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Capa: Layce Design

Revisão de Textos: Camila Brink


Diagramação E-book: Hylanna Lima - @amorliterario5
Assessoria Literária: HL Assessoria – @hlassessorialiteraria

Copyright © – 2024 por Isadora Almeida

Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma


ou por qualquer meio, sem a autorização expressa da autora que possui os
direitos exclusivos sobre a versão da obra.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº


9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal.

_________________________________________________

Esta é uma obra de ficção, seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação da autora. Quaisquer semelhanças com nomes, datas e
acontecimentos reais são meras coincidência.

1ª Edição - Criado no Brasil


Sumário
NOTA DE REVISÃO
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTUL16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
EPÍLOGO
BÔNUS
AGRADECIMENTOS
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
MENSAGEM DA BETA
SOBRE A AUTORA
AVALIAÇÃO
O texto aqui apresentado foi corrigido conforme o novo acordo
ortográfico da norma culta, porém por se tratar de uma história fictícia, o
texto apresenta em determinados trechos a linguagem informal.
Segunda Chance — Do ódio ao amor — Casamento por contrato
— Romance de Máfia — Hot de milhões — Mocinha quebrada —
Mafioso possessivo — Age gap — Found Family.

Josephine Lucian foi ferida pela organização, pela sua família e pelo
homem que ela amava. Cansada de mendigar pelo amor do homem que a
rejeitou, ela criou barreiras ao redor de seu coração e estava disposta a tudo
para manter Black Bonnarro longe de sua vida.
Black Bonnarro, o Capo de Nevada, o mais poderoso território da
Máfia Bianchi, estava arrependido por ter julgado errado Josephine. Ele
acreditou que ela era a vilã, quando na verdade era a vítima, que
inocentemente teve seu amor rejeitado por Black. O perigo rondando a
Máfia Bianchi obrigou o Black a tomar uma decisão. Ele precisava se casar
com Josephine Lucian para estabelecer o seu poder na organização e focar
na destruição de seus inimigos.
Black nunca imaginou o quanto seria difícil fazer Josephine ceder a
ele e a convencer de que o seu arrependimento era sincero. Ela tem medo de
estar sendo manipulada e ele lutará para mostrar a verdade em suas
palavras. Entre brigas e entregas, uma química explosiva, mesclada ao
carinho e a proteção, prometem abalar o mundo de Josephine e Black.
A vontade de ser amada será maior que a luta para proteger o seu
coração de novas feridas? Black conseguirá o perdão de Josephine, após
anos a mantendo distante?
Um poderoso inimigo se esconde nas sombras prometendo trazer o
caos à Máfia Bianchi.
Atenção: Último livro da série Máfia Bianchi. Você pode escolher
lê-lo separado dos outros livros. A história dos irmãos Lucian se entrelaça e
você pode optar por ler primeiro o 3° livro. Mas te garanto, se escolher
iniciar pelo 4° sua experiência de leitura não será afetada. Gatilhos estão na
nota da autora.

Série Máfia Bianchi


Intocável para o Mafioso (Livro 1)
O romance do Chefe
Michael e Hope

Apaixonada pelo Mafioso (Livro 2)


O romance do Consigliere
Daniel e Emily

Perseguida pelo Mafioso (Livro 3)


O romance do Subchefe
Kai e Daisha

Ferida pelo Mafioso (Livro 4)


O romance do Capo
Black e Josephine
Josephine e Black são tempestade e calmaria. Nossa menina
preciosa encontrou seu mafioso possessivo. Escrever esse livro foi um
misto de choro, coração explodindo de amor e muito orgulho dos meus
personagens queridos. Josephine é a minha mocinha cristal, um vendaval
levando tudo ao seu redor, poderosa, amorosa e extremamente leal a si
mesma.
Black é um mafioso extremamente possessivo, encantador e um
porto seguro. O mocinho que menos mostrou quem ele era nos livros 1, 2 e
3, demonstrou sem medo sua essência. Derramando palavras na minha
mente, enchendo meu coração de amor e carinho pelo homem que o Black
é. A intensidade dele me deixava de pernas bambas e sua devoção o fez
ganhar um lugar especial entre o Quarteto Monstro.
Para esse casal especial vou conter minha enorme vontade de falar
deles e apenas pedir. Queridas leitoras, leiam o livro de coração aberto e
sem raiva pelo Black, no passado, ter rejeitado a Josephine. Assim como o
Kai, ele também foi enganado. Confiem no processo, na sua autora e que o
amor sempre vence tudo.
Para as novas leitoras, se deliciem com a experiência complexa
que será a leitura, vocês conseguirão entender a história sem a necessidade
da leitura dos outros livros. Mas para uma melhor experiência recomendo
lerem Intocável para o Mafioso, Apaixonada pelo Mafioso e Perseguida
pelo Mafioso.
Desejo uma ótima leitura, peguem a caixa de lenços e se preparem
para um elemento novo que será abordado ao longo da história que fez meu
coração de autora explodir de diversas formas, cheia de orgulho e
felicidade.
Atenção aos gatilhos: Violência extrema, violência sexual
(retratado nas memórias do Black, então quem possui sensibilidade ao
tema CUIDADO com os flashback do Black.) Violência familiar,
assassinato. O livro contém: uso de linguagem imprópria para menores de
18 anos e cenas eróticas.
Nenhuma das organizações citadas no livro existe na vida real e
qualquer semelhança é mera coincidência. As cidades de Nova Iorque,
Texas, Las Vegas, Cidade do México e demais localidades foram usadas
com buscas feitas no MAPS, nada do que está escrito no livro realmente
existe, pessoas e lugares são frutos da minha imaginação.
Um beijo sombrio,
Isadora Almeida.
Eu vou morrer.
A certeza do meu fim precoce se vem ao encarar Hope Bianchi
entrando pela porta com fúria nas feições. Os olhos verdes apertados pelas
pálpebras, as bochechas infladas e os lábios cerrados, pressionou
firmemente os punhos apontando na minha direção.
Agarrei a almofada em uma tentativa de me defender do ataque
iminente. Eu deveria correr, me esconder ou buscar desesperadamente por
ajuda. Mas quando se trata da Hope eu vacilo. Ela é a minha melhor amiga,
irmã de outra mãe e a pessoa que eu mais amo e confio nesse universo.
Aquela que segurou a minha mão e trouxe a verdadeira mudança para a
minha vida.
Eu não seria quem sou hoje se não fosse pela Hope.
Deixei de ser a dama excluída da sociedade da Máfia Bianchi e me
tornei uma mulher rodeada de amigas leais, consegui limpar minha
reputação na organização e, principalmente, pude reconstruir os laços em
frangalhos com o meu irmão. Por anos sofri calada, sozinha e sem ter a
quem me apoiar, hoje, graças a ela, eu tenho uma família.
Hope Bianchi me deu tudo o que eu sempre sonhei, amigas
valorosas, uma família para me proteger e, acima de tudo, ela me fazia
sentir amada como ninguém é capaz. E se existe um motivo para ela querer
me matar agora, com certeza eu mereço ou fiz algo para despertar a sua
raiva.
Por isso me encolhi no sofá, pressionando os joelhos no peito
aguentando os tapas pesados na minha bunda.
— Ai, Hope! — falei alto escondendo o rosto na almofada.
— Eu juro que te mato, Josephine! — ela dizia ainda mais alto,
batendo forte na minha bunda.
Encolhi caindo do sofá ao tentar escapar dos seus golpes. Com a
bunda doendo no chão a encarei.
— Se eu vou morrer, me deixe ao menos saber a razão — pedi, ergui
os braços na frente do rosto.
— Depois de tudo que fiz para você casar com o Black, escuto da
Daisha que você deseja cancelar o casamento — bufou. — Minha vontade é
de te bater até enfiar juízo na sua cabeça! Meu irmão é perfeito para você e
tenho sonhado com esse casamento há anos, após perceber o quanto você o
ama!
— Esse é o problema, Hope. — Baixei o rosto, não deixando a
tristeza me dominar. — Você, o Kai, o Michael, todos estão fazendo de tudo
pela minha união com o Black — lágrimas grossas escaparam dos meus
olhos molhando minhas bochechas, esfreguei a pele limpando o rastro delas
— menos ele. — Suspirei pesado. — Eu mereço mais do que me arrastar
pelo seu irmão.
— Ah, Phine — Hope lamentou, seus joelhos entraram no meu
campo de visão, ela se agachou na minha frente, os braços quentinhos me
envolvendo como uma manta. Afundei o rosto no seu peito.
Minhas emoções estão em frangalhos após os últimos
acontecimentos.
Nunca imaginei que matar a Rebeca fosse mexer negativamente
comigo, por anos sonhei com a morte da minha inimiga, do demônio que
me atormentava dia e noite. Em dar um fim ao meu sofrimento, acabar com
a influência dela na minha vida e conseguir me libertar.
Mas tudo o que restou são as lembranças perturbadoras, minhas
mãos manchadas pelo sangue impossível de limpar, o momento da vida
esvaindo-se do olhar da minha irmã, atormentando minha mente a cada
segundo. Não deveria ser difícil. Eu a matei, salvei a Daisha e o Black de
serem mortos por ela, mas por que eu continuo sofrendo?
Eu preciso extinguir a dor.
Hoje eu completo 22 anos.
Desde os meus 14 anos suportei o tormento do abandono, as torturas
infligidas por meus pais, o desprezo da organização. E a minha maior dor:
ser afastada do meu irmão, o odiando a cada segundo do dia enquanto
desejava ardentemente pelo seu carinho, por voltarmos a ser o que éramos.
Eu aguentei ele sendo feliz com a nossa irmã mais nova, dando carinho e
atenção a ela enquanto a mim só restou o ódio e o desprezo.
Eu e o Kai erramos, passamos anos sendo enganados, manipulados e
somente nos últimos meses eu percebi. Ele não foi o único controlado pela
nossa irmã mais nova. Rebeca foi ardilosa em cada uma de suas investidas,
nos planos e armações. Ao pensar que eu era a única a ver o monstro
escondido por trás da falsa gentileza eu permiti a manipulação acontecer.
Ela me afastou de todos, me transformou na vilã da história. Na
minha revolta, fui incapaz de assimilar o que acontecia. Eu sabia que
precisava lutar, que estava sozinha e só podia contar comigo mesma, vesti o
personagem que me foi dado enquanto me perdia dentro de mim mesma.
Fui a vilã.
A irmã malvada.
A dama rebelde que causava confusão nos bailes da família.
A garota problema precisando ser disciplinada.
Eu fui a Josephine Lucian, aquela que não merecia ser amada.
Hoje eu não sei mais quem eu sou.
A única certeza permeando minha vida é a de que eu mereço mais.
Eu não sou a vilã, tão pouco quero ser a heroína ou a vítima.
Não sou a irmã malvada, conquistei o amor do meu irmão,
removendo a venda colocada em nossos olhos que fazia com que nos
odiássemos.
Não me esforço para ser uma dama exemplar, continuo odiando a
sociedade de senhoras e, se não fosse pela Hope, Emily e Daisha, eu
explodiria todas naquele salão.
Eu sou a garota quebrada sem saber como consertar os cacos.
Sou Josephine, que deveria se tornar uma Bonnarro ao casar com o
Black.
Essa também não é quem eu quero ser.
Foram anos implorando por migalhas de amor, me sentindo
insuficiente.
Hoje a única certeza que eu tenho é não querer continuar sendo a
garota ferida pela máfia, desesperada para ser amada.
Eu tenho valor, eu sou importante e nunca mais deixarei qualquer
pessoa me fazer sentir menos do que eu mereço ser.
É por isso que eu não posso casar com Black Bonnarro.
Ele não me deseja.
E eu, não preciso mais me agarrar a uma lembrança para sentir que
sou querida.
Eu abro mão do homem que sempre amei para dar uma chance a
mim mesma.
— As coisas são diferentes agora, Phine. — Hope alisou meus
cabelos carinhosamente, a voz doce trouxe conforto. Funguei abraçando sua
cintura.
— Como? — perguntei, a voz embargava pelo choro silencioso.
— Para o Black, família sempre foi sagrada. Meu irmão mais velho
cuidou e protegeu a mim e ao Steve. Seguindo os ensinamentos do nosso
pai, zelando por nossa mãe. O Black é protetor em sua essência. Eu cresci
afastada do mundo da Máfia Bianchi, mas ele não. Esteve imerso nesse
universo desde o nascimento, acompanhando nosso pai para todos os lados.
Ele e o Kai são amigos de longa data.
— Todos do quarteto. — Funguei.
— Sim, e cada um deles cresceu rodeado por demônios. — A voz
dela tremia, imagino que lembre as agressões sofridas pela família de seu
marido.
Tive calafrios ao recordar a noite em que meu irmão me contou dos
abusos causados por nosso pai. A imagem do Kai dentro do freezer e da
sala de tortura montada pelo Louis para ferir o Kai não saíam da minha
mente. Por vezes odiei e amaldiçoei o Kai trancada no meu quarto,
enquanto meu irmão era torturado no porão sofrendo sozinho no seu
inferno.
Eu fui injusta com o Kai, nunca o escutei ou tentei entender seus
motivos. O afastei em uma tentativa de me proteger, causando mais dor em
ambos. Uma ferida que nunca poderei fechar.
— Para o Black família é o bem mais precioso, presenciar a sua
relação com o Kai o deixava com raiva. Não só ele, mas o Michael e o
Daniel também tinham uma imagem ruim de você devido a sua reputação
na organização e a forma que se relacionava com seus irmãos.
— Eu sei dos meus crimes, Hope. — Afastei encarando seus olhos
verdes repletos de tristeza. — Me arrependo pela forma como lidei com a
situação com o Kai. Mas nunca vou lamentar as confusões que causei na
organização. Eu estava me defendendo em cada uma delas.
— Agora eu sei disso — ergueu a mão tocando minha bochecha — e
todos podemos enxergar a verdadeira Josephine. Assim como a Emily e a
Daisha perceberam que você não era a dama briguenta e rebelde. O Kai,
Michael, Daniel e o Black puderam enxergar que você não é malvada.
Todos somos culpados por te julgar errado, todos te magoamos e causamos
cicatrizes em você.
— Menos você — segurei seu pulso, a visão embaçada pelo choro
— você foi a primeira a me enxergar.
— Eu percebi que suas tentativas de falar do Black eram só um
modo de puxar assunto. Existe muito mais em você do que somente o
interesse pelo meu irmão. E eu entendo você ter se agarrado a essa
esperança para continuar suportando a dor. Mas acabou, você não precisa
mais se apegar às pequenas coisas. Você pode ter tudo, Josephine, um amor
intenso, avassalador e que te fará esquecer todas as dores.
— Eu fui ferida pela minha família, pela organização e por todos
que cruzaram o meu caminho. Não me peça para continuar implorando por
migalhas, Hope. Eu mereço ser amada de verdade.
Suspirei pesado, o peito doendo a cada segundo.
Por anos me apeguei a uma lembrança desejando que ela se tornasse
verdade, que o príncipe encantado chamado Black Bonnarro vinha me
salvar. Fizesse todos perceberem que estavam errados ao meu respeito, que
eu não era uma mulher ardilosa, mas alguém injustiçada, silenciada e
desprezada, pagando por um crime que não cometeu.
O conto de fadas nunca se tornou verdade.
O Black nunca veio me salvar.
Ele relutava em casar comigo e agora sou eu quem não o quer mais,
independente dos meus sentimentos. Nunca mais correrei atrás de ninguém
ou esperarei iludida por um príncipe que não existe.
Estou cercada de mafiosos.
Minhas amigas tiveram a sorte de encontrar o amor em seus
casamentos com homens que a desejavam. Nunca foram desprezadas ou
odiadas por seus maridos.
— Você merece amar, Josephine. Se você der uma chance ao Black
vai perceber que ele mudou. Ele não te odeia e se arrepende por como te
tratou durante os anos.
— Se isso é verdade, ele deveria estar aqui, não você. — Soltei de
seus braços, fiquei em pé, cansada dessa conversa. Hope vai continuar
defendendo o irmão.
— Você está fazendo com o Black o mesmo que fez com o Kai —
levantou segurando minhas mãos — o afastando para ele não te machucar.
Se continuar sabotando a si mesma, nunca poderá curar a mágoa em seu
coração. Você mudou, Josephine, todos nós mudamos e meu irmão não é
diferente.
— Eu não estou me sabotando, Hope. Enxergar a verdade e
continuar vivendo na fantasia são coisas diferentes.
— Chegou a hora de você ser feliz, Josephine. — Alisou meus
braços me puxando para si. — Não vou permitir que continue se magoando.
Eu entendo sua vontade em querer ficar longe do Black e se quiser te ajudo
a dar uma surra nele. Você passou por muita coisa nos últimos anos e
merece um tempo para colocar sua cabeça no lugar. Prometo que vou parar
de insistir, contanto que você me prometa uma coisa — segurou meus
ombros, me forçando a lhe encarar — dê somente uma chance a ele, uma
conversa, e eu juro que se você preferir continuar solteira vou fazer o
Michael criar uma regra na organização te impedindo de casar.
Hope extraiu o melhor de cada uma de nós. Apoiou a Emily nos
planos para conquistar o Daniel, deu suporte a Daisha para se manter firme
enquanto ela relutava em casar com o Kai, e sempre segurou a minha mão
incentivando meu romance com o Black.
Minha amiga acredita na força do amor e que seu irmão será capaz
de me fazer feliz. Sou incapaz de confiar no Black para entregar meu
coração a ele arriscando ser machucada, mas eu posso confiar nela.
Na esperança que me trouxe luz.
— Só uma conversa. — Inspirei profundamente, tentava me animar.
— Não prometo nada. Mas vou ouvi-lo.
— Obrigada. — Seu rosto se iluminava com um sorriso. — Você é
apaixonada por ele há anos, merece dar essa chance a si mesma. Não por
mim ou por ele, mas por você.
— Eu acho que ele nem se lembra do motivo de eu o amar. —
Sacudia a cabeça. Segurei as mãos da Hope, sentamos no sofá.
— Conta para mim? — pediu, apertando meus dedos. — Você nunca
me disse a data do seu aniversário ou a razão por gostar do Black.
— Meu aniversário não tem importância. — Dei de ombros.
— Para mim ele é tão importante quanto o do meu filho. — Tocou
meu queixo me fazendo a encarar. — Você é especial para mim, Josephine.
— Vou te contar quando me apaixonei por ele e no fim você
entenderá que não devo continuar nutrindo esse amor. — Inspirei fundo,
pronta para dividir um pedacinho meu com a Hope.
Aos 14 anos

— Erga o queixo.
Fiz como me instruiu, erguia o queixo mostrando meu pescoço,
segundo o senhor Smith o segredo da minha beleza é o meu pescoço altivo
e fino. Resultado da rigorosa dieta imposta pela Eleanor, para ela é
impensável que as filhas pesem mais do que 40 quilos.
— Ainda não está bom. — Ele engrossava a voz conforme ficava
impaciente com as horas passando e o resultado esperado não vindo.
— O que devo fazer? — perguntei, trocava de peso de uma perna
para outra, cansada pelo tempo em pé no estúdio de fotos.
O cenário era um jardim, minhas roupas brancas com detalhes em
bordado, um vestido exibindo meu pescoço e parte do discreto decote entre
o vão dos seios. As joias da marca do Smith penduradas no meu pescoço,
orelha, pulso e dedos, me sentia um manequim em exibição.
— Vamos tentar mostrar um pouco mais do decote. — Ele se
aproximava, e eu recuava um passo com medo dele me tocar.
Eu odiava como o Smith me encara. Ele tentava esconder suas
intenções por trás de sorrisos gentis e fala mansa, mascarando o desejo
ardendo em seus olhos negros. O homem de mais de 57 anos possuía
cabelos negros e encaracolados com fios brancos, um corte elegante,
trajava ternos sob medida cobrindo a pele marrom-dourada.
Agia com sutileza ao se aproximar de mim, tentava me manter por
perto e não me assustar. Eu estava sempre atenta a cada um de seus toques
impróprios, os evitando como conseguia. Meu pai, Louis Lucian o Subchefe
da Máfia Bianchi, deixou claro, eu não podia causar confusão com o Smith
ou seria severamente castigada.
— Smith! — A voz severa reverberou pelo estúdio, meu irmão mais
velho dava passos firmes na nossa direção. — Acho que por hoje já
podemos encerrar. Josephine vai para a escola.
— Tenho um contrato com o Lucian, posso usar a Josephine o
quanto eu quiser. — O homem ignorava meu irmão, erguia a mão para a
alça do meu vestido.
— Não foram esses os termos. — Kai agarrou o pulso do Smith,
ficando entre a gente.
— Algum problema? — O homem puxou a mão do aperto do Kai,
encarava meu irmão de frente, o desafiando a tentar o contrariar.
Olhava as costas do meu irmão sentindo uma dor no peito ao
lembrar da briga que tivemos no mês passado. Desde aquele dia Kai e eu
paramos de conversar. As coisas mudaram na nossa casa, me sentia
sozinha, sem poder contar com ninguém. Eu era obrigada a vê-lo
interagindo com a Rebeca, aquela maldita recebia atenção e amor dos
nossos pais. E após muitas armações conseguiu me separar do Kai.
Ele era um idiota, não enxergava a verdade na sua cara.
Eu estava cansada de lutar para receber a atenção do Kai, não
conseguia entender o motivo da Rebeca ser sua irmã preferida. Magoava
saber que ele não me procurou após a discussão. Ele esteve com ela,
enquanto eu sofria sozinha.
Piscava tentando esconder as lágrimas, relembrar daquela noite
magoava meu coração. Meu relacionamento com ele mudou drasticamente
após o acontecimento e eu decidi que nunca mais tentaria me explicar para
o Kai ou qualquer outra pessoa. Farei o que eu quiser, independentemente
das consequências, não deixarei a vadia da Rebeca me manipular.
— Sim. — Kai segurou meu pulso. — Estamos indo embora.
Ele não esperou por uma resposta, puxou-me como se eu fosse uma
boneca para longe do estúdio enquanto o Smith bufava alto atrás de nós.
Fui para o meu camarim, removi as joias e o vestido pesado sentindo um
aperto no peito. Por que ele agiu para me defender do Smith, mas era
incapaz de me proteger da Rebeca?
Engolia o choro, não me permitia desabar.
Eu tinha vontade de conversar com o Kai, contar a ele sobre o meu
dia, meus medos e meus desafios. Mas meu irmão me ignorava, passava
por mim na nossa casa como se eu não existisse. Matando meu coração a
cada dia.
Eu não tenho amigas, no novo colégio Rebeca conseguiu com
facilidade fazer amizades. Da Máfia somente Emily e Daisha estudavam
comigo, mas ambas se mantinham distantes. Emily presa em seu próprio
mundo sem interagir com outras pessoas, os olhos dela revelavam uma
tristeza profunda após a morte da mãe.
Era difícil ouvir a Daisha falando ou puxando assunto com outras
meninas. Eu tinha vontade de me aproximar delas, mas nunca encontrava
uma oportunidade. Mesmo afastadas da turma, elas andavam juntas,
conversavam e se apoiavam. Possuo medo de ser rejeitada por elas, como
sou pela minha família, mesmo ansiando pela companhia de ambas, me
mantenho distante.
Antigamente, costumávamos conversar, interagíamos nas reuniões
da famiglia, a Rebeca, também fazia parte do nosso pequeno ciclo de
amizade. Mas após a morte da Hannah, mãe da Emily, as coisas mudaram.
Ela se afastou, Daisha tímida demais não se aproximava sem incentivo e eu
reprimida pela Eleanor tinha de me manter longe.
— Josephine — Kai bateu na porta — precisamos ir.
— Certo — respondi, terminei de abotoar o meu vestido, saí do
camarim, meu irmão seguiu na frente sem dizer mais nada.
Entrei no carro, meu segurança dava a partida, Kai nos seguia com
a sua moto. Meu irmão dificilmente andava de carro, somente quando é
obrigado para compromissos da organização. Seguimos para o complexo,
uma grande propriedade murada abrangendo os prédios e casas da Máfia
Bianchi, protegido 24 horas por dia.
O lugar que sou obrigada a morar.
As coisas costumavam ser mais fáceis quando eu podia contar com
o Kai. Nada conseguia me machucar desde que eu estivesse presa entre
seus braços, sentindo o amor do meu irmão. Esse tempo acabou, manchado
pelas minhas brigas com a Rebeca e com o Kai escolhendo ficar ao lado
dela.
O carro estacionou em frente à casa dos Lucian, minha desgraça de
família, descia de cabeça baixa. Subi os degraus para a porta de entrada,
girei a maçaneta me preparando para entrar, mas fui impedida por uma
mão segurando meu pulso.
— Eu tenho uma reunião agora, mas preciso conversar com você —
Kai falava. Encarei meu irmão observando seu rosto preocupado.
— O que foi? — respondi seca.
— Com seu trabalho como modelo você se tornou o rosto da
organização, a marca do Smith é famosa em vários países e as fotos que
você fez estão sendo veiculadas por diferentes lugares. Sábado é seu
aniversário e muitos associados vão comparecer, inclusive o Smith. — Ele
me encarava com intensidade. — Eu não quero você sozinha com esse
homem, não deixe ele te tocar como fez hoje. Ser a modelo da marca dele
não dá nenhum direito sobre você. Entendeu?
— Certo. — Acenei.
Ele ainda se preocupa comigo?
Fiquei com dúvida, Kai e eu mal conversávamos, ele me
acompanhava para as sessões de fotos, mas era somente isso.
— Você chegou! — A voz enjoada atravessava meus ouvidos me
causando enjoos.
— Oi, Beca. — Kai sorriu para a Rebeca a envolvendo em um
abraço.
— Senti sua falta. — A aprendiz de capeta falava com o rosto no
peito do Kai.
Ele não sorria mais para mim, somente para ela.
Revirei os olhos, entrei sentindo o ambiente sombrio da casa.
Recusava-me a presenciar as trocas de afeto entre o Kai e a Rebeca. Não
pretendo me torturar mais do que o necessário. Subi para meu quarto com
rapidez, tranquei a porta e deitei na cama, puxei o livro da mesa de
cabeceira mergulhando na leitura e esquecendo o maldito mundo ao meu
redor.
A semana passava rapidamente, estudava e lia trancada em meu
quarto me recusando a encontrar os membros da minha família. Eleanor
era obrigada a organizar meu baile de debutante. Oficialmente, eu seria
apresentada à sociedade como uma dama da Máfia Bianchi, achava essa
merda cansativa e desnecessária.
Uma tradição da Máfia Bianchi, todas as damas debutavam aos 15
anos — um ano antes da tradição americana sweet 16 —, em um baile para
sermos exibidas. Para garotas americanas normais a festa de debutante
aos 16 marcava o início da sua vida como adulta, elas podiam dirigir,
trocavam a sapatilha pelo salto alto, deixando de ser menina para ser
mulher.
Na famiglia o significado era outro e por isso acontecia um ano
antes. Antigamente, até os anos 1990, as meninas da organização casavam
com 15 ou 16 anos. O baile de debutante era para o noivo fazer o pedido
oficial diante da organização e poucos meses depois firmava a união. Hoje
em dia, seguindo as regras sociais, casamos aos 18 anos, os bailes de 15
servem para sermos exibidas e as propostas de casamento feitas.
— Coloque o vestido — Eleanor ordenou, erguendo a peça branca.
— Lembre-se, Josephine, hoje você deve demonstrar pureza como o seu
vestido. Não cause nenhuma cena e se porte como uma dama ou eu juro
que quebro seu braço quando voltarmos.
Ela não estava mentindo, Eleanor era malvada comigo, adorava me
bater pelo menor dos motivos. Acenei em positivo sem forças para brigar
com ela, eu queria chegar ao fim desse dia sem acontecimentos. Coloquei o
vestido branco com enchimento na saia, a maquiadora e a cabeleireira
trabalharam por horas para me deixar bonita.
Nunca dei muita importância para aniversários e esse seria o
primeiro que passarei sem falar com meu irmão. O que contribuiu para a
minha vontade de não comemorar, aumentar gradativamente.
Eu não gosto da minha aparência, sou magra demais, a pele
amarela pela falta de vitaminas, olhos cansados e sem vida. A única coisa
bonita em mim é o meu cabelo, grande e preto, brilhante e macio. Eu amo
meus cabelos, e odeio o resto do meu corpo marcado pelas surras recebidas
dos meus pais.
— Vamos. — Eleanor puxava meu pulso me forçando a andar atrás
dela. Tinha vontade de me soltar, revidar, dizer o quando a odeio e preferia
morrer a passar por essa tradição ridícula, mas fico calada a seguindo
para o carro.
O salão de festas ficava no complexo, em menos de 10 minutos
chegamos a ele. Desci com a ajuda do segurança, segurava meu vestido
para não o arrastar no chão. Como uma boneca de pano, fiquei ao lado
dos meus pais enquanto o Louis dava as boas-vindas aos convidados e me
apresentava como sua filha.
Fui obrigada a ficar em pé no centro do salão, as luzes focadas em
mim causavam cegueira. Eu ouvia as pessoas cochichando, a voz do Louis
reverberando pelas caixas de som, os olhares me analisando. Minha avó
paterna franzia o nariz enquanto deslizava a visão no meu corpo,
desaprovando minha roupa e minha aparência.
Busquei pelo Kai na multidão, mesmo com raiva dele precisava
sentir que alguém ali não estava me julgando. Encontrei meu irmão ao lado
da Rebeca, ela sussurrou algo para ele o fazendo rir. Acho que ele sentiu
que eu o encarava, pois fixou o olhar em mim, perdendo o divertimento das
feições.
Não existia uma única pessoa nesse salão que gostasse de mim, não
conseguia entender o motivo de precisar passar por isso. Louis finalizava
seu discurso e Smith vinha na minha direção. Apertou a mão do meu pai
que sorriu para ele, agarrou minha mão me fazendo segurar a do Smith.
— Dance comigo, Josephine. — Smith derretia segundas intenções
em sua fala, o olhar letal se fixava no meu busto.
Sem escolha segurei sua mão, ele agarrou minha cintura com
firmeza me forçando a encostar o busto no seu peitoral. Smith era mais
alto, minha cabeça batia na altura do seu ombro. Eu senti arrepios na
coluna, ele cheirava meus cabelos enfiando o nariz entre os fios presos no
topo da cabeça. A ânsia me atacava fazendo meu estômago encolher.
Eu estava com medo.
— Você não faz ideia do prazer que é tê-la em meus braços — ele
sussurrou — a partir de hoje seu irmão não estará mais presente nos
ensaios, será somente eu e você.
Estanquei no meio da dança, encarava Smith sentindo a maldade
emanando de seu corpo. Sua intenção nunca foi me ter como sua modelo e
agora posso perceber isso. Como uma salvação do destino a música
acabou encerrando nossa dança. Meu coração batia enlouquecido dentro
do peito, me soltava do Smith com rapidez, sem esperar ele dizer mais
nada, deixei a pista de dança.
— Para onde vai? Garota mal-educada. — Minha avó agarrou meu
braço impedindo minha fuga.
— Ao banheiro — respondi baixinho, sentia a necessidade de
desaparecer corroendo em minhas veias.
— Não demore, ainda tem muitos homens para você dançar.
Acenei em positivo, segurava meu vestido, as passadas apressadas
na tentativa de não correr para fora do salão. Respirei aliviada ao entrar
no corredor para os banheiros. Adentrei no toalete, me tranquei em uma
cabine respirando devagar ao processar o que tinha acontecido.
Eu não podia continuar perto daquele homem, precisava fazer
alguma coisa para deixar de ser sua modelo. E se ele me pedisse em
casamento? Tremi com a mera possibilidade de me unir àquele homem
asqueroso.
Vozes no banheiro me alertaram de que eu não podia continuar aqui
por muito tempo. Inspirei fundo, levei a mão ao peito acalmando meu
coração. Eu daria um jeito de fugir dessa situação, nem que precisasse
implorar pela ajuda do Kai. Deixei a cabine encontrando duas mulheres de
frente ao espelho retocando a maquiagem.
— A estrela da noite — uma delas falou. — Parabéns, querida, você
está linda. — Ela segurava meus braços ao me beijar nas bochechas. —
Uma sortuda por ter os olhos do Smith em você, faz ideia do quanto esse
homem é rico? Eu queria ser mimada por ele — achei ridículo o bico que
ela fez — andaria cheia de joias, uma verdadeira dama.
— Para. — A outra bateu em seu braço. — O máximo que ele nos dá
é uma foda. — Fez biquinho, ela me encarava com inveja. — Aproveite,
querida, aquele homem é poderoso!
— Com licença — limitei-me a dizer.
Como elas poderiam achar normal um homem naquela idade
cobiçando uma adolescente?
Deixei o banheiro atordoada.
— Achei você — paralisei.
Smith sorriu, abotoava o paletó, aproximava-se lentamente de mim.
Recuei dois passos, o medo pelo que ele poderia fazer comigo deixava
minhas pernas pesadas, tornava cada passada um desafio. Pressionei os
lábios sem saber qual atitude tomar. Ele não seria louco de tentar alguma
coisa com o salão lotado de membros da Máfia. Louis pode estar me
entregando em uma bandeja para esse homem. Mas ainda existem regras
na organização, uma dama não pode ser tocada e deve casar virgem.
O Smith não pode romper essa tradição.
— Vamos voltar para o salão — disse a ele, engolia em seco para
não vacilar a voz.
— Podemos demorar um pouco — se aproximava lentamente —
tenho muitas perguntas para a senhorita.
— Imagino que o Subchefe possa responder a todas. — Assustei-me
ao bater as costas na parede, encurralada.
— Ele já me deu todas as respostas que eu desejava. — Smith tocava
a lateral do meu rosto, encolhia tentando escapar de seu toque.
— Senhor Smith! — a voz animada da mulher que estava no
banheiro soa atrás de nós. — É um prazer te encontrar aqui.
— Senhora Kosty, falei com seu marido a pouco tempo, ele procura
por você e sua irmã. — Smith não a encarava.
— Preciso ir. — A mulher ficou branca como papel, andando
apressada com a outra de volta ao salão.
Ela nem pensou em me ajudar.
— O que você quer? — perguntei, reunindo coragem.
— Você. — Agarrava meu queixo com rispidez, forçava-me a
encarar seu rosto sombrio. — Quase não acreditei quando seu pai aceitou
minha proposta de te fazer a minha modelo, Louis sabe minha real intenção
com você — tremia ao ter a pele tocada por seus dedos agarrando meu
pescoço — e ele me garantiu que você seria minha, Josephine.
— Por favor, me solte — pedi em um fio de voz, horrorizada por
suas palavras.
Eu sou a filha do Subchefe, nunca seria prometida em casamento a
um associado ou membro de menor posição que a do Louis. São regras que
não podem ser quebradas e se o Louis prometeu tal coisa ao Smith,
significa que ele não se importa que eu seja desonrada e perca meu valor
como dama.
Louis me entregou para ser abusada.
Eu tentava segurar as lágrimas para não escorrerem pelo meu
rosto. A vontade de chorar travava na garganta. Eu sou menor que o Smith,
não tenho como lutar com ele ou fugir. Ninguém acreditaria em mim se eu
pedisse ajuda ou tentaria fazer algo para me socorrer. Só dele estar no
corredor sozinho comigo é motivo para boatos que garantirão a minha
desonra e que a famiglia se volte contra mim.
— Não sem antes te provar — ele dizia. — Louis me garantiu que
ninguém tentaria me impedir, vamos aproveitar a noite, Josephine.
Ergui as mãos tampando meu rosto do Smith, tentava me proteger
como podia de seu ataque. A boca asquerosa beijava meu pescoço, tremia
querendo fugir, encolhia os ombros para evitar o contato, em vão. Ele
agarrou minha cintura com força, forçava seu quadril contra o
revestimento do vestido.
Assustada, eu gemia chorando.
Doía saber que ele tinha razão, não existia ninguém para proteger a
mim. Meus pais me odeiam, minha irmã era um demônio e meu irmão, o
único que me protegia, me abandonou. Eu estou sozinha, desprotegida, sem
a esperança de alguém se importando comigo.
— O que você está fazendo?
Uma voz grossa soava enfurecida. Afastei um dedo para ver a quem
ela pertencia. Smith virava de frente e pude enxergar Black Bonnarro, o
filho mais velho do Capo de Nevada.
— Não se intrometa — Smith rosnou, seu aperto continuava firme
na minha cintura pelo lado direito.
— Largue ela — Black ordenou.
Eu conhecia o Black por ele ser um herdeiro e amigo do meu irmão,
mas nunca trocamos uma palavra. Ele avançou na minha direção, sua mão
se firmou ao redor do meu pulso me puxando contra si. Bati o rosto em seu
peito, o cheiro amadeirado invadia meus sentidos transformando o medo
em alívio.
Black apareceu.
Ele se importou o suficiente para impedir o Smith.
Agarrava a lapela de seu paletó me prendendo a ele para evitar a
agressão.
— Isso não ficará impune, Smith — Black ameaçava o homem.
Mantinha meu rosto contra seu corpo me recusando a ver o Smith.
— Você faz ideia de quem eu sou? — Smith ameaçava o Black com
arrogância.
— Um mero associado, eu sou o filho do Capo Bartolomeu
Bonnarro e em breve assumirei a posição do meu pai. Você foi flagrado
abusando de uma de nossas damas e pagará caro pela sua traição.
— Eu tenho a permissão do pai dela. — Soberba derramava de sua
voz.
— Se o Subchefe permitiu que sua filha fosse abusada, ele também
sofrerá as consequências por trair a sua família. E eu tenho certeza que o
Lucian jamais quebraria as tradições da organização.
— Não mesmo — a voz sombria do meu pai foi ouvida. — Levem ele
— ordenou.
O Louis não me entregou?
Fiquei confusa, não é do feitio do Louis me proteger. Ele pode estar
fingindo por ter sido flagrado pelo Black.
O medo pela reação do meu pai me fazia encolher contra o corpo do
Black, buscando nele proteção, uma garantia de que eu escaparia da
punição por causar uma cena no meu baile de debutante. Para o Louis não
importa se sou culpada ou inocente, em todos os incidentes da Rebeca ele
me julgava como a errada e me punia.
— Nunca permita que te façam sofrer ou te humilhar — Black
murmurou suspirando pesado, ele alisava minhas costas. Tive a estranha
sensação dele não querer me soltar, de querer me manter protegida entre
seus braços fortes.
Eu não queria ir para lugar algum.
O desejo de passar a noite perto do Black rodeava meu coração
como um pequeno barbante, se enrolando e fixando, me puxando para o
Black.
— De volta para o salão, Josephine — Louis ordenou.
Black me soltava devagar, encarei seus olhos verdes repletos de
bondade.
Ele me salvou.
Não tive tempo para agradecer, Louis puxou meu braço me forçando
a voltar para o salão. Eu sentia que ele estava irritado comigo, mas dessa
vez eu não tinha culpa, somente ele por me entregar aos leões e ser
flagrado. Smith desapareceu. No salão buscava pelo Kai, queria contar a
ele o que aconteceu, pedir por sua ajuda, mas não o encontrei.
A noite passava sem acontecimentos bruscos, sentia falta do Black,
ansiando pela sua aparição para podermos dançar ao menos uma música.
Eu queria agradecer por sua ajuda, conversar com ele, perguntar sobre a
sua vida, quando estaria de volta a Nova Iorque e principalmente precisava
saber o motivo dele me salvar.
Black não era minha família. Tão pouco somos amigos. Não tinha
intimidade com sua família para ser uma conhecida. Somos completos
estranhos e ele me salvou sem pedir nada em troca.
Pela primeira vez em 15 anos, alguém me escolheu.
Percebi que o quarteto formado pelo Kai, Black, Michael e Daniel
havia sumido do salão. Se o Black contar ao Kai o que aconteceu meu
irmão terá de vir falar comigo, poderei pedir sua ajuda para garantir que o
Smith nunca mais coloque as mãos em mim.
Pelos dias seguintes, enquanto esperava o Kai aparecer, eu pensava
no Black, não conseguia esquecer seu olhar bondoso, a forma protetora
como me puxou contra o seu peito.
Existia alguém que me enxergava.
Alguém para me proteger.
E como uma boba, eu me apaixonei ansiando pelo dia que o veria
novamente e seria capaz de agradecer por me salvar e fazer eu perceber
que não estava sozinha.
Eu tinha o Black.

Atualmente

— O Black nunca comentou sobre aquela noite — retornava das


minhas lembranças encarando a Hope — ou o Kai, meu irmão e eu
continuamos acertando as histórias do nosso passado, em uma sessão de
terapia ele me contou que o Louis ficou furioso pelo Smith me atacar e o
Kai não estar por perto para impedir, submetendo ao Black essa tarefa. Nos
dias em que esperava pelo Kai ele era castigado no porão por falhar com
seus deveres como o mais velho.
— Eu sinto muito, Phine. — Hope apertava meu corpo contra o seu
me enchendo de amor. — O Black nunca me contou que isso aconteceu.
— Eu me apaixonei pelo Black por encarar seu gesto de proteção
como algo a mais, não percebendo que ele estava apenas sendo um homem
decente. — Limpei o canto do olho enxugando as lágrimas. — Eu me
enganei com o Kai, ele não era um irmão ruim e me protegia sem eu saber,
com o Black foi o mesmo. Ele não é um príncipe protetor, mas um homem
que não me deseja. Eu acordei da ilusão Hope. — Encarava minha amiga
percebendo que ela compreendeu meus sentimentos.
— Você tem razão — alisava minha bochecha carinhosamente — e
merece alguém que te ame e faça sua alma transbordar de felicidade. Vou
respeitar seu desejo, prometo que vou parar de insistir. — Beijou minha
testa.
— Obrigada.
— Posso confessar uma coisa? — ela falava baixinho segurando um
riso nos lábios.
— Diga.
— Por conhecer sua fama de atrevida nos bailes da famiglia, jurava
que a história acabaria com você chutando as bolas do Smith ou causando
uma cena o denunciando por ser um assediador. Vou perguntar ao Michael
se ele continua vivo e pedir ao meu marido para dar uma lição no
desgraçado.
Gargalhei pelo jeito que falava. Hope tem feições gentis, olhos
verdes como esmeralda repletos de amor, sobrancelhas castanhas da cor do
seu cabelo castanho-escuro. Os dentes brancos sempre sorrindo para quem
ela apreciava, Hope Bianchi é a líder da sociedade das damas e uma perfeita
rainha.
Minha melhor amiga é capaz de arrancar risos enquanto meu
coração continua magoado.
— Foi devido ao Black que mudei meu comportamento. Ele me
disse para não permitir me fazerem sofrer ou humilhar, eu acreditava que
ele apareceria para me salvar dos perrengues. Cansada de ser maltratada em
casa, decidi que reuniria coragem para enfrentar a todos que ousassem me
desafiar. Aprendi cedo, no mundo em que vivemos ou você devora, ou é
devorado. Eu preferia ser a caçadora.
— A serpente atacando primeiro. — Apertava os olhos em uma
tentativa de parecer letal. Hope fazia referência ao meu codinome no nosso
quarteto de damas. — Eu não fui a nenhuma de suas festas, não sei a data
do seu aniversário, me conta, Phine.
— Com licença. — A governanta bateu de leve na porta. — O
senhor Bonnarro deseja falar com a senhora Josephine.
— O que seu pai quer aqui? — perguntei a Hope, ela parecia
confusa como eu.
— Não sei — Hope respondeu.
— Pode mandar entrar — eu disse.
Ao contrário do que eu imaginava, não é Bartolomeu que entra, mas
Black Bonnarro, alto com cabelos castanhos com tons dourados raspado na
lateral e um topete caindo sobre as sobrancelhas grossas. O maxilar
quadrado dava um ar de homem viril ao seu rosto. O nariz de ponta fina, os
lábios rosados em um pequeno sorriso, ele possuía a expressão leve, os
olhos verdes protegidos por cílios grossos e fartos.
Notei um buquê de flores em suas mãos, botões brancos nas bordas
contornando os crisântemos rosas preenchidos por folhas verdes brilhantes.
— Olá. — A voz grossa reverberava causando tremores de
ansiedade em meu estômago, o que ele faz aqui? — São para você. —
Entregou-me o buquê.
Peguei-as com as mãos fracas, não esperava que ele fosse aparecer.
— Obrigada — respondi polida, mais nervosa do que ansiosa.
— Como você está?
— Bem. — Continuo estranhando sua visita.
— Vou deixar vocês a sós. — Hope levanta animada, pelo visto ela
não desistiu de me unir ao seu irmão e esqueceu o interesse no meu
aniversário.
— Qual o motivo da visita? — eu questionava, ele sentou ao meu
lado.
— Desejava saber como você estava, os últimos acontecimentos
foram pesados.
Encaro as flores no meu colo, aperto o papel do buquê.
— Você nunca se importou com meu bem-estar — alfinetei a
verdade amarga — qual o real motivo da sua visita?
Encarei Josephine Lucian repassando tudo que eu sabia sobre ela.
A garota problema causava confusões com as damas da sociedade
Bianchi. Insultava os cavalheiros que se aproximavam e quase causou uma
guerra entre a Máfia Siciliana e nós, ao dar um tapa na cara do seu líder.
Perdemos três associados por serem ofendidos pela Josephine, sendo
somente o Smith um que merecia morrer.
Por um acaso do destino enquanto eu ia ao banheiro encontrei o
desgraçado a tocando. Me certifiquei de que ele seria punido conforme as
nossas regras. Ainda tenho as minhas dúvidas se o Louis permitiu ou não a
agressão, dado as revelações recentes sobre a verdade escondida na casa
dos Lucian, tenho minha teoria de que o abuso foi incentivado.
Eu cresci protegendo a minha família, cuidava da Hope sempre que
a nossa mãe ficava descontrolada e tentava matar a filha em seus
aniversários. Protegia o Steve da verdade cruel rondando a história da nossa
irmã, nunca o deixando saber dos detalhes sombrios daquela noite.
Segurava as pontas em Las Vegas quando meu pai estava cuidando
da nossa mãe, buscando inúmeros tratamentos para ela. Enquanto lidava
com o meu próprio trauma. Eu fui incapaz de a proteger, assistia ao estupro
sem poder fazer nada, ouvindo os gritos da minha mãe, o choro, a vendo ser
machucada, humilhada. Ela quebrava e eu me desfazia em pedaços tentando
salvá-la, mas nunca consegui.
Jurei para mim não permitir outra desgraça acontecer com a nossa
família. Todos os anos era atormentado, tendo minha promessa quebrada
por ser fraco e não conseguir proteger a minha irmã e a minha mãe. Eu era
incapaz de alcançar os demônios na mente delas, assistia a ambas morrendo
de dentro para fora e quando a Hope foi sequestrada eu não pude fazer nada
para a trazer de volta.
A culpa corroía cada pedaço da minha alma.
Minha família é sagrada. Hope encontrou a felicidade e o amor em
seu casamento com o Michael. Kennedy, minha mãe, tem melhorado com a
ajuda de um tratamento especializado para o seu trauma com o apoio do
meu pai Bartolomeu. Steve, meu irmão mais novo, cresceu bem-humorado,
protetor, leal e um homem de honra.
O mundo continuava a girar e eu não conseguia superar os traumas
daquela noite. Até conhecer a mulher que se infiltrou na minha vida com
seu jeito doce, divertida, trazendo um mar de felicidade para os meus dias
sombrios. Amber foi a única pessoa com quem eu conseguia me abrir e me
ajudou com os meus medos. Ao lado dela eu fui capaz de curar um pedaço
queimado da minha alma.
Amber era o completo oposto da Josephine, a dama tempestuosa. Eu
a julgava por ser rebelde, atrevida e principalmente pelas brigas que ela
causava com o Kai e a Rebeca. Não conseguia entender como ela podia se
revoltar contra a família. A cada história contada pelo Kai meu desgosto
crescia. Josephine tinha um bom irmão ao seu lado e o desprezava. Rebeca
sempre foi uma dama simpática, obediente, gentil e educada, mas era
maltratada pela Josephine.
Através dos olhos do Kai e da tristeza que ele sentia pela relação
com a irmã eu conheci somente uma versão da Josephine. Quando ele se
irritava eu me irritava, ele se sentia magoado eu me magoava, se ele se
preocupava com a Rebeca e xingava a Josephine eu o imitava.
O conto da irmã malvada perdurou por anos dando à moça uma
péssima reputação e me fazendo a detestar.
Odiava que ela machucava o irmão e a irmã, odiava como ela me
dava atenção buscando por mim como uma maluca, aproveitando cada
oportunidade para tentar me seduzir, mesmo quando era menor de idade. Eu
não suportava ficar perto da Josephine, não entendia o motivo dela gostar
de mim. Não trocamos muitas frases ao longo dos anos, mas a moça agia
como se eu fosse o príncipe encantado dela.
Eu tinha um relacionamento sério na época, não podia contar para
ninguém, pela Amber não fazer parte da nossa sociedade criminosa. Por
mais que evitasse a Josephine e escapasse de suas investidas ela me fazia
sentir mal.
Josephine me lembrava que eu teria de casar e ter filhos pelas leis da
organização. Ela era a melhor opção por ser filha do Subchefe e Josephine
sabia disso, usava de sua posição para justificar as investidas. Ela me fazia
sentir que estava traindo a Amber, com os nossos dias contados para o
término.
Eu sabia que o fim do meu romance chegaria no dia em que meu pai
firmasse um acordo de casamento. Eu assinei os papéis declarando que
pediria Josephine em casamento, naquele dia retornei para Las Vegas e
terminei com a mulher que eu amava.
Amber entendeu, chorou e disse que me amava, mas nunca me pediu
para continuarmos juntos. Ela sabia os riscos que correríamos e que eu era
incapaz de sacrificar a minha família por ela. Eu a amei mais no dia do
nosso término. Fazia quase um ano que estávamos separados, ela tem
passado por problemas pesados e eu queria estar ao seu lado, mas sou fiel
aos meus compromissos.
Casarei com Josephine Lucian e cumprirei o meu objetivo na
organização.
Ao longo desses quase dois anos que a Hope casou com o Michael e
trouxe a Josephine para o seu ciclo de amigas eu comecei a ver uma nova
versão da moça. Dessa vez contada pelas palavras de carinho da minha
irmã. Hope nunca falou mal da Josephine, sempre reforçava o quando ela
era injustiçada e o errado era o Kai, enganado pela Rebeca.
Passei a conhecer um novo lado da Josephine, um em que ela era
sarcástica, mas não irritava. Debochada com comentários ácidos, causava
risos de alegria nas amigas. Leal, apoiando as loucuras das meninas em
cada aventura das quatro, atenciosa e capaz de amar com o coração
qualquer um que desse a chance de a conhecer de verdade. Uma mulher
com olhar gentil para o meu sobrinho o segurando nos braços com carinho e
cuidado que poucas pessoas possuíam, sorrindo feliz pela nova vida trazida
ao mundo.
No último ano, após firmar o contrato de casamento e a observar de
perto, eu precisei desconstruir cada uma das coisas que eu sabia sobre ela.
Hope me fez perceber que as tentativas de Josephine em chamar minha
atenção não eram somente por ela gostar de mim, mas porque ela me via
como alguém que a escutava.
Eu precisei tomar cuidado em nossas interações para não a magoar
com falsas esperanças, ainda estava descobrindo quem era Josephine. Não
podia rir se sentisse vontade ou prolongar as conversas fazendo a moça
sonhar com um romance que não existia, eu tinha de ser cauteloso enquanto
Kai reconstruía os laços com a irmã.
Não queria interferir no momento precioso deles, precisava me
manter distante para que ambos se concentrassem na relação, enquanto eu
lidava com a bagunça que acontecia no Texas, dominando um novo
território.
Depois que terminei com a Amber não existia espaço para um novo
relacionamento na minha vida. E eu não iria magoar a Josephine me
envolvendo com ela cedo demais. Não imaginei o rumo dos acontecimentos
tomados nos últimos meses. Ela quebrou e eu queria ajudar a se curar, mas
não sabia como me aproximar.
Saber a verdade por trás da rebeldia da Josephine fazia eu me
recriminar por tê-la julgado errado. Josephine mudou após conhecer minha
irmã Hope, eu percebia a sutileza como ela parou de procurar por mim,
preferindo conversar com a Hope e as amigas. Não buscou pela minha
atenção.
Os últimos acontecimentos foram um choque para toda a
organização. Josephine não era a vilã, mas a vítima. Kai escondia suas
dores debaixo do sarcasmo, não compartilhando conosco as torturas
sofridas pelo pai. Josephine escondia as malvadezas que a Rebeca fazia
com ela com a agressividade, não se importando em se defender, mas em
atacar.
Eu a julguei errado, aquele que mais zelava pela proteção da família
e repudiava uma dama por se voltar contra os seus, foi incapaz de perceber
que ela era atacada pela família, excluída de propósito e sofrendo sozinha.
Questionava-me se as tentativas desesperadas dela para falar comigo eram
uma forma de pedir ajuda.
Alguém para a retirar do tormento em sua casa e poder protegê-la.
Eu errei com a Josephine, todos temos culpa na dor que ela
enfrentava sozinha. Queria corrigir o meu erro, descobrir quem é a
verdadeira Josephine e a apoiar em seu momento difícil.
Vou fazer com que ela perceba o meu arrependimento por tê-la
desprezado. Eu não odiava a Josephine, mas a pessoa que achava que ela
era. E não a culpei por me ressentir. Não vai ser fácil apagar a dor no seu
coração, mas garantirei que novas feridas não sejam abertas.
— Os últimos acontecimentos foram pesados, Josephine. Queria me
certificar de que você está bem.
Observei a mulher à minha frente. Josephine perdeu peso nos
últimos dias. Matar a irmã mexeu com ela, o rosto magro com bochechas
finas, os olhos negros cansados, cabelos pretos longos batendo na cintura
fina. Ela sempre foi esguia e bonita, mas perdia seu encanto em meio às
confusões que causava.
— Estou bem, pode ir embora. — Levantou deixando o buquê em
cima do sofá sem dar importância para ele.
— Não é fácil tirar uma vida. — Ergui o corpo a seguindo pela sala.
Josephine andou em direção às escadas não querendo conversar.
— Eu matei um demônio, não uma pessoa — respondeu arisca.
— Josephine, espera. — Segurei sua mão a impedindo de subir os
degraus da escada.
— O que foi, Black? — A voz irritada escondia a dor em seus olhos
cansados.
— Feliz aniversário. — Sorri, alisei seu pulso fino com uma
pequena pulseira. — Trouxe as flores como um presente, espero que goste.
— Como você sabia? — Seu rosto se banhou pela surpresa, ela não
esperava que eu recordasse a data.
— Nunca esqueci o dia do seu aniversário. — Subi sutilmente a mão
por seu braço, alisando a pele macia. — Desculpe por demorar para te
parabenizar, era difícil estar em Nova Iorque nos seus aniversários.
— Obrigada, mas não precisava. — Puxou o braço, agarrei sua
palma não a deixando escapar.
— Permita-se ser feliz. — Acariciei sua palma, percebi a mudança
em suas íris negras, os lábios cor de pêssego abriam minimamente.
— O quê você disse? — questionou perdida.
— Por anos você buscou por alguém capaz de a enxergar de
verdade, encontrou pela primeira vez na minha irmã uma amiga. Foi difícil,
mas você conseguiu mostrar a verdade sobre si mesma, a respeito da
Rebeca, e pode refazer os laços com o Kai.
Puxei seu pulso a trazendo para perto, ergui a mão tocando sua
bochecha fina. Encarei o fundo de seus olhos captando a fragilidade da sua
alma. As lágrimas se formando timidamente no cantinho das pálpebras.
Aproximei a boca de sua testa inspirando o cheiro de orquídea. Dei a ela um
beijo cálido, tentei expor meus sentimentos de empatia e carinho.
— Você pode ser feliz, Josephine. Não prossiga atormentando sua
alma com a dor do passado. Você conquistou tudo o que sempre quis,
amigas verdadeiras, o amor do seu irmão e o reconhecimento de que você
não é uma pessoa ruim. Aceite a felicidade, sem pensar em mais nada.
Josephine ficou em silêncio, os braços largados ao lado do corpo, eu
sentia os pequenos tremores de seu peito próximo ao meu. A envolvi em
um abraço caloroso.
— Perdão por te julgar errado e contribuir para a tormenta dos seus
dias. Eu me deixei enganar, nunca pensei em conversar diretamente com
você e saber o motivo por trás de suas ações. Errei de uma forma que não
existe reparo. Eu vim aqui te trazer flores, pois imaginava que a deixaria
feliz no seu aniversário. Deixe sua luz brilhar, Josephine, e não se
machuque devido a outra pessoa.
— Por favor — pediu baixinho — vá embora.
— Josephine.
A força de suas mãos bateu contra meu peito me empurrando um
passo para trás. Encarei o rosto banhado em sofrimento se recusando a
deixar as lágrimas caírem, os lábios pressionados pelos dentes e os punhos
cerrados ao lado do corpo esguio.
— Você é o mais cruel de todos, Black. — Apertou a mão na frente
do peito. — É injusto que por anos eu tenha corrido atrás de você como
uma idiota e nunca recebi mais do que migalhas da sua atenção. E agora
que eu não te quero mais você vem com esse papo idiota de eu me permitir
ser feliz. — Ela soluçou pesado, as lágrimas escorreram por suas
bochechas. — Se você deseja de verdade a minha felicidade, rompa o
acordo de casamento, não quero ser sua esposa.
As verdades difíceis em suas palavras me magoaram, Josephine
estava coberta de razão, eu fui cruel com ela. Posso nunca ter dito palavras
para machucar, mas escolhia permanecer distante, a mantendo afastada.
Suas lágrimas causavam desconforto no meu peito, por muito tempo relutei
em aceitar casar com ela. Mas não pensei que sentiria o gosto amargo da
rejeição.
— Não podemos — baixei a vista encarando seus pés — o acordo
foi selado meses atrás, não casamos antes devido aos acontecimentos com a
sua família e a dominação do Texas. — Ergui a vista me deparando com sua
mágoa. — Eu te prometo, Josephine, não a farei sofrer.
— Você não pode me ferir mais do que já fez. — Passou as mãos
furiosas no rosto limpando o rastro do seu sofrimento. — Anuncie o
noivado como desejar, não quero uma festa e muito menos comemorações
com pessoas que eu detesto. Só volte a me procurar quando subirmos ao
altar.
Josephine virou de costas, eu queria a impedir de partir e conversar,
me explicar, limpar o sofrimento de sua alma. Mas não tinha esse direito,
ela tem razão, por anos a desprezei, tive raiva e a mantive afastada. Não é
justo com ela forçar a minha presença por eu estar arrependido e querendo
consertar o que foi quebrado.
Deixei-a partir.
Josephine merece que as feridas em sua alma sejam cicatrizadas e
cuidadas com amor. Estou coberto de arrependimento por tê-la desprezado.
Eu quero cuidar dela e ajudá-la a ser feliz, mas antes precisava descobrir
como fazê-la querer estar na minha presença.
Um passo de cada vez, até o dia em que a verei transbordando
felicidade, pois é isso que Josephine merece.
Ser feliz e amada.
Aos 10 anos

— Feliz aniversário, Josephine. — Kai entrou no meu quarto


segurando um bolo em formato de livros!
Levantei animada pulando de excitação ao ganhar meu presente.
Desde o jardim de infância eu gostava de ler, me apaixonei pelos
livros infantis e meu irmão sempre tirava um tempinho para lê-los comigo
no meu quarto antes de eu dormir, quando ele conseguia estar em casa. Eu
sei que o Kai é ocupado e não pode ficar comigo por muito tempo.
Odeio o fato de, na maior parte das vezes, a Rebeca, minha irmã de
8 anos, interferir roubando a atenção dele para ela. A Beca não costumava
ser chata, mas ela tem crescido e virado uma implicante.
— Oba! — Desci da cama pulando ao redor do Kai, ele sorriu
erguendo o bolo para não cair no chão com meu ataque.
— Calma, Phine — pediu em meio a risos animados.
— Amei o meu bolo. — Bati palmas.
— Vou chamar a Rebeca para cantarmos os parabéns. — Kai
colocou o bolo em cima da mesinha de centro no meu quarto, batendo as
palmas contra o jeans. — Mas antes seu presente. — Veio animado
mordendo o sorriso bonito em seu rosto.
— Obrigada, Kai — agradeci antes mesmo de ver o que era, meu
irmão nunca errava em seus presentes.
— Você ainda nem viu. — Se agachou ficando sobre um joelho e o
outro apoiado no chão.
Kai sorriu com os olhos, os fios pretos da barba em seu rosto. Ele
sempre me causa cócegas ao esfregar o queixo no meu pescoço. Levou a
mão ao bolso traseiro da calça, puxando dela uma caixinha do tamanho de
sua mão.
— Espero que você goste. — Entregou-me o embrulho bonito, o
papel tinha corações desenhados com uma fita vermelha.
Peguei o embrulho nas minhas mãos pequenas, estava completando
10 anos e tinha crescido bastante nos últimos meses. Kai brincava dizendo
que serei mais alta do que ele no futuro.
Puxei a fita vermelha desfazendo o laço, enfiei o dedo no papel de
presente o rasgando, era uma caixa branca com a imagem de um aparelho
branco com uma tela pequena e um círculo que parecia botões, encarei de
testa franzida meu presente, não sabendo o que era.
— É um iPod para você ouvir música. — Com delicadeza ele abriu
a caixinha puxando o aparelho de dentro.
— Como funciona? — Segurei o iPod, é pequeno e bem fininho com
fones de ouvido brancos.
— Eu fiz uma playlist para você ouvir. — Com paciência Kai me
explicou como usar o aparelho.
Escutamos uma música inteira juntos. Pulei animada pelo presente,
vai ser maravilhoso poder ouvir minhas músicas sem causar incômodo à
minha mãe, ela odeia quando ligo o rádio, mesmo que baixinho para não
ser ouvido do outro lado da porta.
— Obrigada, Kai. — Apertei o pescoço do meu irmão com meus
braços, alegre pelo meu presente. — Você é o melhor irmão do mundo! —
Beijei sua bochecha.
— Você merece, Josephine. — Ele alisou meu cabelo com carinho,
levantando comigo em seu colo. — Vamos chamar a Rebeca e cantar seus
parabéns.
— Certo. — Ele deixou o iPod em cima da mesinha enquanto
seguíamos para encontrar a Rebeca.
Minha irmã estava brincando em seu quarto, ao ver o Kai pulou em
seus braços, quase me expulsando ao bater o pé na minha canela. O sorriso
no rosto do meu irmão me fez ficar calada e não denunciar a implicância
da Rebeca, não quero estragar o dia do meu aniversário com outra briga.
Para revidar aproveitei que ela tinha o braço no ombro dele e belisquei sua
pele com força.
— Ai! — Ela gritou puxando o braço.
— O que foi? — Kai perguntou andando conosco pelo corredor.
— Josephine me beliscou. — Mostrou o braço a ele, se fazendo de
vítima. Revirei os olhos acostumada com a Rebeca sendo uma implicante.
— Você fez isso? — Kai perguntou me encarando sério.
— Ela me chutou primeiro — acusei a falsa.
— Não é verdade — Rebeca gritou.
Kai parou de andar encarando nós duas com o rosto sério.
— Hoje é aniversário da Josephine, não quero brigas entre vocês,
peçam desculpas uma à outra.
Encarei minha irmã, às vezes me assusta a raiva que eu via nos
olhos da Rebeca. Ela não costumava ser assim, mas conforme tem crescido
sentia que estava me tornando uma espécie de rival para ela. Não gosto de
chatear o Kai com as brigas, só temos uns aos outros, por isso suspirei
estendendo a mão para ela.
— Desculpa por te beliscar — disse.
— Te chutei sem querer, desculpa. — Ela apertou minha mão.
— Muito bem, minhas princesas. — Kai beijou minha bochecha e a
dela.
Voltamos para o meu quarto, os três reunidos ao redor da mesa de
centro, Kai acendeu as velas e começaram a cantar os parabéns, inspirei o
ar prendendo na bochecha, assoprei a velinha desejando que todos os anos
sejam iguais.

Atualmente

Nunca mais comemorei meu aniversário depois dos 10 anos, as


coisas mudaram e eu não gostava. Nos meus 11 anos Kai estava fora do
país em uma missão, me mandou uma mensagem de aniversário e me deu o
box do Harry Potter.
Aos 12 anos o Kai havia desaparecido uma semana antes, hoje
imagino que estava recebendo alguma punição do Louis, pois quando o vi
novamente meu irmão estava machucado. Mas na época eu não sabia, fiquei
com raiva dele por não falar comigo, desaparecendo sem explicação, o
ignorei quando veio falar comigo.
Aos 13 anos eu tive uma briga com a Rebeca, ela entrou no meu
quarto escondida e rasgou vários dos meus livros, nunca consegui provar
que foi ela, mas tinha certeza, o sorriso de satisfação enquanto eu chorava
em cima das páginas rasgadas denunciavam a sua culpa. Kai tentou me
consolar, ofereceu comprar outros, mas brigou comigo quando acusei a
Rebeca de ser a culpada, o expulsei do quarto e passei o resto do dia
trancada.
Depois disso tudo piorou, comecei a ver a psicopata que a Rebeca
era, protegida pelos nossos pais. Eu percebi que se não atacasse seria
devorada por aquela maldita. Minha relação com o Kai caiu aos pedaços,
mal nos comunicávamos e quando fazíamos era para brigar um com o
outro. Eu precisava o irritar para ele lembrar que eu ainda existia, que
estava ali, convivendo naquela casa, vivendo o maldito inferno da minha
criação.
Minha festa de 15 anos foi somente um ato político, não significou
nada e mais uma vez eu tive uma noite ruim, salva somente por um
momento em que alguém me fez sentir viva novamente. Existia algum valor
em me proteger dos que me atacavam.
É injusto eu ter me apaixonado pelo Black naquele momento, tentei
manter meus sentimentos controlados. Tudo mudou quando eu tinha 17
anos e fui atacada cruelmente pela Rebeca, recebendo uma cicatriz horrível
como lembrança. Mais uma vez o meu príncipe montando um cavalo
branco apareceu, cuidou de mim e naquele dia eu caí completamente em
seus braços.
No meu coração machucado só existia o Black que se importava
comigo, me protegendo dos vilões. Eu passei dias ansiando por ele,
desejando chamar sua atenção como conseguisse, qualquer coisa que o
fizesse lembrar daquela noite, daquele momento especial em que ele me
teve em seus braços.
Eu estava desesperada para ser amada, confundi paixão com
necessidade de atenção. Me iludi com o Black, ele nunca me deu
esperanças e por mais que nos últimos nove meses tenhamos convivido de
forma pacífica eu sei que ele só tem aturado a minha presença devido ao
meu irmão e a Hope.
Questionei minha amiga se ele amava outra pessoa e por isso me
rejeitava, mas ela desconversou e não me respondeu. Meu coração idiota e
iludido continuava querendo ser cuidado por ele, amada, receber carinho e
beijos apaixonados, mas minha mente acordou do torpor e eu sei que nada
disso seria possível, assim como permiti que ele se infiltrasse na minha
alma eu vou o expulsar.
Não me importo se teremos de casar obrigados pela máfia, cumprirei
minha obrigação, serei a esposa do Black, mas nunca mais o permitirei
magoar meus sentimentos e me desprezar. A Josephine que era pisoteada,
destruída, e sozinha morreu.
Farei o que eu desejar e ninguém será capaz de me controlar
novamente.
Hoje eu tenho a minha família, fiz as pazes com meu irmão e
conquistei amigas de verdade, que me amam e fariam de tudo por mim. É
somente disso que eu preciso. O Black deve ter vindo aqui a pedido da
Hope ou do Kai, é impossível que ele realmente recorde a data do meu
aniversário, talvez o Kai tivesse dito a ele.
Vou esganar aquele bocudo.
Subi as escadas sem olhar para trás, deixando o Black e meus
sentimentos idiotas onde devem permanecer, no passado. Um buquê de
rosas e um pedido de desculpas não vão apagar os anos que passei correndo
atrás dele e que ele fugiu de mim como o diabo corre da cruz. Ele sempre
quis que eu o deixasse em paz, deveria estar feliz por conquistar seu
objetivo.
Sem fazer barulho abri a porta do quarto do meu irmão e de sua
esposa. Kai é o Subchefe da Máfia Bianchi e há uns meses casou com a
irmã do Consigliere e minha querida amiga Daisha. Eles estão perto de
completar um ano de casados, estou morando com eles já tem um tempinho,
desde que contei a verdade ao Kai sobre quem eu era e ele confidenciou a
mim o motivo de seu afastamento e o sofrimento que era submetido.
Estamos trabalhando duro para reconstruir os laços perdidos, mas
quando lembro que meu irmão quase morreu afogado após o acidente
causado pela Rebeca para matar a Daisha, meu peito aperta ficando do
tamanho de uma semente de limão. Por causa daquela psicopata quase perdi
duas pessoas importantes para mim.
Não me arrependia de matar a Rebeca para salvar a Daisha, eu só
queria que a lembrança daquela noite sumisse me deixando em paz, ela
continuava assombrando meus pensamentos, me fazendo ver o sangue nas
minhas mãos, me atormentando como uma maldição.
O quarto está iluminado pela luz natural do dia. Daisha que tem um
gesso no braço direito se recuperando dos ossos quebrados em três cantos
diferentes, o lado direito de seu corpo foi completamente machucado, um
curativo na cabeça e uma faixa na perna. Ela não consegue andar sozinha
devido à dor e tem de ficar em completo repouso.
Meu irmão saiu do banheiro com uma toalha molhada nas mãos,
vestindo roupas casuais para ficar em casa cuidando da esposa doente.
Encaro seu semblante cansado e feliz, era a primeira vez que nos víamos no
dia, talvez ele nem se lembre de que hoje era o meu aniversário. Daisha
virou o rosto acompanhando o olhar do marido me encarando na porta.
— Bom dia — cumprimentei os dois, entrei no quarto fechando a
porta atrás de mim. — Como está se sentindo? — perguntei à Daisha me
aproximando da cama.
— Como se um caminhão tivesse me atropelado.
— Você foi atropelada por um, boneca — Kai respondeu à esposa
sentando ao lado dela, ele passou a toalha limpando a boca da Daisha.
Percebi a bandeja com o café da manhã deles ao pé da cama. Desde
que ela voltou do hospital, há alguns dias, a ajudo com as coisas mais
básicas e repasso o conteúdo das aulas para ela não atrasar nas matérias,
mas era o Kai quem cuidava da esposa, com muito amor e zelo.
Eu e Daisha cursamos juntas o primeiro período de Psicologia na
Faculdade New York, um direito recém-adquirido pelas mulheres da máfia,
após o novo Chefe, Michael Bianchi, entender através de sua esposa Hope
que mulheres podem ser úteis para a organização, principalmente se formos
formadas em cursos superiores.
Não foi fácil implementar a nova regra, meu pai, Louis Lucian, lutou
contra o Chefe e tentou me impedir de frequentar a faculdade, apoiado por
minha mãe, Eleanor. Por sorte, na época o Kai já tentava se reaproximar de
mim e conseguiu me manter a salvo do demônio, me inscrevi, fiz a prova de
admissão e recebi a carta contendo a minha aprovação.
Minha cunhada, infelizmente, não está podendo ir às aulas, pois
sofreu um acidente de trânsito planejado pela Rebeca. Daisha quase morreu,
não satisfeita, Rebeca ainda invadiu o hospital, eu estava no quarto da
Daisha no momento e tive de ser fria, agir rápido e reunir todas as minhas
forças para que minha amiga não morresse e salvar o meu irmão que estava
a poucos segundos de morrer.
— Vocês são horríveis fazendo brincadeira com isso — acusei,
sentando na ponta da cama.
— Não deveria estar na faculdade? — Kai perguntou sentando ao
lado da esposa e cheirando os cabelos dela.
— Só daqui a uma hora, vocês acordaram cedo hoje.
Geralmente eu saio e eles estão dormindo, cansados de passar noites
em claro com a Daisha sentindo dores no corpo devido à cirurgia invasiva
no fígado.
— Tive uma noite tranquila — Daisha respondeu leve.
— Que bom. — Apertei sua mão esquerda.
Meu irmão levantou levando consigo a toalha, da porta do banheiro
ele a jogou para dentro e retornou sorrindo tranquilo. Ele segurou minha
mão me puxando contra si, pega de surpresa bati contra seu tórax.
— Feliz aniversário, Josephine. — A voz tranquila dizia próximo ao
meu rosto, encarei seus olhos pretos como os meus absorvendo o amor do
Kai, por anos me convenci de que eu não precisava mais dele ao meu lado.
Hoje eu não quero continuar torturando meu coração, me obrigando
a ficar longe de quem eu amo por medo de ser machucada e abandonada.
Eu também fui malvada com o Kai e não permitirei que o ciclo de ódio
continue. Engulo em seco contendo as lágrimas.
— Eu fui proibido de comemorar seu aniversário e o da Rebeca —
ele confessa. — O Louis achava uma besteira as comemorações que
fazíamos e acabou com todas elas. Desculpe por demorar tanto tempo. —
Beijou carinhosamente minha testa. — Eu te amo e prometo que nunca
mais passarei a data sem te desejar felicidades e dizer o quanto estou feliz
em ter você comigo. — Agarrou minha mão me puxando para o sofá. —
Pretendia te entregar isso quando fosse te acordar, mas você madrugou.
— Obrigada, Kai, você é o meu maior presente. — Limpei o canto
do olho, escondendo o quanto aquilo significava para mim.
Nos últimos anos não comemoramos meu aniversário ou o da
Rebeca, eu ficava criando teorias de que eles estavam fazendo algo
sozinhos, mas desde os 15 anos dela, quando o Kai desapareceu, a Rebeca
se tornava um demônio na data e eu ficava o mais longe possível. Agora eu
sei a verdade, era raiva que ela sentia por não o ter consigo.
— Para você. — Segurei a caixinha de veludo verde nas mãos, o
nome da Tiffany&Co na cor prata.
— Escolhemos juntos — Daisha disse da cama — e venha me dar
meu abraço.
— Sim, mamãe — brinquei, não contendo a felicidade.
Segurei a caixa indo para a cama, sentei ao lado da Daisha e com
muito cuidado a abracei para não a machucar.
— Feliz aniversário, Phine meu amor. — Beijou meus cabelos. —
Agora que sei a data do seu aniversário tenha certeza de que todas no
complexo saberão.
— Não faça nada grande — pedi um pouco envergonhada. — Para
mim só importa comemorar com vocês.
— A gente te conhece, agora abre o presente.
Desfiz o laço da caixa abrindo a tampa e encontrando um lindo
bracelete. A peça delicada me lembrava um cadeado, só que mais firme,
sendo metade em ouro amarelo, e do outro lado em ouro branco com uma
espessura mais fina cravejada com pequenos diamantes. Pressionando a
parte branca contra a amarela, ele se abria como um cadeado. Por dentro
pude ver a frase “Você sempre estará presa a nós”.
— É muito lindo, obrigada. — Beijei a bochecha da Daisha,
coloquei a peça no pulso amando como ficou linda. Pulei da cama me
jogando nos braços do meu irmão. — Estou muito feliz, obrigada, Kai. Eu
quero uma festa, vamos comemorar meu aniversário.
Decidi, se foi o Louis quem impedia meu irmão de passar a data
comigo, vou acabar de uma vez com qualquer resquício da influência dele
na minha vida. Serei feliz comemorando a data da forma que eu mereço,
rodeada por minha família e amigas valorosas.
— Faço tudo que você quiser. — Beijou minha testa. — Por que está
aqui? — Kai perguntou, ele me encarava curioso.
— Hope estava a dois segundos de me matar — respondi, fitei
Daisha percebendo a culpa em suas feições. — Você abriu a boca para ela.
— Desculpa. — Fez um biquinho de cachorro amolecendo meu
coração. — Ela estava falando sobre o Black vir aqui te entregar um
presente e eu confessei que você não queria mais casar com ele. Foi por
impulso.
— Ele me trouxe um buquê de rosas — dei de ombros, não
querendo me importar com o fato, revirei os olhos — como presente de
aniversário.
— O Black sabe sua data de aniversário — Kai respondeu, não era
uma pergunta. Fiquei curiosa, arqueio a sobrancelha querendo mais
informações. — Uma vez, acho que foi nos seus 18 anos, estávamos em
Cuba resolvendo umas questões para o Andrew e ele me perguntou “não vai
mandar mensagem de aniversário para a Josephine?”
— O que você respondeu?
— Que sim, mas não pude fazer. Louis tinha controle do meu
celular, ele saberia que entrei em contato. — A tristeza nublava os olhos do
meu irmão.
— É estranho ele saber meu aniversário. — Encarei o vazio, a mente
querendo se perder em teorias de que isso significava algo.
Passei muito tempo me enganando e me iludindo pelo Black, não
vou repetir os mesmos erros. Ele lembrando ou não, isso não possui mais
importância na minha vida. Repeti para a minha mente, tentando convencer
meu coração idiota que bate querendo perguntar sobre outras coisas que o
Black possa ter dito ao Kai sobre mim.
— O Black dá muita importância à família, não sei o que acontece
com os aniversários nos Bonnarro, mas o Black sempre dizia que eu tinha
de aproveitar a data com vocês, pois é doloroso demais ser forçado a estar
longe.
— Vou me arrumar para a faculdade — respondi, saindo rápido do
quarto.
Não vou permitir que pequenas migalhas me deixem feliz. Eu
mereço mais.
É estranho assistir aula sem a Daisha presente. Introdução à
psicologia poderia ser uma matéria maravilhosa se o professor não perdesse
tempo falando sobre sua vida pessoal e explicasse melhor o que diabos
Freud quis dizer com a noção de inconsciente. Eu reli o material mais de 3
vezes ontem e não consegui entender muito da teoria do autor.
Freud usa de uma linguagem difícil, ele escreveu seus livros há mais
de um século, por mais que estejam em inglês, precisei buscar o significado
de muitas palavras. Quando ele se desmanchava explicando sua teoria da
noção da inconsciência, em que o consciente é a menor parte que temos
acesso pela realidade e o inconsciente seria o grande todo escondido nas
profundezas da nossa mente, me fazia vagar pensando o que eu escondo
dentro de mim.
Eu achava que conhecia a minha realidade, mas percebi que existiam
muito mais coisas escondidas pelos segredos que guardamos. E se houver a
possibilidade de eu ocultar de mim algumas lembranças, sensações e outros
traumas para conseguir continuar sobrevivendo? Como posso confiar nas
minhas memórias se elas são somente um pedaço da minha existência?
Estudar Freud me faz refletir sobre a vida muito mais do que achei
ser possível e sem um professor decente para me ajudar a compreender meu
subconsciente vou continuar perdida na minha existência. Precisarei pedir
ajuda à Lily, minha psicóloga, para tratar não somente dos meus traumas,
mas a entender essa matéria.
— Ele não vai parar de falar?
Assustei-me levemente ao ouvir a voz do Drake, meu colega de
classe. Hoje ele chegou muito cedo e trocou seu lugar na frente da sala de
aula, sentando mais ao fundo comigo, no canto da Daisha.
— Com a Danica fazendo perguntas sobre bares, ele nunca vai
voltar ao assunto da matéria. — Retruquei.
— Quer apostar como até o final da aula ela convida ele para
saírem? — Estendeu a mão para mim.
Drake é um rapaz bonito, acredito que ele tenha por volta de 22
anos, um sorriso simpático com duas covinhas fofas, cabelo loiro-escuro,
seu rosto é retangular, o que dá um charme à barba falhada de fios claros, a
boca carnuda, rosada e os olhos de um verde intenso. Ele é mais alto do que
eu, mas não é malhado, tem um corpo atraente.
Se eu fosse uma estudante normal, tenho certeza de que Drake seria
a minha paixonite na faculdade. Conversaríamos, sentaríamos juntos para o
almoço, iríamos para a biblioteca ou assistir a algum jogo do time de
futebol americano da faculdade, ou até uma festa.
Mas com os cinco seguranças disfarçados de alunos presentes na
sala e a vida que levo na máfia, a minha versão universitária se resume a
assistir aulas, interagir com meus colegas de classe e retornar para o
complexo. Sem passeios pelo campus, sem ir aos jogos de futebol
americanos e festas, tudo completamente proibido.
Não acho ruim ser privada dessas coisas pequenas, elas não me
fazem falta. Eu tenho as meninas e fazemos nossas festinhas em casa, com
bebidas e liberdade para sermos quem quisermos. Só lamento o fato de não
poder me aventurar em uma paixão, agora que decidi que o Black não vale
mais o meu tempo, queria poder saber como é sentir as pernas bambas de
ansiedade para ir a um encontro, beijar pela primeira vez e transar até
esquecer o meu nome.
— Qual o prêmio do ganhador? — perguntei segurando sua mão, a
palma áspera, os dedos longos e firmes.
Tentei buscar no meu corpo qualquer reação a sua proximidade, a
forma sexy como ele me encarava, seus olhos não conseguindo decidir se
olhavam para a minha boca ou olhos. Drake se aproximava colocando o
braço no apoio entre a gente, invadindo meu espaço com seu perfume forte.
— Poderá decidir onde será nosso encontro — ele sussurrou
envolvente.
Sorri gostando de saber que sou capaz de despertar o interesse real
de alguém em mim, mas decepcionada por saber que nunca poderei ir a esse
encontro. Garotas da máfia Bianchi devem casar virgem, estão proibidas de
se relacionar com outros rapazes ou, pior ainda, homens de fora da
organização. Drake poderia ser morto, se souber que sua vida corre perigo,
ele estaria disposto a arriscar um encontro comigo?
— Professor — a voz de Danica chamou nossa atenção — a gente
bem que podia fazer uma viagem para um desses hotéis.
— Com certeza minha esposa adoraria participar — ele respondeu
com um pouco de graça na voz.
Os alunos começaram a vaiar a Danica. Ergui a sobrancelha para o
Drake, ele ganhou a aposta sem termos decidido qual lado ficaria com qual
palpite.
— Parece que iremos jantar — ele disse envolvendo minha mão na
sua. — Passo às 19 horas para te buscar.
— Você nem sabe a onde eu moro — respondi com divertimento, no
segundo em que ele souber, desistira.
— Não é problema, gatinha. — Pegou seu celular. — Anota seu
número e me manda a localização.
Segurei o aparelho entre seus dedos, um calafrio subiu pela minha
espinha. Olhei por cima do ombro vendo meu segurança pessoal, Joseph,
fitando o Drake pronto para o matar. Atrevida sorri para o Joseph o
desafiando a fazer alguma coisa enquanto digitava meu número.
Kai não é um ogro ou um monstro como meu pai, ele não matará o
Drake ou me castigará por fazer algo inocente como trocar número de
celular com um amigo, principalmente no meu aniversário.
Meu celular vibrou em cima da minha coxa, entrego o do Drake a
ele e pego meu aparelho vendo a mensagem do Kai.
Kai: Para quem você deu seu número?
Eu: Joseph é um bocudo.
Kai: Josephine, quem é esse homem? Você sabe que o contrato de
casamento com o Black foi assinado e em breve anunciaremos o noivado.
Ele já tem direito sobre a sua honra.
Eu: Black pode ir se ferrar com a porra da minha honra.
Kai: Josephine, por favor.
Eu: É só um colega, não precisa se preocupar, sei das minhas
obrigações.
Kai: Você me deixará com cabelos brancos antes do tempo.
Eu: Isso é função da Daisha, deixarei o Black com todos os fios
brancos antes dos 40.

Estou sendo obrigada a casar com o Black pelas regras da


organização. Tinha culpa por esse casamento. Insisti para a Hope me ajudar
a casar com o Black, dizendo o quanto amava seu irmão e queria ficar com
ele. Nunca escondi que gostava do Black. Até um tempo atrás eu estaria
saltitando de felicidade por essa união, mas agora queria poder voltar no
tempo e impedir de assinarem os papéis.
Kai também tem ajudado para que eu e o Black fiquemos juntos. Há
uns meses o Black apareceu na porta da minha casa me convidando para ir
com ele assistir a uma luta do Kai na arena dos Bianchi. Eu fiquei eufórica,
mal podia acreditar no que estava acontecendo, passamos a noite juntos
com a Daisha, conversamos normalmente um com o outro, mas em
momento algum eu senti que o Black me desejava.
Talvez tenha sido naquele momento que comecei a perceber como o
Black se sentia em relação a mim.
Alguns meses atrás

Kai e Daisha casaram faz um tempinho e minha amiga tem se


transformado em uma mulher apaixonada pelo meu irmão. Não imaginei
que ele pudesse conquistar de verdade a Daisha, o Kai tem se aberto mais
comigo, estado presente e às vezes tenho medo de sua aproximação ser um
sonho e que ele volte a ficar distante.
Trocamos mensagens todos os dias, a maioria com alguns insultos
disfarçados de cuidado. Eu gosto da página em que estamos, embora a
mágoa pelo nosso passado continue ferindo meu peito todos os dias. Foram
anos nos xingando, ignorando um ao outro e brigando sempre que a Rebeca
estava por perto, estranhamente eu sinto a falta dele.
Eu não esperava que o corpo do Kai fosse marcado como o meu, ver
o desespero do meu irmão ao ser retirado do freezer quebrou meu coração
me fazendo perceber o tormento que ele foi obrigado a passar por causa do
Louis. Eu queria cuidar do Kai, o proteger, implorar pelo seu perdão pelas
brigas, pedir que se abrisse comigo, a maldita sala de tortura continuava
presa na minha memória me fazendo odiar a casa em que vivia.
Mas a ferida causada pelo seu abandono continua ardendo em minha
alma, sangrando. Ele sofria, eu era machucada, ambos condenados pela
nossa família a uma vida infeliz sem poder buscar apoio um no outro.
Existia um mar de tormenta para superarmos e enquanto continuarmos
mantendo tudo trancado não poderemos seguir em frente e sermos irmãos
de verdade.
A campainha tocou, ergui a cabeça do sofá fechando o livro sobre
meu colo, o Louis e a Eleanor desapareceram após o Michael deixar a nossa
casa levando o Kai machucado consigo e a Rebeca se trancou no quarto
dando um pouco de paz. Ouço passos firmes no corredor, a governanta
entrou pela porta da sala e atrás dela eu o vi.
Lindo em trajes de couro, segurando uma jaqueta em sua mão. Black
tem ombros largos, o maxilar firme e os olhos verdes sombrios, escondidos
atrás dos fartos cílios pretos. Meu coração palpitou no peito, extasiado por
receber a presença dele na minha casa, o Kai não está aqui, não existem
motivos para o Black vir.
Levantei controlando a ansiedade, prendi o livro contra o peito, com
medo dele ir embora. Black não costumava demonstrar muita paciência na
minha presença, geralmente ele fugia de mim quando abria a boca, por isso
fiquei quietinha esperando ouvir a voz grave que me causava arrepios na
coluna.
— Boa noite, Josephine — cumprimentou educado, o timbre grave
atingindo meus ouvidos com alegria.
— Boa noite, Black — respondi, apontei para o sofá. — Quer
sentar?
— Não vai ser necessário. — Engoli em seco sentindo o estômago
apertando. — O Kai tem uma luta na arena, você gostaria de ir assistir
comigo?
— Sim! — respondi sem pensar duas vezes, a voz saiu um pouco
alta, fazendo eu me encolher de vergonha. Preciso parar de ficar ansiosa na
frente dele ou ele nunca será capaz de me enxergar como mulher e pedir
minha mão em casamento.
— Não precisa se trocar — estendeu o braço me entregando a
jaqueta — vista isso e vamos.
Deixei o livro no sofá, seguindo seus passos apressados para fora de
casa. Estou usando jeans, uma regata debaixo da blusa de caxemira rosa-
bebê, vesti a jaqueta a fechando na frente do meu corpo, ela é enorme e tem
o cheiro do Black. Mordo o sorriso, entrando no carro com ele.
— Obrigada por me convidar — agradeci.
— Seu irmão queria sua presença — respondeu sem me olhar, a
atenção fixa no lado de fora.
— Mas e, você, me queria aqui? — O coração quase saiu pela boca
esperando ansiosamente pela resposta do Black.
— Claro — ele respondeu tranquilo, sem a usual irritação que usava
para falar comigo.
Virei encarando o lado de fora pela porta do carro, mordendo os
lábios para não demonstrar a minha felicidade por estarmos juntos. Eu
preciso me controlar na frente do Black ou ao invés de o aproximar o farei
se afastar de mim devido à minha paixão.
O caminho foi feito em silêncio, chegamos ao prédio, desci do carro
e vi minha cunhada nos braços do meu irmão. Eles pareciam felizes,
sorrindo um para o outro enquanto o Kai a beijou com vontade, Daisha
usava uma jaqueta como a minha e tinha um roxo enorme no pescoço.
— Daisha! — gritei por ela, animada.
— Não acredito que está aqui! — Daisha se iluminou ao me ver.
— O Black me convidou, acredita? — Deixei um pouco da euforia
explodir, eu podia ser verdadeira com a Daisha, não precisava me controlar,
ela nunca me julgaria.
— Você vai ficar com o Black — Kai falou abraçando a esposa. —
Enquanto eu me preparo para a luta e durante o grande evento da noite.
Eles conversavam alguma coisa baixinhos, antes do meu irmão se
virar encarando o amigo.
— Tome conta delas.
— Estão seguras comigo — a voz grave respondeu, com um tom
calmo. — Você não perdeu a chance de marcar território, sua cadela.
Fiquei surpresa ao ver o Black provocando o Kai, meu irmão
respondeu com um sorriso perverso, beijou a esposa e foi embora. Daisha
segurou meu braço, Black foi na frente guiando o caminho pelo corredor.
— Você gosta do meu irmão? — perguntei, no início do
relacionamento Daisha queria envenenar o Kai, é curioso vê-la apaixonada.
— Sim, eu não achava ser possível, mas o Kai, ele é maravilhoso,
Josephine. Eu nunca pensei que seu irmão pudesse esconder tanto, ele fez
muita coisa dolorosa para ficarmos juntos e nos manter em segurança.
— Eu não sabia sobre as cicatrizes — admiti, a lembrança do corpo
do meu irmão assombrando minha mente. — Somente de uma que foi por
minha causa.
— Ei. — Interrompeu a caminhada segurando meus ombros. —
Tudo o que o Kai fez foi por amor a você e a Rebeca. Ele não te culpa por
nada, não mais. Vocês precisam conversar e superar as mágoas do passado.
— Não sei se eu consigo. — Minha garganta apertou, o medo de ser
rejeitada por ser a causadora da sua dor. — São feridas demais, Dai.
— Eu acredito em você — me apertou em um abraço beijando meus
cabelos — se você continuar presa ao passado vai perder o irmão louco para
te encher de amor no presente.
— Você realmente pensa que ele me ama?
Não tem como o Kai me amar, ele me abandonou e agora eu vi
como o Louis o torturou por anos enquanto eu era malvada e arrumava
brigas com ele. Eu não via a sua dor, o machucava intencionalmente
tentando chamar sua atenção, será que realmente existe espaço para o
perdão entre a gente?
— Sim, muito. — Beijou minha testa carinhosamente.
— Vou dar uma chance a ele. — Não sei se consigo confiar no Kai
para contar a verdade por trás de minhas ações, e se ele voltar contra mim
novamente e ficar ao lado da Rebeca como sempre fez? — Se der errado,
você ainda o envenena enquanto estiver dormindo?
Daisha riu meio chorosa me encarando com seus olhos azuis
brilhantes repletos de uma verdade que eu não conheço. Kai se abriu com
ela, e minha amiga o ama após saber sobre o seu passado e as partes
sombrias que compartilhamos. Existia algum pedaço a ser salvo da nossa
relação como irmãos?
— Não posso, quero continuar mais um tempinho com ele.
Ouvi um pequeno riso do Black que logo disfarçou seguindo em
frente, ele também sabe a verdade sobre o Kai? Por isso foi me buscar? Ele
percebeu que eu não sou a vilã e estaria finalmente disposto a dar uma
chance ao nosso amor?
Nossos lugares ficavam em uma área reservada perto do ringue,
sentei entre a Daisha e o Black, animada porque ele escolheu ficar ao meu
lado. As ações do Black essa noite devem significar algo, mordi os lábios
ansiosa, querendo perguntar a ele o que pensa sobre mim. Black me
entregou uma capa de plástico, nossas mãos se tocaram por breves
segundos enviando descargas elétricas por meu corpo.
— O Kai vai se machucar? — Daisha perguntou colocando sua
capa.
— O Kai nunca perde — Black respondeu — a única derrota dele
foi há três anos, porque o idiota se distraiu cantando vitória antes do tempo.
O Víbora não perdeu a oportunidade ganhando por um ponto.
— Ele não me disse essa parte. — Ri pelo franzir de sobrancelha da
Daisha.
— Eu suspeitaria se ele falasse, Kai é orgulhoso. — Black tem
divertimento na voz.
— Muito — falei, participando da conversa.
— Igual a você — Black rebateu.
Eu não era orgulhosa! Inflei de raiva por saber que era isso que ele
pensava de mim.
Quando se cresce em uma casa com uma irmã psicopata, um pai
abusivo, uma mãe malvada e um irmão que me ignorava e brigava
constantemente comigo era preciso aprender a se defender. Nunca foi
orgulho ou malvadeza que me fazia agir com soberba e de queixo erguido.
Era a minha armadura para segurar as dores trancadas no meu peito, não
permitindo que as usassem contra mim.
As lutas na arena se iniciam, assistia a troca de socos com animação
adorando a violência do momento, torço como louca pelos lutadores, xingo,
vibro e comemoro as vitórias dos que eu torcia.
— Em Las Vegas temos lutas. — Black puxou minha atenção do
final do round. — Se você gostar delas vai poder assistir.
— SIM! — gritei, um misto de animações subindo pelo meu peito.
Só existia uma forma de eu ir a Las Vegas assistir às lutas e seria
como esposa do Black. Ele realmente pensa em mim como uma futura
esposa, eu não estava sonhando sozinha querendo esse casamento.
— Certo. — Black fechou a expressão olhando para a frente.
— Você ouviu isso? — Virei para a Daisha, eufórica. — Ele me
convidou para uma luta em Vegas! É lá minha futura morada, quer dizer
que ele pensa em mim.
— Já te imagino anunciando as disputas — ela brincou, mordi os
lábios.
A luta do meu irmão se iniciou, ele era brutal em seus golpes. Gritei
por seu codinome Cérbero até sentir minha garganta doendo. Ao final da
luta ele dedicou a vitória à Daisha, ela correu para o ringue pulando em
cima dele.
— Foi uma ótima luta — eu disse ao Black.
— O Kai é um lutador excelente — respondeu retirando a capa de
cima dos meus ombros.
— Você também luta? — perguntei sentindo a garganta dolorida e
seca.
— Sim, mas casualmente — respondeu, Black me encarava
tranquilo. — Precisamos ir.
Segui-o pelo corredor, queria conversar mais, perguntar sobre suas
lutas, mas me contenho, Black não dava abertura para uma conversa e eu
não queria insistir. Ele não estava sendo mal-educado comigo, mas um
pouco frio e distante. Vi meu irmão e cunhada se aproximando, Kai sorria
como um homem apaixonado, ele amava a Daisha.
Encarei o Black percebendo a diferença de sua expressão para a do
meu irmão. Aquilo mexeu comigo, espalhando um frio por meu estômago e
o medo dele nunca me encarar com amor como o casal à frente se olhava.
Daisha iniciou o casamento odiando meu irmão e agora estava
completamente apaixonada, será que existia a chance dessa mudança
acontecer com o Black e eu?
— Você foi ótimo — falei para o meu irmão, acho que é a primeira
vez que o elogio.
— Eu ouvi você torcendo por mim? — o tom brincalhão me fazia
rir.
— Não tirou seu nome da boca — Black muda ao responder ao
amigo, ganhando alegria em sua voz.
— Virou sua fã — Daisha me provoca.
Dei de ombros não sabendo o que responder, era estranho para mim
brincar com o Kai. Trocamos mensagens com bom humor nos últimos
tempos e pessoalmente conversamos normalmente um com o outro. Mas
tudo ainda parece errado, como se faltasse alguma coisa para provar que ele
não vai virar as costas novamente para mim.
— Leve minha irmã para casa — Kai pediu ao Black.
— Claro — Black respondeu ameno.
— O Louis e a Eleanor já retornaram? — Kai perguntou
preocupado.
— Não, somente eu e a Rebeca, ela fica no quarto dela, então tudo
em paz.
— Amanhã temos reunião do Conselho de Capos — Black disse ao
amigo. — Decidiremos o que fazer com os dois.
— Certo. — Kai acenou em positivo
— Vamos para casa? — Daisha chamou o marido, não consegue
esconder o desejo em seu rosto branco.
— Sim, boneca — meu irmão respondeu, sorrindo feliz para a
amada.
Não consegui recordar a última vez em que o Kai sorriu para mim.
— Até amanhã, Phine. — Daisha apertou minha mão em
expectativa.
— Tchau, Dai. — Pela primeira vez na noite sorri forçando
animação.
— Vamos. — Black segurou meu cotovelo, me puxando consigo.
O caminho foi feito em completo silêncio. O carro parou lentamente
na porta da minha casa, desci e Black me acompanhou.
— Eles parecem felizes — disse puxando um fiapo na minha calça.
— Sim — respondeu simples.
— Eles se detestavam antes. — Cutuquei a calça, será que deveria
falar o que penso? — Parecia até você fugindo de mim.
A brincadeira deixou meus lábios com um gosto amargo, eu odiava
estar me rebaixando. Pela primeira vez na presença do Black eu sentia o
que as pessoas ao meu redor cochichavam sempre que me viam correndo
atrás dele. O Black não me deseja.
— Não era isso, Josephine — ele disse, seus olhos verdes
encontraram os meus. — Era incômodo uma menor de idade flertando
comigo. — Suspirou pesado.
— Não era pessoal? — Uma pequena esperança brotando no meu
peito.
— Não.
— Eu sou maior de idade, podemos flertar sem ninguém ser preso.
— Tentei soar brincalhona, mas Black fechou a expressão. — Estou
brincando — tentei me corrigir.
— Até mais, Josephine.
— Espera. — Queria mais um pouquinho da sua companhia, a ideia
de entrar em casa e ficar sozinha com a Rebeca me deixava apreensiva. —
Qual o seu codinome? — disse a primeira coisa que me veio à mente em
uma tentativa dele permanecer aqui.
— É confidencial.
Ele foi embora sem falar mais nada.
O Black não me dava uma chance, não conversava animado comigo
como fez com a Daisha e o Kai. Seu rosto não se iluminava ao me ver, a
voz nunca continha emoção em nossas conversas. Após suas palavras eu
tinha a certeza, o Black não me desejava.
Eu sentia falta dela, das mensagens que trocávamos, de ouvir o som
da sua voz, do cheiro da sua pele e de como ela me fazia sentir em paz.
Escondido atrás do sofá esperando Josephine chegar da aula com
nossos amigos para a festa surpresa do seu aniversário de 22 anos, eu
lembrava da Amber e de quando a surpreendi em seu aniversário de 30 anos
com uma viagem para a Europa. Ela estava trabalhando feito louca para
concluir a residência em enfermagem e mal conseguíamos nos ver, precisei
pedir uns favores para ela receber uma folga no aniversário e podermos
viajar juntos.
Um ano se passou após o nosso término e ela continua infiltrada no
meu sistema. Amber era a minha pessoa favorita no mundo, minha amada, a
única com quem dividi meus segredos e o meu trauma. Se não fosse por ela
eu tenho certeza de que nunca conseguiria viver uma vida normal,
principalmente sexual.
Conhecemo-nos na faculdade, eu cursava administração de empresas
para assumir a grande rede de hotéis e cassinos da minha família em Las
Vegas. Amber era estudante de enfermagem, nos conhecemos em um jogo
de futebol americano no estádio do campus, derrubei cerveja em sua blusa
branca transparente deixando os peitos à mostra através do tecido fino.
Eu estava pronto para me desculpar, quando vi os lindos olhos
amarelados se enchendo de lágrimas pela vergonha de estar com os peitos
expostos. Agi no automático abraçando seu corpo ao meu impedindo que a
vissem, envolvi sua cintura com os braços a erguendo e saímos do estádio.
No lado de fora a vesti com minha jaqueta e a Amber me encarou como se
fosse me matar.
Acho que me apaixonei naquele segundo por ela, mas demoramos a
ficar juntos. Amber tinha seus problemas em casa com o irmão
problemático sempre causando confusão e eu não conseguia me relacionar
com mulheres. Contraditório para um homem de honra que precisava ser
ativo sexualmente, transando sem vontade e o mínimo possível.
Eu não conseguia fazer sexo sem me lembrar do meu passado, do
que presenciei e do quanto aquela noite arruinava nossa família ano após
ano, sem eu conseguir fazer nada para impedir as tragédias dentro da minha
casa.
Amber foi a primeira mulher com quem me deitei sentindo desejo, e
a única que permaneceu na minha cama ao longo dos anos. Eu a amo e
queria continuar ao seu lado, mas não podemos, vivemos em mundos
diferentes e o dela está ruindo a cada segundo com o câncer matando sua
mãe e o irmão causando problemas todos os dias.
Eu não culpei a Josephine por causa do meu término com a Amber,
poderíamos continuar juntos como amantes, mas não seria justo com a
Josephine, Amber e comigo. Não quero ser um marido que está presente
pela metade para a minha esposa, passei mais de 6 anos em um
relacionamento com a Amber, não conseguiria esquecê-la com facilidade ou
superar o nosso amor do dia para a noite.
Não vou usar isso como desculpas para me manter fechado para a
Josephine, estamos destinados a ficar juntos pelas regras do mundo em que
vivemos, mas não precisamos tornar o nosso casamento um inferno.
Ela me rejeitava, e com razão, por muito tempo a ignorei e
desprezei, a ressentido por projetar nela os meus traumas e não gostar como
ela lidava com a situação de sua família, sem imaginar o monte de coisa que
existia por debaixo de sua tempestade.
Descobrirei um novo lado da Josephine após o casamento e farei o
possível para ela notar como me arrependo por como a tratei. Estou
disposto a tudo para termos um casamento em paz, passaremos anos juntos,
formaremos uma família e talvez um dia possamos nos amar.
— Acabou a energia da casa? — Escutei o timbre sensual da
Josephine denunciando a sua chegada.
— Sim! — Daisha respondeu.
Sentada no sofá, por não conseguir se esconder devido aos
ferimentos. Por um tempo me culpei por ser incapaz de impedir a fuga do
George, ex-líder de uma organização criminosa no Texas, território recém-
conquistado por mim. George causou o acidente quase matando a Daisha.
Se eu não tivesse falhado ela não teria se machucado e os acontecimentos
seguintes poderiam ter sido impedidos.
Foi a morte da Rebeca que trouxe mudanças para a Josephine,
tornando sua alma sombria. Josephine perdeu um pouco do brilho selvagem
que ela tinha, tornando-se somente uma pessoa frágil, cansada da
organização e relutando contra a nossa união. Não sei como seu irmão
pretende a convencer, eu tenho um mês para assumir como Capo de Nevada
e Josephine não vai facilitar.
Meu aniversário de 37 anos será em menos de 3 semanas, eu deveria
assumir meu cargo aos 35 anos, como manda a tradição da nossa
organização. Mas devido aos acontecimentos com a Hope todos os
herdeiros atrasaram em um ano a troca de liderança e no último ano eu
tenho relutado em assumir um compromisso com a Josephine, respeitando o
tempo do meu término com a Amber e envolvido na dominação do Texas e
conflitos na troca do Subchefe.
Seguimos uma ordem na organização, o Chefe é o primeiro a casar,
após o Consigliere e o Subchefe para iniciar os casamentos dos Capos,
geralmente a diferença entre os casamentos é de meses, mas na nossa
geração foram inúmeros acontecimentos, ataques e ameaças atrasando a
minha sucessão. Serei o primeiro Capo a assumir já tendo dominado um
novo território, uma conquista histórica.
Somente por causa disso meu pai se manteve calmo no último ano
com o atraso do meu casamento, mas agora estou sofrendo pressão dele, da
Hope e do Michael para assumir o compromisso com a Josephine e o Kai
passou a insistir que se eu não quiser casar com sua irmã ele faria de tudo
para ficar ao lado dela na dissolução do acordo. Ele e eu sabemos que um
acordo de casamento não é tão fácil de ser quebrado, somente com a morte
minha ou da Josephine, caso contrário é guerra entre as famílias.
Eu não quero brigar com ele e menos ainda transformar minha vida
em um inferno com a Josephine me odiando por estarmos juntos contra sua
vontade. É esse o mundo em que vivemos, onde casamentos por contrato
acontecem, em que duas pessoas apaixonadas não podem ficar juntas. Resta
a nós decidirmos se viveremos em um mar de guerra ou em paz.
— Cadê você? — Josephine perguntou, a voz se aproximando.
— Na sala, não consigo ir para o quarto, me ajuda — Daisha
respondeu.
— Meu irmão te deixou sozinha nesse escuro? — Ouvi seus passos
entrando no cômodo. — Um breu completo, vou matar o Kai.
— Vem cá — Daisha pronunciou o código para aparecermos.
Como ensaiamos, todos saem de trás dos sofás. Aperto o cone na
minha mão jogando fitas no ar, Hope assoprou o apito. Kai acendeu as
luzes, Josephine pulou levando a mão à boca, os olhos arregalados em
surpresa e o cabelo cheio de confete jogado pela Emily. Daisha ergueu o
braço esquerdo jogando fitas na cunhada.
— Feliz aniversário! — Hope gritou pulando em cima da amiga. —
Eu sabia que descobriria sua data de nascimento!
— Vocês são dois traidores. — Josephine encarou o irmão e a
cunhada, com os olhos mansos, se deixando abraçar pela minha irmã.
— A Hope insistiu — Kai envolve a irmã em um abraço a roubando
da Hope — e eu não consigo dizer “não” a ela.
— Ninguém consegue. — Josephine suspirou. — Obrigada pela
surpresa. — Encarou a todos na sala sorrindo.
Um a um nossos amigos davam os parabéns a Josephine entregando
os presentes. Hope comprou um colar com pingente de uma serpente, as
meninas riram com alguma piada interna. Michael entregou um par de
brincos combinando com o colar. Emily presenteou a amiga com um
vestido de grife e Daniel completou com um par de sapatos, Josephine
pareceu adorar pelo tamanho do sorriso.
Kai comentou sobre ela já estar usando seu presente, uma pulseira,
me lembrava a estrutura de um cadeado, delicada e bonita. Daisha, a única a
permanecer sentada chamou a Josephine, ergueu a manta no sofá
escondendo seu presente revelando uma caixa com uma miniatura de
Velaris, a cidade escondida na Corte Noturna, da série Corte de Espinhos e
Rosas da Sarah J. Maas. Enquanto preparávamos a surpresa ela me explicou
o que era a miniatura.
Josephine sorriu maravilhada com seu presente. Os olhos banhados
pelas lágrimas encarando a todos na sala.
— Vocês são uns exagerados. — Ela riu enxugando o cantinho dos
olhos. — Obrigada pela surpresa maravilhosa — inspirou fundo — estou
muito feliz por ter vocês aqui.
— Nem parece a limão-azedo que não nos contava sua data de
aniversário. — Emily apertou as bochechas da Josephine.
— Ela só tem a casca durona — Hope completou envolvendo a
amiga em um abraço.
— É a vez do Black — Daisha disse batendo nas amigas para
soltarem a Josephine, ela pigarreia ficando em pé.
Sou o último na fila, seus olhos mudaram ao me encarar, nervosos,
incertos sobre o que fazer comigo. Abri os braços a trazendo para mim, se
ela imaginou que seria tratada diferente depois da sua rejeição está
enganada, continuarei sendo carinhoso com a Josephine até seus escudos
baixarem.
— Feliz aniversário. — Beijei a lateral de sua cabeça. — Fiquei com
receio de trazer outro presente e você jogar fora. — Soltei-a pegando a
caixa no sofá. — Espero que desse você goste.
— Obrigada — ela respondeu erguendo o nariz, não querendo
demonstrar que consegui mexer com ela pela minha insistência.
Os dedos longos com unhas grandes pintadas em amarelo com
detalhes em pedrinhas brancas envolvem a embalagem abrindo com
cuidado. Seu rosto se iluminou ao visualizar o box da edição especial de
Corte de Espinhos e Rosas acompanhado de duas miniaturas, uma do
Rhysand e outra da Feyre.
Depois que Josephine foi para a faculdade voltei aqui e Daisha me
deu a dica do presente e onde comprar, precisei vencer um leilão de preços
e quase ameaçar a menina que não parava de tentar comprar a peça. Foi
difícil conseguir e espero que esse, ela não jogue fora.
— É muito lindo. — Segurou o Rhysand e a Feyre com delicadeza
encarando cada detalhe das miniaturas. — Obrigada, Black. — Uma
sensação de satisfação invade meu peito por saber que acertei.
— Fico feliz por te agradar. — Sorri.
— Vou guardar eles com carinho. — Mordeu o interior da bochecha.
Quis continuar conversando com ela e entender o motivo de gostar
desses livros com um homem com rabo e asas de morcego. O que infernos
tem de atraente em um cara com orelhas pontudas?
— Hora dos parabéns. — Kai surgiu segurando o bolo com
decoração de flores.
Pelo resto da noite comemoramos o aniversário da Josephine, as
meninas evitam beber, com Hope e Emily amamentando e a Daisha
tomando medicação a Josephine preferiu fazer companhia às amigas no
suco. Eu e os rapazes nos reunimos na varanda da casa para beber, os três
pararam de fumar após os casamentos, Kai era o único que eu achava que
não deixaria o vício, contudo ele parou após o acidente da Daisha.
— Como estão os preparativos para o noivado? — Michael
perguntou segurando o copo com o whisky.
— Josephine deseja cancelar o acordo de casamento. — Revelei
encarando meu copo. — Ela me detesta.
— Após anos apaixonada — Daniel comentou — pensei que ela
insistiria como a Emily.
— Existe uma diferença grande entre você e a Emily — Kai apontou
— e o Black e a Josephine. Você deixava claro que não queria casar com a
Emily, mas sempre foi carinhoso com ela e nunca ignorou sua esposa. O
Black fugia da minha irmã como o diabo da cruz, sempre soubemos que ele
era contra esse casamento. Os últimos acontecimentos fizeram a Josephine
amadurecer e se valorizar. Não a julgo por perder a ilusão com o Black e o
rejeitar.
Ele me encarou sem raiva, o Kai sabe que grande parte dos meus
sentimentos de aversão a sua irmã se deu pelas coisas que ele me contava
dela.
— Se ela não casar com o Black — Michael usa um tom sério —
ficará sozinha. Josephine não é a dama mais desejada da organização e
nunca tivemos propostas de casamento, além do Tommaso, não vou arriscar
ela desrespeitar outro aliado e causar uma guerra.
— Eu vou casar com ela — digo firme. — Assumirei meu
compromisso e farei a Josephine perceber que me arrependo por como a
tratei.
— Você não foi o único a desprezá-la — Daniel comentou baixando
a vista. — Eu também não queria que ela fosse amiga da Emily, temia que a
Josephine machucasse minha esposa.
— Eu sempre estive de olho na interação da Josephine com a Hope
— Michael disse — tomando cuidando para ela não brigar com minha
esposa ou causar confusão.
— A verdade é que nunca demos uma chance da Josephine se
aproximar — Kai constata cabisbaixo. — Eu isolei a minha irmã,
acreditando cegamente na Rebeca e transformando a Josephine em um
monstro. Todos fomos injustos com ela — ergueu o olhar me encontrando
— mas assim como ela pôde nos perdoar ela conseguirá fazer o mesmo com
você, só precisa ser sincero com ela. Josephine necessita de carinho e amor,
ela cansou de lutar por atenção e aceitação, não espere que ela facilite para
você.
— Eu sei. — Suspirei. — Não conheço a Josephine e ela quebrou a
ilusão criada por mim. Conheceremos um ao outro no casamento. —
Encarei o Michael. — Você pediu a Hope em casamento sem uma festa na
frente da famiglia, quero pedir a Josephine com discrição. Ela não gosta da
organização e as pessoas só falam mal dela. Será meu primeiro passo
mostrando meu respeito aos sentimentos dela.
— Pode fazer — Michael assentiu. — Seja rápido, você só tem 3
semanas.
— A Emily consegue organizar o casamento nesse tempo — Daniel
informou — com a ajuda da Hope, podem conseguir.
— Vou preparar a Josephine — Kai avisou — para receber o seu
pedido de casamento, sábado esteja aqui, teremos um jantar oficializando a
união.
— Combinado — respondi bebendo o resto do whisky.
Nosso futuro foi decidido, restará a mim e a Josephine lidarmos com
a situação. Eu quero paz, e com sorte sentimentos mais profundos, ela
precisará abandonar a raiva e o ressentimento para contemplar a
possibilidade de felicidade.
Precisarei me preparar mentalmente para o que teremos de fazer
quando casados e lutar para manter o trauma arranhando as barreiras do
meu cérebro controlado. Com a Amber levei mais de um ano para
conseguirmos dar pequenos avanços na nossa intimidade sexual, ela foi
essencial no meu processo com sua calma e amor.
Josephine e eu somos completos estranhos, me assusta o que isso
causará na noite de núpcias e nas seguintes. Quero ser forte, um homem
completo para ela, mas entendo as minhas limitações. Foram 6 anos
vivendo sem a repulsa que o sexo me causava, não quero cair novamente
nos tremores do meu pesadelo.
Uma festa de aniversário surpresa.
Eu me sentia em outra dimensão, flutuando de felicidade com
minhas amigas comemorando meus presentes e partilhando do delicioso
bolo em cima da mesa de centro. Hope agarrou minha cintura oferecendo
outro pedaço, abri a boca deixando a explosão de sabores e a massa macia
invadir meus sentidos.
Não dava importância para aniversários, não havia ninguém para
celebrar comigo, não tinha amigas ou colegas desejando os parabéns. A
Rebeca sempre fazia questão de me atormentar na data e eu fugia dela não
querendo ser incomodada. Minha mãe me encarava com ódio nos olhos,
amaldiçoando o dia em que nasci. E o Kai não dirigia uma única palavra
para mim.
Sozinha, desejando atenção e proteção. Era assim que meus
aniversários costumavam ser. Mas hoje tudo mudou e eu luto para controlar
a emoção. Não imaginava que chegaria em casa e seria recebida de luzes
apagadas e com gritos de felicitações pelas pessoas que eu amo.
Hope e o Michael são pais de um lindo menininho de um ano, e
deixaram o Ethan em casa para estarem aqui. Emily e Daniel acabaram de
ganhar um bebê, o pequeno William chora sempre que fica longe da mãe e
eles estão aqui por mim.
Daisha reclamava de dores fortes a qualquer movimento na cama,
passou por uma cirurgia invasiva pesada e o Kai largou o trabalho,
obrigações na organização e a própria vida para focar nos cuidados com a
esposa. E ambos desceram e prepararam a linda festa de aniversário
encontrando tempo para me darem os presentes mais lindos.
Eu fui abençoada com esse grupo de pessoas que se importa comigo,
que foram capazes de me enxergar e dar uma chance para eu mostrar quem
sou de verdade. Eles me aceitaram e estão aqui somente por minha causa.
E o Black, imaginei que ele voltaria para Las Vegas após o episódio
da manhã, as flores continuaram em cima do sofá demonstrando meu
esforço em me manter longe dele, valorizando meus sentimentos acima de
qualquer coisa. Minha decisão em me priorizar e nunca mais rastejar por
atenção.
Ao invés de fugir, ele procurou outro presente, um mais lindo que
combinava comigo. Sempre tive vontade de possuir miniaturas dos livros de
fantasia que eu lia apaixonadamente e colecionar as edições especiais. O
meu pai não me deixava gastar dinheiro com isso, no máximo um ou dois
livros no mês para eu me distrair.
Eleanor era a responsável por controlar nosso dinheiro no cartão de
crédito. Enquanto a Rebeca tinha tudo eu me contentava com pouco,
comprando somente os que podia e utilizando dos e-books para matar a
minha vontade de leitura. Ao passar a morar com o Kai, meu irmão me
entregou um cartão sem limites e tenho gastado como desejo.
Eu procurava as miniaturas do Rhysand e da Freye como louca, me
decepcionando sempre que estavam esgotadas. Não sei como o Black
conseguiu, e imagino que minha cunhada ou irmão tenha contado que eu as
queria. O presente me tocou por saber a dificuldade que era encontrar essas
miniaturas exclusivas com detalhes para colecionador. Ele se importou o
suficiente para não desistir de as conseguir.
Não muda como me sinto em relação a ele, mas abala um pouco do
muro que ergui para o manter longe. Passei anos o amando em segredo e
sonhando com uma vida para nós dois, não conseguiria acabar com a ilusão
em um estalar de dedos.
E a minha pequena parte iludida quis se jogar em seus braços, o
encher de beijos e agradecer explodindo de felicidade pela delicadeza do
presente. A parte racional conseguiu me controlar no último momento
impedindo que eu me excedesse. Nunca mais me deixarei levar pelas
emoções, agindo afoita e fazendo o Black se afastar por não suportar ficar
ao meu lado. Prefiro manter distância e trancar tudo dentro do meu coração
ferido.
Agachada na nossa frente, Emily terminou de tomar seu suco. Os
olhos azuis como gelo encararam a Daisha e a Hope contendo um segredo
partilhado pelas três. Um frio invadiu meu estômago sabendo que serei alvo
de suas perguntas. Levantei com rapidez para fugir das três diabas. Hope
segurou minha cintura me puxando contra o sofá, passando uma perna
sobre a minha e a mão ao redor da cintura garantindo meu cativeiro.
— Gostou do presente do Black? — Daisha perguntou arqueando a
sobrancelha pontuda.
— Claro, é o Rhysand e a Freye acompanhado de uma edição
especial dos livros. Eu seria louca se não gostasse — respondi, contendo
qualquer resquício de animação que pudesse transformar essa conversa em
provocações.
— Ele quase cometeu um assassinato pelas miniaturas — Daisha
respondeu aproximando o rosto do meu. — Me parece a atitude de um
homem dedicado.
— Querendo implorar por perdão. — Emily apoiou as mãos nas
minhas pernas trazendo o rosto para perto do meu. — Seu coração balançou
ao menos um pouquinho?
— Claro que não — Hope respondeu. — O Black terá de fazer
muito mais se quiser conquistar a nossa Serpente. — Ela se refere ao meu
codinome no nosso quarteto de amigas. — Mas eu amei os olhinhos dele
cheios de expectativa, meu irmão estava morrendo de medo de você não
gostar ou jogar os livros na cara dele.
— Não exagera, Hope. — Revirei os olhos.
Evitei encarar o Black durante a abertura dos presentes, não queria
presenciar em suas feições que ele estava me entregando o embrulho por
obrigação. A Hope é uma completa exagerada, certamente está vendo mais
do que aconteceu.
— Não é exagero. — Daisha assumiu um tom sério ao me encarar.
— O Black realmente ficou nervoso ao entregar o presente para você. De
manhã você rejeitou as flores e fez questão de as deixar jogadas no sofá.
— Phine — Emily aperta meus dedos entre os seus — eu sei como
machuca correr atrás de um homem que diz não nos amar. Eu sempre tive a
certeza do amor do Daniel, mas me deixava triste e frustrada precisar
insistir. O carinho e atenção dados por ele me faziam seguir lutando pelo
homem que eu queria, com a certeza de que seríamos felizes e hoje estamos
casados, apaixonados e temos um lindo filho. Eu entendo que com você e o
Black é diferente, mas aquilo foi no passado. Meu marido, irmãos e o Black
perceberam junto do Kai quem você realmente é. Você também pode
encontrar seu final feliz se lutar um pouco mais.
— Eu nunca desejei o Michael ou o Daniel — respondi engolindo o
choro. — Tivemos pouco contato, então não existe nada para os perdoar. O
Kai e eu estamos fechando nossas mágoas com cuidado e carinho,
compreendendo um ao outro, a situação em que fomos jogados,
manipulados e enganados, feridos até não restar mais nada.
— Não existe um pedacinho do seu coração querendo reconstruir
sua relação com o Black? — Hope perguntou. — Assim como foi com o
Kai, superar o passado e se permitir viver algo novo, experimentar o amor
que pode surgir entre vocês.
— Meu irmão sempre me amou, o Black nunca me quis, é essa a
diferença. — Aperto sua mão. — Estaríamos forçando um romance que não
existe.
— Eu quero muito te ver feliz. — Hope me puxa contra seu peito.
— Podíamos arrumar outro namorado para a Josephine — Daisha
diz. — Somos esposas do quarteto mais poderoso da Máfia Bianchi, a gente
consegue.
— Nada de namorado — respondi encarando a minha cunhada. —
Me deixe aproveitar um pouco mais da faculdade. — A lembrança do
Drake dando em cima de mim pisca na minha mente. — Vocês não vão
acreditar quem me chamou para sair. — Falei querendo mudar o foco da
conversa.
— Ah meu Deus! — Emily grita. — A deixamos sozinha no campus
por uns dias e ela já conquistou pretendentes.
— Nos conte tudo. — Hope me belisca.
— O Drake pediu meu número e me chamou para um encontro.
Os gritos me deixaram surda, gargalhava contando para elas da
minha interação com o Drake.
— O que você acha do Drake? — Daisha perguntou.
— Ele é bonito, é fácil conversar com ele e foi bom me sentir
desejada. — Dei de ombros, lembrando da intensidade nas suas feições. —
Mas não senti borboletas no estômago.
— Talvez só precise dar uma chance a ele. — Emily piscou os cílios
loiros. — Você aceitou ir ao encontro?
— Não, seria impossível conseguir permissão. — Encostei-me no
sofá.
— Você podia ir — Hope balançou meu braço animada — a gente
vai junto e quando chegar lá te deixamos sozinha com ele.
— E os seguranças? — questionei.
— Josephine — Emily me encarava incrédula — você perguntou
mesmo isso para as mulheres que conseguiram enganar os seguranças
tempo o suficiente para eu fazer um piercing escondida?
— Emily tem razão, a gente consegue — Daisha respondeu. — Não
poderei participar, mas posso conter os danos no Kai. Não o deixar saber
que você escapou, acredito que consigo uns 10 ou 15 minutos sem os
seguranças interromperem.
— Há poucos segundos vocês estavam me convencendo a dar uma
chance ao Black e agora querem me fazer ir a um encontro secreto com o
Drake.
— A gente quer você feliz — Daisha disse. — Independente de ser o
Black ou outra pessoa, basta nos dizer.
— Que faremos de tudo para te ver sorrindo — Hope completou.
— Se você quer o Drake, a gente te dá ele — Daisha respondeu
mordendo o sorriso.
— Eu amo muito vocês — declarei completamente entregue ao
sentimento sublime de saber que eu tenho amigas preciosas como elas.
Eu nunca vou estar sozinha enquanto tiver a Hope, Emily e Daisha.
Os risos cúmplices são interrompidos pela entrada do Daniel na sala,
segurando o celular em uma mão e de testa franzida.
— Emily, precisamos ir. — Ele veio, segurou a esposa pela cintura a
abraçando enquanto a colocava de pé. — William quer a mamãe dele.
— Meu pequeno príncipe — Emily afinou a voz, ela encarou o
relógio no pulso, ergueu as sobrancelhas surpresa. — Já passou da hora dele
mamar, William sempre acorda às 22 horas. — Ela me encarou feliz. —
Preciso ir, Phine, amanhã conversamos mais. — Saiu dos braços do marido
para me dar um abraço caloroso.
— Tchau, Milly, obrigada por vir — falei contra seus cabelos loiros.
— Foi uma boa festa — Daniel disse com a sombra de um sorriso no
rosto.
— Obrigada — respondi.
Os outros homens entraram pelo portal da sala, todos com
expressões serenas e tranquilas. Tentei ignorar o Black que sorria ao se
aproximar da irmã a puxando para um abraço. Os cílios longos e grossos
tocando a sua bochecha ao fechar os olhos e sorrir ouvindo a despedida da
Hope.
— Estou voltando para Las Vegas — ele se dirigiu a mim. — Aceita
jantar comigo no sábado?
Inclinei a cabeça de lado estranhando sua pergunta. O Black deve
estar sofrendo bastante pressão pelo casamento ou não insistiria dessa
forma. Busquei pelo meu irmão vendo-o atrás do amigo. Kai uniu as mãos
na frente do rosto pedindo para eu aceitar o convite.
O gosto amargo invadiu minha boca, lembrando que ele não se
esforçava por minha causa, mas pela sua obrigação com a organização. A
sala ficou em silêncio esperando minha resposta, engoli em seco me
sentindo pressionada a aceitar o pedido.
E então eu percebi, eu queria um amor que fosse capaz de fazer o
que nenhuma outra pessoa fez: lutar por mim. O Black está seguindo o
papel que deram a ele na organização, eu teria de fazer o mesmo,
desconheço quais seriam as consequências de romper o casamento, mas
imagino que não seriam boas. Os Bonnarro eram influentes, mancharia a
imagem deles e não existiria outra moça na organização solteira e de
tamanha importância como eu.
Não tinha escolha além de aceitar, sabendo que nunca seria amada
como mereço. O Black não lutava por mim e eu nunca mais rastejarei por
ele. Vou cumprir o meu papel e darei o meu jeito de ser feliz, focando na
minha faculdade, conhecendo outras pessoas e escapando para me divertir.
Não serei submissa, conquistarei tudo o que eu quiser.
— Aceito — respondi, inspirando o ar cuidadosamente.
— Estarei aqui às 19 horas. — Ergueu os lábios em um sorriso que
não surtiu efeito em mim.
— Certo — respondi simplesmente.
Um clima estranho se apossou da sala, sombrio e desconfortável.
Não me incomodei em demonstrar felicidade por aceitar o convite. Um
presente maravilhoso não me fará esquecer tudo pelo que passei com o
Black, um convite de jantar forçado não desperta meu entusiasmo, somente
a raiva por saber que sou insuficiente e um estorvo para ele. Não passo de
uma obrigação.
— Precisamos ir, Hope — Michael chamou pela esposa.
— Verdade — minha amiga se levantou me abraçando — amanhã
vamos nos reunir para o brunch na mansão.
— Combinado — respondi a beijando na bochecha.
Um a um eles vão embora, restando somente eu, Black, Daisha e o
Kai na sala.
— Vou subir com a Daisha — Kai falou segurando a esposa nos
braços.
— Boa noite. — Continuei sentada no sofá.
Eles foram embora restando somente a mim e ao Black.
— Podemos conversar? — perguntou suavemente.
— Claro. — Apontei o sofá indicando que deveria ficar no da frente.
— Eu sei que você deseja romper o acordo de casamento — iniciou
apoiando um braço no joelho, a íris quartzo verde expressando sinceridade
— mas não podemos fazer isso. É verdade que estou sofrendo pressão para
me casar, vou completar 37 anos e já estou dois anos atrasado para assumir
meu cargo. Meu pai quer se aposentar e a nossa família em Las Vegas exige
que eu assuma, estão encarando a demora como um ato de fraqueza, mas
não posso fazer isso sem me casar com você.
— Você poderia escolher outra pessoa. — Cortei-o.
— Se eu quisesse, mas não pretendo escolher outra noiva. — A
intensidade de suas palavras bateu no meu peito, me deixando
desconfortável. — Eu errei com você e sei que me pediu para te procurar
somente quando casarmos, não quero iniciar nossa união com ódio e
mágoas.
— Então é esse o motivo de ficar aqui? Delimitar regras para termos
um casamento feliz como em um conto de fadas — ironizei revirando os
olhos.
— Baixa a guarda, Josephine — ele pediu apertando o punho sobre
o joelho.
— Diga logo o que você quer — pedi começando a me irritar.
— Desejava te preparar, vou anunciar nosso casamento após o
pedido oficial de noivado. Não farei uma festa ou pedirei em público,
respeitando sua vontade.
Pisquei, não pensei que ele realmente fosse aceitar minha intimação.
Eu disse aquilo querendo me livrar do Black e expressar o meu desgosto em
saber que seremos obrigados a nos casar.
— E como será? — Ergui o queixo.
— Posso fazer surpresa? — ele perguntou meio-maroto, as feições
assumindo um tom fofo, meu lado iludido quis capturar o momento em uma
foto, recordando da beleza do homem à minha frente.
— Detesto surpresas — respondi, engolindo em seco, demonstrar o
que sentia pelo Black só trouxe mágoas para minha vida, nunca mais o
permitirei me machucar por saber dos meus sentimentos.
— Certo, mas vou arriscar — brincou sorrindo com o canto do lábio,
a barba rala e castanha-clara preenchendo seu queixo quadriculado o
deixava atraente.
Desviei o olhar para a porta de vidro dando acesso ao jardim.
— Era só isso? — perguntei me levantando. — Preciso dormir.
Black levantou, as sobrancelhas franzidas, o lábio repuxado para
dentro da boca. Seus dedos roçando um nos outros, percebi sua ansiedade.
Nervosismo nublando meu peito. O que ele planeja? Black se aproximava
lentamente de mim, ergueu o braço, a mão calejada tocou minha bochecha.
— Eu vou lutar pelo seu perdão, me trate com quanta grosseira você
quiser, não mudará nada.
— Não precisa se forçar ou insistir nessa farsa eu sei que você se
cansará de mim rápido. Já recebi o seu desprezo vezes o suficiente para
saber quem você é.
— Está enganada, Josephine. Não conhecemos um ao outro e vou te
provar que não sou quem você imagina.
Sua mão deslizou acariciando minha orelha, eu queria me afastar,
mas me faltavam forças, por anos busquei por seu afeto, sou uma idiota por
aceitar essa pequena migalha.
— Veremos o que acontece primeiro, você me desprezar novamente
ou eu cair no seu papinho e me apaixonar. — Sorri com escárnio. — Aposto
minhas fichas na primeira opção.
— Eu não quero te obrigar a se apaixonar por mim. — Soltou minha
bochecha, as feições dele mudaram assumindo um tom triste, recuando um
passo. — Só desejo que possamos conviver em paz.
Suas palavras cravaram uma faca no meu coração mostrando
novamente que eu me iludi com o Black imaginando que ele queria me
conquistar, que vivêssemos um romance.
Black Bonnarro nunca pensará em mim como uma mulher, parceira
ou alguém digna de seu amor. Somente a esposa que tem de casar com ele,
criar seus filhos e ser comportada não causando turbulências na vida do
meu marido.
— Eu vou me lembrar de suas palavras até o dia da minha morte —
proferi segurando a mágoa. — Você terá paz, Black, porque eu necessito
disso, não viverei em um lar repleto de brigas novamente. Mas nunca
receberá o meu afeto, e não pense que espero o mesmo de você, será um
casamento por obrigação, nada além disso.
Sem ficar para ouvir sua resposta dou as costas a ele, subindo as
escadas. segurando as lágrimas nos olhos.
Por que eu não posso ser amada?
Nunca passarei de uma mera conveniência para ele.
— Talvez se você contar à Josephine sobre a Amber ela possa te
entender melhor — Kai disse, sentado ao meu lado no carro seguíamos para
o hospital em que a Yasmin, mãe da Amber estava internada.
— Só aumentaria a raiva dela por mim — respondi.
Quando contei ao Kai sobre a Amber eu prometi a ele que não
deixaria minha relação passada interferir no meu envolvimento com a
Josephine. Pretendo cumprir essa promessa e como prova de que estou sério
quanto ao meu casamento, o Kai me acompanhava para a visita a Yasmin.
A doce mulher de 57 anos e mãe da Amber, enfrentava uma batalha
difícil contra o câncer há quase 3 anos, nos últimos meses o câncer de
mama avançou para o estágio 3. Sou destruído por dentro sempre que
recordo o sofrimento da Amber e da Yasmin ao descobrirem a doença.
Tenho sido o principal apoio de ambas durante esse momento difícil, mas,
infelizmente, no último ano precisei me manter distante.
Talvez o término teria sido mais fácil se eu não soubesse que duas
pessoas incríveis, com um laço forte de mãe e filha que se amam e se
apoiam, estejam sofrendo todos os dias com a separação iminente devido a
uma doença maldita ceifando a vida da Yasmin, todos os dias a
enfraquecendo, apagando a luz de seus olhos sendo tomados pela tristeza e
dores.
Yasmin me pediu para nunca deixar a Amber sozinha, quando
descobriu sobre o câncer em estágio 1. Ela fazia o tratamento e reforçava
que era importante meu apoio à sua filha. Amber sempre foi sensitiva e
muito sentimental, se abalando facilmente com a menor das dores. Ela teria
sido consumida pela doença da mãe se eu não estivesse ao seu lado.
Já fazia quase cinco meses que visitei a Yasmin pela última vez e a
Amber tinha perdido mais de três quilos. A doença da mãe não era sua
única preocupação, o irmão mais velho, Augusto, tem causado confusões
diariamente. Com minha missão ao Texas para dominar o território acabei
perdendo o controle que mantinha sobre ele e não sei o que tem aprontado.
Estava difícil o localizar novamente e temo pelas merdas que poderia causar
a mãe doente e a irmã.
Eu queria muito ser presente, cuidar delas, garantir que a Amber não
desabe e mostrar a Yasmin que sua filha não ficará sozinha após a sua
morte. Mas eu não posso, estar presente para a Amber significa continuar
nutrindo os sentimentos, me apegando ao que tivemos de bonito no
passado. Magoando a ela e a mim por não podermos ficar juntos.
Eu poderia fugir, desaparecer com a Amber e nunca mais voltar para
a organização. Minha lealdade a minha família jamais me permitiria fazer
isso, sabendo as dificuldades que eles passarão. Eu aceitei a vida em que
nasci e Amber sempre compreendeu e soube que em algum momento
terminaríamos, só não imaginávamos que sua mãe adoeceria e ela ficaria
sozinha cuidando dela.
Tudo saiu dos eixos e tenho me esforçado para segurar cada ponta
sem deixar nenhuma romper. Sendo a da Josephine a mais difícil de manter
intacta. Ela me odeia, nunca imaginei que minhas fugas de suas investidas
poderiam se transformar em tamanho ressentimento.
Eu não sabia pelo que ela passava em sua casa, desconhecia cada
uma de suas dores e sem saber contribuí para a ferida em seu coração.
Continuar com as visitas a Yasmin e vendo a Amber após o meu casamento
seria algo impossível. Se eu ferir mais a Josephine não estarei somente
condenando a nossa relação de marido e mulher, mas destruindo a alma dela
a um ponto irreversível.
Eu tenho duas mulheres que gosto sofrendo na minha vida e uma
que me arrependo profundamente pela forma injusta que a tratei. Não sei
como poderei conquistar sua confiança e perdão, a cada tentativa de
aproximação ela recua dois passos. Tenho certeza de que deixá-la sozinha
não será a melhor opção, terei de segurar firme a ponta do fio que me liga a
Josephine para impedir o rompimento.
Ironicamente, nossa relação no passado se desenrolou da mesma
maneira até ela desistir. Eu terei de ser forte para fazer o casamento dar
certo.
— Ou faria a Josephine perceber que você tinha motivos para fugir
dela. Você estava sendo fiel a Amber, a respeitou por anos, escondendo o
relacionamento e garantindo que ela não sofresse por se envolver com você.
Minha irmã é compreensiva, ela sabe que vocês não tinham um acordo de
casamento, perceberá que você terminou com a Amber e tem sido fiel a sua
relação com a Josephine. Talvez isso amoleça o coração dela.
— Você acha mesmo que dizer a uma mulher que ela era rejeitada
por eu amar outra seria uma boa solução?
Encaro o Kai sem acreditar na idiotice que ele falou.
— Daisha acreditou em mim quando confessei que me mantinha
longe dela para que o Louis não notasse que eu a desejava e acabasse com o
nosso compromisso.
— A Daisha não te odiava como a Josephine me odeia.
— Corrigindo. — Kai ergueu o dedo me encarando sério. — A
Daisha escondia uma faca debaixo do travesseiro para poder me ameaçar.
Ela me odiava, não desejava o meu toque. Porra, eu levei uma joelhada nas
bolas por tentar beijá-la.
— Uou. — Senti em mim a dor no meio das pernas. — A Josephine
não faria isso, certo?
— Minha irmã é maluca, ela faria qualquer coisa. — Riu. — O que
eu quero dizer é que a base do meu relacionamento com a Daisha se deu em
cima da confiança. Começar escondendo seus sentimentos da Josephine
pode não ser a alternativa correta. Seja sincero com a minha irmã, ela vai te
entender e baixar as defesas.
— Não acredito que funcione, mas vou considerar.
Embora eu tenha a certeza de que estaria declarando uma guerra no
meu casamento assumindo que rejeitava a Josephine por estar sendo fiel a
quem eu amava. Josephine me odiaria mais sabendo que eu amava outra,
tendo com a Amber o que nunca conseguiria dar a ela.
Estacionamos no subterrâneo do hospital, os soldados faziam nossa
escolta à distância. Subíamos pelo elevador para a área VIP no último
andar, inspirei fundo diante da porta bege com o nome Yasmin Bell. Bati
suavemente na porta com o nó dos dedos. Ouvi os passos arrastados do
outro lado, a maçaneta dourada girou e a porta abriu me mostrando a única
mulher que amei.
Amber parecia doente. A pele amarelada, bolsas pesadas debaixo
dos olhos, os lábios ressecados, os cabelos loiros presos no alto da cabeça
bagunçados, ela vestia um suéter folgado denunciando a magreza, as maçãs
do rosto formando sombras em suas feições. Os olhos cor de âmbar
surpresos por me ver.
— Black. — Meu nome deixou seus lábios carregado de saudade e
dor.
— Oi — respondi, apertando os pulsos para não a envolver em um
abraço caloroso, capaz de recuperar suas energias e trazer um pouco de vida
ao seu corpo cansado.
— Achei que você não voltaria. — Deu um passo para trás me
permitindo entrar.
— Estive um pouco ocupado no último ano — respondi. — Esse é o
meu amigo, o Kai.
— O piadista. — Ela exibiu um pequeno sorriso lembrando das
histórias que contei do Kai.
— É um prazer te conhecer — Kai respondeu, apertando a mão da
Amber com cuidado.
— Obrigada, eu digo o mesmo.
Apesar do cansaço aparente, o quarto de Yasmin não refletia como a
filha se sentia. A luz do sol entrava forte pelas janelas de vidro, o cheiro de
sândalo espalhado pelo ambiente repleto de flores e muitos novelos de tricô.
No centro do quarto a cama, em cima dela tinha um corpo frágil, ligado a
diversos aparelhos indicando que ela continuava viva.
A touca rosa na cabeça, os braços cobertos pelo casaco de lã. A pele
pálida, os lábios sem cor e as pálpebras fechadas, ela respirava com a ajuda
de um pequeno tubo em seu nariz, ressoando baixinho ao expirar pela boca.
Me aproximei com cuidado da cama, estava prestes a tocar seu rosto,
quando uma mão frágil me impediu.
— Eu sei que você sente saudades dela, mas, por favor, não a acorde
— Amber falou baixinho ao meu lado, seu cheiro de baunilha me fazendo
recordar das diversas vezes em que cheirei sua pele e a tocava acreditando
que nossos dias seriam infinitos.
— Desculpe — disse me afastando, deslizei o braço por sua mão
entrelaçando nossos dedos, não conseguindo resistir ao desejo de tocá-la. —
Como ela está?
— O câncer chegou ao estágio 4, atingiu os pulmões, estômago e
fígado. — Amber inspira fundo contendo o choro. — Ela não tem muito
tempo e as dores estão horríveis.
Meu lábio tremeu pela dor espetando meu corpo, sentia cada pedaço
doendo por constatar que a Yasmin não tinha mais salvação. No fundo, eu
esperava chegar aqui e receber uma boa notícia, qualquer coisa que fosse
capaz de trazer esperança para a senhora descansando na cama.
— Os médicos recomendaram levá-la para casa, contratar uma
equipe de cuidados paliativos e deixar minha mãe viver os últimos dias em
paz. — Amber levou as mãos à testa escondendo o rosto por detrás dos
braços. — Mas eu não posso fazer isso, o Augusto apareceria e traria
perturbação. Ela vai ficar aqui enquanto grita de dor dizendo que quer ir
para casa.
O corpo frágil desaba na minha frente. Prendo Amber em meus
braços sentindo o ar faltando em meus pulmões, o desespero consumindo
meu ser com medo do futuro.
Yasmin é tudo que a Amber tem, sempre foi uma cuidando da outra
enquanto o pai abusivo tratava ambas com violência, até morrer pelas
minhas mãos quando eu vi o roxo no olho da Amber, ela me ligou
desesperada com medo da mãe ser morta, invadi a antiga casa delas e o
maldito montava em cima da Yasmin espancando ela, arrancando sangue. O
matei naquela noite, elas nunca me culparam ou ficaram com medo de mim,
eu tinha colocado um fim em um sofrimento de anos.
Até o desgraçado do irmão começar a se envolver com drogas e
pessoas problemáticas acabando com a paz na nova casa delas. Augusto foi
mais fácil de conter, ele sabia que eu era perigoso e se mantinha distante,
contudo, com o meu afastamento eu soube que ele tem rondado e
perturbado a Amber, preciso acabar com o desgraçado antes dele machucar
uma delas.
— Leve ela para casa, Amber, eu te prometo que o Augusto não
chegará perto de vocês. — Aliso seus cabelos sentindo falta da maciez dos
fios.
— Você já paga as despesas médicas, não posso te pedir mais nada.
— Apertou minha camisa. — É tão difícil ver ela morrendo todos os dias,
Black — o choro da Amber sufoca meu coração — às vezes ela tem
momentos de consciência e podemos conversar normalmente, outras ela
perde a sanidade, grita, briga, fala coisas sem sentido e as dores cada vez
piores.
— Desculpe por não estar aqui com você — falei baixinho em seu
ouvido, para que somente ela pudesse ouvir. Da porta do quarto Kai
observava calado, prendendo o nariz entre os dedos para controlar os
sentimentos.
— Sempre soubemos que seríamos finitos. — Seus olhos de mel
encontram os meus repletos de amor e saudade, refletindo como me sinto.
— Você me deu os melhores 6 anos e cinco meses da minha vida. — Sua
mão ossuda toca minha bochecha, nego sabendo o que ela fará. — É uma
pena que nosso término tenha acontecido no meio da doença da minha mãe.
Não é fácil aguentar tudo sozinha, larguei o emprego, mal falo com minhas
amigas e tenho vivido para cuidar da mamãe, mas a saudade sempre
aparece para me torturar e te ter aqui lembrando o que perdi não torna isso
mais fácil.
Amber se ajoelha saindo de meus braços, a falta de seu calor
massacra meu tórax. Estiquei os braços querendo tocá-la novamente, suas
mãos seguraram meus pulsos impedindo o contato.
— Você tem uma noiva, Black, deve ser fiel e leal somente a ela. O
que tivemos foi lindo, maravilhoso e eu continuo te amando e acho difícil
um dia esse sentimento sumir. Mas não podemos continuar nos vendo,
quando você quiser visitar minha mãe, avise antes que eu saio do quarto. Eu
desejo que você e ela possam ter metade ou muito mais do que tivemos, que
ela possa ser amada como você me amou tornando minha vida mais feliz e
que ela seja capaz de te inundar de amor todos os dias.
Meus olhos nublam pelas lágrimas travadas. Há um ano, quando
demos nosso adeus, eu senti dor, quis me revoltar e explodir a porra do
mundo para poder ficar com ela. Hoje, não era mais fácil aguentar suas
palavras e a verdade por trás delas. Amber se aproximava devagarinho
segurando meu rosto em suas mãos.
— Eu sei que você se curou do seu trauma, mas tenho medo de que
a situação do casamento por obrigação te faça cair em velhos hábitos.
Converse com ela, Black. Seja sincero sobre como você se sente em relação
ao sexo como foi comigo. Por favor, meu amor, não torture sua alma
novamente fazendo sexo à força. Você sabe o que isso significa e eu me
odiaria te ver sofrendo novamente. Encontre a felicidade no seu casamento,
ame sua esposa e me deixe ficar no passado, eu te prometo que vou ficar
bem.
— Amber, como pode dizer isso se está parecendo um fantasma?
Como ela pode ser real?
Em meio ao tormento da morte da mãe, Amber continua se
preocupando comigo, cuidando e protegendo, me afastando com palavras
doces e carregadas de amor. Ela nunca se coloca em primeiro lugar, sempre
cuidando e devotando seu tempo a fazer feliz quem estiver ao seu redor.
Amber era um anjo de luz e amor.
E eu vivi de sua graça por muito tempo para conseguir dizer adeus
de uma vez.
— Eu sei que vai passar, Black. — Ela senta sobre os calcanhares
encarando a mãe. — Já fiz as pazes com Deus e aceitei que esse é o destino
da minha mãe. Eu só queria que ela sofresse menos — limpou a lágrima
escorrendo na bochecha — que acabasse logo e minha mãe pudesse
descansar em paz, no Jardim do Senhor.
— Me promete uma coisa? — pedi, alisando suas bochechas finas.
— Para você eu juro tudo — respondeu docemente, com a sombra
de um sorriso no rosto. — Sinto sua falta — sussurrou suavemente.
— Eu também sinto a sua. — Recolhi a mão, os dedos coçando para
se enfiarem entre os fios. — Cuide de si, Amber. Você está perdendo muito
peso, precisa se alimentar, dormir, tem tomado suas vitaminas?
— Todos os dias, eu me alimento, Black, nos horários que consigo.
Mas eu prometo que vou fazer melhor. — Suspira pesado. — Você pode
manter o Augusto longe para eu levá-la para casa? Talvez ela encontre um
pouco de paz. Ela ama aquele lugar, você projetou do jeitinho que ela
sempre sonhou. Seria injusto negar sua oferta devido os meus sentimentos.
Eu preciso pensar na minha mãe e fazer o melhor para ela e agora é retornar
para casa.
Inspirei aliviado por aceitar, vou contratar uma enfermeira que faça
a Amber se alimentar e se cuidar melhor. Ela deixou o emprego quando o
câncer da mãe chegou no estágio 3, os cuidados com a Yasmin precisavam
ser constantes. Brigamos um pouco até ela aceitar eu assumir o financeiro
do tratamento da mãe. Amber e Yasmin não possuem família, ninguém para
cuidar delas e com amor eu aceitei ser o provedor.
Mesmo longe, continuo cuidando de ambas da maneira que eu
consigo, mantendo as contas de casa pagas e as despesas hospitalares em
dia. Ao sair daqui providenciarei tudo para Yasmin ter os cuidados
paliativos e para que Amber não fique sozinha naquela casa. Lembro como
se fosse hoje da felicidade da Yasmin quando entreguei as chaves em suas
mãos.
Ela mal podia acreditar no que estava recebendo, a doce mulher
sempre foi compreensiva dos motivos de eu sumir por meses, e de não
assumir meu namoro com a Amber. Ela sabia que eu vivia uma vida
perigosa e a única coisa que pedia era para nunca deixar sua filha sozinha e
a fazer feliz.
Foram 6 anos maravilhosos em que amei e fui amado. Eu seria o ser
humano mais sortudo do universo se conseguisse uma relação assim com a
Josephine. Eu tive a sorte de amar pela primeira vez, de saber a força e
intensidade do amor e o quanto ele pode curar os traumas. E por isso
acredito que a Josephine pode encontrar a felicidade, não sei se um dia a
amarei, mas conheço o caminho para uma relação amigável e em paz.
— Providenciarei tudo. — Trago-a para perto beijando seus cabelos.
— Prometo te avisar na próxima vez que eu quiser visitar a Yasmin. Vou
respeitar sua vontade e te juro, nunca mais vou me machucar daquela
forma. E você precisa ser feliz, Amber, encontrar um homem que possa te
exibir para o mundo, esbanjar felicidade por ser o sortudo de estar ao seu
lado. Viva, Amber, não somente exista.
— Eu te prometo, meu amor. — Envolveu minha cintura com os
braços finos.
Enfiei o rosto em seu pescoço a abraçando com carinho, absorvendo
cada pequeno detalhe da sua essência, guardando cada pedacinho na minha
memória. Era isso que a Amber deve se tornar, uma parte do meu passado, a
melhor experiência e a que será guardada com carinho e amor.
Fomos finitos no nosso pequeno infinito.
Agora acabou.
— Phine — meu irmão chamou na porta do meu quarto.
Retirei os fones de ouvido, estava concentrada estudando no
notebook. Afastei a cadeira da mesa enquanto o Kai se aproximava a passos
lentos. O rosto com feições preocupadas, a testa franzida, ele mordiscava o
lábio inferior, vestindo um terno preto de camisa branca, as mãos
escondidas nos bolsos.
— Sim? — respondi, empurrando o pufe com o pé para ele sentar.
— Precisamos conversar, vem comigo ao meu escritório.
— É uma conversa oficial com o Subchefe e não com meu irmão?
— perguntei ficando em pé.
— Sim.
— Você está estranho, tem algo a ver com a sua ida para Las Vegas
ontem?
— No escritório conversamos melhor. — Virou me fazendo encarar
suas costas largas.
Achei estranho o Kai viajar para Las Vegas com o Black. Desde o
acidente da Daisha ele não tem saído de casa para ficar cuidando dela. Foi a
primeira vez que o vi a deixando comigo e com a Clarisse, mãe da Daisha.
É provável que ele precise retornar a suas atividades como Subchefe e na
construtora.
Minha família possuía um ramo vasto de propriedades em Nova
Iorque, principalmente no Brooklyn, território dos Lucian. A construtora
era a empresa de fachada dos Lucian, disfarçando a fonte de riqueza, pelo
que me lembro, era uma das mais renomadas do estado. Nunca tive muito
interesse nela, por isso cursar Engenharia Civil nunca foi uma opção para
mim.
O direito de mulheres fazerem faculdade foi conquistado há pouco
tempo, após o Michael assumir o cargo de Chefe, ele percebeu através da
Hope que mulheres podem desempenhar profissões trazendo benefícios à
organização. Não foi fácil implementar, algumas famílias eram contra
estudarmos, principalmente o meu pai, Louis Lucian, ele se rebelou,
causando confusão com o apoio da minha mãe, Eleanor.
Na reunião de senhoras, liderada pelo Hope, enquanto o Michael e o
Daniel estavam fora do país, o Louis tentou atrapalhar o encontro indo
conversar, nada amigavelmente, com a Hope. Foi o Matthew, irmão do
Michael, quem expulsou o Louis da mansão e o Chefe emitiu uma ordem de
matar qualquer um que ousasse ir contra sua vontade.
No salão de damas a Hope colocou a Eleanor no lugar dela,
lembrando quem era a nossa líder e que sua palavra jamais poderia ser
questionada. Conseguimos o direito de estudar, mas nenhuma delas passou
pelo inferno que enfrentei naquele dia, quase sendo morta pelas mãos do
Louis.

Antes

A situação em casa tem estado pior nos últimos dias. Michael emitiu
uma ordem de que as damas da sociedade Bianchi, formadas no ensino
médio, deveriam escolher um curso superior. Tenho me mantido silenciosa
quanto a minha vontade de fazer psicologia, Louis todos os dias gritava
ofensas contra o Michael e o acusava de estar ficando louco. Para ele,
mulheres só serviam para terem filhos.
Tinha certeza que ele tentaria me impedir de fazer faculdade. Não
tinha medo de apanhar do Louis, já me acostumei com seus castigos e
punições, Eleanor também adorava me machucar, meu corpo era coberto
por cicatrizes feias, eu odiava cada uma delas, me lembrando de que não era
querida, uma filha indesejada.
Os malditos protegiam a Rebeca, a tratavam como uma princesa, a
maldita era uma psicopata manipuladora. Vivemos em pé de guerra, ela me
provocava, atacava e eu me defendia. Se eu baixar a cabeça para a Rebeca,
Louis ou Eleanor, eu seria devorada pelas feras. Vivia em uma constante
guerra dentro de casa contra pessoas que me odiavam e queriam a minha
morte.
Não tenho dúvidas de que o Louis já teria me feito sumir se algo não
o impedisse, eu só não sei o quê. Ele sente prazer em machucar, bater,
humilhar e, principalmente, permitir que a Rebeca seja uma maldita vadia
me provocando a todo instante, instigando as brigas e causando desgraça na
minha vida.
Se eu não revidasse, já teria sido morta.
O Kai era um completo babaca idiota, acreditava no conto da
Rebeca, nunca ouvia as minhas versões das nossas brigas e depois de um
tempo eu parei de tentar me defender. Não adiantava de nada e eu ainda era
machucada emocionalmente, por saber que meu irmão não se importava
comigo e sempre defenderia a Rebeca, como se eu fosse a vilã.
— O senhor deveria proibir a Josephine de fazer faculdade —
escutei a voz da demônia ao passar pela porta da sala.
— Ela nunca fará faculdade — Louis respondeu raivoso. — E nem
você. O maldito do Bianchi perdeu a cabeça se pensa que permitirei tal
coisa. Mulher nasceu para ficar dentro de casa, cuidando dos filhos. Nem
isso a imprestável da sua mãe faz direito.
— A mamãe é uma fraca — Rebeca respondeu. — Ela pega muito
leve com a Josephine.
Aproximei o rosto da porta vendo os dois sentados no sofá,
conversando lado a lado. Eu nunca conseguiria ficar perto do Louis dessa
maneira, falar com ele sem ser em uma briga. Odeio cada pessoa que mora
nessa casa, queria ser capaz de sumir no mundo e nunca mais aparecer, ir
para bem longe, outra dimensão, encontrar pessoas capazes de me amar e
cuidar.
Se não fosse pela Hope, Daisha e Emily eu continuaria sozinha. Elas
vão lutar pelo direito de estudarmos e nada impedirá que a vontade do
Chefe seja cumprida.
— Você diminuiu as brigas com ela, por quê? — Louis questionou.
— A vadia da Hope está de olho em mim, desde o incidente com o
abajur — eu podia sentir o ódio da Rebeca — eu deveria matar aquela
desgraçada. Josephine merece ficar sozinha, isolada. O senhor não pode
casá-la e mandar ela embora?
— O que você sugere? — Louis perguntou.
O ódio pungente correu nas minhas veias.
— Primeiro, não a permita fazer faculdade, depois a case com um
homem de fora a mandando para longe, sei que o senhor conhece muitos
homens que seriam capazes de colocar a Josephine no lugar dela.
Eu não consegui aguentar, sempre a mesma merda, Rebeca me
jogando no inferno sem eu poder fazer nada.
— Você não vai decidir a minha vida! — gritei entrando na sala,
explodindo de raiva.
Rebeca levantou encarando-me com surpresa no rosto. Era esse o
seu teatro perfeito, na frente das câmeras ela fingia tristeza, surpresa,
qualquer coisa que a tornasse uma vítima perante meus ataques.
— Com um homem que abuse dela todos os dias — Rebeca
continuou.
— Conheço a pessoa perfeita — Louis respondeu.
— Vocês são dois malditos! — Avancei dando a volta no sofá os
encarando, pronta para usar um trunfo somente meu. — Hope jamais
permitiria que você me fizesse sofrer. Eu vou cursar a faculdade e sairei
dessa maldita casa, o Michael deu uma ordem e você vai obedecer —
respondi com um sorriso triunfante.
Podia ser considerada uma suicida, mas após anos vivenciando um
ciclo de violência sem fim eu perdi o medo da morte. Nada poderia ser pior
do que a vida que eu levo, a morte seria um doce alívio.
As feições do Louis endureceram, avançou rápido na minha direção,
a mão agarrando meu pescoço com brutalidade. Minha cabeça foi jogada
contra a parede causando tontura, meu estômago socado com força o
suficiente para me fazer perder o ar. Ele apertava minha carne com força,
restringindo a respiração, como um demônio me encarava furioso. Por trás
de seu ombro eu a vi, sorrindo, feliz com a agressão.
Apertei a mão do Louis enfiando as unhas em sua pele tentando me
soltar, a visão começando a embaçar, não emiti um único som, aceitando
que ele pararia ou me mataria. Eu não dava a mínima, morreria sabendo que
lutei por mim.
Eu fui fiel a mim mesma, a lutar pelo meu direito de estudar, de não
casar com um marido abusador, de ter o mínimo de uma vida. Nunca
desistiria de mim mesma.
Em minha solidão eu encontrei o conforto de contar comigo mesma.
— SALVA ELA, KAI!
Ouvi o grito da Rebeca, já imaginando que ela estivesse fazendo o
seu teatro para o Kai. A irmã boazinha tentando salvar a vilã que estava
sendo punida por sua rebeldia. Meu irmão parou ao lado do Louis, segurou
o braço dele e recebeu um empurrão caindo na mesa de centro. O último fio
de ar entrou pelo meu nariz, revirei os olhos perdendo a consciência.
Meu corpo desabou contra o chão, recuperei os sentidos, vi o Kai
levando um soco no rosto. Ele conseguiu parar o ataque do Louis? Por que
se arriscar por minha causa? Ao invés de alívio eu sentia o sangue gelando
por saber que o teatro ia continuar. Kai iria gritar comigo, me culpar por
provocar o Louis, acreditar no que diabos a Rebeca falasse. Uma punição
seria trocada por outra.
Por qual motivo iria me salvar, para depois me machucar com
palavras cruéis?
— Você perdeu o juízo? — Louis branda socando o Kai novamente.
— Pai! — Rebeca se mexeu segurando o ombro do Louis, era
impressionante como ele se acalmava na presença dela.
— Haverá consequências se você a matar — Kai falou, totalmente
submisso ao Louis, fixando os olhos nos pés dele. — Só queria evitar.
— Eu sou o Subchefe, não existem consequências para mim.
Observei a Rebeca se projetando na frente do Kai. Um sempre
cuidou do outro, baixei a vista sentindo a inveja esperneando meu coração.
Eu queria a relação deles, ser amada por meu irmão e poder retribuir o
sentimento. Para mim só restou a raiva, desprezo e brigas. Kai me odiava e
eu o odiava também.
— Por favor, pai. O Kai só estava tentando fazer o melhor pela
nossa família, não machuca ele.
— Saia da frente, Rebeca! — rugiu irritado. — Não vou aceitar
meus filhos me desafiando. Primeiro a vadia e agora ele!
— Josephine estava completamente errada, o senhor a puniu. Olhe
para ela, mal consegue respirar e com a marca da desobediência em sua
pele. Todos vão saber que você controla seus filhos com punho de ferro. O
Kai tem um machucado sangrando no rosto, ele agiu por impulso e sei que
não fará novamente. Certo, Kai?
— Não farei, senhor.
— Você ainda vai receber o que merece — Louis disse ao Kai.
O toque do celular do Louis interrompeu a agressão. Atendeu
mudando o tom de voz no mesmo segundo.
— Sim, senhor — respondeu saindo da sala.
— Aqui. — Rebeca entregou um lenço ao Kai preocupada com ele.
— O que aconteceu? — perguntou.
Rebeca abriu a boca e eu me preparei para as mentiras que seriam
contadas. Erguendo minhas defesas, a garganta doendo, os olhos irritados e
a raiva explodindo. Sabia que o perigo não tinha passado, a próxima rodada
começaria e seria com o Kai brigando comigo.
Senti uma mão no meu braço, encarei meu irmão estranhando a
emoção em seus olhos, puxei o corpo precisando me afastar. Não vou me
deixar enganar pelo pesar em seus olhos. Kai não sentia pena de mim, ele
não se preocupava comigo havia anos, por que diabos está fazendo essa
expressão?
— Josephine não para de provocar o Louis — Rebeca inicia seu
discurso — eu estava conversando com ele sobre a faculdade e ela invadiu a
sala gritando que cursaria psicologia e que a vontade do Michael vale mais
do que a do nosso pai, olha só como você foi machucado por causa dela,
isso não é justo.
— Vaca mentirosa — forcei a voz.
— Vai continuar me atacando? — Rebeca incorpora a perfeita
vítima ofendida. — Você nunca pensa no que suas ações causam. Age como
uma louca desafiando o nosso pai!
— Parem — Kai pediu, cansado, soltando a mão da Rebeca.
— O quê? — A desgraçada ficou confusa, era a primeira vez que o
Kai a interrompia.
— Vem, Josephine. — Sou pega de surpresa por sua mão
envolvendo meu cotovelo me ajudando a ficar em pé. O encarei
desconfiada, não acreditando na sua gentileza. — Louis vai continuar
alterado até o final da reunião com as damas hoje à noite. Vá para o seu
quarto, tranque a porta e só saia quando eu te buscar. Levarei as duas ao
clube.
— Qual a pegadinha? — disse arisca.
— Estou cansado, por favor, faça o que pedi.
Enruguei a testa desacreditada. Kai virou a cabeça se deparando com
a fúria nos olhos da Rebeca. Ele parecia cansado, perdido em um milhão de
pensamentos, comecei a me questionar qual o motivo das ações dele. Kai
deveria estar gritando comigo e não dizendo como eu me protegeria até me
buscar mais tarde.
Já fazia anos que ele tinha parado de me proteger.
Mordi o lábio controlando a vontade de chorar, não podia me apegar
a esse pequeno momento de cuidado. Ele iria mudar em breve ficando ao
lado da Rebeca e se voltando contra mim.
— Vai ser assim? — Rebeca se revoltou. — Ela causa confusão e
você passa a mão na cabeça dela? O nosso pai poderia ter te matado! Não
pode deixar passar.
— Você não cansa? — Avancei na Rebeca querendo arrancar seus
cabelos, fui impedida pelo Kai me puxando no cotovelo.
— Rebeca, suba para o seu quarto — ordenou. — Você também. —
Encarou-me.
Não conseguia acreditar que ele tinha mandado a Rebeca para o
quarto dela, usando o mesmo tom que se dirigiu a mim. Atordoada e me
sentindo cansada após ser enforcada eu o deixei na sala e segui para o meu
quarto. Naquela noite Kai cumpriu sua promessa e voltou para me buscar,
levando a mim e a Rebeca para o salão de damas, onde vi a Hope humilhar
a Eleanor, não retornei para casa, segui para a mansão Bianchi onde era
seguro.
Ainda sem acreditar que o Kai tinha me defendido.

Hoje

Entrei no escritório do Kai.


Não existia mais ódio entre mim e meu irmão, fomos capazes de
conversar, abrir nossas feridas e entender um ao outro. Hoje eu sabia que
naquele dia o Kai acordou do torpor, percebendo que eu também precisava
de proteção, deixando as mágoas no passado e agindo sem medo da punição
que viria por me proteger.
Descobri o motivo do Louis não me matar, ele usava a mim e a
Rebeca para controlar o Kai. Espancando meu irmão sempre que eu fazia
alguma rebeldia.
Eu não tinha ideia, descobri as cicatrizes no corpo do Kai no dia em
que presenciei a Daisha e o Michael puxando meu irmão de dentro do
freezer, preso no porão, um quarto de tortura montado para quebrar o Kai de
dentro para fora. Eu carregava cicatrizes horríveis, meu irmão carregava
marcas piores do sadismo do Louis.
Se não fosse pela terapia que fazia com a Lily eu continuaria sendo
consumida em culpa, pois cada ato de rebeldia meu, as brigas com a
Rebeca, o desrespeito ao Louis e a Eleanor não eram somente punidos me
machucando, mas convertido em torturas aplicadas por dias no Kai. Ele
aguentou tudo calado, sem nunca me deixar perceber o seu sofrimento.
Ele tentava me proteger da verdade enquanto eu o provocava,
brigava, xingava e o odiava com a minha alma acreditando que fui
abandonada por meu irmão. A verdade sombria e sangrenta era que ele
continuava a me proteger.
— Prometemos não guardar segredos um do outro — Kai disse
sentando atrás de sua mesa, me acomodei na cadeira de frente para ele.
— Estou cumprindo minha parte — respondi, relembrando da
promessa feita ao expormos nossos segredos sombrios.
— Escondi algo de você, porque precisava investigar a situação para
repassar da melhor forma.
— O que aconteceu? — perguntei me remexendo na cadeira.
— O Black tinha um relacionamento no passado, esse é um dos
motivos pelos quais ele fugia de você, para se manter fiel à namorada.
Aquela verdade dita pelo meu irmão causou um rasgo no meu
coração.
Ele amava outra mulher.
Enquanto eu me iludia acreditando que o faria se apaixonar por
mim, o Black devia sentir raiva por eu insistir enquanto ele amava outra
pessoa. Eu nunca tive uma chance ou espaço para conquistar seu coração.
Ele deve me odiar, sendo obrigado a casar comigo ao invés de quem ele
ama.
— Ele não pode casar com ela? — perguntei baixinho, cutucando a
ponta da minha unha.
— Não, a moça não faz parte do nosso mundo. Eles se conheceram
na faculdade, foi muito antes de você. — Ouvi a cadeira arrastando no
chão, senti a presença do Kai ao meu lado. — Acabou tudo entre eles e o
Black não te culpa pelo término. Eles sempre souberam que um dia o
relacionamento chegaria ao fim.
— Você a conhece?
— A visitei em Las Vegas, foi por isso que viajei, precisava da
certeza do fim deles. Eu jamais permitiria que você casasse com o Black
sabendo que ele ama outra e te faria sofrer. Mas o Black mudou, saber a
verdade pelo que passamos o fez te enxergar de maneira diferente. Ele
anseia te conhecer de verdade, não por precisar cumprir com uma obrigação
da máfia, mas por desejar ser um bom marido para você. Queremos te fazer
feliz, Josephine.
— Ela é bonita? — Não sei por que perguntei isso.
O pensamento do Black namorando outra, uma mulher que ele
escolheu estar ao seu lado, me incomoda e me deixa insegura. Ela não teria
o corpo repleto de cicatrizes feias, um passado manchado por ódio e
rejeição. Ele a amava, dava a ela tudo que eu sempre precisei mendigar e
nunca consegui.
Sentia minha alma encolhendo dentro do corpo, a vontade de chorar
crescendo a cada segundo. Os braços do Kai envolveram meu corpo, me
puxando para um abraço caloroso.
— O Black terminou há mais de um ano com ela. No dia em que
assinou o contrato de casamento. Ele é um homem de honra e fiel, nunca te
trairia ou mancharia a sua honra. O Black está disposto a ser um bom
marido, enchê-la de carinho. Se você parar de o rejeitar sei que conseguirá
ser feliz. A mulher no passado dele não importa mais e eu queria que você
soubesse, não podia guardar esse segredo após prometermos sermos
verdadeiros um com o outro.
— Ele sabe que você me contou sobre a outra?
— Não, o Black me pediu segredo. Estou quebrando a confiança do
meu amigo, você importa mais para mim, Josephine. E eu queria te fazer
entender, ele nunca te rejeitou por não gostar de você ou não te suportar. Ele
só estava sendo fiel a quem ele amava. Se o Black tivesse te dado abertura
ou uma chance, ele seria um grande filho da puta. Iludindo você e a outra.
— Tem razão. — Engoli em seco, um novo sentimento queimando
meu peito. — O Black tinha uma vida antes de mim. — Abraçada ao Kai
me ergui. — Ele não era obrigado a viver preso como eu — encarei meu
irmão inflando em ódio — ele teve oportunidades que eu nunca tive.
— A vida de um homem é diferente de uma mulher na máfia. — Kai
alisou meu rosto. — Você está bem? Sei que te magoa saber que o Black já
teve uma namorada.
— Não, machuca saber que o Black amou outra pessoa enquanto eu
insistia em casar com ele — respondi com sinceridade, eu me sentia em
chamas, uma nova ferida se abrindo. — Mas você disse que eles
terminaram e eu acredito em você. — Alisei suas costas. — Só vou precisar
de um tempo para digerir a informação.
— Tem mais uma coisa. — Franziu a testa, se sentindo culpado.
— Diga. — Mordi o interior da bochecha, não querendo deixar as
emoções transbordarem.
— Sábado ele vai te pedir em casamento, em menos de 3 semanas
vocês vão casar e depois morará em Las Vegas com ele.
— Você tem certeza de que ele não me fará sofrer pela outra? —
Pior do que a rejeição seria receber o ódio do Black por não querer ficar
comigo, ansiando a companhia de outra.
— Sim, e se fizer eu juro que o mato e trago você de volta para casa.
— Beijou minha testa com amor.
— Ele é seu melhor amigo — respondi, a inquietação corroendo
minha pele, a dor se tornando maior a cada segundo. Usava muita energia
para manter minha voz impassível.
— E, você, a minha irmã, nunca mais deixarei ninguém ficar entre a
gente. Sua felicidade sempre será a prioridade.
— Obrigada por cuidar de mim, Kai.
Abracei meu irmão com força, precisando um pouco da sua energia
para conseguir respirar. Eu estava decidida a rejeitar o Black, a não dar
espaço para ele na minha vida, a cumprir com a minha obrigação como
esposa e fazer qualquer coisa para ocupar o meu tempo.
Eu nunca tive a chance de viver do jeito que eu queria e em 3
semanas estarei casada com um homem que ama outra mulher. Ele nunca
foi capaz de me dar mais do que migalhas da sua atenção.
Não vou chorar pelo Black ou pela verdade descoberta.
Engoli a emoção trancando a dor no fundo do meu peito.
Eu só tenho 3 semanas para viver, fazer o que eu realmente quiser.
Se ele pôde se apaixonar e viver um relacionamento antes de casar comigo
eu devo possuir o mesmo direito.
Ele amou sem pensar que me machucaria, nunca teve intenções de
me iludir, terminou o relacionamento ao assinar os papéis de compromisso
comigo, teoricamente, se mantendo fiel a mim, começando a tentar se
aproximar, descobrindo o que eu gosto. O Black nunca agiu pensando em
me magoar, ele fazia o que queria, seja para me rejeitar ou ser fiel a sua
amada.
Eu vou seguir seu exemplo e agir conforme a minha vontade, ao
menos nessas 3 semanas pensarei somente em mim.
Darei uma chance a alguém que realmente me deseja.
Aparentemente a Hope ainda não sabia que o Black faria o pedido
de casamento, ela não comentou nada no almoço e se mostrou empolgada
com a informação de que sairei com o Drake na sexta. Iremos jantar em um
restaurante, Hope e Emily vão me acompanhar e Daisha ficará responsável
por manter o Kai ocupado, não deixando nenhum segurança entrar em
contato com ele.
— Posso entrar? — Kai perguntou batendo de leve na porta do meu
quarto, bufei, ele tem feito muito isso na semana, vindo aqui para conferir
se não estou chorando pelo Black.
Eu não derramei uma única lágrima por ele. E daí que ele se
apaixonou por outra pessoa? Eu também acreditei que o amava no passado
e hoje percebi que não passou de uma ilusão. Ele poderia continuar amando
aquela mulher ou deixar de amá-la, não vou ficar sofrendo por isso,
chorando e magoando meu coração.
Não importa que seremos obrigados a casar. Daisha odiava o Kai
antes do casamento e hoje o amava loucamente. Não queria entregar meu
coração de bandeja ao Black. Neste momento tenho a consciência que o
meu sentimento por ele nada mais era que uma paixonite adolescente. Não
conseguia superar sua rejeição do passado, mas acreditava que poderíamos
viver em paz como um casal que se respeitava e que sabia do dever que
deveria cumprir. Meu período morando em um lar turbulento acabou e não
retornarei ao antigo tormento.
Vou sair com o Drake, darei uma chance a mim mesma, de sentir
como era ser desejada, tocada com carinho e principalmente de poder
escolher um parceiro. Por muitos anos lutei para receber ternura do Black e
nunca tive, posso agraciar meu coração com o afeto de outra pessoa,
alguém que veio a mim por vontade própria e que ficou com um sorriso
enorme no rosto quando respondi ao seu convite dizendo onde iríamos.
Não estou me vingando ou fazendo isso para provocar o Black, sei
que ele não se importaria o suficiente para sentir algo. Quero vivenciar o
afago macio do abraço de um homem que desejava me mimar, adorar e
fazer feliz. Eu amava o carinho que recebia do Kai, mas ele era meu irmão,
nunca poderia me tocar como eu precisava.
— Eu deveria te expulsar — respondi bufando ao abrir a porta.
Kai usava roupas casuais, de ficar em casa, a camisa de mangas
marrom e uma calça preta. Apertei a faixa do robe na cintura voltando para
o meu closet. Terminei minha maquiagem faz poucos minutos e precisava
decidir o que usaria antes de sair.
— Você está linda — ele me elogiou, um calorzinho subiu nas
minhas bochechas. Nunca me achei muito bonita ou linda, era sempre bom
quando o Kai falava essas coisas.
— Obrigada. — Soltei o cabelo do coque, de frente para o espelho,
penteando minhas mechas negras e longas.
— O que você fez no cabelo? — perguntou se aproximando e
tocando meus fios com delicadeza. — Ficou muito bonito.
— Dei um banho de brilho — respondi mordendo o sorriso, animada
por ele notar.
Meu cabelo era a única parte do meu corpo que eu achava bonita.
Ele não carregava as cicatrizes que tinha no tórax, não exibia um olhar
manchado pela dor. Era a minha parte perfeita. Grande, batendo na minha
cintura, macio e brilhoso. Se meu cabelo estiver arrumado eu fico de bem
com a minha autoestima.
— É impressão minha ou você está se arrumando demais para sair
com as meninas?
Kai era esperto, estava me perguntando se eu realmente conseguiria
o enganar, pelo visto não disfarcei o suficiente. Uma pontada no peito me
incomodou, eu prometi não guardar segredos do meu irmão e estava prestes
a fazer algo que iria irritá-lo.
— Posso te contar algo que vai te deixar com raiva, mas você
promete não me impedir?
— Se não colocar em risco a sua vida, prometo. — Retirou as mãos
do bolso, encostando o quadril na penteadeira no closet.
— Eu aceitei sair com o Drake, meu colega da faculdade, e hoje
vamos jantar juntos.
Despejei a verdade esperando por sua reação. Kai ficou ereto,
cruzou os braços na frente do peitoral, inclinou a cabeça de lado, os olhos
negros como os meus assumindo um tom de irritação.
— Você está noiva — respondeu irritado.
— O pedido será feito amanhã. Hoje é a minha despedida de
solteira.
— Josephine, você não pode fazer isso. — Suspirou pesado. — Você
ficou chateada com o Black e por isso quer se vingar ficando com outro
homem. Sua atitude vai causar mais danos a si própria do que no Black.
— Você não entende. — Segurei suas mãos, aflita. — Todos vocês
tiveram o direito a momentos fora da máfia, puderam sair com outras
mulheres, escolher suas parcerias para o casamento. Eu não me importo se
o Black namorou ou não. A única coisa me motivando é saber que existe
um homem, lá fora, que me deseja, o Drake é divertido, bonito e me ronda
na faculdade não por eu ser a irmã do Subchefe ou porque ele ganhará
alguma coisa saindo comigo. Ele só me escolheu e eu quero muito, Kai,
sentir ao menos uma vez como é ser a primeira opção de alguém. Nem que
seja por breves segundos.
Ele ficou em silêncio analisando minhas palavras. Kai sabia o
quanto era importante me sentir querida. Por muito tempo a primeira opção
dele foi a Rebeca. Meu irmão foi o primeiro homem a me abandonar. E por
causa disso busquei feito louca por alguém que mostrasse que ele estava
errado, que eu valia a pena.
— Eu vou casar com o Black e não ficarei o provocando ou criando
motivos para brigas — confessei baixinho sentindo as lágrimas acumulando
no canto dos olhos. — Mas, por favor, Kai. Me deixa ao menos uma vez
saber como é ir a um encontro.
— Se eu não contar ao Black sobre o encontro darei a ele um motivo
para uma desavença entre nossas famílias — subiu as mãos tocando meus
ombros — eu entendo as suas razões, mas não posso permitir que você seja
vista em público com outro homem, algumas regras não podem ser
quebradas.
— Fui uma idiota por achar que você entenderia. — Meus braços
pesavam ao lado do meu corpo, a mágoa assumindo um lugarzinho no meu
peito.
— Ei, eu disse que não poderiam sair. — O polegar calejado alisou
minha bochecha. — Chame seu amigo para jantarem aqui. Garantiremos
que o Black não descubra sobre essa noite e você tenha o seu momento.
Mas pelo amor de Deus, Josephine, não transe com o Drake ou nem eu
poderei te ajudar.
— Eu não disse que ia transar — mordi o sorriso nascendo no meu
rosto — mas você me deu umas ideias. — Provoquei-o aliviando o clima.
A felicidade de poder contar com o Kai incendiava o meu corpo. Ele
conhecia os riscos de acolher outro homem em sua casa, principalmente
com a intenção de deixar o Drake se aproximar de mim. Ele aceitou o
perigo para me ver feliz. Envolvi a cintura do Kai com os braços,
descansando o rosto em seu peito, animada e contente por saber que posso
contar com ele para as minhas loucuras.
— Jantarei com vocês — respondeu sério.
— Nem pensar — disse rindo contra seu peito. — Agora saia que
preciso me arrumar.
— A Daisha, Hope e Emily sabem do seu plano. — Não era uma
pergunta, acenei em positivo, o suspiro incrédulo do Kai me fez gargalhar.
— Preciso de uma conversa com esse seu quarteto ou os homens da
Máfia Bianchi ficarão grisalhos antes do tempo. Primeiro o piercing da
Emily e agora você sendo acobertada para ir a um encontro. Qual o
próximo passo, uma fuga?
— Era o plano da Daisha, mas ela se apaixonou e desistiu.
— Necessito de um segundo de paz. — O riso deixou meu peito
reverberando contra o dele, Kai alisou meus cabelos, beijou minha cabeça e
se afastou. — Ligue para o Drake, os dois na sala de jantar de portas abertas
e sem nenhuma indecência. Você não vai trair o Black, ele te respeita e
espero o mesmo de você.
— Nem um beijinho? — perguntei, mordendo o lábio.
— Nem mesmo um toque de mãos. Lembre que a casa tem câmeras
de segurança em toda parte.
— Você é um chato, tenho pena de quando tiver filhas. Espero que
elas deem tanto trabalho que você fique calvo de estresse!
— Para de rogar praga! Minhas filhas serão anjos enviados do céu,
diferente de você, sua imitação de demônio!
Gargalhei curvando o corpo, a mão envolvendo a barriga. Eu amo
meus momentos divertidos com o Kai, podemos nos xingar, provocar e
ofender, com o amor presente nas expressões serenas, confiantes e acima de
tudo felizes.
— Saia para eu poder terminar de me arrumar. — Empurrei seus
ombros.
— Não se arrume demais, não queremos o pobre Drake apaixonado
por você sabendo que nunca terá seu coração.
— Eu podia dar a boceta para ele — respondi, jogando seu corpo
para fora do quarto.
— Você não ousaria — rosnou.
Sorri pela sua cara irritada, bati a porta com o coração bombeando
como um tambor. Não sei se eu teria coragem de beijar o Drake hoje, mal
nos conhecemos e quero saber um pouco mais sobre ele. Teria 3 semanas
antes do casamento e acreditava que o noivado não mudaria muita coisa, eu
continuaria em Nova Iorque e o Black em Las Vegas, longe e sem saber que
estava saindo com o Drake.
Por anos sonhei com o Black sendo meu primeiro beijo. Tinha a
oportunidade de realizar essa fantasia, mesmo sem a paixão presente. Era
estranho a sensação de saber que eu poderia decidir se seria beijada pelo
Black ou pelo Drake.
Não tinha pensado nessa perspectiva. Tinha uma escolha
interessante a fazer. Realizar minha antiga fantasia de adolescente
apaixonada ou embarcar no desconhecido com um cara que me desejava e
apesar de o achar bonito ele não despertava borboletas no meu estômago ou
me fazia tremer ansiando pelo seu toque.
Valeria a pena trocar o meu primeiro beijo do Black pelo Drake?
Avisei as meninas da mudança de planos e nenhuma delas conseguiu
acreditar que o Kai permitiu o encontro. Os homens na máfia tendiam a ser
bastante ciumentos. O Black não teria ciúmes de mim e o Kai desejava
minha felicidade, nada poderia dar errado.
Coloquei um vestido de alças grossas escondendo uma cicatriz na
parte posterior do meu ombro. Evitava roupas de alças finas para não expor
minhas costas e as marcas que ganhei ao longo dos anos. O caimento da
saia acima do joelho, brincos, bracelete e um colar discreto, nos pés um
salto baixinho. Mexi no cabelo arrumando os fios negros para a lateral
sobre meu ombro, lindo!
Desci as escadas controlando as batidas ansiosas do coração. Era o
meu primeiro encontro!
Kai saiu para buscar o Drake, ele não fazia parte do nosso mundo e
não poderia entrar no complexo sozinho. O Subchefe da Máfia Bianchi
seria o seu passaporte, vão descer na garagem para que ele não seja visto e
depois sairá da mesma forma.
Questionava-me como seria a segurança no complexo em Las Vegas,
nunca visitei a morada dos Bonnarro, a família de Capo mais importante da
nossa organização. Recentemente expandiram seu domínio para o Texas. Os
Bonnarro eram poderosos por dominar os cassinos luxuosos de Vegas, mas
controlando o Texas e o benefício que esse território traria à organização
eles ganharam poder sobressalente.
Casarei com um Capo poderoso, ninguém esperava nada de mim
além de uma dama briguenta. Precisarei controlar um pouco do meu gênio
forte ou trarei problemas para o meu marido. Não queria viver brigando
com o Black, e ser sua esposa me daria a proteção que o nome do meu pai
nunca causou. Eu não serei a filha do Subchefe, mas a esposa do Capo de
Las Vegas.
Kennedy sempre foi tratada como uma rainha, nas poucas vezes em
que veio a Nova Iorque, imagino que em seu território o respeito seria
maior. Bartolomeu Bonnarro possuía uma fama de íntegro, justo,
controlando o território com mãos de ferro. Esperava-se o mesmo do Black.
Estava ficando ansiosa para conhecer um novo mundo.
A Hope, por viver somente em Las Vegas, não sabia da minha
reputação tempestuosa. Começo a enxergar nesse casamento uma nova
oportunidade. A chance de estar com pessoas que não vão me julgar
previamente, seria respeitada, inserida em um novo ciclo e torcia para que
em Vegas as coisas sejam melhores do que em Nova Iorque.
Sentei no sofá esperando o Drake, Daisha estava no seu quarto me
enviando áudios perguntando se o convidado já havia chegado. Eu tenho
certeza de que ela e o curioso do meu irmão assistiriam ao encontro pelas
câmeras. Ouvi o som do carro, o portão da garagem abrindo e fechando.
Levantei alisando os cabelos, animada.
A porta de acesso à garagem foi aberta, Kai passou pelo portal.
Atrás dele o Drake entrou usando uma camisa social branca, por cima o
blazer azul-escuro combinando com a calça de linho. Os fios loiros
penteados para cima em um topete jovial, a barba falhada trazia um ar
sensual ao seu sorriso com covinhas. A boca carnuda exibindo os dentes
brancos. Drake caminhou até mim com um olhar atraente, estendeu a mão e
a segurei sendo puxada para os seus braços, o cheiro forte de pinheiro
invadiu meus sentidos aumentando minha ansiedade.
— Como você conseguiu ficar ainda mais linda? — perguntou,
beijando minha bochecha.
— Só me arrumei um pouquinho — respondi encarando o verde em
suas íris.
— Vou precisar me preparar para quando você se esforçar. — A
risada gostosa reverberou no meu peito.
Nunca fui tão elogiada por um rapaz, aquecia meu corpo ser o centro
de sua atenção. Alisei sua mão grossa inspirando mais de seu cheiro. Drake
estava lindo, charmoso e focando toda a sua atenção em mim. Meu peito
vibrava de felicidade.
— Gostei do seu estilo — elogiei, não querendo parecer animada
demais. Eu aprendi a lição com o Black, nunca demonstrar por completo
como me sinto ou terei meu coração esmagado.
— Passei duas horas escolhendo a roupa, quando você me disse que
morava aqui eu fiquei meio assustado. — Seu olhar foi em direção ao Kai
nos observando das escadas. — Você faz ideia do quanto as famílias que
vivem nesse condomínio são ricas?
Gargalhei, a inocência do Drake quanto aos negócios dos Bianchi foi
fofo. Para o mundo externo o complexo Bianchi é um condomínio de luxo
para somente 1% da alta sociedade nova-iorquina.
— Tenho um pouco de noção — respondi o puxando para as
escadas. — Esse é o meu irmão Kai Lucian, esse é o Drake, meu colega de
faculdade.
— É um prazer te conhecer. — Drake soltou minha mão estendendo-
a para o meu irmão. — Meu pai é um grande fã dos projetos construídos
pela construtora Lucian.
— Bem-vindo a minha casa — Kai respondeu usando um timbre
pesado, percebi que ele queria intimidar o Drake.
Arquei a sobrancelha para o meu irmão questionando se ele não
apertaria a mão do rapaz. Kai ergueu a sobrancelha antes de segurar a mão
estendida do Drake.
— É uma honra, meu pai é engenheiro civil, ele já tentou várias
vezes ser contratado na Construtora Lucian. O senhor é quase como uma
lenda para a minha família. — Revirei os olhos pelo fanatismo do Drake.
— Obrigado, lembre-se de que está na minha casa, seja respeitoso.
Inflei com raiva pelo ultimato do Kai. Drake ficou de coluna ereta
entendendo o aviso do meu irmão. Esse safado me paga.
— Claro que serei, senhor. — Drake me encarou. — A Josephine é
uma moça encantadora e merece ser tratada com muito respeito. Sou um
sortudo por ela aceitar sair comigo. — Ele sorriu e eu esqueci que estava
com raiva do Kai, adorando a paquera do Drake.
— Tenham um bom jantar. — Kai saiu com a sombra de um sorriso
no rosto, ele gostou do Drake.
— Vem comigo. — Envolvi nossas mãos caminhando para a sala de
jantar.
— Eu pareci um idiota para o seu irmão? — Sentamos um de frente
para o outro. — No carro não consegui dizer uma palavra, ele tem uma
presença intimidante.
— Faz parte do charme do Kai.
Teresa, uma das funcionárias da casa, entrou trazendo uma garrafa
de vinho.
— Você sabia quem eu era quando se me chamou para sair?
— Não, nunca imaginei que uma Lucian faria psicologia, jurava que
vocês cursavam engenharia ou arquitetura para trabalhar no negócio da
família. Você sabe que sua família é muito renomada no ramo?
— Sim. — Lembrei do Smith, um associado que se aproximou pela
fama dos Lucian, espantei a lembrança do miserável da minha mente.
— O que te motivou a escolher psicologia? — Ele bebericou um
gole do vinho. — Ótima qualidade.
Provei da minha taça pensando na resposta para dar ao Drake. A
verdade era que eu queria decifrar as nuances da mente humana. Entender a
psicopatia que motivava minha irmã a ser um monstro comigo, o que fazia
os pais torturarem os filhos e os diferentes mecanismos de defesa
desenvolvidos pelo cérebro para superar os desastres.
— A mente humana me fascina — respondi. — Mais do que para
ajudar as pessoas com seus traumas, eu quero entender o funcionamento e
programações de um cérebro. Ser capaz de adentrar no subconsciente
desvendando o escondido, entender o motivo dos traumas e como os
superar.
— Fascinante, temos quase o mesmo pensamento. Quando era
criança eu fazia terapia, gostava tanto das sessões que decidi ser psicólogo
infantil. Acredito que é a principal fase do desenvolvimento de uma pessoa,
e poder ajudar para extrair o máximo do potencial me motiva.
— Terapia quando criança, imagino que você era bastante levado —
brinquei, ganhando um sorriso tranquilo.
— Eu fui adotado aos sete anos, não lidei bem com o processo de
retirada da minha família natural. Minha mãe era prostituta e se drogava na
minha frente. O Estado ao tomar consciência do caso me tirou dos cuidados
dela aos cinco anos e fui para um lar de adoção, passei dois anos lá até
meus pais me encontrarem. Na época, eu não percebia a chance que estava
tendo, com as sessões consegui me abrir para os meus pais e hoje percebo o
quanto sou abençoado pela minha família.
— Obrigada por compartilhar a sua história. — Estendi a mão
tocando sua palma. — Você tem irmãos?
— Cinco — fazia uma careta adorável — duas meninas e três
homens. Sou o mais novo, e você?
— Somente o Kai. — Omiti sobre a Rebeca, Drake não precisava
saber da psicopata assassinada pelas minhas mãos.
— E os seus pais? — Olhou ao redor. — Tem câmeras aqui. —
Apontou para uma no canto.
— Meus pais faleceram — omiti que minha mãe continuava viva,
trancada na casa em que cresci, pagando por seus crimes. — É comum as
câmeras nas casas daqui.
— Seu irmão vai ver tudo que faremos? — Arqueei uma
sobrancelha.
— Espero que não, se ele quiser continuar vivo — brinquei.
— Seria estranho ele nos observando. — Inclinou-se baixando o tom
de voz. — Enquanto a gente dá uns amassos.
— Eu sei os pontos cegos — respondi fatal.
Um frenesi gostoso se espalhando no meu ventre, querendo receber
o toque quente do Drake. Era a primeira vez que seria alvo do olhar de
desejo de um homem. Drake deslizava a língua entre os lábios carnudos, os
olhos levemente apertados me encarando sedutores, a energia envolvente
emanando de seu corpo capturando o meu me fazendo ansiar pelo
desconhecido.
Drake não me causava borboletas no estômago.
Eu não precisava dessa merda de paixão ao experimentar a excitação
pela vontade de ser beijada.
Teresa entrava trazendo nosso jantar, continuamos conversando
sobre nossas vidas, omiti partes da minha e perguntava bastante sobre a
dele. Drake era um rapaz normal com uma família amorosa que soube
aproveitar cada segundo da vida com os irmãos e os pais. Terminamos de
jantar e o convidei para a sala de estar, hoje era uma noite fria, gostosa para
ficar na lareira tomando vinho.
— Vou pegar cobertores para a gente — avisei seguindo para o
armário perto da garagem.
Retornei colocando as cobertas de frente para a lareira, o fogo
crepitava baixinho aquecendo nossos corpos acesos pelo álcool e a vontade
de ficarmos junto. Sentei perto do Drake, ele envolveu minha cintura com
sua mão puxando meu corpo, colocando ao seu. Inspirei pesado sentindo o
que estava por vir. Encarei seus olhos embaçados pelo tesão, a boca se
abrindo lentamente enquanto ele se aproximava de mim.
Realmente iria acontecer, eu teria meu primeiro beijo.
Soltei o ar lentamente pelos lábios, inclinando a cabeça para o lado,
o coração batendo tão alto que estava a um segundo de me deixar surda. Eu
não havia me preparado o suficiente para esse momento, não sabia o que
fazer, e se ele estranhar a minha falta de experiência?
— Eu sou louco por você desde que te vi entrando no primeiro dia
de aula. — Drake segurou meu queixo batendo o nariz no meu.
— Por quê? — perguntei sentindo o coração doendo com medo, eu
não tinha nada de especial, não era a garota mais bonita da turma.
Ninguém nunca me quis, o Drake falava a verdade?
— Realmente pergunta isso? — Seus olhos se fechavam, o hálito
quente cheirando a vinho batendo nos meus lábios.
— Sim. — Segurei seu ombro, tocando nossas testas o mantendo
distante.
— Josephine — ele puxou o rosto me encarando incrédulo — você é
a garota mais interessante daquela turma. Todos os caras solteiros te querem
como loucos.
— Não é verdade. — Murchei, em quase um semestre de aulas não
notei nenhum rapaz interessado em mim.
— É sim. — Segurou minha bochecha me puxando para perto. — Se
não fosse pelos malucos como o Oliver — se referiu a um dos meus
seguranças — que ficam marcando território mantendo os homens longe de
você, eu tenho a certeza de que você receberia um convite por dia para um
encontro.
— Como você conseguiu chegar até mim?
— Eu insisti. — Deu de ombros. — Tive de ser esperto, fiz amizade
com o Oliver, fingi que não tinha interesse em você enquanto te observava
de longe, e, porra, Josephine você é a mulher mais linda que eu conheço. —
Seus olhos brilhavam revelando a verdade em suas palavras.
Meu peito estremeceu, além do Kai e das meninas, nunca recebi
elogios com tamanha sinceridade.
— A Daisha estar doente contribuiu para um lugar vazio ao seu lado,
tive de chegar uma hora antes naquele dia para sentarmos perto. Confesso
que quase tive um infarto com a possibilidade de você trocar de canto.
— O quanto você me deseja, Drake? — Eu sentia meu coração
bombeando como louco querendo mais do carinho sincero do Drake.
É assim que as meninas se sentem ao saberem que são amadas por
seus maridos? Se for, eu consigo compreender o motivo delas terem se
apaixonado. Saber que somos o centro da atenção de um homem desperta
algo de especial, vibrando na alma, buscando por mais doses de paixão.
— O suficiente para arriscar perder meu pescoço só por um segundo
ao seu lado. — Envolveu minhas bochechas com as mãos. — Você é
divertida, atrevida, possui um lindo sorriso e os olhos mais sinceros que eu
já vi. Eu adoro te ouvir conversando com os professores, sua genialidade é
tão atraente quanto seu corpo.
— Drake — envolvi seu pescoço — cala a boca e me beija.
E ele o fez.
Explodi pela sensação da língua macia invadindo meus lábios,
afoita. Sua mão agarrou minha nuca me trazendo para mais perto, o peitoral
esmagando meus seios medianos. O cheiro de pinheiro invadindo meus
sentidos, acendendo meu corpo como a chama forte de um maçarico.
Inexperiente, o deixei guiar o beijo, deslizando minha língua na sua, os
lábios se chocando e os dentes se evitando. Eu sentia o gosto do vinho
mesclado ao seu sabor.
Naquele segundo eu flutuei apreciando pela primeira vez na vida
como era ser a mulher por quem um homem lutou para possuir.
Drake não tinha nenhuma garantia de que conseguiria me conquistar,
insistiu enquanto eu não o percebia se aproximando. Eu tive alguém para
lutar por mim. E mesmo que não durássemos ou não possamos viver um
relacionamento eu aproveitei cada segundo daquele beijo, me deliciando na
sensação envolvente da paixão.
Feliz, realizada e satisfeita por aproveitar o meu momento de
escolha.
Quando o Drake foi embora, horas depois de mais uns beijos eu me
despedi sabendo que não teríamos outro encontro. Estava pronta para ser a
noiva do Black, eu tive o meu segundo de plenitude. E mesmo que eu nunca
mais me sentisse desejada ou soubesse que o Black não insistiria pelo meu
afeto, estava tudo bem.
Pois eu tive o meu momento e o guardaria para sempre no coração.
Uma nova Josephine nasceu naquela noite, ansiosa para realizar
todos os desejos queimando no meu peito.
Lily, minha psicóloga, entrou na biblioteca para uma sessão. O
sábado começou agitado com os preparativos para o jantar de noivado. Não
prestei atenção em nada enquanto as empregadas realizavam a arrumação
indicada pela Daisha. Do seu quarto ela conseguia controlar a casa inteira.
— Você está diferente — ela disse sorrindo para mim.
— Eu fiz algo ótimo ontem. — Mordi o sorriso lembrando dos
beijos do Drake.
Lily sentou na poltrona, fiquei no divã deitada de frente para ela, a
luz do sol banhando a minha pele. Conforme ela me pediu no último
encontro, estou usando um vestido leve, solto e de alças finas mostrando
um pouco das minhas cicatrizes nas costas.
— Quer iniciar me contando o que foi? — perguntou com seu usual
tom de voz leve.
— Eu fiquei com o Drake. — Descrevi para ela os acontecimentos
seguidos do pedido para sairmos e do Kai apoiando o meu encontro e nos
encobrindo.
— Achei que fosse proibido no seu mundo mulheres se relacionarem
com outros homens — comentou sem julgamento, apenas curiosa.
Lily é psicóloga da Hope, recebeu instruções precisas do Michael
sobre como nosso mundo funcionava, o que ela podia ou não fazer e
perguntar. Lily trata dos nossos traumas, mas nunca poderá saber dos
negócios envolvendo a máfia.
Meu irmão me ofereceu a oportunidade de me consultar com ela,
logo após eu vir morar com ele, um tempo depois ele percebeu as reais
intenções doentias da Rebeca com relação a ele e precisou de terapia para
conseguir suportar a merda da nossa vida. Algumas sessões fazemos juntos,
outras separados e no final nos encontramos para curar mais um pedaço da
nossa alma.
— Se descobrirem o que fiz com certeza serei punida. O Kai correu
um risco trazendo o Drake ao complexo escondido no carro e depois o
levando embora.
— Ele sabe que você e o Drake ficaram?
— Eu contei hoje de manhã, a cara feia dele é por causa disso. —
Franzi o nariz. — Ontem à noite a Daisha o distraiu para ele não olhar as
câmeras.
— O quarteto de vocês é um perigo — comentou divertida.
Omito a parte em que a Daisha deu a entender que distraiu o Kai
usando a mão esquerda e a boca para o meu irmão esquecer do mundo.
Minha cunhada faz lindos sacrifícios por mim.
— Como você se sentiu beijando o Drake ou indo a um encontro?
— No paraíso! — Sentei sobre os joelhos empolgada. — Ele foi um
cavalheiro, me tocou com respeito, ensinou a beijar, não fez piadinha por eu
ser inexperiente. Optar por quem seria meu primeiro beijo foi importante
para mim, o poder da escolha e o conhecimento de que eu sou uma mulher
capaz de despertar desejo em um homem, ascendeu uma parte morta da
minha alma. Trouxe confiança onde só existia insegurança.
— É maravilhoso ouvir isso, Josephine. — Sorriu docemente. Lily
era linda, cabelos cacheados com luzes na altura do ombro, a pele de
chocolate e olhar gentil. — Você entende que é linda e não precisa de um
homem para te dizer isso? Sua beleza começa dentro, no segundo em que
amamos a nós mesmo, passamos a apreciar cada curva do nosso corpo,
textura da nossa pele. O empoderamento vem e ninguém conseguirá te
diminuir, pois sabe que é linda, uma mulher desejável e maravilhosa.
— Estou tentando trabalhar na minha autoestima — confessei
baixinho. — Mas é difícil com tantas cicatrizes — apertei as mãos — às
vezes eu tenho vontade de remover todas elas, fazer uma plástica como as
meninas fizeram. Mas…
— Continue — pediu estendo a mão, segurando a minha.
— Sinto que se eu simplesmente as remover vou deixá-la ganhar. —
Pisquei afastando as lágrimas. — Eu quero ser capaz de encarar meu corpo
e me sentir bem comigo mesma, ver as cicatrizes como uma lembrança da
minha sobrevivência. A Rebeca continua aparecendo nos meus sonhos, me
perturbando. Matar ela não aliviou porra nenhuma. — Tremi, soltei as mãos
da Lily esfregando o rosto. — Eu preciso vencer ela, mostrar que não me
domina mais e vou começar parando de odiar o meu corpo, ela fez eu me
detestar, e eu vou vencer essa guerra!
— Você vai conseguir, Josephine. — Levantou, segurando minhas
mãos, — A Rebeca morreu, mas os males causados por ela continuam te
assombrando. É necessário vencer o trauma olhando para dentro de si
mesma, o encarando e derrotando. Apagar as cicatrizes seria pegar um
atalho, você quer amar a si mesma e será capaz. Vou iniciar uma nova
técnica de autocuidado, espero que possa fazer todos os dias.
— Por isso o vestido fino? — perguntei a seguindo, Lily parou em
frente ao espelho de corpo todo.
— Sim, na verdade, eu queria que você tirasse ele.
— Para o quê? — Franzi a testa.
— Todos os dias, durante uma hora por dia, você vai se trancar no
seu quarto, pode colocar uma música se quiser, entre em contato consigo
mesma, fique sem roupas e de frente para o espelho. Eu quero que você
toque seu corpo — segurou meu pulso levando minha mão ao meu busto
descoberto — mapeando cada canto da sua pele — me fez deslizar o toque
para o ombro — sinta as cicatrizes, encare cada uma delas e se desejar
comece a dançar. Não pense nos traumas ou em como as conseguiu, sinta a
batida da música. Você está sozinha, encare a si mesma com carinho —
encontrei seus olhos através do espelho — e repita “eu sou bonita, eu me
amo e mereço o mundo”.
— Você só passa tarefas difíceis — murmurei, uma pontada
espetando meu peito.
— E que te ajudam. — Soltou meu pulso. — Quanto aos pesadelos,
você sente que eles estão diminuindo com as sessões? Continua tendo
alucinações acordada?
— As alucinações pararam — respondi encarando as mãos. — Após
matar a Rebeca eu só enxergava o sangue dela nas minhas mãos, hoje só os
vejo nos sonhos.
— É um bom indicativo, estamos conseguindo diminuir a força do
trauma. — Segurou minha palma. — Você está tomando o controle da sua
realidade e isso é um progresso, Josephine.
— Eu sei — a voz tremulou.
— Iniciaremos um novo tratamento para os pesadelos. Uma hora
antes de deitar você vai fazer meditação, limpe sua mente, escureça o
ambiente do quarto deixando acesa somente uma luz fraca. Se necessário,
pode ouvir música e mentalize os motivos pelos quais sua vida está melhor
após a morte da Rebeca. Lembre-se daqueles que você salvou. Quando o
sangue em suas mãos não sumir, ao invés de lavar incessantemente a palma
eu quero que você procure o que é real, toque seus livros, sua cama, seus
pertences, cheire, abrace, os funda com seu corpo. Traga sua mente de volta
à realidade e caso não funcione procure pelo seu irmão, ou suas amigas,
converse com elas, distraia-se. Não podemos permitir que a Rebeca
continue te controlando.
— E se não der certo? — perguntei temerosa.
— Vamos tentar todas as opções antes de recorrer a remédios. —
Apertou minha mão. — Outra coisa que pode te ajudar a distrair é
pressionar a palma contra seu peito sentindo as batidas do seu coração e
contar a sua respiração ou segurar gelo, a ardência vai fazer você acordar do
torpor. Por hora foque em amar o seu corpo, na meditação e sempre lembrar
o bem que você fez salvando sua cunhada da Rebeca. Você não tirou uma
vida, Josephine, mas salvou outras.
— Obrigada, Lily.
Apertei sua mão sentindo o peito aliviando. Eu salvei a minha
família e matei o monstro cruel. Talvez demore, mas um dia eu vou me
libertar da apreensão corroendo meu peito. Eu tenho o direito de ser feliz e
buscarei pela minha felicidade sem vacilar.
Lily foi embora e subi para o meu quarto, estava nervosa para poder
colocar em prática a nova tarefa. Faltava menos de 3 horas para o jantar de
noivado e eu não tinha me arrumado. Após o Drake ir embora eu consegui
dormir tranquila, pensei nele por longas horas relembrando a sensação do
nosso beijo. Prometi que ligaria no dia seguinte e ainda não consegui pegar
no celular. Mandei uma mensagem respondendo as suas.
Fechei as cortinas, acendi a luz e coloquei uma música tranquila
para tocar, instrumentais suaves soavam pelo meu quarto. O coração parecia
a ponto de sair do peito, explodir a qualquer instante ao retirar a alça do
vestido de frente para o espelho. Não lembro a última vez que encarei meu
corpo nu.
A peça caiu pesada no chão se amontoando ao redor dos pés. Os
peitos de tamanho mediano me encaravam de bico arrebitado. Inspirei
fundo descendo o olhar pela minha barriga, a enorme cicatriz feita por um
pedaço de ferro corria do meu umbigo à cintura. Recebi ela quando tinha 17
anos, Rebeca me queimou com fúria, caí no chão achando que morreria, até
o Black aparecer me pegando em seus braços e levando para o médico.
Pisquei afastando as lágrimas dolorosas, minha pele branca mal via
o sol, eu tinha vergonha de usar biquínis e roupas curtas, escondia as
cicatrizes como podia. Toquei minha barriga passando os dedos pela pele
enrugada, lágrimas desceram pesadas por minha bochecha. Girei
lentamente, encarando o espelho sobre o ombro vendo as marcas em
minhas costas.
Fui marcada pelo Louis, ele me bateu com um arame farpado após a
confusão que causei com o Tommaso. Arrastei meus braços tocando o que
conseguia da minha coluna, solucei lembrando dos gritos naquela noite, do
cheiro do sangue e da dor. Encolhi ficando de joelhos abraçando meus
ombros.
Não estava dando certo, eu não conseguia encarar a mim mesma
sem lembrar do passado e do quanto eu era ferida pela minha família.
Solucei, caindo no chão, a testa batendo contra o carpete. Eu me perdia em
sofrimento, encolhida, chorando, desejando nunca ter nascido.
Um grave alto da música penetra meus ouvidos como um raio. Eu
estou falhando, me deixando dominar por meus demônios e sendo incapaz
de lutar. Bati o punho no chão, gritei com força expurgando a dor, não
posso continuar deixando eles vencerem.
— Eu não vou mais me rebaixar a vocês! — Rosnei para os
demônios: meu pai, Rebeca e minha mãe. — Chega de me controlar! —
berrei.
Encostei a testa no chão, rosnando, chorando, rasgando minha alma.
Pus os joelhos contra o carpete, bati os punhos com firmeza na superfície de
madeira. Ergui o corpo encarando minha imagem no espelho, os olhos
selvagens, a vontade de lutar e vencer queimando como uma chama azul em
meu corpo. Ergui o joelho vendo meus peitos, eles não são sem graça, são
lindos seios duros de bicos apontando para a frente.
Firmei meu corpo sobre as duas pernas encarando minhas coxas
magras, sem uma gordura fazendo curva. Vou ganhar peso, deixar as pernas
torneadas e muito mais bonitas. Fixei a vista na minha barriga, eu tenho
uma enorme cicatriz, mas também um quadril com uma curva generosa,
abdômen chapado e sem uma gordura fazendo curva debaixo do seio.
— Eu sou linda! — Agarrei minha cintura tocando minha pele,
sentindo o enrugado das cicatrizes, as lágrimas grossas descendo como
navalhas. — Eu sou linda! — repeti com mais convicção.
Analisei meu busto percebendo os ossos aparecendo da clavícula,
toquei cada um deles decidida a fazer uma nova dieta, comer o que me
deixa feliz, ser saudável. Toquei meus braços fracos, puxei a pele notando
os ossos e ausência de músculos. Meu irmão tem uma academia em casa,
farei uso dela para ganhar massa muscular.
— A Josephine Lucian que deveria ser magra como uma boneca vai
ser expurgada. — Sequei o rosto encarando meu reflexo. — Eu vou tomar
as decisões do meu corpo, fazer o que eu quiser na minha dieta, ganharei
peso. Chega de ser controlada pelos padrões de beleza da Eleanor. Sua
víbora maldita, você é outra que vou expurgar do meu corpo!
A imagem que encaro no espelho é resultado das cicatrizes deixadas
pela Rebeca, Louis e das dietas horrendas impostas pela Eleanor para eu
exibir a aparência que ela queria.
— É o meu corpo, a minha vida e somente eu vou me controlar. Eu
sou linda, gostosa e ninguém poderá me diminuir novamente.
A força da mudança crescia dentro do meu peito, vou alimentá-la e
torná-la a minha base. Hoje eu farei nascer uma nova Josephine.
Confiante.
Decidida.
Seduzente.
Poderosa consigo mesma.
Nada poderá me parar.
Eu sou Josephine Lucian e esse é o início da minha história.
Eu encarava uma leoa no espelho, deixei o quarto entrando no
banheiro, tomei um longo banho, passei hidratante no corpo, perfume,
sequei os cabelos e fiz uma prancha, os fios completamente lisos e sedosos.
Abri meu closet escolhendo um vestido ousado.
Preto com brilho, a luz batia iluminando a peça a fazendo parecer o
céu estrelado. Vesti adorando a exposição do meu busto e decote generoso,
a manga iniciava na curva do ombro com 3 dedos de espessura. Batendo no
meu pé, calcei um salto baixo, pus a pulseira do meu irmão, brincos e um
colar de diamantes. Arrumei o cabelo para o lado e fiz uma maquiagem
leve, eu queria ressaltar minha beleza recém-descoberta.
Desliguei a música e deixei meu quarto sabendo que os convidados
já haviam chegado pelo som de vozes no andar de baixo. Pisei no degrau da
escada, uma força poderosa exalava dos meus poros, o poder de me libertar
das algemas atormentando a minha alma.
Segurei o corrimão, pisando duro na madeira, o som do salto
reverberou atraindo a atenção de todos. O olhar dele bateu no meu ser me
deixando animada, empolgada por conseguir fazê-lo perceber a minha
presença pelas costas. Black virou calmo me encarando, as feições
mudaram lentamente, as pálpebras arregalando minimamente, os lábios se
separando em uma linha, o copo em sua mão vacilou e eu sorri, sendo a
responsável por abalar seu mundo.
Pela primeira vez na vida, Black Bonnarro se abalou pela minha
presença e eu não pulava de euforia. Estava confiante em meus passos,
sabia do meu poder e não teria medo de usar cada carta na minha manga.
Essa noite ele perceberá que não casará com a Josephine insegura, ou a que
o rejeitava irritada e sedenta para ficar longe.
Black Bonnarro conhecerá a dama poderosa que existe dentro de
mim. A minha verdadeira versão, livre de amarras e pronta para dominar o
mundo.
— Podemos ir? — meu pai perguntou entrando no meu quarto.
— Sim.
Encarei minha imagem no espelho, um terno italiano sob medida
cinza-claro de três peças, a gravata prateada e a camisa branca. Estamos na
nossa casa no complexo de Nova Iorque, pretendia pedir a mão da
Josephine em um jantar íntimo, mas fui lembrado de que o pedido deve ser
feito, no mínimo, na presença dos pais. Organizamos um jantar na casa do
Kai, como noivo eu devo ir a ela.
— Estou orgulhoso de você, Black. — Ele sorriu tranquilo,
segurando meus ombros. — Se tornou um homem de honra, mostrou seu
poder ao dominar o Texas e comandará nossos territórios com firmeza e
sabedoria. Tenho altas expectativas em você, mas saiba que pretendo
observar de longe, vou tirar longas férias com a Kennedy e não pretendo
opinar em nada.
— Não consigo te imaginar deixando o trabalho.
— Eu e sua mãe precisamos de um tempo para a gente. — Seu olhar
pesou. — Ela finalmente está conseguindo se recuperar completamente do
trauma. Foram anos de sofrimento, só queremos aproveitar o que nos foi
tirado. A confiança que tenho em você me permite deixar meu cargo sem
preocupações com a organização. Vou focar somente na Kennedy e em
mim.
— Vocês merecem. — Bati de leve em seu ombro.
Meu pai e minha mãe enfrentaram uma barra terrível nos últimos
anos. Um segredo esmagador sufocou nossa família com o medo da
destruição. Minha mãe perdia sua sanidade nos aniversários da Hope
tentando matar minha irmã, eram noites assustadoras, com gritos, sangue e
a tormenta que nunca chegava ao fim. No dia seguinte vinha o
arrependimento.
O que o Benjamin fez à Kennedy foi terrível. Sem poder buscar
ajuda externa minha mãe foi se perdendo em sua mente, cada vez mais
sucumbindo à loucura. Ela ficava bem todos os dias do ano, menos na data
de aniversário da minha irmã. Kennedy tentava compensar sua loucura nos
enchendo de amor e carinho, ela era uma mãe maravilhosa, o que tornava
pior seus dias de crise.
Ela não queria nos machucar, o fazia sem conseguir se controlar. Eu
me odiava por ser incapaz de contê-la, lembrando daquela maldita noite
assombrando a minha vida. Desde os meus 14 anos eu não tive noites em
paz e não conseguia me relacionar com mulheres sem sentir dor, sofrendo,
me obrigando a ser um homem de honra, a demonstrar minha virilidade,
mesmo que partisse minha alma em duas ao fazer o que era preciso.
Eu era incapaz de dividir com minha família o meu tormento,
presenciar o sofrimento da Hope e da Kennedy me fazia guardar a sete
chaves o meu trauma. Não queria as ferir com as minhas dores. Amber foi a
única com quem compartilhei e a responsável por me ajudar. Casar
obrigado é um gatilho, fico nervoso e ansioso por saber que teremos de
transar para cumprir uma obrigação, ao invés de ser escolha de ambos.
A mera ideia de forçar Josephine a se deitar comigo me faz fraquejar
e desistir do casamento. Josephine deixava claro seus sentimentos de
rejeição, estou me preparando mentalmente para o nosso encontro. Antes de
casarmos preciso de um momento a sós com ela, quero deixar claro que ela
não será obrigada a transar comigo. Podemos viver como marido e mulher
somente de aparências.
Eu morreria antes de tocá-la contra sua vontade.
— Desculpe se te pressionei pelo casamento — ele confessou. —
Nossa família tem exigido a sucessão e eu precisava que você tomasse uma
atitude.
— Eu sei. — Encarei-o sem mágoas. — Josephine Lucian é a
melhor opção, após a verdade exposta percebi que ela não era um demônio
e me arrependo de como a tratei.
— A garota Lucian — sacudiu a cabeça com pesar — eu sempre
desconfiei de que o Louis era um filho da puta com a família, assim como o
Andrew — se referiu ao pai do Michael — mas não imaginei que a Rebeca
fosse a fonte de todas as brigas e confusões causadas pela Josephine. A
moça nos surpreendeu por ter aguentado a irmã psicopata. Seja um bom
marido, ela merece.
— Serei.
— Estão prontos? — Steve, meu irmão mais novo, entrou no quarto.
— Sim — respondi.
— Minha esposa já desceu?
— A mãe está eufórica na sala, não para de falar que eu devo me
casar. — Revirou os olhos. — Black seja bom comigo e me deixe escolher
minha esposa quando eu estiver pronto para o compromisso.
— Eu deveria te casar no dia seguinte do meu casamento.
Steve era um galinha, ele respeitava as mulheres da organização e
nunca se envolveu com elas. Mas as moças de fora da nossa sociedade eram
seu alvo todos os dias. Partindo corações por onde passava. Invejava meu
irmão por sua vida sexual, ele não tinha defeitos como eu, se envolvia sem
compromisso, transava sem medo.
— Deus me livre — respondeu saindo.
— Ele vai dar trabalho — meu pai disse me acompanhando para o
corredor. — Ainda bem que não é mais minha responsabilidade organizar
casamentos.
— Muito bem, Bartolomeu, jogando a bomba no meu colo —
ironizei, ganhando um arquear astuto de sua sobrancelha.
— Você está lindo! — a doce voz da minha mãe soou na sala.
— A senhora também. — Abracei-a apertado, nunca cansava de
receber seu carinho.
— Obrigada, meu menino — respondeu me analisando.
Minha mãe era baixinha, pintou recentemente os cabelos de loiro e
cortou na altura do ombro rejuvenescendo uns 10 anos. Ela tinha pequenas
marcas de expressão no canto dos olhos castanho-claros com um leve tom
amarelo, a pele esticada sem nunca ter feito uma plástica, cuidava do corpo
e da mente. Após iniciar a terapia com uma profissional especializada em
abuso sexual e percebido como a Hope era feliz em seu casamento com o
Michael, a Kennedy ganhou mais vida. Nunca a vi com tamanha
jovialidade.
— Estou ansiosa para rever a Josephine — comentou animada. — A
última vez que a vi foi no casamento do Kai e da Daisha, ela te olhava cheia
de amor. Tenho certeza de que o casamento de vocês será repleto de
felicidade.
Omiti que a Josephine perdeu a ilusão comigo e que a última coisa
que ela queria era ser minha esposa. Precisava acertar os ponteiros com a
Josephine para podermos viver em paz.
— Podemos ir — eu disse a todos.
Entramos nos carros e em poucos minutos chegamos à casa dos
Lucian. Fomos recebidos pela governanta, que nos guiava para a sala de
estar. Daisha estava sentada no sofá ao lado do Kai. Ele se ergueu para nos
receber.
— Bem-vindos. — Apertou minha mão.
— Obrigado — respondi ao cumprimento.
Estávamos em uma reunião oficial da organização. Eu não era o
Black e ele não era o Kai. Interpretávamos nossos papéis como Subchefe e
futuro Capo. Reunidos para um pedido de noivado e união de duas famílias.
— Minha irmã descerá em breve, podem sentar. — Apontava para a
sala. — Senhora Bonnarro, continua deslumbrante — cumprimentou minha
mãe, ela ficou toda feliz pelo elogio. — Bom te ver, Bonnarro — se referia
ao meu pai.
— É um prazer, Lucian — Bartolomeu respondeu.
— Sempre galanteador — minha mãe disse. — Lamento pelo
acidente, como vocês têm passado?
— Estamos nos recuperando bem. — Apontou para a Daisha. —
Minha esposa adoraria falar com a senhora.
— Cada dia mais linda! Senhora Lucian. — Kennedy se aproximou
da Daisha.
— Obrigada, senhora Bonnarro, espero envelhecer e me tornar mais
jovem como a senhora.
— Querida, não tenho dúvidas de que conseguirá isso. — Sentou ao
lado da Daisha.
— Aceitam uma bebida? — Kai perguntou.
— Sim — respondi.
— Traga sua melhor bebida — Steve pediu. — Precisamos
comemorar a noite de hoje.
— Você tem razão — Bartolomeu respondeu.
Com um sinal de mão Kai indicou à governanta que podia servir a
bebida.
— Para a ocasião especial tomaremos meu whisky The Emerald Isle
Collection, um destilado premium envelhecido por 30 anos — Kai se
gabava, ele foi o vencedor do leilão que aconteceu há uns anos.
— Um homem de bom gosto — Bartolomeu disse apreciando a
bebida.
O som de saltos chamou minha atenção, voltei-me para a escada
vendo a Josephine descendo os degraus vagarosamente. Ela usava um
vestido preto brilhante de tecido grosso, um decote aberto mostrando um
pouco do busto mediano, mangas curtas cobrindo os ombros, um colar de
diamantes pesado no pescoço. O cabelo penteado para o lado caindo em um
ombro, um brinco enfeitando a orelha chamando a atenção para o pescoço
altivo.
A maquiagem leve destacando a beleza de seu rosto, lábios rosados
e preenchidos, queixo afilado como o de uma princesa, olhar firme na
minha direção. Ela não demonstrava o usual desprezo que passou a me
encarar nos últimos tempos. Algo em Josephine estava diferente, parecia
mais leve, decidida em cada um de seus passos. Parou na minha frente,
erguendo o queixo me encarando nos olhos.
— Boa noite, Black Bonnarro — cumprimentou-me com elegância.
O timbre grave trouxe arrepios à minha nuca.
Josephine estava linda, demonstrando confiança em cada uma de
suas ações, em nada se parecia com a mulher que um dia conheci. Engoli
em seco sentindo o baque de sua presença poderosa.
— Boa noite, Josephine Lucian — respondi ao cumprimento
soprando contra seu rosto.
Foi inusitado como ela me fez sentir. Existia algo de selvagem em
seu olhar que me fazia querer provar de suas garras.
— Você está deslumbrante — elogiei.
— Obrigada. — Piscou as pálpebras lentamente. — Você também
está bonito. — As palavras deixavam seus lábios com graciosidade. — É
um prazer recebê-lo em minha casa.
Josephine nunca agiu com tamanha polidez, ergui a sobrancelha
estranhando seu jeito. O sorriso no canto dos lábios cor de pêssego
denunciou a sua armadilha. Josephine jogava comigo, perceber suas
intenções trazia um deleite ao meu peito, a vontade de retribuir a sua deixa
e ver onde seríamos levados me cutucava.
— Como foi sua semana? — O timbre soou sensual e casual.
A sedução se tornava uma ferramenta importante para ser um bom
líder para administrar os cassinos de Las Vegas. Eu lidava diariamente com
os mais diferentes tipos de pessoas, homens e mulheres, precisava saber o
timbre correto para usar com cada um deles. Seduzia com uma proposta
irrecusável, nunca fiz sexo como um caminho para conseguir um bom
acordo, não conseguiria, mas dominei com maestria a arte da sedução.
— Muito animada, fiz uma coisa maravilhosa ontem. — Sorriu
como uma diaba deslizando o fio de cabelo para trás da orelha.
— Gostaria de me contar?
— Não. — Franziu os lábios em um bico escondendo seus segredos.
— Uma pena, adoraria saber o que você esconde por trás desses
olhos felinos — respondi me aproximando, roubando seu ar com o
magnetismo da minha presença. — Tenho a intuição de que foi uma coisa
que me deixaria irritado.
— Depende. — Ergueu a sobrancelha, esticando o pescoço.
Inspirava seu cheiro doce de orquídeas. — Você sente ciúmes de mim,
Black? — Suas mãos deslizaram lentamente pelo meu paletó aproximando
a boca da minha.
— Você será minha noiva. — Arredei a mão em seu pescoço macio,
trazendo mais de seu aroma para mim. — Eu mataria qualquer um que te
tocasse — avisei.
Nunca senti ciúmes ao ponto de querer esganar uma pessoa. Mas as
feições provocantes da Josephine, o jogo iniciado ao descer as escadas, as
palavras afiadas como navalhas, a indiferença com um toque de sedução
estavam me causando sensações desconhecidas. Um pequeno gosto amargo
na língua querendo saber a verdade por trás de suas palavras e a raiva ao
imaginar outro a tocando me atingiu repentinamente.
— É melhor eu guardar para mim o que fiz ontem — sorriu perversa
— não quero causar uma morte.
Josephine deu um passo para trás afastando o corpo do meu, me
deixando com uma dúvida na cabeça. Ela ficou com alguém?
O sorriso triunfante em seus lábios perversos a acompanhou ao falar
com meus familiares. Busquei pelo Kai, sentado ao lado da esposa ele me
encarou enigmático. Com um aceno de cabeça vou para o canto da sala
esperando pela sua presença.
— Josephine se envolveu com algum homem? — perguntei sem
esperar ele abrir a boca.
— Como assim? — Assustou-se.
— Ela deu a entender que eu teria ciúmes e mataria alguém por tê-la
tocado ontem à noite. — Aproximei-me do Kai, sentindo a porra do ciúme.
— Não acredito. — Ele levou a mão ao queixo dramático. — Você
está com ciúmes da Josephine — bate as palmas — porra, Black. Eu achava
que o inferno congelaria antes de saber que você é possessivo com a minha
irmã.
— Não estou com ciúmes, somente defendendo a minha honra. Fui
fiel a sua irmã a partir do segundo em que assinei o contrato, esperava o
mesmo dela. — Puxei a ponta do paletó controlando minhas emoções.
Nem eu consegui entender o que diabos estava acontecendo comigo.
Durante o meu relacionamento com a Amber eu não tive uma única
crise de ciúmes e ela não me provocava com insinuações como a Josephine
acabou de fazer. Admiti que fiquei impactado com o peso da sua beleza,
visualizei Josephine com um ar independente, segura de si, balançou
minhas estruturas.
Acostumei-me a lidar com a garota desesperada por atenção, em que
os olhos brilhavam querendo afeto. Depois com a raiva queimando em suas
feições desejando que eu ficasse o mais longe possível. Há poucos
segundos descobri uma nova faceta de Josephine Lucian, confiante,
independente e elegantemente sexy.
Flertando sem medo das consequências, segura de suas palavras e
enigmática, ela não me provocava, Josephine jogava esperando para ser
rebatida à altura, saindo triunfante ao perceber que eu perdia. Não estava
preparado para essa Josephine e o que ela me fazia sentir.
— Minha irmã só foi para a faculdade e ficou em casa o dia todo, se
ela ficou com alguém eu não vi. — Kai me tirou dos pensamentos. Seu jeito
leve de falar me deu um indicativo de que não mentia.
— Os seguranças não falaram nada? — insisti.
— Tem um cara na faculdade louco pela Josephine, você não se
sentiria ameaçado por um moleque, certo? — O deboche em suas palavras
me fazia borbulhar de raiva.
— Não quero o bostinha perto dela — decretei, preferindo não o
responder.
— Ah, Black, você já deveria saber, Josephine é uma força da
natureza, ninguém é capaz de a controlar. Se ela quiser fazer algo, fará.
Cabe a você prender o interesse dela o suficiente. — Encarou a irmã
divertido. — E pelo que percebo no momento, ela não se importa nem um
pouco contigo.
— Você está adorando isso. — Apertei o punho, tive de recuperar o
controle do corpo, não fazia o menor sentido as emoções que estava
sentindo.
— Pra cacete — respondeu risonho. — Minha irmã vai fazer você
comer na mão dela, como um cachorrinho.
— Vai se foder.
— Mais tarde, pretendo aproveitar bem o show. — Ergueu a lapela
do paletó. — Podemos ir jantar — falou um pouco alto chamando a atenção
dos convidados.
Josephine sorriu conversando com a minha mãe, tranquila. Os olhos
afiados encontraram os meus contendo mil segredos. Aconteceu alguma
coisa que eu não sei e isso estava me deixando louco.
Peguei meu copo de whisky virando a bebida, rasgando a garganta
pelo álcool concentrado. Inspirei fundo recuperando o controle dos meus
nervos. Josephine nunca conseguiu mexer comigo, antes eu a queria longe,
depois da verdade revelada quis a proteger e proporcionar felicidade em seu
mundo sofrido.
Mas hoje despertou o meu desejo.
Nem mesmo a Amber foi capaz de fazer isso quando começamos a
namorar. Talvez eu não esteja tão quebrado quanto pensava. Minha reação a
Josephine é um bom sinal. Não estou me forçando a ficar excitado para
transar, provando algo. Não tinha cogitado a possibilidade de fazer sexo
com ela ou beijar seus lábios de pêssego.
Josephine mexeu com a minha alma, atiçando uma vontade latente
de experimentar mais de sua sedução, iniciar um novo jogo e ser capaz de
vencer. Não serei pego desprevenido novamente.
Sentamos na sala de jantar dos Lucian, minha família de frente para
a dele, com o Kai na ponta da mesa, representando o chefe daquela casa.
Josephine sorriu para o meu irmão ao meu lado e uma veia estourou na
minha cabeça ao ver o Steve piscando para ela.
— O que você está fazendo? — perguntei a ele.
— Nada de mais — soou maroto. — Josephine é uma mulher
interessante, você deu sorte.
— Steve — rosnei.
— Calma, Black. — Ergueu as mãos. — Nunca disputei mulher com
você, não vou iniciar agora. Eu gostei da minha cunhada e nada além disso.
— Estou de olho em você.
— Diga uma novidade. — Deu de ombros.
Virei o rosto encarando a diaba à minha frente. Josephine levou o
garfo à boca envolvendo a língua seduzente no talher, fechando os lábios
lentamente, pressionou as pálpebras em deleite ao puxar o garfo e mastigar
delicadamente a comida.
A excitação desceu forte batendo no meu pau, imaginando outra
coisa em sua boca sendo chupada com tamanha devoção.
— Como tem sido fazer faculdade, Josephine? — minha mãe
perguntou.
O ar da diaba mudou drasticamente ao encarar minha mãe sorrindo
feliz. Elas começaram uma conversa sobre os estudos, Daisha contribuindo
ocasionalmente. O frenesi no meu peito permanecia me incomodando, tinha
algo de errado, de estranho acontecendo comigo.
Após o jantar nos reunimos novamente na sala, chegou o momento
do pedido. Josephine estava sentada ao lado do irmão. Levantei-me indo a
ela, segurei sua mão macia a tocando pela segunda vez na noite, ansioso
para provar de seus lábios. Eles seriam doces ou repletos de veneno?
— Josephine Lucian.
A voz reverberou pela sala, capturando sua atenção. Pude notar o
nervosismo aparecendo pela primeira vez em seu rosto, perdendo a pose
confiante. Ela não estava acostumada a sustentar a personalidade recém-
descoberta, precisava me preparar para lidar com Josephine quando ela
conseguir dominar seu lado seduzente.
— Sim?
Fiquei de joelhos na sua frente, mostrando o anel dentro da caixinha
de veludo, o peito dela começou a subir e descer rápido denunciando o
nervosismo. Sorri de canto de lábio adorando fazê-la perder as estruturas
após passar a noite perturbado por suas provocações.
— Você aceita se casar comigo?
Os lábios de pêssego se separaram lentamente, ouvi um pequeno
assobio pela força que ela puxou o ar para os pulmões. Os dedos envoltos
por minha mão ficaram frios, suava nervosa.
— Aceito — respondeu sem vacilar.
Desviei a atenção de seus olhos repletos de vida para a mão.
Coloquei o anel de ouro branco com um diamante em formato de lágrima
no seu dedo, baixei a boca beijando a pele macia sentindo ela puxar a mão
de leve ao se arrepiar. Ergui o corpo a trazendo comigo, envolvi sua cintura
com uma mão, a outra deslizei delicadamente para o seu pescoço.
Ela apertou o canto das pálpebras felina, a respiração continuava
acelerada marcada pelo tesão envolvendo nossos corpos. Desci lentamente
contra seu rosto, deslizei o nariz no seu, ouvi o pequeno assobio novamente.
As mãos envolveram meus ombros buscando apoio, joguei uma lufada de ar
em seus lábios. Ela piscou surpresa, fechou as pálpebras delicadamente
esperando pelo meu beijo.
Josephine desceu as escadas como uma leoa pronta para o ataque.
Mas nesse segundo era eu quem a dominava e gostei pra cacete da sensação
poderosa explodindo como dinamite no meu peito.
Encostei os lábios nos seus, macios, doces. Ela me deu passagem e
enfiei a língua tocando o céu de sua boca. Com agilidade Josephine
dominou o beijo puxando minha língua contra a sua mostrando que sabia o
que estava fazendo. As respostas para as minhas perguntas estouraram na
minha cara. Josephine Lucian ficou com alguém antes de mim.
Eu mataria o desgraçado por roubar seu primeiro beijo.
Ela parecia pressentir o que eu pensava, puxou os fios da minha
nuca, enfiou a língua com selvageria na minha boca. Respondi à altura
acordando do torpor e dominando o beijo. Apertei seu corpo contra o meu,
envolvendo sua cintura, a fazendo ficar na ponta dos pés. Deslizei a mão
entre seus fios na nuca erguendo seu rosto.
Não importava quem ela tinha beijado antes, vou apagar os rastros
do desgraçado.
Finalizamos o beijo sem fôlego, afoitos pelos toques desesperados.
De tudo que poderia acontecer essa noite eu nunca imaginei que devoraria
Josephine Lucian, me enchendo de ciúmes e com a certeza irrevogável que
eu queria fazer Josephine a minha mulher, não somente uma esposa por
contrato.
O maldito beijava bem.
De todas as fantasias criadas pela minha mente ao longo dos anos,
imaginei como seria o beijo do Black. Delicado? Selvagem? Ou uma
mistura perigosa de ambos. Não estava preparada para a força de sua língua
dominando a minha, ditando como deveríamos nos lamber. A mão firme
enrolada na minha nuca, cativa de sua pegada bruta. A outra espalmada na
cintura puxando contra si.
Eu queria mostrar quem mandava, mas perdi a batalha ao denunciar
minhas habilidades. O Black dominava, envolvia, roubava meus sentidos.
Diferente do Drake que era delicado, doce, compartilhando o comando. Eu
ansiei ser devorada pelo Black.
Capturei a atenção do Black a noite toda, poderosa e sexy na minha
nova versão. Gostei das vezes em que o flagrei me encarando com os lábios
travados, os olhos selvagens desejando mais do que poderia pegar. Black
sabe da minha recusa em ser sua mulher, aceitei o noivado, mas não
mudava como me sentia. Contudo, o joguinho de sedução me envolveu
como um vício, desafiando para qual seria o próximo passo, ansiando o
fazer se curvar a mim.
Black Bonnarro me rejeitou por anos, estava decidida a fazê-lo se
rastejar enlouquecido para receber as migalhas da minha atenção. Não é
vingança, somente um pouco de satisfação pessoal. Vou provar ao Black e a
mim mesma, que eu era uma mulher sedutora, capaz de enlouquecer o
homem da minha escolha.
Fiz ontem com o Drake e hoje com o Black.
Os pulmões queimavam precisando de ar, separei os lábios do Black
encarando a mescla verde em suas íris banhadas pela excitação. Sorri
mordendo meu lábio, o Black é alto, mas de salto ficava próxima de sua
altura. Envolvi a mão em seu pescoço, deslizei o polegar pelo queixo
marcado com a barba rala. Arrastei o dedo da curva de seu lábio grosso.
— A baba está escorrendo — murmurei, me afastando de queixo
erguido.
— Parabéns, queridos! — Kennedy comemorou. — Será um prazer
enorme tê-la na minha família. — Puxou meu ombro me fazendo curvar
para a abraçar.
Kennedy conseguia ser mais baixa que a Hope. Ela tinha o corpo
pequeno e um sorriso caloroso. Sua presença me agradava. O abraço me
envolveu como uma manta quentinha, eu podia sentir tudo. A gentileza, a
aceitação e a vontade para me receber em seu lar. Os irmãos Bonnarro são
sortudos pela mãe carinhosa que eles possuíam.
— Eu agradeço a gentileza. — Recuperei as emoções afogueadas
pelo beijo safado do Black.
— Vou te ajudar com todo o processo de organização do casamento.
— Agarrou minha mão, sorrindo gentil. — Estou animada! Faz quase três
anos desde a festa da Hope, precisamos nos apressar para em 3 semanas
termos a cerimônia perfeita! Você já pensou em algo que gostaria?
— O período de provas se inicia na próxima semana, não consigo
pensar em nada além disso. — Contive o sorriso, a animação da Kennedy
me agitava.
— Você me lembra a Hope, antes das provas — sorriu saudosa —
ela se trancava no quarto esquecendo de comer. Sou grata pelo Michael tirar
o mau hábito da minha menina.
Ela tinha amor em cada uma de suas palavras ao se referir a filha.
Como será que foi para a Hope crescer cercada por uma família amorosa
como os Bonnarro? Talvez ela soubesse a sorte que a envolveu, Hope
amava os irmãos e os pais, sempre fazendo de tudo por eles, falando com
saudades e os recebendo na mansão com sorrisos calorosos.
Eu queria possuir a sorte da Hope de crescer em um lar repleto de
amor. Cercada por pessoas como os Bonnarro. Analiso a sala percebendo os
sorrisos alegres e os olhares gentis dos homens ao me encarar. Bartolomeu
ergueu o copo me cumprimentando, Steve piscou um olho, eu sabia que ele
irritava o irmão e fazia o pequeno flerte na brincadeira. O laço entre eles
não se abalaria por coisas simples ou provocações. Era uma família
amorosa, me recebendo de braços abertos.
— Precisará ficar de olho na Josephine. — A voz do Kai me
resgatou dos pensamentos. Meu irmão acariciou gentilmente meu ombro.
— Ela foca muito nos estudos, mas quando se perde em uma leitura
esquece do mundo.
— Oh céus! — Kennedy ergueu a mão tocando a bochecha. —
Ficarei de olho nela, mais uma viciada em leitura na família.
— Quem é o outro? — indaguei curiosa.
— Eu! — Agarrou minha mão. — Você vai amar a biblioteca da
nossa casa, não tem somente livros chatos sobre economia, filosofia e
história. Prateleiras enormes cobertas dos melhores romances, de ação,
aventura e terror, tudo que você imaginar.
Meus olhos brilharam contemplando a cena.
Eu e Kennedy perdidas na biblioteca lendo um livro, conversando,
aproveitando a companhia uma da outra. Meu coração se enchia de amor
visualizando uma nova perspectiva sobre meu casamento. Casar com o
Black, me fazia ganhar como presente a sua mãe. Pela primeira vez na noite
eu fiquei bastante animada com a minha união.
— Vai ser o paraíso. — Sorri apertando sua palma.
— Estou animada, mas primeiro me fale seus horários para
combinarmos a organização do casamento.
— Não esqueça de incluir a Emily — Daisha comentou do sofá, o
sorriso em sua face denunciava que ela percebeu o que eu pensava.
— A senhora Griffin é ótima organizando eventos, aprendeu tudo
com a Hannah Bianchi — Kennedy adquiriu um olhar saudoso ao falar da
antiga líder.
— Você a conhecia bem? — Kai perguntou.
— Sim, Hannah sempre foi uma líder nata, elegante, firme e gentil.
Depois de uns anos a seguindo precisei me afastar das reuniões de senhoras.
A Hannah sempre me ligava, conversava e me mantinha a par das decisões
tomadas para que eu pudesse liderar as senhoras Bonnarro. — Ela me
encarou, as feições se iluminando. — Confesso que estou animada em
passar o cargo para você. Preciso de uma folga.
— Fico nervosa, será que gostarão de mim?
— Com certeza. — Apertou meu ombro. — Você terá todo o meu
apoio e ser amiga próxima de Hope Bianchi te abrirá portas!
— Hope é uma líder impressionante — comentei, adoro como a
Hope soube se impor em Nova Iorque, quebrando paradigmas e fazendo o
que desejava.
— Josephine colocará o terror em Las Vegas — Kai brincou, rindo
em seguida.
— Assim espero — Kennedy disse.
— Boa noite — a voz grave de Bartolomeu se anunciou ficando ao
lado da esposa. — Estou feliz por recebê-la em minha família, Josephine.
— Obrigada, senhor Bonnarro.
— Teremos outra mulher em casa. — Steve se aproximou
sorridente. — Estou com saudades da companhia feminina.
— Não moraremos com vocês, teremos a nossa casa — Black
informou.
Encarei a Daisha sentada no sofá próxima a mim, ela arqueou a
sobrancelha em um diálogo silencioso me dizia perceber o tom ciumento do
Black.
— Nada impede de um chá da tarde conversando abertamente. —
Steve provocava o Black, um pequeno riso escapou por entre meus lábios.
Steve arqueou a sobrancelha sugestivo, eu tinha um aliado poderoso se
quisesse irritar o Black.
— Adoro chá da tarde — indaguei, adorando o olhar felino do
Black.
— Eu também — comentou Kennedy. — A cada segundo fico mais
animada para a união de nossas famílias. — Apertou a mão do Steve. —
Somente meu menino me acompanha — encarou Black e Bartolomeu — os
dois vivem ocupados para isso. — Notei a pequena irritação em seu tom.
— Terei tempo para beber todas as xícaras de chá que você quiser,
querida. — Bartolomeu encarou a esposa explodindo amor nas feições. —
Com o Black assumindo minha posição e o Steve a do Black, poderei ficar
à toa. — Usou de um tom informal fazendo todos rirem.
Bartolomeu e Black eram parecidos fisicamente, olhos verdes,
cabelo castanho-claro e a expressão centrada, altos e de postura elegante.
Steve era uma mistura do pai e da mãe, cabelos castanho-claros, carregava
os olhos castanhos da mãe mesclado ao verde do Bartolomeu. Dependendo
de como a luz incidisse sobre sua face, a tonalidade mudava clareando para
o amarelo ou escurecendo ao verde.
— Um Capo falando de ficar à toa, o Michael está pegando leve
com você — Kai comentou bem-humorado.
— Vantagens de ser o sogro do Chefe e me aliar ao Subchefe. —
Existia respeito na voz do Bartolomeu, ele admirava meu irmão.
— Não te darei folga, vai trabalhar mais do que antes — Black
brincou, provocando o pai.
— Péssimo filho que criei — respondeu fazendo um pequeno “tsc”
com a boca.
— Existem motivos para eu ser o favorito — Steve completou
arrancando risos dos presentes.
Comecei a ficar ansiosa para o casamento, imaginando que terei a
companhia dessa família todos os dias. Vou fazer parte de um lar amoroso,
em que as pessoas podem brincar e se divertir sem medo. Encarei meu
irmão percebendo a felicidade em sua face. Ele parecia aliviado por ver que
me divertia, sorri para ele indicando estar feliz pela sua escolha.
A noite seguiu entre conversas e brincadeiras, mal nos damos conta
da hora, somente quando Daisha começou a sentir dores pelas longas horas
sentada que encerramos a conversa. Kai e eu acompanhamos os convidados
para a porta, Black parou na soleira me encarando ansioso, querendo falar
algo.
— Aceita jantar comigo amanhã?
— Sim.
— Te busco às 20 horas. — Acenou em positivo indo embora.
— Então… — Kai pôs a mão no meu ombro ao entrarmos. — O que
foi aquele beijo? — a implicância na sua face divertida.
— Você não sabe o que é um beijo?
— Sei fazer muito mais do que beijar — provocou, revirei os olhos
enjoada. — Você e o Black estavam brigando para ver quem devorava o
outro, achei que não gostasse mais dele.
— Não gosto — disse rápida — mas não serei besta de me privar
dos prazeres sexuais — admiti com o rosto em chamas. — Um casamento
inclui a união da vida de duas pessoas e o avanço na intimidade.
— Você pode conseguir tudo o que quiser. — Beijou minha testa. —
Faça somente o que tem vontade, Black te respeitará, independente do que
você escolher.
— Está dizendo que ele não faria sexo comigo, caso eu o recusasse?
— Franzi a testa. — E a tradição dos lençóis? Kennedy e Daisha ainda
teriam de anunciar que transamos.
— Eu tenho certeza de que a minha esposa mentiria pela amiga e a
Kennedy nunca faria nada para manchar a honra de sua família.
As palavras do Kai mexeram com a minha cabeça, estava
convencida de que o sexo com o Black era algo inevitável. A possibilidade
de poder evitar relações sexuais com ele me incomoda, eu sempre sonhei
em viver um amor como nos livros, ser envolta pela paixão ardente e fazer
sexo suado, delirar atingindo o ápice do meu prazer.
Ser a esposa do Black me daria a cobertura perfeita para fazer sexo
com ele sem precisar gostar dele. Somente a união carnal entre duas pessoas
casadas, não sei se abriria mão do direito ao meu prazer. Tiraria do meu
casamento tudo que eu puder, exercer sem reservas os meus direitos
femininos, não necessitava estar apaixonada ou demonstrar sentimentos
para isso.
Black teve uma vida com outra mulher, a amou na cama, foi gentil
com ela, apreciou os momentos juntos. Existia a chance dele nunca me
tocar com paixão, mas ao menos a luxúria eu teria dele, hoje seu olhar em
chamas me encarando me deu um indicativo de que pela primeira vez Black
Bonnarro me desejou.
Vou extrair tudo que eu puder da nossa relação, satisfazer as minhas
necessidades mantendo meu coração a salvo.
— Obrigada pela dica. — Abracei meu irmão.
— Kai! — Daisha chamou da sala: — Preciso me deitar, querido.
— Estou indo. — Beijou minha cabeça seguindo para a esposa.
Acenei para a Daisha das escadas e subi para o meu quarto, entrei no
banheiro. Retirei o vestido e passei meia hora encarando as cicatrizes no
meu corpo, de frente ao espelho acariciei minha cintura, coxas e seios.
Nunca me toquei intimamente, apesar de sentir desejo e excitação, muitas
vezes provocado pelas cenas eróticas lidas nos livros, eu me continha, não
conseguia me tocar na casa dos meus genitores, o ar pesado sempre findava
a excitação.
Encarei meu reflexo no espelho. Recordei do olhar quente do Black,
dos lábios dominantes, febril, puxando minha língua para o seu controle.
Deslizei o polegar na boca recobrando as sensações pinicantes mescladas ao
delicioso sabor vindo dele. Os dedos deslizaram pela fenda entre minhas
pernas, sentindo a intimidade molhada.
Timidamente acariciei o centro da minha vagina, recordando de
como as personagens descreviam os movimentos circulares, imitando,
captando as pequenas ondas nervosas escapando do meu ventre para o resto
do corpo. Apertei o mamilo marrom-claro entre os dedos puxando
delicadamente, adorei a arremetida provocada no meu interior. Os dedos
deslizavam com mais facilidade, minhas feições começavam a contrair, um
pequeno gemido deixando a boca.
Deslizei com mais força, apertando o clitóris inchado, controlando
os movimentos. Imagens da boca quente tomando a minha dominaram a
mente enervada por uma nuvem deliciosa de prazer. Apoiei o quadril na
bancada da pia, eu tinha cicatrizes horríveis, mas existia um quadril
redondo, seios empinados com mamilos duros apontados para a frente.
Havia uma fenda atraente entre minhas coxas, meus dedos melados
pelo meu creme espalhando sensações poderosas, tremores tomaram as
minhas pernas, apoiei a mão livre na pia. Os olhos negros me encaravam
repletos de luxúria, os cabelos negros caindo sobre a face, grudando em
meu pescoço altivo. A lembrança da força da mão do Black puxando minha
nuca, a pegada firme, o peitoral esmagando meu corpo, friccionando contra
meus peitos excitados.
Eu queria mais daquela pegada bruta, sentir o prazer que ele poderia
arrancar de mim. Gemi encolhendo o tronco, girando os dedos rapidamente,
escapando do meu centro, batendo contra minha intimidade afoitos. Arfei,
fixei o olhar no espelho explodindo na minha mão, sem conseguir respirar,
captei as chamas deixando meus poros. Bati a cabeça na pia recuperando a
consciência após o orgasmo.
Maldito Black por invadir meus pensamentos durante a minha
primeira masturbação, me acendia para sentir seu toque firme em meu
corpo. Eu rejeitaria toda a aproximação emocional que ele tentasse, não
existia espaço no meu coração para o Black. Mas usaria seu corpo para
atingir novos patamares de excitação, não passaria vontade.
A nova Josephine consistia em tomar para si tudo que ela quisesse,
enquanto protegeria seu coração, não se deixando magoar novamente.

Às 20 horas a campainha tocou e o Black esperava por mim usando


uma camisa preta por debaixo do blazer bege e calça caqui da mesma cor.
Fechei a porta nas minhas costas, optei por um vestido longo com um
decote simples no busto, alças grossas escondendo as cicatrizes nas costas e
o cabelo preso no alto da cabeça.
— Você está linda — elogiou.
— Obrigada. — Não retribuí o cumprimento, nunca mais daria
poder ao Black das minhas emoções.
— Podemos ir. — Estendeu o braço para o segurar.
Ignorei descendo os poucos degraus. Entrei no carro, Black sentou
ao meu lado, o motorista e o segurança na frente. Encarei a paisagem ao
redor, admirando as luzes da cidade refletidas nos prédios de vidro. Nova
Iorque é linda, exalando possibilidades, o clima frio não afugentava as
pessoas de estarem na rua se divertindo.
— Em Las Vegas faz frio? — perguntei sem o encarar.
— Talvez você tenha dificuldade para se acostumar com o verão
escaldante, o inverno é fresco. Durante o ano é normal tempo seco e céu
sem nuvens, não esqueça o protetor solar ou terá insolação. Diferente de
Nova Iorque com as estações bem divididas.
— Entendi. — Encerrei o assunto.
Eu possuía medo de me estender nas conversas com o Black, perder
o controle e demonstrar euforia o afastando novamente. Uma pontada
perturbava meu peito ao imaginar que ele não se continha com a ex
namorada, conversando abertamente com ela. Como ela se sentia sabendo
possuir a atenção do Black? Não mendigar por esmolas de carinho? Encarei
as feições fixas em mim, ele sentia falta dela? Se ressentia a mim pelo
casamento e deles estarem separados?
— Tudo bem? — questionou, o timbre grave causando pequenos
arrepios nos meus pelos.
— Sim. — Virei encarando o lado de fora.
O carro estacionou, reconheci o restaurante. Um cinco estrelas
aberto há mais de 10 anos em Nova Iorque, o preferido das celebridades e
políticos. Nunca tinha vindo aqui, apenas ouvido as mulheres do Clube de
Senhoras da Máfia Bianchi comentando sobre o espetáculo do lugar.
Descemos do carro e Black segurou minha palma a colocando em
volta de seu cotovelo. Controlei a respiração e as batidas descompassadas
no meu peito. O maître nos recebeu com um sorriso no rosto guiando o
caminho entre a beleza do restaurante.
Luzes bruxuleantes envolviam o ambiente, pequenos abajures no
centro das mesas, encarei o teto adorando o efeito temático relembrando
estrelas. As janelas possuíam os vidros pintados com montanhas nevadas,
por um segundo me imaginei andando por Velaris.
Sentamos perto da janela, a luz amarelada envolvia as feições do
Black o deixando mais bonito, realçando a selvageria em suas íris de
quartzo.
— Como você se sente com o casamento? — questionou após
fazermos o pedido das bebidas.
— Acho que normal. — Dei de ombros.
— Precisamos conversar sobre algumas coisas antes da cerimônia,
amanhã partirei para o Texas e só voltarei próximo do casamento.
— O que deseja discutir?
— Primeiro, quero ser sincero com você. — Inspirou fundo. —
Relutei se deveria te confessar algumas coisas, vou seguir o conselho do
meu pai e espero que no final você seja capaz de me entender. Eu quero
conquistar o seu perdão, começarei sendo sincero.
— Pode falar.
Meu coração palpitava ansioso, ele teria coragem de falar sobre sua
ex? Enfiaria a estaca que faltava arrancando os pedaços frágeis do meu
coração ao confessar que desejava estar com ela ao invés de mim e que me
odiava por insistir no casamento o afastando de sua amada.
— Eu me ressentia a você por três motivos. — Encarava-me nos
olhos, firme em suas palavras. — Primeiro, por sua idade. Depois dos seus
17 anos passou a insistir em chamar a minha atenção, era desconfortável ser
alvo de uma menor. Você me cercava e não escondia a paixão em seus
olhos. Nossa diferença de idade é de 15 anos e mesmo hoje acredito que
estamos casando cedo. Você ainda tem muito para viver e não queria
atrapalhar.
— Estou casando atrasada para uma dama da Máfia. —
Envergonhava-me saber que o Black se sentia acuado devido à minha idade.
Nunca pensei ser errado buscar por ele quando era menor de idade.
— Eu sei — soprou — continuo não gostando de como as damas são
obrigadas a casarem cedo. É uma das coisas que pretendo mudar ao me
tornar Capo. Farei todos entenderem que as mulheres podiam ao menos
terminar a faculdade antes dos casamentos.
— É uma abordagem interessante. Qual o outro motivo?
— Eu sou protetor com a minha família e amigos como o Kai. —
Desviei a visão sabendo o que falaria. — Me irritava a relação destrutiva de
vocês. Sua rebeldia sempre surtia efeito no Kai, mesmo na época não
sabendo das agressões eu via o descontrole, a mágoa e o sofrimento do meu
amigo. Não compreendia os motivos para a sua rebeldia, te julguei por
enxergar somente a superfície, peço desculpas, novamente, por ser injusto
com você. Se eu tivesse te escutado, dado uma chance para se aproximar, as
coisas poderiam ter sido diferentes, quem sabe os abusos tivessem cessado.
— Não me orgulho de como agi no passado. — Puxei a ponta da
toalha da mesa. — Eu e meu irmão destruímos um ao outro. Não culpo o
Kai por falar mal de mim para os amigos, eu fazia o mesmo. Reconheço
que fiz a Daisha rejeitar meu irmão, assim como ele te fazia me rejeitar. —
Foco no Black. — Não vou mentir, Black. Ainda machuca como você me
tratava, não será fácil superar essa ferida.
— Posso não conseguir mudar o passado — capturou meus dedos
entre os seus — mas garanto que o futuro não será igual.
— Não sei se posso confiar em você. — Não existem garantias de
que não serei rejeitada quando ele sentir saudades da mulher que amou.
— Conquistarei sua confiança — apertou meus dedos — o terceiro
motivo é a minha lealdade, eu sou fiel, Josephine, a minha família, amigos,
a organização e principalmente a quem eu amo. — Engoli em seco,
pressentindo o que viria. — Eu tive um relacionamento amoroso, em
segredo da organização. Terminamos há um ano e enquanto eu estava com
ela não poderia te iludir nem mesmo com uma conversa amigável. Sabia
dos seus sentimentos e não seria justo te magoar ou dar abertura às suas
investidas sendo infiel a minha ex.
Pensei que ele nunca me contaria sobre ela, mas o fez. Imparcial,
não demonstrando os sentimentos, apertava meus dedos entre os seus. As
feições relaxavam, as sobrancelhas franziam levemente. Ele conseguia
sentir meu peito sendo apertado, comprimido pela caixa torácica?
Black admitiu que preferia me magoar a ser infiel a quem ele amava.
Eu nunca tive uma chance de ser a sua escolha, se não fosse o acordo de
casamento ele não terminaria com ela e permaneceria me rejeitando.
— No dia da luta do Kai — a lembrança nublou meus olhos
marejados — você estava com ela?
— Não, já tinha terminado com a Amber.
Existia carinho ao pronunciar o nome da mulher que ele escolheu
amar.
— Por que me tratou com frieza? Aquela altura o Kai e os outros
rapazes já estavam percebendo a verdade sobre mim e a Rebeca, você não
sabia?
— Estava ciente sobre a situação do Kai e desconfiava das atitudes
da Rebeca. Não entendia como ela e você continuavam a brigar, se ela sabia
que o Kai seria punido.
— Mas mesmo assim se manteve fechado para mim.
— Eu ainda processava o meu término, foi uma relação de muitos
anos, é impossível retirar uma pessoa da nossa vida sem sentir falta dela em
alguns momentos. Aquela noite nos divertimos, gostei da sua companhia e
de te ver animada torcendo pelo Kai. A dominação do Texas exigia a minha
atenção e eu sabia que te magoaria receber meu afeto naquela noite e depois
ficar sem notícias por dias. O máximo que poderíamos fazer era trocar
mensagens, essas que você nunca mandou.
— Eu começava a me desiludir — confessei.
Por que tudo que ele fazia existia um fundo de proteção? Me manter
longe devido à idade, me evitar por se manter fiel ao amigo. Rejeitar meus
sentimentos para proteger sua relação com a ex. Engoli em seco percebendo
que o Black sempre protegeu outras pessoas e a si, mas nunca a mim.
Doía mais constatar essa verdade do que o conhecimento sobre seu
amor passado.
— Você ainda a encontra? — questionei.
— Não muito, a última vez que nos vimos, eu fui com o Kai visitar a
mãe dela, doente com câncer estágio 4.
— Sinto muito. Por que está me contando sobre ela? — Encarei seus
olhos, o bolo na garganta prendia os sentimentos a segundos de desmoronar.
— Eu quero ser sincero com você, não a quero imaginando ou
criando teorias quando eu passar dias fora de casa pelo trabalho, achando
que existe outra pessoa. Eu terminei com ela e não nos encontraremos
novamente, não te culpo pelo fim do namoro, e não pretendo retornar a
relação, acabou. Eu sempre serei fiel somente a você, Josephine, não
existirá ninguém no meu presente, além de você. Casaremos em 3 semanas,
quero iniciar nossa relação com confiança e sinceridade. Você se ressente a
mim e eu não te culpo. Mas imploro, se existir a mínima possibilidade do
seu coração me perdoar, você poderia me dar uma chance?
A sinceridade nua e crua em suas expressões me quebrou. Estava
acostumada a encarar o desprezo no rosto do Black, sabia quando ele não
me queria por perto. E depois passei a perceber os momentos em que
suportava a minha presença ou levemente se divertia com algum
comentário. As nuances de Black Bonnarro sempre foram muitas ao longo
dos anos, mas ele jamais me olhou com arrependimento e carinho.
Inspirei fundo mordendo a bochecha, os quartzos em suas íris me
encaravam explodindo afago. Eu quase podia sentir a vontade que ele
estava de me pegar no colo, alisar meus cabelos, beijar minha face e abraçar
apertado expurgando os anos de sofrimento. A carência me fazia ceder,
vacilar, ansiar para receber as promessas gentis em suas feições.
Continuo magoada, triste e abalada pelas palavras ditas essa noite.
Black me oferecia a chance de cuidar do meu coração, de ser leal a mim e
me proteger. Fazer comigo o que só era destinado a outras pessoas. Encarei
meu colo, inspirei fundo, se eu vacilar agora estarei quebrando as
promessas feitas a mim mesma.
— O que eu posso te oferecer é um casamento tranquilo. — Encarei-
o, firme em minha escolha. — Não vou recusar uma amizade, no máximo é
o que terá de mim. Não se preocupe quanto ao sexo, eu quero aproveitar a
minha vida íntima, descobrir os prazeres do corpo, não tenho dúvidas de
que você será um bom amante e amigo. Mas não entregarei meu coração a
você, Black Bonnarro.
Algo estalou no Black. Um alívio estranho banhou seus olhos, talvez
por oferecer um meio-termo. Mas me parecia mais, ele crepitava, quase
como se curasse algo dentro de si.
— Sinto muito pelo tempo em que te magoei, mas não desistirei de
você, Josephine.
— Seja um bom marido e amante, não preciso mais do que isso. —
Tentei não passar emoções na voz, meio abalada pela determinação em sua
face.
— Você pode não precisar, mas merece. — Sorriu amigavelmente.
— Estou ansioso pelo nosso casamento.
Desconfiada o encarei, Black parecia esconder alguma coisa
profunda.
Vou me manter firme em minhas escolhas e fiel somente a mim.
Aproveitando o casamento, o sexo com deletei, mantendo meu coração a
salvo. Se algo der errado, não cairei em desespero ou terei o coração
partido.
Eu sou a minha prioridade e nunca mudarei minha escolha.
— Bom dia, minha linda. — Drake entrou pela porta da sala atrás de
mim.
— Bom dia, Drake — respondi com um sorriso.
— Mantenha distância — Eduardo, meu novo segurança enviado
pelo Black se colocou entre mim e o Drake.
— Relaxa. — Oliver segurou Eduardo, que tinha por volta de 43
anos, pelo peitoral o afastando discretamente.
— Quem é o babaca? — Drake perguntou encarando Eduardo.
— Não faço ideia. — Ergui os ombros seguindo para o meu lugar.
Drake no meu encalço.
— Estava pensando, gostaria de sair hoje? — Sentou animado.
— Tenho que te contar uma coisa. — Franzi a sobrancelha sabendo
que nossos encontros animados chegavam ao fim.
— Uau! — Ficou surpreso pelo anel no meu dedo. — Eu sabia que
sua família era muito rica, mas esse anel é um exagero de dinheiro.
Remexi os dedos analisando o diamante em formato de lágrima, eu
gostei do anel de noivado, delicado em ouro branco, combinou com a meu
bracelete, e o colar que ganhei da Hope. Talvez o Black o tenha escolhido
pensando nisso. Sacudi a cabeça retirando a imagem do meu noivo da
mente, ontem tivemos um jantar tranquilo após sua confissão e momentos
calmos me faziam pensar que eu e o Black poderemos ter uma boa
convivência, mas será somente isso.
Minha prioridade no casamento será proteger meu coração,
mantendo Black Bonnarro longe dele, não machucando meus sentimentos.
— Meu noivo me deu.
— Noivo? — Nervosismo assumiu sua voz e feições. — Mas sexta
estávamos dando uns amassos na sua casa e hoje você aparece noiva? Isso
não faz sentido!
— Na sexta eu ainda era uma mulher solteira e desimpedida, no
sábado fui pedida em casamento e aceitei.
— Você o ama?
— Não, mas isso não importa.
— Importa sim — agarrou minha mão — enquanto vocês não
casarem e você não o amar eu tenho uma chance. — Ergueu o queixo. —
Não vou desistir de você.
Sorri, gostando do Drake lutar por mim, mesmo sabendo que ele
perderia. Drake não tem chance contra o Black.
O celular vibrou dentro da bolsa, desviei a atenção do Drake
pegando o aparelho e vendo o nome do Black tocando na tela. Pouco antes
do casamento da Daisha e do Kai, Black e eu trocamos contato de telefone.
Estava dilacerada por dentro e tudo que importava era reconstruir meus
laços com o Kai.
Recordo da euforia ao enviar uma mensagem para o Black,
debochando do Kai, pelo seu romantismo com a Daisha. Não obtive
resposta, um tempo depois quando eu morava com meu irmão, o Black me
encontrou na cozinha e disse que estava indo para o Texas, se eu quisesse
poderia entrar em contato com ele. Eu quis me animar, aproveitar aquela
chance, mas me fechei. Trancada em minha alma machucada por descobrir
as torturas que meu irmão enfrentou por minha causa.
O brilho do Black começou a morrer pouco a pouco para mim, a
ilusão criada por minha mente adolescente sumindo, revelando a verdade e
mostrando como ele sempre me manteve distante. Após assinar o contrato
de casamento me destinou pequenos momentos de atenção. Estou cansada,
precisando de um tempo para mim mesma e por isso decidi que nunca mais
rastejaria pelo Black ou daria importância a ele.
Continuo emocionalmente abalada, os pesadelos não me davam paz.
Com o casamento se aproximando eu só queria descansar. Entrar em trégua
com o Black, não procurar por novas brigas, aproveitar a nova família que
farei parte e que ansiava pela minha presença.
Kennedy não parou um segundo de me enviar coisas sobre o
casamento, montou os preparativos da cerimônia em menos de 24 horas.
Steve adorava enviar mensagens engraçadinhas, principalmente
debochando do irmão. Aquelas pessoas me faziam sentir querida e
desejada, eu quero conviver com eles, descobrir um novo mundo e
experimentar mais do carinho da Kennedy.
Vou morrer de saudades do meu irmão, das meninas e da vida que
tenho em Nova Iorque. Contudo, não lamentava a minha partida, meu peito
queimava querendo esquecer as tragédias do passado e me permitir ser
feliz. Conviver com pessoas divertidas e que não me julgavam com o olhar.
Deslizei o dedo na tela atendendo a ligação.
— Oi — falei.
— Quem é o cara segurando a sua mão? — perguntou irritado.
— Meu colega de faculdade. — Encarei o Eduardo, na fileira da
frente, com certeza ele me dedurou.
— Solte ele agora, Josephine.
— Você não manda em mim — o professor entrou — tenho aula,
tchau. — Desliguei bufando.
Ele estava com ciúmes de mim? Impossível, Black jamais se
importaria comigo a esse ponto. Com certeza era a honra ferida ou o seu
senso de lealdade gritando que estou sendo infiel a ele por segurar a mão de
outro homem. Ele teve milhares de outras experiências com sua ex, eu
também tinha o direito de viver um pouco antes do casamento.
Não pretendia mais beijar o Drake ou fazer algo que fosse
considerado traição. Não sou assim e não o faria somente para provocar o
Black. De nada me interessou chamar sua atenção. Mas ele ligando e
mandando em mim fervia meu sangue. Agarrei a mão do Drake mostrando
ao Eduardo que não vou largar. Que se exploda o patrão dele.
— Topa sair comigo hoje à noite? — perguntou animado no final da
aula.
— As provas iniciam amanhã — reclamei. — Preciso estudar mais.
— Você vai gabaritar, é a mais inteligente da turma. — Passou o
braço ao redor dos meus ombros, seu cheiro forte invadindo meus sentidos.
— Não precisa me bajular. — Sorri divertida para ele.
Na entrada do bloco de aulas eu vi o carro preto estacionado, o
símbolo da Máfia Bianchi na lateral. Uma faca com o desenho de uma cruz
na lâmina envolta por uma flor. A porta abriu e em câmera lenta eu vi o
sapato italiano tocando o chão, a calça do terno aparecendo lentamente, ele
saindo de dentro do veículo usando um terno azul-marinho, a gravata cinza,
o pescoço com uma veia contraída, a barba bem aparada, os óculos escuros
camuflaram seu olhar queimando minha pele.
Engoli em seco, não imaginei que Black apareceria na minha
faculdade, achava que ele estava no Texas. Ao meu lado, Drake falava
calmamente descendo o braço pela minha coluna, agarrou minha cintura
aproximando os lábios. Entrei em pânico, se o Drake me beijar o Black
pode matar ele, não defendendo minha honra, mas protegendo a sua.
— Drake — murmurei pondo a mão em seu peito para me afastar.
— Tire suas mãos dela se não quiser morrer — a voz grossa
reverberou pelo meu corpo, sacudindo as terminações nervosas.
— Quem é você para me dar uma ordem? — Drake encarou o
Black, sem imaginar que via a morte na sua frente.
— Black! — rosnei irritada. — Não seja um idiota na minha
faculdade!
— É o seu noivo? — Drake perguntou se afastando.
— Sim — Black respondeu. — E se você for esperto nunca mais
tocará nela. — A mão grossa envolveu minha cintura me puxando com
força contra seu corpo. A ira vibrou dos músculos fortes me mantendo
cativa ao seu abraço, o cheiro de madeira como um maldito veneno para os
meus sentidos, a possessividade do Black despertou uma chama no meu
interior fazendo minha vagina se contorcer em excitação.
— Ela não é sua. — Drake começou, eu queria ser capaz de o
encarar, mas me via presa no rosto contraído em fúria do Black.
Black abriu um sorriso poderoso. Enviava contrações ao meu
interior, levou a mão livre ao rosto puxando os óculos. Os quartzos em suas
íris me encaravam em chamas. Enlouquecendo de ciúmes por saber que eu
estava sendo paquerada por outro homem. Não era ego ferido ou medo de
boatos sobre sua masculinidade, era ciúmes, nu e cru. A posse de que eu
fosse somente dele crepitando.
— Você é minha — rosnou puxando meu queixo para si — e se eu
pegar outro com as mãos em você o matarei na sua frente.
— Vá para o inferno — rebati.
— Podemos transar nele — respondeu capturando minha boca com
a sua.
Meu corpo tremeu pela força de seus lábios massacrando a minha
boca, puxando para si meu sabor, envolvia a língua com força não me
deixando escapatória. Eu me vi cativa, refém de sua pegada forte, da mão
mantendo meu pescoço erguido para cima, do braço pressionando meu
quadril contra o seu.
Céus, eu podia sentir uma ereção se formando na calça do Black
cutucando minha barriga!
Arranhei seu pescoço me entregando ao beijo afogueado. Ele agiu
como um homem das cavernas vindo marcar território, eu queimava em
raiva por sua intromissão, mas não seria boba de recusar um beijo com
tamanha entrega dele. Black batia seus sentimentos de desejo contra meu
corpo sem medo, ele não temia ser recusado ou expulso, tudo que
importava era mostrar o que o ciúme causou nele.
Soltei seus lábios sem fôlego. Encarei ao redor vendo o show que
tínhamos dado e que o Drake havia sumido. Fiquei triste por ele, sabia que
tinha machucado seu coração. Tentei ser sincera mais cedo, o afastar, mas
não resisti ao dizer que lutaria por mim. Vou pedir desculpas e tentar me
redimir. Fixei o olhar no Black com raiva, fui forçada a machucar um
amigo.
— Você é um babaca idiota. — Bati em seu peito.
— Eu sei. — A voz carregada de tesão escapou de seus lábios.
Abri a boca e desci contra seu pescoço o mordendo. Black soltou um
chiado, andando comigo em seu colo. Ele me enfiou dentro do carro,
larguei sua pele bufando de raiva. Afastei o máximo que pude enquanto ele
alisava o pescoço sentindo a mordida. Um roxo se formando em sua pele
bronzeada.
— Uma mordida, sério? — Encarava-me incrédulo.
— Você me atacou na frente do bloco inteiro, agradeça que não te
dei uma joelhada como a Daisha fez com o Kai!
— E você gostou do beijo, toda afoita se esfregando para mim.
Eu ia responder com uma grosseria, mas notei uma fragilidade
esquisita nos olhos do Black que me fez recuar.
— Não misture as coisas. — Cruzei os braços. — Você até que beija
bem, não ia recusar. Mas não é motivo para me atacar! Podemos conversar
civilizadamente, o Drake é somente um amigo, se eu não tivesse me
distraído com sua chegada teria retirado o braço dele da minha cintura.
— Não o quero perto de você — disse enciumado. — Você é minha,
Josephine, e eu te disse, valorizo fidelidade mais do que tudo. Não me traia.
Black se aproximou incendiando meu corpo com sua gravidade
sexual perigosa. Crepitava nas íris me fazendo acender. É quase impossível
acreditar que eu sou a responsável por seu descontrole.
— Fique aí — ordenei. — Continuo com raiva de você.
— Posso te acalmar. — Ofereceu agarrando meu braço, me puxando
para perto de si.
— Juro que te mordo — ameacei.
— Só um abraço? — ofereceu um meio-termo.
Virei o rosto o ignorando.
Black envolveu os braços ao meu redor me puxando para si, a barba
arranhou a pele do pescoço ao se esfregar contra mim. Arrepios cortaram
meu corpo como raios rasgando cada pedaço que encontravam. Encolhi as
pernas uma na outra, tentando acalmar o frenesi no meu íntimo. Ele
começou a respirar pesado, o som rouco causando uma coisa doida no meu
peito. A língua deslizou molhada envolvendo minha orelha e os dentes
puxaram a pele sensível.
Fechei os olhos adorando a sensação provocante espalhando pelos
meus nervos, o ventre se contraindo em vontade, a vagina exigindo ser
tocada. Considerei deslizar meus dedos dentro da minha calça, mas me
contive com vergonha dos seguranças no banco da frente. A boca salivando
de vontade para ser beijada.
Black continuou com a provocação, deixei lambuzar meu pescoço,
morder e arranhar com a barba até chegarmos à minha casa. O carro parou
me arrancando do torpor. Segurei os cabelos claros puxando sua boca para
longe da minha pele, afogueada.
— Sem cenas de ciúmes, você não é um adolescente. Vou ficar
longe do Drake para não o machucar, não por sua causa.
— Foda-se o maldito do Drake, ainda quero te beijar. — Veio contra
meu rosto, virei de lado evitando sua boca, não daria o controle do meu
corpo ao Black, aproveitaria o que eu queria e nada mais.
— Tchau, Black. — Abri a porta fugindo de seus braços.
Praticamente corri para dentro.
Abafei a parte do meu peito feliz por fazer o Black parar seus
compromissos louco de ciúmes precisando mostrar que eu pertencia a ele.
Precisava ficar atenta, não ceder às provocações ou o deixaria perceber que
por alguns momentos tomou controle do meu corpo inexperiente adorando
as novas sensações.
Black conseguia despertar meus desejos primitivos, mas nunca terá
controle sobre meu coração ou corpo, criarei uma blindagem impenetrável
contra ele.
Drake não quis mais falar comigo na faculdade, tentei explicar a
situação e mandei uma mensagem pedindo desculpas, sua resposta foi o
silêncio. Compreendi que o magoei e não poderia fazer nada para mudar a
situação, aceitei seu distanciamento. Fiz as provas e na sexta de tarde fui
surpreendida por sua presença me esperando ao lado do carro dos
seguranças.
— Oi — cumprimentei.
— Oi. — Levantou chutando as pedrinhas do asfalto. — Podemos
conversar? — Encarava Eduardo, Oliver e Joseph próximos a mim.
— Sim. — Virei para o Eduardo. — Avise ao Black e juro que te
dou um tiro.
— Ela não está mentindo — Oliver respondeu. — Seja breve,
senhorita Lucian, precisamos cumprir ordens.
— Eu sei.
— Eles não são estudantes normais, né? — Drake perguntou.
Ficamos na frente do carro, os seguranças por perto, mas dando
privacidade.
— Meus guarda-costas.
— E o seu noivo, você gosta dele?
— Não.
— Por que o casamento? — Enfiou as mãos no bolso evitando me
encarar.
— Você sabe que pertenço a uma família poderosa. — Queria ser
sincera com o Drake, com cuidado escolhi as palavras certas. — O Black é
um amigo importante do meu irmão. E também, é irmão da minha melhor
amiga. Digamos que fui persuadida a aceitar a união. Será benéfico para
minha família os laços com os Bonnarro e eu gosto dos familiares dele,
quero me aproximar.
— Você parece estar sendo obrigada a casar.
— Se eu quisesse poderia recusar, mas decidi dar uma chance, ver o
que acontece.
— Eu nunca tive uma chance? — Suas feições tristes causavam um
aperto no meu peito.
O peito doía pela cara triste do Drake. Seus sentimentos eram reais,
a vontade de ser meu companheiro não era um mero capricho ou obrigação.
Passei a alça da bolsa pelo ombro, dei dois passos envolvendo o Drake em
um abraço saudoso.
— Você foi a minha escolha, Drake — confessei. — Se tivéssemos
nos conhecido antes eu adoraria ser sua namorada, mas infelizmente as
coisas já estavam decididas. Desculpa por magoar você, nunca foi a minha
intenção.
Afastei nossos corpos o encarando triste.
— Só me prometa uma coisa — ergueu o dedo — seja feliz.
— Prometo. — Sorri. — Me desculpa.
— Tudo bem, essas coisas acontecem. Vai ser difícil superar uma
mulher como você, mas vou dar um jeito.
Sorri boba pelo seu jeitinho galanteador.
— Boas férias de verão. — Aproximou os lábios beijando minha
bochecha, irradiando calor no meu peito. Drake ficaria bem.
— Para você também. — Decidi não contar que após as férias eu
não voltaria ao campus.
Black se encarregou de programar a minha transferência, retornarei
aos estudos em Las Vegas. É um alívio saber que não vou parar de fazer o
que amo. Lily continuaria como minha psicóloga, duas vezes por mês um
jatinho dos Bonnarro a levará para Las Vegas. Também poderei vir a Nova
Iorque quando eu quiser visitar minhas amigas e participar dos encontros
oficiais no Clube de Senhoras.
Uma das vantagens de ser rica era poder cruzar o país a hora que eu
quiser. Tentarei mudar o mínimo possível da minha rotina, continuarei
estudando, conversando com minhas amigas e participando ativamente dos
deveres das damas na máfia. Eu só não sei ao certo o que farei, já que vou
assumir o cargo da Kennedy como líder das mulheres Bonnarro, ela
prometeu me ajudar e ficava tranquila sabendo que a teria ao meu lado.
Voltei para casa, na porta escutei o som das vozes das minhas
amigas gritando, percebi que vinha do terceiro andar. Risadas de bebês
invadiam meus ouvidos me fazendo sorrir como boba. Eu amo o som do
Ethan e do William, eles eram pequenos e fofinhos, sempre felizes
recebendo atenção dos adultos, adoravam ficar nos meus braços e aqueciam
a minha alma com a doce inocência.
Nunca pensei a fundo em ser mãe, sabia que um dia teria esse
destino por nascer na máfia. Com o casamento batendo na porta, percebi
que me tornar mãe não era mais algo distante, eu teria os filhos do Black.
Paralisei na escada contemplando a possibilidade, encarei minha barriga, eu
daria à luz a um serzinho gerado dentro de mim. Meu bebê me olharia como
se eu fosse o seu mundo?
A ideia embaçou minha visão, sacudi a cabeça decidindo não pensar
sobre isso. Subi as escadas pulando os degraus, segui o som das vozes
entrando no quarto da Daisha. Ela fez as provas em casa, uma pequena
exceção concedida pela faculdade em dias diferentes dos nossos.
Encontrei a Hope com o Ethan em cima da cama, Emily balançando
o William em pé, e Daisha sentada escorada nos travesseiros rindo. Elas
brilharam ao me encarar. Sorri para as meninas adorando ser recebida pelo
carinho delas. Soltei a bolsa no chão, corri para pegar o Ethan no colo, ele
estendeu os bracinhos para mim.
— Oi, lindinho da titia. — Beijei suas bochechas gordinhas.
— Eeeeeh, tititititititti — respondeu a coisa mais fofa do universo
prendendo minhas bochechas com as mãos.
Ethan já tem um ano e alguns meses, crescia ficando parecido com o
pai, fofinho e amoroso como a mãe. Eu adorava meus sobrinhos. Beijei sua
bochecha ganhando uma gargalhada como resposta, ele bateu as pernas
impaciente para descer. O coloquei no chão, as perninhas rechonchudas
cobertas pelo calção corriam rápido chegando aos ursos no chão.
— Oce, urtinho (Você, ursinho) — me entregou um elefante —
blincaaaaaa (brincar) — falou todo animado começando a bater o leão
contra o elefante na minha mão.
— Tia Phine chegou para dar conta das energias dele — Hope falou
pegando uma baleia e brincando com o filho.
— Mal posso esperar para o William chegar nessa idade. — Emily
sentou no chão com o filho entre as pernas. William estendeu as mãos
gordinhas para Ethan, que entregou a ele uma pelúcia de cavalo.
— Venham para a cama, também quero a dose de fofura das
crianças.
— Titia Daisha chamou — Hope falou com o filho.
Rápido, Ethan prendeu os braços no topo do colchão e começou a
tentar subir segurando o leão. Achei graça da fofura, segurei sua bunda o
ajudando a chegar ao topo. Todo fofinho ele engatinhou entregando o leão à
Daisha e deitando a cabeça em sua coxa. Morri de amores naquele segundo,
as bochechas fofinhas sorrindo sapeca.
— Titia daidai blinca (Titia Daisha brinca).
— Ele já está falando tudo! — Emily sentou na cama segurando o
William em pé, esse dando gritinhos chamando a atenção do Ethan.
— É uma metralhadora de palavras. Todas as noites o Michael
ensina o Ethan a falar, ele aprende bastante com o pai — Hope disse
ficando perto da ponta para os bebês não caírem, sentei do outro lado
fazendo um pequeno cercado.
Continuamos brincando com as crianças até elas cansarem e
dormirem. Ethan com a cabeça no colo da mãe e William deitado no
colchão, Emily alisava os cabelos do filho.
— Qual o motivo da reunião? — indaguei.
— Estive a semana inteira tentando encontrar uma brecha para saber
como foi ser tomada pelos ciúmes do meu irmão na faculdade.
— Foi estrondoso — Daisha disse, naquele dia conversei com ela
após o Black ir embora.
— Conta para a gente — Emily pediu. — Pobres mães que não
podem sair de casa quando querem sem um bebê pendurado no peito.
Gargalhei.
— O Black parece que ficou louco depois do noivado — relatei para
elas a cena de ciúmes protagonizada na faculdade.
— Sua recém-confiança sexy está enlouquecendo meu irmão.
— Eu disse, mas ela não acredita. — Daisha apontou. — O Black
ficou babando quando viu a Phine descendo as escadas no sábado. Ela
estava toda confiante, o provocando, ele não esperava essa mudança de
atitude. Deve ter percebido o mulherão que você é e não quer perder a
chance de te conquistar.
— Pena para ele que não o quero mais. — Deitei, tranquila sobre a
minha escolha. — Vou casar com o Black, teremos uma união estável e
tranquila, nada mais.
— Vai continuar sendo um limão-azedo sem saber nada de sexo? —
Emily me provocou.
Tive vontade de jogar o travesseiro na sua cara loira debochada,
pena que o William seria atingido e eu tinha pena do meu sobrinho.
— Vou aproveitar cada segundo da minha vida sexual, sua tarada
infame!
— Nossa, Phine cresceu. — Daisha levou a mão emocionada ao
peito.
— Continuo torcendo para você e meu irmão se apaixonarem
perdidamente, ambos merecem viver o amor.
— Você não sabe? — Apoiei o peso no braço encarando a Hope, ela
franziu a testa em dúvida. — O Black tinha uma namorada antes de mim.
— Então era verdade — respondeu triste.
Um tempo atrás perguntei a Hope se existia alguém na vida do
Black, ela desconversou e mudou de assunto. Não queria acreditar que
minha amiga escondia uma verdade importante de mim.
— Você sabia? — Emily perguntou.
— Não diretamente. — Encolheu os ombros amuada. — Uma vez
encurralei o Black na mansão, questionando os motivos dele não querer o
casamento, estava irritada, os hormônios da gravidez me enlouquecendo.
Black jurou que não tinha ninguém na vida dele, fiquei desconfiada, insisti,
mas ele acabou saindo. Pedi ao Michael para investigar esse aspecto da vida
do Black e meu marido se recusou dizendo que não poderia, pois estaria
traindo a confiança do Black.
— Por que não me contou sua suspeita?
— Eu não queria te magoar com uma suposição. Nem mesmo o
Steve ou meu pai confirmavam se o Black estava envolvido com alguém.
Meu irmão é leal aos seus e eu imaginava que uma namorada seria o motivo
dele te manter distante, sendo fiel ao relacionamento.
— Daniel não sabia de nada — Emily completou. — Algumas vezes
conversamos e ele falou que seria perigoso para o Black se envolver com
alguém de fora em um relacionamento longo. Duvidava que ele se exporia
dessa maneira.
— Kai também nunca comentou comigo essa questão — Daisha
disse. — Sei que eles tiveram várias conversas sérias, mas meu marido
fugiu do assunto. Se eu soubesse teria falado. — Esticou a mão segurando a
minha.
— Eu também — Hope se pronunciou — precisava de certeza do
relacionamento para não te magoar, suposições não ajudariam.
— Como você se sente? — Emily questionou.
— Amber é o nome dela, Black confessou que estiveram juntos por
uns anos, mas que acabou o relacionamento ao assinar o acordo de
casamento comigo. Prometeu ser fiel e me pediu uma chance. — Ergui os
ombros, ainda processando. — Eu consigo entender que ele não se
relacionou com ela para me magoar, foi antes de mim. Black deixou claro
que sua rejeição primeiro se motivou devido à minha idade, depois pelas
coisas que ele sabia ao meu respeito, a irmã malvada atormentando os
irmãos bonzinhos — revirei os olhos — pediu desculpas por não enxergar a
verdade ou me dar uma chance de explicar, contar meu lado da história.
— Se a vaca da Rebeca estivesse viva eu a matava com minhas
mãos. — Emily inflou em raiva.
Encarei minha amiga percebendo a escuridão rondando seus olhos,
depois do casamento com o Daniel um novo lado dela apareceu, sombrio,
combinando com as trevas que envolviam o marido. Emily nunca perdeu
sua essência animada, mas quem olhava de perto conseguia ver o anjo
negro morando em sua alma.
— Nesse ponto é quase injusto culpar o Black — Hope defendeu o
irmão. — Lembro de quando cheguei em Nova Iorque, ninguém da
organização gostava de você e a Clarisse me dava avisos para te manter
distante. A culpa da sua reputação é desses malditos que confiavam
cegamente na Rebeca, seus pais só pioraram tudo. Eleanor amava se reunir
com as mulheres Lucian para as alertar e mandar ficarem longe. Tive um
pouco de dificuldade para desconstruir os pensamentos maldosos a seu
respeito.
Hope sempre esteve ao meu lado, nos conhecemos no chá de panela
dela, naquele dia percebi que ela ficou um pouco constrangida por eu falar
muito no Black, puxando assunto, mas ao perceber seu desconforto mudei
de assunto, me relacionando melhor.
Nossa relação se aprofundou depois que o Kai me convidou para ir a
Topline, uma boate famosa do Michael. Lá passei a noite com Hope e
Emily, nos divertimos e senti a aceitação da primeira por mim crescendo,
me puxando para junto da sua vida, trazendo uma luz em meio a escuridão.
— Eu provoquei muita confusão. Não aguentava ouvir as fofocas
sobre mim e respondia com grosseria. Não ligava se me queriam por perto
ou longe. De certa forma, eu também falava mal do Kai — encarei a Daisha
— você o detestou em parte por minha causa, eu não facilitei.
— Foi um passado doloroso — Daisha agarrou minha mão — mas
conseguimos superar. Cessamos os boatos, Kai te ama, protege e você o
ama de volta. Todos perceberam as injustiças cometidas e minha mãe se
arrepende profundamente por te afastar da sociedade de damas. E os nossos
maridos te aceitam e perceberam a verdade sobre você, com o Black não
poderia ser diferente.
— Percebo isso, agora — apertei seus dedos — enfim, a terceira
coisa que o mantinha longe de mim era para ser fiel a Amber. Black não me
dava abertura para não me iludir. Machuca saber que ele amou outra
enquanto eu me desesperava por ele, mas hoje compreendo que minha
paixão foi fruto de uma ilusão criada por minha mente adolescente. Eu não
conheço o Black de verdade e nem ele a mim. Quero deixar o
relacionamento dele no passado, espero que ele consiga fazer o mesmo e
mantenha sua promessa de ser fiel. Não preciso de mais nada, além disso,
em nosso casamento.
— Amor, Phine — Emily balbuciou — você precisa disso.
— Eu tenho o amor de vocês e do meu irmão, é tudo o que importa.
Eu não mentia.
Podia compreender meu passado com o Black, mas não era motivo
para entregar meu coração. O manterei trancado dentro do peito, onde não
poderá ser machucado.
— Você está linda! — Kennedy enxugava o canto dos olhos
observando meu vestido de noiva. — Hoje você se torna a minha filha. —
Segurou minhas mãos protegidas pelas luvas brancas. Sorri aquecendo o
coração pelo amor dela. — Não hesite em conversar comigo, estou do seu
lado e te recebo de braços abertos na minha família. — Acariciou minha
bochecha com os olhos amarelos banhados em felicidade. — Sou muito
sortuda pelo meu filho se casar com uma moça como você.
— Obrigada pelo carinho, Kennedy — respondi emocionada.
Nas últimas semanas ela ficou em Nova Iorque, me ajudando com os
preparativos do casamento. Fizemos compras, tomamos chá, fomos a
estabelecimentos chiques com pratos maravilhosos, provei doces e
salgados. A conversa fluía com facilidade, Kennedy me fazia sentir que eu
tinha uma mãe. Estar com ela trazia felicidade pela minha união com o
Black.
— Está na hora — a cerimonialista entrou acompanhada do meu
irmão.
A cerimônia de casamento aconteceria na Catedral de São Patrício, a
festa no salão de eventos no complexo e a lua de mel não sei onde será, essa
parte era responsabilidade do Black. Nas poucas vezes em que esteve em
Nova Iorque foi somente para reuniões com o conselho de Capos. Passou as
últimas semanas ocupado, enviando mensagens todos os dias perguntando
como estavam as coisas, respondia amigavelmente, pelo que entendi,
alguma coisa começava a dar errado no Texas.
Kennedy se despediu me deixando sozinha, inspirei fundo encarando
a imagem no espelho. Os cabelos arrumados em um penteado elegante, uma
tiara de diamantes no topo da cabeça, a franja puxada para o lado caindo
delicadamente na testa. Minha sogra me presenteou com o colar que ela
usou em seu casamento, uma pedra azul brilhante envolta por ouro no
cordão delicado. O bracelete no pulso por cima da luva.
O vestido branco possuía o tecido pesado e brilhante, repleto de
pequenos diamantes, uma faixa na cintura, a saia com camadas de
enchimento dando volume, expandindo de cima para baixo. A parte de cima
imitava um tomara que caia, o branco cobrindo meus seios medianos, a
renda preenchida por diamantes iniciava no fim do decote e subindo para
meus ombros, delicada. Na parte de trás pedi que ao invés da renda fosse o
tecido branco, cobrindo as cicatrizes, expondo somente o início do ombro.
A manga se estendia até metade do meu bíceps.
As luvas no comprimento do cotovelo, o véu preso na parte de trás
da cabeça, pouco antes da nuca e no fim do penteado. A maquiagem
delicada, realçando a beleza do meu rosto. Nas últimas semanas mudei a
minha dieta, tenho comido mais e ganhei dois quilos que foram muito bem-
vindos, acrescentando vida ao meu corpo magro. Os ossos da clavícula não
apareciam mais, as bochechas menos cavadas. Todos os dias me encarava
no espelho, amando o meu corpo e a pessoa que me tornei.
Tudo caminhava para um bom futuro, exceto os pesadelos que não
me deixavam em paz. Lily começava a considerar me dar medicação para
dormir, mas recusei não querendo ficar dependente dos remédios.
Intensifiquei a meditação duas vezes ao dia, ao menos conseguia passar
com tranquilidade meus momentos acordada.
Inspirei fundo vendo meu irmão entrar, ele me levaria para o altar.
Sorri ao ser abraçada pelo seu carinho. Kai beijou delicadamente minha
cabeça, acariciou a pele nua dos meus ombros e suspirou feliz.
— Você parece uma princesa.
— Obrigada. — O nervosismo permeando a voz. — Estou pronta.
— Eu te desejo felicidade e amor. Que seu casamento seja o início
de uma nova jornada, fechando as feridas abertas e se permitindo viver
como nunca foi capaz. Minha casa sempre será o seu lar para quando
desejar retornar, estarei sempre ao seu lado, não importa a distância. Você é
minha irmã, eu te amo e continuarei a te proteger. Prometemos acabar com
os segredos e espero que se lembre disso caso algo a incomode, me ligue e
irei ao seu encontro no mesmo instante.
— Obrigada, Kai. — Girei abraçando com força o corpo do meu
irmão, inundei pelo seu amor e proteção.
Por anos busquei recuperar os laços perdidos de nossa relação, eu
quis o amor do meu irmão e hoje o recebia sem precisar pedir. Era
envolvida por seu carinho sincero, pela força de suas palavras e pela
confiança de que nunca estaria sozinha.
— Vou sentir saudades todos os dias, mas continuarei te perturbando
por mensagens. — Encarei os olhos pretos como os meus. — Eu te amo,
nossa família é o que existe de mais precioso para mim. Sempre voltarei
para casa e nunca vou esconder as dificuldades e felicidades de você.
Chegou a hora de você poder viver com sua esposa sem a minha presença e
farei o mesmo com o Black. Não pretendo iniciar uma guerra, quero viver
em paz. E se um dia o amor chegar, o abraçarei sem medo.
— A sua felicidade é a minha, Phine — acaricia gentilmente minha
orelha — e eu sei que você será banhada de amor. Não me restam dúvidas,
meu único medo é que você se feche para a oportunidade.
— Não vou. — Sorri.
Não mentia para o meu irmão. Proteger meu coração do Black era a
minha prioridade. Eu não dependia somente dos sentimentos dele, eu tinha
a Kennedy para me dar algo que sempre sonhei, o amor de uma mãe e
sentia, no fundo da minha alma, que aquela mulher estava ansiosa para me
encher de carinho e cuidar em seus braços.
— Pronta?
— Sim.
Envolvi o braço do Kai, passamos pela porta da sala da noiva na
igreja, demos a volta, do lado de fora repórteres se aglomeravam esperando
uma foto capa de revista sobre o casamento do sucessor dos maiores
cassinos de Las Vegas com a irmã do homem mais bem-sucedido no ramo
imobiliário do Estado de Nova Iorque. Se não fôssemos mafiosos eu
poderia ser uma social mídia famosa nas redes sociais, ou viver como uma
socialite.
Inspirei fundo ao ver as portas de madeira abrindo. Ergui o queixo,
não encarava ninguém além das pessoas nas duas primeiras fileiras, minhas
amigas sorrindo felizes. Hope com lágrimas nos olhos, Emily apertava as
mãos sorrindo radiante, Daisha sentada no banco virava como podia para
mim, chorando silenciosamente.
Kennedy não disfarçava a felicidade ao lado do marido, os homens
mantinham expressões fechadas sem poder demonstrar como se sentiam,
mas eu recebia as ondas de carinho do Michael segurando o Ethan, Daniel
ninando o William, Steve e Bartolomeu.
Somente essas pessoas importavam para mim e encarando a elas eu
cheguei ao altar. Caminhei confiante em cada passo, exalando a minha nova
personalidade poderosa, nunca mais seria acanhada ou diminuída. De
queixo erguido parei de frente para o meu noivo. Black ergueu levemente os
lábios, os olhos carinhosos ao estender a mão para mim.
Ele estava lindo, os cabelos penteados para trás com uma camada de
gel. A barba aparada exibia linhas marcantes nas bochechas delimitando o
início dos pelos claros. O terno de três peças era cinza com gravata
brilhante, um pequeno diamante no centro. Um lenço branco no bolso do
paletó, o relógio Rolex no pulso. O cheiro másculo explodiu no meu nariz
sensível. Foi difícil controlar os nervos diante da masculinidade dominando
meu ser.
— Estou te entregando minha preciosa irmã, seja um marido
exemplar e amoroso.
— Nunca a farei sofrer — Black prometeu.
Era difícil acreditar em suas palavras, mas a face vacilante me fazia
balançar na confiança de o manter emocionalmente afastado. Black
ignorava as regras de como um homem deveria se portar em sociedade ao
sorrir para mim. Envolveu meus dedos entre os seus trazendo para o lado.
Subimos os degraus do altar e ficamos de joelhos na frente do padre, com as
mãos apoiadas no cavalete.
O senhor de idade começou a recitar versículos da bíblia fazendo
alusão ao casamento. Um deles me tocou.
— Em Matheus 18:21-22 Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou:
"Senhor, quantas vezes deverei perdoar o meu irmão quando ele pecar
contra mim? Até sete vezes?" Jesus respondeu: "Eu digo a você: Não até
sete, mas até setenta vezes sete.” Pois o perdão para aqueles que nos
machucavam salva nossas almas e daqueles que se arrependem. Em um
casamento é inevitável momentos de conflito entre o casal, vocês
escolheram acreditar no amor e foram abençoados pelo Senhor com o poder
para ficarem juntos. Mas nunca se esqueçam que são humanos, dotados de
pecados e erros. Conversem, confessem aquilo que os machucam e
perdoem. Pois somente com a paz do perdão poderão seguir em frente. A
mágoa nada mais é do que uma tentação para trazer infelicidade. Um
coração amargurado jamais poderá amar e ser amado. Libertem seus
espíritos aceitando o carinho, o afeto e o amor um do outro, deixem o medo
no passado, no futuro construam uma relação forte, sólida e incapaz de ser
abalada por qualquer intempérie.
Sentia o olhar do Black queimando minha pele, encarei o rosto
banhado em arrependimento, os quartzos em seus olhos imploravam
silenciosamente pelo meu perdão. Eu não conseguia esquecer o meu
passado, machucada por muitas pessoas, fui capaz de perdoar ao meu
irmão, aquele que mais me feriu. Superei a dor para contemplar o seu amor.
Então, por que eu era incapaz de perdoar o Black?
Eu entendia que vivia de uma ilusão e nunca o amei de verdade.
Machucava continuar revivendo momentos que implorei por atenção, não
conseguia aproveitar a realidade dele ao meu lado. O medo de que se
ressentisse por estar longe de quem ele amava e por isso nunca pudesse ser
meu marido por completo estava enraizado no meu peito, doendo sempre
que lembrava.
Desviei o olhar repleta de dúvidas, seria o perdão a chave para se
apaixonar? Engoli em seco decidindo não pensar nisso, continuaria vivendo
como decidi, protegendo meu coração de novas mágoas. Tudo era recente,
ele amava outra e estava se casando por obrigação comigo. Se um dia eu o
perdoar, vou me assegurar de não misturar perdão com paixão. Posso
perdoá-lo sem permitir que se infiltre no meu ser, me envolvendo em uma
paixão incerta, como uma bomba-relógio prestes a explodir a qualquer
instante.
— Os noivos podem fazer os votos — a voz do padre me trazia de
volta à realidade.
Black ficou em pé puxando-me junto a ele, retirou minha luva da
mão esquerda. Encarava-me com tranquilidade, diferente de mim não
parecia existir dúvidas no coração do Black. Não eram as feições que eu
esperava de um homem apaixonado por outra. O brilho em seus olhos fervia
meu estômago me fazendo duvidar das minhas convicções.
— Eu, Black Bonnarro, juro no sangue e no osso te dar a minha
lealdade, manter em segurança e respeitar. Ninguém jamais poderá feri-la
ou desrespeitá-la. Hoje você se torna a minha esposa, para amar e cuidar.
Juntos pela honra dos Bonnarro, com a benção dos Bianchi e do Senhor. —
Black deu um passo à frente, a mão livre envolveu minha bochecha, fixou
os olhos banhados de sentimentos nos meus. — Eu e você nos tornamos um
só, de corpo e espírito. Não permitirei que nada nos separe.
Black alterou o juramento de casamento dos Bianchi, mudando
sutilmente algumas palavras, ele queria me fazer sentir a força da sua
convicção. Minhas pernas vacilaram levemente, abalada por sua insistência.
Separei os lábios puxando o ar, tentando recordar com precisão da minha
fala.
O anel de ouro com pequenos diamantes ao redor era deslizado pelo
meu dedo. Black acariciava minha mão, levando aos seus lábios, um beijo
casto depositado em cima da aliança, a face tranquila, exalando confiança
de sua escolha.
— Eu, Josephine Lucian, juro no sangue e no osso ser a sua esposa.
Te recebo como o meu marido e pai dos meus filhos. Prometo honrar a
nossa união, ser fiel, respeitar. Minha lealdade pertence somente a você.
Pela honra dos Lucian e com a benção do Senhor, sou sua pela eternidade.
Controlei o movimento das mãos ao colocar a aliança de ouro grossa
no dedo do Black. Ergui a vista fixando minha atenção em suas emoções.
— Eu vos declaro marido e mulher. Podem se beijar firmando a
união sagrada na casa do Senhor.
As mãos grossas e grandes prendiam meu maxilar me puxando
contra si. Desceu o rosto, o nariz resvalou devagarinho contra o meu, o
cheiro amadeirado mesclado a um tom apimentado resultou em uma
combinação sexy de aroma esbanjando de seu corpo. O hálito quente batia
na minha boca, separei os lábios fechando os olhos.
— Estou feliz por você ser minha esposa — sussurrou, pegava-me
de surpresa.
Sem me deixar responder, colou os lábios aos meus puxando para si
em um beijo envolvente. Me vi tomada por uma magia diferente, algo
acontecia no altar e eu não sabia explicar. Black tinha confiança de sua
escolha, ele me queria como esposa. Agarrei seu ombro buscando firmar as
pernas, eu esperava por tudo, menos pela aceitação do meu parceiro,
imaginei que relutaria, se ressentiria, ou tentaria fingir as aparências perante
os outros.
Mas não foi o que aconteceu.
Black me envolveu em uma poderosa nuvem de certeza, deslizava a
língua na minha boca exigindo a minha reação, capturava meus sentidos,
trazendo excitação à minha carne. Inspirei entrecortado, seu beijo
possessivo, carinhoso, mesclando um duelo de emoções reverberando pelo
meu ser. Pondo por terra todas as certezas que eu tinha sobre meu marido.
Sentia curiosidade para descobrir quem era Black Bonnarro e quem
eu poderia me tornar ao seu lado. Não terei afobação, farei tudo no meu
tempo, curando minha alma ferida e deixando Black fazer o que ele quiser.
Se tivermos de ser um do outro que aconteça naturalmente, não forcarei,
não mendigarei, mas decidi não o afastar.
Talvez, eu estivesse o perdoando.
— É hora do juramento ao Michael — avisou baixinho. — As
senhoras terão de jurar lealdade e respeito a você, garanta que vai pôr todas
em seu devido lugar.
Ele sorriu maldoso, me dando a chance que eu queria.
Nunca gostei das mulheres da Máfia, odeio cada uma pela forma
desrespeitosa que me tratavam, principalmente a maldita da minha avó. Ela
adorava me ofender com a língua afiada, apontando os meus defeitos, que
eu não era uma Lucian e nunca teria um casamento importante.
De cima do altar encarei a velha rabugenta, sorri triunfante. Casei
com o Capo mais importante da nossa geração, vou liderar os Bonnarro,
enquanto Daisha comanda os Lucian. Minha amiga jogou de canto a velha
idiota, ignorando seus falatórios e hoje vou cravar uma estaca no coração
dessa bruxa!
A igreja começava a ser esvaziada, não conhecia metade dos
convidados de fora, em sua maioria associados ou parceiros de negócios
dos Bianchi. Michael levantou como um rei, subiu ao altar se colocando ao
lado do Black. As feições duras ao segurar a faca, pavor me dominou por
saber que veria sangue.
Tentei puxar minha mão para me afastar, mas meu marido não
permitiu, entrelaçou com força nossos dedos, ele me encarou franzindo a
testa ao ver meu medo. Nunca tive medo de sangue, até manchar minhas
mãos com o da Rebeca.
— Está tudo bem, só eu corto a mão — Black avisou.
— Aconteceu algo? — Michael perguntou baixinho.
— Estou bem — menti, não querendo causar uma cena no meu
casamento.
— É o sangue — Kai surgiu ao meu lado. — Ela tem medo.
Encarei o Michael envergonhada, sabia que precisava dar
continuidade na cerimônia, mas a iminência de ver o líquido vermelho
travou minhas pernas, roubando meu ar e me deixando sem chão.
— Josephine — a voz do líder ressoou calma — fique ao lado do
Black, foque sua visão no Kai. Seu irmão estará na primeira fileira. Black,
ao cortar a mão a ponha para o lado, evitando que Josephine visualize o
sangue. Acredita que consegue fazer isso? — perguntou diretamente a mim.
— Sim, obrigada. — O queixo tremia, inspirei fundo endurecendo a
face, o cuidado do Michael varria parte do meu temor.
— Você é uma Bianchi, como seu líder sempre será minha
responsabilidade. — Seus olhos azuis passearam pelas pessoas cochichando
devido à demora. — Todos vocês.
Michael era um bom líder, Hope e Ethan eram sortudos por serem a
família dele.
— Será rápido — Kai prometeu, alisando minha palma antes de
descer.
— Farei tudo com agilidade e cuidado para você não ver, prometo.
— Certo. — Inspirei fundo.
Fiz como o Michael pediu, fiquei ao lado do Black encarando meu
irmão. Nosso líder iniciou seu discurso.
— Hoje eu nomeio Black Bonnarro como o Capo da Máfia Bianchi.
Como um dos meus homens no comando você me entrega a sua lealdade.
Obedecerá às minhas ordens e tornará seus territórios prósperos,
aumentando o prestígio da nossa organização. Pois o que é seu, é meu, sua
família segue a minha liderança, seus territórios pertencem a mim. Será a
minha espada e escudo em meio às guerras. Sangrará por mim, dará a sua
vida sem hesitar. Receberá o respeito e a lealdade de todos os membros da
organização. Traição será paga com a vida, sua e daqueles que ama. Os
Bonnarro recebem Josephine como uma de vocês, a líder feminina da
família, e aquela que estará ao lado da minha esposa, respeitando as
decisões da Hope. Exijo respeito, honra e lealdade ao meu Capo e sua
esposa.
— Nós prometemos, Chefe — a voz de homens e mulheres
reverberava pela igreja.
Meu coração acelerou, sabia que o momento de cortar a mão se
aproximava. Instintivamente dei um passo para o lado do Black, apertei seu
paletó nas costas. Travei a mandíbula fixando minha atenção no meu irmão.
— Eu prometo lealdade no sangue e no osso, diante de Deus ao
Chefe Michael Bianchi. — Ouvi o som do punhal sendo puxado da bainha,
as pernas virando gelatina. — Como Capo dos Bianchi eu respeito e
garantirei que todas as ordens do Chefe sejam cumpridas. Reforçar a força
da nossa organização perante os inimigos, conquistar novos territórios e
proteger os meus. Minha lealdade é inteiramente sua, prometo estar ao seu
lado em todos os momentos de glória e superar a dificuldade.
O som da carne sendo cortada é como uma lâmina no meu ouvido,
pisquei evitando as imagens do jarro de ferro nas minhas mãos descendo
contra o crânio da minha irmã, esmagando ossos, os olhos pulando para
fora, o sangue jorrando no meu rosto.
— Aceito sua promessa. — Michael me tirou do pesadelo falando
mais alto, imaginei que estivesse apertando a mão do Black.
Uma salva de palmas estalava dos convidados. Inspirei recuperando
os sentidos após ver o pano cobrindo a palma do Black, impedindo o
sangue de vazar.
— Você foi ótima. — Black alisou meu maxilar com a mão boa.
Percebi um anel em seu dedo com o símbolo dos Bianchi, em cima da nossa
aliança de casamento, imaginei que fosse seu anel de Capo.
— Obrigada. — Expulsei o ar entre os lábios.
— Hora dos cumprimentos. — Ele piscou maroto ficando ao meu
lado, envolveu minha cintura com seu braço, apoiei o corpo fraco contra a
muralha do meu marido.
As meninas me apertavam com força, Emily e Hope quase me
deixavam sem ar.
— Somos cunhadas! — Hope tentou conter a felicidade irradiando
em seu rosto bonito.
— Não canso de admitir o quanto você está linda. — Emily me
puxou novamente agarrando meus ombros. — Estou orgulhosa da nossa
serpente.
— Obrigada, meninas. — Beijei o rosto de cada uma.
— Vem falar com a Daisha — Hope pediu, me puxando pela mão.
Foi estranho me sentir fria sem o calor do Black ao meu lado.
Encarei meu marido recebendo os cumprimentos dos homens de honra.
Daisha ainda não conseguia se locomover com facilidade, as dores da
cirurgia diminuíram, mas continuava mancando e com o gesso no braço.
— Nossa nova Senhora Bonnarro. — Sorriu, os olhos azuis
brilhando ao receber meu abraço. — Bem-vinda ao clube de líderes, Phine.
— Obrigada, Dai. — Beijei seus cabelos sedosos.
Eu queria continuar conversando com elas, mas fui cercada por
mulheres da organização. Kennedy agarrou meu pulso me apresentando a
suas cunhadas, ao todo Bartolomeu tinha 3 irmãs mulheres e nenhum
homem. Fui recebida de braços abertos, com beijos e comentários graciosos
das mães e filhas. Era uma família grande e acolhedora, estava cada vez
mais animada para a minha morada em Vegas.
— Então você conseguiu. — Minha avó encarou-me com soberba.
— Casou com um Bonnarro, salvou seu pescoço, garotinha. — O riso ácido
veio acompanhado das minhas tias. Meu pai também não teve irmãos
homens, somente mulheres.
— Cuidado, vovó, uma palavra minha e posso te mandar para a
guilhotina. — Ergui o queixo me aproximando. — Pensa que as coisas
serão como antes? — Cutuquei seu ombro a fazendo recuar um passo. —
Em que eu somente te respondia com grosseria? Se na época que eu não
tinha poder já era letal o suficiente para te enfrentar, imagina o que farei
agora.
— Sua garota atrevida! Eu sou…
— Nada. — Agarrei seu pescoço, com ódio daquela velha maldita.
— Seu marido pode ter sido um Subchefe, mas morreu há anos. Seu
querido filho foi morto como um traidor e sua nora amada vive presa em
casa. Talvez eu te mande fazer companhia a ela — apertei a carne fina — eu
nunca mais quero ver a sua cara. Ou vou explodir seus miolos como fiz com
a Rebeca. — Empurrei a velha fazendo-a cambalear e bater contra minha
tia. — Vocês possuem sorte da Daisha ser a líder dos Lucian, ou eu
mandaria matar a todas.
Virei de costas a deixando para trás. Kennedy sorria me encarando,
os olhos repletos de orgulho.
— Nossa líder é fantástica — disse, eu quis chorar.
Finalmente consegui dar as costas a todas as pessoas que me
magoavam, sendo recebida por quem me queria. Do alto do altar sentia o
olhar do Black em mim, nossas vistas se encontraram e crepitavam com a
atração pungente. Ele gostava quando eu me impunha.
O desejo pelo meu marido queimou no meu ventre, ansiosa para
quando ficarmos sozinhos.
A atmosfera mudou ao entrarmos no carro. Josephine estava mais
corada, mordiscando os lábios ansiosamente. Desviava o olhar sempre que
eu a flagrava me encarando. A fragilidade dela diante do juramento de
sangue mexeu comigo, tive vontade de a pegar no colo, proteger e prometer
não cortar a mão. Mas eu precisava mostrar que sangraria pelo meu líder
sem hesitar.
Remexia o quadril, a calça desconfortável, o pênis apertando a
cueca, duro desde que presenciei Josephine enforcando a avó por ser uma
grosseira. No passado eu odiava quando a via sendo desrespeitosa, a julgava
como errada sem saber a sua versão do acontecimento. Hoje eu tive outra
prova, eram as pessoas que provocavam Josephine e depois a acusavam de
ser a vilã.
Ela estava linda no vestido de noiva, a aliança dourada em seu dedo
marcando a nossa união. Aceitando ou odiando, Josephine Bonnarro era
minha, e aquilo me enchia de tesão, vê-la enforcando a avó, expondo sua
força na frente da famiglia. Sacudia meus sentidos, adorei a assistir exalar
sua força sedutora.
Precisava conversar com ela antes das núpcias, desejava o fazer
antes de irmos para o quarto, não queria estragar o clima expondo meus
limites quanto ao sexo. Odiava a ideia de parecer fraco, um homem
incompleto, mas precisava respeitar meu corpo e mente ou nunca seria
capaz de me entregar a Josephine.
Esperava receber sua compreensão e apoio.
— Tudo bem? — Analisei suas feições ansiosas.
— Eu odeio ser o centro das atenções. — Suspirou cansada. —
Estou considerando se podemos fugir da festa e seguir para a nossa casa no
complexo.
— Não te assusta saber que faremos sexo, mais tarde? — Sondei
cauteloso observando suas faces.
As sobrancelhas pintadas arquearam curiosa, os olhos invadidos pelo
tesão, a maldita boca carnuda torturada pelos dentes puxou o lábio para
dentro. Ela inclinou os ombros se aproximando um pouco, o peito subindo e
descendo escondido no lindo vestido. A energia enervante sufocava pela
vontade de provar o gosto de sua boca.
— Não. — Puxou o ar, um pequeno assobio atormentando meus
ouvidos.
— Você me deseja, Josephine. — Agarrei seu pescoço trazendo o
corpo esguio para perto do meu.
— Foi uma pergunta? — A mão envolta pela luva dava a volta no
meu pescoço, esfregando o nariz no meu.
— Não. — Soprei inebriado pelo cheiro de orquídeas.
— Então não preciso responder.
Calou-me grudando a boca a minha.
Aquela era a resposta que eu precisava.
Agarrei seu quadril a puxando para o meu colo, o cinto travou ao seu
redor. Brusco o soltei, passou rapidamente a perna ao meu redor sentando
em cima do meu pau duro como pedra. Gemi em seus lábios de mel ao me
deleitar com a pressão da boceta afogueada contra minha carne.
Um choque de adrenalina corroeu minhas veias. Era diferente com
Josephine. Não me assustava receber seu toque, lembranças cruéis não
invadiam minha mente ao sentir o rebolado de seu centro contra meu sexo.
A ansiedade com medo do que viria não apareceu, sendo tomado pelo
desejo ardente de poder arrancar as roupas dela e me enterrar em sua carne.
Paralisei percebendo a nuance da mudança acontecendo no meu
corpo. Um segundo foi o tempo que levei para processar. Josephine não me
causava repulsa, não me fazia hesitar, eu queria me perder dentro dela feito
um louco, rezando para o tormento não me assombrar.
Agarrei com força sua cintura, segurei seu pescoço afundando a
boca na sua, tomando seu gosto na minha língua, buscando desesperado por
mais da doce sensação de plenitude. Saboreava me entregar sem as amarras
travando meus movimentos e obrigando a ir devagar.
Não entendia o que existia de diferente com Josephine, nunca
ficamos antes, mas era sempre aquela maldita explosão ao encostar meus
lábios nos seus, o fogo consumindo de dentro para fora, queimando os
traumas, os transformando em cinzas e lembranças do passado que não
poderiam mais me alcançar.
Agarrei sua bunda por cima do tecido, prendi a cintura com a outra
mão e em um movimento a joguei deitada no banco, indo por cima de seu
corpo. Ela ganhou peso nas últimas semanas, ficando ainda mais gostosa.
Um estalo na minha mente me lembrou de que não a elogiei o suficiente,
partindo para cima como um maldito animal desesperado.
— Você está linda, porra. — Soltei seus lábios apreciando sua
respiração desregulada, os olhos perdidos tentando entrar em foco.
— Parou de me beijar por isso? — A indignação em sua voz me
fazia rir.
— Precisava dizer, você é gostosa demais, perdi a noção das boas
etiquetas pela vontade de te foder.
— Black — rosnou irritada — cala a maldita da boca e me come.
A mão espalmou pesada na minha bunda trazendo meu quadril
contra o seu centro, a outra envolveu minha gravata, em um movimento
cortou meu ar me puxando, bati a boca contra seus lábios afogueados,
esfregando o quadril na bocetinha em chamas.
Vibrei em seus lábios, adorava a boca suja da Josephine e seu jeito
explosivo de dominar o mundo ao seu redor. Comecei a entender o que
acontecia de diferente no meu corpo na sua presença. Eu sempre precisei
dominar, tomar para mim, meu trauma com sexo se iniciou pelo abuso que
presenciei, marcando minha mente com o lado negativo.
Por anos precisei me forçar a estar no controle, ter relações sexuais
sem vontade, provando que eu era um homem de honra, capaz de dominar,
subjugar e impor os meus desejos. O vibrar diferenciado no meu peito, a
vontade de me entregar a Josephine provinham de uma única coisa, ela
quem me dominava, estava completamente cativo de sua vontade. Eu nunca
entreguei o controle a ninguém, nem mesmo a Amber. Josephine o tomou
para si com facilidade.
Eu queria entregar o maldito mundo a ela.
Uma freada brusca jogou nossos corpos para a frente. Rápido apoiei
a mão no chão impedindo que ela caísse do banco. Ergui o tronco atento, o
som de tiros atingindo a lataria do carro. Prendi Josephine pela cintura a
mantendo abaixada, acionei o botão baixando o vidro que dividia o carro ao
meio.
— Quem nos ataca? — questionei ao meu chefe de segurança,
Taylor Martins.
— São os filhos da puta dos texanos. — Girou o volante desviando
de um carro à frente tentando nos trancar.
— Filhos da puta! — rosnei irritado por interromperem meu
momento. — Siga para o complexo, vou explodir os desgraçados.
— Sim, senhor.
— Black? — Josephine chamou preocupada, agachada no banco. —
Você não tinha resolvido a situação no Texas?
— Dominar um novo território sempre é complicado. — Acionei o
botão debaixo do banco pegando a maleta com minhas armas. — Uma
organização criminosa se escondeu enquanto exterminei outras quatro que
se rebelaram. Essa agia escondida no submundo, ainda não tinha parado no
nosso radar e agora estamos em guerra. — Engatilhei a metralhadora. — Se
proteja.
— O que vai fazer? — Arregalou os olhos ao ver o teto solar
abrindo.
— Explodir os desgraçados que me interromperam. — As bolas
doíam de vontade de retornar ao que fazíamos.
Rapidamente ergui o corpo, o vento forte atingiu minhas costas.
Mirei a metralhadora automática. Travei no alvo, dois carros querendo se
meter entre o comboio fazendo minha proteção. Eu poderia deixar os
soldados resolverem o empecilho, mas nunca gostei de ser interrompido ou
afrontado, responderia à ousadia. Os desgraçados vão morrer por
atrapalharem minha foda.
Mirei atingindo a roda e lataria, o carro capotou. Aproveitei o
protetor do cárter exposto com o veículo virado de lado e atirei no motor
causando uma explosão. Uma bala raspou meu rosto, me abaixei escapando
da saraivada disparada contra mim.
— Você se machucou! — Josephine gritou com as mãos no rosto,
percebi a cor sumindo de sua pele.
Toquei a bochecha encontrando sangue quente escorrendo, peguei o
lenço no bolso do paletó limpando o machucado.
— Não foi nada.
Ela tremia, abraçada ao corpo sem conseguir desgrudar os olhos da
minha bochecha sangrando. O assombro em suas feições machucou meu
coração, lembrei de quando a vi paralisada após matar a irmã, as emoções
deixando o seu corpo, se não fosse pelo Kai precisando ser salvo Josephine
teria se quebrado. Ela aguentou firme para poder proteger o irmão.
Abracei seu corpo trêmulo apertando sua cabeça contra o meu peito.
Beijei seu pescoço alisando as costas, querendo confortar, fazer o medo das
lembranças sumir.
— Está tudo bem. — Repeti a frase em seu ouvido, espalhando
beijos por sua face. — Foca em mim, Josephine — pedi pressionando os
lábios aos seus. — Sinta os meus beijos, não pense em mais nada.
Agarrei sua cintura, de joelhos no carro, beijei a boca carnuda
levando fogo ao gelo em sua pele sensível. Tremulamente as mãos
envolveram meus ombros me puxando para si, ela começou a acordar e me
usar para sair do pesadelo. Ouvi o pequeno chiado deixando sua boca, se
espalhando pela minha, a língua deslizando experiente, sugando, mantendo
os dentes longes. Agarrei sua cintura, a puxando para mim.
Os tremores cessaram dando lugar a luxúria, aos beijos afoitos, ao
corpo buscando cada vez mais se colar ao meu, fundir, necessitando do
prazer e não da distração.
— Senhor — ouvi a voz do Taylor pelos alto-falantes — o segundo
carro foi abatido, mandei uma equipe fazer a limpeza, estamos nos
aproximando do complexo.
Não me incomodei em responder, sei que no segundo em que me
ajoelhei ele subiu o vidro separando o carro ao meio. Um gemido tímido
deixou a garganta de Josephine, seus dedos percorreram minha barba
puxando meu queixo para si, aprofundando o beijo, se perdendo em deleite.
Beijei-a por longos minutos, até sentir o carro parando, indicando
que chegamos ao salão de festas dos Bianchi e eu sabia que precisava
cuidar dos assuntos sobre o ataque, mas não queria largar a boca da minha
esposa.
— Precisamos sair — falei a contragosto.
— Eu sei. — Aprofundou o beijo sugando minha língua, enviando
uma onda de tesão para o meu cacete duro.
Com carinho depositei beijinhos em sua boca, espalhando pelas
bochechas e orelhas. Parei em seu pescoço onde me aventurei mordendo a
carne macia adorando o chiado que ela soltou.
— Vou precisar apurar o atentado — avisei com as mãos em sua
cintura. — Te encontro na festa.
— Não — endureceu as feições — você vai fazer um curativo na
bochecha e depois aproveitaremos a nossa festa. Recuso-me a permitir que
uns bandidinhos atrapalhem nosso casamento.
— Podemos negociar? — Arqueei a sobrancelha.
— Não. — Ergueu o queixo, e aquilo me fez rir.
— Você é muito mandona. — Apertei seu nariz. — Vamos.
Abri a porta, desci do carro encontrando Michael, Daniel e Kai que
esperavam por mim. Sabia que não teria como fugir da obrigação, mas não
queria irritar Josephine. Pressionei o lenço na bochecha, garantindo que
nenhuma gota de sangue escapasse a assustando.
Ela desceu do carro encarando a comitiva à nossa espera. Me olhou
sabendo que não teríamos escolha.
— Vocês não podem resolver isso depois? Deixem-me ao menos
aproveitar minha festa com meu noivo — era educada ao falar com os
líderes.
— Foi um ataque na posse do Capo, não podemos ignorar —
Michael respondeu.
— Não precisam ignorar, apenas resolver amanhã. Considerem
como um presente de casamento.
— Não tomaremos muito do tempo do Black — Kai respondeu à
irmã, encarando-a com carinho.
— Certo — virou-se para mim — vou retocar a maquiagem.
Josephine saiu sem esperar resposta. Retornei para o carro na
companhia do Daniel, os outros dois seguiam em outros veículos para a
mansão Bianchi, uma reunião estava sendo convocada.
— Eles nunca param — Daniel quebrou o silêncio — malditos
vermes, deveriam ficar escondidos no buraco ao invés de causar problemas.
— A Portões do Inferno está se mostrando mais insistente que as
outras quatro.
Referia-me a facção do George, a gangue de motoqueiros Cabeça
Quente, a facção criminosa Mancha de Sangue e O Caveira, um grupo de
criminosos focados em assaltos. A briga com o Texas se iniciou quando
George começou a negociar com Gael, líder do quartel de drogas mexicano,
nosso aliado e responsável por transportar drogas para Las Vegas. George
queria interferir nos nossos negócios, comecei um ataque contra o bosta ao
lado do Kai, Steve e Matthew.
Gael recuou nas negociações com os texanos ao ser intimado por
Matthew e Steve sobre sua lealdade. George não gostou, causou confusão e
quando se viu acuado juntou força com os outros três para conseguir nos
combater. Foi uma guerra demorada, fui inteligente e perspicaz ao derrubar
cada peça do tabuleiro, consegui conquistar o Texas e fazer as organizações
caírem.
Os outros grupos criminosos espalhados no estado estavam
recebendo os avisos sobre quem era o novo líder da região, alguns tentavam
se rebelar e eram massacrados. Mas o Portões do Inferno era diferente,
organizados, contavam com assassinos profissionais, traficavam drogas e
humanos, por anos se mantiveram em silêncio e agora revidavam.
Tentei negociar com eles nas últimas semanas, impor as regras dos
Bianchi, mas eles não gostaram quando avisei que deveriam parar com o
tráfico humano e o de drogas ficariam submetidos a nossa mercadoria, e
deveriam pagar a porcentagem pela venda no meu território.
Não conheci o chefe deles, negociei com César, um dos
comandantes, pelo jeito ele enviou sua resposta a nossa dominação com o
ataque após meu casamento. Não era difícil identificar quem tinha me
atacado, os portões em chamas entalados nos carros representava a marca
deles.
— Vai adiar sua lua de mel para resolver esse problema? — Daniel
me trouxe de volta dos pensamentos.
— Prefiro não o fazer — ajeitei a gravata — Josephine ficaria uma
fera se eu partir após casarmos.
— Você está mais paciente com ela, parecia até sentir tristeza por a
deixar no salão. Desenvolveu sentimentos pela sua noiva?
— Josephine sofreu por anos, não quero prolongar sua tormenta.
Pretendo viver em paz e trazer felicidade a ela.
— Escolheu bem, mas não respondeu minha pergunta. — Um
sorriso debochado surgiu em sua face. — Já está pronto para usar a coleira
de cadela?
— Não vou ser uma cadela como vocês — rebati.
— A marra do Kai só durou até a lua de mel, não duvido que você
volte de quatro lambendo os rastros dela.
— Vai se foder, Daniel.
Ele gargalhou e revirei os olhos.
Desde que o Michael se rendeu a Hope perturbamos uns aos outros
ao ver o quarteto caindo pelas esposas. Por sorte, vivendo em Vegas, não
terei de aguentar diariamente a zoação dos caras.
Chegamos à mansão, entramos seguindo para o escritório do
Michael, lá estavam reunidos os membros do conselho de Capos. O Chefe
Michael Bianchi, O Consigliere Daniel Griffin, o Subchefe Kai Lucian, o
Capo Nathan Belarc e seu filho Tyron Belarc, único que esperava pela
sucessão. E eu, Capo Black Bonnarro, sentamos ao redor da mesa de centro.
— Seremos breves — avisei aos cavalheiros — pretendo retornar à
minha festa de casamento e não permitir que insetos atrapalhem meu dia.
— Já possui um plano de ataque? — Michael indagou.
— Rastreei a base da Portões do Inferno em Dallas. Eles escolheram
meu casamento para mexer comigo, vou deixar um presente para eles
quando estiver indo para o México.
— Cause o estrago que quiser, estamos dando um aviso. Ninguém
mexe com os Bianchi e sobrevive.
— Sim, senhor.
— Eles possuem outras bases? — Nathan questionou. — Quantos
homens possuem? Quais negócios fazem? Precisamos de muitas
informações.
— Meus homens vão cuidar disso — abotoei o terno — a guerra se
iniciará após a minha lua de mel.
— Quem cuidará do seu território?
— Eu estarei atento, de vigia. O Texas fica perto, qualquer
imprevisto resolvo na hora, não precisam se preocupar.
— Não hesite em pedir ajuda.
Eu sabia o que Nathan queria. Uma oportunidade para se meter,
fazer parte da dominação. Durante o processo, a família dele foi essencial
ao enviar o Exército da Morte, Belarc queria me fazer depender das suas
forças, se tornar importante, ter o direito a uma parte do que me pertencia.
Precisava tomar cuidado com ele ou poderia sofrer um golpe.
— Steve ficará no Texas liderando as tropas, em Las Vegas
Bartolomeu cumprirá seus últimos deveres tomando conta do território na
minha ausência. Meus homens estão caçando os inimigos que se infiltraram
em Nova Iorque, vão garantir que nenhum deles retorne para casa.
Taylor sabia como eu trabalhava, por vezes era desnecessário passar
uma ordem, ele se adiantava fazendo o que sabia que eu queria. Admirava a
sagacidade e lealdade do chefe da minha equipe de segurança.
— Muito bem, senhores — Michael ergue-se abotoando o terno —
podemos retornar às comemorações. O Bonnarro possui controle sobre a
situação.
— Sim, Chefe — respondemos.
Entrei no carro ansioso para encontrar minha noiva e podermos
continuar de onde paramos no carro.
Dançava animada na pista de dança com minhas amigas. Pulando ao
som eletrizante da música, Hope gargalhava segurando minhas mãos
pulando alto. Emily balançava o quadril com agilidade e Daisha se
mantinha sentada rindo da nossa bagunça. Colocamos uma cadeira para ela
no centro da pista e começamos a dançar ao seu redor, a incluindo na nossa
pequena farra.
Eu fiquei assustada com o ataque, nunca passei por uma situação
como aquela. Black com a metralhadora nas mãos atirando nos inimigos
através do teto solar do carro me encheu de desespero com medo dele se
machucar. Paralisei pelo sangue na bochecha. Ele conseguiu me trazer de
volta, os beijos quentes, afoitos, querendo me consumir envolveram minha
mente em um delicioso redemoinho de sensações prazerosas.
Senti um arrepio na pele, virei a cabeça o encontrando vindo na
minha direção, passos confiantes, um curativo na bochecha, os quartzos
queimando brasas poderosas enviando arrepios pelos meus pelos.
— O marido dela chegou — Daisha disse. — Acho que perderemos
nossa companheira.
— Eu não tenho dúvidas — Hope implicou.
— Vai lá, garota. — Emily agarrou meus ombros. — Aproveita seu
homem explodindo tesão por você. — Empurrou-me na direção do Black.
— Peguei você — respondeu rouco no meu ouvido.
— Não estava me jogando. — Aprumei os ombros. — Foi a safada
da Emily.
— Eu vi. — Envolveu minha palma na sua, a outra mão guiando
minha cintura.
A valsa para os noivos dançarem iniciou. Eu detestei a música,
achava melosa e chata, mas Kennedy a escolheu empolgada, não consegui
recusar a um pedido daquela mulher.
— Você quer ficar até o final? — Black perguntou baixinho próximo
ao meu ouvido.
— Temos de cumprir algumas obrigações chatas.
— Estamos dançando, quais ainda faltam?
— As fotos, conversar com os convidados, deixo essa parte para
você. Já interagi com a família Bonnarro e pretendo parar por aí.
— Você detesta todas as famílias de Nova Iorque? Achei que fosse
somente os Lucian.
— Toda família possui os membros implicantes. Clarisse tem me
tratado com mais delicadeza, após perceber que me afastou injustamente da
sociedade de damas. Mas nunca gostei das primas da Daisha, são um bando
de vadias.
— Lembro de você já ter discutido com elas.
— Sim! As primas da Emily até que são legais, mas prefiro não dar
muita confiança. Já cumprimentei a todas com um sorriso e agradeci a
presença no casamento. Minha família é um bando de cobra, às vezes tenho
pena da Daisha, mas ela sempre foi uma dama comportada, eles a
receberam bem.
— Por que não faz algo diferente?
— Como o quê?
— Mostre a todos que você triunfou. Suas primas devem estar
morrendo de inveja por causa do seu casamento. Não me incomodo de ser
usado, um pouquinho.
— Black Bonnarro. — Apertei os olhos, sentindo a animação
brotando. — Eu não conhecia esse seu lado.
— Temos muito o que descobrir um do outro. — Aproximou a boca
da minha. — Vai me usar?
O duplo sentido deixando seus lábios despertou meu interior
acendendo a vontade despertada no carro. Ofereci minha boca recebendo
seu beijo com volúpia. Somos o centro das atenções, deixarei meu marido
me tomar com desejo, mostrando às desgraçadas invejosas o poder da
minha sedução. Meu casamento pode ter sido por obrigação, mas elas
saberão que eu serei feliz e bem tratada.
Sem ar, Black solta minha boca para atacar meu pescoço, sem se
incomodar com o pequeno show que estamos dando. Meus olhos
percorreram o salão adorando os rostos raivosos, eu podia sentir o desejo
das mulheres que ansiavam estar no meu lugar.
A excluída, desprezada, vista como incapaz de conseguir um
casamento de valor triunfou. Exibi minha alegria pela vitória sem conter
nenhum de meus movimentos, beijei meu marido sem reservas, tirei fotos,
ri abertamente, dancei, comemorei, curti minha festa com minhas amigas.
Eu não havia ganhado somente um bom casamento, mas amigas de
verdade e todas elas do alto escalão ao qual eu fazia parte. Tornei-me uma
líder, conquistei a simpatia da minha nova família e estava colocando no
lugar qualquer uma que ousasse se virar contra mim.
Nunca mais seria desprezada ou mal tratada.
Eu era uma rainha e faria questão de exercer o meu poder.
— Podemos ir — disse ao Black, os pés doendo após voltar da pista
de dança.
Passava das 22 horas, não imaginei que iria me divertir tanto. De
certa forma, estava um pouco descabelada, ofegante e suada. Black e eu
passamos a noite provando um do outro, beijando, agarrando, tomando tudo
que podíamos sem nos importar com os olhares curiosos. Eu queria ir para
casa e consumar meu casamento.
— Como quiser. — Levantou, despedindo-se dos amigos.
— Uma semana — Michael gritou.
— Três dias — meu irmão zombou.
— Já aconteceu. — Daniel riu.
— Do que eles estão falando? — perguntei ao Black que me puxava
para longe.
— Piada interna. — Topou com o irmão na saída do salão. — Me
mantenha atualizado sobre o Texas.
— Fique tranquilo, pode aproveitar suas núpcias. — Steve parecia
meio triste. — Uma boceta pelo resto da vida, oh, prisão.
— Pelo menos ele vai transar essa noite, diferente de você. — Não
consegui me conter.
— Cunhada, eu te adoro. — Envolveu-me com os braços. — Dome
meu irmão bem direitinho e o convença a me deixar longe de um
casamento.
— É você e o Matthew querendo fugir de compromisso.
Lembrei de quando a Hope falou sobre o cunhado gostar de uma
juíza federal, mas não poder ficar com ela, a mulher não tinha interesse nele
e vivia o ameaçando com prisões. Matthew parecia convencido a dobrar a
juíza e por isso se recusava a casar com outra.
— Somos espíritos indomáveis. — Ostentava um sorriso insaciável.
— Você não passa de um vadio. — Black bateu no ombro do irmão.
— Não me atrapalhe e suma do caminho.
— Alguém está animado para o sexo. — Esfregou as mãos. — Vou
atrás da minha presa, com licença.
Sumiu sem esperar resposta. Eu ri, Steve era engraçado, ele
apresentava uma gula exacerbada pelo sexo.
— Steve parece um maníaco sexual, sempre que o encontro faz
piadinhas sobre comer mulher.
— Meu irmão é um dissimulado. — Agarrou minha cintura. — Não
caia nas brincadeiras dele, você precisa aprender quando ele estiver falando
a verdade ou disfarçando mentiras com piadas.
— Ficarei atenta.
Black seguiu com o braço ao meu redor para o carro, entramos e a
energia crepitava ao nosso redor. Envolvi seu pescoço com as mãos
capturando os lábios com a boca, parecendo uma maldita viciada no gosto
da sua língua. Infelizmente, o carro estacionou rápido na frente da nossa
casa no complexo.
Apesar dos Bonnarro morarem em Las Vegas, o Capo possui uma
casa no complexo, lembrando que mesmo distante ele faz parte da cúpula
de líderes. Kennedy me explicou que quando ela e Bartolomeu quiserem vir
a Nova Iorque e ficarem mais dias precisarão se hospedar na casa da filha
ou do Black. Bartolomeu perdeu o direito a uma propriedade ao passar o
cargo para o filho, simbolizando a troca de posição e quem detém o poder
na família.
Saí do carro, Black me acompanhando. Dou um passo para entrar na
casa de 3 andares pintada de branco, o máximo permitido a uma família no
complexo. Somente o Chefe pode ostentar uma mansão com 4 andares e
quilômetros de extensão da propriedade, todas as outras devem ser
menores. Para mim, continuam grandes casas exibindo riqueza e poder. A
última semana passei cuidando da reforma e da decoração.
Gritei ao ser erguida no ar. O safado do meu marido sorriu entrando
comigo em nossa casa. Prendi os braços ao redor do seu pescoço,
esfregando o nariz no nele. Beijei levemente sua boca, tranquila e feliz pela
noite que passaremos juntos. Ele caminhou sem pressa subindo as escadas,
no último andar, no primeiro quarto, abriu a porta bege revelando o quarto
em tons vivos.
Black me colocou em cima da cama, a colcha macia debaixo dos
meus dedos. Sentou ao meu lado e comecei a ficar ansiosa, não me sentia
completamente confortável em exibir meu corpo. A vontade de fazer sexo
contraiu meu ventre implorando que eu deixasse essa questão de lado.
Black me encarava pensativo, de testa contraída e olhos preocupados.
— Eu quero conversar com você. — Entrelaçou nossas mãos. —
Casamos por uma obrigação, mas não precisamos fazer sexo se não nos
sentirmos confortáveis.
Arregalei levemente os olhos, o coração palpitando. Ele não me
queria?
— Como assim? — balbuciei.
— Eu te respeito, Josephine. — Acariciou meu rosto lavando as
preocupações. — Quero ser o seu marido, e por isso preciso ser sincero e
espero que faça o mesmo comigo. Sexo só pode ser feito com o completo
consentimento, eu preciso da certeza que você deseja que eu seja o seu
primeiro, aceita meu corpo sobre o seu, penetrando sua carne a fazendo
minha. Eu tenho limites quanto ao sexo e o principal é o consentimento. É
difícil aceitar completamente que você me quer, pois casamos obrigados e
por muito tempo você expôs a sua rejeição a nossa união.
Eu conseguia ver a fragilidade nas íris verdes do Black, uma dor
profunda manchando sua alma. A necessidade pela certeza de que seu toque
não me machucaria, ele precisava saber que eu me doava por vontade
minha. Não consigo imaginar o que ele passou no passado para trazer essa
cicatriz, mas compreendia que ele estava respeitando seu limite e percebi
que eu tinha a chance de descobrir os meus limites.
Agarrei sua mão entrelaçando nossos dedos, sentei em seu colo
beijando seu nariz.
— Eu quero fazer sexo com você, é de minha vontade e livre
escolha que aceito dividir meu corpo com você e receber uma parte do seu.
Eu rejeitava entregar meu coração para ser magoado novamente. Mas não
pretendo negar a minha vontade de me envolver sexualmente com você.
Sua expressão abrandou, descansando a testa contra a minha.
— Compreendo seus motivos, outro limite para mim é a palavra
“pare”, não a diga ou interromperei o sexo e não retornaremos,
independendo do que argumentar. Só a use se realmente quiser parar o ato.
— Não entendi. — Franzi a testa. — Por que eu pediria para parar se
estiver gostando?
— Não é incomum, às vezes a pessoa se perde nos sentidos, prestes
a gozar o prazer se torna quase insuportável, implora para parar, mas
desejando continuar, ir além, romper a bolha alcançando novos patamares
de deleite.
— Não sei se entendi, mas caso eu pense em pedir para parar vou
considerar usar outra palavra. — Sapequei um beijo em seus lábios. —
Mais alguma coisa? Quero que a noite de hoje seja perfeita para mim e para
você.
Eu sentia a necessidade de fazer carinho no meu marido, acalentar o
que o perturbava.
— Não, e você tem algum limite que não deseja ultrapassar? —
Entrei em ebulição pela força do olhar carregado de proteção e carinho.
— Continuo trabalhando minha autoestima, me acostumando com as
cicatrizes, teria como, ao menos hoje, fazermos sexo no escuro e você não
tocar meu tronco? — Engoli em seco admitindo a dor. — Não me sinto
pronta para expor as marcas.
Black me encarou profundamente, sentia que desbravava minha
alma, explorando meu íntimo e medos.
— Onde elas estão?
— Barriga e costas.
— Alguma nos peitos?
— Não.
— Se você quiser pode usar uma camisola, eu teria acesso a sua
boceta, baixando o tecido para expor os peitos e manter coberto o que você
não está pronta para mostrar.
Eu queria chorar pela sua solução.
— Gostei da ideia. — Ataquei seus lábios em um beijo afoito. —
Vou me arrumar.
Pulei do colo do Black sentindo a boceta melada, animada para
termos a nossa primeira experiência sexual, respeitando os limites um do
outro. Black me enchia de confiança no sexo e facilitava me entregar.
Esperava que ele compartilhasse do mesmo sentimento.
— Espera — chamou. — Posso te ajudar a retirar o vestido.
— Acho que pode me auxiliar com os botões — recuei ficando de
costas para ele — sem espiar.
A risada rouca bateu na minha nuca exposta arrepiando os pelinhos.
Senti os dedos se enfiando no meu penteado, retirando o peso do véu,
soltando as madeixas pretas caindo como cascatas ao redor dos meus
ombros. A tiara ganhando o mesmo destino, sentia que perdi 10 quilos ao
remover os acessórios capilares.
— Você tem um cabelo lindo, macio, cheiroso — a voz rouca ao pé
do meu ouvido arrepiou a minha pele.
As mãos grossas tocaram a superfície dos meus ombros, inspirei
entrecortado, arrepios ao ter suas palmas descendo pelos meus braços,
envolvendo cada centímetro exposto da pele no seu toque firme. O quadril
batia contra minha coluna, ele curvou o corpo enfiando o rosto no meu
pescoço, me envolveu com seus braços másculos.
— Minha vontade é de tocar cada pedaço da sua pele — sussurrou
mordendo meu pescoço, inclinei a cabeça para o lado oferecendo acesso. —
Belíssima. — Soprou.
As mãos rodearam minha cintura, aproveitei o toque do Black me
entregando sem ressalvas. Eu não queria iniciar um jogo de provocação, ao
menos hoje eu o permitiria me tocar e fazer o que desejasse para
alcançarmos o ápice do prazer no final da noite.
Sentia o nó dos dedos resvalando minha coluna, passeando por cima
das cicatrizes. A língua molhada melando a carne do pescoço e ombro
expostos pela renda do vestido. Um por um ele ia retirando os botões das
casas até parar no topo da minha bunda. Sorrateiramente sua mão se enfiou
por dentro envolvendo o tecido da calcinha, baixando um pouco do vestido,
o vento gelado bateu na minha espinha. Apertou minha bunda por trás e
puxou minha barriga pela frente colando meu corpo contra sua ereção
espetando minha coluna dentro do tecido.
— Já pode se trocar. — As palavras me envolviam em uma bolha
quente, eu não queria me afastar.
Ele deslizou a mão rodeando minha coxa, envolvendo minha vagina
escaldante, necessitando do toque de seus dedos. Agarrei a nuca do Black,
esfregando a bunda em sua coxa enorme, tentando manusear sua mão ao
encontro do meu centro. Mordi o lábio me deliciando com a força de seus
dentes puxando a pele fina do meu ombro.
— Josephine, se ainda pretende vestir sua camisola, vá agora. —
Rouco ele me convidava para continuar.
O braço subiu do meu ventre para minha barriga, gelei ao sentir os
dedos tocando meu umbigo, ele sentiria a cicatriz horrenda. Agarrei sua
mão recuperando o ar que prendia nos pulmões.
— Já volto. — Guiei sua mão a retirando do meu vestido.
Caminhei com calma para dentro do closet, levei a mão ao peito sem
acreditar no turbilhão de sentimentos me consumindo por dentro. Nunca
imaginei que um toque pudesse causar tamanho incêndio! Revirei minhas
roupas de dormir encontrando uma camisola de cetim branca com renda no
decote do sutiã e na parte abaixo dos seios. Conseguiria cobrir minhas
marcas.
Tenho treinado todos os dias me conectar com meu corpo, dançando
pelada no quarto, encarando as cicatrizes no espelho tentando não as odiar.
Estou mais forte e ganhando confiança no meu corpo, mas não era o
bastante para me mostrar a outra pessoa. Passo as mãos no cabelo
conferindo minha imagem, a camisola é sexy, se acomoda suavemente as
minhas curvas, os fios negros cacheados devido ao coque.
Passo um brilho nos lábios, inspiro fundo e retorno ao quarto. Black
apagou as luzes deixando somente a iluminação do teto perto da tevê, do
outro lado do quarto, acesa possibilitando enxergar parcialmente os móveis.
Eu sentia a energia do Black esperando em cima da cama, conseguia ver as
nuances de seu corpo, os olhos verdes como o de um gato fixos em mim.
Apoiei o joelho no chão, perdi o equilíbrio ao ser puxada pelo pulso.
Gritei assustada, animada, excitada ao ser presa debaixo do enorme corpo
do Black. Ele era puro músculo, eu sentia seu pênis grosso batendo na
minha barriga, me encarando fixamente. Envolvi sua barba com os dedos
puxando seu queixo e colando nossos lábios.
Ele foi brutal ao deslizar o quadril encaixando nossos sexos. Gemi
em seus lábios adorando a fricção criada pelo seu pau contra minha carne
melada, deslizando com facilidade, enviando ondas prazerosas pelo meu
corpo. Contraí a ponta dos pés, me agarrei a ele envolvendo as pernas ao
seu redor sentindo a bunda dura contra o solado.
Desimpedida agarrei seus ombros com força, esfregando o quadril
contra sua ereção crescendo a cada segundo entre nossos corpos. Não
esperava pelo turbilhão de emoções sexuais explodindo por todos os lados.
Eu queria me perder no seu corpo, o cheiro de sexo quente povoando meus
sentidos, a língua indo tão fundo no meu interior que me deixava zonza, o
pênis quase me penetrando, causando contrações no meu interior, eu estava
prestes a implorar para ser devorada.
— Eu vou te foder gostoso — avisou agarrando meu queixo. —
Pode doer por ser sua primeira vez, mas lembre-se do que pedi. Não diga
“pare” se não quiser interromper o sexo.
— Não direi. — Segurei sua nuca empurrando seu rosto para baixo,
queria ser tocada no meu centro em chamas. — Vem me comer.
— Caralho, Josephine. Estou quase explodindo de tesão e você fica
me provocando.
Black não me deixou responder, roubou meu ar me fazendo gritar
pela mordida dada no meu mamilo sensível. A outra mão se metendo entre
minhas pernas, circulando o feixe de terminações nervosas com
movimentos poderosos. A língua brincava com meu peito como se fosse um
maldito pirulito, enrolando ao redor, puxando com os dentes, me fazendo
ofegar, perdendo a razão sobre o meu corpo.
Os dedos na minha intimidade deslizaram para baixo, abrindo a
fenda entre minha carne, invadindo meu centro. Arfei pela nova sensação
descoberta, a boca exigente puxou com voracidade meu peito, socando o
dedo na minha vagina, duro, ágil, entrando e saindo, levando meu centro a
um acúmulo enlouquecedor de calor.
— Vou provar o gosto da sua boceta, será que é ácida como você?
Provocou descendo contra o meu corpo. Black evitou encostar na
minha barriga, agarrando minhas coxas pondo sobre seus ombros. Eu nem
tive tempo de responder antes de sentir sua língua possuindo minha
intimidade.
— Inferno, Josephine. — Urrou estremecendo minha carne com o
hálito quente. — É como chupar a fruta mais gostosa do mundo!
— Black! — chamei seu nome.
Convulsionei ao ter o clitóris cativo em sua boca sugando
poderosamente, revirei os olhos puxando os fios de seus cabelos, agarrando
o colchão, precisando de qualquer coisa capaz de acalmar a loucura revolta
em meu ser. Esfreguei a vagina em sua cara, delirando com as chupadas se
intensificando a cada movimento.
Ele meteu um segundo dedo na minha entrada, alargando, puxando e
eu suguei esfomeada para ganhar mais doses de deleite. A língua rodeava
minha carne explorando cada pedacinho, sugando os líquidos produzidos,
eu me sentia cada vez mais melada, expelindo prazer na cara do Black.
Ficou demais, não consegui aguentar a tormenta crescente no meu
núcleo. Finquei as unhas em seus músculos dos ombros, apertei as costas
com meus pés, bati a cabeça no travesseiro perdendo o ar ao atingir uma
explosão magnífica se derramando de dentro da minha vagina, sendo
sugada com fervor pela boca afoita do Black. Ele continuou me sugando
após meu descontrole delicioso de prazer, tentando me limpar enquanto eu
produzia mais creme para se deleitar.
Esfregou a barba na minha virilha, deixando ali um beijo, subiu
depositando beijos em meus braços, ombro e pescoço. Seu pau se acoplou
novamente entre minhas pernas. A cabeça macia na minha entrada pedindo
permissão para me possuir. Encarei o rosto na penumbra notando a
necessidade do Black em ouvir o meu consentimento.
— Faça-me sua mulher, Black — pedi, envolvendo os braços ao
redor do seu pescoço.
— Torne-me seu homem, Josephine.
Aquelas palavras atingiram minha alma com força, ele não falava no
sentido sexual. Black queria entrar na minha vida, se tornar parte de mim.
Por um segundo me assustei com a intensidade do sentimento, não me
sentia pronta. Ao invés de o responder com incertezas, colei nossos lábios.
E ele veio, empurrou o quadril contra o meu, o pênis abriu minha
entrada intocada, espalhando ardência. Incomodava, eu queria parar ao
passo que a pressão aumentava se tornando uma dor irritante. Apertei o
braço do Black, fiz careta em meio ao beijo, por um segundo considerei
pedir que parasse.
— Devagar — sussurrei, tomando cuidado com as palavras.
— Estou parado só com a cabecinha dentro. — Notei o esforço que
ele fazia se controlando, os braços tensionados, a testa franzida.
— É muito grande.
— Vou meter só a cabecinha do meu pau. — Deu-me um selinho
amável. — Quando sentir que aguenta mais, avisa.
— Podemos tentar.
Agarrei seu pescoço, Black desceu o rosto beijando minha boca. Ele
começou a se movimentar lentamente. Eu o sentia completamente dentro de
mim e assustava um pouco saber que era somente a cabeça robusta de seu
pau me alargando. Não foi difícil me acostumar, ele manteve a palavra
entrando e saindo devagarinho, uma mão capturou meu clítoris em
movimentos frenéticos.
Eu me sentia encharcada, a dor começou a amenizar e a pressão
sumia cada vez mais. Abri as pernas facilitando a penetração, não precisei
dizer nada, ele soube que podia continuar entrando. O mundo começou a se
perder ao meu redor. Eu só conseguia captar os beijos dominante inundando
minha boca, o pênis alargando meu interior enviando um frenesi enervante,
subjugando a dor, a tornando somente um pequeno incômodo.
Gritei, completamente aberta, não tinha como dessa vez ser somente
a cabeça do pau. O pau bateu no meu útero, completamente enterrado em
mim. A pélvis roçando a minha, as bolas resvalando minha bunda. Subi as
pernas prendendo suas coxas grossas, mexi suavemente meu quadril me
acostumando com o desconforto. Ele acelerou os movimentos no meu
clitóris e com a outra mão capturou meu seio rodando o mamilo durinho
entre os dedos.
Entreguei-me ao Black caindo no redemoinho viciante. Eu adorava o
som da sua boca na minha, os beijos molhados, os lábios mal conseguiram
se manter conectados, seu pênis enorme entrando e saindo do meu centro,
preenchendo como nunca imaginei ser possível. Ofeguei, escaldante,
arranhei suas costas, engoli os gemidos roucos.
Ele não parava um segundo de me beijar, me tomando por completo,
aterrado no meu centro, esmagando meu clitóris inchado, pressionando o
bico do meu peito. O corpo coberto por músculos em cima do meu, me
fazendo afundar e desaparecer no colchão. Agarrei com tanta força que
jurei ter perfurado sua pele, eu me sentia caindo, despencando em um mar
infinito de deleite.
Não queria acordar, não podia voltar à realidade. Eu morreria feliz
naquele segundo sendo consumida, entregando e recebendo tudo do Black.
Sua respiração alterou, ficou mais bruto, forte, contraindo os músculos
sobre minhas palmas. Ele não conseguia mais me beijar, a boca pairando
aberta sobre a minha expirando fundo. Por uma fenda entre as pálpebras eu
visualizei o rosto contorcido em completo prazer, perdido no fogo
queimando entre nossos sexos.
Berrei experimentando uma sensação única, o útero apertou, minha
vagina vazou líquidos como louca, sugando o pau que me comia com
fervor. Meu corpo tremeu, não conseguia mais controlar a força dos braços
e das pernas. Desabei arreganhada na cama. Black agarrou minha bunda
com força, soltou meu clitóris levando o braço ao topo da minha cabeça.
Contraiu a boca e explodiu dentro de mim, quente, viscoso e poderoso.
Assistia-o perdendo o controle do corpo chegando ao orgasmo
enquanto eu tentava entender se estava flutuando ou naquela cama. A
cabeça anuviada, um pouco zonza, lutando para manter os sentidos ligados,
para não desabar e me entregar ao cansaço. Parecia que corri uma maratona
e no final bebi a melhor das águas, renovando a minha alma.
— Tudo bem? — ele perguntou saindo de dentro de mim, quis
protestar, sentindo sua falta.
— Muito — respondi engolindo em seco, cansada.
— Quer alguma coisa?
— Só respirar — falei em um fôlego.
Ele se virou ficando sentado na cama, observava as costas largas se
mexendo na mesinha de cabeceira, voltou-se para mim com um copo de
água nas mãos. Meu peito tremeu pela sua preocupação. Black me ajudou a
sentar contra seu peito, o pênis flácido batendo na minha bunda descoberta.
Eu estava melada entre as pernas e tive medo de ver se tinha sangue nas
coxas.
— As luzes vão continuar apagadas, vou limpar você — murmurou
baixinho, puxando o lençol com delicadeza enquanto eu bebia a água e ele
me limpava.
— Obrigada — respondi seca entre as pernas e com a sede saciada.
— Quer tomar um banho?
— Não sei se tenho forças. — Desabei contra o colchão.
— Deixa eu puxar o lençol — pediu.
Subi contra a cabeceira enquanto ele tirava o lençol da cama, pegou
outro no closet e tive de me levantar observando o cuidado do Black. Não
sei se sangrei no lençol pela perda da virgindade, mas não aguentaria ver a
mancha estragando meu momento sublime.
Black voltou para o closet, ouvi o som da torneira sendo aberta no
banheiro, retornou com uma toalha molhada e passou no meu centro,
limpou as minhas coxas. Beijou meu ombro antes de colocar a alça da
camisola no lugar. Deitei a cabeça sentindo um cansaço sobre-humano, as
pálpebras se fechando involuntariamente. Notei seu corpo na cama, ele me
puxando contra si, adormecendo ao meu lado.
Não imaginei que gostaria de dormir agarrada ao Black, naquele
segundo me vi impossibilitada de recusar receber seu carinho.
Dormi tranquila sem pesadelos.
O “toc toc” incessante na porta me despertou. Abri as pálpebras
bocejando preguiçoso, fazia dias que eu não descansava tão bem. Josephine
dormia com os cabelos jogados na minha cara. Puxei os fios os ajeitando
em suas costas, a alça fina expunha os ombros e parte da omoplata exibindo
marcas na sua pele.
Engoli em seco, vislumbrei algumas linhas grossas, as outras
escondidas debaixo do tecido. Meu estômago doeu ao pensar nas torturas
que ela foi obrigada a suportar sozinha. Curar ferimentos como esse era
difícil, levaria dias somente para conseguir deitar sem sentir a pele
rasgando.
A vontade de a fazer feliz e esquecer o passado ardeu no meu peito.
Josephine merecia dias repletos de paz e alegria e eu faria de tudo para ela
poder aproveitar sua vida do jeito que desejasse. Ontem ela me fez sentir
completo, conseguiu afugentar minhas dúvidas e medos. Mantive a atenção
em cada uma de suas reações, abocanhando seus gemidos prazerosos, a
entrega de seu corpo, o orgasmo explodindo no meu pau.
Sexo sempre foi complicado para mim. Levou tempo para conseguir
me acostumar com a Amber, poder me soltar e não expressar os medos me
afugentando. Mas com a Josephine tudo era fácil, natural, nossos corpos se
encaixavam como se pertencessem um ao outro. Nunca havíamos nos
tocado intimamente, mas ontem eu sentia conhecer cada nuance de sua pele,
cada ponto de prazer, meu quadril mexia-se sozinho, guiado unicamente
pelas respostas dela.
Completávamos um ao outro, entregamos corpo e alma sem medo de
machucar ou ser rejeitado. Naquele momento deixamos de lado o passado,
aproveitando o presente. Eu mal podia conter a vontade de voltar a me
enterrar nela, de ouvir novamente seus gemidos roucos, sentir suas mãos
arranhando meu corpo, as pernas me puxando contra seu centro. Meter tão
fundo na boceta molhada ao ponto de esquecer a realidade.
— Black? — ouvi a voz da minha mãe.
— Já vou.
— Eles não podiam esperar mais? — Josephine se encolheu nas
cobertas, escondendo o rosto.
— Pode continuar dormindo, eu dou conta.
Não contive a vontade, desci a boca beijando seu pescoço. Ela se
encolheu com um pequeno riso nos lábios. Ela ficava linda sonolenta,
processando o mundo ao seu redor. Levantei, vesti uma roupa de moletom e
abri a porta. Fiquei surpreso ao ver o Kai segurando a Daisha nos braços.
Pelas novas regras impostas pelo Michael, a antiga tradição de
exibição para toda a famiglia dos lençóis com sangue da virgem no salão da
casa dos recém-casados foi abolida. A noite de núpcias passava a ser
confirmada no quarto do casal, inicialmente as líderes de cada família
estavam presente na porta enquanto as mães dos noivos conferiam o lençol.
Mas mudou para ser somente as mães do casal, sem precisar exibir para as
outras senhoras.
Por isso fiquei surpreso com o Kai na porta do meu quarto. Ele
podia ser o irmão da Josephine, mas hoje não deveria pisar na minha casa.
Endureci as feições encarando o intruso.
— O que faz aqui?
— Só vim trazer minha esposa, não a deixaria subir todos os lances
de escada mancando. Ficarei do lado de fora, não se preocupe, não me
interessa ver o sangue da minha irmã no lençol.
— Não consegui negociar com ele. — Daisha sorriu constrangida ao
ser colocada no chão.
— Bom dia, querido — minha mãe cumprimentou.
— Bom dia, mãe. — Abri a porta dando passagem para elas.
— Não vamos demorar — minha mãe disse.
Daisha mancava lentamente em direção à poltrona onde deixei o
lençol manchado. O sangue da Josephine escorreu pela virilha e coxas, mas
não pingou no lençol. Mesmo no escuro consegui ver o líquido mesclado ao
meu esperma, limpei o melhor que podia para não causar medo nela no
banho.
— Bom dia, Phine — Daisha cumprimentou a amiga após conferir o
lençol.
— Bom dia, Dai. — Encolheu-se mais, escondendo a cabeça.
Percebi que ela temia ver o sangue. Minha mãe sorriu, veio a mim,
abaixei o tronco recebendo seu beijo na bochecha e carinho no maxilar. Eu
amo essa baixinha e a vida que tem surgido em seus olhos desde que iniciou
o tratamento e conseguiu fazer as pazes por completo com a Hope.
— Podemos ir, te vejo em casa, filho. Até mais, Josephine.
— Tchau, sogrinha. — Dei risada pela voz abafada.
— Ela parece um tatu — minha mãe brincou.
— Envergonhada — comentei.
— Eu te odeio um pouquinho por estar levando a Phine para Las
Vegas com você. Seja um bom marido ou você vai precisar se entender com
o quarteto mais temido de Nova Iorque!
Tive ímpeto de rir da ameaça da Daisha, mas preferi não a irritar. Eu
sabia o quanto esse quarteto podia ser perigoso quando se juntavam para
causar o terror. Preferi escapar de sua fúria com um sorriso gentil enquanto
ela caminhava para os braços do marido, parado de costas para a porta.
— Cuide bem da minha irmã — Kai disse erguendo a esposa no colo
— ou juro que te mato.
— Um casal ameaçador, estou morrendo de medo, sua cadela.
— Ei! — Josephine gritou expondo a cabeça. — Vão embora que eu
quero dormir.
— Precisamos nos arrumar, o jatinho está sendo preparado para
nossa viagem — avisei entrando no quarto, Kai se virou para ir embora e
fechei a porta.
— Qual o destino? — Esticou os braços fazendo uma carinha
adorável.
— Cabo San Lucas, no México.
Bati as mãos no colchão fazendo a tatuzinha sentar, os cabelos
bagunçados caindo no rostinho cansado. Ela bocejou preguiçosamente,
puxou os fios negros do rosto escondendo atrás dos ombros. A alça branca
deslizou, o decote folgado me dava a visão deliciosa do peito arrebitado.
Sentei, puxando seu corpo contra o meu, Josephine ficou acesa, a
respiração ansiosa para receber o meu toque. Colei as costas contra meu
peito, a bunda em cima do pau, a ereção crescia dentro da calça. Abri suas
pernas expondo o púbis depilado. Espalmei as mãos no joelho, com a ponta
da unha arranhava sua pele, desci para a fenda do seu centro.
— Você não tinha tido problemas com os mexicanos? — Deitou a
cabeça no meu ombro, respirando pesado.
— Já foi resolvido. Ficaremos hospedados perto da praia do Gael.
Vou precisar trabalhar um pouco, mas prometo aproveitar a lua de mel.
— E se nos atacarem?
Meti o dedo no clitóris inchado pelas lambidas ferozes de ontem,
girando o botãozinho, extraindo arrepios da sua pele. Ela entreabriu os
lábios puxando o ar, reproduziu o maldito assobio enlouquecendo meus
sentidos. Empurrou a bunda arrebitada na minha ereção, se esfregava contra
meu cacete.
— Estaremos protegidos pela minha equipe, e o Gael vai
proporcionar apoio extra. Não corremos perigo no território dele.
— Possui a certeza que podemos confiar nele? Aaaah, Black. —
Agarrou meu punho, meti dois dedos no calor da boceta, ela estava
completamente pronta para me receber.
— Gael possui medo do estrago que podemos causar aos seus
negócios se ele ousar nos desafiar. Ele sabe quem manda.
Massacrei a entrada encharcada enfiando meus dedos, esfreguei a
palma da mão no seu clitóris arrancando gemidos deliciosos da boca da
Josephine. Não aguentava mais a dor nas bolas e a vontade louca de a
comer. Ergui as coxas a deixando ajoelhada na cama. Puxei meu pau para
fora da calça, mirei sua entrada e meti sendo recebido pelo calor escaldante
da boceta apertada.
— Porra, Black!
Apoiou as mãos no colchão de quatro, segurei sua cintura por cima
da camisola, respeitava sua vontade de esconder as cicatrizes. Não a
forçaria a mostrar sem estar pronta. Enlouqueci com a visão ardente de
Josephine de quatro, a camisola enrolada no início da coluna, a bunda
recebia com fervor as estocadas contra sua carne macia.
Os cabelos negros espalhados pelas costas, balançando, caindo na
lateral de seu corpo. A boca aberta, os olhos pressionados com força. Os
dedos apertando o tecido debaixo deles. A boceta pingando de tesão,
devorou meu pau, me deixando entrar cada vez mais fundo e duro. Urrei
não conseguindo controlar a porra do tesão eletrizante consumindo o meu
ser.
O pau inchou dentro de Josephine, precisei prender a respiração para
não esporrar antes dela. Apreciei as expressões de deleite em seu rosto, os
gemidos chegando aos meus ouvidos como música. Precisei diminuir ou
explodiria. Finquei as unhas na carne de sua bunda abrindo as bandas e
dando de cara com a perfeição que era meu pau enterrado na boceta rosada
com tons marrom-claro ao redor.
O buraquinho enrugado do cuzinho pedia pela minha atenção, a
carne macia brilhou pelos líquidos a melando. Puxei devagarinho
observando o comprimento grosso saindo quase por completo. Ela rebolou
o quadril se esfregando e querendo empurrar para me receber
completamente em seu interior. Firmei o aperto em sua carne e investi com
força a fazendo perder o equilíbrio e bater a cabeça no colchão, alucinada,
gemendo, remexia a maldita boceta no meu cacete, cada segundo mais
gulosa.
Meti a mão nas terminações nervosas em sua fenda esfregando os
dedos, deslizei com facilidade, completamente encharcado. Meu cacete
babava, cada segundo ficando mais faminto. Eu meti como um animal, de
joelhos comendo a Josephine sem medo. Não existia a pressão no meu peito
me fazendo conter os movimentos, não tinha os pensamentos julgadores.
Somente eu e ela, mesclados em uma massa poderosa de prazer,
unindo nossos corpos, entregando, puxando o máximo que podíamos um do
outro. A boceta me estrangulou, apertando tanto meu cacete que cheguei a
sentir uma leve dor. Abri os olhos encarando a minha esposa gritando,
apertando o tecido do edredom, babando ensandecida completamente
perdida em seu prazer. Não aguentei, as bolas doíam, o pau pesado, duro
como ferro a comendo sem parar.
Arremeti, enterrando tão fundo que senti a barreira da boceta
impedindo que eu tocasse o útero. Esporrei como um animal no seu canal,
não conseguia sair de dentro dela. O inchaço no pau começou a diminuir, eu
lutava para respirar. Josephine nem pareceu estar viva, completamente
imóvel perdida no seu deleite.
Puxei para fora adorando ver minha porra escorrendo da entrada da
boceta dela, a marcando com minha. Rosnei, desci o rosto beijando a bunda
arrebitada. Ela perdeu a força nas pernas e desabou sobre os joelhos. Sentei
na cama a puxando para mim, beijei os cabelos, a face corada e a boca
esfomeada. Acabei de gozar e já queria me enfiar novamente entre suas
pernas.
— As meninas tinham razão, sexo é muito bom.
— Te machuquei? — Recuperei a consciência, me dando conta da
brutalidade na sua segunda vez.
— Se o fez, não senti. — O céu noturno em suas íris me encarou
relaxada, aproveitando as sensações do pós-sexo.
— Promete me falar se um dia eu fizer algo que não goste? — Alisei
o queixo fino.
— Sim. — Beijou minha palma. — Estamos muito atrasados para
pegar o avião?
— Não muito, mas se quisermos aproveitar a praia, precisamos nos
apressar.
— Não gosto de usar biquíni — murmurou triste.
— Estaremos em uma praia particular, ninguém vai te ver. —
Envolvi os braços ao seu redor.
— Nem você?
A fragilidade em sua voz me pegava de jeito, mexendo com meu
íntimo. Recordei das inúmeras vezes em que consolei a Hope, enquanto
minha irmã se perdia no sofrimento devido à marca sangrenta de seu
nascimento. Apertei Josephine em um abraço carinhoso, beijei o topo de
seu ombro.
— Não deixarei ninguém chegar perto ou ousar te olhar enquanto
aproveita a praia. Peça-me o que quiser e eu te darei, Josephine.
— Não precisa exagerar, sei que é incapaz de me dar o que eu
preciso.
— Provarei a você que o impossível é somente uma palavra.
Ela me encarou com tristeza, mas consegui ver no fundo da pupila
sua alma vibrando, lutando para não criar esperanças. Josephine continuava
fechada emocionalmente para mim, sua entrega na cama era algo que ela
desejava partilhar comigo, aproveitar. Se recusou a negar para si e obter
tudo o que podia.
Eu a magoei por anos e terei um longo percurso lapidando a estrada
para o seu coração ferido. Eu faria o impossível para em meu caminho curar
cada uma das cicatrizes em sua alma e mostrar à Josephine que ela é uma
mulher que vale a pena.
— Farei as malas. — Saiu do meu colo, rebolando o quadril ao
entrar no closet.
Guardei o pau na calça e segui seu rastro como um viciado.
Ela ficou na ponta dos pés, esticando os braços acima da cabeça
tentando pegar a mala no topo da prateleira. Fiquei atrás do seu corpo,
abracei sua cintura, erguendo seu corpo.
— O quê? — Apoio as mãos nos meus braços.
— Só uma ajudinha. — Beijei a coluna por cima da roupa.
— Eu estava quase conseguindo.
— Se você continuasse se esticando eu cairia de joelhos com a boca
na sua boceta gostosa. Mas temos um voo para embarcar e vou deixar para
te comer deitada na areia branca de Cabo San Lucas.
— Jesus, nem parece o homem que me rejeitava. É esse o talento da
minha boceta? — comentou surpresa e ácida.
— É o seu poder, Josephine. — Deslizei seu corpo nos meus braços,
enfiando o nariz em seu pescoço. — Estou me tornando um maldito
viciado, incapacitado de ficar longe.
— Você é um excelente mentiroso. — Derreteu pelo aperto no
mamilo excitado.
— Não me importo se acredita em mim ou não — meti a mão em
sua fenda molhada — sua boceta encharcada de tesão pelo meu pau é o
melhor indicativo de seus sentimentos.
— Te odeio — sibilou suspirando baixinho.
— Meninas malvadas não ganham rola no rabo. — Soltei-a.
— Quem perde é você, posso terminar sozinha.
A diaba virou de frente, sentou no tapete, abriu as pernas me
encarando repleta de tesão. O dedo fino deslizou em sua fenda, a mão
cobrindo a boceta molhada. Caí de joelhos, salivei de vontade de provar seu
gosto novamente. Espalmei sua coxa abrindo mais, adorando ver Josephine
me provocando, brincando consigo mesma.
Desci o rosto adorando o cheiro de sexo exalando entre suas pernas.
— Quietinho. — Segurou meus cabelos com uma mão. — Meninos
malvados não ganham o direito de chupar minha boceta. — Estalou os
lábios, puxando o ar no maldito assobio.
Eu percebi o cuidado que ela tomou com a palavra, ao invés de me
mandar parar, preferiu pedir que eu ficasse quieto. Aquilo jogou gasolina no
fogo me consumindo.
— Podemos negociar as punições. — Firmei a palma em sua coxa.
Forçando o rosto para baixo, pairando acima da boceta deliciosa.
— Quais seus termos. — Puxou o dedo melecado esfregando nos
meus lábios. Chupei com volúpia aproveitando as migalhas de seu sabor.
— Eu te faço gozar até perder os sentidos e você não me nega a
boceta.
— Está desistindo do seu joguinho? Você tentou me deixar excitada
para me fazer implorar para que você me comesse.
— Não contei com você virando o tabuleiro a seu favor. — Meu pau
doía de vontade de comê-la. — Deixa eu te chupar, Josephine — implorei.
— Come minha boceta, Black — ordenou, tremi adorando receber
seu comando.
E como um bom súdito diante de sua rainha eu obedeci a sua ordem,
abocanhei a boceta com vontade, chupei, mordi, me deliciei com seu sabor
cítrico inebriante. Eu morreria feliz com o rosto no meio das pernas de
Josephine. Minha rainha tinha o suco mais saboroso do mundo na boceta e
eu me fartaria dele até a morte.
Só paramos de transar depois que a fiz gozar ensandecida no meu
pau. Para evitar mais atrasos em nossa viagem, tomamos banho sozinhos,
arrumamos as malas em meio a beijos gostosos. Deixamos nossa casa
tranquilos, não sei o que Josephine esperava que nosso casamento se
tornasse, mas no primeiro dia estou satisfeito com a minha escolha. Torci
para que os dias seguintes pudessem ser uma continuidade do tesão
avassalador e calmaria gostosa de estar na companhia um do outro.
Eu nunca vi um mar tão lindo.
A única praia que conheci foi a que o Kai me levou em Nova Iorque,
ela me causava calafrios ao lembrar do desespero que foi pular na água
gelada para resgatar meu irmão. A presença do Black foi essencial para eu
conseguir retirar o Kai do mar e o trazer de volta à realidade.
No meu momento de desespero o Black estava ao meu lado lutando
para salvar o amigo. Eu odiava lembrar daquela noite, pisquei focando no
presente.
Desembarcamos em Cabo San Lucas às 16 horas da tarde.
Demoramos para arrumar as malas. A energia massiva crepitou entre nossos
corpos impedindo que ficássemos distantes. Estou exausta de transar e a
boceta não parou de palpitar ansiosa para ser tocada novamente.
Através da janela do jatinho eu vi as belezas daquele lugar e estava
louca para explorar tudo. A mansão em que estávamos hospedados ficava
em uma área particular na praia Paraíso Escondido. Cabo San Lucas tinha
dezenas de pedras enormes, gigantescas, dividindo as várias praias e
servindo como barreira natural.
A mansão se localizava entre duas grandes barreiras formando um
triângulo aberto para o mar. Entre as pontas da estrutura da enorme mansão,
alguns cômodos possuíam as rochas como parede dando um ar rústico. As
varandas de frente para o lindo mar, areia branquinha, água salgada quente
azulada, céu sem nuvens, somente o sol banhando minha pele. Estou em um
paraíso.
— Eu te avisei — a voz rouca falou ao pé do meu ouvido. — Pode
ficar de biquíni ou sem, ninguém vai te ver.
— E todos esses seguranças?
Os homens vestindo preto rondavam o topo das rochas com armas
em punho, espalhados pela mansão, cobrindo a frente para o mar e o acesso
à pista do outro lado.
— Furaria os olhos dos que ousassem te olhar. — Deslizou as mãos
grossas envolvendo minhas coxas. — Me avise quando quiser tomar um
banho de mar, deixarei a praia completamente deserta para você.
Girei em seus braços, as palmas alisaram minha bunda. A barba
preenchida, uma pequena cicatriz na bochecha, os verdes de seus olhos
tranquilos ao me encarar. Envolvi o pescoço grosso com os braços,
adorando a aspereza da sua pele contra a minha.
— Minha maior preocupação seria se meu marido tarado me
espiasse.
— Eu não sou tarado.
— E é o quê? Estou assada de tanto foder e você não para de
insinuar que quer me comer.
— Eu sou obsessivo pela minha esposa gostosa.
Ardi, Black não mentiu, consegui sentir a intensidade de suas
palavras pelo calor emanando de seu corpo, a fome em seus olhos, as mãos
passeando livremente por minha bunda e coxas. O pênis ostentando uma
ereção contra a minha barriga. Meus mamilos doeram, pesados de vontade
para serem tocados. A boceta começou a ficar molhada. Eu também estava
obcecada pelo Black, mas perderia um braço antes de admitir.
— Podemos tomar um banho agora. — Virei o rosto encarando o
mar.
— Quer se trocar? — Beijou meu pescoço, curvou meu tronco para
trás, ganhando acesso ao busto.
Usava uma blusa branca de alças grossas com um decote poderoso,
exibindo o vão entre os peitos. O tecido era apertado na barriga, simulando
um cinto. Vesti um short de cós alto, deixando a poupa da bunda exposta.
Não fazia ideia de que nosso destino seria uma praia, quando fiz compras
com a Kennedy optei por umas roupas de calor, me preparando para
qualquer situação. Por sorte, Louis e Eleanor nunca marcaram minhas coxas
e agora que ganhei uns quilos eu as exibia sem vergonha.
— Vou retirar o short. — Soltei seu corpo.
As mãos dele foram rápidas, agarrando o botão da peça, se enfiando
e tocando a calcinha úmida, entregando meu tesão. A outra mão se enfiou
na minha bunda baixando o tecido, arranhando a polpa. Mordi os lábios
contendo o gemido causado pela sensação deliciosa do ardor na pele.
— Não vai precisar de calcinha. — Puxou rápido o tecido, não me
deixando protestar.
Busquei pelos seguranças com medo de verem a minha nudez, não
encontrei nenhum homem nos arredores. Gostei de saber que eles sumiram
sem precisar receber uma ordem direta do Black. Eles entendiam suas
posições e o que estávamos fazendo. Ganhei um pouco de confiança para
nadar e tomar sol. Não trouxe nenhum biquíni, ainda me assustava me
expor em um.
— Black — gemi seu nome adorando o dedo enfiado na minha
carne.
— Deita na areia e abra as pernas para mim — ordenou.
— Não pense que vou te obedecer sempre.
Ajoelhei-me, as pequenas pedrinhas de areia arranharam meus
joelhos. Apoiei os braços no chão, o tronco erguido e as pernas abertas para
seu olhar esfomeado. Se não tivesse sujado as mãos de areia estaria o
provocando com a mão na vagina.
— Adoro sua rebeldia, tanto quanto sua submissão.
Black puxou a camisa pela cabeça me dando uma visão deliciosa.
Somente agora conseguia visualizar seu corpo por inteiro, de manhã
fodemos com ele usando a camisa, esfomeados não paramos para retirar as
roupas.
Ele era enorme. Braços musculosos, ombros largos, pescoço com
veias nas laterais, o maxilar anguloso. O peitoral era uma massa de
músculos com os mamilos rosados. O abdômen trincado com deliciosos
gominhos no centro e na lateral. Ele tinha uma cintura larga, gostosa de
abraçar. Um maldito V demarcou a entrada do púbis e o caminho do paraíso
escondido em suas calças.
O que me deixava mais louca era a tatuagem enorme na lateral
esquerda de seu corpo, escondida de olhares curiosos. Do cós da calça até
as costelas, Black tinha espirais pretas desenhadas, pareciam garras. No
centro da cintura um pequeno círculo, dele desenvolvia as tiras pretas com
pontas afiadas, tomando parte de sua barriga, quase tocando o umbigo, elas
findavam no quadril torneado.
Com um movimento rápido se livrou da calça e da cueca ficou nu. O
pênis pulou batendo no umbigo, enorme, cheio de veias e completamente
duro pelo sangue bombeando com força. As coxas grossas do tamanho da
minha cabeça. Até o maldito joelho do Black era bonito, panturrilhas
torneadas e os pés perfeitamente esculpidos.
— Apreciando a vista? — Sua mão envolveu a cabeça robusta do
pau, subindo e descendo. — Vem me chupar, Josephine.
Tremi internamente pelo erotismo da cena.
Nós dois numa praia deserta, o som das ondas e das gaivotas
preenchendo o ambiente. O ar crepitou pela sensualidade envolvendo
nossos corpos. Um fio me puxou contra o forte magnetismo do Black. Nem
pensei em resistir sabendo o delicioso prazer que me aguardava na união de
nossos corpos.
Pus-me de joelhos diante do safado, Black agarrou o pau, empurrou
na minha direção, segurou meu queixo trazendo para perto de si. Inspirei o
cheiro do sexo, arrepios correram pela minha espinha pela masculinidade
do Black, o cheiro bruto de macho na minha cara.
Encarei os quartzos em seu rosto, abri lentamente a boca. Não sabia
como chupar um pau, mas tinha certeza de que ele me ensinaria com prazer.
Pus a língua para fora tocando meu queixo. Apoiei as mãos nos joelhos, a
cabeça completamente inclinada para cima. Black rosnou, deu um passo
para a frente, abriu as pernas, curvou levemente os joelhos, me encarando
ferozmente ele trouxe a cabeça do pau para a minha boca.
A combinação perfeita entre maciez e rigidez. Consegui notar o
sangue correndo por sua extensão máscula, repleta de veias saltadas, macio
como uma polpa de fruta. Quis chupar, morder, arrancar um pedaço para
mim. O gosto tinha uma pitada salgada. Meu ventre contorceu não
aguentando a deliciosa excitação correndo pelas minhas veias.
Fechei os lábios ao seu redor, bati as pálpebras lentamente
encarando o rosto contraído, a boca aberta despejando gemidos deliciosos,
o quadril moveu lentamente, socou o pau robusto no céu da minha boca.
Mantive a cabeça imóvel, aproveitei as sensações novas, babando no seu
membro, a língua recebendo com deleite meu novo brinquedo favorito.
Eu estava certa em não me conter em relação ao sexo. Podia manter
meu coração protegido e a boceta aquecida sem problemas nessa relação.
Black bateu no fundo da minha garganta, arrepios corroeram meus
poros, engasguei com seu pau. Puxei a cabeça para trás me livrando da
dominação, inspirei fundo o ar tentando controlar a ânsia.
— Desculpe, perdi o controle.
O erotismo desapareceu de suas feições. Ele se ajoelhou preocupado,
olhos magoados consigo mesmo. Assustei-me pela culpa em seu rosto,
parecia que ele tinha cometido um grave pecado.
— Não foi nada demais — engoli em seco recuperada — podemos
continuar.
— Não precisa. — Desviou o olhar.
— Mas eu quero. — Agarrei seu ombro o empurrando para trás.
Black perdeu o equilíbrio caindo de bunda na areia, as pernas abertas para
mim.
Não consegui compreender o que era a fragilidade que ele
apresentou em alguns momentos no sexo. Nas núpcias fez a mesma
expressão com medo de me forçar a algo que eu não queria. Reproduziu o
mesmo temor há poucos segundos. Era como se o pênis batendo na minha
garganta fosse uma invasão indevida que me causava repulsa.
Subi no seu corpo, o pau bateu no meu umbigo, deitei sobre seu
tronco. Agarrei seu rosto não o deixando falar nada, quis fazer desaparecer
as dúvidas em sua bela face. Beijei o Black do jeito que eu gostava, afoita,
necessitada e repleta de tesão. Abri as pernas envolvendo a cintura larga, a
boceta em cima do pênis, remexi o quadril, gemendo contra seus lábios.
— Você me deixa louca de vontade de comê-lo com a boceta,
consegue sentir o quanto eu o desejo, Black? — confessei, queria expurgar
todas as dúvidas e o fazer relaxar novamente.
Os dedos envolveram meu quadril, ele se remexeu debaixo de mim,
impulsionando para cima. O pênis deslizou molhado contra minha vagina.
Meus peitos doeram pesados esmagados contra seu peitoral firme. Abraçou
minha cintura, curvando a coluna, a mão deslizou agarrando o pênis, o
colocando na entrada apertada do meu corpo.
Não resisti, gritei contra sua boca afoita ao ser preenchida pela
grossura que estava ficando cada vez mais viciada. Espalmei seus ombros,
ergui um pouco o pescoço encarando os lindos olhos verdes, banhados em
um tesão escaldante. Black buscou por meus lábios, ansioso para ser
beijado.
— Diz o quanto me deseja. — Apanhei um punhado de seus cabelos
mantendo sua cabeça contra a areia, rebolando safada contra o pênis me
invadindo com velocidade.
— Porra, Josephine. — Piscou pesado, rangendo os dentes. — Eu
passaria o resto da vida enterrado na sua bocetinha apertada.
Com a mão livre Black agarrou meu glúteo puxando com força, as
pregas do cu arderam pela dominância, em resposta a sua brutalidade
montei com força seu pau. Os movimentos limitados pelo braço prendendo
minha cintura.
— Me come, caralho — gritei, convulsionando em deleite.
— Rebola gostoso no meu pau — ordenou, forçando a cabeça para
cima.
Delirei ao receber a mordida no ombro por cima da blusa. Revirei os
olhos, remexendo como louca, o clitóris inchado resvalando no abdômen
sarado do Black, aumentou o nível de tortura prazerosa imposto ao meu
corpo. Arqueei a cabeça encarando o céu ganhando tons de laranja e roxo.
Não consegui mais ouvir o som do mar, somente dos gemidos afoitos
deixando nossos corpos.
O som da carne batendo, molhada, excitada, desmanchando em
prazer sobre a areia branca. Os joelhos sendo esfolados pelos movimentos
rápidos. O ombro ardendo, alvo dos dentes do Black. Minha mão em seus
fios claros, a outra fincada em seu ombro, puxando, arranhando, buscando
pelo mínimo de equilíbrio no delicioso redemoinho que eu era jogada.
Explodi em prazer pela vagina, vazando líquidos descontrolada,
abocanhando o pênis do Black com um fervor escaldante. Alucinada me
perdi em prazer. As cores no céu se misturaram, os sons dos pássaros
pararam, esqueci como respirar, as pernas não ardiam mais, o mundo
congelou enquanto eu queimei atingindo o clímax.
Black uivou animalesco ao pé do meu ouvido, jatos quentes
invadiram meu interior denunciando que o Black atingiu o orgasmo. Sua
respiração tornou-se pesada contra a pele sensível do meu pescoço. Não
tive forças nos membros, deixei ele se recuperar sem dizer uma palavra,
ainda envolta pelo prazer divino.
— Tudo bem?
Beijou meu ombro carinhoso, perguntou meio apreensivo. Não
consegui entender o que era a insegurança surgindo no Black.
— Sim. — Encarei seus olhos. — Aconteceu alguma coisa? Você
parece estranho.
— Tomei cuidado para não te engasgar com meu pau, mas falhei,
desculpe por isso.
Franzi a testa sem compreender o que ele havia feito de errado. Para
mim, não parecia algo grave, até normal que acontecesse. Contudo, para o
Black era diferente. Preciso ficar atenta aos pequenos sinais que ele me deu
sobre sexo para descobrir o que o perturbava.
— Não precisa se desculpar. — Segurei seu queixo pairando acima
de sua cabeça, beijei a ponta de seu nariz. — Eu ainda sou inexperiente,
mas quando pegar o jeito quero ser capaz de te engolir inteiro com a boca.
— Soprei em seus lábios macios. — Você é uma delícia de chupar.
— Nunca se force a algo por minha causa — pediu alisando minha
bochecha.
— Black Bonnarro — sentei sobre sua cintura, espalmei as mãos em
seu peitoral — você acha mesmo que eu faria algo contra a minha vontade?
Por acaso não conhece minha reputação tempestuosa?
Sua testa relaxou, um pequeno sorriso surgiu no canto dos lábios,
migrando para uma gargalhada gostosa. Black agarrou meu pulso, me
puxou contra si e rolamos na areia. Ele se acomodou confortavelmente
entre as minhas pernas.
— Você tem razão. — Alisou o nariz no meu. — Josephine
Bonnarro nunca aceitaria algo que não gostasse calada. Ela faria um
escândalo mostrando seu ponto de vista.
Tremi internamente, uma felicidade minúscula nasceu timidamente
no meu peito. Ele usou meu nome de casada e isso me trouxe paz. Não
compreendi a emoção brotando, querendo se espalhar. A tranquei antes que
causasse danos.
— Seja um bom marido e me leve para o mar, quero tomar um
banho — ordenei, fugindo dos meus novos sentimentos.
— Seu desejo é uma ordem.
Black ficou em pé me segurando contra seu corpo, estávamos
cobertos de areia, parecia que eu não pesava nada. Encarei a mansão
ficando cada vez mais distante, o som das ondas tornando-se mais forte. Os
pássaros deixaram o céu, o tom roxo do crepúsculo trouxe calmaria para o
meu coração.
A água morna bateu na minha bunda, dei um pequeno gritinho me
acostumando com a temperatura. Black caminhou calmo para dentro do
mar, só parou quando as ondas quebravam tranquilas na altura do nosso
quadril. As mãos continuavam firmes apertando minha coxa e a coluna
contra seu corpo.
— Você sabe nadar? — perguntou levemente nos afundando.
— Não.
— Se decidir tomar banho sem mim, tome cuidado com as ondas, a
maré tende a puxar para dentro. Prenda bem os pés no chão, a água deve
bater no seu umbigo quando as ondas quebrarem no seu corpo. Não quebre
essas regras e poderá ficar bem.
— Tomarei cuidado.
— Se quiser minha companhia pode me chamar, mas se desejar
tomar banho sozinha, pegar um sol, ficar pelada, basta fazer um sinal de
mão para os seguranças que eles sumirão.
— Qual sinal?
— Erga o braço acima da cabeça e mostre três dedos, eles vão saber
que devem sumir.
— Não te vi fazendo o sinal antes deles saírem.
— Já havia avisado ao Taylor. Estou em lua de mel, se eu beijar
minha esposa todos devem desaparecer.
— Você pensou em muita coisa. — Alisei o maxilar anguloso.
— Estar um passo à frente foi uma das primeiras lições que meu pai
me ensinou.
— Se um dia tivermos filhos, vai criá-los para serem como você?
— Um homem de honra.
— Não seja malvado com nossos filhos. — Lembranças da minha
criação e do Kai invadiram minha memória.
— Seu pai foi um maldito desgraçado, ele queria criar um monstro
submisso, não um homem de honra. — Uma onda atingiu minhas costas
jogando água por cima da minha cabeça e atingindo o rosto do Black.
Limpei seus olhos.
— É bastante salgada.
— E arde. — Piscou, a parte branca dos olhos ganhando uma leve
vermelhidão.
Gostava de como boiávamos sem sair do canto. Black fixou os pés
no chão, podia sentir a força usada nas coxas para nos sustentar. A água
balançando suavemente, as ondas empurravam meu tronco com força
contra o dele. A água quentinha, a noite ganhando forma no céu. Não queria
sair do mar, adorei a sensação de paz inundando nossos corpos.
— Como foi sua criação?
— Boa, meu pai me iniciou aos 12 anos. Ele nunca foi violento
comigo ou com o Steve e a Hope. Nos ensinou desde cedo os princípios de
um homem de honra, mas não nos impedia de brincar quando crianças ou
de ficar de bobeira na adolescência. Gostava de segui-lo pelos cantos,
aprendia tudo com admiração. Queria ser respeitado e temido como ele.
Nos deixou livre para fazer nossas escolhas, respeitando as vontades dos
filhos.
— Mas te obrigou a casar comigo. — Baixei o olhar.
— Ele fazia pressão para eu me casar, é diferente. — Tocou os
lábios frios na minha bochecha. — Eu aceitei casar com você, mas
precisava resolver muita coisa antes de poder me doar. Nunca tive a
intenção de te machucar.
— Você sente falta dela? — Um pequeno bolo surgiu em minha
garganta, o medo de ser comparada a sua ex, de não ser suficiente. Eu tentei
afogar os sentimentos negativos, não quis ser dominada por eles, mas às
vezes a dúvida batia e naquele segundo não consegui segurar.
— Estivemos em um relacionamento por 6 anos. — Beijou meu
pescoço carinhoso. — Terminei com ela há um ano, mais do que sentir falta
eu diria que estou me acostumando a não ter a presença dela na minha vida.
Black puxou meu queixo me forçando a encará-lo, eu odiava como
seus olhos eram transparentes, exibindo a verdade em sua alma. Tive medo
de me magoar com o que ele fosse dizer.
— Nunca imaginei que seria consumido na sua tempestade,
Josephine. Desde que te vi descendo a escada no nosso jantar de noivado
tudo que eu consigo pensar é em você, te beijar, sentir seu gosto e após as
nossas núpcias eu estou me sentindo um maldito maluco, sucumbindo ao
desejo insano que você me causa. Eu não consigo pensar nela ou sentir
falta, quando tudo que ronda a minha mente é você.
Black era um maldito tentando ultrapassar minha barreira. Não
podia arriscar acreditar em suas palavras e me magoar. Mas nesse momento
eu me deixei envolver pelo calor do carinho, ansiando o acalento que
busquei por anos.
— Não vou ceder fácil a você.
— Eu sei — roubou um selinho — estamos no início de nossa vida
juntos, não precisamos de pressa.
A minha prioridade é curar minha alma ferida. Black continuará fora
dos meus muros até o dia que eu tiver certeza de que ele não vai me
magoar. Podemos estar envolvidos na loucura da atração que sentimos um
pelo outro, mas se isso passar, o que restaria para mim além de mais ilusões
e dores?
Eu me protegeria, independente dos sentimentos dele.
Sou minha maior prioridade e nada mudará isso.
As cicatrizes esquentaram debaixo do sol da manhã. Nunca tive
tamanha sensação de prazer na pele. Foi um pouco desconfortável descer
para a praia sozinha usando nada além de uma calcinha e uma canga de
praia cobrindo o corpo. Como o Black prometeu ontem, os seguranças
estavam fazendo ronda em outras partes da propriedade, deixando a praia
completamente deserta para que eu pudesse tomar um banho de sol e mar.
Primeiro deitei na areia perto de onde as ondas quebravam, a água
gelada bateu nos meus pés e a areia fofinha, acinzentada na bunda. Meus
joelhos arranhados depois do sexo de ontem. Passamos um bom tempo
dentro d’água, aproveitando a luz da lua, nos beijando, acariciando e
conversando baixinho. Depois entramos, Black queria sair para jantar e
curtir a noite, mas eu estava exausta, enquanto ele se arrumava, dormi na
cama, acordei de madrugada com fome, ele percebeu meu movimento
saindo da cama, despertou e juntos comemos na cozinha conversando mais
um pouco.
Era fácil dialogar com o Black, gostava desses momentos mais do
que deveria. Precisei me desintoxicar da presença marcante dele. Por isso,
ao tomar meu café avisei que ficaria na praia até a hora do almoço. Ele não
se atreveria a pisar aqui, enquanto absorvia as energias do sol deliciosas na
pele pálida.
Girei ficando de barriga para cima, toquei a cicatriz de dois dedos de
espessura se estendendo do meu umbigo à curva do quadril. Liguei a
música para iniciar minha meditação matinal. Os pesadelos começaram a
aliviar nas últimas semanas, desejei nunca mais ser atormentada por eles.
Fechei os olhos enxergando o vermelho das pálpebras, foquei no som do
mar mesclado a melodia da música relaxante.
Inspirei o ar lentamente para os pulmões, exalei calma, sentindo meu
corpo se encher de oxigênio, focando unicamente nas sensações. O coração
batia calmamente, batuquei os dedos sobre minha pele enrugada, contornei
as nuances da cicatriz, internalizei no meu ser que o sofrimento havia
acabado.
Eu era capaz de usar somente calcinha debaixo do lindo céu azul,
acariciei lentamente meu corpo sem sinais de uma crise de ansiedade, ou,
me odiar. Eu sou linda, eu me amo e merecia a felicidade como qualquer
outra pessoa. Os demônios do passado nunca mais conseguiriam atormentar
a minha mente. Os minutos passaram lentamente conforme eu me envolvia
mais com meu subconsciente. Relaxada, não percebi que havia dormido.
Despertei ouvindo o celular tocar, alguém me ligou. A pele ardeu
quente, meio dolorida no busto e no rosto. O sol a pino judiou com rajadas
solares fortes. A boca estava seca, pisquei, sentei com o corpo dolorido,
estava febril. Apanhei o celular na areia, o nome do Black na tela.
— O que foi? — a voz soou meio-rouca.
— Já são 11 horas, Josephine. Volte para dentro, você pegou muito
sol.
— Não percebi o tempo passando. — Virei o rosto buscando pelo
Black nas sacadas da casa, não consegui o encontrar.
— Estava trabalhando e nada de você retornar, achei melhor ligar
para saber se estava tudo bem.
— Muito bem, na verdade. Vou tomar um banho de mar e entro. —
Levantei puxando a canga cheia de areia.
— Cuidado com a maré, a essa hora as ondas começam a ficar mais
fortes.
— Eu sei.
Desliguei, não queria deixar o tom preocupado do Black mexer com
minha cabeça. Sacudi a canga retirando a areia, a deixei dentro da minha
bolsa e fui para o mar. A água gelada atingiu minha pele quente, gemi pela
deliciosa sensação de esfriar o calor escaldante. Mergulhei sem me afastar
da costa. Os joelhos arrastando na areia molhada, os cabelos grudados por
causa do sal, o rosto ardido devido ao tempo exposto ao sol.
Eu me sentia completamente em paz.
Saí da água, enrolei a toalha no corpo, peguei minha bolsa e o
celular, calcei a chinela e voltei para a mansão. No segundo em que passei
pelas portas e fui atingida pelo ar-condicionado gelado me tremi, sentindo
falta do calor escaldante.
— Você está parecendo um camarão. — Black arregalou os olhos,
sentado no sofá de frente para a tevê.
— Isso explica a sensação de calor exalando do rosto.
— Não passou protetor? — Veio a mim, a expressão preocupada. Os
dedos tocaram minha bochecha com carinho.
Eu odiava quando o Black transparecia suas emoções e tentava me
envolver no aconchego de seu corpo. O rosto expressou carinho e proteção,
as mãos buscando por minha pele querendo curar o que estava ferido, cada
toque repleto de cuidado. Sua gentileza me fez vacilar nas minhas escolhas.
Fiquei constantemente em alerta ou sem perceber perderia a batalha.
— Sim. — Inspirei entre os lábios reproduzindo um pequeno
assobio.
— Talvez um hidratante ajude, sente dor?
— Só a sensação de calor irradiando. — Afastei-me recuperando os
sentidos. — Vou tomar um banho e passar o hidratante.
— O que acha de almoçarmos na praia?
Ele me seguiu subindo as escadas. O olhar ardente na minha bunda,
mal coberta pela toalha enrolada na altura dos seios.
— Gostei da ideia. — Entrei no quarto com Black no meu encalço,
parecia um cachorro seguindo a dona.
— Quer companhia no banho? — A mão envolveu minha cintura me
puxando contra si, a ereção batendo na minha cintura.
Como ele consegue estar sempre duro ao meu tocar? A boceta
apertou em vontade imaginando o monte de coisa gostosa que seríamos
capazes de fazer durante o banho. Encostei a cabeça no seu peito,
balançando o quadril de um lado ao outro provocando sua ereção. Ele
envolveu meu pescoço e a pele queimou pelo toque.
— Senti sua falta de manhã. — Beijou meu pescoço, mordiscando a
pele sensível. — Te proíbo de sair da cama antes de nos perdermos no
corpo um do outro.
— Suas ordens só me enchem de vontade de te desobedecer. —
Soprei, o braço envolvendo meus seios, os puxando contra si.
— Você me deixa louco, mulher!
Delirei pela mordida no lóbulo, chupando a pele sensível para sua
boca, mordiscando entre os dentes. Deslizou uma mão entre minhas pernas
tocando a sensibilidade da vagina. Os dedos giraram e senti um incômodo
pela areia na calcinha tocando minha carne sensível.
— Espera. — Agarrei seu punho. — Preciso tirar a areia do corpo ou
vou ter uma infecção.
— Vamos ao banho. — Ergueu meu corpo nos braços fortes
caminhando para o banheiro.
— Eu vou tomar banho, você fica do lado de fora. — Bati o dedo em
seu peito, descendo dos braços musculosos.
— Josephine!
— Sim?
— Pare de ser malvada, sua diaba!
— Hoje não.
Empurrei o Black para fora fechando a porta na sua cara. Era
extasiante a sensação poderosa de saber que eu tinha poder de controlar o
Black, mesmo que pouco, ele me obedecia. Estou ficando viciada nesse
prazer.
Tomei um susto ao encarar meu reflexo, tirei a toalha vendo meu
corpo completamente vermelho. Retirei a calcinha, a marca do tecido
impregnada na pele pelo bronzeado. Black tinha razão, eu parecia um
camarão de tão vermelha. Aproximei o rosto do espelho, toquei as faces
sentindo dor pela queimadura do sol. Me enchi de protetor solar, mas pelo
visto não adiantou muito.
Não foi muito prazeroso tomar banho, a pele ardeu pelo contato com
a água fria, não suportei os jatos quentes na sensibilidade do rosto. O cabelo
grudento, precisei lavar bastante para retirar toda a areia do couro cabeludo
e do resto do corpo. Amém, que não deixei o Black me masturbar ou toda a
areia na calcinha teria parado na minha intimidade.
Saí dos jatos, passei o leave-in protegendo os fios negros do
ressecamento. Penteei e sequei no secador até sentir as madeixas macias. Eu
amo meus cabelos, eles são lindos, longos e brilhosos. Hidratei o corpo
agradecendo pelo alívio, o rosto ardeu e não consegui passar maquiagem.
Fiz somente uma sombra leve nas pálpebras e passei batom rosa-claro.
Peguei a roupa no closet, uma camisa de manga soltinha na cor amarelo-
claro, uma saia longa bege e sapatilhas confortáveis.
— É uma pena você já ter se vestido. — Black pareceu triste sentado
na cama.
Ele trocou de roupa, usava uma bermuda cinza com camisa de
botões da mesma cor, tênis esportivo, óculos estilo aviador preso a camisa.
Ele parecia um homem cheio de grana, pronto para ostentar sua riqueza por
onde passar. Os braços fortes exprimiam as mangas dobradas da camisa. A
cintura larga me fazia lembrar o tamanho do seu pênis preso pela peça de
roupa.
— Só assim sairíamos para almoçar. — Peguei minha bolsa e os
óculos em cima da cômoda.
— Você tem razão — veio a mim, espalmou as mãos no meu quadril
— mas ainda prefiro almoçar você. — Beijou meu pescoço.
Arrepios se espalharam pela minha pele. Girei em seus braços,
segurei a gola de sua camisa encarando os olhos repletos de desejo.
— Não vou passar minha lua de mel trancada nessa casa fodendo
feito louca com você. Me leve para passear e se eu gostar do dia, no final da
noite te dou um presente. — Deslizei a língua pelos lábios adorando ver
seus olhos seguindo o movimento.
— Sua boca suja me enlouquece! — rosnou.
Ele me tomou em um beijo ardente, cheio de desejo e vontade de
ficar junto. Contive as borboletas explodindo no estômago. Black estava se
tornando um amante dedicado, me fazia acreditar com facilidade em suas
ações e palavras. Mas não podia me iludir ou entregar fácil. Estamos
conhecendo um ao outro e não possuo segurança para acreditar e me
entregar sem medo.
Quero confiar que não estou sendo enganada. Black convenceu-me a
entregar o que desejava pela sinceridade de suas atitudes e palavras doces.
Só vou saber a verdade com o tempo, se o que vivemos era real ou uma
farsa orquestrada minuciosamente para me dominar. Me manteria alerta
para não cair em outra ilusão. Estávamos vivendo em paz, mas nada me
faria baixar a guarda, ainda era muito cedo para acreditar na entrega do meu
marido.
Prendi o lábio farto entre os dentes e puxei perigosamente, adorei o
olhar banhado pela luxúria do Black.
— Vamos.
Entrelacei nossas mãos e saí do quarto o puxando.
— Mais um pouquinho.
Gritei, soltei sua mão e desci as escadas correndo para fugir de seu
ataque feroz. As mãos resvalaram minha cintura, gargalhei animada com a
brincadeira fugindo dele. Atravessei a cozinha, chegando à sala da entrada
principal. Meus dedos tocaram a maçaneta dourada poucos segundos antes
dele envolver minha cintura com os braços erguendo meu corpo no ar.
— Black! — Ralhei gargalhando.
— Você é muito escorregadia. — Mordeu minha nuca, encolhi
contra seu aperto.
— Eu quero almoçar! — Debati as pernas no ar.
— E eu preciso te comer — rosnou no meu ouvido arrepiando meu
corpo.
Continuei erguida no ar, enfiou uma mão na minha saia, puxando a
calcinha para o lado. Perdi as forças para lutar contra sua sedução, me
entreguei as mordidas deliciosas no pescoço e ombro, os dedos deslizando
agilmente na minha intimidade melecada.
Chegava a ser impressionante como eu ficava molhada com
facilidade para o Black. Ele caminhou tranquilo até o sofá, apoiei as mãos
no encosto do estofado. Ergueu meu quadril me fazendo ficar de quatro.
Ouvi o som do zíper abrindo, a boca não largou meu pescoço. Girei o rosto
encontrando seus lábios macios, o recebendo com deleite na vagina.
— Você deu um novo significado ao sexo para mim — ele
confessou, socando lentamente no meu interior.
— O quê?
Não entendi a motivação oculta em suas palavras. Existem
significados diferentes para o sexo? Sempre pensei que representava a
junção suada de dois corpos buscando com avidez pelo prazer que podiam
proporcionar um ao outro.
— É diferente com você, Josephine. — Envolveu meu tronco em um
abraço, colando a bochecha na minha. — Obrigado. — Beijou minha boca
calando qualquer pergunta.
Não compreendi ao que o Black se referiu ou o motivo de seu
agradecimento. Apenas aceitei, o medo espetando meu coração de estar
sendo manipulada sumindo. Não existia capacidade do Black não ser
sincero.
Ele deslizou entrando e saindo do meu interior com delicadeza,
provando, sentindo, compartilhando seus sentimentos comigo. As mãos
tocaram com gentileza a minha pele, a boca beijou transbordando
sentimentos calmantes. Black me dava uma parte de si, carinho, cuidado e
um alívio transbordando de sua alma invadindo a minha.
Gemi, uma pequena vontade de chorar quis surgir no meu peito. Se
não fossem as manchas do passado eu poderia viver algo lindo, um amor
arrebatador. Mas eu sabia que tal sentimento não existia, era outra coisa
surgindo entre a gente, forte, mas não o suficiente para apagar as feridas e
as inseguranças.
Não tinha como nomear o desconhecido, apenas o aceitei. Entendi
naquele segundo, preenchida pelo pau do Black, a boca dominada pela sua,
o corpo completamente abraçado ao seu. A proteção envolvendo como uma
bolha calorosa, a segurança de poder me entregar sem medo de ser
machucada e o pequeno sentimento de gostar brotando no meu ser,
querendo aproveitar mais das carícias do meu marido.
Era doloroso precisar frear os sentimentos, os prender dentro do
peito e não permitir que saíssem. Black me dava tudo rápido demais,
precisarei processar com cuidado, analisar e garantir que outra ferida não
fosse aberta. Ainda era cedo para aceitar a felicidade recém-adquirida sem
medo de me machucar no futuro.
Atingi o orgasmo explodindo no pênis no Black, recebendo seu jato
quente no meu interior. Ele respirou pesado na minha boca, não me
deixando desgrudar. Estava assustada pela enxurrada de emoções,
recuperando o fôlego junto a ele. Black segurou meu queixo mantendo meu
rosto na sua direção, beijou com ternura minhas bochechas e testa.
— Você é incrível — murmurou, cheirando meu pescoço.
— Eu sei. — Foi o que consegui dizer, ainda meio abalada.
Ele riu rouco, puxou o pau do meu interior e colocou a calcinha no
lugar.
— Vai ficar com minha porra o resto do dia. Exalando meu cheiro e
mostrando que você tem dono.
Era animalesco a possessividade em seu olhar quente.
— E você exibindo o cheiro da boceta da sua dona. — Girei em seus
braços agarrando seu pescoço.
Inferno, eu não deveria gostar da deliciosa sensação de ser a dona
dele. Black não refutou ou demonstrou contrariedade. O desgraçado sorriu
adorando a minha posse. Baixou o rosto me beijando como um verdadeiro
macho marcando território.
— Não consigo acreditar. — Josephine riu cobrindo a boca com a
mão, tentando não chamar atenção.
— Foi um inferno. — Franzi o nariz a puxando para mim. — Se
você inspirar profundamente vai conseguir sentir o maldito odor.
— Não, Black! — Bateu no meu peito tentando se afastar,
controlando a risada.
— Vamos, só uma cheiradinha. — Prendi sua cintura com os braços
forçando o pescoço contra o nariz.
— Black, eu vou te morder — avisou engolindo o riso.
Caminhamos pela orla depois do almoço e de tomar sorvete.
Josephine se sujou como uma criança ao se assustar com uma gaivota
querendo devorar seu sorvete. Rimos tanto que perdemos o ar, comprei
outra casquinha para ela e um chapéu enorme para proteger sua cabeça do
sol. Ela ficava mais vermelha a cada segundo que passava.
Já são quase 16 horas, continuamos de mãos dadas passeando pela
praia, o sol ameno e a areia morna debaixo de nossos pés descalços.
Compartilhei com ela histórias das minhas missões. A necessidade em meu
peito de conhecer cada pedaço da Josephine e partilhar com ela a minha
essência, crescia exponencialmente.
Comecei a aceitar que Josephine me fez bem. Com sua tempestade
invadindo a minha vida e transformando, dando vida ao que estava morto,
espantando os medos. Nunca imaginei que ela teria tamanho poder sobre
mim. O arrependimento por tê-la mantido longe no passado incomodava
minha alma, a necessidade de apagar cada trauma e curar seu coração, de
trazer sorrisos ao lindo rosto tomou conta do meu peito.
— Eu adoro suas mordidas, pode arrancar quantos pedaços quiser —
avisei, segurei seu braço encarando os lindos olhos negros.
— Céus, homem! — Engoliu o riso. — Com essa confiança toda,
você nem parece que passou dois dias escondido em uma chaminé levando
bosta de passarinho na cabeça.
Começou a rir novamente, os dentes brancos brilhando abaixo da
minha cabeça. Sorri envolvendo sua cintura, puxando o quadril contra o
meu, desci o rosto beijando os lábios de mel. Completamente enfeitiçado,
não fazia ideia do que diabos Josephine tinha feito comigo, ela me envolveu
em uma linha controlando meus movimentos, me fez girar em seu centro.
Não aguentava ficar um segundo longe dela.
— Sabe que eu nunca me senti assim? — confessei baixinho.
— Como? — Piscou envolvendo os braços na minha cintura.
— Em paz — toquei nossas testas — eu achava que conhecia o
significado de dias tranquilos, momentos felizes e confiança. Mas acho que
o fato de você me rejeitar antes e agora estar ao meu lado rindo, me
aceitando na sua cama e sendo sincera sobre seus sentimentos me traz uma
sensação de confiança e paz poderosa, nunca experimentei tal coisa. Não
tenho medo de estar te machucando ou forçando. Obrigado por ser você
mesma, Josephine. — Alisei o queixo fino, os olhos me analisavam
querendo roubar meus segredos.
— Não sei se consegui entender. Mas saiba que só estou com você
porque eu quero, caso contrário o mato e jogo seu corpo gostoso no oceano.
— Ergueu os ombros me encarando cheia de confiança.
— Eu sei — sussurrei. — Você nunca esconde o que sente.
— Obrigada por tornar fácil para mim. — Piscou tranquila. — Após
anos de sofrimento, a única coisa que eu quero é viver em paz.
— Não sonha em se apaixonar?
Não consegui conter a pergunta. Não estou apaixonado por
Josephine, mas a sinceridade em sua face, o desejo por viver em paz
comigo me fazia questionar se ela um dia seria capaz de me amar ou eu a
ela. Era gostosa nossa relação, conhecendo um ao outro e a conexão
explosiva dos nossos corpos.
Comecei a ficar levemente ansioso esperando sua resposta. Ela me
rejeitou, mas será que existe a mínima possibilidade de me amar?
E por que fiquei nervoso com esse pensamento?
— Eu só teria uma opção e seria por você. — Piscou lentamente, o
ar sumindo do meu peito esperando suas próximas palavras.
— Tenho uma chance?
— Não sei se seria legal me apaixonar por quem deixou pombos
cagarem na cabeça. — Franziu o nariz fugindo da minha pergunta com uma
piadinha.
— Aquilo foi uma missão. Eu não podia me revelar, quando o casal
retornou mais cedo o único canto que pude fugir foi para a chaminé. Nunca
imaginei que ficaria preso por causa do meu tamanho. Você sabe, eu sou
enorme.
Esfreguei meu corpo contra o seu, respeitando sua vontade de fugir
da minha pergunta. Ainda era cedo, estou maravilhado pelas recém-
descobertas emoções, mas não sei como será a longo prazo. Josephine fez o
certo para proteger seu coração machucado. Tomarei cuidado para nunca a
ferir novamente.
— Muito grande. — Alisou minhas costas. — Uma delícia quando
se enfia em lugares fechados.
— Porra, Josephine — rosnei mordendo sua boca.
— Chega. — Riu girando no meu braço e voltando a andar.
Com a mão em suas costas, através do tecido fino da camisa eu
consegui sentir as cicatrizes em sua pele. Uma quantidade absurda de
marcas, de traumas que não foram superados. Tive vontade de proteger
Josephine e espantar os fantasmas de seus sonhos. Ela podia não notar, mas
todas as noites se mexia na cama, gemendo agoniada. Pareceu não recordar
dos sonhos ao despertar, mas era difícil esquecer as expressões de
sofrimento.
Desci o rosto desviando de seu chapéu e beijei sua bochecha, a
surpreendendo. Ela estava vermelha como um camarão, mas notei o rubor
da vergonha.
O sol começou a se pôr no horizonte, paramos com as ondas
banhando nossos pés, abraçados assistindo ao fenômeno natural. Josephine
retirou o chapéu da cabeça para conseguir escorar contra meu peito.
Envolvi sua cintura, os braços tocaram os seios deliciosos cobertos pelo
sutiã. Ela envolveu as mãos na minha, segurando o chapéu entre nossos
dedos.
Enquanto Josephine aproveitava a vista eu só conseguia encará-la.
Os tons dourados em seu rosto, as pálpebras cobertas por cílios volumosos,
as bochechas coradas e bronzeadas, os lábios com um leve tom rosa.
Completamente linda, relaxada contra meu corpo. Aprendi-a em um abraço
caloroso, queria tornar esse momento infinito.
Ainda não compreendi meus sentimentos, mas soube que estava
completamente grato pela tempestade Josephine Bonnarro entrar na minha
vida. Ela me fez sentir único, especial, desejado, em completa paz com a
minha alma. Josephine me deu algo pelo qual passei a vida buscando sem
precisar saber sobre as garras fincadas no meu coração, ela não conhecia
meus medos e mesmo assim foi capaz de acalmar a tormenta, me fez dormir
tranquilo ao seu lado.
A fome sexual crescia a cada segundo. Ansiei provar mais da
confiança, da luxúria, de seu corpo debaixo do meu. Me perdi
completamente. Arrisquei falar pequenas putarias para a excitar, coisa que
nunca consegui fazer. Não me reconheci. Passei a vida repleto de
inseguranças, medos e tormenta. Para ver tudo ruindo com o poder de uma
única mulher.
— É muito bonito. — Os lábios se moveram dizendo palavras
suaves.
— A mais bela que já vi. — Encarei-a ao responder.
— Não assistiu a outros pores do sol? — Ergueu a cabeça,
percebendo que a encarei fixamente.
— Não estava falando do pôr do sol. — Desci beijando seus lábios
com gosto de mar.
Ficamos de namorico mais um pouco na praia, até o vento se tornar
frio, fazendo Josephine tremer. Agarrei sua mão e voltamos para o
calçadão. Calçamos os sapatos e nos enfiamos entre os prédios repletos de
música e comida cheirosa.
— Quero jantar nesse. — Puxou minha mão entrando no restaurante.
A decoração era rústica, com muitas flores espalhadas e luminárias
de barbante redondo. As mesas formavam um círculo para a pista de dança.
Um cantor no centro do palco animou o pessoal. Minha esposa seguiu
direto para uma mesa em frente a pista, sorriu maravilhada observando a
decoração. Uma garçonete trajando roupas leves, expondo barriga e coxas
veio nos atender.
— Quero seu melhor drink para mulheres — Josephine pediu
admirando o cabelo da moça.
— Vou querer a melhor garrafa de tequila.
— O que desejam comer?
Josephine analisou o cardápio atentamente, escolhendo os petiscos e
o prato principal. Fiz meu pedido sem dar muita atenção à comida,
envolvido pela animação da minha esposa. Tive certeza que era questão de
tempo até ela querer dançar na pista. As pessoas começaram a se amontoar
ao redor do cantor, a melodia dançante, animada, contagiava com
facilidade.
— A comida mexicana é muito apimentada, acho que terei uma crise
de azia de tanta pimenta. — Abanou o rosto.
— Por que não pediu para diminuir a quantidade de pimenta no seu
prato?
— Dessa vez fui esperta, escolhi pratos que não continham pimenta.
— Piscou espertinha.
— Eu pedi um Chili Mexicano.
— Vou evitar te beijar pelo resto da noite.
— Corto o efeito com sua quesadilla.
— Nem pense em atacar meu prato. — Ergueu o dedo ameaçador.
Dei risada do seu jeitinho, logo sua atenção se voltou para a
garçonete trazendo nossas bebidas. Ela colocou uma garrafa de tequila na
mesa, com limões em um prato e sal. Josephine bebeu uma marguerita, mas
não duvidei que em breve viria provar da minha tequila.
— Uma delícia!
— Vem aqui, quero tomar minha tequila. — Puxei sua mão a
guiando para sentar no meu colo.
— Não entendi, por que precisa de mim no seu colo para beber
tequila? — Encarou a bebida e a mim curiosa.
— Vou te mostrar.
Abri a garrafa, servi uma dose no copo e parti o limão em quatro
pedaços. Ajeitei Josephine no meu colo deixando sua bunda em cima do
meu pau, puxei a blusa para o lado expondo a curva do pescoço. Ela me
encarou curiosa e ansiosa. Espalhei o sal na pele bronzeada, estiquei a
língua lambendo sua pele, tomei o shot de tequila virando rápido e
chupando o limão. As papilas queimaram, a vontade de lamber direto dos
peitos dela surgiu como uma avalanche.
— É assim que se toma tequila, no corpo de uma gostosa. —
Mordisquei sua pele ouvindo seu gemido baixinho.
— Parece bastante interessante. — Olhou ao redor. — As pessoas
estão acostumadas a fazer isso por aqui?
— Com certeza.
Mentia descaradamente, não era certo nos exibir sexualmente no
meio do restaurante. Quando chegamos observei o público com cuidado,
não existiam crianças e nem idosos, apenas jovens aproveitando o lugar,
muitos se pegavam sem vergonha, outros mais contidos. Os turistas
maravilhados faziam bagunça em suas mesas. Não serei repreendido por
lamber o sal no pescoço da minha esposa.
— Eu tenho certeza de que você mentiu para mim.
— Nem pensar.
Dei risada de seu olhar felino, agarrei o queixo fino puxando para
mim. Beijei sua boca com vontade, envolvi um braço ao redor da cintura, o
cheiro de mar mesclado a orquídea exalou suavemente de sua pele. Envolvi
com delicadeza sua língua na minha, saboreando a mescla das bebidas, o
gosto quente da tequila, o ardor na garganta. Suguei o sabor de Josephine
como um maldito dependente.
Ela não se levantou do meu colo. Bebeu seu drink rápido demais,
soube que acabaria bêbada se continuasse desse jeito, mas deixei que se
divertisse, eu cuidaria dela. A batida da música aumentou, o cantor cantou
dançando, envolvendo o público no seu ritmo, Josephine começou a mexer
os ombros, segurei sua cintura balançando ao seu ritmo.
Os pratos chegaram e ela pediu outra marguerita, mantive minha
garrafa de tequila chupando o sal do pescoço da minha esposa e mordendo
o limão na sua boca. Era a melhor combinação para tomar a bebida. Aos
poucos pude sentir o álcool fazendo efeito, entrando na corrente sanguínea
e deixando tudo mais divertido. Josephine lambeu a pontinha do dedo
limpando um pouco do molho que escorreu, segurei sua mão puxando para
mim, solvendo o delicioso sabor.
— Black — chamou meu nome divertida.
— Sim?
— Acha que conseguimos dançar?
— Se não conseguirmos, a gente improvisa.
Ela se ergueu animada, os olhos começaram a ganhar um ar de
bêbada, alegrinha demais. Envolvi sua cintura com as mãos e fomos para a
pista de dança. Soube o ritmo, guiei seu quadril colando ao meu, agarrei a
nuca grudando as testas. Beijei os lábios de mel envolvendo Josephine no
balançar do meu corpo, ditando os movimentos.
Não demorou muito para ela absorver o ritmo da dança. As mãos
deslizaram pelo meu peitoral, o olhar tornou-se perigoso, sedutor. Ela se
afastou uns centímetros, desceu rebolando o quadril, deslizou as mãos no
meu corpo. Agarrei seus punhos puxando para cima, meti a perna entre suas
coxas fazendo a saia voar, agarrei uma de suas mãos erguendo acima de sua
cabeça e empurrei para trás.
Rebolava o quadril esfregando a coxa em sua bocetinha melada,
retribuindo a sua provocação. Josephine mordeu o lábio rosado, o olhar uma
mescla de bêbada com tesão. Remexeu o quadril sem vergonha, esfregou-se
sedutoramente em mim. Dançamos como dois amantes naquela pista, o suor
escorrendo sem piedade.
— Você dança muito bem. — Recuperou o fôlego, o cantor deu uma
pausa e retornamos para a mesa, o jantar havia sido servido.
— Vim muito ao México, acabei aprendendo um passo ou outro. —
Abri três botões da camisa, o calor se tornou insuportável.
— Black, fecha a camisa. — Sua ordem bateu direto nas minhas
bolas, a possessividade brotando nas íris negras.
— Por quê?
— Você está chamando atenção exibindo o peitoral, não quero
ninguém olhando para o meu homem.
Porra, Josephine soube como usar as palavras para provocar um
vendaval de excitação no meu corpo. Eu quis meter sua cabecinha linda
entre minhas pernas, enfiar o pau na boquinha provocadora e só parar
quando ela engolisse minha porra. Tomando-me como seu homem.
— Por que você não vem cobrir com seu corpo? Podemos aproveitar
e fazer outra coisa. — Ergui a sobrancelha sugestivo. Deslizei um dedo em
sua mão. — Deixa eu mostrar como trato bem minha mulher.
Josephine não me respondeu com palavras, ergueu o corpo
caminhando lentamente para mim. Afastei a cadeira da mesa a recebendo
em meu colo. A sem vergonha remexeu o quadril esfregando contra minha
ereção, abriu as pernas debaixo da toalha vermelha sabendo o que viria. Ela
respirou pesado, me encarando por cima do ombro.
— Faça o seu melhor para marcar território.
— Se você fizer escândalo vão chamar a polícia para a gente e
acabar com nossa festinha. — Meti a mão debaixo da toalha, puxei a saia
para cima, adorando a maciez das coxas nos meus dedos.
— Vou ficar quietinha. — Soprou nos meus lábios. Josephine
encarou o restaurante percebendo os olhares curiosos. — Não é perigoso
para você se expor comigo? Demos um show para os seguranças e outras
pessoas.
Ela ficou séria, levemente preocupada, parei a mão no interior de sua
coxa alisando perigosamente, esperando por sua permissão.
— Te desagrada demonstrar afeto?
— Não é isso. — Girou no meu colo sentando de lado, retirei a mão
de sua perna colocando a saia no lugar. — Eu sempre vi como homens da
máfia não demonstram emoções, principalmente em público. Você fez o
completo oposto, passamos a tarde rindo na orla e agora até o chefe de
cozinha sabe que você quer me comer. Parece que estalou um aviso na
minha mente de que estamos nos exibindo demais, e se algo acontecer?
Suas preocupações eram válidas, reconheci que não estava sendo
cuidadoso e poderia colocar um alvo na Josephine. Passei anos da minha
vida me contendo, vivendo conforme as regras. Na primeira oportunidade
de ser eu mesmo não consegui me controlar. Eu queria viver aquela
intensidade, rir à toa, dançar, flertar com minha mulher sem o medo do meu
mundo pesando em minhas costas.
Envolvi sua bochecha com a mão, acariciando suavemente a pele
bronzeada.
— Você tem razão, nossa exibição demonstra que eu me importo
com você. Mas eu não quero me conter, Josephine. Você me traz felicidade
e me deixa louco de tesão na mesma proporção. É minha para eu fazer o
que quiser e ser usado por você atendendo a seus desejos. Qualquer infeliz
que tentar te usar para me ferir será decapitado antes de abrir a boca. Eu
vou proteger você e nossa relação. Não se contenha quando estivermos
juntos, comigo você pode ser e fazer o que desejar.
— Não imaginei que eu era importante ao ponto de você se ferir
caso algo acontecesse comigo — comentou baixinho, balançada pela minha
declaração.
— Você é minha mulher, Josephine. — Encostei a testa na sua. —
Prefiro perder minha vida a te ver sofrendo.
— Ainda é difícil acreditar na sua mudança, depois de tudo pelo que
passamos — confessou tímida — mas eu gosto do jeito que estamos.
Promete não mudar?
Partiu minha alma a fragilidade em sua voz.
— Vou transformar todos os momentos em que fui cruel com você
em felicidade e carinho — a envolvi em um abraço apertado — eu te juro.
Estamos conhecendo um ao outro e prometo, Josephine, não estou usando
máscaras. Somente com você consigo ser eu de verdade.
— Certo.
Ela continuou fechada, entregando pequenas doses de seus
sentimentos. Eu gostava de Josephine e o sentimento não me assustou.
— Quer continuar de onde paramos? — Acariciei seu joelho.
— Chega de exibicionismo. — O rubor tomou a sua face. — Fecha
essa camisa!
— Sim, senhora!
Abotoei os botões adorando a braveza em seu olhar felino.
— Vou provar da tequila, melhor abrir.
Franzi a sobrancelha entendendo seu joguinho. Eu não podia abrir a
camisa para me refrescar, mas deveria obedecer a sua ordem para ela usar
meu corpo como queria. Sorri safado desabotoando cinco botões, exibindo
o abdômen trincado.
Josephine arranhou minha pele, espalhou o sal no meu peitoral.
Aproximou o rosto, a língua áspera lambeu minha pele além da parte do sal.
Puxou o pescoço tomando o shot de tequila, peguei o limão o prendendo
entre os dentes. Ela percebeu minha intenção e sorriu ao morder o limão
dos meus lábios. O beijo azedo com a tequila escorrendo entre nossas bocas
quase me fez explodir nas calças. Preciso transar ou terei um caso sério de
bolas azuis.
— Tequila é ótima.
A safada comentou totalmente bêbada e cheia de fogo.
— Quer continuar a festa em casa?
— Sim, mas antes vamos dançar.
Puxou meu pescoço me levando consigo para a pista. Não tive
escolha além de obedecer a sua ordem. Dançamos até os pés doerem,
alternando entre uma música e outra para beber, comer alguma coisa,
obriguei Josephine a ingerir água constantemente para diminuir os efeitos
da tequila em seu organismo. Mas no final da noite, quando o restaurante
fechou, ela tropeçou nos pés e riu escandalosamente de qualquer coisa,
completamente bêbada.
Chegamos em casa, com facilidade a levei para o quarto nos braços.
Deitei seu corpo pesado na cama, ela me puxou, caí abraçando sua cintura.
Descansava a cabeça no meu ombro.
— Hoje foi ótimo! — falou embolado, fofinha.
— Quer terminar com o esquenta? — Meti a mão em sua bunda.
— Black — mal abriu os olhos — estooooooooou beba, mas polde
me usaaaaaar. — O bafo de tequila bateu na minha cara, dei risada sabendo
que não faríamos nada.
— Vai dormir, bebinha. — Beijei a bochecha.
— Siiiiim. — Aconchegou-se a mim.
O sono veio rápido para ambos, dormimos abraçados.
Acordei ouvindo os gemidos dela, o rosto franzido, a boca
balbuciando em meio ao pesadelo.
— Por favor, para — ela pediu baixinho. — Vá embora. —
Josephine soluçou chorando em meio ao sono.
Apertei seu corpo contra o meu, beijei sua bochecha, pescoço e
orelha, passando confiança.
— Você está segura, nada vai te machucar. Eu te prometo —
sussurrei em seu ouvido. — Vai ficar tudo bem — alisei seus cabelos —
pode voltar a dormir.
Ela começou a relaxar nos meus braços. Amoleceu a feição
contraída, escondeu a cabeça na curva do meu pescoço, os braços ao redor
do meu tórax me puxaram contra si. Fiquei acordado alisando suas costas e
cabelo, odiando os pesadelos que assombram seu sono. Somente quando a
vi ressoando tranquila que me permiti dormir novamente.
Ontem, Josephine passou o dia com ressaca, por isso ficamos em
casa curtindo a praia particular e um jantar no deque, a cabeça dela não
parou de doer, à noite escolhemos ficar abraçados na varanda assistindo ao
espetáculo do brilho das estrelas e conversando. Ela contava sobre o curso e
perguntava como seria a faculdade em Las Vegas.
Compartilhei algumas de minhas experiências, deixando de fora
quando conheci a Amber. Naquela época éramos somente amigos e não
quis encher minha esposa com preocupações infundadas. Antes do
casamento eu pensava com mais frequência na Amber, mas Josephine me
consumia fazendo cada ação do meu dia ser voltada para a satisfazer,
conversar, descobrir mais sobre minha esposa. Não existia espaço na minha
mente para a Amber.
Fiquei triste comigo mesmo por isso, parecia que estava apagando
uma pessoa importante, deixando de lado todos os nossos momentos para
colocar outra em seu lugar. Meu coração brigava com minha mente, eu
sabia que não se tratava disso. O que tive com a Amber foi lindo, intenso,
mas acabou, sempre soubemos que um dia teríamos de terminar.
Comecei a perceber que estou seguindo em frente, deve ser normal
uma parte minha querer continuar apegada ao passado, enquanto outra
anseia pelo presente ao lado de Josephine, desvendar os mistérios por trás
dela e quebrar os muros que me mantinham longe, impedindo que ela se
entregue emocionalmente.
Não fazia ideia de como seria ao voltarmos para Las Vegas e cada
um iniciar a rotina do dia a dia. Ou longe devido a uma viagem de trabalho.
A compulsão insana exigindo ficar ao lado dela será capaz de me dar paz?
Conseguia pressentir que vou querer ficar a cada segundo grudado na
Josephine, a levando comigo para todos os cantos. Sua segurança seria
minha maior prioridade, contudo acreditava que ela não deixaria de
frequentar as aulas para me seguir pelo mundo.
Josephine era fiel a si mesma e eu admirava muito essa qualidade.
— Ficaremos quanto tempo na Cidade do México? — Trouxe-me de
volta à realidade, arrumamos nossas malas com preguiça.
— Um dia e uma noite, partimos na manhã seguinte para Las Vegas
e depois Nova Iorque. Preciso relatar ao Michael sobre meu encontro com o
Gael e o novo presidente do México. É um momento crucial para a
organização.
— Por quê?
— Ao se tomar uma região, é necessário aliados políticos, agentes
de segurança e empresários. Para exercer controle total sem interferência e
podermos realizar nossas atividades ilícitas sem grandes problemas. Óbvio
que não conseguimos corromper todas as peças do tabuleiro, precisamos
das principais do nosso lado. O novo presidente do México se elegeu com
uma campanha política de combate ao tráfico de drogas que assombra a
população. Gael, como líder do principal cartel do México e nosso aliado,
precisa convencer o presidente a se aliar a nossos negócios. Estarei presente
representando os Bianchi e mostrando ao homem os benefícios de ficar
quieto no canto dele, assim como uma ameaça do que acontecerá se ousar
se meter no nosso esquema.
— O Gael não conseguiria fazer isso sem sua presença?
— Sim, ele é um homem temido no México, poderoso aqui como o
Michael é em Nova Iorque. Contudo, a tentativa de negociação dele com os
texanos meses atrás tornou instável nossa parceria. No relatório do meu
irmão e do Matthew, o Gael só fez ouvir a proposta, mas recusou. Pode
parecer pouco, mas para um associado dos Bianchi, só isso é o suficiente
para ficarmos de olho nele e apertarmos o cerco. Por um tempo ele ficará
sob a nossa mira, até termos certeza de que não nos dará problema ou trairá
o acordo firmado com o Michael. Todos os acordos importantes que ele for
firmar, um Bianchi estará presente. Foi um acaso nossa viagem coincidir
com o almoço que ele ofereceu ao presidente, estarei supervisionando a
reunião. Nas próximas ocasiões será o Dante responsável pela
intermediação.
— Acho que entendi. — Fechou a mala. — Enquanto você participa
da reunião, vou ficar ao seu lado como esposa troféu?
— Não quero aqueles desgraçados te olhando. — Dei a volta na
cama segurando o quadril robusto. Josephine ganhou peso na viagem,
ficando mais gostosa.
— Ficarei escondida no meu quarto? — Envolveu meu pescoço com
os braços.
— Faça o que desejar. Gael possui estabelecimentos de luxo que
você pode usufruir enquanto estou nas reuniões, a irmã dele te fará
companhia e Taylor não sairá do seu lado.
— Pensei que fosse o Eduardo o responsável pela minha equipe de
segurança.
— Eduardo é um bom soldado, experiente e atento. Mas para sua
segurança colocarei o chefe da minha equipe, não vou arriscar que nada te
aconteça. Eduardo ocupará o lugar do Taylor comigo.
— Você vai me mimar demais. — Fechou os olhos mordendo o
sorriso.
— Te darei tudo o que desejar. — Beijei a pontinha de seu nariz. —
Quando decidir o que quer fazer, me avise.
— Não estou a fim de participar de reuniões chatas, vou aceitar a
opção de passear com a irmã do Gael.
— A Esmeralda é legal, soube que ela é apaixonada pelo Dante e
uma vez teve uma crise de ciúmes quando o viu com outra.
— Ah, eu entendo ela. — Ergueu o canto dos lábios. — Talvez a
encoraje a conseguir conquistar o homem que deseja. — Pulou envolvendo
as pernas no meu quadril. — Vale a pena quando eles percebem quem é a
sua dona.
— Concordo com você e só não te deito na cama para me enfiar na
boceta da minha dona, porque estamos levemente atrasados.
— No avião a gente resolve isso. — Desceu dos meus braços.
Ri me divertindo com Josephine. Peguei nossas malas e descemos
deixando a casa da nossa lua de mel. Entramos no carro e em poucos
minutos chegamos à pista de voo. Ao contrário do que prometeu, Josephine
passou a viagem enviando mensagens para as amigas. Aproveitei para abrir
o notebook e conferir os relatórios enviados pelo Michael.
Os arquivos descreviam como conseguiram prender os inimigos
remanescentes do ataque no meu casamento. Kai cuidou dos
interrogatórios, infelizmente ainda não sabemos quem é o cabeça por trás
da organização. O líder da Portões do Inferno se esconde por trás de outros
comandantes. Não conhecemos a hierarquia da organização, quem são seus
aliados e como se mantiveram anos escondidos, fora do nosso radar.
Subjuguei as quatro maiores organizações do Texas sem saber do
perigo que a Portões do Inferno representava, entre os novos soldados que
recebem treinamento para integrarem a máfia Bianchi, são poucos os que
tinham conhecimento sobre a organização. Ela atuava como um fantasma,
sem deixar rastros e apagando aqueles que mencionavam o nome. Antenor,
o braço direito de George, contou para o Steve que o antigo líder preferia
não se envolver com eles e evitava confronto de territórios.
Sombras rodeavam o inimigo que declarou guerra. Sem saber onde
sua base ficava era difícil promover um ataque. Antes de viajar para a lua
de mel tínhamos conseguido uma informação, iria jogar uma bomba neles,
enquanto sobrevoava as coordenadas. Minutos antes de entrarmos no
espaço aéreo recebi uma mensagem do Gael informando sobre a armadilha,
homens dele perto do local haviam descoberto a informação. Abortei a
missão e mandei soldados investigarem, li o relatório repassado ao Michael
e a mim.
O plano deles era vazar informações falsas sobre a base, nos
atraindo para um ataque surpresa. Se o avião tivesse sobrevoando as
coordenadas eu e Josephine teríamos explodido no ar pelos mísseis. Não
quero preocupar minha noiva com a iminente guerra se aproximando. A
visita ao Gael não é somente para vigiar ou tratar de negócios com o
presidente, mas para formular um plano de ataque.
Gael também se tornou um alvo da Portões do Inferno, eles
negociavam com o Cartel de Ramirez Flores, um rival declarado do Gael no
México que ele tenta suprimir há anos. A população é assombrada pelo
medo de uma iminente guerra explodindo nas ruas. Quem obtiver o apoio
do presidente terá controle maior sobre as drogas no país. Gael enviou
homens de confiança para seguirem os soldados enviados por Ramirez para
negociar com a Portões do Inferno, descobriram sobre a informação falsa da
base deles e o ataque surpresa que eu sofreria.
— Uau! — Josephine olhava pela janela a cidade abaixo.
— Sente vontade de conhecer a Cidade do México?
— Com certeza, olha aquilo. — Apontou para o Templo Mayor ao
longe.
— Posso pedir a Esmeralda para te levar.
— Enquanto os homens tratam de negócios vou passear, gostei da
ideia. — Sorriu tranquila escorando a cabeça no meu ombro.
— Prometa que não vai se afastar da Esmeralda ou tentar despistar o
Taylor.
— Black Bonnarro, quem você acha que eu sou? — Apertou as
mãos no quadril, tentando parecer brava.
— Josephine Bonnarro. — Puxei sua cintura a abraçando, esfreguei
o queixo no pescoço arrancando risadas de sua boca.
— Não farei nada imprudente. — Tentava se afastar, não permiti.
— Quero um beijo.
Agarrei seu queixo puxando os lábios macios para a minha boca,
devorando o delicioso gosto de Josephine. Não importava quantas vezes eu
a beijasse, sempre queria mais de seu sabor viciante.
A voz do piloto soou pedindo para colocarmos os cintos, logo
iríamos pousar. Passei a fivela sobre o quadril de Josephine e fiz o mesmo
comigo. Trouxe seus lábios ao encontro do meu enquanto o avião fazia o
pouso. Tomamos cuidado para não bater os dentes e acabar arrancando
sangue em uma mordida.
— Estou animada para explorar o México, era aqui que os astecas
moravam?
— Sim, talvez você consiga visitar os templos, são pirâmides
excepcionais, fui lá somente uma vez quando viajei a passeio. —
Desabotoei os cintos.
— Com quem você veio? — Pude notar a tensão em sua voz.
— O Steve — entrelacei nossos dedos, caminhando para fora —
meu irmão adora viajar, uma vez fizemos um mochilão de um mês pela
América do Sul, foi bem divertido, mas perigoso.
— Valeu a pena a adrenalina? — Aliviou o timbre.
— Com certeza.
Descemos as escadas e Gael esperava por nós ao lado do Coronel do
exército, Ernesto, seu tio e importante aliado para manter a polícia e o
exército longe das atividades criminosas do sobrinho. A família do Gael em
parte parecia com os Bianchi, infiltraram familiares em todos os níveis de
poder para conquistar todas as pontas.
— Bem-vindo, senhor e senhora Bonnarro — Gael cumprimentou
estendendo a mão.
— É bom estar de volta. — Apertei sua palma.
— Bem-vindos, Bonnarro — Ernesto cumprimentou acenando para
Josephine.
— Essa é minha esposa, Josephine Bonnarro, podem chamá-la de
senhora Bonnarro. — Envolvi Josephine pela cintura, não permitindo que
eles encostassem nela.
— É um prazer — ela os cumprimentou.
— Nunca tinha ouvido falar que o Lucian tinha uma filha tão bela,
você é um homem sortudo, Bonnarro — Gael elogiou sorrindo, o mexicano
mantinha os olhos fixos em mim, não ousando encarar minha mulher.
— Obrigado — agradeci.
Josephine, que nunca gostou de como o mundo da máfia funcionava,
principalmente da forma que os homens tratavam as mulheres, permaneceu
de queixo erguido, não se deixando abalar pela presença dos homens
importantes. Meu pau quis ficar ereto pela altivez da minha esposa, parecia
uma deusa ignorando os fiéis clamando por sua atenção.
— Esmeralda preparou um itinerário interessante, se quiser pode
seguir daqui, ela te aguarda no carro. — Gael apontou para a Mercedes
branca atrás de si.
— Parece interessante. — Josephine se virou para mim, evitando
demonstrar na expressão, perguntava silenciosamente se era seguro.
— Aproveite o dia com a Esmeralda, Taylor está fazendo sua
segurança.
— Até mais, querido. — Limitou-se a um aceno de cabeça.
Diferente da alegria exibida em nossa lua de mel na praia,
precisávamos nos conter na frente de homens como Gael e Ernesto.
Josephine era esperta, compreendia a situação sem precisar de explicações.
Mas o animal em mim exigia receber uma despedida adequada, jurando de
morte qualquer um que ousasse fazer mal a minha esposa para me atingir.
Envolvi sua cintura, capturei seu queixo e beijei seus lábios de leve.
Deslizei o nariz pela bochecha chegando ao seu ouvido sussurrei rouco:
— Divirta-se bastante, quando voltar vou meter na sua boceta até
você não conseguir andar.
— Vou me esforçar para retribuir o favor. — Sorriu safada, beijou
minha bochecha e rebolou a bunda coberta pela calça branca na direção da
Mercedes.
— Por onde iniciamos? — Perguntei à dupla de mexicanos,
ignorando a saudade cruel no meu peito pela ausência da minha esposa.
— Tenho documentos sobre o Ramirez, acredito que ele seja a chave
para chegarmos a Portões do Inferno — Gael falou seguindo para o SUV
preto esperando por nós.
— Meus contatos na inteligência me informaram de algo
interessante — Ernesto disse sentando no banco do passageiro, Gael e eu
atrás. — O líder da Portões do Inferno pode ser um político importante dos
Estados Unidos, por isso o extremo cuidado em se manter invisível.
— Alguma pista de qual cargo ele ocupa? — indaguei.
— Por enquanto, somente suposições. — Passou um tablet. — Os
políticos americanos, em sua maioria, são corruptos, precisaremos de tempo
investigando a todos.
— Quanto ao presidente Ignacio, podemos contar com o apoio dele
ou se venderá aos Flores?
— Esperamos que você seja bastante persuasivo. — Gael me deu
um charuto. — Use o charme dos Bianchi para firmar alianças. O homem
tem dificultado e estou quase metendo uma bala na cabeça dele.
— Calma, Gael, matar o presidente não será bom para nós, a
população está prestes a realizar revoltas devido à guerra com os Ramirez.
— Ernesto lembrou ao sobrinho.
— Por mim matava a todos!
— Faça como fizemos no Texas, use dos aliados na polícia para
fragmentar, mobilize seu exército em um único ataque, apague todos que se
associam. Mande avisos do que acontece com quem ousar mexer com
vocês. Em uma única noite tomei o Texas e acabei com a guerra. —
Encarei-o sério, um aviso estampado nas feições. — A sorte do maldito por
trás da Portões do Inferno é o anonimato, ou já teria arrancado a cabeça
dele. Não suporto traidores e inimigos querendo tomar o que é meu.
— Infelizmente — rosnou contrariado — não possuo o exército dos
Bianchi para dominar o México como vocês fizeram. Preciso atacar e
recuar para não perder minhas forças, continuar com o meu negócio e não
causar uma revolta popular.
— Conto com seu apoio para resolver a situação com a Portões do
Inferno, depois deles acabaremos com os Flores e os Martínez terão poder
absoluto sobre o México.
— Não gosto de depender dos Bianchi para isso, vou acabar com os
Ramirez enquanto massacramos os Portões do Inferno, se destruir o
principal comprador deles conseguirei uma vantagem tática. Os infelizes
fazem muita grana com o tráfico humano.
— Lembraremos ao presidente o destino dos que se envolvem com
nossos inimigos.
Gael Martínez era um mexicano durão, tínhamos quase a mesma
idade, ele era 3 anos mais novo. Com 33 anos, o homem assumiu o lugar do
pai, morto pelo Ramirez, um assassino experiente de 57 anos. A morte de
Romero foi uma perda significativa para os Martínez, os irmãos assumiram
o lugar do pai e lutavam diariamente para manter o controle do submundo
mexicano.
Esmeralda e Gael são gêmeos, sádicos e perturbados pela violência.
Ela é o braço direito do irmão, muitas vezes vai em seu nome tratar de
negócios, ao ser subestimada arranca os dedos e outros membros daqueles
que a julgam fraca. Esmeralda é uma companhia perigosa para Josephine,
não por eu temer colocar minha esposa em risco, mas por saber os truques
que ela pode aprender com a mexicana e usar contra mim.
Vou precisar tomar cuidado com as bolas sempre que eu brigar com
a Josephine. Com o Taylor de vigia, se Esmeralda ensinar algo perigoso a
minha esposa, poderei me preparar.
Entramos no quartel onde Gael morava, uma fortaleza murada com
atiradores de elite na guarita. Seguimos para a mansão, percebi que nosso
convidado chegou antes da gente. O carro com o emblema presidencial
estacionado perto da entrada. O veículo parou, descemos e seguimos para
dentro. Sentado no sofá encontrei Ignacio Pérez, o novo presidente do
México e o motivo da minha lua de mel ter sido interrompida.
— Bem-vindo, presidente. — Gael não escondia o desgosto por
Ignacio.
— Obrigado. — O homem ficou de pé, com uma mão no bolso e um
olhar de soberba. — Precisei me adiantar, tenho um compromisso com o
senhor Flores em meia hora, seja breve.
— Não precisamos disfarçar a intenção do nosso encontro, já que o
senhor planeja se aliar a um inimigo — comentei me aproximando do
homem, que me olhou de cima a baixo.
— Não considero Ramirez Flores um inimigo, ele é um homem
importante para a economia do país. Estou apenas tratando de negócios.
— Sabe que ao se unir com o Flores o exército ficará contra o
senhor — Ernesto avisou sentando sem dar importância ao homem.
— O Chefe de Segurança é quem comanda o exército, não você,
Martínez.
— O Sanchez é apenas um boneco, logo ele perde o cargo, mas eu
continuo recebendo o apoio e a lealdade de milhares de soldados. Coisa que
você nunca terá.
— Parece que você se enganou sobre o nosso encontro. — Gael
sentou no outro sofá, ocupei a poltrona que Ignacio estava, o deixando em
pé.
— Não estamos aqui para uma aliança — avisei, tragando o charuto.
— Vocês fizeram um homem importante perder tempo — Ignacio se
irritou.
— Você sabe o que acontece a um presidente sem poder? —
perguntei tranquilo. — Ele sofre um golpe dos parlamentares, da câmara ou
até mesmo da população e cai facilmente.
— O povo está ao meu lado, empenhados no combate ao tráfico de
drogas.
— Você sabe que temos provas do seu envolvimento com o Ramirez
e que ele é o principal responsável pelo sequestro de mexicanas enviadas ao
Texas para serem escravas sexuais.
— Isso é infundado!
— Deseja ver? — Gael jogou o tablet aberto com filmagem das
garotas sendo transportadas. — Temos muito mais, endereços, nomes,
assinatura do Flores nos documentos de compra e venda. Encontros seus
com ele em boates e outros lugares usados para abuso sexual.
— Eu te avisei, Ignacio, não era uma conversa para formar uma
aliança. — Levantei pondo a mão no ombro do homem que estava suando.
— Eu sou Black Bonnarro, tenho sob a minha influência o mais alto escalão
da polícia americana e muitos contatos na Interpol que fariam de tudo para
pôr as mãos nessas filmagens. Estou te oferecendo uma chance de colaborar
com meu aliado, ser um bom peão no nosso jogo, caso contrário você não
completará nem um ano como presidente.
— Acha mesmo que consegue lutar contra nós? — Gael apertou o
outro ombro de Ignacio. — Você será o nosso fantoche, a peça que
moveremos para derrotar o Flores sem causar uma guerra nesse país que
jurou proteger.
— Assine o contrato — Ernesto jogou os papéis na mesa — e tome
bastante cuidado com suas ações a partir de hoje.
— Saberemos tudo que você fizer, até mesmo quando estiver
fodendo suas amantes — avisei, o homem empalideceu. — A nação vai
adorar o escândalo de traição, uma de 17 anos, outra de 18 e a mais velha
com 19 anos. Ela é mais nova que sua filha, não acha nojento?
— O que você fará, Ignacio, vai ficar aqui e aprender sua nova
função como nosso peão, ou pretende ir encontrar o Flores? — Gael se
afastou encarando os papéis.
— É deplorável que o Flores se envolva com tráfico humano, não
deixarei essa mancha no meu país. Vou lutar pelo bem dos cidadãos
mexicanos e me aliar a vocês.
Gargalhei pela escolha de palavras, o miserável queria sair
triunfante, como se não fosse um rato acuado com medo dos gatos e do cão
prontos para arrancar sua cabeça após se divertir com o sofrimento.
— Ignacio — Gael chamou após o homem assinar os papéis da
aliança — o México é meu país, não seu.
— E em breve livrarei o Texas dos ratos, conto com sua
colaboração. Odeio infestações no meu território.
— Farei o possível, senhor.
Era saboroso ver um homem cheio de pompa caindo submisso sem
precisar arrancar uma gota de sangue. Ignacio seria uma ponta importante
para acabar com a guerra contra a Portões do Inferno, vou fazer essa
maldita organização sumir do mapa e garantir que nunca mais atrapalhe
meus planos com a minha esposa.
Quero viver uma vida em paz e tranquila ao lado dela.
— Deseja um itinerário chato de perua ou uma coisa mais caliente?
Esmeralda exibia um brilho perigoso no olhar. Percebi com
facilidade que ela não era uma irmã passiva, sem conhecimento dos
negócios do irmão. Os braços malhados, as coxas grossas apertadas no short
jeans desfiado. A blusa folgada cobria pouco de sua pele, exibindo um
decote generoso, o colar pendurado com pingente de cruz.
Cabelos volumosos tingidos de loiro, a pele de chocolate, olhos
castanhos. Ela era muito bonita, seduzia com o sorriso largo, queixo fino e
nariz de ponta redondinha arrebitada.
— No caliente faço algo que meu marido vai querer te matar por me
levar?
— Depende, você gosta de ousar? — Enrolou uma mecha do meu
cabelo em seu dedo. — Tenho hotéis de luxo espalhados pela cidade. Em
um deles está acontecendo uma despedida de solteiro da filha do
governador. Somos amigas, posso nos colocar para dentro e aproveitar o
show de luxo dos strippers balançando os paus na nossa cara.
— Se você quiser o Black aparecendo e matando todo mundo, eu
topo.
— Não imaginava que o Bonnarro fosse ciumento — revirou os
olhos — e que tal um show de um cantor caliente?
— Com muita bebida?
— Garota, não vamos parar de beber.
Gostei da Esmeralda. Observei a Cidade do México pelo vidro do
carro, adorando a arquitetura diferente de Nova Iorque. Aqui o sol banhava
as pessoas o tempo inteiro, poucas nuvens no céu, extremamente claro.
Prédios coloridos, outros em tons frios, algumas construções percebi serem
pontos turísticos, possuíam estátuas e teto do que parecia ser ouro. As ruas
movimentadas, barraquinhas para atrair turistas, música exalando das
esquinas.
O país explodia alegria e eu queria andar pela calçada, me misturar
com aquelas pessoas alegres. Contudo, sabia o risco que correria em um
pequeno passeio em uma cidade grande. Diferente da praia, aqui inimigos
conseguem se esconder com facilidade. Quase uma hora depois paramos em
frente a um hotel enorme com uma fonte na rotatória.
Segui Esmeralda percebendo Taylor atrás de mim com a equipe de
segurança. Esmeralda falava com as pessoas, exalava superioridade, os
funcionários a cumprimentavam com respeito, respondendo a sua pergunta,
entregando água, café e o que mais ela pedisse.
— Gosta de tequila? — Esmeralda perguntou analisando duas
garrafas.
— Sim! — Lembrei de como foi bom beber com o Black.
— Mas você já tomou do jeito correto?
— Só bebi no corpo de um homem gostoso. — Ergui a sobrancelha
demonstrando que eu não era tão inocente quanto ela julgou.
— Você é das minhas. — Sorriu orgulhosa. — Queremos duas
garrafas e uma mesa reservada para o evento de hoje.
— Providenciaremos tudo, senhorita. — Apontou para o salão. —
Aproveitem o show.
— Quem é o cantor?
— Peso Pluma inicia seu show em 5 minutos.
— Certo.
As portas do enorme salão foram abertas, pessoas montavam os
instrumentos no palco, segui Esmeralda pela fileira de mesas, não
conseguimos passar por nenhuma sem ela ser parada. Nossos lugares de
frente para o palco, mais a frente tinha uma pista de dança. O lugar era
coberto por vermelho, toalhas, tapete, curtidas, abajur dourado com luz
vermelha. O cheiro cítrico atingia meu olfato me dando vontade de dançar.
Logo Peso Pluma entrou no palco, seus olhos bateram em Esmeralda
a cumprimentando. Ele iniciou o show e eu não estava pronta para a voz
suave do homem, envolvente, o timbre sexy. Não demorou muito para a
pista de dança encher de casais.
— Quer dançar Josephine?
— Não sei mexer o quadril desse jeito — apontei para as mulheres
— e sem o Black aqui, não teria como.
— Dança comigo. — Pegou minha mão. — Primeiro viramos a
tequila depois te ensino como usar o quadril para enlouquecer seu homem.
E assim fizemos. Esmeralda era uma dançarina fenomenal, sedutora
e ótima professora. Segurava minha cintura atrás de mim mostrando como
eu deveria mover o corpo no ritmo do seu. Entre uma música e outra
tomamos tequila, rimos dos meus passos travados. Gostei da companhia
dela e me perdi no tempo sem saber que horas eram ou quantas bebidas eu
tinha tomado. O salão começou a girar bastante na última música.
— Agora que eu te embebedei vamos falar de coisa séria. — Fechou
as feições, Esmeralda tinha quatro olhos ou estou ficando louca?
— Sim? — A língua pinica na minha boca, será que mordi?
— Senta e bebe água. — Puxou a cadeira para o meu lado. — Você
conhece o Dante Griffin?
— Irmão do Daniel. — Apoiei o rosto na mão, estou com sono? Não
entendia de onde vinha a sonolência. A cabeça pendeu para a frente.
— Isso, aquele gostoso de cara fechada — apertou minha bochecha
— foco Josephine.
— Foco Josephine — a repeti embolando a língua — Ei! Eu sou
Josephine. — Apontei o dedo no meu nariz, comecei a rir sem entender o
motivo, o que era tão engraçado?
— Sim, você é. Dante tem namorada ou alguma pretendente?
— Quem é Dante? — Franzi a testa.
— Josephine! — Bufou impaciente. — Você é muito fraca para o
álcool, eu deveria ter tomado mais cuidado.
— Você é lindona! — Apertei suas bochechas com a palma da mão
rindo feito uma louca.
— Sou, pena que o idiota do Dante não percebe. — Suspirou
cansada. — Acho melhor te levar para casa ou o Black vai surtar por eu te
embebedar.
— Black vai surtar? — Apertei meus braços. — Ele é de
boooooooa.
— Você ama seu marido?
— Amor, amor, amor, que palavra bonita. — Pisquei pesado.
— Seja minha amiga — apertou meus dedos — prometo não te
embebedar para descobrir informações sobre o homem que eu quero.
— Dante é solteiro — lembrei.
— Como eu faço para conseguir um acordo de casamento com ele?
É muito difícil?
— Você é uma mulher importante — comecei a enxergar desfocado
— ofereça algo ao Chefe, ou ao Consigliere. Eles escolhem. Quem decidiu
meu casamento foi o Chefe e o meu irmão.
— Obrigada, Josephine. — Puxou meus ombros me abraçando.
— Tem de ser virgem — lembrei — todas somos virgens. Mulher
dos Bianchi não podem ser de outro.
— Dante já provou do meu fruto, não tem problema. — Levantou,
me puxando.
O mundo girou, o estômago embrulhou. Virei o corpo vomitando no
carpete.
Porra, bebi demais.
— Senhorita. — Taylor apareceu ao meu lado segurando meus
ombros.
— Casa.
Falei antes de apagar completamente exausta e muito bêbada.

— Eu nunca deveria ter deixado você com a minha esposa!


— Você não ensinou sua mulher a beber, a culpa é completamente
sua!
— Juro que se você não fosse a irmã do Gael eu te matava!
— Controlem os ânimos. Esmeralda você não deveria oferecer
bebida a uma mulher sem saber o quanto ela aguenta.
— Vocês são dois chorões.
— Lembre com quem você está falando, porra! É a minha esposa
que desmaiou devido ao álcool! Se algo acontecer com ela eu juro que terá
consequências terríveis!
— Bonnarro, vamos nos acalmar.
— Black? — Chamei pelo nome do meu marido, a cabeça
continuava pesada, a boca seca e a garganta ardida.
— Como você se sente, Josephine?
Consegui perceber que estava sendo amparada pelos braços
musculosos do meu marido. O cheiro amadeirado debaixo do meu nariz, a
aspereza do pescoço contra minha testa. Ergui a mão tocando seu ombro,
querendo me fundir ao Black para fazer a sensação nauseante passar.
— Enjoada e com muita sede — a voz saiu baixinha, tive dúvidas se
ele me ouviu.
— Vou te levar para o quarto, ou prefere um hospital?
— Sem hospitais. — Controlei o gemido pela dor de cabeça
aumentando.
— Dê a ela essa batida — ouvi Esmeralda falando — é uma receita
de família, poderosa contra ressaca. Se tomar isso, nunca mais sofrerá com
a bebida. Sinto muito por passar dos limites, não cometerei o mesmo erro.
— Você nunca mais chega perto da minha esposa!
— Black — puxei sua gola — não briga com ela, por favor. Eu me
diverti com a Esmeralda.
— Josephine, você está quase desmaiando. Esmeralda deveria ter
tomado cuidado!
— É normal errar. — Suspirei. — Por favor, pare de gritar ou minha
cabeça vai explodir.
— Beba a batida, vai te ajudar — outro homem falou. — Amanhã
ela acordará melhor.
— Vou subir com minha esposa.
— Melhoras, Josephine — Esmeralda disse.
— Obrigada, te vejo amanhã — respondi quase dormindo
novamente.
Juntei as poucas forças que tinha para permanecer acordada
enquanto o Black me levou para o quarto. A preocupação irradiando de sua
pele, se desmaiar novamente vou assustar meu marido e causar outra
discussão com a Esmeralda.
Gemi sendo colocada na cama. Black puxou meu tronco contra o
seu, as pernas ao redor das minhas, segurando meu queixo eu senti um
cilindro pequeno tocando meus lábios.
— É a mistura, eu bebi, tem um gosto meio doce, mas vai te ajudar
com a ressaca.
Abri a boca ingerindo o líquido com sabor adocicado. Não consegui
identificar os ingredientes, todos misturados e muitos desconhecidos. Acho
que senti o sabor de pimenta ao fundo, não tinha certeza. Por sorte meu
estômago não reclamou e consegui tomar todo o conteúdo. Ou ao menos
acredito que bebi. Abrir os olhos era doloroso, preferia os manter fechados
sentindo apenas o Black cuidando de mim.
— Amanhã vai ficar melhor. — Beijou minha testa me puxando
mais contra seu abraço. — Quer tomar um banho? Prometo que não olho
suas cicatrizes.
— Só vamos ficar assim. — Girei o quadril deitando o rosto em seu
peito, abracei sua cintura. — Minha cabeça vai explodir se eu continuar
acordada, prometo que vou dormir só um pouquinho.
— Descanse, uma vez bebi a mistura quando passei da conta na
tequila, ela ajuda.
— Não teve medo de ser veneno?
— Se eu considerar tudo que meus aliados me entregam como
veneno, nunca jantaria ou beberia com eles.
— Você confia neles?
— Sim, apesar do deslize, são leais e serão importantes para acabar
com a guerra no Texas.
— Eu gostei da Esmeralda, ela tem uma queda pelo Dante.
— Nunca pensei que rolasse algo entre eles.
Sua mão começou a descer e subir lentamente nos meus cabelos, a
outra massageando a curva da minha bunda e quadril, tomando cuidado
para não tocar as cicatrizes. Aconcheguei o corpo contra o do Black,
inspirando seu cheiro e ouvindo o som da sua voz. Não demorei muito para
dormir.
Despertei me sentindo renovada.
Abri as pálpebras encarando a camisa azul do Black. Ele dormia
tranquilo, as pernas abertas, os braços segurando meu quadril, mantinha-me
confortável em cima de seu corpo. Beijei seu peito revelado pela abertura
dos dois botões, pelos finos começavam a crescer. Deslizei os dedos em sua
barba macia, aos poucos ele foi despertando.
— Está melhor? — A voz rouca bateu direto no meu ventre.
— Sim, estamos com pressa para voltar? — Abri as pernas
montando sua cintura, o relógio marcava 8 horas da manhã.
— Tenho uma reunião às 14 horas em Las Vegas e depois parto para
Nova Iorque.
— Quando você for para Nova Iorque, quero ir junto. — Inclinei o
rosto tocando seus lábios.
— Planejava te levar. — Alisou meu quadril. — Precisa tomar
cuidado quando beber com outras pessoas. Esmeralda foi inconsequente e
estou me esforçando para não a punir por te embebedar.
É melhor omitir que ela planejou o dia de ontem para conseguir
informações do Dante. Caso contrário, sairemos do México com uma
desavença com Gael e sua família. Estou cansada de ser o pivô de novas
brigas com associados e aliados dos Bianchi. Na minha nova fase eu serei
aquela a fazer novas alianças e não a responsável por quebrar acordos.
— Seria benéfico um casamento entre os Bianchi e alguém da
família do Gael?
— Depende de qual for o membro. Alguém de olho nos negócios do
Gael seria benéfico para nós.
— A Esmeralda não é uma dama como eu e as meninas, certo?
— Sim, ela participa ativamente das atividades do irmão. É uma
assassina habilidosa, inteligente para os negócios.
— Ela tem interesse em uma união com o Dante. — Soltei
analisando meu marido.
— Ela te contou?
— Sim, queria saber como fazer para conseguir um acordo de
casamento com o Dante. Eu disse a ela para fazer uma proposta ao Michael,
fiz certo?
— Sim — beijou minha testa — você foi esperta, seria bastante útil
ter o Dante, Steve ou Matthew infiltrados no México. Quando insetos como
o George surgissem conseguiríamos apagar antes de se tornarem um
problema.
— Eu sou inteligente. — Mordi o sorriso. — Estou começando a
ficar enjoada, acho que vou tomar um banho para ver se alivia.
— Poderia te acompanhar. — Enfiou os dedos por dentro da minha
blusa, tocando a pele.
— Nem pensar, ou acabaríamos transando feito doidos. — Saí de
seu colo fugindo da sua intenção de me atacar. — Deixe para quando o
enjoo passar.
— Você quem manda.
Suas palavras não coincidiam com a fome em seu olhar. Corri me
trancando no banheiro, piorando o embrulho no estômago. Vomitei no
sanitário expulsando toda a tequila de ontem. Black bateu na porta
perguntando como eu estava e garanti que iria sobreviver. Tomei um longo
banho e respeitando minha vontade de não mostrar as cicatrizes ele não
entrou no banheiro enquanto eu me trocava.
— Me dá um beijo, mulher. — Agarrou minha cintura.
Estava distraída me maquiando, não percebi que ele tinha terminado
o banho. Black vestiu um terno, segurou meu quadril girando a cadeira e
capturando minha boca com a sua. O beijo era calmo, cheio de saudade de
estarmos nos devorando com os corpos, arranhei seu pescoço, recebi a
invasão de sua língua, batendo as costas no encosto da cadeira. Abri as
pernas recebendo seu quadril, o pau dentro da calça dava sinal de vida.
Eu queria retirar suas roupas e fazer o sexo gostoso praticado nos
últimos dias. Mas o embrulho no meu estômago me perturbou, por isso me
contentei apenas com o deslizar feroz das línguas, em absorver sua energia
envolvente, entregando para ele minha vontade de estarmos juntos.
Percebi naquele segundo que eu gostava do Black e apreciava muito
ficar ao seu lado. Ontem bêbada e completamente derrotada, não me
assustei ou tive receio de precisar de ajuda caso piorasse, eu sabia que ele
estava cuidando de mim e não iria a lugar algum.
Black escolheu estar ao meu lado sem eu precisar pedir. Era
libertador e apaziguante a sensação de confiança e segurança que sentia
com ele.
Depois de mais uns beijinhos gostosos, descemos com nossas malas
para a sala de estar. Black entregou a bagagem ao Taylor, entrelaçou os
dedos nos meus e seguimos para a cozinha. O cheiro de comida atingiu
minha barriga, apesar do enjoo tive vontade de comer.
— Amém, você está viva! — Esmeralda sorriu me puxando para um
abraço. — Me perdoa por ontem, juro que não quis te causar mal.
— Traga outra mistura daquelas e ficaremos bem. — Aproximei a
boca de seu ouvido. — Você é uma peça importante para o casamento, use
bem a informação.
— Menina, eu te amo. — Sorriu alegre.
— Desculpe pelo comportamento da minha irmã — Gael pediu se
aproximando — ficarão para o café da manhã?
— Sim, obrigada pela hospitalidade. Se eu não fosse fraca para
bebida, teria aproveitado mais o dia de ontem. Não culpem a Esmeralda.
— Obrigado por sua compreensão.
Gael era a versão masculina idêntica da Esmeralda. Mais alto e
corpulento, os cabelos ondulados molhados caíam por seus olhos castanhos.
A barba negra preenchia o maxilar angular. Um homem muito bonito, a
pele de chocolate ganhava um tom bronzeado atraente. Existia algo
perigoso nele, quase uma ira latente querendo explodir e causar destruição.
— Estranho você precisar de outra mistura cura-ressaca, o que está
sentindo? — Esmeralda me puxou para a mesa.
Sentei ao lado do Black, enquanto conversava com ela notei meu
marido montando o prato da minha refeição. Apertei as mãos contendo a
felicidade com o pequeno gesto de cuidado. Ele conversava com o Gael
sobre uma reunião com o senador de Las Vegas.
— Meu estômago está revirado, mas estranhamente sinto fome.
Parece loucura!
— Hum, acho que a mistura não vai resolver isso. Quer um chá? A
mistura curou a ressaca o enjoo deve ser de outra coisa.
— Talvez da comida apimentada, não estou acostumada.
— Provavelmente.
Tomei uma xícara de chá de hortelã no lugar do café e comi mais
frutas, postas no meu prato pelo Black. O enjoo não aliviou e deixei metade
da refeição. Nos despedimos dos irmãos com a promessa de voltar em
breve, o caminho para o aeroporto foi tranquilo e a decolagem sem
contratempos. Apoiei a cabeça no ombro do Black adormecendo. Acordei
horas depois com o sacolejar do avião.
— Ia te chamar — ele avisou. — Estamos pousando.
O cinto envolvia minha cintura, sabia que tinha sido ele quem
colocou. Sorri beijando seu ombro. Exausta das longas horas sentada no
avião. Pousamos com tranquilidade. Descemos, sem soltar a mão um do
outro. Entramos no carro com o Taylor ao volante.
— Estamos no complexo de Las Vegas. Localizado no deserto e por
isso usaremos o helicóptero para nos locomover até a cidade. Todos os
meus cassinos hotéis possuem heliporto. Na faculdade usaremos o heliporto
de lá para você ir assistir às aulas.
— Vão achar que sou filha do presidente.
— Muitos empresários usam helicópteros para sobrevoar Las Vegas,
não é incomum. A Hope fazia isso para ir à faculdade.
— Usarei o método que achar mais seguro. — Beijei seu queixo.
— Obrigado. — Alisou minha bochecha.
Não demorou para as casas aparecerem, não se diferenciavam muito
das de Nova Iorque.
— Minha mãe não parava de enviar mensagem pedindo para irmos à
sua casa. Passaremos lá rapidinho.
— Não me incomodo.
Mal terminei de falar e o carro estacionou. Kennedy estava na porta
de casa ao lado de Steve e Bartolomeu, eles encaravam a mulher
preocupados. Comecei a sentir medo de que algo tinha acontecido. A porta
do carro foi aberta, desci primeiro, dei um passo antes de ser envolvida pela
Kennedy sorrindo alegre.
— Minha nora chegou, finalmente podemos confirmar se eu estava
certa. — Encarou minha barriga com um sorriso enorme.
— O que aconteceu? — Black perguntou.
— Josephine está grávida!
Kennedy falou com tamanha certeza que enviou um raio de calafrios
pela minha espinha.
Eu, grávida? E como ela poderia saber disso?
O enjoo aumentou 100 vezes.
— Mãe, que brincadeira é essa?
— Não estou brincando.
Kennedy segurou as mãos de Josephine puxando minha esposa
como uma boneca para dentro de casa. Encarei meu pai e irmão sem
entender o que estava acontecendo. Achava que as alucinações da minha
mãe tinham parado, ela nunca alucinou com coisas que não fossem
relacionadas ao seu trauma, mas talvez algo tenha mudado em sua mente a
perturbando novamente.
— Ela acordou dizendo que seria avó de novo e não tirou a ideia da
cabeça — meu pai explicou.
— Acho que a mãe está ficando louca. — Steve franziu a testa, ele
não brincava. — Você precisava ver.
Neguei com a cabeça sem acreditar naquela nova loucura. Entramos,
encontrei as duas na sala, minha mãe enchia Josephine de testes de
gravidez. Minha esposa começou a ficar branca como leite, nem mesmo o
rubro do bronzeado disfarçava seu estado de espírito.
— Mãe, a senhora está bem? — Apertei os ombros dela.
— Nunca estive melhor, vou ser avó de novo. — Sorriu animada. —
Vamos, querida, vá fazer os testes, comprei cinco para termos certeza.
Todos acham que estou ficando louca, mas minha intuição não falha.
— Vou fazer somente porque você está insistindo muito, mas não
estou grávida, Kennedy. — Josephine não queria desapontar minha mãe.
— Primeiro — fiz ambas sentarem — conte o motivo para acreditar
que Josephine engravidou.
— Vocês transaram, certo?
— Sim.
Eu era um homem de honra, mas nada tirou a vergonha de falar
sobre sexo com a minha mãe. Ela parecia não se incomodar, cada vez mais
sorridente, as íris douradas brilhando de felicidade. A abracei pelos ombros,
senti tristeza por saber que a decepcionaria. Josephine e eu transamos como
dois coelhos, mas foi somente por uma semana, não deu tempo de gerar
uma gravidez.
— Já faz dois dias que tive um sonho, completamente lindo. —
Segurou minha mão e a da Josephine, Kennedy estava entre a gente.
— E tem nos enlouquecido. — Steve apontou sentando emburrado
na nossa frente, ao lado do meu pai.
— Desculpe pelo linguajar do nosso filho. — Bartolomeu pediu
batendo na cabeça do Steve.
— Você sabe que é verdade, a mãe queria ir para o México para a
Josephine fazer os testes de gravidez. Ela ficou completamente maluca!
— Cale a boca que estou falando, posso ser louca, mas não sou
desrespeitosa como você. — Kennedy ordenou, Josephine escondeu o
pequeno riso pela forma da minha mãe tratar o filho.
— Sim, senhora. — Steve murchou como um balão por ser
repreendido.
Josephine gargalhou, não conseguiu se conter. Comecei a rir do
absurdo da situação e aos poucos o clima foi acalmando e estávamos
gargalhando. Kennedy não parava de sorrir encarando minha esposa com o
rosto repleto de carinho.
Desde que a Hope foi embora ela ficou sem a sua companhia
feminina favorita, se contentou em socializar com minhas primas e o Steve
sempre ao seu lado. Vai fazer bem para a minha mãe ter a Josephine como
companhia, e minha esposa terá a chance de saber como é ter uma mãe de
verdade, não um monstro como a Eleanor.
— Eu sonhei que vocês voltavam da lua de mel e a Josephine estava
grávida, linda, esperando um menino. Acordei com o peito doendo em
certeza, mesmo que eu esteja ficando louca, faça os testes. Confirme minha
intuição, ou acabe com a angústia, provando que não terei outro neto, agora.
— Farei. — Josephine levantou segurando o saco com testes de
gravidez.
— Vou com você. — Ergui o corpo.
— Não quero você me vendo fazer xixi. — Franziu o nariz.
— Você fica aqui. — Sentei pelo puxão em meu braço dado por
minha mãe. — Não vai atrapalhar a Josephine. Acha que eu não notei como
tem encarado minha nora? — Estapeou meu braço. Fiquei sem entender o
motivo de apanhar.
— Bate nele, sogrinha, seu filho é um animal — Josephine provocou
e eu quis a esganar.
— Black Bonnarro!
— Mãe, não acredite em tudo que a Josephine fala, ela é uma
serpente em pele de gente — rebati recebendo mais tapas.
Corri do sofá sentando ao lado do meu pai. Ele encarou tudo com
diversão. Não pareciamos uma família de mafiosos, mas de pessoas
malucas. Sempre foi assim, o respeito morava em cada brincadeira, mas não
nos impedia de relaxarmos e aproveitarmos a presença um do outro.
Éramos uma família única e amorosa, superando as dificuldades juntos, nos
fortalecendo a cada desafio.
— Josephine é a nova protegida da sua mãe — meu pai disse. —
Cuidado com o que fala.
— Ou você perde um braço — Steve completou.
— Chega vocês três. Querida, vá fazer o teste, não aguento mais a
ansiedade para saber que estou certa.
— Estou indo, pode me mostrar onde fica o banheiro?
— Vou com você.
Lembrei que era a primeira vez da Josephine na casa da minha
família. Não parecia, a intimidade dela com os membros presentes fazia
parecer que éramos amigos de longa data, acostumados com a presença um
do outro. Ela se encaixava bem no meu ambiente familiar, minha irmã a
amava e eu me encantava cada vez mais com a Josephine. De alguma forma
aquela cena parecia certa, destinada a acontecer.
Às vezes, no passado, eu imaginei se a Amber conseguiria se
encaixar na minha família. Se ela seria aceita como minha namorada, se
meu pai me apoiaria a ir contra as regras da organização trazendo uma
pessoa de fora para o nosso mundo. O pensamento nunca durou muito na
minha mente, sabia que era impossível. Estranhamente senti meu peito
doendo, aliviado por nunca tentar tornar meu namoro com ela em algo mais
sério.
Foram poucos dias ao lado da Josephine e anos vivendo um
relacionamento com a Amber. Mas foi o suficiente para eu desejar voltar ao
passado e mudar a forma como tratava a Josephine, dando uma chance e a
ajudando em seu tormento. Foram dias suficientes para eu ser grato por
terminar com a Amber, sendo capaz de dar uma chance a Josephine.
Fiquei perturbado pelo rumo dos meus pensamentos, mais ainda por
como me sentia. Aliviado por minhas escolhas, mas arrependido, como se
eu tivesse perdido tempo, magoado uma pessoa sem pensar nas
consequências. Será que ela se arrependia do nosso namoro? Desejou nunca
ter me conhecido?
Nunca terei respostas para essas perguntas. Continuo triste por
abandonar a Amber em seu momento mais difícil. Fugindo de enfrentar ao
seu lado o sofrimento pela doença da mãe dela, uma pessoa maravilhosa,
cheia de vida, que aguentou anos de sofrimento na mão do marido abusivo
para que os filhos tivessem um teto e comida na mesa. Ela não merecia um
final triste, e a Amber não deveria ficar sozinha.
— Se sua mãe estiver certa, você está pronto para ser pai? —
Bartolomeu perguntou me tirando dos pensamentos.
— Não tinha pensado nisso. — Aceitei o copo de uísque oferecido
pelo Steve.
— Feliz aniversário. — Ele bateu o copo no meu.
— Porra, tinha esquecido que hoje era meu aniversário.
— A menina Josephine roubou sua concentração o fazendo esquecer
os dias? — Bartolomeu arqueou a sobrancelha, divertido.
— Completamente — admiti. — Obrigado por insistir e me
pressionar para o casamento, eu não fazia ideia do que aguardava por mim,
mas gostei — admiti.
— Sou seu pai, sempre sei o que é o melhor para os meus filhos. —
Apertou meu ombro. — Feliz aniversário!
— E o melhor para mim é me deixar solteiro, concorda? — Steve
brincou, ganhando um olhar sério.
— O Black será o responsável por te arranjar um casamento, estou
livre dessa vida de cão.
— Vou casar o Steve com uma noiva psicopata para dar um jeito
nele.
— Eu fujo e você nunca vai me encontrar. — Negou com a cabeça.
— Pensei que você voltaria um homem melhor da lua de mel, com a idade
deveria vir o amadurecimento e não a perda de inteligência.
— Com a mulher certa ao seu lado, perceberá que a vida pode ser
ótima! — Bebi o uísque apreciando o sabor, escondendo o sorriso do Steve.
Meu irmão me encarou confuso, ele sabia sobre meu relacionamento
com a Amber e muitas vezes me acobertou para eu poder fugir um pouco e
ficar com ela. Se nem eu conseguia me reconhecer, não estranhei o jeito
dele me encarar, como se faltasse um parafuso na minha cabeça.
— Trocaram o Black por um clone! — Aproximou-se baixando o
tom de voz. — Você vivia dizendo que não queria casar com a Josephine, o
que diabos aconteceu?
— Ele se apaixonou — meu pai respondeu.
— Não foi isso, só percebi que estava errado. Estou conhecendo
minha esposa e ela a mim, estamos felizes e é o que importa.
— Nosso pai tem razão, são palavras de um homem apaixonado.
— Cala a boca, Steve.
Bartolomeu riu discreto, Steve continuou me encarando como se eu
tivesse sido trocado por um alien. Ele não entendia a intensidade dos dias
passados ao lado da Josephine. Não conheceu a sensação gostosa de
conversar com ela, ouvir a risada aconchegante, o sabor de seu corpo
viciante, como é fácil a envolver nos braços e gostar do nosso encaixe.
Steve não fazia ideia de como era gostoso se envolver com
Josephine, aproveitar a bolha calorosa criada na nossa lua de mel. Eu tive a
certeza de que nunca conseguiria ficar longe da minha esposa.
Completamente envolvido por seu carisma, viciado no calor de sua boceta e
rendido aos seus encantos.
Não importava os sentimentos vividos no passado. No presente eu
tinha a Josephine e queria me dedicar somente a ela e a relação que
estávamos tecendo juntos.
— Prontos para a verdade? — Minha mãe entrou na sala puxando a
Josephine.
— Ainda não descobriram? — questionei.
— Estamos esperando o tempo, mas a Kennedy queria ver com
todos vocês — minha esposa respondeu.
— Será o presente de aniversário do Black — Steve disse. —
Positivo ou negativo.
— Oh céus, esqueci completamente. — Kennedy levou as mãos às
bochechas vindo para mim. — Feliz aniversário, meu filho. — Levantei
abraçando o corpo pequeno da minha mãe. — Te amo e desejo tudo de bom
na sua vida, sei que será um pai maravilhoso.
— Obrigado, mãe. — Alisei suas costas, beijei a bochecha e a
encarei feliz.
— Eu fui o único que lembrei, merecia um prêmio.
— Seu presente será um casamento na próxima semana —
provoquei, ele ergueu o dedo médio e recebeu um tapa na cabeça da minha
mãe.
— Não sabia que hoje era seu aniversário. — Josephine se
aproximou timidamente. — Parabéns, Black.
— Obrigado.
Puxei a cintura da minha esposa, envolvi os braços ao seu redor
inspirando o meu cheiro preferido, orquídeas mescladas ao aroma natural da
sua pele. Seus dedos deslizaram no meu pescoço, enfiando nos pequenos
fios da minha nuca, a boca macia alcançando a minha. Fechei os olhos
aproveitando o beijo casto, na frente dos meus pais precisei manter um
pouco de decoro. Embora a vontade fosse de atacar minha esposa e meter
na sua boceta quente, estava morrendo de saudade de transar com ela.
— O que você quer de presente? — Alisou o nariz no meu,
tranquila.
Aproximei a boca de seu ouvido, tomando cuidado para não deixar
ninguém ouvir a resposta.
— Você, é o meu maior presente. — Beijei sua orelha. — Sua
aceitação, seus beijos, sua entrega, continue ao meu lado e não precisarei de
mais nada.
— Não vou a lugar algum. — Beijou minha barba. — Mas ainda
quero te presentear, não esqueci seu gesto no meu aniversário, me deixe
retribuir.
— AH SAIU! — Kennedy gritou chamando nossa atenção.
Mirei os testes de gravidez em cima da mesa de centro. Todos os
cinco palitinhos mudaram o indicador do resultado, ganhando duas listas,
ou mostrando o indicador de dias de gravidez, faz somente 3 dias que ela
engravidou.
Eu vou ser pai.
— Ganhei o melhor presente.
Respondi emocionado, processando o turbilhão de sentimentos
povoando meu peito. Eu queria aquilo, encarei o rosto pálido da minha
esposa mirando os testes. Segurei suas bochechas sorrindo, explodindo em
felicidade, a visão marejou. Josephine me encarou de olhos banhados por
lágrimas, o lábio inferior tremeu e sua mão alcançou o ventre. Ela ficou
gelada, perdida, atônita à realidade, como eu estava.
— Seremos pais — falei puxando seu rosto, enchi sua boca de
beijos, queria a devorar, consumir seu corpo, nos tornar um só para que ela
pudesse sentir a minha felicidade.
— Oh, meu Deus — murmurou. — Eu vou ser mãe?
— Sim!
— Céus, acho que vou desmaiar. — Finalmente ela começou a
exibir o lindo sorriso, as lágrimas descendo por suas bochechas.
— Eu te seguro. — Envolvi sua cintura a erguendo, girei com
Josephine nos meus braços, o grito feliz deixou seu corpo reverberando
pelo meu.
Eu acreditei estar vivendo um novo tipo de alegria descobrindo
quem era minha esposa e me envolvendo por seu encanto. Mas naquele
segundo eu soube o que era a verdadeira felicidade. Eu teria um filho e
estava apaixonado pela mãe dele.

Black me girou no ar e eu ainda processava o que havia acabado de


descobrir. Como não percebi nenhum sinal? Céus, bebi feito uma maluca
ontem sem saber que estava grávida. Todas as minhas amigas demoraram
para engravidar, nunca imaginei que aconteceria tão rápido comigo. Saber
da existência do meu bebê abriu uma porta no meu coração, um sentimento
de felicidade tão grande que transbordava por meus olhos e boca, gritando
sem conseguir conter a alegria.
Eu senti as rachaduras na minha alma fechando pouco a pouco, mas
naquele segundo eu tive tudo curado. A certeza de que eu poderia ser feliz
exalando por meu ser. Eu jurei que era uma brincadeira da Kennedy, não
imaginava que ela tinha razão. Black parou de girar, eu nunca o vi sorrir
com tamanha espontaneidade.
Ele quis o nosso bebê, eu não estaria sozinha nessa etapa de nossas
vidas. A confiança construída na nossa lua de mel foi essencial para
consolidar esse momento de felicidade. Eu tinha uma leve noção de como
cuidar de um bebê, aprendi muito com a Hope e a Emily, mas nunca
imaginei que aconteceria tão cedo, poucos dias após a minha primeira vez.
Junto do Black criamos uma vida, se desenvolvendo no meu ventre,
confiando em mim para o proteger, o ajudar a crescer saudável, sendo
recebido com muito amor.
Pela primeira vez na minha vida eu estava amando a minha
existência e o conhecimento de que teria um bebê. Vou me esforçar para ser
a melhor mãe do mundo para a pequena vida no meu ventre, o encher de
amor, sempre o colocando em primeiro lugar, fazendo do meu mundo o
mundo dele.
Encarei os demais sorrindo felizes. Kennedy abraçada ao
Bartolomeu com lágrimas nos olhos, Steve batia palmas com pequenos
gritos de incentivo, Black não escondia seus sentimentos. Eu era aceita por
aquelas pessoas e meu bebê cresceria em um lar saudável, amoroso e
repleto de felicidade, ele teria tudo que eu nunca tive e sempre quis.
— Vamos ter um bebê — falei novamente, acostumando com a
ideia.
— Sim. — Black beijou minha bochecha, me colocando no chão. —
Porra, Josephine. Eu já estava completamente louco por você, mas agora te
proíbo de sair do meu campo de visão. Prometo que nunca vou deixar nada
faltar para você e nosso filho, te manterei segura e nosso pequeno crescerá
rodeado de amor e felicidade.
— Confio em você. — Beijei sua boca animada.
— Todos me devem desculpas por duvidarem de mim. — Kennedy
enxugou os olhos me puxando para um abraço. — Obrigada por esse
presente, minha filha.
— Se você não tivesse sonhado eu ia demorar mais uns dias até
perceber — confessei apertando seus ombros, adorando o carinho materno.
— Uma gravidez de 3 dias, realmente, se a mãe não tivesse sonhado
íamos demorar ao menos duas semanas ou mais — Black disse, encarei
meu marido, ele segurava um teste de gravidez nas mãos.
— Minha intuição nunca falha.
— Parabéns pela gravidez. — Bartolomeu apertou a mão do filho.
— Obrigado por me darem outro neto. — Veio a mim, puxando meus
ombros para um abraço. — Nossa casa ficará muito mais alegre com uma
criança correndo por aqui. — Segurou meu braço e encarou a família. —
Vou iniciar minha aposentadoria da melhor forma.
— Precisamos contar para a família! — Kennedy bateu palmas
correndo para pegar o celular.
— Espera — pedi. — Ainda é recente, quero dar a notícia às minhas
amigas primeiro, podemos anunciar para a família depois?
— Claro, querida, estou tão animada que nem pensei nisso. As
meninas em Nova Iorque vão ficar eufóricas.
— Parabéns, cunhada. — Steve segurou minha mão beijando o
dorso. — Estou ansioso para ensinar meu sobrinho a enlouquecer os pais.
— Você vai ficar longe do meu filho — avisei contendo o sorriso.
— O Steve sabe que acabo com a raça dele se ousar ensinar idiotices
ao meu filho. — Prendeu o irmão pelo pescoço.
— Você não está com nada.
Os irmãos iniciaram uma pequena brincadeira tentando dominar um
ao outro. Assisti a cena abraçada ao Bartolomeu, ele me tinha presa por um
braço e no outro envolvia a esposa. Eu me senti parte daquela família,
abençoada pelo ambiente amoroso que meu filho cresceria.
Meu pequeno começou a curar minhas feridas, me enchendo de
esperança pelo nosso futuro. Eu queria aquilo, aquela realidade cheia de
amor, alegria e muita confiança, proteção, um lar quentinho para chamar de
meu, ser livre, pessoas com quem conversar sorrindo. Abraços calorosos
sem necessitar de um motivo.
Muito mais do que um dia sonhei. Quando me reunir com minhas
amigas e irmão tudo estará perfeito, no seu devido lugar. Uma enorme
família para chamar de minha.
Foi difícil sair de casa para a reunião com o Senador, queria
continuar com minha esposa comemorando a gravidez do nosso filho. Mas
precisava cumprir com as obrigações de Capo, começando pelas reuniões
com nossos principais aliados. O Senador se mostrou empolgado com a
troca de poder, foi um almoço fácil, retornei para casa ansioso. Encontrei
minha esposa animada e pronta para partirmos para Nova Iorque, louca para
contar a novidade às amigas e ao irmão.
Chegamos ao complexo depois de um voo tranquilo, Josephine e eu
pedimos a todos para se reunirem na nossa casa. Não demorou muito para
todos chegarem. Daisha retirou o gesso do braço, substituiu por uma tala
preta, conseguia andar com facilidade, mas isso não impediu o Kai de ficar
segurando sua cintura, dava apoio à esposa que não reclamava da atenção
do marido.
— Temos um anúncio importante para fazer.
Envolvi a cintura da Josephine com o braço, ela não escondia a
felicidade. Recebi olhares desconfiados de nossos amigos, eu já sabia a
zoação que enfrentaria com os caras mais tarde. Não poupei nenhum deles
no passado, quando se renderam por suas esposas, e sabia que não teriam
pena de arrancar minha pele com piadas. Estou pronto para receber cada
comentário debochado, nada pode corromper minha felicidade.
— Josephine te deixou vivo, não era esse o anúncio? — Kai
debochou.
— Esperava que ele voltasse ao menos com uma parte do corpo
faltando. Josephine, você me decepcionou. — Michael sorriu sarcástico.
— A mala dela está cheia de calcinhas, quem se decepcionou foi eu.
— Emily fez bico.
Josephine assumiu um tom de vermelho escarlate e eu gargalhei pela
provocação da loira. Não imaginava que elas se alfinetavam dessa maneira,
por algum motivo, pareceu estranho as meninas falando putaria uma para a
outra. Na minha mente, essas coisas só aconteciam entre os caras.
— Podem parar. — Josephine apontou.
— Deixem eles falarem — Daniel interveio — depois arrancamos os
detalhes sórdidos. Se estão vivos, boa coisa aconteceu na lua de mel.
— Ei! Nossa Phine é um amor — Hope defendeu a amiga — se o
Black morresse seria culpa dele.
— Hope, você é minha irmã!
— E cunhada da Phine, eu conheço bem vocês dois. — Sorriu
espertinha.
Minha irmã sempre que podia falava comigo tentando me fazer
mudar o jeito que enxergava a Josephine. Por vezes me encurralou na
mansão lembrando que eu estava sendo um babaca extremo com sua amiga
querida. Não tinha dúvidas, se Josephine me matasse Hope ajudaria a
esconder o corpo.
— Desse jeito nunca saberemos a novidade. — Daisha agiu como
juíza da paz.
— Obrigado — acenei com a cabeça — temos algo realmente
importante a dizer.
— Fala logo! — Hope bateu palmas.
— Estou grávida! — Josephine gritou abrindo os braços.
Observei as expressões de cada um mudar lentamente. Hope
arregalou os olhos, Daisha abriu a boca, Emily bateu as mãos nas
bochechas. O trio gritou saltando, menos Daisha, para abraçarem minha
esposa. Michael sorriu triunfante, não estava surpreso. Daniel alisou a barba
tentando conter a expressão de choque e Kai tinha lágrimas nos olhos. De
todos o mais emocionado, imagino que pensava em tudo que a irmã passou,
respirando aliviado por vê-la feliz esperando um filho. Ele conseguiu se
enfiar entre as meninas abraçando Josephine com alegria.
— Parece que perdemos — Daniel falou se aproximando. — Black
foi o mais apressado para engravidar a esposa, deixou a todos nós no
chinelo.
Ergueu a mão, batendo forte contra minha palma. Puxou-me para
um abraço, batendo nas minhas costas, rindo tranquilo.
— Bem-vindo ao clube dos papais.
— Obrigado. — Bati de leve em seu ombro, me separando e
encarando meu amigo.
Daniel sempre foi calado, a expressão fechada e frio. Após se
entregar ao amor pela Emily ele mudou, continuava sombrio, mas
conseguia expressar felicidade com facilidade. Ele aprendeu a amar e se
deixou ser amado.
— Quem diria, grávidos em menos de uma semana. — Michael
agarrou meu antebraço me puxando para um abraço. — Parabéns, Black.
Você está prestes a descobrir a maior felicidade do mundo, formar a sua
família, ter filhos é um presente divino para homens como nós.
— Nunca pensei que pudesse ficar tão feliz como agora, obrigado
por insistir.
Como líder, Michael nunca me deixou escapar da obrigação de casar
e assumir o meu cargo como Capo de Nevada. Nunca me irritei com ele por
fazer o seu papel, mas por diversas vezes tentei negociar que fosse outra
noiva. Até perceber pelo que Josephine passava e o quanto a magoei com
minhas atitudes. Eu queria um casamento em paz e poder fazê-la feliz. Mas
após a nossa lua de mel e a conexão criada, eu anseio como louco encher a
vida da Josephine de carinho e paixão.
— Cunhadinho. — Kai chegou apertando meu ombro, ele não
conseguiu conter a felicidade transbordando pelos olhos idênticos ao da
minha esposa. — Já fez um filho para segurar a Josephine?
— O medo dela correr de mim era grande, precisei me garantir. —
Entrei na brincadeira.
— Você sabe o que faz. — Puxou-me para um abraço apertado. —
Cuide bem da minha irmã e do meu sobrinho. Eles são sortudos por terem
você, parabéns, Black.
— Eu sou o verdadeiro homem de sorte. — Bati em suas costas nos
separando.
— Vamos comemorar, precisamos de uísque e charutos. — Michael
apontou para as escadas, indicando meu escritório.
Eu sabia qual era a intenção dele e mesmo assim os guiei pela casa
deixando as meninas comemorando na sala. Os gritos animados delas
chegavam com facilidade ao segundo andar. Abri a porta do escritório,
atravessei e menos de um segundo depois os berros iniciaram. Fui
empurrado com força para baixo, curvei a coluna aguentando o peso de três
marmanjos se jogando em cima de mim.
— Cadela rendido! Cadela rendido!
Os três berravam alto, batendo nas minhas costas, uivando e
açoitando minha bunda conforme eu tentava fugir do ataque. Era
inacreditável três marmanjos de 37 anos me zoando daquele jeito. Diverti-
me com a perseguição pelo escritório, fugindo e levando os tapas alegres,
com os berros me chamando de cadela rendido.
— Não demorou nem uma semana, sua cadela. — Michael envolveu
meu pescoço com o braço, prendendo meu tronco.
— Não era você que pedia ao Kai para afastar a irmã quando ela te
perseguia? — Daniel segurou minhas orelhas erguendo meu rosto. —
Vejam só, todo rendido pela mulher que ele rejeitava.
— Não esperou nem um mês antes de engravidar minha irmã. — A
bunda ardeu pelo tapa desferido pelo Kai. — Eu deveria te açoitar por ser
tão apressado. O que uma rendição não faz com um homem!
— E ele ainda nos zoava por amar nossas esposas. — Michael
apertou com força o braço ao meu redor.
Segurei sua cintura e cotovelo tentando me soltar, sabia que não
acabaria tão cedo a zoação.
— O último do Quarteto Monstro a casar, e o mais rápido a cair de
quatro — Daniel apontou.
— De Quarteto Monstro viramos Quarteto de Cadelas com a queda
do Black — Kai disse.
— Não posso fazer nada se minha esposa tem um charme único que
a de vocês não tem — rebati.
Os três começaram a me vaiar, ri conseguindo me soltar do Michael.
Era a minha vez de sofrer a zoação e estava pronto, mas não cairia sem
lutar.
— Esse Quarteto Monstro perdeu a moral para quatro mulheres com
metade do nosso tamanho. Vocês deveriam se envergonhar por ceder
facilmente — completei.
— Não me envergonho, adoro ser o cachorrinho da minha esposa.
— Kai foi o primeiro a ceder.
— Eu também não reclamo — Michael disse. — Hope pode mandar
como quiser, obedeço sem medo.
— Emily me tem no mindinho dela, não há vergonha em admitir que
ela me controla.
— Confesse, Black, Josephine te pôs na coleira. — Kai ergueu o
queixo soberbo.
— Coleira não — ergui o dedo fazendo suspense — na palma da
mão.
As vaias dispararam, eles tentaram me prender novamente, mas
escapei correndo no escritório. Agarrei a garrafa do meu melhor uísque.
— Hoje merece uma comemoração à altura, brindaremos pela
gravidez da minha esposa com um Yamazaki de 55 anos, envelhecido em
barris de carvalho branco. Preparem-se para provar uma raridade.
— Porra, não fazia ideia de que você tinha essa garrafa. — Kai se
aproximou observando o rótulo.
Michael entregou os copos. Distribuí as doses para cada um,
deixando a garrafa em cima da mesa, peguei uma caixa de charutos Hoyo
de Monterrey Double Corona entregando um a cada.
— Ao meu sobrinho. — Kai ergueu seu copo.
— Ao novo Bonnarro. — Michael acendeu o charuto.
— Que ele nasça repleto de saúde e seja um grande homem de honra
ou uma dama excepcional — Daniel desejou.
— Se for como a mãe, o Black ficará careca antes dos 40 — Kai
debochou.
— Sortudo serei eu se tiver uma filha com metade da personalidade
da Josephine. Ela nunca será menosprezada ou humilhada, será uma
imperatriz como a mãe. Pronta para dominar o mundo.
— Black está muito apaixonado — Michael comentou surpreso.
— Mais do que pensamos — Daniel completou.
— Um brinde à nova família formada pelo Black e Josephine. —
Kai ergueu o copo.
Brindamos a nova vida, a felicidade e a realização preenchendo a
cada um de nós. O Quarteto Monstro foi formado anos atrás, quando
fizemos nossa primeira missão juntos, usamos codinomes e por anos nos
mantivemos como quatro assassinos frios e cruéis. Nesse momento
visualizo uma nova faceta para nós. Quatro homens felizes, longe das garras
cruéis do passado que atormentavam a nossa existência.
— O Quarteto Monstro virou Quarteto dos casados — brinquei.
— Quando o Kai tiver filhos, seremos o Quarteto dos Papais —
Michael apontou.
— Será que nossos filhos serão amigos? — Kai franziu a
sobrancelha. — Espero que sim, para mim foi importante o apoio de cada
um de vocês durante minha situação com o Louis. Nossas crianças serão
sortudas se tiverem amizades valorosas como a nossa.
— Eles vão crescer juntos — Daniel disse. — Ethan e William
apesar de pequenos adoram ficar juntos, não tenho dúvidas de que a
amizade entre eles será grande.
— Quero aproveitar o momento para um comunicado — Michael
chamou a atenção. — Quero acabar com a tradição de casamento entre os
Griffins e Bianchi, nossos filhos são primos e tempos atrás sei que seria
aceita a união, mas não desejo prosseguir. Deixarei o Ethan livre para
decidir com quem casar, e todos os meus filhos, homens e mulheres, terão o
mesmo direito.
— Concordo com sua escolha — Daniel falou. — Vou criar o
William para saber amar e ser amado, desejo que meu menino conheça o
amor sem o peso de um casamento arranjado.
— É o fim dos casamentos por contrato — Kai decretou.
— E das meninas casarem até os 20 anos — eu disse. — Quero que
minhas crianças tenham o direito de cursar faculdade, trabalhar se
desejarem, viver uma vida antes de se casar. Chega de usar nosso sangue
para alianças no mundo da máfia.
— Criaremos uma geração poderosa, capaz de dominar e subjugar,
fazer alianças sem precisar de um acordo de casamento consolidando as
uniões — Michael finalizou.
— Esse passado dos Bianchi se encerra na nossa geração — Daniel
pontuou.
— Enfrentaremos algumas relutâncias por parte dos membros
antigos, mas em alguns anos todos estarão mortos, só precisamos fingir que
ouvimos o que os velhos falam. — Sorri pela fala do Kai, ele tinha razão.
— Ao futuro. — Ergui o copo.
Brindamos, selando um novo destino, em que nossas crianças não
passariam pelo inferno que cada um de nós sofreu durante a nossa criação.
Uma nova página se iniciava na Máfia Bianchi, estava ansioso para ver o
que a próxima geração seria capaz de fazer.
— Estou grávida! — gritei animada.
Os gritos das meninas me deixaram surda. Uma massa de braços
envolveu meu corpo com amor explodindo em cada toque. Daisha
conseguiu se enfiar entre a Hope e a Emily, tomando cuidado para não se
machucar, a tala sempre rente à barriga, abraçou minha cintura. Meu rosto
recebia beijos da Hope, Emily pulava baixinho ao meu lado sorrindo, os
cabelos loiros voando em sua face.
— Não acredito que vou ganhar um sobrinho! — Hope disse
segurando meus braços, me forçando a encarar a felicidade no seu rosto
bonito.
— Vocês foram mais rápidos que Daniel e Emily. — Daisha abraçou
minha cintura descansando a cabeça no meu ombro. — Mais um pequenino
para trazer felicidade aos nossos dias.
— Eu sabia que a paixão de vocês falaria mais alto — Emily
comentou tomando o lugar da Hope. — O beijo que deram no altar não era
de um casal sem química, mas com uma paixão explosiva precisando ser
consumada.
— Suas bobas. — Sorri engolindo o choro.
— Posso roubar minha irmã um momento? — Kai conseguiu se
enfiar entre as meninas puxando minha cintura.
— Pode — Daisha respondeu rindo.
Os braços do meu irmão rodearam meu tronco em um abraço
caloroso, enfiei o rosto em seu peito adorando a tranquilidade por saber que
poderia desfrutar de momentos de paz com ele. Alisou minha cabeça
carinhosamente beijando minha testa enquanto ostentava um lindo sorriso.
— Parabéns, Phine. Não tivemos o melhor exemplo materno, mas
sei que você será uma mãe incrível, nunca deixará nada faltar para essa
criança e eu te prometo estar ao seu lado em todos os momentos. Serei o
melhor tio do universo para o seu filho. Se ficar com medo ou quiser fugir
uns segundos para respirar do choro do bebê me avisa que vou ao seu
socorro. Embora eu tenha a certeza de que o Black será um excelente pai.
Te amo.
— Obrigada, Kai, eu amo você. — Deslizei as mãos em suas costas.
— Meu bebê é sortudo por você ser o tio dele. Nossas famílias estão
crescendo, não vivemos mais envoltos pelo ódio e nossos filhos saberão o
que é crescer rodeados de felicidade e amor.
— Sim, nossos filhos terão tudo que nunca tivemos. Estou orgulhoso
de você por conseguir superar o passado e se permitir ser feliz.
— Segui o seu exemplo. — Ergui o queixo sorrindo para o meu
irmão.
— Estou ansioso para te ver sendo mãe, mas agora preciso ir encher
o saco do Black.
— Não pegue leve com ele. — Ri adorando imaginar a zoação que
meu marido vai enfrentar.
— Não pretendia. — Piscou maroto.
Kai apertou o abraço, beijou minha cabeça e saiu se voltando para
onde o Black e os rapazes comemoravam.
— Precisamos de algo para brindar — Daisha foi a primeira a falar.
— Não podemos beber, mas que tal um espumante sem álcool?
— Vou providenciar. — Hope pegou o celular fazendo uma ligação.
— Nos conte tudo sobre a lua de mel. — Emily me puxou, sentando
comigo no sofá.
— Já sabe como é difícil manter as calcinhas intactas? — Daisha
sentou ao meu lado mordendo o sorriso.
Um tempo atrás eu fui alvo de zoação por não ter uma calcinha
rasgada por um homem. Sendo a única solteira e virgem do grupo não
conseguia compartilhar e interagir nas conversas sobre sexo sem ficar
parecendo um patinho fora d’água. Agora consigo participar sem a
vergonha pela inexperiência.
Ergui a barra do vestido exibindo meus joelhos arranhados pela areia
de quando fiz sexo na praia com o Black.
— Acham que esse corpinho bronzeado foi somente de tomar sol?
Por favor, meninas, eu quase fui esfolada fazendo sexo na areia. Já
experimentaram montar no homem de vocês enquanto as ondas tentam te
puxar para dentro do mar? — Exagerei na revirada de olhos. — Uma
delícia!
— A Serpente voltou! — Hope gritou batendo palmas com a Emily
e a Daisha.
— Uma tarada sexual! — Daisha apertou os olhos azuis.
— Está tentando superar minhas aventuras sexuais com o Daniel.
— Vocês já tomaram tequila lambendo o sal no corpo um do outro?
Eu recomendo, melhor forma de ingerir a bebida. — Dei de ombros.
As gargalhadas explodiram com gosto. A felicidade por fazer parte
daquele grupo de amigas nunca era demais. Sempre conseguimos
compreender umas as outras, ser o suporte emocional e parceiras de
loucuras. Não importa o que acontecer, posso contar com elas para tudo.
— Oficialmente posso dizer, sou uma Domadora de Monstro. —
Ergui a mão animada.
— Nosso quarteto sendo finalmente consolidado. — Hope apertou
as mãos, era a única em pé.
— A gente podia revelar aos rapazes como nosso quarteto se chama
— Emily disse.
— Uma apresentação das domadoras? — perguntei.
— Seria incrível! — Daisha se levantou. — Podemos puxar eles
pelas gravatas e dizer nosso codinome os levando embora.
— Como verdadeiras domadoras, gostei — falei.
— Agora nos conte, como está ao saber que será mãe? — Hope
perguntou sentando na mesa de centro, Daisha voltou para o meu lado.
— Demorei para processar os sentimentos. Acho que parei no tempo
por uns minutos percebendo a comemoração de todos ao meu redor.
— Como você descobriu? Deve ser bastante recente — Emily
indagou.
— Foi a Kennedy, voltamos da lua de mel e ela esperava ansiosa
dizendo que engravidei. Ela teve um sonho, comprou os testes e eu fiz para
a acalmar. Não imaginava que daria positivo, afinal, foi somente uma
semana de sexo. Pensei que demorava mais para engravidar.
— Vocês usaram camisinha? — Hope ergueu a sobrancelha.
— Não.
— Tomava anticoncepcional? — Emily inquiriu.
— Não.
— Você é fértil e pelo visto o Black também, estranho seria você
não engravidar. Se virou um camarão pegando sol transando, imagino que
não se desgrudaram — Daisha falou.
— Só precisa de uma única transa para acontecer — Emily
completou.
— Mas vocês realmente foram rápidos — Hope apontou.
— O poder da paixão. — Deixei escapar, mordendo os lábios,
admitindo pela primeira vez que eu estava gostando do Black.
— Alguém se apaixonou. — Daisha me cutucou.
— Dessa vez é diferente — mexi minhas mãos — não tem o
desespero de antes, parece mais sólido e real. — Ergui os ombros. — É
difícil não gostar do Black que estou conhecendo, ele é atencioso, gentil,
conversa com facilidade comigo, faz promessas que aquecem meu coração.
Sinto como se dessa vez fosse real, antes era somente uma ilusão. Ele se
abre comigo e se agarra a mim com tamanha força que não consigo o
manter longe.
— E nem deve — Daisha apertou meus dedos — se encontraram
essa ligação devem cultivar e deixar nascer um amor que consuma a ambos.
— Vocês merecem ser felizes. — Emily deitou a cabeça no meu
ombro.
— E amar um ao outro sem medo. — Hope segurou meus joelhos.
— Torço pela felicidade de ambos, parabéns pela gravidez, que meu
sobrinho torne o lar de vocês o melhor lugar do mundo. Não tenho dúvidas
de que você será uma ótima mãe e o Black um pai excelente, nunca
deixarão faltar nada para o filho de vocês.
— Obrigada por serem minhas irmãs — encarei as três de olhos
marejados — eu amo muito vocês.
— Te amo, Phine. — Hope beijou minha testa.
— Amo muito você, Josephine. — Emily beijou minha bochecha.
— Minha cunhada do coração, te amo demais. — Daisha beijou meu
ombro.
— Só ela é sua cunhada do coração? — Emily ficou ciumenta.
— Você também. — Daisha apertou a bochecha da loira.
— É maravilhoso como somos cunhadas umas das outras. — Hope
riu limpando os olhos. — Eu e Josephine somos cunhadas, que é cunhada
da Daisha, Emily é minha cunhada e da Daisha. Estamos entrelaçadas.
— Nossos filhos serão todos primos, de alguma forma — Emily
apontou.
— Quando eu tiver meus bebês eles só não serão primos dos filhos
da Hope e do Michael — Daisha comentou.
— E os meus da Josephine e do Black — Emily disse.
— Os casamentos entre nossas famílias serão muito limitados —
Hope disse. — Michael e eu conversamos e o Ethan terá o direito de
escolher com quem quer casar. Ele vai abolir para a próxima geração o
casamento por contrato.
— Ah! — Bati palmas lembrando. — Falando em aliança de
casamento, vocês não vão acreditar. A irmã do Gael, Esmeralda, está louca
para prender o Dante a ela.
— Coitado do meu irmão, ele tem medo daquela mulher, uma vez
ela quis causar uma crise de hiperglicemia nele como vingança pelo Dante a
rejeitar.
— Essa é mais maluca que a Josephine — Emily falou.
— Ei! — gritei com ela.
— Michael quer uma forma de controlar os mexicanos, talvez ele
considere — Hope pontuou. — Estou tendo de aguentar o Matthew
reclamando da juíza, ele não para de pensar nela.
— Eles se conheceram na faculdade, não foi? — perguntei.
— Sim, mas aparentemente ele não dava muita bola para ela. Desde
que a reencontrou no julgamento do Daniel e a mulher o ignorou, o homem
ficou louco. Disse que ela estava um espetáculo de beleza e queria ao
menos uma chance para entender o que ele fez no passado que agora ela o
evita.
— Vou adorar ver o desenvolvimento desses romances. — Daisha
me encarou. — Mais alguém para ficarmos de olho?
— O Steve não gosta de ninguém, ele foge da ideia de casamento.
— Ah, verdade. — Hope apontou o dedo para mim. — Lembro do
meu pai comemorando no casamento que agora o Steve era problema do
Black.
— Os últimos solteiros dos Bianchi. — Emily sorriu maldosa. —
Quero ver quem cairá primeiro.
— Senhora Bianchi — o segurança da Hope entrou cauteloso na sala
— trouxe o espumante sem álcool e as taças.
— Obrigada! — Hope pegou a bebida e Emily as taças.
— Vamos brindar ao meu sobrinho. — Encheu nossas taças. —
Desejo que o pequeno traga muita felicidade para você e meu irmão.
— Parabéns por serem presenteados com essa felicidade. — Emily
ergueu a taça. — Que ele ou ela cresça com muita saúde e amor.
— Desejo que meu sobrinho seja uma criança feliz, amada e repleta
de proteção. — Daisha ergueu sua taça. — Parabéns pela gravidez,
Josephine.
— Obrigada por estarem comigo em todos os momentos, viva a vida
do meu filho.
Tocamos as taças com sorrisos no rosto. Brindando a geração de
uma nova vida no meu ventre. Do grande presente de Deus. Meu amado
filho ou filha.
— Podemos ir pegar nossos monstros? — Hope perguntou após
terminarmos a garrafa.
— Temos de fazer uma entrada triunfal — eu disse.
Montamos nosso plano em menos de cinco minutos. Subimos as
escadas devagar sem fazer barulho, era possível ouvir a algazarra dos
homens dentro do escritório, eles não se continham comemorando e isso me
deixava feliz, saber que o Black cultivou amizades preciosas.
Girei a maçaneta empurrando a porta causando um baque contra a
parede. Os quatro estavam em pé fumando charuto e bebendo uísque. Cada
um focou o olhar em sua esposa. Sorri atrevida pelo que faria, seria o prego
que faltava para o caixão de zoação deles sobre serem cadelas das esposas.
Minha barriga contraiu em felicidade por saber que domei o Black. Não era
mais uma sem marido ou rejeitada.
Aquele homem gostoso me devorou com os olhos, me desejava e
ansiava por cada segundo ao meu lado. Eu me senti poderosa, uma
verdadeira deusa caminhando para dar migalhas de atenção ao meu fiel.
— Atenção! — Hope falou alto, no centro, como a nossa líder. —
Estamos oficialmente apresentando a vocês o Quarteto das Domadoras de
Monstros. Senhoras, peguem o monstro de vocês.
Black ergueu a sobrancelha curioso. Sorri lasciva caminhando em
sua direção, cada uma de nós se dirigiu ao marido exalando soberania.
Agarrei a gravata do meu marido o puxando com força, trazendo seu rosto
para ficar colado ao meu.
— Você é o Monstro da Serpente — a voz embargada de sedução.
— Caralho, Josephine, quer me matar? — Black rosnou apertando
meu quadril. Ele tentou me beijar, mas afastei o rosto, negando ao seu
desejo.
— Você é o Monstro da Súcubo — Emily falou perto de mim.
— Porra, Eterna, eu sou tudo que você quiser — Daniel respondeu.
— Você é o Monstro da Coruja — Hope disse altiva.
— Sim, amor, sou completamente seu — Michael soou apaixonado.
— Você é o Monstro da Gata — Daisha contou ao meu irmão.
— Minha gata selvagem, me domine como quiser — Kai rosnou.
— Seu codinome combina com o meu. — Black agarrou meu
pescoço mantendo meu rosto rente ao seu. — Serpente, conheça o
Basilisco, o seu rei.
Tremi querendo ser devorada pela potência do meu marido. Nunca
imaginei que combinássemos nos codinomes. Descobrir nesse momento o
codinome do Black tornou-se mais prazeroso, se ele tivesse me dito antes
de eu ser coroada como Serpente, teria perdido o impacto da nossa
combinação.
Estamos destinados a ficar juntos, o rei e sua rainha.
— Pensei que eles nunca fossem embora. — Black sorriu safado
agarrando minha cintura.
Acabamos de fechar a porta para meu irmão e sua esposa, eles
ficaram até mais tarde, Daisha contando sobre sua recuperação. Retirou o
gesso e iniciaria a fisioterapia na segunda, ela sentia dores para movimentar
o braço, reclamou que a tala incomodou tanto quanto o gesso. Kai e ela
confidenciaram que sentem vontade de ter um filho, mas vão deixar as
coisas acontecerem naturalmente após a Daisha se recuperar.
Fiquei feliz por ela e meu irmão. Eles merecem construir uma
família, torço para não demorar muito e que possam aproveitar cada
segundo de felicidade como eu farei com a minha. Envolvi as mãos nos
ombros do Black inspirando o cheiro de charuto no seu queixo.
— É a vantagem de quem não tem filhos: Hope e Michael; Daniel e
Emily precisaram sair cedo para cuidar dos pequenos.
— Já imaginou como será nossa rotina com nosso bebê? — A mão
grossa desceu tocando minha barriga, cheio de carinho Black beijou meu
rosto, me puxando para o seu colo.
— Vou cursar somente mais um semestre na faculdade, é o tempo da
gestação, depois eu tranco para cuidar do nosso filho. Quando ele tiver
idade o suficiente para eu sair de casa sem chorar, volto a estudar.
— Vou ajudar em tudo que puder para você não atrasar os seus
estudos. — Caminhou lentamente subindo as escadas.
— Eu fico com ele de noite e você de manhã.
— Desse jeito não teremos tempo para nós dois. — Deslizou o nariz
no meu pescoço. — Não consigo ficar um segundo longe de você. —
Empurrou a porta do quarto com o pé. — Estou completamente rendido aos
seus encantos.
— Também não quero ficar longe — admiti, não machucava ser
sincera com o Black, ele depositou toda sua confiança em mim, comecei a
querer me abrir com meu marido.
— Ao menos enquanto você estiver de férias, quer me acompanhar
no trabalho?
— Como assim? Vai me levar para torturar pessoas e causar o caos
pelo mundo?
Black gargalhou, o som gostoso reverberou de seu peito atingindo o
meu com carinho. Ele me deitou na cama vindo por cima do meu corpo.
Nos encaixando naturalmente um ao outro. Eu abri as pernas, ele acomodou
o quadril largo no meu centro. Os braços ao redor da minha cabeça
apoiando o peso, o nariz a centímetros do meu, nossas respirações se
misturando.
— Posso levantar só um pouco de seu vestido para falar com nosso
bebê?
Eu quis chorar.
— Sim.
Alisei a orelha do Black, o cuidado dele pedindo para levantar
minha roupa, respeitando meus limites para ser capaz de falar com nosso
filho balançou todas as estruturas do meu coração. Senti os altos dos muros
que mantinham o Black distante ruindo, presos pela metade por vergalhões
fracos. Estava a um segundo de ceder.
— A cicatriz fica aqui. — Guiei sua mão para o meu quadril,
puxando em linha reta até o umbigo.
— Prometo tomar cuidado. — Encostou os lábios nos meus em um
juramento poderoso.
— Se eu contar como a ganhei, você escuta?
— Com toda a minha atenção. — Beijou minha testa, descendo os
lábios molhados por meu rosto, me embalando em seu carinho.
— Certo. — Engoli em seco, sem saber se falava ou não.
— Podemos conversar com nosso bebê, não tenha pressa. Temos a
vida inteira para conhecer um ao outro. — Esfregou a bochecha na minha,
descendo o tronco.
Black beijou meu busto exposto, acariciou minha cintura, uma mão
contornando a cicatriz na barriga por cima do tecido, sentindo o tamanho,
espessura e textura da pele enrugada, meu vestido era de um tecido leve
para dias de calor, proporcionando um contato mais íntimo com a pele
coberta. A respiração mantinha-se tranquila, eu não tinha medo do Black
ultrapassar o limite imposto, de fazer perguntas invasivas, ele me respeitava
e cuidava de mim.
Eu posso confiar no meu marido, seja a minha vida ou sentimentos,
eles serão bem-tratados. Black fez por mim o que a minha versão passada
implorou para ganhar. Nunca imaginei que a única coisa que eu precisava
para receber sua atenção era ser verdadeira quanto aos abusos sofridos,
parar de insistir por algo que ele não desejava na época. A chave para a
afeição do Black era o deixar livre para me escolher.
O sentimento amargo da rejeição vazou pelos meus poros,
substituído pela aceitação sublime. Black fez planos para o futuro ao meu
lado com facilidade, como se pedisse um copo de água. Não existiam
dúvidas nos olhos verdes do Black sobre o que ele desejava. Ele queria a
mim e ao nosso filho em sua vida. E de coração aberto comecei a aceitar
seu carinho.
A mão calejada envolveu minha coxa puxando o tecido para cima.
Os quartzos em seu rosto encarando meus olhos, repletos de felicidade. Ele
subiu a roupa enrolando na minha cintura, expôs meu ventre e calcinha. Os
ombros acima das minhas coxas, as mãos alisavam a pele macia.
— Oi, meu pequeno. — Soprou contra o meu ventre, contraí alegre.
— Aqui é o papai, grave bem o som da minha voz, vou falar com você
todos os dias enquanto estiver protegido na barriga da mamãe. Conta para
mim, é gostoso ficar aí dentro? Eu tenho certeza de que você sente, mas vou
dizer e repetir o quanto for preciso. Eu te amo, meu menino ou menininha,
sua vinda não foi planejada e foi a melhor surpresa que eu poderia ganhar.
Obrigado por me escolher como o seu pai e a Josephine como sua mãe. Eu
te prometo que vamos te amar e proteger todos os dias, não importa o que
aconteça ou quais escolhas você tome. Sempre terá a mim e a ela.
— Tenha um pouco de paciência com seus pais. — Entrelacei meus
dedos aos do Black. — Talvez a gente erre no caminho, daremos o nosso
melhor para acertar. Seremos gentis, carinhosos, compreensíveis e te
faremos sentir amado a cada segundo do dia. Você nunca sentirá a dor de
ser maltratado ou rejeitado por sua família — pisquei, o choro irrompendo
— crescerá cercado por amor de pessoas que te desejam, terá avós
maravilhosos, tios e tias malucos e um pai muito babão. Você não consegue
ver ainda, mas ele está chorando em cima da barriga da mamãe. — Alisei a
bochecha do Black enxugando suas lágrimas. — Eu te prometo, meu
pequeno, nunca te deixarei. Eu te amo e a mamãe sempre vai te proteger.
— Você é o nosso tudo, pequena cobrinha. — Black sorriu em meio
a emoção tomando seu rosto.
— Céus, já temos um codinome para a vida no crime dele. —
Gargalhei.
— Filho da Serpente e do Basilisco só pode ser O Cobra, ou O
Víbora.
— Cascavel. — Levei as mãos à boca abafando o riso. — Temos de
parar por aqui ou diremos todos os tipos de serpentes que existem.
Deixaremos ele escolher.
— Com certeza — beijou meu ventre — prometo que vou te ensinar
a ser um homem de honra como meu pai fez comigo. Proteger sua mente de
todo e qualquer trauma que nosso mundo possa causar. Você será forte, um
guerreiro, mas sempre saberá como amar, proteger, ser leal e fiel a si
mesmo e ao seu sangue.
— Se for uma menina vou ensiná-la a como reinar. Minha garotinha
nunca vai aceitar desaforos e desde pequena causará o terror em quem ousar
mexer com ela.
— Poderá escolher se quer fazer faculdade, trabalhar e
principalmente — fixou o olhar no meu — decidirá se deseja casar e com
quem. Nossos filhos poderão escolher o amor.
— Ah, Black. — Enxuguei as lágrimas.
— Eles serão livres. — Subiu beijando meu corpo, os lábios presos
no meu pescoço. — Não me arrependo da nossa união, sou grato por
colocarem você na minha vida. Mas nossos filhos poderão escolher.
— Isso é muito importante, Black. — Alisei sua barba. — Não
carrego ressentimentos por termos nos casado cumprido nossa obrigação.
Eu te perdoo pelos erros do passado, estou pronta para construirmos um
futuro juntos e podermos ver nossos filhos escolhendo o caminho deles.
— Estou apaixonado por você, Josephine — confessou rente ao meu
rosto. — E esse sentimento não vai passar, o sinto evoluindo a cada dia.
— Eu também, Black. — Beijei seus lábios. — Estou te dando a
chance que pediu, por favor, continue provando que você é a minha escolha
certa.
— Todos os dias, minha tempestade.
O riso explodiu com tamanha felicidade, rompendo tudo que
acorrentou meu coração, curando as feridas abertas. Black tinha razão, eu
era uma tempestade e ele a calmaria que eu buscava.
— Nós?
Perguntei, ainda tinha receio de nomear o que sentíamos, mas a
pequena palavra pareceu expressar muito mais do que frases apaixonadas
enormes.
— Nós — afirmou, compreendendo o que eu expressava.
Os lábios grossos encontraram os meus, abri a boca deixando o
Black entrar com sua língua macia, entrelaçou na minha com delicadeza, o
gosto de sua boca se misturou ao meu formando algo novo. O cheiro
sensual do charuto no meu nariz, puxei suas bochechas sentindo a carne em
meus dedos o trazendo para mais perto. Envolvi as coxas em seu quadril
adorando o movimento suave de sua pélvis contra a minha, esfregando meu
clitóris coberto pela calcinha.
O som reverberando de seu peito contra o meu, um rugido
animalesco, possessivo, fome tomando conta do seu ser. A mão grossa
envolveu minha cintura se enfiando na minha pele no lado direito, onde não
tinha marcas de cicatriz. Black inspirou pesado, a língua escapou
envolvendo meu queixo, ele gemeu massacrando meu centro, mordiscou o
maxilar descendo para o meu pescoço.
— Ah, Black — disse suavemente.
Fechei os olhos me entregando ao turbilhão de sensações possuindo
meu corpo. A língua deixou um rastro molhado no meu peito, ele puxou a
alça do vestido expondo os meus seios, não usava sutiã. Abri uma fresta
entre as pálpebras adorando a visão do Black passando a língua entre os
lábios, se deliciando com a imagem dos meus peitos fartos. Ele abriu a boca
exibindo os dentes antes de abocanhar o mamilo durinho.
— Eu amo engolir seus peitos — murmurou com a boca ocupada
pela minha carne, como ele conseguiu falar isso, nunca saberei.
A mão livre se ocupou do meu outro peito, por dentro do vestido. Eu
senti o tecido subindo, a cicatriz ficando exposta, roçando na camisa de
botões do Black, mas não quis me esconder. A roupa que me protegeu,
envergonhada por ter a pele enrugada começou a se tornar um empecilho
para poder sentir meu marido e seu corpo enorme me possuindo.
— Chupa tudo, Black — pedi, meti as mãos nos fios claros de sua
cabeça o puxando, empurrando o rosto contra meu mamilo.
Era enlouquecedora a sensação de ser devorada pelos peitos. Black
puxava a carne com os dentes, apertava com os dedos, massageava só para
me torturar beliscando os mamilos durinhos. Ele metia o rosto entre o vão
dos peitos balançando a cabeça, arranhou os pelos ralos da barba na minha
pele, ardia, queimava e eu enlouquecia querendo que minha vagina se
tornasse alvo de sua boca afoita.
— Passo a vida com seus peitos na boca mamando feliz — sorriu
lascivo — mas agora vou atacar sua bocetinha, ela está em chamas. —
Roçou a calça contra meu centro.
— Sim, chupa bem gostoso.
— Filhote, vai dormir, papai e mamãe precisam conversar — disse
para o meu ventre, depositou um beijinho carinhoso antes de ficar de
joelhos. — Crianças foram dormir, os adultos podem aproveitar.
— Vem com tudo, Basilisco. — Mordi o lábio inferior adorando o
fogo na cara do Black.
— Vou te mostrar minha cobra enorme. — Puxou minhas pernas
subindo meu quadril em suas coxas.
Gritei animada. Ele segurou a lateral da calcinha e num movimento
rápido puxou rasgando o tecido. A vagina doeu pela brutalidade, Black
agarrou minha bunda erguendo meu quadril para cima de encontro ao seu
rosto. Soprou minha carne sensível, os olhos fixos nos meus. Abriu a boca
beijando minha intimidade. Delirei, erguida pelo quadril, as pernas ao redor
de seu pescoço e os lábios provocando a sensibilidade da minha carne,
tomando para si todo o meu prazer.
Agarrei com força o edredom precisando de uma válvula de escape
para não estrangular a cabeça do Black com minhas coxas. Gemi com a
cabeça e ombros contra o colchão, cada célula do meu corpo esquentou, as
pernas tremeram quase caindo. Ele firmou os braços ao meu redor me
mantendo cativa de seu ataque incessante.
Revirei os olhos, não enxergava nada além de vermelho, gemendo
tanto quanto consegui, completamente entregue as sugadas poderosas, ao
meu clitóris inchado de prazer sendo açoitado pela língua macia, alternando
entre a entrada da minha vagina, metendo a língua, tocando a carne cheia de
terminações nervosas espalhando deliciosas avalanches de prazer no meu
interior.
Pressionei as pálpebras perdendo o controle do corpo. Entregando
meu prazer ao Black o deixando puxar o quanto quisesse da minha vagina
cremosa, adorando o prazer que eu recebia. Convulsionei, a panturrilha
tremeu, os joelhos caíram perdendo o apoio nos ombros, o ar ficou preso na
garganta, o gozo veio forte como uma cachoeira em dia de tempestade
sendo recebido pelo Black e sua fome devastadora.
— Eu poderia passar o dia com o rosto na sua boceta e nunca seria o
suficiente. — Limpou os lábios esfregando na minha virilha, a barba
arranhou a pele sensível.
— Quando quiser fazer isso, só me avisar — engoli em seco —
reservo minha agenda só para você.
— Quero uma reserva para amanhã. — Sorriu safado tirando a
camisa.
Ele puxou as pontas, os botões voaram para os lados. Em um
movimento retirou a calça, os sapatos e a cueca. Black segurou o membro
robusto na frente do meu rosto, eu sabia o que ele desejava. Sentei de
pernas cruzadas, agarrei o mastro grosso de seu pênis, abri a boca pronta
para o devorar.
— Nada de oral. — Segurou meu pescoço. — Tudo que você comer
nosso filho vai absorver, não quero dar minha porra a ele.
— Black! — Eu ri. — Eu posso te chupar e não engolir.
— Ainda assim, vai que algo escapa — sacudiu a cabeça — melhor
não arriscar.
— Eu quero te chupar. — Fiz bico. — Só uma lambidinha.
Ele franziu as sobrancelhas em dúvida, podia ver o quanto ansiava
ser devorado por minha boca e a vontade de proteger nosso bebê duelando
em seus lindos olhos verdes.
— Melhor não arriscar. — Empurrou meu pescoço fazendo eu me
deitar.
Nos pequenos gestos, Black provou ser o homem certo como pai dos
meus filhos. Contive o riso por ser atacada por sua boca com gosto de
boceta, afoito, sexy e muito delicioso. Abri as pernas aceitando a investida
potente de seu membro no meu interior.
— Isso, assim que eu gosto. — Pressionou meu queixo com uma
mão, a outra apoiando o peso do seu corpo enorme acima de mim.
— Vem com tudo, Black. — Agarrei sua bunda, o trazendo contra
meu centro.
O pênis do Black era enorme, eu o sentia alargando meu canal,
batendo no fundo da vagina. Abracei suas coxas com as pernas, os pés
batendo na curva do joelho, tentei controlar os tremeliques açoitando meu
corpo conforme ele investia cada vez mais rápido. Estou completamente
presa entre seus braços, a respiração pesada na minha boca, tomando para si
todos os meus beijos.
Eu amava como o Black gostava de fazer sexo beijando,
incapacitado de se manter um centímetro longe do meu corpo. O pau
penetrando minha boceta, a língua tomando todos os meus gemidos, o
cheiro impregnado no meu nariz, os sons másculos reverberando em sua
garganta preenchendo a minha. O peito musculoso deslizando nos meus
mamilos, amassando os montes redondos pelo poder em seu tronco.
Black me consumia e eu entregava tudo a ele, em uma mistura, um
entrelaçar de corpos, almas, nos tornamos um só ser. Criando algo somente
nosso. Entendido e sentido apenas por nossas almas, unidas pelo fio do
destino. Provando que sempre pertencemos um ao outro. O Black era meu,
eu era dele, juntos éramos nós.
Atingi ao ápice do prazer gemendo em sua boca, apertando o pênis
com minha carne molhada. Recebendo o gozo poderoso do Black no meu
interior, os grunhidos na minha boca, o olhar repleto de fogo e carinho. Não
tive medo, eu posso entregar meu coração, ele não será massacrado.
Encontrei a cura para as minhas feridas e todos os dias irei me
envolver nela, deixando cada cicatriz fechar e momentos de felicidade e
amor preencherem minha vida.
— Você achou mesmo que ele te ama?
Os olhos demoníacos da Rebeca me encaravam. Minha irmã mais
nova tinha sangue escorrendo de sua testa, os cabelos pretos manchados de
vermelho. Tentei mexer o corpo, mas não consegui, analisei o ambiente,
percebi que estava no quarto em que a Daisha ficou internada.
Black estava deitado na cama hospitalar, ele segurava alguma coisa
nos braços, envolta por um pano branco que eu não consegui ver. Tentei
puxar os braços, mas não se moveram. Amarrada em uma cadeira assisti
Rebeca caminhar lentamente para o Black. Envolveu a mão na barba dele
puxando seu rosto, tentei gritar, mas a voz não saiu, ela o beijou e ele
correspondeu.
Meu peito afundou em dor, não podia ser real. Black não me trairia
com minha irmã. Não consegui falar, o corpo paralisando lentamente,
todas as promessas que ele me fez desapareciam com o vento. Rebeca
gargalhou, Black me encarou com nojo, levantou da cama ainda segurando
algo nos braços. Eu chorava em silêncio sem conseguir combater o
monstro.
— Você nunca foi a minha opção — ele disse rente ao meu rosto, o
olhar carregado de ódio.
— Josephine, quando você vai aprender? — Rebeca segurou meu
queixo. — Eu fiz o Kai te odiar, achou mesmo que seria incapaz de mostrar
ao Black o monstro que você é?
— Por favor — implorei, não aguentei o tormento sufocando meu
peito.
— Você não merece ser a mãe do meu filho. — O choro de um bebê
irrompeu no quarto, busquei desesperada por ele, percebi que o Black
segurava nosso pequeno nos braços.
— Me dá ele — pedi, os braços pesavam toneladas, não conseguia
erguê-los.
— Não. — Rebeca segurou o bebê contra seu peito. — Ele é meu,
vou criá-lo para ser tão perverso quanto eu fui. Você ficará presa aqui,
como o ratinho insignificante que você é.
— Black, por favor — supliquei.
— Eu nunca deveria ter confiado em você. Uma mulher desprezível,
nunca a deixarei chegar perto do meu filho.
Gritei caindo em um desespero sem fim.
— Estou aqui com você, nada poderá te machucar. — Senti um beijo
na minha bochecha.
Despertei do pesadelo tremendo, suor escorrendo pelo corpo. Black
me abraçou forte, alisando meu rosto banhado de lágrimas. Tremi, agarrei
seus ombros fixando os olhos em seu rosto, precisando me agarrar a
realidade.
— Já passou — beijou meu nariz — se agarra em mim — pediu.
Deitei a cabeça em seu ombro, tentei controlar a respiração irregular,
funguei baixinho, o choro copioso. As mãos calejadas alisaram meu corpo,
passeando pelos braços, costas e cabeça. Puxando contra si a cada segundo,
quase fundindo nossos corpos em um só. O medo do pesadelo assombrou
minha alma, sendo combatido pelo carinho do Black. Os beijos molhados
na pele, a voz doce sussurrando que estava tudo bem.
— Eu odeio a Rebeca. — Tremia de ódio, mesmo morta ela
continuava me assombrando.
— Conversa comigo. — Envolveu meu queixo erguendo para cima,
encontrei seu olhar gentil. — O que você sonhou?
— Ela queria levar meu filho e você a ajudava. — O lábio tremeu
pela dor.
— Eu a mataria se ela tentasse tocar no nosso filho. — Tocou meu
ventre. — Ele é nosso, Josephine. Você é a mãe dele e vai amar tanto nosso
pequeno que ele nunca vai querer ficar longe de você. Vou mandar fazer um
maldito exorcismo para essa diaba te deixar em paz, todas as noites ela
perturba seu sono. — Beijou minha testa. — Me desculpe por não te
proteger dela.
— Os pesadelos tinham diminuído — confessei, esfregando a
bochecha em sua clavícula, o calor do Black preenchendo o frio da minha
alma, cobri sua mão no meu ventre com a minha. — Dormir ao seu lado me
ajuda, acho que fiquei sensível devido à gravidez e dei uma brecha para a
diaba me perturbar. — Beijei sua pele quente. — Obrigada por me acordar.
— Acho que você não percebe os pesadelos — comentou deitando e
me levando sobre ele. — Todas as noites você geme baixinho, mas se
acalma quando sussurro no seu ouvido que está tudo bem.
— Eu não sabia.
Fiquei surpresa, acreditei que as noites em paz eram fruto da minha
melhora, mas, na verdade, era o Black acalmando minha mente perturbada
antes dos pesadelos me assombrarem. Ele impediu que meu sono fosse
abalado, salvando meu coração de ser massacrado.
Esfreguei o rosto em seu peito, os pelos ralos fazendo cócegas na
bochecha. Abracei a cintura larga, ele apertou os braços musculosos ao meu
redor quase me deixando sem ar. Quis compartilhar um pouco da minha dor
com o Black, sempre demorei horas para me recuperar dos pesadelos, mas
hoje, apesar de ter sido horrível ver o Black e a Rebeca tentando levar meu
bebê eu sabia que não era real e confiava que o Black sempre nos manteria
em segurança.
Eu sou sua esposa, mãe do seu filho e quis trazer mais do pai do meu
bebê para a minha alma.
— Uma vez você me salvou da Rebeca — confessei puxando um
pelinho claro no seu peitoral.
— Quando?
— Você não lembra? Foi no aniversário de 15 anos dela, eu tinha 17
na época.
— Acho que eu tinha uns 32 anos.
— Sim, você era bem mais velho. — Apoiei o queixo em seu peito o
encarando. — Já namorava ela?
Não entendi qual a necessidade de fazer a pergunta, mas eu quis
saber. Precisei entender o Black por completo para poder entregar um
pedaço do meu íntimo.
— Sim, nos conhecemos na faculdade, por acaso, em um jogo do
time de futebol americano, éramos amigos, mas só começamos a namorar
anos depois quando a reencontrei no hospital após um ataque. Ela foi minha
enfermeira por um mês.
— A ama? — Desviei o olhar, enciumada.
— Eu acredito que o amor é algo relativo, ele acontece de diferentes
formas dependendo da pessoa que estamos nos envolvendo. — Alisou
minha coluna, a mão pairando acima das cicatrizes protegidas pelo tecido.
— O que tive com a Amber foi algo especial, envolvente e ela me ajudou
em muitas coisas e eu a ela. Mas nunca seria capaz de comparar o que senti
por ela, com meus sentimentos por você.
Black girou, encaixando o quadril entre minhas pernas, segurando
nossas mãos acima do meu ventre, o nariz pairando sobre o meu. O olhar
fixo, consegui enxergar a pureza da alma do Black e a força de seus
sentimentos.
— Nunca pensei que sentiria o que sinto por você, é forte,
Josephine. Poderoso ao ponto de eu ter medo de nomear e não passar
metade da intensidade. Não fique se comparando com ela, ambas são
diferentes fisicamente e na personalidade, assim como meu sentimento por
cada uma. Eu consigo ficar longe da Amber sem sentir que estou perdendo
um pedaço de mim, mas só a ideia de te deixar enlouquece o meu ser, eu
nunca conseguiria ficar longe de você, nem que seja por um segundo.
— Nós? — perguntei, a voz embargando.
— Nós — respondeu, me beijando cheio de amor.
Eu tinha medo do sentimento crescendo no meu peito. Black
facilitou eu me apaixonar, confiar e me agarrar a ele como se meu mundo
dependesse disso. A pequena insegurança quanto a sua relação passada
sumiu, como se levada pela maré para o fundo do oceano, onde não poderia
me tocar. Eu confiei nele, acreditei em suas palavras e queria ser feliz ao
lado do homem que tem conquistado meu coração, será o pai dos meus
filhos, encheu minha vida de felicidade sem que eu conseguisse o manter
distante.
Black me acusa de ser uma tempestade em sua vida. Enquanto ele se
tornou a calmaria que conseguiu acalmar o tormento em minha alma.
— Quero compartilhar com você todos os meus demônios, me ajuda
a acabar com eles? — sussurrei.
— Serei o guerreiro matando seus inimigos. — Beijou minha
bochecha.
— Você matou o Smith? — Lembrei da noite em que o Black me
salvou dele.
— Gostaria, mas infelizmente o Louis tomou a frente da punição. O
Andrew sempre foi um maldito desgraçado, mas no caso do Smith ele
exigiu uma punição adequada, não gostou de saber que suas regras foram
desrespeitadas debaixo de seu teto. Então o Louis foi obrigado a matar o
Smith. Tocar em uma mulher Bianchi é um ato de declaração de guerra e a
punição é a morte.
— Suas palavras naquele dia não saíram da minha cabeça.
— Lembro de dizer para nunca deixarem te fazer sofrer ou humilhar.
Acho que você levou meu conselho ao pé da letra. — Riu sarcástico.
— Foi minha maior inspiração. — Enfiei a mão nos tufos da sua
cabeça. — Comecei a me apaixonar por você naquele dia.
— Você ainda era uma criança para mim. — Os dedos se enfiaram
na minha camisola alisando minha coxa.
— Eu tinha 15 anos, não era tão criança assim — disse meio-
irritada.
— Josephine, você tinha a idade da minha irmã, era impossível não
te ver como uma criança.
— E nos meus 17, continuava uma criancinha? — alfinetei amarga.
— Desculpe por não lembrar o que aconteceu no aniversário da
Rebeca. Estava em uma fase difícil naquele momento, bebia como louco
querendo esquecer a vida.
— O que aconteceu? — Alisei a barba espessa.
— Desde os meus 14 anos tenho problema para fazer sexo —
confessou triste, meu peito doeu temendo pelo que o traumatizou. —
Presenciei uma cena pesada que me marcou. — Inspirou fundo. — Não
conseguia transar com facilidade, e por isso sempre sofri com comentários
maldosos sobre eu ser gay ou impotente. Depois dos meus 30 anos, com a
sucessão se aproximando, se tornou difícil aguentar a pressão que alguns
membros mais velhos em Las Vegas faziam.
— Seu pai? — Perdi a voz com medo de o magoar com as palavras.
— Não, eu nunca contei para ninguém da minha família. Crescemos
rodeados por um trauma que assombrou a vida da minha irmã e da minha
mãe. Precisava ajudar meu pai a proteger a Kennedy e a Hope, enquanto
mantinha o Steve a salvo das sombras. — Encostou a testa na minha.
— É um segredo de família — falei, quando Black ficou calado por
longos minutos, como se ponderasse se podia ou não me contar. A lealdade
a sua família duelando com a vontade de me deixar conhecer seus
pensamentos mais profundos, tocar a alma ferida.
— Sim, algo que pode colocar em risco a vida da Hope e do Ethan.
— Você precisa da permissão dela para me contar.
— Acho que sim — murmurou baixinho. — Se eu te falar somente a
minha parte, ficarão buracos na história e você é inteligente, conseguiria
juntar as peças restantes.
— Não quero que me diga nada que possa magoar a Hope. Respeito
os segredos dela, tome seu tempo para resolver a situação com sua família e
se sentir seguro pode compartilhar comigo — alisei sua orelha — eu amo os
Bonnarro e ser presenteada com a confiança de me contarem o passado da
sua família, seria uma honra.
— Ama somente os Bonnarro ou…? — Arqueei a sobrancelha,
mordi o sorriso com sua tentativa de conseguir uma confissão.
— Todos os Bonnarro. — Beijei seus lábios dando a ele essa
pequena conquista.
Black quis se abrir comigo e eu soube que podia confiar nele. Black
protegia os segredos da irmã e da mãe com firmeza, ele seria capaz de
cuidar bem do meu passado doloroso, arrancando a dor e me permitindo ser
feliz. Eu quis aquilo, a confiança poderosa e o sentimento sublime de
pertencer, ser cuidada e amada.
— O que te atormentava no aniversário da Rebeca? — perguntei,
queria retornar ao assunto, me abrir e compartilhar com ele.
— Meu avô paterno teve 5 filhos, três mulheres e dois homens. Meu
pai tinha um irmão gêmeo que morreu antes da Hope nascer. Minhas tias
são legais, nunca tive problemas com elas e minha mãe adora cada uma e as
sobrinhas. Mas seus maridos e filhos homens são difíceis de aguentar. Eles
sempre estão à espreita querendo uma chance de roubar a minha posição.
Consigo me entender melhor com meus primos por parte de mãe que
moram em Las Vegas.
— Sua mãe é italiana, certo?
— Sim, após o casamento do meu pai com ela, muitos membros da
Itália vieram integrar a família Bonnarro, se tornando parte do clã após
casarem com as meninas da família. Sempre tive o apoio e lealdade deles,
são minha maior força para controlar Vegas, mas a parte do meu pai, por
serem casados com mulheres que chamamos de puro-sangue, é mais difícil
manter na linha.
— Vou ter problemas? — Franzi a sobrancelha, não queria confusão
com os Bonnarro, gostei dos que conheci no meu casamento.
— Dificilmente, como eu disse, as mulheres são legais, o problema
são os homens. Naquela época, o Bruce, marido da minha tia Valentina,
levou os homens da organização para um novo puteiro dos Bianchi. Eu
odeio os bordéis, mas fui obrigado a ir. As provocações começaram,
insistindo para eu pegar mulher, mas daquela vez foi diferente. — Apertou
as pálpebras, segurei seu rosto o enchendo de beijos.
— O que eles fizeram?
— Não é incomum os homens transarem na frente de outros, nas
salas compartilhadas. Eu me sentia horrível por ser obrigado aquilo, além
de trair a Amber, me dilacerava por dentro. Eu levei a prostituta para uma
das salas compartilhadas, sabia que tinha de provar minha virilidade ou as
acusações seriam pesadas e minha sucessão questionada. Andrew destruiria
os Bonnarro se tivesse um líder fraco com suspeitas de ser gay. Ele não
parava de falar sobre nunca ter me visto em ação e que eu deveria dar um
show. Aquele miserável. Eu precisava fazer alguma coisa ou perderia tudo
que protegi ao lado do meu pai.
Os quartzos em seus olhos inundaram pelas lágrimas, a dor profunda
no coração do Black cortando minha alma. Percebi o motivo de sua
fragilidade nas nossas núpcias, Black tinha medo de estar me forçando a
fazer sexo com ele, principalmente porque ele sabia como era ser abusado.
Entregava seu corpo para ter relações sexuais com mulheres que ele não
desejou, pressionado pela maldita organização que só espalha sangue e
dores. Malditos psicopatas sem alma.
— Eu sinto muito, eu sinto muito. — Apertei-o, afundando seu rosto
em meu pescoço, chorando a dor massacrante. — Eu sinto tanto. — Beijei
sua orelha, dilacerada.
— Meu pai sempre precisou manter o pulso firme para não perder o
cargo, principalmente após minha mãe ter se afastado de Nova Iorque,
naquele dia ele não pôde ir junto. Eu não tinha a quem pedir ajuda, se
falasse aos rapazes sei que dariam um jeito, mas era algo que ninguém
podia saber. O Michael percebeu meu desconforto, junto do Daniel e do Kai
ainda tentaram persuadir o público para eu poder fazer sexo em um quarto
privado, que não era necessário aquilo. Ousado, Michael chamou os
homens que queriam assistir de gay, recebendo um soco como punição do
Andrew e sendo expulso do bordel.
Agarrado ao meu corpo Black tremia, lágrimas mancharam meu
pescoço pelo sofrimento transbordando de sua alma. Nunca imaginei que
ele enfrentaria alto terrível como ser obrigado a fazer sexo na frente dos
membros da organização. Eu não conhecia um terço do Black e aquela
verdade compartilhada rasgava minha alma e me enchia de desespero para o
fazer esquecer o tormento e trazer paz a sua vida.
— Acabei fazendo o que eles queriam, dei um maldito show com a
prostituta. Não sei se chegou a ser abuso, eu sabia que podia recusar, mas
não queria, as consequências eram grandes para suportar. No dia seguinte
era o aniversário da Rebeca, precisei comparecer representando o líder dos
Bonnarro. Mas cada segundo era um inferno, os caras tentavam conversar,
me animar, eles sabiam que eu odiava me exibir fazendo sexo, gostava da
minha privacidade e sempre respeitaram. Mas naquele dia eu estava
devastado por trair a Amber e ter ficado com alguém que eu não desejava.
— Eu juro que mato cada desgraçado que te machucou. — Acariciei
o rosto magoado espalhando beijos por sua face, desesperada para aplacar a
dor no peito do Black.
— Vou fazer eles sofrerem — encostou a testa na minha — cada um
vai pagar. Como Capo de Nevada tenho autoridade para fazer o que eu
desejar, os desgraçados estão tremendo por saberem que receberão a minha
ira. — Black queimava pela sede de vingança. — Mas não vou te deixar
participar — segurou minha palma — nunca mais vai sujar suas mãos com
sangue. — Beijou o dorso da minha mão.
Black carrega consigo uma força estrondosa. Ele passou por abusos
e não se deixou vencer. Queimava pela sede de vingança, mas acima de
tudo, a vontade de ser feliz, amar e ser amado. Não tinha mais forças para
lutar contra meus sentimentos, percebendo o tanto que o Black batalhou
consigo mesmo para ser feliz, me aceitar. Ele tinha todos os motivos para
sentir repulsa pelo sexo, mas mesmo assim continuou em frente, sendo
cuidadoso, atencioso, um homem amoroso em cada toque.
Eu quis entregar minha alma e receber a sua, as misturar, criando
uma massa de sentimentos poderosos capazes de expurgar todos os
demônios. Black era forte, segurou as pontas que atormentaram sua família
não expondo seus medos. Aceitou o casamento comigo, mesmo sabendo
que isso o machucou por dentro.
Black nunca me rejeitou.
Ele estava se protegendo de ser obrigado a fazer outra coisa que não
queria. A me forçar a passar pelo tormento que ele fugia.
— Você teve medo de me fazer passar pelo seu sofrimento de estar
com alguém à força.
— Sim. Você seria obrigada a fazer sexo comigo e eu não queria
isso. — Beijou minha bochecha. — Mesmo sabendo dos seus sentimentos,
ainda era difícil para mim. No dia do nosso noivado eu senti minhas
emoções por você mudando, já vinha notado essa diferença há um tempo,
após a verdade sobre você e a Rebeca ser exposta. Mas somente no nosso
noivado eu quis receber sua atenção e tentar uma relação de verdade com
você, começava a ficar enfeitiçado, desejava que você me quisesse.
— Você conseguiu me aceitar e não se machucar ao fazer sexo
comigo, Black?
— Josephine, nós nunca fizemos sexo, sempre foi amor.
Eu quis gritar.
Explodi em uma felicidade nova, sublime, mais pura do que tudo
que senti na minha vida.
— Eu te disse na nossa lua de mel, com você sempre foi diferente,
desde o primeiro beijo eu sentia que pertencia a você. Que era certo te
querer e me entregar. Não tive medo de te machucar, consegui perceber sua
entrega em cada toque, quis retribuir, te fazer notar a minha devoção. Sem
eu planejar você se tornou a minha salvação.
— E eu tive minhas feridas curadas pelo seu amor.
Colei nossos lábios sendo invadida pelo mais puro amor. Não
restavam dúvidas, muros ou inseguranças. Eu amava o Black, e conhecer
um pouco da sua luta, medos, dores e principalmente do meu significado
para ele, libertou meu coração de todas as mágoas.
Eu estou pronta para amar o meu marido e receber a intensidade do
seu amor.
— A segunda vez em que você me salvou…
Comecei a narrar para o Black as lembranças que nunca saíram da
minha memória enquanto nos perdemos um no braço do outro, fazendo
carinho, beijando, consolando, fechando as feridas sangrentas.

Aos 17 anos

Rebeca estava insuportável, passou a noite gritando com os


funcionários, fazendo careta e provocando briga comigo. Minha avó não
parava de perturbar, enchendo minha paciência dizendo que eu já tinha
idade para casar e deveria me portar como uma dama, tive vontade de
apertar o pescoço dela e a mandar se foder.
Louis se reuniu com a cúpula de líderes da Máfia Bianchi e Eleanor
seguiu Clarisse tentando controlar o fluxo das conversas das Senhoras. Ela
sempre almejou ser a nossa líder, mas nunca conseguiu apoio o suficiente e
Clarisse sempre manteve Eleanor na linha. Eu até poderia gostar da
Clarisse, se ela não fizesse careta para mim sempre que me olhava.
As famílias estavam reunidas para comemorar a apresentação da
Rebeca à sociedade da Máfia. Emily representava os Bianchi, acuada em
seu canto, mal falava com as outras meninas. Após a morte da mãe ela
perdeu o brilho, preferindo seguir as decisões da Clarisse a lidar com a
responsabilidade de ser a líder.
Daisha sempre muito tímida, andava ao lado da mãe sem falar com
ninguém, aguentando calada os olhares dos homens podres e a língua
afiada das senhoras falando o quanto ela seria uma boa esposa
satisfazendo o marido com o seu corpo. Eu tinha vontade de enfiar uma
faca no olho dessas malditas.
As mulheres Bonnarro um pouco perdidas, sem a líder Kennedy ou a
Hope elas se limitaram a ficar sentadas conversando entre si. Não entendi
o motivo da ausência das duas em todos os eventos de Nova Iorque. Nunca
vi a Clarisse reclamando, mas ouvia comentários maldosos da Eleanor
sobre a Kennedy ser uma louca, ela evitava falar perto das mulheres
Bonnarro, embora soubesse que elas sabiam o que pensavam de sua líder.
Black liderou os homens, tomando a frente na ausência do pai. Meu
coração apaixonado batia em um ritmo frenético sempre que nossos
olhares se cruzavam. Ele bebeu muito, acho que nunca o vi consumir álcool
nesse ritmo. Os amigos tentaram controlar, eles sabiam que tinha algo de
errado com o Black. Quis me aproximar, perguntar o que o atormentava,
oferecer conforto, mas sabia que seria mandada embora, principalmente
com o Kai ali.
Em dias em que a solidão batia forte eu desejava nunca brigar com
o Kai. Apagar os erros do passado e retornar nossa relação de irmãos. Os
pedaços quebrados de nossa relação não poderiam ser colados. Enquanto
ele continuasse acreditando na Rebeca e me excluindo, o manteria distante.
— Ajeite essa cara, Josephine! — Minha mãe beliscou minha coxa
por debaixo do vestido.
— Ai! — Ralhei, apertando seus dedos.
— Você parece uma velha emburrada, te falta beleza e ainda fica
fazendo essas caretas horríveis!
— Deixa ela, mãe. — Rebeca riu, sentando à mesa conosco. —
Josephine sabe que é feia, se ela quer piorar como as pessoas a enxergam,
não devemos intervir.
— Vocês duas não cansam? — irritada, apertei os dedos com força.
— Quando você perceber que não existe lugar nessa família para
você e sumir, quem sabe paremos.
Rebeca disse e Eleanor riu.
Era sempre assim, as duas unidas me fazendo sentir a irmã
indesejada. Instintivamente busquei pelo meu irmão, ele riu com os amigos,
batendo no ombro do Black tentando animar o amigo. Eu não tinha
ninguém, estava sozinha a vida inteira naquele mar selvagem.
— Eu podia matar você e tudo estaria resolvido — falei para a
Rebeca.
Ela mudou a expressão, perdeu o olhar provocante, assumindo
feições de medo. A vadia tremeu o lábio encolhendo os ombros em um falso
choro. Eleanor sentada ao lado da filha a abraçou pelos ombros me
encarando irritada.
— Josephine! — Ouvi a voz de Clarisse indignada atrás de mim.
— Sim?
— Esses não são modos de uma dama, como pode tratar sua irmã
assim no aniversário dela?
— Cuide da sua vida, senhora Griffin. — Encarei-a por cima do
ombro percebendo a armadilha.
Clarisse tinha a testa franzida em desgosto. Ao seu lado estavam as
Senhoras da famiglia. Não percebi que elas se aproximavam, caí na
armadilha da Rebeca. Acostumada a rebater suas ofensas, não me
preocupei em perceber se tinham pessoas ao redor. Era óbvio que ela
programou o flagrante para somente eu me prejudicar. Sempre a dama
rebelde que odiava a família.
Não fiquei para ouvir o sermão de Clarisse, atrás dela Daisha me
encarou com pesar. Apertou minha mão ao passar por ela. Segui para
dentro de casa não aguentando mais a farsa desse aniversário. A festa
durou mais algumas horas, ninguém se importou com meu sumiço. No final
da noite fiquei com fome, desci para a cozinha precisando comer, ouvi os
gritos ensandecidos da Rebeca.
— Ele saiu com os amigos — Eleanor disse.
— Não podia, é meu aniversário, ele deveria ficar comigo! —
gritou, batendo o pé no chão, ela fez birra e Eleanor tentou a acalmar.
— Vou procurar por ele, se acalma, Rebeca.
— Se você não o achar eu arranco sua língua! — ameaçou.
Eleanor sabia que Rebeca era uma psicopata. Uma vez, quando
criança, eu vi a Rebeca torturando um gatinho, contei a Eleanor, mas ela
não fez nada. Nunca tentou controlar os abusos da Rebeca com os animais,
funcionários e comigo. Ela gostava da filha psicopata e fazia de tudo para
cultivar a ira latente na Rebeca.
Escondi-me não as deixando me perceber. Eleanor passou
apressada pela cozinha buscando pelo Kai. Rebeca desapareceu, ia voltar
para o meu quarto, quando eu vi um homem com o terno amarrotado, uma
garrafa de bebida na mão caminhando para as árvores no quintal. Os
cabelos claros, os ombros largos e o andar vacilante. Reconheci aquelas
costas que estava acostumada a admirar a distância.
Saí de fininho da cozinha, usei a noite para me esconder na
escuridão das árvores, pude ouvir passos apressados, perdi o Black de
vista. Parei olhando de um lado ao outro tentando o encontrar, ouvir
qualquer sinal de sua presença, mas somente os sons da noite me
rodearam.
Pronta para ir embora, dei meia-volta escutando um grunhido
assustador. Era ela. Não precisei de muita certeza ou dar o flagrante, sabia
que Rebeca machucava algum animal, e pelo rosnado feroz pareceu um dos
cães de guarda. Desesperada para tentar ajudar o animal em perigo corri
entre as árvores seguindo o som de dor.
— Para! — gritei com a Rebeca.
Uma fogueira acesa queimou o vestido que ela usava. A calcinha e o
sutiã expostos na pele branca. Seus olhos não me encontraram, Rebeca
queimou o cachorro com um pedaço de ferro. Corri na direção do animal,
agarrei o pulso da Rebeca. Sua cabeça girou, os olhos da demônia me
encontraram repletos de maldade. Eu podia ver o inferno na sua alma.
Minha barriga queimou, gritei fincando as unhas em seu pulso.
Inclinei a cabeça percebendo o que tinha acontecido. Ela me atingiu com o
ferro quente. O cheiro de carne queimando, uma dor forte aguda
enlouquecendo minha alma, se espalhando por cada célula do meu corpo.
Não consegui fazer nada além de gritar.
Os joelhos vacilaram, soltei sua mão tendo um ataque de tremores.
Rebeca se assustou, soltou o ferro perto do cachorro chorando encolhido.
Apoiei as mãos no chão, lutei para me manter consciente, a dor intensa fez
meus sentidos nublarem. Encarei minha mão manchada pelo sangue da
ferida aberta, a pele enrugando do umbigo à cintura.
Caí de lado, espuma saiu por entre meus lábios, os gemidos se
tornando pequenas lufadas buscando por ar. Tudo doía, ardia, as forças
nos braços e pernas sendo sugadas pelo ferimento aberto. Estendi a mão
tentando alcançar a Rebeca. Ela se deu conta do que fez, os olhos me
encararam assustados antes de correr para longe.
Eu morreria sozinha entre as árvores na minha casa. Quis ter forças
para me levantar, lutar, arrastar o corpo para casa e implorar por ajuda.
Mas eu não consegui, minhas pernas não atendiam aos comandos do
cérebro, os braços caíram largados no chão. O rosto contra a terra e
pedaços de folhas manchando a face. O cachorro me encarou respirando
pesado uma última vez. Ele morreu.
Girei o tronco, de barriga para cima encarei as estrelas. Não soube
qual dor era maior. Saber que morreria sozinha ou que ninguém viria me
resgatar. Rezei para que Deus fosse misericordioso, que levasse minha vida
de uma vez, não aguentei a dor. Parecia que todo o meu corpo havia sido
atingido.
Lágrimas embaçaram minha visão
— Por favor, Kai, me ajuda — implorei, mesmo sabendo que era
inútil, ele nunca viria por mim.
Pisquei, pequenos espasmos faziam meu corpo tremer em cima dos
cascalhos. Fechei os olhos esperando pela morte, tudo acabaria, a dor
passaria e eu não teria mais de sofrer, machucada pela minha família.
Desprezada pela organização, sem nenhum lugar no mundo para mim.
— Ei — escutei a voz embolada.
Com muito custo abri as pálpebras.
Black cambaleou na minha direção, largou a garrafa de bebida no
chão, se ajoelhou ao meu lado. As mãos envolveram minha face, ele tinha
preocupação nublando o rosto bonito. Estiquei os dedos tocando seu
maxilar, quis agradecer por ele vir, mas não consegui falar nada. Os olhos
pesados, a cabeça doendo e o corpo em chamas.
— Fica comigo, Josephine.
Seu pedido jogou ondas elétricas direto no meu coração.
Black me pegou em seus braços, quis gritar pela dor irradiando na
barriga, encolhida pela posição de ser carregada no colo. Black beijou
minha testa, ele parecia sofrer, tinha lágrimas em seus olhos bondosos.
— Vai ficar tudo bem.
O hálito quente de bebida embrulhou meu estômago. Cada segundo
uma tortura maior para permanecer acordada. Não consegui processar
qual caminho tomamos. O frio se tornou enlouquecedor, atingindo meus
ossos. Bati os lábios um no outro, lapsos da realidade registrados aos
poucos. Fui colocada em uma cama, Black alisou meu rosto, outras pessoas
falaram ao redor, não consegui ver nada além de vultos.
Apaguei, implorando com a alma para o Black não ir embora.
Acreditei que morreria sozinha naquela floresta, mas ele apareceu.
Como um cavalheiro rompendo a noite e me salvando. Pude confiar no
Black em meio a minha agonia e solidão. Enquanto eu tiver a ele não
estarei sozinha, existia um motivo para continuar seguindo em frente.
Black lutou para eu continuar viva. Decidi que lutaria todos os dias
para sobreviver a família Lucian e ficar com o Black. Mostrar a ele todo o
meu amor. Alcançar a felicidade que me era negada ao lado do meu
príncipe salvador.
Despertei atordoada, o teto branco foi a primeira coisa que vi. Ouvi
movimento ao redor, girei a cabeça esperando encontrar o Black.
Tremi encarando meu inimigo. Louis Lucian vestia um traje preto.
Acompanhado da esposa Eleanor e da filha querida. Não vi sinal do Kai, o
medo correu na corrente sanguínea me alertando do terror.
— O que… — O tapa acertou forte meu rosto calando minha boca, o
gosto de ferro pela bochecha cortada.
A cabeça girou na direção oposta, ele acertou outro tapa. Tive
vertigem e imaginei que desmaiaria. O terceiro tapa abriu um corte na
minha sobrancelha, o quarto jogou minha cabeça contra o travesseiro,
completamente nauseada. Não soube onde sentia mais dor, se na barriga,
rosto, cabeça ou coração, massacrado pela violência do meu pai.
— Menina maldita, eu deveria estourar sua cara com uma surra. —
Ergueu a mão enfiando violentamente no meu rosto. — Como ousa
machucar a Rebeca no dia do aniversário dela? — Louis era calmo ao
falar, não pareceu um pai prendendo o nariz da filha, cortando o ar dos
meus pulmões.
Não tive coragem de segurar seu pulso, seria pior. Louis nunca se
continha para me punir. Ele era violento, malvado, imparável. Rebeca era
sua cópia, talvez por isso ele a amasse e me odiasse. Eu nunca pedi para
nascer e naquele segundo só não desejei a morte por ouvir a voz do Black,
uma pequena lembrança do que aconteceu na noite anterior.
— Fica comigo, Josephine — ele falou carinhoso, eu queria voltar
para o conforto de seus braços, desaparecer daquele maldito inferno.
Agarrei a lembrança do Black tirando forças para continuar
lutando pela vida. Separei os lábios inspirando qualquer migalha de
oxigênio, se eu morrer aqui nunca mais verei os olhos verdes que eu amo.
— A próxima vez que você ousar tocar na Rebeca eu vou te matar,
Josephine. Tente contar o que aconteceu para qualquer pessoa, envergonhe
sua irmã e eu juro que te esfolo viva, jogo seu corpo para os soldados
estuprarem e rasgarem como animais.
Chorei, como ele era capaz de falar coisas horríveis para a filha?
— Se não fosse o maldito acordo te mataria aqui. Você está sob
aviso, saia da linha e será o seu fim.
Ele me soltou. Tive medo de respirar e receber outro tapa, meu nariz
doeu. Mantive o corpo estático na cama enquanto o Louis saía do quarto.
Rebeca sorriu diabólica, Eleanor tinha fogo nos olhos, a marca de um tapa
em seu rosto.
— Eu sempre venço — Rebeca disse.
Ela saiu acompanhada da mãe.
Eu fiquei sozinha, encolhida, com dor, quase sem respirar, abafando
o choro por não aguentar o nariz ardendo. Me agarrei à lembrança do
Black, rezando para ele vir me resgatar. Se eu me casar com ele, serei
mandada para Las Vegas, ficando longe do inferno que sou obrigada a
chamar de família.
Meu irmão não apareceu, passei os dias seguintes internada na
clínica no complexo. Ao retornar para casa me isolei no meu quarto, por
mais que quisesse mostrar a cicatriz ao Kai, implorar por sua ajuda, sabia
que o Louis me faria pagar caro por desobedecer.
Eu precisei aguentar firme, sozinha por longos dias me apegando ao
desejo ardente de casar com o Black e ir embora. Ele seria a minha
salvação e por ela eu lutaria.

Atualmente

Black me encheu de beijos, sufoquei imersa na sua paixão. Os


braços fortes prendendo meu corpo ao seu, os lábios macios não sabiam
onde permanecer, na minha bochecha, testa, nariz ou boca. Era bom
compartilhar com ele a história daquela noite, somente a Lily sabia dos
detalhes. Quando desabafei para o Kai, omiti algumas partes, como os tapas
e o tempo que fiquei no relento sofrendo, pedindo pela morte.
Eu e meu irmão sofremos abrindo as feridas da nossa vida. Hoje eu
entendo que o Kai nunca me abandonou de verdade. Era o Louis o
mantendo distante, torturando meu irmão por dias após me punir, fazendo
eu acreditar que o Kai não me consolava por me odiar, ocultando a verdade
cruel escondida no porão daquela casa. Com a ajuda da Rebeca e das
mentiras que ela contava sobre o Kai escolher ficar com ela e me
abandonar. Eles criaram o cenário perfeito para jogar meu irmão contra
mim e eu o odiar.
Somente quando fomos capazes, há quase um ano, de conversar um
com o outro, incentivados pela Daisha, após o casamento com o Kai meu
irmão se abriu com ela a fazendo entender o lado dele e, por conhecer a
minha versão, Daisha percebeu a manipulação da nossa família e aos
poucos convenceu a mim e ao Kai a deixar o ressentimento de lado,
conversar, se abrir, superar as mágoas e entender o que aconteceu um com o
outro debaixo daquele maldito teto. Foi excruciante abrir minhas feridas
para o meu irmão e visualizar as dele.
Mas necessário para a nossa cura. Agora eu tenho um irmão e ele me
tem. Presos pelo amor que escolhemos lutar, nada nunca mais será capaz de
nos separar. Eu amo meu irmão, amei dividir minhas dores e encontrar
conforto em seu colo, o afagar após ele derramar suas dores para mim. Kai
e eu nos acertamos, e foi somente por ser capaz de perdoar meu irmão que
estou vivendo esse momento.
Fui capaz de me abrir com o homem que eu amo, dividir com ele os
pedaços fragmentados da minha alma, que lutam todos os dias para não
despedaçar, se apoiando nas doses de amor dada por minha família e amigas
queridas. Por anos quis dividir com o Black minhas lembranças daquela
noite, sua resposta me inundando de carinho foi melhor do que qualquer
coisa sonhada por mim. Era real, seus braços me apertando, a boca beijando
e as palavras amáveis derramadas no meu ser.
Os dias de viver de fantasias chegaram ao fim, estou vivendo a
melhor realidade possível e não vou renunciar a nenhum segundo de
felicidade.
— Perdão por não me lembrar — pediu beijando meu pescoço, o
cheiro másculo me sufocou. — A única coisa que recordo é de acordar 2
dias depois na clínica do complexo e meu irmão me explicando que
desmaiei e fiquei apagado devido à grande quantidade de álcool. A equipe
médica teve de fazer um tratamento administrando líquidos para combater a
desidratação e o baixo nível de açúcar no sangue.
Alisei a nuca do Black, não gostei de como ele se culpou.
— Você me salvou, Black. Pode não se lembrar, mas eu recordo de
cada detalhe daquela noite e como foi importante para mim se apegar a
vontade de continuar vivendo para poder me livrar do inferno. — Beijei sua
barba sentindo o gosto do sal das lágrimas derramadas por ele. — Você
enfrentou uma dor pesada naquela época e eu a minha. Mas hoje podemos
nos agarrar um ao outro e seguir em frente.
Beijei seus lábios, ele tinha uma expressão triste, carregada de
arrependimento. Entrelacei nossos dedos pairando acima do meu ventre,
tocando nosso bebezinho se desenvolvendo dentro de mim.
— Você é mais forte do que imaginei — ele disse acariciando meu
ventre. — A cada dia eu te admiro mais, Josephine. Você não se deixou
vencer pelas dores, aguentou sozinha o preconceito na organização. Fez
escândalos sempre defendendo sua honra. Lutou mais do que qualquer
pessoa aguentaria. Não sou merecedor de uma mulher como você, mas eu te
juro, nunca mais vou permitir que lágrimas de tristeza manchem seu rosto.
Os dias sombrios acabaram e sua vida será feliz ao ponto de você imaginar
se um dia o passado realmente existiu. Eu vou te dar o meu mundo,
Josephine. Deixa eu me tornar o seu?
— Ah, Black. — Solucei, girei por cima de seu corpo o abraçando
com força. — É tudo o que eu sempre quis.
Black sentou me levando consigo, acariciou minhas costas
despejando um mar de beijos na minha boca. Envolveu a língua na minha,
entrelaçando, criando uma conexão única. Um nó entrelaçou nossos corpos,
nos unindo com a força do infinito. Eu não queria mais lutar sozinha, me
apoiei no corpo que me oferecia suporte, entreguei a ele meu coração para
cuidar e proteger.
— Vou te provar todos os dias, você é alguém que vale a pena lutar,
proteger e amar. — Acariciou meu queixo, tremi os lábios de felicidade. —
A mãe dos meus filhos e única companheira a permanecer ao meu lado. —
Entrelaçou nossas mãos beijando os nós dos meus dedos. — Você é linda,
Josephine e não existe cicatriz capaz de apagar a beleza exalando da sua
alma. — Puxou a barra da camisola. — Seu corpo é um templo que merece
ser adorado, as cicatrizes são somente marcas do passado, uma prova da sua
força, das batalhas vencidas em silêncio. Você é uma guerreira imbatível,
uma tempestade devastando tudo que ousar te ferir. Você é Josephine
Bonnarro, a mulher que eu amo.
O tecido fino passou pela minha cabeça, as lágrimas se derramando
no meu rosto. Nunca pensei que pudesse explodir de felicidade. Sabia que o
Black gostava de mim, mas tive receio de aceitar seus sentimentos e me
magoar, entregar meu coração para ser despedaçado. Acreditei nas doces
palavras preenchendo meu peito de amor, me deixei ser envolvida pela aura
magnética rondando nossos corpos.
Permiti que a fita do destino que sempre trouxe o Black para mim
encontrasse a ponta que buscava para poder dar um nó. Entrelaçando nossas
vidas em um infinito de nós, do destino.
Estou cansada de me controlar e renegar aos meus sentimentos.
Colei os lábios nos do Black selando a minha decisão de me entregar ao
amor sem medo. Era o meu momento de ser amada e ser feliz e não deixarei
essa chance escapar.
Eu vou viver uma paixão avassaladora.
— Eu te amo — ele murmurou deitando meu corpo na cama.
Não tive chance de responder, envolveu a boca na minha beijando
com vontade, levando para si minhas declarações de amor. Black tocou
minha barriga com delicadeza, desceu o rosto para o meu busto. Era a
primeira vez que permiti ver meu corpo sem peças de roupas. Não tive
medo de qual seria a reação dele ou tive ímpeto de me esconder, quis
mostrar ao Black a minha alma.
— Eu amo você, Black — murmurei puxando o ar entre os lábios,
delirando por receber seus beijos na barriga.
— Amo seu corpo lindo. — Beijou minha cicatriz, os pelos se
arrepiaram. — Amo cada pedacinho da sua alma, Josephine. — Esticou a
língua traçando um rastro molhado do meu umbigo à cintura, devorando
para si a cicatriz. — Uma deusa — ergueu o rosto me encarando — a minha
deusa do amor. — Desceu os lábios contra os meus. — Seu fiel pode
mostrar o quanto te adora, minha deusa?
— Sim. — Sorri em sua boca, não acreditando na felicidade
explodindo no meu corpo.
Black sorriu maroto, ele transbordava alegria na face, os olhos
verdes brilharam como nunca vi antes. Não existia a possibilidade de ser
falso o que vivíamos. Não imaginei que era possível a felicidade crescer a
cada segundo. Tudo ficou melhor e eu aproveitei sem reservas.
— Devo ter agradado algum deus na minha vida passada para poder
ter a chance de viver ao lado de uma deusa. — Apertou minhas coxas me
puxando para o centro da cama.
— Você é louco. — Gargalhei, adorei sua brincadeira.
— Completamente, vou adorar minha deusa, quietinha. — Segurou
meu pé batendo na sua bochecha. — Olha como o pezinho dela é perfeito,
macio e cheirando a rosas! — Gritei, recebi a mordida no solado do pé.
Black parecia um animal devorando meus dedos. — Uma delícia!
— Céus! — Meti a mão no meu cabelo apertando os fios, adorando
a visão do Black ajoelhado na cama lambendo os dedos dos meus pés.
Existia um erotismo dominando o quarto, espalhando uma energia
poderosa, crepitando no ar.
— Deseja algo, minha deusa? — Esticou a língua contornando
minha panturrilha.
— Você.
— Não precisa pedir, sou completamente seu, minha deusa. —
Mordeu a batata da perna, delirei pela área erógena recebendo atenção dos
dentes do Black.
Ele me encarou faminto, as íris verdes em chamas como nunca vi
antes. Amor permeando sua alma, mesclado a luxúria, a sublime sensação
de saber que pertencemos e aceitamos um ao outro. Que estamos
entrelaçados nesse nó impossível de ser quebrado. Black continuou
subindo, beijando minhas pernas, mordendo. Ele foi rápido agarrando
minhas coxas e girando meu centro, bati o rosto no travesseiro, gemi
gostoso pela mordida na coxa.
Senti uma cachoeira se desmanchando no meu centro. Abri as pernas
querendo ser tocada no meu núcleo necessitado. Black espalmou as mãos
nas minhas coxas beijando a parte interna, arranhando os dentes,
distribuindo arrepios arrebatadores. Inclinei o quadril para cima, quase
esfregando a boceta em seu rosto.
Ele me amou com beijos, mordidas, toques afoitos. Não deixando
um único pedaço da minha pele sem receber suas carícias. Segurou meu
calcanhar puxando o pé para sua boca. A mão atacou a banda da minha
bunda. Puxou delicadamente, uma rajada de ar atingiu meu cu sensível. A
boceta completamente encharcada de vontade para ser tocada.
Black soltou minha perna, beijou a panturrilha, espalmou minhas
coxas me forçando a ficar de joelhos. Senti o vento frio de seu hálito soprar
minha intimidade em chamas. Suspirei inebriada, afoita para receber a
língua do meu fiel provando sua devoção. Black beijou minha entrada,
sugou o melzinho escorrendo, bati a mão no travesseiro gemendo, adorando
a língua dura penetrando minha fenda.
— Deliciosa — falou, beijou a banda da bunda e subiu.
Por cima do ombro encontrei seu olhar banhado em amor encarando
as cicatrizes nas minhas costas. As mãos deslizaram das minhas coxas para
o quadril, alisando delicadamente as marcas ali. Os dedos calejados subiram
tocando minha espinha, espalhando arrepios nas minhas costas. Não
recordava a última vez que permiti alguém tocar minha pele como o Black
fazia.
Estremeci recebendo os beijos molhados na pele enrugada. Ele
esticou a língua contornando as cicatrizes espalhadas. Uma a uma, o Black
ia as marcando como sua, ressignificando a dor para o amor. Minhas
cicatrizes não eram mais motivo de vergonha ou sofrimento. Mas de
adoração pelo meu amado, a prova da minha sobrevivência e uma nova
parte minha que ele adorou receber para si.
— Linda se torna uma palavra pequena para descrever a sua beleza.
— Ele deitou o corpo sobre o meu. — Perfeita, a mulher mais magnífica do
universo, não existe ninguém que seja capaz de competir com sua beleza.
Você é incrível, Josephine, uma verdadeira deusa.
Beijou minha nuca.
Black dominava meu corpo com o seu. As coxas grossas
proporcionaram uma proteção para minhas pernas entre as suas. O pênis
enorme acoplado na minha bunda, o abdômen musculoso deitado por cima
das minhas cicatrizes. Os braços fortes ao redor dos meus, impedindo que
eu saísse um centímetro do seu abraço. A cabeça maior que a minha
esfregou contra minha bochecha, roubando meus lábios para si.
Estou completamente dominada pelo meu macho. Além do tesão
avassalador, a sensação de proteção, entrega e o sublime prazer de saber
que existe um homem como ele cuidando de mim elevaram os níveis do
meu apego a outro patamar. Eu quis me fundir ao Black, nos tornar um só.
— Eu te amo muito — sussurrou rouco, empurrando o quadril para
baixo.
— Eu amo você — respondi em sua boca quente.
— Vou te amar todos os dias. — Beijou minha orelha selando sua
promessa. — Minha linda deusa.
— Meu fiel. Sua deusa aceita seu amor e o ama de volta. —
Entrelacei nossos lábios em um beijo gostoso.
Black guiou o pau para a minha entrada encharcada, deslizando com
facilidade para o meu interior. Arfei em sua boca, passou a mão debaixo do
meu pescoço agarrando meu queixo, mantendo minha cabeça erguida e alvo
de seus lábios quentes.
A posição me tornou mais apertada, o pênis enorme entrou
estocando com força e saiu com lentidão, aproveitando cada centímetro da
minha boceta. As coxas grossas raspavam os pelos nas minhas, o abdômen
delicioso resvalando minhas costas, a pélvis batendo duro na minha bunda
ressoando o som dos nossos corpos se chocando pelo quarto.
Black meteu fundo no meu interior, gritei em sua boca, as bolas
batendo meu clitóris sensível. Remexia o quadril esfregando no edredom o
brotinho inchado adorando o atrito e a felicidade de devorar o Black. Era
diferente das outras vezes.
Suamos, gememos, entregamos nossos corpos um ao outro. Existe
mais crepitando entre nós. A paixão, a felicidade, a entrega de segredos
dolorosos, a aceitação dos nossos passados, a paz por estarmos na mesma
página decididos a trilharmos um futuro juntos.
— Eu amo sua boceta, passaria o resto da vida dentro dela — gemeu
rouco. Era a primeira vez que o Black falava durante o sexo, geralmente ele
diz putaria antes de meter o pau na minha boceta.
— Eu deixo. — Gemi, esfregando a bunda em sua pele febril. —
Adoro quando você me come gostoso, mas isso — arfei, recebendo uma
arremetida poderosa — é muito bom, Black.
— Fazer amor com você é como entrar no paraíso. — Beijou minha
orelha. — Engole meu pau, minha deusa.
— Mete gostoso na minha bocetinha — pedi manhosa. — Ai, Black,
assim.
— Toma minha rola, sua safada. — Mordeu meu lóbulo enfiando
fundo, gritei, aumentando o rebolado do quadril. — Toda sem-vergonha
roçando na cama. Deixa eu ver o quanto você está quente.
Black puxou para fora, girou meu quadril, abriu minhas pernas e
meteu a mão no clitóris inchado. Berrei pelo beliscão delicioso. Um jato
poderoso de líquidos explodia entre minha carne. Meu amado baixou o
rosto beijando a cicatriz na barriga, subiu distribuindo beijos enquanto
continuava apertando meu clitóris com os dedos. Em um movimento socou
o pau, as bolas batendo na minha bunda.
Os braços tremeram largados na cama, as pernas perderam força.
Black veio por cima de mim, agarrando minha coxa com uma mão
mantendo a abertura do meu quadril. A outra se enfiou entre meus cabelos
capturando minha boca com a sua. Eu adorava como fazíamos amor
beijando, conectados por todas as partes.
— Você é muito gostosa — rosnou, as pálpebras pressionadas
gemendo no meu rosto. — Porra, Josephine.
Black tremeu, espelhando os espasmos que percorriam minha pele.
Agarrei seus ombros fincando as unhas na pele molhada pelo suor. A
barriga deslizava em seu abdômen, os peitos roçando no peitoral musculoso
do meu marido. Fechei os olhos me desmanchando em brasas, explodindo
em prazer, apertei as paredes da vagina, sufocando seu membro, deixando
as estocadas mais fortes, gostosas, precisas.
Tremi, agarrei os pelos em sua nuca, abri a boca gemendo
loucamente, recebendo os urros do meu marido, a força do quadril batendo
no meu, os sons preenchendo o quarto. As pernas perdendo as forças, os
braços tremendo, Black mordendo os lábios como louco. Me desfiz em um
orgasmo sublime recebendo o jato quente e poderoso do meu marido
marcando meu interior como seu.
Foi uma entrega louca de corpos e almas, no fim mal conseguia
respirar. Black me puxou contra seu peito, mantendo o abraço firme ao meu
redor, beijou minha testa carinhoso enquanto eu lutava para voltar à
realidade. Moveu as mechas de cabelo pregadas em meu rosto e pescoço
para trás, segurou meu maxilar me puxando para um beijo.
— Eu te amo. — Não cansava de ouvir as lindas palavras deixando
seus lábios gentis.
— Eu amo você — respondi apaixonada.
Eu soube que não era uma ilusão criada por minha mente para me
fazer aguentar o inferno. Era real, o Black me amava e eu a ele e aquela era
a nossa vida.
Alisei as costas de Josephine beijando sua pele. Acordei com a luz
do sol invadindo o quarto, ela dormiu tranquila sem pesadelos
atormentando sua mente. As cicatrizes grossas espalhadas pela lombar,
mostrando a perversidade de sua família. Se o Louis não tivesse sido morto
pelo Kai eu mataria o desgraçado e a Rebeca por causarem dor na minha
esposa. Eleanor era a única dos Lucian que permanecia viva, presa sem
regalias em sua casa, apodrecendo sozinha.
Tenho um alvo para descontar minha raiva. Já planejei como me
vingar dos malditos dos meus tios pelas provocações ao longo dos anos, os
faria sumir discretamente, minhas tias ficariam bem e meus primos
aprenderiam que não poderiam mexer comigo. Eleanor ganhou um
passaporte no trem da vingança. Não posso tocar nela sem a permissão do
Kai, mas poderia criar o cenário para justificar a morte dela.
Por mais que minha mãe tenha machucado a mim, a Hope e ao Steve
nos dias em que surtava, ela nunca deixou de nos amar. Implorando perdão,
chorando triste consigo mesma, tentando melhorar, ser uma boa mãe nos
dias longe das crises. Ela sofreu por machucar a família, não fez por prazer.
Diferente da Eleanor que se divertiu atormentando a filha.
— Essas foram feitas pelo Louis — a voz rouca me tirou dos
pensamentos.
— De uma vez?
— Sim, foi minha punição por acertar um tapa na cara do Tommaso.
— O que aconteceu naquele dia? Lembro somente de você batendo
nele. Por se tratar do Chefe da Máfia Siciliana, o Andrew investigou o caso,
não achamos provas dele sendo desrespeitoso.
— Eu tinha 19 anos, ninguém se interessava em casar comigo depois
que mandei o Waterford se foder. Acho que já tinha acumulado desavenças
com 3 associados, ele, o Smith, e o italiano Salvatore. Aquele velho nojento
segurou meu pulso em um dos bailes beneficentes e perguntou se eu queria
dar uma sumida com ele.
Revirou os olhos. A vontade assassina despertou no meu interior,
quis arrancar a língua dos desgraçados por ousarem ser desrespeitosos com
a Josephine.
— Gritei o chamando de safado desrespeitoso. Para a minha sorte,
tanto no incidente do Waterford quanto do Salvatore tinha outras pessoas
por perto. Ao verem o Louis, com aquela cara assustadora, perguntando o
que aconteceu falaram a verdade sobre os homens me desrespeitarem. Mas
meu querido paizinho manteve em silêncio que minha revolta era
justificada, abafando os boatos e deixando espalhar que eu era uma dama
revoltada e mal-educada — bufou.
— Lembro das vezes em que presenciei suas brigas com as damas
da família. Tem alguma que você não tenha brigado? — brinquei em uma
tentativa de aliviar o clima, odeio ver a raiva nos olhos da Josephine.
— As damas Bonnarro, elas sabem se portar. — Apertou meu nariz.
— A sociedade das mulheres é tão destrutiva quanto a dos homens, eu
cansei de aguentar calada e passei a rebater, principalmente a vaca da minha
avó. Foi delicioso apertar o pescoço fino dela.
— Promete para mim que não vai mais arrumar confusão? Você é
minha esposa, a Senhora dos Bonnarro. Não pode continuar como uma
tempestade desgovernada. Escolha quais batalhas lutar e não hesite em me
usar como seu escudo e espada.
— Prometo — envolveu meu pescoço — não quero mais ser essa
pessoa. Quando voltarmos para Las Vegas mais tarde vou me reunir com as
damas, e iniciar uma nova página em nossas vidas. — Esfregou o nariz no
meu.
— Sim, governe como a deusa que você é. — Beijei seus lábios
macios.
— Pode deixar, meu amor. — Alisou minha nuca. — O incidente do
Tommaso, eu fui um pouco culpada, mas porque me deixei envenenar pela
Rebeca e pela Eleanor.
Ela começou a narrar o acontecimento daquela noite. Eu darei um
fim a Eleanor pelo que fez com minha esposa.

Josephine aos 19 anos

Louis não escondia sua intenção de me juntar ao Chefe da Máfia


Siciliana, um homem mais velho, viúvo e com filhos adultos. Eu era mais
nova que a caçula dele. Embrulhou meu estômago ao imaginar me casar
com ele. Tommaso era educado e um pouco galanteador, mas não apagava
a diferença enorme de idade entre nós. Fios brancos apareciam em seu
cabelo e barba. Os filhos me encaravam com desprezo.
Estou com medo e não sei a quem pedir ajuda.
Meu irmão se reuniu com os amigos a noite toda, Rebeca e Eleanor
grudadas me infernizando, soltando comentários ácidos sobre como seria a
esposa de um homem mais velho que meu pai. Não tive forças para revidar,
cansada da vida miserável. Me limitei a ficar sentada na cadeira da mesa
da minha família.
Black não me dirigiu nenhum olhar. Por muito tempo após a noite
em que me resgatou tentei chamar sua atenção, conversar com ele, mas
sempre fugiu. Ele não me deu abertura e aquilo machucou meu peito.
Observei a Daisha sentada ao lado da Clarisse, calada, percebi que ela
encarava o Kai, conversando com o Black e o Daniel. Tinha raiva pungente
em sua expressão, como se ela quisesse partir meu irmão ao meio.
Busquei pela Emily, retraída na mesa dos Bianchi, conversava
baixinho com as senhoras por perto. Espiando por cima do ombro o
Daniel. Ela não conseguia disfarçar tão bem quanto ele, o vi olhando
discretamente para a loira. Não soube quais alianças de casamento foram
formadas. Mas podia apostar que Emily desejava casar com Daniel e
Daisha se manter longe do Kai.
— Venha lavar essa cara feia. — Eleanor levantou puxando meu
braço.
— Vai afastar o Tommaso com sua feiura — Rebeca alfinetou.
Eu me sentia anestesiada, carregada pelo braço para o banheiro
pelas minhas inimigas. Meus joelhos ainda doíam pelas horas ajoelhadas
em cima do milho. Eleanor me castigou após uma briga minha e da
Rebeca. Ela veio me provocar falando mal do meu corpo, expondo minha
magreza, usou o Black para me ferir, afirmando que ele nunca me amaria.
Não soube como ela percebeu meu interesse nele, mas talvez a culpa
fosse minha. Nunca disfarcei os meus sentimentos pelo Black e a vontade
de ficar junto dele. Naquela manhã eu acertei um tapa na cara da
desgraçada, para o meu azar o Kai entrou na sala no exato segundo, outra
onda de drama começou. Ele brigou comigo e a envolveu nos braços,
protegendo a frágil irmã. Não tentei me defender, não adiantava. O mandei
se lascar e subi para o meu quarto.
Eleanor veio com o milho, jogou no chão. Puxou meus cabelos e me
forçou a ficar sobre os caroços. Tentei me revoltar, mas não consegui. Se eu
me rebelasse muito ela chamaria o Louis para me dar uma surra. O medo
do desgraçado sempre paralisando minha revolta. Às vezes quando o
sangue fervia e eu enfrentava a ambos me arrependia depois chorando com
o corpo marcado pelas surras e castigos, a fome imposta por dias, o
desespero de ficar trancada no quarto, isolada do mundo, sendo consumida
pelos pensamentos terríveis.
Entrei no banheiro ainda aérea, a mente presa em uma tortura tão
forte quanto a realidade. Eleanor e Rebeca começaram a passar
maquiagem no rosto. Encarei minha figura abatida, sem vida, através do
espelho. Magra, pálida, um fantasma precisando lutar para não
desaparecer. Alisei os fios de cabelo, a única parte linda e intocável no meu
corpo.
— Já se preparou? — Rebeca veio por trás, a maldade em seus
olhos me acertou como um soco.
— Para o quê? — rosnei.
— Ser estuprada. — Agarrou meu quadril. — O Tommaso vai meter
o pau dele em você todas as noites. Cuidado com os dentes para não
machucar seu maridinho.
— Ele pode arrancar todos — Eleanor segurou minhas bochechas
— eu faria isso. Lembre de limpar o cuzinho todos os dias para ele te pegar
por trás, arrebentar sua bunda e não se sujar com bosta.
— Não sei como ele te quer — Rebeca suspirou — tão feia. Só serve
para ser abusada. Você vai gostar, Josephine? De sentir o pau de um
macho arregaçando sua boceta fedida?
— Por favor, parem — pedi segurando as lágrimas, era demais para
um único dia.
Ter a Rebeca debochando de meus sentimentos pelo Black, ouvir o
Kai brigando comigo, ser colocada por horas em cima do milho cru e ouvir
as vozes demoníacas dizendo como será infeliz o meu destino. Não vou
aguentar, estou a ponto de romper.
— Ele não vai parar, mesmo que peça — Rebeca espalmou as mãos
na pia me prendendo — talvez ele te dê aos soldados. Ouvi que ele fez isso
com a ex-esposa e deixou brincarem com a filha. Ele é um homem terrível.
Louis pelo menos nunca me deixou te entregar aos soldados.
— Vai aguentar, Josephine? — Eleanor sorriu maldosa. — Ser
dilacerada por vários homens de uma vez, imagino como será prazeroso os
seus gritos de dor. Daria tudo para assistir.
— Estou ansiosa pelo seu casamento. — Rebeca segurou meus
braços.
Era demais, não aguentei. Empurrei o corpo me libertando do
aperto. Saí do banheiro ouvindo as risadas das diabas. Atormentada,
perturbada pelo que falaram. Não podia ser verdade, não tinha como o
tormento piorar, se estender com o maldito casamento. Eu me mataria
antes de viver outro inferno.
Precisava de ajuda, qualquer pessoa que pudesse me salvar.
Busquei pelo Kai no salão, ele conversava com o Black. Meu irmão me
ajudaria, podemos nos odiar, mas ele vai me salvar. Dei um passo em sua
direção. Michael falou algo e saiu sendo seguido por Kai, Black e Daniel.
— Boa noite, senhorita Lucian. — A voz do Tommaso invadiu meus
ouvidos enviando calafrios pela espinha.
Girei encontrando seu sorriso, segurou minha mão na sua e como
uma marionete eu fui com ele para a pista de dança.
— Imagino que a notícia já tenha se espalhado. Fecharei um acordo
de casamento com seu pai. Em breve você será minha esposa. Espero que
não se assuste pela diferença de idade. Uma menina nova como você é
capaz de gerar meus herdeiros. Já tenho filhos, mas preciso de outros para
consolidar a nossa união.
Imagens desse homem me estuprando corroeram minha mente, eu
não quis aquilo. Antes que pudesse me controlar, ergui a mão acertando o
rosto dele com um tapa poderoso. O sangue sumiu do meu corpo ao receber
o olhar irritado de Tommaso, as pessoas pararam de falar, olhei ao redor
percebendo a merda que tinha feito.
Era o meu fim, morreria naquela noite.
— O que você fez?! — Louis rosnou agarrando meu pulso. —
Tommaso, peço desculpas pelo comportamento imprudente da minha filha.
— Apertou os dedos na minha carne prendendo o sangue. — Ela será
punida por essa idiotice.
— O acordo acabou — Tommaso me encarou, revoltado — você não
soube criar uma única filha, é um fraco, Louis Lucian.
— Tommaso — Andrew, o Chefe dos Bianchi se aproximou —
podemos conversar?
Encarou-me com ódio pungente. Eu fiz uma besteira sem tamanho.
Não fiquei para ver o desenrolar da reunião dos homens. Louis me enxotou
para dentro do carro sendo levada para casa. Os soldados me trancaram
no meu quarto enquanto esperava pelo castigo que viria e eu sabia que não
existiam chances de ser salva.
Ninguém veio por mim.
Louis entrou no meu quarto furioso ao lado de Eleanor.
Ela pareceu assustada, talvez não imaginasse as proporções que sua
provocação no banheiro tomaria.
— Louis, eu juro que não era a minha intenção. — Comecei
recuando no quarto, tremendo de medo da fúria em seus olhos negros.
— Eu levei um tapa do Andrew e precisei pedir desculpas de
joelhos. — Percebi o arame farpado em suas mãos. — Garota maldita, se
não fosse o acordo eu te mataria hoje.
— Por favor, eu imploro, não deixe eu me casar com o Tommaso. —
Fiquei de joelhos juntando as mãos na frente do rosto. — Por favor, Louis.
— Cale a boca, Tommaso nunca aceitaria casar com você depois de
hoje. Menina estúpida, vou encontrar um marido pior do que ele para você
e fazer sua vida se transformar em um inferno completo, mas até lá você
vai pagar pela humilhação que me fez passar.
Afundei o rosto no chão, desesperada, tremendo de medo pelo
castigo vindouro.
— Segure os pulsos dela.
Eleanor envolveu as mãos nos meus pulsos me puxando para cima.
Sabia que era inútil lutar. Não existia lugar para correr, canto para me
esconder ou alguém para me salvar. Fui colocada de joelhos na frente da
cama, o peitoral deitado no colchão. Engasguei com o choro, o catarro
entalado na garganta. Eu quis sumir, desaparecer, virar fumaça.
Com brutalidade Louis rasgou meu vestido, o vento gelado açoitou
minhas costas antes dele iniciar a tortura. O arame farpado se fincou na
minha pele, gritei, uma dor que nunca havia passado antes. Mais intensa
que a queimadura feita pela Rebeca. Senti a carne sendo arrancada. Ele
puxou a mão levando consigo pedaços de mim e desceu mais forte,
perfurando novos lugares, causando novas rupturas.
Os berros deixaram meus lábios sem ressalvas, as lágrimas
molhando o rosto em abundância não permitindo que eu enxergasse nada.
O cheiro do sangue, o líquido quente escorrendo, manchando as pernas. Os
pés e mãos tremiam, Eleanor me segurou com força rindo acima da minha
cabeça, o maldito som duelando com o do ar sendo cortado pelo arame e
da minha pele se abrindo em duas.
— Por favor, para! — implorei, gritei por misericórdia até ficar sem
voz.
O corpo se manteve acordado suportando a tortura sem fim. Não
existiu um único músculo a permanecer com energia após o açoitamento. A
cabeça explodiu em dor, meus braços caíram largados, o tronco desabando
de lado no chão, impossibilitada de me mover como uma boneca. Apaguei,
recebendo a escuridão como minha companheira, ao menos nela eu estava
em paz.

Atualmente

— Como o Kai não te ajudou? Recordo dele indo para casa com o
Louis.
Abraçar Josephine ganhou um novo significado, enquanto ela
relatou a agressão a prendi com força entre os braços e pernas. Era
impossível dizer onde um começava e o outro terminava. Conectados pelo
corpo e alma, chorei escutando a sua dor, a vontade de sumir, desaparecer
no universo. Ela não mereceu o castigo cruel, foi acuada, induzida a
cometer uma loucura.
— Há quase um ano, eu conversei com o Kai, contamos um para o
outro nossas experiências traumáticas com a família e a versão para cada
acontecimento. Ele confessou que nesse dia o Louis o prendeu no porão,
torturando meu irmão com queimaduras por 12 dias. Na época fiquei em
choque com a revelação, ocultei dele a minha punição, mas decidi dar uma
chance à nossa relação. Eu quis ser amiga do meu irmão. Após algumas
sessões de terapia, me senti pronta para contar a ele a origem da cicatriz nas
costas. Acho que perdemos quase um litro de água chorando.
Ela não derramou uma única lágrima, acariciou minhas costas
devagar, curtindo o aconchego de nossos corpos.
— A cicatriz na perna, ele ganhou com essa punição?
— Sim, ela é horrível. Não entendia como o Kai conseguia exibir o
corpo coberto de marcas na arena de luta. Até ele me explicar que não tinha
vergonha de exibir as cicatrizes, elas serviam como um lembrete de quem
era o inimigo a ser derrotado.
— Ele mentia sobre a origem, dizia que se machucou caindo da
moto e ralando a perna no asfalto — encostei a testa na dela — eu deveria
ter sido um amigo melhor, prestando atenção nos sinais e protegido o Kai.
Proteger ele me levaria à verdade e eu poderia cuidar de você. Perdão por
demorar.
— Black — alisou minha orelha, a voz mansa — pare de se culpar.
Somente Louis, Rebeca e Eleanor merecem carregar a culpa pelo inferno
que eu e o Kai vivemos. A única coisa que importa é o presente — beijou
meu queixo — eu nessa cama envolta pelo meu marido enorme, recebendo
o amor dele e podendo aceitar na minha alma a felicidade, te recebendo sem
medo como meu.
— Eu amo você — repeti, não cansava de expressar o sentimento
sublime tomando conta do meu ser.
— Eu também te amo. — Sorriu alisando minha barba, Josephine
adora enfiar os dedos nela. — Promete para mim nunca mais fazer algo que
não deseja? — referia-se ao sexo por obrigação.
— Sim, minha deusa. — Beijei seus lábios de mel.
— Perturba sua mente lembrar que era obrigado a transar sem
vontade? — Alisou minha nuca. — Odeio saber que você se machucou
dessa maneira, é injusto. Mesmo sendo homem, não deveria provar sua
masculinidade dessa forma. Eu odeio seus tios, mataria a todos.
— Ei. — Afaguei seus cabelos. — Nunca mais manche suas mãos
com sangue. Eu estou bem, tive meu tempo curando minha alma e ao seu
lado consigo ser eu mesmo. Aproveitar o sexo, sentir um desejo escaldante
pela minha esposa sem medo de te machucar ou de me ferir. A única coisa
importante é a realidade e o momento vivido e nele estou me entregando de
livre e espontânea vontade a você.
— Obrigada por confiar em mim, prometo sempre dizer se não
gostar de algo, conversar com você e respeitar todos os nossos limites. Eu
desejo que você possa sentir o mesmo que eu, Black, essa explosão
magnífica de felicidade, a vontade insana de ficar junto se perdendo um no
outro, o carinho e o amor curando todas as feridas abertas. Envolvendo com
paz o coração atormentado.
— Você é perfeita — sussurrei, capturando sua boca em um beijo
longo, aproveitando a paz.
— Você fez terapia ou algo do tipo? — perguntou baixinho.
— A Amber me ajudou. — Notei a informação absorvida por seu
rosto. Josephine não tinha ciúmes ou mágoas, apenas alívio.
— Devo agradecer a ela por ajudar meu marido. Como ela
conseguiu? E tem algo que não consigo entender — franziu a testa — uma
vez briguei com a Rebeca, ela disse que você tinha uma namorada e por
isso me rejeitou. Como ela sabia sobre a Amber?
Surpresa seria um eufemismo para o que senti. Era impossível a
Rebeca saber sobre a Amber, a mantive escondida da minha família,
somente o Steve soube dela e recentemente contei ao meu pai pedindo
conselhos sobre como fazer a Josephine me aceitar.
— É estranho, Amber nunca pisou em Nova Iorque, mora em Las
Vegas e nem com o Steve conversei sobre ela perto de outras pessoas.
— Será que ela mentiu?
— Possivelmente, nem o Michael sabe sobre a Amber e ele é meu
Chefe. É minha obrigação contar, principalmente por ela saber que sou da
máfia.
— Não é perigoso ela saber sua identidade? Ou os negócios de sua
família? E se ela contar para alguém?
— Com muita paciência Amber me ajudou a lidar com meu trauma.
Não tenho dúvidas de que você teria feito o mesmo. Ela nunca me trairia ou
colocaria minha vida em risco, a Amber não é assim.
— E se ela te odiar por terminar o namoro para ficar comigo? Céus,
corro perigo de ser atacada por ela em Las Vegas?
Gargalhei pela possibilidade brotando na cabeça da Josephine.
— A Amber pareceria um gatinho assustado na sua frente, minha
tempestade. — Mordi seu queixo. — Acho que tenho mais medo do que
você seria capaz de fazer a Amber, do que ela a você. — Alisei o rosto da
minha esposa, adorei ver a diversão em suas bochechas. — Ela foi
importante para mim no passado. Hoje é somente uma amiga, da qual me
compadeço com a situação. A mãe da Amber tem câncer, chegou ao estágio
terminal, ela não tem família ou amigos para contar.
— Meu Deus, eu pensando que a mulher poderia ser uma ex-
ciumenta e ela sofrendo com a morte da mãe. — Curvou as sobrancelhas
para baixo, triste. — Você a visitou?
— Já faz uns meses desde a última visita.
— Tem notícias dela? Tadinha, não consigo imaginar a dor de perder
uma mãe. Ela gostava da mãe?
— Muito, ambas são amigas, companheiras.
Era estranho como era fácil falar da Amber com a Josephine. Por um
tempo tive medo de dividir esse pedaço do meu passado. Mas minha esposa
incrível conseguia tornar tudo facilmente, era aconchegante. Estou seguro
de compartilhar o que eu desejar com a Josephine, ela me entendia e eu a
ela.
— Ah, Black, primeiro você me diz que a mulher te ajudou a tratar
seu trauma com sexo e agora fala sobre a mãe dela estar morrendo. Só
tenho vontade de a abraçar forte e dizer que tudo vai ficar bem.
— Pode me abraçar — pedi.
Josephine passou a vida lutando para ter alguém ao seu lado,
abandonada por quem deveria a proteger. Ela conseguia compreender como
foi importante a presença da Amber para mim. Minha esposa não carregava
mágoas em seu peito pelo meu relacionamento passado. Amar Josephine se
tornava cada vez mais fácil, ela tinha uma alma bondosa e cheia de amor
para compartilhar.
O celular começou a tocar, interrompendo a conversa. Considerei
não atender. Embora precisasse, Matthew estava no Texas tomando conta
do território, não podia arriscar perder o contato dele. Juntei forças me
desgrudando de Josephine, procurei minha calça no chão, peguei o celular
no bolso e percebi que era o Michael ligando.
— Alô — atendi.
— Estamos indo para o Texas. O Matthew sofreu um ataque brutal
na madrugada, não consigo contato com meu irmão. Partimos em trinta
minutos.
— Sim, Chefe. — Desliguei o celular, encarei minha esposa deitada
na cama. Ela levantou percebendo que tinha algo de errado. — Problemas
com o Texas. Faça suas malas e se prepare para retornar a Las Vegas, vou
partir com o Michael em poucos minutos.
— Black — chamou medrosa.
Fui até ela, sentei na cama segurando as bochechas macias, fixei o
olhar nas íris negras preocupadas. O peito apertou por deixá-la, queria
continuar ao seu lado, fazendo carinho, confortando, mostrando que ela não
estava sozinha e tinha a mim para contar. Porém, as obrigações com a
organização demandavam minha atenção e precisava resolver essa bagunça
com o Texas. Esmagar a rebelião antes que os esporos chegassem na minha
família.
— Vou ficar bem, preciso prestar suporte ao Matthew. O Michael
está indo comigo, prometo te ligar quando pousar. — Beijei sua boca, não
tinha muito tempo. — Preciso ir.
— Quando você voltar continuamos a conversa, quero conhecer
cada nuance da sua alma. — Agarrou meu braço. — Eu te amo, toma
cuidado.
— Volto em breve, para receber mais do amor da minha deusa. —
Capturei sua boca e disse em seus lábios: — te amo.
Josephine compartilhou sua alma comigo, abrigava nosso filho em
seu ventre, me aceitou com meus defeitos e me amou sem medo. Vou
resolver a maldita bagunça no Texas e retornar para o meu lar, ficar ao lado
da minha esposa e filho.
— Droga, Matthew, cadê você?
Michael revisou as filmagens da base que o Matthew estava atuando
no Texas. Durante a madrugada foi invadida pelos inimigos, o caos
instaurado e o Matthew desapareceu. O rastreador apontava que ele
continuava na base, mas não conseguimos o encontrar. Algumas partes do
prédio desabaram, infelizmente chegamos tarde ao local, a polícia e
bombeiros atuavam nas buscas.
— Foi um arrombamento feio — o capitão da polícia de Austin
comentou observando as câmeras com o Michael.
O caso estava sendo tratado como uma invasão para roubar arquivos
da empresa. O local atua como um prédio comercial para uma de nossas
empresas de fachada. Oficialmente, desenvolvemos peças de tecnologia
para serem usadas em aparelhos eletrônicos. Por debaixo dos panos era
nosso centro de operações.
— O que era mesmo produzido aqui? — perguntou o capitão. —
Vocês chegaram há menos de um ano no Texas e já espalham suas empresas
em várias cidades.
— Temos uma agência de segurança — respondi entregando a ele o
alvará para atuação. — Produzimos um novo sistema de rastreamento nesse
prédio, o projeto está sendo negociado na casa dos milhões, quem planejou
o roubo sabia disso e quis lucrar.
Não era mentira, Simon Belarc, sobrinho do Capo Nathan Belarc era
o nerd mais inteligente dos Estados Unidos, responsável pelo sistema de
rastreamento implantado em todos os membros da Máfia Bianchi. Um
gênio da tecnologia que nos garantiu equipamentos de pontas e invenções
inovadoras no ramo. Michael estava considerando expandir os negócios
para o ramo da tecnologia com o Simon à frente. Lucraremos bilhões com
nossos equipamentos de segurança modernos.
— Encontrado! — Ouvi o grito dos bombeiros.
Segui com o Michael para a entrada do prédio, alguns destroços
impediam a passagem livre. Matthew deitado em uma maca, sangrando pela
cabeça com ferimento de balas na perna direita. Michael ficou ao lado do
irmão o acompanhando na ambulância.
— Senhor — Eduardo me chamou entregando um tablet. —
Encontramos a rota de fuga dos inimigos. Eles estão na estrada seguindo
para o Dallas. Talvez a informação da base deles não estivesse
completamente errada.
Controlei o sangue, minha vontade era de voar imediatamente para o
Dallas. Mas sair de Austin sem uma confirmação de que não haveria outros
ataques e de que o Michael e Matthew estariam seguros no hospital não era
uma opção. Precisei ficar, fortalecer as fronteiras e montar um plano de
ataque. Encarei o capitão da polícia. Aquele homem não era idiota, sabia o
poder dos Bianchi e estava espreitando uma oportunidade de se aliar a nós.
— Capitão Moore. — Levei o homem para um local afastado de
ouvidos curiosos. — Estou precisando de um favor.
— Como posso ajudar, senhor Bonnarro? — A lábia de uma raposa,
julguei certo o caráter do homem.
Nem todos os policiais eram corruptos, existiam aqueles como o
detetive Santiago de Nova Iorque, há anos trabalhava buscando provas para
prender os Bianchi, altuou o Daniel no caso do assassinato, por um
momento o infeliz acreditou que triunfou até o julgamento mostrar a
inocência do Consigliere. Os policiais bonzinhos como ele eram um pé no
saco, loucos para ganharem fama e respeito na polícia acreditando fazer o
bem para a população.
Eu gostava dos policiais como o Moore, espertos para se manterem
longe dos nossos negócios, não interferindo nas nossas atividades e
ajudando como podiam. Ele não era besta, sabia que era mentira sobre a
invasão para roubo de documentos, mas preferiu acreditar na nossa versão a
se tornar um empecilho. Por isso daria ao homem a chance que ele estava
buscando como um lobo faminto por sua presa.
— Minha equipe descobriu que os criminosos estão seguindo para
Dallas, consegue montar um cerco e os trazer para mim?
— Vou tomar providências, tenho contatos na região. Pela hora do
atentado eles não devem ter ido longe.
— Agradeço o apoio. — Apertei a mão do homem, ele tinha sede
pelo poder. — Há quanto tempo está na polícia?
— Sou capitão há 5 anos.
— Nunca foi escalado para uma promoção?
— Por enquanto, não.
— Você seria um ótimo Comandante.
— Imagina. — Sorriu como a raposa que ele era. — Vou trazer os
bandidos para o senhor.
— Agradeço a ajuda, tenho uma reunião com o governador em
breve, falarei de você.
— Obrigado, senhor Bonnarro.
Colocou o quepe de capitão e saiu dando ordens a seus homens. Eu
poderia montar uma equipe para liderar aquela busca, mas não tinha tempo
a perder, precisava proteger meu território. Liderei as equipes, distribuindo
funções e impondo um toque de recolher.
Dos ladrões aos gângsteres, todos sabiam que morreriam se
permanecessem nas ruas após as 22 horas. A polícia contribuiu com o toque
de recolher avisando aos cidadãos sobre ataques de terrorismo doméstico
contra centros comerciais.
As pessoas acordavam cedo, trabalhavam, estudavam, seguiam com
sua vida cotidiana, mas às 22 horas se refugiavam em suas casas enquanto
meus homens varriam as ruas à procura dos malditos da Portões do Inferno.
— Eles mexeram com o meu irmão, Black — Michael rosnou na
porta da sala de interrogatório, os malditos que atacaram o prédio foram
presos no final da tarde. Moore tinha uma equipe de confiança e hábil, seria
útil o ter por perto.
— Eu sei, mas você precisa se controlar. — Segurei Michael pelo
peito o impedindo de entrar na sala. — Seus interrogatórios são compostos
apenas por tortura, você sempre esquece de fazer perguntas e com a fúria
nos seus olhos tenho certeza de que não teremos as informações que
precisamos.
— Maldição. — Esmurrou a porta.
— Você é o Chefe, Michael, não posso interromper quando estiver
torturando alguém. Não é como antes quando éramos somente o Quarteto
Monstro e um de nós extraía as perguntas enquanto você se divertia.
— Você tem razão — recuperou a calma — vou iniciar com o
aquecimento, se eu passar dos limites diga que a Hope está me ligando e te
deixo assumir.
— Certo.
Pensar na minha irmã me lembrou da Josephine. Estou louco de
saudades da minha esposa, não tive tempo de falar com ela, apenas
trocamos mensagens ao longo do dia. Já se passaram 24 horas desde que
pousei no Texas e a saudade era enorme, parecia que estávamos há anos
separados. Steve me enviou um relatório avisando que levou minha esposa
para casa e que ela estava se divertindo com minha mãe decorando nosso
lar.
Acalmou meu coração saber que a Josephine tinha minha família.
Posso trabalhar em paz com eles a protegendo. Não queria minha esposa
triste pela minha ausência, somente eu deveria sofrer. Evitava dizer quanto
tempo ficaria longe, a bagunça no Texas estava crescendo, a Portões do
Inferno ficando ousada atacando nossa base e quase matando um Oficial
dos Bianchi.
Na hierarquia da Máfia Bianchi, os irmãos dos Herdeiros — o filho
primogênito que herda o cargo do pai na organização — assumem a
liderança como um Oficial Bianchi. Lidera um esquadrão especial, recebem
ordens diretas dos líderes e repassam aos soldados. São os responsáveis
pelas missões de campo e mantêm a ordem entre os soldados de baixa
patente. Não possuem prometidas e só firmavam alianças de casamento se o
Chefe julgar necessário.
Matthew estava na UTI, passou por uma cirurgia delicada no pulmão
devido a um tiro nas costas. E o humor do Michael não era dos melhores.
Entramos na sala de interrogatório. Em um lugar afastado de Austin
temos uma base murada, mais forte e protegida, o centro de operações mais
bem equipado dos Bianchi. Belarc movimentou o Esquadrão da Morte para
darem suporte e agirem como a principal força de ataque. Precisava
terminar de montar o plano de ataque até a meia-noite de hoje, mas antes
iria garantir que o Michael não matasse os inimigos capturados.
Michael não perdeu tempo, avançou para cima do homem amarrado
pelos punhos preso a correntes no teto. O soco atingiu violentamente as
costelas do alvo. Ele parecia uma besta descontrolada, atingindo socos
poderosos, chutes fatais. O homem gemia, xingava, as correntes balançaram
jogando o corpo de um lado para o outro. Michael o fez de saco de
pancadas e só parou quando sangue manchou suas mãos.
Estendi uma toalha para ele limpar os dedos. Michael cuspiu no
chão indo para a mesa com instrumentos de tortura. Analisando
cuidadosamente qual seria o primeiro objeto usado.
— Eu odeio perder tempo fazendo perguntas — Michael falou
segurando um pedaço de ferro fino e pontudo. — Você sabe o que eu quero
saber, então quando estiver pronto para falar pode começar.
Com o ferro na mão se aproximou do homem, segurou os cabelos
dele puxando a cabeça para trás esticando o pescoço do desgraçado. Levou
o ferro para dentro da narina do sujeito. O sangue jorrou manchando a boca
e o queixo, e sujando a mão do Michael que tinha a expressão carregada de
fúria, rasgando o nariz do homem de dentro para fora. O homem se
contorcia, gritava se engasgando com o sangue, o ferro perfurou saindo
quase no olho dele.
Michael repetiu o mesmo processo na outra narina arrancando a
ponta do nariz com brutalidade ao passar o ferro pela carne e puxar. Sangue
espirrou em seu rosto. Sem dar trégua ao desgraçado chorando de dor,
Michael enfiou o dedo na carne aberta puxando para cima expondo o osso
do nariz.
— Quem foi o mandante do ataque? — perguntei.
Era inútil esperar que o Michael fizesse o interrogatório, ele
explodia de raiva pelo irmão que estava na UTI gravemente ferido. Toquei
o ombro do meu Chefe em um sinal para ele pausar a tortura, só usaria a
cartada da Hope se o Michael estivesse quase matando o inimigo.
— Essa merda dói. — Cuspiu sangue, os olhos vermelhos, o rosto
cansado, mas a atitude de quem não pretendia entregar o líder.
— Ele ainda não quer falar — Michael se afastou pegando a
furadeira — vou ser mais criativo.
— Pegamos um dos leais. — Bati em seu rosto. — Do que vai
adiantar se manter calado? Seu chefe não virá te salvar, se falar podemos te
dar uma morte rápida, caso se recuse meu Chefe vai arrancar a pele do seu
corpo, perfurar seus ossos e te fazer tremer de dor desejando que o capeta te
salve.
— Vai se foder — rosnou.
A voz dele soou estranha, com o nariz arrancado e sangue
encharcando sua boca, ele não conseguiu pronunciar as palavras com a voz
limpa. Voltei a me escorar na mesa deixando Michael assumir a tortura.
Teríamos de quebrar o desgraçado para conseguir alguma informação de
valor.
Michael ligou a furadeira, agarrou os cabelos do homem enfiando a
ponta afiada na testa dele. Levantei, precisei ficar atento ou o Michael
mataria o homem furando seu cérebro.
O som do crânio sendo perfurado ressoou alto na sala, quase
abafando os gritos do homem que se debatia enlouquecido. Michael puxou
a broca evitando chegar perto do cérebro, abrindo buracos em outras partes
da testa, perfurou as bochechas, um olho e o maxilar. O rosto do desgraçado
parecia um queijo suíço.
— Mais uma chance — falei, Michael o largou procurando o
próximo objeto de tortura.
— A ordem… era… matar… Matthew… — revelou, respirando
cansado pela boca.
— Por que o Matthew? — Michael perguntou, enfurecido.
— Nunca foi… inten..ção… o Texas. — Cuspiu, os dentes cobertos
de vermelho.
— Continue falando. — Aproximei-me.
— Destruir… Bianchi. — A cabeça pendeu para trás.
— Qual o nome do seu líder? — Puxei a cabeça dele encarando o
olho bom, quase fechado pelo cansaço da dor.
— Lux… Vegas… Bonnarro… Três. — Começou a balbuciar não
conseguindo manter a consciência.
— Essa última não fez sentido — Michael falou. — Vou te dar um
incentivo para ser claro. — Aproximou-se do homem com uma serra. —
Começarei por sua perna, seja firme, campeão.
— Chefe, a Hope está ligando. — Entreguei meu celular a ele.
Se o Michael continuar não vou descobrir o que preciso. Não foram
informações fragmentadas, ele tentava dizer alguma coisa, mas a dor o
impediu de formar frases completas.
Michael se afastou limpando o sangue das mãos. Segurei o homem
pela cabeça, bati em seu rosto furado o forçando a ficar acordado.
— Por que você citou os Bonnarro? O alvo do seu chefe é a minha
família?
— Bonnarro… destruir… todos… — Apagou.
— Isso está estranho — encarei o Michael — julgamos que os
ataques no Texas eram devido à disputa por território, mas se o alvo de
ontem era o Matthew e o líder deseja destruir os Bonnarro, é um ataque
pessoal a Máfia Bianchi. Estamos encarando a situação de forma errada. —
Soltei o corpo do homem, percebi que ele morreu.
— Me incomoda as palavras “Lux”, “Vegas” e “Bonnarro”. Pode
significar que o inimigo se esconde em Vegas, próximo dos Bonnarro. —
Apontou para mim. — Vocês possuem um cassino chamado “Lux”. Quem é
o gerente-geral dele?
— O marido da minha tia Valentina, Bruce Bonnarro. — Revirei os
olhos, odiava o babaca. — Assumiu nosso sobrenome para conseguir cair
nas graças do meu pai, se arrastou até o posto de gerente-geral.
— Temos motivos para suspeitar dele?
— Eu não gosto do cara, mas pode ser meu lado pessoal falando.
Profissionalmente ele sempre foi competente. Rondava meu pai querendo
prestígio na organização. Vou mandar investigar o Bruce.
— Faça em completo segredo, não quero confusão por saberem que
estamos investigando um Oficial Bianchi. Não deixe passar nada suspeito, o
diabo nos derrota se escondendo nos detalhes.
— Sim, Chefe.
— Vou me recolher, sugiro que faça o mesmo. Já faz 24 horas que
não dormimos, amanhã o dia será longo. Conseguimos capturar somente 12
dos 20 homens que participaram do ataque. Quero a cabeça de todos. Vou
interrogar os outros pela manhã, talvez consiga alguma informação
importante, mas duvido. Além do miserável morto, não prendemos outro
líder, somente soldados rasos.
— Teremos um longo trabalho pelo resto da semana. — Bati em seu
ombro.
Segui com o Michael para os nossos aposentos. A base em que
estávamos era usada no passado para atividades militares. Compramos pela
estrutura forte e segura, fácil de detectar invasores, ágil para contra-atacar,
perfeita para esconder nosso exército e os homens treinarem. Entrei no
quarto, tranquei a porta e fui tomar um banho, limpei todo o sangue antes
de deitar na cama e ligar por videochamada para a minha esposa.
— Oi, amor. — Ela atendeu cansada.
— Acordei você?
— Não consegui dormir bem, estava esperando sua ligação. Como
estão as coisas por aí?
— Os pesadelos te incomodam?
— Não, só a saudade.
— Também sinto sua falta, minha tempestade. — Sorri encarando o
rosto sonolento do outro lado da tela.
— Quando você volta para casa? — Josephine perguntou.
— Não tenho certeza. — Observei ela bocejar cansada. — Preciso te
pedir um favor, fique longe dos maridos das minhas tias. Geralmente minha
mãe os evita, mas caso encontre com eles não converse.
— Não conseguiria ficar na presença dos desgraçados. — Revirou
os olhos. — Mas aconteceu algo para o aviso?
— Só uma suspeita, um dos inimigos disse algo que deixou a mim e
ao Michael em alerta. Tome cuidado.
— Ficarei esperta. — Bocejou novamente. — Kennedy marcou
minha primeira consulta com a obstetra para a próxima semana.
— Qual o horário e dia? Me mande a localização da clínica, vou
com você.
— Quinta, às 9 horas da manhã. Você realmente vai conseguir me
acompanhar?
— Não perderei um segundo da gestação do nosso filho. Vou te
acompanhar em todas as consultas, sem falta, minha deusa.
— Eu acredito em você, meu amor. — Bocejou em meio a um
sorriso.
— Vai dormir, minha deusa.
— Podemos dormir juntos.
Ela se deitou, imagino que apoiou o celular do travesseiro, o rosto
iluminado pela tela. Imitei sua posição, conversamos mais um pouco até ela
dormir, não desliguei a ligação, adormeci encarando minha esposa.
Matthew passou uma semana na UTI, antes de ser transferido para
Nova Iorque, onde estava sendo cuidado no hospital de confiança dos
Bianchi. Michael ficava alternando entre viajar para Nova Iorque e vir para
o Texas. Essa semana chegou o reforço de 5 mil soldados para preparar o
contra-ataque. Meus dias foram corridos. Fiquei preocupado com a
possibilidade de não conseguir acompanhar a Josephine, não queria perder a
primeira consulta do meu filho.
— O que você tem? — Michael perguntou, analisando nossa
estratégia para invadir uma empresa de fachada da Portões do Inferno,
usada para o transporte aéreo de tráfico de mulheres.
— Hoje a Josephine tem uma consulta às 9:00 horas. Queria estar
presente, mas…
— Pode ir, eu dou um jeito nas coisas.
— Obrigado!
Não esperei sua resposta, liguei para o piloto do helicóptero
avisando nosso destino. Entrei na aeronave rezando para conseguir chegar a
tempo. Do Texas para Las Vegas era um voo de 3 horas. São 6 horas da
manhã, tenho chances de conseguir.
Meu desespero aumentou ao perceber que a consulta da Josephine é
em menos de 1 hora e ainda estava sobrevoando a cidade de Henderson,
próxima a Las Vegas. Ela me enviou uma mensagem dizendo que estava
indo para a clínica, fiquei louco, precisava chegar a tempo.
Finalmente o helicóptero pousou em um heliporto particular de um
amigo, no alto do prédio mais próximo à clínica da médica. Sabia que se
fosse de carro iria me atrasar devido ao trânsito infernal de Las Vegas, por
isso quando saí do elevador comecei a correr. Eduardo e outros soldados me
acompanhavam. Passei pelas pessoas como um foguete, desesperado para
chegar a tempo. Avistei a clínica, passei pelas portas de vidro, me informei
com a recepcionista o andar, não tive tempo para esperar o elevador, corri
subindo as escadas para o quarto andar.
Irrompi pela porta encontrando minha esposa em pé falando com a
atendente da obstetra. Josephine virou o rosto, os olhos se encheram de
emoção ao me encontrar. Um pouco sem fôlego caminhei até ela, segurei
seus ombros ao ouvir a atendente perguntando.
— Qual o nome do seu acompanhante?
— Black Bonnarro — respondi. — O pai da criança.
— Podem entrar, a doutora Grace espera por vocês. — Sorriu.
— Você conseguiu. — Josephine não conteve a alegria no rosto.
— Eu te prometi sempre estar ao seu lado — alisei sua barriga —
não vou perder uma consulta do nosso bebê.
Beijei a testa da minha esposa, aliviado. Não importava a
dificuldade enfrentada, Josephine e nosso filho seriam a minha maior
prioridade.
— Senhora Bonnarro, se continuar engordando teremos de fazer
uma cesariana. Você ganhou 5 quilos nos últimos 3 meses, e não foi devido
à gravidez.
— A culpa é da minha sogra, essa mulher vai me fazer explodir de
tanto comer!
A doutora Grace, minha obstetra, franziu o nariz não acreditando nas
minhas palavras. Sabia que estava no limite do peso ideal para a gravidez.
Com o fim do primeiro trimestre meu bebê media aproximadamente 6
centímetros e ganhou alguns gramas com o seu desenvolvimento. No
ultrassom pude ver os bracinhos formados, as perninhas e a cabeça maior
que o resto do corpo. Ele era a coisa mais linda do universo!
— Vou te deixar longe da minha mãe — Black disse segurando
minha mão.
Deitada na maca observamos nosso pequeno através das imagens
3D. Não conseguia acreditar que o Black tinha vindo para a consulta. A
situação no Texas não era boa, meu marido passava mais tempo lá do que
em Las Vegas. O vi pouco nos últimos 3 meses, ele sabia que minha
consulta era hoje de tarde e apareceu 10 minutos antes de eu entrar no
consultório. Quase chorei de saudade e emoção pela sua dedicação.
Apesar da dificuldade enfrentada para acabar com a guerra no Texas,
que se tornou alvo dos jornais devido à destruição causada com tiroteios em
algumas cidades, o Black se esforçava para estar presente, comparecer às
consultas, me ligar todos os dias, aparecer de surpresa para passar somente
algumas horas ao meu lado. Quando ele chegava de madrugada, puxava
meu corpo o colando com o seu e beijava meu pescoço para dormimos
juntos e partia de manhã cedo, eu o amava cada vez mais.
— A Kennedy endoida se você fizer isso — respondi.
— Provavelmente, ela ama mais a você do que a mim. — Riu
gostoso.
— Olhem aqui, mamãe e papai. — Grace apontou para a tela. —
Conseguem ver as pálpebras do bebê? Os lóbulos da orelha também se
formaram perfeitamente!
— Ele consegue nos ouvir? — Black perguntou aproximando o
rosto da tela, meu marido sorriu emocionado.
— O bebê passará a ter tempo de vigília e sono. Podem conversar
com ele, estimular o desenvolvimento. Ainda é cedo para ele começar a
mexer, possivelmente vai sentir somente entre a 16ª e a 18ª semana de
gravidez.
— Será que é estranho? — Franzi o nariz imaginando a sensação de
ter alguém dentro de mim me chutando.
— Talvez você sinta desconforto ou alguma gastura, é normal. —
Retirou o aparelho de ultrassom da minha barriga, passou um pano
limpando o gel frio. — Por enquanto, vamos aguardar os resultados do
exame de sangue para saber mais como se desenvolve a gravidez. Pode se
vestir, te espero na minha sala para conversarmos mais sobre o ganho de
peso.
— Josephine seguirá a dieta da nutricionista — Black avisou. —
Chega de brunch com a minha mãe e lanches na madrugada.
— Você terá de dizer isso à Kennedy. — Sentei, abaixando a blusa.
— Traga sua sogra aqui que conversarei com ela, é importante
controlar o peso do bebê e da mãe para um parto tranquilo — Grace avisou.
Kennedy nunca conseguiu me acompanhar em uma consulta, mesmo
com o caos do Texas, Black sempre esteve presente segurando minha mão e
ouvindo com atenção as recomendações sobre os cuidados com o bebê. As
atitudes dele me dão certeza sobre o pai maravilhoso que ele será.
— Farei isso — Black respondeu.
Grace sorriu deixando a sala de ultrassom. Meu marido passou o
braço debaixo dos meus joelhos e da coluna me erguendo no ar. Pisei no
chão frio, calcei a sapatilha com sua ajuda. Black beijou minha têmpora
carinhosamente alisando meu ventre. Ficou de joelhos, segurou a barra da
calça puxando para cima, fechou o botão e beijou minha barriga, ajeitando a
blusa no lugar.
— Você precisa ajudar o papai a controlar a mamãe. Sei que ela é
complicada de se manter na linha, mas faça uma forcinha, carinha.
Alisei os cabelos do Black, sempre ficava emocionada ao vê-lo
conversando com nosso filho. Minha barriga lentamente ganha a forma de
uma gravidez. O ventre protuberante já era visível debaixo das blusas. As
cicatrizes não conseguiam mais me incomodar e eu permitia que os
familiares tocassem meu ventre despejando amor no meu bebê.
A família Bonnarro de Las Vegas me recebeu de braços abertos.
Adorei as tias da Hope, e lamentava os maridos escrotos com que eram
casadas. A família da Kennedy era quase toda de italianos, me ensinavam o
idioma nas reuniões e me divertia com todos. Parecia que eu vivia em um
sonho, se não fosse a saudade do meu marido, atormentada por sua
distância forçada.
— Senti sua falta. — Black se ergueu, falando baixinho, puxando
minha cintura contra a sua. Faz três semanas que eu não o vejo.
— Eu também. — Envolvi seu pescoço.
Fiquei na ponta dos pés, estiquei o pescoço colando nossas bocas. A
mão na minha cintura puxou para cima, segurando meu corpo me erguia no
ar. Passei as pernas ao redor de sua cintura, morrendo de saudades de ser
tocada por ele. Do contato íntimo só nosso. A vagina doía de aflição,
implorando para ser preenchida por seu pau.
Percebi o cansaço nas feições do meu marido, as noites sem dormir e
o estresse com a situação. Precisando correr entre o Texas e Las Vegas,
enfrentando reuniões exaustivas e a pressão para acabar com a guerra que
se alastrava cada vez mais. Não contei para o Black, mas tinha medo do
nosso filho nascer e ele não estar aqui.
Black merecia acompanhar o parto do bebê e seu crescimento de
perto, dando ao nosso filho todo o amor transbordando de seu peito.
Ouvindo o chorinho do pequeno, sentindo a pele macia. Participar do
crescimento do nosso filho, sem pequenos momentos através da tela de um
celular. Era injusto que tenhamos de ficar longe, após o pequeno espaço de
tempo que tivemos juntos.
— Vai ficar quanto tempo? — perguntei finalizando o beijo, com
medo de sua resposta. Os olhos cansados apertaram meu peito.
— Volto para o Texas de madrugada, em uma hora vou liderar uma
reunião em Las Vegas. Estamos tendo problemas com a administração de
um cassino. Prometo voltar para te ver antes de partir.
— Não quero que você vá. — Abracei-o com força, não queria
largar. — Não vou te soltar. — Segurei as lágrimas, a saudade torturando
meu peito, afundei o rosto na curva do pescoço inspirando o cheiro do
Black.
— Minha deusa — murmurou triste alisando meus cabelos.
— Diz que você está perto de resolver a situação, que essa merda vai
acabar e voltar para casa.
— É o meu maior desejo. — Beijou minha bochecha. — Precisamos
conversar com a médica, quero aproveitar um pouco do meu tempo com
você, estou morrendo de saudades. — Mordiscou minha orelha.
Três semanas sem sentir o corpo dele sobre o meu, sem receber seus
beijos apaixonados e sem delirar de prazer no amor gostoso que fazemos.
Se eu me apegar à tristeza por sua iminente partida, não conseguirei
aproveitar os minutos que me restam em sua companhia.
— Você tem razão. — Encarei o verde de suas íris.
— Desculpe — pediu baixinho.
— Não é sua culpa, encontre o líder dessa maldita organização e o
faça pagar pela saudade que sentimentos.
— Deixarei o miserável em pedaços. — As mãos apertaram minha
bunda, antes de me fazer descer de seu colo.
Segurei sua mão, saímos da sala de ultrassom e entramos no
escritório da doutora. Ela me alertou novamente sobre o peso, dei minha
palavra de que tomaria cuidado para não engordar, fazer meus exercícios
físicos recomendados.
Terminamos a consulta e deixamos a clínica. Entrei no carro com o
Taylor ao volante. Odiei o fato desse modelo não ter uma divisória entre o
banco do motorista e o passageiro. Ardia de vontade de ficar a sós com o
Black e aproveitar a intimidade com meu marido, mas com os seguranças
presentes não conseguiria aproveitar em paz.
Black passou o cinto ao meu redor, se assegurando da minha
segurança. Envolveu o braço nos meus ombros e veio beijar meus lábios.
Agarrei a lapela de seu paletó, afundei a língua na sua boca, aflita querendo
um contato maior, o sentir dentro de mim. Rosnei frustrada por não
conseguir o que desejava. Poderia culpar os hormônios da gravidez pelo
meu desespero, mas sabia que era fruto da paixão ardente pelo Black.
— Calma — ele pediu baixinho, agarrou minha coxa, o polegar
roçando minha virilha. — Não posso te atacar na frente do segurança.
— Manda parar o carro e eles saírem. — Mordi seu lábio quase
arrancando um pedaço.
— Josephine — meu nome saiu de sua boca carregado de erotismo.
Meti a mão dentro de seu paletó puxando a cintura larga para mim.
Black atacou minha boca faminto, respirando pesado contra meu rosto em
um beijo afoito. A língua deslizou tocando minha garganta. Abri o máximo
que pude, separei as coxas mexendo o quadril esperando fazer sua mão
subir. Ganhei um resvalar de dedos na intimidade coberta, gemi apertando o
pescoço do Black com a outra mão.
Senti o movimento do carro parando, abri um olho percebendo que
estacionava em um dos cassinos. Black puxou a boca para longe sorrindo
safado, ergueu a sobrancelha em uma pergunta silenciosa e soube o que
faríamos naquele lugar. Soltei o cinto, ele se libertou do seu. Taylor abriu a
porta para mim, desci acompanhada de meu marido.
O cassino Lux era esplendoroso, enorme, metros quadrados de pura
ostentação. Ainda não tinha conhecido os cassinos, Kennedy não os
frequentava, ela preferia os clubes. Consegui entender o motivo, o saguão
lotado de pessoas, algumas máquinas de caça-níqueis faziam barulho.
Minha sogra preferia tranquilidade e conversas amenas com as amigas da
alta sociedade. Ontem conheci a esposa do senador, uma mulher fina, culta
que adorava conversar sobre os países visitados.
— Queria te apresentar o cassino com mais calma, mas tenho uma
reunião sobre ele em 30 minutos, precisamos nos apressar — Black disse
me puxando pela mão, entramos no elevador de vidro.
O Lux não era somente um cassino de luxo, mas um hotel 5 estrelas
frequentado pela alta sociedade. Recebia por dia inúmeros hóspedes
importantes, pessoas do governo e estrangeiros de prestígio, como um
príncipe da Arábia Saudita.
Meu sogro adorava conversar sobre a importância dos Bonnarro e
seus negócios, me preparou para qualquer encontro relevante. Eu amo como
o Bartolomeu se preocupou em me fazer sentir parte da família, explicava
sobre os negócios lícitos e se oferecia para me mostrar os cassinos, sempre
aceitei, o Lux foi um dos poucos que ainda não tínhamos vindo.
Era divertido como o Bartolomeu e a Kennedy disputavam a minha
atenção. Eles tornaram a ausência do Black suportável. Às vezes eu dormia
na casa deles, não gostava de ficar sozinha na minha. Enchi o lugar de vida
e com a decoração que me agradava, mas nada conseguia apagar a solidão
de não poder aproveitar minha morada com meu marido.
As portas se abriram dando entrada ao corredor da área presidencial.
Segui o Black sentindo um misto de saudade avassaladora e dor pela nossa
despedida apressada. Com um cartão de acesso abriu a porta do luxuoso
quarto. Mal tive tempo de olhar o lugar, fui erguida no ar pelo meu marido
cheio de fogo. Fechou a porta com o pé. Bati contra a parede, agarrei a
barba do Black puxando seu rosto, enfiando a língua em sua boca,
devorando seu sabor e matando minha angústia.
Ele rosnou irritado, tentou retirar o botão da minha calça, mas não
conseguiu. Empurrei o paletó em seus ombros removendo a peça incômoda.
Agarrei as bordas da camisa de linho, puxando-a, os botões voaram junto
com o da minha calça. Estávamos famintos um pelo outro, as roupas se
tornaram um empecilho.
Black meteu a mão na minha bunda baixando a calcinha e a calça.
Arfei soltando sua boca. Ele ficou de joelhos retirando minha sapatilha,
puxei a perna removendo a calça de um pé. Black agarrou minhas coxas,
bati novamente contra a parede, agarrei seus cabelos, arfei recebendo a
lambida na vagina quente.
Eu fervia por dentro, desesperada para ser consumida pelo meu
homem. Black não teve cuidado ao enfiar a língua no meu interior, morder
minha carne, rodar o clitóris sensível com o polegar arrancando longas
ondas de prazer do meu corpo cheio de saudades.
— Céus, Black! — gritei seu nome.
Em chamas arranquei minha blusa e me livrei do sutiã. Ondulando
no rosto do meu amado. Black ficou de pé, meteu a boca na minha socando
dois dedos no meu interior. Gemi sofrida, precisando de mais. Arranquei o
cinto da calça, puxei os botões com os dedos tremendo, esquentando cada
vez mais. Puxei o pau enorme para fora, afastei a boca da sua e escapei de
seus dedos ficando de joelhos, devorei a carne inchada com força, sugando
a cabecinha rosada.
Como eu senti falta de devorar meu homem com a minha boca!
Agoniada agarrei o pênis robusto com as duas mãos. Black gemeu,
apoiado na parede segurando minha cabeça no lugar. Cada lufada rouca
escapando de seus lábios inchados era um incentivo para continuar sugando
com força, socando a cabecinha macia na bochecha, engolindo o
comprimento o máximo que podia, massageando a extensão com ambas as
mãos.
Minha boceta explodiu em líquidos molhados, louca para ser
comida, duelava entre continuar metendo seu pênis na boca ou ficar em pé
o recebendo em meu corpo. Black decidiu acabar com a minha dúvida,
puxou os meus ombros. Larguei seu pau com um “ploc”. Agarrou minhas
coxas me abrindo, pulei rodeando as pernas em seu quadril, agarrei os
ombros fincando as unhas. Beijei sua boca desesperada.
O pênis tocou o meu interior, gemi, mordi, rebolei, uma mistura de
ações desesperadas, devorei meu marido com a minha alma. A saudade
tornando nossa fome maior. Esfreguei os peitos em seu peitoral musculoso,
finquei as unhas nos ombros, adorando a sensação da pele do Black contra a
minha. Não conseguimos sair da entrada do quarto. Bati novamente as
costas na parede. Black começou a socar com tanta força e velocidade que
não aguentei continuar o beijando.
Meus gemidos entrecortados, as pernas deslizando ao seu redor, a
vagina explodindo, apertando o pau do Black para aumentar o contato nu
entre nossas carnes. As mãos segurando minha bunda com força,
arregaçando meu cuzinho pela puxada violenta, os dedos resvalando a área
intocada. Berrei ao ter um novo ponto atingido sem pena pelo pênis me
comendo como um animal.
— Inferno, Josephine, vou explodir comendo sua bocetinha gostosa.
— Rosnou contra o meu rosto, ele mal conseguiu respirar, concentrado no
movimento incessante do seu quadril socando e puxando.
— Mete em mim, amor — pedi, apoiando a cabeça na parede, senti
os fios de cabelo ficando presos, enrolando pelo movimento rápido.
— É uma tortura ficar longe da sua bocetinha, faz ideia de quanta
punheta bato pensando em você? — Desceu o rosto cheirando meu
pescoço, animalesco.
— Ãhn, Black! — gemi, esquecendo que me fez uma pergunta, cada
segundo mais envolvida pelo tesão arrebatador correndo pelo meu sistema.
— Isso mesmo, porra, estrangula meu pau com essa boceta apertada.
— Berrei recebendo a brusquidão de sua investida. — Rebola como uma
putinha, mostra como você me deseja. — Meteu a mão no meu cabelo
puxando minha nuca, devorando minha boca.
Remexi o quadril, esfregando o clitóris no abdômen sarado. Black
pingava de suor, a luz proveniente das janelas iluminando o rosto banhado
de prazer, o corpo brilhando pelo esforço físico. Eu deslizei contra ele com
facilidade, me jogando sem reservas no redemoinho de luxúria queimando
nossos corpos, extrapolando a saudade enlouquecedora.
Abri a boca, desci o rosto enfiando na curva do pescoço do Black.
Mordi o trapézio, amei o gosto de sua carne suada pelo sexo, o cheiro
másculo inundando meus sentidos. Rebolei o quadril ensandecida, fora de
controle, sentindo a loucura do orgasmo crescendo por um triz de explodir.
— Come meu pau, caceta! — Black ordenou batendo na minha
carne macia.
Foi o meu fim. A cabeça pendeu para trás encostando na parede, a
vagina o apertou com tanta força que jurei que arrancaria o pau do Black.
Tremi, braços, pernas, garganta com gemidos entrecortados, encarei o teto
do quarto me perdendo no delicioso redemoinho do orgasmo. Mal pude
acreditar na explosão devastadora varrendo meu corpo.
Black apertou a mão na minha bunda, trouxe minha nuca para a
curva de seu pescoço, meteu a boca na minha orelha e gemeu como um
animal. Esporrando as evidências do seu orgasmo no meu interior, ele
continuou metendo, socando devagarinho, acalmando a respiração e
controlando o corpo. Me apoiei mais nele, subindo ao escorregar um pouco.
Tirei a cabeça do meu esconderijo e sorri para o Black, amando o sorriso
em sua face.
— Oi — falei cansada.
— Tudo bem? — perguntou risonho.
— Muito, não passamos da entrada. — Controlei o riso.
— Planejava te levar para o quarto, mas iríamos perder tempo no
processo.
— Você tem mesmo que ir? — Alisei suas bochechas, triste pela
partida.
— Infelizmente — suspirou. — Quer ir para o Texas comigo?
— Não é perigoso?
— Pra cacete. — Encostou os lábios na minha bochecha. — Eu te
protejo. Ao menos uma semana, vem ficar comigo ou vou morrer de
saudade.
Eu queria aquilo como doida, poder aproveitar um pouco do meu
marido, dormir e acordar com ele ao meu lado. Sabia dos riscos que
podíamos correr, mas o Black tinha certeza de que me protegeria e eu
confiava nele.
— Vou perder alguns dias de aula.
— Só venha se não for te prejudicar na faculdade. — Respirou
cansado. — Estou começando a colocar as coisas em ordem. Destruí uma
base importante deles em Dallas, contive a invasão dos inimigos e há uma
semana não temos interferência no nosso território. Mais um pouco e essa
guerra acaba.
— Você já sabe quem é o líder?
— Não, estou com um plano em ação para capturar um dos
comandantes, descobri a empresa de fachada dele e os horários de trabalho.
Vou fazer o desgraçado entregar o cabeça da organização.
— Promete não se forçar demais? Você está muito cansado. —
Beijei seu nariz.
— Vou descansar com você ao meu lado. — Apertou meu corpo em
um abraço. — Estou recarregando as energias nesse segundo.
— Eu te amo, Black, e estou louca de saudades. — Beijei seu
pescoço.
— Também te amo, Josephine. — Alisou meu cabelo. — Fique no
quarto, vou para a reunião e volto para ficarmos juntos antes de voltar ao
Texas.
— Dê uma surra nesses safados que estão causando confusão e
atrapalhando nosso reencontro.
— Vou arrancar o dedo do gerente-geral. Ele tem causado problemas
na administração.
— Adoro seu jeito de homem de negócios. — Encarei os quartzos
em seu rosto. — Mas não esqueci que em Las Vegas tem arenas de luta,
preciso assistir meu homem lutando e torcer por ele. Vou jogar minha
calcinha no ringue como incentivo.
Black riu gostoso, acompanhei o som da sua risada, beijando os
lábios dele.
— Vou providenciar. — Beijou meu nariz. — Preciso ir, vai me
esperar?
— Sempre. — Colei nossos lábios.
Odiei deixar Josephine na suíte presidencial. Foram 3 meses de uma
saudade enlouquecedora. Não posso deixar o Texas por mais que algumas
horas. A situação ficava cada vez mais difícil. O que mais me enlouquecia
de raiva eram os desgraçados estarem sempre um passo à frente. Se eu
planejava um ataque os desgraçados se antecipavam, limpavam o local,
fugiam horas antes e depois revidavam com uma emboscada.
Michael estava ficando louco, Kai perdeu a paciência e começou a
agir ativamente nos ataques, liderando, buscando o motivo de nossas
investidas darem errado. Daniel era o mais calmo e calculista, foi o
primeiro a perceber que tínhamos um traidor. Não sabíamos quem era, por
causa disso precisávamos trocar toda a equipe que atuava no Texas.
Não podia confiar nos nossos soldados, principalmente nos
proveniente dos Bonnarro. Eu tive certeza que o rato se escondia entre um
dos meus homens. Excluí todos os esquadrões formados pelos Oficiais
Bruce, Clark e Lewis, não confiava nos maridos das minhas tias. Mantive
somente minha equipe, a do meu pai, do Steve e de dois irmãos da minha
mãe, os italianos enviaram alguns reforços para completar nossas forças.
Os homens do Gael chegaram mês passado, liderados pelo Dante
agiam como espiões, buscando pelo rato atrapalhando nossos planos. Após
a troca de esquadrões conseguimos realizar a primeira operação com
sucesso. Invadimos um galpão da Portões do Inferno, capturamos um
comandante e acabamos com uma de suas várias redes de tráfico humano.
Steve cuidava de Nevada, protegendo nossa família, atento aos
negócios, meu braço direito. Aos poucos as coisas pareciam se acalmar, as
invasões corriqueiras ao nosso território no Texas cessaram. Retirei o toque
de recolher, com a ajuda do Capitão Moore a paz começou a ser
estabelecida e foi somente por isso que consegui focar no gerente-geral do
cassino Lux. Investigando a vida do Bruce percebi uma atividade suspeita,
uma vez por mês ele sumia durante 12 dias. Era cuidadoso para se esconder,
ainda não sei para onde ele ia.
Clark e Lewis, apesar de serem filhos da puta, não levantaram
comportamento suspeito. Os cassinos administrados por eles iam bem e
cumpriam seus deveres na organização, mantinham a paz em Nevada sem
causarem problemas ao Steve ou a mim. Às vezes Clark ligava, pedindo
conselhos, ele tomou cuidado em suas ações para não fazer algo que me
irritasse. Lewis era mais contido, mandando relatórios diários.
Mas o Bruce andava descuidado. Faltando ao trabalho sem
explicação, brigando com os funcionários, demissões injustificadas. Os
soldados liderados por ele começaram a apresentar comportamento
suspeito, saiam de suas rondas, pediam transferência de esquadrão, fugiam
de ficar perto do líder. Não existe nenhuma relação do Bruce com o Texas
ou a Portões do Inferno, mas ele não sai do meu radar e a falta de provas me
deixou intrigado.
Somente por isso deixei minha esposa na suíte de luxo e segui para a
sala de reuniões. Atravessei a porta encontrando o grupo de funcionários
responsável pela administração da Lux. Sentei na cadeira de presidente na
ponta da mesa, encarei os homens e mulheres presentes, alguns parentes,
outros funcionários dedicados que não sabiam sobre a Máfia.
— Bom dia, senhores e senhoras. O que está acontecendo com a
Lux? Tivemos uma queda de 29% nos lucros no último mês, hóspedes
cancelando as reservas e escolhendo outros cassinos ou hotéis. Recebi
ligação de hóspedes VIP’s e VVIP’s reclamando do serviço e
principalmente do gerente-geral, que parece ter esquecido que ele não é o
dono da Lux! Onde você estava com a cabeça para desrespeitar a filha do
senador!?
Apesar da raiva, mantive a voz controlada, não podia explodir na
frente dos funcionários, tenho uma reputação para zelar e Bruce aprendera
que não podia mexer comigo sem receber punição.
— A filha do senador estava fazendo uma festa proibida na suíte,
com drogas e pessoas filmando. Eu só interrompi a farra antes que a polícia
chegasse — Bruce falou, o desgraçado exalou confiança. Diferente de
quando meu pai era seu líder, Bruce quis me enfrentar.
— E quem chamaria a polícia, você? — Arqueei a sobrancelha.
O homem engoliu em seco apertando a gravata. Os quartos
presidenciais possuem isolamento acústico, festas acontecem sem
incomodar outros hóspedes. Nenhum funcionário do hotel chamaria a
polícia, não importa o que acontecer.
— Os milhões de dólares pagos à polícia para não interferirem nos
meus cassinos é para hóspedes como ela poderem aproveitar sem
interrupções! A garota poderia ter matado alguém e isso não te daria o
direito de apertar o pulso dela a expulsando do cassino!
Apertei o punho querendo socar a cara dele, me controlando, não
perderei a razão na frente da minha equipe. Apesar da raiva, não alterei a
voz.
— Senhor…
— Cale a boca! — falei calmo, escondendo a fúria. — Gerente
financeira — fixei na mulher — explique a queda nos lucros!
— O senhor Bruce Bonnarro aprovou um novo orçamento,
diminuindo o salário dos funcionários e as horas trabalhadas. Em alguns
momentos algumas áreas ficaram sem um concierge. O que gerou um
desagrado, principalmente dos VVIP’s por não terem quem atendesse seus
pedidos.
— Tentamos contatar o senhor ou o senhor Steve Bonnarro para
rever a situação, mas fomos impedidos pelo gerente-geral com ameaças de
demissão — a gerente da área comum dos cassinos relatou. — Três da
minha equipe foram demitidos na última semana, depois que enviei ao
senhor o relatório sobre a situação do cassino.
— Eu sou o presidente do Grupo Bonnarro, com a maior
concentração das ações de cada cassino e hotel. É inadmissível que a
situação tenha chegado nesse nível por causa de um simples gerente-geral.
— Encarei o Bruce. — Você está demitido, passe no RH para assinar a
demissão e nunca mais ouse pisar nos meus cassinos.
— Black! — ele ousou gritar meu nome.
— Eduardo — chamei o líder da minha equipe de segurança,
ignorando o Bruce. — Acompanhe o Bruce, depois o leve para o complexo,
temos muito o que conversar.
— Sim, senhor — Eduardo respondeu, entendendo que Bruce será
jogado em uma sala de interrogatório.
— Nomearei como gerente-geral aquele de vocês que obtiver o
melhor resultado para aumentar o faturamento da Lux dentro de 10 dias. As
demissões serão revistas, tragam de volta os funcionários, retornem ao
horário de funcionamento normal, preencham cada corredor do cassino com
um concierge. Liguem para os VIP’s e VVIP’s pedindo desculpas pelos
transtornos causados, ofereçam vales-descontos e outras regalias para eles
voltarem. Que não se repita a ousadia de um gerente-geral tentar exercer
mais poder do que eu ou todos vocês serão demitidos e vou garantir que
ninguém consiga emprego em outro cassino ou hotel de Nevada.
— Sim, senhor — responderam.
— Comecem a apresentar os relatórios.
Escutei com atenção a fala de cada gerente responsável pelos setores
da Lux. O tempo inteiro quis voltar para a suíte e ficar com minha esposa,
mas foquei em resolver a bagunça causada na Lux com a minha ausência.
Se um dos meus cassinos ruísse seria como uma avalanche, todos os outros
enfrentariam problemas. A reunião foi exaustiva, após perceber a merda
que o Bruce fez marquei reuniões com a equipe administrativa dos outros
cassinos e hotéis, preciso da certeza de que outra merda como essa não vai
acontecer.
Estou física e mentalmente cansado, três meses intensos em uma
guerra no Texas, segurando as pontas em Nevada. Meus únicos momentos
de paz eram quando encontrava a Josephine e podia respirar tranquilo
beijando seus lábios de mel. Preciso da minha esposa ao meu lado, por isso
vou assumir o risco de a levar ao Texas comigo, mesmo que seja por uma
única semana, eu necessito dela para continuar respirando.
Passava das 22 horas quando finalmente entrei na suíte. Fui
deixando as peças de roupa jogadas no caminho entre o hall de entrada e o
quarto principal. Abri a porta com cuidado, encontrei minha linda esposa
deitada com um livro apoiado em um travesseiro, em cima de sua barriga, a
luz do quarto acesa, os olhos passando rapidamente pelas páginas. Relaxei
sentindo a paz invadindo meu corpo, era por ela que eu fazia aquilo.
Para que Josephine e meu filho pudessem aproveitar os dias de paz.
No momento dele me substituir, não enfrentará a tormenta de uma guerra.
Vou devastar a Portões do Inferno para meu menino não ser levado à
exaustão. Josephine notou minha presença, virou a cabeça com um lindo
sorriso me vendo parado no arco da porta.
— Vem para cá, amor — chamou docemente.
Acenei em positivo, exausto demais para falar. Ela colocou o livro
na mesa de cabeceira, se moveu para o lado erguendo o edredom. Enfiei o
corpo debaixo do calor confortável, deitei na cama. Josephine me cobriu e
veio para perto, segurei o ventre proeminente a puxando para mim, colei a
boca em seu rosto inspirando o cheiro de orquídeas.
— Dorme um pouco, amor. — Alisou minha barba.
— Preciso voltar para o complexo — murmurei sendo embalado
pelo carinho relaxante.
— Eu te acordo em cinco minutos. — Arrastou o nariz pelo meu.
Fechei os olhos, as pálpebras pesadas demais para continuarem
abertas. Puxei Josephine colando seu ventre no meu abdômen, sentindo
meu menininho protegido entre a gente. O pau flácido em cima da minha
coxa, não tive forças para ter uma ereção e fazer amor com minha esposa.
Um alerta do perigo de não tomar cuidado com minha saúde. Se algo
acontecesse agora, eu não teria forças para proteger quem amo, não posso
continuar assim. Preciso dar um fim a essa situação.
— Preciso… interrog…ar o Bruce — sussurrei, sendo vencido pelo
chamego da minha mulher.
— Eu te acordo, dorme um pouco — pediu baixinho soprando nos
meus lábios.
Apaguei derrotado pelo cansaço.
Black dormiu menos de um segundo após terminar de falar. Girei o
corpo deixando a cama, peguei meu celular e fui para a varanda do quarto,
enrolada no robe liguei para meu irmão. Não podia permitir que meu
marido continuasse se matando de trabalhar, nem que eu precisasse ir para
Nova Iorque falar com o Michael, ele iria aliviar para o Black.
— Phine, tudo bem? — Foi a primeira coisa que o Kai disse ao
atender a ligação.
— Estou bem e você?
— Morto. — Escutei o cansaço em sua voz. — Daisha está fazendo
fisioterapia para o braço, tenho me deslocado entre acompanhá-la nas
consultas, cuidar da construtora que começou a ter problemas com o alvará
de uma obra para a prefeitura e auxiliar na bagunça do Texas.
— Algum de vocês não está sobrecarregado? — murchei, como
pediria ao Kai para ficar no lugar do Black, se meu irmão exalava exaustão
na voz?
— A situação com o Texas tem roubado o sono de todos, ninguém
consegue descansar. — Suspirou. — Descobrimos a existência de um
traidor. Por isso nossos planos nos últimos 3 meses deram errado. Com a
troca de equipes as coisas estão melhorando, mas a passos lentos. É difícil
passar um pente fino em todos os esquadrões e continuar a vida de
empresário. Com o Matthew ainda se recuperando, o Michael tem
trabalhado em dobro. Não tenho nenhum Oficial para me ajudar, além dos
irmãos da Eleanor. Daniel e Dante estão fazendo o que conseguem para
manter as coisas no lugar.
— E o Belarc?
— Iniciou um novo treinamento com o Esquadrão da Morte, no
momento só podemos confiar neles para agirem em campo. Mas o que
aconteceu?
— O Black está muito cansado. — Sentei no sofá da varanda. — Ele
precisa descansar, não vai dar conta nesse ritmo.
— O Black é mais forte do que você imagina. Não precisa se
preocupar, estamos acostumados a trabalhar feito louco e logo resolveremos
essa situação.
— Você promete?
— Sim, seu marido acabará com essa guerra antes do meu sobrinho
nascer.
As palavras do meu irmão me confortaram. Não sabia como as
missões podiam ser cansativas. É a primeira vez que experimento a dor da
saudade por causa do trabalho. Lembro de quando o Kai voltava para casa
após uma missão, às vezes ele vinha manso atrás de conversa e eu o
expulsava, irritada com minha vida.
— Desculpe pelas vezes em que fui malvada com você após retornar
de uma missão.
— Não esquenta com isso, Phine. Somos homens de honra, é nosso
dever aguentar.
— É muito injusto — murmurei chorosa.
— Sabe o que faz todo o trabalho valer a pena?
— O quê? — Funguei.
— Voltar para casa e ver quem amamos seguro. O alívio e a
felicidade curam todas as dores. Vá ficar com seu marido, o encha de beijos
e carinho, ele ficará bem, eu te prometo.
— Farei isso. — Ergui-me. — Obrigada por me ouvir.
— Estou aqui sempre que precisar. — Pude sentir que ele sorria. —
Vou voltar para minha esposa e continuar recarregando minhas energias.
— Obrigada, Kai, por ser meu irmão.
— Obrigada, Phine, por ser a minha irmã.
— Você pode mandar a Lily para cá? Preciso de uma consulta —
pedi.
— Vou ver a agenda dela e marcar sua consulta, estive com ela
ontem.
— Foi muito difícil?
— E quando é fácil com a Lily? — Achei graça, ele tinha razão. —
Boa noite, Phine.
— Boa noite, Kai.
Desliguei o celular, retornei para dentro, deitei a cabeça no ombro
esticado do Black, envolvi sua cintura tocando a tatuagem nas costelas,
observei sua face cansada, beijei a ponta do seu nariz e adormeci grudada a
ele.
— Você não me acordou. — Despertei do sono com a voz rouca no
meu ouvido.
— Você não falou que horas eu deveria te chamar. — Alisei a barba
cheia, sorrindo sapeca. — Pensei em te acordar daqui a dois dias.
— Sua safadinha. — Agarrou minha cintura me fazendo rolar,
ficando em cima dele.
— Dormiu bem, amor? — Beijei seus lábios.
— Sim. — Roçou o nariz no meu.
— Vou para casa arrumar minhas malas para ficar uma semana com
você no Texas. — Se eu estiver por perto vou conseguir fazer o Black
descansar, mesmo que pouco, cuidarei do meu marido.
— É isso que eu chamo de bom dia.
Grudou a boca na minha, começando a ficar animado, sorri em meio
ao beijo, nada nesse mundo me faria ficar longe do Black.
Entrei na sala de interrogatório, como, oficialmente, o Bruce tinha
somente feito merda na administração do cassino eu não podia o levar para
a sala de tortura. Minha investigação não chegou ao fim, suspeitei dos dias
que ele sumiu de Las Vegas, algumas vezes coincidiam com os ataques no
Texas, mas em outros ele não esteve perto.
Senti que eu estava diante de todas as peças do quebra-cabeça, mas
não tive a principal informação para conseguir as colocar no lugar. Manterei
o Bruce preso, até eu resolver o que está acontecendo. Não correrei o risco
de o libertar e depois sofrer um golpe por causa disso.
— Não acha um exagero? — Bruce levantou, a roupa amassada por
dormir no chão da sala. — Eu só fiz merda na administração dos cassinos,
não preciso ser interrogado!
— Quem decide isso sou eu. — Sentei, abri o notebook buscando o
que precisava. — Onde você estava no dia 27 de fevereiro?
— Isso foi há quatro meses, não lembro. — Sentou, se dando conta
do teor da nossa reunião.
— Se continuar mentindo vou te levar para a sala de tortura. Você se
associou aos Bianchi pelo casamento com a minha tia, mas não pense que
será tratado como um puro-sangue.
Bruce inflou. Ele, Clark e Lewis sempre odiaram ser chamados de
impuros e sua autoridade questionada por ser fruto do casamento com
minhas tias, as verdadeiras Bonnarro de sangue.
— É ridículo o que você está fazendo! O Texas sendo dominado
pelos Portões do Inferno e eu sendo interrogado por uma idiotice de data!
— Não estou com tempo para essa merda. — Levantei, apesar de
dormir bem na noite passada, permaneci cansado e sem paciência para
enrolação. — Levem ele para a sala de tortura.
— Espera — gritou, apontando para os soldados. — Eu estava
viajando, fui à Tailândia em busca de novas mercadorias para os cassinos.
Um dos hóspedes me falou sobre uma bebida famosa na Tailândia que
podia ser vendida por mais de 100 milhões a garrafa, traria um lucro
absurdo se vendidas para os VVIP.
— Quero o nome e local de todos os cantos que você passou.
— Black, isso não é necessário, vamos lá, meu sobrinho.
— Engraçado, é a primeira vez que me chama de sobrinho. — Levei
a mão ao queixo. — Não me acha mais um maricas covarde?
— Nunca disse isso! Era o Lewis quem te xingava de frouxo pelas
suas costas.
— Tenho pena das minhas tias por casarem com homens como
vocês. Onde estava no dia 05 de março? — Sentei.
— Terei de falar todas as minhas saídas? — Balançou a cabeça
incrédulo.
— Se quiser sair daqui vivo, fale e prove que esteve nesses cantos.
— Black, vamos esquecer essas picuinhas do passado. Você é o
Capo de Nevada, passa por dificuldades no Texas, leve meus soldados,
vença a guerra e mostre seu poder.
Fechei as pálpebras cansado dessa merda de papo, Bruce estava
ganhando tempo e eu descobriria para o que. Levantei, dei a volta à mesa e
segurei o desgraçado pela gravata. Ergui a mão no ar descendo com força
no seu rosto, o tapa estalou pela sala. Bruce levantou enfurecido, o estapeie
três vezes fazendo seu corpo cair de joelho, preso pela gravata enrolada em
meu punho.
— Acha mesmo que vou te tratar como um membro da minha
família? — falei próximo ao seu rosto. — Não existe ninguém para te
defender e você é um maldito desgraçado que colocou em risco meu
cassino. Com viagens suspeitas para fora do estado, muitas feitas durante
ataques orquestrados às bases no Texas, uma delas colocando em risco a
vida do irmão do Chefe. Após retirar seus homens do Texas as operações
começaram a surtir efeito, agora, Bruce, me dê um bom motivo para não te
matar.
— Eu juro para você, Black. Eu não sou um traidor. — Agarrou meu
pulso, os olhos repletos de desespero. — A verdade é que eu tenho uma
amante, encontro ela uma vez por mês. O nome dela é Camila Brown, mora
em Los Angeles, é uma chinesa, trabalha em um restaurante em Chinatown.
Essa é toda a verdade, eu nunca traí os Bianchi, sei o destino dos traidores.
— Traiu minha tia, traiu os Bonnarro. — Apertei a gravata em seu
pescoço. — Vou investigar sua história e se eu descobrir que está mentindo
não vou poupar esforços para te matar. — Encarei o Eduardo. — Avise ao
Steve que Bruce ficará preso nas celas do porão até confirmamos que ele
não é um traidor.
— Sim, senhor.
— Black, espera! — pediu desesperado.
Deixei a sala fervendo em ódio, começava a ter certeza de que o
Bruce era um traidor, quis que fosse verdade para poder me vingar de todas
às vezes em que ele tentou me humilhar, questionando minha sexualidade.
Vou descobrir o que diabos Bruce esconde por trás de suas mentiras e o
fazer pagar por seus pecados.
Já estava exausto daquela maldita guerra, é hora de mover as peças
no tabuleiro para poder finalizar o jogo.
Cheguei da aula ansiosa para encontrar meu marido. Ele passou a
semana em Las Vegas, adiou sua ida ao Texas enviando o Steve em seu
lugar. Ficou resolvendo a confusão causada pelo Bruce no cassino Lux e
interrogando o desgraçado para saber a verdade por trás do
desaparecimento dele. Pelo que o Black me contou, ele realmente tinha uma
amante, mas não conseguiu localizar a mulher, o que só aumentou as
desconfianças e a Valentina fez confusão todos os dias querendo ver o
marido e arrebentar a cara dele.
Adoro a ousadia da tia do Black, ela não se deixou abalar pela
traição e quis fazer o marido infiel pagar. Já os filhos tentaram persuadir o
Black a deixar o pai deles vivo, alegando que a traição não era motivo de
morte. Mais uma grande bagunça para roubar o tempo do meu marido.
Bartolomeu mantinha-se longe, observando a situação, deixando o Black
fazer o que considerava certo.
— Black está em casa? — perguntei à Lúcia, a governanta.
— O senhor Bonnarro saiu cedo. — Cruzou as mãos. — Deseja que
eu sirva o jantar, senhora Bonnarro?
— Não, vou à casa da minha sogra, pode se retirar, Lúcia.
— Sim, senhora. — Acenou deixando a sala.
Joguei minha bolsa no sofá, dei meia-volta, abri a porta e comecei a
caminhar com Taylor ao meu lado. Kennedy mora a 2 minutos a pé da
minha casa, eu amei a proximidade de nossas residências, posso ir lá
sempre que desejar e receber a presença dela a todo instante. Subi os
degraus da entrada, girei a maçaneta entrando na linda casa de tons pastel.
— Sogrinha, cheguei — gritei.
— Estou na sala, minha filha — respondeu bem-humorada.
Amo quando a Kennedy e o Bartolomeu me chamam de filha. Eles
fazem eu me sentir em casa, protegida pela minha família amorosa que me
acolheu de braços abertos ao me receber como uma deles.
— Chegou na hora perfeita do Brunch! — Levantou animada
segurando minhas mãos.
— Temos de cortar os Brunch’s — lembrei-a. — A nutricionista
enviou minha nova dieta, preciso perder uns quilos para não ter
complicações na hora do parto.
— Besteira! — Abanou a mão na frente do rosto. — Eu tive três
filhos e nunca liguei para essa baboseira de dieta. — Puxou minha mão me
sentando no sofá com ela. — Confia na sua sogrinha que você terá a melhor
gravidez de todas! — Pegou um macaron em cima da mesa de centro. —
Aqui, sei que você ama esses.
Encarei a pirâmide de macaron e outras gostosuras na mesa de
centro, a vontade de comer todos era enorme. Foquei a visão no meu ventre
proeminente, alisei a barriga pensando no meu bebê. Kennedy nunca fez
nada para me prejudicar, mas decidi que ouviria a nutricionista e a minha
obstetra.
— Só um macaron, depois vou almoçar — avisei pegando o doce na
mão.
— Terei uma longa conversa com sua médica, como ela ousa acabar
com nossos Brunch?! — Bateu as mãos me puxando para o seu colo. —
Estava com saudades, como foi sua aula? — perguntou alisando meus
cabelos.
Deitei a cabeça em seu peito, subindo os pés para o sofá. Mastiguei
o macaron, que derreteu na minha boca pela quantidade exagerada de
açúcar. Os quilos ganhos nos últimos 3 meses estavam bem distribuídos
entre minhas pernas, barriga e peitos. Nunca tive a liberdade de comer o
que eu quisesse, Eleanor me controlava com rigidez. Kennedy sentiu prazer
em me ver feliz degustando de uma refeição ao lado dela.
Vivendo o meu melhor momento, grávida do homem que eu amo,
recebendo o amor de uma mãe, encontrei no Bartolomeu um pai que
adorava me mostrar seus cassinos e conversar sobre os negócios, me
deixando a parte de tudo sobre o mundo empresarial dos Bonnarro. Adorei
meu cunhado brincalhão. Tenho amigas preciosas que me ligam todos os
dias, não deixando a saudade da distância se tornar esmagadora.
Meu irmão, mesmo trabalhando como louco, sempre conseguia
tempo para mandar uma mensagem ou atender minhas ligações. Presente na
minha vida como eu sempre desejei. As consultas com a Lily estavam indo
bem, ela vinha para Las Vegas duas vezes no mês, os pesadelos estavam
diminuindo gradativamente e mesmo quando me assombravam eu
conseguia controlar o temor, não permitindo me dominar.
E meu marido, imerso no trabalho, quase sufocando sem conseguir
respirar, não perdeu uma oportunidade de me ligar, perguntava do meu dia,
conversava por breves minutos só para me ver. Despejando seu amor em
cada abraço, beijo, carinho e pequenos momentos juntos. Com o Black em
Las Vegas conseguimos dormir juntos, fazer amor demorado, eu controlava
os horários dele para não ficar sem comer ou descansar, o ajudando a se
manter saudável.
Tudo estaria perfeito, se não fosse a iminente ida para o Texas. Steve
e Black ficavam trocando. Quando o Black estava aqui o Steve estava no
Texas e assim por diante. Ainda tinha metade de um semestre pela frente,
mas considerei usar todas as minhas faltas em idas alternadas ao Texas com
o Black, fiquei apreensiva só de imaginar o deixar voltar sozinho e ele
retornar ao mau hábito alimentar, ficando horas sem descansar.
Tive medo dele cair de exaustão.
— Ótima! Adoro o campus de Las Vegas — respondi à Kennedy.
— Deve ser ótimo estudar, me alegra que as meninas da Máfia
possam prosseguir com os estudos.
— Você estudou até qual ano?
— Terminei o ensino médio na Itália e depois casei com o
Bartolomeu.
— Como foi ser a prometida dele?
— Bartolomeu me encantou na nossa primeira conversa. —
Suspirou apaixonada. — Nossa diferença de idade é de 5 anos, ele casou
cedo para poder assumir a posição do pai. Fomos apresentados oficialmente
no meu aniversário de 18 anos, na noite do noivado. Meu pai não tinha me
falado que eu seria pedida em casamento, imagine a minha surpresa quando
o homem que passei a noite admirando, pensando em como falar com ele
fez a proposta de casamento.
— Ficou entre a felicidade e a surpresa?
— Sim! — Alisou meu braço me puxando mais contra si. — Mal
podia acreditar que minha paixonite da noite seria meu esposo.
— O que te chamou a atenção no Bartolomeu?
— A educação dele, na época, éramos de uma organização pequena,
cresceu após a aliança com os Bianchi. Existia muita disputa com a grande
Máfia Siciliana, mas após o acordo com os Bianchi, tiveram de cessar-fogo.
Andrew Bianchi casou com Hannah, filha do Chefe da Máfia Siciliana, e
Bartolomeu casou comigo. Não tinha como as organizações continuarem
em guerra com um aliado poderoso como os Bianchi formando alianças
entre ambas as organizações.
— Você nunca se arrependeu de casar com o Bartolomeu?
— Nem por um segundo — beijou meus cabelos — amo meu
marido e a minha família. Mais ainda com ela crescendo. — Alisou meu
ventre.
— Eu também amo essa família. — Envolvi sua cintura com o braço
beijando o busto da minha sogra.
— Como assim?! — Ouvi a voz da Hope, ergui a cabeça vendo
minha amiga entrando com o Ethan no colo.
— Vovó! — O menino gritou se esticando para descer do braço da
mãe.
Hope soltou o Ethan, ele correu a coisa mais linda com os cabelos
batendo na testa, os olhos azuis do pai brilhando ao segurar as pernas da
avó. Saí dos braços da Kennedy deixando o pequeno se jogar no colo dela.
Tive o ímpeto de chorar ao imaginar meu bebê sendo recebido com amor
pela Kennedy, como ela fazia com o Ethan apertando o pequeno, beijando
as bochechas fofinhas.
— Vovó estava morrendo de saudades do meu meninão!
— Talbien! (também) — respondeu fofinho.
— E o beijo da titia? — perguntei cutucando sua barriga.
Ethan sorriu sapeca, encarou a avó, como se pedisse permissão.
Kennedy piscou e o menino esticou os braços para mim. Beijei as
bochechas rechonchudas ganhando um estalar de lábios na minha bochecha.
Ele levou a mão à boca e soprou outro beijinho. Morri de amores pela
fofura dele.
— Você está tentando roubar minha mãe! — Hope acusou sentando
ao meu lado, me puxando para um abraço.
— Ela já é minha — respondi beijando sua cabeça.
— Sou das duas! — Kennedy disse.
— Naum, vovó é mia! (Não, vovó é minha!) — Ethan falou
enciumado.
— Own, meu Deus, não aguento a fofura do Ethan. — Apertei sua
bochecha ouvindo a gargalhada gostosa.
— Adorei a surpresa — Kennedy disse à filha.
— Passaremos o final de semana em Las Vegas. Michael precisa
resolver algumas coisas com o Black — Hope explicou. — Como está a
faculdade, Phine?
— Ótima, e a sua?
— Morro de saudades do Ethan. — Encarou o filho cheia de amor.
— Michael diz que estou experimentando o que ele passa quando está
trabalhando.
— Thia Phine ta goldinha (Tia Phine está gordinha). — Ethan
cutucou minha barriga.
— Meu Deus, filho! — Hope levou a mão à boca.
Kennedy explodiu em uma gargalhada, eu sorri pela inocência do
meu sobrinho. Alisei os cabelos negros e aproximei o rosto do seu.
— Claro que estou. — Levei sua mão à minha barriga. — Tia Phine
está grávida, tem um bebezinho na minha barriga.
— Ocê tomeu ele? (Você comeu ele?) — Apertou as bochechas com
as mãos e me forcei para não rir.
— Não, meu amor, para os bebês nascerem eles primeiro precisam
crescer na barriga da mamãe.
— Uau! — Encarou minha barriga, alisando com as duas mãos por
cima da blusa. — Nalce luanto? (Nasce quando?)
— Daqui a uns 6 meses, mais ou menos.
— Vai blincal coligo? (Vai brincar comigo?)
— Com certeza, promete ser um bom priminho para ele?
— Sim! — Bateu palmas.
Continuamos conversando pelo resto do dia, gastei muita energia
brincando com o Ethan e sonhando pelo dia que estaria me divertindo
daquele jeito com o meu filho.
— Precisamos achar algo — Michael falou, após um dia de
interrogatório ainda não tínhamos conseguido fazer o Bruce revelar
qualquer ligação dele com a Portões do Inferno.
— Minha intuição diz que o Bruce é culpado. Após a prisão dele as
coisas estão mais calmas no Texas. Não tem como ser coincidência.
— Você tem razão. — Saiu do carro, o segui entrando na casa dos
meus pais para buscar minha esposa.
— Amanhã continuamos a conversa — avisei.
— Ficarei o final de semana, até segunda conseguiremos algo.
O som da gargalhada da Josephine atingiu meus ouvidos ao entrar na
casa dos meus pais. A encontrei na sala rodeada pela minha família, com o
Ethan cutucando a barriga dela e pulando animado.
— Boa noite — Michael cumprimentou.
— Papai! — Ethan gritou correndo para os braços do pai. Michael
pegou o menino, o girando no ar.
Estou contando os dias para poder interagir com meu garotinho
desse jeito. Ainda não sabíamos o sexo do bebê, mas eu sentia que era um
menino. Encarei minha irmã e minha mãe, precisava conversar com elas. A
necessidade de dividir meu passado com a Josephine crescia todos os dias
no meu peito. Hope quando contou a verdade ao Michael não pediu nossa
permissão, ela o fez por confiar no marido.
Mas aquele segredo era mais delas do que meu. Apesar da forma
como fui afetado, não conseguiria seguir em frente sem pedir a permissão
de ambas para contar o tormento do nosso passado. Estou pronto para
superar a marca sangrenta da nossa família e faria isso sendo sincero com
todos.
Peguei meu celular enviando uma mensagem para meu pai, mãe e
irmã. Pedi para me encontrarem no escritório após a janta, para que saíssem
sem chamar a atenção. Fui para o lado da minha esposa, beijei seus cabelos
e alisei o ventre. Ela percebeu minha ansiedade, apertou minha mão
oferecendo apoio.
— Depois do jantar vou me reunir com meu pai, mãe e irmã. Preciso
conversar com eles — avisei baixinho a ela — fica com o Ethan e o
Michael um pouquinho?
— Claro, meu amor. — Alisou meu queixo.
Esfreguei o nariz no seu, completamente pronto para entregar minha
alma à Josephine.
Reunimo-nos na mesa de jantar, após a refeição Hope falou baixinho
com o Michael, ele me encarou e acenou em positivo. Minha irmã beijou o
marido e o filho.
Ver a Hope feliz fez o sofrimento valer a pena, ela conseguiu se
libertar, minha mãe livre da tormenta vivendo apaixonada com meu pai, que
aproveitou sua família como ele sempre sonhou em fazer. Poder presenciar
os filhos felizes. Eu darei o último passo que minha família precisa para
enfiar o último prego do caixão.
Queria o Steve presente, por isso ao entrar no escritório liguei para o
meu irmão mais novo. Deixei o celular ao lado do abajur apontando a
câmera para mim, sentei no sofá ao lado da minha mãe, meu pai e Hope de
frente para a gente com o Steve acompanhando pelo celular.
— Eu quero a permissão de vocês — segurei a mão da minha mãe
— para ser capaz de compartilhar com a Josephine o passado da nossa
família.
O silêncio durou por dois segundos antes da Hope levantar e me
abraçar sentando no meu colo. Minha mãe envolveu os filhos em seus
braços fungando baixinho.
— Quando compartilhei com o Michael sobre o nosso passado, eu
senti o mesmo que você, a vontade de ser sincera, entregar meus segredos
para o meu marido sabendo que ele poderia me proteger e aceitar quem eu
sou. Eu amei o Michael ainda mais após a reação dele. Saber que você sente
o mesmo pela Josephine, a vontade de entrelaçar sua vida a dela
definitivamente, me deixa muito feliz. Pode contar a ela, Black.
Beijou minha bochecha.
— Eu e seu pai levamos anos para conseguir superar a desgraça
daquela noite. Você sempre foi um homem forte, aguentando, segurando as
pontas da nossa família e impedindo nossa ruptura. — Minha mãe segurou
meu rosto. — Meu menino, o segredo é tão nosso quanto seu, se decidiu
contar à sua esposa tem meu apoio. Josephine é uma mulher incrível, me
alegra tê-la como parte de nossa família, não somente como sua esposa,
mas como uma de nós. Alguém que podemos confiar nosso passado e
futuro.
— Eu concordo com a mamãe e a Hope — Steve falou. —
Josephine é sua esposa, você a ama e isso é evidente para todos. Se sente a
vontade de dividir o que aconteceu naquela noite com ela, tem meu apoio.
Você nunca contou para nenhum de nós como aquilo te machucou.
Escondeu no seu íntimo enquanto nos protegia. Tire esse peso do seu
ombro, seja sincero com a Josephine e consiga respirar em paz, irmão.
Estamos todos bem, a Hope e a mamãe vivem felizes e amadas, você
também tem o direito de ser livre das feridas do passado.
Hope saiu do meu colo, Bartolomeu se levantou vindo a mim. Eu me
sentia um garoto sendo amparado pela minha família. Em todos esses anos
aguentei com o máximo das minhas forças, escondendo os temores e medos
para não magoar minha família. Fui forte, me machuquei sozinho, os
protegendo.
Pela primeira vez eu quis ser cuidado, poder soltar as pontas que
segurei durante anos e me agarrar a alguém. Dividir o fardo, as feridas e
colocar um ponto final no tormento das minhas lembranças, superar as
diferentes formas que machuquei meu corpo para cumprir com as
obrigações da Máfia.
— De todos nós você sempre foi o mais forte. — Meu pai apertou
meu ombro, sentando ao meu lado. — Diversas vezes foi você quem fez eu
me levantar, me ajudou mais do que qualquer outra pessoa. Cresceu cedo
demais, aguentou as pressões da Máfia sem nunca ceder, protegeu sua irmã
e mãe, manteve o Steve longe das trevas. Black, eu tenho orgulho de você e
lamento pelas vezes em que fui incapaz de te proteger, nunca te impediria
de dividir com sua esposa aquilo que nunca conseguiu me dizer. Quero que
saiba, meu filho, que estou aqui para quando se sentir pronto e quiser
conversar comigo. Posso ter falhado no passado, mas nunca mais deixarei
algo acontecer a nenhum de vocês. Eu te amo, meu menino.
Segurei as lágrimas, não queria chorar na frente da minha família,
mas foi impossível. Eles me envolveram em um abraço que ia além do
conforto. Era a cura de uma ferida aberta anos atrás. Finalmente sendo
superada por todos os membros Bonnarro.
Eu nunca gostei de pensar naquela noite como uma tragédia. Por
causa dela a Hope existe e somente por isso consegui me manter firme por
anos. Pelo amor rodeando a minha casa, envolvendo cada um dos membros
e garantindo que fôssemos fortes o suficiente para superar os momentos
tenebrosos.
Sinto-me pronto para falar pela primeira vez o que aquela noite
significou para mim. E o farei com minha esposa, depois com meu pai e
minha mãe. Pouparei a Hope e o Steve, eles não precisam se preocupar
comigo, eu estou bem, pronto para dividir com a Josephine.
Segurei a mão da Josephine, caminhamos a passos lentos de volta
para a nossa casa. O vento frio de Nevada batia com gentileza na minha
face, trazendo conforto e coragem para ser capaz de confessar tudo que eu
queria a ela. Não vou esconder nenhum pedaço da minha alma da
Josephine. Quero entregar tudo à minha esposa.
Beijei o ombro exposto, ela sorriu apertando a mão na minha, deitou
a cabeça no meu ombro, suspirando baixinho. Envolvi sua cintura a
puxando para perto de mim. Não demorou muito para chegarmos em nossa
casa e entrarmos. A observei com cuidado, Josephine transformou nosso lar
em um lugar aconchegante. Cores vivas, decoração moderna e muitos livros
espalhados pelas estantes na sala e demais corredores. Ela comprou tudo
que sempre desejou e ia lendo devagar, aproveitando cada momento.
Às vezes sinto que estou vivendo em uma biblioteca. Sorri
encarando minha esposa, passei um braço debaixo de seus joelhos e o outro
acoplado em sua cintura a erguendo no ar. Josephine gritou feliz, beijou
meu queixo e bateu os pés no ar. A levei para a sala de leitura, quis
conversar no ambiente mais pacífico da nossa casa. Deitei minha esposa no
sofá, acendi a vela que ela deixava ali e me despi do terno, ficando somente
com a calça.
— Sexo em meio aos livros, adoro — rosnou.
— Como se eu não te comesse aqui a cada oportunidade. — Fui por
cima de seu corpo, beijando o ventre proeminente de 14 semanas.
— Nunca me canso. — Segurou meu queixo me puxando para um
beijo gostoso.
Deitei a lateral direita entre o encosto do sofá e Josephine. Encaixei
seu quadril no meu, adorando a sensação do meu pau cutucando sua bunda
grande. Apoiei sua cabeça no meu ombro, abracei o corpo da minha esposa,
inspirei o cheiro de seus cabelos e comecei a dizer tudo que eu queria.
— Meu pai tem 3 irmãs mulheres e um irmão homem.
— Você tem um tio? — Alisou os cabelos do meu antebraço,
deslizando as unhas pintadas de preto para cima e para baixo.
— Sim, o nome dele era Benjamin. Ele era gêmeo do meu pai. E é o
verdadeiro pai da Hope.
— O quê? — Girou me encarando surpresa. — Hope não é filha do
Bartolomeu?
— Biologicamente eles possuem o mesmo DNA. Bartolomeu e
Benjamin eram gêmeos monozigóticos, a única diferença entre os dois eram
as digitais, já que essas se relacionam com os lugares tocados pelo bebê no
útero da mãe. — Alisei seu ventre. — A Kennedy nunca traiu o
Bartolomeu, ela era a única pessoa que conseguia diferenciar os gêmeos e
nunca se envolveu com o Benjamin por um descuido. — Engoli em seco.
— O que vou te contar é a história da minha família e o que se esconde no
sangue da minha irmã.
— Ah, Black. — Os olhos ficaram tristes imaginando o que viria.
— Benjamin sempre foi ambicioso, queria tudo que pertencia ao
meu pai. Por ser o mais velho eu tive mais contato com o Benjamin,
observei de perto como ele agia na organização. Meu pai nunca ficou
tranquilo com a presença do irmão, sempre alerta, me orientou a nunca cair
nas conversas do Benjamin ou obedecer às ordens do meu tio. Na época o
Steve ainda era uma criança com 7 anos, eu já tinha 14 e era um homem de
honra, fui iniciado aos 12 anos pelo meu pai.
— O que acontece na iniciação? — perguntou baixinho.
— É quando nos tornamos homens de honra. Na Máfia Bianchi a
tradição é ser iniciado aos 12 anos. Mas em alguns casos como o do
Michael, se o pai escolher pode acontecer mais cedo. Cada um possui uma
experiência diferente. Meu pai me levou para a sala de interrogatório do
complexo, eu já sabia o que iria acontecer. Ele me deu uma senha e por um
mês tentou arrancar ela de mim, cedi umas três vezes até pegar o jeito.
— Doeu muito? — Enfiou os dedos na minha barba fazendo
carinho.
— Pra cacete. É necessário passarmos por um treinamento valioso
no nosso mundo, para não entregarmos informações em casos de tortura. —
Alisei o nariz no seu. — Depois aprendi a lutar, usar armas e como agir em
uma missão. Um ano depois foi a minha formatura, por assim dizer, que
termina com o garoto virando homem. Transei com uma prostituta.
— Não foi desconfortável? Você era só um garoto.
— Eu era um adolescente cheio de hormônios sendo consumido pela
vontade de me provar um homem de honra. — Dei de ombros sorrindo. —
Mentiria se eu falasse que não fiquei ansioso para transar.
— Seu safado. — Beliscou-me, encolhi rindo.
— Mas foi somente aquela vez. — Alisei suas costas sentindo as
cicatrizes. — Meu pai me proibiu de continuar fazendo sexo. Kennedy não
gostava da ideia de seu filho de 13 anos transando, então Bartolomeu
obedeceu a esposa. — Curvei o canto dos lábios para baixo lembrando do
que veio em seguida. — Também foi a única vez, antes de você, que eu
consegui desejar o sexo sem preocupações.
— Mesmo com a Amber, você se controlava?
— Sim. — Alisei o nariz no seu. — Apesar dela dizer que estava
tudo bem, que me queria, e eu a desejar. Não conseguia ficar totalmente
tranquilo, uma trava continuava me puxando. Somente com o tempo fui
conseguindo relaxar. Passei 6 anos com a Amber, levamos um ano e meio
após o início do namoro para transar pela primeira vez. E com muita
paciência fomos evoluindo, eu consegui me soltar com mais facilidade
depois de 4 anos juntos.
— Amber foi mais que uma namorada para você. Ela foi quem te
ajudou com seu trauma, ofereceu compreensão e conforto quando você não
conseguia com outras pessoas. — Alisou minhas bochechas, não existia
mágoa na voz da Josephine, apenas compreensão.
— Nunca contei a ela o motivo de eu não gostar de fazer sexo. —
Engoli em seco. — Mas fui sincero dizendo que não conseguia com
facilidade. A Amber começou a pesquisar, ia em psicólogos saber como me
deixar confortável com ela, de que maneiras poderia me ajudar. — Sorri
saudoso. — Acho que ela foi a minha psicóloga de certa maneira.
— O relacionamento de vocês não deve ter sido fácil. — Franziu o
nariz. — Como ela lidava com todos os seus segredos?
— Acho que a Amber precisava de mim como eu dela, por isso nos
dávamos bem. Na época da faculdade éramos amigos, nos distanciamos
quando percebi que ela gostava de mim. Anos depois ela foi minha
enfermeira e aquela paixão continuava em seus olhos. Eu estava fragilizado,
queria uma amizade, uma conexão de verdade com alguém, acho que por
isso dei uma chance a ela.
— Era fácil gostar dela?
— Sim, ela não fazia perguntas, não exigia, apenas estava lá
precisando de amor e eu querendo um pouco de paz, ser capaz de me
conectar com alguém, fazer sexo por escolha minha. — Fechei os olhos
sentindo a dor de anos atrás voltando. — Eu tinha 14 anos quando tudo
aconteceu…
Fui jogado no mar de lembranças, contei a Josephine cada detalhe
dos anos que seguiram minha vida depois daquele dia.

Black aos 14 anos.

— Ele precisa de um hospital! — minha mãe gritou com o médico


do complexo. — Já faz dois dias que a febre não baixa, não tem como isso
ser normal, doutor!
— Senhora Bonnarro, por favor, se acalme. O Black está com
pneumonia, é normal a febre em um caso de infecção. A medicação tem
surtido efeito, mas demora uns dias até ele apresentar melhora. Não há
necessidade dele continuar internado, podem retornar para casa, com o
uso dos remédios amanhã ele acordará melhor.
— Eu quero ir para casa, mãe — eu disse, tossindo um pouco. Me
sentia horrível, mas era pior com a gritaria da minha mãe. Só queria minha
cama e dormir por umas horas.
— Escute o que vou dizer, doutor. Se amanhã o Black não acordar
melhor vou mandar meu marido fazer você sumir e contratar um médico
responsável para essa clínica! — Envolveu meus ombros. — Tem certeza de
que deseja voltar para casa, querido?
— Sim, mãe — respondi cansado.
— Ficaremos de olho nele. — Meu tio Benjamin entrou na sala do
doutor na clínica, fiquei surpreso por sua presença, achei que ele estava em
missão com o meu pai.
— Ah, Benjamin — minha mãe suspirou — não sabia que tinha
voltado.
— Bartolomeu me pediu para ver como vocês estão, vou te levar
para casa.
— Certo.
Minha mãe estava preocupada comigo, acho que por isso não
estranhou meu tio nos levar para casa. Os soldados do lado de fora que
deviam fazer isso. Com o corpo cansado, tossindo e louco para dormir,
segui minha mãe para o carro do meu tio. Sentamos no banco de trás e ele
no volante. Encostei a cabeça no ombro dela pegando no sono.
— Deixei a encomenda do Bartolomeu na sala da minha casa —
ouvi a voz de Benjamin. — Se importa de irmos pegar?
— Que seja rápido — minha mãe respondeu.
Meio sonolento segui os dois para a casa do Benjamin, ela ficava
perto da nossa no complexo. A febre retornou, percebi devido ao frio.
Encolhi o corpo dentro do casaco, estava quase desmaiando de sono, talvez
minha mãe tivesse razão e eu devesse ter continuado internado.
Tio Benjamin apontou uma caixa em cima da mesa e entregou à
minha mãe. Kennedy puxou a fita, abriu o papelão e um pó branco espirrou
na cara dela. Corri em sua direção, mas ao inalar a substância apaguei
imediatamente.
— Qual a forma correta de prender um inimigo, Black? — ouvi a
voz de Benjamin falando próximo ao meu ouvido. — Você o prende em um
cômodo com dois guardas, no mínimo. Retira suas roupas para garantir
que não tem nenhum objeto cortante ou que possa ser usado para a fuga e
depois prende seus braços e pernas esticados, impossibilitando a união dos
membros — gritei pela dor excruciante nas juntas dos braços e coxas sendo
puxados em direções opostas. — Não tenho como colocar soldados de olho
em você, os homens de Nevada são leais ao Bartolomeu, me trairiam sem
pensar duas vezes. — Meio zonzo encarei o rosto igual ao do meu pai, mas
repleto de maldade. — Vou ficar de olho em você enquanto tomo para mim
o que eu sempre quis. — Ergueu-se.
Tentei puxar meus membros, mas fui impedido pelas correntes.
Ardendo em febre e meio zonzo por causa do sonífero observei meu
cativeiro. Estava preso à parede com correntes me puxando, observei meu
corpo pelado. Um gemido chamou minha atenção, encontrei minha mãe
deitada na cama, correntes prendendo seus pés em posições opostas, os
pulsos amarrados na cabeceira da cama, pelada.
Benjamin parou ao pé da cama, ele também estava nu, ereto
tocando minha mãe. Puxei as correntes gritando, apesar do cansaço
extremo, da febre e do efeito da droga eu me senti despertar, precisava
fazer alguma coisa para salvar minha mãe do cenário montado à minha
frente.
— FICA LONGE DELA — berrei, quase quebrando o dedão pela
força que puxei as correntes, não me importei com a dor, tinha de fazer
algo. — PARA TRÁS, PORRA.
— Olha como ele grita. — Benjamin alisou o queixo da minha mãe.
— Você nunca me deu sua atenção, sempre louca pelo Bartolomeu. Era
para você ser minha, não dele e hoje vou tomar o que me pertence. —
Subiu na cama.
— Por favor, não faz isso — minha mãe chorou implorando.
— Só temos uma chance, vamos aproveitar. — Se colocou entre as
pernas dela.
Berrei puxando os braços, as correntes bateram forte contra a
parede. De frente para a cama eu fui obrigado a assistir o Benjamin invadir
o corpo da minha mãe, ouvir os gritos dela, enquanto implorava para ele
parar. O choro da sua alma rasgando meu corpo. A fúria, a dor, o desejo de
a proteger, e o instinto selvagem varreram meu corpo em uma onda de
adrenalina. Concentrei a força na mão esquerda, pus o polegar para dentro
da mão e puxei.
O osso quebrou, a dor física veio maçante, mas não dei chance para
ela me derrubar. Precisava salvar minha mãe. Puxei o punho banhado em
sangue deslizando pela algema. Meu braço caiu flácido ao lado do tronco,
a tontura me torturando, sacudi a cabeça pronto para quebrar a outra mão
e me soltar. Cometi o erro de erguer a vista, minhas forças desabaram ao
ver o Benjamin estuprando minha mãe.
— Para! PARA, BENJAMIN! — ela gritou chorando, a voz trêmula
marcada pela dor.
Rasgou minha alma, a bile veio com força me fazendo vomitar no
chão. Eu vi o pênis dele entrando à força na vagina dela, as pernas dela
puxando tentando se livrar das correntes, marcando os tornozelos com
feridas sangrando. Ele sussurrava coisas no ouvido dela, eu não conseguia
ouvir nada além dos berros desesperados da minha mãe implorando para a
agressão acabar.
— SOLTA ELA, PORRA! — berrei ferindo a garganta pelos berros
desesperados, eu precisava salvar minha mãe. — MÃE! — Chamei seu
nome implorando aos céus por ajuda.
— Cala a boca, Black — Benjamin me encarou repleto de ódio. —
Seu franguinho que não come uma boceta. Aprenda com o titio como faz
sexo.
— VOCÊ ESTÁ ABUSANDO DELA. — Puxei o pulso direito com
força, a algema estava presa prendendo a circulação sanguínea, não
consegui me libertar.
— Não, Black, estou transando com meu amor. — Agarrou o rosto
da minha mãe tampando os berros dela com a mão. — É delicioso como
você implora. — Arremeteu com força o quadril contra o dela, eu vi minha
mãe tremer, sangrar pela vagina, perder as forças nas pernas ao perceber
que não conseguia mais lutar. — Aprenda a fazer sexo com seu tio, Black.
— Sorriu diabólico.
As lágrimas irromperam pelos meus olhos, nublando minha visão
enquanto eu me debatia, puxei o pulso direito com tanta força que o senti
partindo ao meio. Mas não consegui soltar a maldita algema. Não tinha
como aquilo ser sexo, Benjamin abusava da minha mãe, a fazia sofrer,
gritar, implorar para parar com a tortura.
Sexo machuca, fere, dilacera quando não era correspondido. Ele
abusou da minha mãe e de mim. Mesmo sem me tocar eu senti a dor
rascante, o desespero enlouquecedor, a vontade de morrer, fechar os olhos
e nunca mais acordar. Meu corpo perdeu as forças, desabei suspenso pela
corrente, a mente completamente nublada, a febre piorou lavando
quaisquer resquícios da vontade de sobreviver.
Benjamin saiu de cima da minha mãe a deixando catatônica na
cama. Ele se vestiu, caminhou até mim com um sorriso convencido no
rosto.
— Espero que vocês sobrevivam — apertou meu rosto com sua mão
imunda — e sejam incapazes de esquecer essa noite. Que sua família seja
destruída. Adeus, Black, o titio tem negócios importantes para resolver.
Apaguei pela força desferida no meu rosto.

— Está tudo bem, meu amor — ouvi uma voz carinhosa falando no
meu ouvido.
Forcei as pálpebras a se abrirem, tentei mexer minhas mãos, mas
não consegui. Meu corpo doeu, o movimento de respirar piorou a dor
maçante.
— Olha para mim, meu filho — ela pediu.
Ergui a cabeça encontrando os olhos inchados da minha mãe, os
lábios finos machucados. Sua mão deslizou pelos fios dos meus cabelos, a
consciência do que aconteceu retornando à minha mente como um
terremoto. O choro irrompeu sem pedir permissão, afundei o rosto em seu
peito, abracei sua cintura com força.
— Você está bem, Black, tudo está bem. — Beijou minha bochecha.
— Por favor, filhinho, fica com a mamãe.
— Me desculpe por não te proteger — implorei, repeti a frase vezes
seguidas, perdendo o ar pelo choro copioso.
— Não foi sua culpa. — Beijou minha bochecha. — Nunca se culpe,
Black. Você fez o que pôde. — Soluçou. — Não deveria ter visto aquilo —
apertou minha cabeça em seu peito — me perdoa, meu amor.
— Mamãe, eu te amo muito, me perdoa — gemi, apertando seu
corpo com o meu, tremendo, chorando, desesperado pelo que ela passou.
— Não foi sua culpa — sussurrou no meu ouvido. — Eu estou bem,
eu te amo, meu amor. — Beijou meus cabelos.
Não sei quanto tempo se passou até sermos capazes de controlar o
choro e encarar o rosto um do outro. Percebi o gesso nos meus pulsos e
tornozelos, estávamos na clínica no complexo em um quarto separado do
mundo externo, acariciando um ao outro, despejando palavras de amor e
tentando fechar a ferida sangrando.
— Como chegamos aqui? — perguntei rouco, ela alisou meus
cabelos tentando me fazer dormir.
— Seu pai nos achou. Algumas horas após o… — Tremeu a voz,
senti as lágrimas caindo de suas bochechas na minha cabeça. — Ele se
preocupou quando o Steve disse que não tínhamos voltado e nos procurou.
— Alisou minhas costas me puxando contra si. — Ele nos achou e nos
trouxe para cá. — Notei como era difícil para ela falar.
Com a mão engessada alisei suas costas querendo a confortar,
apesar de ser um homem de honra com 14 anos eu me senti um garoto
pequeno implorando por colo para a mãe. Como ela conseguiu me tocar
depois de tudo que passou? Eu quis chorar, gritar, implorar por perdão.
Mas a única coisa que fiz foi travar o choro na garganta e dar amor à
minha mãe. Apesar de aparentar ser forte eu a vi ruindo por dentro, repleta
de dor, machucada profundamente.
— Eu pensei que você fosse morrer. — Soluçou. — Você estava
muito quente, Black, passou uma semana inconsciente, a pneumonia
piorou, meu bebê. — Chorou pesado. — Nunca mais me assuste desse jeito.
Ela se agarrou a mim para continuar vivendo.
Os seis meses seguintes foram uma mescla de inferno para a minha
família. Minha mãe, apesar de ter sido abusada por um homem com a cara
do meu pai, não ressentiu o Bartolomeu. Ela soube diferenciar o irmão que
a machucou e do homem que ela amava. Eu, Steve e meu pai a puxamos da
depressão, não permitindo que caísse.
Mas somente quando ela descobriu a gravidez pôde ter esperança
de dias melhores.
— Essa criança é o que precisamos para superar a tragédia, será a
minha Hope. — Alisou a barriga, encarando meu pai feliz. — Ela é sua
filha, eu sinto em meu coração.
— Sim, meu amor, ela é nossa menina. — Meu pai envolveu minha
mãe em um abraço repleto de amor.
— Nossa irmã — eu disse puxando o Steve e os abraçando.
Precisávamos daquilo, de uma esperança capaz de afastar os dias
ruins e trazer alegria para nossas vidas. Ajudei meu pai na busca pelo
Benjamin, que havia sido declarado um traidor por se envolver com uma
organização da América Latina, tentei conversar com ele sobre aquela
noite, mas não encontrei coragem.
Escondi de todos os pesadelos me assombrando e o quanto o sexo
me assustava. Tentei viver minha vida de forma normal, mas fugia sempre
que meus primos ou amigos me chamavam para ir aos puteiros da
organização. Não conseguia pensar em sexo sem lembrar daquela noite,
sem tremer, querer vomitar e quebrar por dentro. Algumas vezes, para
provar minha masculinidade, eu levei prostitutas para os quartos e paguei
para fingirem que transamos, tomei cuidado com as escolhidas, peguei
aquelas que não gostavam de ser prostitutas, mas o faziam devido aos
problemas pessoais.
Meu pai nunca aceitou que mulheres pagassem suas dívidas de
jogos usando os corpos nos puteiros dos Bonnarro, também não mexíamos
com tráfico de mulheres. As que entraram aqui foi por escolha delas, sem
dever um centavo aos Bonnarro, mas se prostituindo por suas razões
pessoais.
Escolhia as que não gostavam de se prostituir para serem minhas
cúmplices. Até que chegou o dia de muitas me procurarem, sabendo que
seriam pagas sem transar. Isso me ajudou, fazia eu parecer viril e acalmou
a pressão dos homens Bonnarro para verem meu lado de macho, como eles
chamavam. As meninas eram leais, eu dei agrados a cada uma para
continuarem me servindo. Por um tempo, essa farsa foi minha salvação
para evitar o sexo que eu repudiava.
Minha mãe era mais forte do que eu, ela se apegou a Hope,
cuidando da minha irmã para esquecer os traumas da noite marcante do
abuso. Meu pai protegia a Hope como sua filha, eles tinham certeza do
Bartolomeu ser o pai biológico da minha irmã e nada abalou o mundo do
casal. Mas eu sabia como eles tentavam se manter firmes, sem desabar,
todos os dias minha mãe lutou se mantendo sã, tentando cumprir com seus
deveres na organização, mas aterrorizada com a ideia de sair de Las Vegas
e acabar capturada novamente pelo Benjamin.
Nos meus 18 anos, Benjamin foi capturado. Foi uma operação
demorada, Bartolomeu precisou agir sozinho, ele contou comigo para
manter suas saídas buscando pelo Benjamin em silêncio. Capturou o
desgraçado na Argentina e o trouxe para o porão da nossa casa. Eu quis
matar o maldito, acabar com a vida dele como ele fez conosco. Me juntei
ao meu pai na tortura do Benjamin. O Steve só tinha 11 anos, não o
deixamos participar, meu irmão seria poupado o quanto pudesse das trevas
daquela noite.
Durante a tortura eu rasguei o cu do Benjamin com uma barra de
ferro. Quis fazê-lo sentir como era ser violado, arrancar dor de seu corpo,
o humilhar, massacrar seu espírito como ele fez com a minha mãe.
Expurgar muitos demônios ao lado do meu pai, torturando o Benjamin
como homens perversos, como nós, fomos treinados para fazer.
Só não contávamos com minha mãe entrando no porão. Benjamin
estava amarrado na cadeira pelo tronco. Eu tinha arrancado o braço do
infeliz com uma faca cega cheia de ferrugem, ele não duraria mais do que
alguns dias.
— Desgraçado maldito. — Minha mãe desferiu o tapa na cara dele
com ódio pungente. — Achou que seria capaz de acabar com a minha
família, seu miserável. — Arrancou o alicate da mão do meu pai metendo
no pau do Benjamin. Brutalmente, ela arrancou o pênis pele.
Benjamin gritou, encarou minha mãe e eu soube que ele falaria algo
horrível. Corri até ela, mas não fui capaz de impedir a desgraça atingindo
nossa família.
— Ela tem o meu sinal? — perguntou. — A marca no olho esquerdo
escondida pela pálpebra vai provar que ela é minha filha.
Eu gelei, encarei meu pai o vendo arregalar os olhos. Minha mãe
ergueu a mão, puxou a pálpebra esquerda do Benjamin encontrando um
sinal igual ao da Hope. Bartolomeu não tinha aquela marca e percebi,
tarde demais, que aquilo era a prova de que a Hope era filha do Benjamin.
Hope era uma bastarda e se aquilo fosse descoberto seria o fim da
nossa família.
— Naquela noite meu pai matou o Benjamin, mas o estrago foi
grande demais. Os aniversários da Hope se tornaram momentos de
desespero para nossa família. A verdade sobre a paternidade foi revelada à
meia-noite no aniversário de 4 anos da Hope. Ninguém sabia, mas na noite
do abuso o Benjamin sussurrou coisas no ouvido da Kennedy, ele a
envenenou para caso tivesse uma filha ela lembrar daquela noite e ver a
imagem dele na filha. Então em todos os aniversários da Hope minha mãe
surtava, atacava a filha tentando matá-la. Ela não conseguia diferenciar a
Hope do Benjamin.
— Meu Deus. — Josephine suspirou fungando, limpou o rosto na
minha camisa.
Ela não parou de chorar e de se surpreender a cada nova verdade
revelada sobre o meu passado. O conforto que ela me deu refletia a como
amparei seu coração quando descobri a verdade por trás de suas cicatrizes.
Eu me sinto seguro nos braços da minha esposa, abraçando, cheirando,
beijando seus cabelos e tocando o ventre proeminente protegendo nosso
bebê.
— Eu tentava segurar a minha mãe, impedir que ela atacasse a
Hope, mas não tinha forças para prendê-la, pois sempre que a machucava, a
soltava recordando dos seus gritos naquela noite. De como fui incapaz de a
proteger. — Levei a mão da Josephine ao meu cotovelo onde tinha uma
pequena cicatriz. — Em um dos surtos dela, a Kennedy tentou atacar a
Hope com uma faca, protegi minha irmã e fui atingido no lugar dela.
— Como ele foi capaz de machucar uma mulher como a Kennedy?
— Chorou. — De te fazer assistir ao abuso… — Agarrou meu rosto me
puxando contra si, banhando minha face com beijos amorosos. — Eu sinto
tanto por isso ter acontecido, vocês não mereciam passar por esse inferno.
Sempre acreditei que eram uma família repleta de amor, nunca imaginei que
escondessem uma dor profunda como essa.
— Foi o amor que nos fez aguentar o sofrimento. — Segurei seus
ombros encarando os olhos turvos pelo choro. — Você conheceu a minha
mãe. Ela sempre foi essa mulher protetora, repleta de amor pelos filhos e
esbanjando felicidade. Era somente no aniversário da Hope que ela surtava,
depois se arrependia, implorava por perdão. Sufocava cada um de nós com
amor incondicional. Depois a Hope entendeu a verdade sobre seu
nascimento e a motivação por trás das decisões da nossa mãe, mas acima de
tudo compreendeu nosso amor para permanecermos juntos, nos seguramos
com todas as forças a nossa família. A proteger e sermos protegidos uns
pelos outros.
— Então vocês ficaram bem? — Fungou limpando a garganta.
— Não. — Apertei Josephine com força, odiando lembrar do
passado. — Hope estava destruída, ela se culpava pelo tormento da nossa
mãe. Não podia sair de casa ou interagir com outras pessoas. Tínhamos
medo do segredo ser descoberto, de algo acontecer com ela ou com a
Kennedy — tremi — foi assustador ver minha irmã querendo se matar —
disse em um fôlego, o choro travado na garganta. — Mesmo após a
Kennedy começar a fazer terapia, se tratando para não machucar a Hope, as
mágoas eram profundas e eu não consegui fazer nada por elas…
— Meu amor — puxou meu rosto encontrando meu olhar — vocês
são tão fortes por aguentarem esse inferno juntos. Sua irmã está bem,
casada e com um filho maravilhoso e a Kennedy, porra, Black. Eu nunca
diria que ela passou por tamanho sofrimento. — Apertou minhas
bochechas. — Você conseguiu proteger todos eles, cuidou da sua família —
tocou a testa na minha — mas agora pode descansar. — Envolveu meus
ombros. — Divide comigo seu fardo, Black. — Abraçou meu coração com
sua alma.
E eu deixei irromper, o choro de anos aguentando o sofrimento,
lutando todos os dias para animar minha irmã, consolar minha mãe, ajudar
meu pai a se manter firme e proteger o Steve das dores do passado. Apertei
Josephine com força nos braços deixando o desespero vazar, não segurando
uma única gota em meu corpo, chorei como uma criança. Chorei o que
nunca deixei sair após ver minha mãe ser abusada. Chorei os anos em
silêncio querendo pedir ajuda ao meu pai. Chorei por as vezes que abusei
do meu corpo para cumprir com uma obrigação pela organização.
Chorei até não restar mais lágrimas a serem derramadas, até a voz da
minha esposa se tornar rouca pelo amor derramado em suas palavras. Eu
não precisava mais buscar por consolo ou alguém para me proteger. Eu
tenho a Josephine, a mulher que eu amo, minha esposa e mãe dos meus
filhos. No início da nossa relação, eu queria curar as feridas dela, mas sem
perceber foi ela quem fechou as minhas.
— Obrigado por existir — murmurei alisando seus cabelos, funguei
baixinho, timidamente os raios de sol entraram pela janela aberta.
— Obrigada por insistir em nós — sussurrou. — Vocês passaram
pelo inferno, Black. Mas veja tudo o que conquistaram, amor. Sua mãe ri
com facilidade, abraça os familiares, conversa com alegria e se derrete de
amores nos braços do seu pai. Bartolomeu tem orgulho dos filhos, confia
em você cegamente, nem por um segundo ele temeu que você permitisse
que a ameaça do Texas chegasse à nossa família. A Hope encontrou o amor,
ela transborda felicidade com a família, e o Steve — sorriu doce — é um
mulherengo de primeira, ele não foi afetado pelo abuso. Seu irmão possui
uma alma bondosa, te admira mais do que você pode imaginar. Você
conseguiu o proteger. — Beijou meus lábios carinhosamente. — Você é o
Herói dos Bonnarro, meu amor, e será o herói do nosso filho. — Entrelaçou
nossos dedos em cima de seu ventre. — Eu não tenho medo de nada, pois
sei que tenho você nos protegendo. Você já pode parar de lutar, amor, vocês
venceram a batalha.
— Eu amo muito você — murmurei a envolvendo em um beijo
avassalador, transbordando com os lábios o que as palavras não
conseguiam.
O peso que me atormentou desde os meus 14 anos finalmente saiu
de cima de mim. Explodindo no ar e sendo levado para longe. Josephine
inundou tudo com o calor de seu amor, me fazendo perceber o que eu já
sabia. Minha família não precisava mais da minha proteção. Cada um deles
conseguiu se curar, fechar as feridas sangrentas e recomeçar. Estou pronto
para seguir meu caminho deixando o passado completamente para trás.
— Sua mãe continua fazendo terapia? — perguntou após um tempo
de beijos apaixonados.
— Sim. Meu pai encontrou uma terapeuta especializada em
violência sexual para ela. Os surtos nos aniversários da Hope acabaram,
hoje em dia elas conseguem passar a data conversando por telefone, mas a
Hope ainda não se sente pronta para passarem juntas.
— Por isso vocês não comemoram aniversários? — Alisou minhas
costas.
— Por um tempo tentamos comemorar escondidos os aniversários
da Hope, mas, ou nossa mãe aparecia e estragava tudo ou a Hope não tinha
mais emocional e se isolava. Michael foi o primeiro a conseguir fazer a
Hope comemorar, todos os anos eles vão para um chalé e ficam por lá. Esse
ano levaram o Ethan. Ela manda fotos para a gente. Eu e o Steve não temos
vontade de comemorar o nosso, então só damos parabéns, acabamos nos
acostumando.
— Todos os anos vamos comemorar o aniversário de cada um de
vocês. De quem é o próximo?
— Do Steve em dezembro, depois minha mãe em janeiro.
— Faremos uma festa enorme — os olhos brilharam — podemos
enganar ele fingindo que encontramos uma noiva para ele.
Gargalhei puxando minha esposa para um beijo caloroso.
— Ele vai cair duro no chão, vamos contratar uma atriz para encenar
quando contarmos a ele.
— Vai ser perfeito. — Sorriu boba. — Nosso menino vai nascer em
março, será uma data especial e sempre iremos comemorar com uma festa
enorme.
— Você terá tudo o que desejar. — Peguei-a gostoso, metendo a
mão em sua bunda, sentindo a vontade de unir nossos corpos e selar o que
construímos essa noite.
— Espera, antes de fazer safadeza — beliscou minha barriga — me
explica mais sobre sua relação com a Amber? Como ela conseguiu te ajudar
sem saber do seu trauma?
— Nos reencontramos após eu sofrer um atentado em Vegas. Fui
levado para o hospital e ela trabalhava lá. Fiquei um mês internado, naquela
época a Hope estava com início de depressão, o Steve começava a dar
sinais de que não estava bem e meu pai lutava para levar minha mãe à
terapia sem ser descoberto. Eu queria alguém para conversar — alisei as
bochechas da Josephine — não podia ser sincero com a Amber, mas
falávamos de qualquer coisa. Fui me apegando a isso, mesmo após receber
alta continuamos conversando por mensagens.
— O que o Steve tinha? — Cutucou minha bochecha. — A Hope
não podia fazer terapia também?
— Um tempo depois descobri que o Steve estava sofrendo de
coração partido.
— Sério? — Arqueou a sobrancelha contendo o riso.
— Sim, o desgraçado levou um fora de uma colega da faculdade que
ele gostava. A menina era lésbica e não tinha interesse no Steve.
— Não acredito que o motivo do Steve ser um galinha é o fato dele
ter tido o coração partido. — Gargalhou, ri junto com ela amando o som da
sua risada.
— Não conta para ninguém, eu jurei segredo.
— Não direi nada. — Mordeu os lábios.
— Quanto a Hope, era perigoso ela sair de casa e não podíamos
trazer uma terapeuta para cá. As coisas naquela época eram diferentes, o
Andrew sempre foi um líder sádico. Para evitar que ele colocasse os olhos
na Hope não fazíamos nada que chamasse a atenção dele. A única vez em
que meu pai se arriscou foi para a Hope poder fazer faculdade, com as idas
às aulas minha irmã passou a ganhar vida.
— E você? — Cutucou meu queixo.
— Eu tinha meu refúgio chamado Amber. — Dei de ombros. —
Conversar, ficar na presença dela, me tirava do abismo, dava uma luz no
fim do túnel.
— Ela sabia que você era da Máfia?
— Descobriu — beijei os dedos da Josephine — o pai da Amber era
abusivo, batia na mãe e na filha. Por isso foi fácil para ela se apegar a mim,
ela, assim como eu, buscava pelo que não tinha em casa. Eu estava em um
dos cassinos, Amber me ligou desesperada com medo da mãe ser morta. Fui
para a casa delas, encontrei a Amber com um olho roxo pedindo para salvar
a mãe. Entrei na sala e a cena me jogou de volta para quando o Benjamin
abusou da minha mãe. Yasmin, mãe da Amber, estava no chão sendo
espancada pelo marido. Parti para cima dele e o matei friamente.
— Elas não ficaram com medo de você?
— Não, Yasmin estava apavorada que eu fosse preso. Foi quando
contei a verdade sobre quem eu era e que tudo ficaria bem. Nenhum policial
teria coragem de me prender. Provando meu ponto eu chamei a polícia,
disse que o homem morreu de infarto e ninguém fez perguntas. Augusto,
irmão mais velho da Amber, é um merda como o pai, vive arrumando
confusão, mas depois que viu do que sou capaz ele deixou de infernizar as
duas. Até recentemente, com a guerra no Texas perdi o controle de onde o
desgraçado está e o que tem aprontado.
— Você gostava da mãe da Amber?
— Sim, sempre foi uma mulher batalhadora como a filha, aguentou
os abusos do marido para que os filhos tivessem onde morar. É uma pena
que o câncer esteja a castigando.
— Ela continua viva? — Alisou minha barba.
— Sim, quando o pior acontecer a enfermeira cuidando dela vai me
avisar.
— Você quer visitá-la? — Encarou meus olhos.
Não existiam inseguranças ou medos em Josephine. Ela entendeu
que minha relação passada foi importante, mas chegou ao fim. Tornando-se
somente uma lembrança de uma parte feliz que tive. Pois todo o meu ser e
existência giram em torno da minha esposa e no presente ao lado dela.
O meu único e verdadeiro amor.
— Acho que não é uma boa ideia. — Alisei o nariz no seu. —
Yasmin começou a ficar bastante debilitada, confusa, perdendo a memória.
É melhor a deixar em paz nos seus últimos dias ao lado da filha.
— Black, o que a Amber significou para você?
— Superação. — Sorri triste. — Ela compreendeu que eu tinha
receio com o sexo, buscou por ajuda profissional, passamos meses
experimentando o toque um do outro antes de finalmente transar. E mesmo
assim, eu demorava a conseguir fazer novamente, sempre um processo de
aprendizado. A Amber foi minha fuga da realidade, para onde eu ia quando
precisava respirar. Eu gostei dela, fui fiel o máximo que pude, transparente
e honesto. Sempre soubemos que não podíamos ficar juntos. Mas ela não
desistiu de mim e tivemos 6 anos, em que aprendi a confiar no meu corpo e
que sexo não precisava ser somente a dor das lembranças. Foi minha amiga
e namorada, alguém importante no meu processo de superação.
Puxei o ar encarando a alma da Josephine.
— Mas você conseguiu fazer em uma única noite o que ela não fez
em anos. Eu fiquei assustado no início, nas nossas núpcias, não entendi
aquele vendaval de fogo consumindo minha alma, implorando por mais,
gritando que eu estava seguro. Podia aproveitar, me entregar, eu tive
confiança de que você me mandaria embora caso quisesse, tive a certeza de
que escolheu se dar para mim. Eu tive uma conexão de almas com você que
foi ficando cada vez mais firme. — Encostei nossas testas falando baixinho.
— Eu tinha medo de falar durante o sexo, sempre era jogado no passado e
nas lembranças das vezes que transei sem vontade se ouvisse alguém
falando. Mas com você, eu quis escutar sua voz, ouvir seus desejos e
atender a cada um deles. Com você sempre foi diferente, eu me joguei na
tempestade sabendo que não seria machucado.
— E eu abracei sua calmaria entendendo que com você eu podia
descansar — sussurrou baixinho envolvendo os braços no meu pescoço. —
Nos encontramos um no outro. — Beijou minha boca. — Eu te amo Black,
confio em você e após saber tudo pelo que passou consigo compreender
quem você era no passado, o motivo de me manter distante e percebo que
você nunca usou a Amber para me magoar. Você sempre foi sincero, ela foi
sua relação do passado, mas quero que entenda, se desejar visitar a Yasmin
ou ir ao funeral, eu estarei ao seu lado, te dando apoio e te acompanhando
em cada um de seus passos, como sua esposa.
— Obrigado por confiar em mim — beijei os lábios de mel
deslizando a língua no seu interior, com ternura saboreando seu sabor
viciante — e por se oferecer para estar ao meu lado. Eu te amo, Josephine.
— Nós. — Entrelaçou as pernas nas minhas.
— Nós. — Capturei sua boca.
Eu, ela e a família que estávamos construindo, entrelaçados no nó do
infinito.
— O plano é o seguinte. — Black entrou pela porta acompanhado do
Michael e Kai. — O Kai vai lutar na arena de Las Vegas, temos uma oficial
no cassino Sorte de Ouro. Eu vou levar a Josephine para assistir — apontou
para mim — enquanto o Michael volta para Nova Iorque.
— É o nosso plano de fachada. — Kai se virou para mim, como se
eu estivesse entendendo a conversa.
— Enquanto lutamos, o Bruce será transferido para o Texas, usando
uma rota que falamos ao Lewis, se alguém tentar resgatar o Bruce
saberemos do envolvimento do Lewis. Enquanto isso, o Clark saberá da
localização onde prendemos 5 comandantes da Portões do Inferno, qualquer
tentativa de resgate saberemos que o Clark se envolveu com o Bruce e
lideram a organização.
— Vocês podem explicar? — pedi, sentada no sofá de frente para os
homens.
— Minha nora grávida não vai assistir às brutalidades de uma luta!
— Kennedy levantou acertando um tapa no ombro do filho.
— Ai, mãe! — Black reclamou alisando o ombro. — A Josephine
gosta!
— Josephine! — Minha sogra me encarou incrédula.
— A culpa é do meu irmão! Ele me levou a uma e eu gostei. — Dei
de ombros, alisando a barriga proeminente, todos os dias meu bebezinho
crescia mais no meu ventre.
Entrei na 15ª semana de gestação, eu e o Black estamos animados
para descobrir o sexo do bebê. Com a turbulência do Texas, ainda não
pensamos em nomes, mas começo a gostar de uns, acho que o Black tem
medo de eu escolher o nome de personagem de livro, principalmente os de
fantasia, considero fazer uma leve brincadeira com meu marido.
Michael, Kai e Black acabaram de retornar do Texas, passaram 3
dias lá, mais comandantes foram presos pelo Steve. Acredito que em breve
essa guerra chegará ao fim. Estou ansiosa pelos dias de paz e rezando para
acontecerem antes do nascimento do meu bebê. O Daniel ficou tomando
conta de Nova Iorque com o Nathan Belarc, na ausência dos líderes.
— Não deveria esperar coisa diferente de Kai Lucian. — Sacudiu a
cabeça desgostosa. Mordi o riso.
— Senhores, expliquem o plano — Bartolomeu pediu.
Reuni-me com meus sogros para tomar chá da tarde na sala da
minha casa. Conversamos animados sobre a gravidez. Eu não comentei com
eles sobre os segredos que o Black me contou e eles não falaram nada.
Estabelecemos um acordo silencioso de que o passado deveria permanecer
no passado. Não havia necessidade de tocar em um assunto doloroso. Essa
família conseguiu se reconstruir e era a única coisa que importava.
— Temos praticamente certeza de que o Bruce é o líder da Portões
do Inferno — Black sentou ao meu lado — nas semanas em que esteve
capturado a organização ficou desleixada, eles se mantinham longe de Las
Vegas, mas já interceptei 3 equipes tentando entrar no território, um dos
homens confessou que era para resgatar o Bruce.
— O que achamos ser mentira — Michael completou. — Eles nunca
conseguiriam invadir o complexo de Nevada com aquela equipe, iriam
precisar de um exército.
— Alguém quer nos distrair — Kai disse. — Nos fazer acreditar que
o Bruce é o líder e que seus homens tentam o resgatar. Aproveitamos da
oportunidade e conseguimos rastrear mais 3 bases deles, prendemos outros
comandantes e vamos usar da estratégia deles, contra eles.
— O envolvimento do Bruce ficou claro — Black disse — a amante
era uma comparsa que o ajudava no tráfico de mulheres da Tailândia para a
Espanha. Ela contou tudo ao ser capturada pela equipe do Dante. Ela
confessou que trabalha para a Portões do Inferno, entregou o esquema
completo. Contudo, ela disse que só se comunicava com o Bruce, mas
temos certeza de que ele não agiu sozinho.
— Não sabemos se seu comparsa é um Bonnarro ou alguém
desconhecido. Ainda existe a suspeita de ser um político — Michael falou.
— Como foi apontado pelo coronel Ernesto, nosso aliado do México. E
como os membros mais próximos do Bruce são o Lewis e o Clark, vamos
fazer uma armadilha, se um dos dois cair ou ambos, conseguiremos pôr fim
à guerra.
— Vocês prepararam algo para caso o cúmplice seja um
desconhecido? — perguntei.
— Sim — Kai respondeu — é a Operação Tridente. Uma ponta
captura o Lewis, outra o Bruce e a terceira o cúmplice escondido. Usamos
as gangues para espalharem a notícia sobre um ataque ao armazém de
drogas da Portões do Inferno. Eles começaram a se mover, retirar as coisas
do local e estamos seguindo cada um dos homens envolvidos, eles vão nos
levar ao outro líder ou comandante, é questão de tempo.
— Ao todo já prendemos 5 comandantes — Black disse. — Os
poucos que sobraram farão de tudo para proteger as drogas restantes e
garantir a segurança do líder. Eles começaram brutais nos ataques, mas
estão desmoronando como uma bola de neve. Em breve isso acaba —
passou o braço nos meus ombros — mas para atrair o Lewis e o Clark eles
precisam da certeza de que nós — apontou para Michael e Kai — estaremos
ocupados enquanto tentam resgatar o Bruce ou os comandantes.
— Matthew se recuperou e recebeu alta do hospital — Michael
falou. — Vou usar ele como desculpa para voltar a Nova Iorque. Kai e
Black vão para a arena lutar e você assistir. Temos equipes monitorando
tudo, não tem chances do plano dar errado.
— Posso opinar? — Ergui a mão.
— Sim — Black beijou o dorso da minha mão.
— Não quero ver o Kai lutar, já assisti em Nova Iorque — encarei
meu marido — quero assistir a uma luta sua. — Fervi pela ideia do Black
sem camisa sendo brutal em uma arena.
— Poxa, Phine. — Kai pareceu magoado. — Eu estava pronto para
me exibir para te ouvir torcendo por mim, mas vai me trocar pelo maridinho
— debochou.
— Maninho. — Encarei-o mordendo o riso. — Deixe os seus shows
para a sua esposa.
— Os dela são especiais. — Piscou.
— Vocês são loucos — Kennedy disse estupefata. — Querem
envolver uma grávida nesse esquema e se algo acontecer com a Josephine?
— Ninguém tocará na minha esposa e filho — Black falou convicto.
— Minha irmã e sobrinho serão protegidos por mim. — Kai soou
repleto de confiança.
— A segurança deles será prioridade — Michael afirmou. — Nada
acontecerá com a Josephine e meu sobrinho.
A emoção subiu na garganta, três homens poderosos, temidos e
perigosos como eles estavam prontos para proteger a mim e meu bebê.
Deitei a cabeça no ombro do meu marido me deixando envolver pelo calor
de ser uma Bianchi e poder contar com esses homens.
— Você concorda com isso? — Kennedy encarou o marido.
— É um bom plano. O trio Bruce, Lewis e Clark sempre foram
unidos. Geralmente um apoiava o outro nas decisões e pressões que faziam
na minha época como Capo. Não seria suspeito se ao menos um deles fosse
cúmplice do Bruce. Contudo, eles sempre foram gananciosos, duvido que
conseguiriam trabalhar bem juntos sem se sabotarem em busca do poder.
Independentemente do que vocês descobrirem com a Operação Tridente,
não esqueçam que um jogaria o outro no fogo pelo poder.
— Bom, já que todos parecem apoiar a loucura da Josephine
participar do plano, eu vou assistir à luta e garantir que nada aconteça com
minha filha. — Kennedy era uma graça brava, tive vontade de a apertar em
um abraço.
— Mãe — Black ralhou.
— Querida, vamos conversar, aquele lugar não é para você. —
Bartolomeu segurou a mão dela.
— E pode ser frequentado por uma grávida?! E se baterem na
barriga da Josephine!?
— Está vendo, filhinho — alisei meu ventre encarando a barriga —
você tem uma avó muito protetora, terá de tomar cuidado para não a irritar.
— A vovó cuida do meu menino. — Aproximou a boca da minha
barriga alisando a pele por cima da blusa. — Esses homens mafiosos são
malucos!
— Mãe, sabemos o que estamos fazendo e a senhora não vai para a
arena.
— Não escute seu pai — Kennedy disse conversando com o neto. —
Ele sempre faz o que a vovó pede. — Beijou minha barriga.
Eu quis eternizar aquele segundo, o amor em cada recanto da casa.
Eu vivia em um sonho do qual não queria despertar.

A arena no cassino Sorte de Ouro era completamente diferente da de


Nova Iorque. Luxo e riqueza explodiam no lugar. Paredes pintadas de
dourado, luzes iluminando o ambiente, vermelho no piso em tapetes
elegantes. Lugares reservados para pessoas importantes assistirem, uma
área restrita para o público selvagem.
Percebi que não era uma arena para os homens extravasarem sua
masculinidade se batendo até desmaiarem como a de Nova Iorque. Era um
lugar para pessoas cheias de dinheiro gastarem e poderem liberar a
selvageria dentro delas torcendo por seus campeões.
— Gostou daqui? — Kai perguntou sentando ao meu lado.
Black ouviu meu pedido e trocou de lugar com o Kai, em poucos
minutos meu marido entraria no ringue pronto para explodir a selvageria
escondida em sua pele, lutar com fervor e me deixar encharcada de tesão
para ser possuída por ele. Tremi quando ele me deu sua jaqueta, antes de
saímos de casa e explicou que ela simbolizava que eu pertencia a ele.
Se não fosse pela Kennedy ao nosso lado, preocupada com minha
vinda a esse lugar, eu teria atacado o Black e feito sexo gostoso na sala.
Bartolomeu convenceu a esposa a ficar em casa.
Os hormônios da gravidez começaram a mexer comigo, ainda não
tinha sentido desejos malucos por comida, mas comecei a desejar sushi com
mostarda assim que entramos no cassino. Um prato foi servido na mesa
exclusiva para mim em frente ao ringue. Kai ao meu lado e os soldados
fazendo nossa segurança espalhados.
Comi recebendo as caretas do meu irmão. Estranhamente era uma
delícia salmão com mostarda e Coca-Cola. A senhora Grace ficaria maluca
se me visse comendo isso, vou furar a dieta somente hoje.
— Muito — respondi a ele.
— É muito nojento isso. — Franziu o nariz e pegou um sushi para
si. — Que a Daisha não tenha esses desejos malucos.
— Ela engravidou? — Arregalei os olhos.
— Ainda não, mas está quase terminando as sessões de fisioterapia,
quem sabe. — Deu de ombros. — Queremos ter filhos, mas vamos deixar
acontecer naturalmente.
— Veja meu exemplo — ri — em cinco dias fiquei grávida. — Ergui
o ombro. — O Black deve ser mais potente que você — provoquei.
— Phine — ele mordeu o lábio — vou respeitar que você é minha
irmã, só por isso não te darei a resposta que merece.
— Fracote — provoquei.
— Coma seu sushi estranho. — Com o hashi levou uma peça à
minha boca me calando.
As luzes da arena se apagaram, um clarão tomou o ringue, um
homem usando camisa de listras verticais preto com branco ergueu a mão, a
outra segurando o microfone na frente do rosto.
— Boa noite, senhoras e senhores! — Um coro de gritos iniciou
ressoando por todos os lados. — Hoje temos uma luta histórica! O rei do
ringue de Las Vegas voltou para uma luta memorável!
— Ouviu bem, Las Vegas, porque em Nova Iorque quem reina sou
eu.
Achei engraçado o jeito de macho marcando território do Kai. Bati
em seu ombro engolindo um gole de coca com limão. O garçom trouxe
mais uma rodada e dessa vez pedi que acrescentasse iogurte com feijão. Kai
franziu o nariz cheio de nojo, gargalhei provando a combinação estranha,
mas deliciosa.
— Com vocês, nosso campeão de Vegas, O rei das serpentes,
Basilisco!
Os gritos foram ensurdecedores, larguei a tigela com iogurte e
feijão. Levei as mãos em concha à boca e comecei a gritar pelo meu
marido. Ele entrou ao som de serpentes, surgindo da fumaça pela passarela.
Black usava um manto com escamas de cobra. O capuz cobriu seus olhos, o
maxilar marcado pela barba escura, rígido, enviando avisos de perigo.
Minha vagina contorceu em vontade de pular no ringue e abraçar meu
campeão, deixar seu pau robusto penetrar meu corpo e transar loucamente.
Os olhos verdes fixaram em mim, ele removeu o manto, o corpo
escultural brilhando para quem quisesse ver. A tatuagem na lateral com
espirais letais, o calção verde pendendo no quadril, as pernas torneadas e o
rosto mortal. Latejei, fervendo para ser dele. Cruzei as pernas, bati palmas e
enviei um beijo para o meu homem.
Black virou de costas com os braços erguidos se exibindo para o
público. Em suas costas uma tatuagem enorme do basilisco cuspindo fogo.
Ficou de frente para mim, apontou o dedo e me enviou uma piscada que
remexeu meu interior.
— Ele marcou território — Kai disse.
— Homem gostoso! — gritei.
— E o desafiante da noite vocês o conhecem como O Esqueleto! —
anunciaram o outro lutador.
Não dei importância ao homem entrando no ringue. Meus olhos
estavam focados no Black e na brutalidade dele. Quando assisti a luta do
Kai em Nova Iorque eu vibrei pelo meu irmão. Mas nada se comparava
com o fogo consumindo minha carne, a vontade ensandecida de ver o Black
lutando, acabando com seu inimigo, exibindo os músculos fortes do meu
macho.
A certeza de que o monumento de homem na minha frente em breve
se enfiaria entre minhas pernas e me adoraria como sua deusa elevou os
níveis da loucura retumbando forte no meu coração.
— Façam uma luta justa e sangrenta! — O árbitro anunciou, se
afastando do centro do ringue.
O gongo tocou anunciando o início do round. O Esqueleto era um
homem enorme de pele negra brilhando brutalmente sobre as luzes, a
esqueleto de uma caveira em suas costas poderia ser assustadora se não
fosse a imagem do Basilisco pulando no ar e com um golpe acertando um
chute na cara do Esqueleto, o jogando no chão.
— Ele começou brutal! — Kai falou.
— Já venceu? — perguntei, encarando o árbitro fazendo a contagem
de 10 a 0.
— Não, mas o Black não costuma demorar nas lutas. Ele prefere
acertar golpes críticos ao invés de aproveitar a adrenalina de uma boa luta.
— Você luta para se divertir. — Agora entendi o motivo do Kai
demorar em sua luta, dar vários golpes e quase nenhum sendo fatal ou o
suficiente para um nocaute.
— Às vezes — deu de ombros de olho no ringue — gosto de me
perder na brutalidade de socos, chutes e do sangue arrancado com os
punhos.
— Você é um ótimo lutador. — Voltei a observar o ringue, o
Esqueleto se ergueu.
O Esqueleto não se conteve, avançou para cima do Black. Meu
marido ficou parado com os punhos envoltos por faixas verdes erguidos na
altura do rosto. Recebeu a investida do Esqueleto com um golpe certeiro da
canela nas costelas dele, mas acabou sendo acertado por um soco no ombro.
O Black se afastou pulando dois passos para trás, agarrou a corda do ringue,
e pulou para trás saindo do ringue, evitando o chute do Esqueleto.
Black não perdeu tempo, agarrou as cordas com as duas mãos se
apoiando, pulou para dentro acertando o pé na cabeça do Esqueleto que se
preparava para fugir do ataque. Black foi mais rápido e o homem caiu no
chão. A contagem iniciou e o Esqueleto perdeu o round, Black ergueu o
punho comemorando.
— ISSO, PORRA! — gritei, fiquei em pé batendo palmas para o
meu homem. Ele piscou para mim voltando ao centro do ringue esperando o
Esqueleto retornar.
— Percebeu? Brutal. — Kai apontou. — Se fosse em uma liga
oficial o golpe dele seria proibido, não se acerta a cabeça de outro lutador
por cima, somente pelas laterais. Black quis acabar com um nocaute, pena
que o Esqueleto acordou e só perdeu o round.
— Você parece um comentarista. — Sentei bebendo minha Coca,
comecei a sentir bastante calor.
— Vício de quem luta. — Deu de ombros bebendo sua cerveja.
O Black não tinha piedade do Esqueleto, a cada movimento seus
golpes ficavam mais cruéis. Ele lutou com a brutalidade de um monstro.
Devorando sua presa do jeito que escolhesse. Não sei se o Esqueleto era um
bom lutador, mas ele pareceu um iniciante diante da agressividade do
Black.
O quarto round se iniciou e eu soube que seria o último.
Black pulou baixinho no mesmo lugar observando os movimentos
do Esqueleto. O homem protegeu o rosto com os punhos erguidos rodeando
o Black em um círculo. Em um segundo ele avançou, acertou a tatuagem na
costela do Black, desferiu um soco poderoso em seu peito, agarrando a
cintura dele com o braço livre. Meu marido recebeu o impacto, ergueu as
mãos acima da cabeça, uniu os punhos descendo em um golpe violento
acertando a coluna do Esqueleto.
— ACERTA ELE, BASILISCO — gritei, odiando ver meu marido
levando golpes.
— Acaba com ele, Basilisco! — Kai gritou.
— Basilisco, Basilisco. — A plateia entoava em um coro de vozes
exigindo sangue.
O Esqueleto, para evitar a queda, agarrou a cintura do Black e
começou a empurrá-lo, atingindo as suas costas. Black não se abalou, com
um movimento do pé acertou o joelho do Esqueleto fazendo o homem
perder o equilíbrio. Black envolveu a cintura do Esqueleto com os braços, o
rosto colado à coluna dele. Rápido e letal girou sobre os calcanhares
erguendo o homem para cima.
— Acaba com ele! — berrei batendo palmas.
— Vai ser nocaute! — Kai se levantou extasiado.
Ergui-me, encarando o ringue fixada pelo próximo movimento do
Black. Tudo aconteceu muito rápido. As pernas do Esqueleto ficaram para
cima, Black segurou o tronco dele com força, curvou para trás levando o
Esqueleto consigo.
O quadril do Esqueleto bateu com uma força estrondosa no chão.
Black conseguiu proteger sua cabeça, sustentando o peso nas pernas fortes.
Pude ver as veias saltadas em suas canelas pela força de segurar o corpo
curvado para trás abraçando a cintura do Esqueleto. A cabeça do homem
colada ao abdômen do Black, os braços que seguravam meu marido
penderam para o lado.
— Foi um crítico! — Kai gritou.
— Arrebentou com ele! — gritei batendo palmas.
O árbitro declarou o nocaute, ergueu a mão do Black para o alto
anunciando o vencedor da luta.
— O vencedor invicto, O rei das serpentes, Basilisco! — os gritos
inundaram a arena comemorando a vitória do campeão.
Bati palmas, gritei e comemorei com meu irmão a vitória do meu
marido. Black vestiu o manto de cobra e como um monarca das sombras
caminhou para as cordas do ringue, as pulou em um movimento, tremi pela
ferocidade dele me fitando.
Dei a volta na mesa ficando de frente para ele. Sem dizer uma
palavra, meteu a mão na curva do meu pescoço, agarrou minha barriga me
puxando para si, a língua invadiu minha boca com possessividade. Latejei
de vontade de ser dele. Não perdi tempo, agarrei os ombros do meu marido
por debaixo do manto sentindo a pele quente, suada, o cheiro de macho
invadiu meus sentidos me fazendo perder as forças nas pernas.
Enrolei a língua na do Black, puxei o sabor delicioso de sua boca
para a minha, entreguei-me sem ressalvas ao meu macho campeão. A mão
possessiva agarrou minha cintura colando meu ventre ao seu abdômen
sarado. A língua batendo no céu da minha boca, a mão na nuca não me
deixando afastar um centímetro dele. Estou encharcada entre as pernas,
morrendo de vontade de dar para o meu homem gostoso.
— Espero que tenha gostado da luta — a voz rouca enlouqueceu
meus nervos.
— Amei sua ferocidade — sussurrei em seus lábios, inebriada de
prazer. — Diz pra mim que tem uma suíte reservada para a gente.
— A presidencial. — Mordeu meu lábio. — Suba que eu vou te
encontrar. Preciso resolver umas coisas antes. — Encarou o Kai.
— Não demore. — Beijei sua boca. — Vou me aquecendo enquanto
você não chega — sussurrei em seu ouvido.
— Porra, Josephine. — Apertou minha pele voraz.
— Precisamos ir — Kai falou discretamente.
Black acenou em positivo.
Segurou minha mão deixando a arena sem falar com outras pessoas.
Kai vinha atrás da gente. Meu coração batia como louco no peito. Sabia que
eles precisavam checar como a operação estava indo. Fariam isso em um
dos quartos do hotel do cassino para não levantar suspeita. Entramos no
elevador, respirei acelerado, quase impossível de controlar o fogo na
vagina.
— Taylor acompanhe a senhora Bonnarro — Black ordenou.
— Sim, senhor.
Desci no andar da suíte presidencial, Black acenou para mim
seguindo pela direção oposta no corredor. Torci para a operação dar bons
resultados e a guerra chegar ao fim. Meu filho merecia nascer em tempos de
paz.
Entrei no quarto, retirei a roupa e cumpri a promessa feita ao Black.
Me masturbaria a noite toda se fosse preciso, mas ele passaria por essas
portas para me encontrar com as mãos entre as pernas, pronta para o
receber.
— Você podia ter terminado no primeiro golpe, estava se exibindo?
— Kai provocou.
— Queria dar um show para a Josephine. — Pisquei vestindo o
terno.
— Eu fico muito feliz em ver você amando minha irmã. — Sorriu
apoiado na mesa. — Não restou nenhum resquício de sentimento pela outra,
né? — Arqueou a sobrancelha.
— Não. — Apertei seu ombro. — Amber é minha ex e ficou no
passado. Ainda machuca saber que a Yasmin tem pouco tempo de vida. Mas
eu quero viver o presente. Amar minha família, curtir minha esposa e fazer
todos os dias da vida dela serem felizes. O passado pode conter dores e
felicidade, mas ele nunca será capaz de ser mais importante que o presente.
— Lamento pela Yasmin, mas é bom saber que não existe risco da
minha irmã se magoar.
— Nunca houve. — Dei as costas a ele saindo do quarto.
— Quem te dá informações sobre a Yasmin?
— Ninguém, pedi a enfermeira que avisasse ao Eduardo quando a
Yasmin morrer, ainda não recebi a notícia então suponho que ela esteja
viva.
— Faz o certo. Amber também merece recomeçar e encontrar o
amor.
— É tudo que eu desejo a ela. — Segurei a maçaneta do quarto
contendo nossa equipe na suíte da ala leste. — Que ela viva o amor, tão
forte quanto o que sinto pela Josephine e possa construir uma família —
sorri feliz — estou louco para conhecer meu filho ou filha.
— Estão perto de fazer o exame para saber o sexo?
— Se o pequeno deixar a gente espiar entre suas pernas, saberemos
em poucos dias. — Bati em suas costas. — E você, quando vai me dar
sobrinhos?
— Vai acontecer na hora certa — ergueu a mão — deixe de ser
apressado. Daisha ainda se recupera, seria doloroso para ela cuidar de um
bebê com o braço machucado.
— Ela é tão forte que às vezes esqueço. — Abri a porta encontrando
o time montado para monitorar as emboscadas.
— Conseguimos? — perguntei.
— Temos movimento na localização 2. — Um soldado apontou para
a tevê. — Por enquanto o transporte do Bruce segue sem interferência.
Recebemos sinais de calor da localização 2, de onde foi informado a
localização dos comandantes para o Clark. A localização 3 segue sem
interferência.
— Os rastreadores de olho no Clark relataram algo?
— Sim, senhor, ele não saiu de casa.
— Capturamos uma ligação. — Eduardo chamou, erguendo a mão.
Ele tinha fones de ouvido e estava de frente para uma tela monitorando as
conversas captadas pelas escutas nos escritórios e casas do Lewis e Clark.
— Transmita. — Aproximei-me ouvindo atento, Kai continuou de
olho no sinal de calor se aproximando dos comandantes no Texas.
— Você prometeu que nada daria errado — Clark falou exaltado. —
Se o Bruce falar alguma coisa acabou, todos estaremos fodidos!
— Abra a câmera — ordenei.
A imagem do escritório de Clark surgiu no notebook. Ele estava
sozinho falando ao telefone. Exaltado, sua reação não deixou dúvidas de
que ele era culpado. Com um sinal de mão mandei se prepararem para a
invasão na casa do desgraçado.
— Era para ser um plano simples! O desgraçado só precisava
garantir a rota das garotas, mas acabou sendo pego. Ele foi um imbecil por
orquestrar ataques enquanto esteve fora e principalmente por fazer
bagunça no cassino. Não quero que ele sobreviva, mate-o assim que
descobrir a rota e liberte os comandantes. Preciso da minha equipe unida
para destruir o Bonnarro!
Ele encerrou a ligação.
— Os rastreadores seguindo o Lewis, informaram onde ele está? —
Kai perguntou.
— No cassino Cosmo, segue em reunião com a diretoria. Desde o
que aconteceu na Lux ele tem focado em melhorar o Cosmo — um soldado
informou.
— Temos algo contra ele? — questionei.
— Por enquanto, nenhum indício, senhor — Eduardo respondeu.
— Preparem os homens, tirem o Clark de sua casa utilizando os
túneis. Ele desaparecerá em silêncio, não o levem para as salas de
interrogatório em Vegas, quero que seja enviado para o Texas. Tive uma
ideia.
— Qual? — Kai se aproximou.
Contei a ele meu plano, arqueou a sobrancelha surpreso e gostando
da ideia. Peguei o celular e avisei o Michael, ele acompanhou a Operação
Tridente de Nova Iorque. O Chefe me deu permissão para executar a minha
ideia. Passei para os rapazes o que deviam fazer e em uma hora todas as
peças começaram a se mover.
Atendi a ligação do Steve.
— O peixe mordeu o anzol, capturei um cardume saboroso.
Ele foi o líder da emboscada para os homens do Clark que tentaram
resgatar os comandantes. Como eu suspeitei, a Portões do Inferno não
possuía muitos comandantes. Apesar de serem organizados e sua ofensiva
inicial forte, sem ninguém no comando eles não passavam de baratas
desordenadas.
— Salmão ou atum?
— Atum.
Atum significava que o Clark não tinha utilizado soldados Bonnarro.
Tive dúvidas se soldados Bianchi estavam aliados com a Portões do
Inferno. Talvez um ou outro, os ratos responsáveis por atrapalharem meus
planos, mas não todos. Comecei a recuperar a confiança nos meus homens.
Depois de cortar as ervas daninhas não restará infiltrados.
— Certo, cuide das coisas, em breve me junto a você.
— Sim, senhor. — Desligou.
— Investigue todos os soldados da divisão do Clark — ordenei ao
Eduardo. — Alguns deles são infiltrados. Comece pelos homens que
estiveram no Texas no último ano.
— Sim, senhor.
— Vou me juntar ao Michael em Nova Iorque — Kai avisou. —
Tenho negócios para tratar, te encontro no Texas em uma semana para
realizarmos seu plano.
— Certo.
— Os soldados entraram na casa do Clark — Eduardo avisou
ouvindo as escutas. — Operação limpa, sem chamar atenção, seguirão para
o Texas.
— Os túneis sempre são úteis — Kai comentou — mais ainda
quando somente a gente sabe sobre eles. — Ergueu a sobrancelha.
Era uma informação sigilosa, somente as famílias dos herdeiros
sabiam que as casas dos complexos possuíam túneis com rotas de fuga.
Podemos entrar e sair de qualquer uma sem sermos descobertos. Oficiais
impuros como meus tios não sabiam e minhas tias nunca contariam nada a
eles ou aos filhos, conheciam as regras.
Tia Gisele, esposa de Clark, provou sua lealdade mantendo o
segredo longe dos ouvidos dos filhos e do marido, graças a ela pudemos
entrar sem problemas. Se ele tivesse um sistema de segurança, como os que
têm nas nossas casas, teria notado nossa presença e causado um alvoroço ao
tentar fugir.
— Encerrem por aqui — avisei aos soldados. — Encontro vocês
amanhã.
— Até mais — Kai se despediu.
Deixei a suíte de operação, apesar do plano ter sido um sucesso e o
Clark capturado, com a nova ideia que tive conseguiremos desmoronar a
Portões do Inferno de uma vez por todas. Mas algo ainda me preocupava.
O Lewis estar de fora da armação dos cunhados era suspeito, dos
três ele sempre foi o mais esperto, ardiloso e apesar de o odiar, admito que
ele sempre foi útil ao meu pai. Não consegui compreender o motivo da
lealdade dele aos Bonnarro, ele sempre foi ganancioso, querendo mais
poder. Não tem como ter se contentado com o cargo de gerente-geral do
Cosmo e um Oficial Bonnarro.
Não posso deixar uma única ponta solta nesse caso. Dois oficiais
Bonnarro criaram uma organização que atuou por anos nas sombras,
traficando drogas e mulheres, cometendo assassinatos por dinheiro. Se
mantiveram longe da gente, mas decidiram atacar ao ter seu território
invadido, não tinha como os dois continuarem liderando a Portões do
Inferno sem imaginar que seriam descobertos por mim.
Ou eles me subestimaram, ou esse sempre foi o plano. Não faz
sentido eles tramarem a própria destruição. Existe algo de errado, fumaça se
escondendo nas trevas. Se o meu novo plano funcionar, em uma semana
terei as respostas das minhas perguntas, mas primeiro preciso arquitetar
com cuidado a armadilha para os ratos.
— Senhor — Eduardo me alcançou na porta da suíte — temos um
problema.
— Qual?
— Os seguranças pegaram um homem vendendo drogas no cassino.
— Mostrou-me a filmagem, fiquei surpreso de ver o Augusto, irmão da
Amber.
— Mate e faça o corpo ser encontrado e noticiado. — Ela merecia
saber que o irmão não causaria mais problemas.
— Devo deixar uma mensagem?
— Não, seja rápido.
— Sim, senhor. — Guardou o tablet e saiu.
Não imaginei que Augusto apareceria, me poupou o trabalho de
mobilizar uma equipe atrás dele. Seria a última coisa que faria pela Amber,
acalmar o coração dela quanto ao irmão encrenqueiro. Esse projeto de
marginal deveria ter sumido e ficado longe depois do meu aviso. Yasmin
poderia descansar em paz sabendo que sua filha não corria risco de ser
atormentada pelo Augusto.
Segui pelo corredor, com o cartão de acesso à suíte destravei a porta.
Entrei e o gemido da minha deusa atingiu meus ouvidos me fazendo seguir
atrás dela como um maldito viciado. Josephine cumpriu sua promessa de
me esperar divertindo-se consigo mesma, vou aproveitar o show da minha
amada.
Retirei a roupa, entrei no quarto pelado. A imagem erótica da minha
deusa deitada na cama, as pernas abertas, a mão enfiada na boceta melada, a
luz do quarto iluminando o corpo da safada. Um fio do creme transparente
descia por sua bocetinha se enfiando no cuzinho enrugado. Josephine gritou
girando os dedos no canal vaginal.
Inspirei o cheiro da boceta me aproximando da cama. Ajoelhado na
cama segurei os joelhos dela abrindo suas pernas o máximo que a barriga
redondinha permitia. A virilha encharcada denunciando que Josephine
passou horas se divertindo sozinha enquanto eu trabalhava. Meu pau
babava, duro como aço, louco para se enfiar no calor da minha deusa.
— É a visão do paraíso — eu disse descendo o rosto no seu centro
inspirando forte seu cheiro erótico.
— Você demorou muito — resmungou. — Já é a segunda vez que
tenho de comer minha boceta com meus dedos. — Apoiou os pés nas
minhas coxas me mantendo distante. — Vou te castigar.
— Me perdoe, minha deusa. — Beijei seu joelho, estiquei a língua
provando o suor de sua pele.
— Não. — Puxou o corpo para cima, removendo os dedos banhados
no suquinho de sua boceta.
— O que posso fazer pelo seu perdão? — perguntei, unindo as mãos
na frente do corpo, com um falso arrependimento. O pau latejou de vontade
pela minha deusa.
— Primeiro, vai assistir eu terminar de gozar. — Abriu as pernas
metendo os dedos nela. — Ah, que delícia! — gemou rouca, mordendo o
lábio inchado.
Agarrei os tornozelos de Josephine abrindo o máximo que pude suas
pernas, expondo a boceta brilhante para mim, disposto a entrar no seu jogo
de sedução.
— Goza para mim, minha deusa — pedi aproximando o rosto do
seu, bebendo seus gemidos doces. — Mete o dedo fundo como se fosse meu
cacete te comendo. — Agarrei seu punho forçando a mão a entrar no seu
vão. Josephine tremeu.
Impedi que fechasse as pernas com minhas coxas, mantive cada uma
prendendo os pés de Josephine. Com a mão envolta de seu punho ajudei nos
movimentos dos dedos finos na boceta quentinha. O som dos dedos
entrando e saindo eram músicas para o meu cacete. A cabeça robusta
brilhava pelo pré-sêmen, quase explodindo. Bati na sensibilidade de seu
buraquinho deixando ela resvalar os dedos no meu mastro sempre que os
tirava da boceta.
— Gira assim, minha deusa — falei soprando ar quente em seu
rosto.
Meti dois dedos juntos aos seus, forçando os dela a curvar formando
um gancho, tocando o ponto sensível no seu canal. Josephine tremeu,
rangeu os dentes, pulou levemente para trás, embargando na espiral de
prazer que arranquei dela. A fenda em suas pernas escaldante, melada,
denunciando o orgasmo chegando.
Puxei o biquinho sensível do mamilo, apertando o carocinho entre os
dedos levando uma nova onda de prazer pelo corpo da minha esposa. As
bolas doeram pesadas, o pau quase entrando em seu buraquinho sensível.
Mexi o quadril tomando cuidado para não a penetrar. Desci a boca na sua,
sugando todos os seus gemidos.
— Adoro como seus peitos estão inchados. — Puxei a pele sensível,
Josephine gritou com lágrimas nos olhos.
— Black! — berrou, se desmanchando no orgasmo.
— Posso brincar também, minha deusa? — pedi, mesmo sabendo
que o comando era completamente meu, ela não durou dois segundos em
sua punição.
— Cala a boca e me come. — Apertou minha bunda fincando as
unhas na pele. Meti o quadril com brutalidade em seu centro, o pau
deslizando para dentro, o canal completamente encharcado pelo orgasmo,
quente, febril, louca para que eu a comesse.
Segurei sua cintura com uma mão, a outra mantive torturando o bico
do peito. Josephine gemia, rebolava a cintura roçando o clitóris sensível nos
pelos do meu púbis, a pelugem preta dos fios da boceta se misturando aos
meus. Eu a adoro depilada, mas quando está com os pelos levemente
crescidos me enlouquece, toda molhada pelo sexo gostoso que fazemos.
— Toma minha rola, porra — rosnei mordendo sua boca, socando
forte dentro dela, tomei cuidado para não atingir sua barriga, controlando a
força nas coxas.
— Delícia! — berrou, agarrando minha bunda, remexeu o quadril
como louca. — Eu amo a sua rola, deixa eu sentaaaaaaaaaaaar — falou em
meio a um gemido entrecortado com a fala.
— Monta no seu homem, Josephine. — Agarrei sua cintura, com um
movimento deitei na cama a deixando por cima.
Josephine gritou, agarrou meus ombros, posicionou as pernas e
começou a subir e descer no meu cacete, quicando como uma maldita
profissional. Ela sabia como me enlouquecer. Deslizava sem dificuldade, os
pés arqueados, segurei sua cintura a ajudando a se manter equilibrada em
cima de mim. Ergui o quadril a encontrando na metade do caminho.
— Ai, que pau gostoso. — Revirou os olhos, de boca aberta, sem
conseguir manter o ar nos pulmões.
— O único a se enfiar nessa boceta safada. — Agarrei seu clitóris
puxando, como fiz com os peitos.
Josephine tremeu, perdeu as forças nas pernas desabando sobre mim.
Com agilidade ela segurou o tronco impedindo a barriga de bater na minha.
Agarrei seus ombros a mantendo erguida. Segurei sua bunda ajudando a se
movimentar para frente e para trás, roçando a bocetinha nos meus pelos.
Josephine começou a convulsionar perdida no prazer ardente.
Minhas bolas doeram tanto que achei que fosse explodir, o pau cada
segundo mais duro penetrando minha esposa com avidez, guloso,
devorando cada centímetro dela sem deixar nenhum de fora. Gemi rouco,
uivei quando não consegui conter o prazer escaldante tomando meu corpo.
A boceta apertando meu cacete enquanto era tomada por outro orgasmo,
mais poderoso, cru, excitante.
Ergui o tronco, segurei Josephine pelos ombros e meti nela
enlouquecidamente, buscando pela liberação do meu prazer. Ataquei a boca
da minha esposa naquela coisa gostosa que amei fazer somente com ela.
Gozar beijando, transar sugando cada um de seus gemidos, me fundir com
sua alma através dos suspiros afoitos deixando seus lábios de mel.
Esporrei potente, a porra quente preenchendo minha mulher,
tomando como meu cada pedaço dela. Josephine era completamente minha
e eu dela, e nada mudaria isso.
— Nós — murmurei completamente rouco.
— Nós — respondeu sem fôlego.
Eu amei o significado do “nós” para a gente. Um amor entrelaçado,
a junção de suas almas, unidas para sempre, mescladas em um único nó.
Deitei puxando minha esposa para os meus braços, pus a mão em
sua barriga e repeti meu ritual sagrado.
— Tudo bem aí, filhote? — Alisei o ventre da Josephine.
— Tudo, papai — Josephine respondeu com a voz fina.
Dei risada, beijei sua bochecha suada, as costas contra meu tronco.
O pau semiereto descansando na curva da bunda da minha esposa.
Recuperei as forças alisando o seu ventre, senti como se tocasse meu filho.
— Espero que esteja dormindo, você sabe as regras, quando o papai
e a mamãe tiram as roupas é hora do bebê dormir.
— Já imaginou se quando ele nascer, sempre que ficarmos pelados
ele começar a chorar interrompendo? — Prendeu o riso.
— Vou precisar ter uma conversa de homem para homem com ele.
— E se for uma menina?
— Será uma conversa em que eu suplico para deixar o papai fazer
carinho na mamãe. — Baixei o rosto beijando o ventre da minha esposa. —
Eu amo como sua barriga está ficando redonda a cada dia, abrigando nosso
filho. Estou louco para te sentir chutando, vem mostrar ao papai que você
me escuta — pedi, encostei a orelha na barriga da Josephine ouvindo os
sutis sons do seu interior. — Vou comprar um aparelho para ouvir o coração
do bebê sempre que eu quiser. — Alisei a pele delicadamente.
— Conta uma história para a gente — pediu tocando minha cabeça.
— Na minha época da faculdade, o time de hóquei do campus queria
que eu fosse um dos jogadores. Recusei o convite, mas eles não pararam de
insistir, eu até que era bom, mas não gostava do esporte, preferia o futebol
americano. Eles me encheram tanto o saco que quis sacanear com eles para
me deixarem em paz, aproveitei que o Kai, Michael e Daniel vinham para
Las Vegas e bolei um plano com eles para assustar os caras.
— Tenho medo do que vocês aprontaram. — Tremeu o corpo rindo
antecipadamente.
— Era Halloween. O Quarteto Monstro se vestiu com máscaras
representando nossos codinomes. Cortei a energia da casa da fraternidade
onde o time tinha se reunido para dar uma festa. Pegamos facões, sujamos
com sangue de porco. O Kai deu a ideia de encher o lugar com fumaça,
fizemos isso. E começamos a causar o caos. As mulheres foram as únicas
que escaparam sem serem atingidas, mas os caras, pegamos eles de jeito.
Daniel soltava fogos de artifício atingindo quem passasse na sua frente, Kai
latia como um cachorro pulando em cima dos homens e acertando eles com
os facões.
— Não acredito! Vocês estavam matando eles!
— Não, os facões eram cegos, mas devido ao sangue e ao susto eles
achavam que tinham sido atingidos e começaram a gritar e correr com
medo de morrerem. Michael era insano com uma corrente na mão, ele
prendia os caras e batia na cara deles ameaçando as diferentes formas que ia
arrancar a pele deles.
— Jesus! — Começou a rir. Sabia que ela adoraria a história.
— Eu corri atrás dos membros que eu mais tinha raiva, bati neles
com os facões, prendi a cabeça de um na escada com uma corrente, e ia
juntando outros. Peguei um taco de hóquei e comecei a surrar a bunda dos
desgraçados por ficarem enchendo meu saco sem parar. Em um
determinado momento tínhamos rendidos todos os homens na sala e
ficamos brincando para ver quem acertava mais discos de hóquei neles.
— Eles sabiam que era você?
— Não, no final da festa, com os caras acabados eu avisei que se
eles falassem sobre a brincadeira de Halloween voltaria para acabar com a
raça de cada um. No dia seguinte o time de hóquei acabou, a maioria pediu
transferência. Foi a experiência mais divertida que tive na faculdade. —
Beijei seu ventre. — Vou ensinar tudo ao nosso menino para ele aproveitar
cada segundo. Ou menina, ela será a rainha do campus.
— O Quarteto Monstro é louco. — Enxugou as lágrimas do riso. —
Queria ter visto quatro mascarados malucos aterrorizando universitários.
— Se quiser fazer o mesmo, pode me convidar — pisquei — você
está na faculdade.
— Tem razão, mas prefiro coisas menos radicais.
— Você quem sabe. — Alisei seu ventre a puxando para mim. —
Boa noite, minha deusa e meu pequeno.
— Boa noite, amor. — Beijou meu queixo se aconchegando contra
meu corpo.
Eu estou viciado na paz que Josephine me traz.
— Estão animados para descobrir o sexo do bebê? — a doutora
Grace perguntou, espalhando o gel na barriga da Josephine com o aparelho
de ultrassom.
— É um menino — falei convicto.
— E se for menina? — Sorriu provocativa.
— Vou ficar de cabelos brancos antes dos 40 se ela puxar a
personalidade da mãe.
— Black! — Josephine me cutucou rindo. — Teremos uma menina,
seja nessa gestação ou em outra.
Pisquei limpando a vista turva, aquela simples certeza em sua voz
me encheu de felicidade por visualizar como seria meu futuro com
Josephine. Ela ao meu lado e nossos filhos perto da gente, os vendo crescer,
serem independentes, fazerem o que desejar. Beijei a testa da minha esposa,
querendo alcançar aquele futuro mais do que qualquer coisa.
— Bom dia, bebê — cumprimentei meu filho, o formato do
corpinho visível na tela.
O rostinho parecia feito por argila, moldando o formato dos olhos, o
nariz pequeno, a boquinha fina, o queixo minúsculo e o corpinho encolhido.
Ele apertou os braços perto do rosto como se dormisse de bruços. As
perninhas encolhidas, os joelhos próximos à barriga. Grace ia mexendo o
aparelho na barriga da Josephine e as imagens do bebê revelaram outras
partes de seu corpo.
E então eu vi, entre as pernas o formato do sexo.
— É UM MENINO! — Levantei socando o ar.
Gritei, Josephine se assustou, Grace começou a rir. Pulei no lugar
com tamanha felicidade explodindo no meu peito. Passei a mão na testa
escondendo os olhos por um segundo, inspirei fundo tentando controlar o
bolo na garganta, a gravidez nunca pareceu tão real quanto nesse segundo.
Funguei, soltando as lágrimas, segurei o rosto da minha esposa
contemplando o sorriso gigante cobrindo as bochechas, os olhos marejados
como os meus.
— Teremos um menino — falei, a voz embargada.
— Sim, um menininho — respondeu fungando, agarrou minha
barba, toquei a testa na dela.
Mesclamos o sorriso em um beijo apaixonado.
Eu farei de tudo para proteger a felicidade desse momento e torná-la
eterna.
— O nome dele será Connor — Josephine disse.
Não tínhamos pensado em nomes, deixamos para depois de
descobrir o sexo. Meu sorriso se tornou maior, adorando a pronúncia do
nome. Connor significava louvado, glorificado. Nosso pequeno milagre.
— Connor Bonnarro.
Amei como soou o nome do nosso filho, fruto da junção da minha
alma com a da Josephine.
O nosso pequeno Nó.
— Ele mexeu! — Josephine pulou.
Levantei da cadeira e corri para ela, segurei sua barriga tentando
sentir os movimentos do Connor. A Grace explicou com bastante calma
para a gente, que talvez o bebê já tenha mexido antes, só que Josephine não
conseguiu sentir por ser sutil o movimento. Mas agora, com o início da 17ª
semana de gestação, as chances dela perceber os movimentos eram
garantidas.
Fiquei ajoelhado no chão do escritório no Texas, Josephine estava
estudando tranquilamente no sofá. A barriga crescia todos os dias, nosso
pequeno Connor é do tamanho de uma pera, medindo da cabeça aos pés
19,6 centímetros, pesando 179 gramas. Ele ainda é pequenininho, mas mexe
com nossos corações como se fosse um gigante.
— Mexe para o papai sentir, Connor — pedi, levantei a blusa dela,
pressionei os lábios em sua barriga, beijando diferentes lugares, me
demorando na cicatriz, onde senti o movimento do Connor.
— De novo! — ela gritou animada, alisando meus cabelos.
— Pode mexer, Connor, o papai te segura. — Passei o nariz na
cicatriz sentindo novamente meu menino mexendo na barriga da mãe. Não
era um chute ou algo poderoso, somente o movimento suave dele
mostrando estar vivo, se desenvolvendo e se preparando para o dia que o
teremos em nossos braços.
— Céus, isso é muito estranho. — Josephine riu com os olhos
marejados. — Parece que tem um bicho roçando minha pele por dentro.
— Josephine! — Ralhei.
— É a verdade, não é você que está sentindo. — Continuou rindo e
desfiz a careta.
Josephine tem tido enjoos fortes e crises de azia na última semana.
Ela parou de vez de furar a dieta com a minha mãe e se alimenta melhor
tentando conseguir comer sem colocar para fora. Hoje de manhã só ingeriu
uma maçã, quis fazer algo para ajudar, mas não sabia o que, além de
mandar mensagens para sua nutricionista pedindo socorro. Os chás tem
ajudado no processo.
— Ah, ele parou. — Fiquei triste.
— Deve ter voltado a dormir. Boa noite, meu anjinho.
— Boa noite, bebê do papai. — Beijei a pele esticada do ventre.
— Hum. — Ela apertou os lábios e eu já soube o que viria.
— Qual desejo estranho você teve agora?
— Nada de estranho, Connor quer um hambúrguer com milkshake
de abacate.
— Connor? Nosso filho não come fritura. — Levantei, baixei sua
blusa de lã.
— Ele come sim, está pedindo por isso. — Deu de ombros.
— Melhorou da azia?
— Não. — Sacudiu a cabeça.
— Sabe que vai piorar se comer o hambúrguer.
— Esse é um problema para a Josephine do futuro, a de agora quer o
lanchinho. — Envolveu os braços ao redor do meu pescoço. — Não vai
deixar sua esposa grávida passar vontade, né?
— Vou pedir ao chefe — cedi, ela sempre vencia.
— Oba! — Ficou na ponta dos pés colando a boca na minha.
Meti a língua na sua boca cheio de fogo. Ela veio ficar a semana no
Texas comigo, estou com a primeira parte do meu plano posta em ação para
descobrir de uma vez todos os líderes da Portões do Inferno e Josephine
garantiu de me fazer comer, dormir e ter sexo gostoso todos os dias.
Próxima semana ela retorna para Las Vegas para o final do semestre,
preciso aproveitar cada oportunidade de a agarrar antes que eu fique
sozinho.
— Vamos, papai, o Connor quer comer. — Bateu no meu ombro se
desgrudando de mim. Suspirei, sabendo que não venceria aquela.
Soltei sua cintura, Josephine voltou a deitar com o tablet em cima da
barriga estudando. Sentei na minha cadeira e fiz o pedido do almoço ao
chefe responsável pela alimentação na base do Texas. Batidas suaves na
porta, liberei a entrada e Matthew apareceu junto do Steve.
O Matthew se recuperou bem da cirurgia, voltou a ativa com sede de
vingança. Se conteve por pouco para não quebrar a cara do Bruce e do
Clark, ou colocaria meu plano em risco. Só temos uma chance e precisava
que tudo saísse como o planejado. Essa guerra precisava chegar ao fim,
faltavam 24 semanas para o nascimento do meu filho, não deixaria nada
atrapalhar.
— Bom dia, Josephine — cumprimentou minha esposa com um
sorriso.
— Bom dia, cunhadinha. — Steve, folgado, se sentou no sofá
colocando os pés dela em seu colo. — Como está meu sobrinho?
— Ele acabou de mexer. — Josephine mordeu os lábios recebendo
uma massagem do Steve nos pés.
Fulminei meu irmão querendo arrancar as mãos dele por tocar na
minha esposa. Nunca me preocupei com o Steve em relação às mulheres, e
nem tive ciúmes das poucas vezes em que ele interagiu com a Amber. Mas
o ver tocando os pés da Josephine me encheu de vontade de arrancar meu
irmão do sofá pelo pescoço e dar uma surra no desgraçado para não tocar
minha mulher.
Levantei, como um animal enjaulado prestes a sair do cativeiro,
Matthew pressentiu o perigo, deu um passo para trás. O bobão do meu
irmão mais novo riu para a minha esposa. Josephine fixou os olhos em
mim, tremeu pelas chamas que lancei em sua direção. Pude sentir a
bocetinha apertando querendo ser devorada pela minha brutalidade.
Meti a mão no pescoço do Steve. O safado me encarou divertido,
apertando mais os pés da Josephine. Baixei o rosto ficando na sua altura, ele
não teve medo da morte. Era culpa minha, sempre fui protetor com o Steve
e o safado sabia que eu não teria coragem de bater nele. Mas não o deixarei
ficar cantando minha mulher.
— Se quer massagear os pés de alguém, arrume uma namorada! —
O puxei pelo pescoço.
Josephine encolheu as pernas, fiz Steve ficar em pé, contendo a
vontade assassina.
— Não posso agradar minha cunhada? — Encarou-a. — Você casou
com um maluco ciumento. — Agarrou minha mão. — Pode parar de bancar
o machão para cima de mim.
— Não toque na minha esposa — avisei.
— Ih. — Deu de ombros, debochado. — Como se eu fosse louco de
mexer com a Josephine. Fica tranquilo, mano, sua mulher seria a última que
eu daria em cima. — Apertou meu braço. — Temos negócios a tratar,
vamos.
— Você é um saco.
— Ninguém consegue ficar irritado com o Steve — Matthew falou
— é um dom que ele tem.
— Por isso que adoro meu cunhado — Josephine respondeu risonha.
— Você quer me ver cometer um assassinato? — perguntei a ela.
— Só não será o meu. — Steve respondeu, se afastando. — As
peças entraram em movimento, você vem?
— Sim, preciso estar presente. — Encarei minha esposa.
Matthew tinha razão, era difícil ficar irritado com o Steve. Sabia que
era o ciúme falando mais alto. Odeio a ideia de Josephine com outro
homem e não esqueci do colega de faculdade folgado que queria namorar
minha esposa. Nunca tive coragem de perguntar a ela se ficou com ele,
cometerei um assassinato se souber a resposta. Prefiro viver na ilusão de
que minha doce esposa nunca teve outro homem em sua vida.
Somente o presente importava e mais nada.
— O almoço será servido onde você quiser. — Sentei ao seu lado
beijando seus cabelos. — Se sentir mal me chame ou a uma das
enfermeiras.
— Já disse que não preciso de enfermeira. — Revirou os olhos.
— E vai continuar tendo elas do seu lado. — Beijei sua bochecha.
— Preciso ir trabalhar.
— Certo — suspirou — não demore para voltar.
— Prometo. — Colei nossos lábios. Alisei sua barriga, soltei sua
boca com um selinho e baixei o rosto falando com meu filho. — O papai
volta logo, não deixe a mamãe enjoada.
— Sim, papai. — Steve fez voz de criança e tive vontade de jogar o
sapato na cara dele.
— Melhor a gente ir. — Matthew pressentiu a vontade assassina e
levou meu irmão para longe.
— Não maltrate o Steve, meu cunhado é divertido e quero que meu
filho conheça o tio.
— Sim, senhora. — Beijei suas mãos, adorando o sorriso tranquilo
em seus lábios. — Volto logo.
— Tchau, amor. — Acenou feliz.
Deixei o escritório já morrendo de saudades da Josephine. Ela se
infiltrou em cada célula do meu corpo me tornando um completo
dependente do seu carinho, amor e atenção. Eu não saberia como viver um
único dia sem minha esposa. Posso ter passado 36 anos sem a presença dela
na minha vida, mas todos esses anos se transformaram em pó, em nada,
comparado aos 4 meses do nosso casamento.
Todos os dias se tornam infinitos na presença dela.
— Me atualize — pedi.
Percorri o corredor na base seguindo para a sala de operações.
Matthew e Steve ao meu lado, topamos ocasionalmente com um soldado
fazendo ronda ou executando as funções designadas.
— Fizemos como você pediu — Steve respondeu. — O Clark ficou
preso em uma cela sem contato com o mundo, passando fome e sede desde
que foi preso. Tomei cuidado para ele não ver nossos soldados. Ele não sabe
quem o prendeu e nem o motivo. Hoje de manhã iniciamos a operação, o
coloquei para dormir e instalei o rastreador nos sapatos e relógio dele. O
colocamos em um caminhão e deixei objetos para ele conseguir se soltar.
Fui informado que ele pulou na estrada há cinco minutos.
— Ótimo, e o Bruce? — Encarei o Matthew.
— Ele passou a semana calado, não entregou os cúmplices. Mesmo
após informarmos que a Camila o traiu e confessou o esquema com ele para
o tráfico de mulheres. Ontem de manhã eu avisei que sabíamos da ligação
dele com o Clark e Lewis, o Bruce ficou surpreso, mas não falou nada.
— Meu pai treinou bem os desgraçados para resistirem a
interrogatórios.
Odiei o empecilho que era o treinamento deles. Todos os soldados e
Oficiais Bianchi passavam por um treinamento parecido com a iniciação
dos Herdeiros. A possibilidade de termos informações vazadas por
membros capturados não era uma opção, os segredos dos Bianchi deviam se
manter guardados. O lado ruim era que ensinávamos nossos inimigos a
como manter seus segredos.
Michael queria interrogar o Bruce, mas eu sabia que no momento
em que colocasse as mãos nele o homem estaria morto. Usarei o Chefe
somente como última opção, caso meu plano falhe, o que era impossível.
— O colocamos em um caminhão, fizemos o mesmo processo do
Clark com o Bruce. Os rastreadores mostram que eles estão perto de se
encontrarem na estrada. O Bruce simulamos um acidente para não parecer
que foi de propósito. Os desgraçados vão pensar que foi uma sorte eles
terem escapado. Sem ninguém por perto eles vão conversar e saberemos
tudo que precisamos.
— Como planejado — pontuei.
Minha ideia desde o início era usar o Clark e o Bruce para saber
quem eram os últimos comandantes e se o Lewis possuía ligação com eles.
Interrogatórios não surtiam efeito. Eles pensavam que um escapou por
causa de um acidente e o outro pela esperteza de se soltar das cordas. Vão
se encontrar, conversar e só os pegarei de volta quando tiver o que preciso.
Homens rondam as redondezas prontos para capturar os dois
novamente, me certifiquei que eles seriam jogados em uma estrada no meio
do nada. Com a ajuda do policial Moore fechei a interestadual. Não passará
um carro para eles pegarem carona, sem telefones para pedirem ajuda terão
de contar um com o outro. Eles eram cúmplices, só preciso das últimas
peças para destruir a Portões do Inferno, achar a base principal deles e pôr
fim a guerra.
Os comandantes presos deram informações sobre como funcionava
o esquema de drogas com os mexicanos. Gael tinha tudo o que precisava
para acabar com os Flores. O tráfico humano chegaria ao fim após o
desmonte da organização. Dante ficaria responsável pelo resgate das
mulheres que não foram vendidas e as levar de volta a suas casas.
Matthew iria liderar as equipes de extermínio a qualquer esconderijo
da Portões do Inferno. Steve ficaria encarregado de conversar com os
principais aliados da Portões do Inferno, informando o fim da organização e
que ela tinha sido tomada pelos Bianchi, um alerta para se manterem longe.
Sorri, antigamente o Quarteto Monstro que faria essa tarefa.
Mas hoje, com o Michael como Chefe, Daniel o Consigliere, Kai o
Subchefe e eu um Capo, não lidamos com operações de limpeza como a
que os rapazes terão de fazer, somente nos movemos para missões grandes.
Como a de extermínio da Portões do Inferno, os ataques às nossas bases
iniciaram causando o caos, invadiram nosso território e o inimigo se
escondeu entre a gente. Era uma operação para o Quarteto Monstro.
Mas o controle de danos ficou sobre a responsabilidade do Trio de
Oficiais. Visualizei um futuro em que os três se uniam e tornavam-se algo
novo. Uma nova geração ou versão do que foi o Quarteto Monstro. Pensei
no Connor, Ethan e William, a próxima geração de Herdeiros Bianchi, será
que eles conseguiriam ser amigos como eu sou dos pais deles? Quando o
Kai tiver um filho homem ele será o quarto membro do Quarteto de
Herdeiros.
Sorri nostálgico, vou garantir que as próximas gerações não passem
pelo sofrimento que a minha enfrentou.
Entrei na sala de operações, sentei atrás da mesa observando o
monitor. Drones sobrevoaram a região filmando o Clark correndo pela pista
e o Bruce indo em sua direção, sem saberem que estavam próximos de se
encontrarem. Os rastreadores nos sapatos e relógios mostravam a
localização e as escutas escondidas nos bolsos das calças de ambos nos
permitiam ouvir qualquer som produzido por eles.
— E se eles não falarem do Lewis? — Steve questionou.
— Teremos a certeza da inocência do terceiro suspeito. — Cruzei as
mãos, apoiando o queixo nelas.
— Ele continua em Vegas, focado no trabalho — Matthew disse. —
Se ele estivesse envolvido estaria no mínimo com medo de ser acusado pelo
Clark e pelo Bruce.
— Ele não levantou suspeitas, mas não vou o descartar sem ter a
certeza final. Ainda é estranho como a Portões do Inferno perdeu seu poder
de ataque e tem recuado como ratos ao serem invadidos. Não tem como isso
ser resultado somente da prisão dos líderes.
— Uma organização mal estruturada ruiria com a queda de um único
membro — Steve indagou. — Sem os líderes, os comandantes presos,
muitos soldados devem ter ficado com medo e fugido, causando um
impacto significativo na força de ataque.
— Steve tem razão — Matthew concordou.
Não conseguia ter a confiança deles quanto aos acontecimentos, para
mim tudo ainda era suspeito e só descansarei depois de colocar o fim
definitivo na organização. Continuei de olho nas imagens, levou mais de
uma hora para eles se encontrarem na estrada, escutei com atenção cada
uma das palavras ditas por ambos.
— Merda, o que faz aqui? — Bruce perguntou.
— Consegui fugir enquanto era transportado — Clark respondeu
sem fôlego. — Os Bianchi te pegaram, mas não sei quem me sequestrou.
— Como não?
— Eles invadiram minha casa de noite, fui colocado para dormir e
preso por dias. — Enxugou a testa. — Você tem um telefone?
— Olha bem para mim, desgraçado, fui torturado por dias! —
Apertou o outro pelo colarinho, o zoom do drone deu uma visão meio
embaçada da cena, precisava ficar distante para não ser descoberto.
— Você sempre soube que se um de nós fosse capturado não seria
resgatado. — Puxou as mãos do Bruce se afastando. — Quando iniciamos a
Portões do Inferno queríamos fazer o Bonnarro pagar por não ouvir nossas
ideias sobre o tráfico humano e a droga do Flores. Precisávamos crescer
mais antes de nos mostrar, mas você tinha de concordar com a maldita ideia
de atacar o Black!
— Ele invadiu nosso território! — gritou. — Não podia ficar de
braços cruzados vendo o moleque acabando com tudo que construímos.
Mantivemos as outras organizações criminosas no Texas longe causando o
terror neles, mas o viado do Black nunca seria assim! Sem o apoio do
governador o que você queria que fizéssemos?!
— O desgraçado trocou de lado assim que o Black se meteu nos
nossos negócios. — Chutou o asfalto.
— Acha que é a esse político que o Ernesto se referiu? — Steve
perguntou.
— Possivelmente — respondi, a atenção fixa na tela.
— Eles estão contando tudo que queremos — Matthew disse.
— Temos de sair dessa estrada e ligar para o Jones, ele foi o último
que sobrou.
— Mas o…
— Fomos abandonados, ainda não percebeu!? — Bruce limpou a
testa, exaltado. — Não aguento mais dias no inferno de interrogatório do
Black. Se o Bianchi colocar as mãos em mim será o meu fim, você sabe que
aquele maldito psicopata sempre consegue o que quer. E eu cansei dessa
merda. — Socou o ar. — Jones é nossa opção de sobrevivência. Você
mesmo disse, se um de nós fosse capturado o outro não faria nada para nos
resgatar.
— Podemos chegar à base se seguirmos por aqui. — Apontou. —
As instalações no subsolo são seguras, eles não vão conseguir nos rastrear.
— Quando nos reunirmos com o Jones decidimos o que fazer. Os
outros comandantes capturados devem ter contado tudo que sabiam. Fomos
espertos de não revelar a eles a verdadeira base.
— Sim, somente o Jones sabe, porque atua nela. Nosso exército
escondido será usado, atacaremos o viado do Black e ao menos o Texas será
nosso de novo.
— A guerra de verdade vai começar — Bruce disse.
— Não os capturem agora — avisei a equipe que estava por perto.
— Continuem seguindo com os drones. Avise ao Nathan Belarc que chegou
a hora de usar o Esquadrão da Morte. O Quarteto Monstro vai liderar a
operação. Assim que eles chegarem na base, atacamos.
Levantei, peguei o celular pronto para informar ao Michael, Daniel e
Kai nossa missão. Tenho tudo o que preciso para pôr um fim a essa guerra
maldita.
Enquanto a equipe do Quarteto Monstro se reunia no Texas, permiti
que Clark e Bruce fugissem e entrassem em contato com os membros da
Portões do Inferno. Em um dado momento, eles trocaram de roupa, o que
impediu de continuarmos ouvindo as conversas, mas permaneceram com os
relógios, os rastreadores ativos. Foram quase 2 dias para eles chegarem à
sua base, localizada perto do reservatório Richland-Chambers, era uma
estrutura subterrânea cuja única entrada era uma porta coberta por um
monte de terra, escondido pelas árvores.
— Prontos para a caçada? — Michael indagou carregando a
semiautomática 9mm, com capacidade para 30 tiros, era uma arma de
estrutura grossa e cano fino, com apoiador para ambas as mãos. Perfeita
para tiros rápidos e certeiros, sem precisar mirar com cuidado.
— Faz tempo que não uso meu rifle, infelizmente não terei lugares
altos para poder dar suporte. — Kai inclinou a cabeça pondo o olho na mira
do rifle de pressão, o cano longo de alta precisão, do jeito que o melhor
sniper dos Bianchi gostava.
— Quero acabar com a raça dos desgraçados, William começou a
engatinhar pela casa e a se apoiar para ficar em pé, se eu perder os
primeiros passos do meu menino vou enlouquecer. — Daniel guardou as
pistolas Glock 9mm nos coldres, ele gostava da precisão das armas e do
saque rápido.
— Calma, Daniel, ele ainda não tem um ano para começar a andar
— Michael avisou.
— Não importa, Will é inteligente, vai andar antes de 1 ano.
— Ele já está perto de completar um ano? — perguntei, guardei as
9mm no coldre na coxa e conferi a munição da metralhadora MP5, era uma
beleza de segurar nos cabos de aço e não ocupava muito espaço, com uma
capacidade de destruição letal. As facas guardei na cintura da calça e no
coldre do calcanhar.
— Vai fazer 9 meses em três semanas.
— Ele nasceu quase no mesmo dia que a Daisha sofreu o acidente
— Kai comentou. — Ela termina as sessões de fisioterapia em um mês e
poderá voltar às atividades normais.
— O tempo passou rápido — Michael disse — parece que foi ontem
que conheci a Hope. Mas o Ethan já tem quase 2 anos, William 8 meses,
Black esperando o primeiro filho e Daisha quase recuperada. — Sorriu
nostálgico. — Colocaremos um fim ao inimigo de hoje para que nossos
filhos não precisem passar pelo inferno de uma guerra.
— Sim, senhor — respondemos.
Terminamos de nos equipar e deixamos a sala de armas na base.
Encontrei minha esposa comendo batata frita com guacamole. Ela
caminhou ao lado da enfermeira conversando distraída, lambeu a bochecha
do dedo e sorriu ao me ver.
— Chegou a hora? — Parei à sua frente encarando a feição
apreensiva.
— Sim. — Envolvi sua cintura. — Tem como isso ser bom? — Fiz
careta encarando o prato em sua mão, não quis deixá-la preocupada falando
da missão.
— Uma delícia, prova. — Trouxe uma batata melada de guacamole,
abri a boca. Pensei que o gosto seria ruim, mas era uma boa combinação. —
Promete tomar cuidado? — Os olhos negros turvaram, a voz dela ficando
rouca.
— Sim. — Colei nossas testas. — Volto antes do amanhecer e
depois iremos para casa.
— Certo. — Envolveu minhas bochechas.
Toquei seus lábios doces com gosto de guacamole, deslizei a língua
na sua em um beijo lento, explodi meu afeto, amor, carinho e cuidado com
seu corpo. Pressionei sua barriga na minha, alisei a pele avantajada do
ventre. Segurei seu queixo, inspirei o cheiro em meio ao beijo, colei os
lábios aos seus em um selinho demorado. Encarei os olhos preocupados,
sorri, fiquei de joelhos e segurei meu filho através da barriga dela.
— O papai volta logo, não deixe a mamãe ficar acordada até tarde.
— Beijei sua barriga por cima da blusa.
— Toma conta dele. — Percebi que Josephine falava com o irmão.
— Protegemos um ao outro. — Kai puxou a irmã pelos ombros em
um abraço de lado. — Vou voltar para a Daisha e trazer esse homem para
você.
— Também retornarei para a Hope e o Ethan — Michael avisou. —
Seu marido voltará inteiro.
— Emily e William me esperam, mas nunca voltaria sem um dos
monstros ao meu lado. — Daniel deu um quase sorriso para minha esposa.
— Durma tranquila, retornamos logo.
— Obrigada. — Sorriu mais tranquila.
Levantei, alisei seu rosto sabendo que não poderia demorar mais.
— Até mais, minha deusa.
— Tchau, amor. — Sorriu gentil.
Dizer tchau à Josephine nunca era fácil. Com dor no coração a
deixei no corredor da base e segui com meus companheiros de equipe para
os helicópteros. Era hora da caçada. Em menos de uma hora conseguimos
chegar ao reservatório. Para não chamar atenção, pousamos a 3 quilômetros
da entrada da base em uma área de grama-baixa, sem árvores para
interromper os 3 helicópteros.
Para a operação contamos com 5 mil soldados do Esquadrão da
Morte, não sabemos a quantidade de soldados do inimigo, por isso nos
fortalecemos com reforços. Gael enviou mil homens, da minha equipe de
Las Vegas peguei mais 500 soldados, Daniel trouxe 800 dos seus homens,
Kai uma equipe de 450 e Michael mobilizou mais 1000 dos seus soldados.
Totalizando 8.750 soldados que passaram dois dias montando guarda ao
redor do reservatório, garantindo um cordão que não deixaria nem uma
barata escapar.
Na base ficaram 3 mil homens fazendo a proteção da Josephine e do
nosso território. Usamos muitos dos novos soldados adquiridos na
conquista do Texas. Eram homens novos, mas de confiança, não foi difícil
conquistar a lealdade deles. O resto dos integrantes cumpriam as rondas em
Austin com o apoio da polícia. Temos certeza de que os homens da Portões
do Inferno não saíram do subterrâneo, mas eles podiam usar túneis, planejar
um ataque surpresa. Não seremos emboscados.
— Preparem-se — Michael avisou pelo comunicador. — Iniciar
Operação Extermínio dos Demônios. — Equipe Basílico pelo Leste,
Cérbero para o Norte, Wolf para o Oeste e Dragon para o Sul. Cerco total,
ninguém escapa. Vão!
Na noite quente, com os insetos fazendo zoada, um exército se
movimentou pela área florestal se aproximando de um único alvo. Os
óculos de visão noturna pesaram na minha cabeça, as equipes divididas se
comunicando pelos rádios em códigos. Em menos de 30 minutos avistei a
entrada da base, um portão de ferro pesado enfiado em um morro de areia
com grama o cobrindo. A imagem nítida era diferente do que foi mostrado
pelos drones. Três homens patrulhavam, reunidos ao redor de uma fogueira.
Mirei, acertei o primeiro, um tiro silencioso da esquerda acertou o
segundo e o terceiro caiu sem que se desse conta do que aconteceu aos
outros. Eduardo foi à frente checando a passagem, o portão estava trancado.
Ele bateu, uma pequena brecha surgiu com um homem dentro. Um tiro
acertou o meio de suas sobrancelhas. Não precisei perguntar para saber que
era obra do Kai, somente o desgraçado tinha habilidade para conseguir
acertar de primeira.
Com um baque o portão foi aberto e homens saíram. Eduardo
derrubou o primeiro, outros soldados atiraram acertando o restante dos
homens. Com um sinal de mão indiquei que podiam seguir em frente.
Fiquei para trás ouvindo a movimentação deles dentro da base. Não
demorou muito para as explosões começarem. Como um enxame de
insetos, os soldados Bianchi começaram a invadir o portão, enfileirados,
armas em punho e ordenados seguindo nossas ordens de avanço.
Eduardo informou que a entrada estava limpa. Encontrei o Michael,
o Daniel e o Kai no mar de homens vestidos de preto, com um movimento
de cabeça entramos, removi os óculos de visão noturna. Fui à frente,
Michael atrás de mim seguido pelo Daniel e o Kai. Ele sempre ficava para
trás, era nossa melhor cobertura. A base deles era um bunker enorme, com
escadas em espiral descendo para o subsolo. O brilho dos tiros ferozes
iluminou o caminho. Cheguei ao fim da escada, sem inimigos à vista.
— Os soldados estão a leste enfrentando o que parece ser a grande
concentração do exército inimigo, fizeram contato no refeitório — Michael
disse. — Vamos para o Oeste, os líderes devem estar por aqui. — Apontou
a outra direção do corredor.
— Kai, continue na escada até chegarmos ao final do corredor —
avisei. — Precisamos da sua visão.
— Deixa comigo. — Apoiou o rifle no corrimão pronto para nos dar
cobertura.
— Ficarei aqui com o Kai — Daniel avisou, ao pé da escada com
armas próximas ao rosto, pronto para defender o amigo.
— Em frente — Michael chamou avançando.
Tínhamos soldados esperando na escada, podia deixar eles fazerem a
limpa, mas a adrenalina correndo nas minhas veias exigiu que eu fosse à
frente. Ansiei encontrar um dos meus tios e acabar com a raça deles, não
precisávamos de mais informações. Essa é a última batalha. Escorei o
ombro na curva do corredor, Michael de frente para mim, inclinei a cabeça
vendo que o corredor se estendia com várias portas. Fiz sinal para o Kai e o
Daniel assumirem nossa posição.
Eles chegaram e continuei avançando com o Michael. Armas rentes
ao rosto, respiração controlada, passos como o de um gato, dedo no gatilho
pronto para abater qualquer inimigo. Girei a maçaneta da primeira porta,
entrei na sala a encontrando vazia, segui para as próximas, sem ninguém
dentro. No final do corredor uma porta de metal pesada. Tentei abrir, mas
não consegui.
— Exploda — Michael deu a ordem.
Afastamo-nos enquanto os soldados treinados para abrirem portas
como aquela fizeram seu trabalho em questão de minutos com explosivos.
A fumaça dificultou a enxergar com clareza. Tossi limpando os pulmões.
Voltei à posição de ataque e segui entrando na sala. Passei pelo portão de
ferro, aos poucos a fumaça começou a sair permitindo enxergar dentro da
sala.
Um movimento rápido na fumaça a minha esquerda me alertou, girei
o quadril a tempo de segurar com a mão o cano da arma apontada para a
minha cabeça. Empurrei para o lado, queimei a palma pelo tiro disparado
esquentando o metal. Sem largar a arma, com a mão livre puxei o gatilho da
metralhadora transformando a barriga do inimigo e um queijo suíço. O
sangue quente espirrou no meu rosto, larguei o corpo do homem
percebendo que Michael matou outro soldado.
Kai atirou em linha reta, segui a trajetória da bala percebendo as
cinco entradas de onde surgiam homens armados. Daniel se envolveu em
uma luta corporal com um, os soldados Bianchi invadiram a sala e o tiroteio
começou com força. Recuei tomando cuidado para não ser atingido pelas
balas. Um movimento suspeito à esquerda chamou minha atenção, pessoas
fugindo.
— Achei eles — avisei no comunicador — as 4 horas — usando um
relógio como base indiquei a eles qual direção deveriam seguir.
Disparei pelo túnel, abati com tiros quem ousou cruzar meu
caminho. Meus amigos seguiram atrás de mim, atirando, dando cobertura,
garantindo que ninguém se ferisse. Sem eu perceber de onde vinha, o clarão
de uma granada surgiu, o som ensurdecedor. Fui jogado com violência para
trás. Bati no corpo de alguém, não sabia se estava sendo amparado ou se
estava jogando um aliado para trás.
Tudo escureceu, fiquei surdo, desnorteado, a cabeça doendo e a
perna ardendo. Rosnei agarrando a coxa, notei mãos aparando um
ferimento, sangue manchando minha roupa. A visão entrou em foco e pude
ouvir novamente. Virei o rosto percebendo que quem me segurou foi o
Michael, ele tinha cinzas nas bochechas. Kai estava sobre mim apertando o
ferimento na minha coxa enquanto Daniel passou as faixas ao redor
estancando o sangramento.
— Porra, Black! — Kai gritou. — Eu disse que te levaria de volta
para a Josephine, tome cuidado!
— Não tive como prever a granada — reclamei.
— Os soldados vão à frente, não se arrisque — Michael ordenou.
— Conseguiram limpar a passagem — Daniel avisou. — Caralho,
você desmaiou por 10 minutos, não nos assuste de novo!
— Não percebi que tinha desmaiado. — Sacudi a cabeça.
Com a ajuda do Michael fiquei em pé. Era ruim manter o equilíbrio,
a perna doía, não iria deixar um ferimento como esse me impedir de
continuar. Apoiado no Michael seguimos os soldados abrindo caminho.
Outras granadas foram jogadas, homens perdiam membros, outros morriam,
era um verdadeiro inferno ficar no subsolo com a fumaça, o teto desabando
e pessoas gritando, sofrendo, morrendo.
Eu quase perdi a porta na minha lateral. Escondida pela poeira. Os
soldados seguiam em frente, mas senti que tinha coisa ali dentro. Estanquei,
encarei a porta e fiz sinal para o Michael. Com um assobio ele parou o
movimento do Kai e do Daniel indicando o meu achado. Era uma porta de
madeira com papel de parede imitando os tijolos. Só consegui enxergá-la
por causa do papel descolando, camuflada e escondida pela fumaça.
— Para trás — Daniel avisou, puxou o papel de parede encontrando
a estrutura de madeira. Apontou para o trinco, não tinha maçaneta. Atirou
arrombando as travas.
— Com cuidado — Michael avisou.
Ele foi para a minha frente, me apoiei no peso da perna, Daniel atrás
de mim e Kai cobrindo nossas costas. Michael empurrou a porta, acendeu a
lanterna iluminando o lugar. Os olhos do Bruce encontraram os meus, ao
seu lado, Clark se levantou derrubando uma cadeira. Um terceiro homem se
escondia dentro da sala com eles. Michael entrou e o segui, logo os quatro
monstros preencheram o cômodo.
— Boa noite, senhores — Michael os cumprimentou. — Devo
parabenizá-los pela ousadia de criarem uma organização sendo um membro
dos Bianchi ou pela burrice de acreditarem que nunca seriam pegos?
— Não é assim. — Bruce tremia. — A Portões existe muito antes de
você assumir.
— Cala a boca — Clark rosnou.
— Então você é o famoso Michael Bianchi — o terceiro homem
falou, ele era o menos apavorado, não parecia estar à beira da morte.
— Não me interessa saber quem você é, vai morrer em instantes —
Michael respondeu.
— Deixe-me ao menos te dar um presente. — O homem colocou a
mão no bolso. Michael atirou antes que ele pudesse se movimentar,
acertando a cabeça do infeliz.
Clark, o mais perto de mim, se agachou e correu na minha direção.
Ele bateu com força o ombro no meu estômago. Caí pela falta de equilíbrio,
as costas doeram ao serem jogadas no chão. Ergui o punho e desci com
força acertando sua nuca. Ele balançou no movimento, girei o quadril me
pondo em cima dele, apertei o colarinho da camisa com uma mão e a outra
meti a arma na sua boca.
— Eu sempre soube que um dia te mataria — rosnei aproximando o
rosto do seu. — Deveria te prender no porão e torturar seu corpo imundo
por dias, somente por diversão. Vou adorar ouvir seus gritos desesperados.
As lembranças de quando o maldito ficou me pressionando para
transar na frente de todos, com a prostituta, nublaram minha visão. Meti a
arma com força na sua garganta arrancando sangue, fodendo sua boca com
o cano.
— Mas gastar tempo com você significa que vou perder momentos
preciosos com minha mulher e meu filho e você não vale a pena.
Ele tentou se livrar de mim, mexendo o quadril, agarrando meus
braços, mas não deixei. Apertei a mão ao redor do seu pescoço impedindo a
passagem de ar, saboreei o desespero em seus olhos assombrados. Meti a
arma com mais força, o sangue gotejando de sua boca.
— Você é um traidor e pela lei dos Bianchi sua família pagará o
preço do seu crime. Vou matar seus filhos e extinguir sua existência do
mundo.
Apertei o gatilho explodindo os miolos do desgraçado. Levantei,
ignorando a dor na perna caminhando mancando até o Bruce.
— Meu filho não tem culpa! — Bruce gritou. — Ele nem mesmo
sabia da organização. Nunca contamos para ninguém. — Recuou contra a
parede. — Por favor, Black.
— Desde que você foi preso seu filho sofreu o mesmo destino em
Vegas — menti. Minhas tias e os filhos foram investigados, mas estavam
limpos e não sabiam sobre a organização. — Aquele frouxo, não foi
instruído direito, deveria ter pegado mais pesado com ele.
— Olha, eu não queria isso! Foi o Clark que me convenceu. —
Ergueu as mãos, assustado como um ratinho.
— Não era o Clark que perseguia as mulheres e as vendia, foi tudo
você.
— O tráfico humano gera um lucro absurdo, muito melhor do que as
drogas. Se você me deixar mostrar como fazer, podemos implementar…
Acertei a cara do desgraçado com um soco poderoso, cansado de
ouvir suas palavras. Nunca planejamos fazer nenhum deles de refém, era
uma missão de extermínio, queimaremos os corpos no bunker e selaremos
as portas. Ninguém vai saber o que aconteceu aqui. Minha perna doeu, mas
não me movi, acertei três socos na boca do estômago dele.
— Você conhece muitos compradores de humanos, o que acha de eu
te vender? — Segurei seus cabelos, o mantendo de pé pelos fios. — Será
que vale alguma coisa?
— Podemos escolher os piores para ele — Michael disse. —
Somente os sádicos para fazerem o que não fazemos. — Percebi que se
referiu a abuso sexual.
Engoli em seco, o desgraçado do Bruce merece morrer. Mas a ideia
do abuso me causa arrepios.
— Por favor — implorou.
— Cala a boca. — Meti um tapa em seu rosto arrancando sangue, as
feridas da tortura mal haviam sido cicatrizadas.
— Você vai pagar pelo que fez, Black. — Sorriu com sangue nos
dentes. — Quando menos esperar sua queda acontecerá e eu espero que
você sofra, que sua esposinha seja rasgada e seu filho de merda morto.
A fúria me tomou, fazendo-me perder o controle. A mera ideia de
Josephine e Connor serem machucados trouxe a besta contida dentro de
mim para fora. Ergui o punho socando o Bruce, acertei golpes seguidos em
seu tronco, rosto, ele desabou no chão com dificuldade para respirar.
Montei em seu quadril acertando golpes um atrás do outro, batendo nele até
arrancar a pele dos meus dedos. Respirei ofegante ao desferir o último
movimento no corpo morto.
Levantei, a dor na perna se tornando mais forte. Encarei meus
amigos, estávamos sujos de poeira, cobertos de sangue dos inimigos, mas
vitoriosos. Era o fim da Portões do Inferno. Deixamos a sala, os tiros
começaram a diminuir até acabarem de vez e o grito da vitória dos nossos
homens soar forte.
— Vencemos — avisei ao Steve pelo rádio.
Com o Quarteto Monstro reunido no Texas, Steve ficou em Nevada
tomando conta, Dante e Matthew em Nova Iorque.
— Hora de ir para casa. — Kai me segurou pelo ombro ajudando a
fazer o percurso de volta.
— Estamos ficando velhos, senti o joelho estalando — Daniel
brincou.
— Eu e o Black que voamos por causa de uma granada e você que
sente estalos no corpo? — Michael caçoou.
— Ei, somos irmãos de alma, o que um sente o outro também vai
sentir — Kai entrou na brincadeira.
— Você parece uma mulherzinha falando — zombei dele.
— É efeito do casamento — Michael avisou.
— Cuidado, rapazes, somos homens de família, o que vale para um
se aplica ao outro. — Kai fez “tsc” com a boca.
— Cala a boca, Kai. — Comecei a rir.
Aliviado pela guerra ter chegado ao fim.
Mal consegui conter a vontade de voltar para a base e beijar minha
mulher. Matei dois homens odiosos, destruí uma organização ousada por
mexer no meu território. Não existiam mais perigos, estávamos em paz.
Tive medo de como Josephine reagiria ao sangue na minha perna.
Um dos estilhaços da granada penetrou na minha coxa, não era um
ferimento grave, mas sangrou e manchou a calça. Por isso pedi ao Kai que
entrasse na frente acalmando a irmã enquanto o médico da base fazia o
curativo em mim, depois tomei um banho e encontrei minha esposa no
quarto.
Deitada alisando a barriga, manquei na sua direção, os olhos negros
encontraram os meus repletos de carinho. Subi na cama, a puxei para mim,
cheirei os cabelos perfumados, beijei seu pescoço, toquei o ventre
acariciando nosso bebê.
— Estou de volta — falei suavemente.
— Bem-vindo, amor. — Sorriu, beijando meus lábios. — Como foi
a operação?
— Um sucesso, desmontamos a Portões do Inferno, matei meus tios
e o cúmplice deles. — Franzi a testa lembrando da morte do homem. — Ele
disse que tinha um presente para a gente, mas o Michael o matou antes dele
puxar algo no bolso. Examinamos o corpo, mas só encontramos o celular
dele, por azar a bala atingiu o aparelho.
— Não teria sido melhor o prender para interrogar? — Beijei a ruga
em sua testa.
— Possuímos todas as provas que precisamos sobre a organização.
Com a morte dos líderes, os comandantes restantes vão falar com mais
facilidade. Só resta limpar a bagunça.
— Você vai precisar fazer a limpeza ou volta para Vegas comigo?
Josephine sentia minha falta, pude perceber em sua fala mansa, um
pouco embolada e chateada. Ela alisou minha barba, puxando sutilmente os
fios com a ponta das unhas coloridas de vermelho com branco. Segurei sua
mão, beijei os dedos longos, curvei a cabeça encontrando seu olhar.
— Vou para casa com você e o Connor — falei baixinho — mas
precisarei voltar para cá, formar a estrutura de comando no Texas. Embora
eu queira o Steve liderando, preciso dele em Las Vegas comigo.
Selecionarei membros das outras famílias, mas dessa vez as coisas serão
mais fáceis, sem uma guerra atrapalhando, não precisarei ficar meses aqui,
somente alguns dias.
— Promete para mim — intensidade banhou a pupila escura — que
você vai estar presente no nascimento do Connor? — A voz doce
embargou, repleta de medo.
— Nada me fará perder o nascimento do nosso filho. Você e o
Connor são a minha prioridade. — Girei o corpo ficando com o tronco por
cima do dela. Os analgésicos tomados na veia controlaram a dor na perna
devido ao movimento. Tomei cuidado para não pressionar sua barriga.
Beijei seus lábios cheios, deslizei a língua por sua boca macia
levando para ela tranquilidade. Não deve ter sido fácil ficar na base
esperando por notícias, mas a guerra acabou e dias de paz virão. Envolvi
Josephine pelos ombros a puxando para cima de mim, a barriga impedindo
que ficássemos colados como eu queria. Meti a perna boa entre as suas,
alisei o quadril redondo e a beijei com minha alma.
Ficamos de carinho na cama até ela dormir em um sono tranquilo.
Os pesadelos finalmente pararam de atormentar minha esposa. Josephine
fazia todos os dias os exercícios de meditação passados pela psicóloga.
Acredito que a melhora de seu sono se deu pela mudança de ambiente. Em
Las Vegas ela tinha uma família enorme ao lado dela, mimada todos os dias
pelo amor da minha mãe, cuidada pelo meu pai e na minha ausência ficava
na companhia do Steve, com seu jeito brincalhão, ele trouxe conforto à
minha esposa.
Ela encontrava as amigas sempre que queria, ia para Nova Iorque ou
elas vinham para Las Vegas, a distância não era um empecilho para a
amizade do quarteto. Foram cinco longos meses de uma guerra sangrenta,
distante e cheio de saudades da minha esposa. Esforcei-me para participar
de todas as consultas do Connor e pude acompanhar o desenvolvimento
dele. Nunca perderei o parto do meu filho e os próximos meses serão
tranquilos.
A tempestade finalmente passou.
Sem perceber adormeci, agarrado a minha esposa. A primeira coisa
que senti ao despertar foi a vibração no bolso da calça. Uma dor irradiando
no ferimento da coxa, o braço dormente por servir de travesseiro para
Josephine e o sutil movimento do Connor debaixo da minha mão sobre a
barriga.
— Vou desligar o celular, pode voltar a dormir — falei sonolento
com o Connor. Deitei de bruços, puxei Josephine para repousar a cabeça no
meu peito, enfiei a mão no bolso da calça puxando o celular.
Eram 3 horas da madrugada, o nome de Eduardo no visor de
chamadas. Deslizei, atendendo, pigarrei limpando a garganta.
— Oi — falei rouco.
— Boa noite, senhor, recebi uma ligação da enfermeira, a senhora
Yasmim Bell faleceu nessa madrugada enquanto dormia.
— Obrigado por avisar, mande uma equipe providenciar o funeral
dela.
— A senhorita Bell — se referiu a Amber — já cuidou de tudo. A
mãe será queimada e, seguindo a vontade dela, jogada no oceano, na praia
de Port Hueneme, Califórnia, onde as duas possuem lembranças preciosas.
— Está bem — murmurei.
— Devo dizer algo à senhorita Bell em seu nome?
— Não precisa, ela sabe como me sinto, só providencie o que ela
precisar.
— Sim, senhor. — Desliguei.
— A Yasmim faleceu? — Josephine perguntou baixinho, dando
leves batidas no meu peito.
— Sim. — Puxei seu ombro a trazendo para mais perto, beijei seus
cabelos, inspirei fundo o cheiro da minha esposa.
— Como você se sente?
— Meio triste e aliviado. Yasmin sofreu por muito tempo, ela
finalmente descansa em paz. — Suspirei. Embora fosse difícil conter o bolo
na garganta. — Não é justo, depois de anos de sofrimento nas mãos do
marido ela acabar assim. — Apertei o ombro da minha esposa, tremendo.
— Não existe justiça na vida, amor. — Encontrou meus olhos, a
visão meio turva pelas lágrimas presas. — A única certeza que temos sobre
a nossa existência é a da morte. Nascemos sem saber de nada, aos poucos a
página em branco vai sendo preenchida com nossas experiências, mas
inevitavelmente ela terá a última linha escrita e a palavra fim. Você e
Yasmim foram parte da página em branco um do outro, a dela foi finalizada,
mas a sua continua. Sinta a perda dela como precisar, chore se quiser, mas
não lamente pela vida dela. Não manche as lembranças felizes que você tem
dela remoendo as marcas tristes do passado.
Acenei em positivo, encostei a testa na da Josephine inspirando
profundamente e soltando o ar devagarinho. Ela imitou meus movimentos,
alisando minha nuca, beijando meu rosto, me confortando enquanto sentia a
dor da perda da minha amiga. Não consegui chorar, me apeguei às palavras
da Josephine lembrando das coisas boas da vida da Yasmin, me confortando
com o seu final.
— Você é muito esperta — murmurei, tentando aliviar o clima.
— Créditos para a Lily — respondeu sorrindo, os dedos alisando
minha bochecha. — Na última sessão falamos sobre o que a morte do Louis
significou para mim. — Baixou a visão focando na minha boca. — Ele
sempre foi um pai horrível, naquele dia… — E então ela narrou o que
aconteceu.
A raiva pela Rebeca colocar nossos colegas de classe contra a
Daisha queimou como fogo ardente nas minhas veias. A maldita não se
conformou por eu estar morando com o Kai e ela ter sido afastada de sua
vida. Ela tramou por debaixo dos nossos narizes e a Daisha foi atacada
covardemente no banheiro. Por sorte, minha cunhada aprendeu a se
defender com o Kai.
Seguimos para a casa em que cresci. O ódio pungente levou Daisha
a tomar a decisão de colocar a Rebeca no canto dela e eu faria parte.
Finalmente vou poder meter a mão na cara da desgraçada sem ser
repreendida. Entramos na casa sem os seguranças impedirem minha
passagem. Segui com Daisha para a sala onde sabia que encontraria as
duas víboras.
Eleanor e Rebeca estavam sentadas no sofá. Elas sempre foram
unidas, tramando, me machucando e agindo como duas malditas. Uma
psicopata e seu bichinho de estimação.
— Ei, vadia! — Daisha gritou com ódio.
Rebeca se levantou enfurecida, eu sabia que ela sairia do
personagem em questão de segundos, ela nunca escondeu da Eleanor sua
verdadeira face.
— Recebi seu presente no banheiro. Pronta para ganhar meus
agradecimentos? — Daisha ficou de frente para a Rebeca.
— Do que se trata isso? — Eleanor questionou.
— Fique de fora. — Senti um prazer inimaginável ao segurar
Eleanor pelos ombros e a empurrar no sofá. — Ou vamos matar você
também. — Era eu quem mandava e ela obedecia.
— Vejo que as garotas pegaram leve. — Rebeca revelou sua
verdadeira face encarando a Daisha. — Não estou vendo nenhum corte,
vagabunda.
Observei esperando a minha vez de atacar, Daisha acertou um soco
certeiro no rosto da Rebeca, o som reverberando pela sala. A vadia
cambaleou para trás, eu conhecia cada um de seus movimentos, por isso
me adiantei segurando seu pulso impedindo ela de agarrar o vaso para
acertar a Daisha.
Fixei os olhos nos da maldita, lembrando de todas as vezes em que
sofri por causa dela. A vontade de chorar travou na minha garganta
mesclada ao ódio e ao desejo de vingança. Chegou minha vez de revidar.
Eu não tive forças para falar, concentrei minhas energias na mão acertando
o rosto da Rebeca.
A carne macia de sua bochecha doeu na minha palma. Ela tentou se
soltar, mas não permiti, puxei seu pulso com força, ela mal virou o rosto me
encarando e já levou outro tapa em sua face. Rosnei, me descontrolando,
acertando seu maxilar vezes seguidas, Rebeca tentou escapar recuando.
Pela primeira vez era eu quem a fazia tremer de medo. A mão puxando
violentamente a minha, a outra buscando algo para se defender, meus olhos
turvos pela ira.
— Vadia psicopata! Foram anos aguentando as suas merdas e isso
acaba hoje — berrei.
Eu mal conseguia enxergar, lutando para prender as lágrimas,
assistir o desespero dela para se livrar de mim recebendo os tapas que
guardei por anos para desferir em seu rosto. Aquela era a minha vingança
e nada me faria parar.
— Eu mato você. — Agarrou meu pulso rente ao seu rosto. Com
força puxei o braço me livrando dela e acertando sua face, arrancando
sangue da boca.
— Você fez tudo o que pode para manter o Kai longe de mim, como
se sente sabendo que ele escolheu a mim ao invés de você? — Ri, a
felicidade de ter sido escolhida. — Porra, Rebeca, eu amo estar recebendo
o carinho dele todos os dias enquanto você só ganha desprezo!
Eu queria humilhá-la, atacar onde mais doía na sua obsessão
doentia pelo Kai, a fazer sofrer sabendo que foi rejeitada, sentindo a dor
que me atormentou por anos. Rebeca perdeu o equilíbrio batendo em uma
mesa, virou o rosto na minha direção magoada, em fúria, completamente
destruída por não ser a escolhida. Sorri triunfante, não importava o que ela
fez, eu venci.
O impacto veio sem eu esperar, minha coxa doeu, sendo perfurada.
Baixei a vista percebendo o que aconteceu. Rebeca acertou um jarro na
minha perna. Gritei, larguei a desgraçada tentando recuperar o equilíbrio,
segurei minha coxa machucada pelo caco de cerâmica. Assustei-me com o
sangue, caí sentada. O golpe da Rebeca veio brutal, o pé acertando o
estilhaço na minha coxa, gritei ao ter a pele perfurada.
— EU VOU ACABAR COM A SUA VIDA — Rebeca berrou.
— Sai de perto da Josephine! — Daisha puxou a Rebeca pelos
cabelos, impedindo outro ataque.
A dor era dilacerante, grunhi apertando ao redor do ferimento
tentando fazer o sangue estancar. A cor se espalhou como uma cachoeira
ao meu redor. Um grito da Daisha chamou minha atenção, girei o rosto a
vendo por cima da Rebeca apertando o pescoço dela, machucados abertos
sangram na pele branca da Rebeca. Daisha tinha arranhões no rosto.
Precisava fazer algo, não podia deixar ela manchar sua alma matando a
Rebeca.
— Você nunca mais vai machucar o Kai ou a Josephine, seu
demônio! — minha cunhada gritou.
Rebeca tentou se soltar, mas não foi párea para a Daisha. Como um
demônio, o Louis entrou na sala, ele analisou a situação partindo com
força para cima da Daisha. As lembranças de todas as vezes em que me
bateu assombrou meus pensamentos. Louis jogou a Daisha contra a parede
apertando o pescoço dela. Se eu não fizer nada, eu vou perder minha amiga
para o maldito psicopata!
Ele nunca mais vai tirar algo de mim!
Tentei me erguer, mas a dor na perna travou meu movimento. Gritei
ao ter o caco pressionado rasgando minha carne. A maldita da Rebeca
subiu sobre mim. Não podia perder tempo com ela, precisava salvar a
Daisha. Minha amiga chutou o Louis tentando se livrar dele, busquei pela
Eleanor a vendo assistir a tudo sentada no sofá.
— Nunca mais toque na minha filha!
Louis rosnou próximo do rosto da Daisha. Ela perdeu a força nas
pernas e eu sabia que se não fizesse nada minha amiga iria morrer.
Desesperada, procurei por uma arma, tateei o chão encontrando estilhaços
do jarro. Acertei o rosto da Rebeca perfurando seu maxilar, o sangue
respingou em mim, ela gritou, caindo para trás. Arrastei meu corpo na
direção da Daisha, a perna dormente se recusava a me obedecer.
— Larga ela!
Rosnei, agarrei a calça do Louis o usando como escora. O
desgraçado nem tentou me parar. Escalei seu corpo, enfiei o pedaço do
jarro no braço do Louis arrancando sangue, o ferindo para ele soltá-la.
Mas o desgraçado não se mexeu. Daisha começou a perder a força nos
braços, os olhos virando para cima. O desespero consumindo minha alma.
Eu vou perdê-la!
Chorei enfiando o estilhaço nas juntas do Louis, puxando,
arrancando carne. Um tiro ecoou, o sangue respingou na minha face. Virei
a cabeça em câmera lenta vendo o corpo do Louis desabando no chão,
encontrei o olhar do meu irmão na entrada da sala. A arma apontando na
minha direção. Ele matou o Louis para salvar a Daisha.
Minha amiga desabou sem forças nas pernas, caindo ao seu lado.
Erguei a cabeça vendo o Kai possuído pela fúria, girou o braço mirando na
Rebeca. O assombro tomou o rosto dele ao perceber o sorriso da Rebeca,
ela se divertia enquanto o Louis enforcava a Daisha. Pela primeira vez o
Kai ficou diante da verdadeira face da Rebeca.
Daisha gemeu e meu irmão focou a atenção na esposa, correndo
para segurar o corpo dela nos braços, preocupado, analisando os
ferimentos no rosto dela. Beijou a testa da Daisha, repleto de amor e
preocupação.
— Desculpe a demora — pediu
— Chegou no momento certo, anjo negro. — Disha beijou o queixo
dele.
A dor na perna se tornou infernal, o peito ferido pelo desespero de
quase perder minha amiga.
— Kai — murmurei seu nome chorosa.
Meu irmão me puxou com o braço livre, solucei com o rosto enfiado
em seu pescoço. Ele alisou minhas costas e finalmente consegui respirar
aliviada, o inferno chegou ao fim. Ele puxou meu rosto alisando minha
bochecha, analisou meu corpo em busca de ferimentos encontrando o
pedaço da cerâmica do jarro na minha perna. Soltou a mim e a Daisha
enfiando as mãos no cinto, com agilidade ele passou ao redor da minha
coxa para estancar o ferimento.
— NÃO! Elas vieram me atacar! — Rebeca se ajoelhou ao lado do
Louis. — Se não fosse nosso pai me salvando eu estaria morta!
— Eu nunca mais vou cair nas suas manipulações. — Kai foi
dominado pela fúria, avançou na Rebeca segurando os ombros dela,
empurrando seu corpo no chão, ficou por cima falando rente ao seu rosto.
— Sua maldita psicopata, eu já sei que você tem espalhado boatos sobre a
Daisha, como ousa mexer com a minha esposa?
— Não, Kai, você não entende. — Sacudiu a cabeça com lágrimas
nos olhos.
— Eu fui atacada no banheiro da faculdade — Daisha falou —
quatro meninas me encurralaram, a Rebeca espalhou que eu a agrido
fisicamente e aquelas vadias vieram me ensinar uma lição.
— Elas feriram a Daisha, sabiam que ela pediria ajuda dos
seguranças e colocaram uma toalha na boca dela. Quando entrei no
banheiro estavam no meio do ataque.
— É mentira! — Rebeca esbravejou.
— CALA A BOCA, SUA FODIDA! — Kai sacudiu o corpo da
Rebeca, ela tremeu de medo. — Eu passei anos acreditando nas suas
mentiras, brigando com a Josephine e me deixando ser levado por seu
maldito teatro, mas isso acaba hoje, Rebeca. Eu te amei, porra, sempre te
dei tudo, te protegi, eu te tratava como o centro do meu mundo e como você
retribuiu? Machucando a nossa irmã, caçando a minha esposa, eu deveria
te jogar no maldito porão para ser torturada até a morte!
— Eu te amo, Kai. — Chorou. — Eu sou a única que você precisa ao
seu lado. Ainda podemos nos livrar delas e sermos felizes, eu prometo que
posso ser a sua mulher. — Tocou o rosto dele.
Eu suspeitei por anos que a Rebeca amava o Kai como uma mulher
desejava um homem. Meu irmão se sentiu péssimo quando contei minha
suposição a ele, mas nada superava o nojo em seu rosto. Ele a soltou como
se sentisse dor pelo toque dela. Rebeca aproveitou o desnorteamento dele e
subiu em seu colo segurando seu rosto.
— Eu posso te fazer feliz como nenhuma outra, sempre foi você, o
meu tudo, a minha paixão, o único que eu quero. Me faça sua, Kai, me dê
uma chance de provar que posso ser a sua esposa.
Kai ficou nauseado, agarrou o corpo dela, a afastando de si.
Daisha me puxou para seus braços, tremendo, amparei o corpo dela
odiando ver meu irmão ser partido ao meio, o véu que cobriu seus olhos
por anos caiu, e agora a dor o consumiu severamente.
— Não chegue perto — ele pediu.
Encarou a mim e a Daisha. Eu quis o abraçar, lavar o tormento de
sua alma, mas sabia que era preciso o Kai perceber quem a Rebeca era de
uma vez por todas ou nunca seríamos capazes de superar o mal que ela
causou. Eu fui uma tola, como ele, caí nas armações dela, vivi o
personagem que ela me deu sem perceber como a deixava me manipular,
acreditei que fazia o certo ao lutar contra, me rebelar e afastar as pessoas
de mim com minhas atitudes.
Assim como eu aceitei a dura realidade de que fui manipulada ao
ouvir a versão do meu irmão, compreendi que o Kai também precisou desse
choque de realidade. Visualizar quem a Rebeca realmente era para
conseguir se libertar das amarras em seu coração.
— Por muito tempo você foi o meu tudo — ele falou arrasado —
mas hoje eu te abandono. Acabou, Rebeca, eu nunca mais vou te ver. Te
mandarei para longe, um lugar em que pagará pelos seus pecados. Você me
implorou para nunca casar e ficar para sempre ao meu lado. Sua obsessão
se provou maior do que eu imaginava, te manter em Nova Iorque,
acorrentada no porão, não a fará se arrepender ou sofrer, você continuará
tentando chegar a mim.
— Kai, por favor. — Rebeca perdeu, ficou de joelhos agarrando a
perna do Kai. Ele puxou os cabelos dela a fazendo encará-lo. — Eu amo
você. — Soluçou, pela primeira vez vi lágrimas de verdade banharem seu
rosto.
— Eu não te amo — agachou, a encarando com ódio — você
conseguiu me fazer te odiar. As leis dos Bianchi impostas pelo Michael
proíbem a tortura de mulheres, seu destino seria uma bala na cabeça, um
fim rápido. Você não merece um final feliz como esse.
Ela tentou o agarrar, mas Kai se afastou.
— Será enviada para o Texas, vai casar com o George. Nenhum
sofrimento que eu possa te causar vai te machucar tanto quanto saber que
eu estou te expulsando da minha vida. Vou viver feliz ao lado da minha
esposa e da minha verdadeira irmã enquanto você ficará aprisionada a um
casamento, longe de tudo o que você deseja. Sem poder fazer mais nada,
vigiada 24 horas por dia, incapacitada, trancafiada em uma casa pelo resto
da vida sabendo que fui eu quem te colocou lá.
— Por favor. — Pressionou a cabeça no sapato dele. — Eu te
imploro, não faça isso, Kai.
— Levem ela daqui — disse aos seus seguranças.
Suspirei sentindo meu peito expandir, o tormento chegou ao fim.
Exilada, longe de tudo que ela queria. Lutei contra a Rebeca por anos e
finalmente poderei descansar. O Kai tinha razão, não existia punição maior
para ela do que ficar longe, sabendo que o Kai e eu estávamos felizes
juntos, sem a influência maléfica dela.
Meu irmão nunca conseguiria matar a Rebeca, e eu não o culpo.
Por mais que a odeie, não sei se tenho coragem de acabar com sua vida. A
única coisa que eu queria era poder recomeçar. Ter uma vida ao lado do
meu irmão e amigas, ser feliz. Minha prisão acabou e não foi um príncipe
encantado que colocou o fim nela.
Foi o amor.
Amor cultivado pelo meu irmão, escondido nas profundezas do meu
coração que ao encontrar a primeira oportunidade de se rebelar conseguiu
conquistar tudo que meu ódio nunca foi capaz de alcançar.
Eu fui salva pelo meu amor pelo Kai e pelo amor dele por mim.
Pelo amor das minhas amigas, sempre me protegendo, mudando a
opinião da organização ao meu respeito.
O amor era a única coisa que importava e estava pronta para ser
feliz.

— A morte do Louis foi como uma libertação para mim — ela


continuou — mas a da Rebeca se tornou uma prisão, atormentando meus
sonhos e o medo de sangue por causa dela. Conversei com a Lily e entendi
que cada pessoa possui um destino. Por mais cruel que seja, a morte do
Louis não me afetou porque não fui eu quem o matei. Eu estava
desesperada para salvar a Daisha, se tivesse enfiado o caco no pescoço dele
tudo teria acabado, mas não pensei nisso. Na morte da Rebeca eu não
hesitei em matá-la, coloquei o fim na página dela e talvez por não ser capaz
de confessar tudo que continuou preso dentro de mim a ela, eu continuei
prolongando as páginas dela na minha existência buscando pelo fim que eu
gostaria.
— O que você quer dizer a ela? — Alisei suas costas, o
arrependimento por rejeitar a Josephine no passado nunca sumiria, terei de
aprender a lidar com ele e compensar no presente todas as dores que ela
sofreu.
— Não sei — murmurou — e decidi não pensar mais nela durante a
gravidez, não quero contagiar meu bebê com as energias ruins do passado.
— Estou ao seu lado. — Segurei seu queixo erguendo seu olhar para
o meu. — Se sentir que precisa dizer algo a ela, fale para mim. Sou seu
tudo, Josephine, estamos entrelaçados e escrevendo nossas páginas juntos.
Você não precisa aguentar sozinha.
— Eu te amo muito. — Beijou meus lábios chorosa.
— Vou te amar mesmo depois do fim. — Despejei as palavras,
repleto de amor.
— Somos um nó infinito. — Alisou minha barba colando os lábios
nos meus.
Ficamos abraçados o resto da madrugada, ninando um ao outro. No
dia seguinte os rapazes voltaram para Nova Iorque, Steve me atualizou
sobre como estavam as coisas em Las Vegas e o novo carregamento de
drogas que chegou seguro pela rota do Texas. O ferimento na coxa me
incomodou e impediu minha movimentação livre, precisei usar uma
bengala para conseguir andar pela base. Josephine decidiu ficar comigo no
Texas enquanto eu me recuperava.
Aproveitei para colocar as coisas em ordem, deleguei funções,
nomeei os novos líderes das equipes, estabeleci laços com o Moore, que
após uma conversa minha com o governador, ele foi promovido a
Comissário de polícia e não cansou de demonstrar sua gratidão garantindo
rotas para as drogas do Gael entrarem pelo México e seguirem para Las
Vegas sem problemas.
Por enquanto as leis do estado do Texas proíbem jogos de azar e
pôquer. Contudo, usei a semana para me aproximar dos políticos
responsáveis pelo projeto de lei que visa legalizar os jogos de azar e pôquer
em cassinos. O projeto sendo aprovado conseguirei trazer meus cassinos
para o Texas e os usar para disfarçar meus negócios ilícitos.
Por hora, vou me concentrar nos projetos de tecnologia, oficialmente
assumidos pelo Simon. Ele será um dos Oficiais do Texas e ficará sob o
meu comando, com supervisão do Tyron Belarc que se preparava para
assumir o lugar do pai como Capo Bianchi e líder do Esquadrão da Morte,
que foi útil na última operação, é uma força poderosa que vou adorar ter em
meu novo território.
Duas semanas passaram rápido, Josephine precisava voltar para casa
e fazer as provas do final do semestre. Chegou a hora de dar adeus ao Texas
e voltar a Las Vegas. Me recuperei do ferimento, ainda sentia incômodo,
mas os remédios resolviam com facilidade. Subimos no helicóptero, passei
o cinto ao redor da minha esposa e toquei nosso filho, Connor deu um chute
poderoso na minha mão. Com 20 semanas ele estava ficando ativo nos
movimentos no ventre da mãe.
Coloquei os fones de ouvido em sua cabeça, optei por voar no
helicóptero, pois caso acontecesse algo durante o voo, como o Connor
decidir nascer prematuro, podíamos pousar em qualquer hospital, ao
contrário do avião particular que não conseguiria a mesma proeza.
Josephine se tremia com a mera ideia de um parto prematuro. Gostava de
estar preparado para tudo.
Decolamos, segurei a mão dela, Eduardo ao lado do piloto, a
segurança era menor e por isso uma equipe nos seguia no segundo
helicóptero. Josephine usou o tempo de voo para ler um livro da faculdade,
eu espiei por cima do seu ombro tendo dificuldade para compreender alguns
termos. Estava prestes a perguntar o significado de uma palavra, quando
senti o helicóptero sacolejar.
— Meu Deus! — Josephine se agarrou a mim.
— O que houve? — perguntei, a turbulência não diminuiu.
Os painéis começaram a apitar, o piloto segurou com força cíclico
entre suas pernas tentando estabilizar a aeronave.
— Alerta de tornado, senhor — Eduardo respondeu.
Olhei pelas janelas percebendo as nuvens claras se transformando
em negras, os ventos fortes batendo por todos os lados do helicóptero, no
horizonte captei o exato momento em que o tornado se formou. Aquela
merda estava a quilômetros de distância da gente, mas causou um impacto
terrível no helicóptero. O terror me tomou ao perceber que o tornado
começou a se mover para a frente, seguindo na nossa direção.
Agarrei a mão da Josephine, encarei seu rosto aterrorizado, os olhos
apertados, a mão livre segurando a barriga, os lábios pressionados em
medo. Ela soluçou ao ver a direção do tornado. Os tremores se tornando
mais fortes, máscaras caíram sobre nossos rostos, pus a da Josephine em
sua boca, cobri minha face com a minha e agarrei minha esposa sabendo
que contra a natureza enfrentaríamos uma batalha dura.
Vou proteger minha esposa e filho, independentemente do custo.
— Faça um pouso, não podemos voar nessas condições — ordenei.
— Estou tentando nos afastar do tornado — respondeu. — Essa
merda está muito forte.
— POUSE AGORA — gritei, não tinha como lutar contra aquela
coisa.
— Senhor, no chão vamos estar desprotegidos — Eduardo disse.
— E no ar seremos jogados para a morte, inferno. — Puxei minha
arma colocando no pescoço do piloto. — Pouse agora, é uma ordem!
Josephine gritou se encolhendo. O vento forte jogou o helicóptero
para o lado. O piloto perdeu o controle e fomos virados de cabeça para
baixo, rodopiando no ar. A arma voou da minha mão, envolvi Josephine
pelos ombros, nossas pernas se mexiam presas pelos cintos. Com esforço
prendi as coxas dela com a minha para evitar que machucasse a barriga.
Amparei seu corpo com o máximo que pude enquanto a chuva forte
iniciava do lado de fora.
— Consegui! — o piloto falou ao estabilizar o helicóptero. — Vou
pousar — avisou.
Continuei agarrado a Josephine impedindo que ela sofresse com os
fortes sacolejos da aeronave. Com dificuldade o piloto conseguiu pousar.
Retirei meu cinto, instável, o helicóptero continuou tremendo e ameaçando
voltar ao ar. Removi a fivela do cinto da Josephine, arranquei a máscara e o
fone de ouvido dela. Eduardo saiu e abriu rapidamente a porta para mim.
Peguei Josephine no colo e descemos.
Pressenti o perigo no segundo em que coloquei os pés na grama.
Curvei o corpo levando minha esposa para o chão. Fiquei em cima de suas
costas a protegendo do helicóptero que foi levado pelo vento sendo jogado
a quilômetros de distância, preso pelas árvores. Estávamos no meio do
nada, observei ao redor, a forte chuva dificultava enxergar, os ventos fortes
tentando nos derrubar. O descampado não tinha casas à vista, somente as
árvores balançando ferozmente.
— O segundo helicóptero foi levado pela tempestade — Eduardo
avisou. — Perdemos a comunicação.
— Precisamos de um lugar seguro. — Levantei, puxando Josephine
comigo, as roupas completamente encharcadas e pesadas, o frio açoitando
como pequenos cacos de vidro perfurando a pele.
— Podia ter sido a gente a ser levado pela tempestade — o piloto
disse. — Me desculpe pela minha atitude, pensei que estava fazendo o
certo. — Encarou ao redor. — Não tem onde se esconder.
Eu quis arrebentar a cara do miserável, contive a fúria focando no
que importava. Josephine tremia assustada, molhada e sem saber como nos
tirar do meio do caos. Segurei minha esposa nos braços, ela envolveu meu
pescoço escondendo o rosto na curva do meu ombro.
— Eu tô com medo — confessou.
— Vou tirar você daqui — falei confiante, embora não soubesse
como fazer isso.
— Precisamos nos afastar daquela coisa — Eduardo disse.
Começamos a correr na direção oposta do tornado, ele nos perseguiu
como um maldito desgraçado. Evitei as árvores, elas poderiam cair ou
serem levadas pelos ventos e nos machucar. Segurei minha mulher nos
braços, correndo na chuva, os pés deslizando na grama encharcada. Os
olhos buscando por um abrigo, casa ou qualquer coisa que nos protegesse
da tempestade.
— Ali! — Josephine gritou apontando para o lado, segui a direção
indicada por ela, percebendo nossa salvação. — Podemos nos esconder,
certo?
— Sim! — Beijei sua cabeça.
Uma deformidade no terreno. O declive na grama com fortes rochas
formando uma curvatura seria nosso abrigo. Corri com Josephine para lá,
desci o declive sem soltar minha esposa, só tinha espaço para uma pessoa se
abrigar nele, sem pensar duas vezes a fiz deitar, por sorte o chão não
acumulou água e as rochas a protegeriam das fortes pancadas de chuva.
— Você fica aqui — avisei, ela segurou meu braço com medo de eu
me afastar. — Não vou a lugar algum. — Deitei, protegendo seu corpo com
o meu. — A prioridade é proteger minha esposa — avisei aos dois homens.
Eduardo e o piloto se colocaram sobre mim e Josephine formando
uma barreira. Com nossos corpos e as rochas criamos uma caverna para
Josephine.
Os olhos dela não deixaram os meus, deitada na grama, protegida
por mim. Meu antebraço contra o chão ao lado de sua cabeça, as pernas ao
redor das suas, a chuva atingiu minhas costas com menos força, mas o
suficiente para escorrer por minha nuca e atingir o rosto dela. Os sons da
tempestade eram horríveis, o vento açoitando e derrubando tudo que ele
encontrou no caminho.
Não demonstrei o medo me corroendo por dentro, passei segurança e
confiança para minha esposa, ela agarrou o meu paletó, os lábios tremiam
de frio. E em meio a tempestade Josephine engoliu em seco e sorriu,
acalmando minha alma.
Tornados não costumam demorar muito, apesar de serem cruéis em
sua destruição. Preso na tempestade, ele pareceu durar uma eternidade, mas
tão rápido como se formou ele chegou ao fim. A chuva parou, os ventos se
acalmaram e o céu continuou cinza. Eduardo e o piloto se afastaram, saindo
da barreira que criaram ao meu redor. Fiquei de joelhos encarando minha
esposa, ela soluçou pesado, encostou o rosto no meu ombro chorando.
— Acabou — eu disse a ela.
Sabia que a notícia do tornado se espalharia. Com os rastreadores
implantados em mim e na Josephine a ajuda chegaria logo. Minha única
preocupação era com o nosso filho. Segurei sua barriga encostando a testa
na sua, rezei silenciosamente pedindo a Deus para nada acontecer com o
nosso bebê.
— Se a médica me liberou, significa que posso voltar para casa. —
Olhei meu marido, irritada por sua insistência.
Após o tornado no Texas, a equipe de resgate levou 1 hora para nos
encontrar e levar ao hospital mais próximo. Recebi tratamento, fizeram
exames em mim e no bebê, o coração do Connor batia com força
denunciando sua vitalidade. Por segurança fiquei internada por três
semanas, sendo monitorada 24 horas por dia. Voos para o Texas haviam
sido cancelados devido ao tornado estar aparecendo em outras regiões do
estado. Kennedy chegou com Steve e Bartolomeu no dia seguinte à minha
internação.
Black precisou de atendimento e ficou longe de mim por 10 dias.
Devido à chuva forte ele pegou um resfriado, pelo meu estado frágil, não
podia arriscar adoecer e prejudicar o bebê. O tormento da tempestade
alterou minha pressão a deixando alta, o risco de acontecer uma pré-
eclâmpsia assustou a mim e ao Black, por isso me mantive quietinha na
cama do hospital durante duas semanas.
Mesmo morrendo de saudades do meu marido, me contentei em vê-
lo somente pela tela do celular. Meus dias se resumiam a minha sogra
segurando minha mão e conversas amenas com meu marido, amigas e
irmão pelo celular. Convenci a todos de que não precisavam vir para o
Texas, eu e o bebê estávamos bem e muita gente ao meu redor me deixaria
cansada, precisei focar minhas forças unicamente em descansar para o
Connor poder ficar seguro no meu ventre.
Minha pressão voltou ao normal em 2 dias, mas preferi continuar de
repouso por duas semanas. A médica estava quase me expulsando do
hospital, ela garantiu que não existia nenhum risco com o bebê ou comigo e
que a gravidez correria normalmente até o dia do parto.
Demorei uma semana para me acostumar com a ideia, mas aceitei.
Precisava fazer as provas de reposição do meu curso. Meus colegas de
turma já estavam de férias, mas devido ao tornado e minha gravidez a
faculdade resolveu estender o prazo para a minha avaliação. Black que não
gostou da ideia de eu voltar a Las Vegas, ele queria me manter no hospital
até o dia do parto, deixei para o Steve a tarefa de se estressar com o meu
marido e o convencer de que estava pronta para voltar a minha rotina.
— Mais uma semana. — Uniu as mãos na frente do rosto.
— Não — coloquei meu vestido, calcei as sapatilhas confortáveis e
peguei minha bolsa — eu vou para casa, se você quiser, continue aqui
sozinho.
— Porra, Phine, você nunca facilita, sempre autoritária! — Apertou
os punhos, nervoso.
— Algum problema? — Encarei-o.
— Sim, eu quero te foder demais! — Segurou meu rosto colando a
boca na minha.
Três semanas de repouso também significou 3 semanas sem sexo.
Foram 10 dias sem beijar meu marido e 21 dias sem o sentir dentro de mim.
Alguns dias foram difíceis de aguentar, o desejo batia como louco querendo
testar minhas forças. Black sempre era o primeiro a recuar, correndo para
fora da cama com a calça quase explodindo pela ereção, denunciando seu
desejo por mim. Ardi em vontade de abrir as pernas e o deixar meter duro
no meu interior.
— Pronta? — ouvi minha sogra, ela assumiu a função de manter eu
e o Black longe um do outro, impedindo nosso contato íntimo.
— Mãe! — Black ralhou.
— Vocês ficaram tempo demais sozinhos, que bom que vim conferir.
— Puxou-me pela mão. — Minha filha, não se deixe levar pelo desejo,
você e o Black precisam se controlar pelo bem do meu netinho.
— Sogrinha, a doutora liberou o sexo. — Franzi a sobrancelha
frustrada.
— Não custa nada esperar mais uma semana.
Encarei meu marido sendo puxado por sua mãe, ele acenou com a
mão para eu ter calma. Seguiu ao meu lado e juntos fomos para o aeroporto.
Pela primeira vez os membros Bonnarro podiam descansar em paz em Las
Vegas sem o Black e o Steve precisarem ficar dividindo a responsabilidade
para liderar a guerra. Voltamos todos em um jatinho particular, o medo ao
entrar na aeronave quis me dominar, mas encarei minha família e agarrada
ao meu marido, durante a decolagem, eu encontrei as forças necessárias
para seguirmos em frente.
Para mostrar que estava bem, Connor começou a chutar forte minha
bexiga, precisei ir ao banheiro quatro vezes durante o voo. Sentei
afivelando o cinto ao meu redor. Black mordeu o sorriso, fiz careta para ele,
tive vontade de chutar o saco do desgraçado por achar divertido meu
sofrimento com o banheiro, não era ele que corria risco de mijar nas calças!
— Connor — segurou minha barriga, mordendo os lábios — chuta
na mão do papai, deixa a bexiga da mamãe em paz ou é capaz dela derrubar
esse avião.
— Eu vou afundar a sua cara se continuar dando risada. — Puxei
seus cabelos, Black perdeu a pose e começou a rir contra minha barriga.
— Está vendo, filho, o que acontece quando irritam a mamãe, ela se
transforma em uma serpente muito malvada. — Os olhos verdes
encontraram os meus, brilhando de deboche. — Vem com o papai que eu
aguento seus chutes.
Como se entendesse o Black, Connor começou a chutar com força a
mão do pai, deixando minha bexiga em paz. Tentei manter a pose, mas sorri
tranquila, alisando o cabelo do meu marido enquanto ele colocava o rosto
na minha barriga para receber os chutes do filho. Black continuou
conversando com o Connor, entretendo o bebê até pousarmos em Las
Vegas, senti o pequeno indo dormir.
Após 3 semanas em um hospital eu estava cheia de energia, não quis
ficar em casa. E sabia que não conseguiria transar com meu marido com a
Kennedy por perto, precisava de uma distração para escapar dela e poder
matar a saudade do Black.
Com uma comunicação silenciosa ao entrarmos no carro esperando
pela gente na pista de pouso particular dos Bonnarro, Black entendeu meu
sinal.
— Eduardo, nos leve para o cassino Lux.
— Sim, senhor.
Tremi animada pelo que seríamos capazes de fazer no quarto do
hotel, longe da minha sogra superprotetora. Não demorou um segundo para
a Kennedy me ligar após perceber que não fomos para a nossa casa.
Desliguei o celular e Black mandou uma mensagem para a mãe avisando
que tínhamos um compromisso. Sorri sapeca para ele, depois escutaremos
um longo monólogo, mas valeria a pena. Estávamos explodindo de
saudades.
Chegamos ao Lux e o cassino parecia outro, comparando com a
última vez, dezenas de pessoas circulavam pelo salão, jogando nas
máquinas, bebendo, conversando, entrando e saindo pelas portas. Sorri para
o Black feliz por ele recuperar a glória do cassino e ter contornado a crise
causada pelo Bruce.
Pelo canto do olho vi uma figura conhecida se aproximando, encarei
meu marido com uma deliciosa ideia corrompendo minha mente. Talvez o
Black cometa um assassinato, mas eu não consegui frear a vontade de fazer
travessura.
— Senhor e senhora Bonnarro — a nova gerente-geral veio nos
cumprimentar na porta dos elevadores. — Bem-vindos de volta, mandei
preparar a suíte presidencial na ala leste, infelizmente a do oeste, que
usaram na outra vez, está ocupada pelo presidente White, chegou ontem
com a família. — Entregou-me a chave do quarto e a do elevador.
White era um dos VVIPs que me ligaram reclamando do Bruce na
última estadia. O homem era uma máquina para os negócios, possuía mais
de 200 lojas espalhadas pelo mundo de seus artigos de luxo. Vendia roupas
femininas e masculinas de grifes importantes, há menos de 10 anos passou a
operar no ramo de joias, comprou uma mina repleta de pedras preciosas e se
tornou um dos homens mais ricos do mundo.
Os Bianchi vendiam armas e treinamento para soldados, White
derramou sangue em seu processo para subir no poder e sempre foi um
cliente importante. A última vez que conversamos ele estava invadindo
terras em um país no continente africano em busca de outra mina de
diamantes. Josephine usava um lindo colar de diamantes comprado em uma
das lojas de joias do White, ele conseguia as melhores pedras, e fazia
verdadeiras obras de artes com elas.
— Certo — respondi.
— Josephine! — uma voz masculina gritou o nome da minha
esposa, girei o pescoço odiando ver o colega de faculdade dela vindo com
um sorriso na nossa direção.
— Drake! — Ela teve o ímpeto de ir até ele, mas a prendi ao meu
lado pela cintura. — Black, deixa de ciúmes!
— Se ele te tocar eu o mato — ameacei em seu ouvido. — Ainda me
arrependo por não socar o bostinha em Nova Iorque, não teste minha
paciência, Josephine.
Ela se tremeu toda, ergueu a vista com fúria mesclada ao desejo
ardente. Soube que me arrependeria por tentar mandar em Josephine no
segundo em que sua boca se abriu.
— Não seja idiota, não pode matar o Drake só porque foi com ele
meu primeiro beijo, se controle. Eu tô com você! — Apertou minha barriga
entre os dedos, mas já era tarde, tudo que eu via era vermelho.
Eu tive suspeitas, preferi fingir ignorância. Mas o ciúme me atacou
como um monstro fincando as garras no meu coração, me odiei por
Josephine escolher o Drake como seu primeiro beijo. Aquele desgraçado
conseguiu chegar ao coração dela antes de mim. Se eu não tivesse insistido,
marcado território, ela teria continuado com ele?
— Você não me disse que deixaria Nova Iorque. — Drake parou na
frente da minha esposa.
Foi mais forte do que eu.
Soltei a cintura da Josephine, dei um passo à frente, ergui o braço e
fui impedido pela minha esposa ficando na frente do meu corpo. Josephine
agarrou meus punhos os colocando ao redor de sua barriga, ela sabia que eu
nunca faria nada que machucasse a ela ou ao Connor. Contive a chama
queimando no meu peito, a vontade de assassinar, de esmagar a cabeça do
desgraçado sorridente na minha frente.
— Uau! Caramba, você está grávida!
— Sim! Estou com 23 semanas. — Josephine forçou minhas palmas
contra seu ventre, guiando meus movimentos para alisar sua barriga, o
cheiro dos seus cabelos bateu no meu nariz.
Enfiei o rosto no topo de sua cabeça tentando recuperar a noção da
realidade. Minha vontade era de passar como um trator por cima dela,
agarrar o desgraçado do Drake pelo pescoço e arrancar sua boca com as
mãos até retirar quaisquer resquícios e lembranças da mente dele dos beijos
da Josephine. Eles devem ser somente meus!
— E quando se mudou de Nova Iorque?
— Logo após o casamento. — Ela girou ficando de lado, com a mão
no meu peito encontrei seu olhar. A safada estava adorando me ver possesso
de ciúmes. A ereção cutucou sua coxa, ela quase gemeu se esfregando
contra mim. — Esse é o meu marido Black Bonnarro.
— Prazer. — Estendi a mão para ele, ao menos um aperto assassino
eu daria no frangote.
— Sinto que se eu apertar sua mão vou ficar sem os dedos. — Deu
um passo para trás. — Prefiro evitar, desculpe a grosseria.
Oh, ele tem noção do perigo. Arquei uma sobrancelha, com
brusquidão colei a coluna de Josephine à minha ereção, a sem-vergonha
esfregou sutilmente tentando ficar mais alta e me alcançar com a bunda.
Perdi o bom decoro e quase meti a mão em sua bunda, se não fosse pelo
White saindo do elevador ao meu lado. Como minha esposa, eu quero que
Josephine seja respeitada por todos os membros da organização e
associados, não a colocaria em uma situação que faça qualquer um dos
malditos a olhar com desejo.
— Aproveite a estadia no meu cassino — avisei. — Vou subir com
minha esposa.
— Espera — pediu. — Só me responde, você continua estudando?
— Sim, vou fazer as provas amanhã.
— O semestre daqui é diferente?
— Não — Josephine riu. — Precisei ficar internada devido à pressão
e a faculdade concordou em me deixar fazer uma segunda chamada
especial.
— Fico feliz que tenha continuado os estudos. — Sorriu, ele
estendeu a mão para ela e não perdi a oportunidade, antes que Josephine
segurasse a palma dele agarrei os dedos do franguinho.
Drake foi esperto, antes de ser dominado por meu aperto, ele
endureceu a mão apertando meus dedos. Sorri com o canto do lábio, então o
franguinho não era de se jogar fora, ele tinha colhões para me enfrentar.
Tensionava os dedos com força apertando sua mão, senti os músculos dos
meus braços enrijecendo, ele controlou o rosto para não alterar a expressão
e demonstrar que sentiu dor.
— Chega, rapazes. — Josephine segurou nossas palmas.
Odiei ela tocando nele, por isso o soltei e prendi os braços dela em
cima da barriga, longe do franguinho com colhões.
— Foi bom te reencontrar — avisei. — Josephine aprecia a
companhia dos amigos, apareça qualquer dia na nossa casa. — Sorri
perverso, se ele pisar no complexo vai desaparecer para sempre.
— Não precisa — minha esposa respondeu rápido.
— Acho melhor eu voltar para o pessoal. — Apontou para trás. — A
turma tirou férias em conjunto, quer se juntar a gente?
— Desculpe, Drake, mas agora preciso fazer algo com meu marido.
— Vem, minha deusa, hora de foder gostoso. — Mordi seu ouvido.
Mas garanti que o franguinho ouvisse.
Drake fez careta, ia falar algo, mas cansei dele. Girei com Josephine,
entrando no elevador, apertei nos botões fechando as portas e travando com
a chave mestra para só abrir quando eu destravar, com um sinal para as
câmeras a luz vermelha se apagou indicando que foram desligadas.
— Eu achei que você fosse matar o Drake. — Ela bateu no meu
braço.
Fiquei de joelhos, empurrei Josephine contra a parede e levantei suas
pernas ao redor do meu ombro. Toquei a calcinha encharcada denunciando
o quanto a safada gostou de me ver morrendo de ciúmes. Abri a boca
mordendo sua boceta, iria castigá-la por ser malvada comigo.
— Meu Deus! — gritou, agarrando minha cabeça.
— Vou te ensinar que não se deve fazer ciúmes em um homem
faminto. — Meti as mãos em sua bunda redonda.
— Se você reagir assim todas às vezes, vou te causar muitas crises
de ciúmes.
Mordi sua virilha arrancando gritos da devassa. Por cima da calcinha
comecei a chupar sua bocetinha gostosa, torturando o clitóris e a fenda em
sua carne com invasões da minha língua que nunca aconteciam. Josephine
babava com a boceta louca para ser tocada. Ela meteu a mão entre minha
cabeça e sua boceta puxando a calcinha para o lado, se esfregando na minha
barba. Mordi a carne inchada do clitóris a fazendo gritar, tremer as pernas.
Soquei dois dedos em sua vagina melada pelo creme da boceta, o
cheiro inebriante enviando comandos ao meu cacete, me deixando duro ao
ponto de explodir a maldita calça. Foram três semanas sem tocar na minha
esposa, delirando de vontade de a tornar minha novamente. Josephine
estava mais sensível que o normal, com poucas investidas dos meus dedos
ela explodiu na minha boca, enchendo minhas papilas com o delicioso
sabor do seu suquinho de excitação.
Suguei tudo não deixando nada de fora. Ela bateu a cabeça no vidro
do elevador, segurou o corrimão entre os dedos finos. Encarei seus olhos
uma última vez antes de desaparecer debaixo de sua saia. Apoiei sua coluna
no corrimão, abri suas pernas colocando os pés em cima dos meus ombros.
Sustentei o peso de seu corpo em minhas mãos, agarrando as coxas e as
mantendo arreganhadas para mim.
— Puxe sua calcinha, vou chupar seu cuzinho — avisei.
— Black! — Ela gemeu, quase esfregando a vagina na minha cara.
— Obedeça! — rosnei.
— Sim! — Puxou a calcinha com força, o tecido molhado não
suportou e rasgou, os pedaços do pano cobriram a boceta, mas Josephine os
tirou do meio, puxou o vestido enrolando ao redor dos seios fartos, que
cresciam mais a cada dia com o avanço da gravidez.
Meti o rosto onde eu queria, a língua tocando o buraquinho
enrugado. Com a língua espalhei o creme da boceta em seu cuzinho
delicioso, mordi a banda da bunda, chupei com força o sabor da minha
esposa, o pau enlouquecendo de vontade de a pegar por trás. Era a primeira
vez que faria anal e estava entrando em ebulição de expectativas para saber
como seria meter na bunda da Josephine.
Esfreguei o rosto em sua sensibilidade, chupei como fazia com seu
clitóris, meti a língua no buraco apertadinho quase sendo estrangulado pela
falta de costume de ser invadida. Não consegui parar, quanto mais a
penetrava, mais queria me enfiar nela. Josephine vacilou, escorregou a mão.
Um frio segurou meu tesão, o medo dela cair e se machucar. Segurei suas
pernas a pondo em pé.
— O quê? — falou atordoada.
Girei sua cintura, e sem dizer nada abri as bandas da bunda forçando
meu rosto em seu buraquinho delicioso. Ela gritou, apoiou o corpo no
corrimão, meti um dedo em sua boceta me lambuzando. Afastei o rosto,
deslizei a língua nos lábios. Com uma mão abri as nádegas mirando o
buraquinho de tom rosado escuro, cutuquei sua entrada com o dedo
molhado pela boceta. Ela me sugou gulosa, ergui a vista vendo o rosto da
Josephine banhado pelo tesão, os olhos revirando, a boca respirando contra
o espelho, embaçando o vidro, recebendo meu dedo gulosa.
Meti a outra mão em sua boceta, fazendo movimentos circulares
frenéticos em seu clitóris, empurrando e puxando os dedos do cuzinho. Sem
conseguir me manter longe, voltei a beijar sua bunda, sugando a carne,
adorando a Josephine se desmanchando em meus braços. Soquei um
segundo dedo abrindo o cuzinho apertado, na boceta enfiei meus dedos, a
tomando pelos dois buracos.
Ela se tremeu inteira, perdendo a força nas pernas. Fiquei em pé
amparando o peso de seu corpo em minhas coxas, o pau perto do meu
objetivo final. Segurei a explosão da Josephine de dentes trincados, não
conseguia dizer uma palavra ou esporraria nas calças. Ela se acabou em um
orgasmo poderoso, tive inveja dos meus dedos pela pressão que foram
apertados, os líquidos esvaindo de sua boceta sem vergonha. Ela não
conseguia mais respirar, apertando tanto o corrimão que ficou com as juntas
brancas.
— Porra, Black! — gritou.
— Goza, caralho! — rosnei, perdendo o controle, mordi sua nuca
esfregando o pau em sua bunda redonda.
Josephine ficou mole, precisei puxar meus dedos e a segurar nos
braços. Com a cabeça contra o espelho comecei a esfregar o pênis em sua
carne, precisava gozar, mas não queria fazer aqui. Como um animal me
afastei dela, coloquei a chave mestra no elevador. As portas se abriram e
como um louco peguei minha esposa nos braços a levando para nossa suíte.
Hoje eu mato a porra da saudade até desmaiar de tanto gozar.
— Gostou do resultado do meu ciúme? — Rosnei em seu ouvido
atravessando a porta com ela mole nos meus braços.
— Quando você acabar eu te respondo — provocou.
Estremeci em um rosnado furioso. Levei a sem-vergonha para o
sofá, a coloquei de quatro com as mãos apoiadas no encosto, a bunda
arrebitada para mim. Estalei um tapa em sua carne, Josephine ergueu a
cabeça em uma arfada. Não aguentando mais a vontade de a comer, agarrei
seus cabelos no meu punho, puxei seu tronco para trás a deixando arqueada.
Desci o zíper e puxei o pau para fora da calça, pulsando pesado, a
cabecinha banhada pelo pré-sêmen.
Meti em sua boceta com brutalidade, urrando pesado. Agarrei seu
quadril redondo a mantendo quietinha, se eu não tivesse a total certeza de
que o Connor está bem teria me segurado, mas exigi dezenas de exames e
todos mostraram a saúde do nosso filho e a médica liberou o sexo. Mas
mesmo assim, me contive, a vontade era de estapear a bunda robusta,
beliscar os seios fartos e meter como um cavalo nela.
No limite do meu controle babei meu pau com o creme da boceta
inchada, soquei nela quase odiando a ideia de ter de sair. Mas puxei para
fora, segurei meu cacete molhado mirando no cuzinho arrebitado para mim.
Josephine gemia se esfregando no meu pau, implorando pela invasão.
— Porra, minha deusa — rosnei puxando seus cabelos — se for
demais me avisa.
— Me come, amor, eu digo se doer muito — pediu baixinho — mas
mata minha vontade ou eu vou explodir.
— Explodiremos juntos — respondi.
Soquei a cabecinha no cuzinho apertado, controlando minhas forças
e o desejo voraz. Josephine fincou os dedos no estofado, tentou puxar a
cabeça para a frente, mas não deixei, a mantive presa com o tronco
arqueado. Movi o quadril devagar, entrando aos poucos nela, sendo
recebido pelo calor escaldante e o aperto sufocante de seu cuzinho virgem.
— Deusa, isso é muito bom — rosnei metido até o talo nela, as bolas
coladas na boceta.
— Devagar, amor, você é enorme. — Soltei seus cabelos segurando
seu ombro, ela bateu a cabeça no estofado gemendo baixinho.
— E seu cuzinho muito apertado. — Meti a mão em seu clitóris,
querendo relaxá-la.
— Ah, Black. — Mordeu o estofado.
Aos poucos ela foi relaxando as paredes do cuzinho, subi a mão
agarrando seu pescoço. Puxei o quadril e soquei de uma vez dentro dela,
bruto, as nádegas reproduzindo o alto som da minha arremetida. Eu soube
que não ia durar muito, era tesão de semanas acumulado com a nova
sensação do anal, ela se tremia tentando manter a posição de joelhos.
Arremeti como um animal na Josephine, o cinto da calça fazendo
zoada pelos movimentos, minhas pernas travadas empurrando minha
cintura e puxando de volta. A boceta despejando o creme da excitação na
minha calça preta escurecendo o tecido, as bolas batendo fundo em sua
boceta, quase podiam por sentir penetrando a fenda latejante. O cuzinho
apertado, recebendo meu membro com um calor diferente, mais cru,
perverso, e prazeroso.
Gemi, urrei, o ar faltou no peito. Respirar se tornou uma tarefa
difícil. Josephine atingiu novamente o orgasmo, caindo no estofado sem
forças, agarrei ambos os lados de sua cintura, a suspendendo no ar,
penetrando sua carne, buscando pelo meu prazer. As bolas doeram, o pau
pesou, inchando dentro dela, o espaço se tornando cada vez menor, explodi
como uma maldita bomba enchendo o cuzinho de porra. Mal podia
acreditar que gozei.
Parei recuperando as forças nas pernas, não conseguia me mexer.
Josephine puxou o quadril, deitando de costas no sofá, no rosto um sorriso
safado, a expressão banhada em prazer. Ela estendeu a mão para mim e caí
ao seu lado, completamente vestidos, o pau semiereto se recuperando da
foda espetacular.
— Até que é gostoso dar o cu — ela disse.
— Porra, deusa, vamos fazer isso mais vezes. — Beijei seu queixo.
— Foi uma ótima primeira vez.
— Tirei a virgindade do seu pau de comer um cu — provocou.
Ri em sua boca, completamente satisfeito e em paz.
— E eu a do seu cuzinho — respondi maroto.
— Ainda tem energia para continuar?
— Muita!
Como se não tivesse gozado como um cavalo, recuperei as forças,
fiquei de pé e a peguei no colo caminhando para o quarto onde passamos o
resto da noite nos amando.
Passei nas provas com nota máxima em todas as matérias. Black
trabalhava nos cassinos e nos deveres com a organização sem ninguém o
atrapalhando.
Foram 2 semanas tranquilas, Connor tem estado mais ativo,
chutando e maltratando minha coluna, mas tudo fica bem quando o Black
toca a área dolorida e inicia uma massagem milagrosa na minha lombar e
nos meus pés, o inchaço tem aparecido com mais frequência. Precisei trocar
o tamanho dos meus sapatos e sutiãs, parecia que eu ia explodir com o
menor movimento.
Estou aproveitando as férias nos cassinos, todos os dias ficamos em
um diferente seguindo a agenda de reuniões do Black. Hoje estou jogando
no Sorte de Ouro, cassino do Steve, acompanhada do Bartolomeu e mais 3
homens e 2 mulheres. Meu sogro adorava me ensinar como vencer no
pôquer e eu amei aprender com ele.
— Espero que esteja pronta para perder, senhora Bonnarro. — Um
senhor de cabelos grisalhos sorriu, sobrou somente eu e ele na rodada, a
excitação por saber que eu ganharia corria em minhas veias.
— Faça a sua melhor jogada — respondi.
— Esteja pronto para perder, Philips, minha nora vai arrebentar com
sua bunda velha.
As risadas explodiram na mesa, aquele grupo era composto por
pessoas amigas do Bartolomeu. Apesar do pôquer ser um jogo de estratégia
e um pouco de sorte, em que os jogadores ficavam nervosos com derrotas
seguidas, esse grupo se xingava, ria e aproveitava cada jogada como se
fosse a última de suas vidas. Adorei conhecer eles.
— Eu aposto tudo. — Colocou as fichas de 10 mil dólares no centro
da mesa, somente os VIP’S e VVIP’S recebiam as fichas de 10 mil, para os
outros hóspedes as mais altas eram de mil dólares.
— Cubro sua aposta — respondi, colocando minhas fichas sobre as
dele.
— Apostas encerradas, mostrem suas cartas — a dealer disse, pessoa
responsável no pôquer por distribuir as cartas do jogo, receber as apostas,
trocar fichas por dinheiro, calcular e distribuir os ganhos aos jogadores de
maneira precisa e ágil. Ela explicava as regras antes da partida,
supervisionava para não acontecer trapaças.
Nos andares debaixo quem comandava as mesas eram os crupiês, a
dealer ficava somente na área VIP e nas mesas com jogadores experientes.
Só consegui entrar nessa por causa do Bartolomeu, que garantiu minhas
habilidades. Aqui as regras eram absolutas, não importava quem fôssemos,
somente o jogo.
Philips mostrou as cartas, ele tinha um straight flush na mão, a
sequência de copas de 10, 9, 8, 7, 6. Era a segunda mão mais poderosa do
pôquer e com certeza ele teria ganhado, se eu não tivesse sido mais esperta
para conseguir a minha. Sorri para o homem arrancando o sorrisinho do seu
rosto, ele sabia que ia perder no segundo em que mostrei minhas cartas. Um
perfeito royal flush de espadas, um Ás, um Rei, uma Dama, um Valete e um
10 garantiram a minha vitória.
— Merda! — Philips bateu na mesa.
— Perdeu feio, velhote — uma senhora o provocou.
— Eu disse que você não era páreo para a minha nora —
Bartolomeu implicou.
— Você perdeu o jeito, Philips. — Outro senhor bateu no ombro
dele.
— Não aguento mais perder. — Um homem mais novo jogou as
cartas desistindo. — Vou me preparar melhor para a nossa próxima partida.
— Sorte de principiante — a segunda mulher disse, ela era mais
jovem.
— Foi um prazer jogar com vocês. — Recolhi todas as minhas
fichas, acreditava que tinha feito um milhão de dólares nessa mesa.
Estávamos jogando há horas e minha coluna estava destruída.
— Como você pode ter ganhado quase todas? — Philips perguntou
incomodado. — Apareça para o nosso jogo de sexta, na próxima semana,
vou recuperar meu dinheiro.
— Ou perder toda a sua fortuna — respondi.
Risadas soaram na mesa, era muito gostoso poder estar entre aquelas
pessoas. Meu celular tocou em cima da mesa, vi que era uma chamada em
grupo das minhas amigas.
— Com licença, senhores, preciso atender.
— Vamos mais uma, agora eu venço! — Philips comemorou.
— Não esqueça que estou aqui, Philips — Bartolomeu respondeu
recebendo suas cartas.
— Sua raposa velha, vou te derrotar em dois segundos!
Achei graça da interação dos homens, me afastei da mesa, atendi a
chamada e fiz um sinal para elas esperarem. Entrei em uma sala reservada
para o descanso dos funcionários, sentei no sofá e coloquei o celular de
frente para o meu rosto.
— Phineeeeeeeee — Hope falou esganiçado, dei risada imaginando
o que viria. — Eu quero férias em Vegas!
— Não aguentamos mais nossos maridos — Emily reclamou.
— Vamos pegar o primeiro voo — Daisha disse.
— O que os rapazes fizeram? — perguntei, achando graça.
— Eu tô assada de tanto transar! — Daisha foi a primeira a reclamar.
— Kai não me dá folga desde que recebi alta da fisioterapia.
— Daniel passa o dia todo ensinando o William a andar, estou quase
enfiando uma marreta na cabeça dele para deixar meu filho em paz. Quando
for a hora do Will andar ele fará isso sozinho.
— Michael não para de dizer que quer outro bebê, mal aproveitei o
Ethan, comecei a ter noites de sono completas e ele quer outro! — Hope
arregalou os olhos. — Não estou pronta para o choro da madrugada
retornar!
— Confessem que todo esse drama é saudades de mim — respondi
rindo, a carinha feliz delas não coincidiam com as reclamações.
— Claro que sim! — responderam em uma única voz.
Percebi que cada uma estava em sua casa, mesmo longe elas me
faziam sentir próxima, nosso laço de amizade se estendendo pelo país
inteiro, sendo alimentado todos os dias.
— Conte as novidades, alimente nossas almas — Daisha pediu
dramática.
— Você está convivendo muito com o meu irmão, aprendeu a fazer
drama com ele?
— E muitas outras coisas. — Ergueu a sobrancelha.
— Olha só a santinha se soltando — Emily implicou.
— Depois de dar algumas vezes para o meu marido gostoso, isso
acontece — Hope falou.
— Falando em dar — eu disse lembrando de uma antiga implicância
que elas fizeram comigo. — Preciso de indicação de marcas de calcinhas
melhores, as minhas não sustentam um puxão do Black.
Fiz cara de santa, mas, na verdade, queria informar que superei a vez
em que implicaram comigo por eu não saber como era ter as calcinhas
rasgadas. Mordi os lábios evitando a risada ao ver a Hope arregalando os
olhos e as bochechas ficando vermelhas.
— Eu não precisava saber desse lado selvagem do meu irmão!
— E nem eu do Kai, mas a Daisha nunca deixou de falar — acusei.
— Eu tenho de aguentar a Hope, nada mais do que justo ela ouvir
como o Black é na cama. — Emily cutucou a cunhada.
— E eu escuto você falando do meu irmão! — Daisha ralhou.
— Meu Deus, todas temos rabo preso a um irmão da outra. —
Comecei a gargalhar.
— Ninguém se salva nesse quarteto. — Emily suspirou, explodindo
em uma risada.
— Literalmente, o rabo preso — Daisha disse.
— Coitado do meu rabo — Hope fez careta — não tem folga do
Michael e nem de vocês.
— HOPE! — Emily gritou. — Isso é nojento, meu Deus! — Fez
careta. — Não preciso dessa imagem.
— Eu me vingo por você, Emily — avisei, encarei a Hope pela
câmera. — Seu irmão também adora comer um rabo.
— Daisha, me salva! — Hope pediu.
— O Kai é tarado pelo meu rabo! — Daisha falou para mim, fiz
careta.
— Socorro, Emily! — pedi.
— Daisha querida, você nem imagina como o Daniel fica selvagem
por um rabo! — Emily ergueu a sobrancelha loira.
— Chega! — Hope bateu palmas, antes da Daisha pedir socorro a
ela. — Ou nunca vamos parar essa conversa indecente sobre nossos
maridões.
— Agora que começou a ficar bom — eu disse — só porque consigo
revidar vocês.
— Josephine se tornou uma máquina imbatível de sexo — Emily
brincou. — Precisamos tomar cuidado ou ela supera a gente.
— Phine, senão se prevenir vai engravidar de novo após o
nascimento do Connor — Daisha alertou.
— Não fala de gravidez que o Michael quer outro bebê. — Hope fez
careta. — O Connor chuta muito sua lombar? Ainda sinto os chutes pesados
do Ethan.
— Jesus, o William acabou com a minha bexiga — Emily disse. —
Precisei fazer exercícios concentrados nessa região para não desenvolver
bexiga baixa.
— Connor se diverte chutando minha lombar e bexiga quando ele
quer a atenção do Black. O pai começa a falar com ele e ele muda o alvo
para onde estiver o rosto do Black.
— Meu sobrinho é muito fofo. — Daisha suspirou apaixonada. —
Titia está louca para o conhecer.
A porta da sala de descanso abriu, um grupo de cinco funcionárias
entrou, mas pararam o movimento ao me verem.
— Senhora Bonnarro, boa noite — a gerente da sala VIP me
cumprimentou. — Não sabíamos que estava aqui, voltamos depois.
— Espera — falei, encarei as meninas, queria continuar
conversando, mas sem interromper o descanso das funcionárias. — Podem
usar a sala, estou de saída.
— Oh não, senhora, por favor, fique aqui. — A gerente parecia
apavorada.
— Vocês precisam descansar, vou jogar mais um pouco. — Encarei
as meninas. — Ligo para vocês mais tarde.
— Só amanhã. — Hope ergueu a sobrancelha sugestiva.
Demos risada entendendo que ela preferia passar o resto da noite
com o marido ao invés de pendurada ao celular com a gente.
— Tchau, meninas. — Acenei.
— Tchau, rainha de Vegas — responderam brincalhonas.
Elas acenaram de volta se despedindo. Guardei o celular na bolsa e
levantei encarando as funcionárias tensas pela minha presença. Era notório
que elas tinham medo de me desagradar e serem despedidas.
— Alguma de vocês é mãe? — Das cinco, três levantaram as mãos.
— Como eu faço para lidar com os pés inchados? Estão me matando.
A gerente foi a primeira a se aproximar, ela tinha por volta de uns 40
anos. Sentou ao meu lado e o resto das mulheres se acomodaram nas
cadeiras ao redor. Eu detestava como os funcionários dos cassinos me
tratavam como uma rainha, a esposa do Presidente Bonnarro que deveria ter
todos os seus pedidos atendidos. Eu não era essa pessoa autoritária e
preferia uma boa conversa com risadas do que rostos engessados com medo
de serem demitidas por bobeiras.
— Pode parecer contraditório, mas ingerir líquidos ajuda bastante —
a gerente respondeu.
Passei a próxima hora de pés levantados ouvindo as dicas das
mulheres. Muitas a Kennedy já tinha me dado, mas não resisti quando a
massagista do hotel ofereceu tocar meus pés. Me desmanchei nas mãos dela
ao ponto de soltar um gemidinho. Quando elas precisaram retornar ao
trabalho o clima entre a gente estava melhor, leve e com bastante risadas.
Acompanhei as mulheres na saída, encarei o salão buscando por meu
sogro. Ele continuava jogando com os amigos, preferi não acabar com a
diversão dos homens e fiquei rodando pelas mesas chiques observando
onde eu poderia entrar.
— Boa noite, linda — um rapaz me cumprimentou, segurou meu
pulso enquanto eu passava por sua mesa.
— Se você for inteligente vai soltar meu braço — avisei.
— E você poderia se juntar à nossa mesa. — Ficou em pé.
Pelo canto do olho notei os seguranças se aproximando em passos
rápidos. Ergui os lábios sabendo o que aconteceria. Um arrepio percorreu
minha nuca, queimando minhas costas pela intensidade do olhar dele.
Percebi os seguranças parando de andar e a presença imponente do meu
marido se aproximando das minhas costas.
— Adoro jogar com uma coisinha bonitinha como você por perto.
— Ousou tocar meu queixo baixando a cabeça para encontrar meu rosto.
— Você vai morrer — avisei, tremendo em expectativa.
— Como as… — ele não terminou a frase.
Um braço forte surgiu pela lateral da minha cabeça, a velocidade do
movimento moveu uns fios de cabelo para o meu rosto. Vi a face do rapaz
tomada pela poderosa mão do Black. Meu marido empurrou a cabeça dele
contra a mesa de Blackjack. O pau bateu na minha bunda, o peitoral firme
encostado nas costas, a respiração pesada pela posse tocando meu rosto.
— Solte o pulso dela se não quiser perder a mão — Black avisou a
baixa voz.
— Calma, calma — o rapaz pediu, os olhos azuis tremendo em
medo.
Soltou meu pulso erguendo as mãos ao redor do rosto. Observei os
outros caras na mesa levantando, se afastando ao perceberem a confusão
que o amigo se meteu. Ao longo dos dias eu aprendi que o Black se
comportava de forma diferente em relação aos hóspedes normais, VIP’S e
os VVIP’S. Os normais quando mexem comigo recebem uma surra. Os
VIP’S ele se contém metendo a mão na cara deles, os VVIP’S o Black os
encara, fazendo ameaças e demonstrando sua possessividade.
Black sempre me encheu de elogios e me chamava de deusa com
facilidade, mas eu não tinha noção do quanto eu era bonita e mesmo
grávida capaz de despertar o interesse dos homens. Por esse motivo meu
marido nunca me deixava andar sozinha nos cassinos, ou ele cometeria um
assassinato por hora. Principalmente porque ele percebeu que eu adorava
quando sua possessividade falava alto.
Eu não provocava ninguém, evitava me aproximar de mesas com
homens me olhando, mas era difícil me esquivar de todos os safados
contidos em Vegas. Os atirados eu deixava com prazer o Black dar uma
lição neles para aprenderem que mulher não era um pedaço de carne que
eles podiam consumir como quiserem.
— Ele machucou você? — Black me perguntou.
— Não, só foi um escrotinho. Quem é esse?
— Filho de um empresário. — Apertou mais a cabeça dele contra a
mesa, o rapaz começou a fazer caretas de dor.
— Desculpe, pode me soltar? — pediu, não parecia arrependido.
— Peça desculpas de joelhos — Black mandou.
— O quê?
Ele começou a gemer, Black colocou força no braço forçando contra
o rapaz. Segurou minha barriga garantindo a distância da mesa de madeira.
O rapaz ficou vermelho, gemendo, batendo as pernas e tentando se livrar do
Black.
— Eu peço, eu peço.
Black o soltou, deu um passo para trás me puxando consigo.
Atrevida, remexi a cintura roçando no seu cacete duro, mal podia esperar
para ele me pegar de jeito no nosso quarto. Mordi os lábios com as fantasias
corroendo minha mente. A agressividade do Black com outros homens não
me assusta, ela me incendeia de vontade de transformar sua fúria em prazer
no sexo gostoso e suado que fazemos.
Ele estava se contendo mais por causa do Connor, sinto que não me
pegava como desejava, alimentando a fera em seu peito com pequenas
doses da perversão do que ansiava fazer comigo. Quando eu me recuperasse
do resguardo seria devorada pelo meu homem e isso me deixava louca de
ansiedade para o dia que aconteceria.
O rapaz se ajoelhou com as mãos nas coxas, cabeça baixa e com
medo. Ele percebeu que mexeu com quem não devia. Os seguranças não
moveram um dedo para o ajudar e os amigos fugiram na primeira
oportunidade.
— Me desculpe por segurar seu pulso contra sua vontade, não
voltarei a fazer isso.
Ergui o pé pisando em seu pênis, eu tinha asco de homens que se
achavam no direito de fazer o que quisessem com uma mulher. Black
segurou minha cintura me dando o apoio que eu precisava. Pressionei o
pênis do desgraçado arrancando gritos dele, só parei ao perceber que o
homem desmaiaria pela dor.
— A próxima vez que você ousar tocar uma mulher contra a vontade
dela, vou deixar meu marido arrancar seu pau e o fazer engolir — ameacei.
Virei de costas para o rapaz encarando a fúria nos olhos do Black,
com um movimento de cabeça ele fez o rapaz sumir arrastado pelos
seguranças. Envolvi a cintura do meu marido, estiquei a cabeça e ele
abaixou o rosto encostando os lábios nos meus.
— Foi boa a reunião?
— Sim — respondeu frio, ainda sendo dominado pela sede de
sangue.
— Vamos para o nosso quarto. — Alisei suas costas.
— Vem. — Puxou-me.
Sorri sabendo que ele se conteve por minha causa. Entramos no
elevador e percebi que ele tinha sido chamado no quarto andar. Black fez
careta, teríamos de esperar um pouco. Ele se escorou contra o corrimão
abrindo as pernas e ficando mais baixo, me puxou para os seus braços,
encaixando minha bunda em seu pau fazendo volume na calça social.
— Fiquei sabendo que você derrotou os amigos do meu pai.
— Arrebentei com eles no pôquer.
— Você tem talento, aquela mesa é difícil de vencer. Eu ganhei
poucas vezes e o Steve sempre perde.
Dei de ombros orgulhosa de mim.
As portas do elevador abriram e uma moça entrou de cabeça baixa
digitando no celular. Ela apertou o botão do primeiro andar. Black ajeitou a
postura, envolvendo minha barriga com as mãos. Os olhos da mulher
deixaram o celular, ela encarou o Black e surpresa tomou suas feições.
Era uma moça bonita, pele clara, olhos castanhos, cabelo castanho-
avermelhado na altura do ombro. Magra, usando uma blusa de mangas
exibindo o decote generoso de seus peitos medianos, a cintura fina com
uma saia mostrando dois dedos da pele. As coxas exibidas pela barra da
saia findando quase dois palmos acima dos joelhos.
— Black! — ela falou animada.
— Amber — Black respondeu relaxando, ergui o rosto visualizando
a expressão do meu marido, ele parecia feliz. Recordava dele dizendo que a
Amber perdeu peso devido à doença da mãe, encarou a moça novamente,
não sabia como ela estava quando o Black a viu pela última vez, mas não
parecia com excesso de magreza, ela tinha as bochechas carnudas e
vermelhas.
— Não imaginei que te encontraria aqui. — Ela sorriu.
— O Sorte de Ouro é meu. — Black aprumou a postura, uma mão
subiu para o meu ombro e a outra segurando minha barriga. — Essa é a
minha esposa, Josephine. — Derramou amor em suas palavras.
Soltei o ar que estava segurando desde a percepção de quem era
aquela moça. Senti o ambiente no elevador, o clima era leve. Tanto o Black
como a Amber não exalavam vontade de estarem juntos, apenas um simples
sentimento de gratidão pelo que um representou na vida do outro.
— É um prazer te conhecer — ela respondeu estendendo a mão para
mim, sorriu tranquila. Não existia uma gota de ciúmes naquela mulher por
ver o Black comigo.
Encarei o rosto dela novamente, lembrando de que ela ajudou meu
marido a superar o trauma do abuso. Eu sabia como era difícil entregar
minha alma em uma sessão de terapia. Black não conseguiu buscar ajuda
para si, se afogando em seus medos, mas ela insistiu, cuidou do meu
marido, buscou tratamento para ele, teve paciência e quando no fim tiveram
de se separar ela nunca tentou vir atrás dele.
Aceitou o término e focou suas energias em cuidar da mãe doente.
Consegui enxergar a dor da perda em sua pupila negra. Ela estava lutando
para continuar vivendo, mas em momento algum pensou em cobrar do
Black pela ajuda que ela deu a ele. Amber cuidou do meu marido quando eu
não fazia ideia do tormento rondando sua mente e coração. E quando ele
partiu ela o deixou livre para ser feliz.
Sorri, gostava daquela mulher, ela não representava uma ameaça
para mim. A Lily tem uma importância enorme na minha vida e eu
compreendo o que a Amber significou para o Black. Sem ciúmes por terem
sido namorados, mas apenas gratidão por ela ter sido a pessoa a segurar
meu marido enquanto ele caía, ajudando ele a se tornar o homem que era
hoje em dia.
Aguentou sozinha os meses em que a mãe morria, dia após dia, sem
pedir pela ajuda do Black. Ela nunca foi um empecilho na minha relação e
percebendo como os dois não possuem mais atração ou paixão um pelo
outro eu tive a certeza. Não existia motivo para me preocupar, apenas
gratidão por ela ter sido a Lily do Black.
Ignorei sua mão estendida, dei um passo à frente, segurei Amber
pelos braços, a puxando para mim. Falei em seu ouvido, achando divertido
a reação surpresa dela, sem saber se me abraçava ou permanecia estática.
— Obrigada por cuidar dele — falei baixinho. — Ele tem a mim
agora, pode ficar tranquila.
Ela abraçou minha cintura, suspirando relaxada.
— Eu percebi o amor dele por você no segundo em que entrei no
elevador, mesmo não o encarando, a gente sente essas coisas. — Se soltou
analisando meu rosto com um sorriso. — Parabéns pelo casamento.
— Obrigada, sinto muito por sua mãe. — Alisei seu braço.
— Eu também — Black disse me puxando para si. — Yasmim era
uma mulher incrível, os últimos momentos dela foram tranquilos?
— Sim — sorriu triste — ela estava dormindo segurando minha
mão, foi em paz.
— Como você tem passado? — perguntei.
— Acho que bem. — Apontou o celular. — Vou me mudar para Los
Angeles e minhas amigas quiseram fazer uma despedida no cassino. —
Sorriu de lado. — Quantos meses tem o bebê? — Apontou feliz para a
minha barriga. — Nunca vi uma grávida tão linda!
— Ah, para. — Abanei com a mão rindo. — Estou com 25 semanas.
— É um menino! — Black falou orgulhoso alisando meu ventre. —
Vai se chamar Connor.
— Você tem muito cara de pai coruja. — Ela riu, escondendo a boca
com as mãos.
— Você não tem ideia do coruja que o Black é — brinquei.
Eu gostava daquele clima leve.
Ela podia ser a ex do Black, mas não existia nada entre eles. Meu
marido me abraçou gostoso, prendendo meu corpo contra o seu enquanto
sorriu tranquilo. Os olhos verdes encontraram os meus e ele piscou, feliz
pelo encontro. Acho que era o ponto final que o Black e a Amber
precisavam, saber que ambos estavam bem e seguindo com a vida. E para
mim aquele encontrou confirmou o que eu sempre soube.
Black era completamente meu, nunca existiu a mínima possibilidade
de não sermos um do outro. Diferente de quando ele encontrou o Drake e
quis arrancar o coro do meu ex-ficante. Eu só queria agradecer a Amber por
ter sido importante no passado do Black. Pois era lá onde ela ficaria, no
presente só existia eu, ele e nosso filho.
— Preciso ir. — As portas se abriram. — Foi um prazer te conhecer,
Josephine. Desejo muitas felicidades para vocês dois.
— Que sua vida em Los Angeles seja repleta de alegria — desejei.
— Adeus, Amber, seja feliz. — Black ergueu a mão acenando.
Ela acenou, as portas do elevador se fecharam encerrando aquela
página na vida do meu amado.
— Ela tem um sorriso gentil — eu disse.
— Sim — Black respondeu voltando a abrir as pernas e me enfiando
entre elas. — Onde paramos? — Mordeu meu pescoço. Ele não deu muita
importância à interrupção, seu foco voltando para mim.
— Você ia me mostrar sua possessividade. — Mexi a bunda contra o
seu membro.
— Verdade, tenho de lembrar constantemente aos homens nesse
mundo que Josephine Bonnarro pertence somente a mim! — Mordeu meu
ombro.
Encolhi-me, a excitação voltando como raios percorrendo meu
corpo.
— E você é todo meu. — Puxei sua gravata, inclinando o pescoço
para o lado, dando pleno acesso a minha pele.
— Sempre, nós. — Beijou minha orelha.
— Nós — respondi.
Estávamos entrelaçados no nó do infinito e nada mudaria isso.
Amber
As portas do elevador se fecharam e eu sorri feliz.
Por muito tempo tive medo do Black voltar a fazer sexo contra sua
vontade, durante a doença da minha mãe quis buscar por ele, pedir conforto,
carinho, que ele aliviasse a dor rascante no meu peito ao ver a minha mãe
morrendo todos os dias. Mas me mantive firme, aguentando a dor da
saudade e da perda, me forcei a voltar a comer, conversava com minha mãe
todos os dias, fazendo carinho em seus cabelos ralos. Com o fim da
quimioterapia alguns fios começaram a crescer em sua cabeça.
E sem eu perceber os meses passaram e com eles a dor da saudade
desapareceu. Restando somente algumas lembranças, que eu gostava de
pensar com carinho. Não tive notícias dele e aos poucos o medo dele estar
sofrendo no casamento diminuiu. Fui completamente consumida pelos
momentos finais da minha mãe e quando ela faleceu eu senti meu coração
apertando e ficando do tamanho de um grão de arroz.
Mas mesmo essa dor começou a diminuir com o tempo.
Com o Augusto morto, o fim do meu relacionamento e o
falecimento da minha mãe não existia mais nada me prendendo em Las
Vegas. Joguei as cinzas da minha mãe na praia que possuíamos lembranças
agradáveis. Uma vez, após uma agressão que ela sofreu do meu pai,
fugimos para aquela praia. Passamos uma semana curtindo o mar e a areia.
Mas a paz durou pouco, Augusto começou a infernizar para voltar a morar
com o pai.
Sem conseguir resistir à violência do meu irmão voltamos para casa.
Mas aqueles dias olhando o pôr do sol com ela nunca saíram da minha
memória.
Black estava feliz, amando a esposa e esperando o primeiro filho.
Eu também buscaria pela minha felicidade.
Sem mágoas no coração, sem paixões antigas me prendendo, vou
aproveitar a despedida com minhas amigas e amanhã parto para Los
Angeles, buscarei por emprego e pela felicidade.
Eu também posso encontrar o verdadeiro amor.
— Esse bebê não é seu! — Rebeca gritou, em cima do meu corpo.
Tentei me mexer, mas os músculos estavam paralisados. Não
conseguia respirar, o peito ardendo, a mente pesada, o demônio em cima de
mim, ela tinha chifres negros na cabeça, sangue escorrendo de seus olhos
maléficos.
— Vim pegar o que é meu. — Meteu a mão na minha barriga.
A dor foi excruciante, tentei me mexer novamente, mas não
consegui. Ela enfiou a mão no meu ventre, sangue manchando minha
barriga, sorrindo diabólica enquanto arrancava meu bebê de mim.
— NÃO! — gritei batendo as pernas.
O choro irrompeu pelo meu peito, levei as mãos à barriga, pulei da
cama quase caindo, procurando pelo sangue. Puxei a camisola por cima da
cabeça, soluçando, encarei o espelho. Como se sentisse o perigo, Connor
começou a chutar, o formato do pé dele aparecendo no espelho. Caí de
joelhos agarrada a minha barriga, chorando, assustada, com medo do
demônio vir fazer mal ao meu bebê.
Procurei o Black pelo quarto, mas ele não estava em lugar algum.
Inspirei fundo tentando me localizar. Foquei no espelho, Connor chutou
com força, levei a mão onde tinha a marquinha do seu pezinho. Puxei o ar
pelos lábios, soltei devagar, me concentrei em sentir meu filho dentro de
mim acalmando o tormento da minha mente cansada.
Retomei o controle do corpo entendendo que foi somente um
pesadelo. Fazia meses que eles não me atormentavam, mas o de hoje
assustou minha alma. Levantei, coloquei um vestido de moletom, amarrei
os cabelos e saí do quarto. Precisava encontrar meu marido, queria me
perder em seus braços e ser envolta pelo carinho que somente ele poderia
me dar.
Procurei em todos os cômodos da casa e não o encontrei, no relógio
da sala vi que passava das 21 horas. Black ainda estava trabalhando, hoje
ele teve reuniões o dia inteiro nos cassinos, voltei para casa cedo, o cansaço
e os pés inchados acabando comigo, apaguei após um longo banho
relaxante. Sentei, inquieta, balancei o pé para cima e para baixo, não
conseguia ficar confortável, a sensação aterrorizante do pesadelo me
perturbando. Levantei decidida a não ficar em casa.
Passei pela porta sendo atingida pelo vento frio de fevereiro, a neve
branquinha cobrindo algumas casas. Estou a poucas semanas de dar à luz,
com 38 semanas o parto se aproximava a cada dia. Em dezembro fizemos
uma festa de aniversário para o Steve, o qual o safado fugiu 10 minutos
depois dos parabéns, não nos deixou entregar a noiva de mentira para ele.
No Natal reunimos as famílias Bonnarro, Bianchi, Lucian e Griffin
em Las Vegas, todos aconchegados e juntinhos aproveitando a data natalina.
Foi lindo, gostoso e especial. Daniel não parava de falar o quanto estava
orgulhoso do William que tinha começado a andar. Morri de amor com o
William e o Ethan andando juntos, o mais velho ajudando o mais novo nos
passos. William já completou 1 ano e Emily fez uma festa esplendorosa
para o filho.
Amei saber que no natal seguinte nos reuniríamos novamente, dessa
vez com o meu pequeno Connor brincando com os primos e sendo recebido
com tamanho amor pelas crianças e a família amorosa que conquistei. Tudo
estava bem, os tempos de paz sendo aproveitado por cada membro da Máfia
Bianchi.
Por isso que não compreendi a razão do pesadelo dessa noite. Ela
não deveria continuar me assombrando, estava bem, em paz e recebendo e
dando amor todos os dias. O que eu tinha de fazer para o fantasma da
Rebeca me deixar em paz?
— Boa noite, senhora Bonnarro — Taylor cumprimentou. — Precisa
de algo? — Retirou o casaco me entregando.
— Ah, eu estou bem — respondi nervosa, não aceitei seu casaco,
sabia que o Black ficaria com ciúmes. — Um momento. — Retornei para
dentro. Abri o armário dos casacos pegando o meu, coloquei a peça e saí
novamente. — Darei uma volta.
Os faróis de um carro quase me deixaram cega, ergui o braço acima
do rosto protegendo os olhos. Ele desligou as luzes e desceu, vi meu
cunhado me encarando preocupado. Inclinei a cabeça o convidando para
uma caminhada ao ar livre. Steve entregou as chaves do carro a um soldado
e veio para o meu lado.
— Com insônia? — perguntou, passando o braço ao meu redor.
— Pesadelos — confessei. — Sabe que o Black te mata por causa
desse braço envolta de mim.
— Black me ama demais para fazer algo comigo. — Para mostrar
seu ponto, ele me abraçou com mais força. — Quer conversar sobre o
pesadelo?
— É a Rebeca, desde que a matei fico sonhando com ela me
atormentando. — Apertei meus braços ao redor da barriga. — Hoje ela
invadiu meus sonhos com o rosto de um demônio, enfiando a mão na minha
barriga e puxando o Connor.
— Vou fazer um exorcismo nessa infeliz para ela te deixar em paz.
— Parou, Steve me envolveu pelos ombros em um abraço. Apertei a cintura
do meu cunhado buscando forças nele para esquecer o sonho. — A sua
situação com ela foi bastante complicada e no final você a matou sem
conseguir dizer tudo que estava preso na sua garganta. — Encarou-me
piedoso. — Não posso afirmar, mas talvez seja isso que esteja te
atormentando, o fato de você não ter dado o final que gostaria para sua
história com ela.
Eu nunca conversei com o Steve sobre mim e a Rebeca, mas os
boatos do assassinato dela e da verdade, sobre como ela manipulou a todos
para eu ser a vilã e ela a vítima, se espalharam pela organização. Encarei
meu cunhado, a visão marejada pelas lágrimas. Escondi o rosto em seu
peito recebendo o carinho e o aconchego dele. A mão subindo e descendo
suavemente em meus cabelos.
— Quer ouvir algo engraçado?
— Sim. — Funguei.
Steve me fez voltar a andar, somente os postes iluminando nosso
caminho no complexo, a brisa gelada batendo suavemente nas minhas
lágrimas. Enxuguei a todas focando na respiração e no meu cunhado.
— Eu tomei um fora histórico há poucos minutos.
— De quem? — Parei, puxei sua manga o forçando a me encarar.
— Da filha mais velha do presidente.
— O presidente dos Estados Unidos? — Arregalei os olhos.
— Sim, a sem-vergonha deu uma festa na suíte do Sorte de Ouro.
Ela é bem gostosinha, fui lá cumprimentar como o diretor-executivo do
cassino e a safada me mandou embora na frente dos convidados. Fiquei
com vontade de apertar o pescoço dela e estapear aquela bunda branca
arrebitada.
— Céus. — Levei a mão à boca adorando saber disso.
— E sabe o pior? — Arqueei a sobrancelha.
— Diga.
— Quando eu entrei no elevador a filha da puta me atacou, beijou
minha boca. E saiu dizendo “prêmio de consolação”.
— Meu Deus, Steve! — Comecei a gargalhar.
— Eu fiquei como um babaca a vendo deixar o elevador sem saber
como reagir. Aquela fedelha me paga. — Apertou o punho. — Qual
vingança eu posso fazer para ela ficar louca?
— Se a garota possui interesse em você, mas o dispensou na frente
dos amigos, acho que significa que ela tem vergonha da sua profissão. —
Levei o dedo ao queixo pensativa. — Você podia ficar com alguém de
maior prestígio na frente dela.
— Tipo uma princesa?
— Se você conhecer alguma, acho que funciona.
— A princesa da Inglaterra, serve? — Arqueei a sobrancelha.
— Uau — assobiei surpresa — não fazia ideia de que vocês
conheciam pessoas desse nível.
— Como você acha que uma monarquia se mantém? — Arqueou a
sobrancelha. — Eu falei do exorcismo por ouvir da princesa, uma vez, que
eles praticam exorcismo no palácio dos reis antigos que não querem
abandonar a coroa.
— Estou chocada. Você não está brincando comigo?
— Não, Michael tem estabelecido laços com a Máfia Inglesa. Eles
são formados em sua maioria por membros da monarquia. Utilizam da
máfia para manter suas posições e enriquecerem com o submundo.
— Pode me contar mais. — Enlacei o braço no seu, adorando saber
as verdades que muitas vezes achei que eram teorias da conspiração.
— A princesa Isla é a quarta na linha de sucessão ao trono, e a única
mulher da família. Eles a usam para tratar de negócios com as máfias, por
ser um membro elegante e graciosa, poucas pessoas desconfiam de que é
uma diaba ardilosa. Não duvido que ela vá usar a influência da máfia para
derrubar os irmãos e assumir ao trono. Isla é ambiciosa, sempre quis o
trono.
— Enquanto a filha do presidente…?
— Uma vadia, o pai gasta milhões para manter as transgressões da
filha em segredo. Sou louco para comê-la, mas preciso me conter ou trarei
problemas ao Black.
— Com seus olhos de camaleão você deve arrasar o coração das
garotas.
— Algo parecido. — Deu de ombros.
Continuamos caminhando pelo complexo enquanto o Steve ia
contando histórias de suas aventuras. Meu cunhado, apesar de ser muito
mulherengo, possui um vasto conhecimento sobre o mundo. Ele já viajou
por diversos países, fez alianças com pessoas importantes e esteve na cama
de mulheres poderosas, como a princesa da Inglaterra. A filha de um
Sheike, e até mesmo damas da Yakuza caíram em seus encantos.
Steve parecia um camaleão, se adaptava a qualquer ambiente, atraía
suas vítimas com a postura carismática, as enrolando em uma armadilha
impossível de sair. Não sei o que ele planejava para se vingar da filha do
presidente, mas uma certeza eu tinha, ele vai fazê-la se arrepender por
brincar com ele.
— Boa noite — a voz do meu marido soou poderosa atrás da gente.
Virei, encontrando-o com o olhar possessivo.
— Acho que eu deveria usar o Black, olha como ele me encara
como um macho possessivo. — Fingiu um arrepio. — Ia funcionar
direitinho.
Dei risada do Steve, ele também começou a rir e meu marido fechou
a expressão sem entender a brincadeira do irmão. Soltei o braço do Steve e
abracei a cintura do Black.
— Você demorou — reclamei, já passava das 23 horas.
— A reunião se estendeu mais do que o previsto. — Beijou o topo
da minha cabeça. — Aconteceu alguma coisa?
Acenei em positivo.
— Tive um pesadelo com a Rebeca, saí para tomar um ar e encontrei
o Steve no caminho. Ele me ajudou a clarear a mente.
— Vou marcar o exorcismo do espírito da Rebeca — Steve avisou
ao Black.
— Faça isso — Black concordou, sorri achando fofo meu marido
acreditar em fantasmas.
— Boa noite, Steve — despedi-me do meu cunhado.
— Tchau. — Black acenou.
— Até amanhã, cunhadinha e maninho. — Dobrou a esquerda
seguindo para sua casa.
— Vamos dar uma volta — Black me chamou seguindo na direção
oposta.
— Eu estou bem, juro.
— É preocupante os pesadelos voltarem tão perto do parto. Você
está com 38 semanas, não deveria passar por esses sustos. — Franziu a
sobrancelha. — Vou trazer a Lily para uma sessão, queria esperar até depois
do nascimento, mas acho que seria bom aceitar a ideia da hipnose.
— Black — parei de andar apertando sua mão — eu não quero
reviver aquele momento.
— Você precisa, minha deusa. — Acariciou meu maxilar. — Você
ouviu a Lily, o fato de não ter encerrado suas questões com a Rebeca
continua mexendo com a sua mente. Você a matou no ódio, em uma
explosão de desespero para proteger a Daisha. Mas não conseguiu expurgar
as dores presas em seu peito. Com a hipnose a Lily consegue te enviar de
volta para aquele momento, te guiando para reescrevê-lo e ter o final que
você merece com a Rebeca.
— Vai ficar ao meu lado? — pedi, tremendo o lábio, fazia um tempo
que a Lily tinha sugerido a hipnose, mas neguei com medo das emoções
fortes atingirem o Connor.
— Não vou a lugar algum. — Abraçou-me, descansei a cabeça em
seu peito. — Chegou a hora de fechar essa página.
E eu confiava no meu marido e em tudo que ele representava para
mim.

— Obrigada por confiar em mim, Josephine. — Lily estendeu a


mão. — Eu sou uma profissional habilitada para realizar o processo de
hipnose e por conhecer a fundo o seu trauma estabelecemos uma relação de
confiança, vou te guiar para você ser capaz de encontrar o encerramento
que merece com a Rebeca e poder se libertar dos pesadelos.
Diferente do normal, eu estava deitada no divã com o Black sentado
perto de mim, mas sem me tocar para no momento da hipnose eu não me
assustar pelo corpo estar preso. Suguei as energias dele para conseguir
enfrentar o que estava prestes a acontecer. A manta cobrindo meu corpo, a
música relaxante quase me fazia esquecer o propósito dessa sessão. A
iluminação proveniente de velas aromáticas.
— Podemos iniciar?
— Sim.
— Você consegue. — Black beijou minha cabeça.
— Josephine, foque somente na minha voz — Lily pediu
docemente. — Leve sua mão ao coração, sinta as batidas e o ritmo da sua
respiração. Limpe sua mente se concentrando nos movimentos suaves de
seu corpo. Puxe o ar pelo nariz e solte lentamente pela boca.
Fiz como ela pediu, foquei a atenção nas batidas do meu coração,
sentidas pela minha palma, no movimento suave do peito subindo e
descendo, limpei a mente dos pensamentos. O ambiente relaxado me
induzia a um estado de sonolência.
— Josephine, comece a contar, lentamente, de dez a um.
— Dez — iniciei, falei a contagem devagar, imergindo em um
estado de sono mesclado com a realidade. Os sons se tornaram distantes,
meu corpo quentinho e relaxado. — Um.
— Quem você deseja encontrar? — ela perguntou ao longe,
suavemente.
— Minha irmã, quero retornar ao dia de sua morte.
— O que aconteceu na morte dela?
Voltei ao passado, entrei no quarto hospitalar da Daisha.
Uma enfermeira entrou segurando copos de café enviados pela
Hope. Nunca gostei de tomar café depois das 18 horas, por isso recusei
educadamente.
Kai retornou para casa na companhia do Michael e do Black. Meu
irmão estava destruído pelo acidente que a Daisha sofreu. Minha cunhada
ficou em coma com o corpo muito machucado, tinha um gesso com ferros
no braço quebrado em três lugares, passou por uma cirurgia de
emergência. Ela repousava na cama. Sentada na cadeira, encarei a Daisha
com o peito doendo pelo medo dela morrer.
Daniel ficou de guarda, liderando a equipe que a protegia, ainda
não sabíamos quem tinha sido o mandante do ataque. O caminhão bateu
brutalmente no carro da Daisha a arrastando, se ele não tivesse sido
parado à força pelos seguranças, estaríamos vivendo o pior cenário.
Daniel fechou a porta e começou a tomar o café. Ele puxou o copo
encarando o líquido.
— Tudo bem? — Levantei, estranhando seus olhos virando. —
Daniel!
— Se proteja — falou fraco, desabando no chão.
— Meu Deus! — Levei as mãos à boca, dei um passo à sua frente e
estanquei ao ver a desgraçada entrando.
Os cabelos loiros não foram o suficiente para esconder sua
identidade de mim. A maldade da Rebeca invadiu o quarto como uma
praga enquanto ela entrava. Sorriu diabólica para mim, por cima do seu
ombro eu vi os soldados de guarda desmaiados, não teria a quem pedir
ajuda. Olhei uma única vez para a Daisha em coma em cima da cama, ela
só tem a mim para a proteger.
— O que você faz aqui? — Apertei os punhos, precisava tomar
cuidado ou iria cair em uma armadilha da Rebeca.
— Achou que conseguiria se livrar de mim? — Os olhos dela
pegavam fogo de maldade.
— Você foi exilada, o Kai não te quer aqui!
— Ele vai ficar desesperado quando souber que sumi e encontrar o
sangue espalhado pela casa. Vai se arrepender achando que morri e sofrer
a dor que me impôs! Sua vadia maldita, conseguiu me afastar, mas você
nunca vai ficar com ele.
— Não era uma competição. — Sacudi a cabeça me aproximando
dela. — Somos irmãs, Rebeca, o Kai é nosso irmão. Ele nunca seria seu
homem!
— Cala a porra da boca! Meu assunto não é com você, mas com a
puta que roubou meu homem. Cansei de você, Josephine.
Ela foi rápida, sacou uma arma e atirou. A lateral da minha cabeça
irradiou uma dor excruciante, perdi os sentidos desabando de joelhos. Sem
conseguir fazer nada para ajudar minha amiga, desmaiei.
Acorda, você precisa proteger a Daisha!
Uma voz continuava gritando na minha cabeça. A dor era demais
para aguentar, com dificuldade, abri os olhos vendo a Rebeca ao lado da
cama da Daisha sufocando minha amiga. Pressionei os lábios lutando
contra o machucado que me deixou zonza. Já aguentei porradas demais
para deixar um ferimento de raspão de uma bala me derrubar.
Com os braços e pernas tremendo, forcei meu corpo a levantar. Meu
olhar cruzou com o da minha cunhada, ela está machucada. Vi o médico
caído no chão, sangrando, provavelmente morto, Daniel continuava
desmaiado. Encarei minhas mãos manchadas pelo vermelho do líquido
quente. Tive vertigem, quase desmaiando novamente.
O sangue sempre esteve presente em todos os meus momentos de
sofrimento, não aguentava mais encarar aquela cor, saber o que ela
representava e se eu não for rápida era o sangue da Daisha que serei
obrigada a encarar. Busquei por uma arma, qualquer coisa que pudesse
usar contra a Rebeca. No meu estado não iria conseguir entrar em uma
luta corporal com ela.
Em cima da mesa, ao meu lado, tinha um jarro de ferro. Segurei o
objeto sem fazer barulho, cambaleando, me aproximei da Rebeca pelas
costas. Daisha puxou o braço dela a impedindo de se mover.
— Morra, vadia — Daisha rosnou.
— Quem vai mor…
Acertei a nuca dela com uma pancada poderosa. Rebeca desabou
em cima da Daisha batendo o rosto nos ferros no braço dela. Daisha
berrou, sacudi a cabeça espantando a vertigem. Daisha não a soltou,
vacilei quase caindo. Pisquei forte, apertei o jarro nas mãos sabendo que
não poderia perder tempo. Ergui o vaso acertando a lateral do rosto da
Rebeca a jogando no chão.
Eu não aguentava mais, toda a dor, o sofrimento de anos
massacrando o meu peito. Não tinha como existir uma segunda chance
para a gente ou um destino diferente, enquanto ela estiver viva vai
continuar ferindo as pessoas que eu amo, machucando minha família,
arrancando a felicidade do meu irmão e da minha amiga. Eu não queria
fazer isso, mas se a deixar solta, o inferno nunca vai chegar ao fim.
Travei meus sentimentos precisando fazer o certo. Deixei o ódio
assumir os comandos do meu corpo. Me entreguei à fúria assassina.
— MORRA, PORRA! — Fiquei em cima dela. — EU TE ODEIO,
SUA MALDITA!
Desci o jarro contra o rosto dela. Os olhos pretos como os meus se
encheram de desespero. O jarro bateu em sua testa e os olhos derramando
sangue. Sempre a maldita cor vermelha acompanhada do sofrimento sem
fim. Eu não aguentava mais, precisava ser feliz, se a Rebeca continuar viva
nada dará certo.
Com as mãos tremendo continuei atingindo sua cara. O rosto da
irmã que amei quando era criança se transformando em uma massa de
carne esmagada. A irmã que odiei durante a adolescência e a vida adulta
teve a cabeça transformada em uma piscina de sangue pungente,
manchando meu corpo.
A voz odiosa que me desejava mal sendo substituída pelos sons do
crânio esmagado pelos golpes sem fim contra seu rosto. Não tinha mais
volta, meu peito se partiu ao meio ao soltar o jarro e ver o corpo da minha
irmã debaixo do meu. O sangue escorrendo cada vez mais pelo quarto, se
acumulando ao redor do corpo dela.
Não existia a chance de um final diferente para mim e para ela.
Rebeca morreu pelas minhas mãos.
Mas aquilo não me trouxe felicidade. Levantei sentindo o medo
assombrando meus ossos, encarei minhas mãos vermelhas, tremendo. O
que foi que eu fiz?
— Você precisa salvar o Kai. — O choro da Daisha me puxou para
a realidade.
— Merda! — Black irrompeu pela porta observando o quarto.
— Ela disse que todos morremos. — Daisha soluçou. — Josephine,
salve o Kai!
— Onde ele está? — Minha voz tremeu, ainda não conseguia voltar
à realidade.
— Em casa — Black disse.
— Certeza? — Prendi-me na necessidade de saber do meu irmão.
Eu ainda o tenho, me agarrei a isso para manter a Rebeca longe da
minha mente.
— Não, ele saiu, porra, eu disse ao Michael para manter o Kai em
casa! — Black xinga depois de desligar o celular.
— Vamos agora. — Segurei a mão da Daisha me garantindo de que
ela estava bem. — Aguente firme, ele vai precisar falar com você. —
Observei o quarto, peguei meu celular e entreguei à Daisha. — Vou chamar
um médico.
Corri para longe da cena do crime, não conseguiria permanecer
naquele quarto com o cadáver da Rebeca, a cabeça estourada pela minha
fúria. Precisava saber o que tinha acontecido com o meu irmão e o salvar.
— Tenho a localização dele. — Black segurou minha mão, me
puxando para o elevador. — Coloque isso. — Envolveu meus braços com o
terno. — Você precisa de atendimento médico. — Segurou meu queixo
encarando o ferimento na minha cabeça.
— Depois, vou salvar o Kai.
Não consegui prestar atenção no Black e no que ele fazia, somente
na necessidade de salvar meu irmão. Não demorou até chegarmos à praia,
pulei na água gelada, segurei o corpo do Kai e o trouxe para a superfície.
Essa noite eu tirei uma vida e salvei outra.
Matei quem me odiava e protegi quem me amava.
Então, por que eu não me sinto em paz?

— Josephine, retorne ao momento em que a Rebeca entrou no


quarto, o que você gostaria realmente de dizer naquele segundo?
Retornei para o instante em que a Rebeca entrou no quarto, encarei
seus olhos ferozes, dessa vez eu não tive medo, apenas dor e tristeza.
Lágrimas derramaram pela minha bochecha.
— Eu te amei, Rebeca. Você era a minha irmã mais nova, mas
destruiu tudo quando começou com as brigas e as manipulações. Por que
você fez isso? Por que você me odeia e se empenhou por anos em me
destruir? Era isso o que você almejava, me ver ferida por dentro e por fora,
triste e sozinha? O QUE EU TE FIZ? — gritei ao não receber respostas
dela.
Puxei o ar com força pela boca, tremendo, agarrei a imagem da
minha irmã pelos ombros sacudindo seu corpo.
— Esse não precisava ser o nosso final — chorei — podíamos ter
sido amigas, irmãs de verdade. Eu teria te dado o mundo se você não
tivesse destruído o meu. Me desculpe por te machucar. — Alisei seu rosto
paralisado. — Desculpa por estourar sua cabeça com um vaso. Mas foi
preciso, ou você nunca iria parar e eu preciso proteger o que é importante
para mim. — Encarei minha barriga sentindo meu bebê. — Eu te perdoou
por ser malvada comigo, pelas armações e por me destruir. Eu te perdoou,
Rebeca, pois todo o ódio que você me deu eu transformei em amor.
Soltei-a, dei um passo para trás, acariciando minha barriga.
— Por favor, minha irmã, descanse em paz e para de me atormentar.
Eu não posso continuar te dando atenção. Existem outras pessoas que
precisam de mim. Vou viver minha vida com meu filho, marido, e minha
família. Aquela que me aceitou de braços abertos, que conseguiram
enxergar por cima das armações e me aceitou como eu sou. Adeus, Rebeca.
— Virei de costas.
— Josephine — a voz da Lily chamou — conte de um a dez,
devagar, sinta novamente seu corpo e retorne.
Eu fiz como ela pediu.
Deixei o passado para trás, tive meu encerramento e no dez eu abri
meus olhos sentindo meu peito leve. Mas as lágrimas me invadiram sem
piedade ao ver as pessoas ao meu redor.
— Obrigado por retornar, minha deusa. — Black me abraçou
sentando no divã. — Você é amor, Josephine, nunca duvide disso. Seu
coração está repleto de bondade, carinho e proteção. Não existe espaço para
o ódio.
— Você salvou a minha vida, Phine. — Kai tocou meu rosto. — Se
não fosse a sua coragem de entrar naquele mar e me trazer de volta eu
poderia não estar aqui. — Envolveu meus ombros. — Obrigado por ser
forte durante anos, e me dado uma segunda chance, eu te amo, minha irmã.
— Você me salvou, Josephine. — Daisha assumiu o lugar do meu
irmão. — A Rebeca estava prestes a me matar. Mas graças a sua coragem
eu estou aqui. — Acariciou meu rosto. — Obrigada por me permitir
continuar vivendo, eu te amo, Phine.
— Você nunca mereceu a forma como foi tratada. — Michael
segurou minha mão. — Me desculpe por não poder te salvar, mas saiba que
sua existência salvou a todos nessa sala. Nunca seríamos os mesmos se
tivéssemos perdido o Kai e a Daisha. Obrigado, Josephine, pelo seu
sacrifício. Eu te amo. — Beijou o topo da minha cabeça.
— Eu percebi quem você era no segundo em que te vi. — Hope
sentou ao meu lado, sorrindo docemente. — Uma pessoa bondosa, divertida
e atrevida. Nunca perca sua essência, Phine. Poder contar com você e ver a
sua felicidade é a minha alegria. Eu te amo, minha Phine. — Puxou meus
ombros me abraçando. — E te amo ainda mais por você salvar meu irmão
de uma vida solitária, sendo o porto seguro dele, a única pessoa com quem
ele conseguiu conversar.
— Você sempre escuta nossas maluquices. — Emily afastou a Hope
segurando minhas mãos. — É a cola do nosso grupo. Eu te amo tanto e sou
muito feliz por saber que sempre posso contar com você. Eu confio em
você com a minha vida e sei que você faria de tudo para proteger quem
ama. Minha Phine, com você eu aprendi a lutar. — Beijou minhas mãos. —
Obrigada por ser minha amiga.
Solucei, não conseguia responder às declarações, chorando sem
parar com o peito explodindo em um tipo de amor e felicidade que nunca
senti antes.
— Eu sinto muito por como te tratei — Daniel pediu, se ajoelhando
ao lado da esposa. — Você é uma pessoa maravilhosa, que merece ser
amada e amar. Josephine, não se prenda a dores do passado quando você
tem tanto amor em sua vida. — Segurou minha mão. — Eu fico tranquilo
por saber que o William vai crescer com uma tia como você perto dele.
Obrigado por não desistir e por ser forte como nenhum de nós conseguiu
ser. Você aguentou muita coisa sozinha, mas agora possui a gente. Eu
também te amo. — Beijou minha mão.
— Minha filha. — Kennedy afastou Emily e Daniel me puxando
para o seu colo. — Seu casamento com o Black me trouxe uma felicidade
sem igual. Eu ganhei uma nova filha, uma garota especial que eu posso
amar e mimar como eu quiser. Eu te amo muito, Josephine, e não existiria
honra maior para mim do que ser chamada de mãe por você. — Beijou
meus cabelos. — Deixa eu ser sua mãezinha?
— Sim, ma-mãe. — Meu nariz entupiu enquanto chorava contra o
peito da Kennedy.
Eu finalmente tinha uma mãe que me amava.
— Não esqueça de mim, por favor. — Bartolomeu se meteu no
abraço, apertando minhas costas contra si. — Se você aceita a Kennedy,
precisa saber que estou incluso no pacote. Eu te amo muito, minha filha,
sou grato todos os dias pelo meu filho ter casado com vocês e pelo amor
que vocês vivem. Adoro sua companhia e tenha a certeza de que eu nunca a
deixarei ficar longe do seu paizinho.
— Ah, pai. — Mordi os lábios o abraçando firme.
Eu não conseguia acreditar naquilo.
Kennedy e Bartolomeu me aceitaram como sua filha. Eu os amo
tanto e compartilhamos momentos de felicidade e amor. Ter pais como eles
pareceu um sonho.
— Você merece toda a felicidade que está sentindo, Josephine. —
Steve se enfiou entre os pais segurando meu rosto. — Eu te amo, minha
cunhada, e apesar do Black morrer de ciúmes, não pretendo parar nossos
passeios noturnos. Obrigado por aceitar minha presença. Tenha a certeza de
que vou continuar ao seu lado por muitos anos.
— Você tem uma família, Josephine. — Black me puxou para o seu
colo. — Pessoas que te amam e que fariam de tudo por você. Olhe para a
gente, amor, foi isso tudo que você protegeu naquela noite. Sem você nunca
seríamos felizes como agora. Todas as peças estão entrelaçadas, unidas no
nosso nó, Josephine. Um nó eterno de amor, felicidade — acariciou minha
barriga — inquebrável. Você é a nossa super-heroína, a mulher que eu amo
e a mãe dos meus filhos. Obrigado por me deixar fazer parte da sua vida.
Minha amada Josephine.
— Eu amo muito vocês — respondi em meio ao choro de felicidade.
Um mar de braços me envolveu cercando a minha vida de amor.
Eu encontrei a verdadeira felicidade e não foi somente pelo meu
casamento ou pelo meu bebê. Eu tenho todas aquelas pessoas, a minha
família, e para sempre estaremos grudados e entrelaçados em um nó do
infinito.
Eu sou muito feliz e sortuda. Pois todas as feridas foram fechadas e
reescritas pela felicidade e pelo amor.
— Eu vou explodir!
Reclamei pela terceira vez naquela semana. Black me encarou rindo,
massageando meus pés inchados.
— Por favor, Connorzinho, amor da mamãe, nasce logo, filho, já
está na hora de você vir ao mundo — falei com minha barriga.
— Amor, ele não vai nascer mais rápido só porque você quer. —
Black mordeu o sorriso.
— Vai sim! Ele é um garoto bonzinho. — Fiz movimentos circulares
na barriga. — Certo, meu bebê? Vem para a mamãe.
— Phine, ele só tem 40 semanas, a data do parto se aproxima, mas
você não vai conseguir induzir só com pedidos fofinhos.
— Você diz só? — Encarei-o indignada. — São 9 meses, Black!
— O tempo de uma gestação. — Ergueu as sobrancelhas.
Subi o pé enfiando na cara dele, cansada do Black.
Estou enjoada de todas as pessoas, não aguento ficar perto de
ninguém sem mandar ir se lascar.
Minha terapia de amor, duas semanas atrás, trouxe paz ao meu
coração. Os pesadelos chegaram ao fim. Eu era amada e a presença de todas
as pessoas da minha família naquele momento trouxe uma luz intensa, forte
e muito brilhante para os meus dias. Depois da sessão jantamos em família,
rindo, conversando, a alegria em todos os cantos da casa.
Lily planejou e conversou com eles sobre como seria a sessão. Ela
queria fazer eu perceber que a morte da Rebeca foi uma libertação para a
minha família. Não existia razão para eu me culpar, e com o perdão que fui
capaz de dar a minha irmã, todas as dúvidas desapareceram, o peso no meu
peito dissolvido pelo poder do amor.
Eu perdoei a mim mesma.
Infelizmente, eles não puderam continuar em Vegas e retornaram
para Nova Iorque. E eu fiquei uma bagunça emocional. Grace explicou que
com a aproximação do parto era normal a ansiedade, vontade de encerrar o
processo e poder segurar meu filho no colo. Meu corpo não colaborava, os
peitos doloridos pelo leite que às vezes vazava, a coluna inflamada, os pés e
pernas inchados pelos líquidos. Sentia que explodiria a qualquer momento.
— Calma, minha deusa — Black pediu, se arrastando na cama,
ficando atrás de mim. — Vamos treinar os exercícios de respiração.
— Não aguento mais inspirar e expirar! — Bati em sua mão.
— Puxa o ar, Phine — falou calmo, segurando minhas mãos sobre
meu peito. Black começou a inspirar fundo pela boca.
Contrariada, mas não sabendo como acalmar a ansiedade, fiz o que
me pediu. Puxei o ar pela boca e soltei devagarinho, o som do assobio
ajudou a me acalmar. Continuei no exercício com o Black por quase uma
hora. A maternidade que vou dar à luz teve sua segurança reforçada para
quando o momento chegar nada atrapalhar o nascimento do Connor.
Black delegou funções na organização e nos cassinos, ficando mais
tempo comigo. Ele não queria perder o nascimento do Connor e ficava
ansioso quando saía de casa, me ligando a cada cinco minutos perguntando
se estava sentindo contrações. Ele é bom disfarçando a ansiedade, mas já o
flagrei fazendo os exercícios de respiração sozinho e repassando
mentalmente o que ele deveria fazer durante o parto, como me acalmar,
segurar minha mão. Ele treinava como ninar um bebê com um travesseiro.
Ele não sabia, mas eram esses momentos que o flagrava distraído
pensando no nosso filho que me acalmava.
— Se sente melhor? — Beijou meu ombro.
— Sim, obrigada. — Beijei seu queixo.
— Vou ficar fora por duas horas, prometo voltar antes do almoço. —
Abraçou-me apertado. — Espera por mim.
— Sempre. — Beijei seus lábios. — Bom trabalho.
— Odeio ter que ir. — Suspirou. — Volto logo. — Beijou minha
testa saindo da cama.
Acompanhei-o até a porta de casa, Black tinha o semblante franzido
ao entrar no carro, acenei dando tchau. Taylor inclinou a cabeça entrando
atrás de mim. Mal fechei a porta e ela foi aberta pela Kennedy e pelo
Bartolomeu. Meus pais estavam me fazendo companhia na ausência do
Black. Minha base de apoio, sempre cuidando de mim e trazendo alegria
para a minha vida.
— Minha filha fica mais linda a cada dia. — Kennedy me apertou
em seus braços. — Quer furar a dieta hoje?
— Não — Bartolomeu respondeu por mim, beijando meus cabelos.
— Josephine está prestes a ganhar o bebê, seguiremos as recomendações da
médica. Guarde os doces para depois do parto, amor.
— Você é chato como o seu filho. — Fez careta. — Vem, minha
filha, hora do nosso chá.
Comecei a rir, eu amo esse casal. Mesmo após anos casados e pelo
tormento que passaram, eles continuam amando um ao outro, tornando
todos os dias especiais e felizes.
Segui com eles para a varanda, meus dias eram assim. De licença
maternidade ficava pelo complexo, segura, recebendo visita das senhoras
Bonnarro, conversando por celular com minhas amigas, meu irmão e me
divertindo com meus pais, cunhado e marido. Não tive medo dos dias de
paz acabarem, pois sabia que eles seriam eternos.
Duas horas se passaram e o Black enviou mensagem avisando que
estava preso no trânsito, um engarrafamento quilométrico paralisou a
cidade de Las Vegas.
Deitada na biblioteca alisei minha barriga suavemente enquanto lia
pelo kindle apoiado no umbigo. A dor no ventre veio voraz e sem aviso. Fiz
careta gritando, o kindle caiu no chão, me curvei apertando as pernas.
— AAAAAAAAAH — gritei assustada.
— Começou! — Kennedy pulou do sofá segurando minha mão. —
É uma contração, querida, respira.
Como se respira sentindo que estou sendo aberta ao meio? Segurei a
mão dela apertando os dedos da minha mãe, respirei pesado, com
dificuldade, pisquei sendo obrigada a aguentar a dor. Tão rápido como ela
veio, chegou ao fim.
— 40 segundos de contração, marcando o tempo entre uma e outra.
— Kennedy observou o relógio. — Vou ligar para o hospital, avisar ao
Black. BARTOLOMEU — berrou o nome do marido.
— Só durou 40 segundos? — Inspirei fundo sem acreditar,
pareceram horas de dor intensa.
— Sim, vamos para o hospital antes que elas piorem. — Levantou-
se me levando consigo. — Sua bolsa ainda não estourou, temos tempo. —
Sorriu. — Chegou a hora, minha filha.
— Meu menino vai nascer — comentei chorosa.
— Sim!
— O que foi? Ouvi gritos. — Bartolomeu entrou na biblioteca.
— As contrações iniciaram — Kennedy respondeu.
— Precisamos ir para o hospital. — Pegou o celular se aproximando.
— Consegue andar sozinha ou quer que eu te carregue?
— Posso ir andando. — Segurei minha barriga, com medo do bebê
cair. Parecia uma idiotice pensar isso, mas foi o que passou na minha mente
ansiosa.
— Ótimo, vou pegar suas coisas, me esperem na sala.
Agachei pegando meu celular na mesinha de centro. Disquei o
número do meu marido enquanto caminhava para a sala com a Kennedy
agarrada na minha mão.
— Amor — falei — chegou a hora.
— Tem certeza? — Pareceu nervoso. — Vão para o hospital, eu
encontro vocês lá.
— Não demora, amor — pedi chorosa. — Você precisa estar ao meu
lado quando o Connor nascer.
— Eu vou, nem que precise aprender a voar para sair desse maldito
trânsito.
— Espero por você. — Não desliguei, ficamos em silêncio, preparei-
me para sair.
Cheguei à sala, Bartolomeu já segurava minha bolsa e a do bebê.
Com um movimento de cabeça seguimos para o lado de fora, entrei no
carro para irmos à pista de voo do complexo. Black queria ter a certeza de
que eu poderia usar o helicóptero para chegar ao hospital, por isso deixou
todos de prontidão, se recusando a usá-los, caso um desse problema eu teria
os outros.
— Você está perto do hospital? — perguntei ao Black quando o
carro estacionou.
— Acho que a uns 15 quilômetros de distância.
Desci do carro. Segurando na mão da Kennedy, caminhei para o
helicóptero. Parei sentindo uma nova contração, mais forte que a anterior.
Larguei o celular curvando o tronco para a frente. Gritei apertando a mão da
Kennedy e segurando a barriga. Pensei que perderia a força nas pernas, mas
Bartolomeu me segurou pelo quadril me impedindo de fraquejar. Rangi os
dentes aguentando a dor excruciante.
— 40 segundos de contração. Intervalo de 20 minutos entre uma e
outra — Kennedy falou. — Parece que o Connor está com pressa.
— Ela está bem — ouvi o Bartolomeu dizer enquanto me
recuperava.
— Me dá. — Estendi a mão pedindo meu celular. — Foi só uma
contração — falei para o Black, inspirando fundo. Ergui o tronco voltando a
andar, os passos um pouco vacilantes. Apoiei o corpo no meu pai.
— Certeza de que está bem? — perguntou preocupado.
— Sim, vou subir no helicóptero, quando chegar ao hospital eu te
aviso.
— Prometo que vou estar lá. — Black me encheu de confiança,
seguro de que faria dar certo.
— Acredito em você.
— Nós.
— Nós — respondi, desliguei a chamada para poder subir no
helicóptero.
Entrei com meus pais, sentei entre eles, passei o cinto, pus os fones
de ouvido e alçamos voo. Durante o trajeto para o hospital tive uma nova
contração. Por enquanto elas se mantinham constantes, a cada 20 minutos
durando 40 segundos de pura dor. No hospital a equipe médica me recebeu
com uma cadeira de rodas, fui para o meu quarto, vesti a roupa que usaria
no parto, somente uma camisola hospitalar, sem calcinha ou calça.
A inquietação pela demora do Black e as contrações aumentando
gradativamente não me deixaram sentar ou ficar deitada. Segurando a mão
da minha mãe eu andava pelo quarto contando os minutos, pegando
informações com o Bartolomeu sobre o meu marido. A porta do quarto
abriu de repente e Steve entrou assustado.
— Ufa, achei que tinha perdido. — Tocou os joelhos, se inclinando
para a frente, respirando pesado.
— CADÊ O BLACK?! — berrei irritada, o início de uma nova
contração.
— A última notícia que tivemos dele, tinha saído do carro e veio
correndo para o hospital. Em breve ele chega — Steve respondeu se
aproximando de mim. — Fica calma, cunhadinha, estresse só vai fazer mal
ao bebê.
— Vai se foder, Steve — rosnei irritada, com dor e cansada.
As horas passaram e minha preocupação aumentou. Bartolomeu e
Steve saiam do quarto para conversar e voltavam dizendo que estava tudo
bem, mas eu sabia que não estava! Black saiu do carro para vir ao hospital 3
horas atrás. As contrações que estavam constantes com espaços de 20
minutos começaram a diminuir para 15 minutos cada, com duração de 45
segundos.
O medo de que algo tivesse acontecido com meu marido machucava
meu coração. Ele não respondia às mensagens, não atendia minhas ligações
e ninguém conseguia me dizer onde ele estava. Black fez de tudo para estar
presente durante a gravidez, não perdeu uma única consulta, sempre ao meu
lado segurando a minha mão e agora no momento mais importante, na hora
do nosso bebê nascer, ele não estava presente.
Caí de joelhos no chão gritando com uma contração mais forte,
intensa, rasgando minha pélvis, partindo-me em duas. Apertei a barriga,
apoiei a mão no chão, o suor na testa escorrendo, entrando no meu olho.
Chorei agoniada, com medo do meu marido estar machucado, dele perder
esse momento. Não tinha mais inimigos, a guerra acabou, por que ele não
estava aqui?
— Josephine. — Kennedy segurou meu rosto. — Minha filha, eu sei
que você está preocupada, eu também estou. Mas não pode passar essas
energias para o bebê. O tempo das contrações diminuiu de novo, estão
acontecendo a cada 10 minutos com duração de 60 segundos. Sua bolsa
ainda não estourou, temos tempo. Ele vai chegar aqui, confia em mim.
— E os rastreadores? — perguntei engolindo o choro, a dor
amenizando.
— Steve está seguindo o sinal, Black continua em Las Vegas, ele
não saiu de uma localização, não sei o motivo da demora do Steve para
trazer o irmão aqui. Deixa os homens cuidarem disso enquanto você se
preocupa somente com o nascimento do Connor. — Beijou minha testa
suada.
— Boa noite! — A enfermeira entrou. — Vamos medir novamente a
dilatação.
— Vai se foder, porra! — Rosnei, odeio quando ela vem meter a
mão na minha vagina, machuca, tenho vontade de chutar a cara dela.
— Cuidado, mamãe, esse é um momento precioso para o bebê e para
você. Sei que incomoda, mas é preciso.
Com a ajuda delas deitei na cama, abri as pernas, a enfermeira
colocou as luvas e meteu a mão em mim. Rangi os dentes para não chutar a
cara dela. Ela sorriu ao retirar a mão.
— Você está com 5 centímetros de dilatação. É esperado que as
contrações aconteçam a cada 5 minutos agora, seja forte. A bolsa ainda não
estourou, mas em breve deve acontecer. Seu parto será normal como o
previsto. Tudo bem?
— Sim. — Balancei a cabeça.
Uma nova contração iniciou, como que para comprovar o que a
enfermeira tinha dito sobre o intervalo diminuir. Gritei, apertei o ventre me
contorcendo. Kennedy começou a fazer os movimentos de respiração para
que eu a imitasse. Apertei sua mão tentando inspirar e expirar, mas a dor era
forte demais.
Após a crise, deitei. O momento do nascimento se aproximava e eu
não tinha notícias do meu marido, cunhado e pai. Chorei baixinho, fingindo
ser por causa da dor, com o peito apertado em preocupação.
Mais duas horas se passaram e eu não tinha notícias, diminuíram o
tempo das contrações, a dor se intensificando, mesclada a forte pressão e
dilatação acontecendo. A bolsa estourou com 9 centímetros de dilatação,
molhei a cama, apertei a mão da Kennedy sabendo que o momento estava
chegando. Como eu conseguiria dar à luz em paz sem o Black ao meu lado?
— Por favor, traz ele — pedi soluçando.
— Desculpe, minha filha, mas não sei mais o que fazer. — Ela
também chorou, alisando meus cabelos.
Andei pelo quarto enquanto esperava atingir o último centímetro de
dilatação. A sala de parto ficou pronta e uma maca foi trazida para me levar
a ela. Encarei as portas abertas sem sinal dos homens Bonnarro. Me tremi
ao deitar na cama, chorei com o peito apertado pela dor. Fui preparada para
o parto, Kennedy vestiu as roupas de proteção.
Doutora Grace sorriu para mim, me acomodei na maca de parto.
Kennedy ao meu lado, um sorriso gentil em seu rosto, os cabelos cobertos
pela touca hospitalar, como os meus. Senti que estavam limpando minha
vagina, Grace deu a volta, tocou minha mão com uma expressão gentil.
— Chegou a hora, Josephine. Você atingiu os 10 centímetros de
dilatação e as próximas contrações serão para o bebê nascer. Vou precisar
que você faça força, empurre o Connor para fora sem medo, seja forte,
quando as contrações acabarem você para. Respire recuperando as forças,
aperte a mão da sua sogra, grite, xingue, faça o que desejar para se sentir
confortável. Pronta?
— Não. — Neguei com a cabeça. — Preciso do Black aqui. —
Chorei. — Por favor, vamos esperar um pouquinho.
— Não podemos, querida, o Connor precisa vir ao mundo agora.
Senti uma contração iniciando, diferente das outras, mais forte, e
soube que precisava fazer força. Gritei apertando a mão da Kennedy, Grace
correu ficando entre minhas pernas. Empurrei, curvei o tronco para a frente,
perdi o ar de tanta força que fiz, mas o Connor não saiu. Com o fim da
contração deitei a cabeça na cama cansada, sem ar.
— Muito bem — Grace elogiou. — Continue assim.
— Você consegue, querida — Kennedy me elogiou. — Traga nosso
meninão ao mundo.
— O Black devia estar aqui. — Chorei. — Não é justo.
— Eu sei, eu sei. — Beijou minha cabeça.
E assim eu continuei, com o peito doendo sem saber o que tinha
acontecido com o meu marido, fazendo força para o Connor nascer. Perdi a
noção do tempo, focando em respirar, empurrar, recuperar as energias, ia
ficando cada vez mais cansada. Exausta pela força, nunca me esforcei tanto
na vida. Kennedy continuava incentivando, Grace dizendo que eu estava
indo bem, monitorando o bebê e garantindo que nada de ruim aconteceria.
Eu sentia meu filho escorrendo para fora do meu corpo a cada
empurrão. Não conseguia focar na sensação dele saindo de dentro de mim,
a dor era forte, a pressão empurrando meus ossos completamente aberta
para o Connor passar.
— Ele está coroando, força, Josephine, vai ser o último empurrão!
— Grace disse.
— BLACK! — berrei empurrando com força.
Horas antes

Desliguei o celular, abri a porta do carro decidido a correr até o


hospital. Meu filho estava nascendo e eu não perderia tempo no maldito
trânsito.
— Senhor! — Eduardo correu ao meu lado.
— Abandonem os carros, iremos correndo — avisei, ele repassou a
ordem.
Uma equipe de 10 homens me acompanhou correndo em disparada
pelas ruas de Las Vegas, o engarrafamento era quilométrico, não sabia a
causa. Graças a Deus deixei todos os helicópteros disponíveis para
Josephine. Vou demorar, mas conseguirei chegar a tempo. Doutora Grace
afirmou que o parto poderia demorar horas, principalmente por ser a
primeira vez da Josephine. Confiava que o tempo estava ao meu favor e não
iria me abandonar.
Já havia percorrido 10 quilômetro em uma hora, mais cinco e estaria
no hospital dentro de 30 minutos. Atravessava os carros parados sem dar
pausa para as pernas, precisava aguentar a dor física para conseguir
acompanhar o nascimento do Connor.
Meu ombro ardeu, o impacto me jogou para trás. Caí desnorteado,
balas foram disparadas. O rosto de Eduardo surgiu acima da minha cabeça,
ele me puxou pelo asfalto, senti que perderia o braço se continuasse me
arrastando.
— Que porra!? — Sentei, encarei meu ombro vendo o ferimento
sangrento, fui atingido por uma bala.
— Fique abaixado, senhor. — Eduardo projetou o corpo sobre o meu
com a arma em punho.
— Qual a situação? — Escorei a cabeça no carro, puxei meu paletó
e o pressionei no ombro para estancar o ferimento.
— Emboscada — avisou atirando.
O tiroteio começou, as pessoas nos carros gritavam, muitas saíam
dos veículos correndo em meio ao trânsito parado. Outras se escondiam
debaixo dos carros. Meus homens montaram uma barricada ao meu redor
atirando em qualquer um que se aproximasse. Dei ordens para evitarem os
civis, que se desesperavam a cada segundo.
Não sabia quem era o inimigo, pedi reforços, mas eles demorariam
para chegar com o trânsito naquele estado. Usei a polícia para dar
cobertura, com uma ligação para o comissário. Ele me passou um relatório
de que o engarrafamento começou devido a um assalto ao carro-forte, os
bandidos já trocavam tiros com a polícia e começaram a atingir os civis
para abrir caminho na fuga.
Eu fui atingido como efeito colateral, meus homens começaram a
disparar nos bandidos o que ajudou a aumentar o descontrole deles, atirando
nas pessoas com armamento pesado. Muitas mortes aconteceram, eu não
conseguia sair do lugar enquanto as ruas eram tomadas pelo caos e meu
filho nascia no hospital.
A noite chegou e meu desespero piorou, os reforços tentavam atingir
os bandidos, mas eles se escondiam entre os poucos civis que restaram. Não
tinha como sair sem matar a todos. Steve e meu pai lideravam uma equipe
para me resgatar. Meu celular acabou a bateria e não consegui falar com
Josephine, mas sabia que se ela ouvisse os tiros iria piorar sua situação e eu
não queria prejudicar o nascimento do meu filho.
Atirei, escorado na mala do carro atingindo um dos bandidos. Senti
um toque no meu ombro bom, virei encontrando meu irmão.
— Finalmente chegamos aqui. — Suspirou, limpando a testa. —
Nosso pai estava esperando perto do beco. Você quer dar um jeito nos
desgraçados ou…
— Me tira daqui, minha prioridade é o nascimento do Connor. —
Não me importei com a vingança ou em fazer os filhos da puta pagarem
pelo dano causado.
Eu precisava chegar até o meu filho e minha esposa, nada importava,
além disso.
— Vamos.
Steve, com mais homens fazendo nossa guarda, começou a atirar
abrindo caminho na direção do meu pai. Perdi bastante sangue devido ao
ferimento, meus movimentos limitados pelo cansaço do corpo. Forcei cada
passada para me aproximar de onde meu filho estava nascendo. Eu chegaria
no hospital, não importava o que aconteceria.
Uma bala passou raspando pela minha cabeça, o calor do projetil
queimando minha nuca. Vacilei, quase caindo, me apoiei no Steve, ele
disparou feroz atingindo quem tentou me derrubar. Não fazia sentido, se
eram bandidos atrás de dinheiro, por que tentar me atingir enquanto eu
fugia?
Eu podia lutar, revidar, acabar com os desgraçados, mas eles não
valiam a pena. Os que sobrassem e fossem presos eu mandaria eliminar.
Foquei na única coisa importante, chegar na Josephine e no Connor.
— Finalmente! — Meu pai me amparou, ele se escondia em um
beco, cercado de soldados Bonnarro.
— Hospital, agora!
— O carro está no final do beco — avisou. — Steve, garanta que
não estamos sendo seguidos.
— Sim, senhor. — Meu irmão saiu do beco atirando novamente.
Com a ajuda do meu pai segui para o final do beco, entramos no
carro. Puxei o paletó analisando o ferimento, o sangue manchando meu
braço.
— Vou cuidar disso — Bartolomeu disse.
Respirei cansado, puxando o ar com força. Foram horas preso
naquele inferno, perdendo sangue, atirando, me protegendo de balas. Não
sei o que aconteceu com os meus homens, vi alguns morrendo enquanto
Eduardo fez o que pôde para me proteger.
— Vou improvisar um curativo — Bartolomeu avisou.
Fechei os olhos pelo ardor, encheu de gazes tampando o ferimento.
Chegamos ao hospital, saí do carro desesperado, Bartolomeu me seguiu
guiando meus passos. Sem camisa, manchado de sangue, peguei o elevador
para a sala de parto. As portas se abriram e corri buscando pelo nome dela,
qualquer coisa que me falasse onde ela estava.
— Senhor, não pode entrar assim. — Uma enfermeira tentou me
parar.
— A esposa dele está em trabalho de parto — meu pai disse.
Ouvi o grito da Josephine, girei a cabeça encarando os lados,
desesperado para a encontrar. A mulher tocou meu braço, puxei a arma do
meu pai do cós da sua calça. Coloquei no pescoço da enfermeira e falei:
— Meu filho está nascendo, me leve agora à sala de parto de
Josephine Bonnarro ou eu vou matar todas as pessoas nesse andar.
— Si-m — respondeu assustada, piscando os olhos.
Guardei a arma para não chamar atenção. Tremendo ela me guiou
pelo corredor, parou em frente a uma porta, assustada me encarou.
— Se você entrar assim, sua esposa e seu filho poderão pegar uma
infecção, ao menos vista a roupa de proteção.
— Traga, agora!
Ela se tremeu, mas rapidamente entrou em outra sala, os gritos de
Josephine chegavam ao meu ouvido, queria entrar na sala, segurar sua mão,
mas sabia que colocaria em risco ela e o bebê, somente por isso eu esperei.
A enfermeira retornou, jogou um líquido em mim, com a ajuda do meu pai
e com toalhas limparam o sangue do meu corpo. Vesti a roupa de proteção,
as luvas, touca e entrei.
— BLACK! — Josephine berrou.
— Estou aqui! — Corri até ela, o ombro dormente. Minha mãe que
estava ao seu lado saiu da frente. Segurei a mão da Josephine. — Eu
cheguei, minha deusa. Desculpe a demora — pedi, os olhos marejando.
Josephine estava suada, com dor no rosto, as íris negras banhadas
em lágrimas e desespero. Mas no segundo em que seu olhar fixou no meu,
seu corpo foi inundado pelo alívio. Ela apertou minha mão com força,
rangeu os dentes e gritou fazendo força. Não desviei o olhar do seu, inclinei
a cabeça encostando nossas testas, dando forças a ela.
Eu nunca me perdoaria por perder o nascimento do Connor, graças a
Deus e a minha família me tirando daquele vendaval eu ouvi o choro do
meu filho nascendo.
— Você conseguiu — elogiei-a, o peito transbordando em
felicidade.
— Você também — respondeu chorosa. Puxei a máscara com nossas
mãos entrelaçadas e beijei seus lábios sorrindo.
Ergui o tronco com as bochechas doendo de felicidade, não existia
dor no ombro, preocupações ou medo. A única coisa ocupando aquela sala
de parto era o choro forte do Connor indicando sua vitalidade. A enfermeira
trouxe meu bebê para mim, enrolado em uma manta azul. Soltei a mão da
Josephine, com um braço e morrendo de medo de o derrubar, peguei meu
filho pela primeira vez no colo.
Sorrindo, observei o corpo vermelho, as manchas de sangue nos
cabelos pretos, tufos poderosos e espetados, a boquinha pequena e sem
dentes, as gengivas rosinhas chorando. As bochechas gordinhas, as
pálpebras apertadas, os dedos minúsculos fechados, próximo ao rosto. Ele
era tão leve, mas repleto de vida.
Quis beijar meu filho, mas tive medo de passar alguma doença a ele.
Baixei o rosto o suficiente para sentir a vida exalando de seu corpinho.
— Bem-vindo ao mundo, Connor Bonnarro — saudei-o. — O papai
te ama.
Girei colocando o pequeno nos braços da Josephine, minha esposa
não conseguia parar de chorar, feliz, encarando nosso bebê.
O Black conseguiu, ele chegou a tempo!
Enquanto o Connor nascia, apertei a mão do meu marido recebendo
suas energias enquanto fazia força pela última vez. A ansiedade para ver
meu menino acalmou no segundo em que o Black o segurou nos braços.
Meu marido irradiava felicidade, com uma mão amparando o corpinho
minúsculo enrolado, deitado no seu braço.
— Bem-vindo ao mundo, Connor Bonnarro, o papai te ama.
Black virou inclinando o corpo. Não consegui prestar atenção no que
a médica fazia entre minhas pernas, meu foco estava no meu bebê vindo
para meus braços unidos na frente do meu peito.
Connor era pequenininho, gritava com força mostrando que veio ao
mundo. A emoção travou minha garganta, o amor pelo meu filho percorreu
cada célula do meu corpo, eu sabia que nunca mais seria a mesma, pois uma
parte minha vivia no Connor. Agarrei sua mãozinha pequena, ninando meu
filho, ele começou a se acalmar, virou a cabeça na minha direção e eu me
desabei em amores ao vê-lo bocejando.
— Eu te amo muito, meu pequeno. — Beijei a mãozinha minúscula
e macia. — Bem-vindo ao mundo.
Pela primeira vez o sangue na minha frente não me assustou. Com
delicadeza toquei a cabecinha limpando os rastros de sangue de seu
corpinho. Tive medo de o machucar, por isso o toquei com a maciez de uma
fada. Eu amei o nariz fininho, os cabelos pretos, as orelhas pequenas. Ele
parecia um boneco de tão lindo, fofinho e gostoso de segurar.
Inclinei o rosto cheirando meu filho. Ele tinha meu aroma mesclado
ao do Black com uma individualidade pertencente somente a ele. Encarei
meu marido que não parava de observar nosso filho. Minha família estava
completa, o desespero sumiu ao vento.
Connor Bonnarro teria uma vida repleta de amor, proteção e
cuidado. Eu e o Black faremos nosso menino feliz. O amor guiaria cada um
de nossos passos.
Ninei o Connor nos braços. Balançando levemente seu corpinho
enquanto ele agarrava meu peito com a boquinha faminta, sugando o leite
em poderosos movimentos, doía, era a primeira amamentação e meu filho
se alimentava com ferocidade, seguindo os instintos.
Apesar do cansaço, da dor no peito, eu não quis dormir. Escorada no
ombro bom do Black, observando nosso menino com cara de bobos.
Connor ainda não abriu os olhos. Fiquei ansiosa para saber se serão pretos
como os meus ou verdes como os do Black.
— E se a gente abrir por ele? — Black perguntou baixinho
aproximando os dedos das pálpebras do Connor.
— Não ouse — rosnei protetora. — Quando ele quiser mostrará para
a gente, não tenha pressa.
— Sim, senhora. — Beijou meu ombro.
Com a mão boa ele segurou os dedos do Connor, nosso pequeno
prendeu o indicador do Black com força, puxando a mão do pai contra meu
peito, empurrando para sugar mais leite.
— Como você se machucou? — inquiri.
— Aparentemente, o engarrafamento foi causado por bandidos
assaltando o carro-forte. Não sabia disso, peguei o caminho para o hospital
e acabei sendo atingido por uma bala perdida. — Encostou o queixo no meu
ombro. — Fiquei preso sem conseguir comunicação com você, só tinha 10
homens comigo e os bandidos, pelo que descobri depois, eram mais de 20,
usavam armamento pesado e fizeram reféns. A polícia teve dificuldades
para os prender.
Connor soltou meu peito, bocejou e eu morri de amor com a
linguinha branca, ele apertou as mãozinhas, mexendo o dedo do Black para
cima e para baixo. Com muito cuidado ergui o corpinho todo molinho do
Connor, a cabeça pesada pendeu para a frente. Dei risada da fofura do meu
filho, a touca branquinha cobrindo os cabelos pretos, ele continuava
vermelhinho, nasceu fazia menos de 1 hora.
Apoiei-o no meu peito e comecei a bater levemente em suas costas
para ele poder arrotar. Li diversos livros sobre gravidez e como cuidar do
meu bebê, mas ainda me sentia insegura, com medo dele alojar o leite ou
passar mal se não arrotar. Connor continuou prendendo o dedo do Black,
meu marido sorriu tranquilo encarando nosso menino. Cheirei a bochecha
do Connor, completamente viciada na vida exalando dele.
O arroto veio alto, potente e acompanhado de um pouco de alojo.
Black se esticou, fez careta ao machucar o ombro, pegou a fralda em cima
da minha perna e limpou a boca do Connor e minha clavícula.
— Deixa eu colocar ele para dormir — Black pediu.
— Amor, você machucou o ombro, eu faço isso.
— E você passou horas em trabalho de parto, está cansada e
precisando dormir. — Tocou minha testa com os lábios. — Eu cuido do
nosso garotão, já levei tiros demais para deixar uma coisinha dessa me
incomodar.
Deixei a sala de parto e percebi o machucado do Black. Ele tentou
acompanhar a mim e ao Connor, mas não permiti, fiz o Bartolomeu levar o
filho para fazer um curativo enquanto a Kennedy seguiu a mim e ao Connor
para o quarto VIP na maternidade. Steve estava por perto, fazendo nossa
segurança, percebi que tinha algo de errado, mas preferi esperar eles me
contarem enquanto aproveitava meu menino.
Kennedy e a enfermeira limparam o Connor, minha mãe colocou a
roupinha no neto toda boba, sorrindo feliz. Notei que ela sentia dor na mão
e imaginei que fosse culpa minha por apertar sua palma durante as
contrações, mas ela não reclamou. Trouxe meu filho para os meus braços,
onde tem permanecido até agora, com o Black o pegando, usando somente
um braço e ninando o bebê.
O cansaço não foi o suficiente para sufocar o desejo ardente
nascendo no meu corpo ao ver o Black, enorme, cheio de músculos, usando
uma regata e calças de dormir, o ombro direito enfaixado, o braço esquerdo
amparando nosso menino. O rosto inclinado para baixo sorrindo enquanto
cantava uma canção de ninar baixinho para o Connor.

Sonhos doces do bebê


sonhos doces do bebê
sonhos doces do bebê
quanto tempo devo sonhar

Era a letra de Sweet Dreams do Roy Orbison. Black cantava


tranquilo, os olhos verdes fixos em todas as movimentações e expressões do
Connor. A cabeça do bebê apoiada na curva do braço do Black. A mão
segurando a bundinha do Connor conferindo estabilidade ao movimento de
balançar suave. Black com a voz grave cantou suavemente, não percebi o
Connor dormindo. Adormeci tranquila.
— Não acorda ela — uma voz feminina disse.
— Mas eu quero — outra fez manha.
Abri as pálpebras sorrindo, reconhecendo as donas das vozes me
tirando do sono tranquilo. Hope, Emily e Daisha reunidas ao redor da
minha cama, sorrindo como as tias babonas que eu sabia que elas iriam ser.
Sorri espreguiçando o corpo cansado, o sol brilhava no quarto e eu queria
dormir um pouco mais, contudo o grunhido de um bebê chamou minha
atenção.
Busquei pelo meu filho o vendo no colo do pai na poltrona de
amamentação. Ele mexia as mãos impaciente. Ethan e William na ponta dos
pés apoiados nas coxas do Black olhando curiosos o priminho.
— William está explodindo de felicidade com a chegada do Connor
— Emily falou. — Não para de encher o Black de perguntas, embora seu
marido não consiga entender o bebenes do William.
— Ethan faz um ótimo trabalho de tradução. — Hope exibia os
dentes em um sorriso farto.
— Parabéns, Phine. — Daisha foi a primeira a envolver meu
pescoço com os braços. — Seu filho é muito lindo, dá vontade de morder as
bochechas dele.
— Você arrasou! — Hope bateu na minha perna. — Trouxe um
lindo menininho ao mundo.
— E muito fofinho, parabéns, Phine. — Emily me apertou pelo
outro lado. — O Connor é muito mimoso, tenho vontade de o levar para a
minha casa escondido na bolsa.
— Não leve meu filho — entrei na brincadeira.
— A mamãe acordou. — Black se levantou trazendo o Connor para
mim.
— Vem cá, Ethan — ouvi o Michael dizer, só então percebi a
presença dos homens no quarto. Michael pegou o filho no colo se
aproximando da cama. — Parabéns pelo nascimento do Connor. — Apertou
minha mão.
— Obrigada. — Sorri para ele.
— Minha irmã sabe como fazer bebês bonitos. — Kai surgiu ao lado
da Daisha, apertou minha bochecha, gritei me afastando. — Parabéns,
Phine, meu sobrinho é um garotinho muito lindo. — Puxou minha cabeça
me enchendo de beijos, comecei a rir tentando me livrar dele. — Você vai
ser uma ótima mãe.
— Para de perturbar a Josephine. — Daniel me salvou puxando meu
irmão. Limpei o canto do olho controlando o riso. — Parabéns, Josephine, é
um lindo garoto saudável.
— Muito obrigada, pela presença de todos.
Encarei minha família. Daniel segurava o William no colo com um
braço e o outro envolveu ao redor da Emily. Hope sentada ao pé da cama,
com o Michael segurando seu ombro e o Ethan no braço. Daisha do outro
lado com o rosto vermelho, emocionada, Kai com um braço ao redor dela e
a mão apertando a minha. E meu marido ao meu lado, sorrindo feliz com
nosso pequeno no colo.
Eu amo a minha família.
Connor começou a chorar, Black se abaixou o colocando nos meus
braços e a boca dele veio feroz buscando pelo meu peito. Ia baixar a alça da
camisola quando uma mão me parou.
— Bora, todos para fora que minha esposa vai amamentar nosso
menino.
— Qual é, Black. — Kai fez careta. — É a minha irmã, não tem
motivos para eu sair.
— Você é o principal. — Deu a volta na cama puxando o Kai. —
Para fora! Mulheres também.
— Como é?! — Hope colocou as mãos na cintura encarando o irmão
com raiva.
— Tente me tirar daqui e você perde o outro ombro — Emily
ameaçou.
— A Phine era nossa antes de ser sua! — Daisha apertou os punhos.
Eu comecei a rir, afastei a camisola e o Black arregalou os olhos
tendo um treco com os rapazes ainda saindo do quarto. Ele se apressou
empurrando o Michael, que afastou o Daniel e levou o Kai para fora, fechou
as portas sem perceber que as crianças permaneceram no quarto. Pois
tinham decido do colo dos pais.
— Ele é louco! — Hope disse, eu gargalhei pela energia ciumenta
do meu marido.
— Solbou nós. (Sobrou nós.) — Ethan começou a rir.
— Slavos. (Salvos.) — William bateu palmas rindo.
— Não esqueci de vocês. — Black surgiu, pegou rapidamente os
meninos com um braço e saiu com eles dando risada.
— Black, solta meu filho. — Hope foi atrás do Ethan.
— William, volta aqui! — Emily a acompanhou.
Eu ria tanto que Connor ficou impaciente, bateu a mão no meu peito
aumentando o choro. Liberei o peito e coloquei o bebê para mamar
controlando o riso incessante. Daisha gargalhava, sendo a única que se
salvou do meu marido e não precisava correr atrás dos filhos levados à
força.
— Ele é muito possessivo — ela disse limpando o rosto.
— Você não viu nada. — Recuperei o fôlego.
— Quer saber um segredo? — Aproximou o rosto do meu, os olhos
azuis como o céu brilhavam em felicidade.
— Sim!
— Eu estou grávida. — Mordeu o sorriso.
Contive o grito para não assustar o Connor, mas agarrei o braço da
minha cunhada sorrindo feliz. Os olhos dela marejaram, ela segurou o
ventre e depois encarou o Connor mamando calmamente, apertando meu
peito com a mãozinha ágil.
— Como descobriu?
— Já faz umas duas semanas que nenhuma comida parava no meu
estômago. Kai ficou preocupado, mas eu achei que não fosse nada demais.
— Ergueu os ombros. — Ele ficou insistindo para eu procurar um médico,
então fui me consultar, a ginecologista passou o exame de sangue. Estou
com quatro semanas.
— Isso é fantástico, Dai, parabéns. — Apertei a mão dela.
— O Kai queria contar primeiro para você. Mas com o ciumento do
Black marcando território, acho que ele vai passar por dificuldades. —
Franziu a testa.
— Eu tô muito feliz por vocês. — Puxei-a para um abraço pelo
pescoço.
— E na próxima vez eu arranco suas bolas! — Hope entrou no
quarto segurando o Ethan se acabando de rir nos braços dela.
— Titia dolda. (doida) — William gargalhava nos braços da mãe.
— Você perdeu — Emily arregalou os olhos fechando a porta — a
Hope chutou a bunda do Black daqui até as escadas. Fiquei com pena dele e
só puxei o cabelo dele para aprender a não sequestrar meu príncipe.
— Mamãe malvada! — Ethan abriu os braços gargalhando.
— Ninguém mexe com meu filho e sai impune. — Hope apertou a
barriga dele. — Vem ver seu priminho.
— Vai contar agora? — sussurrei para a Daisha.
— Depois, vamos curtir o Connor mais um pouco.
— Hope, você é uma troglodita! — Black reclamou entrando no
quarto, ele alisava a bunda e fazia careta.
— Chegue perto do Ethan de novo… — Ela ergueu o punho para
ele.
— Vem cá, garotão. — Black estendeu os braços para o sobrinho
que não fez cerimônia, se jogando no colo do tio.
— Teloooooo (Queroooooo) — William pediu esticando os braços
para o Black.
— Titio tá machucado, só consigo um por vez.
— Não seja por isso. — Hope pegou o William o colocando nas
costas do Black.
William envolveu o pescoço do Black com os braços sufocando meu
marido. Não aguentando os meninos ele cambaleou e sentou no chão sem
ar. Os pequenos só sabiam rir do tio e as mães bravas perderam a carranca.
Encarei o Connor e meu coração errou uma batida.
Meu menino me olhava de volta, os olhos negros como os meus.
Abri a boca sem ar, era a primeira vez que ele mostrava os olhinhos. Fiz
sinal com a mão chamando o Black. Ele veio silencioso e as meninas
observaram a cena em silêncio.
— Ele tem os olhos da mãe — Black sussurrou, segurando a mão do
Connor. — Lindas íris de obsidiana, parece carregar o céu noturno no olhar.
Encarei meu marido sorrindo orgulhosa pelo Connor herdar meus
olhos e a cor de cabelo, as feições dele pareciam com o Black,
principalmente o nariz arrebitado. Mas aquelas duas características eram
totalmente minhas.
— Nossa misturinha. — Beijei os lábios dele.
— Mais uma ponta do nosso nó — ele respondeu apaixonado.
Batidas soaram na porta.
— Black, deixa a gente entrar — Kai pediu. — Quero ver meu
sobrinho.
— Libera os rapazes, amor. Eles estão aqui pelo nosso filho.
— Cobre o peito.
Revirei os olhos para seu ciúme, Connor ainda ia mamar um pouco
mais. Hope me estendeu a fralda e cobriu meu peito, ela tinha experiência
do Ethan. Piscou para mim. Black abriu a porta e junto dos rapazes,
Kennedy, Bartolomeu e Steve entraram, todos ansiosos para conhecerem o
novo membro da família.
— Olha, vovó. — Ethan apontou tentando subir na cama. Michael
ajudou o filho e Daniel ao perceber William querendo imitar o primo o
colocou na cama. — Mel pilminho. (Meu priminho)
— Nosso pilminho. (priminho) — William encarou o Ethan sério.
— Meu netinho é lindo. — Kennedy apertou a mãozinha do Connor,
ele desviou os olhos de mim para a avó. E com meu peito na boca abriu um
sorrisinho banguela involuntário. — A vovó te ama muito. — Cheirou o pé
dele.
— Parabéns, meus filhos. — Bartolomeu apertou o ombro do Black
e o meu. — Vocês fizeram um lindo bebê.
— Porra, como ele é pequenininho. — Steve aproximou o rosto do
Connor, mas foi parado pelo Black puxando seu ombro. — Seu pai
qualquer dia vai ter um infarto pelo ciúme.
As risadas da minha família preencheram o quarto.
— Mantenha distância, seu safado.
— Você sabe que tem outro homem mamando nos peitos da sua
mulher — Steve provocou, Black inflou de raiva.
— Steve, tenha respeito com sua irmã! — Bartolomeu bateu na
cabeça do filho.
— Foi só brincadeira. — Ergueu as mãos. — Black é maluco nesse
ciúme com a Josephine. Lide com o fato de que vocês têm um filho
homem!
— Não existe nada para lidar. — Black passou os braços ao redor do
meu ombro. — Connor é meu filho e quando crescer vai me ajudar a manter
os urubus, como você, longe da mãe dele.
— Isso aí! — Ethan gritou. — Igual o papai ensilna!
— En-si-na — Michael soletrou as palavras alisando a cabeça do
filho, cheio de orgulho. — Nenhum homem toca na mamãe.
— Só o papai e eu! — Ergueu o dedo todo homenzinho.
Michael sorriu cheio de orgulho do filho e Hope revirou os olhos.
— Você se acostuma — ela falou.
— Vou educar o Connor assim. — Black apontou para o Ethan.
Comecei a rir, não suportando guardar no meu peito a felicidade
sublime.
Deitei o Connor em cima da cama, balancei o nariz na sua barriga
fazendo cócegas nele. Connor gargalhou alto, meteu as mãos no meu cabelo
puxando os fios. Meu som preferido era a risada dele. Com 6 meses meu
menino crescia bem, saudável e muito fofinho com bochechas gordinhas.
— Solta o cabelo da mamãe ou eu vou fazer mais cócegas —
ameacei, apertando a cintura dele.
Ele gritou, sacudiu as pernas e ergueu os braços levando meu cabelo
junto. Um dos passatempos preferidos do Connor era puxar os fios da
minha cabeça. Por várias vezes eu ia dormir com a cabeça doendo. Ele
amava meu cabelo, mas começou a ficar incômodo o comprimento batendo
na bunda e facilitando ele puxar.
Desde que ele nasceu foquei unicamente em seus cuidados e esqueci
um pouco de mim, não cortava o cabelo ou fazia as unhas já tinha seis
meses. Black brincava dizendo que eu tinha virado uma mulher das
cavernas, em solidariedade meu marido deixou o cabelo e a barba
crescerem, era ele quem parecia um homem das cavernas.
Precisávamos dar um jeito naquilo ou iam passar a nos confundir
com dois ursos perdidos.
— Solta o cabelo da mamãe, Connor — pedi agarrando sua mão
gordinha.
Os olhos espertinhos me encararam cheios de alegria, a boquinha
exibindo um sorriso banguelinha. Apertei sua barriga arrancando as
gargalhadas que eu amava ouvir. Ele fechou a mão puxando para cima,
apertei as pálpebras pela dor no couro cabelo.
— Amor da mamãe, isso dói. — Segurei seu pulso, impedindo o
movimento do braço.
— Eeeeeeeeeeeeeeh — ele começou a pronunciar a única vogal que
sabia, batendo as pernas no meu queixo.
— Connor, solta filho — pedi, intensificou o puxão, a dor aumentou,
ele bateu o pé no meu peito e lágrimas encheram meus olhos. — Ai! —
reclamei. — Vou puxar seus cabelos para ver se você gosta — falei brava.
Connor parou de se movimentar, as obsidianas em suas íris me
encarando seriamente. Fez careta, o queixo enrugado, o lábio em um bico
gigantesco e a tristeza nublando os olhinhos. Ele começou a chorar, parecia
que tinha apanhado! O encarei acostumada com suas birras, antes eu me
desesperava, fazia de tudo para ele parar de chorar, mas aprendi que se ele
chorar por birra o melhor que posso fazer é esperar sua raiva passar
enquanto converso com ele, sem me desesperar.
Espalmei a mão em sua barriga alisando, comecei a mover o corpo
dele para os lados, o choro que não caía uma lágrima passou a ser
interrompido pela voz dele tremendo com o balançar. O safadinho soltou
meus cabelos e começou a gargalhar com a mão ao lado da bochecha.
Aproveitei a oportunidade e me levantei, peguei a xuxa no braço prendendo
o cabelo em um rabo de cavalo alto, amarrei a ponta solta ao redor do nó
me salvando do ataque do Connor.
Ele fez força para sentar, segurei seus braços o puxando, ajudando a
manter o equilíbrio sentado. Connor bateu os pés, caiu para trás e começou
a gargalhar da sua travessura. Ele paralisou, arregalou os olhos, fez careta
fazendo força e o cheiro de cocô invadiu o quarto. Esperei ele terminar, o
movimento rápido das perninhas indicava que chegou ao fim.
— Ô menino para gostar de fazer caquinha. — Peguei-o no colo sem
apertar a fralda. — É a segunda vez hoje.
— Eeeeeeeeeeeh. — Meteu a mão na minha cara, como se
reclamasse por chamá-lo de cagão.
— Ai, Connor! — Segurei seu pulso. — Não pode bater na mamãe!
Ele entrou na fase de adorar bater nas pessoas, puxar o cabelo e
morder. As mordidas no meu peito eram as que mais doíam. Hope me deu a
dica de dar leite congelado a ele para ajudar com a coceira na gengiva,
sempre que eu levava uma mordida pegava o picolé de leite para ele chupar.
Mas os tapas e os puxões estavam difíceis de controlar, precisava viver de
cabelo preso.
Entrei no meu banheiro com o porquinho, passava das 17 horas e
esse seria o último banho do dia do Connor. O coloquei em cima do
trocador, retirei a roupa, segurei as pernas do safadinho para ele não bater
na fralda suja. Limpei a bundinha dele com lenço umedecido, o deixei em
cima do trocador enquanto retirava minha roupa. Peguei o safadinho que
esticou a boca para o meu peito querendo mamar.
Liguei o chuveiro, mantive a cabeça dele no meu ombro enquanto
entrava debaixo do jato de água dando banho no pequeno enquanto tentava
tomar um, era o meu primeiro do dia.
— Connor, fica quieto para passar o sabonete! — pedi, impaciente
com ele se mexendo, chutando minha barriga tentando sair do meu colo e
mamar.
— Eeeeeeeee! — Exigiu irritado, batendo no meu peito.
— Ai! Filho da mãe! — Virei-o, encostei suas costas na minha
barriga e comecei a lavar o pintinho dele debaixo da água.
— Precisa de ajuda? — a voz rouca do Black chegou com alegria
aos meus ouvidos.
— Pega seu filho, preciso de um banho. — Estendi o Connor para
ele manchando sua camisa branca com a água e o sabão escorrendo do
corpo do Connor.
O sem-vergonha, ao ver o pai, começou a gritar e erguer os braços,
se esbaldando no peito do Black. A boca rapidinha mordeu o ombro do
Black. Connor amava puxar meus cabelos e morder o pai, diversas vezes
deixou marcas vermelhas no Black que pareciam chupões. Ele gostava de
deixar o pai com problemas.
— Dia difícil? — Segurou o Connor com um braço enquanto com a
mão livre ia se despindo.
— Você não faz ideia. — Soltei os cabelos amando a sensação da
água no couro cabeludo. — Céus, isso é tão bom — gemi, fazia mais de
uma semana que eu não lavava o cabelo.
Eu podia contratar uma babá, alguém para me ajudar a cuidar do
Connor. Mas eu já tinha a Kennedy que passava o dia aqui me ajudando
com o pequeno, a governanta Lúcia cuidava da casa. Eu não queria uma
estranha cuidando do meu filho, roubando os momentos preciosos de seu
desenvolvimento, queria viver cada segundo do crescimento dele. Valia a
pena os dias sem lavar o cabelo enquanto meu menino se ligava a mim.
— O que você fez com a mamãe, rapazinho? — Black perguntou
entrando no box com o Connor dando risada. Black começou a balançar
para cima e para baixo, Connor se acabava de rir nos braços do pai.
— Amor, eu preciso cortar o cabelo. — Fiz careta. — Connor vai
me deixar careca de tanto puxar meus fios.
— Eu te acompanho — se aproximou beijando meus lábios —
também preciso cortar o meu e aparar a barba.
— Falou certo, somente aparar. — Meti a mão em sua barba
preenchida, eu amava o arranhar que os pelos causavam na minha pele.
Abracei o corpo do meu marido. Connor deitou a cabeça no ombro
do pai, imitei seu movimento, segurando a mão espertinha que tentou pegar
meu cabelo. Ele começou a gargalhar, não sei qual era a forma que o
Connor percebia o mundo. Mas tinha a certeza de que o meu mundo se
tornou mais alegre depois que ele nasceu.
Black deu banho no Connor enquanto eu aproveitei para lavar meus
cabelos. Eles saíram primeiro, desfrutei dos minutos em paz. Em breve
retorno às minhas aulas e ficava me perguntando como vou conseguir ficar
longe do meu filho. Kennedy se ofereceu para ficar com o Connor enquanto
estudava, Bartolomeu disse que ajudaria, mas mesmo assim, só de me
imaginar horas longe do Connor eu queria chorar.
Terminei meu banho, sequei os cabelos, encarei minha imagem
percebendo que eu precisava de salão de beleza com urgência. Nunca estive
tão cabeluda. Alisei a cicatriz na barriga, desde a gravidez ela parou de me
incomodar, quando eu olhava para ela lembrava da pele esticada abrigando
o Connor.
Uma ideia passou pela minha mente, coloquei um vestido de
amamentação, com o busto removível, e fui para o quarto querendo
compartilhar com o Black.
— Amor, quero fazer uma tatuagem — avisei a ele, subi na cama.
Black estava com o Connor sentado no seu peito, o pequeno com os dedos
na barba do pai puxando e babando o nariz do Black.
— Dab, dab, dab, dab — Connor repetiu, envolvido na conversa
com o pai.
— Já sabe o desenho? — Arqueou a sobrancelha grossa.
— Sim. — Desci da cama, peguei uma caneta vermelha e entreguei
a ele. — Desenha para mim?
— Claro, minha deusa. Mas você sabe que precisa esperar a
amamentação acabar?
— Sim, mas quero ver se vai ficar bom, tiro foto e daqui a um ano
eu vou ao estúdio fazer. — Fiquei em pé perto da janela aproveitando a luz
do sol que só se punha às 19 horas.
Retirei o vestido. Black puxou os travesseiros da cama colocando no
chão, deitou o Connor que bateu as pernas querendo ficar sentado. Black
fez uma escora com os travesseiros nas costas do Connor, o pequeno
continuava pelado, igual ao pai. Puxei o cabelo sobre o ombro, os fios
desciam escorridos.
Black ficou de joelhos na minha frente, mostrei a ele como queria o
desenho, segurei sua cabeça enquanto ele puxava linhas vermelhas em cima
da minha cicatriz.
— Essas são as linhas da minha vida — comentei, a emoção travada
na garganta. — Todas as minhas decisões e caminhos percorridos. Puxe
uma linha para o lado e escreva o nome do Connor. Vou tatuar o nome de
todos os nossos filhos, cada um puxando uma nova linha da vida.
Black sorriu, seguindo minhas instruções. Ele terminou de escrever
o nome do Connor e virei de costas.
— Preencha cada cicatriz com linhas, em algumas quero que você
desenhe na ponta a imagem do nó do infinito, quatro garotas, a serpente
entrelaçada ao basilisco e uma cobrinha pequena ao redor deles. O símbolo
da psicologia, o pôr do sol que vimos na nossa lua de mel. Um casal de
irmãos sentados na praia conversando. — Sorri recordando cada lembrança
que eu queria eternizar. — Um abraço em família.
Black ouviu a tudo calado, olhei sobre o ombro o vendo ajoelhado
com os olhos marejados enquanto fazia os desenhos que pedi. Ele demorou
um pouco até finalizar. Fui para a frente do espelho amando a obra de arte
que meu corpo se tornou, pintada de vermelho com os verdadeiros
momentos importantes, ressignificando as cicatrizes.
Eu amo meu corpo, meu cabelo, meu rosto, eu amo a mim mesma.
Sou uma mulher extremamente linda que acabou de ficar mais bonita e
colorida por momentos de amor.
— Você está linda. — Ele se aproximou envolvendo minha cintura,
beijou meu ombro, o olhar me encontrando no espelho. Traçou o nome do
Connor e sorriu espertinho. — O que acha de fazer mais cinco nomes?
— Uma ótima ideia. — Girei em seus braços. — Mas podemos
deixar acontecer naturalmente, teremos quantos filhos o destino quiser nos
dar. — Soprei em seus lábios.
— Você tem razão. — Beijou minha boca.
— Eeeeeeeeeeh! dadadadadadada. — O ciumentinho começou a
chamar a atenção. Ri na boca do Black sabendo que o choro viria em
seguida se não desse o que o Connor queria.
— Vai lá amamentar nosso menino. — Apertou minha bunda. —
Mais tarde eu te alimento.
Tremi de vontade pelo que viria quando o Connor dormisse.
Entrei no salão ao lado da Kennedy e do Black. Connor nos meus
braços, ele não queria me largar, sempre que ia para o colo do pai ou da avó
começava a chorar. Mas minhas aulas se iniciariam amanhã e não poderia
começar o semestre parecendo uma doida que não sabia o que era um corte
de cabelo.
Ontem o barbeiro do Black o atendeu em casa, cortou o cabelo do
meu marido e aparou a barba dele. Quando perguntei o motivo de não ir em
uma barbearia, Black respondeu que precisava tomar cuidado com quem se
aproximava de seu pescoço com uma navalha. E por isso ele insistiu em vir
junto, queria a certeza de que a tesoura cortaria somente meu cabelo.
Fomos atendidas pela cabeleira da minha mãe. Kennedy sentou em
uma cadeira e eu em outra. Segurei o Connor no colo e o Black ficou no
espaço entre minha cadeira e a da mãe. Como que pressentindo o que viria
Connor agarrou meu cabelo se recusando a soltar.
— Connor, vem com o papai — Black o chamava, mas Connor se
recusava a sair do meu colo, fazendo sinal de que iria chorar.
— Você já sabe o tamanho que quer cortar? — a cabeleireira
perguntou.
— Sempre usei o cabelo grande, estou com vontade de um corte
curtinho, quais modelos você tem?
— Vem. — Black puxou o Connor pela barriga. Ele começou a
chutar os braços do pai, se remexendo no meu colo.
Tentei prestar atenção na fala da cabeleireira, mas estava difícil com
o Connor e o Black brigando para ver quem venceria a disputa de poder. Fiz
careta pelos puxões, eu definitivamente precisava cortar o cabelo se
quisesse continuar tendo cabeça.
— Seu rosto vai combinar muito com um curtinho Chanel na altura
do ombro.
— Não pode ser muito curto ou o bebê vai estranhar — Kennedy
avisou.
— Como você pode ver — fechei uma pálpebra pelo puxão — ele
adora meus cabelos.
— Que tal um desfiado para conferir volume na altura do bíceps?
— Gostei, vamos tentar ele.
— Você precisa ficar parada durante o corte ou o cabelo ficará torto.
— Black, pega seu filho. — Estendi o Connor, Black o pegou nos
braços e ele levou junto meu cabelo puxando minha cabeça.
— Se ele soltar. — Black apertou o pulso do Connor tentando abrir a
mão dele.
— Eu posso cortar essa mecha, não vai atrapalhar no novo estilo
retirar antes esse tamanho — a mulher ofereceu.
— Pode cortar — pedi de cabeça inclinada.
A mulher cortou a mecha e Connor começou a rir sacudindo meu
cabelo preso na sua mão para todos os lados. Sorri para o sapeca. Black
ficou com ele no colo observando com cuidado meu dia de beleza no salão.
Lavei, cortei e escovei as madeixas. Kennedy pintou o dela de louro ouro,
rejuvenescendo uns 10 anos. Ela ficou boba com o elogio do filho e o neto
gargalhando sempre que a olhava.
Encarei minha imagem no espelho amando meu novo visual.
— Você ficou linda. — Black beijou minha bochecha. — Vou te
levar para jantar.
Sorri para ele amando ver o brilho de admiração em seus olhos
verdes cheios de paixão. Beijei sua boca em um selinho rápido. Connor
exigiu atenção se jogando nos meus braços e me encarando admirado, ele
riu batendo palmas, ainda com os fios da mecha cortada em sua mão, não
deixou ninguém tirar.
Eu amava todas as minhas versões e o presente que era a minha
família.

Kennedy me acompanhou para a faculdade, viemos de carro, pois eu


queria ficar com o Connor o máximo de tempo possível. Black nem se
preocupou em disfarçar os novos seguranças rondando o campus. Além dos
antigos que se passavam por alunos, ele adicionou mais alguns a minha
equipe. Por ser a esposa do presidente do grupo Bonnarro, dono dos
melhores cassinos e hotéis de Las Vegas, era compreensível a preocupação.
Desde o nascimento do Connor, o Black tem andado mais cauteloso
com a segurança ao redor do filho e de mim. Às vezes o pego trabalhando
até tarde no escritório em casa analisando o assalto que quase o fez perder o
nascimento do filho. Ele disse que não existia nada ligando aquele assalto
com um atentado, mas eu percebi as suspeitas rondando sua cabeça.
Seis meses se passaram e as coisas continuavam tranquilas. Sem
novos ataques, Black viajava ocasionalmente para o Texas, se encontrando
com políticos e outras figuras importantes. Tudo corria bem e às vezes eu
tinha medo de aproveitar demais a paz e ela acabar.
— Seu filho é muito lindo! — Ginny elogiou segurando a mão do
Connor.
Na sala de aula ele virou a atração principal entre as meninas. Estou
em uma nova turma. Atrasei um semestre por causa da licença maternidade,
mas gostei do clima da sala assim que entrei nela.
A professora passou pela porta e seu olhar bateu no Connor. Ela
abriu um sorriso se aproximando, apertou o pé dele e falou com voz
fofinha.
— Temos um novo aluno para o semestre?
— É o meu filho — falei sorrindo. — Não consegui deixá-lo em
casa, vou morrer de saudades. — Apertei minha bochecha na dele.
— Dadadadadadadadada — Connor disparou, como se reclamasse
de ter de ficar longe.
— Quantos meses ele tem? — Ela ficou ereta.
— Seis, ainda estou amamentando.
— Se você quiser ele pode ficar na sala, não me incomodo com a
presença do bebê e quem quiser reclamar está no curso errado — falou para
a turma.
— Obrigada. — Sorri sem acreditar na oportunidade que ganhei.
— As pessoas precisam parar de querer enjaular as mães dentro de
casa por causa dos filhos. Eu tive três, passei raiva na faculdade devido ao
professor machista e jurei que nunca seria assim. — Foi para a mesa. —
Que isso sirva de lição para quem pretender seguir carreira de professor.
Nunca oprimam uma mãe tentando estudar, colocando o filho dela como
obstáculo.
Sorri feliz, enviei uma mensagem para a Kennedy avisando que ela
poderia ir para casa, pois a professora deixou o Connor ficar na sala
comigo. Um segurança entrou me entregando a bolsa do bebê e Kennedy
avisou que ficaria nas lojas por perto caso eu precisasse dela.
Com o Connor fazendo bolinhas de saliva na boca comecei a assistir
a minha aula, aliviada por não ficar longe do meu filho. O dia seguiu sem
problemas, amamentei o Connor na sala dos professores e quando ele
dormiu o coloquei no bebê conforto. Black pediu fotos do filho a cada 10
minutos, morto de saudade, eu enviei discretamente uma em que o Connor
tinha dormido.
No fim do dia fiquei cansada pela aula e cuidar do Connor. Os
braços doendo, a mente cheia e o coração quentinho por vencer aquele dia.
Os alunos saíram e fiquei para conversar um pouco com a professora,
queria ouvir sobre a experiência dela com a maternidade. Passamos meia-
hora conversando, até ela precisar ir embora.
— Por aqui, senhora Bonnarro — Taylor me chamou seguindo na
direção oposta do estacionamento.
— Os seguranças não estão para lá? — Apontei.
— É uma nova formação, para não chamar atenção. Alguns carros
foram na frente, vamos ficar entre eles e os seguranças que vão nos seguir.
— Certo. — Segui o Taylor, o carro nos esperava atrás das salas de
aula.
Entrei no carro e avisei ao Black que estava indo para casa. Taylor
dirigiu tranquilo. Um cansaço estranho se apossou do meu corpo, comecei a
tossir sentindo um cheiro doce no carro. Percebi que o Taylor tinha uma
máscara no rosto, não lembro dele com ela.
— O… quê?
— Fique calma, senhora Bonnarro, em breve chegaremos ao nosso
destino — ele falou.
— Taylor… por quê?
Compreendi, ele era um traidor e pegou a mim e ao Connor.
— Em breve você saberá, durma.
Agarrei a mão do Connor, ele apagou na cadeirinha, encarei meu
filho com medo do que aconteceria conosco. Black ainda não tinha
instalado os rastreadores no Connor, não posso me distanciar do meu bebê
ou nunca o encontraremos. Curvei o corpo tentando o proteger, a cabeça
pendeu para a frente, tudo ficou escuro.
— Deixe o menino perto dela — escutei — não a quero causando
confusão.
— Lembre-se que eu não sou como o Bruce ou o Clark, você não me
dá ordens, Lewis!
— Pense nisso como uma sugestão, ao invés de uma ordem.
Minha cabeça pesava uma tonelada, os olhos doendo, a garganta
ardendo. O corpo dolorido em cima de uma superfície dura. Quis continuar
fingindo estar desmaiada, mas a preocupação para conferir onde estava o
Connor me deu forças para abrir as pálpebras.
Não pude acreditar no que eu via. Lewis, o único dos tios do Black
por parte de pai que tinha sido inocentado das suspeitas de ser um traidor,
em pé ao lado do Taylor, meu segurança pessoal, o homem que o Black
confiou e entregou a ele a minha proteção e a do Connor.
— Não sei o motivo de vocês insistirem de serem burros — falei
rouca me sentando, a cabeça meio zonza, passei o olhar ao redor
percebendo estar em uma espécie de galpão. O bebê conforto do Connor ao
meu lado.
Rastejei envolvendo meu filho com os braços. As pernas fracas, me
forcei a ficar ajoelhada, com o Connor no colo. Ele dormia tranquilo,
conferi sua respiração colocando o dedo debaixo do nariz dele. Beijei a
testinha pequena, a temperatura do corpo estava normal.
— O que fizeram com o meu filho? — Rosnei, o instinto protetor
gritando para segurar o Connor no colo e fugir para longe dos dois.
— Se o maldito do seu marido parasse de fuçar o que não é da conta
dele não precisaríamos chegar a esse ponto — Lewis respondeu se
aproximando.
— Fique longe! — Rastejei o corpo para trás, prendendo o Connor
no meu colo.
— Não vou te machucar, preciso de você para acabar com o Black.
— Lewis agarrou o meu queixo. — Vou enviar pedaços do seu corpo e do
bebê para o Black, e só vou parar quando ele se matar. — Puxou uma faca
do bolso.
— Se você tocar no Connor eu te mato! — Rosnei.
— Se acalma, Josephine — Taylor pediu. — Se você se comportar e
deixar que te fatiemos, não faremos nada ao Connor, vou mandar ele de
volta para os Bonnarro.
Era mentira, podia sentir a malícia em sua voz, na forma nojenta
como me olhava. Aquele não era o homem que me protegeu por mais de um
ano, mas um maldito psicopata com sede de sangue.
— Eu colaboro, mas somente se me falarem o motivo pelo qual vou
morrer.
Travei o medo dentro do peito. Não estamos no subsolo, o rastreador
ativo no meu corpo vai trazer o Black até mim. Eles não sabem sobre os
dispositivos, poucas pessoas da Máfia Bianchi possuem acesso a essa
informação. Os meus foram colados pelo meu irmão pouco depois do
Michael dar a ordem para todas as famílias principais usarem os
rastreadores, depois do sequestro da Hope. Simon desenvolveu a tecnologia
e colocou na gente, além dele e o médico da famiglia, mais ninguém sabia.
— Ela é bastante curiosa. — Lewis sorriu. — Vai ser uma boa
menina?
Tocou na minha perna, tive o ímpeto de chutar sua cara, mas não
queria acordar o Connor com a gritaria. Vou ganhar tempo para o Black
chegar aqui e nos resgatar. Eles não faziam ideia da armadilha que
montaram para si.
Meu marido moveria o mundo para ter a mim e ao Connor de volta.
Meu coração não sentia medo ou pavor, eu confiava no Black e que ele nos
salvaria. Eu não tenho um príncipe encantado, mas um mafioso possessivo
e obstinado a me manter sob a sua proteção.
— Damos uma aula de história a ela? — Lewis perguntou ao Taylor,
eles me tratam como uma garota idiota e boba.
— Cuidado com a Josephine, ela é ardilosa. — Taylor apertou meu
queixo em suas mãos. — Acha que não sei que você pensa que o Black vem
te resgatar? Estou monitorando os passos deles e até agora ele não
descobriu sobre seu sequestro e já faz mais de uma hora que tirei você da
faculdade.
Ele deve estar perto, mordi os lábios para conter o sorriso.
— Ele confiou em você, como pode fazer isso?
— Achou mesmo que eu queria passar o resto da vida como um
capacho dos Bonnarro? — Largou meu queixo, ficando de pé. — Ao menos
antes de você eu era o Chefe dos soldados do Black, mas fui rebaixado a
uma simples babá por aquele moleque.
— Você ficou sabendo da Portões do Inferno, querida? — Lewis
perguntou, tinha um brilho de gozação em seu rosto, ele se divertia com a
minha captura.
— Sim, formada pelo Bruce e pelo Clark.
— Vai mesmo contar a ela? — Taylor colocou as mãos na cintura
incomodado.
— Ela quer saber, podemos passar o tempo. — Lewis se levantou,
pegando uma cadeira.
— Estou te avisando para não confiar nessa vadia! — Taylor
explodiu.
Connor se mexeu no meu colo, assustado com o grito. Balancei o
corpo dele esperando o fazer pegar no sono novamente. Por favor, filhinho,
você precisa ficar quietinho enquanto o papai não chega. Como se ouvisse
meus pensamentos Connor bocejou adormecendo de novo.
— Onde estamos? — perguntei.
— Ainda em Vegas — Lewis respondeu.
— Quem são vocês? — Fiz a pergunta correta. Lewis sorriu
orgulhoso.
— Os verdadeiros líderes da Portões do Inferno. — Abriu os braços.
— E você, querida, está na nossa base secreta, protegida por um exército de
3 mil soldados prontos para matar qualquer um que se aproxime.
— Não faz sentido — franzi a testa — Bruce e Clark que eram os
líderes, eles não entregaram o nome de vocês, mesmo sem saber que
estavam sendo vigiados.
— Eles não sabiam da gente. — Lewis passou uma perna por cima
da outra. — Usei meu fantoche Jones para formar a Portões do Inferno sem
o Bartolomeu saber. Recrutei o Clark e o Bruce por gostar das conexões que
eles possuíam com as pessoas certas. Pena que o Jones não entregou meu
presente ao Bianchi. O bunker teria explodido matando todos lá dentro se
ele tivesse apertado o botão no celular.
— Mas e você? — Encarei o Taylor. — Qual o seu papel nessa
história?
— Eu e o Lewis somos irmãos, ninguém na organização sabe. Meu
pai era especialista em infiltrações. Criou o Lewis como seu herdeiro,
enquanto eu, desde o nascimento fui camuflado como uma criança comum.
Recebi treinamento e depois me infiltrei nos Bonnarro. Chamei a atenção
do Bartolomeu com minhas habilidades no exército, fui leal a ele
conquistando sua confiança, em dois anos me tornei oficialmente um
membro da Máfia Bianchi, do jeito que meu pai tinha planejado. Passava
informações secretas para ele e o Lewis sem ninguém saber. Oferecendo o
que eles precisavam para uma aliança com os Bonnarro e o Lewis poder
entrar na família. Formamos a Portões do Inferno juntos, tudo estava dando
certo até o maldito do Black se meter no nosso território e o Bruce e o Clark
saírem do controle brigando entre si, fazendo operações sem a nossa
autorização, aqueles malditos, devíamos ter matado eles quando tivemos a
chance. Por culpa deles perdemos nosso império.
— Vocês são dois fracotes. — Não consegui controlar a língua. —
Perderam o controle da própria organização.
— Somente porque usávamos o Jones como nosso fantoche. —
Taylor avançou, irritado. — Se liderássemos desde o início, essa merda não
teria acontecido.
— E o Black teria descoberto a ligação de vocês e os matados. —
Sorri. — Ele vai acabar com vocês.
— Josephine, se controle ou não vou conseguir manter meu irmão
longe de você — Lewis pediu afastando o Taylor.
— Como o Bartolomeu ou o Black nunca suspeitaram de vocês
serem irmãos? Quem era o pai de vocês e por que criou o Taylor para se
infiltrar nos Bonnarro?
— Você sabe o que eu fazia antes de me casar com a tia do Black?
— Lewis perguntou, neguei com a cabeça. — Meu pai era o chefe de uma
organização secreta especializada em infiltração e assassinato. Casei com a
Jasmine para me infiltrar nos Bonnarro. Mas eu não queria ser somente uma
peça de aliança para o meu pai. Taylor era somente um soldado e não
gostava de receber ordens, ele cresceu e foi promovido até se tornar Chefe
dos soldados do Black. Sem nosso pai saber nos unimos para dominar os
Bonnarro. Com nossos cargos conseguiríamos controlar todas as
informações que entravam em Vegas. Nos antecipar para os ataques do
Black contra a Portões, descobrir as bases dele e invadir primeiro. Estava
tudo perfeito, até os imbecis começarem a brigar e o Jones perder o controle
deles, precisei destruir os dois e a minha organização antes do Black chegar
até mim.
— E por que se mostrar agora? Se você tivesse continuado
escondido poderia continuar vivo.
— Eu vou viver, mas antes me vingarei do Black por tirar de mim a
organização que construí. Usei o Black para acabar com o Bruce e o Clark,
ia explodir a todos no bunker, infelizmente o plano falhou. Mas acontece,
Josephine — se ergueu vindo até mim — que homens como nós não
suportam o orgulho ferido. Tentei matar seu maridinho novamente no
ataque em Las Vegas, a bala perfurou o ombro dele, enquanto você dava à
luz. — Encarou o irmão. — Taylor iria roubar o Connor, mas o Bartolomeu
redobrou a segurança ao seu redor e o desgraçado do Black sobreviveu.
— Ele continuou nos atrapalhando. — Taylor rosnou.
— Cansei do joguinho de gato e rato. Consegui reconstruir parte da
organização nesses seis meses, recrutei novos soldados e agora poderei me
vingar do Black. Vou fazer ele tirar a vida enquanto enlouquece te
procurando. — Agarrou meu cabelo, aproximou uma faca do meu rosto, me
mantive quieta, apertei o Connor com os braços protegendo meu bebê. —
Qual parte do seu corpo ele mais gosta? Vou mandar essa primeiro.
— Meu cabelo. — Pensei rápido antes de responder, não quero
perder um membro.
— É verdade? — perguntou ao Taylor.
— Acho que sim, ele vive com a mão no cabelo dela e não deixou
que cortasse muito.
Taylor fez nossa segurança no dia que fui ao salão, ficou na porta
controlando quem entrava e saía. Ele percebeu o Black de olho, falando
com a cabeleireira. E interpretou errado. Puta sorte a minha!
— Podemos começar com uma mecha, para avisar a ele do
sequestro. — Puxou meu cabelo, mordi a boca pela dor, não podia fazer
zoada e acordar o Connor.
Lewis meteu a faca na mecha cortando três dedos de comprimento
do cabelo sem delicadeza. Se afastou com os fios na mão e foi para perto do
irmão. Não consegui acreditar que o Taylor realmente era um traidor e
guardou consigo um lado agressivo, vingativo, que eu nunca tinha visto
antes.
Connor deu sinais de que iria acordar, mexendo as pernas e a cabeça
contra o meu colo. O efeito do gás sonífero passou, mexi as pernas
recuperando a força nos membros. Fiquei em pé com o Connor, os homens
me encararam esperando pelo meu movimento. Ergui o queixo e apontei a
cadeira.
— Posso? Ou tenho de ficar no chão frio?
— Você nunca perde essa maldita pose! — Taylor avançou, Lewis o
prendeu pelo braço.
— Se acalme ou colocaremos o plano a perder. Black vai cair, vou
tomar o lugar dele na organização com o Bartolomeu aposentado, ninguém
confia no mulherengo do Steve como Capo. Se você perder o controle e
fizer besteira não conseguiremos alcançar nosso objetivo.
Eles não queriam apenas acabar com o Black, mas roubar o cargo de
Capo e com isso assumir a liderança do Grupo Bonnarro. Connor começou
a chorar, buscando pelo meu peito. Ninei o pequeno nos braços na
esperança dele se acalmar. Taylor sorriu perverso.
— Não vai amamentar o Connor? — Aproximou-se ardiloso. —
Sem o Black aqui eu posso fazer o que eu quiser com você. — Apertou meu
braço. — Ele vai enlouquecer se souber que outro comeu sua boceta de
ouro. Black nunca tomou cuidado para esconder os sentimentos dele por
você. Sempre exibindo a possessividade e a paixão, ele me entregou de
bandeja seu ponto fraco.
Tive medo devido ao olhar do Taylor. Dominado pela insanidade,
nenhum alarme soou no galpão denunciando a presença do Black. Gelei
pela possibilidade dele não chegar a tempo de me salvar, dei um passo para
trás tentando me afastar do Taylor.
— Você se opõe? — Encarou o irmão.
— Fique à vontade para se divertir com a vadia, só não machuque o
garoto.
Apertei o Connor contra mim.
Taylor virou o rosto sorrindo, apertou meu braço me empurrando
contra a parede.
— O que você escolhe, deixar o bebê aqui ou eu te foder com você
agarrada nele?
— Por favor, Taylor — implorei, o pavor enrolando meu corpo
como uma serpente.
— Vou adorar te ouvir implorando na cama. — Aproximou o rosto
do meu. — Com o Connor no seu braço ou sem?
Fechei os olhos sem poder largar meu filho e apavorada com medo
dele me machucar com o Connor nos meus braços. Não consegui ouvir
nada além do choro do Connor. Ele berrou alto, afundei o rosto no corpinho
dele, beijando sua bochecha, as lágrimas indicaram que ele estava com dor.
Connor conseguiu pressentir o perigo, ele também implorava para o Black
nos salvar.
Cadê você, amor?

30 minutos antes

Josephine mandou mensagem avisando que estava indo para casa e


depois não me respondeu mais. Entrei em reunião e fiquei incomodado com
o silêncio dela, sempre avisava quando chegava em casa. Meu peito doeu,
sinalizando que tinha algo de errado, peguei o celular no bolso da calça,
acessei a localização no segundo em que o carro curvou saindo da rota.
Levantei, empurrei a cadeira para trás e liguei para o seu celular, a
chamada chamou até cair na caixa postal.
— Senhor? — Eduardo perguntou.
— Taylor está com a Josephine?
— Sim, ele é o motorista.
— E quem é o outro segurança no carro?
— Taylor dirige sozinho. — Franziu a testa sem entender.
— Porra, Eduardo! — Soquei a mesa causando um estrondo, os
homens na sala viraram o rosto para mim, meus tios por parte de mãe, o
Steve e outros soldados de maior importância. — Se preparem para a
guerra, Josephine e Connor foram sequestrados. Steve você vem comigo,
Eduardo traga munição e os carros de ataque, vou enviar a localização para
me seguirem. Taylor é um traidor e qualquer um nessa sala que entrar em
contato com ele será morto. Entendido?
— Sim, senhor — responderam.
— Liam — chamei meu tio — descubra o motivo dos carros que
fazem a segurança da Josephine para a faculdade não terem relatado o
Taylor saindo de rota.
— Vou providenciar. — Deixou a sala.
— Albert — chamei o soldado mais experiente da sala — entre em
contato com a polícia, quero todas as interestaduais fechadas. Eles não
saíram de Las Vegas e vão permanecer aqui dentro. Quem se recusar a
colaborar mate!
— Devo avisar ao senhor Bianchi? — perguntou.
— Comunique o Subchefe, agora VÃO!
Não esperei, com o coração disparado em preocupação, saí da sala.
Segui com o Steve para a garagem, o sangue fervendo em raiva,
acompanhei a localização dela pelo rastreador. Não coloquei rastreadores
no Connor por recomendação do Simon, que pediu para esperar o Connor
completar um ano. Pois o bebê podia acabar se machucando ou atingindo o
rastreador por achar o incômodo o pequeno aparelho doloroso.
Josephine precisava lutar para manter nosso filho com ela, não pode
deixar que se separem.
— INFERNO! — gritei chutando a parede. — MALDITO
TAYLOR!
Agarrei o vaso de plantas ao lado da porta do elevador e arremessei
do outro lado do corredor.
— Se controla, Black. — Steve apertou meu peito com o braço, bati
contra a parede. — Precisa ficar com a cabeça no lugar para conseguirmos
trazer a Josephine e o Connor de volta. Você vai perder a razão e fazer
besteira se deixar o desespero te dominar. Estou com você e vamos resolver
essa merda. Antes de anoitecer eles vão estar de volta.
Inspirei fundo, trancando minhas emoções, não era hora para
desespero.
— Você tem razão — apertei o braço dele — vamos trazê-los de
volta.
As portas se abriram e entramos. Foquei na respiração, a vontade
assassina de arrancar a cabeça do Taylor. Porra! Ele foi o chefe da minha
segurança por anos, o coloquei tomando conta da Josephine por confiar nele
e em suas habilidades. Fui traído onde menos esperava.
— É assim que se fala. — Bateu nos meus ombros. — O Taylor
deve ter um cúmplice. Ele passou anos ao nosso lado para nos trair dessa
forma. Você o conhece, sabe como ele pensa, arrancaremos a cabeça do
desgraçado e de quem estiver com ele. Essa é uma missão para os irmãos
Bonnarro.
— Sim! Ninguém vai tocar na minha esposa e no meu filho.
Fazia tempo que eu não participava de uma missão com o Steve,
mas no meu irmão eu posso confiar de olhos fechados. Vou trazer a
Josephine e o Connor para casa antes do início da noite.
As portas do elevador se abriram. Entrei no meu carro e comecei a
dirigir seguindo a direção que o rastreador da Josephine indicava. Pouco
tempo depois recebi uma ligação do Liam informando que o comboio que
cuidava da segurança da Josephine seguia o caminho normal no deserto
para o complexo.
Liam falou com os soldados e descobriu o que aconteceu. Antes do
final da aula o Taylor falou ao motorista que deveria subir o vidro negro
dividindo o carro ao meio para Josephine poder amamentar o Connor. A
aula acabou e o Taylor guiou uma mulher se passando pela Josephine com
um bebê nos braços para dentro do carro. Ele cobriu o rosto deles com um
guarda-chuva. Os soldados entraram nos carros e começaram a escolta. Ao
serem questionados pelo Liam baixaram o vidro, a mulher confessou que
estava cumprindo ordens do Taylor, ele ameaçou matar ela e a criança se ela
não entrasse no carro e ficasse quieta.
Liam ordenou que um dos carros seguisse para o complexo com a
mulher e instruiu dois soldados para descobrirem quem ela era. Enquanto
isso, fez ligações e recebeu imagens das câmeras na faculdade do Taylor
saindo com a Josephine, 30 minutos depois do comboio partir, a colocando
em um carro atrás das salas de aula e sumindo com ela sem chamar atenção.
A confiança depositada no Taylor se transformou em uma faca assassina.
Ele foi ágil para conseguir as informações em poucos minutos, uma
rede bem elaborada de homens que se mantinham leais.
Usando o GPS do rastreador segui o rastro do Taylor com o Steve.
Enquanto Eduardo preparava os soldados para a batalha, o Alberto
conseguiu colocar policiais trancando a interestadual. Kai ligou querendo
saber da irmã, passei a ele as informações que tinha. Ele quis vir para Las
Vegas, mas o mandei continuar em Nova Iorque, quando ele chegar aqui
tudo já terá acabado.
Meia hora depois estacionei perto de um galpão. Era uma área
repleta de galpões e contêineres, próximo de fábricas e casas. Com os
binóculos dentro do carro, subimos em um contêiner, a localização da
Josephine indicava que ela estava a um quilômetro a frente em um galpão
protegido por homens armados.
— Precisamos entrar sem fazer barulho — avisei pensando em algo,
tinham muitos homens para mim e o Steve darmos conta sozinhos sem
causar uma confusão colocando em risco a vida da Josephine e do Connor.
— Podemos nos disfarçar de um deles. — Apontou para dois
homens patrulhando entre o corredor de contêineres.
— Se nos reconhecerem abatemos os alvos antes de chamarem a
atenção.
Descemos do contêiner. Esperamos os homens se aproximarem. Eles
passaram pela gente, puxei um agarrando seu pescoço e a cabeça, girando
em direções opostas quebrando o pescoço. Steve abateu o outro
silenciosamente. Os puxei escondendo os corpos, tirei as roupas e o boné,
conferi as identidades, peguei os rádios. Coloquei suas roupas e afundei o
boné na cabeça.
Eduardo mandou mensagem avisando sobre os reforços, iriam
demorar 20 minutos para chegar aqui. Mandei tomarem cuidado, abaterem
os alvos e não deixarem ninguém escapar. Não existia espaço na minha
equipe para outro traidor, eu precisava confiar no Eduardo e no Liam para
fazerem os reforços chegarem e garantirem a saída em segurança da minha
família.
Steve e eu assumimos o posto dos homens fazendo as rondas,
passamos por soldados que não notaram dois estranhos entre eles. Encarei
meu irmão em uma conversa silenciosa, aqueles homens não se conheciam.
Chegamos em frente ao galpão, quatro guardas na frente. Parei ao lado de
um e Steve do outro, montando guarda, disfarçados, escutando com atenção
o que acontecia ao nosso redor.
— Já é hora da troca? — o homem ao meu lado perguntou.
— Sim — respondi sem o encarar.
— Cara, que saco, eles nunca avisam nada pra gente — reclamou.
— Preferia meu antigo emprego.
— Concordo. — Mantive-me neutro, precisava que ele sumisse.
— Mas de quem vocês vão assumir o lugar? — Tocou no meu
ombro, me forçando a encará-lo.
— O seu. — Puxei minha arma com o silenciador que peguei no
meu carro. Atirei na barriga dele, girei sobre os calcanhares acertando o
cara atrás de mim. Escutei os disparos silenciosos do Steve abatendo seus
alvos. Puxamos os homens para trás dos arbustos deixando os corpos deles
lá. O rastro de sangue não teria como ser disfarçado.
Abri a porta me deparando com um corredor. A arma erguida na
altura do rosto, pronto para atirar a qualquer instante. Steve me deu
cobertura protegendo minhas costas. Temos pouco tempo antes de
denunciarem que intrusos invadiram a base deles. Caminhei devagar atento
aos sons. O choro do Connor invadiu meus ouvidos e meu primeiro instinto
foi correr para a porta no final do corredor.
Steve me puxou pelo colarinho da camisa. Ele tampou minha boca
com uma mão e com um sinal do dedo indicou o que eu não percebi. A voz
de homens rindo próximo a gente. A porta à direita aberta com uma luz
acesa. Acenei em positivo me acalmando, o choro do meu filho agoniando
minha mente, eu preciso salvá-lo, mas se fizer besteira vou colocar todos
em perigo.
Steve assumiu a frente, sabendo que eu estava instável. Ele entrou na
sala e o segui, rapidamente vi 5 homens em volta de uma mesa.
Começamos a atirar, as balas mataram três de uma vez e os outros dois se
esconderam. Steve girou no chão e eu me escondi atrás do pilar dando
cobertura ao meu irmão que avançava contra um dos homens escondido
atrás de uma mesa.
Ele se envolveu em uma briga corporal, procurei pelo outro. Os
pelos da minha nuca se arrepiaram, girei a tempo de me abaixar escapando
da faca que atingiria minha cabeça. Soquei a barriga do desgraçado duas
vezes. Me joguei no chão girando sobre os ombros em uma cambalhota
para fugir do ataque da faca dele.
— Quem são vocês? — ele perguntou.
Não me preocupei em respondê-lo, fiquei de pé, acabei perdendo a
arma durante o giro. Avancei no desgraçado. A faca veio pela minha direita,
bati a mão esquerda em seu pulso, com a mão direita acertei a traqueia do
miserável. Ele perdeu o ar e deslizei a mão tomando a faca para mim.
Apertei o pescoço dele e meti a lâmina abrindo sua garganta de uma ponta a
outra. Ele caiu no chão sufocando com o próprio sangue.
— São mercenários — Steve disse, a testa brilhando de suor após
vencer a luta. — Conheço esse grupo. Saíram da ativa há dois meses, eram
especializados em missões para gente rica.
— Taylor estava recrutando um novo exército — percebi — se ele
tinha ligações com a Portões do Inferno, isso explica como as informações
vazavam.
— Mas não justifica o motivo dele ter deixado a organização acabar.
— Ergueu os ombros. — Vamos entrar naquela sala e você precisa manter a
calma. Temos de entender o que aconteceu aqui, saber se existem outros
traidores. Não mate o Taylor, é uma questão de segurança para os Bonnarro.
— Eu sei disso, porra. — Irritava-me não poder acabar com o
Taylor.
Os Bonnarro estavam cheios de ratos, quando achei ter eliminado a
todos, novos apareciam, mais letais e perigosos sequestrando e tocando na
minha família. Peguei minha arma e a faca, como saí sem passar no arsenal
restaram somente dois pente de balas, um punhal e uma faca.
Saí da sala com o Steve, fiquei em um lado da porta e ele em outro.
O choro do Connor enchia meu coração de desespero e agonia para salvar
meu filho. Pisquei os olhos contendo as lágrimas pelo medo do que eu
encontraria. Precisava ser frio e calculista, agir como um homem de honra.
Inspirei fundo, controlei a tremedeira na mão. Com um sinal de cabeça para
o Steve ele abriu a porta e entramos.
Dois homens, fiquei surpreso ao ver o Lewis sentado em uma
cadeira de costas para a gente, Taylor apertando a Josephine contra a parede
e o choro do Connor, não consegui encontrá-lo. Com um sinal de mão o
Steve entendeu que ele deveria pegar o Lewis enquanto eu acabava com o
Taylor, maldito traidor. Fui veloz, corri acertando a nuca do desgraçado, ele
desabou no chão com o impacto. Lewis gritou, tiros disparados pelo
silenciador soaram.
Puxei Josephine que segurava o Connor para longe do Taylor. Ela se
enfiou nos meus braços, lágrimas grossas caindo por suas bochechas,
Connor vermelho de chorar, o rosto manchado de lágrimas.
— Está tudo bem, eu tô aqui. — Beijei sua cabeça. — O papai
chegou — falei com o Connor.
— Black! — ela gritou.
Fui arremessado para o lado. Josephine perdeu o equilíbrio caindo
de joelhos. Meus ombros bateram no chão com força.
— Chama reforços, porra — Taylor ordenou ao Lewis.
Rapidamente vi o Steve rendendo o Lewis, o deixou debilitado
acertando tiros em seus braços e pernas. Meu irmão correu para ajudar a
Josephine e o Connor. Vê-la com medo agarrada ao nosso menino, o
desespero do meu filho passando por um sequestro com menos de um ano
de vida me encheram de uma raiva latente, poderosa, quase sólida, ao ponto
de eu tocar com as mãos.
— Eu vou matar você — rosnei para o Taylor.
— Você não passa de um bostinha. — Ele subiu em cima do meu
tronco.
Não estava com ânimo para falar e precisava retirar minha esposa e
meu filho daqui antes que os reforços deles chegassem. Ergui o quadril,
agarrei o ombro do Taylor e seu pescoço o fazendo voar por cima da minha
cabeça. Ainda o segurando, girei o corpo, não ousei ficar por cima dele,
sabia que o Taylor conseguiria escapar. Por isso, o envolvi pelas costas,
apertei seu pescoço em uma chave de braço, prendi as pernas ao redor das
suas, o imobilizando.
— Maldito desgraçado — Josephine rosnou, ela avançou chutando o
rosto do Taylor. — Conta para o Black o que você queria fazer comigo,
verme inútil! — Chutou as bolas dele. — Cadê a coragem do machão para
falar na frente do meu marido que ia me foder com o Connor nos meus
braços. — Acertou a barriga dele.
Vi vermelho.
— Steve, precisamos dos dois? — O corpo gelando, as emoções
focando somente na ira.
— O Lewis será o suficiente. — Prendi as mãos e as pernas do
Lewis, com a gravata o amordacei.
Puxei os cabelos do Taylor forçando seu pescoço para trás.
— Eu confiei em você, te respeitei e te dei a tarefa de proteger
minha esposa e meu filho na minha ausência. Mas você é um desgraçado
filho da puta que não merece continuar vivendo.
Soltei suas pernas e fiquei em pé o arrastando comigo. Encarei
minha esposa e o Connor que não parava de chorar enquanto a Josephine
ninava nosso filho. Virei de costas para eles, não precisavam ver isso.
Peguei a faca no quadril, a meti na barriga do Taylor abrindo suas vísceras
de uma ponta a outra. Ele berrou, tentou se soltar, mas a poça de sangue o
fez escorregar e quase cair.
Enfiei a mão em seu estômago, agarrei o intestino puxando para
fora. Ele começou a se tremer na minha mão, envolvi as tripas do miserável
ao redor do seu pescoço o colocando de joelhos sobre o próprio sangue.
Apertei seu pescoço o enforcando. Observei o corpo tremendo, se
desmanchando em sangue. Só parei quando a vida deixou seus olhos.
Joguei o corpo do desgraçado no chão.
Os tiros do lado de fora começaram vorazes. Corri para Josephine a
protegendo com meu corpo. Abracei ela e o Connor, minha esposa não se
importou com o sangue, afundou o rosto no meu pescoço, tremendo, com
medo pelo que aconteceria. As portas foram abertas em um estrondo,
encarei por cima do ombro vendo o Eduardo e o Liam com armas em
punho, por um segundo o medo deles serem traidores me assombrou.
— Eliminamos todos os soldados do lado de fora — Eduardo
avisou.
— Trouxe uma ambulância para a senhora Bonnarro e o bebê. —
Liam abaixou a arma.
— Levem o Lewis para o porão — ordenei, relaxando, eles não
eram inimigos.
— Vou cuidar do interrogatório — Steve avisou — ou prefere fazer
isso?
Analisei minha esposa e meu filho, o medo presente neles. Eu não
conseguiria os deixar sozinhos, minha missão só iria acabar quando os dois
estivessem em casa, a salvo e felizes, sem lágrimas manchando seus olhos.
— Pode prosseguir. Vou para casa com a Josephine e o Connor.
— Amor — ela murmurou chorosa. — Eu sabia que você viria. E o
Connor também. — Alisou a cabeça do nosso menino.
— Eu sempre vou estar atrás de vocês. — Beijei seus lábios. —
Vocês são meus, e nada vai tirar vocês de mim.
Agachei-me, peguei Josephine no colo e o Connor parou de chorar,
soluçando baixinho. Ele sentiu que estava seguro comigo.
Ninguém seria capaz de machucar minha esposa. Ela foi ferida pela
máfia, mas agora era o meu maior tesouro e seria protegida pela eternidade.
Minha alma se fundiu em um nó com a Josephine que duraria infinitamente.
— Você sabe o que fazer.
Encarei minha tia Jasmine, ela chorava copiosamente, me doía ser o
causador da sua tristeza, mas os recentes acontecimentos nos Bonnarro me
levaram a tomar atitudes pesadas.
Era a hora de me provar como homem de honra, se eu vacilar
perderei meu posto e o Connor seria colocado em perigo. Não importava se
o Michael era meu amigo, ele também era o Chefe, precisava seguir as
regras. O que aconteceu ontem se espalhou pelo submundo e muitos
associados, aliados e membros de outras famílias que compõem a Máfia
Bianchi exigiam por uma resposta definitiva da punição aplicada aos
traidores.
Foi um erro não matar a família do Bruce e do Clark. Isso deu poder
ao Lewis e ao Taylor para questionarem minha liderança por debaixo dos
panos e puxarem meus primos para se aliarem a eles no plano de me
derrotar. O sequestro da Josephine gerou uma reação contrária ao que
pensei que aconteceria. Estou sendo questionado, pressionado, obrigado a
cumprir as regras. A traição de um membro da Máfia Bianchi deveria ser
paga com a execução da família do traidor, cortar toda a erva daninha.
No interrogatório do Lewis ele confessou seus planos, como fundou
a Portões do Inferno e sorriu ao dizer que conseguiu destruir os Bonnarro,
pois alguns dos soldados que faziam a ronda no galpão eram meus primos,
se rebelando pela morte dos pais como traidores. Não existia salvação para
nenhum deles, e por mais que tia Jasmine implorasse pela vida dos dois
filhos homens, alegando a inocência deles, eu não podia permitir que
continuassem vivos. Pois assim como os filhos do Clark e do Bruce eles
poderiam tentar se vingar.
Lewis entrou para a família Bonnarro e o Andrew destruiu a
organização do pai dele após a morte do homem, impedindo o Lewis de
assumir como líder. Um Oficial Bonnarro jamais teria posição acima de um
Capo em outra organização. O Andrew a fundiu ao seu exército pessoal,
acabando com a influência do Lewis e o mantendo longe dos homens de
confiança de seu pai. Lewis e Taylor juntavam forças no submundo para
conseguir enfrentar os Bianchi.
A guerra com a Portões do Inferno seria somente o começo. Eles não
iam parar até destruírem os Bianchi. Assumi a responsabilidade dos últimos
acontecimentos. Josephine e o Connor se recuperavam em casa após
passarem por uma longa bateria de exames. Passei a noite com eles,
acalmando meu filho e esposa, mas chegou a hora de encarar a minha
realidade. No complexo Bonnarro eu reuni os líderes da Máfia Bianchi para
assistirem à sentença dos traidores sendo aplicada. Era uma sala ampla,
quase um auditório.
Amordaçados e de joelhos estavam na minha frente os 3 filhos do
Clark que foram capturados, os 2 filhos restantes do Bruce presos enquanto
tentavam fugir ontem e os 2 filhos do Lewis. As esposas seriam as únicas
poupadas por colaborarem com a rápida investigação em troca das filhas
não serem punidas. Josephine e Kennedy intervieram pelas mulheres
Bonnarro, mostrando a lealdade delas a família em diversos momentos,
principalmente como receberam minha esposa com respeito e sempre fiéis
aos Bonnarro. Apoiei minha esposa e Kai ficou do lado da irmã, forçando o
Conselho de Capos a não punir minhas tias e suas filhas mulheres.
As mães ficaram atrás dos filhos traidores, não conseguiam conter as
lágrimas. Taylor não tinha família, ninguém para pagar por seus crimes
além dele. Exibi o corpo do desgraçado em uma cruz no deserto para os
urubus comerem e todos verem o que acontecia com quem ousasse mexer
com minha esposa e meu filho. Teria uma morte dolorosa, com as tripas
arrancadas com ele vivo e enforcado por elas.
— Pela honra dos Bianchi, os traidores pagam com a sua vida e a de
sua família pelo crime de se rebelarem contra a Máfia. Seus pais foram
mortos e o mesmo destino aguarda vocês. — Ergui a mão. — Que fique
registrado para todos, é isso o que acontece com traidores.
Baixei a mão e os tiros começaram, os homens foram mortos, as
mães se viraram sem tocar o corpo dos filhos, encontrando as filhas que
assistiram à morte dos irmãos do canto do auditório, retornaram para casa
sem direito a enterrar os corpos dos traidores.
Não permiti que Josephine assistisse à execução. Dei as costas aos
mortos. Michael acenou em positivo, essa era a Máfia e ninguém escapava
das regras impostas para garantir a nossa posição como líderes do
submundo.
Segui com os líderes para uma sala de reuniões, o clima era pesado,
tenso. Nathan Belarc e Tyron entraram por último. O homem de 65 anos
encarou a todos antes de sentar em sua cadeira ao lado do filho. Ele
solicitou uma reunião do Conselho de Capos antes de retornar a Nova
Iorque.
— Pode falar — Michael foi o primeiro a dizer algo.
— Eu quero que meu filho, Trevor, assuma meu cargo como Capo.
— Por quê? O direito hereditário pertence ao Tyron — Daniel
inquiriu.
— Tyron não pode ter filhos — Nathan respondeu, mas senti que ele
escondia algo.
— Pai. — Tyron suspirou. — Eu estou pronto para as
consequências, fale a verdade.
— Do que se trata essa conversa? — Kai apoiou as mãos na mesa os
encarando.
— Vocês não são como seus pais. — Belarc se levantou, encarou a
cada um de nós. — Os sádicos do Andrew e do Louis estão mortos, mas
continuamos vivendo no mundo da Máfia. Meu filho por anos escondeu de
vocês quem ele realmente era, mas para assumir meu cargo precisa casar
com uma dama de honra. E eu não quero o condenar a uma vida infeliz ao
lado de uma mulher. Assumo a responsabilidade pelo que vou dizer. Tyron é
bissexual e ama o seu chefe de segurança. Para proteger meu filho eu quero
a troca de herdeiros.
O silêncio caiu pesado sobre a sala, ninguém esperava por aquela
informação. Tyron não era parte do Quarteto Monstro, mas costumava sair
com a gente, conversar, nunca percebemos nada de diferente relacionado a
sua sexualidade. Talvez, por se manter distante, ele tenha conseguido
disfarçar quem era. Nunca soube de um caso de um líder bissexual na
organização, encarei os caras sem saber como agir.
Tyron sempre foi leal, era um homem inteligente, de valor, o melhor
para treinar o Esquadrão da Morte e liderava sua família com perspicácia,
controlava o território e organizava as lutas clandestinas em Nova Iorque.
Duvidava que Trevor conseguiria herdar as obrigações do irmão e ter um
desempenho como o do Tyron. Porra, não queria retirar o direito dele de ser
um Capo por causa da sua sexualidade.
— Você viu o que acabamos de fazer com os traidores — falei,
encarei meus amigos pronto para tomar uma decisão. Foquei no Belarc. —
Não tem medo do Tyron passar pelo mesmo? Antigamente, se relacionar
com o mesmo sexo era um crime de traição.
— Eu confio em vocês — Nathan abaixou a cabeça — que serão
melhores do que as gerações antigas.
Troquei olhares com o Daniel, Kai e Michael. Parecia que
dividíamos a mesma opinião.
— Não será necessário a troca de herdeiro — Michael avisou. —
Tyron vai assumir como Capo Bianchi. Por sorte, nosso país permite o
casamento homossexual. Você seguirá as tradições. Vai casar, fazer o
juramento de sangue e depois terá filhos. Se optar pela adoção seu filho não
herdará seu cargo. Mas de decidir pela inseminação artificial seu filho
poderá assumir, contanto que escolha uma dama de honra para ser a mãe.
— Chefe. — Tyron vacilou.
— Eu executei membros da minha família. — Apertei o punho. —
Não sacrificaremos um herdeiro por causa da sexualidade.
— Quem ousar questionar a decisão do Michael — Daniel se
pronunciou — será punido.
— Como o Belarc falou — Kai suspirou — essa é uma nova
geração. Não seremos sádicos como nossos pais para mantermos o poder.
Se ter um Capo bissexual nos enfraquece, significa que não somos fortes o
suficiente para dominar o mundo.
— Nada vai parar a Máfia Bianchi — Michael se levantou
abotoando o terno — principalmente tradições arcaicas. Eu sou o Chefe
dessa organização e o que eu decidir é lei. Ninguém ousará questionar.
— Obrigado — Tyron respondeu, ele parecia aliviado. — Não
queria deixar minha posição, mas sabia que se fosse descoberto as
consequências seriam grandes.
— Você fez o certo em nos contar. — Acenei em positivo.
— Reunião encerrada — Michael avisou.
Saímos da sala, ainda precisava trabalhar e cuidar da limpeza da
bagunça causada pelo Lewis e Taylor.

Desembarquei animada em Nova Iorque, mal podia esperar para


conhecer minhas sobrinhas. Daisha deu à luz ontem à noite a duas
menininhas. Janine e June, gêmeas idênticas que chegaram para encher a
vida do meu irmão de felicidade. Corri para o carro, ansiosa para conhecer
as pequenas. Black entrou atrás de mim segurando o Connor no colo. Nosso
menino de 8 meses ficava mais esperto a cada dia, ele começou a dar
trabalho para dormir.
O relógio marcava 22 horas e ele continuava acordado fazendo
bagunça na cama. Foi um alívio o Connor não apresentar nenhum trauma
devido ao sequestro. A certeza que eu tinha do Black nos resgatar foi a
minha força, ser envolvida pelos braços do meu marido lavou minha alma
espantando qualquer preocupação. Eu estava bem, nossa família unida e as
coisas retornavam ao normal em Las Vegas.
Peguei o espelho na bolsa observando meu corte de cabelo, ajeitei os
fios rebeldes bagunçados pelo Black. Durante o voo demos uma
escapadinha para transar no banheiro, aproveitando o sono do Connor.
Reparei o dano feito pelo Lewis no cabelo no dia seguinte, adorava o
movimento do cabelo balançando curtinho, dois dedos acima do ombro.
Black me contou que a sósia usada para distrair o comboio era uma
prostituta do Lewis, ele ameaçou a mulher fazendo a filha de 10 anos dela
de refém. A mulher confessou tudo ao Black e após lidar com a bagunça do
Lewis e do Taylor meu marido mandou uma equipe para resgatar a filha da
mulher, realizou um exame de DNA nas duas crianças e nenhuma era filha
do Lewis.
O Black mantinha a mulher sob vigilância para garantir que ela não
era alguém ruim. Mas após semanas do acontecimento as coisas
continuavam igual e ele percebeu que ela se prostituía para colocar comida
na mesa dos filhos. Amoleci o coração dele e consegui que ela trabalhasse
na equipe de limpeza de um dos cassinos. Encerrando com todas as pontas
usadas naquele plano.
As filhas das tias do Black, Valentina, Gisele e Jasmine que já
haviam terminado a faculdade ganharam o direito de trabalhar nos cassinos,
sem os pais impedindo o crescimento das meninas, elas se reuniram comigo
me pedindo a oportunidade, Black gostou de como tomei a frente da
situação das Damas. Sutilmente ele tem remanejado cada uma delas para
funções diferentes.
As mulheres Bonnarro sempre foram fortes e unidas, com a minha
liderança impedi que qualquer tratamento depreciativo, ofensas ou fofocas
perturbassem a vida das tias do Black. Conseguimos evitar uma tragédia
maior. Tudo seguia em paz em Las Vegas, finalmente a guerra chegou ao
verdadeiro fim. E hoje posso sorrir tranquila ao lado do meu marido e filho.
O carro estacionou em frente a maternidade que a Daisha deu à luz.
Parei na entrada adorando o dia ensolarado, segui de mãos dadas com o
Black. Entramos no elevador, meu marido brincava com o Connor que
gargalhava pelo pai fazer caretas. Connor tentava imitar colocando a língua
para fora e apertando as mãos nas bochechas. Comecei a rir, não podia com
tanta fofura.
Ele e o Black usavam roupas combinando. Meu marido de terno
preto, camisa vermelha e gravata vermelho sangue. Um perigo de sexy,
enquanto o Connor com o terno sob medida imitando as cores do pai ficava
muito fofinho, tive que me controlar para não apertar as bochechas dele.
O elevador parou abrindo as portas. Caminhamos pelo corredor,
girei a maçaneta devagar espiando dentro do quarto. Sorri vendo Clarisse
com uma das gêmeas nos braços e Bellamy com a outra. Os avós babões se
derretiam encarando as pequeninas.
— Oi — cumprimentei, entrando sem fazer barulho, Daisha dormia
tranquila na cama e Kai sentado na cadeira com o rosto no colchão perto da
mão dela.
— Aaaaaaaaaaaaaaah — Connor gritou erguendo as mãos para as
bebês.
— Começou. — Kai ergueu o rosto sonolento, me encarou,
arregalou os olhos e sorriu relaxando. — É você, achei que fossem as
gêmeas chorando. — Bocejou. — Não façam barulho — pediu.
Como que para contrariar o tio Connor começou a fazer zoada
querendo se aproximar das bebês. Daisha se mexeu acordando, ela estava
exausta, lembro de como fiquei cansada quando o Connor nasceu. Os olhos
azuis brilharam felizes, ela estendeu os braços e a abracei forte.
— Parabéns, mamãe. — Beijei sua bochecha.
— Vá olhar minhas princesas, elas são lindas. — Sorriu orgulhosa.
— Muito bonitas — Black comentou espiando as meninas. Ele
segurava o Connor pelo peito inclinando nosso filho que observava as
primas com curiosidade. — Parabéns, Kai e Daisha.
— Obrigado — Kai respondeu parando ao lado do sogro. — Elas
são meus tesouros preciosos. — Apertou a mão da filha. — Essa é a Janine
— ele falava baixinho para não assustar as meninas — a outra é a June.
— Não sei como ele consegue diferenciar. — Bellamy franziu a
testa. — Jurava que estava segurando a June.
— Eu disse a você, essa era a Janine — Clarisse respondeu.
— Elas são minhas meninas, é claro que sei diferenciar. — Pegou a
filha no colo. — Vem conhecer minha menina, Phine.
Meus olhos marejaram pelo amor se derramando do Kai para as
meninas, se estendendo a mim. Foi aquele futuro que protegi e nunca me
arrependerei pelas escolhas que tomei. Aproximei-me da pequena, toquei a
manta ao seu redor encarando o rostinho pequeno, inchado e vermelhinho.
Ela dormia tranquila nos braços do pai. Alisei sua cabecinha, Clarisse se
aproximou trazendo a June, eram gêmeas idênticas e fiquei na dúvida sobre
como o Kai conseguiu as distinguir.
— Pliminhas nasceram! (Priminhas) — Uma vozinha fina e fofa
gritou da entrada do quarto. William corria balançando os cabelos loiros
como os da mãe, os olhos azuis intensos.
— Ele é sempre o mais animado com a chegada de um novo
membro na família. — Emily entrou sorrindo.
Depois dela, nossos amigos invadiram o quarto com sorrisos
tranquilos no rosto.
— Quelo ver. — Ethan pulou ao redor do Kai.
— Eeeeeeeeeeh! — Connor fez zoada apertando os punhos,
chamando a atenção dos meninos.
— Connor! — William pulou. Black se abaixou deixando os
meninos na mesma altura. — Tive saldade. (saudades) — Abraçou o
Connor. Meu filho sorriu agarrando o rosto do William.
— Você demola muuuuuito pala visita. (demora para visitar) —
Ethan melhorava a cada dia as pronúncias das palavras, trocava somente o
R por L, pelo visto o Michael continuava ensinando o filho a se comunicar
como um rapaz.
— Culpa nossa — Black falou.
— Tlaga mais o Connor. (traga) — Ethan cruzou os braços. — É
nosso pliminho. — Alisou os cabelos negros do meu filho.
— Vledade — William acenou — tem de blinca colnos. (verdade,
brincar conosco)
— Will tá celto (certo) — Ethan completou.
— To! (estou!) — William acenou.
Connor participou da conversa mexendo os braços e fazendo os sons
de bebê que eu amava. Meu coração explodia vendo a interação dos
garotos, eles seriam grandes amigos no futuro, não tive dúvidas disso.
Encarei a Daisha, ela fungou baixinho após ser abraçada por Hope e Emily.
— Se esses três forem possessivos como os pais — Daisha falou. —
Eu tenho pena das minhas meninas no futuro, com eles ao redor delas.
— Ninguém vai chegar perto. — Kai sorriu malvado, já podia
imaginar os planos corroendo sua mente.
— Paraaaaa — Daisha pediu chorosa.
Os risos encheram o quarto. Ela tinha razão. De todos, só ela e o Kai
tiveram meninas, por enquanto. Se o trio mirim crescer e se tornarem
possessivos, vão proteger as primas com unhas e dentes, seria difícil para
elas arrumarem namorados. Mas conhecendo a Daisha, sei que vai ensinar
as meninas a serem independentes e colocar os rapazes no lugar deles.
— Fica tranquila, Dai. — Hope apertou o ombro dela. — June e
Janine vão aprender tudo com a gente sobre como domar esses
monstrinhos.
— Elas que vão colocar eles em problemas. — Emily sorriu. — O
time das domadoras é forte!
— Isso aí — completei. — Ninguém nos controla.
— Jesus — Clarisse se assombrou — vai ser um campo de batalha o
futuro dessas crianças.
— Uma batalha saudável. — Bellamy beijou a cabeça da esposa.
Começamos a rir, eu gostava de como aquele futuro parecia.
Passamos o resto do dia conversando e brincando, até o Kai expulsar
todo mundo para a esposa poder dormir algumas horas. As gêmeas abriram
os olhos quando estávamos prestes a sair, mostrando a imensidão azul
poderosa do olhar delas. Eu vi o quanto meu irmão gostou delas parecerem
com a mãe. A felicidade dele enchia meu ser de alegria.
Na volta para nossa casa no complexo, passamos em frente a minha
antiga morada. Eleanor estava aprisionada lá dentro e eu senti que tinha
algo que eu ainda precisava fazer.
— Para o carro, Eduardo — pedi.
Ele estacionou em frente a antiga casa carregada de lembranças
dolorosas para mim.
— O que você pretende fazer? — Black perguntou.
— Encerrar o último capítulo do meu passado. — Sorri para ele,
confiante da minha decisão.
Desci do carro sozinha, toquei a maçaneta, trancada. Um soldado se
aproximou, pedi que abrisse. Entrei, o ar frio arrepiou meus pelos, sacudi os
braços afastando o ar pesado daquela casa. Caminhei sem fazer zoada, a
achei na sala, encarando a televisão que transmitia um programa de
culinária.
— Oi, Eleanor — anunciei a minha presença.
— O que faz aqui? — Virou.
— Vim buscar por respostas.
Algumas coisas, somente ela seria capaz de me dizer.
— A primeira vez que a Rebeca machucou um gato eu te chamei,
por que você não a parou?
Mesmo após anos, eu nunca consegui compreender como a Eleanor
foi capaz de acobertar a Rebeca, incentivar a violência. E o motivo dela
rejeitar a mim e ao Kai. Sabia que Eleanor não era obrigada a me contar
nada, mas acreditava que com o tempo presa nessa casa, alguma coisa nela
poderia mudar. Não planejava a encontrar, mas senti que precisava desse
encerramento.
— Eu finalmente tinha conseguido o que queria — respondeu
apática. — Um filho capaz de destruir o Louis. Mas para isso precisava
alimentar o ódio da Rebeca, a sede por sangue, fazer ela se tornar imbatível.
— Franziu o nariz. — Meu erro foi não perceber a obsessão dela pelo Kai.
— Você permitiu que a Rebeca me destruísse, só para poder se
vingar do Louis?
Não me surpreendeu, Eleanor nunca foi uma mãe amorosa.
Compreender que fui um dano colateral em seu plano, de certa forma,
aliviou meu coração. Não era por minha causa, não era a mim que ela
odiava.
— Sim. — Encarou-me, inclinando a cabeça de lado. — Fui
obrigada a casar com o Louis, sofri nas mãos daquele miserável, cometi
inúmeros abortos. Ele não me deixava tomar anticoncepcionais, mas se
enfurecia quando eu engravidava. O Kai foi um filho por obrigação para
cumprir os deveres da organização. Você e a Rebeca foram parte de um
acordo entre seu pai e o Kai. Eu sempre fui uma peça manipulável, primeiro
do Louis e depois da Rebeca. — Sorriu triste. — Eu realmente achei que
conseguiria controlá-la, fazer ela destruir o Louis por mim.
— Ninguém podia controlar a Rebeca. — Apertei o encosto do sofá.
— Ela era quem nos controlava, depois de um tempo passei a ser
outra peça de sua manipulação. — Seus olhos brilhavam de raiva. —
Aprendi a me divertir com a maldade dela. Te torturar para eu não ser
torturada. Não sei o que você esperava conseguir vindo aqui, mas não vou
me desculpar.
— Não preciso disso — ergui o queixo — o Louis gostava dela, por
quê?
— Louis sempre foi um narcisista, amava o poder mais do que
qualquer coisa. Ele percebeu quem a Rebeca era, observou as manipulações
dela por anos através das câmeras. E depois da adolescência, quando ela
separou você e o Kai, o Louis cedeu ao impulso dele.
— Impulso? — Minha barriga contraiu com medo do que viria.
— Não sexual. — Franziu o nariz. — O impulso sombrio que o
pedia para trazer a Rebeca para as sombras. Em segredo, o Louis a levava
para um porão secreto, ele deixava a Rebeca torturar pessoas. Eram dois
psicopatas, mas tenho minhas dúvidas, o Louis às vezes parecia ser
controlado pela Rebeca. — Levantou. — Você vai me tirar daqui? A
Rebeca e o Louis não param de aparecer nessa casa. — Levou as mãos à
cabeça. — Os malditos não me deixam em paz. Eu achava que o Kai tinha
matado ele e exilado a Rebeca, por que eles continuam vindo aqui?
E então eu notei.
O pescoço dela estava cheio de arranhões, os braços com
machucados feios de batidas. O cabelo despenteado. Ela vestia uma calça
jeans com meias diferentes, uma blusa cheia de furos, um casaco de grife e
um colar com o pingente quebrado. Observei a casa percebendo a sujeira do
lugar. Cacos de vidro, comida largada, formigas andando para todos os
lados.
— Você está enlouquecendo.
— Não! — gritou. — O que diabos vocês querem agora? — Ela
olhava por cima do meu ombro. — Vão embora! — gritou, se escondendo
atrás do sofá. — Josephine me ajuda — começou a implorar.
Observei a cena sem entender o que acontecia. Em um momento ela
conversava tranquila comigo, era estranho ela responder minhas perguntas,
mas em um instante enlouqueceu. Caminhei dando a volta no sofá, parei ao
lado dela, me agachei, segurei seus ombros observando a mulher à minha
frente.
— Você deveria ter sido a minha mãe. Mas não passou de uma
engrenagem nas mãos de quem me odiava, colaborando com eles para me
destruir. Machucaram a mim e ao Kai. Eleanor, eu nunca vou te ajudar,
fique nessa casa, enlouqueça atormentada pelos seus pecados — sorri — eu
vou voltar para a minha família.
— Você não tem família! — rosnou. — Ninguém te ama, é uma
vadia odiada.
— Eu sou amada. — A visão turvou pelas lágrimas felizes. — Sou
mãe de um lindo menininho, casei com o amor da minha vida. Fiz as pazes
com o meu irmão, conquistei uma nova família e ganhei uma mãe e um pai
de verdade. — Levantei. — Adeus, Eleanor.
Deixei a casa em que cresci escrevendo a última palavra no capítulo
da minha antiga família. Eu era livre e conquistei um mundo novo, cheio de
amor e paz.

Black entrou de férias, Steve estava cuidando das coisas em Las


Vegas enquanto eu aproveitava minha família. O vento forte balançava
meus cabelos. Os prendi com uma “xuxa” no topo da cabeça. Inclinei o
pescoço adorando a sensação do sol esquentando minha pele. Observei as
nuvens brancas no céu azul, sorri para aquela tranquilidade, o som das
gaivotas, a areia arranhando minha bunda coberta por um biquíni
minúsculo. Os peitos fartos no sutiã quase pulando para fora.
Connor completou 1 ano e 8 meses, Black adorava alimentar nosso
filho e o Connor muitas vezes preferia ficar nos braços do pai comendo do
prato dele do que agarrado ao meu peito. Morro de saudade dele buscando
pelo peito, mas aprendi que meu menino está crescendo e tenho que deixá-
lo fazer suas escolhas.
Black brincava com ele chutando uma bola. Connor a agarrou com
os braços brancos e rebolou no pai dando risada sempre que o Black caía na
areia. Retornamos para a casa da nossa lua de mel. Protegidos pela barreira
natural das rochas, aproveitamos sem receios a nossa família. Dei início ao
projeto da tatuagem, fui a um estúdio e combinei que quando o Connor
parar de mamar eu faria a tattoo.
Acrescentei alguns desenhos, queria cobrir as costas com as coisas
felizes da minha vida. Por isso, peguei o celular e tirei uma foto do Black
rindo, agarrado ao Connor segurando a bola e tentando evitar que o pai a
pegasse. A risada dos dois preencheu meu coração, todos os meus dias eram
daquele jeito, cheios de amor.
Meu garotinho se soltou do pai e correu feliz na minha direção,
agarrado à bola, respirando ofegante, gritando a gargalhada, explodindo sua
felicidade para quem desejasse ver.
— Mamãe! — gritou.
Abri as pernas e braços, ele se enfiou entre elas suspirando pesado.
— Ufa, salvo do papai. — Ergueu a bola no ar. — Benci. (venci)
Beijei o nariz dele, me derretendo na fofura da boquinha com os
dentes pequenininhos. Apertei o corpo esguio entre os braços. Connor era
um pouco chato para comer, eu passava horas o adulando para se alimentar.
Somente o Black conseguia fazer o Connor comer sem reclamar. Era uma
ligação especial que eles tinham e eu amava isso.
— Não vale se esconder com sua mãe, rapazinho. — Black apertou
a bochecha do Connor, se agachando na nossa frente.
— Com a mamãe ele está protegido. — Apertei o Connor
esfregando meu rosto no dele.
— Mamãe supleheloina, (super-heroína) — Ergueu os braços
esquecendo da bola. — Papai num pelgaaaaaaaaa (não pega) — começou
a caçoar do pai. Para completar o atrevimento Connor deu língua para o
Black, iniciando uma dança engraçadinha nos meus braços.
— Connor Bonnarro! — Black fez careta. — Eu já disse que não
pode mostrar a língua para o papai.
— A vozinha dilce que polde sim! (Vozinha disse que pode) —
gritou.
— Sua avó tem como missão estragar os netos. — Coçou a cabeça.
— Não pode mostrar a língua, é feio.
— Naum! — Pulou no meu colo.
— Connor — o chamei — não pode mostrar a língua para o papai e
nem para a mamãe.
— Num polde? Mas a vozinha…
— Não pode — falei firme.
— Eu vou conversar seriamente com sua avó. — Black sentou na
areia de pernas abertas. — Vem para o papai. — Abriu os braços.
Soltei o Connor que pulou na direção do pai, parecia um canguru
saltando na areia agarrado a bola. Connor se jogou na perna do Black,
soltou a bola e escalou meu marido ficando nos ombros dele, as mãos na
cabeça e os pés balançando.
— Bola plo mla? (Bora para o mar?) — Connor pediu todo fofinho.
— Vamos. — Levantei, bati a areia da bunda. Black se ergueu com o
Connor nos ombros, ele começou a gritar alegre.
— Vem andando. — Black pegou na cintura dele o retirando dos
ombros e colocou no chão. Segurou uma mão e eu a outra.
Connor acenou em positivo, rindo por saber o que faríamos.
Comecei a andar com o Black, puxei o braço e Black fez o mesmo
erguendo o Connor. Balançamos ele para a frente e para trás. Nosso menino
se acabava de rir, gritando, pedindo para ir mais alto. No mar o jogamos na
água, sem soltar sua mão, ele emergiu cuspindo água.
Amava o sorriso tranquilo e feliz em seu rosto, as pálpebras
apertadas ao redor dos olhos idênticos aos meus, o cabelo caindo sobre a
testa. O amor no rosto do meu pequeno, olhando admirado para mim e para
o Black.
— De novo — pediu.
Repetimos a brincadeira até o Connor cansar e ficar boiando com a
ajuda do pai. O mantivemos entretido na praia até o pôr do sol, depois
entramos, demos banho no Connor bronzeado. Ele estava exausto enquanto
jantávamos.
— Mais uma colher — Black pediu levando a comida à boca dele.
— Soninho, papai. — Encostou a cabeça no peito do pai.
— Ele comeu quase tudo, vamos colocá-lo na cama — falei.
— Certo. — Black deixou a colher no prato quase vazio.
Connor fechou os olhos, se aconchegando no braço do pai.
Deixamos a cozinha, subimos as escadas, abri a porta e Black deitou o
Connor que já usava a roupa de dormir na cama. O pequeno abriu os olhos
sonolento, sorriu e estendeu os bracinhos pedindo o beijo de boa noite. Me
inclinei, beijei sua cabeça sorrindo.
— Boa noite, amor da mamãe.
— Boa nolte, mamãe, te amu. (Noite, amo) — Beijou meu nariz.
Alisei sua cabecinha, me afastei e Black beijou a bochecha do
Connor.
— Durma bem, Connor, o papai te ama. — Alisou os cabelos dele.
— Boa nolte, papai, te amuuuu — cantarolou.
Connor fechou os olhos, enrolei seu corpo, Black colocou o ursinho
que ele deu ao Connor no aniversário de 1 ano debaixo do braço do nosso
filho. Alisou sua bochecha, acendeu o abajur com desenhos de animais e se
afastou. Apaguei a luz do quarto, deixei a porta aberta. Saímos para o
corredor. Segurei a mão do meu marido, sentindo a pele esquentar pelo seu
olhar.
Andei rápido pelo corredor, dei um passo para dentro do quarto
antes de ser puxada para trás. Black colocou seu peito em mim, os braços
ao redor da minha cintura me erguendo no ar. Controlei a risada só até ele
fechar a porta nos isolando do mundo. Com brutalidade ele me arremessou
na cama. Caí ficando de quatro. A mão grossa veio com força na minha
bunda.
— Ai, amor — gemi, empurrando a bunda para cima.
— Ficou usando a porra daquela tira o dia todo sem eu poder te
tocar — reclamou, puxando meu short para baixo. — Faz ideia do que você
faz comigo, Josephine?
Revirei os olhos, eu amava a brutalidade do Black na cama, o jeito
como ele me pegava com força, marcando território, enchendo meu corpo
com seus beijos, as mãos passeando livremente arranhando minha pele. O
pau enorme alargando minha boceta cheia de tesão. Não importava o tempo
que estivéssemos juntos, aquele fogo nunca diminuiria e tinha dias que
parecia que iria explodir nossos corpos causando uma destruição no mundo.
— Abre as pernas, vou comer sua boceta — rosnou como um
macho.
Eu ficava melada com facilidade quando ele falava putaria. Abri as
pernas quase tocando a boceta no colchão. Ergui os braços e puxei a blusa
por cima da cabeça ficando completamente nua.
— Porra de mulher gostosa — rosnou.
Black meteu a língua no meu interior, arranhando minhas paredes
com a barba farta, os dentes afiados e a língua voraz devorando meus
fluidos, sugando como um maldito vampiro.
Era aquele o meu paraíso particular, viver um dia de pura felicidade
com meu filho e depois ser consumida pelo meu homem.
Eu amava a Josephine e era um completo viciado na sua bocetinha
com gosto de fruta cítrica. Ela se tremeu pelas lambidas atingindo um
orgasmo gostoso na minha boca. Puxei o tronco, arranquei a camisa e a
bermuda. Subi na cama sentando contra a cabeceira, abri as pernas com o
pau ereto batendo no umbigo. Josephine virou com o olhar embargado de
prazer. Abriu a boca e engoliu meu cacete entre os lábios fartos.
Apertei os cabelos da minha esposa, aproveitando a deliciosa
sensação da língua habilidosa envolvendo meu membro. Ela chupava meu
cacete, rodeava com a língua a cabeça robusta e inchada, apertava as bolas
nas mãos, fazia movimentos de vai e vem, esquentando meu corpo, me
fazendo alucinar pela liberação do orgasmo.
Quando senti que iria explodir em sua boca ela parou. Passou as
pernas ao redor do meu quadril, segurou meu pênis e desceu o engolindo
centímetro por centímetro.
— Porra, deusa — gemi. — Você acaba comigo quando faz isso.
— Eu sei — respondeu safada, agarrando meus ombros. — Eu amo
te ter dentro de mim.
— Eu amo você. — Apertei sua cintura, metendo contra ela,
chocando nossas carnes. — Você é meu tudo, Josephine.
— Somos nós, amor. — Sorriu contra meus lábios.
— Infinitamente nós — respondi.
Mergulhei naquele mar de paixão que somente Josephine me fazia
sentir.
Eu amo minha mulher e vou continuar demonstrando todos os dias,
a cada vez que a olhar, beijar, e estiver dentro do seu corpo.
Sempre e para sempre a minha Josephine.
E, eu, eternamente o Black dela.
Cinco minutos, era somente isso que eu queria.
Cinco minutinhos para conseguir finalizar a leitura do livro que
iniciei há mais de 5 meses. Meu Deus, quando passei a ser uma leitora que
leva 5 meses lendo um livro de 400 páginas? Eu sabia a resposta para isso.
No dia que meu sexto filho nasceu e comecei a atender como
psicóloga em uma clínica no complexo. Black obrigou todos os homens de
honra e as damas a se consultarem comigo. No início foi estranho para
todos, mas com jeitinho consegui fazer as famílias se abrirem, trazerem os
problemas e mantenho todos trancados na sala. Não importava o que
acontecia, o sigilo de psicólogo e paciente prevalecia.
Às vezes, quando sei que alguém está fazendo algo muito errado,
converso com a vítima para a fazer criar coragem e denunciar. Seguindo a
liderança de Michael Bianchi, as agressões familiares chegaram ao fim. Do
soldado com menor importância aos chefes e associados, ninguém poderia
maltratar a família. Somos a Máfia Bianchi, protegemos os nossos, os
monstros foram todos eliminados.
Sentei escondida atrás da porta do banheiro, abri o livro e comecei a
ler a última página. As palavras saltavam pelos meus olhos com força para
serem consumidas por minha mente. As imagens preenchendo meus
pensamentos, as emoções tomando conta do meu ser. Finalmente ia
acontecer, os protagonistas ficariam juntos.
— OH, MÃE! — Um berro e não vinha do livro que eu estava
lendo.
Preferi ignorar, a Hilary vai ficar bem uns minutinhos sem eu estar
por perto.
— MAMÃEEEEEEEEE! — Ashley começou a berrar e eu soube
que minha paz havia chegado ao fim.
Fechei o livro e saí do banheiro, fiz careta, eu precisava de 5
minutos em paz. Onde estava minha mãe para cuidar das crianças? Hoje era
o dia dela ficar com eles para eu saber o que era ser uma mulher que
conseguia lavar os cabelos sem precisar separar a briga das crianças
pequenas.
Onde eu estava com a cabeça quando deixei o Black me engravidar
6 vezes?! Por sorte, no último parto fiz a cirurgia para parar de ter filhos e
coloquei o safado para fazer vasectomia, não podia arriscar. Para ele era
mais fácil cuidar dos meninos, amavam o pai e viviam o seguindo,
principalmente o Connor. Mas com as meninas era diferente, elas tinham
energia demais, e adoravam implicar uma com a outra para uma hora depois
estarem sorrindo, assistindo tevê juntas e fingindo que nada tinha
acontecido.
Por um tempo eu tive medo das brigas delas, mas depois fui me
acalmando, percebendo que elas eram diferentes de mim e da Rebeca.
Entendi ser normal irmãos brigarem, principalmente os menores com os
mais velhos. O importante era no final do dia todos dormirem após fazerem
as pazes e o amor prevalecer.
Ashley de 10 anos aprendeu a fazer birra para conseguir o que
queria da Hilary, mas a mais velha de 12 anos, nunca cedia com facilidade,
primeiro elas gritavam uma com a outra, depois procuravam por mim para
separar a confusão e por fim entravam em acordo. Para a minha sorte, com
a Destiny, a bebê da casa de 4 anos, ambas não implicavam, adoravam
vestir a irmã como uma princesinha e brincar com ela.
— Mamãezinhaaaaaaaaa. — Destiny entrou correndo no quarto
segurando sua varinha de fada, as asas balançando enquanto ela corria
pelada.
Dei risada já imaginando o motivo dos gritos das meninas. Destiny
subiu na cama, os olhos verdes como os do pai, o sorriso do Black e o nariz
afilado, os cabelos castanho-claros. Enquanto Connor era a minha cópia
fiel, a do Black era a Destiny.
— Lary e Ash tão brigando. — Começou a rir.
— O que você fez, mocinha? — Sentei, alisando seus cabelos.
Ela ficou vermelha e escondeu a cabeça no travesseiro batendo as
pernas animada.
— Roubou meu celular! — Hilary irrompeu batendo o pé. Notei que
ela estava arrumada com roupa de griffe, fez cachos nos cabelos negros
como os meus, as íris verdes do pai deixavam a Hilary com um olhar
perigoso.
— Mãe, a Lary não quer me levar ao cinema também! — Ashley
entrou com uma toalha nos cabelos castanho-claro, os olhos verdes e o rosto
afilado como o meu. Ela usava um vestido de griffe que ganhou
recentemente da avó.
— Você vai ao cinema e eu não sabia? — Arqueei a sobrancelha.
— Vou sair com o William, os rapazes estão em Las Vegas,
esqueceu? — Eu odiava quando ela usava o tom de deboche, franzi a testa a
repreendendo com o olhar. Hilary acalmou a fúria e se aproximou da cama.
— Desculpe, mas eu te disse ontem que o William me chamou para ir ao
cinema. Deixa eu iiiiiiir? Por favor, mãezinhaaaaaaaa.
— Quem mais vai além do seu primo?
— William e eu não somos primos — revirou os olhos — mas o
Richard e Archie vão também.
— Só os rapazes? — Franzi mais a testa.
Eu sabia que tinha alguma coisa acontecendo com o coração da
Hilary pelo William, filho mais velho do Daniel e da Emily. Hilary até
tentava disfarçar, mas não era boa escondendo os olhos brilhando sempre
que via o William, o rapaz de 15 anos não demonstrava interesse amoroso
na Hilary, mas eu tinha minhas dúvidas, afinal, Daniel sempre foi bom em
disfarçar seus sentimentos pela Emily.
Minha amiga tentava arrancar algo do filho, mas nunca conseguiu.
— É um passeio com os irmãos. — Ergueu os ombros.
— E como você foi convidada?
— Will perguntou no grupo quem queria ir, eu disse que topava.
— E por que a Ash não pode te acompanhar?
— Ela é uma criança chata!
— Não sou! — Ash pulou na cama irritada.
— Ashley fazer birra não vai melhorar a situação — avisei,
rapidamente ela sentou. — O William é um rapaz de 15 anos, o Richard tem
13 e o Archie tem 12. Você que vai parecer a criança acompanhando eles —
provoquei, só para ver as bochechas dela em chamas.
— Por favor, mãe, deixa eu ir.
— Eu deixo, mas ficaria feliz se você deixasse sua irmã ir junto.
— Eu devolvo o celular se a Ash for. — Destiny se meteu na
conversa e percebi o plano das safadas.
Ashley mandou a Destiny esconder o celular e só devolver com essa
condição. Mordi o sorriso achando graça do plano elaborado pelas
diabinhas.
— Eu vou enlouquecer! — Connor entrou no quarto, os cabelos bem
arrumados vestindo um terno de três peças com duas gravatas na mão. —
Qual delas eu uso? — perguntou.
— A azul combina mais com seus olhos — Hilary respondeu.
— Também acho — completei. — Você já não deveria ter saído com
seu pai?
— Ele está se escondendo. — Passou a gravata no pescoço. — Meu
pai parece um covarde com medo de me iniciar, já disse a ele que estou
pronto, poxa! Meus tios vieram de Nova Iorque com meus primos somente
para participar da iniciação e o pai fica fugindo. Não sou mais um garoto,
sou um homem de honra!
Michael alterou a idade de iniciação dos garotos, o treinamento
tático com armas e técnicas de combate começavam aos 12 anos, mas
somente aos 14 eles passavam pelo treinamento de tortura. Seguindo os
conselhos do Black, Michael extinguiu os rapazes de serem obrigados a
transar após completarem o treinamento. Era uma nova era para nossos
filhos, os meninos deviam esperar até os 16 anos para iniciar a vida sexual e
as meninas no mínimo até os 18 anos.
Foi uma briga feroz dos Monstros e das Domadoras para decidir a
idade das meninas, os rapazes queriam que fosse depois dos 30 anos, já
casadas. Mas com força conseguimos baixar para 18, elas já seriam adultas
e poderiam tomar decisões por elas mesmas.
Não existiam mais acordos de casamento e eles podiam escolher
com quem se relacionar, desde que respeitando a hierarquia da Máfia e
tomando cuidado ao se envolver com pessoas de fora. Tive minhas dúvidas
se os rapazes aguentariam até os 16 anos. Percebia o Connor explodindo
por causa dos hormônios, ele foi descuidado uma noite, entrei em seu
quarto e o flagrei se masturbando. Fingi que nada aconteceu e mandei o
Black conversar com ele sobre sexo.
Meu marido era um pai presente e muito mole com os filhos, fazia a
vontade de todos, se derretendo por ouvir um “por favor, pai”. Connor
estava quase o obrigando a realizar o treinamento de tortura. Black não
queria machucar nosso garoto e eu entendia o sentimento. Apertava meu
peito imaginar o Connor, Evan de 8 anos e o Ryan de 6 anos passando pelos
treinamentos.
— Não estou fugindo! — Black entrou no quarto com medo na
expressão. Evan correu de toalha para a cama e Ryan pelado se jogou no
meu colo.
— Papai deu banho na gente — Ryan disse — lavou o pintinho bem
direitinho.
— Tó cheiroso, mamãe. — Evan ficou em pé retirando a toalha. —
Quer cheirar?
— Deixa eu ver. — Puxei-o pela cintura cheirando seu corpinho.
Dos irmãos, Evan e Ryan eram os que mais pareciam um com o
outro. Ambos possuem cabelos castanho-claro e olhos negros. Queixo
quadrado, sorriso gentil e um brilho arteiro nos olhos. Viviam juntos, quase
gêmeos inseparáveis.
— Papai! — Ashley chamou. — Diz à Hilary que eu posso ir ao
cinema com ela e os meninos Griffins.
— William não vai ao cinema — Connor falou terminando de dar o
nó na gravata. — Ele tentou te ligar para avisar, mas você não atendeu. O
Daniel vai levar ele para o treinamento, parece que o William precisa
melhorar a mira dele, o tio Kai disse que ia ajudar, mas ele estava ocupado e
o único horário livre seria o do cinema.
— Meu irmão tem ficado em abstinência, o Jasper é um ótimo
atirador, não precisa aprender nada com o pai — comentei, adorava
implicar com o Kai perguntando se ele quer um dos meus meninos
emprestados.
Kai e Daisha tiveram as gêmeas Janine e June e poucos meses
depois ela descobriu a gravidez do Jasper. Os dois preferiram encerrar a
fábrica com 3 filhos, sendo dos nossos amigos os com menos herdeiros, já
que a Hope e Michael tiveram o Ethan, Evelyn e depois ela engravidou dos
gêmeos James e Jason.
— Enquanto o William é horrível — Connor fez fofoca — ele erra
quase tudo, precisa de muito treinamento do tio Kai.
— Não fala assim do Will! — Hilary se exaltou, chamando a
atenção. — Vá para o cinema com os meninos, Ash, eu não vou mais. — E
saiu do quarto.
— O que houve com ela? — Black perguntou.
Pela segurança do William preferi omitir minhas suspeitas. Connor
nunca ia deixar o amigo se aproximar novamente da Hilary se ele
suspeitasse.
— Adolescência — Ash respondeu. — Posso ir?
— Pode — autorizei.
— Oba!
— E vocês três, não vão se vestir? — Black falou com os pelados e
a Destiny.
— Não. — Destiny riu rolando na cama. — Sou uma fada, não
usamos roupas.
— Vá devolver o celular da sua irmã — ordenei.
— Sim, mamãe. — Desceu rapidinho, correndo para fora.
— Vocês dois, vão se vestir. — Bati na bunda dos peladões, eles
gritavam rindo e saíram correndo do quarto.
Connor me encarou pidão, acenei em positivo e levantei da cama.
Beijei meu menino no rosto, o abracei forte, sabendo que passaria um
tempo longe enquanto era treinado.
— Você é o meu orgulho, seja forte, confie no seu pai e volte logo
para casa. — Alisei os fios de barba nascendo no seu rosto. — Eu te amo.
— Também te amo. — Sorriu. — Prometo que vou ser o com o
melhor tempo. — Referia-se ao tempo que Ethan e William aguentaram de
seus treinamentos, os meninos eram amigos, quase inseparáveis como os
pais. Jasper e Connor eram os únicos que ainda não fizeram o treinamento
de tortura e competiam para ver quem aguentava mais sem dizer a senha.
— Tenho certeza disso. — Beijei outra vez seu rosto.
Soltei meu rapaz orgulhosa por como ele cresceu, aos 14 anos
Connor era mais alto do que eu e tão lindo quanto o pai. Um rapaz
tranquilo, dedicado à organização, mantinha seu lado selvagem fora de casa
e distante das irmãs, direcionando a elas somente amor e carinho. Com os
meninos ele brincava quando tinha tempo e ajudava eles a treinarem, os
pequenos também queriam dar orgulho ao pai.
Meus filhos eram extremamente apaixonados pelo Black, o
respeitavam, admiravam e até mesmo a Hilary em sua fase rebelde perdia a
pose após conversar com o Black por algumas horas. Ele era a calma da
nossa família, o porto seguro em que todos nos agarrávamos para descansar
e quando ele ficava sobrecarregado vinha a mim, recebia todo o meu amor e
conforto, recarregando suas energias. Éramos o nó inseparável um do outro.
Segurei o rosto do meu marido, fiquei na ponta dos pés e beijei seus
lábios.
— Amor, o Connor está pronto — alisei sua barba — e você
também.
— Tem razão — encostou a testa na minha — só preciso me
acalmar. — Sorriu nervoso. — Acho que você aguentaria isso melhor do
que eu.
— Não tenho dúvidas. — Comecei a rir.
— Volto logo, minha deusa.
Beijou meus lábios apaixonadamente. Só paramos ao ouvir o
pigarrear do Connor.
— Vamos lá mostrar aos seus primos quem é o melhor. — Black o
puxou pelo ombro.
— Vou acabar com a raça deles. — Sorriu orgulhoso.
Observei os amores da minha vida deixarem o quarto. Meu peito
apertou com medo pelo o que o Connor teria de passar, mas eu confiava no
Black e sabia que ele nunca machucaria nosso filho. Connor receberia o
treinamento, não seria quebrado, voltaria mais forte.
Deitei na cama pronta para continuar a leitura, mas parei vendo o
Connor voltando sozinho.
— Quase esqueci. — Ajoelhou-se no chão, encostando a barriga na
cama e estendendo o pulso para mim. — Quando eu voltar quero fazer uma
tatuagem com você. — Segurou meu pulso ao lado do dele. — A senhora
sempre fala que estamos ligados por um nó do infinito, eu quero tatuar esse
nó no meu pulso e fazer um na senhora e no papai. — Sorriu com os olhos
brilhando. — Ele já concordou.
— Eu vou ficar muito feliz em compartilhar uma tatuagem com
você. — Beijei a ponta do seu nariz.
— Perfeito, preciso ir. — Beijou minha bochecha e correu.
Hilary entrou no quarto chorosa, segurando um pote de sorvete.
Deitou na cama, se acomodou no meu peito e ligou a tevê em uma série
triste. Beijei sua cabeça entendendo que ela estava chateada por não poder
sair com o William. Ash entrou de fininho no quarto, sorriu, usava um
pijama e se jogou na cama abraçando a Hilary pela barriga. Elas eram
assim, brigavam, mas uma estava sempre junta da outra.
A fadinha pelada retornou sorrindo, se jogou na cama e começou a
tomar o sorvete da Hilary, os meninos entraram vestidos, sentaram no chão
do quarto jogando em seus tablets. Sorri para a minha família, não éramos
perfeitos, éramos reais. Pessoas cheias de sentimentos, personalidade e
unidas pelo nó do infinito. Eu tatuei momentos felizes no meu corpo, virei
quase um quadro, não resistia quando a imagem surgia na minha mente e a
colocava nas costas.
Infinitas linhas vermelhas contando a história da nossa família, a
tatuagem com o nome dos meus filhos, escrevendo no meu corpo os
momentos preciosos para nós.
Eu era feliz.
Eu era amada.
Eu tinha uma família enorme que não se restringia aos laços de
sangue, se entrelaçando pela alma.
Eu era uma mãe amada.
Eu tinha um marido espetacular me enchendo de amor todos os dias.
Eu tinha amigas preciosas.
Eu era respeitada na organização.
Hoje eu sei quem eu sou.
Eu sou o amor e a felicidade.
Eu sou Josephine Bonnarro.

FIM!
Bônus Máfia Bianchi
Hope
Pelo canto do olho observei o Ethan seguindo a Janine para a
cozinha da mansão. Eles estavam ficando cada vez mais ousados. Era
aniversário de 18 anos do meu filho e eu sabia que o presente que ele queria
ganhar era o beijo da Janine. A filha do Kai cresceu se tornando uma linda
mulher, tão espetacular quanto a Daisha.
Aos 16 anos ela mal conseguia disfarçar que tinha namorado o Ethan
escondido. Se o Kai descobrisse iria querer fazer picadinho do meu filho.
Eu disse a ele para contar a verdade e pedir a permissão do Kai para
namorar a Janine, mas o Ethan queria esperar completar 18 anos, ser um
homem de honra e poder confrontar o Subchefe. Com o fim dos casamentos
por contrato, ele sabia que teria de provar seu amor para receber a benção
do Kai.
— Hope. — Daisha indicou com a cabeça apontando na direção dos
dois.
— Eu vi.
— Vamos seguir eles? — Emily sorriu maldosa.
— Sabe que seremos as tias chatas se fizermos isso — Josephine
respondeu colocando a taça de champanhe na bandeja do garçom. — Me
sigam, meninas.
Dei risada, eu amava o jeitinho da Phine.
Busquei pelo meu marido o encontrando reunido com os amigos
perto das janelas de acesso ao jardim. Sorri para ele e segui minhas amigas.

Michael
— Acho que as meninas vão aprontar alguma coisa. — Bebi um
gole do whisky, procurei pelo Ethan na sala não o encontrando, a Janine
também sumiu.
Estava esperando ele falar comigo, confessar seus sentimentos pela
filha do Kai. Imaginei que tomaria coragem depois dos 18 anos, pelo visto
preferiu se esconder com a jovem, aproveitar mais um pouco da paixão
juvenil. Encarei o Kai percebendo que ele também buscava pela esposa
sumindo no corredor.
— Quando elas não aprontam? — Daniel perguntou.
— Quando estão dormindo — respondi, arrancando risada deles.
Os anos passaram tranquilos, mas aquele quarteto liderado pela
minha esposa continuavam mostrando sua força, fazendo o que queriam e
trazendo novas revoluções à organização.
Eu amava quando a Hope trazia suas ideias e sentava no meu colo,
conversando tranquilamente. Hope era a minha companheira, dividíamos
tudo, inclusive o conhecimento sobre a paixão secreta do Ethan pela Janine.

Daisha
Eu me divertia com a paixão da Janine pelo Ethan. Ela sempre corria
para o meu quarto contando como foi o encontro secreto com o rapaz.
Ethan era respeitador e apesar deles se encontrarem desde os 14 anos da
minha menina, nunca tinham ultrapassado os limites. Deixei eles viverem o
amor de adolescente, confiava na Janine e sabia que ela nunca faria nada
para me decepcionar ou instigar o Kai a matar o Ethan.
Josephine apertou minha cintura sorrindo travessa. Ela também
acobertava um romance secreto em sua casa. A diferença era que o William
e a Hilary moravam a quilômetros um do outro e mal podiam se ver. A
pedra de gelo idêntica ao meu irmão era bom em esconder os sentimentos,
só descobrimos da relação porque a Josephine contou.
Diferente do Ethan e da Janine que não se incomodam em dar na
cara que tinha algo acontecendo entre eles. Torcia para ela e o Ethan serem
felizes. Eles teriam a chance que nenhuma de nós teve, de se conhecerem,
namorar antes do casamento e decidirem juntos se desejavam a união.

Emily
Virei no corredor, mas parei retornando ao salão a tempo de ver o
William fazendo sinal de cabeça para a Hilary. Enquanto minhas amigas
focavam no casal se formando à nossa frente eu captei as intenções do meu
filho. Mordi o lábio adorando que o William, diferente do Daniel quando
iniciamos nossa relação, fazia o que podia para ficar perto da Hilary. Ele
sempre pedia para passar as férias em Vegas, ficava na casa dos Bonnarro e
me garantiu que nunca desrespeitou a Hilary.
Os rapazes da nova geração pareciam ter uma pré-disposição a
esconder os relacionamentos, acho que eles gostavam da emoção do perigo.
Não posso culpá-los, lutar por amor alimenta a alma de uma forma
inexplicável. Voltei a seguir as meninas. Paramos em frente a porta da
cozinha, abrimos uma pequena brecha, o suficiente para ver o safado do
Ethan segurando a Janine pela cintura, com a mão no queixo dela se
preparando para um beijo.

Kai
Seguimos as meninas sem elas notarem nossa presença no corredor.
Quando pararam espiando dentro da cozinha eu sabia que não era boa coisa
escondida ali. Janine e o Ethan tinham sumido e isso me deixava
preocupado. Espalmei a mão por cima da cabeça da Daisha empurrando a
porta de madeira. Quase enfartei ao ver o Ethan beijando a Janine.
— Eu sabia que te pegava, seu safado! — Invadi a cozinha como um
trem desgovernado. — Tira as mãos da minha princesa!
Eu tive uma leve desconfiança de que acontecia algo entre eles, mas
preferi esperar o Ethan criar coragem e vir falar comigo. Mas não ia
permitir tamanho desrespeito. Meti a mão na gravata dele o puxando para
longe da Janine. Eu amo esse menino e não me incomodava a relação, mas
o farei sofrer por ter se agarrado escondido com minha filha.
— Vou arrancar suas bolas!
— Calma, tio Kai. — Ergueu as mãos sem um pingo de medo,
apenas surpreso.
Eu sabia que tinha perdido a fama de cruel com esses moleques e
agora pagaria o preço.

Daniel
Puxei a Emily pela cintura, observando o Kai quase arrancando as
orelhas do Ethan enquanto o Michael, Hope e Daisha tentavam fazer o
possessivo soltar o herdeiro Bianchi.
— Você sabe que o Black vai querer fazer isso com o William se ele
encontrar nosso menino e a Hilary no jardim — sussurrei no ouvido da
minha esposa.
— Verdade — girou nos meus braços — vamos avisar a eles?
— Não, deixa os dois acharem que nos enganam. — Sorri.
— Gostei da ideia. — Sorriu marota.

— Solta meu filho, Kai — Michael pediu.


— Esse moleque acha que pode ficar se agarrando com a minha
filha, quero ver ter colhões para me encarar — Kai respondeu, encostando o
nariz no do Ethan.
— Tio, não é como você imagina. — Ethan permaneceu tranquilo.
— Eu gosto da Janine…
— E por que não falou antes?
— O senhor ia deixar ela namorar antes dos 18 anos?
— Não!
— Por isso. — Ergueu os ombros.
— O Kai não vai conseguir manter a pose. — Josephine agarrou
meu braço rindo baixinho.
— Ele é mole com o Ethan — comentei. — Cadê a Hilary? Não a vi
na festa.
— Amor, lembra que tem coisa que só fica entre mãe e filha?
Ergui a sobrancelha. Encarei o Kai soltando o Ethan, a Daisha
envolvendo a Janine pelos ombros cochichando em seu ouvido, cúmplices.
Ela sabia do caso da filha e não falou nada. Encarei Josephine percebendo o
significado oculto de suas palavras. Meu coração disparou e corri para fora,
iria encontrar quem era o desgraçado com as mãos na minha menina!

— Emily, corre — avisei a minha amiga indo atrás do meu marido.


Black chegou ao salão, buscou pela Hilary e não a encontrou. Como
se fosse um cão farejador saiu em direção ao jardim. Eu sabia que não tinha
como impedir, por isso corri atrás para dar cobertura à nossa filha.
— Não acredito que o William fez isso — Daniel reclamou indo
atrás do Black, não acreditei em sua falsa inocência.
Encarei a loira correndo ao meu lado pela sala, demos risada, era
divertido ver como a nova geração lidava com as coisas.
— Hilary! — Black gritou o nome da nossa filha no jardim.
Passei pela porta de vidro e fiquei aliviada ao ver que a Hilary e o
William só estavam conversando observando as flores. Um assassinato foi
evitado, mas não sabia por quanto tempo. Black marchou para perto deles,
corri parando na frente do ciumento.
— Se controle, se você a envergonhar sabe que ela vai ficar com
raiva de você — o lembrei.
— Aconteceu algo? — Hilary se aproximou.
— Sim! Vamos dançar. — Black a puxou pela mão.
Dei risada, sabendo que ele nunca conseguiria fazer nada para irritar
a sua princesinha.
Aquela noite foi uma bagunça de casais sendo revelados. Apressei o
passo para entrar, precisava descobrir qual seria o destino do Ethan e da
Janine.
Eu amo fazer parte da Máfia Bianchi e estava ansiosa para ver os
caminhos que a vida dos nossos herdeiros iria tomar. Aquele não era o final,
apenas o começo de novas histórias de amor no mundo da máfia.

Agora é o fim ou será um até breve?


Obrigada minhas lindas leitoras por fazerem parte do processo de
criação da Máfia Bianchi, obrigada a todas as meninas apaixonadas que
mandam mensagens todos os dias no meu Instagram, obrigada a todas as
lindas que comentam nos posts e um enorme obrigada a cada menina que
faz parte do grupo ISAVERSO. A diversão diária com vocês, por muitas
vezes, é o que me motiva a continuar escrevendo mais um pouquinho para
trazer o lançamento o quanto antes.
Obrigada Emily Bianchi por ter sido a primeira personagem da
Máfia Bianchi a sussurrar no meu ouvido sua história. Hoje é 27/02/24 e eu
lembro como se fosse ontem a Emily em pleno janeiro de 2023 sussurrando
sua história para mim e a vontade que tive de lançar Intocável em março.
Infelizmente, não consegui cumprir aquele objetivo, mas Michael e Hope
chegaram em agosto de 2023 na Amazon e mudaram o meu mundo por
completo. E hoje, finalmente, meu lançamento de março será com Ferida
pelo Mafioso, fechando um lindo ciclo e me enchendo de orgulho por
insistir na série da Máfia Bianchi e tudo que conquistei com ela.
Sou muito grata a minha equipe, que diariamente surta comigo.
Hylanna Lima, minha querida assessora, leitora beta e a fã número 1 de
Josephine e Black. Jackeline Siqueira, minha gestora de tráfego e mais uma
louca pelos Bianchi, sou sortuda por trabalhar com profissionais
apaixonadas pela minha escrita como vocês duas. Camila Brinck pela
revisão do livro, realizando um trabalho impecável. A minha querida ADM
Dara Nogueira, que transforma os dias no ISAVERSO os deixando mais
divertidos. E a psicóloga Delourdes Bárbara Santos pela consultoria para
que eu conseguisse desenvolver os traumas do Black e da Josephine.
E obrigada a minha família por acreditarem em mim.
Se você chegou até aqui, por favor, não esqueça de fazer a avaliação.
Poucas palavras servem para demonstrar o quanto vocês gostaram da obra.
Obrigada pelo seu apoio e até a próxima aventura!
Intocável para o Mafioso
Primeiro Livro da Máfia Bianchi
Hope Bonnarro é filha do Capo de maior influência da Máfia
Bianchi, organização que domina o submundo dos Estados Unidos. Ela
cresceu seguindo três regras: não pode se apaixonar, casar ou chamar a
atenção em troca conseguiu a liberdade para cursar Medicina na
universidade. Um ataque ao comboio que faz a sua proteção coloca a vida
de Hope em risco quando seu irmão é gravemente ferido e seu pai não pode
ir resgatá-la.
Michael Bianchi é o próximo Chefe e precisa de uma aliança com o
Capo Bonnarro, quando a oportunidade surge ele faz uma oferta, o resgate
de Hope em troca dela ser sua esposa. Sem saída Bartolomeu Bonnarro
aceita o pedido. Michael é habilidoso ao resgatar sua futura noiva, levando-
a para a segurança do seu território, mantendo em segredo o acordo de
casamento, a pedido do Bartolomeu.
Hope sabe que Michael esconde alguma coisa dela e enquanto tenta
manter as promessas que fez a sua família, escondendo os terríveis segredos
que podem causar a destruição dos Bonnarro, ela terá de lidar com o
charme imbatível e humor sombrio de Michael Bianchi. Um homem
sedutor que não está disposto a esperar que Bartolomeu conte a verdade
sobre o acordo à filha, antes de provar os doces lábios de sua noiva.
Entre segredos, brigas, sedução, mistérios e a construção de uma
relação que pode se transformar em algo mais, os inimigos que querem
capturar Hope não cessam a sua perseguição.
Michael Bianchi está disposto a varrer o país destruindo a todos que
ousem tocar em sua noiva, pois Hope Bonnarro é intocável para o mundo e
pertence somente a ele.
(Clique aqui para ler agora!)
Apaixonada pelo Mafioso
Segundo Livro da Máfia Bianchi
Daniel Griffin foi criado e forjado para ser o melhor Consigliere da
Máfia Bianchi. Sombras, caos, ódio e destruição são os rastros deixados por
onde passa. Um homem sem emoções, insensível e cruel em sua forma
pura, ele não pretende mudar, gosta de quem é e as coisas terríveis que faz,
o divertem.
Existe uma única exceção em sua vida sombria: Emily Bianchi.
Daniel se recusa a casar com Emily e fará de tudo para a proteger de
si mesmo, inclusive negar a vontade de que ela seja sua. Colocando em
risco sua posição como consigliere e gerando disputas pelo cargo com os
irmãos ambiciosos e dispostos a tudo para vê-lo cair.
Emily Bianchi cresceu em meio ao sofrimento imposto por seu pai e
jogada em um poço sem esperanças. Ela não tinha mais vontade de
continuar vivendo, até ele aparecer.
Emily se apaixonou por Daniel e por anos nutriu a vontade de ser
dele. Determinada a ter seu anseio realizado, ela lutará com todas as armas
para fazer Daniel casar-se com ela, mesmo que para isso ela precise quebrar
um tabu da Máfia. Astuta, convicta e pronta para jogar sujo, Emily fará
Daniel perceber que ela pode dançar ao seu lado em meio ao caos.
(Clique aqui para ler agora!)
Perseguida pelo Mafioso
Terceiro Livro da Máfia Bianchi

ENEMIES TO LOVERS — Ele odeia a todos, menos ela — Ela


fará de tudo para fugir dele — Casamento forçado — Romance na
máfia — Age Gap — Hot de milhões

Kai Lucian
O novo Subchefe da Máfia Bianchi, carrega consigo um passado
doloroso. Atormentado pelo pai abusivo, Kai foi forjado em dor e
sofrimento, aprendeu a se defender usando uma máscara, exibindo o seu
pior lado para o mundo. Dotado de uma péssima reputação com as damas
da Máfia Bianchi, cafajeste, sarcástico e malvado. Mas escondendo os seus
verdadeiros sentimentos para proteger quem ele ama.

Daisha Griffin
Ela cresceu em um lar difícil, desde criança era repreendida pela
mãe e não conseguia expressar o que sentia. Nunca se sentiu amada ou
querida por sua família e se fechou em uma concha para se proteger do
mundo da Máfia, ela odeia a sua família, a sua vida e anseia, mais do que
tudo, ser capaz de fugir.
Por anos, Kai Lucian foi um dos responsáveis por fazer Daisha odiar
a si mesma.
Entre revelações, descobertas, sofrimento e muita sedução entre
duas almas que, no fundo, só querem ser amadas e livres. A construção de
um amor é ameaçada pelos demônios ocultos tramando a destruição do
casal, Kai verá o seu mundo ruir diante de seus olhos e Daisha será a única
capaz de fazê-lo continuar vivendo, mas somente se ela for capaz de aceitá-
lo.

ATENÇÃO: Esse é o terceiro livro da Série Máfia Bianchi. Você


pode escolher ler ele separado dos dois primeiros livros ou fazer a leitura
dos livros anteriores. A experiência de leitura não será afetada se optar por
ler Perseguida Pelo Mafioso primeiro. Gatilhos estão avisados na nota da
autora. Livro para maiores de 18 anos.
(Clique aqui para ler agora!)
Nem acredito que esse dia chegou. Dizer adeus ou até mesmo um
“até breve” para esses personagens que conquistaram o meu coração é uma
tarefa muito difícil.
A Isa conseguiu criar um universo tão único e espetacular que chego
a me perguntar se realmente Michael, Hope, Daniel, Emily, Kai, Daisha,
Black e Josephine não existem de verdade.
Amei fazer parte do processo de construção desta série e por ter
colaborado com o nascimento de uma autora tão fantástica como a Isadora
que tem um talento admirável.
Muito obrigada por tudo Isa, e vocês leitores queridos nos vemos em
breve no próximo trabalho.
Beijos no coração!
Hylanna Lima
Isadora Almeida é uma autora nordestina que com persistência e
força conseguiu realizar seu maior sonho, ter um livro publicado na
Amazon para várias leitoras poderem ler, se apaixonar e pedirem por mais.
Pisciana, sonhadora e com uma vontade louca de escrever, ela promete
trazer cada vez mais histórias apaixonantes, reflexivas e comoventes para
suas leitoras.
Siga a autora em sua rede social para saber todas as novidades.
@autoraisadoraalmeida
Por favor, deixe sua avaliação, ela é muito importante e irá me
ajudar a melhorar como autora. Muito obrigada!

Beijos,
Isadora Almeida

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