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PRÓLOGO

Aurora
Três anos mais cedo...
Dando alguns passos para trás até estar parada no hall de entrada do novo apartamento de Lucca
Lazzari, eu admiro o meu trabalho. Após duas semanas seguidas decorando essa cobertura enorme, eu
finalmente consegui terminar e modéstia parte, eu sou muito boa nisso.
Eu estava um pouco desanimada porque minha supervisora na empresa não estava me dando muitas
chances de trabalhar, por ciúmes da minha relação com Giovanni Lazzari – o segundo filho do dono da
empresa, quando Lucca – o filho mais novo – me entregou a chave de seu apartamento e pediu que eu o
decorasse. Já havíamos trabalhado juntos em um hotel de Dubai e tanto ele, quanto os irmãos dele,
ficaram muito satisfeitos com meu trabalho. Mas, Tiana Banks simplesmente me odiava e não media
esforços para demonstrar isso. Pelo que eu soube pelo Lucca, ela e Giovanni tiveram um "caso" antes que
eu chegasse na empresa e ela não consegue aceitar que ele a tenha deixado de lado por mim. E sua raiva
por mim só aumentou quando Giovanni chamou atenção de todos, no saguão do prédio da empresa, se
ajoelhou e me pediu em casamento. Cada vez que ela olhava para minha mão e via o lindo anel, com um
solitário perfeito de diamante puto, eu esperava que saísse fumaças de seus ouvidos e narinas.
Eu sorrio e suspiro satisfeita com o que acabei de fazer, saco meu celular do bolso da calça e tiro uma
foto da ampla sala de estar, decorada com cores neutras e masculinas. Eu deslizo meu dedo no botão de
mensagens e o contato "Meu amor" está logo em cima, então eu envio a foto.
Eu: Sinto ter que informar isso desse jeito, mas ganhei a aposta. Agora você terá que me levar para
àquele passeio, lembra?
A resposta veio rápida, como sempre.
Meu amor: Desculpe. Não me lembro de aposta alguma...
Eu: Te dou umas dicas. Europa... França...
Meu amor: Você está maluca. Eu nem te conheço.
Eu: Que pena... Já até tinha comprado uma lingerie nova para hoje à noite...
Meu amor: Faça as malas! Voaremos para Marseille amanhã!
Eu solto uma risada. Havíamos feito essa aposta há três dias, quando estávamos deitados um ao lado do
outro, completamente esgotados de uma longa e incrível sessão de sexo. Eu disse a ele que acabaria em
menos de cinco dias e ele disse que não, que eu trabalharia mais duas semanas. Quando eu não
concordei, ele propôs essa aposta. Se eu ganhasse, me levaria à Marseille, um lugar maravilhoso na
França, que eu sempre tive um sonho de visitar. Se ele ganhasse, eu teria que transar com ele em uma
espreguiçadeira na varanda de seu quarto – uma fantasia que ele ficou obcecado depois que me viu
pegando sol lá e eu venho negando, porque alguém pode muito bem nos ver.
O que ele não sabia, era que eu queria ir com ele até Marseille para poder lhe contar, em uma paisagem
incrivelmente linda, que finalmente conseguimos o que queríamos. Depois de meses tentando, eu
finalmente estou grávida.
Volto minha atenção para o celular em minhas mãos quando ele vibra com outra mensagem dele.

Meu amor: Janta comigo hoje?


Eu: Claro. Logo após terminar de fazer minhas malas.
Meu amor: Ainda vou procurar saber se você não trapaceou.
Eu: Marseille, aqui vou eu!
Meu amor: Engraçadinha. Vejo você às sete! Te amo.
Eu: Ok. Também te amo.

***

—Srta. Mitchell, há uma carta para você.

Abrindo um sorriso largo, eu encaro José – o porteiro do prédio onde vivo – com uma sobrancelha
arqueada. Eu sabia exatamente quem a havia enviado e o sorriso cúmplice que José está me direcionando
neste exato momento, confirma minhas suspeitas.
Além das mensagens diárias, Giovanni tinha essa coisa de me enviar cartas à moda antiga. Todos os
dias ele as manda, normalmente com mensagens românticas, que me deixem com as emoções à flor da
pele, principalmente agora nessa fase de gravidez.
José me entrega a carta de envelope vermelho. Eu nem preciso levá-la ao nariz para sentir o cheiro
delicioso do seu perfume masculino. Depois de agradecer ao José, eu sigo para elevador e aperto no
número do meu andar. Estava ansiosa para ler a carta, mas só faria isso quando estivesse dentro de casa,
onde ninguém poderia me ver chorando feito uma boba.
Quando entro em casa, eu apoio minha mão no encosto do sofá e me inclino para retirar uma sandália,
depois mudo de mão e retiro a outra, então eu dou a volta e me sento no sofá, cruzando as pernas debaixo
do meu corpo, um sorriso abobado esticando meus lábios quando abro o envelope. Mas ele logo começa
a se desfazer quando começo a ler as palavras escritas em uma caligrafia masculina e familiar.
Não poderei ir buscar você para jantar. Na verdade, não poderei mais ver você. Esse noivado foi um
erro e você sabe muito bem disso. Estou disposto a pagar quanto for para você não fazer um
escândalo, então por favor, não o faça, procure minha secretária e ela lhe dará o que for necessário.
Estou saindo do país agora por um tempo e espero que quando voltar, você tenha pedido demissão da
minha empresa. Sinto muito não dizer isso tudo pessoalmente, mas eu não queria ver você chorar na
minha frente. Foi muito bom o que nós vivemos, mas somos muito diferentes e eu não posso continuar
com isso.
Adeus, Aurora!
Realmente sinto muito.
Giovanni.
Eu li, reli e li novamente. Eu estava tentando entender se era algum tipo pegadinha que ele estava fazendo
comigo. A caligrafia perfeita era sua, o modo de se expressar, com certeza, era seu: frio, cheio de si, mas
eu não consigo acreditar que os sentimentos expressados no pequeno pedaço de papel eram realmente
dele. Mais cedo em nossas mensagens ele disse que me amava. Deus! Mais cedo em minha cama ele
disse que me amava. Que me amava demais. Por que ele está fazendo isso agora? Que brincadeira de mal
gosto é essa?
Ignorando minha vista embaçada com as lágrimas que estavam jorrando com violência, eu estendo
minhas mãos trêmulas e alcanço minha bolsa. Eu começo a procurar freneticamente pelo meu celular, mas
estou tão fora de mim que não consigo encontrá-lo rápido. O desespero está crescendo dentro de mim,
meu peito apertando em um ponto tão forte, que preciso abrir a boca e sugar um pouco de ar para
respirar. Perdendo a paciência, eu coloco minha bolsa de cabeça para baixo, derrubando tudo sobre o
sofá e finalmente consigo achar o aparelho. Eu disco com dificuldade o único número que eu sei
decorado, por ligar tantas vezes, e o levo à orelha.
Chama. Chama. Chama. Chama. Caixa postal.

Eu continuo insistindo, a mão livre sobre o peito, massageando, numa tentativa de aliviar a dor latente
que está dominando todo meu corpo. Quando o celular dar como desligado, eu desligo e procuro pelo
número do escritório.
Rita, a secretaria atende no segundo toque.

— Secretária do sr. Giovanni Lazzari.

— Rita, onde está Giovanni? — Eu não consigo evitar o desespero em meu tom.

Ela fica em silêncio por alguns longos instantes, mas então suspira.

— Sr. Lazzari saiu à uns quinze minutos, Aurora.

—Para onde ele foi? Por que não atende o celular?

— Talvez porque não se pode atender celulares em aviões...

—Aviões? — Eu pude ouvir quando meu coração se partiu no meio. — Ele... ele foi...

Sequer conseguia terminar de formar a pergunta, por causa da falta de ar causada pela dor que estava
sentindo.
Por que diabos ele fez isso comigo?

— Ele disse que se alguém perguntasse, estaria viajando com a srta. Thornburg. — ela diz depois de
algum tempo. — Aurora, sinto muito, mas preciso desligar!
Sinto muito.

Por algum motivo, eu estava odiando essas duas palavras.

Giovanni não sente muito.

Tampouco Rita sente muito.

Na verdade, eles devem estar rindo de mim, do quanto eu estou sofrendo.

Eu levo minha mão à boca para impedir de gritar quando a dor sai rasgando até minha garganta. Em
seguida, eu sinto quando um redemoinho retorce em meu estômago, empurrando tudo que eu comi durante
o dia. Então eu corro rapidamente para o banheiro e me inclino sobre a privada, colocando tudo para
fora, enquanto as lágrimas deixam meus olhos juntos com os tremores que tomou conta do meu corpo.
Não sei quanto tempo passa enquanto eu coloco até o que eu consumi na semana anterior para fora, até
que o meu celular vibra em minha mão.
Noah.

Meu melhor amigo, que sempre teve esse dom de sentir quando eu estava com problemas, apesar da
distância entre nós. Eu morava em Los Angeles, ele em Chicago.
Posso sentir um resquício de alívio circular dentro de mim quando atendo a chamada e ouço sua voz
amigável e carinhosa.
Talvez alguém sinta muito, afinal.

CAPÍTULO 1

GIOVANNI

— Você só pode estar de brincadeira com a porra da minha cara!


Largando a caneta que estava usando para assinar alguns papéis, sobre minha mesa, recosto na minha
poltrona e encaro meu irmão do outro da mesa. Eu procuro manter minha expressão neutra, mesmo
estando com a raiva estalando no meu cérebro, neste momento.
Lucca faz o mesmo que eu, recostando-se na poltrona que está sentado e segurando nos braços de couro,
ele inclina o corpo para trás, fazendo as molas da poltrona inclina-la levemente junto. — Não estou, não.
— Ele diz, balançando a cabeça. Seu sorriso preso e a cara cínica entrega seu ato proposital. — A Mel
viu alguns dos trabalhos dela, e não quis outra além dela. Você sabe, a mulher que manda...
Estreito meus olhos para ele. — Está me dizendo que, com tantas designers no caralho do país e bem
aqui, na empresa, ela exigiu aquela mulher? O quê? A Mel não gosta de mim, é isso?
—Fala sério, Giovanni! Sabe que ela adora você. — Ele revira os olhos. — Você, por acaso, já teve de
lidar com uma mulher grávida? Elas são teimosas pra cacete. Melissa já era teimosa, agora grávida
piorou bastante. É só o que ela quer e ai de mim se não concordar.
Eu levanto uma mão e passo pelo cabelo, sentindo minhas palmas umedecidas apenas com o pensamento
de ter que vê-la novamente. Pior, de ter que trabalhar com ela, novamente... Não posso fazer isso, porque
eu odeio ela por ter ido embora e me deixado como um banana apaixonado, depois de fazer tantas coisas
por ela. Com qualquer outra pessoa, eu não me importaria de ir até lá e bloquear totalmente meus
sentimentos, mantendo minha expressão relaxada, como se nada tivesse acontecido. Mas Aurora Mitchell
não é qualquer pessoa. Tenho a impressão de que não conseguiria me manter neutro por muito tempo
perto dela.
Não quando só em pensar no quão bom era sentir seu cheiro e seu corpo magro e delicioso enroscado no
meu, eu já fico com um nó no estômago e uma vontade absurda de quebrar as coisas ao meu redor.
—Ótimo. Então diga a Mel que a partir de hoje, Nicolas Harper será o novo engenheiro responsável pela
sua casa. — Eu digo para Lucca, oferecendo-lhe um sorriso amarelo e pego de volta minha caneta,
lutando para controlar meus dedos trêmulos de raiva.
Lucca me olha com uma expressão chocada e balança a cabeça, como se estivesse dizendo "Tão
maduro..."
Mas eu não me importo com isso. Em vez de lhe dar mais atenção, eu volto a assinar os papéis postos em
minha frente. Com uma visão periférica, eu vejo meu irmão mexendo no celular. O conhecia bastante para
saber que ele estava aprontando alguma…
Ele colocou o celular sobre minha mesa.
— Ei, bebê. — a voz amorosa da Mel surgiu através do viva-voz.

Levantei meus olhos, estreitos em fendas, para ele, mas ele ignorou minha ameaça silenciosa e falou:
—Amor, acabei de falar com o Giovanni.

— E…?

—Você terá a Aurora, mas ele disse que seu engenheiro agora será o Nicolas. — Seu tom de voz era tão –
ou mais – cínico que sua expressão. Ele tinha uma sobrancelha erguida para mim, com divertimento
claro.
Mel não tinha mais o tom amoroso de quando atendeu a ligação. Ela parecia um pouco decepcionada
agora. — Por quê?
Mesmo sabendo que ela não veria, Lucca deu de ombros. — Pode perguntar para ele, se quiser. Está no
viva-voz.
— Giovanni?

—Hum? — Respondi após praguejar baixinho para que ela não ouvisse.

Lucca sabia que esse jogo dele era sujo, uma vez que ele sabia, muito bem, que eu não diria não para ela.
Pelo menos, não quando ela está esperando o meu sobrinho… Ou talvez, nem mesmo se ela não estivesse
esperando ele.
Melissa tem uma coisa irritante de fazer todo mundo se derreter diante dela. O jeitinho inocente e frágil
que ela demonstra nos olhos verdes – quando na verdade é uma mulher forte –, é capaz de desmontar
qualquer um. Foi o que ela fez com meu irmão e com todos da família.
Eu odeio ela por isso.
— Que história é essa que o Lucca me contou? Eu nem conheço esse Nicolas!

Obviamente, eu não a trato do mesmo jeito que eu estava tratando o Lucca. Procuro ser o mais suave
possível, quando eu respondo. — Nicolas é o segundo melhor engenheiro dessa empresa. Sua casa estará
em boas mãos.
— Não, senhor! Eu não quero o segundo, quero o primeiro e adivinha quem é ele?

Desvio o olhar da tela do celular para meu irmão, que está prendendo o riso com minha situação. Eu
aponto um dedo indicador para ele, em seguida, passo o mesmo dedo, em horizontal, sobre minha
garganta. — Não vou trabalhar com a Aurora, Mel. —Eu digo, voltando a me concentrar no telefonema.
— Não sei o que você sabe sobre o que aconteceu, mas eu posso garantir para você que não quero vê-la
nem pintada de ouro na minha frente.
— Dividiremos os horários, então. — ela diz, como se fosse uma solução perfeita. — Providenciarei
para que quando você estiver por lá, ela não esteja. Tá bom assim? Só falta poucas coisas para você
fazer na casa, então não pode ser tão difícil evitá-la daqui pra lá.

Suspirando, chego à conclusão de que eu realmente odeio minha cunhada. Ela é a porra de uma mente
boa, que não desiste fácil.
—Tudo bem. — me rendo, passando as mãos pelo rosto, tentando aliviar a tensão. — Tudo bem.

— Aj. — ela parece respirar aliviada do outro lado. — Obrigado. Muito obrigado. Eu amo você por
isso, ok?
Abro um sorriso. — Ok, mas você ficará me devendo uma. — aviso, meu tom suavizando na medida em
que eu deixo meu corpo relaxar.
Apesar de toda minha história com Aurora, eu não teria coragem de deixar a Mel na mão com o tanto que
ela está correndo para resolver as questões do casamento e da casa. Eu a vi ontem e ela parece exausta,
mesmo sem querer admitir isso. Acho que isso tudo é força de vontade de colocar todo o passado de lado
e começar uma nova etapa na vida com meu irmão, e eu faria de tudo para ajudá-la nisso; Até mesmo
enfrentar a Aurora outra vez.
— Assim que toda essa bagunça acabar, eu prometo que estarei à disposição para fazer o que você
pedir. — Mel diz, com um sorriso em seu tom. — Bebê? — chama por Lucca, sua voz ficando quase
derretida.
Meu irmão estende a mão e pega o aparelho, o tirando do viva-voz e levando-o ao ouvido, um sorriso
idiota dançando em sua boca, quando ele responde. — Estou ouvido, bebê. — Seu sorriso vai caindo aos
poucos enquanto ele ouve e um brilho pervertido toma conta de seus olhos. — Oh, certo, anotado. Estarei
em casa daqui a pouco para você.
Balanço a cabeça, não podendo conter um sorriso zombeteiro, vendo ele desligar e deslizar o aparelho
de volta para o bolso da calça, um tanto inquieto agora. Idiota.
—Bom, — Ele tamborilou os dedos nos braços da poltrona, forçando um sorriso amigável. — minha
missão está comprida por aqui. — então, se levanta e bate as mãos juntas, me olhando com cuidado,
começando a andar para trás, em direção à porta. — A Mel precisa de mim em casa, então… Boa sorte
com essa coisa, irmão.
Estreito meus olhos, lhe dizendo que não estou nada satisfeito com essa coisa e que estou prestes a socá-
lo, se ele não desaparecer da minha sala, e com uma risadinha ridícula, ele saiu pela porta, a fechando
atrás de si.
Solto um bufo e deixo minha cabeça cair para trás, no encosto e fecho os olhos. Minhas mãos estão
suando e tremendo para se mover contra alguma coisa, com a imagem de Aurora se formando em minha
mente.
Porra. Mil vezes porra.
Levo minhas mãos para cima e esfrego meu rosto algumas vezes, soltando um grunhido frustrado, e meu
coração apertando com a possibilidade de ficar cara a cara com ela de novo, depois de tanto tempo.
Com rosnado, eu coloco minhas mãos na beirada da minha mesa e empurro, fazendo as pernas da minha
poltrona de rodinhas deslizar para trás e levanto-me quase abruptamente. Eu ando até as janelas do meu
escritório que ocupam toda a parede do chão ao teto e enfio as mãos nos bolsos. Eu olho o fluxo gigante
de pessoas andando apressadamente de um lado para o outro nas calçadas, atravessando a pista,
estendendo a mão para apanhar um táxi.
Eu sabia que Aurora havia voltado para Los Angeles, mas nunca cheguei cogitei o fato de que esbarraria
com ela, numa cidade tão grande e tão movimentada quanto Nova Iorque. É ainda mais frustrante saber
que isso acontecerá por meio do meu irmão.
Pele primeira vez, após três malditos anos, eu penso em como seria vê-la novamente.
Ela ainda está linda do mesmo jeito que me lembro?
Ela ainda me olharia com aqueles olhos grandes, com a mesma adoração que eu amava ver?
Ela ainda cheira a gardênia[1]?
—Foda-se! — trinquei os dentes, sentindo a raiva se mover por cada veia existente no meu corpo.

Eu não me importo se ela está linda ou pareça com a porra da esposa do Chuck. Eu não me importo como
porcaria ela olhará para mim. E eu, tampouco, me importo com como ela cheira agora, porque eu não vou
procurar saber de qualquer forma.
Ela não passa de um ser insignificante para mim agora, que me abandonou faltando pouco para nosso
casamento. Eu, definitivamente, não quero saber em como ela se cheira.
Alcançando os papéis que assinei de cima da mesa, eu caminho para fora do meu escritório e os coloco
sobre a mesa de Rita, minha secretária. Eu ignoro seu sobressalto e aviso:
—Estou saindo agora. Caso alguém ligue me procurando, estarei na nova casa do Lucca, trabalhando.

•••

O trajeto até o condomínio dura cerca de quinze minutos. Após passar pelo reconhecimento de digital da
segurança, eu estacionei em frente à casa do Lucca e bati a porta do carro quando saí.
O calor hoje estava um tanto ridículo, então eu havia dispensado o paletó e arregaçado as mangas da
minha camisa branca até os cotovelos e aberto os dois primeiros botões. Talvez um pouco de vento
contra meu corpo, para aquecer, possa aliviar um pouco minha vontade de arrebentar a cara de alguém.
Uma vez dentro da casa, eu ando direto para parte de trás, onde ainda estou trabalhando. Só falta aquela
aérea, então, vou procurar apressar as coisas para não ter que dar de cara com aquela mulher por um
acaso desagradável do destino.
Mesmo Mel propondo dividir nossos horários, parece que eu não sou muito querido lá por cima, e tenho
quase certeza de que não terei tanta sorte de não me encontrar com ela em algum momento, caso nós dois
continuarmos a trabalhar no mesmo lugar.
Eu decido fazer meu caminho pela cozinha, mas assim que ponho meus pés lá, sinto que meu coração
entra em modo pausa.
— … eu não estou entendendo o que você…

Com a mão livre da cintura, Aurora se vira em seu eixo, as sobrancelhas unidas numa confusão, enquanto
ouve quem quer que esteja do outro lado do telefone. Então seus olhos se deslocam do chão e sobem para
bloquear com os meus e ela empalidece, sua expressão se tornando horrorizada.
Eu noto quando seus ombros caem e ela suspira. Inclinando a boca para o celular, sem tirar os olhos dos
meus, ela diz para a pessoa do outro lado: — Sim, eu acho que acabei de entender. — e desliga a
chamada.
Sinto meu maxilar doer de tanto que estou o pressionando fechado, mas eu não me importo, porque a dor
que estou sentindo no peito agora é ainda maior, então ela ameniza um pouco.
Uma dor pode amenizar a outra. É isso que dizem, não é? Que se estiver sentindo dor em algum lugar do
corpo, basta causar dor em outro lugar, que ela passa?
Pelo menos foi o que eu aprendi e pratiquei durante esses três anos. Eu mergulhei de cabeça nos treinos
excessivos de boxe, Krav Maga… Tudo isso para sentir dor no corpo e amenizar a do meu coração;
Amenizar a dor insuportável que se instalou dentro do lado esquerdo do meu peito, como se tivessem
soltado uma âncora sobre ele e deixado lá. A mesma dor que eu me proibi de sentir, até agora.
Eu encaro seus olhos castanhos, que antes eram tão doces e suaves, mas agora estão frios e duros, e agora
mais do que nunca sinto como se estivesse sido enganado durante todo o tempo que estivemos juntos.
Ela está ainda mais linda do que me lembro, mas seu corpo está mais cheio, mais formado, e se é que é
possível, parece ainda mais gostosa – não que eu estivesse a notando agora, porque não desgrudei os
olhos dos dela, e eu não sei o por que.
Meu bolso vibrou e eu enfiei a mão nele para recuperar meu celular.
—Sim? — atendi, sem ao menos dar uma olhada na tela para saber quem era.

— Giovanni — a voz desesperada da Mel soou no meu ouvido. — eu sinto muito, ok? Não sabia que ela
estaria aí hoje, mas eu também não sabia que você resolveria ir. Eu não queria…
Ela continuou falando no meu ouvido, mas eu estava muito ocupado lutando para manter minha raiva sob
controle, para escutar qualquer coisa. Apertei o aparelho entre os dedos, para não arremessá-lo do outro
lado do cômodo vazio.
Porra, ela está aqui, bem na minha frente!
Puxando, discretamente, o ar de volta para meu pulmão, eu procuro acalmar minha cunhada. — Mel,
estou bem. Não se preocupe. — Eu aperto em desligar e deslizo o celular de volta para meu bolso.
Basta manter os sentimentos escondidos. Eu repito para mim mesmo. Não pode ser tão difícil.
Limpo a garganta e enfio minhas mãos nos bolsos, mas não digo nada. Eu espero que ela fale primeiro, e
pelo modo que seus ombros endireitaram e seu queixo levantou, ela fará.
—Bem, — Aurora pressiona os lábios juntos por uns instantes, arrasta o cabelo de seus olhos, e então
entrelaça os dedos das mãos em frente ao corpo. — eu não sabia que você estaria aqui, mas não precisa
se preocupar, estou apenas terminando o que vim fazer e logo estarei fora.
Contra minha vontade, sua voz corre por cada nervo do meu corpo e se entranha no meu estômago,
fazendo-o pesar com a saudade.
Eu não esboço nenhuma reação ou expressão, no entanto.
—Não me importo. — atirei, atravessando a cozinha em passos largos, o mais rápido que podia, evitando
as batidas aceleradas do meu coração.
Eu não podia ficar parado olhando para ela ou ela veria o quanto ainda me afeta, e puta que pariu, ela
ainda me afeta demais. Eu não devia estar com uma ereção agora só por colocar meus olhos sobre ela,
mas eu estou. E eu não sei o que mais incomoda no momento – a dor do meu coração ou do meu pau – e
assim eu não posso fazer nada para aplacar nenhuma delas.
Nem se enfiasse uma faca na porra da minha perna.

CAPÍTULO 2

AURORA

"Eu não me importo."
Oh, é claro que não. Babaca.
E, por que diabos, eu quis dar algum tipo de explicação para ele?
Mantenho meus olhos estreitos nas costas largas tão familiar para mim, enquanto Giovanni atravessa a
cozinha em direção à porta de vidro que leva aos jardins da casa.
Apesar do meu peito estar bastante apertado e meu cérebro atordoado por esse reencontro repentino e
nada desejável, eu prendo meu lábio inferior entre os dentes, admirando seu porte físico, claramente, bem
mais definido que há três anos.
Precisei segurar meu queixo no lugar quando meus olhos encontraram os seus. O mergulho do oceano azul
imenso, foi tão intenso quanto todas as outras vezes, mesmo capturando o desprezo neles dessa vez.
Ótimo, parece que três anos de sofrimentos e dor não foram o suficiente para ficar imune à Giovanni
Lazzari.
Eu observo ele deslizar a porta de vidro para o lado, abrindo-a apenas o suficiente para passar por ela.
Ele caminha com toda a confiança que sempre teve, e meu peito se parte mais uma vez quando ele sequer
olha para trás.
Eu rio tristemente. Por que ele olharia?
Ele fez sua escolha há três anos, então por que voltaria atrás agora? E mesmo se voltasse, eu não iria
querer. Não mais. Ele me machucou, me quebrou ao meio, acabou comigo com uma porcaria de uma
carta.
Eu pisco para espantar as lágrimas dos meus olhos, ignorando a dor insuportável no meu peito e volto até
a ilha da cozinha, apanhar meu iPad. Eu precisava sair daqui, então precisava terminar o que vir fazer.
Passando a ponta do meu indicador na tela do meu iPad, eu abro novamente a câmera e volto ao trabalho,
terminando de tirar fotos do resto da cozinha.

•••

— Ele disse que não se importava?

Suspirei, deixando minha cabeça cair para trás no encosto do sofá e fechei os olhos, evitando o olhar
questionador e, no momento, mau humorado de Noah sobre mim.
—Aurora — ele chamou, com uma voz mais suave. — diga-me se contou para ele.

Eu abro os olhos e viro minha cabeça, ainda encostada, para olhar para ele, dando-lhe o meu olhar mais
cansado, respondendo sua pergunta.
Foi sua vez de suspirar. Sentado no carpete aveludado, com as costas no sofá, Noah ergueu um joelho
dobrado até o peito e se inclinou para frente, depositando sua taça de vinho sobre a mesa de centro.
—Ele precisa saber. — diz, num tom de aviso. — Já estamos aqui há quase um ano e o único motivo para
termos voltado foi esse, mas você está enrolando desde então.
—Primeiro, não estou enrolando. Ele nunca me receberia para um papo, e sinceramente? — bati minha
mão livre contra minha perna e me desencostei, minha outra mão agarrada fortemente na minha taça. —
Eu não tenho que ficar correndo atrás disso, Noah. Ele me deixou, não o contrário.
—Sim, ele deixou. — Noah diz. — Merda, Aurora, o que ele fez foi muito errado e eu ficaria tentado em
matá-lo se encontrasse com ele. Não estou defendo-o, estou apenas dizendo que ele merece saber que tem
uma filha. — seu olhar preocupado procura pelos meus olhos, quando sua voz abaixa e ele diz: — A
Pérola precisa de um pai.
Faço uma careta, com as pontadas de dor por todo meu corpo. Eu odeio tanto essa parte, porque sim, eu
sei que Giovanni merece saber que tem uma filha e sei que minha filha precisa saber que tem um pai. Eu
só não queria que fosse ele. Não é justo comigo ter que vincular minha vida a dele para sempre, mas eu
já havia atrasado isso durante três anos e já estava na hora de ter uma conversa séria com Giovanni.
Eu volto meu olhar para Noah, notando que ele está vestido com uma calça jeans escura, uma camisa
branca e um blaser azul-marinho por cima. Seu cabelo está do jeito desleixado de sempre e em seus pés
estão um par de sapatos fechados.
Franzo minha testa, apontando para ele com meu queixo. — Vai sair hoje?
Eu não tinha percebido que ele estava arrumado até agora. Quando entrei em casa, fui direto para a adega
na cozinha pegar um vinho e Noah apareceu perguntando-me o que havia acontecido. Eu servir duas taças
e comecei a despejar sobre ele o que aconteceu.
Um sorriso percorre seus lábios, em divertimento. — Estou indo para uma reunião na galeria e mais tarde
irei me encontrar com a Lake.
—Lake Patterson? — pergunto, curiosa. — A ruiva bonita de duas semanas atrás?

Noah franze as sobrancelhas e sua mão sobe para coçar o queixo redondo, seu olhar perdido e as
sobrancelhas franzidas, como se só agora estivesse lembrando disso. — É. — ele falou, pensativo. —
Lake de duas semanas atrás.
—Huh. — prendo os lábios entre os dentes, prendendo meu sorriso e tomo um gole do meu vinho. — Será
que estou entendendo errado, ou você realmente irá se encontrar com a mesma mulher duas vezes? — não
posso evitar o humor no meu tom. — Estou presenciando um milagre aqui?
Noah bufa, revirando os olhos negros. Ele pega a taça de volta e vira a cabeça para cima, terminando sua
bebida de uma só vez, então limpa a boca com as costas das mãos e se levanta do chão.
—Não pense que eu não notei que você mudou o foco da nossa conversa. — ele acusa, recuperando a
carteira e o celular sobre a mesinha ao lado do sofá.
Volto a me encostar e torço o nariz, em desgosto por ele me conhecer tão bem.
Ele se inclina perto de mim e beija o topo da minha cabeça. — É sério, Aurora, não mantenha isso por
mais tempo. Você sabe que deve contar para ele. — Ele caminha até a porta, mas antes de sair, ele pede,
olhando-me por cima dos ombros — E dê um beijo na Pérola por mim quando ela chegar.
E então, ele se vira e sai pela porta da frente, me deixando sozinha com o peito apertado e os olhos
ardendo, com as lágrimas que começaram a inundá-los.
As lágrimas que eu neguei a derramar desde que vi minha filha pela primeira vez.
Eu vi o quanto ela era frágil, então eu lhe prometi que seria forte por ela, que não choraria, ou voltaria
para a depressão em que estive durante a gravidez e que quase a tirou de mim.
Eu enxugo meu rosto com os dedos e termino meu vinho. Já era quase três da tarde, e isso significava que
eu tinha apenas uma hora e meia para trabalhar antes que a Pérola chegasse da escolinha.

Termino de tomar o resto do vinho e levo minha taça e a de Noah para cozinha, e as lavo, em seguida, as
enxugo e guardo em seus lugares. Sigo para meu quarto, então para meu banheiro. Meu corpo estava
quente desde o reencontro inesperado e necessitava de um banho bem gelado e de cabeça para refrescar
um pouco.
Eu tiro toda minha roupa e deslizo para dentro do box, ligando o chuveiro e certificando-me de que está
no modo gelado. Eu espero o jato forte molhar todo meu corpo e ensopar meu cabelo, então eu espalho
sabonete líquido em meu corpo, ensaboando-me, lavo meu cabelo com shampoo duas vezes e, em
seguida, me enxáguo.
Com o corpo refrescado e os nervos mais leves, eu saio, enrolando meu cabelo em uma toalha e meu
corpo em um roupão, então voltei para quarto e direto para meu armário.
Há mais ou menos um ano, quando eu e Noah compramos esse apartamento, eu fiz algumas mudanças nele
e uma delas foi acabar com os closets dos quartos. Esse era um apartamento mediano, mas seus quartos
não tinham o tamanho que eu realmente queria, por isso eu optei por colocar armário embutidos e
derrubei as paredes dos closets, dando mais espaços para os quartos.
Como não esperava sair mais hoje, me enfiei em um short curto de pijama e uma camisa regata branca.
Penteei meus cabelos, mas não os sequei. Eu gostava de sentir a umidade sobre meus ombros e costas, às
vezes.
Apanhei meu laptop, celular e iPad e segui descalça de volta para sala, decidindo que vou mergulhar no
trabalho e esquecer do meu dia hoje, até a Pérola chegar.
Eu cheguei na mesa de jantar, que divide a cozinha da sala, e puxo para fora a cadeira do topo, e espalho
minhas coisas sobre a mesa, mas ainda não sento. Eu vou até a geladeira, pego a jarra de suco de laranja
e sirvo um copo para mim. O álcool do copo de vinho ainda estava no meu sistema e tinha que sair para
que eu pudesse trabalhar bem.
Coloquei o copo com cuidado na mesa e sentei, puxando minha perna esquerda para cima da cadeira e
para baixo do meu corpo. Eu estiquei meus ombros para trás, e torci meu pescoço para direita, então para
esquerda, mandando toda tensão embora, em seguida abri meu laptop, cliquei no navegador e entrei
no Pinterest para começar a trabalhar com minhas ideias.
Eu tinha ido hoje na casa da Mel e do Lucca porque precisava dar uma olhada antes de realmente
começar meu trabalho. Tirei fotos das quatro partes de cada cômodo, e assim poderei trabalhar sobre
elas com mais facilidade, – e consequentemente, com uma distância bem saudável de Giovanni. Pelo
menos por enquanto.
Mas não precisei pensar muito. Assim que entrei na casa, as ideias sobre o que fazer ali começaram a
pipocar na minha cabeça e eu, com certeza, vou mergulhar nelas.
A cada trabalho que eu começo, uma energia boa me invade, mas trabalhar na casa do homem que
praticamente abriu as portas para que eu chegasse onde estou hoje, é como se estivesse estourando fogos
de artifícios na minha barriga. Eu estava animada e ansiosa por isso.
E não havia raiva ou qualquer tipo de sentimento ruim que seria capaz de destruir isso.
Não hoje.

•••

O toque do meu despertador soou e eu resmunguei, me revirando na cama para ficar com a barriga para
baixo. Levei minha mão até a mesinha ao lado da minha cama e tateei até conseguir desligar o som
estridente.
Levou alguns segundos até que eu conseguisse abrir meus olhos, e então eu sorri com a visão da minha
bebê ao meu lado, ainda dormindo.
Desde que ela começou a andar com firmeza, sempre que dava duas e quarenta da manhã, ela acorda e faz
seu caminho até meu quarto. Eu mantenho minha porta aberta todos os dias quando vou dormir, para que
ela possa entrar. Então ela entra e sacode meu braço para que eu a coloque para cima, e volta a dormir
rapidamente, como se fosse apenas um ato de sonambulismo, e não havia sequer acordado.
Eu me ergo do colchão e me apoio em um cotovelo, observando seu sono tranquilo. Ela está de bruços,
com uma mão sob o rostinho e sua bochecha tem marcas, como se ela tivesse passado muito tempo de um
lado só. Os cílios negros e cheios descansavam suavemente sob os olhos e os lábios pequenos e rosados
estavam entreabertos, enquanto ela puxava o ar para dentro, e o mandava de volta para fora.
Eu levo minha mão para sua bochecha e aliso de leve, com cuidado para não acorda-la. A dor no peito,
que sempre aparece quando eu olho para ela, dessa vez está mais que dolorida. Não há como olhá-la e
não lembrar de Giovanni. A única coisa que ela puxou de mim foi o formato do rosto, um pouco redondo
e o narizinho, o resto todo é a cópia de seu pai. Definitivamente, não precisaria de um exame de DNA
para provar nada.
Deixo-a dormindo, levanto e troco meu pijama por uma roupa de ginástica. Depois de ter a Pérola, eu
fiquei um pouco acima do peso e por isso, eu criei um amor especial por corrida matinal. Não consigo
fazer nada no meu dia, se ele não começar comigo correndo para despertar de uma só vez.
Eu faço minha higiene matinal, e então sento-me na ponta da cama e calço meus tênis, antes de sair para
sala e encontrar Noah e Clarice – a babá – já acordados.
—Bom dia! — Eu cumprimento, seguindo para geladeira.

Clarice me oferece um sorriso amigável, enquanto abaixa para apanhar umas bonecas no carpete da sala,
que Pérola brincou ontem antes de dormir. —Bom dia! — ela cantarola de volta.
Eu abro a geladeira para pegar minha garrafa térmica, mas paro, olhando para Noah.
Ele não está vestindo suas roupas de corridas, como todas as manhãs e o encontro aqui; Ele ainda tem sua
calça de pijama e uma camisa preta em seu corpo. Seus tornozelos estão cruzados um sobre o outro e ele
se apoia, com uma mão espalmada sobre a pedra da ilha, enquanto com a outra, ele enche duas xícaras de
café fumegantes.
—Noah? — eu chamei, e estendi minha mão e retirei minha garrafa cheia de água da geladeira, fechando-
a em seguida. — Você está bem?
Ele vira brevemente a cabeça para me olhar, e então volta sua atenção para o que está fazendo. — Mmm.
— murmura, distraído, e eu franzo o cenho.
—O que aconteceu? — eu pergunto, mas ele parece não escutar.

Ele apenas termina de encher as xícaras e coça sua mandíbula, torcendo o queixo um pouco para o lado.
Eu me inclino na pedra, do lado oposto do seu e estalo meu polegar com meu indicador em frente aos
seus olhos, chamando sua atenção.
—Terra chamando Noah. — eu sorrio, porque eu nunca havia o visto tão distraído antes.

Noah Ross não é um cara de se distrair fácil. Nem quando ele está sozinho com suas telas brancas e tintas
em sua frente, seu fone de ouvidos, com algum rock pesado gritando, prestes a estourar seus tímpanos, ele
se distrai.
Finalmente, ele balança a cabeça e junta as sobrancelhas, olhando para mim. — Estou bem. — diz, e
empurra uma xícara de café para mim. — Sinto muito, mas não vou correr com você hoje.
Eu aceno com a cabeça, lentamente, e seguro a xícara, trazendo-a para cima, para tomar um gole. —
Estou vendo. — aponto sua roupa, como se fosse óbvio. — Como foi o encontro com a Lake ontem? Não
vi a hora que você chegou.
Ele ri fraco, captando o meu tom malicioso e vira a cabeça, olhando o corredor que leva aos quartos. Sua
sobrancelha arqueia e seu sorriso cai, e eu sei exatamente como terminou o encontro de ontem.
Deixo meus lábios se esticarem, com um sorriso compreensivo e termino de tomar o meu café.
—Ok. — eu digo, pegando meu fone de ouvido na mesa ao lado do sofá. — Você sabe que eu vou querer
saber como isso está acontecendo, não sabe? Tipo, você é Noah Ross! Você é o cara do casual-de-uma-
única-vez!
Ele levanta a sobrancelha para mim, e inclina-se apoiando os antebraços na pedra da ilha, me olhando
com diversão. — Tenha uma boa corrida, Aurora.
Então eu desvio da Clarice no meio da sala, sem consegui desmanchar o sorriso satisfatório em minha
boca e saio do apartamento.
•••

Meu corpo está coberto com uma fina camada de suor quando completo meus quarenta minutos de
corrida. Meu peito sobe e desce rápido e forte, enquanto eu tentei puxar o ar para meus pulmões, em
seguida, virei quase toda a água da minha garrafa para minha garganta seca.
Quando eu estava mais calma, puxei a porta de vidro do Twinke's, e entrei no estabelecimento, logo
agradecendo quando senti o ar gelado do ar-condicionado, abraçando minha pele quente.
Twinke's é um estabelecimento popular para lanches de todos os tipos que você possa imaginar, e
também é o favorito da Pérola, quando se trata de suas preciosas rosquinhas.
Mas uma coisa que ela tem em comum com Giovanni: ela idolatra doces, mas principalmente, ela idolatra
as rosquinhas. Se dependesse dela, ela comeria todos os dias, mas eu coloquei um limite, que ela só pode
comê-las duas vezes por semana, para não prejudicar sua saúde.
Aproximando-me do balcão, eu abro um sorriso amigável para Faith, uma das atendentes, do outro lado,
e retiro os fones de ouvidos.
—O de sempre? — ela pergunta, com um sorriso.

Eu assinto. — Você sabe, com cobertura de morango.


Enquanto ela se afasta para pegar as rosquinhas, eu sento na banqueta ao meu lado e retiro meu celular do
suporte atacado ao meu braço.
Ontem eu havia separado várias ideias para a casa da Mel e tinha lhe enviado tudo por e-mail, mas era
muito tarde e ela não havia respondido de imediato.
Eu entro na minha caixa de e-mail. Há vários sobre o trabalho: propostas, convites para eventos, pedidos
para reuniões. Mas eu evito todas com um suspiro e abro minhas mensagens. A maioria delas é da minha
mãe, mas rolando a tela para cima, eu vejo uma da Mel.
Eu abro ela.
Ei, bom dia! Sinto muito não ter respondido seu e-mail ontem; eu já tinha ido dormir. Mas eu
adorei todas as ideias que você me mandou e estou ansiosa para ver tudo pronto. Será que você pode
me encontrar hoje na casa, às 13:30? Beijos!
Eu estou prestes a responder, quando alguém bufa ao meu lado.
— Só pode está de brincadeira comigo…

Meus dedos parou de se mover e pairam sobre a tela do meu celular. Eu serpenteio a cabeça para o lado,
meu coração martelando contra minha costela, com o reconhecimento dessa voz profunda
e absurdamente sexy.
Giovanni.
Eu gemo interiormente quando meus olhos se fecham com os seus olhos furiosos, mas por fora eu tento
manter minha expressão neutra, para não parecer afetada, porque puta que pariu, eu estou muito afetada.
Não era para estar afetada, porque eu passei três anos me preparando mentalmente para isso, mas pelo
jeito que meu corpo se acendeu e meu coração afundou ontem e hoje com sua presença, eu posso dizer
que esqueci de me preparar física e emocionalmente.
Eu estico minha coluna reta e aperto os olhos, para disfarçar minha miséria. — Desculpe-me? — eu
peço.
Giovanni ri com desdém, e seus olhos escurecem mais com um brilho de raiva, mas ele me ignora. Ele
olha para baixo, para duas mãos entrelaçadas sobre o balcão e passa a ponta da língua por seu lábio
superior, e eu caio mais um pouco por dentro com a saudade querendo tomar conta de mim outra vez.
Outra atendente, Dora, lhe pergunta o que ele deseja e é claro que é a mesma coisa que eu pedi. Então,
Dora lhe oferece um sorriso um tanto sugestivo e se afasta para pegar seu pedido.
Forçando-me a colocar a onda de ciúmes de lado e focar na minha raiva por ele ter me abandonado, eu
volto meu olhar para tela do meu celular, vasculhando na minha cabeça o que eu escreveria para Mel. Eu
releio sua mensagem uma, duas vezes, numa tentativa de me concentrar, mas impossível me desligar de
sua presença poderosa num estabelecimento tão pequeno.
O que diabos ele está fazendo aqui, afinal?
Ele está a treze minutos de carro da sua casa e pelo que me lembro, na mesma rua onde fica o prédio da
LEA, também há um Twinke's.
—Por que voltou?

Eu aperto os dentes fechados, impedindo-me de soltar um gemido ou fechar os olhos com o som de sua
voz. Quando olho em sua direção, ele não está olhando para mim; está olhando para um ponto a sua
frente, mas seu maxilar está apertado, assim como o tom que ele acabou de usar.
Absorvo seu perfil por alguns instantes, as borboletas no meu estômago se agitando com saudade de
quando eu arrastava as pontas dos meus dedos, os dentes, a língua pela sua mandíbula forte e bem
desenhada. Fazia tanto tempo que eu não admirava seu rosto perfeito...
Por uma fração de segundos, eu considero lhe contar o motivo pelo qual eu voltei, mas quando olho ao
redor, notando todo o movimento, eu desisto mais uma vez. Eu quero contar, mas uma notícia dessas não
pode ser dada dessa forma, com várias pessoas desconhecidas circulando por perto.
—Eu acho que isso não é da sua conta. — atiro, tornando meu tom um pouco parecido com o seu: frio e
duro.
Mas ele ignora mais uma vez, com seu olhar ainda para frente. — Por que aceitou trabalhar na casa do
Lucca? — ele pergunta.
Eu trinco os dentes, mas respiro fundo e respondo sua pergunta. — Porque ele me ajudou muito no início
da minha carreira. — eu respondo, apertado. — Eu nunca poderia dizer não a ele, você sabe muito bem
disso.
Giovanni se vira em sua banqueta, enfim trancando seus olhos nos meus, e minha pele é tomada por um
arrepio ruim, que sua frieza enviou quando ele disse: — Sim, sei, porém, eu não me importo. Eu não
gosto dessa proximidade que você está forçando.
Foi como um tiro certeiro no meu peito esquerdo. Minha boca caiu aberta, atordoada por um momento,
enquanto eu absorvia o que ele havia acabado de empurrar para mim.
"Eu não gosto dessa proximidade que você está forçando."
Aperto meus olhos sobre ele, sentindo o ódio circular em minhas veias. — Estou fazendo o quê? — eu
rio, desacreditada. — É algum tipo de piada, Giovanni?
Num gesto tranquilo do caralho, ele apoiou a lateral do corpo contra o balcão, cruzou os braços sobre o
peito e arqueou uma sobrancelha negra para mim. —Tenho cara de quem está brincando?
—Aqui está seu pedido de sempre, srta.

Faith põe o saco com rosquinhas quentes sobre o balcão e as empurra para mim. Ela tem um olhar
curioso quando percebe que eu e Giovanni estamos nos encarando, prontos para matar um ao outro.
Enfim, eu engulo o caroço em minha garganta e balanço a cabeça, incrédula com o homem ao meu lado.
Eu pego meu cartão, no suporte do meu telefone e o entrego para Faith passar.
Estava fervendo de raiva, mas precisava respirar bem antes de abrir minha boca outra vez, ou sairá tudo
que esteve entupido durante três malditos anos.
Faith me devolve o meu cartão, na mesma hora em que Dora lhe entrega seu pedido. Ele ainda está me
olhando, como se estivesse esperando minha reação, então eu lhe dei isso, mas não do jeito que ele
provavelmente queria.
Eu peguei o saco de rosquinhas, guardei meu celular e cartão no suporte e me levantei da banqueta.
Quando ergui meu queixo para encará-lo outra vez, eu estava tão próxima dele, que era capaz de sentir
seu perfume, mas eu não recuei ou vacilei, eu apenas empurrei meu indicador em seu peito e falei com
uma calma controlada e sinistra.
—Para sua informação, eu estou odiando isso tanto quanto você, mas infelizmente, eu devo muito ao seu
irmão.
Ele abaixou os olhos para o ponto onde eu estava lhe tocando, quando empurrei com mais força, sua
sobrancelha se levantou ainda mais, de uma forma quase divertida, e eu queria bater nele.
Mas eu continuei. — Se não quer esbarrar comigo, troque seu horário, mude de rota, chegue mais tarde,
quando eu já estiver saído de lá, ou se foda, caso ache melhor, mas eu não vou me intimidar, se é isso que
você tentou fazer vindo até aqui, quando há uma loja dessas bem pertinho de você…
Ele estreita olhos azuis nos meus, o divertimento de antes, indo embora com rapidez. — Não seja
ridícula!
Eu abaixei minha mão para o lado do meu corpo e soltei um riso dissimulado.
Oh, então eu estava sendo a ridícula aqui?
—Ah, e antes que eu me esqueça: — eu passei por ele, lembrando-me de sua maldita carta. — reúna todo
seu dinheiro, e soque você sabe onde!
Quando eu saí pela porta e o sol da Califórnia voltou a aquecer minha pele, eu estava tremendo com a
raiva em meu sistema, mas também estava feliz.
Eu estive com isso entalado na minha garganta por três anos, só esperando uma oportunidade para
colocar para fora.
Ele precisava saber que eu não era mais a menina de vinte e um anos, que se ajoelharia numa rua
buracada se ele pedisse; Agora eu sou uma mulher independente de vinte e quatro anos, mãe solteira e
uma profissional de sucesso.
Eu cresci e fiquei forte depois de toda a dor, todo o medo que passei durante uma gravidez problemática,
um parto onde eu quase perdi minha filha, e todo o esforço que ainda faço para lhe dar uma saúde boa e
lidar com seu problema respiratório.
Com isso tudo, eu nunca recuei ou me intimidei. Muito pelo contrário. Isso me ajudou a meter a cara e
não olhar para trás, sempre que quiser alguma coisa.
Se eu vou lhe contar sobre a Pérola? Sim, eu vou, é um direito dele saber, mas não ainda.
Eu estou com muita raiva para sentar com ele em uma sala, a sós, e ter uma conversa civilizada.

CAPÍTULO 3

GIOVANNI

Ela ainda é afetada por mim.
Mesmo tendo corrido para longe por tanto tempo, ela ainda é afetada por mim, assim como eu ainda sou
por ela. Mas temos formas diferentes de esconder isso.
Eu tento me manter sério o máximo que consigo, erguendo meu muro particular anti-Aurora, focando
apenas na raiva que corre através da minha veia. Ela ataca, encara, bate de frente. Muito diferente da
Aurora doce e tímida que eu conhecia.
"Reúna todo seu dinheiro e enfie você sabe onde!"
Mas do que ela estava falando?
Eu nunca fui de passar a porcaria do dinheiro na cara dos outros, principalmente na dela. Sempre deixei
muito claro que ele era apenas uma coisa que caiu na minha bunda de bandeja quando eu nasci. Eu nunca
nem falei sobre isso com ela, então, do que diabos ela estava falando?
As portas dos elevadores se abrem no andar do meu escritório e eu saio dele, a imagem de Aurora
vestida com aquela roupa apertada de academia martelando em minha cabeça.
Caralho, ela mudou tanto.
Apesar dos traços duros de agora, seu belo rosto ainda continua lindo, perfeito, mas seu corpo não. Ele
mudou completamente. Está mais cheio, mais definido.
Eu pude ver com clareza enquanto ela se inclinou sobre o balcão antes de me ver.
Seus quadris estão mais largos; a bunda maior, mais malhada; as pernas mais grossas e definidas.
Pelo que pude notar quando ela se virou para mim, os seios continuam do mesmo tamanho que me
lembro, mas com o resto todo mudado, lhe dar outra visão... Uma mais suculenta.
Santo Deus, eu fiquei com água na boca e todo meu corpo estava trêmulo por dentro, enquanto meu
coração fazia seu trabalho duro na veia do meu pescoço, com a necessidade imensa de tocá-la e sentir
sua pele macia sob a fina camada de suor que a cobria.
Foram três anos de miséria. Eu forcei minha mente para longe dela, depois que percebi que ela não iria
mais voltar para mim, e agora é como se tudo estivesse voltando de uma só vez, num redemoinho do
caralho.
Saudades, tesão, desejo, dor… tudo.
Eu não me importo de cumprimentar ninguém quando eu ando para meu escritório. Eu ainda estou muito
puto por ela ter insinuado que eu queria lhe intimidar indo até aquela loja.
É ridículo!
Eu já aceitei essa merda e tudo que preciso fazer agora é manter o máximo de distância que eu consegui
obter. Eu apenas dirigir durante treze minutos até lá porque eu precisava do meu café da manhã e a
Twinke's daqui da rua está tendo uma porra de uma manutenção, então estará fechada durante os próximos
dias e aquela era a mais próxima que eu sabia. Realmente, eu não fazia ideia de que ela morava lá por
perto, tampouco, tinha ideia que encontraria ela justo ali, comprando rosquinhas.
Ela nem gostava delas, pelo que me lembro...
Rita bate na minha porta alguns instantes depois, segurando sua agenda contra o peito e começa a listar as
coisas marcadas para hoje. Sua voz está um pouco hesitante, amedrontada, e eu sei exatamente o porquê.
Tenho noção da carranca em minha expressão enquanto desato os dois botões do meu paletó, deslizo ele
pelos meus ombros e o estendo no encosto da minha cadeira, então me afundo nela. Eu provavelmente
não estarei em um bom humor hoje.
—Também há alguns projetos que solicitam um pouco de sua atenção. — Rita continua a listar, varrendo o
cabelo negro da testa, com os dedos pálidos e finos. — E, a senhorita Thornburg ligou e agendou dez
minutos com o senhor.
—Que horas? — eu procuro saber, enquanto me inclino para ligar o monitor do meu computador.

—Hmm... — Ela dá uma olhada rápida em sua agenda. — Ah! Às onze.

Eu aceno, encostando na minha cadeira. — Ótimo, obrigada!


Eu dispenso-a com um aceno de cabeça e encosto a minha no encosto da cadeira, e fecho os olhos por um
tempo, afastando toda a imagem perfeita e delicioso de Aurora Mitchell em roupas de academia; em
seguida, eu mergulho em meu trabalho.

•••

Às onze em ponto, Rita põe a cabeça para dentro da minha sala e quando ergo meu olhar do monitor para
ela, ela me oferece um sorriso de desculpas e diz:
—Senhor, a srta. Thornburg está aqui para vê-lo.

Eu balanço a cabeça, permitindo sua entrada e minimizo a aba aberta do computador, quando um corpo
alto e esguio adentra minha sala, em passos confiantes e sexy.
Amanda Thornburg é uns poucos centímetros mais baixa que eu. Ela tem uma beleza impressionante, com
um corpo cheio de curvas e um rosto angular, perfeitamente desenhado; lábios cheios, olhos grandes e cor
verde-escuro e um nariz afinado, que ela faz questão de empiná-lo ainda mais quando está em situações
delicadas.
Ela vive basicamente da própria imagem, apesar de ter recusado as inúmeras propostas para se tornar
uma modelo profissional. Com milhares de seguidores no Instagram, Amanda é uma das mulheres mais
cobiçadas do país, mas ainda sim, por algum motivo, ela cismou comigo.
Alguns blogs e revistas acham que é apenas pelo motivo óbvio: imagem, fama, seguidores. Uma vez que
seu nome foi vinculado ao meu, e fotos nossas tiradas por paparazzis começaram a ser divulgadas, seu
número de seguidores aumentou na velocidade da luz, como um blogueiro famoso disse. Em um minuto
ela tinha setecentos mil seguidores, no outro, ela estava ultrapassando os dois milhões.
O poder de um sobrenome importante, disse uma apresentadora de um programa de fofocas.
Mas, enquanto isso, outros acham apenas que ela sente algo por mim e que tem esperança que possa
preencher meu coração um dia.
Não que eu perca meu tempo lendo sites de fofocas ou esse tipo de coisas, mas é, simplesmente,
impossível não saber disso quando se tem uma irmã de dezenove anos e ser cercado de mulheres no
trabalho e fora dele.
Amanda larga sua bolsa em uma das cadeiras em frente à minha mesa e dar à volta, como sempre faz
quando vem aqui. Ela para ao lado da minha cadeira e empurra a bunda contra a mesa, encostando-se e
cruzando as pernas nuas uma sobre a outra.
Eu mantenho meu olhar em suas pernas longas, as mesmas que esteve tanto ao redor da minha cintura
depois que Aurora me deixou e que eu curti cada momento, então de repente eu não as acho tão macias e
bonitas como costumava achar. De repente, minha mente está tentando despir aquela calça de academia e
saber se aquelas pernas grossas de Aurora ainda são tão macias, como me lembro.
—Ei. — Amanda chama, em um sussurro que, até ontem de manhã, eu achava sexy e excitante. — Ei, tudo
bem? — ela insiste, quando eu não movo meus olhos de suas pernas e eu acho que ela pode ver a
expressão incrédula no meu rosto por causa do seu tom preocupado.
Eu pisco, balançando a cabeça e olho para ela. — Sim. Tudo bem comigo. — Eu suspiro, pesadamente.
— Você?
Então ela ri, meneando a cabeça levemente. — Melhor agora. Estava preocupada, na verdade. Você não
me ligou ontem, Gio e eu passei uma noite solitária sem você.
Ela faz seu beicinho, tão familiar para mim, mas que não causa nenhum efeito.
—Estava ocupado. — eu minto.

Ela me observa, não acreditando em mim, e então se inclina um pouco e levanta sua mão, passando suas
unhas bem-feitas pelo meu maxilar. — Eu sei que estou diante de um dos engenheiros mais solicitados do
país, mas eu também sei que você não esteve ocupado ontem à noite. — Ela sorri quando suas unhas
alcançam meu lábio inferior e ela pede: — Conte-me o que está acontecendo, Gio. Talvez eu possa
ajudar você.
—Não pode. — garanto, afastando-me do seu toque.

Ela estica sua coluna, voltando a posição ereta e suspira baixinho. — Diga-me, por favor.
Aperto os olhos para sua insistência, e ela encolhe um pouco em seu lugar.
Amanda é uma mulher inteligente, mas infelizmente, não o suficiente para entender, mesmo que depois de
três anos, que essa coisa entre nós não passa de sexo. Ela age como se fôssemos namorados e quer
sempre entrar na porra da minha cabeça, com suas perguntas curiosas e insistências sobre minha vida
particular.
É tão fodidamente frustrante tentar, em vão, colocar em sua cabeça que após o lance fodido com Aurora,
eu não confio em nenhuma mulher. Que eu não quero me envolver sério com nenhum delas, e ela faz parte
desse time.
Mas, após alguns instantes, eu percebo que esse assunto não é da minha vida particular, porque Aurora
não faz mais parte da minha vida, e é algo que ela ficará sabendo logo por qualquer outra pessoa, então
eu apenas digo, como se fosse uma coisa sem importância.
Que, de fato, é para mim.
—Melissa e Lucca chamaram Aurora para trabalhar na decoração da casa nova.

Amanda solta uma exclamação incrédula. — Por que?


Dou de ombros e reabro a aba que eu estava trabalhando, encarando-a sem a menor ideia do que eu
estava fazendo, para que Amanda não veja os sentimentos irritantes que insistem em se infiltrar em meus
olhos quando penso nela.
—Essa… Melissa pensa que é quem? Ela é louca, por acaso? Eu nunca fui com aquela cara…

—Pare. — a corto, meu tom duro, assim como meu olhar para ela neste momento. — Eu já avisei para
você não falar assim da Mel, Amanda. Não toque no nome dela outra vez dessa forma, respeite-a. E,
tenho certeza, que sua aprovação nunca foi uma coisa que ela precisasse, de qualquer forma.
Amanda abre a boca atordoada, mas logo a fecha, engolindo duro, seus olhos se tornando como vidros.
Mas quando ela volta a falar, sua voz tem um tom de calma fingida. — Sinto muito, Gio.
Eu permaneço com meu maxilar trincado, e ela solta um lamento baixinho, antes de se desencostar da
mesa e caminhar para o centro da sala, com seus saltos fazendo uma zoada irritante contra o piso de
mármore do meu escritório.
—Mas, porque a chamaram se vocês têm a Tiana bem aqui? — Ela se vira para me encarar, com suas
mãos na cintura. — Você concordou com isso?
Eu vou para frente e posiciono meus braços sobre minha mesa. — A Tiana é boa, mas a Aurora,
infelizmente, é a melhor e ela já trabalhou para Lucca antes, então ele confia nela.
Seus olhos inflamaram e ela repetiu sua pergunta. — Você concordou com isso?
Eu senti minha irritação chegar ao limite. — Não tenho nada a ver com isso, porra! Eles a querem e eles
a têm agora, e eu não me importo com isso!
—Não é isso que você está demonstrando, Giovanni. — Ela aponta para mim. — Ela fugiu, lembra? Ela
fugiu de você e ainda sim, você está afetado por ela.
Rangendo os dentes, eu cerro minhas mãos em punhos, sabendo que ela está certa, mas querendo que ela
desapareça da minha frente.
Eu não preciso de ninguém me lembrando que eu afetado pela mulher que quebrou meu coração! Eu não
preciso de ninguém me lembrando o quanto eu pareço ridículo agora!
Então eu inalo algumas vezes, e forço um tom tranquilo quando aponto para porta. — Eu estou ocupado,
Amanda. Por favor, me dê licença.
Eu vejo quando ela anda até o outro lado da mesa e me lança um olhar de desculpas. — Sinto muito, eu
apenas estou tendo uma crise de ciúmes. Não me afaste...
Eu a corto. — Você não precisa ter ciúmes de algo que não é seu, Amanda. — eu deixo um suspiro
cansado escapar. — Agora, me dê licença, e se mais tarde eu precisar de você, eu ligo.
Ela inclina a cabeça. — Promete?
—Vá!

Estou respirando tão pesadamente agora, cheio de raiva, que preciso arrancar os primeiros botões da
minha camisa para ajudar minha inalação, quando Amanda finalmente vai embora.
Estou com raiva da Amanda, por ser tão insignificante sempre; Estou com raiva da Aurora por ter entrado
na minha vida outra vez, só para me perturbar; E eu estou com raiva de mim mesmo, porque não consigo
esquecer essa mulher.
Eu sempre me considerei um homem forte, mesmo depois de ter sido dilacerado por inteiro, mas agora,
parece que foi tudo uma mentira. Como se minha vida fosse uma mentira.
Eu não sou forte... pelo menos não perto dela, não quando se trata dela.
Estou com tesão só em pensar nela e de repente, eu não confio mais em mim quando penso nela.


•••

No dia seguinte, eu levanto mais cedo que de costume para poder ter meia hora com meu saco de
pancadas.
Eu sequer consegui dormir à noite. Fechava os olhos e a imagem dela vinha na minha cabeça, como
acontecia no começo, há três anos.
Quando eu desistir de tentar dormir e levantei, meu peito estava apertado e meu pau duro como aço.
Eu estava com tanto ódio dela... Mas ao mesmo tempo com tanta saudade...
Depois de passar mais um bom tempo debaixo do jato forte do chuveiro, eu coloquei apenas um par de
jeans e uma camisa branca. Havia mandado uma mensagem para Mel ontem, avisando que estarei o dia
inteiro em sua casa, para terminar tudo antes da semana que vem.
Ela ligou em vez de responder, para avisar que Aurora também estará lá a partir das dez da manhã,
porque ela queria começar hoje. Ela tinha um tom preocupado, mas também eu pude notar um pouco de
divertimento.
Eu desliguei e então disquei o número de Rita, minha secretária, e pedi para ela ir ao Twinke's e comprar
meu café da manhã. Estou indo para a casa ciente de que vou esbarrar com a fugitiva, mas não preciso
esbarrar com ela antes disso.
Eu chego no condomínio às nove e logo estou muito ocupado para pensar em qualquer outra coisa que
não seja meu trabalho.

Estou puxando minhas mangas para o cotovelo quando minha visão periférica pega um movimento na
cozinha da casa. Eu levanto os olhos com curiosidade e meus dentes cerram, quando vejo Aurora dando
ordem para dois homens vestidos com macacões de pintores.
Eles a escutam atentamente, enquanto ela gesticula para todo lado, como se estivesse indicando as coisas.
Não posso evitar quando meus olhos rolam para baixo, para seu corpo. Ela está toda de preto; sua calça
jeans cintura alta agarra suas pernas grossas do mesmo jeito que a calça de academia fazia ontem; a parte
de cima é um body tomara que caia, forçando seus seios para cima, deixando-os mais empinados do que
já são; e ela está sobre um salto assassino. Os cabelos estão soltos ao redor dos ombros e ela segura o
celular em uma mão e um iPad na outra.
Eu vejo Lucca entrar na cozinha e então Aurora se vira para cumprimentá-lo, dando-me a visão perfeita
do seu bumbum sob a calça apertada. Puta merda!
Eu forço meus olhos a voltarem para meu as minhas mangas, repreendendo-me mentalmente. Você tem
raiva dela, Giovanni! Apenas foque nisso. Ela pode estar gostosa como for, mas ela te abandonou.
Foque na raiva!
—Como estamos indo? — Lucca se aproxima, com os braços abertos e seu sorriso idiota para mim.

Reviro os olhos, ciente de que ele não pode ver através do meu óculos de sol. — O que faz aqui?
Ele encolhe os ombros e enfia as mãos nos bolsos. — Fugi um pouco. Toda agitação das garotas lá em
casa com essa organização do casamento estava me deixando louco. É escolha de cores, lembranças,
vestido… — ele ri, balançando a cabeça. — Eu não sei nem mais o que é sexo durante o dia, cara.
Eu sorri, imaginando as garotas colocando ele para correr com tudo isso. — Isso deve ser uma dor de
cabeça e tanto. — eu digo a ele.
—Você não imagina o quanto. — ele murmura, divertido.

Então meus olhos estão de volta para a cozinha e eu vejo Aurora, com uma mão na cintura fina, enquanto
a outra está digitando algo em seu celular.
Sim, eu não posso imaginar…
—Você conversou com ela?

Eu pisco de volta para meu irmão, apertando meu maxilar fechado. — Por que eu deveria?
—Não sei. — ele deu de ombros. — Saber o motivo dela ter ido embora, talvez? Deve ter uma
explicação.
Soltando um riso descrente, junto minhas palmas uma na outra e me viro para encara-lo. — Lucca, ela
não foi embora, ela fugiu. — eu digo. — Nós íamos casar, íamos ter uma casa como esta — aponto
brevemente para a casa. — e planejávamos ter filhos; um casal, para ser mais exato e iríamos chamá-los
de Nico e Pérola. Nós íamos viajar para Marseille... mas então ela fugiu. Ela fugiu e sequer teve a
consideração de ligar para dar qualquer tipo absurda de explicação.
Eu deixei o ar sair e entrar pela minha boca com calma e olhei na direção dela outra vez, e com o peito
perto de explodir, eu falei em tom baixo para Lucca:
—E eu esperei. Você sabe que eu esperei, Lucca. Esperei por, pelo menos, uma mensagem por um bom
tempo, porque talvez, eu tivesse feito algo errado sem ter percebido e ela estivesse precisando dar um
tempo. Mas ela nunca voltou ou ligou, ou mandou mensagem. Ela apenas... nunca voltou.
Silêncio.
Pela primeira vez, Lucca Lazzari ficou em silêncio por alguns instantes.
Mas então ele cruza os braços sobre o peito e leva uma mão para cima, para coçar sua sobrancelha. — E
você não acha isso suspeito? Não acha que para ela ter feito isso deve ter um motivo muito foda?
Eu rosno baixo. — Lucca, ela fugiu porque ela quis.
—Não, Giovanni. Tem que haver um motivo. — ele insiste, com a voz dura. — Eu vi o modo como ela
olhava para você, maravilhada e entregue. Eu presenciei o relacionamento de vocês e era como eu e a
Mel agora. Vocês se amavam de verdade, pra caralho e isso não morre de uma hora para outra, para que
ela corra para longe e não volte mais.
Eu respirei fundo. — Certo. Digamos que tenha um motivo – não que isso servisse para alguma coisa
agora –, então por que ela já não veio e contou? Ela voltou tem quase um ano para a cidade, ela está
trabalhando logo ali, na sua cozinha, então, por que diabos ela não vem até mim e diz qual foi o fodido
motivo?
—Talvez porque ela ainda não descobriu como chegar até você.

—Ela esteve cara a cara comigo nesses últimos dois dias e ontem, quando ela realmente falou, tudo que
ela fez foi empurrar um dedo no peito e mandar eu pegar meu dinheiro e enfiar você sabe onde.
Podia sentir a confusão correr através das minhas veias, juntamente com a minha raiva quando lembro
dessa parte.
Lucca me encarou, parecendo tão confuso quanto eu. — Por que ela disse isso?
Eu ri, mas não foi um riso engraçado. — Oh, mais um enigma para desvendar sobre Aurora Mitchell... —
zombei.
—Ok. — Lucca bate suas palmas juntas, para chamar minha atenção. — Você realmente, precisa
conversar com ela, irmão. Você é um homem adulto, de vinte e nove anos, porra! Até parece que eu sou
mais velho que você.
Abaixando o queixo, eu alço uma sobrancelha. — Sim, muito maduro você, Lucca Lazzari de vinte e sete
anos.
Ele sorri amplamente para meu comentário e anda de costas até uma mesa que eu mandei colocar ali,
olhando para mim, enquanto fala. — É claro que eu sou muito maduro. Eu vou casar e ter um filho!
Eu balanço minha cabeça sorrindo, deixando meu corpo relaxar um pouco da tensão e vejo Lucca apontar
para as rosquinhas que eu pedi para Rita trazer até aqui, junto com meu café expresso.
Seu sorriso aumenta quando ele olha para mim. — Isso é rosquinhas com cobertura de morango?
Eu lhe aponto meu dedo indicador, tentando parecer o mais sério possível quando eu aviso: — Não ouse
pega-las. Nenhuma delas.
Mas para confirmar o quão maduro meu irmão mais novo é, ele rapidamente pega uma das rosquinhas e
volta com pressa para dentro da casa, olhando apenas por cima do ombro quando alcança as portas da
cozinha, se certificando que não estou atrás dele.


•••

CAPÍTULO 4

AURORA

Quando eu saí do meu carro e pisei na escadaria de pedra que levava à porta da frente da casa da Mel e
do Lucca, senti meu celular vibrar em meu bolso. Eu o puxei do meu bolso traseiro e deslizei meu
polegar sobre a tela, para abrir a mensagem que Noah me enviou.
É uma foto da Pérola em sua cadeirinha, no banco de trás do carro de Noah, com os olhos fechados e
fazendo biquinho para câmera.
Sorri, parando de andar para lhe enviar uma mensagem de volta, mas então ao invés disso, eu faço uma
chamada de vídeo.
Logo Noah aparece na tela do meu celular, sorrindo. Apesar de está mostrando apenas seu rosto, eu
posso ver que ele está sentado atrás do volante.
—Ei. — ele diz. — Gostou da foto?

Eu ri. — Ela está tão linda. Para onde estão indo?

Ouço a voz da Pérola dizer alguma coisa que não posso entender, então Noah olha para trás, entre os
bancos, para poder vê-la e fala com uma voz divertida. — Você quer pipoca? — ele pergunta. — Tudo
bem, então. Assim que chegarmos, você terá sua pipoca, ok?
—Noah. — eu repreendo. — Pare de ficar fazendo os gostos dela!

Mas ele apenas ri para mim, como quem não se importasse. — Por favor, Aurora! — ele bufa. — É
sábado e já que é apenas o dia do Nono, vamos ao Zoológico e ela terá tudo o que ela quiser.
Balanço a cabeça, em desaprovação, porque já conversamos sobre não mimá-la, mas parece que tudo o
que eu digo à Noah, entra por um ouvido e sai pelo outro, no mesmo instante. Eu acabo sorrindo. —
Quero ver como você se sairá quando ela quiser levar o tigre para casa.
— Au. Au. Au... — Eu ouço Pérola cantarolando do banco de trás e sorrio mais.

Sentindo-me muito sentimental, eu levo a mão direita para meu peito esquerdo e choramingo. — Deixe-
me vê-la, por favor.
Noah vira a câmera do celular em sua direção e eu a vejo com a cabeça baixa, concentrada nas
pedrinhas de sua blusa, ainda cantarolando uma musiquinha infantil sobre os animais que ela aprendeu na
escola.
—Ei, princesa, diga olá para mamãe. — Noah chama sua atenção.

Quando ela ergue os olhos para o celular, eu amoleço um pouco, encarando seus enormes olhos azuis
tão familiares e tão idênticos aos de Giovanni. Ela pisca animada quando me ver e me presenteia com seu
sorrisinho inocente e alegre.
—Mamãe! — diz ela, esquecendo das pedrinhas da blusa.

—Oi, meu amor! — Enfio meu cabelo, que estava caindo em meus olhos, para trás da orelha. — Você
está indo ao Zoológico com Nono?
Ela acena, confirmando. Seus lábios pequenos curvados em um sorrisinho contente.

—O que nós vamos ver no Zoológico, P? — Noah pergunta por trás da câmera.

Pérola desvia os olhinhos para ele, suas sobrancelhas finas juntas, enquanto ela procura saber o que vão
ver, que com certeza Noah está de dizendo, mexendo apenas os lábios. Seus olhos se alargam um pouco e
infla as bochechas e faz um bico para repetir, ainda prestando atenção à Noah: — Lee...ãããoo... — Ela
bate palminhas, entendendo e grita: — Leão!
Meus ombros tremem com uma risada orgulhosa. — Certo, meu amor. Tome cuidado, ok?

Ela acena mais uma vez, enquanto sua mão esquerda coça sua orelha, e distraidamente olha para fora da
janela. E eu me vejo derretendo mais uma vez quando ela murmura: — P ama você, mamãe.
Então todo o medo e o nó que estava espremendo meu estômago se desfazem com rapidez, e meus olhos
enchem com lágrimas. Eu levanto uma mão e a coloco sobre minha boca, fungando em seguida, para não
desmoronar bem no meio de um condomínio de luxo e na frente da minha filha. Mas as lágrimas são
involuntária desde a primeira vez que a ouvi falar isso para mim.
Eu engulo o caroço em minha garganta. — Mamãe também ama você, P. — digo, carinhosamente. —
Muito.
Eu vejo quando ela olha de volta para mim e sorri, então sua atenção está de volta para a janela.

—Ok. — Noah leva a câmera de volta para ele. — Noah ama você também, mas Noah agora precisa
sair da garagem e dirigir vinte minutos até o zoológico para P poder ver o leão e comer pipoca, portanto,
Noah precisa desligar.
Eu ri, enxugando meu rosto com os dedos e minha voz fala, quando me rendo. — Vão lá e se cuidem! Eu
amo vocês.
Eu enfio meu celular de volta no bolso e entro na casa, dando de cara com o pessoal responsável pela
pintura, espalhados pela sala principal.
—Bom dia! — Eu cumprimento quando caminho até um batente para deixar minha bolsa.

Ouço eles cumprimentando de volta, então viro-me para encará-los, com um sorriso no rosto.

Eu aponto para as escadas. — Quem for ficar na parte superior, podem começar a se organizarem lá em
cima e logo estarei lá para explicar como devem fazer, quais são as cores certas de cada parede. —
Aponto para a entrada da cozinha. — Quem ficará na cozinha, a mesma coisa. Vou explicar o que quero
nessa parte da sala e, então vou para lá.
Depois de explicar tudo que precisa ser feito, eu ando para a cozinha, com meu coração começando a
acelerar dentro do peito. Eu sabia que ele estava por aqui, porque além da Mel me informar que ele
passaria todo o dia trabalhando no que resta da obra, eu vi seu Aston Martin Vanqish branco estacionado
em frente a garagem da casa. Eu chego na cozinha e então, eu paro de respirar quando meus olhos vão por
vontade própria até os jardins através das paredes de vidro e seguram sua figura grande, alta e poderosa.
Puta.

Merda.

Por que ele ainda tinha que está tão lindo?

Mas que droga os homens tomam para envelhecer tão bem?

Com vinte e cinco anos, ele era lindo; Com vinte e oito anos, ele é o verdadeiro significado da frase
“pecado sobre duas pernas”, e eu não quero nem imaginar como ele parecerá aos trinta ou trinta e cinco.
Giovanni está vestido com um par de jeans, que abraçam firmemente suas pernas fortes, e uma camisa
branca, com os primeiros botões, perto das clavículas abertos. Seus olhos estão cobertos por um óculos
de sol aviador e seu cabelo está uma bagunça, como se ele estivesse passando os dedos por eles de
minuto a minuto.
Eu arquejo, em seguida, preciso lamber meus lábios, porque eles de repente, estão secos com minha
visão agora.
É totalmente insano ter seu corpo ainda tão ligado à presença do cara que acabou com o seu coração.

Fecho meus olhos, rapidamente, lembrando do quão idiota e filho da mãe ele foi comigo no Twinke's e
o quanto minha mão coçou com a vontade de estapeá-lo bem no meio daquela cara cínica e estúpida
e... tãão perfeita.
Argh!

—Srta. Mitchell, — eu ouço um dos homens me chamando e viro-me para encarar os dois que se
aproximaram. — Por onde quer que nós comecemos?
Eu puxo uma grande quantidade de ar, que faz meu peito levantar, em seguida, eu os libero, relaxando
meu corpo o máximo que eu posso, e então começo a instruir os homens, sinalizando em direção às
paredes da cozinha.
Talvez seja apenas uma coisa da minha cabeça, mas eu posso sentir seus olhos em mim agora, em cada
movimento meu, enquanto luto para fazer me concentrar apenas em meu trabalho. É quase uma tortura.
Cada nervo do meu corpo está apertado, com a raiva e o desejo travando uma luta de MMA dentro de
mim.
Felizmente, Lucca irrompe na cozinha, com seu sorriso bonito de garoto feliz e me distrai com um beijo
em minha bochecha. — Muito trabalho? — pergunta ele, com seu jeito simpático.
Eu balancei a cabeça e ri. — Nada do que eu não possa dar conta.

—E é por isso que a Mel insistiu em você. — Ele diz, com um sorriso.

Quando eu sorri agradecida, ele focou além dos meus ombros, e eu sabia exatamente onde. Os olhos
azuis de Lucca voltaram para mim e eles não estavam mais sorrindo; estavam sérios e eu também pude
notar um brilho de preocupação neles.
—Aurora,
— Ele passou a língua entre os lábios avermelhados, suas sobrancelhas unidas, em
concentração quando ele cruzou o braço sobre o peito. — o que houve?
Sacudo a cabeça, em confusão e pergunto. — O que houve com o quê, exatamente?

Ele abriu a boca para me responder quando meu celular tocou, então ele a fechou, desistindo de falar o
que quer que ele falaria para mim. Ele pede licença e vai para os jardins, deixando-me curiosa.
Buscando o celular em meu bolso, eu decido que em outra ocasião, eu perguntarei sobre o que ele
estava falando, e meus lábios são puxados para cima quando vejo o nome da minha irmã piscando na tela
do meu celular.

•••

São quase cinco da tarde quando o último cômodo da casa acaba de ser pintado.

Eu dou uma volta em meu eixo para olhar ao redor, e deixo um suspiro muito cansado escapar por entre
meus lábios. Eu fico satisfeita e ansiosa, porque, a partir de amanhã os móveis vão começar a chegar e eu
já poderei começar a organizá-los em seus devidos lugares.
Uma olhada para baixo, para mim, eu vejo que estou cheia de respingos de tinta de todas as cores
usadas na casa, por ter ficado para cima e para baixo, e até ter ajudado um pouco nos quartos. Eu
simplesmente não consigo ficar parada por muito tempo. Meus sapatos estão jogados no canto direito da
porta da frente, junto com minha bolsa e meus cabelos estão presos em um nó no alto da cabeça,
provavelmente, um verdadeiro terror neste momento.
Eu dispenso todos que trabalharam comigo hoje, agradecendo a cada um deles e vou até o banheiro da
parte inferior da casa.
Certo. Me olhar no espelho só confirmou o que eu estava deduzindo: eu sou um terror neste momento.
Eu tenho respingo de tinta branca e vermelha pelo meu cabelo e bochechas.
Bufei, rindo de mim mesma. — Tão desastrada... — zombo baixinho, enquanto ligo a torneira da pia,
encho minhas mão de água e lavo meu rosto e pescoço.
Não que isso fosse adiantar alguma coisa, com minha roupa destruída de tinta, mas pelo menos, não
voltaria para casa parecendo uma palhaça.
—Precisamos conversar!

Porra.

Meu corpo fica tenso quando meus olhos pegam os seus pelo espelho gigante do banheiro.

Giovanni está encostado no batente da porta, olhando diretamente para mim, de forma tão relaxada, que
quase dá para disfarçar seu maxilar apertado. Quase. Sua voz é rouca e séria, mas há um toque de
desdém nela, como quando ele falou comigo na Twinke's, e de repente, eu levo tudo de mim para não
agarrar a saboneteira provisória ao lado da torneira e arremessar nele.
Mas então, minha boca fica seca quando suas duas palavras se repetem em minha cabeça.

Precisamos conversar.

Precisamos.

Conversar.

Sua postura rígida, as palavras duras, o gelo em seu olhar... oh Deus! Ele já sabe, é isso?

Ele sabe sobre a Pérola? Como diabos ele soube?

Eu engulo com dificuldade. O medo querendo me deixar paralisada, mas em vez de ceder, eu endireito
meus ombros e faço uma carranca, desviando os meus olhos dos seus. Eu deixo o silêncio irritante
percorrer o banheiro gigante e estendo meu braço para pegar alguns lenços de papéis.
Só depois que consigo enxugar todo o meu rosto, tomo coragem para virar e encarar o homem, ainda
parado na porta. Ele está com as mãos enfiadas nos bolsos agora, me olhando, claramente, sem paciência.
Embora por dentro o medo esteja me controlando, por fora eu procuro manter minha carranca. Ergo o
queixo para olhá-lo nos olhos e balanço a cabeça, confirmando.
Eu tenho a noção de que errei não lhe contando sobre ele ter uma filha, mas eu não vou abaixar a cabeça
e levar a culpa sozinha, porque foi ele quem me deixou e mandou ficar longe. Sabendo do quanto ele
queria ter filhos, depois que a Pérola nasceu, uma parte de mim ficou com medo dele querer tirá-la de
mim, e talvez isso tenha colaborado todos esses anos para que eu não chegasse até ele e lhe contasse a
verdade.
Antes de voltar para LA, eu tentei vários meios de lhe contar. Eu liguei para seu escritório, mas
acabava desligando antes que pudessem atender; eu escrevi várias cartas, que não tive coragem de
enviar. Mas agora, de frente para ele – o homem que eu mais amei na vida e que destruiu meu coração –,
eu percebo que as ligações e as cartas seriam muito mais fáceis, porque eu não olharia em seus olhos
quando lhe jogasse a bomba.
Mas também seria injusto e desumano, até para ele.

Giovanni meneia a cabeça duramente e se afasta do batente. — Ótimo. Mas me dê até depois do Lucca.
— ele pede, dirigindo-me um olhar arrogante. — Então eu estarei bem para sentar e conversar com você.
Eu solto um riso sarcástico e aproximo-me da porta, que está bloqueada por seu corpo grande. — Como
se eu quisesse muito isso, certo? Estou contando os dias. Idiota. — o encaro, com os olhos apertados. —
Pode me dá licença, por favor? Estou sufocada.
Mas ele não dá, não se move. Em vez de fazer o que lhe pedi, Giovanni abre os braços, agarrando os
dois batentes da porta e abaixa o queixo para olhar em meus olhos, dando-me um olhar intenso e faminto,
igual aos que ele costumava me dar há três anos.
Esse pequeno movimento o deixa tão perto de mim, que sou capaz de sentir seu cheiro e meu coração
começa a dar soltos dignos de um ginasta olímpico.
De repente, tudo que eu consigo encarar é sua boca, próxima a minha. Além do meu dedo empurrado em
seu peito, nós não nos tocamos desde que nos reencontramos, mas essa proximidade e esse brilho em
seus olhos enquanto ele me encara de volta, é como uma carícia em minha pele quente.
Seus olhos descem pela minha boca, – agora entreaberta, lutando para inalar algum ar para os pulmões
necessitados – passa pela minha garganta, seguindo pelas clavículas e então chega ao seu destino: o topo
dos meus seios, generosamente, amostra em meu decote.
Então tudo some. Meu pulmão não sabe o que é ar; meu coração não sabe o que é bater; e meu corpo
não sabe o que é ter autocontrole e amor-próprio.
Colocando todo o ódio, rancor e dor dentro de um pequeno e apertado baú, trancado a sete chaves, eu
imediatamente esqueço dessas três coisas que me moveram durante os últimos três anos e tudo que meu
corpo deseja agora é que ele se mova e me toque. Me toque em todos os lugares que ele quiser, contanto
que sua boca esteja na minha, saqueando, chupando, lambendo minha língua, deixando-me derretida e
embriagada, como costumava ser.
Eu estou tremendo, precisando de seu toque. Minhas mãos estão fechadas em punhos ao lado do meu
corpo, ainda travando uma luta sobre avançar ou não, enquanto encaro seus olhos tão necessitados quanto
os meus.
Eu posso ver o quanto ele está lutando contra isso também, porque seus olhos estão em um azul-escuro
agora e sua respiração sai entrecortada por entre seus lábios. Giovanni inclina a cabeça, ficando,
deixando sua boca a poucos centímetros da minha, onde sou capaz de sentir sua respiração quente, numa
carícia deliciosa.
Deus, eu realmente estou implorando pelo seu beijo?

Uma pequena parte no meu cérebro dói, tentando de tudo para que eu me afaste, alertando-me sobre o
quanto isso é errado e como irá me machucar, mas a outra parte, a maior e, com certeza, a mais trouxa,
está me perguntando "O que mais pode acontecer? No máximo, ele mandará outra carta falando que
isso foi um erro."
Mas eu não acho que posso aguentar outra vez ele me dizendo que tudo que passamos foi um erro, então
minha pele começa a esfriar, a dor volta a me dominar e eu me afasto bruscamente, procurando por ar.
Sentindo-me cansada, de repente, meus ombros caem e eu coloco as mãos na cintura piscando algumas
vezes para encará-lo.
Ele também parece ter caído na real. Seu corpo se endireitou, voltando a ficar ereto e, aparentemente,
impenetrável, e suas sobrancelhas estão unidas, com uma expressão irritada, como se só agora ele
notasse que cometeria um "erro".
Quando seus olhos voltam para mim, eles estão como duas pedras de gelo novamente. —

Conversaremos após o casamento do Lucca, então.
Eu forço um sorriso ácido em sua direção. — Como eu disse: estou contando os dias.

•••


Mais tarde, em casa, eu estou com tanta raiva de mim mesma, por ainda ser tão fraca diante dele. Estou
com raiva por quase ter caído e derretido sobre ele, implorando para que ele me beijasse.
Isso é tão... injusto!

Meus lábios estão formigando, ainda sentindo sua respiração sobre eles e meus seios ainda estão
sensíveis e pontudos, porque é como ele fica sempre que eu penso no filho da puta.
Eu saio do banheiro, pressionando a toalha contra meus cabelos, após um demorado banho gelado e
noto uma luz piscando no meu computador.
É uma chamada de vídeo da minha irmã. Hoje quando ela ligou, eu havia dito que estava trabalhando e
ela ficou de me chamar hoje a noite.
Sentando-me na cadeira de escritório em frente a minha pequena mesa, eu clico em "aceitar" e espero
seu rosto aparecer na tela.
Lily está sorrindo, como de costume. — Olá, você! — cantarola, animadamente. — Conte-me tudo, não
me esconda nada, por favor.
Colocando meu pé direito sobre o acento da minha cadeira, eu abraço minha perna contra o peito. Com
um suspiro confuso fingido, eu balanço a cabeça. — Não tenho nada para contar, Lily. Vida tranquila e
muito normal, lembra? Totalmente ao contrário da sua.
Ela revira os olhos e ergue as duas mãos para trás da cabeça, apertando seu rabo de cabelo preso. Seus
olhos estreitam para mim. — Você é uma pequena mentirosa, irmãzinha. — Ela acusa, divertida. — Você
está trabalhando diretamente com Giovanni Lazzari, baby. É óbvio que há o que contar.
Com um gemido, eu cubro meu rosto com minhas mãos.

Lily solta uma risadinha. — Aurora, diga-me que, pelo menos, ele enfiou aquela língua na sua boca…

— Deus, Lily, nãããoo! — Eu olho para ela, atordoada. — Claro que não! O que você acha que eu sou?
Ele me abandonou, lembra? O cara que quebrou meu coração?
Apesar de ter quase implorado por sua língua hoje…

Lily bufa, recostando-se em sua cadeira. — Sim, eu lembro e não estou dizendo que você devia perdoá-
lo, porque ele é um babaca com B maiúsculo. Estou apenas dizendo que ele é Giovanni Lazzari,
baby, O sinônimo mais próximo de sexo muito quente, O objeto sexual mais procurado pelas mulheres
dessa cidade, O sonho erótico de todas as mulheres que já tiveram o privilégio de colocar os olhos sobre
ele. — Ela faz uma pausa para respirar. — E tudo aquilo foi seu. Você conhece todos os truques, tudo o
que ele ama na cama, então aproveite, minha linda! Vocês são gostosos demais para deixar isso passar.
Foi a minha vez de bufar. — Eu conhecia tudo há três anos, Lily. Já se passou muito tempo e eu não
quero ter que me aproximar dele mais do que o necessário. Você sabe o quanto ainda machuca. — Eu
aperto meus olhos. — Você daria outra chance para o Jensen, se ele aparecesse na sua frente outra vez?
Jensen foi o noivo dela por longos 4 anos. Ele era abusivo e invasivo demais. E quando ele decidiu que
eles iriam se casar, Lily organizou todo o casamento tão apaixonadamente, que a família acabou deixando
de lado os medos sobre ele. Mas no dia da cerimônia, Lily apareceu, mas Jensen não estava lá. Ela ficou
arrasada, humilhada e ainda mais destruída como fiquei quando fui embora daqui. Nós só ouvimos falar
dele dois dias depois, quando ele começou a telefonar, mandar mensagens e e-mails sobre como ele
esteva arrependido, e acabamos descobrindo por um amigo dele, que na verdade, ele estava muito
ocupado enfiando seu pau na melhor amiga da Lily, para comparecer ao próprio casamento.
Todos nós esperávamos que ela fosse entrar em uma depressão, mas minha irmã é muito mais forte do
que aparenta ser. Muito mais forte que eu fui, e eu não passei por um terço do que ela passou.
Lily balança a cabeça rapidamente. — Outra chance não, mas uma noite de sexo duro e gostoso? Pode
apostar que sim. Por que não, se aquele desgraçado, infelizmente, é bom no que faz?
Coloco uma mão no rosto e balanço a cabeça, rindo. — Jesus, Lily, você não existe!

Ela estala a língua no céu da boca e dá de ombros, indiferente quando muda de assunto. — Tenho duas
perguntas agora. — diz ela, erguendo seu dedo indicador. — Primeira: cadê aquela delícia do seu melhor
amigo e a gostosinha da minha sobrinha? — ela ergue o dedo do meio. — Segunda: você já contou ao
Giovanni sobre a Pérola?
Suspiro, pesadamente, colocando meu cabelo molhado para trás dos ombros. — O Noah saiu e a Pérola
está dormindo agora. Eles passaram o dia inteiro no zoológico e ela chegou bastante cansada.
Eu vejo Lily acenar, em concordância antes de desviar os olhos para os dedos do meu pé sobre a
cadeira. Sem coragem de enfrentar minha irmã, eu apenas foco em cutucar a unha do meu dedão,
arrancando com minha unha a francesinha.
—Ainda não contei para ele. — eu digo baixinho, e há um silêncio ensurdecedor do outro lado da tela
do meu computador.
Eu ergo os olhos para minha irmã, sabendo que ela não é de ficar calada nessas horas, que ela sempre
tem uma bronca preparada para jogar sobre mim, não importa o que eu faça ou diga. Mas Lily está apenas
inclinada para frente, mais próxima de sua tela, com os braços cruzados sobre a mesa do seu escritório,
me encarando, com seus olhos castanhos amolecidos.
Lily é apenas dois anos mais velha que eu, mas as pessoas insistiam em dizer que éramos gêmeas,
embora nós não compartilhávamos dessa mesma opinião. Lily é mais bronzeada que eu, seu corpo é mais
forte e ela é uns dois dedos mais alta que eu. Porém, temos a mesma cor de cabelo, os mesmos olhos –
que herdamos do nosso pai – e o mesmo sorriso.
Ela é linda e com uma autoestima tão elevada, que é capaz de esbarrar com um avião de tão alta.

—Aurora — seu tom é amável, mas também tem o toque do começo de uma bronca. —
você precisa contar! Minha sobrinha precisa de um pai e Giovanni precisa saber que tem uma filha.
Eu escondo meu rosto sob minhas mãos outra vez, gemendo em desagrado. — Eu seeei. — digo
abafado. — Noah me disse a mesma coisa, eu venho dizendo isso para mim mesma durante três anos,
Lily, e eu vou contar.
— Quando?

—Ele veio até mim hoje na casa do Lucca e disse que precisávamos conversar, mas pediu para que eu
esperasse até depois do casamento do Lucca. — eu deixo meus ombros caírem pela segunda vez hoje
quando confesso: — Mas eu estou com medo, Lily. Eu pensei que tinha me tornado uma pessoa forte, mas
eu não me tornei. Pelo menos, não quando ele está perto de mim. É como se o muro que eu ergui por três
longos anos, simplesmente, fosse ao chão sempre que ponho meus olhos sobre ele ou escuto sua voz. Eu
olho para ele, e eu sei que minha raiva e minha dor ainda está dentro de mim, mas tudo que consigo
pensar e desejar, é que ele levante as mãos e me toque, é que ele abaixe a cabeça e me beije. Eu me
preparei durante tanto tempo para nada. — Eu pisco, quando as lágrimas começam a tomar conta dos
meus olhos. —E agora eu tenho medo que ele vá me odiar quando eu lhe contar sobre a Pérola e queira
tirá-la de mim. Deus sabe que eu não vou aguentar se ele fizer isso.
—Não. Não, não, baby. Não pense isso, ok? — Lily parece atordoado do outro lado agora. — Droga, eu
odeio estar em um oceano de distância de você agora! — Ela fecha os olhos trinca os dentes por um
momento. — Aurora, Giovanni pode ser um idiota do caralho, mas você sabe que ele não é assim. Ele
tem caráter. Você sabe, eu nunca acreditei muito nessa coisa dessa carta, e eu mais que nunca agora, não
acredito que ele vai querer tirá-la de você. Após o casamento do Lucca, sente-se com ele e converse.
Explique para ele seus motivos, seus medos e ele vai entender. Ficará chateado, provavelmente, mas
ele vai entender.
Hesitante, eu assinto, enxugando minhas bochechas com os dedos, odiando ter recebido um sermão
como uma adolescente. Eu rio para ela. — Tudo beem... você está certa.
—Sempre estou, gata! — diz, como se fosse óbvio. — Mas é sério. Converse, e depois, transe com ele.
Vai fazer bem para você. Quanto tempo você não tem um orgasmo? Um ano? Dois?
Eu reviro os olhos. — Oito meses, e eu não vou transar com ele.

É vez dela revirar os olhos. — Benzinho, é claro que você vai transar com ele. — ele diz, em um tom
autoritário. — Estamos falando do cara que as mulheres dariam tudo para tê-lo no meio de suas pernas,
tanto com a cabeça de cima, quanto com a cabeça de baixo.
Eu gemo, irritada. — Lily!

Ela ri e pisca para mim. — Eu amo você! — diz ela, com um sorriso dissimulado, e eu bufo, recostando
em minha cadeira.
Eu ouço um bipe e vejo Lily estender um braço para pegar seu celular ao lado da mesa. Ela olha a tela,
por alguns instantes, a luz azul e branca banhando seu rosto, enquanto ela franzi a testa para a mensagem
que chegou.
—Algum problema? — pergunto, preocupada.

Ela sacode a cabeça, bloqueando o aparelho e olhando para mim. — Encontraram as plantas que eu
pedi, mas o pau no cú que trabalha comigo está querendo roubá-las de mim. Eu realmente preciso ir
agora, irmãzinha. — Ela leva a mão para parte debaixo de seu monitor, sopra um beijo para mim, e fala:
— Ligo para você amanhã, e Aurora, — ela chama, num tom dramático. — Faça. Sexo. — e acrescenta
antes de desligar — Com o Giovanni.
Eu continuo olhando para minha tela preta por alguns instantes. Eu abaixo minha cabeça para o encosto
da cadeira e deixo um suspiro escapar.
"O sinônimo mais próximo de sexo muito quente"

Eu rio, lamentavelmente, sabendo o quão próximo e quente ele é. Eu ainda posso sentir cada

movimento seu, cada toque, cada beijo.
É frustrante e eu odeio ainda estar tão afetada por ele.

•••

Durante as próximas duas semanas, eu me mantive mergulhada no trabalho.

Fui às compras com a Mel, para terminar de comprar as coisas que faltavam para a decoração e, para
minha surpresa, ela me deu um convite para seu casamento, que acontecerá em Dubai na semana que vem,
e quando eu pensei em Giovanni e ia abrir a boca para me desculpar por não poder ir, ela me cortou,
dizendo que fiaria muito triste se eu não fosse e que eu não precisaria me preocupar porque ela já havia
conversado com Giovanni.
Eu também, não falei mais com Giovanni e tentei ao máximo não olhar em sua direção, enquanto
estávamos no mesmo lugar. Ele trabalhou apenas por mais uma semana na casa e também não fez nenhum
movimento para se aproximar.
Bom.

Muito bom, obrigado.

Quando enfim terminei com a casa, eu já estava desesperada. Faltava poucos dias para o casamento e
eu ainda não tinha me permitido pensar sobre como eu diria ao Giovanni que ele em uma filha.
Durante três anos, eu imaginei que eu apenas olharia para ele e lhe diria "Ah, você tem uma filha,
idiota." e quando ele ousasse reclamar sobre eu não ter lhe dito antes, eu diria "Ah, mas não venha me
culpar, já que foi você que me mandou embora, porque nós não passávamos da droga de um erro. Foi
você quem pediu para não fazer escândalos ou procurar por você." Mas agora eu vejo que não posso
dizer essas coisas, porque eu também errei.
Deveria ter mandado sua carta ir se foder e ido lhe procurar. Eu não imploraria para que ele não me
deixasse, e eu não faria um escândalo, como ele achou que eu faria, mas eu lhe diria que eu estava
grávida. Mesmo que em seguida eu fosse embora, sem olhar para trás, deixando para ele a decisão de
querer ou não saber da filha, mas pelo menos, ele estaria ciente de que ele perdeu e eu não estaria com
tanto medo como estou agora.

CAPÍTULO 5
GIOVANNI

A cerimônia de casamento do meu irmão foi bonita.
É bom ver que ele e Mel estão felizes, depois de toda a merda que passaram.
Eu levo meu copo de uísque entre os lábios e tomo um gole do líquido quente, enquanto observo eles
circulando pelos jardins, entre as mesas, cumprimentando os convidados. Eles parecem radiantes. Seus
sorrisos são largos, e vez ou outra eu vejo Lucca levando sua mão até a barriga de sete meses da Mel,
acariciando um pouco, quase distraidamente, enquanto conversa com as pessoas.
Um sentimento estranho e incômodo aperta meu peito, como se estivesse sentindo falta de algo que eu
nunca tive, e isso me faz percorrer os olhos pelo lugar, parando em alguém não muito desejável no
momento.
Toda a maldita cerimônia eu pude senti-la por perto. Não a havia visto desde que terminei o trabalho na
casa do Lucca, e vê-la ali, no meio dos convidados, me deixou um pouco desconcertado.
Aurora usava um conjunto de saia longa, cintura alta e vermelha, com uma fenda que ia até o topo da sua
coxa esquerda e uma blusa da mesma cor, ombro a ombro, com mangas longas. Ela também é um pouco
curta por causa da cintura alta da saia, o que deixou uma pequena parte de sua pele exposta. Seu cabelo
está solto em cachos grossos, jogados para cima de seu ombro direito, e sua maquiagem está na medida
certa, realçando ainda mais sua beleza.
Merda. Ela precisava parecer ainda melhor do que há três anos?
Aproveitando que ela está distraído com alguma coisa que a traíra da minha irmã está dizendo ao seu
ouvido, eu a observo. Eu catalogo cada parte dela, porque eu não poderei fazer isso após a conversa que
teremos. Eu absorvo cada detalhe de sua figura morena e linda, porque eu nunca mais vou tocá-la, como
eu costumava tocar, e isso vai, com certeza, levar tudo de mim.
Ela talvez me diga a verdade, o motivo pelo qual me largou e foi embora, sem ao menos dizer adeus, e eu
acho que não serei capaz de perdoá-la seja qual for ele. A dor que ela me causou não pode ser esquecida,
tampouco perdoada.
Eu ainda posso sentir a rejeição se arrastando pelas minhas veias, a dor rasgando meu peito cada vez que
piscava e a via, como se uma fotografia dela estivesse colada no lado interno das minhas
pálpebras. Droga, eu posso sentir o cansaço de cada noite que não consegui dormir, porque tudo que
vinha nos meus sonhos era ela, seu sorriso, seus olhos... E então, a dor. Essa era inevitável, porque não
havia como pensar nela sem sentir meu peito se estraçalhando.
—Mais um pouquinho e será vidro para todo o lado.

Eu ouço a voz do Enzo zombando ao meu lado, e só então percebo que ainda estou segurando o copo em
frente a minha boca e meus dedos estão com as juntas brancas de tanta força que estou fazendo ao redor
do vidro. Eu bufo, soltando o copo sobre a mesa e contraindo os dedos para relaxá-los um pouco.
Passando a outra mão pelo rosto, recosto-me na cadeira, e olho para meu irmão, com uma sobrancelha
erguida. — Muito obrigado pelo aviso. — Embora meu tom esteja irônico, por dentro eu ainda estava
tremendo com as recordações.
Seus ombros tremem quando ele ri e estende o braço nas costas de uma cadeira vazia ao seu lado. Ele
olho brevemente para o local onde meus olhos estavam a pouco e meneia a cabeça devagar. — Você está
segurando bem a onda para quem sente uma raiva mortal por ela. — comenta ele, com uma expressão
num mix de preocupação e curiosidade.
Eu bufo. — Isso se chama educação, irmão. — eu digo para ele. — Se a Mel e o Lucca a quiseram aqui,
o máximo que eu podia fazer era manter a única coisa boa que ela ainda não me tirou. — dou ênfase na
palavra. Agarrando meu copo novamente, eu jogo todo o líquido âmbar para dentro da minha garganta,
em seguida, sacudo a cabeça, com os olhos fechados pela ardência.
—Elas são engraçadas, não são? — Ethan solta uma risada do meu outro lado, mas eu posso captar a
tristeza em seu tom.
Ele está com os braços cruzados sobre a mesa, os ombros caídos e curvados para baixo, enquanto ele
encara seu copo quase vazia em frente aos seus braços.
Levantando a mão, eu aperto seu ombro e pergunto: — O que está rolando entre você e a Lisa?
Eu não sou cego. Tenho o visto o quanto eles estão afastados um do outro. Há alguns meses, eu diria que
ele está apenas sendo o Ethan, mas não agora.
De alguma forma, a Lisa conseguiu prendê-lo, ainda mais rápido que a Mel e o Lucca, mas de uns tempos
para cá, eles se distanciaram de repente. Ela mais que ele, pela forma que o tenho visto.
Ethan não faz mais as brincadeiras que ele costumava fazer, ele mal fala quando nos encontramos, e ele
era o que não se calava. Ele está distante, sempre perdido em pensamentos.
Ele encolhe os ombros ligeiramente. — Não sei, ela não quer me contar. Sempre que eu tento conversar,
ela muda de assunto ou diz que está com muita dor de cabeça e precisa dormir.
Ah, sim. Típico. Mulheres...
Não sei como, mas eu consigo soltar uma risada. O que elas têm com essa coisa que não falar nada?
Meus olhos vão outra vez para Aurora, mas eles se estreitam quando vejo Aiden Scott lhe entregando
uma taça de champagne enquanto se inclina para falar algo em seu ouvido. Eu não gosto disso, e eu não
gosto do que estou sentindo agora por conta disso.
Ela pode ficar com quem ela quiser. Depois da nossa conversa, eu não vou querer mais nem ouvir seu
nome, então eu não deveria me importar com Aiden Scott tocando suas costas enquanto lhe oferece um
sorriso idiota do caralho... Mas, eu me importo. Por algum motivo, – muito filho da puta – eu me importo.
Minhas mãos coçam para ir até lá e arrancá-lo de perto dela. Eu não gosto dele tão perto dela, e menos
ainda da intimidade que eles estão demonstrando. O meu coração está apertado a ponto da dor agora, e eu
estou puto o suficiente para matar alguém, mas eu começo a repetir na minha cabeça que eu não me
importo.
Eu não me importei durante todos esses anos, então, por que diabos, eu me importo agora?
Ela me abandonou, pelo amor de Deus!
Eu estou com a junta do meu indicador esquerdo entre os dentes, observando Aiden cheio de porcaria
para cima da Aurora, quando duas mãozinhas se espalmam em minha coxa.
—Tio, você pode dançar comigo, por favor?

Olhando para baixo, eu encaro o par de olhos azuis de Mia, me encarando com expectativa e sorrio,
esquecendo de todo o meu tormento interno.
Enzo faz uma cara de ofensa fingida para ela. — Por que não eu?
Mia olha para ele, com diversão e torce um pouco o narizinho. — Depois, papai. Você pisou no meu pé
da outra vez.
Sem consegui evitar, minha cabeça cai para trás e eu solto uma gargalhada para meu irmão. Se tem uma
coisa que Enzo Lazzari não é bom, é na dança.
Eu levanto e pego na mãozinha da Mia. — Vamos mostrar essas pessoas como se dança? — Eu pisco
para ela, e ela assente com animação brilhando em seus olhinhos.
Assim que pisamos na pista de dança, Runaway Baby de Bruno Mars começou a tocar, e as pessoas
começaram a se aproximar. Nós dançamos essa e mais outras cinco músicas, até que eu já não aguentava
mais. Como Mia ainda estava bastante ativa, ela conseguiu arrastar Ethan com ela de volta para pista e eu
me sentei novamente ao lado de Enzo.
A próxima hora se passou tão rápido que eu nem percebi. Eu dei tudo de mim para não olhar de novo
para na direção em que a Aurora ainda está conversando com Aiden, e me concentrei na com conversa do
meu irmão. Quando chegou a hora dos noivos saírem da festa, nós da família, os levamos até o aeroporto,
onde o presente de Ethan estava estava os aguardando.
De volta para o hotel, notei que ainda havia alguns convidados circulando pelos jardins, com taças nas
mãos, conversando uns com os outros. Lisa havia seguido direto para o saguão do hotel, sem olhar para
trás, após sair do carro e eu vi quando Ethan suspirou, desistindo enquanto a olhava se afastar. Os outros
de nós seguiram de volta para os convidados, para se despedirem, mas eu estava muito cansado para
trocar conversa fiada, tampouco quero esbarrar com Aiden e sua mão sobre as costas de Aurora e seu
sorrisinho idiota. Então eu segui Ethan para dentro do hotel. Nós não dizemos nada no caminho.
Estávamos ambos cansados demais para dizer qualquer coisa. Tínhamos o mesmo problema aqui: nós
dois estávamos sendo mantidos no escuro. E, agora eu estou um pouco preocupado com ele, porque é
óbvio que todo esse distanciamento da Lisa, significa que ela está pulando fora.
No meu caso, foi um pouco diferente. Aurora não se distanciou primeiro. Muito pelo contrário. Naquele
mesmo dia de manhã, depois de tarde, na nossa troca de mensagens, ela havia dito que me amava. Ela
conseguiu fingir direitinho até o momento em que cheguei em seu prédio e ela tinha partido. Por isso, eu
não tive um tempo para me preparar, mesmo tendo a noção, que mesmo que ela tivesse fazendo esse
mesmo jogo que Lisa está fazendo, eu jamais iria conseguir estar preparado. Eu procuraria saber onde
era que eu estava errando; insistiria mais, a amaria mais forte, faria de tudo para lhe mostrar o quanto eu
precisava dela.
Mas Ethan está tendo essa oportunidade, apesar que ela está o destruindo da mesma forma, porque ele
sabe que no final, Lisa não estará mais aqui com ele.
Meus pensamentos horríveis de pena se desfazem quando sinto uma mão apertar meu ombro. Eu paro de
andar e olho para Ethan, com as sobrancelhas levantadas, esperando para ele falar.
Ele aponta com o queixo para frente. — Deve haver algo errado com ela.
Seguindo com o olhos para o local que ele indicou, eu vejo Aurora andando de um lado para o outro, no
centro do saguão, parecendo gritar com alguém ao telefone. Sua mão livre está espalmada em sua testa e
seu rosto está pálido, como se ela estivesse com pavor de alguma coisa. Ainda está vestida com as
roupas do casamento, então vez ou outra, ela abaixa sua mão e ergue um pouco a saia, para não tropeçar.
—Vá lá saber o que aconteceu. — Ethan diz, dando dois tapas em meus ombros. — Estou subindo para
meu quarto.
Quando ele se afasta em direção ao elevador, eu ajeito o eu smoking dobrado na curva do meu braço e
puxo a gravata borboleta, abrindo-a e deixando-a solta ao redor do meu pescoço enquanto me aproximo,
calmamente, de Aurora.
Estou há uns quatro passos dela, quando a ouço xingar: — Mas que porra! — ela solta em suspiro
pesado, passando a mão pelo rosto, ainda sem me notar. — Pelo amor de Deus, será que não tem uma
vaguinha sequer nesse voo? É um caso de vida ou morte!
Eu fico parado atrás dela, observando enquanto ela escuta alguém – provavelmente uma atendente do
aeroporto – falar do outro lado da linha. Um grunhido frustrado sai dela quando ela arranca o aparelho da
orelha e o sacode com força, como se isso fosse lhe ajudar em alguma coisa.
—Por que você precisa tanto de um voo? — pergunto, surpreendendo-a.

Seu corpo sobressalta e ela se vira para me encarar, seus olhos adquirindo um brilho atordoado e seu
queixo caído.
—O que houve? Aiden te encheu o saco, então você resolveu fugir dele, também? — Ergo uma
sobrancelha, abrindo as abotoaduras da minha camisa branca.
Ela estreme os lábios em uma linha fina, com um olhar irritado. — Também? — pergunta com rispidez,
mas logo balança a cabeça e as mãos, como se estivesse muito exausta para ouvir minha resposta e volta
sua atenção para tela do seu celular.
Eu vejo ela tentando ligar outra vez, mas acaba desligando com a mesma frustração da última vez. Uma
mensagem chega em seu celular e ela franze a testa enquanto ler, em seguida, seus ombros caem e suas
mãos abaixam ao lado do seu corpo, e ela olha para mim. Seus olhos estão cobertos de lágrimas agora, e
leva tudo de mim para não estender os braços e puxá-la para um abraço.
Após inspirar e expirar, ela finalmente fala: — Giovanni, eu preciso voltar para LA. Agora.
Porra. Você não se importa, Giovanni!
—Bom, — eu limpo a garganta, para retirar o nó que se formou ao vê-la tão desesperada. — eu acho que
isso não é da minha conta...
—Mas que droga, Giovanni! — Aurora joga as mãos para cima, que caem em seguida contra suas pernas
sob a saia.
Eu não digo nada e viro as costas afastando-me. Tudo que eu quero saber dela, é o motivo pelo qual foi
embora, que trataremos em nossa conversa. Fora isso, nada que vem dela me interessa. Mas todo meu
discurso mental se esvai do meu cérebro, junto com todo o sangue do meu corpo e, muito provavelmente,
minha sanidade, quando ouço o que ela meio que grita em minhas costas:
—É sobre a sua filha, Giovanni. Ela está dando entrada em um hospital neste momento.


CAPÍTULO 6
AURORA

Certo. Não era bem assim que imaginei que lhe contaria essa coisa tão importante.
O saguão de um dos hotéis mais movimentados de Dubai, com várias pessoas, do mundo inteiro,
circulando ao redor, é totalmente o contrário de uma sala pequena, silenciosa, com nada além de alguns
móveis e nós dois.
Mas eu não tive outra opção. Minha filha está em um hospital agora, por causa de uma de suas crises de
falta de ar. Eu liguei para Noah, para saber como estava indo as coisas por lá, e ele tinha uma voz
hesitante enquanto me dizia que estava tudo bem, mas eu sabia que não estava.
Havia duas opções para isso: ou ele havia se metido em algum problema, ou era algo com a Pérola, e ele
não queria me contar. O problema era que, independente de qual fosse a alternativa acima, eu queria
saber. Então, após eu insistir o máximo, ele desistiu de esconder e acabou confessando que estava a
caminho do hospital com a Pérola, porque ela tinha acordado chorando e começou a hiperventilar, e a
coisa foi piorando até que sua bombinha não conseguiu mais surtir efeito.
Solto um suspiro exausto, encarando as costas e ombros tensos de Giovanni. — Eu sinto tanto por ter te
contado assim. — digo, numa voz baixa, meu corpo tremendo pelo medo. — Eu só não sei mais o que
fazer…
—Para! — ele me corta, e embora sua voz esteja dura, ela não é alta. Ele gira em seu eixo, sua expressão
perturbada e sombria, com a testa franzida, enquanto ele me olha como eu fosse algum tipo estranho de
monstro. — Eu tenho uma filha? Você está me dizendo que eu tenho uma filha?
Engulo o nó em minha garganta e tento segurar as lágrimas que estão queimando meus olhos. Eu imaginai
tanto como seria esse momento, mas ainda assim, não estou preparada. Meu peito dói com o olhar de
desprezo que ele está me enviando agora. Balanço a cabeça, confirmando sua pergunta. — Sim, você tem.
— Eu dou um passo para mais perto, lembrando das coisas que ensaiei para lhe dizer quando essa hora
chegasse, mas tudo que vem na minha cabeça agora é: — Me desculpe por não ter dito antes. Eu sei que
deveria ter dito…
Mas ele me corta mais uma vez. — Aurora — ele trinca os dentes quando percebe que chamou atenção
de algumas pessoas próximas, e pergunta de novo: — você está, realmente, dizendo que eu tenho uma
filha?
Uma lágrima desliza pela minha bochecha e eu apenas assinto com a cabeça, aceitando que o que eu fiz
não foi certo, de várias maneiras. Eu errei por ter escondido sobre a filha dele, e errei por ter revelado
isso em um local inapropriado.
Eu levo uma mão para cima e tampo minha boca quando empurro a ardência no interior da minha garganta
para baixo, em seguida, enxugo meu rosto com o dorso da mão.
Observo quando ele solta uma respiração pesada pelo nariz e passa a mão pelo rosto e pelo cabelo,
como estivesse tentando se controlar. Ele fecha os olhos e pressiona as pálpebras fechadas com seu
indicador e polegar por alguns instantes, antes de me olhar com uma expressão dolorida, que faz meu
coração derreter. Quando ele fala, eu posso sentir sua dor através de seu tom de voz. — Então, quer dizer
que não bastou fugir de mim, você também me escondeu que estava grávida?
Foi minha vez de ficar atordoada. Meus olhos se arregalaram e uma exclamação escapou por entre meus
lábios. Eu fiz o quê?
— Fugi? — não posso evitar a elevação do meu tom, desacreditado. — Eu fugi de você? — solto uma
risada incrédula. — Você está brincando comigo?
Seus olhos brilham de raiva. — E não foi isso que você fez? Fugiu faltando pouco para nos
casar? Fugiu após fingir que me amava?
O ódio que senti durante esses três anos voltou com tudo, estalando em minha cabeça. Esquecendo todas
as pessoas ao redor, eu fui para frente, empurrado seu peito com as mãos. — Eu não fugi, seu filho da
puta! Eu só fiz o que você pediu que eu fizesse em sua cartinha!
—Cristo! O que está havendo aqui?

Com minha visão periférica, eu vejo quando Enzo e Raquel se aproximam de nós, mas ainda estou
encarando os olhos de Giovanni, com minhas mãos fechadas em punhos e cada nervo do meu corpo
tremendo com a raiva que estou sentindo dele agora. Como ele pode ser tão cínico dessa maneira?
Os olhos dele se estreitam em mim, também ignorando a pergunta do seu irmão. — Do que diabos você
está falando? — Ele soa confuso, mas a esse ponto, eu já não acredito em mais uma palavra ou expressão
que venha dele.
Balanço a cabeça, desistindo de discutir por ora, porque tudo que importa agora é a minha filha, não a
porra de uma carta. — Quer saber? Quero que você se dane! Eu vou dar um jeito de voltar,
porque minha filha está precisando de mim agora.
Eu me afasto na direção dos elevadores, sem olhar para trás, escutando ele chamar meu nome com sua
voz rouca e Enzo pedindo para que ele se acalmasse. Eu não me importo com ele, e eu só contei sobre a
Pérola agora porque pensei que talvez, só talvez, ele pudesse me ajudar a voltar para LA, mas parece que
me enganei. Me enganei porque achei que de alguma maneira, ele gostaria de descobrir que tinha uma
filha, mesmo sendo de uma maneira tão horrível. Mas tudo que ele fez foi inventar uma mentira sobre
mim.
Idiota. Babaca. Filho da mãe.
No quarto do hotel, eu abro a mala sobre a cama e começo a juntar minhas coisas que estão espalhadas
pelo quarto, enquanto tento novamente adiantar meu voo, ou comprar uma nova passagem, mas as
atendentes continuam a dizer que todos os voos para LA nas próximas horas, estão lotados.
Então, eu acabo comprando uma passagem para Seattle, e decido que lá eu terei mais chance de consegui
um voo para Califórnia.
Eu me livro da roupa do casamento e me enfio em um par de jeans e uma blusa branca, estilo bata, sem
mangas. Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo baixo e estou saindo do banheiro com alguns produtos
de banho meus, que havia deixado no box para usá-los mais tarde, quando duas batidas altas retubam
através da porta da suíte.
Eu não havia pedido serviço de quarto, e com certeza, nenhum funcionário bateria numa porta dessa
forma, então deixo um suspiro escapar, sabendo exatamente quem está do outro lado.
Deposito os produtos dentro da mala e sigo para a porta, abrindo-a e dando de cara com Giovanni. Eu
reviro os olhos para sua cara fechada e volto para recolher minhas coisas, deixando a porta aberta. —
Giovanni, eu sei que tenho muito que explicar, mas eu realmente, não estou muito a fim de ouvir suas
acusações ridículas sobre mim.
—Acusações ridículas? — diz ele, entrando no quarto e logo tomando conta do lugar com sua presença
poderosa. — Aurora, você foi embora e ficou longe por três anos e agora, você volta me dizendo que eu
tenho uma filha e que eu falei para você ir embora?
—Eu tenho certeza de que você sabe muito bem sobre isso. — digo, sem olhar para ela. Eu abaixo e pego
minha sandália, apoiando-me com uma mão no encosto de uma poltrona no meio do quarto, enquanto a
outra enfia a sandália no meu pé. — Eu errei por não ter dito que você tem uma filha antes, tenho plena
noção disso, mas não vou levar toda culpa, quando foi você quem me pediu para sair da sua vida, sem
fazer nenhum escândalo.
Embora eu esteja tentando manter minha voz calma, meu coração está bastante dolorido por ter que
lembrar daquela maldita carta, enquanto falo com ele sobre isso. Eu não tenho nem coragem de erguer os
olhos e olhar para ele, porque não quero ver a satisfação nos olhos que tanto amei encarar um dia.
—Por Deus, para de mentir por um minuto! — ele se exalta, irritado. — Eu não disse nada disso!

Termino de colocar as sandálias e, finalmente, encaro. Ele me chamou de mentirosa?


Eu grito de volta. — Não, Giovanni. Você tem razão. Você não disse nada, você apenas me mandou a
porra de uma carta, como o covarde que é, porque não teve coragem de falar na minha cara!
—Mas que carta é essa que você está falando? — pergunta, em confusão.

Eu empurro um dedo em seu peito, como havia feito no banheiro da casa de Lucca. — Não se faça de
esquecido agora. Você me mandou uma maldita carta, me mandando ir embora da sua empresa e da sua
vida. E ainda me tratou como uma qualquer, sugerindo que ligasse para sua secretária para pegar dinheiro
em troca de não fazer escândalos. — minha voz quebra nas últimas palavras. Até esse momento, eu ainda
não acreditava que ele havia dito aquelas coisas para mim, no meio de comunicação que nós usávamos
para dizermos coisas bonitas e carinhosas um ao outro.
Ele acabou comigo por meio de uma carta e eu nunca vou esquecer isso.
Giovanni segura meu dedo em seu peito e eu estremeço. Tirando a ponta do meu dedo contra seu peito,
nós não tínhamos nos tocado ainda, desde aquele dia, que foi o segundo pior da minha vida, perdendo
apenas para o dia que pensei que iria perder a minha filha.
—Eu não sei do que você está falando, porque eu. não mandei. carta alguma. para você. — diz ele,
pausadamente, com sua voz rouca e muito baixa.
Eu estou olhando bem dentro do azul de seus olhos, e odeio ver a sinceridade neles. É a mesma que eu vi
durante o tempo em que passamos juntos, mas no final, ele me deixou, não foi?
Ele é bom em fingir.
Aperto meus olhos, ignorando a agonia de estar tão próxima a ele novamente e deixo minha raiva tomar
conta do meu tom de voz. — Ah, não? Então ela chegou sozinha ao meu prédio, com o seu cheiro e a
porra da sua caligrafia?
Eu tento livrar meu dedo do seu aperto, mas é em vão.
—Eu não sei como ela chegou até lá, mas eu sei que não fui eu quem a mandou. — ele diz.

Eu estalo minha língua contra o céu da boca, sem acreditar nele, e sinto sua mão apertando mais ainda
meu dedo.
Giovanni abaixa o queixo e me olha com um olhar torturado. — Tudo que eu fiz depois que falei com
você naquele dia, foi apressar a reunião para voltar para casa, para você, o mais rápido possível. — ele
diz — Eu estava morrendo de saudades de você, Aurora, então fiz de tudo para chegar lá, mas já era
tarde. Você já tinha ido embora e levado tudo que era seu. Eu rodei aquele apartamento como um louco, a
procura de algo, alguma pista sobre o que tinha acontecido, mas não achei. Seu armário estava vazio,
como sua cômoda e tudo que eu conseguia pensar, era se eu tinha feito algo que você não havia gostado.
— ele pausa e balança levemente a cabeça quando repete: — Eu não mandei nenhuma carta naquele dia.
Eu continuo olhando em seus olhos, procurando por algum deslize, enquanto minhas lágrimas caem,
porque ele não pode estar falando a verdade, pois se for, então o que foi tudo isso que eu passei?
Quem causou toda a dor que eu senti, sempre que me lembrava daquela carta ou sempre que olhava para
minha filha e via o tamanho da semelhança entre os dois, que crescia cada dia mais?
Meus olhos se inundam com lágrimas de novo, quando eu vejo que ele está, realmente, falando a verdade.
Ele não pode ser tão bom assim, para passar tanta sinceridade quando, na verdade, está
mentindo. Ninguém é tão bom assim.
Nem se ele fosse um ator profissional, com vários anos de carreira, ele conseguiria transmitir a verdade
que está estampada em seus olhos agora, se estivesse mentindo.
MeuDeus, ele está falando a verdade!?
Eu quero abrir a boca e dizer algo, qualquer coisa, mas minha garganta está tampada com a ardência que
se apoderou dela. Eu não sei o que falar, porque, se ele não me mandou aquela carta, então todo o rancor
e raiva que senti por ele durante esses últimos anos foram, simplesmente, por nada. Passei todo esse
tempo o odiando, o chamando de traidor, de filho da puta, acreditando que ele havia partido meu coração,
mas agora, olhando em seus olhos doentes, eu percebo que, na verdade, tudo isso era eu.
Eu o abandonei, não o contrário.
Eu parti seu coração.
Meus olhos descem até o ponto onde suas mãos seguram meu dedo e eu noto suas juntas feridas, mas ele
não me dá tempo de perguntar o porquê estão daquele jeito. Giovanni solta meu dedo, de uma forma
abrupta, como se sua mão estivesse queimando e se afasta, passando as mãos pelo rosto, levando-as até o
cabelo negro.
Engulo em seco, tentando me recompor, incapaz de formular qualquer palavra que pudesse me ajudar
nesse momento, enquanto observo ele andar até minha mala sobre a cama.
—Nós vamos partir daqui à vinte minutos. — Ele abaixa e puxa a parte de cima da mala e passa o zíper,
fechando-a.
Minha boca cai aberta. — Por que?
Se eu o magoei tanto e escondi uma coisa tão importante dele, então por que ele está fazendo isso?
Mais cedo, quando eu confessei, eu estava querendo sua ajuda, mas, do jeito que as coisas foram, e agora
sabendo que ele não me enviou nenhuma carta, eu pensei que ele sairia pela aquela porta sem olhar para
trás, e talvez, só quisesse ver minha cara em um tribunal, quando estivéssemos lutando pela Pérola.
Ele sacou seu celular e falou, sem olhar para mim: — Porque acabei de descobrir da pior maneira
possível que eu era pai e isso veio junto com a notícia de que minha filha estava na porra de um hospital.
— Ele olha para mim, de cima. — E nós ainda vamos conversar, Aurora e você vai me contar que
história ridícula é essa de carta enquanto estivermos voando. Teremos dezesseis horas, quarenta minutos
e vinte e nove segundos para pôr as conversas em dias, e eu vou querer saber de tudo, está me ouvindo?
Meu peito sobe quando minha respiração acelera com seu tom de voz sombrio. Eu balanço começo a
balançar minha cabeça, mas outra vez, ele não me deixa falar.
—Ótimo. — diz, já se encaminhando para porta da suíte. — Estou com muita raiva pra ouvir qualquer
outra coisa agora. Nos encontramos lá em baixo em dez minutos.

CAPÍTULO 7
AURORA

Eu puxo a janela fechada quando o avião particular da LEA começa a ganhar velocidade pela pista do
aeroporto.
Eu estou sentada em uma das poltronas creme do lado direito, encarando a outra poltrona vazia à minha
frente.
Giovanni não disse mais uma palavra quando nos encontramos novamente no saguão do hotel, e em todo
caminho até o aeroporto. Quando embarcamos, ele passou direto para a suíte do avião com a aeromoça
número um, que aparentava ter uns quarenta anos. Dez minutos depois, ela saiu, mas ele continuou lá
dentro. E agora ja faz mais de vinte minutos que ele está lá.
Uma coisa que eu estou agradecendo agora, porque não estou com nenhuma pressa de começar nossa
conversa. Eu não sei o que dizer para ele.
Me desculpe por ter me precipitado e partido?
Me desculpe por não ter confiado em você?

Desculpe por ter estragado tudo e magoado você?


Eu realmente não faço ideia do que falar. Eu não faço ideia do por quê aquela carta chegou para mim, se
não foi ele quem mandou. Não faço ideia de como sua caligrafia e seu cheiro estava lá; tampouco faço
ideia do por quê a Rita mentiu, dizendo que ele estava em um avião naquele momento.
Me afundo em meu assento, tapando o rosto com as mãos. É óbvio que eu faço ideia! Alguém armou isso
tudo e eu caí como uma idiota. Então eu desabo em choro, porque eu estraguei tudo. Eu mesma acabei
com a minha vida; eu mesma quebrei meu próprio coração; eu, só eu.
Eu não sei quanto tempo se passa, até que um clic da trava de uma porta soa e eu retiro as mãos do rosto
para ver Giovanni caminhando em minha direção.
Ele está me olhando nos olhos, deixando bem claro que ele não está nada bem. Ele não está mais usando
as roupas do casamento; usa um par de jeans e uma camisa polo verde-lodo. Seus cabelos estão
molhados e penteados para trás, e na sua mão direita – a que estava com as juntas feridas – está com uma
fina bandagem feita com gaze. De pé, seu corpo grande, com ombros largos, parecem ocupar todo o
espaço da aeronave. Ele senta na poltrona em minha frente, apoia o cotovelo no braço da poltrona e toca
o queixo duro e com os dedos longos quando estreita os olhos para mim.
O silêncio que se passou foi quase ensurdecedor, mas ele continuava apenas me analisando, como se
quisesse conseguir as respostas apenas olhando em meus olhos. E talvez, ele consiga o que deseja,
porque tenho noção de que bem agora, estampando meus olhos, está tudo o que estou sentindo: a culpa, a
dor, o desejo de abrir a boca e me desculpar…
Parece que ele desiste de conseguir algo assim, e faz um gesto de impaciência com as mãos. — Só me
explique essa história de carta, porque eu não mandei nenhuma para você naquele dia.
Então eu contei para ele. Contei tudo desde do início, quando eu cheguei no prédio naquele dia e o
porteiro me entregou o envelope com a carta, tudo que havia escrito, com sua letra, seu perfume, as
palavras horríveis, falei também sobre as tentativas de falar com ele pelo seu próprio celular e pela sua
secretária – que aliás, tinha me dito que ele estava em um avião –, até o momento em que deixei o
apartamento e está cidade para ficar o mais longe possível dele, como havia pedido na carta. Quando
acabei, eu estava chorando e ele tinha um olhar confuso.
Giovanni se desencostou, apoiou os cotovelos em seus joelhos e passou as mãos pelo rosto. Ele balançou
a cabeça quando abriu a boca para falar. — Que porra é essa? — Ele procurou pelos meus olhos. — Está
claro que isso foi uma armação!
Quando ele se levanta abruptamente, eu me encolho em meu assento e não falo nada. Eu não tenho certeza
do que falar agora, então eu apenas espero que ele fale.
—Logo depois de mandar a última mensagem para você, meu celular descarregou. — ele diz, passando
uma mão pela nuca, como se quisesse aliviar a tensão.
Seu olhar está perdido agora, e eu não sei se ele está falando comigo ou tentando refazer seus passos,
mas eu assinto de toda forma.
—Eu chamei a Rita e pedi para colocá-lo para carregar, caso você mandasse outra mensagem. — ele
continua. — E quando eu saí da reunião e o pedi de volta, ela, acidentalmente, o deixou cair no chão e
tudo apagou na hora. Então eu corri para casa e… — ele virou e olhou para mim, e eu vi outra vez a dor
em seus olhos. — você já tinha ido embora.
Isso explica o porquê seu celular só dava desligado, mas não explica o porquê sua secretária mentiu para
mim.
—A Rita me disse que você estava em um avião, Giovanni. Na droga de um avião. Por que ela disse isso,
se na verdade, você estava indo para casa?
Ele balançou a cabeça e seu maxilar se contraiu. — Eu não faço a mínima ideia. — ele disse. —Ela não
ganhou nada além do meu mau humor durante um par de semanas.
Eu não preciso pensar muito para saber quem está por trás disso e pela sua expressão neste momento, eu
vejo que ele também não precisa. Fica tão óbvio quando se para pensar.
—Ela deve ter ganhado alguma coisa, mas não de você. — eu rio baixinho, incrédula. — Mas teve alguém
que ganhou algo de você, não foi?
Eu abaixo o queixo e levanto meus cílios, o encarando de baixo e esperando sua resposta.
Mas ele responde com outra pergunta. — Você ainda tem a carta?
Eu movo a cabeça, confirmando. Eu nunca joguei fora, porque eu precisava de algo para me lembrar da
dor que me fez ficar mais forte.
Giovanni inala uma respiração profunda. — Ótimo. Assim que pousarmos, eu vou começar a procurar o
responsável por isso e eu vou precisar dela. Você disse que tinha minha letra nela e eu quero saber como
conseguiram isso.
Eu aceno outra vez. Embora ele estivesse falando baixo, ele ainda tinha aquela expressão assassina,
magoado, e de "não fale nada que não for perguntada", então eu apenas fico sentada, esperando. Eu o
conheço o suficiente para saber que ele não está nada bem com o fato de que eu preferi acreditar em uma
carta, do que confiar nele, tampouco por ter escondido que ele tinha uma filha. Giovanni tem uma coisa
grande com confiança e lealdade, e eu rompi essas duas regras com ele.
Ele volta para seu assento e estica as pernas para frente. Se passa uma eternidade até que ele, finalmente,
consiga olhar para mim de novo. — Me fale sobre a minha filha. O que ela está fazendo no hospital?
Deixei um suspiro sair, antes de começar a falar. — Eu tive uma gravidez complicada, de risco, e a
Pérola acabou nascendo antes da trigésima segunda semana. Mas seu pulmão ainda era muito imaturo e
isso lhe causou insuficiência respiratória, o que os médicos chamam de síndrome do desconforto
respiratório.
Eu estava começando a respirar com dificuldade agora, relembrando tudo que passamos naquele hospital,
então foi a minha vez de levantar. Eu destravei o cinto e andei um pouco para longe, levando uma mal
para garganta, puxando respirações profundas e lutando contra as lágrimas que queimam meus olhos.
—Foram semanas horríveis com ela entubada, sem poder pegá-la no colo ou levá-la para casa. — eu
continuei. Eu virei para ele, deixando as emoções enfraquecerem minha voz. — Houve um momento em
que ela parou de respirar. Ela, simplesmente… parou de respirar. — encolho os ombros, piscando as
lágrimas dos meus olhos e levo uns segundos para conseguir falar novamente. — Ela vem tendo
problemas respiratórios até hoje. Geralmente nós controlamos com as bombinhas de asma, mas hoje ela
acordou com uma crise grande e precisou ser socorrida.
Giovanni está em silêncio, ingerindo tudo que acabei de dizer. Ele não diz nada por vários segundos, até
que ele volta a me encarar com a testa franzida. — Você passou por tudo isso sozinha? — Ele pergunta,
sem acreditar.
Eu sacudo minha cabeça. — Eu tive o Noah todo esse tempo.
O que não era a mesma coisa que ter ele, mas, pelo menos, era alguma coisa, quando eu acreditava
que ele havia me abandonado.
—Inferno, Aurora! — Ele solta, irritado. — Você foi egoísta em todos os sentidos comigo. Você não
esperou por mim; você não me avisou que estava grávida; você não me deixou acompanhar a gravidez;
não me deixou vê-la nascer, e você me privou de vê-la por malditos três anos. Três anos, porra! Isso sem
contar que você ainda deixou para me contar em um momento de desespero…
—Egoísta? — Eu chiei, com a raiva tomando lugar pelo meu corpo. — Eu recebi uma carta com sua letra,
seu cheiro, e sua secretária me informou que você estava na droga de um avião. Eu errei, Giovanni. Errei
por não ter esperado por você, mas, pelo menos, eu tenho a desculpa que eu era apenas uma menina de
vinte e um anos, com maturidade zero e que só havia tido um relacionamento na vida. Entrei em pânico
quando li aquela carta e você não atendeu o celular e fui embora. Mas eu voltei uma semana depois, para
conversar com você sobre essa carta, mas fui recebida com você saindo do prédio da LEA com
a Amanda. O que queria que eu pensasse?
—Eu só queria que confiasse em mim! — Ele gritou de volta, saindo de seu assento de novo.

Eu engoli em seco com suas palavras, engolindo o caroço no interior da minha garganta e não disse mais
nada.
Giovanni tinha uma respiração pesada, claramente irritado, e voltou a se trancar na suíte do avião, então
eu me sentei e ataquei de novo o cinto.
A distância era boa para nós dois. Ele estava certo sobre a confiança, mas eu não posso levar toda a
culpa aqui.
Ele pode não ter mandado a carta, mas alguém mandou, e ele foi o motivo dessa pessoa.
Essa pessoa que agora é bastante óbvia para mim.



CAPÍTULO 8
AURORA

Eu não sabia que meu coração não estava num bom momento, até que eu observei Giovanni descendo as
escadas do avião, com um óculos aviador cobrindo os olhos e os cabelos voando com o vento forte de
começo de inverno na Califórnia.
Eu me permiti querer correr meus dedos pelos fios negros, para saber se eles ainda são tão macios como
antes. Eu também queria segurar seus ombros para saber se eles ainda são duros e queria descobrir se
seus lábios ainda eram tão bons, como eu me lembrava. Mas tudo que eu posso saber no momento, que
ainda é, exatamente, igual como era há três anos, é que Giovanni Lazzari é de tirar o fôlego, mesmo com
uma carranca emoldurando seu rosto bonito.
Na verdade, isso o deixava ainda mais quente do que já era. Chega a ser perturbador passar um tempo
olhando para ele.
Cruzando os braços sobre o peito, eu me forcei a desviar os olhos quando ele se aproximou e eu senti seu
cheiro forte. Eu vi quando um carro esportivo estacionou a cinco passos de nós e um homem, bem-
vestido em um terno preto, saiu e lhe jogou a chave.
​—Aqui está seu carro, senhor. — o homem diz para ele.

De uma forma quase imperceptível, Giovanni balança a cabeça e diz numa voz profunda: — Obrigada.
Faça o que eu pedi para você, por favor. Nos vemos daqui a pouco.
Ele anda ao redor do carro e aperta um dos botões da chave e as portas se abrem para cima. Minha boca
cai aberta, enquanto eu olho para a beleza negra e fosca diante de mim.
—Você não vem?

Eu olho para cima, para Giovanni que está parado ao lado da porta do motorista. Ele tem uma
sobrancelha arqueada para mim, esperando pela minha resposta ou por algum movimento meu. Dando
uma olhada ao redor, percebo que a opção mais rápido de chegar até o hospital é entrando em seu carro e
não chamando e esperando por um táxi. Estamos em Los Angeles e táxis disponíveis no aeroporto é uma
coisa quase impossível de se encontrar.
Concordo com um suspiro e entro no carro mais magnífico que já entrei. E eu já havia entrado em vários
carros magníficos do próprio Giovanni, mas esse, ultrapassava todos os limites da palavra magnífico.

Enquanto dirigia, Giovanni tinha o cotovelo direito na janela e seus dedos – indicador e maior de todos –
estavam passeando pelos seus lábios pressionados em uma linha fina. Ele estava pensando, eu sabia
disso. Se não fosse pelos óculos de sol, eu com certeza, poderia ver seus olhos apertados e as
sobrancelhas franzidas.
Eu tentei o máximo não ficar encarando seu perfil, no entanto, era impossível não sentir sua presença em
cada celular viva no meu corpo. Só notei que minhas pernas estavam pressionadas uma na outra, quando
comecei a sentir calor e a pele sob meu jeans começou a suar, mesmo com o ar-condicionado do carro
ligado.
Para me distrair dessa atração antiga e idiota, eu peguei meu celular e mandei uma mensagem para Noah,
avisando que estávamos chegando no hospital. Eu contei, em um pequeno resumo, sobre Giovanni já
saber e que ele também está indo, e disse que depois eu contava com todos os detalhes tudo que havia
acontecido. E o mais importante: aproveitei para perguntar se os médicos conseguiram controlar a crise
da Pérola rápido. Já faziam dezesseis horas que não pude ter notícias dela e isso estava me matando,
mesmo com toda a tensão dessa confusão entre mim e Giovanni.
Todo o caminho foi silencioso. Giovanni sequer perguntou qual era o hospital, mas de alguma forma, ele
já sabia. É claro que ele sabia. Ele deve ter procurado saber antes de embarcarmos e, é óbvio que lhe
disseram, exatamente, tudo que ele queria. Ele tinha esse poder e ele adora abusar dele.
Quando entramos no hospital, eu não precisei parar na recepção e perguntar qual era o quarto, porque
Giovanni agarrou meu braço e me guiou direto para o elevador. Lá dentro, enquanto eu contava os
andares, ansiosa, eu sentia minha pele quente pela proximidade dele. Parece que dentro de uma caixa de
metal é ainda mais sufocante que dentro de seu carro.
O elevador se abriu no sexto andar e logo pude ver Noah saindo de um dos quartos. Ele olhou em nossa
direção e seus olhos voaram de mim para Giovanni, com um pouco de surpresa e eu sabia que ele não
tinha me levado a sério quando lhe contei que ele iria comigo. Noah nunca achou que eu fosse ter mesmo
coragem de contar tudo para Giovanni.
Eu apressei meus passos até ele, ignorando a zoada irritante do meu coração batendo fortemente na veia
do meu pescoço. — Cadê ela? — eu pedi, com nervosismo.
Noah passou uma mão pelo meu braço nu, de cima para baixo, como se esse gesto fosse retirar a tensão
do meu corpo. Ele aponta para o quarto de onde saiu. — Logo ali. Ela está bem, fique tranquila.
Eu vou até lá e meu coração aperta quando vejo minha bebê na cama de um hospital, com um inalador
cobrindo sua boca e nariz. Há uma médica ao seu lado, verificando seus batimentos, enquanto pedi com
carinho para que ela respire com força.
Pérola me ver na porta e seus olhinhos se alargam e suas perninhas se agitam no colchão. Ela costuma
fazer isso quando não pode correr até o lugar ou a pessoa que ela quer.
Sorrio derretida e vou até ela, sentando-me ao seu lado no colchão. Eu a abraço quando a médica termina
de examinar e retira o inalador.
—Ela está ótima. — Ela me diz, com um sorriso. — Felizmente, ela chegou a tempo e nós conseguimos
estabilizá-la.
Eu aceno, sentindo meu corpo se aliviar e pressiono um beijo no topo da cabecinha da Pérola. —
Obrigada. Já podemos ir?
—Você precisará apenas assinar alguns papéis e pode levá-la embora. Vou pedir para uma enfermeira lhe
trazer, tudo bem?
Aceno outra vez e ela sorri. Quando ela se vira para sair do quarto, ela para, alternando o olhar entre
Noah e Giovanni que estão na entrada do quarto. Vejo quando seu rosto pálido atinge um tom rosado e eu
sei, exatamente, pelo que ela está passando agora.
Noah e Giovanni são dois homens lindos, que atraem atenção por onde passa, principalmente, a atenção
das mulheres. São belezas muito diferentes, claro. Noah tem um jeito mais suave, calmo. Ele é magro,
mas com músculos definidos nos lugares certos, quadril estreito e um olhar gentil, independentemente do
momento. Giovanni, por outro lado, tem um jeito rude, agressivo. É forte, com o corpo inteiro definido,
uma bunda deliciosa e seu olhar é, na maioria das vezes, furioso e penetrante.
Eu não preciso dizer qual deles é o meu tipo. Eu amo o Noah e acho ele perfeito em todos os sentidos,
mas nunca senti alguma atração sexual por ele, como eu sinto por Giovanni desde a primeira vez em que
pus meus olhos nele.
Depois de alguns momentos, claramente sem palavras para o que tinha em sua frente, a médica limpa a
garganta e agita os ombros. — Com licença. — ela pede, numa voz rouca e baixa, forçando um sorriso,
que foi apenas um leve esticar de lábios, então passou entre os dois e se foi.
Noah olha para o relógio em seu pulso. — Já que você chegou, eu vou indo. — ele se aproxima e beija a
testa de Pérola, em seguida, a abraça. — Nono te ama, tudo bem?
Pérola faz que sim com a cabeça, levemente e lhe oferece seu sorriso de bebê mais lindo. — P ama você,
Nono. — ela repete, com sua voz doce.
Vendo a demonstração de carinho dos dois, eu me lembro que Giovanni ainda está parado perto da porta
e levanto meus olhos para ele. Sua mandíbula está rígida e suas íris azuis se movimentavam de um lado
para o outro, entre Noah e Pérola, com um brilho que eu conhecia bem. Ciúmes. Eles estava com ciúmes.
Eu quis sorrir, porque Giovanni havia sido bastante ciumento comigo, mas nunca me passou pela cabeça
que ele seria assim com a Pérola também.
Noah dar um último beijo em Pérola e volta a ficar ereto. Ele olha com receio para Giovanni, em
seguida, para mim. — Você quer que eu deixe o carro? Eu posso chamar um Uber.
Mas antes que eu pudesse negar ou aceitar, a voz grossa e linda de Giovanni respondeu por mim. — Eu
vou levá-las para casa. — Ele usou um tom possessivo e quase rude, mas era baixo e ameaçador.
Eu conhecia bem esse seu lado, e eu amava. Eu amava tudo sobre esse homem e acabei deixando o medo
falar mais alto.
Noah abaixou o queixo e olhou para mim, esperando que eu confirme o que Giovanni acabou de dizer.
Eu engulo o nó em minha garganta e confirmo, tentando soar o mais confiante possível e lhe dou um olhar,
dizendo-lhe que ficarei bem.
—Mande uma mensagem quando chegarem em casa. — Noah pede. Ele manda uma piscada para Pérola,
um olhar preocupado para mim, e caminha para a porta. — Lazzari. — Ele envia um aceno duro de
cabeça para Giovanni.
—Ross. — Giovanni devolve, mas não acena.

Quando Noah se foi, eu murchei. Não sabia o que fazer ou dizer, então, para consegui manter minha
cabeça no lugar, eu peguei o casaquinho cor-de-rosa na poltrona ao lado da cama e comecei a vesti-lo
pelos bracinhos de Pérola. Eu tentei ao máximo enrolar no arrumado para não ter que parar e olhar para
Giovanni. Eu não sei o que diabos está se passando em sua cabeça, porque ele está apenas lá na porta,
parado e olhando, observando, analisando. Ele não fez nenhuma expressão, além do brilho ciumento em
seus olhos quando Noah estava perto da Pérola.
Não tendo mais o que fazer no casaco, eu volto a me sentar na cama e puxo Pérola para mais perto de
mim, alisando seus cabelos presos com uma transa raiz.
Ela passa um braço na minha barriga e enfia o rosto na lateral do meu peito, como se quisesse fundir o
corpo no meu, então eu vejo que ela tem os olhos tímidos em Giovanni.
Eles estão se encarando agora. Pelo olhar de Giovanni agora, ele deve está esperando para que ela, de
alguma forma, saiba que ele é seu pai, mas ela não o conhece. Nunca conheceu. A única figura masculina
que ela conhece é Noah, e uma vez ela até o chamou de "papa", quando viu uma de suas coleguinhas da
creche falando com o pai.
Quando Noah me disse, eu chorei por ela, porque tudo que eu pensava era que minha filha nunca poderia
chamar alguém de pai, porque seu pai de verdade nem sabia que ela existia. Para mim, ele havia
abandonado nós duas. Mas agora, aqui, vendo os dois, frente a frente, uma a cara do outro, olhos,
cabelos, rosto, tudo idêntico um ao outro, eu sinto meu peito se espremer outra vez.
Estou vendo a expectativa dele, enquanto Pérola se encolhe ao meu lado, sob seu olhar, mas em nenhum
momento, desvia os olhos do dele. Ele inclina a cabeça um pouco para o lado, quando seus olhos
começam a brilhar com… lágrimas? Deus, ele está chorando?
Eu abro a boca para falar, apresentar sua filha, mas sou interrompida quando uma enfermeira entra do
quarto.
A morena, de pouco mais de um metro e meio de altura, carregando uma prancheta nas mãos, olha de
soslaio para o homem grande na porta quando passa por ele. Ela parece nervosa e eu estou com ciúmes e
ao mesmo tempo achando engraçado.
É incrível como as mulheres tendem a ficar nervosas quando estão na presença dos irmãos Lazzari. No
meu caso, em um em particular...
Quando ela me entrega a prancheta, dando-me instruções de onde eu preciso assinar, com minha visão
periférica, eu vejo quando Giovanni tira o celular do bolso, resmunga um "Com licença" e sai do quarto.
Pérola inclina o corpo para o lado, com seus olhos grandes, arregalados e atentos, acompanhando seus
passos lá fora no corredor.
Eu assino onde pede e devolvo a prancheta a enfermeira nervosa e excitada. Eu quase lhe digo que,
infelizmente, com o tempo não melhora, mas decidi ficar calada e apanhar a bolsa de Pérola na poltrona.
—Vamos para casa, meu amor? — Eu chamo a atenção da minha filha, que ainda estava focada em
Giovanni.
Ela olha para mim, desconfiada e é como se ele soubesse o que estava acontecendo. Eu a ajudo ficar de
pé no colchão, ela enrola os braços em meus ombros e eu a pego no braço.
Saio do quarto e Giovanni se vira para mim, desligando o celular. Ele olha entre nós duas, em um conflito
interno, e acaba andando até mim e pegando a bolsa infantil, que estava sobre meu ombro. Pude notar
quando ele, propositalmente, roçou o nariz na parte de trás da cabecinha da Pérola e inalou, seu corpo
ficando logo tenso e sua expressão atordoada. Mas ele se afastou com rapidez e seguiu para segurar a
porta do elevador para mim.
Quando chegamos no estacionamento, o mesmo homem do aeroporto estava lá, nos esperando. Ele
entrega o que parece ser outra chave para Giovanni.
—Obrigado mais uma vez, Pat. — Giovanni joga as chaves do carro esportivo para ele.

Pat – como Giovanni o chamou – faz um gesto vago com a mão e acena profissionalmente. — É o meu
trabalho, senhor. — Ele diz. — Deseja mais alguma coisa?
Giovanni balança a cabeça. — Não hoje. Você está livre o resto do dia.
—Obrigada, senhor. Até amanhã. — Ele acena para mim. — Senhorita.

Quando ele se afasta, Giovanni aperta o botão do controle e uma Range Rover negra apita,
destravando. Dãa! É óbvio que esse carro era dele. É de um preto brilhante e é o único carro preto pelo
estacionamento, fora o seu esportivo que está indo embora com Pat agora.
Giovanni abre a porta traseira, revelando uma cadeirinha infantil, cor-de-rosa, novinha em folha e já
ajeitada ao banco.
Ele planejou tudo isso quando, exatamente?
Eu quero perguntar, mas esqueço quando ele me ajuda a colocar Pérola na cadeirinha. Eu prendo o cinto
e me certifico três vezes de que ele está bem preso, antes de bater a porta fechada.
Então ele nos leva para minha casa e eu passo todo caminho, ignorando a pontada de dor no meu peito,
por ter imaginado essa cena tantas vezes. Nós três, juntos, voltando para casa. Para nossa casa.


•••

Destravo a porta do meu apartamento e logo Pérola se desprende da minha mão e corre até o seu cantinho
da brincadeira, no lado direito da sala. Sorrio vendo-a se debruçar em sua mesinha para pegar sua
massinha de modelar.
Eu gosto disso nas crianças. Mesmo depois de passar a noite em um hospital, elas estão ativas como
nunca e prontas para brincadeiras. Deixo as coisas dela no sofá e me viro para ver Giovanni, observando
da porta a filha brincar.
Seus ombros estão duros e sua expressão ainda em conflito, como se ele estivesse decidindo se pode se
aproximar ou não.
—Você pode entrar e se apresentar agora. — eu digo, numa voz cautelosa.

Ele balança a cabeça e me olha. — Não agora e não assim. Ela precisa descansar e nós também.
Eu cruzo os braços e assinto, evitando olhar em seus olhos.
Ele continua depois de alguns instantes. — Eu preciso daquela carta.
Eu não gosto muito da ideia de me separar da coisa que me lembrou de que minha vida não era o conto de
fadas que eu imaginada. Aquela cara me machucou de formas horrendas, mas ela também me fortaleceu e
me fez a mulher que sou hoje. Ela e minha filha, claro. Por mais que eu odeie tudo isso que me fez perder
o Giovanni, tenho que considerar que também me fez uma pessoa forte e adulta, e mais dura
sentimentalmente.
Pelo menos longe dele, claro.
Balanço a cabeça. — Vou procurar e te dou da próxima vez. Não sei onde ela está agora. — Eu acabo
mentindo. Eu quero que ele descubra quem fez isso, – apesar de já saber quem foi – mas eu precisava
olhar bem para aquela carta outra vez e tentar achar alguma coisa de que não indique Giovanni.
Ele solta uma risadinha baixa, passa as mãos pelo rosto, mas concorda. — Da próxima vez, por favor. —
Ele para e olha para Pérola, então ele diz com dor: — A vida foi uma puta conosco e, eu concordo que
você não foi a única culpada por tudo. Eu também errei, Aurora. Eu devia ter insistido mais...
Isso chama minha atenção. — Insistido mais em quê?
Mas ele ignora e apenas continua. — Mas você foi egoísta, sim. — ele faz uma pausa breve. — Você foi
egoísta porque não me deu nem uma chance de falar, ou decidir.
Minha garganta se fecha e eu sei que ele não está se referindo ao nosso relacionamento e sim, à Pérola.
Mas, o que eu poderia dizer? Sinto muito? Isso não traria de volta os três anos perdidos. A Pérola sequer
sabe quem ele é agora; nem imagina que ele é uma peça tão importante em sua vida.
Giovanni passa a mão na nuca e a arrasta até o queixo, e finalmente, olha para mim, mas seu olhar é tão
triste que eu quero, desesperadamente, lhe abraçar. — Estou indo agora. Ache a carta, por favor. Vou
descobrir quem a mandou. Entrarei em contato com você em breve e vamos decidir o futuro.

Duas horas mais tarde, eu tinha dado um banho na Pérola, a alimentado e a colocado na cama. Todo o
estresse do hospital a deixou enfadada e ela acabou capotando enquanto ainda mastigava.
Eu entro no meu quarto, troco minhas roupas pelo meu roupão e prendo meus cabelos em um nó no alto da
cabeça, mas não vou logo para o banheiro. Em vez disso, vou até meu criado-mudo e abro a gaveta,
agarrado o envelope chique da maldita carta.
Sentando-me na ponta do colchão, eu leio e releio várias e várias vezes, comparando-a com outra carta
que recebi de Giovanni, tentando achar algo de errado nela, até que eu encontro. Olhando-as uma ao lado
da outra, se nota a diferença. Não é uma diferença gritante, mas não importa. As letras da carta terrível
são mais puxadas para baixo. Olhando rápido, nem dá para notar, mas assim de perto e atenta, é bem
notório.
Eu caio de costas na cama e suspiro, sentindo meu peito explodir em vários pedacinhos.
Eu vou matar aquela vaca!

CAPÍTULO 9
GIOVANNI

— Espera, cara — Ethan franze o cenho para mim. — Você tem filha?
Assim que saí do prédio de Aurora, eu estava tremendo. Todas essas revelações de uma só vez, é como
se tivessem pego um caminhão e passado por cima de mim, várias e várias vezes; para frente e para trás,
sem pena. Eu rapidamente liguei para Ethan e pedi para que ele voltasse assim que pudesse.
Dezoito horas depois, Ethan e Enzo estavam saindo do elevador do meu apartamento, com preocupação
estampada em suas caras e eu fui logo contando tudo que havia descoberto.
—Sim, eu tenho uma filha. — dizer isso em voz alta é ainda pior que levar um soco no estômago. — Eu
tinha uma filha há três anos e não fazia ideia disso. Eu estou tentando manter a calma com todo esse
tsunami de coisas passando por mim, mas tudo que eu consigo pensar é que eu perdi os três primeiros
anos da minha filha, porque algum filho da puta resolveu fazer uma brincadeira de mal gosto.
—Você acha que foi "algum"? — Enzo pergunta. Ele estica as pernas para frente, cruzando seus
tornozelos e recosta no meu sofá, com os braços cruzados sobre o peito. — Pense bem, Aurora tem razão
sobre quem mais ganhou com toda essa confusão. Você pode ser tudo, mas, com certeza, não é burro.
Com um suspiro, eu me sento no sofá oposto do dele, com os cotovelos em meus joelhos e passo as mãos
pelo rosto e pelo cabelo. — Eu não sou burro. — eu afirmo, com um rosnado. — Amanda passou a noite
inteira me ligando. Eu quase atirei meu celular contra a parede.
Ethan olha para mim. — Então o que você vai fazer? Porque, sinceramente, se você vai tentar ter Aurora
de volta, ela sendo culpada ou não, eu tenho a impressão de que Aurora não vai gostar da proximidade
dela.
—Ethan tem razão. — Enzo concorda.

Eu cerro os dentes, porque eu sei que eles têm razão. Mas eu ainda não tinha parado para pensar em ter
Aurora de volta. Passei tanto tempo a odiando, e agora com tudo isso acontecendo… Cristo, eu mal
consigo desconectar meu cérebro do rostinho lindo da minha filha. O jeito que ela me olhou, não sabendo
quem eu era de verdade, mas com curiosidade. Sua aparência, que é tão parecida com a minha.
Foi difícil para mim, todos esses anos tendo que conviver com a imagem de Aurora gravada na minha
cabeça, mas deve ter sido ainda pior para ela, com uma cópia minha ao seu lado todos os dias.
Mas a pergunta é: eu a quero de volta?
Bufo internamente, para mim mesmo, porque a resposta é tão óbvia quanto seria, se alguém questionasse
se eu era realmente o pai daquela menininha. Só em pensar em Aurora faz meu peito doer e meu pau
endurecer.
Aurora é a mulher da minha vida e, mesmo com toda raiva que eu senti, por ela ter ido embora, eu nunca
duvidei disso.
Eu coço meu queixo e balanço a cabeça. — Não posso fazer nada sem provas. — respondo.
Enzo assente. — Sim, certo. Tem razão, mas e quanto à Rita? Ela ajudou dizendo que você estava em um
avião naquele dia.
Eu fecho minhas mãos em punhos, querendo socar alguma coisa por perto. Faz cinco anos que Rita
trabalha comigo. Eu confiava nega, cegamente, em tudo. Ela, mais que ninguém, sabia o quanto eu
precisava da Aurora; o quanto eu a amava, porque era ela quem eu pedia para enviar as cartas, ou até
escrever as mensagens em meu celular quando eu estava ocupado.
Ela era meu braço direito, tanto na vida profissional, quanto na pessoal. E ela me traiu.
Eu estou com tanta raiva, que se eu a visse na minha frente agora, ela seria, definitivamente, a coisa que
eu socaria. Então, para evitar perder a cabeça e cometer um erro, do qual me arrependeria depois, acho
melhor que ela não entre em contato comigo para nada.
—Também não posso fazer nada com ela agora. — Eu digo, frustrado. — Se ela souber que eu já sei de
tudo, ela vai alertar quem quer que seja, que armou tudo isso. Preciso descobrir tudo antes de agir.
Os dois homens em minha frente, assente com calma, considerando o que eu acabei de dizer.
—Vamos fazer tudo na surdina, então? — Ethan pergunta.

Eu confirmo. — Não é o que eu queria, mas é o único jeito.


Eles concordam comigo e me garantem que irão me ajudar.
Enzo se levanta e vai até minha cozinha. Ele abre a geladeira e pega uma garrafa de água, então fecha a
geladeira e abre o armário, pegando um copo de lá e despejando água dentro. — Tudo bem. — Ele sorri
para mim, depois toma um gole da água. — Fale da minha sobrinha, agora.
Embora meu coração aperte, meus lábios são espalhados em um sorriso grande e, estranhamente,
orgulhoso.
—Ela é... — faço uma pausa, procurando uma palavra para defini-la, mas a única que consigo encontrar
agora é: — perfeita. Linda demais, pequena demais.
Ethan sorri. — Estou chocado por você está aqui, na sua casa e não na dela.
Balanço minha cabeça. — Se eu, que já sou um adulto, senti preciso de um tempo para assimilar tudo
isso, imagine uma menininha de três anos. — Eu agarro minha nuca e aperto. — Aurora precisa prepará-
la antes. Ela é muito pequena ainda, para chegar e jogar essa bomba sobre ela.
—E a Aurora disse que falaria com ela? — Enzo volta para a sala e se senta, novamente.

—Não me disse, mas ela sabe que tem que fazer.

—E como você se sente sobre tudo isso? — Ethan ergue uma sobrancelha para mim.

Eu bufo. — Você virou psicólogo?


Ele ri alto. — Bom, eu sou um advogado, que agora dirige uma empresa de aeronaves e estou tentando
entender a cabeça das mulheres. De uma, especificamente. Então, sim. Eu posso tomar o lugar da Raquel
um pouco e ser um psicólogo, se você quiser um.
—Oh, obrigado, cara. — eu sorrio. — Quando eu precisar, eu te chamo. Pode deixar. — Eu olho para
Enzo. — Não vou para a empresa pelo resto da semana.
Meu irmão acena com a cabeça. — Certo. De todo modo, eu reprogramei tudo para a semana que vem.
Esperava que ficássemos fora essa semana.
Isso era bom, porque eu precisava acalmar minha mente antes de voltar e olhar para minha secretária
todos os dias, enquanto procuro saber quem armou para mim e Aurora. E também, tenho que focar em
conhecer minha filha. Definitivamente, eu não vou perder mais tempo longe dela. Eu odiei ouvi-la
dizendo que amava Noah Ross, apesar de saber que ele é apenas como um tio para ela.


•••

No dia seguinte, eu fiz exercício no início da manhã, em seguida, tomei um banho gelado. Felizmente, eu
consegui dormir hoje. Eu precisava estar bem descansado para começar a investigar quem enviou aquela
carta, e, o mais importante, conseguir a Aurora de volta e recuperar o tempo que perdi com a minha filha.
Não vai ser fácil. Nós dois passamos por poucas e boas nos últimos anos – ela ainda mais que eu, com
tudo que ela me contou de sua gravidez e os problemas com a Pérola. Não se esquece da dor ou do
rancor da noite pro dia. Mesmo sabendo que tudo não passou de uma armação fodida, ainda tem o lance
com a confiança.
Eu não gosto quando duvidam de mim e de minha lealdade e Aurora duvidou. Tudo bem. Ela era muito
nova e era seu primeiro relacionamento sério e depois, como ela disse, ela me viu saindo com a Amanda
da empresa. Não era o que ela pensou que fosse, mas ajudou para ampliar sua dúvida.
Mas, apesar disso tudo e tendo a noção de que eu também errei, ignorando meu coração, sempre que ele
me mandava ir até ela e saber o que havia acontecido, eu a quero de volta.

Minha mãe chega logo após eu vestir uma roupa confortável e se senta comigo na mesa da minha varanda,
onde eu tomo café da manhã.
—Que surpresa, mãe. Pensei que ainda estava em Dubai. — Eu me inclino sobre a mesa e pego a garrafa
de café.
Mamãe sorri, balançando a cabeça. — Ah, não. Eu voltei ontem à noite. — Ela pega uma xícara e estende
para que eu encha de café. — Não me sinto muito à vontade perto da esposa do seu pai e a Alessa está
me evitando o máximo que pode. Achei melhor estar por aqui.
Eu pego uma rosquinha. — A Helena é um amor de pessoa, mãe. — digo, lhe arrancando um rolar de
olhos. — E no caso da Alessa, você precisa dar um tempo. Ela não quer voltar para Itália e ela já tem
dezenove anos, sabe dizer aonde quer viver agora.
—Alessa é mia figlia, não de tuo padre. Mas ela parece escolher sempre ele.

Eu termino de mastigar e engulo. — Meu pai registrou ela, não diga isso. E eu não a culpo por ela
preferir ficar aqui. Seu último namorado era um filho da puta.
Mamãe bate os cotovelos sobre a mesa e massageia as têmporas, com movimentos circulares. — Sì, sei
disso e eu acabei tudo por ela. Mas, ela consegue arrumar defeito em todos que eu namoro.
—Claro. Eles são todos da mesma idade dela. — eu disse, mantendo meu tom baixo.

—Você e os meninos nunca tiveram problemas com isso.

Eu ri. — Somos homens, mãe. Nunca fomos tão apegados à você — abaixo meu queixo para olhar para
ela. — Mas isso não quer dizer que nós nos sentíamos bem, apresentando você e seus namorados aos
nossos amigos, porque não era assim. Eles tinham idade para ser nossos irmãos. Por que você acha, de
verdade, que todos nós viemos morar com o papai?
Ela ficou em um silêncio agoniado. Seu rosto estava franzido e seus olhos focando alguma coisa na
cidade logo abaixo de nós, perdidos em seus pensamentos.
Nem eu, nem meus irmãos já abrimos o jogo com ela sobre isso. Nós apenas dissemos que queríamos vir
para os Estados Unidos, porque era um lugar de oportunidades. Por uma parte, é verdade, mas não foi só
isso que nos fez sair da Itália. Nós amamos nossa mãe e ela é uma mulher maravilhosa, mas ela tem essa
coisa de se relacionar apenas com caras que tem idade para ser seus filhos. Não temos nada contra, mas é
nossa mãe, então fica um pouco estranho e ruim de se aceitar.
Ela limpa a garganta e se endireita em sua cadeira, erguendo o queixo quando diz: — Vou passar um
tempo por aqui.
Oh. Isso me pega de surpresa. Eu ergo uma sobrancelha. — Sério? Você odeia esse país.
Ela me oferece um sorriso amargo. — Sì, molto. — Ela suspira, cansada. — Mas preciso estar perto dos
meus bambini um pouco. Tenho saudades.
Eu abro um sorriso carinhoso para ela. Alessa não vai gostar, mas pode ser uma coisa boa, apesar de que
eu tenho tanta coisa na minha cabeça agora.
Nós terminamos nosso café da manhã e eu a convidei para passar o resto do dia comigo. Não trabalharia
e não posso começar a fazer nada sem ter a tal carta maldita, e não iria hoje no apartamento de Aurora.
Mesmo estando louco para vê-las, eu lhe daria um dia para conversar com a minha filha e se recuperar
dos últimos dois dias, que não foi nada fácil para nenhum de nós.


CAPÍTULO 10
AURORA

É interessante como nada é tão sério e preocupante, quando você é apenas uma criança.
Eu aperto meus olhos para minha filha, que está alheia à mim e meus pensamentos agora. Ela está deitada
de barriga no sofá, com o queixo apoiado nas mãozinhas e os pezinhos levantados, balançando para
frente e para trás, enquanto ela assiste a um desenho animado no iPad que ganhou de presente do Noah,
em seu aniversário. Vez ou outra, ela solta uma risada gostosa, quando os personagens do desenho fala
uma daquelas piadas, que apenas as crianças com menos de cinco anos conseguem achar graça.
—Você falou com ela, não foi?

Eu pisco e olho para Noah, em minha frente, posicionando uma tomate para ser cortada. Suspiro,
colocando o queixo em minha mão. — Sim. Ela não parece devastada, não é?
Noah ri. — Claro que não, Aurora. Ela só tem três anos. — Ele movimenta a faca grande com rapidez e
profissionalismo puro, picando uma tomate enquanto fala comigo. — Nao é como se ela entendesse
alguma coisa do que você disse, mas, foi bom você ter falado com ela, de todo modo. Talvez, da próxima
vez, ela reconheça Giovanni do jeito que ele deve ser reconhecido por ela.
Eu respiro e ponho o queixo na palma da minha mão. — Huum. — Eu digo, vagamente, batendo minhas
unhas da mão livre contra o vidro do meu copo.
Noah percebe que minha mente viajou para longe e fez uma pausa para olhar bem para mim. — Bem,
você parece devastada. — diz ele, e apesar de seu tom de voz ser divertido, a expressão de seu rosto
transborda preocupação. — Você não dormir as duas últimas noites.
Às vezes, eu odeio essa coisa que eu e Noah temos, de sempre sentir quando um está se sentindo mal ou
em apuros. É quase irritante não conseguir esconder dele o que estou sentindo agora.
Eu viro o resto da minha água na garganta e balançando a cabeça, eu confesso. — Não consegui pregar os
olhos. Toda vez que fechava eles, todo pesadelo que eu passei vinha com toda a força. Eu estou me
sentindo uma bosta.
Quando meu amigo olha outra vez para mim, ele para seus movimentos e coloca a faca ao lado. Ele dá a
volta no balcão, passando por trás de mim, abre a porta da geladeira e retira de lá uma tigela de vidro,
com cobertura de chocolate. Ele põe sobre o balcão, na minha frente e planta um beijo em minha têmpora.
— Você não é nenhuma bosta. — diz ele, voltando para seu lugar de antes.
Eu olho para baixo, para o chocolate, lutando contra o desejo de devora-lo todo agora. — Noah, isso é
algum tipo de desafio? Tipo, “tente ignorar o fato de que sua sobremesa favorita está bem na sua frente”?
Ele sacode a cabeça, olhando apenas para o que está fazendo com a faca. — Não. Coma.
Isso me deixa desconfiada. — Você está fazendo o almoço e odeia quando alguém come a sobremesa
antes do almoço.
—Hoje você precisa mais disso que do meu almoço.

Sim, eu preciso muito disso! Estendendo minha mão para o lado, eu abro uma das gavetas embutidas na
ilha e pego uma colher, então eu a encho de cobertura de chocolate e enfio em minha boca, soltando um
gemido quando sinto a textura deliciosa em minha língua.
Noah despeja as verduras picadas dentro de uma panela com água fervente. — O que está sentindo sobre
tudo isso?
Grudo a língua no céu da boca por alguns instantes, encarando a tijela em minha frente. Sem saber,
exatamente, como responder, eu dou de ombros. — Um pouco culpada. — Eu olho para Pérola outra vez.
— Arrependida, talvez.
Noah estala a língua contra o céu da sua boca. — Sabe que não tem culpa de nada, Aurora. Nenhum de
vocês têm.
Engulo o caroço em minha garganta e Noah chega ao meu lado, cruzando os braços e abaixando o queixo
para me encarar.
Ele continua. — Você fez o que achou que era o melhor para você e para a Pérola. Não pode se culpa,
tampouco deixar que ele te culpe, depois de ter passado tudo que você passou. Lembra de todos os
medos, todos os sustos, toda a dor? Você passou por tudo aquilo e conseguiu se levantar e ficar forte. Não
recue agora que a verdade veio à tona. Você nunca deixou de amar ele, e agora sabe que ele não fez
aquilo com você.
—É, eu sei de tudo isso, mas, e ele? — eu largo a colher e retiro a mecha solta do meu rabo de cavalo
dos meus olhos. — Para Giovanni eu sou uma egoísta.
—Ele está com raiva, Aurora. É compreensível, porque ele passou três anos no escuro, mas agora, ele
também sabe o que te levou a fazer o que fez.
Eu abro um sorriso triste. — E o que isso muda? Eu sou apenas a mulher egoísta, que sumiu antes do
casamento, sem nenhuma explicação e ainda por cima, o escondeu sua filha por três anos.
Noah sacode a cabeça, sua voz ficando mais firme quando ele diz: — Isso muda tudo. Eu entendo que ele
esteja chateado porque eu também ficaria, mas ao contrário do que seria a minha reação, ele não surtou.
Pelo menos, não por fora. Ele trouxe você de volta para o país e ele trouxe vocês duas para casa. Eu vi o
carinho nos olhos dele quando ele os pôs sobre a Pérola, e eu vi a dor misturada com algo mais quente
quando ele olhou para você. Admiração, talvez? Culpa, reconhecimento? Caramba, Aurora, seja o que
for que ele sentia por você antes, ainda está lá, apenas lhe dê um tempo para processar tudo isso.
Quando meus olhos se encheram de lágrimas, eu mordi o interior da minha bochecha para impedi-las de
cair. Eu não vi nada disso quando Giovanni olhou para mim. Eu só consegui ver a dor dele e a confusão.
Só pude ver o quanto ele estava magoado. Apesar de ter tentado ficar firme o tempo todo, sem
demonstrar derrota, nem minha culpa e arrependimento, eu estava morrendo aos poucos com isso.
Tudo que eu queria, era abrir minha boca e lhe dizer que sinto tanto, que meu coração parece estar se
quebrando, literalmente; que eu queria poder voltar o tempo e esperar por ele, mas, embora essa vontade
fosse grande, meu orgulho foi ainda maior.
Eu posso ter “fugido”, mas eu voltei e ele já não estava mais disponível.
Com um gemido agoniado, eu arrasto a tigela para o lado e deixo cair minha testa no granito do balcão.
— Nada disso importa mais. Se há três coisas que ele preza muito nesse mundo, é a lealdade, a confiança
e a verdade. No momento em que eu fui embora, eu quebrei todas elas.
—Não. — Com cuidado, Noah segura meu queixo e o levanta, para que eu volte a olhá-lo. — Você foi
enganada. Pare de se culpar, pelo amor de Deus! E se ele preza tanto assim a verdade, ele correrá atrás
de quem armou tudo isso, certo?
Aceno, mas não falo nada. O caroço voltou para minha garganta, e dessa vez, não sou capaz de segurar
uma lágrima, que desliza pelo meu rosto, passando pela minha bochecha e indo direto para meu pescoço.
Noah passa as costas de seus dedos, com delicadeza, enxugando-a. — Ótimo. Tudo vai se resolver.
Recomponho-me, passando a mão em meu cabelo e meu rosto, e limpo a garganta, dando uma rápida
olhada na Pérola, que parece alheia a tudo que estava acontecendo aqui. Não gosto que ele me veja
chorando e por isso, fico agradecida que Hotel Transilvânia esteja deixando-a focada neles.
Puxando a tigela de volta para minha frente, procuro algo para mudar de assunto. Eu abro um sorriso
curioso, vendo Noah mexer em sua panela. — Então… — começo, sugestivamente, para chamar sua
atenção. — Notei que passou as últimas duas noites fora. Lake Patterson tem alguma coisa haver com
isso? Huh?
Ele revira os olhos, mas seus lábios se enrolam em seu sorriso bonito. É claro que Lake tem algo haver
com isso.
Eu rio. — Você sabe, nunca passou sequer duas noites com a mesma garota, quem diria várias noites e
até duas seguidas!? — coloco uma colherada na boca e não espero engolir para perguntar: — Está
apaixonado pela Lake?
Ele alça uma sobrancelha para mim, e volta para sua panela. Eu sorrio mais largamente.
— Cristo! Você está, não é?

Estou a ponto dar pulinhos de felicidade quando ele se aproxima, pega a tijela de cobertura e a devolve
para a geladeira. — Já comeu demais. Agora espere o almoço. — ele diz.
Solto uma exclamação de protesto. — Quê!? Mas eu não precisava daquilo?
—Parece bem melhor, então sente sua bunda aí e espere pelo almoço, de boca fechada. — Ele rosna a
última parte e eu quase sorrio mais com isso.
Decido guardar minha felicidade para mim mesma, por enquanto. Mas só porque eu ainda quero aquela
cobertura de chocolate na sobremesa.
•••
Mais tarde, eu estaciono de frente ao prédio empresarial que abriga meu escritório. Eu não pretendia
ficar até tarde por aqui; planejei vir, assinar o mundo interminável de propostas e contratos que estão
sobre minha mesa e depois voltar para casa e me afundar na cama, abraçada com minha filha e tentar não
pensar em mais nada, que não fosse nós duas.
Logo que terminei meu trabalho na casa da Mel e do Lucca, a Dwell fez uma matéria sobre mim. Eu já
havia aparecido por lá antes, mas agora eu era a designer contratada pelo arquiteto Lucca Lazzari.
Meu escritório era conhecido pelos meus trabalhos, mas trabalhar com ou para um Lazzari, era como
uma alavanca na carreira de qualquer um. Tenho recebido várias ligações desde a semana passada e
recebido vários e-mails com pedidos de contratos e até mesmos convites para entrevistas para blogs de
designers.
Mas, eu ainda estava muito cansada para ter qualquer reunião e até que eu consiga resolver a bagunça que
está minha vida, não serei capaz de me concentrar em nada.
Eu saio do carro e agito meus dedos em meus cabelos, para espantar a frieza nos fios. Frieza,
definitivamente, não se dar bem com meu cabelo. Ele fica cheio de friz e ressecado. Penduro minha bolsa
no meu braço no momento em que um Likan vem em alta velocidade e estaciona, silenciosamente, em
frente ao meu carro.
Ele é negro, seus vidros são fumê, mas não era preciso a porta se abrir para eu saber quem era o dono.
Um carro preto, esportivo e que custa milhões de dólares? Giovanni.
Sua porta se abriu e meus nervos paralisou no lugar, meu coração subiu para minha garganta e o suor
começou a tomar conta das minhas mãos, apesar do clima gelado.
Giovanni não estava com roupas sociais. Ele vestia um par de jeans preto, uma camisa de botões jeans e
tênis branco. Os óculos escuro, aviador e o cabelo bagunçado pelo vento quando ele sai do carro,
conseguiu deixar minha boca seca, como costumava fazer sempre.
Ele veio parar na minha frente e eu prendi a respiração para não sentir seu cheiro, enquanto esperava o
que ele falaria.
O que diabos ele fazia aqui, afinal? Talvez ele esteja pronto para brigar mais e falar sobre a Pérola.
Talvez ele queira me dizer que vai pra justiça para ter a guarda dela...
Quando ele não falou nada, apenas me olhou através do vidro escuro dos seus óculos, eu senti meu corpo
ficar apavorado. — Como soube que eu estaria aqui?
Embora minha voz estivesse normal, eu estava tremendo por dentro. Não seria uma coisa boa brigar na
justiça com Giovanni. Ele era um Lazzari e ele teria as coisas a seu favor, uma vez que eu fui embora sem
dizer nada.
—Liguei para sua casa e seu amigo me disse que estava vindo para cá. — diz ele, com uma calma
irritante.
Ele olha para cima, para a construção que abriga meu escritório e meus olhos vão direto para seu pomo
de adão. Era um ponto que eu adorava beijar.
Cristo! Eu adorava beijar cada ponto dele. E eu não gosto de pensar nisso agora.
Sacudindo a cabeça, eu procuro me concentrar e olho na direção que ele está olhando.
O prédio onde trabalho foi construído por sua empresa há mais de dez anos e o engenheiro foi seu pai.
Como todos os trabalhos da LEA, esse prédio é luxuoso e um bonito de olhar. E esse foi um dos motivos
para que eu o escolhesse. Eu sempre admirei o trabalho dos Lazzari.
—Então — eu chamo sua atenção quando o medo aperta meu estômago. — o que você quer comigo?

Que não seja brigar pela Pérola!


Que não seja brigar pela Pérola!
Giovanni volta a me encarar, sua mandíbula uma contraída com sua expressão muito séria. — Eu quero
que jante comigo hoje.
Quê?
—Como? — Eu não tinha nada na boca, então tenho certeza que me engasguei com minha própria saliva.

—Jante comigo, Aurora. — ele diz, de uma forma mais suave agora.

Engoli em seco antes de falar alguma coisa, e minha voz ainda saiu confusa, incrédula. — Pensei que
você queria falar sobre a Pérola.
Ele levanta a mão e desliza os óculos para cima de sua cabeça, cravando os olhos azuis-escuros em mim.
— Não me entenda mal; eu quero e eu vou conhecer minha filha de forma decente. Apenas quis lhe dar
um tempo para conversar com ela, mas eu pensava nela o tempo todo. Ela é minha filha e todos têm que
saber disso, mas agora, eu preciso consertar outra coisa. — ele pisou mais perto de mim, forçando-me a
inalar seu cheiro forte e delicioso.
Mesmo tentada a dar um passo atrás, eu permaneci parada e ergui o queixo para encará-lo. — O que,
exatamente, você quer consertar?
—Nós dois. — respondeu depressa. — Caímos em uma armação filha da puta e precisamos sentar com
mais calma e falar sobre isso.
Era uma boa ideia. Eu também queria conversar com ele com mais calma.
Hesitante, eu assinto. — Eu quero muito falar com você, sem a tensão de algo para ser revelado.


CAPÍTULO 11
AURORA



—Está tudo certo com ela, não é? — eu pergunto para Clarice, quando abro a porta do quarto da Pérola
para dar uma última olhada nela.
Já passam das sete e ela já está adormecida, aparentemente muito bem, mas a preocupação ainda forte
dentro de mim. Nas últimas duas noites, ela dormiu comigo, na minha cama e eu me sinto um pouco mal
de ter que sair hoje e não ficar com ela.
—Não se preocupe tanto. — Clarice sorri para mim. — Ela está bem e ficará assim até você voltar.
Prometo que qualquer coisa, eu ligo para você.
Eu balanço a cabeça, assentindo, com meus olhos ainda na minha bebê, encolhida sob o edredom. Sem
poder me controlar, eu piso para dentro do quarto e inclino sobre ela para beijar seus cabelos. Após uma
sessão pequena de beijos pelo rostinho adormecido, eu me obriguei a sair, mas não antes de fazer Clarice
repetir tudo que eu havia dito a ela.
Quando cheguei na recepção do meu prédio, vi o mesmo Aston Martin Vanqish, que vi na casa do Lucca,
estacionado. Eu parei, franzindo a testa, mas então eu deixei meus lábios se puxarem um pouco para o
lado, quando a porta do motorista de abriu e Giovanni saiu.
Ele deu a volta no carro e subiu para a calçada. A luz do poste brilhava contra ele, mostrando-me o
quanto ele está bom esta noite. Seu terno é todo composto com peças pretas e sua camisa tem os dois
botões de cima abertos, deixando suas clavículas amostras. Ele estava bem… ele. Como sempre.
—Boa noite. — eu digo quando saiu do hall do prédio e alcanço a calçada.

Giovanni me oferece um cumprimento com a cabeça e seu sorriso de lado, que derrete todo meu interior.
— Boa noite. — Ele abre a porta do seu Aston e me ajuda a entrar.
Quando estávamos juntos, ele fazia isso sempre. Não importava o lugar, a hora, ou nossas companhias,
ele sempre abria a porta para que eu entrasse e saísse. "É um modo de me certificar que você sempre vai
voltar e só estará sentada no passageiro dos meus carros." Era o que ele dizia, quando eu falava que eu
tinha mãos e sabia abrir a porta de um carro.
Eu me ajeitei no banco e o vi andando pela frente do carro, com toda confiança e postura de um homem
poderoso e, irritantemente, sexy. Ele estava agindo como se estivesse prestes a ganhar um prêmio,
enquanto eu estava tentando reprimir a tremedeira, que se instalou por todo o meu corpo. Estava nervosa
e ansiosa por ter que ficar outra vez tão perto dele, durante as próximas horas.
No percurso, ele estava em silêncio, apenas concentrado na estrada. Ele não me olhou, nem fez menção
para isso, mas todo esse silêncio estava me sufocando, então eu retirei um cacho do meu cabelo dos
olhos e limpei a garganta, antes de falar. — Aonde jantaremos?
Giovanni procurou pelos meus olhos, mas logo voltou a atenção para o trânsito cheio de LA. — Você vai
ver. — Foi tudo que ele disse.
Okaay.
Sem saber mais o que dizer para puxar assunto, eu resolvo ficar calada e quieta. Eu olho para fora da
janela, vendo as coisas passarem como vulto, com a velocidade que esse carro consegue atingir. Há
quatro anos, eu estaria com medo dessa rapidez, mas depois que conheci Giovanni, andar em carros
assim, passou a ser uma coisa normal para mim.
•••

Eu devia ter imaginado o lugar para onde estávamos indo. Se eu parede realmente para pensar, teria sido
bastante óbvio.
Giovanni é o tipo de cara que se apega às coisas que, de alguma forma, marcaram um momento de sua
vida e ele vivia falando que nosso primeiro jantar juntos, foi o melhor que ele já teve. Tanto, que nós
voltamos no mesmo restaurante, várias vezes no tempo em que ficamos juntos.
O Rosa Mexicano era o lugar perfeito para quando íamos comemorar algo, quando estávamos felizes ou
tristes, quando ele tinha algo para me dizer e sabia que eu não gostaria, ou quando, simplesmente,
queríamos comer fora.
Eu não pude evitar que meus lábios se enrolassem em um sorriso quando Giovanni me ajudou a sair do
carro e meus olhos chegaram ao nome Rosa Mexicano escrito em letras grandes e neon rosa claro. Pelo
menos, o exterior não havia mudado desde a última vez.
Nós entramos e o cheiro familiar de nachos me deu as boas-vindas. Eu estava tão extasiada por estar
nesse lugar de novo, junto com Giovanni, que nem tremi quando sua mão alcançou a parte baixa das
minhas costas.
Por dentro, o restaurante tinha pisos de madeiras e decoração bem no estilo mexicano, mas bastante
diferente de antes. Não estava lotado, mas nos sentamos em uma mesa um pouco afastada dos demais.
Iríamos conversar e precisaríamos de total privacidade.
Depois de escolhermos nossa comida e o garçom, supersimpático, se foi para entregar nosso pedido na
cozinha, Giovanni, finalmente, puxou assunto.
—Me fale sobre a minha filha. — ele pede, colocando seus olhos em mim.

Eu abri um sorriso, aliviada por ele começar com um assunto leve e que eu me sinta à vontade. Eu
poderia passar horas falando sobre a Pérola com ele. — Ela é perfeita. — eu digo. — Ela é uma criança
carinhosa e feliz. Ela é curiosa com coisas que ela nunca viu e é tímida com quem ela não conhece, mas
com o tempo, ela acaba se abrindo e brincando com as pessoas. Porém, tem uma personalidade forte. Se
ela não for com a cara de alguém, não tem brincadeira no mundo que a faça mudar de ideia.
Como aconteceu com o cara que eu estava saindo, há sete meses… Mas eu não preciso falar sobre isso
com ele.
Eu continuo. — Ela é apaixonada por rosquinhas. De preferência as com cobertura de morango, como
você.
Ele sorri, meneando a cabeça. — Por isso você estava na Twinke's naquele dia.
Eu confirmo. — Sim, foi. Você sabe que não sou muito fã dessas coisas. Mas, se eu deixar, a Pérola come
todos os dias e por isso, eu precisei impor um limite.
—Limites de rosquinhas? — ele perguntou, com a testa franzida e o tom divertido.

Confirmo, novamente. — Sim. Ela só pode comer rosquinhas duas vezes por semana, assim como todos
os outros doces que ela adora comer.
Giovanni ri, um sorriso largo e lindo, que eu amava ver e ouvir quando estávamos juntos, e eu não
consegui conter meu próprio riso também. Ele pega a garrafa de vinho que o garçom nos traz e enquanto
serve em nossas taças, ele pede: — Algo mais que eu precise anotar para não ir de contra a você?
Ele estava querendo saber sobre minhas regras para não quebrar alguma sem querer quando estiver com a
Pérola? Ele, realmente, está me pedindo isso?
Eu dou de ombros quando tomo um gole do meu vinho. — Não há muita coisa, além dos limites básicos.
Mas, como ela tem problemas respiratórios, seus limites são um pouco mais rígidos que os das outras
crianças.
Ele assente, me olhando, interessado. — Como o que, por exemplo?
—Ela não pode correr muito; não pode pular cordas… Ela não pode fazer nada que a faça se cansar, e
como ela só tem três anos, a maioria das brincadeiras das crianças, a deixa cansada. Por isso, precisa
estar o tempo inteiro com um olho sobre ela, caso ela tenha uma crise, ou apenas comece a hiperventilar.
Os olhos azuis de Giovanni assumiu um brilho preocupado e doente, enquanto ele me ouvia falar. Eu
sabia o quão difícil era ouvir essas coisas, porque foi difícil para mim também, quando a médica me
disse todos os limites que minha filha teria que viver dentro.
Para tentar espantar o ar ruim que se instalou sobre nós, eu forcei um sorriso e continuei. — Mas, nós
procuramos fazer coisas que ela gosta e pode fazer, como: ir ao zoológico; Pérola ama ver o leão. Ela
também gosta de ir ao parque aquático, a pracinha, que fica perto da nossa casa... Claro, sempre conosco
vigiando ela, mas, ainda assim, ela se diverte como uma criança deve se divertir. Ela também gosta de
assistir filmes infantis, então, sempre que posso, faço uma sessão cinema com ela.
Giovanni escutou tudo com atenção e curiosidade. Ele tentou disfarçar, mas pude notar as pequenas
caretas que ele fazia sempre que eu dizia “nós”, porque ele sabe que significa eu e o Noah, mas ele deve
reconhecer o que Noah fez pela Pérola, porque ele não disse nada, apenas ouviu.
Eu continuei lhe dizendo sobre algumas coisas dela até que nosso jantar chegou e nós ficamos em silêncio
para começar a comer. E, nesse breve tempo silencioso, eu percebi que, nesses três anos, eu nunca
imaginei que nós poderíamos sentar e conversar outra vez.

•••

O canto da minha boca fica melado quando eu dou uma mordida na tortilha afogada no molho de queijo.
Eu levo meu polegar até o local e o limpo, passando a língua logo em seguida, para me certificar que não
ficaria nada ali.
Sob meus cílios, eu posso ver que Giovanni não está mais comendo; ele está me observando agora e só
de imaginar seus olhos neste momento, algo se acende no meu estômago.
Esperei até engoli para poder perguntar: — Por que não me ligou?
Eu havia dito quase tudo o que eu fiz quando fui embora, e agora era sua vez. Eu precisava saber o
motivo dele não ter ligado para mim ou me procurado.
Giovanni inala profundamente e estica seus ombros largos e perfeitos. Seus olhos perfuraram os meus
quando ele falou. — Quem disse que eu não fiz isso?
—Bom, — eu abri um sorriso falso e dei duas tapinhas na minha bolsa. — meu celular não tocou. Pelo
menos, não com uma ligação sua.
Algo desconhecido passou em olhos e sua expressão se contraiu. — Como eu havia dito: meu celular
quebrou naquele dia. Mas, após perceber que você tinha ido embora, eu peguei o celular da primeira
pessoa que vi na minha frente e liguei para você. Acontece que estava desligado. — ele vira todo o
líquido da taça em sua boca e a coloca de lado. — Eu fiquei desesperado, então procurei saber onde
estava. E achei.
Franzi a testa. — Como?
Meu celular estava desligado, porque eu precisava da carga que restava para quando chegasse no Texas,
para poder ligar para Noah e minha passagem foi comprada no nome do Noah, então, não tinha como ele
saber. Ele deveria ter pensado que eu fui para Chicago, onde minha família vive.
Mas quando ele respondeu, seu jeito auto-confiante assumiu e eu podia ver a frase "não sou burro" em
sua expressão. — Sabia dessa sua "ligação" com o Ross, Aurora. Ele seria a primeira pessoa que
procuraria e eu deduzi que, já que estava, aparentemente, fugindo, você não usaria seu nome para nada,
então procurei por passagem no nome de Noah Ross, e advinha o que eu encontrei?
Ah, sim. Claro. Ele era Giovanni Lazzari, a porra da mente mais brilhante e pensativa que eu já conheci.
—Ross não estava em LA, portanto, não tinha como ele ir embora da cidade. — disse ele, com a voz
baixa e rouca.
Que homem é esse?
Eu aceno, cautelosa. — Certo. Entendi. Mas depois, eu mantive meu celular ligado. O que houve com o
“ligo mais tarde”, ou com o “insistir”? — Eu me inclinei sobre a mesa, para ficar mais perto dele,
quando fiz a pergunta que me atormentou todo esse tempo. — Me diz, por favor, o por quê, uma semana
depois, eu vi você com a Amanda? Desculpe, mas isso foi bem convincente para mim.
Ele balança a cabeça.
—Está mais que claro que eu tenho bastante coisas para falar ainda, assim como você deve ter. E vamos
falar. Eventualmente, colocaremos tudo para fora. Passamos por um inferno imenso esses três anos e eu
ainda não me conformei de termos caído numa armação fodida, mas não é sobre isso que eu quero falar
hoje.
Quando seus lábios se pressionaram em uma linha fina, meus olhos caíram para eles e minha respiração
falhou. Eu voltei para seus olhos. — Pensei que iríamos falar com calma, sem revelações. — disse eu,
quase arfante.
Os olhos azuis caminham por cada cantinho do meu rosto, como se estivesse matando a saudade. Eu não o
julgo, porque eu venho fazendo isso desde que o reencontrei.
—A única coisa que eu quero falar é que eu quero você.

Não existe mais ar ou batimentos cardíacos em mim agora. Merda! Minhas pernas não sabem nem o que
significa parar de tremer e eu estou sentada.
Eu quero abrir minha boca e lhe dizer para me pegar outra vez, mas eu não posso falar porque eu não sem
verbalizar nada agora. E também porque eu sei que três anos de sentimentos ruins não são apagados
assim, de uma hora para outra. É difícil esquecer tudo assim. Portanto, eu apenas o deixo continuar.
—Eu quero você, mas eu sei que te odiei tempo demais para saber que não será uma coisa fácil. Mas, se
você ainda me quiser, podemos começar do zero.
Em seus olhos, eu vi a esperança. A mesma esperança que meu coração desenvolveu quando descobri a
verdade. Mas ele estava certo: passamos por um inferno e ainda tínhamos muito o que falar.
E se, eventualmente, descobrirmos coisas sobre esses últimos três anos que não conseguiremos
sustentar? E se for pesado demais para nossa cabeça?
Sinceramente, eu não sei se vou aguentar perdê-lo outra vez.

•••

Giovanni estacionou em frente ao meu prédio e eu soltei o cinto de segurança, mas não fiz menção de
sair.
O silêncio tomou conta do interior do carro. Tudo que podia ouvir era o trânsito, ainda muito
movimentado da avenida principal de Downtown, há duas quadras dali e claro, as batidas frenéticas do
meu coração.
Incapaz de ficar calada por mais tempo, eu resolvi perguntar: — Quando você virá se apresentar para a
Pe… sua filha?
Giovanni riu. — Quando você achar melhor.
—Amanhã está ótimo para mim. Não trabalho aos domingos, então, você pode vir. Mas só depois das dez,
tudo bem? Pérola costuma acordar tarde nos dias que não têm aula.
Ele balança a cabeça, confirmando. — Estarei aqui amanhã, então.
Eu estava falando de uma forma casual, mas, na verdade, por dentro eu estava tão ansiosa, que minha
deusa interior estava rodopiando encima do meu estômago, o fazendo de cama elástica. Eu sonhei com
esse momento. Ficava horas fantasiando como seria essa cena e, finalmente, verei amanhã.
Estico meus lábios fechados, em um sorriso amarelo para disfarçar um pouco minha alegria. Quando o
silêncio volta, eu passo alguns instantes encarando o perfil bonito de Giovanni.
O interior do carro está escuro, mas a luz da lua invadiu através dos vidros das janelas e tomou parte do
seu rosto, causando um efeito sombrio nele. Os olhos estão cobertos pela escuridão agora, mas eu sou
capaz de ver sua mandíbula e parte de seu pescoço; os meus dois locais favoritos de arrastar os dedos.
Dobrando minha perna esquerda sobre o banco, eu viro meu corpo para ficar de frente para ele. — Você
acha mesmo que isso vai dar certo? — eu perguntei, baixinho.
Sua cabeça inclina para trás no encosto de cabeça do seu banco e ele olha para mim. Eu ainda não posso
ver seus olhos, mas toda minha pele se arrepiou. — Se tentarmos de verdade, sim. Eu acho. — diz ele,
seu tom é quase um sussurro, como se não quisesse que ninguém passasse por perto e escutasse. — Eu
reprimi meus sentimentos por você, porque achei que você tinha fugido para longe. Ao longo desses três
anos, eu vivi o pesadelo de não ter sido o suficiente para você; de ter que todos os dias, mesmo não
querendo, deitar na cama e sentir sua falta e imaginar que outro cara foi o suficiente para você. Isso
acabou comigo. — no final da última frase, sua voz ficou ainda mais baixa, como se tivesse ficado difícil
de falar e minha garganta apertou. — Mas agora que eu sei a verdade, eu não posso mais ficar parado e
ver você ir de novo. Eu quero tentar outra vez, porque eu ainda amo você demais, Aurora.
O interior da minha garganta estava tão apertada que eu tive medo de desmaiar com a dor que se instalou
nela. Eu também vivi um pesadelo, lutando para reprimir meu ciúme, sempre que via sua foto estampado
na capa de alguma revista de fofoca, ao lado de mulheres lindas, modelos e ricas. Ou da Amanda.
Como assim ele não pode ficar parado, me vendo ir de novo? Eu queria perguntar, mas ao invés disso, eu
falei outra coisa.
—Não será uma tarefa fácil. — sussurrei para ele, porque o nó da minha garganta não permitia mais.

—Eu sei. — ele sussurrou de volta. — Temos três anos de merda e um orgulho pesado em nossas costas.
Por isso, sugeri para começarmos do zero. Por que acha que eu te levei ao Rosa Mexicano?
Um sorriso começou a se espalhar lentamente na minha boca, mas eu não sei se ele foi capaz de ver,
porque o meu lado estava todo coberto pela escuridão.
O nosso primeiro encontro. Ele me levou ao Rosa Mexicano em nosso primeiro encontro, porque ele
adorou quando eu lhe falei que sou parte mexicana.
—Eu não vou lá desde a última vez que fomos juntos. — ele confessou.

Oh. Bom. Eu não sei o que faria agora se soubesse que ele levou outra mulher no nosso restaurante. Não
era justo.
Fechando os olhos por uns breves segundos, eu me lembrei da noite do nosso primeiro encontro. Eu era
apenas uma garota deslumbrada, com o cobiçado Giovanni Lazzari. Não acreditava que aquilo estava
acontecendo, que ele havia me chamado para sair. Achava que estava vivendo um sonho, até que ele
estacionou em frente ao prédio onde eu vivia e me deu um beijo de despedida, no canto da boca. Aquilo
foi como um beliscão, para certificar de que eu não estava sonhando. Nem sei se aquilo é considerado um
beijo, mas, ainda assim, foi o melhor primeiro beijo da minha vida.
Quando abri os olhos, ele ainda tinha a cabeça encostada no banco e ainda olhava diretamente para mim.
Eu tirei a carta da minha bolsa e a coloquei sobre sua perna. Sem poder controlar meus movimentos,
minha mão subiu e segurou um lado do seu rosto. Ouvi quando um gemido saiu por entre seus lábios, e
isso me deu ainda mais coragem. Impulsionei meu corpo para frente, inclinando-me sobre o console e
pressionei meus lábios no canto de sua boca. Eu demorei mais que o necessário, minhas mãos tremiam e
meu coração estava disparado. Giovanni não se mexeu e eu fiquei grata por isso. Talvez se ele me
tocasse, ou fizesse algo para me beijar de volta, nós acabaríamos comigo em cima dele, meu vestido em
meus quadris e seu pau dentro de mim. Era sempre assim que acontecia quando se tratava de nós dois, a
sós.
Eu afastei um pouco, mas apenas o suficiente para roçar a ponta do meu nariz no dele. — Amanhã, depois
das dez. — eu avisei, em um sussurro e sai do carro. Não sei como, mas mesmo com tudo tremendo
dentro de mim, eu consegui entrar no prédio, com meu salto quinze, sem tropeçar uma única vez. Não
olhei para trás, apenas andei até o elevador e agradeci aos céus por ele já está à espera de alguém.
Quando as portas de metal se fecharam, eu encostei na parede gelada e fechei os olhos. Eu precisava
parar de tremer, mas isso parecia impossível agora. Meu corpo ainda o desejava de uma forma tão bruta,
que estou com medo de olhar o estado da minha calcinha agora. Com um gemido reprimido, eu agarro a
barra de ferro, abaixo do espelho do elevador e respiro fundo algumas vezes.
Eu só precisava do meu chuveiro com água gelada para recuperar meu orgulho e amor-próprio.

CAPÍTULO 12
GIOVANNI



Eu enrolo uma toalha ao redor dos meus quadris quando saio da cabine do chuveiro, em seguida, passo as
mãos pelo cabelo, penteando os fios molhados para trás.
O envelope vermelho estava lá, sobre minha cama, capturando meus olhos para ele assim que saio do
banheiro. Eu passei a noite encarando essa carta, procurando na minha cabeça quem seria capaz de
escrever tão parecido comigo. Mas não consegui pensar em ninguém. A letra era quase idêntica à minha,
de uma forma que até me enganaria se não fosse por algumas diferenças mínimas. Tem que ser alguém
profissional ou que treinou bastante para isso.
Como tudo leva à Amanda, provavelmente, ela deve ter pago alguém para fazer isso. Porque ao contrário
da minha letra, que é cursiva, a dela é reta e muito bem arredondada.
Inclino-me sobre a cama, apoio uma mão contra o colchão, enquanto a outra eu estico e recupero a carta.
Seu envelope já está amassado, com orelhas desgastadas, pelo tempo que tem. Eu odeio pensar quantas
vezes Aurora o pegou para ler, o quanto ela sofreu por causa disso. Eu preciso descobrir quem fez isso,
de verdade e eu não vou me importar se for alguém muito próximo de mim.
Seja quem for, me tirou o direito de ficar com a mulher que eu amo e de ver minha filha nascendo, de
estar ao lado dela nos seus primeiros anos de vida.
Eu alcanço meu celular na mesinha de cabeceira, disco o número que eu quero e o levo para orelha. Eu
espero a pessoa atender.
—Ethan, estou com a carta. — eu digo. — Preciso da sua ajuda.


•••

Eu peço ao porteiro do prédio que avise a Aurora que eu estou subindo e sigo para o elevador. Eu não
devia estar nervoso porque vou ser apresentado a minha filha, de apenas três anos de idade, mas eu estou.
Minhas mãos estão soando enquanto eu seguro a sacola do Twinke's, com rosquinhas para ela.
Eu precisei ligar antes para saber se ela ainda tinha um dos dois dias da semana e Aurora disse que não,
mas abriu uma exceção.
Eu sou bom com crianças, ela vai gostar de mim. Eu estava repetindo isso várias e várias vezes na
minha cabeça. Eu podia não ter visto minha filha crescer esses anos, mas eu acompanhei o crescimento
da minha sobrinha de perto.
A Mia me adora, e a Pérola vai, também. Eventualmente, ela vai.
Pelo menos, eu espero que sim.
Quando as portas do elevador se abriram, a porta do apartamento em frente se abriu. Aurora saiu, e tinha
um pequeno sorriso no rosto, mas ela parecia tão nervosa quanto eu. Seu cabelo está molhado,
provavelmente, de um banho e o modo que ela o jogou para cima do ombro, como se tivesse passado
apenas os dedos entre eles para penteá-los, apressadamente, me fez querer tocá-lo.
Eu sempre amei tocar seus cabelos. Mas hoje não era sobre mim e ela, era sobre nossa filha. Então, eu
reprimi esse desejo de erguer a mão e agarrar suas mechas molhadas e dei um passo para fora do
elevador.
—Oi. — ela suspirou. Ela também estava afetada, assim como eu. Ela empurrou a porta mais aberta com
as costas, dando-me passagem para entrar.
—Oi. — Eu sussurrei ao passar por ela. Eu fui capaz de sentir o cheiro de sua loção de banho; ela cheira
fodidamente bem, como sempre.
Meus olhos encontram Pérola encolhida no sofá, segurando um tablet – que é maior que seu próprio
rostinho –, e com os olhos arregalados em minha direção, olhando-me cautelosamente. Ela é tão linda,
tão perfeita. Eu posso sentir meu peito ficando leve só de olhá-la. Eu nem posso imaginar como vai ser
quando eu pegar ela nos braços, ou quando ela me chamar de pai pela primeira vez.
Eu provavelmente morrerei aos vinte e nove anos e a causa da morte será felicidade.
Eu mudo a sacola de mão, para enxugar minha palma no meu jeans. Ela vai gostar de mim! Ela
vai! Repito novamente. Eu olho para trás, para Aurora e ela me dá um sorriso de incentivo e um aceno
com o queixo, dizendo para me aproximar e eu faço.
Com passos curtos e cuidadosos, eu me aproximo e sento-me ao lado dela no sofá, mas não tão perto. Ela
ainda tem os olhos arregalados em mim, observando cada movimento meu. Ela olha para Aurora, para
mim, em seguida, para a mãe de novo, como se quisesse saber o que estava acontecendo ali. As maçãs de
seu rostinho estavam bastante rosadas. Ela estava com vergonha. Ela é linda quando está com vergonha.
Eu também olho para Aurora, pedindo ajuda. Ela está com os braços cruzados, olhando para nós dois,
com um sorriso no mix de divertimento e expectativa. Ela se aproxima e senta na mesinha de centro, de
frente para Pérola.
—Amor, lembra quando a mamãe falou que você tinha um papai e que ele queria muito conhecer você? —
ela pergunta, sua voz é amorosa, assim como seus olhos agora.
Pérola assente, bem devagar e olha para mim de soslaio. Eu riria, caso não estivesse tão nervoso.
Mas Aurora não teve esse problema. Ela abriu um sorriso lindo e olhou para mim. — Esse é o seu papai,
meu amor. — diz ela, então tira os olhos do meu e volta para Pérola. — Ele veio conhecer você.
Pérola não diz nada, ela apenas se encolhe mais, quase se fundindo com o sofá. Ela não olha mais para
mim, seus olhos continuam em Aurora.
Aurora puxa uma mecha molhada de seu cabelo da frente dos olhos e a coloca atrás da orelha. — Lembra
o que nós combinamos? Para quando ele voltasse aqui? — ela pergunta, com carinho.
Eu olho para a Pérola, curioso e a vejo assentir de novo.
—Você pode fazer agora. — Aurora diz a ela.

Pérola olha para mim por alguns instantes antes de largar o tablet. Apoiando as duas mãozinhas no sofá,
ela se levanta e antes que eu perceba o que ela está fazendo, seus bracinhos enrolam ao redor do meu
pescoço. Ela está me abraçando?
Um riso trêmulo sai da minha boca quando eu vejo que é isso mesmo que ela está fazendo. Ela está me
abraçando do jeito mais forte que ela consegue, então eu retribuo. Quando meus braços passam ao redor
do seu corpinho pequeno, é como se todos os meus órgãos estivessem derretendo dentro de mim, e um
alívio frio e bom pra caralho tomasse conta do vazio que meu interior se tornou.
Eu cheiro seu cabelo enquanto a seguro comigo. Ela cheira a chiclete de morango e loção de bebê. E ela
parece tão frágil, também. Eu não percebi que eu estava chorando, até que uma lágrima alcançou minha
boca.
Quando ela se afastou, eu lamentei. Eu não queria soltá-la, porque são três anos de atraso aqui. Três
anos, não três meses. Mas eu a deixo se afastar um pouco e enxugo meu rosto.
Pérola começa a agitar as perninhas para fora do sofá e quando Aurora a ajuda descer, ela corre até um
canto da sala, onde estão alguns brinquedos. Ela pega um urso de pelúcia, que quase do seu tamanho e
traz para mim, o empurrando no meu colo. — Sr. D. — ela diz, apontando para o urso.
—O nome dele é sr. D.? — eu pergunto, após me recompor. Eu sou bom com crianças e eu posso ser bom
com minha filha, mesmo tendo acabado e conhecê-la de verdade. Eu seguro o sr. D. para olhar pra ele e
sorrio, vendo que se trata do Drácula de um desenho animado.
Pérola coloca uma de suas mãozinhas no meu joelho e fica na ponta dos pés para segurar um dos dentes
longos do urso. — Ele é meu. — ela diz para mim.
Eu olho para o urso, faço uma careta, então olho para ela. — Mas ele é feio! — brinco.
Ela sacode a cabeça. — Ele é meu. — repete. Ela o pega da minha mão e o abraça com força.
—P, por que você não mostra a ele seu quarto? — Aurora pergunta. Ela está sorrindo, mas eu posso notar
o toque emocionado em sua voz.
Pérola coloca o sr. D sentado ao meu lado no sofá e pega minha mão. Eu sigo ela pelo corredor até seu
quarto. Ela não alcança a maçaneta, então ela olha para mim, com expectativa e eu abro pra ela. Então ela
começa a me mostrar cada cantinho do seu quarto. Ela me mostra sua cama primeiro, depois seu armário,
e por fim, todos os seus brinquedos. Um por um, me apresentando o nome de cada boneca que ela tem –
que não são poucas.
Quando ela puxou uma cadeirinha rosa, ela olhou para mim, depois para cadeira, então para mim outra
vez, provavelmente, pensando se eu caberia sentado ali. Mas parece que ela percebeu que não daria
certo, então ela colocou a cadeira de volta para baixo da mesinha, sentou-se sobre suas pernas, no tapete,
que cobria o chão de todo quarto e bateu com a mão na frente dela, duas vezes. — Senta? — ela pediu e
balançou a cabeça, como se tivesse dizendo “sim, você tem que sentar”.
Eu faço, cruzando as pernas sob mim, e aceito tudo que vem a seguir. Então nós passamos o dia inteiro
brincando, com cada brinquedo existente nesse quarto. Brincamos de pentear os cabelos das bonecas,
demos comidinha para elas; Pérola foi minha médica, me obrigando a tomar remédios imaginários e
vacinas; nós também brincamos de cozinhar. Após o almoço de verdade, que Aurora pediu em um
restaurante próximo, nós brincamos de chá da tarde com as bonecas e ursos de pelúcias, depois,
assistimos ao filme que tem o sr. D. – segundo Aurora, é seu filme favorito e ela está sempre assistindo; e
também, pintamos quadros com tintas coloridas e gliter. Muito gliter, de todas as cores.
Só quando deu seis e meia da tarde, Aurora a levou para tomar banho. Então eu aproveitei para arrumar
seu quarto, organizando as coisas fora do lugar e lavei os pincéis que sujamos. Quando as duas
apareceram de novo, Pérola estava vestida com um pijama do Hotel Transilvânia e pantufas da Minie.
No jantar, Aurora fez sanduíches e nós comemos enquanto Pérola fazia perguntas sobre cada coisa que
tinha dentro do pão. Pelo que eu notei, ela não é muito chegada a verduras, assim como eu.
Terminamos e eu mal tive chance de levar meu prato para a pia, porque Pérola pegou minha mão e me
arrastou para seu quarto, novamente. Eu a coloquei em sua cama e ela me pediu para deitar também,
então ela se deitou no meu peito.
—Aqui. Ela só dorme com isso. — Aurora me entrega um livro de contos infantis.

—Sr. D, mamãe!? — Pérola pede e quando Aurora o coloca ao seu lado, ela sorri sonolenta.

Aurora se inclina e beija sua bochecha. — Eu amo você, P. — ela sussurra.


—P ama você, mamãe!

Quando Aurora sai, eu começo a ler uma das histórias, até que eu sinto sua respiração pesada em meu
pescoço. Eu fecho o livro e o coloco sobre a mesinha de cabeceira ao lado da cama, em seguida, com
cuidado, eu a retiro de cima de mim e a coloco deitada em seu travesseiro. Antes de me levantar
totalmente, eu beijo sua testa e seus cabelos. Eu não quero deixá-la agora, mesmo tendo passado todo o
dia com ela. Meu peito está apertado quando eu saio do quarto e lhe dou uma última olhada, antes de
encostar a porta.
Aurora está no início do corredor, me observando quando eu me viro. Seus lábios estão apertados,
tentando reprimir um sorriso. — Exausto? Ela tem energia para acabar com qualquer um.
Eu sorri e balancei a cabeça. — Foi o melhor dia da minha vida. — eu digo, apesar de que meu corpo
estava derrotado pelas horas que tive que ficar sentado no chão no chá da tarde e quando ela era minha
médica.
Aurora ri. — É, ela também tem esse dom de encantar qualquer um.
Sim. Eu quase falei para ela que eu não era qualquer um, eu era seu pai, mas eu sabia o que ela estava
dizendo. Minha filha era maravilhosa e eu não vejo a hora de ter outro dia assim com ela.
—Vem aqui. — Aurora fez um gesto com a cabeça, em direção à cozinha e eu a segui, sem questionar.

Observei enquanto ela pegava um pano e molhada a ponta, então ela se aproximou, ficando apenas a um
dedo de distância de mim. — Você está todo sujo de tinta e glitter rosa. — ela riu e levantou o pano para
meu rosto e começou a limpar.
Minha respiração tinha feito uma pausa com seu toque, mas eu não era o único. Eu podia ver que ela
também estava prendendo a respiração e sua mão estava um pouco trêmula. O ar em torno de nós dois
também estava parado e quente. Muito quente. Eu desci meus olhos para sua boca entreaberta, no mesmo
momento que ela olhou para a minha. Eu só precisava me inclinar um pouco e nós estaríamos nos
beijando.
Ela desceu o pano para meu queixo, depois para meu pescoço, mas enquanto ela esfregava para tirar a
tinta de lá, ela, levemente, raspou o seu polegar sobre meu pomo de adão. Eu engoli com força e minhas
mãos subiram e agarraram seu rosto pequeno entre elas. Ela arfou quando deixei meus lábios a
centímetros dos seus.
—Eu vou beijar você, de verdade agora. — eu digo pra ela.

Aurora segura em meus ombros e revira os olhos. — Pelo amor de Deus! Eu estava esperando por isso.
Um som parecido com um riso nervoso escapou da minha garganta, mas eu não tenho certeza que eu
realmente ri. Eu dou alguns passos para frente, levando Aurora comigo, até que ela está com as costas
contra a ilha da sua cozinha. Eu posicionei sua cabeça do jeitinho que eu queria e abaixei minha boca na
sua.
Ela abriu para dar passagem a minha língua e quando nossas línguas se uniram, nós dois gememos. O seu
sabor ainda era... extremamente delicioso, do jeito que eu me lembrava. Todo meu corpo se ascendeu ao
sentir a maciez perfeita de sua língua.
Porra. Foram três anos sem sentir isso; Sem me sentir dessa forma. Era o caralho de melhor beijo que eu
já experimentei e eu simplesmente cheguei a abrir mão dele.
Aurora segura a parte de trás da minha cabeça e aprofunda mais o beijo. Apesar de estar quase como um
bêbado, eu sou capaz de sentir seus mamilos duros contra meu peito quando ela se ergue na ponta do pé
para lamber minha língua.
Eu quero que ela saiba que tem esse mesmo efeito em mim ainda, então eu enrolo um braço em torno de
sua cintura e a puxo mais contra mim. Quando me esfrego contra ela, sua boca se abre com um gemido e
eu chupo seu lábio inferior. Eu desço minha boca, mordiscando seu maxilar, e seu pescoço. Eu realmente
amo seu pescoço.
— Cristo do céu! — ela arqueja quando eu chupo a parte sensível de seu pescoço, que eu sei que lhe
excita. Ela realmente ama quando eu faço isso, também.
Ela engancha seus dedos nos cabelos da minha nuca e os puxa, retirando meu rosto de seu pescoço e me
olhando nos olhos. Eu gosto da forma que a ponta do seu nariz e ao redor de sua boca estão vermelhos.
Ela inala fortemente, procurando por ar. — E aquela coisa sobre termos orgulhos demais? — ela
sussurra.
Eu agarro em torno de seu queixo com apenas uma mão e raspo meus lábios nos dela. — No momento, o
meu não é nenhum pouco maior que meu tesão por você.
Ela fica na ponta do pé e puxa meu lábio inferior entre os dentes. — Oh. Eu também estava esperando por
isso…

CAPÍTULO 13
AURORA


Todo o meu maldito corpo desejava por ele. Não havia mais como ficar negando isso. Então, eu peguei
sua mão e o arrastei pelo corredor e o coloquei para dentro do meu quarto.
A luz estava acesa, então eu estendi a mão para o interruptor e a apaguei, então fechei a porta do quarto.
—Não estou vendo você. — Giovanni falou.

Eu sorri. — Essa é a intenção hoje. — eu disse, indo até onde eu o deixei.


Minhas mãos chegaram em seu peito firme e ele segurou me segurou pela cintura, arrastando-me mais
para perto.
—Mas eu quero ver você. — ele sussurrou, e isso causou um arrepio que passou pela minha espinha e se
alojou no ponto entre minhas pernas.
Eu abaixei as mãos até a bainha de sua camisa e a puxei para cima, retirando pela sua cabeça. — Você
vai me sentir. — sussurrei de volta. Eu descartei a camisa no chão e passei minhas palmas pelos seus
ombros nus, seus peitos, então seu abdômen, absurdamente, definido. Eu não podia ver, mas sabia que ele
estava ainda melhor do que estava há três anos. — Hoje eu preciso que você apenas me sinta. — eu
disse, arrastando meus dedos pelos gominhos perfeitos, até chegar no botão de sua calça.
Podia sentir sua respiração pesada do topo da minha cabeça e seus dedos fazendo círculos suaves na pele
da minha cintura, por baixa da blusa. Fora isso, ele não estava encostando em nenhum outro lugar. Essa
era um dos seus inúmeros “dons”. Ele não precisava me tocar em um lugar específico para me deixar
excitada. Ele precisava apenas me tocar. Em qualquer lugar.
Mesmo ofegante de excitação, eu consegui sussurrar: — Hoje, eu preciso que você me dê prazer o
suficiente para compensar, pelo menos, um por cento, do nosso tempo perdido. — Eu abri seu botão e
deslizei o zíper. Minha respiração pausou, quando enfiei minha mão e arrastei as pontas dos meus dedos
pela extensão de seu pênis. Fechei os olhos e apertei as pernas juntas, sentindo a sua excitação por mim.
— Por favor, Giovanni, eu preciso que você me dê um orgasmo daqueles que só você sabe; só você
consegue. Me faça gozar, pelo amor de Deus!
Eu não me importava de parecer desesperada, porque eu, realmente, estava. Meu corpo estava tremendo
e eu não sei como ainda estava conseguindo estar de pé agora.
Giovanni, sem dizer uma palavra, começou a se desfazer das minhas roupas. Ele retirou a minha camisa
primeiro, e tateando pelas minhas costas, ele se livrou do meu sutiã, então ele desceu para o short. Não
tinha botões, porque era um short de dormir, então ele enganchou os dedos nos cós, em ambos os lados
dos meus quadris e o levou para baixo, em minhas pernas. Eu não podia ver, mas podia sentir sua
respiração na pele sensível das minhas coxas. Ele estava abaixado na minha frente e esse pensamento fez
meu coração parar de bater por alguns instantes. A próxima a deslizar pelas minhas pernas foi minha
calcinha. Em seguida, eu estremeci quando dentes cravaram na parte inferior das minhas coxas. Ele
estava com o rosto tão próximo do meu ponto mais sensível…
—Giovanni… por favor! — eu implorei, fechando os olhos e enfiando os dedos de uma mão em seus
cabelos.
Ele riu contra minha perna. — Calma. — ele falou, em seguida, pressionou um dedo polegar contra meu
clítoris.
—Jesus! — eu engasguei. — Como você… Eu não posso ter calma agora!

Ele ri novamente e suas mãos seguraram minha cintura. — Você pode, sim. Basta relaxar, que eu vou
cuidar de você. Como antes. — Ele enfiou o nariz na minha pele molhada, mas não permaneceu. Ele foi
subindo, raspando a ponta do nariz pela minha virilha e barriga, até chegar em meus seios. Então,
agarrando o seio direito, ele deu um único chupão em meu mamilo.
Eu gemi de boca aberta. Ele voltou a ficar de pé e suas mãos desceram pelas laterais do meu corpo, até
cavarem abaixo do meu bumbum, então ele puxou minhas pernas para cima e eu enlacei sua cintura com
elas.
—Onde está sua cama? — ele perguntou.

—Cerca de cinco passos para sua direita. —respondi, com a voz muito rouca de desejo.

Enquanto ele tentava acertar o caminho da minha cama, eu agarrei seu rosto entre as mãos, desci minha
cabeça e beijei sua boca devagar. Eu sempre fui obcecada pelo seu gosto, e agora, depois de um longo
tempo sem saborear, a obsessão parece ter aumentado.
Quando Giovanni encontra minha cama, ele me deita nela com cuidado, então ele se levanta, mas eu não
posso ver o que está acontecendo. Toda a iluminação dentro do quarto, é um pequeno – quase inexistente
– fio de luz, que invade o cômodo através das persianas semiabertas.
—O que está fazendo? — Eu pergunto, em tom baixo. Então eu escuto o barulho de jeans encontrando o
chão e a ansiedade só se eleva nos nervos inferiores do meu corpo.
Giovanni abre minhas pernas para ficar no meio delas e paira sobre mim, apoiando os braços em cada
lado do meu corpo. Ele abaixa a cabeça e sua boca suga a pele do meu maxilar. — Eu precisava me
livrar do resto das roupas para entrar em você. — ele sussurra em meu ouvido.
Com cada ponto do meu corpo arrepiado, eu enrolo minhas pernas em torno dele e o aperto mais contra
mim, sentindo a ponta de seu pênis raspando em minha entrada. — Entra logo. — imploro, num fio de
voz.
Ele leva sua mão entre nós para se ajeitar em mim, em seguida, ele se empurrou para dentro, de uma só
vez. Eu gritei, com o prazer que correu pelas minhas veias, como se fosse meu próprio sangue. Ele gemeu
quando começou a se mover, e abaixou a testa para meu ombro. Estava tão lento, mas tão deliciosamente
bom. Três anos de desejos estava se desencadeando enquanto ele fazia amor comigo.
—Porra. — sibilou ele quando saiu e entrou novamente. Ele tinha os dedos das mãos enrolados
fortemente no lençol ao lado da minha cabeça. Ele saiu outra vez e quando empurrou de volta, ele
pressionou dentro, no meu ponto G e agarrei seus cabelos e arqueei o pescoço, fechando os olhos com
força.
Minha boca estava entreaberta, com gemidos frenéticos saindo dela enquanto ele ia mais e mais rápido.
—Eu senti tanta falta disso. — Ele falou com uma respiração. Ele colocou as mãos por baixo de mim e
agarrou minhas nádegas, então ele as levantou para pressionar mais fundo, do jeito que ele sempre fazia,
e que sabia que sempre me deixava à beira de um orgasmo avassalador.
Nossos corpos cobertos de suor, estavam se esfregando, meus mamilos duros roçavam contra seu peito
forte, me deixando ainda mais maluca. Eu soltei os cabelos de Giovanni e agarrei meus dois peitos entre
meus dedos, alertando os pontinhos sensíveis.
Quando Giovanni abaixou a cabeça e abocanhou meu mamilo, chupando-o duro, meu corpo inteiro tremeu
em um orgasmo, enquanto lágrimas rolavam pelo meu rosto. Ele lambeu meu mamilo uma última vez,
então sua língua foi subindo pela minha clavícula e pescoço, deixando pequenos beijos pelo caminho,
para acalmar meu corpo, mas ele não parou de se mover; Pelo contrário, ele intensificou o ritmo até que
seu corpo se tensionou sobre o meu e ele prendeu meu queixo com os dentes quando seu próprio orgasmo
chegou.

Tudo que eu podia ouvir agora era nossa respiração pesada. Eu ainda estava chorando, porque eu senti
falta disso – dele, de nós.
—Eu realmente senti falta disso. — disse ele numa voz rouca e baixa. Ele não estava com a testa no meu
peito, então eu podia sentir sua respiração fazendo cócegas em minha pele. — Como consegui passar
tanto tempo sem isso? Sem ter você assim? — a incredulidade era visível em sua voz.
Eu ri, e enxuguei o rosto. — Não faço ideia.
—Com o tempo, eu me convenci que não sentia mais sua falta, em nenhum sentido, até que eu coloquei
meus olhos em você de novo, naquela cozinha. — diz ele, num tom sério. — Foi como se alguém tivesse
guardando meus sentimentos todo esse tempo e, naquele momento, resolveu jogar tudo na minha cara de
uma só vez.
Enfiei meus dedos em seus cabelos úmidos de suor, arrastando minhas unhas pelo seu couro cabeludo. —
Sim, eu senti a mesma coisa. Mesmo com toda dor e raiva que eu sentia por pensar que você havia me
abandonado. — confesso.
Ele levanta a cabeça, fazendo minhas carícias pararem. Eu não podia ver, mas podia sentir seu olhar em
mim, como se estivesse olhando no fundo dos meus olhos. — Eu nunca abandonaria você. — ele diz,
parecendo com raiva. — Eu era e ainda sou apaixonado por você, Aurora. Não sei ainda quem fez tudo
isso, mas eu vou descobrir. Essa pessoa não me feriu apenas, ela feriu você e, consequentemente, feriu
nossa filha.
Eu queria lembrá-lo de que eu acredito cegamente que sua “amiga” está envolvida nisso, mas não faço.
Eu apenas pergunto o mais óbvio. — Você já sabe que a Rita tem algo com isso. O que pretende fazer?
Ela é sua secretária há o quê? Cinco anos?
Ele balança a cabeça. — Ela terá o dela, mas eu preciso de mais provas.
—Mais provas? Ela me falou que você estava em um avião!

—E eu acredito em você, mas se eu a colocar para fora, logo agora que você voltou, ela vai desconfiar e
vai falar para quem quer que seja que armou tudo isso com ela. — Ele pressiona um beijo em minha
clavícula. — Não fique brava comigo agora. Só confie em mim desta vez, que eu vou resolver tudo isso.


•••

Às três em ponto, Pérola invadiu meu quarto e quando eu a coloquei sobre a cama, ela logo se virou e
abraçou Giovanni.
Eu fui abandonada. Pelos dois.
Mas eu estava feliz. Essa era uma das cenas que eu sonhava ver.
Meu bebê enfim pôde conhecer o pai e ela o amou tão rapidamente. Isso era tudo que eu poderia pedir.
Quando meu alarme soou às cinco e meia, eu tive uma pequena discussão em minha cabeça, sobre se eu
precisaria mesmo ir correr, afinal, eu tive quatro rounds de sexo muito quente, com um homem muito
quente, atlético e, incrivelmente, gostoso. Mas, meu "vício" de corrida venceu e eu acabei esticando as
pernas para fora da cama e trocando de roupa.
Eu deixei minhas duas pessoas na cama e saí para correr.
CAPÍTULO 14
GIOVANNI

—Pronto. Aqui está sua panqueca. — Eu posicionei o prato de frente para Pérola, sentada em uma cadeira
especial para crianças. — Quer mais cobertura?
Ela sorri, um sorriso lindo e largo, e assente.
Eu logo pego o recipiente com calda de chocolate na geladeira e despejo por cima da sua panqueca. —
Pronto? — Eu pergunto quando já tenho colocado uma certa quantidade de calda.
Ela examina o prato, então levanta os olhos para mim e balança a cabeça. — Não. Quero mais chocoate.
— ela diz, com firmeza e esperança brilhando em seus olhinhos azuis.
Chocoate. Ela forçou tanto os lábios para pronunciar essa palavra e acabou com isso.
Eu realmente estou achando lindo a forma que minha filha pronuncia o nome “chocolate”.
Ela é toda linda.
Sorrindo, eu faço o que ela pede e despejo mais um pouco de calda. Quando vejo que tem o bastante, eu
coloco o recipiente de lado e inclino os cotovelos no balcão e observo ela comer.
Ela equilibra com um pouco de dificuldade a colher até a boca e começa a mastigar o pedaço – grande
demais para sua boca – de panqueca, e eu me vejo fascinado ainda mais por ela. Ela engole depois de um
tempo mastigando e antes de pegar outro pedaço ela inclina a cabeça para o lado e põe seus olhinhos nos
meus. — Obigado! — ela diz.
—Por nada, amor. — eu digo para ela, no momento em que a porta da frente se abre.

Aurora entra e assim que seus olhos caem sobre nós na cozinha, eles se arregalam em surpresa. Ela está
usando uma roupa de academia, como da vez que a vi na Twinke's. Só que dessa vez, ela está apenas de
top na parte de cima e com uma calça de malhar cintura alta. O modo que o tecido agarra seu corpo
delicioso deixa qualquer um pensando coisas sujas.
E eu não gostei pensamento.
Quando ela se aproxima, eu admiro sua pele suada. Ela estava assim durante toda nossa sessão de sexo
ontem, mas eu não pude ver. Até quando fomos para o chuveiro, ela não me deixou acender as luzes.
Antes, ela não tinha vergonha. Estávamos sempre com a luz acesa. Olhando para ela, – seios grandes,
zero de barriga, bumbum empinado, pernas grossas – eu não consigo enxergar o que ela está tentando
esconder, porque ela é perfeita. Sem dúvidas, a mulher mais gostosa e linda com quem eu já estive.
—O que estão fazendo? — ela perguntou, depois de dar um beijo na cabeça de Pérola.

—São seis e meia e ela acordou às seis em ponto, pedindo para comer "tanquecas". — eu ri. — Você
não estava mais lá, então eu fiz para ela. — Eu parei e olhei para Aurora. — Não tem nenhuma regra
sobre limites de panquecas, certo?
Ela sorriu e balançou a cabeça. — Não, não tem. É o café da manhã favorito dela. — Ela coloca uma
mecha do cabelo de Pérola atrás de sua orelha. — Só estou surpresa dela ter acordado tão cedo.
Geralmente, Clarice precisa arrastá-la da cama para ela poder ir à escola.
Meus lábios se enrolaram devagar e eu prendi meu lábio inferior com os dentes. — Talvez eu seja uma
boa influência, então.
Aurora olhou para mim e seu rosto, já corado pela corrida, ficou ainda mais rosado. Em seguida, ela
abriu um sorriso lento de reconhecimento. — Certo. — ela sacudiu a cabeça, rindo. — Vou tomar um
banho, e já que você está cozinhando, por favor, você sabe como eu gosto das minhas panquecas.
Eu rio quando ela pisca para mim e vai embora. Eu olho para Pérola, que está concentrada apenas em
suas panquecas, alheia a tudo ao seu redor. Então eu me endireito e vou fazer as panquecas do jeito que
Aurora gosta.

•••

—Quero passar o dia inteiro com você. A sós. Sem ninguém para nos interromper.

Aurora ergue os olhos e olha para mim. Ela lambe o mel de seu indicador e polegar, antes de falar
comigo. — Pensei que iríamos devagar.
—Eu fui devagar da primeira vez, ontem. — eu rebati.

Ela revirou os olhos, sorrindo. — Você entendeu o que eu disse.


Encolho os ombros. — Nós perdemos a porra de três anos. Fomos devagar o bastante até aqui, perdemos
tempo demais longe um do outro. — Eu me inclino para perto dela, tendo a noção de que nossa filha está
a poucos passos dali, sentada no sofá, e abaixo minha voz. — Eu perdi muito tempo sem estar dentro de
você, e ontem foi gostoso demais para querer diminuir nosso ritmo agora.
Eu estou olhando dentro dos seus olhos castanhos, então posso ver o exato momento em que suas pupilas
se dilatam e sua respiração faz uma pequena pausa, voltando devagar ao ritmo normal, em seguida. Ela
inala uma respiração trêmula e pisca.
—Onde, então? Sua casa? — Ela pergunta, e abaixa o queixo, nivelando os olhos com os meus.

Eu confirmo.
—Na sua cama?

Agora sua voz abaixou, a ponto de ser quase um sussurro.


Eu confirmo, novamente.
Seus lábios se arrastam, formando um meio sorriso. — A mesma em que, provavelmente,
a Amanda dormiu com você?
Eu não perdi o sarcasmo e o nojo em sua voz, principalmente, quando ela pronunciou o nome "Amanda",
como se estivesse dando ênfase nele. Eu não respondi logo, então, esticando as costas para trás, ela
esticou a coluna e pegou mais um pedaço de panqueca com os dedos.
—Me responde uma coisa, Giovanni. — ela fala, e coloca o pedaço de panqueca dentro da boca. Depois
de mastigar o suficiente, ela engole e passa a língua nos lábios. — Como se sentiria se soubesse que eu
dormi com outro homem naquela cama em que você dormiu noite passada?
Eu recuo, levando meu tronco para trás, deixando minhas costas reta e espalmo minhas palmas no balcão.
Eu posso sentir os ossos do meu maxilar se contrair, assim como os dos meus ombros com esse
pensamento.
Ponto para ela!
Ela tem razão; eu ficaria muito puto, mas eu sequer tinha pensado sobre isso até esse momento. Eu não
tinha perguntado se ela havia trazido algum cara aqui, eu apenas queria sentir ela de novo.
Eu olhei para ela, mal podendo conter minha cara fechada. — Algum homem dormiu lá?
Ela levou seu punho até a boca e forçou para engolir enquanto assentia. — Sim, você. — Ela sorriu.
Eu ergui a sobrancelha, porque não estava nenhum pouco achando graça, e ela revirou os olhos.
—Não, nenhum outro homem esteve lá. Apenas você. — ela diz, num tom fingido de tédio. — Mas aí
está. Eu também não gosto da ideia de ir para um lugar em que você esteve com outra mulher. Eu vou
ficar imaginando você com ela, e isso machuca, então, muito obrigado, mas estou dispensando o seu
apartamento. Principalmente, a sua cama.
Eu ainda estou puto por não te-la na minha cama, mas eu concordo com um aceno de cabeça mesmo
assim. Concordo com ela sobre isso. Apenas o fato de saber que ele esteve com outro – em qualquer
outro lugar, dói pra caralho.
—Mas eu ainda quero passar um tempo sozinho com você. — eu digo.

Ela encolhe os ombros, com os olhos em seu prato. — Eu também, mas não na sua casa… Ou em
qualquer outro lugar em que esteve com outra mulher.
—Eu conheço um lugar. — eu falo.

Ela olha para mim, curiosa. Eu balanço a cabeça, porque eu não vou falar mais nada sobre isso. Então
seus ombros e sua expressão caem quando ela nota que é surpresa. Ela odeia ficar curiosa sobre algo, e
eu sei muito bem disso, mas eu faço mesmo assim, porque eu amo ver ela nervosa e ansiosa.
—Assim que Pérola for para a escola, nós iremos.

É tudo que eu digo, e ela faz uma careta. Eu sorrio e roubo um pedaço de panqueca e o coloco em minha
boca.

***

CAPÍTULO 15
AURORA


Surpresa.
Eu odeio surpresas. Elas sempre me deixam com os nervos à flor da pele. Apesar de que da última vez
que Giovanni falou que me faria uma surpresa, foi de fato A surpresa, essas coisas ainda me deixam
nervosas.
Eu escuto um sinal, então ouço portas se abrindo. Uma mão vem para a parte baixa das minhas costas e
Giovanni me guia com cuidado para frente, em seguida, as portas voltam a se fechar.
Elevador.
—Por que estamos em um elevador? — Eu pergunto, com minha voz baixa por causa do nervosismo. —
Eu disse que não queria ir para seu apartamento.
Eu levanto a mão para a venda escura, – feita com o pedaço de pano, que ele rasgou de uma blusa minha
– que está tapando meus olhos, mas ele me impede, segurando meus pulsos e os levando de volta para
baixo. Eu gemo, com agonia.
—Não estamos indo para meu apartamento. Fique quieta, pelo amor de Deus! — ele diz, e eu posso sentir
o divertimento em sua voz.
Eu faço o que ele pede e fico quieta, com exceção da minha perna direita, que não consegue parar de
balançar. Um longo tempo se passa, até que o sinal do elevador soa novamente e as portas se abrem.
Giovanni me guia para fora, mas não tira minha venda. Eu sinto quando ele beija meus cabelos e ri
baixinho. — Pronta? — Ele pergunta.
Eu arrasto meu lábio inferior entre meus dentes e confirmo, com um aceno de cabeça ansioso. Quando o
pano é retirado dos meus olhos, eu não tenho palavras para pôr para fora durante alguns instantes.
Oh Deus!
Eu olho para ele, e tenho certeza de que estou de boca aberta. Você não fez isso, Giovanni! Eu olho ao
redor, e meus olhos se enchem de lágrimas, mas eu acabo sorrindo, um sorriso largo, e trêmulo, e
confuso.
Ele me trouxe na mesma suíte que me trouxe na nossa primeira vez. Eu amava essa suíte. Eu sempre dizia
que era a nossa suíte, de mais ninguém. Foi aqui que ele disse que me amava pela primeira vez, também.
É uma suíte presidencial perfeita. A decoração está mais moderna que da última vez em que estivemos
aqui. Móveis brancos e cremes ocupavam os lugares dos antigos móveis cinzas e vermelhos. Eu ainda
não fui até o quarto da suíte, mas eu lembro que a cama era gigante. Essa suíte só tem um defeito: por
causa de suas paredes de vidros espelhados, ela era bastante clara.
—Pela sua cara, é seguro dizer que você sabe onde estamos. — Giovanni diz. Ele caminha até o sofá,
enquanto retira as coisas dos bolsos.
Eu lhe dou um sorriso doce. — É claro que eu sei onde estamos. Como poderia não saber?
Eu passo uma mão pelo meu cabelo, levando para trás os rebeldes quando giro em meu eixo, olhando
tudo ao redor. Eu estava tão feliz por ele ter me trazido para cá, mas, de repente, também estava nervosa
porque ele vai me ver nua, depois de três anos.
Ele vem parar na minha frente e segura meu rosto entre as mãos. — O que você têm? Pensei que ficaria
feliz.
Seguro em seus antebraços. — Eu estou muito feliz, não duvide disso. Esse lugar tem um papel único e
importante nas nossas vidas. — eu digo pra ele. — Mas…
Quando eu mudo meu peso de uma perna para outra, ele vê que eu estou hesitando. — Mas o quê?
Eu deixo um suspiro sair. — Esse lugar é claro demais.
—E essa era uma das coisas que você mais amava nele.

Eu confirmo. — Sim, mas isso era antes.


Ele segura firme em meu rosto, forçando-me a encará-lo. — Antes de quê? Eu lembro de ter feito amor
com você ontem mesmo. Quatro vezes.
Eu confirmo outra vez. — Antes do resultado gravidez. — minha voz sai como um gemido. — Ela me deu
a Pérola, que é a minha vida, claro, mas ela também fez coisas ruins com meu corpo.
Os lábios de Giovanni são puxados para o lado. — Para mim, você parece ainda mais gostosa.
Eu reviro os olhos, mas acabo sorrindo. Brincando, eu bato em seu peito. — Bom, isso não foi a
gravidez, e sim o que eu fiz depois dela. — Eu digo. — Quando a Pérola nasceu, eu fiquei superenorme.
Tipo, muito mesmo. Então, eu me enfiei de cabeça em regimes e exercícios para voltar ao meu corpo
antes da gravidez. Eu consegui, mas nessa coisa de engordar e emagrecer, houve consequências. Acabou
que eu notei que tinha ficado com...
Eu desvio meus olhos dos dele, porque eu tinha vergonha de falar isso, ou de mostrar isso. Minha vida
sexual não foi muito ativa nesses últimos anos, mas as duas únicas vezes que eu estive com alguém, eu me
certifiquei de ter todas as luzes apagadas.
Giovanni dobra os joelhos, e procura pelos meus olhos. — Aurora, você está com estrias?
Isso me faz morder meu lábio e gemer em agonia. Minha vontade é de incorporar uma adolescente de
quinze anos e cobrir o rosto com as mãos, mas eu não sou uma adolescente; Eu sou uma mulher adulta,
que precisa encarar seus medos como uma mulher adulta. Eu olho para ele, e deixo minha respiração sair
como um suspiro. — Sim, eu tenho… estrias. Mas não muitas. — Eu me apresso a dizer. — São apenas
umas três listras pequenas no pé da minha barriga. É besteira, eu sei. Toda mulher tem, ou um dia terá,
mas, não é uma coisa legal.
Parece uma eternidade o tempo em que eu espero pela reação dele. Então, um sorriso lento e sem
vergonha dobra seus lábios. — Foi por isso que eu não pude ver seu corpo ontem? — Ele pergunta.
Eu assinto. Eu sinto quando sua mão alcança o zíper da minha saia e o puxa para baixo.
Ele se inclina um pouco e raspa os lábios nos meus. — Se eu soubesse que esse era o problema... — Ele
sussurra, enquanto suas mãos trabalham por dentro da minha saia e a empurra para baixo, para minhas
pernas. — Eu preciso ver isso.
Ele segura a parte de trás das minhas coxas e as puxa para cima, fazendo-me enrolar minhas pernas em
torno de sua cintura. Eu gemi quando ele apertou minha bunda e roçou no meio das minhas pernas.
Não era nem nove da manhã e eu já estava muito excitada.
Giovanni atravessou a sala da suíte, sem nenhum esforçou, comigo nos braços. Soltei um gritinho quando
ele me jogou no colchão. Sim, ele me jogou. Literalmente, jogou. Ele agarrou em minha cintura e me
empurrou em direção ao colchão, com uma facilidade absurda, como se eu não pesasse nada. Ele ficou de
joelhos entre minhas pernas e, sem tirar os olhos dos movimentos de suas próprias mãos, ele empurrou o
tecido da minha blusa para cima, pelo meu estômago.
Eu levantei a cabeça e me apoiei em meus cotovelos, quando seus dedos alcançaram a área que foi
mantida no escuro para qualquer outro homem, até agora. Meu ventre de contraiu com seu toque, como se
um vento gelado tivesse atravessado meu corpo.
Se fosse qualquer outro homem, provavelmente, eu não estaria nem aqui, em um hotel tão claro,
tampouco a essa hora da manhã. Mas ele não é qualquer outro, ele é o meu homem. O homem que está
olhando encantado para as três listras amarelas que foram o maior incômodo do meu corpo durante esses
anos.
—Você tem noção do quanto isso te faz ainda mais perfeita? — Ele levanta os olhos para olhar em meus
olhos, mas sem deixar de me tocar. — Tem noção do quanto eu estou desejando você, nesse momento?
Eu não respondo com palavras, mas ele pode ver a resposta em meus olhos. O modo que ele está me
olhando agora, me deixa com uma boa noção do quanto ele está excitado por mim.
Ele se livra da minha calcinha e vem pairar sobre mim. — Eu quero fazer amor com você. — ele
sussurra, com os lábios roçando os meus. Ele não para de passar os dedos pela minha cicatriz da
cesariana e minhas estrias. — Eu quero fazer amor com essas suas marcas, porque elas fazem de você a
mulher mais perfeita do mundo. — Ele diz, e com a mão que está me tocando, ele começa a subir pelo
meu estômago, peito, pescoço, e enfim, ele agarra meu queixo, não dando-me oportunidade de desviar os
olhos dele. — Eu quero fazer amor com cada pedacinho seu, porque você é minha mulher e eu estou
morrendo de saudades disso.
Eu me remexi debaixo dele, agarrando sua cintura com minhas pernas, e o puxei para mim. Gemi quando
senti sua ereção sob o jeans roçar minha região molhada.
Giovanni prende meu queixo com os dentes e pressiona contra mim quando eu enfio minhas mãos entre
nós e começo a abrir sua calça. Ele começa a chupar, lamber e beijar ao longo da minha mandíbula e
pescoço, enquanto se esfrega em mim, me dando trabalho com sua calça. Gemidos altos e desesperados
saem de nós dois.
Quando enfim eu consigo abrir sua calça, ele se afasta apenas o suficiente para empurrá-la para baixo,
junto com sua cueca. Eu me abro o mais amplo possível para ele. Tudo em mim está tremendo agora com
a ansiedade e desespero para recebê-lo de novo. Eu levo as mãos até minha testa e afasto as mechas de
cabelos que grudaram lá quando ele volta e começa a se ajeitar entre minhas pernas. Eu não sou capaz de
respire porque ele agarra minha cintura com firmeza e empurra para dentro com um só golpe duro.
Eu grito; ele ruge. Ele desce até que está apoiado em seus antebraços em cada lado da minha cabeça.
Suas investidas são brutas e rápidas, e estão me levando à loucura.
Eu, de repente, amo ainda mais a ideia de que essa suíte é presidencial e não há nenhuma outra ao lado,
porque as paredes não são à prova de sons, e as pessoas poderiam escutar nossos gemidos e gritos de
prazer.
— Porra…

Ele levou a mão direita até minha cintura e empurrou mais fundo, de um jeito lento e remexeu seu quadril,
atingindo meu ponto G. Meus olhos se reviraram com a sensação deliciosa, e eu apertei mais minhas
pernas em torno dele, em busca de mais.
—Não sei como conseguir passar tanto tempo sem você. — Ele geme, mas sai como um rosnado, em meu
ouvido. — Sem isso.
Tampouco eu sei como consegui…
Ele remexe o quadril outra vez, repetindo o ato, e eu agarro seus cabelos, minha boca aberta em um
gemido mudo. Eu arqueio meu pescoço, jogando a cabeça para trás.
—É bom demais. Puta merda! — Ele diz, então investe mais uma vez, pressionando devagar bem fundo.

Eu chego ao orgasmo com um grito mudo, todo meu corpo se contraindo de uma forma quase
violenta. Um orgasmo arrebatador.
Em seguida, ele prende a pele da curva do meu pescoço entre os dentes quando alcança seu próprio
orgasmo.
Agora meu pescoço dói, mas eu não me atrevo a me mover e ele não sai de cima de mim. Nós ficamos
assim, até que nossas respirações começa a voltar o normal.
—É perfeito. — Ele suspira em meu pescoço, com um sussurro rouco. — É sempre perfeito com você.
Não importa suas marcas, é sempre, fodidamente, perfeito com você.
Eu quase deixo um sorriso escapar, mas ainda estou bastante ligada para isso. Eu agarro sua camisa e
puxo para cima. — De novo!


CAPÍTULO 16
AURORA

—Eu estava com saudades de ver você em uma camisa minha. — Giovanni comenta, com um toque de
malícia em seu tom.
Eu levanto meus olhos e olho para ele. — Eu estava com saudades de vesti-las, também. Já tinha
esquecido como seu cheiro é viciante.
Ele abriu seu sorriso de lado, maravilhoso, e agarrou meu pé. Ele estava deitado na beira da cama,
apoiado apenas por um braço, enquanto eu estava encostada no espelho da cama, com as pernas esticas,
comendo a sobremesa que ele pediu após nosso almoço. Enquanto seus dedos apertam os meus do pé, eu
vejo seu sorriso morrendo devagar.
—Eu sei que não tenho o direito, mas eu espero que você não tenha vestido muitas outras, durante esses
três anos.
Sua expressão era neutra quando ele me falou isso, mas dava para notar a dureza de suas palavras. Eu
quase sorri, mas lutei contra essa vontade é apenas lhe dei um meneio de cabeça.
—Bom, — comecei de forma, dramaticamente, arrastada. — na verdade, eu não vesti outras. — pisco
meus olhos para ele. — Não que eu não quisesse, mas eu não tive a chance de sair com mais de dois
caras nesses anos, e, como sua filha legítima, Pérola colocou ambos para correr, então…
Com a mesma lentidão que seu sorriso desapareceu, ele reaparecendo, em um sorriso orgulhoso e
divertido. Eu revirei os olhos e empurrei seu peito com meu pé.
—Não tenha tanto orgulho assim, bonitão. — eu digo pra ele. — Você tem razão: você não tem o direito,
uma vez que outras mulheres estiveram dentro de suas camisas. E uma delas esperou apenas uma semana
depois que eu fui embora.
Eu estava tentando manter meu tom divertido, mas era impossível lembrar dele saindo com a vaca da
Amanda da empresa, e entrando no mesmo carro, e não doer.
Ele prendeu meu dedão entre os dentes e eu senti a picada subir pela minha perna e se instalar bem no
meio delas; eu gemi, tentando livrar meu pé de seu aperto, mas ele, mesmo com uma mão, era mais forte
que eu. — Amanda não vestiu minha camisa uma semana depois de você ir. — diz ele enquanto passa o
polegar sobre a aérea que ele mordeu. — Ela não fez nada uma semana depois, nem um mês, nem dez
meses. Ninguém fez.
Eu bufo, com desdém e puxo meu pé; ele puxa de volta. — Eu não sou tão idiota, Giovanni. Eu vi vocês
dois saindo da LEA e entrando no mesmo carro. Eu vi o olhar dela sobre você, e eu vi o seu sorriso para
ela.
Ele assentiu devagar, os cantos de seus lábios curvados, ligeiramente, para baixo. — Sim, nós saímos da
LEA naquele dia, e provavelmente, eu deveria ter feito o que você imagina que eu fiz, porque para
mim, você tinha fugido. Mas eu não fiz. Nós fomos para o jantar de caridade dos Walker's. Você sabe,
aquele que eu havia chamado você para ir comigo?
Eu alço uma sobrancelha pra ele. — Quer mesmo que eu acredite que você passou dez meses sem sexo?
Ele sacode a cabeça, imediatamente. — Não. — ele diz. — Um ano, um mês e três dias, para ser mais
exato.
Não pude evitar quando uma risada amarga escapou da minha garganta. — Está brincando comigo? — Eu
puxo meu pé, e dessa vez, ele me deixa ir.
—Não acredita em mim? Então, pergunte à sua mãe.

Eu estreitei meus olhos. — O que minha mãe tem com isso?


—Foi ela quem me pediu para te dar um tempo. — Ele respondeu, de forma tranquila, como se isso não
fosse nada demais.
E, realmente, não seria se eu soubesse dessa história.
—Que história é essa, Giovanni? — Eu perguntei. Eu estava tão confusa agora.

Ele se ajeitou em seu antebraço. — Ao contrário do que você pensa, eu fui atrás de você quando você se
foi. Não fui no mesmo dia porque seu celular estava desligado e não tinha como rastrear, então eu fui no
dia seguinte. Mas, quando cheguei na casa da sua mãe, você tinha saído com seu amigo. Eu ia esperar
você voltar, mas sua mãe pediu para conversar comigo em outro lugar, então nós fomos para um café, o
mais longe possível que ela conseguiu. Ela me disse que não sabia o que tinha acontecido, mas ela estava
destruída por ter que ver você destruída.
Eu não aguento mais o aperto no meu peito. Eu me viro e jogo minhas pernas para fora da cama, e sigo
para o outro lado do quarto.
Ele continua: — Quando eu disse que também não sabia o que havia acontecido, ela pediu para que eu
lhe desse um tempo. Ela disse que já tinha presenciado uma filha daquela forma e não sabia se tinha
estruturas para ver a outra, por isso, ela disse que se eu realmente amava você, eu esperaria o tempo que
fosse. Ela disse que, se você resolvesse não voltar mais, eu saberia depois de um ano.
Eu girei em meu eixo para olhar para ele. — Mas você esperou mais de um ano. — Eu consegui falar,
mesmo com o nó que se instalou em minha garganta.
Ele confirmou com um aceno lento de cabeça. — Eu não conseguia acreditar que tinha perdido você. —
ele diz quando se senta na cama. — Não sem nem saber qual o motivo, ou se eu tinha feito algo de
errado.
Eu esfreguei minhas mãos em meu rosto, em seguida, esfreguei sobre meu peito. — Não acredito que ela
não me contou nada disso!
—Ei, — Ele se levantou e caminhou até mim, suas mãos segurando minha cintura. Seus polegares
acariciavam minhas laterais quando ele me levou para mais perto de seu corpo. — ela só estava tentando
proteger você. Ela não queria que passasse pela mesma coisa que sua irmã passou. E mesmo que você,
ainda sim, passou por uma cacetada de coisas na gravidez e tudo mais, pelo menos ela tentou.
E eu sabia de tudo isso. Sabia que minha mãe sempre quis proteger eu e minha irmã. Mas era difícil saber
que em sua tentativa de me proteger, ela apenas me machucou mais.
Eu não fui mais capaz de segurar as lágrimas que começaram a rolar pelo meu rosto. — Eu entendo ela,
mas isso me deixou longe de você, e fez a Pérola ficar longe também. Tem ideia do quanto nós duas
precisávamos de você? — Eu segurei em seus ombros. — Tínhamos o Noah lá, e ainda temos, mas ele
não é você, ele não é o pai da Pérola, e ele não é o homem que eu amo.
—Shh, eu sei. — ele disse. Ele soltou minha cintura e segurou meu rosto entre as mãos, e começou a
enxugar minhas lágrimas, carinhosamente, com seus polegares. — E eu estou aqui agora. Vocês duas são
as pessoas mais importantes para mim, acredite nisso, tudo bem? Não vou a lugar algum.
Eu assinto. Eu envolvo meus braços ao redor dele e o abraço, sentindo ele retribuir forte. Sinto quando
ele beija o topo da minha cabeça e todo meu corpo relaxa entre seus braços e corpo grande.


CAPÍTULO 17
AURORA

Eu estou olhando firmemente para o pequeno mouse do meu computador, porque não sou capaz de olhar
para tela dele ainda. Eu não poderia olhar para ela e enxergar o rosto da minha mãe. Não ainda.
—Mãe, por que não contou nada? — a voz de Lily soa tão chocada quanto a minha soaria, se eu
conseguisse formular essa pergunta.
Eu, ela e a mamãe estamos em uma conferência agora. Eu não podia ir agora até a mamãe, e não podia
esperar para falar com ela, mas também não podia fazer isso sozinha, então eu pedi a ajuda da minha
irmã. Ela provavelmente sabe mais o que falar do que eu nesse momento.
—Oh, quando foi que eu virei a vilã dessa história? — mamãe disse, ofendida. — Ela é minha filha, e eu
estava apenas tentando protegê-la. Não pude fazer o mesmo com você, e não suportaria ficar de braços
cruzados de novo.
—Sim, mas você devia ter dito a ela que ele tinha ido até lá, pelo menos. — Lily falou. — Ela merecia
saber, e talvez, eles teriam se entendido mais cedo.
—Aurora — mamãe me chamou, ignorando a voz brava de Lily; Eu continuei sem olhar pra ela. — eu só
queria lhe dar um tempo para pensar no que queria, querida.
Eu passo uma mão pela testa e olho para tela do computador, diretamente para minha mãe. — E como eu
pensaria na coisa que eu estava evitando, mãe? Eu passei três anos pensando que ele tinha me
abandonado, e depois, quando eu descobri a verdade, eu ainda fiquei com rancor porque achava que ele
não tinha, sequer, ido atrás de mim, saber o que havia acontecido.
—Filha, eu não…

Eu fechei os olhos e sacudi as lágrimas que queimavam meus olhos. — Eu duvidei dele duas vezes, mãe.
Eu duvidei do amor dele. Você tem ideia do quanto isso está acabando comigo?
Quando eu abri meus olhos, novamente, minha mãe estava chorando também. Minha mãe não é uma
pessoa ruim, eu sei disso. Eu sei que sua intenção foi boa, que ela não queria me machucar mais do que
eu já estava. Ela cometeu um erro, e agora ela sabe disso.
—Eu sinto tanto, querida... — diz ela, numa voz frágil. — Não sabe como foi difícil te ver naquele estado
em que estava quando chegou aqui. Com sua irmã foi diferente, porque após uma semana, ela estava de
pé de novo, conquistando o mundo para si, como sempre faz, mas você? Você ficou destruída e eu não
sabia como ajudar.
Me contando que Giovanni tinha ido lá, por exemplo?
Em vez disso, eu suspirei e balancei a cabeça quando enxuguei meu rosto. — Está certo, mãe. Eu entendi
o que você quis fazer. Mas você realmente deveria ter me contado.
—Teria evitado muito sofrimento. — Lily completou.

Depois de pedir mais várias desculpas, minha mãe desligou, em seguida, minha irmã fez o mesmo.
Eu estava pronto para dormir, então, eu apenas deitei na minha cama e fechei os olhos. Mas eu estava
sentindo a falta de alguma coisa. De uma pessoa, pra falar a verdade, e ele ainda não havia chegado.
Sabendo que não seria capaz de esperá-lo chegar, depois de um dia inteiro banhado a, como minha irmã
adora dizer, muito sexo quente, eu agarro o travesseiro que ele dormiu na noite passada e o trago para
mais perto de mim. Eu enfio meu nariz nele e relaxo, deixando o sono me levar.
E eu não vejo quando ele chega em casa e me abraça, até o dia amanhecer e eu acordar com ele dormindo
de conchinha comigo.

•••

—Esses são os horários para as reuniões de hoje. — Jane, minha secretária e amiga, me entrega seu iPad
com os horários organizados.
Eu aceito o iPad quando me encosto em minha mesa de trabalho. — Okay. Eu posso fazer isso. — Eu
digo, vendo que, provavelmente, não chegarei em casa antes do jantar.
Jane dobra os joelhos para procurar meus olhos, com uma expressão divertida. — Nada de “Não há
como desmarcar alguma dessas, Jane?”. — Ela diz, rindo. — Você simplesmente aceitou participar de
mais de quatro reuniões em um dia?
Eu faço uma careta para ela, mas acabamos sorrindo da minha maturidade, neste momento. Eu devolvo
seu iPad. — Bom, essas pequenas férias de uma semana me deixou atolada de coisas, que precisam ser
arrumadas agora. — Eu dou de ombros.
Jane prende um riso, enquanto batuca suas unhas contra a tela de seu iPad. — Considerando seu
semblante perfeito e mais confiante, essas férias fizeram bem a você. — Ela deixa o riso malicioso
escapar dessa vez.
Eu reviro os olhos e aponto para porta, sem conseguir controlar meu próprio sorriso. — Você já pode
sair, Jane. Eu tenho que me organizar para primeira reunião.
Ainda com um sorriso no rosto, ela saiu da minha sala, mas não sem antes me dá um olhar de
conhecimento sobre os ombros.


A minha quarta reunião foi uma pequena surpresa. Eu já estava exausta de ouvir pessoas esnobes e, muito
ricas, falarem como querem suas casas perfeitas, para tê-las no final do ano, em uma dessas revistas de
decorações, que eles adoram. Mas quando eu vi na lista que Jane me passou aonde seria minha próxima
reunião, uma adrenalina tomou conta do meu corpo e eu praticamente voei para o carro.
Agora estou aqui, dentro do elevador do prédio da LEA, subindo para o andar dos escritórios
presidenciais. E eu estou tão nervosa, que mal sei como respirar.
Nem quando estava trabalhando na casa do Lucca, eu precisei vir até aqui. Talvez, o Lucca apenas não
queria tornar a coisa mais estranha do que já estava na casa dele. Faz tanto tempo que havia pisado nesse
prédio, e o engraçado é que era meu lugar favorito, além do meu apartamento com Giovanni.
As portas se abriram e eu pisei para fora do elevador. Logo ar familiar invade minhas narinas e eu deixo
um suspiro de saudade escapar.
Minha nossa! Isso está diferente. Muito diferente!
Eu procuro pelo meu celular dentro da bolsa, para avisar a Giovanni que eu estou por aqui, quando duas
exclamações cortam o silêncio do ambiente. Eu levanto meus olhos para ver de onde veio - mas já
sabendo, exatamente, e dou de cara com duas caras me encarando muito chocadas.
—O que…? — Tiana Banks sequer conseguiu terminar de formular sua pergunta. Seu típico batom
vermelho sangue estava lá, presentes em seus lábios abertos, em choque.
Ao seu lado, Rita tinha a mesma expressão no rosto, porém, mais assustada. Ela provavelmente deve
estar pensando que eu já descobri sobre sua mentira no telefone, o que é uma verdade, mas ela não
precisa ter certeza, então eu forço um sorriso em sua direção.
—Boa tarde, meninas! — Eu digo, com o tom mais simpático que eu consegui. — Quanto tempo, não é?
— Eu me aproximei mais, enquanto digitava a mensagem para Giovanni, mas sem perder o sorriso. —
Rita, eu tenho uma reunião marcada hoje aqui. Pode avisar aos senhores Lazzari que estou aqui, por
favor?
Nenhuma delas se moveu. Elas ficaram por alguns instantes me encarando, piscando forte, como se não
tivessem acreditando que eu estava ali.
Tiana gesticulou, nervosamente, em minha direção. — Você… voltou?
Eu mordi meu lábio inferior ao ouvir sua pergunta, e inclinei um pouco minha cabeça para o lado,
considerando responder. — Bom, se você está se referindo a empresa, a resposta é não. Eu não estou de
volta, porque agora, eu tenho meu próprio escritório. — Eu digo. Eu estudo ela, com os olhos estreitos.
— Mas, considerando que você é uma boa designer, com certeza você já ouviu falar sobre isso, uma vez
que meu escritório não para de aparecer nas mais renomadas revistas de Arquiteturas e Designers do
país.
—Amor, você veio.

Eu escutei a voz rouca e perfeita de Giovanni e virei minha cabeça para vê-lo parado na porta do seu
escritório. Eu sorri para ele, lutando contra o derretimento interno do meu corpo por vê-lo tão,
deliciosamente, lindo em sua roupa de trabalho. Mas, antes de seguir até ele, eu me virei para as duas na
minha frente.
—Portanto, — Eu continuei. — Você deve estar se referindo a cama do chefe de vocês.

As duas coraram e se remexeram, inquietas, pela consciência de que ele estava bem próximo.
Eu suspirei, teatralmente, com uma mão me abanando. — Aí, a resposta é um sim, gigantesco. E é
tão… mágico, quanto das outras vezes. Agora, se me derem licença, eu preciso ir. Foi bom ver vocês!
Eu começo a caminhar em direção à Giovanni e lhe envio uma piscada. Ele a devolve, enquanto se
prende, claramente, para não sorrir.
***

CAPÍTULO 18
GIOVANNI

Eu fecho a porta assim que Aurora passa por ela, e não sou capaz de impedir que meus olhos vão direto
para sua bunda, que está rebolando em direção à minha mesa.
Ela descarta a bolsa sobre uma das cadeiras em frente a mesa, e quando se vira para me olhar, ela ainda
tem o sorrisinho vitorioso dançando em seus lábios, que se formou após ela dar as costas para as duas lá
fora. E eu estou orgulhoso por ela não ter estrangulado nenhuma.
—Eu não bati na cara delas. — disse ela, com orgulho de si mesma.

Eu sorri. — Sim, você não fez isso. — Eu enfiei minha mão no bolso da minha calça e tirei o pequeno
controle de dentro dele. Apertei o botão de privacidade e as paredes de vidros da sala, imediatamente,
ficarão embaçadas, retirando a visão de qualquer um que esteja do lado de fora.
—Não é fácil olhar para sua secretaria e não querer enfiar a mão na cara sonsa dela. Tampouco, na da
Tiana. Aliás, ela é uma suspeita, certo? — Aurora se encostou na minha mesa, quando me viu se
aproximando devagar.
Balancei a cabeça quando cheguei em sua frente. — Todos são. — Eu segurei em sua cintura fina e a
suspendi, fazendo-a se sentar sobre a mesa. — Você precisava vir com uma saia dessas?
Ela olhou para baixo, para sua saia lápis de couro e de cintura alta, em seguida, ergueu os olhos para
mim, com uma sobrancelha arqueada. — Principalmente as que você já fodeu? — Ela perguntou.
Eu não discutiria sobre isso agora. Eu abri um pouco os lábios, deixando escapar uma respiração pesada,
quando comecei a trabalhar em sua saia, puxando-a para cima de suas pernas. Meu pau já estava
empurrando contra o zíper da calça. Finalmente, consegui levantar o tecido o suficiente para abrir suas
pernas, e me enfiei entre elas. Levando uma mão até a pele exposta entre a saia e a blusa curta, eu
acariciei com meus dedos e pude sentir ela estremecer.
—Eu gosto desses top's que você está usando.

Eu disse baixo, e era verdade. Eu adorava quando via ela neles, porque eles eram de fácil acesso e eles
deixavam seus seios mais proeminentes. O que eu não adorava – nenhum pouco – era que, com certeza,
outros caras acham e sentem a mesma coisa.
Mas, não estamos discutindo por ciúmes, então, eu me concentro em fazê-la derreter um pouco em minhas
mãos.
—O nome disso é cropped. — Ela corrige e coloca os braços para trás, apoiando as mãos na mesa, por
trás de seu corpo, arqueando-se para meu toque. — E, se você está preocupado que eu tenha uma crise de
ciúmes agora, pode ficar tranquilo. Não é novidade para mim que você e Tiana já transaram. Ela fazia
questão de passar isso na minha cara, sempre que nos esbarrávamos antes.
Eu levantei uma sobrancelha, com um meio sorriso, mas ainda estava olhando para seu corpo. — Você
pode descontar agora. — Eu peguei a alça esquerda de sua blusa e a deslizei para baixo, e desci meu
rosto até que meus lábios estavam pressionados em seu ombro. — Você pode dizer a ela que eu nunca fiz
amor com ninguém além de você. — pressiono os lábios mais para cima. — Pode dizer que eu nunca
desejei ninguém, como eu desejo você. — mais em cima. — Nunca fiquei tão louco por alguém, como eu
sou por você. — na curva entre o pescoço e o ombro. — Pode dizer que eu nunca amei ninguém, como
eu amo você.
Aurora estava com o pescoço inclinado para mim e de olhos fechados, e ela estremeceu e gemeu quando
segurei o outro lado do seu rosto e suguei com força a pele do seu pescoço assim que terminei de falar.
Eu subi minha boca pelo se maxilar até chegar em sua orelha, e sussurrei. — Eu, fodidamente, amo você,
Aurora. Só você. Você entende isso?
Ela acena, quase que freneticamente, e agarra meu rosto entre as mãos, puxando-me para baixo, até que
nossos lábios estão unidos, num beijo duro e apaixonado.
Eu pego seus cabelos da nuca em meu punho quando enfio minha língua em sua boca. Sugo sua língua,
seus lábios, enquanto minha outra mão está espalmada na parte baixa de suas costas, a puxando para mim.
Aurora encosta mais, arrodeando meu pescoço com os braços e minha cintura com as pernas. Ela solta
um gemido em minha boca quando meu pau faz contato com o tecido de sua calcinha, enquanto um
rosnado sai da minha boca ao sentir o quão excitada ela está agora.
Minha mão larga seu cabelo e eu desço pelas suas laterais, em direção as suas pernas, mas sou
interrompido quando o telefone do escritório toca. Eu tento ignorar por uns instantes, mas é impossível,
uma vez que seu toque é tão alto, que chega ser estridente. De repente, eu quero arremessá-lo do outro
lado da sala. Quando eu desisto de ignorar e separo nossas bocas, nós dois estamos sem fôlego.
—Eu odeio a Rita. — Aurora chia baixinho, sua respiração cortante e pesada.

Eu não saio do meio de suas pernas quando me inclino para o lado e aperto o botão do viva voz. — Sim?
— Eu digo, sem me dar o trabalho de esconder o mal humor em minha voz rouca do beijo.
Rita hesita do outro lado, e quando fala, sua voz sai um pouco trêmula. — Senhor, já estão todos na sala
de reunião, aguardando.
Olho para Aurora e ela está fazendo careta para o telefone. — Certo. — Inclinando-me novamente, eu
aperto para finalizar, e só aí, eu saio do meio de suas pernas.
Ela sai de cima da mesa e se posiciona em seus saltos muito altos, e começa a puxa a sua para baixo. —
Eu, definitivamente, odeio ela! — Ela diz entredentes.
Sorrindo, eu coloco a alça de sua blusa de volta ao seu lugar. — Não fique frustrada, amor. Depois da
reunião, nós vamos a um lugar. Tenho outra surpresa para você.
Ela para os dedos que estão tentando dar um jeito em seus cabelos e olha para mim, com o queixo
inclinado para baixo. — Outra? — Ela pergunta, claramente, incomodada com isso, e sua expressão
quase me fez sorrir. Ela gemeu. — Giovanni, apesar de ter adorado a última, não quer dizer que eu estou
aberta para outras.
Dando a volta na minha mesa, eu apanhei meu terno no encosto da minha poltrona. — Bom. Eu prefiro
você aberta apenas para mim. — Eu pisquei, enquanto me vestia.
Ela soltou outro gemido agoniado. — Você entendeu!
—Eu entendi. — confesso, e pego em sua mão, puxando-a para mim, e beijo sua testa. — Fique tranquila.
Será uma boa surpresa. Nada muito grande. Apenas, fique tranquila.


CAPÍTULO 19
AURORA


"Fique tranquila. Será uma boa surpresa. Nada muito grande." Foi o que Giovanni havia dito para mim.
Nada. Muito. Grande.
Eu pisquei de novo, e de novo, e de novo, para ver se o que ele disse batia com o que está em frente aos
meus olhos, e não. Não bate. E até pode bater, mas precisaria retirar a palavra "nada" e deixar apenas o
"muito grande".
Muito grande. Isso sim resume a casa enorme em minha frente, bem ao lado da casa do Lucca e da Mel.
—O que me diz? — Ouço quando ele pergunta, e eu sei que ele está bem ao meu lado, eu só não consigo
enxergar mais nada além da casa.
Eu balanço a cabeça e minha língua saia para umedecer meus lábios secos. — Você comprou?
—Sim, eu a comprei. — ele responde, calmamente.

—Mas você odeia casas. Você prefere apartamentos. — disse, sem consegui conter a incredulidade em
minha voz.
—Sim, mas agora eu tenho uma filha, que está crescendo e ficando curiosa sobre as coisas. — Suas mãos
seguram meus ombros e ele os massageia, liberando a tensão do meu corpo. — Relaxe. Eu não estou
chamando você para morar comigo, ainda. Faremos isso com o tempo, não vamos nos apressar muito,
mesmo que já estamos bastante avançados. — Ele enfia o nariz em meus cabelos. — Apenas andei
pensando sobre o que você falou do meu apartamento, que não queria ir lá por causa da Amanda, então eu
quero um lugar onde eu possa passar um tempo com você e com a Pérola.
Com um suspiro rendido, eu permiti que meu corpo relaxasse um pouco, apesar de ainda estar muito
chocada com tudo isso. — Você comprou essa casa apenas para passarmos um tempo? — Eu perguntei,
com meu tom mais suave.
Ele parou de massagear e circulou meus ombros com os braços, me abraçando por trás. — Eu comprei
ela, porque eu quero estar pronto quando você decidir que vamos, finalmente, morar juntos. Só eu, você e
nossa filha. — Ele diz, fazendo carinho em meus cabelos com o nariz. — Agora você pode entrar lá
comigo para ter uma noção do que você quer fazer com ela?
Surpresa, eu olho para cima, por cima do ombro direito para encontrar seus olhos sob o maldito óculos
escuros, que o torna ainda mais quente e desejável. — Como assim?
Ele me oferece seu sorriso de lado, e meus olhos descem para focar em seus lábios avermelhados. —
Estou contratando você para decorar a nossa casa, srta. Mitchell.
Nós entramos na casa e ela era quase idêntica a casa do Lucca, com exceção de algumas coisas que o
próprio Lucca mudou antes de decorar, por causa do bebê. Como o elevador que têm em sua sala de
estar, por exemplo. Mas com ou sem elevador, ela era perfeita e enorme. A Pérola vai adorar correr por
aqui.
Quase que imediatamente, minha mente já foi formulando ideias do que fazer em cada cômodo em que
íamos entrando. Meu lado profissional estava dando pulos de ansiedade. Meu lado pessoal, o que
passará "um tempo" aqui, estava pulando, também, mas de emoção.
Mesmo antes de tudo acontecer, eu nunca imaginei que viveríamos uma casa assim. Giovanni sempre
disse que não se sentia bem em uma casa tao grande e sempre preferiu os apartamentos, e eu nunca
discuti, porque eu também adorava apartamentos – principalmente aqueles em que ele estava dentro.
Nada mais importava para mim, além de estar com ele. Deus, eu moraria até em um trailer, sem dizer um
"ai", se ele estivesse lá comigo.
—Eu não tenho nenhuma exigência. — disse ele, com seu tom profissional, mas com um toque de diversão
nas palavras, assim que entramos na suíte principal. — Mas, por favor, coloque a maior cama que você
conseguir achar. Eu pretendo passar bastante tempo aqui. Com você. — Então, ele sorriu, aquele sorriso
safado, que faz meus joelhos fraquejarem.
Eu já estava tão excitada, desde o seu escritório mais cedo, e a visão dele, de pé, na varanda do quarto,
com seu óculos escuro, pele bronzeada e iluminada pelo sol da tarde, e cabelos bagunçados do vento, me
deixaram um pouco pior. Eu larguei minha bolsa no chão e levei uma mão para trás, em minhas costas,
abrindo o zíper do meu cropped. Ele estava de costas para mim agora, admirando os jardins, então ele
não viu quanto eu deslizei as alças pelos meus ombros e descartei a peça de roupa no chão, ao lado da
minha bolsa. — Bom, nós podemos testar para ver se, realmente, valerá a pena. — Eu disse, enquanto
empurrava minha saia pelas minhas pernas, até que ela estava em um emaranhado ao redor dos meus
tornozelos.
Ele girou para olhar bem no momento em que chutei a saia para o lado. Mesmo estando de óculos, eu vi
quando seus olhos deslizaram para baixo, para meu corpo coberto apenas por uma calcinha fio dental, e
nada mais.
Eu esquentei de uma forma com seu olhar, que o aquecimento atravessou meu corpo e se hospedou direto
no meio das minhas pernas, e meu pontinho de nervos pulsou.
Ele retira os óculos, e seus olhos estão em chamas quando ele começa a desatar o botão da sua calça. —
Eu adorei a ideia.

•••
—Hum, você está fazendo o que eu acho que está fazendo? — perguntei ao entrar na sala.

Noah olhou para cima, para me ver, apenas por um segundo, antes de voltar a se concentrar em suas
panelas. — Se está se referindo ao fried chicken, então a resposta é sim.
Eu me inclino sobre o balcão para observá-lo melhor, e gemo sentindo o cheiro delicioso de frango frito.
— Eu amo quando você faz fried chicken. — Eu digo a ele, de forma quase melosa.
Noah está andando de um lado para o outro o espaço estreito entre nosso balcão e a pia, descalço, como
sempre, e com uma calça moletom e camisa de mangas curtas. Seu cabelo mais parece que não viu um
pente hoje, e suas sobrancelhas estão franzidas e unidas. Ele parece nervoso e preocupado com alguma
coisa.
—Você está bem? — Eu procuro saber, demonstrando a minha preocupação.

Ele acena com a cabeça, um pouco desorientado quando abre a geladeira e começa a retirar os
ingredientes para uma salada. Ele para com o saco de tomates em uma mão, e o azeite na outra, e vira
para mim. — Fiz purê de batatas, então, eu faço salada verde ou russa?
Eu passo uns segundos sem saber o que dizer. — Noah, você nunca teve esse tipo de dúvida. O que está
acontecendo?
—Você tem razão. — Ele diz e volta a trabalhar. — Eu nunca tive dúvidas sobre combinações de
comidas, porque elas são como combinações de tintas para mim. E eu não tenho dúvidas sobre as
combinações das minhas tintas.
Mesmo sem entender nada, eu assenti lentamente com a cabeça e sorri um pouco. — E qual você fará?
Ele para as mãos outra vez, e suas sobrancelhas se unem ainda mais, enquanto ele murmura quase que
para si mesmo. — Lake gosta das duas, então eu farei as duas.
Lake.
Lake, a garota ruiva, de aparência delicada e fofa, que está saindo com ele, estava vindo almoçar aqui. E
Noah nunca cozinhou para nenhuma mulher com quem estava saindo. Mas ele também não teve mais de
um encontro com nenhuma delas, mas com Lake sim. E isso só pode significar uma coisa: meu melhor
amigo está apaixonado pela Lake.
Sem querer interromper seu momento mais tarde, eu saio de fininho a procura do meu celular no quarto, e
quando o encontro, envio uma mensagem para Giovanni.
Eu estava superanimada com essa coisa nova em Noah, mas eu poderia esperar até amanhã, quando ele,
provavelmente, estará mais tranquilo, para lhe perguntar sobre isso. Hoje eu lhe darei privacidade com
sua sei-lá-o-que/namorada.
Faço meu caminho até o quarto de Pérola e sorrio quando a vejo sentada na cama, colorindo algum
desenho enquanto Clarice penteia seus cabelos. — Você pode colocar um casaquinho nela? Vamos sair
hoje. — Eu peço. — E você pode tirar o dia de folga. Vá se divertir!


CAPÍTULO 20
***
— Nada, Ethan! Você não fez nada de errado!

Eu ouço Lisa gritar assim que o elevador se abre no apartamento de Ethan. Eles não estão pela sala,
então, eu suponho que devem estar no quarto.
— Então, me diz o que está acontecendo, porque eu não estou entendendo nada. — Ethan grita de volta,
e ele parece desesperado.
Eu saio do elevador e entro para sala, me sento no sofá e fico esperando. Eu sinto que eu deveria voltar
para o elevador e, depois enviar uma mensagem, avisando que voltaria outra hora, quando ele estivesse
sozinho, mas foi ele próprio que mandou e vir até aqui, então, eu apenas fico onde estou.
Lisa deve ter dito algo em voz baixa, que eu não escutei, mas Ethan explodiu. — Porra! Não me venha
com essa de que não tem nada, porque eu não sou burro, Lisa!
— Ethan, pelo amor de Deus!

— Você quer terminar comigo. Okay. Eu entendi, e eu não posso te foçar ao contrário, mas, você não
pode simplesmente ir e me deixar aqui como um idiota, ok? Então me dê um motivo – só um – e eu
prometo que nunca mais eu vou atrás de você de novo. Só me dê a droga de um motivo!
— Mas que merda, Ethan! Eu tenho câncer! — Lisa grita, Ethan fica em silêncio, e meus olhos se
arregalam de uma forma que eu chego a temer que eles escapem das órbitas.
De repente, eu só gostaria de não ter saído do elevador.
Lisa continua gritando. — Eu descobri que tenho a porra de um câncer por causa daquela manchinha
que você encontrou nas minhas costas, lembra? Eu descobri que tenho apenas um ano de vida, por
causa de uma mancha idiota, e eu só não queria que você se sentisse mal por isso. — Ela para e puxa
uma respiração longa. — Eu vou morrer dentro de um ano, e você merece mais que isso. Aí está seu
motivo!
Ethan não diz mais nada, ou pelo menos, não que eu possa escutar. Tudo fica em silêncio total por vários
segundos, até que eu ouço as pegas pesadas de tênis vindo em direção à sala.
Inclinando meus cotovelos sobre os joelhos, eu mantenho minha cabeça baixa, porque eu não sei se vou
conseguir olhar nos olhos de nenhum dos dois agora.
—Oh Deus! — Ouço Lisa murmurar. — Você…

Eu olho pra cima, para ela, mas não diretamente para seus olhos. Ela está chorando, pelo modo que seu
rosto está vermelho e molhado. Eu balanço minha cabeça pra ela. — Sinto muito. — É tudo que eu posso
dizer agora.
Ela fecha os olhos e aperta os dedos envolta da alça da bolsa com força, e sacode a cabeça. — Por favor,
não conte pra ninguém. — Ela pede, quando abre os olhos. — Eu não quero que ninguém saiba ainda,
porque isso não pode, de forma alguma, chegar aos ouvidos da Mel. Ela está grávida e já passou por
tanta coisa ruim...
—Eu não vou contar. — Eu prometo.

Ela assente, seus lábios se comprimindo para não começar a chorar de novo. — Obrigado. — Ela diz,
com um meio sorriso triste, e então caminha para o elevador.
Quando o elevador se fecha, eu deixo minha respiração soltar da minha garganta. Eu não sei o que fazer
nessa situação, mas eu sei que eu odeio ver pessoas chorarem.
—Você... — Eu ouço Ethan e me viro para vê-lo no mesmo lugar que Lisa parou, olhando de uma forma
assustada para o elevador. — Você a ouviu? Por Cristo, me diz que você ouviu também, porque eu não
estou acreditando no caralho dos meus ouvidos agora!
Eu me levanto, enfiando as mãos nos bolsos da minha calça. Olho para trás, para o elevador, e de volta
para ele, sem saber o que dizer. Eu também estaria dessa forma se isso tivesse acontecendo com Aurora.
Eu não acreditaria.
Porra, câncer?
Eu provavelmente enlouqueceria. Eu não posso nem pensar na possibilidade de ouvir Aurora me dizendo
que só tem um ano de vida.
Ethan levou as mãos para cintura e inalou fortemente. Seu nariz estava rosa, sinal de que ele estava
prendendo o choro. Ele tem essa coisa com ele. Ele quase nunca tem motivos para chorar, e quando tem,
ele costumar sufocar. Isso e a raiva faz com que seu nariz fique rosa.
Ele balança a cabeça, um pouco atordoado. — Eu chamei você aqui. —Ele diz, como se só agora ele
estivesse lembrando.
—Posso voltar depois. — me apresso em dizer.

Mas ele sacode a cabeça. Ele levanta uma mão e passa suas costas sobre a testa. — Não. Eu tenho
novidades sobre a carta falsificada. Acho que estamos perto de pegar quem quer que seja.
Eu insisti para ficar com Ethan e conversar, mas ele negou. Ele apenas queria ficar sozinho e pensar,
como ele mesmo me falou. Então eu parei de insistir e me despedi.
Eu estava quase alcançando meu carro quando meu celular vibrou com uma mensagem. Retirei do bolso e
sorri quando vi que era uma mensagem de Aurora.
Está livre? Se sim, me encontra no zoológico. Eu e a P esperaremos em frente à jaula dos leões.
De repente, todas as coisas ruins desapareceram. Sem cartas falsas, nem cânceres, nem amigo sofrendo…
Tudo que estava na minha cabeça agora era que minhas duas pessoas estavam me esperando em um
zoológico.
Eu nem me lembro a última vez que eu fui em um, mas eu com certeza, estou indo para lá. Eu respondo a
mensagem, avisando que estou livre e a caminho do zoológico, assim que me posiciono dentro do meu
carro.

•••

Eu não me lembrava o quão grande era esse lugar, e o quão cheio também. Há crianças para todo o lado.
Elas estão correndo, gritando, chorando, dando comida para alguns animais, e tem até
algumas falando com os animais. Há também os pais gritando e correndo atrás deles, forçando seus
filhos a comerem quando tudo que eles querem é brincar e ver os animais.
Eu vou seguindo as placas que indicam onde fica a jaula dos leões. Eu não sei o quanto eu tive que andar
até que eu as encontrei. Parei no lugar e fiquei observando-as.
Aurora estava agachada de frente para Pérola, arrumando o casaquinho azul em seus ombros, enquanto
Pérola se esticava o máximo que era possível para suas pernas minúsculas para tentar ver dentro da
jaula.
Sem conseguir parar meu sorriso bobo, eu me aproximo delas. — Então, você gosta do leão? — Eu pego
Pérola por trás, em sua cintura, e a levanto, jogando-a para cima no ar.
Ela solta um gritinho fino de surpresa, e começa a rir de um jeito tão gostoso e infantil, que me faz rir
junto. Eu a jogo novamente, e quando a pego de volta, ela enrola os bracinhos envolta do meu pescoço,
me abraçando.
O leão rugiu e ela me soltou, virando em meus braços em um pulo, os olhos arregalados em animação. Eu
precisei segurá-la com firmeza para que não caísse.
—Oba! Palmas para o leão! — Aurora bateu palmas, e ela a seguiu, fazendo o mesmo, sem tirar os
olhinhos azuis dos movimentos do animal.
Ela virou para mim e segurou meu rosto entre as mãozinhas geladas, como se quisesse ter minha atenção
só pra ela. — Viu o leão? — Ela me perguntou, com sua voz infantil soando tão animada, que me faz
derreter por dentro. — Viu, papai? O leão?
Ela começa a imitar de uma forma engraça o rugido do leão, mas eu já estou fora do ar para sorrir.
Papai.
Viu, papai?
Ela me chamou de…? Eu procuro pelos olhos de Aurora e vejo ela sorrindo largamente para mim. Ela
acena a cabeça, confirmando a pergunta que, com certeza, está estampada na minha cara, e eu agradeço
por estar de óculos escuros agora, porque, caralho, eu estou chorando. Estou chorando no meio de um
zoológico. Meu coração está tão, fodidamente, feliz, que parece que vai fazer um buraco no meu peito,
porque não aguenta tanta felicidade.
—Eu quero pipoca, papai.

Papai outra vez. Ela me chamou de papai de novo.


Eu estou amando essa palavra, e eu quero fazer com que ela fale outra vez.
—Então, vamos lá pegar sua pipoca! — Eu consigo dizer, apesar da minha garganta que está ardendo, e a
coloco no chão.
Ela rapidamente desliza sua mão na minha, que some quando eu a seguro. Nós vamos até um carrinho de
pipoca próximo e compramos sua pipoca, da maior que tem.
Aurora me olha com desaprovação e entorta um pouco o nariz. — O saco da pipoca é maior que ela. —
Ela reclama.
Eu seguro seu rosto entre as mãos e pressiono meus lábios nos seus, brevemente. — Baby, é o primeiro
passeio que eu faço com minha filha, e foi a primeira vez que ela me chamou de papai. — Eu abro um
sorriso emocionado. — Ela me chamou de papai! Tem noção do que isso fez pra mim? Então, se ela quer
comer um saco de pipoca maior que ela, ela vai comer.
Aurora segurou a cintura e balançou a perna por uns instantes, mas acabou sorrindo. — Só dessa vez. —
Ela avisa, tentando voltar a ficar séria. — E eu também quero pipoca.
Era quase fim de tarde quando eu coloquei Pérola, já adormecida, na cadeirinha do carro. Depois de
correr o zoológico inteiro – com moderação, claro –, ela finalmente acabou dormindo nos meus braços.
E ela me chamou de papai várias vezes mais.
Eu prendo seu cinto e abaixo a cabeça a beijar sua testa, antes de sair e fechar a porta. Dando a volta por
trás do carro, eu vou ver se está tudo certo com Aurora no banco do motorista. Elas vieram em seu
próprio carro, então, não voltariam comigo.
—Está escutando? — Ela me pergunta, com o dedo indicador apontado para o som do carro.

Eu inclino a cabeça para ouvir uma canção saindo de lá, em volume baixo. Eu assinto. — Sim, o que tem
ela?
Sorrindo de um jeito provocador, ela segurou na gola da minha camisa e me puxou para baixo. Eu
precisei abaixar bem a cabeça para não bater no teto do carro. — Shape of you, Ed Sheeran. — Ela
sussurra contra meu ouvido. — Não esqueça, porque um dia, eu ainda quero fazer amor com você,
escutando ela.
Caralho. Meu pau sacudiu dentro da calça, e minha pele esquentou. Eu dei uma olhada rápida para o
banco de trás, me certificando que Pérola estava mesmo dormindo, então eu enfiei minha mão entre suas
pernas e apertei meu polegar contra seu clítoris. — Anotado. — Eu sussurrei pra ela, e esfreguei meu
dedo.
Ela pressionou a boca em minha bochecha e gemeu. — Por favor, não demora pra chegar hoje em casa,
tudo bem?
Eu retirei minha mão e agarrei com as duas a janela do carro. Dei um selinho rápido, um meio sorriso e
uma piscadela, de forma maliciosa. — Eu vou chegar!


CAPÍTULO 21
AURORA

***
—Oh, meu Deus! Oh, meu Deus!

Eu lamento, meu pescoço arqueando com o prazer, enquanto Giovanni trabalha com sua boca em minha
boceta. Uma de minhas mãos estava apertando o lençol em punho, então eu levo a outra e agarro seus
cabelos, segurando-o em seu exato lugar.
Sua língua serpenteia com força em meu clítoris. — Oh… — Eu não sou capaz de terminar a frase. Meus
quadris se remexem de encontro sua boca, buscando por mais.
Ele havia chegado com o jantar, em seguida, colocou Pérola para dormir enquanto eu colocava os pratos
sujos no lava-louças, e então, ele me puxou para o quarto, arrancou minhas roupas e me jogou na cama.
Agora ele estava entre minhas pernas, se dedicando apenas a minha parte mais sensível, me levando à
loucura, como só ele consegue fazer.
Suas mãos seguram meus quadris e o força para baixo, no colchão, quando sua língua desce lambendo até
minha entrada e ele a enfia lá dentro.
Eu deixo um grito abafado sair, com o prazer que correu pelo meu corpo. Eu não sei se sou capaz de
aguentar outra dessa, mas eu peço de toda forma. — Por favor… Eu estou tão… — minha boca se abre,
deixando escapar um gemido, quando sua língua começa uma dança lenta por toda minha boceta.
—Tão o quê, baby? — Ele está claramente me provocando. Um dedo faz caminho para dentro de mim, tão
lento quanto o movimento de sua língua.
Remexo os quadris, tentando fazer encontrar logo minha liberação, mas ele me segura de novo com a mão
livre.
Ele abre seu meio sorriso safado, e não mexe o dedo. — Diga para mim, amor. Tão, o quê? Perto? Você
está perto?
Eu quero esbofetear ele, por estar me torturando dessa forma, mas em vez disso, eu aceno, sem me
importar de parecer desesperada, porque, porra, eu estou muito desesperada.
—Ótimo. — diz ele, como se isso não fosse a coisa mais importante para mim agora. Mas em seguida,
outro dedo seu me invade e sua boca desce novamente. Agora seus movimentos começam a ficar rápidos
e fortes, e deliciosos.
Meu corpo suado se arqueia no colchão, meus cabelos molhados de suor, grudando pelo meu pescoço e
rosto. Então meu corpo estremece de forma violenta quando ele me dá a minha libertação. Foi tão forte,
que eu precisei agarrar o travesseiro e enfiar minha cara nele, para que os vizinhos não me escutem
gritando de prazer.
Mas, em vez de parar, Giovanni continua, agora mais devagar, a me lamber. Ele faz isso, atiçando meu
montinho de nervos com círculos lentos e precisos de sua língua.
Eu mal consegui voltar a minha respiração calma, e já estava toda aguçada novamente. Eu levo minha
mão para baixo e aliso seu rosto. — Eu quero outra vez, mas tem que ser com você dentro. — Eu digo
depois de inalar uma respiração profunda.
Eu ainda estava mole no colchão, e com o clítoris pulsando pela perca da atenção quando ele se ergue da
cama, sem quebrar o contato visual comigo. — Eu não estava pensando em fazer o contrário, meu amor.
— diz, e retira a camisa, em seguida, começa a se livrar da calça.
Eu concentro meus olhos em suas mãos habilidosas, porque eu amo vê-lo saltar para fora. Ele é lindo, a
coisa mais perfeita que eu já pus meus olhos. E ele é todo meu.
Completamente sem roupas, ele volta para o meio das minhas pernas e empurra meus joelhos, me
deixando o mais aberta possível para ele. Ele abaixa seu corpo grande, pairando sobre o meu, e uma mão
vai entre nós, para posicionar sua cabeça em minha entrada.
Eu estou tremendo em antecipação sob ele. Meu corpo mal recuperado do último orgasmo, implorando
por mais, por ele.
—Segura em meus ombros. — Ele sussurra, sua voz rouca e um pouco trêmula, como se ele estivesse
cerrando os dentes para se controlar.
Eu faço o que ele pede e agarro seus ombros com minhas mãos ansiosas.
Então ele empurra seus quadris contra mim, me preenchendo até o fundo, e um gemido rosnado sai de sua
boca.
Minha boca se abre num gemido mudo e eu fecho os olhos, apreciando o prazer se reconstruindo em
minha barriga outra vez. Ele abaixa a cabeça e vem colocá-la na curva suada do meu pescoço. Sua
respiração quente e incorreta atingindo minha pele sensível em cada estocada forte e perfeita que ele
dava.
No começo era lento, mas duro, como se ele quisesse apenas aproveitar o momento e o prazer. Tudo que
se ouvia era o som de nossos corpos se chocando a cada três segundos, e claro, das nossas respirações
entrecortadas e pesadas.
Eu agarrei seus cabelos com as duas mãos, abraçando seus ombros com meus braços, quando minhas
pernas se apertaram em torno de sua cintura. Ele levou uma mão para minha cintura, enquanto a outra
fazia o trabalho de mantê-lo pairando sobre mim.
—Oh, Deus…! — Eu ofeguei quando senti outro orgasmo começar a crescer no meu baixo-ventre.

Ele agarrou minha mandíbula entre os dentes quando acelerou seu ritmo, me levando à loucura.
Segundos depois, ambos estávamos ofegantes, deitados de costas na cama, olhando para o teto, tentando
controlar nossos batimentos cardíacos. Foi intenso. É sempre intenso quando nós dois estamos realizando
algum ato que envolva sexo. Ele é intenso. É a intensidade em pessoa.
Giovanni me pega pelos braços e me puxa para deitar em seu peito, então me abraça. Eu não só posso
sentir seu coração agora, como eu sou capaz de ouvi-lo. Leva alguns instantes até que eu encontre minha
voz de novo.
—Vai me contar o que era tão importante que o Ethan queria falar?

Seus dedos acariciavam meu braço, em movimentos para cima e para baixo. — Estamos chegando perto.
— Ele diz, vagamente. — Ele conseguiu chegar nos últimos três copiadores, que são possíveis suspeitos
de ter falsificado minha caligrafia. Amanhã mesmo ele interrogará eles com o delegado.
Levantei minha cabeça, colocando o queixo sobre seu peito, e olhei para ele. — E você acha que eles
vão, simplesmente, entregar quem armou isso? — Eu pergunto, com uma falsa calma rondando meu
estômago.
Eu odeio a ideia de não saber quem armou isso para nós, apesar de ter uma forte suspeita. Mas como
Giovanni disse: não podemos fazer nada sem provas.
—Meu amor, eles gostam de dinheiro. — Ele diz quando abaixa os olhos para os meus. — Essa gente faz
de tudo por dinheiro, e eu tenho o suficiente para dobrar qualquer valor que lhe ofereceram para
falsificar. — Sua outra mão, que estava em minha cintura, sobe até meu rosto e ele acaricia minha
bochecha com o polegar. — Não se preocupe. Estamos perto.
Ele garante, com um sorriso perfeito fazendo seus lábios dobrarem, e eu derreto um pouco mais.
Engolindo o nó de preocupação em minha garganta, eu volto a deitar a cabeça em seu peito, e sinto ele
beijar minha cabeça. — Tudo bem, mas precisamos nos vestir agora. Sua filha estará aqui em poucas
horas.

•••

Um barulho vindo da cozinha chama minha atenção quando estou saindo do meu quarto. Eu fecho a porta
atrás de mim, e sigo animada pelo corredor para ver qual café da manhã Noah fez para nós. Mas minha
boca cai quando eu não o encontro na cozinha, e sim uma figura pequena, magra e de cabelos ruivos e
longos, tentando alcançar o armário de cima da geladeira.
Lake.
—Bom dia!? — Eu disse de forma arrastada, ainda um pouco surpresa pela sua presença aqui.

Ela pula, com a mão sobre o peito, e vira assustada. Ela está usando uma calça jeans e uma camisa,
claramente, enorme para seu tamanho. Tremendo com o nervosismo, ela leva uma mecha de seu cabelo
para trás da orelha enquanto se recupera do susto. — Sinto muito. Eu… hã…
Levanto as sobrancelhas, meus lábios pressionados para não sorrir, enquanto vejo ela acenar para o
armário, sem saber o que dizer. Ela está tão vermelha e nervosa, que parece uma adolescente pega no
flagra quando estava fazendo algo errado.
Ela suspira, derrotada, quando não consegue formular o resto da frase, e seus braços caem ao lado de seu
corpo. — Desculpe. Eu sinto muito pelo barulho. Eu apenas estava tentando alcançar aquele armário
porque Noah disse que era onde ficava os pratos. Mas ele está no banho há algum tempo e eu estava com
fome, então...
—Oh, tudo bem! — Eu me apressei a dizer. Peguei uma das banquetas do balcão e arrastei até a frente da
geladeira. — Aqui. Eu também não alcanço, então eu uso isso para subir quando estou sozinha em casa.
— Eu lhe ofereço um sorriso simpático, e ela sorri de volta, timidamente. — Fique à vontade!
Ela sobe na banqueta e abre o armário. — Quer que eu pegue pra você também? — perguntou ela,
hesitante.
Eu balancei a cabeça. — Não precisa, mas obrigada!
Eu estava definitivamente faminta, mas eu não ficaria aqui e atrapalhar o primeiro café da manhã que meu
melhor amigo teria com uma mulher que não fosse eu, nem sua mãe. Estava orgulhosa e animada por ele,
então eu poderia muito bem comprar algo no caminho para o trabalho.
—Ah, eu acho que vou indo! — Eu digo enquanto pego minha bolsa e minhas chaves na mesa de centro.

Lake coloca os dois pratos sobre o balcão e sorri para mim. — Foi um prazer vê-la outra vez. — diz ela,
e aponta para a banqueta. — E obrigada pela dica!
Eu envio uma piscadela para ela quando caminho para a porta. — Não tem de quê. Também gostei de ver
você aqui outra vez. Diga ao Noah que mandei um beijo. — E eu saio do apartamento, sem consegui
evitar o sorriso no meu rosto.


CAPÍTULO 22
GIOVANNI

Cheguei à empresa pouco depois das nove. Já são onze, e eu já participei de duas reuniões de trabalho, e
tenho que decidir entre os projetos que preciso fazer.
Meses atrás, eu pegaria o que estivesse mais longe desse país, mas não hoje. Eu estou correndo e lutando
para ter minha mulher e minha filha perto de mim, e estou perto de descobrir quem armou para me
separar delas, então eu não estou indo para longe.
Então eu transfiro os projetos fora do país e do estado para outros Engenheiros da empresa, e pego o que
está na cidade bem ao lado. Assim eu poderia ir e voltar para casa todos os dias, sem nenhum problema.
Meu celular não para de tocar em nenhum minuto enquanto eu separo alguns papéis em minha mesa. Eu
olho brevemente para ele, pela milésima vez, e meu maxilar se aperta quando vejo o nome de Amanda
piscar nele novamente.
Ela tem me ligado a algum tempo, mas eu estou tentando evitar ao máximo. Ela, com certeza, já deve
estar sabendo que eu e Aurora voltamos, e deve estar louca com isso.
Eu apenas ignoro a chamada e volto a trabalhar. Mas instantes depois, uma zoada do lado de fora do meu
escritório chama minha atenção, e eu aperto o botão do controle para limpar os vidros das minhas
paredes. Com um suspiro, eu recosto na minha poltrona quando meus olhos pegam Amanda pisando duro
em minha direção.
Ela abre a porta abruptamente e entra. — Ok. Você está me ignorando. — Ela se aproxima e se inclina,
colocando as duas mãos espalmadas sobre a mesa. — Faz semanas, Giovanni! Semanas! O quê? O que
estão falando é realmente verdade?
Eu procuro manter a calma enquanto olho diretamente para ela, minhas sobrancelhas um pouco franzidas.
— Não faço a mínima ideia do que você está falando.
Seus lábios pintados com seu habitual batom roxo escuro, estão torcidos com raiva, assim como seus
olhos castanhos. — Estou falando de você me ignorando durante dias, coincidentemente, desde quando
começou a trabalhar com Aurora Mitchell. — Ela incitou a cabeça para o lado. — Faz ideia agora, ou eu
preciso desenhar?
—Ah, sim. — Eu digo, deixando propositalmente um sorriso dissimulado se estender nos meus lábios. —
Devo ter esquecido de comentar que eu e Aurora voltamos. — falo simplesmente.
Ela faz uma pausa, encarando-me com confusão em seus olhos. Eu sabia que ela já sabia sobre isso, ela
apenas queria confirmar, ou ver por si mesma, se bem a conheço. Quando a descrença toma conta de sua
expressão, ela faz uma careta. — Isso é uma piada, certo? Ela abandonou você! Ela…
—Na verdade, eu que, supostamente, a fiz ir embora. — Eu interrompo, mantenho minha voz neutra. —
Por meio de uma carta, pelo que parece.
Ela levanta as sobrancelhas ironicamente. — Foi o que ela te disse? Você sequer é homem de mandar
cartas.
Inclinando para frente, eu coloco meus antebraços sobre a mesa. — Bom, eu sou. Mas só para Aurora,
pra ninguém mais. — Eu digo e pego o flash e irritação que passa em seus olhos. — E alguém, pagou
para falsificarem minha caligrafia e mandaram para ela, da forma exata que eu costumava mandar.
Eu vejo sua garganta trabalhar quando ela engole em seco, em seguida, vai para trás, até se sentar dura
em uma das poltronas em frente à minha mesa. Ela não está mais olhando para mim, seus olhos estão
presos em um ponto na cidade lá fora, através da grande janela.
—E você sabe quem fez isso? — ela pergunta. Ela está tão nervosa que sua voz treme um pouco quando
ela fala.
Eu sorrio internamente quando percebo que não preciso mais da ligação de Ethan para confirmar quem
fez tudo aquilo. Eu tenho ela bem na minha frente. De repente, a raiva e o sentimento de traição apertam
meu peito, mas eu não vou explodir ainda.
—A pessoa que fez isso é inteligente. — Eu continuo, de forma calma, mas pressionando ela. — Se
Aurora não tivesse guardado a carta, e eu não visse com meus próprios olhos, para notar que havia alguns
erros naquela caligrafia, jamais teríamos descoberto. Mas, não se preocupe, pois meu celular tocará em
pouco tempo para confirmar a identidade certa da pessoa.
Ela olha para mim, com as sobrancelhas arqueadas. — E você realmente acha que vão abrir a boca?
—Ethan está com o falsificador nesse momento, — Eu digo pra ela. — e quem não abre a boca quando
tem a oportunidade de ganhar dinheiro suficiente para vida toda?
Seu rosto se contorce tão pouco, que se eu não estivesse olhando-a atentamente, eu não veria. Então ela
estreita os olhos em minha direção, claramente, incomodada com meu olhar sobre ela. — Acha que fui
eu? — Ela pergunta, e há um dobrar leve de seus lábios, e suas sobrancelhas se franzem, em diversão.
—Foi você? — Eu respondo com outra pergunta, sem tirar os olhos dele sequer por um segundo. Eu não
poderia perder nenhum detalhe de seu comportamento. Conheço ela tempo o suficiente para saber quando
está mentindo.
Ela ri e balança a cabeça em descrença. — Deixe-me adivinhar... sua namoradinha disse que fui eu,
certo?
Embora eu não mude minha expressão tão cínica quanto a dela, por dentro eu estou prestes a jogá-la pela
janela. — Ela não é minha namoradinha, Amanda, é minha mulher.
—Ah, sim. Sua mulher. — ela repete a palavra com desgosto. — A que te deu um pé na bunda por causa
de uma carta idiota; A que não te amava o suficiente para confiar em você. Ela preferiu confiar em um
pedaço de papel.
Quase soltando fogo pelas orelhas e nariz, ela se levantou e caminhou até o meio do meu escritório, com
as mãos na cintura. Ela olhou para seus pés, protegidos por um par de sandálias muito altas e pretas, e
ficou em silêncio por uns instantes. Eu podia ver seu peito subindo e descendo como se ela quisesse
controlar a raiva. Então ela levantou os olhos para mim, e com um meneio de cabeça, falou.
—Não foi ideia minha. — diz ela, olhando em meus olhos. — Digo, a carta não foi ideia minha. Isso
nunca se passou pela minha cabeça antes, até que Tiana veio falar comigo.
As coisas estavam ficando interessantes, então eu voltei a me encostar em minha poltrona e levantei uma
sobrancelha, para que ela continuasse.
E ela fez. — Ela disse que não aguentava mais ver Aurora todos os dias. Disse que do jeito que ia,
Aurora tomaria seu lugar como chefe da área de designers. E tinha você, também. — ela apontou
brevemente para mim. — Ela gostava… gosta de você. Mas ela não me disse isso, ela apenas usou meus
sentimentos por você. Ela disse que, com Aurora longe, eu teria uma chance com você, então, eu aceitei
participar disso.
Sabe a sensação de traição de antes? Ela aumentou, a ponto de quase me sufocar. A raiva também está
por todo lugar, e eu realmente estou considerando arremessa-lá pela janela. Eu sabia que ela não era um
exemplo de pessoa – ela sempre foi metida, esnobe, patricinha, mas nunca me passou pela cabeça que
fosse capaz de fazer uma coisa dessas.
—Eu conhecia esse cara da época da faculdade. — continuou ela, indicando meu telefone. — E ele era
apaixonado por mim, então, eu fiz ele falsificar sua caligrafia, e o resto foi por conta da Tiana e, pelo que
fiquei sabendo, da Rita, também. Parece que ela ficou com a parte dos detalhes, eu nã–
—Ela também disse à Aurora que eu estava em um avião. Com você. — rosnei, interrompendo-a. Eu não
estava mais mantendo minha calma, eu estava tremendo de raiva e querendo quebrar tudo.
Ela engoliu e assentiu. É claro que ela sabia. Ela sabia de tudo. Ela encolhe os ombros. — O resto você
já sabe. Eu corri atrás de você feito uma louca, por um ano, e blá-blá-blá. Nunca imaginei que ela
voltaria.
Eu deixei a risada que estava presa na minha garganta escapar, e não aguentando mais ficar sentado, me
levantei abruptamente. — Graças à Deus, ela voltou! E graças à Mel e ao meu irmão, eu a vi novamente.
— eu olhei para ela, com os olhos em fenda e as mãos fechadas em punhos, e perguntei com dentes
cerrados. — Sabia que ela estava grávida?
Seus olhos se arregalaram e sua boca abriu chocada, para depois se fechar. Ela imediatamente sacudiu a
cabeça. — Não! Eu não fazia a mínima ideia. Eu–
—Sim, porra! — eu gritei. — Ela estava grávida quando vocês resolveram fazer essa merda! Ela quase
perdeu minha filha na hora do parto. Ela passou por um inferno, sozinha, porque vocês eram egoístas
demais e só pensaram em si próprias.
Ela não disse mais nenhuma palavra, apenas ficou lá, de pé, com os braços enrolados ao redor de si.
Bom. Eu não queria mais ouvir uma palavra sua.
O bip do meu celular soa e eu vou até ele. É uma mensagem do Ethan, só me conformando quem havia ido
até o falsificador. Eu respondi rapidamente que havia acabado de descobrir, e lhe agradeci.
Minhas mãos estão tremendo quando eu termino de enviar, e sem conseguir evitar meu impulso, eu uso
toda minha força para arremessar o celular na parede, do outro lado da sala. Eu não me importo quando
Amanda pula assustada. Eu passo as mãos pelo rosto e pelo cabelo, em frustração.
A porta se abre novamente e eu viro para ver meu irmão me olhando de modo confuso.
Enzo olha entre mim e Amanda, e fecha a porta atrás de si. — O que diabos está acontecendo? — ele
quis saber.
Olhando por cima de seu ombro, eu noto a multidão que se aglomerou lá fora, e eu estava tão cego de
raiva, que não havia notado.
—Você vai saber em um minuto, irmão. — Um sorriso sarcástico toca meus lábios quando eu aperto o
botão do interfone e espero Rita atender do outro lado.
Ela olhando para dentro da minha sala, como todas as outras pessoas, porém, ainda mais assustada
quando alcança o telefone em sua mesa. — Senhor? — ela gagueja quando leva-o ao ouvido. Seus olhos
estão tão arregalados, que eu posso ver o medo passando por eles daqui.
—Chame Tiana e venha aqui, agora! — eu ordeno com um rosnado, apontando meu dedo indicador para
baixo enquanto olho friamente em seus olhos, através do vidro. Eu desligo o telefone com uma batida,
sem esperar pela sua resposta.
Quando ela e Tiana entram, hesitante, em minha sala, eu aperto o controle para embaçar os vidros,
trancando a visão dos curiosos lá fora.
—Mandou me chamar? — Tiana pergunta, olhando entre Amanda e eu, desconfiada.
Eu olho duro para as duas que estão em minha frente. — Vou aproveitar que meu irmão está aqui, já que
ele quem resolve essas coisas, e deixar claro que, a partir desse momento, vocês não trabalham mais
nessa empresa.
Há exclamações chocadas, e olhos arregalados. Elas começam a perguntar, mas eu a corto, sem
paciência.
—Rita, — eu chamei a atenção dela. — fique ciente que, em breve você receberá uma intimação, pois
processarei você por invasão de privacidade.
Ela sacode a cabeça. — Eu não entendo.
—Você entendeu bem quando eu lhe confiei uma coisa fechada, que não confiei a mais ninguém, e você
abriu.
Ela faz uma carranca, mas não diz mais nada.
Tiana estreita os olhos para Amanda, que ainda está abraçando a si mesma, de pé, perto da janela. —
Você contou, não foi? — perguntou irritada. — Jesus! Por que eu fui confiar em você? Você é tão fraca...
Amanda não é capaz de abrir a boca, porque eu sou mais rápido. — Ela não precisaria me contar, eu já
estava muito perto de descobrir. — dando a volta na minha mesa, eu paro de frente para ela, abaixando
apenas um pouco a cabeça para olhar em seus olhos e falo da forma mais fria que minha voz consegue. —
Dê graças a Deus, porque eu estou apenas demitindo você, Tiana. Acredite, se algo tivesse acontecido
com Aurora ou minha filha, eu enviaria você para o necrotério.
Ela era dissimulada. Enquanto Amanda fazia de tudo para desviar os olhos dos meus, ela sequer piscou
em algum momento enquanto eu falava. Um sorriso dissimulado se formou em seus lábios e ela me olhou
com arrogância. — Acredite, baby: eu. não. me. importo. — disse ela, pausadamente, em seguida, finge
surpresa. — E ela teve uma filha?
De repente, ela começa a sorrir. Sorrir de verdade. Ela até se inclina para frente, segurando sua barriga,
enquanto rir como se tivesse de ouvir uma piada das boas.
—O que é tão engraçado? — Enzo rosna, sem paciência. Ele estava tão calado, que, por um segundo, eu
havia esquecido que ele estava aqui ainda. Mas aí, é o Enzo. Ele gosta de observar e analisar as coisas.
Ele sempre faz isso antes de explodir, ao contrário de Lucca e eu.
Lucca explode quando está sobre pressão.
Enzo explode depois que seu limite extrapola.
Eu explodo apenas com uma respiração errada.
Tiana coloca as mexas de cabelo que estão em seu rosto para trás da orelha, enquanto recupera seu fôlego
da risada. Ela está vermelha de tanto sorrir. Sua língua sai para umedecer seus lábios vermelhos quando
ela voltar a ficar séria. — O engraçado, chefinho, é que eu acabei de me arrepender da carta. — ela olha
para mim, ergue o queixo, e estreita os olhos. — Se eu pudesse voltar o tempo, com certeza, eu teria
armado um acidente de carro, talvez? Não! Caminhão. Seria de caminhão.
Ela voltar a rir, e meu primeiro impulso é ir para frente, mas antes que eu possa agarrar em seus braços
finos, Enzo está do meu lado para me segurar.
—Será que ainda dá tempo? — Ela pergunta em meio a risada.

Então eu explodo. — Chegue perto de uma delas de novo, e eu acabo com você! — eu grito, o mais alto
que meus pulmões conseguem suportar. Minhas mãos estão cerradas em punhos, doendo, desejando
acertar sua cara de sonsa, mesmo sabendo que não se bate em mulheres.
—Rá! E vai fazer o que? Huh? Me bater? — ela dá tapas no próprio rosto quando grita de volta. —
Aurora sempre foi uma sonsa, Giovanni! Eu fiz um favor a você!
—Some daqui, Tiana! — eu grito. Meu maxilar está doendo de tão apertado que está agora.

Uma mão de Enzo está em meu braço, e a outra em volta de minha cintura. — Tiana, saia! — ele ordena.
— Todas vocês, saiam!
Embora sua voz esteja calculadamente calma, eu sei que ele está com raiva, e ele sabe que estou prestes
a quebrar a cara de Tiana, se ela não sair daqui.
Rita se apressa para sair, e no momento em que ela abre a porta, Lucca entra, atordoado, olhando para
todos dentro da sala.
Eu nem sabia que ele tinha voltado da lua de mel!
—O que está... — ele começou a questionar, mas Tiana interrompe rapidamente.

—Isso já está ficando chato! Outro Lazzari? Sério? — ela olha para ele, com expressão de tédio. — Um
resumo: eu arquitetei a ideia da carta, e a doce Aurora fugiu, e agora seu irmão está me ameaçando. —
Ela faz uma pausa, e seus olhos brilham com diversão. — Você ouviu? Eu sou uma designer de interiores
e disse que “arquitetei”. Como um arquiteto. Como você, pequeno Lazzari.
Então ela volta a sorrir, e eu rosno, levantando a mão para apertar minhas têmporas, com minhas palmas,
respirando fundo, várias vezes para manter a calma – inexistente em meu corpo.
—Porra, ponha ela pra fora, Lucca! — Enzo rosna, irritado.

Lucca faz, pegando-a pelo braço e a arrastando para fora. Então só restou Amanda encolhida perto da
janela.
Ela parece perdida em pensamentos agora, com rugas franzidas em sua testa.
Eu exalo uma respiração longa e espalmo minhas mãos sobre minha mesa. — Enquanto a você, Amanda,
nunca mais, eu quero ter que olhar para você. Não me procure, não ligue para mim, e não esteja em
eventos ou lugares que você sabe que eu comparecerei.
Ela assente, ainda sem olhar para mim. Ela caminha até onde está sua bolsa e a pega, pendurando-a no
antebraço. Olhando para o que seu dedo está fazendo na alça da bolsa, ela murmura. — Meus sentimentos
por você sempre foram verdadeiros. Eu preciso que saiba disso.
Meu pescoço de contrai e meus olhos se fecham com força porque meus ouvidos doem só de ouvir o som
da sua voz. Quando ouço a porta sendo fechada, eu deixo a raiva tomar conta do resto de mim.
E em poucos instantes, tudo que estava de pé nessa sala, está no chão, destruído.
Com exceção de Enzo e eu.
E as paredes, claro.

CAPÍTULO 23
AURORA

***
— Você está brincando comigo? — eu disse em tom de descrença. Eu simplesmente não estava
acreditando que ele lidou com aquelas vacas sozinho.
Giovanni me olha sério, enquanto abre os botões de sua blusa. — Não. — É tudo que ele diz. Ele sequer
arruma uma desculpa para mim, como:
"Sinto muito, mas, eu pensei que você estaria ocupada."
ou "Estava tão maluco que sequer pensei em ligar para você na hora."
Ele apenas me dá um simples e maldito "Não".
Eu jogo as mãos para cima em frustração. — Você sabe o quanto eu esperei para olhar na cara de quem
havia feito aquilo conosco, Giovanni! Você sabe que eu queria estar lá e... e–
—E bater nelas? — ele me interrompeu, com uma sobrancelha levantada. — Na cara da Amanda, pra ser
mais específico? — Ele desliza a camisa pelos ombros largos e bronzeados, a descarta sobre o encosto
da cadeira de escritório que eu mantenho no meu quarto. — Seria perda de tempo, meu amor.
—Não seria, não.

—Certo. Você bateria nelas, e depois? — Ele questiona, então se senta no final da cama para retirar os
sapatos. — Rita foi apenas uma peça nesse maldito jogo. Tiana é, claramente, doente. Ela não vale a
porra da pena.
Eu me viro para olhar para ele e posso ver que ele está com raiva. Sou capaz de enxergar o ódio
brilhando em seus olhos.
Ele não me disse tudo que havia acontecido lá, mas eu sei que teve coisas mais sérias. Coisas que
deixaram ele inquieto, e sua postura rijada está gritando isso desde que ele entrou pela porta da frente.
—E quanto a Amanda? — ele continuou. — Ela é uma figura pública, infelizmente. Milhões de seguidores
e fãs nas redes sociais; a queridinha das revistas de celebridades e fofocas. Não podia deixar que você
batesse nela, porque, em seguida, a portaria do seu prédio estaria cheio de repórteres, e fãs dela, só
esperando para que você aparecesse. E, eu sei que você saberia se defender sozinha, mas temos que
pensar na nossa filha agora. Ela é apenas uma criança.
Cerro os dentes e gemo, com raiva, porque ele estava certo. Eu penso no rosto daquelas vacas egoístas, e
então minhas mãos tremem e a raiva ferve porque não posso fazer nada com elas. Eu estou com tanta
raiva, que sinto quando meus olhos começam a inundar com lágrimas.
—Ei, vem aqui. — Giovanni chama, carinhosamente, quando percebe que estou prestes a chorar.

Relutante, eu vou até ele, mas não consigo olhar diretamente para seus olhos.
Ele pega em minhas mãos e me põe montada em suas pernas. Suas mãos sobem e seguram meu rosto,
fazendo-me encará-lo. — Shh. — Ele enxuga as lágrimas que escaparam. — Não quero que você chore.
Eu já resolvi tudo com elas, meu amor. Nem Tiana, nem Amanda vão chegar junto de vocês novamente,
entendeu?
Ri em descrença. — Como pode saber? Você mesmo disse que Tiana estava doente. Ela pode tentar…
—Sim, ela pode tentar, mas ela não vai conseguir. — diz ele, me interrompendo. — Eu me certifiquei de
colocar alguém de olho nelas.
Eu fiquei encarei seus lindos olhos azuis por um tempo, sentindo a raiva se esvaindo na medida que ele
me encara de volta, com ternura acariciando minha pele. Eu o amo tanto, que chega a doer.
Eu nem sei como consegui passar tanto tempo o odiando.
Ou eu apenas pensava que o odiava.
Ele é perfeito em cada letra da palavra; dos pés à cabeça; de um lado para o outro; em cada traço do seu
corpo grande.
Eu levo minhas mãos para cima e seguro seu pescoço, quando ele abaixa as suas para minha cintura,
então abaixo minha cabeça e raspo meus lábios nos seus. — Eu tenho medo de perder você de novo. —
Eu sussurro conta sua boca.
Ele balança levemente a cabeça. — Não vai perder. Eu sou todo seu. — Ele sussurra de volta.
Levo meus lábios para o lado em sua bochecha, então para cima, fazendo-o fechar os olhos para que eu
passasse por suas pálpebras com delicadeza. Eu podia sentir sua respiração forte contra minha pele,
enquanto eu acariciava a sua.
Ele aperto minha cintura, apertando-me contra sua – já dura – ereção, e eu já estava pronta e derretida
para ele. Ele soltou minha cintura e abriu a própria calça, saltando para fora, em seguida. Então levantou
minha camisola e arrastou minha calcinha para o lado, passando os dedos pela minha fenda molhada.
Eu ofeguei, gemendo, com meus lábios agora em seu ouvido.
—Você é a única forma de me deixar calmo, e eu estive a ponto de matar alguém durante o dia. — ele
sussurra com a voz grossa de tesão, enquanto esfrega os dedos em mim.
Eu agarro seu cabelo com uma mão, e a outra eu levo até seu ombro para me apoiar quando eu me esfrego
de volta em seus dedos, e sussurro de volta. — Então me deixe acalmar você.
Eu levanto apenas um pouco de suas pernas e ele se ajeita na minha entrada encharcada, então eu desço
devagar, sentindo-o tomando conta de mim, com todo seu tamanho e espessura.

•••

No dia seguinte, eu entrei e me sentei no banco do passageiro do Jeep de Giovanni, enquanto ela se
ajeitava atrás do volante.
Eu coloquei o sinto vendo ele se virar entre os bancos e sorrir para P, sentada na cadeirinha no banco de
trás.
—Pronta para conhecer seu avô e seus tios, meu amor? — ele perguntou com um sorriso carinhoso.

Olhei pelo retrovisor e a vi confirmando, animadamente, com a cabeça, e ri.


A verdade era que ela não fazia ideia do que estava indo fazer. Eu tinha certeza de que quando ela
estivesse de frente para todas aquelas pessoas reunidas, ela iria tentar se esconder, como sempre faz
quando está diante de pessoas estranhas para ela.
Mas aquelas pessoas são sua família, então eu estou contando com a ligação disso, assim como contei
quando a apresentei a Giovanni.
Para minha surpresa, no caminho, Giovanni ligou o som em uma playlist de músicas infantis. Eu sorri
quando P deu um gritinho animada, e então ela foi todo o caminho cantando juntos as musiquinhas sobre
animais.
Quando chegamos na casa de Hetor Lazzari, eu estava nervosa. Fazia um longo tempo desde que estive
aqui pela última vez. E apesar de ter encontrado todos da família no casamento do Lucca, eu ainda estava
pensando em como olharia direto para eles, sem me sentir nervosa por ter sido a mulher que fez Giovanni
sofrer durante anos, por causa de uma carta.
A família inteira estava na sala, esperando, quando entramos, e assim que eles viraram e sorriram em
direção a Pérola, ela estancou no lugar e puxou a mão de Giovanni, que ela segurava enquanto andava.
Ela abaixou o queixo, e deu um passo para o lado, ficando por trás das pernas do pai.
Eu estava prestes a me ajoelhar para falar com ela, mas Giovanni foi mais rápido.
Ele disse algo em seu ouvido, e ela acenou, em seguida, ele a pegou nos braços. — Pronta? — ele
incentivou, baixinho.
Ela assentiu, com um aceno envergonhado, e se agarrou no pescoço dele quando voltamos a andar.
Giovanni a apresentou a cada pessoa presente, e todos eles viam perto para falar com ela.
Com o tempo, ela foi se soltando do pescoço de Giovanni, mas ainda mantinha o queixo para baixo, os
olhinhos arregalados e suas bochechas estavam rosadas com a vergonha. Na vez do Hetor, ele a levou em
seus braços, e para surpresa de todos, – não apenas minha – ela foi rapidamente.
Eu me senti feliz por ver o quanto ela estava encantada com o avô e a avó postiça – a mulher de Hetor. P
sempre foi muito apegada a meus pais, e depois que viemos para cá, ela tem sentindo falta de avôs.
Mia, a filha de Enzo com sua esposa, Raquel, se aproxima deles. — Oi, P. Eu sou Mia. Sou sua priminha,
sabia? — perguntou ela, com sua voz fofa e infantil.
Eu não podia acreditar no quanto ela estava grande e bonita.
P olhou atentamente para ela por alguns instantes, então assentiu, desconfiada.
—Vem. — Mia pegou em sua mão, para ajudá-la a sair do colo de Hetor. — Eu tenho brinquedos aqui, e
nós podemos brincar. — então ela parou e olhou para Giovanni. — Ela pode brincar comigo, não é tio?
Sorrindo, Giovanni diz: — Claro que pode!
Mia olha para Pérola de novo. — Viu, P? Nós podemos! — Então ela leva Pérola da sala, seguidas por
uma mulher jovem, que deve ser a babá dela.
—Oh deus, ela é tão linda! — Mel diz, tocando meu braço.

Ela parece ainda mais linda que da última vez que nos vimos, em seu casamento. Sua pele está perfeita,
os olhos mais brilhantes e seu cabelo está divino, com novas mechas loiras.
Eu sorri e toquei sua barriga enorme. — Obrigada. Mas quando o mais novo garanhão Lazzari vai
chegar?
—Sandra marcou para daqui a dois dias. — ela responde, olhando encantada para sua barriga.

—Você não devia descansar da viagem? — Giovanni chega e beija sua têmpora esquerda.

Lucca riu. — Sim, ela devia. — ele concorda, com um olhar de advertência para esposa. — Mas, ela é
teimosa.
—Eu não poderia ficar em casa, deitada, com os pés para cima. — Mel revira os olhos para ele. — Não
estou cansada. Me sinto ótima, vida. Nosso filho está ótimo, também. Pare de ser tão chato com isso.
E todos riram quando Lucca suspirou em derrota.
As próximas horas foram boas. Almoçamos e todos eles estavam atentos em P. Eles sorriam e se
encantavam a cada movimento que ela fazia, ou palavra que dizia.
Ela conquistou eles. E eles a conquistaram.
Ela estava mais solta, e não parou de fazer perguntas. Ela também brincou bastante com Mia, e após o
almoço, elas foram nadar junto com Hetor.
E eu estava leve, também. Me sentia em casa de novo perto deles.


CAPÍTULO 24
GIOVANNI

***
Foram duas semanas desde eu descobri quem havia falsificado a carta. E com isso são duas semanas de
paz.
Houve até acontecimentos bons, como o nascimento do meu sobrinho, Benton. Estamos todos encantados
com ele. É tão pequeno, não tem nem duas semanas direito, mas já é tão teimoso quanto os pais.
Eu também estou tirando um tempo apenas para minha família. Eu durmo todos os dias no apartamento de
Aurora enquanto ela termina de decorar a nossa casa – o que parece está sendo uma eternidade –, e eu
tiro o sábado e o domingo para ser apenas dela e da nossa filha.
Ainda não me acostumei de ter que dividir os sábados com Noah, mas Pérola adora ele, então, eu apenas
faço. Mas o domingo é todo é completamente meu.
A não ser quando meu pai quer ela e Mia em sua casa. Aí eu não posso discutir.
Estou pensando nesses dias bons quando Ethan e Lucca invadem minha sala. Eles não têm uma cara
debochada como costumam ter quando eles entram sem bater para me irritar; Eles estão mais para
confusos e assustados.
Lucca vestia calça de moletom e uma camisa azul de manga curta, e com seus cabelos bagunçados, ele
aparenta ter acabado de sair da cama. Mas a frauda de pano pendurada ao redor de seu pescoço, a
pequena babá eletrônica em sua mão, e as manchas escuras abaixo de seus olhos, mostram que ele não
tem dormido há dias.
Ethan, pelo contrário, parece bem, a não ser pelos seus ombros tensos.
—O que houve? — eu procuro saber, a preocupação começando a tomar conta.

Lucca deveria estar em casa com sua esposa e com seu filho recém-nascido, e Ethan, devia estar em casa
com sua namorada, onde esteve nos últimos dias, ajudando-a com as idas às quimioterapias e essas
coisas, e não aqui, na minha sala.
Então eles soltam as bombas na mesma hora:
—Raquel sofreu um acidente. — Ethan diz.

—Levaram a P da escola. — Lucca diz.

Eu paraliso.
Raquel sofreu um acidente.
Levaram a P da escola.
P.
P de Pérola. Minha filha.
Levaram minha filhinha!
Eu olho para os dois, desesperado, e ambos estão se olhando com descrença.
Eu tento juntar as palavras novamente.
Raquel e acidente e P e escola e levaram.
—Mas o que diabos está acontecendo? — Lucca pergunta com incredulidade. — Como Raquel sofreu
esse...
—Levaram minha filha! — eu falo, cortando-o, ainda paralisado com o pânico. — Como levaram minha
filha? — pergunto, trincando os dentes.
—Não faço ideia, cara. — Lucca responde, tão desesperado quanto eu. — Aurora passou lá em casa para
ver o Ben, e seu celular tocou, e ela começou a tremer. Eu peguei o celular dela quando vi que ela não
tinha condições de escutar nada, e falei com Clarice. Ela disse que a diretora falou diretora da escola
disse que quem havia levado a P foi uma mulher, alta, cabelos castanhos, batom roxo... Te soa familiar?
Alta. Cabelos castanhos. Batom roxo.
Mais que porra, Amanda!
Apressadamente, eu levanto e pego minhas chaves. — Por que ninguém ligou para mim? — Eu grito, indo
apressado em direção à saída.
—Eu tentei, mas parece que todos os telefones daqui resolveram ficar ocupados. — Lucca diz, enquanto
ele é Ethan me seguem até o elevador.
Eu estou apertando com violência o botão do elevador com uma mão, enquanto a outra busca pelo meu
celular no bolso da calça. Eu consigo puxa-lo para fora, mas ele está desligado. Eu amaldiçoo ele e eu
mesmo por ter esquecido de ligar ele antes de sair de casa.
O elevador abre e nós entramos. Lucca está mexendo em seu celular quando fez um som estranho e uma
careta.
—Caralho! — ele xinga, e olha para mim com um olhar de desculpas. — Eu pedi para ela ficar lá em casa
enquanto eu vinha até você, mas sua mulher consegue ser mais teimosa que a Melissa, cara!
Eu ranjo os dentes e aperto meu maxilar, esmurrando o botão da garagem, sem parar. Eu não preciso
perguntar para saber para onde Aurora foi. Eu sei para onde ela foi.
Ethan está falando no celular para tentar descobrir algo sobre Raquel no hospital, enquanto Lucca tenta
ligar para Aurora, já que meu celular não está pegando.
E não mal consigo respirar.
Eu quero ir até o hospital e ver se meu irmão precisa de mim, mas, ao mesmo tempo, meu peito está
doendo por saber que estão com minha filha.
Minha filhinha de três anos de idade.
Três anos, porra!

Lucca estaciona o carro em frente à casa de Amanda, no mesmo instante que Aurora faz.
Eu pulo do banco do passageiro e vou até ela.
Ela está tremendo e chorando, e eu não faço ideia se como ela conseguiu chegar até aqui sem um
acidente. O brilho assassino que passa em seus olhos quando ela olha para mim, faz meu estômago de
contrair de dor.
Mas eu alcanço seu braço antes que ela suba as escadas.
Ela vira abruptamente, falando entredentes. — Não se atreva a tentar me convencer de não acabar com a
raça dela outra vez! — sua voz quebra quando mais lágrimas deslizam pelo rosto bonito. — É a
minha filha, Giovanni!
Deus, como eu odeio vê-la dessa forma! Eu não posso nem tenta acalma-lá porque eu estão tão
desesperado quanto ela agora. Mas eu levo minhas mãos e seguro seu rosto, forçando-a a olhar em meus
olhos. — É a nossa filha, eu sei disso. Mas deixa eu entrar e lá e resolver isso. Não vai adiantar vo…
—Não! — ela gritou e se retirou de entre minhas mãos. — A Pérola não é muito boa com estranhos,
Giovanni. Ela tem medo, e se ela tem medo, ela fica nervosa, então ela fica com dificuldades para
respirar. Ela não pode…
Ela quebra novamente, levando uma mão para cobrir sua boca, balanço a cabeça freneticamente.
Eu havia esquecido completamente de seu problema respiratório. Droga!
Eu corro escada a cima, passando por Aurora e chego no painel de controle ao lado da grande porta e
coloco minha mão sobre o leitor de digitais. A porta se abre e entro na casa, sem pedir licença.
Eu não preciso pedir a porra da licença quando a dona da casa está com minha filha!
Jessa, uma das empregadas mais antigas da casa, aparece com uma expressão assustada. — Senhor
Lazzari, algum problema?
Eu ignoro que ela está gaguejando e passo por ela, raspando em seu ombro quando vou em direção às
escadas. Quando piso no primeiro degrau, Amanda aparece no topo.
Ela me olha assustada, então surpresa, e por ultimo confusa. Ela não está usando maquiagem e sua roupa
é apenas uma camisa longa e larga, com um ombro caído e mangas compridas. Ela desce as escadas,
carregando uma mala de mão, olhando-me desconfiada. — Giovanni? — pergunta parecendo surpresa.
Ela olha além do meu ombro, e pelos passos apressados que ouço, eu sei que Aurora acabou de entrar.
—Cadê ela, sua filha da puta? — ela exige saber enquanto se aproxima. Ela parece uma onça pronta para
ir para cima quando eu seguro sua cintura quando ela tenta passar por mim.
Meu coração está pesado, e está custando tudo de mim não explodir agora também, mas eu preciso me
manter são. Estava tudo calmo demais e agora duas bombas foram jogadas sobre minha família.
Eu olho para Amanda, sem paciência. — Eu não denunciei você por falsificação. Não por consideração,
porque isso você não teve por mim, mas porque eu queria proteger minha família. — eu digo a ela,
devagar, porém duro, caso ela tenha dificuldades para entender. — Mas não me faça mudar de ideia.
Como se não bastasse tudo que fez, agora você sequestra uma criança?
Amanda arregala os olhos, em surpresa. — Como é que é?
Aurora geme em agonia. — Pelo amor de Deus, para de ser sonsa! Ela só tem três anos, e ela não pode,
de jeito nenhum, ficar nervosa, com medo.
Amanda termina de descer os degraus, sua expressão mais confusa que antes enquanto ela nos olha com
descrença.
Não confio mais nela, porém, ela não parece ter algo a ver com isso.
Ela estende para Jessa sua mala de mão e pede para que ela a coloque no carro, então vira para olhar
diretamente para Aurora. — Olha, eu entendo porque você presume que fui eu, mas dessa vez, você está
errada.
Aurora ri sem humor algum, as lágrimas caindo sem parar, e ela respira com dificuldade, como se
estivesse com pouco ar.
—Eu tenho uma irmãzinha de cinco anos, e ela é o ser humano mais importante para mim, nesse mundo. —
Amanda diz. — Eu não faria mal a qualquer criança, por favor, acredite. Eu fiz toda aquela merda com
você, mas foi com você, Aurora. Eu não fazia ideia de que estava grávida, e com certeza, não teria feito
de soubesse.
Com uma sobre meu braço em sua cintura, Aurora fechou os olhos e tentou respirar com calma, mas
quando ela abriu os olhos, eles não estavam tão calmos; eles eram assassinos. — Então quem foi, droga?
Eu suspirei, meu peito mais pesado que nunca, porque com Amanda, eu sabia que poderia negociar. Eu
não posso negociar com uma pessoa estranha.
—Amanda. — eu chamo seus olhos para mim. — Mulher alta, cabelos castanhos e batom roxo. Essa foi a
descrição dada pela escola da mulher que levou a Pérola.
Ela assente calmamente. — Eu sei, parece bastante comigo. — ela concorda. — Mas olha, eu estive todo
o tempo arrumando as malas, pois tenho um voo daqui a três horas. Não poderia ter sido eu.
Aurora soluça e deixa sua testa cair em meu peito. Eu a abraço mais perto, sentindo-a se agarrar em mim.
— Ela precisa da bombinha, Giovanni. Ela não vai suportar... — sussurra entre as lágrimas.
—Será que Tiana fez isso? — eu pergunto diretamente para Amanda.

Mas antes que ela possa responder, Lucca entra, e responde por ela. — Não. Estava no telefone com
Ethan e ele está com a polícia. Acabaram de encontrar o corpo de Tiana em seu apartamento, e os peritos
disseram que já faz dois dias. — ele me olha como um pedido de desculpas. — Suicídio. Ela atirou na
própria cabeça.
•••

Estamos na escola agora, e eu estou a ponto de avançar na diretora, que não para de gaguejar uma
explicação do por quê ela deixou que Pérola saísse com uma pessoa que não estava na lista de pessoas
autorizadas.
Quem quer que seja, com certeza, não se parecia com Aurora, ou Clarice, ou Noah, ou eu.
—Ela mostrou um documento de autorização para levá-la. — disse a mulher, olhando para Aurora do
mesmo jeito que um coiote olha para um leão quando está prestes a ser devorado.
—E você não podia telefonar para um de nós, para se certificar que era verdade? — Noah pergunta, seu
tom cheio de raiva. — Porra! Essa é uma escola de crianças, e não havia mais ninguém na lista dela,
além de nós!
Eu coloquei as mãos na cintura e inalei forte. Eu estava feliz por ele estar aqui, para gritar com ela,
porque eu não confiaria em mim neste momento.
—As câmeras. Deve ter alguma câmera de segurança nesse lugar. — Ethan pede.

A diretora acena confirmando e pega o telefone sobre sua mesa. Ela pede a alguém do outro lado que
traga as gravações da manhã e desliga.
Não é como se as gravações servissem para alguma coisa. Nós vemos a mulher, mas ela está sempre de
costas, e ninguém consegue reconhecê-la.
Ouço outros soluços frágeis saírem da boca de Aurora quando Pérola aparece nas imagens, sendo
entregada a mulher.
Elas entram em um carro grande e negro.
Eu olho para Ethan. — A placa.
Ele assente e pega seu celular.
Meu celular toca e eu o tiro do bolso.
—Alô. — eu atendo sem olhar o número, e sem me importar do quão frio eu soei.

—Você disse que a mulher estava com um batom roxo, certo? — A voz de Amanda soa se quebrando, por
causa da zoada de vento forte batendo contra ela.
Eu encontro os olhos vermelhos de Aurora, e respondo. — Sim, foi o que nos disseram.
Ouço um suspiro cansado do outro lado da linha. — Eu devo ter esquecido mais cedo, mas eu me lembrei
agora que, ontem, quando eu estava terminando de embalar minhas maquiagens, Rita foi até minha casa.
Ela veio com uma história de que Tiana havia acabado com a vida dela e ela precisaria recomeçar. Ela
disse que tinha algo grande em mente e que sua vida mudaria. E Giovanni?
Eu tinha a respiração presa quando perguntei. — Sim?
—Ela levou dois dos meus batons roxos exclusivos.


CAPÍTULO 25
GIOVANNI

Minhas mãos se arrastaram pelo meu rosto, sem paciência, enquanto eu assistia o agente responsável pelo caso ditar os motivos que eu não
devo entrar na casa de Rita.
“Ela pode estar armada.”
“Ela pode estar mentindo e matará você e sua filha, assim que você entrar lá”
“Ela é claramente uma psicopata.”
Eu concordei com esse último.
Rita era uma psicopata e ela tinha minha filha de três anos, doente, lá dentro, e tudo que ela fez até agora, foi pedir para que eu entrasse.
Era simples; Eu entrava e ela liberava minha filha.
Eu estreitos meus olhos nele, fuzilando-o enquanto ele continua dizendo que não devo entrar, pois pode haver duas vítimas. Em seguida, eu digo
pra ele que a única vítima lá dentro é a minha filha, e que eu entrarei lá de todo jeito, depois eu peço a Ethan para chamar uma ambulância e,
sem dar tempo para o policial falar qualquer outra coisa, eu subo os degraus e entro na casa.
Primeiro, eu vejo Pérola deitada no sofá, seu corpinho encolhido no canto, desacordado. Eu corro até ela, sem me importar que Rita tem uma
arma nas mãos. Eu toquei seu rostinho gelado, e eu nunca senti tanto desespero como estou sentindo agora.
— Deixe ela, olhe para mim! — Ouço Rita exigir, em um tom ansioso, mas eu não faço.
Arrumo Pérola em meus braços, sentindo meu coração martelando em minha costela, enquanto eu a levanto em meus braços. — Eu vou olhar
para você por quanto tempo você quiser, mas primeiro, deixe-me tirá-la daqui, para que ela possa ser atendida por um médico. — eu peço com
desespero.
Eu olho para ela, em seguida, para sua mão, que segura a arma, em seguida para a porta.
— Você promete que vai me olhar? — ela pergunta, dando um passo em minha direção.
— Eu vou olhar. — eu garanto. — Apenas deixe-me entregá-la para as pessoas lá fora.
Ela balança a cabeça para cima e para baixo, permitindo. — Não olhe pra ela. Eu sei que ela está lá fora. Não olhe.
Eu corri para a porta e sai com a Pérola em meus braços. Só depois que eu a entrego ao Noah, que subiu para pegá-la, eu volto para dentro e
torno a fechar a porta.
Os olhos de Rita brilham com esperança e ela sorri toda derretida, e é aí que eu noto o batom roxo pintado em seus lábios.
Então eu olho ela toda. Ela tem a maquiagem e o cabelo de Amanda e o estilo de roupa da Aurora; saia lápis e um top preto. Ela se aproxima,
sorrindo e toca meu rosto; Meu corpo se desloca na hora, mas eu luto para que ela não perceba. — Você não olhou para ela. — diz.
— Você pediu isso.
— E você está olhando para mim.
— Eu prometi. Estou olhando para você.
— Eu sempre imaginei como seria quando isso acontecesse. — ela ri, como se estivesse recordando de algo. — Eu estudei Amanda e Aurora
por tanto tempo, tentando ser como elas, para chamar sua atenção, mas, tudo que eu precisava era ser elas.
Permaneci parado, sentindo meu estômago embrulhando com seu toque, lutando contra minha vontade de matá-la por tocar na minha filha.
— Olhe essa roupa! — Ela se afasta um pouco para que eu possa vê-la de corpo todo. — Comprei especialmente para você. Você gostou?
Segurei seu rosto, decidido a acabar com essa palhaçada, e olhei dentro de seus olhos. — Você é linda, da sua forma. Não precisa se vestir
igual a elas.
— Mas, você gosta dessa forma. — ela chora. — Nós ficaremos juntos agora, não é?
Eu corro meus polegares pelas suas bochechas, calculando quão rápido seria quebrar seu pescoço agora. Mas, em vez disso, eu disse: — Há
policiais lá fora por sua causa. Eles vão levar você, mas é apenas por um tempo, até as coisas esfriarem. Então, quando você sair, nós
ficaremos juntos.
Seus olhos se alargam com pânico. — Não! Eu não quero ficar longe de você, amor! Não posso deixar você aqui, olhando para ela.
Com cuidado, eu removo a arma de sua mão, olhando-a de perto, com cautela. — Pra eles, o que você fez é grave, querida. Não há como
fugir agora. Eu vou ver você todos os dias.
— Me promete? — ela pede, um pouco receosa.
— Sim. — eu minto. — Eu vou.


CAPÍTULO 26
AURORA

***
— EU POSSO ENTRAR LÁ, por Deus!

Giovanni conseguiu, surpreendentemente, manter a calma durante todo o tempo. Até este momento. Agora
ele estava gritando com o agente responsável pelo caso de sequestro.
Estamos todos em frente à casa de Rita. Há carros de polícia para todo lado, uma vez que o caso
envolvia uma das famílias mais influentes do país.
Eu mal consigo respirar enquanto olho apreensiva para a casa, que está toda trancada. Suas portas e
janelas não ajudam a ver o que tem lá dentro. Se não fosse por Rita, que apareceu em uma das janelas,
apenas para gritar que queria apenas Giovanni lá dentro, poderia dizer que não havia ninguém lá.
Eu tenho os braços de Lucca ao meu redor, tentando me passar conforto, mas era difícil quando eu podia
sentir a tensão em seu corpo. Mas eu não tenho mais força nem para chorar, eu apenas sentia medo agora.
Um medo horrivelmente grande, que tomou conta de cada nervo do meu corpo. Eu fechava os olhos e só
via a imagem da minha bebê, com dificuldades para respirar.
Um suspiro trêmulo escapa da minha boca e eu deito a cabeça no peito de Lucca, quando ele começa a
alisar meu braço, carinhosamente.
—Senhor, eu não posso deixá-lo entrar. Se eu fizer isso, ela pode não cumprir com sua palavra e aí será
duas vítimas. — diz o policial, tentando explicar da forma mais calma possível.
Giovanni o fuzila com o olhar. E eu imagino que o único motivo pelo qual o homem ainda não o prendeu
por desacato é que ele é um Lazzari.
Ele respira fundo e fala com uma calma fingida: — A vítima lá dentro, é minha filhinha, de três anos de
idade, com problemas respiratórios graves. Eu vou entrar lá agora e vou trazê-la para fora. — diz ele,
decidido, e olha para Ethan. — Por favor, certifique-se que uma ambulância chegue rápido aqui, caso ela
precise.
Ethan acena, logo levando o celular ao ouvido.
E antes do policial ser capaz de dizer qualquer coisa, ele está subindo os degraus da casa, de dois em
dois, em direção à porta.
E meu coração parece que vai se partir ao meio quando olha para trás, em minha direção, e seus lábios
são puxados levemente para o lado, transmitindo-me calma, apesar de seus olhos, que estão sérios e
preocupados.
Ele abre a porta e então ele está dentro.
Eu prendo a respiração, e sinto sob meu ouvido quando Lucca prende também.
Eles vão ficar bem!
P vai ficar bem!
Ele está lá dentro com ela agora, então ela vai ficar bem.
Eu não faço ideia de quanto tempo se passa, até que a porta é aberta de novo, e as costas de Giovanni
aparece na porta.
Eu dou um passo longe dos braços de Lucca, mas ainda continuo me segurando nele. Eu sinto que meu
coração vai sair pela boca quando Giovanni vira e Pérola está em seus braços. Desacordada.
Desacordada.
Ela está desac...
Oh deus!
Não! Não! Não!
Eu vejo quando Noah correr degraus acima e a pega de Giovanni, e no instante seguinte, ele volta para
dentro da casa sozinho.
Por que ele voltou?
Eu olho pra Lucca, desesperada. — Por que ele voltou?
Ele parece tão atordoado quanto eu, quando responde: — Foi um acordo, talvez? Eu não faço ideia...
Vamos ver a P.
Ele me guia até a ambulância que Ethan chamou. Noah está do lado dela na maca, enquanto os
paramédicos cuidam dela.
Eu levo minha mão na boca quando sinto um soluço chegando. — Ela não está...? — faço a pergunta para
um dos paramédicos.
—Ela deve ter desmaiado, devido à falta de ar, mas vamos cuidar disso é levá-la ao hospital. — ele me
responde, e com um aceno de cabeça, eles a levam para dentro da ambulância, colocando os aparelhos
para ajudá-la a respirar.
Um filme começa a se passar na minha cabeça. Olhando para ela dessa forma, cercada por médicos,
desacordada, desperta meu maior medo, as piores lembranças da minha vida.
Eu nunca havia sentido tanto medo como senti vendo-a sem conseguir respirar. Eu achei que ia perdê-la.
E então, de repente, tudo está de volta.
Quando os paramédicos conseguem trazê-la de volta, seu rostinho está com tons roxos ao redor do nariz e
olhos. Ela ainda procura por ar, então eles colocam um inalador para ajudá-la.
Eu subo e a abraço, sentindo parte do medo ir.
Ela está bem. Ela vai ficar bem.
—Ainda precisamos ir ao hospital, senhorita. — o paramédico diz. — Ela precisa de alguns exames.

Eu aceno, concordando, mais aliviada. Então eu vejo os policiais se movimentarem, e olho para a casa,
no momento em que Giovanni está saindo da casa, com Rita abraçada ao lado do seu corpo. Eu controlo
o ciúme que estala em minha cabeça quando vejo que ele a entrega para os policiais.
Sem pensar duas vezes, eu peço para Noah ficar com Pérola na ambulância, e desço. Assim que piso
perto dos policiais, minha mão corta o ar e estala contra o lado esquerdo do rosto de Rita.
Ela abre a boca, chocada, mas antes que ela diga qualquer coisa, eu estou segurando os cabelos de sua
nuca com força, e levando sua cabeça para baixo. Encosto minha boca em seu ouvido, e falo, de uma
forma que a deixe sentir o meu ódio nesse instante. — Mexer comigo é uma coisa. Eu sou grandinha o
suficiente para me cuidar sozinha. — eu puxei mais seu cabelo quando ela tentou falar, então ela soltou
um gritinho e gemeu de dor. — Mas você mexeu com minha filha dessa vez, Rita. — eu puxei sua cabeça
para cima e com a outra mão, eu agarrei seu queixo, forçando-a olhar para mim. — Eu espero que você
pegue uma longa pena por sequestro de criança e tentativa de homicídio, porque acredite, eu vou fazer
tudo que eu posso para que isso aconteça. E da próxima vez que você cogitar pensar em tocar na minha
filha outra vez, lembre-se de que eu vou encontrar você de novo, e eu vou acabar você! Eu mato você,
você me entendeu? — aperto seu queixo um pouco mais e solto bruscamente, fazendo sua cabeça sacudir.
— E antes que te levem... — Minha mão corta o ar mais uma vez e atinge seu lado direito. — Só para não
ficar torta.


CAPÍTULO 27
GIOVANNI

***
Toda a família está no hospital agora. Ainda todos tensos e apreensivos. Não por causa da Pérola, no
entanto.
Pérola ainda está respirando com ajuda do inalador hospitalar, mas está bem.
Nós estamos esperando por notícias da cirurgia da Raquel. Ela sofreu um acidente grave há algumas
horas. Um caminhão se chocou contra seu carro, e ela chegou ao hospital desacordada, com os braços e
uma perna quebrada, e com lesões bastantes graves na cabeça e na coluna.
Os médicos responsáveis disseram que fariam de tudo, mas pelo jeito que eles nos olhavam, eles não
estavam prometendo nada. Eles iriam lutar, mas talvez ela não saísse mais da sala de cirurgia.
Enzo parecia estar dopado, sentado no chão, com a cabeça para trás, contra a parede e os braços sobre os
joelhos. Ele não chorou – apesar dos seus olhos estarem inchados e avermelhados –, e ele não falou com
ninguém. Ele apenas se sentou lá, e esperou.
Cada vez que ouvíamos um barulho do lado de fora da sala de espera, ele olhava com esperança para
porta.
Eu não sabia o que fazer e isso estava me matando. Eu havia acabado de passar por um pânico parecido,
quando entrei na casa de Rita e vi minha filha desacordada no sofá.
Rita estava completamente fora de si. Ela tinha pintado os cabelos de castanhos, do mesmo tom que a
Amanda, usava a mesma maquiagem, mas as roupas eram do estilo de Aurora.
Era como se ela quisesse ser as duas ao mesmo tempo. A aparência de Amanda, e o estilo e a vida de
Aurora.
As duas mulheres que eu passei mais tempo na minha vida.
As outras eram apenas casos de uma noite, e às vezes nem isso.
Os três médicos responsáveis por Raquel entram na sala, e eu posso dizer pelas expressões chateadas em
seus rostos que sua, que a notícia não é nada boa.
Ou pior que isso.
O médico número um, Doutor Houston, olha diretamente para Enzo, quando ele se levanta. — Sr. Lazzari,
eu sinto muito, mas infelizmente, ela não resistiu.
—Nós fizemos tudo que estava ao nosso alcance, mas o acidente causou lesões muito graves na cabeça.
— a outra médica, Doutora Wells disse. — Eu tentei conter a hemorragia, mas ela teve morte cerebral.

Houve um silêncio na sala. Ninguém respirava ou falava, apenas expressavam suas caras horrorizadas.
Eu estava horrorizado.
Eu engulo, e olho para cada um dos três médicos, ainda tentando entender tudo isso. Eu quero entender
como tantas coisas ruins acontecem de uma só vez em uma única família.
Sequestro, mortes, gente ficando maluca...
Não que eu não acreditasse que coisas assim acontecem. Eu acreditava desde que conheci minha
cunhada, Mel, uma vez que sua vida parecia que estava constantemente debaixo de um caminhão,
enquanto ele a atropelava várias e várias vezes, sem parar.
Mas dessa forma?
Eu olho para meu irmão. Meu pai foi o primeiro a se mover e foi abraçá-lo. Ele está chorando, enquanto
se agarra ao meu pai.
Todos nós sabemos o quanto ele era apaixonada por ela. Foram longos nove anos que estavam juntos, e
então, isso.
Aos poucos, cada um se aproxima dele, dizendo-lhe que sentem muito, querendo abraçá-lo, mas ele não
larga do nosso pai.
Minha mãe agora está acariciando sua cabeça, como ela fazia conosco quando éramos pequenos e
estávamos com medo, enquanto com a outra mão, ela enxugava os próprios olhos.
Quando ele largou nosso pai, eu retirei o braço da cintura de Alessa e fui até ele. Eu segurei na parte de
trás de sua cabeça e o puxei para mim.
Ele me abraçou com força, seu tremendo violentamente enquanto ele chorava. E então ele gritou, como se
isso fosse capaz de aliviar sua dor.
—Ela está morta, cara! Pelo amor de Deus, ela não pode estar morta! — Ele chora em meu ombro, seu
corpo indo para baixo, quando suas pernas começaram a fraquejar.
Eu desço com ele, até que estamos no chão, mas eu não largo ele. Eu apenas fico lá, e o deixo chorar.
Ele precisa disso agora.
Ele chegou ao seu limite.
***

CAPÍTULO 28
GIOVANNI


***
Eu entro no apartamento com Pérola adormecida em meus braços, e sigo direto para seu quarto.
Aurora me ajuda, retirando a colcha da cama e afastando o lençol rosa, e eu a coloco com cuidado para
baixo, pressionando meus lábios em sua pequena testa, em seguida.
Pérola recebeu alta apenas de madrugada, e resolvemos trazê-la para casa, para longe de toda a tristeza
que caiu sobre nossa família no hospital.
Eu ainda estou abalado. Eu estive segurando Enzo por mais de três horas, e então, Helena – a esposa do
nosso pai, pediu para que um dos médicos lhe dessem algo para ele se acalmar. Depois de medicado, eu
e Ethan o levou até um quarto para ele descansar.
Lucca havia ido para casa antes mesmo de sabermos da morte, para ficar com sua mulher e seu filho.
Ethan foi quem ligou para contar sobre o que tinha acontecido, e em seguida, Lucca foi buscar Mia para
ficar em sua casa.
Eu não faço ideia se ela já sabe, mas eu não consigo para de pensar sobre como ela vai ficar. Ela só tem
seis anos, mas era bastante apegada à mãe.
Eu sigo Aurora para fora do quarto de Pérola, e passo uma mão pelo rosto e cabelos, suspirando. Eu olho
para Aurora e vejo seus olhos avermelhados.
Quando ficamos juntos pela primeira vez, Raquel foi a primeira a se chegar nela. Elas vivaram amigas
em pouco tempo, e em todas reuniões de famílias, elas estavam sempre perto uma da outra. Não foi a
mesma coisa agora, depois que voltamos. Raquel estava duas vezes mais ocupada com seu novo
consultório, e Aurora com seu escritório. Mas ainda sim, mesmo não se vendo como antes, ela parecia
bastante afetada.
Ela inala profundamente, e passa uma mão ao longo de seu rabo de cavalo, então para baixo em seu
pescoço. — Eu ainda não consigo acreditar. — Ela murmura, balançando a cabeça. — Ela não merecia
isso.
—Eu sei que não. — murmuro de volta. Eu dou um passo para perto dela e a puxo para um abraço,
colocando sua cabeça em meu peito quando ela prende os braços em volta do meu tronco. Eu beijo o topo
de sua cabeça. — Nós vamos tomar um banho agora, e você vai descansar um pouco.
Ela afasta a cabeça do meu peito e apoia o queixo lá quando olha para mim para perguntar. — E você?
—Eu vou dar uma olhada em Mia na casa do Lucca, e depois vou voltar ao hospital. — digo. — Meu
irmão vai precisar de toda força quando acordar.
•••

Depois de deixar Aurora dormindo, eu sigo para casa de Lucca. Era madrugada, mas ele ainda estava
acordado. Passei no quarto onde Mia estava dormindo, tranquila em um sono profundo. Ela até sorriu
enquanto sonhava com alguma coisa. Eu fiquei lá, ao seu lado na cama, por algum tempo, então eu saí e
fui com Lucca para o hospital.
Enzo ainda estava adormecido por conta do remédio. Então eu e Ethan fomos resolver as coisas para a
retirada do corpo, enquanto os outros ficaram no quarto onde ele estava.
Era manhã – quase meio dia – quando conseguimos resolver tudo, e saímos do hospital.
Eu não fui para casa naquele dia. Eu mandei uma mensagem para Aurora, dizendo que ficaria na casa do
meu pai hoje, mas a noite, eu estaria lá com ela.
•••

O velório foi tenso.


O clima estava de pura tristeza, e mais uma vez, Enzo parecia estar anestesiado. Ele estava sentado em
uma das poltronas, com Mia encolhida em seu colo. Quando alguém ia o cumprimentar, e lhe dizer coisas
boas, sobre como a dor iria passar, ele apenas lhes dava um leve aceno com a cabeça, e então voltava
sua atenção para sua filha.
Eu estou sentado no sofá, com Aurora de um lado, conversando baixinho com Mel, e Alessa do outro,
com a cabeça deitada em meu ombro, em silêncio, apenas olhando o movimento incansável de pessoas ao
redor da sala de estar.
Lucca está de pé, ao lado de Ethan, perto de janela, enquanto eles conversam sobre alguma coisa. Meu
pai tem sua mulher ao seu lado, no outro sofá, enquanto minha mãe está de pé, atrás da poltrona de Enzo,
ora ou outra pondo sua mão, confortavelmente, em seu ombro.
-
No enterro, o clima é ainda pior.
Enzo não chora, no entanto. Ele permanece firme até o fim, ao lado do caixão da esposa, enquanto Mia
abraça sua perna e tem o rostinho vermelho por causa do choro.
Meu coração está apertado todo o tempo, vendo o quanto ela está sofrendo. Mas antes que eu comece a ir
até ela, Lucca chega perto e a pega no braço. Ele fala alguma coisa no ouvido de Enzo, aperta seu ombro
firmemente, e a leva dali.
Quando terminou, todos nós estávamos destruídos.
Raquel Ester conosco por muito tempo para ir embora tão de repente.
Está sendo uma longa semana de merda para todos nós.
E sabe a dor que as pessoas disseram a Enzo que passaria com o tempo? Ela não vai. Ela nunca vai, nós
apenas nos acostumamos com ela.
•••
Cinco meses depois
—É meu, o gatinho? É meu papai? — Pérola aponta o dedinho para o filhote de gato de pelos brancos,
dentro de uma caixa, no meio da sala.
Era seu aniversário de quatro anos, e como ela adorava animais, eu lhe trouxe um gato, já que não podia
trazer um leão.
—Ele é todo seu, amor. — eu digo, sorrindo pra ela.

Seus olhinhos – da mesma cor dos meus – brilham em animação, e então ela começa a pular em seu lugar,
gritando: — Eu tenho um gatinho! Um gatinho, papai!
Ouço o riso de Aurora e olho para vê-la descendo as escadas da nossa nova casa. Ela parece deliciosa
de shorts e blusa simples, e o cabelo puxado para trás em um rabo de cavalo no alto da cabeça, deixando
seu pescoço perfeito exposto para ser apreciado. Ela olha para mim, sorrindo com os olhos, e lambe os
lábios em seguida. Meu pau empurra contra o zíper do meu jeans, e meu maxilar endurece, enquanto eu
luto contra o desejo de levá-la de volta para nosso quarto.
Nosso, sim!
Aurora está se mudando aos poucos para casa que eu comprei. Estamos indo devagar, como ela quer, mas
eu sinto ela em cada cantinho desse lugar.
Ela se volta para Pérola, que está tocando a cabeça do gatinho com curiosidade. — E como será o nome
desse gatinho? — pergunta, agachando em frente à caixa do gato, para olhá-lo de perto.
Pérola retira a mão do gato e olha para mãe, piscando várias vezes, com a cabeça levemente inclinada
para o lado. — Ele é Twinke's, mamãe. — responde ele, após pensar um pouco.
Nós rimos.
Ela quer chamar o gato com o nome da nossa doceira favorita.
—Eu gosto de Twinke's. — Eu digo pra ela.

Pérola vem correndo e me abraça, passando os bracinhos ao redor do meu pescoço. Em seguida, ela me
solta, e vai dar atenção para seu bichinho de estimação.
Aurora desliza para meu colo e acaricia a parte de trás da minha cabeça com seus dedos. — Ela não vai
mais largar o pobre coitado, você sabe disso, não é?
Eu ri. — Eu sei disso. — Eu segurei em sua cintura e apertei o suficiente para arrancar uma careta de seu
rosto bonito. Eu ergo meu queixo e sussurro perto de seu ouvido: — Eu tenho uma outra surpresa pra
você.
Aurora recua um pouco para olhar para mim, e faz uma careta, gemendo em protesto.
Mas eu aperto sua cintura para impedi-la de falar qualquer coisa. — Eu sou seu futuro marido, e pai da
sua filha. Eu vou lhe fazer muitas surpresas, e eu pretendo fazer isso pelo resto das nossas vidas. — eu
digo pra ela.
Ela pressiona os lábios em uma linha fina, como se quisesse discutir comigo, mas ela não faz. Em vez
disso, ela suspira e coloca sua testa contra minha têmpora esquerda. — Eu odeio surpresas, mas eu amo
você, então tenho certeza que vou amar a tal surpresa, e todas as outras ao longo das nossas vidas.


CAPÍTULO 29
AURORA

***
"Pat está esperando por você. Desça de uma vez! Nós estamos com pressa!"
Eu passei um bom tempo olhando para a tela do meu celular, tentando entender o que a mensagem
significava.
Por que Pat estava me esperando em frente ao prédio onde trabalho?
E o mais importante: Por que diabos estamos com pressa?
Eu não lembro de ter marcado nada pra hoje. Eu lembro de ter planejado terminar logo o trabalho e
voltar para casa, para dormir. Mas isso não é motivo para ter pressa, tampouco para Pat estar me
esperando, uma vez que eu tenho meu próprio carro.
"Estamos indo pra algum lugar que eu não faço ideia?" Eu respondi pra ele.
A resposta veio em instantes.
"Sua surpresa. Desça logo, por favor!"
Ah. A surpresa. Eu estava prestes a descobrir qual era a tal surpresa que ele passou uma semana inteira
me lembrando que tinha uma.
Eu mando outra mensagem: "Por que você, simplesmente, não me manda o endereço e eu vou
encontrar com você? Eu tenho um carro."
Ele responde, e pelo jeito ele está sem paciência.
"Se você não guardar esse celular e descer essa sua bunda linda agora, eu mesmo vou aí buscar
você, Aurora."
Revirando os olhos, eu recolho minha bolsa em cima da minha mesa, e me despeço da minha secretária.
Quando saio do prédio, Pat já tem a porta traseira de uma BMW X5 branca aberta para mim, e um sorriso
simpático nos lábios. Eu me comodo no banco, deixando minha bolsa ao meu lado, então eu escrevo outra
mensagem para o senhor-dono-do-mundo.
"Já estou sentada no banco traseiro de um dos seus carros, com Pat ao volante. Mais alguma
exigência, senhor?"
"Sim. Chegue logo!"


●●●

—Por que estamos em um aeroporto? — Eu procuro saber, intrigada, assim Pat me ajuda a sair do carro
para uma pista de decolagem particular.
Eu procuro por Giovanni, e logo o encontro, próximo ao único avião nessa pista. Eu mantenho meus olhos
nele, enquanto ele fala com outro homem, que parece ser um piloto. Ele está lindo, com uma calça preta,
camisa branca e jaqueta de couro preta. Também há um óculos escuro de modelo aviador tampando seus
olhos, quando ele olha em minha direção.
Eu lamento não conseguir ver seus olhos maravilhosos, mas eu estou tendo uma pequena crise com minha
calcinha agora, por ele estar tão, incrivelmente, delicioso com esses óculos.
Ele sempre está, na verdade.
Estou começando a caminhar em sua direção quando o nome estampado no avião me chama a atenção.
Meu queixo cai aberto. Eu olho para Giovanni e aponto a aeronave, sem conseguir conter mina excitação.
— Essa era a surpresa? O nome da nossa filha estampado em um avião?
Ele reprime um sorriso e balança a cabeça. — Na verdade, é apenas outro presente pra P. Eu já queria
comprar um avião há algum tempo, e achei que colocar o nome da nossa filha seria uma coisa legal. É
todo dela.
Eu não sabia o que dizer, sequer no que pensar, então eu apenas fiz um "Uau!".
Era um presente para Pérola. Nossa filha, de quatro anos de idade, possui um avião.
Eu levo minha mão pra boca, para esconder meu sorriso.
Deus, ela nem sabe o que é isso ainda!
Por que esses pais têm que ser tão exagerados?
—Pode rir à vontade, meu amor. — diz ele, se aproximando e segurando meu rosto entre as mãos. —
Mas, nós vamos inaugura-lo hoje. Neste exato momento, para ser mais preciso. Sua surpresa será o nosso
destino.
Franzo o cenho, confusa. — Como assim "nosso destino", meu amor? Eu não trouxe roupa alguma…
—Não se preocupe com isso. Não vamos precisar de muitas roupas, afinal. — Sua boca é puxada para os
lados de um modo malicioso.
Eu quase sorrio e gemo ao mesmo tempo com a contração causada no meio das minhas pernas. Mas, em
vez disso, eu pergunto: — E a P? Com quem ela vai ficar? Eu nunca viajei sem ela.
Giovanni sacode a cabeça. — Ela vai ficar bem. — ele garante. — Ela e Mia estão na casa do meu pai.
Vão passar uns dias lá com ele e Helena. — Com o polegar, ele empurra meu queixo para cima, para que
seus olhos cobrissem totalmente os meus. — Não se preocupe. Mel estará indo lá todos os dias para
levar o Ben para que elas o vejam, e eu já falei com Noah. Ele irá buscá-la amanhã para um sábado do
Nono.
Eu acabo rindo da sua careta no final de suas palavras. Imagino o quão difícil deve ter sido para ele ligar
para o Noah e pedir para ele pegar a Pérola.
Por mais que ele tente relevar, porque a Pérola ama o Noah, ele não gosta desse apego dos dois. Ele não
aceita, mas respeita. Pela filha, claro.
Dando um suspiro – quase teatral, eu confirmo com a cabeça, aceitando essa aventura.
Ele sorri seu sorriso mais lindo e devastador, me beija rapidamente, então me ajuda a subir no avião.
É um parecido com os outros da LEA que eu já entrei. Luxo para todos os lados, e todo decorado com as
cores vinho e creme.
Giovanni vai até o bar – porque sim, ele tem um bar enorme dentro do avião – e serve duas taças de
vinho. Em seguida, com um aceno de queixo, ele me mostra onde sentar e se senta em minha frente. Seu
corpo grande vai para frente quando ele me entrega uma taça, e então volta para se encostar na poltrona
confortável de couro creme.
—Para onde estamos indo? — pergunto, curiosa e levo minha taça a boca, para um gole.

Ele me olha por cima da taça, já sem os óculos escuros, e seus olhos azuis brilham para mim. Ele coloca
a taça para baixo, sobre sua perna direita, e murmura: — Surpresa. — de forma arrastada, quase ditada.
Eu reviro os olhos e me encosto em minha própria poltrona, decidindo esperar para ver.
Ele nunca diria. Nem se eu o seduzisse para um dos quartos no corredor em frente.
•••

Aeroporto de Marseille!
Era isso que tinha escrito em francês, em uma placa grande, logo na saída da pista do aeroporto onde
pousamos.
Marseille.
Puta que pariu! Eu estou em Marseille!
Eu olhei para Giovanni ao meu lado, sem conseguir contar meu sorriso alegre, e joguei meus braços em
volta do seu pescoço, o abraçando forte.
Ele lembrou do meu desejo de conhecer essa cidade. E ele me trouxe até aqui.
Eu já tinha aceitado que não realizaria esse sonho, porque agora eu comandava um escritório inteiro, e
tinha uma filhinha pequena. Durante esses últimos anos, eu sequer parei para pensar sobre viajar até aqui.
Eu tinha ido em lugares diferentes, como Caribe e Rio de Janeiro, mas não aqui.
Talvez porque eu não queria lembrar de Giovanni, e eu sabia que se viesse sem ele, eu iria me lembrar
dele, então eu evitei.
Mas agora estou aqui. Com ele.
Eu recuo um pouco, seguro seu rosto e beijo sua boca. Repetidas vezes, durante um minuto.
Ele sorri entre os beijos, segurando em minha cintura, e quando eu acabo, ele beija meu nariz e com uma
mão na parte baixa das minhas costas, ele me guia para fora do aeroporto, onde outra BMW branca está a
nossa espera.
No caminho, eu estou suspirando enquanto a paisagem passa diante dos meus olhos. Há uma excitação
dançando em minha barriga. Eu pareço uma criança olhando para os brinquedos em um parque de
diversões.
Esse lugar é perfeito. Lindo demais.
Nós chegamos a um hotel e a suíte presidencial já estava reservada no nome de Giovanni. A suíte era
enorme. Ele possuía uma sala grande, com cozinha estilo americana, dois quartos, ambos com banheiros
do tamanho da sala do meu apartamento, uma varanda com uma piscina particular e uma vista completa
da praia, de tirar o fôlego.
Eu estava no paraíso.
— Bienvenue à Marseille, senhorita! — Giovanni enrola a língua forçando o sotaque francês, divertido
quando passa por mim e aperta levemente meus ombros. Ele some dentro do quarto principal e eu vou até
a porta de vidro da varanda, e a deslizo para o lado, abrindo-a.
Logo o vento forte e refrescante bate contra meu rosto, e eu estou sorrindo como uma boba enquanto ando
para fora. Eu deslizo meu casaco para baixo de meus ombros e o jogo sobre uma das espreguiçadeiras
que há ali. Chegando perto da piscina, eu puxo as pernas da minha calça para cima, pouco abaixo do meu
joelho, então me equilibrei em uma perna e enfiei o pé da outra na água. Estremeci um pouco com a água
gelada. Estava considerando pular na piscina com roupa e tudo, quando Giovanni apareceu na porta da
varanda.
—Há um armário no quarto cheio de roupas, incluindo algumas de banho. Vá lá e vista um biquíni.

Eu coloco as mechas do meu cabelo, que estão voando para todos os lados, atrás da orelha e olho para
trás, para ele. Ele trocou sua calça por um calção de banho e se livrou da camisa e jaqueta, deixando seu
peito nu. Mas ele manteve os óculos escuros, mesmo estando um pouco tarde para isso. O sol estava
quase se pondo.
Eu tiro meu pé da água e viro pra ele. — Mas já está anoitecendo.
—Dizem que aqui, tomar banho à noite, é a melhor coisa. — diz.

Prendo o lábio superior entre os dentes quando concordo com a cabeça. Eu pego meu casaco e vou para o
quarto trocar de roupa.
O armário está realmente cheio de roupas novas. Todas elas ainda tinha a etiqueta. Eu puxo uma das
gavetas e escolho um biquíni azul, da mesma cor dos olhos de Giovanni. Ele é simples, de alças fininhas,
mas sua parte de baixo tem laços de ambos os lados.
Já vestida, eu volto para a varanda. Encontro Giovanni deitado em uma espreguiçadeira, enquanto mexe
em seu celular. Ele sente minha presença e levanta a cabeça para me olhar.
—Acabei de falar com a Pérola. Ela está bem. — ele diz, colocando o celular de lado, em uma mesa.

Eu aceno e olho ao redor, vendo o oceano calmo e as varandas de outras coberturas dos lados. Uma ideia
passa pela minha cabeça e eu resolvo colocá-la em pratica. Eu ando até ele, e me sento montada em seu
colo, minhas mãos apoiadas em seu peito forte e lindo.
Giovanni segura minha cintura com suas mãos grandes e ergue o queixo para mim. Eu retiro seus óculos,
porque eu precisava sentir a intensidade de seus olhos sobre mim, misturada com o refresco do vento da
cidade. E é avassalador, intenso.
Meu estômago se contrai com o quão quente estão seus olhos agora.
—O que está fazendo, meu amor? — sua voz e baixa e rouca para mim.

Sorrindo, um pouco nervosa, eu balanço meus quadris contra ele, sentindo sua forma dura abaixo de mim.
Eu pego nas pontas dos laços do meu biquíni, e os desfaço. — Você realizou meu desejo, então eu vou
realizar o seu. — eu consigo dizer, apesar da minha boca seca. —Você sempre quis fazer amor em uma
espreguiçadeira, em uma varanda. Bom, essa não é a do seu apartamento, mas não deixa de ser uma.
Seus lábios são puxados para o lado, em perversidade, maldosos. Ele me coloca para cima, apenas o
tempo de retirar a calcinha debaixo de mim. Ele pega seu celular na mesa e começa a deslizar o dedo
para cima, em sua playlist, até que ele aperta e Shape Of You, de Ed Sheran, começa a tocar.
Meus ombros tremem quando eu sorrio, por ele ter lembrado.
Ele coloca o celular de volta sobre mesa. — Não gosto de empates, então vou realizar outro desejo seu,
meu amor. — Ele coloca o calção para baixo, revelando seu grande e duro pau. — Tem certeza que quer
fazer isso aqui?
—Eu tenho certeza. —eu confirmo, lambendo os lábios secos, em seguida.

Então ele me levanta e me abaixa sobre ele, me invadindo devagar, fazendo amor na espreguiçadeira, em
uma varanda de uma suíte em Marseille, ao som da minha música favorita.
***

The End.


Table of Contents
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
The End.

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