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Josephine Lucian foi ferida pela organização, pela sua família e pelo
homem que ela amava. Cansada de mendigar pelo amor do homem que a
rejeitou, ela criou barreiras ao redor de seu coração e estava disposta a tudo
para manter Black Bonnarro longe de sua vida.
Black Bonnarro, o Capo de Nevada, o mais poderoso território da
Máfia Bianchi, estava arrependido por ter julgado errado Josephine. Ele
acreditou que ela era a vilã, quando na verdade era a vítima, que
inocentemente teve seu amor rejeitado por Black. O perigo rondando a
Máfia Bianchi obrigou o Black a tomar uma decisão. Ele precisava se casar
com Josephine Lucian para estabelecer o seu poder na organização e focar
na destruição de seus inimigos.
Black nunca imaginou o quanto seria difícil fazer Josephine ceder a
ele e a convencer de que o seu arrependimento era sincero. Ela tem medo de
estar sendo manipulada e ele lutará para mostrar a verdade em suas
palavras. Entre brigas e entregas, uma química explosiva, mesclada ao
carinho e a proteção, prometem abalar o mundo de Josephine e Black.
A vontade de ser amada será maior que a luta para proteger o seu
coração de novas feridas? Black conseguirá o perdão de Josephine, após
anos a mantendo distante?
Um poderoso inimigo se esconde nas sombras prometendo trazer o
caos à Máfia Bianchi.
Atenção: Último livro da série Máfia Bianchi. Você pode escolher
lê-lo separado dos outros livros. A história dos irmãos Lucian se entrelaça e
você pode optar por ler primeiro o 3° livro. Mas te garanto, se escolher
iniciar pelo 4° sua experiência de leitura não será afetada. Gatilhos estão na
nota da autora.
— Erga o queixo.
Fiz como me instruiu, erguia o queixo mostrando meu pescoço,
segundo o senhor Smith o segredo da minha beleza é o meu pescoço altivo
e fino. Resultado da rigorosa dieta imposta pela Eleanor, para ela é
impensável que as filhas pesem mais do que 40 quilos.
— Ainda não está bom. — Ele engrossava a voz conforme ficava
impaciente com as horas passando e o resultado esperado não vindo.
— O que devo fazer? — perguntei, trocava de peso de uma perna
para outra, cansada pelo tempo em pé no estúdio de fotos.
O cenário era um jardim, minhas roupas brancas com detalhes em
bordado, um vestido exibindo meu pescoço e parte do discreto decote entre
o vão dos seios. As joias da marca do Smith penduradas no meu pescoço,
orelha, pulso e dedos, me sentia um manequim em exibição.
— Vamos tentar mostrar um pouco mais do decote. — Ele se
aproximava, e eu recuava um passo com medo dele me tocar.
Eu odiava como o Smith me encara. Ele tentava esconder suas
intenções por trás de sorrisos gentis e fala mansa, mascarando o desejo
ardendo em seus olhos negros. O homem de mais de 57 anos possuía
cabelos negros e encaracolados com fios brancos, um corte elegante,
trajava ternos sob medida cobrindo a pele marrom-dourada.
Agia com sutileza ao se aproximar de mim, tentava me manter por
perto e não me assustar. Eu estava sempre atenta a cada um de seus toques
impróprios, os evitando como conseguia. Meu pai, Louis Lucian o Subchefe
da Máfia Bianchi, deixou claro, eu não podia causar confusão com o Smith
ou seria severamente castigada.
— Smith! — A voz severa reverberou pelo estúdio, meu irmão mais
velho dava passos firmes na nossa direção. — Acho que por hoje já
podemos encerrar. Josephine vai para a escola.
— Tenho um contrato com o Lucian, posso usar a Josephine o
quanto eu quiser. — O homem ignorava meu irmão, erguia a mão para a
alça do meu vestido.
— Não foram esses os termos. — Kai agarrou o pulso do Smith,
ficando entre a gente.
— Algum problema? — O homem puxou a mão do aperto do Kai,
encarava meu irmão de frente, o desafiando a tentar o contrariar.
Olhava as costas do meu irmão sentindo uma dor no peito ao
lembrar da briga que tivemos no mês passado. Desde aquele dia Kai e eu
paramos de conversar. As coisas mudaram na nossa casa, me sentia
sozinha, sem poder contar com ninguém. Eu era obrigada a vê-lo
interagindo com a Rebeca, aquela maldita recebia atenção e amor dos
nossos pais. E após muitas armações conseguiu me separar do Kai.
Ele era um idiota, não enxergava a verdade na sua cara.
Eu estava cansada de lutar para receber a atenção do Kai, não
conseguia entender o motivo da Rebeca ser sua irmã preferida. Magoava
saber que ele não me procurou após a discussão. Ele esteve com ela,
enquanto eu sofria sozinha.
Piscava tentando esconder as lágrimas, relembrar daquela noite
magoava meu coração. Meu relacionamento com ele mudou drasticamente
após o acontecimento e eu decidi que nunca mais tentaria me explicar para
o Kai ou qualquer outra pessoa. Farei o que eu quiser, independentemente
das consequências, não deixarei a vadia da Rebeca me manipular.
— Sim. — Kai segurou meu pulso. — Estamos indo embora.
Ele não esperou por uma resposta, puxou-me como se eu fosse uma
boneca para longe do estúdio enquanto o Smith bufava alto atrás de nós.
Fui para o meu camarim, removi as joias e o vestido pesado sentindo um
aperto no peito. Por que ele agiu para me defender do Smith, mas era
incapaz de me proteger da Rebeca?
Engolia o choro, não me permitia desabar.
Eu tinha vontade de conversar com o Kai, contar a ele sobre o meu
dia, meus medos e meus desafios. Mas meu irmão me ignorava, passava
por mim na nossa casa como se eu não existisse. Matando meu coração a
cada dia.
Eu não tenho amigas, no novo colégio Rebeca conseguiu com
facilidade fazer amizades. Da Máfia somente Emily e Daisha estudavam
comigo, mas ambas se mantinham distantes. Emily presa em seu próprio
mundo sem interagir com outras pessoas, os olhos dela revelavam uma
tristeza profunda após a morte da mãe.
Era difícil ouvir a Daisha falando ou puxando assunto com outras
meninas. Eu tinha vontade de me aproximar delas, mas nunca encontrava
uma oportunidade. Mesmo afastadas da turma, elas andavam juntas,
conversavam e se apoiavam. Possuo medo de ser rejeitada por elas, como
sou pela minha família, mesmo ansiando pela companhia de ambas, me
mantenho distante.
Antigamente, costumávamos conversar, interagíamos nas reuniões
da famiglia, a Rebeca, também fazia parte do nosso pequeno ciclo de
amizade. Mas após a morte da Hannah, mãe da Emily, as coisas mudaram.
Ela se afastou, Daisha tímida demais não se aproximava sem incentivo e eu
reprimida pela Eleanor tinha de me manter longe.
— Josephine — Kai bateu na porta — precisamos ir.
— Certo — respondi, terminei de abotoar o meu vestido, saí do
camarim, meu irmão seguiu na frente sem dizer mais nada.
Entrei no carro, meu segurança dava a partida, Kai nos seguia com
a sua moto. Meu irmão dificilmente andava de carro, somente quando é
obrigado para compromissos da organização. Seguimos para o complexo,
uma grande propriedade murada abrangendo os prédios e casas da Máfia
Bianchi, protegido 24 horas por dia.
O lugar que sou obrigada a morar.
As coisas costumavam ser mais fáceis quando eu podia contar com
o Kai. Nada conseguia me machucar desde que eu estivesse presa entre
seus braços, sentindo o amor do meu irmão. Esse tempo acabou, manchado
pelas minhas brigas com a Rebeca e com o Kai escolhendo ficar ao lado
dela.
O carro estacionou em frente à casa dos Lucian, minha desgraça de
família, descia de cabeça baixa. Subi os degraus para a porta de entrada,
girei a maçaneta me preparando para entrar, mas fui impedida por uma
mão segurando meu pulso.
— Eu tenho uma reunião agora, mas preciso conversar com você —
Kai falava. Encarei meu irmão observando seu rosto preocupado.
— O que foi? — respondi seca.
— Com seu trabalho como modelo você se tornou o rosto da
organização, a marca do Smith é famosa em vários países e as fotos que
você fez estão sendo veiculadas por diferentes lugares. Sábado é seu
aniversário e muitos associados vão comparecer, inclusive o Smith. — Ele
me encarava com intensidade. — Eu não quero você sozinha com esse
homem, não deixe ele te tocar como fez hoje. Ser a modelo da marca dele
não dá nenhum direito sobre você. Entendeu?
— Certo. — Acenei.
Ele ainda se preocupa comigo?
Fiquei com dúvida, Kai e eu mal conversávamos, ele me
acompanhava para as sessões de fotos, mas era somente isso.
— Você chegou! — A voz enjoada atravessava meus ouvidos me
causando enjoos.
— Oi, Beca. — Kai sorriu para a Rebeca a envolvendo em um
abraço.
— Senti sua falta. — A aprendiz de capeta falava com o rosto no
peito do Kai.
Ele não sorria mais para mim, somente para ela.
Revirei os olhos, entrei sentindo o ambiente sombrio da casa.
Recusava-me a presenciar as trocas de afeto entre o Kai e a Rebeca. Não
pretendo me torturar mais do que o necessário. Subi para meu quarto com
rapidez, tranquei a porta e deitei na cama, puxei o livro da mesa de
cabeceira mergulhando na leitura e esquecendo o maldito mundo ao meu
redor.
A semana passava rapidamente, estudava e lia trancada em meu
quarto me recusando a encontrar os membros da minha família. Eleanor
era obrigada a organizar meu baile de debutante. Oficialmente, eu seria
apresentada à sociedade como uma dama da Máfia Bianchi, achava essa
merda cansativa e desnecessária.
Uma tradição da Máfia Bianchi, todas as damas debutavam aos 15
anos — um ano antes da tradição americana sweet 16 —, em um baile para
sermos exibidas. Para garotas americanas normais a festa de debutante
aos 16 marcava o início da sua vida como adulta, elas podiam dirigir,
trocavam a sapatilha pelo salto alto, deixando de ser menina para ser
mulher.
Na famiglia o significado era outro e por isso acontecia um ano
antes. Antigamente, até os anos 1990, as meninas da organização casavam
com 15 ou 16 anos. O baile de debutante era para o noivo fazer o pedido
oficial diante da organização e poucos meses depois firmava a união. Hoje
em dia, seguindo as regras sociais, casamos aos 18 anos, os bailes de 15
servem para sermos exibidas e as propostas de casamento feitas.
— Coloque o vestido — Eleanor ordenou, erguendo a peça branca.
— Lembre-se, Josephine, hoje você deve demonstrar pureza como o seu
vestido. Não cause nenhuma cena e se porte como uma dama ou eu juro
que quebro seu braço quando voltarmos.
Ela não estava mentindo, Eleanor era malvada comigo, adorava me
bater pelo menor dos motivos. Acenei em positivo sem forças para brigar
com ela, eu queria chegar ao fim desse dia sem acontecimentos. Coloquei o
vestido branco com enchimento na saia, a maquiadora e a cabeleireira
trabalharam por horas para me deixar bonita.
Nunca dei muita importância para aniversários e esse seria o
primeiro que passarei sem falar com meu irmão. O que contribuiu para a
minha vontade de não comemorar, aumentar gradativamente.
Eu não gosto da minha aparência, sou magra demais, a pele
amarela pela falta de vitaminas, olhos cansados e sem vida. A única coisa
bonita em mim é o meu cabelo, grande e preto, brilhante e macio. Eu amo
meus cabelos, e odeio o resto do meu corpo marcado pelas surras recebidas
dos meus pais.
— Vamos. — Eleanor puxava meu pulso me forçando a andar atrás
dela. Tinha vontade de me soltar, revidar, dizer o quando a odeio e preferia
morrer a passar por essa tradição ridícula, mas fico calada a seguindo
para o carro.
O salão de festas ficava no complexo, em menos de 10 minutos
chegamos a ele. Desci com a ajuda do segurança, segurava meu vestido
para não o arrastar no chão. Como uma boneca de pano, fiquei ao lado
dos meus pais enquanto o Louis dava as boas-vindas aos convidados e me
apresentava como sua filha.
Fui obrigada a ficar em pé no centro do salão, as luzes focadas em
mim causavam cegueira. Eu ouvia as pessoas cochichando, a voz do Louis
reverberando pelas caixas de som, os olhares me analisando. Minha avó
paterna franzia o nariz enquanto deslizava a visão no meu corpo,
desaprovando minha roupa e minha aparência.
Busquei pelo Kai na multidão, mesmo com raiva dele precisava
sentir que alguém ali não estava me julgando. Encontrei meu irmão ao lado
da Rebeca, ela sussurrou algo para ele o fazendo rir. Acho que ele sentiu
que eu o encarava, pois fixou o olhar em mim, perdendo o divertimento das
feições.
Não existia uma única pessoa nesse salão que gostasse de mim, não
conseguia entender o motivo de precisar passar por isso. Louis finalizava
seu discurso e Smith vinha na minha direção. Apertou a mão do meu pai
que sorriu para ele, agarrou minha mão me fazendo segurar a do Smith.
— Dance comigo, Josephine. — Smith derretia segundas intenções
em sua fala, o olhar letal se fixava no meu busto.
Sem escolha segurei sua mão, ele agarrou minha cintura com
firmeza me forçando a encostar o busto no seu peitoral. Smith era mais
alto, minha cabeça batia na altura do seu ombro. Eu senti arrepios na
coluna, ele cheirava meus cabelos enfiando o nariz entre os fios presos no
topo da cabeça. A ânsia me atacava fazendo meu estômago encolher.
Eu estava com medo.
— Você não faz ideia do prazer que é tê-la em meus braços — ele
sussurrou — a partir de hoje seu irmão não estará mais presente nos
ensaios, será somente eu e você.
Estanquei no meio da dança, encarava Smith sentindo a maldade
emanando de seu corpo. Sua intenção nunca foi me ter como sua modelo e
agora posso perceber isso. Como uma salvação do destino a música
acabou encerrando nossa dança. Meu coração batia enlouquecido dentro
do peito, me soltava do Smith com rapidez, sem esperar ele dizer mais
nada, deixei a pista de dança.
— Para onde vai? Garota mal-educada. — Minha avó agarrou meu
braço impedindo minha fuga.
— Ao banheiro — respondi baixinho, sentia a necessidade de
desaparecer corroendo em minhas veias.
— Não demore, ainda tem muitos homens para você dançar.
Acenei em positivo, segurava meu vestido, as passadas apressadas
na tentativa de não correr para fora do salão. Respirei aliviada ao entrar
no corredor para os banheiros. Adentrei no toalete, me tranquei em uma
cabine respirando devagar ao processar o que tinha acontecido.
Eu não podia continuar perto daquele homem, precisava fazer
alguma coisa para deixar de ser sua modelo. E se ele me pedisse em
casamento? Tremi com a mera possibilidade de me unir àquele homem
asqueroso.
Vozes no banheiro me alertaram de que eu não podia continuar aqui
por muito tempo. Inspirei fundo, levei a mão ao peito acalmando meu
coração. Eu daria um jeito de fugir dessa situação, nem que precisasse
implorar pela ajuda do Kai. Deixei a cabine encontrando duas mulheres de
frente ao espelho retocando a maquiagem.
— A estrela da noite — uma delas falou. — Parabéns, querida, você
está linda. — Ela segurava meus braços ao me beijar nas bochechas. —
Uma sortuda por ter os olhos do Smith em você, faz ideia do quanto esse
homem é rico? Eu queria ser mimada por ele — achei ridículo o bico que
ela fez — andaria cheia de joias, uma verdadeira dama.
— Para. — A outra bateu em seu braço. — O máximo que ele nos dá
é uma foda. — Fez biquinho, ela me encarava com inveja. — Aproveite,
querida, aquele homem é poderoso!
— Com licença — limitei-me a dizer.
Como elas poderiam achar normal um homem naquela idade
cobiçando uma adolescente?
Deixei o banheiro atordoada.
— Achei você — paralisei.
Smith sorriu, abotoava o paletó, aproximava-se lentamente de mim.
Recuei dois passos, o medo pelo que ele poderia fazer comigo deixava
minhas pernas pesadas, tornava cada passada um desafio. Pressionei os
lábios sem saber qual atitude tomar. Ele não seria louco de tentar alguma
coisa com o salão lotado de membros da Máfia. Louis pode estar me
entregando em uma bandeja para esse homem. Mas ainda existem regras
na organização, uma dama não pode ser tocada e deve casar virgem.
O Smith não pode romper essa tradição.
— Vamos voltar para o salão — disse a ele, engolia em seco para
não vacilar a voz.
— Podemos demorar um pouco — se aproximava lentamente —
tenho muitas perguntas para a senhorita.
— Imagino que o Subchefe possa responder a todas. — Assustei-me
ao bater as costas na parede, encurralada.
— Ele já me deu todas as respostas que eu desejava. — Smith tocava
a lateral do meu rosto, encolhia tentando escapar de seu toque.
— Senhor Smith! — a voz animada da mulher que estava no
banheiro soa atrás de nós. — É um prazer te encontrar aqui.
— Senhora Kosty, falei com seu marido a pouco tempo, ele procura
por você e sua irmã. — Smith não a encarava.
— Preciso ir. — A mulher ficou branca como papel, andando
apressada com a outra de volta ao salão.
Ela nem pensou em me ajudar.
— O que você quer? — perguntei, reunindo coragem.
— Você. — Agarrava meu queixo com rispidez, forçava-me a
encarar seu rosto sombrio. — Quase não acreditei quando seu pai aceitou
minha proposta de te fazer a minha modelo, Louis sabe minha real intenção
com você — tremia ao ter a pele tocada por seus dedos agarrando meu
pescoço — e ele me garantiu que você seria minha, Josephine.
— Por favor, me solte — pedi em um fio de voz, horrorizada por
suas palavras.
Eu sou a filha do Subchefe, nunca seria prometida em casamento a
um associado ou membro de menor posição que a do Louis. São regras que
não podem ser quebradas e se o Louis prometeu tal coisa ao Smith,
significa que ele não se importa que eu seja desonrada e perca meu valor
como dama.
Louis me entregou para ser abusada.
Eu tentava segurar as lágrimas para não escorrerem pelo meu
rosto. A vontade de chorar travava na garganta. Eu sou menor que o Smith,
não tenho como lutar com ele ou fugir. Ninguém acreditaria em mim se eu
pedisse ajuda ou tentaria fazer algo para me socorrer. Só dele estar no
corredor sozinho comigo é motivo para boatos que garantirão a minha
desonra e que a famiglia se volte contra mim.
— Não sem antes te provar — ele dizia. — Louis me garantiu que
ninguém tentaria me impedir, vamos aproveitar a noite, Josephine.
Ergui as mãos tampando meu rosto do Smith, tentava me proteger
como podia de seu ataque. A boca asquerosa beijava meu pescoço, tremia
querendo fugir, encolhia os ombros para evitar o contato, em vão. Ele
agarrou minha cintura com força, forçava seu quadril contra o
revestimento do vestido.
Assustada, eu gemia chorando.
Doía saber que ele tinha razão, não existia ninguém para proteger a
mim. Meus pais me odeiam, minha irmã era um demônio e meu irmão, o
único que me protegia, me abandonou. Eu estou sozinha, desprotegida, sem
a esperança de alguém se importando comigo.
— O que você está fazendo?
Uma voz grossa soava enfurecida. Afastei um dedo para ver a quem
ela pertencia. Smith virava de frente e pude enxergar Black Bonnarro, o
filho mais velho do Capo de Nevada.
— Não se intrometa — Smith rosnou, seu aperto continuava firme
na minha cintura pelo lado direito.
— Largue ela — Black ordenou.
Eu conhecia o Black por ele ser um herdeiro e amigo do meu irmão,
mas nunca trocamos uma palavra. Ele avançou na minha direção, sua mão
se firmou ao redor do meu pulso me puxando contra si. Bati o rosto em seu
peito, o cheiro amadeirado invadia meus sentidos transformando o medo
em alívio.
Black apareceu.
Ele se importou o suficiente para impedir o Smith.
Agarrava a lapela de seu paletó me prendendo a ele para evitar a
agressão.
— Isso não ficará impune, Smith — Black ameaçava o homem.
Mantinha meu rosto contra seu corpo me recusando a ver o Smith.
— Você faz ideia de quem eu sou? — Smith ameaçava o Black com
arrogância.
— Um mero associado, eu sou o filho do Capo Bartolomeu
Bonnarro e em breve assumirei a posição do meu pai. Você foi flagrado
abusando de uma de nossas damas e pagará caro pela sua traição.
— Eu tenho a permissão do pai dela. — Soberba derramava de sua
voz.
— Se o Subchefe permitiu que sua filha fosse abusada, ele também
sofrerá as consequências por trair a sua família. E eu tenho certeza que o
Lucian jamais quebraria as tradições da organização.
— Não mesmo — a voz sombria do meu pai foi ouvida. — Levem ele
— ordenou.
O Louis não me entregou?
Fiquei confusa, não é do feitio do Louis me proteger. Ele pode estar
fingindo por ter sido flagrado pelo Black.
O medo pela reação do meu pai me fazia encolher contra o corpo do
Black, buscando nele proteção, uma garantia de que eu escaparia da
punição por causar uma cena no meu baile de debutante. Para o Louis não
importa se sou culpada ou inocente, em todos os incidentes da Rebeca ele
me julgava como a errada e me punia.
— Nunca permita que te façam sofrer ou te humilhar — Black
murmurou suspirando pesado, ele alisava minhas costas. Tive a estranha
sensação dele não querer me soltar, de querer me manter protegida entre
seus braços fortes.
Eu não queria ir para lugar algum.
O desejo de passar a noite perto do Black rodeava meu coração
como um pequeno barbante, se enrolando e fixando, me puxando para o
Black.
— De volta para o salão, Josephine — Louis ordenou.
Black me soltava devagar, encarei seus olhos verdes repletos de
bondade.
Ele me salvou.
Não tive tempo para agradecer, Louis puxou meu braço me forçando
a voltar para o salão. Eu sentia que ele estava irritado comigo, mas dessa
vez eu não tinha culpa, somente ele por me entregar aos leões e ser
flagrado. Smith desapareceu. No salão buscava pelo Kai, queria contar a
ele o que aconteceu, pedir por sua ajuda, mas não o encontrei.
A noite passava sem acontecimentos bruscos, sentia falta do Black,
ansiando pela sua aparição para podermos dançar ao menos uma música.
Eu queria agradecer por sua ajuda, conversar com ele, perguntar sobre a
sua vida, quando estaria de volta a Nova Iorque e principalmente precisava
saber o motivo dele me salvar.
Black não era minha família. Tão pouco somos amigos. Não tinha
intimidade com sua família para ser uma conhecida. Somos completos
estranhos e ele me salvou sem pedir nada em troca.
Pela primeira vez em 15 anos, alguém me escolheu.
Percebi que o quarteto formado pelo Kai, Black, Michael e Daniel
havia sumido do salão. Se o Black contar ao Kai o que aconteceu meu
irmão terá de vir falar comigo, poderei pedir sua ajuda para garantir que o
Smith nunca mais coloque as mãos em mim.
Pelos dias seguintes, enquanto esperava o Kai aparecer, eu pensava
no Black, não conseguia esquecer seu olhar bondoso, a forma protetora
como me puxou contra o seu peito.
Existia alguém que me enxergava.
Alguém para me proteger.
E como uma boba, eu me apaixonei ansiando pelo dia que o veria
novamente e seria capaz de agradecer por me salvar e fazer eu perceber
que não estava sozinha.
Eu tinha o Black.
Atualmente
Atualmente
Antes
A situação em casa tem estado pior nos últimos dias. Michael emitiu
uma ordem de que as damas da sociedade Bianchi, formadas no ensino
médio, deveriam escolher um curso superior. Tenho me mantido silenciosa
quanto a minha vontade de fazer psicologia, Louis todos os dias gritava
ofensas contra o Michael e o acusava de estar ficando louco. Para ele,
mulheres só serviam para terem filhos.
Tinha certeza que ele tentaria me impedir de fazer faculdade. Não
tinha medo de apanhar do Louis, já me acostumei com seus castigos e
punições, Eleanor também adorava me machucar, meu corpo era coberto
por cicatrizes feias, eu odiava cada uma delas, me lembrando de que não era
querida, uma filha indesejada.
Os malditos protegiam a Rebeca, a tratavam como uma princesa, a
maldita era uma psicopata manipuladora. Vivemos em pé de guerra, ela me
provocava, atacava e eu me defendia. Se eu baixar a cabeça para a Rebeca,
Louis ou Eleanor, eu seria devorada pelas feras. Vivia em uma constante
guerra dentro de casa contra pessoas que me odiavam e queriam a minha
morte.
Não tenho dúvidas de que o Louis já teria me feito sumir se algo não
o impedisse, eu só não sei o quê. Ele sente prazer em machucar, bater,
humilhar e, principalmente, permitir que a Rebeca seja uma maldita vadia
me provocando a todo instante, instigando as brigas e causando desgraça na
minha vida.
Se eu não revidasse, já teria sido morta.
O Kai era um completo babaca idiota, acreditava no conto da
Rebeca, nunca ouvia as minhas versões das nossas brigas e depois de um
tempo eu parei de tentar me defender. Não adiantava de nada e eu ainda era
machucada emocionalmente, por saber que meu irmão não se importava
comigo e sempre defenderia a Rebeca, como se eu fosse a vilã.
— O senhor deveria proibir a Josephine de fazer faculdade —
escutei a voz da demônia ao passar pela porta da sala.
— Ela nunca fará faculdade — Louis respondeu raivoso. — E nem
você. O maldito do Bianchi perdeu a cabeça se pensa que permitirei tal
coisa. Mulher nasceu para ficar dentro de casa, cuidando dos filhos. Nem
isso a imprestável da sua mãe faz direito.
— A mamãe é uma fraca — Rebeca respondeu. — Ela pega muito
leve com a Josephine.
Aproximei o rosto da porta vendo os dois sentados no sofá,
conversando lado a lado. Eu nunca conseguiria ficar perto do Louis dessa
maneira, falar com ele sem ser em uma briga. Odeio cada pessoa que mora
nessa casa, queria ser capaz de sumir no mundo e nunca mais aparecer, ir
para bem longe, outra dimensão, encontrar pessoas capazes de me amar e
cuidar.
Se não fosse pela Hope, Daisha e Emily eu continuaria sozinha. Elas
vão lutar pelo direito de estudarmos e nada impedirá que a vontade do
Chefe seja cumprida.
— Você diminuiu as brigas com ela, por quê? — Louis questionou.
— A vadia da Hope está de olho em mim, desde o incidente com o
abajur — eu podia sentir o ódio da Rebeca — eu deveria matar aquela
desgraçada. Josephine merece ficar sozinha, isolada. O senhor não pode
casá-la e mandar ela embora?
— O que você sugere? — Louis perguntou.
O ódio pungente correu nas minhas veias.
— Primeiro, não a permita fazer faculdade, depois a case com um
homem de fora a mandando para longe, sei que o senhor conhece muitos
homens que seriam capazes de colocar a Josephine no lugar dela.
Eu não consegui aguentar, sempre a mesma merda, Rebeca me
jogando no inferno sem eu poder fazer nada.
— Você não vai decidir a minha vida! — gritei entrando na sala,
explodindo de raiva.
Rebeca levantou encarando-me com surpresa no rosto. Era esse o
seu teatro perfeito, na frente das câmeras ela fingia tristeza, surpresa,
qualquer coisa que a tornasse uma vítima perante meus ataques.
— Com um homem que abuse dela todos os dias — Rebeca
continuou.
— Conheço a pessoa perfeita — Louis respondeu.
— Vocês são dois malditos! — Avancei dando a volta no sofá os
encarando, pronta para usar um trunfo somente meu. — Hope jamais
permitiria que você me fizesse sofrer. Eu vou cursar a faculdade e sairei
dessa maldita casa, o Michael deu uma ordem e você vai obedecer —
respondi com um sorriso triunfante.
Podia ser considerada uma suicida, mas após anos vivenciando um
ciclo de violência sem fim eu perdi o medo da morte. Nada poderia ser pior
do que a vida que eu levo, a morte seria um doce alívio.
As feições do Louis endureceram, avançou rápido na minha direção,
a mão agarrando meu pescoço com brutalidade. Minha cabeça foi jogada
contra a parede causando tontura, meu estômago socado com força o
suficiente para me fazer perder o ar. Ele apertava minha carne com força,
restringindo a respiração, como um demônio me encarava furioso. Por trás
de seu ombro eu a vi, sorrindo, feliz com a agressão.
Apertei a mão do Louis enfiando as unhas em sua pele tentando me
soltar, a visão começando a embaçar, não emiti um único som, aceitando
que ele pararia ou me mataria. Eu não dava a mínima, morreria sabendo que
lutei por mim.
Eu fui fiel a mim mesma, a lutar pelo meu direito de estudar, de não
casar com um marido abusador, de ter o mínimo de uma vida. Nunca
desistiria de mim mesma.
Em minha solidão eu encontrei o conforto de contar comigo mesma.
— SALVA ELA, KAI!
Ouvi o grito da Rebeca, já imaginando que ela estivesse fazendo o
seu teatro para o Kai. A irmã boazinha tentando salvar a vilã que estava
sendo punida por sua rebeldia. Meu irmão parou ao lado do Louis, segurou
o braço dele e recebeu um empurrão caindo na mesa de centro. O último fio
de ar entrou pelo meu nariz, revirei os olhos perdendo a consciência.
Meu corpo desabou contra o chão, recuperei os sentidos, vi o Kai
levando um soco no rosto. Ele conseguiu parar o ataque do Louis? Por que
se arriscar por minha causa? Ao invés de alívio eu sentia o sangue gelando
por saber que o teatro ia continuar. Kai iria gritar comigo, me culpar por
provocar o Louis, acreditar no que diabos a Rebeca falasse. Uma punição
seria trocada por outra.
Por qual motivo iria me salvar, para depois me machucar com
palavras cruéis?
— Você perdeu o juízo? — Louis branda socando o Kai novamente.
— Pai! — Rebeca se mexeu segurando o ombro do Louis, era
impressionante como ele se acalmava na presença dela.
— Haverá consequências se você a matar — Kai falou, totalmente
submisso ao Louis, fixando os olhos nos pés dele. — Só queria evitar.
— Eu sou o Subchefe, não existem consequências para mim.
Observei a Rebeca se projetando na frente do Kai. Um sempre
cuidou do outro, baixei a vista sentindo a inveja esperneando meu coração.
Eu queria a relação deles, ser amada por meu irmão e poder retribuir o
sentimento. Para mim só restou a raiva, desprezo e brigas. Kai me odiava e
eu o odiava também.
— Por favor, pai. O Kai só estava tentando fazer o melhor pela
nossa família, não machuca ele.
— Saia da frente, Rebeca! — rugiu irritado. — Não vou aceitar
meus filhos me desafiando. Primeiro a vadia e agora ele!
— Josephine estava completamente errada, o senhor a puniu. Olhe
para ela, mal consegue respirar e com a marca da desobediência em sua
pele. Todos vão saber que você controla seus filhos com punho de ferro. O
Kai tem um machucado sangrando no rosto, ele agiu por impulso e sei que
não fará novamente. Certo, Kai?
— Não farei, senhor.
— Você ainda vai receber o que merece — Louis disse ao Kai.
O toque do celular do Louis interrompeu a agressão. Atendeu
mudando o tom de voz no mesmo segundo.
— Sim, senhor — respondeu saindo da sala.
— Aqui. — Rebeca entregou um lenço ao Kai preocupada com ele.
— O que aconteceu? — perguntou.
Rebeca abriu a boca e eu me preparei para as mentiras que seriam
contadas. Erguendo minhas defesas, a garganta doendo, os olhos irritados e
a raiva explodindo. Sabia que o perigo não tinha passado, a próxima rodada
começaria e seria com o Kai brigando comigo.
Senti uma mão no meu braço, encarei meu irmão estranhando a
emoção em seus olhos, puxei o corpo precisando me afastar. Não vou me
deixar enganar pelo pesar em seus olhos. Kai não sentia pena de mim, ele
não se preocupava comigo havia anos, por que diabos está fazendo essa
expressão?
— Josephine não para de provocar o Louis — Rebeca inicia seu
discurso — eu estava conversando com ele sobre a faculdade e ela invadiu a
sala gritando que cursaria psicologia e que a vontade do Michael vale mais
do que a do nosso pai, olha só como você foi machucado por causa dela,
isso não é justo.
— Vaca mentirosa — forcei a voz.
— Vai continuar me atacando? — Rebeca incorpora a perfeita
vítima ofendida. — Você nunca pensa no que suas ações causam. Age como
uma louca desafiando o nosso pai!
— Parem — Kai pediu, cansado, soltando a mão da Rebeca.
— O quê? — A desgraçada ficou confusa, era a primeira vez que o
Kai a interrompia.
— Vem, Josephine. — Sou pega de surpresa por sua mão
envolvendo meu cotovelo me ajudando a ficar em pé. O encarei
desconfiada, não acreditando na sua gentileza. — Louis vai continuar
alterado até o final da reunião com as damas hoje à noite. Vá para o seu
quarto, tranque a porta e só saia quando eu te buscar. Levarei as duas ao
clube.
— Qual a pegadinha? — disse arisca.
— Estou cansado, por favor, faça o que pedi.
Enruguei a testa desacreditada. Kai virou a cabeça se deparando com
a fúria nos olhos da Rebeca. Ele parecia cansado, perdido em um milhão de
pensamentos, comecei a me questionar qual o motivo das ações dele. Kai
deveria estar gritando comigo e não dizendo como eu me protegeria até me
buscar mais tarde.
Já fazia anos que ele tinha parado de me proteger.
Mordi o lábio controlando a vontade de chorar, não podia me apegar
a esse pequeno momento de cuidado. Ele iria mudar em breve ficando ao
lado da Rebeca e se voltando contra mim.
— Vai ser assim? — Rebeca se revoltou. — Ela causa confusão e
você passa a mão na cabeça dela? O nosso pai poderia ter te matado! Não
pode deixar passar.
— Você não cansa? — Avancei na Rebeca querendo arrancar seus
cabelos, fui impedida pelo Kai me puxando no cotovelo.
— Rebeca, suba para o seu quarto — ordenou. — Você também. —
Encarou-me.
Não conseguia acreditar que ele tinha mandado a Rebeca para o
quarto dela, usando o mesmo tom que se dirigiu a mim. Atordoada e me
sentindo cansada após ser enforcada eu o deixei na sala e segui para o meu
quarto. Naquela noite Kai cumpriu sua promessa e voltou para me buscar,
levando a mim e a Rebeca para o salão de damas, onde vi a Hope humilhar
a Eleanor, não retornei para casa, segui para a mansão Bianchi onde era
seguro.
Ainda sem acreditar que o Kai tinha me defendido.
Hoje
Aos 17 anos
Atualmente
Atualmente
— Como o Kai não te ajudou? Recordo dele indo para casa com o
Louis.
Abraçar Josephine ganhou um novo significado, enquanto ela
relatou a agressão a prendi com força entre os braços e pernas. Era
impossível dizer onde um começava e o outro terminava. Conectados pelo
corpo e alma, chorei escutando a sua dor, a vontade de sumir, desaparecer
no universo. Ela não mereceu o castigo cruel, foi acuada, induzida a
cometer uma loucura.
— Há quase um ano, eu conversei com o Kai, contamos um para o
outro nossas experiências traumáticas com a família e a versão para cada
acontecimento. Ele confessou que nesse dia o Louis o prendeu no porão,
torturando meu irmão com queimaduras por 12 dias. Na época fiquei em
choque com a revelação, ocultei dele a minha punição, mas decidi dar uma
chance à nossa relação. Eu quis ser amiga do meu irmão. Após algumas
sessões de terapia, me senti pronta para contar a ele a origem da cicatriz nas
costas. Acho que perdemos quase um litro de água chorando.
Ela não derramou uma única lágrima, acariciou minhas costas
devagar, curtindo o aconchego de nossos corpos.
— A cicatriz na perna, ele ganhou com essa punição?
— Sim, ela é horrível. Não entendia como o Kai conseguia exibir o
corpo coberto de marcas na arena de luta. Até ele me explicar que não tinha
vergonha de exibir as cicatrizes, elas serviam como um lembrete de quem
era o inimigo a ser derrotado.
— Ele mentia sobre a origem, dizia que se machucou caindo da
moto e ralando a perna no asfalto — encostei a testa na dela — eu deveria
ter sido um amigo melhor, prestando atenção nos sinais e protegido o Kai.
Proteger ele me levaria à verdade e eu poderia cuidar de você. Perdão por
demorar.
— Black — alisou minha orelha, a voz mansa — pare de se culpar.
Somente Louis, Rebeca e Eleanor merecem carregar a culpa pelo inferno
que eu e o Kai vivemos. A única coisa que importa é o presente — beijou
meu queixo — eu nessa cama envolta pelo meu marido enorme, recebendo
o amor dele e podendo aceitar na minha alma a felicidade, te recebendo sem
medo como meu.
— Eu amo você — repeti, não cansava de expressar o sentimento
sublime tomando conta do meu ser.
— Eu também te amo. — Sorriu alisando minha barba, Josephine
adora enfiar os dedos nela. — Promete para mim nunca mais fazer algo que
não deseja? — referia-se ao sexo por obrigação.
— Sim, minha deusa. — Beijei seus lábios de mel.
— Perturba sua mente lembrar que era obrigado a transar sem
vontade? — Alisou minha nuca. — Odeio saber que você se machucou
dessa maneira, é injusto. Mesmo sendo homem, não deveria provar sua
masculinidade dessa forma. Eu odeio seus tios, mataria a todos.
— Ei. — Afaguei seus cabelos. — Nunca mais manche suas mãos
com sangue. Eu estou bem, tive meu tempo curando minha alma e ao seu
lado consigo ser eu mesmo. Aproveitar o sexo, sentir um desejo escaldante
pela minha esposa sem medo de te machucar ou de me ferir. A única coisa
importante é a realidade e o momento vivido e nele estou me entregando de
livre e espontânea vontade a você.
— Obrigada por confiar em mim, prometo sempre dizer se não
gostar de algo, conversar com você e respeitar todos os nossos limites. Eu
desejo que você possa sentir o mesmo que eu, Black, essa explosão
magnífica de felicidade, a vontade insana de ficar junto se perdendo um no
outro, o carinho e o amor curando todas as feridas abertas. Envolvendo com
paz o coração atormentado.
— Você é perfeita — sussurrei, capturando sua boca em um beijo
longo, aproveitando a paz.
— Você fez terapia ou algo do tipo? — perguntou baixinho.
— A Amber me ajudou. — Notei a informação absorvida por seu
rosto. Josephine não tinha ciúmes ou mágoas, apenas alívio.
— Devo agradecer a ela por ajudar meu marido. Como ela
conseguiu? E tem algo que não consigo entender — franziu a testa — uma
vez briguei com a Rebeca, ela disse que você tinha uma namorada e por
isso me rejeitou. Como ela sabia sobre a Amber?
Surpresa seria um eufemismo para o que senti. Era impossível a
Rebeca saber sobre a Amber, a mantive escondida da minha família,
somente o Steve soube dela e recentemente contei ao meu pai pedindo
conselhos sobre como fazer a Josephine me aceitar.
— É estranho, Amber nunca pisou em Nova Iorque, mora em Las
Vegas e nem com o Steve conversei sobre ela perto de outras pessoas.
— Será que ela mentiu?
— Possivelmente, nem o Michael sabe sobre a Amber e ele é meu
Chefe. É minha obrigação contar, principalmente por ela saber que sou da
máfia.
— Não é perigoso ela saber sua identidade? Ou os negócios de sua
família? E se ela contar para alguém?
— Com muita paciência Amber me ajudou a lidar com meu trauma.
Não tenho dúvidas de que você teria feito o mesmo. Ela nunca me trairia ou
colocaria minha vida em risco, a Amber não é assim.
— E se ela te odiar por terminar o namoro para ficar comigo? Céus,
corro perigo de ser atacada por ela em Las Vegas?
Gargalhei pela possibilidade brotando na cabeça da Josephine.
— A Amber pareceria um gatinho assustado na sua frente, minha
tempestade. — Mordi seu queixo. — Acho que tenho mais medo do que
você seria capaz de fazer a Amber, do que ela a você. — Alisei o rosto da
minha esposa, adorei ver a diversão em suas bochechas. — Ela foi
importante para mim no passado. Hoje é somente uma amiga, da qual me
compadeço com a situação. A mãe da Amber tem câncer, chegou ao estágio
terminal, ela não tem família ou amigos para contar.
— Meu Deus, eu pensando que a mulher poderia ser uma ex-
ciumenta e ela sofrendo com a morte da mãe. — Curvou as sobrancelhas
para baixo, triste. — Você a visitou?
— Já faz uns meses desde a última visita.
— Tem notícias dela? Tadinha, não consigo imaginar a dor de perder
uma mãe. Ela gostava da mãe?
— Muito, ambas são amigas, companheiras.
Era estranho como era fácil falar da Amber com a Josephine. Por um
tempo tive medo de dividir esse pedaço do meu passado. Mas minha esposa
incrível conseguia tornar tudo facilmente, era aconchegante. Estou seguro
de compartilhar o que eu desejar com a Josephine, ela me entendia e eu a
ela.
— Ah, Black, primeiro você me diz que a mulher te ajudou a tratar
seu trauma com sexo e agora fala sobre a mãe dela estar morrendo. Só
tenho vontade de a abraçar forte e dizer que tudo vai ficar bem.
— Pode me abraçar — pedi.
Josephine passou a vida lutando para ter alguém ao seu lado,
abandonada por quem deveria a proteger. Ela conseguia compreender como
foi importante a presença da Amber para mim. Minha esposa não carregava
mágoas em seu peito pelo meu relacionamento passado. Amar Josephine se
tornava cada vez mais fácil, ela tinha uma alma bondosa e cheia de amor
para compartilhar.
O celular começou a tocar, interrompendo a conversa. Considerei
não atender. Embora precisasse, Matthew estava no Texas tomando conta
do território, não podia arriscar perder o contato dele. Juntei forças me
desgrudando de Josephine, procurei minha calça no chão, peguei o celular
no bolso e percebi que era o Michael ligando.
— Alô — atendi.
— Estamos indo para o Texas. O Matthew sofreu um ataque brutal
na madrugada, não consigo contato com meu irmão. Partimos em trinta
minutos.
— Sim, Chefe. — Desliguei o celular, encarei minha esposa deitada
na cama. Ela levantou percebendo que tinha algo de errado. — Problemas
com o Texas. Faça suas malas e se prepare para retornar a Las Vegas, vou
partir com o Michael em poucos minutos.
— Black — chamou medrosa.
Fui até ela, sentei na cama segurando as bochechas macias, fixei o
olhar nas íris negras preocupadas. O peito apertou por deixá-la, queria
continuar ao seu lado, fazendo carinho, confortando, mostrando que ela não
estava sozinha e tinha a mim para contar. Porém, as obrigações com a
organização demandavam minha atenção e precisava resolver essa bagunça
com o Texas. Esmagar a rebelião antes que os esporos chegassem na minha
família.
— Vou ficar bem, preciso prestar suporte ao Matthew. O Michael
está indo comigo, prometo te ligar quando pousar. — Beijei sua boca, não
tinha muito tempo. — Preciso ir.
— Quando você voltar continuamos a conversa, quero conhecer
cada nuance da sua alma. — Agarrou meu braço. — Eu te amo, toma
cuidado.
— Volto em breve, para receber mais do amor da minha deusa. —
Capturei sua boca e disse em seus lábios: — te amo.
Josephine compartilhou sua alma comigo, abrigava nosso filho em
seu ventre, me aceitou com meus defeitos e me amou sem medo. Vou
resolver a maldita bagunça no Texas e retornar para o meu lar, ficar ao lado
da minha esposa e filho.
— Droga, Matthew, cadê você?
Michael revisou as filmagens da base que o Matthew estava atuando
no Texas. Durante a madrugada foi invadida pelos inimigos, o caos
instaurado e o Matthew desapareceu. O rastreador apontava que ele
continuava na base, mas não conseguimos o encontrar. Algumas partes do
prédio desabaram, infelizmente chegamos tarde ao local, a polícia e
bombeiros atuavam nas buscas.
— Foi um arrombamento feio — o capitão da polícia de Austin
comentou observando as câmeras com o Michael.
O caso estava sendo tratado como uma invasão para roubar arquivos
da empresa. O local atua como um prédio comercial para uma de nossas
empresas de fachada. Oficialmente, desenvolvemos peças de tecnologia
para serem usadas em aparelhos eletrônicos. Por debaixo dos panos era
nosso centro de operações.
— O que era mesmo produzido aqui? — perguntou o capitão. —
Vocês chegaram há menos de um ano no Texas e já espalham suas empresas
em várias cidades.
— Temos uma agência de segurança — respondi entregando a ele o
alvará para atuação. — Produzimos um novo sistema de rastreamento nesse
prédio, o projeto está sendo negociado na casa dos milhões, quem planejou
o roubo sabia disso e quis lucrar.
Não era mentira, Simon Belarc, sobrinho do Capo Nathan Belarc era
o nerd mais inteligente dos Estados Unidos, responsável pelo sistema de
rastreamento implantado em todos os membros da Máfia Bianchi. Um
gênio da tecnologia que nos garantiu equipamentos de pontas e invenções
inovadoras no ramo. Michael estava considerando expandir os negócios
para o ramo da tecnologia com o Simon à frente. Lucraremos bilhões com
nossos equipamentos de segurança modernos.
— Encontrado! — Ouvi o grito dos bombeiros.
Segui com o Michael para a entrada do prédio, alguns destroços
impediam a passagem livre. Matthew deitado em uma maca, sangrando pela
cabeça com ferimento de balas na perna direita. Michael ficou ao lado do
irmão o acompanhando na ambulância.
— Senhor — Eduardo me chamou entregando um tablet. —
Encontramos a rota de fuga dos inimigos. Eles estão na estrada seguindo
para o Dallas. Talvez a informação da base deles não estivesse
completamente errada.
Controlei o sangue, minha vontade era de voar imediatamente para o
Dallas. Mas sair de Austin sem uma confirmação de que não haveria outros
ataques e de que o Michael e Matthew estariam seguros no hospital não era
uma opção. Precisei ficar, fortalecer as fronteiras e montar um plano de
ataque. Encarei o capitão da polícia. Aquele homem não era idiota, sabia o
poder dos Bianchi e estava espreitando uma oportunidade de se aliar a nós.
— Capitão Moore. — Levei o homem para um local afastado de
ouvidos curiosos. — Estou precisando de um favor.
— Como posso ajudar, senhor Bonnarro? — A lábia de uma raposa,
julguei certo o caráter do homem.
Nem todos os policiais eram corruptos, existiam aqueles como o
detetive Santiago de Nova Iorque, há anos trabalhava buscando provas para
prender os Bianchi, altuou o Daniel no caso do assassinato, por um
momento o infeliz acreditou que triunfou até o julgamento mostrar a
inocência do Consigliere. Os policiais bonzinhos como ele eram um pé no
saco, loucos para ganharem fama e respeito na polícia acreditando fazer o
bem para a população.
Eu gostava dos policiais como o Moore, espertos para se manterem
longe dos nossos negócios, não interferindo nas nossas atividades e
ajudando como podiam. Ele não era besta, sabia que era mentira sobre a
invasão para roubo de documentos, mas preferiu acreditar na nossa versão a
se tornar um empecilho. Por isso daria ao homem a chance que ele estava
buscando como um lobo faminto por sua presa.
— Minha equipe descobriu que os criminosos estão seguindo para
Dallas, consegue montar um cerco e os trazer para mim?
— Vou tomar providências, tenho contatos na região. Pela hora do
atentado eles não devem ter ido longe.
— Agradeço o apoio. — Apertei a mão do homem, ele tinha sede
pelo poder. — Há quanto tempo está na polícia?
— Sou capitão há 5 anos.
— Nunca foi escalado para uma promoção?
— Por enquanto, não.
— Você seria um ótimo Comandante.
— Imagina. — Sorriu como a raposa que ele era. — Vou trazer os
bandidos para o senhor.
— Agradeço a ajuda, tenho uma reunião com o governador em
breve, falarei de você.
— Obrigado, senhor Bonnarro.
Colocou o quepe de capitão e saiu dando ordens a seus homens. Eu
poderia montar uma equipe para liderar aquela busca, mas não tinha tempo
a perder, precisava proteger meu território. Liderei as equipes, distribuindo
funções e impondo um toque de recolher.
Dos ladrões aos gângsteres, todos sabiam que morreriam se
permanecessem nas ruas após as 22 horas. A polícia contribuiu com o toque
de recolher avisando aos cidadãos sobre ataques de terrorismo doméstico
contra centros comerciais.
As pessoas acordavam cedo, trabalhavam, estudavam, seguiam com
sua vida cotidiana, mas às 22 horas se refugiavam em suas casas enquanto
meus homens varriam as ruas à procura dos malditos da Portões do Inferno.
— Eles mexeram com o meu irmão, Black — Michael rosnou na
porta da sala de interrogatório, os malditos que atacaram o prédio foram
presos no final da tarde. Moore tinha uma equipe de confiança e hábil, seria
útil o ter por perto.
— Eu sei, mas você precisa se controlar. — Segurei Michael pelo
peito o impedindo de entrar na sala. — Seus interrogatórios são compostos
apenas por tortura, você sempre esquece de fazer perguntas e com a fúria
nos seus olhos tenho certeza de que não teremos as informações que
precisamos.
— Maldição. — Esmurrou a porta.
— Você é o Chefe, Michael, não posso interromper quando estiver
torturando alguém. Não é como antes quando éramos somente o Quarteto
Monstro e um de nós extraía as perguntas enquanto você se divertia.
— Você tem razão — recuperou a calma — vou iniciar com o
aquecimento, se eu passar dos limites diga que a Hope está me ligando e te
deixo assumir.
— Certo.
Pensar na minha irmã me lembrou da Josephine. Estou louco de
saudades da minha esposa, não tive tempo de falar com ela, apenas
trocamos mensagens ao longo do dia. Já se passaram 24 horas desde que
pousei no Texas e a saudade era enorme, parecia que estávamos há anos
separados. Steve me enviou um relatório avisando que levou minha esposa
para casa e que ela estava se divertindo com minha mãe decorando nosso
lar.
Acalmou meu coração saber que a Josephine tinha minha família.
Posso trabalhar em paz com eles a protegendo. Não queria minha esposa
triste pela minha ausência, somente eu deveria sofrer. Evitava dizer quanto
tempo ficaria longe, a bagunça no Texas estava crescendo, a Portões do
Inferno ficando ousada atacando nossa base e quase matando um Oficial
dos Bianchi.
Na hierarquia da Máfia Bianchi, os irmãos dos Herdeiros — o filho
primogênito que herda o cargo do pai na organização — assumem a
liderança como um Oficial Bianchi. Lidera um esquadrão especial, recebem
ordens diretas dos líderes e repassam aos soldados. São os responsáveis
pelas missões de campo e mantêm a ordem entre os soldados de baixa
patente. Não possuem prometidas e só firmavam alianças de casamento se o
Chefe julgar necessário.
Matthew estava na UTI, passou por uma cirurgia delicada no pulmão
devido a um tiro nas costas. E o humor do Michael não era dos melhores.
Entramos na sala de interrogatório. Em um lugar afastado de Austin
temos uma base murada, mais forte e protegida, o centro de operações mais
bem equipado dos Bianchi. Belarc movimentou o Esquadrão da Morte para
darem suporte e agirem como a principal força de ataque. Precisava
terminar de montar o plano de ataque até a meia-noite de hoje, mas antes
iria garantir que o Michael não matasse os inimigos capturados.
Michael não perdeu tempo, avançou para cima do homem amarrado
pelos punhos preso a correntes no teto. O soco atingiu violentamente as
costelas do alvo. Ele parecia uma besta descontrolada, atingindo socos
poderosos, chutes fatais. O homem gemia, xingava, as correntes balançaram
jogando o corpo de um lado para o outro. Michael o fez de saco de
pancadas e só parou quando sangue manchou suas mãos.
Estendi uma toalha para ele limpar os dedos. Michael cuspiu no
chão indo para a mesa com instrumentos de tortura. Analisando
cuidadosamente qual seria o primeiro objeto usado.
— Eu odeio perder tempo fazendo perguntas — Michael falou
segurando um pedaço de ferro fino e pontudo. — Você sabe o que eu quero
saber, então quando estiver pronto para falar pode começar.
Com o ferro na mão se aproximou do homem, segurou os cabelos
dele puxando a cabeça para trás esticando o pescoço do desgraçado. Levou
o ferro para dentro da narina do sujeito. O sangue jorrou manchando a boca
e o queixo, e sujando a mão do Michael que tinha a expressão carregada de
fúria, rasgando o nariz do homem de dentro para fora. O homem se
contorcia, gritava se engasgando com o sangue, o ferro perfurou saindo
quase no olho dele.
Michael repetiu o mesmo processo na outra narina arrancando a
ponta do nariz com brutalidade ao passar o ferro pela carne e puxar. Sangue
espirrou em seu rosto. Sem dar trégua ao desgraçado chorando de dor,
Michael enfiou o dedo na carne aberta puxando para cima expondo o osso
do nariz.
— Quem foi o mandante do ataque? — perguntei.
Era inútil esperar que o Michael fizesse o interrogatório, ele
explodia de raiva pelo irmão que estava na UTI gravemente ferido. Toquei
o ombro do meu Chefe em um sinal para ele pausar a tortura, só usaria a
cartada da Hope se o Michael estivesse quase matando o inimigo.
— Essa merda dói. — Cuspiu sangue, os olhos vermelhos, o rosto
cansado, mas a atitude de quem não pretendia entregar o líder.
— Ele ainda não quer falar — Michael se afastou pegando a
furadeira — vou ser mais criativo.
— Pegamos um dos leais. — Bati em seu rosto. — Do que vai
adiantar se manter calado? Seu chefe não virá te salvar, se falar podemos te
dar uma morte rápida, caso se recuse meu Chefe vai arrancar a pele do seu
corpo, perfurar seus ossos e te fazer tremer de dor desejando que o capeta te
salve.
— Vai se foder — rosnou.
A voz dele soou estranha, com o nariz arrancado e sangue
encharcando sua boca, ele não conseguiu pronunciar as palavras com a voz
limpa. Voltei a me escorar na mesa deixando Michael assumir a tortura.
Teríamos de quebrar o desgraçado para conseguir alguma informação de
valor.
Michael ligou a furadeira, agarrou os cabelos do homem enfiando a
ponta afiada na testa dele. Levantei, precisei ficar atento ou o Michael
mataria o homem furando seu cérebro.
O som do crânio sendo perfurado ressoou alto na sala, quase
abafando os gritos do homem que se debatia enlouquecido. Michael puxou
a broca evitando chegar perto do cérebro, abrindo buracos em outras partes
da testa, perfurou as bochechas, um olho e o maxilar. O rosto do desgraçado
parecia um queijo suíço.
— Mais uma chance — falei, Michael o largou procurando o
próximo objeto de tortura.
— A ordem… era… matar… Matthew… — revelou, respirando
cansado pela boca.
— Por que o Matthew? — Michael perguntou, enfurecido.
— Nunca foi… inten..ção… o Texas. — Cuspiu, os dentes cobertos
de vermelho.
— Continue falando. — Aproximei-me.
— Destruir… Bianchi. — A cabeça pendeu para trás.
— Qual o nome do seu líder? — Puxei a cabeça dele encarando o
olho bom, quase fechado pelo cansaço da dor.
— Lux… Vegas… Bonnarro… Três. — Começou a balbuciar não
conseguindo manter a consciência.
— Essa última não fez sentido — Michael falou. — Vou te dar um
incentivo para ser claro. — Aproximou-se do homem com uma serra. —
Começarei por sua perna, seja firme, campeão.
— Chefe, a Hope está ligando. — Entreguei meu celular a ele.
Se o Michael continuar não vou descobrir o que preciso. Não foram
informações fragmentadas, ele tentava dizer alguma coisa, mas a dor o
impediu de formar frases completas.
Michael se afastou limpando o sangue das mãos. Segurei o homem
pela cabeça, bati em seu rosto furado o forçando a ficar acordado.
— Por que você citou os Bonnarro? O alvo do seu chefe é a minha
família?
— Bonnarro… destruir… todos… — Apagou.
— Isso está estranho — encarei o Michael — julgamos que os
ataques no Texas eram devido à disputa por território, mas se o alvo de
ontem era o Matthew e o líder deseja destruir os Bonnarro, é um ataque
pessoal a Máfia Bianchi. Estamos encarando a situação de forma errada. —
Soltei o corpo do homem, percebi que ele morreu.
— Me incomoda as palavras “Lux”, “Vegas” e “Bonnarro”. Pode
significar que o inimigo se esconde em Vegas, próximo dos Bonnarro. —
Apontou para mim. — Vocês possuem um cassino chamado “Lux”. Quem é
o gerente-geral dele?
— O marido da minha tia Valentina, Bruce Bonnarro. — Revirei os
olhos, odiava o babaca. — Assumiu nosso sobrenome para conseguir cair
nas graças do meu pai, se arrastou até o posto de gerente-geral.
— Temos motivos para suspeitar dele?
— Eu não gosto do cara, mas pode ser meu lado pessoal falando.
Profissionalmente ele sempre foi competente. Rondava meu pai querendo
prestígio na organização. Vou mandar investigar o Bruce.
— Faça em completo segredo, não quero confusão por saberem que
estamos investigando um Oficial Bianchi. Não deixe passar nada suspeito, o
diabo nos derrota se escondendo nos detalhes.
— Sim, Chefe.
— Vou me recolher, sugiro que faça o mesmo. Já faz 24 horas que
não dormimos, amanhã o dia será longo. Conseguimos capturar somente 12
dos 20 homens que participaram do ataque. Quero a cabeça de todos. Vou
interrogar os outros pela manhã, talvez consiga alguma informação
importante, mas duvido. Além do miserável morto, não prendemos outro
líder, somente soldados rasos.
— Teremos um longo trabalho pelo resto da semana. — Bati em seu
ombro.
Segui com o Michael para os nossos aposentos. A base em que
estávamos era usada no passado para atividades militares. Compramos pela
estrutura forte e segura, fácil de detectar invasores, ágil para contra-atacar,
perfeita para esconder nosso exército e os homens treinarem. Entrei no
quarto, tranquei a porta e fui tomar um banho, limpei todo o sangue antes
de deitar na cama e ligar por videochamada para a minha esposa.
— Oi, amor. — Ela atendeu cansada.
— Acordei você?
— Não consegui dormir bem, estava esperando sua ligação. Como
estão as coisas por aí?
— Os pesadelos te incomodam?
— Não, só a saudade.
— Também sinto sua falta, minha tempestade. — Sorri encarando o
rosto sonolento do outro lado da tela.
— Quando você volta para casa? — Josephine perguntou.
— Não tenho certeza. — Observei ela bocejar cansada. — Preciso te
pedir um favor, fique longe dos maridos das minhas tias. Geralmente minha
mãe os evita, mas caso encontre com eles não converse.
— Não conseguiria ficar na presença dos desgraçados. — Revirou
os olhos. — Mas aconteceu algo para o aviso?
— Só uma suspeita, um dos inimigos disse algo que deixou a mim e
ao Michael em alerta. Tome cuidado.
— Ficarei esperta. — Bocejou novamente. — Kennedy marcou
minha primeira consulta com a obstetra para a próxima semana.
— Qual o horário e dia? Me mande a localização da clínica, vou
com você.
— Quinta, às 9 horas da manhã. Você realmente vai conseguir me
acompanhar?
— Não perderei um segundo da gestação do nosso filho. Vou te
acompanhar em todas as consultas, sem falta, minha deusa.
— Eu acredito em você, meu amor. — Bocejou em meio a um
sorriso.
— Vai dormir, minha deusa.
— Podemos dormir juntos.
Ela se deitou, imagino que apoiou o celular do travesseiro, o rosto
iluminado pela tela. Imitei sua posição, conversamos mais um pouco até ela
dormir, não desliguei a ligação, adormeci encarando minha esposa.
Matthew passou uma semana na UTI, antes de ser transferido para
Nova Iorque, onde estava sendo cuidado no hospital de confiança dos
Bianchi. Michael ficava alternando entre viajar para Nova Iorque e vir para
o Texas. Essa semana chegou o reforço de 5 mil soldados para preparar o
contra-ataque. Meus dias foram corridos. Fiquei preocupado com a
possibilidade de não conseguir acompanhar a Josephine, não queria perder a
primeira consulta do meu filho.
— O que você tem? — Michael perguntou, analisando nossa
estratégia para invadir uma empresa de fachada da Portões do Inferno,
usada para o transporte aéreo de tráfico de mulheres.
— Hoje a Josephine tem uma consulta às 9:00 horas. Queria estar
presente, mas…
— Pode ir, eu dou um jeito nas coisas.
— Obrigado!
Não esperei sua resposta, liguei para o piloto do helicóptero
avisando nosso destino. Entrei na aeronave rezando para conseguir chegar a
tempo. Do Texas para Las Vegas era um voo de 3 horas. São 6 horas da
manhã, tenho chances de conseguir.
Meu desespero aumentou ao perceber que a consulta da Josephine é
em menos de 1 hora e ainda estava sobrevoando a cidade de Henderson,
próxima a Las Vegas. Ela me enviou uma mensagem dizendo que estava
indo para a clínica, fiquei louco, precisava chegar a tempo.
Finalmente o helicóptero pousou em um heliporto particular de um
amigo, no alto do prédio mais próximo à clínica da médica. Sabia que se
fosse de carro iria me atrasar devido ao trânsito infernal de Las Vegas, por
isso quando saí do elevador comecei a correr. Eduardo e outros soldados me
acompanhavam. Passei pelas pessoas como um foguete, desesperado para
chegar a tempo. Avistei a clínica, passei pelas portas de vidro, me informei
com a recepcionista o andar, não tive tempo para esperar o elevador, corri
subindo as escadas para o quarto andar.
Irrompi pela porta encontrando minha esposa em pé falando com a
atendente da obstetra. Josephine virou o rosto, os olhos se encheram de
emoção ao me encontrar. Um pouco sem fôlego caminhei até ela, segurei
seus ombros ao ouvir a atendente perguntando.
— Qual o nome do seu acompanhante?
— Black Bonnarro — respondi. — O pai da criança.
— Podem entrar, a doutora Grace espera por vocês. — Sorriu.
— Você conseguiu. — Josephine não conteve a alegria no rosto.
— Eu te prometi sempre estar ao seu lado — alisei sua barriga —
não vou perder uma consulta do nosso bebê.
Beijei a testa da minha esposa, aliviado. Não importava a
dificuldade enfrentada, Josephine e nosso filho seriam a minha maior
prioridade.
— Senhora Bonnarro, se continuar engordando teremos de fazer
uma cesariana. Você ganhou 5 quilos nos últimos 3 meses, e não foi devido
à gravidez.
— A culpa é da minha sogra, essa mulher vai me fazer explodir de
tanto comer!
A doutora Grace, minha obstetra, franziu o nariz não acreditando nas
minhas palavras. Sabia que estava no limite do peso ideal para a gravidez.
Com o fim do primeiro trimestre meu bebê media aproximadamente 6
centímetros e ganhou alguns gramas com o seu desenvolvimento. No
ultrassom pude ver os bracinhos formados, as perninhas e a cabeça maior
que o resto do corpo. Ele era a coisa mais linda do universo!
— Vou te deixar longe da minha mãe — Black disse segurando
minha mão.
Deitada na maca observamos nosso pequeno através das imagens
3D. Não conseguia acreditar que o Black tinha vindo para a consulta. A
situação no Texas não era boa, meu marido passava mais tempo lá do que
em Las Vegas. O vi pouco nos últimos 3 meses, ele sabia que minha
consulta era hoje de tarde e apareceu 10 minutos antes de eu entrar no
consultório. Quase chorei de saudade e emoção pela sua dedicação.
Apesar da dificuldade enfrentada para acabar com a guerra no Texas,
que se tornou alvo dos jornais devido à destruição causada com tiroteios em
algumas cidades, o Black se esforçava para estar presente, comparecer às
consultas, me ligar todos os dias, aparecer de surpresa para passar somente
algumas horas ao meu lado. Quando ele chegava de madrugada, puxava
meu corpo o colando com o seu e beijava meu pescoço para dormimos
juntos e partia de manhã cedo, eu o amava cada vez mais.
— A Kennedy endoida se você fizer isso — respondi.
— Provavelmente, ela ama mais a você do que a mim. — Riu
gostoso.
— Olhem aqui, mamãe e papai. — Grace apontou para a tela. —
Conseguem ver as pálpebras do bebê? Os lóbulos da orelha também se
formaram perfeitamente!
— Ele consegue nos ouvir? — Black perguntou aproximando o
rosto da tela, meu marido sorriu emocionado.
— O bebê passará a ter tempo de vigília e sono. Podem conversar
com ele, estimular o desenvolvimento. Ainda é cedo para ele começar a
mexer, possivelmente vai sentir somente entre a 16ª e a 18ª semana de
gravidez.
— Será que é estranho? — Franzi o nariz imaginando a sensação de
ter alguém dentro de mim me chutando.
— Talvez você sinta desconforto ou alguma gastura, é normal. —
Retirou o aparelho de ultrassom da minha barriga, passou um pano
limpando o gel frio. — Por enquanto, vamos aguardar os resultados do
exame de sangue para saber mais como se desenvolve a gravidez. Pode se
vestir, te espero na minha sala para conversarmos mais sobre o ganho de
peso.
— Josephine seguirá a dieta da nutricionista — Black avisou. —
Chega de brunch com a minha mãe e lanches na madrugada.
— Você terá de dizer isso à Kennedy. — Sentei, abaixando a blusa.
— Traga sua sogra aqui que conversarei com ela, é importante
controlar o peso do bebê e da mãe para um parto tranquilo — Grace avisou.
Kennedy nunca conseguiu me acompanhar em uma consulta, mesmo
com o caos do Texas, Black sempre esteve presente segurando minha mão e
ouvindo com atenção as recomendações sobre os cuidados com o bebê. As
atitudes dele me dão certeza sobre o pai maravilhoso que ele será.
— Farei isso — Black respondeu.
Grace sorriu deixando a sala de ultrassom. Meu marido passou o
braço debaixo dos meus joelhos e da coluna me erguendo no ar. Pisei no
chão frio, calcei a sapatilha com sua ajuda. Black beijou minha têmpora
carinhosamente alisando meu ventre. Ficou de joelhos, segurou a barra da
calça puxando para cima, fechou o botão e beijou minha barriga, ajeitando a
blusa no lugar.
— Você precisa ajudar o papai a controlar a mamãe. Sei que ela é
complicada de se manter na linha, mas faça uma forcinha, carinha.
Alisei os cabelos do Black, sempre ficava emocionada ao vê-lo
conversando com nosso filho. Minha barriga lentamente ganha a forma de
uma gravidez. O ventre protuberante já era visível debaixo das blusas. As
cicatrizes não conseguiam mais me incomodar e eu permitia que os
familiares tocassem meu ventre despejando amor no meu bebê.
A família Bonnarro de Las Vegas me recebeu de braços abertos.
Adorei as tias da Hope, e lamentava os maridos escrotos com que eram
casadas. A família da Kennedy era quase toda de italianos, me ensinavam o
idioma nas reuniões e me divertia com todos. Parecia que eu vivia em um
sonho, se não fosse a saudade do meu marido, atormentada por sua
distância forçada.
— Senti sua falta. — Black se ergueu, falando baixinho, puxando
minha cintura contra a sua. Faz três semanas que eu não o vejo.
— Eu também. — Envolvi seu pescoço.
Fiquei na ponta dos pés, estiquei o pescoço colando nossas bocas. A
mão na minha cintura puxou para cima, segurando meu corpo me erguia no
ar. Passei as pernas ao redor de sua cintura, morrendo de saudades de ser
tocada por ele. Do contato íntimo só nosso. A vagina doía de aflição,
implorando para ser preenchida por seu pau.
Percebi o cansaço nas feições do meu marido, as noites sem dormir e
o estresse com a situação. Precisando correr entre o Texas e Las Vegas,
enfrentando reuniões exaustivas e a pressão para acabar com a guerra que
se alastrava cada vez mais. Não contei para o Black, mas tinha medo do
nosso filho nascer e ele não estar aqui.
Black merecia acompanhar o parto do bebê e seu crescimento de
perto, dando ao nosso filho todo o amor transbordando de seu peito.
Ouvindo o chorinho do pequeno, sentindo a pele macia. Participar do
crescimento do nosso filho, sem pequenos momentos através da tela de um
celular. Era injusto que tenhamos de ficar longe, após o pequeno espaço de
tempo que tivemos juntos.
— Vai ficar quanto tempo? — perguntei finalizando o beijo, com
medo de sua resposta. Os olhos cansados apertaram meu peito.
— Volto para o Texas de madrugada, em uma hora vou liderar uma
reunião em Las Vegas. Estamos tendo problemas com a administração de
um cassino. Prometo voltar para te ver antes de partir.
— Não quero que você vá. — Abracei-o com força, não queria
largar. — Não vou te soltar. — Segurei as lágrimas, a saudade torturando
meu peito, afundei o rosto na curva do pescoço inspirando o cheiro do
Black.
— Minha deusa — murmurou triste alisando meus cabelos.
— Diz que você está perto de resolver a situação, que essa merda vai
acabar e voltar para casa.
— É o meu maior desejo. — Beijou minha bochecha. — Precisamos
conversar com a médica, quero aproveitar um pouco do meu tempo com
você, estou morrendo de saudades. — Mordiscou minha orelha.
Três semanas sem sentir o corpo dele sobre o meu, sem receber seus
beijos apaixonados e sem delirar de prazer no amor gostoso que fazemos.
Se eu me apegar à tristeza por sua iminente partida, não conseguirei
aproveitar os minutos que me restam em sua companhia.
— Você tem razão. — Encarei o verde de suas íris.
— Desculpe — pediu baixinho.
— Não é sua culpa, encontre o líder dessa maldita organização e o
faça pagar pela saudade que sentimentos.
— Deixarei o miserável em pedaços. — As mãos apertaram minha
bunda, antes de me fazer descer de seu colo.
Segurei sua mão, saímos da sala de ultrassom e entramos no
escritório da doutora. Ela me alertou novamente sobre o peso, dei minha
palavra de que tomaria cuidado para não engordar, fazer meus exercícios
físicos recomendados.
Terminamos a consulta e deixamos a clínica. Entrei no carro com o
Taylor ao volante. Odiei o fato desse modelo não ter uma divisória entre o
banco do motorista e o passageiro. Ardia de vontade de ficar a sós com o
Black e aproveitar a intimidade com meu marido, mas com os seguranças
presentes não conseguiria aproveitar em paz.
Black passou o cinto ao meu redor, se assegurando da minha
segurança. Envolveu o braço nos meus ombros e veio beijar meus lábios.
Agarrei a lapela de seu paletó, afundei a língua na sua boca, aflita querendo
um contato maior, o sentir dentro de mim. Rosnei frustrada por não
conseguir o que desejava. Poderia culpar os hormônios da gravidez pelo
meu desespero, mas sabia que era fruto da paixão ardente pelo Black.
— Calma — ele pediu baixinho, agarrou minha coxa, o polegar
roçando minha virilha. — Não posso te atacar na frente do segurança.
— Manda parar o carro e eles saírem. — Mordi seu lábio quase
arrancando um pedaço.
— Josephine — meu nome saiu de sua boca carregado de erotismo.
Meti a mão dentro de seu paletó puxando a cintura larga para mim.
Black atacou minha boca faminto, respirando pesado contra meu rosto em
um beijo afoito. A língua deslizou tocando minha garganta. Abri o máximo
que pude, separei as coxas mexendo o quadril esperando fazer sua mão
subir. Ganhei um resvalar de dedos na intimidade coberta, gemi apertando o
pescoço do Black com a outra mão.
Senti o movimento do carro parando, abri um olho percebendo que
estacionava em um dos cassinos. Black puxou a boca para longe sorrindo
safado, ergueu a sobrancelha em uma pergunta silenciosa e soube o que
faríamos naquele lugar. Soltei o cinto, ele se libertou do seu. Taylor abriu a
porta para mim, desci acompanhada de meu marido.
O cassino Lux era esplendoroso, enorme, metros quadrados de pura
ostentação. Ainda não tinha conhecido os cassinos, Kennedy não os
frequentava, ela preferia os clubes. Consegui entender o motivo, o saguão
lotado de pessoas, algumas máquinas de caça-níqueis faziam barulho.
Minha sogra preferia tranquilidade e conversas amenas com as amigas da
alta sociedade. Ontem conheci a esposa do senador, uma mulher fina, culta
que adorava conversar sobre os países visitados.
— Queria te apresentar o cassino com mais calma, mas tenho uma
reunião sobre ele em 30 minutos, precisamos nos apressar — Black disse
me puxando pela mão, entramos no elevador de vidro.
O Lux não era somente um cassino de luxo, mas um hotel 5 estrelas
frequentado pela alta sociedade. Recebia por dia inúmeros hóspedes
importantes, pessoas do governo e estrangeiros de prestígio, como um
príncipe da Arábia Saudita.
Meu sogro adorava conversar sobre a importância dos Bonnarro e
seus negócios, me preparou para qualquer encontro relevante. Eu amo como
o Bartolomeu se preocupou em me fazer sentir parte da família, explicava
sobre os negócios lícitos e se oferecia para me mostrar os cassinos, sempre
aceitei, o Lux foi um dos poucos que ainda não tínhamos vindo.
Era divertido como o Bartolomeu e a Kennedy disputavam a minha
atenção. Eles tornaram a ausência do Black suportável. Às vezes eu dormia
na casa deles, não gostava de ficar sozinha na minha. Enchi o lugar de vida
e com a decoração que me agradava, mas nada conseguia apagar a solidão
de não poder aproveitar minha morada com meu marido.
As portas se abriram dando entrada ao corredor da área presidencial.
Segui o Black sentindo um misto de saudade avassaladora e dor pela nossa
despedida apressada. Com um cartão de acesso abriu a porta do luxuoso
quarto. Mal tive tempo de olhar o lugar, fui erguida no ar pelo meu marido
cheio de fogo. Fechou a porta com o pé. Bati contra a parede, agarrei a
barba do Black puxando seu rosto, enfiando a língua em sua boca,
devorando seu sabor e matando minha angústia.
Ele rosnou irritado, tentou retirar o botão da minha calça, mas não
conseguiu. Empurrei o paletó em seus ombros removendo a peça incômoda.
Agarrei as bordas da camisa de linho, puxando-a, os botões voaram junto
com o da minha calça. Estávamos famintos um pelo outro, as roupas se
tornaram um empecilho.
Black meteu a mão na minha bunda baixando a calcinha e a calça.
Arfei soltando sua boca. Ele ficou de joelhos retirando minha sapatilha,
puxei a perna removendo a calça de um pé. Black agarrou minhas coxas,
bati novamente contra a parede, agarrei seus cabelos, arfei recebendo a
lambida na vagina quente.
Eu fervia por dentro, desesperada para ser consumida pelo meu
homem. Black não teve cuidado ao enfiar a língua no meu interior, morder
minha carne, rodar o clitóris sensível com o polegar arrancando longas
ondas de prazer do meu corpo cheio de saudades.
— Céus, Black! — gritei seu nome.
Em chamas arranquei minha blusa e me livrei do sutiã. Ondulando
no rosto do meu amado. Black ficou de pé, meteu a boca na minha socando
dois dedos no meu interior. Gemi sofrida, precisando de mais. Arranquei o
cinto da calça, puxei os botões com os dedos tremendo, esquentando cada
vez mais. Puxei o pau enorme para fora, afastei a boca da sua e escapei de
seus dedos ficando de joelhos, devorei a carne inchada com força, sugando
a cabecinha rosada.
Como eu senti falta de devorar meu homem com a minha boca!
Agoniada agarrei o pênis robusto com as duas mãos. Black gemeu,
apoiado na parede segurando minha cabeça no lugar. Cada lufada rouca
escapando de seus lábios inchados era um incentivo para continuar sugando
com força, socando a cabecinha macia na bochecha, engolindo o
comprimento o máximo que podia, massageando a extensão com ambas as
mãos.
Minha boceta explodiu em líquidos molhados, louca para ser
comida, duelava entre continuar metendo seu pênis na boca ou ficar em pé
o recebendo em meu corpo. Black decidiu acabar com a minha dúvida,
puxou os meus ombros. Larguei seu pau com um “ploc”. Agarrou minhas
coxas me abrindo, pulei rodeando as pernas em seu quadril, agarrei os
ombros fincando as unhas. Beijei sua boca desesperada.
O pênis tocou o meu interior, gemi, mordi, rebolei, uma mistura de
ações desesperadas, devorei meu marido com a minha alma. A saudade
tornando nossa fome maior. Esfreguei os peitos em seu peitoral musculoso,
finquei as unhas nos ombros, adorando a sensação da pele do Black contra a
minha. Não conseguimos sair da entrada do quarto. Bati novamente as
costas na parede. Black começou a socar com tanta força e velocidade que
não aguentei continuar o beijando.
Meus gemidos entrecortados, as pernas deslizando ao seu redor, a
vagina explodindo, apertando o pau do Black para aumentar o contato nu
entre nossas carnes. As mãos segurando minha bunda com força,
arregaçando meu cuzinho pela puxada violenta, os dedos resvalando a área
intocada. Berrei ao ter um novo ponto atingido sem pena pelo pênis me
comendo como um animal.
— Inferno, Josephine, vou explodir comendo sua bocetinha gostosa.
— Rosnou contra o meu rosto, ele mal conseguiu respirar, concentrado no
movimento incessante do seu quadril socando e puxando.
— Mete em mim, amor — pedi, apoiando a cabeça na parede, senti
os fios de cabelo ficando presos, enrolando pelo movimento rápido.
— É uma tortura ficar longe da sua bocetinha, faz ideia de quanta
punheta bato pensando em você? — Desceu o rosto cheirando meu
pescoço, animalesco.
— Ãhn, Black! — gemi, esquecendo que me fez uma pergunta, cada
segundo mais envolvida pelo tesão arrebatador correndo pelo meu sistema.
— Isso mesmo, porra, estrangula meu pau com essa boceta apertada.
— Berrei recebendo a brusquidão de sua investida. — Rebola como uma
putinha, mostra como você me deseja. — Meteu a mão no meu cabelo
puxando minha nuca, devorando minha boca.
Remexi o quadril, esfregando o clitóris no abdômen sarado. Black
pingava de suor, a luz proveniente das janelas iluminando o rosto banhado
de prazer, o corpo brilhando pelo esforço físico. Eu deslizei contra ele com
facilidade, me jogando sem reservas no redemoinho de luxúria queimando
nossos corpos, extrapolando a saudade enlouquecedora.
Abri a boca, desci o rosto enfiando na curva do pescoço do Black.
Mordi o trapézio, amei o gosto de sua carne suada pelo sexo, o cheiro
másculo inundando meus sentidos. Rebolei o quadril ensandecida, fora de
controle, sentindo a loucura do orgasmo crescendo por um triz de explodir.
— Come meu pau, caceta! — Black ordenou batendo na minha
carne macia.
Foi o meu fim. A cabeça pendeu para trás encostando na parede, a
vagina o apertou com tanta força que jurei que arrancaria o pau do Black.
Tremi, braços, pernas, garganta com gemidos entrecortados, encarei o teto
do quarto me perdendo no delicioso redemoinho do orgasmo. Mal pude
acreditar na explosão devastadora varrendo meu corpo.
Black apertou a mão na minha bunda, trouxe minha nuca para a
curva de seu pescoço, meteu a boca na minha orelha e gemeu como um
animal. Esporrando as evidências do seu orgasmo no meu interior, ele
continuou metendo, socando devagarinho, acalmando a respiração e
controlando o corpo. Me apoiei mais nele, subindo ao escorregar um pouco.
Tirei a cabeça do meu esconderijo e sorri para o Black, amando o sorriso
em sua face.
— Oi — falei cansada.
— Tudo bem? — perguntou risonho.
— Muito, não passamos da entrada. — Controlei o riso.
— Planejava te levar para o quarto, mas iríamos perder tempo no
processo.
— Você tem mesmo que ir? — Alisei suas bochechas, triste pela
partida.
— Infelizmente — suspirou. — Quer ir para o Texas comigo?
— Não é perigoso?
— Pra cacete. — Encostou os lábios na minha bochecha. — Eu te
protejo. Ao menos uma semana, vem ficar comigo ou vou morrer de
saudade.
Eu queria aquilo como doida, poder aproveitar um pouco do meu
marido, dormir e acordar com ele ao meu lado. Sabia dos riscos que
podíamos correr, mas o Black tinha certeza de que me protegeria e eu
confiava nele.
— Vou perder alguns dias de aula.
— Só venha se não for te prejudicar na faculdade. — Respirou
cansado. — Estou começando a colocar as coisas em ordem. Destruí uma
base importante deles em Dallas, contive a invasão dos inimigos e há uma
semana não temos interferência no nosso território. Mais um pouco e essa
guerra acaba.
— Você já sabe quem é o líder?
— Não, estou com um plano em ação para capturar um dos
comandantes, descobri a empresa de fachada dele e os horários de trabalho.
Vou fazer o desgraçado entregar o cabeça da organização.
— Promete não se forçar demais? Você está muito cansado. —
Beijei seu nariz.
— Vou descansar com você ao meu lado. — Apertou meu corpo em
um abraço. — Estou recarregando as energias nesse segundo.
— Eu te amo, Black, e estou louca de saudades. — Beijei seu
pescoço.
— Também te amo, Josephine. — Alisou meu cabelo. — Fique no
quarto, vou para a reunião e volto para ficarmos juntos antes de voltar ao
Texas.
— Dê uma surra nesses safados que estão causando confusão e
atrapalhando nosso reencontro.
— Vou arrancar o dedo do gerente-geral. Ele tem causado problemas
na administração.
— Adoro seu jeito de homem de negócios. — Encarei os quartzos
em seu rosto. — Mas não esqueci que em Las Vegas tem arenas de luta,
preciso assistir meu homem lutando e torcer por ele. Vou jogar minha
calcinha no ringue como incentivo.
Black riu gostoso, acompanhei o som da sua risada, beijando os
lábios dele.
— Vou providenciar. — Beijou meu nariz. — Preciso ir, vai me
esperar?
— Sempre. — Colei nossos lábios.
Odiei deixar Josephine na suíte presidencial. Foram 3 meses de uma
saudade enlouquecedora. Não posso deixar o Texas por mais que algumas
horas. A situação ficava cada vez mais difícil. O que mais me enlouquecia
de raiva eram os desgraçados estarem sempre um passo à frente. Se eu
planejava um ataque os desgraçados se antecipavam, limpavam o local,
fugiam horas antes e depois revidavam com uma emboscada.
Michael estava ficando louco, Kai perdeu a paciência e começou a
agir ativamente nos ataques, liderando, buscando o motivo de nossas
investidas darem errado. Daniel era o mais calmo e calculista, foi o
primeiro a perceber que tínhamos um traidor. Não sabíamos quem era, por
causa disso precisávamos trocar toda a equipe que atuava no Texas.
Não podia confiar nos nossos soldados, principalmente nos
proveniente dos Bonnarro. Eu tive certeza que o rato se escondia entre um
dos meus homens. Excluí todos os esquadrões formados pelos Oficiais
Bruce, Clark e Lewis, não confiava nos maridos das minhas tias. Mantive
somente minha equipe, a do meu pai, do Steve e de dois irmãos da minha
mãe, os italianos enviaram alguns reforços para completar nossas forças.
Os homens do Gael chegaram mês passado, liderados pelo Dante
agiam como espiões, buscando pelo rato atrapalhando nossos planos. Após
a troca de esquadrões conseguimos realizar a primeira operação com
sucesso. Invadimos um galpão da Portões do Inferno, capturamos um
comandante e acabamos com uma de suas várias redes de tráfico humano.
Steve cuidava de Nevada, protegendo nossa família, atento aos
negócios, meu braço direito. Aos poucos as coisas pareciam se acalmar, as
invasões corriqueiras ao nosso território no Texas cessaram. Retirei o toque
de recolher, com a ajuda do Capitão Moore a paz começou a ser
estabelecida e foi somente por isso que consegui focar no gerente-geral do
cassino Lux. Investigando a vida do Bruce percebi uma atividade suspeita,
uma vez por mês ele sumia durante 12 dias. Era cuidadoso para se esconder,
ainda não sei para onde ele ia.
Clark e Lewis, apesar de serem filhos da puta, não levantaram
comportamento suspeito. Os cassinos administrados por eles iam bem e
cumpriam seus deveres na organização, mantinham a paz em Nevada sem
causarem problemas ao Steve ou a mim. Às vezes Clark ligava, pedindo
conselhos, ele tomou cuidado em suas ações para não fazer algo que me
irritasse. Lewis era mais contido, mandando relatórios diários.
Mas o Bruce andava descuidado. Faltando ao trabalho sem
explicação, brigando com os funcionários, demissões injustificadas. Os
soldados liderados por ele começaram a apresentar comportamento
suspeito, saiam de suas rondas, pediam transferência de esquadrão, fugiam
de ficar perto do líder. Não existe nenhuma relação do Bruce com o Texas
ou a Portões do Inferno, mas ele não sai do meu radar e a falta de provas me
deixou intrigado.
Somente por isso deixei minha esposa na suíte de luxo e segui para a
sala de reuniões. Atravessei a porta encontrando o grupo de funcionários
responsável pela administração da Lux. Sentei na cadeira de presidente na
ponta da mesa, encarei os homens e mulheres presentes, alguns parentes,
outros funcionários dedicados que não sabiam sobre a Máfia.
— Bom dia, senhores e senhoras. O que está acontecendo com a
Lux? Tivemos uma queda de 29% nos lucros no último mês, hóspedes
cancelando as reservas e escolhendo outros cassinos ou hotéis. Recebi
ligação de hóspedes VIP’s e VVIP’s reclamando do serviço e
principalmente do gerente-geral, que parece ter esquecido que ele não é o
dono da Lux! Onde você estava com a cabeça para desrespeitar a filha do
senador!?
Apesar da raiva, mantive a voz controlada, não podia explodir na
frente dos funcionários, tenho uma reputação para zelar e Bruce aprendera
que não podia mexer comigo sem receber punição.
— A filha do senador estava fazendo uma festa proibida na suíte,
com drogas e pessoas filmando. Eu só interrompi a farra antes que a polícia
chegasse — Bruce falou, o desgraçado exalou confiança. Diferente de
quando meu pai era seu líder, Bruce quis me enfrentar.
— E quem chamaria a polícia, você? — Arqueei a sobrancelha.
O homem engoliu em seco apertando a gravata. Os quartos
presidenciais possuem isolamento acústico, festas acontecem sem
incomodar outros hóspedes. Nenhum funcionário do hotel chamaria a
polícia, não importa o que acontecer.
— Os milhões de dólares pagos à polícia para não interferirem nos
meus cassinos é para hóspedes como ela poderem aproveitar sem
interrupções! A garota poderia ter matado alguém e isso não te daria o
direito de apertar o pulso dela a expulsando do cassino!
Apertei o punho querendo socar a cara dele, me controlando, não
perderei a razão na frente da minha equipe. Apesar da raiva, não alterei a
voz.
— Senhor…
— Cale a boca! — falei calmo, escondendo a fúria. — Gerente
financeira — fixei na mulher — explique a queda nos lucros!
— O senhor Bruce Bonnarro aprovou um novo orçamento,
diminuindo o salário dos funcionários e as horas trabalhadas. Em alguns
momentos algumas áreas ficaram sem um concierge. O que gerou um
desagrado, principalmente dos VVIP’s por não terem quem atendesse seus
pedidos.
— Tentamos contatar o senhor ou o senhor Steve Bonnarro para
rever a situação, mas fomos impedidos pelo gerente-geral com ameaças de
demissão — a gerente da área comum dos cassinos relatou. — Três da
minha equipe foram demitidos na última semana, depois que enviei ao
senhor o relatório sobre a situação do cassino.
— Eu sou o presidente do Grupo Bonnarro, com a maior
concentração das ações de cada cassino e hotel. É inadmissível que a
situação tenha chegado nesse nível por causa de um simples gerente-geral.
— Encarei o Bruce. — Você está demitido, passe no RH para assinar a
demissão e nunca mais ouse pisar nos meus cassinos.
— Black! — ele ousou gritar meu nome.
— Eduardo — chamei o líder da minha equipe de segurança,
ignorando o Bruce. — Acompanhe o Bruce, depois o leve para o complexo,
temos muito o que conversar.
— Sim, senhor — Eduardo respondeu, entendendo que Bruce será
jogado em uma sala de interrogatório.
— Nomearei como gerente-geral aquele de vocês que obtiver o
melhor resultado para aumentar o faturamento da Lux dentro de 10 dias. As
demissões serão revistas, tragam de volta os funcionários, retornem ao
horário de funcionamento normal, preencham cada corredor do cassino com
um concierge. Liguem para os VIP’s e VVIP’s pedindo desculpas pelos
transtornos causados, ofereçam vales-descontos e outras regalias para eles
voltarem. Que não se repita a ousadia de um gerente-geral tentar exercer
mais poder do que eu ou todos vocês serão demitidos e vou garantir que
ninguém consiga emprego em outro cassino ou hotel de Nevada.
— Sim, senhor — responderam.
— Comecem a apresentar os relatórios.
Escutei com atenção a fala de cada gerente responsável pelos setores
da Lux. O tempo inteiro quis voltar para a suíte e ficar com minha esposa,
mas foquei em resolver a bagunça causada na Lux com a minha ausência.
Se um dos meus cassinos ruísse seria como uma avalanche, todos os outros
enfrentariam problemas. A reunião foi exaustiva, após perceber a merda
que o Bruce fez marquei reuniões com a equipe administrativa dos outros
cassinos e hotéis, preciso da certeza de que outra merda como essa não vai
acontecer.
Estou física e mentalmente cansado, três meses intensos em uma
guerra no Texas, segurando as pontas em Nevada. Meus únicos momentos
de paz eram quando encontrava a Josephine e podia respirar tranquilo
beijando seus lábios de mel. Preciso da minha esposa ao meu lado, por isso
vou assumir o risco de a levar ao Texas comigo, mesmo que seja por uma
única semana, eu necessito dela para continuar respirando.
Passava das 22 horas quando finalmente entrei na suíte. Fui
deixando as peças de roupa jogadas no caminho entre o hall de entrada e o
quarto principal. Abri a porta com cuidado, encontrei minha linda esposa
deitada com um livro apoiado em um travesseiro, em cima de sua barriga, a
luz do quarto acesa, os olhos passando rapidamente pelas páginas. Relaxei
sentindo a paz invadindo meu corpo, era por ela que eu fazia aquilo.
Para que Josephine e meu filho pudessem aproveitar os dias de paz.
No momento dele me substituir, não enfrentará a tormenta de uma guerra.
Vou devastar a Portões do Inferno para meu menino não ser levado à
exaustão. Josephine notou minha presença, virou a cabeça com um lindo
sorriso me vendo parado no arco da porta.
— Vem para cá, amor — chamou docemente.
Acenei em positivo, exausto demais para falar. Ela colocou o livro
na mesa de cabeceira, se moveu para o lado erguendo o edredom. Enfiei o
corpo debaixo do calor confortável, deitei na cama. Josephine me cobriu e
veio para perto, segurei o ventre proeminente a puxando para mim, colei a
boca em seu rosto inspirando o cheiro de orquídeas.
— Dorme um pouco, amor. — Alisou minha barba.
— Preciso voltar para o complexo — murmurei sendo embalado
pelo carinho relaxante.
— Eu te acordo em cinco minutos. — Arrastou o nariz pelo meu.
Fechei os olhos, as pálpebras pesadas demais para continuarem
abertas. Puxei Josephine colando seu ventre no meu abdômen, sentindo
meu menininho protegido entre a gente. O pau flácido em cima da minha
coxa, não tive forças para ter uma ereção e fazer amor com minha esposa.
Um alerta do perigo de não tomar cuidado com minha saúde. Se algo
acontecesse agora, eu não teria forças para proteger quem amo, não posso
continuar assim. Preciso dar um fim a essa situação.
— Preciso… interrog…ar o Bruce — sussurrei, sendo vencido pelo
chamego da minha mulher.
— Eu te acordo, dorme um pouco — pediu baixinho soprando nos
meus lábios.
Apaguei derrotado pelo cansaço.
Black dormiu menos de um segundo após terminar de falar. Girei o
corpo deixando a cama, peguei meu celular e fui para a varanda do quarto,
enrolada no robe liguei para meu irmão. Não podia permitir que meu
marido continuasse se matando de trabalhar, nem que eu precisasse ir para
Nova Iorque falar com o Michael, ele iria aliviar para o Black.
— Phine, tudo bem? — Foi a primeira coisa que o Kai disse ao
atender a ligação.
— Estou bem e você?
— Morto. — Escutei o cansaço em sua voz. — Daisha está fazendo
fisioterapia para o braço, tenho me deslocado entre acompanhá-la nas
consultas, cuidar da construtora que começou a ter problemas com o alvará
de uma obra para a prefeitura e auxiliar na bagunça do Texas.
— Algum de vocês não está sobrecarregado? — murchei, como
pediria ao Kai para ficar no lugar do Black, se meu irmão exalava exaustão
na voz?
— A situação com o Texas tem roubado o sono de todos, ninguém
consegue descansar. — Suspirou. — Descobrimos a existência de um
traidor. Por isso nossos planos nos últimos 3 meses deram errado. Com a
troca de equipes as coisas estão melhorando, mas a passos lentos. É difícil
passar um pente fino em todos os esquadrões e continuar a vida de
empresário. Com o Matthew ainda se recuperando, o Michael tem
trabalhado em dobro. Não tenho nenhum Oficial para me ajudar, além dos
irmãos da Eleanor. Daniel e Dante estão fazendo o que conseguem para
manter as coisas no lugar.
— E o Belarc?
— Iniciou um novo treinamento com o Esquadrão da Morte, no
momento só podemos confiar neles para agirem em campo. Mas o que
aconteceu?
— O Black está muito cansado. — Sentei no sofá da varanda. — Ele
precisa descansar, não vai dar conta nesse ritmo.
— O Black é mais forte do que você imagina. Não precisa se
preocupar, estamos acostumados a trabalhar feito louco e logo resolveremos
essa situação.
— Você promete?
— Sim, seu marido acabará com essa guerra antes do meu sobrinho
nascer.
As palavras do meu irmão me confortaram. Não sabia como as
missões podiam ser cansativas. É a primeira vez que experimento a dor da
saudade por causa do trabalho. Lembro de quando o Kai voltava para casa
após uma missão, às vezes ele vinha manso atrás de conversa e eu o
expulsava, irritada com minha vida.
— Desculpe pelas vezes em que fui malvada com você após retornar
de uma missão.
— Não esquenta com isso, Phine. Somos homens de honra, é nosso
dever aguentar.
— É muito injusto — murmurei chorosa.
— Sabe o que faz todo o trabalho valer a pena?
— O quê? — Funguei.
— Voltar para casa e ver quem amamos seguro. O alívio e a
felicidade curam todas as dores. Vá ficar com seu marido, o encha de beijos
e carinho, ele ficará bem, eu te prometo.
— Farei isso. — Ergui-me. — Obrigada por me ouvir.
— Estou aqui sempre que precisar. — Pude sentir que ele sorria. —
Vou voltar para minha esposa e continuar recarregando minhas energias.
— Obrigada, Kai, por ser meu irmão.
— Obrigada, Phine, por ser a minha irmã.
— Você pode mandar a Lily para cá? Preciso de uma consulta —
pedi.
— Vou ver a agenda dela e marcar sua consulta, estive com ela
ontem.
— Foi muito difícil?
— E quando é fácil com a Lily? — Achei graça, ele tinha razão. —
Boa noite, Phine.
— Boa noite, Kai.
Desliguei o celular, retornei para dentro, deitei a cabeça no ombro
esticado do Black, envolvi sua cintura tocando a tatuagem nas costelas,
observei sua face cansada, beijei a ponta do seu nariz e adormeci grudada a
ele.
— Você não me acordou. — Despertei do sono com a voz rouca no
meu ouvido.
— Você não falou que horas eu deveria te chamar. — Alisei a barba
cheia, sorrindo sapeca. — Pensei em te acordar daqui a dois dias.
— Sua safadinha. — Agarrou minha cintura me fazendo rolar,
ficando em cima dele.
— Dormiu bem, amor? — Beijei seus lábios.
— Sim. — Roçou o nariz no meu.
— Vou para casa arrumar minhas malas para ficar uma semana com
você no Texas. — Se eu estiver por perto vou conseguir fazer o Black
descansar, mesmo que pouco, cuidarei do meu marido.
— É isso que eu chamo de bom dia.
Grudou a boca na minha, começando a ficar animado, sorri em meio
ao beijo, nada nesse mundo me faria ficar longe do Black.
Entrei na sala de interrogatório, como, oficialmente, o Bruce tinha
somente feito merda na administração do cassino eu não podia o levar para
a sala de tortura. Minha investigação não chegou ao fim, suspeitei dos dias
que ele sumiu de Las Vegas, algumas vezes coincidiam com os ataques no
Texas, mas em outros ele não esteve perto.
Senti que eu estava diante de todas as peças do quebra-cabeça, mas
não tive a principal informação para conseguir as colocar no lugar. Manterei
o Bruce preso, até eu resolver o que está acontecendo. Não correrei o risco
de o libertar e depois sofrer um golpe por causa disso.
— Não acha um exagero? — Bruce levantou, a roupa amassada por
dormir no chão da sala. — Eu só fiz merda na administração dos cassinos,
não preciso ser interrogado!
— Quem decide isso sou eu. — Sentei, abri o notebook buscando o
que precisava. — Onde você estava no dia 27 de fevereiro?
— Isso foi há quatro meses, não lembro. — Sentou, se dando conta
do teor da nossa reunião.
— Se continuar mentindo vou te levar para a sala de tortura. Você se
associou aos Bianchi pelo casamento com a minha tia, mas não pense que
será tratado como um puro-sangue.
Bruce inflou. Ele, Clark e Lewis sempre odiaram ser chamados de
impuros e sua autoridade questionada por ser fruto do casamento com
minhas tias, as verdadeiras Bonnarro de sangue.
— É ridículo o que você está fazendo! O Texas sendo dominado
pelos Portões do Inferno e eu sendo interrogado por uma idiotice de data!
— Não estou com tempo para essa merda. — Levantei, apesar de
dormir bem na noite passada, permaneci cansado e sem paciência para
enrolação. — Levem ele para a sala de tortura.
— Espera — gritou, apontando para os soldados. — Eu estava
viajando, fui à Tailândia em busca de novas mercadorias para os cassinos.
Um dos hóspedes me falou sobre uma bebida famosa na Tailândia que
podia ser vendida por mais de 100 milhões a garrafa, traria um lucro
absurdo se vendidas para os VVIP.
— Quero o nome e local de todos os cantos que você passou.
— Black, isso não é necessário, vamos lá, meu sobrinho.
— Engraçado, é a primeira vez que me chama de sobrinho. — Levei
a mão ao queixo. — Não me acha mais um maricas covarde?
— Nunca disse isso! Era o Lewis quem te xingava de frouxo pelas
suas costas.
— Tenho pena das minhas tias por casarem com homens como
vocês. Onde estava no dia 05 de março? — Sentei.
— Terei de falar todas as minhas saídas? — Balançou a cabeça
incrédulo.
— Se quiser sair daqui vivo, fale e prove que esteve nesses cantos.
— Black, vamos esquecer essas picuinhas do passado. Você é o
Capo de Nevada, passa por dificuldades no Texas, leve meus soldados,
vença a guerra e mostre seu poder.
Fechei as pálpebras cansado dessa merda de papo, Bruce estava
ganhando tempo e eu descobriria para o que. Levantei, dei a volta à mesa e
segurei o desgraçado pela gravata. Ergui a mão no ar descendo com força
no seu rosto, o tapa estalou pela sala. Bruce levantou enfurecido, o estapeie
três vezes fazendo seu corpo cair de joelho, preso pela gravata enrolada em
meu punho.
— Acha mesmo que vou te tratar como um membro da minha
família? — falei próximo ao seu rosto. — Não existe ninguém para te
defender e você é um maldito desgraçado que colocou em risco meu
cassino. Com viagens suspeitas para fora do estado, muitas feitas durante
ataques orquestrados às bases no Texas, uma delas colocando em risco a
vida do irmão do Chefe. Após retirar seus homens do Texas as operações
começaram a surtir efeito, agora, Bruce, me dê um bom motivo para não te
matar.
— Eu juro para você, Black. Eu não sou um traidor. — Agarrou meu
pulso, os olhos repletos de desespero. — A verdade é que eu tenho uma
amante, encontro ela uma vez por mês. O nome dela é Camila Brown, mora
em Los Angeles, é uma chinesa, trabalha em um restaurante em Chinatown.
Essa é toda a verdade, eu nunca traí os Bianchi, sei o destino dos traidores.
— Traiu minha tia, traiu os Bonnarro. — Apertei a gravata em seu
pescoço. — Vou investigar sua história e se eu descobrir que está mentindo
não vou poupar esforços para te matar. — Encarei o Eduardo. — Avise ao
Steve que Bruce ficará preso nas celas do porão até confirmamos que ele
não é um traidor.
— Sim, senhor.
— Black, espera! — pediu desesperado.
Deixei a sala fervendo em ódio, começava a ter certeza de que o
Bruce era um traidor, quis que fosse verdade para poder me vingar de todas
às vezes em que ele tentou me humilhar, questionando minha sexualidade.
Vou descobrir o que diabos Bruce esconde por trás de suas mentiras e o
fazer pagar por seus pecados.
Já estava exausto daquela maldita guerra, é hora de mover as peças
no tabuleiro para poder finalizar o jogo.
Cheguei da aula ansiosa para encontrar meu marido. Ele passou a
semana em Las Vegas, adiou sua ida ao Texas enviando o Steve em seu
lugar. Ficou resolvendo a confusão causada pelo Bruce no cassino Lux e
interrogando o desgraçado para saber a verdade por trás do
desaparecimento dele. Pelo que o Black me contou, ele realmente tinha uma
amante, mas não conseguiu localizar a mulher, o que só aumentou as
desconfianças e a Valentina fez confusão todos os dias querendo ver o
marido e arrebentar a cara dele.
Adoro a ousadia da tia do Black, ela não se deixou abalar pela
traição e quis fazer o marido infiel pagar. Já os filhos tentaram persuadir o
Black a deixar o pai deles vivo, alegando que a traição não era motivo de
morte. Mais uma grande bagunça para roubar o tempo do meu marido.
Bartolomeu mantinha-se longe, observando a situação, deixando o Black
fazer o que considerava certo.
— Black está em casa? — perguntei à Lúcia, a governanta.
— O senhor Bonnarro saiu cedo. — Cruzou as mãos. — Deseja que
eu sirva o jantar, senhora Bonnarro?
— Não, vou à casa da minha sogra, pode se retirar, Lúcia.
— Sim, senhora. — Acenou deixando a sala.
Joguei minha bolsa no sofá, dei meia-volta, abri a porta e comecei a
caminhar com Taylor ao meu lado. Kennedy mora a 2 minutos a pé da
minha casa, eu amei a proximidade de nossas residências, posso ir lá
sempre que desejar e receber a presença dela a todo instante. Subi os
degraus da entrada, girei a maçaneta entrando na linda casa de tons pastel.
— Sogrinha, cheguei — gritei.
— Estou na sala, minha filha — respondeu bem-humorada.
Amo quando a Kennedy e o Bartolomeu me chamam de filha. Eles
fazem eu me sentir em casa, protegida pela minha família amorosa que me
acolheu de braços abertos ao me receber como uma deles.
— Chegou na hora perfeita do Brunch! — Levantou animada
segurando minhas mãos.
— Temos de cortar os Brunch’s — lembrei-a. — A nutricionista
enviou minha nova dieta, preciso perder uns quilos para não ter
complicações na hora do parto.
— Besteira! — Abanou a mão na frente do rosto. — Eu tive três
filhos e nunca liguei para essa baboseira de dieta. — Puxou minha mão me
sentando no sofá com ela. — Confia na sua sogrinha que você terá a melhor
gravidez de todas! — Pegou um macaron em cima da mesa de centro. —
Aqui, sei que você ama esses.
Encarei a pirâmide de macaron e outras gostosuras na mesa de
centro, a vontade de comer todos era enorme. Foquei a visão no meu ventre
proeminente, alisei a barriga pensando no meu bebê. Kennedy nunca fez
nada para me prejudicar, mas decidi que ouviria a nutricionista e a minha
obstetra.
— Só um macaron, depois vou almoçar — avisei pegando o doce na
mão.
— Terei uma longa conversa com sua médica, como ela ousa acabar
com nossos Brunch?! — Bateu as mãos me puxando para o seu colo. —
Estava com saudades, como foi sua aula? — perguntou alisando meus
cabelos.
Deitei a cabeça em seu peito, subindo os pés para o sofá. Mastiguei
o macaron, que derreteu na minha boca pela quantidade exagerada de
açúcar. Os quilos ganhos nos últimos 3 meses estavam bem distribuídos
entre minhas pernas, barriga e peitos. Nunca tive a liberdade de comer o
que eu quisesse, Eleanor me controlava com rigidez. Kennedy sentiu prazer
em me ver feliz degustando de uma refeição ao lado dela.
Vivendo o meu melhor momento, grávida do homem que eu amo,
recebendo o amor de uma mãe, encontrei no Bartolomeu um pai que
adorava me mostrar seus cassinos e conversar sobre os negócios, me
deixando a parte de tudo sobre o mundo empresarial dos Bonnarro. Adorei
meu cunhado brincalhão. Tenho amigas preciosas que me ligam todos os
dias, não deixando a saudade da distância se tornar esmagadora.
Meu irmão, mesmo trabalhando como louco, sempre conseguia
tempo para mandar uma mensagem ou atender minhas ligações. Presente na
minha vida como eu sempre desejei. As consultas com a Lily estavam indo
bem, ela vinha para Las Vegas duas vezes no mês, os pesadelos estavam
diminuindo gradativamente e mesmo quando me assombravam eu
conseguia controlar o temor, não permitindo me dominar.
E meu marido, imerso no trabalho, quase sufocando sem conseguir
respirar, não perdeu uma oportunidade de me ligar, perguntava do meu dia,
conversava por breves minutos só para me ver. Despejando seu amor em
cada abraço, beijo, carinho e pequenos momentos juntos. Com o Black em
Las Vegas conseguimos dormir juntos, fazer amor demorado, eu controlava
os horários dele para não ficar sem comer ou descansar, o ajudando a se
manter saudável.
Tudo estaria perfeito, se não fosse a iminente ida para o Texas. Steve
e Black ficavam trocando. Quando o Black estava aqui o Steve estava no
Texas e assim por diante. Ainda tinha metade de um semestre pela frente,
mas considerei usar todas as minhas faltas em idas alternadas ao Texas com
o Black, fiquei apreensiva só de imaginar o deixar voltar sozinho e ele
retornar ao mau hábito alimentar, ficando horas sem descansar.
Tive medo dele cair de exaustão.
— Ótima! Adoro o campus de Las Vegas — respondi à Kennedy.
— Deve ser ótimo estudar, me alegra que as meninas da Máfia
possam prosseguir com os estudos.
— Você estudou até qual ano?
— Terminei o ensino médio na Itália e depois casei com o
Bartolomeu.
— Como foi ser a prometida dele?
— Bartolomeu me encantou na nossa primeira conversa. —
Suspirou apaixonada. — Nossa diferença de idade é de 5 anos, ele casou
cedo para poder assumir a posição do pai. Fomos apresentados oficialmente
no meu aniversário de 18 anos, na noite do noivado. Meu pai não tinha me
falado que eu seria pedida em casamento, imagine a minha surpresa quando
o homem que passei a noite admirando, pensando em como falar com ele
fez a proposta de casamento.
— Ficou entre a felicidade e a surpresa?
— Sim! — Alisou meu braço me puxando mais contra si. — Mal
podia acreditar que minha paixonite da noite seria meu esposo.
— O que te chamou a atenção no Bartolomeu?
— A educação dele, na época, éramos de uma organização pequena,
cresceu após a aliança com os Bianchi. Existia muita disputa com a grande
Máfia Siciliana, mas após o acordo com os Bianchi, tiveram de cessar-fogo.
Andrew Bianchi casou com Hannah, filha do Chefe da Máfia Siciliana, e
Bartolomeu casou comigo. Não tinha como as organizações continuarem
em guerra com um aliado poderoso como os Bianchi formando alianças
entre ambas as organizações.
— Você nunca se arrependeu de casar com o Bartolomeu?
— Nem por um segundo — beijou meus cabelos — amo meu
marido e a minha família. Mais ainda com ela crescendo. — Alisou meu
ventre.
— Eu também amo essa família. — Envolvi sua cintura com o braço
beijando o busto da minha sogra.
— Como assim?! — Ouvi a voz da Hope, ergui a cabeça vendo
minha amiga entrando com o Ethan no colo.
— Vovó! — O menino gritou se esticando para descer do braço da
mãe.
Hope soltou o Ethan, ele correu a coisa mais linda com os cabelos
batendo na testa, os olhos azuis do pai brilhando ao segurar as pernas da
avó. Saí dos braços da Kennedy deixando o pequeno se jogar no colo dela.
Tive o ímpeto de chorar ao imaginar meu bebê sendo recebido com amor
pela Kennedy, como ela fazia com o Ethan apertando o pequeno, beijando
as bochechas fofinhas.
— Vovó estava morrendo de saudades do meu meninão!
— Talbien! (também) — respondeu fofinho.
— E o beijo da titia? — perguntei cutucando sua barriga.
Ethan sorriu sapeca, encarou a avó, como se pedisse permissão.
Kennedy piscou e o menino esticou os braços para mim. Beijei as
bochechas rechonchudas ganhando um estalar de lábios na minha bochecha.
Ele levou a mão à boca e soprou outro beijinho. Morri de amores pela
fofura dele.
— Você está tentando roubar minha mãe! — Hope acusou sentando
ao meu lado, me puxando para um abraço.
— Ela já é minha — respondi beijando sua cabeça.
— Sou das duas! — Kennedy disse.
— Naum, vovó é mia! (Não, vovó é minha!) — Ethan falou
enciumado.
— Own, meu Deus, não aguento a fofura do Ethan. — Apertei sua
bochecha ouvindo a gargalhada gostosa.
— Adorei a surpresa — Kennedy disse à filha.
— Passaremos o final de semana em Las Vegas. Michael precisa
resolver algumas coisas com o Black — Hope explicou. — Como está a
faculdade, Phine?
— Ótima, e a sua?
— Morro de saudades do Ethan. — Encarou o filho cheia de amor.
— Michael diz que estou experimentando o que ele passa quando está
trabalhando.
— Thia Phine ta goldinha (Tia Phine está gordinha). — Ethan
cutucou minha barriga.
— Meu Deus, filho! — Hope levou a mão à boca.
Kennedy explodiu em uma gargalhada, eu sorri pela inocência do
meu sobrinho. Alisei os cabelos negros e aproximei o rosto do seu.
— Claro que estou. — Levei sua mão à minha barriga. — Tia Phine
está grávida, tem um bebezinho na minha barriga.
— Ocê tomeu ele? (Você comeu ele?) — Apertou as bochechas com
as mãos e me forcei para não rir.
— Não, meu amor, para os bebês nascerem eles primeiro precisam
crescer na barriga da mamãe.
— Uau! — Encarou minha barriga, alisando com as duas mãos por
cima da blusa. — Nalce luanto? (Nasce quando?)
— Daqui a uns 6 meses, mais ou menos.
— Vai blincal coligo? (Vai brincar comigo?)
— Com certeza, promete ser um bom priminho para ele?
— Sim! — Bateu palmas.
Continuamos conversando pelo resto do dia, gastei muita energia
brincando com o Ethan e sonhando pelo dia que estaria me divertindo
daquele jeito com o meu filho.
— Precisamos achar algo — Michael falou, após um dia de
interrogatório ainda não tínhamos conseguido fazer o Bruce revelar
qualquer ligação dele com a Portões do Inferno.
— Minha intuição diz que o Bruce é culpado. Após a prisão dele as
coisas estão mais calmas no Texas. Não tem como ser coincidência.
— Você tem razão. — Saiu do carro, o segui entrando na casa dos
meus pais para buscar minha esposa.
— Amanhã continuamos a conversa — avisei.
— Ficarei o final de semana, até segunda conseguiremos algo.
O som da gargalhada da Josephine atingiu meus ouvidos ao entrar na
casa dos meus pais. A encontrei na sala rodeada pela minha família, com o
Ethan cutucando a barriga dela e pulando animado.
— Boa noite — Michael cumprimentou.
— Papai! — Ethan gritou correndo para os braços do pai. Michael
pegou o menino, o girando no ar.
Estou contando os dias para poder interagir com meu garotinho
desse jeito. Ainda não sabíamos o sexo do bebê, mas eu sentia que era um
menino. Encarei minha irmã e minha mãe, precisava conversar com elas. A
necessidade de dividir meu passado com a Josephine crescia todos os dias
no meu peito. Hope quando contou a verdade ao Michael não pediu nossa
permissão, ela o fez por confiar no marido.
Mas aquele segredo era mais delas do que meu. Apesar da forma
como fui afetado, não conseguiria seguir em frente sem pedir a permissão
de ambas para contar o tormento do nosso passado. Estou pronto para
superar a marca sangrenta da nossa família e faria isso sendo sincero com
todos.
Peguei meu celular enviando uma mensagem para meu pai, mãe e
irmã. Pedi para me encontrarem no escritório após a janta, para que saíssem
sem chamar a atenção. Fui para o lado da minha esposa, beijei seus cabelos
e alisei o ventre. Ela percebeu minha ansiedade, apertou minha mão
oferecendo apoio.
— Depois do jantar vou me reunir com meu pai, mãe e irmã. Preciso
conversar com eles — avisei baixinho a ela — fica com o Ethan e o
Michael um pouquinho?
— Claro, meu amor. — Alisou meu queixo.
Esfreguei o nariz no seu, completamente pronto para entregar minha
alma à Josephine.
Reunimo-nos na mesa de jantar, após a refeição Hope falou baixinho
com o Michael, ele me encarou e acenou em positivo. Minha irmã beijou o
marido e o filho.
Ver a Hope feliz fez o sofrimento valer a pena, ela conseguiu se
libertar, minha mãe livre da tormenta vivendo apaixonada com meu pai, que
aproveitou sua família como ele sempre sonhou em fazer. Poder presenciar
os filhos felizes. Eu darei o último passo que minha família precisa para
enfiar o último prego do caixão.
Queria o Steve presente, por isso ao entrar no escritório liguei para o
meu irmão mais novo. Deixei o celular ao lado do abajur apontando a
câmera para mim, sentei no sofá ao lado da minha mãe, meu pai e Hope de
frente para a gente com o Steve acompanhando pelo celular.
— Eu quero a permissão de vocês — segurei a mão da minha mãe
— para ser capaz de compartilhar com a Josephine o passado da nossa
família.
O silêncio durou por dois segundos antes da Hope levantar e me
abraçar sentando no meu colo. Minha mãe envolveu os filhos em seus
braços fungando baixinho.
— Quando compartilhei com o Michael sobre o nosso passado, eu
senti o mesmo que você, a vontade de ser sincera, entregar meus segredos
para o meu marido sabendo que ele poderia me proteger e aceitar quem eu
sou. Eu amei o Michael ainda mais após a reação dele. Saber que você sente
o mesmo pela Josephine, a vontade de entrelaçar sua vida a dela
definitivamente, me deixa muito feliz. Pode contar a ela, Black.
Beijou minha bochecha.
— Eu e seu pai levamos anos para conseguir superar a desgraça
daquela noite. Você sempre foi um homem forte, aguentando, segurando as
pontas da nossa família e impedindo nossa ruptura. — Minha mãe segurou
meu rosto. — Meu menino, o segredo é tão nosso quanto seu, se decidiu
contar à sua esposa tem meu apoio. Josephine é uma mulher incrível, me
alegra tê-la como parte de nossa família, não somente como sua esposa,
mas como uma de nós. Alguém que podemos confiar nosso passado e
futuro.
— Eu concordo com a mamãe e a Hope — Steve falou. —
Josephine é sua esposa, você a ama e isso é evidente para todos. Se sente a
vontade de dividir o que aconteceu naquela noite com ela, tem meu apoio.
Você nunca contou para nenhum de nós como aquilo te machucou.
Escondeu no seu íntimo enquanto nos protegia. Tire esse peso do seu
ombro, seja sincero com a Josephine e consiga respirar em paz, irmão.
Estamos todos bem, a Hope e a mamãe vivem felizes e amadas, você
também tem o direito de ser livre das feridas do passado.
Hope saiu do meu colo, Bartolomeu se levantou vindo a mim. Eu me
sentia um garoto sendo amparado pela minha família. Em todos esses anos
aguentei com o máximo das minhas forças, escondendo os temores e medos
para não magoar minha família. Fui forte, me machuquei sozinho, os
protegendo.
Pela primeira vez eu quis ser cuidado, poder soltar as pontas que
segurei durante anos e me agarrar a alguém. Dividir o fardo, as feridas e
colocar um ponto final no tormento das minhas lembranças, superar as
diferentes formas que machuquei meu corpo para cumprir com as
obrigações da Máfia.
— De todos nós você sempre foi o mais forte. — Meu pai apertou
meu ombro, sentando ao meu lado. — Diversas vezes foi você quem fez eu
me levantar, me ajudou mais do que qualquer outra pessoa. Cresceu cedo
demais, aguentou as pressões da Máfia sem nunca ceder, protegeu sua irmã
e mãe, manteve o Steve longe das trevas. Black, eu tenho orgulho de você e
lamento pelas vezes em que fui incapaz de te proteger, nunca te impediria
de dividir com sua esposa aquilo que nunca conseguiu me dizer. Quero que
saiba, meu filho, que estou aqui para quando se sentir pronto e quiser
conversar comigo. Posso ter falhado no passado, mas nunca mais deixarei
algo acontecer a nenhum de vocês. Eu te amo, meu menino.
Segurei as lágrimas, não queria chorar na frente da minha família,
mas foi impossível. Eles me envolveram em um abraço que ia além do
conforto. Era a cura de uma ferida aberta anos atrás. Finalmente sendo
superada por todos os membros Bonnarro.
Eu nunca gostei de pensar naquela noite como uma tragédia. Por
causa dela a Hope existe e somente por isso consegui me manter firme por
anos. Pelo amor rodeando a minha casa, envolvendo cada um dos membros
e garantindo que fôssemos fortes o suficiente para superar os momentos
tenebrosos.
Sinto-me pronto para falar pela primeira vez o que aquela noite
significou para mim. E o farei com minha esposa, depois com meu pai e
minha mãe. Pouparei a Hope e o Steve, eles não precisam se preocupar
comigo, eu estou bem, pronto para dividir com a Josephine.
Segurei a mão da Josephine, caminhamos a passos lentos de volta
para a nossa casa. O vento frio de Nevada batia com gentileza na minha
face, trazendo conforto e coragem para ser capaz de confessar tudo que eu
queria a ela. Não vou esconder nenhum pedaço da minha alma da
Josephine. Quero entregar tudo à minha esposa.
Beijei o ombro exposto, ela sorriu apertando a mão na minha, deitou
a cabeça no meu ombro, suspirando baixinho. Envolvi sua cintura a
puxando para perto de mim. Não demorou muito para chegarmos em nossa
casa e entrarmos. A observei com cuidado, Josephine transformou nosso lar
em um lugar aconchegante. Cores vivas, decoração moderna e muitos livros
espalhados pelas estantes na sala e demais corredores. Ela comprou tudo
que sempre desejou e ia lendo devagar, aproveitando cada momento.
Às vezes sinto que estou vivendo em uma biblioteca. Sorri
encarando minha esposa, passei um braço debaixo de seus joelhos e o outro
acoplado em sua cintura a erguendo no ar. Josephine gritou feliz, beijou
meu queixo e bateu os pés no ar. A levei para a sala de leitura, quis
conversar no ambiente mais pacífico da nossa casa. Deitei minha esposa no
sofá, acendi a vela que ela deixava ali e me despi do terno, ficando somente
com a calça.
— Sexo em meio aos livros, adoro — rosnou.
— Como se eu não te comesse aqui a cada oportunidade. — Fui por
cima de seu corpo, beijando o ventre proeminente de 14 semanas.
— Nunca me canso. — Segurou meu queixo me puxando para um
beijo gostoso.
Deitei a lateral direita entre o encosto do sofá e Josephine. Encaixei
seu quadril no meu, adorando a sensação do meu pau cutucando sua bunda
grande. Apoiei sua cabeça no meu ombro, abracei o corpo da minha esposa,
inspirei o cheiro de seus cabelos e comecei a dizer tudo que eu queria.
— Meu pai tem 3 irmãs mulheres e um irmão homem.
— Você tem um tio? — Alisou os cabelos do meu antebraço,
deslizando as unhas pintadas de preto para cima e para baixo.
— Sim, o nome dele era Benjamin. Ele era gêmeo do meu pai. E é o
verdadeiro pai da Hope.
— O quê? — Girou me encarando surpresa. — Hope não é filha do
Bartolomeu?
— Biologicamente eles possuem o mesmo DNA. Bartolomeu e
Benjamin eram gêmeos monozigóticos, a única diferença entre os dois eram
as digitais, já que essas se relacionam com os lugares tocados pelo bebê no
útero da mãe. — Alisei seu ventre. — A Kennedy nunca traiu o
Bartolomeu, ela era a única pessoa que conseguia diferenciar os gêmeos e
nunca se envolveu com o Benjamin por um descuido. — Engoli em seco.
— O que vou te contar é a história da minha família e o que se esconde no
sangue da minha irmã.
— Ah, Black. — Os olhos ficaram tristes imaginando o que viria.
— Benjamin sempre foi ambicioso, queria tudo que pertencia ao
meu pai. Por ser o mais velho eu tive mais contato com o Benjamin,
observei de perto como ele agia na organização. Meu pai nunca ficou
tranquilo com a presença do irmão, sempre alerta, me orientou a nunca cair
nas conversas do Benjamin ou obedecer às ordens do meu tio. Na época o
Steve ainda era uma criança com 7 anos, eu já tinha 14 e era um homem de
honra, fui iniciado aos 12 anos pelo meu pai.
— O que acontece na iniciação? — perguntou baixinho.
— É quando nos tornamos homens de honra. Na Máfia Bianchi a
tradição é ser iniciado aos 12 anos. Mas em alguns casos como o do
Michael, se o pai escolher pode acontecer mais cedo. Cada um possui uma
experiência diferente. Meu pai me levou para a sala de interrogatório do
complexo, eu já sabia o que iria acontecer. Ele me deu uma senha e por um
mês tentou arrancar ela de mim, cedi umas três vezes até pegar o jeito.
— Doeu muito? — Enfiou os dedos na minha barba fazendo
carinho.
— Pra cacete. É necessário passarmos por um treinamento valioso
no nosso mundo, para não entregarmos informações em casos de tortura. —
Alisei o nariz no seu. — Depois aprendi a lutar, usar armas e como agir em
uma missão. Um ano depois foi a minha formatura, por assim dizer, que
termina com o garoto virando homem. Transei com uma prostituta.
— Não foi desconfortável? Você era só um garoto.
— Eu era um adolescente cheio de hormônios sendo consumido pela
vontade de me provar um homem de honra. — Dei de ombros sorrindo. —
Mentiria se eu falasse que não fiquei ansioso para transar.
— Seu safado. — Beliscou-me, encolhi rindo.
— Mas foi somente aquela vez. — Alisei suas costas sentindo as
cicatrizes. — Meu pai me proibiu de continuar fazendo sexo. Kennedy não
gostava da ideia de seu filho de 13 anos transando, então Bartolomeu
obedeceu a esposa. — Curvei o canto dos lábios para baixo lembrando do
que veio em seguida. — Também foi a única vez, antes de você, que eu
consegui desejar o sexo sem preocupações.
— Mesmo com a Amber, você se controlava?
— Sim. — Alisei o nariz no seu. — Apesar dela dizer que estava
tudo bem, que me queria, e eu a desejar. Não conseguia ficar totalmente
tranquilo, uma trava continuava me puxando. Somente com o tempo fui
conseguindo relaxar. Passei 6 anos com a Amber, levamos um ano e meio
após o início do namoro para transar pela primeira vez. E com muita
paciência fomos evoluindo, eu consegui me soltar com mais facilidade
depois de 4 anos juntos.
— Amber foi mais que uma namorada para você. Ela foi quem te
ajudou com seu trauma, ofereceu compreensão e conforto quando você não
conseguia com outras pessoas. — Alisou minhas bochechas, não existia
mágoa na voz da Josephine, apenas compreensão.
— Nunca contei a ela o motivo de eu não gostar de fazer sexo. —
Engoli em seco. — Mas fui sincero dizendo que não conseguia com
facilidade. A Amber começou a pesquisar, ia em psicólogos saber como me
deixar confortável com ela, de que maneiras poderia me ajudar. — Sorri
saudoso. — Acho que ela foi a minha psicóloga de certa maneira.
— O relacionamento de vocês não deve ter sido fácil. — Franziu o
nariz. — Como ela lidava com todos os seus segredos?
— Acho que a Amber precisava de mim como eu dela, por isso nos
dávamos bem. Na época da faculdade éramos amigos, nos distanciamos
quando percebi que ela gostava de mim. Anos depois ela foi minha
enfermeira e aquela paixão continuava em seus olhos. Eu estava fragilizado,
queria uma amizade, uma conexão de verdade com alguém, acho que por
isso dei uma chance a ela.
— Era fácil gostar dela?
— Sim, ela não fazia perguntas, não exigia, apenas estava lá
precisando de amor e eu querendo um pouco de paz, ser capaz de me
conectar com alguém, fazer sexo por escolha minha. — Fechei os olhos
sentindo a dor de anos atrás voltando. — Eu tinha 14 anos quando tudo
aconteceu…
Fui jogado no mar de lembranças, contei a Josephine cada detalhe
dos anos que seguiram minha vida depois daquele dia.
— Está tudo bem, meu amor — ouvi uma voz carinhosa falando no
meu ouvido.
Forcei as pálpebras a se abrirem, tentei mexer minhas mãos, mas
não consegui. Meu corpo doeu, o movimento de respirar piorou a dor
maçante.
— Olha para mim, meu filho — ela pediu.
Ergui a cabeça encontrando os olhos inchados da minha mãe, os
lábios finos machucados. Sua mão deslizou pelos fios dos meus cabelos, a
consciência do que aconteceu retornando à minha mente como um
terremoto. O choro irrompeu sem pedir permissão, afundei o rosto em seu
peito, abracei sua cintura com força.
— Você está bem, Black, tudo está bem. — Beijou minha bochecha.
— Por favor, filhinho, fica com a mamãe.
— Me desculpe por não te proteger — implorei, repeti a frase vezes
seguidas, perdendo o ar pelo choro copioso.
— Não foi sua culpa. — Beijou minha bochecha. — Nunca se culpe,
Black. Você fez o que pôde. — Soluçou. — Não deveria ter visto aquilo —
apertou minha cabeça em seu peito — me perdoa, meu amor.
— Mamãe, eu te amo muito, me perdoa — gemi, apertando seu
corpo com o meu, tremendo, chorando, desesperado pelo que ela passou.
— Não foi sua culpa — sussurrou no meu ouvido. — Eu estou bem,
eu te amo, meu amor. — Beijou meus cabelos.
Não sei quanto tempo se passou até sermos capazes de controlar o
choro e encarar o rosto um do outro. Percebi o gesso nos meus pulsos e
tornozelos, estávamos na clínica no complexo em um quarto separado do
mundo externo, acariciando um ao outro, despejando palavras de amor e
tentando fechar a ferida sangrando.
— Como chegamos aqui? — perguntei rouco, ela alisou meus
cabelos tentando me fazer dormir.
— Seu pai nos achou. Algumas horas após o… — Tremeu a voz,
senti as lágrimas caindo de suas bochechas na minha cabeça. — Ele se
preocupou quando o Steve disse que não tínhamos voltado e nos procurou.
— Alisou minhas costas me puxando contra si. — Ele nos achou e nos
trouxe para cá. — Notei como era difícil para ela falar.
Com a mão engessada alisei suas costas querendo a confortar,
apesar de ser um homem de honra com 14 anos eu me senti um garoto
pequeno implorando por colo para a mãe. Como ela conseguiu me tocar
depois de tudo que passou? Eu quis chorar, gritar, implorar por perdão.
Mas a única coisa que fiz foi travar o choro na garganta e dar amor à
minha mãe. Apesar de aparentar ser forte eu a vi ruindo por dentro, repleta
de dor, machucada profundamente.
— Eu pensei que você fosse morrer. — Soluçou. — Você estava
muito quente, Black, passou uma semana inconsciente, a pneumonia
piorou, meu bebê. — Chorou pesado. — Nunca mais me assuste desse jeito.
Ela se agarrou a mim para continuar vivendo.
Os seis meses seguintes foram uma mescla de inferno para a minha
família. Minha mãe, apesar de ter sido abusada por um homem com a cara
do meu pai, não ressentiu o Bartolomeu. Ela soube diferenciar o irmão que
a machucou e do homem que ela amava. Eu, Steve e meu pai a puxamos da
depressão, não permitindo que caísse.
Mas somente quando ela descobriu a gravidez pôde ter esperança
de dias melhores.
— Essa criança é o que precisamos para superar a tragédia, será a
minha Hope. — Alisou a barriga, encarando meu pai feliz. — Ela é sua
filha, eu sinto em meu coração.
— Sim, meu amor, ela é nossa menina. — Meu pai envolveu minha
mãe em um abraço repleto de amor.
— Nossa irmã — eu disse puxando o Steve e os abraçando.
Precisávamos daquilo, de uma esperança capaz de afastar os dias
ruins e trazer alegria para nossas vidas. Ajudei meu pai na busca pelo
Benjamin, que havia sido declarado um traidor por se envolver com uma
organização da América Latina, tentei conversar com ele sobre aquela
noite, mas não encontrei coragem.
Escondi de todos os pesadelos me assombrando e o quanto o sexo
me assustava. Tentei viver minha vida de forma normal, mas fugia sempre
que meus primos ou amigos me chamavam para ir aos puteiros da
organização. Não conseguia pensar em sexo sem lembrar daquela noite,
sem tremer, querer vomitar e quebrar por dentro. Algumas vezes, para
provar minha masculinidade, eu levei prostitutas para os quartos e paguei
para fingirem que transamos, tomei cuidado com as escolhidas, peguei
aquelas que não gostavam de ser prostitutas, mas o faziam devido aos
problemas pessoais.
Meu pai nunca aceitou que mulheres pagassem suas dívidas de
jogos usando os corpos nos puteiros dos Bonnarro, também não mexíamos
com tráfico de mulheres. As que entraram aqui foi por escolha delas, sem
dever um centavo aos Bonnarro, mas se prostituindo por suas razões
pessoais.
Escolhia as que não gostavam de se prostituir para serem minhas
cúmplices. Até que chegou o dia de muitas me procurarem, sabendo que
seriam pagas sem transar. Isso me ajudou, fazia eu parecer viril e acalmou
a pressão dos homens Bonnarro para verem meu lado de macho, como eles
chamavam. As meninas eram leais, eu dei agrados a cada uma para
continuarem me servindo. Por um tempo, essa farsa foi minha salvação
para evitar o sexo que eu repudiava.
Minha mãe era mais forte do que eu, ela se apegou a Hope,
cuidando da minha irmã para esquecer os traumas da noite marcante do
abuso. Meu pai protegia a Hope como sua filha, eles tinham certeza do
Bartolomeu ser o pai biológico da minha irmã e nada abalou o mundo do
casal. Mas eu sabia como eles tentavam se manter firmes, sem desabar,
todos os dias minha mãe lutou se mantendo sã, tentando cumprir com seus
deveres na organização, mas aterrorizada com a ideia de sair de Las Vegas
e acabar capturada novamente pelo Benjamin.
Nos meus 18 anos, Benjamin foi capturado. Foi uma operação
demorada, Bartolomeu precisou agir sozinho, ele contou comigo para
manter suas saídas buscando pelo Benjamin em silêncio. Capturou o
desgraçado na Argentina e o trouxe para o porão da nossa casa. Eu quis
matar o maldito, acabar com a vida dele como ele fez conosco. Me juntei
ao meu pai na tortura do Benjamin. O Steve só tinha 11 anos, não o
deixamos participar, meu irmão seria poupado o quanto pudesse das trevas
daquela noite.
Durante a tortura eu rasguei o cu do Benjamin com uma barra de
ferro. Quis fazê-lo sentir como era ser violado, arrancar dor de seu corpo,
o humilhar, massacrar seu espírito como ele fez com a minha mãe.
Expurgar muitos demônios ao lado do meu pai, torturando o Benjamin
como homens perversos, como nós, fomos treinados para fazer.
Só não contávamos com minha mãe entrando no porão. Benjamin
estava amarrado na cadeira pelo tronco. Eu tinha arrancado o braço do
infeliz com uma faca cega cheia de ferrugem, ele não duraria mais do que
alguns dias.
— Desgraçado maldito. — Minha mãe desferiu o tapa na cara dele
com ódio pungente. — Achou que seria capaz de acabar com a minha
família, seu miserável. — Arrancou o alicate da mão do meu pai metendo
no pau do Benjamin. Brutalmente, ela arrancou o pênis pele.
Benjamin gritou, encarou minha mãe e eu soube que ele falaria algo
horrível. Corri até ela, mas não fui capaz de impedir a desgraça atingindo
nossa família.
— Ela tem o meu sinal? — perguntou. — A marca no olho esquerdo
escondida pela pálpebra vai provar que ela é minha filha.
Eu gelei, encarei meu pai o vendo arregalar os olhos. Minha mãe
ergueu a mão, puxou a pálpebra esquerda do Benjamin encontrando um
sinal igual ao da Hope. Bartolomeu não tinha aquela marca e percebi,
tarde demais, que aquilo era a prova de que a Hope era filha do Benjamin.
Hope era uma bastarda e se aquilo fosse descoberto seria o fim da
nossa família.
— Naquela noite meu pai matou o Benjamin, mas o estrago foi
grande demais. Os aniversários da Hope se tornaram momentos de
desespero para nossa família. A verdade sobre a paternidade foi revelada à
meia-noite no aniversário de 4 anos da Hope. Ninguém sabia, mas na noite
do abuso o Benjamin sussurrou coisas no ouvido da Kennedy, ele a
envenenou para caso tivesse uma filha ela lembrar daquela noite e ver a
imagem dele na filha. Então em todos os aniversários da Hope minha mãe
surtava, atacava a filha tentando matá-la. Ela não conseguia diferenciar a
Hope do Benjamin.
— Meu Deus. — Josephine suspirou fungando, limpou o rosto na
minha camisa.
Ela não parou de chorar e de se surpreender a cada nova verdade
revelada sobre o meu passado. O conforto que ela me deu refletia a como
amparei seu coração quando descobri a verdade por trás de suas cicatrizes.
Eu me sinto seguro nos braços da minha esposa, abraçando, cheirando,
beijando seus cabelos e tocando o ventre proeminente protegendo nosso
bebê.
— Eu tentava segurar a minha mãe, impedir que ela atacasse a
Hope, mas não tinha forças para prendê-la, pois sempre que a machucava, a
soltava recordando dos seus gritos naquela noite. De como fui incapaz de a
proteger. — Levei a mão da Josephine ao meu cotovelo onde tinha uma
pequena cicatriz. — Em um dos surtos dela, a Kennedy tentou atacar a
Hope com uma faca, protegi minha irmã e fui atingido no lugar dela.
— Como ele foi capaz de machucar uma mulher como a Kennedy?
— Chorou. — De te fazer assistir ao abuso… — Agarrou meu rosto me
puxando contra si, banhando minha face com beijos amorosos. — Eu sinto
tanto por isso ter acontecido, vocês não mereciam passar por esse inferno.
Sempre acreditei que eram uma família repleta de amor, nunca imaginei que
escondessem uma dor profunda como essa.
— Foi o amor que nos fez aguentar o sofrimento. — Segurei seus
ombros encarando os olhos turvos pelo choro. — Você conheceu a minha
mãe. Ela sempre foi essa mulher protetora, repleta de amor pelos filhos e
esbanjando felicidade. Era somente no aniversário da Hope que ela surtava,
depois se arrependia, implorava por perdão. Sufocava cada um de nós com
amor incondicional. Depois a Hope entendeu a verdade sobre seu
nascimento e a motivação por trás das decisões da nossa mãe, mas acima de
tudo compreendeu nosso amor para permanecermos juntos, nos seguramos
com todas as forças a nossa família. A proteger e sermos protegidos uns
pelos outros.
— Então vocês ficaram bem? — Fungou limpando a garganta.
— Não. — Apertei Josephine com força, odiando lembrar do
passado. — Hope estava destruída, ela se culpava pelo tormento da nossa
mãe. Não podia sair de casa ou interagir com outras pessoas. Tínhamos
medo do segredo ser descoberto, de algo acontecer com ela ou com a
Kennedy — tremi — foi assustador ver minha irmã querendo se matar —
disse em um fôlego, o choro travado na garganta. — Mesmo após a
Kennedy começar a fazer terapia, se tratando para não machucar a Hope, as
mágoas eram profundas e eu não consegui fazer nada por elas…
— Meu amor — puxou meu rosto encontrando meu olhar — vocês
são tão fortes por aguentarem esse inferno juntos. Sua irmã está bem,
casada e com um filho maravilhoso e a Kennedy, porra, Black. Eu nunca
diria que ela passou por tamanho sofrimento. — Apertou minhas
bochechas. — Você conseguiu proteger todos eles, cuidou da sua família —
tocou a testa na minha — mas agora pode descansar. — Envolveu meus
ombros. — Divide comigo seu fardo, Black. — Abraçou meu coração com
sua alma.
E eu deixei irromper, o choro de anos aguentando o sofrimento,
lutando todos os dias para animar minha irmã, consolar minha mãe, ajudar
meu pai a se manter firme e proteger o Steve das dores do passado. Apertei
Josephine com força nos braços deixando o desespero vazar, não segurando
uma única gota em meu corpo, chorei como uma criança. Chorei o que
nunca deixei sair após ver minha mãe ser abusada. Chorei os anos em
silêncio querendo pedir ajuda ao meu pai. Chorei por as vezes que abusei
do meu corpo para cumprir com uma obrigação pela organização.
Chorei até não restar mais lágrimas a serem derramadas, até a voz da
minha esposa se tornar rouca pelo amor derramado em suas palavras. Eu
não precisava mais buscar por consolo ou alguém para me proteger. Eu
tenho a Josephine, a mulher que eu amo, minha esposa e mãe dos meus
filhos. No início da nossa relação, eu queria curar as feridas dela, mas sem
perceber foi ela quem fechou as minhas.
— Obrigado por existir — murmurei alisando seus cabelos, funguei
baixinho, timidamente os raios de sol entraram pela janela aberta.
— Obrigada por insistir em nós — sussurrou. — Vocês passaram
pelo inferno, Black. Mas veja tudo o que conquistaram, amor. Sua mãe ri
com facilidade, abraça os familiares, conversa com alegria e se derrete de
amores nos braços do seu pai. Bartolomeu tem orgulho dos filhos, confia
em você cegamente, nem por um segundo ele temeu que você permitisse
que a ameaça do Texas chegasse à nossa família. A Hope encontrou o amor,
ela transborda felicidade com a família, e o Steve — sorriu doce — é um
mulherengo de primeira, ele não foi afetado pelo abuso. Seu irmão possui
uma alma bondosa, te admira mais do que você pode imaginar. Você
conseguiu o proteger. — Beijou meus lábios carinhosamente. — Você é o
Herói dos Bonnarro, meu amor, e será o herói do nosso filho. — Entrelaçou
nossos dedos em cima de seu ventre. — Eu não tenho medo de nada, pois
sei que tenho você nos protegendo. Você já pode parar de lutar, amor, vocês
venceram a batalha.
— Eu amo muito você — murmurei a envolvendo em um beijo
avassalador, transbordando com os lábios o que as palavras não
conseguiam.
O peso que me atormentou desde os meus 14 anos finalmente saiu
de cima de mim. Explodindo no ar e sendo levado para longe. Josephine
inundou tudo com o calor de seu amor, me fazendo perceber o que eu já
sabia. Minha família não precisava mais da minha proteção. Cada um deles
conseguiu se curar, fechar as feridas sangrentas e recomeçar. Estou pronto
para seguir meu caminho deixando o passado completamente para trás.
— Sua mãe continua fazendo terapia? — perguntou após um tempo
de beijos apaixonados.
— Sim. Meu pai encontrou uma terapeuta especializada em
violência sexual para ela. Os surtos nos aniversários da Hope acabaram,
hoje em dia elas conseguem passar a data conversando por telefone, mas a
Hope ainda não se sente pronta para passarem juntas.
— Por isso vocês não comemoram aniversários? — Alisou minhas
costas.
— Por um tempo tentamos comemorar escondidos os aniversários
da Hope, mas, ou nossa mãe aparecia e estragava tudo ou a Hope não tinha
mais emocional e se isolava. Michael foi o primeiro a conseguir fazer a
Hope comemorar, todos os anos eles vão para um chalé e ficam por lá. Esse
ano levaram o Ethan. Ela manda fotos para a gente. Eu e o Steve não temos
vontade de comemorar o nosso, então só damos parabéns, acabamos nos
acostumando.
— Todos os anos vamos comemorar o aniversário de cada um de
vocês. De quem é o próximo?
— Do Steve em dezembro, depois minha mãe em janeiro.
— Faremos uma festa enorme — os olhos brilharam — podemos
enganar ele fingindo que encontramos uma noiva para ele.
Gargalhei puxando minha esposa para um beijo caloroso.
— Ele vai cair duro no chão, vamos contratar uma atriz para encenar
quando contarmos a ele.
— Vai ser perfeito. — Sorriu boba. — Nosso menino vai nascer em
março, será uma data especial e sempre iremos comemorar com uma festa
enorme.
— Você terá tudo o que desejar. — Peguei-a gostoso, metendo a
mão em sua bunda, sentindo a vontade de unir nossos corpos e selar o que
construímos essa noite.
— Espera, antes de fazer safadeza — beliscou minha barriga — me
explica mais sobre sua relação com a Amber? Como ela conseguiu te ajudar
sem saber do seu trauma?
— Nos reencontramos após eu sofrer um atentado em Vegas. Fui
levado para o hospital e ela trabalhava lá. Fiquei um mês internado, naquela
época a Hope estava com início de depressão, o Steve começava a dar
sinais de que não estava bem e meu pai lutava para levar minha mãe à
terapia sem ser descoberto. Eu queria alguém para conversar — alisei as
bochechas da Josephine — não podia ser sincero com a Amber, mas
falávamos de qualquer coisa. Fui me apegando a isso, mesmo após receber
alta continuamos conversando por mensagens.
— O que o Steve tinha? — Cutucou minha bochecha. — A Hope
não podia fazer terapia também?
— Um tempo depois descobri que o Steve estava sofrendo de
coração partido.
— Sério? — Arqueou a sobrancelha contendo o riso.
— Sim, o desgraçado levou um fora de uma colega da faculdade que
ele gostava. A menina era lésbica e não tinha interesse no Steve.
— Não acredito que o motivo do Steve ser um galinha é o fato dele
ter tido o coração partido. — Gargalhou, ri junto com ela amando o som da
sua risada.
— Não conta para ninguém, eu jurei segredo.
— Não direi nada. — Mordeu os lábios.
— Quanto a Hope, era perigoso ela sair de casa e não podíamos
trazer uma terapeuta para cá. As coisas naquela época eram diferentes, o
Andrew sempre foi um líder sádico. Para evitar que ele colocasse os olhos
na Hope não fazíamos nada que chamasse a atenção dele. A única vez em
que meu pai se arriscou foi para a Hope poder fazer faculdade, com as idas
às aulas minha irmã passou a ganhar vida.
— E você? — Cutucou meu queixo.
— Eu tinha meu refúgio chamado Amber. — Dei de ombros. —
Conversar, ficar na presença dela, me tirava do abismo, dava uma luz no
fim do túnel.
— Ela sabia que você era da Máfia?
— Descobriu — beijei os dedos da Josephine — o pai da Amber era
abusivo, batia na mãe e na filha. Por isso foi fácil para ela se apegar a mim,
ela, assim como eu, buscava pelo que não tinha em casa. Eu estava em um
dos cassinos, Amber me ligou desesperada com medo da mãe ser morta. Fui
para a casa delas, encontrei a Amber com um olho roxo pedindo para salvar
a mãe. Entrei na sala e a cena me jogou de volta para quando o Benjamin
abusou da minha mãe. Yasmin, mãe da Amber, estava no chão sendo
espancada pelo marido. Parti para cima dele e o matei friamente.
— Elas não ficaram com medo de você?
— Não, Yasmin estava apavorada que eu fosse preso. Foi quando
contei a verdade sobre quem eu era e que tudo ficaria bem. Nenhum policial
teria coragem de me prender. Provando meu ponto eu chamei a polícia,
disse que o homem morreu de infarto e ninguém fez perguntas. Augusto,
irmão mais velho da Amber, é um merda como o pai, vive arrumando
confusão, mas depois que viu do que sou capaz ele deixou de infernizar as
duas. Até recentemente, com a guerra no Texas perdi o controle de onde o
desgraçado está e o que tem aprontado.
— Você gostava da mãe da Amber?
— Sim, sempre foi uma mulher batalhadora como a filha, aguentou
os abusos do marido para que os filhos tivessem onde morar. É uma pena
que o câncer esteja a castigando.
— Ela continua viva? — Alisou minha barba.
— Sim, quando o pior acontecer a enfermeira cuidando dela vai me
avisar.
— Você quer visitá-la? — Encarou meus olhos.
Não existiam inseguranças ou medos em Josephine. Ela entendeu
que minha relação passada foi importante, mas chegou ao fim. Tornando-se
somente uma lembrança de uma parte feliz que tive. Pois todo o meu ser e
existência giram em torno da minha esposa e no presente ao lado dela.
O meu único e verdadeiro amor.
— Acho que não é uma boa ideia. — Alisei o nariz no seu. —
Yasmin começou a ficar bastante debilitada, confusa, perdendo a memória.
É melhor a deixar em paz nos seus últimos dias ao lado da filha.
— Black, o que a Amber significou para você?
— Superação. — Sorri triste. — Ela compreendeu que eu tinha
receio com o sexo, buscou por ajuda profissional, passamos meses
experimentando o toque um do outro antes de finalmente transar. E mesmo
assim, eu demorava a conseguir fazer novamente, sempre um processo de
aprendizado. A Amber foi minha fuga da realidade, para onde eu ia quando
precisava respirar. Eu gostei dela, fui fiel o máximo que pude, transparente
e honesto. Sempre soubemos que não podíamos ficar juntos. Mas ela não
desistiu de mim e tivemos 6 anos, em que aprendi a confiar no meu corpo e
que sexo não precisava ser somente a dor das lembranças. Foi minha amiga
e namorada, alguém importante no meu processo de superação.
Puxei o ar encarando a alma da Josephine.
— Mas você conseguiu fazer em uma única noite o que ela não fez
em anos. Eu fiquei assustado no início, nas nossas núpcias, não entendi
aquele vendaval de fogo consumindo minha alma, implorando por mais,
gritando que eu estava seguro. Podia aproveitar, me entregar, eu tive
confiança de que você me mandaria embora caso quisesse, tive a certeza de
que escolheu se dar para mim. Eu tive uma conexão de almas com você que
foi ficando cada vez mais firme. — Encostei nossas testas falando baixinho.
— Eu tinha medo de falar durante o sexo, sempre era jogado no passado e
nas lembranças das vezes que transei sem vontade se ouvisse alguém
falando. Mas com você, eu quis escutar sua voz, ouvir seus desejos e
atender a cada um deles. Com você sempre foi diferente, eu me joguei na
tempestade sabendo que não seria machucado.
— E eu abracei sua calmaria entendendo que com você eu podia
descansar — sussurrou baixinho envolvendo os braços no meu pescoço. —
Nos encontramos um no outro. — Beijou minha boca. — Eu te amo Black,
confio em você e após saber tudo pelo que passou consigo compreender
quem você era no passado, o motivo de me manter distante e percebo que
você nunca usou a Amber para me magoar. Você sempre foi sincero, ela foi
sua relação do passado, mas quero que entenda, se desejar visitar a Yasmin
ou ir ao funeral, eu estarei ao seu lado, te dando apoio e te acompanhando
em cada um de seus passos, como sua esposa.
— Obrigado por confiar em mim — beijei os lábios de mel
deslizando a língua no seu interior, com ternura saboreando seu sabor
viciante — e por se oferecer para estar ao meu lado. Eu te amo, Josephine.
— Nós. — Entrelaçou as pernas nas minhas.
— Nós. — Capturei sua boca.
Eu, ela e a família que estávamos construindo, entrelaçados no nó do
infinito.
— O plano é o seguinte. — Black entrou pela porta acompanhado do
Michael e Kai. — O Kai vai lutar na arena de Las Vegas, temos uma oficial
no cassino Sorte de Ouro. Eu vou levar a Josephine para assistir — apontou
para mim — enquanto o Michael volta para Nova Iorque.
— É o nosso plano de fachada. — Kai se virou para mim, como se
eu estivesse entendendo a conversa.
— Enquanto lutamos, o Bruce será transferido para o Texas, usando
uma rota que falamos ao Lewis, se alguém tentar resgatar o Bruce
saberemos do envolvimento do Lewis. Enquanto isso, o Clark saberá da
localização onde prendemos 5 comandantes da Portões do Inferno, qualquer
tentativa de resgate saberemos que o Clark se envolveu com o Bruce e
lideram a organização.
— Vocês podem explicar? — pedi, sentada no sofá de frente para os
homens.
— Minha nora grávida não vai assistir às brutalidades de uma luta!
— Kennedy levantou acertando um tapa no ombro do filho.
— Ai, mãe! — Black reclamou alisando o ombro. — A Josephine
gosta!
— Josephine! — Minha sogra me encarou incrédula.
— A culpa é do meu irmão! Ele me levou a uma e eu gostei. — Dei
de ombros, alisando a barriga proeminente, todos os dias meu bebezinho
crescia mais no meu ventre.
Entrei na 15ª semana de gestação, eu e o Black estamos animados
para descobrir o sexo do bebê. Com a turbulência do Texas, ainda não
pensamos em nomes, mas começo a gostar de uns, acho que o Black tem
medo de eu escolher o nome de personagem de livro, principalmente os de
fantasia, considero fazer uma leve brincadeira com meu marido.
Michael, Kai e Black acabaram de retornar do Texas, passaram 3
dias lá, mais comandantes foram presos pelo Steve. Acredito que em breve
essa guerra chegará ao fim. Estou ansiosa pelos dias de paz e rezando para
acontecerem antes do nascimento do meu bebê. O Daniel ficou tomando
conta de Nova Iorque com o Nathan Belarc, na ausência dos líderes.
— Não deveria esperar coisa diferente de Kai Lucian. — Sacudiu a
cabeça desgostosa. Mordi o riso.
— Senhores, expliquem o plano — Bartolomeu pediu.
Reuni-me com meus sogros para tomar chá da tarde na sala da
minha casa. Conversamos animados sobre a gravidez. Eu não comentei com
eles sobre os segredos que o Black me contou e eles não falaram nada.
Estabelecemos um acordo silencioso de que o passado deveria permanecer
no passado. Não havia necessidade de tocar em um assunto doloroso. Essa
família conseguiu se reconstruir e era a única coisa que importava.
— Temos praticamente certeza de que o Bruce é o líder da Portões
do Inferno — Black sentou ao meu lado — nas semanas em que esteve
capturado a organização ficou desleixada, eles se mantinham longe de Las
Vegas, mas já interceptei 3 equipes tentando entrar no território, um dos
homens confessou que era para resgatar o Bruce.
— O que achamos ser mentira — Michael completou. — Eles nunca
conseguiriam invadir o complexo de Nevada com aquela equipe, iriam
precisar de um exército.
— Alguém quer nos distrair — Kai disse. — Nos fazer acreditar que
o Bruce é o líder e que seus homens tentam o resgatar. Aproveitamos da
oportunidade e conseguimos rastrear mais 3 bases deles, prendemos outros
comandantes e vamos usar da estratégia deles, contra eles.
— O envolvimento do Bruce ficou claro — Black disse — a amante
era uma comparsa que o ajudava no tráfico de mulheres da Tailândia para a
Espanha. Ela contou tudo ao ser capturada pela equipe do Dante. Ela
confessou que trabalha para a Portões do Inferno, entregou o esquema
completo. Contudo, ela disse que só se comunicava com o Bruce, mas
temos certeza de que ele não agiu sozinho.
— Não sabemos se seu comparsa é um Bonnarro ou alguém
desconhecido. Ainda existe a suspeita de ser um político — Michael falou.
— Como foi apontado pelo coronel Ernesto, nosso aliado do México. E
como os membros mais próximos do Bruce são o Lewis e o Clark, vamos
fazer uma armadilha, se um dos dois cair ou ambos, conseguiremos pôr fim
à guerra.
— Vocês prepararam algo para caso o cúmplice seja um
desconhecido? — perguntei.
— Sim — Kai respondeu — é a Operação Tridente. Uma ponta
captura o Lewis, outra o Bruce e a terceira o cúmplice escondido. Usamos
as gangues para espalharem a notícia sobre um ataque ao armazém de
drogas da Portões do Inferno. Eles começaram a se mover, retirar as coisas
do local e estamos seguindo cada um dos homens envolvidos, eles vão nos
levar ao outro líder ou comandante, é questão de tempo.
— Ao todo já prendemos 5 comandantes — Black disse. — Os
poucos que sobraram farão de tudo para proteger as drogas restantes e
garantir a segurança do líder. Eles começaram brutais nos ataques, mas
estão desmoronando como uma bola de neve. Em breve isso acaba —
passou o braço nos meus ombros — mas para atrair o Lewis e o Clark eles
precisam da certeza de que nós — apontou para Michael e Kai — estaremos
ocupados enquanto tentam resgatar o Bruce ou os comandantes.
— Matthew se recuperou e recebeu alta do hospital — Michael
falou. — Vou usar ele como desculpa para voltar a Nova Iorque. Kai e
Black vão para a arena lutar e você assistir. Temos equipes monitorando
tudo, não tem chances do plano dar errado.
— Posso opinar? — Ergui a mão.
— Sim — Black beijou o dorso da minha mão.
— Não quero ver o Kai lutar, já assisti em Nova Iorque — encarei
meu marido — quero assistir a uma luta sua. — Fervi pela ideia do Black
sem camisa sendo brutal em uma arena.
— Poxa, Phine. — Kai pareceu magoado. — Eu estava pronto para
me exibir para te ouvir torcendo por mim, mas vai me trocar pelo maridinho
— debochou.
— Maninho. — Encarei-o mordendo o riso. — Deixe os seus shows
para a sua esposa.
— Os dela são especiais. — Piscou.
— Vocês são loucos — Kennedy disse estupefata. — Querem
envolver uma grávida nesse esquema e se algo acontecer com a Josephine?
— Ninguém tocará na minha esposa e filho — Black falou convicto.
— Minha irmã e sobrinho serão protegidos por mim. — Kai soou
repleto de confiança.
— A segurança deles será prioridade — Michael afirmou. — Nada
acontecerá com a Josephine e meu sobrinho.
A emoção subiu na garganta, três homens poderosos, temidos e
perigosos como eles estavam prontos para proteger a mim e meu bebê.
Deitei a cabeça no ombro do meu marido me deixando envolver pelo calor
de ser uma Bianchi e poder contar com esses homens.
— Você concorda com isso? — Kennedy encarou o marido.
— É um bom plano. O trio Bruce, Lewis e Clark sempre foram
unidos. Geralmente um apoiava o outro nas decisões e pressões que faziam
na minha época como Capo. Não seria suspeito se ao menos um deles fosse
cúmplice do Bruce. Contudo, eles sempre foram gananciosos, duvido que
conseguiriam trabalhar bem juntos sem se sabotarem em busca do poder.
Independentemente do que vocês descobrirem com a Operação Tridente,
não esqueçam que um jogaria o outro no fogo pelo poder.
— Bom, já que todos parecem apoiar a loucura da Josephine
participar do plano, eu vou assistir à luta e garantir que nada aconteça com
minha filha. — Kennedy era uma graça brava, tive vontade de a apertar em
um abraço.
— Mãe — Black ralhou.
— Querida, vamos conversar, aquele lugar não é para você. —
Bartolomeu segurou a mão dela.
— E pode ser frequentado por uma grávida?! E se baterem na
barriga da Josephine!?
— Está vendo, filhinho — alisei meu ventre encarando a barriga —
você tem uma avó muito protetora, terá de tomar cuidado para não a irritar.
— A vovó cuida do meu menino. — Aproximou a boca da minha
barriga alisando a pele por cima da blusa. — Esses homens mafiosos são
malucos!
— Mãe, sabemos o que estamos fazendo e a senhora não vai para a
arena.
— Não escute seu pai — Kennedy disse conversando com o neto. —
Ele sempre faz o que a vovó pede. — Beijou minha barriga.
Eu quis eternizar aquele segundo, o amor em cada recanto da casa.
Eu vivia em um sonho do qual não queria despertar.
30 minutos antes
FIM!
Bônus Máfia Bianchi
Hope
Pelo canto do olho observei o Ethan seguindo a Janine para a
cozinha da mansão. Eles estavam ficando cada vez mais ousados. Era
aniversário de 18 anos do meu filho e eu sabia que o presente que ele queria
ganhar era o beijo da Janine. A filha do Kai cresceu se tornando uma linda
mulher, tão espetacular quanto a Daisha.
Aos 16 anos ela mal conseguia disfarçar que tinha namorado o Ethan
escondido. Se o Kai descobrisse iria querer fazer picadinho do meu filho.
Eu disse a ele para contar a verdade e pedir a permissão do Kai para
namorar a Janine, mas o Ethan queria esperar completar 18 anos, ser um
homem de honra e poder confrontar o Subchefe. Com o fim dos casamentos
por contrato, ele sabia que teria de provar seu amor para receber a benção
do Kai.
— Hope. — Daisha indicou com a cabeça apontando na direção dos
dois.
— Eu vi.
— Vamos seguir eles? — Emily sorriu maldosa.
— Sabe que seremos as tias chatas se fizermos isso — Josephine
respondeu colocando a taça de champanhe na bandeja do garçom. — Me
sigam, meninas.
Dei risada, eu amava o jeitinho da Phine.
Busquei pelo meu marido o encontrando reunido com os amigos
perto das janelas de acesso ao jardim. Sorri para ele e segui minhas amigas.
Michael
— Acho que as meninas vão aprontar alguma coisa. — Bebi um
gole do whisky, procurei pelo Ethan na sala não o encontrando, a Janine
também sumiu.
Estava esperando ele falar comigo, confessar seus sentimentos pela
filha do Kai. Imaginei que tomaria coragem depois dos 18 anos, pelo visto
preferiu se esconder com a jovem, aproveitar mais um pouco da paixão
juvenil. Encarei o Kai percebendo que ele também buscava pela esposa
sumindo no corredor.
— Quando elas não aprontam? — Daniel perguntou.
— Quando estão dormindo — respondi, arrancando risada deles.
Os anos passaram tranquilos, mas aquele quarteto liderado pela
minha esposa continuavam mostrando sua força, fazendo o que queriam e
trazendo novas revoluções à organização.
Eu amava quando a Hope trazia suas ideias e sentava no meu colo,
conversando tranquilamente. Hope era a minha companheira, dividíamos
tudo, inclusive o conhecimento sobre a paixão secreta do Ethan pela Janine.
Daisha
Eu me divertia com a paixão da Janine pelo Ethan. Ela sempre corria
para o meu quarto contando como foi o encontro secreto com o rapaz.
Ethan era respeitador e apesar deles se encontrarem desde os 14 anos da
minha menina, nunca tinham ultrapassado os limites. Deixei eles viverem o
amor de adolescente, confiava na Janine e sabia que ela nunca faria nada
para me decepcionar ou instigar o Kai a matar o Ethan.
Josephine apertou minha cintura sorrindo travessa. Ela também
acobertava um romance secreto em sua casa. A diferença era que o William
e a Hilary moravam a quilômetros um do outro e mal podiam se ver. A
pedra de gelo idêntica ao meu irmão era bom em esconder os sentimentos,
só descobrimos da relação porque a Josephine contou.
Diferente do Ethan e da Janine que não se incomodam em dar na
cara que tinha algo acontecendo entre eles. Torcia para ela e o Ethan serem
felizes. Eles teriam a chance que nenhuma de nós teve, de se conhecerem,
namorar antes do casamento e decidirem juntos se desejavam a união.
Emily
Virei no corredor, mas parei retornando ao salão a tempo de ver o
William fazendo sinal de cabeça para a Hilary. Enquanto minhas amigas
focavam no casal se formando à nossa frente eu captei as intenções do meu
filho. Mordi o lábio adorando que o William, diferente do Daniel quando
iniciamos nossa relação, fazia o que podia para ficar perto da Hilary. Ele
sempre pedia para passar as férias em Vegas, ficava na casa dos Bonnarro e
me garantiu que nunca desrespeitou a Hilary.
Os rapazes da nova geração pareciam ter uma pré-disposição a
esconder os relacionamentos, acho que eles gostavam da emoção do perigo.
Não posso culpá-los, lutar por amor alimenta a alma de uma forma
inexplicável. Voltei a seguir as meninas. Paramos em frente a porta da
cozinha, abrimos uma pequena brecha, o suficiente para ver o safado do
Ethan segurando a Janine pela cintura, com a mão no queixo dela se
preparando para um beijo.
Kai
Seguimos as meninas sem elas notarem nossa presença no corredor.
Quando pararam espiando dentro da cozinha eu sabia que não era boa coisa
escondida ali. Janine e o Ethan tinham sumido e isso me deixava
preocupado. Espalmei a mão por cima da cabeça da Daisha empurrando a
porta de madeira. Quase enfartei ao ver o Ethan beijando a Janine.
— Eu sabia que te pegava, seu safado! — Invadi a cozinha como um
trem desgovernado. — Tira as mãos da minha princesa!
Eu tive uma leve desconfiança de que acontecia algo entre eles, mas
preferi esperar o Ethan criar coragem e vir falar comigo. Mas não ia
permitir tamanho desrespeito. Meti a mão na gravata dele o puxando para
longe da Janine. Eu amo esse menino e não me incomodava a relação, mas
o farei sofrer por ter se agarrado escondido com minha filha.
— Vou arrancar suas bolas!
— Calma, tio Kai. — Ergueu as mãos sem um pingo de medo,
apenas surpreso.
Eu sabia que tinha perdido a fama de cruel com esses moleques e
agora pagaria o preço.
Daniel
Puxei a Emily pela cintura, observando o Kai quase arrancando as
orelhas do Ethan enquanto o Michael, Hope e Daisha tentavam fazer o
possessivo soltar o herdeiro Bianchi.
— Você sabe que o Black vai querer fazer isso com o William se ele
encontrar nosso menino e a Hilary no jardim — sussurrei no ouvido da
minha esposa.
— Verdade — girou nos meus braços — vamos avisar a eles?
— Não, deixa os dois acharem que nos enganam. — Sorri.
— Gostei da ideia. — Sorriu marota.
Kai Lucian
O novo Subchefe da Máfia Bianchi, carrega consigo um passado
doloroso. Atormentado pelo pai abusivo, Kai foi forjado em dor e
sofrimento, aprendeu a se defender usando uma máscara, exibindo o seu
pior lado para o mundo. Dotado de uma péssima reputação com as damas
da Máfia Bianchi, cafajeste, sarcástico e malvado. Mas escondendo os seus
verdadeiros sentimentos para proteger quem ele ama.
Daisha Griffin
Ela cresceu em um lar difícil, desde criança era repreendida pela
mãe e não conseguia expressar o que sentia. Nunca se sentiu amada ou
querida por sua família e se fechou em uma concha para se proteger do
mundo da Máfia, ela odeia a sua família, a sua vida e anseia, mais do que
tudo, ser capaz de fugir.
Por anos, Kai Lucian foi um dos responsáveis por fazer Daisha odiar
a si mesma.
Entre revelações, descobertas, sofrimento e muita sedução entre
duas almas que, no fundo, só querem ser amadas e livres. A construção de
um amor é ameaçada pelos demônios ocultos tramando a destruição do
casal, Kai verá o seu mundo ruir diante de seus olhos e Daisha será a única
capaz de fazê-lo continuar vivendo, mas somente se ela for capaz de aceitá-
lo.
Beijos,
Isadora Almeida