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Sofie Wiebke ganha uma chance de recomeçar sua vida, está animada
e otimista, mas isso começa a desmoronar quando um desconhecido
arrogante alega ter comprado a casa que ela recebeu de herança dos avós.
Então eu não podia estar mais feliz, me casei com a mulher da minha
vida e ela me deu um lindo filho.
— Magda, o seu filho está bem ali ouvindo toda essa merda que
você está dizendo. Cale a porra da sua boca, você vai magoá-lo.
— Vamos dar esse garoto para a adoção, tenho certeza que as freiras
cuidarão dele com carinho.
— Vai perder a mulher da sua vida, a mulher que você ama por
causa de uma criança indesejada? — gritou indignada.
— Senhor, se bem vi, você saiu daquela casa ali, não desta. Por
favor, onde está a moça que nos contratou?
— Ah, essa deve ser eu — soou uma voz doce e fina. Irritante. —
Desculpem o atraso — disse ela ao motorista.
— Olha, moça, não quero ser grosseiro, mas não pode descarregar
suas coisas na minha casa — falei.
— Sua casa? — Ela olhou para ambas as minhas propriedades,
alternando o olhar entre uma e outra. — O senhor mora ali? — perguntou,
apontando para a casa em que eu morava com Davi.
— Sim.
Ah, uma cínica! Sorri para ela de forma sombria, o que a fez se
encolher um pouco.
— Pode ter sido deles, mas comprei essa casa faz mais de um ano.
Sinto muito se seus avós não te contaram.
Meus olhos estavam nos dela, mas pela visão periférica vi os caras
se virando na minha direção.
Abismado com a audácia dela, dirigi meu olhar para a minha casa e
vi só o topo da cabeça de Davi passando pela janela da cozinha, alguma
coisa tinha acontecido e eu não poderia deixá-lo mais tempo sozinho.
Ah, eu queria ver a cara dela quando o oficial fosse até ela e pedisse
para sair da minha propriedade.
Capítulo 2
Um vizinho babaca!
A primeira caixa que abri em meu quarto tinha por cima de todos os
itens guardados nela, um porta-retratos com uma foto minha com a minha
sobrinha, Pietra. Sorri ao tocar o vidro do porta-retratos, já estava com
saudades daquela pestinha.
E lá estava ele!
— Eu não tô nem aí. Não é problema meu — foi a resposta que ele
me ofereceu.
Puxei a mesa com tudo, dei um passo para trás, em falso, então caí
com a mesa em cima de mim. Um grito escapou da minha garganta, o ferro
da mesa encostou no meu quadril, ficando amparada pelo degrau de cima e
a grande pedra que havia ali do lado, doeu um pouco, mas eu tive sorte por
ela ter sido barrada antes que me atingisse com força total. Tentei empurrá-
la de cima de mim, mas não consegui.
— Bem... pelo menos ela não está mais na porta da sua cozinha —
disse ele, com uma expressão de tédio, dando-me as costas em seguida.
Abismada com a cara de pau dele, não tive reação alguma até que
ele entrasse em sua casa. Respirei fundo, tentando me acalmar do susto,
então entrei em minha casa também.
Capítulo 3
— Sinto muito, meu amigo, mas acho que não vai poder tirá-la. Ao
menos não por enquanto.
— O quê?
— Raul, quando você comprou essa casa aqui, você sequer chegou a
ir ao cartório para os registros, confiou no antigo proprietário para isso e eu
te adverti sobre os riscos, não acredito que fez a mesma coisa com a compra
da casa ao lado.
Joguei-me no sofá.
— Não acredito que perdi minha paz. Terei mesmo que aguentar a
garota morando aí do lado, ela vai incomodar — falei, andando de um lado
para o outro.
— Ela é irritante.
— Nada — respondi.
— Raul? — insistiu.
— Deve ter sido o vento. — Para mim aquela era a resposta mais
segura.
— Sim — concordou.
— Rosto angelical...
— Isso.
— Seios fartos...
— Não precisei nem de cinco minutos perto dela para ter certeza
disso — falei, me levantando e correndo para a porta antes que ela tocasse
de novo a campainha.
— O que você quer? — foi o que eu disse quando abri a porta para
ver minha vizinha, mas ela não estava sozinha.
Pedro, ao ouvir a conversa, veio atrás de mim e lhe dei espaço para
que ele saísse, fechando a porta atrás de nós.
Eu sabia que era grosseria não convidá-los a entrar, mas não poderia
deixar estranhos entrar em minha casa, Davi ficaria incomodado.
— Precisava ser tão mal educado? Ela não tem culpa por você ter
sido enrolado, o que aconteceu por negligência sua mesmo, vamos deixar
claro — Pedro ralhou comigo.
— Então eu vou mesmo ter que aguentar ela — falei para mim
mesmo.
— Pode erguer o muro, mas a garota vai continuar logo ali. Não seja
iludido, Raul. Não construa o muro, é um trabalho desnecessário, ao menos
por enquanto. Veja como as coisas fluirão nos próximos dias, e se ela
incomodar mesmo, levantaremos um muro.
— Não seja tolo. Você está nervoso, a garota é sozinha, não vai
fazer barulho a ponto de incomodar vocês.
— Estaremos lá — garanti.
O jantar na casa de Pedro e Macarena havia ocorrido como sempre.
Era bom que Davi se distraísse um pouco. Apesar de mais velho, Luan, um
dos filhos gêmeos de Pedro, adorava ficar com sua irmã mais nova e Davi,
que tinham praticamente a mesma idade, mas não nos demoramos muito lá.
Com cuidado, peguei Davi no colo e o levei para seu quarto. Por
sorte, ele não acordou com o barulho. Fechei a porta do seu quartinho,
deixando o abajur aceso e fui para a janela da minha cozinha. Não tinha
tanta gente na casa da vizinha, ao menos não à vista, cerca de dez pessoas,
mas faziam barulho como se houvesse cinquenta.
Bati na porta diversas vezes, mas ninguém atendeu, então dei a volta
e segui para os fundos da casa, onde estavam os jovens.
— O próprio!
Eu não fazia ideia, por isso dirigi meu olhar à garota irritante que
agora era minha vizinha e ela deu de ombros.
— Abaixe agora!
Coitado!
— As coisas estão tão feias assim que precisa cobiçar um cara tão
velho, Aída — zombou Adan.
— Você não me disse que seu vizinho além de ser um pé no saco era
também um grande de um gostoso — disse ela.
— Não sei onde você viu isso. Ele mal aguenta andar, aposto que
sente dor nos quadris pela idade avançada — falei, mesmo sabendo que não
era verdade.
— Ué...
— É velho...
— Sim, ele sabia bem como nos fazer abaixar o som, aliás, pode não
fazer isso de novo?
— Não quero festas, Aída, sabe disso. E outra, assim que o carro
apontou na curva, você ergueu o som. Fez de propósito para que ele viesse
reclamar.
— Você sabe que a minha situação não está nada fácil. Vim pra cá
pra ver se consigo escrever um romance que emplaque de vez e me ajude a
sair dessa merda em que me enfiei.
— Falta, nem consegui colocar a primeira cena hot ainda, eles mal
se envolveram — reclamei — e não consigo fazer fluir. Vou precisar de um
emprego e conciliar com a escrita e a faculdade.
Falei e ela desviou os olhos dos meus por um segundo, voltando a
me encarar em seguida.
— É só dança, Sofie.
— Sem roupa!
— Não sou especialista, fiz aquelas aulas por curiosidade, você sabe
disso.
— Não vou!
Eu tremia de nervoso.
— Alguém fez uma denúncia de que havia drogas aqui em casa, eles
vieram verificar, mas não tinha nada, tanto é que estou solto. Só os
acompanhei para prestar esclarecimento. Com certeza é alguma coisa da
Clara, sabe que ela está metida com drogas, não é à toa que tenho a guarda
da Pietra.
— Jura pra mim que você não tá metido nessa merda, Jordan.
— Eu juro, Sofie!
— É claro que não, Sof! Até parece que você não me conhece —
disse ele, chateado.
— Desculpe, desculpe!
— É claro que sei, mas será que podemos conversar depois? Preciso
acalmar a Pietra e encontrar a melhor forma de explicar a ela o que
aconteceu.
— Amo vocês.
Inferno de velhote!
— Alô! — atendi.
— Se acalme, ela está bem. Quer dizer, o pai dela não está em casa e
ela estava com medo, sou vizinha deles e ela correu até a minha casa, mas
não se lembrava do telefone da mãe, só o seu.
— Tudo bem, eu estou indo para aí agora mesmo, pode ficar com
ela até que eu consiga chegar, por favor?
— Tudo bem.
Mas que droga, Jordan! Que merda você tá fazendo que deixou a
criança sozinha?
— Tudo bem.
— Eu sei, eu sei e agradeço demais por você não ter feito isso.
— Tudo bem, mas espero que entenda que se voltar a acontecer, não
terei outra saída. Não posso permitir que uma garotinha de cinco aninhos
fique em perigo.
No caminho para casa tentei ligar para o meu irmão diversas vezes,
mas as chamadas iam direto para a caixa de mensagens, o que me deixava
ainda mais nervosa. Para piorar a situação começou a chover, eu odiava o
tempo de chuva, os raios e trovões me deixavam apavorada.
— Droga! — xinguei.
— Ih, tia, seca ele com o secador. Quando meu cabelo tá pingando
assim, meu pai seca ele com o secador.
— É claro que vou fazer isso, mas só depois ou a nossa lasanha vai
esfriar. Querida, pode escolher um desenho para assistirmos depois do
jantar? Vou tirar essa roupa molhada e já volto — pedi, sentindo minha voz
embargar.
— Sim, querida!
— O menininho.
— Aqui não, tia, na casa do vizinho — disse ela e senti meu cenho
franzir.
— Alô!
— É claro que ela está comigo. Eu vou te matar se não chegar aqui
na minha casa em cinco minutos!
— Que porra pode ter acontecido para você abandonar a sua filha de
cinco anos sozinha em casa e só ligar atrás dela no dia seguinte?
— Estou preso.
— Você disse que não estava mexendo com nada ilícito, Jordan.
— Por favor, eu vou dar um jeito nisso, mas a mãe dela não pode
saber.
— Ela vai desconfiar quando souber que vocês magicamente
desapareceram.
— Não, eu vou ligar e dizer que vou viajar com a Pietra, como ela
não pode opinar nisso, vai ter que aceitar e pronto. Por favor, cuide dela.
— O que?
— Eu te amo, irmãzinha.
— Eu também te amo.
Era coisa demais para digerir. Não conseguia acreditar que meu
irmão tinha se metido naquela confusão. Precisei ir ao supermercado, meu
congelador estava cheio de comida industrializada congelada e Pietra não
poderia comer aquilo. Como eu faria comida saudável para ela? Não tinha
ideia, quando morava com ela e Jordan, meu irmão era quem cozinhava
para nós, eu era péssima na cozinha, mas daria um jeito. Também passamos
na casa do meu irmão para pegar as roupas e pertences de Pietra.
— Não, meu amor. É claro que não — garanti, voltando até ela e a
abraçando. — Só vou na casa do vizinho aqui do lado pegar minha
encomenda que chegou.
— Tudo bem, eu vou ver, tá?! — falei sem querer contrariá-la mais,
mesmo sabendo que não havia menino algum.
— O que você quer, garota? — disse ele assim que abriu a porta.
— Tudo bem — falei quando ele abriu a porta de volta para entrar.
— Espero que não seja nada que quebre, o deixei cair duas vezes
sem querer.
Dei alguns passos até que estivesse perto o suficiente e sorri para
ele.
— Ele disse que o papai precisa de uma mulher bonita pra fazer sexy
e relaxar — disse o garoto e senti meus olhos arregalarem, quase deixando
o pacote cair. — Papai, faz sexy com ela!
— Davi, não sei da onde você tirou isso. Entre agora — disse o
vizinho e passou por mim.
— Vamos lá, campeão, vou te dar sorvete — disse a voz de quem ria
dentro da casa.
— Bem, deixe eu entrar com esse garotinho antes que ele faça o pai
dele enfartar. Foi um prazer, Sofie — disse ele e entrou sem esperar uma
resposta, levando o garoto consigo.
— Desculpe por isso. Eu juro que não falávamos nada nesse teor
envolvendo você. Pedro falou umas abobrinhas quando pensamos que o
Davi não estava ouvindo e ele só...
— Que tem um filho e que sabe ser gentil se quiser — falei e olhei
para trás. Ele sorria.
— E a terceira?
— Entre na sua casa antes que eu te diga o que não devo, garota —
disse, ainda rindo quando eu já havia atravessado a cerca viva.
— O que foi aquilo? Por que disse aquelas coisas àquela moça?
— Você tem toda razão, filho, não pode mentir, mas não havia
necessidade de dizer.
— Afinal, o que é sexy? Por que você não fez com ela, papai?
— Combinado, papai. Mas você pode fazer logo com ela para deixar
de ficar tão chato como está sendo nos últimos dias? — pediu.
— Por que?
— Combinado!
Davi era uma criança geniosa quando queria ser, mas no geral era
fácil de lidar com ele, uma boa conversa sempre resolvia as coisas desde
que ele tivesse tido uma boa noite de sono sem pesadelos.
— Tudo bem.
— O que foi? A culpa não é minha dele ter desligado o som dos
fones.
— Não, mas se não tivesse dito todas aquelas asneiras ele não tinha
repetido para a garota — falei, indo para a cozinha servir o almoço e Pedro
me acompanhou.
— Como assim?
— O que aconteceu?
— Sim — respondi.
Lembrei-me das palavras que ela havia lido sem saber que eu estava
ali. A garota havia usado termos estranhos, mas ainda assim o contexto da
cena era bom, excitante e surpreendente.
Eu não diria a ele que ela estava escrevendo uma putaria das boas.
— Ok.
Caminhei até o banheiro social, mas Davi não estava ali, devia ter
ido para o banheiro do próprio quarto, então foi para lá que me encaminhei.
Meu celular sinalizou uma mensagem de um dos clientes que eu estava
atendendo de forma remota, por isso parei na porta do quarto do Davi e
comecei a responder o cara, ele era exigente e sistemático, mas era um
excelente projeto, não podia perdê-lo.
— Tá bom.
— Vai?
Desde que Magda tinha ido embora, eu vivia só dentro daquela casa
para cuidar do Davi, saía apenas para jantares esporádicos na casa dele com
Macarena.
— Não tem problema nenhum. Isso é perfeito. Pedirei a Maca para
ficar com o Davi, ela vai amar.
— Eu sei, mas já é um começo, vai sair dessa casa. Essa decisão que
tomou fará muito bem tanto a você quanto ao Davi.
Para o meu desespero, Davi não estava mesmo lá. Nem nos
banheiros, nos outros quartos e em nenhum outro cômodo da casa. O que
estava acontecendo? Davi nunca saía sequer para o quintal sem avisar, por
isso senti meu coração acelerar.
— Encontrou? — perguntei.
— Por que não me avisou que meu filho tinha vindo para cá? —
perguntei. — Davi, saia agora!
— Ah, eu... me desculpe, eu achei que você sabia. Pietra foi
convidá-lo e quando ele chegou aqui todo arrumadinho para a piscina,
pensei que você tivesse permitido — disse ela.
— Não, eu não permiti. Ele fugiu de casa, você deveria ter avisado.
Não sabe como são as crianças?
— E você tem uma filha? Deixou sua filha por aí todos esses dias?
— me irritei com ela e me voltei para Davi em seguida. — Davi, já disse
para sair daí agora!
— Tudo bem.
Ela tinha razão e era a primeira vez que ele fazia aquilo. Olhei para
ele na piscina, todo feliz com a nova amiga, parecendo contar tudo ao
Pedro, então decidi que o deixaria ter seu momento de diversão e mais tarde
conversaríamos sobre o que ele havia feito de errado. Me dei conta naquele
momento também da conversa que ele estava tendo quando eu estava
parado à porta do seu quarto, não era com o tablet, mas sim com a
garotinha.
— Oi — respondi.
— Por que? Você é um homem tão grande e não sabe nadar numa
piscina pequenininha como essa? Tia, coloca bóias de braço nele — sugeriu
a garotinha e Pedro e Sofie riram.
— Não, tudo bem, mas se não for incomodar, eu gostaria de ficar ali
por perto, só para vigiar — falei.
— Não me ofenda! Não tenho experiência como mãe, mas não sou
idiota, jamais leria algo como aquilo perto das crianças e nem estou
escrevendo nada naquele sentido no momento — disse ela, ficando
vermelha.
— Acho que não era aqui não, eu não conheço o carro — disse ela.
— Sim, bem já vou indo então. Até mais — disse Pedro e acenei de
volta assim como Sofie.
— Não vai fazer mal. Está gelada, mas a água da piscina está mais
— disse ela e eu fiquei sem graça.
— Você diz não ter experiência como mãe, mas tem itens na sua
casa que gritam maternidade — falei, aceitando o copo. O canudo tinha
olhos de caranguejo.
— Ah, não! Os copos só gritam “eu sou uma tia divertida que gosta
de agradar a sobrinha” — disse ela sorrindo e não consegui evitar sorrir
também.
— Você pode ficar ali na sombra, sabe?! Eles estão seguros e são só
uns cinco passos de diferença — disse ela.
— Eu... eu prefiro assim — falei.
Comecei a caminhar para a porta da frente, para onde ele parecia ter
ido, abri a porta, mas ele não estava ali, então saí.
— Vizinho?
— Eu sou o Malvo.
— Sim, eu... sou... amigo do seu irmão — disse ele, dando passos
em minha direção.
— O Jordan não está aqui.
Nesse momento passei por ele e puxei a porta, fechando-a, mas não
sem ele segurar o meu braço, deixando-me do lado de fora, junto com ele.
— Não sei quando ele vai voltar e não tenho nada a ver com as
coisas dele.
— Vai ter que dar o seu jeito, porque se não me pagar com dinheiro,
vai ter que me pagar de outra forma — disse, levando sua perna ao meio
das minhas. — Caso contrário, seu irmão que está na cadeia não vai nem
chegar ao julgamento, porque vou mandar matá-lo e será bem doloroso para
ele, me entendeu?
— Diga que está tudo bem, ou eu vou voltar e não vou poupar a
pequena Pietra — ameaçou o homem em tom baixo para que só eu ouvisse.
— São setenta e dois mil. Você tem um mês a partir de hoje — disse
o homem e começou a caminhar para fora do meu quintal.
— Raul, não! Está tudo bem — falei, chamando a atenção dele que
se voltou para mim outra vez, chegando na varanda em poucos passos.
— Não por isso. Ah, eu queria agradecer por hoje. Davi se divertiu
muito.
— Tudo bem, foi um prazer, ele pode vir quando quiser, a Pietra
também adorou — falei, tentando sorrir, mas não o deixe se aproximar
muito ou perceberia que eu estava tremendo.
— Tiaaaaa?
— Certo! Ah, pode ver se consegue aquela vaga para mim? — pedi
sem jeito.
— Aída?
— Obrigada!
— Você sabe que não tem que me agradecer por isso. Mais tarde eu
te ligo, amiga, estão me chamando. Beijo, eu te amo.
Não acreditava que estava fazendo aquilo, mas eu não tinha outra
saída. O dinheiro que eu tinha mal estava me sustentando, e agora eu ainda
tinha a minha sobrinha para sustentar, e para piorar a situação, teria que
pagar uma dívida absurda de Jordan. E tinha a faculdade... eu teria que
trancar a faculdade e encontrar alguém para cuidar da Pietra enquanto eu
estivesse trabalhando à noite como stripper.
Quando foi que a minha vida virou de ponta cabeça daquele jeito?
Louise era uma garota de dezessete anos que morava nas
proximidades e tinha ótimas referências como babá. Ela cobrava por hora e
estava disponível para cuidar de Pietra de quinta à domingo, os dias em que
eu trabalharia na boate.
— Tia Sof, vem jantar em casa com a gente, meu pai fez uma
comida deliciosa e a gente pode jogar videogame — disse Davi, todo
afobado e animado.
— Ah...
— Eu sinto muito, mas estou saindo para trabalhar e Pietra vai ficar
com a babá.
— Não sabia que tinha outro trabalho que não fosse seus livros —
disse Raul.
— Engraçadinho!
— Tudo bem.
— Ah, estou tão animada que vamos trabalhar juntas. Estou feliz
que tenha tomado essa decisão, mas estou curiosa, o que te fez mudar de
ideia?
— Podemos não falar nisso, por favor, estou esgotada desse assunto.
— Certo, então agora você também precisa pagar uma babá, vamos
entrar logo para eu te apresentar a todo mundo.
— Não, Aída, não quero ser apresentada a todo mundo — falei e ela
suspirou.
— Tudo bem, mas ao Andreas você vai ter que ser apresentada. Ele
é o chefe, então não tem como correr.
— Tudo bem.
— Sei.
— Então vamos ver — disse ele, indicando a porta pela qual
entramos e se levantou.
Girei meu corpo, levantando uma das pernas para passar pela barra e
então me levando, ondulando o corpo. Continuei meus movimentos,
deixando me levar pela música, assim como eu fazia nas aulas e quando
percebi o som parou ao final da canção e Andreas estava de pé me
aplaudindo.
— Então venha, temos que falar com a Landa, ela é quem arruma os
figurinos — disse rejeitando uma terceira chamada.
— É hora do show! — disse ela, indo para o seu posto enquanto fui
para o que me foi indicado.
O primeiro palco em que eu dançaria era um dos pequenos, haviam
sete homens sentados ali, todos bebendo e me olhando dançar como se eu
fosse um pedaço de carne. Ao final de duas músicas, me aproximei e eles
me encheram de notas de dinheiro, então fui para o próximo palco, assim
como haviam me instruído. Mais duas danças e muito mais dinheiro, a
diferença desse era que a maioria daqueles homens sequer prestaram
atenção à dança, mais fumavam e discutiam sobre algo, passando os olhos
por mim vez ou outra, mas o dinheiro estava lá. Então segui para o
próximo.
— Não gosta do trabalho? Alguém mexeu com você, por isso parece
incomodada? — perguntei, curioso.
Eu queria saber o que havia acontecido, mas não podia invadir a sua
privacidade, ela havia me contado até demais, então resolvi mudar de
assunto.
— É claro que é.
Algo agitou meu peito, algo que pensei que não sentiria de novo.
Não, não era amor, não era paixão, mas uma agitação que fazia meu sangue
correr rápido nas veias. Eu sabia que tinha que me afastar, levantar e ir
embora naquele momento sem olhar para trás. Sabia que se não fizesse
naquele momento, não teria forças para fazer depois, eu podia sentir ela
derrubando minhas barreiras, o coração querendo estourar as costelas, o
sangue fluindo rápido e eu nem havia beijado a garota. Sabia que estar
preso em seu olhar não era bom, mas que se conseguisse escapar, ele
correria para seus lábios e era lá que eu terminaria de me perder e não teria
volta.
Sorri para mim mesmo, que bobeira me sentir daquela forma, mas
aquele garotinho tem sido a minha vida. Tínhamos passado por muita coisa,
vê-lo seguir em frente daquela forma era uma vitória. Terminamos de fazer
o caminho até o portão da escola a pé, um garotinho passou correndo por
nós e trombou em Davi, quase fazendo-o cair, ele chegou a dar alguns
passos trôpegos, mas o segurei antes que caísse.
— Bem, sim, mas pensei que por ser o primeiro dia dele...
— Sim — respondi.
— Tem certeza?
— É, é só escola — concordei.
Eu ri e sequei os olhos.
— Você tem toda razão. Obrigado por me lembrar disso. Eu te amo,
carinha! Vai lá!
— É só dizer qual a sua série para aquela moça ali e ela vai te ajudar
a encontrar a sua sala — a mulher no portão disse para o Davi que assentiu
com a cabeça e a agradeceu, correndo para dentro em seguida.
— Ah, não a vi nos últimos dias, mas acredito que deva estar
ocupada trabalhando.
— Até amanhã.
— Até.
— Não foi bem culpa só sua — disse ela, fazendo uma cara de
culpada que achei bonitinha. Não consegui evitar sorrir.
— O quê?
— Sofie? — chamei.
— Uhm — resmungou.
— Tudo bem, eu... vou mergulhar e achar a sua calcinha pra você —
sugeri.
— Eu encontrei — falei.
— Não está comigo. É que ela está bem embaixo dos seus pés,
pouca coisa para trás.
— O que foi?
— Eu a perdi.
— O que foi?
Ela suspirou.
— Sim, mas me guio pelos meus outros sentidos, não consigo abrir
os olhos, me dá agonia demais — disse, se sentando na mesa outra vez.
Assim que sai debaixo dos seus pés, meus olhos involuntariamente
recaíram nas unhas bem feitas e foram subindo lentamente por suas pernas
até os joelhos enquanto eu emergia devagar. As coxas torneadas,
acomodadas sobre a mesa ainda sob a água. O que parecia ser uma
tatuagem marcava a sua pele na linha do quadril, eu não conseguia
distinguir o desenho naquele momento. Só me dei conta do que estava
fazendo quando meus olhos atingiram o ponto em que suas mãos tapavam.
Sacudi a cabeça, tentando tomar meu foco de volta e segui os poucos
centímetros até a superfície.
Mesmo que ela não tenha usado praticamente força nenhuma, e que
dentro da água tinha menos impacto ainda, soltei meu corpo para trás,
afundando na água para esfriar a cabeça rapidamente e já voltando à
superfície.
Eu ri outra vez.
Peguei a mesa, dessa vez com mais facilidade já que estava fora da
água e a levei até seu devido lugar. Então comecei a me secar com a toalha.
— Tudo bem...
— Não — negou.
— Como é?
— Não custa nada. Vou roçar a minha e já roço a sua, não é trabalho
algum, é só atravessar a cerca.
— Ok — concordei.
— Diga o preço.
— Não corte a grama, Raul. Eu não vou sair com você — disse com
a voz calma.
— Risco de quê?
— Quando foi que você decidiu que algo que nem começou ainda
vai dar errado?
— Ei, espera! O que quer dizer com eu não sou homem para você?
— perguntei e ela suspirou.
— Eu não sou como essas mulheres que você está acostumado.
— E depois?
— Depois a gente vê o que rola, isso quem vai decidir vai ser você.
Vou ser o que você quiser que eu seja. Quer me conhecer a fundo primeiro?
Ok, por mim tudo bem. Quer que sejamos amigos com benefícios? Eu topo.
Ficar comigo sem compromisso? Tô dentro também. Se for pra ser algo
mais, vamos deixar rolar e ver no que dá.
— Eu não sei!
Já era um começo.
Capítulo 12
— Pode, mas não é para correr para a casa dos vizinhos, é para me
esperar no jardim.
Andei rápido até eles, colocando Pietra atrás de mim, ficando entre
os dois. Malvo sorriu de forma nojenta para mim, deslizando o olhar pelo
meu corpo, estremeci.
— Vá embora — falei.
— Tudo bem — disse ele, piscando um olho para mim. — Tchau,
Pietra.
— Vamos, tia?
— Não, mas ele me disse que é amigo dele — disse com uma
inocência assustadora.
— Mas ele mentiu. Não quero que você fale com estranhos, muito
menos com aquele homem. Tudo bem? — falei e ela desviou os olhinhos.
— Combinado, Pietra? — usei um tom mais duro do que eu pretendia.
— Siiim!
Raul lhe disse algo que não consegui entender o que era e em
seguida abriu a porta com um grande sorriso, aquele que fazia minha
calcinha ficar molhada mesmo sem querer.
— Ah, eu não...
— É a sua folga. Uma taça não vai te trazer problema algum.
Olhei para uma cristaleira cheia de peças que eu não duvidava que
fossem de cristal.
— Eu sei.
— Não pode fazer isso — falei, mas minha voz estava baixa, eu
estava estranhamente hipnotizada pela gota de vinho que se alojou na suave
curva do seu lábio inferior.
Ele podia ter bem mais idade que eu, mas era bonito e sexy como o
inferno, e sabia exatamente como usar isso à seu favor.
— Não.
— Ah, ótimo! Não posso correr o risco de ao fim da noite te dar o
melhor beijo da sua vida e você ter a desculpa que só gostou porque estava
bêbada — disse, me entregando enfim a taça.
— Convencido!
— Ele disse é? — Raul sorriu para ela e para o filho que estava ao
lado dela.
— Tudo o que você diz tem que ser tão... tão... — falei e ele
arqueou as sobrancelhas, estava claramente se divertindo. — Ah, esquece!
— É claro!
Capítulo 13
— Não tive trabalho nenhum com o jantar e vou ter menos ainda
com esses pratos — disse ele, abrindo uma das portas do armário, revelando
uma lavadora de louças, onde o que eu imaginei ser a louça utilizada para
preparar o jantar estava.
Seu polegar acariciou meu lábio inferior, enviando arrepios por todo
o meu corpo que ansiava por ele. Era inacreditável como tudo o que Raul
dizia ou fazia, soava puramente sexual e excitante.
— Muito bom.
— Posso assar cupcakes, mas ainda sou homem, não consigo deixar
de te desejar. Não sei como você colocou esse feitiço em mim, nem te
provei e já tenho a certeza de que seremos incríveis juntos, Sofie. Você tem
que me dar uma chance.
— Não vou transar com você — tive forças para dizer, mesmo meu
corpo gritando o contrário das palavras que eu dizia.
— Não. É claro que hoje não. Eu sei disso e não tem problema
algum. Sei ser paciente, não vou desistir de você.
Raul riu e empurrei seu ombro quando ele tentou se aproximar outra
vez.
— Ah, qual é?! Fica mais um pouco. Agora que eles dormiram,
podemos conversar mais tranquilos — disse e jogou outra manta sobre as
minhas pernas. — Já faz anos que moro aqui na Alemanha, mas não me
acostumo com esse clima mais fresco à noite durante o verão.
Eu podia ouvir meu coração batendo forte, odiava mentir, nem sabia
fazer aquilo e era uma merda.
— Não — menti, mas sem querer dar mais lado para aquela
conversa.
— Eu diria que está cedo, porque quero que fique mais, mas acho
que já tive mais do que mereço hoje — falou e eu ri de leve. — Obrigado
por vir. Obrigado pela companhia, por tudo. Ah, por ver se tinha dentes
estragados na minha boca também.
— Na verdade, sim.
Eu ri e ele acenou com a mão, então terminou seu caminho até sua
casa, parando na varanda, esperando que eu entrasse e fechasse a porta, para
só então entrar também.
— Não.
— Não é assim.
— Às vezes.
— E?
— Ah, é claro, os que fazem rir são os mais prejudiciais para nós.
Começa com brincadeirinhas e quando percebemos estamos rindo na cama
deles, eu te entendo.
— Não seja tonta — falei, rindo. — Acredite, ele não é desse tipo.
— Do tipo engraçado.
— Por quê?
— Como assim?
— Tipo assim, a calcinha saiu e eu fiquei pelada dentro da piscina
com o vizinho lá dentro — contei e ela me encarou, séria por um momento,
parecia estar absorvendo a informação.
— Ele não ia embora e não tive outra escolha a não ser contar que
estava sem a calcinha — falei e ela gargalhou outra vez.
— E daí?
— E daí que eu tentei pegar a calcinha, mas não consegui, então ele
teve que mergulhar e pegar pra mim.
— Conta, mulher!
— Foi legal.
— Legal? Como assim foi legal? Eu esperava algo como ele é
espetacular, me enforcou, ou qualquer coisa assim.
— E?
— O cara tem colhões, sabe jogar com você. Amiga, vou te dar um
conselho, esse tipo de homem é perigoso, não te lembra ninguém?
— Eles só tem sua redenção nos livros e isso porque são escritos por
mim que sou mulher, na vida real eles são só cretinos mesmo.
— Exato! Então presta atenção, vai lá, senta nele, senta muito
mesmo porque o cara é um absurdo de gostoso, mas não se envolve mais do
que sexualmente. Aproveite, mas deixe seu coração seguro.
Ela não me deixou falar mais, enfiou sua colher cheia de sorvete na
minha boca, fazendo-me parar de falar.
— Desculpe!
— Sim, ela tem medo do escuro, pode ficar com medo se acordar no
meio da noite.
— Devolva ela, eu faço o que você quiser — falei, caindo com meus
joelhos batendo no chão.
— Me devolva ela!
— Ei, o que está acontecendo? — a voz de Aída soou alta atrás de
nós e eu podia ouvir seus passos se aproximando rápido.
Olhei para a casa de Raul, uma luz fraca iluminava o quarto de Davi
e as luzes da sala e cozinha ainda estavam acesas.
— Sofie? — chamei.
Eu a entendia.
— Eu já ia voltar, tia.
— Desculpa, tia.
— Eu não sabia que ela estava aqui, ou teria te avisado. Pensei que
Davi estava dormindo também — falei.
— Eu sei.
— Acho uma ótima ideia. Uma cerveja seria ótimo! — disse a outra
moça atrás de mim e Sofie a encarou com um olhar de repreensão. — Só
uma, para não fazer desfeita.
— Então, você não parece tão chato como no dia da festa — disse a
amiga e eu ri.
— Eu sei.
— Cala a boca, pelo amor de Deus, Aída, antes que você me mate
de vergonha — disse Sofie, estava com vergonha.
— Ah, não, se for para ficar por cinco minutos ela nem fica. Pelo
amor de Deus, senhor Raul, você é um homem experiente, faça valer à pena
— disse Aída.
— Ótimo, agarra ela com a mão por baixo do cabelo, assim bem na
nuca que ela fica molinha, molinha — disse Aída, piscando para mim e eu
ri de leve.
Toquei seu queixo, direcionando seu rosto para o meu. Seus olhos
brilhantes e intensos encararam os meus e logo em seguida recaíram sobre
meus lábios. Não consegui mais me segurar e a beijei.
Abaixei uma das alças finas do seu pijama, deixando um dos seus
seios à mostra e sem me conter capturei o mamilo rijo com a boca. Sofie se
inclinou mais em direção ao meu rosto quando chupei e um gemido mais
alto saiu da sua boca. Havia coisas muito sujas que eu queria fazer com ela,
mas aquela primeira vez merecia ser do jeito dela. Uma das minhas mãos
apoiou suas costas enquanto ela jogava a cabeça para trás quando minha
outra mão se infiltrou em seu shorts fino, acariciando sua boceta por cima
da calcinha.
Segurei seu corpo macio e a deitei, cobrindo seu corpo com o meu.
Minha boca encontrou a dela outra vez, cheia de desejo e ela correspondeu
à altura. A livrei completamente da blusa e ela estava linda, os cabelos
espalhados pelo tapete e me ofereceu um sorriso que parecia tímido, mas o
olhar era voraz, incentivando-me a continuar. Desci meus lábios até seus
seios, chupando um, depois o outro e deslizei minha língua pelo seu
abdômen liso.
Meu pau pulsava dentro dela e quando ela rebolou outra vez, fui
tomado pela sensação mais espetacular que eu não sentia há muito tempo.
Soltei seus cabelos e a segurei pelos quadris, guiando seus movimentos que
inicialmente eram calmos, lentos, deliciosos e quase torturantes. Um
gemido escapou da minha boca e a testa dela tocou a minha.
Não consegui dizer mais nada, com a mão ela apertou a base do meu
pau e circulou a glande com a língua quente e macia logo antes de engoli-lo
por completo, sugando em seguida, fazendo-me gozar em sua boca.
E era mesmo, ela era o meu número e se antes eu tinha muitas ideias
do que fazer com ela, agora seria um pecado se eu não realizasse todas.
Capítulo 16
Aída.
— Quase 6h.
— Falar o que?
— Não me irrita uma hora dessas não, Aída. Minha alma ainda não
fez download pro corpo, vai ter que ser mais específica — falei, tomando
um gole do café.
— Ah, não! Ele é ruim? O que foi, o pau dele é uma minhoquinha?
— Ah, por falar nisso, obrigada pela vergonha alheia que me fez
passar.
Forcei a mente.
Nada!
Um grande nada!
— Sofie?
— Armou para mim, você quer dizer — falei e ela virou na minha
direção, dando um sorriso genuíno e depois se voltou para o quintal outra
vez.
— Mas...?
— Alô! — atendi.
— Estou bem, se é que se pode ficar bem nesse lugar. Como você
está? E Pietra?
— Estamos bem.
— Graças a Deus.
— Porra, ele te procurou? Sofie, tem que tomar cuidado. Não pode
deixar ele se aproximar de vocês.
— Sim.
— Desculpa, tia.
— Pietra?
— O que você quis dizer com a gente só queria que você fosse na
casa do tio Raul? — perguntei e podia ver ela segurando a risadinha. —
Pietra?
— Combinado o que?
— Davi disse que o padrinho dele disse que a madrinha dele leu um
livro que a moça namorava o vizinho que tinha filho e eles ficaram felizes
— falou e engoli em seco. — Vocês vão namorar e ser felizes, tia?
— O que? Não... é... não. Ah, olha isso não é conversa para uma
criança da sua idade. Vamos logo ou vai se atrasar pra escola.
“Bom dia, vizinha! Sua grama está cortada como o prometido. Sei
que combinamos apenas o jantar de segunda, mas posso te esperar hoje à
noite?”
— Alô! — atendi.
— Bom dia!
— Bom dia!
— Sim — foi só o que respondi, porque não sabia como dizer que
não me lembrava daquilo porque implicaria em outras coisas.
— Não pode ficar estranha comigo por causa do que houve ontem.
Por favor, Sofie! — disse ele, do lado de fora da cozinha, segurando com as
duas mãos o batente da porta.
— Você está feliz com o que aconteceu? Quer dizer... foi... bom? —
Minha voz saiu um pouco esganiçada no final.
Raul sorriu grande, deixou a xícara sobre a mesa e deu os passos
que faltavam para chegar até mim. Suas mãos tocaram meu rosto com
suavidade, uma de cada lado, segurando-me com gentileza, levando meu
olhar ao seu.
— Então é com isso que está preocupada? Meu doce, foi incrível!
— O que?
— Precisa? É isso que você quer dizer? Que precisa esquecer? Sério
que vai jogar essa pra cima de mim? É só admitir que não foi como você
queria que fosse, por isso não quer mais. Somos adultos.
— O que?
— Exatamente.
Aquela promessa fez meu sangue correr rápido nas veias e me senti
quente. Raul me segurou pela cintura, colando nossos corpos. Seu polegar
roçou meus lábios um segundo antes de sua mão forte entremear meus
cabelos, segurando firme, do jeito que eu gostava e me perguntei como ele
podia saber daquilo. Sua boca atacou a minha em um beijo insano, não
havia calma como das outras vezes, aquele beijo era diferente e eu gostava.
— Sei que para você é a nossa primeira vez, mas hoje vai ser do
meu jeito — disse, enquanto eu o observava tirar a gravata cor vinho. Ele
estava um absurdo de gostoso naquele terno, o pau marcando a calça social
justa. — Sofie? — chamou a minha atenção e meus olhos miraram os dele,
escurecidos pelo desejo, e eu assenti com a cabeça. — Tem que me dizer se
algo não estiver confortável.
Ele veio até mim outra vez, apoiando as mãos uma de cada lado do
meu quadril na mesa.
Caramba, tudo que ele dizia parecia erótico de uma forma tão
surreal que me fazia vibrar em antecipação aos seus próximos passos. Fiz o
que ele pediu, abrindo as pernas e ele lambeu meus lábios, empurrando-me
para a deitar na mesa em seguida.
Sua mão agarrou meu cabelo, puxando minha cabeça para trás e
como ele era bem mais alto que eu, sua boca alcançou a minha em um beijo
ao contrário, com meu nariz em seu pescoço, sentindo seu perfume
inebriante.
Então outro tapa na bunda veio, dessa vez muito forte, mas antes
que eu pudesse reclamar, senti seu pau deslizar para dentro de mim, me
fazendo gemer alto e estremecer ao senti-lo todo dentro de mim.
Ele apertou meu quadril com força, mas se manteve imóvel por um
momento, para que eu me acostumasse, mas isso não durou muito. Ele
passou a entrar e sair de mim duro e forte, fazendo-me choramingar de
tanto prazer, de uma forma que eu nem sabia explicar. Era sexo, eu já tinha
feito antes, mas ainda assim era diferente de todas as outras vezes que
sempre pareciam iguais, era insano, bruto e eu estava amando que fosse
com ele.
Raul se deixou cair sobre minhas costas, beijando meu ombro, com
a respiração tão ofegante quanto a minha, puxou meu rosto para o lado e me
beijou de uma forma doce que contrastava totalmente com a forma bruta e
animal com que estávamos transando à pouco.
Com isso ele tocou seus lábios nos meus em um selinho singelo e
carinhoso e saiu pela porta da cozinha. Fui até a janela e o observei andar
pelo gramado, então Aída vinha vindo, passou por ele e entrou em casa,
quase que no mesmo momento em que ele entrou na dele.
Capítulo 18
— Oi.
— Sim, sim. Agora vim ler seu livro — disse sorrindo e veio até
mim na janela. Raul saía outra vez, seguindo em direção ao seu carro. — Ai
amiga, olha esse homem, até de terno dá pra ver as curvas dos gominhos do
abdômen e olha as curvas daquela bunda, fala sério, olha a sua cara de
tesão, você tá sem freio e ele cheio de curva daquele jeito, porque não
marca logo um acidente com ele.
— É claro que deu, olha essa sua cara de quenga e esse cabelo todo
embaraçado — disse, levando uma mão à boca, segurando o riso. — Puta
que pariu, foi uma foda de respeito, né? Eu sabia!
— Foi bom, não foi? Tô vendo pela sua cara, sua puta safada.
— O quê? Não!
— Aída?
— Vamos fuçar.
— É, mas pela cor que a sua bunda tá, ele também invadiu muita
coisa sua, então você tem o direito. E olha... sem senha!
— Aída, não!
— Nossa, só tem foto de menino aqui.
— Por que?
— Vem comer.
— Aída, não! — alertei, sabia bem que ela estava louca para
atender.
— Qual é, Sofie?
— Alô!
— O quê?
Senti meu sangue gelar nas veias e tomei o aparelho de sua mão.
— Alô.
Droga!
— Tudo bem.
— É uma emergência.
— O que houve? Você está bem? — perguntei, começando a me
preocupar.
— Hospital Central? Porra, isso é longe a beça daqui, vou levar pelo
menos uma hora para chegar lá — lamentei, me desesperando, já
procurando as chaves do carro. — Ele não pode ficar sozinho, tem medo de
hospital.
— Tudo bem, eu já estou indo pra lá. Bem, não sou você, mas acho
que pelo menos sou alguém conhecido para ele não se sentir sozinho até
você chegar — disse ela e parei no meio do movimento de vestir o terno.
— Tá certo.
— Que bom. — Foi o que ele disse, sabia que não era hora para
piadinhas.
— Ah, a moça está com o Davi, ele quis que ela permanecesse no
quarto, mas como ela disse que não é a senhora Aguilar, não podia deixá-lo
na responsabilidade dela, por isso aguardei a sua chegada.
— Oi papai.
Aquele garotinho era a minha vida, era por ele que eu vivia e não
estava sabendo lidar com tantas mudanças. Por anos o mantive ao meu lado
o tempo todo, priorizando ele, e vê-lo passar mal enquanto eu não estava
cuidando dele era aterrorizante para mim.
— Calma, ele fez uma tomografia por conta das tonturas e está tudo
bem também, nenhum sinal fora do normal para crianças saudáveis da idade
dele. Alguns exames, inclusive o de sangue, parece que não ficaram prontos
ainda, estamos aguardando o médico — explicou Sofie.
— Ei, você não tem quatro mãos, eu vou com você — se ofereceu
Pedro.
— Meu Deus, ela não toma jeito. Preciso pedir desculpas ao seu
amigo — lamentou Sofie.
— Diga que ele não vai contar à esposa e que ela vai dar uma surra
na Aída. Ela pode ser sem noção, mas é uma boa pessoa.
Eu sorri.
— Não, não. Ela tem um pub, mas antes que Pedro retornasse para a
vida dela, ela cuidava de tudo sozinha, só trabalhavam mulheres lá, então
ela aprendeu um jeito diferente de lidar com as coisas.
— Que bom, vamos colocar isso aqui de novo para ver como está a
sua respiração? Você já viu que não dói — sugeriu o médico e Davi aceitou.
— O senhor é o pai? — perguntou, se virando para mim.
— Compreendo, mas...
— Só mais uma coisa, como foi a escola que deu entrada na ficha
dele hoje, não há muitas informações, preciso saber o tipo sanguíneo do
senhor e o da mãe do Davi.
— É claro.
— Não gosto de ter que te usar assim, Maca — falei a minha amiga
que estava em minha casa naquele início de noite de quinta-feira.
— Você é a melhor. E vou te pagar por essas horas que ficará com
ele.
— Não é justo.
— Ah, vou adorar conhecer a garotinha, mas era da tia dela que eu
estava falando. A escritora.
— Você não tem nem quarenta anos, Raul, deixe de ser bobo. E,
além do mais, faz anos que não te vejo assim.
— Apaixonado.
— É diferente.
— Desembucha!
— Tá de brincadeira?
— Então, sábado ela não vai trabalhar, por isso vamos levar as
crianças pra brincar na piscina da casa dela.
— Vamos?
— Vai tranquilo.
— Vou cobrar.
— Não sei o que esse carro fez pra você, mas vai acabar se
machucando assim, meu doce — falei e ela se assustou.
— Quer me matar do coração? — perguntou alto demais, levando a
mão ao peito.
— Tudo bem, todo mundo tem o direito de ter dias ruins — falei e
ela sorriu fraco.
— Não.
— O que foi?
— Acho que vou segurar esse encontro para sábado. Estou cansada
demais — disse, fechando os olhos.
Sofie fechou os olhos com a carícia e toquei seu lábio inferior com
meu polegar. Seus lábios se entreabriram com o meu toque e me aproximei,
beijando-a, deixando nossas línguas se envolverem naquela carícia calma e
excitante ao mesmo tempo.
— Tudo bem, boa noite então — falei e toquei meus lábios nos dela
de forma singela.
— Como assim?
— É claro.
— O quê? Não!
— Isso é ridículo!
— Não querida, para nós dois isso são negócios, para eles, uma
disputa de quem é maior para passar a noite com a dançarina virgem mais
linda da casa.
— Andreas, eu não...
— Shiii! Não quero uma resposta agora. Vá para a sua casa e pense.
Como incentivo, todo o lucro do que você ganhou hoje, é seu, não vou
cobrar a porcentagem da casa. Vá para a sua casa, tome um longo banho,
relaxe e pense. Depois voltamos a conversar. Agora pode ir.
Comecei a chorar e conferi meu joelho que doía, uma pedra havia
furado o jeans e cortado a pele, não era nada profundo, mas estava ardendo
bastante, minhas mãos também estavam raladas pelo impacto com o chão
nas pedras. Limpei as mãos na calça e sequei o rosto, tentando me acalmar,
então uma mão apareceu em frente ao meu rosto, oferecendo ajuda.
— Não era pra você estar na cadeia? O que está fazendo aqui?
— Pelo amor de Deus, Karl, deixe a Aída em paz. Ela está melhor
sem você.
— Ela virou uma puta de boate, será que está mesmo melhor sem
mim? — foi irônico.
— Certo.
— Fui assaltada, você não viu? — menti. — Aliás, você poderia ter
me ajudado.
— Primeiro, nós dois sabemos que aquilo não foi um assalto, isso
está bem claro. Segundo, eu jamais entraria no caminho do Malvo, não sou
idiota.
— Você o conhece?
— Fala sério, quanto está devendo pra ele? Nunca imaginei que
você mexesse com drogas, Sofie, das amigas da Aída, você sempre foi a
mais correta. Se bem que...
— Quem deve então? Porque está na cara que ele estava cobrando
você, ainda que estivesse sendo gentil.
— Pague a ele.
Karl suspirou.
— Eu sei, não acha que é uma boa hora para ser egoísta? A dívida
não é sua.
— Polícia não é uma opção, ele é mais liso que sabonete, os caras
não conseguem pegar ele, se fizer isso o único resultado será que depois
que ele enjoar de você, vai te obrigar a chupar o pau dele logo antes de
arrancar seus dentes e cortar sua língua, pra só depois te matar. E o Jordan
já vai estar morto também.
— Meu Deus!
— Oi amiga — atendeu.
— Tá de brincadeira?
— Não precisa me esperar. Eu sei que ele está lá, já falei com o
Andreas e expliquei. Andreas vai me levar embora. Posso ir pra sua casa de
novo?
— Obrigada, amiga.
— Vai lá.
— Oi — cumprimentei, me aproximando.
As crianças não estavam por perto, então toquei meus lábios nos
dela de forma rápida e ela me correspondeu sem resistência alguma.
Quando me virei, Macarena sorria e eu revirei os olhos.
— Não ligue pra ela — sussurrei para Sofie que soltou um risinho
baixo. Peguei a sua mão e demos os poucos passos até chegar em meus
amigos. — Sofie, o Pedro você já conhece e essa é a Macarena, a esposa
enxerida dele. Maca, Sofie.
— Hum — balbuciou.
— Tá.
— E então?
— Eu não sei, quero fazer as coisas do jeito certo com ela, mas não
tenho certeza se ela quer isso também.
— Tomara.
— Quero conversar com você mais tarde, mas antes, eu preciso estar
dentro de você — falei quando meus dedos roçaram o tecido da sua
calcinha.
Com a mão, abri um pouco as suas pernas e acariciei sua boceta por
cima da calcinha, fazendo com que ela olhasse rápido em volta outra vez,
verificando se ninguém estava nos observando. Ela estava ofegante. Apertei
sua coxa de leve antes de afastar o tecido da calcinha para o lado e acariciá-
la de verdade, correndo meus dedos pelas dobras de sua boceta, sentindo-a
ficar molhada, roçando meu polegar em seu clitóris, fazendo-a estremecer
de leve.
— Sim.
— Ela não está lá não — falei alto e lambi um dos seus seios,
sugando-o em seguida e ela não conseguiu conter um gemidinho.
Não demorou muito para que Sofie saísse da casa, trazendo consigo
uma tigela de doce.
Tentei imaginar seu rosto por baixo da máscara, mas muito pouco
dava para ver. A analisei com cuidado, e só a Sofie vinha na minha cabeça.
Eu estava realmente apaixonado, porque aquela não era a minha doce Sofie,
aquela era uma mulher loira, desinibida e quando conferi sua coxa, não
havia tatuagem. Não, por mais que os olhos me lembrassem dela, não era a
minha Sofie.
Saí da boate já com o celular no ouvido, ligando para Sofie, mas não
fui atendido. Entrei no carro e dei uma volta por ali, não a encontrei nos
bares em que olhei enquanto passava na rua em que ela trabalhava, então
fui para casa esperá-la.
“Você está bem? A babá disse que você está com gripe, fiquei
preocupado.”
— Não posso!
— Ah, tudo bem. Olha só, eu comprei uma sopa para você, está aqui
na porta. Mas que tal amanhã almoçarmos juntos? Quero conversar com
você. Como você já está medicada e é só gripe, amanhã já deve estar
melhor, não é?
— Não.
— Na quinta?
No jantar fiz uma sopa de galinha, bem reforçada para mim e Davi
jantarmos, coloquei metade do conteúdo em um pote com tampa, pão e
suco de laranja em uma garrafa e levei até a casa dela de novo. Bati na
porta, avisei que estava deixando a comida e voltei para casa. Como no
almoço, ela esperou um pouco e depois abriu a porta, pegando o pacote.
“Oi, tio Raul! — era voz da Pietra. — Eu estou na casa da tia Aída
enquanto a minha tia está dodói. Fala pro Davi que eu tô com saudade.”
— É claro.
“Por que Sofie está trancada em casa e a Pietra está com você?”
“Não direi nada. Mas porque a mãe da Pietra não pode ficar com
ela? Isso não ajudaria a Sofie?”
Aída: “Para você está tudo bem? Quer dizer, só ela que está
estranha por algo?”
“Eu juro que não sei o que fiz de errado, por favor me ajude. Me
diga o que preciso fazer para que ela abra a porta para mim.”
Aída: “Sério?”
“Sim”
“Obrigado.”
— Davi, que conversa é essa? Não quero ouvir você repetir isso —
ralhei.
— Mas você fez sexy com a Sofie. Ela vai ser a minha mãe?
— Davi? — me exaltei.
— É que o tio Pedro disse que você ia ficar mais legal se fizesse
sexy, e você tá legal agora então... — disse, me encarando sem
constrangimento nenhum.
Já eu, por outro lado, não estava sabendo lidar com aquela situação.
Eu precisava matar o meu melhor amigo.
— Davi, presta atenção, você não tem idade para conversar sobre
essas coisas — tentei explicar com calma.
— Eu... eu... Davi o que fazemos quando o papai não sabe muito
sobre um assunto que você quer que eu explique?
— Mas você é meu pai, então você beijou a minha mãe pelado, por
isso eu nasci, né?
— Sim, mas só se me prometer que não vai mais tocar nesse assunto
hoje.
— Alô — atendi.
Tive que passar cerca de mais duas horas com Davi acordado, o
açúcar do sorvete o manteve acordado por mais tempo que de costume.
Depois de um longo banho quente me deixei em minha cama e como um
adolescente ansioso abri a conversa da Sofie, pensando se enviava uma
mensagem ou não quando a palavra “digitando” apareceu embaixo do seu
nome.
Capítulo 25
— Alô.
— Seu namorado não te reconheceu, não faz ideia de que era você.
Está todo preocupado, tentando encontrar qual foi o momento em que errou
com você para que o afastasse assim.
— Tá de brincadeira?
— É sério?
— Obrigada!
— Imagino!
— Beijo.
Ele não respondeu mais, nem mesmo visualizou, então fui me deitar
e dormir para enfrentar o próximo dia e ter certeza de que ele não estava só
nos enrolando.
Pela manhã, liguei por chamada de vídeo para Aída e falei com
Pietra que estava de saída para a escolinha, depois tomei um banho. Tinha
acabado de pentear os cabelos quando ouvi a batida na porta e meu coração
acelerou. Respirei fundo, fui até a porta e a abri, mas o ar pareceu me faltar.
Raul usava um social all black e segurava um grande buquê de rosas
vermelhas.
— Oi, entra.
— Eu estou...
— Me prometa que não vai fazer isso de novo, por favor. Eu quase
enlouqueci, não sabia o que fazer, queria cuidar de você. Não me afaste de
novo dessa forma, por favor — disse, segurando meu rosto entre suas mãos,
seus olhos nos meus.
— Quero dizer uma coisa, não é exatamente fácil para mim fazer
isso, mas preciso.
Raul acariciou uma das rosas do buquê que ainda estava na minha
mão esquerda.
— Certo!
— Na verdade, pedi para que ele não viesse, para que pudéssemos
conversar com tranquilidade e francamente.
— Não! — Minha resposta saiu quase sem voz, estava com medo.
— Aplasia medular também é conhecida como Anemia Aplástica. O
tecido medular normal é substituído por um tecido gorduroso que impede a
formação correta das células sanguíneas.
— O que isso quer dizer, doutor? Seja objetivo, meu filho pode
morrer?
— Como assim?
— Não tenho esposa! A mãe biológica dele nos deixou quando ele
era muito pequeno. O senhor quer mesmo dizer o que penso que disse? —
perguntei, sem reação alguma.
— Eu sinto muito, mas agora não tenho como voltar atrás. Davi não
é filho biológico do senhor...
— Sim.
— Eu não deveria estar agindo dessa forma, mas vou ser sincero
com o senhor, a situação do seu filho é crítica e preciso que entenda que não
pode ajudá-lo no transplante. Com a mãe sendo tipo O e o Davi sendo tipo
A não existe a menor possibilidade do senhor, tipo B ser o pai dele.
Podemos realizar um teste de DNA para a confirmação oficial, mas já
adianto que não há a menor possibilidade — disse e eu assenti. — Quer um
copo d’água? O senhor se sente bem?
— É claro.
Pedi para que Pedro pegasse Davi na escola e ficasse com ele,
precisava digerir aquilo, não poderia contar a ele, não naquele momento,
por isso não podia deixá-lo perceber nada. Me lembro de ter entrado no
carro e depois: nada. Já era noite quando parei de dirigir sem rumo e
finalmente cheguei em casa.
Aquilo não podia estar acontecendo, meu filho não podia estar
doente daquela forma.
Meu filho...
Meu filho...
Meu peito sangrava, não por Magda ter me enganado, mas por eu
realmente não ser o verdadeiro pai dele. Davi era tudo na minha vida e eu o
amava como nunca tinha amado ninguém. Ele era tudo para mim e eu era
tudo para ele e só de imaginar que em algum momento ele poderia querer ir
atrás de seu verdadeiro pai e eu ficaria para trás, destroçou meu peito.
— Calma, tá tudo bem — ouvi sua voz sussurrar. — Venha, seus pés
estão machucados.
— Ótimo! Sabe o que isso quer dizer? Que você fez o que o pai dele
deveria fazer. Você foi pai!. Agora, me diga, porque ele precisa de um
doador?
Respirei fundo.
— Eu vou — falei.
— O que, querido?
Meu coração quebrou por completo quando seus olhinhos azuis tão
intensos e cheios de esperança miraram os meus. Eu não sabia o que dizer.
Ele suspirou.
— O que?
— Ah, isso.
— Não me sinto, mas tenho que dizer que não conheço a mãe dele,
mas a odeio como nunca odiei ninguém.
Suspirei cansada.
— Seu filho me pediu para ser mãe dele, não posso te esconder
nada.
— Meu irmão foi preso. Eu queria te contar, mas fiquei com medo.
— Drogas.
— Não! O que acha que sou? É claro que não, inclusive só soube
que ele estava envolvido com isso quando ele foi preso e precisei ficar com
Pietra — expliquei, indignada pela pergunta dele.
— Seu irmão tem razão, não é lugar para você, mas te entendo.
— Só quero ver se ele está bem, nada mais, não ficarei voltando lá.
Não!
— Claro — concedi.
— São seus — falei e seu olhar subiu até o meu, exibindo aquele
brilho safado que me fazia ansiar por ele.
— Como não?
— Não vá, simples assim. Fique aqui hoje. A sua casa é ali do lado
mesmo. O sofá é enorme e tão confortável quanto uma cama, Pietra ficará
bem ali. E, além do mais, eu já tranquei toda a casa.
— Eu acho justo.
— Ótimo.
— Em que pé estamos?
— Sim, eu sei como funciona — falei, cansado. Não queria ter que
judiar mais do meu filho.
Não fui para o escritório, fui direto para casa. Macarena estava lá
com Davi que ainda não tinha retornado às aulas. Um homem estranho
estava à porta de Sofie, ele parecia bater enfurecidamente, por isso me
aproximei.
Ele riu. Eu já estava no meu limite com a doença de Davi, não seria
difícil descontar tudo em um monte de merda como aquele.
— É sério que você está defendendo uma puta que tira a roupa pra
ganhar a vida? — disse ele.
Sem pensar duas vezes, soquei seu rosto e ele caiu no chão, ainda
rindo.
— Isso não vai ficar assim, você não sabe com quem mexeu! Mas
antes de acabar com você, vou deixar você se resolver com ela, dá uma
passada na kiss hoje à noite, isso vai ser divertido — disse, saindo do
quintal.
— Não, tudo bem, não foi nada — disse, lavando o dedo na pia.
Peguei sua mão, o corte realmente não era fundo, mas peguei a
caixa de primeiros socorros, desinfetei o corte para não correr o risco de
infeccionar e coloquei um curativo pequeno.
— Melhorou?
— Vou esperar, mas fico preocupado com você andando sozinha por
aí à noite.
Sofie tocou seus lábios nos meus rapidamente e seguiu para a porta,
correndo pelo gramado e aquilo me fez ter os piores pensamentos possíveis.
— Louise? — chamei.
— Sim?
Eu estava na cozinha.
— Boa noite!
Ele fez sinal para uma mulher que estava mais adiante.
— Só para mim.
— Foi um belo show! — disse ele, eu não podia ouvi-lo, mas foi o
que seus lábios disseram.
Ele sabia!
Merda!
Saí do palco assim que ele me deu as costas e corri para o camarim.
Tirei aquela tralha toda, vesti minhas roupas e corri para fora, na direção do
meu carro. E lá estava ele, encostado em seu carro que estava estacionado
logo atrás do meu.
— Você chegou rápido, acho que não fez todas as danças da noite —
falou.
— Não, não importa. Nunca mais eu quero ter que olhar pra sua
cara. Aliás, só a nível de curiosidade, com quantos caras você trepava por
dia antes de chegar em casa e trepar comigo?
Meus olhos se voltaram para o jarro com as flores, uma delas estava
lá vermelha e viva, exatamente como quando eu havia saído. As tirei do
vaso, pingando água mesmo e saí pela porta da cozinha, abri a lata de lixo
para jogá-las fora, mas não consegui. O choro voltou a me alcançar e não
consegui contê-lo. Voltei para dentro de casa, abri um dos gavetões da
cozinha que estava vazio e coloquei as rosas lá, indo para a cama logo em
seguida.
— Eu te amo — falei.
— Eu precisava te ver.
— Tá ok.
— Mas tem gente aí dentro, não é. Foi ele que fez isso ou não? —
perguntei e ele desviou o olhar.
— Tá. Você deve mesmo todo aquele dinheiro pra ele? — perguntei
e ele suspirou.
— No desespero de não ser pego com as drogas para não ser preso,
joguei toda a coca dele no vaso sanitário.
— É, eu sei.
— Tudo bem.
Com seu corpinho inerte em meus braços, corri para o meu carro, e
dei graças por estar ali já que a casa ficava a menos de dez minutos do
Hospital Central. Deitei o banco da frente e coloquei Davi ali, o prendendo
com o cinto de segurança, corri para o banco do motorista, dando partida e
arrancando com o carro. Quando eu estava estacionando o carro, meu
celular tocou no painel, informando uma chamada do próprio hospital.
— Certo, pode entrar pela porta mais próxima, estou enviando uma
equipe de encontro com o senhor.
Tiraram Davi dos meus braços e o levaram. Eu corri atrás, como ele
era criança e não estava entrando em um centro cirúrgico, eu podia
permanecer com ele. O médico que estava cuidando do caso do Davi já nos
aguardava e em poucos minutos meu filho estava acordado, sentado na
cama e sem sangramento. Aparentemente aqueles eram alguns dos sintomas
que podiam aparecer pela condição da Aplasia Medular.
— Obrigado, doutor.
— Acho melhor não. Você saiu agora pouco para tomar um café e
voltou azeda desse jeito. Deus me livre de tomar dessa bomba também —
falei e ela continuou me encarando. — Que merda aconteceu lá fora?
— Oi — cumprimentei.
— Quarto branco?
— É que enfiaram uma agulha muito muito muito grande nas costas
dela — disse arregalando os olhos de forma exagerada e abrindo os braços
o máximo que podia.
— Pietra, meu amor, vai escolher outro doce — disse Aída enquanto
eu tentava processar a informação.
— Se for calar a sua linda boquinha pode, meu amor. Escolhe ali
que a tia já vai lá te ajudar.
— Passou o inferno, mas fez o que tinha que fazer pra salvar o seu
filho — jogou na minha cara.
— Você não sabe de nada. Não sabe o que ela estava fazendo.
— Nem precisava.
— Não que seja da sua conta, mas Sofie nunca saiu com cliente
algum.
Aída havia jogado tudo na minha cara, de uma vez, sem me dar a
chance de responder, então saiu atrás de Pietra, me deixando ali, inerte.
— Raul?
— Oi.
— O que quer?
— Eu sei de tudo.
— Tudo o que?
— E daí?
— Não, você não imaginava, não fazia ideia. Sabe por quê? Porque
é teimoso feito uma mula, é preconceituoso e julga todo mundo como se
fosse Deus.
— Me desculpe...
— Vai embora.
— Como é?
— Não. Quer dizer, sim, eu paguei. Mas não é nada do que você
está pensando. Não estou te julgando, nem nada assim.
— Deixe pra lá, vamos acabar logo com isso — falei, tirando meu
casaco, revelando o conjunto de lingerie, a única coisa que eu usava por
baixo.
Vi Raul ofegar.
— Não foi isso que eu comprei. Apenas paguei para que outro cara
não tivesse isso, Sabe por quê?
— Por quê?
— Até parece — zombei, mas minha voz saiu fraca e com muito
menos sarcasmo do que eu gostaria.
Filho da puta!
— No lixo!
— Duvido!
— Não que eu não tenha amado a lingerie, mas preciso que se vista,
meu doce. Tenho uma aposta para ganhar e recuperar a minha mulher.
— Veremos.
Vesti meu casaco, estava com muita raiva. Entrei em meu carro e
Raul também.
— Vai voltar pra casa a pé e sozinho quando ver as rosas todas
mortas — falei e ele só sorriu.
Dirigi até a minha casa, abri a porta e entrei, tudo com ele ao meu
encalço. Parei em frente ao armário, com a mão no puxador da gaveta que
eu não abria desde o dia em que tinha jogado as rosas ali. Ambos
olhávamos para a gaveta fechada, em expectativa.
— Mas...
Raul, me segurou pela cintura, levando meu corpo mais para perto
do seu.
— Mas...
Sim, era aquilo que éramos antes de tudo acontecer, uma verdadeira
família.
— Por favor, Sofie, me perdoe por ser um idiota. Sei que não
mereço o seu perdão, mas preciso dele. Nossa família precisa! — disse,
acariciando meu rosto, sua boca muito próxima à minha.
— Como assim.
— Não é!
— Eu volto, mas não por sua causa. Só vou pelo meu menino.
Me dei conta de que eu era a única pessoa que se sentia grata por ter
levado um golpe de mais de quinhentos mil dólares ao comprar uma casa de
alguém que não era o proprietário, afinal, foi aquilo que me trouxe a
verdadeira felicidade.
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avaliar o livro, assim você ajuda outros leitores e a mim também.
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Beijinhos
Fran Nanii
[1]
É um game show alemão criado por Frank Elstner e transmitido pela primeira vez em 14 de
fevereiro de 1981.
[2]
Cena do livro Os Gêmeos Rejeitados do CEO.