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A “IRMÃZINHA” DO CEO
Copyright © 2021 Izabella Mancini
IZABELLA MANCINI
Edição — 2021
Instagram: @autoraizabellamancini
Querido diário,
Valentim vai embora e levará consigo uma parte de meu coração. Olho pela
janela alta do quarto e fico pensando no que farei amanhã quando acordar.
O que vai ser de mim sem ele por perto? Como vou seguir sem tê-lo
segurando minha mão?
A vida não parece ter graça sem ele e tão pouco viver sem sua presença... Eu
o amo, como escrevo aqui todos os dias, mas esse segredo vai ter que morrer
em minha garganta, tragado por meu estômago e amassado no passado.
Para ele sou apenas uma menininha.
Valentim não hesitou em ir embora sem olhar para trás. Sem ter em mente
que me deixaria... Eu implorei para que ficasse, mas simplesmente vai me
deixar.
E o odeio por isso!
— Eu já disse tudo que tinha para dizer, Valentim — Sussurrei ignorando seu
olhar, tentando disfarçar a maneira como estava admirando-o naquela calça
jeans escura e camisa preta colada ao peito forte. Sua pele morena reluzia sob
o sol fraco do fim de tarde e os cabelos negros caiam ao lado do rosto. Ele era
lindo... Meu príncipe, mesmo que não soubesse!
— Nenhuma garota no mundo terá mais minha atenção do que você, Analuz
— Segurou meu rosto com as duas mãos, olhando-me firmemente. Havia
verdade em seus olhos castanhos, por isso me calei. Segurava minhas
lágrimas o máximo que podia, mas era como se a figura linda de meu "meio
irmão" se esvaísse cada vez que nos encaramos. Como se virasse uma sombra
— Você é minha menina, minha irmãzinha...
Seu dedo secou a lágrima que rolou em minha bochecha com carinho e se
aproximou para beijar minha testa demoradamente, segurando-me contra seu
peito.
Permiti-me chorar. Não somente chorar, mas abraçá-lo com todas minhas
forças e deitar, talvez pela última vez, meu rosto em seus ombros firmes e
largos... Aqueles braços que eu tanto gostava... Aquele calor que me
preenchia por completo.
Tentei me soltar, mas Valentim me trouxe de volta com uma pegada forte em
meu pulso.
Era melhor que fosse e sumisse! Era melhor não tê-lo, do que vê-lo e ser
chamada de "irmãzinha". De menina. De "Loirinha". Era isso que eu era e
sempre seria diante dos olhos dele... Sua irmã mais nova, mesmo que de fato
não fosse! Nada mais sou do que a filha biológica de seu padrasto, o homem
que o adotou como um verdadeiro filho após a morte de sua mãe. Nada mais
sou do que uma menininha de catorze anos que o perturbava desde o
nascimento.
"Valentim já tem vinte e quatro anos" Dizia minha mãe toda vez que me via
chorar pela partida dele "Precisa ir para a faculdade e terminar os estudos na
melhor escola, querida".
Valentim jamais me veria com outros olhos além daqueles cheios de carinho
que me acalentavam. Nunca sequer cogitou que o amor que eu sentia por ele
era diferente, não tinha nada a ver com o de irmã... Ele sempre foi meu
príncipe, na verdade, desde criança. Sempre o vi como meu final feliz, mas
em mim Valentim apenas via sua irmã.
— Não quero ir, Analuz — Sua convicção, pela primeira vez, me pareceu
sincera. A firmeza de seu olhar se tornou ainda mais poderosa quando me
segurou pelos braços com as duas mãos, trazendo-me para perto de seu corpo
forte — A última coisa que desejo em toda a vida é deixá-la, mas... —
Fechou os olhos e suspirou. Eu podia sentir seu hálito em meu rosto e não
afastava o olhar de sua boca — Não tenho outra saída. Não posso continuar
aqui! As coisas podem fugir do meu controle, será que não entende?
— Não! — Esbravejei diante de sua face — Não entendo! Seja mais claro,
diga com todas as letras seus motivos para ir!
— A única coisa que posso dizer é que faço isso pelo seu bem... Pelo nosso
bem — Assegurou tentando não me olhar. Parecia constrangido e voltei a me
sentar no balanço — Não posso ficar nem mais um minuto aqui, Analuz.
Cada segundo que passa me sinto pior por tudo que vem acontecendo e... —
Deteve-se, erguendo os olhos para mim como se pedisse desculpas — E vai
ser melhor assim.
— Você vai voltar um dia? — Questionei quase sem voz e encarei seu rosto.
Uma lágrima deslizou em sua face e notei que era a primeira vez na vida em
que o via chorar. Assustada, toquei sua face com a mão trêmula e ele fechou
os olhos diante de meu toque.
— Vou... Eu juro que um dia volto para te ver novamente, Loirinha. Mesmo
que brevemente... Mesmo que por apenas um minuto — Sorriu de maneira
triste, virando o rosto para beijar minha mão que pousava em sua face.
Eu sentia seu calor em minha palma. Sua face áspera pela barba recém-feita.
Aproximei-me e colei a testa na dele, fechando os olhos.
— Nunca te vi chorando, Valentim.
Sorri para ele entre as lágrimas, contendo-me para não falar demais.
Baixei a mão aos poucos, sabendo que aquele tinha sido o último toque que
compartilhamos. O sorriso de Valentim se apagou e dei alguns passos para
trás, voltando ao balanço.
Ele me amava, eu sabia. Mas como irmãzinha. Era melhor que fosse embora.
Querido diário,
Talvez fosse para mim, uma vez que teria a oportunidade de esquecê-lo e
fazer aquele amor secreto morrer no silêncio, mas não era o melhor para ele.
E eu não saberia como continuar minha vida sem acordar todos os dias e tê-
lo comigo.
Não sei como vou continuar sem ele. Não sei como tirar essa dor que sempre
vai viver em meu peito. Ainda fecho os olhos toda noite e o vejo indo em meu
quarto e beijando minha testa antes de fazer alguma brincadeira boba sobre
minhas bonecas. Ainda o vejo me fazendo cócegas, comprando meus doces
favoritos e me protegendo sempre que precisei.
Ainda o vejo como meu príncipe encantado. Ele não é meu irmão... Mas
mesmo assim o amo. Será que é esse o pecado? Será que é isso que Valentim
queria dizer quando falou que fez o melhor para mim?
No fundo do meu coração sei que por isso Analuz jamais irá me perdoar. Tê-
la deixado foi a maior das traições e sim... Era isso que eu queria! Que ela me
odiasse! Talvez fosse a única maneira de jamais voltar a pensar nela.
— Você sempre fica assim depois que fazemos amor, querido... Algo te
incomoda? — Desvio a atenção rapidamente para o olhar curioso de minha
namorada, uma morena escultural de longos cabelos escuros e olhos
amendoados.
Michele é o ideal para todo homem que busca alguém para afogar as mágoas.
Uma aposentada modelo das mais caras marcas da moda e com o corpo
moldado por academias e procedimentos estéticos variados. Pouco cérebro,
muita sensualidade. Poucas perguntas e muito a oferecer na cama. Aos vinte
e oito anos era comentarista de moda em programas de auditório e famosa
por posar nas mais variadas revistas em circulação.
No fundo sei que está interessada em minha fortuna, mas prefiro fingir que
acredito em sua história de amor. Meu padrasto e o advogado de minha
falecida mãe eram as pessoas mais próximas em minha vida e ambos me
orientaram a me casar... Ao menos foi isso que mamãe estipulou em seu
testamento antes de morrer e me deixar toda sua fortuna e os bens que um dia
foram de seus pais, meus avós.
Antes dos trinta deveria me casar, se queria realmente ficar à frente das
empresas que assumi e herdei aos vinte e cinco.
Os vinte e oito anos também batiam em minha porta e era hora de começar a
pensar em tudo. Michele foi o mais sensato, visando que era a mais
comportada entre todas as outras que apareceram. Ainda era cedo para pensar
em casamento, mas não havia escapatória.
Petrônio — meu padrasto — tratava de seguir à risca tudo o que sua falecida
esposa estipulou para mim no testamento. Até minha maior idade foi ele
quem administrou minha herança e sempre foi muito correto em relação a
tudo. Sei, como homem, que jamais amou Yekaterina — sua atual esposa e
mãe de sua filha — como um dia amou minha mãe, a quem perdeu
precocemente para o câncer.
Jamais esteve em meus planos voltar, muito menos com Michele ou qualquer
outra mulher a tiracolo. Se não fosse pela saúde debilitada da mulher que me
criou como filho, eu jamais voltaria a colocar meus pés em minha cidade
natal, no Brasil.
— Mas estou ansiosa para conhecer seus pais e sua família no Brasil,
querido! — Sentou-se empolgada — Me fale um pouco sobre eles!
Suspirei e passei os dedos entre os fios de meu cabelo escuro e bagunçado
pelo sexo de minutos antes. Desviei o olhar novamente para a pintura.
— Ela não é mais uma menina... Mês que vem, no dia quatro, completa
dezoito anos — Michele se calou e me encarou surpresa.
— Uau! Você nunca decora data nenhuma, sequer o aniversário de seus pais,
no entanto sabe o aniversário de sua irmãzinha! — Corei um pouco,
suspirando pelo nervoso que me causava falar sobre o tema — Ela é muito
importante em sua vida, pelo que vejo.
— Ela não tem redes sociais. Petrônio impôs como segurança, sabe como é...
Muito dinheiro, muito cuidado. É uma patricinha super protegida, quase
como... Um diamante. E sim, é bonita. Muito bonita. Satisfeita?
Queria diário,
Não sei exatamente o motivo, mas tenho certeza de que meus pais me
escondem alguma coisa!
Desde que mamãe adoeceu as coisas mudaram muito por aqui e não sei se
me contam exatamente o que está acontecendo. Como diz Eva, minha babá,
meus pais não querem me machucar. Mamãe diz que está bem, mas vejo em
seus olhos e nas idas frequentes aos centros médicos que não é verdade!
Será que eles não entendem que já não sou uma menininha e posso entender
as dores do mundo?
Falta um mês para meu aniversário de dezoito anos. Cerca de três meses
para terminar o ensino médio.
As decisões em minha vida devem ser tomadas, mas papai e mamãe sequer
me deram a chance de conversar com eles sobre o assunto! Os dois sentem
pavor da ideia de me deixar voar...
Além da doença de mamãe, sinto que algo a mais está movimentando a casa,
até mesmo Eva e Violeta parecem estranhas. Disseram que é apenas uma
visita, mas quem poderá ser tão importante?
— Ainda perdendo tempo nesse diário bobo, Ana? Qual é! — Roberta, minha
melhor amiga de cabelos coloridos, bateu em minha carteira ao voltar do
intervalo. Fechei o diário em um reflexo, afastando meu cabelo claro da face
corada — Porque passou o intervalo todo aqui na sala e não desceu com a
gente?
— Ah, não estou com muito humor. Sabe como é... Minha mãe anda doente
— O sorriso de Roberta murchou. Sua maquiagem forte não escondia sua
vergonha.
— Desculpa... Esqueci. Tem algo que possa fazer para ajudar, amiga? —
Segurou minha mão com carinho — Não gosto de te ver assim...
— O que será? Será que seu pai, o Todo Poderoso Petrônio Vilanova —
Dizia o nome dele como se anunciasse um prêmio — Vai te dar uma Ferrari
em seu aniversário de dezoito anos?
— Ah, claro! — Roberta ria enquanto eu revirar meus olhos azuis, apoiando
o rosto na parede ao lado da carteira e cruzando os braços — Meu pai me
trata como um bebê, Roberta. Até parece que logo você não sabe disso!
— Meu pai ficou multimilionário depois que a primeira esposa dele morreu,
querida. Quem de fato é dono de tudo que temos é ela! Meu pai também tinha
uma boa posição social, mas nada comparado a ela — Relembrei a Roberta.
— Então não é o seu pai o grande dono de tudo, mas seu irmão, é isso? — A
raiva dominou meu semblante e fechei a expressão no mesmo momento.
Aproximei-me um pouco do rosto dela para dizer.
— Sim, ele é o herdeiro de tudo, mas aquele playboyzinho não seria nada se
não fosse meu pai tê-lo acolhido e assumido a responsabilidade de criá-lo e
administrar sua herança! Ele sequer sabia fazer xixi no penico quando a mãe
dele morreu e o deixou completamente sozinho no mundo, sem ter ninguém
que pudesse criá-lo! Se não fosse por meu pai, ele teria sido criado em um
orfanato comum até cumprir dezoito e poder, definitivamente, assumir o
dinheiro todo. Graças ao meu pai ele cresceu com uma família, com pais
adotivos e... — Engoli em seco — Ele não é meu irmão!
— O pai morreu antes de sequer registrá-lo. A mãe dele era filha única, já
órfã, sozinha e a frente de um império após a morte dos pais. Meu pai se
casou com ela e assumiu o menino como filho... — Expliquei brevemente,
querendo sair daquele assunto o mais rápido possível — Mais alguma
dúvida?
— Porque você sempre fica assim quando fala do seu irmão? — Questionou
curiosa, aproximando-se um pouco mais de mim.
— Assim... Nervosa, tremendo, com seu rosto pálido todo vermelho! — Dei
um tapinha em sua mão quando apertou minha bochecha — Anda, me fala!
Porque sempre fica assim quando fala de seu irmão?
— Não sei do que está falando e, repito, ele não é meu irmão! — A
professora entrou na sala e espiamos a mesma.
— Você ainda não perdoou ele tê-la deixado, não é? Sei que Valentim
sempre foi muito importante para você, Analuz, não se faça de difícil! —
Neguei com um suspiro entediado, retirando meu caderno da bolsa e
colocando sobre a carteira.
— Por mim aquele garoto pode explodir no mundo, querida! Se não fossem
meus pais lembrando ele a todo o momento, eu sequer me recordaria de que
existe, se quer saber! — Roberta sorriu.
— Ele é um gato, né? Nossa! Sua mãe me mostrou uma foto uma vez e...
O CEO do ramo têxtil mais jovem e atraente do país. Durante muito tempo, o
herdeiro mais cobiçado entre as mulheres.
Quatro anos se passaram desde que nos vimos pela última vez. A vida seguiu
e tudo mudou... Bom, ao menos no mundo dele.
Não estava em meus planos ser uma rebelde sem causa, tão pouco uma
patricinha fútil e mimada... Apenas almejo orgulhar meus pais, as pessoas
que mais amo no mundo. Ambos são muito orgulhosos do filho favorito, o
mais velho, aquele que sequer tem o sangue deles! Porque não podiam me
admirar da mesma maneira?
Um dia serei tão inspiradora e inteligente quanto Valentim, aquele que nunca
erra. Aquele que está acima do bem e do mal.
Aquele que um dia foi embora levando consigo meu coração sem se importar
em me deixar para trás.
— Chegou cedo, hein Fred! — Comentei enquanto ele abria a porta traseira
do carro — Está tudo bem em casa?
Entrei no carro empolgada, jogando a bolsa para o lado e alisando minha saia
azul escura com o logo dourado do colégio. Também ajeitei a meia longa e
branca que subia por toda minha panturrilha, parando abaixo do joelho.
Pendurei, com a ajuda de Violeta, um lacinho vermelho nas laterais da
mesma para dar um charme a mais. A camiseta do colégio era branca com o
logo dourado, mas por cima havia um casaquinho azul escuro combinando
com a saia.
Não era a melhor roupa do mundo, de fato, mas servia para receber, quem
sabe, meu carro novo!
Será que Roberta tinha razão e o mistério em minha casa se devia a compra
de um carro para meu aniversário que estava próximo? Meu pai já
providenciava tudo para que eu tirasse a carteira de motorista após meu
aniversário.
Passei um pouco de batom nos lábios e retoquei o rímel para parecer mais
bonita quando recebesse minha surpresa. Esfreguei as mãos enquanto o carro
estacionava, sequer esperando que Fred abrisse a porta para mim para descer.
A voz de papai ecoava, mas eu sequer ouvia. Alguns fios de meu cabelo loiro
se colavam a minha face assustada e a bolsa deslizou aos poucos de meu
ombro conforme meu corpo se tornava estático.
Além de meus pais, minha tia Alessa e meus primos, Philip e Violeta, estava
na mesa uma terceira pessoa de costas para mim...
Alto. Moreno. Cabelos até a nuca, jogados para trás e revoltosos. Ombros
fortes e maiores do que eu me lembrava. Levei a mão até o peito ao notar que
sim, eu não estava louca!
Era ele!
— Agora sim minha família está completa! — Mamãe dizia feliz como há
muito não parecia — Eu, meu esposo e nossos dois filhos amados!
— Analuz... — Ele sussurrou quase sem voz, uma das mãos no bolso e a
outra pousada sobre os lábios. Também estático. Também surpreso. Também
desacreditado.
Ele mudou demais! Ainda era lindo como eu me lembrava, mas um outro
homem. Muito mais homem do que quando se foi.
— Valentim...
Não era mais a criança doce que eu amava ternamente quando garoto, muito
menos a adolescente que desabrochava diante de meus olhos quando me
peguei apaixonado por ela e tive de ir embora... Analuz agora era uma
mulher! Ao menos fisicamente.
Seu cabelo ondulado e loiro descia até os ombros. O rosto ainda trazia traços
delicados, mas muito mais marcantes e definidos. Seus olhos azuis eram
exatamente os mesmos pelos quais me apaixonei... Lindos, profundos e
indecifráveis. Mesmo que em sonhos, eu ainda era capaz de me perder
completamente neles.
— Analuz! Seu irmão voltou! — Yekaterina foi até a filha, que ainda seguia
estática no mesmo lugar em que parou ao chegar, e apoiou as mãos no ombro
dela — Não vai sequer abraçá-lo?
Analuz encarou a mãe, desviando, finalmente, o olhar do meu. Seu olhar era
de pânico. Desespero. Descrença, talvez. Arrisquei dar um passo em direção
a ela, mas rapidamente recuou dois.
— Com licença! — Foi tudo o que disse antes de correr para as grandes
escadas e subi-las de maneira desesperada. Todos na mesa me encararam
quando baixei o olhar e comprimi os lábios.
— Ela ficou doente, mãe, até o ano da escola ela perdeu! — Violeta, a jovem
prima que tinha pouco mais idade que Analuz, comentou baixinho ao lado.
Ao contrário de Ana, era morena de cabelos escuros e longos — Não foi um
chilique.
— Yekaterina, minha irmã... Você precisa parar de mimar essa menina!
Todos sempre fazem suas vontades!
Parei diante da porta do quarto dela, que ainda era o mesmo de quando parti.
Bati duas vezes, mas não houve resposta. Tentei abrir a porta e a mesma
estava apenas encostada. Entrei sem perguntar.
O quarto ainda era como o de uma menina. Prateleiras com algumas bonecas,
livros e perfumes. Penteadeira de espelho com luzes nas extremidades, muita
maquiagem e fotos dela com as amigas. Uma grande foto de Analuz aos
cinco anos era exibida em um quadro grande e decorado, abaixo dela, mais
fotografias. Entre todas, uma de nós dois.
— Então foi por isso que você voltou? — Ainda não me olhava — Pela
mamãe...
— Também por isso — Segui parado ao lado dela, que seguia sentada — O
que preciso fazer para que me dê um beijo ou ao menos um abraço de boas-
vindas? Me diga... Qualquer coisa!
— O que quer que eu faça? Que te encha de abraços depois de ter me deixado
sem olhar para trás? — Finalmente me encarou, colocando-se de pé aos
poucos frente a mim — Que pule em seus braços como uma boa irmã caçula
faria depois de ter me abandonado? — Segui estático diante de seu rosto,
admirando seus olhos... O simples soar de sua voz. Fechei os olhos por um
minuto para sentir o cheiro que exalava dela, sentindo todo o corpo tencionar
pela proximidade. O desejo que sentia por Analuz era avassalador,
completamente incontrolável — Não, Valentim. Isso não vai acontecer! —
Vendo que eu sequer me movia, protestou — Vai ficar parado apenas me
olhando? Não vai dizer nada?
— Analuz...
— Já percebi que não, loirinha... — Corou nas bochechas quando citei seu
antigo apelido.
Lancei um olhar desafiador para ela, que ergueu o copo como se brindasse.
— Sim pai, tudo bem — Sorri sem humor enquanto avaliava o prato posto a
minha frente e começava a comer sem a menor vontade.
— A irmã parece que não muito... — Philip enquanto bebericava sua bebida.
Ele está aqui! Valentim está aqui, bem ao meu lado como uma visão! Mais
lindo do que nunca... Mais forte do que nunca... Com o melhor perfume
masculino que já senti na vida!
A vontade de me atirar em seus braços definidos e fortes era gigante, mas tive
de me conter. Aquele sentimento que eu trazia no peito quando menina ainda
seguia vivo, pude constatar desde que voltei a colocar os olhos nele. Aquele
sentimento absurdamente errado!
— Deve ter se assustado ao ver Analuz, meu filho... — Mamãe falava com
Valentim carinhosamente — Veja só como cresceu! Já é uma mulher!
— Não por isso. Você realmente é linda e... Nós não somos irmãos — Todos
na mesa o encararam quando disse tal frase. A tensão que pairou no ar se
dissipou quando mamãe o repreendeu de maneira brincalhona.
— Sabe que não gosto de ouvir essa frase por aqui, meu amor! — Tocou o
ombro dele — Vocês dois são meus filhos, criados sob o mesmo teto e com o
mesmo amor e carinho! Somos uma família e os dois são sim irmãos!
— Violeta também se tornou uma moça muito bonita, não acha Valentim? —
Tia Alessa tocou o cabelo da filha, que parecia constrangida.
— Realmente é uma moça bonita, filho — Mamãe tocou o ombro dele, que
ainda me encarava.
Subi para o quarto rapidamente, fechando a porta e abrindo meu diário sobre
a cama.
Querido diário,
Ele voltou!
Valentim voltou e está lindo como nunca, ainda mais lindo do que eu me
lembrava!
Porque dói tanto saber disso? Realmente acreditei que depois de tanto tempo
um homem lindo e poderoso ficaria realmente solteiro?
Valentim jamais vai olhar para mim, porque me dói saber que agora é de
outra? Porque me dói saber que já não é aquele garoto que me amava?
O que realmente dói, querido diário, é saber que ainda sinto coisas por ele.
Coisas que uma irmã não deveria sentir e ninguém pode explicar. Coisas que
desconheço!
Será que o amo? Será pecado? Será que me acha realmente bonita?
— Graças a você, pai — Bati meu copo no dele, que sorriu — Se não fosse o
senhor, o que teria sido de mim? Se não fosse o senhor me guiar até hoje nos
negócios, o que seria do grupo Ruiz-Vilanova? O senhor me fez o homem
que sou, pai. O senhor!
— Sim, mas não a amo — Respondi na lata, sem pensar — Estou com ela
porque é a melhor opção em meio ao mundo que vivo, mas... Não a amo.
— Não. Gosto dela e temos uma boa química na cama, mas... — Neguei com
um aceno — Não a amo.
Encarei meu pai — o homem que me criou como filho, eu amo como um pai,
mas não têm meu sangue — seriamente. As palavras entalavam em minha
garganta.
Como reagiria se soubesse que meu grande amor, o amor de toda minha vida
e devoção, era a filha dele de dezessete anos? Como reagiria se soubesse que
tive de ir embora para não me entregar ao desejo e possuí-la quando tinha
apenas quatorze anos? Como dizer que ficar perto dela era quase um
martírio? Ter que vê-la sem poder tocá-la era como morrer aos poucos?
Petrônio jamais admitiria.
Sou dez anos mais velho! Sou como um irmão para ela, é assim que nos
chamamos, não é? Além de tudo, Analuz é seu diamante, a menina de seus
olhos! O homem que se casasse com ela seria escolhido a dedo por Petrônio.
Analuz lhe era cara, protegida, venerada. Analuz era proibida para mim.
— Sim, já amei uma mulher como um louco, realmente perdi a cabeça, mas...
— Suspirei — Já coloquei no lugar novamente e espero mantê-la assim por
um bom tempo.
Quem sabe quando eu tivesse quarenta e Analuz trinta as coisas fossem mais
fáceis do que eram hoje?
— Filho, não fui eu quem determinou o testamento, foi Yolanda antes que o
câncer a levasse... O advogado e a justiça exigem que você obedeça aos
critérios estabelecidos, do contrário, corre o risco de perder parte da fortuna.
Nós seguimos à risca tudo que está estipulado durante anos, não podemos
lançar tudo a perder agora!
— Ela queria estar segura de que você não acabaria com a herança com as
coisas erradas, mas que investiria no futuro de uma família, nos netos dela —
Comprimi os lábios — Você ainda tem dois anos, filho. Dois anos é um bom
tempo para conhecer uma mulher e se apaixonar.
— Ela é uma jóia preciosa, pai — Encostei-me ao sofá — Não deve mesmo
deixar que ninguém a machuque.
— Sua irmã te ama muito, filho, você é importante para ela. Analuz sofreu
quando você foi estudar fora... Aproveite esse tempo para dar atenção a sua
irmã — Cobri os lábios com uma das mãos ao ouvir suas palavras.
— Ui! Que humor logo pela manhã! — Roberta comentou chupando seu
pirulito vermelho e com o cabelo colorido ajeitado em uma tiara — O que foi
agora princesinha?
— E está brava assim porque seu irmão voltou? Ora, é a casa dele! — Fechei
a expressão, encarando-a nervosa — Porque ele ter voltado te deixa tão aflita,
amiga? Deveria estar feliz porque seu único irmão voltou para casa!
— Pouco me importo com ele... Você gostaria que um irmão chato e que é o
queridinho de seus pais voltasse para casa? — Roberta pensou — Além de
tudo e você sabe, ele não é meu irmão!
— Ele quem?
— Amiga, deixa seu irmão para lá! Vamos focar na festa! Vai me emprestar
um vestido, não é? — Revirei os olhos sabendo perfeitamente que não
poderia escapar da tal festa. O aniversário de uma de nossas melhores amigas
em sua casa.
— Empresto o que quiser. Agora vai começar a aula, pode prestar atenção?
— Apontei para frente e ela me mostrou a língua.
Não foquei em nada. Não lembrei nada. Por pouco não tiro nota mínima na
atividade.
Porque era tão complicado seguir a vida normal sabendo que agora meu
irmão estava de volta?
Eu já não sentia mais nada por ele... Sentia? Aquela ilusão tola de menina
ficou para trás, esquecida em meu diário. Valentim tinha uma namorada
linda, uma morena espetacular como eu jamais seria, pálida como sou! O
amor para mim seria nos braços de outro homem, afinal, mesmo que um dia
Valentim me olhasse, papai e mamãe não tolerariam tal relação.
Nós somos irmãos, mesmo que de criação! Perante os olhos de nossos pais e
a sociedade, sim, somos irmãos!
— Resolvi tirar ideias bobas da cabeça... Ideias absurdas! Você vai comigo
para a festa ou nos encontramos lá? — Começamos a descer as escadarias.
— Nos vemos lá e... Ana! — Roberta se deteve e me puxou, nós duas paradas
no topo da escadaria — Aquele não é... Seu irmão?
Olhei na direção em que Roberta olhava, seguindo seu olhar até um carro
prateado e conhecido. Um dos carros da coleção de meu pai. O favorito de
Valentim!
Aliás, parado a frente do mesmo e usando um terno cinza estava ele... Meu
irmão de criação. Engoli em seco ao notar que as meninas não escondiam o
interesse por sua presença. Quem esconderia? Usava óculos escuro no rosto,
a barba por fazer e tinha uma rosa nas mãos. Alguns seguranças da família o
observavam de longe - apenas eu sabia reconhecer - e apertei os olhos diante
da vergonha que me consumia.
— Sim amiga. Até de noite — Roberta me acompanhava, mas ficou para trás
quando cheguei perto do carro.
Parei na frente dele, que sorria para mim.
— O que é isso?
Ele parece ter medo de mim e jamais vou me esquecer da maneira como me
abandonou. Aquele que disse que me amaria para sempre, me protegeria de
todo o mal e seria meu eterno irmão jamais gostou de mim de verdade.
Jamais!
Fechei a página me lembrando da dor que senti no estômago nos dias que
passei sem comer. O vazio da depressão que senti pela ausência dele. Foi um
ano conturbado, uma vida toda parada pela dor da perda... Não era justo ele
voltar e querer que tudo fosse como antes.
— Parece que não conhece sua irmã, filho — Analisando alguns papéis na
mesa, parecia sério e centrado — Analuz é caprichosa e sofreu muito com sua
ausência. Mas ela te ama e uma hora dará o braço a torcer e voltará a se
aproximar. Continue insistindo...
— Está comparando sua irmã com uma mulher, filho? — Virei-me para meu
pai, que me encarava confuso, retirando os óculos de grau de frente do rosto.
— E por ser sua irmã... Te digo que ela também te ama. Dê tempo ao tempo,
filho.
Tempo ao tempo.
Sai do escritório sob uma forte chuva e entrando em casa recebi uma ligação.
— Oh amor, esqueci do tal horário... Tudo bem, não tem problema! Como
está tudo por aí? E sua mãe?
— Está bem, na medida do possível. Bem, tenho que desligar. Nos falamos
depois? — Subi as escadas para os quartos.
— Um beijo!
Usava um vestido azul claro colado ao corpo e que parava em meio às coxas
torneadas. Nos ombros um casaquinho jeans da moda entre os adolescentes.
Cada ano, cada dia, cada minuto que passava ela se tornava ainda mais
tentadora diante de meus olhos, agora incrivelmente maravilhosa e moldada
em um corpo de mulher.
Um corpo atraente.
Poucos seios, cintura fina e quadril largo. Coxas grossas. O cabelo macio e
brilhante chamava tanto a atenção quanto seus olhos claros. Sequer sabia
apontar o que me parecia mais lindo nela...
— Assim, ainda mais bonita — Insisti vendo seu olhar curioso para mim —
Vai sair com alguém?
— Vou sair sim — Disse agora passando algo sobre os olhos — Não que te
importe, porque você não é meu pai... Mas sim. Vou a uma festa com meus
amigos.
— Não sei se reparou, maninho — Virou-se para mim e mostrou o corpo com
um movimento de mãos da cabeça ao quadril — Mas eu cresci! As coisas
mudaram por aqui! — Piscou para mim e caminhou até sua bolsa, que estava
sobre a cama. Passei os dedos entre o cabelo, incapaz de me controlar. O
ciúme me dominava e nada podia fazer para detê-la — E você, poderoso
CEO? Vai passar a sexta à noite em casa ou a sua super top model te permite
sair um pouco?
— Como assim?
— Filha, o que custa levar seu irmão na festa? Ele precisa mesmo sair um
pouco do escritório... O pobre não faz outra coisa da vida além de trabalhar!
— Mamãe, com seu jeitinho meigo, comentou.
— Quero recuperar o amor de minha irmã, mamãe. Quero que voltemos a ser
como éramos antes de...
— Claro que vão, querido! Irmãos sempre se amarão! Não importa o quanto
briguem, sempre se amarão!
— Pode deixar, pai. Vou cuidar muito bem de sua joia preciosa!
— Você finge muito bem na frente de nossos pais — Comentei sem encará-
lo, olhando a janela. Valentim já dirigia após eu explicar o caminho da festa.
— Em relação a quê?
— Não... — Comentou para minha surpresa, agora mais sério — Já que sou
tão indesejado, prefiro ficar.
— Você já veio até aqui e se arrumou todo! Anda, vamos! — Ele não se
moveu — Ou foi sua top model que não deu permissão? — Valentim me
encarou e desligou o carro, nitidamente contrariado com o desafio. Sorri ao
descer, vendo que me seguia de perto. Ao avistarem-no, meus amigos já
cochichavam entre si sobre a ilustre presença — É, pelo jeito a noite vai ser
inesquecível...
— Então esse é seu irmão mais velho, Ana? — Roberta sorria enquanto
Valentim apertava a mão de nossos amigos — Que bom conhecê-lo, a Ana
fala muito de você!
— Olha que surpresa... O grande CEO também tem vida social. Pensei que
fosse apenas um homem de negócios, priminho! — Philip bateu no ombro de
Valentim, que olhou para a mão dele com certa antipatia.
— Resolveu dar uma chance para o seu irmão, Ana? Isso é muito bom!
— Não dei chance nenhuma, esse garoto sem noção que colou em mim feito
chiclete! Até parece que você não conhece... — Nós duas rimos e em minutos
a mesa estava repleta de bebida e comida.
— Dançar! Já que você vai ficar no celular o tempo todo, eu ainda sou jovem
e quero me divertir!
— Analuz!
Ouvi a voz de Valentim atrás de mim, mas segui com Violeta e Roberta até a
pista de dança e passamos a dançar juntas enquanto comentamos as fofocas
do colégio. Na mesa, os olhos de Valentim não me abandonaram por nem um
momento.
Eu, que não costumava beber, muito menos em festas de amigos, me senti
absurdamente desequilibrada quando o vi trocando mensagens com a tal
modelo perfeita.
Era incontrolável não sentir raiva, ciúme e decepção. Ele, que antes de ir
jurou que nenhuma outra roubaria sua atenção, tinha me traído da pior forma.
Bebi mais um gole da caipirinha pensando que aquela noite era o cenário
perfeito para me vingar!
Capítulo Quatro
Analuz podia parecer muito inteligente e dona de si, mas não tinha ideia do
quanto era ingênua e inocente. Não tinha ideia de como sua beleza era capaz
de arrebatar os homens ao redor.
— Aqui está ele, não te falei? — Me virei e encontrei Philip ao lado de uma
figura conhecida. Estreitei o olhar quando o homem me esticou a mão com
um grande sorriso — Chegou faz alguns dias...
— Não melhor do que você, cara! O grande CEO do ramo têxtil! Fui
perguntar sobre você para seu primo e olha... Você estava bem aqui! — Sorri
pegando meu copo de cima da mesa. Philip nos ouvia, mas logo saiu diante
de meu olhar.
— Aqui pode entrar com dezesseis, então sim, ela tem — Concordei batendo
em seu ombro — E ai, me diga... Como vão as coisas? Soube que seus
negócios vão de vento em poupa...
Pedi um minuto para Sebastian e fui até ela, parando as suas costas e
encarando o rapaz com a ira no olhar, analisando-o. O mesmo engoliu em
seco ao me ver, fazendo Analuz se virar.
— Sou seu irmão mais velho! Não vou deixar um pirralho qualquer ficar se
aproveitando de você na frente de todos! — Ela riu sem humor.
— Bom, não é assim que te vejo — Sebastian sorria para ela e no mesmo
momento compreendi o que pretendia. Meu melhor amigo de infância
também caiu no feitiço que irradiava dos olhos azuis claros de Analuz. O
mesmo feitiço que me roubou a alma anos atrás, quando ela ainda era uma
menina — Acho que não há problema em te chamar para dançar, não é?
Não pude impedir Analuz de caminhar para a pista de dança com meu amigo
de infância, um homem de minha mesma idade e interesses. Também era
milionário. Também agradava a meus pais. Nossa única diferença?
— Não estou em uma festa qualquer, vim acompanhar minha irmã, Michele,
eu já disse! — Expliquei ao atender e ela se irritar pelo barulho — Não posso
deixá-la sozinha!
— Então foi para isso que voltou ao Brasil, não pela saúde de sua mãe?
Voltou para ser a babá de sua irmãzinha caçula?
— Para de agir como se fosse meu pai! — Sussurrou perto de meu rosto,
puxando o braço de minha mão — Volte para seu celular com sua noivinha...
Prefiro ficar aqui com Sebastian!
Meu olhar para Sebastian foi tão gélido que sequer precisei dizer nada para
que compreendesse o recado.
— Analuz, tudo bem. Seu irmão tem razão. É melhor você ir para casa, talvez
tenha exagerado na bebida... — Corando, Analuz recuou alguns passos —
Amigo, eu... — Não desfiz minha expressão, travando o maxilar — Passo
para visitá-los em breve.
— Foi muito bom revê-los! Nos vemos em breve! — Sebastian falava, mas o
deixei para trás levando as meninas comigo.
— Vou com meu irmão. Cuide dela, primo. Tem alguma coisa estranha em
Ana, ela não parece estar agindo com a razão!
— Não deixe tio Petrônio vê-la assim, muito menos tia Yekaterina! A saúde
dela não anda das melhores — Concordei e Violeta se foi.
— Chega de birra, Analuz! Você quer ser tão adulta, mas não passa de uma
menina mimada e caprichosa! — Segui dirigindo nervoso — Homens como
Sebastian não se contentam com beijinhos e mãos dadas, menina.
— Agora sim posso dizer que nunca mais volto a te amar, Valentim Ruiz
Vilanova! Nunca mais!
Não havia ninguém acordado. Meus pais, ao saberem que ela estava comigo,
relaxaram e não se preocuparam com a caçula, protegida pelo irmão mais
velho.
Uma vez no quarto dela, passei a chave na porta com receio de sermos
ouvidos.
Analuz tinha as mãos tapando o rosto para não me olhar. O cabelo ondulado e
loiro caía revolto ao redor do rosto, marcado pela maquiagem que escorreu
com as lágrimas. Ela era um caos pós-festa, mas era linda... Tudo o que
minha cabeça perversa podia pensar naquele momento era em como seria
fácil despi-la e amá-la, tomando-a em sua cama cor de rosa como sempre
imaginei.
— O que preciso fazer para que me perdoe por ter ido, Analuz? — Ela não
me olhava — Já disse que te dou o que quiser, te faço o que quiser... Basta
me dizer! Tudo o que quero é que voltemos a nos dar bem. Quero ser seu
amigo novamente e ter de volta a irmã que me amava!
Analuz ergueu os olhos para mim lentamente, uma frieza incomum tomando
conta de seu olhar.
— Que estava fazendo aquilo por mim... Pelo meu bem — Sorriu sem humor.
A expressão já cansada de discutir — Mas não vejo como foi para o meu
bem. Perdi a fome, a vontade de tudo e adoeci. Fiquei um ano me olhando no
espelho e pensando onde tinha errado, no que tinha falhado para que você me
deixasse...
— Falhar, Analuz? — Caminhei até ela, segurando-a pelos braços contra meu
peito — Como pode ter falhado, se para mim você é perfeita?
— As coisas vão voltar a ser como antes quando você me disser o motivo de
ter ido embora. O motivo real, sem mentiras ou desculpas...
— Pois bem... Mas depois... — Apontei para ela — Depois não diga que não
te avisei!
Pressionei seu quadril no meu com desespero, como um homem que vê a luz
pela primeira vez em muito tempo, sentindo nas mãos o corpo dela
estremecendo pelo contato.
Senti seus seios rijos contra meu peito. Seu coração batendo rapidamente. Os
dedos pequenos em meu cabelo. A maneira desesperada como também queria
me sentir... Ela me queria, eu estava certo! Nunca me odiou... Analuz
também me amava!
Não consegui dormir durante muito tempo naquela noite, por isso ouvi o
momento exato em que Valentim entrou em meu quarto durante a madrugada
e se abaixou ao lado de minha cama.
Sua mão grande e forte me tocou o cabelo com carinho e segui estática virada
na direção oposta, fingindo descansar em sono profundo. Não me movi ao
sentir um beijo demorado em meu cabelo. Não me movi ao sentir sua mão me
acariciando o cabelo delicadamente...
Querido Diário,
Não consigo deixar de pensar que beijar meu irmão foi o maior erro de
minha vida. Não consigo deixar de pensar nele, tão pouco... Em suas mãos.
Em seu toque firme e agradável.
Será que estava brincando comigo e apenas queria me pregar uma peça?
Papai ficaria uma fera se soubesse! Não haveria ninguém no mundo capaz
de explicar a ele que isso era aceitável, mesmo nós dois não sendo parentes
de sangue. Para ele e mamãe, Valentim e eu somos irmãos!
Me desonraria!
Que espécie de mulher Valentim pensa que sou, se ele tem uma namorada e
me beija como se pudesse fazê-lo a sua vontade? Que espécie de homem
Valentim é, se me beijou na boca sem se importar com as consequências?
Se ele não pensou bem em tudo, posso fazer isso por ele. Esse beijo deve ser
esquecido como o amor que um dia senti por ele foi.
— Não — Respondeu sem me encarar — Está... Tudo bem. Não vou contar
nada ao papai e... Esquece. É melhor.
Voltou por aonde veio sem olhar para trás e me escorei na parede do meu
quarto nervosa, palpitando por dentro pela sensação de abandono. Parte de
mim desejava que ele insistisse e dissesse que nos beijamos. Parte de mim
queria que me abraçasse contra o peito forte, queria mais um beijo!
A outra parte sabia que o melhor foi feito. Aquilo era uma loucura e eu
jamais poderia perdoá-lo!
Petrônio sempre foi muito forte, mas naquela tarde parecia mais destroçado
que eu, que passei a noite em claro morrendo por dentro por ter cometido
uma loucura.
Cheguei a pensar que talvez fosse meu passaporte para a liberdade. Analuz
me correspondeu quando a beijei... Não demonstrou em momento algum
qualquer tipo de repulsa por mim. Cheguei a pensar que tudo poderia mudar
definitivamente entre nós, mas recebi um banho de água fria!
— Mas terá que fazê-lo. Yekaterina não quer que ninguém saiba, até mesmo
você, mas como é meu filho mais velho e melhor amigo de toda a vida, não
pude esconder. Espero que entenda. Assim como respeitamos todas as
vontades de Yolanda até hoje, seguindo à risca tudo o que estipulou no
testamento, também vamos seguir as vontades de Yekaterina.
— Como pode dizer isso, filho? Você tem sua namorada bem viva ao seu
lado, rapaz! — Sorriu entre as lágrimas.
— Então lute pela mulher que ama... Não abra mão dela!
— Vai ficar tudo bem, pai — O abracei novamente — Mamãe é forte, ela vai
vencer mais essa! Estou seguro que sim!
Estar à frente de uma fortuna exigia bem mais do que assinar papéis,
portanto, tomar as decisões relacionadas ao futuro da empresa estavam em
nossas mãos, exclusivamente.
Violeta e Analuz correram até a porta quando entrei, mas eu não era o grande
alvo, e sim Petrônio.
— Pai, já pensei em tudo para minha festa de dezoito anos! Violeta está me
ajudando com os preparativos! — Analuz sequer falou comigo ao lançar-se
nos braços carinhosos de Petrônio. Violeta seguia atrás dela — Posso
começar a preparar tudo?
— Claro meu amor! Contratarei a mesma pessoa que organizou nosso último
evento no grupo Ruiz-Vilanova — Segui até o bar da sala para pegar uma
bebida enquanto conversavam no sofá — É uma ótima ideia, não acha, filho?
Era como tirar o título de louco das costas. Parte do peso se esvai com a idade
dela aumentando, tornando-a adulta diante de meu desejo e da sociedade. Já
não bastava ser pecado, tinha também de ser um crime?
Não mais!
— Seu irmão e eu podemos dançar uma valsa com você, filha — Petrônio
também pegou uma bebida — Já que não quis aos quinze anos, podemos
fazer agora.
— Prefiro morrer do que dançar com esse chato na minha festa, pai! — Sorri
para Analuz diante de sua expressão contrariada — Acho que podemos
dispensar a valsa e ficar com o clássico mesmo. Pista de dança.
— Você e Valentim ficariam muito bem juntos, Ana. Porque não aceita a
dança? — Violeta disse baixinho.
— Com o que vou gastar tanto dinheiro, pai, se não satisfazendo os desejos
de minha... Irmãzinha? — Analuz encarou o chão um pouco desconcertada.
— Vim visitar Analuz. Ela não parecia muito bem ontem quando vocês
saíram e fiquei preocupado.
— Está mesmo?
— Claro! Você não viu o show que ele deu com Sebastian? Quase expulsou o
pobre daqui a pontapés e ficou cortando ele com grosserias! — Suspirei —
Aposto que Sebastian nunca mais vai querer me ver depois dessa ceninha de
Valentim.
— Tem razão...
— Sim. Valentim passa do ponto com você em muita coisa. Ele estava morto
de ciúme lá na sala!
— Fala logo o que você quer dizer com esse discurso todo, garota — Insisti
aflita — Quer dizer que Valentim é um irmão mais velho protetor e ciumento,
além de chato?
— Quero dizer que Valentim gosta de você de outra maneira, não como irmã.
— Esse é o maior absurdo que já ouvi na vida, Violeta. É melhor não falar
essas asneiras para ninguém, garota, principalmente perto de meus pais! É
tudo fruto da sua imaginação!
— Sim, entendo. E concordo... — Sussurrei — Ele não têm meu sangue, mas
sempre foi meu irmão. Desde sempre.
— Ele é louco, disso tenho certeza! Agora vamos parar de criar alucinações,
prima querida? — Sentei-me na cama ao lado dela e coloquei a caixa de
esmaltes — Qual cor vai querer?
Fiz com que Violeta se calasse e esquecesse o assunto, mas tudo o que disse
me soou demasiadamente preocupante! Se ela, que nem era tão próxima de
Valentim, podia entender que algo diferente de uma relação de irmãos
acontecia entre nós, que dirá meus pais?
Queria diário,
Estou cada vez mais convencida de que Valentim ficou maluco e Violeta não
está tão errada assim...
Apesar de nunca antes ter feito sentido, agora consigo compreender o que
está acontecendo. Valentim realmente não me trata como antes. Não me trata
como irmã, mas sim de outra maneira... Em frente a nossos pais é um
perfeito irmão mais velho, mas quando estamos sozinhos as coisas mudam e
ele se comporta diferente.
Violeta tem razão. Valentim me venera com o olhar e não posso evitar não
retribuí-lo!
— Pensei que você ficaria mais calmo quando finalmente visitasse seus pais,
querido, mas parece ainda mais nervoso! O que está acontecendo realmente,
Valentim?
— Estou perdendo minha mãe pela segunda vez para a mesma maldita
doença, Michele. Acha isso pouco? — Tentei parecer calmo na resposta —
Além disso, tenho problemas na empresa e... Estou prestes a completar vinte
e nove anos. Isso significa que tenho pouco mais de treze meses para me
casar.
— Quanto a isso, não se preocupe! Sabe que estou disponível para me casar
com você na hora em que desejar, baby!
Ela estava disposta a se casar, mas e eu? Realmente abriria mão do amor para
me atar a um casamento de mentiras para salvar a fortuna de minha família?
Seria capaz de abrir mão do amor de minha vida, mesmo que ela de fato
nunca tenha sido minha?
Não podia simplesmente dizer a Michele que todo meu nervosismo era
porque Analuz não se lembrava de meu beijo. Não podia dizer que sentia
vontade de quebrar toda a mobília da casa por me dar conta de que Petrônio
estava aprovando a ideia de Sebastian, meu melhor amigo de infância,
demonstrar interesse em Analuz!
Minha garganta secou ao vê-la de tal forma. Os seios eram pequenos, mas
saltavam no sutiã apertado. A pele era clara e limpa. Algumas pintas se
espalhavam em seus ombros, perdendo-se nos seios, e minhas palmas suaram
pela visão.
Por um momento fiquei sem palavras diante dela e sua falta de roupas, mas
logo me lembrei do motivo pelo qual estava ali.
— Pode deixar as vulgaridades de lado, por favor? Fácil aqui é você, que
ficou quatro anos fora e já voltou praticamente casado com uma gringa
qualquer! — Vociferou em minha direção — Sou livre, irmãozinho! Sou
solteira e posso ser amiga de quem quiser, inclusive de um homem bonito
que me vê como mulher, não como uma menininha tola!
Minhas mãos foram para os braços dela e a segurei contra o peito. Analuz
suspirou quando a trouxe para perto, encarando-me com os lábios separados e
os olhos brilhando.
O azul de seus olhos era a única coisa no mundo capaz de me tirar do eixo.
Capaz de arrancar a sanidade e a racionalidade de minha mente sempre tão
centrada.
— Quer falar baixo? Ou acha lindo que todos saibam do show que você faz
em meu quarto cada vez que me vê com outro homem? — Estreitei o olhar,
descendo-o pelo corpo de Analuz.
— Não... Você não é meu irmão! — Sussurrou de volta e a voz dela ecoou
para mim — E é exatamente por isso que está aqui!
— Nenhum homem vai te ter, Analuz — Falei entre o beijo, levando-a até a
cama cor de rosa e deitando-a sob meu corpo — Porque você é minha!
Sempre foi e sempre vai ser minha!
Analuz sorriu e mordeu os lábios, segurando meu rosto ainda mais contra
seus seios empinados. Não havia nada capaz de me convencer de que ali,
naquele instante, eu poderia morrer apenas por tocá-la.
Valentim e seus lábios firmes...
— Se você voltar a me tocar... Ou me beijar... Juro por Deus que direi tudo
ao papai! — Ameacei com lágrimas nos olhos — Não estou aqui para ser o
brinquedo do CEO, ou sua amante... O que seja! — Valentim passou as mãos
entre os fios escuros de seu cabelo totalmente descontrolado pelas emoções
— Não vou servir de diversão enquanto sua mulherzinha oficial está do outro
lado do mundo!
— Você é meu irmão e não posso... Nem devo... Te ver de outra maneira.
Agora sai! Sai daqui!
Agora sim eu tinha certeza de que seus olhos jamais me enxergaram como
uma irmã. Jamais!
A água fria do chuveiro caía em meus ombros e meus braços se apoiavam na
parede.
Nos dias que se seguiram, Analuz sequer me olhou nos olhos fixamente,
evitando minha presença em cada momento que podia. Apenas nos
encontrávamos no jantar, uma ocasião onde toda a família estava presente e
ela não tinha como me evitar.
Eu não podia deixar de pensar que meu aniversário de vinte e nove anos viria
logo depois e o prazo se estreitava. Eu não amava Michele, mas se não me
casasse toda minha família adotiva poderia ser prejudicada e perder boa parte
da fortuna. Minha falecida mãe deixou tudo muito bem especificado em seu
testamento e caso eu não fizesse como ela ditou, todo meu dinheiro correria
riscos.
— Você não deveria estar tão animada com sua festa vendo sua mãe em tal
estado, garota.
Atentei as vozes que ouvi assim que cheguei em casa. Tratava-se de Alessa.
— Em que estado minha mãe está, tia? Ela apenas está doente e já está em
tratamento, não vejo porque tanto alarde!
Analuz respondeu.
— Você é mesmo muito ingênua, não é? É uma patricinha mimada pelo seu
pai e seu irmão, que te protegem demais e te tornaram inútil!
— Não entende? Sua mãe está à beira da morte e você aí, preocupada com
uma festa patética!
— Minha mãe não está à beira da morte, isso é mentira!
— Abra seus olhos, Analuz! Saia da bolha que construíram ao seu redor!
Seus olhos azuis subiram para meu rosto em um claro pedido de ajuda.
— Acho que quem deveria abrir os olhos são outros — Alessa e Philip me
encararam assustados — Não é nenhum pouco educado falar de tal maneira
com a filha dos donos da casa, não acham? Eu, particularmente, não gostei
nada do tom que usaram para falar com a minha irmã...
— Valentim, nós...
— Não quero nunca mais saber que perturbaram Analuz, ficou claro? Não
quero nunca mais presenciar situações como essa, do contrário terei de
comunicar a Yekaterina que seus parentes não podem mais ficar na casa que
Petrônio e eu herdamos de minha mãe — Alessa corou de raiva — Se eu e
Petrônio mantemos Analuz distante de tais assuntos, isso não é problema de
vocês, em definitiva! Agora mesmo os dois vão pedir desculpas a ela.
— Claro que não, Analuz — Por Petrônio, não falei sobre a gravidade do
câncer e da iminente possibilidade de morte. Pela consideração a Yekaterina,
que pediu diretamente, não dei detalhes a Analuz — Mamãe vai ficar bem —
Ela baixou o olhar e vi lágrimas em seus olhos azuis. Aproximei-me um
passo — Não dê ouvidos ao que sua tia fala. Se ela voltar a incomodá-la, me
diga que imediatamente tomo uma atitude.
— Valentim, eu...
— Mamãe! — Abracei as duas também, feliz por vê-la depois de alguns dias
no hospital — Estava com tanta saudade!
— Ele está pagando, o que já é ótimo, e me deixou fazer tudo como desejar,
sem colocar orçamento!
— Está vendo, querida? Você foi agraciada com o melhor irmão do mundo!
— Analuz me encarou e vi a culpa em sua face. Sentia-se enganando a mãe
depois de nosso momento exatamente como eu me sentia desde que comecei
a me apaixonar por ela — E sua noiva, meu filho? Quando vamos conhecê-
la? Ela vem para o aniversário de sua irmã?
— Ora, por favor, filho! Você não pode jogar pelos ares tudo o que construiu
com Petrônio todos estes anos!
— Você não a ama? — A pergunta de Analuz foi quase impensada, pude ver
em seus olhos o constrangimento — Quero dizer...
— Infelizmente não é todo mundo que tem sorte nos negócios e no amor,
irmãzinha. No amor, nasci fadado ao fracasso!
Tímida, fez um aceno positivo e passou por mim em passos curtos até a
escada.
Queria diário,
Não tive coragem de falar com Valentim depois das coisas que dissemos um
ao outro naquela noite em que nos beijamos.
Não tive sequer valor de olhá-lo nos olhos depois que me viu seminua e
pior... Depois de ter me beijado por todo o corpo.
Acabei com o pouco de amor de irmão que ainda restava entre nós quando
planejei aquela armadilha e coloquei tudo a perder! Além de não poder mais
contar com ele, agora sequer podia buscar um motivo idiota para atormentá-
lo!
Mesmo com ele aqui, novamente existia um oceano de distância entre nós
com a água tão gélida que podia nos consumir por inteiro!
Deveria ter dado um tapa na cara dela quando me ofereceu a face naquela
noite! Deveria ter deixado claro que o odiava, mas simplesmente fui incapaz!
A verdade é que não posso parar de pensar nele e muito menos sou capaz de
não o desejar!
— Posso entrar?
— Porque não consegue me olhar nos olhos? — Segui tímida, olhando para
meu colo — Está com vergonha pelo que aconteceu entre nós? — Sua
pergunta foi humilde. Concordei com um aceno, corando — Foi a primeira
vez que um homem te tocou, não foi?
— Bom... Prometo tentar não pensar nisso se decidir voltar a ser minha irmã
— Neguei com um aceno, desviando o olhar timidamente.
— É você quem briga comigo, eu nunca brigo com você — Valentim sorriu
ainda mais e o acompanhei.
— Pois é. Garanto que cursar o ensino médio é muito mais trabalhoso que ser
um CEO de prestígio como você e o papai — Valentim seguiu sentado e me
encarando com um sorriso aliviado. Pensei por um minuto e fui até ele,
sentando em seu colo e o abraçando pelo pescoço como costumava fazer em
minha infância — Obrigado pelo que disse a tia Alessa.
Senti seu hálito em minha frente e sua mão grande e quente em minha coxa.
Eu queria que a subisse mais. Não conseguia parar de pensar no que faria se
me tocasse mais em cima, onde eu clamava por ele.
— Preciso falar com o todo Poderoso, mas pelo visto está ocupado — Philip
sorriu com segundas intenções.
— Você anda tão estranha, menina — Eva comentou após deixar uma salada
de frutas em meu quarto enquanto eu estudava na cama.
— Estranha como? Credo Eva, até você resolveu pegar no meu pé? — Segui
escrevendo em meu caderno.
— Desde que seu irmão voltou, você anda calada e inquieta. Pensei que
ficaria feliz com a volta dele, mas parece ainda mais... — A encarei
esperando a palavra — Nervosa.
— Não tem nada a ver com meu irmão. São as provas finais do Ensino
médio. Vou prestar vestibular e ainda não decidi o curso que pretendo fazer
na faculdade — Eva cruzou os braços frente ao peito claramente duvidando.
— Porque não fala com seu irmão? Já percebi que vocês não se olham há
dias! Chorou tanto quando ele foi embora e agora que o tem fica fazendo
doce...
— Eva, pode me deixar estudar? Além de tudo, para seu governo, já fiz as
pazes com Valentim. Estamos bem agora.
Eva saiu do quarto e suspirei com as mãos cobrindo o rosto. Puxei meu diário
do meio de meus livros na mesa e o abri frente aos olhos.
Queria diário,
Pedi a Valentim que voltássemos a nos falar, mesmo que a vergonha por
tudo que aconteceu entre nós ainda me consuma.
Não posso ficar brigada com além que me trata com tanto carinho e me
defende quando sequer meus pais são capazes de fazê-lo.
Valentim, por outro lado, apesar de NÃO ser meu irmão, realmente parece
me amar com suas atitudes.
Não sei o que pensar. Não sei o que sinto quando estou com ele, mas estou
segura que todos esses sentimentos que me desperta me causam medo ao
mesmo tempo em que adoro.
Valentim diz que faria tudo por mim, mas a única coisa no mundo que
realmente desejo nem toda sua fortuna pode comprar.
Meu grande desejo seria não ser irmã dele, mesmo que de criação.
— Digamos que as coisas estão melhores por aqui, Michele — Abri a porta
do meu quarto após chegar em casa na sexta à noite — Ando atarefado na
empresa e amanhã é aniversário de Analuz.
— Ok baby. Te amo!
— Tchau Michele.
Não tão difícil como foi explicar aos meus pais o grande presente que dei a
Analuz em seus dezoito anos.
Ela estava na cama, deitada de bruços e usando um vestido rosa claro. Parado
atrás dela pude analisar suas pernas torneadas e o movimentar de seu quadril
a cada momento em que as pernas balançavam no ar. Ajeitei o cabelo e passei
a língua nos lábios analisando o corpo dela.
Belo e bem feito. Não podia ignorar a maneira como ficava sensual com as
roupas que usava em casa.
Analuz sorriu contrariada, mas caminhou até mim e parou à minha frente.
Nos encaramos e me deleitei no azul cristalino de seus olhos. Ela usava a
pulseira que lhe dei. Toquei seu pulso com interesse.
— Se quiser saber o que é... Já sabe quanto tem que pagar — Apontei o rosto
novamente e ela se colocou na ponta dos pés para me dar um beijo na
bochecha.
— Aqui.
— O que é isso?
— O que você mais queria — Seu rosto não escondeu o espanto — Espero
que goste do modelo. Confesso que pedi ajuda a Violeta e ela me indicou o
que você realmente esperava. É zero e branco, como você queria — Tomei
fôlego — Feliz aniversário, Analuz.
— Você só pode estar zoando, não é? — Questionou atônita — Você não fez
isso! O papai disse que não ia me dar, que ainda sequer tenho carta!
Nada no mundo era maior que meu amor por Analuz, mesmo que fosse
proibida para mim.
— Desce — Sussurrei quando notei seu temor — O carro está lá fora — Sorri
e ela também, pegando minha mão e me puxando para a porta — Para quem
não se surpreendia com bens materiais você parece bem interessada.
— Entendo que ame sua irmã, filho, mas impor limites também é um ato de
amor.
— Você está se excedendo, filho. Analuz precisa sair um pouco da bolha que
construímos ao redor dela. Ainda é uma menina, mas precisa crescer.
Petrônio, pela primeira vez, me encarou sob suspeita. Não consegui retificar
nada diante da verdade iminente. Tão pouco queria. Aquela era a verdade! Eu
queria Analuz para mim e sob meu olhar por toda a vida. Ela era minha,
mesmo que não fosse.
— Não, não acho. Mas posso levar em consideração sua posição de pai e não
dar um presente tão caro como um carro sem consultá-lo.
Meu celular tocou e era Michele, a mulher com a qual eu deveria me casar.
— Valentim, minha festa está linda, você precisa ver! — Afastou-se falando
rapidamente e animada — Você... Você é a única pessoa que realmente tem
olhado para mim e te agradeço muito por isso.
— Mamãe está doente e papai está com muito trabalho — Relembrei — Mas
você continua sendo importante, Analuz. Sempre será.
— Ninguém me trata como você — Sussurrou aproximando-se mais, olhando
aos arredores com interesse. Parou bem próxima, se erguendo para me beijar
no rosto. A encarei de perto com o desejo ardendo na alma — Promete que
nunca mais vai me deixar?
— Isso eu não posso prometer — Sua expressão se tornou triste e ela deu um
passo para trás — Sabe que não prometo o que não posso cumprir.
— O que será que tia Yekaterina e tio Petrônio vão pensar sobre certas
liberdades que os irmãozinhos têm quando estão juntos? — Cruzou os braços
e fingiu pensar.
— Não sei do que está falando e sugiro... — Passei por ele o empurrando
pelo peito — Que pense bem antes de sair por aí contando histórias.
— Valentim, será que ele... — Sussurrava apenas para que eu ouvisse — Será
que viu algo entre nós? Será que viu quando ficamos juntos e... — Corou.
— Você disse que se esqueceria de tudo — Seu olhar azul era curioso.
— Você sabe que não — Toquei seu queixo com carinho e ela baixou o olhar
— Nunca serei capaz de esquecer.
Cada centavo que gastei valeu a pena para vê-la tão feliz e, principalmente,
comemorando dezoito anos. Perdi o fôlego quando a vi chegando com
Violeta ao encalço usando um vestido de sua cor favorita... Azul claro, como
seus olhos. O vestido parava em uma saia longa sobre o estômago e um
cropped finalizava o mesmo.
Usava a pulseira que lhe dei e concluí que não retirava a mesma do pulso
desde que colocou pela primeira vez. O cabelo loiro claro encontrava-se
alisado, algo que raramente ela fazia e destacava ainda mais seu rosto
delicado. Sorri orgulhoso quando nos encaramos de longe, erguendo o copo
para ela como se fizesse um brinde.
Sebastian apareceu por lá, apertando minha mão quando nos encontramos no
salão.
— De certo que sim! Sei que é mais nova do que eu, mas não acredito que
seja um empecilho tão grave. Somos amigos de infância! Não pode aliviar
um pouco seu ciúme de irmão?
Baixei a taça e o encarei com um dedo em riste apontado para seu rosto
pálido.
— É bom que saiba... Analuz é preciosa para mim e não será tão fácil
convencer Petrônio de que está em idade para ter um compromisso —
Sebastian se incomodou com meu tom, pigarreando — Se eu souber que você
passou do ponto ou fez qualquer coisa que ela não queira... Nós vamos
conversar, cara.
— Fica calmo, cara — Abriu os braços em sinal de paz — Não precisa ficar
tão nervoso.
— Tem outra coisa que precisa ficar muito clara entre nós — Sebastian me
encarava receoso — Analuz e eu não somos irmãos.
— Não temos o mesmo sangue, apenas fomos criados juntos. Sou enteado do
pai dela, não irmão de verdade.
— Que dançar comigo? — Esticou a mão para ela, que me encarou um pouco
confusa.
— Ah, sinto muito! — Coloquei minha taça de lado — Analuz me deve uma
dança e acho que é um maravilhoso momento. Não é?
— O que te importa esse mauricinho? Não me diga que está interessada nele
também?
— Como assim também? — Ergueu os olhos para mim e sorri — Você está
interessado nele, por acaso?
— Porque você foi abusado comigo — Sorriu de canto — Agora você não se
faça de bobo! — Sorri também e ela hesitou um pouco, subindo as mãos
pequenas em meus ombros enquanto me analisava mais de perto — Acha que
fiquei bonita com esse vestido?
— Você é perfeita, Ana. Está belíssima, mas confesso que prefiro sem nada
— Analuz separou os lábios, corando com a indignação.
Analuz parecia estar diante de algo chocante, dada sua expressão surpresa e
os olhos claros curiosos.
— O que sente por mim, Analuz? — Questionei sem pensar — Não me diga
que é indiferente, porque não acredito. O que sente por mim, além de carinho
de irmão?
Analuz apertou os músculos de meus braços em suas mãos que ali pousavam.
Era como se experimentasse a sensação. Encarou-me e mordeu os lábios. Os
olhos azuis pareciam mais claros e límpidos que nunca. Pude notar ali que
não havia maneira de negar... Algo existia entre nós.
— Às vezes sinto muita raiva de você por ter me deixado, mas também
sinto... Uma coisa que nunca senti antes em toda minha vida.
Capítulo Oito
Valentim me fez perder o eixo em meio a minha festa de dezoito anos e não
conseguir enxergar mais nada que não fosse ele.
— O que você faria se o homem que você amou em segredo durante muito
tempo dissesse que te deseja? — Roberta não escondeu a curiosidade.
— Mas no caso você está louca por ele e a namorada está longe...
— Isso é furada! Homem comprometido que trai uma vez, trai sempre! —
Comprimi os lábios de maneira pensativa — Você perguntou se ele pretende
terminar com ela?
— Na verdade não...
— Se ele está louco por você, não deveria estar com ela! A não ser que não
goste verdadeiramente dela e descobriu que gosta de você agora, eu sei lá!
— Claro, vamos — Olhei para Roberta, que encarava Valentim sem esconder
que o admirava — Quer carona, amiga?
— Obrigado amiga.
Valentim rodou com o carro mais um pouco e parou quando ficou impedido
de enxergar com a forte chuva. Nos sentamos no banco de trás para esperar e
seu corpo grande se aproximou demais do meu. O encarei de baixo, surpresa
pela maneira como ainda estava cheiroso mesmo depois da festa.
— E que você não tem recusado... — Apoiou uma das mãos no queixo e seu
olhar se tornou tentador — Não somos irmãos, Analuz. Você bem sabe!
— Valentim, não vou negar que você é atraente e me faz sentir coisas... —
Tomei fôlego e ele se aproximou ainda mais — Mas você tem namorada e eu
não estou disposta a ser brinquedo de ninguém!
Valentim revirou os olhos e ergueu meu queixo em direção a seu olhar firme.
— Não a ama?
Sempre fui capaz de ver nos olhos dele quando mentia e agora não conseguia
enxergar nada! Valentim segurava meu rosto com uma das mãos, mas fui eu
quem não resistiu a sua proximidade e me lancei nos braços fortes como
queria fazer a muito tempo.
— Você só pode estar louco! — Gemi ao sentir sua boca no vão entre meus
seios, arqueando o corpo para sentir mais — Isso nunca poderá ser.
— Até agora não te ouvi dizer que não me quer... — Voltou a beijar meus
lábios, subindo a mão pelo vão da saia de meu vestido. Estremeci com o
contato de sua mão firme e grande em minha pele — Você não está
entendendo o quanto significa para mim, Analuz.
— Estávamos falando sobre a festa, filha. Foi tudo tão lindo! — Mamãe
sorria ainda arrumada com seu vestido e junto de papai — O que foi?
Aconteceu alguma coisa? Porque essas caras?
— Sim, tenho prova e estou cansada — Dei um beijo em meus pais e passei
por Valentim. Ele me segurou pela cintura e me ergui para beijá-lo bem
rápido — Boa noite.
— Descansa...
Querido diário,
Valentim não só me beijou novamente, como também disse que me deseja!
Não posso acreditar que um homem feito como ele esteja interessado em uma
menina como eu, mas parece real. Ao menos os beijos dele são muito reais e
incríveis, não se parecem em nada com os beijos dos meninos que já fiquei.
Eu seria capaz de perder a cabeça, como já estou perdendo, mas não tenho
coragem de dizer nada aos meus pais. Nunca! Para eles somos irmãos e
qualquer coisa que haja entre Valentim e eu deve ser um segredo.
Prendi a franja de meu cabelo ondulado e coloquei um belo vestido rosa claro
para o café da manhã. Passei um pouco de maquiagem, nada muito forte, e
analisei de perto a pulseira que ele me deu quando voltou.
Valentim havia dito que eu era perfeita e assim passei a me sentir desde que
descobri que um homem pode me achar atraente. O homem que sempre fui
apaixonada em segredo e pensei que jamais me olharia com outros olhos.
Valentim se levantou para puxar a cadeira para mim ao seu lado. Sua
expressão não era das melhores, apesar de estar lindo de preto e com a manga
da camisa dobrada até o cotovelo. O cabelo úmido. O perfume me
embriagou.
— Pai, não tem mais como continuar. Não posso seguir mentindo — Baixei a
cabeça e mordi os lábios — Eu não a amo e o melhor a ser feito foi terminar.
— O que você acha, Ana? — Tia Alessa questionou — Acha prudente seu
irmão terminar com um prazo tão curto para se casar?
— Me desculpe, minha irmã, mas existe algo raro nessa relação de Analuz e
Valentim... Valentim sente muito ciúme dela, você não vê como trata
Sebastian Ferrer?
— Alessa, por favor! Irmãos são assim mesmo! Valentim sempre foi
cuidadoso com a irmã mais nova.
— Alessa, por Deus que nos olha do céu e pune nossos pecados! Como se
atreve a dizer tamanho absurdo em minha cara?
— Qual seria o problema, além dos dez anos que os separam? Analuz e
Valentim não tem qualquer laço de sangue, minha irmã! É normal que
morando sob o mesmo teto coisas tenham acontecido entre eles. Sua
adorável filha não deve ser o maior exemplo de pureza, como pensamos!
— Não seja tão ingênua, irmã... Por favor! Eles se adoram e isso é mais do
que notável!
— Mãe, o que você tem? — Ajoelhei-me ao seu lado e beijei sua mão fria.
— Pois é, sua mãe não pode ter emoções fortes, você bem sabe — Tia
sussurrou atrás de mim.
— E o que a fez ficar nervosa? — A encarei com certa raiva — O que disse a
ela?
— Olha garotinha petulante... Somente não vou lhe dar as palmadas que
merece porque seu irmãozinho a protege e não quero problemas com ele!
Tenha mais respeito ao falar com os mais velhos!
— Alessa, saia — Mamãe pediu cansada — Saia!
— Sai! Já ouviu? — Insisti nervosa — Mãe, não sei porque atura essa mulher
aqui! Ela é insuportável e apenas te faz mal!
Peguei algumas pílulas para ela na gaveta e lhe dei com um grande copo de
água. Bebeu em seguida.
— Quero ter toda minha família ao meu redor, querida. Diante da doença e da
morte, o que somos, meu amor? — Tocando meu rosto dizia.
— Valentim disse o que disse para te proteger e porque eu pedi, querida. Mas
a verdade é que posso morrer a qualquer momento. Não tenho certeza se
realmente irei me salvar.
— Está tudo bem, querida. O que mais me dói diante da morte é deixar você
e Valentim tão perdidos em suas vidas, não felizes como eu queria que
fossem. Meu grande sonho é vê-los completamente felizes.
Queria diário,
Valentim mentiu para mim!
Mamãe não vai ficar bem, ela vai morrer! Tem os dias contados, se o que
disse sobre o câncer for real.
O que vou fazer sem ela? O que vai ser de mim sem minha mãe? Não é justo
uma mulher boa como ela partir e deixar sua família! Seria esse um castigo
por mim sentir tudo o que sinto por Valentim?
Eu o amo.
Não quero ser infeliz como minha mãe me vê sendo. Diante da iminente
possibilidade de perder minha mãe para sempre, me vejo diante de um
grande dilema... Quão passageira a vida é para se perder tempo com tantas
questões.
Não quero abrir mão do amor, mesmo que seja secreto. Não posso e nem
devo abrir mão de viver o amor com o homem que amei durante toda a vida.
Sentando na poltrona de couro no escuro, apenas com uma fraca luz vinda do
abajur reluzindo no quarto e mostrando-o à meia luz. Estava nu, apenas com
uma toalha branca envolta na cintura e o cabelo escuro que caia na nuca
pingando no peito forte. Os olhos cor de café subiram para meu rosto no
mesmo instante, a expressão indecifrável.
Meu corpo todo estremeceu com a visão que tive dele ali, sem roupas, apenas
de toalha. Seu corpo me chamava atenção. Seu semblante. Os músculos em
seu abdômen. Eu queria tocá-lo! Não podia deixar de pensar no que poderia
fazer comigo.
— Não posso ser um covarde, como você mesma disse. Se minha mãe quer
me manipular mesmo depois de morta, terá de falhar neste quesito. Não
posso me casar com a mulher que amo... Ao menos não agora. Não me
casarei por um negócio. Não serei um covarde — Os olhos de Valentim
brilhavam com sua verdade.
Senti fogo me percorrendo de cima a baixo apenas com seu tom de voz, sua
segurança que contagiava.
— Eu já sei que a mamãe vai morrer. Já sei que você e papai mentiram para
mim. Ela mesma me disse isso hoje — Sussurrei encarando-o com pesar.
Baixei o olhar e olhei minhas mãos em meu colo. Mordi os lábios e o encarei
novamente, encontrando seu rosto aliviado por ter despejado sobre mim sua
verdade.
Analuz caminhou em minha direção à meia luz como fazia em todos os meus
sonhos.
Em silêncio admirei seu cabelo loiro claro caindo na face corada, os lábios
vermelhos e os olhos mais azuis do que nunca. Usava uma camisola curta e
cor de rosa e caminhava com graça e certeza.
Parou a minha frente por alguns segundos antes de se sentar em meu colo
delicadamente, encarando-me de frente com as pernas ao lado de meu
quadril. Sua mão pequena tocou meu maxilar carinhosamente e fechei os
olhos conforme corria os dedos em minha face, passando por meus lábios e
descendo por meu peito.
Ao notar seu olhar curioso em meu corpo, uma novidade enorme para uma
menina virgem.
Imóvel pela surpresa, desci o olhar para seus lindos seios rosados e pequenos,
passando pelo ventre plano e sua nudez absoluta. Era definitivamente a
imagem mais linda que já tive o prazer de ver em toda a vida.
Tomei seu rosto em minhas mãos trazendo-a para mim enquanto tomava os
lábios rosados nos meus com ânsia e desespero. Analuz me beijava com
ímpeto e eu sentia os mamilos rijos roçando nos pelos de meu peito conforme
nos beijávamos.
Aquele era o momento pelo qual esperei durante muito tempo.
Fechei os olhos ao sentir seu calor. Seu corpo sob o meu. Sua umidade, sua
doçura, sua intimidade apertada ao meu redor, adaptando-se ao amor físico
que jamais experimentou. Era o cabelo loiro de Analuz espalhado em meu
travesseiro. Seu corpo lindo e seu sangue em meus lençóis. Os olhos azuis
que eu venerava me encaravam apaixonados e assim fui o primeiro homem
dela.
A possui com toda a vontade que guardei durante anos. Como um homem
sedento, faminto e desesperado.
Gemia em meus lábios, usando meu beijo para calar a dor que a tomava cada
vez que eu me movimentava. Marcava em mim cada segundo daquele
arrebatador prazer com as unhas em minhas costas e os dentes em minha
pele. Guardava na memória cada investida nela, cada vez que meu corpo se
perdia dentro da mulher que amo.
Aquela loucura seria o selo de nosso amor. Entregar-se a mim era de fato a
prova de que Analuz me amava da mesma maneira com a qual sempre a
amei.
— Você pode achar que sou uma menina tola que espera por flores e
chocolates, mas o que sempre esperei foi você — Confessei tímida —
Quando imaginava minha primeira vez, imaginava com você, aqui, no seu
quarto... — Olhei ao redor — Foi exatamente como eu queria.
Valentim ainda parecia encantado cada vez que me encarava. Seu olhar era o
mais apaixonante em todo o mundo.
Inclinei-me sobre seu corpo e as mãos fortes desceram por minha cintura,
puxando-me para ele.
— Você é um anjo, minha menina. Um anjo que caiu do céu direto para os
meus braços — Apreciei seu beijo quente em meu pescoço e novamente
experimentei a sensação deliciosa de ter seu corpo imponente sobre o meu,
causando sensações arrebatadoras.
Valentim parou de beijar meu ventre quando notou uma mancha no lençol.
Uma mancha de sangue. Ao reparar, me sentei e analisei junto dele.
— Eva... Eva vai ver isso amanhã — Sussurrei ajeitando o cabelo para longe
do rosto. Valentim pensou por um minuto e o vi se colocar de pé ainda nu e
caminhar até uma das gavetas. De lá tirou um canivete — Valentim...
Enquanto eu envolvia sua mão na faixa, seus olhos não abandonaram meu
rosto.
— Vou falar com papai — Segui com o curativo — Vou dizer a ele que te
amo e que pretendo me casar contigo.
Parei o que fazia e ergui os olhos para seu rosto. Valentim falava sério.
— Não pode fazer isso, Valentim. Não agora que mamãe está debilitada e...
— Tomei fôlego — Tia Alessa falou com ela sobre nós. Ela suspeita que
exista algo entre nós além de amor fraterno e mamãe ficou furiosa quando
ouviu o que tinha a dizer. Passou mal e não quero que algo terrível aconteça
com ela por minha culpa!
— Não posso deixar passar o que houve hoje entre nós, Ana — Apertei os
olhos ao ouvi-lo — Não posso simplesmente ignorar! Te amo, te quero e abro
mão do que for para tê-la!
Valentim pensou por um momento, olhando mais de perto o curativo que fiz
em sua mão.
— Concordo que não esteja pronta, mas papai tem que saber o que acontece
entre nós. Que homem eu seria se continuasse escondendo, me encontrando
com você sem revelar aos demais? Não, Analuz. Você sabe que não posso
seguir escondendo.
— Por favor — Segurei sua face entre as mãos — Não quero que conte nada
ao papai, por favor...
— Não se sente segura quanto ao que sente por mim? — Sua pergunta me fez
recuar. O beijei delicadamente, sentindo novamente o intenso sabor de seus
lábios quentes.
— Não estou preparada para enfrentá-los ainda, mas eu não podia mais me
privar de viver o que sinto aqui dentro — Toquei meu peito — Não podia
mais seguir fingindo para mim mesma que não preciso de você mais do que
tudo em minha vida.
Valentim me beijou com ardor, as mãos fortes me guiando para deitar
novamente.
— Vou te dar o tempo que precisa, mas não vai ser muito. Sou homem,
Analuz. Preciso assumir as coisas que faço.
— Engraçadinha...
— Bom, pai, vou um pouco mais cedo hoje. Tenho muito trabalho, parece
que tivemos problemas na empresa de Madrid — Colocou-se de pé.
— Me sinto errado mentindo assim para nossos pais — Baixei o olhar para
meu colo, alisando minha saia azul do uniforme enquanto ele dirigia.
— Estou ótima — Sorri para ele com delicadeza — Aposto que sua mão se
encontra em uma situação pior do que a minha.
— Certamente, mas não sinto nada. Ainda estou entorpecido pelo amor que
você me fez sentir ontem — Me estiquei para beijá-lo quando o sinal fechou.
O celular de Valentim vibrou entre nós e ele atendeu rapidamente — Sim? —
Silêncio — Quem? — Mais silêncio — Diga que em vinte minutos estou aí.
Obrigado.
— Te amo — Sua voz soou hesitante. Parada do lado de fora, olhei-o pela
janela.
— Eu também.
— Sozinha?
— Sozinha, senhor.
Segui em direção a minha sala e abri a porta. Lá estava ela... Cabelos negros
e longos. Pele morena e sedutora. Roupas da moda. Virou-se para mim e
pude ver seu rosto bonito e um sorriso fatal nos lábios. Michele.
— Hoje pela madrugada, baby. Não podia deixar um amor como lo nuestro
se acabar assim, à distância! Não posso aceitar que me dejes se ainda te amo!
— Segurava em minha gravata enquanto falava — Passei em sua casa, mas
me disseram que você estaria aqui, por isso vim até a empresa.
— Michele, por favor. Não torne tudo mais complicado! — Retirei sua mão
de minha gravata — Não posso continuar com você porque não te amo,
Michele. Gosto de você como pessoa, mas não te amo para formarmos uma
família. Tão pouco nos casar.
— Sim, está — Não menti e ela levou as mãos ao rosto — Tem outra mulher
em minha vida. Uma mulher que sempre esteve em minha vida e nada será
capaz de mudar o fato.
A tela de meu computador era uma foto minha e de Analuz, algo que para
Petrônio soava como amor fraterno, mas para Michele realmente foi a prova
que buscava.
— Sempre desconfiei que você e sua irmãzinha fossem muito mais do que
apenas irmãos de criação — Dizia olhando a foto em que sorriamos juntos no
último aniversário dela — Era muito estranha a maneira que você tinha de se
referir a ela, principalmente de evitar falar sobre ela. Nunca suportou sequer
ligar ou procurá-la, porque você sabia que se ouvisse a voz dela ia voltar
correndo para encontrá-la.
— Michele...
— Não tente negar, Valentim. Eu dormi ao seu lado muitas noites ouvindo
você dizendo o nome dela. Me fiz de idiota porque não achei que teria o
atrevimento de dizer algo a ela sobre seus sentimentos, mas pelo visto sua
coragem sucumbiu ao desejo.
— As coisas não são como parecem ser, Michele. Você gostaria de ser infeliz
ao meu lado, sabendo que amo outra mulher?
Querido Diário,
Nunca pensei que fosse sofrer tanto novamente em toda minha vida.
Travei diante da visão, sentindo como se todo o mundo desabasse aos meus
pés! Surpreso ao me ver, Valentim parecia perdido diante de nossos pais,
que conversavam com a tal modelo. A mesma me mediu de cima a baixo,
sorrindo para mim de maneira cínica.
Novamente Valentim mentiu. Tudo o que queria era brincar com meus
sentimentos e fui uma idiota por ter correspondido a ele!
Me sinto uma estúpida por ter me entregado a Valentim! Me sinto uma boba
por ter me apaixonado por ele! Queria jamais tê-lo conhecido em minha
vida!
Jamais senti uma dor tão grande quanto ao vê-lo com a outra. Jamais me
senti tão tola.
— Acontece, querido, que tenho dezoito anos! Sou realmente imatura, não
sabia? — Ironizei com lágrimas nos olhos — Se bem que agora, graças a
você, não sou mais menina, não é? Era isso que queria, Valentim? Me usar
para satisfazer suas vontades?
Desci as escadas e Valentim veio atrás. Uma vez na sala, dei de cara com a
tal Michele junto a algumas malas. Travei com a visão, encarando-a
curiosamente.
— Sabe que Espanha e Rússia não têm uma relação muito amistosa. Os
interesses condizem, mas a competitividade é demasiada — Apoiou uma das
mãos embaixo do queixo.
Os olhos de Valentim quando sai com Sebastian não saiam de minha cabeça.
— Não, Analuz. Você ainda é muito jovem e não sabe muito sobre a vida,
por isso age com infantilidade às vezes. Mas não acredito que seja proposital,
tão pouco que seja desinteressante. Você tem muitas características.
— Sebastian, você é um cara legal e não sabe como tudo seria mais fácil para
mim com você — Torci os lábios e ajeitei o cabelo atrás da orelha — Mas
não crie esperanças comigo. Não sou apaixonada por você, sinto muito.
— É pelo Valentim, não é? — Ergui o olhar para seu rosto, surpresa — Ele já
me disse que vocês não são irmãos de sangue e já reparei que existe algo
estranho entre vocês.
— Claro que não, Sebastian, ele é meu irmão de criação, quero dizer...
— Não vou contar nada, Analuz, fique tranquila — Tocou meu ombro
carinhosamente — Acho que vocês formam um bom par. Se se amarem,
devem ficar juntos.
Por mais que parecesse adulta e muito segura de si, ainda era uma garota
imatura e que começava agora a descobrir o amor.
Levei Michele no hotel que se hospedou na cidade e dali por diante nosso
laço seria rompido. Voltei para o trabalho com a cabeça presa em Analuz,
que deveria estar nos braços daquele babaca.
— Não Vi... É fossa de amor, mas não por ela. Fossa por ser um idiota e
gostar de pessoa errada!
— A única mulher no mundo que não posso ter — Confessei notando como
parecia surpresa. Os olhos castanhos curiosos — Mas a única que amo. A
única aos meus olhos... A única aqui — Levei a mão até o peito — Dói saber
que posso causar algum mal a ela, se tanto a amo!
— Até você, um homem cheio de poder, sofre por amor — Suspirou com a
mão apoiando o rosto — Pensei que os CEO’S famosos como você pudessem
comprar o amor de qualquer mulher no mundo com tanto dinheiro, poder e
influência!
— Para mim isso não funciona! Tão pouco gostaria de comprar amor, isso
soa como um ultraje — Dei de ombros — De todos os modos, talvez o
melhor para ela seja ficar longe de mim.
— Acho que é Analuz. Vou até lá falar com ela, com licença, primo! Curte
bem sua fossa!
Analuz.
Virei o rosto para encará-la entrando na sala, mas ela não me viu. Começou a
conversar com Violeta muito empolgada, explicando algo com interesse.
Violeta ouvia desacreditada e as duas subiram juntas para o quarto.
Encostei o celular no rosto como se assim pudesse ficar mais perto dela.
— O que faz aqui? — Usava uma camisola azul clara e tinha o cabelo loiro
solto ao redor da face corada — O encontro com seu príncipe encantado não
rendeu bons frutos, por isso veio me procurar? — Analuz ergueu os olhos
para mim, parado a frente dela — Desta vez que não quer ser o brinquedo sou
eu, Analuz. Já estou farto da sua imaturidade, da maneira como tenta me
atingir... Sempre busquei te fazer o bem e tudo o que fiz na vida foi por você,
até mesmo renunciar às condições do testamento de minha mãe. O que recebo
em troca? Sequer é capaz de me ouvir por um minuto antes de se jogar nos
braços do primeiro idiota que aparece!
— Disse que qualquer um que preste a atenção pode notar — Deu de ombros
delicadamente — Pensei que você ia embora novamente com a sua
espanhola. Pensei que tinha me enganado!
Sorri de canto e caminhei até ela, tomando-a em meus braços e envolvendo o
corpo pequeno pela cintura fina. Analuz me abraçou com força, quase como
se desejasse se fundir a meu corpo.
— Minha menina... Sou eu quem morre sem você. Morri durante quatro anos
e não pretendo morrer nenhum dia mais! Nenhum dia!
A noite estava quente, por isso tomei um banho e vesti somente uma
bermuda. Sempre fui de andar nu dentro de casa, na Espanha quando morava
sozinho, mas na casa de meus pais era um pouco complicado.
— Não Eva, estou sem fome agora! Obrigado! E meus pais? — Gritei de
dentro do quarto, deitado com o celular na mão.
— Já falei que não quero comer, Eva! — Abri a porta e me deparei com os
olhos azuis mais intensos do mundo.
Os olhos de Analuz, que me encarava usando um biquíni azul e o cabelo loiro
e ondulado caindo na face corada.
— Valentim, por favor! — Juntou as mãos nas costas e notei que ela queria
que eu a visse. Queria se mostrar para mim e conseguia! Eu ficava louco com
a simples visão de seus seios pequenos marcando no biquíni. Neguei,
comprimindo os lábios.
— Impossível Analuz.
Como rendido que sou as suas vontades, não demorei a tomá-la nos braços e
envolvê-la contra meu peito nu, já sentindo sua pele macia em contato com a
minha. Beijá-la era diferente de tudo. Tê-la comigo era o êxtase, pois ter nos
braços a mulher que amo e sou totalmente louco é a mais incrível das
dádivas.
Sua mão pequena deslizava em meu peito forte quando a trouxe para mim, na
mesa e encaixando-me entre suas coxas macias, mergulhando em seu calor.
Seus braços me abraçaram pelo pescoço e ela gemeu contra meus lábios,
usando meus beijos para calar as súplicas de prazer que proferia cada vez que
eu me movia em seu interior úmido e apertado.
Fechei os olhos, ainda sentindo o prazer de estar dentro de Analuz e com seus
lábios a centímetros dos meus. Os olhos azuis da minha menina me
encaravam assustados, mas de maneira engraçada.
Finalmente, depois de toda uma vida a amando em segredo, Analuz veio para
meus braços.
Não era simples resistir a vontade de gritar para todos que era minha, porém,
como totalmente rendido à sua vontade que sempre fui, não consegui passar
por cima de seu receio de que algo ruim acontecesse, principalmente com
nossa mãe, enferma com uma doença tão grave e terrível.
— Não vou me vender, pai. Sei que é importante para você, mas meu amor
não está à venda. É o que de mais valioso existe em mim.
— Você se casaria com uma mulher que não ama por dinheiro?
— Você não disse que ama uma mulher? — Tocou meu ombro — Vá atrás
dela!
Querido filho,
No lugar que estou, saiba que me sinto orgulhosa por não ter sucumbido ao
poder e ao dinheiro em nome do amor... Ou de sua liberdade. Queria poder
abraçá-lo para comemorarmos juntos o homem incrível e seguro que se
tornou por abrir mão do material pelos verdadeiros sentimentos.
Esta é a resposta correta, meu amor. Esta é a carta que realmente escrevi
com alegria!
Adianto que sim, espero ter netos, e desejo de antemão que uma mulher
valiosa apareça em seu caminho para garantir nossa descendência, mas no
tempo correto e de acordo com sua vontade.
Estou orgulhosa.
Retirei a carta do bolso e estendi a ela, que parecia confusa enquanto lia.
Querido Diário,
Se não fosse por nossos pais, que ainda ignoram nossa relação, poderia
dizer que vivo um sonho ao lado do homem que amo.
Não posso deixar de pensar no que minha mãe pensaria se soubesse que já
não sou mais sua menina e sim mulher de Valentim.
Aquele vestido azul escuro realmente me caía bem e combinava com meus
olhos e tom de pele. Alisei o cabelo, algo que nunca fui muito adepta, e me
maquiei com a ajuda de Violeta, que já havia saído com Sebastian. No pulso,
a pulseira que Valentim me presenteou e era meu talismã.
— Tudo isso para sair com Valentim? — Mamãe indagou curiosa, olhando-
me de cima a baixo — Seu pai disse que vão sair juntos para comemorar a
boa notícia.
— Mãe! Não posso sair feia ao lado de Valentim! Sabe que os fotógrafos
adoram abordá-lo por ser influente e coisas do tipo!
— Nem se quisesse você ficaria feia, Analuz. Acho que nem nascendo de
novo — Valentim descia as escadas e me virei para encará-lo. Usava uma
camisa vinho colada ao peito forte e com as mangas dobradas até o cotovelo.
Calça preta e o cabelo escuro perfeitamente alinhado. Tomei fôlego para não
pular em seus braços — Vamos?
— Vamos — Respondi quase sem voz, apaixonada por seus olhos castanhos
e profundos.
Valentim, com sua simples presença, fazia meu corpo todo reagir a seu
encanto. Não havia nada no mundo mais fascinante que os sentimentos que
despertava em meu coração cada vez que me tocava ou simplesmente me
abraçava e depositava um beijo em minha testa, a única coisa que se permitia
fazer frente a nossa família.
Dirigiu para longe de casa até parar e finalmente me tomar nos braços,
beijando-me com a intensidade que guardou para si desde a última vez em
que estivemos juntos.
Segurei seu rosto enquanto me fartava com seu beijo, tocando o maxilar
áspero em meus dedos pequenos. As mãos fortes desceram por meu corpo de
maneira possessiva e tudo o que pude pensar foi em ser dele. Novamente,
como naquela noite em seu quarto onde ele cortou a própria mão para
justificar meu sangue.
— Para qualquer lugar onde possamos ficar a sós. Qualquer lugar onde eu
possa esquecer que o mundo existe e possamos fazer barulho! — Valentim
riu contra meus lábios.
Aquele sorriso de quem sabe muito bem o que fazer e para onde me levar.
Era incrível e parecia errado. Errado por sermos irmãos de criação. Por fazer
tudo sob o nariz de nossos pais. Pelos dez anos que nos separavam.
Eu mentiria para sempre para sentir seus músculos em minhas mãos. Para
poder beijá-lo também, tomando nas mãos cada parte de seu corpo e senti-lo
se deitando sobre mim com seu corpo quente e acolhedor.
Mentiria outra vez e quantas fossem necessárias para sentir seu membro rijo
me penetrando a carne com cuidado enquanto sua boca mordia meu pescoço
e seus gemidos ecoavam em meus ouvidos.
Faria o que fosse necessário para morrer de prazer nos braços fortes de
Valentim enquanto ele me dominava em seus braços e me enchia com suas
investidas firmes. Eu o amava e ele me enlouquecia! Me fazia esquecer meu
nome cada vez que se enterrava em mim.
— Soa tão errado quando você fala assim... — Ele sorriu ao meu ouvido,
beijando meu pescoço e descendo a mão por meu ventre, tocando-me
intimamente — Nós somos irmãos.
— Não repita isso nunca mais! — Vociferou ao meu ouvido antes que meus
gemidos tomassem o quarto novamente e ficasse impossível raciocinar pelos
próximos minutos.
Virei-me para ela ofegante pelo prazer que me proporcionou e colei a testa na
sua. Sua mão afastou a mecha de cabelo que desprendia do coque e caia em
minha face, analisando-me apaixonado.
— Quando foi que você começou a me amar, Valentim? Você nunca deixou
isso claro — Valentim beijou minha mão com carinho.
— Quando li seu diário e percebi que as coisas que eu sentia eram recíprocas.
Quando me dei conta de que você já não era somente uma irmã, mas uma
menina que se meteu em meu coração. Quanto mais você amadurece, mais te
amo, Analuz.
— Sempre sonhei com isso, desde que era menina — Sussurrei sorrindo para
ele — Sempre sonhei em ser sua.
Foi o que ele fez, ali mesmo na banheira. Novamente o senti em meu interior,
penetrando-me com seu mesmo e devorando-me com seus beijos
apaixonados.
Madrid, Espanha.
Esse seria meu destino nos próximos dias e foi complicado contar o fato a
Analuz, traumatizada com minha última viagem quase sem fim. A empresa
estava com problemas na Espanha e cabia a mim ir resolvê-los, uma vez que
Petrônio estava com Yekaterina doente e não podia se afastar dela.
Jurei não a tocar na casa de nossos pais adotivos, os pais dela, mas naquela
noite, quando tive de contar sobre a viagem, sua decepção foi tamanha que
tive de recorrer a métodos avançados para acalmá-la. Tomá-la em meus
braços e beijá-la foi à única maneira de demonstrar que voltaria.
— Não quero que vá... — Sussurrou quando me coloquei sobre ela, beijando-
lhe os lábios — Não me deixe de novo! — Implorou cansada, os olhos azuis
brilhando na luz do quarto — O que vou fazer sem você?
— Vou voltar, minha menina. Não sou capaz de ficar longe de você por
muito tempo, nunca serei! — Prometi lhe beijando também. As mãos
pequenas se agarravam à minha camisa branca.
— Se cuida — Sussurrei tocando seu cabelo loiro com carinho. Ela usava
uma faixa azul no cabelo e um vestido no mesmo tom. Sempre linda. Sempre
menininha — Vou sentir saudade.
Aquilo era o permitido frente a nossos pais, mas passamos uma noite
maravilhosa no quarto dela. Petrônio e Yekaterina sequer desconfiavam de
tudo que fazíamos.
Queria diário,
Ficar longe de Valentim é terrível, mas está sendo proveitoso para colocar
as coisas importantes da minha vida em dia.
Me dei conta de que sou duas versões de mim distintas com e sem ele.
Com ele sou incrível. Sequer posso acreditar que realmente fiz tudo o que fiz
com ele, principalmente na cama. Parece incrível que meu sonho de estar
com Valentim tenha se concretizado. Não o esqueço por um só minuto e nos
falamos sempre que possível pela internet, mas não é suficiente.
Tenho o cheiro dele na memória, mas preciso de suas carícias para me sentir
completa. Sei que quando voltar tudo será diferente e falta pouco, mas ainda
não me sinto preparada para enfrentar meus pais.
Sei que sou covarde, mas não posso evitar me preocupar com mamãe. Amo
Valentim mais do que tudo e algo diferente vem acontecendo comigo.
Algo que vem me causando muito medo e se for real pode destruir tudo o que
construímos. Tudo!
Meu estômago embrulhou assim que Eva colocou o prato na minha frente e
tive o impulso de levar a mão aos lábios.
Segurei a mão dela na minha com força, buscando ali um pouco de energia.
Não contei nada a Valentim, uma vez que o faria voltar imediatamente.
— Por acaso... Não tem a ver com o Sebastian, tem? — Neguei rapidamente.
— Claro que não! Nunca tive nada com Sebastian, seria impossível! — Dei
de ombros e a encarei em seguida com os olhos saltados no rosto — Por quê?
Você acha que eu possa...
— Não sei — Deu de ombros — Você já...? — Corei e cobri os lábios com
as mãos, chocada com a informação — Oh droga! Sim, Analuz. Se você já
transou, você pode estar grávida.
— Não posso dizer, Vi. Mas não estou grávida! Não posso estar, isso
acabaria com tudo! — Juntei os joelhos ao peito e escondi o rosto ali.
Eva entrou no banheiro e disse que mamãe me chamava no escritório. Fui até
o escritório com as pernas bambas encontrar mamãe, ao lado de papai. Eva,
que era como minha segunda mãe, entrou junto e fechou a porta atrás de nós.
Meus pais tinham um semblante sério e nervoso.
— Analuz... Sente-se — Mamãe disse severamente. Sentei-me na cadeira
frente a ambos, do outro lado da mesa — Me diga de uma vez, Analuz. Vai
ser melhor do que esconder isso por mais tempo...
— Mãe...
— Você anda vomitando todo o jantar e se sentindo muito fraca — Eva disse
atrás de mim e a encarei — Isso não é normal, querida.
— Você tem algo a nos contar, filha? — Papai inclinou-se um pouco para
mim.
Encarei os dois rostos na minha frente e senti o corpo todo tenso. Se com
Valentim era complicado, sem ele era ainda pior! Se estivesse ali tudo seria
mais fácil, mas eu estava miseravelmente sozinha!
— Não, eu...
Papai e mamãe se olharam em choque. Eva parecia tão surpresa quanto eles.
Meu pai ficou de pé em um impulso, quase quebrando a cadeira que caiu no
chão atrás dele.
— Vou agora mesmo ligar para Sebastian e fazê-lo vir arcar com as
consequências!
Ergui-me também.
— Não pai! Sebastian não tem nada a ver com isso e posso garantir! Além do
mais, é namorado da Violeta agora! Eu nunca... — Tomei fôlego — Nunca
fui para a cama com ele!
Comprimi os lábios.
— Realmente pode estar grávida, filha? — Meu pai tirou os óculos de grau,
demonstrando seu intenso nervosismo — Realmente foi capaz de se entregar
a um homem que sequer tinha um compromisso sério com você? Não
acredito que minha Analuz seja capaz de algo assim!
— Você nunca sai de casa, Analuz! — Mamãe dizia ainda descrente — Vai
da escola para casa e de casa para a escola! Nunca teve um namorado sério,
somente Sebastian se interessou por você por aqui e nos diz que ele não tem
nada a ver, que nunca se deitou com ele! Como pode estar grávida em tais
condições? Onde foi que engravidou, se não coloca o rosto para fora desta
casa?
— Sinto muito por decepcioná-los — Sussurrei — Sinto muito por não ser a
filha perfeita, mas eu já me tornei mulher, pai! Já posso tomar minhas
próprias decisões e arcar com as consequências delas! Tenho dezoito anos,
não sou mais uma criança!
— Onde está o canalha que fez isso? — Papai soou enraivecido — Onde está
o homem que foi capaz de te tocar sem ter um compromisso com você diante
de mim, Analuz? Exijo que me diga agora mesmo!
— Como não?
Dei as costas a ambos e corri escada acima, ignorando todos os olhares que
ficaram nas minhas costas.
Grávida de meu irmão... Que era meu irmão, mesmo que não tivéssemos o
mesmo sangue!
Capítulo Doze
— Sim, Santiago.
— Nada que eu não possa resolver do Brasil. Por lá tenho coisas mais
importantes que requerem minha atenção.
Analuz não parecia bem em nossa última ligação, mas não dizia o que
exatamente a afligia. Orgulhosa como era, nunca gostou de me confessar suas
fragilidades, mas ficar longe dela não me parecia saudável. Nada me deixava
pior do que ficar distante de meu grande amor.
Todo o luxo e poder não faziam qualquer sentido sem minha menina por
perto para desfrutar comigo. Mimá-la, mesmo que a distância, não era o
mesmo de ver seus olhos azuis brilhando cada vez que satisfazia uma de suas
vontades.
Ela sumiu por dois dias e foi o suficiente para me preocupar. Uma mensagem
de Violeta, no entanto, me fez tomar a atitude de retornar ao Brasil antes da
data prevista.
Analuz precisa de você, primo. Por aqui está tudo bem, mas ela precisa
mesmo que você venha.
Me diga por favor o que está acontecendo, Vi. Analuz está ferida?
Sinto muito, mas não posso dizer mais nada. Analuz está bem e segura, mas
precisa da sua ajuda. É só o que posso dizer por hora.
Não hesitei em tomar o primeiro voo para o Brasil, deixando meus homens
de confiança encaminhados para resolverem os problemas finais que deixai
para trás.
Abri a porta da casa de meus pais adotivos aflito. Eva não apareceu, apenas o
motorista levou minhas malas para o quarto. Não havia ninguém em casa, por
isso segui até o escritório e encontrei Petrônio sentado no escuro com um
copo de bebida na mão.
— Eva está na cozinha e sua mãe saiu com Analuz — Explicou monótono,
segurando meu ombro após nos abraçarmos longamente — Foi levá-la ao
médico! — Sorriu sem humor, com lágrimas nos olhos — Pode acreditar,
meu filho? Pode acreditar que Analuz fez isso com nós?
— O que houve com Analuz, pai? Porque está no hospital, o que aconteceu
por aqui em minha ausência? Porque o senhor não me ligou? — Questionei
apreensivo, atropelando as palavras enquanto as disparava.
Petrônio virou o copo de bebida nos lábios, que limpou com a manga da
camisa amassada. Seus olhos azuis eram um espelho que nada viam.
— Analuz destruiu tudo que planejei para ela, filho — Sussurrou com
lágrimas nos olhos azuis — Destruiu meus sonhos de pai e... — Suspirou —
Está grávida. Minha filhinha, uma menina que sequer tinha um namorado que
pudesse assumir a responsabilidade, ficou grávida bem debaixo do meu nariz!
Passei a mão pelo cabelo pensando nas palavras de Petrônio. Jamais me senti
tão confuso.
— Sei que você confia muito nela e está decepcionado, mas infelizmente é
real. Infelizmente — Petrônio estava bêbado. Pude notar por seu semblante e
palavras. Aquele não era o momento de falarmos seriamente sobre Analuz e
eu. Ajudei Petrônio a ficar de pé, carregando-o para o quarto — Falhei como
pai, Valentim! Falhei com Analuz! Ela só tem dezoito anos, é uma menina!
Quem foi capaz de fazer isso com a minha menina? Quem?
— Fique calmo, pai. Isso tudo não passa de um grande mal entendido! —
Subi as escadas com ele, que cambaleava e sequer conseguia parar em pé pela
bebedeira — Você precisa ficar calmo! Nós dois temos muito que conversar,
mas quando a bebida tiver baixado.
Mamãe, calada, se mantinha fria como uma estátua Russa ao meu lado. Seu
rosto pálido refletia sua apreensão. Os cabelos loiros, quase brancos como os
meus, caiam revoltos ao redor da face. Seu olhar azul, quando se direcionava
a mim, exacerbava decepção.
Segui com a mão sobre o ventre. Eu não sentia nada! Não me sentia grávida,
tão pouco desesperada, como deveria. Se realmente houvesse um bebê ali, era
meu e de Valentim. Dentro de mim, no fundo de meu coração, a ideia me
parecia bonita.
Eu o amava... Amaria também o fruto de nosso amor.
— Mas mãe...
— Escute bem, mamãe... Nem a senhora e nem ninguém vai me tirar meu
filho! — Vociferei sem me importar com que nos ouvia — Posso ser uma
menina imatura e mimada como dizem, mas isso não tira minha
responsabilidade e muito menos o meu amor!
A médica chamou meu nome e me coloquei de pé, caminhando até ela com
os olhos ainda em minha mãe. Eu sabia que nem ela e nem papai seriam
capazes de tamanha atrocidade. Ninguém me separaria de meu bebê!
Abri a porta do meu quarto cansada, retirando a jaqueta jeans dos ombros e
acendendo a luz, pois já era noite. Ao me virar, fui pega de surpresa com a
figura de Valentim sentando em minha cama.
Corri até ele, que ficou de pé para me abraçar e me erguer no ar com sua
força. Apertei os dedos nos ombros fortes, cheirando o cabelo escuro e
beijando seu rosto onde podia alcançar. Desci o beijo por seu maxilar com a
barba por fazer, alcançando a boca quente e tomando-a para mim.
— Mas não contou sobre nós — Afirmou com decepção — Porque não
contou de uma vez?
— Valentim...
— Claro que amo... Amo como louca — Sussurrei próxima, sentindo seu
hálito em meus lábios — Amo como nunca vou amar outro.
— Então porque não é capaz de admitir para nossos pais e para o mundo o
que sente? Porque não é capaz de enfrentar a todos por nós, por nosso amor?
— Baixei o olhar.
— Valentim...
— Tenho medo que nossos pais nos separem. Tenho medo que me proíbam
de te ver e não quero, não consigo, viver longe de você de novo! Não,
Valentim!
— Não tem ideia de como sofri quando você foi embora, por isso não se
importa com meus sentimentos.
— Eles não estão enganados — Suspirei diante das palavras dele — Pior será
quando descobrirem que estivemos juntos.
— Direi a verdade aos nossos pais porque devo ser homem para assumir o
que fiz e entre nós... — Dizia com lágrimas nos olhos — Vai ser como você
quiser. Já não existe nada. Mais nada!
Valentim saiu de meu quarto e não tive sequer valor de ir atrás dele. Cai
deitada na cama e agarrei minha almofada de unicórnio, chorando sobre ela
com o coração aos pedaços.
Para mim era mais claro do que água que Analuz jamais iria me assumir
diante de todos e meu amor era unilateral.
Não podia continuar cedendo aos caprichos dela, não quando agora seu nome
estava envolvido em um problema com nossos pais... Problema esse que
também causei! Que tipo de homem seria se não tomasse partido?
Analuz era imatura e mimada, deixava o medo dominá-la e não se dava conta
de que sua imaturidade era a grande vilã em nossa história. Eu não podia
mais continuar às escondidas com ela, ocultando tudo como um criminoso.
Estava apaixonado, não cometendo um crime, afinal!
Desci as escadas disposto a contar tudo à minha mãe adotiva, mas fui pego de
surpresa ao vê-la com dor no sofá e chorando em silêncio.
— Mãe — Corri até ela, amparando-a quando tentou se erguer — O que você
tem?
Petrônio não era meu pai verdadeiro. Meu pai biológico, na verdade, era um
milionário falido que usou minha inocente, rica e órfã mãe para tentar subir
novamente sua conta bancária. Não valia nada, como mamãe me disse em
uma carta. Seduziu-a, usou-a e engravidou-a com o intuito de enriquecer
novamente.
Por sorte mamãe foi esperta e sequer chegou a se casar com ele. Conheceu
melhor Petrônio ainda grávida, pois ele era funcionário de confiança de seu
pai, meu avô, antes de sua morte. Petrônio era seu braço direito nas empresas
da família e parecia a pessoa certa para orientá-la. Ambos acabaram se
apaixonando e quando nasci, Petrônio não pensou duas vezes antes de me
registrar como seu filho a pedido dela, que aquela altura já era sua namorada.
Ele acompanhou toda a gestação e me viu nascer. Cuidou de minha mãe, que
descobriu um câncer no ovário cinco após o parto, até seu último suspiro de
vida. Petrônio era a pessoa que eu mais admirava no mundo e não podia
pensar na ideia de decepcioná-lo. Ele teria de compreender minhas intenções
e algo me dizia que iria.
Petrônio amou minha mãe mais do que qualquer coisa em sua vida e disso
sempre estive convicto e ele sempre me disse em palavras claras. Yolanda foi
seu grande amor e Analuz era o meu! Apenas um homem que amou
verdadeiramente poderia compreender o tamanho de meu amor, de minha
loucura...
— Você ficou tanto tempo fora e é assim que me trata? Com essa frieza? —
Seguia deitada na cama me olhando.
Eu sabia o que Analuz queria com aquela provocação. Seus olhos azuis
jamais me enganaram, muito menos quando queria prazer. Prazer este, que
conheceu em meus braços e se viciou.
— Já disse que tudo acabou entre nós — Reafirmei tentando não encará-la.
Era tentador e perigoso — Já que não pode assumir seus sentimentos, não
podemos mais ficar juntos.
— Aquilo não foi uma promessa... Foi uma brincadeira! Você só tinha nove
anos, como pode se lembrar disso? — Sorri desacreditado.
Desci os beijos de seus lábios doces para seu pescoço, inebriando-me com o
aroma delicioso que exalava de sua pele clara e macia. As mãos pequenas me
apertavam em sua pele conforme meus beijos arrastavam as alças de sua
camisola para o chão. Senti seu corpo estremecendo ao ficar nua e unir
nossas peles.
Seus delicados seios rosados roçavam meu peito nu. As mãos habilidosas
puxaram minha toalha e cobriram meu membro rígido com delicadeza,
sabendo perfeitamente como me ganhar. Ela não precisava de muito. Contra
ela eu não podia ganhar!
Levei-a para cama em uma passada rápida, postando-me sobre ela para beijar
cada centímetro de seu corpo que tanto me fez falta. Lembrei-me da
camisinha enquanto tomava seus mamilos nos lábios, saboreando-os com
minha língua enquanto ela gemia meu nome baixinho, preocupada em não ser
ouvida. Eu jamais me esqueceria...
— Essa foi à última vez, Analuz — Ela vestiu a camisola com os olhos
baixos — A última vez.
— Você não consegue ficar sem mim. É tão viciado em mim quanto eu e
você!
Analuz me deu as costas nervosa, saindo do quarto sem dizer nada mais.
Apertei os olhos e contive a vontade de ir atrás dela. Eu precisava ser forte!
Precisava resistir, do contrário, Analuz jamais aprenderia!
Queria diário,
Valentim tem razão quando diz que o medo é meu maior empecilho e o
verdadeiro vilão de nossa história. Sempre tive medo de decepcionar meus
pais e acabei decepcionando-os de outra maneira, uma ainda mais cruel.
Estou disposta a tudo para ter o amor do homem que sempre amei e sempre
irei amar. Mesmo que seja errado.
Não podia resistir a ele me afastando, muito menos depois de ontem, quando
fizemos amor e Valentim saiu da cama em seguida, desesperado para fugir de
mim e de meu feitiço. Ele queria se ver livre e isso eu jamais permitiria!
Desci do carro nervosa, correndo escada acima com a mochila nas costas e o
cabelo loiro desgrenhado batendo em meu rosto aflito e corado. Fui liberada
para entrar junto do motorista e encontrei meus pais, minha tia e meus primos
na sala, todos nervosos e apreensivos.
Os olhos azuis do meu pai pareciam mais aflitos do que nunca. Jamais o vi
tão desequilibrado.
— Querida...
— Vocês dois — Apontei para tia Alessa e Philip com sangue nos olhos,
nervosa por me dar conta da gravidade da situação — Saiam daqui! Este
assunto somente diz respeito a minha mãe, meu pai e eu! Já estou farta de
tanto veneno e indiretas! Vocês não querem o bem de minha família! Se
quisesse, teria empatia com o momento que estamos vivendo, com minha
mãe doente e meu pai se culpando! Os dois, FORA!
Gritei nervosa, apontando para a porta da casa. Meu peito subia e descia com
a respiração ofegante.
— Como se atreve a falar assim com sua tia, menina? — Alessa se colocou
de pé.
— Ela tem toda razão! — Meu pai vociferou colocando-se frente a mim —
Você e Philip já passaram da conta e não são mais bem vindos nesta casa!
— Então deveria se atentar mais ao que se passa entre seus filhos, querida
irmã! — Alessa comentou nervosa, passando por mim e me encarando de
perto — Principalmente no que diz respeito a certas... Liberdades!
— Vai ficar tudo bem, prima. Desculpe-me por minha mãe e...
— Eu não posso perdê-lo, não posso! O que farei sem ele, Vi? O que vai ser
de mim?
Meu rosto era um retrato vivo do meu desespero. Do mesmo jeito que
cheguei, permaneci. Há horas Valentim estava nas mãos daqueles homens e a
notícia rodava o país, mostrando em todos os noticiários.
— Seu irmão não ia gostar de vê-la assim, menina — Sentou-se ao meu lado
e abraçou-me pelos ombros. Eu suspirei, secando as lágrimas com as costas
da mão trêmula — A coisa mais importante para Valentim é você, querida.
Imagina quando chegar por aquela porta e encontrá-la em estado tão
deplorável? Você parece uma morta-viva!
— Claro que volta, querida! — Voltei a chorar e ela me abraçou ainda mais
forte. Mamãe e Violeta rezavam, mas prestavam atenção também — Seu
irmão é um touro saudável e inteligente. Não vai acontecer nada com ele,
você vai ver!
— Ele... Ele não é meu irmão, Eva — Garanti separando-me dela, que ainda
me abraçava levemente pelo ombro — Valentim é muito mais do que isso.
Sempre foi — Derramei ainda mais lágrimas — Valentim é meu tudo... É
meu protetor, meu melhor amigo, incentivador... Amante... — Suspirei —
Meu grande amor.
— O que ouviu — Voltei a falar mirando os olhos escuros de Eva, minha fiel
babá — Valentim e eu não somos irmãos, somos amantes. Namorados. Nos
gostamos. Sempre estivemos juntos, Eva. Por toda a vida, mesmo que apenas
há pouco tempo tenhamos de fato assumido isso para nós mesmos.
— Por hora tudo o que quero é ter meu filho de volta — Respondeu convicto,
mas ainda baqueado — Depois que essa tempestade passar conversaremos
sobre isso — Mamãe largou o rosário no sofá e deixou as mãos caírem ao
lado do corpo como se não tivesse reação. Encarava-me atônita — Sobe para
seu quarto, Analuz. É o melhor — Papai me encarava — Tome um banho e
se acalme. Em breve tudo isso terminará.
Senti o repúdio nos olhos de mamãe e o pesar nos de papai. Senti como se o
mundo abrisse debaixo de mim, mas nada importava. Eu apenas queria ter
meu Valentim de volta!
— É uma surpresa muito grande, menina, não pode culpá-los! Mas tão pouco
é pecado. Vocês não têm o mesmo sangue, não são irmãos biológicos, então
pecado não é! — Me virei para olhá-la.
— Talvez por isso você tenha demorado tanto para assumir seus sentimentos,
menina. Por esse parentesco que habitava em seu coração, mas não era real
— Eva tinha razão, mais do que qualquer coisa — Seus pais podem e vão
ficar chocados de início, uma vez que vocês são mesmo filhos deles, você
biológica e Valentim de criação, mas isso vai passar, querida. Uma hora vai
passar, pois pecado não é!
— Para que leiam quando tiverem tempo. Somente assim serão capazes de
compreender tudo o que ouviram de meus lábios mais cedo sobre Valentim e
eu.
Mamãe parecia realmente interessada, mas papai sequer deu bola. Concordou
com um aceno enquanto ela segurava um dos diários contra o peito. Não me
importei que lessem meus mais profundos segredos, nada mais me
importava!
— Analuz, isso que nos contou é muito profundo e grave — Mamãe disse
preocupada — Realmente não sei o que dizer... — Encolheu os ombros.
— Quero vê-lo agora mesmo, pai! Preciso vê-lo! — Implorei ainda abraçada
a ele.
Abri os olhos diante de uma grande confusão e senti o braço arder, mas não
tanto quanto o coração.
— Sobrevivi? — Foi à única coisa que me ocorreu sussurrar aos médicos que
me avaliavam.
— Com licença.
Suspirei pela dor no braço, analisando o soro com medicamento que pingava
em minha veia. Aquela linha tênue também significava o quão próximo
estive da morte. Nas mãos daqueles homens pensei que morreria, mas estive
grato todo o tempo porque ouvi claramente dos lábios de um deles que o
sequestro estava programado para Analuz — a irmãzinha caçula do grande
CEO — não para mim, propriamente dito.
Por azar — eu via como sorte — Analuz saiu atrasada e acabei sendo pego na
emboscada no lugar dela.
Mesmo que morresse ali, tudo valeria a pena. Eu seria capaz de dar minha
vida e muito mais por meu grande e único amor.
Finalmente me dei conta de que nossos pais também estavam ali, assistindo
toda a cena. Travei quando constatei o fato, encarando-os com surpresa.
Olhei Analuz, que seguia da mesma maneira, sem fazer qualquer esforço para
esconder-se.
Petrônio bateu em meu ombro. Ele sabia o que tinha acontecido, sabia
perfeitamente que o sequestro era para Analuz, não para mim. Aquele
agradecimento era por ter me arriscado pela filha dele, eu estava seguro.
— Não, mãe — Analuz segurava minha mão com força, mostrando que
estávamos juntos nisso — Durante todo o tempo que passei sob a mira
daqueles criminosos pensei que se pudesse ter outra chance, a primeira coisa
que faria seria explicar sobre Analuz e eu para vocês.
— Sei que somos irmãos de criação e sou imensamente grato por tudo que
fizeram por mim na vida, mas não posso seguir mentindo. Sou apaixonado
por Analuz e a amo como um homem ama uma mulher. Pretendo assumir
todas as responsabilidades e, futuramente, construir uma família. Não existe
outra mulher para mim e, em tudo isso, apenas lamento o rumo que as coisas
tomaram. Não queria estar dizendo isso a vocês em uma maca de hospital,
mas em uma situação mais agradável e respeitosa. Vocês são as pessoas mais
importantes da minha vida e me sinto na obrigação de dizer o que sinto e me
desculpar.
— O homem que arriscou a vida para salvar a de minha filha não precisa se
desculpar, Valentim — Petrônio disse convicto. Tinha as mãos na cintura e
uma expressão séria. Yekaterina e Analuz pareciam confusas — Os federais
me disseram que o sequestro era para Analuz, não para você. Disseram que
você se colocou na mira quando pensaram em te usar para atraí-la e se
recusou a compactuar, correndo o risco de morrer para não comprometê-la.
Apenas isso, somado a sua conduta da vida toda como um bom filho e bom
homem, já me prova que realmente é um homem mais do que aceitável para
estar na vida dela.
— Eu sempre disse que faria tudo por você — Toquei sua mão com ainda
mais veneração — Daria minha vida, se fosse necessário.
— Confesso que para mim tudo é muito complicado, pois realmente vejo
Valentim como um filho, mas Eva tem razão quando diz que vocês não tem
nenhum laço de sangue e não se trata de um verdadeiro pecado — Valentim e
eu trocamos um olhar engraçado — Será confuso explicar a sociedade,
apenas. Sempre apresentei ambos como meus filhos, Valentim tem Petrônio
como pai de registro e agora...
Jamais vi Analuz tão feliz e aliviada quanto estava ao abraçar a mãe, que a
acolheu em um abraço terno e igualmente aliviado.
Eu sabia, durante anos vivendo com uma mãe adotiva Russa, o que aquelas
palavras significavam. Te amo.
— Lyublyu vas! Também te amo, querida! Sinto-me aliviada por saber que
minha filha não é uma descabeçada... Que seu filho sim teria um bom pai! —
Yekaterina reafirmou.
Não existia outra mulher em minha vida... Não havia no mundo nenhuma
outra mulher para mim que não fosse à única que um dia cheguei a pensar
que jamais poderia tocar.
Minha Analuz já não era minha irmã. Já não era proibida para mim!
EPÍLOGO
Nos encaramos através do espaço e me dei conta de que ali estava a pessoa
que mais me conhecia em toda a vida. O homem que me viu nascer e me
criou como um filho durante quase trinta anos. Assenti perante seus olhos
azuis, envergonhado.
— Não sei como se sente em relação a mim agora, Petrônio. Me sinto em
divida com você — Petrônio apenas apontou o envelope.
— Petrônio...
Aos poucos me dei conta do que aquilo significava. Petrônio não me odiava,
ao contrário! Aquele documento era a prova de que realmente acreditava em
meu amor por Analuz, a filha que tinha seu sangue. Aquele documento
significava que confiava em mim como um filho, o que eu sempre seria para
ele.
— Conheço seu caráter, filho. Fui eu quem forjou — Sorriu orgulhoso — Sei
que fará Analuz feliz e será o melhor homem para ela. Não tenho dúvidas
disso...
— Farei o possível para honrar sua confiança e o amor que sinto por Analuz.
Eu prometo!
— É o mesmo amor que senti por Yolanda um dia e que jamais morreu em
mim, filho. Vejo em seus olhos que seu amor por minha filha é o mesmo que
sempre tive por sua mãe.
Tudo, absolutamente tudo, estava no lugar agora. Parecia mentira algo ser tão
incrível.
Não me dei conta quando Valentim sentou ao meu lado ali, abraçando-me
contra o peito forte por trás e beijando-me o pescoço. Fechei os olhos e me
aconcheguei em seus braços, aproveitando a doce sensação de ser amada pelo
homem que sempre desejei. Por toda a vida.
— Se lembra de uma vez... Acho que você tinha uns oito anos e era somente
uma menininha magricela e cabelos loiros, quase brancos, e olhos azuis
curiosos — Valentim dizia com carinho — Lembro que eu estava aqui,
exatamente neste lugar, sentado ali no balanço, e você me perguntou o
porquê de eu estar tão triste.
— Naquela época levei tudo como uma brincadeira, é claro — Tocou minha
bochecha com carinho — Naquela época jamais pensei que fosse virar uma
realidade!
Nos separamos e Valentim olhou para o diário ao meu lado. A capa rosa-
claro. Meu nome escrito com letras coladas de glitter azul e rosa. Uma
pequena bandeira da Rússia em cima e uma pequena do Brasil em baixo.
Peguei o diário no colo, mostrando a ele mais de perto.
Querido diário,
Você é o único que sabe meus segredos. É o único que sabe que sou
apaixonada pelo meu irmão de criação e tem em suas páginas gravados
segredos proibidos!
Espero que ele me perdoe. Espero que ele volte e possa saber o quanto o
amo. O quanto meu amor também é imensurável!
Por favor.
— Mas fui uma tola e... — Valentim pousou um dedo em meus lábios e me
encarou com seus intensos olhos cor de café. Gelei com sua proximidade,
estremecendo contra seu corpo forte e másculo.
— Eu não prometi que esperaria o tempo que fosse necessário? —
Concordei, acenando — Pois então. Eu esperei, Analuz. Esperei!
Sorrindo, Valentim me beijou e o abracei com ainda mais paixão e força. Sua
promessa era uma dívida cumprida, assim como acontece com todo grande
CEO.
Queria diário,
Há anos não escrevo nada por aqui e com isso me dou conta de que há anos
sou imensamente realizada, sem ter algo para reclamar em suas páginas tão
maltratadas por minha história de amor impossível no passado.
Hoje completo trinta anos e resolvi tirar um tempo para finalizar essa
história, sentada sob a árvore onde tudo começou... Onde Valentim me
deixou um dia.
Depois que Valentim foi salvo, finalmente vivemos intensamente nosso amor
sem nos esconder e livres de qualquer amarra. Papai e mamãe
compreenderam e com o tempo tudo se normalizou.
Nos casamos na casa de campo de papai e tudo foi incrível, como sonhamos.
Aos vinte e oito descobri a gravidez da nossa primeira filha. Nossa amada e
esperada durante toda uma vida, Yolanda Yekaterina Ruiz Vilanova. Uma
linda e perspicaz garotinha com sangue Russo e Brasileiro, forte como as
avós e inteligente como sempre desejei.
Talvez não exista nada que o tempo e o amor não possam consertar, por isso,
querido diário, depois de muito descobri que não era um pecado... Jamais
foi! Você, querido diário, não traz relatos de um pecado, mas sim de um
amor. Um grande e verdadeiro amor.
Meu grande segredo agora é uma verdade e espero que todos possam
encontrar um grande amor um dia.
FIM
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Notas da Autora