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Os Mackenzies
Livro 6
NATHALIA
MARVIN
Copyright © Nathalia Marvin 2020
Todos os direitos reservados.
Não é novidade meu pai estar me elogiando talvez pela vigésima vez no
mesmo dia. Eu fechei dois contratos em praticamente vinte e quatro horas; e
isso é um orgulho para ele, e prazer para mim. Sou muito boa no que faço.
Agora que estou com vinte e cinco anos, e muito tempo trabalhando aqui
na Silver, posso participar de reuniões e opinar. Muito. E eu o faço sempre.
— Você realmente é uma mistura minha com sua mãe — ele afirma,
orgulhoso como sempre.
— Gosto de pensar que tenho mais a ver com a mamãe...
Ele se finge ofendido.
— Assim você machuca o seu pai — murmura, entristecido.
Abro um sorriso, levantando da cadeira e indo até ele, lhe dando um
abraço.
Meu pai é o melhor do mundo, sem qualquer sombra de dúvidas. Minha
mãe costuma dizer que ele é um babaca, mas eu não acho isso nunca.
— Eu quero comissão — sussurro e ele dá uma risada grave.
— Boa menina, apreendendo a negociar.
Nós ouvimos uma batida na porta, mas eu não me desgrudo dele. Não
quero mais. Depois que passei três anos em Londres, morrendo de saudades a
cada dia, cada segundo com ele e minha mãe são preciosos. Sem falar que
foram três anos péssimos. Bem, tinham tudo para não ser, mas foram.
— Philip, o Sr. Morrison chegou — Louise anuncia.
Fecho os olhos, me confortando no abraço do meu pai.
— Ah! — ele parece empolgado. — Pode mandar entrar, por favor —
recebo um afago nas costas. — Filha, quero que reveja alguém.
— Hm, quem?
— Boa tarde, Sr. Mackenzie — ouço uma voz. Aquela voz.
Não. Não pode ser quem eu penso que é. Não daria para ser. Eu não
acredito que seja.
Eu afasto o rosto do meu pai, virando a cabeça lentamente em direção à
porta, somente para sentir uma raiva avassaladora tomar conta de mim.
— Olá, Amber — ele fala, sua voz não soando nada mais que
absolutamente séria, sem qualquer pingo de sarcasmo como era antigamente.
Olho para meu pai, indignada.
— O que ele está fazendo aqui? — pergunto, boquiaberta.
— Ele voltou para trabalhar conosco — meu pai sorri.
— Como é?
Ele se inclina e me dá um beijo na bochecha, antes de passar por mim e
ir até a porta, cumprimentar o não mais garoto que costumava infernizar
minha vida diariamente há alguns anos. Infernizar...
— Nicholas, seja bem-vindo de volta — o cumprimenta, apertando sua
mão. — Fez boa viagem?
Ele abre um sorriso breve, antes de assentir, então desvia o olhar para
mim. Faço uma careta imediata.
Repugnante. Isso é tudo que ele é. Completamente repugnante.
— Não quero trabalhar com ele, pai — declaro.
Meu pai se vira para mim, erguendo uma das sobrancelhas
extremamente grossas, parecendo desentendido.
— Amber, você sabe que aqui não tem essa de não trabalhar com fulano.
Minha empresa funciona à base de equipe e não grupo. Goste você ou não,
Nicholas é muito competente e voltou para somar. Pense em como um pode
ajudar o outro.
Cruzo os braços, ainda indignada, mas tento manter a compostura.
— Fiquei sabendo pelo seu pai que você fechou dois contratos com
intervalos de apenas algumas horas — Nicholas fala. — Meus parabéns. Eu
também fechei alguns por telefone enquanto vinha para cá. Mas foram uns
quatro, eu acho.
Posso ver a sombra de um sorriso implicante em seus lábios, me fazendo
sentir a pele esquentar de raiva.
Olho para meu pai, que parece fascinado com ele.
Respiro fundo, me controlando. Ele não vai pegar meu lugar e muito
menos a atenção do meu próprio pai.
— As empresas que fechei contrato estão todas com as ações em alta e
sempre ganhando mais stakeholders gradualmente — afirmo.
— Hm... — Nicholas põe as mãos nos bolsos das calças, então olha para
meu pai, sorrindo. — Uma das que fechei era a Sttil.
Meu pai abre a boca, nitidamente impressionado.
— Você fala sério? Grande garoto! — o puxa para um abraço.
Isto não está certo!
— Ninguém garante que a Sttil vai se manter em pé por muito tempo —
falo, por entre os dentes. Filho da mãe. É a empresa de eletrônicos mais
famosa atualmente.
— Querida, agora que o poder de garantir isso está também em minhas
mãos, eu te garanto que cair ela não vai — ele afirma, me olhando sombrio.
— É o que espero — balanço a cabeça. — Ou você vai ter que morder a
própria língua, querido, e acredito que você não quer isso. Acho mais fácil
você cortar alguma parte do seu corpo a confessar que está errado ou
equivocado.
— Acho que isto não só aconteceria comigo, já que tem alguém aqui a
fim de debater quem é melhor.
— Não estou debatendo quem é o melhor, porque isso já é bem nítido,
que sou eu, claro.
— Ah, claro, e quem foi o juiz dessa decisão? — ele alfineta. — Sua
presunção ou seu egoísmo?
Abro a boca, horrorizada.
— Eu sou egoísta quando tudo que você faz diz respeito ao seu próprio
eu? Me poupe!
— Vai ser ótimo ter você com a gente novamente, não é, Amber? —
Meu pai me olha com reprovação nos olhos claros que nem os meus. Ele está
contrariado.
— Não, não vai, pai. E não estou nem aí se vou levar esporro. Eu não
gosto desse cara — aponto Nicholas.
— Eu poderia me sentir ofendido com isso — ele murmura, mas o vejo
sorrir para meu pai. — Não se preocupe, Sr. Mackenzie, eu já lidei com
cobras mais venenosas.
Abro novamente a boca, escandalizada com o insulto, mas meu pai ri.
Ele ri, da minha cara. Já Nicholas parece ter falado realmente sério.
— Pai, isso não vai funcionar. Não pode nos colocar para trabalhar
juntos de novo — deixo claro. — O senhor lembra o que aconteceu a última
vez? — Não que esse seja exatamente o motivo.
Meu pai me olha, pensativo.
Foi o fim. Nicholas tinha vinte e dois anos quando veio para cá a
primeira vez, cinco anos atrás. Ele estava apenas no início da faculdade. Era
muito brincalhão e palhaço, sempre falando com todo mundo do prédio, isso
fez com que uma das funcionárias se interessasse por ele. Não sei o que rolou
exatamente, mas a mulher apareceu grávida e disse que o filho era dele e que,
se ele não assumisse, ia processar a Silver. Meu pai pirou.
No fim das contas, Nicholas não era mesmo o pai e era tudo uma forma
de ela ganhar dinheiro fácil. Mas foi muito preocupante para meu pai e meus
tios, de qualquer forma. Muito mesmo.
— Eu não sou mais daquele jeito — Nicholas afirma, olhando de mim
para meu pai. — Agora sei levar meu trabalho a sério.
Meu pai morde o lábio, então o olha.
— Acredito em você — garante. — Você tem a minha confiança, mas
não a desperdice.
— Nunca.
Ele tem a confiança do meu pai? Mas que merda. Ele ao menos fez algo
para merecer isso. Ninguém consegue a confiança de Philip Mackenzie tão
facilmente. Não é nem certo.
Eu os observo apertar a mão um do outro e meu pai o chama para
mostrar a sala onde ele vai trabalhar.
— Pai! — o chamo, antes de ele fechar a porta. — O que ele vai ser?
— Executivo de alto nível — responde com um sorriso e fecha a porta.
Fico para trás, desacreditada.
Aham. Até parece que isso vai ficar assim. Vou falar com a minha mãe.
Ele vai ter que rebaixar esse cara. Como assim dar tanto poder assim a ele? É
inadmissível.
Nicholas não merece. Pelo que ele fez à empresa, não merece. Pelo
vexame que foi, não merece.
Pelo que ele me fez... Menos ainda.
Capítulo 2
....
Pego meu terno e minha maleta e vou para o elevador. Philip me deu uma
sala no andar da Direção, o que me deixou muito feliz. Antes trabalhar com
ele do que com meu próprio pai.
— Segura, por favor — ouço uma voz gritar.
Estendo a mão e interrompo as portas se fecharem. Evito abrir um
sorriso quando vejo Amber aparecer.
Ela, nitidamente, está séria como sempre mas fica mais ainda ao ver que
sou eu.
— Obrigada — agradece, contragosto e entra no elevador.
— Disponha — aperto o botão térreo.
Ela suspira e eu me incito a olhá-la, que também vira o rosto para mim.
— O que foi? — cospe a pergunta.
— Nada. Belo sobretudo, ficou ótimo em você.
Ela faz uma careta e vira o rosto.
— Não me vem com essa, Nicholas — resmunga.
— Você não mudou. Pensei que algum dia veria você valorizando a vida
com sorrisos — implico.
Seu olhar volta para mim novamente, e ela parece indignada.
— Eu não preciso sorrir para valorizar a vida!
— Você se exaspera à toa, Amber. Não é bom para sua saúde — me
apoio em uma perna. — Nem para ninguém.
Ela bufa, quase como um touro feroz, então observo-a se aproximar de
mim, independente e linda. Sua mão se ergue e ela me cutuca com um dedo
na altura do peito.
— Nicholas, você não vai me rebaixar aqui, entendeu?
— Não pretendia — observo seu rosto delicado e capaz de tirar o ar de
uma pessoa. — Você grita muito alto quando está sendo comida?
Observo seus olhos se arregalarem e então Amber dá um passo para trás,
parecendo em completo choque.
— Seu… — ela tenta dizer, a respiração desestabilizando. — Seu…
— É um sim?
Ela vira para o elevador, parecendo perplexa.
Não sei de onde essa pergunta saiu sinceramente, mas gostei muito do
resultado.
— Talvez esse seja o problema, sabe, Amber. Você nunca teve motivo
para dissipar esse mau-humor.
— Vai pro inferno, Nicholas — ela grunhe.
O elevador abre e eu a vejo sair a passos decididos, rebolando a bunda
linda por cima da calça social, que a deixa irresistivelmente deliciosa.
Sempre tive uma atração sexual forte pela Amber. Desde a primeira vez
que a vi. Tentei fazê-la perceber, mas tudo que consegui foi ganhar uma raiva
avassaladora dela. Nem sei por quê. Depois, me veio a bomba de ser suspeito
de ser pai. Era impossível, eu sabia. Não dormia com ninguém do ambiente
de trabalho. Mas aí só piorou minha aproximação com ela, que me repugnou
dizendo que eu não queria assumir o próprio filho.
Balanço a cabeça, dissipando a lembrança, então me movo do elevador,
também disposto a ir embora.
Os Mackenzies acharam melhor me mandar para outro estado, tomar
conta de outra empresa, o que foi bem inteligente da parte deles. Consegui
obter um lucro de duzentos por cento em cima do que eles ganhavam já e,
como recompensa, voltei cinco anos depois como executivo de alto nível. Sou
muito bom no que faço.
Desço as escadas da lateral e vou para o estacionamento, abrindo um
sorriso desnecessário, mas inevitável, ao ver Amber tentando abrir a porta de
seu carro.
Eu me aproximo. O destino está realmente disposto a nos manter
próximos.
— Precisando de ajuda? — pergunto.
Ela tem um sobressalto nítido, então me olha com fúria, ainda sem soltar
a porta.
— Você está me seguindo, seu louco? — pergunta.
Mostro a chave do carro.
— Como vê, meu carro também está aqui.
Ela balança a cabeça, então volta a atenção à porta, puxando com força.
— O que houve? — questiono.
— Não sei, está emperrada ou algo assim — ela suspira, então se afasta,
colocando as mãos na cintura fina e observando a porta que não quer abrir. —
Que droga.
— Quer uma carona?
Amber me olha, parecendo em pânico.
— Não — responde, curta e grossa.
— Não é seguro ficar em um estacionamento sozinha à noite.
— Vou ligar para o meu pai e ele vem me pegar.
— Até seu pai chegar, vai demorar. É só uma carona, Amber. Nada
demais.
Ela volta a me olhar, então seus olhos me percorrem inteiro, de cima a
baixo, de baixo para cima, e eu evito sorrir.
Ela bufa.
— Nem uma gracinha — fala, então se inclina para pegar a bolsa do
chão.
Comemoro por dentro, então a vejo sair andando.
— Aonde você vai? — pergunto. — Meu carro está aqui.
Ela se vira, ficando bem surpresa ao ver que estamos estacionados um
do lado do outro.
— Você é um carma, Nicholas — resmunga, então se aproxima de novo.
— É um Porsche?
— É — assinto e abro a porta para ela, que entra, muito irritada.
Dou a volta e tomo meu lugar no assento atrás do volante.
Amber põe o cinto e joga os cabelos para trás do ombros, me olhando
em seguida.
— Eu gosto de Porsche — fala.
— Ora, ora. Alguém gosta de alguma coisa.
Ela emite um som de reprovação.
— Eu gosto de muitas coisas — murmura.
— De Porsches e o que mais?
— Não que seja exatamente da sua conta, mas gosto de correr ao ar
livre, fazer passeios com meus pais, conversar com meus primos, passar
tempo lendo, malhar com meus tios, cozinhar, ouvir música e uma série de
outras coisas.
Me finjo surpreendido, mas até que estou mesmo.
Ligo o carro e começo a dirigir, nos tirando do estacionamento.
— Estou mesmo pasmo — confesso.
— Por que você voltou?
— Seu pai me mandou voltar.
Ela suspira, resignada.
— Maldita ideia que meu tio teve de dar a empresa dele. Agora meu pai
quer fazer o mesmo. Tudo para passar mais tempo com minha mãe — bufa.
— Como se isso fosse novidade, eles são…
— São o quê? — viro o rosto rapidamente para olhá-la e me intrigo com
sua expressão perdida de repente.
— Eu não sei — suspira, novamente. — Muito ligados ou algo assim. É
muito engraçado ver eles discutindo porque sempre acaba com o maior dos
beijos onde quer que estejam — ela ri, de repente.
Dou um sorriso por ver que consegui contemplar o sorriso de Amber ao
menos uma vez. E que sorriso.
— Onde estiverem? — Tento continuar o bom clima que surgiu do nada,
mas me agradou muito.
— Aham — assente. — Pode ser até em uma reunião. Uma vez
estávamos em um almoço beneficente para idosos. Algo aconteceu e eles
começaram a brigar, então meu pai colocou minha mãe em cima da mesa e
beijou ela, derrubando as louças e comidas de cima — ela ri com vontade. —
Foi muito engraçado! Não adianta, meu pai tem dessas reações quando se
trata da minha mãe.
Dou um sorriso ao vê-la suspirar e relaxar contra o assento do meu
carro.
— Seu pai é um homem inteligente — comento. — Tenho muita
consideração e respeito por ele.
Ela assente, então me olha.
— Fico incrivelmente triste e decepcionada ao admitir que é recíproco
da parte dele.
Um riso escapa de mim.
— Um dia pretendo entender o seu ódio por mim.
— Não tenho ódio de você — ela pondera. — Apenas não consigo te
engolir.
Eu a olho, abrindo um sorriso ambíguo e proposital.
Amber revira os olhos.
— Agora é assim? — pergunta. — Você voltou com a mente destinada à
conotação sexual?
Faço-me de ofendido.
— Não sei do que você está falando.
— Ah, não. E sua pergunta sobre eu gritar alto ao ser comida? —
questiona, bufando.
— Você grita? — olho para ela, sem conseguir esconder um sorriso.
— Acho que você nunca vai saber — sorri de volta, então olha para
frente.
— Achismo... — murmuro. — Você disse que não trabalha com isso e
sim com probabilidade. Qual é a de eu descobrir?
Amber solta um suspiro de completa exasperação.
— Uma em uma trilhão.
— Mas ainda é possível.
Ela fica em silêncio, então me olha, com os olhos brilhando.
— Praticamente impossível — declara.
— Impossível é só uma razão para alguém não tentar.
Amber ri, então decido não falar mais nada.
Ela me lançou um desafio, é o que parece. E eu faço questão de assumir
como proposta.
Capítulo 3
Chego em casa, louca por um banho quente de banheira. Passo pela porta,
mas não chego nem ao início das escadas e logo ouço murmúrios vindo da
sala.
Caminho em direção e reviro os olhos ao me deparar com a cena dos
meus pais se agarrando em cima do sofá enquanto passa Náufrago na
televisão.
Faço um pigarreio com a garganta, chamando a atenção deles, que me
olham, nenhum pouco constrangidos.
— Sai, Philip! — minha mãe protesta, tentando sair de debaixo dele,
mas ele não permite.
— Oi, minha neném — ele me cumprimenta. — Papai veio mais cedo.
— Estou vendo, pai. Oi, mãe.
— Oi, filha — ela sorri, tentando erguer a cabeça para me olhar.
Evito um riso.
— Meu carro deu problema na porta, pai. Deixei no estacionamento —
informo.
— Veio de táxi?
— Não, o Nicholas me trouxe.
— Não vou receber uma ligação da polícia a qualquer momento, vou?
— ele dá um sorrisinho.
— Ainda não — sorrio também. — Estou louca de cansaço e fome.
— Mamãe fez torta de legumes — minha mãe fala, sua cabeça
desaparecida pelas costas do sofá.
— Hmm, amo. Vou tomar banho e descer para comer. E vão para o
quarto, por favor. Wilson não é excitante para ninguém — viro e volto a
andar, ouvindo a risada deles por detrás de mim.
Tenho os pais mais maravilhosos do mundo, sem dúvidas.
Chego ao meu quarto e tranco a porta, jogando a bolsa sobre o pufe e
indo para a cama sentar para tirar os saltos. O dia não só foi cansativo
fisicamente, como também psicologicamente. Meu pai me tirou de uma
reunião com a diretoria por mau comportamento. Mas riu pelo que eu fiz, e
não brigou como pensei que faria.
Vou para o banheiro e me livro da blusa de seda branca e da calça social
preta.
Sigo para a bancada da pia, me escorando nela enquanto me desfaço dos
brincos e do colar. Levo as mãos às costas e desato o feche do sutiã, soltando
um gemido longo de alívio quando meus peitos gritam da liberdade à prisão
do tecido. Alívio!
Me desencosto e me livro da calcinha, soltando um suspiro longo e
alongando o corpo ao mesmo tempo. Parece que saí de dentro de uma
garrafa.
Prendo os cabelos em um coque bagunçado e vou para a banheira,
abrindo a torneira. Volto ao quarto para pegar meu celular enquanto espero
encher.
Me coloco sentada na borda, já com os pés dentro da água, suspirando
de prazer quando a água quente os alcança.
Três mensagens, e uma de um número desconhecido que eu deixo para
ver depois.
555-67820: não vou jantar com vc e nem ser sua janta, mas pode vir
jantar aqui. minha mãe fez torta de legumes, é mt boa
O que estou fazendo em chamar Nicholas para minha casa?
Tento cancelar a mensagem, mas já foi enviada e dou um grito de
arrependimento e exasperação. Que merda.
555-89021: Você realmente está tendo pena de um homem faminto?
Mesmo? Acho que posso chorar.
555-67820: engraçado. é melhor aproveitar minha prestatividade
555-89021: Chego aí em dez minutos. Você poderia ficar pelada, que
tal?
555-67820: nos seus sonhos, Nicholas. só neles, tchau
Desligo o celular e coloco no chão, então deslizo o corpo sobre a
cerâmica da banheira e me embalo na água quente e relaxante, soltando uma
respiração longa.
Eu realmente fiz isso? Realmente convidei Nicholas para vir jantar na
minha casa? Sim. Eu fiz. É o cansaço e o meu cérebro está com problemas em
raciocinar.
....
....
— Não sabia que você ia mudar tanta coisa — Patrick murmura,
enquanto tiramos a poltrona velha de um dos quartos.
— Emily gosta de rosa — dou um sorriso, lembrando da pequena
garotinha.
Ele assente e nós descemos com o estofado, vendo quando Christian
entra pela porta da sala, parecendo fascinado.
— Uau! — fala, enquanto olha em volta, então para mim. — Papai, o
senhor mudou tudo!
— Mudei — afirmo, sorrindo. Ele sorri de volta e corre até o sofá,
sentando e apalpando ao mesmo tempo.
— É incrível!
— Você gostou? — Patrick pergunta.
— Muito!
Ele me olha e nós sorrimos. Exatamente essa é a intenção. Extrair o
máximo de sorrisos possíveis.
Nós levamos o sofá velho para fora e colocamos no quintal, observando
quando Lilian chega com Emily e Edward agarrados em suas mãos. Eles
imediatamente a soltam ao me ver e vêm correndo em minha direção.
— Pai! — se agarram às minhas pernas.
Eu me inclino e pego Emily nos braços, então acaricio os cabelos de
Edward, que me olha de baixo com os dois dentes da frente faltando.
— Ei, tá faltando algo na sua boca, campeão — observo.
Ele ri e assente.
— Eu fiquei meio banguelo, pai.
— Tô vendo — dou risada e olho a garotinha em meus braços, que
imediatamente me abraça pelo pescoço.
— Nós gostamos da casa nova — diz, com a voz baixinha e melodiosa.
— Que bom, princesa — eu suspiro.
Era o meu medo. Eles não se acostumarem ou não gostarem. Se isso
tivesse ocorrido, eu não me importaria, teria ido embora de volta sem
qualquer problema. Nada me deixaria longe deles. Dos meus filhos.
— Eles gostaram — Lilian, a senhora meio acima do peso que cuida
deles, finalmente nos alcança, esbanjando seu sorriso de mãe.
— Fico aliviado — digo para ela. — Já vieram entregar tudo que pedi e
está tudo abastecido na cozinha.
— Certo, obrigada.
— Pai — olho para o lado ao ver Christian sair correndo de dentro de
casa com seu carrinho na mão. — Por que a Emily tem um quarto só para ela
e nós não? — pergunta, triste.
— Porque a Emily é uma princesa — respondo e balanço ela em meu
colo.
A garotinha dá um risinho fofo e assente, enquanto tento ignorar Lilian
emotiva à minha frente. Ela não consegue aguentar ver os três irmãos sem
uma mãe.
— Isto não parece justo, pai. Lilian diz que somos os príncipes —
Edward aponta para a babá.
— Pois é. Mas, se fossem duas princesas também, elas dormiriam no
mesmo quarto.
Christian e ele ficam pensativos.
— Tudo bem — ele diz. — Nós somos dois príncipes.
— São — dou risada e coloco Emily no chão, ao lado dos irmãos e me
abaixo sobre os calcanhares. — O papai vai trabalhar agora. Vocês dois vão
cuidar da Lilian e da Emily?
— Sim — Edward e Christian garantem, me batendo continência.
— Ótimo. Agora, todo mundo vindo me dar um beijo e um abraço —
peço, abrindo os abraços, enquanto eles me agarram e gritam. — Vejo vocês
depois. Amo vocês.
— A gente te ama, papai — respondem e os observo irem para dentro de
casa.
Me levanto de novo, soltando um suspiro quase longo demais.
— Qualquer coisa que precisar ou acontecer, é só me ligar — falo,
olhando Lilian.
— Tudo bem, pode deixar.
— Agora eu preciso ir — me aproximo, deixando um beijo em sua
bochecha. — Obrigado por tudo, Lilian.
— Não me agradeça, Nicholas. Você sabe que não precisa.
Me afasto, passo as mãos no rosto, então dou um sorriso a ela, que me
deixa ali parado no quintal, enquanto também entra.
— Ei, tudo bem? — Patrick toca meu ombro.
— Beleza. Qualquer coisa, você também me liga — peço. — Por favor.
— Pode deixar, cara.
Suspiro novamente, então vou para meu carro, já não mais muito certo
de onde tudo pode ir parar.
Capítulo 8
— Por que você está seminua? — Amy pergunta assim que chego à
cozinha, onde vou imediatamente atrás de um copo de água gelada.
— Estou excitada — resmungo enquanto pego a jarra e levo à boca,
sorvendo uma quantidade de água considerável pela garganta.
Minha prima dá uma risada e um grito em seguida, murmurando sobre
como é ruim queimar o dedo, então fala com tom de zombaria em seguida.
— Cadê o gostoso? Por que você está aqui excitada e não debaixo dele?
Eu me viro para ela, o peito subindo e descendo numa respiração
desregulada, enquanto tenho a jarra em uma das mãos.
— Ele está doente. Ele é Nicholas Morrison. Ele é perigoso — respondo
e bebo mais água.
— Ele é gostoso. Qual o tamanho do pau?
Solto um gemido, me lembrando de vê-lo pelado.
— Do tamanho certo para me deixar desmaiada de prazer — murmuro,
desolada. — Eu não posso desejar ele, Amy. O que eu faço?
Ela caminha despreocupadamente até o fogão e mexe uma panela, então
abaixa o fogo e me olha, se escorando na ilha.
— Eu acho que você está louca por um cara gostoso e você devia
experimentar o pau dele. O que tem demais nisso?
Eu me encolho, simplesmente por não entender essa frieza da minha
prima.
— Não é assim que funciona, Amy. Não vou deixar qualquer cara
dentro de mim — pondero.
— Não é qualquer cara — ela gesticula. — É o Nicholas Gostoso
Morrison Delícia.
Solto um riso, nervosa, então bebo mais água.
— Eu entendo que você tenha mais isso de emoção, sentir vontade pelo
cara, sentimento e o blábláblá todo — continua. — Mas, caramba, Amber, dá
um tempo nisso. Curte um pouco. Você só fica trabalhando que nem louca.
Tem um gostoso indefeso na sua cama, à sua mercê.
Tiro a jarra da boca, estarrecida, então volto a olhar para ela, que parece
mesmo ter falado sério.
— Não posso transar com ele. Seria... — resmungo. — Desastroso.
— Por quê? Sexo é só sexo. Abre as pernas e ganha uns orgasmos e
depois vai embora.
Faço uma careta, caminhando até a mesa e puxando uma cadeira para
sentar. Amy traz duas bacias de vidro e põe na superfície, enquanto vejo que
temos algum tipo de receita nova para a janta. Odeio jantar, particularmente,
me faz ter pneu. Aquele que você se mata para tirar. Consegui tirá-lo com as
dicas do meu maravilhoso e inteligente pai que, como se não bastasse ser só
lindo, tem um corpo perfeito e me dá dicas desde que comecei a "ganhar
corpo de mocinha" como ele mesmo nomeou. Claro que depois fiquei
sabendo que ele só aprendeu as especificações de exercícios por causa da
minha mãe, que tem um corpo esculpido por causa dele. Como eu disse, os
melhores.
— Não vou simplesmente abrir minhas pernas para um cara e ter que
sair depois. Eu sou emotiva e sentimental — confesso.
Amy dá uma risadinha e corta a torta, que parece ser salgada. Eu ainda
fico realmente impressionada com essa frieza dela com relação a qualquer
homem. Ela realmente encara a coisa como se fosse nada mais que banal.
Comigo já é completamente diferente. Eu tive minha primeira vez com
um amigo de Londres. Ele realmente se tornou meu amigo e era bem legal e
gentil comigo. Não foi algo planejado, na verdade. Nós estávamos
comemorando o fim do ano letivo e ele me beijou, e eu gostei, e aconteceu.
Não foi bom, disso eu me lembro. Doeu para um caramba, e lembro que não
durou vinte minutos direito. Mas Trey, como ele se chamava, foi muito gentil
comigo. Me beijou muito, implorando perdão. De fato, ele precisava pedir.
Eu tinha dezessete anos e foi horrível. Não foi nada prazeroso, também por
culpa dele. Mas aí, semanas depois, aconteceu de novo. Foi menos doloroso,
mas não bom. Na terceira vez, eu recusei, e ele me presenteou com um oral
delicioso e demorado, que me deixou zonza por vários minutos. Disso me
lembro bem.
Infelizmente, Trey saiu no ano seguinte. Então conheci o James, um cara
gostoso e inteligente, que parecia sério demais. Só aparência. Em quatro
paredes, o cara era um animal. Perdi pares de calcinhas que ele rasgava com
os dentes. Ele era sempre quente, me comendo nos lugares mais inusitados. E
aquele pau dele era uma maravilha. Nem era tão grosso, mas era bom demais.
Só que, infelizmente, ele se formou na frente e foi embora também. Daí
surgiu a oportunidade de eu ficar com Frank, um loiro meio irritadinho. Ele
também era irritado na hora H e falava umas coisas bem quentes, que me
deixava louca. Tinha uma tatuagem na coxa que eu adorava olhar enquanto
ele mandava ver.
Acho que dei muita sorte em ser bem comida por todos os caras que
encontrei. Muita sorte mesmo. No entanto, com todos esses haviam emoções
e sentimentos. Depois ou antes do sexo, haviam carícias, conversas e risadas.
A gente comia ou tomava banho juntos. Tinha muito carinho. Eu gosto de
carinho. Sou assim, sentimental, preciso me sentir ligada ou não sinto tesão
nenhum. Quase que fui pedida em namoro pelo Frank, mas me formei e
voltei para casa, felizmente. Uma coisa é transar, outra é se envolver. Se bem
que a linha é bem tênue.
— Isto é realmente um problema — minha prima afirma e senta no
outro extremo, preenchendo o prato à minha frente com um pedaço da torta
que eu vejo ser recheada de queijo e legumes. Lambo os lábios. — Lembro
que transei com um cara que era assim. Ele ficava chupando meus peitos
quase meia hora depois de gozar. Era um saco. Dizia que era porque era
sentimental e gostava de sentir que eu era dele. Otário, né? Não sou de
ninguém.
Dou um riso e pego o garfo. Corto um pedacinho e levo à boca, soltando
um gemido pelo gosto da torta.
— Por que você não gosta de namorar? — questiono.
— Não é isso — ela dá de ombros. — Apenas não gosto de me sentir
propriedade de ninguém. Além do mais, você também nunca namorou. Não
me incrimina.
— Não é uma incriminação, Amy. Só um comentário.
Ela assente e se serve, então mastiga, dando um sorriso satisfeito,
provavelmente feliz por obter êxito na receita.
— Está uma delícia — falo.
— Obrigada — agradece e gesticula. — Nicholas te deixa com tesão, eu
realmente não vejo mal em você transar com ele. Só uma vez.
— Se acontecer, não vai ser só uma vez, eu sei disso. E não sei como
poderia funcionar já que, obviamente, é só tesão e nós não temos qualquer
ligação.
Minha prima me avalia, pensativa.
— Sei lá — murmura. — Fala com ele que antes você precisa de uma
piada para rir e no final de uns carinhos. Pronto. Problema resolvido.
— Não é tão simples — dou um gemido de descrença pela ideia dela. —
Nicholas e eu não temos afinidade. Ontem eu o convidei para vir jantar
comigo e ele me deu um orgasmo sem ao menos me tocar. Ainda vestido. Eu
poderia facilmente dizer que foi até novidade para mim, mas na verdade eu
sei que foi só porque nós passamos um pequeno tempo juntos antes de ele me
agarrar.
— Que tempo?
— Jantamos e tomamos sorvete.
Amy dá uma risada alta.
— Eu realmente acho que você deveria esquecer um pouco essa regra e
simplesmente transar. Se o tesão é recíproco, vai ser maravilhoso. Mesmo
sem os seus mimimi — ela declara e enche a boca de comida novamente.
Balanço a cabeça e também volto a comer.
Merda, estou tentando negar o inegável, Nicholas sempre me deixou em
chamas. E isso não me parece nada bom.
Capítulo 11
Quando acordo pela manhã, Amy já não está mais ao meu lado na cama.
Já faz um tempinho desde que ela resolveu se envolver com as causas nobres
sobre ONGs e coisas do tipo para ajudar crianças e pessoas necessitadas. Ela
realmente ficou fissurada pelo trabalho.
Levanto e vou para o armário, procurando um short e uma camisa, para
ir correr. Minha única opção e ajuda a apaziguar o meu calor. Visto depressa
e vou para frente do espelho, prendendo os cabelos em um coque no alto da
cabeça. Passo no banheiro, lavo o rosto e escovo os dentes, então saio do
quarto de hóspedes, com destino à área de serviço, onde ficam meus tênis de
exercícios.
Levo um susto ao chegar à cozinha e me deparar com Nicholas. Ele está
somente com a calça que dormiu e os cabelos despenteados, enquanto come
uma maçã. Seu olhar se volta para mim imediatamente e ele me avalia de
cima a baixo, enquanto mastiga calmamente. Eu congelei, não há
dúvidas. Gostoso para caramba.
— Bom dia, amor — ele fala, abrindo um sorriso ao voltar a olhar para
meu rosto.
— Bom dia — respondo, tentando soar ríspida. Mas não acho que obtive
muito êxito.
— Tá indo malhar? — pergunta, como se fosse muito natural nós nos
encontrarmos todas as manhãs e levar um papo matinal.
— Correr.
— Correr — ele concorda. — Posso ir com você?
— Você está doente — o lembro. Não que ele pareça estar. Está, na
verdade, delicioso enquanto essa calça marca os músculos das pernas
torneadas dele.
— Eu já melhorei — garante e me olha de cima a baixo novamente. —
Vou pegar uma roupa emprestada do seu irmão. Ele tem tênis aqui também?
— Acho que sim — respondo, não sei por quê. Eu não deveria estar
cogitando deixar Nicholas correr comigo.
— Me espera, então. Eu não demoro — ele pede e joga a maçã fora
depois de comer o último pedaço, então passa por mim e sai do cômodo.
Estou indo correr com o motivo de eu ir correr. Que irônico. Eu devia
correr dele e não com ele.
Depois de uns minutos, em que já coloquei meus próprios tênis,
Nicholas reaparece. Ele usa um short e uma blusa do Luke e uns tênis que
parecem ser do meu pai, mas não posso e nem consigo falar nada. Está
extremamente suculento prestes a correr comigo. Comigo.
Me levanto da cadeira e passo as mãos no rosto. Como é possível que
isso esteja acontecendo mesmo?
— Vamos? — ele pergunta.
Suspiro pesadamente, então assinto e nós saímos.
Em instantes estamos correndo pelo caminho que leva à estrada
asfaltada do quarteirão de casas não muito próximas umas das outras. Eu na
frente e Nicholas atrás. Não me dou ao trabalho de me concentrar que ele está
junto a mim, na verdade. É muita pressão.
Correr para mim sempre foi uma forma de esvair a mente das coisas que
me incomodavam. Meus pais incentivaram meu irmão e eu a ter esse hábito
desde que entramos na adolescência, o que foi ótimo. Se tornou uma paixão,
tanto quanto comer.
Ponho meus fones de ouvido que estão em meu pescoço e aperto o
botãozinho do cabo, para a música iniciar. Maroon 5 começa a
gritar Animals em meus ouvidos e eu relaxo totalmente, meus pés criando
mais velocidade contra o atrito do chão. Pronto. Estou em mim de novo, me
entendendo e sem duvidar do que gosto. Pelo menos, por um período de
tempo.
Nós saímos do quarteirão e chegamos à rua, seguindo o caminho pela
calçada movimentada da multidão apressada em necessidade de começar seu
dia.
Inspiro o cheiro da manhã fresca e apresso os passos, dando uma volta à
esquerda, atravessando a rua e seguindo pelos poucos rastros que vão nos
levar ao Central Park, onde é o lugar perfeito para correr.
O clima está uma delícia. Levemente nublado e agradável. O cenário do
parque sempre é o mesmo. Muitas crianças com suas mães ou babás, e muitas
pessoas fazendo atividade física também. O vento morno, mas frio, aquece
meu rosto e meu corpo, e dou um sorriso, puramente satisfeita.
Meus passos ganham mais velocidade ainda e me aventuro entre as
árvores e sobre o gramado, esquecendo-me de tudo enquanto estou
experimentando um dos maiores prazeres da vida. O recebimento de
endorfina no corpo.
É muito bom e eu não troco a sensação por nada. Quer dizer, até poderia
trocar, desde que fosse por algo que me desse uma sensação mais prazerosa.
Ainda não encontrei, no entanto.
Segundos, minutos, horas – talvez – passam, e, quando sinto que estou
começando a ficar sem sentir as pernas, volto a fazer o caminho inverso, que
me leva de volta à casa.
O suor escorre por meu rosto e corpo, me fazendo alongar as passadas e
chegar com mais entusiasmo ainda no meu refúgio. Minha adorável casa. É
bom ir, mas o melhor sempre é voltar.
Assim que destranco a porta, porém, eu dou um grito, quando sou
puxada até a parede de frente. Sou colocada, na verdade; meu coração
suspendendo um pouco as batidas, enquanto minha respiração se torna ainda
mais errática e acelerada.
— Você não pode me culpar — Nicholas fala, a voz rouca e tão grave,
então sinto meu short ser abaixado e o calor quente como o inferno
imediatamente atinge meu sexo quando ele lambe minha coxa pela parte
detrás, subindo até separar minhas pernas, e me dá uma mordida no interior
da coxa.
O calor realmente aumentou. Pra valer.
— Eu vou te comer agora — ele declara, levantando e logo começo a
ofegar. — E você não vai me impedir, vai? — sussurra em meu ouvido.
Engulo em seco, trêmula imediatamente. Não, eu não vou. Não nesse
estado.
Ele me surpreende colocando dois dedos dentro de mim e os remexendo,
me fazendo gritar e balançar a cabeça.
— Molhada e quente — grunhe. — Se apoia na parede, Amber.
Eu já estou apoiada, só não sei se vou aguentar.
Nicholas segura uma de minhas pernas para abri-la e começo a sentir
minha entrada ser pressionada de forma impaciente e ele se enterra com tudo
em mim, tirando um grito de nós dois.
Puta merda!
O rosnado que sai de sua garganta reverbera por meu corpo inteiro, me
arrepiando por completo e me fazendo transpirar ainda mais. Ele está me
preenchendo e imediatamente se mexendo, saindo e entrando com uma
vontade absurda. Não me movo, seria incapaz.
Apoio a cabeça na parede, o grito de bom senso acendendo em minha
cabeça quando me dou conta de que ele não está com camisinha. Eu posso
evitar uma gravidez, Deus me livre, mas não posso impedir uma doença. Não
sei o que ele faz ou com quem dorme.
Me remexo, desesperada para parar de sentir o que estou sentindo. Uma
fome louca. Cada investida não sendo funda o suficiente. Eu preciso parar de
ser tão lesada.
— A camisinha! — consigo gritar. Não é bem um grito, já que minha
voz sai esganiçada e entrecortada.
— Desculpa — ele grunhe. — Eu não vou parar.
— Cretino! — resmungo, irritada por agradecer interiormente pela
resposta.
Nicholas se mexe para fora e para dentro, nossos corpos se chocando e
aumentando o peso do orgasmo em meu interior. Eu começo a me mover de
encontro a ele, incapaz de me segurar. Minha pele está queimando e ardendo.
O suor escorre por meu rosto, minhas mãos tremem contra a parede. Meu
rabo de cavalo é agarrado e Nicholas puxa minha cabeça para trás, beijando
meu pescoço, enquanto rosna e me penetra com força e vontade.
Estou alucinada e trêmula. Ele é realmente do tamanho e grossura
perfeita. Batendo e causando a fricção exata e nos pontos exatos que levam à
loucura.
— Você vai gozar — ele afirma, em meu ouvido. Vou mesmo. Estou
quase. Ele é muito gostoso.
Mordo o lábio, tentando abrir os olhos, mas é em vão. Eles estão quase
como colados, meu corpo respondendo involuntariamente.
— Mais fundo! — consigo gritar, bem alto, desesperada para sentir o
êxtase.
Recebo um gemido muito másculo e delicioso como resposta, antes de
ser impensada mais ainda contra a parede e ele empurra com uma velocidade
sem tamanho para dentro de mim, estocando até o limite dos limites e me
fazendo tremer dos pés à cabeça, o clímax me acertando em cheio, enquanto
eu me desmancho contra Nicholas e a parede.
Meu corpo inteiro entra em caos extremo e dou um grito, me apoiando
contra seu peito sólido, enquanto ele grunhe e segura minha cintura, me
empurrando de encontro a ele, coisa que sou incapaz de continuar a fazer.
Então ele também grita. Grita o meu nome, enquanto eu me sinto ser
preenchida por ele, que pulsa alucinantemente dentro de mim, acalmando as
paredes do meu sexo ao mesmo tempo.
Perco as forças e dou um gemido longo, satisfeito e cansado, então só
sinto quando ele nos deixa cair ajoelhados no chão, sua respiração quente
contra meu pescoço, enquanto seus braços circulam minha cintura.
Então, e só então, eu me dou conta da merda que acabei de permitir.
Capítulo 12
Me jogo na cama assim que entro em meu quarto. Ainda estou tendo
espasmos do orgasmo recém-acabado. Acredite. Isso foi bem forte. Posso
sentir em todo meu corpo. Tenho vontade de me bater por gostar da sensação
de que ainda sinto a marca de Nicholas dentro de mim. É surreal de bom.
A porta se abre e eu levanto a cabeça, o vendo reaparecer em minha
visão. Ele realmente me seguiu até meu quarto. Está todo lindo somente
usando a camisa que correu. Delicioso.
— O que foi? — pergunto.
Ele tira a camisa, ficando completamente pelado, então caminha até
mim, se ajoelhando em frente à cama e colocando a cabeça em cima das
minhas pernas. Me apoio nos cotovelos, pega de surpresa, então observo o
amontoado de cabelos escuros enquanto Nicholas respira fundo.
— Já faz um tempo desde que eu me diverti — fala. — Vamos passar o
dia juntos hoje.
— Já disse que não — repito.
— Não foi uma pergunta.
— O que você tem? Está se sentindo doente de novo? — questiono,
remexendo as pernas, com o intuito de que ele levante a cabeça. O ar quente
que escapa da sua boca e atinge minha pele não está fazendo bem para o meu
raciocínio.
Nicholas me olha, o queixo apoiado entre minhas coxas, logo acima dos
joelhos.
— Tem sido complicado, eu confesso. A minha vida.
Ergo as sobrancelhas, desentendida.
— A sua vida não parece complicada, se quer saber minha opinião —
debocho. Não, realmente não parece. Ele é lindo, rico e inteligente. Por que
uma pessoa assim teria uma vida complicada? Não faz sentido.
— Mas é — ele afirma. — Quando o Luke volta?
— Ano que vem. Por quê?
— Nada, pra saber — suspira. — Por que você veio deitar? Disse que
iria pro banho.
Bingo. Pega no flagra.
— Hm... — murmuro, como quem não quer nada. — Apenas estava
com as pernas cansadas da corrida.
— Da corrida? — ele ri. — Não foi da corrida. Pensei que seu ritmo
diminuiria depois de mais velha.
— Claro que não.
— Eu me lembro de você tentando passar a mim e seu irmão, mas nunca
conseguiu.
Dou um sorriso.
— É, mas hoje eu te deixei para trás — digo, orgulhosa.
Sim, era incrivelmente uma perda de tempo tentar passar deles dois em
uma corrida. Sem falar nas pernas longas de cada um que os possibilitava de
levar vantagem.
— Bem, mas isto foi só porque eu estava querendo admirar seu corpo.
Fingi que te deixei levar a melhor — ele esclarece.
— Não, acho que você está mentindo. Só não quer confessar a verdade.
— Que verdade, amor? — ele sorri.
— Eu sou a melhor.
— Claro que você é a melhor — Nicholas rasteja para cima, seu rosto
pairando logo acima do meu enquanto ele se apoia nos braços. — Nunca
disse que não era. Você é a melhor — repete. — Eu não tenho dúvidas disso.
Eu o encaro, sem saber bem como processar o fato de que gosto da
sensação de tê-lo tão junto a mim, me fazendo sorrir. Claro que a verdade
sempre foi muito óbvia. Pelo menos, para mim. Eu me apaixonei por
Nicholas no passado. Foi algo constante. Ele era muito gentil comigo, como
com todo mundo. Só que eu levei isso para um lado mais completamente
pessoal e, no fim, descobri que ele era um moleque idiota que só queria sexo.
Não que fosse exatamente o verdadeiro motivo da minha revolta.
Nicholas não me enxergava como uma possível amante. Só como a irmã
do amigo. Era tedioso. E eu ficava com raiva toda vez que o via conversando
com qualquer outra mulher que eu sabia que ele acabaria ficando. Então,
como uma forma de tentar reprimir e afastar meus sentimentos, eu uso a
raiva. Não que eu me orgulhe disto. Longe de mim. Apenas não quero morrer
de paixão por um cara que nunca ligou para mim.
Mas, olha só para mim, acabei de deixar ele me possuir. Sim, uma posse.
Agora eu o quero ainda mais do que antes. Porque ele me marcou,
exatamente do jeito que fez com meu coração.
Minha mente é totalmente trazida de volta ao presente quando sinto a
fricção contra meu clitóris.
Engasgo, piscando os olhos e sendo presenteada com um sorriso
presunçoso de Nicholas.
— Tudo bem? — ele pergunta, seus dedos abaixando mais por dentro do
meu short, até ele coloca-los dentro de mim, me fazendo remexer. — Você
pareceu um pouco preocupada.
Respiro fundo, tentando evitar que meu corpo corresponda ao gesto
inesperado mas que foi muito bem-vindo.
— O que está fazendo? — rebato, com outra pergunta.
— Te dando outro orgasmo pra ver se você aceita passar o dia comigo
— responde, fazendo uma carinha triste que sou obrigada a desviar o olhar,
abalada.
— Já disse que não vai acontecer isso — meus quadris se elevam, em
um convite involuntário para uma velocidade mais rápida.
— Bem, então você não vai gozar.
— Eu sei me virar sozinha — o olho de novo, tentando soar convencida,
mas não consigo. Ele é lindo e gostoso, e está em cima de mim. Não há como
tentar ser vitoriosa.
— Duvido muito que você se dê prazer como eu dou — declara, seus
olhos cintilando brilho. — Você experimentou ali embaixo. Eu quero te
comer em pé, com você olhando em meus olhos. Depois de quatro, e de lado,
e depois finalizar com você cavalgando em mim.
Meu corpo me trai quando um gemido sai da minha garganta. Que
desgraçado.
Nicholas cai para o lado e puxa meu short para baixo, o tirando pelos
meus pés, então enterra os dedos dentro de mim novamente. Fundo e forte,
me fazendo gemer alto. Ele deita novamente, me olhando.
— Não mente pra mim, Amber. Você me quer tanto quanto eu te quero
— fala, sua boca se inclinando para beijar meu pescoço e morder o lóbulo da
minha orelha. — Fala que sim.
— Não, Nicholas — nego, arqueando o corpo contra as investidas de
seus dedos.
— Você não sente isso? — ele levanta a cabeça, me olhando de cima. É
um esforço enorme para encará—lo de volta, mas consigo. — Não sente
como fica renegando? Olha como você está molhada, pronta pra me receber
aqui dentro de novo — seus dedos se curvam bem fundo, e ele começa a
estocar com força. — É natural, amor, você me quer.
Minha boca se abre, exalando o ar preso, enquanto tento não deixar que
meu próprio corpo me faça confessar a realidade. Eu quero muito. Mas eu
não quero só a parte que ele sabe fazer bem, proporcionar prazer. Quero saber
como é o Nicholas quando não está rindo ou fazendo alguém rir, quando está
sério ou triste. Ou precisando de ajuda. Eu quero conhecer ele todo.
— Por favor, me deixa gozar — peço, entre os dentes.
— Não, eu disse que não — ele nega, calmo, diferente do movimento de
sua mão, que mantém os dedos dentro de mim, me deixando louca. O clímax
indo e vindo, mas não acontecendo.
— Por favor! — choramingo, balançando a cabeça de um lado para o
outro.
— Você vai ficar comigo hoje?
— Não! — grito. Eu não quero só hoje. Eu quero mais. Preciso de mais.
— Então, não.
— Nicholas!
Ele acalma os dedos, ao mesmo tempo que seu polegar começa a
acariciar meu ponto sensível, não no ponto de me levar ao orgasmo, só de
demonstrar o quanto ele está próximo e vai ser forte.
As pequenas fagulhas de calor, sobem e descem em ondas, me fazendo
transpirar. Estou sendo torturada. Vou chorar.
— Eu vou acabar com você — declaro, chorosa, enquanto tento me
afastar.
— Você já acaba comigo, Amber — ele me impede, afundando mais os
dedos em meu interior. — Diz que vai ficar hoje aqui comigo e eu deixo você
ter o que quer.
— Isso não é justo! — berro.
— Ninguém falou em justiça. Agora fala o que você quer responder.
— Não… — fechos os olhos, tentando mover os quadris contra ele, em
um pedido desesperado. Estou por um fio.
— Então, relaxe, você só vai ficar aí, presa. Não vou te deixar…
— Tá bom! — o interrompo, gritando. — Eu fico com você hoje! Eu
fico! Mas, por favor…
Ele solta um grunhido e engole minhas palavras quando sua boca se
choca contra a minha, sua língua me invadindo e me possuindo da mesma
forma que seus dedos fazem dentro de mim, aumentando a força e
velocidade.
Meus olhos apertam, meu corpo treme e solto um gemido alto e abafado
contra os lábios dele, no mesmo instante que o orgasmo me atinge em cheio.
O escuro me amolecendo e me fazendo sentir os arrepios da cabeça aos pés,
em um choque profundo e delicioso.
Afasto a boca, em busca de ar, e Nicholas mantém os dedos trabalhando,
firmes e impetuosos dentro de mim, minhas pernas se fechando em um
movimento independente. Estou doloridamente boa e relaxada, então suspiro,
abrindo os olhos e ofegando.
— Vamos tomar banho juntos — Nicholas declara, me trazendo de volta
à realidade.
Eu viro a cabeça, o olhando, então seus dedos me deixam, apenas para
acariciar minha barriga por cima da blusa.
— Vai haver vingança — aviso.
Ele dá um sorrisinho.
— Pode apostar que vou gostar disso — afirma e então levanta, somente
para segurar minhas duas mãos e me fazer sentar. Ergo os braços quando ele
segura bordas da minha camiseta para tirá—la pela cabeça.
Solto um alívio, meus seios sendo libertos.
— Que peitos lindos — Nicholas murmura e me impulsiona a ficar de
pé. — Vou querer ver você assim desse jeito o dia inteiro.
Eu concordo com um aceno de cabeça, mas apenas porque estou fraca
demais. Apenas por isso.
Capítulo 14
Amber aparece na cozinha usando uma maldita roupa que não ajuda bem
no meu raciocínio lógico. Na verdade, ela não ajuda muito no meu raciocínio
propriamente dito. Ela me enfeitiça e o fato de que acabei de perder o
controle e ter tido tomado-a remexe meu estômago. Eu sabia que não seria
simplesmente algo carnal e sexual. E, merda, não foi mesmo. E isso só piora
minha situação. Como o fato de que para ela foi somente o ato em si e nada
mais.
Acontece que é perigoso a questão de querê-la por mais do que um
casinho casual. Ponto um, a questão de eu não ter tempo todos os dias; ponto
dois, eu tenho três crianças junto comigo e; ponto três, eu tenho uma puta
raiva do irmão dela. Não que a última questão me interesse muito ou fosse
me impedir de alguma coisa, mas mágoa é uma coisa foda.
Amber não pareceu ligar quando mencionei meus filhos. Claro que não.
Ela achou que eu estava brincando. Eu poderia ter esclarecido que falei sério,
mas não o fiz. Não quando ela estava ali comigo, sorrindo maravilhosa e
deliciosa, me deixando tocá-la. Se tudo que eu puder ter for hoje, for um dia,
com ela comigo, sem amarras, tudo bem então. Pelo menos vou ter algo.
Pouco é melhor do que nada.
— Ei, você parece triste — ela murmura indo sentar em uma cadeira. —
Me desculpa então por ter perguntado sobre o lance entre você e meu irmão.
Não é da minha conta.
Levo os waffles para a mesa e me sento na cadeira ao lado dela. Amber
se serve de suco e bebe de uma vez.
— Você já foi culpada por algo que não fez? — pergunto, passando o
dedo pela borda do corpo à minha frente.
— Hm, já. Muitas vezes. Por quê?
Balanço a cabeça, soltando um suspiro.
— Eu também. E é horrível.
— Bem, nem sempre. Às vezes serve de aprendizado.
— Tudo serve de aprendizado, não só calúnias.
Amber me olha, parecendo agoniada.
— Olha, eu entendo que você não me veja como a pessoa mais confiável
e amiga do mundo, mas eu sou boa em ouvir. Sério mesmo. E também em
ajudar, caso você esteja precisando — fala. — Você pode, hm, desabafar
comigo se tem algo te incomodando.
Viro o rosto para olhá-la, que está me encarando enquanto faz um
barulhinho com os dentes e eu sou obrigado a sorrir. Ela é maravilhosa.
— Quando eu tinha vinte anos, vi minha vida ir ao chão de repente —
confesso e desvio o olhar para o copo novamente. — Uma coisa aconteceu e,
bem, eu fui obrigado a arcar com as consequências. Quer dizer, não
exatamente obrigado, apenas era meu dever.
— Uma coisa… — ela repete, pensativa.
— É. Eu tive que tomar para mim as dores. Não que tenha continuado
ruim. Eu aprendi que poderia ser algo bom, se eu soubesse lidar.
— E você soube?
— Sim — assinto. — De ruim, se tornou um dos meus maiores prazeres.
— Interessante.
— Mas eu também tive que lidar com toda a parte ruim. Às vezes as
pessoas nos julgam — eu a olho de novo, que parece prestar bastante atenção
no que falo. — Há quem diga que sou do jeito que sou porque não valho
nada. O que faz elas pensarem assim? Eu nunca fui pego fazendo nada de
indecente para me chamarem de cafajeste. Eu ser bem-humorado não me
torna um filho da puta. Será que nunca pararam para perceber que talvez eu
agir assim seja para não desabar?
— Uma capa?
— De proteção — respiro fundo, voltando a olhar para frente. — É bom,
mas não é fácil.
— Você está precisando de ajuda? — Amber soa cautelosa, então volta
a fazer o barulhinho com os dentes.
— É só que é difícil, sabe? Você tentar agradar as pessoas. Não vale a
pena. Não funciona. O mundo te julga e cai em cima de você sem qualquer
motivo, apenas para te ver morrer.
Eu sinto o toque por cima da minha mão e meu olhar me atrai para o
rosto dela de novo. Ela tem o verde mais lindo do mundo nos olhos.
— Eu quero te ajudar — fala, baixinho. — Do que você precisa?
Dou um sorriso, simplesmente pela dor de saber que nunca poderia ter
Amber. Ela não merece um cara ferrado que nem eu. Não que eu ache meus
filhos culpados. Longe disso. Como já disse, eles são meus maiores presentes
e eu vivo por eles. Mas a questão é que eu não seria louco de exigir isso dela.
Amber merece um cara livre e sem impedimentos. Sem o risco de ser preso a
qualquer momento.
— Eu agradeço, mas você não pode me ajudar.
Ela morde o lábio, então pisca algumas vezes.
— Ahn... Mas — respira fundo —, se serve de consolo, eu não acho
você um cafajeste e nem filho da… Você sabe, é que não posso falar
palavrão.
Solto um riso, assentindo.
Ela sorri, apertando minha mão, e eu falho mais um pouco.
— Sinto muito pelo que quer que tenha acontecido com você. E também
pelo que você tenha que passar por consequência disso — continua. —
Mesmo que… Que não pareça… Eu me preocupo, sabe. Com você.
— É? — ergo uma sobrancelha, surpreendido. Bem, mas a verdade é
que Amber sempre demonstrou se preocupar com todo mundo.
— É — reafirma. — E se você achar que pode compartilhar sua dor em
algum momento, eu me proponho a… Ouvir e fazer algo, se for possível. Te
ajudar.
— Obrigado. Sua vontade de ajudar significa muito para mim, mas acho
que ela só existe porque você não sabe do que se trata.
— Pode ser — ela alisa minha mão e observa o movimento dos dedos.
— Mas o fato de saber que você só é do jeito que é por causa de algo que
aconteceu em sua vida, já é um passo para conhecer mais de você.
— E você quer conhecer mais de mim? — questiono, estendendo a mão
livre e virando o rosto dela para mim.
Amber assente imediatamente.
— Quero muito — afirma, sem hesitar.
— Por quê?
Ela balança a cabeça.
— Porque é um desejo meu. Eu gosto de realizar meus desejos.
Sorrio, então levo o polegar aos lábios dela, acariciando-os. Boa demais
para mim.
— Quero ajudar você a realizar seus desejos, mas não posso — lamento.
— Mas fico feliz que me deu esse dia com você.
Ela assente, abrindo a boca e prendendo meu dedo entre os dentes e
mordendo de levinho.
— Fico feliz que tenha sabido me convencer — murmura, dando um
sorriso.
— Eu também — me inclino para ela, segurando seu queixo. Não é
preciso mais nada. Amber quer o mesmo que eu quando fecha os olhos e
também vem em minha direção, selando nossos lábios.
É tão bom que me enche de pavor.
Capítulo 16
....
....
Desperto e imediatamente percebo que não sei por quanto tempo dormi.
Mas eu dormi, sei disso. Me remexo onde estou, deitada em uma cama
confortável.
Ouço um ruído e me viro para o outro lado, vendo a sombra de Nicholas
se mover enquanto coloca uma jaqueta. Está escuro, mas consigo ver. Estou
tão bem e relaxada, mas quero muito saber o que aconteceu com ele nos
últimos dias.
— Aonde vai? — pergunto, minha voz grave pelo sono.
Ele se vira rapidamente, então passa as mãos no cabelo e caminha até
onde estou, sentando na beirada da cama. Seus dedos rapidamente encontram
meu rosto, me acariciando, e Nicholas se inclina, deixando um beijo em
minha bochecha.
— Preciso sair — responde. — Não achei que você fosse acordar.
— Queria sair escondido, é? — dou um sorriso, mas ele não parece
achar graça, quando seu semblante permanece sério e triste.
— Volte a dormir, ainda é tarde — ele pede e me dá mais um beijo no
rosto. — Nos vemos em breve.
— Não vai demorar, não é?
— Espero que não — suspira. — Não me espere acordada.
Eu assinto e fecho os olhos, fingindo obedecer.
Até parece que vou acreditar nessa ladainha. Ele está saindo de
madrugada pela segunda vez em que passa a noite comigo. Vou descobrir
onde está precisando ir ou eu não me chamo Amber Mackenzie.
Ouço mais alguns ruídos, barulhos e então a porta se fechando. Abro um
só olho e, confirmando que ele já saiu, levanto depressa e espero uns minutos
até reabrir a porta, bem no instante em que Nicholas fecha a da sala principal.
Corro até o centro, onde está o sofá e vejo minhas roupas devidamente
dobradas em cima. Não tenho tempo de pensar no gesto admirável de
organização. Me visto depressa, passando as mãos nos cabelos quando
termino e apanho meu celular de cima da mesa, guardando no bolso e saindo
apressada.
Quando chego ao hall, o concierge imediatamente nota minha presença e
parece um pouco assustado com meu grau de desespero, porque corro até a
mesa de mogno e me debruço sobre ela.
— O Nicholas — falo, depressa. — O senhor viu para que lado ele foi?
O senhor balança a cabeça, meio alienado.
— Ele não disse, só meu pediu para lhe entregar isto quando a senhorita
passasse.
Eu olho para a mão dele, vendo a porcaria de um papel dobrado, mas
não tenho tempo de processar nada. Seguro e guardo no bolso, então saio
depressa, indo para a calçada do outro lado buscar meu carro.
Sei que ele pediu para eu não vir de carro, mas desde quando eu obedeço
estritamente pedidos vindo de homens? Meu pai que o diga.
Saio do meio-fio, manobrando o veículo lentamente, olhando para os
dois lados, aflita por não poder perder ele. Nicholas não está bem, isso eu sei.
Pode ter algo a ver com o pai, já que ele está sem ir trabalhar desde que o viu.
Eu o encontro então, parado na calçada perto do prédio, e no mesmo
instante em que ele dá sinal e um táxi para. Freio no meio da rua larga,
aguardando o automóvel sair na frente. Assim que isso acontece, eu vou
atrás. Discreta, claro. Ele conhece meu carro, se perceber que o estou
seguindo, pode ficar chateado. Não que eu me importe com a chateação dele,
mas apenas quero me manter na minha.
Nicholas não parece o tipo de pessoa que fica triste por qualquer coisa.
Ele pode pensar que sou uma intrometida quando, na verdade, só quero ser
prestativa e ajudar. Não há nada demais nisso. Não estou tentando me
convencer de que o que estou fazendo não é errado, estou apenas
esclarecendo os pontos que me levaram a tomar uma atitude assim. Seguir
um cara pela madrugada.
Não sei bem como, mas consigo estacionar meu carro na garagem e,
desesperadamente, enfio a mão no bolso do short, obtendo o papel que o
concierge me deu. Estou abalada. O que ele terá escrito?
Desdobro o papel com as mãos trêmulas.
Precisei sair por tempo indeterminado, peço desculpas. Você não vai
me
encontrar quando acordar ou quando for trabalhar. Não me espere.
Tem algo
mais importante pra mim do que impressionar o seu pai. Lamento
muito, você
nunca saberá o quanto.
Adeus, amor.
— Ô garota, por que você não está pulando nesse momento? — Gabriel
pergunta. — Você acabou de fechar um grande negócio. Vamos comemorar.
— Eu não fechei nada — bufo. — O cara ficou dando em cima de mim
o tempo inteiro. Ainda me chantageou por seis meses!
Ele ri.
— Bem, não pode culpa-lo. Afinal, você tem os olhos mais lindos do
mundo — fala, rindo de mim, repetindo a frase que o tal Desmond ficou
falando o tempo inteiro.
Está certo, eu não vou mentir, o cara é bonito. Tem lá os seus trinta e
tantos anos, mas é bonito, e é policial. Mas, não, minha mente e coração são
destinados a outro. A ele.
Nicholas. Sei que parece completamente insano de eu admitir isso
quando, na verdade, não sei nada dele há exatos seis meses. É, seis. O dobro
de três, que é a quantidade de filhos que ele tem.
Não vou negar, ter ficado cinco anos sem ele por perto já foi
desgastante. Aí ele voltou, e nós transamos, duas vezes, então ele foi embora.
De novo. Deixando para trás uma notícia catastrófica e também o meu
coração dilacerado. É caótico.
— Vamos lá, se anima — Gabriel insiste. — Você quer um chocolate?
Eu posso ir comprar um.
— Não, eu só quero que você cale a merda da boca.
— Que isso, Amber? — ouço a voz do meu pai e o vejo entrar na minha
e caminhar até minha mesa, sentando na poltrona ao lado da do meu amigo.
— Tá parecendo até a língua afiada da sua mãe. Isso não é jeito de falar com
os outros.
Respiro fundo, simplesmente para não dizer o que não devo.
— Peça desculpas.
— Oi? — indago.
— Peça desculpas ao Dempsey — meu pai repete.
— Fala sério, pai! — rio, incrédula.
— Não estou brincando.
— Que merda — reclamo e olho meu amigo. — Desculpa.
Gabriel abaixa a cabeça para rir.
— Poderia me dar um instante a sós com a minha filha, por gentileza?
— meu pai questiona e ele rapidamente se põe de pé, assentindo, então deixa
minha sala num piscar de olhos. — O que está havendo com você?
— Comigo? — pergunto e ele afirma, seus olhos verdes brilhando pela
luz que entra pelas janelas. — Nada, pai.
Ele balança a cabeça, muito sério.
— Vou perguntar de novo, porque você pode não ter entendido ou eu
perguntei baixo. O que está havendo com você?
— Nada, pai — repito. — Por que o senhor acha que está havendo algo?
— Porque eu não sou cego. E porque sua mãe me disse — um sorrisinho
ameaça surgir nos lábios dele. Claro, minha mãe. Meu pai é incapaz de notar
diferença em alguém.
— Estou ótima.
— Não perguntei como você está, perguntei o que está havendo. E não
tenta me fazer de otário, Amber, eu tenho cinquenta anos e não dez.
Me remexo, incomodada. Pode parecer palhaçada minha, mas ainda
tenho medo quando ele usa esse tom de voz.
— Eu... — apoio as mãos sobre a mesa, incerta de como falar. — Eu
acho que... Posso perguntar uma coisa?
Ele assente, cruzando os braços e me olhando bem sério.
— Eu tenho uma amiga — começo, minhas mãos também começando a
gesticular. — Ela é apaixonada por um cara, sempre foi. Aí ela descobriu que
ele tem três filhos, e o pior é que não contou para ela.
Meu pai estreita os olhos.
— Se ele não contou, como é que ela sabe?
— Ela viu, seguiu ele — respiro fundo. — Mas ela o ama e isso de saber
sobre os filhos acabou com ela. E depois o cara foi embora e ela não o vê
desde muito tempo. O que ela deve fazer?
Ele me encara por uns segundos, então estica as pernas, parecendo
pensativo.
— Primeiro que sua amiga está errada por ter seguido ele, já começo por
aí — aponta para mim. — Segundo, há a possibilidade de ele não ter contado
com medo da reação dela. Você disse que saber sobre os filhos acabou com
ela, pois foi exatamente isso que ele queria evitar.
— Mas pai, ele poderia ter contado! — protesto.
Meu pai estende a mão, me calando.
— Ele poderia, mas ficou com medo. Imagina sua amiga — dá um
risinho, e não entendo por quê —, se ela tivesse três filhos e tivesse que
contar para um cara? Principalmente um que a ama? Não ia ser a melhor das
notícias.
— Não é a mesma coisa, pai.
— Por quê? Por que ele é homem?
— Não! Por que ele escondeu! Poxa, ele disse que a amava depois de
um sexo intenso e faz algo assim? — Calo a boca imediatamente ao perceber
a besteira que falei.
Meu pai inclina a cabeça para o lado, estreitando os olhos, então parece
bem atento.
— Quer dizer... — me apresso em corrigir. — Ela acha que ouviu isso.
Pode ter sido o calor do momento.
— Não seja idiota, Amber — ele ri. — Homem fala qualquer merda
durante o sexo, pode até dizer que ama, mas não depois dele. O que sai
depois do alívio é o que vale. Se ele disse que ama, ele ama.
— Como saber se não foi ilusão?
— Só se sua amiga for esquizofrênica e ouvir coisas. Ela é?
— Não — dou um sorriso. — O que ela deve fazer?
— Sério que você está me perguntando isso? Tá óbvio, Amber. Ir atrás
do cara ou ligar, e pedir uma explicação. Ele provavelmente achou que
perdeu qualquer chance com ela.
Abaixo a cabeça, concordando. Ele deve achar mesmo.
— Mas pai — o olho novamente. — São três crianças pequenas. Ela
teria que ficar com os filhos dele também?
— Bem, é uma questão muito óbvia. Se ela quer o cara, ela também quer
a bagagem que vem com ele.
Solto um suspiro.
— Ela não está preparada para ser mãe — confesso.
— Sua mãe também não estava e teve logo dois — ele ri. — Levei
muito tapa e ouvi muitos gritos, e recebi pragas e xingamentos, ameaça de
divórcio e tudo de ruim que você possa imaginar — seu sorriso aumenta. —
Mas isso tudo foi maravilhoso. Na época, parecia um pouco desgastante, e
foi. Mas o amor é isso, Amber. Amar não é um sentimento, e sim uma
escolha. Eu escolho amar sua mãe todo dia porque eu quero, e não porque ela
merece ou não. Às vezes acontecem coisas ruins, péssimas, situações... Mas,
vida que segue, tudo se supera. Sua mãe ficou um pouco traumatizada por ter
tido dois filhos crescendo de uma vez, mas eu não. Por mim teria tido mais
dois. Mas ela sempre ameaça me capar quando comento isso.
Dou risada, sendo acompanhada pelo sorriso dele.
— Falo sério, filha — continua. — Se sua amiga ama o cara, devia
pensar nele como pai, que pelo visto cuida das crianças sozinho e não deve
ser nenhum pouco fácil para ele. Vai que é viúvo e ainda sofre por ter perdido
a esposa, então resolve abrir o coração para outra mulher e ela o deixa... Não
parece fácil.
Eu assinto.
— Obrigada, pai. Vou falar com ela.
Ele ri.
— Isso, fala com ela — levanta, ajeitando a gravata. — Ah, eu só queria
dizer que eu dei meu consentimento ao Desmond para te levar para jantar.
— É o quê? — me levanto, estagnada.
Meu pai sorri.
— Ele me disse que você estava com medo de me pedir. Não se
preocupe, ele vai manter a palavra dele ou é um homem morto, você sabe.
Balanço a cabeça.
— Mas eu não... — tento explicar, mas ele ergue a mão, me fazendo
calar a boca.
— Só não... — gesticula. — Não quero ser avô logo, por favor. Tô
muito novo para isso.
— Pai, eu não...
Ele tampa os ouvidos e sai andando, abrindo a porta e deixando minha
sala rapidamente.
Maldito Desmond que não desiste. Preciso cancelar isso e dar um jeito
de entrar em contato com Nicholas, que sumiu.
Capítulo 23
— Papai, por que você tá triste? — Edward pergunta. Eu olho para ele em
meu colo, enquanto assistimos algum desenho muito idiota sobre carros
animados em 3D.
— Não estou triste, filho. Só com sono.
— Eu também acho que está triste — Lilian concorda, no sofá ao outro
lado da sala.
Eu me viro para ela, pedindo em silêncio que não dê corda a ele.
Christian está dormindo ao meu lado e Emily no colo da babá. Seria um
momento perfeito, se não fosse por tudo que aconteceu.
No dia seguinte ao que meu pai veio me visitar, eu preferi sair de perto
dele novamente. Não por nada, apenas porque suspeitei que alguém estava
começando a me seguir. Foi quase um extinto. Se não estava, ia começar.
Porque Neil Morrison não sossega até ter o que quer. Então não voltei para a
casa das crianças, apenas liguei para Lilian e pedi para ela arrumar as coisas
deles. Foi completamente uma atitude de ímpeto, mas eu precisava protege-
los. É o meu dever.
Levei dois dias providenciando tudo. Desde a casa até os documentos, o
que me levou ao cansaço extremo. É complicado essa parte. Muito
complicado.
E tinha ela. A minha Amber. A parte mais difícil de tudo. Ir para longe
dela de novo. Me quebrou só de pensar, e então ela me viu. Com meus filhos.
E soube da pior forma possível. Doeu vê-la correr de mim, assustada. Doeu
vê-los me perguntando se era a mãe deles. Doeu demais.
Nunca foi minha intenção esconder meus filhos de ninguém, mas é
preciso. É preciso para mim e para eles, nossa segurança. Mas mais para eles.
Eu teria ido atrás da Amber, eu teria contado tudo a ela, teria explicado a
situação, mas não tive tempo. Eu tinha que sair o mais rápido possível de
perto do meu pai. Ele não me engana com o papo de bom moço.
Além do mais, mesmo que eu explicasse a ela, não iria ter como. Amber
jamais ia me querer.
— Você pode ir dormir, eu fico com eles — Lilian diz.
Balanço a cabeça, em negação.
Eles são tudo que eu tenho agora.
— Estou bem aqui — afirmo.
— Papai — Edward me chama, insistindo. — Não gosto de ver você
triste.
— Não estou triste.
— É por minha culpa? Por que eu quebrei o prato?
— Não — dou um riso. — Foi um acidente, filho. Acidentes acontecem.
— Como o da mamãe?
— É — respondo depois de uns segundos, pego pela surpresa e
decepção. — Como o da mamãe.
— Não gosto de acidentes — ele afirma, pensativo.
— Eu também não gosto.
— São maus, não são, pai?
— São.
Edward se ajeita em meu colo. Meu garotinho mais velho de sete anos.
É a cópia exata do meu pai.
— Não gosto do que é mau — fala. — Eu gosto do que é bom, igual
você, o Chris, a Emily e a Lilian.
— É, eu também — dou um sorriso.
Ele brilha os olhos de repente.
— Pai, a Lilian poderia ser nossa mãe. Você disse que gosta dela e ela é
boa. Ela seria uma boa mãe, não seria?
Engulo em seco, desviando para a babá que sorri, parecendo feliz. Ela é
tudo para nós também. Me ajudou sempre. E eu a contratei pelo acaso, mas
ela se apegou tanto a eles que não quis mais nos deixar. Lilian tem seus
cinquenta e poucos anos e foi uma mãe para mim também quando acatei a
realidade e decisão de ser pai. Ela é uma ótima mãe.
— Seria, mas não somos apaixonados — respondo e ouço a risada dela.
Edward avalia minha resposta, ainda pensativo.
— Então você tem que se apaixonar, pai. Aí vamos ter uma mãe —
conclui.
Engulo em seco. Não é tão simples, tenho vontade de dizer. Mas não
posso. Sei que é fundamental uma figura materna no crescimento das
crianças. Agradeço a Deus por ter Lilian, mas eu sei que eles queriam alguém
que pudessem chamar de mãe. Que quisesse ser chamada de mãe. Que os
amasse. E sei que isto é impossível. Que mulher quer arcar com a
responsabilidade de ser mãe de três crianças que não são suas?
Respiro fundo, então tento sorrir.
— Sim, filho. É verdade. Eu tenho que me apaixonar — respondo,
evasivo.
Ele assente.
— É uma boa ideia — avalia. — Nós vamos ter uma mãe e você uma
companheira.
— Companheira? — ergo uma sobrancelha, surpreso pelo termo.
— Sim, Lilian me contou que se você casar, você terá uma companheira.
Olho para a babá, que apenas sorri.
Ela já havia me dito algo sobre. Insiste para que, se eu achar uma mulher
que aceite as crianças, mesmo que eu não a ame, que eu me case. Pelo bem
deles.
— É — volto a olhar para ele. — Uma companheira.
— Nós oramos para que você encontre uma companheira toda noite.
Meus olhos se abrem um pouco mais.
— Vocês o quê?
Edward cruza as mãozinhas e entrelaça os dedos.
— A Lilian nos ensinou a orar antes de dormir e comer. Nós
agradecemos pelo dia, por você e nossa vida. E pedimos sua companheira —
explica. — Toda noite.
Tento não demonstrar minha real reação, então só o puxo para meus
braços e ponho meu queixo no alto da sua cabeça. Deus, isso é difícil.
— Obrigado, filho.
— De nada, papai — ele me abraça. Muito difícil.
Não é só por eles quererem uma mãe, eles precisam. Mas a ideia de ter
alguém junto comigo, por eles, mas que não me instiga nenhum sentimento,
além de gratidão, não me soa tão bem.
Não é egoísmo e sei que parece até injusto, mas não me agrada. Se eu
quero alguém comigo, é para somar comigo, e não por mim. Quero alguém
que eu goste e queira estar, e sinta prazer em ver perto dos meus filhos. Muito
idiota eu.
É claro que minha mente só projeta uma pessoa. Ela. Amber. Não há
cena mais linda de imaginar do que ela brincando e sorrindo com eles,
sentindo vontade e prazer em fazer isso. Simplesmente porque quer.
Mas é claro que é só um sonho. No entanto, não me importo que seja.
Sonhar não custa nada e é a melhor coisa a se fazer agora, já que a realidade
não parece nada boa.
Capítulo 24
Estou deitado em minha cama, sem saber como entender minha vida. O
que vou fazer agora? Eu preciso voltar a trabalhar. Preciso juntar mais
dinheiro ou meus filhos não terão um futuro.
Sento e ajeito os travesseiros, então pego meu notebook na cabeceira da
cama e ligo. Enviar currículos é o que me resta. Eu tenho uma boa
experiência, posso ser contratado rapidamente. Espero isso pelo menos.
Abro a página do navegador e do e-mail, colocando o usuário e a senha,
então aguardo entrar. Não demora e estou passeando os olhos por uma lista
de e-mails não lidos.
Um chama minha atenção quando vejo. O assunto escrito em caixa alta
para isso mesmo.
LEIA POR FAVOR NICHOLAS SOU EU!!!!!!!!!
Estreito os olhos para o título estranho, perturbado por tantas letras em
negrito, então clico para abrir.
___________________________________________
amberturn@mackenziecorporation.com
Amber Mackenzie
2 dias atrás, 8:00pm
Oi, Nicholas
Obrigada por ler, primeiramente. Segundamente
VOCÊ NÃO PODE SUMIR ASSIM, SEU IDIOTA!!!!!!!
Por favor, eu preciso de notícias suas.
Precisamos conversar.
Me responde, por favor!
Tô preocupada
Beijo
Me responde, não esquece
____________________________________________
Não crendo no que estou lendo, eu leio e releio, várias e várias vezes, só
para ter certeza que não estou delirando ou imaginando coisas.
Amber está procurando saber sobre mim? É mesmo sério? Caramba.
Mesmo depois dos meus filhos? Mesmo depois de fugir assustada?
Eu respiro fundo, controlando – ou tentando – meu coração acelerado,
então clico em responder. Meus dedos estão trêmulos de emoção. Já fazem
dois dias que ela me enviou. Ela quer saber de mim.
____________________________________________
nicholasm@mackenziecorporation.com
Nicholas Morrison
Quarta-feira, 10:00pm
Ei, amor. Que bom ver o seu nome, já me encho de felicidade.
Desculpa ter saído, eu disse a você que era preciso. Lamento muito por
isso.
Como você está?
____________________________________________
Sei que não respondi as perguntas dela, mas quero saber como ela está.
Quero vê-la. Quero Amber para mim. Babaca demais eu fui ao pensar que só
seria prazer carnal que ela me daria. Também. Mas não só isso. Eu a quero.
O que estou fazendo perdido desse jeito? Porra. Que difícil.
A resposta do meu e-mail chega quase imediatamente, o que me
surpreende. Estará ela em frente à tela, esperando?
____________________________________________
amberturn@mackenziecorporation.com
Amber Mackenzie
Quarta-feira, 10:02pm
ME MANDA O SEU NÚMERO!!!! PRECISAMOS
CONVERSAR!!!!!!!!!
AGORA!!!!!!! RÁPIDO!!!!!!!
____________________________________________
Estou deitado, olhando para o teto branco, enquanto o vento entra pelo
quarto, quase levando as cortinas junto. Me sinto estranho e com raiva ao
mesmo tempo. E o pior de tudo é que não consigo explicar o porquê. Foi
simplesmente estranho o fim do dia.
Amber deve já estar dormindo a essa hora, com certeza. Já são três da
manhã e eu simplesmente não consigo dormir. Vários pensamentos vagueiam
por minha mente. Ela veio, ok. Em busca de explicações, ao que parece. Mas,
será que vai ficar? Não. Definitivamente não. Ela tem uma vida toda longe
daqui. É uma mulher poderosa, com um futuro incrível à frente. Não poderia
eu, sequer, me permitir imaginar que Amber ficaria comigo e meus filhos,
abrindo mão de tudo que tem.
Não seria nem justo. Sei que não sou culpado também pelo rumo que
minha vida tomou, mas infelizmente a vida tem dessas. Às vezes a
consequência do pecado de alguém vem diretamente a você, e fazer o quê,
tem que arcar. Nunca vou me arrepender pelo que fiz, apenas lamento por
não poder ter a mulher que sou apaixonado junto comigo. Porque sim, é
claro, sou loucamente apaixonado por ela. Minha deusa do sol.
Foi tão incrível e prazeroso vê-la brincar de boneca com a Emily. Minha
menininha introvertida até gargalhou, coisa que não é do feitio dela. Ela
sempre foi mais quietinha, mesmo com a Lilian. Mas a Amber a fez rir, a
minha Amber. Ela seria uma mãe maravilhosa, sem dúvidas. Eu gostaria que
ela fosse a mãe deles. Gostaria muito.
Solto um suspiro cansado, me condenando por ter permitido que ela
viesse até mim. Pra quê? Só para me fazer ficar pior e colocar uma falsa
esperança nas crianças. Porque é bem nítido que eles se simpatizaram com
ela. Eles também. Como se fosse possível alguém conhecer Amber e não se
apaixonar.
Passo as mãos no rosto e me remexo na cama, então minha atenção é
totalmente atraída para o barulho da porta, que se abre. Eu a vejo. Amber.
Me apoio nos cotovelos, desentendido e surpreso.
Ela veio ao meu quarto.
Observo enquanto ela tranca a porta e se vira para mim, vindo com
passos lentos até a cama. Só então me olha. Mas é um olhar enigmático, que
não sei como decifrar. Penso em dizer algo, mas não consigo.
Ela se coloca de joelhos ao meu lado na cama e senta sobre os
calcanhares, desviando o olhar para baixo, e me fazendo ter um pequeno
susto quando puxa o edredom de cima de mim.
Pronto. Não tenho mesmo mais o que falar.
Amber entrelaça os dedos no elástico do meu short e puxa para baixo,
liberando meu pau, que imediatamente ela agarra com uma mão e se inclina,
colocando quase tudo na boca e soltando um gemido delicioso para caramba.
— Ah, porra! — sibilo, meus quadris se erguendo de uma forma
automática e minha mão indo para seus cabelos.
O que significa isso?
Ela me suga para dentro, quase até o limite, então se afasta, lambendo
tudo que encontra e me deixando uma mordida na coxa. Foi uma mordida.
Quase muito forte, mas que só serve para me deixar mais ligado.
Solto um grunhido, me esforçando a olhá—la, querendo
desesperadamente perguntar o que significa isso. Mas, sem chance.
Principalmente quando ela lambe minha glande e aperta meu pau ao mesmo
tempo, com as unhas enfiadas na minha coxa. Ela está louca.
Outro gemido alto vindo dela, que me coloca quase inteiro de novo, me
levando até o fundo da garganta e remexendo a língua por baixo da minha
ereção ao mesmo tempo.
Jogo a cabeça para trás, incapaz de conter um uivo de prazer. Porra,
bom demais.
Amber se afasta, soltando outro gemido, e sua mão me agarra de novo,
se movimentando de forma frenética para cima e para baixo, me apertando
com força.
Eu vou gozar. Forte. E não vai demorar.
Minha garganta forma uns sons que eu sou incapaz de controlar. Estou
alucinado. Meu pau pulsa loucamente e eu sinto a pressão por todo corpo.
Sou colocado dentro da boca dela de novo, que agora me agarra com os
lábios e faz o vaivém com eles, ao mesmo tempo que sua mão aperta minhas
bolas com força e eu sou incapaz de pensar ou me conter.
Solto um grunhido gradativo enquanto sinto os jatos de esperma saírem
do meu pau e irem diretamente para a boca dela.
Amber geme loucamente, ainda persistindo com os lábios envolta de
mim, me drenando, até a última gota, que parece quase não chegar. Porra.
Literalmente.
Caramba, isso foi forte.
Ela circula a língua na minha glande e chupa com força, me fazendo
tremer, então seguro sua cabeça, ainda desnorteado. Mas ela não para,
continua me lambendo, arranhando minhas coxas e barriga, enquanto geme,
me tocando desesperada.
Estou desentendido.
Eu me sento, incapaz de decifrar, mas muito louco para pensar.
Amber protesta quando seguro seus braços e a faço levantar, então a viro
e faço com que caia deitada na cama. Só então ela me olha, fazendo meu
corpo arder de desejo quando encontro seus olhos, que costumam ser claros,
mais escuros do que a noite
Me coloco por sobre ela e puxo a alça da camisola, libertando um seio
redondinho e gostoso para minha boca. Imediatamente ela grita quando o
sugo o biquinho eriçado, me deixando mais louco ainda quando seus dedos se
enterram por entre meus cabelos e ela os puxa com força.
Aperto o outro com a mão e circulo o mamilo durinho por cima da seda
suave. Tão suave quanto ela. Amber. Minha. Claro que não. Ela não é minha.
Desço a mão pela barriga dela até achar a borda da camisola e passar por
dentro, sentindo a verdadeira seda, que é a pele dela. Amber se contorce
todinha, puxando meus cabelos e gemendo.
Dou um sorriso e deixo uma mordidinha na carne macia de seu seio,
somente para rastejar para baixo, louco para me perder nela.
Em outra circunstância, eu torturaria ela um pouco. Mas só em outra
circunstância.
Eu abro suas pernas, o tecido fino subindo junto e revelando uma
calcinha branca, que me faz sorrir. Não por nada, só porque dá para ver que
ela está molhada. E eu nem fiz nada.
Abaixo a cabeça, lambendo a coxa até chegar à calcinha. Solto um
gemido simplesmente por sentir o cheiro dela. É uma delícia.
Puxo o tecido para o lado e logo coloco a boca sobre ela, sugando tudo
que posso, o gosto dela me atingindo imediatamente como um vício, algo que
eu precise sentir todos os dias, inegavelmente.
Amber grita, puxando meus cabelos e se contorcendo na cama. Afasto a
boca, somente para passar minha língua de cima a baixo, nela todinha,
abrindo os lábios menores para conseguir estocar com minha língua dentro
dela.
Ela se contorce, toda trêmula, me sugando para dentro, seu gosto e
cheiro me deixando pirado. Meu pau está pronto de novo, duro que nem
pedra.
Volto a lamber, concentrando a atenção no clitóris que está implorando
atenção. Amber grita, seus quadris se elevando para minha boca, me pedindo
desesperadamente mais. Eu coloco dois dedos dentro dela, um grunhido
escapando de mim por sentir seu calor maravilhoso, e o quanto ela me deseja.
A mim. Eu sei. Ao menos, quero saber estar certo.
Estoco com força, enquanto brinco com o montinho rijo, lambendo,
chupando e sugando.
Ela rebola na minha boca, me incentivando a ir mais rápido, então eu
sinto. Sinto tudo. Ela se estreitando por dentro, ficando mais molhada e
receptiva, me agarrando, seus dedos puxando meu cabelo, seu corpo
arqueando e ela me chamando. A mim. Só a mim.
Observo tudo, atento, cada detalhe. Quero lembrar para sempre o que é
ter Amber entregue.
— Meu Deus — ela tampa o rosto com os mãos e seu corpo dá uma
tremida quando volto a mexer os dedos dentro dela, os músculos internos
estreitos e em ondas, me agraciando por saber que eu proporcionei isso a ela.
Só eu.
Amber senta de repente, me surpreendendo, e me empurra pelos ombros,
se colocando por cima de mim. Mal tenho tempo de processar quando ela me
encaixa dentro de si e cobre meu pau com seu calor e molhado fenomenal.
— Ah, minha nossa! — ela grita, as mãos espalmando no meu peito.
Então se ergue com o apoio com joelhos, começando a subir e descer,
rebolar, remexer, gritar e me arranhar. Não há sequência. É só ela. Louca.
Louca de tesão por mim.
Agarro seus quadris, um gesto para confirmar se é real, se está
acontecendo, mas Amber agarra minhas mãos e as afasta, me lançando um
olhar mortal. Então eu a deixo no comando, fazer o que quiser, como quiser,
porque ela só está provando o inegável. Eu sou dela. Completamente. E ela
pode o que quiser de mim.
Ela se inclina para trás, apoiando as mãos no colchão e os pés também,
me dando uma visão enlouquecidamente deliciosa dos nossos corpos
conectados, então começa a se mexer, ligando e religando nós dois, meu pau
fora e imediatamente dentro do corpo maravilhoso de novo.
Cerro os punhos, me negando a fechar os olhos. Eu preciso ver isso.
Amber se entregando tão obviamente para mim. Claro que é.
Meus músculos enrijecem e meu pau começa a endurecer ainda mais. Aí
vem de novo.
— Nicholas! — ela grita, então volta à posição anterior, colidindo contra
meu corpo em sua subida e descida, de forma frenética.
Suas unhas arranham meu peito com força, e ela senta com tudo,
rebolando no meu pau e soltando um grito alto. Eu sinto em mim mesmo
quando seu corpo me puxa para dentro, pressionando minha ereção e me
fazendo ter meu próprio orgasmo junto com ela.
Meus olhos se fecham inevitavelmente, meu pau sendo torturado pelo
alívio.
Caramba!
Amber cai em meu peito, com um grito esganiçado e a respiração
ofegante, quase me fazendo sentir dor, mas estou anestesiado por inteiro e
acabado por ter tido isso. Seja lá o que significou.
Consigo erguer os braços e abraça-la, enquanto sinto nossos corpos em
sincronia por dentro. É maravilhoso. Amber selvagem, eu poderia me
acostumar facilmente com isso todos os dias. Estamos ambos suados pela
velocidade e esforço.
Então eu tomo coragem para falar. Eu preciso. Não sei o que significa
isso.
— O que foi isso? — questiono.
— Sexo selvagem da madrugada — ela sussurra, quase rindo.
Dou um sorriso, subindo uma mão para entre os fios negros e
acariciando.
Amber passa o rosto contra meu peito e se remexe sobre mim, soltando
um suspiro. Ficamos em silêncio. Acho que nada precisa ser dito. Na
verdade, precisa, mas não quero ouvir agora.
Deixo que ela fique em cima de mim, pelo tempo que quiser, até porque
eu também poderia facilmente querer morar dentro dela. Essa sensação é
incrível.
— Por que você veio? — A pergunta sai antes que eu perceba.
Sinto sua respiração estabilizada e imagino que tenha dormido, então
fecho meus próprios olhos, querendo dormir também. Porque ela está aqui,
comigo, em cima de mim, me querendo. Pelo menos hoje. Se eu tenho isso,
hoje, tudo bem então. Uma noite para relembrar dela.
— Vim porque te amo.
Eu ouvi, e não foi um sonho.
Capítulo 30
Dou um suspiro, meus olhos se esforçando para abrir. Eles estão sozinhos
nessa, porque eu quero mesmo é continuar dormindo. Eu estou ouvindo esse
barulho constante e sei o que é. Chuva. Muita chuva.
— Vamos amor, acorda.
Isto eu ouço, somado ao calor em meu rosto, então solto um gemido,
querendo imediatamente acordar.
— Ei, bom dia. — Nicholas me cumprimenta assim que consigo
visualizá—lo. Não é um sonho. Ah, não é. Ele está mesmo ao meu lado,
acariciando meu rosto, seu olhar pairando sobre o meu enquanto sorri
incrivelmente para mim. — Dorminhoca.
Tento falar alguma coisa, mas nada sai.
— Você quer passar o dia na cama? — ele pergunta, então inclina a
cabeça e passa o nariz no meu.
— Só se você for ficar comigo — murmuro, me aconchegando em seu
peito firme e quente. Ah, é. Eu poderia facilmente acostumar em acordar
assim todas as manhãs.
— Eu não posso — ele ri e sinto seus dedos se perderem por entre meus
cabelos. — Mas você sim. Quer?
— Hmm. — Isto não é resposta, eu sei, mas quero Nicholas comigo,
bem abraçado. — Você está com raiva de mim?
Imediatamente eu censuro minha boca por pronunciar meu pensamento
em forma de pergunta.
Ele se remexe, então segura meu queixo, levantando meu rosto para que
eu possa olhá-lo.
— Por que eu estaria com raiva de você? — questiona.
— Eu não sei — admito. — Apenas pareceu.
E pareceu mesmo. Me senti péssima.
— Não estou com raiva de você, Amber. É só que… — ele balança a
cabeça. — É estranho, você entende? Minha situação, que agora você sabe, e
tudo isso. Nem eu estou sabendo assimilar direito.
— Você tem medo?
— Eu tenho. Muito medo.
— Do quê? — me aproximo bem dele de novo, inspirando seu cheiro e
me sentindo relaxada de imediato.
— Do futuro — ele suspira, sua mãos me abraçando.
— Bem, você não tem que ter medo, Nicholas. Você fez algo bom. Eu
estarei te apoiando, se precisar.
Eu vim para isso. Mas não sei se posso contar a ele. Talvez ele ria. Sim,
porque não é mesmo tão simples eu chegar e dizer que estou disposta a ser
algo a mais para ele e os filhos. É quase engraçado mesmo.
— Você quer me apoiar? — pergunta, sua voz abafada contra meus
cabelos.
— Quero.
Sinto sua respiração se tornar pesada e levanto a cabeça para olhá—lo
novamente.
— Eu queria você comigo — ele fala, assim que nossos olhares se
encontram. — Você entende o que quero dizer? Junto comigo. Bem pra mim.
— Eu quero ficar com você — confesso. — Bem para você.
Nicholas dá um sorriso doce, sua mão erguendo até meu rosto. Ele
acaricia meu lábio inferior com o polegar e parece imediatamente tenso.
— O que aconteceu com você à noite?
Desvio o olhar, imediatamente envergonhada pela minha total falta de
decoro. Eu o ataquei praticamente. Mas, confesso, foi uma delícia. Uma total
delícia.
— Desculpa, eu esqueci o vibrador em casa — respondo, entre um
suspiro.
— O quê? — Nicholas parece imediatamente horrorizado.
Eu o olho, também alarmada pelo que acabei de dizer. Ninguém sabia da
existência do Bilu. Boca descontrolada.
— Ahn, eu quis dizer… — me apresso em consertar a situação. — Quis
dizer que estava um pouco…
— Um pouco? Você estava louca. E que história é essa de vibrador?
Ergo as sobrancelhas, surpresa pelo tom alterado dele.
— Uma mulher pode ter seu amigo — esclareço.
— Você — ele enfatiza, apontando para mim — não precisa ter.
Enquanto eu estiver por perto, você não precisa disso.
— Tá bom — concordo, despreocupada e satisfeita. Não me importo em
ficar sem o Bilu se eu tiver o Master Nick, que é infinitamente melhor.
— Que sorriso é esse? — questiona e eu me obrigo a parar de sorrir.
— Nada — dou um riso e me sento, segurando o lençol no corpo. Ele
faz uma careta e puxa o pano de mim, me fazendo dar um pequeno grito.
— O que você está tentando em tampar essas beldades dos meus olhos?
— pergunta, sentando também.
Eu jogo os cabelos para trás do ombros e abro um sorriso.
— É o costume.
— Costume? — ele ergue uma sobrancelha.
Merda. Não é exatamente bom lembrar hábitos de transas costumeiras
com o homem que se é apaixonada. Com Nicholas é diferente. Eu não preciso
correr para o banheiro e tomar banho o mais rápido que conseguir para tirá—
lo do meu corpo, porque eu adoro a sensação de tê—lo em mim. Dentro de
mim.
— Costume esse de não dormir pelada — completo.
Ele estreita os olhos, desconfiado, mas assente enquanto seu olhar desce
para os meus seios expostos.
— Gosta do que vê? — pergunto, controlando um riso.
Nicholas imediatamente afirma, abrindo um sorriso inigualável.
— Ah, sim. Você pode apostar com toda a certeza do mundo que eu
adoro o que estou vendo.
— Também gosto do que vejo.
Ele volta a me olhar.
— E o que você vê? — pergunta.
— Além de um homem bonito, um pai maravilhoso e uma pessoa
incrível, que é capaz de pensar em outros além de si próprio. Também vejo
um amante quente e delicioso, cheio de qualidades que o tornam mais
admirável ainda.
De onde saiu isso?
Nicholas solta um gemido, seu corpanzil se erguendo em minha direção,
até ele passar o braço por trás da minha cintura e me incitar a deitar, se
colocando imediatamente por cima de mim.
— É isso que você vê? — pergunta, tirando os cabelos do meu rosto.
— Uhum — eu afirmo. — É tudo isso.
Ele se inclina, imediatamente atacando meus lábios com os seus, em um
beijo quente e cheio de carinho. É carinho, é o Nicholas e eu estou
apaixonada. Bom demais.
Ergo as mãos, levando-as para seus cabelos e me deliciando no som que
ele emite. Ele puxa o edredom, jogando-o para o lado e fazendo nossos
corpos se tocarem e sentirem. Sua mão vagueia por mim inteira, não parando
em nenhum lugar, me instigando e me acendendo.
— Você está sendo tão boa pra mim — ele agarra meu seio, apertando e
falando contra minha boca. — Eu quero você comigo.
— Eu quero estar com você.
— Não só agora. Eu quero você.
— Eu sei, não só agora — seguro seu rosto com as duas mãos, olhando
—o nos olhos. — Eu quero estar com você — repito.
— Conosco — ele suspira. — Se você me quer, você quer as crianças.
— Elas também. Vocês todos. Ao menos tentar. Quero arriscar.
— Você quer? — Nicholas sussurra e coloca a cabeça em meu pescoço.
— Você quer nós todos?
— Sim, Nicholas. Eu quero todos vocês.
Ele se remexe, então acaricio suas costas, olhando o teto branco,
imaginando o futuro que me aguarda. Nicholas e três crianças. Três filhos.
Que não vão ser meus, mas serão ao mesmo tempo. É tão conflitante e
desesperador. Estou com medo, confesso.
Nunca na minha vida imaginei que Nicholas e eu estaríamos tão
próximos, mesmo depois de tanto tempo como quando ele foi embora. E em
pensar que naquela época ele já era sofrido e tinha tudo isso para lidar. E eu
era tão egoísta e arrogante com ele, simplesmente por ser uma covarde e não
admitir o que sentia.
— Case comigo.
Me remexo, achando que talvez eu tenha ouvido errado. Ou delirado.
Nicholas levanta a cabeça e eu vejo seus olhos marejados, me fazendo
ficar imediatamente preocupada e receosa.
— Seja minha mulher. Só minha — diz. — Se você nos quer, me quer,
quero que seja de verdade. Casa comigo, amor.
Estou imediatamente com os olhos esbugalhados, questionando o que
houve na atmosfera. Estou sonhando?
Olho para os lados, aflita e nervosa.
Me casar? Com Nicholas? Um casamento? Ser esposa? Minha nossa.
Um silêncio pesado paira no quarto, então volto a olhá—lo, que agora
prende o lábio inferior entre os dentes, parecendo agoniado.
— Desculpe — fala. — Eu não deveria ter dito isso. Eu quis demais.
Des...
— Eu aceito — o interrompo.
Ele para de falar, sua boca abrindo um pouco mais, seus olhos me
estudando. Então um sorrisinho surge.
— Você aceita?
— Aceito — confirmo. — E quero.
Nicholas imediatamente começa a rir e observo lágrimas caírem dos
seus olhos. São lágrimas. Ele está chorando e rindo? Que estranho.
— Meu Deus, Amber — ele me abraça, sua cabeça indo novamente para
meu pescoço e eu sinto o molhado das lágrimas. — Você acabou de fazer um
homem o mais feliz da Terra.
Eu dou um sorriso, o abraçando pelo pescoço e enroscando minhas
pernas em sua cintura.
Tudo bem. Eu disse sim a ele. Vamos nos casar.
O que vem agora?
Capítulo 31
....
— Você está bem? Desculpe pelo meu pai — me apresso em dizer para
Nicholas, que agora está massageando o próprio pescoço. — Eu não sabia
que ele reagiria assim.
— Nem eu — ele tosse.
Aliso suas costas, desesperada por fazer com que se sinta melhor. Meu
pai é louco e agora eu já não estou tão certa de que dizer sim ao Nicholas me
fez bem, ou até a ele mesmo.
— Ele só está um pouco irritado — explico.
Ele me olha, muito triste aparentemente, o que me corta o coração.
— Eu não me importo nenhum pouco com o que seu pai faça comigo,
desde que você fique comigo. É só você que me interessa.
— Não é muito diferente, Nicholas. É como você e seus filhos. Se eu
quero você, quero eles. Acontece a mesma coisa no meu caso. Se você me
quer, quer meu pai também. Eu devia ter analisado isso.
Ele faz uma careta.
— Eu não quero seu pai. Ele é louco.
Eu concordo.
— Ele é, mas casamento é isso, levar a família de ambos juntos também.
Eu não sei se ele vai reagir bem a longo prazo.
— O que você quer dizer com isso? — pergunta.
— Nada — pareço apreensiva, e estou. — Apenas que eu não sei como
lidar com meu pai com relação a isso. Olha isso, ele te machucou. Ainda tem
o Luke.
— O que seu irmão tem a ver com a gente?
— Tudo — eu o olho. — Vocês tem raiva um do outro, mas eu sou
incapaz de negligenciar o querer da minha família mesmo te amando.
— Não tô entendendo porra nenhuma, Amber — ele grunhe. — Onde
você quer chegar?
Balanço a cabeça, aflita.
— Eu não sei — levo as mãos ao rosto. — Meu pai me preocupa, ele
não é violento e te machucou. O Luke pode fazer o mesmo.
— Eu não estou machucado — ele puxa minha mão do rosto e segura,
seus olhos claros perfurando os meus. — O seu pai só reagiu por impulso,
não foi por maldade. Isso não precisa afetar a gente.
— Mas afetou — eu começo a parecer desesperada. — Eu estou
preocupada agora.
— Você está tentando arrumar desculpas, é isso? Desculpas para reformular
sua resposta? Se for, pode falar de uma vez, eu não gosto de enrolação. Não
quero que fique comigo por pressão, pena ou algo assim.
— Não é isso, eu te quero, e quero as crianças, mas também quero o
apoio da minha família nisso tudo, nessa decisão.
Nicholas suspira, então leva as mãos ao rosto, parecendo cansado.
— Olha, Amber, sei que o meu pedido foi meio inusitado, mas eu fiz de
coração, fiz porque realmente é a minha vontade — ele me olha. — Eu quero
você para mim e, se isso se tornar real, eu farei todo o esforço do mundo,
todos os dias, para ser quem você precisa ao seu lado. Não estou te
prometendo uma história de final feliz para sempre, porque isso não existe,
mas prometo me esforçar para ser um marido digno de você. Não vai ser
fácil, mas pode dar certo. Podemos fazer dar certo. Então, se você quis dizer
sim, de verdade, confia em mim e me deixa ser seu.
Eu estou imediatamente fragilizada, enquanto encaro o olhar claro e
brilhante à minha frente, impossibilitada de dizer não. Porque eu quero ficar
com ele.
— Eu já disse que sim, Nicholas. E não falei da boca para fora —
explico. — Apenas não gostei da forma como meu pai lidou com isso.
— Seu pai está abalado e surpreso pela notícia, eu entendo ele, mas você
não pode deixar que isso afete a gente. Você não vai casar com ele, e sim
comigo. E já tem idade suficiente para tomar as próprias decisões sozinha.
— Já tomei minha decisão, vou ficar com você, mas eu não gostei de ele
ter te machucado. Ele nem é violento.
— Eu te expliquei que não foi por mal, amor. Ele só ficou abalado.
Nicholas agarra minhas mãos e sou instigada a olhá-lo bem próximo de
mim, parecendo desesperado por me fazer enxergar algo.
— Você está com medo? — pergunta. — É isso?
— Sim — admito, em um suspiro. — Tenho medo de tudo. De não ser
boa para você como uma esposa, boa para seus filhos como uma mãe ou boa
de qualquer forma. Eu não sei como vou lidar com isso. Quer dizer, você
ainda nem contou a eles. Não sei o que pensar.
— Um passo de cada vez, meu amor — ele segura meu queixo. — Você
está se precipitando e isso não é nada bom. Vamos ir devagar, com passinhos
de bebê. Você não precisa ter medo. Eu estou e sempre vou estar com você,
para o que tiver que acontecer. E com relação ao seu pai, não foi nada para
mim, sério mesmo. No futuro, nós vamos lembrar disso e rir muito, mesmo
que no momento eu esteja absolutamente louco de raiva dele.
Eu o encaro, abrindo um sorriso inevitável. Não sei como ele consegue,
porque Nicholas sempre foi muito paciente, isto é inquestionável. Sempre
que eu estava uma pilha de nervos, ele estava na maior calmaria, sorrindo
despreocupado. E olha que ele tinha muitos problemas, como fiquei sabendo
agora.
— O que foi? — ele pergunta, atraindo meu olhar.
— Como assim?
— Não sei — gesticula. — Você pareceu meio com ânsia de algo.
— Não, estou bem. Acho que devemos ir almoçar.
— Devemos — ele concorda, trazendo a mão ao meu cabelo e alisando.
— Você está bem?
— Estou, sim. E você, consegue aguentar um almoço com meu pai?
Nicholas sorri.
— Com você, amor, eu aguento o que for.
Bem, parece muito fácil com ele falando assim, mas eu sei que não é.
Como sei também que estou sendo muito idiota por estar sendo tão negativa.
Preciso me concentrar. Tudo pode ser suportável.
....
Não sei se foi exatamente muita covardia da minha parte, mas acordei
primeiro do que Nicholas e desamarrei um de seus pulsos para que ele
pudesse se livrar do outro nó sozinho, então saí da casa dele. Ok, foi
covardia. Mas eu estava apreensiva sobre como ele podia reagir, então não
me sinto tão culpada.
Corro meus olhos ao redor do ambiente em que me encontro, ansiosa, e
vejo meu convidado aparecer. Ele parece muito feliz ao me ver, caminhando
até mim — como se isso fosse novidade.
— Olá, Desmond — o cumprimento.
Ele vem para meu lado e segura minha mão, dando um beijo e abrindo
um sorriso.
— Que prazer receber um convite seu. Foi a melhor coisa que me
aconteceu durante essa semana — declara, então se afasta para sentar do
outro lado, à minha frente. — A que devo a honra?
Eu me remexo, inquieta de repente por ver o olhar intimidador dele. É
como se ele avaliasse tudo que falo e cada gesto meu. Sempre.
— Preciso de sua ajuda.
Desmond assente, muito relaxado, enquanto ajeita o paletó.
— É só dizer, querida. No que posso ajudar?
Eu respiro fundo, muito desconfortável. Sei que Nicholas disse que não
queria que eu falasse com ele, mas eu preciso nos ajudar. Sim, a nós. Às
crianças também.
— Eu estou com uma situação muito complicada — começo,
observando o quanto parece que o homem à minha frente foca toda sua
atenção em mim. — Eu conheço um homem que... Bem, digamos que ele
pegou os filhos da irmã para si e essa irmã não sabe e fugiu, estando em
algum lugar por aí. O que poderia acontecer a ele?
— É muito óbvio. Ele vai ser preso. Não se rouba crianças. Mesmo que
sejam filhos.
— Mas foi por uma boa causa — me apresso em explicar.
Desmond balança a cabeça.
— Não é assim que a justiça funciona.
— O que poderia acontecer a ele? Qual a solução?
Ele parece achar graça do que estou falando.
— Bom, seria adequado que a mãe pegasse os filhos de volta e não
denunciasse ele, porque creio que é meio impossível. Além do mais, agora
que você me contou, também está na minha obrigação como policial
denunciar isso porque é algo que não se faz. As crianças tinham que ter
estado com a mãe, independente do que ela fosse ou do que tivesse feito.
Ainda mais se ela não sabe. Isso é bem mais complicado do que parece.
— Eu entendo — falo, agoniada. — Mas estou tentando ver com você se
há algum meio de me ajudar.
— Não tem o que eu possa fazer. Só denunciar o tal irmão. Quem é ele?
— Não! — rebato, horrorizada. — Eu só procurei você porque pensei
que fosse me ajudar.
— Estou ajudando. Posso denunciar por você.
— Não, não, não. Desmond, eu quero dizer algo que possa justificar o
que ele fez. O que a polícia precisa para, não sei, não o prender?
— Não há nada que não faça isso acontecer se a irmã o denunciar,
Amber. Mesmo que não denuncie, se alguém de dentro ficar sabendo, ele já
vai ser preso. Se ele queria ficar com as crianças, devia ter ido à justiça, e não
os roubado. Devia ter levado provas de que a mãe não tinha como ficar ou
seja lá o que foi. Não é assim que funcionam as coisas. O que ele fez foi
crime.
— Deve ter algum meio. — Estou desesperada agora.
— Tem, você me diz quem é, eu o prendo, ele arruma um advogado, um
meio de justificar, cumpre uma pena média e depois sai.
Estou horrorizada imediatamente.
— Nunca! Eu nunca o deixaria ser preso! — protesto.
Desmond dá um sorriso. Um sorriso muito cínico.
— Quem é o cara? Um namorado?
— Não importa quem é. Eu nunca faria mal a ele.
— É um namorado — conclui. — Me admira uma mulher tão inteligente
como você ir se envolver com um cara burro desse nível.
— Ele não é burro, apenas quis proteger os sobrinhos.
Desmond se inclina para frente, muito sério de repente.
— Ele não os protegeu, os prejudicou. A qualquer momento eles podem
ficar sem o tio também, e aí? Primeiro sem a mãe, depois sem quem eles
costumam ter ao lado.
— Eu estou com eles, também.
— Então você também pode ir presa. É cúmplice.
— Não sou, não! — debato, chocada. Meu Deus do céu.
— Não vai ser se você me disser quem é, do contrário, vai estar sendo
sim. E, digo mais, se eu descobrir quem é o cara, eu vou denunciar, e também
a você.
— Você não faria isso — estou de boca aberta.
— Eu faria — ele afirma, balançando a cabeça ao mesmo tempo. — É o
meu trabalho. Eu luto pela justiça.
— Justiça foi o que ele fez!
— Foi errado.
— Não, não foi!
— Claro que foi, e você sabe disso, ou não estaria aqui admitindo que
ele precisa de ajuda.
Eu me levanto, petrificada. Nicholas tinha razão em me dizer para não
procurar Desmond. Eu realmente pensei que ele poderia ser confiável, mas
não foi.
— Esquece o que eu disse a você — peço.
Ele nega, maneando a cabeça.
— Não vou esquecer e vou descobrir quem é, e quando isso acontecer,
você pode apostar que eu vou tomar as devidas providências.
Eu me arrasto dali, quase tropeçando nas mesas, desesperada por ar.
Merda, que droga. Eu fui tentar resolver um problema, mas arrumei
outro. Desmond é um filho da mãe. Que desgraçado. Agora só me resta
minha tia Alice e seu amigo advogado. Para ajudar em dois problemas, na
verdade. Que droga.
Entro em meu carro, buscando meu celular que está tocando na bolsa,
então o pego, atendendo.
— Alô?
— Muito engraçada, amor — Nicholas fala, a voz sombria. — Acho que
precisamos conversar, não?
Fecho os olhos com força. Ele nem imagina o quanto.
— Estou indo trabalhar agora — mudo de assunto. — Nós conversamos
mais tarde.
— Aonde você foi?
— Ahn... Almoçar. Estava faminta.
— Por que não me acordou quando saiu?
— Porque você estava dormindo muito bem — sou incapaz de não rir.
— Não tem como dormir tão bem com as mãos amarradas — grunhe.
— Você foi uma menina malvada.
— Eu fui — admito. — E gostei muito.
— Me aguarde, meu amor. Vai ter troco.
— Bye, bye — desligo, a alegria desaparecendo quando me lembro do
meu não amigo policial. Ele não pode descobrir. E nem vai. Eu não vou
deixar.
Capítulo 37
Eu entro na sala e espero ser notado. Quando isso acontece, pareço ter
uma mulher muito alarmada a alguns metros de mim, sentada em sua cadeira,
toda poderosa e impotente como sempre, mas muito surpresa e temerosa ao
mesmo tempo.
Fecho a porta atrás de mim e caminho até ela, que acompanha meus
movimentos com os olhos arregalados e a boca aberta.
— Que foi, amor? — pergunto, já perto o suficiente e então levanto a
mão, tocando seu rosto.
Amber geme, relaxando instantaneamente, o que me faz sorrir.
— Meu Deus, você está tão, tão gostoso — ela fala, me olhando de cima
a baixo. — Isso deveria ser proibido. Você não pode vir ao meu ambiente de
trabalho só de tênis e short.
— Parece que eu posso. Eu fui correr e resolvi passar aqui.
— Uhum — ela fecha os olhos, se acariciando contra minha mão. — Eu
gostei.
Levo a mão livre à sua cabeça, meus dedos fazendo caminho por entre
os cabelos macios e longos. Eu puxo um pouco, bem de leve, só o suficiente
para Amber abrir os lábios para mim, então me inclino, criando um contato
mínimo de nossas bocas. Ela ofega.
— Você foi muito rebelde — mordo o cantinho da sua boca e dou uma
lambida. — Eu não gostei, nem um pouco.
Ela geme, virando o rosto para tentar me beijar, mas eu me afasto,
minha mão ainda em seu cabelo. Amber protesta.
— Vamos lá, você não espera que eu vá te tocar tão facilmente, não é?
— questiono.
Ela faz um beicinho, então se remexe.
— O que veio fazer aqui então se não me comer?
— Olha a boca — me afasto, sentando na borda da mesa. Amber me
observa, enquanto lambe os lábios. — Eu vim para avisar que preciso voltar
amanhã para os meus filhos. Eu recebi um e—mail sobre uma entrevista. Não
posso perder a chance.
Ela franze o cenho.
— Não está certo ainda nada com nada, Nicholas. Nós temos que
conversar sobre isso, sobre nós. Você me pediu em casamento e temos que
tentar um jeito de ficarmos juntos com tranquilidade. Eu vou falar com a
minha tia Alice e perguntar sobre o amigo advogado dela.
Balanço a cabeça.
— Eu sei, amor. Apenas vou tentar a entrevista.
— E depois? — ela pergunta. — Como vai ser isso, Nicholas? Você vai
ficar lá e eu aqui? Até quando? Quando a gente casar, como vai ser, onde
vamos morar? Eu tenho vontade de uma coisa e você de outra, isso não vai se
encaixar.
Eu observo-a, quieto. Eu sei que tudo é muita carga para ela. Claro que
sei. Amber é uma mulher livre e independente, e de repente eu a quero jogar
em uma vida comigo, que tenho três crianças pequenas e o risco de ser preso.
Eu entendo mesmo o lado dela.
— Nós vamos achar um jeito — afirmo.
— Sim — ela gesticula com as duas mãos, então parece ficar tensa de
repente. — Nós precisamos falar com minha tia Alice, de verdade. Esse
advogado tem que nos ajudar.
Suspiro, não tendo muita opção para rebater nada, mas resolvo ficar
quieto.
— Eu realmente precisava de uma resposta boa, Nicholas — ela levanta,
se colocando à minha frente, então põe as mãos nos meus ombros, os olhos
me perfurando. — Preciso ouvir você dizer que vai ficar tudo bem e que vai
dar tudo certo, porque, mesmo que não vá, se você disser, eu vou acreditar.
Estou agoniada, não vou mentir. Estou acostumada a premeditar situações
para não ser pega de surpresa, e com você não foi o caso. Estou desesperada.
Eu não quero ter que… — respira fundo e eu abro as pernas, a puxando para
junto do meu corpo. — Eu não quero ter que me afastar de você de novo.
Não gosto desse pensamento.
— Ei, ninguém vai nos afastar — acaricio suas costas com as mãos,
enquanto ela me encara. — Vai ficar tudo bem, Amber. Eu estou aqui,
cuidando de você, e sempre vou cuidar. Não precipite as coisas. Deixe a cada
dia o seu próprio mal.
— Eu não estou cuidando de você como deveria — ela balança a
cabeça. — Por favor, Nicholas, me promete que vai ficar tudo bem.
— O que é isso? Desde quando minha mulher linda tem medo de
alguma coisa? — tento sorrir, para apaziguar seu estado. Ela parece mesmo
bem preocupada e isso não é nenhum pouco legal para mim. Não quero
Amber desse jeito por minha causa.
— Quando se trata de você, eu sou uma medrosa — ela suspira, então
encosta a testa na minha. Meu coração estremece com a confissão inesperada.
— Você me perdoaria se eu tivesse feito uma burrice enorme?
Respiro fundo, incapaz de impedir tudo que ela me causa, a forma como
me afeta.
— Que burrice você fez? — questiono, descendo minhas mãos até sua
bunda e a puxando para mim com mais firmeza, nossos sexos se alinhando.
— Não importa no momento, eu só quero saber se você ia me perdoar.
— Se não estamos falando de uma traição, então sim, eu te perdoaria.
Amber geme, desviando o rosto para enterrá-lo em meu pescoço.
— Só quero que saiba que eu não sou de desistir, Nicholas — fala.
— Eu sei disso.
— E eu vou tentar de tudo que estiver ao meu alcance — completa.
— Nós vamos.
— Eu quero você para mim e os seus filhos também.
— Já somos seus, amor — afirmo, convicto.
Ela se afasta, seus olhos abandonando os meus por um instante, quando
desviam para minha boca.
— Você viu alguém enquanto vinha para cá? — pergunta.
— Vi muita gente.
— Alguém estranho, quero dizer.
— Não — nego. — É sobre alguém estar me seguindo como eu te disse
que meu pai podia ter ordenado que fizessem?
Ela desvia o olhar, meio inquieta de repente, mas eu seguro seu rosto,
fazendo com que me olhe de novo.
— Tá tudo certo. Eu não vi ninguém suspeito. Até porque ele não sabe
que estou por aqui hoje.
Amber assente.
— Você vai embora amanhã que horas?
— Pela manhã. Você vem comigo ou tem coisas para resolver?
— Tenho — confirma. — Eu posso ir te ver no fim de semana, tudo
bem?
— Tudo, amor — acaricio seus lábios com os polegares, então me
levanto logo após, soltando-a e criando uma distância entre nós. — Preciso
deixar você trabalhar. Nos vemos mais tarde?
— Sim — ela sussurra, meio cabisbaixa.
— Bom trabalho.
— Obrigada.
Eu saio de sua sala, meio incomodado e meio triste. Amber está em uma
situação que está fora do meu controle mudar. Não é como se ela estivesse
arrependida ou hesitante, apenas parece lamentar por não poder fazer nada.
Eu aperto o botão do elevador e espero, então quando chega, um homem
sai. Ele me olha de cima a baixo e parece bem sério.
— Onde fica a sala da senhorita Amber Mackenzie? — questiona.
— Quem é você? — rebato.
— Não é da sua conta.
— Ela é minha mulher então, sim, é da minha conta.
Ele parece surpreso de repente. Seu olhar me avalia de cima a baixo
novamente e eu vejo sua mão estender em minha direção.
— Sou Desmond, um amigo e associado — diz, um sorriso brincando
nos lábios.
Faço uma careta imediata. Esse é o tal policial.
— O que você quer com ela? — Não aceito seu cumprimento, o que o
faz abaixar a mão, não parecendo incomodado.
— Eu vim conversar sobre uns negócios — responde, vagamente. —
Não se preocupe, não tenho a intenção de ter a Amber.
— Claro que não. Você não é nem louco de pensar nisso.
Ele assente, muito tranquilamente.
— Não sou. Pode me informar onde fica, por favor? Eu preciso ir
embora logo.
— Última porta à esquerda — respondo, sem vontade.
— Obrigado — ele fala e sai andando.
Eu entro no elevador, muito suspeito. Terei que conversar com a Amber
sobre isso. Não gostei do cara.
Capítulo 38
Eu me remexo quando meu celular toca na bolsa. Merda. Não é uma boa
hora, definitivamente. Estou um caos. Acabada e destruída. E estou com
saudades do Nicholas, muitas.
— Você não vai atender? — a voz pergunta, do outro lado do cômodo.
Respiro fundo e enfio a mão na bolsa, obtendo o aparelho.
— Alô.
— Oi, amor. Sou eu.
Fecho os olhos com força. É definitivamente uma péssima hora.
— Oi. Como você está? — pergunto, tentando me manter centrada.
— Com saudades de você. Por que não consegui falar com você na
última semana e por que não pôde vir?
Engulo em seco, meus olhos abrindo para encarar o homem sentado na
mesa à minha frente agora.
— Nós... — tusso, para aliviar a pressão do nó que se formou na minha
garganta. — Nós precisamos conversar, Nicholas.
— Tá tudo bem? Por que você parece com raiva?
— Não estou com raiva — nego de imediato. — Apenas falei que
precisamos conversar.
— Estamos fazendo isso, não?
— Pessoalmente, eu quero dizer.
— Prefere que eu vá até você? Eu ia dizer que não consegui o trabalho,
mas não tô preocupado, sabe? Eu sei que vão surgir…
— Nicholas — o interrompo. — Quando você pode vir?
— Ahn... Na sexta, tudo bem?
Merda, ainda é quarta. Eu vou ter dois dias para me consumir. Não sei
como dizer isso a ele. Nem eu caí na real do que fiz ainda.
— Tudo bem — assinto. — Eu vou desligar. Tchau.
— Ei, ei. Nem vai dizer que está sentindo minha falta?
Eu ergo meus olhos para quem está à minha frente e tento parecer
inabalada.
— Estou ocupada, beijo — desligo.
— Era o seu namoradinho? — Desmond questiona.
— Não tenho namorado — repito, pela vigésima vez. Ele é um
desgraçado e eu quero me espancar por ter cometido o erro de ir falar com
ele.
— Ah, você tem — ele sorri. — E eu realmente me sinto feliz por isso,
caso contrário não estaríamos aqui na minha casa — estende a mão, tocando
minha coxa e eu estremeço. — Agradeço a ele.
— Não sei de quem você está falando — rosno, mexendo a perna para
desfazer o contato.
— Não? Então por que está aqui?
— Porque você me ameaçou! — grito.
— Shiu! — ele sussurra. — Sem gritaria, minha linda. Eu não te
ameacei, apenas falei que tinha os dados de Nicholas Morrison e iria atrás
dele, aí você venho correndo para mim.
— Não vim correndo para você!
— Ah, você veio. Que nem uma bobinha apaixonada — sorri.
Eu solto um suspiro, me sentindo louca da vida.
É muito verdade que eu vim correndo, mas não para ele. Acontece que
Desmond foi à minha sala me passar uns documentos de sua empresa há uns
dias, mas teve o desprazer de encontrar Nicholas no caminho, e o idiota foi
dizer que eu era mulher dele. Está bem, eu sou — totalmente dele —, mas
não era para ter dito nada.
Agora eu estou aqui, no apartamento do Desmond, presa a ele que me
mostrou a ficha da irmã do Nicholas, que foi presa por três anos e agora está
em uma clínica de reabilitação na Colômbia. Colômbia! Será que ele sabe
disso? Meu Deus.
— Eu tenho uma maneira de impedir que aquele idiota vá para a cadeia.
Eu olho para Desmond, ele obtendo toda minha atenção ao dizer isso.
— Qual? — questiono.
Ele sorri, muito abertamente. É um sorriso verdadeiro, mas logo vejo
que não vou gostar do que vem adiante.
— Fica comigo.
Pisco os olhos imediatamente, tensa pelo que ouvi.
— O que... Você quer dizer com isso? — indago.
Ele eleva os ombros, numa expressão de desdém.
— Ficar comigo, ser minha namorada, aí eu deixo o tal cara fora disso.
Eu posso fazer isso. Tenho influência para sumir com qualquer ligação que
ele possa ter com a viciada ladra da irmã, porque, você sabe, se algo
acontecer a ela, eles procuram a família e eu não encontrei mais ninguém
nesse sobrenome além do seu namoradinho.
Eu fico estática, perplexa pelo que ele está propondo.
— A decisão está com você, e eu não sou um homem muito paciente,
então vou te dar exatamente esse instante para me responder — completa, a
mão voltando a acariciar minha perna.
Estou boquiaberta, sem conseguir raciocinar.
Como ele ousa?
— Você não pode fazer isso! — disparo.
— Sim, eu posso, como você está vendo — eu o vejo olhar para meu
corpo e lamber os lábios, o que me causa uma repulsa louca e quero
imediatamente chorar. — Não me culpe, Amber, eu sei que nunca poderia
experimentar esse corpo por sua vontade própria. Não sou um homem ruim,
apenas consigo o que quero.
Balanço a cabeça de forma agoniada.
— Você não vai tocar meu corpo! — cuspo em um grito de repulsa.
— Tudo bem, então eu vou ir atrás do Nicholas — ele levanta da
mesinha de centro e eu faço o mesmo.
— Eu já disse que não somos nada! — repito, segurando seu braço,
meus olhos beirando às lágrimas.
— Então eu tenho mais um motivo para prendê—lo.
— Por favor, Desmond, não faça isso — imploro. — Ele não merece.
— Eu também não mereço o que estou sentindo por você. Acha que eu
quero? — ele puxa o braço, parecendo nervoso de repente. — Faça o favor de
fazer as coisas do jeito que estou falando ou eu boto o idiota atrás das grades.
Eu começo a chorar, desesperada para mudar o passado. Grande idiota
eu sou.
— Não chora — Desmond pede, levantando meu rosto. — Só cancela
qualquer merda que você tem com ele e fica comigo. Eu vou te fazer bem
mais feliz. Eu prometo.
Começo a tremer, incapaz de dizer qualquer coisa. Como eu posso
terminar o que tenho? Eu amo o Nicholas. Amo tanto que prefiro sofrer e
conviver com seu ódio, do que vê-lo passar a vida com medo, no fio da
navalha. Prefiro, e é o que escolho.
— Se eu ficar com você, ele pode viver em paz? Você vai arrumar essa
situação dele? — questiono, trêmula.
— Vou. Ele vai ficar em segurança e viver com os sobrinhos. E você
comigo.
Eu assinto, fechando os olhos com força.
— Tudo bem. Eu fico com você.
Capítulo 39
Levanto a mão para tocar a campainha da casa de Amber, mas nem chego
a cumprir a ação quando Philip abre a porta e me agarra pela gola da camisa.
— Oi, seu filho da puta — ele rosna. — Espero que você possa me dizer
porque minha filha passou os dois últimos dias chorando.
— Não sei do que você está falando — o encaro. Porra, eu mal estou
sabendo o que está acontecendo. Ela me ligou há dois dias dizendo que
precisava falar comigo pessoalmente e ainda desligou na minha cara. Já tô
aflito para um caralho e tenho o pai retardado dela como brinde.
— Eu sugiro que você saiba — ele aperta a gola, que faz pressão contra
meu pescoço, quase me tirando o ar. — Não quero meu neném chorando por
causa de nenhum desgraçado.
Mal processo a dor quando levo um soco no rosto.
— Porra, Philip! — grunho, minha mão indo imediatamente aonde doeu.
— Que merda!
— Olha essa boca ou eu quebro seus dentes — me puxa de volta. —
Você entendeu? A Natalie não está por aqui hoje para te defender e já estou
com uma puta raiva sua porque ela não me deixa tocá—la desde aquele dia.
Culpa sua. Muitas culpas sobre você. Eu não me importo nenhum pouco em
te dar uma surra.
— Eu entendi, porra! — elevo as mãos. — Me deixa ir ver o que ela
tem. Eu também não sei.
Philip me dá vários tapas de mão aberta no rosto, me fazendo fechar os
olhos. Não são tapas fortes, mas arde mesmo assim.
— Resolve essa merda — ele me empurra porta adentro e eu cambaleio
para frente, louco de raiva. Esse cara é louco.
Nem me dou ao trabalho de olhar para trás, simplesmente caminho até a
escada e subo os degraus em direção ao corredor, que logo me leva até ao
quarto da Amber. É claro que ela está no quarto, já que está triste. O que eu
não entendo é o porquê.
Eu bato na porta e espero ela me responder, o que não acontece, então
simplesmente giro a maçaneta e entro.
Não é exatamente a cena que imaginei encontrar, mas Amber está
costurando. Isso aí. Costurando.
Beleza. Isso não parece nada certo. Nada com nada.
— Oi, amor — chamo sua atenção e ela solta um suspiro. Não está
chorando, pelo menos.
— Oi — responde, então se remexe e coloca o pano no colchão, seus
olhos levantando para encontrar os meus.
Eu caminho até ela, louco por um beijo, mas sua mão estende à minha
frente, como me pedindo para parar.
— Preciso falar algo com você. Senta, por favor.
— Ok — concordo e sento ao seu lado. Que merda. Algo não está certo.
— Eu não posso continuar com isso — ela fala.
— Com o quê?
Seus olhos miram os meus e ela parece absolutamente séria. Tem
parecido desde que entrei, na verdade. Quase impaciente.
— Com você ou isso que quase tivemos. Não é certo. Eu não gosto de
você o suficiente para me arriscar assim — responde, dura e rudemente. —
Eu tenho toda uma vida pela frente. Tenho a possibilidade de achar alguém
que não tenha nenhum impedimento e que não precise que eu me renuncie.
Eu lamento, mas não vai rolar.
Eu a encaro, meio desconcertado e surpreso, enquanto meus lábios
produzem um sorriso. Mas é de pura de descrença e desentendimento.
— Você está... Terminando comigo? — questiono.
— Não estou terminando. Nunca começamos a ter nada, como posso
terminar alguma coisa? — ela faz uma careta. — Tudo que você fez foi
transar comigo e me pedir em casamento durante um momento inapropriado.
Eu não quero isso para mim. Quero um homem que seja capaz de me amar
sem impedimentos.
— Meus filhos não são um impedimento — estou boquiaberto. — O que
deu em você? Eu não estou entendendo, sinceramente.
— Eu não preciso que você entenda nada. Só quero que vá embora e
suma da minha vida — aponta para mim, parecendo com raiva. — Eu quase
ia cometendo o maior erro da minha vida.
— Ficar comigo ia ser o maior erro da sua vida?
— Sem sombra de dúvidas — ela enfatiza bem a expressão e me olha,
atenta. — Eu me sinto uma vagabunda por dizer isso a você, mas é verdade.
Eu não te quero ou qualquer coisa que você possa me dar. Só estou te
pedindo para ir embora e nunca mais voltar.
— Amor, não sei o que houve, mas você pode tentar se acalmar
primeiro. Eu espero…
— Não, merda! — ela grita, levantando. — Você não vai esperar coisa
nenhuma. Levanta da minha cama e sai do meu quarto. Eu não quero te ver
mais, Nicholas!
Me levanto, mas não porque ela falou, e sim porque estou tomado de
choque.
— Me fala o que aconteceu — peço, entristecido. Parece que ela está
falando sério. — A gente pode resolver, seja lá o que for.
— O que aconteceu foi que enfiei razão e bom senso na minha cabeça.
Vai embora!
— Mas, Amber, eu pensei que…
Ela se aproxima e me empurra, quase me fazendo cair.
— Vai embora! Agora! — grita.
A porta se abre atrás de nós e eu só me sinto ser puxado, vendo quando
Amber caminha de volta para a cama, parecendo nenhum pouco abalada.
Eu sinto minhas costas contra uma superfície dura e logo tenho Philip
me encarando, parecendo irado.
— Ela… — tento dizer.
— É, ela te mandou vazar — ele fala e me solta, se afastando um passo,
então parece suavizar a expressão dura quando eu o encaro, completamente
alienado.
— Ela me mandou sumir — repito, sozinho.
Philip aponta as escadas.
— Ela mandou e acho melhor você fazer isso ou eu vou perder o
controle — avisa.
Eu assinto, muito abalado para tentar passar por ele e voltar a falar com
ela, então só desço as escadas e vou embora.
Não sei o que foi isso. Não sei o que houve com ela. Não sei o que eu
fiz. Ela cancelou nosso casamento, mesmo depois de dizer que me queria. Ela
foi capaz. Estou cheio de uma dor por dentro. Eu não acredito que ela fez
isso. Como ela pôde?
Capítulo 40
....
Eu acordo com o toque chato do meu celular, então tateio pela cama, até
encontrar o aparelho debaixo do travesseiro. Edward andou pegando
escondido de novo para jogar enquanto eu dormia. Moleque safado.
— Alô? — atendo, nem sei bem como.
— Alô, é o Nicholas?
— É, quem fala?
— Oi, Nicholas. Aqui é a Amy, prima da Amber.
Somente a menção do nome me traz a um despertar súbito.
— Oi. Tudo bem? — pergunto.
— Belezinha — ela ri. — Eu só queria saber o por que de você ter se
mandado, sabe? Minha prima não parece muito feliz com isso. Eu detesto ver
alguém da minha família triste.
— Eu não me mandei, apenas dei um tempo a ela para esfriar a cabeça.
Eu não desisti da Amber — respondo, minha mente projetando as palavras
automaticamente já que ainda estou em um lugar entre o sono e a Terra.
— Isso é bom — a garota suspira, parecendo aliviada. — Eu realmente
fico puta, no sentido raivoso, quando acontece isso de alguém se sentir mal
por causa de homens perto de mim. Ela me garantiu que não é só pelo seu
pau, o que te dá alguns pontos. E eu espero mesmo que não seja, porque eu
poderia contratar uns caras para te dar uma lição.
— Não preciso apanhar mais do que o pai dela já me bate toda vez que
me vê — solto um suspiro, minha cabeça caindo contra o travesseiro de novo.
Ela ri.
— Não liga, não. Tio Philip é meio maluco. Mas aí, você poderia me
dizer quanto tempo pretende dar a ela?
— Eu não sei, na verdade. Mas Amber sabe que é minha, eu sei que ela
sabe.
— Bem, eu espero mesmo que você tenha certeza disso porque neste
momento eu estou vendo ela beijando um outro cara, e ele parece louco para
avançar a etapa.
Eu me sento, a notícia me pegando desprevenido.
— Ela o quê?
— É, exatamente — a garota afirma, enfática. — Eu tive que te ligar
porque não vejo sentido algum nisso.
— Onde você está? — questiono, já indo aos armários atrás de uma
roupa. Eu acordei de verdade. Pra valer.
— Em frente ao trabalho dela. Nós estávamos almoçando, aí ela passou
mal e quis voltar, mas quando chegamos esse cara veio até ela, tratando
como se fosse namorada. A Amber simplesmente foi com ele, sem se negar.
Não estou entendendo nada, mas a um que não conheço e você, eu prefiro
você.
— Ela me deve algumas explicações — rosno.
— Espero que ela cumpra a dívida. Não conte a ela que eu te disse.
Pelo menos não até ter certeza de que vou ficar bem.
— Não vou e obrigado
— Por nada. Se precisar, é só ligar. Fica bem — ela desliga e eu jogo o
aparelho no chão, seguindo imediatamente para um banho.
Amber beijando outro cara? Que merda é isso? Ela me trocou, foi isso?
Se for, isso não vai ficar assim. Eu não pretendo deixar assim. Eu não sou um
filho da puta que ela pode pensar que vai fazer o que quer. Eu tenho
sentimentos, porra, e estou louco para descontar minha raiva em alguém e eu
espero mesmo não encontrar o tal cara, porque vai ser nele.
Amber não me conhece. E ela não pode fazer isso. Ela é minha.
Capítulo 42
— Amber?
Eu solto um gemido ao ouvir a voz do meu pai e então viro a cabeça, o
encontrando em pé no batente da porta do meu banheiro. Ele parece chocado
quando me ver, e então corre até mim
— Eita, filha, que merda você tem? — questiona, suas mãos segurando
meu rosto.
Estou sentada no chão junto ao sanitário há mais de duas horas. Me sinto
horrível, física e psicologicamente. Tive que enfrentar Desmond na hora do
almoço e enrolei ao máximo no trabalho para não vir para casa logo. Minha
mente precisa ser preenchida com algo mais além de Nicholas.
— Eu não sei — nego.
Ele me avalia, os olhos claros parecendo curiosos. Eu o observo levantar
e ir até as prateleiras pegar uma toalha de rosto e voltar até mim, se
ajoelhando comigo e secando meu rosto todo suado.
— Sua mãe sabe que você está assim? — pergunta, então começa a
morder o lábio inferior, sinal de que está apreensivo.
— Não — choramingo.
Ele assente, muito sério.
— Certo. Há quanto tempo?
— Há quanto tempo o quê?
— Você está se sentindo enjoada… — ele me olha bem rápido e então
tira os cabelos do meu rosto.
— Uma semana, eu acho.
Eu vejo seu pomo-de-Adão se mover e ele aquietar os movimentos,
antes de fechar os olhos brevemente e então se levantar, muito cauteloso.
— Você precisa tomar um banho e ir deitar. Eu vou… — gesticula,
parecendo nervoso. — Vou ir atrás de algum remédio para você. Acha que
consegue tomar banho sozinha?
— Consigo — assinto.
— Tudo bem. Eu volto…
— Amber!
Eu viro a cabeça novamente, vendo Nicholas entrar no banheiro
rapidamente e se abaixar ao meu lado, suas mãos segurando meu rosto e ele
parecendo pasmo.
— Meu Deus, o que você tem? — questiona.
Eu começo a chorar.
Não estou acreditando que ele está aqui. Que merda. Eu o mandei
embora. Não era para ele voltar nunca mais. Por que ele não pode querer o
próprio bem?
— Vai embora! — eu o empurro, ou pelo menos tento, porque estou
fraquíssima.
— Não. Para de me mandar ir embora. Eu não vou a lugar algum — ele
se nega a me soltar.
Eu abaixo a cabeça. Não quero olhá-lo. Não posso. Eu o amo demais.
— Por favor, pai. Manda ele ir embora — peço. Minha voz está
esganiçada e baixa. Estou passando mal.
Meu estômago aperta com força e eu volto a debruçar no sanitário,
vomitando algo que eu nem comi. Estou péssima.
Sinto o toque quente em minhas costas, me fazendo um carinho bem-
vindo, então ouço Nicholas indagar:
— O que ela tem?
A pergunta é, obviamente, direcionada ao meu pai.
— O que ela tem é o seu filho crescendo na barriga dela — ele
responde, quase baixo demais, como se só pensasse.
A ânsia aumenta por ouvir esse absurdo e eu começo a chorar ainda
mais, meu corpo inteiro desfalecendo contra os sentidos normais e eu vomito
de novo.
Fecho os olhos, sentindo minhas mãos trêmulas, e volto a sentar. Sinto o
toque em meu rosto, de algo limpando minha boca, mas não quero olhar. Não
quero ver Nicholas.
— Eu não estou grávida — digo, mais para mim mesma. Eu não posso
estar. Não posso. Meu Deus.
— Você está — meu pai rebate.
— Não.
— Sim.
— Não estou! — grito, abrindo os olhos e me levantando, mas falho e
quase caio. — Não estou — minhas lágrimas são incessantes. Eu olho para
Nicholas no chão, que parece sem qualquer expressão. — Vai embora daqui,
seu filho da mãe!
Eu não posso ver muito, mas tenho ciência da expressão do meu pai, que
parece dividido entre a raiva e a pena.
— Você está grávida? — Nicholas questiona, quase um sussurro. —
Mesmo, amor?
Começo a tremer. Não é possível. Ele não está me ouvindo. Ele não
pode ficar. Tem que ir embora. É o melhor para ele, para as crianças… a
segurança deles.
Cubro o rosto com as mãos, meus sentidos se dissipando enquanto me
sinto cambalear para trás em alguns passos, mas logo sou envolvida pelo
calor forte e do cheiro dele. Ele está me abraçando. Nicholas está me
abraçando.
— Eu amo você — ele declara. — Isso não vai mudar.
— Não estou grávida — nego, entre soluços. — Me solta, você tem que
ir embora — tento me desvencilhar, mas ele me aperta mais forte. —
Nicholas, por favor… — imploro.
— Não, Amber. Eu fico.
— Ahn... — ouço a voz do meu pai. — Eu vou… Ver se a Natalie já
chegou, com licença.
Nicholas sobe uma mão por minhas costas até ela estar entre meus
cabelos, então meu choro diminui, sendo substituído por soluços altos. Estou
um trapo. Ele não deveria estar aqui.
— Você precisa ir embora — eu repito, sem qualquer convicção.
— Não, eu preciso ficar com a minha mulher — ele rebate e sinto—me
ser afastada. Ele me encara, seus olhos percorrendo todo meu rosto. — Não
gosto do que vejo. Nós precisamos conversar direito.
— Não — nego, meus olhos se fechando.
Eu sinto o toque nos botões da minha blusa, então os abro de novo,
observando que Nicholas os desfaz.
— Eu não me importo no momento — diz, seus olhos atentos aos
movimentos. — Você é minha e sabe disso. Não vou a lugar algum mais. E
agora fica quieta para eu poder dar um jeito em você.
Meu desespero aumenta. Ele está irredutível. Eu estou sem forças para
insistir. Estou fraca, triste e chocada com a notícia de poder estar grávida. Um
filho. Eu não queria. Não queria ter. Não poderia estar grávida. São muitas
coisas em tão pouco tempo.
Nicholas puxa a blusa por meus ombros e a joga no chão. Em seguida,
se abaixa para puxar o zíper da minha saia e descê-la por minhas pernas. Eu
me apoio com as mãos em seus ombros para não cair.
Ele levanta, segurando minhas mãos e dando um beijo em cada uma,
antes de se afastar para levar as roupas ao cesto que fica ao lado da porta. Ele
a fecha e volta em minha direção, seu sorriso se abrindo para mim.
Suas mãos logo vão para minhas costas, desfazendo o fecho do meu
sutiã e ele puxa minha calcinha para baixo. Eu deixo as duas peças irem ao
chão e Nicholas segura minha mão, me incentivando a caminhar para o box.
Não posso suportar tudo isso.
Ele liga o registro e confere a água, então me puxa e entra junto comigo.
Logo estou debaixo do jato de água morno, o calor me sendo muito
bem-vindo, enquanto Nicholas começa a percorrer as mãos por meu corpo.
Isto não está certo. Eu não posso deixa-lo correr mais esse risco. Fui
uma burra em não tê-lo ouvido de primeira, ferrei com tudo para nós dois.
Não posso fazer o mesmo de novo.
Eu relaxo quando sinto seus dedos em meus cabelos, sentindo a espuma
do shampoo ser espalhada.
Respiro fundo e o deixo fazer o que quer. Ele está aqui agora e não quer
ir. Mais tarde, quando eu recuperar as forças, eu o expulso. No entanto, por
enquanto, eu aceito que fique.
Abro os olhos quando sinto os movimentos insistentes em minha
barriga.
Tenho que olhar para baixo, porque Nicholas está abaixado, observando
os dedos percorrerem meu ventre, parecendo pensativo.
Seus olhos se erguem para mim e ele abre um sorriso curto.
— Gosto da ideia de você estar gravidinha — fala.
— Não estou — nego, de novo. Eu não posso estar.
Ele se aproxima mais e deposita um beijo ali, levantando em seguida.
Está todo ensopado com as roupas, mas parece nem ligar.
— Tudo bem. Você comeu hoje?
— Não é problema seu.
— Levando em conta que você é minha mulher e meu filho está se
formando dentro de você, é, é sim.
Eu tento me afastar, mas o vidro do box não permite. Nicholas sorri e
me dá um beijo no rosto.
— Vou pegar uma toalha — avisa e sai, me deixando desamparada
emocionalmente.
O que eu posso fazer para fazer com que vá embora? O quê? O que o
faria ir, sem recusa?
Um filho. Dele. Não. Pode não ser.
Ele volta, então abre a toalha e faz um sinal para que eu vá até ela.
Logo estou sendo enxugada por ele, que parece muito à vontade com
isso.
— Nicholas — eu chamo sua atenção, minha dor aumentando.
— Sim?
— Não é seu — falo e seus olhos se voltam para mim.
— O quê? — ele ergue uma sobrancelha, parando os movimentos.
— O filho. Se eu estiver grávida, não é seu.
Eu me seguro com todas as minhas forças enquanto o vejo soltar o pano
das mãos e então parecer sem ação.
— Não?
— Não. Agora pode ir embora — eu aponto a porta.
Nicholas me encara por uns segundos, antes de dar um passo para trás e
se remexer sobre os próprios pés.
— Eu… — ele tenta dizer, então olha para vários cantos. — Vou...
Desculpe — diz e sai a passos rápidos.
Eu me recuso a cair onde estou, então me sento no chão, já
impossibilitada de tentar me acalmar.
Capítulo 43
Eu solto uma lufada de ar quando vejo Natalie caminhar pelo quarto com
uma maldita calcinha de renda. Esta mulher vem acabando comigo nos
últimos dias. Castigo de merda.
Ela para de repente em frente à cama, enquanto eu observo os peitos
deliciosos e que tanto venero fazerem um balanço de leve.
— O que foi? Não vai tentar me atacar hoje? — ela questiona.
— Não — eu a olho. — Senta aqui, minha menina bonita, preciso
conversar algo sério com você — bato ao meu lado, no colchão
Natalie dá um sorrisinho e vem pulando, o que me faz rir.
Ela senta, me olhando curiosa.
— E aí? O que está acontecendo com meu homem delicioso?
— Não comigo — eu me ajeito, virando para ela. — Com nossa filha.
Ela pode estar grávida.
Ela solta um risinho.
— Você vai se acostumar com "vovô Philip" ou até "meu velho" —
morde o lábio, tentando controlar um riso.
— Muito engraçada — bufo. — Não é isso que está me preocupando, na
verdade.
— O que é então? — ela aperta minha coxa com força. — Adoro suas
coxas.
— Eu sei. Tira essa mão daí se você não vai me deixar te tocar —
resmungo.
Ela ri e volta a me olhar.
— Eu encontrei o Nicholas lá na varanda chorando. Ele parecia
destruído — digo. — Mesmo. Estava todo molhado e não parava de chorar.
Eu me senti mal para caramba.
Natalie me avalia, bem séria de repente.
— O que ela fez? — indaga.
— O quê?
— A Amber, Philip, o que ela fez? Maldito gene seu que ela herdou!
Encolho os ombros, ofendido. Meus genes são ótimos.
— Ele disse que ela falou que o filho não é dele.
Minha mulher bufa.
— E o idiota acreditou? — questiona.
— Sim, eu acho. Não sei. Não soube o que fazer. Parecia que eu… Não
sei — balanço a cabeça. — Estava me vendo nele quando… — Não quero
lembrar.
— Quando fez aquela merda comigo — ela me dá um tapa. — Eu acho
bom você não deixar ela cometer o mesmo erro.
— Eu não posso me meter, Natalie. É um problema deles, não meu ou
seu.
— Foda-se, Philip! — resmunga.
— Olha a boca, menina — aviso.
— A boca é minha. Você acha que não é um problema nosso? Nós
somos os pais, é nosso neto — ela levanta. — Cadê o Nicholas?
— Ele foi embora logo depois. Disse que era pra eu ligar para avisar
quando a Amber se sentisse melhor e agradeceu por tudo, mas que não
voltaria mais.
Natalie grunhe, enquanto caminha até o closet.
— Misericórdia! Eu tenho que ter paciência com cada homem que me
aparece na vida. Só idiota. Eu vou agora falar com ela e você vai atrás do
Nicholas — ela volta vestindo um vestido. — Você me ouviu? Não deixa o
garoto ir a lugar algum.
— O que você pretende fazer? — pergunto, me levantando.
— O que você pretende fazer? — me imita. — Tentar resolver, seu
idiota.
Eu a sigo quando ela sai a passadas rápidas para fora do quarto, então
entra no de Amber, sem nem bater.
Observo minha filha deitada na cama, parecendo também destruída e
meu coração aperta. É a minha neném e eu não posso fazer nada. Malditos
homens nós somos.
— O que você acha que está fazendo, Amber? — Natalie pergunta,
cruzando os braços ao chegar perto dela.
Ela não responde, só olha para o nada.
— Eu não tenho tempo para ficar comovida com o seu estado. Se o filho
não é do Nicholas, é de quem? Porque eu não te dei um vibrador para você
andar abrindo as pernas por aí e engravidar de algum babaca e não saber nem
quem é.
— Você o quê? — questiono, horrizado. Natalie é louca.
— Responde, Amber! — ela insiste, me ignorando.
— Eu não posso ficar com ele… — sussurra, olhando para Natalie. —
Não posso, mãe.
Minha mulher suspira, parecendo relaxar então.
— Por que você não pode?
— Porque é perigoso.
— Por que é perigoso?
Amber balança a cabeça e suspira, não querendo dizer.
— Você precisa me dar um motivo para eu poder entender porque você
quer o pai do seu bebê longe, Amber — eu entro na conversa, indo me sentar
ao lado de Natalie.
Ela começa a chorar, soluçando ao mesmo tempo.
— Eu me sinto… Perdida — fala. — Não há o que possa ser feito.
— Sempre se há algo a fazer, filha — afirmo. — O que aconteceu entre
vocês? Ele tinha apanhado de mim por você, te pediu em casamento… Não
vejo nexo no desfecho disso.
— Eu… — ela respira fundo. — Ele é maravilhoso, não houve nada
entre nós. Apenas não é certo ficar com ele.
— E como você espera lidar com uma criança? — Natalie pergunta. —
Eu sou sua mãe, mas não vou cuidar de filho seu. Você vai ter que… — ela
geme. — Quer saber? — levanta e me puxa junto. — Eu vou tratar de
resolver isso com seu pai. Você não está raciocinando.
— Não! — grita, sentando. — Por favor, mãe, não. Eu explico.
Natalie respira fundo, então cruza os braços.
— Pode começar. Estamos ouvindo.
Amber me olha, suplicando algo. Sempre foi assim, desde que ela era
um bebezinho. Eu entendia o que queria simplesmente por me olhar e, neste
momento, ela está me pedindo que eu impeça Natalie. Mas eu não posso. É
para o bem dela.
— Conte-nos, filha — incentivo.
Ela suspira, agoniada, então fecha os olhos com força.
— Aquelas crianças não são do Nicholas, são da irmã dele. Ele as
roubou.
— Como assim "roubou"? — minha mulher questiona.
— A irmã de Nicholas era uma perdida e não cuidava deles, então ele os
pegou para si e os esconde desde então — responde.
— Como assim? — repito. — Esconde?
— Sim — ela assente, nos olhando, cabisbaixa. — Ele pode ser preso a
qualquer momento, se isso for descoberto.
Eu olho para Natalie, boquiaberto. Que… Cacete, isso é sério.
— Não me diga que isso é covardia? — minha esposa pergunta. —
Você não o quer por medo? Pelo amor de Deus, Amber, não te criei para ser
uma medrosa!
— Não, mãe… — ela geme, tampando a boca. — Eu fiz uma besteira, e
fiquei sem opção.
— O que você fez? — pergunto. Eu estou nada menos que avoado e
alienado. Minha filha está grávida de um ladrão de crianças e o expulsou.
Senti um grande choque ao ver o garoto aos prantos na varanda, isso é
fato. Doeu em mim ver aquilo. Era como se eu me visse quando deixei
Natalie para trás. No caso dele, foi ao contrário, o que imagino que a dor seja
pior. Ninguém merece sofrer por amor. Ninguém mesmo. Até a vontade de
bater nele passou na hora.
— Pai… — ela me olha, enxugando as lágrimas. — Preciso que confie
em mim. Eu não posso dizer.
Natalie me olha, esperando uma resposta.
— Nós vamos te deixar dormir e amanhã conversamos mais — digo e
me aproximo dela, deixando um beijo no alto da sua cabeça.
— Obrigada — ela soluça.
Minha esposa respira fundo e a beija também, me seguindo quando
deixo o quarto.
Meu braço é segurado no caminho do corredor e eu me viro para ela.
— Você vai investigar isso, não vai? — Natalie questiona. Não é bem
uma pergunta, e sim uma ordem implícita.
— Vou — afirmo. — Com certeza.
Claro que vou. Eu conheço Amber e ela não está menos triste do que
Nicholas. Algo está errado. Meu instinto me diz isso, e ele nunca erra. Nunca.
Claro, porque eu sou o melhor. Raramente erro.
Capítulo 44
....
....
— Eu amo você.
Forço meus olhos a abrirem quando ouço as palavras. É quase
automático. Então me deparo com os olhos claros de Nicholas perfurando os
meus.
Estou meio perdida e alienada.
— O que aconteceu? — questiono.
— Você dormiu. Seu pai quer falar comigo. Ou melhor, conosco. Acha
que consegue levantar?
Me sento imediatamente, minha cabeça um pouco girando pelo
movimento abrupto.
— Onde ele está? — pergunto.
— Aqui — meu pai responde e eu levanto os olhos para vê—lo sentado
no sofá do outro extremo da sala. — Como você se sente, filha?
— Bem. — O que mais eu posso dizer? Repito, estou um trapo.
Nicholas senta ao meu lado e segura minha mão, colocando sobre sua
perna. Seu toque está gelado, diferente do caloroso que estou acostumada.
Meu pai se acomoda melhor no estofado e estou plenamente ciente do
olhar fatal que ele lança ao Nicholas. Ele é um descontrolado.
— Você sabe que a Amber poderia estar sem todo esse peso em cima
dela se não fosse por você, não é? — questiona.
Eu me remexo. Não, eu que fiz ele sofrer.
— Absolutamente — Nicholas responde.
— Você a seduziu sabendo que tinha tudo isso consigo e ainda a
engravidou — meu pai prossegue. — Eu não estou nenhum pouco
emocionado com a sua situação, nem vou ficar.
Nicholas suspira ao meu lado, chamando minha atenção. Ele está
impaciente.
— Eu sei, Philip. Você já deixou isso bem claro — diz.
— No entanto, eu sei como isso é difícil. Isso de não fazer algo errado
mesmo sabendo que é errado.
Balanço a cabeça. O que ele quis dizer?
— Já fiz merda também por causa do que sentia pela Natalie, e isso não
me tornou mais forte, pelo contrário. Só que o que fiz foi de um jeito
negativo, não positivo. — Ele parece perdido em pensamentos.
Nicholas acaricia minha mão com o polegar, parecendo tranquilo em
esperar o desabafo do meu pai.
— O que quero dizer é que — ele bufa — por um lado eu entendo que
você tenha querido manter ela junto a você mesmo sabendo que seria difícil,
porque o que sente é mais forte.
— Sim, isso é inquestionável — Nicholas revela. — Eu amo a Amber e
não é você, seus golpes ou um policial filho da mãe que vai me tirar ela.
Meu pai parece inquieto, então passa a mão na barba grisalha.
— Já entendi isso — afirma. Ele está bem mais calmo, com certeza.
— Que bom, porque eu estaria disposto a lutar por ela.
— Isso é bom. Mas o que interessa é que vim aqui informar vocês de
que tenho notícias sobre Desmond.
Eu reteso no lugar. Mal suporto ouvir o nome.
— O Michael tem um amigo no FBI e ele deu uma investigada nele. O
Desmond tem umas sujeiras por debaixo dos panos, mas que ninguém sabe.
Ele tem uma ligação com venda ilegal de carros importados, o que é uma
merda, porque ele pode ser preso — meu pai informa. — Nós temos a
possibilidade de pedir o silêncio dele em troca da informação ou denunciá—
lo. O que acham?
Nicholas aperta minha mão. Não aguento mais tantas notícias. Eu só
queria ter levantado e tido um dia normal.
— Eu não sei — ele me olha. — O que você acha?
— Não sei — respondo. — Se denunciarmos, ele conta sobre seus
filhos.
— Se não denunciarem, o risco segue o mesmo, porque ele é um filho
da puta — meu pai rebate e eu o olho.
— É, mas o Nicholas não pode ficar sem as crianças. Eu não sei o que
fazer — confesso, acabada.
— Você pode tentar obter o silêncio dele? — Nicholas questiona ao meu
pai.
— Posso. Com mais uma surra, acho que consigo.
— Mais uma surra? — interpelo.
Ele dá um sorrisinho.
— O senhor bateu nele?
— Não é culpa minha — se defende. — Ele fez por merecer. Mexeu
com você. Em filha minha ninguém mexe, só se quiser a morte.
— Se você conseguir com que fique quieto, é melhor — Nicholas
suspira. — Não queria nenhum envolvimento com polícia nem nada disso.
Eu abaixo a cabeça, me sentindo culpada. Claro que sim.
Culpa totalmente minha.
— Ótimo — meu pai levanta. — Caso aconteça algo, nós temos o
advogado da empresa e o meu. Nada poderia te acontecer, Nicholas —
garante. — Agora, só mais uma coisa, eu não quero minha filha sofrendo
depois ou em qualquer instante por culpa sua.
— Isso não vai acontecer — ele declara. — E eu agradeço seu apoio e
ajuda.
Meu pai se aproxima e aperta a mão dele, se inclinando em seguida para
me dar um beijo demorado na bochecha.
— Eu te amo, filha. Você pode me procurar sempre que precisar de
ajuda, ouviu bem?
— Obrigada, pai — mal consigo falar.
Ele alisa meu cabelo antes de sair. Nicholas levanta e o acompanha até a
porta, então volta para perto de mim e se abaixa à minha frente.
— Por que será que eu acho que seu amigo vai complicar as coisas? —
pergunta.
Mordo o lábio.
— Ele não é meu amigo — nego.
— Você disse que era.
— Pensei que fosse, mas me enganei — suspiro. — Eu sinto muito.
— Não, Amber, eu que sinto. Sinto por você ser tão ingênua — ele
levanta e estende as mãos. — Vem, vamos cuidar de você.
Eu aceito o apoio. Estou tão mal. Não sei se vou conseguir me recuperar
algum dia. É uma sensação horrível de dolorosa. Não sei se Nicholas está
agindo verdadeiramente. Ele está sombrio.
Nós caminhamos até o quarto e ele se coloca à minha frente, as mãos
partindo imediatamente para minha camisa de seda. Ergo os braços para que
tire e então me surpreendo quando ele se coloca de joelhos e agarra minha
cintura, imediatamente me puxando e depositando beijos na minha barriga
inteira.
— São nossos filhos — murmura. — Nossos.
— É só por esse motivo que você está comigo ainda? — A pergunta é
inusitada e sai sem querer.
Nicholas me olha de baixo, parecendo espantado.
— O que você quer dizer com isso?
— Você sabe, depois do que eu fiz… O único motivo de você ficar é
porque estou grávida?
Ele levanta, sua expressão denotando choque ou algo além.
— É isso que você acha? — pergunta.
— Eu não sei o que achar, sinceramente. Me sinto perdida — confesso,
levando as mãos ao rosto. — Você age de uma forma que eu não sei
interpretar. Quando diz que me ama agora, penso que está se
autoconvencendo.
Ele não diz nada, simplesmente volta a se abaixar e recomeça os
movimentos para me despir. Eu tenho que calar a boca. Tudo o que digo não
está ajudando.
Capítulo 50
Amy está tentando me contar sobre como eu vou pirar em visitar lojas de
bebês, mas sou totalmente atraída quando Nicholas irrompe pelo quarto. Ele
parece cansado e desanimado.
Minha prima imediatamente nota minha reação e percebe sua presença,
então levanta e dá uma desculpa qualquer para se afastar.
— Você já comeu? — ele pergunta, muito calmamente.
— Sim — respondo, bem baixo. — Onde você foi?
Ele caminha até a cama e se senta ao meu lado, os olhos mirando os
meus.
— Lindsay quer os filhos de volta — responde, e eu congelo no lugar.
— Seu amigo disse que já tinha contado meu caso e a polícia entrou em
contato com ela. Minha irmã não queria me denunciar, pelo que fiquei
sabendo, mas quer as crianças de volta. Ela garante estar sóbria e
arrependida, e disse que entende que fiz isso pelo bem deles.
Estou boquiaberta. Quando vou parar de me sentir surpreendida?
Desmond já o tinha denunciado? Fiz Nicholas me odiar à toa?
— Ela... Você vai aceitar? — pergunto.
— Eu não sei — ele suspira, passando as mãos no rosto. — Nós não nos
falamos ainda. Ela está vindo para cá amanhã, então poderemos fazer isso.
Mas eu não quero, eles são meus, eu os criei. Não confio na Lindsay. Não
mesmo.
Respiro fundo, sem saber o que dizer.
— Eles nem sabem que a mãe é viva. Como vou explicar isso? Se ela os
quer e eles quiserem ir, vou ter que fazer isso. Se eu quisesse os adotar e ela
concordasse, ainda seria muita burocracia até tê-los de forma legal. Eu estou
perdido. Não era para nada disso estar acontecendo.
Não digo nada, estou somente como ouvinte. Eu o fiz passar por isso.
Não tenho que opinar.
— Como você está? — ele me olha.
— Bem.
— Você está com medo de mim?
Eu reteso no lugar. Céus, não. De onde ele tira essas perguntas? Estou
me sentindo um lixo, mas somente isso.
— Não — nego, balançando a cabeça ao mesmo tempo para dar ênfase.
— Eu quero jantar com você. Aceita?
Eu amoleço no lugar. Como ele consegue?
— Sim, aceito — respondo, quase engasgada pela surpresa.
Nicholas suspira.
— Eu odeio o fato de você estar se sentindo longe de mim quando
deveria ser totalmente ao contrário, principalmente agora que preciso
realmente de você — ele me avalia, os olhos estreitos. — Volto para pegar
você às sete. Preciso sair agora.
Ele levanta e sai, me deixando aflita.
Não aguento mais isso. Não mesmo. Essa situação e clima, pesados e
horríveis.
Amy volta quase no mesmo instante que ele sai, então corre até mim e
me abraça.
— Eu ouvi tudo. Sou uma fofoqueira, eu sei, mas não resisti — ela se
afasta. — Você não está fazendo certo, Amber.
— Do que você está falando? — pergunto, enquanto mantenho meu
foco longe. Estou perdidíssima.
— Isso de você o deixar longe. Não é certo.
— Não é proposital — olho para ela. — Foi algo que criou. Eu disse
muita coisa a ele, Amy. Coisas com a intenção de machucar mesmo.
— Sim, você é uma idiota, eu sei. Mas, veja bem — aponta para mim,
seus cabelos loiros balançando quando ela se remexe. — Você não fez de
propósito. Quer dizer, sua intenção era ajudar. Vou te contar uma história
engraçada e parecida — ela ri.
— Qual? — eu me deito de novo e ela se arrasta para fazer o mesmo, ao
meu lado.
— Tinha um cara — começa. — Ele se apaixonou, quando ainda jovem,
mas aí a garota foi embora. Ela tinha uma vida destruída e não queria que ele
tivesse que passar por isso junto. Ela se achava indigna dele. Bem, passados
alguns anos, eles se reencontraram e só então se deram conta do que sentiam
— me olha, gesticulando. — Não sei como não perceberam antes. Enfim,
eles tiveram o primeiro contato físico, que pareceu ser mais que isso. Depois
de alguma insistência, o cara conseguiu fazer com ela se abrisse um pouco
mais, mas aí, quando tudo parecia bem, bang! — ela emite um som, então ri.
— Bang o quê? — questiono curiosa.
— Ele a fez relembrar seu passado de uma forma dolorosa e proposital.
Só que — ela suspira —, ele não fez por mal. Diz-se que só queria que ela
entendesse que não era mais como antigamente, que a garota estava com ele,
que ia ser diferente, que ele podia fazer mudar.
— Diz-se?
— Ele disse — Amy acentua. — Depois visualizou que foi uma forma
péssima de mostrar isso a ela, porque ele acabou sendo como um dos caras,
ele a ofendeu e humilhou, mas não foi por querer. Era só algo muito louco e
desesperador que o fez perder o rumo por achar que ela poderia partir de
novo. Ele disse que não é algo racional ou explicável, as burradas são
cometidas por medo ou horror de alguma possibilidade ruim. Possessividade
por controle, ou algo assim.
— Quem é ele? Que história é essa?
Ela ri. Um risinho implicante.
— Só digamos que ele é um amigo que quer o meu bem e me atentou ao
que pode acontecer — gesticula — caso eu me apaixone fortemente por
algum irracional obsecado.
— Talvez você seja a obcecada irracional — pontuo.
Minha prima se finge horrorizada, mas logo me abraça, se
aconchegando perto de mim.
— Eu sou boazinha — garante. — Mas só estou tentando te explicar que
você não deve se sentir tão culpada pelo que fez. Você teve uma intenção
realmente boa, não quis magoá-lo.
Suspiro, pensativa.
— Qual foi o desfecho do cara? — pergunto.
— Eles se casaram e tiveram os filhos mais lindos do mundo — dá
risada. — De verdade, eles se amam. Tudo é perdoável por amor. Vocês vão
passar por isso, vão superar.
— Você está falando sobre amor? Sério? — dou um sorriso.
Amy bufa e tenta me fazer cócegas.
— Sou uma romântica nata — afirma. — Só não achei a pessoa certa
para demonstrar.
— Estou ansiosa para quando isto acontecer.
— Eu também — mais um suspiro longo. — Eu também. Agora eu vou
levantar e ir comprar algo para você vestir para jantar com seu futuro marido.
Se apressa — ela levanta e sai correndo de novo.
Capítulo 51
....
Amber nos leva corredor adentro, até estarmos na sala de jantar. Acho
que estamos quase lá. Voltando ao normal, quero dizer. Estou cheio de uma
dor significativa e tudo que consegui arrumar como solução foi sentir e ter o
corpo dela para mim. Outra vez. E tudo pareceu se acalmar mais um pouco.
Ela me olhou e garantiu me amar. Amber me ama.
— Vocês chegaram — Sra. Mackenzie cantarola e vem até nós, me
dando um beijo na bochecha e um abraço, antes de fazer o mesmo com a
filha.
Philip se vira de onde está, na ilha cortando alguma coisa, então seus
olhos me miram imediatamente. Ele se torna bem sério e sombrio no mesmo
instante.
Eu o vejo soltar a faca no balcão e então caminhar até perto de nós.
Confesso que ele tem mais músculos do que deveria para um cara da idade.
— Uma palavrinha com você — sibila passando por mim.
Me viro para Amber e deixo um beijo em seu rosto, observando que ela
parece imediatamente alarmada.
— Se ele encostar em você, me grita, por favor — pede.
— Ele não vai, amor. — Eu espero que não.
Deixo-a com a mãe e sigo com Philip, até uma porta. Ele a abre e me
deixa passar na frente. É um escritório. Um escritório muito bacana.
Eu espero até que ele me aponte uma poltrona e então se senta em um
sofá em frente. Não estou com medo, apenas apreensivo.
— Desmond foi preso ontem à noite — dispara. — Sabe, pelo fato de
estar envolvido com coisas ilegais.
— Uau — é tudo que consigo dizer.
— Não fiz por você, fiz pela minha filha. Ninguém a faz sofrer e sai
impune.
Eu concordo, com um manear de cabeça.
— Nós vamos nos casar — compartilho. — É oficial agora — levanto a
mão com a aliança.
Philip assente, olhando um pouco e depois para mim.
— Como você está? — pergunta, e eu me surpreendo.
— Na medida do possível. Meus filhos foram embora ontem e eu não…
— miro um ponto qualquer, a lembrança de minha irmã os levando para
longe de mim sendo dolorosa demais. — Não estou bem ainda com isso.
Lindsay pareceu completamente diferente agora. De verdade. Ela não
tinha mais aquele olhar de dor de como todo o tempo antes. Algo nela me fez
ficar mais tranquilo, mas não tanto. Eram meus filhos e ela quis os tirar de
mim.
— Eu lamento muito — Philip suspira. — Mas pense que agora você
terá mais dois bebês para cuidar e além de uma mulher muito chata para te
dar um pouco de trabalho.
Eu o olho, estranhando a declaração.
Ele dá de ombros.
— Não me engano, eu sei a filha que tenho. A Natalie diz que ela puxou
a mim, mas a verdade é que parece totalmente com a mãe.
— Ela pode ser difícil quando quer — concordo.
— Sim, muito. Muito mesmo. Pra caramba — ele assobia. — Se ela
realmente puxou a Natalie em todos os sentidos, pra caramba mesmo. Você
vai ter um baita problema. Eu falo muito sério.
— Eu sei como lidar com ela quando se torna uma cobra venenosa —
garanto.
Ele solta uma risada alta, balançando a cabeça de forma afirmativa.
— Que história é essa de cobra venenosa?
Olhamos para a porta, enquanto vejo Sra. Mackenzie se aproximar com
uma bandeja contendo dois copos de suco.
— A minha, que tá louca para dar o bote e soltar o veneno dentro de
você — ele responde de imediato.
Eu fico imediatamente sem graça, sem saber onde enfiar minha cara.
Eles não têm vergonha.
— Você é um idiota, Philip Mackenzie — ela resmunga. — Não devia
dizer estas coisas em frente ao Nicholas — me olha, estendendo a bandeja,
parecendo envergonhada. — Desculpe, ele é um idiota.
— Eu não sou um idiota — ele rebate e dá um tapa em sua bunda, ao
que ela dá um pulo e um grito. — Só sou louco por você.
— Você é louco de toda forma — ela se vira e ele tenta puxá—la, mas
ela se afasta rapidamente. — Eu só vim trazer o suco. Espero vocês na sala de
jantar.
Philip observa até que ela saia e feche a porta, então dá um suspiro
longo demais.
— Se você sente pela Amber pelo menos metade do que sinto pela
Natalie — ele me olha. — Você está com a felicidade garantida pelo resto da
sua vida.
— Você parece sentir algo forte mesmo.
Ele ri.
— Sim, muito forte. Não foi fácil, no início. Nunca é e nem nunca vai
ser. Pode não parecer, mas a gente tem muita merda atrapalhando todos os
dias. São pessoas querendo nos separar — seus olhos miram o chão. — Uma
vez ela quis se divorciar — dá um riso nervoso. — Você acredita? Divórcio,
cara. Ela cogitou um divórcio.
Philip parece pensativo.
— Eu fiquei louco — ele me olha. — Pensei que não estava sendo
suficiente, que não estava fazendo o suficiente. Cheguei a achar que ela não
me amava mais. Meu Deus, foi horrível. As crianças eram pequenas e eu
fiquei desesperado.
Eu estou surpreso, prestando atenção. Philip e Natalie e divórcio? Não,
definitivamente são palavras que não combinam juntos.
— O que aconteceu? — pergunto, curioso.
— Investi mais em nós — ele me olha, bem sério. — Eu já era muito
presente, mas não estava certo. Natalie era bem nova e tinha tido dois filhos
de uma vez. Eu trabalhava e ela teve que poupar seu tempo só para as
crianças. Foi uma ideia de impulso que surgiu nela em meio ao cansaço, isso
do divórcio. Ela disse que não aguentava mais, que não tinha sido nada do
que havia planejado para a vida.
Eu aguardo enquanto ele olha além.
— Então eu fiz o máximo para lembrar o porquê de a gente estar junto.
Nós funcionamos, nós somos um do outro — continua. — Nunca que eu ia a
deixar ir para longe de mim. Nós nos lembramos como é, é disso que estou
falando para você — aponta para mim. — Quando as coisas parecerem muito
nebulosas entre vocês, não desiste e nem entra em desespero, só pega as
rédeas e lidera a situação da forma certa. Você não pode deixar apagar o que
sente, como nasceu e o que enfretaram para ficar juntos. Não foi à toa, nada
do que passaram. Valorizem cada momento juntos, façam valer a pena. Porra,
amor não acaba, Nicholas — ele me olha bem nos olhos. — É questão de
decisão, não esquece isso que estou te dizendo. Essa foi a primeira prova que
vocês passaram juntos, ainda virão muitas outras, mas você não pode
retroceder. Não pode. Você me entendeu?
— Sim — assinto. E como entendi. Ele nem precisaria ter dito nada. Eu
sei como lidar com isso. Sei bem.
— Então eu não tenho mais nada a te dizer — ele respira fundo. —
Cuida bem da Amber ou você sabe que pode haver algumas consequências da
minha parte.
— Eu vou cuidar bem dela, você não precisa me atentar a isso.
Philip assente, então estende a mão.
— Te permito então ficar com ela, com o meu consentimento. E
parabéns pelo noivado.
— Obrigado — aperto sua mão, agradecido e aliviado. — Obrigado por
tudo.
— Beleza — ele solta minha mão. — Eu luto às sextas na academia aqui
de casa. Se quiser dar um pulo aqui para gente dar uma golpeada um no outro
por uns minutos.
Eu rio.
— Pode ser. Vou pensar.
— Só não conta para a Amber, ela não deixaria.
— Não mesmo — concordo, me levantando quando Philip faz o mesmo.
— Mas a gente pode fazer mesmo assim.
Ele parece querer mesmo a luta, então eu concordo. Preciso mesmo
pagar os socos que ele me deu e aliviar a raiva do policial desgraçado e a
angústia que estou sentindo pelas crianças que se foram. Eles se foram. Os
meus filhos.
Capítulo 57
— Não foi e nem está sendo fácil para mim também. — Olho para o lado,
ouvindo Lindsay falar, enquanto mantém o foco em Nicholas e nos filhos,
que estão sentados no sofá conversando e rindo.
Estou completamente desconfortável em estar tentando ficar próxima a
ela. Mas, é pelo Nicholas, então eu posso fazer isso. Eles quis vir vê-los.
— Entendo — murmuro. Mas não entendo.
— As crianças sentem falta dele — ela me olha. — Eu passei por uma
fase difícil e agora estou colhendo o que plantei. Entendo isso de verdade,
mas acho que uma das piores dores para uma mãe é os filhos não a chamarem
de mãe.
— Do que eles a chamam?
Ela dá um sorriso, que lembra em muito o de Nicholas.
— Você. Me chamam de você.
— Você não pode culpa-los. Realmente não foi uma mãe, não até agora
— despejo.
Ela assente, olhando-os de novo.
— Eu sei, não estou me vitimando, apenas querendo colocar algumas
coisas para fora. Desculpe, você também não tem que ouvir meus lamentos.
— É, eu não tenho, mas acho que você devia procurar um psicólogo ou
algo assim. Não penso que vai ser fácil para você.
— Não, não vai — ela dá um riso sem humor. — Está difícil, mesmo
depois desses nove meses — me olha. — O Nicholas pensa em tirá-los de
mim?
— Não — nego. — Ele está magoado com você, mas não quer pegar os
filhos de volta. Não mais. Ele entende que você é a mãe e está esperançoso de
que o que esteja fazendo realmente seja sincero e que você tenha mudado.
Lindsay assente, concordando, meio pensativa.
— Eu nunca poderei dizer o quanto sou grata pelo que ele fez. Não sei o
que as crianças seriam se ele não as tivesse acolhido.
— Foi mais que um acolhimento — deixo claro. — Nicholas se tornou o
pai que eles não têm. Ele deu a vida por eles praticamente. Você nunca vai
poder entender o amor que ele sente por essas crianças.
Ela concorda novamente, então seu olhar recai para a minha gigante
barriga de nove meses.
Nove. Eu posso dar à luz a qualquer momento. É emocionante e
pavoroso.
— Ele gosta de crianças — diz.
Acaricio por cima da barriga e abro um sorriso. Estou parecendo um
leitão, mas estou contente. Vou ter um casal, do mesmo jeito que meu irmão
e eu. Felicidade é apelido para mim. E pro meu marido. Oficialmente marido.
— Você já tem os nomes? — ela pergunta.
— Matthew e Mandy — respondo rapidamente. Nicholas me deixou
escolher os nomes, o que me encheu de alegria.
Abro um sorriso ao receber um chute dos nenês como resposta.
— Um casal — ela sorri. — Estou vendo o quanto ele está feliz.
Ele está. Muito. Não tem um dia que ele não me diga o quanto gosta da
ideia de eu estar grávida, e eu fico sorrindo que nem uma idiota. O mais
interessante é que nunca pensei que ficaria tão alegre em estar esperando um
filho — dois, no meu caso — e, de quebra, parecendo um balão.
— Ei, Amber, você vai me deixar pegar o bebê no colo? — Edward
pergunta e só então me dou conta das mãozinhas sobre minha barriga.
— Vou, sim — afirmo, sorrindo, pondo as mãos por cima das dele.
Sinto uma aparente contração, mas não foco nela. Não posso me preocupar à
toa. Isso aconteceu várias e várias vezes. Preciso estar tranquila.
— Você está muito gorda mesmo — Christian diz, e fica ao lado do
irmão.
— Isso não se diz, Chris — o primeiro o repreende. — As mulheres não
gostam de ouvir que estão gordas.
— Mas ela está. — Christian parece desentendido. — Não posso dizer
ao contrário.
— Guarde a informação com você — Edward resmunga e eu começo a
rir.
Os dois me olham e Christian dá um sorriso tímido.
— Desculpe, Amber — Edward fala. — Você está muito bonita, não
ouça o meu irmão.
Nicholas aparece por trás deles com Emily no colo e eu levanto o olhar
para ele, ainda rindo.
— Achou algo engraçado, amor? — pergunta, sorrindo.
— Sim, os meninos estão me achando uma baleia.
— Eu não estou — Edward se defende.
— Oh, o Edward não, realmente — concordo.
— Mas você está — Nicholas balança a cabeça. — Só não come as
panelas porque eu não deixo.
Todos começam a rir e eu mais ainda. É realmente verdade. Estou
comendo mais do que uma vaca. Tudo e toda hora. É fome que não cabe em
mim. Devo ter engordado uns vinte quilos. Gostaria de ter sido como a
Megan, que mesmo grávida parecia magra. Agora está com o corpo normal
de novo depois do James.
Eu paro de rir quando uma dor aguda me atinge em cheio, quase me
fazendo dar um pulo.
Oh, não. Contração não. Não agora.
Outra mais forte e eu solto um suspiro, olhando para Nicholas, que já
está atento.
— Meus pés estão molhados — Christian murmura e dá um passo para
trás, então é muito rápido quando meu marido põe Emily no chão e tira as
crianças de perto de mim, se abaixando para me olhar.
— A bolsa — ele declara. — Tá na hora, amor.
— Que bolsa? — pergunto, preocupada. Estou nervosa imediatamente e
dou um grunhido com outra contração.
— A bolsa estourou — ele levanta, então segura minhas mãos. — Não
se atreva a ficar com medo agora. Nós temos que ir.
Ele parece absolutamente tranquilo. Como pode? Está na hora. É agora.
Eu vou parir duas crianças e ele está calmo assim? Como isso foi tão rápido
assim? Minha mãe disse que ia ter todo um alarde antes!
— Eu posso ajudar em algo? — ouço Lindsay perguntar.
— Abrir a porta do carro, por favor — Nicholas responde e me ajuda a
levantar. Recebo um beijo nos cabelos e ele me olha, sereno, os olhos
brilhando. — Vai dar tudo certo, amor. Eu estou com você. Sempre vou estar.
Eu assinto, já super nervosa, mas com a certeza de que ele está
comigo. Claro que sim. Nicholas estará sempre comigo.
Respiro fundo e me concentro em fazer meus pés se moverem.
Chegou a hora, enfim.
EPÍLOGO
Natalie
Eu me viro e observo que Philip está sentado na cama, o que me incita a
acordar de vez. Ele já está estranho há uma semana. Com certeza foi porque
nossa neném foi embora. Eu nem imagino como deve estar se sentindo. Os
filhos são tudo para ele. Luke já foi embora há um tempo praticamente, e
agora a Amber. Ele não está sabendo lidar.
Eu sento e ligo a luz do abajur, vendo as piscinas verdes me focarem no
mesmo instante.
— Não conseguiu dormir? — questiono.
Philip balança a cabeça, negando.
— Quer que eu faça algo por você? — proponho. Eu consigo fazê-lo
dormir, mas ele anda meio alienado — o que não é novidade.
— Eu quero outro filho — ele responde, taxativo.
Me remexo, então solto um riso nervoso.
— Como é?
Ele assente, se ajeitando e me encarando muito sério.
— Falo sério. Quero que tenhamos outro bebê.
— Pirou, Philip? — demonstro minha indignação. — Eu não vou ter
outro filho.
— Por que não? — Agora ele parece magoado. — Eu pedi pra gente ter
pelo menos uns cinco, mas você não me ouviu.
— Eu não ia ter cinco filhos, você é louco?
Ele geme, parecendo derrotado, então leva as mãos ao rosto.
— Você me enganou.
— Quê? Eu não te enganei — discordo.
— Sim, Natalie — grunhe, me olhando de novo. — Você me enganou.
Naquela vez que você me disse que pensava estar grávida.
— Eu pensava — esclareço. — Você que ficou dizendo para todo
mundo que eu estava.
— Porra, custava me dar mais um filho?
— Custava, é claro. Eu tive gêmeos de um parto normal, seu
desgraçado. Você acha que é fácil? — pergunto, perplexa. Ele não pode estar
falando sério.
É mesmo verdade que quando nossos gêmeos tinham quatro anos, eu
pensei estar grávida. Philip fez um alarde, dizendo para todo mundo e que
ainda queria outro casal. Eu fiquei ansiosa, mas no fim não era uma gravidez
e só um atraso, o que o deixou mal. Ele passou uma semana me comendo
feito um louco, dizendo que eu tinha que estar grávida. Meu marido tem
algum problema sério, mas eu tenho que me acostumar com isso. Só que não
é algo fácil.
— Agora vai ser o quê? — ele pergunta. — Você e eu sozinhos nessa
casa? Daqui a pouco você pega um gato e quando a gente perceber tem uma
ninhada. Depois a gente vai cuidar do jardim e fazer bolo de cenoura com
chocolate para os netos? Porra! Eu não estou bem com isso, Natalie.
Ok, eu entendi. Ele não está levando numa boa ainda isso de ser avô. Eu
entendo. Completamente.
— Ei — eu engatinho até ele e sento em seu colo. — Você sempre vai
ser meu homem gostoso e viril. Para de se preocupar com isso — seguro seu
rosto, forçando—o a me olhar. — Você é jovem ainda, Philip.
— Sou — ele concorda, meio sombrio. — Sou, sim.
— Você é.
Ele morde o lábio carnudo e delicioso, então grito quando me empurra
contra o colchão, imediatamente se ajoelhando entre minhas pernas.
Suas mãos vasculham por dentro do babydoll e eu solto outro grito
quando ele me invade com os dedos.
— Você é minha — declara. Disso eu já sei. Há muito tempo.
— Sou mesmo — ofego. — Você não precisa repetir.
— Eu preciso, pra você nunca esquecer.
Dou um sorriso ao olhar para o meu homem devastadoramente lindo,
com os cabelos grisalhos e o rosto lisinho por ter feito a barba, enquanto as
piscinas verdes estão em evidência em seu rosto. Ele é lindo de morrer.
— Você acha que vai ficar mais louco quando a Amber estiver com a
barriga enorme? — questiono, receosa.
Philip puxa os dedos de dentro de mim e estreita os olhos, voltando a se
sentar, então coça a cabeça, pensativo.
— Eu não estou contente com isso, vou admitir. Preferia que ela
estivesse ganhando outro irmão e não estando grávida. De gêmeos ainda por
cima.
Solto um riso e volto a me sentar, subindo no colo dele de novo. Ele
deixa as costas caírem contra o colchão, me levando junto, e eu mordo seu
queixo, me aninhando em seu peito.
— Você supera — digo.
Philip enterra os dedos por entre meus cabelos e me puxa, colando
nossas bocas e me dando um de seus beijos doces e tranquilos, que são raros.
Geralmente ele é voraz e exige muito de um beijo, por mais que seja só um
beijinho, ele sempre quer mais.
— Promete que você não vai pegar dez gatos? — questiona, se
afastando um pouco e em seguida voltando para mordiscar meu lábio
inferior.
Dou risada.
— Eu prometo. — Abro as pernas, montando em seu quadril, então
pressiono por cima dele de propósito, vendo imediatamente as pupilas
dilatarem. — Como você pode achar estar velho? Mal toco em você e fica
assim.
Ele abre o sorriso maravilhoso e perfeito para mim, me deixando cheia
de prazer.
— Só com você, minha menina linda — afirma. — Só com você.
— Claro que só comigo. Que eu ao menos imagine que você brilha os
olhos desse jeito para outra mulher e era uma vez um Philip Mackenzie —
deixo claro.
Ele dá uma gargalhada, seu peito remexendo sob mim, me fazendo sorrir
por ter conseguido fazê-lo dissipar a ideia de estar mal por ser avô. Eu estou
super tranquila. Vovó Nate. Tem coisa mais amorosa? Sim. Vovô Philip.
Dou risada com meu pensamento e em instantes estou sob o corpo
delicioso e moreno do meu marido gostoso e lindo, de novo.
— Me mostra esses peitos — ele pede, os braços apoiando o peso do
próprio corpo. — Eu preciso de você.
— Você precisa de mim sempre — murmuro, puxando as alças do
pijama para baixo e recebendo um gemido de Philip como resposta.
Ele espalma uma das minhas mãos em meu seio e aperta, os olhos se
conectando novamente aos meus.
— E o Luke? — ele pergunta de repente.
— O que tem?
— Ele vai estar de volta em pouco tempo. Você acha que ele estará apto
para assumir meu lugar?
Abro um sorriso.
— Ele é um Mackenzie — respondo. — Então, sim, acho que vai estar.
Philip assente, subindo a mão até chegar ao meu queixo, onde recebo
um carinho.
— Eu amo você, Natalie. Muito mesmo — ele relembra.
— Eu sei, Philip — sorrio. — Será que você pode desligar a luz agora
para gente dormir?
— Não — sorri. — A noite é uma criança, meu amor.
— Nem brinca com isso — me remexo, mas ele me prende, uma
sobrancelha grossa se erguendo.
— Força de expressão — explica. — Agora, abra as pernas que eu
preciso provar que estou cem por cento ainda.
Solto um riso e o puxo em minha direção, dando uma mordida em seu
pescoço.
— Você está em duzentos por cento, meu amor — afirmo e mordo sua
orelha, ao que ele dá uma risadinha e aninha o rosto em meu pescoço, me
fazendo suspirar agradecida por saber que ele vai dormir — sem querer. É
como funciona. Meu pescoço é um sonífero para ele.
A verdade é que nós dois somos as igualdades mais opostas que deram
certo. É algo louco, mas que faz todo sentido para nós. Bem, talvez não faça,
mas eu não ligo. Philip Mackenzie é meu marido.
MEU.
Por que eu ligaria para algo?
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