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No futuro
No presente
No presente
Sinto dizer
Que amo mesmo, tá ruim pra disfarçar
Entre nós dois
Não cabe mais nenhum segredo,
Além do que já combinamos
Eu procurei
Qualquer desculpa pra não te encarar
Pra não dizer de novo e sempre a mesma coisa
Falar só por falar
Que eu já nem tô ai pra essa conversa
Que a história de nós dois não me interessa
Se eu tento esconder meias verdades
Você conhece o meu sorriso
Lê o meu olhar
Meu sorriso é só disfarce
Que eu já nem preciso”[5]
Olhei para o homem que até então pensei que amaria para
sempre, e para a mulher que se dizia minha melhor amiga. A
ânsia veio com força e tentei me conter, diante de tudo que
parecia perfeito. Era o meu jantar de noivado, e tudo ruía, como
se fosse algo predestinado.
— Lu, a gente...
— Cala a boca! — falei incisiva. — Cala a sua maldita
boca, Maria! — praticamente gritei, e ela arregalou os olhos.
O que ela esperava, afinal? Que fosse lhe dar um abraço
de parabéns por ser a mulher amada pelo homem que tinha me
pedido em casamento.
— Por que agora? — olhei-os com nojo. — Por que não me
disseram antes que estavam envolvidos?
— Nós não...
— Não mintam para mim! — olhei-os furiosa, tentando
conter as lágrimas. — Estão na porra da minha casa, e tem a
coragem de me dizer, minutos antes do jantar de noivado
começar, que se amam. Agora vão me dizer onde diabos essa
conversa quer chegar!
— Estou grávida! — Maria se pronunciou e senti minha
cabeça girar.
— O que?
Eu tentava pensar diante de suas palavras, porém a única
coisa que vinha em mente era o fato de ter sido traída pelas
pessoas que mais confiei. Pensava a respeito dos dois anos de
namoro que parecia perfeito, de como tudo conspirava a nosso
favor. Mas ali estava eu, ou melhor, estávamos nós. Vitor, o qual
teve a audácia de me pedir em casamento, ao lado de minha
melhor amiga, que me acompanhou em várias lojas para poder
escolher meu vestido de noiva, mesmo sendo muito cedo para
aquilo.
Aquela falsidade me rondava, e senti nojo de mim mesma.
Vitor tentou se aproximar, e me esquivei, pensando em como
tinha errado desde o início. Ele não era o cara certo, não poderia
ser. Olhei-o com todo meu ódio, e o sentimento puro que nutria
por ele parecia morrer, corroendo-me por dentro. Os olhos
acusadores de Marcelo me vieram em mente, e senti-me ainda
pior. Ele esteve certo desde o começo.
— Desde quando estão me traindo? — perguntei baixo,
tentando me recompor.
— Lu, eu não queria que isso...
— Ah, eu vou dizer o que você queria. — apontei-lhe o
dedo, já perdendo minha paciência. — Queria levar a tola aqui
para o altar, porque com toda certeza os contatos que minha
família tem são indispensáveis. — repeti uma das frases que
Marcelo tinha me dito quando lhe mandei mensagem contando
que aceitei o pedido de casamento, e no fundo, bem lá no fundo,
torci para que ele estivesse errado daquela vez. — Vamos, me
diga se estou errada!
— Eu sinto muito, Lu. — Vitor falou, claramente
angustiado. — Minha família está falindo e eu pensei na forma
mais rápida de conseguir...
— Dinheiro? — levei as mãos aos cabelos, incrédula diante
daquela situação. — Achou mesmo que se casando comigo,
conseguiria algum dinheiro de meus pais? Como você é burro!
— Não o chame disso, Luíza. — Maria falou, e me segurei
para não esganá-la.
— Eu vou quebrar a cara desse moleque! — meu pai se
pronunciou, e só assim me lembrei que tanto ele quanto mamãe
estavam ali.
Eles estavam quietos até então por um simples motivo: eu
era explosiva. Eles sabiam que era capaz de controlar a situação.
Porém, pelo olhar de ambos, estavam a ponto de entrar no meio
daquela confusão e resolver tudo por si só.
— Eu posso com isso, papai. — olhei-o com carinho, e vi
que mamãe o segurava com a mão. — Agora, vamos a vocês.
Eu era uma dama e manteria minha classe diante do
melhor barraco de minha vida.
— Na verdade, a burra é você. — foi a vez de apontar o
dedo para Maria. — Porque com certeza engravidou de propósito
para prender um homem. Ao menos, eu não preciso disso.
Ela tentou dizer algo, porém a olhei com tanta
determinação que a mesma pareceu desistir.
— Pois bem, jantar cancelado. — falei com uma falsa
tranquilidade, que no fundo até eu acreditei.
Olhei ao redor da cozinha, e notei que meus pais me
encaravam em silêncio, pois conheciam bem a filha que tinham.
Eles não se intrometeriam pois me ensinaram direitinho como me
defender. Entretanto, em minha mente, ainda maquinava o que
faria para me vingar de duas pessoas que acabavam de destruir
um dia que seria especial. Ao menos, agora não viveria mais
mentiras.
— Simples assim? — Vitor perguntou, e eu assenti, ficando
ao lado de alguns doces, espalhados pela ilha da cozinha.
— O que pensou? Que eu ia implorar para me escolher? —
ri sem vontade, e vi o rosto dele ficar tenso, assim como o
semblante de Maria mudar. — Deve se achar muito importante.
— Ele é.
Maria tinha que dizer algo para me enfurecer ainda mais, e
sem pensar, apenas peguei a primeira torta que vi e a passos
largos acertei o rosto dela, sem dar chance de Vitor me parar.
Quando ele conseguiu me afastar dela, que tinha o rosto e cabelo
completamente sujos pelo doce, o olhei com escárnio.
No fundo, eu sabia da verdade, estava quebrada. Os olhos
dele nunca pareceram tão distantes, e notei o quanto era louca
por aquele homem. Ele tinha sido único desde o primeiro olhar.
Mas a realidade era clara, ele amava minha melhor amiga, e
ainda teria um filho com ela. Eu não passava de um sobrenome
importante, com uma conta bancária recheada.
Eu era nada para aquele homem, enquanto em minha tola
mente imaginava-me passando o resto de meus dias ao seu lado.
— Sua vadia!
O grito de Maria sequer chamou minha atenção, e apenas
continuei olhando para Vitor, que parecia tão perdido quanto eu.
— Espero que seja feliz, Vitor. — com a mão esquerda,
peguei outra torta, sem que ele pudesse ver. — E que tenha
mesmo feito a escolha certa.
— Lu, eu não sei o que dizer para...
— Não diz nada! — sorri maleficamente, e em meio
segundo, a torta encontrou seu bonito rosto, sujando-o por inteiro.
— Isso não representa um por cento do que quero fazer com os
dois, do que seria capaz... Fora da minha casa agora!
Ambos me olharam sem jeito, e vê-los completamente
sujos, enalteceu meu ego por um instante. Porém no outro, ao
notar a forma como saíram, de mãos dadas, tão unidos, fez-me
entender que toda minha armadura estava no chão. Eu não
significava nada, para nenhum deles. Eu fui abandonada e
descartada no dia em que pensei ser um dos mais felizes de
minha vida.
— Filha...
— Mãe. — virei para Olívia Monteiro, que me encarava
com pesar. A mulher a qual puxei tudo, desde o físico até o mais
profundo de meu ser. Só queria naquele instante ter sua força e
postura inabaláveis. — Pode cancelar tudo para mim? Os
convidados, as empresas...
— Eu faço. — sorri para ela, que tocou meus ombros. —
Você merece mais que isso, querida. Nós sabemos disso! —
olhou de relance para meu pai, que deu um passo para perto de
nós.
— Sua felicidade é longe dessas pessoas, margarida. —
falou com carinho, meu bom e velho pai, que sempre seria meu
herói sem capa.
— Obrigada aos dois, mas eu... Eu preciso ficar sozinha
agora. — falei sem jeito, tentando fugir daquele assunto.
Pior do que ter seu noivo se declarando para sua melhor
amiga grávida dele, era ter tido meus pais assistindo a tudo
aquilo, sem saber como fugir de tal situação. Era um completo
desastre. Um dia para ser esquecido.
— Vou sair. — ambos me olharam preocupados.
— Filha, não...
— Vou apenas ver Marcelo, mãe! — confessei sem jeito
aquela meia verdade. — Ele esteve certo desde o começo.
— Aquele menino sempre está.
E ali estava minha mãe, torcedora número 1 de Marcelo
Carvalho. Ela sequer conseguia disfarçar que o adorava como
genro desde quando éramos crianças.
Saí de casa rapidamente, e por um segundo pensei em
ligar para meu melhor amigo, mas não conseguia, sequer queria
ver alguém. Mas eu precisava extravasar minha mágoa de
alguma forma, e me negava a chorar, negava sofrer daquele jeito
por alguém que não merecia. Alguém que sequer mereceu meu
tempo.
Parei em um bar e pensei nos prós e contras de entrar no
local, no fim de tarde de um domingo que tinha tudo para ser
perfeito. Mas não era, nunca mais seria. Assim, desci do carro e
entrei no local. Sentei-me a frente do balcão e pensei no que
pedir. Lembrei-me de como Marcelo falava a respeito de uísque
ser bom para esquecer as coisas.
— Uma dose de uísque, por favor.
A mulher do outro lado do balcão assentiu, e assim que
terminou de colocar o líquido em meu copo, sorriu de forma
misteriosa.
— O que? — perguntei, sem entender seu olhar.
— Uma moça bonita, num bar, a essas horas num
domingo... O uísque deve estar sendo alguma forma de escapar
da realidade. — acusou e a olhei sem vontade.
— Um dia de merda na minha vida. — virei de uma vez o
líquido e me arrependi no segundo seguinte, quando senti
queimar toda minha garganta. — Porra!
— Além de ser a sua primeira dose. — jogou o pano
branco nos ombros e me encarou. — Se estiver aqui para
esquecer algo, uma dose não vai funcionar, e muito menos se
esse algo for um amor.
— E o que devo tomar para esquecer essa merda? —
perguntei com pesar, sentindo-me uma completa idiota.
— Amor. — deu de ombros. — Só se esquece um grande
amor com outro.
— O que? — perguntei incrédula.
— É assim, moça bonita. — sorriu de lado. — Mais uma
dose?
— Bom, acho que vou precisar de mais umas cinco.
Ela sorriu e me serviu, e fiquei ali, divagando sobre sua
fala, sem saber para onde fugir. Apenas querendo esquecer que
um dia aceitei me casar com Vitor Moraes.
No presente
Marcelo
Luíza
No presente
For making love the way I saved for you inside my head.”[11]
Remetente: Manu
Sei que pediu para não mandar mensagem ou ligar por conta
disso, mas precisa voltar, Lu. Ou ao menos, resolver o que
aconteceu entre vocês. Marcelo vem a fazenda todo dia, e tenta
conseguir seu número comigo. Ele só não pediu o número para
seus pais porque sente vergonha. Agora seus pais acham que ele
é meu namorado, de tanto que vem aqui em casa.
Lu, ligue pra ele! Se não o ama, realmente, deixe ele livre. Ele
parece desesperado.
Deixe ele livre... Aquela era a única parte do texto que
permanecia em minha mente. Mais uma vez chegávamos a um
impasse. Marcelo me queria, como antes, desejando conversar a
respeito do meu maior medo: a atração que sentíamos. Ele tinha
sido meu mundo há tanto tempo, um cara que sempre pude
contar, e mais uma vez, o magoava, pelo medo de ficarmos juntos
e acabar fazendo o mesmo.
Notei mais uma mensagem de Manuele, e arregalei os
olhos assim que comecei a ler. De alguma forma, aquelas
palavras não foram digitadas por ela, e tudo o que fiz foi chorar.
Por estar tão distante da minha verdade, do que tanto queria.
Remetente: Manu
Eu sei, boneca. Sei exatamente o que se passa em sua cabeça.
Sei que se culpa por todas as vezes que me feriu, ao mesmo
tempo, tentando me proteger. Sei que tem medo do amor, mas
deixe eu te contar algo: eu também tenho. Vivo com medo desse
amor que sinto por você, que não se vai, mesmo com tudo que se
passou. Eu não estaria aqui se não te amasse. Por todos os
caminhos tortuosos, tê-la em meus braços apenas mostrou o que
somos. Somos apenas nós, como sempre.
Apenas me deixe ser seu par, me permita te mostrar que não
sou só um amigo, que sou mais. Posso ser o seu “mais”. Sem
culpa pelo que passou, pois já foi. Apenas assuma pra si, o que
eu já sentia antes, e mais, senti ainda mais vivo quando se
entregou a mim. Você me ama, assim como eu te amo. Apenas,
permita-se ser minha. Assim como sou seu.
Assinado: Marcelo Carvalho, seu príncipe.
No presente
Marcelo
Remetente: Boneca
Eu sei que está magoado, mas precisamos conversar.
No presente
Dias depois...
Luíza
Remetente: Boneca
Eu pensei em muitas coisas para te dizer nesse momento,
mas percebi tarde que nem tudo está sob meu controle e até
mesmo meus comandos. O que mais temia acontecer, aconteceu.
E agora, você está longe demais para poder dizer em seu rosto o
quanto te amo, e o fazer entender que o que me impediu de lhe
contar tudo foi exatamente isso. Um ato covarde e egoísta,
admito. Porém, não sou uma mulher perfeita. Dói admitir que na
maioria das vezes não o mereci, num passado o qual temia a todo
momento meus sentimentos. O magoei profundamente no
passado, por medo de te perder, pois nunca imaginei um mundo
no qual não fossemos nós dois contra ele. E agora, o magoei
justamente por não querer mais errar, e não deixar com que
pensasse, que se casar comigo era uma má escolha. Você teve
mil razões para me deixar, em diversas vezes, mas uma te fez
ficar. O que peço agora, príncipe, é que pense em todas as outras
formas em que lhe mostrei meu amor durante todos esses anos
juntos (parece que foi ontem que começamos a namorar, mas já
se passaram seis anos). Eu sou feliz com você. Você o é comigo?
Ouça essa música, e espero que em algum momento,
encontre a razão que precisa para voltar para mim.
Da sua boneca
Cliquei no áudio que enviara em seguida e assim que a
música começou a tocar, senti meu peito afundar ainda mais.
Remetente: Boneca
Hoje é o segundo dia longe de você, e isso me faz lembrar
que não me acostumei com a distância. O maior tempo que
consegui fazer isso foi quando fugi para o exterior anos atrás,
querendo curar meu coração e ao mesmo tempo não me entregar
a você. As vezes penso que já confessei tudo a você, todos os
meus momentos de incerteza sobre nós. Porém, agora sei que
falta muito, faltou dizer muito. Mas hoje, quero falar sobre aquela
noite, a qual fiz a pior escolha da minha vida.
Como já te disse algumas vezes, eu me senti perdida nos
braços de outro e sequer encontrei meu prazer. Pois ao olhar para
outro homem, buscava você. Foi um erro ter que ir para cama
com outro para perceber que te amo, e me arrependo
profundamente. Mas o passado está lá, no lugar dele, não posso
mudar. Aquele homem ser alguém que nunca mais veria na vida
ou Davi Rivera não faz diferença alguma para mim, a não ser o
medo que senti de te perder por aquilo.
Será que me entende ou um dia conseguirá me entender?
Talvez eu não seja a mulher mais romântica do mundo, a
mais carinhosa e muito menos a mais aberta a falar sobre
sentimentos. Mas essa sou eu, Marcelo. Errei muito nessa vida,
em todos os âmbitos, mas tento a cada dia ser alguém melhor.
Uma mulher melhor. Não sei até que ponto vai seu julgamento
sobre mim, e se voltará para casa. Mas quero que saiba que de
todos os meus erros, se decidir voltar, minha honestidade será
sua. Sem mais nenhum segredo entre nós.
Apenas volte para casa, príncipe.
Você me prometeu o mundo um dia, hoje, lhe prometo o
meu.
Sua boneca
Remetente: Boneca
Confesso que hoje tem sido um dia de merda. O outro
advogado quase me enlouqueceu e fiquei a ponto de jogar a
minha pasta na cabeça dele, mas de longe, o trabalho tem sido o
menor problema. Pois ao menos no trabalho, consigo esquecer-
me um pouco do vazio que foi deixado em mim, desde o dia em
que saiu. Pensei em pegar meu carro e partir para Minas, mas
optei por respeitar seu espaço. Você sempre o fez comigo, e
penso ser o mínimo a oferecer. Meus pais ligaram, e menti
descaradamente, para não se preocuparem, e eles felizmente,
caíram. O problema é que todo esse respeito pelo seu espaço
tem me matado, a cada dia, um pedacinho sendo arrancado.
Porque tudo o que consigo pensar é em você com ela. Talvez
agora consiga me colocar no seu lugar. Talvez me imaginar com
outro tenha te machucado a ponto de sair daqui. Mass nunca o
traí, e jamais o faria.
E você? Príncipe? Ou tenho que o chamar de Marcelo? Diz
pra mim que minha mente ardilosa não está acusando o correto,
que não foi pra cama com ela. Meu coração se divide, sem
conseguir acreditar que o cara que mais me amou está com
outra... ou outras. Por um momento foi difícil imaginar que o faria.
Pois eu confio em você, sempre o fiz. Mas agora, tendo-o tão
longe. Apenas o consigo imaginar com ela, e os dois felizes.
Pareço uma idiota, eu sei. Não sou assim. Porém, o desespero
está batendo a porta. Não consigo mais pensar em nada que seja
realmente bom. Muitas vezes quero te xingar por me deixar, e na
outra chorar até convencê-lo a ficar. Bizarro, não é? Mal me
reconheço, porque me mata não o ter aqui. E me seguro para não
escrever mais de uma mensagem por dia, a qual mais uma vez
será ignorada, por querer parecer uma mulher romântica, e lhe
mostrar que sou controlada.
Mas não sou, nem nunca serei. Apenas me diga, caso leia
isso, que não está com ela. Porém, se estiver, seja honesto. Ao
menos você poderá cumprir essa promessa. Tenho mais uma
música que me acompanha, e que nunca pensei que faria sentido
em minha vida, muito menos em relação a nós. Só que tudo o que
consigo fazer por agora é imaginar ser real, e desabar.
Apenas não faça essa música ser real... volte para mim.
Apenas meu, não é?
Pois eu te quero para sempre, príncipe.
Da sua boneca
Assim que cheguei ao Rio, a primeira coisa que fiz foi ligar
para Luíza. Era fim de tarde, e estava há cerca de trinta minutos
da fazenda. O que me fez mudar rapidamente meu destino, assim
que a chamada foi direto para caixa-postal. Passei no escritório
apenas para saber que Luíza não tinha ido trabalhar nos últimos
dias, o que me fez estranhar por completo. Demorei mais do que
esperava ao Jéssica bater na porta de minha sala, mas logo saí
dali e fui o mais rápido que pude até a fazenda. Corri até nossa
casa e a procurei, mas como já esperava, ela não estava. Um nó
se formou em minha garganta e tentei me acalmar.
Algo dentro de mim apontava que era tarde demais para
voltar. Uma sensação ruim que não sabia explicar de onde vinha,
ou porque estava ali. Apenas me atormentava. Eu estava
perdendo tudo, deixando com que escorregasse pelos dedos
minha própria felicidade. Ela tinha nome e sobrenome há tanto
tempo, que a cegueira da mágoa não conseguia mais me impedir.
Sabia bem o que queria e ela só podia estar a poucos metros dali.
Desci as escadas de nossa casa, e a cada passo dado, encarei
com saudade os momentos ali estampados em fotografias.
Luíza adorava registrar momentos, assim como espalhá-los
por toda a casa. Segundo ela, a felicidade merecia ser mostrada.
Senti-me ainda mais canalha e estúpido, e mais do que nunca,
precisava ter uma conversa franca com minha boneca. Os últimos
dias se arrastaram, e nada além da minha culpa e saudade
acompanhavam meus pensamentos.
Assim que cheguei próximo a casa principal da fazenda,
que pertencia a seus pais, andei com rapidez até onde ela tinha
se mudado, a casa que antes pertencia a sua melhor amiga.
Porém parei, no instante que ouvi sua voz alta, como num grito.
Mudei de direção rapidamente, seguindo sua voz, e logo me
deparei com o celeiro, que tinha a porta entreaberta.
Retesei no lugar ao vê-la nos braços do atual capataz da
fazenda, num choro estridente, e os olhos perdidos, ao mesmo
tempo que implorava para que ele ficasse ali. Nada mais fazia
sentido. Minha mulher, nos braços de outro, praticamente
entregue. Quando ela levou os lábios aos dele, sequer consegui
continuar olhando. Virei-me de costas, sentindo a dor em meu
peito tão presente.
— Marcelo, por favor... Não me deixe mais!
Virei-me no mesmo instante, e me deparei com ela ainda
encarando o homem, só assim comecei a entender os sinais. O
corpo de Luíza estava trêmulo, seus olhos vagavam perdidos, e
apenas assisti um pouco mais da cena para entender o que
realmente se desenrolava ali.
— Amor, por favor. — ela implorou, e meu coração falhou
uma batida.
Ela olhava para o homem claramente assustado com seus
atos, como se fosse eu. Era como se ela me enxergasse nele, ou
se quisesse me enxergar de alguma forma.
Sem sequer pensar direito entrei no celeiro e caminhei até
eles. O capataz me encarou perplexo e apenas acenei com a
cabeça, sem querer entrar em alguma questão maior. Eu tinha
notado antes de viajar os olhares que dava a minha esposa, o seu
interesse. Porém, não era um assunto para aquele momento. Ele
se afastou, ao mesmo tempo em que tomei Luíza nos braços. Ela
me olhou com encantamento, como se finalmente tivesse me
enxergado.
— Você é tão bonito, Marcelo. — falou ao tocar meu rosto
com carinho, já em meu colo.
Saí com ela do celeiro e segurei as lágrimas. O cheiro de
álcool em seu hálito era óbvio, e lembrei-me claramente da última
vez que a vi de tal forma. Eu, que antes me sentia seu protetor, o
homem capaz de cuidar de todas suas feridas, e de não a deixar
de tal forma, tornei-me a causa de ela se afogar no álcool. Culpei-
me por estar trazendo a destruição da minha mulher.
Entrei em nossa casa, e a passos rápidos a levei até o
banheiro do quarto. A despi com cuidado e a cada momento,
fiquei atento a seus olhos curiosos. Vez ou outra Luíza soltava
algo sem nexo, porém, foquei em apenas em cuidar dela. Assim
como sempre deveria ter feito. Nenhuma mágoa deveria ter nos
levado aquele momento.
Coloquei-a debaixo da ducha fria, e mesmo molhando toda
minha roupa, dei-lhe o apoio necessário. Luíza soltou um grito,
logo caindo na gargalhada. Segundos depois se soltou de meu
corpo, e desceu até o chão, sentando-se. Vê-la naquela posição
frágil, quebrou-me mais ainda. As lágrimas ameaçaram cair de
meus olhos, porém me segurei, desligando a ducha, e ficando à
altura de Luíza.
— O que foi, boneca? — perguntei com calma, tocando de
leve seu rosto.
— Tô com medo.
— De mim? — perguntei assustado, e ela me encarou com
os olhos marejados, e por fim negou com a cabeça. — Do que,
boneca?
— Ainda... Ainda sou sua boneca?
Ela estava longe de estar completamente sóbria, mas
parecia ao menos entender que agora estava de fato a minha
frente. Porém a fragilidade era tão evidente, que apenas consegui
pensar na forma que ela ficou por todos esses dias separados.
Com certeza, destruída como eu.
— Sempre vai ser.
Luíza tocou meu rosto e um sorriso se abriu em seu belo
rosto. As mãos pequenas traçaram meus lábios de leve, e sorri,
finalmente me lembrando claramente o que me fez sofrer tanto
por ela. Luíza era única para mim, e sempre seria. Por aquele
sorriso, tudo valia a pena.
— Vamos sair daqui.
Ajudei-a a levantar e com cuidado a enrolei num roupão.
Sequei seus cabelos já um pouco mais compridos que o
costumeiro, e notei que mais uma vez ela me observava, atenta a
cada passo. Levei-a até nossa cama e a deitei.
Voltei rapidamente para o banheiro e retirei a roupa
molhada, enrolando uma toalha em minha cintura. Segundos
depois estava deitado ao seu lado, e ela me encarando, como se
fosse o seu mundo.
Ela era o meu!
— Eu te amo, boneca. — confessei, depois de tanto tempo,
sentindo-me finalmente leve, e decidido a lutar por ela, e claro,
por nós.
Luíza não disse nada, apenas fechou os olhos e segundos
depois caiu num sono profundo. Não sei ao certo em que
momento aconteceu, mas olhando para a mulher que trazia
sentido em tudo, acabei dormindo, com seu semblante sereno
povoando meus sonhos.
“So I'm gonna love you now, like it's all I have
I know it'll kill me when it's over
I don't wanna think about it
Meses depois...
Marcelo
Dias depois...
Anos depois...
Fim
Nota da autora
Aline Pádua
Próximo livro
Muito obrigada!
Contatos da autora
Até a próxima!
[1] Trecho da canção Barquinho De Papel da dupla brasileira Anavitória.
[9] É tão bom ser má (Oh oh oh oh oh)/De jeito nenhum vou voltar atrás
(Oh oh oh oh oh)/Agora a dor é o meu prazer porque nada pode medir (Oh oh
oh oh oh)/O amor é ótimo, o amor é bom (oh oh oh oh oh)/Com criatividade e
sem limites (Oh oh oh oh oh)/A aflição da sensação me deixa querendo mais
(Oh oh oh oh oh)/Porque eu posso ser má, mas eu sou muito boa nisso/Sexo
no ar, eu não me importo, eu amo o cheiro/Paus e pedras podem quebrar meus
ossos/Mas correntes e chicotes me excitam. S&M – Rihanna.
[10]
Trecho da canção Ausência da cantora brasileira Marília Mendonça.
[11]
“Desculpe, meu futuro amor
Pelo homem que saiu da minha cama
Por fazer amor do jeito que eu havia guardado para você na minha
cabeça.”
Sober – Demi Lovato.
[12] “Eu ainda vejo suas sombras no meu quarto
Não posso ter de volta o amor que te dei
É até o ponto em que eu amo e te odeio
E eu não posso te mudar, então eu devo te substituir.”
Lucid Dreams (Forget Me) - Juice Wrld
[13]
“Então vamos, deixe ir
Apenas deixe acontecer
Por que você não pode ser apenas você?
E eu ser eu mesmo?.”
Let it go – James Bay
[14]
“Então me diga
Você realmente me amou?
Você realmente me quis?
Agora que eu te vejo mais claramente.”
Smoke & Mirrors – Demi Lovato
[15] “Nós costumávamos ser crianças vivendo apenas por diversão
Em assentos de cinema, aprendendo a beijar
Correndo pelas ruas pintadas de ouro
Nós nunca acreditamos que cresceríamos assim.”
Us – James Bay
[16] “Não me deixe triste, não me faça chorar
Às vezes o amor não é o bastante e a estrada fica difícil
Não sei o porquê.”
Born To Die – Lana Del Rey
[17]
Trecho da canção 3x4 da banda brasileira Engenheiros do Hawaii.
[18]
Trecho da canção Na Sua Estante, da cantora brasileira Pitty.
[19]
Trecho da canção intitulada Pra Ser Sincero da banda brasileira de
rock Engenheiros do Hawaii.
[20]
“Amar pode doer
Amar pode doer às vezes
Mas é a única coisa que eu sei.”
Photograph – Ed Sheeran
[21]
Trecho da canção Teatro Dos Vampiros da banda brasileira de rock
Legião Urbana.
[22] Trecho da canção Não olhe para trás da banda brasileira de rock
Capital Inicial.
[23]
“Você está me dando um milhão de razões para te deixar/Você está
me dando um milhão de razões para desistir do show/Você está me dando um
milhão de razões/Me dê um milhão de razões/Me dando um milhão de
razões/Mais ou menos um milhão de razões.” Trecho da canção Million
Reasons da cantora estadunidense Lady Gaga.
[24] “Outro copo quebrado/Na casa que nós nunca construímos/O
inverno é sempre bastante frio/Frio o suficiente para matar/Basta um pouco de
jasmim/Basta um pouco de sal em minhas feridas/O que acontece se eu lhe
disser/Falar a verdade?/Diga-me que a ama/E eu irei embora/Diga-me que a
ama/E meu coração simplesmente fugirá/Apenas digas as palavras/E eu vou
dar a volta/E ir embora sem fazer qualquer barulho/E queimar esta casa até ao
chão”. Trecho da canção A House We Never Built da cantora britânica Gabrielle
Aplin.
[25] Trecho da canção Barquinho De Papel da dupla brasileira Anavitória.