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Amor em

Negação

Os Mackenzies
Livro 6

NATHALIA
MARVIN
Copyright © Nathalia Marvin 2020
Todos os direitos reservados.

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer


semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é
intencional por parte da autora.

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meio, sem a permissão expressa por escrito da autora.
Capítulo 1

Não é novidade meu pai estar me elogiando talvez pela vigésima vez no
mesmo dia. Eu fechei dois contratos em praticamente vinte e quatro horas; e
isso é um orgulho para ele, e prazer para mim. Sou muito boa no que faço.
Agora que estou com vinte e cinco anos, e muito tempo trabalhando aqui
na Silver, posso participar de reuniões e opinar. Muito. E eu o faço sempre.
— Você realmente é uma mistura minha com sua mãe — ele afirma,
orgulhoso como sempre.
— Gosto de pensar que tenho mais a ver com a mamãe...
Ele se finge ofendido.
— Assim você machuca o seu pai — murmura, entristecido.
Abro um sorriso, levantando da cadeira e indo até ele, lhe dando um
abraço.
Meu pai é o melhor do mundo, sem qualquer sombra de dúvidas. Minha
mãe costuma dizer que ele é um babaca, mas eu não acho isso nunca.
— Eu quero comissão — sussurro e ele dá uma risada grave.
— Boa menina, apreendendo a negociar.
Nós ouvimos uma batida na porta, mas eu não me desgrudo dele. Não
quero mais. Depois que passei três anos em Londres, morrendo de saudades a
cada dia, cada segundo com ele e minha mãe são preciosos. Sem falar que
foram três anos péssimos. Bem, tinham tudo para não ser, mas foram.
— Philip, o Sr. Morrison chegou — Louise anuncia.
Fecho os olhos, me confortando no abraço do meu pai.
— Ah! — ele parece empolgado. — Pode mandar entrar, por favor —
recebo um afago nas costas. — Filha, quero que reveja alguém.
— Hm, quem?
— Boa tarde, Sr. Mackenzie — ouço uma voz. Aquela voz.
Não. Não pode ser quem eu penso que é. Não daria para ser. Eu não
acredito que seja.
Eu afasto o rosto do meu pai, virando a cabeça lentamente em direção à
porta, somente para sentir uma raiva avassaladora tomar conta de mim.
— Olá, Amber — ele fala, sua voz não soando nada mais que
absolutamente séria, sem qualquer pingo de sarcasmo como era antigamente.
Olho para meu pai, indignada.
— O que ele está fazendo aqui? — pergunto, boquiaberta.
— Ele voltou para trabalhar conosco — meu pai sorri.
— Como é?
Ele se inclina e me dá um beijo na bochecha, antes de passar por mim e
ir até a porta, cumprimentar o não mais garoto que costumava infernizar
minha vida diariamente há alguns anos. Infernizar...
— Nicholas, seja bem-vindo de volta — o cumprimenta, apertando sua
mão. — Fez boa viagem?
Ele abre um sorriso breve, antes de assentir, então desvia o olhar para
mim. Faço uma careta imediata.
Repugnante. Isso é tudo que ele é. Completamente repugnante.
— Não quero trabalhar com ele, pai — declaro.
Meu pai se vira para mim, erguendo uma das sobrancelhas
extremamente grossas, parecendo desentendido.
— Amber, você sabe que aqui não tem essa de não trabalhar com fulano.
Minha empresa funciona à base de equipe e não grupo. Goste você ou não,
Nicholas é muito competente e voltou para somar. Pense em como um pode
ajudar o outro.
Cruzo os braços, ainda indignada, mas tento manter a compostura.
— Fiquei sabendo pelo seu pai que você fechou dois contratos com
intervalos de apenas algumas horas — Nicholas fala. — Meus parabéns. Eu
também fechei alguns por telefone enquanto vinha para cá. Mas foram uns
quatro, eu acho.
Posso ver a sombra de um sorriso implicante em seus lábios, me fazendo
sentir a pele esquentar de raiva.
Olho para meu pai, que parece fascinado com ele.
Respiro fundo, me controlando. Ele não vai pegar meu lugar e muito
menos a atenção do meu próprio pai.
— As empresas que fechei contrato estão todas com as ações em alta e
sempre ganhando mais stakeholders gradualmente — afirmo.
— Hm... — Nicholas põe as mãos nos bolsos das calças, então olha para
meu pai, sorrindo. — Uma das que fechei era a Sttil.
Meu pai abre a boca, nitidamente impressionado.
— Você fala sério? Grande garoto! — o puxa para um abraço.
Isto não está certo!
— Ninguém garante que a Sttil vai se manter em pé por muito tempo —
falo, por entre os dentes. Filho da mãe. É a empresa de eletrônicos mais
famosa atualmente.
— Querida, agora que o poder de garantir isso está também em minhas
mãos, eu te garanto que cair ela não vai — ele afirma, me olhando sombrio.
— É o que espero — balanço a cabeça. — Ou você vai ter que morder a
própria língua, querido, e acredito que você não quer isso. Acho mais fácil
você cortar alguma parte do seu corpo a confessar que está errado ou
equivocado.
— Acho que isto não só aconteceria comigo, já que tem alguém aqui a
fim de debater quem é melhor.
— Não estou debatendo quem é o melhor, porque isso já é bem nítido,
que sou eu, claro.
— Ah, claro, e quem foi o juiz dessa decisão? — ele alfineta. — Sua
presunção ou seu egoísmo?
Abro a boca, horrorizada.
— Eu sou egoísta quando tudo que você faz diz respeito ao seu próprio
eu? Me poupe!
— Vai ser ótimo ter você com a gente novamente, não é, Amber? —
Meu pai me olha com reprovação nos olhos claros que nem os meus. Ele está
contrariado.
— Não, não vai, pai. E não estou nem aí se vou levar esporro. Eu não
gosto desse cara — aponto Nicholas.
— Eu poderia me sentir ofendido com isso — ele murmura, mas o vejo
sorrir para meu pai. — Não se preocupe, Sr. Mackenzie, eu já lidei com
cobras mais venenosas.
Abro novamente a boca, escandalizada com o insulto, mas meu pai ri.
Ele ri, da minha cara. Já Nicholas parece ter falado realmente sério.
— Pai, isso não vai funcionar. Não pode nos colocar para trabalhar
juntos de novo — deixo claro. — O senhor lembra o que aconteceu a última
vez? — Não que esse seja exatamente o motivo.
Meu pai me olha, pensativo.
Foi o fim. Nicholas tinha vinte e dois anos quando veio para cá a
primeira vez, cinco anos atrás. Ele estava apenas no início da faculdade. Era
muito brincalhão e palhaço, sempre falando com todo mundo do prédio, isso
fez com que uma das funcionárias se interessasse por ele. Não sei o que rolou
exatamente, mas a mulher apareceu grávida e disse que o filho era dele e que,
se ele não assumisse, ia processar a Silver. Meu pai pirou.
No fim das contas, Nicholas não era mesmo o pai e era tudo uma forma
de ela ganhar dinheiro fácil. Mas foi muito preocupante para meu pai e meus
tios, de qualquer forma. Muito mesmo.
— Eu não sou mais daquele jeito — Nicholas afirma, olhando de mim
para meu pai. — Agora sei levar meu trabalho a sério.
Meu pai morde o lábio, então o olha.
— Acredito em você — garante. — Você tem a minha confiança, mas
não a desperdice.
— Nunca.
Ele tem a confiança do meu pai? Mas que merda. Ele ao menos fez algo
para merecer isso. Ninguém consegue a confiança de Philip Mackenzie tão
facilmente. Não é nem certo.
Eu os observo apertar a mão um do outro e meu pai o chama para
mostrar a sala onde ele vai trabalhar.
— Pai! — o chamo, antes de ele fechar a porta. — O que ele vai ser?
— Executivo de alto nível — responde com um sorriso e fecha a porta.
Fico para trás, desacreditada.
Aham. Até parece que isso vai ficar assim. Vou falar com a minha mãe.
Ele vai ter que rebaixar esse cara. Como assim dar tanto poder assim a ele? É
inadmissível.
Nicholas não merece. Pelo que ele fez à empresa, não merece. Pelo
vexame que foi, não merece.
Pelo que ele me fez... Menos ainda.
Capítulo 2

— Acho que seria mais apropriado que realocássemos esse


estabelecimento. Aqui não parece ser um ponto muito promissor — falo,
apontando no mapa que está no monitor.
— Observando assim, faz algum sentindo transferir — Philip concorda
comigo.
— Eu discordo — Amber se levanta de onde está, chamando a atenção
de todos para ela.
Como se fosse algo difícil... É inevitável. A mulher chama atenção de
qualquer forma. E não estou falando só por ela ter os olhos mais incríveis do
mundo e um corpo curvilíneo que deixa as roupas mais sem graça parecerem
fascinantes. Não. Estou falando da autoridade e poder que ela exerce. É
enfeitiçador.
— Por que você discorda? — o pai pergunta.
Ela caminha até por trás de nós, então se inclina, apontando no monitor
com a unha perfeitamente pintada de preto, demonstrando ainda mais seu
poder, o que só me deixa pior. Principalmente quando o cheiro do seu
perfume adocicado paira por cima de mim.
— Aqui — ela fala. — Não diz respeito ao ponto, e sim às oscilações de
tráfego de pessoas. Olha só — ela põe uma folha na mesa. — Vejam o
gráfico, nos dias que as pessoas não vão trabalhar, é exatamente quando
parece arrecadar menos.
— É negligenciável — afirmo.
— Como é? — pergunta, estática, olhando para mim com as pérolas
verdes. — Negligenciável?
— Absolutamente.
Ela dá um sorriso. Muito falso.
— Engraçado, Sr. Morrison. É bom saber que o senhor prefere gastar
milhares de dólares realocando um estabelecimento do que observando as
estatísticas. Muito bom mesmo.
Eu sustento seu olhar, com puro nervosismo.
— Não desse ponto, senhorita Mackenzie — observo. — Estou dizendo
que, realocando, o lucro vai ser maior mesmo quando as pessoas não forem
trabalhar.
— Compensa o investimento? É o que você acha? Quanto tempo vai
demorar até se obter lucro acima do prejuízo do investimento? E vai valer a
pena depois disso? Você é mágico agora, por acaso? Não trabalhamos com
achismo e sim com probabilidade. Números, cálculos, provas… Acha que
aqui é assim? Um clube de mágica?
— Certo, ok — Philip se levanta. — Amber, querida, você vem comigo.
Eu o observo a segurar pelos ombros e tirá-la da sala, recebendo um
olhar furioso dela antes disso.
Suspiro. Isto não vai ser nenhum pouco fácil.

....

Pego meu terno e minha maleta e vou para o elevador. Philip me deu uma
sala no andar da Direção, o que me deixou muito feliz. Antes trabalhar com
ele do que com meu próprio pai.
— Segura, por favor — ouço uma voz gritar.
Estendo a mão e interrompo as portas se fecharem. Evito abrir um
sorriso quando vejo Amber aparecer.
Ela, nitidamente, está séria como sempre mas fica mais ainda ao ver que
sou eu.
— Obrigada — agradece, contragosto e entra no elevador.
— Disponha — aperto o botão térreo.
Ela suspira e eu me incito a olhá-la, que também vira o rosto para mim.
— O que foi? — cospe a pergunta.
— Nada. Belo sobretudo, ficou ótimo em você.
Ela faz uma careta e vira o rosto.
— Não me vem com essa, Nicholas — resmunga.
— Você não mudou. Pensei que algum dia veria você valorizando a vida
com sorrisos — implico.
Seu olhar volta para mim novamente, e ela parece indignada.
— Eu não preciso sorrir para valorizar a vida!
— Você se exaspera à toa, Amber. Não é bom para sua saúde — me
apoio em uma perna. — Nem para ninguém.
Ela bufa, quase como um touro feroz, então observo-a se aproximar de
mim, independente e linda. Sua mão se ergue e ela me cutuca com um dedo
na altura do peito.
— Nicholas, você não vai me rebaixar aqui, entendeu?
— Não pretendia — observo seu rosto delicado e capaz de tirar o ar de
uma pessoa. — Você grita muito alto quando está sendo comida?
Observo seus olhos se arregalarem e então Amber dá um passo para trás,
parecendo em completo choque.
— Seu… — ela tenta dizer, a respiração desestabilizando. — Seu…
— É um sim?
Ela vira para o elevador, parecendo perplexa.
Não sei de onde essa pergunta saiu sinceramente, mas gostei muito do
resultado.
— Talvez esse seja o problema, sabe, Amber. Você nunca teve motivo
para dissipar esse mau-humor.
— Vai pro inferno, Nicholas — ela grunhe.
O elevador abre e eu a vejo sair a passos decididos, rebolando a bunda
linda por cima da calça social, que a deixa irresistivelmente deliciosa.
Sempre tive uma atração sexual forte pela Amber. Desde a primeira vez
que a vi. Tentei fazê-la perceber, mas tudo que consegui foi ganhar uma raiva
avassaladora dela. Nem sei por quê. Depois, me veio a bomba de ser suspeito
de ser pai. Era impossível, eu sabia. Não dormia com ninguém do ambiente
de trabalho. Mas aí só piorou minha aproximação com ela, que me repugnou
dizendo que eu não queria assumir o próprio filho.
Balanço a cabeça, dissipando a lembrança, então me movo do elevador,
também disposto a ir embora.
Os Mackenzies acharam melhor me mandar para outro estado, tomar
conta de outra empresa, o que foi bem inteligente da parte deles. Consegui
obter um lucro de duzentos por cento em cima do que eles ganhavam já e,
como recompensa, voltei cinco anos depois como executivo de alto nível. Sou
muito bom no que faço.
Desço as escadas da lateral e vou para o estacionamento, abrindo um
sorriso desnecessário, mas inevitável, ao ver Amber tentando abrir a porta de
seu carro.
Eu me aproximo. O destino está realmente disposto a nos manter
próximos.
— Precisando de ajuda? — pergunto.
Ela tem um sobressalto nítido, então me olha com fúria, ainda sem soltar
a porta.
— Você está me seguindo, seu louco? — pergunta.
Mostro a chave do carro.
— Como vê, meu carro também está aqui.
Ela balança a cabeça, então volta a atenção à porta, puxando com força.
— O que houve? — questiono.
— Não sei, está emperrada ou algo assim — ela suspira, então se afasta,
colocando as mãos na cintura fina e observando a porta que não quer abrir. —
Que droga.
— Quer uma carona?
Amber me olha, parecendo em pânico.
— Não — responde, curta e grossa.
— Não é seguro ficar em um estacionamento sozinha à noite.
— Vou ligar para o meu pai e ele vem me pegar.
— Até seu pai chegar, vai demorar. É só uma carona, Amber. Nada
demais.
Ela volta a me olhar, então seus olhos me percorrem inteiro, de cima a
baixo, de baixo para cima, e eu evito sorrir.
Ela bufa.
— Nem uma gracinha — fala, então se inclina para pegar a bolsa do
chão.
Comemoro por dentro, então a vejo sair andando.
— Aonde você vai? — pergunto. — Meu carro está aqui.
Ela se vira, ficando bem surpresa ao ver que estamos estacionados um
do lado do outro.
— Você é um carma, Nicholas — resmunga, então se aproxima de novo.
— É um Porsche?
— É — assinto e abro a porta para ela, que entra, muito irritada.
Dou a volta e tomo meu lugar no assento atrás do volante.
Amber põe o cinto e joga os cabelos para trás do ombros, me olhando
em seguida.
— Eu gosto de Porsche — fala.
— Ora, ora. Alguém gosta de alguma coisa.
Ela emite um som de reprovação.
— Eu gosto de muitas coisas — murmura.
— De Porsches e o que mais?
— Não que seja exatamente da sua conta, mas gosto de correr ao ar
livre, fazer passeios com meus pais, conversar com meus primos, passar
tempo lendo, malhar com meus tios, cozinhar, ouvir música e uma série de
outras coisas.
Me finjo surpreendido, mas até que estou mesmo.
Ligo o carro e começo a dirigir, nos tirando do estacionamento.
— Estou mesmo pasmo — confesso.
— Por que você voltou?
— Seu pai me mandou voltar.
Ela suspira, resignada.
— Maldita ideia que meu tio teve de dar a empresa dele. Agora meu pai
quer fazer o mesmo. Tudo para passar mais tempo com minha mãe — bufa.
— Como se isso fosse novidade, eles são…
— São o quê? — viro o rosto rapidamente para olhá-la e me intrigo com
sua expressão perdida de repente.
— Eu não sei — suspira, novamente. — Muito ligados ou algo assim. É
muito engraçado ver eles discutindo porque sempre acaba com o maior dos
beijos onde quer que estejam — ela ri, de repente.
Dou um sorriso por ver que consegui contemplar o sorriso de Amber ao
menos uma vez. E que sorriso.
— Onde estiverem? — Tento continuar o bom clima que surgiu do nada,
mas me agradou muito.
— Aham — assente. — Pode ser até em uma reunião. Uma vez
estávamos em um almoço beneficente para idosos. Algo aconteceu e eles
começaram a brigar, então meu pai colocou minha mãe em cima da mesa e
beijou ela, derrubando as louças e comidas de cima — ela ri com vontade. —
Foi muito engraçado! Não adianta, meu pai tem dessas reações quando se
trata da minha mãe.
Dou um sorriso ao vê-la suspirar e relaxar contra o assento do meu
carro.
— Seu pai é um homem inteligente — comento. — Tenho muita
consideração e respeito por ele.
Ela assente, então me olha.
— Fico incrivelmente triste e decepcionada ao admitir que é recíproco
da parte dele.
Um riso escapa de mim.
— Um dia pretendo entender o seu ódio por mim.
— Não tenho ódio de você — ela pondera. — Apenas não consigo te
engolir.
Eu a olho, abrindo um sorriso ambíguo e proposital.
Amber revira os olhos.
— Agora é assim? — pergunta. — Você voltou com a mente destinada à
conotação sexual?
Faço-me de ofendido.
— Não sei do que você está falando.
— Ah, não. E sua pergunta sobre eu gritar alto ao ser comida? —
questiona, bufando.
— Você grita? — olho para ela, sem conseguir esconder um sorriso.
— Acho que você nunca vai saber — sorri de volta, então olha para
frente.
— Achismo... — murmuro. — Você disse que não trabalha com isso e
sim com probabilidade. Qual é a de eu descobrir?
Amber solta um suspiro de completa exasperação.
— Uma em uma trilhão.
— Mas ainda é possível.
Ela fica em silêncio, então me olha, com os olhos brilhando.
— Praticamente impossível — declara.
— Impossível é só uma razão para alguém não tentar.
Amber ri, então decido não falar mais nada.
Ela me lançou um desafio, é o que parece. E eu faço questão de assumir
como proposta.
Capítulo 3

Chego em casa, louca por um banho quente de banheira. Passo pela porta,
mas não chego nem ao início das escadas e logo ouço murmúrios vindo da
sala.
Caminho em direção e reviro os olhos ao me deparar com a cena dos
meus pais se agarrando em cima do sofá enquanto passa Náufrago na
televisão.
Faço um pigarreio com a garganta, chamando a atenção deles, que me
olham, nenhum pouco constrangidos.
— Sai, Philip! — minha mãe protesta, tentando sair de debaixo dele,
mas ele não permite.
— Oi, minha neném — ele me cumprimenta. — Papai veio mais cedo.
— Estou vendo, pai. Oi, mãe.
— Oi, filha — ela sorri, tentando erguer a cabeça para me olhar.
Evito um riso.
— Meu carro deu problema na porta, pai. Deixei no estacionamento —
informo.
— Veio de táxi?
— Não, o Nicholas me trouxe.
— Não vou receber uma ligação da polícia a qualquer momento, vou?
— ele dá um sorrisinho.
— Ainda não — sorrio também. — Estou louca de cansaço e fome.
— Mamãe fez torta de legumes — minha mãe fala, sua cabeça
desaparecida pelas costas do sofá.
— Hmm, amo. Vou tomar banho e descer para comer. E vão para o
quarto, por favor. Wilson não é excitante para ninguém — viro e volto a
andar, ouvindo a risada deles por detrás de mim.
Tenho os pais mais maravilhosos do mundo, sem dúvidas.
Chego ao meu quarto e tranco a porta, jogando a bolsa sobre o pufe e
indo para a cama sentar para tirar os saltos. O dia não só foi cansativo
fisicamente, como também psicologicamente. Meu pai me tirou de uma
reunião com a diretoria por mau comportamento. Mas riu pelo que eu fiz, e
não brigou como pensei que faria.
Vou para o banheiro e me livro da blusa de seda branca e da calça social
preta.
Sigo para a bancada da pia, me escorando nela enquanto me desfaço dos
brincos e do colar. Levo as mãos às costas e desato o feche do sutiã, soltando
um gemido longo de alívio quando meus peitos gritam da liberdade à prisão
do tecido. Alívio!
Me desencosto e me livro da calcinha, soltando um suspiro longo e
alongando o corpo ao mesmo tempo. Parece que saí de dentro de uma
garrafa.
Prendo os cabelos em um coque bagunçado e vou para a banheira,
abrindo a torneira. Volto ao quarto para pegar meu celular enquanto espero
encher.
Me coloco sentada na borda, já com os pés dentro da água, suspirando
de prazer quando a água quente os alcança.
Três mensagens, e uma de um número desconhecido que eu deixo para
ver depois.

Amy: que cretina vc! pegou o meu top!


Dou risada. Peguei mesmo. É lindo.
Megan: eeeeeei, vc me deve um almoço! tô com saudade. não lembra
mais que tem uma prima? :(
Grande safada. Desde que se casou não quer saber de mim.
Principalmente agora que está grávida. Minha prima. Grávida. Eu não posso
chorar, porque é o que acontece toda vez que me lembro que vem bebê por aí.
O primeiro de nós primos. É muito emocionante. Vou ser titia.
555-89021: Aceito seu desafio. Chegou bem em casa?
Estreito os olhos, estranhando a mensagem.
555-67820: quem é?
555-89021: Alguém mais levou você em casa? Me sinto triste... Traído.
É o Nicholas, amor.
Faço uma careta inevitável.
555-67820: onde conseguiu meu número?
555-89021: Você é uma mulher importante e eu um homem importante.
Nós costumamos conseguir o que queremos. Não é?
555-67820: não
555-89021: O que você está fazendo agora? Eu estou cozinhando. Mas
sou péssimo nisso.
Dou um sorriso, não sei bem por quê. Como também não sei por que
respondo.
555-67820: estou tomando banho. o que vc tá cozinhando?
555-89021: Hummmmmm... Banho? Então você está pelada enquanto
fala comigo? Uau. Ah, cozinhando algo como risoto. Tem uma imagem
bonita na foto da receita, mas o meu não parece tão legal. MAS VOCÊ ESTÁ
PELADA
Um riso alto escapa de mim, ecoando pelo banheiro e é quando me dou
conta que a banheira encheu. Me levanto e desligo a torneira, depois volto a
sentar na borda.

555-67820: vc n sabe cozinhar? decepcionante! TÔ MT PELADA


555-89021: Decepcionante mesmo. Não posso ser bom em tudo, né
amor? Mas sou bom em comer. Poderia comer você também como janta. Ei,
vamos jantar juntos? É uma boa ideia.

555-67820: não vou jantar com vc e nem ser sua janta, mas pode vir
jantar aqui. minha mãe fez torta de legumes, é mt boa
O que estou fazendo em chamar Nicholas para minha casa?
Tento cancelar a mensagem, mas já foi enviada e dou um grito de
arrependimento e exasperação. Que merda.
555-89021: Você realmente está tendo pena de um homem faminto?
Mesmo? Acho que posso chorar.
555-67820: engraçado. é melhor aproveitar minha prestatividade
555-89021: Chego aí em dez minutos. Você poderia ficar pelada, que
tal?
555-67820: nos seus sonhos, Nicholas. só neles, tchau
Desligo o celular e coloco no chão, então deslizo o corpo sobre a
cerâmica da banheira e me embalo na água quente e relaxante, soltando uma
respiração longa.
Eu realmente fiz isso? Realmente convidei Nicholas para vir jantar na
minha casa? Sim. Eu fiz. É o cansaço e o meu cérebro está com problemas em
raciocinar.
....

Saio do quarto vestida em uma camisola de renda lilás e os cabelos ainda


presos, então encontro meu pai no corredor, prestes a fechar a porta de seu
quarto.
— Filha, boa noite — ele sorri. — Ah, vem cá.
Eu me aproximo de onde ele está, vendo-o olhar para dentro e, quando
volta a prestar atenção em mim, parece impaciente para me despachar logo.
— Vou viajar com sua mãe amanhã. Caribe. Você cuida da casa?
Eu estreito os olhos.
— Simples assim? — pergunto.
Ele dá um sorrisinho de desculpas.
— A gente conversa amanhã de manhã — fala, depressa.
Recebo uma porta fechada na cara e ouço o barulho da chave. Solto um
riso e me apresso em seguir pelo corredor e descer as escadas.
Assim que chego à sala, a campainha toca. Vou correndo antes que meu
pai ouça e espio pela janela, vendo que é o Nicholas.
Abro a porta e recebo um sorriso dele, então seus olhos recaem em meu
corpo e eu bufo, dando espaço para ele passar.
Sinceramente, é muito esquisito. Ele está todo despojado em uma pólo
Ralph Lauren preta, uma bermuda branca e sandálias nos pés.
Completamente informal e, respiro fundo, gostoso.
Censuro minha mente imediatamente por achar que Nicholas Morrison
está gostoso.
Ele caminha até o meio da sala, todo alto e potente, então se vira para
me olhar, seus olhos faiscando em um brilho divertido.
— Cadê seus pais? — pergunta.
— Foram dormir. Ou quase isso — dou de ombros e passo por ele. —
Vem, a cozinha é por aqui.
Ouço seu assobio atrás de mim e evito me virar.
— Amber Mackenzie, que belo par de nádegas você tem.
Dou risada, nos levando pelo corredor até a cozinha. Caminho até um
dos armários, mas dou um grito surpreso ao ser segurada pela cintura.
Nicholas me vira e me põe sobre o ombro, fazendo meu rosto ficar
quase de frente para sua bunda, onde eu dou um tapa.
— Me coloca no chão, Nicholas! — exijo.
Que merda!
Ele dá um risinho e acaricia a parte detrás de uma das minhas coxas com
a mão quente e eu prendo a respiração. Merda, merda, merda.
Sou colocada de pé e ele tira meus cabelos do meu rosto, puxando uma
cadeira da mesa em seguida.
— Já que eu sou o intrometido aqui, você senta e eu nos sirvo — fala.
Reviro os olhos, mas me sento, agradecida pelo seu gesto, enquanto
tento ignorar o formigamento que ficou em minha pele.
Nicholas caminha de volta para perto dos armários e começa a abri-los,
até pegar dois pratos fundos. Então abre as gavetas até achar dois garfos. Traz
as louças encontradas para a mesa e coloca um prato na minha frente e outro
bem ao meu lado e de frente para mim ao mesmo tempo.
— Me fala onde está as comidas, por favor — pede.
— Acho que a torta está no forno.
Eu o observo caminhar até o fogão e abrir o forno, soltando um gemido
ao puxar a bandeja de vidro de dentro.
— Está com um cheiro e cara ótimos — observa.
— É uma delícia também.
Ele traz até à mesa e põe entre os dois pratos.
— O que falta? — pergunta, me olhando.
— O arroz e a salada.
Ele assente e volta ao fogão, destampando as panelas.
— Acho que está na panela elétrica do balcão — aviso.
Ele vai até o balcão e pega a panela, então traz também para a mesa.
— Arroz preto — ele sorri para mim.
— Arroz selvagem — corrijo e recebo um risinho delicioso como
resposta.
Nicholas volta, indo em direção à geladeira, então acha a bacia com
salada e a traz.
Se senta finalmente e começa a nos servir, com o garfo.
Dou risada.
— Isso é preguiça para não ter que pegar os talheres certos? —
pergunto.
Ele balança a cabeça.
— Amor, você não espera que eu vá sujar um monte de louças à toa, né?
Um garfo é mais que suficiente.
Sorrio, balançando a cabeça, então começo a comer, ao mesmo tempo
que o observo se servir.
Nicholas Morrison está na minha casa. Jantando comigo. E, o pior, por
convite meu.
É realmente uma loucura muito grande.
Capítulo 4

Observo Amber comer de frente para mim, parecendo relaxada mas


contida ao mesmo tempo.
Caramba, ela está deliciosa em um pijama sexy que a deixa mais linda
ainda. E essa pele que eu toquei? É completamente insano.
— Seus pais sabem que estou aqui? — pergunto.
Ela ergue a cabeça, as bochechas cheias de comida, me fazendo rir.
— Não — nega, sorrindo envergonhada.
— O que você vai fazer depois de jantar?
— Hmm — ela engole depressa. — Dormir.
Assinto, então coloco meu prato de lado, já que acabei, e fico só
observando-a. Nem preciso dizer o quanto estou explodindo de felicidade
pelo convite inusitado e inesperado dela. Inesperado mesmo.
Amber termina de comer e então levanta, pegando meu prato e o dela e
caminhando até a pia, colocando as louças dentro.
Observo-a caminhar até a geladeira e abrir o freezer.
— Quer sorvete? — pergunta, e eu desvio meu olhar para cima, a fim de
não reparar na bunda deliciosa e chamativa.
— Quero. É de quê?
— Dã — ela se vira, indo até a gaveta e pegando duas colheres. —
Chocolate, obviamente.
— Podia ser morango.
Ela vem quase dançando sentar novamente e coloca o pote entre a gente,
me entregando uma colher.
— Podia, se não existisse chocolate — me dá um sorriso antes de
destampar o recipiente e mergulhar a colher dentro, trazendo uma quantidade
absurda para a superfície e levando à boca.
— Nossa, que gulosa — comento, invejando o sorvete.
Ela dá um risinho.
— Adoro sorvete de chocolate — balbucia, deixando um pouco escorrer
pelo canto da boca.
Ergo a mão, de um modo automático, e limpo com o polegar, então
trago à minha própria boca e faço uma cena, chupando o dedo e gemendo
baixinho.
Amber arregala os olhos claros e desvia rapidamente.
— Você é muito… — sussurra, com a voz entrecortada.
— Muito lindo, gostoso, atraente? — palpito e dou um sorriso quando
seus olhos se voltam para mim novamente, destilando veneno.
— Idiota — resmunga. — Muito idiota, isso sim.
— Uhum, sei...
Ela bufa, então volta a atenção ao sorvete.
Eu faço o mesmo e pego uma colherada, levando à boca. Não gosto
muito de doces, mas aprecio a companhia de Amber então, no momento, sou
apaixonado por sorvete também.
Ela aproveita a sobremesa sem me olhar, então quando já parece
satisfeita, dá um suspiro e se recosta na cadeira.
— Você lava a louça e eu guardo as coisas, pode ser? — pergunta.
— Você que manda — pisco para ela, já me levantando.
Não deixo passar despercebido o sorriso contido que ela dá. Vou para a
pia lavar os pratos e garfos que sujamos, enquanto tento prestar atenção aos
movimentos dela ao mesmo tempo.
Amber é cuidadosa em cobrir a torta com um papel transparente e
guardar na geladeira. A panelas ela deixa no balcão mesmo e guarda o
sorvete no freezer.
Ela me olha e sorri, caminhando até algum lugar.
Eu suspiro, guardando os garfos no escorredor, então me viro para ir
buscar um pano e secar as mãos.
Amber está apoiada na bancada, de costas para mim, parecendo
concentrada em algo.
Seu magnetismo me atrai até ela, de uma forma inevitável, e eu me vejo
caminhando em sua direção e colocando uma mão a cada lado de seu corpo,
segurando nas bordas da bancada.
Respiro contra sua nuca exposta e a vejo virar a cabeça, prendendo a
respiração de imediato e tensionando nitidamente o corpo.
— Nicholas! — me repreende, parecendo engasgada.
Aproximo os lábios de sua pele e dou um beijo em suas costas, logo
abaixo da nuca. Meus olhos se fecham com o contato. Forte e avassalador.
Amber se vira, mas não tem como sair, então seu rosto paira logo abaixo
do meu.
Ela engole em seco, de olhos arregalados.
— Nicholas — repete, sem muita firmeza. — Me dá espaço para passar.
— Não — sussurro, abaixando meu rosto até estar em seu pescoço, onde
inspiro seu cheiro doce. Lembra flores exóticas. Exatamente o que ela é. Uma
flor exótica.
— O que você está fazendo? — Amber tenta me empurrar, mas seu
toque só me deixa mais quente e eu a imprenso mais contra a bancada.
Levanto meu rosto, para encontrar os olhos nem mais tão claros pouco
abaixo dos meus. Vejo-a engolir em seco de novo quando miro sua boca e
então sei que seria incapaz de voltar atrás.
Inclino minha cabeça e suspiro quando nossos lábios se tocam, quase
imperceptíveis, mas se tocando.
Amber abre os dela, soltando toda a respiração dentro da minha boca, e
é quando me perco e tomo seus lábios com os meus, de uma forma
desesperada e ávida.
Ela geme, agarrando imediatamente os meus braços, e levantando nas
pontas dos pés para ficar mais alta.
Eu a agarro pelos quadris, sem desgrudar nossas bocas, e a coloco
sentada na bancada, me encaixando entre suas pernas.
Ela passa os braços ao redor do meu pescoço, me puxando mais em sua
direção e me fazendo gemer em seus lábios.
Doce. Muito doce. O beijo dela.
Amber circula minha cintura com as pernas e inclina a cabeça, me
beijando com vontade. Nossas bocas estão mesmo captando uma sincronia
que eu não imaginava existir.
Eu a puxo mais para a beirada, passeando as mãos por suas pernas e
costas, fazendo o caminho várias e várias vezes.
Ela geme, descendo as mãos para passa-las por dentro da minha camisa
e me alisar as costas. O toque quente me faz desviar de sua boca para beijar
seu pescoço, a fim de controlar a respiração.
Amber me arranha de levinho e então recebo lambidas e mordidinhas
indolores no pescoço.
Suspiro, inebriado e entorpecido de desejo.
Eu seguro sua cintura, a puxando para trás de volta e então observo seu
olhar. Preto e brilhante.
— Alguém está excitada para valer — observo, espalmando uma mão na
parte detrás de seu pescoço e inclinando a cabeça para tomar seus lábios
novamente.
Ela geme deliciosamente e se esfrega em mim, parecendo desesperada.
Me surpreendendo, traz as mãos para frente e coloca por cima da minha
bermuda, tocando meu pau duro. Coitado. Iludido.
Solto um gemido em sua boca, inevitavelmente.
Ela afasta o rosto, olhando para onde suas mãos me torturam, então
morde o lábio delicioso.
Seguro seu queixo e levanto sua cabeça de novo, tomando posse da sua
boca novamente. Seus dedos me apertam mais, ávidos por me explorar.
Coloco as mãos em seus quadris, a puxando novamente, até conseguir
alinhar nossos sexos, então me esfrego nela, ondulando os quadris e sentindo
as bolas doerem de tanto tesão quando Amber dá um gemido delicioso dentro
da minha boca. Maldade isso.
Afasto o rosto, observando quando ela tomba a cabeça contra meu peito
e me puxa pela cintura, me pedindo em silêncio para repetir o movimento.
Seguro a base de sua coluna com uma mão e a outra levo por entre seus
cabelos, acariciando os fios negros, então me insinuo contra ela várias e
várias vezes, até ouvi-la choramingar baixinho.
— Nicholas… — ela vira a cabeça e morde meu ombro, para poupar
gemidos, creio eu.
— Isso, linda — incentivo e com duas insinuações a mais, Amber grita
sofregamente contra meu ombro, me mordendo ao mesmo tempo, enquanto
treme contra meu corpo e a bancada. Lindo de se ver e sentir.
Sua respiração se altera em meu pescoço e eu acaricio ainda entre seus
cabelos e a outra mão em suas costas, acalmando-a.
Ela respira fundo e então afasta a cabeça, parecendo toda mole.
Eu a observo, apreensivo.
— Isso foi forte — fala, rouca. — Não me lembrava o que era ter um
orgasmo.
Dou risada, me inclinando para beijá-la, mas Amber vira o rosto, me
empurrando pelos ombros.
— Hora de ir, Nicholas — murmura.
Recuo o passo, erguendo uma sobrancelha, curioso.
— Então é isso? — pergunto.
Ela assente.
— Obrigada por isso.
Me afasto, entristecido.
Amber desce da bancada e ajeita o pijama ridículo de tão sexy e então
passa por mim, caminhando lentamente para fora da cozinha.
Vou atrás, muito decepcionado.
Ela já está na sala, segurando a porta aberta quando chego, então
gesticula para fora.
— Boa noite, Nicholas — diz.
Respiro fundo e caminho para fora, não fazendo questão de responder.
Ouço a porta bater por detrás de mim e paro um pouco nos degraus da
varanda, para tomar controle de volta do meu próprio corpo.
Maldita hora que aceitei voltar sabendo o efeito que essa mulher tem
sobre mim.
Capítulo 5

— O que você acha disso? — Gabriel pergunta e eu me esforço a prestar


atenção no que estamos tratando.
— Desculpe, estava aérea. Acho do quê?
— Da fusão da Eagles com a Bubbles.
— Eu não sei — balanço a cabeça. — São de quê?
— Poxa, Amber, você não está prestando atenção. O que foi?
— Nada. Só fugi um pouco com a mente.
— Você fugiu há meia hora porque estou lendo esta porcaria para o
vento — ele levanta os papéis com a descrição dos estabelecimentos.
— Desculpe — lamento, entre um suspiro.
Gabriel balança a cabeça, parecendo tomar controle. Sendo apenas três
anos mais velho que eu, ele é executivo de baixo nível e meu amigo, ou quase
isso, já que meu pai costuma dizer que ele é uma péssima influência. Não é o
que acho, mas nosso contato só é mesmo em meio ao trabalho.
— O que está te perturbando?
— Nada — insisto. — Apenas foi… — gesticulo. — Mente dispersada
momentaneamente.
— Momentaneamente uma ova — ele sibila. — Preciso que preste
atenção nisso aqui ou seu pai vai ter um troço com qualquer coisa errada.
Sem falar que o meu pescoço vai rolar, e não o seu. Ele já nem gosta de mim.
— Há mais pessoas envolvidas nisso, não só nós dois.
— Eu não estou nem aí, Amber. Temos que fazer nosso trabalho.
Respiro fundo e assinto, recebendo um olhar de repreensão de Gabriel.
Não é culpa minha. Só estou tentando entender como pude deixar que
aquilo tivesse acontecido ontem à noite. Nicholas foi em minha casa, e me
beijou, e me deu um orgasmo. Não classificaria somente como um beijo,
aquilo foi bom mesmo. E não só um orgasmo, porque pareço ainda estar
tremendo. E ele ao menos me tocou. Ok, tocou. Mas não onde eu teria
preferido. Tudo bem, isso é errado.
Primeiro, não posso me sentir atraída por Nicholas porque ele já foi
desgraçado bastante comigo. Segundo, eu aprendi a lição. Terceiro, é
proibido. Praticamente uma regra. Nicholas não pode ser desejável.
— Acho que o seu pai vai querer diminuir o preço em pauta, o que eu
concordo, visto que é uma fusão e isso me parece mais o valor de algo que
vai ser construído do chão — Gabriel murmura.
— Eu não sei…
— Bem, você tem que dar sua opinião. Isso está dependendo da diretoria
para ser decidido. Acha que podemos ou não lucrar?
— Sim, eu acho — respondem por mim, e viro a cabeça, somente para
ver Nicholas se aproximando de nós no refeitório. — Diga sim ao
investimento.
— Você não faz parte dessa reunião, dá licença, sua opinião não é
importante — aviso.
— Eu faço parte da diretoria, Amber. Portanto, sim, minha opinião é
mais do que importante.
— Para você é senhorita Mackenzie, e não, não é importante. Isso diz
respeito ao que nós — aponto Gabriel e eu — achamos, e não você.
— Empresas não dizem respeito aos chefes — ele se inclina sobre a
mesa, colocando as mãos em cima —, mas aos clientes. Pensei que soubesse
disso, senhorita Mackenzie.
— Sei muito bem disso.
— Então por que está dizendo que vale sua opinião e a desse aí? —
questiona, o tom em desdém.
— Esse aí tem nome, se chama Gabriel Dampsey. E depois, ninguém
convidou você para dar opinião.
Nicholas dá um sorriso. Um pequeno sorriso. Quase nada e que soaria
inocente, se nada do que tivesse acontecido ontem,
tivesse realmente acontecido.
— Eu não me importo nenhum pouco em como ele se chama, querida.
— Deveria, querido, porque foi da sua boca que eu acabei de ouvir que
a diretoria é a mais importante e, se pretende êxito na sua carreira, aprenda a
trabalhar em conjunto e estar em sintonia com seus colegas de trabalho. Ou
ao menos saber o nome deles.
Ele dá um risinho. Puro deboche.
— Repito — se inclina mais, seu rosto pairando sobre o meu. — Eu não
me importo com o nome dele.
Respiro fundo, voltando a olhar Gabriel, que parece muito curioso
enquanto olha para mim e para Nicholas; para Nicholas e para mim.
— Vai embora daqui, Nicholas — bufo, irritada.
— Por quê? Por que você está se sentindo vulnerável e intimidada com a
minha presença?
Solto uma risada, de pura descrença.
— Você é um filho da mãe arrogante e presunçoso. Abaixa esse ego, seu
babaca.
Dou um pulo ao sentir o toque em minha coxa e olho para o lado, apenas
para vê—lo sobre os calcanhares abaixado, seu rosto quase a altura do meu.
— Eu acho bom você parar de ser uma hipócrita, ou posso ficar louco de
raiva — murmura, seus olhos penetrando os meus.
— Não sou hipócrita e não me importo se você vai ficar louco de raiva
— rebato, nervosa.
— Pois você deveria, amor, porque não sou tão bonzinho quando isso
acontece.
— Tira a sua mão da minha perna — peço, com raiva. — E não estou
preocupada com você ser ou não bonzinho.
Nicholas permanece sério, enquanto sua mão vai descendo lentamente
por minha coxa, até o contato esvair, deixando uma trilha quente por onde
passou. Evito ofegar tão nitidamente.
— Você deveria — repete. — Não queira me ver louco de raiva.
— Sai daqui, Nicholas — viro o rosto, vendo Gabriel parecendo
hipnotizado pela nossa pequena discussão.
Ele levanta, seu perfume suave e amadeirado ficando e vindo todo para
me matar.
— Eu realmente avisei a você — fala. — Não reclame depois.
Olho de esguelha e vejo-o sair andando de perto de nós, incrivelmente
alto e delicioso em um terno cinza escuro com o contraste dos cabelos
pretos. Puta merda...
— Que porra foi essa? — Gabriel pergunta e solta um riso.
Respiro fundo, pegando as folhas para analisar.
— Um babaca arrogante mostrando ser um babaca arrogante —
respondo, tentando fingir ignorância.
— Não — ele nega, gesticulando. — Eu achei que vocês fossem trepar
aqui em cima — aponta a mesa.
— É o quê!? — cuspo, horrorizada. — Está louco, Gabriel?
— Oh, não. Não me culpe. A atração sexual de vocês é palpável, que até
acho que poderia pegar para mim — ri de novo.
— Vai se ferrar. Você não sabe do que está falando.
— Claro que sei. Isso de ficar louco de raiva… — assobia. — Eu não
pagaria para ver.
— O Nicholas é um babaca que está acostumado a todo mundo babar
por ele e intimidar a todos.
— Vocês já tiveram algo?
— Claro que não — nego. — Ele trabalhou aqui um tempo e depois foi
embora.
— Vocês trabalhavam juntos?
— Sim, eu era bem nova, nem tinha terminado o primário.
— Seu pai sempre sendo maravilhoso — Gabriel ri. — O que aconteceu
que ele foi embora?
— Uma besteira — dou de ombros. — Acabei indo para Londres, para
fazer o colegial lá.
— Só se viram de novo agora?
— É, mas não esperei que ele fosse voltar. Nunca esperei.
— Você parece decepcionada.
— Claro que não, Gabriel. Apenas… — bufo. — Vamos continuar
nosso trabalho. O Nicholas não é importante.
— Tudo bem — ele levanta as mãos. — Você que sabe.
Eu suspiro e tento me concentrar na fusão das empresas alimentícias,
mas não é nada muito claro mais. Não desde ontem.
Capítulo 6

Atravesso o hall da recepção e me deparo com meus pais e Nicholas


conversando. Uma conversa animada, aparentemente, o que me soa muito
suspeito.
Eu caminho direto, destinada a ir para o estacionamento. Não estou a
fim de falar com ele e nem de discutir. Minha cabeça está doendo e estou
fraca. Meu dia foi cansativo demais. Me desdobrei.
No entanto, não chego ao meu destino ao ouvir a voz estridente do meu
pai me chamando. Merda.
Eu me viro, abrindo um sorriso e ele imediatamente me chama com a
mão. Então eu vou, muito contragosto.
— Neném — me puxa, em um abraço. — Você já vai?
— Já — eu me afasto e abraço minha mãe, que não me deixa sair de
seus braços. — Estou cansada. Acho que vou com vocês. Posso deixar o
carro aqui e pego amanhã — me agarro mais a ela.
— Nós não estamos indo para casa, filha — meu pai fala.
— Não?
— Não, vamos para o Caribe. Eu falei com você ontem.
Eu levanto a cabeça do ombro da minha mãe, olhando os dois.
— Me esqueci — suspiro. — Agora?
— Agora, mas não se preocupe, o Nicholas vai cuidar de você para mim
— meu pai o olha, sorrindo.
Mas estou muito cansada para debater alguma coisa. É completamente
óbvio que ele fez a cabeça do meu pai.
— Eu só quero ir para casa e dormir — confesso e volto a abraçar minha
mãe, que afaga minhas costas. — Quanto tempo vão ficar fora?
— Só duas semanas, meu bebê — ela me beija. — Vai ser bem rápido.
— Isso se meu pai não mudar de ideia e querer passar o mês todo.
Ela dá um risinho, concordando.
— Vem cá — meu pai me puxa para seus braços de novo. — Eita, filha,
é melhor você ir dormir mesmo. Tá parecendo um boneco.
— Eu levo ela — Nicholas declara.
— Faça isso — ele concorda. — Natalie, dá a cópia das chaves, por
favor. E você, Amber, quero que se comporte.
— Uhum — murmuro, sonolenta. — Nós fechamos o acordo que incluía
a fusão.
— Eu fiquei sabendo. Fez boa escolha, filha.
— Eu sei — esfrego meu nariz contra a camisa do meu pai, querendo
dormir ali mesmo.
— Sei que sabe — ele ri e me afasta, me fazendo lamentar, então me
vira de costas e me induz a dar um passo para frente, onde sou colocada de
frente para Nicholas. — Vá embora.
— Credo, pai — resmungo e olho o homem à minha frente, parecendo
bem sério. — Eu posso ir sozinha.
— Sei que pode, mas eu prefiro que alguém que não está dormindo
acordado leve você. Se comporta, a gente volta logo.
Eu me viro de novo, vendo-o pegar a mão da minha mãe e beijar.
— Amamos você — ela diz.
Suspiro forçadamente.
— Também amo vocês. Boa viagem.
Nicholas segura minha mão e me induz a caminhar com ele para longe
dos meus pais, onde andamos pelo hall, à porta que leva ao estacionamento
do subsolo.
Estou em instantes dentro de seu Porsche, com o cinto colocado e ele
logo se instala ao meu lado, nos tirando do estacionamento.
Me acomodo no banco, sentindo meus sentidos dissipando aos poucos.
— Você parece ter tido um dia longo — comenta.
— Tive.
— Está com fome?
— Não, eu só quero... — suspiro. — Dormir.
— Que horas você comeu?
— Cedo.
— Na hora que te vi no refeitório?
— Sim.
— Era bem cedo.
— Era.
— Vou te levar para comer alguma coisa, então — diz.
— Não, eu só quero... Minha casa, minha cama. Por favor.
Ouço o murmúrio baixo dele, mas não ligo. Somente sinto que o
caminho é feito muito longamente, parecendo o triplo do tempo.
Meus pais sempre tiveram isso de viajar, mas eu já havia me esquecido
depois de alguns anos fora.
Nicholas estaciona em frente à minha casa minutos depois e eu saio do
carro, já caminhando para a entrada. Antes de meu irmão gêmeo e eu
nascermos, meu pai morava em uma cobertura, mas aí minha mãe fez o favor
de lhe obrigar a comprar uma casa digna de dois bebês. Nossa maravilhosa
casa, onde Luke e eu crescemos e amamos cada instante.
Eu abro minha bolsa para procurar a chave, o que é sempre uma tarefa
demorada.
— Você não deveria trazer trabalho para casa — ouço a voz de Nicholas
e levanto a cabeça, vendo-o destrancar a porta com a chave que minha mãe
deu a ele.
— Eu não trago — respondo, esperando que ele abra para eu passar.
Quando o faz, sigo direto para as escadas, onde estou destinada a chegar
em meu quarto.
Realmente foi um dia longo e eu só queria dormir, mas meu cérebro
resolve me lembrar que Nicholas está em minha casa. Isto não é novidade.
Quando ele trabalhava antes com meu pai, já vivia vindo para cá. Luke e ele
eram bem próximos, mas alguma coisa aconteceu que eles se distanciaram.
Nunca perguntei, porque não era da minha conta. Então cada um tomou um
rumo. Nicholas se foi, eu fui e Luke também. E nada mais faz muito sentido.
Tranco a porta do meu quarto e vou direto para o banheiro, me despindo
apressadamente e logo entrando no box, ajustando a água morna.
Não tenho nada contra o Nicholas, só não acho nenhum pouco certo ele
pensar que todas as mulheres babam por ele. Ele não pode trata-las como se
fossem um jogo a ser ganho. Não é assim. Tudo bem que ele é lindo e
inteligente, mas isso não justifica a forma como se comporta. Se comportou...
Depois de relaxar sob o chuveiro, volto ao quarto em busca de uma
calça e uma blusa qualquer. Visto e vou para cama, apagando a luz do abajur,
louca para dormir.
Ouço duas batidas na porta, mas ignoro.
— Amber — ele me chama. — Eu trouxe um lanche. Você não pode
dormir sem comer. Vou deixar aqui na porta. Estarei no quarto do Luke, se
precisar de mim. Boa noite.
Eu reviro os olhos e volto ao meu momento de paz.
Não há fome com Nicholas por perto. Não literal.
Capítulo 7

Olho para o lado ao ouvir um barulho baixo e abafado, então Amber


passa pela cozinha com seus enormes saltos, já arrumada e incrivelmente
maravilhosa em um vestido preto colado.
— Não, Gabriel. Eu não dei certeza que iria tomar café com você. Já
passamos a manhã e tarde inteiras ontem ajustando essa porcaria — ela bufa
e vai até a geladeira. — Que se dane. Não pedimos isso. Não quero saber o
que você vai arranjar, só não deixa. Eu chego aí em breve — desliga o
aparelho.
Eu observo enquanto ela traz a garrafa de leite para a bancada e vai até
os armários, obtendo um copo térmico, então enche com leite e depois café,
acrescentando stévia e canela.
— Bom dia — falo, me sentindo invisível.
— Bom dia — ela mal responde e beberica o café, soltando uma lufada
de ar em seguida. — Falei com a minha prima e ela vai vir dormir comigo.
Você pode ir para sua casa.
— Ok, e eu não pretendia ficar aqui. Só fiquei porque estava muito
cansado. Você sabe se cuidar, não é? Quem sou eu pra te dizer o contrário?
Ela levanta o olhar para mim, parecendo nenhum pouco feliz. Porra, ela
nunca tá feliz.
— Absolutamente — concorda.
Bufo, em descrença.
— Acho muito interessante mesmo que você consiga me olhar com tanta
indiferença. Nem parece que estava louca por mim em cima dessa bancada há
dois dias.
Amber dá um grunhido.
— Você mais do que ninguém devia saber que necessidade fisiológica
não tem nada a ver com nada — fala.
— Para de tentar se defender. Isso não dá certo. Eu mais do que
ninguém considero fome e sede necessidades fisiológicas, o resto, pra mim, é
querer. Simplesmente assim. Você me quis.
— Vai se foder, seu babaca. Eu nunca te quis.
— Por que você tá irritada? — levanto da cadeira, indo em direção a ela,
que imediatamente se desencosta da ilha, com a intenção de dar a volta e sair.
— Não. Fica e responde.
— Fica longe de mim.
— Por quê? Tem medo de eu me aproximar muito e acontecer a mesma
coisa? Você perceber o quanto me quer?
Ela ri. Uma risada falsa e esganiçada, então caminha os passos que
faltam para chegar perto de mim. Amber levanta o café e encosta no meu
peito, me olhando dentro dos olhos.
— Vou te dizer uma coisa, Nicholas, nem todas as mulheres do mundo
querem você — afirma. — E eu sou uma delas. Aquilo — aponta a bancada
— foi uma vontade momentânea. Não significou porcaria nenhuma. Enfia
isso na sua merda de cabeça. Nem tudo gira ao seu redor.
Eu seguro o café, tirando—o do meu peito.
— Isso tá quente, porra. E continua se negando do óbvio. Eu sei que
você quis. Me quis.
Ela balança a cabeça, então dá a volta, indo diretamente para a saída.
— Tá indo pra onde sem mim? Você deixou seu carro no
estacionamento — lembro.
Ela não me responde, simplesmente sai.
Eu me apoio na bancada, lamentando o inferno que é tentar chamar a
atenção dela para mim. Sempre dá em uma briga. Não precisaria ser assim se
ela não mudasse de humor de segundo em segundo.
Meu celular toca no bolso da calça e eu pego, atendendo num instante
quando vejo que é Patrick, um dos meus seguranças. Não meu exatamente,
do meu negócio secreto. Nem tão secreto, quer dizer.
— Fala, Patrick — suspiro, passando a mão no rosto.
— Posso saber onde você está exatamente porque o pessoal da mobília
nova chegou e eu não sei o que vai ser tirado.
— Falou, tô chegando. Meia hora. — Desligo o celular e pego meu
terno em cima da mesa, saindo rapidamente. Ainda consigo ver Amber
caminhando pela estrada de flores que leva à saída da casa, onde
provavelmente vai pegar um táxi.
Balanço a cabeça e entro em meu carro, partindo para meu destino.

....
— Não sabia que você ia mudar tanta coisa — Patrick murmura,
enquanto tiramos a poltrona velha de um dos quartos.
— Emily gosta de rosa — dou um sorriso, lembrando da pequena
garotinha.
Ele assente e nós descemos com o estofado, vendo quando Christian
entra pela porta da sala, parecendo fascinado.
— Uau! — fala, enquanto olha em volta, então para mim. — Papai, o
senhor mudou tudo!
— Mudei — afirmo, sorrindo. Ele sorri de volta e corre até o sofá,
sentando e apalpando ao mesmo tempo.
— É incrível!
— Você gostou? — Patrick pergunta.
— Muito!
Ele me olha e nós sorrimos. Exatamente essa é a intenção. Extrair o
máximo de sorrisos possíveis.
Nós levamos o sofá velho para fora e colocamos no quintal, observando
quando Lilian chega com Emily e Edward agarrados em suas mãos. Eles
imediatamente a soltam ao me ver e vêm correndo em minha direção.
— Pai! — se agarram às minhas pernas.
Eu me inclino e pego Emily nos braços, então acaricio os cabelos de
Edward, que me olha de baixo com os dois dentes da frente faltando.
— Ei, tá faltando algo na sua boca, campeão — observo.
Ele ri e assente.
— Eu fiquei meio banguelo, pai.
— Tô vendo — dou risada e olho a garotinha em meus braços, que
imediatamente me abraça pelo pescoço.
— Nós gostamos da casa nova — diz, com a voz baixinha e melodiosa.
— Que bom, princesa — eu suspiro.
Era o meu medo. Eles não se acostumarem ou não gostarem. Se isso
tivesse ocorrido, eu não me importaria, teria ido embora de volta sem
qualquer problema. Nada me deixaria longe deles. Dos meus filhos.
— Eles gostaram — Lilian, a senhora meio acima do peso que cuida
deles, finalmente nos alcança, esbanjando seu sorriso de mãe.
— Fico aliviado — digo para ela. — Já vieram entregar tudo que pedi e
está tudo abastecido na cozinha.
— Certo, obrigada.
— Pai — olho para o lado ao ver Christian sair correndo de dentro de
casa com seu carrinho na mão. — Por que a Emily tem um quarto só para ela
e nós não? — pergunta, triste.
— Porque a Emily é uma princesa — respondo e balanço ela em meu
colo.
A garotinha dá um risinho fofo e assente, enquanto tento ignorar Lilian
emotiva à minha frente. Ela não consegue aguentar ver os três irmãos sem
uma mãe.
— Isto não parece justo, pai. Lilian diz que somos os príncipes —
Edward aponta para a babá.
— Pois é. Mas, se fossem duas princesas também, elas dormiriam no
mesmo quarto.
Christian e ele ficam pensativos.
— Tudo bem — ele diz. — Nós somos dois príncipes.
— São — dou risada e coloco Emily no chão, ao lado dos irmãos e me
abaixo sobre os calcanhares. — O papai vai trabalhar agora. Vocês dois vão
cuidar da Lilian e da Emily?
— Sim — Edward e Christian garantem, me batendo continência.
— Ótimo. Agora, todo mundo vindo me dar um beijo e um abraço —
peço, abrindo os abraços, enquanto eles me agarram e gritam. — Vejo vocês
depois. Amo vocês.
— A gente te ama, papai — respondem e os observo irem para dentro de
casa.
Me levanto de novo, soltando um suspiro quase longo demais.
— Qualquer coisa que precisar ou acontecer, é só me ligar — falo,
olhando Lilian.
— Tudo bem, pode deixar.
— Agora eu preciso ir — me aproximo, deixando um beijo em sua
bochecha. — Obrigado por tudo, Lilian.
— Não me agradeça, Nicholas. Você sabe que não precisa.
Me afasto, passo as mãos no rosto, então dou um sorriso a ela, que me
deixa ali parado no quintal, enquanto também entra.
— Ei, tudo bem? — Patrick toca meu ombro.
— Beleza. Qualquer coisa, você também me liga — peço. — Por favor.
— Pode deixar, cara.
Suspiro novamente, então vou para meu carro, já não mais muito certo
de onde tudo pode ir parar.
Capítulo 8

Eu termino de descer as escadas, para finalmente me encontrar na sala de


café dos funcionários da Silver. Caminho até a máquina de expresso e encho
uma xícara pequena, com a intenção de dissipar meu sono. Já é noite, mas
ainda não posso ir embora.
Me escoro na bancada, então dou boa noite para o senhor que sai da
porta de dentro da sala. Provavelmente está limpando. Ele me cumprimenta
com um sorriso e um aceno de cabeça, então sai, exatamente no mesmo
instante que Nicholas entra.
— Boa noite — ele diz, sombriamente. — Você poderia me permitir
pegar um café também, por favor?
— Não estou com suas mãos.
— Mas está na frente da máquina.
Olho para trás, vendo que estou mesmo, então saio da frente, deixando
que ele consiga pegar uma xícara e levar à máquina.
É estranho porque Nicholas agora parece bem fatigado enquanto se
escora na bancadinha e segura a xícara embaixo do pino que libera o café. Ele
observa o movimento, até o recipiente encher, então leva imediatamente à
boca, bebendo de uma vez.
Eu me remexo, porque sei o quanto está quente o café.
Ele dá um grunhido e fecha os olhos com força, provavelmente porque
foi queimado. A xícara bate com força contra o mármore e ele levanta a
cabeça, olhando para frente e levando a mão livre à cabeça, bagunçando os
cabelos num gesto de cansaço.
— Você está bem? — Não resisto a perguntar.
Nicholas não me olha.
— Estou, apenas… Um pouco quente — faz uma careta e leva a mão à
parte de trás do pescoço, massageando a região.
Me remexo outra vez. Ele não parece bem.
— Quente como? — questiono.
— Quente, eu não sei — respira fundo, então leva a xícara de novo ao
pino e enche, bebendo rapidamente o café outra vez. Ele apoia as duas mãos
na beirada da bancada e respira fundo umas muitas vezes.
Eu me aproximo instintivamente e deixo minha xícara na superfície,
levando uma mão ao rosto dele, e imediatamente me sentindo espantada.
— Merda, Nicholas, você está queimando em febre — aviso, dando um
passo para trás.
Ele bufa e balança a cabeça, então se ajeita.
— Estou bem — afirma e me dá as costas, saindo da salinha.
Eu fico para trás, muito estática por saber que ele, nitidamente, não está
bem. Não está mesmo. Não teve nem piadinha.
Me vejo o seguindo por entre as divisões de escritórios, o corredor
estreito, até chegar à escada, a qual ele sobe com o auxílio do corrimão. Vou
atrás, preocupada.
Nicholas alcança o elevador com dificuldade e eu entro com ele, que me
olha, totalmente surpreso.
— Você deve ir para casa — digo.
— Tenho coisas a fazer, não posso ir agora, nós dois sabemos disso —
ele suspira e aperta o número do seu andar. O vejo fechar os olhos com força
e abraçar o próprio corpo, soltando um gemido de dor.
Eu cruzo os braços, agoniada.
— O que você tem para fazer? — pergunto.
— Umas pendências da Still, coisa que não pode ser adiada.
— Tudo pode ser adiado, Nicholas.
— Não isso, Amber — ele apoia a cabeça na parede do elevador e
suspira, abraçando mais o corpo, parecendo com frio.
As portas se abrem e ele sai, eu imediatamente indo atrás, o seguindo até
sua sala. Entro junto e paro em sua frente quando ele faz menção de ir para a
cadeira sentar.
— O que foi? — pergunta, sua voz quase não saindo.
— Fala o que tem para fazer — peço.
— Não seja boba, Amber. É o meu trabalho.
— Estou pouco me lixando, Nicholas. Você está ardendo em febre —
resmungo, então seguro a mão dele, imediatamente emitindo um som ruidoso
ao sentir a pele quente demais. O puxo para o sofá, que tem um em cada sala.
— Você vai ficar deitado aí e me dizer o que precisa ser feito. Eu vou fazer,
então levo você comigo para tomar uns remédios e abaixar sua febre.
Ele solta uma risada abafada, então me olha rapidamente, assentindo.
— Não posso muito com você, amor.
Eu faço uma careta e o observo desprender a mão da minha para sentar,
então abraçar novamente o corpo.
— Preciso enviar os e-mails com o orçamento para a reestruturação da
nova equipe. Os relatórios já estão abertos e os resultados são os números no
fim de cada página. Você tem que somar tudo, mais o dividendo e os juros.
— E o ativo?
— Isso é com eles. A empresa é deles.
Eu assinto e me movo para a cadeira, olhando as inúmeras folhas
espalhadas. Balanço a cabeça e começo a fazer os cálculos. Amo números,
sem mais.
— Deita — ordeno, olhando para Nicholas que treme os lábios de frio.
Ele dá um sorriso e faz o que eu pedi, deitando no sofá e se encolhendo
todo, enquanto fecha os olhos.
— Por que você está com febre? Pegou resfriado ou chuva? — pergunto.
— Não sei — responde, baixinho.
Volto minha atenção aos papéis, querendo terminar logo. É simples, mas
é muita coisa. E muito, muito importante. Tenho um homem doente, coitado,
e que precisa ser cuidado.
Longe de mim querer arrumar justificativa para estar perto dele, apenas
estou sendo humana. Prestativa. É isso que as pessoas fazem. Prezam umas
pelas outras. Meus pais me ensinaram isso.
Mando uma mensagem para Gabriel me perdoar por não poder ir
terminar meu trabalho, então me concentro em minha tarefa.
Movo o mouse para ligar a tela do computador e o desktop aparece para
mim, imediatamente me deixando um pouco surpresa quando vejo uma foto
de Nicholas com uma menininha no colo como plano de fundo.
É uma foto linda, sem dúvidas, e eles parecem muito felizes, enquanto
Nicholas esbanja um sorriso maravilhoso e tem os olhos brilhando. Nunca
tive o prazer de ver ele nesse estado, não. Olho para a garotinha, que tem os
olhos iguais aos dele e segura uma boneca na mão. Uma foto muito linda
mesmo.
Balanço a cabeça e abro o navegador, entrando no e-mail.
A foto me leva diretamente a lembrar de uma que tenho com meu pai.
Ele sorria igualmente feliz enquanto eu estava em seus ombros, segurando
seus cabelos, fingindo que ele era um cavalo. Dou um sorriso ao lembrar.
Amo meu pai.
Coloco o endereço e o assunto e começo a digitar o orçamento.
Deveríamos ter uma digitadora, porque isso é muito chato de se fazer. Eu
poderia digitalizar e mandar, mas meu pai não permite isso em sua política de
envios da empresa. Apenas para comprovantes.
Nicholas dá um gemido, chamando minha atenção. Eu o olho, vendo
contorcer o corpo.
— Estou acabando — aviso. — Já vamos embora.
Me apresso a terminar. Ele precisa de cuidado.
Que irônico. Eu vou cuidar.
Capítulo 9

— Tá frio, Amber — Nicholas resmunga, depois que tiro seu paletó. Os


braços voltam imediatamente a abraçar o próprio corpo.
— Não está, é só sua temperatura. Separa os braços, eu preciso tirar sua
blusa.
Ele dá um grunhido, mas me obedece e eu desfaço os botões da camisa
cinza claro e depois a gravata preta. O abdômen bem definido logo fica à
mostra e eu desvio o olhar para o rosto dele novamente, encontrando um
sorriso quase invisível em seus lábios, mas que é imediatamente substituído
por um suspiro de dor.
— Vem, levanta, a banheira encheu — seguro os braços dele e o puxo.
Nós viemos para minha casa, é claro. Amy está na cozinha preparando
alguma coisa para nós duas jantarmos, enquanto procura uma sopa pronta nos
armários para Nicholas.
Eu tiro a camisa dele quando chegamos ao cômodo, deixando cair no
chão, então levo as mãos ao cinto, abrindo rapidamente e também o botão e o
zíper da calça.
— Amber, tá frio — ele resmunga novamente e eu agarro as bordas da
calça e o elástico da cueca, puxando para baixo e dando um pequeno grito
quando o pau dele bate no meu rosto.
Eu me levanto, horrorizada.
— Você está com febre! — grito.
— Foi mal — ele balança a cabeça. — Não é culpa minha.
— Sai de dentro da roupa — peço e vou para banheira, enfiando a mão
na água e vendo que está na temperatura certa. — Vem logo.
Nicholas assente e tira os pés da roupa, ainda abraçando o corpo e
tremendo os lábios, então começa a caminhar até mim. Os meus olhos são
atraídos para a peça chamativa entre suas pernas. Puta merda... Ele tem o
tamanho e grossura aparentemente perfeitos e eu recrimino o meu cérebro por
acender meu corpo. Não preciso sentir isso agora. Eu tenho um vibrador, é o
suficiente. É muito vergonhoso dizer que foi um presente da minha mãe, mas
é verdade.
— Porra, isso tá gelado — ele põe uma perna e treme o corpo.
— Sim — balanço a cabeça, saindo do transe. — Tem que ser gelada.
— Maldade sua — resmunga, pondo a outra perna. Solta um grunhido,
então senta na banheira, esfregando os braços.
Eu pego o sabonete líquido na prateleira em cima e despejo um pouco na
mão. Começo a passar nas costas e ombros dele. Nicholas dá um gemido,
parando de mover as mãos e me deixando passar o sabonete em seu corpo.
— Fria essa água — ele repete.
— Já entendi, Nicholas.
— Você está dizendo isso porque não está aqui dentro.
— Eu não preciso estar aí dentro, não sou eu que estou doente.
Ele solta mais um gemido e fica quieto, me deixando terminar minha
tarefa. Passo as mãos em seu corpo, enfiando-as na água para passar nas
coxas, que imediatamente retesam os músculos sob meu toque.
Eu ignoro e logo ouço a voz da minha prima por detrás de mim.
— Amber, eu deixei a sopa na cômoda. Ele está melhor?
Eu viro a cabeça e ela imediatamente exibe um sorrisinho ambíguo.
— Não, continua do mesmo jeito. Você encontrou o remédio que falei?
— Sim, também deixei na cômoda — ela olha para baixo, dando mais
um sorriso. — Melhoras, Nick.
— O—obrigado — ele diz, trêmulo e eu reviro os olhos.
— Não vou demorar, Amy — aviso.
Ela me dá um ok e ouço seus passos deixando o cômodo.
— Está muito frio — ele levanta e sai da banheira rapidamente,
molhando todo meu chão.
— Merda, Nicholas! — reclamo. Solto um suspiro e vou em busca de
uma toalha no armário ao lado das bancadas, então volto e começo a secar o
corpo dele. — Para de tremer, nem está tão frio assim.
— Tá sim — ele geme, tremendo todo e eu olho paro seu rosto, vendo-o
triste, e sinto um pouco de pena.
— Ok, vem — eu o chamo e volto ao quarto, deixando a toalha na
maçaneta da porta.
Nicholas me segue e vou até a cama, pegando a calça moletom do meu
irmão e entrego a ele, que pega rapidamente e veste. Dou um sorriso e puxo o
edredom, gesticulando para ele deitar.
Ele não hesita, rapidamente o faz e se encolhe na cama.
— Senta — falo. — Vou dar o remédio a você.
— Você ainda está vestida — ele observa, sentando contra os
travesseiros e puxando o edredom até o pescoço.
— Claro, eu fui diretamente cuidar de você primeiro. — Me arrependo
imediatamente do que disse, porque não foi exatamente por querer. Me viro e
vou em busca da sopa que está na cômoda.
— Cuidar de mim… — Nicholas repete, pensativo. — Eu gosto disso.
Não sei o que é ser cuidado.
Fecho os olhos, respirando fundo, então pego a tigela e volto à cama,
sentando na beirada.
— Por que você está fazendo isso? — ele pergunta.
— Porque você está doente. Abre a boca.
Ele abre, então ergo a colher com sopa e coloco dentro.
— Quente — ele geme. — Isso não é justificativa. Você praticamente
me expulsou daqui hoje cedo.
Bufo e o ignoro, continuando a dar a sopa a ele que, parecendo me
entender, fica calado.
Não é exatamente por existir um motivo. Eu só quis ajudar. Ele estava
mal, e eu podia fazer algo. Tinha algo ao meu alcance. É isso que acontece
quando nós encontramos uma pessoa mal e podemos ajudar, nós
ajudamos. Não é?
Quando ele termina, coloco a vasilha no chão e o olho, vendo-o tremer
os lábios. Levanto e pego o remédio na cômoda, trazendo junto com o copo
de água.
— Beba — peço.
Nicholas abaixa o edredom e pega o comprimido e o copo de minhas
mãos, então bebe rapidamente, soltando outro gemido de dor.
— Não quero ficar com febre nunca mais — resmunga.
Dou um sorriso e pego o copo da mão dele, colocando-o no criado-
mudo.
— Você pode dormir aí. Vou ficar no quarto de hóspedes com minha
prima — aviso. — Acha que se sente melhor?
Ele faz um biquinho, que eu evito reparar que é a coisa mais linda do
mundo, então balança a cabeça negativamente.
— Estou com frio ainda.
Suspiro e levo as mãos ao lado do meu corpo, descendo o zíper do meu
vestido e ficando sem a peça de roupa. Me coloco ao lado dele, bem junto ao
seu corpo, e ponho meu braço por cima da sua barriga embaixo do edredom.
— O… O que você tá fazendo? — pergunta, me olhando.
— Te esquentando. Calor humano. Aquece mais.
Nicholas solta um riso.
— Estou com febre, mas não morto. Como você me abraça só de
calcinha e sutiã?
— É para ter mais contato com o meu corpo — explico enfática.
Ele geme, então me afasta de si.
— Agradeço, mas acho melhor você parar com isso de calor e corpo,
porque eu sei algo que vai me esquentar muito e me colocar em contato com
seu corpo de verdade.
Evito demonstrar o quanto a ideia me parece boa. Ainda estou digerindo
tê-lo visto pelado.
— Vou descer para jantar, então. Me grita, se precisar. — Me levanto e
pego meu vestido do chão, então saio do quarto e fecho a porta, respirando
fundo e com força.
É errado querer voltar e pedir que ele se aqueça dentro do meu corpo?
Capítulo 10

— Por que você está seminua? — Amy pergunta assim que chego à
cozinha, onde vou imediatamente atrás de um copo de água gelada.
— Estou excitada — resmungo enquanto pego a jarra e levo à boca,
sorvendo uma quantidade de água considerável pela garganta.
Minha prima dá uma risada e um grito em seguida, murmurando sobre
como é ruim queimar o dedo, então fala com tom de zombaria em seguida.
— Cadê o gostoso? Por que você está aqui excitada e não debaixo dele?
Eu me viro para ela, o peito subindo e descendo numa respiração
desregulada, enquanto tenho a jarra em uma das mãos.
— Ele está doente. Ele é Nicholas Morrison. Ele é perigoso — respondo
e bebo mais água.
— Ele é gostoso. Qual o tamanho do pau?
Solto um gemido, me lembrando de vê-lo pelado.
— Do tamanho certo para me deixar desmaiada de prazer — murmuro,
desolada. — Eu não posso desejar ele, Amy. O que eu faço?
Ela caminha despreocupadamente até o fogão e mexe uma panela, então
abaixa o fogo e me olha, se escorando na ilha.
— Eu acho que você está louca por um cara gostoso e você devia
experimentar o pau dele. O que tem demais nisso?
Eu me encolho, simplesmente por não entender essa frieza da minha
prima.
— Não é assim que funciona, Amy. Não vou deixar qualquer cara
dentro de mim — pondero.
— Não é qualquer cara — ela gesticula. — É o Nicholas Gostoso
Morrison Delícia.
Solto um riso, nervosa, então bebo mais água.
— Eu entendo que você tenha mais isso de emoção, sentir vontade pelo
cara, sentimento e o blábláblá todo — continua. — Mas, caramba, Amber, dá
um tempo nisso. Curte um pouco. Você só fica trabalhando que nem louca.
Tem um gostoso indefeso na sua cama, à sua mercê.
Tiro a jarra da boca, estarrecida, então volto a olhar para ela, que parece
mesmo ter falado sério.
— Não posso transar com ele. Seria... — resmungo. — Desastroso.
— Por quê? Sexo é só sexo. Abre as pernas e ganha uns orgasmos e
depois vai embora.
Faço uma careta, caminhando até a mesa e puxando uma cadeira para
sentar. Amy traz duas bacias de vidro e põe na superfície, enquanto vejo que
temos algum tipo de receita nova para a janta. Odeio jantar, particularmente,
me faz ter pneu. Aquele que você se mata para tirar. Consegui tirá-lo com as
dicas do meu maravilhoso e inteligente pai que, como se não bastasse ser só
lindo, tem um corpo perfeito e me dá dicas desde que comecei a "ganhar
corpo de mocinha" como ele mesmo nomeou. Claro que depois fiquei
sabendo que ele só aprendeu as especificações de exercícios por causa da
minha mãe, que tem um corpo esculpido por causa dele. Como eu disse, os
melhores.
— Não vou simplesmente abrir minhas pernas para um cara e ter que
sair depois. Eu sou emotiva e sentimental — confesso.
Amy dá uma risadinha e corta a torta, que parece ser salgada. Eu ainda
fico realmente impressionada com essa frieza dela com relação a qualquer
homem. Ela realmente encara a coisa como se fosse nada mais que banal.
Comigo já é completamente diferente. Eu tive minha primeira vez com
um amigo de Londres. Ele realmente se tornou meu amigo e era bem legal e
gentil comigo. Não foi algo planejado, na verdade. Nós estávamos
comemorando o fim do ano letivo e ele me beijou, e eu gostei, e aconteceu.
Não foi bom, disso eu me lembro. Doeu para um caramba, e lembro que não
durou vinte minutos direito. Mas Trey, como ele se chamava, foi muito gentil
comigo. Me beijou muito, implorando perdão. De fato, ele precisava pedir.
Eu tinha dezessete anos e foi horrível. Não foi nada prazeroso, também por
culpa dele. Mas aí, semanas depois, aconteceu de novo. Foi menos doloroso,
mas não bom. Na terceira vez, eu recusei, e ele me presenteou com um oral
delicioso e demorado, que me deixou zonza por vários minutos. Disso me
lembro bem.
Infelizmente, Trey saiu no ano seguinte. Então conheci o James, um cara
gostoso e inteligente, que parecia sério demais. Só aparência. Em quatro
paredes, o cara era um animal. Perdi pares de calcinhas que ele rasgava com
os dentes. Ele era sempre quente, me comendo nos lugares mais inusitados. E
aquele pau dele era uma maravilha. Nem era tão grosso, mas era bom demais.
Só que, infelizmente, ele se formou na frente e foi embora também. Daí
surgiu a oportunidade de eu ficar com Frank, um loiro meio irritadinho. Ele
também era irritado na hora H e falava umas coisas bem quentes, que me
deixava louca. Tinha uma tatuagem na coxa que eu adorava olhar enquanto
ele mandava ver.
Acho que dei muita sorte em ser bem comida por todos os caras que
encontrei. Muita sorte mesmo. No entanto, com todos esses haviam emoções
e sentimentos. Depois ou antes do sexo, haviam carícias, conversas e risadas.
A gente comia ou tomava banho juntos. Tinha muito carinho. Eu gosto de
carinho. Sou assim, sentimental, preciso me sentir ligada ou não sinto tesão
nenhum. Quase que fui pedida em namoro pelo Frank, mas me formei e
voltei para casa, felizmente. Uma coisa é transar, outra é se envolver. Se bem
que a linha é bem tênue.
— Isto é realmente um problema — minha prima afirma e senta no
outro extremo, preenchendo o prato à minha frente com um pedaço da torta
que eu vejo ser recheada de queijo e legumes. Lambo os lábios. — Lembro
que transei com um cara que era assim. Ele ficava chupando meus peitos
quase meia hora depois de gozar. Era um saco. Dizia que era porque era
sentimental e gostava de sentir que eu era dele. Otário, né? Não sou de
ninguém.
Dou um riso e pego o garfo. Corto um pedacinho e levo à boca, soltando
um gemido pelo gosto da torta.
— Por que você não gosta de namorar? — questiono.
— Não é isso — ela dá de ombros. — Apenas não gosto de me sentir
propriedade de ninguém. Além do mais, você também nunca namorou. Não
me incrimina.
— Não é uma incriminação, Amy. Só um comentário.
Ela assente e se serve, então mastiga, dando um sorriso satisfeito,
provavelmente feliz por obter êxito na receita.
— Está uma delícia — falo.
— Obrigada — agradece e gesticula. — Nicholas te deixa com tesão, eu
realmente não vejo mal em você transar com ele. Só uma vez.
— Se acontecer, não vai ser só uma vez, eu sei disso. E não sei como
poderia funcionar já que, obviamente, é só tesão e nós não temos qualquer
ligação.
Minha prima me avalia, pensativa.
— Sei lá — murmura. — Fala com ele que antes você precisa de uma
piada para rir e no final de uns carinhos. Pronto. Problema resolvido.
— Não é tão simples — dou um gemido de descrença pela ideia dela. —
Nicholas e eu não temos afinidade. Ontem eu o convidei para vir jantar
comigo e ele me deu um orgasmo sem ao menos me tocar. Ainda vestido. Eu
poderia facilmente dizer que foi até novidade para mim, mas na verdade eu
sei que foi só porque nós passamos um pequeno tempo juntos antes de ele me
agarrar.
— Que tempo?
— Jantamos e tomamos sorvete.
Amy dá uma risada alta.
— Eu realmente acho que você deveria esquecer um pouco essa regra e
simplesmente transar. Se o tesão é recíproco, vai ser maravilhoso. Mesmo
sem os seus mimimi — ela declara e enche a boca de comida novamente.
Balanço a cabeça e também volto a comer.
Merda, estou tentando negar o inegável, Nicholas sempre me deixou em
chamas. E isso não me parece nada bom.
Capítulo 11

Quando acordo pela manhã, Amy já não está mais ao meu lado na cama.
Já faz um tempinho desde que ela resolveu se envolver com as causas nobres
sobre ONGs e coisas do tipo para ajudar crianças e pessoas necessitadas. Ela
realmente ficou fissurada pelo trabalho.
Levanto e vou para o armário, procurando um short e uma camisa, para
ir correr. Minha única opção e ajuda a apaziguar o meu calor. Visto depressa
e vou para frente do espelho, prendendo os cabelos em um coque no alto da
cabeça. Passo no banheiro, lavo o rosto e escovo os dentes, então saio do
quarto de hóspedes, com destino à área de serviço, onde ficam meus tênis de
exercícios.
Levo um susto ao chegar à cozinha e me deparar com Nicholas. Ele está
somente com a calça que dormiu e os cabelos despenteados, enquanto come
uma maçã. Seu olhar se volta para mim imediatamente e ele me avalia de
cima a baixo, enquanto mastiga calmamente. Eu congelei, não há
dúvidas. Gostoso para caramba.
— Bom dia, amor — ele fala, abrindo um sorriso ao voltar a olhar para
meu rosto.
— Bom dia — respondo, tentando soar ríspida. Mas não acho que obtive
muito êxito.
— Tá indo malhar? — pergunta, como se fosse muito natural nós nos
encontrarmos todas as manhãs e levar um papo matinal.
— Correr.
— Correr — ele concorda. — Posso ir com você?
— Você está doente — o lembro. Não que ele pareça estar. Está, na
verdade, delicioso enquanto essa calça marca os músculos das pernas
torneadas dele.
— Eu já melhorei — garante e me olha de cima a baixo novamente. —
Vou pegar uma roupa emprestada do seu irmão. Ele tem tênis aqui também?
— Acho que sim — respondo, não sei por quê. Eu não deveria estar
cogitando deixar Nicholas correr comigo.
— Me espera, então. Eu não demoro — ele pede e joga a maçã fora
depois de comer o último pedaço, então passa por mim e sai do cômodo.
Estou indo correr com o motivo de eu ir correr. Que irônico. Eu devia
correr dele e não com ele.
Depois de uns minutos, em que já coloquei meus próprios tênis,
Nicholas reaparece. Ele usa um short e uma blusa do Luke e uns tênis que
parecem ser do meu pai, mas não posso e nem consigo falar nada. Está
extremamente suculento prestes a correr comigo. Comigo.
Me levanto da cadeira e passo as mãos no rosto. Como é possível que
isso esteja acontecendo mesmo?
— Vamos? — ele pergunta.
Suspiro pesadamente, então assinto e nós saímos.
Em instantes estamos correndo pelo caminho que leva à estrada
asfaltada do quarteirão de casas não muito próximas umas das outras. Eu na
frente e Nicholas atrás. Não me dou ao trabalho de me concentrar que ele está
junto a mim, na verdade. É muita pressão.
Correr para mim sempre foi uma forma de esvair a mente das coisas que
me incomodavam. Meus pais incentivaram meu irmão e eu a ter esse hábito
desde que entramos na adolescência, o que foi ótimo. Se tornou uma paixão,
tanto quanto comer.
Ponho meus fones de ouvido que estão em meu pescoço e aperto o
botãozinho do cabo, para a música iniciar. Maroon 5 começa a
gritar Animals em meus ouvidos e eu relaxo totalmente, meus pés criando
mais velocidade contra o atrito do chão. Pronto. Estou em mim de novo, me
entendendo e sem duvidar do que gosto. Pelo menos, por um período de
tempo.
Nós saímos do quarteirão e chegamos à rua, seguindo o caminho pela
calçada movimentada da multidão apressada em necessidade de começar seu
dia.
Inspiro o cheiro da manhã fresca e apresso os passos, dando uma volta à
esquerda, atravessando a rua e seguindo pelos poucos rastros que vão nos
levar ao Central Park, onde é o lugar perfeito para correr.
O clima está uma delícia. Levemente nublado e agradável. O cenário do
parque sempre é o mesmo. Muitas crianças com suas mães ou babás, e muitas
pessoas fazendo atividade física também. O vento morno, mas frio, aquece
meu rosto e meu corpo, e dou um sorriso, puramente satisfeita.
Meus passos ganham mais velocidade ainda e me aventuro entre as
árvores e sobre o gramado, esquecendo-me de tudo enquanto estou
experimentando um dos maiores prazeres da vida. O recebimento de
endorfina no corpo.
É muito bom e eu não troco a sensação por nada. Quer dizer, até poderia
trocar, desde que fosse por algo que me desse uma sensação mais prazerosa.
Ainda não encontrei, no entanto.
Segundos, minutos, horas – talvez – passam, e, quando sinto que estou
começando a ficar sem sentir as pernas, volto a fazer o caminho inverso, que
me leva de volta à casa.
O suor escorre por meu rosto e corpo, me fazendo alongar as passadas e
chegar com mais entusiasmo ainda no meu refúgio. Minha adorável casa. É
bom ir, mas o melhor sempre é voltar.
Assim que destranco a porta, porém, eu dou um grito, quando sou
puxada até a parede de frente. Sou colocada, na verdade; meu coração
suspendendo um pouco as batidas, enquanto minha respiração se torna ainda
mais errática e acelerada.
— Você não pode me culpar — Nicholas fala, a voz rouca e tão grave,
então sinto meu short ser abaixado e o calor quente como o inferno
imediatamente atinge meu sexo quando ele lambe minha coxa pela parte
detrás, subindo até separar minhas pernas, e me dá uma mordida no interior
da coxa.
O calor realmente aumentou. Pra valer.
— Eu vou te comer agora — ele declara, levantando e logo começo a
ofegar. — E você não vai me impedir, vai? — sussurra em meu ouvido.
Engulo em seco, trêmula imediatamente. Não, eu não vou. Não nesse
estado.
Ele me surpreende colocando dois dedos dentro de mim e os remexendo,
me fazendo gritar e balançar a cabeça.
— Molhada e quente — grunhe. — Se apoia na parede, Amber.
Eu já estou apoiada, só não sei se vou aguentar.
Nicholas segura uma de minhas pernas para abri-la e começo a sentir
minha entrada ser pressionada de forma impaciente e ele se enterra com tudo
em mim, tirando um grito de nós dois.
Puta merda!
O rosnado que sai de sua garganta reverbera por meu corpo inteiro, me
arrepiando por completo e me fazendo transpirar ainda mais. Ele está me
preenchendo e imediatamente se mexendo, saindo e entrando com uma
vontade absurda. Não me movo, seria incapaz.
Apoio a cabeça na parede, o grito de bom senso acendendo em minha
cabeça quando me dou conta de que ele não está com camisinha. Eu posso
evitar uma gravidez, Deus me livre, mas não posso impedir uma doença. Não
sei o que ele faz ou com quem dorme.
Me remexo, desesperada para parar de sentir o que estou sentindo. Uma
fome louca. Cada investida não sendo funda o suficiente. Eu preciso parar de
ser tão lesada.
— A camisinha! — consigo gritar. Não é bem um grito, já que minha
voz sai esganiçada e entrecortada.
— Desculpa — ele grunhe. — Eu não vou parar.
— Cretino! — resmungo, irritada por agradecer interiormente pela
resposta.
Nicholas se mexe para fora e para dentro, nossos corpos se chocando e
aumentando o peso do orgasmo em meu interior. Eu começo a me mover de
encontro a ele, incapaz de me segurar. Minha pele está queimando e ardendo.
O suor escorre por meu rosto, minhas mãos tremem contra a parede. Meu
rabo de cavalo é agarrado e Nicholas puxa minha cabeça para trás, beijando
meu pescoço, enquanto rosna e me penetra com força e vontade.
Estou alucinada e trêmula. Ele é realmente do tamanho e grossura
perfeita. Batendo e causando a fricção exata e nos pontos exatos que levam à
loucura.
— Você vai gozar — ele afirma, em meu ouvido. Vou mesmo. Estou
quase. Ele é muito gostoso.
Mordo o lábio, tentando abrir os olhos, mas é em vão. Eles estão quase
como colados, meu corpo respondendo involuntariamente.
— Mais fundo! — consigo gritar, bem alto, desesperada para sentir o
êxtase.
Recebo um gemido muito másculo e delicioso como resposta, antes de
ser impensada mais ainda contra a parede e ele empurra com uma velocidade
sem tamanho para dentro de mim, estocando até o limite dos limites e me
fazendo tremer dos pés à cabeça, o clímax me acertando em cheio, enquanto
eu me desmancho contra Nicholas e a parede.
Meu corpo inteiro entra em caos extremo e dou um grito, me apoiando
contra seu peito sólido, enquanto ele grunhe e segura minha cintura, me
empurrando de encontro a ele, coisa que sou incapaz de continuar a fazer.
Então ele também grita. Grita o meu nome, enquanto eu me sinto ser
preenchida por ele, que pulsa alucinantemente dentro de mim, acalmando as
paredes do meu sexo ao mesmo tempo.
Perco as forças e dou um gemido longo, satisfeito e cansado, então só
sinto quando ele nos deixa cair ajoelhados no chão, sua respiração quente
contra meu pescoço, enquanto seus braços circulam minha cintura.
Então, e só então, eu me dou conta da merda que acabei de permitir.
Capítulo 12

Amber desconecta nossos corpos e geme, se remexendo, mas não sinto


impulso por ela querer levantar. E eu me encho de alívio. Ela não quer ir.
Foi impossível. Veja bem, impossível, ficar uma hora vendo-a com esse
corpo delicioso dentro de um short que demarca ainda mais a bunda perfeita e
não me sentir duro que nem pedra. Caralho, impossível. Ela é muito gostosa.
— Preciso ir tomar banho — ela diz, baixinho.
Abro os olhos, percebendo que estamos sentados no chão, ela apoiada
em mim e eu na parede, enquanto a abraço pela cintura.
— Não. Fica aqui — peço, aprofundando meu nariz por entre os fios
negros e suspirando.
— Nicholas... — hesita. — Você não devia ter feito isso — respira
fundo. — Eu não estava... Raciocinando direito.
— Você parecia estar raciocinando muito bem quando gritou pro meu
pau ir mais fundo.
— Grosso — ela resmunga, tentando sair do meu abraço. —
Simplesmente foi uma necessidade fisiológica. Já disse isso a você.
Dou uma risada, simplesmente por não aguentar que ela se recuse a
assumir que me quer. Claro que quer. O corpo dela não nega isso.
Eu me ajeito, então a viro, deitando-a no chão e abrindo suas pernas com
as minhas. Meu corpo sobre o dela, que me encara de baixo, os olhos
cintilando.
— Quero poder te dar prazer direito. Me deixa ficar aqui com você até
seus pais voltarem — peço, desesperado para que ele aceite.
Ter ficado todo este tempo longe, me matou. Senti falta dela em cada
dia. Não que hajam explicações plausíveis para isso ser explicado, porque
nunca toquei em Amber. Esta foi a primeira vez. E uma primeira vez não
planejada, mas que foi boa para caramba. Mesmo. Chego até achar que se
fosse planejado, não teria sido tão bom.
— Você pode ficar — ela responde, me surpreendendo. — Mas saiba
que apenas porque eu tenho medo que fique novamente doente. Aliás, você
melhorou mesmo?
Dou um sorriso, erguendo uma sobrancelha.
— Você ainda tem dúvidas?
Ela bufa, mas posso apostar que vi a sombra de um sorrisinho em seus
lábios.
— Agora por culpa sua eu não quero mais ir trabalhar — resmunga. —
Estou com vontade de dormir.
— Então vamos dormir.
— Não seja idiota. Você sabe que não posso. Não podemos, na verdade.
Será que você podia sair de cima de mim, por favor?
— Por que a pressa? — pergunto, me fazendo triste. E realmente estou.
Eu já sabia desde sempre que o corpo da Amber ia me causar um prazer
grandioso, mas foi além do que eu esperava. Muito além. Ela é tão quente e
sensível. Fica tão mais fácil de se lidar enquanto sente prazer,
correspondendo todas as minhas expectativas e além.
— A pressa é porque preciso passar na farmácia e implorar para que me
vendam um remédio sem receita.
— Que remédio? — questiono, curioso.
— Um que me impossibilite de engravidar de você, já que fomos idiotas
o bastante para deixar essa possibilidade ocorrer — suspira, angustiada. —
Sou tão idiota.
Eu continuo olhando-a, me deparando cheio de tristeza ao notar a
expressão dela com a possibilidade de ter um filho meu. Um filho meu. Meu e
da Amber. Seria perfeito, com certeza. Um garotinho ou uma garotinha com
esses cabelos negros e os olhos dela, me chamando de papai.
Viro o rosto, fingindo não estar abalado e emocionado. Já tenho três
filhos, eles me devem ser o suficiente. E são. Meus maiores presentes.
— Desculpa — me levanto e estendo a mão para ajuda-la.
Amber recusa, então se põe de pé sozinha e caminha até o short, o
colocando. Eu desvio o olhar, simplesmente porque estou triste. No passado,
eu não pensava na possibilidade de ser pai. Mas, a vida... Ah, a vida. Ela tem
dessas surpresas. Essas coisas que nos tiram do rumo por um tempo e
parecem nos lançar em um abismo. Foi o que pensei no início, quando me
tornei pai. Catastrófico. Vi minha vida sumindo.
Grande idiota. Mal sabia que ela estava começando bem ali. Meus filhos
são tudo para mim. E, se eu realmente me mantive tanto tempo de pé, foi por
causa deles. Totalmente por eles. Ninguém nunca me deu o amor como o
deles por mim. Eu sou um sortudo por tê—los.
— Não entendo, Nicholas — ouço Amber dizer. Eu a olho, que está
parada ao pé do primeiro lance de escadas, me olhando pensativa. — Seu pai
é dono de uma construtora, por que você não trabalha com ele? Sua área é a
contábil também, aposto que ele precisa.
— Meu pai e eu não nos damos bem. E isso de trabalhar com família
não dá certo.
Ela se vira, segurando no corrimão. Ainda está arfante da nossa trepada
rápida e selvagem. Dou um sorriso involuntário, fingindo não perceber
quando ela parece perceber que estou pronto para o segundo tempo.
— Por que não se dão bem? — pergunta.
Cruzo os braços, sem querer dar corda para o assunto. Ele e eu não nos
damos bem há muito tempo. Desde que me lembro. Minha mãe morreu pelo
nascimento da minha irmã e ele a culpou por isso. A vida dela foi um inferno.
Não teve um pai junto consigo e sim um monstro, que só a xingava e
chamava de assassina. Ela cresceu uma menina amargurada e eu me propus a
cuidar dela, apesar de termos somente um ano e pouco de diferença na idade.
Mas não adiantou muito. Ninguém pode mudar o coração de ninguém,
somente a própria pessoa.
— Porque não — dou de ombros.
Amber fica pensativa, me avaliando.
— Eu acho que você não gosta dele.
— Não é preciso ser um gênio para saber disso, amor.
Ela assente, então fica uns segundos em silêncio.
— Eu já estive com ele em uma reunião. Você se parece muito com ele,
menos em ser tão humorado. Ele parecia rude — comenta.
— Ele é mesmo.
— Meu pai não gosta dele.
— Seu pai é um homem inteligente, como eu já disse.
— Bem, eu não acho que você esteja querendo falar sobre ele, mas
apenas saiba que acho muito estranho você preferir trabalhar com estranhos
do que ajudar seu próprio pai a crescer — diz.
— Ok, estou sabendo — sorrio.
Amber balança a cabeça e respira fundo.
— Vou me trocar — avisa. — Você está bem?
— Ótimo.
— Tá. Já volto — anuncia e sobe os degraus correndo, enquanto eu
caminho até o sofá da sala de estar e me jogo em cima, sentindo minha
cabeça girar.
Merda. Não, eu não estou bem. Eu gostaria de em apenas um dia poder
passar tranquilamente, sem medo de que vou receber uma ligação da polícia
ou do meu segurança. Ou que vou ser demitido. Ou ter que fugir. Estou por
um fio, quase me dando por vencido.
Mas, por eles, eu não posso. Não dá para desistir. Eles precisam de mim.
Meus filhos precisam de um pai, coisa que eu não me lembro de ter tido. Não
lembro mesmo.
Capítulo 13

Me jogo na cama assim que entro em meu quarto. Ainda estou tendo
espasmos do orgasmo recém-acabado. Acredite. Isso foi bem forte. Posso
sentir em todo meu corpo. Tenho vontade de me bater por gostar da sensação
de que ainda sinto a marca de Nicholas dentro de mim. É surreal de bom.
A porta se abre e eu levanto a cabeça, o vendo reaparecer em minha
visão. Ele realmente me seguiu até meu quarto. Está todo lindo somente
usando a camisa que correu. Delicioso.
— O que foi? — pergunto.
Ele tira a camisa, ficando completamente pelado, então caminha até
mim, se ajoelhando em frente à cama e colocando a cabeça em cima das
minhas pernas. Me apoio nos cotovelos, pega de surpresa, então observo o
amontoado de cabelos escuros enquanto Nicholas respira fundo.
— Já faz um tempo desde que eu me diverti — fala. — Vamos passar o
dia juntos hoje.
— Já disse que não — repito.
— Não foi uma pergunta.
— O que você tem? Está se sentindo doente de novo? — questiono,
remexendo as pernas, com o intuito de que ele levante a cabeça. O ar quente
que escapa da sua boca e atinge minha pele não está fazendo bem para o meu
raciocínio.
Nicholas me olha, o queixo apoiado entre minhas coxas, logo acima dos
joelhos.
— Tem sido complicado, eu confesso. A minha vida.
Ergo as sobrancelhas, desentendida.
— A sua vida não parece complicada, se quer saber minha opinião —
debocho. Não, realmente não parece. Ele é lindo, rico e inteligente. Por que
uma pessoa assim teria uma vida complicada? Não faz sentido.
— Mas é — ele afirma. — Quando o Luke volta?
— Ano que vem. Por quê?
— Nada, pra saber — suspira. — Por que você veio deitar? Disse que
iria pro banho.
Bingo. Pega no flagra.
— Hm... — murmuro, como quem não quer nada. — Apenas estava
com as pernas cansadas da corrida.
— Da corrida? — ele ri. — Não foi da corrida. Pensei que seu ritmo
diminuiria depois de mais velha.
— Claro que não.
— Eu me lembro de você tentando passar a mim e seu irmão, mas nunca
conseguiu.
Dou um sorriso.
— É, mas hoje eu te deixei para trás — digo, orgulhosa.
Sim, era incrivelmente uma perda de tempo tentar passar deles dois em
uma corrida. Sem falar nas pernas longas de cada um que os possibilitava de
levar vantagem.
— Bem, mas isto foi só porque eu estava querendo admirar seu corpo.
Fingi que te deixei levar a melhor — ele esclarece.
— Não, acho que você está mentindo. Só não quer confessar a verdade.
— Que verdade, amor? — ele sorri.
— Eu sou a melhor.
— Claro que você é a melhor — Nicholas rasteja para cima, seu rosto
pairando logo acima do meu enquanto ele se apoia nos braços. — Nunca
disse que não era. Você é a melhor — repete. — Eu não tenho dúvidas disso.
Eu o encaro, sem saber bem como processar o fato de que gosto da
sensação de tê-lo tão junto a mim, me fazendo sorrir. Claro que a verdade
sempre foi muito óbvia. Pelo menos, para mim. Eu me apaixonei por
Nicholas no passado. Foi algo constante. Ele era muito gentil comigo, como
com todo mundo. Só que eu levei isso para um lado mais completamente
pessoal e, no fim, descobri que ele era um moleque idiota que só queria sexo.
Não que fosse exatamente o verdadeiro motivo da minha revolta.
Nicholas não me enxergava como uma possível amante. Só como a irmã
do amigo. Era tedioso. E eu ficava com raiva toda vez que o via conversando
com qualquer outra mulher que eu sabia que ele acabaria ficando. Então,
como uma forma de tentar reprimir e afastar meus sentimentos, eu uso a
raiva. Não que eu me orgulhe disto. Longe de mim. Apenas não quero morrer
de paixão por um cara que nunca ligou para mim.
Mas, olha só para mim, acabei de deixar ele me possuir. Sim, uma posse.
Agora eu o quero ainda mais do que antes. Porque ele me marcou,
exatamente do jeito que fez com meu coração.
Minha mente é totalmente trazida de volta ao presente quando sinto a
fricção contra meu clitóris.
Engasgo, piscando os olhos e sendo presenteada com um sorriso
presunçoso de Nicholas.
— Tudo bem? — ele pergunta, seus dedos abaixando mais por dentro do
meu short, até ele coloca-los dentro de mim, me fazendo remexer. — Você
pareceu um pouco preocupada.
Respiro fundo, tentando evitar que meu corpo corresponda ao gesto
inesperado mas que foi muito bem-vindo.
— O que está fazendo? — rebato, com outra pergunta.
— Te dando outro orgasmo pra ver se você aceita passar o dia comigo
— responde, fazendo uma carinha triste que sou obrigada a desviar o olhar,
abalada.
— Já disse que não vai acontecer isso — meus quadris se elevam, em
um convite involuntário para uma velocidade mais rápida.
— Bem, então você não vai gozar.
— Eu sei me virar sozinha — o olho de novo, tentando soar convencida,
mas não consigo. Ele é lindo e gostoso, e está em cima de mim. Não há como
tentar ser vitoriosa.
— Duvido muito que você se dê prazer como eu dou — declara, seus
olhos cintilando brilho. — Você experimentou ali embaixo. Eu quero te
comer em pé, com você olhando em meus olhos. Depois de quatro, e de lado,
e depois finalizar com você cavalgando em mim.
Meu corpo me trai quando um gemido sai da minha garganta. Que
desgraçado.
Nicholas cai para o lado e puxa meu short para baixo, o tirando pelos
meus pés, então enterra os dedos dentro de mim novamente. Fundo e forte,
me fazendo gemer alto. Ele deita novamente, me olhando.
— Não mente pra mim, Amber. Você me quer tanto quanto eu te quero
— fala, sua boca se inclinando para beijar meu pescoço e morder o lóbulo da
minha orelha. — Fala que sim.
— Não, Nicholas — nego, arqueando o corpo contra as investidas de
seus dedos.
— Você não sente isso? — ele levanta a cabeça, me olhando de cima. É
um esforço enorme para encará—lo de volta, mas consigo. — Não sente
como fica renegando? Olha como você está molhada, pronta pra me receber
aqui dentro de novo — seus dedos se curvam bem fundo, e ele começa a
estocar com força. — É natural, amor, você me quer.
Minha boca se abre, exalando o ar preso, enquanto tento não deixar que
meu próprio corpo me faça confessar a realidade. Eu quero muito. Mas eu
não quero só a parte que ele sabe fazer bem, proporcionar prazer. Quero saber
como é o Nicholas quando não está rindo ou fazendo alguém rir, quando está
sério ou triste. Ou precisando de ajuda. Eu quero conhecer ele todo.
— Por favor, me deixa gozar — peço, entre os dentes.
— Não, eu disse que não — ele nega, calmo, diferente do movimento de
sua mão, que mantém os dedos dentro de mim, me deixando louca. O clímax
indo e vindo, mas não acontecendo.
— Por favor! — choramingo, balançando a cabeça de um lado para o
outro.
— Você vai ficar comigo hoje?
— Não! — grito. Eu não quero só hoje. Eu quero mais. Preciso de mais.
— Então, não.
— Nicholas!
Ele acalma os dedos, ao mesmo tempo que seu polegar começa a
acariciar meu ponto sensível, não no ponto de me levar ao orgasmo, só de
demonstrar o quanto ele está próximo e vai ser forte.
As pequenas fagulhas de calor, sobem e descem em ondas, me fazendo
transpirar. Estou sendo torturada. Vou chorar.
— Eu vou acabar com você — declaro, chorosa, enquanto tento me
afastar.
— Você já acaba comigo, Amber — ele me impede, afundando mais os
dedos em meu interior. — Diz que vai ficar hoje aqui comigo e eu deixo você
ter o que quer.
— Isso não é justo! — berro.
— Ninguém falou em justiça. Agora fala o que você quer responder.
— Não… — fechos os olhos, tentando mover os quadris contra ele, em
um pedido desesperado. Estou por um fio.
— Então, relaxe, você só vai ficar aí, presa. Não vou te deixar…
— Tá bom! — o interrompo, gritando. — Eu fico com você hoje! Eu
fico! Mas, por favor…
Ele solta um grunhido e engole minhas palavras quando sua boca se
choca contra a minha, sua língua me invadindo e me possuindo da mesma
forma que seus dedos fazem dentro de mim, aumentando a força e
velocidade.
Meus olhos apertam, meu corpo treme e solto um gemido alto e abafado
contra os lábios dele, no mesmo instante que o orgasmo me atinge em cheio.
O escuro me amolecendo e me fazendo sentir os arrepios da cabeça aos pés,
em um choque profundo e delicioso.
Afasto a boca, em busca de ar, e Nicholas mantém os dedos trabalhando,
firmes e impetuosos dentro de mim, minhas pernas se fechando em um
movimento independente. Estou doloridamente boa e relaxada, então suspiro,
abrindo os olhos e ofegando.
— Vamos tomar banho juntos — Nicholas declara, me trazendo de volta
à realidade.
Eu viro a cabeça, o olhando, então seus dedos me deixam, apenas para
acariciar minha barriga por cima da blusa.
— Vai haver vingança — aviso.
Ele dá um sorrisinho.
— Pode apostar que vou gostar disso — afirma e então levanta, somente
para segurar minhas duas mãos e me fazer sentar. Ergo os braços quando ele
segura bordas da minha camiseta para tirá—la pela cabeça.
Solto um alívio, meus seios sendo libertos.
— Que peitos lindos — Nicholas murmura e me impulsiona a ficar de
pé. — Vou querer ver você assim desse jeito o dia inteiro.
Eu concordo com um aceno de cabeça, mas apenas porque estou fraca
demais. Apenas por isso.
Capítulo 14

É completamente estranho eu ter Nicholas passeando as mãos pelo meu


corpo enquanto canta Miss Independent, do Ne-yo. Estranho mesmo.
— Por que você está cantando essa música? — pergunto quando ele se
abaixa sobre os calcanhares para ensaboar minhas pernas.
— Porque ela me lembra você.
— Lembra? — solto um riso, envergonhada.
Ele me olha de baixo, abrindo um sorriso.
— Uhum. Separa as pernas.
Eu separo um pouco as pernas, possibilitando ele de espalhar melhor a
espuma, que volta a prestar atenção no que está fazendo, agora assobiando a
música.
Solto mais um riso e não resisto a acariciar os cabelos dele, que parece
não se incomodar ou achar meu gesto algo anormal.
Ele levanta, fazendo minhas mãos descerem para os ombros e braços, e
então me vira de repente, fazendo-as espalmar no azulejo, então recebo um
tapinha na bunda.
— Ai! — reclamo, entre uma risada.
— Nada de me tocar ou esse banho vai terminar com nós dois caídos no
chão — murmura e eu viro o corpo de novo, querendo olhá-lo.
— Fraco você, né? — zombo.
Ele assente, voltando a assobiar, e então começa a passar sabonete em si
próprio. Eu cruzo os braços, apoiada na parede, observando-o e me
deliciando na cena que é ver Nicholas ensaboando os músculos deliciosos dos
braços, do tórax, do abdômen bem feito e descendo para as pernas torneadas,
até voltar ao mastro chamativo e digno de atenção — dos meus olhos,
principalmente.
Suas mãos retornam à prateleira de vidro e ele obtém o shampoo,
colocando uma quantidade pequena na mão, e passando nos cabelos em
seguida, os músculos dos braços ficando tensionados pelos movimentos.
Ele me olha e sorri. Um sorriso puramente carnal.
— Para de me olhar assim — pede. — Ou não vai prestar.
— Já não está prestando — suspiro. — O meu pai vai ficar sabendo que
não fui trabalhar hoje. E nem você. O que vou dizer a ele?
— Ué, a verdade — dá de ombros e liga o chuveiro, indo para debaixo.
— A verdade?
— É.
Dou um riso, de descrença.
— Que verdade, Nicholas?
— Que você tirou um dia de folga para receber prazer de mim.
— Pirou? Eu não posso dizer isso para o meu pai. Você seria demitido e
eu levaria uma surra, seu louco.
— Você é uma mulher adulta e eu um homem, receber prazer não é
errado — ele sai debaixo da água e me puxa, fazendo eu ir. — Além do mais,
estou obedecendo ordens dele. E, sinceramente, eu não acho que o Philip vá
ligar. Se ele te deixou sozinha, é porque sabe que você já é grandinha. Fecha
os olhos pra não cair espuma.
Começo a rir, de puro nervosismo.
— Você costuma dar banho nas mulheres? — pergunto, minha voz
saindo embolada por causa da água.
— Não, nos meus filhos — ele esfrega meus cabelos.
Minha risada aumenta.
— Entendi.
Filhos do Nicholas. Iriam ser umas gracinhas, com certeza.
Um silêncio pequeno paira entra nós, enquanto eu espero ele tirar toda
espuma do meu corpo e cabelos.
Nicholas desliga o registro e puxa meus cabelos para trás, apertando—os
juntos para tirar o excesso da água, então me vira de novo de frente para si,
passando as mãos nos meus ombros e cabelos, também tirando a água.
— Então é assim que você é quando não está sendo sempre bem—
humorado? — questiono, risonha. Na verdade, estou contente. Ter Nicholas
assim me deixou feliz. É bom. Ainda mais depois de dois orgasmos
maravilhosos e relaxantes.
— Sim, madame — ele ergue uma sobrancelha, divertido. — Espera
aqui. Vou pegar a toalha.
Eu o observo abrir o box e sair, caminhando até o gancho ao lado das
bancadas dos armários e pegando a toalha. Ele volta, com ela aberta pelas
duas mãos.
— Vem, mocinha — me chama, parando na porta do box, segurando a
toalha aberta. Eu dou um sorriso e vou, colando o corpo ao pano.
Nicholas começa a me secar, pacientemente, e eu espero, confortada e
relaxada.
— Você quer que eu seque você? — questiono. Eu realmente gostaria de
fazer isso.
Ele me olha e sorri, mas nega com a cabeça.
— Não, obrigado.
Eu assinto, contragosto.
— Posso fazer uma pergunta?
Ele afirma.
— Por que você e meu irmão se afastaram?
Nicholas dá um suspiro longo e começa a secar o próprio corpo. Eu
observo seu rosto tensionado ante minha pergunta e o incômodo dele é bem
nítido.
— Circunstâncias da vida... — murmura, baixinho.
— O que isso quer dizer?
— Quer dizer que foram circunstâncias, Amber. Seu irmão pode ser tão
cabeça dura quanto você — ele me olha, então parece sério demais. — Mas,
diferente de você, ele é um egoísta.
— Luke não é egoísta — discordo. — Ele é uma das pessoas mais
altruístas que conheço.
Ele bufa e se vira, indo colocar a toalha no lugar e depois saindo do
banheiro. Eu vou atrás, desentendida e curiosa.
— Por que você diz isso dele? — interpelo.
Ele caminha até a calça que usou para dormir, que está dobrada em cima
da minha cama, e então veste.
— Porque eu tenho motivos, Amber. Eu vou preparar nosso café. Espero
você na cozinha — avisa e sai, parecendo um pouco transtornado por eu ter
tocado no assunto do meu irmão.
Solto um suspiro longo e vou para meu closet, buscar uma roupa.
Coloco um short de algodão e uma blusa qualquer.
Antes de descer ao corredor, vou em busca do meu celular que ficou na
bolsa dentro do quarto de hóspedes. Tenho quarenta e sete chamadas perdidas
da Amy e resolvo retornar.
— Onde diabos você está, sua vaca? — ela grita, atendendo no primeiro
toque.
— Estou em casa — respondo, tranquila. — Por que a histeria?
— Porque o meu pai está enchendo meus ouvidos ligando para saber de
você!
— Ahn... Estou em casa — repito. — Não vou trabalhar hoje.
— Por que não?
— Nicholas me pediu para ficar com ele — confesso, envergonhada.
— Ele ainda está doente?
— Não.
— Então por que pediu isso? — minha prima parece alheia.
— Porque... — respiro fundo. — Nós... Ahn...
— Ah, merda! — ela grita. — Vocês transaram, não foi?
— Foi — admito.
— Ok — ri. — Você tem uma boa desculpa. Ele é o nível hard? Não,
pera. Parece que sim. Te fez querer ficar em casa.
Evito rir.
— Ele é muito, muito bom. E muito, muito lindo — falo, enrolando uma
mecha de cabelo entre os dedos.
Amy dá uma risada alta.
— Conselho! — murmura, em tom de aviso. — Nada de se apaixonar.
Nem por ele, nem pelo pau dele. Isso pode realmente acontecer. Toma
cuidado, por favor. Você sabe que o Nicholas é do tipo nossos pais mais
novos.
— Meu pai era um amor, ok? — discordo dela.
— Aham, sei bem — ela ri. — E não esquece a camisinha, por favor!
— Tá, pode deixar.
— Vou te salvar do lado do meu pai. Aproveita o dia com o gostoso.
Tchau, beijo.
— Obrigada, beijo — eu desligo o celular e ponho sobre as pernas,
dando um suspiro longo.
Meu medo realmente é me apaixonar por Nicholas, de novo. Eu pensei
que era algo passado, mas... Iludida eu. Tudo reacendeu, e eu tenho muito
medo do que pode acontecer. Sou fraca a ele e aos gestos dele. E procedendo
dessa forma, meu lado raivoso vai sumir. E isto é o que não deve acontecer.
Capítulo 15

Amber aparece na cozinha usando uma maldita roupa que não ajuda bem
no meu raciocínio lógico. Na verdade, ela não ajuda muito no meu raciocínio
propriamente dito. Ela me enfeitiça e o fato de que acabei de perder o
controle e ter tido tomado-a remexe meu estômago. Eu sabia que não seria
simplesmente algo carnal e sexual. E, merda, não foi mesmo. E isso só piora
minha situação. Como o fato de que para ela foi somente o ato em si e nada
mais.
Acontece que é perigoso a questão de querê-la por mais do que um
casinho casual. Ponto um, a questão de eu não ter tempo todos os dias; ponto
dois, eu tenho três crianças junto comigo e; ponto três, eu tenho uma puta
raiva do irmão dela. Não que a última questão me interesse muito ou fosse
me impedir de alguma coisa, mas mágoa é uma coisa foda.
Amber não pareceu ligar quando mencionei meus filhos. Claro que não.
Ela achou que eu estava brincando. Eu poderia ter esclarecido que falei sério,
mas não o fiz. Não quando ela estava ali comigo, sorrindo maravilhosa e
deliciosa, me deixando tocá-la. Se tudo que eu puder ter for hoje, for um dia,
com ela comigo, sem amarras, tudo bem então. Pelo menos vou ter algo.
Pouco é melhor do que nada.
— Ei, você parece triste — ela murmura indo sentar em uma cadeira. —
Me desculpa então por ter perguntado sobre o lance entre você e meu irmão.
Não é da minha conta.
Levo os waffles para a mesa e me sento na cadeira ao lado dela. Amber
se serve de suco e bebe de uma vez.
— Você já foi culpada por algo que não fez? — pergunto, passando o
dedo pela borda do corpo à minha frente.
— Hm, já. Muitas vezes. Por quê?
Balanço a cabeça, soltando um suspiro.
— Eu também. E é horrível.
— Bem, nem sempre. Às vezes serve de aprendizado.
— Tudo serve de aprendizado, não só calúnias.
Amber me olha, parecendo agoniada.
— Olha, eu entendo que você não me veja como a pessoa mais confiável
e amiga do mundo, mas eu sou boa em ouvir. Sério mesmo. E também em
ajudar, caso você esteja precisando — fala. — Você pode, hm, desabafar
comigo se tem algo te incomodando.
Viro o rosto para olhá-la, que está me encarando enquanto faz um
barulhinho com os dentes e eu sou obrigado a sorrir. Ela é maravilhosa.
— Quando eu tinha vinte anos, vi minha vida ir ao chão de repente —
confesso e desvio o olhar para o copo novamente. — Uma coisa aconteceu e,
bem, eu fui obrigado a arcar com as consequências. Quer dizer, não
exatamente obrigado, apenas era meu dever.
— Uma coisa… — ela repete, pensativa.
— É. Eu tive que tomar para mim as dores. Não que tenha continuado
ruim. Eu aprendi que poderia ser algo bom, se eu soubesse lidar.
— E você soube?
— Sim — assinto. — De ruim, se tornou um dos meus maiores prazeres.
— Interessante.
— Mas eu também tive que lidar com toda a parte ruim. Às vezes as
pessoas nos julgam — eu a olho de novo, que parece prestar bastante atenção
no que falo. — Há quem diga que sou do jeito que sou porque não valho
nada. O que faz elas pensarem assim? Eu nunca fui pego fazendo nada de
indecente para me chamarem de cafajeste. Eu ser bem-humorado não me
torna um filho da puta. Será que nunca pararam para perceber que talvez eu
agir assim seja para não desabar?
— Uma capa?
— De proteção — respiro fundo, voltando a olhar para frente. — É bom,
mas não é fácil.
— Você está precisando de ajuda? — Amber soa cautelosa, então volta
a fazer o barulhinho com os dentes.
— É só que é difícil, sabe? Você tentar agradar as pessoas. Não vale a
pena. Não funciona. O mundo te julga e cai em cima de você sem qualquer
motivo, apenas para te ver morrer.
Eu sinto o toque por cima da minha mão e meu olhar me atrai para o
rosto dela de novo. Ela tem o verde mais lindo do mundo nos olhos.
— Eu quero te ajudar — fala, baixinho. — Do que você precisa?
Dou um sorriso, simplesmente pela dor de saber que nunca poderia ter
Amber. Ela não merece um cara ferrado que nem eu. Não que eu ache meus
filhos culpados. Longe disso. Como já disse, eles são meus maiores presentes
e eu vivo por eles. Mas a questão é que eu não seria louco de exigir isso dela.
Amber merece um cara livre e sem impedimentos. Sem o risco de ser preso a
qualquer momento.
— Eu agradeço, mas você não pode me ajudar.
Ela morde o lábio, então pisca algumas vezes.
— Ahn... Mas — respira fundo —, se serve de consolo, eu não acho
você um cafajeste e nem filho da… Você sabe, é que não posso falar
palavrão.
Solto um riso, assentindo.
Ela sorri, apertando minha mão, e eu falho mais um pouco.
— Sinto muito pelo que quer que tenha acontecido com você. E também
pelo que você tenha que passar por consequência disso — continua. —
Mesmo que… Que não pareça… Eu me preocupo, sabe. Com você.
— É? — ergo uma sobrancelha, surpreendido. Bem, mas a verdade é
que Amber sempre demonstrou se preocupar com todo mundo.
— É — reafirma. — E se você achar que pode compartilhar sua dor em
algum momento, eu me proponho a… Ouvir e fazer algo, se for possível. Te
ajudar.
— Obrigado. Sua vontade de ajudar significa muito para mim, mas acho
que ela só existe porque você não sabe do que se trata.
— Pode ser — ela alisa minha mão e observa o movimento dos dedos.
— Mas o fato de saber que você só é do jeito que é por causa de algo que
aconteceu em sua vida, já é um passo para conhecer mais de você.
— E você quer conhecer mais de mim? — questiono, estendendo a mão
livre e virando o rosto dela para mim.
Amber assente imediatamente.
— Quero muito — afirma, sem hesitar.
— Por quê?
Ela balança a cabeça.
— Porque é um desejo meu. Eu gosto de realizar meus desejos.
Sorrio, então levo o polegar aos lábios dela, acariciando-os. Boa demais
para mim.
— Quero ajudar você a realizar seus desejos, mas não posso — lamento.
— Mas fico feliz que me deu esse dia com você.
Ela assente, abrindo a boca e prendendo meu dedo entre os dentes e
mordendo de levinho.
— Fico feliz que tenha sabido me convencer — murmura, dando um
sorriso.
— Eu também — me inclino para ela, segurando seu queixo. Não é
preciso mais nada. Amber quer o mesmo que eu quando fecha os olhos e
também vem em minha direção, selando nossos lábios.
É tão bom que me enche de pavor.
Capítulo 16

Tenho os dedos enterrados no cabelo do Nicholas enquanto ele dorme


com a cabeça sobre minhas pernas. Viemos assistir um filme na sala de TV.
Uma escolha minha. A Casa do Lago. O melhor filme de todos os tempos,
sem exceção. Diga o que quiser, mas é o melhor sim. Já vi tantas vezes que
poderia assistir sem áudio.
Eu não esperava menos quando Nicholas começou a falar mal do filme,
dizendo que histórias assim eram sem cabimento e me fazendo rir e debater.
Quando calou a boca, não muito tempo depois, eu percebi que tinha dormido.
Apagado. E, devo dizer, é a sensação mais maravilhosa do mundo ter ele
dormindo no meu colo enquanto eu assisto meu filme favorito, numa paz
louvável. Eu poderia facilmente acostumar com isso. Fácil, fácil.
Faço cachinhos em seu cabelo, que nunca ficariam em cachos porque
são muito lisos, e observo minha cena favorita começar. O momento em que
os personagens se encontram pela primeira vez. É tão bonitinho e
emocionante.
Eu nunca esperei um conto de fadas ou um homem maravilhoso e
perfeito. Se tem uma coisa que meu pai sempre me ensinou é que homens da
vida real não são perfeitos. Eles erram e erram muito. Podem até cometer
erros irreparáveis, aparentemente. E eu entendi. De tanto ele repetir, eu
entendi. E abracei isso. Nunca esperei perfeição de qualquer cara. Até
porque, nunca me vi pronta para um relacionamento mais sério.
Veja bem, existe um extremo entre ter sentimentos por um cara e querer
se relacionar com ele. Sim, eu só transo se houver sentimentos, mas não está
relacionado com afeição a longo prazo. Eu só não quero me sentir rejeitada
ou usada após o sexo. Soa muito ridículo, já que estou só transando e não
tenho o direito de exigir nada? Não sei. Pense como quiser. É o que penso e
os caras que estiveram comigo, levaram numa boa, sem qualquer frescura.
Entenderam que seria só troca de prazer, mas não como um usando o outro.
Parece complicado, mas deu muito certo para mim. E para eles.
A verdade, no entanto, é que eu sempre quis ter mais que afeição com o
Nicholas. Eu nem me importaria se ele não quisesse transar comigo, mas
ficaria mais feliz se ele se doasse a uma relação a longo prazo. Gostaria
muito. Imagina só, namorar Nicholas Morrison. Soa muito bem.
Seria espantoso para a maioria das pessoas, é claro, já que elas veem
nitidamente a minha raiva por ele. Eu as faço ver. É como dizem, as pessoas
só veem aquilo que querem ver. E é muito verdade. Mas Nicholas, não. Ele
não. Ele vê que eu o quero, e o fato de saber isso me deixa triste e feliz ao
mesmo tempo.
Triste porque ele sabe o que eu quero, mas não pareceu muito instigado
em investir nisso. E feliz porque ao menos sabe. Tenho uma parcela de
chance.
É claro que estou em um misto de preocupação e aflição com o que quer
que tenha acontecido com ele. Isso pareceu machuca-lo. Ele fala de uma
forma que lhe causa dor, eu pude sentir. E gostaria muito, muito de ajudar.
Gostaria de ser um baluarte para ele. Seria, sem nenhum problema. Mas
fiquei tomada de apreensão quando Nicholas confessou que, se eu soubesse,
iria mudar de opinião. O que pode ser tão grave?
— Amor…
Eu olho para baixo, deixando de pensar muito e o encontro com os olhos
brilhantes me analisando, sonolento e com a voz rouca. Uma delícia de ver.
— Oi — dou um sorriso e acaricio seu rosto com a mão que estava sobre
o peito dele enquanto dormia. — Bom dia, flor do dia.
Ele dá uma risada rouca, fechando os olhos por um instante.
— Não me diga que eu dormi por vinte e quatro horas — pede, abrindo
só um olho.
— Você dormiu por quase uma hora. Não foi muito.
Ele vira a cabeça, olhando a TV e fazendo uma careta, então volta a me
olhar.
— Ainda não acabou essa mentirada? — questiona.
— É bom, ok?
— É mesmo. Funcionou perfeitamente como um sonífero pra mim —
ele ri e vira de lado, inspirando contra minha barriga. — Posso dormir pra
sempre assim com você?
Eu me encho de prazer com a pergunta. Claro que pode. Deve, na
verdade. Eu adoraria. Muito.
— Hm, você sabe que não — respondo, tentando soar indiferente.
— Eu sei que não — ele concorda e o desapontamento bate no meu
peito.
Um pequeno silêncio se instala entre nós e eu de novo sou acatada por
pensamentos. Todos contraditórios e irracionais.
O que aconteceria se eu contasse a verdade? Se eu dissesse que sempre
fui interessada nele? O que poderia acontecer? Ou eu seria rejeitada ou seria
acolhida, não é? Eu não acho que Nicholas me rejeitaria. Não acho. E não
gostaria.
— Vamos pedir pizza?
Balanço a cabeça, voltando a olhar para ele, que tem a atenção vidrada
em mim.
— Vamos — concordo. — O que foi? — tento sorrir.
— Você ficou pensativa de novo — Nicholas se senta, então passa as
mãos nos cabelos, bagunçando-os. — Acho que não gosto de você pensativa
desse jeito.
— Não estou, não — nego. — Apenas estava prestando atenção no
filme.
— Desculpe por eu ter dormido — ele olha a tela. — É que realmente é
um pouco chato filme de romance.
— Tudo bem, sem problema — dou risada.
Ele não deveria se desculpar por ter dormido e sim por ter me atraído
tanto. Mas é realmente impossível não se sentir atraída por ele. Bem, pelo
menos, eu penso assim. E acho que ele não tem culpa. Acaba sendo natural.
— Posso escolher o próximo filme?
— Qual você vai querer? — pergunto, virando a cabeça para olhá-lo.
— Boneco do Mal.
— Boneco do Mal? — rio. — Por quê?
— Porque você vai ficar com medo e se agarrar em mim o filme inteiro
— ele sorri, um sorrisinho delicioso de se olhar.
— Ah, bem pensado. Me colocar para ver um filme de terror. Saiba que
você vai ter que dormir comigo também então — brinco. — Fico cheia de
medo.
— Eu tiro o seu medo — ele afirma, se aproximando de mim e puxando
minhas pernas, colocando-as no sofá. Então seu corpo cobre o meu e ele beija
meu pescoço. — Adoro o seu cheiro, lembra flores exóticas.
Inclino minha cabeça contra o contato de seus lábios e solto um suspiro,
minhas mãos indo imediatamente para as costas quentinhas dele. É tão bom.
— Posso mesmo dormir com você? — pergunta, um sussurro delicioso
contra meu ouvido.
— Pode, eu vou ligar para minha prima não vir.
Nicholas levanta a cabeça e sorri para mim.
— Você tá muito mansinha. Estou começando a ficar preocupado —
murmura.
Abro um sorriso envergonhado.
— Eu gosto de como estamos. Essa paz. Só nós — confesso.
Ele assente, inclinando um pouco a cabeça para o lado.
— Só nós... — repete, pensativo. — Eu vou fazer uma ligação e já volto.
— Tá — digo, não me sobrando mais nada quando vejo ele se colocar
de pé e sair rapidamente da sala.
Solto um suspiro longo e cansado.
Amar em segredo cansa... E cansa muito.
Capítulo 17

— Você parece redondamente chateada — Gabriel comenta. Estou


tentando não parecer uma menininha adolescente que foi deixada pelo
namoradinho, mas acho que estou falhando.
Acordei de madrugada e Nicholas não estava na cama. Procurei por ele,
e percebi que também não estava em casa. Por fim, voltei para meu quarto e
me agarrei aos travesseiros e somente de manhã, veja bem, de manhã, é que
ele me enviou uma mensagem. Uma simples mensagem. "Tive que sair, me
desculpe."
Isto nem é mensagem que se dê. Não depois que passamos o dia
juntos. A noite... Mas o bom foi que me lembrei de passar na farmácia e tive
que jogar todo meu charme em cima do farmacêutico para conseguir a pílula.
Bom porque eu realmente tinha me esquecido. E espero que não tenha sido
muito tarde. Um filho do Nicholas soa bem, mas só na minha cabeça.
— Estou redondamente bem — respondo, bem calma. — Por que você
está tão interessado no meu estado? Não tem uns trabalhos para se ocupar?
Ele sorri, relaxado. Gabriel é um safado, sem mais. Todos sabem disso,
e ele não faz questão de esconder.
— Como vai com o orçamento do Sr. Miles?
— Merda! — reclamo. — Eu me esqueci! Tenho um almoço com ele
hoje.
Meu amigo aumenta o sorriso, balançando a cabeça negativamente.
— Que coisa feia. Amber Mackenzie se esquecendo do trabalho. Estou
redondamente decepcionado.
— Seu rosto vai ficar redondamente estragado se você não calar a boca e
me dizer as horas — informo.
Ele ri e olha o relógio no pulso. Estou presa em um Livro Razão e não
posso me distrair muito.
— Onze e quarenta.
— Merda! — me levanto e as folhas caem do meu colo. — Merda,
merda — me abaixo para pegar.
— Eu hein — Gabriel resmunga. — Vai na fé, criatura. Eu pego isso aí
do chão pra você.
Eu me levanto rapidamente e corro até minha bolsa que está na mesa,
então puxo o vestido que subiu um pouco por eu estar sentada e saio correndo
para o elevador, gritando um "obrigada" para meu amigo no caminho.
Desmond Miles, simplesmente um dos caras que eu preciso raptar para
ser sócio da Silver. O cara é um empreendedor estupendo com prataria e
cristais. Ele tem que ser nosso. Já há um tempo meu pai colocou ele na minha
lista de objetivos e agora eu vou para ganhar.
Pego um táxi e digo o endereço. Abro a bolsa e tiro meu celular com o
objetivo de enviar uma mensagem a ele, mas sou atraída pelas mensagens
novas.

Nicholas: Eu realmente sinto muito. Você nunca saberá o quanto.


Estreito os olhos para as palavras escritas e releio um monte de
vezes. Nunca saberei o quanto? Mas é claro que saberei! Já estou sabendo,
na verdade. E acho muita, muita sacanagem da parte dele dizer isso.
Excluo a conversa e procuro o número do Sr. Miles. Não devo ocupar
meus pensamentos com Nicholas, tenho um futuro em jogo.

....

Estou tentando com todas as minhas forças não soar constrangida


enquanto tento, só tento mesmo, fazer com que o homem preste atenção e
entenda que estou aqui a trabalho e nada mais.
— Eu li sua forma de trabalhar, toda sua política de empresa e estou
completamente instigada a saber mais — falo, profissional, mas saudosa.
— Alguém já te disse que você tem os olhos mais lindos do mundo? —
pergunta.
Tento sorrir.
— Obrigada. Como eu disse, poderia me contar mais sobre sua
empresa?
Ele me olha por uns segundos, parecendo admirado, então suspira com
força.
— Você é bonita mesmo — fala.
— Senhor, eu realmente agradeço, mas estou aqui a trabalho.
Ele levanta as mãos, num gesto de quem entendeu.
— Bem, comecei a empresa simplesmente para dar continuidade ao
nome da família. Na verdade, eu era policial — responde, sem vontade.
Faço questão de demonstrar toda minha surpresa no olhar.
— Policial? — questiono.
— Sim, voltei a trabalhar agora de novo, que tenho meus próprios
funcionários na empresa. Tenho um sócio que arca com a maioria das coisas,
facilitando o meu lado. Só estou aqui porque decisões maiores partem de
mim — responde. — Você é muito bonita mesmo.
Balanço a cabeça, então estendo a mão.
— Agradeço seu tempo, mas já vi que o senhor não está interessado em
trabalho — digo, firme.
Ele olha para minha mão e sorri.
— Se tranquilize, eu tenho sim a intenção de fechar negócio com você.
Apenas me sinto admirado e desculpe se te intimidei. Não foi minha
intenção.
Recolho a mão e aceno, afirmativamente.
— Nossa política é igualmente muito rígida e bem elaborada como a
sua. Nós temos os melhores trabalhando conosco. Em todas as áreas.
Funcionamos como equipes, um independente do outro mas totalmente
unidos — olho bem para ele. — Gostaríamos de ajudar o senhor e sua
empresa a crescerem ainda mais, Sr. Miles.
Ele põe os braços sobre a mesa e se inclina para frente, abrindo um
sorriso.
— Querida, desde que coloquei os olhos em você, não precisava ter nem
dito nada. Me envie o contrato por e-mail e vou analisar.
Me esquivo para trás, completamente incomodada.
— Então meu trabalho aqui está feito — declaro, levantando da cadeira
e estendendo a mão para ele. — Foi um prazer fazer negócio com o senhor
Ele abre um sorriso, largo demais para o meu gosto, então estende a mão
e aperta a minha.
— Sem dúvidas o prazer foi meu por me presentear com sua beleza.
Tenha uma boa tarde.
— Igualmente — desconecto nosso contato e pego minha bolsa,
deixando o restaurante o mais rápido possível.
Minha mãe me alertou com relações a esses homens. Ela disse que
sempre tem dos safados e que visam não o trabalho, mas quem está nele. Ela
encontrou vários, mas disse nunca ter comentado com meu pai. Nem imagino
porquê.
Enfio a mão na bolsa para pegar meu celular que está tocando, enquanto
espero algum táxi passar. Pegar meu próprio carro ia demorar muito.
— Alô? — atendo sem verificar o número.
— Oi, Amber.
Solto um suspiro exaurido.
— O que você quer, Nicholas? — questiono, não me preocupando em
demonstrar minha impaciência.
— Você não me respondeu. Fiquei preocupado…
— Jura? Que bom. Fico muito feliz que tenha ficado preocupado —
ironizo. — Até porque eu sai no meio da madrugada, né? E sem avisar. Faz
muito sentido você estar preocupado, claro.
Ele dá um gemido de dor, me fazendo ficar estática e então alguns
segundos de silêncio.
— Nicholas? — chamo, preocupada de repente.
— Desculpe, eu tive que sair. Foi uma emergência. — Parece cansado.
— O que você tem? Adoeceu de novo?
— Não eu. Houve um… Acidente com alguém que conheço — explica,
pausadamente. — Eu tive que vir. Ainda nem consegui sair do hospital.
— É o seu pai? Alguém próximo a você?
— É alguém bem próximo a mim sim — ele suspira. — Só não... Tenha
ódio de mim pelo que fiz, por favor.
— Não poderia ter ódio de você, seu idiota — respiro fundo. Ódio
não. Muito pelo contrário. — Você vai ficar bem?
— Vou, só queria ouvir sua voz, me acalma muito.
Fecho os olhos, a confissão me fazendo estremecer.
— Ok, tenho que desligar. Melhoras para a pessoa próxima a você —
falo e desligo.
Uma grande vaca eu sou por ter soado tão indiferente. Eu poderia ter me
oferecido para ir até ele e ajudar de alguma forma. Mas, como sempre, eu
escondi a realidade, o meu desejo de estar com ele.
O táxi chega e eu entro, me dando conta de que talvez eu, na realidade,
não passe de uma covarde. Apenas isso. Uma tremenda covarde.
Capítulo 18

— Você já pode ir, Nicholas. Foi só um susto — Lilian murmura assim


que desligo o celular.
Eu me viro para ela, que está nitidamente perturbada. Edward, meu filho
mais velho, desceu para beber água e caiu da escada. Não foi nada grave, mas
me assustei. Não funciono bem com isso de acidentes. Principalmente por ser
meu filho. Lilian só me ligou porque é uma ordem explícita que eu seja
informado de tudo que acontece enquanto não estou presente.
— Ok — concordo e olho para o sofá da recepção, onde Emily e
Christian estão dormindo. — Vou dormir com eles hoje e você pode ir para
algum lugar, se quiser.
— Não seja bobo. Eu não conheço ninguém aqui — ela ri e acaricia meu
braço.
— Tudo bem. Você me liga qualquer coisa, por favor — peço, me
inclinando e deixando um beijo em seu rosto. — Até a noite.
Caminho até o sofá e dou um beijo em cada um dos meus filhos,
tomando o caminho da saída em seguida. Edward está sendo examinado, mas
logo vai ser liberado e eu já me despedi dele.
Amber deve estar me odiando, é claro. O pensamento me enche de
desapontamento porque justamente quando pensei estar conseguindo me
aproximar, tenho que tomar uma atitude dessas. A culpa não foi minha, no
entanto. Meus filhos vêm sempre em primeiro. Sempre.
Entro em meu carro e vou direto para a Silver. Já perdi um dia e meio de
trabalho, se Philip descobrir, posso perder a confiança dele, e essa é a última
coisa da qual preciso no momento.

Assim que chego ao corredor da diretoria, observo que a porta da sala da


Amber está aberta e ouço risinhos vindos de dentro. Do lado de fora dá para
para ver que ela está em um papo divertido com o amiguinho do refeitório. A
cena me magoa por dentro, porque eu queria falar com ela agora, que estou
precisando. Gostaria de ter Amber comigo e para mim.
Quando estou prestes a caminhar até minha sala, o olhar dela desvia e
para em mim, e ela parece bem séria de repente.
Eu não consigo dizer nada, então só dou um sorriso.
Ela levanta de repente, caminhando depressa e então sai da sala,
fechando a porta e ficando de frente para mim.
— Você… Tudo bem? — pergunta. — Você parece cansado.
— Estou — ponho as mãos nos bolsos da calça.
— Está bem ou cansado? — ela ergue uma sobrancelha.
— Ambos — balanço a cabeça.
Amber assente e dá um suspiro longo.
— Como é que está a pessoa que sofreu o acidente?
— Bem — desvio o olhar.
— Hm, que bom. Ah, o seu pai está na sua sala.
De repente minha atenção toda se volta para ela.
— O quê?
— O seu pai — explica, parecendo apreensiva de repente. — Eu o
encontrei te procurando quando voltei de uma reunião.
— Por que ele está me procurando?
Ela ri.
— Eu não sei, gato. Entra lá e pergunta você — gesticula para minha
sala.
— Droga — reclamo. — A gente se fala mais tarde?
— Claro. Tô louca para saber o que seu pai quer — ri de novo. — Boa
sorte.
Não sei se interpreto como uma ironia, mas tomo o caminho da minha
sala quando Amber volta para dentro da dela e me deixa sozinho no corredor.
Assim que entro, eu o vejo.
Sempre exalando seu ar autocrático. Dizem que pareço muito com meu
pai, mas mão acho isso, exceto pelos olhos, que são idênticos aos dele. O Sr.
Neil Morrison sempre foi temido. Menos por mim.
— Pai — o cumprimento, entrando e fechando a porta.
Ele se vira de onde está, ainda sentado no sofá de couro. Resolvo ficar
onde estou e apenas me encosto na porta, cruzando os braços e o encarando.
O velho continua não aparentando seus sessenta e tantos anos. Parece bem
menos.
— Nick — ele me olha de cima a baixo, balançando a cabeça de forma
afirmativa. — Não sabia que tinha voltado.
— Pois é, eu voltei. O que quer?
— Você sabe.
Respiro fundo e tento parecer inabalado.
— Não sei do que você tá falando — desdenho.
— Devo lembrar que, apesar de não gostar de mim, ainda sou o seu pai e
você me deve respeito. Se refira a mim como senhor. E, sim, você sabe do
que estou falando.
Eu fico em silêncio, porque realmente sei.
— Onde elas estão? — ele pergunta.
— Não perca seu tempo, senhor meu pai.
Ele levanta, ajeitando o terno, então caminha até mim, parecendo muito
poderoso. E ele é. O poder dele me dá medo, e não ele.
— Nick — usa o apelido que soa carinhoso, algo que ele deixou de ser
quando perdeu minha mãe. — Não está em minha mente e vontade te fazer
mal, você é o meu filho.
— E eles são meus — rebato.
— Não seja tolo! — ele cassoa, rindo. — Aquelas crianças não são suas.
E eu sugiro que você me diga onde elas estão para podermos resolver isso
enquanto é tempo e você não vá parar atrás das grades porque, eu juro por
Deus, você é meu filho e eu te amo, mas se isso acontecer, você vai inexistir
para mim. Não vou mover um dedo para fazer algo por você.
— E desde quando o senhor faz? — debocho. — Como tem coragem de
me dizer algo assim? Elas não merecem isso. Deixe que eu cuide delas e não
interfira. Eu nunca te pedi nada, pai. Nunca pedi ajuda ou dinheiro. Nada!
Então, faça o favor de já me considerar inexistente. É a única coisa que peço.
Ele balança a cabeça, aflito aparentemente. Seus olhos estão fixos nos
meus.
— Não é assim — me recrimina. — Acha que não me importo com
elas? Pelo amor de Deus, são meus netos! É claro que me importo. Mas isso
vai te prejudicar, e você sabe disso tão bem quanto eu ou não as mantinha
escondidas e com segurança na cola.
— Elas não estão escondidas — nego. — Estão seguras, é diferente.
Meu pai ri, passando as mãos no rosto, parecendo consternado.
— Eu quero o bem delas tanto quanto você, mas a sua decisão não foi a
melhor. Você sabe disso.
— Minha decisão não foi a melhor pai? — cassoo. — Fala sério. Eu não
preciso ouvir sua preocupação fingida — saio da porta e a abro. — Gostaria
que, por gentileza, o senhor deixasse a minha sala.
— Está me expulsando? — agora ele parece chocado. — O seu próprio
pai?
— Foi exatamente isso que o senhor fez comigo e a Lindsay. Nos
expulsou da sua vida. Estou retribuindo o favor de uma forma menos
dolorosa — gesticulo para o corredor. — Obrigado pela visita nem um pouco
agradável.
Ele ajeita o paletó e então assente, dando os passos que o levam para
fora da minha sala. Parando de repente, me lança um olhar sombrio.
— Depois não diga que não avisei — fala.
— Não direi — bato a porta e respiro fundo, tentando controlar o pavor
que essa visita me trouxe.
Eles são meus filhos sim e ninguém vai me dizer ao contrário.
Capítulo 19

— O que acham desse? — Amy pergunta, então dá uma rodada no


vestido preto rendado.
— Muito revelador — Bea responde, avaliando pensativa.
— Bea, eu sei que você é minha prima e eu te amo, e você é uma garota
apesar de não parecer, mas eu realmente não vou considerar sua opinião —
ela debate, abrindo um sorriso, então olha para mim. — O que você acha,
Amber?
— Acho que você deve sair da frente que eu tô tentando assistir Irmãos
à Obra — reclamo.
Minha prima bufa, exaurida.
— Você nem trabalha com construção!
— Mas eles são uns gatos e divertidos, e fazem umas casas lindas —
olho para ela. — Sai, por favor.
— Você é uma vaca, Amber! — resmunga, num grito. — É a porra de
um evento importante e você tá achando que eu estou de palhaçada? Falo
muito sério quando peço a opinião de vocês, caralho! — ela joga o vestido no
chão e sai do meu quarto.
Bea dá um assobio mas eu estou completamente com nenhum pouco de
saco para dar papo para minha prima mimada e histérica.
— Ela não é disso — Bea comenta. — Sabe, se irritar. Será que está
tudo bem com ela?
— Não sei, mas acho que não. As coisas não andam muito bem para
ninguém, na verdade — admito, num suspiro.
— O que houve com você? Parece que está chateada.
— Nada — dou de ombros, tentando fazer minha atenção ficar
concentrada na TV, mas a verdade é que estou com minha cabeça
nele. Nicholas. Ele está sem ir trabalhar há dois dias. Dois dias. Não quero
perturbar meu pai com isso, mas eu sei que ele vai estranhar se descobrir
depois e perceber que não avisei. O pior de tudo é que eu não faço ideia do
que pode ter acontecido. Não tenho coragem de ligar para ele. Vai parecer
que estou me importando — e estou —, mas não quero que ele saiba.
— Olha, eu preciso desabafar — minha prima diz, parecendo afligida.
Eu olho para ela, porque é realmente digno de atenção quando Bea fala que
precisar desabafar, porque isso nunca acontece. — Você lembra daquele cara
que a gente conheceu no aniversário de casamento do tio Michael?
— Não — nego, virando o corpo para ela, para ficar totalmente focada.
Bea e um cara na mesma frase. É surpreendente.
— Aquele — ela gesticula. — Que pareceu interessado em me perseguir
a noite toda.
Abro a boca, muito surpresa e imediatamente lembrando do cara.
— Lembro, lembro! — afirmo.
— Então — ela bufa e olha para a almofada que tem sobre o colo. —
Ele me… Bem, eu não contei a ninguém mas ele manteve contato comigo.
Um contato obrigatório, na verdade, porque eu o ignorava... O que importa é
que ele viajou por um tempo e está de volta agora e, bem, me convidou para
jantar. E eu não... — balança a cabeça e abana as mãos, parecendo nervosa.
— Eu não sei se devo aceitar. Estou tão confusa…
— É claro que você deve aceitar! — respondo, imediatamente, ainda
pega pela surpresa.
— Por que eu deveria? — ela me olha. — Eu… Droga, eu não deveria
ter aceitado manter contato.
— Por que não?
— Eu acho que… — ela morde o lábio. — Acho que gosto dele.
Meus olhos se arregalam, bem no mesmo instante que meu celular toca e
sou obrigada a atender, muito assustada com a revelação da minha prima.
Estendo a mão para a cama e obtenho o aparelho, o espanto mudando
imediatamente para ansiedade quando vejo o nome de Nicholas na tela.
— Alô? — atendo depressa, fazendo questão de demonstrar meu estado
preocupado.
— Oi, amor. Sou eu. — Caramba, ele parece exausto.
— É, eu sei, Nicholas. O que houve? Por que não está indo trabalhar?
Ele solta um suspiro abafado.
— Pelo mesmo motivo que preciso te ver. Será que tem como?
Um calor imediato sobe por meu corpo e eu viro para olhar minha
prima, que parece interessada na TV agora.
— Sim, mas onde? — questiono.
Ele passou dois dias fora, não pode estar bem. E quer me ver, o que é
bom, porque também quero vê—lo.
— Você sabe onde estou morando?
— Não.
— Vou mandar o endereço por mensagem e você pega um táxi, ok? Eu
iria te buscar, mas estou sem carro, deixei o meu na Silver.
— Estou preocupada com você — confesso, rapidamente. Muito
preocupada.
— Preciso ver você — ele sussurra.
— Me manda o endereço — peço e desligo o celular, já levantando e
indo buscar um casaco no closet.
— Vai sair? — Bea pergunta.
— Sim — grito de dentro.
— Está tarde, quer carona?
— Não, quero que você durma aqui e cuide da casa para mim. Pode
fazer isso? — volto, colocando o casaco.
— Posso, eu acho. Tudo bem? Quem era?
— É importante e é tudo que você precisa saber. — Pego meu celular e
ponho no bolso do short, então deixo o quarto, saindo o mais rápido de casa.
Espero que a mensagem dele não demore a chegar.

....

Eu me vejo em frente a um prédio requintado. Assim que chego à entrada,


a porta de vidro se abre e eu entro no hall de recepção, o concierge atrás da
mesa de mogno me olhando imediatamente e abrindo um sorriso.
— Boa noite, senhorita. Vejo visitar alguém? — pergunta, cortês.
— Sim, o Sr. Morrison. — Estou ofegante de ter subido os degraus da
entrada correndo, mas mais ainda por estar preocupada.
— Vou avisá—lo.
— Não é preciso — eu ouço e me viro, olhando para o lado e vendo
Nicholas aparecer em minha visão somente com uma calça moletom, todo
descabelado. Ele abre os braços, convidativo. — Vem aqui me dar um
abraço, amor.
Eu não sei exatamente por que, mas vou, depressa. Envolvo meus braços
em sua cintura e me agarro a ele, fechando os olhos e inspirando no peito
dele o cheiro bom e natural de sua pele.
Nicholas me abraça de volta, uma mão em minha cintura e outra em
minha cabeça.
— Você está bem? — questiono, minha voz sussurrada pelo conforto.
— Dorme aqui comigo — ele ignora minha pergunta. — Só essa noite.
Por favor.
Eu me afasto, buscando o olhar dele.
— O que você tem mesmo, Nicholas? — pergunto, novamente. — Estou
ficando preocupada.
Ele olha além de mim e faz um aceno para o concierge, segurando
minha mão em seguida e me puxando para caminharmos até o elevador. Uma
vez lá dentro, aperta o botão de seu andar e não me olha. Não até o elevador
reabrir as portas e Nicholas me levar até uma das portas no fim do corredor.
Eu entro e ele também, virando somente para trancá—la, seus olhos
voltando para mim novamente assim que cumpre sua tarefa. Me perco um
pouco quando ele avança em minha direção, seu desespero sendo quase
palpável.
Me desequilibro quando ele segura meu rosto com as duas mãos, sua
boca colidindo imediatamente contra a minha e roubando meu fôlego.
Solto um gemido baixo, ao mesmo tempo que Nicholas me faz caminhar
para trás, suas mãos agora me amparando pela cintura. Logo sinto algo contra
minhas panturrilhas e caio sentada em um lugar que imagino ser um sofá.
Mas não sou permitida analisar, já que Nicholas agora corre sua língua
quente por dentro da minha boca, me deixando incapaz de fazer qualquer
coisa, a não ser aceitar.
Consigo levantar as mãos e tocar seus cabelos, me deliciando por eles
estarem um pouco maiores do que me lembro, em um tamanho perfeito.
Ele geme em minha boca, suas mãos descendo para baixo e procurando
o zíper do meu short. Nicholas parece desesperado, o que é bom, porque
também estou e faço questão de demonstrar o quanto quando eu mesma
abaixo as mãos para abrir a peça de roupa e tirá-la rapidamente, juntamente
com a calcinha.
Ele parece um pouco surpreso pela minha atitude um tanto inesperada,
mas eu o puxo de volta para mim, precisando do calor dos lábios e corpo
dele.
Se antes já era difícil lidar com Nicholas, quanto mais agora que nós
transamos. Como já expliquei, para mim sexo e sentimento tem que estar
ligados mas não significa nada a longo prazo; no entanto, com ele é
totalmente diferente. Eu o quero porque gosto dele. O desejo sexual é
completamente sentimental também. A merda de uma confusão na minha
mente que só piora o meu estado, me deixando mais irritada e louca.
Ele se afasta, me fazendo abrir os olhos, então o observo abrir meu
casaco. Me desencosto do sofá para tirar, e logo puxo a blusa pela cabeça,
soltando um suspiro engasgado quando Nicholas imediatamente cobre um
dos meus seios com a boca, sua mão partindo para o outro e apertando.
Parecemos realmente dois desesperados, e estamos. Eu pelos meus
motivos e Nicholas pelos dele, que não sei quais são, mas não quero pensar
agora.
Seus lábios brincam com meus seios por um tempo e eu relaxo sobre o
sofá, enterrando a mãos por entre os cabelos dele.
Ele desce, beijando minha barriga e ajeitando uma posição sobre os
joelhos, então separa minha pernas. Seu olhar se volta para mim um instante
e ele parece aflito e triste. Mas, quando ameaço me inclinar para frente,
querendo abraça-lo, ele abaixa a cabeça e imediatamente coloca a boca sobre
mim.
Dou um grito pela surpresa da ação e Nicholas responde com um
gemido. Rouco e grave. Estou internamente pegando fogo.
Ele acaricia meu sexo com lambidas rápidas e famintas, o que me faz
remexer sobre o sofá. Nicholas tem uns lábios maravilhosos e perfeitos, que
trabalham muito bem.
Rebolo contra sua boca, minha cabeça caindo para trás e meus olhos se
fechando, a sensação do orgasmo se instalando em mim e sendo uma das
melhores coisas que aconteceram nos últimos dias.
Sinto uma mordida no interior da minha coxa e solto um gemido alto ao
sentir os dedos dele me invadirem calmamente, cada centímetro sendo uma
tortura.
Abro os olhos, querendo vê-lo e pedir que se apresse, eu não sou
paciente. Em nenhum termo.
Nicholas me olha, seus dedos ganhando espaço dentro de mim e logo
saindo, somente para voltar novamente; o ritmo do vaivém controlado me
fazendo começar a gemer, desesperada. Mais ainda.
Ele me observa, não transparecendo nada mais, apenas me olhando, me
estudando, como uma avaliação.
Eu posso suportar o Nicholas de qualquer jeito, o brincalhão, o chato, o
simpático, o educado e o idiota, mas não esse, que me observa enquanto
compartilha um ato tão íntimo comigo. Esse olhar está dentro de mim, me
penetrando — não foi uma piada e nem um trocadilho.
Eu me remexo, agoniada.
— Mais rápido — peço.
Ele não me responde e nem esbanja qualquer reação de que vai fazer o
que pedi.
Solto o ar, não conseguindo manter a respiração constante.
Nicholas tem dedos enormes e que vão até onde os meus não poderiam
ir nunca. Toda essa pose dele masculina, me observando, enquanto os tem
dentro de mim, é demais para suportar.
— Por favor — apelo. — Por favor.
Ele assente, se inclinando para frente e envolvendo um dos meus
mamilos hipersensíveis com os lábios e sugando, ao mesmo tempo que seus
dedos começam a entrar e sair de dentro de mim com força gradativa.
Estou em instantes gemendo como louca, a sensação sendo maravilhosa
demais. Fecho os olhos, o calor delicioso tomando conta de mim e me
deixando cada vez mais perto do ápice.
Nicholas muda a boca para o outro seio e morde de levinho, sendo tudo
que eu preciso para cair no abismo de prazer. O orgasmo me atinge em cada
pedaço flamejante do meu corpo e solto um grito, que é contido pelos lábios
dele, que me faz gemer, enquanto começo a tremer com seus dedos ainda se
movendo impetuosos dentro de mim. Estou flutuando.
Ele me beija por um tempo, seus lábios acariciando os meus, até eu
achar que posso dormir.
Mas então sou inteiramente desperta quando ele tira os dedos de dentro
de mim, meu corpo agarrando—o imediatamente.
Ele solta um grunhido que me deixa toda arrepiada e se levanta,
abaixando a calça e me fazendo salivar com seu amiguinho delicioso.
Estendo a mão para segurar, mas ele desvia e senta ao meu lado. É
estranho porque, sei que nós não tivemos muitas vezes juntos, porém ele não
me parece o tipo de cara que fica calado durante o sexo. Não mesmo. E é
exatamente o que está acontecendo. Nicholas está calado. Isso não me soa
nada bem.
Suas mãos vêm para minha cintura e ele me induz a ir para seu colo. Eu
vou, porque estou aflita e desesperada.
Sento em suas pernas e agarro seu pau com as duas mãos, ouvindo ele
gemer. Então sou incapaz de esperar.
Me levanto um pouco e o encaixo em mim. Estou sendo corajosa em
arriscar transar com ele sem usar camisinha. Jamais fiz isso. Claro que não.
Mas com Nicholas é completamente diferente. Um outro extremo. Meu
cérebro entra em parafuso.
Eu me abaixo sobre ele, todo seu tamanho e grossura me esquentando
ainda mais por dentro e me causando uma sensação deliciosa, que só me resta
fechar os olhos e aproveitar.
Meu corpo age involuntariamente quando começo a subir devagar e
descer rápido, o prazer aumentando a cada segundo. As mãos de Nicholas
logo estão em minha cintura, me ajudando nos movimentos.
Posso sentir ele todinho dentro de mim, cada pulsação dele e toda
grossura. É muito bom, e só posso aproveitar.
O suor começa a surgir em minha pele, minha mente já não parece mais
tão centrada e eu já não consigo pensar, somente sentir. Sentir tudo isso, que
é maravilhoso.
— Nicholas! — grito, sem qualquer motivo específico e sem entender o
porquê. O nome simplesmente saiu da minha boca.
Me vejo tomada de alívio quando sinto seus dedos em meu clitóris e sei
que era o que eu precisava. Me apoio em seus braços e aumento a velocidade,
subindo e descendo freneticamente, sentindo ele inchar dentro de mim.
Outro orgasmo me encontra, me fazendo gritar alto e remexer como
louca. Ouço Nicholas balbuciar qualquer coisa e então parar meus
movimentos sobre ele, meu corpo inteiro tremendo quando me faz rebolar em
seu pau e me sinto ser preenchida, meu corpo drenando o dele e nos tirando
todo fôlego.
Eu caio para frente, minha cabeça em seu ombro, e então sou incapaz de
pensar em formular alguma palavra. Só fecho os olhos e tenho a impressão de
ter ouvido o que eu sempre quis, quando Nicholas fala, um sussurro
praticamente.
— Eu te amo, Amber.
Mas foi só impressão, porque minha mente me leva imediatamente para
outro lugar.
Capítulo 20

Desperto e imediatamente percebo que não sei por quanto tempo dormi.
Mas eu dormi, sei disso. Me remexo onde estou, deitada em uma cama
confortável.
Ouço um ruído e me viro para o outro lado, vendo a sombra de Nicholas
se mover enquanto coloca uma jaqueta. Está escuro, mas consigo ver. Estou
tão bem e relaxada, mas quero muito saber o que aconteceu com ele nos
últimos dias.
— Aonde vai? — pergunto, minha voz grave pelo sono.
Ele se vira rapidamente, então passa as mãos no cabelo e caminha até
onde estou, sentando na beirada da cama. Seus dedos rapidamente encontram
meu rosto, me acariciando, e Nicholas se inclina, deixando um beijo em
minha bochecha.
— Preciso sair — responde. — Não achei que você fosse acordar.
— Queria sair escondido, é? — dou um sorriso, mas ele não parece
achar graça, quando seu semblante permanece sério e triste.
— Volte a dormir, ainda é tarde — ele pede e me dá mais um beijo no
rosto. — Nos vemos em breve.
— Não vai demorar, não é?
— Espero que não — suspira. — Não me espere acordada.
Eu assinto e fecho os olhos, fingindo obedecer.
Até parece que vou acreditar nessa ladainha. Ele está saindo de
madrugada pela segunda vez em que passa a noite comigo. Vou descobrir
onde está precisando ir ou eu não me chamo Amber Mackenzie.
Ouço mais alguns ruídos, barulhos e então a porta se fechando. Abro um
só olho e, confirmando que ele já saiu, levanto depressa e espero uns minutos
até reabrir a porta, bem no instante em que Nicholas fecha a da sala principal.
Corro até o centro, onde está o sofá e vejo minhas roupas devidamente
dobradas em cima. Não tenho tempo de pensar no gesto admirável de
organização. Me visto depressa, passando as mãos nos cabelos quando
termino e apanho meu celular de cima da mesa, guardando no bolso e saindo
apressada.
Quando chego ao hall, o concierge imediatamente nota minha presença e
parece um pouco assustado com meu grau de desespero, porque corro até a
mesa de mogno e me debruço sobre ela.
— O Nicholas — falo, depressa. — O senhor viu para que lado ele foi?
O senhor balança a cabeça, meio alienado.
— Ele não disse, só meu pediu para lhe entregar isto quando a senhorita
passasse.
Eu olho para a mão dele, vendo a porcaria de um papel dobrado, mas
não tenho tempo de processar nada. Seguro e guardo no bolso, então saio
depressa, indo para a calçada do outro lado buscar meu carro.
Sei que ele pediu para eu não vir de carro, mas desde quando eu obedeço
estritamente pedidos vindo de homens? Meu pai que o diga.
Saio do meio-fio, manobrando o veículo lentamente, olhando para os
dois lados, aflita por não poder perder ele. Nicholas não está bem, isso eu sei.
Pode ter algo a ver com o pai, já que ele está sem ir trabalhar desde que o viu.
Eu o encontro então, parado na calçada perto do prédio, e no mesmo
instante em que ele dá sinal e um táxi para. Freio no meio da rua larga,
aguardando o automóvel sair na frente. Assim que isso acontece, eu vou
atrás. Discreta, claro. Ele conhece meu carro, se perceber que o estou
seguindo, pode ficar chateado. Não que eu me importe com a chateação dele,
mas apenas quero me manter na minha.
Nicholas não parece o tipo de pessoa que fica triste por qualquer coisa.
Ele pode pensar que sou uma intrometida quando, na verdade, só quero ser
prestativa e ajudar. Não há nada demais nisso. Não estou tentando me
convencer de que o que estou fazendo não é errado, estou apenas
esclarecendo os pontos que me levaram a tomar uma atitude assim. Seguir
um cara pela madrugada.

É um caminho longo, mas o táxi finalmente estaciona em uma estrada


com casas afastadas. Nunca tinha vindo por esses lados e parece quase
assombroso demais. Está escuro e frio, e as casas são aparentemente velhas e
desgastadas.
Fico um pouco para trás, estacionando atrás de uma árvore, então desço
do carro, colocando as mãos nos bolsos do casaco e me aproximando aos
poucos.
Nicholas sai do táxi e começa a subir uma série de degraus, que levam à
uma casa enorme e muito velha, toda pintada de cinza por fora. É horrorosa.
Eu observo o carro amarelo se afastar, então aguardo Nicholas entrar e só
então movo meus pés para o outro lado.
Subo também os degraus, sendo recebida por um quintal que está meio
largado. É quase como se quem vive aqui quisesse que não pareça morar
ninguém. Talvez não more, aliás. Mas o que Nicholas estaria fazendo aqui se
a casa é desabitada? Não faz sentido.
E é exatamente essa lógica sem nexo que me faz caminhar por sobre os
matos com folhas secas e seguir o caminho de areia, que dá para uma porta
azul e antiga.
Estou quase com medo, é muito estranho esse cenário.
Me viro, vendo a estrada escura para trás, muito escura com todas as
árvores e as folhas se mexendo pelo vento frio, então dou um suspiro.
Penso um pouco antes de – por adrenalina, curiosidade ou total medo de
ficar sozinha ali –, levantar a mão e bater na porta. Uma, duas e três vezes,
toques rápidos e agonizantes contra a madeira dura e que projeta um ruído
quebradiço.
Não estou pensando direito quando recolho a mão por ouvir o som da
maçaneta e então a porta se abre. Não sei realmente o que interpretar quando
Nicholas aparece em minha visão, segurando uma menininha no colo.
Ele parece imediatamente atônito por me ver e eu estou no mesmo
estado, mas por não saber o que dizer. Eu que o segui, deveria me desculpar?
Mas, bem, estou aflita demais por perguntar o que ele está fazendo no meio
do nada, em uma casa horrorosa, com uma criança nos braços.
Mas minha ideia é rapidamente dissipada quando uma vozinha baixa e
fofa faz uma pergunta que me tira de qualquer transe e me faz estagnar.
— Quem é ela, papai?
Olho para baixo, vendo dois meninos pequenos ao lado dele.
Papai? Papai.
Quase dou risada.
Meu Deus. Papai.
Ok. Eu esperava tudo, menos ouvir isso.
Meus olhos voltam para Nicholas, que parece em estado caótico,
nitidamente não sabendo o que fazer.
Começo a retroceder os passos, meus olhos intercalando entre ele e as
crianças, todas com aparente idades próximas. Vou recuando, minha cabeça
balançando em negação involuntariamente.
Papai.
Me viro e começo a andar depressa, alcançando os degraus e descendo
correndo.
Nicholas é pai, pelo amor de Deus! Alguém esperava algo tão louco? Eu
estou apaixonada por um cara que já tem três filhos. Não um ou dois, mas
três! Três crianças pequenas. É muita coisa para assimilar.
Eu corro até onde estacionei meu carro e entro, trancando a porta
depressa e descansando a cabeça no volante.
Tento controlar a respiração errática, mas é completamente impossível.
Era por isso que ele estava triste, porque tinha esse segredo. Meu Deus,
como ele pôde esconder algo assim? Ninguém sequer imagina que Nicholas
Morrison é pai. Ele nem tem jeito de pai! Eu poderia morrer hoje e nunca
desconfiaria de algo assim.
Dou um pulo no banco quando ouço a batida forte na janela ao meu
lado.
Ele está em pé, parecendo desesperado enquanto sua boca projeta
algumas palavras, mas não consigo ouvir, estou impossibilitada.
Com as mãos trêmulas, levo minha mão à chave de ignição e ligo o
carro. Nicholas bate mais veemente no vidro, agora histérico. Mas não me
culpo, é uma notícia bombástica. Estou em pedaços em imaginar que o
homem que eu amo já tem uma família, e não é comigo.
Piso no acelerador, ouvindo uma última batida no vidro, então começo a
dirigir, dando a volta no carro e fazendo o caminho que vai me tirar de perto
de Nicholas e de seus três filhos.
Capítulo 21

Não sei bem como, mas consigo estacionar meu carro na garagem e,
desesperadamente, enfio a mão no bolso do short, obtendo o papel que o
concierge me deu. Estou abalada. O que ele terá escrito?
Desdobro o papel com as mãos trêmulas.

Precisei sair por tempo indeterminado, peço desculpas. Você não vai
me
encontrar quando acordar ou quando for trabalhar. Não me espere.
Tem algo
mais importante pra mim do que impressionar o seu pai. Lamento
muito, você
nunca saberá o quanto.
Adeus, amor.

— Adeus? — grito, sozinha, histérica no banco. — Adeus seu filho da


mãe? Desgraçado!
Saio do carro, indo imediatamente para a porta na lateral da garagem
que vai me levar para dentro de casa. Grande ideia deixar minha prima aqui,
nem a porcaria da porta ela trancou.
Subo os degraus depressa, atravessando o corredor e seguindo para meu
quarto.
Minha cama está ocupada por Bea, que dorme toda esparramada e com a
boca aberta. Eu tiraria uma foto para rir dela depois, mas estou em pedaços
miúdos e esmigalhados. Meu coração está acelerado de tal forma que sinto
medo.
Nicholas não brincou quando falou que era acostumado a banhar os
filhos. Filhos esses que eu achei ser uma brincadeirinha. Iludida eu. Era tudo
verdade. Três filhos. Três!
Eu não estou sabendo digerir isso.
Começo a caminha pelo quarto, aflita, sem saber bem o que fazer. Não
sei, na verdade. O que eu posso fazer a não ser lamentar profundamente?
Um barulho alto chama minha atenção e eu me viro para a porta, vendo
Amy jogar os saltos no chão. Ela acabou de chegar também, aparentemente
de uma noite agitada. Seu olhar se volta para mim e ela parece imediatamente
preocupada.
— O que houve, Amber? — pergunta, caminhando até mim e segurando
meus ombros. — Você está pálida. O que houve? — me sacode. — Está
doente?
— Nicholas tem três filhos — consigo responder. O que mais eu poderia
dizer? É a verdade. E também a única coisa que passa e repassa por minha
mente.
Minha prima balança a cabeça, parecendo desentendida, então arregala
os olhos, seu semblante demonstrando um pouco do estado em que estou.
— Três? — indaga, dando um passo para trás.
— Três! — levo as mãos ao rosto, destroçada. — Estou tão… Abalada.
Eu… Que droga. Por que ele não me disse?
— Olha… — ela solta um risinho, seguido de um assobio. — Não é a
melhor revelação a fazer para a garota que se está comendo. Imagina, eu
tenho três filhos mas vamos trepar mesmo assim.
Ignoro a grosseria dela porque sei que realmente é verdade. Se ele
tivesse me dito, eu jamais teria deixado me tocar. Não por nada, mas porque
soa completamente estranho que Nicholas seja pai. Desde quando? Aquelas
crianças não aparentavam ter menos de sete anos. Ele é pai desde os vinte?
Quando trabalhou a primeira vez comigo já era então? Meu Deus. Eu não sei
o que pensar.
— Ele não é casado, é? — Amy questiona. — Porque, se for, eu te ajudo
a matar ele.
Tiro as mãos do rosto, olhando para ela, que sei que está tentando
descontrair o clima tenso, como sempre. Mas não funcionou. Sei que ele não
é casado. Ele não é do tipo que casa. Mas também não parecia do tipo pai, e
é. Minha nossa, e se ele for casado também?
Eu me sento sobre o tapete felpudo do meu quarto, incapaz de raciocinar
logicamente.
— Amber, não fica assim — Amy senta à minha frente, parecendo triste.
— Vocês conversaram? Como você descobriu?
Balanço a cabeça.
— Eu fui até ele e o segui, então ele abriu a porta com uma garotinha no
colo e dois meninos pequenos e um deles o chamou de papai. Eu fiquei tão
confusa que — passo as mãos no rosto, minha explicação não fazendo
nenhum sentido para mim mesma — só saí de lá.
— Ele não tentou falar com você? — parece surpresa.
— Sim, mas… Eu não consegui. Fiquei abalada e chateada. Por que
esconder? Por que não falar?
— Porque três filhos não são para qualquer um — ela ri. — Além do
mais, ele é o Nicholas Morrison, Amber. Não podia simplesmente achar que
ia dizer isso e todo mundo ia aceitar numa boa. Imagina como iam julgar ele?
Principalmente você.
— Claro que sim! — esbravejo. — Como ter outra reação? É
impossível!
— Bem — ela encolhe os ombros. — Então não o culpe. Ele só foi
cauteloso e se protegeu.
— Se protegeu… — dou um riso, sem graça, então me lembro
imediatamente. Proteção. — Merda, você tem alguma pílula aí?
Amy balança a cabeça, então parece surpresa.
— Você transou com ele sem proteção? — questiona. — Está querendo
dar o quarto filho a ele, sua louca?
— Tem ou não? — grito, impaciente.
Ela faz um som de reprovação e se levanta, caminhando até a bolsa
caída junto aos saltos perto da porta.
— Você pode até transar, mas nunca esqueça de se prevenir. Pelo amor,
é a regra básica — ela volta até mim e me estende uma cartelinha de
comprimidos. — Não cometa o mesmo erro de novo. Eu me previno de todas
as formas possíveis, não tô louca de pôr um filho de qualquer idiota no
mundo.
— Obrigada — pego da mão dela. Foi a segunda vez que isso aconteceu
e espero ter dado certo o último comprimido. Também não quero ter a honra
de pôr o quarto filho de Nicholas no mundo.
— Vai logo tomar! — ela me repreende. — O prazo é de 72 horas mas
eu tenho certeza que o bebê já pode tá se formando nesse meio tempo e aí já
era, sua irresponsável.
Eu me levanto depressa, caminhando para sair do quarto e ir à cozinha.
— Amber — me chama e eu me viro para olhá-la. — Você vai ligar
para ele?
— Claro que não. Pra que eu ligaria?
— Para pedir uma explicação.
— Não é da minha conta — desdenho.
— Acho que é sim. Você sabe, não parece que você realmente acha o
que está dizendo.
— Vou demorar para superar o que descobri. Só preciso… — respiro
fundo. — De água, no momento.
Ela assente e então eu saio do quarto.
Claro que é da minha conta. Eu sou apaixonada por ele há anos, é muito
da minha conta. Mas ninguém precisa saber disso. Ninguém.
Capítulo 22

— Ô garota, por que você não está pulando nesse momento? — Gabriel
pergunta. — Você acabou de fechar um grande negócio. Vamos comemorar.
— Eu não fechei nada — bufo. — O cara ficou dando em cima de mim
o tempo inteiro. Ainda me chantageou por seis meses!
Ele ri.
— Bem, não pode culpa-lo. Afinal, você tem os olhos mais lindos do
mundo — fala, rindo de mim, repetindo a frase que o tal Desmond ficou
falando o tempo inteiro.
Está certo, eu não vou mentir, o cara é bonito. Tem lá os seus trinta e
tantos anos, mas é bonito, e é policial. Mas, não, minha mente e coração são
destinados a outro. A ele.
Nicholas. Sei que parece completamente insano de eu admitir isso
quando, na verdade, não sei nada dele há exatos seis meses. É, seis. O dobro
de três, que é a quantidade de filhos que ele tem.
Não vou negar, ter ficado cinco anos sem ele por perto já foi
desgastante. Aí ele voltou, e nós transamos, duas vezes, então ele foi embora.
De novo. Deixando para trás uma notícia catastrófica e também o meu
coração dilacerado. É caótico.
— Vamos lá, se anima — Gabriel insiste. — Você quer um chocolate?
Eu posso ir comprar um.
— Não, eu só quero que você cale a merda da boca.
— Que isso, Amber? — ouço a voz do meu pai e o vejo entrar na minha
e caminhar até minha mesa, sentando na poltrona ao lado da do meu amigo.
— Tá parecendo até a língua afiada da sua mãe. Isso não é jeito de falar com
os outros.
Respiro fundo, simplesmente para não dizer o que não devo.
— Peça desculpas.
— Oi? — indago.
— Peça desculpas ao Dempsey — meu pai repete.
— Fala sério, pai! — rio, incrédula.
— Não estou brincando.
— Que merda — reclamo e olho meu amigo. — Desculpa.
Gabriel abaixa a cabeça para rir.
— Poderia me dar um instante a sós com a minha filha, por gentileza?
— meu pai questiona e ele rapidamente se põe de pé, assentindo, então deixa
minha sala num piscar de olhos. — O que está havendo com você?
— Comigo? — pergunto e ele afirma, seus olhos verdes brilhando pela
luz que entra pelas janelas. — Nada, pai.
Ele balança a cabeça, muito sério.
— Vou perguntar de novo, porque você pode não ter entendido ou eu
perguntei baixo. O que está havendo com você?
— Nada, pai — repito. — Por que o senhor acha que está havendo algo?
— Porque eu não sou cego. E porque sua mãe me disse — um sorrisinho
ameaça surgir nos lábios dele. Claro, minha mãe. Meu pai é incapaz de notar
diferença em alguém.
— Estou ótima.
— Não perguntei como você está, perguntei o que está havendo. E não
tenta me fazer de otário, Amber, eu tenho cinquenta anos e não dez.
Me remexo, incomodada. Pode parecer palhaçada minha, mas ainda
tenho medo quando ele usa esse tom de voz.
— Eu... — apoio as mãos sobre a mesa, incerta de como falar. — Eu
acho que... Posso perguntar uma coisa?
Ele assente, cruzando os braços e me olhando bem sério.
— Eu tenho uma amiga — começo, minhas mãos também começando a
gesticular. — Ela é apaixonada por um cara, sempre foi. Aí ela descobriu que
ele tem três filhos, e o pior é que não contou para ela.
Meu pai estreita os olhos.
— Se ele não contou, como é que ela sabe?
— Ela viu, seguiu ele — respiro fundo. — Mas ela o ama e isso de saber
sobre os filhos acabou com ela. E depois o cara foi embora e ela não o vê
desde muito tempo. O que ela deve fazer?
Ele me encara por uns segundos, então estica as pernas, parecendo
pensativo.
— Primeiro que sua amiga está errada por ter seguido ele, já começo por
aí — aponta para mim. — Segundo, há a possibilidade de ele não ter contado
com medo da reação dela. Você disse que saber sobre os filhos acabou com
ela, pois foi exatamente isso que ele queria evitar.
— Mas pai, ele poderia ter contado! — protesto.
Meu pai estende a mão, me calando.
— Ele poderia, mas ficou com medo. Imagina sua amiga — dá um
risinho, e não entendo por quê —, se ela tivesse três filhos e tivesse que
contar para um cara? Principalmente um que a ama? Não ia ser a melhor das
notícias.
— Não é a mesma coisa, pai.
— Por quê? Por que ele é homem?
— Não! Por que ele escondeu! Poxa, ele disse que a amava depois de
um sexo intenso e faz algo assim? — Calo a boca imediatamente ao perceber
a besteira que falei.
Meu pai inclina a cabeça para o lado, estreitando os olhos, então parece
bem atento.
— Quer dizer... — me apresso em corrigir. — Ela acha que ouviu isso.
Pode ter sido o calor do momento.
— Não seja idiota, Amber — ele ri. — Homem fala qualquer merda
durante o sexo, pode até dizer que ama, mas não depois dele. O que sai
depois do alívio é o que vale. Se ele disse que ama, ele ama.
— Como saber se não foi ilusão?
— Só se sua amiga for esquizofrênica e ouvir coisas. Ela é?
— Não — dou um sorriso. — O que ela deve fazer?
— Sério que você está me perguntando isso? Tá óbvio, Amber. Ir atrás
do cara ou ligar, e pedir uma explicação. Ele provavelmente achou que
perdeu qualquer chance com ela.
Abaixo a cabeça, concordando. Ele deve achar mesmo.
— Mas pai — o olho novamente. — São três crianças pequenas. Ela
teria que ficar com os filhos dele também?
— Bem, é uma questão muito óbvia. Se ela quer o cara, ela também quer
a bagagem que vem com ele.
Solto um suspiro.
— Ela não está preparada para ser mãe — confesso.
— Sua mãe também não estava e teve logo dois — ele ri. — Levei
muito tapa e ouvi muitos gritos, e recebi pragas e xingamentos, ameaça de
divórcio e tudo de ruim que você possa imaginar — seu sorriso aumenta. —
Mas isso tudo foi maravilhoso. Na época, parecia um pouco desgastante, e
foi. Mas o amor é isso, Amber. Amar não é um sentimento, e sim uma
escolha. Eu escolho amar sua mãe todo dia porque eu quero, e não porque ela
merece ou não. Às vezes acontecem coisas ruins, péssimas, situações... Mas,
vida que segue, tudo se supera. Sua mãe ficou um pouco traumatizada por ter
tido dois filhos crescendo de uma vez, mas eu não. Por mim teria tido mais
dois. Mas ela sempre ameaça me capar quando comento isso.
Dou risada, sendo acompanhada pelo sorriso dele.
— Falo sério, filha — continua. — Se sua amiga ama o cara, devia
pensar nele como pai, que pelo visto cuida das crianças sozinho e não deve
ser nenhum pouco fácil para ele. Vai que é viúvo e ainda sofre por ter perdido
a esposa, então resolve abrir o coração para outra mulher e ela o deixa... Não
parece fácil.
Eu assinto.
— Obrigada, pai. Vou falar com ela.
Ele ri.
— Isso, fala com ela — levanta, ajeitando a gravata. — Ah, eu só queria
dizer que eu dei meu consentimento ao Desmond para te levar para jantar.
— É o quê? — me levanto, estagnada.
Meu pai sorri.
— Ele me disse que você estava com medo de me pedir. Não se
preocupe, ele vai manter a palavra dele ou é um homem morto, você sabe.
Balanço a cabeça.
— Mas eu não... — tento explicar, mas ele ergue a mão, me fazendo
calar a boca.
— Só não... — gesticula. — Não quero ser avô logo, por favor. Tô
muito novo para isso.
— Pai, eu não...
Ele tampa os ouvidos e sai andando, abrindo a porta e deixando minha
sala rapidamente.
Maldito Desmond que não desiste. Preciso cancelar isso e dar um jeito
de entrar em contato com Nicholas, que sumiu.
Capítulo 23

— Papai, por que você tá triste? — Edward pergunta. Eu olho para ele em
meu colo, enquanto assistimos algum desenho muito idiota sobre carros
animados em 3D.
— Não estou triste, filho. Só com sono.
— Eu também acho que está triste — Lilian concorda, no sofá ao outro
lado da sala.
Eu me viro para ela, pedindo em silêncio que não dê corda a ele.
Christian está dormindo ao meu lado e Emily no colo da babá. Seria um
momento perfeito, se não fosse por tudo que aconteceu.
No dia seguinte ao que meu pai veio me visitar, eu preferi sair de perto
dele novamente. Não por nada, apenas porque suspeitei que alguém estava
começando a me seguir. Foi quase um extinto. Se não estava, ia começar.
Porque Neil Morrison não sossega até ter o que quer. Então não voltei para a
casa das crianças, apenas liguei para Lilian e pedi para ela arrumar as coisas
deles. Foi completamente uma atitude de ímpeto, mas eu precisava protege-
los. É o meu dever.
Levei dois dias providenciando tudo. Desde a casa até os documentos, o
que me levou ao cansaço extremo. É complicado essa parte. Muito
complicado.
E tinha ela. A minha Amber. A parte mais difícil de tudo. Ir para longe
dela de novo. Me quebrou só de pensar, e então ela me viu. Com meus filhos.
E soube da pior forma possível. Doeu vê-la correr de mim, assustada. Doeu
vê-los me perguntando se era a mãe deles. Doeu demais.
Nunca foi minha intenção esconder meus filhos de ninguém, mas é
preciso. É preciso para mim e para eles, nossa segurança. Mas mais para eles.
Eu teria ido atrás da Amber, eu teria contado tudo a ela, teria explicado a
situação, mas não tive tempo. Eu tinha que sair o mais rápido possível de
perto do meu pai. Ele não me engana com o papo de bom moço.
Além do mais, mesmo que eu explicasse a ela, não iria ter como. Amber
jamais ia me querer.
— Você pode ir dormir, eu fico com eles — Lilian diz.
Balanço a cabeça, em negação.
Eles são tudo que eu tenho agora.
— Estou bem aqui — afirmo.
— Papai — Edward me chama, insistindo. — Não gosto de ver você
triste.
— Não estou triste.
— É por minha culpa? Por que eu quebrei o prato?
— Não — dou um riso. — Foi um acidente, filho. Acidentes acontecem.
— Como o da mamãe?
— É — respondo depois de uns segundos, pego pela surpresa e
decepção. — Como o da mamãe.
— Não gosto de acidentes — ele afirma, pensativo.
— Eu também não gosto.
— São maus, não são, pai?
— São.
Edward se ajeita em meu colo. Meu garotinho mais velho de sete anos.
É a cópia exata do meu pai.
— Não gosto do que é mau — fala. — Eu gosto do que é bom, igual
você, o Chris, a Emily e a Lilian.
— É, eu também — dou um sorriso.
Ele brilha os olhos de repente.
— Pai, a Lilian poderia ser nossa mãe. Você disse que gosta dela e ela é
boa. Ela seria uma boa mãe, não seria?
Engulo em seco, desviando para a babá que sorri, parecendo feliz. Ela é
tudo para nós também. Me ajudou sempre. E eu a contratei pelo acaso, mas
ela se apegou tanto a eles que não quis mais nos deixar. Lilian tem seus
cinquenta e poucos anos e foi uma mãe para mim também quando acatei a
realidade e decisão de ser pai. Ela é uma ótima mãe.
— Seria, mas não somos apaixonados — respondo e ouço a risada dela.
Edward avalia minha resposta, ainda pensativo.
— Então você tem que se apaixonar, pai. Aí vamos ter uma mãe —
conclui.
Engulo em seco. Não é tão simples, tenho vontade de dizer. Mas não
posso. Sei que é fundamental uma figura materna no crescimento das
crianças. Agradeço a Deus por ter Lilian, mas eu sei que eles queriam alguém
que pudessem chamar de mãe. Que quisesse ser chamada de mãe. Que os
amasse. E sei que isto é impossível. Que mulher quer arcar com a
responsabilidade de ser mãe de três crianças que não são suas?
Respiro fundo, então tento sorrir.
— Sim, filho. É verdade. Eu tenho que me apaixonar — respondo,
evasivo.
Ele assente.
— É uma boa ideia — avalia. — Nós vamos ter uma mãe e você uma
companheira.
— Companheira? — ergo uma sobrancelha, surpreso pelo termo.
— Sim, Lilian me contou que se você casar, você terá uma companheira.
Olho para a babá, que apenas sorri.
Ela já havia me dito algo sobre. Insiste para que, se eu achar uma mulher
que aceite as crianças, mesmo que eu não a ame, que eu me case. Pelo bem
deles.
— É — volto a olhar para ele. — Uma companheira.
— Nós oramos para que você encontre uma companheira toda noite.
Meus olhos se abrem um pouco mais.
— Vocês o quê?
Edward cruza as mãozinhas e entrelaça os dedos.
— A Lilian nos ensinou a orar antes de dormir e comer. Nós
agradecemos pelo dia, por você e nossa vida. E pedimos sua companheira —
explica. — Toda noite.
Tento não demonstrar minha real reação, então só o puxo para meus
braços e ponho meu queixo no alto da sua cabeça. Deus, isso é difícil.
— Obrigado, filho.
— De nada, papai — ele me abraça. Muito difícil.
Não é só por eles quererem uma mãe, eles precisam. Mas a ideia de ter
alguém junto comigo, por eles, mas que não me instiga nenhum sentimento,
além de gratidão, não me soa tão bem.
Não é egoísmo e sei que parece até injusto, mas não me agrada. Se eu
quero alguém comigo, é para somar comigo, e não por mim. Quero alguém
que eu goste e queira estar, e sinta prazer em ver perto dos meus filhos. Muito
idiota eu.
É claro que minha mente só projeta uma pessoa. Ela. Amber. Não há
cena mais linda de imaginar do que ela brincando e sorrindo com eles,
sentindo vontade e prazer em fazer isso. Simplesmente porque quer.
Mas é claro que é só um sonho. No entanto, não me importo que seja.
Sonhar não custa nada e é a melhor coisa a se fazer agora, já que a realidade
não parece nada boa.
Capítulo 24

Não achei Nicholas. Não. Eu procurei, o número antigo já está sendo


usado por outra pessoa e não sei o que fazer. Não me restando mais opções,
faço a única coisa que ainda acho que pode me ajudar: vou falar com minha
mãe.
Desço os degraus da escada e caminho sem qualquer vontade até a
cozinha, onde ela canta I'm Yours, do Jason Marz, à plenos pulmões. Ela diz
gostar muito da música porque meu pai cantou para ela no dia que a pediu em
casamento. Ele canta bem. Luke puxou a voz dele. Já eu canto igual uma
gaita desafinada. Puxei minha mãe.
— Mãe — a chamo.
Ela se vira lentamente para mim, enquanto segura a faca em uma mão.
— Oi, meu amorzinho — dá um sorriso. — Que foi?
— Preciso conversar com a senhora.
Ela parece preocupada então. Solta a faca dentro da pia e seca as mãos
no pano que está em seu ombro. Seus passos vão até uma das cadeiras ao
redor da mesa e ela senta. Eu faço o mesmo, sentando ao lado dela.
— Fale — pede.
— Estou apaixonada por um cara que tem três filhos — admito de uma
vez, o ar escapando de por entre meus lábios pelo medo da reação.
Minha mãe parece imediatamente desentendida, enquanto me analisa
com seus olhos castanhos brilhantes, então balança a cabeça muito rápido e
solta uma risada.
— Meu Deus, eu pensei que seu pai estivesse brincando quando me
contou — diz, entre os risos. — Amber, em que merda você foi se meter?
— Meu pai? — Estou perplexa e injuriada. — Como assim?
— Ele me disse que você tinha descoberto que o homem que gostava
tinha três filhos. Nossa, isso é pesado, minha filha.
— Mas…
Como ele soube? Eu deixei bem claro que era uma amiga.
— Olha — ela respira fundo, voltando a ficar séria. — Eu lamento
muito, muito, do fundo do meu coração que essa desgraça tenha caído sobre
você, Amber. Se apaixonar já não é fácil. Os sentimentos que a paixão traz
são… Urgh! Péssimos. Seu pai me deixou louca — aponta para si. — Eu? Eu
não sou normal. Você acha que sou? Não sou, minha filha, ele me
enlouqueceu.
Solto um riso.
— Na verdade eu nunca achei nenhum dos dois normal — admito.
Ela parece ofendida, enquanto abre a boca. Dou um sorriso.
— Eu amo ele, mãe — afirmo, suspirando.
— É, eu estou vendo. Olha, não vou dizer que é uma decisão fácil de se
tomar. Se você quisesse saber minha opinião, eu diria não, não faça isso. Mas
você já é uma mulher adulta e você o ama, se isso for verdade, tudo é
suportável.
— Meu pai disse algo assim.
— Claro que disse — dá um risinho. — Seu pai é um sábio macho alfa
maravilhoso e meu marido. Se aquele babaca não fosse inteligente acha que
eu o teria querido?
— Não acho — sorrio.
— Pois então — continua. — Acho que você deve investir se tem
coragem. Eu não teria, mas a vida é sua, e eu aconselho você sempre investir
e insistir no amor.
— Sim, acho que irei fazer isso mesmo…
— Não, Amber — minha mãe me interrompe. — Não é achar. Não tem
achismo, lembra? Nós não achamos, nós temos certeza. Se você está na corda
bamba, não arrisque. Só se tiver plena e absoluta certeza.
— Mas são três crianças, mãe… — suspiro fortemente. — E quando eu
quiser ter meus próprios filhos?
— Querida, olha, eu acho que é um caso complicado. Eu não posso
dizer que vai ser fácil porque não vai. Aconselho você a procurar um
psicólogo e também o tal cara. Qual a idade dele, aliás? Eu o conheço?
Balanço a cabeça. Não posso dizer ainda quem é. Nicholas não contou
por um motivo, e não cabe a mim fazer a outros saber sem a permissão dele.
Sei que é minha mãe, mas também sei que ela não esconde nada do meu pai e
ele tem uma boca enorme.
— Vinte e sete anos — respondo.
— Hmm, que jovem e já com essa penca de filhos — comenta
pensativa. — Que desastre.
— Não fala assim, mãe. Eu não sei a história dele. Ele pode ter perdido a
esposa.
— Pode, é verdade — afirma. — Mas, olha filha, eu não me importo em
ter netos postiços, ok? O seu pai não acatou a ideia muito bem porque não
quer aceitar que está envelhecendo. Não que eu tenha percebido — ela dá um
risinho e eu faço uma careta. Ninguém merece. — Mas é isso mesmo que eu
disse. Vai atrás do seu amor e seja feliz para sair logo da minha casa — sorri.
— Valeu, mãe — resmungo.
Ela ri.
— Estou brincando, mas falo sério.
— Mas se a senhora está brincando, como pode estar falando sério? —
questiono.
Ela me olha, confusa.
— No primeiro caso falo sério.
Assinto.
Recebo um beijo no rosto e minha mãe levanta, indo de volta para a pia.
Ela sempre tem tanto pique para vir fazer a janta mesmo depois de trabalhar.
Não que ela trabalhe muito, porque meu pai diminuiu as horas dela. Muito
promissor ele ser o chefe dela. Mas sei que ela só faz porque meu pai ama a
comida dela.
Mordo o lábio, agoniada por pedir o que realmente quero.
— Ô, mãe — digo, como quem não quer nada. — Por acaso meu pai
tem comentado sobre o Nicholas Morrison?
— Não para mim, filha — ela também não parece se importar ou
estranhar minha pergunta.
— Hm, é que eu estava precisando falar com ele sobre uma pendência
que ele deixou ao sair.
— Ele não saiu, na verdade, ele sumiu.
— É, ele sumiu. Exatamente por isso também, sabe? Vocês não se
importaram saber como ele está ou por que saiu? — pareço absolutamente
normal e confortável ao falar sobre isso.
— Seu pai disse que ele sabe se cuidar — minha mãe responde, muito
tranquila. — Aliás, a burrice foi totalmente dele. Como alguém deixa de
trabalhar sem motivo? Ainda mais para um Mackenzie? — bufa. — Quer
dizer, o Mackenzie, porque seu pai é o cara — ela ri.
Ignoro o último comentário desnecessário, e respiro fundo, me
levantando para ir até o lado dela. E encosto na bancada, fingindo observar
ela cortar as folhas de alface.
— Eu realmente precisava falar com ele… — digo.
Ela me olha.
— Bem, pergunta ao seu pai. Acho que ele falou com ele há uma
semana mais ou menos quando ligou para se desculpar.
— Ele ligou? — pergunto, muito surpresa.
— Sim — ela afirma. — Ah, e ele também me enviou os últimos
cálculos da rede da Still por email pouco depois de ter sumido.
— Email! — eu grito, imediatamente contente. — É isso! Vou mandar
um email!
— É — minha mãe parece alheia ao meu alarde. — Manda lá.
— Valeu, mãe! — beijo seu rosto e saio correndo.
— Cuidado para não bater a cara no chão, não quero ir para hospital essa
hora.
Eu dou risada e subo os degraus da escada correndo, louca de
antecipação para mandar um email ao Nicholas.
Como fui burra!
Capítulo 25

Estou deitado em minha cama, sem saber como entender minha vida. O
que vou fazer agora? Eu preciso voltar a trabalhar. Preciso juntar mais
dinheiro ou meus filhos não terão um futuro.
Sento e ajeito os travesseiros, então pego meu notebook na cabeceira da
cama e ligo. Enviar currículos é o que me resta. Eu tenho uma boa
experiência, posso ser contratado rapidamente. Espero isso pelo menos.
Abro a página do navegador e do e-mail, colocando o usuário e a senha,
então aguardo entrar. Não demora e estou passeando os olhos por uma lista
de e-mails não lidos.
Um chama minha atenção quando vejo. O assunto escrito em caixa alta
para isso mesmo.
LEIA POR FAVOR NICHOLAS SOU EU!!!!!!!!!
Estreito os olhos para o título estranho, perturbado por tantas letras em
negrito, então clico para abrir.

___________________________________________
amberturn@mackenziecorporation.com
Amber Mackenzie
2 dias atrás, 8:00pm

Oi, Nicholas
Obrigada por ler, primeiramente. Segundamente
VOCÊ NÃO PODE SUMIR ASSIM, SEU IDIOTA!!!!!!!
Por favor, eu preciso de notícias suas.
Precisamos conversar.
Me responde, por favor!
Tô preocupada
Beijo
Me responde, não esquece
____________________________________________
Não crendo no que estou lendo, eu leio e releio, várias e várias vezes, só
para ter certeza que não estou delirando ou imaginando coisas.
Amber está procurando saber sobre mim? É mesmo sério? Caramba.
Mesmo depois dos meus filhos? Mesmo depois de fugir assustada?
Eu respiro fundo, controlando – ou tentando – meu coração acelerado,
então clico em responder. Meus dedos estão trêmulos de emoção. Já fazem
dois dias que ela me enviou. Ela quer saber de mim.
____________________________________________
nicholasm@mackenziecorporation.com
Nicholas Morrison
Quarta-feira, 10:00pm
Ei, amor. Que bom ver o seu nome, já me encho de felicidade.
Desculpa ter saído, eu disse a você que era preciso. Lamento muito por
isso.
Como você está?
____________________________________________

Sei que não respondi as perguntas dela, mas quero saber como ela está.
Quero vê-la. Quero Amber para mim. Babaca demais eu fui ao pensar que só
seria prazer carnal que ela me daria. Também. Mas não só isso. Eu a quero.
O que estou fazendo perdido desse jeito? Porra. Que difícil.
A resposta do meu e-mail chega quase imediatamente, o que me
surpreende. Estará ela em frente à tela, esperando?

____________________________________________
amberturn@mackenziecorporation.com
Amber Mackenzie
Quarta-feira, 10:02pm
ME MANDA O SEU NÚMERO!!!! PRECISAMOS
CONVERSAR!!!!!!!!!
AGORA!!!!!!! RÁPIDO!!!!!!!
____________________________________________

Eu sinto imediatamente a necessidade de desespero que ela tem a


intenção de transparecer nas palavras e logo respondo, colocando meu
número novo. Fico com o celular na mão, aguardando, ansioso.
O que ela quer? Pensei que estava assustada.
O aparelho logo vibra e toca em minha mão, me fazendo levar um susto.
Atendo depressa, nervoso de apreensão.
— Seu idiota! — Amber berra do outro lado. — Como pôde ter sumido
assim, seu cretino?
— Eu… — tento falar, imediatamente inundado por uma felicidade
surreal só por ouvir a voz dela. Mesmo que seja gritando comigo.
— Não! — ela grita, me interrompendo. — Não, Nicholas — então se
cala e eu ouço um soluço. — Por que você não me contou?
— Desculpa, amor — fecho os olhos. Ela está chorando e isso me faz
sentir a dor dentro de mim aumentar. Muito difícil.
— Poxa — Amber gagueja, a respiração notavelmente desregulada. —
Você poderia ter contado. Eu não… Não teria fugido daquele jeito se
soubesse que… — ela se cala um pouco, então solta um suspiro longo. —
Que você é pai.
Fico em silêncio, sem reação.
— Por que não me contou? — ela insiste.
— Porque tive medo de você não me querer — confesso. — Seria
doloroso ouvir você dizer não e me julgar por eu dizer que sou pai de três
crianças. Não seria suportável.
— Não, Nicholas — ela soluça. — Tudo é suportável. Eu não teria...
Sim, eu julguei, mas só porque você não me contou. Eu quero saber. Por que
você não diz para ninguém? Cadê a mãe deles? Desde quando você é pai?
Desde os vinte? E o seu pai? Por que você não gosta dele? Tem a ver com as
crianças? Por que elas estavam em uma casa feia como aquela? Por que
você não confiou em mim para contar?
Dou um sorriso abobalhado.
— Você tem muitas perguntas, amor — murmuro.
— Não perguntei nem a metade — ela suspira. — Por favor, me conta.
Estou disposta a saber. Quero saber. É por isso que estava tão triste quando
nos vimos a última vez? Era por causa dos seus filhos?
— Era — admito. — Tive que sair pela segurança deles.
— Como assim segurança deles? — questiona, soltando outro soluço.
— Eles estão em perigo?
— Sim, infelizmente. Gostaria de explicar pessoalmente, se você quer
tanto saber.
— Onde posso te encontrar? — pergunta, rapidamente.
— Não estou em Nova Iorque, vim para Nova Jersey.
— Tudo bem, não tem problema. — Amber parece quase sem fôlego. —
Eu acho você. Pode me falar o local certo, eu vou no helicóptero da empresa.
— O seu pai vai saber.
— Ele vai saber que estou saindo à trabalho, não com quem vou me
encontrar. E ele não se importa. O lance do meu pai é só ele mesmo.
— Você não precisa fazer isso, Amber. — Agora estou desentendido e
apreensivo.
— Eu vou ir até você porque eu quero, Nicholas. Você não pediu, é uma
vontade minha. Isso que você fez não foi legal, nenhum pouco. Mas minha
atitude de pânico e irracionalidade de sair correndo, também não foi. Agora
eu quero explicações.
— Sim, você quer — solto um suspiro, meu coração acelerado de
felicidade e ansiedade.
— É, eu quero — reafirma. — Eu não posso ir hoje porque já está tarde
e já estou em casa. Mas vou sair amanhã o mais cedo que eu puder. E você
vai me explicar tudo. Não vai?
Fico em silêncio, o pensamento de explicar tudo e ter que repetir toda a
história que acaba comigo soando quase doloroso demais para suportar.
— Vai, não vai, Nicholas? — pergunta de novo.
— Eu vou, amor. Tudo que você quiser saber — afirmo, convicto.
— Espero mesmo que sim — ela respira fundo, nitidamente aliviada. —
Me envia seu endereço certo por mensagem. Por favor.
— Envio.
— Então tudo bem. — Amber fica em silêncio um tempo. — Eu vou
dormir agora. Me envia, por favor. Tchau.
— Envio. Tchau, amor.
— Tchau — ela responde e imediatamente desliga.
Jogo o celular no colchão e levo as mãos ao rosto.
Amber vai vir para mim. Para mim. Porque quer.
Porque ela quer.
Capítulo 26

Eu desço do táxi em frente ao endereço que Nicholas me enviou. Estou


apreensiva e muito, muito nervosa.
É quase noite já e também estou muito cansada, porque ele está morando
em um lugar muito longe da civilização. Longe mesmo. É uma área com
muitas casas, mas todas distantes umas das outras. O motorista me cobrou um
absurdo pelas três horas de viagem e, se eu não estivesse tão apressada por
ver Nicholas, teria ligado para polícia para denunciá-lo por assalto sem arma.
O cara não teve noção ao dar o preço.
— Obrigada — agradeço irônica quando ele põe minha mala no chão.
— De nada — dá um sorriso de quem está muito satisfeito e eu bufo,
agarrando a alça da bagagem e então dou as costas para ele.
Viro-me para uma casa vermelha de dois andares e imediatamente faço
uma careta. Puta merda. Nicholas tem um péssimo gosto para escolha de
casas.
Me apresso a dar os passos que faltam para que eu alcance os degraus
até a varanda, e subo. Bato na porta três vezes seguidas, porque estou mesmo
agoniada e cheia de saudades. Eu preciso vê-lo. Preciso saber de tudo. É mais
que só querer, é uma necessidade.
Prendo a respiração quando a maçaneta se move e fico muito surpresa
por ver uma mulher. Ela é bem baixa, com cabelos meio grisalhos e está com
uma touca e um avental, que demonstra que está um pouquinho acima de seu
peso.
— Oi — digo, meio acanhada.
— Oi. Posso ajudar? — ela sorri, mas olha para os lados e dá um passo à
frente, fechando um pouco a porta.
— Sim, eu vim ver o Nicholas.
— Sobre o que se trata?
— Ahn... Eu — gesticulo. — Sou uma amiga.
— Ele não está, sinto muito — a mulher responde, então olha minha
mala no chão. — Saiu e não sei para onde e nem se vai voltar.
— Mas… — balanço a cabeça. — Ele sabia que eu viria.
— Sinto muito — ela repete e então retrocede um passo, fechando a
porta muito rapidamente e me fazendo ouvir o barulho da chave girando na
maçaneta.
Eu fico parada, estática, incapaz de me mover. Como assim ele não
está? Só consigo rir. De puro escárnio.
— Cretino — resmungo, inconformada.
Agarro a alça da mala novamente e me viro de novo, não fazendo ideia
de como vou voltar ao aeroporto. Não acredito que perdi meu dia inteiro e
ainda menti para o meu pai à toa. Não acredito!!!!!
Então eu o vejo.
É ele mesmo. Parado em frente a um carro, no mesmo lugar que eu
estive há alguns instantes. Nicholas me olha e eu vejo tristeza. Somente
tristeza no seu olhar. Quero correr e abraça-lo. Foram seis meses. Infernais
seis meses. Mas não consigo. Minhas pernas não se movem. Não me
obedecem, então só fico onde estou. Eu o estou vendo.
Ele não parece menos abalado do que eu. Mas nitidamente está melhor,
porque observo o momento em que começa a caminhar até mim. Devagar e
com muita firmeza, parecendo muito mais alto e muito mais bonito, cheio de
confiança nos passos. Concentração. Você veio buscar respostas.
Espero, paciente. Nicholas sobe os degraus da escadinha e logo está à
minha frente, seu rosto pouco acima do meu, me analisando minimamente.
— Oi — ele fala.
— Cretino — consigo dizer, porque é a única coisa que posso concluir.
Ele sorri. O sorriso lindo e incrível que tanto senti falta. Dói demais.
— Você veio mesmo.
— Eu vim — tomo fôlego para falar. — E estava indo embora porque a
mulher que está dentro da sua casa disse que você tinha ido embora e não ia
mais voltar.
Nicholas ergue as sobrancelhas e logo depois parece compreender.
— Desculpe — diz. — Lilian acha que todo mundo vai me prender.
— Te prender? — questiono, muito confusa. — Por quê? E essa Lilian é
o que sua?
— Ciúmes, amor? — dá um sorrisinho.
— Para de palhaçada, Nicholas. Falo sério.
— Eu vou te contar, mas vamos entrar primeiro. Você deve estar
cansada.
— E como — suspiro, longamente. — Você não mora onde Judas
perdeu as botas e sim as meias, as botas ficaram há quilômetros.
Ele ri, então passa por mim e bate na porta, chamando ao mesmo tempo
a tal Lilian.
Logo ela abre a porta e parece muito surpresa por me ver.
— Tudo bem — Nicholas fala. — Ela é uma amiga minha. Vem — me
chama e pega minha mala, gesticulando para eu entrar na frente.
Ultrapasso a porta, dando um sorrisinho falso a tal Lilian, e
imediatamente inspeciono o local, percebendo que a casa só é feia por fora.
Dentro é aconchegante e convidativa, com partes rústicas em meio a
modernas. O teto alto, o conceito aberto da sala enorme para a cozinha, as
janelas grandes que trazem muita iluminação e os móveis bem organizados.
Sem falar no layout sem padrão, mas que é muito bem combinado.
— Oi — ouço e olho para baixo, vendo um garotinho de cabelos
cacheados e escuros me olhar. Ele tem um sorriso nos lábios que mostra que
está animado. — Bem—vinda.
— Ahn... — Não sei como reagir. Por Deus, é um filho do Nicholas. O
homem que amo. Que complicado.
Respiro fundo e decido agir como faria com uma criança qualquer.
Me abaixo sobre os calcanhares para ficar à altura dele e estendo a mão.
— Olá, rapazinho. Eu sou Amber e você, como se chama?
O sorriso dele aumenta enquanto estende a mãozinha para apertar a
minha.
— Eu sou. Christian. Tenho seis anos — responde. — Gosto muito de
carrinhos e jogar bola. Gosto de ouvir histórias quando vou dormir também e
de comer doces. Também gosto de…
— Acho que tá bom, filho — Nicholas fala e logo se coloca ao lado
dele, colocando a mão por sobre a cabeça do menino. — A Amber vai subir e
descansar agora.
Ele olha para cima, parecendo contrariado.
— Ela vai conhecer a Emily e o Edward, não vai? — pergunta.
O pai assente.
— Vai, sim. Mas agora ela vai subir.
O garotinho concorda e me olha de novo, dando outro sorriso.
— Bom descanso — fala e sai para pela sala, sentando no sofá.
Vejo a mão de Nicholas estendida à minha frente e me dou conta que
ainda estou abaixada, olhando o pequeno garotinho que não é em nada
parecido com ele.
— Vamos, amor — me chama.
Eu agarro sua mão, saindo do transe, então ele me ajuda a ficar de pé, e
me conduz pela casa, até o lance de escadas. Nós subimos e logo estou
olhando para um quarto master de casal, lindamente lindo. O sol está se
pondo e os raios de sol finais ultrapassam as janelas.
Nicholas caminha até elas e fecha as cortinas, deixando o clima mais
íntimo.
Eu olho para ele, que me olha de volta, e nos encaramos.
Tiro minha jaqueta, as botas e a calça jeans, ficando mais confortável.
Volto a olhá-lo, que parece ainda com o mesmo olhar triste.
— Você vai responder minhas perguntas agora? — questiono.
Depois de uns segundos me olhando, ele afirma quase
imperceptivelmente, e caminha até a cama king size, sentando-se na beirada
do colchão. Vou e faço o mesmo, sentando ao lado dele.
— Pode perguntar — fala, o olhar perdido no meio da sala.
Respiro fundo e me preparo para a enxurrada de perguntas.
— Você se tornou pai com quantos anos? — começo.
— No fim dos dezenove.
Finjo não estar surpresa. Não vou demonstrar minhas reações tão logo.
Já estou loucamente louca o suficiente.
— Cadê a mãe deles?
— Eu não sei — ele balança a cabeça e me olha. — Não sei.
— São da mesma mãe?
— São.
Eu assinto.
— E o que seu pai tem a ver com eles? Por que eles correm perigo?
Nicholas se remexe, então vira o corpo para mim, desviando a vista por
algum tempo, e voltando a me olhar.
— Deixe que eu explique da forma certa — fala, parecendo
imediatamente abalado demais. Eu concordo. — Eu tenho uma irmã. Minha
mãe morreu no parto dela, e isso fez com que meu pai a culpasse. Ela cresceu
sendo chamada de assassina. Eu sou pouco mais de um ano mais velho que
ela.
Nicholas tem uma irmã? Já estou chocada.
— Ela cresceu sem um pai praticamente por conta disso, mas eu sempre
dei um jeito de cuidar dela, protege-la dele — continua. — O fato é que,
assim que Lindsay se tornou uma adolescente, passou a se envolver com
quem não devia e fazer o que não devia. Isso só aumentou a raiva do meu pai
por ela, e mais a dela por ele — respira fundo. — Isso foi por muito tempo, e
eu sempre dando conselhos. Com dezoito anos, ela apareceu grávida. Me
disse desesperada que tiraria o bebê. Eu fiquei louco — ele leva as mãos à
cabeça, e enterra os dedos nos cabelos. — Pedi que não fizesse isso, que a
gente daria um jeito. Meu pai acabou descobrindo porque a barriga dela
começou a crescer, então ele a expulsou de casa. Eu implorei para não fazer
isso, mas ele não me ouviu.
Estou impressionada, mas mais ainda comovida com o estado em que
Nicholas parece estar.
— A Lindsay ficou na casa de uma amiga, mas quando descobri que
essa amiga era de fazer coisas erradas, fui arrumar um estágio. Já estava com
dezenove anos e no primeiro ano da faculdade. Seu pai me contratou e eu me
vi salvo, porque ajudaria minha irmã — ele me olha de novo. — Eu aluguei
um apartamento para ela morar e me responsabilizei por ela. Estava disposto
a ajudar, mas — dá uma risada sem graça — ela não é do tipo que recebe
ajuda. Então o bebê nasceu e ela ficou um tempo quieta. Só até ele ter uns
três meses. Depois disso, voltou a viver loucamente. Tive que contratar uma
babá, e foi um inferno porque ele ainda era pequeno demais e precisava do
leite da mãe, sendo que ela nunca estava perto — ele balança a cabeça. —
Fiquei maluco. Até que um dia a Lindsay foi me procurar no trabalho e seu
irmão a viu.
— Meu irmão? — questiono imediatamente, surpresa.
Nicholas assente.
— Ele quis saber dela, porque ela era muito bonita e aparentemente
normal. Eu vi uma chance de mudança para ela porque seu irmão era um cara
incrível e talvez pudesse ajudar — ele respira fundo. — Então dei um jeito de
eles se conhecerem, mas deixei o bebê de fora. Parecia que estava dando
certo, porque a Lindsay e ele começaram a sair todo final de semana, o Luke
parecia sempre mais feliz e empolgado, e ela passou a ficar mais tempo em
casa. Foi quando seu irmão veio pedir minha permissão para pedi-la em
casamento. Eu fiquei feliz e desesperado, mas se aquilo ia ajudar minha irmã,
eu poderia ficar com o bebê.
Eu me remexo, nervosa e agoniada. Que confusão e meu irmão está no
meio!
— Só que aí… — Nicholas parece tenso. — Já com a aliança no dedo, a
Lindsay formou outra barriga. Uma gravidez que não era do seu irmão e que
acabou com ele, aparentemente. Minha irmã também ficou louca e me
implorou para explicar a ele que foi antes de tê-lo conhecido, que ela estava
apaixonada e que não o magoaria daquela forma, mas, porra — ele me olha.
— Era outro bebê e ela estava noiva agora. Fiquei louco de raiva, mas
precisei tentar ajudar porque ela só ficava em casa chorando e aquilo não
faria bem para o outro bebê. Não consegui, no entanto. O Luke estava
abalado e destruído, foi quando tomou a decisão de ir viajar. Quando a
Lindsay ficou sabendo, ficou na pior. O outro bebê chegou e ela foi embora
de novo. Eu fiquei nessa de babá dela por mais um ano, até ela aparecer com
um novo bebê, uma menina.
Ele parece agitado de repente, meio nervoso e preocupado.
— Ela pediu para morar no apartamento com o pai da menina, que ela
sabia quem era. O cara não valia nada, dava para notar, mas eu deixei. Burro
filho da puta — ele quase geme. — Quando ia visitar meus sobrinhos depois
disso, comecei a ver manchas nos braços deles e no rosto, e a bebê não dava
nem para segurar, que ela berrava. Então o garotinho mais velho me contou
quando eu perguntei. Estava apanhando todo dia — Nicholas me olha. —
Aquele filho da puta estava batendo nos meus sobrinhos.
Eu não consigo dizer nada, porque seria incapaz. O que eu diria? Mal
consigo processar o que estou ouvindo.
— Então eu os roubei — ele suspira. — Sabia que era errado, mas eu
não ia ferrar mais a vida dela porque sabia que ela não concordaria em
denunciar o desgraçado. Aluguei uma casa e coloquei as crianças para lá com
a babá. Minha irmã foi atrás do meu pai, achando que ele que tinha pego, mas
ele negou e imediatamente veio me procurar, pedindo informação do que se
tratava. Eu expliquei, com o intuito de que ele ajudasse — Nicholas ri. —
Muito idiota eu. Ele quis me levar à delegacia para denunciar minha irmã e o
cara e colocar as crianças no orfanato — me olha de novo. — Eu os peguei
para mim. Sou o pai deles desde sempre. Escondo eles sim, do meu pai e de
todo mundo. A Lindsay sumiu do apartamento e de perto de mim, mas a
qualquer momento pode reaparecer e me denunciar, e eu seria preso com
certeza. O que fiz foi errado, mas por um bem maior. E eu não me arrependo.
Nenhum pouco. Porque eu sou o pai deles, você entendeu?
Eu sou incapaz de esbanjar uma reação, porque estou digerindo as
informações.
Nicholas não é pai de três crianças.
Capítulo 27

— Você não é o pai biológico deles? — Amber questiona, enfim. Já


estava dando certo nervosismo ela tão calada.
— Biológico, não.
— Mas que… — ela levanta, então caminha até o meio do quarto,
parecendo um pouco alienada. — Que droga, Nicholas. Eu já estava… Estava
disposta a conhece-los como seus filhos.
— Mas eles são meus — me levanto também.
— Não — balança a cabeça em negação. — Não são, Nicholas. E como
você mesmo disse, a mãe deles pode aparecer a qualquer momento. Meu
Deus do céu, que situação complicada!
— Eu te contei a verdade. Foi o que você me pediu, não foi?
— Claro que sim — afirma veemente. — Eu pedi e estou feliz que tenha
sido honesto comigo em me dizer tudo, mesmo que aparentando ser um
pouco tarde. A questão é que agora estou preocupada com elas também.
— Elas?
— As crianças. — Amber parece agitada e então começa a caminhar
pelo cômodo, sem parar em lugar nenhum. — Algo tem que ser feito ou você
pode mesmo ir para a cadeia. Não que eu ache que sua irmã seria capaz de
fazer isso, seria?
— Não sei, sinceramente. Ela não tem amizades boas. Não duvido nada
vindo dela. — Não duvido mesmo.
— Outra coisa — ela vira para mim e volta para perto —, o que você fez
foi errado. Não deveria ter sumido assim. Eu fiquei preocupada. Muito
preocupada.
— Sinto muito — lamento.
— Não sente não! Eu senti. Senti nesses miseráveis seis meses — abana
as mãos. — Eu deveria te castigar por isso, mas não sei como. Não ainda.
Eu não sei o que está acontecendo que eu ainda não consegui me
aproximar e tocá-la, demonstrando minha saudade. Apenas parece que há
alguma barreira agora, e eu realmente não sei explicar. Amber não demonstra
sentir o contrário. Ela também não se aproximou. É como se fôssemos dois
estranhos, o que é realmente irônico porque já nos tocamos de todas as
formas. Só que… Eu não sei. Parece diferente agora. Depois do tempo, da
verdade, de tudo.
— Luke não é egoísta — ela fala, chamando minha atenção. — Você
não pode culpa-lo. Mentiu para ele, acima de tudo, por não ter mencionado o
bebê que já existia. Então não, não vou deixar você falar mal do meu irmão.
— Você também não pode me culpar pelo que eu disse — declaro, me
sentindo esmiuçado. — Era só eu, não custava ele me ajudar. Ele
simplesmente a abandonou quando soube.
— Ela estava noiva dele.
— Não justifica, porra! — grito, simplesmente porque é inevitável.
— Não justifica? — Amber parece escandalizada. — O que você diria
se me pedisse em casamento e eu aparecesse grávida de um filho que não era
seu?
— Eu ficaria louco! — respondo, sem nem pensar.
— Então não culpa meu irmão! — ela rebate em outro grito.
— Eu não estou culpando ele! — me defendo. — Apenas disse que é um
egoísta.
Ela ri, então caminha até a cama e se senta.
— Sua irmã cresceu assim pela revolta do pai — diz, pensativa. — Já te
ocorreu que as crianças podem crescer com a mesma revolta por não ter uma
mãe?
— Estou providenciando isso. Vou achar uma mãe para eles.
— Ah, você vai? — me olha, sorrindo. Um sorriso irônico. — Eu não
sabia que havia algum lugar por aí com fábricas de mães, sabe.
Estou começando a ficar aflito, nervoso e com raiva. Ela não veio até
aqui me chamar de errado, não é? Porque disso eu não preciso. Só o que
encontro são pessoas me dizendo que faço tudo errado e que sou errado. Não
preciso que Amber se some à lista.
— Não, não existe.
— Não seja idiota, Nicholas! — ela levanta de novo, reacendendo a ira.
— Você não pode achar que qualquer mulher vai ser boa para eles só porque
te agrada ou finge gostar de você.
— Você acha que é isso? Acha que eu colocaria qualquer mulher perto
dos meus filhos só porque me agrada? Não ouviu o que eu acabei te dizer?
— Que mulher é essa? — ela cruza os braços.
— Que mulher?
— A que você está providenciando, obviamente.
— Eu quis dizer que estou disposto a encontrar uma, Amber — passo as
mãos no rosto. — Nesse sentido.
— Ah, bom, porque pensei que você já estava de casinho com uma
qualquer.
Eu a olho, não evitando um sorriso, substituindo toda minha raiva por
uma compreensão.
— Você é muito ciumenta.
— Sou mesmo — ela concorda. — E, além do mais, também vim para
conhecer as crianças. Olha o que eu trouxe — diz e se vira, indo até a mala,
se ajoelhando.
Eu espero, paciente, enquanto me apoio na parede.
Amber se vira para mim, com um sorriso no rosto e uma caixa na mão.
— O que é? — questiono.
— Uma boneca — ela vira a caixa para si, parecendo estranhar minha
pergunta, então nota que está embrulhada. — Esqueci que pedi para
embrulharem. É para sua filha.
— Trouxe presentes?
— Bem, não pense que… Ui — ela cai sentada, dando um risinho. —
Não pense que é algo como comprar as crianças, mas sim uma forma de me
aproximar. Eu sou legal, mas não sou boa com os pequenos.
— Ah, você é legal? — pergunto.
— Sou sim, tá? — parece ofendida. — Muito legal. Eu espero que os
meninos gostem do que eu trouxe porque fui numa loja infantil mas que não
tinha nada para meninos.
Solto um riso.
— E o que você trouxe?
— Dois Ken.
— Ken?
Ela gesticula.
— É o namorado da Barbie.
— Que merda, Amber — começo a rir.
— Ele é bonitinho — ela sorri e volta a guardar a caixa.
— Você deve estar cansada, não quer tomar banho? — sugiro.
Ela assente e se levanta, então eu falto babar quando ela se livra da blusa
e fica só de calcinha e sutiã à minha frente. Deliciosa. Cheio de saudades, é o
que estou.
— Eu vou... — pigarreio. — Pedir para Lilian acrescentar um prato à
mesa, com licença — aviso e saio.
Capítulo 28

Eu desço as escadas e logo me encontro na sala de estar novamente.


Estou completamente desconcertada e me sentindo estranha. Toda essa
informação jogada em cima de mim e mais o Nicholas se comportando de
forma estranha. Não nego, estou estranha também. Há um nível de
incompatibilidade instalado entre nós nesse momento.
— Oi — ouço e logo ele está à minha frente. — Vem, o jantar já está na
mesa.
Eu assinto, então o sigo pela entrada atrás da escada, que nos leva até a
sala de jantar, que é ligada à cozinha de forma indireta, apenas por conta de
um pequeno corredor que as separa.
— Olha ela!
Dou um sorriso por ver o garotinho de mais cedo gritar, e imediatamente
mais duas cabeças se viram para mim. Eu observo um menino pouco mais
alto que o outro e o clone de Nicholas, e uma garotinha de cabelos aloirados e
também cacheados.
Nicholas segura minha mão e me faz caminhar até a mesa, onde eu puxo
uma cadeira para sentar. Quando o faço, sinto suas mãos em meus ombros,
me apertando um pouco, mas de uma forma que me faz derreter sobre o
assento. Deus, que saudades desse toque.
— Gente, essa é Amber, ela é minha amiga e veio me visitar — ele
declara. — Amber, estes são Emily, Edward e Christian, que você conheceu
mais cedo — aponta cada um.
Dou um aceno, que não é retribuído, a não ser por Christian, que parece
bem contente.
Bem, é uma situação estranha e estou acanhada. E ainda me sinto não
bem—vinda.
— Você disse que não tinha amigos, pai — o garotinho que parece com
ele fala. — Você conheceu ela há pouco tempo?
Nicholas senta na cadeira ao lado da minha e não parece dar muita
importância para a pergunta dele.
— Mais ou menos, filho.
Eu resolvo ficar quieta, mas estou chateada. Achei que ele fosse
discordar, só que parece que nunca fui considerada uma amiga. Ok, talvez eu
não tenha agido como uma, e sim como uma pessoa grossa e indiferente. Mas
eu tive meus motivos. Tive mesmo.
— O que você gosta de fazer, Amber? — Christian pergunta, sorrindo.
— Eu já disse do que eu gosto. Você lembra, não é?
— Lembro — afirmo, então olho para Nicholas, me sentindo perdida.
Ele sorri, olhando para o filho, então responde por mim.
— A Amber gosta de muitas coisas e tenho certeza que ela vai querer
contar, mas só depois de comer.

O menino parece decepcionado, mas concorda.


A mulher que me expulsou aparece e então senta em uma cadeira e
começa a servir as crianças. Nicholas estende a mão e pega as batatas,
também se servindo.
— Pode pegar — ele avisa para mim. Mas a verdade é que estou
totalmente sem fome. Não sei como reagir. Somente uma criança me deu
importância, e ainda faltam duas.
— Deixa que faço para você então — fala e eu observo ele preencher
meu prato aos poucos.
Todos começam a comer e as crianças começam a falar sobre um monte
de coisas ao mesmo tempo. Nicholas parece interessado no que falam, mas eu
não consigo entender exatamente do que é.
Começo a comer também, meus olhos se fechando pelo gosto do arroz
com brócolis, que eu logo reconheço. A lentilha está perfeita e o gosto da
salada colorida me faz gemer. Isto é saber cozinhar. Tudo parece derreter na
minha língua.
— Gostou? — Nicholas pergunta.
Olho para ele, com a boca cheia.
— Muito bom — tento falar e ouço um risinho, me fazendo olhar para
frente.
— Não pode falar de boca cheia — Christian me repreende. — É falta
de educação, Amber.
Engulo depressa, assentindo.
— Desculpa, Christian — lamento.
— Você tá desculpada — ele sorri. — Nós fazemos isso também quando
o papai não está olhando. Mas só quando ele não está olhando — cochicha.
Eu dou risada e olho para Nicholas, que se finge surpreendido.
— É bom saber disso — ele fala.
Volto a comer, me sentindo menos constrangida porque ao menos
Christian gostou de mim.
— Pai, você está apaixonado por ela?
Levanto a cabeça e vejo que a pergunta veio do outro garotinho, que
parece ansioso enquanto espera a resposta. Ele desvia o olhar para mim.
— É que meu pai disse que só pode ter uma companheira se estiver
apaixonado por ela — explica. — Se ele estiver apaixonado por você, aí você
vai ser a companheira dele e nós teremos uma mãe.
Engulo em seco, sem saber o que dizer.
— Não se pode fazer esse tipo de perguntas, Edward. É feio e falta de
educação — a tal Lilian o repreende, o que acho desnecessário porque eu
queria ouvir o que Nicholas teria a dizer.
Eu não me afligiria em ser companheira dele, e acho que poderia ser
chamada de mãe pelos pequenos. A única coisa que não sei é se eu saberia
agir como uma mãe. Não faço ideia de como isso funciona. Nunca me
imaginei tendo filhos ou cuidando de crianças. A única coisa que sempre
passou em minha cabeça foi crescer profissionalmente e chegar onde eu
queria, pelos meus esforços e méritos. Nunca a ideia de ter crianças ou um
homem junto. Pensei em ter um marido, mas não tão logo. E não que eu ache
que Nicholas é do tipo que casa e fica comportado em casa. Definitivamente
não.
Uma coisa me chama atenção no entanto, a garotinha não parece falar
tanto e nem ser tão animada quanto os meninos. Ela é quieta e só come,
prestando atenção no que é dito mas sem falar.
Eu tento acompanhar os assuntos sobre fórmula um, mas não estou
entendendo o debate deles sobre os carros ou quem é o melhor piloto. Estou
alienada. Mas Nicholas e Lilian entendem bem e opinam contra ou a favor.
Quando terminamos de comer, me levanto, então começo a recolher os
pratos para lavar. É o mínimo que posso fazer como uma convidada que se
convidou.
Lilian levanta também e tenta me impedir, mas eu não deixo. Junto
todos e, quando vou pegar o da garotinha, ela segura minha mão. Eu olho
para ela, que parece me chamar com os olhos claros cintilando algum tipo de
sentimento.
— Oi — falo, meio incerta.
Ela responde algo muito baixo, que sou obrigada a abaixar a cabeça para
ouvir.
— Não entendi, pode repetir? — peço.
— Você quer ver meu quarto? — pergunta.
Abro um sorriso.
— Eu adoraria, você vai me mostrar?
Ela olha para frente e eu sigo na mesma direção, vendo-a olhar para
Nicholas, que parece muito sério enquanto olha para nós.
— Vou — ela assente, me olhando de novo.
— Então tá. Vou lavar isso aqui e você pode me mostrar, ok?
— Ok — ela abre um sorrisinho quase imperceptível e eu me levanto,
seguindo Lilian para a cozinha.
Estou me sentindo tão perdida que nem sei o que fazer. Nicholas não
parece estar à vontade por eu estar invadindo a privacidade dele e de suas
crianças. E eu, menos ainda. Acho que vou embora amanhã mesmo.
Capítulo 29

Estou deitado, olhando para o teto branco, enquanto o vento entra pelo
quarto, quase levando as cortinas junto. Me sinto estranho e com raiva ao
mesmo tempo. E o pior de tudo é que não consigo explicar o porquê. Foi
simplesmente estranho o fim do dia.
Amber deve já estar dormindo a essa hora, com certeza. Já são três da
manhã e eu simplesmente não consigo dormir. Vários pensamentos vagueiam
por minha mente. Ela veio, ok. Em busca de explicações, ao que parece. Mas,
será que vai ficar? Não. Definitivamente não. Ela tem uma vida toda longe
daqui. É uma mulher poderosa, com um futuro incrível à frente. Não poderia
eu, sequer, me permitir imaginar que Amber ficaria comigo e meus filhos,
abrindo mão de tudo que tem.
Não seria nem justo. Sei que não sou culpado também pelo rumo que
minha vida tomou, mas infelizmente a vida tem dessas. Às vezes a
consequência do pecado de alguém vem diretamente a você, e fazer o quê,
tem que arcar. Nunca vou me arrepender pelo que fiz, apenas lamento por
não poder ter a mulher que sou apaixonado junto comigo. Porque sim, é
claro, sou loucamente apaixonado por ela. Minha deusa do sol.
Foi tão incrível e prazeroso vê-la brincar de boneca com a Emily. Minha
menininha introvertida até gargalhou, coisa que não é do feitio dela. Ela
sempre foi mais quietinha, mesmo com a Lilian. Mas a Amber a fez rir, a
minha Amber. Ela seria uma mãe maravilhosa, sem dúvidas. Eu gostaria que
ela fosse a mãe deles. Gostaria muito.
Solto um suspiro cansado, me condenando por ter permitido que ela
viesse até mim. Pra quê? Só para me fazer ficar pior e colocar uma falsa
esperança nas crianças. Porque é bem nítido que eles se simpatizaram com
ela. Eles também. Como se fosse possível alguém conhecer Amber e não se
apaixonar.
Passo as mãos no rosto e me remexo na cama, então minha atenção é
totalmente atraída para o barulho da porta, que se abre. Eu a vejo. Amber.
Me apoio nos cotovelos, desentendido e surpreso.
Ela veio ao meu quarto.
Observo enquanto ela tranca a porta e se vira para mim, vindo com
passos lentos até a cama. Só então me olha. Mas é um olhar enigmático, que
não sei como decifrar. Penso em dizer algo, mas não consigo.
Ela se coloca de joelhos ao meu lado na cama e senta sobre os
calcanhares, desviando o olhar para baixo, e me fazendo ter um pequeno
susto quando puxa o edredom de cima de mim.
Pronto. Não tenho mesmo mais o que falar.
Amber entrelaça os dedos no elástico do meu short e puxa para baixo,
liberando meu pau, que imediatamente ela agarra com uma mão e se inclina,
colocando quase tudo na boca e soltando um gemido delicioso para caramba.
— Ah, porra! — sibilo, meus quadris se erguendo de uma forma
automática e minha mão indo para seus cabelos.
O que significa isso?
Ela me suga para dentro, quase até o limite, então se afasta, lambendo
tudo que encontra e me deixando uma mordida na coxa. Foi uma mordida.
Quase muito forte, mas que só serve para me deixar mais ligado.
Solto um grunhido, me esforçando a olhá—la, querendo
desesperadamente perguntar o que significa isso. Mas, sem chance.
Principalmente quando ela lambe minha glande e aperta meu pau ao mesmo
tempo, com as unhas enfiadas na minha coxa. Ela está louca.
Outro gemido alto vindo dela, que me coloca quase inteiro de novo, me
levando até o fundo da garganta e remexendo a língua por baixo da minha
ereção ao mesmo tempo.
Jogo a cabeça para trás, incapaz de conter um uivo de prazer. Porra,
bom demais.
Amber se afasta, soltando outro gemido, e sua mão me agarra de novo,
se movimentando de forma frenética para cima e para baixo, me apertando
com força.
Eu vou gozar. Forte. E não vai demorar.
Minha garganta forma uns sons que eu sou incapaz de controlar. Estou
alucinado. Meu pau pulsa loucamente e eu sinto a pressão por todo corpo.
Sou colocado dentro da boca dela de novo, que agora me agarra com os
lábios e faz o vaivém com eles, ao mesmo tempo que sua mão aperta minhas
bolas com força e eu sou incapaz de pensar ou me conter.
Solto um grunhido gradativo enquanto sinto os jatos de esperma saírem
do meu pau e irem diretamente para a boca dela.
Amber geme loucamente, ainda persistindo com os lábios envolta de
mim, me drenando, até a última gota, que parece quase não chegar. Porra.
Literalmente.
Caramba, isso foi forte.
Ela circula a língua na minha glande e chupa com força, me fazendo
tremer, então seguro sua cabeça, ainda desnorteado. Mas ela não para,
continua me lambendo, arranhando minhas coxas e barriga, enquanto geme,
me tocando desesperada.
Estou desentendido.
Eu me sento, incapaz de decifrar, mas muito louco para pensar.
Amber protesta quando seguro seus braços e a faço levantar, então a viro
e faço com que caia deitada na cama. Só então ela me olha, fazendo meu
corpo arder de desejo quando encontro seus olhos, que costumam ser claros,
mais escuros do que a noite
Me coloco por sobre ela e puxo a alça da camisola, libertando um seio
redondinho e gostoso para minha boca. Imediatamente ela grita quando o
sugo o biquinho eriçado, me deixando mais louco ainda quando seus dedos se
enterram por entre meus cabelos e ela os puxa com força.
Aperto o outro com a mão e circulo o mamilo durinho por cima da seda
suave. Tão suave quanto ela. Amber. Minha. Claro que não. Ela não é minha.
Desço a mão pela barriga dela até achar a borda da camisola e passar por
dentro, sentindo a verdadeira seda, que é a pele dela. Amber se contorce
todinha, puxando meus cabelos e gemendo.
Dou um sorriso e deixo uma mordidinha na carne macia de seu seio,
somente para rastejar para baixo, louco para me perder nela.
Em outra circunstância, eu torturaria ela um pouco. Mas só em outra
circunstância.
Eu abro suas pernas, o tecido fino subindo junto e revelando uma
calcinha branca, que me faz sorrir. Não por nada, só porque dá para ver que
ela está molhada. E eu nem fiz nada.
Abaixo a cabeça, lambendo a coxa até chegar à calcinha. Solto um
gemido simplesmente por sentir o cheiro dela. É uma delícia.
Puxo o tecido para o lado e logo coloco a boca sobre ela, sugando tudo
que posso, o gosto dela me atingindo imediatamente como um vício, algo que
eu precise sentir todos os dias, inegavelmente.
Amber grita, puxando meus cabelos e se contorcendo na cama. Afasto a
boca, somente para passar minha língua de cima a baixo, nela todinha,
abrindo os lábios menores para conseguir estocar com minha língua dentro
dela.
Ela se contorce, toda trêmula, me sugando para dentro, seu gosto e
cheiro me deixando pirado. Meu pau está pronto de novo, duro que nem
pedra.
Volto a lamber, concentrando a atenção no clitóris que está implorando
atenção. Amber grita, seus quadris se elevando para minha boca, me pedindo
desesperadamente mais. Eu coloco dois dedos dentro dela, um grunhido
escapando de mim por sentir seu calor maravilhoso, e o quanto ela me deseja.
A mim. Eu sei. Ao menos, quero saber estar certo.
Estoco com força, enquanto brinco com o montinho rijo, lambendo,
chupando e sugando.
Ela rebola na minha boca, me incentivando a ir mais rápido, então eu
sinto. Sinto tudo. Ela se estreitando por dentro, ficando mais molhada e
receptiva, me agarrando, seus dedos puxando meu cabelo, seu corpo
arqueando e ela me chamando. A mim. Só a mim.
Observo tudo, atento, cada detalhe. Quero lembrar para sempre o que é
ter Amber entregue.
— Meu Deus — ela tampa o rosto com os mãos e seu corpo dá uma
tremida quando volto a mexer os dedos dentro dela, os músculos internos
estreitos e em ondas, me agraciando por saber que eu proporcionei isso a ela.
Só eu.
Amber senta de repente, me surpreendendo, e me empurra pelos ombros,
se colocando por cima de mim. Mal tenho tempo de processar quando ela me
encaixa dentro de si e cobre meu pau com seu calor e molhado fenomenal.
— Ah, minha nossa! — ela grita, as mãos espalmando no meu peito.
Então se ergue com o apoio com joelhos, começando a subir e descer,
rebolar, remexer, gritar e me arranhar. Não há sequência. É só ela. Louca.
Louca de tesão por mim.
Agarro seus quadris, um gesto para confirmar se é real, se está
acontecendo, mas Amber agarra minhas mãos e as afasta, me lançando um
olhar mortal. Então eu a deixo no comando, fazer o que quiser, como quiser,
porque ela só está provando o inegável. Eu sou dela. Completamente. E ela
pode o que quiser de mim.
Ela se inclina para trás, apoiando as mãos no colchão e os pés também,
me dando uma visão enlouquecidamente deliciosa dos nossos corpos
conectados, então começa a se mexer, ligando e religando nós dois, meu pau
fora e imediatamente dentro do corpo maravilhoso de novo.
Cerro os punhos, me negando a fechar os olhos. Eu preciso ver isso.
Amber se entregando tão obviamente para mim. Claro que é.
Meus músculos enrijecem e meu pau começa a endurecer ainda mais. Aí
vem de novo.
— Nicholas! — ela grita, então volta à posição anterior, colidindo contra
meu corpo em sua subida e descida, de forma frenética.
Suas unhas arranham meu peito com força, e ela senta com tudo,
rebolando no meu pau e soltando um grito alto. Eu sinto em mim mesmo
quando seu corpo me puxa para dentro, pressionando minha ereção e me
fazendo ter meu próprio orgasmo junto com ela.
Meus olhos se fecham inevitavelmente, meu pau sendo torturado pelo
alívio.
Caramba!
Amber cai em meu peito, com um grito esganiçado e a respiração
ofegante, quase me fazendo sentir dor, mas estou anestesiado por inteiro e
acabado por ter tido isso. Seja lá o que significou.
Consigo erguer os braços e abraça-la, enquanto sinto nossos corpos em
sincronia por dentro. É maravilhoso. Amber selvagem, eu poderia me
acostumar facilmente com isso todos os dias. Estamos ambos suados pela
velocidade e esforço.
Então eu tomo coragem para falar. Eu preciso. Não sei o que significa
isso.
— O que foi isso? — questiono.
— Sexo selvagem da madrugada — ela sussurra, quase rindo.
Dou um sorriso, subindo uma mão para entre os fios negros e
acariciando.
Amber passa o rosto contra meu peito e se remexe sobre mim, soltando
um suspiro. Ficamos em silêncio. Acho que nada precisa ser dito. Na
verdade, precisa, mas não quero ouvir agora.
Deixo que ela fique em cima de mim, pelo tempo que quiser, até porque
eu também poderia facilmente querer morar dentro dela. Essa sensação é
incrível.
— Por que você veio? — A pergunta sai antes que eu perceba.
Sinto sua respiração estabilizada e imagino que tenha dormido, então
fecho meus próprios olhos, querendo dormir também. Porque ela está aqui,
comigo, em cima de mim, me querendo. Pelo menos hoje. Se eu tenho isso,
hoje, tudo bem então. Uma noite para relembrar dela.
— Vim porque te amo.
Eu ouvi, e não foi um sonho.
Capítulo 30

Dou um suspiro, meus olhos se esforçando para abrir. Eles estão sozinhos
nessa, porque eu quero mesmo é continuar dormindo. Eu estou ouvindo esse
barulho constante e sei o que é. Chuva. Muita chuva.
— Vamos amor, acorda.
Isto eu ouço, somado ao calor em meu rosto, então solto um gemido,
querendo imediatamente acordar.
— Ei, bom dia. — Nicholas me cumprimenta assim que consigo
visualizá—lo. Não é um sonho. Ah, não é. Ele está mesmo ao meu lado,
acariciando meu rosto, seu olhar pairando sobre o meu enquanto sorri
incrivelmente para mim. — Dorminhoca.
Tento falar alguma coisa, mas nada sai.
— Você quer passar o dia na cama? — ele pergunta, então inclina a
cabeça e passa o nariz no meu.
— Só se você for ficar comigo — murmuro, me aconchegando em seu
peito firme e quente. Ah, é. Eu poderia facilmente acostumar em acordar
assim todas as manhãs.
— Eu não posso — ele ri e sinto seus dedos se perderem por entre meus
cabelos. — Mas você sim. Quer?
— Hmm. — Isto não é resposta, eu sei, mas quero Nicholas comigo,
bem abraçado. — Você está com raiva de mim?
Imediatamente eu censuro minha boca por pronunciar meu pensamento
em forma de pergunta.
Ele se remexe, então segura meu queixo, levantando meu rosto para que
eu possa olhá-lo.
— Por que eu estaria com raiva de você? — questiona.
— Eu não sei — admito. — Apenas pareceu.
E pareceu mesmo. Me senti péssima.
— Não estou com raiva de você, Amber. É só que… — ele balança a
cabeça. — É estranho, você entende? Minha situação, que agora você sabe, e
tudo isso. Nem eu estou sabendo assimilar direito.
— Você tem medo?
— Eu tenho. Muito medo.
— Do quê? — me aproximo bem dele de novo, inspirando seu cheiro e
me sentindo relaxada de imediato.
— Do futuro — ele suspira, sua mãos me abraçando.
— Bem, você não tem que ter medo, Nicholas. Você fez algo bom. Eu
estarei te apoiando, se precisar.
Eu vim para isso. Mas não sei se posso contar a ele. Talvez ele ria. Sim,
porque não é mesmo tão simples eu chegar e dizer que estou disposta a ser
algo a mais para ele e os filhos. É quase engraçado mesmo.
— Você quer me apoiar? — pergunta, sua voz abafada contra meus
cabelos.
— Quero.
Sinto sua respiração se tornar pesada e levanto a cabeça para olhá—lo
novamente.
— Eu queria você comigo — ele fala, assim que nossos olhares se
encontram. — Você entende o que quero dizer? Junto comigo. Bem pra mim.
— Eu quero ficar com você — confesso. — Bem para você.
Nicholas dá um sorriso doce, sua mão erguendo até meu rosto. Ele
acaricia meu lábio inferior com o polegar e parece imediatamente tenso.
— O que aconteceu com você à noite?
Desvio o olhar, imediatamente envergonhada pela minha total falta de
decoro. Eu o ataquei praticamente. Mas, confesso, foi uma delícia. Uma total
delícia.
— Desculpa, eu esqueci o vibrador em casa — respondo, entre um
suspiro.
— O quê? — Nicholas parece imediatamente horrorizado.
Eu o olho, também alarmada pelo que acabei de dizer. Ninguém sabia da
existência do Bilu. Boca descontrolada.
— Ahn, eu quis dizer… — me apresso em consertar a situação. — Quis
dizer que estava um pouco…
— Um pouco? Você estava louca. E que história é essa de vibrador?
Ergo as sobrancelhas, surpresa pelo tom alterado dele.
— Uma mulher pode ter seu amigo — esclareço.
— Você — ele enfatiza, apontando para mim — não precisa ter.
Enquanto eu estiver por perto, você não precisa disso.
— Tá bom — concordo, despreocupada e satisfeita. Não me importo em
ficar sem o Bilu se eu tiver o Master Nick, que é infinitamente melhor.
— Que sorriso é esse? — questiona e eu me obrigo a parar de sorrir.
— Nada — dou um riso e me sento, segurando o lençol no corpo. Ele
faz uma careta e puxa o pano de mim, me fazendo dar um pequeno grito.
— O que você está tentando em tampar essas beldades dos meus olhos?
— pergunta, sentando também.
Eu jogo os cabelos para trás do ombros e abro um sorriso.
— É o costume.
— Costume? — ele ergue uma sobrancelha.
Merda. Não é exatamente bom lembrar hábitos de transas costumeiras
com o homem que se é apaixonada. Com Nicholas é diferente. Eu não preciso
correr para o banheiro e tomar banho o mais rápido que conseguir para tirá—
lo do meu corpo, porque eu adoro a sensação de tê—lo em mim. Dentro de
mim.
— Costume esse de não dormir pelada — completo.
Ele estreita os olhos, desconfiado, mas assente enquanto seu olhar desce
para os meus seios expostos.
— Gosta do que vê? — pergunto, controlando um riso.
Nicholas imediatamente afirma, abrindo um sorriso inigualável.
— Ah, sim. Você pode apostar com toda a certeza do mundo que eu
adoro o que estou vendo.
— Também gosto do que vejo.
Ele volta a me olhar.
— E o que você vê? — pergunta.
— Além de um homem bonito, um pai maravilhoso e uma pessoa
incrível, que é capaz de pensar em outros além de si próprio. Também vejo
um amante quente e delicioso, cheio de qualidades que o tornam mais
admirável ainda.
De onde saiu isso?
Nicholas solta um gemido, seu corpanzil se erguendo em minha direção,
até ele passar o braço por trás da minha cintura e me incitar a deitar, se
colocando imediatamente por cima de mim.
— É isso que você vê? — pergunta, tirando os cabelos do meu rosto.
— Uhum — eu afirmo. — É tudo isso.
Ele se inclina, imediatamente atacando meus lábios com os seus, em um
beijo quente e cheio de carinho. É carinho, é o Nicholas e eu estou
apaixonada. Bom demais.
Ergo as mãos, levando-as para seus cabelos e me deliciando no som que
ele emite. Ele puxa o edredom, jogando-o para o lado e fazendo nossos
corpos se tocarem e sentirem. Sua mão vagueia por mim inteira, não parando
em nenhum lugar, me instigando e me acendendo.
— Você está sendo tão boa pra mim — ele agarra meu seio, apertando e
falando contra minha boca. — Eu quero você comigo.
— Eu quero estar com você.
— Não só agora. Eu quero você.
— Eu sei, não só agora — seguro seu rosto com as duas mãos, olhando
—o nos olhos. — Eu quero estar com você — repito.
— Conosco — ele suspira. — Se você me quer, você quer as crianças.
— Elas também. Vocês todos. Ao menos tentar. Quero arriscar.
— Você quer? — Nicholas sussurra e coloca a cabeça em meu pescoço.
— Você quer nós todos?
— Sim, Nicholas. Eu quero todos vocês.
Ele se remexe, então acaricio suas costas, olhando o teto branco,
imaginando o futuro que me aguarda. Nicholas e três crianças. Três filhos.
Que não vão ser meus, mas serão ao mesmo tempo. É tão conflitante e
desesperador. Estou com medo, confesso.
Nunca na minha vida imaginei que Nicholas e eu estaríamos tão
próximos, mesmo depois de tanto tempo como quando ele foi embora. E em
pensar que naquela época ele já era sofrido e tinha tudo isso para lidar. E eu
era tão egoísta e arrogante com ele, simplesmente por ser uma covarde e não
admitir o que sentia.
— Case comigo.
Me remexo, achando que talvez eu tenha ouvido errado. Ou delirado.
Nicholas levanta a cabeça e eu vejo seus olhos marejados, me fazendo
ficar imediatamente preocupada e receosa.
— Seja minha mulher. Só minha — diz. — Se você nos quer, me quer,
quero que seja de verdade. Casa comigo, amor.
Estou imediatamente com os olhos esbugalhados, questionando o que
houve na atmosfera. Estou sonhando?
Olho para os lados, aflita e nervosa.
Me casar? Com Nicholas? Um casamento? Ser esposa? Minha nossa.
Um silêncio pesado paira no quarto, então volto a olhá—lo, que agora
prende o lábio inferior entre os dentes, parecendo agoniado.
— Desculpe — fala. — Eu não deveria ter dito isso. Eu quis demais.
Des...
— Eu aceito — o interrompo.
Ele para de falar, sua boca abrindo um pouco mais, seus olhos me
estudando. Então um sorrisinho surge.
— Você aceita?
— Aceito — confirmo. — E quero.
Nicholas imediatamente começa a rir e observo lágrimas caírem dos
seus olhos. São lágrimas. Ele está chorando e rindo? Que estranho.
— Meu Deus, Amber — ele me abraça, sua cabeça indo novamente para
meu pescoço e eu sinto o molhado das lágrimas. — Você acabou de fazer um
homem o mais feliz da Terra.
Eu dou um sorriso, o abraçando pelo pescoço e enroscando minhas
pernas em sua cintura.
Tudo bem. Eu disse sim a ele. Vamos nos casar.
O que vem agora?
Capítulo 31

Estou me sentindo um pouco estranha enquanto Nicholas está em pé ao


lado da mesa, me olhando com um sorriso persistente. Ele já está fazendo
isso há uns quinze minutos. Tento focar nas três crianças que agora fazem
bonequinhos e outras coisas com a massa que eu fiz.
Isso aprendi com minha mãe e meu pai. Quando Luke e eu éramos
pequenos, eles faziam isso. Depois fritavam e a gente comia. Era muito
divertido. Uma vez meu irmão comeu a cabeça da minha boneca e eu chorei
sem parar. Ele só ficou rindo. Mas Luke sempre foi desses. Muito implicante.
Termino de formar minha rosa e olho novamente para cima,
encontrando o olhar dele.
— Posso falar com você? — ele pergunta.
Eu somente assinto, enquanto levanto e limpo a farinha das mãos no
pano que está em cima da mesa.
Nicholas caminha até o deck que tem por trás da casa e a porta da
cozinha dá acesso. Então eu me surpreendo quando sou puxada para um
abraço. Forte e bem quentinho.
Bem, a verdade é que não estou entendendo nada com nada ainda. Estou
muito alienada com isso de ter aceitado me casar. Com Nicholas e sua
família. Não que eu esteja arrependida, porque eu o quero muito. Mas, não
sei… Não parece real.
— Estou muito feliz — ele murmura, enquanto inspira contra meus
cabelos. — Muito, amor.
— Fico feliz por isso — o abraço de volta.
Fico mesmo. Se ele está, também estou.
— Eu quero falar com seu pai pessoalmente.
Me afasto, um pouco desconcertada. Está bem que meu pai está ciente
da situação e não liga para ninguém mais além dele. Mas, ei, ele ainda não
sabe que era de Nicholas Morrison que eu estava falando. O queridinho dele.
Ele pode facilmente ter um infarto.
— Ahn... Quando?
— Amanhã. Vamos voltar amanhã, vou falar com ele e nós podemos
marcar a data. — Nicholas tem os olhos brilhando enquanto fala.
Eu concordo.
— Tudo bem.
— Você não parece feliz — ele comenta, parecendo decepcionado de
repente.
Balanço a cabeça, dando um passo à frente e pondo as mãos em seu
peito.
— Estou. Falo sério. É só que… Eu não estava preparada. Foi inusitado.
— É, amor. Foi — ele me afasta pelos ombros, para poder me olhar
melhor. — Mas você disse sim porque queria, não é? Não foi só por impulso?
— Sim, claro. Eu quero. Mas você tem que entender, Nicholas. Eu estou
assimilando ainda.
Ele me avalia, pensativo, então assente. Sua boca imediatamente
encontra a minha e eu me perco no gosto dos seus lábios, eles me acalmando
de uma forma imediata e celestial.
Me agarro aos seus ombros, buscando apoio, ao mesmo tempo que a
língua dele encontra a minha e me relaxa.
Isto é diferente. Esse beijo e todos os toques que se seguiram desde que
levantamos. Ele está me tocando imperceptivelmente. Sempre que pode. E
me lançando sorrisos e beijos no ar. Eu me sinto diferente. Mas é bom. Uma
sensação que dá um frio louco na barriga e faz o coração acelerar. Uma
adrenalina surreal. Mas é bom.
— Licença — ouvimos e Nicholas imediatamente se afasta.
Olho para o lado e vejo Edward na porta, com um sorriso e sem dois
dentes na frente.
— Nós acabamos de esculpir nossas artes — ele avisa.
Olho para Nicholas, sorrindo, e afasto as mãos dele da minha cintura.
— Vou fritar a arte das crianças.
Ele parece chateado, enquanto me solta relutante.
Eu me aproximo do garotinho e coloco a mão em seu ombro, induzindo
—o a caminhar comigo de novo para dentro.
— Meu pai é apaixonado por você? — pergunta.
Dou risada.
— Acho que é — olho para ele.
— Então você deveria ser companheira dele.
— Eu deveria mesmo — concordo.
E vou. Só não sei quando Nicholas vai contar a eles. E estou apreensiva
quanto a reação.
— Deveria — ele repete. — Você vai?
— Por que você não volta lá e pergunta você mesmo? — bagunço os
cabelos dele.
Edward sorri e assente, então volta correndo ao deck.
Me aproximo de Christian e Emily, que tem farinha em todo corpo, mas
sorrisos lindos nos rostinhos e imediatamente estou sorrindo também. Isso
pode funcionar, afinal de contas.

....

— Eu nunca vi esse na TV — Edward comenta, enquanto vira o boneco


na mão, inspecionando.
Eu me controlo para não rir, coisa que Nicholas não consegue.
— Ei, você está sendo mal—educado — Christian repreende o irmão. —
Nós somente agradecemos quando recebemos um presente. Lembra o que o
papai ensinou? Nada de expressar mesmo que não tenha gostado.
Edward assente, então me olha.
— Obrigado, Amber. É muito legal — agradece.
— De nada. Que bom que você gostou.
Quero muito rir do rostinho forçando uma alegria que não existe. Eles
são muito fofos e educados, coisa que eu não costumo notar nas crianças que
conheço.
Christian coloca seu Ken devidamente bem guardado na caixa de volta e
se levanta do chão, vindo até mim no sofá e me dando um beijo no rosto.
— Obrigado — fala.
Eu fico um pouco estática com a ação, mas dou um abraço nele e o puxo
para sentar em meu colo.
Ele abre um sorriso imenso para mim e se remexe sobre minhas pernas,
apoiando a cabeça em meu peito.
Levanto a cabeça e vejo Edward e Emily analisando a cena. Eles
parecem curiosos.
— Cabe todo mundo — Nicholas declara e estende as mãos.
Eles imediatamente se levantam, esquecendo qualquer brinquedo, então
cada um senta ao meu lado no sofá, apoiando as cabeças em meu braço.
Dou um sorriso, muito contente pelo que vejo. Eles estão desesperados
por um tipo de afeto, isto é notório. E eu posso dar isso a eles. Posso sim.
Sinto o calor quente em meu ombro e logo encontro o par de olhos
claros ao meu lado também. Nicholas se inclina, deixando um beijo
demorado em minha testa, enquanto espreme Christian para conseguir
completar sua ação. A mão dele aperta meu ombro ao mesmo tempo, em um
carinho desesperado. O menino ri, se remexendo entre nós.
— Nós parecemos uma família completa — Edward diz.
— Eu também acho isso — Christian concorda.
Fecho os olhos, surpresa pela onda de emoção que me percorre ao ouví
—los, tão sinceros e parecendo fascinados.
Eu quero que sejamos uma família. Gosto dessa ideia. É boa. Mas não
sei se vou conseguir ser tudo que eles precisam. Dar tudo que eles precisam.
— Vocês gostariam que eu colocasse um filme?
Abro os olhos e vejo que Lilian fez a pergunta. Ela apareceu não sei de
onde, mas agradeço por isso. Já estava quase chorando.
— Sim! — as crianças gritam.
— O relâmpago McQueen, para Amber conhecer — Christian fala.
— Não, a Barbie — Emily intervém, com a vozinha baixa.
— Barbie é chato — Edward resmunga.
— Vamos deixar a Amber escolher — o primeiro declara e todos os
pares de olhos estão voltados para mim em um instante.
— Ahn... — penso um pouco e paro meu olhar em Emily, que parece
tão suplicante, mesmo em silêncio. — Vou querer ver a Barbie.
Os meninos imediatamente soltam uma bufada, desacreditados.
— Tudo bem — Edward suspira. — Vamos ser cavalheiros e ver a
Barbie com elas.
Eu começo a rir, sendo acompanhada por Nicholas e Lilian.
Fico mais tranquila então. Realmente eu posso tentar fazer funcionar. Eu
amo Nicholas. Por ele, eu posso tudo.
Capítulo 32

— Não estou aceitando isso — repito.


— Por que não? Ele pode ajudar a gente. Ajudar você — Amber
garante, segurando meu rosto com as duas mãos, enquanto se remexe sobre
meu colo.
— Covardia — resmungo. — Você não pode me esperar negar por
muito tempo enquanto está desse jeito em cima de mim.
Ela abre um sorrisinho convencido.
— Vamos lá, diga que sim — pede, enterrando os dedos por entre meus
cabelos, fazendo minha cabeça ir para trás e encontrar contra a cabeceira da
cama.
— Ah, amor... Para, não consigo pensar.
— Não pense, só diga que sim. Diz o que sua noivinha quer ouvir — ela
morde meu pescoço. Fecho os olhos pelo choque do contato.
Noiva. Minha noiva. Amber. É bom demais.
— Você nem conhece o cara, Amber — levanto a cabeça e olho para
ela. — Como pode pensar em confiar nele? Quem garante que não vou ser
preso por ele mesmo?
Ela parece horrorizada.
— Desmond é um babaca, mas não faria nada disso. Ele pode ajudar.
Me deixa contar seu caso a ele.
— De onde você o conhece? — questiono.
— Dos negócios.
— Não gosto disso. Qual seu nível de intimidade com ele?
Ela franze o cenho e depois bufa.
— Nenhum. Estou tentando arrumar uma forma para poder dar um
início à vida que queremos. Vamos nos casar, ao que parece, e eu quero viver
tranquila, não com medo do meu marido ser preso a qualquer instante e
levarem as crianças.
Ela para de falar, me encarando meio surpresa pelas próprias palavras.
É uma verdade absoluta que há mesmo tais riscos. Mas... Envolver
policial no meio? Não confio.
— Não sei... — murmuro.
— Vamos lá, Nicholas — ela rebola em meu colo, me tirando um
gemido.
— Não faz isso — seguro—a pela cintura, parando seus movimentos. —
Me deixa pensar um pouco.
— Pensar em quê? Não há o que pensar. Ele pode ser confiável. Meu pai
também deve conhecer algum advogado confiável. Acho que é a tia Alice que
tem um amigo advogado. Um tal de Victor. Nós podemos falar com ele.
Resolver isso direito, pôr em ordem... Quero fazer funcionar.
— Também quero, mas estas coisas não são tão simples como você está
fazendo parecer — olho bem para ela. — São as vidas de três crianças que
estão sendo colocadas em risco. Eu morro por eles, Amber. Não vou permitir
que nada de ruim os acontença.
— Eu sei — ela afirma, suas mãos vindo de encontro ao meu rosto e
acariciando minha barba. — Não duvido disso. Apenas falo porque você me
pediu em casamento. Estou me sentindo com uma responsabilidade enorme
agora.
— Não quero que seja um fardo para você...
— Não! — ela me interrompe de imediato. — Não é nada disso. Estou
querendo dizer que agora também é da minha conta o que acontece com você
e eles. Eu quero que seja. Quero cuidar deles, de você.
— Você quer?
Amber afirma com um manear de cabeça.
— Me deixe falar com ele — insiste. — Pode funcionar.
— E se não funcionar?
— Bem, ele pode nos dizer o que fazer, pelo menos. Não faço ideia de
como deve se agir com um cara que rouba os filhos da irmã e essa irmã some
sem saber onde devem estar.
— Isto não foi engraçado.
— Não foi para ser.
Me remexo, suspirando.
Amber parece incomodada e sai de cima de mim, então levanta e puxa a
camisa para baixo e ameaça andar.
— Aonde você vai? — pergunto.
— Para o quarto, dormir.
— Não, você vai dormir aqui. Comigo.
— Não parece uma boa ideia, no momento. Você parece não estar
querendo muito conversar sobre o futuro.
— Não é isso, você sabe.
— Não. Porra, Nicholas, eu não sei, tá legal?
— Por que você está estressada? — questiono, descrente.
Ela bufa, pondo as mãos na cintura.
— Não estou estressada.
— Isso é o que então?
— Você, caramba! — aponta para mim. — Poxa, estou tentando mostrar
algumas formas de mudança, para você ter felicidade plena e merecida, e
você não quer. Está rejeitando.
— Você tá pedindo para eu confiar em quem eu não conheço.
— Mas eu conheço.
— Mas eu não!
— Quer saber? — ela gesticula. — Faz o que você quiser então. Eu
estou indo dormir. Boa noite.
Depois de um dia incrível que tivemos juntos, ela vem querer arrumar
discussão? No dia que eu a pedi em casamento? Não. Não é assim que
funciona.
Eu me levanto, a tempo de alcançá—la antes que chegue até a porta.
— Nicholas, eu não gosto de ser tocada quando estou com raiva — ela
fala, tentando se desprender do meu abraço.
— Bem, estou pouco me importando — a viro para mim. — Além do
mais, você não tem motivos para estar com raiva.
Ela bufa, sua pele atingindo um tom avermelhado.
— Não tenho? Jura?
— Quem jura, mente. Quem mente, rouba e quem rouba, mata. Então eu
não juro. Eu tenho certeza.
— Você é um babaca.
— Me faz entender então por que eu deveria confiar a minha vida e dos
meus filhos a esse cara — peço, dando um passo para trás.
Ela me avalia.
— Porque ele pode ajudar. Ele é policial.
— Isto não me justifica nada.
— Ele gosta de mim, pode ajudar por isso.
— Ah — dou um sorriso, irônico. — Faz muito sentido agora.
— O que faz sentido? — Parece confusa.
— Escuta, não é porque um cara gosta de você que ele vai fazer tudo o
que você quer, Amber. Não funciona assim. Arrisco a dizer que ele pode me
colocar na prisão quando souber que sou seu noivo, aliás.
Ela estende as mãos.
— Ok, não diz mais nada. Eu entendi o seu ponto. Nós vamos casar e
viver enclausurados. Parece funcionar muito bem, com certeza. Sem receber
visitas e nem ninguém. O que você vai dizer ao meu pai sobre isso?
— Você está tentando arrumar motivos para achar errado se casar
comigo?
Amber ri, incrédula.
— Nicholas, motivos para não casar com você, já tem de sobra. E pra
casar também. Só estou tentando achar soluções para os problemas.
— Eu tenho uma vida. Há coisas que não podem ser mudadas nela.
— Isto pode.
— São meus filhos.
— Não quero tirá—los de você, pelo contrário.
Volto para a cama, contrariado já.
— Não, eu não aceito que você fale com o tal cara — aviso.
— Ok, então — ela suspira. — Boa noite.
— Não, volta aqui. Você vai dormir aqui.
— Eu vou dormir onde eu quiser — decreta e sai.
Simples assim. Malcriada assim.
Isso não parece certo.
Eu me levanto de novo, injuriado por ter que lidar com essas mudanças
de humor dela em apenas vinte e quatro horas. Não é fácil. São meus filhos.
E um segredo que é escondido a sete chaves.
Mas eu estou estressado e Amber também. E só há uma coisa que
resolve isso, é claro.
Eu a alcanço no corredor e a pego no colo, muito de surpresa. Ela grita.
— Não grita porque você não quer acordar as crianças — deixo claro.
Ela se remexe, dando tapas em minhas costas.
Nos levo de volta ao meu quarto e tranco a porta, caminhando até a
cama e colocando Amber em cima, de bruços.
Levanto a camisa grande que ela usa e imediatamente puxo a calcinha
rosa por suas pernas, imediatamente ligado ao ver tudo que me é concedido.
Amber grita e se arqueia quando deposito um tapinha no traseiro
delicioso, então se remexe no colchão.
— Você está merecendo umas palmadinhas, amor. Pela sua língua.
— Idiota! — ela resmunga, tentando me olhar. — Isso não é justo!
— O que não é justo? — separo sua pernas e logo meus dedos estão em
seu sexo, me deixando satisfeito por encontrá—la quente. Sempre. Amber é
sempre quente. Coloco dois dedos bem fundo e os mexo.
Ela geme, se abrindo mais para mim.
— Não é... — fala, trêmula. — Você fazer isso. Não são assim que se
resolvem assuntos.
— Não estamos resolvendo assuntos — esclareço, me inclinando até
estar de joelhos. — Estamos fazendo as pazes. Você foi uma menina rebelde.
Ela faz um barulhinho delicioso e eu substituo meus dedos pela boca,
imediatamente meu lado homem das cavernas vindo à tona quando sinto seu
cheiro e gosto. Poderia morrer feliz se fosse agora.
Ela se arqueia na cama, se balançando contra minha boca, gemendo meu
nome.
Eu não paro. Nem poderia. Chupo tudo que posso, lambendo e sugando
ao mesmo tempo. Amber é deliciosa. Eu fico louco.
— Mais forte! — ela grita.
Dou risada, minha mão depositando outro tapinha nela, que solta um
gemido delicioso.
Mantenho o ritmo lento, do contrário que ela quer. Porque é bom uma
pequena tortura vez ou outra.
— Mais, Nicholas! — ela insiste, prensando—se mais contra meu rosto.
Afasto a boca, me levantando e colocando os dedos para brincar um
pouco de novo.
Amber resmunga de frustração.
Dou beijos em suas costas, até a nuca. Ela vira a cabeça, toda linda e
selvagem, me lançando um olhar mortal, capaz de me deixar alucinado de
tesão.
— Eu vou me vingar — afirma.
— Vai? — lambo seus lábios, que imediatamente se abrem para mim,
mas eu afasto o rosto.
Ela reclama e eu rio mais.
— O que você tá precisando? — pergunto.
— Que você pare de ser um babaca!
Ela leva outro tapa, então grita.
— Você gosta disso — observo. — Bom saber, mas, resposta errada,
amor. Agora diga, "Nicholas, eu preciso do seu maravilhoso e suculento
pau".
— Não! — grita, me olhando, os cabelos grudados na testa e no rosto,
de suor. — Vou te capar!
— Não, não vai — dou um sorriso, meus dedos se infiltrando no calor
delicioso de novo. — Vamos lá, você está perdendo tempo.
— Você é um cretino — ela abaixa a cabeça contra o colchão, se
remexendo contra meus dedos, choramingando.
Eu me afasto, voltando a ficar de pé, desgrudando o contato.
Amber se mexe, então vira a cabeça e eu dou um sorriso.
— Babaca, idiota — ela vira, ficando de costas contra o colchão. — Eu
não preciso de você.
Então imediatamente eu perco qualquer fôlego quando ela abre as
pernas e começa a se tocar sozinha. Na minha frente. É demais para o meu
raciocínio.
Já estou bem louco mesmo.
Não é preciso muito, logo estou observando enquanto ela entra em um
clímax forte, se arqueando lindamente sobre os lençóis, seu corpo inteiro
tremendo. Sem dúvidas, uma das cenas mais lindas de se ver.
Meu corpo reage sozinho quando me vejo livre do short e subo na cama,
me colocando sobre ela, que ainda tem espasmos. Me enterro dentro dela,
Amber soltando um grito, e eu outro quando recebo uma mordida no braço e
com uma só estocada eu me vejo chegando ao meu próprio êxtase.
Simples assim. Intenso do mesmo jeito.
— A conversa ainda não acabou — ouço ela dizer, mas estou em estado
vegetativo parcialmente, então só fico em silêncio.
Capítulo 33

— Por que você está balançando as pernas inquietamente desse jeito? —


Nicholas pergunta.
Nós estamos no táxi, quase chegando na minha casa, onde ele vai dizer
tudo ao meu pai. Ao meu pai. Nicholas vai contar ao meu pai que me pediu
em casamento. Ao meu pai . Philip Mackenzie. Por que eu posso perguntar,
não é o mesmo?
— Estou nervosa — admito, olhando—o.
Estou nervosamente duplamente porque preciso me lembrar de
perguntar se minha mãe tem alguma pílula ou se você não quer procurar
Amy, ou se não posso estar com um filho de Nicholas crescendo neste exato
momento. Mais um. Estou suando frio. Me chame de burra, mas eu não
esperava que nós iríamos transar. Ok , eu sou burra.
Ele sorri, tranquilamente.
— O seu pai é fácil de lidar — fala.
Eu concordo, sorrindo sorridente irônica.
É o mesmo. Muito fácil.
Ele não sabe a história de Ian Stanton, que circula até hoje na
Silver? Meu pai quase quebrou ou cara porque ele fez algo com minha
mãe. Bem, esse algo que nunca descobrimos ou que era e nem contaminação.
— Ele não pode me matar, é o que me deixa mais feliz — Nicholas
aponta.
— Não pode. — Eu acho.
Eu espero mesmo que não. Ele resolveu não ir trabalhar só porque eu
disse que a conversa era muito séria e tinha que ser em casa. Mas não é
exatamente séria, é perigosa também. E ele não sabe que Nicholas está junto.
Não sabe de nada, coitado.
Nós descemos do veículo assim que o taxista estaciona e eu já caminho
para casa, subindo os degraus da varanda, aflita por ver em qual estado de
humor está o senhor meu pai. Sim, porque ele tem tanta alterações de humor
e estado quanto uma mulher. É pior do que minha mãe e eu juntas. Mas é
fácil de resolver. É só jogar ela em cima dele.
Eu giro a maçaneta e olho para trás, esperando Nicholas caminhar até
mim. E aproveito a vista também. Ele está delicioso em uma pólo Ralph
Lauren preta e uma calça branca demarcando as coxas deliciosas, e os all star
pretos, também. Um contraste perfeito contra os cabelos escuros e os olhos
claros. Uma delícia de homem. Meu. Meu noivo. Já estou imediatamente
sorrindo e relaxada.
— Não me olha assim ou eu posso te levar embora agora mesmo de
novo — ele me repreende, me alcançando e colocando a mão por cima da
minha na maçaneta. — Vamos logo resolver isso.
— Você poderia me levar embora, porque estou com medo — debato.
Ele sorri.
— Eu vou levar a pior e você está com medo, amor?
— É, pois é. Também não quero ver você levando a pior.
— Relaxe — ele ri, balançando a cabeça. — A gente ouve e pronto.
Eu concordo, mordendo o lábio e respirando fundo, então entro. Logo
avisto meu pai na sala. Ele está somente com um short enquanto avalia algo
que tem mãos.
— Ô, Natalie — ele chama, sem notar minha presença. — Eu pensei que
você tinha me dito que jogaria esse troço fora.
Minha mãe surge da porta do corredor, lambendo os dedos e parecendo
entediada.
— Eu gosto desse pato e ele vai ficar na minha estante sim. Porque eu
quero — responde.
Meu pai bufa, olhando—a com contrariedade.
— Boa tarde — Nicholas fala e eu mesma levo um susto. Filho da mãe.
Meus pais imediatamente nos olham, ambos muito surpresos. Então ele
me induz a caminhar até estarmos na sala.
Meu pai pisca os olhos claros algumas vezes e põe o objeto que tem em
mãos em cima da mesinha.
— Nicholas? — pergunta.
Minha mãe solta uma risadinha.
— Não, o holograma dele — responde.
Meu pai a olha com repreensão e ela para de sorrir em um instante.
— O que significa isso? — ele me olha.
— Gostaria de conversar com o senhor — Nicholas responde.
— Bem, eu imagino que sim. Só não espero que a minha filha tenha
alguma coisa a ver com essa conversa. Aliás, você me disse que viajou a
trabalho — ele me acusa.
— Foi, sim — afirmo, já nervosa demais.
— Para de ser um bruto, Philip — minha mãe caminha até nós e nos
chama para sentar no sofá. E eu vou, porque já estou quase com as pernas
bambas demais. — Então, como assim três filhos?
Minha respiração falha por uns instantes e eu vejo meu pai olhá-la,
parecendo pasmo. Eles sentaram de frente para nós.
— Três filhos? — ele cospe a pergunta.
Ela revira os olhos para ele.
— Você é idiota ou o quê? Acha que era de quem que ela estava falando
agora que apareceu aqui com ele?
— Não pensei que fosse dele — meu pai olha para Nicholas, estupefato.
— Você tem três crianças consigo?
Ele somente afirma, dizendo um 'sim, senhor'.
Meu pai parece num transe, encarando—o de olhos arregalados, então
me olha, parecendo mudar para triste.
— Amber, você não me disse nada disso — fala.
— Estou dizendo agora, pai. Desculpe, eu não podia antes.
Ele balança a cabeça, parecendo lamentar.
— Eu a pedi em casamento — Nicholas expõe e eu começo a suar de
verdade. Tudo está indo muito rápido, ele nem explicou a história, eu não
imaginei que seria assim.
Meu pai começa a rir, enquanto é a vez da minha mãe entrar em um
transe, de olhos arregalados.
Eu espero, agoniada, o corpo frio e as pernas balançando inquietas.
— Mas, há um por quê... — tento dizer e Nicholas me interrompe,
segurando meu braço e puxando minha mão para a sua, entrelaçando nossos
dedos.
— Há mesmo — afirma. — São meus filhos e eles vão comigo para
onde eu for. A Amber entendeu isso e aceitou mesmo assim. Ela já é uma
mulher adulta e pode escolher por si só, porém eu sei que é meu dever
informar a vocês, que são os pais e eu tenho muito respeito. No entanto, se é
o que ela quer, não vou permitir que a tirem de mim só porque parecem
muito alarmado por ter três crianças comigo.
— Não seja um filho da puta — meu pai protesta, de imediato. — As
crianças não são culpadas por seja lá o que aconteceu, a minha filha que me
preocupa. Ela vai deixar a vida que tem, livre, para se casar com você, que
tem três filhos já. Isso não parece nenhum pouco justo com ela, você não
acha?
— Não acho justo eu também ser pai de três crianças e sou mesmo
assim.
— Se você não sabe usar camisinha, isto não é um problema meu e nem
da minha filha.
— Philip! — minha mãe o repreende.
Eu olho para Nicholas, esperando que ele conte a real história, mas não
parece ser o que ele quer, já que está bem tranquilo olhando para meu pai.
— Isso não parece certo — meu pai esclarece, me olhando. — É o que
você quer? Ficar com um homem que já tem três filhos? Você sabe o que é
cuidar de uma criança? Imagine três. Além do mais, todo seu trabalho vai ter
que ser colocado em segundo plano.
— Eu falei com o senhor, e ouvi que se eu o amasse, poderia ser
suportável — o lembro.
— É — ele gesticula, desesperado. — Mas agora parece ser muito real.
Eu não posso imaginar minha filha com três filhos desse jeito. Você ainda é
uma menina, meu Deus do céu!
— Ela não é uma menina, é uma mulher — Nicholas ressalta. — E neste
momento pode estar carregando outro filho meu.
Eu fico imediatamente estática, olhando-o boquiaberta e de olhos
esbugalhados, meus pais com as mesmas expressões. Ele é louco,
definitivamente.
A risada da minha mãe logo preenche o ambiente e ela começa a
gargalhar, se apoiando no corpo do meu pai, que ainda está em choque.
— Ai, Philip — ela fala, entre risos. — Deus te deu seu próprio espelho
como genro.
Meu pai a fulmina com os olhos, mas ela nem percebe, enquanto tenta se
recuperar.
— Eu não estou pedindo nada mais que sua aprovação, Philip —
Nicholas diz. — Se tem uma coisa que aprendi nestes anos, foi que eu posso
sustentar e cuidar da minha própria família sem depender de terceiros. Eu
também tenho uma filha, e não imagino como você deve estar se sentindo,
porque eu já teria batido em mim mesmo, se fosse o caso. Mas acontece que
eu amo a Amber. E ela está disposta a tentar fazer dá certo. E, se é o que ela
quer, não vai ser você e nem ninguém que vai impedir.
— Você está desafiando a minha autoridade dentro da minha própria
casa? — meu pai pergunta, incrédulo.
— Jamais. Estou esclarecendo as coisas.
— Vou esclarecer minha mão na sua cara, seu desgraçado. Foi para o
lado da Amber porque ela é inocente. Eu sei o que você está fazendo. A mãe
dela era do mesmo jeito — ele aponta minha mãe, que está muito nem aí para
todo o alarde dele. — Mas eu soube cuidar dela, não foi só uma paixãozinha.
— Para de ser um crianção, meu amor — ela alisa o braço dele. — Devo
relembrar a você que primeiro você me tratou como uma prostituta e me fez
ir parar em um hospital, para poder voltar e chorar que nem um cachorrinho
pidão nos meus pés?
Ele parece chocado e eu também, porque isto para mim é novidade. Que
história é essa? Eu sabia que ele sumiu por um ano, mas isso aí, não.
— Foi muito diferente — tenta se justificar.
— Não foi diferente. Você foi um grande ordinário e desgraçado. Pelo
menos o Nicholas não fez a Amber sofrer de um jeito que a magoou. Ele está
sendo homem suficiente para vir aqui e te pedir permissão, estando disposto a
ouvir os seus chiliques. Se eles querem, eu não vou impedir e você também
não. Nós vamos apoiar, porque é isso que os pais fazem. E, se quebrarem a
cara, nós ajudamos, porque é nosso dever também. Agora, ficar debatendo e
dizendo não, não é a solução. Porque não está no seu poder dizer ou não o
que ela vai fazer, não mais. Eu sugiro que você aceite e pare com essa
ladainha de pai autocrático, porque a Amber não é mesmo mais uma menina.
— Você está me dizendo o que fazer? — Meu pai está indignado.
Minha mãe se vira para nós, com um sorriso debochado.
— Como se isso fosse novidade… — murmura.
Eu dou um sorriso, agradecendo a ela interiormente e sinto Nicholas
apertar minha mão, então fico menos aflita.
— Eu não gosto disso — meu pai deixa claro. — Estou muito novo para
ser avô.
— Cai na real, Philip — ela o olha. — Você não está velho. São
apenas… — gesticula. — Os percursos da vida. O seu pau ainda vai subir,
relaxa.
Abro a boca, escandalizada e envergonhada. Eles não conseguem ter
nenhum decoro mesmo, mesmo em momentos sérios como esse.
— Claro que vai — meu pai a olha. — Enquanto você estiver comigo,
ele vai. Todo dia e toda hora.
— Isso aí — minha mãe concorda, dando tapinhas em seu ombro.
Nicholas atrai meu olhar com o seu e eu vejo sua expressão de
desentendimento e descrença.
— Vou colocar o almoço na mesa — minha mãe declara. — E você se
comporte como um bom menino ou vai ficar de castigo — avisa para meu
pai, então se levanta e caminha até minha frente, estendendo a mão para mim.
— Vem me ajudar, filha.
E eu vou, deixando Nicholas sozinho com o meu pai, porque acho que a
única coisa que preciso no momento é do abraço da minha mãe, me dizendo
que tudo vai acabar bem, mesmo que não vá.
Capítulo 34

Philip me lança um olhar que me daria arrepios, se eu já não estivesse


mais tranquilo com relação à certeza que Amber me transmitiu de querer ficar
comigo. Pode vir o que vier então, ela me quer.
— Eu estou me controlando para não arrebentar a sua cara — ele destila,
cheio de fúria.
Eu fico quieto, o encarando. Não tenho o que dizer mais. Já falei o que
tinha para falar. Sei que é completamente insano querer tirar Amber da casa
do pai e coloca-la comigo, que já tenho uma vida pronta. Mas, aconteceu.
Essas coisas não se explicam.
— Escuta bem — ele aponta bem para mim —, eu sei da sua capacidade
profissional, mas não sei da de cuidar da minha filha. Eu a conheço, e essa é a
sua sorte, porque ela me suplicou com o olhar que entendesse. Mas eu vou te
dizer uma coisa, se eu ao menos imaginar que ela está sofrendo ou pensando
em sofrer, eu vou ao inferno atrás de você, porque ninguém machuca as
mulheres da minha vida.
— Não é minha intenção, muito pelo contrário.
— Cala a boca e não me interrompe enquanto eu estiver falando —
gesticula. — Como você pretende arcar com os custos de três crianças e uma
mulher? Porque eu não deixo faltar nada para minha filha e eu espero que
continue da mesma forma.
— A partir do momento que a Amber se casar comigo, vai ser a minha
mulher, e vai estar sob a minha responsabilidade — deixo claro, no tom mais
calmo que consigo. — O que vai acontecer entre nós, vai ser problema nosso
e não mais seu, porque eu vou ser o marido e não você.
Philip parece consternado, então enfia os dedos por entre os cabelos e os
puxa com força, enquanto solta uma respiração pesada.
— Tremendo filho da mãe — resmunga. — Você não pode tirar minha
filha de mim e dizer isso. Eu não confio ela a você dessa forma. Ainda mais
tendo três filhos juntos — ele parece muito agitado. — O que aconteceu com
a mãe deles?
— Ela foi embora. — Não estou mentindo. Ela realmente foi embora.
— Por quê?
— Era incapaz de cuidar deles. Eu os peguei para mim. São meus e eu
não abro mão deles por nada.
Ele me avalia, passando as mãos no rosto, muito concentrado em
arrumar forças para não me espancar, com toda certeza.
— Não espere que eu vá te elogiar por cuidar dos seus filhos porque não
está fazendo mais que sua obrigação — declara. — São seus e você tem que
cuidar sim, eu não estou nenhum pouco emocionado com isso. E nem vou
ficar. Eu não me importo absolutamente com o que te levou a ficar com três
crianças, mas a Amber me importa. O que você pretende, Nicholas?
— Eu já disse o que pretendo. Eu amo a Amber e quero ela para mim.
— Para com isso! — ele desenha, com irritação. — Eu não quero ouvir
essa ladainha de moleque apaixonado. Você não ama a Amber, porque o
amor leva tempo, ele não é um momentinho, seu filho da mãe! Ele envolve
convivência, envolve a forma como um se doa e cede ao outro, a forma como
encaram os problemas e circunstâncias e, o principal, a maneira de lidar com
os defeitos um do outro no dia a dia. Porque a paixão passa, ela acaba. Isso é
o que vale, isso é o que constrói o amor, o tempo. Então não, não me venha
dizer que você ama a Amber, porque não ama.
— Você não pode dizer o que sinto — debato.
— Escuta aqui, seu pirralho — Philip levanta e caminha à minha frente,
me pegando pela gola da camisa e me fazendo levantar também. Seus olhos
me perfuraram sem pudor, enquanto ele parece um touro raivoso, me
segurando. — Eu posso sim dizer o que você sente, porque eu já senti. Eu sei
o que é querer o que você quer.
— Então me deixa ter, porra! — eu o empurro pelos ombros e ele
grunhe, me fazendo cair no sofá com um empurrão.
— Ficou louco? — questiona, se ajoelhando e segurando em meu
pescoço com uma mão, quase me enforcando. — Eu sou ex lutador, seu filho
da puta. Posso te quebrar com um chute.
— Estou me fodendo para o que você é, Philip — falo, meio engasgado.
— Você não vai me impedir de ter a Amber.
— Pai! — eu ouço a voz dela e em instantes estou tossindo para aliviar a
pressão na garganta quando ele se afasta depressa, se colocando de pé.
— Ai, Philip, você é tão neurótico — ouço a voz da esposa e logo estou
sendo tocado por Amber, que parece desesperada.
— Ele te machucou? Levanta a cabeça. Deixa eu ver. Meu Deus. Pai, o
senhor enlouqueceu?
Philip emite um som de deboche e desdém.
— Eu nem encostei nele — fala.
— Não encostou? — Amber parece horrorizada. — Ele está com o
pescoço vermelho!
— Isso foi só um toque, nada de mais.
— Você sabe o que essa ação vai te render, não é, meu amor? — Sra.
Mackenzie questiona.
— O que você quer dizer com isso? — ele rebate, muito sério de
repente, olhando-a.
Amber me acaricia o pescoço, me olhando com pena ao mesmo tempo.
— Não — Philip rosna, parecendo entender então. — Você não vai me
dar esse castigo de novo. Eu estava protegendo nossa filha, Natalie!
— Protegendo? — ela ri e aponta para mim. — Você machucou o
Nicholas.
— Não machuquei! Isso foi só uma mancha.
— Uma macha dessa sua força, seu maluco!
— Dane-se, Natalie — ele volta a me olhar e tira Amber da minha frente com
muita facilidade, simplesmente a levantando e colocando a seu lado. Então
inclina-se para mim, apontando em meu rosto. — Você não tem a minha
permissão até provar que pode tê-la. Porque digno dela, você nunca vai ser,
nunca.
— Eu não preciso te provar nada.
Philip ri.
— Ah, você precisa — afirma. — Precisa muito. E os seus filhos, quero
conhece-los também. Sua vida com a Amber depende da minha resposta e
não da dela.
— O senhor não pode fazer isso! — ela protesta, inconformada.
Ele estende a mão para ela.
— Calada. Eu sou o seu pai. Eu decido o certo. Você entendeu,
Nicholas?
Respiro fundo, buscando uma paciência que eu já sou acostumado a
angariar por ter três crianças pequenas, então assinto.
— Entendi — confirmo.
Philip me olha por um tempo, me avaliando, então se coloca de pé.
— Ótimo, vamos almoçar — diz e se afasta, enquanto eu observo
Amber sentar ao meu lado e me lançar um olhar que me desaba.
Esse olhar. Não quer dizer nada bom.
Capítulo 35

— Você está bem? Desculpe pelo meu pai — me apresso em dizer para
Nicholas, que agora está massageando o próprio pescoço. — Eu não sabia
que ele reagiria assim.
— Nem eu — ele tosse.
Aliso suas costas, desesperada por fazer com que se sinta melhor. Meu
pai é louco e agora eu já não estou tão certa de que dizer sim ao Nicholas me
fez bem, ou até a ele mesmo.
— Ele só está um pouco irritado — explico.
Ele me olha, muito triste aparentemente, o que me corta o coração.
— Eu não me importo nenhum pouco com o que seu pai faça comigo,
desde que você fique comigo. É só você que me interessa.
— Não é muito diferente, Nicholas. É como você e seus filhos. Se eu
quero você, quero eles. Acontece a mesma coisa no meu caso. Se você me
quer, quer meu pai também. Eu devia ter analisado isso.
Ele faz uma careta.
— Eu não quero seu pai. Ele é louco.
Eu concordo.
— Ele é, mas casamento é isso, levar a família de ambos juntos também.
Eu não sei se ele vai reagir bem a longo prazo.
— O que você quer dizer com isso? — pergunta.
— Nada — pareço apreensiva, e estou. — Apenas que eu não sei como
lidar com meu pai com relação a isso. Olha isso, ele te machucou. Ainda tem
o Luke.
— O que seu irmão tem a ver com a gente?
— Tudo — eu o olho. — Vocês tem raiva um do outro, mas eu sou
incapaz de negligenciar o querer da minha família mesmo te amando.
— Não tô entendendo porra nenhuma, Amber — ele grunhe. — Onde
você quer chegar?
Balanço a cabeça, aflita.
— Eu não sei — levo as mãos ao rosto. — Meu pai me preocupa, ele
não é violento e te machucou. O Luke pode fazer o mesmo.
— Eu não estou machucado — ele puxa minha mão do rosto e segura,
seus olhos claros perfurando os meus. — O seu pai só reagiu por impulso,
não foi por maldade. Isso não precisa afetar a gente.
— Mas afetou — eu começo a parecer desesperada. — Eu estou
preocupada agora.
— Você está tentando arrumar desculpas, é isso? Desculpas para reformular
sua resposta? Se for, pode falar de uma vez, eu não gosto de enrolação. Não
quero que fique comigo por pressão, pena ou algo assim.
— Não é isso, eu te quero, e quero as crianças, mas também quero o
apoio da minha família nisso tudo, nessa decisão.
Nicholas suspira, então leva as mãos ao rosto, parecendo cansado.
— Olha, Amber, sei que o meu pedido foi meio inusitado, mas eu fiz de
coração, fiz porque realmente é a minha vontade — ele me olha. — Eu quero
você para mim e, se isso se tornar real, eu farei todo o esforço do mundo,
todos os dias, para ser quem você precisa ao seu lado. Não estou te
prometendo uma história de final feliz para sempre, porque isso não existe,
mas prometo me esforçar para ser um marido digno de você. Não vai ser
fácil, mas pode dar certo. Podemos fazer dar certo. Então, se você quis dizer
sim, de verdade, confia em mim e me deixa ser seu.
Eu estou imediatamente fragilizada, enquanto encaro o olhar claro e
brilhante à minha frente, impossibilitada de dizer não. Porque eu quero ficar
com ele.
— Eu já disse que sim, Nicholas. E não falei da boca para fora —
explico. — Apenas não gostei da forma como meu pai lidou com isso.
— Seu pai está abalado e surpreso pela notícia, eu entendo ele, mas você
não pode deixar que isso afete a gente. Você não vai casar com ele, e sim
comigo. E já tem idade suficiente para tomar as próprias decisões sozinha.
— Já tomei minha decisão, vou ficar com você, mas eu não gostei de ele
ter te machucado. Ele nem é violento.
— Eu te expliquei que não foi por mal, amor. Ele só ficou abalado.
Nicholas agarra minhas mãos e sou instigada a olhá-lo bem próximo de
mim, parecendo desesperado por me fazer enxergar algo.
— Você está com medo? — pergunta. — É isso?
— Sim — admito, em um suspiro. — Tenho medo de tudo. De não ser
boa para você como uma esposa, boa para seus filhos como uma mãe ou boa
de qualquer forma. Eu não sei como vou lidar com isso. Quer dizer, você
ainda nem contou a eles. Não sei o que pensar.
— Um passo de cada vez, meu amor — ele segura meu queixo. — Você
está se precipitando e isso não é nada bom. Vamos ir devagar, com passinhos
de bebê. Você não precisa ter medo. Eu estou e sempre vou estar com você,
para o que tiver que acontecer. E com relação ao seu pai, não foi nada para
mim, sério mesmo. No futuro, nós vamos lembrar disso e rir muito, mesmo
que no momento eu esteja absolutamente louco de raiva dele.
Eu o encaro, abrindo um sorriso inevitável. Não sei como ele consegue,
porque Nicholas sempre foi muito paciente, isto é inquestionável. Sempre
que eu estava uma pilha de nervos, ele estava na maior calmaria, sorrindo
despreocupado. E olha que ele tinha muitos problemas, como fiquei sabendo
agora.
— O que foi? — ele pergunta, atraindo meu olhar.
— Como assim?
— Não sei — gesticula. — Você pareceu meio com ânsia de algo.
— Não, estou bem. Acho que devemos ir almoçar.
— Devemos — ele concorda, trazendo a mão ao meu cabelo e alisando.
— Você está bem?
— Estou, sim. E você, consegue aguentar um almoço com meu pai?
Nicholas sorri.
— Com você, amor, eu aguento o que for.
Bem, parece muito fácil com ele falando assim, mas eu sei que não é.
Como sei também que estou sendo muito idiota por estar sendo tão negativa.
Preciso me concentrar. Tudo pode ser suportável.

....

Nicholas abre os olhos, muito brevemente, e eu arranho seu peito quando


ele os fecha de novo.
— Olá, tigrão — digo, com um sorriso, assim que se abrem de vez.
Ele parece um pouco alheio ao que está acontecendo, então eu me
remexo em cima dele, imediatamente arrancando um gemido seu.
— O que está fazendo, Amber? — questiona, a voz rouca e deliciosa.
Eu levo as mãos aos meus seios, os agarrando e gemendo.
— Estou excitada, o que você acha?
Ele abre um sorriso delicioso e que me faz gemer só por ver. Nicholas é
uma perdição, eu nunca duvidei disso. Que homem gostoso da porra.
— Eu dou um jeito nisso para você, amor — ele declara e então
imediatamente franze as sobrancelhas quando percebe que suas mãos não vão
a lugar algum. — Que… Amber?
— Ops! — dou risada. — Aonde você pensa que vai, bonitão?
Ele me olha, parecendo horrorizado.
— Você… Me amarrou na cama?
— Pois é — me insinuo sobre ele outra vez, sentindo toda sua extensão
e soltando um suspiro. — Pensei muito em qual seria seu castigo e acho que
esse é o mais adequado. Ah, e eu tenho que te mostrar uma coisinha também.
— Isso só pode ser brincadeira! — resmunga, forçando as mãos de
novo, parecendo indignado. — Eu quero te tocar.
— Uhum — dou um sorriso e estendo a mão para o colchão, então pego
meu amiguinho favorito e o faço ver. — Conheça o Bilu. Bilu, este é o meu
noivo, o seu rival.
Ele parece imediatamente com raiva.
— Você nem ouse, dona Amber — grunhe.
— Ousar o quê? — passo o vibrador por entre os seios e desço pela
barriga, controlando o riso por ver Nicholas tentar se desprender e parecer
chocado. Foi um plano de impulso, mas estou adorando. Adorando mesmo.
— Solta isso. Eu tô falando sério.
— Não, estou excitada, ele me ajuda nessas horas — explico, lambendo
os lábios.
Me ajeito sobre Nicholas, que solta um resmungo, então abro as pernas,
fazendo uso do vibrador. Ele nunca poderia ser comparado ao pau do meu
noivo. Lógico que não. Nem em tamanho e nem largura. Muito menos no
calor. Nunca.
Mesmo assim, eu faço um teatro, soltando um gemido longo quando ligo
o aparelho, em uma velocidade baixa.
— Porra, você vai me pagar, Amber — ele rosna, puxando as mãos. —
Me desamarra.
— Não — nego, enquanto aumento mais a velocidade, meu corpo
começando as fagulhas de calor.
— Ah, merda, você não pode fazer isso!
— Shiiiiu — o repreendo, quase fechando os olhos pela sensação. —
Não grita, vai me desconcentrar. Por que eu não posso fazer isso?
— Por que você é minha, porra! — ele grita mais alto. — Sua boceta é
minha e ela só fica molhada por mim e pelo meu pau, não pela merda de um
vibrador feito de plástico. Tira essa porra de dentro de você! Agora!
Estou gargalhando em instantes, ao mesmo tempo que meu corpo
corresponde à forma possessiva dele falar. Muito calor.
— Não é de plástico — aumento mais a velocidade.
— Estou pouco me fodendo, Amber! — ele puxa as mãos com força,
fazendo a cama balançar e eu cair um pouco para o lado. — Me desamarra,
eu preciso te comer.
— Hmmmm — solto um gemido, me ajeitando de novo. — Assim você
ofende o Bilu.
— Que infernos é isso? Você deu um nome ao seu vibrador?
— Eu dei — me remexo, o peso de um orgasmo começando a acender
em mim. — Era o mínimo que eu podia fazer por ele, que foi tão bom para
mim.
— Puta merda — ele reclama. — Me solta. Agora.
— Não — nego, então me inclino para frente, até quase encostar meus
lábios nos de Nicholas. — Estou pegando fogo.
Ele geme, fechando os olhos.
— Isso não se faz, Amber. Que merda.
Dou um sorriso e saio de cima dele, colocando meu vibrador de novo na
cama e me sentando, enquanto admiro a vista que tenho. Na verdade, é um
grande banquete. Nicholas todinho para mim.
— Você é um tesão — ressalto.
Ele permanece sério, parecendo com muita raiva, mas eu não ligo. Subo
em cima dele de novo, mas ao contrário, então eu nos alinho, nossas bocas
nos sexos um do outro.
— Essa posição é boa para você? — pergunto, agarrando seu pau e
lambendo a pontinha que está úmida, soltando um gemido inevitável pelo
gosto dele.
— Eu não vou encostar em você até me desamarrar — avisa, mas eu
calo sua boca sentando sobre ele, que imediatamente tensiona o corpo inteiro.
— O que você estava dizendo? — questiono rindo e me remexendo
sobre sua boca.
Ele geme, sua língua logo me agraciando com o calor e movimento
perfeitos e eu solto um suspiro, levando a boca para sua extensão.
Ele tem o tamanho ideal, não é enorme e grosso demais. É perfeito para
mim, e é isso que me agrada. Afinal, ele é meu, e sou eu que tenho que
gostar.
Nós nos lambemos e chupamos por um tempo, minha mente vagueando
um e outro momento por tudo que vem junto com o homem maravilhoso sob
mim. Mas vale a pena. Vale a muito a pena. Não só por isso, é claro, mas
pelo que ele me provou ser.
Sou trazida à realidade quando Nicholas chupa meu clitóris com tal
força e sucção que preciso tirá-lo da boca para gritar, e o orgasmo me atinge
na hora, me raptando da Terra e me fazendo desabar o rosto contra suas
coxas.
Ele não desgruda a boca de mim, mesmo quando começo a tremer muito
e me remexer, então sou obrigada a cair para o lado, os olhos ainda fechados
pelo impacto do ápice delicioso. O choque. A sensação. Todo o arrepio. É
uma delícia. Ele é o pacote completo.
Consigo me sentar depois de alguns minutos, meio zonza e meio aérea.
Nicholas parece ainda zangado. Ou mais que isso. Mas eu só consigo reparar
em seu rosto e em seus lábios. Ele está todo molhado. De mim. Acho que vou
morrer de prazer.
Eu me arrasto até ele, então o beijo, enfiando a língua em sua boca,
desesperada por ele. É uma sensação estranha. Eu nunca senti isso. Por
ninguém.
— Você vai me soltar? — ele pergunta, quando me afasto. Parece um
leão rugindo, todo irritado. Gostoso e meu.
— Hm, não — recuso e volto a deitar, segurando seu pau e o levando à
boca, até o fundo da garganta. Nicholas solta um grito, então eu sei que está
próximo.
Uso as mãos como auxílio e começo a estimulá—lo, seus quadris se
erguendo em minha direção, enquanto sua garganta começa a projetar os sons
mais deliciosos e excitantes que já ouvi.
Então eu o sinto no fundo da garganta. Aumento os movimentos, o sugo
para dentro, até conseguir engolir tudo. Porque sim, é melhor na boca do que
na barriga em formato de um filho. Espero que a pílula que tomei já à noite
tenha feito efeito de novo. Sou uma irresponsável.
Nicholas treme, chamando minha atenção, mas eu só aliso sua barriga e
deixo a cabeça cair no colchão de novo, meus olhos se fechando pelo cansaço
e só agradeço por ele ter nos trazido ao seu apartamento ou meu pai o estaria
matando agora.
Capítulo 36

Não sei se foi exatamente muita covardia da minha parte, mas acordei
primeiro do que Nicholas e desamarrei um de seus pulsos para que ele
pudesse se livrar do outro nó sozinho, então saí da casa dele. Ok, foi
covardia. Mas eu estava apreensiva sobre como ele podia reagir, então não
me sinto tão culpada.
Corro meus olhos ao redor do ambiente em que me encontro, ansiosa, e
vejo meu convidado aparecer. Ele parece muito feliz ao me ver, caminhando
até mim — como se isso fosse novidade.
— Olá, Desmond — o cumprimento.
Ele vem para meu lado e segura minha mão, dando um beijo e abrindo
um sorriso.
— Que prazer receber um convite seu. Foi a melhor coisa que me
aconteceu durante essa semana — declara, então se afasta para sentar do
outro lado, à minha frente. — A que devo a honra?
Eu me remexo, inquieta de repente por ver o olhar intimidador dele. É
como se ele avaliasse tudo que falo e cada gesto meu. Sempre.
— Preciso de sua ajuda.
Desmond assente, muito relaxado, enquanto ajeita o paletó.
— É só dizer, querida. No que posso ajudar?
Eu respiro fundo, muito desconfortável. Sei que Nicholas disse que não
queria que eu falasse com ele, mas eu preciso nos ajudar. Sim, a nós. Às
crianças também.
— Eu estou com uma situação muito complicada — começo,
observando o quanto parece que o homem à minha frente foca toda sua
atenção em mim. — Eu conheço um homem que... Bem, digamos que ele
pegou os filhos da irmã para si e essa irmã não sabe e fugiu, estando em
algum lugar por aí. O que poderia acontecer a ele?
— É muito óbvio. Ele vai ser preso. Não se rouba crianças. Mesmo que
sejam filhos.
— Mas foi por uma boa causa — me apresso em explicar.
Desmond balança a cabeça.
— Não é assim que a justiça funciona.
— O que poderia acontecer a ele? Qual a solução?
Ele parece achar graça do que estou falando.
— Bom, seria adequado que a mãe pegasse os filhos de volta e não
denunciasse ele, porque creio que é meio impossível. Além do mais, agora
que você me contou, também está na minha obrigação como policial
denunciar isso porque é algo que não se faz. As crianças tinham que ter
estado com a mãe, independente do que ela fosse ou do que tivesse feito.
Ainda mais se ela não sabe. Isso é bem mais complicado do que parece.
— Eu entendo — falo, agoniada. — Mas estou tentando ver com você se
há algum meio de me ajudar.
— Não tem o que eu possa fazer. Só denunciar o tal irmão. Quem é ele?
— Não! — rebato, horrorizada. — Eu só procurei você porque pensei
que fosse me ajudar.
— Estou ajudando. Posso denunciar por você.
— Não, não, não. Desmond, eu quero dizer algo que possa justificar o
que ele fez. O que a polícia precisa para, não sei, não o prender?
— Não há nada que não faça isso acontecer se a irmã o denunciar,
Amber. Mesmo que não denuncie, se alguém de dentro ficar sabendo, ele já
vai ser preso. Se ele queria ficar com as crianças, devia ter ido à justiça, e não
os roubado. Devia ter levado provas de que a mãe não tinha como ficar ou
seja lá o que foi. Não é assim que funcionam as coisas. O que ele fez foi
crime.
— Deve ter algum meio. — Estou desesperada agora.
— Tem, você me diz quem é, eu o prendo, ele arruma um advogado, um
meio de justificar, cumpre uma pena média e depois sai.
Estou horrorizada imediatamente.
— Nunca! Eu nunca o deixaria ser preso! — protesto.
Desmond dá um sorriso. Um sorriso muito cínico.
— Quem é o cara? Um namorado?
— Não importa quem é. Eu nunca faria mal a ele.
— É um namorado — conclui. — Me admira uma mulher tão inteligente
como você ir se envolver com um cara burro desse nível.
— Ele não é burro, apenas quis proteger os sobrinhos.
Desmond se inclina para frente, muito sério de repente.
— Ele não os protegeu, os prejudicou. A qualquer momento eles podem
ficar sem o tio também, e aí? Primeiro sem a mãe, depois sem quem eles
costumam ter ao lado.
— Eu estou com eles, também.
— Então você também pode ir presa. É cúmplice.
— Não sou, não! — debato, chocada. Meu Deus do céu.
— Não vai ser se você me disser quem é, do contrário, vai estar sendo
sim. E, digo mais, se eu descobrir quem é o cara, eu vou denunciar, e também
a você.
— Você não faria isso — estou de boca aberta.
— Eu faria — ele afirma, balançando a cabeça ao mesmo tempo. — É o
meu trabalho. Eu luto pela justiça.
— Justiça foi o que ele fez!
— Foi errado.
— Não, não foi!
— Claro que foi, e você sabe disso, ou não estaria aqui admitindo que
ele precisa de ajuda.
Eu me levanto, petrificada. Nicholas tinha razão em me dizer para não
procurar Desmond. Eu realmente pensei que ele poderia ser confiável, mas
não foi.
— Esquece o que eu disse a você — peço.
Ele nega, maneando a cabeça.
— Não vou esquecer e vou descobrir quem é, e quando isso acontecer,
você pode apostar que eu vou tomar as devidas providências.
Eu me arrasto dali, quase tropeçando nas mesas, desesperada por ar.
Merda, que droga. Eu fui tentar resolver um problema, mas arrumei
outro. Desmond é um filho da mãe. Que desgraçado. Agora só me resta
minha tia Alice e seu amigo advogado. Para ajudar em dois problemas, na
verdade. Que droga.
Entro em meu carro, buscando meu celular que está tocando na bolsa,
então o pego, atendendo.
— Alô?
— Muito engraçada, amor — Nicholas fala, a voz sombria. — Acho que
precisamos conversar, não?
Fecho os olhos com força. Ele nem imagina o quanto.
— Estou indo trabalhar agora — mudo de assunto. — Nós conversamos
mais tarde.
— Aonde você foi?
— Ahn... Almoçar. Estava faminta.
— Por que não me acordou quando saiu?
— Porque você estava dormindo muito bem — sou incapaz de não rir.
— Não tem como dormir tão bem com as mãos amarradas — grunhe.
— Você foi uma menina malvada.
— Eu fui — admito. — E gostei muito.
— Me aguarde, meu amor. Vai ter troco.
— Bye, bye — desligo, a alegria desaparecendo quando me lembro do
meu não amigo policial. Ele não pode descobrir. E nem vai. Eu não vou
deixar.
Capítulo 37

Eu entro na sala e espero ser notado. Quando isso acontece, pareço ter
uma mulher muito alarmada a alguns metros de mim, sentada em sua cadeira,
toda poderosa e impotente como sempre, mas muito surpresa e temerosa ao
mesmo tempo.
Fecho a porta atrás de mim e caminho até ela, que acompanha meus
movimentos com os olhos arregalados e a boca aberta.
— Que foi, amor? — pergunto, já perto o suficiente e então levanto a
mão, tocando seu rosto.
Amber geme, relaxando instantaneamente, o que me faz sorrir.
— Meu Deus, você está tão, tão gostoso — ela fala, me olhando de cima
a baixo. — Isso deveria ser proibido. Você não pode vir ao meu ambiente de
trabalho só de tênis e short.
— Parece que eu posso. Eu fui correr e resolvi passar aqui.
— Uhum — ela fecha os olhos, se acariciando contra minha mão. — Eu
gostei.
Levo a mão livre à sua cabeça, meus dedos fazendo caminho por entre
os cabelos macios e longos. Eu puxo um pouco, bem de leve, só o suficiente
para Amber abrir os lábios para mim, então me inclino, criando um contato
mínimo de nossas bocas. Ela ofega.
— Você foi muito rebelde — mordo o cantinho da sua boca e dou uma
lambida. — Eu não gostei, nem um pouco.
Ela geme, virando o rosto para tentar me beijar, mas eu me afasto,
minha mão ainda em seu cabelo. Amber protesta.
— Vamos lá, você não espera que eu vá te tocar tão facilmente, não é?
— questiono.
Ela faz um beicinho, então se remexe.
— O que veio fazer aqui então se não me comer?
— Olha a boca — me afasto, sentando na borda da mesa. Amber me
observa, enquanto lambe os lábios. — Eu vim para avisar que preciso voltar
amanhã para os meus filhos. Eu recebi um e—mail sobre uma entrevista. Não
posso perder a chance.
Ela franze o cenho.
— Não está certo ainda nada com nada, Nicholas. Nós temos que
conversar sobre isso, sobre nós. Você me pediu em casamento e temos que
tentar um jeito de ficarmos juntos com tranquilidade. Eu vou falar com a
minha tia Alice e perguntar sobre o amigo advogado dela.
Balanço a cabeça.
— Eu sei, amor. Apenas vou tentar a entrevista.
— E depois? — ela pergunta. — Como vai ser isso, Nicholas? Você vai
ficar lá e eu aqui? Até quando? Quando a gente casar, como vai ser, onde
vamos morar? Eu tenho vontade de uma coisa e você de outra, isso não vai se
encaixar.
Eu observo-a, quieto. Eu sei que tudo é muita carga para ela. Claro que
sei. Amber é uma mulher livre e independente, e de repente eu a quero jogar
em uma vida comigo, que tenho três crianças pequenas e o risco de ser preso.
Eu entendo mesmo o lado dela.
— Nós vamos achar um jeito — afirmo.
— Sim — ela gesticula com as duas mãos, então parece ficar tensa de
repente. — Nós precisamos falar com minha tia Alice, de verdade. Esse
advogado tem que nos ajudar.
Suspiro, não tendo muita opção para rebater nada, mas resolvo ficar
quieto.
— Eu realmente precisava de uma resposta boa, Nicholas — ela levanta,
se colocando à minha frente, então põe as mãos nos meus ombros, os olhos
me perfurando. — Preciso ouvir você dizer que vai ficar tudo bem e que vai
dar tudo certo, porque, mesmo que não vá, se você disser, eu vou acreditar.
Estou agoniada, não vou mentir. Estou acostumada a premeditar situações
para não ser pega de surpresa, e com você não foi o caso. Estou desesperada.
Eu não quero ter que… — respira fundo e eu abro as pernas, a puxando para
junto do meu corpo. — Eu não quero ter que me afastar de você de novo.
Não gosto desse pensamento.
— Ei, ninguém vai nos afastar — acaricio suas costas com as mãos,
enquanto ela me encara. — Vai ficar tudo bem, Amber. Eu estou aqui,
cuidando de você, e sempre vou cuidar. Não precipite as coisas. Deixe a cada
dia o seu próprio mal.
— Eu não estou cuidando de você como deveria — ela balança a
cabeça. — Por favor, Nicholas, me promete que vai ficar tudo bem.
— O que é isso? Desde quando minha mulher linda tem medo de
alguma coisa? — tento sorrir, para apaziguar seu estado. Ela parece mesmo
bem preocupada e isso não é nenhum pouco legal para mim. Não quero
Amber desse jeito por minha causa.
— Quando se trata de você, eu sou uma medrosa — ela suspira, então
encosta a testa na minha. Meu coração estremece com a confissão inesperada.
— Você me perdoaria se eu tivesse feito uma burrice enorme?
Respiro fundo, incapaz de impedir tudo que ela me causa, a forma como
me afeta.
— Que burrice você fez? — questiono, descendo minhas mãos até sua
bunda e a puxando para mim com mais firmeza, nossos sexos se alinhando.
— Não importa no momento, eu só quero saber se você ia me perdoar.
— Se não estamos falando de uma traição, então sim, eu te perdoaria.
Amber geme, desviando o rosto para enterrá-lo em meu pescoço.
— Só quero que saiba que eu não sou de desistir, Nicholas — fala.
— Eu sei disso.
— E eu vou tentar de tudo que estiver ao meu alcance — completa.
— Nós vamos.
— Eu quero você para mim e os seus filhos também.
— Já somos seus, amor — afirmo, convicto.
Ela se afasta, seus olhos abandonando os meus por um instante, quando
desviam para minha boca.
— Você viu alguém enquanto vinha para cá? — pergunta.
— Vi muita gente.
— Alguém estranho, quero dizer.
— Não — nego. — É sobre alguém estar me seguindo como eu te disse
que meu pai podia ter ordenado que fizessem?
Ela desvia o olhar, meio inquieta de repente, mas eu seguro seu rosto,
fazendo com que me olhe de novo.
— Tá tudo certo. Eu não vi ninguém suspeito. Até porque ele não sabe
que estou por aqui hoje.
Amber assente.
— Você vai embora amanhã que horas?
— Pela manhã. Você vem comigo ou tem coisas para resolver?
— Tenho — confirma. — Eu posso ir te ver no fim de semana, tudo
bem?
— Tudo, amor — acaricio seus lábios com os polegares, então me
levanto logo após, soltando-a e criando uma distância entre nós. — Preciso
deixar você trabalhar. Nos vemos mais tarde?
— Sim — ela sussurra, meio cabisbaixa.
— Bom trabalho.
— Obrigada.
Eu saio de sua sala, meio incomodado e meio triste. Amber está em uma
situação que está fora do meu controle mudar. Não é como se ela estivesse
arrependida ou hesitante, apenas parece lamentar por não poder fazer nada.
Eu aperto o botão do elevador e espero, então quando chega, um homem
sai. Ele me olha de cima a baixo e parece bem sério.
— Onde fica a sala da senhorita Amber Mackenzie? — questiona.
— Quem é você? — rebato.
— Não é da sua conta.
— Ela é minha mulher então, sim, é da minha conta.
Ele parece surpreso de repente. Seu olhar me avalia de cima a baixo
novamente e eu vejo sua mão estender em minha direção.
— Sou Desmond, um amigo e associado — diz, um sorriso brincando
nos lábios.
Faço uma careta imediata. Esse é o tal policial.
— O que você quer com ela? — Não aceito seu cumprimento, o que o
faz abaixar a mão, não parecendo incomodado.
— Eu vim conversar sobre uns negócios — responde, vagamente. —
Não se preocupe, não tenho a intenção de ter a Amber.
— Claro que não. Você não é nem louco de pensar nisso.
Ele assente, muito tranquilamente.
— Não sou. Pode me informar onde fica, por favor? Eu preciso ir
embora logo.
— Última porta à esquerda — respondo, sem vontade.
— Obrigado — ele fala e sai andando.
Eu entro no elevador, muito suspeito. Terei que conversar com a Amber
sobre isso. Não gostei do cara.
Capítulo 38

Eu me remexo quando meu celular toca na bolsa. Merda. Não é uma boa
hora, definitivamente. Estou um caos. Acabada e destruída. E estou com
saudades do Nicholas, muitas.
— Você não vai atender? — a voz pergunta, do outro lado do cômodo.
Respiro fundo e enfio a mão na bolsa, obtendo o aparelho.
— Alô.
— Oi, amor. Sou eu.
Fecho os olhos com força. É definitivamente uma péssima hora.
— Oi. Como você está? — pergunto, tentando me manter centrada.
— Com saudades de você. Por que não consegui falar com você na
última semana e por que não pôde vir?
Engulo em seco, meus olhos abrindo para encarar o homem sentado na
mesa à minha frente agora.
— Nós... — tusso, para aliviar a pressão do nó que se formou na minha
garganta. — Nós precisamos conversar, Nicholas.
— Tá tudo bem? Por que você parece com raiva?
— Não estou com raiva — nego de imediato. — Apenas falei que
precisamos conversar.
— Estamos fazendo isso, não?
— Pessoalmente, eu quero dizer.
— Prefere que eu vá até você? Eu ia dizer que não consegui o trabalho,
mas não tô preocupado, sabe? Eu sei que vão surgir…
— Nicholas — o interrompo. — Quando você pode vir?
— Ahn... Na sexta, tudo bem?
Merda, ainda é quarta. Eu vou ter dois dias para me consumir. Não sei
como dizer isso a ele. Nem eu caí na real do que fiz ainda.
— Tudo bem — assinto. — Eu vou desligar. Tchau.
— Ei, ei. Nem vai dizer que está sentindo minha falta?
Eu ergo meus olhos para quem está à minha frente e tento parecer
inabalada.
— Estou ocupada, beijo — desligo.
— Era o seu namoradinho? — Desmond questiona.
— Não tenho namorado — repito, pela vigésima vez. Ele é um
desgraçado e eu quero me espancar por ter cometido o erro de ir falar com
ele.
— Ah, você tem — ele sorri. — E eu realmente me sinto feliz por isso,
caso contrário não estaríamos aqui na minha casa — estende a mão, tocando
minha coxa e eu estremeço. — Agradeço a ele.
— Não sei de quem você está falando — rosno, mexendo a perna para
desfazer o contato.
— Não? Então por que está aqui?
— Porque você me ameaçou! — grito.
— Shiu! — ele sussurra. — Sem gritaria, minha linda. Eu não te
ameacei, apenas falei que tinha os dados de Nicholas Morrison e iria atrás
dele, aí você venho correndo para mim.
— Não vim correndo para você!
— Ah, você veio. Que nem uma bobinha apaixonada — sorri.
Eu solto um suspiro, me sentindo louca da vida.
É muito verdade que eu vim correndo, mas não para ele. Acontece que
Desmond foi à minha sala me passar uns documentos de sua empresa há uns
dias, mas teve o desprazer de encontrar Nicholas no caminho, e o idiota foi
dizer que eu era mulher dele. Está bem, eu sou — totalmente dele —, mas
não era para ter dito nada.
Agora eu estou aqui, no apartamento do Desmond, presa a ele que me
mostrou a ficha da irmã do Nicholas, que foi presa por três anos e agora está
em uma clínica de reabilitação na Colômbia. Colômbia! Será que ele sabe
disso? Meu Deus.
— Eu tenho uma maneira de impedir que aquele idiota vá para a cadeia.
Eu olho para Desmond, ele obtendo toda minha atenção ao dizer isso.
— Qual? — questiono.
Ele sorri, muito abertamente. É um sorriso verdadeiro, mas logo vejo
que não vou gostar do que vem adiante.
— Fica comigo.
Pisco os olhos imediatamente, tensa pelo que ouvi.
— O que... Você quer dizer com isso? — indago.
Ele eleva os ombros, numa expressão de desdém.
— Ficar comigo, ser minha namorada, aí eu deixo o tal cara fora disso.
Eu posso fazer isso. Tenho influência para sumir com qualquer ligação que
ele possa ter com a viciada ladra da irmã, porque, você sabe, se algo
acontecer a ela, eles procuram a família e eu não encontrei mais ninguém
nesse sobrenome além do seu namoradinho.
Eu fico estática, perplexa pelo que ele está propondo.
— A decisão está com você, e eu não sou um homem muito paciente,
então vou te dar exatamente esse instante para me responder — completa, a
mão voltando a acariciar minha perna.
Estou boquiaberta, sem conseguir raciocinar.
Como ele ousa?
— Você não pode fazer isso! — disparo.
— Sim, eu posso, como você está vendo — eu o vejo olhar para meu
corpo e lamber os lábios, o que me causa uma repulsa louca e quero
imediatamente chorar. — Não me culpe, Amber, eu sei que nunca poderia
experimentar esse corpo por sua vontade própria. Não sou um homem ruim,
apenas consigo o que quero.
Balanço a cabeça de forma agoniada.
— Você não vai tocar meu corpo! — cuspo em um grito de repulsa.
— Tudo bem, então eu vou ir atrás do Nicholas — ele levanta da
mesinha de centro e eu faço o mesmo.
— Eu já disse que não somos nada! — repito, segurando seu braço,
meus olhos beirando às lágrimas.
— Então eu tenho mais um motivo para prendê—lo.
— Por favor, Desmond, não faça isso — imploro. — Ele não merece.
— Eu também não mereço o que estou sentindo por você. Acha que eu
quero? — ele puxa o braço, parecendo nervoso de repente. — Faça o favor de
fazer as coisas do jeito que estou falando ou eu boto o idiota atrás das grades.
Eu começo a chorar, desesperada para mudar o passado. Grande idiota
eu sou.
— Não chora — Desmond pede, levantando meu rosto. — Só cancela
qualquer merda que você tem com ele e fica comigo. Eu vou te fazer bem
mais feliz. Eu prometo.
Começo a tremer, incapaz de dizer qualquer coisa. Como eu posso
terminar o que tenho? Eu amo o Nicholas. Amo tanto que prefiro sofrer e
conviver com seu ódio, do que vê-lo passar a vida com medo, no fio da
navalha. Prefiro, e é o que escolho.
— Se eu ficar com você, ele pode viver em paz? Você vai arrumar essa
situação dele? — questiono, trêmula.
— Vou. Ele vai ficar em segurança e viver com os sobrinhos. E você
comigo.
Eu assinto, fechando os olhos com força.
— Tudo bem. Eu fico com você.
Capítulo 39

Levanto a mão para tocar a campainha da casa de Amber, mas nem chego
a cumprir a ação quando Philip abre a porta e me agarra pela gola da camisa.
— Oi, seu filho da puta — ele rosna. — Espero que você possa me dizer
porque minha filha passou os dois últimos dias chorando.
— Não sei do que você está falando — o encaro. Porra, eu mal estou
sabendo o que está acontecendo. Ela me ligou há dois dias dizendo que
precisava falar comigo pessoalmente e ainda desligou na minha cara. Já tô
aflito para um caralho e tenho o pai retardado dela como brinde.
— Eu sugiro que você saiba — ele aperta a gola, que faz pressão contra
meu pescoço, quase me tirando o ar. — Não quero meu neném chorando por
causa de nenhum desgraçado.
Mal processo a dor quando levo um soco no rosto.
— Porra, Philip! — grunho, minha mão indo imediatamente aonde doeu.
— Que merda!
— Olha essa boca ou eu quebro seus dentes — me puxa de volta. —
Você entendeu? A Natalie não está por aqui hoje para te defender e já estou
com uma puta raiva sua porque ela não me deixa tocá—la desde aquele dia.
Culpa sua. Muitas culpas sobre você. Eu não me importo nenhum pouco em
te dar uma surra.
— Eu entendi, porra! — elevo as mãos. — Me deixa ir ver o que ela
tem. Eu também não sei.
Philip me dá vários tapas de mão aberta no rosto, me fazendo fechar os
olhos. Não são tapas fortes, mas arde mesmo assim.
— Resolve essa merda — ele me empurra porta adentro e eu cambaleio
para frente, louco de raiva. Esse cara é louco.
Nem me dou ao trabalho de olhar para trás, simplesmente caminho até a
escada e subo os degraus em direção ao corredor, que logo me leva até ao
quarto da Amber. É claro que ela está no quarto, já que está triste. O que eu
não entendo é o porquê.
Eu bato na porta e espero ela me responder, o que não acontece, então
simplesmente giro a maçaneta e entro.
Não é exatamente a cena que imaginei encontrar, mas Amber está
costurando. Isso aí. Costurando.
Beleza. Isso não parece nada certo. Nada com nada.
— Oi, amor — chamo sua atenção e ela solta um suspiro. Não está
chorando, pelo menos.
— Oi — responde, então se remexe e coloca o pano no colchão, seus
olhos levantando para encontrar os meus.
Eu caminho até ela, louco por um beijo, mas sua mão estende à minha
frente, como me pedindo para parar.
— Preciso falar algo com você. Senta, por favor.
— Ok — concordo e sento ao seu lado. Que merda. Algo não está certo.
— Eu não posso continuar com isso — ela fala.
— Com o quê?
Seus olhos miram os meus e ela parece absolutamente séria. Tem
parecido desde que entrei, na verdade. Quase impaciente.
— Com você ou isso que quase tivemos. Não é certo. Eu não gosto de
você o suficiente para me arriscar assim — responde, dura e rudemente. —
Eu tenho toda uma vida pela frente. Tenho a possibilidade de achar alguém
que não tenha nenhum impedimento e que não precise que eu me renuncie.
Eu lamento, mas não vai rolar.
Eu a encaro, meio desconcertado e surpreso, enquanto meus lábios
produzem um sorriso. Mas é de pura de descrença e desentendimento.
— Você está... Terminando comigo? — questiono.
— Não estou terminando. Nunca começamos a ter nada, como posso
terminar alguma coisa? — ela faz uma careta. — Tudo que você fez foi
transar comigo e me pedir em casamento durante um momento inapropriado.
Eu não quero isso para mim. Quero um homem que seja capaz de me amar
sem impedimentos.
— Meus filhos não são um impedimento — estou boquiaberto. — O que
deu em você? Eu não estou entendendo, sinceramente.
— Eu não preciso que você entenda nada. Só quero que vá embora e
suma da minha vida — aponta para mim, parecendo com raiva. — Eu quase
ia cometendo o maior erro da minha vida.
— Ficar comigo ia ser o maior erro da sua vida?
— Sem sombra de dúvidas — ela enfatiza bem a expressão e me olha,
atenta. — Eu me sinto uma vagabunda por dizer isso a você, mas é verdade.
Eu não te quero ou qualquer coisa que você possa me dar. Só estou te
pedindo para ir embora e nunca mais voltar.
— Amor, não sei o que houve, mas você pode tentar se acalmar
primeiro. Eu espero…
— Não, merda! — ela grita, levantando. — Você não vai esperar coisa
nenhuma. Levanta da minha cama e sai do meu quarto. Eu não quero te ver
mais, Nicholas!
Me levanto, mas não porque ela falou, e sim porque estou tomado de
choque.
— Me fala o que aconteceu — peço, entristecido. Parece que ela está
falando sério. — A gente pode resolver, seja lá o que for.
— O que aconteceu foi que enfiei razão e bom senso na minha cabeça.
Vai embora!
— Mas, Amber, eu pensei que…
Ela se aproxima e me empurra, quase me fazendo cair.
— Vai embora! Agora! — grita.
A porta se abre atrás de nós e eu só me sinto ser puxado, vendo quando
Amber caminha de volta para a cama, parecendo nenhum pouco abalada.
Eu sinto minhas costas contra uma superfície dura e logo tenho Philip
me encarando, parecendo irado.
— Ela… — tento dizer.
— É, ela te mandou vazar — ele fala e me solta, se afastando um passo,
então parece suavizar a expressão dura quando eu o encaro, completamente
alienado.
— Ela me mandou sumir — repito, sozinho.
Philip aponta as escadas.
— Ela mandou e acho melhor você fazer isso ou eu vou perder o
controle — avisa.
Eu assinto, muito abalado para tentar passar por ele e voltar a falar com
ela, então só desço as escadas e vou embora.
Não sei o que foi isso. Não sei o que houve com ela. Não sei o que eu
fiz. Ela cancelou nosso casamento, mesmo depois de dizer que me queria. Ela
foi capaz. Estou cheio de uma dor por dentro. Eu não acredito que ela fez
isso. Como ela pôde?
Capítulo 40

Eu tento me concentrar nas várias pessoas ao redor da mesa e no que está


sendo dito pelo meu pai, mas não consigo. Não consigo e estou perdendo
tempo em tentar. Decido me levantar e sair da sala em que está sendo a
reunião, destinada a encontrar algum conforto quando pego o elevador para
sair do prédio.
Eu me sinto a pior desgraçada que já vi na vida. Mas o que eu podia ter
feito? Não sei se o que doeu mais foi dizer aquelas coisas ao Nicholas ou vê-
lo parecer acabado. Sim, porque foi isso que ele pareceu. Totalmente
destruído.
Me remexo, minha barriga contraindo e minha cabeça girando, a
vontade de vomitar retornando. Estou, repito, em um caos.
Avanço pelo hall de recepção da Silver assim que as portas do elevador
se abrem e então deixo o recinto, ansiosa por ar fresco.
Inspiro com força e minhas mãos retornam imediatamente à minha
barriga quando uma ânsia de vômito forte me invade.
Parece que foi ontem que ele saiu da minha casa. Mas não foi. Já fazem
duas semanas. Eu não conto as vezes que tive que apagar mensagens dele do
meu celular. Eu quero me matar, mas não posso fazer isso, é claro.
No entanto, eu não tenho outra opção. Poderia contactar meu pai? Claro
que sim. Ele é um Mackenzie, pelo amor de Deus. Mas acontece que não
posso. Não posso porque Desmond premeditou isto também e me disse que
tem provas que ligam minha família a um tal de Robert, que por acaso sumiu
depois de ter atirado no meu tio Michael, e a polícia desconfia deles, apesar
de ficar quieta. Eu não soube interpretar que merda foi essa que ele me
contou, mas arriscar também a minha família não faz parte disso. Sei que
meu pai ou meus tios seriam incapazes de fazer mal a alguém, mas eu tenho
medo do Desmond. Ele parece sombrio quando faz ameaças, transmitindo
nitidamente que pode fazer tudo o que quer.
— Ei, Amber. — Dou um pulo ao sentir o toque em meu braço, então
me viro para contemplar Amy me olhando, meio assustada. — Que foi? Você
está bem?
— Estou — engulo em seco. — O que está fazendo aqui?
— Ah! — ela desdenha com as mãos. — Eu tive uma manhã muito
agitada e quis vir ver minha prima, não posso? Você sabe, a Bea anda
enfurnada dentro de casa com seus giz de cera e papel e a Megan está
grávida, e só se importa com o Ethan.
— Eu entendo — concordo. — Estava indo tomar um ar.
— Bem — ela puxa minha mão, colocando em seu braço. — Vamos
tomar um ar, então. Me conta, cadê o Nicholas Gostoso Morrison? — nós
começamos a andar.
— Ele... — pigarreio, a culpa aumentando toda vez que ouço seu nome.
Já não basta as desculpas que tenho tentado dar aos meus pais. Mas eles não
engolem. — Ele resolveu ir para longe, cuidar dos filhos.
— Que barra. Eu sinto muito — ela alisa meu braço. — Você parece um
caco por causa disso.
— Não, eu não estou. Apenas foi melhor para ele. Nicholas não merecia
estar preso a mim, de qualquer forma.
Minha prima dá uma risadinha.
— Melhor preso a você do que em uma cadeia — fala.
Faço uma careta, a repreendendo pela piada sem graça.
— Desculpe — lamenta. — Mas, falo sério, não fique se sentindo triste
por causa de pau. Existem muitos por aí.
— Não é questão de um órgão sexual, Amy — resmungo. — Não é
somente isso em um homem que importa, você sabia? Existe muito mais do
que as partes íntimas deles!
Ela franze o cenho, parecendo surpresa.
— Existe? Desculpe, eu não sabia — então começa a rir.
— Não sei porque você é tão gélida assim — murmuro, balançando a
cabeça.
— Bem, não me entenda mal, os únicos homens por quem tenho algum
apreço são meus irmãos e meu pai. E o seu irmão, também. Ah, e acho que o
Ethan. Mas esse ainda não sei ao certo, porque ele parece muito certinho.
Não que seja da minha conta, mas eu gosto de quebrar regras.
— Espero que você morda a própria língua — declaro.
— Ei, eu não estou dizendo nada demais. Apenas a verdade. Os homens
só querem uma boa aliviada e depois te largam para lá.
— Não é assim com todos — discordo.
— Sim, Amber, pode não ser, mas eu gosto de ficar atenta mesmo
assim. Minha mãe sempre me alertou e o meu pai também.
— Eles sabem que criaram uma vaca sem coração? — questiono.
Ela se finge subitamente horrorizada.
— Eu não sou sem coração — rebate. — Apenas me defendo. Meus pais
tiveram os corações quebrados e me disseram o quanto é horrível. Eu não
quero isso para mim. Gosto da forma como visualizo o sexo oposto e não vou
mudar só porque não agrada a você ou qualquer outra pessoa.
— Que seja — desdenho.
— Você que está putamente mal humorada. Como foi isso com o
Nicholas?
Nós atravessamos a rua e quando vejo estamos sentando em assentos de
um restaurante que tem cadeiras ao ar livre.
— Eu pedi para que ele fosse embora, porque não o queria sofrendo —
respondo, minhas mãos indo novamente para a barriga. Fecho os olhos com
força quando prendo a ânsia novamente.
— Você está bem? — Amy questiona, sua voz soando baixa e
preocupada.
— Estou. Apenas acho que é o calor.
— Vou pedir uma água gelada também — ela procura o garçom e faz
um sinal com a mão, então volta a me olhar. — Por que ele sofreria com
você?
— Porque eu fiz uma besteira.
— Bem, você me disse há alguns minutos que ele que tinha escolhido ir
para longe.
— Sim, porque eu pedi. Eu não o quero sofrendo ainda mais.
— É uma coisa relativa — minha prima gesticula. — Ele pode sofrer
também por estar longe de você, não acha isso?
— Acho, mas uma hora ele acostuma sem mim.
— Esta história está mal contada. Ele não te deu um orgasmo, foi isso?
É ruim de cama? Não chupa bem? Oh, não! — ela parece pasma. — Não me
diga que ele é daqueles que tem nojo de pôr a boca em uma boceta.
Levo as mãos às têmporas, pedindo paciência. Amy é louca.
— Não é nada incluindo a parte sexual, será que você pode enfiar isso
na sua cabeça? — falo, cansada. — Apenas fiz o que era melhor para ele.
Ela morde o lábio, os olhos piscando, tentando compreender.
— Mas não devia ser assim. Quer dizer, devia ser melhor para os dois.
Não que eu ache que sua atitude vá realmente ser melhor para ele.
Eu estou com Desmond entalado em minha garganta, e só queria poder
contar a alguém, mas sei que não devo e é totalmente perigoso. Ele é um
policial e ameaçou a quem amo.
— Eu não quero mais falar sobre isso — tampo a boca com uma mão,
meu estômago produzindo um novo indício de vômito.
— Você comeu comida estragada? — minha prima questiona. — Você
está verde. Espere, eu vou buscar a água lá dentro.
Eu assinto, meus braços circundando minha barriga, então já é tarde
quando vomito em cima da mesa. Que droga.
Capítulo 41

— Papai, por que você está triste de novo?


Eu levanto a cabeça ao ouvir a voz de Edward. Ele está em pé na porta
do meu quarto, enquanto segura seu coelho de pelúcia pela orelha.
— Você devia estar dormindo — digo, desconfortável.
— Eu fui beber leite. Lilian me disse que quando eu tivesse algum
pesadelo, deveria tomar leite com açúcar — ele caminha para dentro do
cômodo.
— Você teve um pesadelo? — eu me sento e o pego nos braços para
colocá-lo ao meu lado.
Ele esfrega os olhinhos e boceja.
— Eu tive.
— E como foi, você se lembra?
— Sim — ele me olha de baixo. — Eu estava vendo você morrer. Fiquei
com muito medo.
Balanço a cabeça, conturbado. É um fato que já estou morto
psicologicamente. Malditos dias infernais.
— Não se preocupa, filho. Eu não vou morrer — abraço-o contra mim.
— Vou sempre ficar com vocês.
— Eu sei, pai. Você nunca nos deixaria.
— Nunca mesmo — afirmo.
— Fico triste que aquela moça também tenha nos deixado. Christian
acha que ela não gostou de nós — ele se remexe contra mim e então se afasta,
me olhando de novo. — Você acha papai? Nós fomos mal-educados?
Tento sorrir, pegando o ursinho dele e colocando em seu rosto. Edward
rir, caindo para trás no colchão.
— Não é isso — falo. — Amber adorou vocês, só está um pouco
ocupada. Ela vai voltar.
— Ela vai? — questiona, pensativo.
— Vai sim, filho — me deito ao seu lado. — Ela me ama, então vai
voltar.
— Ela ama você? — ele senta, me olhando com a boquinha aberta.
Parece surpreso. — Então ela vai ser nossa mãe, pai?
— Ela vai — eu dou um sorriso. — Com certeza, vai.
Edward está boquiaberto, o que me faz rir.
— Nossa, pai — ele murmura. — Eu estou emocionado demais. Nós
vamos ter mãe. Isso vai ser incrível, não é?
— Vai.
Claro que vai. Amber é minha, porra. Minha mulher. Ninguém vai dizer
ao contrário, nem mesmo ela. Eu sei que a dor que está em mim é igualmente
sentida nela. Sei que sim. Nós somos partes um do outro. Não tem jeito, ela
vai voltar para mim.
— Nós vamos ao parque no domingo, pai? E fazer todas aquelas coisas
que as famílias fazem? — Edward interpela.
— Nós vamos, e agora — me levanto — você vai dormir. Está tarde.
— Eu posso dormir com você? Estou com medo de ter esse pesadelo
outra vez.
— Ok, pode — eu puxo o edredom e ele vai para baixo, se ajeitando
enquanto abraça o pelúcia. — Vamos apagar.
— Vamos — ele ri e eu desligo a luz do abajur, me deitando ao seu
lado. — Boa noite, filho.
— Boa noite, pai.
Solto um suspiro.
Porra, meus filhos não podem sentir o que estou sentindo. Não posso
deixar isso transparecer. Está certo que estou acabado, mas isso não é
problema para eles também. Só para mim.
Fecho os olhos e tento – só tento mesmo – dormir.

....

Eu acordo com o toque chato do meu celular, então tateio pela cama, até
encontrar o aparelho debaixo do travesseiro. Edward andou pegando
escondido de novo para jogar enquanto eu dormia. Moleque safado.
— Alô? — atendo, nem sei bem como.
— Alô, é o Nicholas?
— É, quem fala?
— Oi, Nicholas. Aqui é a Amy, prima da Amber.
Somente a menção do nome me traz a um despertar súbito.
— Oi. Tudo bem? — pergunto.
— Belezinha — ela ri. — Eu só queria saber o por que de você ter se
mandado, sabe? Minha prima não parece muito feliz com isso. Eu detesto ver
alguém da minha família triste.
— Eu não me mandei, apenas dei um tempo a ela para esfriar a cabeça.
Eu não desisti da Amber — respondo, minha mente projetando as palavras
automaticamente já que ainda estou em um lugar entre o sono e a Terra.
— Isso é bom — a garota suspira, parecendo aliviada. — Eu realmente
fico puta, no sentido raivoso, quando acontece isso de alguém se sentir mal
por causa de homens perto de mim. Ela me garantiu que não é só pelo seu
pau, o que te dá alguns pontos. E eu espero mesmo que não seja, porque eu
poderia contratar uns caras para te dar uma lição.
— Não preciso apanhar mais do que o pai dela já me bate toda vez que
me vê — solto um suspiro, minha cabeça caindo contra o travesseiro de novo.
Ela ri.
— Não liga, não. Tio Philip é meio maluco. Mas aí, você poderia me
dizer quanto tempo pretende dar a ela?
— Eu não sei, na verdade. Mas Amber sabe que é minha, eu sei que ela
sabe.
— Bem, eu espero mesmo que você tenha certeza disso porque neste
momento eu estou vendo ela beijando um outro cara, e ele parece louco para
avançar a etapa.
Eu me sento, a notícia me pegando desprevenido.
— Ela o quê?
— É, exatamente — a garota afirma, enfática. — Eu tive que te ligar
porque não vejo sentido algum nisso.
— Onde você está? — questiono, já indo aos armários atrás de uma
roupa. Eu acordei de verdade. Pra valer.
— Em frente ao trabalho dela. Nós estávamos almoçando, aí ela passou
mal e quis voltar, mas quando chegamos esse cara veio até ela, tratando
como se fosse namorada. A Amber simplesmente foi com ele, sem se negar.
Não estou entendendo nada, mas a um que não conheço e você, eu prefiro
você.
— Ela me deve algumas explicações — rosno.
— Espero que ela cumpra a dívida. Não conte a ela que eu te disse.
Pelo menos não até ter certeza de que vou ficar bem.
— Não vou e obrigado
— Por nada. Se precisar, é só ligar. Fica bem — ela desliga e eu jogo o
aparelho no chão, seguindo imediatamente para um banho.
Amber beijando outro cara? Que merda é isso? Ela me trocou, foi isso?
Se for, isso não vai ficar assim. Eu não pretendo deixar assim. Eu não sou um
filho da puta que ela pode pensar que vai fazer o que quer. Eu tenho
sentimentos, porra, e estou louco para descontar minha raiva em alguém e eu
espero mesmo não encontrar o tal cara, porque vai ser nele.
Amber não me conhece. E ela não pode fazer isso. Ela é minha.
Capítulo 42

— Amber?
Eu solto um gemido ao ouvir a voz do meu pai e então viro a cabeça, o
encontrando em pé no batente da porta do meu banheiro. Ele parece chocado
quando me ver, e então corre até mim
— Eita, filha, que merda você tem? — questiona, suas mãos segurando
meu rosto.
Estou sentada no chão junto ao sanitário há mais de duas horas. Me sinto
horrível, física e psicologicamente. Tive que enfrentar Desmond na hora do
almoço e enrolei ao máximo no trabalho para não vir para casa logo. Minha
mente precisa ser preenchida com algo mais além de Nicholas.
— Eu não sei — nego.
Ele me avalia, os olhos claros parecendo curiosos. Eu o observo levantar
e ir até as prateleiras pegar uma toalha de rosto e voltar até mim, se
ajoelhando comigo e secando meu rosto todo suado.
— Sua mãe sabe que você está assim? — pergunta, então começa a
morder o lábio inferior, sinal de que está apreensivo.
— Não — choramingo.
Ele assente, muito sério.
— Certo. Há quanto tempo?
— Há quanto tempo o quê?
— Você está se sentindo enjoada… — ele me olha bem rápido e então
tira os cabelos do meu rosto.
— Uma semana, eu acho.
Eu vejo seu pomo-de-Adão se mover e ele aquietar os movimentos,
antes de fechar os olhos brevemente e então se levantar, muito cauteloso.
— Você precisa tomar um banho e ir deitar. Eu vou… — gesticula,
parecendo nervoso. — Vou ir atrás de algum remédio para você. Acha que
consegue tomar banho sozinha?
— Consigo — assinto.
— Tudo bem. Eu volto…
— Amber!
Eu viro a cabeça novamente, vendo Nicholas entrar no banheiro
rapidamente e se abaixar ao meu lado, suas mãos segurando meu rosto e ele
parecendo pasmo.
— Meu Deus, o que você tem? — questiona.
Eu começo a chorar.
Não estou acreditando que ele está aqui. Que merda. Eu o mandei
embora. Não era para ele voltar nunca mais. Por que ele não pode querer o
próprio bem?
— Vai embora! — eu o empurro, ou pelo menos tento, porque estou
fraquíssima.
— Não. Para de me mandar ir embora. Eu não vou a lugar algum — ele
se nega a me soltar.
Eu abaixo a cabeça. Não quero olhá-lo. Não posso. Eu o amo demais.
— Por favor, pai. Manda ele ir embora — peço. Minha voz está
esganiçada e baixa. Estou passando mal.
Meu estômago aperta com força e eu volto a debruçar no sanitário,
vomitando algo que eu nem comi. Estou péssima.
Sinto o toque quente em minhas costas, me fazendo um carinho bem-
vindo, então ouço Nicholas indagar:
— O que ela tem?
A pergunta é, obviamente, direcionada ao meu pai.
— O que ela tem é o seu filho crescendo na barriga dela — ele
responde, quase baixo demais, como se só pensasse.
A ânsia aumenta por ouvir esse absurdo e eu começo a chorar ainda
mais, meu corpo inteiro desfalecendo contra os sentidos normais e eu vomito
de novo.
Fecho os olhos, sentindo minhas mãos trêmulas, e volto a sentar. Sinto o
toque em meu rosto, de algo limpando minha boca, mas não quero olhar. Não
quero ver Nicholas.
— Eu não estou grávida — digo, mais para mim mesma. Eu não posso
estar. Não posso. Meu Deus.
— Você está — meu pai rebate.
— Não.
— Sim.
— Não estou! — grito, abrindo os olhos e me levantando, mas falho e
quase caio. — Não estou — minhas lágrimas são incessantes. Eu olho para
Nicholas no chão, que parece sem qualquer expressão. — Vai embora daqui,
seu filho da mãe!
Eu não posso ver muito, mas tenho ciência da expressão do meu pai, que
parece dividido entre a raiva e a pena.
— Você está grávida? — Nicholas questiona, quase um sussurro. —
Mesmo, amor?
Começo a tremer. Não é possível. Ele não está me ouvindo. Ele não
pode ficar. Tem que ir embora. É o melhor para ele, para as crianças… a
segurança deles.
Cubro o rosto com as mãos, meus sentidos se dissipando enquanto me
sinto cambalear para trás em alguns passos, mas logo sou envolvida pelo
calor forte e do cheiro dele. Ele está me abraçando. Nicholas está me
abraçando.
— Eu amo você — ele declara. — Isso não vai mudar.
— Não estou grávida — nego, entre soluços. — Me solta, você tem que
ir embora — tento me desvencilhar, mas ele me aperta mais forte. —
Nicholas, por favor… — imploro.
— Não, Amber. Eu fico.
— Ahn... — ouço a voz do meu pai. — Eu vou… Ver se a Natalie já
chegou, com licença.
Nicholas sobe uma mão por minhas costas até ela estar entre meus
cabelos, então meu choro diminui, sendo substituído por soluços altos. Estou
um trapo. Ele não deveria estar aqui.
— Você precisa ir embora — eu repito, sem qualquer convicção.
— Não, eu preciso ficar com a minha mulher — ele rebate e sinto—me
ser afastada. Ele me encara, seus olhos percorrendo todo meu rosto. — Não
gosto do que vejo. Nós precisamos conversar direito.
— Não — nego, meus olhos se fechando.
Eu sinto o toque nos botões da minha blusa, então os abro de novo,
observando que Nicholas os desfaz.
— Eu não me importo no momento — diz, seus olhos atentos aos
movimentos. — Você é minha e sabe disso. Não vou a lugar algum mais. E
agora fica quieta para eu poder dar um jeito em você.
Meu desespero aumenta. Ele está irredutível. Eu estou sem forças para
insistir. Estou fraca, triste e chocada com a notícia de poder estar grávida. Um
filho. Eu não queria. Não queria ter. Não poderia estar grávida. São muitas
coisas em tão pouco tempo.
Nicholas puxa a blusa por meus ombros e a joga no chão. Em seguida,
se abaixa para puxar o zíper da minha saia e descê-la por minhas pernas. Eu
me apoio com as mãos em seus ombros para não cair.
Ele levanta, segurando minhas mãos e dando um beijo em cada uma,
antes de se afastar para levar as roupas ao cesto que fica ao lado da porta. Ele
a fecha e volta em minha direção, seu sorriso se abrindo para mim.
Suas mãos logo vão para minhas costas, desfazendo o fecho do meu
sutiã e ele puxa minha calcinha para baixo. Eu deixo as duas peças irem ao
chão e Nicholas segura minha mão, me incentivando a caminhar para o box.
Não posso suportar tudo isso.
Ele liga o registro e confere a água, então me puxa e entra junto comigo.
Logo estou debaixo do jato de água morno, o calor me sendo muito
bem-vindo, enquanto Nicholas começa a percorrer as mãos por meu corpo.
Isto não está certo. Eu não posso deixa-lo correr mais esse risco. Fui
uma burra em não tê-lo ouvido de primeira, ferrei com tudo para nós dois.
Não posso fazer o mesmo de novo.
Eu relaxo quando sinto seus dedos em meus cabelos, sentindo a espuma
do shampoo ser espalhada.
Respiro fundo e o deixo fazer o que quer. Ele está aqui agora e não quer
ir. Mais tarde, quando eu recuperar as forças, eu o expulso. No entanto, por
enquanto, eu aceito que fique.
Abro os olhos quando sinto os movimentos insistentes em minha
barriga.
Tenho que olhar para baixo, porque Nicholas está abaixado, observando
os dedos percorrerem meu ventre, parecendo pensativo.
Seus olhos se erguem para mim e ele abre um sorriso curto.
— Gosto da ideia de você estar gravidinha — fala.
— Não estou — nego, de novo. Eu não posso estar.
Ele se aproxima mais e deposita um beijo ali, levantando em seguida.
Está todo ensopado com as roupas, mas parece nem ligar.
— Tudo bem. Você comeu hoje?
— Não é problema seu.
— Levando em conta que você é minha mulher e meu filho está se
formando dentro de você, é, é sim.
Eu tento me afastar, mas o vidro do box não permite. Nicholas sorri e
me dá um beijo no rosto.
— Vou pegar uma toalha — avisa e sai, me deixando desamparada
emocionalmente.
O que eu posso fazer para fazer com que vá embora? O quê? O que o
faria ir, sem recusa?
Um filho. Dele. Não. Pode não ser.
Ele volta, então abre a toalha e faz um sinal para que eu vá até ela.
Logo estou sendo enxugada por ele, que parece muito à vontade com
isso.
— Nicholas — eu chamo sua atenção, minha dor aumentando.
— Sim?
— Não é seu — falo e seus olhos se voltam para mim.
— O quê? — ele ergue uma sobrancelha, parando os movimentos.
— O filho. Se eu estiver grávida, não é seu.
Eu me seguro com todas as minhas forças enquanto o vejo soltar o pano
das mãos e então parecer sem ação.
— Não?
— Não. Agora pode ir embora — eu aponto a porta.
Nicholas me encara por uns segundos, antes de dar um passo para trás e
se remexer sobre os próprios pés.
— Eu… — ele tenta dizer, então olha para vários cantos. — Vou...
Desculpe — diz e sai a passos rápidos.
Eu me recuso a cair onde estou, então me sento no chão, já
impossibilitada de tentar me acalmar.
Capítulo 43

Eu solto uma lufada de ar quando vejo Natalie caminhar pelo quarto com
uma maldita calcinha de renda. Esta mulher vem acabando comigo nos
últimos dias. Castigo de merda.
Ela para de repente em frente à cama, enquanto eu observo os peitos
deliciosos e que tanto venero fazerem um balanço de leve.
— O que foi? Não vai tentar me atacar hoje? — ela questiona.
— Não — eu a olho. — Senta aqui, minha menina bonita, preciso
conversar algo sério com você — bato ao meu lado, no colchão
Natalie dá um sorrisinho e vem pulando, o que me faz rir.
Ela senta, me olhando curiosa.
— E aí? O que está acontecendo com meu homem delicioso?
— Não comigo — eu me ajeito, virando para ela. — Com nossa filha.
Ela pode estar grávida.
Ela solta um risinho.
— Você vai se acostumar com "vovô Philip" ou até "meu velho" —
morde o lábio, tentando controlar um riso.
— Muito engraçada — bufo. — Não é isso que está me preocupando, na
verdade.
— O que é então? — ela aperta minha coxa com força. — Adoro suas
coxas.
— Eu sei. Tira essa mão daí se você não vai me deixar te tocar —
resmungo.
Ela ri e volta a me olhar.
— Eu encontrei o Nicholas lá na varanda chorando. Ele parecia
destruído — digo. — Mesmo. Estava todo molhado e não parava de chorar.
Eu me senti mal para caramba.
Natalie me avalia, bem séria de repente.
— O que ela fez? — indaga.
— O quê?
— A Amber, Philip, o que ela fez? Maldito gene seu que ela herdou!
Encolho os ombros, ofendido. Meus genes são ótimos.
— Ele disse que ela falou que o filho não é dele.
Minha mulher bufa.
— E o idiota acreditou? — questiona.
— Sim, eu acho. Não sei. Não soube o que fazer. Parecia que eu… Não
sei — balanço a cabeça. — Estava me vendo nele quando… — Não quero
lembrar.
— Quando fez aquela merda comigo — ela me dá um tapa. — Eu acho
bom você não deixar ela cometer o mesmo erro.
— Eu não posso me meter, Natalie. É um problema deles, não meu ou
seu.
— Foda-se, Philip! — resmunga.
— Olha a boca, menina — aviso.
— A boca é minha. Você acha que não é um problema nosso? Nós
somos os pais, é nosso neto — ela levanta. — Cadê o Nicholas?
— Ele foi embora logo depois. Disse que era pra eu ligar para avisar
quando a Amber se sentisse melhor e agradeceu por tudo, mas que não
voltaria mais.
Natalie grunhe, enquanto caminha até o closet.
— Misericórdia! Eu tenho que ter paciência com cada homem que me
aparece na vida. Só idiota. Eu vou agora falar com ela e você vai atrás do
Nicholas — ela volta vestindo um vestido. — Você me ouviu? Não deixa o
garoto ir a lugar algum.
— O que você pretende fazer? — pergunto, me levantando.
— O que você pretende fazer? — me imita. — Tentar resolver, seu
idiota.
Eu a sigo quando ela sai a passadas rápidas para fora do quarto, então
entra no de Amber, sem nem bater.
Observo minha filha deitada na cama, parecendo também destruída e
meu coração aperta. É a minha neném e eu não posso fazer nada. Malditos
homens nós somos.
— O que você acha que está fazendo, Amber? — Natalie pergunta,
cruzando os braços ao chegar perto dela.
Ela não responde, só olha para o nada.
— Eu não tenho tempo para ficar comovida com o seu estado. Se o filho
não é do Nicholas, é de quem? Porque eu não te dei um vibrador para você
andar abrindo as pernas por aí e engravidar de algum babaca e não saber nem
quem é.
— Você o quê? — questiono, horrizado. Natalie é louca.
— Responde, Amber! — ela insiste, me ignorando.
— Eu não posso ficar com ele… — sussurra, olhando para Natalie. —
Não posso, mãe.
Minha mulher suspira, parecendo relaxar então.
— Por que você não pode?
— Porque é perigoso.
— Por que é perigoso?
Amber balança a cabeça e suspira, não querendo dizer.
— Você precisa me dar um motivo para eu poder entender porque você
quer o pai do seu bebê longe, Amber — eu entro na conversa, indo me sentar
ao lado de Natalie.
Ela começa a chorar, soluçando ao mesmo tempo.
— Eu me sinto… Perdida — fala. — Não há o que possa ser feito.
— Sempre se há algo a fazer, filha — afirmo. — O que aconteceu entre
vocês? Ele tinha apanhado de mim por você, te pediu em casamento… Não
vejo nexo no desfecho disso.
— Eu… — ela respira fundo. — Ele é maravilhoso, não houve nada
entre nós. Apenas não é certo ficar com ele.
— E como você espera lidar com uma criança? — Natalie pergunta. —
Eu sou sua mãe, mas não vou cuidar de filho seu. Você vai ter que… — ela
geme. — Quer saber? — levanta e me puxa junto. — Eu vou tratar de
resolver isso com seu pai. Você não está raciocinando.
— Não! — grita, sentando. — Por favor, mãe, não. Eu explico.
Natalie respira fundo, então cruza os braços.
— Pode começar. Estamos ouvindo.
Amber me olha, suplicando algo. Sempre foi assim, desde que ela era
um bebezinho. Eu entendia o que queria simplesmente por me olhar e, neste
momento, ela está me pedindo que eu impeça Natalie. Mas eu não posso. É
para o bem dela.
— Conte-nos, filha — incentivo.
Ela suspira, agoniada, então fecha os olhos com força.
— Aquelas crianças não são do Nicholas, são da irmã dele. Ele as
roubou.
— Como assim "roubou"? — minha mulher questiona.
— A irmã de Nicholas era uma perdida e não cuidava deles, então ele os
pegou para si e os esconde desde então — responde.
— Como assim? — repito. — Esconde?
— Sim — ela assente, nos olhando, cabisbaixa. — Ele pode ser preso a
qualquer momento, se isso for descoberto.
Eu olho para Natalie, boquiaberto. Que… Cacete, isso é sério.
— Não me diga que isso é covardia? — minha esposa pergunta. —
Você não o quer por medo? Pelo amor de Deus, Amber, não te criei para ser
uma medrosa!
— Não, mãe… — ela geme, tampando a boca. — Eu fiz uma besteira, e
fiquei sem opção.
— O que você fez? — pergunto. Eu estou nada menos que avoado e
alienado. Minha filha está grávida de um ladrão de crianças e o expulsou.
Senti um grande choque ao ver o garoto aos prantos na varanda, isso é
fato. Doeu em mim ver aquilo. Era como se eu me visse quando deixei
Natalie para trás. No caso dele, foi ao contrário, o que imagino que a dor seja
pior. Ninguém merece sofrer por amor. Ninguém mesmo. Até a vontade de
bater nele passou na hora.
— Pai… — ela me olha, enxugando as lágrimas. — Preciso que confie
em mim. Eu não posso dizer.
Natalie me olha, esperando uma resposta.
— Nós vamos te deixar dormir e amanhã conversamos mais — digo e
me aproximo dela, deixando um beijo no alto da sua cabeça.
— Obrigada — ela soluça.
Minha esposa respira fundo e a beija também, me seguindo quando
deixo o quarto.
Meu braço é segurado no caminho do corredor e eu me viro para ela.
— Você vai investigar isso, não vai? — Natalie questiona. Não é bem
uma pergunta, e sim uma ordem implícita.
— Vou — afirmo. — Com certeza.
Claro que vou. Eu conheço Amber e ela não está menos triste do que
Nicholas. Algo está errado. Meu instinto me diz isso, e ele nunca erra. Nunca.
Claro, porque eu sou o melhor. Raramente erro.
Capítulo 44

Estou quase descendo para o hall de recepção com as minhas malas,


quando meu telefone toca.
Me sinto mais do que esgotado. Destruído. Esmigalhado. Amber está
grávida de um filho que não é meu. Isso significa que ela não me queria, que
mentiu para mim e me traiu. Fico me perguntando por quantas pessoas mais
vou ter que ser traído. Quantas vezes mais eu vou ter que aguentar essas
merdas que a vida me traz. Eu já estou no meu limite. Quase não aguento
mais nada.
Alcanço o aparelho no bolso da calça e atendo, sentando na beirada da
cama.
— Alô.
— Oi, Nicholas! — uma voz ofegante. Eu reconheço.
— Amy, certo? — questiono, esfregando a testa. Estou mais do que sem
paciência, mas sei que a garota não é culpada pelo meu estado e nem pelo
que a prima me fez.
— Sim, sim — ela responde, parecendo com dificuldade para respirar.
— Onde você está?
— Estou indo embora.
— Oh, não, não, não — fala, depressa. — Você não pode fazer isso. É
tudo um engano. Você não pode ir.
Suspiro com força, me levantando.
— Não é, não. Sua prima deixou bem claro para mim que o único
enganado era eu. Desde o início.
— Não! — Amy grita. — Você precisa me ouvir, tudo bem? Tudo bem
— ela mesma responde e respira fundo. — Estou meio assim porque cheguei
correndo, talvez eu fale um pouco rápido, mas espero que você entenda.
Eu me sento novamente, sem nenhum pouco de paciência, mas curioso.
— O cara que estava com ela — começa —, eu descobri quem é. Se
chama Desmond Miles. — A menção do nome do tal policial me faz ficar
surpreso. Com ele?
— Ele é um policial — continua. — Eu o segui depois que ele deixou a
Amber. Ele mora em um apartamento de luxo fora da cidade e parece sempre
muito cauteloso com tudo, sempre olhando aos arredores. Bem, o que
importa é que eu fiquei esperando ele aparecer para vê-la hoje de novo, e ele
veio. Fiquei escondida no corredor da Direção, porque a Amber estava de
saída e não o deixou entrar em sua sala. Foi quando eu ouvi.
— Ouviu o quê? — questiono, desinteressado. Ela acabou de me dizer
que outro cara foi ver a mulher que era minha noiva. Estou enjoado.
— Tudo, Nicholas! — Amy grita. — Há algo a ver com você e seus
filhos. A Amber pediu para que ele não mencionasse mais você e sim fizesse
o que prometeu, que era te deixar em segurança com as crianças. Eu não sei
do que se trata, mas eu captei logo que não era por querer que ela estava
fazendo o que fez. Bem, minha prima é uma idiota.
— Como assim? — pergunto, desentendido. — Algo a ver comigo e
meus filhos?
— Sim, soou como se ela tivesse sido ameaçada. Bem, eu não quero que
você vá embora se realmente tiver um engano. Estou vendo isso. Acabei de
falar com meu pai e ele está tomando algumas providências. Eu mantenho
você informado, enquanto isso vou ver a Amber, preciso que ela me diga o
que está havendo de fato ou não vai haver muito o que fazer.
— Ameaçada? — eu me levanto.
— Sim! E você também precisa ficar. Por favor.
— Ela me traiu, você não pode exigir isso de mim. Não estou muito
certo de que haja uma boa justificativa.
— Não estou exigindo — nega. — Quer dizer, estou sim, mas é pelo
uma boa causa. Se for mesmo o que estou pensando, vocês podem perder um
ao outro sem necessidade, simplesmente por causa de um idiota.
— O que você está pensando?
— Que ele a está prendendo junto a si com ameaças. Não sei o que você
fez para um policial se aproveitar disso e nem é da minha conta, mas a
Amber é, ela é muito da minha conta. Eu preciso desligar agora. Eu te ligo
em breve com novidades.
— O que você espera que eu faça? Fique aqui sentado aguardando
notícias dela? — indago, sarcástico.
— Notícias minhas — ela rebate. — E, não, não espero que você fique
sentado. Acho que você deveria ir ver o meu tio, ele foi ter um papinho com o
tal Desmond depois que eu falei com ele também. Não acho que isso vai
acabar bem. Eles estão indo para o Bouley.
— Philip?
— Ele mesmo. Meu tio não sabe se controlar. Acho que vai mesmo
haver algo legal lá e você pode até filmar para me mostrar depois — ela ri.
— Bem, eu preciso desligar. Quanto mais rápido a idiota esclarecer isso,
mais rápido vocês se acertam. Tchau, Nicholas.
Ela desliga e eu fico olhando para a tela do celular por um tempo, então
me levanto, já não muito certo do fazer e vou em direção a porta, só para ver
o que ela quis dizer com Philip não se controlar. Porque é bom saber que ele
vai descontar a raiva em alguém que não seja eu.

....

Desço do táxi em frente ao Bouley e logo me direciono às portas de vidro,


uma recepcionista vindo me encontrar e se prontificar a me escolher um
lugar.
— Estou bem, obrigado — dispenso sua ajuda e olho em volta,
procurando pelas muitas mesas, até ver Philip. Ele está com um terno cinza, o
que o destaca dos outros e que me facilita o trabalho. O outro homem está de
frente para ele e de costas na minha direção.
Respiro fundo e caminho até estar em uma mesa próxima. Não deixo
que nenhum dos dois me percebam, porque se eu olhar para a cara do
desgraçado, eu vou querer arrebentá-lo na mesma hora.
Já não estou entendendo nada com nada há um tempo, e não é diferente
agora. O Philip tem aquela expressão fechada no rosto parecendo atento às
palavras do idiota à sua frente.
O garçom se aproxima e eu peço qualquer coisa para não ter que sair.
Volto a olhar a mesa próxima a mim e observo quando Philip atende o
celular, muito atento enquanto olha para frente. É num instante quando volta
a focar o policial e então ele parece furioso muito rapidamente, os olhos
claros dando medo até de longe.
Eu me remexo, num susto, quando joga o celular sobre a mesa e se
levanta, dando a volta na mesa e pegando o homem da cadeira pela gola da
camisa. Me levanto, meus passos me levando até a cena de forma automática.
Philip o sacode e depois dá um soco em seu rosto, o fazendo cair no
chão, e se abaixa junto, dando tapas em seu rosto para ele abrir os olhos.
— Belo filho da puta, Desmond — fala, sombrio. — Eu posso te matar
por ameaçar a minha filha, você sabia? Abre os olhos, porra!
O cara ri, parecendo nem aí para o que ele disse, então tenta agarrá—lo
pela camisa também, mas Philip é mais rápido quando agarra suas mãos
acima da cabeça e sobe em cima dele, juntando as pernas para prensar seu
corpo sob si.
— Você está tentando me bater? — soca seu rosto. — Estou mesmo
vendo isso? — outro soco do outro lado. — Você está louco, é só o que posso
concluir — mais um.
Várias pessoas se levantaram também e parecem em choque.
— Você vai se arrepender de estar me tocando — o cara fala, tentando
cuspir o sangue da boca em Philip, que levanta sua cabeça e lhe dá outro
murro.
— Não, imbecil! Você vai se arrepender por se meter com a minha filha!
Vai dar sorte se sair daqui andando — outro soco e se levanta, imediatamente
dando chutes em estômago do cara, em um ponto que o outro grita de dor, se
contorcendo no chão.
Philip parece alucinado, não medindo o que está fazendo. Algumas
mulheres já estão gritando e é exatamente quando eu vou até ele e tento puxá
—lo para trás, mas levo uma cotovelada no estômago, indo para trás também
e caindo no chão.
Ele está descontrolado.
— Reage, ô seu imbecil! Só sabe ser homem para o lado das mulheres
com esse distintivo de merda?! — mais vários chutes. — Você mexeu com a
mulher errada, filho da puta.
— Ah, porra, que merda — ouço o resmungo e levanto a cabeça para
ver outro cara se aproximar. Eu tenho uma vaga lembrança dele, mas não
consigo reconhecer. — Chega, cara, chega! — ele puxa os braços de Philip e
os imobiliza atrás das costas, puxando-o junto para trás. — Já chega.
Philip tenta se desprender, mas o homem não deixa.
— Já falei que chega, porra! — insiste.
— Me solta, Brian! Esse filho da puta vai sofrer! — Philip grunhe,
tentando atacar o homem atrás de si.
Eu vejo o tal Desmond se contorcer no chão, parecendo acabado. Seu
rosto está uma merda.
— Ele vai morrer se você continuar com isso — o cara fala. — Já chega.
— Ele não vai morrer, não ainda, só vai sentir uma dorzinha a mais —
Philip ri, um riso que dá medo, então com um movimento rápido se
desprende e voltar a atacar o homem, chutando-o em um só lugar perto da
barriga, incessante vezes.
Eu observo quando dois homens o derrubam no chão e ficam por cima
dele. Os seguranças. Que merda.
O homem que chegou leva as mãos ao rosto, parecendo contrariado,
então olha para mim, parecendo me conhecer.
Eu não dou tempo de isso acontecer, na verdade, somente me levanto e
saio por onde entrei.
Capítulo 45

Eu saio do banheiro, limpando a boca com um papel higiênico. Perdi a


conta de quantas vezes tive que vomitar. Não como nada há mais de vinte e
quatro horas e só sinto tudo girar. Não aguento mais essa dor. Não posso
estar mesmo grávida. Eu me recuso a saber se é mesmo verdade.
Um bebê Morrison. Um bebezinho.
Me arrasto até minha cadeira de volta e tento me concentrar na tela do
notebook à minha frente. São os investimentos da Still, eu preciso estar
atenta. Preciso entender que Nicholas se foi. Já era. Acabou.
Me sinto uma cretina por ter dito aquilo a ele. E se eu realmente estiver
esperando um filho seu? O que vou fazer? Eu não pensava em ter uma
criança. Ainda mais sem um pai. Um bebê do Nicholas... Seria maravilhoso,
no fim de tudo.
Aperto a barriga quando o indício de outro vômito surge, então começo
a chorar, meu corpo inteiro perdendo qualquer força. Porque sim, eu mereço
o que estou tendo. Maldita teimosia minha. Eu devia ter ficado calada e agora
estaria nos braços quentes de Nicholas, enquanto ele me diria coisas bonitas
sobre como gosta da ideia de eu estar grávida. Ele faria isso, porque ele é
assim, todo amoroso, mesmo quando não deve ser – mesmo quando não
mereço que seja.

....

Meus olhos se abrem e eu mexo a cabeça para os lados ao sentir algo


molhado em meu rosto e um burburinho de vozes.
— Calma, sou eu.
Não pode ser. Não, algo está errado. Eu devo estar sonhando. Mas não
lembro de ter dormido, só chorado.
— Eu… — tento me levantar, mas então sou impedida. O rosto de
Nicholas surge, pairando sobre mim e ele parece absolutamente preocupado.
— Quietinha. Estou aqui — garante. — Só relaxe, está bem?
— Nicholas, não era para você estar… — começo a falar. Por que ele
tem que ser tão teimoso?
— Chega dessa porra, Amber — fala, em tom baixo, mas sei que é só
porque está tentando se acalmar. Ele parece irritado. — Você precisa relaxar.
Apenas isso.
— Por que está pedindo isso? — Eu tento olhar em volta e percebo que
estou em outro local e não na minha sala.
Ele volta a secar meu rosto e olha para o lado, então vejo meu pai
aparecer em meu campo de visão, com a blusa com respingos de sangue.
— Como você se sente? — pergunta. A voz dele está tão baixa que faço
esforço para ouvir.
— Tonta, eu acho — pisco algumas vezes. — O que houve?
— Nicholas te encontrou desmaiada em sua sala — ele balança a
cabeça. — Você estava muito pálida. Há quanto tempo não come, filha?
— Não me lembro — suspiro. — Eu não conseguia segurar nada na
barriga. Por que o senhor está sujo de sangue?
— Por que não nos contou sobre Desmond? — ele rebate. — Por que
não nos falou sobre o Nicholas? Por que você agiu assim?
— Do que… — olho para Nicholas, que parece me avaliar. — Não sei
do que o senhor está falando.
Meu pai dá um grunhido de descrença e senta na cama, parecendo
transtornado.
— Ele já sabe sobre as crianças, Amber — Nicholas fala. — Eu contei
tudo, você não me deu outra opção ao ir dizer ao tal policial.
Eu começo a me sentir trêmula. Tudo escapou de minhas mãos e saiu
dos meus planos e controle. Estou desorientada. Não sei o que está havendo.
— Mas eu não… — tento dizer novamente, mas meu pai estende uma
mão, me silenciando.
— Desmond não saiu impune por te ameaçar, mas vai querer ir atrás do
Nicholas. Estou tentando resolver isso antes que ele faça alguma besteira
desnecessária — ele olha para Nicholas e suspira. — Eu vou deixar vocês a
sós.
Eu observo meu pai levantar e ir embora, então viro para perceber que o
homem ao meu lado está chorando silenciosamente.
Engulo em seco, me sentindo mais tonta do que nunca.
— Eu te pedi tanto… — ele fala, a voz esganiçada. — Era tão difícil
assim para você? Se meus filhos forem tirados de mim, eu morro.
Balanço a cabeça. Estou arrependida. Mas não digo nada, apenas o olho
enquanto ele encara o chão.
— Eles acham que você não voltou mais porque os achou mal-educados.
Eu não vejo sentido algum nisso, na verdade. Por que você teve que ir falar
com ele? — seus olhos me miram e me matam um pouco mais.
— Eu pensei que ele pudesse ajudar… — sussurro, derrotada.
— Você pensou errado. Por que acha que fiquei tanto tempo às
escondidas? Foi por querer? Não, Amber, foi porque confiança não é algo
que se acha, se conquista, e você achou que aquele cara merecia a sua sem ao
menos avaliar nada.
— Eu só queria ajudar…
Ele balança a cabeça, dando um sorriso e desviando o olhar de novo.
— Você piorou tudo. Agora todo mundo sabe o que eu fiz. Eu fiquei
sabendo que a Lindsay está internada, mas vai ser liberada por estar em
condições viáveis. Não vai demorar até vir atrás deles e vai poder leva-los, e
eu devo orar para que não seja denunciado.
Nem tenho mais lágrimas, então só miro lugar nenhum também.
— Não sabia que ele faria isso — confesso. — Eu pensei que ele me
ajudaria… Só queria fazer dar certo.
— Não, se você quisesse fazer dar certo, teria ficado comigo e me
ouvido.
— Agora eu sei disso — lamento. — Quem foi que… Como
descobriram do Desmond? — questiono, remexendo meu braço que está
ligado à agulhas e só então foco que estou em uma sala de médico, tomando
soro.
— Sua prima.
— Minha prima? — Estou desentendida.
— A Amy. O pai dela descobriu junto. Não sei muito bem. Eu só fui até
você para esclarecer as coisas e tentar entender, então te achei desmaiada e
sangrando — ele me olha, cheio de dor nos olhos.
Minha mão livre avança imediatamente para minha barriga e eu me
encontro pasma.
— Sangrando? — indago. — Como assim? — me remexo. — O que
você quer dizer com isso?
— Calma. Calma — ele levanta, suas mãos segurando—me no lugar. —
Não sabemos ainda. O médico não chegou com os resultados.
— Não sabemos ainda o que, Nicholas? Do que você está falando? —
balanço a cabeça. Não, não pode ser o que estou pensando. — O que está
havendo? Por que eu estou aqui?
— Se acalme, por favor — pede. — Não é hora para você se agitar. Faça
isso quando puder sair daqui.
— Eu não estou entendendo — murmuro, desolada. — O que significa
eu estar aqui?
— Significa que você pode ter perdido nosso bebê — ele responde e eu
não sei o que dói mais, meu coração ou vê-lo cair de volta na cadeira em um
choro profundo e desesperado.
Capítulo 46

Amber começa a chorar de novo, o que é uma droga, porque eu cheguei a


cogitar que o filho não era meu, mas agora eu disse nosso bebê e ela não
negou. Com tanta merda acontecendo, eu me sinto um perdido. Nem sei mais
o que tenho que assimilar.
Assim que saí do restaurante, eu fui atrás dela, porque precisava de uma
explicação. Toda essa história de Desmond, ameaças, eu e meus filhos, não
estava entendendo nada — não estou, na verdade. Mas então eu a vi largada
na cadeira de sua sala, branca como um papel, perdendo sangue. Eu me
desesperei. Tudo que eu podia pensar era em não perder ela. Meu Deus, claro
que não. Eu não aguentaria.
A peguei nos braços e desci como um desesperado, conseguindo o
primeiro táxi que passou. Ela ficou desmaiada por horas. O médico disse que
ela estava sem forças e não parecia bem alimentada, o que me ocorreu ser
realmente verdade. Não demorou até Philip aparecer, querendo me bater, mas
se conteu quando expliquei que a culpa não era minha.
Está tudo muito confuso e eu não sei como lidar com isso. É muita
coisa. Todo mundo sabe agora que roubei os filhos da minha irmã para mim,
inclusive o policial, que não vai se calar ainda mais agora que levou uma
surra do pai dela. Me sinto perdido.
— Me desculpe — ela fala, rouca, entre as lágrimas. Eu levanto a cabeça
para olhá-la. — Pelo… eu errei. Não pensei que seria assim — balança a
cabeça. — Pensei que conseguiria salvar você e as crianças. Não imaginei
que poderia ocorrer isso. Eu lamento tanto.
Meu coração está quebrado ao vê-la tão mal. Está pálida, com os lábios
esbranquiçados e o rosto inchado, as lágrimas caindo sem parar.
— Eu não... — continua, dando um soluço. — Eu só queria que você
pudesse viver sem medo. Você merece ser feliz, Nicholas, seus filhos
também, mas eu não consegui. Eu errei. Falhei — ela fecha os olhos. — Eu
sinto muito por ter matado nosso bebê também.
Me levanto, incapaz de ouví-la dizer tantos absurdos. Não, não é assim.
Eu seguro seu rosto em minhas mãos, mas Amber não abre os olhos. Ela
está tremendo.
— Chega, Amber — a repreendo. — Preciso que você fique tranquila e
calma.
— Eu não queria estar grávida. Eu não mereço um filho seu — ela tenta
virar o rosto. — É alegria demais para mim. Só fiz as coisas erradas, então
Deus o tirou de mim, porque eu não merecia. Eu sinto muito. Foi culpa
minha.
— Meu Deus, cala a boca. Você não sabe o que está falando — tento
tocá-la, numa tentativa de fazer com que se acalme. — Abre os olhos —
peço.
Ela treme um pouco, os lábios no mesmo estado, mas me obedece
depois de uns segundos. Eu desfaleço ao ver os verdes que costumam ser
brilhantes, estarem totalmente opacos.
Conecto nossos olhares e respiro fundo. Deus, estou quebrado junto com
ela.
— Eu amo você — digo, firme, para que não haja dúvidas. — Eu amo,
Amber, e nada vai mudar isso. Nem você e nem ninguém. Quando falo de
amor, falo sério, não estou me referindo a isso que as pessoas tem só quando
está tudo bem. Isso que estamos vivendo — pontuo acariciando seus lábios
trêmulos, que logo se aquietam — só vai servir para nos fortalecer. Talvez
você não esteja acostumada a ver como a vida funciona de verdade, porque
não precisou passar por muitas coisas, mas eu sei. Sei que podem haver
muitas merdas e mesmo eu estando magoado agora, eu te digo, é verdade,
amo você.
Ela começa a chorar muito escandalosamente, me fazendo ficar ansioso
e agoniado.
Não é mentira. É claro que eu a amo. Estou absurdamente magoado, é
claro, mas não é por isso que deixei de sentir o que sinto por ela. Amber é
minha e nada mudou esse conceito.
Eu me viro quando ouço o barulho da porta abrindo e o médico de meia
idade aparece. Ele está olhando a prancheta em mãos, mas logo volta a
atenção para mim.
— Ahn... Desculpe — olha Amber, que está chorando. — Eu posso
voltar em outro momento.
— Não — gesticulo. — Ela só está… — me viro para ela e seguro sua
mão livre. — Amber, pare de chorar, por favor — acaricio seus cabelos com
a outra mão. — Independente do que for o resultado, eu vou continuar te
amando, sendo seu e nada vai mudar, eu já disse. Por favor.
Ela soluça, tentando controlar o choro, então me viro para o médico, que
parece sem graça.
— Os resultados saíram? — questiono, apreensivo. Estou nervoso para
caramba. Com medo. Meu primeiro filho, que eu fiz com a mulher que eu
amo, e ele ir desse jeito… Não sei se sou capaz de aguentar.
Ele assente.
— Sim. Estão aqui, mas eu preciso dar uma olhada em sua mulher antes
disso, só para eu ter certeza do que acho.
Amber aperta minha mão, somente seus soluços altos sendo ouvidos.
Eu assinto e seguro a mão dela mais firmemente.
Observo o homem caminhar até ao lado da cama e puxar uma máquina.
Em seguida ele pega um aparelho conectado à essa mesma máquina e liga a
tela acima.
— Levante o lençol, por favor. Preciso dar uma olhada na sua barriga —
pede para Amber.
Ela não esbanja o menor sinal de que vai fazê-lo, parece em transe,
então puxo o lençol um pouco para baixo e subo a camisola branca, deixando
sua barriga à mostra.
— Isto vai ser um pouco gelado, querida — ele avisa, mas ela está com
a vista ofuscada, em nenhum lugar específico.
Respiro fundo, recebendo um olhar de pena do médico.
É difícil. Eu já nem sinto mais meu próprio corpo e já deixei de tentar
entender algo. Somente estou aqui, com e para ela. Porque ela precisa de
mim.
Eu observo enquanto ele passa um gel na barriga dela e em seguida o tal
aparelho que tem em mãos, sua vista se voltando para a tela. Tento encontrar
algo, mas só vejo coisas pretas e meio cinzas. Olho para seu rosto, mas ele
parece concentrado.
Amber está olhando para o nada, os olhos sem brilho.
O médico se afasta, desliga a tela e volta a pegar a prancheta nas mãos,
avaliando algo escrito. Ele nos olha em seguida e solta um suspiro pesado.
— Vocês estão prontos para ouvir o que tenho a dizer? — pergunta.
Eu olho para ela, que está de olhos fechados agora e a cabeça para o
lado.
Não, eu não estou preparado. Mas eu posso estar por nós dois. Eu já
aguentei muitas coisas. Posso aguentar mais essa. Acho que sim. Ter força
por nós dois. Eu posso.
— Bem, eu… — o médico começa e eu o olho, me apoiando ao lado na
cama para não cair por causa das pernas meio falhas. — Eu lamento dizer que
vocês não terão um filho.
Amber recomeça o choro, soltando minha mão e levando as suas ao
rosto, tentando descarregar a frustração em lágrimas.
Eu me sento, com medo de cair, e somente olho para o nada, meu peito
apertando de tal forma que sou incapaz de conseguir respirar direito.
Meu bebê. Nosso. Não deu certo. Não deu.
— Vão ter dois — ouço e o tapinha de leve em minhas costas.
Levanto o rosto, desentendido e alienado, vendo o médico sorrir para
mim.
— O quê? — pergunto, balançando a cabeça.
— Dois filhos — ele olha para Amber. — Você está esperando gêmeos.
Capítulo 47

Nicholas levanta, parecendo em transe, sua cabeça balançando de forma


negativa.
— O que… O senhor disse o quê? — indaga para o médico. Já eu, estou
completamente desacreditada.
Grávida de gêmeos? Dois? Assim como meu irmão e eu? Minha nossa.
Nicholas começa a rir então, vindo de volta para o meu lado, e percebo
que está chorando ao mesmo tempo.
— Você ouviu isso? — ele segura minha mão livre com as suas. —
Ouviu? Nós teremos dois, Amber. Você ouviu? — Parece encantando, o que
me deixa sem reação. Eu não sei como lidar com isso. São muitas
informações, baque em cima de baque.
Somente assinto, sem qualquer força física e emocional. Estou
felicíssima pela notícia, mas não consigo demonstrar nada graças à minha
culpa e peso que vêm me consumindo desde então.
Ele volta a olhar o médico, parecendo ansioso.
— Os bebês estão bem? — questiona. — A Amber está bem?
— Sim — o outro garante. — Eu só vou receitar algumas vitaminas para
ela e você pode falar na recepção sobre começar as consultas para o cuidado
dos gêmeos. Ela vai poder ir embora também, se quiser leva-la.
— Sim, eu vou levar — ele afirma.
— Tudo bem. Ela pode se trocar e eu vou deixar as receitas com a
recepcionista. Em caso de dúvida, é só me avisar. Marquem uma consulta
para dentro de duas semanas para eu poder avaliar, ok?
— Ok — Nicholas assente. — Obrigado, doutor.
O médico sorri, nos desejando parabéns, e sai da sala.
Eu sinto o aperto contra minha mão e levanto meus olhos para Nicholas
novamente. Ele está visivelmente emocionado, enquanto tenta controlar seu
choro.
— Você… — respira fundo. — Quer ajuda para se trocar? Eu vou levá-
la para minha casa.
— Não — sussurro. — Não acho que seja uma boa ideia ir para sua
casa. — Estou envergonhada e cheia de culpa. Não conseguiria ir.
A respiração pesada que ele solta ante minha resposta, é pesada e longa.
— Você não acha, mas é. Realmente não penso que sua percepção do
que deve ser feito anda bem ultimamente. Você vai se trocar e vai ir comigo.
Ponto-final.
Suspiro, minhas emoções se alterando em um nível absurdo. Estou um
caco.
A porta se abre novamente e meus pais passam por ela. Eles não tem
qualquer decoro de bater antes.
— Ah, filha… — minha mãe lamenta, então vem até mim e se senta na
beirada da cama. — Como se sente? Eu não pude vir antes, estava tentando
achar sua tia Alice.
— Estou bem — garanto. Não estou, não. Estou um trapo.
— Os resultados chegaram — Nicholas declara, ansioso. Eu percebo
que está querendo contar de uma vez.
Meus pais se retesam visivelmente no lugar e, quando minha mãe parece
parar de sentir pena de mim, se inclina para me abraçar bem forte.
— Não fique assim, meu amor. Vão haver mais oportunidades para você
ter seus filhos. Lamento muito.
— Ela está bem? — ouço meu pai perguntar.
Nicholas solta um riso emocionado.
— Sim — assente. — Ela e nossos dois bebês.
Minha mãe prende a respiração contra mim e se afasta lentamente
depois de alguns segundos. Ela tem os olhos castanhos arregalados, enquanto
desce-os para minha barriga, e de novo para mim.
— Isto é… — ela quer sorrir. — Você vai ter gêmeos?
— Puta merda — meu pai murmura, chamando a atenção de todos. Eu o
observo enfiar as mãos nos cabelos e puxá-los, então começa a andar pela
sala. — Porra, porra...
Minha mãe gesticula para ele, revirando os olhos.
— Não se preocupe — ela olha Nicholas. — Ele reage assim quando
acontece algo que não está sob seu controle.
Ele assente, parecendo muito feliz para ligar para meu pai histérico e
louco.
— Estou feliz por você — minha mãe segura minha mão e sorri. — Vou
aproveitar que já estou em uma clínica e levar seu pai ao cardiologista.
— Eu ouvi isso — ele rosna e caminha até perto de nós. — Dois filhos?
— questiona.
Respiro fundo.
— Dois bebês Morrison — respondo.
Minha mãe solta uma risadinha.
— Era uma vez uma Mackenzie… — murmura e meu pai segura o
braço dela, a levantando de onde está, o que só a faz rir mais.
— Natalie, eu estou louco de raiva — ele a vira para si.
Ela bufa.
— Quando você não está? — caçoa.
— Estou falando muito sério — garante. — Eu já quase matei o filho da
puta que ameaçou ela e agora quero fazer o mesmo com o que teve coragem
de tocá—la. Eu sugiro que você me acalme.
Minha mãe balança a cabeça, em total descrença.
— O que você quer dizer? — pergunta.
— Quero dizer para você fazer o que sabe que preciso ou eu vou partir
para cima do Nicholas e ninguém vai me segurar.
— Você é um safado — resmunga, então se desvencilha do contato. —
Eu não vou fazer nada.
Meu pai emite um som de revolta e então dá a volta na cama, indo em
direção ao Nicholas e agarrando seu pescoço. Ele geme de dor.
— Merda, Philip — minha mãe vai atrás, então puxa seus cabelos. —
Larga ele. Eu faço, seu imbecil!
Meu pai o liberta e se vira, agarrando—a pela cintura e a jogando por
cima dos ombros, logo saindo da sala, me deixando constrangida e
envergonhada.
Nicholas senta ao meu lado, seu sorriso me desmontando inteira. É
verdadeiro e tão sincero, que dói no meu coração.
— Agora eu entendi aquilo que você me contou no início sobre seus pais
— ele ri. — Não importa o lugar mesmo.
Eu assinto, desviando o olhar.
Não mereço Nicholas, é tão palpável isso. Ele é tudo que não devo ter.
Muito mais do que achei que fosse. Só não o mereço...
A porta se abre de novo, desta vez em um baque, então eu observo Amy
entrar ofegante e correr até mim.
— Ah, Amber — ela tenta estabilizar a respiração. — Eu lamento
tanto… — segura minha mão, depois de soltar uma bolsa no chão. — Como
você se sente?
— Bem.
Ela assente, focando em Nicholas.
— Oi, Nicholas.
— Oi, Amy — ele sorri. — Obrigado.
Minha prima sorri, então pega a bolsa do chão e põe em cima da cama.
— Eu trouxe roupas limpas — avisa. — A tia Natalie me ligou pedindo.
Fiquei louca de preocupação — abre a bolsa.
— Amber está esperando gêmeos — Nicholas comenta e eu vejo Amy
levantar a cabeça, boquiaberta pela notícia repentina.
— Meu Deus — os olhos se voltam para mim. — Dois diabinhos?
Mesmo? Sério?
— Sério — ele ri. — Dois. Mas são dois anjinhos, não diabinhos.
Minha prima ri, toda contente.
— Se eles puxarem aos Mackenzies, desculpe dizer papai, serão uns
diabinhos — ela adianta.
Estou feliz, não vou negar. Mas o meu dia foi cheio de momentos
inesperados e agora eu tenho Nicholas repetindo que vou ter duas crianças.
Mas ainda tem os filhos dele. Tem a irmã dele. Tem o Desmond. Tem tudo e
muita coisa, e eu não estou sabendo reagir a tudo isso
— O que estou fazendo aqui? — Amy grita, de repente. — Eu preciso ir
à uma loja de bebês. Tchau, gente.
Eu recebo um beijo estalado na bochecha e ela sai correndo de novo.
Eu ouço Nicholas rir e logo minha mão é segurada de novo.
— Pronta para ir pra casa? — pergunta.
Eu assinto, não me restando mais opções.
Capítulo 48

Nicholas me ajuda a descer do carro e logo estamos indo para o elevador,


em instantes saindo no corredor que leva ao seu apartamento.
Eu sigo para o sofá, cansada e fatigada, louca para que tudo faça algum
sentido. Qualquer coisa. Ao menos uma coisa. Mas nada parece muito
desembaçado no momento.
Ele caminha até mim e se senta ao meu lado. Sou incapaz de olhá-lo,
mas tenho muito a dizer.
Respiro fundo e resolvo colocar tudo para fora.
— No dia seguinte ao que nós voltamos de Nova Jersey, eu fui almoçar
com o Desmond — começo, desconfortável. — Sei que você tinha pedido
para eu não ir, mas fui teimosa. Pensei que ele pudesse ajudar, e podia. Só
que ele não quis fazer do jeito fácil. Ele disse que colocaria você na cadeia.
Quer dizer, ele não sabia ainda que era você, só que quando recebi sua visita
mais tarde, você esbarrou com ele no corredor e acabou dizendo que eu era
sua mulher. Ele juntou um mais um e bolou uma ameaça. Disse que garantiria
que você vivesse em paz com as crianças se eu ficasse com ele — balanço a
cabeça, que começou a doer. — Eu fiquei perdida e tentei negar. Sendo da
polícia, ele foi investigar você e achou sua irmã com seu sobrenome. Não sei
bem como ele concluiu tudo, só que eu me desesperei. Fiquei com muito
medo e só queria que ele te esquecesse.
— Você podia ter me dito o que estava acontecendo — Nicholas rebate.
A voz dele está cheia de dor visível. — Doeu demais. Todas as vezes, todos
os nãos sem motivos — ele segura meu queixo e vira meu rosto para si. —
Você nunca vai fazer ideia do que eu senti. Eu preferia que você tivesse me
batido do que ter dito que não estava grávida dos meus filhos. Preferia mil
vezes apanhar do que ter ouvido você dizer que iria cometer o maior erro da
sua vida ao casar comigo. Eu preferia, Amber.
Mordo o lábio, evitando que ele comece a tremer. Eu fiz mesmo isso. Me
sinto uma vagabunda sem sentimentos.
— Me perdoe — digo, minha voz soando baixa demais. — Nunca quis
dizer nada disso. Eu só estava tentando te manter longe de mim, mas não
funcionou, você sempre voltava.
— Dessa vez eu iria ir mesmo, de verdade — ele confessa, seu polegar
desenhando círculos em meu queixo. — Mas sua prima me ligou e me contou
sobre essa ameaça.
— Você iria? — questiono, só o pensamento de o ter perdido de verdade
me fazendo tremer.
— Sim, sem pensar.
Eu assinto, enquanto desvio o olhar.
Dói pensar isso. Dói demais. Não era que eu queria que ele fosse,
eu precisava. Pelo bem dele. Dos filhos. De nós. E agora o meu
arrependimento não serve de absolutamente merda nenhuma, porque o
Nicholas sempre vai ter o que eu disse gravado na mente.
— Vou preparar algo para você comer — ele avisa e levanta, deixando o
cômodo em instantes.
Eu respiro fundo, algumas lágrimas caindo dos meus olhos.
Vai ser completamente diferente agora. Vai ser totalmente estranho.
Alguma coisa quebrou nele, é perceptível, e sinto que não vai dar nem para
tentar consertar. É minha culpa, eu sei disso. Me sinto péssima e uma cretina.
Eu não mereço o Nicholas.
Meu celular toca na bolsa sobre meu colo e eu abro para atender,
enquanto tento não chorar. Não adianta chorar, tenho que encarar as
consequências dos meus erros.
— Alô — atendo.
— Oi, neném.
Meu coração saltita ao ouvir a voz que sempre me acalmou.
— Luke?
— Oi — ele ri. — Está em dúvida se é minha voz ou o quê?
— Não — dou um sorriso inevitável. — Estou com saudades.
— Eu também. Como você está? Meu pai me ligou agora há pouco
dizendo algo sobre você estar noiva, grávida e ter sido ameaçada — ele
parece confuso, o que me faz rir.
— Nosso pai é um fofoqueiro — resmungo.
— Nossa família é fofoqueira — corrige.
— Sim, é verdade.
— Mas então, que história é essa?
— Eu fiz uma besteira que desencadeou em um problemão — suspiro.
— Eu lamento. Quem é o seu noivo? Eu conheço?
— Sim, Nicholas Morrison — respondo e imediatamente recebo um
silêncio pesado como resposta. Óbvio que sim. Ele quase foi cunhado do meu
irmão.
Luke tosse, parecendo incomodado.
— Tem certeza que ele é um cara legal para você? — pergunta.
— Ele é mais do que eu mereço — admito. Eu poderia abrir um leque de
questões para interrogar meu irmão sobre seu noivado às escondidas com a
irmã do Nicholas, mas não o faço, porque quem tem vergonha não
envergonha os outros. É nítido que é algo que ele não gosta de falar.
— Você está apaixonada por ele? — meu irmão parece deprimido. —
Não tome essas decisões por paixão, Amber. Você pode cometer erros.
— Não, eu não estou apaixonada. Isso é além. Eu o amo. Muito. Nunca
esteve nos meus planos fazê-lo sofrer, muito pelo contrário, eu só queria
deixa-lo feliz, mas errei.
Luke suspira.
— Se você diz que não foi por querer, ele realmente vai saber. Eu
espero mesmo que não haja nada como o seu coração partido em breve ou
você pode avisar a ele que eu sei alguns golpes como matar alguém somente
com um dedo — diz, sombrio.
Eu solto um riso nervoso.
— Não vou dizer isso. Nosso pai já bate nele toda vez que o ver.
— Ele deve estar de castigo.
— Quem?
— Meu pai — Luke ri.
— Como assim?
— Ele só fica batendo em tudo quando minha mãe não permite que ele
a toque, você se esqueceu?
— Faz sentido — concordo, com um sorriso. — Estou esperando
gêmeos, você acredita? Assim como nós.
Meu irmão dá um assobio.
— Isso é incrível — ele ri de novo. — Vou ser tio de quantos mais?
— Nicholas tem três já.
— Três? — Luke está pasmo.
— Sim, são filhos da irmã e ele os cria desde sempre. São uns amores.
A linha fica novamente muda e então me dou conta que meu irmão não
deve querer ouvir algo assim.
— Certo, neném, eu preciso desligar. Tenho uma galera para treinar.
Você está bem? Sem preocupações? — questiona.
— Bem. E você?
— Perfeitamente ótimo. Se cuida e dá o recado ao seu noivo dos meus
golpes, só por precaução.
— Pode deixar — dou um riso. — Eu te amo.
— Também te amo, um beijo.
Ele desliga e coloco o celular no colo, logo erguendo os olhos para ver
Nicholas à minha frente com uma bandeja. Ele parece bem sério.
— Preciso colocar nas suas pernas — avisa.
Eu me apresso em desocupar para ele pôr o recipiente em meu colo.
Feito isso, ele se afasta e então tira a camisa, exalando uma respiração
profunda.
— Eu vou tomar banho, você me aguarda aqui?
— Não vou a lugar algum — garanto.
Ele assente e sai novamente, me deixando cheia de remorso para trás.
Capítulo 49

— Eu amo você.
Forço meus olhos a abrirem quando ouço as palavras. É quase
automático. Então me deparo com os olhos claros de Nicholas perfurando os
meus.
Estou meio perdida e alienada.
— O que aconteceu? — questiono.
— Você dormiu. Seu pai quer falar comigo. Ou melhor, conosco. Acha
que consegue levantar?
Me sento imediatamente, minha cabeça um pouco girando pelo
movimento abrupto.
— Onde ele está? — pergunto.
— Aqui — meu pai responde e eu levanto os olhos para vê—lo sentado
no sofá do outro extremo da sala. — Como você se sente, filha?
— Bem. — O que mais eu posso dizer? Repito, estou um trapo.
Nicholas senta ao meu lado e segura minha mão, colocando sobre sua
perna. Seu toque está gelado, diferente do caloroso que estou acostumada.
Meu pai se acomoda melhor no estofado e estou plenamente ciente do
olhar fatal que ele lança ao Nicholas. Ele é um descontrolado.
— Você sabe que a Amber poderia estar sem todo esse peso em cima
dela se não fosse por você, não é? — questiona.
Eu me remexo. Não, eu que fiz ele sofrer.
— Absolutamente — Nicholas responde.
— Você a seduziu sabendo que tinha tudo isso consigo e ainda a
engravidou — meu pai prossegue. — Eu não estou nenhum pouco
emocionado com a sua situação, nem vou ficar.
Nicholas suspira ao meu lado, chamando minha atenção. Ele está
impaciente.
— Eu sei, Philip. Você já deixou isso bem claro — diz.
— No entanto, eu sei como isso é difícil. Isso de não fazer algo errado
mesmo sabendo que é errado.
Balanço a cabeça. O que ele quis dizer?
— Já fiz merda também por causa do que sentia pela Natalie, e isso não
me tornou mais forte, pelo contrário. Só que o que fiz foi de um jeito
negativo, não positivo. — Ele parece perdido em pensamentos.
Nicholas acaricia minha mão com o polegar, parecendo tranquilo em
esperar o desabafo do meu pai.
— O que quero dizer é que — ele bufa — por um lado eu entendo que
você tenha querido manter ela junto a você mesmo sabendo que seria difícil,
porque o que sente é mais forte.
— Sim, isso é inquestionável — Nicholas revela. — Eu amo a Amber e
não é você, seus golpes ou um policial filho da mãe que vai me tirar ela.
Meu pai parece inquieto, então passa a mão na barba grisalha.
— Já entendi isso — afirma. Ele está bem mais calmo, com certeza.
— Que bom, porque eu estaria disposto a lutar por ela.
— Isso é bom. Mas o que interessa é que vim aqui informar vocês de
que tenho notícias sobre Desmond.
Eu reteso no lugar. Mal suporto ouvir o nome.
— O Michael tem um amigo no FBI e ele deu uma investigada nele. O
Desmond tem umas sujeiras por debaixo dos panos, mas que ninguém sabe.
Ele tem uma ligação com venda ilegal de carros importados, o que é uma
merda, porque ele pode ser preso — meu pai informa. — Nós temos a
possibilidade de pedir o silêncio dele em troca da informação ou denunciá—
lo. O que acham?
Nicholas aperta minha mão. Não aguento mais tantas notícias. Eu só
queria ter levantado e tido um dia normal.
— Eu não sei — ele me olha. — O que você acha?
— Não sei — respondo. — Se denunciarmos, ele conta sobre seus
filhos.
— Se não denunciarem, o risco segue o mesmo, porque ele é um filho
da puta — meu pai rebate e eu o olho.
— É, mas o Nicholas não pode ficar sem as crianças. Eu não sei o que
fazer — confesso, acabada.
— Você pode tentar obter o silêncio dele? — Nicholas questiona ao meu
pai.
— Posso. Com mais uma surra, acho que consigo.
— Mais uma surra? — interpelo.
Ele dá um sorrisinho.
— O senhor bateu nele?
— Não é culpa minha — se defende. — Ele fez por merecer. Mexeu
com você. Em filha minha ninguém mexe, só se quiser a morte.
— Se você conseguir com que fique quieto, é melhor — Nicholas
suspira. — Não queria nenhum envolvimento com polícia nem nada disso.
Eu abaixo a cabeça, me sentindo culpada. Claro que sim.
Culpa totalmente minha.
— Ótimo — meu pai levanta. — Caso aconteça algo, nós temos o
advogado da empresa e o meu. Nada poderia te acontecer, Nicholas —
garante. — Agora, só mais uma coisa, eu não quero minha filha sofrendo
depois ou em qualquer instante por culpa sua.
— Isso não vai acontecer — ele declara. — E eu agradeço seu apoio e
ajuda.
Meu pai se aproxima e aperta a mão dele, se inclinando em seguida para
me dar um beijo demorado na bochecha.
— Eu te amo, filha. Você pode me procurar sempre que precisar de
ajuda, ouviu bem?
— Obrigada, pai — mal consigo falar.
Ele alisa meu cabelo antes de sair. Nicholas levanta e o acompanha até a
porta, então volta para perto de mim e se abaixa à minha frente.
— Por que será que eu acho que seu amigo vai complicar as coisas? —
pergunta.
Mordo o lábio.
— Ele não é meu amigo — nego.
— Você disse que era.
— Pensei que fosse, mas me enganei — suspiro. — Eu sinto muito.
— Não, Amber, eu que sinto. Sinto por você ser tão ingênua — ele
levanta e estende as mãos. — Vem, vamos cuidar de você.
Eu aceito o apoio. Estou tão mal. Não sei se vou conseguir me recuperar
algum dia. É uma sensação horrível de dolorosa. Não sei se Nicholas está
agindo verdadeiramente. Ele está sombrio.
Nós caminhamos até o quarto e ele se coloca à minha frente, as mãos
partindo imediatamente para minha camisa de seda. Ergo os braços para que
tire e então me surpreendo quando ele se coloca de joelhos e agarra minha
cintura, imediatamente me puxando e depositando beijos na minha barriga
inteira.
— São nossos filhos — murmura. — Nossos.
— É só por esse motivo que você está comigo ainda? — A pergunta é
inusitada e sai sem querer.
Nicholas me olha de baixo, parecendo espantado.
— O que você quer dizer com isso?
— Você sabe, depois do que eu fiz… O único motivo de você ficar é
porque estou grávida?
Ele levanta, sua expressão denotando choque ou algo além.
— É isso que você acha? — pergunta.
— Eu não sei o que achar, sinceramente. Me sinto perdida — confesso,
levando as mãos ao rosto. — Você age de uma forma que eu não sei
interpretar. Quando diz que me ama agora, penso que está se
autoconvencendo.
Ele não diz nada, simplesmente volta a se abaixar e recomeça os
movimentos para me despir. Eu tenho que calar a boca. Tudo o que digo não
está ajudando.
Capítulo 50

Eu acordo por ouvir os ruídos persistentes, então me sento com


dificuldade. Lembro de ter tomado banho e vindo deitar. Devo ter dormido
quando Nicholas saiu com a desculpa de que iria ver se tinha alguma ligação
perdida.
Me surpreendo ao ver Amy sentada no chão ao lado da cama, enquanto
tenta prender o cabelo de barbantes de uma boneca de pano gigante. Tem
uma caixinha de música aberta ao seu lado, e é de onde vem os sons
persistentes.
— Amy? — questiono, muito zonza pelo sono.
— Ah, oi — ela me olha rapidamente. — Você dorme para caramba. Já
é meio dia. Como se sente?
— O que está fazendo aqui? — esfrego os olhos.
— Nicholas me pediu para vir ficar com você. Ele teve que sair para ir à
delegacia ou algo assim. Não sei ao certo, mas foi resolver isso dos filhos.
— O quê? Que horas? — Estou imediatamente acordada.
— Foi bem cedo.
— Por que ele não me chamou?
— Porque você estava apagada — ela responde o óbvio.
— De quem é essa boneca?
— É a Madalena — ela ri. — Gostou?
— Madalena?
— Combinou com ela — dá de ombros. — Eu vou preparar o seu café,
ou seria almoço?
— Eu não estou com fome, estou preocupada.
— Bem, estou pouco me importando. Você precisa comer por três agora
— ela levanta. — Eu volto já — recebo um beijo na bochecha e observo
minha prima deixar o local, parecendo saltitante.
Nicholas foi à uma delegacia? Eu não gosto disso. Nenhum pouco. Não
gosto de mim.
....

Amy está tentando me contar sobre como eu vou pirar em visitar lojas de
bebês, mas sou totalmente atraída quando Nicholas irrompe pelo quarto. Ele
parece cansado e desanimado.
Minha prima imediatamente nota minha reação e percebe sua presença,
então levanta e dá uma desculpa qualquer para se afastar.
— Você já comeu? — ele pergunta, muito calmamente.
— Sim — respondo, bem baixo. — Onde você foi?
Ele caminha até a cama e se senta ao meu lado, os olhos mirando os
meus.
— Lindsay quer os filhos de volta — responde, e eu congelo no lugar.
— Seu amigo disse que já tinha contado meu caso e a polícia entrou em
contato com ela. Minha irmã não queria me denunciar, pelo que fiquei
sabendo, mas quer as crianças de volta. Ela garante estar sóbria e
arrependida, e disse que entende que fiz isso pelo bem deles.
Estou boquiaberta. Quando vou parar de me sentir surpreendida?
Desmond já o tinha denunciado? Fiz Nicholas me odiar à toa?
— Ela... Você vai aceitar? — pergunto.
— Eu não sei — ele suspira, passando as mãos no rosto. — Nós não nos
falamos ainda. Ela está vindo para cá amanhã, então poderemos fazer isso.
Mas eu não quero, eles são meus, eu os criei. Não confio na Lindsay. Não
mesmo.
Respiro fundo, sem saber o que dizer.
— Eles nem sabem que a mãe é viva. Como vou explicar isso? Se ela os
quer e eles quiserem ir, vou ter que fazer isso. Se eu quisesse os adotar e ela
concordasse, ainda seria muita burocracia até tê-los de forma legal. Eu estou
perdido. Não era para nada disso estar acontecendo.
Não digo nada, estou somente como ouvinte. Eu o fiz passar por isso.
Não tenho que opinar.
— Como você está? — ele me olha.
— Bem.
— Você está com medo de mim?
Eu reteso no lugar. Céus, não. De onde ele tira essas perguntas? Estou
me sentindo um lixo, mas somente isso.
— Não — nego, balançando a cabeça ao mesmo tempo para dar ênfase.
— Eu quero jantar com você. Aceita?
Eu amoleço no lugar. Como ele consegue?
— Sim, aceito — respondo, quase engasgada pela surpresa.
Nicholas suspira.
— Eu odeio o fato de você estar se sentindo longe de mim quando
deveria ser totalmente ao contrário, principalmente agora que preciso
realmente de você — ele me avalia, os olhos estreitos. — Volto para pegar
você às sete. Preciso sair agora.
Ele levanta e sai, me deixando aflita.
Não aguento mais isso. Não mesmo. Essa situação e clima, pesados e
horríveis.
Amy volta quase no mesmo instante que ele sai, então corre até mim e
me abraça.
— Eu ouvi tudo. Sou uma fofoqueira, eu sei, mas não resisti — ela se
afasta. — Você não está fazendo certo, Amber.
— Do que você está falando? — pergunto, enquanto mantenho meu
foco longe. Estou perdidíssima.
— Isso de você o deixar longe. Não é certo.
— Não é proposital — olho para ela. — Foi algo que criou. Eu disse
muita coisa a ele, Amy. Coisas com a intenção de machucar mesmo.
— Sim, você é uma idiota, eu sei. Mas, veja bem — aponta para mim,
seus cabelos loiros balançando quando ela se remexe. — Você não fez de
propósito. Quer dizer, sua intenção era ajudar. Vou te contar uma história
engraçada e parecida — ela ri.
— Qual? — eu me deito de novo e ela se arrasta para fazer o mesmo, ao
meu lado.
— Tinha um cara — começa. — Ele se apaixonou, quando ainda jovem,
mas aí a garota foi embora. Ela tinha uma vida destruída e não queria que ele
tivesse que passar por isso junto. Ela se achava indigna dele. Bem, passados
alguns anos, eles se reencontraram e só então se deram conta do que sentiam
— me olha, gesticulando. — Não sei como não perceberam antes. Enfim,
eles tiveram o primeiro contato físico, que pareceu ser mais que isso. Depois
de alguma insistência, o cara conseguiu fazer com ela se abrisse um pouco
mais, mas aí, quando tudo parecia bem, bang! — ela emite um som, então ri.
— Bang o quê? — questiono curiosa.
— Ele a fez relembrar seu passado de uma forma dolorosa e proposital.
Só que — ela suspira —, ele não fez por mal. Diz-se que só queria que ela
entendesse que não era mais como antigamente, que a garota estava com ele,
que ia ser diferente, que ele podia fazer mudar.
— Diz-se?
— Ele disse — Amy acentua. — Depois visualizou que foi uma forma
péssima de mostrar isso a ela, porque ele acabou sendo como um dos caras,
ele a ofendeu e humilhou, mas não foi por querer. Era só algo muito louco e
desesperador que o fez perder o rumo por achar que ela poderia partir de
novo. Ele disse que não é algo racional ou explicável, as burradas são
cometidas por medo ou horror de alguma possibilidade ruim. Possessividade
por controle, ou algo assim.
— Quem é ele? Que história é essa?
Ela ri. Um risinho implicante.
— Só digamos que ele é um amigo que quer o meu bem e me atentou ao
que pode acontecer — gesticula — caso eu me apaixone fortemente por
algum irracional obsecado.
— Talvez você seja a obcecada irracional — pontuo.
Minha prima se finge horrorizada, mas logo me abraça, se
aconchegando perto de mim.
— Eu sou boazinha — garante. — Mas só estou tentando te explicar que
você não deve se sentir tão culpada pelo que fez. Você teve uma intenção
realmente boa, não quis magoá-lo.
Suspiro, pensativa.
— Qual foi o desfecho do cara? — pergunto.
— Eles se casaram e tiveram os filhos mais lindos do mundo — dá
risada. — De verdade, eles se amam. Tudo é perdoável por amor. Vocês vão
passar por isso, vão superar.
— Você está falando sobre amor? Sério? — dou um sorriso.
Amy bufa e tenta me fazer cócegas.
— Sou uma romântica nata — afirma. — Só não achei a pessoa certa
para demonstrar.
— Estou ansiosa para quando isto acontecer.
— Eu também — mais um suspiro longo. — Eu também. Agora eu vou
levantar e ir comprar algo para você vestir para jantar com seu futuro marido.
Se apressa — ela levanta e sai correndo de novo.
Capítulo 51

Estou nervosíssima. Parece que estou indo ao meu primeiro encontro, o


que chega a ser engraçado. Amy me comprou um vestido vermelho todo
requintado, de tecido fino, com um formato V nas costas. Meus cabelos estão
caídos em ondas feitas com auxílio da chapinha. Minha maquiagem está nada
mais do que apropriada. Minha prima fez questão de me aprontar
perfeitamente, dizendo que Nicholas merecia ao menos isso. E obviamente
ela destacou que eu tenho que aproveitar enquanto minha barriga não estiver
ultrapassando a visão dos meus pés.
Respiro fundo e tento controlar os batimentos cardíacos enquanto espero
Nicholas aparecer no hall de recepção. Amy está jogando Candy Crush ao
meu lado no celular. O concierge já me deu várias olhadas nervosas. Ele está
desconfortável obviamente, o que me instiga a admirar o seu
profissionalismo.
— Você está vendo algum seguimento de três bolas da mesma cor ou
mais por aqui? — minha prima questiona, colocando o celular na frente do
meu rosto.
— Estou enjoada, não faça isso — peço.
— Oh, eu sinto muito — ela lamenta. — Você precisa ficar bem pelo
menos no jantar com o Nicholas — então se inclina, de frente para minha
barriga. — Vamos lá, pestinhas, colaborem com a mamãe. Ela tem que estar
bem agora.
Eu dou um sorriso. Amy tem passado bastante tempo comigo
ultimamente e estou espantada por ela ser tão amorosa. Realmente pensei que
fosse uma pessoa muito fria. É o que aparenta pelo jeito como se expressa.
Ela volta a sentar direito e então meus olhos são atraídos para frente,
onde vejo Nicholas em pé bem na porta de entrada. Ele está estupendo em um
terno cinza chumbo, com uma camisa rosa claro, e os cabelos espetados. O
rosto está impecável, sinal de que fez a barba. Eu estou babando, certamente.
Ele se aproxima em passos lentos, nossos olhares se conectando, então
solto um suspiro longo quando chega perto de mim e se inclina, me
oferecendo uma florzinha pequena e branca.
— Boa noite, minha mulher linda — diz, com um sorriso.
Estou imediatamente invadida por sensações de todos os tipos, meu
estado emocional me deixando em desespero completo e absoluto.
Agradeço mentalmente ao meu corpo quando consigo erguer a mão e
segurar a flor.
— Obrigada — agradeço.
— Não por isso — ele sussurra. — Oi, Amy.
— Eu preciso ir embora — minha prima se apressa em dizer. — Estou
sentindo o ar poluído por muita melosidade. É contagioso.
Nicholas dá um sorriso e volta a me olhar, sua mão estendendo e
agarrando a minha.
— Vamos? — pergunta.
— Vamos — concordo, me levantando.
Ele me faz entrelaça-la em seu braço e em instantes estamos deixando o
hall, seguindo para a calçada em frente, onde seu carro está estacionado.
Ele abre a porta para mim e eu entro, colocando o cinto logo depois e
exalando uma respiração profunda. É tão estranho. Não devia ser assim. Não
devia estar sendo assim.
Logo ele está ao meu lado, no banco do motorista, mas não consigo
olhá-lo. Estou envergonhada. Meu estômago está embrulhado, e não é por
causa dos nossos bebês. Nossos. Meus e do Nicholas.
— Você está linda — ele diz. — Maravilhosa de verdade. Eu não
imaginaria que estaria como uma deusa.
Me forço a olhá-lo, tentando sorrir.
— Eu… Queria que você gostasse. — Estou falando baixo como a
covarde que sou, o que é uma vergonha.
— Gostei muito — ele sorri, então se inclina e solta meu cinto, me
puxando pela cintura, de forma sou incitada a inclinar o corpo mais para seu
lado. Meus lábios se entreabrem por seu movimento inesperado.
Nicholas corre os dedos pelo meu rosto, seus olhos serpenteando por
minha face, então ele suspira, segurando minha nuca e fazendo um carinho
ali.
— Me beije — pede.
Estou imediatamente desconcertada com o pedido. Não deveria, mas
estou. Nós não nos tocamos há dias e tudo está muito estranho.
— Por favor, me beije — ele insiste, entre um suspiro, quando percebe
minha relutância.
Pisco algumas vezes, então colo meus lábios nos dele, de uma forma
apressada, o que o faz afastar o rosto e balançar a cabeça negativamente.
— Eu quero um beijo de verdade e com vontade, Amber — declara. —
Mostre pra mim que você ainda me quer. Eu preciso sentir isso.
Lambo os lábios, nervosa demais. Eu o quero. É tão visível. Ele não
vê? Eu o amo.
— Você pode fazer isso? — ele volta a segurar meu rosto. — Por mim.
Solto um gemido, triste demais por ter incitado esse tipo de dúvida nele.
É tudo culpa minha.
Seguro seu rosto com uma mão, percebendo que estou trêmula. Por que
estou assim? Nós estávamos noivos e felizes há uns dias.
Respiro com força, então desço o contato para frente, em seu peito forte.
Nicholas emite um som doce imediatamente e sua boca se abre.
Me aproximo novamente, aos poucos, mirando seus olhos no processo.
Estamos cheio de uma dor compartilhada, é bem nítido.
Expiro perto de sua boca e roço nossos lábios de leve, minha mão
espalmando onde está. Ele geme, abrindo a boca, mas não se move.
Dou um beijo no canto de seus lábios e passo a língua no lábio inferior,
antes de o prender entre os dentes. Meu corpo todo se acende pelo contato
familiar e que tanto me faz bem, então me instigo a subir a mão para sua nuca
e puxá—lo mais em minha direção, encaixando nossas bocas e iniciando um
beijo lento.
Nicholas solta um gemido abafado, aos poucos me correspondendo,
tentando se manter imóvel, mas sinto que está falhando quando seu toque está
em minhas costas nuas, o contato me fazendo soltar um gemido rouco.
O beijo dele tem um gosto tão bom, é tão quente e delicioso. Me deixa
em paz, relaxada, entregue. Me faz sentir. Sentir tudo. Tudo que devo sentir.
É muita saudade para pouco eu.
Eu aperto sua nuca, ao mesmo tempo que peço passagem com minha
língua para o interior de sua boca. Ele me permite, soltando um grunhido,
chupando minha língua assim que faço o caminho. Eu me contorço no banco.
Senti falta dele, do toque, do contato.
Arrasto minha mão de volta ao seu peito e o arranho de leve ali, ele
agarrando—me com mais força e então segurando minha mão e arrastando—
a para baixo.
Eu engasgo imediatamente, me afastando no mesmo instante, olhando
para onde sinto a rigidez longa.
Volto a olhar para cima, encontrando Nicholas parecendo em o mesmo
estado de dor de mais cedo.
— Eu senti — ele diz, então leva minha mão aos lábios e dá um beijo, a
colocando sobre meu colo em seguida. — Volte a colocar o cinto, nós temos
um jantar.
Me sento direito, colocando o cinto e sentindo as mãos trêmulas.
É o que estou pensando? Ele vai me tocar? Nicholas quer me tocar
depois tudo? Ele ainda sente desejo por mim? Parece que sim. Céus, nunca
pensei que ficaria tão feliz e com medo por provocar uma ereção.
Capítulo 52

Nós chegamos ao restaurante e eu me surpreendo ao ver a fachada do


local. Eu não esperava que fosse em um lugar assim.
Nicholas sai e dá a volta no carro, abrindo a porta para mim e segurando
minha mão enquanto saio do veículo. Ele entrega as chaves ao manobrista em
seguida e coloca minha mão em seu braço, me incitando a caminhar com ele
à entrada do local.
Somos guiados até uma mesa mais afastada, ao canto do lugar. É um
diferencial com toda a certeza, já que nossa mesa possui uma toalha vermelha
e um candelabro de três velas coloridas em cima. Estou imediatamente
envergonhada de um jeito nervoso.
Nicholas me conduz até a cadeira e a puxa para eu sentar, indo em
seguida sentar à minha frente. Estou embasbacada e logo olho envolta para
ver se tem mais alguma mesa mais arrumada, mas não tem. Todos do recinto
parecem alheios à nós e estão um pouco afastados, dando uma privacidade
agradável para nós.
O lugar é lindo. Amplo e agradável, com lustres de cristais pelo teto
meio baixo, dando um clima romântico juntamente com as luzes baixas. Há
uma parede de vidro no lado que dá para a paisagem escura ao lado de fora,
deixando parecer que estamos ao mesmo tempo ao ar livre. Estou encantada.
— Adoro o seu sorriso — Nicholas fala, me fazendo olhá-lo. Estou
sorrindo?
— É incrível aqui — comento. Não sei o que dizer.
— O melhor lugar para minha mulher linda — ele sorri.
Solto um suspiro, incapaz de entender alguma coisa.
— Por que está me tratando assim? — pergunto.
Ele parece estranhar minha pergunta, então balança a cabeça, como que
para clarear as ideias.
— Como assim? Como queria que eu estivesse tratando você?
— Eu não sei. Fiz coisas ruins para você, está sofrendo agora por minha
causa. Você deveria me tratar friamente e não ser todo — gesticulo — assim.
Eu não mereço você desse jeito.
— Ninguém está falando de merecimento — ele parece alheio. — Não
merecemos absolutamente nada de bom, se é pra ver dessa forma. Estou
demonstrando meu amor por você, isso é um problema?
— Parece que sim. Estou me sentindo desconfortável — admito.
Nicholas desvia o olhar para a mesa por uns segundos, então volta-os
para mim.
— Não quero deixa-la desconfortável. Estou nos reaproximando — ele
coloca a mão na mesa, com a palma para cima, pedindo a minha. Eu o faço e
recebo um carinho. — Ou pelo menos tentando.
— Desculpe — sussurro. Estou em vários cacos despedaçados, e tenho
medo de não conseguir juntá-los. — Eu não sei o que fazer. Não sei como
reagir à sua forma de agir comigo.
— Só seja você mesmo — ele pede. — Nada se forçar algo ou sentir
algo que não deve. Não quero trazer nenhum problema essa noite. Somos só
nós, você e eu. Você pode fazer isso por mim?
— Qualquer coisa por você — afirmo.
Nicholas sorri e me dá um beijo na mão, antes de eu perceber que o
garçom se aproximou de nós.
Ele não olha o cardápio e simplesmente faz nossos pedidos, dispensando
a entrada. Dou um sorriso ao ver que pediu pratos isentos de carne.
— Como você se sente, muito enjoada? — pergunta quando o garçom
nos deixa novamente.
— Não, agora estou melhor. O enjoo tem se tornado muito constante.
Ele dá um sorriso lindo.
— Eu passaria a parte ruim para mim se tivesse como, mas acho que só
posso cuidar de você. Pesquisei e acho que encontrei uma forma de diminuir
seus enjoos.
O pensamento de ter Nicholas pesquisando formas de me ajudar durante
a gravidez me deixa toda emocionada.
— Ah, é? Como?
— Gengibre — ele sorri. — Posso variar, mas é essencial que você tome
todos os dias. Principalmente quando acorda. Pode ser o suco com alguma
outra fruta. Também vi que dá para colocar em bolo ou como tempero.
— É? Que bom. Espero que sirva.
— Também espero. Acho que fiquei um pouco traumatizado ao ter te
encontrado no banheiro aquele dia com seu pai — ele dá um risinho. — Você
estava, desculpa, horrível.
Me finjo horrorizada, o que só o faz rir com vontade.
— Não horrível, horrível. Só horrível — explica.
— Ah, tá. Obrigada pela sua delicadeza.
— Mas veja — ele apoia as mãos na mesa —, estou sendo instigado a
não deixar você passar por aquilo de novo.
Eu assinto, sorrindo.
— Você está assustada por estar esperando gêmeos?
— Não — nego de imediato, eu mesma me surpreendendo. — Quer
dizer, eu não esperava engravidar, mas não estou em pânico ou preocupada.
Sei que você não me deixaria. — Não é só por isso. Eu gosto da sensação de
ter uma parte dele se formando em mim.
— Nunca — Nicholas afirma. — Mas eu confesso que fiquei em
choque, no início — dá um sorriso. — Imagina, dois de uma vez. Acho que
nós vamos ficar um pouco doidos, a princípio.
— Meus pais souberam lidar, acho que isso me alivia um pouco, porque
eles são completamente loucos.
Nicholas ri com vontade.
— Definitivamente eles são, mas fizeram um ótimo trabalho com você e
seu irmão.
Eu assinto.
— Eu quero duas meninas — revelo.
Ele para de rir, surpreso.
— Acho que prefiro dois meninos — admite, pensativo. — Mas estou
feliz com o que vier. É mais do que prazeroso ter meus filhos com a mulher
que sou apaixonado. Não vou abusar da bondade de Deus — ele ri.
Eu estou sorrindo de canto a canto, maravilhada e encantada. Ele é tão
fora do comum, que me sinto perdida.
— A Amy comprou uma boneca de pano gigante de presente já —
comento.
Nicholas assente, divertido.
— Sua prima é um doce. Eu gosto dela.
— Ela é. A Megan e Bea também. Você ainda não as conhece.
— Conheço de vista a filha do Michael. Vez ou outra ela aparecia.
— Ela é casada com o Ethan, o atual dono da Tower — acentuo.
— Ah, faz sentido — dá um sorriso. — Michael arrumou um substituto.
— Sim — afirmo, sorrindo. — Foi uma loucura. Tudo planejado. Megan
sofreu horrores porque não sabia que era tudo um plano do pai.
— Esses caras gostam de ver sofrimentos, só pode — Nicholas
resmunga. — Seu pai gosta de bater, o Michael de ver a dor, o Brian adora
arrumar uma discórdia e o Adam se finge de desentendido em meio à
conflitos só para aumentar o problema.
Eu dou uma risada alta, meio surpreendida.
— Como você os conhece tanto?
— Eu já trabalhei com eles por muito tempo, lembra? — sorri. — Eles
demonstram isso no trabalho. São uma corja difícil de lidar.
— Você trabalhou com todos?
— Aham — ele sorri. — Uma experiência com cada. Mas acho o Brian
mais de fácil de engolir. Ele é mais leve e descontraído. O seu pai é uma
droga. Tá sempre explodindo em algum momento.
— Ele é o seu sogro, por ironia do destino — dou mais um riso.
— Ele é — Nicholas acaricia a nuca. — Vou estar mais preparado para
os golpes vindouros.
— Desculpe por isso. Eu vou fazê-lo parar de bater em você.
Ele sorri.
— Não se preocupe, eu posso revidar brevemente.
Estou prestes a pergunta por que brevemente, mas o garçom se aproxima
com os nossos pedidos, colocando os pratos em cima da mesa e os virando de
forma que possamos ver a decoração bem feita da melhor forma possível.
Estou salivando no mesmo instante pelo cheiro bom.
Nicholas o dispensa, rejeitando o vinho. Sei que é por minha causa. Por
estar grávida agora. Ainda bem que não tenho apego à beber álcool, ou
estaria ferrada.
Começo a comer quando recebo um sorriso delicioso dele, e estou logo
ignorando o que quer que seja pelo gosto delicioso de legumes defumados e
gratinados. Há algum tipo de tempero misturado, e a combinação do
macarrão fino com molho holandês só deixa tudo mais saboroso. Uma
delícia.
Nós comemos em silêncio, eu desviando vez ou outra do prato só para
ver Nicholas sorrir amorosamente para mim. Me sinto no paraíso. Com
Nicholas. Ou melhor, no Paraíso do Nicholas. É uma sensação maravilhosa.
Até meu enjoo se esvaiu um pouco, meu corpo dando indícios de
normalidade depois de tanto tempo. Estou animada com poder agir
normalmente e esquecer um pouco todo o resto.
— Você quer mais? — Nicholas pergunta e eu levanto a cabeça para
olhá—lo. Já estava quase lambendo o prato.
— Não, está bom — nego e limpo a boca com o guardanapo de seda. É
um requinte só.
— Ótimo. Eu vou pedir a sobremesa — ele olha e nem precisa fazer
sinal, porque o garçom logo percebe que acabamos e se aproxima. — Do
cardápio, eu quero o que tiver mais chocolate possível — pede.
O garçom dá um sorriso e assente, rapidamente recolhendo nossos
pratos e se afastando.
— O que tiver mais chocolate… — repito, sorrindo.
— Minha mulher está gravidinha, então sim, muito chocolate.
Eu dou um riso nervoso, inquieta.
Ele faz parecer algo tão maravilhoso. E é. Mas quero dizer porque não
foi algo planejado e mesmo assim Nicholas está empolgado. É uma sensação
realmente boa.
— Você me ama, Amber? — pergunta de repente, atraindo minha total
atenção.
Eu hesito só por alguns segundos, pega pela surpresa.
— Amo muito — afirmo.
Nicholas assente.
— Você não faria algo para me machucar de propósito, faria?
— Nunca — nego. — Nunca quis te machucar. Por favor, acredite em
mim. Nunca foi para ser assim.
Ele levanta, me fazendo tremer um pouco, então dá a volta na mesa e
vem para meu lado, se ajoelhando perto de mim e segurando minha mão com
as suas.
— Eu acredito em você — afirma. — Talvez eu tivesse feito o mesmo
por você, não sei. Você achou ter enxergado um escape e recorreu a ele. Só
— ele me olha nos olhos —, só não seja tão burra novamente em acreditar
em alguém dessa forma. Desta vez foi em mim, mas poderia ter machucado
qualquer outra pessoa.
— Me perdoe — peço, meus lábios trêmulos por um choro inevitável.
— Eu sinto muito, muito mesmo, Nicholas. Só queria ver você feliz.
— Eu perdoei você, amor — ele traz a mão livre ao meu rosto, limpando
as lágrimas. — Me ouça, nada vai mudar o que sinto por você. Só não quero
você me afastando de novo. Isso me destrói.
— Não, nunca mais — garanto.
Ele sorri, concordando.
— Ótimo. Agora — desfaz nossos contatos e arrasta as mãos para o
paletó, fazendo—me ver uma caixinha azul de veludo —, eu preciso de uma
garantia pública.
Estou imediatamente boquiaberta, olhando da caixinha para ele; dele
para a caixinha. É o que estou pensando?
Nicholas a abre, revelando um anel com três cristais pequenos em cima.
— Vamos deixar tudo mais leve, real e oficial — ele fala e me esforço a
não chorar escandalosamente. — Amber Turner Mackenzie, você me faria o
homem mais completo e sortudo do mundo? Você aceita ser minha e somente
minha, até quando não houver mais o para sempre?
Eu assinto, muito nervosamente. Meu Deus.
— Sim? — ele ri. — Você quer se casar comigo, amor?
— Sim — começo a chorar, me inclinando para abraça-lo pelo pescoço.
— Meu Deus, sim, sim e sim. Eu te amo. Muito.
Nicholas dá um risinho e acaricia minhas costas com a mão, enquanto
enterro meu rosto em seu pescoço, a proximidade me deixando em estado
profundo de relaxamento e gratidão.
Eu vou casar com Nicholas. Depois de tudo, ele ainda me quer. Eu não
aguento tanta emoção. Estou sem fala.
Capítulo 53

Nós entramos no apartamento de Nicholas e eu estou toda desconfortável.


De verdade. Terminamos nosso jantar romântico e ele me fez ficar mais à
vontade enquanto tentava falar coisas aleatórias para me distrair. Só que não
funcionou por muito tempo. Assim que entramos no carro, todo o ar estranho
retornou. Principalmente porque ele parecia tenso ao meu lado, o que é uma
completa ironia, visto que me pediu em casamento e colocou uma aliança em
meu dedo minutos antes.
— Vamos para o quarto? — ele pergunta aparecendo à minha frente.
— Sim — sussurro. Estou nervosa. Isso precisa acabar. Essa sensação.
Não é comum.
Eu giro sobre os calcanhares e sigo pelo corredor que me leva ao quarto,
meus pés parando perto da cama em que eu tinha o objetivo de sentar quando
sou segurada.
Nicholas envolve minha cintura com os braços e traz os lábios ao meu
pescoço, me dando uma mordidinha.
Estou imediatamente paralisada, sem saber como reagir.
Ele segue um caminho de beijos até minha orelha e então lambe a parte
sensível dali, meu corpo respondendo ao estímulo com um gemido inevitável.
Seus braços me abandonam e meu cabelo é colocado para o lado, e o
sinto correr as pontas dos dedos por minhas costas nuas, somente para
substituí-los em seguida por sua língua. É quente e maravilhoso. Ele faz o
caminho completo, de cima a baixo, com calma e gentileza.
Meus olhos se fecham com força, os suspiros entrecortados escapando
de mim. Senti saudade.
Nicholas beija minha nuca e alisa meus braços, mudando rapidamente a
forma de me tocar. Ele está tentando nos reaproximar. Demonstrando seu
amor. Me amando. Ele disse.
Eu me viro então, meus olhos buscando os dele. Ele parece sofrer
quando nos encaramos por uns segundos. Dói em mim. Sinto em mim.
— Só nós dois — ele segura meu rosto, abaixando um pouco a cabeça
para ficar à altura dos meus olhos. — Esqueça o resto.
Eu assinto, então levo as mãos para seu terno e o incito a tirar, logo
partindo para os botões da camisa rosa claro. Estou sendo paciente. Somente
nossas respirações são ouvidas ante o silêncio que nos envolve.
Abro os lados da blusa e no mesmo instante corro as mãos pelo peito
sólido e quente que me deixou cheia de saudades. Nicholas solta um suspiro,
depositando um beijo no alto da minha cabeça. Estou esmiuçada.
Ele segura minhas mãos e as desce para o cinto, então eu rapidamente
desfivelo e encontro o zíper e botão da calça, desfazendo—os também.
— Senti sua falta — ele declara, a respiração se tornando entrecortada
quando toco sua ereção.
— Eu também — confesso. — Muito.
Seus dedos se enterram por entre meus cabelos e eu solto um gemido.
— Prometa nunca mais me deixar ou fazer ir — pede. — Não quero
nunca mais que isso aconteça.
— Nunca mais — afirmo, olhando-o. — Eu prometo.
— Ótimo — Nicholas suspira e então volta a segurar minhas mãos. Sou
incentivada a caminhar para trás alguns passos e logo estou deitada na cama.
Seu rosto paira acima do meu por uns instantes, até ele levantar e eu observá-
lo tirar o restante das roupas.
Olho para o teto branco, procurando alguma calma, mas não consigo.
Ele volta e põe um braço por baixo da minha cintura depois de se
colocar por cima de mim, e me leva até os travesseiros.
— Por que você está ofegante? — pergunta, tirando os cabelos do rosto.
— Não fica nervosa, amor. Sou eu.
Eu sei que é ele, por isso estou nervosa.
Sua mão acaricia meu rosto e então me surpreendo quando ele deita ao
meu lado, ainda circulando o polegar em minha bochecha.
— Nós vamos procurar uma casa amanhã. Onde você quer morar?
Me surpreendo duplamente. Isto é sério. Seríssimo.
Respiro fundo, meus olhos passeando por todo o quarto.
— Perto de onde trabalho — respondo, tentando soar despreocupada.
— Certo. Eu vou ver amanhã se tem casas por perto, aí nós vamos
juntos.
— Tudo bem.
Nicholas desce a mão por meu pescoço e a repousa entre meus seios.
— Independente do que acontecer, eu amo você — ele relembra.
Suspiro fortemente.
— A Lindsay também volta amanhã — emenda.
Eu pensei que seria uma noite nossa. Ele está me dando mais
informações bombásticas e não sei como reagir.
— Você vai vê-la — digo. Não foi uma pergunta.
— Sim, eu vou. O bom é que não acho que vou ser preso, e o péssimo é
que ela quer as crianças de volta — ele respira fundo. — Como ela tem
coragem? Nem viu Emily nascer direito e acha que pode reivindicar direitos
agora.
— A vida é injusta — eu o olho e levanto a mão, para tocar seu rosto.
Ele está abatido, mas não tanto como no início de tudo.
— É muito — concorda. — De certa forma, eu agradeço pelo que você
fez. Uma hora ou outra isso ia vir à tona. É melhor agora, onde estou tendo
apoio do que sozinho. Eu sei que se isso tivesse sido descoberto sem que nós
tivéssemos essa proximidade, você ia pensar errado sobre mim.
— Não é verdade — discordo. — O que você fez foi visando o bem das
crianças. Eu nenhum momento se preocupou consigo, com o que poderia
acontecer, somente a segurança deles foi o que você viu — me levanto um
pouco, aproximando o rosto do dele e espalmando a mão em seu peito. —
Isso é admirável. Você é um homem maravilhoso e tudo que eu sentia antes
de te conhecer de verdade, era ciúmes. Completo ciúmes da atenção e
sorrisos que você dava a outras pessoas. Eu queria que você fosse meu e me
recusava a te dividir, e isso fez com que eu te tratasse daquele jeito.
Desculpe, eu sou possessiva, mas nunca duvidei de que você era
maravilhoso.
Ele abre um sorrisinho. Lindo demais.
— Eu gosto da ideia de você me querer só para você — pondera.
É a minha vez de sorrir.
— Eu esconderia você do mundo, se pudesse — admito.
Nicholas ri, balançando a cabeça.
— Isso seria trabalhoso.
— Seria — concordo, deitando minha cabeça em seu ombro e
respirando em seu pescoço. Está indo... aos poucos estamos chegando lá
novamente.
— Você está com sono?
— Estou. — Estou mesmo. Muito.
— Está preparada para dormir muito? — questiona entre um riso.
— Por quê?
— As grávidas sentem muito sono.
— Se eu pudesse substituir o enjoo pelo sono... — balbucio.
— Eu sei, amor — ele enterra os dedos em meus cabelos, me fazendo
suspirar. — Durma, eu vou estar aqui.
Sim, ele vai. Ele é meu. Nicholas é meu e ninguém o vai tirar de mim.
— Eu te amo — pontuo, antes de me aconchegar mais nele e deixar o
sono me levar, ignorando o fato de que estou vestida.
Capítulo 54

Eu observo Nicholas chorando junto com as crianças. Emily está em seu


colo e os dois meninos agarrados às suas pernas. Estou em um canto da sala,
abraçando Lilian, que parece em choque. A irmã dele está em frente. Ela não
parece menos abalada. Está aos prantos também. Tudo está um furacão.
Depois de terem conversado, ela realmente não largou a ideia de querer
os filhos de volta, alegando que estava em seu direito. Nicholas concordou
porque Victor, o advogado, disse que era melhor dessa forma ou ela poderia
acusa-lo pelo que ele havia feito. As crianças quiseram ir, para o lamento
dele, o que foi um baque. Ele os cuidou a vida toda, por que preferiram
alguém que não conhecem?
Agora estamos aqui na sala do Victor, onde tudo está sendo resolvido de
forma legal. É doloroso. A dor deles. É demais.
Ele agarra a menininha nos braços e tenta parar de chorar, mas não
consegue.
Edward se afasta, então seca o rostinho.
— A gente ama você, papai. Nós vamos voltar para te ver — garante, a
vozinha baixa.
Não sei o que Lindsay pode ter falado a eles em apenas uma visita. Eles
a viram uma só vez e completamente caíram de amores por ela.
— Nós vamos — Christian concorda, afastando-se também.
Nicholas abre os olhos e coloca Emily no chão, entre os dois irmãos,
então se abaixa para ficar à altura deles.
— Eu amo vocês, entenderam? — diz. — Vou ficar de olho sempre. Eu
prometo.
— Você é nosso pai — Emily fala.
— Sou. Sempre vou ser — ele sorri e fica olhando um tempo para eles.
Lilian se agarra mais a mim. Foi completamente inusitado eu tê—la
abraçado, mas ela precisava de um conforto, já que também está sofrendo
horrores. Eles lutaram por essas crianças e agora elas simplesmente vão
embora. Simples assim.
— Venham — Lindsay chama. Nós não nos falamos e ela ao menos me
olhou direito. Eu sinto raiva dela. Ela está fazendo Nicholas sofrer, o que me
faz consequentemente sofrer também Ele não merece sofrimento. Não depois
de tudo.
As crianças se viram e vão até ela.
— Obrigada por tudo, Nicholas — diz. — Eu realmente agradeço por
tudo que você fez. Eu vou trazê-los para te visitar. Eu prometo.
Ele fica abaixado no chão, então somente assente.
A irmã suspira e coloca a filha colo, logo após segurando uma mala
grande com a mão livre.
— Vamos, meninos — chama e sai pela porta, os garotinhos a seguindo,
antes de darem uma última olhada para trás.
Nicholas tampa o rosto e cai em um choro desesperado, me fazendo
imediatamente soltar Lilian por um instante e correr até ele.
Me abaixo e o circundo com os braços, ele afundando a cabeça em
minha blusa, soluçando como uma criança pequena.
Não é justo! Ela não pode fazer isso com ele. Ela não os merece.
Nicholas os criou e os viu crescer. Eles têm que ficar com ele.
— Bem, acho que está tudo resolvido — Victor diz ao fundo e eu sou a
única que presto atenção no que está falando. — Não houve alguma
incriminação, então é como se isso não tivesse ocorrido. Lindsay teve suas
dívidas pagas com a justiça pelo que fez. — Eu o interrogo com o olhar. —
Ela esteve envolvida em algum roubo, ficou presa por dois anos e mais cinco
na clínica, aparentemente está sóbria. O que importa é que tudo se resolveu
sem se precisar envolver mais nenhuma polícia no meio. Agora só tenho que
ligar para seu pai e dizer do que ele precisa para denunciar Desmond.
— Meu pai vai denunciá-lo? — Não estou surpreendida.
— Sim — Victor afirma. — Com certeza ele vai.
— Vamos embora — Nicholas pede, chamando minha atenção por entre
os soluços.
— Vamos — concordo.
Resolvido? Tudo está um caos, isso sim.

....

A campainha toca e eu estranho. Quem pode ser? Nicholas não me disse


que esperava visitas.
Me levanto ao sofá e vou atender, me surpreendendo ao ver Amy.
— Oi, desculpe — se apressa em dizer. — Eu sei que é uma péssima
hora, mas como sei que está tudo muito complicado e o Nick provavelmente
está em um estado crítico, eu resolvi trazer comida para vocês — ela me
mostra várias bolsas. — Também trouxe ácido fólico, que você precisa tomar
no início da gravidez. Iodo também. Eu comprei tudo com prescrição médica
e tem as dosagens.
— Ah, nossa. Ok, entra — dou um sorriso, o primeiro de todo o dia,
saindo da frente para minha prima passar. — Por que você está ofegante?
— Eu vim pela escada de incêndio — ela ri, meio nervosa. — Subi sem
o concierge perceber. Ele é imune aos encantos de uma mulher bonita. Deve
ser gay. Quase mostrei os peitos para ele permitir minha subida e não
adiantou.
— Você não deveria fazer isso — sorrio pelo estado dela.
— Eu sei, eu sei — concorda, então olha as sacolas. — Vou levá-las
para a cozinha, com licença.
Eu a sigo e observo minha prima esvaziar as sacolas em cima da ilha.
Ela parece ter estado fazendo muito esforço mesmo porque está toda suada.
— Olhe aqui — diz. — Isto é o iodo. Eu tenho a receita pra você saber a
quantidade certa. Seus bebês vão nascer com o QI um pouco avançado. O
ácido fólico é também para os ossinhos deles.
— Você está se saindo uma tia atenta — observo.
Ela dá um sorriso imenso.
— Eu gosto de você estar grávida e a Megan. Ela começou a tomar tudo
isso também — seu semblante se entristece de repente. — Onde está o
Nicholas?
— Dormindo — suspiro. — Desde que chegamos do escritório do
advogado. Deixei ele sozinho enquanto vinha beber água e respirar um
pouco.
— Eu lamento pelo que aconteceu aos filhos dele. Deve estar sendo
difícil.
— Está — concordo. — Não sei se ele vai saber lidar com a separação,
mas vou estar com ele.
— Você vai. Já comeu hoje?
— Comi, ele me obrigou antes de irmos para o quarto.
— Ele é um bom pai — Amy conclui. — Você pode voltar e ficar com
ele. Eu vou guardar o que trouxe na geladeira e deixar os suprimentos aqui
em cima. Tranco a porta, não se preocupe.
— Obrigada — agradeço. — Por tudo que vem fazendo.
— Não me agradeça — ela gesticula. — Eu gosto de me sentir útil.
Concordo com um aceno de cabeça e então volto ao quarto, abrindo a
porta com cuidado e indo deitar ao lado de Nicholas novamente.
Me surpreendo quando ele se aconchega em mim e me abraça, soltando
um suspiro de aparente alívio.
— Obrigado por estar aqui — diz, baixinho, a voz embargada.
Fecho os olhos. Deus, como eu o amo.
— Eu sempre vou estar aqui para você — deixo claro, beijando seus
cabelos. — Sempre, meu amor.
Capítulo 55

Abro os olhos meio incerta, zonza e simplesmente porque estou sentindo


alguma pressão em minha boca e em um dos seios.
Falto engasgar enquanto tento assimilar que o que está em meus lábios
imóveis é o membro de Nicholas, enquanto ele está ajoelhado ao lado da
minha cabeça na cama. Sua mão grande e quente envolve todo meu seio
enquanto a outra pincela o pênis em meus lábios. Eu ainda nem acordei, mas
estou completamente feliz de que ele esteja assim. Estou mesmo.
Pisco os olhos para focar em meio à luz forte do sol que irradia pelo
quarto, então noto seus olhos claros brilharem acima dos meus, enquanto tem
os lábios bem juntos e a mandíbula apertada, parecendo com raiva.
— Abra a boca — ele ordena. Isso foi definitivamente uma ordem. Sua
voz carregada de algo que não sei identificar. Ele está bem sério, o que me
deixa em chamas.
Eu abro os lábios e logo ponho a língua para fora e circulo a glande
molhada com seu gosto salgado, emitindo um gemido. Morri de saudades.
Nicholas solta um gemido esganiçado e eu puxo as mãos, já ansiosa para
tocá-lo como quero, mas meus movimentos não vão a lugar algum.
Eu o olho, franzindo o cenho enquanto ele brinca entre meus lábios.
— Bom dia, amor — murmura, cheio de desejo e satisfação na voz, e
tenta dar um sorriso.
Estou amarrada, não estou? Estou. Ele me amarrou na cama também.
Puxo as mãos, esperneando para sair.
— Shhh — ele me repreende, pressionando mais meu seio. — Quieta ou
vai se machucar. Vamos fazer do meu jeito hoje. Agora, chupa meu pau.
Não penso duas vezes e sugo o que está em minha boca com força.
Dane-se que estou amarrada. Isso me agrada.
Nicholas geme, seus quadris tremendo um pouco e ele impulsionando
mais para dentro da minha boca, até a garganta. Eu relaxo os lábios e inspiro
pelo nariz, não querendo me engasgar. Ele está meio selvagem esta manhã, e
eu adoro isso.
Ele se me move para trás e para frente, em uma velocidade desesperada
e imediata. Somente o observo de baixo, seus olhos claros revezando entre
mim e minha boca. Seu maxilar tensiona ainda mais, o abdômen também
contraindo.
— Você gosta do que está fazendo? — pergunta.
Eu assinto com a cabeça o tanto quanto posso.
— Você confia em mim?
Novamente balanço a cabeça afirmativamente. Claro que sim. Confio
muito.
Nicholas geme e faz mais pressão em meu seio, logo depois apertando
meu mamilo com o polegar e o indicador, a ação me fazendo dar um grito
abafado.
Me remexo, passando a língua por baixo de sua ereção e sentindo as
veias em evidência, eu mesma ficando cheia de prazer por isso, então
novamente o sugo com força, contraindo ao máximo as bochechas.
Ele emite um rugido, a mão abandonando meu seio para vir ao meu
queixo e a outra em minha testa. Eu o sinto tremer.
— Relaxe — ele pede. — Por favor.
Quase não ouço de tão baixo, mas obedeço e olho para seu rosto
enquanto ele começa a investir dentro da minha boca. Faço o máximo para
não fechar os lábios dormentes e só o deixo fazer como quiser.
Eu confio nele. Ele é o meu noivo, meu homem lindo e totalmente meu.
Apesar de tudo, continuou querendo ser meu.
Seu pênis começa a pulsar contra minha língua e Nicholas treme
visivelmente, emitindo um gemido de aparente dor e jogando a cabeça para
trás com um rugido quando sinto o primeiro jato contra minha garganta, logo
seguido de muitos outros enquanto ele persiste com o vaivém louco, me
fazendo quase perder o ar. Eu sinto as poucas lágrimas escapando dos meus
olhos pela força que estou tendo que fazer para não engasgar ou mordê-lo
sem querer por conta dos lábios dormentes.
Quando parece cessar seu alívio, ele exala uma respiração pesada e olha
para mim de novo, puxando o membro de dentro da minha boca e se
inclinando, até seus lábios colidirem contra os meus.
— Você engoliu — ele roça nossas bocas com leveza, me fazendo dar
um gemido pela mudança abrupta de comportamento.
— Sim — é inevitável. Engoli sem perceber.
Ele geme, me beijando imediatamente, sua língua ultrapassando meus
lábios e serpenteando por dentro da minha boca. Nicholas é tão quente, eu
quase me esqueci.
Me remexo, cruzando as pernas, percebendo o quanto estou cheia de
desejo e também que estou nua.
Ele lambe meus lábios, desviando para meu pescoço, onde chupa com
força e dá uma mordida, me fazendo arquear na cama e soltar um gemido
misturado a um grito. Isso foi bom.
Eu mexo as mãos, querendo tocá-lo também, mas resmungo ao ver que
não posso. Estou presa à cabeceira. Não vou a lugar algum.
Nicholas se afasta, os olhos brilhando, então dá um último beijo em mim
quando o observo rastejar mais para baixo e seus lábios rapidamente
envolvem um dos meus mamilos doloridos. Solto uma respiração profunda,
meus olhos se fechando pela ação inesperada.
Ele fica um pouco ali, mordiscando, lambendo e chupando, enquanto
sua mão projeta um carinho circular em toda minha barriga.
Me contorço sob seu corpo e ele segue uma trilha de beijos até o outro
mamilo endurecido. Estou arfante e suando. O calor em meu corpo está
muito. Formigando.
— Nicholas… — choramingo.
Recebo uma mordida mais forte como resposta, antes de ele descer o
corpo mais para baixo e com um movimento rápido se colocar entre minhas
pernas.
Eu as abro, sem hesitação, e Nicholas as coloca por cima dos ombros e
costas, gemendo enquanto aprofunda a boca cheio de vontade contra meu
sexo dolorido de desejo por ele. Estou desesperada por ele. Somente por ele.
Sua língua me percorre de cima a baixo, mandando mil e uma fagulhas
por meu corpo, então se concentra em meu clitóris, circulando muito
lentamente. Seus dedos incitam minha entrada molhada, antes de ele enfiá—
los em mim lentamente, me tirando um gemido rouco e sofrível. Novamente
preciso agarrar seus cabelos, mas não o faço. Não posso.
— Nicholas! — chamo, mais desesperada.
Ele grunhe em resposta e começa a me penetrar com força, seus dedos
longos me deixando à beira do precipício enquanto sua língua se projeta em
meu ponto sensível.
Estou tremendo, a perspectiva de estar amarrada à mercê de seu prazer e
controle me lançando em um abismo sem aparente fim.
Meus olhos se fecham com força e eu sinto a explosão em todos os meus
sentidos, meus calcanhares fazendo pressão contra suas costas enquanto eu
me arqueio em um nível absurdo, até o tanto que consigo, gritando seu nome.
Nicholas não desgruda a boca de mim, emitindo sons deliciosos e
masculinos, que me deixam louca. Adoro ouvir ele.
Me remexo, sensível, abrindo os olhos, mas seus lábios ainda ficam em
mim por um tempo. Ele adora usar a língua e eu adoro esse fato.
Relaxo, exalando um suspiro, tentando enxerga-lo, mas não posso muito
com a cabeça assim e ainda presa.
Minhas pernas caem para os lados e ele enfim decide se erguer, beijando
minha barriga com carinho no caminho, se concentrando ali com uma
vontade palpável, antes de subir até encontrar minha boca com a sua e
finalmente me dar um beijo lento e delicioso, gemendo contra meus lábios.
Suas mãos tiram os cabelos suados do meu rosto e ele se afasta o
suficiente para me olhar nos olhos. Estou imediatamente emocionada. Ele
parece tão fragilizado.
— Eu amo você — murmura. — De todo meu coração.
Mordo o lábio, que pareceu querer ficar trêmulo de repente.
Nicholas estende as mãos e me desamarra, imediatamente puxando
meus pulsos para si e beijando cada um, logo depois massageando.
Eu observo, já também fragilizada.
— Eu amo você também — declaro e seus olhos persistem no
movimento que está fazendo, mas ele esbanja um sorriso.
— Eu sei, amor. Se não você não teria me deixado fazer o que fiz agora
— me olha e põe meus pulsos sobre as pernas, antes de se inclinar e me beijar
de novo.
Dou um sorriso entre o beijo, o que o faz se afastar e me olhar, curioso.
— Isso foi um castigo? — pergunto.
— Não — nega, o polegar roçando meu lábio inferior. — Eu só não
resisti a te deixar pelada e amarrada, enquanto via essa boca deliciosa chupar
meu pau.
Eu me remexo, a vontade querendo reacender.
— Eu gostei — declaro.
— Eu vi, você me provou isso bem aqui — sua mão desce por minha
barriga até entre minhas pernas, então seus dedos roçam meus clitóris antes
de se aprofundarem em mim. — Estava louca por mim.
— Estava não — ofego. — Estou. Sempre vou estar.
Nicholas sorri e assente, antes de puxar os dedos de volta e trazê-los até
meus lábios. Eu chupo, sem hesitação.
Seus olhos se fecham brevemente antes de ele me dar um último beijo e
sentar.
— Preciso tirar você dessa cama e te alimentar primeiro — suspira. —
Ou se não a gente não sai daqui.
— Eu não me importo de não sair — admito, tentando puxá-lo.
Nicholas dá um risinho.
— Acho que você se importa porque o seu pai ligou para nos convidar
para almoçar na casa dele.
Estou imediatamente tensa.
— Eu não vou deixa-lo encostar em você — declaro, convicta.
— Agora você é oficialmente minha noiva, se ele fizer isso, não vai dar
muito certo.
Abro um sorriso.
— Você vai revidar? — questiono.
— Ah, vou — ele garante, puxando minhas pernas para fora da cama, e
logo depois me incentivando a levantar. Dou um riso. — E como vou.
Capítulo 56

Amber nos leva corredor adentro, até estarmos na sala de jantar. Acho
que estamos quase lá. Voltando ao normal, quero dizer. Estou cheio de uma
dor significativa e tudo que consegui arrumar como solução foi sentir e ter o
corpo dela para mim. Outra vez. E tudo pareceu se acalmar mais um pouco.
Ela me olhou e garantiu me amar. Amber me ama.
— Vocês chegaram — Sra. Mackenzie cantarola e vem até nós, me
dando um beijo na bochecha e um abraço, antes de fazer o mesmo com a
filha.
Philip se vira de onde está, na ilha cortando alguma coisa, então seus
olhos me miram imediatamente. Ele se torna bem sério e sombrio no mesmo
instante.
Eu o vejo soltar a faca no balcão e então caminhar até perto de nós.
Confesso que ele tem mais músculos do que deveria para um cara da idade.
— Uma palavrinha com você — sibila passando por mim.
Me viro para Amber e deixo um beijo em seu rosto, observando que ela
parece imediatamente alarmada.
— Se ele encostar em você, me grita, por favor — pede.
— Ele não vai, amor. — Eu espero que não.
Deixo-a com a mãe e sigo com Philip, até uma porta. Ele a abre e me
deixa passar na frente. É um escritório. Um escritório muito bacana.
Eu espero até que ele me aponte uma poltrona e então se senta em um
sofá em frente. Não estou com medo, apenas apreensivo.
— Desmond foi preso ontem à noite — dispara. — Sabe, pelo fato de
estar envolvido com coisas ilegais.
— Uau — é tudo que consigo dizer.
— Não fiz por você, fiz pela minha filha. Ninguém a faz sofrer e sai
impune.
Eu concordo, com um manear de cabeça.
— Nós vamos nos casar — compartilho. — É oficial agora — levanto a
mão com a aliança.
Philip assente, olhando um pouco e depois para mim.
— Como você está? — pergunta, e eu me surpreendo.
— Na medida do possível. Meus filhos foram embora ontem e eu não…
— miro um ponto qualquer, a lembrança de minha irmã os levando para
longe de mim sendo dolorosa demais. — Não estou bem ainda com isso.
Lindsay pareceu completamente diferente agora. De verdade. Ela não
tinha mais aquele olhar de dor de como todo o tempo antes. Algo nela me fez
ficar mais tranquilo, mas não tanto. Eram meus filhos e ela quis os tirar de
mim.
— Eu lamento muito — Philip suspira. — Mas pense que agora você
terá mais dois bebês para cuidar e além de uma mulher muito chata para te
dar um pouco de trabalho.
Eu o olho, estranhando a declaração.
Ele dá de ombros.
— Não me engano, eu sei a filha que tenho. A Natalie diz que ela puxou
a mim, mas a verdade é que parece totalmente com a mãe.
— Ela pode ser difícil quando quer — concordo.
— Sim, muito. Muito mesmo. Pra caramba — ele assobia. — Se ela
realmente puxou a Natalie em todos os sentidos, pra caramba mesmo. Você
vai ter um baita problema. Eu falo muito sério.
— Eu sei como lidar com ela quando se torna uma cobra venenosa —
garanto.
Ele solta uma risada alta, balançando a cabeça de forma afirmativa.
— Que história é essa de cobra venenosa?
Olhamos para a porta, enquanto vejo Sra. Mackenzie se aproximar com
uma bandeja contendo dois copos de suco.
— A minha, que tá louca para dar o bote e soltar o veneno dentro de
você — ele responde de imediato.
Eu fico imediatamente sem graça, sem saber onde enfiar minha cara.
Eles não têm vergonha.
— Você é um idiota, Philip Mackenzie — ela resmunga. — Não devia
dizer estas coisas em frente ao Nicholas — me olha, estendendo a bandeja,
parecendo envergonhada. — Desculpe, ele é um idiota.
— Eu não sou um idiota — ele rebate e dá um tapa em sua bunda, ao
que ela dá um pulo e um grito. — Só sou louco por você.
— Você é louco de toda forma — ela se vira e ele tenta puxá—la, mas
ela se afasta rapidamente. — Eu só vim trazer o suco. Espero vocês na sala de
jantar.
Philip observa até que ela saia e feche a porta, então dá um suspiro
longo demais.
— Se você sente pela Amber pelo menos metade do que sinto pela
Natalie — ele me olha. — Você está com a felicidade garantida pelo resto da
sua vida.
— Você parece sentir algo forte mesmo.
Ele ri.
— Sim, muito forte. Não foi fácil, no início. Nunca é e nem nunca vai
ser. Pode não parecer, mas a gente tem muita merda atrapalhando todos os
dias. São pessoas querendo nos separar — seus olhos miram o chão. — Uma
vez ela quis se divorciar — dá um riso nervoso. — Você acredita? Divórcio,
cara. Ela cogitou um divórcio.
Philip parece pensativo.
— Eu fiquei louco — ele me olha. — Pensei que não estava sendo
suficiente, que não estava fazendo o suficiente. Cheguei a achar que ela não
me amava mais. Meu Deus, foi horrível. As crianças eram pequenas e eu
fiquei desesperado.
Eu estou surpreso, prestando atenção. Philip e Natalie e divórcio? Não,
definitivamente são palavras que não combinam juntos.
— O que aconteceu? — pergunto, curioso.
— Investi mais em nós — ele me olha, bem sério. — Eu já era muito
presente, mas não estava certo. Natalie era bem nova e tinha tido dois filhos
de uma vez. Eu trabalhava e ela teve que poupar seu tempo só para as
crianças. Foi uma ideia de impulso que surgiu nela em meio ao cansaço, isso
do divórcio. Ela disse que não aguentava mais, que não tinha sido nada do
que havia planejado para a vida.
Eu aguardo enquanto ele olha além.
— Então eu fiz o máximo para lembrar o porquê de a gente estar junto.
Nós funcionamos, nós somos um do outro — continua. — Nunca que eu ia a
deixar ir para longe de mim. Nós nos lembramos como é, é disso que estou
falando para você — aponta para mim. — Quando as coisas parecerem muito
nebulosas entre vocês, não desiste e nem entra em desespero, só pega as
rédeas e lidera a situação da forma certa. Você não pode deixar apagar o que
sente, como nasceu e o que enfretaram para ficar juntos. Não foi à toa, nada
do que passaram. Valorizem cada momento juntos, façam valer a pena. Porra,
amor não acaba, Nicholas — ele me olha bem nos olhos. — É questão de
decisão, não esquece isso que estou te dizendo. Essa foi a primeira prova que
vocês passaram juntos, ainda virão muitas outras, mas você não pode
retroceder. Não pode. Você me entendeu?
— Sim — assinto. E como entendi. Ele nem precisaria ter dito nada. Eu
sei como lidar com isso. Sei bem.
— Então eu não tenho mais nada a te dizer — ele respira fundo. —
Cuida bem da Amber ou você sabe que pode haver algumas consequências da
minha parte.
— Eu vou cuidar bem dela, você não precisa me atentar a isso.
Philip assente, então estende a mão.
— Te permito então ficar com ela, com o meu consentimento. E
parabéns pelo noivado.
— Obrigado — aperto sua mão, agradecido e aliviado. — Obrigado por
tudo.
— Beleza — ele solta minha mão. — Eu luto às sextas na academia aqui
de casa. Se quiser dar um pulo aqui para gente dar uma golpeada um no outro
por uns minutos.
Eu rio.
— Pode ser. Vou pensar.
— Só não conta para a Amber, ela não deixaria.
— Não mesmo — concordo, me levantando quando Philip faz o mesmo.
— Mas a gente pode fazer mesmo assim.
Ele parece querer mesmo a luta, então eu concordo. Preciso mesmo
pagar os socos que ele me deu e aliviar a raiva do policial desgraçado e a
angústia que estou sentindo pelas crianças que se foram. Eles se foram. Os
meus filhos.
Capítulo 57

Nicholas alisa meu braço enquanto assistimos algum tipo de filme de


suspense na TV. Depois que voltamos da casa dos meus pais, e ele somente
me disse que meu pai queria esclarecer algumas coisas na conversa que
tiveram, decidimos ficar sentados no sofá, somente relaxando.
Relaxando. Não. Claro que não estamos relaxados. Desmond foi preso.
Preso. Nicholas está sem os filhos. Estamos é pensando em tudo que temos
que enfrentar, isso sim.
Solto um suspiro quando o sinto roçar os lábios em minha orelha.
— No que está pensando? — ele pergunta.
— Em nada — omito. — Quer dizer, em tudo, mas em nada específico.
Ele prende o lóbulo entre os dentes e puxa de levinho, me fazendo
remexer.
— Me conta.
Eu me aconchego mais em seu peito, virando o rosto para inalar do
cheiro bom da sua pele e me sentir mais tranquila.
— Tenho medo do que está por vir — admito. — Você não?
— Não — nega, seus dedos se infiltrando por entre meus cabelos. — Eu
tenho o meu amor comigo.
Solto um gemido, de pura descrença. Depois de tudo, ele me ama.
Ainda. É tão demais para eu suportar.
— Eu nunca mais vou te deixar — declaro. — Eu me sinto cheia de dor
sem você. É horrível a sensação de você longe de mim. Você é meu.
— Claro que sou seu, amor. Todo seu.
Eu o olho e ele retribui, me dando um sorriso delicioso.
— Eu falo muito sério, Nicholas.
— E eu não estou brincando — ele inclina o rosto e me dá um beijo no
canto dos lábios, então eu o puxo mais para mim e dou um beijo de verdade.
Ainda estou com saudades.
Ele retribui, levando a mão à minha nuca e apertando um pouco,
enquanto mantém minha cabeça parada, para me beijar como quer. Eu o
deixo fazê-lo. Sentir que ele me quer tanto quanto eu o quero, é algo
impagável.
Nicholas levanta um pouco e eu me afasto, somente para ver que ele
puxa minhas pernas para me deixar deitada no sofá branco e macio, ficando
ajoelhado no chão ao lado.
Solto um suspiro quando ele começa a beijar meu rosto todo, descendo
para meu pescoço, e em seguida subindo minha camisa, para beijar meus
seios e barriga, onde ele demora mais.
— Você não se sentiu enjoada hoje — ele ressalta, os lábios
pressionados contra minha pele.
Estendo as mãos para baixo e toco em seus cabelos.
— É verdade. Deve ter a ver com o gengibre.
Ele dá um risinho.
— Eu sou um bom marido, não é? — pergunta.
— Você é — respiro fundo, me remexendo. Ainda é meu noivo,
tecnicamente, mas só tecnicamente. — Meu pai disse que tem uma surpresa
para nós amanhã. O que você acha que pode ser?
— Um novo golpe que ele aprendeu? E quer mostrar em mim — ele ri.
Levanto um pouco a cabeça, vendo-o alisar minha barriga, ao mesmo
tempo que beija. Ele é tão, tão adorável. No início, nunca pensei que
Nicholas fosse assim. Eu o julgava total e completamente errado. Mas, vejam
só, ele é o cara mais perfeito — com seus defeitos — que eu jamais sonhei
em encontrar.
Ele olha para mim de repente e então fica bem sério, o que me faz
embolar as ideias na mente.
Eu grito quando sou virada rapidamente de barriga para baixo, meu
rosto indo contra o estofado macio.
Nicholas desce as mãos por minhas costas, até seus dedos descerem para
a borda do short de renda que uso e da calcinha e ele puxá—los pelas minhas
pernas.
Outro grito quando ele aperta minha bunda e destila um tapa. Nada
muito forte ou doloroso, apenas dando um certo choque e um impacto.
— Você é imprevisível — declaro, levantando a cabeça, já um pouco
ofegante.
— Eu sei. — A voz dele está grave e totalmente carnal. — Você é linda
demais para só se olhar.
— Você também — dou um riso nervoso quando ele morde minha
nádega e logo depois lambe. — Mas isso vai mudar daqui a pouco quando eu
virar uma sapa.
— Uma sapa?
— A barriga. Eu vou ficar enorme — deixo a cabeça cair de volta no
sofá. — Enorme mesmo. Gigante. Muito grande.
— Então você vai ser uma sapa linda — outro tapa, me fazendo gemer.
— A minha sapinha.
— Sapona — corrijo, rindo.
— É bom que você ache engraçado. — Levo um pequeno choque com
seus lábios contra minha orelha. Ele é realmente imprevisível. — Não tenho a
preocupação de você ficar histérica.
— Não — eu inclino mais o rosto na direção da sua boca. — Eu não vou
ficar, tenho você comigo. Você nunca me abandonaria.
Nicholas dá um gemido delicioso, virando meu rosto para si e me
olhando com os olhos verdes em brasas.
— Nunca — declara. — Nunca mesmo.
Eu assinto.
— Eu sei — suspiro. — Eu sou sua.
Ele estreita os olhos, entreabrindo os lábios e deixando escapar um
suspiro pesado.
— Você é minha — repete, e eu assinto. — Eu já sabia disso desde que
pus meus olhos em você.
Eu também sabia, só que preferi negar. Ele parecia inalcançável para
mim. Mas… aqui estamos. E, neste momento, eu adoro a forma como o
tempo trabalha.
Nicholas levanta e eu o vejo descer o short rapidamente, junto com a
cueca, seu membro pronto me fazendo lamber os lábios secos. É inevitável.
— Há um bom tempo eu não estou dentro de você. Isso é... Inadmissível
— pondera.
— É verdade — eu concordo, imediatamente. — Há muito, muito
tempo.
— Você parece querer chupar meu pau de novo — ele dá uma risadinha
e se abaixa, até seu rosto estar de frente para o meu novamente.
— Posso fazer isso, se você quiser — deixo claro. Sim, por que há algo
mais quente do que ele ofegando e gemendo ferozmente enquanto eu o
chupo? Desculpa, mas não.
— Não agora — ele me dá um beijo rápido, seguido de outros até
minhas costas. Recebo outro tapa. — De quatro.
— Quatro? — balanço a cabeça.
— É, amor. Você. De quatro. Agora.
Eu dou um suspiro e fico na posição, recebendo um grunhido delicioso
como resposta. Simplesmente adoro provocar todas essas reações nele. No
Nicholas. No meu noivo. Meu e só meu.
— Você está bem? — ele pergunta, ao mesmo tempo que sua mão
projeta um carinho nas minhas costas.
— Estou ótim… Ai, meu Deus! — sou impulsionada para frente e
agarro o sofá com as unhas quando ele me penetra de uma vez, ao mesmo
tempo soltando um grito também e imediatamente saindo, sem me dar
qualquer espaço para acostumar às investidas.
Minha mente embaralha um pouco e eu respiro fundo, já abaixando a
cabeça para morder o sofá quando Nicholas volta com tudo, gemendo.
— Você está bem? — repete a pergunta, ao que eu dou um riso
inaudível. Vou ficar dolorida por ele estar sendo brutalmente delicioso, mas
não importa.
— Aham — mal falo, enquanto ele espera que eu responda, para
continuar as investidas.
Ele não perde tempo, agarrando minha cintura com as mãos e me
puxando em sua direção, seu membro inchando e tremendo dentro de mim.
— Deus do céu! Que saudade — ele grunhe. — Você sente isso?
Sinto, e como sinto.
— Sente, Amber? — levo outro tapa.
— Siiiiiinto! — grito.
Ele desce as mãos para minha bunda de novo e enche as palmas,
apertando enquanto estoca com força dentro de mim, indo até o limite mais
profundo e me fazendo arregalar os olhos.
Deus do céu mesmo! Isso está muito fundo.
Começo a gemer loucamente enquanto mordo o sofá, meu cérebro
virando purê.
Nicholas remexe dentro de mim, seu pau me causando uma fricção
exata, no lugar exato, e eu meu orgasmo ameaça explodir. Eu me arqueio,
desesperada, não podendo me mexer muito por suas mãos me segurando no
lugar.
— Você quer gozar? — ele ruge, em uma estocagem fenomenal,
penetrando até a base, todo dentro de mim.
— Quero! — berro, alucinada.
— Então goza no meu pau — ele comanda, me empurrando para frente
e metendo com tudo dentro de mim. Com tudo mesmo.
Eu só fecho os olhos e deixo que a explosão me atinja com força,
acabando com meus sentidos depois de me fazer gritar e tremer como uma
louca, sentindo até os dedos dos pés se contraírem.
Nicholas grita roucamente atrás de mim, antes de também se derramar
em meu interior, seu calor me inundando e me deixando zonza, zonza.
Ele espalma a mão entre meus seios e me puxa um pouco para cima,
logo lambendo abaixo da minha orelha e gemendo no meu ouvido, seu pênis
ainda todo dentro de mim, enquanto meu corpo o drena de forma automática.
— Eu adoro você selvagem — ele diz, virando meu rosto para si.
Tento sorrir, já com muito sono.
— E eu amo você — repito as palavras que me soam tão sinceras e
agora posso dizê-las sem medo, antes de só me recordar da sua risadinha
baixa. Acho que estou flutuando no céu.
Capítulo 58

— Esse não valeu — Philip murmura, cambaleando para trás, quando o


ataco com força no peito.
— Por que não? — dou risada enquanto me reaproximo.
Bater é divertido. Dá um alívio surreal sobre tudo. Estamos nos atacando
há mais de meia hora e tudo que sinto é alívio. Os golpes são como uma
válvula de dissipação de tensão ou problemas. Agora eu entendo meu sogro.
— Você me pegou desprevenido, não conta — ele responde.
— Você me pegou desprevenido em todas as vezes que me bateu —
relembro, atacando seu queixo, ao que ele vira um pouco a cabeça, mas logo
agarra minha mão e segura para baixo, imediatamente batendo a testa contra
a minha. É a minha vez de cambalear para trás.
Philip dá risada.
— Eu tinha licença, você estava tocando a minha filha.
Eu fico tenso quando volto a me endireitar, porque ele parece bem sério
de repente e então vem com tudo para cima de mim.
Me preparo para o pior, então cruzo os braços na frente do rosto e me
curvo um pouco, ao que ele se aproxima e começa a me dar joelhadas no
estômago. Tento revidar, mas sou enlaçado pelo pescoço e Philip me faz
ajoelhar, antes de destilar socos em meu rosto.
Num movimento rápido, consigo levantar uma perna e passa-la por
debaixo dele, que perde o equilíbrio e cai no chão.
Me levanto, aguardando mais. Eu poderia aproveitar e enchê-lo de socos
por seu momento vulnerável, mas não sou tão covarde quanto ele.
Ele levanta, cuspindo o sangue da boca e me dando um sorriso maligno.
Eu começo a rir. Não estou com medo.
— Ah, você está rindo? — ele balança a cabeça. — Tá cheio de
coragem.
— Tô mesmo — admito e recuo do seu soco, conseguindo agarrar sua
mão e puxá-lo, virando-o rapidamente de costas e dando uma gravata em seu
pescoço.
Ele se liberta em pouco tempo, puxando meu braço acima da cabeça e
me fazendo dar uma cambalhota. Estou em instantes caído de costas no chão,
com seu riso ecoando pelo cômodo.
— Nada mau — falo.
Sua risada aumenta, enquanto ele me olha de cima, seu antebraço
limpando o suor da testa.
— Você é muito engraçado, Nicholas — ironiza. — Levanta, vamos
continuar.
Eu me levanto, com certa dificuldade, então gemo de dor quando levo
uma inesperada joelhada no estômago.
— Porra, Philip! — reclamo, me curvando com as mãos na barriga.
— Ih, foi mal — ele se finge culpado entre uma risada. — Vamos lá,
não seja um marica, mostra como você bate.
— Espera um pouco, merda — murmuro, me contorcendo.
— Esperar um pouco? E se um cara tivesse dando em cima da Amber ou
mexesse com ela, o que você faria, esperaria um pouco? — ele caçoa. — Ah,
não. Espera. Isso já aconteceu, não foi? Foi isso que você fez, Nicholas?
Esperou um pouco enquanto outro homem tentava roubar ela de você?
Eu levanto, cego de raiva. Porra.
Posso ver a sombra de um sorriso no rosto dele quando me aproximo e
rapidamente seguro seu pescoço, obrigando-o a se curvar um pouco e então
encho seu estômago de joelhadas. Incontáveis. Muitas.
Philip geme e me empurra com as mãos. Recuo um pouco, mas volto
novamente com tudo quando ele se endireita. Projeto um soco contra seu
rosto e depois em seu queixo, ao que ele cai para trás, cuspindo mais sangue.
Não paro, me inclino sobre o chão e deito sobre ele, enchendo seu rosto
com vários socos, cego de raiva. Descontando nele. A frustração de tudo que
nunca esteve sob meu controle se fazendo notar em meus golpes
desesperados. Sim, é a pura verdade. Nada nunca esteve em meu controle. Eu
pensei que estava. Que burro.
— Filho da mãe! — Philip grunhe e consegue agarrar meu pescoço com
as duas mãos, me enforcando, mas eu continuo com os socos, até achar que
estou quase sem ar.
Estamos que nem dois loucos, mas a culpa não é minha. Estava tudo
normal até ele acender um lado meu que não gosto.
Eu me desvencilho de seu contato e consigo levantar. Ele faz o mesmo e
eu parto para cima, levando—o até a parede mais próxima e agarrando seu
pescoço novamente com as duas mãos, enquanto acerto suas costelas com um
golpe forte. Ele cai no chão, ajoelhado, gemendo.
Me afasto um pouco, ofegante e nervoso.
— Merda — Philip ofega, se contorcendo no chão de um lado para o
outro, os olhos fechados. — Não era para ter levado tão a sério, cara. Acho
que você me quebrou.
— Você queria ser quebrado. Levanta. Não era você que estava falando
para eu não esperar um pouco?
Ele dá um riso entre um gemido, então para de se retorcer e levanta, com
muita dificuldade.
Um barulho nos chama a atenção e vejo a porta de vidro escuro se
abrindo e Amy passando por ela. A garota parece imediatamente horrorizada.
— Tio… — balbucia, olhando para Philip.
— Oi, princesa — ele acena, meio que rindo.
Ela olha para mim, ainda de boca aberta.
— Minha tia não sabe que vocês estão se golpeando — ela esclarece. —
Inocentemente ela pensa que estão jogando videogame.
Philip ri alto, mas para fazendo uma careta, provavelmente de dor já que
leva a mão à mandíbula.
Amy adentra o cômodo e senta em uma bicicleta ergométrica.
— Você vai ficar aí? — ele pergunta a ela.
— Sim — assente. — Amber me disse para vir almoçar aqui porque
queria me ver, então aqui estou. Mas podem continuar a luta, eu não me
importo.
Balanço a cabeça, mas imediatamente caio para trás com uma ardência
na perna.
Filho da mãe!
Philip não perde tempo e se senta sobre minha cintura, sua mão
destilando golpes em todo meu rosto.
— Não deixa, Nick! Não deixa! — Amy começa a gritar, enquanto bate
palmas. — Chuta as costas dele!
Eu pego impulso e inverto nossas posições, agora Philip sob mim,
enquanto dou uma cotovelada em seu rosto, ao que ele rosna de dor, virando
para o lado.
— Oh, minha nossa! — a garota parece pasma. — Eu não deixava! Pega
ele em cheio, tio! Não deixa barato!
Philip tenta se remexer para achar uma saída, mas está falhando
miseravelmente, ao que me dar oportunidade e vantagem acima.
— Tio, não deixa isso acontecer! Levante! — ela insiste.
Ele não consegue, apesar de tentar, então só deixo meus punhos o
acertarem de todo jeito, como dar e com a força que se projeta — muita
força.
— Ah, droga — Amy murmura, parecendo decepcionada. — Tio, o
senhor é forte! Levante!
Philip ainda falha, rosnando de raiva agora.
— Ian! — ela berra. — Ian, Ian, Ian! — ela recomeça as palmas. — Ian
e Natalie! Natalie e Ian!
Ele arregala os olhos para mim de repente e eu estranho a mudança
súbita.
Philip urra, me virando e conseguindo levantar, então se inclina e me faz
fazer o mesmo, suas mãos agarrando a gola da minha camisa e ele me levanta
do chão, me jogando com tudo em seguida para cair de novo. Cair também
com tudo, de uma vez, sem qualquer possibilidade de eu me defender.
Solto um grito de dor, agradecendo interiormente por estarmos em
tatames ou minha cabeça já era.
— Deus do céu — Amy parece aflita. — Tio!
Ele parece louco de raiva. Que nome é esse que o deixou assim?
— Já desistiu? — ele pergunta. Parece realmente com raiva.
— Meu Deus do céu! Pai!
Eu não consigo mais responder depois de ouvir a voz dela. Amber
chegou. E nos achou. E algo me diz que ela não vai interpretar isso de forma
correta. Foi bom enquanto durou.
Capítulo 59

— O senhor pirou? — pergunto para meu pai e imediatamente corro até


Nicholas, que está jogado no chão, todo ensanguentado.
— Ah, eu mal toquei nele — meu pai bufa, enquanto vai até uma das
prateleiras de vidro pegar uma toalha.
Eu o olho, incrédula. O estado dele não está diferente do de Nicholas.
— Não tocou? — falto berrar, então volto minha atenção ao meu noivo.
Toco seu rosto, desesperada para que ele abra os olhos. — Você está me
ouvindo, Nicholas? — pergunto.
— Ele está bem — eu ouço a voz da minha prima, que se abaixa para
ficar ao meu lado. — Eles só estavam levando um tempo masculino para si.
— Você é louca? — eu a olho, boquiaberta. — Não está vendo a
situação deles?
Amy dá um sorriso, desdenhando com as mãos.
— É assim que os homens acertam suas diferenças, Amber. Eles gostam
de bater uns nos outros.
— Cala a boca, Amy! — a repreendo.
— Você é uma vaca se não gosta de ver homens brigando. — Ela
levanta e deixa o cômodo, enquanto eu volto a olhar Nicholas, que agora tem
os olhos claros abertos.
Qual o problema da minha prima? Qual o problema com meu pai? Qual
o problema com minha família?
Ele está sorrindo, com os dentes cheios de sangue.
— Ele te machucou muito? Está doendo?
— Ei, não é culpa minha — meu pai se defende, falando por detrás de
mim. — Nós só estávamos nos divertindo um pouco. Por que você apareceu
pra estragar?
— Pai, por favor… — fecho os olhos com força, pedindo paciência. —
Estou grávida e o senhor não pode me dar esse tipo de susto.
— Não foi um susto — ele dá um grunhido. — Foi uma prática de
esporte, Amber. Não seja tão idiota.
— É o meu noivo! — eu grito, me levantando para ficar de frente para
ele. — O senhor não pode fazer o que quer com ele porque ele é meu! Meu,
pai! O senhor, entendeu?
Ele parece completamente alheio e nem aí para o meu alarde enquanto
seca o rosto e tenta limpar as manchas de sangue.
— Eu faço o que eu quero — resmunga e então sai, me deixando para
trás, horrorizada e desacreditada.
— Deixa ele, amor — Nicholas geme e volto a olhá—lo, vendo que
agora tenta levantar.
— Cala a boca você também — o repreendo. — Você concordou com
isso? De ele te bater?
— Foi uma brincadeira.
Eu o observo ficar de pé e passar a mão na boca, então me olha.
Imediatamente eu amoleço no lugar, os olhos claros me deixando alucinada
com o brilho divertido.
Solto um suspiro cansado, incapaz de controlar minhas reações a ele.
— Você me perdoa? — pergunta.
— É claro que sim. — Nem hesito em responder. Seria perda de tempo.
— Mas não gosto de te ver assim.
— Eu estou bem — sorri. — Só um pouco de repouso e eu vou estar ok.
— Você quer tomar banho? — proponho.
Nicholas instantaneamente abre um sorrisinho. Um que eu conheço
muito bem e o significado me enche de alegria. Eu estou mesmo com
saudades.
Não importa se só ficamos sem nos ver cinco horas. Eu estou
apaixonada. Estou noiva. Estou grávida. Estou totalmente certa.
— Vamos para o meu quarto — o chamo e saio na frente.
Quando chegamos ao corredor, ouço os gritos da minha mãe. Ela está
histérica gritando sobre como um homem cinquenta anos pode ter uma mente
de criança. Ouço Nicholas rir, mas ignoro e subo os degraus.
Em instantes estamos no meu quarto, que sinto falta desde já. Essa parte
ainda não me caiu a ficha, mas, vida que segue, tenho que superar. Prefiro o
Nicholas do que meu quarto, é óbvio.
Eu começo a tirar a blusa de seda, o sutiã e desabotoar a calça, e tirar a
calcinha, então viro—me e vou para o banheiro, entrando logo no box e
abrindo os registros para equilibrar a água na temperatura certa.
Entro debaixo, exalando um suspiro de relaxamento.
Acho que as coisas vão voltar ao normal agora. Quer dizer, Desmond
não é mais uma preocupação. Penso que não, por que o que ele pode me fazer
estando preso? Ele tem que se preocupar agora com o próprio trabalho e o
que perdeu. Os filhos de Nicholas. Tem a irmã dele. Mas… Até agora não
recebemos nenhuma notícia ruim. Ele falou com os três ontem, e pareciam
contentes. Nós estamos noivos. Ganhamos uma casa de presente dos meus
pais. Tudo está dando certo. Eu quero pensar que sim.
Dou uma tremida básica ao sentir o calor contra minha orelha. Ele.
Nicholas.
— Tudo bem? Está enjoada? — questiona, suas mãos circundando
minha cintura e acariciando minha barriga.
— Não, eu bebi o suco de gengibre e tomei as vitaminas. — me viro
para olhá-lo, então saio da água e o empurro para tomar meu lugar.
Começo a passar as mãos em seu rosto para limpar o sangue e depois
nos cabelos macios, descendo para o peito em seguida. Nicholas me deixa
tocá-lo como quero, enquanto somente mantém os olhos fechados.
Eu pego o sabonete na prateleira e começo a passar em seu corpo, então
dou um sorriso quando ele começa a fazer um movimento com os lábios
enquanto a água cai, fazendo espirrar respingos em mim.
— Pare com isso — peço.
Ele persiste, tentando não rir.
— Você está me testando… — murmuro, colocando o sabonete no lugar
e voltando a espalhar a espuma em seu peito com as duas mãos.
Nicholas dá um risinho rápido e abre um só olho rapidamente, fechando
em seguida e voltando com os barulhos.
Será que homens nunca amadurecem? Penso que não. Olha só meu pai.
Olha só meu noivo.
— Não quero saber de você machucado de novo — declaro. — Se quer
fazer algo do tipo com meu pai, faça escondido de mim.
Eu dou um grito quando sou empurrada contra a parede de ladrilhos de
repente, minha respiração rompendo por um segundo.
— Você. Está. Louco? — pergunto, pausadamente, assustada.
— Não — ele nega e então se abaixa um pouco e abre minhas pernas,
me fazendo pegar impulso para entrelaça-las em sua cintura. Estou presa
contra ele e a parede de um momento para o outro. — Que momento da
gravidez vai chegar a hora que você quer sexo selvagem direto?
Solto um riso, balançando a cabeça, então me inclino um pouco para
desligar o chuveiro.
— Eu não sei, mas quero sexo selvagem agora, se você não se incomoda
— me endireito.
Nicholas me avalia enquanto prende o lábio entre os dentes, seus olhos
passeando por minha face, me deixando quente imediatamente. Ele é tão
delicioso.
— Beleza — concorda, maneando a cabeça. — Mas você vai ter que
pedir direitinho.
— Eu pedi direito — debato.
— Não — ele pronuncia os quadris para frente, me fazendo notar a
evidente ereção. É hora de brincar de novo. E de novo. E quantas vezes eu
quiser, porque Nicholas é meu. Que maravilha!
— Pedi, sim — insisto.
Ele abre um sorriso e então põe um braço por trás das minhas costas e
me segura no lugar, afastando o corpo um pouco do meu e olhando para
baixo.
Olho também e observo enquanto ele segura o próprio membro e passa
por entre minhas pernas, fazendo uma pressão proposital no meu clitóris.
Pronto. Já estou louca.
Solto um gemido, me remexendo, ao que Nicholas afasta o contato.
— Eu disse que você tem que pedir direito, amor — ele repete, me
olhando.
— Por favorzinho — me remexo, tentando me inclinar para frente, na
direção dele.
Ele dá um sorriso e volta a se aproximar, agora me dando batidinhas no
clitóris e esfregando ao mesmo tempo com seu mastro delicioso.
Inclino a cabeça para trás, os olhos fechando e o estômago começando a
pesar com o início de uma erupção orgástica.
— Me diz a única verdade, amor — ele pede, lambendo meu seio e
colocando na boca em seguida.
Dou um grito, meu corpo impulsionando para frente.
— Qual!? — pergunto, rouca.
— Você sabe qual é. — Nicholas muda para o outro seio, mordiscando,
enquanto mantém os movimentos entre minhas pernas. Vou explodir logo.
— Eu amo você — falo. É a única coisa que me vem à mente e sei que
ele gosta de ouvir. Espero que cause a mesma reação nele de como a que
tenho quando ele diz para mim.
— Isso também. — Ele parece tranquilo demais, enquanto eu estou que
nem uma cobra me retorcendo nos azulejos. — Mas não é essa a verdade
única.
— É, sim — ofego. — Amo você.
— Olhe pra mim — pede me dando uma chupada no peito.
Eu busco forças do meu interior e abro os olhos, olhando para ele, que
parece delicioso e sinto vontade de comê-lo inteiro. Estou morrendo de
desejo.
Nicholas estende a mão e tira os cabelos molhados do meu rosto,
olhando bem dentro dos meus olhos.
— A única verdade é que você é minha — fala, quase um sussurro. —
Você entendeu? Minha e só minha.
— Eu entendi — choramingo. — Sou sua, somente sua.
— Muito bem, amor — ele elogia, e então seguro a ansiedade quando
volta a se colocar entre minhas pernas e com um único movimento calculado,
consegue espaço no meu interior.
Jogo a cabeça para trás, soltando um grito de queimar a garganta.
Caramba.
— Shhh — ele sai, voltando com tudo, me fazendo subir na parede. —
Céus, isso é difícil. Você está tão quente e pronta.
— Eu estou! — berro, levando as mãos aos seus cabelos e puxando com
força. — Me come com força!
Nicholas resmunga algo sobre como vai lavar a minha boca depois que
eu tiver menos louca de tesão.
Eu não ligo. Estou numa posição deliciosa. Sinto ele todo. Sinto tudo.
Estou morrendo de fome dele.
Ele me segura com mais ímpeto, apertando meus quadris, então começa
um vaivém doloroso de gostoso, parando uns segundos para me deixar
ansiosa por mais.
Estou ofegante, tremendo, suando e desesperada. Nós somos adeptos de
sexo selvagem, é notável.
Nicholas sai, fazendo meu corpo reclamar imediatamente, eu soltando
um resmungo de resignação.
— Volta! Mais! Mais forte! — balanço a cabeça para os lados. — Por
favor…
Ele grunhe, voltando só um pouco, só me atiçando e me deixando mais
louca.
Eu abro os olhos e abaixo a cabeça para olhar para ele, então enfio as
unhas nos seus braços com toda força do desejo que estou. Ele ruge.
— Qual a única verdade, Amber? — ele grita também.
— Eu sou sua! — grito de volta, então recebo o que quero.
Ele volta com tudo, me preenchendo até o limite, minhas paredes
internas imediatamente o prendendo enquanto sinto o baque bem lá no fundo,
onde tudo explode, o limite. Gozo com força.
Grito seu nome, o puxando para mim, quase chorando de prazer quando
ele persiste a se movimentar durante meu orgasmo, e também se derrama em
mim, nossos corpos se amando.
Estou tremendo as pernas, meu corpo em choque.
Seu rosto se enterra entre meus seios, enquanto ele goza, sem fôlego,
gemendo e me deixando ainda mais louca por ele.
Estou acabada. Meu cérebro está esmigalhado. Não sei se vou ser capaz
de andar depois desse orgasmo. Não sem antes tirar um cochilo.
— A resposta é sim — ele mais geme do que fala.
Acaricio seus cabelos como consigo, meio duvidosa dos meus próprios
movimentos. Isso foi delicioso.
— Sim o quê? — Estou em um estado entre a Terra e o sono.
Nicholas levanta a cabeça, me premiando com seu sorriso lindo. Meu
sorriso. Ele é meu.
— Sim, você grita muito alto quando está sendo comida — responde, e
então cai na risada.
Eu sou incapaz de não rir também.
Deus, passou tão rápido. Parece que foi ontem que recebi essa pergunta
e fiquei escandalizada. Parece que foi ontem que recebi um orgasmo na
cozinha. Parece que foi ontem que estávamos tão distantes, indiferentes um
com o outro.
Mas agora ele está aqui, na minha frente, todo molhado de suor e água,
enquanto ri e me segura contra a parede, nossos corpos ainda conectados.
Começo a chorar muito abruptamente, então me inclino para frente e
enfio a cabeça em seu pescoço, ao que Nicholas me agarra e inverte nossas
posições. Suas costas se arrastam pelo azulejo até ele se sentar, comigo em
seu colo, aninhada a ele.
— Eu amo você — ele declara, suas mãos acariciando minhas costas.
— Amo você também — suspiro, entre um soluço. — E sou toda sua.
Sempre fui. Somente sua.
— Eu sei, amor — ele me abraça forte. — Eu sempre soube.
Eu também sempre soube. E agora tudo faz muito mais sentido. Nós
sempre soubemos que éramos um do outro, por isso tanta merda aconteceu.
Tudo foi um teste. Um maldito teste da vida.
Imediatamente estou sorrindo contra seu pescoço, alguns soluços
persistindo.
Parabéns para nós então, porque nós passamos. Estamos aprovados.
Agora é nossa vida e nossa história. E seja o que vier, porque com o
Nicholas, eu enfrento qualquer coisa.
Nós nos amamos e é assim que tem que ser.
Capítulo 60

— Não foi e nem está sendo fácil para mim também. — Olho para o lado,
ouvindo Lindsay falar, enquanto mantém o foco em Nicholas e nos filhos,
que estão sentados no sofá conversando e rindo.
Estou completamente desconfortável em estar tentando ficar próxima a
ela. Mas, é pelo Nicholas, então eu posso fazer isso. Eles quis vir vê-los.
— Entendo — murmuro. Mas não entendo.
— As crianças sentem falta dele — ela me olha. — Eu passei por uma
fase difícil e agora estou colhendo o que plantei. Entendo isso de verdade,
mas acho que uma das piores dores para uma mãe é os filhos não a chamarem
de mãe.
— Do que eles a chamam?
Ela dá um sorriso, que lembra em muito o de Nicholas.
— Você. Me chamam de você.
— Você não pode culpa-los. Realmente não foi uma mãe, não até agora
— despejo.
Ela assente, olhando-os de novo.
— Eu sei, não estou me vitimando, apenas querendo colocar algumas
coisas para fora. Desculpe, você também não tem que ouvir meus lamentos.
— É, eu não tenho, mas acho que você devia procurar um psicólogo ou
algo assim. Não penso que vai ser fácil para você.
— Não, não vai — ela dá um riso sem humor. — Está difícil, mesmo
depois desses nove meses — me olha. — O Nicholas pensa em tirá-los de
mim?
— Não — nego. — Ele está magoado com você, mas não quer pegar os
filhos de volta. Não mais. Ele entende que você é a mãe e está esperançoso de
que o que esteja fazendo realmente seja sincero e que você tenha mudado.
Lindsay assente, concordando, meio pensativa.
— Eu nunca poderei dizer o quanto sou grata pelo que ele fez. Não sei o
que as crianças seriam se ele não as tivesse acolhido.
— Foi mais que um acolhimento — deixo claro. — Nicholas se tornou o
pai que eles não têm. Ele deu a vida por eles praticamente. Você nunca vai
poder entender o amor que ele sente por essas crianças.
Ela concorda novamente, então seu olhar recai para a minha gigante
barriga de nove meses.
Nove. Eu posso dar à luz a qualquer momento. É emocionante e
pavoroso.
— Ele gosta de crianças — diz.
Acaricio por cima da barriga e abro um sorriso. Estou parecendo um
leitão, mas estou contente. Vou ter um casal, do mesmo jeito que meu irmão
e eu. Felicidade é apelido para mim. E pro meu marido. Oficialmente marido.
— Você já tem os nomes? — ela pergunta.
— Matthew e Mandy — respondo rapidamente. Nicholas me deixou
escolher os nomes, o que me encheu de alegria.
Abro um sorriso ao receber um chute dos nenês como resposta.
— Um casal — ela sorri. — Estou vendo o quanto ele está feliz.
Ele está. Muito. Não tem um dia que ele não me diga o quanto gosta da
ideia de eu estar grávida, e eu fico sorrindo que nem uma idiota. O mais
interessante é que nunca pensei que ficaria tão alegre em estar esperando um
filho — dois, no meu caso — e, de quebra, parecendo um balão.
— Ei, Amber, você vai me deixar pegar o bebê no colo? — Edward
pergunta e só então me dou conta das mãozinhas sobre minha barriga.
— Vou, sim — afirmo, sorrindo, pondo as mãos por cima das dele.
Sinto uma aparente contração, mas não foco nela. Não posso me preocupar à
toa. Isso aconteceu várias e várias vezes. Preciso estar tranquila.
— Você está muito gorda mesmo — Christian diz, e fica ao lado do
irmão.
— Isso não se diz, Chris — o primeiro o repreende. — As mulheres não
gostam de ouvir que estão gordas.
— Mas ela está. — Christian parece desentendido. — Não posso dizer
ao contrário.
— Guarde a informação com você — Edward resmunga e eu começo a
rir.
Os dois me olham e Christian dá um sorriso tímido.
— Desculpe, Amber — Edward fala. — Você está muito bonita, não
ouça o meu irmão.
Nicholas aparece por trás deles com Emily no colo e eu levanto o olhar
para ele, ainda rindo.
— Achou algo engraçado, amor? — pergunta, sorrindo.
— Sim, os meninos estão me achando uma baleia.
— Eu não estou — Edward se defende.
— Oh, o Edward não, realmente — concordo.
— Mas você está — Nicholas balança a cabeça. — Só não come as
panelas porque eu não deixo.
Todos começam a rir e eu mais ainda. É realmente verdade. Estou
comendo mais do que uma vaca. Tudo e toda hora. É fome que não cabe em
mim. Devo ter engordado uns vinte quilos. Gostaria de ter sido como a
Megan, que mesmo grávida parecia magra. Agora está com o corpo normal
de novo depois do James.
Eu paro de rir quando uma dor aguda me atinge em cheio, quase me
fazendo dar um pulo.
Oh, não. Contração não. Não agora.
Outra mais forte e eu solto um suspiro, olhando para Nicholas, que já
está atento.
— Meus pés estão molhados — Christian murmura e dá um passo para
trás, então é muito rápido quando meu marido põe Emily no chão e tira as
crianças de perto de mim, se abaixando para me olhar.
— A bolsa — ele declara. — Tá na hora, amor.
— Que bolsa? — pergunto, preocupada. Estou nervosa imediatamente e
dou um grunhido com outra contração.
— A bolsa estourou — ele levanta, então segura minhas mãos. — Não
se atreva a ficar com medo agora. Nós temos que ir.
Ele parece absolutamente tranquilo. Como pode? Está na hora. É agora.
Eu vou parir duas crianças e ele está calmo assim? Como isso foi tão rápido
assim? Minha mãe disse que ia ter todo um alarde antes!
— Eu posso ajudar em algo? — ouço Lindsay perguntar.
— Abrir a porta do carro, por favor — Nicholas responde e me ajuda a
levantar. Recebo um beijo nos cabelos e ele me olha, sereno, os olhos
brilhando. — Vai dar tudo certo, amor. Eu estou com você. Sempre vou estar.
Eu assinto, já super nervosa, mas com a certeza de que ele está
comigo. Claro que sim. Nicholas estará sempre comigo.
Respiro fundo e me concentro em fazer meus pés se moverem.
Chegou a hora, enfim.
EPÍLOGO

— Oi, mamãe — digo, dando um sorriso quando Amber abre os olhos e


me foca. Ela é tão linda que chega a doer. E é minha. Toda minha. Minha
esposa e mãe dos meus filhos.
Nós temos uma família agora. Somos uma família. Nossa família. Meu
maior bem.
— Você sabe que não adianta sentar, os bebês vão chorar em dois
minutos — ela sorri.
— Eu sei — concordo e me inclino para depositar um beijo em seus
lábios. — Eles estão dormindo agora e acho que já passaram dessa fase de
chorar a cada cinco segundos.
— Eles têm duas semanas, então não, não passaram — ela esfrega os
olhos.
— Pode ser, mas você descansou?
— Consegui dormir um pouco — se senta, então ajeita a blusa e me
olha. — Você parece animado, o que houve?
— Um homem não pode ficar feliz? — me finjo ofendido.
Ela dá um risinho.
— Pode, é claro, mas deve haver um motivo, presumo.
— Quer mais motivos do que os meus? — questiono. — Eu tenho uma
mulher linda me amando, que me deu dois filhos lindos e agora me faz o
homem mais feliz do mundo. Então sim, eu estou animado e tenho motivos
para isso.
Amber sorri, então toca meu rosto com as mãos.
— Eu amo você, e amo nossa família — declara e me dá um beijo no
canto dos lábios.
Não é fácil, não vou mentir. Dois bebês chorando sem parar ao mesmo
tempo é quase enlouquecedor. Mas estou surpreso conosco, estamos
passando por isso de uma forma pacífica. Bem pacífica, devo dizer.
— Estou orgulhosa de você — ela diz, me acariciando.
— É mesmo? Por quê?
— Por tudo. Você está sendo um marido maravilhoso e um pai mais
ainda. Eu já teria perdido a cabeça se não fosse você.
— Você não vai perder a cabeça — dou um sorriso. — Eu não vou
deixar isso acontecer.
— Eu sei. Você é maravilhoso. — Ela se ajeita e me abraça, rodeando
meu pescoço com os braços e respirando fundo. — Você pode me prometer
uma coisa?
Levo as mãos às suas costas e acaricio, aproveitando nosso pequeno
momento de silêncio. Vou ter que me acostumar, silêncio vai ser raro agora.
Com meus sobrinhos era bem fácil, porque eu não tinha uma mulher, mas
agora eu tenho, e vou ter que dividi-la com eles. Talvez tenhamos sido um
pouco burros porque não aproveitamos um ao outro tempo suficiente, mas, é
a vida. Nossos bebês são nossas maiores bênçãos agora e não me arrependo
nenhum pouco.
— O que você quiser — respondo.
— Promete pra mim que, se eu me esquecer os motivos por te amar e te
escolher, que você vai me fazer lembrar — ela se afasta, os mares verdes dos
olhos me inundando. — Promete que você não vai me deixar esquecer. Se eu,
em algum momento me sentir alarmada demais, ou falar algo que não
quero… — respira fundo. — Você não vai desistir de mim, da gente. Tudo
ainda está recente, vai complicar em algum momento, e eu quero ter a
segurança de que você não vai abrir mão de nós.
— Ei — seguro seu rosto com as mãos. — Que história é essa, amor?
Nem pensa nisso.
— Por favor, Nicholas — ela segura meus pulsos. — Promete.
Estou um pouco aflito com o desespero momentâneo dela, mas talvez
sejam os hormônios. Sei que vai demorar um tempo até Amber se acostumar
um pouco com o novo estilo de vida, com isso de não trabalhar mais até os
bebês crescerem. Não a culpo. Eu também ainda vou me adaptar.
— Tudo bem — concordo. — Eu prometo. Mas você sabe que eu te
amo, não sabe?
— Eu sei — ela assente, então suspira, parecendo mais relaxada. — Sei
que parece sem sentido, mas me sinto bem melhor com você prometendo,
porque eu acredito na sua palavra. Eu sei que quando você fala algo,
realmente cumpre. Este foi um dos motivos que me levou a me apaixonar por
você.
Dou um sorriso, me convencendo que jamais vou entender a cabeça das
mulheres.
— Eu prometo, sim — reafirmo e dou outro beijo em sua boca,
gemendo por sentir o gosto dos lábios dela, que sempre me deixam acesso. —
Prometo ser sempre seu também. Só seu.
— Disso eu já sabia — ela dá um risinho nos na minha boca e me
arranha os ombros, então nos afastamos quando ouvimos os choros altíssimos
recomeçando. — O dever nos chama.
Eu dou um sorriso e ajudo-a se levantar, então vamos até o quarto dos
bebês e ela vai pegar Matthew, enquanto eu vou buscar Mandy. São tão
pequenininhos que dá receio em segurar.
— Você sabe que o Matthew vai ser um garanhão, não é? — Amber
pergunta, caminhando até a poltrona e soltando um riso por cima dos choros
agudos.
Me viro para ela, balançando Mandy nos braços e tentando fazê-la ficar
em silêncio, em vão.
— Por que está dizendo isso? — retruco, quase gritando.
Ela consegue fazer Matthew se calar ao colocar ele para mamar, então
sorri para mim.
— Porque ele tem os meus olhos e os meus cabelos, o que indica que ele
vai parecer comigo.
— Nós dois temos olhos claros e cabelos escuros, amor — rebato. — E
nós dois somos lindos.
— Somos mesmo — ela ri, me soltando um beijo e bocejando em
seguida. Tadinha dela, não dorme direito há muito tempo.
— Somos pais modestos também — murmuro, indo até ela e me
sentando na poltrona do lado, enquanto minha pequena bonequinha berra e se
contorce nos meus braços.
— Sempre — ri mais. — Você está pronto para nossa vida como pais de
gêmeos?
— Você está comigo, claro que estou pronto.
Ela sorri e então se ajeita, para eu colocar Mandy no outro braço, e logo
os dois bebês estão mamando.
Solto um suspiro, relaxando sobre o estofado.
— Acho que tô precisando de uma sessão de luta com seu pai — reflito.
Ela me fulmina com o olhar.
— Nem pense nisso — avisa.
— Seria uma boa, sem falar que ele gosta de apanhar.
— Ele não gosta de apanhar — ela nega. — E não acho que ele queira
muito ter a oportunidade de te bater, porque está louco com isso de ser avô
agora.
— Ele chorou com os bebês, com certeza está mais tranquilo do que
antes.
Amber abre um sorriso maravilhoso e então deita a cabeça no encosto da
poltrona.
— Ele ficou feliz com os netos, só não com a ideia de poder estar velho
— explica.
— Com o tempo se acostuma.
Ela ri e assente, seus olhos se mantendo nos meus enquanto ela diz "amo
você" somente movimentando os lábios.
— Também amo você — declaro e me inclino para o lado, mais perto,
encantado demais com o fato de que minha vida deu uma reviravolta louca e
agora tenho a mulher que amo comigo e os nossos filhos. Parte de nós. É
felicidade que não cabe dentro de mim. — Sempre vou amar.
— Eu sei — ela sorri.
— E qual a única verdade, amor? — questiono, tocando seu rosto.
O sorriso dela alonga.
— Eu sou sua — sussurra. — Completamente sua.
Isso mesmo. Completamente minha. Desde antes e para sempre. Nosso
amor é infinito, teve um início mas não vai ter um fim. Não mesmo.
— Completamente minha — reforço. — Pra sempre.
Amber assente, me abalando de todas as formas e só me fazendo ter
mais certeza de que, apesar dos pesares, agora eu entendo o que é felicidade
plena. Sim, porque eu tenho ela comigo. E vai ser sempre assim. Ela e eu.
Porque, se tirar ela de mim, eu não funciono direito. E isso já foi provado.
Amar é bem isso que sinto por ela. É suportar tudo, o que for, sem culpa
ou culpar, é doar e receber, é dar sem esperar algo em troca, é fazer valer
mesmo se parecer em vão. E eu amo a Amber, isso nunca foi tão óbvio.
E é tudo que preciso saber para viver.
BÔNUS

Natalie
Eu me viro e observo que Philip está sentado na cama, o que me incita a
acordar de vez. Ele já está estranho há uma semana. Com certeza foi porque
nossa neném foi embora. Eu nem imagino como deve estar se sentindo. Os
filhos são tudo para ele. Luke já foi embora há um tempo praticamente, e
agora a Amber. Ele não está sabendo lidar.
Eu sento e ligo a luz do abajur, vendo as piscinas verdes me focarem no
mesmo instante.
— Não conseguiu dormir? — questiono.
Philip balança a cabeça, negando.
— Quer que eu faça algo por você? — proponho. Eu consigo fazê-lo
dormir, mas ele anda meio alienado — o que não é novidade.
— Eu quero outro filho — ele responde, taxativo.
Me remexo, então solto um riso nervoso.
— Como é?
Ele assente, se ajeitando e me encarando muito sério.
— Falo sério. Quero que tenhamos outro bebê.
— Pirou, Philip? — demonstro minha indignação. — Eu não vou ter
outro filho.
— Por que não? — Agora ele parece magoado. — Eu pedi pra gente ter
pelo menos uns cinco, mas você não me ouviu.
— Eu não ia ter cinco filhos, você é louco?
Ele geme, parecendo derrotado, então leva as mãos ao rosto.
— Você me enganou.
— Quê? Eu não te enganei — discordo.
— Sim, Natalie — grunhe, me olhando de novo. — Você me enganou.
Naquela vez que você me disse que pensava estar grávida.
— Eu pensava — esclareço. — Você que ficou dizendo para todo
mundo que eu estava.
— Porra, custava me dar mais um filho?
— Custava, é claro. Eu tive gêmeos de um parto normal, seu
desgraçado. Você acha que é fácil? — pergunto, perplexa. Ele não pode estar
falando sério.
É mesmo verdade que quando nossos gêmeos tinham quatro anos, eu
pensei estar grávida. Philip fez um alarde, dizendo para todo mundo e que
ainda queria outro casal. Eu fiquei ansiosa, mas no fim não era uma gravidez
e só um atraso, o que o deixou mal. Ele passou uma semana me comendo
feito um louco, dizendo que eu tinha que estar grávida. Meu marido tem
algum problema sério, mas eu tenho que me acostumar com isso. Só que não
é algo fácil.
— Agora vai ser o quê? — ele pergunta. — Você e eu sozinhos nessa
casa? Daqui a pouco você pega um gato e quando a gente perceber tem uma
ninhada. Depois a gente vai cuidar do jardim e fazer bolo de cenoura com
chocolate para os netos? Porra! Eu não estou bem com isso, Natalie.
Ok, eu entendi. Ele não está levando numa boa ainda isso de ser avô. Eu
entendo. Completamente.
— Ei — eu engatinho até ele e sento em seu colo. — Você sempre vai
ser meu homem gostoso e viril. Para de se preocupar com isso — seguro seu
rosto, forçando—o a me olhar. — Você é jovem ainda, Philip.
— Sou — ele concorda, meio sombrio. — Sou, sim.
— Você é.
Ele morde o lábio carnudo e delicioso, então grito quando me empurra
contra o colchão, imediatamente se ajoelhando entre minhas pernas.
Suas mãos vasculham por dentro do babydoll e eu solto outro grito
quando ele me invade com os dedos.
— Você é minha — declara. Disso eu já sei. Há muito tempo.
— Sou mesmo — ofego. — Você não precisa repetir.
— Eu preciso, pra você nunca esquecer.
Dou um sorriso ao olhar para o meu homem devastadoramente lindo,
com os cabelos grisalhos e o rosto lisinho por ter feito a barba, enquanto as
piscinas verdes estão em evidência em seu rosto. Ele é lindo de morrer.
— Você acha que vai ficar mais louco quando a Amber estiver com a
barriga enorme? — questiono, receosa.
Philip puxa os dedos de dentro de mim e estreita os olhos, voltando a se
sentar, então coça a cabeça, pensativo.
— Eu não estou contente com isso, vou admitir. Preferia que ela
estivesse ganhando outro irmão e não estando grávida. De gêmeos ainda por
cima.
Solto um riso e volto a me sentar, subindo no colo dele de novo. Ele
deixa as costas caírem contra o colchão, me levando junto, e eu mordo seu
queixo, me aninhando em seu peito.
— Você supera — digo.
Philip enterra os dedos por entre meus cabelos e me puxa, colando
nossas bocas e me dando um de seus beijos doces e tranquilos, que são raros.
Geralmente ele é voraz e exige muito de um beijo, por mais que seja só um
beijinho, ele sempre quer mais.
— Promete que você não vai pegar dez gatos? — questiona, se
afastando um pouco e em seguida voltando para mordiscar meu lábio
inferior.
Dou risada.
— Eu prometo. — Abro as pernas, montando em seu quadril, então
pressiono por cima dele de propósito, vendo imediatamente as pupilas
dilatarem. — Como você pode achar estar velho? Mal toco em você e fica
assim.
Ele abre o sorriso maravilhoso e perfeito para mim, me deixando cheia
de prazer.
— Só com você, minha menina linda — afirma. — Só com você.
— Claro que só comigo. Que eu ao menos imagine que você brilha os
olhos desse jeito para outra mulher e era uma vez um Philip Mackenzie —
deixo claro.
Ele dá uma gargalhada, seu peito remexendo sob mim, me fazendo sorrir
por ter conseguido fazê-lo dissipar a ideia de estar mal por ser avô. Eu estou
super tranquila. Vovó Nate. Tem coisa mais amorosa? Sim. Vovô Philip.
Dou risada com meu pensamento e em instantes estou sob o corpo
delicioso e moreno do meu marido gostoso e lindo, de novo.
— Me mostra esses peitos — ele pede, os braços apoiando o peso do
próprio corpo. — Eu preciso de você.
— Você precisa de mim sempre — murmuro, puxando as alças do
pijama para baixo e recebendo um gemido de Philip como resposta.
Ele espalma uma das minhas mãos em meu seio e aperta, os olhos se
conectando novamente aos meus.
— E o Luke? — ele pergunta de repente.
— O que tem?
— Ele vai estar de volta em pouco tempo. Você acha que ele estará apto
para assumir meu lugar?
Abro um sorriso.
— Ele é um Mackenzie — respondo. — Então, sim, acho que vai estar.
Philip assente, subindo a mão até chegar ao meu queixo, onde recebo
um carinho.
— Eu amo você, Natalie. Muito mesmo — ele relembra.
— Eu sei, Philip — sorrio. — Será que você pode desligar a luz agora
para gente dormir?
— Não — sorri. — A noite é uma criança, meu amor.
— Nem brinca com isso — me remexo, mas ele me prende, uma
sobrancelha grossa se erguendo.
— Força de expressão — explica. — Agora, abra as pernas que eu
preciso provar que estou cem por cento ainda.
Solto um riso e o puxo em minha direção, dando uma mordida em seu
pescoço.
— Você está em duzentos por cento, meu amor — afirmo e mordo sua
orelha, ao que ele dá uma risadinha e aninha o rosto em meu pescoço, me
fazendo suspirar agradecida por saber que ele vai dormir — sem querer. É
como funciona. Meu pescoço é um sonífero para ele.
A verdade é que nós dois somos as igualdades mais opostas que deram
certo. É algo louco, mas que faz todo sentido para nós. Bem, talvez não faça,
mas eu não ligo. Philip Mackenzie é meu marido.
MEU.
Por que eu ligaria para algo?
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