede assim que
Enrico desligou o celular.
— Uma videoconferência —
Enrico murmurou e seu olhar veio até
mim. — Sente aí. — Ele acenou para a
cadeira e eu me sentei, ansiedade
corroendo meu interior. Giovanna
também se afastou e Enrico colocou a
imagem do computador para a TV no
canto, dando para todos verem.
Demorou alguns minutos e logo a
chamada começou. Enrico atendeu
relaxado, com Dino e Juliano ao seu
lado. Meu coração parou de bater
quando vi Rocco de pé, sorrindo. Senti
meus olhos crescerem e ofeguei vendo
Teodora Bellucci chorando em um sofá e
uma garota pequena nos braços de
Rocco.
Como? Teodora morreu há anos
em Nova Iorque. Ela e o seu irmão
Vincent foram mortos em um confronto.
O que estava acontecendo?
— Vamos começar. — Ele sorriu
da maneira mais distorcida que eu já
tinha visto e a garotinha sorriu para ele.
Tirei meus olhos dos dois e o rosto
branco de Enrico me fez suspirar.
— Oh meu Deus — Giovanna
choramingou ao meu lado, porém de pé,
alternando olhar para a TV e para seu
marido.
— Rocco... — Enrico começou a
falar, porém parou respirando fundo.
Salvatore, Juliano e eu tínhamos a
mesma cara de surpresa, porém Dino,
Enrico e Gio não. A esposa do chefe
estava tremendo apavorada enquanto os
dois homens estavam sem reação.
— Eu disse a você, Enrico. Eu
vou enfiar minha faca onde dói, não em
você. — Rocco sorriu novamente e
mesmo que fosse errado, eu tremi de
saudades.
— Não faça isso.
— O quê? Estamos apenas
brincando, certo, Anna?
— Sim, titio! — Anna sorriu
batendo palmas em alegria e Giovanna
chorou novamente.
— Soube que mortos podem
viver juntos, podem ter filhos. É um
milagre, não é Teodora? — Rocco virou
para a irmã de Enrico e ele voltou a
encarar a tela, a encarar Enrico. — Um
pecado para alguns. Irmãos juntos,
trepando e tendo bebês. Enrico, eles vão
queimar no fogo. É claro, todos nós
iremos, porém eles irão por um motivo
maior — Rocco murmurou como se
estivesse brincando e a garotinha tocou
seu rosto com carinho, tão inocente.
Meus olhos e de todos se
arregalaram quando Romeo apareceu e
jogou Vince amarrado no sofá, ao lado
de Teodora, sem Anna ver. Eles são um
casal. Oh meu Deus. Salvatore olhou
ambos com asco e Juliano fez o mesmo.
— Eles não são irmão, seu filho
da puta. Foram criados juntos, mas não
tem o mesmo sangue — Enrico ecoou
furioso e Anna pulou nos braços de
Rocco.
— Não a assuste — Rocco pediu
e beijou a bochecha de Anna.
— Deixe Anna. Não faça essa
merda, Rocco...
— Você acha que eu machucaria
uma criança? Que eu tocaria em um fio
do cabelo da garotinha mais bela que já
pus meus olhos? — Rocco respondeu e
isso fez Anna sorrir. — Eu não faria
isso.
— O que você quer? — Enrico
questionou apertando o punho e Rocco
segurou Anna mais perto.
— Você tem algo que me
pertence.
Eu tremi sem frio encarando o
olhar firme do meu marido.
— Eu a levarei agora.
— Calma. Calma. — Rocco
sorriu e olhou para Anna. — O seu tio é
bem apressado. — Sua voz calma era
tão perigosa quanto um lago parado,
onde jacarés estavam a segundos de
subir e devorar o que estivesse por
perto.
Rocco se virou e olhou
novamente para Enrico.
— Eu quero seu consigliere e
Salvatore. — Eu me ergui quando ele
falou o nome de Sal. — Eu vou matar
ambos. Os dois vão se arrepender por
terem entrado em Chicago e pegado
minha esposa. — Rocco sorriu sádico,
cruel e frio. Eu me arrepiei com o gesto,
e derreti em medo.
— Rocco, isso é uma loucura!
— Enrico gritou se erguendo e Juliano
parecia calmo. Salvatore tinha uma
máscara de serenidade no rosto, mas eu
a lia bem demais. Sal estava com medo.
— Eu vou matar Vincent e
Teodora em duas horas. — Anna franziu
o cenho quando ele falou e eu vi a
menina ficar tensa enquanto seus pais a
encarava, sem poder reagir e se
defender. — Assim que ambos caírem
mortos em seu próprio sangue, Anna
será uma Trevisan. Mas, isso depende
de você, Enrico.
— Rocco.
— As únicas pessoas que
saberão das suas mentiras, sobre seus
irmãos, vão estar mortos. — Rocco
respirou fundo e entregou Anna para
Romeo. — Uma hora e cinquenta e oito
minutos, Enrico. E contando. Se eu fosse
você se apressava.
A TV ficou preta e eu me sentei
novamente tremendo dos pés à cabeça.
Enrico continuou olhando para o
computador e quando ele empurrou as
coisas que estavam na mesa para o chão,
Giovanna pulou assustada e chorando.
Enrico parecia sem saber o que
fazer e por um momento, eu também.
Rocco me queria de volta, mas
queria Sal morto.
Eu não achava que minha vida
poderia piorar, mas eu estava enganada.
Vincent ficou quieto, me
observando com ódio, enquanto Teodora
chorava e Anna pedia para ir para a
mãe. Eu a peguei dos braços de Romeo
e andei até Teodora.
— Fique quieta. Não vou
machucar você ou Anna, se você for
obediente — falei sério e ela acenou
repetidamente. Coloquei Anna em seu
colo enquanto Romeo apontou a arma
para a cabeça de Vincent.
Nós sabíamos que ele estava
pensando em maneiras de escapar e até
matar Romeo e eu. Somos homens feitos,
sabemos exatamente o que Vincent
estava ponderando. Eu me aproximei
dele e me inclinei.
— Eu sei o que está pensando.
Não faça, Vincent. Eu vou matar
Teodora sem remorso e farei você
assistir.
O corpo de Vincent estremeceu
tenso, com ódio. Eu sorri para ele e me
afastei. Anna estava no colo de Teodora,
com a cabeça escondida no pescoço
dela. Eu odiava que ela estivesse
presenciando isso. Eu não mexia com
crianças. Elas eram intocáveis para
mim.
— O que Enrico fez a vocês? —
Vincent questionou e eu o olhei,
duvidando que ele não soubesse. — Não
me envolvo mais com os negócios da
famiglia.
— Seu irmão deu ordem para
entrarem em Chicago e roubarem minha
esposa — respondi me encostando na
parede, pegando minha faca. — Ele
irritou a pessoa errada, Vincent.
— Ele deu Sienna a você, não
faz sentido — Teodora murmurou
franzindo as sobrancelhas e eu a encarei.
— Vocês saíram da máfia há
anos e já não se lembram que fazemos
tudo, menos o que faz sentido.
— Enrico não vai entregar
Juliano — Vincent falou firme me
encarando e respirou fundo. — Ele é seu
consigliere. É insano e ele não aceitará.
Me mate, Rocco. Apenas deixe Teodora
com Anna saírem.
— Vincent, pare! Enrico vai
entregar — Teodora gritou assustando
Anna e olhou para Vincent com os olhos
implorando. Eu senti nojo ao ver a
maneira que ela o controlou. — Ele não
deixará Rocco nos matar. Somos o seu
sangue.
Eu admirava Teodora. Ela tinha
certeza disso e eu também tinha a mesma
certeza. Enrico enviaria Salvatore e
Juliano sem titubear. E como eu sabia?
Olhei para Romeo e apertei o cabo da
faca mais forte. Eu faria o mesmo.
Quando as duas horas se
passaram eu liguei para Enrico.
— Quero ver Sienna. Eu espero
que ela esteja em um jato nesse momento
— murmurei andando pela sala onde
agora, Anna dormia no colo de Teodora
e Vincent continuava atento.
— Sienna não quer que leve
Salvatore — Enrico disse com firmeza e
eu sorri.
— Sienna não tem que querer
porra nenhuma. Eu quero os três em um
avião. Mande a foto. O seu tempo
acabou.
Desliguei o celular e encarei os
irmãos de Enrico.
— Seu irmão ainda está tentando
conversar. Eu preciso mandar um recado
para ele — falei me movimentando e
Vincent se jogou na frente da mulher, a
protegendo. Meu celular começou a
tocar e atendi a ligação de Enrico. —
Rápido.
— Sou eu. — A voz de Sienna
me fez parar e olhar para a família
diante de mim. — Rocco, eu quero
voltar para você. Eu juro, mas Salvatore
é...
— Não dessa vez, Sienna. Eu
vou matar seu irmão. Vai ser rápido.
Juliano, no entanto... ele não faz ideia do
quanto vai sofrer — falei firmemente e
Sienna fungou na linha.
— Por favor...
— Não implore. Eu falei a você
para nunca implorar e isso se estende a
mim. Seu irmão me subestimou pela
segunda vez. Isso não vai acontecer
novamente — a interrompi com raiva e
Sienna suspirou na linha. — Onde você
está?
— No jato.
— Juliano e Salvatore? —
questionei me aproximando da janela.
Olhei pelo vidro e esperei sua resposta.
— Estão comigo. Rocco...
— Eu quero uma foto. Mande-a
para mim. Assim que você pousar em
Chicago, Matteo a buscará. Só voltarei a
Chicago quando você estiver na mansão
— avisei olhando para meu irmão que
acenou concordando comigo.
— Rocco, volte. Juliano disse
que me tirar de Chicago foi uma maneira
de você vir a Itália. — A voz de Sienna
quebrou e eu ouvi seu suspiro. — Eles
mentiram para mim. Disseram que você
iria me matar... me desculpe.
— Não se desculpe — rosnei
frustrado e respirei profundamente. —
Não confiei em você e você também não
tinha motivos para confiar em mim. Vá
para casa, Sienna. Vou chegar em breve.
— Rocco... — Sienna começou a
falar, mas se deteve.
— Não dessa vez, Sienna.
Desliguei a ligação e acenei para
Romeo. Em segundos uma imagem
chegou e era de Salvatore e Juliano no
mesmo jato que Sienna. Eles estavam
calmos, Enrico não precisou usar a
força, pelo visto.
— Seu irmão cumpriu com o
acordo, Teodora. Parece que você o
conhece melhor que Vincent. — Eu me
aproximei novamente e olhei para Anna.
— Suba e durma com sua filha. Lembre-
se, seu marido está comigo e eu não
hesitarei em matá-lo, se fizer algo.
Teodora balançou a cabeça,
engolindo em seco e se ergueu. Vincent
acenou assim que ela hesitou ao andar.
Quando ficamos os três sozinhos, o
irmão de Enrico olhou para mim e
Romeo.
— Vocês dois são corajosos —
ele respirou fundo e inclinou a cabeça.
— Deixar Chicago sem ninguém. Deixar
seus irmãos pequenos e esposa...
— O que está querendo dizer?
— Romeo questionou entrando na
conversa de Vincent e eu fingi que não
ouvi.
— A Bratva. Eles podem estar
invadindo seu território nesse momento.
Matando sua esposa — Vincent
continuou com a conversa e eu me
aproximei empurrando meu antebraço
em seu pescoço, sufocando-o.
— Cale a porra da boca. Meu
território está protegido, diferente do
seu — sibilei furioso e Vincent ficou
calado apenas me olhando de volta.
Vincent ficou firme no sofá e eu
me aproximei de Romeo. Meu irmão me
encarou calmo e eu respirei fundo.
— Iremos embora em duas
horas. Sienna já estava cruzando o
oceano, será rápido. Podemos chegar
antes dela em Chicago — eu avisei
tentando fazer meu irmão relaxar.
Romeo não deixava as coisas que
pensava e sentia perceptíveis para os
outros, mas para mim, tudo sempre
esteve visível em seus olhos vazios.
— Não. Apenas quando ela
estiver no nosso território e Juliano no
porão. Vou matar aquele merda junto
com você.
— E Salvatore? Você não quer
participar?
— Você não vai matá-lo —
Romeo falou calmamente e eu arqueei as
sobrancelhas. — Pare de afastar sua
esposa. Tenho motivos para me manter
longe da minha mulher, você não tem.
Pare com essa merda. Salvatore pode
ser iniciado como um dos nossos
soldados. Não vale a pena matá-lo,
Rocco. Ele é um merdinha insolente.
Vamos ensiná-lo a ser um homem feito
real.
— O que você está dizendo,
Romeo? — questionei tentando
acompanhar deu raciocínio.
— Sienna nunca vai perdoar
você.
— Eu não preciso da permissão
de Sienna ou a porra do seu perdão. Vou
matar Salvatore.
Romeo me olhou por longos
segundos e acenou vendo que eu
realmente falava sério.
— Bom. Você pode estar certo
— ele respirou fundo e olhou para
Vincent que continuava sentado no sofá,
nos observando. — Vou ligar para
Matteo.
Romeo se afastou e eu continuei
encarando o merda Bellucci. Não me
surpreendi ao saber que Enrico tinha
forjado a morte dos irmãos, porém saber
que eles eram casados e tinham uma
filha, isso sim me deixou surpreso.
— Matteo disse que está tudo
sob controle. — Romeo voltou em
alguns segundos e eu acenei, aliviado.
Matteo tinha apenas vinte e um
anos, mas eu confiava a Outfit a ele.
Prince estava com dezoito e seguiria os
mesmos passos. Era o que eu esperava,
pelo menos.
Enrico não precisou forçar ou
ordenar que Juliano e Salvatore
entrassem no jatinho e voarem em
direção a morte. Os dois decidiram
antes que Enrico pudesse falar algo. Sal
ligou para mamãe e disse que ficaria
longe por muito tempo. Eu não aguentei
ouvir e mais uma vez implorei por sua
vida a Rocco. Ele não cederia dessa
vez.
— Eu sinto muito — murmurei
forçando minha voz sair e meu irmão me
encarou. Ele tinha apenas dezessete
anos. Eu estava apavorada ao saber que
Rocco o queria morto. — Ele não me
escutou.
— Você fez muito, Sienna — Sal
disse diante de mim, olhando pela
janela. — Não deveria ter enganado
você. Rocco é melhor que eu nisso. Ele
jamais usaria os irmãos, como você
mesma falou.
Eu não o desmenti. Ele estava
certo.
— Não consigo suportar isso —
eu disse limpando meu rosto molhado.
Sal se ergueu e sentou ao meu lado,
puxando meus ombros contra seu corpo.
— Está tudo bem, Si. Se acalme
e descanse — Sal pediu e por mais que
eu não quisesse seguir seu conselho,
meu corpo estava além de acabado.
Eu adormeci na cadeira e quando
acordei nós já estávamos pousando.
Assim que coloquei os pés em Chicago
o vento frio me saudou. Salvatore estava
ao meu lado com Juliano e quando vi
Matteo se aproximando com os soldados
da Outfit eu tremi, erguendo o queixo.
— Em menos de vinte e quatro
horas e cá está você. — Meu cunhado
riu me olhando e eu andei passando por
ele sem baixar a cabeça. No entanto,
Matteo segurou meu braço. — Não tão
longe.
— Eu não devo satisfações a
você, Matteo. Ao meu marido, sim.
Agora me solte — falei entredentes e ele
tirou as mãos de mim rindo.
Andei em direção ao carro e não
ousei olhar para meu irmão ou Juliano.
Eu não aguentaria. E no momento, eu não
daria essa satisfação a Matteo.
O carro começou a se mover
assim que meu irmão e Juliano foram
enfiados em outro veículo.
Quando os portões da
propriedade se abriram eu respirei
fundo, piscando. Matteo estacionou e eu
saí caminhando até a porta. Lake a abriu
antes que eu chegasse e se jogou em
meus braços. Eu envolvi seu corpo com
meus braços enquanto ela soluçou
baixinho.
— Eu pensei que não veria mais
você — murmurou se afastando e eu
andei para dentro de casa, ainda com o
braço em volta dos seus ombros.
— Eu também. Me desculpe,
Lake — pedi com lágrimas embaçando
minha visão e ela suspirou, tocando meu
rosto.
— Você precisa de um banho.
Depois podemos assistir um filme — ela
tentou brincar, mas eu sabia que era
sério. Eu me afastei e beijei sua testa.
— Não farei isso uma segunda
vez, Lake.
— Promete? — Ela piscou
mordendo o lábio inferior e eu sorri.
— Prometo.
Lake me deixou subir as escadas
e meus joelhos fraquejaram quando
cheguei ao andar de Rocco. Tebow
correu assim que caí ajoelhada. Sua
língua lambeu meu rosto, e seu focinho
geladinho tocou minha pele, cheirando.
— Ei, querido. — Eu abracei
seu corpo e caí para trás o deixando
ficar sobre mim. — Não faz dois dias,
Tebow, mas senti muito a sua falta.
Ele ronronou em resposta e eu
sorri.
Depois de minutos juntos ele me
deixou levantar. Tirei meus sapatos e
andei até o meu quarto. Meu peito
apertou quando olhei ao redor, vendo
que tudo estava do mesmo jeito que
deixei. Entrei no banheiro e coloquei a
banheira para encher sentindo o cheiro
dos sais e do creme de barbear de
Rocco.
Meu coração deu um salto
quando pensei nele. Estava cansada de
lutar contra meus sentimentos. Eu amava
Rocco e precisava lidar com isso.
Mesmo que esse amor me queimasse por
dentro e consumisse minha alma.
Tirei minha roupa e entrei na
água gemendo de alívio. Me lavei
enquanto pensava em Sal. Eu sabia que
ele tinha me enganado, mas não queria
que Rocco o matasse. Eu não sabia o
que faria, mas não podia apenas deixar
isso acontecer.
Descansei minha testa em meus
joelhos e respirei fundo. Quando uma
sombra apareceu na lateral dos meus
olhos eu me arrepiei. Mesmo na água, eu
me senti queimando, flutuando e sendo
consumida.
Rocco Trevisan era como uma
chama, fascinante de longe e dolorosa
ao ser tocada.
Eu queria me queimar. Cada vez
mais, mesmo que ardesse, eu ainda
estava aqui e sempre estaria. Era um
amor doentio, deturpado e cruel, mas era
o meu.
— Passarinha — sua voz me
saudou e eu ergui a cabeça prendendo
meus olhos nele. Em seu peito nu
rabiscado com tinta e cicatrizes, em seus
braços largos e seu rosto esculpido para
se parecer com um deus. Seus lábios
bonitos e seus olhos que desnudavam
minha pele, minha alma.
— Rocco — murmurei sob
minha respiração e ele ergueu o queixo.
Eu engoli em seco e me levantei. Rocco
olhou cada pedaço da minha pele e me
encarou por último
— Você é mais que minha,
Sienna — Rocco afirmou sério e suas
palavras acariciaram meu coração. —
Eu nunca mais a deixarei ir.
— Eu sei — murmurei baixo e
ele se aproximou pegando minha mão.
Seus dedos apertaram minha pele branca
e o sangue se concentrou onde ele
tocava com mais firmeza.
Rocco afastou meu cabelo úmido
e beijou meu pescoço. Eu estremeci nua
de pé dentro da banheira enquanto
Rocco estava vestido, tocando minha
pele somente em dois pontos, pescoço e
pulso. Mas, mesmo assim, me
consumindo.
— Juliano a tocou? — sua
pergunta saiu tensa, e eu senti o perigo
no ar. Rocco segurou meu pulso e se
afastou, encarando meus olhos. — Você
deve responder, passarinha.
— Não. Ele não fez — murmurei
devagar e ele procurou mentiras em meu
rosto. — Alguém tocou em você? —
forcei a questão a sair e me senti tola ao
me ouvir.
— Sua boceta é tudo que
preciso, Sienna. Pensei que já soubesse
disso.
— Você procurou outra se me
lembro bem...
— Eu não toquei em ninguém e
já falei isso — ele me cortou e eu engoli
em seco. — Mas agora eu vou tocar no
que é meu e de mais ninguém.
Eu estremeci com a promessa
velada em suas palavras.
Puxei Sienna para mim pela
cintura e ela suspirou me encarando com
os lábios abertos. Me inclinei provando
sua boca e ela relaxou contra meu peito,
segurando meus braços. Eu não queria
ser cuidadoso, eu queria consumir
Sienna completamente.
— Você queria voltar —
murmurei deslizando meus lábios pelo
seu queixo e bochecha. — Você queria
voltar para mim depois de tudo que
passamos — eu murmurei baixo ainda
segurando sua cintura, mantendo o corpo
nu de Sienna contra o meu.
— Sim, eu queria — confessou e
eu chupei a pele do seu pescoço,
marcando-a. Sedento por sua loucura e
desejo. Sienna era tão perigosa quanto
eu e saber disso, agora não me
assustava. Pelo contrário, eu queria
participar, mostrando a ela o quanto eu
poderia ser ainda mais.
Segurei Sienna pela cintura e a
ergui andando até a bancada. Coloquei
ela sentada na ponta do balcão e me
afastei segurando suas coxas abertas.
Caí em meus joelhos e admirei sua
boceta rosada e molhada. Eu sabia que
não era apenas a água da banheira.
Me inclinei deixando suas
pernas mais afastadas e deslizei a minha
língua pelas suas dobras gemendo ao
sentir o sabor. Sienna gritou e tentou
fechar as coxas quando abocanhei seu
clitóris e chupei. Eu segurei seus joelhos
e a mantive parada. Sem poder se mexer,
Sienna apertou meus cabelos com a mão.
Eu a comi com mais intensidade
arrancando seus gritos e orgasmo em
pouco tempo. Lambi todo seu néctar
doce e me ergui vendo seus seios,
bochechas e pescoço vermelhos. Movi
minha língua pela sua pele e lambi sua
barriga, indo para os seus mamilos.
Mordi a carne entumecida e ela gritou
com a dor momentânea. Os olhos azuis
da minha passarinha estavam dilatados e
ela respirava ofegante me fazendo beijar
e lamber seu mamilo dolorido.
Ouvindo seus gemidos baixos eu
tirei meu pau da calça e puxei Sienna
pelo pescoço para que ela voltasse a
ficar com as costas ereta.
Sua boceta se esticou quando
entrei lentamente dentro dela. Sienna
gemeu intensamente, e eu sorri contra
sua pele, movendo minha boca em
direção a sua. Sua língua procurou a
minha e Sienna chupou esfregando seus
mamilos em meu peito.
— Esqueça os anticoncepcionais
— falei calmo e me afastei para encarar
seu rosto. — Meu filho vai crescer em
sua barriga, Sienna. Você nunca mais vai
me deixar e eu vou garantir isso. —
Minhas palavras voaram e Sienna
parecia tão chocada quanto eu por
dentro.
— Rocco... — ela respirou
fundo e gemeu quando movi meus
quadris fodendo-a. — Oh meu Deus...
— Goze e puxe meu esperma,
passarinha. Você o quer, mas não está
pronta para admitir.
Sienna gritou com o rosto
enterrado em meu peito e eu gozei em
sua boceta sem barreiras assim que senti
a pulsação das duas paredes internas. Eu
segurei o queixo de Sienna e devorei
seus lábios. Ela se agarrou a mim, me
beijando com tanta fome quanto eu. A
carreguei para a cama e coloquei Sienna
de quatro dessa vez. Eu a fodi tão lento
quanto consegui e quando ela se
encontrou no prazer seu grito ecoou
pelas paredes me dando satisfação.

Sienna traçou minhas tatuagens e


ergueu o rosto para me olhar. Tínhamos
feito sexo mais uma vez e estávamos
deitados juntos. Deixei meu braço atrás
da minha cabeça e a olhei de volta.
— Você disse que não tocou em
ninguém — ela começou devagar e eu
continuei sério, sem responder. — Você
estava com o cheiro de alguém em seu
corpo aquele dia — Sienna acusou
franzindo as sobrancelhas e eu deslizei a
mão que estava em sua cintura até seu
quadril, indo e vindo, lentamente.
— Eu estava no Village. Lá tem
prostitutas em todos os lugares, mas não
toquei nelas. Elas tentaram me agradar,
óbvio, mas não aconteceu nada.
Minha voz soou lenta e letárgica,
fazendo Sienna suspirar.
— O que aconteceu naquele dia?
Estávamos bem... Eu pensei, pelo
menos...
— Nada — menti encarando
seus olhos e Sienna viu isso. — Por que
não me fala o que fez enquanto esteve
fora?
Sienna desviou os olhos e eu
apertei seu quadril. Seu suspiro ecoou e
seus olhos voltaram para o meu rosto.
— Não aconteceu anda. Eles me
levaram para Enrico, você ligou em
seguida. Foi tudo muito rápido.
— Enrico queria que se casasse
com Juliano. Você aceitou isso? —
minha pergunta ressoou em nosso quarto
tão perigosa quanto minha arma.
— Você sabe que não — Sienna
respondeu firme e se apoiou em meu
peito. — Não quero ser de mais
ninguém, Rocco. Pensei que já soubesse
disso.
Eu deslizei a mão pelo seu rosto
e segurei sua bochecha.
— Não, eu não sabia.
— Essa é a primeira e única vez
que me ouvirá falando isso, porque
depois eu sei que vai me magoar
profundamente... — Sienna começou a
murmurar e engoliu em seco. — Eu amo
você. Eu só queria que soubesse que
depois de tudo, Rocco, eu ainda me
apaixonei por você. E não, eu não faço
ideia de como ou pelo que me
apaixonei. Nos apaixonamos pelas
ações e gestos, certo? Desde que nos
casamos, tudo que você fez foi me
magoar... — Sienna me deu um sorriso
triste e minha mão estava parada contra
o seu rosto. — Mas, ainda sim, eu o
amo.
Eu não sabia o que dizer. Sienna
não esperava por respostas, no entanto.
— Salvatore já sabe que o amo e
acho que isso é o que mais me confunde.
Como eu amo você se pretende matar
meu irmão? — Ela piscou os olhos, mas
não tinham mais lágrimas. Eu a tinha
feito derramar todas.
— Seu irmão merece a morte,
Sienna — falei firme e apertei meu dedo
contra seu lábio quando ela começou a
abri-los. — Eu vou matá-lo rápido. Ele
não sofrerá.
Sienna piscou os cílios longos e
desviou os olhos de mim.
— Eu não sei o que dizer e não
posso mais implorar. E não é porque sou
uma Trevisan, Rocco. Eu só não tenho
mais forças.
Sienna se afastou de mim e se
ergueu enrolada no lençol. Eu fiquei na
cama respirando fundo e encarando o
teto enquanto ela sentou no peitoril da
janela e ficou olhando para o cais.
Peguei minha cueca descartada e
a vesti. Sienna escutou eu me movendo,
mas não me olhou.
Eu estava frustrado para dizer o
mínimo. Odiava que eu me importava
tanto com a dor nos seus olhos azuis. Eu
nunca desejei uma esposa, mas Sienna
era mais que o título. Ela estava me
consumindo e isso seria minha ruína
como Romeo adorava dizer.
Me aproximei dela na janela e
encostei meu peito em sua lateral
afastando seu cabelo loiro. Sua cabeça
estava focada no cais e eu a abracei.
Nunca tinha abraçado Sienna ou
qualquer pessoa, por vontade própria.
Mais uma novidade fodida.
— Você entende o que está me
pedindo, Sienna? — questionei
lentamente e seu corpo tremeu. — Que
tipo de chefe eu serei diante dos meus
soldados se não matar o homem que
tirou minha esposa de mim?
Sienna se virou e agora seus
olhos estavam úmidos. Ela tocou em
meu peito e suspirou.
— Salvatore é leal a Cosa
Nostra. Ele fez o que o chefe dele o
ordenou. Eu não tenho o direito de pedir
para que alivie para ele, mas... Eu
precisava tentar. Sal é meu irmão.
Eu enxuguei suas lágrimas e me
afastei de Sienna. Minhas mãos caíram
ao meu lado e Sienna observou com os
olhos azuis cheios de lágrimas. Ela
sabia o que eu faria. A dor que eu estava
causando a ela estava quase me
sufocando, mas eu não podia.
Não pela segunda vez.
— Eu vou ser rápido.
— Rocco... por favor.
— Não implore, Sienna. Você
me abala, mas eu tenho a Outfit. Eu lutei
por ela e eu não cairei por não desejar
as suas lágrimas. Seu irmão entrou na
minha cidade duas vezes e ambas foi
para tirar você de mim. Ele merece a
morte e eu não o pouparei.
Ela suspirou, e voltou a encarar
a janela enquanto novas lágrimas
desciam por seu rosto.
Meu celular começou a tocar e
eu me afastei dela. Sienna desceu da
janela e andou até a cama enquanto eu
peguei o celular e atendi Romeo. Ele foi
para o Village com Salvatore e Juliano
enquanto eu apenas segui para casa.
Para Sienna.
— O quê? — perguntei olhando
Sienna tirar o lençol e vestir sua
camisola de seda rosa.
— A Bratva invadiu. — A voz
do meu irmão soou distante e baixa.
— Porra! Você está bem? Onde
está? — Eu corri para o lado da cama e
peguei minha arma. Se eles entraram na
mansão eu precisava agir, rápido.
Sienna me encarou assustada e eu
apertei a arma. — Romeo!
— Village. Eles levaram Giulio
e Salvatore. Eu não faço ideia do que
caralho aconteceu ou como entraram
sem que alguém avisasse...
— Romeo, você está bem? Estou
indo.
— Eles me balearam. Estou
numa das salas a provas de som. Me
tranquei quando tudo ficou uma merda
— Romeo gemeu baixo e eu peguei
minha calça. Vesti ela enquanto avisava
ao meu irmão que eu estava a caminho.
— Preciso que cheque Lunna. Ela estava
com Matteo, mas com a chegada de
Sienna ela ficou sozinha. Você precisa ir
até ela, Rocco.
— Ela deve estar dormindo.
Você precisa de mim, não Lunna! — eu
gritei de volta e saí do quarto com
Sienna me seguindo. — Aperte a ferida.
Romeo, eu vou destruir eles.
— Você vai checar a minha
esposa! Eu estou bem. Essa merda não é
nada.
Continuei com o celular ligado e
abri a porta de Matteo. Ele se ergueu já
segurando a arma e eu apontei para fora.
— A Bratva entrou no Village.
Vá para lá com cinco soldados e
procure Romeo nas salas de pânico —
eu lati irritado vendo-o arregalar os
olhos.
— Ele está bem, certo? — A
mudança na voz de Matteo me fez ficar
rígido.
— Ele foi baleado. Vou acordar
Prince. Ele vai levar Sienna e Lake para
o quarto de pânico. Vá agora!
Andei para fora e meu irmão
desceu as escadas enquanto Sienna
estava ao meu lado.
— Rocco...
— Não, Sienna. Eu preciso
checar Lunna e vou para o meu irmão —
a cortei abruptamente e segurei sua
cabeça trazendo-a para mim. — Você
vai ficar com Lake no quarto de pânico.
Lunna virá para cá também.
— Por favor, cuidado — Sienna
implorou com medo e eu beijei sua boca
rapidamente. Recomecei a andar e subi
as escadas com ela.
— Eles invadiram minha boate.
Alguma coisa está bem fodida, Sienna.
Cuidado não é o mais importante.
— Eles podem matar você se
ainda estiverem lá. — Ela me olhou em
pânico e eu respirei fundo colocando
minha arma na mão e abrindo a porta de
Prince.
Acordei meu irmão e depois de
explicar o que ele deveria fazer, me
virei para Sienna enquanto Prince
pegava suas facas e armas.
— O que quer que seja amor,
Sienna, eu sei que senti por você. Cuide
de Lake — eu suspirei quando ela me
agarrou.
— Não se atreva. Não faça
isso...
— Eu vou matar quem machucou
Romeo. E se eu morrer no processo, eu
sangrarei feliz. Romeo é minha carne,
meu sangue. Eu vou morrer por ele sem
hesitar.
Sienna levou a mão aos lábios
para conter um soluço e por mais que eu
quisesse consolá-la, eu tinha que ir
buscar Lunna.
Entrei em meu carro, depois de
sair de casa, e cinco soldados me
seguiram até a casa de Romeo.
Assim que desci do carro eu
olhei ao redor. A porta entreaberta me
fez pegar minha arma e mirar na minha
frente. Entrei na casa e apertei a
mandíbula ao ver um vaso no chão,
quebrado. Sinais de luta estavam
espalhados pela sala fazendo meu
batimento cardíaco acelerar. Eu apontei
para o interior da casa, mandando os
soldados entrarem e eles se espalharam.
Me movi para as escadas e mesmo antes
de entrar nos quartos a procura de
Lunna, eu soube que ela não estava aqui.
Alguém tinha levado a esposa do
meu irmão.
Assim que finalizei a vistoria
meu celular tocou e o nome de Matteo
apareceu na tela.
— Ele está bem. O médico está
aqui e tratando dele — Matteo avisou
respirando fundo e eu fechei meus olhos,
aliviado, porém, sem saber como contar
a Romeo que levaram Lunna.
— Ok. Eu estou...
— O que foi? — Matteo notou
minha voz preocupada e eu soquei o
carro, ardendo de ódio. — Pergunte a
ele sobre Lunna. — A voz de Romeo
soou e eu fechei os olhos
— Passe para Romeo — pedi a
Matteo e com alguns segundos ouvi a
voz do meu irmão. — Ela não está aqui.
— O quê? — Romeo gritou na
linha e eu apertei o punho contra minha
boca. — Cadê ela, Rocco?
— Eu não sei! Acabei de entrar
na casa de vocês e tem indícios de
briga. Como a Bratva entrou aqui?
Como diabo isso aconteceu?
— E por que foram para Lunna?
— Romeo baixou a voz e eu me vi em
meu irmão. Ódio puro e latente nos
consumindo.
— Eu não sei. Mas eu vou matar
todos com você. Eu juro que traremos
ela para casa.
Meu irmão não me respondeu e
eu podia sentir Romeo se perdendo.
Lake olhou para a porta assim
que Prince a fechou e nos trancou, indo
encontrar Rocco. Eu não sabia o que
estava acontecendo e isso me deixou em
pânico. Lembrei de Rocco se
despedindo e lembrei que momento
fugazes de alegria sempre antecediam
tragédias. Sempre era assim.
— Tem alguém na casa? — Lake
questionou com a voz trêmula e baixa.
Eu passei a mão pela minha
roupa e me aproximei. Troquei minha
camisola por uma calça de moletom e
blusão de Rocco assim que Prince pegou
Lake. Olhei ao redor para o quarto sem
janelas. As paredes eram lisas e duas
camas grandes estavam uma ao lado da
outra. Uma geladeira, cômoda e um
armário eram as únicas coisas além das
camas.
— Não sei. — Eu me sentei na
cama um pouco longe da minha cunhada
e ela olhou para as mãos.
— A última vez que algo assim
aconteceu... — Lake parou de murmurar
e piscou como se estivesse recordando
algo. — Eles a mataram. Ele a matou —
seu murmúrio foi pequeno e eu engoli
em seco, com medo de saber sobre quem
ela estava falando. — Rocco o pegou
em seguida. Foi horrível. — Lake
tremeu e levou as mãos aos ouvidos
apertando. Me aproximei devagar e ela
olhou para o chão se encolhendo. —
Não me toque. Por favor, só não faça.
— Tudo bem, eu não vou Lake
— sussurrei saindo da cama e me sentei
no chão, a sua frente. — Quem matou
quem? — questionei confusa, porém
indecisa. Não queria perturbar Lake e
ela parecia a ponto de se perder.
— Meu pai... não, o pai dele. O
pai deles. — Seu olhar encontrou o meu,
mas estava desfocado. — Ele me
machucou... Rocco o matou. Ele o matou
por mim...
Lake engoliu em seco, e voltou a
olhar para as mãos.
— E ela morreu me defendendo
— minha cunhada sussurrou e lágrimas
encheram seus olhos. — Ela era como o
sol. Quente, bonita e cheia de luz. Eu a
matei — Lake soluçou levando as mãos
ao rosto e eu ofeguei desnorteada. Me
senti impotente ao ver Lake soluçar e
tremer em um choro profundo e eu sem
poder consolá-la.
— Lake... eu não sei o que
dizer...
— Rocco adora mostrar a todos
que é um monstro. E sim, ele é um
pouco, mas meu irmão me salvou... Ele
salvou todos nós — Lake falou fungando
e eu me aproximei um pouco, mas sem
tocá-la.
— Quem morreu, Lake? —
perguntei com medo da resposta.
— Mamãe. Ele a matou — ela
respirou fundo e limpou as pálpebras.
— Eu tinha doze anos. Era o dia do
casamento de Romeo e Lunna. Eu queria
ir para Nova Iorque, mas não tive
permissão. Apenas Matteo e Prince
foram. Rocco tinha brigado com papai
dias antes. — Lake franziu as
sobrancelhas e me encarou piscando. —
Não sei por que ainda o chamo assim.
Ele não é meu pai.
— Como? Mas...
— Ele me odiava. Eu
representava seu fracasso. — Lake
mordeu o lábio e novas lágrimas
desceram por suas bochechas. — Nem
se eu tivesse seu sangue ele nunca me
amaria. Ele me chamava de rata. Dizia
que eu deveria viver no esgoto, que eu
era suja. — Observei seu rosto tão lindo
se transformar em repulsa. — Eu o
odeio. Odeio por ele ter matado minha
mamãe.
— O pai de vocês a matou? —
Meus olhos estavam arregalados e Lake
acenou puxando suas pernas contra o
corpo, abraçando-as.
— Ele rasgou a garganta dela
diante de mim. Olhando nos meus olhos.
Lágrimas embaçaram minha
visão e eu levei a mão a boca, contendo
um soluço. Lake fixou os olhos na porta
e eu chorei baixinho tentando imaginar
Lake ver sua mãe ser assassinada diante
dos seus olhos.
A porta abriu e nós duas nos
erguemos, vendo Prince. Ele olhou entre
nós e acenou para que saíssemos. Segui
Lake em silêncio, mas o rosto de Prince
estava abalado. Algo tinha acontecido.
— Onde está Lunna? — Lake
questionou antes de mim, assim que
entramos na sala, e Prince respirou
fundo, olhando entre nós duas.
— A Bratva a levou — ele
murmurou depois de segundos e eu
arregalei os olhos sentindo meus joelhos
se enfraquecerem.
— O quê? Por quê? Mas... ela
vai ficar bem? — Lake questionou
voltando as lágrimas e eu me sentei
apertando o sofá entre meus dedos. —
Prince.
— Não sabemos. Rocco, Romeo
e Matteo estão vindo para casa.
Reuniremos os homens aqui. Queremos
saber como a Bratva entrou e porque
foram para Lunna. Eles poderiam ter
entrado aqui, pegado Sienna ou você,
mas não, eles foram diretamente para
Lunna. Algo está errado e precisamos
saber o que é.
A propriedade tinha apenas uma
entrada e isso queria dizer que eles
passaram por aqui para ir até Lunna. Eu
fechei meus olhos tremendo de medo.
— Salvatore foi pego. Ele,
Giulio e Lunna — Prince falou olhando
para mim e eu senti meu coração parar
de bater. Me ergui com os olhos
arregalados.
— Como? Mas...
— No confronto, a Outfit perdeu
homens. Seu irmão lutou ao lado de
Romeo, mas eles o levaram. Giulio
estava na propriedade, em nosso porão,
não faz sentido...
— No porão? — Lake olhou
para seu irmão assustada e Prince
acenou. — Eu o vi.
— O quê? — Prince gritou
chocado e eu fiz o mesmo, a encarando.
— Como diabos você o viu, Lake?
— Uma vez. — Lake começou
engolindo em seco e lambeu os lábios
ressecados. — Eu desci lá e o vi. Ele
estava dentro da cela parado. Ele só me
olhou de volta. Não falou nada e nem se
mexeu.
— O que porra você foi fazer lá?
— Prince estava gritando e eu o
compreendia. Lake poderia ter se
machucado. Eu não conhecia Giulio,
mas se eu estivesse em seu lugar e a
oportunidade de fugir aparecesse, eu a
agarraria com unhas e dentes.
— Eu... — Lake se calou assim
que a porta se abriu e Rocco entrou.
Romeo andou para a sala de jogos e eu
olhei para os meus pés, sentindo medo e
culpa me corroer. Lunna estaria
protegida se Romeo não estivesse com
Rocco, barganhando meu retorno.
Segurei minha blusa entre os
dedos e senti Lake se aproximar de
mim.
— Ela está bem? — A voz baixa
de Lake me fez suspirar e encarar o
rosto do meu marido. Rocco estava
sério, sem sarcasmo ou ironia por perto.
Seus olhos azuis brilhavam com a
escuridão e o desejo de matar. Era tão
claro como a água do oceano.
— Não sabemos — Matteo a
respondeu, quando Rocco não o fez. —
Eles tiveram ajuda de alguém de dentro.
De um dos soldados que confiávamos
ficar dentro da propriedade — Matteo
murmurou apertando os pulsos enquanto
Rocco pegou uma garrafa de uísque e
seguiu Romeo.
— Não importa quem foi. Eu me
preocuparei com isso depois de
encontrar e trazer Lunna para casa —
Rocco respondeu quando entramos na
sala de jogos. Romeo estava olhando
pela janela de vidro a floresta que nos
cercava.
— Por que Lunna? Não faz
sentido — Prince murmurou e eu acenei,
porque eu também estava confusa.
— Eles estão em guerra com a
Cosa Nostra — Romeo sussurrou tão
baixo que quase não pude entender. —
Eles a queriam por causa dele.
— Pode ser — Rocco respirou
fundo e eu cruzei meus braços olhando
para a parede. Me sentindo pequena,
acuada e culpada.
— Me desculpe — murmurei
encarando as costas de Romeo que ficou
tenso ao me ouvir. — Eu sou a razão
para que você não estivesse a
protegendo. Eu queria poder fazer algo...
— Não é culpa sua — Rocco me
interrompeu com sua voz cortante e eu
mordi meu lábio sentindo minhas
lágrimas. Rocco se ergueu e andou até
minha frente, me encarando com firmeza.
Assim que ele me tocou eu solucei.
— Eu estou com medo. Muito
medo.
— Eles não vão matá-la. Somos
espertos, Sienna. Ninguém mataria seu
único trunfo, sua carta na manga. Lunna
vai ficar bem — Matteo murmurou
sentando no sofá e eu o encarei,
surpresa. Ele era a última pessoa que eu
pensei que me consolaria.
— Mas Salvatore? — questionei
sentindo minha garganta doer. Rocco se
afastou e deixou as mãos caírem. —
Eles vão matá-lo.
— Sim, possivelmente — Rocco
respirou fundo e seu celular tocou. —
Eles chegaram. Vamos.
Romeo continuou em silêncio e
seguiu seus irmãos, me deixando com
Lake.
— Eu sinto muito, Sienna.
Eu também sentia.

Eu dormi no andar de Lake em


seu quarto de hóspedes. Rocco não
apareceu. Ele ainda estava reunido com
seus homens de confiança. Tentando
achar maneiras de encontrar Lunna.
Esperamos que a Bratva entrasse em
contato.
— Eles chegaram a pouco tempo
— Lunna murmurou próxima a janela e
eu me aproximei prendendo meus
cabelos.
Vários homens de terno estavam
em nosso jardim. Todos com armas e
óculos escuros. Parecia cena de filme,
no entanto, era real. Era minha vida.
Rocco saiu da casa e eu prendi um
suspiro de apreço. Ele estava de terno
também, tão bonito quanto o dia em que
nos casamos. Parecia que tinha se
passado tanto tempo.
— Será que Lunna voltará bem?
— Lake questionou com um suspiro e eu
a olhei.
— Sim, você ouviu Matteo...
— Ele falou em matar — Lake
me interrompeu e eu engoli em seco. —
Machucar vai além, Sienna.
Eu fiquei em silêncio, porque
Lake estava certa.
— Rocco não precisa de
incentivo para matar, mas assistir
Romeo mais preso dentro de si está
acabando comigo e vai levar Rocco até
o inferno — ela falou assim que Romeo
apareceu também de terno. Eles
pareciam executivos, para quem os visse
de fora.
— Rocco o adora.
— Rocco o venera — Lake me
corrigiu e olhou para mim com um
sorriso triste. — Romeo faz o mesmo,
mas Rocco tem Romeo como uma
âncora. Rocco se perde fácil, Sienna.
Romeo o traz de volta.
Com as palavras de Lake as
coisas começaram a encaixar em minha
mente. Romeo sempre distante, frio e
impessoal comigo era motivo de
cuidado. Ele não queria que eu
machucasse Rocco. Eu sorri balançando
a cabeça. Eu jamais poderia machucar
Rocco.
Bateram na porta e eu me movi
em direção a ela. Assim que a abri
Prince acenou para fora.
— Vamos — disse vestido como
seus irmãos e eu franzi a testa.
— O que houve? Por que estão
vestidos assim? — Lake questionou o
que eu queria quando nós duas
começamos a descer as escadas com
ele. Minha calça jeans agarrava minhas
pernas e a sapatilha cobria meus dedos.
A blusa de seda tinha alças finas e eu
segurei uma delas esperando a resposta
de Prince.
— Rocco fez uma iniciação —
ele falou baixo e eu franzi o cenho.
— Como assim?
— Ele matou cinco traidores
ontem, depois de descobrirmos quem
auxiliou a Bratva. Seus filhos que tinham
doze ou, no caso do mais novo, dez,
foram iniciados.
— Mas... eles não têm a idade...
— eu exalei chocada e Prince me
encarou.
— Temos muitos soldados,
Sienna, mas precisamos de lealdade.
Quanto mais jovem, mais leais eles se
tornam. Nós queremos fortalecer a
Outfit. Não importa se um deles ainda
não comeu uma mulher ou qualquer
merda assim — Prince falou assim que
paramos nas escadas do térreo.
— Eu compreendo.
— Que bom. Tomem café da
manhã. Nós vamos viajar — falou com
firmeza e se afastou, me deixando mais
confusa ainda.
— Viajar? — Lake franziu a
testa e eu andei para a cozinha. Mama L
não estava em lugar nenhum e quando
me aproximei da geladeira, gritei
levando a mão a boca.
Senti meu estômago retorcer e
caí tremendo ao ver o corpo da senhora
mais velha. Sua garganta estava
degolada e sua cabeça em cima da
barriga.
Os irmãos Trevisan apareceram
assim que comecei a vomitar chorando e
tremendo. Oh meu deus. Eles entraram
aqui. Eles estão aqui.
— Puta que pariu — Matteo
ecoou e eu segurei minha barriga
tentando parar a onda de vômito. Senti
uma mão em minhas costas e me ergui
vendo Rocco. Sentindo meu coração
quebrar eu me joguei em seus braços e
apertei meu rosto em seu peito, enquanto
eu soluçava.
Eles tinham matado Mama L.
Eles mataram a mulher que nada tinha a
ver com nossa vida ou loucura. Eles a
mataram por nada.
— Tem um papel — a voz de
Prince murmurou e quando o mostrou
para a gente Rocco me segurou mais
forte.
O próximo será um Trevisan se
alguém ousar tentar resgatar Lunna.
O rosto de Lake se franziu lendo
o papel, ao mesmo tempo em que um
celular tocou. O meu. Afastei Sienna da
cena horrível e atendi enquanto guiava
ela para fora da cozinha. Sienna estava
branca como uma folha de papel e em
choque. Não titubeei ao ver a cena,
porém eu entendi. Sienna não era
acostumada com a brutalidade.
— Rocco — respondi rápido
enquanto Sienna sentou no sofá e puxou
as pernas contra o peito.
— Temos uma ligação da Bratva.
— Passe.
Romeo me encarou e eu coloquei
o celular no viva-voz. Meu irmão estava
tenso, fechado e eu odiava assistir
Romeo se perder dentro de si mesmo.
Eu senti algo parecido quando Sienna se
foi, mas com ele era ainda pior. Lunna
era dele, mesmo que ele se mantivesse
distante. Ela escapou entre nossos
dedos.
— O que quer em troca? Seja
rápido — falei assim que ouvi a voz
pronunciada de Nikolai Isayev. Eu
conhecia o chefe da Bratva. Não
pessoalmente, mas eu estudava meus
inimigos e ele era um deles.
— Não quero trocar nada,
Rocco. — Seu sotaque me dava nos
nervos e eu esperei que continuasse
tentando ficar calmo. — Lunna é minha.
— Não me provoque — Romeo
balbuciou atrás de mim e Nikolai riu.
— Você sabe tão bem quanto eu.
Ela deveria se casar comigo. Seu pai
traiu a Bratva e o acordo. — Nikolai
soou tenso, porém em seguida riu. —
Ela está a caminho de onde deveria estar
desde sempre.
— Se a tocar, eu matarei você —
Romeo falou firme e baixo, com ódio
dilatando suas pupilas.
— Eu nunca a forçaria. Lunna
vai pedir pelo meu toque e eu darei no
exato segundo.
— Eu vou matar você, Nikolai.
Deveria ter feito antes. — Romeo andou
até mim e me olhou com firmeza. — Eu
vou colocar a Rússia abaixo, mas trarei
minha esposa de volta e eu vou arrancar
seus olhos por ter olhado algo que nunca
lhe pertenceu ou pertencerá.
— Romeo...
— Nós dois sabemos onde o
coração dela está. — Meu irmão sorriu
me olhando, vazio. — Nas minhas mãos.
— Ela vai me amar. É questão
de tempo e nós temos isso. — Nikolai
soou irritado e eu sorri, relaxando.
— Você entrou aqui por causa de
uma mulher que nem sua é e para nada?
— eu caçoei de Nikolai o que o fez
rosnar. — Honre seu juramento e sua
família. Nós vamos pegar você, Nikolai.
É questão de tempo e quando você diz
que o tem... hum, tic-tac, está sentindo
minha respiração em seu pescoço?
Eu desliguei o celular e respirei
fundo olhando para meu irmão.
— Que porra é essa? Que droga
Nikolai tem a ver com Lunna? —
questionei a Romeo, frustrado e com
raiva. Nunca soube disso.
— Ela foi prometida a ele antes
de mim. Carmelo mudou de ideia
quando o chefe na época ordenou que
ela casasse com um de nós. Paz entre a
Outfit e a Cosa Nostra. Guerra entre eles
— Romeo explicou antes de socar a
parede, esfolando seus dedos.
Eu não sabia muito do que
aconteceu antes de eu assumir. Não fui
criado com meus irmãos. Não participei
da iniciação. Eu era um segredo imundo
que Ettore amava esconder. A paz foi
por água abaixo depois que nosso pai
matou Violetta, a mãe dos meus irmãos.
O pai de Lunna, é um bastardo,
não me admira que ele tenha mudado de
ideia. Eu respirei fundo e me virei
vendo Lake parada encarando nós dois.
— Lunna... ela é... — Lake não
conseguiu falar e eu me aproximei,
porém ela ergueu a mão, me fazendo
parar. — Ela é minha irmã?
Romeo engoliu em seco ao meu
lado e andou até Lake que abriu a boca e
começou a gaguejar.
— Ettore me disse que meu pai
era Carmelo. Ele disse isso enquanto me
tocava. Ele disse que não era pecado e
que eu merecia. Ele... — Lake ofegou
recordando e eu apertei meu pulso
vendo-a se agachar abraçando a si
mesma.
— Lake. — Prince se agachou e
pegou ela pelos ombros.
— Vocês mentiram para mim.
Vocês me enganaram...
— Lake, fizemos o melhor...
— Para quem, Romeo? — ela
gritou se erguendo e nos encarou com o
queixo erguido. — O pai de vocês me
estuprou. Ele me batia todos os dias
enquanto cresci. Vocês não fazem ideia
das marcas que possuo. E eu não estou
falando da minha cabeça! Ele me
quebrou. Por causa dela. Pelo que ela
fez!
— Ela não fez nada! — Matteo
gritou para nossa irmã e apertou a mão
na boca. — Ela foi estuprada como
você. Ela não teve um Rocco para
salvá-la. Carmelo ficou com ela por
dois dias e a estuprou. Ninguém, nunca
soube disso, mas ela nos contou. Ela
confessou quando nosso pai bateu em
você a primeira vez.
Lake recuou com os olhos
vidrados e eu encarei meus punhos. Eu
odiava isso, odiava lembrar de Violetta
porque ela era boa. Ela não merecia
morrer aquela noite.
— Mentira...
— Ettore sabia que você não era
dele. Ele sempre soube e adorava dizer
que Violetta deveria estar morta pela
traição. Mesmo tendo a mim fora do
casamento — eu murmurei
interrompendo-a e Lake me encarou. —
Ele soube no dia da sua morte que foi
pelo estupro.
— Não o matamos por ele ser
ruim, Lake. Todos nós somos. O
matamos porque ele a machucou e a fez
se odiar. Mas, você é perfeita. Nada em
você está danificado ou sujo. Ele morreu
depois de sofrer muito — Prince
afirmou ficando na frente dela. — Você
é nossa garota e nós a protegeríamos
daqui até o inferno. Sempre.
— Eu nasci de um estupro,
Prince. Eu nasci do sofrimento dela —
Lake falou baixo e eu dei um passo em
sua direção.
— Você não se resume a essa
merda — afirmei tocando em seu braço
e ela me olhou com novas lágrimas. —
Sua mãe te amava, Lake. Ela não te via
por isso, ela enxergava o bebê bonito e
a criança esperta. Ela amou a
adolescente que deixava ela fazer
tranças.
O queixo da minha irmã
começou a tremer e ela correu para o
meu peito. Lake chorou forte, soluçando
e eu me senti sendo pisoteado como
nunca. Porque meu pai poderia me bater,
me humilhar e me renegar, mas ele nunca
pisou em meu coração. As lágrimas de
Lake o faziam.
— Tragam Lunna para mim —
Lake implorou e eu encarei Romeo,
Matteo e Prince. Eles acenaram e Lake
se afastou.
— Baby, nós vamos até o inferno
atrás dela — Matteo disse firme e eu
concordei.
Nós iriamos.

Me aproximei de Romeo parado


no jardim e acendi um cigarro. Não
gostava muito da porcaria, mas ele me
acalmava e para pegar Lunna de volta,
eu precisava estar tão calmo quanto um
maconheiro.
— Sienna ama você? — a
pergunta de Romeo soou lenta e eu o
encarei soltando a fumaça pelos meus
lábios.
— Sim — respondi rápido,
porque eu sabia que ela me amava. Não
sabia como ou de que maneira, mas ela
me amava.
— E você? — Fiquei calado
diante da sua pergunta. — Você a ama?
— O que quer que isso seja ou
signifique, sim.
Meu irmão respirou fundo e
virou o rosto para me encarar.
— O amor se modifica? Ele
acaba? — Romeo me questionou com
uma expressão tão confusa como jamais
vi nas suas feições.
— Eu sei sobre amor tanto
quanto você, mas se acha que o que eu
sinto pode acabar, está enganado. Não
pode. Lutei contra isso. Muito, mas
ainda está aqui. — Eu toquei seu ombro
e suspirei ao entender de onde saiu suas
perguntas. — Lunna não vai deixar de te
amar.
— E se ela se apaixonar por
Nikolai? — Ele parou de me encarar e
olhou para o cais.
— Isso não vai acontecer.
— Sienna acha que a culpa é
dela. Não é de ninguém além de mim. Eu
deveria cuidar de Lunna e não fiz.
— Não fez porque você estava
comigo. Porque mais uma vez, você
cuidou de mim e não de si mesmo. Não
dela — eu respirei fundo e encarei os
olhos do meu irmão. — Não mais. Você
precisa cuidar de si mesmo. Eu me
manterei, Romeo. Você não precisa
cuidar de mim.
— Eu sou seu irmão. Farei isso
até meu último suspiro.
Ele se afastou sem dizer mais
nada.

Encontrei Sienna na janela que


tanto amava e depois de tirar minha
camisa eu me aproximei. Seu queixo
estava descansando nos joelhos e ela
olhava para o cais pensativa.
— Você não tem culpa dessa
merda, Sienna — murmurei tocando em
sua perna.
— Ainda é difícil acreditar nisso
— ela respirou fundo e me encarou com
os seus olhos azuis. — O que me alivia
é que Nikolai não vai machucá-la.
— Não sabemos disso.
— Ele parece gostar dela.
Depois de anos ele a roubou de Romeo.
Ele não a esqueceu...
— Ela está longe de Romeo.
Não importa se não está machucada. Ela
é dele. — Sienna me olhou e suspirou.
— Ela o ama. Ela não vai se
enfeitiçar por Nikolai. Amar não é isso.
Lunna o odeia, nada além disso. — Sua
afirmação me fez relaxar. Desde a
conversa com Romeo eu estava por um
fio, não queria imaginar Lunna querendo
ficar com Nikolai. Romeo se perderia.
— Estamos divagando demais sobre
isso. Lunna vai voltar para casa com
Salvatore e tudo vai ficar bem.
— Sim, você está certa.
Deslizei meus dedos pelo seu
braço e segurei seus dedos. Sienna
apoiou a cabeça em meu peito e me
abraçou.
— Não quero imaginar caso
fosse eu no lugar dela. No desconhecido
depois de ser arrancada da sua casa, do
seu marido, de tudo que ela conhecia e
amava.
— Não precisa imaginar essa
merda. Nunca vai acontecer. Não uma
segunda vez — grunhi encarando seu
olhar e Sienna sorriu, se esticando até
beijar meus lábios.
— Vamos ficar bem. Todos nós
— Sienna falou com firmeza e eu acenei.
— Lunna voltará para casa.
— Pode apostar que sim.

Sienna se aconchegou em meu


peito naquela noite depois que entrei no
quarto. Já passava das três da manhã e
nós estávamos nos organizando. Iriamos
para a Rússia, mas se quiséssemos sair
com vida de lá, precisávamos de
planejamento e principalmente, de
aliados.
— Está tudo bem? — ela
questionou enquanto puxei sua camisola
e a joguei ao lado da cama. Segurei seus
mamilos e Sienna gemeu beijando meu
pescoço.
— Melhor agora — disse
gemendo ao sentir sua mão em meu pau.
— Se vire e sente em meu rosto. Quero
comer sua boceta enquanto você me
chupa — falei rouco e mesmo sem ver
seu rosto eu sabia que ela estava
vermelha.
Sienna se afastou e deslizou fora
da calcinha para passar a perna em
minha cintura. Toquei sua bunda perfeita
e ela colocou seus joelhos acima dos
meus ombros. Suspirei com a visão das
suas dobras e a lambi devagar ouvindo
seu gemido. Sienna tocou meu pau e ele
saltou quando ela desceu a cueca.
Gemi quando sua boca me
tomou. Sua língua molhada era deliciosa
e eu chupei seu clitóris seguindo o
movimento dela. Assim que nós dois
gememos gozando, Sienna se moveu e
virou, ficando de frente para mim. Seus
quadris desceram em meu pau já duro
novamente e eu segurei seu seio,
amassando-o em minha mão.
— Rocco — minha passarinha
gritou rebolando e eu belisquei seu
mamilo. Sienna caiu em meu peito
gozando mais uma vez e eu a segui
gemendo e mordendo seu ombro.
Nossas respirações ficaram altas
e eu senti sua boca distribuindo beijos
em meu peito e pescoço.
— Eu te amo. Não vamos nos
perder.
— Eu amo você, Passarinha.
Sienna ergueu o rosto e seus
olhos encheram de lágrimas. Limpei uma
delas em sua bochecha e me inclinei
beijando sua boca.
— Meu coração manchado,
escuro e danificado é seu.
— Eu vou guardá-lo para
sempre.
Sienna fungou e eu sorri
segurando seu pescoço e trazendo ela
para mim. Nos beijamos e novamente
nos perdemos no corpo um do outro.
Não sabia o que era amor e nem
o que era pertencer a algo ou a alguém.
Eu sempre fui sozinho, sem raízes, sem
conexões, sem lar.
Agora eu tinha Sienna. Ela era
isso para mim agora.
Meu lar.

FIM!
MENTIRA
DISTORCIDA
LUNNA BIANCHI
15 ANOS
Meu cabelo estava muito longo
mais uma vez. Eu o afastei da minha
testa e suspirei jogando a mecha longa
para trás do ombro. Mamãe me
repreendeu enquanto fazia babyliss. Lhe
dei um sorriso com um pedido de
desculpas, e ela continuou a preparar
meus cabelos.
— Podemos cortar um pouco?
— perguntei quando ela terminou e eu
me ergui em frente ao espelho. Os fios
estavam ondulados e ainda alcançavam
logo acima do cós do short que eu
usava.
— Não. Seu cabelo é perfeito.
Você precisa cuidar, não querer se
desfazer — mamãe soou incomodada e
eu engoli em seco, acenando. Ela estava
certa.
— Ele é bonito? — questionei
quando ela tirou o meu vestido do closet
e caminhou até mim segurando-o.
— Isso não importa, Lunna. —
Ela revirou os olhos e me entregou o
vestido rosa seco. — Ele será seu
marido dentro de dois anos e sim, ele
será um homem bonito. — Mamãe
relaxou e tocou minha bochecha. —
Romeo será o chefe da Outfit. Seu capo,
sua lealdade. Ele será um homem
importante e você será uma rainha com
seu próprio castelo.
Eu sorri enchendo meu peito de
ar. Sempre sonhei em me casar, gostava
muito de brincar de casinha e bonecas.
Então, não era de se espantar que eu
estava tão animada para o casamento.
Para tudo.
— Serei uma boa garota —
murmurei antes que ela pedisse. Mamãe
não gostava de irritar papai e sempre me
dizia o que não fazer em sua presença.
Entre nós poderia haver erros, mas em
sua presença jamais.
Assim que vesti o vestido, eu
suspirei. O tecido era macio e a saia
caía rodada abaixo da minha cintura até
meus joelhos. Ele tinha tule, mas isso
não o deixou alto, apenas sofisticado.
Como o de uma princesa.
— Você está pronta? — mamãe
questionou quando retornou ao meu
quarto, já arrumada. Ela tinha cabelos
escuros iguais aos meus e do papai.
Éramos bonitos, eu podia dizer. Acenei
rapidamente me aproximando e ela
segurou minhas bochechas. — Tudo que
precisa fazer para ficar bem e feliz em
um casamento...
— Ser educada, simpática,
calma e ter bebês — completei sua frase
costumeira e mamãe sorriu orgulhosa.
Eu senti meu peito relaxar. Amava
quando ela sorria assim.
— Seus bebês serão tudo que a
manterá feliz. Não esqueça disso, Lunna.
Eu acenei, porque jamais
esqueceria. Crescer dentro da máfia
ensinava coisas a mulheres e uma delas
é que filhos era sua única segurança.
Minha mãe me protegeu até onde pôde,
mas quando chegou minha hora, ela
espalhou as cartas sobre a mesa e me
deu um choque de realidade.
Tínhamos deveres. O casamento
era um deles.
Mamãe andou a minha frente e
quando começamos a descer as escadas
eu vi sapatos multiplicados. Quando
meu salto tocou o último degrau eu
suspirei vendo papai ao lado de um
homem mais velho e outro homem.
Jovem como eu, porém mais alto. Seu
cabelo era um pouco maior que o
habitual, mas tão bonito quanto. Seus
olhos se fixaram nos meus e eu prendi
um ofego ao ver o olhar azul, porém
nublado. Quase cinza. Ele piscou me
encarando de volta enquanto eu apertei
minha mão em meu vestido. Seus lábios
se esticaram tão sutilmente que se eu não
estivesse o encarando com tanta atenção
não perceberia.
— Lunna Bianchi — o homem
mais velho murmurou sob a nevoa da
minha cabeça e eu engoli em seco,
tirando os olhos dele. — Esse é meu
filho, Romeo.
Meu coração apertou quando
retornei meus olhos para ele e senti frio
disparar pelo meu estômago. Foi forte e
eu quase senti a bile subir em minha
garganta por tanta emoção.
Meu Romeo.
Mamãe me tocou devagar e eu
respondi qualquer formalidade sem
perceber realmente. Romeo se
aproximou e eu estendi a mão quando vi
sua palma para cima. Ele beijou meus
dedos e o toque dos seus lábios me fez
estremecer.
— É um prazer, Lótus.
Eu terminei esse livro há alguns
meses e somente hoje depois de reler e
reescrever, consegui vir aqui fazer os
agradecimentos.
Rocco e Sienna foram intensos
até o “fim” escrito páginas atrás. Eles
me consumiram e tiraram meu sono, a
história deles era a única coisa em
minha cabeça vinte e quatro horas por
dia até eu finalizar. Eu não estou
brincando ao dizer que foi intenso.
Eu sempre desejo que vocês
gostem dos meus livros e rezo muito
para isso, mas eu não sinto que esse
livro vá agradar a todos. Nenhum livro
agrada, mas Honra Distorcida,
principalmente, não é o tipo de livro que
vai laçar todo mundo.
Porém, espero de todo meu
coração que a você, sim!
Que você tenha vibrado,
chorado, passado raiva e se apaixonado.
Que você, acima de tudo, tenha
sentido várias borboletas no estômago.
Obrigada a todos que me
impulsionam na escrita e na vida. As
minhas leitoras, minha família, amigos e
parceiros.
Gratidão imensa a cada um.
Abraços e beijos,
Evilane Oliveira.
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