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Copyright © 2022 – Is Babi

Beijada pelo Don – Is Babi


1ª Edição

Capa: Gialui Design


Revisão: Pat Sue
Leitoras Betas: Letícia Guimarães e Lilia Sobreira
Diagramação Digital: Veveta Miranda

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário

Sumário
Dedicatória 5
Escrever é o que me salvou da depressão, sempre gostei de ler e

mergulhar em um mundo diferente, amo criar personagens, histórias e levar


meus leitores comigo.

Estou correndo atrás desse sonho, trabalho para levar orgulho para
minha mãe, hoje é o meu anjo que tenho certeza de que ilumina meu
caminho. Quero agradecer minha irmã e a minha tia pelo apoio quando contei

dos meus planos, também não posso esquecer uma revisora que me ajudou a
criar esses personagens e considero como tia deles, Pat Sue obrigada por
tudo!

Leti, obrigada por ser minha leitora beta e a sua ajuda nos mínimos
detalhes, você é uma profissional incrível. Não te largo mais, já é da equipe!

Minha capista e diagramadora Larissa, obrigada por tornar o livro

igual ao que idealizo quando levo o arquivo.

Agradeço minhas parcerias do Instagram por toda ajuda na

divulgação dos livros, obrigada meus leitores por me acompanharem em cada


projeto, sou grata, meu coração transborda gratidão, muito obrigada!
A IsBabi que também é a Talia, ambas são gratas por tudo.
Esse livro contém muitos gatilhos, a autora recomenda a leitura para

maiores de 18 anos, caso não se sinta confortável, não leia.

Por se tratar de um romance de máfia, contém violência entre outros


temas, a autora não compactua com nada, isso é uma ficção, não realidade.

Nesse livro a "máfia Salvatore" criada pela autora segue algumas


regras das máfias originais, porém com alterações ficcionais inseridas nesse
universo.

Beijada pelo Don é um livro único que traz um romance de infância


na máfia, conheça a história de Isabel Garzelli e Cesare Salvatore.

Você, leitora, já teve um amor infantil? Caso não, a IsBabi faz esse
convite para adentrar o universo do livro.

Boa leitura!

Com muito amor, IsBabi.


Criada em 1900 pelo primeiro Salvatore, localizada em Roma, Itália.

Essa máfia possui o controle de todo o território italiano, a cada geração é


passada o poder para um membro da família. A linhagem dos Don é

Salvatore, já os subchefes pertencem à família Garzelli.


ROMA, ITÁLIA

Isabel

— Isabel, me dá a mão — pede baixinho Giovanna, minha irmã,


enquanto caminhamos até a casa do meu amigo Cesare.

— Não precisa — digo, ao tentar esconder a mão — Sou grande.

Ela ri.

— Sou sua irmã mais velha, responsável por você — reforça.

— O irmão mais velho é o Gianluca — rebato, cruzando os braços.

— Se você não der a mão, o papai vai ficar bravo e com certeza vai
ficar de castigo — alerta Giovanna, cochichando com um sorriso.

Nosso pai é muito bravo quando fica chateado.


Respiro fundo e estendo a mão para ela.

Entramos na mansão ficando atrás dos nossos pais.

— Olá, crianças. — A mãe de Cesare se aproxima de nós. — Se

juntem ao Cesare e Alessa, eles estão na sala.

— Acompanhem ela — diz papai —, Giovanna tome conta da sua

irmã.

Seguimos pelo corredor até a sala, Alessa está sentada perto de


Cesare.

— Alessa, Cesare — cumprimenta minha irmã ao se aproximar.

— Oi, Giovanna. — Alessa retribui, abraçando a minha irmã.

Eu não vou falar com ela.

Não gosto da Alessa.

— Isabel — Cesare se aproxima pegando na minha mão —, Oi.

— Oi.

— Vamos, quero te dar um presente — avisa, com um sorriso.

— O que é? — pergunto, curiosa.

— Vem comigo — pede, puxando-me pela mão.

Aperto sua mão indo até o vaso de rosas da estante, ele pega uma

rosa e entrega para mim.


— Pra você.

— É linda, obrigada — agradeço, sorrindo, ao cheirar a rosa.

Cesare deu a rosa para mim!

Ele se aproxima beijando a minha bochecha.

— Quando ficarmos grandes, você vai ser a minha namorada — diz

baixinho.

— Promete? — pergunto, levantando o mindinho.

Ele enlaça nossos dedos.

— Eu prometo.

Sorrimos juntos.

Dias atuais

Essa era a única certeza, em relação a tudo na minha vida.

Cesare e eu.

Porém, aquelas duas crianças cresceram, não tenho mais cinco anos.

E Cesare se tornou o noivo da minha irmã: Giovanna.


Pego as rosas que guardei quando mais nova, ele sempre me

entregava várias.

Agora o que eu vejo é entulho.

Arranco as pétalas uma por uma com toda a raiva que tenho,
deixando o chão do quarto repleto de rosas.

Caminho até a penteadeira, apanho minhas luvas de renda preta.

O véu na cor branca, coloco-o em minha cabeça deixando o meu


cabelo escuro e o rosto cobertos pelo tecido transparente.

Domingo é um dia reservado para a igreja.

Existem pessoas que acreditam em anjos e outras em demônios, já


eu, acredito em ambos.

Papai é um tirano sanguinário, responsável por passar aos filhos que


devemos fazer o sangue escorrer, sem pena e muito menos misericórdia.

Mamãe é uma mulher exigente e muito religiosa.

Todos os domingos temos um compromisso com a igreja.

Deixo o quarto e encontro uma das empregadas tirando o pó do

quadro de papai com os filhos.


— Senhorita, deseja alguma coisa? — pergunta ao parar o serviço.

Olho para alguns vasos com rosas espalhados pelo corredor.

— Livre-se das rosas, coloque outro tipo de flores — peço, passando

por ela.

— Como desejar, senhorita.

Abro a porta do quarto da minha irmã, Giovanna, ela é dois anos


mais velha do que eu, está com vinte e cinco anos.

Enquanto completei vinte e três, há alguns dias.

— Já está pronta, Isabel? — pergunta, enquanto passa um gloss nos


lábios.

— Estou esperando você lá embaixo — aviso.

— Quero falar com você — ela tira a atenção do espelho e se


aproxima de mim.

— Sobre o quê? — questiono, arqueando a sobrancelha.

— Eu não quero me casar, sabe que não foi minha escolha. Papai
quer um negócio, sou uma peça nas mãos dele — reforça.

Olho em seus olhos avelã. Ela é idêntica à minha mãe.

Giovanna é ruiva, os cabelos são curtos em um corte chanel.

— Hoje é o baile de noivado, um dia importante para as pessoas


prometidas. Deve se preocupar com isso, não com nada que tenha a ver
comigo — digo, dando um passo para trás.

— Cesare cresceu conosco, ele é importante para você. Não tente


fingir, quero que me escute....

Interrompo sua explicação.

— Não sou mais uma criança que brincava de ser a namorada dele,

Cesare é o seu prometido — corrijo. — A minha liberdade é o que importa


para mim.

Saio em passos rápidos. A escadaria termina na sala.

Papai está tomando café quando seus olhos azuis encontram os


meus.

Meu irmão Gianluca e eu somos a cópia do nosso pai.

— Papai — cumprimento.

Ele se levanta e se aproxima com um olhar atento.

— Isabel, a beleza da minha caçula é ouvida nos quatro cantos de


Roma — diz, com um sorriso.

Escuto ao longe os sons do salto da minha mãe, seus cabelos ruivos

estão presos em um coque.

— A beleza atrai destruição, querido — ela acrescenta, ao parar ao

lado dele.
Meus pais são opostos, a luz e a escuridão.

Não há equilíbrio em nossa família.

— E os demônios — papai garante, deixando um beijo nos lábios

dela. — Você é perfeita, a criação dos nossos filhos é invejada.

— Estou pronta — avisa Giovanna, ao se aproximar com o véu em

sua cabeça.

— Atrasada novamente, Giovanna? — repreende nosso pai,


encarando-a com ódio. — O que sempre digo sobre atrasos?

— Imperdoáveis, perdão, pai — pede, abaixando a cabeça e olhando


para o chão. — Estou nervosa com o baile.

— Estarei ao seu lado explicando como deverá agir, filha — explica


mamãe.

Papai pega Giovanna pelo pescoço.

— Sou o subchefe da máfia Salvatore e a nossa família é

responsável por estar há gerações nessa linhagem. Estrague isso e desejará


morrer — ameaça.

Crescemos ouvindo como devemos agir.

Nossa mãe fica calada, ela não tem poder sobre nosso pai e suas

decisões.

Ela o acata.
— Vamos, meninas, está na hora, até mais tarde, querido —

despede-se dele.

O padre nos recebe com um sorriso largo.

Mamãe o cumprimenta.

— Stella. — Uma das amigas da mamãe do grupo de orações se


aproxima com as demais.

— Meninas, estarei com o grupo organizando a entrega das comidas


para as pessoas carentes — mamãe explica. — As duas fiquem na igreja,
falem com o padre e depois me encontrem no salão dos fundos — orienta,

olhando para mim e Giovanna.

— Sim, mamãe — concordamos.

Ela se retira com as amigas.

O padre olha para nós.

— Qual das duas deseja conversar com Deus?

— Eu, padre — digo.

— Preciso falar com minha irmã, ela encontrará você no

confessionário — explica Giovanna, pegando em meu braço.


Encaro-a sem entender.

— Estarei esperando, Isabel.

Giovanna e eu caminhamos até um dos bancos.

— O que foi? — indago, arqueando uma sobrancelha.

— Vou comprar sorvete, qual você vai querer? — pergunta, pegando

algumas notas de dinheiro.

— Chocolate. Mas para você sair eu terei que enrolar o padre. Por

que vai sair para comprar se os soldados podem fazer isso? — questiono.

Ela sorri.

— Quero andar um pouco sozinha. Você é tão inteligente,


irmãzinha. Não demoro, prometo — afirma, levantando a mão em juramento.

— Se você demorar, vai lidar sozinha com as consequências —


alerto.

Ela assente indo em direção à saída da igreja.

Enquanto sigo por um corredor até o confessionário.

O senhor já se encontra lá, esperando para ouvir o que quero

compartilhar.

Fico de joelhos, olhando para ele através dos pequenos buracos na

tela preta que separa os fiéis e o padre.


— O que te atormenta, minha querida? — ele pergunta.

— Perdão, padre, eu pequei e já deveria ter me confessado. Faz


alguns meses que me envolvi com um homem poderoso, um idiota, e

entreguei a minha pureza — confesso com um suspiro.

— Foi consentido?

— Sim, mas jamais acontecerá novamente. Não vou sujar o meu


nome e prejudicar a minha imagem com algo insignificante, eu juro —
reforço com um sorriso.

— Eu aconselho a rezar dez pais-nossos...

Após terminar de falar com o padre, deixo o confessionário.

Há uma senhora que será a próxima.

Volto para a parte principal da igreja e tenho uma surpresa ao ver

Cesare Salvatore em um dos bancos, bem-acomodado.

Os olhos escuros vão diretamente em mim.

— Você em uma igreja, o que eu perdi? — indago, arqueando uma

sobrancelha.

— Julgando a fé alheia? — rebate, levantando-se e vindo em minha


direção. — Qual melhor lugar do que estar na igreja? Discreto, também é
onde a encontraria em um domingo.

— Giovanna está chegando, deve ser visto com ela — sugiro, dando
alguns passos, quero sair da igreja e encontrar Giovanna.

Mas ele pega em meu braço, puxando-me de volta.

— Me solte, Cesare — rosno.

— Foda-se a Giovanna, vim atrás de você, não vou sair daqui —


rebate.

Engulo em seco.

— Sabia que a sua família iria escolher a minha irmã para se casar
com você — acuso.

— Giovanna é a mais velha, enquanto você é a caçula. Não posso


burlar as regras — alerta.

— Ela é a sua prometida. Enquanto eu, tenho alguns pretendentes


que meu pai vai escolher, vou ser de outro — afirmo, perto do seu rosto. —

Nunca mais você vai me ter.

Dou um passo e ele me puxa de volta, o aperto em meu braço é forte.

— Eu garanto que voltará para mim, Isabel — diz próximo da minha


boca. — Você sabe que será assim.

— Não — rebato, soltando-me dele.


Seus olhos mantêm o que ele promete.

— Estou sempre de olho em você, mesmo que não perceba — avisa


por último.

O próximo Don da máfia Salvatore sai da igreja.

Deixando meus pelos arrepiados. E as minhas dúvidas.

Ele sempre fez e faz tudo o que quer, parte de mim sabe que Cesare
vai fazer alguma coisa.

Mas não faço ideia do que, ainda.

Fecho os olhos tentando dissipar algum vestígio de que nós vemos,


ele será meu cunhado.

E nada mudará isso.


No fim da tarde voltamos para casa.

Há um evento importante para todos da máfia Salvatore, hoje é o


baile de noivado de Giovanna e Cesare.

Mamãe veio o trajeto inteiro pedindo para que nada saia errado, a

realeza mafiosa vai estar em peso para acompanhar esse acontecimento.

Saio do banheiro usando um roupão, preciso escolher um vestido e


acessórios.

O meu quarto é branco com detalhes em preto. O espelho é enorme.

Gosto de ver cada detalhe do look e do rosto, a maquiagem não pode


ter falhas.

Sigo até o closet e passo a mão pelos cabides sentindo o tecido das

peças até que escolho um vestido longo com alças em um decote V na cor

creme.

Arrumo os seios no decote.

Opto por uma sandália branca. Meus cabelos estão soltos.


— Roubaria esse vestido — diz Giovanna ao entrar em meu quarto.

Viro o rosto encontrando-a. Seu vestido tem o mesmo modelo que o


meu, mas a cor é branca.

— Você está linda — elogio, olhando a tiara de cristais em sua


cabeça.

O vestido, a maquiagem leve e o batom em um tom rosa-claro.

— Mamãe não me deixou usar um vermelho.

— A cor creme fica bem em mim? — pergunto, olhando meu


reflexo no espelho.

— Está deslumbrante, ganhou um destaque com essa cor —


aproxima-se passando a mão pelos meus cabelos —, ouvi Gianluca dizendo
que papai tem dois pretendentes para você. E que iria escolher um para
conhecê-la melhor no baile — informa.

— Espero que seja bonito. — Dou de ombros.

— Cesare não é o homem que eu queria para marido — comenta,


chamando a minha atenção.

— A máfia Salvatore fez a sua escolha. Giovanna você é a


prometida dele, enquanto hoje encontrarei o homem que talvez seja meu

marido — reitero.

Odeio quando ela persiste em algo que não pretendo discutir.


Vou até a cama pegando minhas luvas.

Passo um batom vermelho para finalizar.

— Odeio o fato de sermos limitadas — confessa, olhando nosso

reflexo no espelho. — E principalmente que os Salvatore sejam os ditadores,


Greta Salvatore quer uma boneca para moldar.

— Você não é uma boneca — reforço.

— Ela não vai me ter em seu controle — afirma. — Acho que é a


hora de irmos, antes que o papai venha nos buscar.

Ela sai e eu vou logo depois, fechando a porta do meu quarto.

Descemos as escadas e encontramos nossa família.

Gianluca será o novo subchefe.

Nosso pai se afasta da nossa mãe, ela sempre deu o espaço para ele
tomar o controle de qualquer situação.

Ele olha para Giovanna, medindo-a de cima a baixo.

— Está apagada, não sabe se arrumar? — pergunta, levantando uma


sobrancelha escura.

— Papai, eu não quero chamar atenção — ela explica.

— Você é a prometida de Cesare! Stella, ajude sua filha a parecer

bonita — pede para minha mãe.


— Giovanna, venha aqui.

— Pai, não podemos atrasar muito — alerta Gianluca. — Minhas


irmãs já se atrasaram o suficiente.

Papai olha para mim.

— Escolhi bem? — pergunto.

— Você é perfeita, a sua beleza é bastante comentada entre os


homens da nossa máfia — elogia, satisfeito. — Carlo Rossi estará com a
família no baile, quero que o conheça melhor. Não me decepcione, Isabel —
exige, pegando em meu queixo.

— Sim, papai — digo, com um pequeno sorriso.

— Melhor? — Giovanna pergunta com as bochechas com mais cor.

— Vamos — é o que ele ordena para todos nós.

Aproximo-me de Giovanna, ela pega em minha mão enquanto


caminhamos juntas para fora da mansão Garzelli.

Desço do carro com ajuda de Gianluca. Ele repete o ato com

Giovanna.

Papai segura na cintura de nossa mãe, os dois são os primeiros a


andarem até o salão de festas dos Salvatore, localizado aos fundos do jardim
da bela mansão.

Meus irmãos e eu somos mais lentos.

— Estou nervosa, odeio ser observada como um animal exótico —

reclama Giovanna.

— Aja naturalmente — diz Gianluca. — Um escorregão e teremos

problemas. Será uma Salvatore, Giovanna, postura é tudo.

— Você sempre foi mais privilegiado do que nós duas — rebate.

— Coloquem seus melhores sorrisos — oriento. — Estão nos


esperando.

O salão está repleto de membros e diversas famílias importantes.

No entanto, o destaque maior é para os Salvatore.

Marco Salvatore e Greta, pais de Cesare, assistem nossa chegada

meticulosamente.

Minha irmã é a primeira a se aproximar de ambos para

cumprimentá-los.

Papai se aproxima com um homem de pele negra, jovem, olhos

castanho-escuros.

— Isabel, esse é Carlo Rossi — apresenta.


— É um prazer — digo, aceitando sua mão.

Ele a acaricia por cima da luva.

— O prazer é meu — afirma.

Sorrio. Carlo é bonito pelo menos.

— Giovanna, querida, já a imagino como noiva. — Greta Salvatore

chama a atenção ao abraçar minha irmã.

— Boa noite — diz minha irmã, com um breve sorriso.

Cesare surge roubando olhares em sua direção. O terno preto cai


perfeitamente em seu corpo.

A tatuagem de cobra em seu pescoço está presente em todos os


homens poderosos: Don, subchefe e conselheiro.

A cobra faz parte da máfia Salvatore. Diria que é como a família


dele é vista por todos.

Os passos dele são em direção a Giovanna.

O próximo Don tira uma caixinha de veludo do bolso contendo um


belo anel de diamante.

Assisto-o se aproximar de Giovanna.

— Entrego o anel da minha família para a minha prometida,

Giovanna Garzelli — seu discurso é ouvido por todos.


Ela estende a mão, Cesare coloca o anel. Seus lábios tocam a mão da

minha irmã.

Não consigo tirar os olhos da cena. O beijo é demorado demais.

Por um momento imagino os lábios de Cesare na pele clara de


Giovanna.

Engulo em seco. Tento controlar minha reação ao imaginar.

— Isabel. — A voz de Carlo me desperta do transe.

Pisco algumas vezes.

— Falou alguma coisa? — pergunto, encarando-o.

— Suas bochechas estão coradas.

— Acho que exagerei na maquiagem.

— Podemos ir até o jardim? Acho que ar fresco te fará bem —


sugere, estendendo a mão.

— É uma ótima ideia.

Saímos juntos do salão para ver o céu estrelado, não há uma nuvem

essa noite.

Um vento um pouco forte bagunça meus cabelos.

— Estou bem melhor, obrigada pela sugestão.

— Quero saber mais sobre você antes da dança. O que mais gosta?
— pergunta, curioso.

— Gosto de joias, fazer compras, nadar...

Sexo.

— Toda mulher gosta de joias, minha mãe coleciona diversos

colares e pulseiras.

— E você do que gosta? — pergunto.

— A boa companhia de mulheres bonitas — elogia, pegando em


minha mão.

— Obrigada pelos elogios. Mas acho que é melhor voltarmos, acho


que a dança irá começar.

— Claro.

Voltamos no momento que a banda toca uma música lenta, alguns


casais já estão posicionados.

Carlo e eu rapidamente ficamos em um ponto do salão.

A dança se inicia com os prometidos. Giovanna e Cesare estão no

centro.

Olho para Carlo. Ele passa segundos apenas olhando meu rosto.

— Está me deixando curiosa — aviso.

— Nunca foi admirada? — pergunta, subindo uma das mãos pelas


minhas costas, a outra continua na cintura.

Ele acaricia o tecido do vestido prendendo minha atenção.

Abro um sorriso. Carlo é ousado.

— Não em um baile, é a primeira vez que acontece — respondo.

— Estou indeciso entre olhar seu rosto ou esse vestido maravilhoso

que escolheu — confessa.

— Gosto de encarar os olhos das pessoas — proponho.

A música para e outra mais calma toca.

Trocamos os pares, um outro homem dança comigo até minha mão


encontrar a do próximo a dançar comigo.

Cesare.

Ele segura minha cintura com firmeza. E a outra já está na minha


mão.

Seu olhar observa a minha pele, Cesare observa o meu rosto.

— Está preparada para a noite de núpcias? — pergunta, enquanto


sinto meu corpo congelar. — A tradição dos lençóis deve acontecer e Carlo

Rossi verá que não terá sangue.

— Isso não te interessa, eu mato você e uso o seu sangue como se

fosse meu — provoco.


Sinto algo no ar, mas continuamos nossa dança normalmente.

Cesare aperta a minha cintura de um jeito disfarçado.

— Debaixo do seu vestido, por baixo da calcinha, lugar onde meus

lábios gostam de acariciar e beijar — afirma antes de sair.

Engulo em seco, o ar escapa dos pulmões.

Não procuro por Cesare e onde ele foi.

— Enfim, te encontrei — diz Carlo ao se aproximar.

— Podemos beber um pouco? Estou com sede — peço.

— Vou trazer algo para nós — diz ao sair.

Assisto-o ir até um garçom.

Respiro lentamente.

A imagem do beijo que Cesare demorou a dar na mão da minha irmã


surge em minha mente.

— O que você tem? — Gianluca pergunta.

— Estou com sede. Pedi para Carlo trazer uma bebida — explico,
olhando em sua direção.

— Ele está bem interessado em você. Bom trabalho, Isabel, a família


Rossi é interessante para se unir a nossa — analisa.

— Carlo é bonito, espero que ele não goste de controlar a mulher


como um objeto — reforço.

Ele ri.

— Mantenha a boca fechada para evitar problemas — aconselha. —


Nosso pai está observando tudo como um gavião, Marco está ao lado dele e

acho que devem estar falando de você.

Olho disfarçadamente para uma das mesas do salão onde os dois

estão sentados e conversando, os olhos estão em mim realmente.

— Gianluca, Isabel. — A voz de Alessa Salvatore surge atrás de nós.

A prima adotiva de Cesare.

— Alessa — cumprimento-a.

— Giovanna e Cesare estão se saindo bem, não acham? Eles formam


um belo casal — comenta, com um sorriso.

— Sua bebida. — Carlo Rossi se aproxima entregando a taça de

champanhe.

— Obrigada.

Levo até os lábios precisando disso para molhar a garganta.

— Prazer, Alessa Salvatore. — Ela estende a mão para Carlo.

— Digo o mesmo.

— Gostaria de dançar, Alessa? — Gianluca pergunta para tirá-la


daqui.

E não estragar o momento com Carlo.

— Será uma honra.

Os dois se afastam.

Viro-me para encarar melhor Carlo, quando ao longe os olhos de

Cesare estão em mim.

Desvio o olhar deixando um beijo na bochecha do meu pretendente.

— Obrigada pela bebida e a dança.

— Não precisa agradecer. Podemos ir juntos ao casamento de


Giovanna.

— Claro — concordo, afastando-me.

Ele se despede deixando um beijo em minha bochecha.

Viro-me de costas para não encarar Cesare, mas sinto que ele está
me observando.

Seus olhos gostam de marcar o meu corpo assim como sua boca
gosta de fazer ameaças.

Eu não vou olhar para trás.

Espero que ele goste de ser ignorado.


A minha cama estava esperando por mim, relaxo o corpo após

substituir o vestido pelo pijama.

Minha cabeça está doendo, é o resultado dessa noite que parecia não
ter fim de maneira nenhuma.

As palavras de Cesare brincam com meu cérebro.

Arrepiam os pelos do meu corpo. Porém, lembro-me dele e de


Giovanna. Ele vai tirar a virgindade dela.

— Que ódio! — rosno entredentes.

A porta do meu quarto é aberta bruscamente.

— Ódio do que, Isabel? — pergunta mamãe, arqueando uma


sobrancelha.

— Estou com dor de cabeça.

— Não gosto dessas palavras, sabe disso. São carregadas de forças


que não conhece, custa pedir um remédio? — repreende ao se aproximar.

— Por favor, pode trazer pra mim? — peço, com um sorriso.


— Agora sim.

— Alguma novidade do baile? — pergunto, fazendo círculos no meu


cobertor.

— Seu pai está muito satisfeito com você e Carlo Rossi. É uma
questão de tempo para que sejam apresentados como prometidos — anuncia

— Ele é interessante — comento. — Mas irá demorar já que


Giovanna vai se casar primeiro.

Tento parecer calma.

— Fique tranquila, vai demorar. Sua irmã vai casar primeiro, ela está
nervosa, com certeza é pela cerimônia de lençóis.

— Isso é tão antigo, não precisa ser mais realizado — sugiro.

— São regras, Isabel. Também fará a cerimônia com Carlo —


reforça para o meu desespero. — Antes de ir, a empregada tirou as minhas
rosas porque você pediu. Sempre amou rosas vermelhas — comenta,
desconfiada.

— Enjoei, gostava quando era criança.

— Vou trazer seu remédio, tome e vá dormir — orienta, deixando


um beijo em minha testa.

Vejo-a sair.

Enquanto afundo a cabeça no travesseiro. Eu não posso fazer a


cerimônia de lençóis.

Vou matar Cesare. Odeio ele e essas malditas rosas.

Acordei um pouco sonolenta, mas não iria voltar a dormir. Não


consigo pensar em deitar na cama, durante a noite os acontecimentos do baile
me perturbaram.

Sento-me na cadeira olhando as opções da mesa do café da manhã.

— Isabel — diz papai chamando minha atenção.

— Bom dia, pai.

— Você foi um dos assuntos ontem — conta, sentando-se em sua


cadeira. — Carlo e você chamaram atenção de Marco e de vários outros.

Sorrio.

— Fiz o meu melhor para conhecer um pouco de Carlo. Mas

Giovanna também estava nos holofotes — lembro.

A diferença que papai faz entre nós é perceptível.

— Espero que sua irmã tenha cuidado com cada passo que dá. Ela
será uma Salvatore, um erro e Giovanna pode prejudicar todos nós — essas

são suas palavras sobre ela. — Após o casamento de Giovanna, quero


organizar o baile dos prometidos de Carlo Rossi com você.

— Sim — concordo, bebendo um pouco de leite morno.

— Bom dia — cumprimenta Giovanna, ao se sentar ao meu lado.

— Filha, hoje será a prova do vestido — avisa mamãe ao se

aproximar.

— Escolha algo bonito para Cesare aprovar — reitera papai. — Hoje

seu irmão fará a tatuagem da máfia Salvatore, a linhagem Garzelli sendo a


segunda mais importante deve permanecer.

Ele termina seu café ficando de pé.

— Greta e Alessa virão para a prova do vestido, elas querem ajudá-


la — informa nossa mãe.

— Eu não quero as duas aqui. Você e Isabel são a minha família,


elas querem ver defeito e opinar no vestido — reclama minha irmã.

Papai pega nos cabelos de Giovanna com força.

— Na próxima vez que fizer esses comentários, irá entrar naquela

igreja com o rosto marcado pelas minhas mãos, Giovanna! — ameaça,


soltando-a bruscamente.

— Stella, controle sua filha — ele exige, minha mãe assente. — Se


existir uma ajuda divina reze para que essa menina não estrague nada.

Ele se retira em passos fortes e rápidos.


— Giovanna seu papel é esse. Greta é a mãe do seu noivo, Alessa

também é da família. Se quer evitar uma tragédia faça tudo como seu pai
quer, eu imploro — pede mamãe, pegando no rosto dela.

— Claro, mamãe. Não há como fugir desse sacrifício, que horas será
a prova do vestido? Acho que você não comentou o horário — pergunta,

respirando fundo.

— Será às 13h, a união é algo sagrado, Giovanna, não se esqueça


disso — repreende. — Acho que devia ir até a igreja e se confessar ao padre,

assim estará com uma energia melhor no casamento.

— Posso ir daqui a pouco. Estou precisando falar com Deus — ela


concorda.

— Isabel, acompanhe Giovanna, vou organizar tudo para a prova do


vestido e as visitas das mulheres Salvatore — manda nossa mãe.

— Vou trocar de roupa — aviso, ficando em pé.

— Vamos, Isabel. — Minha irmã puxa meu braço até sairmos da


sala de jantar.

Coloco um vestido preto colado ao corpo, botas de cano longo na


mesma cor.

Escolho um colar de diamantes para enfeitar meu pescoço.

Borrifo o perfume e deixo o quarto indo até o da minha irmã,


Giovanna está escolhendo um vestido bem chamativo.

— Para quem vai se confessar está se arrumando demais —


comento, desconfiada.

— Sinto vontade de fazer tantas coisas só para sair dessa gaiola.


Como você também faz, quando temos oportunidade não há como
desperdiçar — diz, agora olhando para mim.

Ela passa um batom vermelho nos lábios.

— Giovanna, tem alguma coisa que você não está me contando?


Quem sempre gosta de se abrir comigo é você — sondo, desconfiada.

Ela sorri.

— Não tem nada de errado. Além do fato de que papai só falta me

quebrar para ser o que ele quer, mamãe apenas pode nos aconselhar — diz
com a voz fraca. — Os momentos fora de casa são os melhores. Bom, vamos

então, não posso me atrasar para provar um vestido e ser a boneca que os

Salvatore idealizam.

Saímos com dez soldados fazendo a nossa segurança, acho o número

pouco, já que Giovanna é a prometida de Cesare.


Como noiva do próximo Don ela deve ser mais protegida.

Entramos na igreja, vejo poucas mulheres rezando e o padre


conversando com uma delas, durante a semana não tem tanto movimento

quanto no fim de semana.

— Vou te esperar aqui — reforço.

— Giovanna. — Uma voz doce surge atrás de nós.

Viro o pescoço.

Reconheço-a na mesma hora, é a filha de um dos soldados da família


Salvatore.

Giovanna e ela sempre foram próximas.

— Isabel, prometi para Agnes que iria ajudá-la em um assunto


importante.

Pego em seu braço.

— Você está brincando com fogo. Eu tenho que me virar para

encobrir suas saídas, Giovanna, papai tem olhos em todos os lugares —

alerto.

— Eu não vou demorar. Não vou fugir, se estivesse fazendo isso,


você saberia. Apenas vou falar com Agnes, ela é uma amiga importante —
reforça.

— Vou enrolar por aqui. Tem cinco minutos, Giovanna — aviso.

Ela me abraça fortemente.

— Eu amo você — diz, olhando no fundo dos meus olhos.

Ela se afasta e vai até Agnes, vejo as duas saindo da igreja.

Respiro fundo, aproximando-me das senhoras que me conhecem.

São todas amigas da minha mãe.

— Bom dia — cumprimento-as.

— Isabel, sua mãe não veio? — uma delas pergunta.

— Não, apenas minha irmã e eu.

— Fiquei sabendo da escolha de seu pai. Você e Giovanna vão


honrar o casamento, Stella é uma mulher maravilhosa, e que passou os

conhecimentos de Deus para vocês — elogia.

— Isabel querida. — O padre se aproxima com um sorriso. —

Deseja falar com Deus?

— Na verdade...

Barulho de tiros são ouvidos.

As senhoras entram em desespero.


— Abaixem-se! — orienta para as mulheres.

Não obedeço, pois a minha irmã está lá fora.

— Giovanna! — grito correndo até a saída da igreja — Giovanna!

Desço as escadas e encontro alguns corpos de soldados, outros estão


feridos, mas conseguem caminhar.

O corpo de Giovanna está caído, sangue manchado em seu peito e


Agnes ao lado dela.

Há muito sangue pelo chão.

Encaro os olhos da minha irmã já sem brilho, lágrimas grossas caem


pelo meu rosto.

— Giovanna! — grito, atordoada, indo até ela.

Porém, alguns soldados surgem apressadamente.

Eles me tiram de perto.

— Senhorita, você não pode ficar aqui — alerta um deles.

— Não, eu não vou sair daqui! Não! — rosno enquanto sou retirada

a força do local.

Entro em total desespero, debato-me até ser colocada dentro do


carro.

— Leve-a — orienta ao responsável pelo carro.


Bato no vidro, gritando ao ter que deixar o corpo da minha irmã

jogado entre outros.

O barulho dos tiros está fresco em minha mente.

A imagem dela.

Levo as mãos até o rosto. Derramaram o sangue de uma Garzelli.

O carro acelera pelas ruas de Roma.

Não consigo raciocinar quantos minutos se passaram até chegar em

casa.

A porta do carro é aberta por Gianluca, ele me tira de dentro do


veículo.

Ao entrar em casa me separo dele.

— Me solte! Saia da frente, ela está sozinha! — brigo com ele.

— Me bata o quanto quiser, não vou perder outra irmã — reforça.

Caminho até a sala, sentando-me no tapete de pelos atordoada.

— Estávamos com dez soldados. Como isso é possível? — rosno

entredentes.
— Isabel! Isabel, filha... — A voz chorosa da minha mãe surge no

corredor.

Ela vem ao meu encontro, abraçando-me com força.

— Seu pai acaba de me ligar, mataram a Giovanna em um ataque


inimigo — revela. — O que ela fazia fora da igreja, pelo amor de Deus?

— Ela foi cumprimentar Agnes — conto, ofegante. — Fale com o


papai, ele não pode me manter presa dentro dessa casa.

— Filha, não piore essa dor que está rasgando nosso peito —
implora mamãe, abraçando-me mais.

— Você não vai sair de casa. Papai está no local com Marco
Salvatore, Cesare e o conselheiro — diz, ao se aproximar. — Ele proibiu a
sua saída.

— Gianluca, não sou mais uma criança — rebato, nervosa. —


Estávamos com dez soldados. Alguns estavam feridos, o alvo era Giovanna,

foi para atingir os Salvatore, eles são os culpados! — grito, desesperada.

— Isabel, se controle. Você vai obedecer ao seu pai — reitera

mamãe.

Levanto-me do chão.

Vejo a tatuagem de cobra no pescoço dele, feita recentemente.

— Ela era sua irmã.


— Mas está morta, suba para o seu quarto, Isabel. — Seu tom é

autoritário, frio.

Subo as escadas rapidamente indo até o meu quarto, fecho a porta

com força.

Caio na minha cama puxando os panos tomada pela raiva.

Estou quebrada em mil pedaços, com sede de sangue.

— Eu te prometo, Giovanna, pelo nosso sangue, que irei me vingar


— sussurro com a voz rouca.
Estou sentada diante da minha penteadeira.

Os olhos vermelhos de tanto derramar lágrimas. Não importa


quantas estão caindo.

O silêncio do corredor é o mesmo da minha alma.

Giovanna cuidava de mim desde pequena, ela tinha um carinho


especial, tínhamos jeitos muito opostos, mas ela era minha maior aliada.

Vejo minha imagem da pior maneira. Destruída. Atordoada.

Passo a mão pelos meus lábios para tirar o batom, não quero usar
vermelho, uso o removedor de maquiagem, não quero passar nada no meu
rosto.

A porta do meu quarto é aberta pelo meu pai, engulo em seco

quando percebo seu olhar estudando meu rosto.

— Você não vai seguir os exemplos da sua irmã — inicia em um

tom perigoso.

— Fui proibida de sair de casa, você queria me prender — rebato.


— Eu quero proteger a minha filha. Quando dou uma ordem, sua

mãe, seu irmão e você devem obedecer imediatamente sem questionar, ou


abrir a boca — reitera. — Se Giovanna não tivesse saído da igreja ela estaria

viva! Ela fez a sua escolha.

— Havia dez soldados conosco. Pai..

— Dez soldados, seis mortos e os outros todos feridos! — diz.

— A culpa é dos Salvatore! Mataram Giovanna porque iria casar


com o próximo Don, o alvo estava na cabeça da minha irmã — rosno.

— Chega! — manda sem paciência. — Não criei meus filhos para


serem fracos.

— Ela era a sua filha — reforço em um fio de voz.

— Não quero ver mais uma lágrima descendo pelo seu rosto. Você
vai usar maquiagem, estar apresentável para o velório.

— Apenas vou lavar o rosto para não demorar.

— Todos os membros e famílias importantes estarão conosco,


Isabel. Não teste a minha paciência, você e Giovanna tiveram criações

opostas e sempre fui mais aberto com você, estou percebendo agora uma
rebeldia que não vou tolerar jamais — ameaça.

— Está bem — concordo por fim.

— Estarei lá embaixo à sua espera, sem demora. Retira-se do quarto.


Enquanto vou até o banheiro lavar o rosto, a água molha a minha

pele, busco respirar lentamente, tentando controlar minhas emoções.

Pego uma toalha de rosto.

Escolho uma base, um pouco de pó e um leve toque de blush em


minhas bochechas.

Não há emoção em minha face. Sem brilho.

Coloco o véu para finalizar.

Minha mente trabalha em ideias e sugestões, não escolhi cursar


psicologia à toa, decifrar pessoas, olhares e gestos serve como uma munição
preciosa.

Em meu mundo um velório não se trata apenas de velar um corpo de


um ente querido, mas de análise, observação e a postura.

Fui ensinada assim. Não quero ouvir consolo. Prefiro ouvir


conversas importantes.

Enquanto analiso meticulosamente cada um.

Os Salvatore quiseram prestar uma homenagem para Giovanna.

Papai aceitou que o velório acontecesse na mansão deles.


Entramos no salão onde horas atrás aconteceu o baile, mas nesse

momento está o corpo de Giovanna, em um caixão aberto.

Pétalas de rosas brancas estão espalhadas por seu corpo.

Um vestido branco delicado. E nas mãos dela uma rosa branca.

Os olhares de membros importantes estão na minha família, papai

aperta a mão de amigos, mamãe cumprimenta homens e mulheres.

Meu irmão está ao meu lado.

Estamos diante do caixão.

— Consegue disfarçar esse olhar calculista? — orienta Gianluca.

— O que estou fazendo? — pergunto, inocente.

— Analisando quem está chorando de verdade e quem está fingindo.

— Os Salvatore estão fazendo isso para demonstrar que foi uma


grande perda, mas Marco está como sempre esteve, a esposa quer controlar
os comentários e saber sobre tudo — afirmo, encarando-o.

— Controle a língua, Isabel.

— Um deles poderia estar no lugar da Giovanna — digo ao passar a

mão no rosto de Gianluca

— Sinto muito por Giovanna. — Alessa se aproxima pegando na

mão da minha irmã. — Ela era diferente, sempre estávamos juntas.


— Não vai jogar algum comentário para mim? — indago, surpresa.

— Hoje não, Isabel. Sua irmã seria uma Salvatore, eu queria que ela
estivesse ao lado de Cesare — reforça.

Vejo no rosto de Alessa uma certa dor pela perda de Giovanna.

Minha irmã dava abertura para ela. Diferente de mim.

Nós sempre estivemos em direções opostas. Escolho com quem


quero me relacionar.

Talvez era esse o maior defeito de Giovanna, estar ali para ouvir e
ajudar quem precisasse, e não ajudar a si mesma.

— Gianluca — fala Alessa ao ir até ele a fim de abraçá-lo. — Meus


sentimentos.

Sinto o perfume de Cesare um segundo antes dele surgir ao meu


lado.

O próximo Don estende a mão para mim, encaro-o com tanto ódio.

— Não quero o seu consolo — aviso em um tom baixo.

Ele se aproxima sabendo que não posso empurrá-lo para longe.

— Giovanna era importante para nós dois — reitera.

Ignoro-o voltando a olhar para Giovanna.

— Cesare — cumprimenta meu irmão.


Essa família sabe como atuar.

Greta Salvatore se aproxima pegando em minha mão.

— A dor não escolhe idade, minha querida, sinto por sua irmã.

Giovanna era uma mulher linda — declara, com um sorriso forçado.

— Obrigada, Greta. Ela era única, a união das famílias era

importante para vocês — minhas palavras são frias.

Giovanna era um negócio. Uma peça de xadrez.

— Tome um pouco de chá, fará bem se afastar um pouco do caixão


— sugere, atenciosa demais.

Encaro-a com uma desconfiança, ela sabe de algo.

— Eu a encontro em uma das mesas para o chá, Greta — afirmo.

— Ótimo, estou te esperando.

Ela se retira indo até a governanta.

Alessa e Cesare já saíram.

Meu irmão e eu continuamos lado a lado.

— O que você está aprontando, Isabel? Além de recusar as

condolências de Cesare — questiona.

— Greta Salvatore quer se aproximar. Apenas aceitei uma xícara de

chá — explico enquanto a vejo ao lado dos meus pais e Marco.


Há uma conversa importante entre eles.

Deixo Gianluca sozinho e em passos rápidos me aproximo


lentamente para ouvir apenas algo que me fez paralisar.

— Com a morte de Giovanna, Isabel será a substituta — revela


Marco Salvatore.

— O quê? — pergunto, olhando para todos. — Estamos no velório


da minha irmã e vocês já querem pensar em uma substituição.

— Isabel, querida — diz Marco ao se aproximar. — Gosto de


decisões rápidas pensando no melhor da nossa máfia.

— Compreendo, Don Salvatore. Mas não posso substituir a minha


irmã, meu pai já havia escolhido Carlo Rossi para ser meu marido — lembro.
— Não há como voltar atrás.

— Os Rossi obedecem a mim — diz Cesare ao passar por mim.

Ele fica ao lado do pai.

Seus olhos estão com um brilho perigoso. Alguém está ficando


irritado.

— Quebra de acordos não são feitos — rebato.

— Quieta — rosna papai, pegando em meu braço. — Não fui falar

com os Rossi. Estava ocupado, preparando seu irmão.

— Ela está nervosa, a morte da irmã não é algo que ela esperava, a
primeira perda de alguém que amamos é sempre dolorosa — interfere Greta.

— Você vai substituir a Giovanna. Irá se casar com Cesare — reitera

meu pai.

— Eu não quero o lugar que era da minha própria irmã! — deixo

claro. — Já sabem qual é a minha resposta.

Afasto-o indo até o caixão de Giovanna.

Eu não vou fazer isso!

— Isabel. — A voz de Cesare inflama minha raiva.

— Não ouse se aproximar de mim — aconselho, sem olhar para trás.

— O que está acontecendo? — questiona meu pai ao se aproximar.

— Quero uma reunião ao fim do enterro, Luigi. Controle a sua filha


— exige.

Viro-me encontrando o rosto do meu pai, Cesare está se afastando.

O aperto em meu braço é forte.

— Esqueça Carlo Rossi. Acabo de entregar a sua mão para Cesare, e


não há nada que você possa fazer — exige em um tom perigoso.

— Pai, a união dele era com a Giovanna, não quero ser a segunda

opção dos Salvatore. E nem usurpar o lugar que era da minha irmã —

protesto, soltando o braço.


— Giovanna não está mais entre nós, aceite isso. Você foi a

escolhida e vai ser entregue para Cesare Salvatore — reitera. — Quando


voltarmos do enterro, haverá uma reunião. — Ele se aproxima. — Não me

faça tirar sua faculdade e ter que te bater para colocar na cabeça que a
negociação já foi feita.

Ele entregou a filha caçula para essa família sem pensar duas vezes.

— Irei me casar com Cesare — concordo. — Mas como o meu


nome apareceu? — pergunto, desconfiada.

— Uma união entre os Garzelli e Salvatore é muito benéfica. Marco


a mencionou e aprovei dar a sua mão para Cesare, veja por outro lado, Isabel,
aceitei uma oferta para vê-la se tornar uma Salvatore — acrescenta.

— Irei sobreviver? Não foram capazes de salvar a Giovanna —


provoco, descaradamente.

— Chega de perguntas e respostas afiadas. Se despeça da sua irmã


— manda ao sair.

Aproximo-me do caixão, pego na mão dela.

Deveria saber que o Don Salvatore iria colocar os olhos na última


herdeira de meu pai, a junção das famílias era bastante esperada.

Não iriam me entregar para um Rossi.

Propor uma alteração, como escrever algo e depois passar a borracha


simplesmente, uma irmã no lugar da outra para nada ser perdido para eles.

Um gosto amargo toma conta da minha boca. Raiva. Inquietação.

Viro o pescoço encontrando o rosto de Cesare, ao lado do seu pai e o

meu, ele não vai dar um passo até a mim.

Sabe pela minha expressão que sou capaz de fazer um escândalo.

Ao olhar para os demais membros estudo seus lábios, os comentários


e a atenção são em minha direção.

Eles sabem que o meu nome foi dito.

E que nesse momento, Cesare tem as duas mãos em cada parte do


meu corpo.

Exposto e coberto.
O enterro de Giovanna é rápido. Jogo a última rosa antes de

começarem a jogar terra.

A mulher que gostava de livros e que contava histórias para mim,


hoje vai conhecer um sono mais profundo conhecido como: o sono da morte.

Eu não a verei mais.

— Venha. — Gianluca me afasta dessa cena.

Caminhamos até a saída do cemitério.

— Papai te mandou fazer isso? — indago com raiva.

— Sou seu irmão — corrige. — O que aconteceu com Giovanna foi


uma fatalidade, mas não há nada mais para se fazer. Agora você está em
destaque, a sua vida vai mudar — orienta.

— Nosso pai entregou a minha mão, e agora tenho que participar


dessa reunião inútil?

— Sim, Cesare irá decidir quando será o casamento de vocês.

Meu irmão abre a porta do carro.


Entro no veículo tirando o véu da minha cabeça.

Cesare vai me pagar por isso.

A minha família e os Salvatore são os únicos presentes na mansão,


que há uma hora estava com a presença de muitas pessoas importantes.

Marco abre a porta do seu escritório.

Meu pai aponta uma cadeira diante de Cesare e o próprio Don


Salvatore.

Cesare mantém o olhar em mim. Meus olhos o encaram fixamente.


Enfrento-o.

— Isabel, não é porque Giovanna era sua irmã que estar no lugar
dela é algo horroroso — diz Marco. — Na vida fazemos escolhas e quando
elas não dão certo, optamos por outras.

Escondo a vontade de rir diante da maior autoridade da máfia


Salvatore.

— Ela compreende as circunstâncias — afirma papai ao meu lado.

— Stella e eu preparamos Isabel para qualquer situação.

— Quando vamos falar do casamento? — pergunta Alessa mexendo


em uma mecha de seu cabelo.

— Alessa tem razão, essa ocasião irá reconfortar essa dor. Estou

ansiosa para ajudar Isabel em tudo! — diz Greta com grande entusiasmo.

— Cesare, escolha a data — Marco o autoriza.

Engulo em seco.

Observo o idiota olhar em um calendário os dias que restam do mês


de maio.

— Teremos o período de luto. Um mês para mim é o ideal, portanto,


o casamento acontecerá dia vinte de junho — avisa para todos.

— É perfeito — papai afirma. — Isabel está de férias da faculdade


nesse período assim como Alessa. Haverá tempo para tudo ser organizado
com perfeição. — A mão dele está em meu ombro.

— Gosto da data, não irá demorar. Será uma grande festa, escolha o
que quiser, Isabel, Greta e Alessa irão ajudá-la — informa o Don Salvatore.

— Não quero baile de prometidos — digo, ficando em pé. —

Amanhã tenho aula, podemos ir embora pai? — peço, com os olhos fixos
nele.

— Será apenas o casamento — concorda Marco.

— Vamos selar o acordo — Cesare exige.

Sua voz arrepia meus pelos.


Viro o rosto o encarando, aproximo-me pegando em sua mão.

Ele não quer apenas isso.

Vejo em seus olhos a vontade de ter a minha boca.

Sorrio divertida.

Cesare não pode fazer nada disso. Está sendo controlado pelas

regras.

Tenho um mês longe dele. Isso é um presente.

Os lábios de Cesare tocam a pele da minha mão.

— Quero que tenha alguns dos meus homens na faculdade, não vou
arriscar a proteção dela — afirma ele, segurando a minha mão.

— Com certeza — reforça papai. — Aprovo seu pedido.

— Estou cansada, boa noite — digo ao soltar a mão bruscamente.

Caminho até a porta acompanhada pela minha mãe.

Saímos do escritório juntas.

— Terá um casamento lindo, filha. Os dias passarão rapidamente,


logo irá chegar essa data especial — afirma, beijando a minha testa.

— Até lá serei vigiada dia e noite. — Suspiro lentamente.

— É para a sua proteção — reforça. — Seu pai conversou com você,

obedeça.
— Sim, mamãe. Eu já aceitei que irei casar com o filho do nosso

Don, papai deixou claro as minhas opções.

Mas aceitar a morte de Giovanna é outra coisa. Pode demorar quanto

tempo for, eu quero os culpados sofrendo.

Mesmo que o principal deles seja meu futuro marido.

O dia seguinte acordo pior do que quando fui dormir.

Decido tomar um analgésico para evitar a dor de cabeça.

Não posso perder a aula, saio de casa querendo rever minhas amigas.

A faculdade é em um belo prédio branco com janelas azuis.

Estou no penúltimo ano.

Escolhi especialmente psicologia, as mulheres na máfia não tem


contato com armas, algumas são responsáveis apenas pela criação dos filhos

e da casa.

Duas coisas que eu não tenho a menor vontade. Eu odeio servir.

Os homens são privilegiados desde pequenos, o que é reservado para


eles é muito maior.
Limpo os pensamentos ao entrar na sala de aula.

— Isabel! — Ana e Bella dizem em uníssono.

— O que aconteceu? Você não respondeu ninguém ontem —

pergunta Ana, preocupada.

Deixo a mochila na minha cadeira e vou até elas.

— Minha irmã, Giovanna, faleceu. Ela foi vítima de uma bala


perdida — revelo. — Não estava conseguindo pensar direito, acabei vindo
para me distrair e não ficar presa em casa. Vigiada por soldados.

— Giovanna era tão animada, sinto muito — diz Bella ao me


abraçar.

— Você veio ao lugar certo, temos o nosso trabalho da psicologia na


área da sociedade. Além de que, no que precisar estaremos aqui, patricinha
— provoca Ana arrancando um sorriso meu.

Adoro luvas rendadas. Uso muito na cor branca, e estou com elas
nesse momento.

Além de outros acessórios, por isso a faculdade inteira me considera

uma bela patricinha rica.

Eles não sabem da verdade. É melhor não saberem quem eu sou e de

onde faço parte.

— Quero fazer o trabalho, ter distrações para tirar essa dor,


inquietação do meu corpo — relato para ambas.

Enquanto estou aqui, minhas preocupações são com a nota. As


fofocas pelos corredores.

— Desculpem o atraso — diz Alessa Salvatore ao entrar.

Ela se senta ao lado de seu círculo de amizade.

— Todos em seus lugares — orienta a professora ao entrar na sala.

Volto para o meu lugar.

Pego o caderno e o deixo na mesa. O dia promete ser longo.

Comi um sanduíche no intervalo.

Agora, estou saboreando uma barra de chocolate.

— Você comendo chocolate, algo raro — brinca Ana.

— Preciso de serotonina — explico, passando a língua pelos lábios.

— Meninas, o que Alessa quer aqui? — pergunta Bella baixinho.

Levanto o rosto olhando para o lado e a vejo se aproximar com um


sorriso divertido.

Alessa para olhando para mim.


— Chocolate, Isabel? Não sabia que você gostava de aparentar estar

chateada, na verdade, não gosta...

Levanto, encarando-a melhor.

— O que você quer?

— Conversar, longe das suas fiéis escudeiras. — Aponta para as

meninas.

— Volto logo — afirmo para as meninas.

Sigo Alessa indo em direção ao banheiro feminino, ela espanta


algumas garotas que estão passando maquiagem e jogando conversa fora.

— Quer expor nós duas diante da faculdade inteira? — pergunto


quando a vejo fechar a porta.

— Seria engraçado ver suas amigas e o restante saberem que é filha


de um subchefe. E que vai se casar com meu primo em breve, essa fachada de
patricinha iria sumir em um estalo de dedos — comenta, com um sorriso
divertido.

— Cale essa boca. Abrir a boca seria perigoso, o que você quer de

mim?

— Vou passar a tarde com você. Tia Greta falou com sua mãe que

devemos nos aproximar, você será da minha família, afinal — revela.

— Não sou obrigada a aturar você na minha casa — rosno.


— É essa a Isabel que eu conheço. Será um prazer estar na sua casa,

podemos começar a encontrar um vestido — sugere.

— Tenho que voltar, não quero atrair problemas. Meu pai é alguém

rígido e o seu tio também — lembro.

Ela assente.

— Jamais irei decepcionar os meus tios. Quando você entrar para a


família vai ver que eles não aceitam erros e decepções.

Ignoro-a indo até a porta e a abro.

Greta Salvatore já quer que a sobrinha esteja na minha casa para


estudar os meus planos para o casamento. Não sou idiota.

Se ela pensa que vai escolher o vestido como iria fazer com
Giovanna está enganada.

Quero um vestido lindo e chamativo.

Para que os olhos de Cesare não saiam de mim nem por um segundo.

É somente o que ele vai ver na noite de núpcias.

Alessa vai no carro da família Salvatore.


Enquanto vou sozinha, não quero levantar suspeitas com os alunos

da faculdade, nunca fomos amigas, sempre estamos trocando farpas.

As duas em um carro seria algo suspeito.

O trajeto até a mansão Garzelli não é demorado, apesar de um pouco


de trânsito nas ruas movimentadas de Roma.

Mamãe está esperando nas escadas por Alessa e eu.

— Alessa, bem-vinda.

— Obrigada, Stella. Quero passar um tempo com a futura noiva do


meu primo, afinal, nossas famílias serão unidas em breve — diz, com um
sorriso astuto.

— O que vocês querem fazer? A sua companhia fará bem para


Isabel, estou de saída, a casa será de vocês — informa mamãe.

— Uma tarde na piscina — escolho.

— É perfeito — Alessa concorda. — Isabel, quero escolher um

biquíni e conhecer seu quarto.

— Vou levá-la até o meu quarto e ficaremos na piscina, mãe —

confirmo.

— Perfeito, as empregadas estarão a postos para o que precisarem.

Isabel dê um de seus biquínis novos para Alessa — orienta ao se despedir de


nós duas.
— Vamos — convido Alessa Salvatore para me seguir.

A piscina é perfeita. Se necessário for posso afogá-la.

— Adoro a decoração da sua casa — diz, olhando os quadros e

enfeites.

Subo as escadas ao lado dela até o meu quarto.

— Aquele era da Giovanna? O seu é maior — analisa ao entrar.

— Sou espaçosa, minha irmã não era. Escolha um de seu agrado, são

novos. — Puxo uma gaveta do closet deixando as peças de biquíni para a


escolha dela.

— Seu tio escolheu rapidamente alguém para casar com Cesare. Não
acha? — pergunto enquanto a vejo escolher.

— É do interesse dele uma união com a sua família, é a mais


poderosa da máfia Salvatore, querida, ele não iria desperdiçar.

— Sua visita aqui foi para agradar seus tios ou por curiosidade? —

indago.

— Os dois — sorri, divertida indo se trocar no fundo do closet.

Abro a gaveta dos meus conjuntos preferidos.

Vou fazer Alessa abrir a boca.

Giovanna me ensinou a aproveitar as oportunidades.


A área da piscina foi preparada para a visita de Alessa.

Ela se senta em uma espreguiçadeira e se serve com um dos sucos


dispostos.

— Quem pediu para você vir aqui? Sua tia? Não vejo motivos para

uma aproximação entre nós — indago, arqueando uma sobrancelha.

— Meu tio sugeriu, ele disse que seria bom uma interação entre nós.
Estudamos juntas, iremos ser uma família — comenta, observando-me.

Entro na piscina.

— Alessa, você mencionou sobre não desapontar seus tios e Cesare.


Fiquei curiosa sobre isso — digo, encarando seu rosto.

Vejo-a escolher o que vai responder.

— Funciona da mesma forma com seu pai, não quer ganhar a ira
dele. Os castigos sempre foram rígidos, traumatizantes, faz parte da

personalidade dos homens da máfia ter prazer na dor — explica.

Vejo-a como um livro bem fechado.


Mas acredito no ditado: "Manter os amigos próximos e os inimigos

mais ainda".

Ela foi criada com eles e conhece muito da família.

— Suas perguntas são para coletar o que exatamente, Isabel? —


rebate. — Estar no lugar de Giovanna é difícil, afinal meu primo seria marido

dela se a tragédia não tivesse acontecido.

— Meu pai havia escolhido Carlo Rossi para ser meu prometido.
Com a morte de Giovanna, tudo mudou, eu não queria estar nesse papel, não
tenho o menor interesse em Cesare — afirmo, olhando em seus olhos cor de
avelã.

— Quando criança você morria de ciúme dele, sem falar nas rosas
que ganhava do meu primo — responde, com um sorriso. — Como é casar
com um namorado de infância? Fantasioso? Doce? Nenhum dos dois.

A atração que tenho por Cesare e a paixão não carregam a inocência


da época que éramos crianças.

— Acredita em amor de infância? — debocho, rindo. — Aquilo não

passou de uma ilusão, uma brincadeira que não lembro direito.

— Não acredito em nenhum amor ingênuo ou doce, estamos

acostumados com algo bruto, obsessivo e sombrio, devo dizer — comenta,


com um olhar distante.
— Concordamos nisso, pela primeira vez devo dizer. Bom, o vestido

que vou escolher será surpresa, apenas minha mãe estará por perto, gosto de
surpreender — informo.

— Minha tia vai insistir para que ela veja, sabe disso, não é? —
questiona, rindo. — Cesare é o único filho dela, ela quer que seja tudo

perfeito, sem nenhum defeito — alerta.

Foda-se o que Greta gosta.

— Explique que mudanças são necessárias. Qual a graça de saber


tudo? Capturar atenções é o que gosto de fazer. Greta pode escolher o
cardápio da festa, decoração, apenas diga para ela evitar escolher flores —
dou ênfase —, não haverá buquê, casamentos na máfia para mim são
maldições e não bênçãos, como os mais velhos insistem em dizer.

Sorrimos juntas.

— Quem diria que iria concordar com você?

— Estou surpreso, pensei que uma das duas iriam acabar se


afogando — meu irmão diz ao se aproximar, tragando um cigarro.

Esse era o plano inicial.

— Alessa — cumprimenta-a.

— Gianluca, veio saber se sua irmã está inteira? — provoca, com


diversão.
— Na verdade, vim saber se você estava inteira — ele responde.

Sorrio divertida.

— Estamos conversando pela primeira vez, sem ameaças —

tranquilizo.

Gianluca sorri.

— Não vou atrapalhar a conversa. Estarei no escritório, aproveitem a


piscina — sugere.

Acompanhei Alessa até a porta principal.

Como era de se imaginar, ela não abriu a boca. Temos uma coisa em
comum: a desconfiança.

É a primeira vez que saímos de uma conversa sem farpas ou


ameaças.

Troco o biquíni por uma calça legging e um top.

Ordeno aos soldados que coloquem os alvos para tiros.

Quando pequena admirava armas, isso não mudou.

Mamãe repudiava meu desejo de mexer com elas, mas papai não.
Ele nutriu isso.

Seguro a pistola na mão, começo a atirar acertando sempre o peito,

gosto de mirar na parte mais sensível de qualquer pessoa.

O resultado agrada os meus olhos. É prazeroso atirar.

E ter qualquer um na palma da mão.

— Saiu torto — avisa Gianluca ao se aproximar e olhar um dos

alvos. — Um dedo de distância do coração, concentração exige mente livre,


irmãzinha — orienta.

Nosso pai deixou que meu irmão ajudasse e ensinasse um pouco


sobre mira e armas.

— Estou com a mente perfeitamente vazia — afirmo, convicta. —


Por que não estaria?

— Sua união com Cesare. Está odiando tudo isso, mas não esqueça
do controle de expressão ele é esperto, o próximo Don não irá tolerar suas
birras e exigências — alerta.

— Vou saber lidar com Cesare, irmãozinho. Crescemos juntos, não é


a mesma coisa, é fato — pontuo. — Mas foi ele e a família que insistiram

para obter a última herdeira Garzelli.

Eles praticamente imploraram.

— Cuidado com seu joguinho perigoso, Isabel. Serei o subchefe,


mas não irei encobrir suas sujeiras, não haverá ninguém passando a mão em
sua cabeça.

Sorrio divertida.

— Tomarei cuidado, eu prometo.

Palavras sem garantias. Não faço promessas que não posso cumprir.

Um mês depois…

Poderia ter escolhido o vestido mais apagado e simples. Passar


despercebida.

Algo que cobrisse o meu corpo por completo. Casar de preto.

Mas, não, quando escolhi o vestido de noiva ao lado da minha mãe,


pensei nos rostos de todos dentro daquela igreja.

Os olhares em uma única pessoa. Imaginei os olhos de Cesare fixos

em algo fatal.

Jogar baixo? Sim, se necessário eu faço.


Nesse exato momento, estou sendo preparada por uma equipe que

está responsável pela maquiagem, deixar meus cabelos com brilho.

Meus olhos estão fixos no espelho.

Tudo isso seria para Giovanna, não para mim.

Preferia que ela estivesse viva, aceitaria as escolhas que foram feitas.

Porém, não foi assim que aconteceu.

— Um sorriso, querida — sugere o maquiador.

— Já chega — digo ao ficar em pé.

— E os cabelos, senhorita? — pergunta a cabeleireira tocando em


alguns fios escuros.

Mamãe entra no quarto observando a minha cara de irritação.

— O que foi, filha?

— Não sou uma boneca para ser moldada. Tudo está ótimo, estão

dispensados — aviso aos funcionários.

— Por favor, a empregada irá acompanhá-los, obrigada — auxilia

mamãe, agradecendo logo depois.

Se colocassem mais blush iria parecer que levei um tapa.


— Isso são modos, Isabel? Estavam fazendo o trabalho deles —

questiona ao se aproximar. — Não quis um penteado diferente?

— Gosto dos meus cabelos soltos, mãe. Queriam uma maquiagem

forte, vou para a igreja e não para uma sessão de fotos — explico. —
Queriam passar um batom cor de rosa no lugar do vermelho. Greta Salvatore

gosta do trabalho deles? — sondo, com deboche.

— Ela quis lhe dar como presente.

— O gosto peculiar dela é horrível. Se o intuito era me fazer entrar


na igreja como uma palhaça, acabou dando errado.

— Você está tão linda. Mas antes de colocar o véu, diga-me que não
vai atrás de problemas, Isabel, está entrando na família principal, são os
líderes da máfia — alerta, preocupada. — Eu não vou perder mais um filho.

— Minha irmã foi morta por causa dos Salvatore, mamãe. Ela estaria
viva, se a proteção tivesse sido maior, mas não quero que fique preocupada
— peço.

— O que está me pedindo? Você é a minha filha caçula, eu sei que

herdou o gênio do seu pai.

— Não sou mais uma menina curiosa com a máfia. Prometi que irei

me cuidar, vou assistir o sangue dos responsáveis pela morte da Giovanna


escorrendo em um rastro longo — afirmo, encarando-a.
— Esteja conectada com Deus, o lado sanguinário pertence aos

homens, filha. Nosso papel não é sujar as mãos — repreende, pegando o véu.

Ela se aproxima, ajeitando-o em minha cabeça.

Meu rosto não está totalmente visível. Apenas Cesare pode tirá-lo.

— Não vou cair no jogo da família Salvatore, mãe, é uma promessa

— digo, sentindo seu abraço caloroso.

O colo de mãe. Um porto seguro.

Ela mantém princípios porque foi criada para ser a mulher perfeita
para matrimônios.

Não posso prometer o que não vou cumprir.

Irei sujar as mãos. Tramar. Articular.

Mamãe segura em minha mão enquanto saímos do meu quarto, olho

uma última vez para a porta fechada do quarto de Giovanna. Desvio o olhar.

Há uma cerimônia para acontecer.

Os olhos são o espelho da alma, esconder suas reações e


pensamentos é extremamente vantajoso.
Desço as escadas ao lado da minha mãe. Meu irmão e papai

conversam entre si.

Ambos olham para mim.

— Está perfeita — elogia papai ao se aproximar. — No final das


contas é você que será a responsável por unir nossas famílias, Isabel.

— Obrigada, pai. Espero que não aconteça nada contra a minha vida,
sempre teremos essa dúvida com os Salvatore — lembro.

— A segurança foi redobrada, irmãzinha. Ficará surpresa quando


chegar à igreja — diz Gianluca.

— Isabel, tire da sua cabeça qualquer ideia para interromper essa


união. Afirmo que nada irá acontecer, ganhará o sobrenome, e Cesare se
tornará Don após o casamento — reitera pegando em meu braço.

Engulo em seco.

— Vamos? Aposto que todos estão ansiosos pelo casamento,


precisamos dessa união, não quero ver sangue e mortes hoje — pede mamãe

ao se aproximar do meu irmão, ele enlaça o braço no dela.

— Chegou a hora — informa papai, os dois saem na frente,


enquanto estamos logo atrás. — Permiti que tocasse em armas, porque

sempre vi em seus olhos o desejo de ser diferente, jamais algo manipulável,


Isabel. Esqueça Giovanna, não estrague o que vai acontecer, ela não vai
voltar, lá só tem os ossos e o restante de carne que a terra irá engolir.

Os Salvatore e os Garzelli serão um só, entregue a sua beleza para


seu marido, satisfaça Cesare Salvatore em seus desejos, esteja na cama dele

quando mandar — ordena. — Eu a entregarei e não quero um mero


problema, não suje nosso sobrenome.

Suas palavras são tão nojentas. Papai é controlado pelo poder.

Quer usar a minha beleza para satisfazer a fome de Cesare.

— Sim, papai — uso um tom robótico.

Eu não vou fazer o que me pede.

Sempre puxei o seu lado das trevas e acha que irei cumprir
exigências sujas?

Posso morrer no processo, mas levarei Cesare e toda a família


comigo.

Usando as armas que tenho.


A porta do carro é aberta por Gianluca.

Olho ao redor e percebo uma quantidade bem maior de soldados


porta da igreja, todos em posição, alguns estão rodeando o veículo como um
cordão humano.

— Isso tudo é para evitar minha fuga? — pergunto, olhando para


meu irmão. — A quantidade de homens não era tão grande há um mês.

— Cesare deu a ordem de ter extrema proteção. Fugir? — seu tom é


zombeteiro.

— Usaria a arma em sua cintura, pegaria e atiraria em todos na


minha frente — asseguro. — Mesmo que custasse a minha cabeça.

— Serei o subchefe, e terei os olhos atentos em suas pretensões,


Isabel.

Reviro os olhos.

— Stella, Gianluca, podem entrar — manda papai ao enlaçar o braço

no meu. — Iremos logo em seguida.


Sinto tanta raiva.

Mais uma vez olho ao redor, Cesare colocou essa proteção toda para
dar um recado: não há fuga que me tire desse caminho.

— Onde está o sorriso em seu rosto? — Papai pega em minha


bochecha. — Uma noiva deve passar uma imagem de pura felicidade, um

olhar calmo, não estou vendo isso.

— Entre a máfia e seu próprio sangue, qual é a sua escolha? —


pergunto.

Ele sorri, mas não chega aos olhos.

A marcha nupcial é iniciada. Todos da igreja estão em pé. Olhando


para a entrada.

— Venero o sangue da minha família, no entanto, a máfia sempre


estará em primeiro lugar, acima dos meus filhos e esposa — reitera num tom
sombrio. — Essa pergunta você já sabia a resposta.

Sabia.

— Sim, porém, é sempre bom escutar.

Começamos a entrar na igreja.

— Sabe por que você nasceu? Quando olhei para a sua irmã, nunca

coloquei potencial nela, Giovanna não serviria para os negócios. E quando


sua mãe trouxe você ao mundo, percebi que havia algo em você que atrai
muito facilmente, era a criança mais elogiada, com presença — revela. — E
agora irá atrair Cesare Salvatore, filha.

Controlo minha respiração.

O véu esconde um pouco do meu rosto.

O suficiente para não verem a ira em meus olhos, a raiva. Uma isca.

Ele não sabe que está entregando algo que Cesare queria.

Há cinco meses, ficamos afastados com o anúncio da máfia


Salvatore sobre Giovanna e ele subirem ao altar.

Ela era uma barreira, que foi quebrada. A família Salvatore está ao
lado da minha.

Greta e Marco acompanham meus passos, Alessa está ao lado de


Gianluca.

Meus olhos encontram os olhos pretos de Cesare. Raros. Herdados


por seu pai.

Quando percebo estou diante dele.

— Entrego-lhe a última herdeira Garzelli.

Ambos trocam olhares rápidos.

Cesare desce um degrau ficando de frente para mim. Suas mãos

estão no véu. Ele é retirado lentamente.


Isso é uma tortura. Estou perdendo a paciência. É feito de propósito.

Cesare olha cada traço agora exposto. Subo ao altar.

O padre abre a bíblia. Tudo o que ele diz eu não escuto. Ignoro.

Estou inquieta, querendo sair desse show de horrores.

— As alianças — seu comentário me faz acordar, Cesare aproxima a

aliança do meu dedo.

— Cesare Salvatore aceita Isabel Garzelli como sua legítima esposa?

— Sim — diz.

Seguro a aliança que será dele.

— Isabel Garzelli aceita Cesare Salvatore como seu legítimo


esposo? Promete servir e honrar o casamento? — a pergunta final é feita.

Olho para Cesare.

Coloco a aliança em seu dedo bruscamente.

— Sim — respondo sem emoção.

— Pelo poder que a mim é concedido, vos declaro marido e mulher.

Cesare se aproxima. Viro o rosto. Deixando a bochecha para ser

beijada.

Ele quer a minha boca, o meu corpo de volta.

Sua mão vira o meu rosto. A boca dele encosta na minha.


Pretendo dar um passo para trás, porém, o encaixe de seus lábios é

feito de uma forma perfeita.

Cesare aprofunda o beijo devagar, e eu retribuo o contato de nossas

bocas.

É como ser picado por uma cobra, um veneno que está presente em

nossos lábios.

Uma droga que volta a entrar no meu corpo.

A mansão de Cesare é maior do que a de seus pais, a casa possui três


andares, um porão no jardim, palmeiras enormes cercam o local, aparenta ser

um castelo.

É o lugar que ele escolheu para a cerimônia de posse onde Marco

Salvatore agora entregará a coroa para seu único filho.

Meu pai passará para Gianluca o lugar de subchefe na máfia

Salvatore.

E por fim o novo conselheiro: Carlo Rossi.

Cesare conseguiu me roubar dele.

Estou ao lado de mamãe, Greta e Alessa, estranho a ausência dos


demais convidados que ainda não estão aqui.

— Bem-vinda — diz Greta pegando em meu rosto. — Essa é a sua

nova família.

Forço um sorriso.

— Obrigada, Greta.

— Sua mãe está de parabéns, a sua postura ao entrar na igreja. Estou


tão satisfeita com a escolha de meu marido, ele escolheu o melhor para nosso
filho.

— Estou orgulhosa — afirma mamãe.

— Isabel Salvatore — diz Alessa ao meu lado, entregando uma taça


de champanhe.

— Um brinde — sugiro, forçando um sorriso.

Juntamos as duas taças.

Bebo um pouco do líquido que faz cócegas no céu da minha boca.

A voz de Marco atrai nossa atenção.

Os membros mais importantes da máfia estão presentes na sala

principal.

Don Salvatore usa um punhal para um pequeno corte na palma da

mão.
— Esse sangue que é derramado governou por anos a máfia

Salvatore, honrou, não traiu e nos manteve sempre no topo. Agora é a vez do
sangue do meu herdeiro, o Don da Itália, líder de todos os presentes —

pronuncia, entregando o punhal para Cesare.

Que repete o ato. O sangue dele surge, pai e filho unem as duas

mãos. Misturando o antigo e o novo.

— Eu, Cesare Salvatore, fui gerado e criado para carregar o sangue


do Don, juro a minha honra, a proteção dos meus, o derramamento de sangue

dos inimigos e, principalmente, a súplica de mais almas que ousarem


enfrentar a máfia Salvatore — diz meu marido, olhando cada um dos
presentes.

Uma salva de palmas é realizada por todos nós.

— Vou usar algo mais confortável — digo para minha mãe.

— Suas coisas já estão no quarto — diz Greta. — Quer que eu a


acompanhe ou Alessa?

Encaro-a fixamente.

— Não, prefiro ir sozinha.

Dispenso as duas. E saio no meio da cerimônia. Estou nervosa.

Caminho em direção às escadas. Subo com pressa.

Vejo a empregada a postos ao lado do quarto.


— Posso ajudá-la, senhora?

— Não, obrigada — Empurro a porta do quarto e a fecho logo em


seguida.

Meus passos param quando chego ao banheiro.

Passo a mão na minha boca. Eu preciso tirar o gosto dele.

Aperto a torneira molhando minha boca para arrancar o batom e os


resquícios de Cesare.

Uso um lenço na bancada da pia para passar em meus lábios.

Removo com força. Jogo os papéis no lixo. Arranco o véu.

Ando com o vestido voltando para o quarto. Caminho em direção às


malas.

Estranho tudo não estar pronto e organizado no closet.

Tem alguma coisa errada.

Viro o corpo quando escuto a porta se aberta.

— Vou trocar o vestido.

— Não haverá festa — revela.

— Como? — questiono, arqueando uma sobrancelha. — E os


convidados na cerimônia de posse?

— Iremos viajar em lua de mel — explica ao se aproximar.


Dou risada.

— Eu não vou para lugar nenhum com você, Cesare — deixo claro.
— Saia daqui! — rosno.

— Sabia que iria dizer isso.

Empurro-o, mas ele não sente o impacto.

Em sua mão há uma chave.

— Enquanto estou ajeitando tudo e até se acalmar, vai ficar trancada

no quarto.

Ele se afasta.

— Você não vai me trancafiar e muito menos levar para essa


viagem! Eu não tiro os pés da Itália — protesto, e sigo atrás dele.

A porta é fechada enquanto bato, chuto, grito várias vezes.

Tento puxar a maçaneta. E não tenho sucesso.

Minha respiração está rápida e ofegante.

Não encontro o celular. Ando até a varanda, para verificar a altura,

para quem sabe pular até lá embaixo.

Não posso sair desse maldito quarto. Vou até a poltrona e me sento,
jogando a cabeça para trás.

Minhas unhas agarram o estofado.


Então, todos sabiam dessa viagem. Cesare quer me levar para forçar

a estar com ele, sem ter ninguém para interferir.

— O maldito quer usar seu poder de Don — digo para mim mesma.

Era o que ele mais queria. Obedecer ao seu pai o irritava. Agora ele
tem suas próprias decisões.

Forço as unhas a agarrar mais. Estou tomada pela fúria, vejo tudo
vermelho.

Não vou sair daqui. Muito menos ficarei calma.

Sentada na poltrona assisto o pôr do sol.

Ouço passos pelo corredor.

E logo em seguida, Cesare destranca e entra no quarto olhando para


o meu rosto.

Encaro-o em silêncio.

— Pensei que a encontraria sem voz — provoca.

— Não iria chegar a esse ponto — asseguro. — Seria inútil.

Olho para a porta escancarada.


Ele se aproxima de onde estou.

— Levante-se.

— Vou ficar aqui — rebato, enfrentando-o.

Cesare fecha a distância entre nós.

Ele está diante de mim.

— Posso dopar você com a maior facilidade ou irá levantar e andar


com as suas próprias pernas? — ameaça.

Levanto-me da poltrona sem pressa.

— Para onde estamos indo? — pergunto.

— Não vou te dar o poder de ter respostas. Sou seu marido, além de
ser o líder da máfia Salvatore, faço todas as regras, me obedeça — reforça,
pegando em meu braço.

Desgraçado. Filho da puta!

— Sei andar sozinha.

Solto-me bruscamente. Evitando contato com Cesare. Mas sinto seus

olhos nas minhas costas.

Queimando o local.

— Não esqueça que honramos nossas palavras. Dentro da igreja que

acabamos de casar, havia avisado que a teria de volta, Isabel.


— Você e a sua família vão pagar pela morte da minha irmã, Cesare

— respondo sem olhar para trás.

— Nutra seus sentimentos ruins, palpites e pragas — sugere ao ficar

do meu lado no corredor. — Eles nos motivam, como o desejo de pegar algo
que sempre foi meu — afirma.

— Sim, queria ser Don o quanto antes para não precisar do seu pai
— respondo rapidamente.

A risada dele é sombria. Não é sobre o cargo. É sobre mim.


A aeromoça me recebe com felicitações, assim como o piloto e o

copiloto do jatinho, olho para eles oferecendo um sorriso minúsculo.

Andar com esse vestido não é fácil.

Se precisar correr ou fazer qualquer outra coisa, irá me atrapalhar.

Tenho que tirar essa porcaria urgentemente.

Encontro uma das minhas malas ao fundo do jatinho, uma pequena

cama e ao lado o banheiro.

Procuro por um vestido curto, branco. Olho para trás ouvindo vozes,
Cesare e alguns homens conversando.

Aproveito e entro no banheiro rasgando um pouco desse vestido.

Quero afundá-lo na privada. Estou nervosa com essa situação toda.

A peça cai no chão, piso nele com os saltos brancos.

Troco por um vestido curto branco, manga longa.

Suspiro aliviada, enfim estou confortável.

Abro a porta deixando essa peça largada em cima da cama.


Deixo o local, escolhendo a penúltima poltrona ao lado da janela.

Há alguns soldados na frente.

Assisto Cesare vir em minha direção, ele escolhe a poltrona que fica

de frente à minha.

— A festa de casamento é uma tradição. E você a quebrou.

— Você não está preocupada com nenhuma tradição, sempre


odiamos qualquer regra, Isabel — rebate. — Essa rebeldia toda é para
descobrir onde estamos indo?

— Planejar essa viagem foi um erro, não vou cooperar com nada —
reforço.

— Chega, porra! — rosna. — Acha que eu iria perder a


oportunidade de forçar você a passar a lua de mel com quem mais odeia no
momento? Fiquei cinco meses longe de você por causa das regras da máfia,
nesse momento não há nada que possa fazer para impedir, ninguém irá

interferir.

Suas palavras invadem a minha cabeça.

— Estou cumprindo o que o casamento pede, nada mais — digo.

Suas feições mudam rapidamente. Um brilho perigoso surge em seus

olhos.

— Quer jogar? Faremos isso, só que não tem regras e limitações do


que se pode fazer.

Olhar para os olhos de Cesare é se afogar em um mar escuro com


lembranças e desejos.

Busco olhar para a janela.

Acomodo-me na poltrona, estou sem opções do que fazer.

Uma fuga era o que estava ansiando, precisava descansar, estar


vulnerável não é uma opção.

E em um certo momento acabo dormindo. Desperto assustada e


percebo que o jatinho está pousando.

Não reconheço onde estamos. Passo uma mão pelos cabelos do meu
rosto.

Espero que essa viagem dure muito pouco.

Cesare sempre foi esperto, calculista em saber que uma viagem de


lua de mel é me ter ao seu lado.

CANCUN, MÉXICO
A aterrissagem foi perfeita.
Enquanto seguimos até o hotel, observo a paisagem, o comércio e,

principalmente, o clima quente, pelas placas acabo descobrindo nosso


destino: Cancún.

Cesare sabe que gosto de praias e piscinas, nunca tive a


oportunidade de conhecer o México e principalmente Cancun.

O hotel é luxuoso e chamativo.

O check-in é feito em uma agilidade impressionante.

Meu marido escolheu a suíte master para ficarmos.

Um quarto com hidromassagem, vista impecável para a praia, as


ondas do mar estão tranquilas, por um breve momento esqueço de tudo que
aconteceu que me fez estar aqui.

E me permito fechar os olhos. Sinto um vento soprar meus cabelos.

A realidade volta a assombrar minha mente quando olho a aliança


em meu dedo.

Fui a última opção dos Salvatore.

Um casamento com grande interesse. Que atingiu minha irmã.

Volto para o quarto pegando uma das minhas malas, preciso

procurar um biquíni para usar.

A porta do banheiro está aberta, observo Cesare se livrar das roupas


que ele sempre costuma vestir desde seus onze anos. Ternos pretos.
Meus olhos encontram seu peitoral exposto. A tatuagem de cobra.

Desvio o olhar escolhendo um azul-Tiffany. Pego uma saída de


praia.

Estou esperando Cesare sair do banheiro.

Cruzo os braços irritada. Estou com fome.

— Quero usar o banheiro — aviso.

— A porta está aberta, Isabel — rebate, conseguindo me irritar.

Viro as costas, para colocar as peças em cima da cama.

Tiro o vestido, e as peças íntimas logo em seguida.

— Seu celular. — A voz de Cesare surge na minha orelha.

A mão dele passa pelo meu braço e vai subindo em direção ao meu
mamilo que está rijo.

Minha pele reage. Sinto um arrepio cruel. Engulo em seco.

Pego o celular, as peças em cima da cama.

— Fez uma verificação minuciosa? — pergunto, irritada.

Vou até o banheiro, ignorando-o. Fecho a porta do banheiro

rapidamente.

Ele vai jogar o mais baixo possível. Não importa o que tenha que

fazer.
E eu também.

Almoçamos no restaurante do hotel, alguns soldados estão


caracterizados como visitantes, em outras mesas.

Não troco uma palavra com ele, estou terminando uma margarita de
morango, Cesare escolheu o mesmo.

O sabor é delicioso. O álcool desperta em mim um lado perigoso.

E o olhar dele não coopera.

— Será que pode tirar os olhos de mim? — pergunto.

— Nunca tirei — corrige.

— Já que está prestando tanta atenção em mim. Quero aproveitar


para falar sobre a morte da Giovanna, alguns soldados acabaram se ferindo,
quero falar com eles. Os culpados, vou procurar um por um — reitero.

— Pare de usar Giovanna como uma pauta entre nós — rebate, com

a voz fria.

— Você me conhece muito bem para saber que não irei, ela é a

minha irmã. E somente por ser sua prometida que ela foi morta — rosno.

Vejo a raiva em seus olhos. Ela deixa seus olhos ainda mais
perigosos.

— E você sabe com quem se casou, Isabel, não brinco em nenhuma

questão, na máfia, íntima — avisa. — O escudo, a fúria que está perceptível


em seus olhos azuis conseguem me atrair ainda mais.

Largo o guardanapo na mesa.

— Vou usar o banheiro, quero fazer isso sozinha — afirmo ao me

levantar.

Não ouço passos atrás de mim.

Sigo na direção oposta do banheiro, uma porta para a saída dos


funcionários, uso-a para sair do local.

Tiro a saída da praia, deixando o meu biquíni à mostra.

Piso na areia clara. A praia é tão linda. Uma água cristalina.

Um homem que está caminhando para ao me ver, ele tira os óculos

escuros.

— Hermosa — elogia.

Não entendo, mas pelo olhar é algum flerte.

Dois homens se aproximam por trás dele, reconheço quem são.

Um dos soldados dá uma coronhada na nuca do homem, enquanto o


outro soca o rosto dele.
Uma mão em minha cintura é um alerta.

— Eu te odeio — afirmo, ao virar para encarar seus olhos.

— Posso mandar matar esse homem, agora. Venha comigo e eu o

deixarei — sugere.

Ele começa a andar, sigo seus passos. Andando ao lado dele.

Olho para trás e os soldados deixam o homem na areia, respirando


pelo menos.

Cesare

Isabel.

A menina de cabelos escuros e olhos azuis que quando criança


afirmei que seria minha namorada.

Prometemos um ao outro que iríamos ficar juntos. Nossas famílias

sempre foram ligadas.

Ao passar do tempo, o que era algo inocente acabou se ampliando.

Eu a vi crescer, aquele sentimento da infância acabou criando raízes

profundas.
Ela conseguiu ser a única coisa que meus olhos queriam enxergar.

A infância deixou rastros de lembranças onde entregava rosas para


Isabel, as duas sempre foram parecidas para mim.

Bonitas e, ao mesmo tempo, perigosas, toda rosa possui um espinho.

Alguns você não consegue ver.

Há cinco meses, acabei tendo que me separar de Isabel com a


escolha do meu pai, um líder precisa casar e ter filhos.

O casamento daria o que eu mais queria também: o cargo de Don.

Ele sempre deixou claro que fui gerado para servir.

Se fosse uma menina, ela não seria criada por minha mãe.

Marco Salvatore arrancaria a própria herdeira.

Ele fez questão de dosar a quantidade de carinho recebido por

mamãe.

Sentimentos são um estorvo.

A escolha de papai foi Giovanna Garzelli, a irmã mais velha de

Isabel.
Os mais velhos possuem responsabilidade com antecedência.

Uma barreira foi criada. Eu não teria poder para quebrá-la.

Isabel e eu fomos separados pelas regras. Obrigados a estarmos em

direções opostas.

Porém, eu nunca a deixei sozinha. Todos os passos dela eram

monitorados.

Era ela quem eu queria. O pensamento de deixá-la com outro


libertou minha fúria.

A minha prometida morreu.

Uma morte trágica, o peso de ser a minha futura esposa despertou os


olhares dos inimigos.

Mas foi a sua morte que me trouxe Isabel.

Em um lugar mais quieto e sem movimento.

Estou sentado na areia enquanto observo Isabel entrar no mar,


deixando as águas claras de Cancun molharem seu corpo.

Alguns soldados viram as costas. Os olhares longe dela nesse


momento.

Apenas o meu a acompanha.

Ela deixa um leve sorriso escapar quando passa as mãos pelo rosto.

Sempre enxerguei as pessoas como insignificantes, suporto a minha

família, gosto de ter sido o único filho.

Não iria compartilhar nada com os meus irmãos.

Todo o império Salvatore criado por um dos meus antepassados está


sob meus poderes.

É o sangue que corre em minhas veias que todos devem honrar e


servir.

Esses homens que trabalham para a máfia Salvatore estão dispostos


a morrer por minha proteção.

Olho para Isabel.

Dou alguns passos, percebendo que está sendo observada, ela se

vira.

Minha mulher.

O corpo dela é esculpido por demônios. Cada pedaço é cruelmente

perfeito. É perigoso tocar.

Isabel se torna um vício.


Capaz de matar.

Quero morrer com o seu veneno misturado junto ao meu.

Somos duas cobras. Que necessitam estar juntas. Entrelaçadas.

Mesmo que no momento ela fuja.

Isabel vai voltar a ser minha.

Dias sem comida e água.

Enquanto meu pai ordena que dois dos soldados mais fortes

machuquem meu rosto e corpo.

Facas arranham a minha pele, à medida que estou com as mãos

presas. Absorvendo tudo. Sem gritar.

Há sangue no chão do porão. A luz do dia não chega até aqui.

Estou sem ver Isabel há dias. Ela é uma necessidade como beber

água, ingerir comida.

— Qual é a primeira regra da máfia? — papai pergunta. —


Responda, exige dando um soco em meu nariz.

A preparação para um Don pode te levar do céu ao inferno.

Meu corpo está com diversos machucados, as mãos presas por


correntes.

O filho homem é a maior conquista para um líder. Marco Salvatore


faz esse treinamento há um mês.

— Servir e honrar — respondo, cuspindo o sangue no chão.

— Mais alto, Cesare, surpreenda o seu pai — pede.

— Servir e honrar com o meu sangue — declaro em alto e bom som.

Ele sorri.

— Passarei o cargo para você algum dia, mas antes disso quero ver a
sua frieza, a resistência em absorver a dor — diz, ao se aproximar do meu
rosto. — Principalmente a sua cabeça, nada deve atrapalhar seus objetivos,
esqueça qualquer obstáculo — instrui.

— Você pode arrebentar meu corpo e o rosto, eu não vou gritar —


asseguro, enfrentando-o. — Faça o seu pior.

— Estou orgulhoso, mas vejo em seus olhos escuros, alguma coisa

que não está contando. Elimine qualquer pensamento que o torne vulnerável,
uma mera lembrança, alguém que te prenda.

Isabel. Há parte de mim que se recusa a deixá-la para trás. Eu a


quero.

Ela é a única pessoa que tem importância.

— Para ser Don, nada pode ser um ponto fraco, família, sentimentos,
nada — reitera.

— Eu quero ocupar o seu lugar — respondo rapidamente. — E nada


ficará no meu caminho.

Nem mesmo ela.

— Quero uma prova, em nosso jardim há uma família, o patriarca


está devendo a alma de todos eles para a máfia Salvatore — explica ao se
aproximar.

Ele me liberta. E entrega a arma.

— Mate todos, sem hesitar, assim ganhará a tatuagem com o nosso


brasão, a cobra. O animal que nos representa, para ter essa marca é necessário
provar que merece.

— Eu não irei poupá-los.

Meus pensamentos se organizam. Afasto a imagem de Isabel. Ela me

limita.

Eu não vou deixar de ser Don pelo que sinto.

Apesar desse sentimento me perseguir desde a infância.


Em passos rápidos subo as escadas indo até o jardim. Meu pai logo

atrás de mim.

O sujeito implora por sua família.

— Mate a mim, senhor Salvatore. Eu imploro! — sua súplica não


causa nada.

Aproximo-me atirando em sua esposa, seus filhos.

Os corpos caídos espalham sangue.

Ele assiste tudo isso com as mãos e pernas presas por cordas. Seus
gritos são de dor.

— Vou usar os órgãos da sua família no tráfico, essa é a culpa que


terá que carregar sem fazer nada — aviso, antes de matá-lo.
Isabel

O único momento que consegui aproveitar foi quando entrei no mar.

Ali me senti um pouco livre. Não havia ninguém ao meu lado.


Estava sozinha finalmente.

Depois disso o silêncio prevaleceu durante o caminho até o hotel.

Ao chegarmos Cesare faz algumas ligações, na última reconheço a


voz do meu irmão.

Decido ir tomar banho e colocar um pijama.

Quando saio do banheiro, quando sigo até as minhas malas, percebo

que algumas coisas foram mexidas, trouxe uma arma descarregada. Duas
balas por precaução. Além de um punhal.

Sigo a minha intuição. Os recados que ela me dá.

A primeira mala apenas tem peças íntimas, pijamas. A segunda

deveria estar a arma e as balas.

Procuro entre as minhas roupas de grife, afasto alguns espartilhos.


— O que você fez com as minhas coisas, Cesare? — pergunto,

nervosa. — Quem mexeu na minha mala?

Não consigo virar, ele pega em meu cabelo com força.

— Achou que eu não olharia o que trouxe? Uma arma e balas, para
quê? Você não vai andar armada — reitera na minha orelha.

— A arma é minha, não é da sua família. É para a minha proteção,


não confio em seus homens, muito menos em você — rebato, irada.

Seu corpo pressiona o meu.

— Não preciso dos soldados para te manter viva, treinei a minha


vida inteira para ser Don. Eu mando em você, não terá contato com armas —
rosna, puxando meus cabelos.

Ele passa o nariz em minha nuca. Sinto seu membro duro na minha
bunda.

— Não quero que toque em mim, sinto nojo — reluto e consigo sair
do seu controle. — Toda vez que olho para você lembro que a minha irmã foi

morta, era o seu sangue que devia ter sido derramado!

— Ela está morta — repete ao se aproximar. — Giovanna não


respira, não ouve, ela está debaixo da terra em um caixão. Eu não a matei,

usar argumentos vazios para se afastar não funciona, Isabel.

Cesare se afasta indo até o banheiro, ele fecha a porta com força. O
estrondo pulsa em minhas orelhas.

Eu o odeio, por toda essa situação. Estar em um casamento que não


seria para mim!

Isso é sufocante.

Tiro as malas de cima da cama.

Na terceira mala consigo achar um punhal enrolado em um vestido


preto, desenrolo-o pegando o objeto.

Tiro uma das almofadas que estão coladas na frente dos travesseiros.
Jogo-a no chão.

É no chão que vou dormir, não usarei essa cama. Muito menos
travesseiros ou cobertor.

Deito-me, deixando a cabeça ajeitada no meio da almofada.


Sorrateiramente passo o punhal por baixo.

Cesare é traiçoeiro como eu também sou. Não vou dormir ao seu

lado. E nada desse quarto é meu.

O dinheiro sujo dele é responsável pelos gastos.

A porta do banheiro é aberta. Ele sai apenas usando a cueca boxer.

Seu olhar vem em minha direção.

— Deveria estar nessa cama.


— Jamais, prefiro dormir aqui do que dividir essa cama e qualquer

outra — rebato rapidamente.

Ele ri.

Acompanho-o com os olhos quando Cesare pega em sua mala um


punhal.

Ao se aproximar da cama, meu marido passa o objeto na palma da


mão.

O sangue de Cesare cai no pano branco. A cerimônia de lençóis.

Esse pano vai ser levado para Roma.

— Ainda me recordo do seu sangue naquele pano, que tivemos que


queimar — comenta, enquanto seu olhar encontra o meu. — Aquele eu tirei
quando você entregou sua pureza, e declarou que sempre seria minha.

— A única coisa que eu quero é te ferir — respondo, engolindo em


seco.

— O que tem agora nesse lençol é o sangue da sua fúria contra seu
próprio marido. E a minha garantia que não vou recuar — ameaça,

capturando meu olhar.

Cesare desliga a luz.

Uma das minhas mãos vai até a almofada, a fim de se certificar de


que a única arma que tenho está aqui.
Estou atormentada com lembranças da minha irmã. Das palavras

dele.

Deitar nessa cama é sentir o calor de Cesare. O cheiro dentro do meu

interior.

Penso em subir na cama, mas a razão fala mais alto. Eu não vou trair

meus propósitos.

Não posso.

Fecho os olhos rapidamente. Tentando ficar mais calma.

O sono não chega. Os minutos passam.

Levanto-me devagar indo em direção ao banheiro, acendo a luz e


consigo vê-lo dormir.

Pegar um punhal e matar Cesare deveria parecer mais fácil.

A dor de ver Giovanna morta assombra minha mente. Os Salvatore


tiveram culpa, eles a escolheram para ser esposa.

Caminho em passos lentos até a cama. Minha mão se aproxima do

pescoço dele, mas eu paro, antes de tocar a pele branca bronzeada de Cesare.

Uma voz traiçoeira sussurra em minha cabeça.

"Busque a boca de quem lhe dá veneno."

Meus olhos vão em sua tatuagem. Sinto um arrepio.


A impressão é que ele está acordado. Ignoro esses pensamentos.

Saio dali indo apagar a luz do banheiro.

Volto a me deitar.

Tentando ter o controle do corpo e da mente. Entreguei minha alma


para Cesare.

Arrancá-la do seu controle é quase impossível. Prometemos ficar


juntos.

Entretanto, muitas coisas mudaram. Aquelas duas crianças


cresceram.

O que era inocente hoje não é mais. Se tornou uma dependência.

Cesare

Saio da cama com lembranças frescas sobre ontem à noite.

Não estava dormindo quando eu a vi levantar para acender a luz do


banheiro, deixei que Isabel pensasse que estava dormindo. Fiquei curioso

para saber até onde ela iria.

Ouvi seus passos até a cama. Ela queria pegar no meu pescoço.
Enforcar o próprio marido.

Porém, resolveu se afastar e dormir no chão com uma pequena

almofada como travesseiro.

Isabel não queria dormir na cama. E eu a deixei ficar no chão sem

um cobertor, sem nada. Olho para a porta do banheiro fechada. O som do


chuveiro chega até meus ouvidos.

Tenho a ideia de me juntar a ela, retiro a boxer.

Empurro a porta lentamente, ela está de costas tirando o shampoo do


cabelo.

Fecho a porta. Aproximo-me dela em passos rápidos e a viro para


mim.

Coloco a mão no pescoço dela e aperto, enquanto a pressiono contra


a parede branca fria do banheiro.

Seu olhar assustado é rapidamente substituído por raiva.

O meu corpo a esmaga.

— Era isso o que você queria fazer? — pergunto.

— Eu.. queria te... matar — responde, sem tom é colérico e sai com

dificuldade.

Olho cada traço do seu rosto. Os lábios carnudos.


Sua pele clara reage tão bem, ficando vermelha com meu toque.

Perfeita.

— Acho que esqueci de mencionar, que se eu morrer a levantei

comigo — afirmo com a voz fria.

Solto seu pescoço bruscamente.

A boca tão próxima da sua. Ouço sua respiração ofegante.

— Eu não a deixaria nesse mundo — digo, colando nossos corpos.


— A morte levará os dois, Isabel, essa é uma promessa.

Busco seus lábios. Enfio a língua na boca de Isabel, tomo sua boca
com urgência, ela corresponde arranhando meus ombros com suas unhas
afiadas.

Minha esposa retribui encaixando perfeitamente nossos lábios.

Uma das minhas mãos agarra a cintura dela. Ela me puxa para um
beijo mais sedento.

Pego-a e a posiciono na bancada da pia, suas pernas estão ao redor


da minha cintura.

O contato do meu pau na sua boceta é delicioso.

Eu a quero loucamente, seu cheiro, o gosto único que pertence

apenas a ela.

Devoro sua boca, ofegante, entre uma pausa e outra.


— Nunca deixou de ser minha — garanto, puxando algumas mechas

dos seus cabelos.

— Não é porque tirou minha virgindade que é meu dono — rebate,

empurrando-me. — Sou minha.

Busco ar enquanto observo suas bochechas coradas. A raiva em seus

olhos, e algo mais também

— Não é isso que seus olhos estão revelando, tão pouco o corpo.

— Saia do banheiro! — rosna.

Ignoro-a.

— Iremos embora depois do café da manhã — aviso, olhando em


seu rosto furioso.

Ela aperta os olhos.

— O que aconteceu aqui é o que já sabemos. Gostamos de machucar


um ao outro, Isabel, faz parte do nosso jogo — reitero, vejo-a negar e virar as

costas para mim.

— Ilusões são perigosas, deveria tomar cuidado — rebate.

— Eu não crio fantasias, ilusões — alerto. — Cuidado com o que

deseja, e as palavras que deixam a sua boca.

O silêncio no banheiro é mortal. Apenas existe a água caindo sobre


nós.
Isabel

A cena do banheiro, da minha boca contra Cesare está me


atormentando.

Enforcá-lo era o que precisava fazer, meu marido estava acordado no


momento em que pensei em fazer isso.

No final das contas, foi Cesare que me enforcou e deixou claro que
não morreria sozinho, seriam os dois e não apenas um.

Suas palavras arrepiaram cada parte do meu corpo.

Olho a janela do jatinho enquanto deixamos o México. A aeronave


ganha estabilidade.

Vejo Cesare pegando uma das malas, uma pequena, ele traz ela para

o seu colo, senta-se novamente na poltrona de frente para mim.

Ao abrir ele revela o lençol que será entregue na reunião da família


quando chegarmos em Roma. Engulo em seco.

Ele pega o lençol.


— Essa cerimônia é ridícula, deveria excluir da sua máfia — rebato.

— Isso começou com meus antepassados. Nervosa, Isabel? Isso é


sangue, ninguém irá perceber a verdade por trás dos pingos que caíram nele

— assegura.

— Não vou ficar olhando esse lençol idiota — aviso, impaciente.

— Irão fazer perguntas, responda o que precisam saber — explica.


— Assim que chegar tenho assuntos importantes, deixarei com você a
responsabilidade de lidar com as mulheres curiosas com a cerimônia.

Encaro seus olhos.

— Prefiro pensar em formas de te matar, posso compartilhar isso —


acrescento.

Ele ri.

— Você gosta quando marco a sua pele, a machuco — diz, olhando


no fundo dos meus olhos. — E saber que pretende me matar de diversas
formas é excitante.

ROMA, ITÁLIA
O carro para diante da minha nova casa ou prisão luxuosa.

Desço do carro e encaro Cesare, ele entrega a pequena mala com o


lençol.

— Mostre a prova da sua virgindade — diz, com um brilho perigoso


em seus olhos.

Seguro a mala, fecho a porta e o vejo sair com a Ferrari preta.

Subo as escadas principais, passo pela porta quando encontro


mamãe, Greta Salvatore e Alessa na sala, esperando por mim.

— Filha, como foi a viagem? — ela pergunta, vindo ao meu


encontro.

— Ótima. Bom dia, Greta, Alessa — cumprimento ambas.

— Querida, a lua de mel fez bem, ganhou um pouco de cor — elogia


minha sogra. — E o lençol? Temos que deixar exposto na sala, as demais
convidadas logo devem chegar para contemplar.

Abro a mala e entrego para Greta, o sangue que está ali é do seu
amado filho. Não meu.

— Aqui está o lençol, com licença.

Dou alguns passos.

— Isabel, aonde vai? — Greta pergunta.


— Vou para o quarto descansar, não vou participar da cerimônia —

aviso, encarando-a.

— Isabel — repreende mamãe.

— Você precisa participar como todas as mulheres, não é porque


chegou de viagem que irá ficar de fora — recrimina minha querida sogra.

Alessa sorri divertida. Ela está adorando a situação.

— Eu não vou participar, não vou perder tempo olhando para um


lençol com sangue, Greta — enfrento-a.

Vejo a raiva em seus olhos.

Se pudesse estaria ganhando um tapa na frente de todo mundo pela


ousadia.

O celular de Greta interrompe a discussão.

Ouço a voz de Marco.

— Sim, querido. O quê? Acaba de acontecer? Claro, estaremos na


igreja, afinal de contas ela tinha um sobrenome, até logo, Marco — finaliza

olhando para todas. — Temos compromisso na igreja, Beatrice Rocco, foi

morta em um violento acidente de carro. O corpo será velado na igreja, todas


vamos estar presentes — ordena.

— Coloque o véu e vamos — diz mamãe ao se aproximar de mim.


— Se comporte, Isabel — aconselha em um sussurro.
O véu tem uma importância para minha mãe.

Ele é usado por mulheres que são criadas seguindo a religião

católica.

Ele simboliza a honra e a dignidade das mulheres.

O branco é para moças solteiras, o preto para viúvas e casadas.

Entro na igreja ao lado da minha mãe e Alessa, Greta Salvatore está

na frente.

— Estou ficando farta dessa igreja — diz Alessa, entediada.

— Está pisando em um lugar sagrado — minha mãe a repreende.

Estou acostumada com perdas.

Já estive em diversos velórios, a morte costuma visitar quem tem o


sangue da máfia.

Alguns são escolhidos por ela para andar mais tempo nesse mundo.

O caixão se encontra aberto.

Diversas rosas estão enfeitando o corpo já sem vida.

Não consigo explicar o incômodo que as rosas causam em mim, elas


são como ímãs trazendo diversas lembranças da minha infância, quando
Cesare entregava cada dia uma.

Sinto o ar escapar dos meus pulmões.

— Está pálida — comenta Alessa, aproximando-se. — Viu algum

fantasma, Isabel? — pergunta, divertida.

— Minha irmã morreu na entrada da igreja, pisar aqui me fez

lembrar Giovanna — respondo, com raiva.

— Não estou acreditando em suas palavras — rebate.

— Meninas — repreende mamãe. — Rezem pela alma dessa mulher,


ela precisa — diz, encarando a falecida.

Consigo sair sorrateiramente de perto da minha mãe, vejo em um


dos bancos, a tia de Agnes, usando um véu preto, fazendo uma oração
silenciosa.

— Meus pêsames — digo, ao me aproximar.

Ela se levanta rapidamente fazendo uma referência.

Fico sem entender. Até que o olhar dela na aliança explica.

Agora com esse maldito sobrenome tenho que ser tratada como eles.

Reis. Intocáveis.

— Isabel — cumprimenta.

— Eu não a vi no enterro de Giovanna, devia estar no de Agnes, não


tive a oportunidade de ir — comento, olhando em sua direção.

Vejo em seu olhar uma angústia aterradora.

— Obrigada, desejo o mesmo, Giovanna também era jovem.

— Onde está o pai dela? Não o encontrei mais — pergunto, curiosa.

— Meu irmão tirou a própria vida com a morte de Agnes — revela,

com dor na voz. — Era a única filha dele.

Desvia o olhar encarando a cruz no altar.

Sinto que ela não contou tudo. É como se faltasse algo para
completar.

— Isabel. — A voz de Marco Salvatore surge atrás de mim.

Ele segura meu ombro.

A tia de Agnes fica nervosa.

— Senhor — cumprimenta-o.

Meu sogro apenas a olha, sem demonstrar importância.

E me tira de perto.

— Estava conversando com ela.

— Não perdemos tempo interagindo com as famílias dos soldados

— avisa, ao me soltar.

— É um costume da sua família — rebato.


Ele aperta os olhos pretos na minha direção.

— Isso foi uma resposta para o seu sogro? — indaga. — Ganhou o


meu sobrenome, faz parte da família.

— Apenas estava dando os pêsames.

— Tire esse hábito ou costume, a porra que seja. Seu pai havia

comentado que era diferente de Giovanna, estou vendo o quanto, mas todos
os Salvatore não cruzam uma linha, existem regras — reforça, em um tom
frio.

— Perdão — peço, o ódio escorre pelas palavras.

Minha vontade é marcar a cara de Marco Salvatore com o meu salto.

— Não volte a se aproximar dessas pessoas.

Assinto passando por ele.

Mamãe olha para mim, levantando uma sobrancelha ruiva.

— Irritou seu sogro?

— Ele disse que a família dele não fala com os familiares dos
soldados — comento baixo. — Mamãe, ele não manda em mim.

— Isabel, não se meta nos costumes da máfia Salvatore. Terá que


fazer o que é pedido, é o seu papel — reforça ao meu lado.

— E o papai? — pergunto, curiosa por não o encontrá-lo.


O marido da falecida entra na igreja com outros homens que vão até

meu querido sogro.

— Na Sicília. Seu irmão pouco tem ficado em casa — explica. —

Estou sempre com o grupo de orações ou em encontros da máfia para


representar nossa família.

— Posso ir para casa amanhã — revelo.

— Deve perguntar para Cesare — alerta.

— Estou de férias da faculdade, mãe. E não acho que devo


perguntar, mandarei uma mensagem.

Na verdade, não mandarei nada.

Ele sabe de todos os meus passos.

— Estava no quarto de Giovanna, encontrei essas cartas — diz, ao


tirar da bolsa, cartas com o meu nome no envelope.

Pego sem acreditar.

— Eu não sabia que ela tinha cartas — comento, boquiaberta.

— Guarde e fique com elas, encontrei uma que ela deixou para mim.
Giovanna gostava de diários e cartas — lembra.

Guardo as cartas rapidamente no meu decote.

— Isabel — Marco me chama, ele se aproxima. — Ao final do


enterro a levarei para casa, tenho assuntos com Cesare.

— Claro — respondo, com um falso sorriso.

Ele quer controle. Pode não ser mais o Don. Porém, ainda é um
tirano.

— Stella, a sua filha foi a melhor escolha para casar Cesare — ele
diz, com um sorriso astuto — Inteligente e com uma beleza única.

— Obrigada, Marco. Luigi e eu entregamos Isabel com todo gosto


— ela afirma.

Sinto vontade de rir.

— Nossos netos terão um gênio peculiar, tenho curiosidade em ver


essas crianças. Não agora, pois Isabel acaba de casar, ser uma Salvatore exige
muito — comenta Marco com um olhar sombrio.

— É compreensível — diz mamãe.

Eu jamais vou carregar uma criança que tenha o seu maldito sangue

imundo.

Nunca.

Prefiro fantasiar ver você ou Greta dentro de um caixão.

Presos, sem poder sobre mais ninguém. Um pequeno sorriso surge


em meus lábios.
Isso é tão doce.
Voltei para casa na companhia do meu querido sogro.

Cesare estava esperando por nós, ele quem abriu a porta.

— Sua esposa estava conversando com alguém da família dos


soldados — diz, com repulsa.

— É proibido dar condolências para alguém? — rebato.

— Eu não a quero falando com essas pessoas — avisa meu marido,

em um tom sério. — Foi a última vez que fez isso.

Entro em casa irritada.

— Acho que alguns tapas pode fazê-la respeitar nossas ordens, filho.
As mulheres devem obediência — reforça.

Olho para trás nesse exato momento.

A sugestão de Marco é me bater!

— Não recebo mais as suas ordens, Marco — reforça Cesare. —


Isabel é minha esposa, sou o único que pode tocá-la.

Caminho até um dos sofás da sala principal.


— Tem razão, é apenas uma preocupação, um alerta. Bom, temos

assuntos no escritório.

Os dois seguem pelo corredor. Não sei quem é mais filha da puta.

Ouço a porta bater. Tiro as cartas do decote do espartilho.

Abro uma delas.

A caligrafia de Giovanna, não resisto e passo o dedo lentamente pela


letra delicada.

"Muitas vezes pensei em fugir do mundo da máfia. Mas uma


pessoa conseguia me impedir: Isabel, eu não poderia ficar em outro
lugar, sendo feliz se a tivesse deixado para trás. Cuido de você há tanto
tempo, irmã, é uma parte de mim, enquanto estivermos juntas
enfrentarei tempestades e furacões. Eu só almejo a felicidade se ela
puder ser dividida entre mim e você, jamais seria feliz a vendo infeliz, te

amo muito."

Uma lágrima grossa escorre pelo meu rosto. Giovanna não


conseguiu ser feliz.

Ela está naquele caixão. Enquanto estou no lugar que seria dela.

É como se eu estivesse roubando a felicidade da minha irmã.


Pego as cartas, levando-as comigo.

Subo as escadas, encontro uma das empregadas no corredor,


cumprimento-a antes de entrar no quarto fechando a porta.

Vou até o closet. Coloco essas cartas em uma parte alta e vazia.
Acima das caixas de sapatos nunca usados.

Fecho os olhos com força, passando uma mão pelos cabelos.

A proibição de ter contato com os familiares dos soldados é tão


estranho e idiota.

A cada minuto ao lado dos Salvatore, aquele ódio aumenta um nível.

Minha cabeça está tão confusa.

Acabo optando por um banho.

Desço as escadas após secar meu cabelo.

A tia de Agnes estava tão nervosa, incrível como os Salvatore


controlam até as famílias de seus próprios soldados. Odeio essas regras.

Vou continuar falando com quem quiser.

Vou até um dos sofás e me deito nele. Bem confortável. Diferente do


chão.

Tento escutar alguma coisa, porém, não ouço absolutamente nada.

Não estou conseguindo raciocinar direito.

Lembranças de Giovanna feliz e sempre cuidando de mim. Não pude

retribuir da mesma forma. Mas vingá-la é a única coisa que posso fazer.

Respiro fundo tentando ficar um pouco mais calma. O fuso horário

bagunçou a minha rotina.

Viro o rosto para o sofá.

Fecho os olhos conseguindo sentir o cansaço do meu corpo.

Em um certo momento acabo dormindo.

Desperto com uma mão no meu seio.

— Levante-se — avisa Cesare. — Levarei você para o cassino,


quero exibi-la — diz.

— Não, obrigada. Prefiro ficar aqui — rebato.

— Não estou pedindo, Isabel. Esteja pronta em quinze minutos.

Levanto-me ainda sonolenta. Encaro o rosto dele.

— Por que não posso falar com a tia de uma amiga que faleceu

como Giovanna? É proibido falar com os familiares de pessoas que trabalham


para você? — pergunto novamente.
— Você não precisa falar com essas pessoas, são o nível inferior na

máfia. Minha esposa não vai criar laços com eles, não vou repetir — reforça
em um tom frio. — A menos que queira perder o direito de sair dessa

mansão.

— Não sou um passarinho para estar preso.

— Está perdendo tempo, não quero um minuto de atraso.

Caminho em passos lentos, sentindo que ele me observa. Cesare está


brincando comigo.

Será que ele não pensa que uma mulher com raiva é mil vezes pior
do que um homem?

Enquanto subo as escadas lembro de um vestido perfeito para usar


nessa ocasião.

Preto, tomara que caia colado ao corpo, com uma fenda que deixa a

coxa esquerda à mostra.

Usar uma calcinha a deixaria muito marcada, o que eu

particularmente não gosto nesses vestidos. Tiro a peça íntima com rapidez.

Olho no espelho e vejo que de fato fica muito melhor.


Além do mais, a ideia de provocar Cesare é tentadora. Meu marido

possui suas armas, balas, facas e a voz de líder.

Ele não quer me entregar a minha arma.

Usar o corpo que um dia entreguei para Cesare é a minha melhor


defesa para destrui-lo.

E não ficar vulnerável.

Passo um batom em meus lábios, borrifo um perfume. Os cabelos


estão impecáveis.

Pego um colar de diamante, não posso esquecer uma joia. É o


melhor acessório.

Uma batida à porta. E um alerta logo depois acaba com esse


momento.

— Senhora, o senhor Salvatore está a esperando fora da mansão —


informa uma das empregadas.

Abro a porta.

— Já estou descendo.

Ela se retira.

Volto até a penteadeira, retiro a aliança do dedo quando vou colocar

as luvas pretas.
Guardo o anel na gaveta de maquiagem.

Pego a estola branca que havia deixado na cama. É o toque final.

Deixo o segundo andar rapidamente.

Meu marido está em pé ao lado do carro, seu olhar desce por cada
parte do meu corpo.

Engulo em seco.

— Podemos ir — asseguro.

Ele dá a volta a fim de abrir a porta do motorista.

Puxo a minha e entro no veículo.

— Onde está a sua aliança? — a pergunta dele me surpreende.

Cesare liga o carro, em seguida saímos pelo portão.

— Segura em casa, ela não combina com luvas.

— A sua ousadia em tirar o anel vai ter um preço alto — ameaça.

— Precisa disso para dizer que sou sua posse? — indago, arqueando

uma sobrancelha.

Ele ri.

A sua risada arrepia todos os meus pelos.

— Acredite que um anel é uma mera decoração. Todos que olham

para você já sabem que é minha, o meu sobrenome é seu, além de que, nós
dois sabemos que isso iria acontecer. — Desvio o olhar para a estrada.

— Não sou sua — rebato. — Quer uma boneca para passar o poder

do seu sobrenome, ser apresentável aos convidados.

— Cale a boca, Isabel — manda. — Estará ao meu lado e exposta

— reitera. — Quero que todos a admirem como minha esposa. — A mão dele
encontra a minha coxa coberta pelo tecido. — Não preciso falar novamente.

Idiota!

Seu toque na minha pele liberta uma sensação perigosa.

— Não precisa — digo, forçando um sorriso.

A noite apenas começou.

Nunca me senti tão vigiada por diversos membros e suas famílias no


cassino.

Não estive muitas vezes por aqui, normalmente apenas as mulheres

casadas aparecem ao lado do marido.

Estar ao lado de Cesare é um recado direto que estou casada, Isabel

Salvatore, isso soa como a maior das pragas.

A mão do meu marido pousa em minha cintura.


Se descer um pouco terá certeza de que não estou usando uma peça

íntima.

Andamos até o centro do salão. As roletas de jogos movimentadas

com novos apostadores.

Meu irmão Gianluca é o primeiro a se aproximar.

— Isabel, Cesare.

— Gianluca — cumprimento-o.

— Don, o líder do conselho está esperando em sua sala — avisa para


meu marido.

— Fique com Isabel — orienta. — Voltarei logo — avisa antes de


sair.

Sorrio para meu irmão.

— Conheço esse sorriso, Isabel. E seu embate com Greta Salvatore


chegou aos meus ouvidos, quer morrer pelas mãos de um deles? — rosna ao

se aproximar.

— Eu quero que a morte leve um deles — confidencio.

— Cuidado com as suas palavras. Tem sorte que nosso pai está na

Sicília, ele pediu para que eu a vigie, um passo errado e estará em problemas

maiores — aconselha.

— Cesare tirou a minha arma, as balas. Estou dormindo no chão, não


confio nele — revelo baixinho.

Mantenho um sorriso ao olhar para os demais convidados.

— Esperava que o Don iria deixar a esposa andar armada? —


zomba. — Está dormindo no chão por opção, não é? Para irritar Cesare.

— Não é seguro dormir ao lado dele.

— Nós, homens, estamos preparados para qualquer situação.


Especialmente seu marido, é melhor ficar quieta — manda.

Reviro os olhos.

— Pouco importa o que acontece comigo agora, não é? — questiono


com raiva.

— Seu marido é responsável agora por todos os seus assuntos,


Isabel. Não posso interferir em absolutamente nada, caso nosso pai saiba
disso, ele irá sugerir que entre na linha.

Engulo em seco.

— O que Cesare foi fazer no escritório? — pergunto, encarando-o.

— Entregar o lençol para o líder do conselho, a prova de que era

virgem — explica.

— Isabel, querida — diz Greta Salvatore ao se aproximar. — Está


belíssima. Gianluca, como vai?
— Ótimo, Greta.

— Pode deixar que eu fico ao lado da minha nora — avisa,


dispensando-o.

Vadia!

Meu irmão se afasta.

— Acho que precisamos ter uma conversa — menciona ao pegar em


meu braço. — Vamos, meu filho logo estará na mesa ao seu lado.

Sigo-a até uma das mesas reservadas para conversas e bebidas,


afastada dos jogos e do bar.

— Sobre o que seria? — pergunto, andando ao seu lado.

— Comportamento e obediência, somos rígidos com qualquer


assunto na máfia e da família, acho que está percebendo — avisa, com um
sorriso perverso.

— Claro.

— Não iremos tolerar outro episódio como o de hoje mais cedo.

Lembre-se com quem se casou, meu primogênito possui controle sobre todos,

você precisa se adaptar rapidamente ou sofrerá as consequências — ameaça.

— É uma ameaça bem específica, Greta — respondo, encarando

seus olhos.

Ela sorri.
— Quanto mais rápido aprender, melhor.

Sento-me na cadeira.

Eu nunca me enganei com essa família.

— Filho — diz Greta.

Cesare se aproxima sentando ao meu lado.

— O que está acontecendo aqui? — indaga, olhando-a.

— Explicando para Isabel, como funciona ser uma Salvatore, é novo


para ela — explica a desgraçada.

— Já pode sair — sentencia, com os olhos fixos na sua mãe.


— Preciso de uma bebida — aviso ao ficar em pé.

Antes que possa me afastar, a mão de Cesare já está na minha bunda.

— Você vai ficar aqui, irão trazer — avisa.

Volto a me sentar nervosa.

— Não posso andar pelo cassino? Não estou na rua — pergunto,


impaciente.

A mão dele está na fenda da minha coxa. Tocando a minha boceta.

Engulo em seco. Fico imóvel.

Ele percebeu que estou sem calcinha.

— Veio sem a aliança e agora expondo o que me pertence? —


pergunta próximo da minha orelha.

Sinto seu dedo entrar. Quero arfar. Mas somos interrompidos por

uma das garçonetes deixando uma bebida para mim.

— Com licença, senhor. Mandaram essa bebida para ela — avisa.

Meu marido tira o dedo e se levanta.


— Quem? — O tom de Cesare é sombrio.

Ela aponta para um homem que parece ser novo demais. O sujeito
sorri levantando um copo.

Cesare chama Gianluca.

— Quero que levem ele para a primeira sala da direita — instrui.

— Agora mesmo — afirma meu irmão.

A tensão domina o ar.

Cesare não fará nada na frente de pessoas que não tem conhecimento
de quem ele é.

A existência da máfia.

Levanto-me da cadeira e vejo o homem ser levado com alguns


soldados, ele anda por pura vontade.

Meu marido sai logo atrás. Não vou ficar aqui.

Em passos rápidos alcanço Cesare, entro na sala depois dele, um dos

soldados fecha a porta.

— Eu a quero por uma noite — diz o sujeito, com os olhos em mim.

— Pago a quantia que quiserem, dinheiro não é o problema.

Cesare faz um movimento e os soldados soltam o homem.

— Quem pensa em tirar o que é meu não respira — sua ameaça é um


recado.

Rapidamente ele tira a arma da cintura e atira na têmpora, descendo

até descarregar todas as balas no corpo.

O barulho dele caindo no chão é brusco.

— Limpem isso e levem esse corpo — ordena o Don.

Saio da sala ainda nervosa. Cesare se retira, mas ele dá um passo a


mais.

— Vamos terminar o que começamos. — A voz rouca me deixa


imóvel.

Olho para trás e não vejo ninguém prestando atenção no que


aconteceu.

Vou até a sala de Cesare.

Ele está esperando na porta, quando passo, imediatamente já é


fechada.

— Eu não vou fazer nada — adianto, encarando-o. — Qualquer um


pode aparecer.

Cesare se aproxima me encurralando na mesa.

— Estava quase gemendo na mesa — provoca. — Quero rasgar esse


vestido.
Uma de suas mãos encontra a minha coxa. Ele me coloca sentada na

mesa.

O rosto dele se aproxima do meu, mas viro o rosto. Igual ao dia do

nosso casamento.

Um de seus dedos adentra a minha boceta.

— Não vire mais o rosto para mim — exige, usando a outra mão
para fazer meus olhos enfrentarem os seus. — Nunca gostou de fugir, Isabel.

— Não estou fazendo isso, apenas não quero a sua boca e muito
menos...

Não consigo terminar a frase. Cesare coloca mais um dedo.

Ele brinca com meu clitóris, pulsante, molhado.

Perco os sentidos, a respiração e acabo deitando na mesa.

O vestido é levantado deixando à mostra um pouco da minha


barriga.

Abro as pernas para o Don.

Não consigo mais ter autonomia, meu corpo não responde mais aos
meus comandos.

A boca de Cesare entra em contato com a minha boceta.

Mordo os lábios com força quando a língua dele entra de uma vez.
As lambidas são rápidas. Gemo rouca, quero gritar.

Cesare começa a chupar, afundando sua língua dentro dos lábios

vaginais, ele abre mais minhas pernas.

Meu corpo inteiro está querendo a atenção das mãos e

principalmente da boca, do seu membro dentro de mim.

— Ah! — digo, arfante —, mais.

As ondas de prazer são intensas.

— Geme meu nome — um comando ofegante e rouco.

Uma das mãos aperta a minha cintura com força, a outra está na
minha bunda.

Empurrando minha boceta para ele.

— Não estou ouvindo — provoca.

— Eu... quero te matar — balbucio.

— Você vai gozar quando falar — rebate.

— Não — afirmo, irritada.

Não tenho forças para empurrá-lo. Estou tão perto, sinto isso.

— Não é isso que você quer me dizer, amor.

Amor.

Ouvir essa palavra dos lábios dele e o comando novamente, deixam-


me com o psicológico abalado.

Ele volta a chupar com rapidez. Com força.

Não tenho mais controle.

— Cesare — chamo rouca —, me faça gozar.

Eu preciso.

Fecho os olhos com força. Meu marido não para.

O orgasmo me arrebata. O peito subindo e descendo.

Suas bochechas estão rosadas.

Sento-me na mesa, meus olhos varrem o local. Ele se afasta e vejo o


volume na calça dele.

Há uma porta pequena no fundo da sala. Um banheiro.

Ele volta com uma toalha, vejo limpar minhas coxas, em seguida
minha vagina.

— Posso sair agora? — pergunto, ignorando alguns pensamentos.

Ele deu o que eu queria, é apenas isso que vou oferecer para Cesare.

— Estou te limpando, já que vamos demorar um pouco para irmos


para casa — diz, dando um passo para o lado.

Desço da mesa, sentindo as pernas um pouco bambas.

— Obrigada — agradeço.
Passo as mãos no cabelo para arrumar.

— Não terminamos aqui — assegura.

Engulo em seco. Estou toda arrepiada, minha boca está seca.

O corpo um pouco mole.

Preciso beber.

Manter a postura no cassino depois de ter ido ao inferno e voltado


foi um desafio.

Greta me apresentou para outras amigas.

"A esposa do meu filho".

Quando Cesare e eu fomos embora, um outro tipo de preocupação


acabou indo conosco.

Ele garantiu que não terminamos na sala dele.

Que haverá uma segunda parte.

Porém, meu marido vai direto para o seu escritório quando entramos

na mansão.

Só preciso de um banho. E esquecer o que aconteceu naquele lugar.


Empurro a porta do quarto, já tirando as luvas.

Vou até o banheiro. Olho no espelho, depois retiro o colar do


pescoço.

"Amor".

Uma palavra que para nós é quase adormecida. Ele a tinha usado

pela primeira vez, quando éramos adolescentes.

Pisco algumas vezes.

Retiro os saltos. Caminho em direção ao closet para pegar um


pijama, mas paro no meio do caminho quando vejo Cesare entrar no quarto,
fechando a porta.

Ele está apenas de calça. Seus músculos e peitoral estão à mostra.

Meu marido se senta na poltrona, enquanto beberica seu uísque.

Começo a andar em direção ao closet quando sou interrompida.

— Venha aqui, Isabel.

— Vou tomar banho — rebato.

— Não vou repetir para você, eu vou agir e te trazer para cá —

ameaça.

Respiro fundo. Faço o que ele pede, ou melhor, ordena e sigo em sua

direção.
Encaro-o.

— Pronto, o que você quer?

Não há resposta. Seus olhos me dizem que é para estar em seu colo.

Pego em sua mão e me sento no lugar mais traiçoeiro que podia


estar.

Trocamos olhares.

Uma das outras mãos dele segura a minha cintura.

— Beba — oferece o restante da bebida.

Aceito o copo, o líquido desce lentamente pela minha garganta.

Deixo o copo em uma mesinha ao lado.

— Aquele corpo que viu hoje, foi apenas o começo de quem se


aproximar de você — avisa pegando em algumas mechas do meu cabelo. —
Não vou poupar sangue para isso.

— Não sou seu objeto de diversão — aviso.

— Quantas vezes vai fugir como uma menina? — provoca. — Você

gozou com tanta vontade na minha boca — diz, aproximando-se do meu

pescoço.

— Sexo, apenas isso — afirmo, passando uma das mãos pelo seu

pescoço, na tatuagem dele.


— Eu posso te dar o que mais gosta: prazer. — A voz rouca dele

inflama o meu desejo.

É como um isqueiro sendo aceso.

— Mas o preço é alto — acrescenta.

Remexo-me sentindo seu membro duro ainda na calça.

— Quanto? — pergunto.

Cesare rasga o meu vestido sem avisar. Estou nua diante dele.

— O meu corpo já foi seu, e pode ser de novo, mas é a única coisa
que você vai ter.

Não brigo pela destruição da peça.

Deixo que meu marido olhe detalhadamente cada parte à mostra.

Provoco-o com um olhar e ele corresponde.

— Você pode não enxergar, mas já me deu muito mais do que seu
corpo — termina com um sorriso sarcástico.

O quê?

Iria abrir a boca para perguntar o que ele quis dizer, mas sou

surpreendida por seus lábios machucando os meus. Exigindo passagem.

Minhas mãos estão em seus cabelos. Deixo sua língua entrar na

minha boca.
Rebolo contra ele, arrancando um gemido entre nossos lábios.

Cesare se levanta, levando-me com ele, segundos depois sinto o


colchão macio nas costas ao ser deitada na cama.

Agarro seus músculos. Arranho suas costas, deixo as unhas cravadas


em seus ombros.

As mãos dele apertam meus seios. Com força.

Quebramos o beijo quando ambos estamos em fôlego.

Cesare está entre as minhas pernas.

Vejo o momento em que meu marido tira o cinto, a calça e logo em


seguida a cueca.

Estou tão excitada.

Ele se aproxima pegando seu membro duro e grosso, esfregando-o


na minha boceta que já se encontra molhada mais uma vez.

Mordo os lábios.

Cesare adentra a minha intimidade com rapidez, suas mãos seguram


a minha cintura.

Meus gemidos são altos.

A velocidade que ele entra e sai, pincelando dentro de mim. Abraço

sua cintura com as pernas.


— Ahhh — deixo escapar.

O som dos nossos corpos só aumenta o prazer.

Seguro meus seios que estão pulando com o vai e vem.

— Pede por mim... quero escutar você pedir — manda, ofegante.

Ele diminui os movimentos.

— Cesare — chamo rouca. — Quero que me machuque — peço,


mordendo o lábio.

Meu orgasmo está próximo, muito próximo. Estou ofegante.

Cesare volta a pincelar. Sem parar.

Meus gemidos são diversos.

— Ah! — balbucio, lânguida. Em seguida alcanço o ápice.

— Porra — meu marido grunhe.

Ele se concentra, indo mais fundo.

Respiro com dificuldade. Agarro as costas de Cesare, trazendo-o

mais para mim.

— Engole meu pau, assim — ordena.

Fecho os olhos com força.

Meu marido se entrega ao prazer, sinto que estou encharcada.

Olho para Cesare, percebo que sua atenção está em mim, nos meus
olhos.

Acompanhando movimentos e reações.

Suas mãos agarram a minha cintura, uma de cada lado, prendendo-


me ali.
Sinto quando ele desliza pela minha intimidade afora, rolo para o

outro lado da cama.

Recupero o fôlego. Tiro alguns fios do meu cabelo do rosto.

Cesare se senta na cama.

Sinto um arrepio de prazer quando trocamos olhares.

Faz alguns meses que perdi a virgindade, fizemos sexo mais duas

vezes, antes que as escolhas e regras interferissem.

O único homem com quem mantive relações foi Cesare, que agora é
meu esposo.

Foi ele quem me deu prazer e provocou meu tesão. Ser desejada,
tocada, é tão prazeroso.

O modo como Cesare me olha é da maneira mais perversa, do jeito


que eu gosto.

Desperto dos pensamentos indo até o meu marido.

Sento-me em seu colo.


Minha boca passa pela cobra em seu pescoço, mordo sua pele,

chupando logo depois.

As mãos de Cesare estão na minha bunda.

Ele bate, como consequência começo a rebolar em seu colo.

— Vou marcar toda a sua pele — promete.

— Faça — respondo, mordendo sua orelha.

Ele puxa meus cabelos. Levando meu rosto até o seu.

— Para lembrá-la de que é minha.

Nós nos beijamos ferozmente. Chupo sua língua, ao passo que


rebolo contra seu corpo, provocando-o.

Ganho um tapa mais forte na bunda.

Cesare chupa meu lábio inferior.

O pau dele pressiona minha boceta novamente, esfrego-me ainda


mais.

— Fique de bruços — manda.

Saio de seu colo e me deito de barriga para baixo.

As mãos de Cesare sobem pelas minhas pernas, para incentivá-lo a


não parar, abro-as, dando para ele a visão da minha boceta.

Cesare pega uma almofada, coloca-a debaixo da minha barriga.


— Empina pra mim — diz, pegando em meus cabelos. — Segure o

travesseiro e não solte, se fizer isso eu paro — ameaça.

— Quero que seja com força — aviso, mordendo o lábio inferior.

— Você não vai andar amanhã, Isabel — afirma.

Ele não precisa afirmar. Cesare e eu gostamos de sexo violento, com

gemidos altos e palavras sujas.

Engulo em seco quando o pau dele desliza para dentro de mim, duro.

Sendo engolido pela minha boceta.

Cesare começa a movimentar, em seguida pega um ritmo e seus


movimentos são fortes e rápidos.

Engulo seu membro por completo.

Minha bunda ganha tapas várias vezes seguidas, minha pele arde.

— Oh... — meu gemido é alto.

Gozo novamente.

Afundo as unhas no travesseiro.

— Geme meu nome, enquanto te faço minha, Isabel — exige,

metendo mais forte.

Chamo seu nome, em êxtase.

— Cesare.
Ele impulsiona, segura minha cintura com mais força.

Cesare chega ao clímax, gozando violentamente.

Recebo um tapa forte na bunda, ouço o barulho do estalo. Junto com

nossas respirações ofegantes.

O controle e a postura que uso, sumiu.

Desperto aos poucos, abro os olhos sem pressa.

Passo as mãos pelo colchão e encontro um lado vazio, estou sozinha.

Olho para meu corpo nu e decido me sentar, ao fazer sinto um


desconforto.

Levanto-me da cama sentindo uma ardência horrível na bunda. Filho


da puta!

Cesare cumpriu o que disse. Estou com dificuldade até para andar.

Caminho até o closet para procurar na minha necessaire.

Não vejo um analgésico, mas encontro o anticoncepcional.

Pego um comprimido, procuro água quando meu celular vibra na

cama.
Volto até lá.

Cesare mandou uma mensagem.

Se quiser um analgésico vai pedir pra mim.

Leio sua mensagem debochada e jogo meu celular longe.

Vou conseguir um de qualquer forma.

Tenho planos de ir visitar minha mãe.

Durante o banho, as lembranças do sexo com Cesare voltaram como


um lembrete do que aconteceu entre nós dois.

Passo uma mão pelos cabelos.

Eu dei o que ele mais queria, mas poderia ter evitado.

— O que eu fiz? — questiono para mim mesma.

Meu propósito é encontrar os culpados pela morte de Giovanna, não

estar com ele.

A culpa foi do sobrenome, da importância de seu nome. Estou

indignada comigo mesma.

Desligo o chuveiro, em seguida enrolo a toalha em torno do corpo.


Quando passo pelo espelho, olho o meu reflexo.

Não há uma pistola, bala, ou uma faca na minha mão.

Não fui treinada para ser líder.

A única coisa que posso usar é o que está coberto pela toalha. Não
posso rastejar no chão.

Os Salvatore possuem o controle de todos em seu reino.

Estar desesperada e vulnerável é perfeito para eles.

— Cesare disse que voltaria a me ter — repito o que ele disse na


igreja.

Quero destrui-lo antes disso

O café da manhã é servido, escolho uma vitamina de banana.

Levo o copo até os meus lábios quando passos próximos me deixam

em alerta.

Não estou sabendo de nenhuma visita, mas sou surpreendida por

Gianluca.

— O que faz aqui? — pergunto, desconfiada.


— Então é assim que recebe seu irmão? Ontem não tivemos uma

oportunidade de conversar melhor — explica.

— Papai te mandou aqui? Você veio para saber do meu embate com

Greta e Marco — afirmo, convicta.

— Sempre inteligente, mas saber demais é perigoso. E ter uma

língua afiada também — alerta, sentando-se de frente para mim. — Esqueça


o plano que traçou, Isabel.

— Não consigo. Estar com esse sobrenome é sufocante, não há um


dia que não me lembre do dia que Giovanna e eu fomos à igreja e tudo
aconteceu — asseguro. — Ser subchefe cegou os seus olhos com o que
aconteceu?

— Fui criado para lidar com várias questões. Nosso pai e Marco
Salvatore foram responsáveis por tirar milhares de vidas, criando inimigos e
brechas para acontecer o que infelizmente tirou a vida de nossa irmã —

explica.

Nego rindo.

— Eu sei! — respondo, exasperada. — Posso não ter sido preparada


como você, mas papai nunca escondeu quem era. O sangue dele corre pelas

minhas veias, gosto de armas — lembro. — O sentimento de vingança, essa


fúria, é o que aprendi assistindo-o.
— Descontrole de emoções é um passo para cair.

— Estudo psicologia. Conheço os gatilhos, intenções e gestos de


uma pessoa e o que pode desencadear em qualquer um, como eu mesma —

corrijo. — Poderia estar em um quadro de depressão, presa nos labirintos da


mente, Gianluca. Vingança é o que me fez reagir quando no velório da nossa

irmã, fui escolhida para substitui-la!

Meu irmão presta atenção em cada detalhe do meu rosto.

Termino de beber a vitamina.

— Você é inteligente, usou a oportunidade de fazer esse curso e


aprimorou bastante sua percepção — concorda. — Porém, é uma mulher, seu
marido é o líder. Quais armas pode usar? — questiona.

Não respondo. Ele não terá essa informação.

— Não vou ser controlada por Greta ou Marco — afirmo. — Você


precisa aprender a deixar sua irmã caçula andar com os próprios passos,

afinal, você serve Cesare, os Salvatore.

— A teimosa é uma praga, Isabel. Temos papéis que devemos

cumprir, os Salvatore são responsáveis pela máfia, nossas famílias sempre


estiveram juntas.

— Alguma coisa que não sei? — brinco, divertida.

— Marco Salvatore quer que Alessa seja minha esposa — revela,


pisco surpresa.

— Você vai aceitar? — pergunto. — Ela deve estar sendo obrigada.

— Preciso me casar, o conselho está esperando por isso. E Alessa

Salvatore, é a melhor opção.

Vejo interesse em seus olhos.

— É interesseiro como nosso pai ensinou. Ele te atrai como um ímã.

— Fui criado assim, pensando em ter o melhor. Aprenda mais com o


seu irmão — sugere.

Depois do café ao lado de Gianluca, decido ir visitar minha mãe, seu


abraço é sempre reconfortante.

— Filha, que bom que está aqui. Marquei horário para nós duas com
a equipe de salão para atender aqui em casa — anuncia.

— Preciso me cuidar, é perfeito, mãe.

Caminhamos até o sofá.

Sento-me tentando encontrar uma posição confortável.

— Está com dor? — pergunta, ao perceber meu desconforto.


— Cólica — minto.

— Sempre esquecendo de levar remédio, Isabel.

Vejo-a ir buscar.

Mentir é um pecado, principalmente para mãe. Mas em certas


ocasiões omitir é uma forma de cuidado.

— Tome — entrega o comprimido e a água.

— Obrigada, mamãe — agradeço ao pegar ambos.

Não demoro a tomar.

— Soube que estava no cassino ontem. Gianluca comentou que anda


respondendo Greta e Marco, não acatando o que é pedido — repreende. —
Isabel, o que lhe ensinei? Servir sempre, filha!

— Meu irmão teve essa conversa comigo. A morte da Giovanna


acabou mexendo comigo, mãe — explico. — Mas prometo não fazer
novamente.

Estou cansada de explicar.

Mamãe não tem poder ou voz, sua preparação sempre foi obedecer.
Ela não compreende o que sua filha sente.

— Não quero que acabe em um caixão pela teimosia. Você não foi

treinada para ser um homem — alerta. — Deve pensar somente em seu


casamento. A propósito, como estão as coisas? — pergunta, interessada.
— É Muito novo, estranho. Cesare e eu não somos mais crianças —

respondo com uma certa verdade.

— A infância é doce e inocente, Isabel. Vocês dois são agora um

homem e uma mulher, não faça comparação com o passado — sugere.

— Gianluca comentou sobre Alessa. Estou surpresa, mamãe —

mudo o assunto.

— Seu pai quer que isso aconteça. Alessa é uma jovem perfeita para
se casar com Gianluca, Greta a educou muito bem — elogia.

Nossa conversa é interrompida. Meu celular notifica uma


mensagem, vejo que é de Ana.

Junto com um convite para uma festa na casa dela.

A ideia me anima.

— Quem é? — mamãe pergunta.

Porém, como posso ir?

— Uma amiga da faculdade. Mãe, ela vai dar uma festa em casa,

acabei de ser convidada — explico.

— Isabel, você não vai sair sozinha. Além de que, deve avisar

Cesare! — repreende.

— Ele não as conhece. Acima de tudo, meu marido é o Don, mamãe,


ele não tem tempo para festas, por favor, vamos comigo? — peço com um
sorriso. — Não vamos demorar, apenas alguns minutos — sugiro.

— Não será em uma boate? Tem certeza? E os pais da sua amiga,

estarão? — pergunta, séria.

Mamãe não pisa em boates, pois não gosta.

— Será na casa dela, os pais devem participar.

— Irei com você para protegê-la, não irá ingerir álcool. Apenas verá
suas amigas e voltaremos rapidamente — exige.

— Prometo.

Convencê-la não é fácil.

A perda da minha irmã deixou mamãe vulnerável com a questão da


proteção.

Será uma visita rápida para Ana e Bella.

Pego o celular respondendo que passarei rapidamente para vê-la.

Porque tenho compromissos importantes. Elas não sabem que estou

casada.

E eu preciso chegar em casa antes de Cesare.


Mamãe desce do carro ao meu lado.

Os soldados estão do lado de fora, prontos para qualquer situação.

O bairro é simples e bem diferente da vida que estou acostumada,


universitários estão no jardim, outros conversando em uma roda de amigos.

Reconheço mais pessoas da minha turma, algumas de outras turmas,


mesmo assim não há muita gente. Ainda é muito cedo.

A porta da casa está aberta para os convidados, a música é alta, vejo


bebidas na pequena mesa no centro da sala. Jovens fumando.

Minha mãe e eu capturamos olhares ao andar juntas.

E o olhar abismado dela com essa liberdade, a máfia tem regras. E as


mulheres devem obedecer.

— Isabel! — diz Ana, minha amiga, ao se aproximar.

Bella e outras meninas da nossa turma estão logo atrás.

Cumprimento todas.

— Oi, meninas, consegui vir com a ajuda da minha mãe, Stella


Garzelli — apresento.

— Olá — mamãe cumprimenta com um sorriso. — É um prazer


conhecê-las.

— Prazer, sou a Ana.

— Bella, senhora Garzelli.

— Me chamem de Stella — pede.

Depois de alguns minutos, os pais de Ana saem.

Mamãe já está ficando impaciente para irmos embora.

— Querem bebida? — Ana pergunta. — Meus pais foram comprar

mais, alguns dos vizinhos estão nos fundos da casa.

— Não vamos beber — aviso rapidamente. — Vim ver como estão,


as férias de verão demoram a passar.

— Quais são os compromissos que você tem? Ano passado


conseguimos ir à praia — pergunta Bella, com diversão.

— Stella, estamos pensando em viajar juntas. Isabel poderia ir


novamente? — Ana tenta conseguir autorização com minha mãe.
— Lamento, mas ela não irá. Isabel tem compromissos que não

podem ser adiados.

— Isabel, aquele homem é o seu irmão? Ele veio junto? — Bella

pergunta, deixando-me receosa.

Gianluca não iria vir aqui.

Viro o rosto encontrando Cesare, ele entra na casa.

Olho para a minha mãe, que vai em direção ao Don.

Enquanto tenho um pouco de tempo para me despedir das meninas.

— Ele é meu marido, casamos há alguns dias. Haverá uma festa na


empresa dele, daqui a pouco, tenho que estar presente — explico, com pressa.
— Ligo para vocês depois.

Aviso, deixando-as sem entender.

Confusas.

Mamãe e Cesare estão diante do carro.

— Trazer sua filha foi um erro, Stella. — Seu tom é frio. — Ajudou-
a!
— Estava por perto para evitar que algo acontecesse com Isabel.

Chegamos há pouco tempo — ela responde.

— Cesare, aqui não — peço, ficando ao lado dele.

— Luigi já deve estar chegando em casa — diz meu marido. — Ele


não ficará feliz quando não a encontrar e saber que estava com sua filha em

um lugar como esse.

— Vá com seu marido, filha. Não questione, para nossa situação não
piorar — pede ao entrar no carro.

Sigo Cesare sem questionar, estou evitando um deslize e escândalo.

No momento, o que está me deixando tensa é a reação do meu pai.


Se algo acontecer com a minha mãe, será culpa minha.

— Quem disse onde estava? — pergunto quando ele liga o carro.

— Há uma equipe que trabalha para mim, os carros possuem


microcâmeras, escutas e o rastreamento de todos os veículos, Isabel —
responde, dando partida. — Um trajeto novo fora da ordem, e eu não iria vir

atrás? É a minha esposa, não a quero sozinha, principalmente em festas.

— Estava com as minhas amigas da faculdade! — rebato, irritada.


— Fiz uma visita, não pretendia estar ali por muito tempo.

— Sua mãe foi usada por você. Colocou-a em um conflito com


Luigi, apenas para ver pessoas insignificantes? — provoca.
— Meu pai não pode tocar nela! — aviso rapidamente. — Ela estava

protegendo a única filha que restou.

— Encobrindo você — corrige. — E mais uma vez está sem a

aliança. A minha paciência tem limites, Isabel, se tirar o anel do seu dedo em
uma próxima vez, poderá ver uma de suas amigas em uma situação perigosa

— ameaça, com um tom sombrio.

Fecho a boca.

Recuso-me a continuar essa conversa no carro.

Onde não posso sair.

— Essa conversa continua em casa — ele diz.

Olho de canto de olho para Cesare, ele está focado na estrada.

Mas seus pensamentos não estão nos veículos e semáforos lá fora.

Bato a porta do carro, indo rapidamente até a entrada da mansão.

Tento mandar mensagem para minha mãe, mas ela não responde.

Resolvo ligar, porém, não sou atendida.

Cruzo os braços, impaciente.


Cesare conversa com alguns soldados, além de Carlo, seu

conselheiro.

— Reúna todos e passe a minha ordem. Todos os passos dela devem

ser comunicados para mim! Eu autorizo onde minha esposa deve pisar ou não
— exige. — Os soldados que estavam no carro, coloque a lealdade deles em

evidência.

— Iniciarei isso agora mesmo — diz o conselheiro, ao se retirar com


alguns dos principais soldados.

Meu marido caminha até a sala.

— Minha mãe não responde as minhas ligações e mensagens.

— O assunto agora é o que você fez — rebate. — Não terá mais


autorização para ver sua mãe, ficará nessa casa. Quero chegar em casa e
encontrá-la me esperando — reitera.

— Não sou sua vadia. — Aproximo-me. — Meu pai vai matar a

minha mãe, Cesare, você tem que fazer alguma coisa! — Bato em seu
peitoral.

Seus braços seguram os meus.

— Ele não vai fazer isso, tire essa ideia da cabeça.

Olho em seus olhos.

— Meu pai é um sanguinário, assim como Marco e você. Não há


limites, não importa quem esteja ao lado, sempre será a máfia para ambos —
reforço. — Faço o que quiser, não quero ver o sangue da minha mãe
derramado por ter me acompanhado!

— Culpa? — pergunta, aproximando nossos rostos. — Agora que


precisa consegue pedir algo para seu marido. E enquanto o fato que quer me

matar?

— Mamãe é da sua máfia, ela é alguém importante. Se não tiver


controle sobre isso..

— Está me chamando de fraco? — pergunta, com diversão. —


Coloque a aliança em seu dedo — manda, passando o nariz pelo meu
pescoço.

Fecho os olhos por um momento sentindo o contato.

— Vou ficar presa no quarto? — questiono, irritada com toda essa


situação.

— Não, ficará no escritório comigo enquanto resolvo algumas


coisas.

Ele se afasta indo para a sua sala.

Frustrada e nervosa, subo as escadas pisando com força.


Cesare

Minha mãe sofreu agressões por usar roupas curtas, uma palavra
contrária ao que o marido dizia.

Papai usava socos, enforcava-a para ter o prazer do ar sumir e o


desespero dela em respirar, mas preferia usar chicote para marcar a pele dela.

Marco Salvatore não escondia a insatisfação e as consequências que


suas ações teriam.

Mamãe gritava, chorava pedindo perdão.

Ela aprendeu as regras e passou a usar ameaças de surras em Alessa,


enquanto papai se encarregava de cuidar do próximo Don.

Seu primogênito.

Adentro o escritório tirando o paletó, deixando-o sobre minha

cadeira.

Tiro o celular do bolso e na mesma hora ele toca e vejo o nome do

meu pai brilhando na tela.

— O que é? — questiono, pegando um cigarro.


— Novamente sua esposa surpreende — alfineta. — O que será da

próxima vez?

— Não preciso de um alerta. Tenho controle sobre o meu casamento,

ligou apenas para isso? — debocho, soltando a fumaça.

— Uma mulher que não consegue ficar quieta é um problema. Elas

devem agir como as putas da boate, abrir as pernas e obedecer o que


exigimos — reforça.

— Aulas de como foder uma mulher? — Dou risada. — Nunca


precisei disso.

— Vou direto ao assunto porque o comportamento da Isabel hoje


deve ser impecável. Haverá o anúncio do noivado de Alessa e Gianluca em
nossa casa, além da presença de Ramires, você é o Don, e ele assumiu o
cargo recentemente — pontua.

— Devia ter me dito na empresa que convidou Ramires, as suas


ordens não têm mais o mesmo peso, pai. Passou esse poder para mim —

reforço em um tom perigoso.

Odeio que mexam com o que é meu.

Não sou um soldado. Não obedeço, sou quem manda e o mais

importante, quem lidera.

A peça mais importante da máfia. Tudo depende de um Don.


Desde uma ordem até o controle do próprio casamento.

— Não sou seu inimigo, Cesare. Estou auxiliando, sempre pensei no


melhor para você, sabe muito bem disso.

— Nunca passe por cima de mim — aviso, antes de desligar.

Recosto-me na cadeira confortável, observando o escritório.

Marco Salvatore ainda acha que tem poder para continuar dando
ordens para os meus soldados.

Ele passou a coroa. Isso está começando a me irritar.

Papai não é mais o rei, mas sim meu empregado.

Está abaixo do filho, na verdade, abaixo do conselheiro.

Preciso reunir meus homens, e deixar claro que eles não devem mais
obediência ao Marco.

Quem o fizer ainda com esse aviso, será apagado.

Isabel

Adentro o quarto preocupada e irritada com essa situação toda.


Mamãe é a única pessoa que eu tenho, ela sabe dosar minha intensidade.
Eu não posso perder mais alguém, não da minha família!

Pego a aliança na penteadeira e a coloco novamente em meu dedo.

Queria enfiar na garganta de Cesare para vê-lo perder o ar diante dos

meus olhos.

Respiro fundo.

— Isabel, foco — digo em um sussurro.

Caminho até o closet para trocar de roupa.

Quero algo que chame atenção dele.

Cesare é muito observador, um detalhe não é passado despercebido,


os olhos escuros dele são rápidos.

Coloco uma saia preta e um top branco, ambos confortáveis e


chamativos.

Fecho o meu lado do closet, com a atenção focada na parte dele.

Viro para trás, não há ninguém na porta. Nenhum funcionário no

corredor.

Abro a parte dele, encarando os ternos pretos e azul-marinho.

Cores escuras são as preferidas do meu marido.

— Se a minha arma estiver aqui, pegarei o que é meu.

Olho os sapatos, gravatas, camisas sociais.


Estico a mão no fundo do closet, passo os dedos em algo.

Puxo o objeto e me deparo com uma caixa de joias. Não penso duas
vezes e abro com cuidado. Mas não vejo minha arma e sim um bracelete.
Passo pelo corredor usando o bracelete. Preferia uma joia. Ele sabe

do meu gosto.

Entro no escritório pela primeira vez, vejo que é um lugar


confortável.

Consigo ver monitores com câmeras da mansão inteira ao lado da


mesa dele.

Cesare tira atenção do celular.

Seus olhos vão no que estou usando no braço direito.

— Onde achou isso? — pergunta.

— No seu closet. Iria entregar quando? — questiono, olhando o


bracelete.

— Não era para você.

Encaro-o confusa, em seguida arranco-o do meu braço.

— De quem é? — pergunto, arqueando uma sobrancelha escura.

— O meu presente de casamento para Giovanna — revela.


Pisco algumas vezes. Um presente para minha irmã?

Ando até ele.

Acabo entre as pernas de Cesare mostrando o presente que ele

guardou.

— O que isso estava fazendo ainda no seu closet? Nunca deu um

presente para Giovanna! — questiono, nervosa.

Cesare segura meus braços, mas minha vontade é bater nele.

Derrubo o bracelete no chão.

Ele me puxa para seu colo.

— Se acalme.

— Solta os meus braços — exijo.

— Escolhi para dar no dia do casamento — repete. — É um presente


como qualquer outro. Eu não lembrava disso — avisa, soltando os meus
braços.

Uma das mãos está na minha cintura.

Estou com tanta raiva, ainda mais agora ao me lembrar de que

transei com ele.

Não consigo ficar um dia longe da sua presença.

Acabo de encontrar um presente que seria entregue para Giovanna.


A lembrança de um casamento que iria acontecer.

— Quero sair daqui — rosno.

Uma das mãos dele segura a minha cintura.

E a outra está no seio esquerdo, Cesare massageia fazendo círculos


em meu mamilo.

Meus pelos se arrepiam, ele o aperta. Mordo o lábio inferior, por


conta desse fogo que está começando a crepitar no meu corpo.

Cesare abaixa o tecido, em seguida a boca mama meu seio.

Fecho os olhos, vou com o corpo para trás, para dar mais acesso a
ele.

Cesare chupa o bico com força, subindo com seus lábios pelo busto,
ombro, pescoço e, por fim, o queixo.

A sensação me acalma.

— Quero acariciar cada parte da sua pele — declara com a voz


rouca. — Eu vou fazer isso, mas depois. Troque de roupa — avisa, cobrindo

meu seio.

— Eu não vou sair de casa — respondo rapidamente.

Saio do colo dele.

A raiva volta a aparecer.


— Isabel, você irá comigo. Estou mandando. — Seu tom é sério. —

Tem dez minutos, sua família estará presente e um aliado, estarei na sala.

Deixo o escritório tão nervosa.

Ele tentou me acalmar para dar essa ordem!

É preciso muito mais do que a boca no meu seio para ter controle

sobre mim.

Cesare quer levar uma exibição, apenas isso!

Estarei deslumbrante, para roubar a atenção de todos. Inclusive do


aliado.

Escolho uma calça social na cor nude e o blazer com um generoso


decote para os seios.

Os cabelos presos em um rabo de cavalo.

Cesare entra acompanhado por mim na mansão de seus pais.

Na sala principal, encontro Greta e Marco Salvatore esperando por

nós, meu pai ao lado dele, minha mãe parece estar atrás, sinto que há algo

estranho.

— Filho, Isabel — diz Greta, com um largo sorriso vindo nos


cumprimentar.

— Boa noite — respondo seca.

— Formam um belo casal — elogia Marco.

— Pai — cumprimento-o de longe.

— Isabel, espero que seja a última vez que cause essa situação para
Cesare — avisa em um tom perigoso. — Sua mãe não irá mais ajudá-la e não

a verá por um bom tempo — acrescenta.

— Mãe — chamo ao me afastar do meu marido.

Atrás do meu pai, ela está com alguns machucados no nariz e na


região dos olhos.

Mesmo com maquiagem não foi possível disfarçar.

— Você bateu nela! — rosno ao abraçá-la.

— Está tudo bem, filha.

— Não está!

— Luigi, eu o proíbo de agredir Stella — ameaça Cesare ao se

aproximar. — Isso é uma ordem, qualquer agressão em mulheres o sujeito


será levado até a mim — sentencia.

— Cesare — rebate Marco.

— Seu pai sempre aprovou esse tipo de castigo para colocar as


esposas e mulheres no eixo, Cesare — meu pai lembra. — Devemos ter
controle ou podemos criar monstros — afirma olhando para mim e minha

mãe.

— Foda-se. É a minha ordem e ela já está valendo, quer questionar a

decisão do Don, Luigi? — meu marido o enfrenta. — Faço as regras desde

que assumi controle sobre toda a máfia Salvatore, vocês têm que obedecer e
não contrariar minhas ordens.

— Isso deveria ser analisado, Cesare — rebate Marco. — Graças a


mim e a essa regra que levei a máfia Salvatore ao primeiro lugar. Colocando
ordem em tudo, desde os soldados até os membros mais importantes.

— As decisões estão nas minhas mãos, agora. Ponto final — reforça


Cesare, em um tom perigoso.

Mamãe sorri esperançosa.

— Perdão — peço baixinho. — É minha culpa, mãe.

— Eu não queria arriscar que fosse sozinha — assegura. — Estou

bem.

Não está.

Olho com repúdio para meu pai. O clima tenso paira sobre o local.

Mas a chegada de Gianluca e o homem que é aliado dos Salvatore

acaba fazendo essa situação ser deixada de lado.


Cesare se aproxima do sujeito.

— Ramires.

O líder da máfia espanhola, é um homem jovem. Deve ter a mesma

idade que meu marido.

Os olhos são de um azul profundo, cabelos castanho-claros.

— Cesare, enfim nos encontramos em um momento importante para


sua máfia. União é importante para alcançar o poder — diz Ramires, olhando
agora para os convidados.

Seu olhar para em mim.

— Alianças também, Espanha e Itália tendem a ganhar mais espaço


em nossa liderança — responde meu marido.

— Ramires estava compartilhando ideias comigo — comenta meu


irmão. — Mas por agora tenho um anel para entregar.

— Querido, tenho tanto orgulho de Alessa casar com você. — Greta

se aproxima de Gianluca com a mão em seu ombro.

— Boa noite. — A voz de Alessa Salvatore percorre a sala principal.

Com um vestido longo vinho, ela desce as escadas lentamente.

Meu irmão vai até ela e pega em sua mão.

Posso ver o olhar atento de Marco. E o orgulho de Greta em ambos.


— Entrego o anel da minha família para a minha prometida — ele

diz, ao deslizar a joia pelo dedo dela.

Alessa sorri olhando para os presentes.

— Desejo felicidades, Alessa e Gianluca — diz Ramires. — Soube


da tragédia com Giovanna Garzelli, mas a união faz a força — acrescenta,

olhando meus pais.

— Tem toda razão, Ramires. Minha filha caçula, Isabel, acabou


salvando essa união, ela se casou com Cesare. — Papai aponta para mim.

— É um prazer conhecê-la — fala Ramires, ao se aproximar e pegar


em minha mão.

— Digo o mesmo. — Retribuo com um sorriso.

Quando o espanhol se afasta, percebo os olhos de Cesare atentos em


mim.

— Sugiro uma reunião no escritório, enquanto as mulheres


organizam a mesa — sugere Marco.

Cesare sai ao lado de Ramires. Meu irmão é o último a sair.

Alessa se aproxima de Greta e minha mãe, aproveito que as três


estão conversando e distraídas.

Vou até o mordomo pegando uma taça de champanhe. Não consigo


ficar nesse lugar sóbria.
Ando pela casa tomando em pouco tempo a primeira taça.

Quando percebo estou com a quarta taça nas mãos, decido me juntar
as mulheres.

— Quero um vestido com detalhes em cristais — diz Alessa.

— Vou escolher um que realce seu corpo — afirma Greta. — O de

Isabel não tive essa oportunidade — alfineta, olhando para mim.

Sento-me no sofá encarando-a.

— Queria fazer uma surpresa.

— É verdade — confirma mamãe.

— Isabel, queria conversar com você sem a presença dos homens —


revela minha querida sogra ao se aproximar.

— Estou ouvindo.

— O seu comportamento em ir para aquela festa e ainda levar sua


mãe é deplorável, vergonhoso — brada.

Assinto bebendo sem pressa o champanhe.

— Greta... — mamãe tenta interferir.

— Não, Stella. Ela é a primeira dama da máfia Salvatore, mulher do


meu único filho e precisa ser perfeita e recatada — exige.

Greta tira a taça da minha mão.


Fico de pé imediatamente.

— Não sou sua funcionária, não sirvo você, Greta. E jamais vou
estar aos seus pés, consegue isso apenas com a sua sobrinha, não comigo! —

rebato.

Ela levanta a mão para me bater, mas se controla.

— Sua pele é clara e ganha cor rapidamente. Eu adoraria esbofetear


seu rosto até enxergar respeito por mim e o sobrenome Salvatore — ameaça.
— Porém, Cesare cuidará disso. Ele só precisa apertar a coleira — provoca.

— A minha irmã morreu por causa do sobrenome da sua família —


rosno. — Se encostar a mão em mim, irei revidar.

— Isabel, não — interrompe mamãe. — Somos uma família. A sua


união com Cesare trouxe essa bênção, Greta apenas quer respeito.

— Alessa leve-a para tomar água — manda Greta. — Não estrague


essa ocasião, querida. Ramires é um aliado importante para a máfia Salvatore,

um erro e sofrerá consequências pela ousadia.

Sigo Alessa tentando controlar a raiva.

— Quer estragar meu noivado com o seu irmão, Isabel? — pergunta,


com um tom provocativo.

— Está fazendo o que seus tios ordenaram. Eles a tratam como um


animal adestrado, Alessa.
— Cale a boca — manda, ao pararmos na cozinha. — Quer me levar

para a ruína junto com você?

— Não disfarce. Na faculdade você gosta de ter liberdade em andar,

falar com quem quiser, ignorar muitos e causar — lembro. — Aqui só fala
caso seus tios autorizem. Esse casamento não é por vontade própria.

— Uma Salvatore precisa exalar ordem e poder. Seu irmão é


gostoso, poderoso e bonito, não é um soldado qualquer — pontua, entregando
o copo com água. — Não quero o destino de sua irmã, acredito que você

também não, afinal Cesare pode te dar tudo, claro, se souber como ganhar.

Dou risada.

— Nada vai tirar da minha cabeça a cena de ver Giovanna morta,


diante dos meus olhos. O casamento que fui jogada como a única opção, tudo
o que vier com ele não é para mim — reitero.

— Não enfrente minha tia e nem o tio Marco. Seus pais não podem
interferir, o casamento para nós, é entregar o corpo e a alma para marido.

— Está falando como sua tia. Porém, vejo que está imitando o que

ela diz. Alessa, você quer ser controlada por Gianluca de boca fechada? —
pergunto.

— Não esqueça que tanto você quanto eu, estamos ao lado dos
homens mais poderosos da Itália. Um passo em falso, e estaremos em uma
situação bastante complicada.

— Não há como esquecer, a aliança será um lembrete que todo dia


estará presa no seu dedo. O casamento pode ser sufocante, verá com os

próprios olhos quando Gianluca estiver em sua vida para sempre — informo,
terminando de beber água.

— O jantar será servido — avisa mamãe no corredor. — Vamos,


meninas.
Cada minuto daquele jantar pareceu um século. Fiquei de boca

fechada, pois não iria dar conta de falar demais e não parar. Olhava para
minha mãe, simplesmente não consegui digerir o que meu pai fez com ela,

depois aquelas ameaças da minha querida sogra.

Assim que chegamos em casa, sigo diretamente para o quarto.

Fico nua e encho a banheira. Apenas quando está bem cheia e com
bastante espuma entro.

Afundo um pouco deixando a água molhar o meu cabelo e o corpo.

Sento-me passando as mãos na espuma branca.

A lembrança do bracelete que encontrei nas coisas de Cesare

atormenta minha cabeça novamente.

Molho o rosto. Tento evitar pensar em tudo isso, mas não tenho

controle.

Transei com Cesare e de certa forma, estava em seus braços de novo,

sentindo suas mãos, o corpo dele junto ao meu.


Aquela saudade desses momentos me capturou, estava entregue.

Não foi isso que havia prometido para Giovanna.

— Eu menti para você — digo, encarando a água da banheira. —

Menti, Giovanna.

Não estou cumprindo o que jurei!

Toda essa situação, vestido e casamento era para ser dela.

— Não estou conseguindo, irmã — digo coberta pela culpa. — Me

perdoe, Giovanna — peço atordoada. — Eu preciso cumprir, não quero que


vague esperando essa promessa acontecer.

Deito-me na banheira. A água está no meu pescoço, quando deito a


cabeça um pouco para trás, em seguida submerjo.

Começo a tossir, sem parar. Engulo um pouco de água, presa em


meus próprios sentimentos.

A porta do banheiro é aberta bruscamente por Cesare.

— Isabel! — seu tom é desesperado.

Ele me tira da banheira, como consequência molha sua roupa.

Começo a tossir um pouco da água.

Cesare pega a toalha, envolvendo meu corpo.

— O que estava fazendo?


— Não sei — respondo.

— A encontrei se afogando, e você não sabe responder? — rosna,


irritado — Fala!

Fecho os olhos, sinto-o pegar no meu rosto.

— Quero deitar.

Ele me carrega para fora do banheiro, sento-me na cama encarando


seus olhos.

Vejo-o respirar fundo.

Indo até o closet. Cesare traz o meu pijama.

— Sente-se — diz.

Ele desliza o pijama pelo meu corpo.

Pega a toalha que eu deveria usar e seca o meu cabelo.

As luzes são apagadas logo em seguida.

Fecho os olhos. Ouvindo o silêncio do quarto escuro.

Cesare

Tiro as roupas que acabei molhando ao tirá-la da banheira, uso


apenas uma calça moletom preta.

Desço até o escritório, indo atrás de algo que eu deveria ter jogado

fora há um mês.

O bracelete seria um presente para Giovanna.

Iria ser entregue na festa de casamento, uma demonstração afetiva, a


única que poderia ter ao lado dela.

Adentro o escritório e encontro a porcaria jogada no chão.

Assim que vi Isabel usando isso, percebi em seus olhos algo


diferente. Algo como dor, talvez um pouco de ciúme.

Acendo a lareira e me livro do bracelete, jogando-o ao fogo.

Volto ao quarto me lembrando do dia que beijei Isabel pela primeira


vez após uma crise de ciúme dela com uma garota de uma outra família

aliada.
Tenho quinze anos.

Isabel treze anos.

Papai me pediu para dançar com a Marcella, é o casamento da irmã

mais velha dela.

A música é chata e lenta demais.

A garota que dança comigo está com as bochechas coradas.

— Cesare — cumprimenta Marcella, pegando em minha mão. —

Obrigada pela dança. Estão todos olhando, fico com vergonha.

— É apenas uma dança chata — aviso, e ela ri.

— Quero dançar com o meu marido assim. E você?

A música termina.

— Não gosto de dançar, mas irei casar com alguém — comento,


desviando o olhar dela para Isabel.

— Adorei a dança — comenta Marcella, dando um beijo na minha

bochecha.

Ela se retira.

Meus olhos estão no outro lado do salão. Giovanna está falando com
Isabel.

As duas estão sentadas sozinhas em uma das mesas, percebo daqui


que Isabel está irritada.

Ela sai deixando Giovanna sozinha.

Discretamente passo pelos convidados, só há um lugar para Isabel


poder ir.

Mais alguns passos e a encontro de braços cruzados no jardim, de


costas para mim.

Pego uma das rosas com cuidado, retiro os espinhos escondidos.

Isabel é como elas. Aproximo-me deixando na frente de seu rosto.

— Uma rosa por seus pensamentos.

— Deveria entregar para Marcella. Sua mãe disse que formam um


belo casal — comenta com um sorriso forçado.

— Foda-se o que ela disse — digo, descendo uma das mãos na


cintura dela.

Isabel se vira para mim e pega a rosa.

— Quero casar com você, Isabel.

— Quer mesmo? — pergunta, arqueando uma sobrancelha escura.

— Irá acontecer, mas por enquanto isso já me basta.

Aproximo-me e beijo seus lábios.

As mãos dela sobem para o meu pescoço, agarro sua cintura,


mantendo-a comigo.

Nossos lábios se encaixam perfeitamente, termino o beijo, mas

começo outro sem pressa.

Marquei Isabel com um beijo.

Porque ela jamais será de outro, seu destino é ser a esposa do


próximo Don.

Dias atuais

Entro no quarto e vejo Isabel dormindo tranquilamente.

Escutei-a tossindo muito, quando estava tirando os sapatos, estranhei


a sua demora dentro do banheiro.

Isabel saiu bêbada da mansão dos meus pais.

Vê-la naquela banheira se afogando, como se ela quisesse ficar ali e

morrer.

Despertou minha fúria e também o desespero. Sou capaz de destruir

a Itália para mantê-la segura.

Derramar o sangue dos meus para tê-la ao meu lado.


Sento-me na cama e a observo dormir. Isabel se vira para o meu lado

deixando a mão perto da minha.

Pego em sua mão, trazendo-a para o meu peito.

Amanhã pretendo estar aqui quando ela acordar.


Isabel

Desperto passando a mão em algo.

Abro os olhos lentamente e vejo que estou agarrada em Cesare,

acabei de passar a mão em sua barriga.

Afasto-me em choque, levanto-me da cama atordoada.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto, confusa.

Minha cabeça dói.

— O quarto também é meu — sorri, sarcástico. — Por que você fez


aquilo?

Aquilo? O quê?

— Aquilo? — pergunto sem entender.

— Estava se afogando ontem na banheira, Isabel — lembra, ao se

levantar da cama.

Engulo em seco.

Eu só queria afundar, e fechar os olhos.

— Não lembro — respondo rapidamente.


Ele se aproxima, ficando a poucos centímetros do meu rosto.

— Você lembra, está mentindo.

— Estava irritada e atordoada ao ver minha mãe naquele estado. Me

senti mal, já que foi minha culpa — entrego uma mentira.

Cesare parece acreditar.

— Não vai beber álcool por um bom tempo.

— O quê? — questiono.

Ele vai até o banheiro, sigo atrás.

Vejo-o escovar os dentes, depois tira a calça, indo tomar banho.

— Você não pode fazer isso! — rosno, irritada.

— Ah, posso sim, tanto é que já dei ordem para isso — rebate,
sustentando meu olhar. — Nenhuma pessoa pode lhe dar uma gota sequer de
álcool.

A raiva exala pelos poros, jogo-me na cama ficando de bruços.

Em poucos segundos o chuveiro é desligado.

Ouço os passos dele no quarto.

— Eu somente bebo quando estou com raiva! — rebato.

— A única forma de se embebedar será do prazer que vou lhe dar,

isso, claro, se merecer.


Meu corpo absorve rapidamente suas palavras roucas.

Saio da cama, tiro o pijama e fico exposta ao seu deleite.

— Não preciso de você para ter prazer — respondo rapidamente.

Passo por ele, mas Cesare não me deixa dar mais um passo.

Meu corpo bate contra o dele, a toalha que cobre sua cintura cai

revelando sua nudez.

Cesare me pega no colo, prensando-me contra a parede.

Enlaço as pernas em volta da sua cintura.

Meus seios são esmagados contra seu peitoral.

— Não? — indaga, apertando minha bunda.

O pau dele está duro contra minha coxa.

— Seu corpo discorda, mentirosa — provoca.

— Você precisa de mim — rebato.

Inclino a cabeça, a boca dele aproveita para traçar beijos na pele

sensível do meu pescoço.

— Ambos precisamos um do outro. Você anda se esquivando de

mim. Acha que aquilo que tivemos foi o suficiente? — questiona, olhando no
fundo dos meus olhos. — Eu quero mais, e sei que você também quer.

Empurro seus ombros.


— Você não pode dizer o que eu quero, Cesare.

— Pretende sussurrar até acreditar? Tenho uns assuntos no


escritório, se não fosse por isso iria te foder aqui e agora — diz, esmagando

mais meu corpo.

Ele me libera.

Com os pés no chão, encaro-o pela última vez antes de entrar no


banheiro.

Enquanto assimilo suas palavras.

O espelho do banheiro revela um brilho em meus olhos, os seios


rígidos.

Sinto ondas de prazer tentando me dominar.

Olho para a banheira lembrando de ontem, tenho que organizar meus


pensamentos.

Ligo o chuveiro, deixo a água cair sobre mim.

Não consigo me livrar dele. Mas nada impede que eu use seu corpo,

obtenha informações, mesmo que não possa participar.

No fundo, Cesare e eu temos algo em comum, somos traiçoeiros.

Eu preciso dele para saber os nomes e localização dos responsáveis

pela morte de Giovanna.


Uma investigação deve estar sendo feita desde o dia que ela morreu,

preciso ter todas as informações. E no processo lidar com Greta e Marco.

Os dois eu faço questão de destruir assim que alcançar o que quero.

Enquanto Cesare, matá-lo não é mais uma opção.

Desligo o chuveiro e saio do banheiro enrolada em uma toalha, não o

encontro no quarto.

Caminho até o closet.

Abro a minha gaveta de peças íntimas e escolho uma vermelha, cor


de sangue, luxúria e desejo.

Um conjunto transparente que Cesare vai apreciar quando tirar


minhas roupas.

O sexo é a arma mais perigosa, e faço questão de usar ao meu favor.


Cesare estar trabalhando em casa é estranho, mas prefiro não

perguntar.

Assim que desço o último lance da escada, encontro-o à mesa do


café.

Mordo uma uva enquanto o observo terminar o café, levando mais


um gole até os lábios.

Dessa vez não estou usando uma roupa chamativa ou nova, o tempo
está nublado com nuvens escuras cobrindo o céu.

E mesmo que estivesse sol, quero ficar longe da piscina.

Estou com uma calça moletom cinza e uma blusa cor-de-rosa, os

cabelos presos em um rabo de cavalo.

Cesare está vestindo um terno azul-marinho, os cabelos escuros

penteados para trás.

A porta principal é aberta, e para a minha surpresa é Alessa, já

imagino que Greta estará logo atrás.


Mas só a vejo, com pastas e álbuns nas mãos de Alessa Salvatore.

Apenas ela está aqui.

— Cesare, Isabel — cumprimenta.

— O que quer, Alessa? Não tenho tempo para conversas vazias —


pergunta meu marido ao se levantar.

— Estranho sua tia não vir — comento, encarando-a.

— Queria pedir a Cesare para autorizar Isabel a me ajudar com as

escolhas do casamento. Vestido, decoração...

— Isabel não vai sair de casa até que eu diga — pontua. — Ela irá
ajudá-la aqui. É somente isso? — sonda.

— Sim, justamente trouxe tudo o que precisamos. Afinal, o tempo


não está bom para passeios — concorda.

Cesare se retira indo para o escritório.

Termino de comer a uva.

— Não estou te vendo com um vestido ou uma saia — analisa


Alessa, com diversão.

— Escolhi algo mais confortável para usar. Não posso sair ou beber,
e agora tenho que ajudá-la com o seu casamento? — debocho. — Greta não

disse que iria cuidar de tudo? Onde ela está?


— Minha tia disse que é a sua obrigação ajudar — revela. —

Queridinha, seremos cunhadas, eu quero saber mais de Gianluca.

— Não recebo ordens da sua tia, o único que manda em mim é

Cesare — corrijo. — Mas é seu dia de sorte, estou entediada e ajudar você
vai ocupar o tempo.

Além de poder obter informações. Greta quer me usar para servir.

O poder que ela tinha como esposa de Marco já perdeu a validade


desde que fui entregue para seu filho.

Eu sou a esposa do Don.

Na sala principal, Alessa passa as unhas pintadas em um tom branco


nas páginas do álbum com diversos vestidos de noivas.

Ajudá-la com a escolha acaba desapertando algumas lembranças do

passado.

— Algo com decote? — pergunto, olhando um modelo com detalhes

em renda.

— Quero manga longa, mas com um belo decote para os seios —


diz, folheando mais algumas páginas.
— Fechado? — pergunto, arqueando uma sobrancelha.

— Tia Greta exige tradições, as mulheres Salvatore devem continuar


— explica. — Gianluca havia me dito que iria para a boate aproveitar uma

noite como solteiro, Cesare deve ir com ele — comenta, olhando para mim.

— Uma despedida de solteiro? — indago.

— Obviamente. Os homens podem ter essa diversão, a boate tem


mulheres bonitas — comenta com raiva. — Disponíveis para qualquer um
dos solteiros.

— Ciúme do meu irmão? — pergunto, sorrindo divertida.

— Ele é meu noivo. Não pretendo ser uma mulher que se afasta e
deixa brechas — afirma.

— Cesare não teve a despedida de solteiro antes de casar com você


por conta do período de luto pela morte de Giovanna.

Cesare em uma despedida de solteiro. A ideia não me agrada,


nenhum um pouco.

Quase amasso uma das pastas que estou segurando.

— Pelo que eu soube, seu primo esteve com várias mulheres naquela
boate. Inclusive antes do baile de prometidos — digo, tentando não rir.

Com o nosso término após o anúncio da escolha para minha irmã ser
sua noiva, soube que ele estava na boate com mulheres que ele usou.
— Tio Marco sempre incentivou que Cesare escolhesse uma boceta

diferente todo dia, para usar até descarregar tensão, raiva — revela. — Minha
tia só não queria que ele trouxesse nenhuma para casa.

— Todos os homens têm privilégios — reitero, sentindo um gosto


de raiva em meus lábios.

Puxo o lábio inferior lentamente.

— E Greta parece que gosta de servir o seu tio em tudo — alfineto.


— Alessa, cuidado para não acabar com o seu relacionamento com Gianluca,
sua tia está acostumada a mandar em tudo o que faz — alerto.

— Acredite se quiser — diz em um tom mais baixo. — O casamento


é a minha liberdade.

Ela se levanta indo pegar o copo de suco.

— Fui criada para nunca abaixar a cabeça e ser obediente, cúmplice


do marido. Mas titia é o animal de estimação do tio Marcos, ela não se

importa com nada além da opinião e atenção dele — comenta com um olhar
distante.

Quem diria que se apertar um pouco Alessa abre a boca?

— Em casa, sempre tivemos dois lados diferentes. Infelizmente,

tenho mais do meu pai, a personalidade, entre outras coisas — avalio. —


Mamãe sempre cuidou dos filhos com atenção, amor, apesar das regras que
foram impostas a ela.

— Diga-me algo sobre Gianluca — pede.

— Gosto de comida, roupas, íntimos? — pergunto. — Quer fazer o

que ele pede? — provoco.

— Existe uma boa relação e conveniência. Não se pode ter os dois,

prefiro a primeira opção, Isabel, e saber sobre ele é essencial — explica.

— Gianluca gosta de ter prazer.

— Interessante — diz, com um sorriso. — Obrigada pela


informação. Mas agora temos que terminar de escolher.

Ela volta a se sentar do meu lado.

Após duas horas imersas no assunto casamento, Alessa vai embora.

Com isso, jogo-me no sofá.

Ajudá-la com o casamento e os detalhes trouxeram à tona memórias,


de quando eu tinha certeza de que iria casar com Cesare anos atrás.

Planejava como seria esse momento e anos depois estou casada com
ele, mas devido a uma tragédia e não por planejamento.
Meus olhos se voltam para Cesare, que caminha até a sala principal,

agora sem o paletó.

Apenas a camisa social branca.

— Vai à despedida de solteiro do meu irmão? — pergunto,


arqueando uma sobrancelha.

— Ele é meu subchefe. Marcarei presença, gosto da boate, pretendo


matar a saudade — avisa ao se aproximar.

Dou risada. Cesare fica diante de mim.

— Em falar em saudade, estou sentindo uma falta do Carlo e das


nossas conversas, sempre tão divertidas — provoco.

Minha boca se choca com os lábios dele, em um beijo agressivo e


intenso.

Minhas mãos sobem até suas costas, puxo Cesare para mim.

Ele morde meus lábios com força, dou passagem para a sua língua.

Abro os olhos entre nosso momento, enquanto ainda o beijo. Sinto

um arrepio, o desejo crepitando entre nós.

Desço uma das mãos até sua cintura indo para a barriga.

Até chegar ao seu membro ainda dentro da calça, em seguida aliso-o,

fazendo Cesare gemer contra minha boca.


Ambos estamos ofegantes quando ele se afasta a fim de tirar suas

roupas e o sapato.

Meu marido se aproxima, sinto seu membro duro.

Cesare o coloca em minha boca, à medida que a outra mão agarra


meu cabelo.

Chupo, passando uma das mãos nas bolas, apertando-as.

— Chupa meu pau, quero sua boca ocupada com ele — exige rouco.

Tenho a impressão de que meu marido está fodendo a minha boca,


mas diminuo o ritmo e começo a passar a língua sem pressa para provocá-lo.

Abocanho seu pau novamente, chupando com ferocidade.

— Porra! — rosna ao gemer.

Cesare se entrega ao prazer, depois tira o pau da minha boca.

Ele goza na camisa branca que está jogada no chão da sala principal.

Respiro fundo, meu peito sobe e desce.

Sento-me no sofá, passo a língua pela boca enquanto o observo.

Ofegante, absorvendo prazer. Sinto o corpo sedento.

Cesare caminha até o sofá, sentando-se ao meu lado, uma de suas


mãos me puxa pelo braço, para ficar em pé diante dele.

Os olhos escuros me devoram mesmo estando vestida.


As mãos dele abaixam a calça moletom.

Deixando apenas a calcinha vermelha transparente.

— Gosto dessas calcinhas.

— Fico com ela? — provoco, descaradamente.

— Quero que use elas em casa apenas — diz.

Tiro a minha blusa e o sutiã, e a calcinha fica por conta dele, em


segundos estou nua.

Quando me sento em seu colo, encaro a cobra no seu pescoço. Ela


parece me observar.

Ligando nós dois.

Passo a boca nela e depois mordo a pele sensível.

Cesare se deita, deixando-me por cima, meus seios na cara dele.

Fecho os olhos quando ele abocanha um com força, apertando o


outro.

Seguro no braço do sofá enquanto Cesare chupa o bico rígido.

Arrancando gemidos meus.

— Cesare — digo quando ele passa a língua.

Ele dá atenção ao outro seio, mordendo-o.

Solto um suspiro rouco. Minha boceta pulsa.


— Ahh — gemo novamente quando ele abocanha com mais força.

Chego ao ápice, sentindo meu prazer escorrer.

— Goza — manda, pegando na minha cintura.

Ele se ajeita, e eu também. Cesare dobra as pernas.

Sinto seu membro duro na minha boceta.

Ele o coloca dentro de mim, enquanto começa a impulsioná-lo.

Respiro ofegante.

Cesare aperta minha bunda, em seguida desfere um tapa forte.

Seus movimentos são rápidos, invade minha boceta com fome.

Os seios balançam com a rapidez do vai e vem.

— Engole meu pau — manda. — Assim, gulosa.

Ele continua metendo mais forte.

Deito-me sobre Cesare, não tenho controle sobre o meu corpo. Estou
em êxtase.

Suas mãos agarram a minha cintura, gozo novamente com mais

violência.

O entra e sai aumenta. Minha boca encontra a sua.

Gemo entre nosso beijo mais lento.

Cesare impulsiona ainda com mais força.


O barulho da nossa respiração e do sexo arrepia meus pelos. Ele me

leva ao êxtase.

Seus olhos estão nos meus quando o sinto se derramar dentro da

minha boceta.

Cesare goza, estapeando minha bunda.

O prazer é viciante. Inebriante.

Meu marido me aperta contra seu corpo, cada vez que transamos eu
quero ainda mais.

Nunca termina. Esse contato tão íntimo, sinto-me mais viva.

Eu preciso de Cesare, tanto quanto necessito do oxigênio.

O fato é que consigo ficar longe desde que fui beijada por ele.

Marcada.
Olho a tela do celular a fim de verificar as horas, já passam das dez

da noite.

Estou colocando minha camisola, do outro lado do closet Cesare está


abotoando sua camisa social preta.

O cheiro do perfume dele está rondando o quarto.

Ele pega a arma colocando em sua cintura.

— Quando vou receber a minha arma de volta? — pergunto,


arrumando meus seios no decote.

— Você não precisa andar armada. Além de que, disse com todas as
letras que iria me matar — alfineta.

— Já se passou um tempo desde que tentei enforcar você. Não acha?

— pergunto, encarando-o.

Cesare se aproxima.

— Não vou te devolver, se quiser brincar com uma outra arma como

o que fez hoje no sofá — sugere, referindo-se ao boquete.


— Prefiro uma arma com balas. O sexo é uma necessidade, um ato

comum, é algo passageiro — provoco, descaradamente. — Não significa


nada.

— Quando quer gozar, você chama por mim. Se agarra, querendo o


que sempre esteve conosco, essa obsessão e luxúria — pega em minha nuca

trazendo até ele. — Aprenda a mentir, mentirosa.

— Está atrasado para a despedida — aviso, mudando o assunto.

Ele mantém os olhos em mim, por um momento estou perdida no


escuro.

Poderia ficar presa.

— Não apronte nada enquanto estiver fora, Isabel. Agora me dê sua


boca antes disso — exige ao se aproximar.

Tento empurrá-lo, mas é em vão. Beijo seus lábios demoradamente,


correspondo, sentindo nosso contato, tão arrebatador.

Cesare prolonga por mais alguns segundos.

Ele separa nossas bocas ainda olhando para mim, depois se retira do

quarto.

Passo a língua entre os lábios, o gosto saboroso desse veneno.


Sozinha na mansão.

Algo quase impossível de acontecer, já que Cesare nunca sai sem me

levar, porém, em uma despedida de solteiro, de um membro da máfia, não é o


local para mulheres.

Meu irmão vai se divertir como solteiro pela última vez antes de
colocar o anel e entregar o sobrenome para Alessa.

Como subchefe, braço direito de Cesare, ele não iria permanecer


muito tempo sem ter uma união. As regras são uma merda.

Respiro fundo ao descer as escadas. Olho o corredor e os cômodos


vazios.

Caminho até a porta do escritório do meu marido, temo estar

trancada, mas arrisco puxá-la, consigo abrir com êxito.

Olho ao redor desconfiada. Cesare é inteligente.

Ele sabe que entraria aqui quando tivesse uma oportunidade como

está.

Aproximo-me da sua mesa e vejo as câmeras da casa funcionando

perfeitamente.
Não perco tempo. Começo a olhar os papéis.

Abrir as gavetas em busca de algo, um nome, uma maldita pasta com


informações da morte da minha irmã. Preciso encontrar alguma coisa, não é

possível que não tenha uma folha perdida.

Puxo uma outra gaveta mais abaixo encontrando uma foto, coloco-a

sobre a mesa. Observo melhor, é o momento do nosso casamento. Onde


Cesare estava tirando o véu do meu rosto, nossos olhares estão em sincronia.

Havia raiva em meus olhos, com uma mistura de sentimentos.

Não tiro a atenção para outro lugar, a forma como estávamos nos
encarando.

O casamento que eu pensava que teria não foi igual ao que tive.

Contemplo os olhos do meu marido.

Cesare pode me arrastar para o abismo, consigo facilmente me


perder se ficar muito tempo o encarando. Pisco algumas vezes, em seguida
guardo a foto no lugar.

Arrumo a mesa dele.

O infeliz não iria deixar nada jogado por aí, é inteligente demais para
isso.

Olho para e vejo o cofre, tento algumas combinações, mas tudo é em


vão.
— Porra! — rosno, irritada — Ele quer me enlouquecer.

O meu celular vibra no bolso do robe, quando tiro e olho vejo o


nome da minha amada sogra.

Greta Salvatore.

— Greta, boa noite — atendo rapidamente.

— Isabel querida. Como está?

— Ótima — respondo, olhando os números do painel.

— Estava preocupada já que está sozinha na mansão. Cesare tinha


que ir para prestigiar seu irmão, será uma noite de bebedeiras e com
mulheres que são o escape para tensão de muitos — provoca ao comentar.
— Só acho que se esqueceu que seu filho se casou comigo e que por ser
casado não deve olhar para outras, ao contrário do seu marido — respondo
com palavras afiadas.

Encerro a ligação desligando o aparelho. Maldita!

Respiro fundo tentando encontrar equilíbrio. Sem uma resposta saio


do escritório olhando o celular.

Envio uma mensagem para mamãe, ela está sozinha também a essa
hora.

Olho algumas mensagens das meninas da faculdade.

Acho que posso ter privacidade pela primeira vez nessa casa. Decido
ir até a cozinha e pegar um sorvete.

Enquanto penso em um filme, para assistir depois da ligação em

grupo que irei realizar com Bella e Ana.

Devo uma certa explicação, é preciso mentir para elas.

Nada da minha realidade pode ser dita.

Cesare

As luzes vermelhas da boate se acendem lentamente quando algumas


putas sobem no palco para o show no pole dance.

Gianluca está com a visão privilegiada, ele está sentado no centro do


salão, algumas das mulheres escolhidas por ele estão à sua volta.

Passando as mãos em seus ombros, pernas, cada parte do seu corpo.

Luigi Garzelli está bebendo um pouco, afastado de mim.

Olhando os movimentos no palco.

Meu pai está ao meu lado, uma loira está dançando para ele,

entretendo-o.

— Mostre os seios — ele exige.


Apenas pode ver, qualquer toque é considerado traição.

— Se o poder fosse dado para mulheres, estaríamos perdidos, filho


— diz ao me encarar. — São traiçoeiras, o sexo é uma droga que penetra

nosso corpo, incendiando cada parte.

Dou risada.

— Está se contendo para não cometer uma traição. Um ato fraco, e


que pode ser malvisto para nossa família — reitero.

A loira toca os seios enquanto o observa.

— Jamais trairei sua mãe. A máfia exige regras, fidelidade ao


casamento, sigo com bastante rigor — rebate. — Não se prive de um
momento, ver uma das nossas putas mostrando o corpo, ver a mesma boceta e
seios, é enjoativo, Cesare. Escolha uma para que tire a sua atenção — sugere.
— Você tinha uma preferida.

Vejo-o chamar uma das melhores da boate.

Ela é uma cópia falsa de Isabel, muitas vezes servia para enganar o

desejo, a minha pretensão de ter a original. Mas agora eu a tenho, não existe

mais espaço para uma cópia falsa.

Faço um movimento para a mulher parar.

— Saia — ordeno.

Ela assente e se retira rapidamente.


Volto a encarar meu pai.

— Gianluca é solteiro, ele e Carlo podem escolher uma delas.


Cuidado para não cair, pai — digo ao me levantar.

Caminho em direção ao barman pegando um uísque.

Carlo, o conselheiro está observando a dança das mulheres. Seus

olhos vão em minha direção quando percebe que estou do seu lado.

— Cesare, algum problema? — pergunta rapidamente.

— Deve pensar no seu casamento — aviso, bebendo um pequeno


gole. — O conselho irá começar a pressioná-lo, sabe que gosto de ter controle
na máfia Salvatore, e há uma família importante para escolher.

— Estou conversando com uma pretendente. Não irei demorar a


casar, Don — afirma. — Prezo pela união.

Claro que sim. Ousou tentar ser prometido de Isabel, mas a roubei de
você.

— Aproveite a noite — digo.

Gianluca se aproxima, há marcas de batom em seu rosto, alguns

botões da camisa estão abertos.

— Aproveite a liberdade que lhe resta, Gianluca. Alessa tem um

gênio difícil, domá-la será um desafio — comento. — Você é a fortificação


da união das nossas famílias, Alessa é uma peça importante da máfia
Salvatore.

— Cuidarei da sua prima, como prometi honrar a máfia e você, Don.

Brindamos.

— Eu sei que sim. Escolhi você para ser o subchefe porque fomos
criados da mesma maneira, há bastante semelhança, confio na sua dedicação

— asseguro. — Fomos testados para conquistar nosso cargo.

Termino a bebida.

Não demoro a sair da boate após finalizar a conversa com Gianluca,


antes do meu cunhado seguir para um lugar mais privado no segundo andar
com algumas das mulheres.

Passo pelos soldados que fazem uma breve referência.

Entro em casa ouvindo um barulho que começa a ficar alto, sigo o

som até o cômodo da sala principal.

A televisão está ligada.

Isabel está dormindo no sofá, o braço estirado no chão com o

controle em sua mão.

Pego o aparelho e desligo a televisão.


Meus braços envolvem Isabel, tirando-a do sofá. Ela se remexe

encostando a cabeça no meu peitoral.

Subo as escadas lentamente para não acordá-la, adentro o quarto e a

coloco na cama.

Uso o lençol para cobrir seu corpo.

Começo a tirar a roupa, deixando-a na poltrona do quarto.

Isabel acaba se remexendo novamente quando me deito ao seu lado.


Observo-a dormir.

Passo a mão pelo seu rosto, sua respiração está tranquila e os traços
também.

Durante cinco meses pensei como um louco no que eu faria se a


visse com outro, estava a ponto de perder o controle.

Manter em minha cabeça durante todo esse tempo que iria tê-la
novamente ao meu lado manteve minha sanidade. Contornei a situação.

Meu pai aceitou Isabel como substituta, esse foi o nome que ela
ganhou.

Mas a verdadeira história é diferente.

O sobrenome, ser conhecida oficialmente como minha.

O lugar na máfia Salvatore, como esposa do próximo Don sempre


pertenceram à Isabel.
Dois meses depois...

Isabel

Estou nervosa, encaro as paredes do banheiro feminino da faculdade


apreensiva.

Não esperava ficar enjoada e não conseguir comer no jantar, a sorte


era que Cesare não estava em casa.

O retorno para a faculdade deveria ter sido normal, mas pela manhã
o enjoo voltou com força. Não comi nada extravagante ou pesado.

Estou enrolando há algum tempo aqui dentro, pedi para Ana comprar

um teste de gravidez, ela e Bella foram juntas.

Usei-as para não ter desconfiança de que era para mim. Espero que

Alessa não esteja por perto e suspeite de alguma coisa.

Ela abriria a boca para seus tios e Cesare, mesmo estando mais

próximas.
Ela é uma Salvatore. E por enquanto ninguém sabe da minha

suspeita.

Planejei engravidar há dois meses, pensei sozinha em tudo isso.

Tudo começou durante o casamento de Alessa e Gianluca.

Dois meses atrás

Durante algumas semanas pensei em diversas coisas, não consegui a


senha do cofre ou um simples rastro da investigação de Giovanna.

Cesare tem controle sobre tudo, os Salvatore têm esse poder.

Sinto que ele me esconde algo, mas preciso de algo para fazer com
que Cesare confie em mim.

E só há uma maneira de conseguir a confiança dele, uma gravidez.

Em uma noite enquanto Cesare estava tomando banho, tive essa

ideia, mesmo que modifique nossas vidas. Com isso, terei um certo poder
sobre ele, seus pais.

Uma gravidez me dará o que preciso.


Cesare deixa a mão na minha cintura enquanto entramos na igreja

juntos. Todos param para acompanhar nossos passos, vejo rostos conhecidos,

algumas amigas da minha mãe, membros de famílias mafiosas.

Ao olhar para a decoração sinto um desconforto ao ver no corredor


até o altar pétalas de rosas vermelhas.

Eu tinha marcado em algum caderno ou agenda que haveria rosas em


nosso casamento.

Cesare dizia que eu era uma rosa e que elas me pertenciam.

Paramos na primeira fileira de bancos, ele vai até o altar falar com
meu irmão.

Não consigo me sentar e ficar calma, estou inquieta.

— Filha. — Meu pai se aproxima. — Deveria estar sentada. Não

consegue ficar quieta por um momento? — indaga.

— Não gosto de casamentos, papai. Eles não são tão interessantes

quanto pensava — respondo, com cautela.

— Boa resposta, mas não o suficiente. Seu irmão e Alessa não são os

principais, Cesare e você tem um lugar que ganha atenção de todos — avisa.
— Honre o seu lugar.

Honrar ou abrir as pernas para Cesare? Essa foi sua ordem.

Não controlo minha raiva. Olho para o outro lado e encontro mamãe,

sua pele parece recuperada dos hematomas. Mas não há como esquecer.

— Deve lembrar que não é mais permitido espancar e muito menos


bater em uma mulher. É uma regra — reforço, ao ver o olhar perigoso em

seus olhos.

— Você é a minha cópia fiel, Isabel. Cuidado com o que há dentro


de você, repudia tanto como sou, mas está em seu sangue, não há como

remover — reitera ao se retirar.

Sento-me no meu lugar. Estragar esse casamento não está em meus


planos.

Levanto a cabeça no momento que Cesare volta e se senta ao meu


lado.

— Está inquieta por qual motivo? — sonda, fazendo-me encará-lo.

Cruzo as pernas rapidamente.

— Gosto de casamentos rápidos, sua prima está demorando.

A mão de Cesare captura minha coxa e fica ali.

Essas rosas e o toque dele, lembram-me quando estava em seus

braços.
— Está em uma igreja, Cesare. Deveria tirar a sua mão daqui —

aviso, encarando-o.

— Somos marido e mulher, além de que, não importo com a opinião

de ninguém e muito menos do padre — rebate, apertando minha pele exposta


no vestido curto.

Reviro os olhos.

— Diga-me o que você tem, a verdade — exige, ao aproximar o


rosto do meu.

— Nada de mais.

— Prove — persiste.

Olho no fundo de seus olhos, aproximo-me e deixo um leve beijo em


seus lábios.

Sua mão continua no lugar, só que ela acaricia minha coxa.

— Satisfeito? — pergunto, olhando para o altar.

— Você acredita nas próprias palavras? — rebate, com deboche. —

Eu sempre descubro a verdade, Isabel. Não adianta escondê-la em seu

interior, sabe que eu sinto o cheiro de mentira — diz perto da minha orelha.

A marcha nupcial é iniciada, todos ficamos em pé para receber

Alessa Salvatore.

Ela entra ao lado de Marco. O véu cobre seu rosto.


Uma foto é tirada desse momento.

Em suas mãos há um buquê de rosas.

Marco caminha com confiança, levando-a para o altar até o meu

irmão.

Ao receber Alessa, Gianluca tira o véu.

Nesse instante, a foto que encontrei nas coisas de Cesare volta a


assombrar minha mente.

Nossa troca de olhares.

Engulo em seco. Sentamo-nos novamente, no mesmo instante a mão


dele volta para o lugar onde estava. Cesare está me testando e sondando,
enquanto acaricia minha coxa.

Dando para a minha pele desejo, a vontade de sentir suas mãos por
todo o meu corpo.

Rapidamente olho para ele e o vejo acompanhando a celebração.

Mas eu sei que sua atenção está em meus movimentos, atento a cada

respiração.

A festa de casamento está sendo realizada na mansão dos tios de


Alessa, obviamente ela iria aceitar o desejo de Greta.

Muitas presenças importantes fazem questão de prestigiar o subchefe

da máfia Salvatore em seu casamento com uma integrante importante.

As duas famílias sempre estiveram atrás do poder. E com uma união

não seria diferente.

Os dois lados estão beneficiados.

— Vou ao banheiro — aviso para Cesare, antes de me retirar de uma


conversa chata dele com outros homens importantes.

Sorrio para alguns convidados, em um segundo subo as escadas da


mansão.

Não encontro ninguém no corredor.

Acredito estar sozinha quando adentro o banheiro, depois de usar,


encontro uma senhora bem-vestida, com um longo vestido vermelho.

Ela tira a atenção do espelho para olhar para mim.

Não a reconheço de imediato.

— Isabel! A pequena bebê de cabelos escuros e olhos azuis que

ajudei a trazer ao mundo. Hoje está casada com nosso Don, Cesare Salvatore,

é muito bom vê-la — revela, ao secar as mãos.

— Você realizou o meu nascimento? — pergunto, surpresa.


— De Giovanna também. Lamento pelo que ocorreu com ela. —

Pega em minha mão.

— Obrigada, Giovanna sempre será lembrada por todos.

— Com certeza, ela sempre fará parte de você. E como está o


casamento? — pergunta, atenciosa.

— Está ótimo.

— Sua irmã deve estar feliz que você continuará a missão dela.
Cesare não poderia ficar sem uma esposa, e você parece ser uma mulher de
fibra e bastante inteligente — elogia.

— Obrigada, encaro isso como uma missão, continuar pela


Giovanna. Afinal, ela seria a esposa do Don — afirmo, com um leve sorriso.

— E você conseguirá, tenha certeza.

Assinto.

Eu preciso buscar vingança pela minha irmã.

— Eu queria aproveitar esse encontro para perguntar algo, é uma

surpresa que eu planejo fazer para o meu marido — explico.

Ela sorri.

— Pode perguntar, querida.

— Quero realizar meu desejo que é engravidar, mas gostaria de


saber sobre o período fértil, quando ele começa? — questiono.

Encontrá-la foi uma verdadeira obra do destino.

Marcar com uma ginecologista seria arriscado demais.

Cesare é muito esperto.

— Quando foi a última vez que você menstruou? Ou ela ainda vai

vir?

— Ela parou antes de ontem.

— Anda tomando anticoncepcional?

— Não.

— Ótimo, o período fértil se inicia cinco dias depois da


menstruação. A chance de você engravidar durante esses dias é muito maior e
quase infalível — afirma.

— Obrigada — agradeço. — Estava muito confusa.

— Uma gravidez é maravilhosa. Todos os líderes da máfia gostam

bastante, tenho certeza de que o Don amará quando receber a notícia.

— Será uma surpresa que pretendo fazer — explico.

— Guardarei segredo, desejo sorte, Isabel.

Saímos do banheiro terminando a conversa.

Despeço-me dela voltando para o primeiro andar, ao pisar no último


degrau encontro Cesare.

— O que estava fazendo com ela? — sonda, arqueando uma

sobrancelha.

— Ela me reconheceu, ajudou minha mãe com o meu nascimento e

da minha irmã. Estávamos falando sobre Giovanna, não posso cumprimentar


as pessoas? — pergunto, seguindo-o

— Deve — diz, pegando na minha cintura. — A sua demora na


conversa é suspeita.

— Estávamos no banheiro, e começamos a conversar, não pensei


que demorei muito — reforço.

Alessa e meu irmão estão dançando no centro do salão. Marco está


com Greta.

E Cesare me conduz até o centro.

— Dançar? — pergunto para ele.

— É uma tradição — responde, ao pousar uma mão na minha

cintura.

Seguro a sua outra mão e iniciamos a dança.

— Na ausência de Gianluca quem o ajudará? — pergunto, curiosa.

— Seu pai. A lua de mel será de três dias na Espanha, um presente


de Ramires — revela. — Por que a pergunta?
— Acredito que não estará em casa hoje pelo resto do dia, não é?

— Estarei em casa, irei trabalhar no escritório.

— Ótimo, planejei me bronzear durante o restante da tarde, apenas

irei cobrir a parte íntima e os seios com uma toalha. Já que está em casa,
posso fazer, estará atento — comento, encarando seus olhos.

— Quero acompanhar isso de perto. Não ficará muito tempo no sol,


não quero que fique doente para tentar ficar bronzeada — avisa. — E muito
menos nua na área da piscina.

— Prometo, você estando ao meu lado consigo ficar mais segura —


afirmo, com um leve sorriso.

O momento perfeito para ficarmos juntos.

— Quer tirar a roupa para mim, Isabel? — sonda com a voz rouca.

— Talvez.

Continuamos a dança por mais alguns minutos.

Na minha cabeça, começo a traçar essa ideia de aproveitar o sol e

chamar atenção dele.

Cesare vai me acompanhar.

Estarei debaixo dele, sentindo-o dentro de mim.


Dias atuais

Uma batida à porta do banheiro me desperta.

— Isabel — chama Bella.

Abro a porta e as meninas entram com a sacola da farmácia.

— Comprei três testes — explica Ana. — Para ter certeza.

— Dois já bastava, mas ela insistiu em comprar mais um — Bella


nega, rindo.

— Obrigada, meninas. Alguém viu vocês? Alessa? — pergunto,

preocupada.

— Ela estava com alguns colegas da nossa turma. Mas coloquei a

sacola na minha mochila, então fique tranquila — assegura Bella.

— Faz o teste, não temos muito tempo para a primeira aula — Ana

avisa. — Além do banheiro não ser nosso, querida.

— Qualquer coisa enrolem quem entrar — peço, pegando a sacola.


Entro em uma das cabines, bastante nervosa, opto por fazer dois

testes.

Para ter total certeza.

Sinto o coração acelerado, quase saindo pela boca.

Antes de sermos surpreendidas pelos homens que Cesare colocou na


faculdade, guardo os testes na embalagem, colocando na mochila, deixo o

banheiro com as meninas e sigo diretamente para sala.

Largo a mochila em cima da mesa.

— Isabel, você não pensa que vai enrolar nós duas até o fim das
aulas? — protesta Ana, puxando o meu cabelo.

— Ajudamos você e somos boas amigas — Bella rebate.

Dou risada. Viro-me para elas que olham para mim na expectativa

da resposta.

— Vou olhar agora, joguei na mochila e não tive coragem de ver no


banheiro — explico.

Abro a mochila e olho para os dois testes de gravidez.

Resultado: " 3+".


Olho para elas.

— Mais de três semanas.

— Você está grávida, amiga — diz Bella, boquiaberta.

— Não acredito! — comenta Ana, sorrindo

— Segurem a ansiedade, tenho que contar para a minha mãe

primeiro. E depois preciso falar com o meu marido — explico.

Essa gravidez é o que eu queria. Conseguir isso tem um sabor

maravilhoso.

Cuidadosamente, desço uma mão até a minha barriga e a deixo ali.

Os Salvatore não esperam por isso, primeira vez que acontece algo
sem o controle deles.

Uma criança com o sangue Garzelli e Salvatore.

As meninas e eu estamos saindo da sala para o intervalo.

Ainda estou assimilando, com dúvidas de como será.

Como vou contar para Cesare que estou grávida, imaginando como

será a reação dele e de sua família.


Como vão reagir ao saber que teremos mais um Salvatore. Um

planejado por mim e não por eles.

Envio uma mensagem para mamãe pedindo para ir à mansão, quero

compartilhar com ela sobre a gravidez.

— Será que é um menino ou menina? — Bella pergunta baixo.

— Quero uma menina — comento. — Quando era pequena eu


andava com uma boneca dizendo que seria minha filha. Minha irmã e eu
pensávamos em ter filhas — lembro.

— Giovanna está olhando as duas — garante Ana.

— Eu sei.

Coloco o pé na escada, ao mesmo tempo sinto uma tontura forte e


um enjoo horrível.

Ao descer o degrau acabo me desequilibrando, rolando escada


abaixo, escuto os gritos de Ana, Bella e Alessa, passos apressados, conversas
ao meu redor.

Fecho os olhos sentindo muita dor no meu baixo-ventre.

Cesare
— Como que isso aconteceu? — rosno ao celular.

— Cesare, ela estava saindo para o intervalo e se desequilibrou. Os


soldados que você colocou aqui não ajudaram em nada, poderiam ter a

impedido que rolasse um lance de escada — diz Alessa.

— Estou chegando ao hospital — informo ao desligar.

Aperto o volante com força. Se algo acontecer com Isabel irei tirar a
vida de todos aqueles que deveriam estar cuidando dela naquela faculdade.

A raiva transborda do meu corpo.

Estaciono em frente ao hospital.

Caminho até a recepção e consigo informações para qual andar a


levaram.

Entro no elevador irritado, aperto o botão do quinto andar várias


vezes.

As portas se abrem.

Alessa está sentada enquanto olha uma revista.

Os soldados que deixei na faculdade em pé, os dois fazem uma


referência quando notam a minha presença.

Vou até eles com a vontade de pegar minha arma e atirar nos dois.

— Quero os dois fora daqui. Gianluca está esperando ambos na


mansão, vão pagar alto por esse erro — sentencio.

Eles se retiram.

Encaro minha prima.

— Quero saber onde está a minha mulher! — Aumento o tom. —

Alguma notícia?

— Acabei de perguntar a uma enfermeira o estado dela, mas


somente me falaram que não tinham nada concreto ainda — explica

— Como assim nada concreto? — rosno sem paciência

— Não estamos em um hospital da máfia, Cesare. Deve tomar


cuidado — lembra.

— Deveria ter mandado ela para um dos nossos hospitais. E não para
esse lugar! — reclamo, impaciente.

— Senhora Salvatore? — Uma voz surge atrás de nós.

Alessa se levanta.

— Sou eu, pedi informações sobre Isabel Salvatore — explica. —


Esse é meu primo, o marido dela, Cesare Salvatore.

— O estado dela, quero falar com o médico responsável — aviso.

— A paciente está passando por exames que mostraram com clareza

se ela lesionou algum órgão. Peço um pouco de paciência...


— Eu não vou esperar, pago o que for para que minha esposa esteja

bem. Quero que esses exames estejam com o médico o mais rápido possível!
— reitero, em uma ameaça.

— Claro, senhor. Vou tentar agilizar, mas peço que fiquem


tranquilos — pede ao sair.

— Vai assustar os funcionários — repreende Alessa. — Vamos


esperar.

Meu celular vibra, vejo que é meu pai.

— Atenda o celular, Alessa, explique o que aconteceu e diga para


não me ligarem mais até eu retornar — mando, entregando para ela.

Sento-me em uma das cadeiras, enquanto a irritação percorre cada


parte do meu corpo.

Espero que não testem a minha paciência.

Quero Isabel inteira sem faltar um fio de cabelo.

Uma hora sem respostas até que uma enfermeira vem até a sala de

espera.

Deixo Alessa sozinha e sigo a funcionária até a sala onde Isabel está.
Ela se retira.

Antes de abrir a porta, acabei ouvindo a voz da minha esposa.

— O bebê está bem, doutor? Aconteceu alguma coisa?

Abro a porta imediatamente.

O médico e ela olham para mim.

— Cesare Salvatore, marido dela — digo ao doutor. — Que bebê?


— indago, arqueando uma sobrancelha.

— Sua esposa está com oito semanas de gestação, senhor Salvatore.


A queda acabou causando um deslocamento na placenta, como está no
começo, o feto ainda é muito pequeno, não teve graves complicações, mas
terá que ficar de repouso durante dois meses pelo bem do bebê — explica.

— Ela ficará de repouso — asseguro.

— Voltarei para passar uma medicação para as dores, ela ficará em


observação essa noite e amanhã receberá alta — orienta, ao se retirar.

Quando estou sozinho com ela, aproximo-me.

— Por que não contou? — exijo.

— Estava passando mal hoje na faculdade. Fiz o teste lá, mas acabei
caindo da escada com tontura, foi muito rápido — explica. — Não iria

esconder, planejei chamar minha mãe para a mansão.


— Esqueça a faculdade, não vou arriscar a vida do meu filho por

causa de um capricho! — aviso.

— Você não pode fazer isso, Cesare! — rebate, irritada.

Coloco a mão na barriga dela, a sensação é nova.

Essa criança tem o nosso sangue, é uma parte de ambos.

— Não está carregando um filho apenas seu, é meu também. E eu


não vou arriscar a vida desse bebê, esqueça aquela faculdade de uma vez —
reforço.

Afasto-me vendo sua raiva aumentar.

— Saia desse quarto. Pode voltar para a empresa, não quero ver a
sua cara — rebate, nervosa.

— Vai ficar essa noite no hospital, não a deixarei com os soldados


ou Alessa. Fique calma, se não quiser ficar mais dias nesse quarto — sugiro.
— Vou aproveitar que não estaremos em casa para as empregadas arrumarem
um quarto para nós no primeiro andar — aviso, ao pegar o celular.

— Que ódio — rosna.

Faço a ligação enquanto meus olhos ficam fixos nela.

Isabel passa a mão na barriga, alisando o local enquanto olha.

Sua gravidez foi uma surpresa. Pensei que Isabel iria demorar a
pensar em ter um filho.
Mas agora que recebi a notícia não consigo parar de encarar seu

ventre, imaginar como será essa criança.

Isabel acaba dormindo depois de tomar a medicação, aviso para

Alessa ir para casa.

Gianluca está com o controle da empresa e dos demais assuntos


enquanto estou no hospital.

Sento-me na poltrona ao lado da cama, observando-a dormir, seguro


sua mão encarando a aliança que entreguei.

Trago para a minha boca deixando meus lábios em sua pele, noto

que sua respiração está tranquila.

Serei pai, meu primeiro filho está crescendo na barriga da minha

mulher, aquela que sempre foi minha.

Observo a janela, a noite escurece o quarto. O silêncio predomina o

lugar.
Isabel

Após passar a noite em observação, volto para casa pela manhã,


eram nove horas, quando deixei o hospital em uma cadeira de rodas.

Cesare instrui o motorista para que não corra.

O médico foi incisivo que preciso estar em repouso absoluto por dois
meses.

O fato de ficar presa dentro de casa só me deixa ainda mais irritada.

Estou tentando me manter calma, para não precisar voltar ao

hospital, devo aceitar que a minha recuperação é importante pela vida do meu
bebê e a minha.

Observo meu marido ao celular, certamente com meu irmão.

Cesare está com um pouco de olheiras.

Não lembro de tê-lo visto dormir enquanto estive no hospital.

Minha casa surge depois de longos segundos parados no trânsito de


uma sexta-feira nas movimentadas ruas de Roma.
Saio do carro sendo carregada por Cesare, estou irritada com o fato

de que preciso depender dele até para andar.

As empregadas estão de prontidão para me receber com sorrisos


entusiasmados, a novidade da gravidez não é mais uma surpresa.

Passamos pelo corredor e entramos na segunda porta, onde um


quarto improvisado foi organizado, pois não posso subir escadas, entre outras
recomendações médicas.

Cesare me deixa sentada na cama, ele logo se retira do local.

Certamente deve sair. Encaro o closet nude e vejo que as nossas


roupas já estão organizadas como costumo deixar.

Não posso ficar abaixando, pegar peso e nem ter relações sexuais.

Essa queda acabou causando problemas maiores, não posso mexer e

dar continuidade em respostas para o meu propósito.

Isso me destrói. Devasta.

Olho para o quarto, encarando-o como uma gaiola para esse tempo
sem fazer esforços.

O celular vibra ao meu lado, atendo-o rápido ao ver que é minha


mãe.

— Isabel, graças a Deus! Como você está, filha? — O desespero em


sua voz me tira um sorriso.

— Estou bem, mamãe, acabei de chegar em casa. Porém, devo ficar


dois meses sem fazer nenhum esforço, presa nesse quarto sem poder fazer

nada. Além da faculdade, que vou precisar pausar — desabafo, frustrada.

— Você está viva, isso é o mais importante de tudo. Soube da


notícia maravilhosa, filha, fiquei bastante surpresa com a sua gravidez, mas
estou tão feliz, quero te ver ainda hoje — declara.

Toco a minha barriga.

— Queria passar por essa experiência, foi uma surpresa. Fiquei


bastante aliviada que não perdi, estou com dois meses, é muito recente.

— Precisa descansar, Isabel. A placenta é algo delicado e


importante. Vou conversar com Cesare e pedir que me deixei te ajudar

durante esse tempo — sugere.

— Quero que você fique comigo, mãe, só de imaginar ficar sozinha

olhando para as paredes do quarto já fico nervosa — aviso.

— Falei com seu pai. Ele não vai se importar, estava preocupado
com a sua queda, mas Cesare disse que daria notícias depois.

Meu marido já deve ter saído.


— Acho que Cesare deve ter saído. Certamente, vai passar para

Marco e o papai tudo o que o médico orientou — reforço. — Vou desligar,


mãe.

— Qualquer coisa ligue, vou fazer uma oração para você e a sua
recuperação — despede-se, finalizando a ligação.

Deixo o celular na mesinha ao lado da cama.

Encaro o vestido azul-marinho que estou usando.

O silêncio começa a me irritar. Cesare saiu sem falar comigo.

Vou ficar largada dentro desse quarto, respiro fundo tentando não
me estressar.

Ouço passos no corredor, penso que é a empregada para saber se


preciso de alguma coisa, mas é meu marido que entra no quarto.

— Seu pai estava falando comigo sobre Stella ficar com você
enquanto estou fora — informa.

Fico surpresa de ele não ter ido para a empresa.

— Seria ótimo, não quero ficar sozinha — respondo. — Pensei que

tinha ido para a empresa — digo, torcendo que ele não tenha vindo somente
avisar da minha mãe.

— Gianluca está como responsável hoje. Vou resolver os assuntos


de casa, tenho uma reunião no fim da tarde — avisa, tirando o paletó. —
Amanhã sua mãe começa a vir te ajudar.

— Obrigada.

— Conheço você muito bem para saber que não ficará quieta

estando sozinha em casa.

Ele sobe na cama, sentando-se perto da cabeceira.

— Venha aqui — chama.

Não penso duas vezes e me ajeito deitando a cabeça em seu ombro,


ele deixa uma mão na minha cintura.

— Deve começar a pensar no quarto e nas coisas para o bebê. Já tem


alguma ideia? — pergunta chamando minha atenção.

— Vou começar mais tarde a pesquisar sobre os móveis e o berço —


respondo, olhando em seus olhos.

— Compre o que quiser — autoriza. — Vou marcar o seu


acompanhamento com uma médica de confiança, quero saber o sexo logo.

— E se for uma menina? — pergunto.

Cesare havia me contado sobre sua mãe, sobre ela ter engravidado

de uma menina que seu marido não queria, por isso Marco a faz abortar.

Muitos homens querem apenas filhos homens.

— Por que a pergunta? — questiona, passando a mão na minha


cintura.

— Curiosidade.

— Se pensa que vou mandar tirar se for uma menina, está errada. —
O tom de sua voz é sério. — Essa criança é uma parte dos dois, Isabel.

— Perguntei porque a maioria dos homens não deseja e muito menos


fica com meninas. Seu pai exigiu que Greta abortasse — lembro.

— Foda-se o que meu pai fez. Quem escolhe e decide por todos
nessa máfia sou eu — reforça. — Tire essas ideias fantasiosas da cabeça.

— Mesmo que você tivesse respondido que não iria querer, eu não
faria. Sou a mãe, tenho o direito de escolhas para o bem desse bebê — rebato.

Volto a encarar seus olhos.

Permito-me por agora não pensar em mais nada, ou ninguém.

Cesare tira alguns fios de cabelo do meu rosto.

— Anos atrás você me prometeu um filho — lembra.

Engulo em seco.

— Uma promessa que poderia não ter acontecido — comento. —

Mas estou grávida de um filho seu.

— Eu encontraria uma forma de cobrar, Isabel — afirma.

Cesare toma meus lábios em um beijo lento, correspondo exigindo


mais.

Sentindo sua boca contra a minha.

— Precisa comer — diz com a boca no meu queixo, passando os


lábios na minha pele.

Indo até o pescoço.

Fecho os olhos sentindo as carícias causarem arrepios.

— Estou com desejo de comer um doce — revelo.

— Talvez possa ganhar — barganha olhando para mim. — Se ficar


quieta.

Acabei dormindo depois do almoço.

Abro os olhos e vejo o filme que está passando na televisão.

Sento-me com cuidado, encostando as costas nos travesseiros.

Uma batida à porta, em seguida a voz da empregada me deixa

curiosa.

O desejo de comer um doce é tão grande que estou com água na

boca.
— Senhora?

— Pode entrar — autorizo.

A funcionária entra com uma bandeja, colocando-a na cama.

— Com licença — diz ao se retirar.

Estou boquiaberta quando vejo que Cesare pediu para preparar um

doce que quando pequena era o meu favorito, junto a sobremesa há uma rosa.

Pego sentindo o perfume, passo o dedo nas pétalas.

Ele pediu para que fosse entregue junto ao Bomboloni, um doce que
minha avó fazia bastante.

Uma lágrima escorre pelo meu rosto. Faz tanto tempo que Cesare
não me dá uma rosa.

Mordo minha sobremesa sentindo o açúcar e o recheio de chocolate,


ingredientes que vovó dizia ser os principais.

Passo a língua entre os lábios, saboreando cada pedacinho.

Olho a rosa novamente, à medida que me lembro da promessa que


fiz para Cesare.

Quando eu tinha dezessete anos e ele dezenove.


Vovó está na cozinha preparando Bomboloni com ajuda de

Giovanna.

Meus pais saíram com Gianluca para o cassino.

Estou há alguns dias sem ver Cesare, desde que o treinamento dele
foi iniciado, não consigo ter a oportunidade de vê-lo com tanta frequência.
Entretanto, recebi uma mensagem dele para me encontrar no jardim.

Está chovendo forte. Os raios iluminam a mansão.

Opto por colocar um sobretudo preto e arriscar pegar chuva apenas


para encarar os olhos traiçoeiros dele.

Saio do quarto descendo as escadas devagar, para não chamar a


atenção.

Corro até a porta principal e abro, caminho até o jardim localizado


na lateral da casa.

Cesare se aproxima quando me vê, vejo que também usa um


sobretudo parecido com o meu.

As árvores e os arbustos respingam água em ambos.

— Você anda muito ocupado — pontuo.


— O treinamento é uma resistência, tudo em mim é testado. Mas

ficar sem vê-la é algo que não consigo absorver, Isabel — diz, pegando uma
das rosas.

Cesare olha-a, conferindo se não há espinhos.

— Será que você não irá escolher apenas a máfia quando se tornar

Don? Não tenho como afastar pensamentos e ideias a respeito — questiono.


— Ser um líder é o que você mais almeja.

— Está com medo? — provoca ao se aproximar, uma das mãos


segura a minha cintura. — Ser líder e ter você como esposa é a minha maior
pretensão. Já te fiz várias promessas, amor, e agora quero escutar uma da sua
boca — pede, entregando a rosa.

Recebo a flor, passo os dedos nas pétalas. Cesare nunca me deu uma
com espinhos.

— O que posso te prometer? Você afirmou que iremos nos casar —


indago, deixando as mãos nas costas dele.

Olhamos ao redor atentos a qualquer movimento, ninguém sabe

sobre nós dois.

A máfia tem suas regras. E nossos pais a seguem com fervor.

— Prometa algo pra mim — reforça, apertando minha cintura.

Penso na vida que teremos juntos. Olho em seus olhos, bem no


fundo.

— Prometo te dar um filho, Cesare — digo em meio ao temporal.

A chuva respinga em nós dois.

— Você me dará um filho assim que se tornar a minha esposa —


reitera, olhando em meus olhos.

— Sim — asseguro diante da boca dele.

Nós nos beijamos intensamente, meu corpo colado ao seu.

Sinto os lábios exigentes e sedentos, ao passo que aliso suas costas,


segurando ainda a rosa.

A boca dele consome a minha, ambos estamos ofegantes.

Mas damos continuidade.

Senti tanta a sua falta. Cesare é e sempre será a única certeza na


minha vida.

Dias atuais

Aquela promessa era de uma adolescente com uma caneta na mão.

Desenhei meus planos, planejei com antecedência cada passo da


minha vida.

Só não esperava que o acaso ou o destino destruíssem com um sopro

a ideia de que Cesare e eu iríamos ficar juntos. Eu seria sua escolhida.

Respiro fundo.

As circunstâncias dessa união foram após a morte da Giovanna, a


minha irmã, eu a perdi.

Ao mesmo tempo optei por usar essa gravidez para ganhar a


confiança de Cesare.

Estou me perdendo entre sentimentos controversos.


Três meses depois…

Acordei com uma dor de cabeça, talvez seja nervosismo.

Hoje é o dia que saberemos o sexo do bebê, além de escutar o


coração.

Minha barriga cresceu, encaro o espelho do quarto, contemplando a


ondulação.

Com dois meses não parecia que estava grávida, agora ela é visível.

Algumas das minhas roupas já não servem mais.

Não gosto de apertar a barriga, então tive que organizar novas

roupas.

Ando até o closet, não consigo descrever o quão bom é poder andar,

descer as escadas e tomar banho sem precisar de ajuda.

Os dois meses de repouso foram difíceis, mamãe foi essencial na

minha recuperação.

Ela é paciente, diferente de mim.


Enquanto observo as peças, passo uma mão na barriga.

Cesare deve chegar em minutos para me acompanhar na consulta


médica. Apesar de a mamãe se oferecer para ir. É ele quem vai sempre.

Ao chegarmos à recepção, somos cumprimentados pela


recepcionista, que nos oferece água ou café enquanto esperamos.

Observo uma outra mulher grávida, a barriga muito maior que a

minha, certamente deve estar com mais de sete meses.

Acompanhada também pelo marido, que não parece se importar com


ela, não a encara.

Apenas observa o celular. Quando o nome dela é chamado, ele sai na


frente, deixando-a para trás.

Fico com tanta raiva, parece que está acontecendo comigo. Não

consigo explicar minhas emoções.

Durante a gravidez tenho ficado mais frágil, nervosa e pensativa.

A doutora Angela, que me ajudou sobre a dúvida no período fértil

está fazendo o acompanhamento da minha gravidez. Ela já disse para mamãe,


já que Cesare estava viajando na consulta passada, que faz parte dos
hormônios afetar o emocional.

Porém, eu não consigo ficar tranquila.

— Posso saber por que está apertando o sofá como se fosse rasgar?
— pergunta meu marido enquanto guarda o celular no bolso.

Ele está diante de mim.

— Não quero esperar muito — respondo rapidamente.

— Você é a próxima — diz, sentando-se ao meu lado.

A mão dele pousa na minha barriga.

Cesare de uma certa forma consegue tirar essa tensão e estresse.

Ele acaricia a ondulação da minha barriga por cima do vestido


longo.

O inverno acaba de chegar na Itália. As temperaturas andam caindo


drasticamente.

— Isabel Salvatore — chama a recepcionista. — A doutora Angela

está esperando.

Cesare e eu levantamos, em seguida caminhamos pelo corredor em

direção à última sala.

A doutora abre a porta para nos receber com um sorriso.

— Senhor Salvatore, Isabel, hoje é um dia especial — diz,


entusiasmada.

Deito-me a cabeça na maca, os meus cabelos estão espalhados e a


barriga está totalmente exposta.

Engulo em seco. Não sei explicar o misto de sentimentos nesse


momento.

Cesare está ao meu lado olhando para o painel.

— Palpites? — pergunta Angela, olhando para ele e depois para


mim.

— Não fiz — responde meu marido. — Gosto de ter certeza e não


fazer suposições.

Reviro os olhos. Ele não aceita perder ou errar.

— Acho que será uma menina — afirmo.

Angela sorri.

— Pensamentos bem opostos, bom, agora iremos ter uma resposta.

O aparelho desliza pela minha barriga.

A imagem do bebê dentro de mim surge. Sinto o coração acelerar.


— O bebê está em uma boa posição para sabermos o sexo. Alguns

não ajudam — informa, passando o aparelho em um local específico.

Observo a imagem.

— Ela já tem nome? — a pergunta de Angela me deixa em choque.

— É uma menina? — pergunto sem acreditar.

— Você terá uma menina, Isabel. Meus parabéns aos dois, agora
iremos ouvir o coração dela — avisa.

Em segundos, escuto o coração da bebê, sinto meu corpo paralisar.

— Uma menina com um coração forte e saudável. O repouso foi


cumprido conforme o que combinamos.

Uma lágrima grossa escorre pela minha bochecha.

O som do coração dela é a ausência do caos. É como se não existisse


nada ou ninguém.

Apenas a minha filha.

Entro no carro segurando a pasta com as imagens do ultrassom dela.

Levo uma mão na cabeça ao sentar no banco, estou tão nervosa,


perdida na cena de minutos atrás, acabei nem percebendo a reação de Cesare.

Ao sentar e fechar a porta do outro lado do veículo, seus olhos me

estudam percebendo que ainda estou com aquela dor.

— No fundo, suspeitei que fosse uma menina — ele diz, trazendo-

me para seu colo.

Poderia recusar. Mas eu quero ficar com ele, portanto, sento-me

deixando os braços em torno do pescoço dele.

— Como? — pergunto olhando em seus olhos.

— Você anda mais sensível e nervosa, Isabel.

Aperto os olhos.

— Não consigo ficar calma — rebato. — Estava tão concentrada em


ouvir o coração dela que nem percebi sua reação.

— Eu já tinha certeza de que era — responde, convencido.

A mão dele fica em cima da minha barriga e a outra na cintura.

— Já tenho um nome para ela.

— Qual? — indago, curiosa.

— Hope.

Olho em seus olhos.

Confesso que fiquei receosa de Cesare não gostar caso fosse uma
menina, que a rejeitasse.

O nome escolhido por ele é lindo.

— Será o nome dela — afirmo. — Eu gostei.

— Nossa filha — diz entre meus lábios.

Beijo Cesare com intensidade, como há muito tempo não fazia.

Ele aprofunda querendo mais da minha boca, e dou o que ele quer.

Porque de uma certa forma somos uma droga, dependentes um do


outro.

Depois da consulta, aquela dor de cabeça finalmente passou. Entro

em casa sozinha.

Cesare vai receber um poderoso líder de cartel mexicano na


empresa.

Para as compras de armas e drogas, o México lidera o narcotráfico


há muitos anos. A aliança entre os países é vantajosa e extremamente

importante para ambos.

Subo as escadas devagar.


Entro no quarto, deixando a bolsa branca com o pompom rosa na

cama, retiro o celular para enviar mensagem para Bella e Ana.

Apesar de ter trancado a faculdade, continuamos mantendo contato,

elas estavam ansiosas pelo exame e me deixaram também.

Retiro algumas imagens do ultrassom para mandar para elas. Iria

tirar mais uma, quando sinto um chute na barriga. Largo o celular sobre a
cama.

Coloco uma mão no local onde senti, novamente um chute da bebê.

Fico sem reação e aliso o local, é a primeira vez que ela mexe.

— Filha — digo, deixando algumas lágrimas grossas caírem. —


Mamãe tá aqui com você, sentindo seus chutes.

Queria ficar assim a tarde inteira.

Não consigo encontrar palavras para descrever a sensação.

Quero tanto ver o rostinho dela, segurar nos meus braços e proteger

com a minha vida.

Por um instante me lembro de que planejei engravidar para usar essa

criança e ganhar a confiança de Cesare.

Essa maldita lembrança me assombra, não consigo usar a minha

filha para isso.

Saber que há alguém crescendo dentro de mim é algo único.


Sentir a Hope nesse momento é a melhor sensação de toda a minha

vida.

Deito-me na cama e fecho os olhos com força.

— Giovanna, me perdoe. Queria que você estivesse aqui e


acompanhasse a gravidez da sua sobrinha — digo, sentindo aquela dor no

peito esmagadora.

Nada vai superar a perda da minha irmã.

Jurei com tanto ódio destruir Cesare de diversas formas pela ousadia
dele em casar comigo, após Giovanna morrer.

Em certos momentos penso em matá-lo, vingar essa dor devastadora.

Mas quando olho nos olhos dele, só consigo pensar em nossas


promessas.

Engravidar me faz pensar mais em nós dois.

Prefiro acreditar que Cesare não teve culpa em nada do que

aconteceu com ela.

Mamãe é a primeira a chegar.

Com a notícia do resultado do exame, acabei falando com ela sobre


doar as roupas que havia comprado e ganhado caso fosse um menino.

— Filha, estou tão feliz que será uma menina. — Mamãe se

aproxima tocando minha barriga exposta.

Troquei de roupa e coloquei um cropped de manga comprida e uma

calça moletom.

— A gravidez está te fazendo tão bem, Isabel — afirma.

— Vou te mostrar os exames do ultrassom. Ouvi o coração dela e,


mãe, senti o primeiro chute agora mais cedo — conto, sorrindo.

— É o início da melhor fase. Sentir chutar, ouvir o coração, você


chutou mais cedo, Giovanna era mais quieta — revela.

— Cesare escolheu o nome, ela vai se chamar Hope — informo.

— É lindo — mamãe diz.

Nossa conversa é interrompida.

Greta e Alessa entram em casa, minha sogra na frente olhando para

minha barriga fixamente.

— Uma Salvatore está em seu ventre. Pensei que meu filho ia

mandar tirar, mulheres não eram aceitas na família, somente homens — a

matriarca dá ênfase.

Seu tom é amargo. Alessa foi adotada. Cesare é o legítimo herdeiro.


— Vou ter essa bebê, Greta. Mesmo que meu marido mandasse, não

tiraria — reforço.

— Não se esqueça do seu lugar, Isabel, Cesare manda em você —

rebate.

— Trouxe uma roupinha para ela — interfere Alessa. — Quero ver

os exames, Isabel.

— Vou mostrar, obrigada, Alessa. — Pego a sacola, deixando-a na


mesinha.

Ignoro o comentário da tia dela.

Vou até o sofá e alcanço a pasta com os exames de ultrassom.

Entrego um para minha mãe e depois Alessa, Greta deixo por último.

Ela olha meticulosamente a imagem, analisando minha filha.

— Vou levar para o Marco ver — diz, olhando para mim.

— Claro.

— Ela é tão linda. Um nascimento de uma menina nessa família é


tão raro — comenta Alessa, com um sorriso.

— Iremos acompanhar cada passo dela — interrompe Greta. —


Isabel é muito inexperiente, estarei por perto.

— Não precisa — respondo rapidamente.


— Isabel, ela tem o meu sangue. Não pense que irá privar a minha

neta do contato comigo e Marco — rebate.

— Não vou fazer isso — explico. — Porém, Hope é a minha filha, a

responsabilidade maior não pertence ao seu marido ou a você.

— Isabel precisa passar por essa experiência, Greta — diz mamãe.

— Stella, sua filha precisa entender que a minha família tem poder
sobre tudo.

— Sim, ela terá o seu sobrenome. Mas quem tem poder sobre a
Hope somos eu e Cesare, mudando o assunto tem muitas roupas de menino.

As empregadas trazem uma mala com roupas que havia separado.

— É verdade, o que você vai fazer? — pergunta Alessa vindo abrir a


mala para revelar as peças. — Tem bastante.

— Poderia guardar para uma futura gravidez — sugere minha sogra


ao se sentar no sofá.

— Vou doar para a igreja. Há mulheres com poucas condições


financeiras, guardar tanta roupa é besteira — acrescento. — O padre abriu um

projeto para arrecadar roupas e comida.

— Podemos separar, vou ligar para uma das minhas amigas para vir

pegar — avisa mamãe indo até o corredor.

Sento-me no sofá para olhar melhor as roupinhas.


— Deve pensar em preparar tudo para a chegada da sua filha e não

com caridade — alfineta Greta.

— Chame de caridade ou do que quiser. Mas sou uma mulher adulta,

dona das minhas próprias escolhas, não trabalho para você. Estou perdendo a
paciência com os seus comentários vazios, no próximo ligo para o meu

marido — ameaço.

Vejo a fúria em seus olhos.

— Tia, Isabel não pode passar por muitas emoções fortes — lembra
Alessa.

— Cale a boca, Alessa — rosna Greta. — Não há problema, Isabel,


o tempo vai lhe ensinar a ter um bom comportamento nessa máfia ou eu
mesma faço isso — rebate.

Isso é o que veremos, querida sogra.


As roupas foram levadas por duas mulheres responsáveis pelas

doações.

Pedi para servirem chá e alguns petiscos para recebê-las, e após uma
boa conversa foram embora.

Ficando apenas Alessa, Greta e minha mãe, ela está vindo da


cozinha, fiquei com vontade de tomar algo. Mamãe trouxe um suco de laranja
com gelo para mim.

— Fiz como você gosta. Veja se está bom? — pergunta, sentando-se


ao meu lado.

Tomo um gole matando a vontade.

— Perfeito, mãe, estou com vontade de comer coisas e bebidas da


infância, é impressionante — revelo.

— Não abuse do açúcar. Diabetes gestacional é prejudicial,


colesterol também — Greta interfere.

— Tenho acompanhamento com a doutora Angela, Greta, não


precisa se preocupar, aliás, ela disse que preciso engordar três quilos —
rebato, enfrentando-a.

— Não preciso da opinião de Angela, a gravidez de Cesare tomei

todo cuidado para não adquirir nada disso. A mãe de Alessa era saudável e

após a gravidez adoeceu — explica.

Vejo Alessa distante, após a tia mencionar sua mãe.

Passos são ouvidos por nós. As portas da mansão são abertas.

— Cesare, seja inteligente e ouça-me — rosna Marco. — A aliança


com um segundo cartel irá beneficiar nossa máfia.

— Essa é a sua opinião. Ela tinha valor quando você era o Don e
líder da máfia Salvatore, agora nada do que me pertence é seu — rebate meu
marido, com um tom perigoso. — Feche a sua boca.

Alessa e eu trocamos olhares.

— Ter uma quantidade de armas e drogas mais do que Ramires é


esperteza. Não ficamos abaixo ou atrás de ninguém, sempre estivemos no

topo — responde Marco, com raiva.

Cesare ri.

— Esse era o seu pensamento como líder? Mostrar quem tem mais
armas? Eu não confio em Ramires ou ninguém fora da minha máfia, mas não

preciso mostrar quem tem mais, isso é insignificante. Ele teme por saber que
inimigos não tem chance comigo, a imensidão do território italiano faz a

Espanha virar algo fácil de pisar — reitera.

Os dois entram na sala principal.

— Querido — interrompe Greta ficando em pé. — Olhe o exame da


nossa neta.

Entrega para ele, Marco olha rapidamente e se volta para Cesare.

— Essa gravidez vai continuar? Cesare ter uma filha te tornará fraco,
apenas os homens devem nascer nessa família, mande tirar essa criança —
manda.

Fico ofegante, a raiva aparece por cada palavra dita da boca desse
verme.

Cesare pega o exame das mãos do pai.

— Fraco? — indaga.

Marco aquiesce.

— Fraco!

Meu marido pega a arma na cintura, dá mais um passo e atira nos

dois ombros de Marco, que se afasta sentindo a dor.

O sangue começa a surgir na camisa social branca.

— Cesare! — repreende Greta. — Seu pai não é inimigo.


— Dois tiros no ombro e o terceiro será fatal — diz Cesare, olhando

Marco. — Você não terá mais voz na minha máfia, será igual a não ter
língua. Perderá o que mais gosta de exibir, poder, mandar, manipular todos

como bonecos — grita para que todos ouçam. — Acate minha ordem, termos
o mesmo sangue não te salva da minha ira, pai — ameaça.

Ele dá as costas para os pais, seguindo pelo corredor em direção ao


escritório.

Observo Marco com as bochechas vermelhas, ofegante.

Greta se aproxima, mas é empurrada por ele.

— Venha atrás de mim ou andará até a mansão — diz ao sair.

Ela não diz uma palavra para não contrariar o marido. Ambos saem
em silêncio.

— Preciso ir para casa — diz mamãe. — Ficará com Isabel, Alessa?

— Sim, Stella.

— Já vai embora, mãe? — pergunto.

— Preciso, filha, fiquei bastante com você — despede-se alisando

minha barriga. — Nada de estresse.

Mamãe se despede de nós e logo vai embora. Meu pai a controla.

Limpo os pensamentos olhando para Alessa.


— Quero uma bebida — pede.

— Aconteceu alguma coisa? Meu irmão é parecido com papai,


Gianluca tem um gênio difícil — pergunto, curiosa.

Ela encara a aliança, com os olhos fixos no anel que meu irmão
colocou em seu dedo.

— Estou acostumada com gênios fortes. Gianluca acaba sendo o


meu porto seguro, um que pensei que não teria — revela.

— Você olhava para ele já há muito tempo, reparei em diversos


momentos — comento. — Fico surpresa que estão se dando bem, mas me
lembro do que disse sobre o casamento ser a sua liberdade.

— Ele é, a realidade da família sempre me causou pesadelos. Assim


como a minha adoção, não gosto quando a tia Greta comenta sobre o assunto
— explica.

— Você entrou para a família Salvatore ainda pequena — digo,

tentando lembrar a idade. — Lembra dos seus pais?

— Tenho flashes, borrões de uma mulher que acredito ser minha

mãe. Tia Greta contou que elas cresceram juntas, a amizade se ampliou na
época da escola. Quando fui adotada pelos meus tios, tinha quatro anos,

pensei que eles seriam meus pais — expõe. — Não sei se fui criada por dó ou
pena, já que minha mãe teve câncer, ela ficou sozinha após engravidar sem
ter subido ao altar, iria parar em um orfanato caso meus tios não tivessem
interferido. Jamais conheci meu pai, queria que Marco e Greta tivessem esse
papel, Cesare, meu irmão, porém, não foi assim — desabafa. — O sangue é

algo muito importante, Isabel. Titia me via como uma sobrinha, não como
filha, já que jamais teria seu sangue, tio Marco pouco se importava.

— Alessa, você não precisa mais da sombra deles. O casamento é


compartilhado entre um casal, Gianluca e você vão conduzir, os Salvatore te

criaram, deram o sobrenome, mas agora você não é dependente deles —


oriento.

— Temo que em algum momento eu perca o controle. Estou


acostumada com regras e obediência, não desapontar nenhum dos dois — diz,
olhando em meus olhos. — Não se esqueça que Cesare é um Salvatore, sua
filha terá o sangue que tanto repudia. Não acredito que nós duas poderemos
ser livres, a sombra desse sobrenome está conosco, a garra paira sobre nossas

cabeças, Isabel — alerta em um sussurro.

Após a nossa troca de confidências, Alessa vai embora.

Cesare não saiu do escritório.


Decido ficar no quarto, após a doação de roupas preciso arrumar um

espaço no closet para as peças da Hope. Suas roupas são pequenas e


delicadas.

Abro espaço para colocar os cobertores que comprei há algum


tempo.

Já está anoitecendo e eu ainda estou organizando os macacões da


bebê, quando vejo Cesare entrar no quarto.

Paro o que estou fazendo e o observo se sentar na cama de costas


para mim.

Segurando um copo de uísque, sorvendo o líquido, ele está apenas


com a calça social preta.

Seus músculos estão expostos.

Decido ir até ele, deixo minhas mãos em suas costas.

— Você parece tenso — comento, ao alisar a pele exposta.

— Não costumo lidar bem com a raiva e a fúria, apesar de ter sido
treinado para absorver — responde, deixando o copo vazio na mesa ao lado

da cama.

A reação dele não me deu medo, jamais dará.

Presenciei momentos em que Cesare estava com raiva e ódio,


enxergando apenas através de sentimentos ruins.
O que temos em comum é explodir essa raiva como uma bomba.

— Eu sei.

Começo a fazer uma massagem.

— Somos explosivos — declaro. — Mas durante a discussão, você


deixou claro que quer a Hope, eliminando qualquer dúvida sobre um possível

aborto — comento, sentindo os músculos dele sem aquela tensão.

— Em algum momento teve dúvida sobre isso? — pergunta,


arrepiando meus pelos.

Cesare pega em minha mão. Fico diante dele, sentando-me em seu


colo.

— Responda.

— Quando descobri a gravidez — confesso. — Não sabia qual seria


a reação que você teria.

— É ótimo ver que arranquei essa fantasia da sua cabeça — diz,

pegando no meu rosto. — As escolhas do meu pai não serão as minhas, ele
não passa de uma peça descartada — reforça. — Insignificante demais.

— E eu? Você confia em mim? — pergunto, olhando no fundo dos


seus olhos.

— Devo confiar, Isabel? — indaga, arqueando uma sobrancelha


escura.
— Recentemente dei algum motivo para desconfiar? — pergunto

próximo de seu rosto.

— Não, porém, tanto você como eu somos traiçoeiros — comenta

com os lábios nos meus. — Igual ao que temos, ele nos prende.

Beijo sua boca, meus braços rodeiam o pescoço dele.

Cesare aprofunda o contato querendo meus lábios, em seguida se


levanta me carregando.

Abro os olhos e noto que estamos no banheiro.

Sento na bancada, puxo o cabelo dele trazendo seu rosto mais para
mim.

As mãos de Cesare puxam a minha calça moletom, meu corpo se


arrepia.

Afasto a boca buscando ar, encarando os olhos dele.

Puxo o cinto da calça social, ajudo-o a tirar a peça junto com a

cueca.

Sinto a intimidade pulsar, meu corpo está em chamas.

Quero o pau dele invadindo minha boceta. Aqueles dois meses de

repouso foram uma eternidade sem poder ter contato íntimo. Transar com

Cesare é saborear o prazer.

Absorver nossos corpos sedentos, ansiando.


Ele puxa a minha calcinha, uma das novas e a rasga.

— Cesare — digo rouca.

— Quero ouvir sua voz, gemer meu nome enquanto te dou prazer,

amor — avisa, colocando um dedo na entrada.

Engulo em seco. Abro mais as pernas automaticamente.

— Tire a única peça que te cobre — manda, dedilhando os lábios da


minha vagina.

Estou ofegante. A tortura é maior quando meu marido coloca outro


dedo.

— Se você não tirar, eu paro — alerta.

— Não ouse — rosno entredentes.

Deixo meus seios expostos ao tirar o top branco e jogá-lo longe.

— Odeio vê-la coberta demais. — Movimenta os dedos dentro de


mim. — O seu corpo é meu, gosto de tocar, sentir, chupar a sua pele —
provoca com a voz rouca.

Mordo o lábio indo para trás e para frente, molhando os dedos dele
com o meu líquido.

— Me fode — exijo. — Agora!

— Está com vontade? — rebate tirando os dedos.


Bato em seus ombros.

— Eu termino com os meus dedos — provoco.

— Não, é somente com o meu pau que você mata a vontade.

Ele se posiciona entre as minhas pernas, deixo as mãos nas costas


dele para me segurar.

Cesare coloca o pau duro dele devagar, enquanto seu olhar


acompanha o meu.

Arrepios de prazer.

E em seguida ele invadindo minha boceta, sem rapidez. Iniciando


lentamente.

— Gosto de ouvir e sentir o seu pau duro entrando com força —


digo, mordendo o lábio inferior.

Segurando a minha cintura.

Encosto na parede, Cesare aumenta um pouco, impulsionando o vai


e vem, no entanto, ainda é lento.

Não é do jeito que eu gosto.

— Sem algo forte até o fim da gravidez — lembra.

Levanto a cabeça.

— Caramba — reclamo.
Aperto as mãos em suas costas.

Cesare bate na minha bunda, diversas vezes, provocando-me.

— Assim — digo, completamente embriagada.

O contato mais lento dá mais faíscas. Arrepios.

Estou entregue, totalmente em êxtase, sentindo Cesare indo até o

fundo.

Gemo o nome dele, repetidas vezes.

— Engole meu pau — manda. — Porra... goza, diga-me que é


minha, Isabel — seu comando ecoa pelo banheiro.

Agarro mais o corpo dele, entrego-me com bastante.

Estamos ofegantes, mas ele continua se movimentando.

— Sou sua — choramingo. — Assim como você é meu — deixo


claro.

Cesare afunda mais dentro de mim.

Tomando cuidado para não ultrapassar o limite pedido pela doutora

Angela.

Uma de suas mãos segura minha bunda, inclinando mais meu corpo
para ele.

Cesare grunhe a cada vai e vem. Assisto-o gemer e isso é como


música para os meus ouvidos.

O clímax chega dando o prazer para ambos por completo.

Meu marido goza, derramando-se em minha boceta.

— Você sabe... que somos um do outro há muito tempo — declara

com a voz tão rouca.

Ouço as batidas aceleradas do seu peito. E o meu também.

— Tome banho comigo e faça as malas — ele diz com a boca


subindo pelo meu pescoço.

Pisco confusa.

— O quê?

— Iremos para a Espanha, o jato está sendo preparado — informa,


mordendo a minha orelha.
Cesare

O jatinho está na pista ao lado da tripulação responsável.

Pego na mão de Isabel, ajudando-a a sair do carro já que ela


escolheu um vestido longo e um salto alto para acompanhar.

Vejo o carro de Gianluca parando a poucos metros. Alessa e ele


saem do veículo, vindo ao nosso encontro.

Isabel fica surpresa.

— Não sabia que vocês iriam também — comenta, olhando para

mim.

— Ramires irá se casar em algumas horas, fez um convite para


estarmos todos lá — explico rapidamente. — Além de tratar de negócios.

— Enquanto Isabel e eu vamos ser expostas? — Alessa pergunta.

— Vocês devem nos acompanhar — Gianluca diz, encarando-a. —

Não a deixaria sozinha na Itália.

Tenho o mesmo pensamento em relação à Isabel, ainda mais com a


gravidez.

A proteção que eu exijo para ela aumentou.

— Agradeça por sair, Alessa — aviso, indo até a aeronave.

Entro no jatinho ao lado de Isabel, deixo-a escolher um lugar para

sentarmos, Alessa a segue enquanto observo os soldados entrarem, sentando-


se em alguns bancos à frente.

Encaro Gianluca.

— O meu objetivo nessa viagem é tirar a lembrança de que meu pai


algum dia opinou em nossas escolhas — reforço.

— Ramires não irá contrariar sua ideia. A aliança conosco beneficia


muito a Espanha, seria dar um tiro na própria cabeça acatar a sugestão de um
homem sem voz como Marco — garante meu cunhado.

— É o que espero, quanto mais rápido entenderem que meu pai não
está na liderança, acabo mostrando a nova liderança e regras — digo antes de
me afastar.

Vou até Isabel e sento ao seu lado, a temperatura está baixa, ela
trouxe um cobertor para dormir e não passar frio durante o voo.

Ultimamente o sono dela aumentou.

O que ajuda, já que o nervoso e estresse estavam tirando a vontade

de dormir.
Isabel é inquieta.

— Boa noite, iremos descolar. Por favor, coloquem o cinto de


segurança e permaneçam em suas poltronas — orienta a aeromoça.

Após todos estarem prontos, o jatinho começa a taxiar na pista,


pegando o impulso necessário para ir aos céus.

Retiro o cinto, quando o jato ganha estabilidade.

Isabel olha a janela por um momento.

— Vai dormir? — pergunto.

Ela olha para mim.

— Um pouco, estou cansada.

— Venha.

Ela deita as costas em mim, seguro sua cintura. Isabel puxa o


cobertor, cobrindo-a.

Olho cada traço do seu rosto, nunca encontrei um defeito, pelo

contrário.

Posso passar horas apenas observando-a.

— Me acorde quando chegarmos — pede.

— Sim — asseguro.

A minha mão sobe para a barriga dela, quando sinto um chute forte
no local em que minha mão está. Demora um pouco e o chute volta a

acontecer, percebo que Hope está acordada.

Acaricio o local.

Anseio olhar para o rosto dela e ver os traços de Isabel e o meu.

Minha filha em breve estará conosco.

Olho agora para Isabel e a vejo adormecer em meus braços.

Ela é minha, este é o seu lugar e sempre foi. Apenas estava


esperando Isabel voltar.

MADRID, ESPANHA

Isabel

Estou um pouco sonolenta na aterrissagem em Madrid, mas observo


as luzes da cidade em uma noite tão gelada.

Sempre tive vontade de conhecer novos lugares, gosto de viajar.

Papai sempre foi rígido com a criação das filhas, Giovanna e eu

nunca viajamos.
Só agora que estou casada tenho essa oportunidade de conhecer

outros lugares.

Interrompo os pensamentos ao entrar no hotel acompanhada por

Cesare, a recepção de prontidão já começou a realizar o processo de check-in.

Gianluca está ao lado do meu marido.

Alessa olha os detalhes do hotel.

— Não vejo a hora de ver mais da capital ao amanhecer.

— Quero fazer compras, estou olhando decorações para o quarto da


Hope. Podemos ir juntas — sugiro.

— É perfeito. Não iremos perder tempo ouvindo a negociação e a


conversa entre os homens — concorda, animada.

— Sairão para passear com uma proteção maior — Cesare reforça.


— Amanhã iremos decidir isso.

— Boa noite, amanhã temos o café da manhã na mansão de Ramires

— diz Gianluca, ao sair na companhia de Alessa.

— Vamos — diz Cesare próximo ao meu ouvido. — Ainda está com

sono.

— A viagem é rápida — respondo, andando ao seu lado. — Pensei

que um pouco de descanso seria o bastante.

— Precisa dormir, só sairá se acordar disposta — avisa.


Reviro os olhos, mas o cuidado dele comigo é único, a forma como

me protege.

Ainda estou assimilando o fato de que vamos ter uma filha.

A cada dia desejo mais que chegue o momento de conhecer o rosto


de Hope, ver os nossos traços nela.

Desperto abrindo os olhos lentamente, vejo Cesare dormindo.

Sento-me na cama bocejando um pouco, pego o celular e vejo que


são seis horas da manhã.

Pisco algumas vezes, em seguida observo o rosto dele. Passo a mão


em algumas mechas do cabelo de Cesare, gosto de puxar seus fios escuros,
deixando-o com os olhos em mim.

Tem vezes que prefiro me perder neles.

Um chute tira a minha atenção, deixo a mão na barriga.

Em alguns momentos em que estou pensativa e perdida


automaticamente me lembro dela.

Algo tão pequeno e meu. Amo cada pedacinho da Hope.

Volto a encarar Cesare, faz um tempo que me permiti voltar para os


braços dele, em resumo dei a nós uma segunda chance.

Era assim que deveria ter sido a nossa vida, Giovanna ainda estaria

viva e conosco.

Respiro fundo, tentando limpar vestígios de tormentos e angústias.

Volto a deitar deixando minha cabeça próxima do peitoral de Cesare,


fecho os olhos e por um segundo tenho vontade de congelar esse momento.

Os soldados de Ramires recebem Cesare com reverência.

Andando ao seu lado, observo a importância que meu marido tem,


isso faz parte de ser o Don.

O desejo dele desde muito novo era sentir e liderar a máfia da sua
família.

Olho para a aliança em meu dedo, um objeto usado para mostrar a

quem pertenço.

Algo que Ramires repara quando chegamos ao jardim, ao olhar ao


redor noto uma mesa de café da manhã com diversas variedades está à nossa

espera.

— Espero que a viagem tenha sido boa, acomodem-se — diz, ao se


levantar e estender a mão para meu marido. — Cesare, finalmente o recebo
na Espanha, bem-vinda, Isabel.

— Obrigada — agradeço rapidamente.

— Tudo em seu tempo, Ramires. Vim tratar de negócios e prestigiar

a sua união, desejo que seja duradoura.

Olho para Ramires sem entender. Ele já teve uma esposa?

— Minha primeira mulher foi atingida enquanto estava em um


evento beneficente, meus planos nunca deram certo. Mas podemos falar
sobre isso durante o café — afirma, com um sorriso forçado. — Gianluca,
Alessa, é bom vê-los novamente.

Ramires está sentado no meio, Cesare no lado direito e Gianluca no


esquerdo.

Tomo um copo de leite morno, apreciando uma bebida para


esquentar o corpo.

— Sua barriga está chamando atenção, Isabel. Como está a


gravidez? — pergunta Ramires bebendo um pouco de café.

— Estamos muito bem — asseguro.

— Cesare, você planejou a gravidez? Foi uma surpresa a notícia —


especula, encarando meu marido.

— Não planejei, se tivesse feito saberiam — a resposta é seca.


— Quando éramos mais novos, lembro-me de que Giovanna

comentou que planejava um casamento para todos estarmos presentes. O que


não esperava era que vocês fossem escolhidos para serem prometidos —

revela para a minha surpresa.

Deixo de beber o leite e encaro o líder da máfia espanhola.

— Você era próximo da minha irmã? — pergunto sem me conter.

— Tínhamos a mesma idade — responde Ramires. — O casamento


com ela assim como liderar a máfia Salvatore fizeram parte dos planos de
Cesare — diz, olhando para ele.

Perco o apetite ao ouvir o nome de Giovanna e o casamento que ela


não queria.

Estão me deixando inquieta. Meu marido ri.

— Giovanna e o nosso suposto casamento, foi a única coisa que não


estava em meus projetos, Ramires — afirma.

— Com licença — digo, antes de levantar.

Deixo o local indo para o interior da casa.

Mas não consigo chegar ao corredor, Cesare impede ao pegar em


meu braço.

— O que pensa que está fazendo, Isabel? — questiona.

— Me solte, Cesare.
— Respire e olhe para mim — diz, liberando o meu braço.

Viro-me e o encaro.

— Não sabia que Ramires era próximo dela. Ouvir isso é lembrar da

perda de Giovanna, algo que não saí da minha cabeça é sobre os culpados!
Você me deve uma resposta se houve uma investigação ou não — exijo. —

Onde eles estão? Mortos? Respirando? Tenho o direito de saber, não irei atrás
dessas pessoas por conta da gravidez, arriscar a nossa filha não será jamais a
minha intenção — acrescento.

Não consigo mais viver com dúvidas, ideias e pensamentos diversos


dominando minha cabeça. Sempre que deito a cabeça no travesseiro penso na
minha irmã, prometi pelo meu sangue que iria vingá-la. Mas nunca ouvi
respostas concretas do ocorrido.

Cesare se aproxima, olhando no fundo dos meus olhos.

— Eles estão mortos, é isso o que você precisa saber.

— Eu...

— Respondi à sua pergunta. Agora esqueça o que aconteceu com

Giovanna, Ramires não vai abrir a boca sobre ela — assegura. — Giovanna é
um assunto que te machuca, e eu o quero encerrado. Vamos? — pergunta,

passando a mão em meu rosto.

— Não vou ficar muito tempo, quero fazer compras com Alessa —
informo.

Não tenho a mínima vontade de me sentar perto de Ramires. Preciso


sair dessa mansão.

— Você irá depois de comer — avisa, trazendo-me para si, em


seguida seus lábios encostam nos meus.
O casamento de Ramires será ao pôr do sol, depois de prestigiar a

união do aliado de meu marido voltaremos para casa ainda hoje.

Consigo sair da mansão na companhia de Alessa após tomar café e


Cesare autorizar.

Com uma quantidade maior de soldados, consigo, enfim, passear


pelas ruas de Madrid.

A temperatura baixa faz com que as pessoas usem casacos, botas,


cachecóis.

Particularmente gosto mais das roupas de inverno, em várias vitrines


essas peças estão em promoção.

O céu nublado não atrapalha o movimento pelas ruas, vejo muitos


turistas tirando fotos.

Estou procurando por uma loja de bebê.

— Está melhor? Você ficou abatida quando Ramires comentou sobre

Giovanna — pergunta Alessa andando ao meu lado.


— Ela é um assunto que sempre mexe comigo. Meses depois é como

se ela tivesse morrido em um acidente, por uma doença, porém, não foi
assim! Mamãe chora, mas não questiona meu pai sobre nada, o que vimos foi

o corpo e que ela foi morta no ataque inimigo — desabafo, frustrada. —


Questionei Cesare e ele disse que os culpados estão mortos.

— Sua irmã era a prometida do próximo Don. Isabel, não temos


contato com questões e casos da máfia, mas acredito que o que importa é que

os culpados foram mortos — reforça. — Por que não seria assim? Giovanna
seria uma Salvatore, a sua família é importante, houve vingança.

A morte dela trouxe desgraças e ruínas.

— Eu prometi para Giovanna que iria vingar a morte dela. Tudo


aconteceu tão rápido, e o que sei é apenas que foram mortos — digo,
encarando-a. — Depois que engravidei acabei deixando um pouco de lado,
pela segurança da Hope.

— Você está em negação, mas, Isabel, até quando? Giovanna não irá
voltar, ela cuidou de você, sempre cuidava — lembra. — Ver você cuidando

da sua filha, protegendo a Hope, é o que ela iria querer — assegura, —


Acredite, ter os pais por perto é essencial.

Limpo uma lágrima grossa.

— Não vou arriscar a minha filha. Tem razão, Alessa, vou seguir o
conselho de Cesare e deixar esse assunto quieto, é o melhor que posso fazer.

— Encontramos a loja perfeita — diz Alessa, parando diante da

vitrine.

Um local grande com bastante movimento de mulheres grávidas e

outras com os bebês em seus braços. Lindas peças para meninos e meninas,
itens para decoração dos quartos.

— Vamos — concordo, ao empurrar a porta.

Somos recebidas por duas funcionárias simpáticas que nos convidam


a conhecer a loja e os diversos produtos.

Comento que estou esperando uma menina, elas começam a sugerir

produtos para a bebê.

Alessa caminha rapidamente até alguns vestidos lindos para quando


Hope já estiver maior.

Por um momento esqueço dos problemas, e vou procurar tudo para


minha filha.

Quero o quarto dela pronto o mais rápido possível.

Alessa e eu voltamos ao hotel.


Ela comprou um vestido para usar no casamento de Ramires.

Diferente de mim, comprei pelúcias, almofadas em forma de nuvem. Só


pensei na Hope, e na decoração do quarto dela.

Abro a porta do quarto deixando as sacolas perto da mala, olho para


a cama e vejo uma rosa.

Aproximo-me e pego a flor, passo os dedos pelas pétalas, nenhum


espinho. Eu sei quem a mandou.

Tiro os saltos para descansar, depois me deito na cama com a rosa


em minhas mãos.

A porta do quarto é aberta por Cesare.

— Comprou o que queria? — pergunta, fechando a porta logo em


seguida.

— Sim, encontrei várias coisas para a decoração do quarto dela —


respondo, encarando-o. — E os negócios?

— Me reuni com Ramires e os demais membros de sua máfia,

deixando claro a aliança com o cartel de Sinaloa. Ninguém se opôs, acabei

esmagando a ideia de uma segunda aliança com outro cartel mexicano —


explica, vindo até a mim.

Cesare sempre conseguiu fazer isso muito bem.

Sugerir uma ideia e fazer com que os demais também aprovem, sem
questionar.

A lábia dele é uma arma.

— Pensei que Ramires teria votos já que está no território dele —

comento, arqueando uma sobrancelha.

— Ele não abriu a boca. Ramires não apresentou argumentos que

ocasionasse uma mudança na escolha dos outros membros — afirma, com


convicção.

Cesare se aproxima, deitando-se ao meu lado.

Sua mão vai ao encontro da minha, pegando a rosa que se encontra


entre meus dedos.

— Os anos passam e nada muda. As rosas te pertencem, você é


idêntica a elas, flores que simbolizam nós dois e as promessas da infância —
diz, com o rosto a poucos metros do meu. — Além de passar recados, e entre
eles o que jurei para você: iríamos ficar juntos — reforça.

Parece que estou voltando ao passado, lembrando da primeira rosa

que ganhei dele.

Cesare pega a flor e passa as pétalas pelo meu pescoço, sinto


arrepios.

Não quebro o contato visual, ficamos presos no olhar um do outro.

— O que você quer me dizer agora? — pergunto em um sussurro.


Seus olhos parecem responder primeiro, há um brilho em ambos.

— É o meu passado e presente, eu escolhi você, Isabel. A mulher


que escolhi para ser minha, tão delicada, mas, ao mesmo tempo, repleta de

espinhos, os seus lábios possuem o veneno mais delicioso que eu preciso


tomar — declara, contra a minha boca.

O beijo de Cesare é bruto e muito intenso, forte.

Nossos lábios se encaixam com perfeição, tenho necessidade dele.

Da sua boca consumindo a minha, nossas línguas se encontram entre


o beijo.

Abro os olhos durante esse momento, enxergo as promessas que fiz


para ele.

A arma mais letal é o amor, um clichê, mas jamais será uma mentira.
Ele te imobiliza, aprisiona e nutre todos os demais sentimentos.

Olho para Cesare tendo a plena certeza de que o amor que sinto não
morreu.

— Cada traço seu me pertence.

Arqueio uma sobrancelha.

— Acho que não — rebato.

Ele sorri de maneira irônica ao ouvir minha resposta.


— Você sabe que sim, você me pertence de corpo e alma — afirma,

ao parar de falar e me encara intensamente. — Inclusive sabe que o


sentimento que sente por mim está aí, posso revelar o que apenas você sabe,

apenas quando me disser aquelas palavras.

Pisco rapidamente, meu corpo congela e o coração passa a acelerar.

— Quais palavras? — pergunto, buscando ser indiferente.

— As três palavras.

A resposta dele é direta.

Não consigo falar e ouvi-las, ainda não.

— Eu quero ouvi-las — reforça.

— Não pretendo falar nada — adianto.

— Você irá, Isabel, é uma promessa — ele diz ao se levantar, indo


até o banheiro.

Encaro a rosa que está em minha mão, então esse é o recado dessa
vez.

Ao pôr do sol a igreja está repleta de convidados.


Cesare é recebido pelos demais membros e chefes de famílias da

máfia espanhola.

Ando ao seu lado usando um vestido azul-claro, a cor dos meus

olhos, uma das minhas favoritas.

Estendo a mão para os convidados, diversos olhares se encontram

em nós dois, na verdade, em minha barriga, ela é o centro das atenções agora.

Apesar de que a minha união com Cesare é o foco principal por ele
ser quem é.

Um Don poderoso e altamente perigoso por trás de uma máfia criada


há gerações.

Todos conhecem a parte em que casei com ele para substituir minha
irmã, tiro esses pensamentos da cabeça ao me aproximar dos bancos que
estão reservados para nós.

Gianluca e Alessa se sentam ao meu lado.

— Melhor, Isabel? —pergunta meu irmão olhando na minha direção.

— Não falamos da sua saída brusca do café da manhã.

— Falar de Giovanna ainda mexe comigo. E eu não sabia que


Ramires era próximo dela — rebato.

— Controle suas emoções.

— Não vou me descontrolar em um território inimigo, controlo bem


minhas reações — afirmo.

— Alessa consegue disfarçar bem em público — comenta, olhando


para ela que o encara.

— Isabel também faz o mesmo, acredite que não mostramos o que


está acontecendo dentro de nós.

Ele sorri.

— Gosto da sua postura e quando a perde também — Gianluca diz


olhando para o fundo dos olhos dela. — Mas estou preocupado, irmã.
Giovanna não pode ser um fantasma em sua vida, é esposa do Don, e também
há uma criança em seu ventre, minha sobrinha — reforça.

— Priorizo a Hope, sempre — asseguro. — Estou com os hormônios


alterados, irmãozinho. — Para mim tudo é um furacão ou uma tempestade —
digo olhando para frente.

Cesare se aproxima sentando ao meu lado.

Ramires está no altar, ele olha para a entrada da igreja.

A marcha nupcial começa a tocar, sua noiva entra ao lado do pai.

Uma bela mulher negra.

Segurando um buquê de rosas vermelhas, ela aparenta estar feliz.

Diferente de mim quando estava entrando na igreja, desvio o olhar


dela e encontro os olhos escuros do meu marido.
Tão intensos e, ao mesmo tempo, profundos.

— Entediado? — pergunto. — Casamentos nunca foram admirados


por você.

— Nunca gostei. O único que sempre me interessou foi o nosso, ver


você de noiva era a minha maior pretensão. Nós iríamos nos casar no futuro

de uma forma ou de outra, essa era a única certeza de que eu tinha na minha
vida. — seu tom baixo me paralisa.

É como se fôssemos aquelas duas crianças que quando nos


encontrávamos na igreja, fazíamos planos para um futuro distante.

Engulo em seco.

— Casei com você no pior momento da minha vida, não esqueça.


Foi um pesadelo, não consegui gostar de nada — rebato.

— Tem um álbum com as fotos para rever, mas apesar de que


podemos nos casar novamente para eu saber qual será a sua reação agora —

provoca.

Aperto os olhos para ele.

Cesare se aproxima colando nossos lábios, em um rápido selinho.

Meu corpo se arrepia com suas palavras, tão traiçoeiro.

Volto a observar o casamento.

A mão dele fica na minha barriga.


Hope é a maior ligação entre nós dois.

E está crescendo.

Em poucos meses a segunda promessa entre nós será cumprida.

Darei uma filha para ele.


ROMA, ITÁLIA

7 meses depois...

Hope.

Ela nasceu em uma madrugada, acordei sentindo fortes dores na


barriga.

Quando estava chegando ao hospital a bolsa estourou, fui levada às


pressas para o centro cirúrgico.

O medo de algo dar errado estava consumindo minha cabeça a cada


minuto. Estava sozinha com a equipe médica, Angela estava acompanhando

tudo, mesmo assim tive bastante receio.

No momento em que escutei o choro da minha filha, aqueles

sentimentos ruins acabaram sumindo.

O primeiro som dela: seu choro, despertou tantas coisas boas.

Derramei lágrimas no último momento quando Angela a pegou no


colo e mostrou a minha filha, logo em seguida trouxe Hope para o meu peito.

Algo tão pequeno, delicado, tão meu.

Ouvir as batidas do coração dela.

Aquele foi o melhor momento da minha vida.

Greta sugeriu uma babá ou que ela ajudasse com a neta, não aceitei
sua oferta.

Ser mãe é passar pela experiência, acompanhar cada momento e


nada vai tirar isso de mim.

Olho para Hope dormindo em meus braços, vestida com um


macacão rosa, o cobertor dela branco com ursinhos.

O padre lê um versículo da bíblia, enquanto os presentes na igreja


acompanham.

Estou usando o véu preto, ao lado de mamãe, como de costume, os


domingos sempre estamos na igreja.

Uma das senhoras passa com uma cesta para doações, coloco uma

quantia generosa.

Recebo um sorriso da mulher que vê minha filha dormindo,


tranquila.

Em diversas vindas, rezei para que Hope nascesse saudável e forte,

além de pedir para que minha irmã esteja em paz onde estiver.

Tiro o olho do altar olhando para trás. Parece que foi ontem que

estava com Giovanna nessa igreja, mas ela saiu para não voltar mais.

Pisco algumas vezes para limpar a mente de pensamentos tão

turbulentos.

— Irmãos e irmãs, vão em paz — o padre termina a missa, fazendo o


sinal da cruz.

Cumprimento algumas mulheres que são amigas da minha mãe,


frequentadoras assíduas.

Até que encontro a tia de Agnes, que olha surpresa para Hope.

— Sua filha é linda, Isabel.

— Obrigada, como você está? — pergunto, ao vê-la se afastar.

— Bem, foi bom revê-la — despede-se.

Acompanho a saída abrupta dela da igreja.

— Filha, quem era? — mamãe, aproxima-se perguntando.

— A tia de Agnes. Acredito que ela não goste de falar muito

comigo, já que Cesare e Marco dizem que não posso falar com os familiares
dos soldados — reclamo.

— Os Salvatore sempre foram assim, filha. Até seu pai não gosta

disso, esqueça isso, quero que você e Hope venham até em casa — faz um
convite.

— Claro, mãe. Não costumo sair muito, aproveito para mandar


algumas fotos dela para as minhas amigas da faculdade. Alessa até mostrou

algumas fotos e vídeos, mas como não posso levar a Hope, é o que posso
mostrar — comento saindo da igreja ao lado dela.

— Cesare é cuidadoso, se suas amigas da faculdade soubessem da


máfia estariam em risco. Além de que, Hope tem três meses, o Don tem uma
preocupação maior com vocês.

— Há muito exagero da parte dele — respondo.

— Deixe isso de lado, estava conversando com uma das minhas


amigas e vou doar os móveis e tudo o que Giovanna deixou, dói muito cada

vez que entro naquele quarto — revela.

Encaro-a.

— Eu sei. O quarto dela vai ficar vazio?

— Posso fazer um quarto de brinquedos para a Hope. Quero que

minha neta tenha um lugar somente para ela — comenta, com entusiasmo.

— Gosto da ideia, mãe — digo, com um sorriso. — Manter o quarto


da minha irmã é deixar uma ferida aberta.

— Hope nasceu para trazer bastante luz em nossas vidas, filha. Eu


creio muito nisso — assegura, pegando na mãozinha da minha bebê.

Adentro a minha antiga casa. Mamãe caminha até a cozinha para


conferir como está a preparação do almoço.

Enquanto espero, sento-me no sofá. Minha atenção se fixa em Hope

que abre os olhos, despertando do sono.

Passo a mão pelos cabelos escuros dela, a pele dela é tão clara e os
olhos azuis são tão intensos como os meus.

Porém, os traços do rosto são de Cesare, o nariz.

— Acordou, meu amor — digo, assim que a vejo olhando para mim.

Ela levanta a mãozinha, pego dando beijos.

— Vovó quer ver você — diz mamãe, ao se aproximar. — Ela está

tão esperta e, realmente, tirando os olhos e a boca, Hope lembra o Cesare,


Isabel.

— Ela prefere a mamãe — afirmo.

— Vem com a vovó — estende os braços.


Minha mãe pega ela no colo, fico admirando as duas juntas.

— E como anda o sono?

— Ela anda trocando o dia pela noite, mãe. A doutora Angela diz

que é uma fase diferente, ultimamente ando dormindo a tarde junto com ela, e
a noite estamos acordadas — explico.

Ao ouvir a minha voz ela olha para mim, chora e não quer mais o
colo da minha mãe.

— Anda um pouco enjoada também. Vem cá. — Levanto-me para


pegá-la.

— Ela vai gostar de ver o quarto, vamos, enquanto o almoço não


está pronto — sugere.

Assinto indo atrás, subo as escadas junto com minha mãe a fim de
irmos ao quarto de Giovanna.

Ao entrar olho os móveis, lembrando-me de diversos momentos.

— Vou começar mexendo na penteadeira, quero ficar com algumas


joias de lembrança. Você vai querer alguma? — pergunta, abrindo as gavetas.

— Não, mãe.

Não quero ficar com algo de Giovanna, pois tenho medo de me

sentir do mesmo jeito que fiquei quando encontrei um presente que seria de
Cesare para ela.
— As joias preferidas, pérolas e rubi — diz mamãe, emocionada.

Ela vai retirando as joias de Giovanna e as deixando em cima da


penteadeira.

Recordo-me de ela usar em eventos e festas, sempre estávamos com


roupas impecáveis e uma peça valiosa.

Acompanho a mamãe retirar cada uma, mas algo chama minha


atenção. Vejo uma carta junto as joias.

— O que é isso? — pergunto, curiosa.

Aproximo-me para olhar melhor, mamãe abre a carta e vê que é a


caligrafia delicada de Giovanna.

— Sua irmã escreveu isso — mamãe assegura.

— Devemos ler — digo sem deixar os olhos.

Eu não entendia o que era ser diferente, até o momento que a


encontrei. Ocultar as emoções na máfia é um presente, Agnes, porém,

você sabe que jamais consegui olhá-la e não querer sentir seus lábios

contra os meus, o calor da sua pele.

Engulo em seco.
— Eu.. eu não sei se quero ler tudo — mamãe diz.

— Mãe, entregue pra mim — peço, estendendo a mão.

— Deixe-me segurar a Hope — ela pede.

Ser filha de um sanguinário tem suas consequências, temo por

nós duas, meu pai me odeia e jamais irá aceitar que eu troque Cesare por
você. Assim como o seu pai pode ser contra e algo poderia acontecer
conosco. Agnes, eu te amo e prefiro tentar escapar de um destino infeliz
para ficar com você. No dia do casamento irei fugir, tenho certeza de que
Isabel irá me ajudar, minha irmã sempre foi a minha melhor amiga.
Quando receber essa carta, saberá que a hora chegou, não estarei indo
até a igreja, mas sim atrás de você.

Termino a leitura em completo choque, lágrimas grossas rolam pela

minha face.

Sinto um tremor pelo corpo, não encontro forças em minhas pernas e

o ar escapa dos pulmões.

Olho para minha mãe e vejo o rosto dela vermelho, inundando pelas

lágrimas que não param de cair.

Giovanna gostava de Agnes, na verdade, a amava.


— Mãe... no dia da tragédia, Giovanna saiu para se encontrar com

Agnes — afirmo com a voz embargada. — Se o amor entre as duas fosse


exposto papai ou o pai dela iriam ser contra. — Coloco a mão sobre a boca ao

pensar que a morte da minha irmã foi pelas mãos de Marco, meu pai ou até o
pai da Agnes. — Mãe, Giovanna pode ter morrido pelas mãos do pai de

Agnes ou de Marco Salvatore, as duas morreram! — reforço, atordoada.

Lágrimas rolam pelo meu rosto. Hope fica inquieta querendo meus

braços.

Minhas mãos tremem, uma angústia subindo pela garganta.

— Calma, Isabel. Precisamos ter cuidado...

— Não, eu quero saber o que aconteceu. Preciso falar com o Cesare,


ele deve ir para casa almoçar, vamos comigo... eu não consigo segurar a
Hope, mãe, não agora — aviso.

— Filha, estamos em choque, mas temos que ter cuidado com as


palavras e acusações. Já faz um ano que tudo ocorreu, por favor. —

Aproxima-se preocupada. — Eu vou com você, mas tente se controlar para

não assustar a Hope, uma carga intensa de estresse pode secar o leite —
alerta.

Respiro fundo algumas vezes, na tentativa de ficar um pouco calma.

Saio do quarto segurando nas paredes, ando devagar.


Minha mãe segue atrás pedindo calma e paciência, mas é como se

seus conselhos não fizessem efeito. Tantas coisas se passam pela minha
cabeça.

Para encobrir que Giovanna tinha outra preferência sexual, Marco ou


qualquer um poderia ser capaz de matá-la para não ser uma vergonha.

Desconfio de todos, até de Cesare.

Ele conhece o pai muito melhor do que qualquer outro, meu marido
pode saber sobre a sexualidade delas e o que de fato aconteceu.

— Isabel — minha mãe pede. — Pergunte para Cesare em um tom


baixo, não altere a voz, filha. Não sabemos o que aconteceu, se o conteúdo
interfere diretamente na morte da sua irmã.

— Cesare vai ter que me dizer abertamente tudo o que ele sabe.
Farei meu marido dizer, mãe, só peço para você ficar com a Hope, enquanto
tenho uma conversa com ele — informo ao passar pela porta principal da
mansão.

Uma conversa que pode mudar tudo, finalmente tenho o poder de

descobrir tudo sobre a perda da Giovanna.

Farei o que for preciso para obter respostas, mesmo que tenha que

me machucar outra vez.


Adentro o corredor em direção ao escritório de Cesare.

Seguro a carta com firmeza, amassando um pouco pelo estado de


nervoso, dúvidas e suspeitas ao encontrar o conteúdo deixado pela minha
irmã.

Abro a porta do escritório e o encontro no celular.

Uma de suas sobrancelhas escuras se arqueia quando me vê.

— Tenho um assunto importante na minha sala agora — informa


para a pessoa do outro lado da linha.

Rapidamente meu marido finaliza a ligação.

— Por que está com o rosto vermelho e principalmente os olhos? —


pergunta, ficando de pé.

Vou até ele e entrego a carta.

— O que você não está me dizendo, Cesare? — questiono, ofegante.


— Minha mãe encontrou uma carta da minha irmã com um conteúdo que

pode mudar o que aconteceu.


Cesare abre a carta e passa os olhos pelas linhas, em uma leitura

rápida.

— Minha irmã morreu levando para o túmulo algo que era

desconhecido para a minha mãe e eu. Porém, meu pai, o seu e,


principalmente, você tem conhecimento de tudo o que acontece nessa máfia

— rebato. — O que aconteceu com ela? Você tem que me dizer tudo! —
exijo.

Seus olhos encontram os meus.

— Fique calma e me escute — pede. — O soldado, pai de Agnes,


soube de alguma forma que Giovanna e a filha tinham um romance. Ele teve
o cuidado de escolher o dia em que Giovanna saiu da igreja e Agnes a
esperava lá fora — explica. — Atirou nos soldados em um ato surpresa, mas
o foco era matar Giovanna e a própria filha, alguns homens sobreviveram
como você bem sabe, com isso contaram ao meu pai tudo o que aconteceu,
junto com o pai da garota que foi levado até Marco.

Minha respiração está ofegante.

— O pai da Agnes matou a filha e a minha irmã? E isso tudo foi


omitido de todos? — rosno.

— Marco o matou pelos crimes de ter ferido um dos nossos e a filha


do nosso subchefe. Seu pai e o meu não queriam que a história vazasse para a
Itália e os demais aliados e inimigos, que a minha prometida iria fugir para

ficar com uma mulher — revela.

Bato em seu peitoral com força, derramo lágrimas grossas. Cesare


pega em meus braços.

— Eu não matei a sua irmã! — reforça. — Luigi e os demais


membros não queriam que fosse um escândalo e foi passado que ela morreu
por um ataque inimigo.

— Você sabia esse tempo todo! Casou comigo se aproveitando da


morte de Giovanna pensando somente em si — protesto, querendo me soltar.

— Seu maldito, como você pôde? Esconder de mim algo que eu merecia
saber! — rosno, atordoada. — Todos os dias aquilo me sufocava, não ter
respostas!

Ele me solta.

— Meu pai era o Don, eu não iria interferir. A morte de Giovanna te


destruiu, todos os dias via você querendo sumir, a gota d'água foi encontrá-la
se afogando na banheira depois de encontrar aquela porcaria do bracelete! —

Aumenta a voz, as veias de sua garganta ficam expostas. — Você queria

morrer!

— Eu perdi minha irmã, por causa da escolha dos nossos pais! Da

máfia! A sua família — acuso.


— Foi um soldado que tirou a vida de Giovanna — corrige. —

Cuidado com as suas palavras. Por que iria contar o que aconteceu? Pensei na
dor que estava te sufocando, induzindo a cometer o pior. E em nós dois,

Isabel, você estava sendo prometida para o meu conselheiro, seria dele e não
minha. Se não fosse por isso, a Hope não existiria.

— Cale a boca! Não coloque ela nesse assunto e tente usar para
amenizar o que você escolheu fazer. Não vou passar mais um segundo nesse

lugar, o que garante a minha segurança ou a dela? Não confio em você, ela
vai comigo para longe dessa casa.

— Divórcio não existe na máfia — reitera, ao se aproximar. — Você


não vai sair daqui e levá-la, o meu sangue corre nas veias dela, Hope não é
somente sua.

— Você não vai me impedir — reforço.

— Sabe que não irá, mas tente, vou apreciar assistir e vê-la tentar —

provoca.

Aproximo-me e pego a arma na cintura dele, a raiva me domina,

coloco a mão no gatilho.

Cesare pega a arma colocando sobre o peito, no local onde fica o

coração dele.

— Faça isso — instrui, forçando a arma em sua pele. — Atire,


Isabel, me mate. Porém, tenha em mente que encontrarei alguma forma de
levá-la comigo — promete.

Encaro seus olhos, Cesare larga a arma. Posiciono-a próximo ao

ombro dele e aperto o gatilho.

Saio do escritório dele sem nada.

Cubro a minha mão com a boca ao descobrir esse segredo sujo que
rondava a morte da minha irmã.

Giovanna foi morta por não seguir as convenções da máfia, minha


irmã só queria ser feliz com Agnes.

Cesare sabia de tudo, meu marido omitiu, estava ao meu lado todo
esse tempo como se nada tivesse acontecido, mesmo sabendo o quanto
precisava de respostas.

Mamãe está em pé e desesperada andando pela sala, tentando


acalmar a Hope.

— Ouvi um tiro! O que ele fez? — pergunta, atordoada.

— Atirei no ombro dele. Cesare sabia de tudo, mãe, o papai, Marco,

todos eles sabiam que o pai de Agnes matou as duas! — revelo, atordoada.

— Meu Deus, a minha filha. — O tom de minha mãe é embargado.

— Quero sair dessa casa! Não vou ficar com a minha filha aqui,
mãe.
Vou até ela e pego Hope.

— Isabel, você não poderia ter atirado em seu marido. Ele é o nosso
líder, terá consequências — alerta.

Passos se aproximam, Gianluca surge olhando para nós.

— E elas já começaram, mãe, acabei de passar aos soldados que

você não irá sair de casa sozinha e muito menos com a Hope — informa.

— Você sabe o que aconteceu? — rosno. — Cesare sabia, nosso pai


e Marco Salvatore também! Mataram Giovanna e venderam uma história
diferente por vergonha de um escândalo! — Aumento o tom de voz.

— Mãe, acalme Isabel, ela vai assustar a bebê — Gianluca pede.

Hope chora.

— Eu não preciso que você a mande fazer nada! — rebato, saindo da


sala com a minha filha.

— Filho, peça um chá para sua irmã — diz nossa mãe, ao vir atrás

de mim. — Isabel, pense nela, Hope está assustada.

Respiro fundo olhando para o rostinho dela.

— Me desculpe, meu amor, desculpa — repito, beijando a bochecha

dela.

Vou até o meu quarto, preciso tirar minhas roupas dali.


— Quer tomar um banho? Eu tento acalmar a minha neta — sugere

mamãe.

Entrego Hope para ela, minha bebê parece um pouco mais calma.

— Quero tirar todas as minhas roupas desse quarto. Não vou deitar
na mesma cama que Cesare, jamais — digo, desnorteada.

— Filha, tente relaxar um pouco, estou preocupada com a


amamentação e com você — insiste.

Não consigo ouvir a voz dela, está tão longe. Só consigo pensar na
cena da igreja, no corpo de Giovanna.

Aproximo-me da cama e não vejo mais nada, tudo fica escuro.

Abro os olhos devagar e pisco algumas vezes.

Noto que estou deitada na cama, a doutora Angela entra

acompanhada por Cesare, minha mãe logo atrás.

— Filha! — ela diz ao se aproximar, pegando na minha mão. —


Isabel, fiquei tão preocupada com o desmaio.

Desmaio?

— O que aconteceu, querida? — Angela pergunta. — Sua mãe


relatou sua perda de consciência, além de muito estresse.

Olho para Cesare e vejo em seu ombro um curativo, exatamente

onde atirei.

— Isabel teve uma crise nervosa, Angela. Encontrei-a desmaiada na

cama — ele informa.

— Mãe — chamo. — Onde está a Hope?

— Está dormindo no quarto dela, fique tranquila — tranquiliza-me,


apertando minha mão.

— Vou ficar quieta quando ele sair — aviso, encarando-o.

— Senhor Salvatore — sugere a doutora.

— Estou preocupado, ela estava muito ofegante e nervosa — ele


ignora. — Não vou deixar o quarto — reforça para mim.

Angela pega meu braço para aferir a pressão arterial.

— Como quiser. Isabel, uma carga intensa de estresse pode

ocasionar em um desmaio e no seu caso é preocupante — alerta. — A

amamentação é delicada, e você pode perder o leite que é essencial para a


Hope.

Engulo em seco.

— Não irá acontecer de novo — asseguro.


— Há algum remédio para mantê-la calma? Isabel não tem controle

— interfere Cesare.

— Ficar com a minha filha, é o que eu preciso, Angela — rebato.

— O que pode ajudar é evitar que ela passe qualquer nervoso ou


estresse pelo bem da Hope, além do dela mesmo — reforça Angela. — Não

posso passar nada por enquanto pela idade da bebê, o leite materno é o
principal alimento até os seis meses — explica.

— Não vou prejudicar a minha filha — digo, ao me sentar na cama.


— Só preciso de um banho quente.

— Sua pressão está ótima, um banho relaxante é ótimo. Lembre-se,


se você ficar nervosa passa isso para bebê, vou ligar mais tarde para saber
sobre você, Isabel — informa.

Observo Cesare, o que eu preciso é ficar longe dele.

Já passam das dez horas, minha mãe já foi embora na companhia do


meu irmão.

Estou com Hope no quarto dela, trouxe minhas coisas para cá, vou
ficar aqui a partir de agora.
O lugar é grande, apenas falta uma cama, mas tem um recamier cor-

de-rosa bastante confortável para dormir.

Minha cabeça está doendo depois de tudo o que aconteceu, estou

cansada.

Quase dormindo na poltrona enquanto amamento Hope, diferente de

mim, ela está bem acordada.

— Dorme um pouquinho, amor — sugiro, alisando sua bochecha


com o dedo, fazendo um traço na pele clara. — Mamãe tá com sono.

Olhando para ela e vejo os olhos fixos em mim, enquanto sua mão
está sobre meu seio.

Cuidar dela tem sido um escape, minha mãe me ajudou bastante no


começo quando não sabia segurar Hope para amamentar e muito menos dar
banho, trocar fralda.

Sou a caçula da família Garzelli, não tinha contato com bebês.

Fecho os olhos por um momento, não consigo ficar com eles abertos

por muito tempo.

Em um certo momento acabo dormindo.


Desperto atordoada, olho para os meus braços e não encontro a

Hope.

Levanto-me bruscamente para encontrá-la, olho o chão e tenho um


alívio ao ver que não a derrubei.

Quando olho para a frente, vejo-a nos braços de Cesare, a bebê


resmunga alguma coisa, enquanto ele conversa com a nossa filha.

— Não quer dormir? — pergunta, beijando a testa dela. — Quer


conversar comigo.

Acabo paralisada olhando os dois.

Eu não esperava que Cesare fosse um pai que dá atenção, porém,

desde o nascimento ele se preocupa com qualquer detalhe e está a todo


momento com a nossa filha.

Mas o que descobri hoje não sai da minha cabeça.

— Ela estava comigo — digo.

— Quando eu cheguei você estava dormindo, poderia deixá-la cair


— responde, virando o rosto para mim.

— Pode ir, estou bem acordada — reforço.

Ele aperta os olhos para mim.

— Não está, Isabel. Ficarei com Hope, sou o pai dela — rebate. —

Durma, está precisando.

Ele sai do quarto levando-a.

Suspiro, irritada.

Vou até o closet e pego o cobertor para me deitar no recamier, ao


deitar a cabeça e me ajeitar, não consigo pensar em dormir novamente.

Não quero deixá-la com Cesare.

Fecho os olhos por alguns minutos, com isso a imagem de Giovanna


volta com força.

Preciso ir até o cemitério levar flores para a minha irmã, rezar por
ela.

Giovanna queria ser feliz, mas isso foi tirado dela.

Cesare
Hope, o fruto de uma relação entre mim e Isabel.

Segurá-la em meus braços é diferente de tudo o que estou


acostumado.

Ela é frágil, delicada e indefesa.

Coloco-a na cama, enquanto tiro o paletó, ela olha pra mim enquanto

leva a mão na boca.

Encaro o curativo no ombro causado por Isabel, omiti sobre


Giovanna e não me arrependo de absolutamente nada.

A morte da irmã a destruiu, ela desejava morrer naquela banheira.


Lembrar da cena me deixa nervoso, transtornado e destruído.

Se não tivesse chegado a tempo ela poderia estar morta, não iria
suportar isso.

Hope resmunga.

Afasto um pouco os pensamentos.

— Sua mãe é um problema — digo, encarando-a.

Os olhos são de Isabel, é a mesma coisa que encarar os dela.

Ainda me lembro como se fosse hoje, estava em uma viagem no


México e recebi a ligação que a minha mulher estava em trabalho de parto e

tive que sair às pressas. Assim que a vi, a primeira coisa que reparei foram os
seus olhos.
Hope estava prevista para chegar na semana seguinte, no entanto,

minha filha teve pressa.

A pele clara, os olhos de Isabel, mas com traços meus.

Pego minha filha com cuidado e a deito, deixando-a de bruços em


meu peito.

Beijo sua bochecha e aliso seus cabelos.

— Durma, bebê.

Ela resmunga, deitando a cabeça no meu pescoço.

— Você é teimosa igual sua mãe, Hope.

O sono parece não chegar, aliso suas costas enquanto a observo.


Seguro a pequena mão dela.

— Papai ao velar seu sono — digo baixinho. — E te protegerei de


tudo — prometo, sentindo o coração dela.

Isabel

Pego o celular quando acordo e vejo que dormi por uma hora.

Estar no quarto sem a Hope é estranho, gosto de acordar e vê-la


perto de mim.

Cesare não sabe quando trocar a fralda dela, cuido melhor do que

ele.

Saio do quarto indo até o meu, vou trazê-la para ficar comigo.

Abro a porta com cuidado e encontro Hope dormindo na cama ao


lado dele, Cesare está acordado observando-a dormir.

Um travesseiro está ao lado da Hope, impedindo que ela vá para o


outro lado.

— Mais calma? — ele pergunta ao se levantar com cuidado.

— Vim buscá-la.

— Levou as roupas para o quarto dela. Fugir é sempre a solução que


você mais opta — provoca. — Mas por quanto tempo?

Cesare se aproxima de mim.

— Você alimentou uma mentira por um ano, Cesare. Posso ficar

longe por muito mais — asseguro.

Ele me puxa para si.

Olho o ombro dele.

— Me solte, quer mais um tiro no ombro? Ou em qualquer outro

lugar? — sugiro.
— Dei a oportunidade de acertar o coração e você não quis —

reforça. — Além de que, deixei-a ficar longe de mim por cinco meses, depois
jurei pelo meu sangue que não faria isso novamente.

A boca dele bate contra a minha, empurro-o, mas o aperto em minha


cintura é mais forte.

Um beijo agressivo, no entanto, não quero me entregar, Cesare


insiste até que o nosso contato fica lento e intenso.

Abro passagem para a sua língua, aprofundando mais.

Eu preciso terminar isso, mas, ao mesmo tempo, sinto uma


necessidade extrema de sentir seus lábios, estar junto ao corpo dele. Um
maldito vício.

A mão de Cesare desce até adentrar a minha camisola, apertando


minha bunda.

Afasto os lábios da boca dele, buscando ar, ambos estamos

ofegantes.

Olho para Cesare, no fundo dos seus olhos.

— Me beijar não vai mudar nada.

— Sou o Don da máfia Salvatore, você me feriu, Isabel — recorda.

— Não sairá de casa a não ser em minha companhia, essa é a punição pelo
que fez.
— Você é traiçoeiro como eu, faria a mesma coisa — rebato.

— Essa é a consequência — reforça. — O que eu fiz foi pensar em


nós, principalmente em você.

Engulo em seco.

— Giovanna não foi morta pelas minhas mãos. Sua irmã cuidava de

você, era isso o que ela mais fazia — lembra. — Agora a Hope precisa de
você, assim como eu — diz, próximo do meu rosto. — Você construiu sua
vida, Isabel.

Sua boca fica sobre o canto da minha boca.

O quão errado é construir uma vida enquanto minha irmã não teve a
oportunidade de fazer a dela?

Hope desperta e começa a chorar, quebrando o momento e a


conversa.

— Vem cá — digo indo até a cama, pegando-a no colo.

Ia sair do quarto sem falar com Cesare, até ele segurar meu pulso.

— Nossa conversa continua amanhã.

Beija a bochecha de Hope, depois a minha boca.

Deixo o quarto com ela, confusa e tensa. A cabeça coberta de

dúvidas e incertezas.
Não consigo mais ter controle sobre muitas coisas na minha vida.

Acordo quando os primeiros raios de sol adentram a vidraça, decido


tomar um bom banho para despertar, mas atenta para o caso de Hope chorar.

Depois de me vestir e passar uma leve maquiagem no rosto, vou até


o berço e a encontro acordada, balançando as pernas. Doida para sair do
berço.

Ao encontrar meu rosto ela fica um pouco mais agitada.

— Meu amor — chamo.

Ela sorri, não resisto e a tiro do berço.

— Bom dia. — Beijo sua bochecha. — Vamos tomar banho, mas


primeiro quero escolher a roupa para você usar hoje.

Caminho com Hope até o pequeno closet das roupas dela.

Ultimamente não gasto mais comigo, nem sei quando comprei a

última peça, apenas penso nela quando saio para fazer compras.

Desço o olhar em um body amarelo, com uma tiara da mesma cor.

— Hoje você será o sol, quero ver seu pai babar nessa roupa —

conto como se fosse um segredo para ela.


Meu celular vibra, desbloqueio a tela e vejo uma mensagem da

minha mãe.

Porém, a data de hoje é o que chama a minha atenção, o aniversário

de Cesare é amanhã.

Esqueci-me totalmente a data do aniversário dele.

Após encontrar aquela carta acabei voltando ao tempo, quando

Giovanna morreu e de como fui jogada para ocupar seu lugar.

Não é fácil acreditar que já se passou um ano do ocorrido, estava


tentando esquecer com a gravidez e a chegada da Hope.

Forcei minha mente a acreditar que não poderia fazer mais nada, mas
estava completamente errada. Ignoro os pensamentos ao sair do quarto com a

minha bebê.

Cesare para a minha surpresa está tomando café enquanto lê um

jornal.

— Vai trabalhar em casa? — pergunto, arqueando uma sobrancelha.

— Sim.

Ele me encara, junto com Hope.


— Vai com o papai — digo, entregando-a para ele.

Sento-me ao lado dele e decido comer uma uva. Cesare olha a roupa
dela.

— Essa tiara não machuca? — pergunta imediatamente.

— Não — asseguro. — Gostou da cor?

— Tudo fica bem nela, mas gostei do amarelo — diz, olhando para
mim.

— Minha mãe mandou mensagem, quero sair dessa mansão nem que
seja para ir até a igreja, rezar pela minha irmã — barganho.

Hope pega na mão dele, ela tem segurando os brinquedos também


nessa fase.

— Reze aqui, Isabel. Tenho certeza de que Stella irá ajudá-la, além
de que, minha mãe e Alessa estão vindo — informa.

— Essa mansão não é uma igreja — rebato.

— Você já foi ontem, não adianta tentar me enrolar para sair —

reforça.

— Posso ficar doente ficando presa nesse lugar — protesto.

— Boa tentativa, mas há uma equipe médica à disposição, além do

contato de Angela — diz, ao se levantar segurando Hope. — Outra desculpa?


— Quero fazer compras, joias novas — explico.

— A que você quiser é só me pedir e será entregue em nossa casa —


avisa, vindo ao meu encontro.

— Queria comprar algo para você também, um presente. O tiro foi


um arranhão, Cesare — insisto.

Ele coloca nossa filha em meus braços.

— Você já me deu um, que eu considero importante demais —


afirma, olhando para Hope e depois para mim. — Quero as duas em casa.

— Hope e eu somos importantes para você? Não consigo acreditar


nas suas palavras de novo — provoco, sem me conter.

Ele pega em meu queixo, apertando um pouco o local.

— Nunca volte a cogitar que ambas não são — reitera. — Você sabe
a verdade, Isabel.

— Não toque na minha pele — rosno.

— Por quê? — provoca. — Saudades? Do calor do meu corpo nu

sem nada para cobrir nós dois. Eu a quero em nossa cama essa noite —

afirma, ao deixar a sala de jantar.

Assisto Cesare sair, deixando minha pele sem o toque dele.

Olho para Hope, a nossa mistura foi feita de uma forma perfeita.
Ela tem traços dos dois, um pequeno lembrete do nosso amor.
Estou na sala principal quando a empregada vai abrir a porta, a

governanta se aproxima com sobremesas e chá para receber as visitas.

Hope está acordada, testei algumas chupetas, até que ela pegou uma
rosa com uma coroa de princesa.

Passos são ouvidos, minha bebê olha para o corredor. Greta


Salvatore é a primeira a entrar, os olhos dela vão diretamente em Hope.

— A vovó trouxe laços e mais roupas para você — diz, vindo até
nos com algumas sacolas, ignorando-me totalmente.

— Greta, boa tarde — provoco.

Ela olha para mim, levantando uma sobrancelha.

— Achei que iria me matar assim que passasse pela porta. Atirou no

meu filho! — brada.

— A escolha do seu marido custou a vida da minha irmã! — reforço.

— Eu sempre senti que havia algo ligado aos Salvatore, não errei.

— Minha neta tem o nosso sangue — rebate. — Ela é uma


Salvatore.

Ouço passos, mamãe e Alessa entram juntas.

— Tia — repreende Alessa.

— Minha filha não pode passar nervoso, Greta, são ordens médicas

— lembra minha mãe.

Olho minha querida sogra.

— Ela é inexperiente e quase prejudicou Hope com uma crise


nervosa por pirraça.

— Abaixe o tom, pois está na minha casa — aviso. — Não coloque


Hope em nenhum assunto, dou o meu sangue e a vida por ela. Jamais irei

prejudicar o meu bem mais precioso — reitero, aumentando o tom de voz.

— Isabel — diz mamãe. — A verdade foi descoberta, sonhei com


sua irmã e ela estava feliz, sorrindo. Tenho certeza de que ela queria que

soubéssemos.

Engulo em seco, não sonho com a Giovanna. E isso mexe com a

minha cabeça.

— Venha comigo, meu bem — diz Greta, ao estender os braços para


Hope.

Deixo que ela segure a neta, porém, acompanho os movimentos


atentamente.
— Amarelo, nunca gostei dessa cor. Mas olha como Hope ficou

linda, estou babando na roupa e a tiara — diz Alessa, sentando-se ao meu


lado.

— Gosto de impressionar vocês com as roupas dela — sorrio ao


olhar para minha bebê.

— Ela gostou da chupeta — comenta mamãe, boquiaberta. —


Quantas você testou, filha? Lembro-me de que você escolheu a última opção.

— Seis, ela gostou dessa e era a penúltima — explico.

— E o estresse? Fiquei preocupada, Gianluca comentou o que


aconteceu — pergunta Alessa. — Gostei da parte do tiro, deveríamos poder
usar armas — insiste, com um sorriso divertido.

— Cesare nunca devolveu a minha, acho que ele sabe que usaria
para descarregar a raiva. Estou mais calma, não quero perder o controle como
ontem, afetar a amamentação da Hope, algo poderia acontecer comigo
também — reforço.

— Posso confiar que está evitando o estresse? — insiste minha mãe.

— Prometo, mãe. Confesso que me dá vontade de jogar para fora,


gritar, odeio engolir palavras.

— Deve pensar na minha neta — interfere Greta. — Posso muito


bem auxiliar vocês, Isabel. É melhor do que uma babá, sou avó da Hope.
Minha sogra se senta no outro sofá, Hope solta a chupeta,

começando a ficar inquieta.

— Desde o nascimento avisei que queria cuidar da minha filha

sozinha. Quem troca as fraldas, dá banho e está com ela todas as noites, sou
eu — reitero.

Hope começa a chorar, não querendo mais o colo de Greta.

— O que foi? Minha bebê, você se parece muito com o papai —


tenta conversar, passando a mão no cabelo dela. O choro aumenta e a minha
mãe se aproxima.

— Greta, eu a seguro.

— Stella, acabei de pegá-la — rebate, irritada.

— Minha mãe tem mais experiência com ela, Greta — afirmo.

— Isso não me interessa, Isabel. Sou avó, quero acompanhar tudo de


perto, estar com ela é o mínimo. Ela não está bem por causa da tiara —
deduz.

— Mãe, pode pegar.

Greta cede, com uma raiva em seus olhos ao ver Hope parar o choro
ao ficar com a minha mãe.

— É o meu anjinho — diz baixo. — O nosso pequeno sol.

Minha querida sogra pensa que Hope é sua filha.


— Como está a sua alimentação? — pergunta rapidamente.

— A doutora Angela cuida muito bem de nós duas — asseguro. —


Outra pergunta? — indago.

— Como é gerar uma Salvatore, Isabel? — A voz de Marco surge


pelo corredor.

Fico em alerta ao vê-lo em minha casa, ele não costuma vir aqui.

Depois que perdeu o poder acabou deixando a barba crescer, os


cabelos, sem deixar os ternos caros e sapatos ilustrados.

— Querido, não sabia que vinha — comenta Greta, surpresa.

Ela se levanta indo até ele.

— Não te devo explicações onde ando ou deixo de andar —


responde, ignorando-a. — Hope Salvatore — diz, olhando para a neta.

Ele dá alguns passos até minha mãe.

— Gosto do nome e sobrenome. Quero segurá-la, Stella.

Todos o encaramos. Levanto-me do sofá indo até minha mãe.

Posso pegar a arma dele e em um segundo estourar seus miolos, caso

pense em fazer algo com a minha filha.

Mamãe entrega Hope, Marco a segura olhando para os olhos azuis

dela.
— Sempre por perto como uma perigosa leoa, Isabel — comenta,

com um sorriso divertido.

— Tire as mãos da minha filha. — A voz de Cesare ecoa pelo

corredor.

Ele surge no meu campo de visão, seus olhos fixos em Marco.

— Cesare...

— Eu não te dou permissão. — Aumenta o tom.

Marco entrega Hope para mim.

— Luigi segurou a neta. Apenas queria ter a mesma sensação, ela


transmite a essência Salvatore, tão pequena e exala extremo poder — avalia,
olhando a neta.

— A queria morta — lembra Cesare em um tom sombrio. — Se


voltar a tocar na mão ou em um fio de cabelo dela, eu o mato — ameaça. —
Não se esqueça de que você está sem soldados, não há autoridade. Como é
ser um inútil? Se afastou das ruas e diversos locais de Roma, Marco

Salvatore agora teme por sua vida. — O deboche faz as bochechas do meu

sogro ganharem destaque pela cor vermelha que surge rapidamente.

— Amanhã é o seu aniversário, sempre estive por perto, Cesare. Eu

o criei para ser um líder sanguinário e impiedoso, é o que está em nosso


sangue, a cada geração um Salvatore tem o acesso à coroa e a Itália inteira!
— diz, com extremo orgulho. — Você se tornou o Don, porém, eu o treinei e
foi bastante exaustivo, moldei-o como tanto queria.

— E agora, Marco Salvatore, você me serve — diz Cesare, com

soberba. — Venha até o escritório.

Meu marido se retira, e como um perfeito cachorrinho, Marco o

segue.

Greta respira fundo, ela odeia os embates de Marco e seu filho.

— Esqueçam o que viram e ouviram — orienta.

— Lembre-se, Greta. Você ouviu o que Cesare disse, Marco não vai
encostar na minha filha nunca mais — reforço, à medida que vejo sua raiva
surgir. — Cuidado, pode ser a próxima.

Cesare

Sento-me em minha cadeira, observo o tirano sanguinário

responsável que um dia já foi temido por todos.

O erro dele foi escorregar e não saber lidar com o próprio filho.
Papai me ensinou tudo muito bem, tramar, agir e ler gestos com um simples
olhar.

— Não posso ser avô, Cesare? — provoca.

— Um servente, é o que você é — corrijo. — Era o líder, e eu o

triunfo. Passou a moldar seu filho como uma arma, porém, todas elas vêm
com um gatilho, apertei uma na sua direção. Montei o jogo, e agora o peão

não sou mais eu — reforço.

— Quer ver seu pai de joelhos para implorar por soldados? — rosna.

Olho para ele, está tão transtornado.

— Reconsidere, filho. Posso ser mais útil do que o imbecil do


conselheiro, Carlo Rossi — sugere.

— Não — adianto.

Puxo a gaveta pegando algumas cartas importantes, que foram


encontradas no escritório dele, no fundo do cofre embaixo de joias e euros.

Marco acompanha meus movimentos, coloco-as em cima da mesa.

— Guarde — pede rapidamente.

— Pensei que o manteria na linha. Mas fazer uma visita, segurar


Hope sem a minha permissão, foi ultrapassar todos os limites.

— Estou arriscando minha vida sem ter um soldado para fazer

proteção. Sabe quantos inimigos tenho? — exalta-se. — Queime essas cartas,


Cesare.
— E apagar um passado? — provoco abrindo uma.

Kyra, eu darei tudo para você e a nossa filha. Não tema por sua

família ou a máfia, como Don posso protegê-las. Greta foi a condição que
meu pai impôs, sem o matrimônio não poderia ser o Don, é um mero

contrato. Eu te amo, Alessa é uma Salvatore, ambas estão sempre


comigo.

— Uma filha bastarda com a melhor amiga da minha mãe —


comento, pegando outra.

— Cale a boca, Cesare! Não abra!

Abro mais uma, da Kyra dessa vez..

Quando vejo Cesare, penso em contar que ele tem uma irmã,

eles possuem laços. Marco, eu aceitei ser rejeitada pela minha família ao
ter Alessa, corro todos os riscos, tudo foi por nós. Eu o amo, mas

prometa que criarei nossa filha, não darei ela para um orfanato, jure
pelo sangue.

Termino de ler.
— Eu tenho uma meia-irmã. Mamãe criou a sua filha — provoco

— Sua mãe não deve saber e muito menos a máfia Salvatore — diz,
com a voz sombria. — Já lhe dei o que queria, cumpra a sua parte e guarde

essas malditas cartas! — ordena. — Não irei ter soldados ou um cargo,


apenas sirvo você — declara, fazendo-me sorrir.

— Lembre-se disso toda vez que respirar — sugiro. — Saia.

Vejo a raiva tomar conta dele quando em suas mãos não há nada, ele
entrou com as mãos vazias e acaba de sair da mesma forma.

Marco nunca conseguiu planejar, ele sempre agiu, ignorou planos e


armações.

Diferente de mim, traço e planejo cada passo, observo as cartas em


minha mesa mais uma vez.

Eu usei esse material ao meu favor, a máfia tirou do meu pai o que
ele queria, Kyra era seu maior desejo.

Quando Giovanna morreu, fiz um acordo com Marco, guardei o seu

passado e em troca Isabel seria a minha esposa. Foi assim que o nome dela

surgiu.
Cesare

Giovanna, escolhida pela máfia, meu pai e Luigi Garzelli pretendiam


fazer uma união extremamente vantajosa.

Retiro de uma das gavetas a foto do casamento onde retiro o véu de


Isabel, ela não foi escolhida por ser a caçula, além da personalidade forte.

Marco Salvatore acreditava que Giovanna seria submissa, invisível e


quieta, apenas aparecendo em eventos ao meu lado.

A irmã de Isabel podia aparentar ser retraída, mas ela tinha a


essência de Luigi, Giovanna e eu tivemos uma conversa no baile de
prometidos há um ano.

Na noite que coloquei um anel em seu dedo, enquanto Isabel

dançava com Carlo Rossi.


Um ano atrás

Giovanna anda ao meu lado tensa com os diversos olhares que estão

em nossa direção.

Paramos no meio do salão, uma música lenta toca. Coloco uma mão
em sua cintura e a outra junto a mão dela. Trocamos olhares.

— Cesare, eu preciso conversar com você — avisa.

— Escolheu um lugar um tanto quanto perigoso para essa conversa


— alerto, olhando ao redor.

— Estamos dançando, não vão desconfiar. Apenas observar —


afirma.

— Diga-me então.

— Eu não quero ser uma Salvatore, ter filhos com você. Aos meus
olhos sempre foi um dos meus melhores amigos — diz mais perto. — Tentei
falar com Isabel, mas minha irmã não quer tocar no seu nome, ela aceitou

essa escolha, mas vocês se amam. Vejo como olha para ela.

Encontro Isabel dançando com o meu futuro conselheiro, o sorriso

que ela está oferecendo para ele. Eu o quero longe dela.

— Seu pai pretende entregá-la para Carlo — comento, voltando a

olhar Giovanna.
— Sim, Cesare. Você é o único que pode fazer alguma coisa, se case

com Isabel, quero ver ambos juntos — reforça. — Não vou destruir a vida
dela.

— Acha que eu quero isso? Giovanna, ainda não sou o Don, tem
noção de que preciso me casar para tirar o meu pai? — digo baixo. — Um

erro e tudo estará perdido. Preciso encontrar uma forma de ter ele em minhas
mãos, assim impedir que sua irmã se case com Carlo.

— Sempre foi astuto e inteligente, Cesare. Eu confio em você.

Dias atuais

Antes da morte dela, consegui encontrar as cartas trocadas entre

Marco e Kyra.

Iria usá-las, mas Giovanna foi vítima do ódio de um dos nossos

soldados, morto pelo meu pai. Agnes, a filha do sujeito tinha um caso com
Giovanna.

Aquilo acendeu a fúria do Don e de Luigi.

Os dois sanguinários optaram por criar uma história e esconder a


original. Giovanna foi enterrada com seu segredo.

As cartas que encontrei foram finalmente usadas para Isabel voltar a


ser minha.

Afasto meus pensamentos, ao observar pela câmera de segurança


Isabel saindo até o jardim com uma vela em suas mãos.

Levanto-me da minha cadeira e saio do escritório, meus passos são


lentos.

Observo-a rezar por Giovanna.

Omiti a verdade, porque eu vi Isabel querer morrer, estava se


sufocando pensando na irmã, no que ocorreu. Não me arrependo de ter
guardado, faria isso novamente se fosse preciso.

Enquanto Isabel segura a vela, fico ao seu lado olhando para a


chama.

— O que está fazendo aqui? — pergunta.

— Sempre gostei de Giovanna. Ela não queria aquele casamento

assim como eu — digo, olhando-a. — Respondendo agora o que perguntou,


sou capaz de fazer tudo por você, acompanhar uma oração, segurar a vela —
afirmo, encontrando os olhos azuis com um pequeno brilho.

Ela não diz nada, mas entrega a vela para mim, seguro com uma mão

e a outra deixo em sua cintura, mantendo-a comigo enquanto ouço suas


palavras para Giovanna.

Não há vento, apenas a voz dela e as rosas vermelhas, que pertencem


apenas à Isabel.

Isabel

Encontro minha mãe na sala.

Acendi uma vela pedindo paz para Giovanna, em pensamento queria


vê-la em meus sonhos.

— Hope está dormindo, filha. Conseguiu fazer a oração? —


pergunta ao se aproximar.

— Sim, foi a única forma de fazer algo. Mãe, mudando de assunto, o


que acha que Marco veio fazer aqui? — pergunto, ainda não engolindo o fato

de que ele apenas voltou para pedir migalhas ao filho.

— Eu fiquei surpresa de vê-lo. Mas acho que é algo entre pai e filho,

não deve se meter nos assuntos de Cesare — repreende.

— Nunca vou aprender a me comportar — aviso, sorrindo. —


Cesare estava falando comigo antes dele voltar ao escritório que iremos ao
cassino — informo.

— Amanhã é aniversário dele. Imagino que hoje muitas pessoas


importantes estarão lá para entregar presentes, respeito...

— Bajulação também — acrescento. — Você irá acompanhar o


papai? Queria pedir para ficar com a Hope.

— É claro que eu fico — assegura. — Pode ir tranquila, seu pai


jamais vai interferir nisso, Cesare não é Marco, ele anda na linha agora.
Principalmente, após Luigi ver com os próprios olhos a decisão que tirou o
nosso antigo Don dos privilégios — comenta.

— Marco Salvatore merece rastejar. Eu o quero longe da minha casa


— reitero. — Greta é mais um peão em suas mãos, ela olha para Hope como
se fosse filha dela, tudo isso por não ter uma filha.

Marco não a deixou ter aquela criança e Alessa foi adotada, ambos
se tornaram tios dela.

— Greta está sozinha, Marco também — afirma. — Plantamos o que


colhemos, Isabel.

— Você sempre esteve certa.


Mamãe vai para casa para avisar meu pai.

Após tomar um banho, volto ao meu quarto, preciso escolher um


vestido para a noite no cassino. Opto por um preto de seda, com duas alças

em um decote V e uma fenda na perna direita. Ele mostra as curvas do meu


corpo, além de ser confortável e perfeito.

Pego a necessaire para iniciar a maquiagem, quando ouço a voz de


Cesare ao celular.

Afasto-me da penteadeira e vou até a porta fechada do quarto para


tentar ouvir melhor.

— Ele está preso nas ferragens? Acione o hospital, nossos médicos


cuidarão do restante.

Pisco confusa, um silêncio surge até a porta ser aberta por Cesare.

Ele olha para mim com uma expressão provocativa.

— Bisbilhotando, Isabel? — pergunta, tirando a camisa social.

— Fiquei curiosa — respondo, indo até ele. — O que houve?

— Meu pai sofreu um acidente — diz, com naturalidade. — Bateu o

carro e está preso nas ferragens.

— Ele não parecia bêbado quando saiu daqui. Pretende ir até o

hospital?

— Minha mãe está indo, Luigi está acompanhando-a. Temos que ir


ao cassino — responde.

Ele está nu diante de mim, em vez de ir até o banheiro, meu marido

se aproxima.

— Ainda está insatisfeita. O que quer, amor? Mais respostas ou

perguntas? — questiona, beijando meu queixo.

Gosto dos seus lábios na minha pele, e ele sabe disso.

— O que aconteceu no escritório? Marco saiu disposto a tudo —


indago, encarando os olhos traiçoeiros que me prendem.

Cesare deposita um beijo no meu pescoço, mas o choro de Hope


quebra o momento, mesmo assim, meu marido não encerra a conversa.

— Vou tomar banho, traga Hope para cá. Quando sair, contarei
algumas coisas — afirma ao se retirar.

Tiro minha bebê do berço, troco sua fralda e a levo para o quarto.

Sento-me na poltrona com ela.

— Alguém está brava com a mamãe? — pergunto.

Tiro sua chupeta, quando ela acorda gosta de ver que tem alguém

por perto. Caso contrário é choro.


— Jamais ia deixar você sozinha — prometo, beijando sua testa e

bochecha. — Nunca, meu amor.

Arrumo-a em meus braços, abaixo a alça do vestido, usando um

pano rosa para não sujar.

Posiciono o seio para Hope, que pega rapidamente, deixando a

mãozinha em cima dele.

Passo a mão nos cabelos dela, os primeiros dias foram tão difíceis,
tinha medo de derrubá-la.

Minha mãe foi essencial para me auxiliar.

A amamentação é o momento mais delicado e precioso, a conexão


dela comigo. Jamais senti essas sensações.

Cesare sai enrolado em uma toalha, os cabelos escuros molhados


estão penteados para trás.

Observo o ombro dele que já está bem melhor do que antes.

Ele se aproxima, alisando a bochecha de Hope.

— Você pediu respostas, e eu vou lhe contar o que houve — diz,

agora olhando para mim. — Meu pai teve um caso com alguém do círculo
íntimo da minha mãe.

Arregalo os olhos, ele ri enquanto se afasta indo até o closet.

— Não acredito nisso — rebato rapidamente. — Está mentindo para


mim, Cesare.

Marco Salvatore teve um caso? O Don sanguinário cometeu um

grave erro?

É impossível de acreditar.

— Acho que estou mentindo? — pergunta, com diversão. — Marco


saiu da mansão transtornado após ler alguns trechos das cartas que ele trocou

com a falecida Kyra. E agora ele sofreu um acidente porque eu o tenho nas
mãos há muito tempo, na verdade, há um ano — revela.

— Seu pai segue regras. Por que ele ficaria com alguém estando
casado? Isso seria um escândalo, mancharia a imagem que ele adora passar
— comento, sentindo a raiva surgir.

O veneno está em meus lábios e nas palavras.

Há anos, Marco Salvatore aterrizou milhares de inimigos, incitou


agressões, mulheres sendo torturadas para "andar na linha".

Greta passou por muitas coisas e o apoia. E ele possui um segredo


sujo guardado durante anos.

— Sentimentos são traiçoeiros, Isabel. Sabemos melhor do que

ninguém disso — reforça ao olhar para mim. — Meus antepassados

resolveram usar a cobra como símbolo da nossa máfia pelo que ela
representa: veneno e perigo. Kyra era a melhor amiga da minha mãe, Greta
foi escolhida para casar com meu pai. A máfia a escolheu, porém, Marco e
Kyra mantinham um caso perigoso, um bebê veio ao mundo.

Pisco algumas vezes.

Cesare opta usar um terno vermelho para essa noite, a gravata preta.

Tento prestar atenção na revelação, e não no meu marido ou como

ele fica bem de vermelho.

— Seu pai teve um bebê fora do casamento? Mas a melhor amiga da


Greta...

— Alessa é minha meia-irmã, a bebê bastarda que meu pai escondeu


durante anos. Criada pelo próprio pai, Marco fez minha mãe criar uma
criança fruto de traição — explica.

— Greta queria uma menina, já que o próprio marido mandou tirar


— comento, boquiaberta.

Olho para Hope, aquele infeliz sugeriu que ela fosse tirada.

Minha bebê termina de mamar, levanto-me com ela massageando


suas costas.

— Kyra foi rejeitada pela própria família, com a morte dela, Alessa
iria para um orfanato, mas meu pai viu nessa oportunidade uma forma de

criar aquela bebê.

Cesare se aproxima pegando Hope.


— Termine de se arrumar — orienta.

Vou até a penteadeira, absorvendo essas revelações. Abro a


necessaire e pego a minha base.

— Você disse que usou o segredo do seu pai. Tirou ele dos
privilégios de um membro, e o silêncio de Marco durante todo esse tempo foi

causado pelo medo do que você descobriu — conclui.

— Ele criou o filho perfeito para ser um Don. Mas esqueceu de


nunca me subestimar — reforça.

Encaro-o enquanto espalho a base pelas bochechas e os demais


traços do rosto.

— No que mais usou essas cartas? Essa noite estou sabendo de


muitas coisas — pergunto, encontrando seu olhar.

— Seu nome surgiu no velório de Giovanna, porque eu pressionei


Marco. Usaria o segredo sujo para terminar o casamento com sua irmã,

porém, tudo aquilo aconteceu, então a ideia surgiu na minha cabeça. Graças
àquelas antigas cartas que eu a peguei de volta, Isabel.

Não consigo continuar a maquiagem. Olho para Cesare, suas


palavras ecoam dentro da minha cabeça.

Lembro-me do velório da minha irmã, foi quando meu nome surgiu.

— Por que está me contando? — questiono. — Pensei que não fosse


de confiança.

— Não haverá mais segredos ou omissões entre nós dois. Já passei


pelo seu ódio, conheço-o tão bem quanto você — afirma. — E você a mim.

Jogamos e nos machucamos diversas vezes, mas isso de uma certa forma
sempre faz ambos estarmos juntos. Eu fiz muitas coisas para colocar o anel

em seu dedo e entregar meu sobrenome, agora não há mais nada que a tire de
mim — reitera em cada palavra.

Sinto isso em minhas veias, sinto todos os pelos do meu corpo


arrepiados.

— É a hora de construir o que prometemos e planejamos há muitos


anos — diz, beijando a bochecha da nossa filha.
Desço as escadas com Hope em meus braços. Minha mãe entra na

mansão.

Estou ainda absorvendo as informações que recebi no quarto.

— A vovó quer te levar embora — brinca ao se aproximar dela, que

olha atentamente para minha mãe. — Vem cá.

— Prometo que não vamos demorar muito — asseguro, entregando


Hope para ela.

— É importante que esteja com Cesare, apesar do que aconteceu


com Marco, muitos membros e pessoas importantes estarão presentes.

— Tem notícias dele? — pergunto, arrumando meu cabelo.

— Não, filha. Luigi comentou que Marco estava em alta velocidade,

o estrago no veículo denuncia isso — afirma.

— Stella — Cesare a cumprimenta.

Ele se aproxima deixando a mão na minha cintura.

— Cesare. Aproveitem a noite, ficarei em ótima companhia.


Nós nos despedimos delas, acompanho meu marido até o carro. Ao

entrar e colocar o cinto,

encaro-o com algumas dúvidas.

— Caso Marco não sobreviva, irá expor a verdade? — pergunto,


arqueando uma sobrancelha.

— Acredito que ele não morrerá. Não foi morto por inimigos e um
acidente iria levá-lo? — nega ao ligar o carro. — A verdade será revelada,
afinal Alessa tem o meu sangue, ela é uma Salvatore — confirma.

Sorrio divertida, que ironia do destino. Alessa queria que os


Salvatore fossem sua família de verdade. Ela era uma criança "adotada" e
agora passa a ser filha de Marco.

Greta não perde por esperar.

— Ela é a tia de Hope, sua irmã. Alessa merece ser reconhecida —


comento, com um sorriso.

A vingança é um prato delicioso.

Cesare é o centro das atenções assim que entramos no cassino, todos


os presentes o recebem em pé. Aliados e membros se aproximam para
cumprimentá-lo.

Dou boa-noite para todos.

Uma de suas mãos não sai da minha cintura. As palavras que ele
disse para mim enquanto segurava Hope não saem da minha cabeça, a

confissão dele sobre o segredo de Marco e de como meu nome apareceu.

Duvido que meu sogro iria querer uma Garzelli nada doce ou quieta

como alguém na família.

— Seu aniversário é depois da meia-noite, o certo seria que amanhã


começasse um evento para homenagear você, não? — questiono.

Ele ri.

— Acha que eu pretendo aturar toda essa bajulação amanhã? A data


é para passar com os mais íntimos, minha filha e você.

— Esqueço o quão delicado você é, Cesare — provoco. — Deverá


ver o seu pai, uma rápida visita.

— Me conhece extremamente bem — afirma, com a boca na minha


orelha. — Nunca dei importância para a data, passei todos com você —

recorda.

Encaro-o lembrando de diversos aniversários que passamos juntos.

— Boa noite, primo — cumprimenta Alessa, ao se aproximar com

meu irmão. — Isabel, ainda bem que está aqui.


— Cesare, Isabel — Gianluca diz, ao apertar a mão do meu marido.

— Vou me sentar com Alessa — informo para Cesare. — Não sou


uma pessoa muito humorada para cumprimentar os quinhentos convidados

que ainda devem chegar.

— Irei exibi-la mais tarde, tenha consciência disso. Não pode

escapar de mim — diz, deixando um beijo em meus lábios.

— Está com raiva de mim ainda? — Gianluca questiona.

— Talvez, bom, a noite está apenas começando. Posso mudar de


ideia, irmãozinho — digo antes de sair com Alessa, que não esconde o sorriso
de diversão.

— Pelo que vi, Cesare está perdoado? — pergunta.

— Alessa, apesar de ter gostado do tiro que dei nele. Porque era o
que eu queria fazer naquele momento, estava cega pela raiva. Mas
conversamos, estamos dialogando com frequência, Cesare hoje esteve ao meu

lado enquanto rezei por Giovanna — comento e vejo a surpresa em seus


olhos.

— Nunca o vi fazer isso — diz, boquiaberta.

— Eu também não.

Sentamos em uma mesa, olho alguns clientes em mesas apostando


muitos euros na roleta, poker.
— Sabemos que ele não se importa com diversas coisas. Mas o que

tínhamos foi quebrado, desenhei na minha cabeça que ele poderia ter
realmente feito algo para Giovanna, casar com Cesare naquele dia foi o

inferno. Um sacrifício — reforço. — Porém, ele me manteve por perto, a


gravidez foi onde acabei muito frágil. Ouvir o que aconteceu com a minha

irmã foi devastador, não tinha outra maneira, eu precisava saber como
ocorreu.

— Confesso que invejava ver vocês duas assim, nunca tive algo
parecido. Giovanna e você sempre foram próximas, descobrir o que
aconteceu, matou aquela agonia que te perturbou e, ao mesmo tempo,
silenciou as milhares de perguntas que estavam na sua cabeça, Isabel —
afirma, sorrindo. — Talvez você precisava ouvir essa verdade, Cesare não
participou ou tramou. Infelizmente, um dos nossos soldados matou Giovanna
e a própria filha por preconceito.

Respiro aliviada não sentindo mais aquele agoniante nó em minha


garganta.

— Quando casei pensei em matá-lo. Acabei afundando o que


tínhamos, na verdade, o que restou. A Hope salvou nós dois — asseguro.

— Quando olho para a nossa pequena, vejo muito de ambos nela —


diz, com um sorriso. — Falei com Bella e Ana, que, afinal de contas, a

gravidez foi uma salvação para você. Hope te deu um novo sentido. Eu quero
muito sentir o mesmo, ter o meu bebê, um pedaço de mim, inclusive estou no

período fértil.

— Sinto falta das meninas. Vou programar um dia para te buscar


com a Hope, vou esperar ela ficar um pouco maior para retornar aos estudos,

acho que Cesare não vai implicar muito — sugiro. — Falando em você, já
falou com a doutora Angela? Ela é ótima para o acompanhamento, gosto

muito do trabalho dela. Gianluca e você já comentaram sobre o assunto?

— Ele diz que não quer que o conselho mande ele ter filhos.
Gianluca diz que é um elo maior, que precisa ser fortificado. Porém, fico
insegura, não tive uma figura materna, não lembro muito da minha mãe —
desabafa.

— Acha que eu não sofri com inseguranças e receios quando Hope


nasceu? Desde a gravidez fiquei receosa, caso Cesare a rejeitasse, além de
nunca ter cuidado de um bebê. Tudo foi um processo, mas Alessa eu não me

arrependo do que aconteceu rápido ou de ter engravidado.

— Vou falar com a Angela, preciso ter um bebê, eu quero isso —


afirma. — Construir um elo, afinal eu não me arrependo do casamento, ele
foi a chave para que eu possa respirar tranquila fora de uma prisão.

— Podemos brindar, bom, vou te dever essa.

Rimos juntas.
— Tomo os dois drinks por nós. — Levanta-se.

— Alessa — meu pai a chama. Ela paralisa surpresa.

— Luigi, aconteceu alguma coisa com o tio Marco? — pergunta,

arqueando uma sobrancelha.

— Ele deseja vê-la ainda hoje. Vim pessoalmente dar o recado, as

notícias não são boas, mas Marco está vivo — explica.

— Vou falar com Gianluca — ela diz, atordoada.

Queria falar com ela, mas não sou eu te tenho que dizer, pois Cesare
que deve fazer isso.

Pelo visto Marco quer se aproximar da filha após um acidente quase


destruir sua vida.

— Minha filha — diz papai, pegando em minha mão.

— Boa noite, papai. Pensei que não viria ao cassino. Ele se senta ao
meu lado.

— Precisava falar com Alessa, além de estar presente para prestigiar

Cesare. Ele parece bem, o tiro que você acertou foi realmente de raspão,

pensei que ele a marcaria — comenta.

— Quer falar de Giovanna? — sondo. — Você e Marco pensaram na

vergonha, estavam preocupados com a imagem — rosno.

— Abaixe o tom, esse assunto está enterrado — rebate. — Vamos


lembrar de algo? Te dei a liberdade de usar uma arma, nunca a machuquei,
Isabel. Quero o melhor para você e Hope, ela me lembra você, gosto de

segurá-la.

— Gosto de ver você seguindo as regras impostas pelo meu marido,

papai. Fico tranquila que minha mãe está bem, enquanto ao seu amor por

mim e sua neta, não a quero tão perto de você — informo, ficando de pé.

— Pensa que impor uma barreira irá fazer o que, Isabel? — debocha.
— Ela tem o sangue Garzelli dentro dela, querendo ou não Hope gosta de
mim. E você ama o seu pai, sempre lhe dei tudo do melhor — afirma,
olhando no fundo dos meus olhos.

— Não esqueça do seu conselho no dia do meu casamento.


Satisfazer Cesare na cama, fui uma peça na sua mão, pai, apenas isso —

lembro, com um sorriso.

— Atrapalho? — A voz de Cesare arrepia meus pelos.

Ele costuma chegar em silêncio.

— Perguntava para Isabel sobre a Hope, meu Don — explica.

— Quando quiser saber sobre a minha filha pergunte para mim,

primeiramente — rebate. — Mudando o assunto, esteve com Marco e minha


mãe. Quero ouvir as novidades — pressiona.

— Seu pai pediu para ver Alessa hoje. Ele está fora de perigo,
passou por três paradas cardíacas, mas sobreviveu. Após exames os médicos
encontraram uma lesão fatal na medula espinhal, seu pai precisa de nós nesse
momento.

O acidente foi fatal, mas eu não tenho pena de Marco Salvatore.

— Ele está em um hospital, com o melhor atendimento dos nossos

médicos. O que você quer propor, Luigi? — Cesare o questiona.

— Cesare, como filho e Don...

— Cale a boca! — exige meu marido, em um tom sombrio. — Não


recebo ordens, mas você sim. Marco Salvatore não tem voz na minha máfia,
ele apenas existe, goste ou não. Quer ser o próximo? O terrível e sanguinário
Luigi Garzelli, sem poder e fraco.

— Perdão — diz rapidamente. — Você tem razão.

— Eu sempre tenho — corrige.

— Pai — avisa Gianluca, ao se aproximar com Alessa. — Ela irá


agora com você até o hospital. Depois irei buscá-la.

— Você vai? — pergunta Cesare para Alessa.

— Vou, te envio uma mensagem de parabéns depois.

— Você é um grande líder, Cesare — papai o elogia. — Vamos,

Alessa.

Os dois se retiram do cassino.


— Curioso Marco querer ver Alessa tão tarde da noite — questiona

meu irmão.

— Amanhã tudo fará sentido — informa Cesare.

— Pode adiantar? — Gianluca pergunta.

— Não, subchefe, será dito amanhã. Espere algumas horas —

reforça com diversão em seus olhos.

— Vou aguardar. Deixei um presente no escritório, seu vinho


preferido, o Marsala.

Ambos apertam as mãos.

— Boa noite — cumprimenta Carlo Rossi, o conselheiro.

Bem acompanhado por sua esposa.

— Trouxe cinco de seus vinhos preferidos, meu Don, parabéns —


revela, fazendo meu irmão arquear uma sobrancelha.

— Escolheu o mesmo que Gianluca, que bela coincidência —


provoca meu marido.

— Estou surpreso — meu irmão diz, analisando Carlo.

Divirto-me com a situação.

Carlo e sua esposa se retiram indo ao encontro dos demais

convidados.
— Bajulação — resmunga Gianluca. — E o seu presente, Isabel?

— Suas tentativas de conversa estão falhando, irmãozinho —


provoco.

— Peço desculpas se a deixei mais furiosa. Porém, precisava tentar


controlar aquela situação — explica.

— Sua irmã é incontrolável — diz Cesare. — Uma arma perto dela


quando está com raiva é um perigo.

— É uma pena que nós mulheres não temos acesso, a única que eu
tinha jamais foi devolvida — debocho, encarando meu marido.

— Eu a protejo, não precisa de uma.

— Bom, a raiva por mim já se foi? — Gianluca pergunta.

— Você é meu único irmão, então sim — afirmo.

— Assuntos de família resolvidos, agora venha, Isabel.

Pego em sua mão, Cesare adora me exibir.

Confesso que estar ao lado dele em público, ter toda a sua atenção
apenas em mim é o que mais gosto em eventos que tenho que marcar
presença.
Diversos presentes estão sendo levados para o escritório. O cassino

está repleto de pessoas de extrema importância.

Perdi a conta de quantas cumprimentei. Cesare não me deixa atrás,


longe dos holofotes, pelo contrário, estou a todo momento ao seu lado.

Após a meia-noite um brinde é feito para o meu marido.

Um jovem Don, mas que já transmite extremo poder e medo.

Saio do local acompanhada por Cesare, vejo meu irmão entrar no


veículo e logo sair da garagem, ele deve buscar Alessa e depois ir para casa.

Abro a porta entrando no carro. É uma hora da manhã, mas sinto

como se a noite apenas tivesse começado. Cesare se senta no banco, estamos


nós dois em uma garagem exclusiva que se encontra vazia.

Ainda não o parabenizei, fiz um rápido brinde.


Quando os olhos pretos de Cesare encontram os meus, não demoro a

ir me sentar no colo dele, esquecendo as câmeras do local. O olhar dele


chama o meu, não consigo fugir.

Coloco os braços ao redor do seu pescoço, as mãos de Cesare estão


na minha cintura.

Por alguns segundos não há palavras.

— Feliz aniversário — digo, deixando meus lábios no seu queixo.

Traçando um caminho até os seus lábios. Não o beijo, ainda não.

— A única voz que eu gosto de ouvir essas palavras — repete o que


já me foi dito há um bom tempo.

— Já ouvi isso — provoco. — Quando era uma adolescente, deixei


de acreditar em muitas coisas.

— Eu sei disso — afirma com a voz rouca.

Ele sobe as mãos passando elas pelos meus braços, provocando-me

arrepios.

— Mas nesse momento, sou eu que quero ouvir seus lábios dizerem

algo, somente para mim, Isabel.

Obviamente que Cesare iria usar algum momento para me colocar

contra a parede.

Eu sei o que ele quer ouvir. Meu coração acelera.


— O que seria? — questiono, arqueando uma sobrancelha.

— Você sabe — diz, trazendo-me para mais perto. — Quero ouvi-


las de novo.

— Eu te amo — digo de uma vez —, Cesare.

Nunca deixei de amar, no fundo sempre sentia uma pequena luz que

me lembrava a cada dia desse sentimento. Eu só não queria admitir, era mais
fácil odiá-lo.

— Diga de novo, quero gravar os seus lábios dizendo essas palavras


novamente.

— Te amo — repito, olhando para ele.

Cesare deita meu corpo no banco do carro, ficando por cima, nossos
rostos a centímetros um do outro.

— Nunca deixei de amá-la — diz, antes de me beijar.

Sou tomada por seus braços fortes em torno da minha cintura, as

mãos estão subindo lentamente, a boca dele exige muito, Cesare quer entrega
e, ao mesmo tempo, sentir o meu corpo.

Eu quero senti-lo.

Dou isso a ele ao chupar sua língua, entre uma pausa para algo mais

intenso e profundo.

As alças do vestido são abaixadas, ajudo-o a tirar a peça do meu


corpo deixando os seios à mostra.

A calcinha da mesma cor que o vestido é puxada com força por uma

de suas mãos.

Cesare deixa minha boca ofegante.

Puxo seus cabelos com uma mão, mantendo seu olhar fixo em mim,
enquanto busco ar. Depois de me alimentar com um pouco dos seus lábios.

— Quero passar a boca em cada traço da sua pele — declara. — Irei


roubar a sua respiração essa noite.

Palavras sem o ato acontecer me deixam excitada.

— Faça — instigo. — Depois de tirar a roupa.

Preciso tocar em seus músculos, sentir as costas, o calor da pele


bronzeada de Cesare aquecendo ainda mais a minha.

Cruzo os braços enquanto o espero tirar o terno vermelho.

Cesare não perde tempo, ele segura meus braços os colocando acima
da minha cabeça.

Sua boca começa pela bochecha.

Agarro suas costas passando lentamente as mãos.

A trilha feita por ele desce para o queixo, pescoço onde ele demora

mais.
Tento evitar que minha respiração falhe, busco controle, o qual não

tenho.

Os lábios de Cesare estão no meu busto, engulo em seco ao sentir a

boca dele beijando minha pele até o seio ao mesmo tempo em que sua outra
mão acaricia o outro seio.

Arranho suas costas. Fecho os olhos quando ele brinca com o bico
rígido com a língua, Cesare instiga meu corpo, sinto um calor misto com
arrepios de prazer.

Eles se espalham. Ofego alto.

Meu marido volta a fazer o trajeto até o outro seio, roubando mais da
minha respiração.

— Cesare — chamo seu nome.

— Mal comecei e a encontro rendida? Eu quero ouvir você chamar o


meu nome.

Sinto minha boceta pulsar, ansiando pela boca dele. A demora dele

me afeta.

Mas Cesare passa os lábios pelo meu braço, logo depois na minha
barriga. A expectativa cresce, preciso dele.

— Está molhada? — pergunta, com ambas as mãos agarrando


minhas coxas.
— Coloque a boca e você saberá — respondo rapidamente.

Ouço sua risada.

Cesare abocanha minha boceta enfiando a língua no clitóris inchado,

gemo alto.

Fecho os olhos, pois o prazer é enorme. As lambidas são lentas, ele

provoca enquanto me devora.

Quer ouvir a minha voz.

— Me chupa — peço, ofegante.

Agarro meus seios, ao passo que Cesare abre mais as minhas pernas.
A língua dele invade o ponto sensível.

Choramingo chamando seu nome, os movimentos dele são rápidos.

Sinto o clímax chegando.

— Ahh — o suspiro sai da minha boca.

Gozo.

Cesare beija minha boceta e entre as coxas. Busco minha respiração,

meus seios sobem e descem. Fecho os olhos, absorvendo o prazer.

Ouço a respiração dele também acelerada.

Abro os olhos quando Cesare entra em mim com seu pau duro.

Mordo os lábios com força.


As duas mãos dele estão no vidro escuro da janela do veículo,

enquanto ele impulsiona o vai e vem.

— Mais — digo rouca. — Me consuma.

— Está tão molhada — grunhe. — Quero me afundar em você


enquanto te faço minha, sinto a sua boceta apertada engolindo o meu pau,

esmagando-o.

Ofego.

Ele aumenta os movimentos, entrando e saindo. Arranho as costas


musculosas, levanto a cabeça encarando o teto.

Nossos corpos balançam, os gemidos escapam da minha boca. Não


há controle.

Gozo novamente, ainda sinto-o entrar em sair da minha intimidade.

Cesare usa a força que tanto gosto para me tomar.

A voz dele está ofegante e rouca quando o sinto gozar.

— Ahh! — digo, ofegante. — Tão gostoso — um murmuro é o que

consigo proferir.

Olho para o rosto, as bochechas coradas e os cabelos bagunçados.

Ambos buscando respirar.


Cesare está sentado no banco do motorista.

As minhas pernas estão no colo dele, nesse momento ele segura

minha panturrilha.

Meus cabelos estão bagunçados, alguns fios estão em meu rosto.

Estou de costas para ele, deitada de bruços dando a visão das minhas
costas, bunda, além da vagina.

A mão dele sobe até acariciar a minha boceta, abro um pouco as


pernas provocando Cesare.

— Não devia me provocar tão descaradamente — alerta.

— Acabei de lhe dar ela — provoco.

Com a mão livre o meu cabelo é puxado pela sua mão forte.

— Eu a quero de novo.

A voz dele desperta ainda mais a minha fome. Cesare agarra a minha
coxa, afastando-a, deixando a visão que ele quer ver.

— Não podemos demorar muito — digo.

— Sim, é claro que podemos — reforça.

Pego a mão dele e a levo até a minha entrada, molhada, pronta para
ele novamente.

— Estou pronta — asseguro.

— Fique de quatro — manda, autoritário.

Ajeito-me segurando no banco e na janela. Sinto o pau dele duro de


novo, na minha bunda.

— Só vou parar quando estivermos sujos, buscando ar. Quero vê-la


choramingar, enquanto fodemos com força.

Cesare não avisa quando entra dentro de mim, uma das mãos dele
segura a minha cintura e a outra o meu seio.

Os movimentos são mais rápidos e fortes, o ritmo não para.

Meus seios balançam com a velocidade. Gemo alto sentindo o pau


dele invadir, marcando-me e me dando prazer.

Rebolo contra Cesare atiçando meu marido, nossos corpos seguem o


movimento, balançando.

O entra e sai aumenta meu desejo, ambos estamos ofegantes.

O único barulho que ecoa no ambiente é o de nossos corpos,

buscando o prazer. É forte e tão intenso.

Cesare marca a minha bunda com dois tapas, e depois volta a segurá-

la.
Tenho sua extensão toda dentro de mim, enquanto vejo o nosso

reflexo na janela.

Antes de entrar em casa arrumo o cabelo para tentar esconder o que

aconteceu para a demora.

Cesare é dissimulado, consegue agir com naturalidade.

Ouvimos Hope chorar assim que estamos na sala principal.

— Filha, que bom que chegou. Acho que ela estava sentindo sua
falta — diz mamãe, ao se aproximar.

Pego a minha pequena, acalmando-a.

— Desculpe a demora, mãe, tivemos um assunto importante no


cassino — explico.

— Não é problema, adoro cuidar da Hope. Cesare, feliz aniversário

— deseja mamãe, ao pegar em sua mão.

— Obrigado, Stella. Espero que ela não tenha dado muito trabalho.
— Aproxima-se pegando na mão de Hope.

— Nenhum. Bom, eu já vou indo, Luigi já está chegando para me


buscar — despede-se
Subo as escadas com Hope, nunca passei muito tempo longe dela,

por isso ela estava chorando e acordada tão tarde.

— A vovó cuidou de você? — pergunto, cheirando a bochecha dela,

depositando um beijo.

Entro no quarto dela e vejo a pequena mamadeira com o leite que

tirei para ela, vazia.

— Mamãe estava com tanta saudade, na próxima vez eu levo você


— digo, fazendo um estalo com a língua.

Ela olha atenta, repito o barulho fazendo Hope sorrir.

Sento-me na poltrona e dou o seio, ao passo que aliso a bochecha


dela.

Coloco Hope no berço com cuidado para não acordá-la.

Cesare chega nesse momento pensando que a encontraria acordada.

— Não acorde ela — aviso.

— Dormiu agora? — pergunta.

— Sim.
— Deveria ter me esperado chegar para pegá-la antes de dormir —

reclama, olhando-a.

— Você que demorou — provoco ao sair do quarto.

— Eu? — pergunta, arqueando uma sobrancelha. — Você estava


debaixo de mim.

— Preciso tomar um banho — declaro, indo até a porta do nosso


quarto, abro-a já tirando o vestido.

— Encha a banheira — orienta.

Adentro o banheiro aceitando o que ele pediu. Meus olhos percorrem


os produtos para acrescentar no banho quando vejo algumas pétalas de rosas
em um pequeno frasco, isso não estava aqui.

— Quero vê-las no seu corpo. — A voz dele na minha orelha


desperta arrepios.

Viro-me e o encontro, Cesare tira o frasco da minha mão e deixa as


pétalas caírem.

A boca dele encontra a minha. Quando percebo estou com as pernas

em torno de sua cintura, ele entra na banheira comigo. Fazendo com que um
pouco da água caia sobre o chão.

A boca dele deixa a minha, porém, os olhos não.

Perco-me na intensidade do olhar dele.


Cesare me traz para mais perto.

— Case-se comigo — diz, deixando-me confusa.

Pisco sem entender.

— O quê? — pergunto, engolindo em seco.

— Renove os votos do nosso casamento, Isabel. Quero-a vestida de

noiva mais uma vez — declara contra a minha boca.

Sento-me em seu colo.

— É possível? — questiono.

— Não na igreja, mas o padre virá para celebrar a renovação —


explica.

— Eu quero — afirmo, beijando-o.

Nós nos beijamos com intensidade, nossos lábios em sincronia. Os


braços dele me apertam.

Deixo-me ser marcada pelo Don mais uma vez.


Olho para o corredor da mansão.

Ouço passos, deixo o quarto indo até o da Hope e encontro Giovanna


em um vestido branco muito bonito, olhando para a minha bebê dormindo no
berço.

— Giovanna? — pergunto com a voz embargada.

Ela se vira em minha direção.

— Isabel, ela é tão linda. Gosto muito de olhar vocês — revela, com
um sorriso.

Aproximo-me ainda sem acreditar que estou com ela.

— Como chegou aqui? — pergunto, surpresa. — Você está bem?

— Agora estou — afirma, ao pegar na minha mão. — Você está com


ele de novo, eu jamais tomaria o seu lugar, irmã, eu te amo muito. Quero um
abraço forte.

— Você está bem — repito, deixando lágrimas grossas rolarem.

Abraço Giovanna com força, sentindo-a junto comigo. Como em


diversos momentos de medo, nos acolhíamos, afastando qualquer escuridão.

Acordo assustada, abro os olhos ao me sentar na cama rapidamente.

Foi um sonho, mas parecia tão real.

— O que foi? — Cesare pergunta, tocando meu braço.

Pisco algumas vezes.

— Nada, tive um sonho.

Volto a deitar perto dele, mas o choro de Hope me tira da cama.

— Traga-a para mim — pede ainda de olhos fechados.

— Te cansei ontem? — provoco.

— Não me provoque — aconselha.

Deixo o quarto, rindo.

Sonhar com Giovanna foi o melhor presente que poderia ganhar ela
está bem e feliz.

Aproximo-me do berço de Hope.

— Sua tia ama você, ela é o seu anjinho — digo ao pegá-la. —

Vamos colocar um body que eu comprei para você usar para o papai? —
pergunto com um sorriso.

Comprei um modelo há duas semanas, escrito: "Parabéns, papai, eu


sou o seu presente".

Cesare está com um roupão quando volto para o quarto com Hope
perfumada e bem acordada.

Coloco-a no colo dele, os olhos dele vão diretamente na roupa

especial.

— Quero ouvir essas palavras — diz, beijando a bochecha dela.

Assisto os dois juntos.

Ele a deixa na cama, pega os pés dela beijando os dois.

Hope sorri, resmungando como se conversasse com ele.

— Você é o meu presente? — pergunta, pegando as pernas dela. —

Diz para o papai.

— Nós duas — respondo por ela.

Aproximo-me e ela me observa ao lado de Cesare.

Meu marido beija a testa dela.


— Peça para Stella ficar com ela — avisa Cesare, encaro-o surpresa.

— Vamos para algum lugar? Pensei que iríamos ao hospital mais


tarde — questiono, confusa.

— Sim, mas primeiro tem outro local para irmos. Prefiro que Hope
fique com Stella em casa, deve falar com Angela sobre viajar, orientações

para levar Hope — lembra.

— Irei mandar uma mensagem para minha mãe. Tenho que


compartilhar sobre a renovação dos votos, a escolha de um novo vestido —
comento.

— Quero uma segunda lua de mel.

— Para quando será a renovação? — pergunto.

— Amanhã, ontem fiz algumas ligações para iniciar os preparativos


no jardim — explica.

— Dessa vez você quer organizar tudo? Para onde vamos? —


questiono, curiosa.

— Já comecei com a organização — corrige, próximo da minha

boca. — Paris — revela, sorrio com a escolha dele.

— Não é uma viagem muito longa, Cesare. Mas vou falar com

Angela agora pela manhã, e o vestido?

— Escolha um modelo — orienta. — E o conjunto de lingerie.


— Vou tomar banho, olhe-a para mim — peço, beijando o pé de

Hope.

Cesare pega no meu braço impedindo que eu saia.

Encaro seus olhos.

Ele toma a minha boca.

— Não tome mais o anticoncepcional — avisa. — Começando por


hoje.

— Você...

Ele interrompe.

— Quero fazer o nosso filho em Paris, Isabel — afirma, roubando o


meu fôlego.

Tomei café rapidamente.

Minha mãe ficou com Hope para que saíssemos, durante o caminho
pensei na possibilidade de engravidar de novo.

Se for um menino será um casal, caso outra menina, uma companhia


para Hope.
— Chegamos — diz ao parar o veículo.

Observo o local sem entender.

— Cemitério? — indago, confusa.

— A trouxe para ver o túmulo de Giovanna. Era o que você queria


fazer — explica.

Descemos do carro. Cesare ao meu lado.

Eu precisava vir aqui antes de pensar em viajar ou na renovação dos

votos.

Meu marido me acompanha até o túmulo de minha irmã.

Minha vida saiu do controle quando a perdi naquele dia, depois do


meu casamento acabei ficando distante de tudo.

Quando olho para ao lado vejo a lápide com o nome de Agnes.

— Pedi para que colocassem ela ao lado de Giovanna — explica.

Encaro seu rosto.

— Obrigada — digo, colocando os braços ao redor do pescoço dele.

— Cesare.

Beijo-o demoradamente.

— Gostou? — pergunta, arrancando um sorriso meu.

— Era assim que devia ter sido, eu amei — declaro.


Fico por alguns segundos abraçada a ele, olhando as duas lápides.

Não sinto aquela angústia, ela já não me sufoca mais.

O próximo trajeto é o hospital.

Cesare convocou uma reunião familiar discreta para visitar Marco.

Greta, Alessa, meu irmão e papai estão na sala de espera quando


assistem a minha entrada ao lado do meu marido.

A mãe de Cesare é a primeira a sondar a demora.

— Estão atrasados. Filho, posso saber o que precisa ser discutido


nesse lugar? Só consigo pensar no seu pai, Cesare — questiona, irritada.

— O assunto envolve a família e a máfia ao mesmo tempo. Então


não poderia ser adiado, afinal Marco não faz parte da máfia Salvatore, porém,
ainda respinga nos demais tudo o que ele fez — resume para minha querida

sogra.

— Poderia ter trazido minha neta. Por que ela não está aqui? —
pergunta, olhando para mim.

— Bom dia, Greta. Ela está com a minha mãe, não quero minha filha
em um hospital — aviso ao passar por ela.
Vou até Alessa e Gianluca.

— Todos iremos entrar, Cesare? — pergunta Alessa. — Ou Isabel e


eu estamos de fora?

— Não tenho interesse em enrolar muito. Podemos entrar para o


quarto em que meu pai está — avisa.

— Pode adiantar o assunto? — papai pergunta.

— Quando eu falar vocês saberão — é a palavra final do Don.

Cesare e Gianluca vão na frente. O restante acompanha, Alessa e eu


somos as últimas.

— O que está acontecendo? — pergunta, confusa.

— Acho que teremos mudanças necessárias dentro dessa família —


explico.

— Agora você se inclui? — questiona Greta, com diversão.

— Sim — rebato rapidamente. — Algum problema?

Ela se cala.

Marco está com os cabelos ajeitados. O médico que o acompanha

aperta a mão do meu marido.

— Alguma novidade, doutor? — pergunta.

— Seu pai estava sem o cinto de segurança na colisão contra a


árvore, o corpo dele foi projetado para frente e para trás com força. Ficou
preso nas ferragens com o impacto do carro, ainda é muito cedo para cravar

algo, mas Marco está com uma lesão na medula espinhal. Em outras palavras,
pode ficar paraplégico permanentemente — resume.

O médico conversa um pouco mais com Cesare antes de sair,

deixando apenas a família de Marco Salvatore.

— Lembrou que tem um pai? — Salvatore provoca Cesare. —


Demorou para vir até aqui.

— Estou aqui para resolver um problema duplo. Como Don tenho


responsabilidades que vem acima de qualquer outra coisa, a minha honra pelo
juramento que fiz ao ser um líder — reforça Cesare.

— Algum erro grave? — pergunta papai e olha para mim.

— Sim — Cesare confirma. — Meu pai sabe o que é.

Pai e filho trocam olhares perigosos.

— O que está acontecendo? — Greta questiona. — Cesare, o seu pai


está preso mesa cama...

— Traição na máfia tem um preço extremamente alto — meu

marido interrompe a mãe. — Apesar de estar desligado, tenho o dever de

revelar seu segredo, pai.

— Cesare — rosna Marco.


— Tenho cartas que comprovam que meu pai tinha um caso com

Kyra — anuncia, olhando para Marco. — Mãe de Alessa.

— O quê? — meu pai questiona.

— Isso é ridículo! — exclama Greta, nervosa — Onde estão as


cartas, Cesare?

— A minha mãe? — pergunta Alessa, chocada. — Mas ela era


amiga da minha tia.

— Você é uma Salvatore, Alessa. Meu pai pediu para Greta abortar
a filha, porque você poderia parar em um orfanato — expõe Cesare. — Kyra
estava doente com o câncer avançado, rejeitada pela família e sozinha com
você.

— Alessa, se acalme — diz Gianluca e a segura em seus braços.

— Marco? — pergunta Greta, a fúria é nítida em sua voz. —


Responda às acusações!

Cesare tira do paletó uma das cartas.

Greta pega o papel vendo a caligrafia de Kyra, as mãos dela tremem.

Vejo a minha querida sogra ficar com as bochechas coradas pela


revelação.

— Eu criei uma criança fruto da sua traição imunda, Marco! Você e


Kyra pelas minhas costas mantinham um caso — ela rosna, totalmente
histérica. — Como pôde fazer isso com a mulher que você jurou lealdade
perante a Deus? — enfrenta-o.

Alessa chora, aproximo-me dela tentando acalmá-la.

— Responda! — Greta exige.

— Eu nunca te amei — diz Marco. — Apenas aceitei o que a máfia

escolheu ao casar com você.

Greta vai para cima dele, mas é segurada por meu pai, que impede,
para que não agrida Marco.

— Luigi não a solte até ela se acalmar — orienta Marco.

— Você me usou. Mas nosso filho é legítimo, ela é uma bastarda


qualquer, não é uma Salvatore! — diz ao apontar para Alessa com ódio.

— Ela tem o sangue dele — reitera Cesare.

— Alessa é minha filha — Marco rebate. — E você a criou ao meu


lado.

Lamento por Alessa saber de tudo dessa forma, porém, Greta e


Marco merecem tudo isso.

Estão pagando o preço, ambos caíram sem suas coroas.

— Eu não aceito isso!

Os gritos da minha sogra acabam chamando atenção do médico e


duas enfermeiras que entram no quarto, tirando-a do cômodo.

— Não quero Greta aqui até ela calar a boca, Luigi — orienta

Marco. — Alessa, venha até aqui.

— Eu não sei — diz ela, confusa.

— Você é minha irmã, além de ter direito na herança. Nosso


advogado está a caminho para resolver essa questão com Marco — avisa

Cesare. — Esse era um assunto pendente que não iria ser jogado debaixo da
sujeira. Sua vida será poupada já que está desligado, sabe qual é a resposta
para isso, e temia a todo momento — brada Cesare, enfrentando Marco.

— Você não devia ter feito dessa maneira, Cesare! Alessa, venha —
insiste.

Olho para ela.

— Apenas se você quiser — reforço.

Alessa vai até onde Marco está, impossibilitado de sentar ou

levantar.

— Criou sua filha como sobrinha — diz com raiva. — Nunca se

aproximou de mim — acusa.

— Eu a criei, era o meu propósito. Consegui lidar com isso ao


decorrer dos anos, mas agora tenho a chance de lhe dar tudo — afirma.

Alessa olha para a porta fechada, no entanto, ela permanece no


quarto.

— Durante a minha vida inteira queria ser sua filha e de Greta, irmã
de Cesare. Sempre fui vista como a bebê adotiva que não tinha ninguém,

adotada por pena e caridade — desabafa. — Eu quero o meu lugar agora.

— Isso será arrumado, Alessa — ele assegura.

— O advogado deve estar chegando. Não posso ficar muito tempo,


Gianluca e eu temos pendências. Amanhã irei renovar os votos com Isabel,
depois sairei durante três dias em viagem com Hope e minha esposa, mas não
iria sair de Roma antes de cuidar pessoalmente para que Alessa fosse
colocada no testamento. E agora que todos saberão sua sujeira — Cesare
expõe Marco mais uma vez. — Como é ver que seu filho tem tudo? —
provoca.

— Eu o criei para ser um Don, Cesare — reforça em um rosnado. —


Foi através do seu pai que ganhou tudo, jamais esqueça!

— Você me ensinou o que eu deveria fazer. O mérito de ser quem eu

sou, é meu — rebate Cesare. — Sempre foi.

Meu marido sai da sala.

— Isabel, convença ele a ficar mais — exige Marco, olhando para

mim.

— Lamento, Marco. Não sigo suas ordens, jamais estaria do seu lado
e contra Cesare — alerto. — Afinal, você escondeu a morte da minha irmã
por vergonha. Assim como omitiu da sua própria filha que ela tinha um pai.

Abro a porta saindo com meu irmão logo em seguida.

Greta está ainda nervosa, ela olha para Cesare.

— É o seu aniversário. Fique comigo, seu pai destruiu a imagem da

família! — insiste.

— Não dependo de vocês dois para nada — reitera. — Aprenda isso,


e não cobre nada de mim — ameaça.

Aproximo-me ficando ao seu lado.

— Tenho assuntos importantes para resolver. — A mão dele pousa


na minha cintura.

— Eu vou ir à renovação de votos — afirma Greta.

— Por mim tanto faz — rebato, encarando-a. — Marco e você não


fazem a diferença na minha vida ou da Hope.

— Não se esqueça de que ela é minha neta, e você está na minha


família — rosna, olhando para mim com a raiva estampada em seu rosto. —

Não já basta o fato de que coloquei na minha casa a filha da vagabunda da


Kyra, e pior como minha sobrinha! — recorda, transtornada. — Cesare, seu

pai não pode colocá-la no testamento, ela é uma bastarda, deveria tê-la
deixado em um orfanato! Maldita bebê, eu perdi a minha para que ele tivesse
Alessa por perto!

Neste momento, Alessa sai da sala e ouve as palavras altas de Greta.

— Eu queria ter o sangue de vocês. Via você como mãe! — rebate.

— Não posso pagar pelo que aconteceu, porém, não sou bastarda. Você não é
uma Salvatore de sangue, ganhou o sobrenome ao casar com Marco —

corrige.

— Cale essa maldita boca, Alessa!

— Cansei de ser a sobrinha perfeita, não sou mais ela — reforça. —


Não é porque Marco é meu pai que vou aceitá-lo como se nada tivesse
acontecido. O que me pertence é um lugar no testamento, ser reconhecida.

— Você será — assegura Cesare. — Tenho que me acostumar que


tenho uma irmã.

— Obrigada por esclarecer, Cesare. Você tem mais mulheres à sua


volta do que pensa — diz, olhando para mim.

— É um fato — concordo.

— Luigi, passe para mim o que será dito pelo advogado — instrui

meu marido.

— Sim, Cesare. A renovação dos votos será amanhã? — papai,

pergunta ao olhar para mim.

— Sim, estão convidados para o meu segundo casamento. Vamos,


Isabel. — Cesare alisa a minha cintura.

— Alessa, te espero em casa para me ajudar nos preparativos —


aviso para ela.

— Eu irei.
Dia seguinte...

Os preparativos para a cerimônia já estão prontos, acordei um pouco


mais cedo para receber o buffet, teremos algumas sobremesas e um bolo.

Ficaremos pouco tempo com os presentes, a viagem para Paris será


às 15h30. Estou tão ansiosa para conhecer a cidade luz, que não sei quantas

malas irei levar.

Daqui a pouco devo descer para ser preparada por Alessa e minha
mãe.

Já tenho duas malas com minhas roupas.

— Para que levar essa quantidade enorme de roupas? — Cesare


pergunta ao sair do banho com um roupão cobrindo seu corpo.

— Não sei exatamente o que levar.

— Qualquer roupa fica bem em você, não tem necessidade de levar


o closet inteiro — comenta, ao se aproximar.

— Escolha então o que vou vestir lá — rebato.


Cesare pega um vestido bem decotado, reviro os olhos.

— Sério?

— Pensei que iria fazer compras em Paris. E o que escolher ficará

em nossa casa — revela. — Comprei uma mansão.

— Quando? — pergunto, deixando as roupas de lado.

— Queria fazer uma surpresa. Você falava de ir a Paris há muitos


anos, apenas esperei o momento certo para lhe falar — explica.

Levanto-me e nossos corpos ficam colados.

— Planejo ampliar o poder da máfia Salvatore, para que respingue


ainda mais poder em nossos filhos — conta, beijando meus lábios.

— Sou uma espécie de conselheira? Agora estou sabendo todos os


seus planos — provoco, rindo.

— O seu lugar é ao meu lado. Tudo o que eu tenho também é seu —


afirma. — Pode não usar uma arma, mas a considero uma, que é essencial na

máfia e em minha vida íntima — declara, arrancando um sorriso meu.

— Essas declarações são uma forma de tentar me atrasar? Tenho que

descer com a Hope, colocar o vestido e encontrar você no jardim, esperando


por mim — reforço.

— Não acredito que dá azar vê-la de vestido. Poderia assistir você


colocar a peça em seu corpo — barganha.
— Você vai se vestir, só me verá quando chegar o momento certo —

reforço. — Agora preciso ir. — Beijo seus lábios.

— Não demore — diz entre o beijo.

O antigo quarto que Cesare organizou quando fiquei de repouso


resolvi usar para o preparo da cerimônia.

Hope está com a minha mãe, enquanto Alessa me ajuda a colocar o

vestido, a parte do busto e os braços é rendada.

O vestido é estilo princesa, a cauda é bem maior, com brilho no


tecido.

— Ver seu rosto dessa vez cheio de luz é reconfortante, filha — diz
mamãe, arrumando o vestido rosa rodado com detalhes em branco e pérolas.

— Esse era o casamento que eu queria ter.

— Acho que merecíamos algo diferente. Gianluca quer renovar os


votos, além de estarmos prontos para sermos pais — comenta Alessa, com

um sorriso. — Logo vou terminar a faculdade. Ainda estou assimilando que

faço parte da família Salvatore, que Marco é meu pai.

— Você está no lugar que te pertence — reforço.


— Cesare tomou conta da situação de uma forma perfeita — elogia

mamãe. — Marco fora da máfia não respinga o ato que fez, trair Greta seria a
condenação de morte dele caso ainda estivesse com poder.

— Greta terá que cuidar dele para o resto da vida. Ela sempre o
apoiou, é a obrigação dela cuidar do marido — comento. — Ver os dois

assim me alivia.

— Não guarde rancor, Isabel. Pense em Hope e em seu casamento


— aconselha mamãe.

— Marco quer que eu o veja. Ainda não sei como irei lidar com tudo
isso, mas a minha prioridade é a família que quero construir com Gianluca.

Olho para o espelho, contemplando o vestido em meu corpo.

— Vocês deveriam renovar os votos também. Estou tento a


oportunidade de usar um vestido e participar de algo que planejava quando
criança — comento, com um largo sorriso.

— Falta o véu — lembra Alessa, ao se aproximar. — Vai querer


entrar com um buquê?

— Sim, apenas com rosas vermelhas.


O véu cobre o meu rosto. Os cabelos estão enrolados após serem

preparados com babyliss.

Seguro em minhas mãos as rosas que comecei a ganhei quando

pequena.

Fecho os olhos por um momento e escuto as batidas aceleradas do

meu coração.

Diferente da primeira vez, onde a tradição pedia para o pai


acompanhar a noiva e a entregar para o futuro marido, vou sozinha.

Todos os convidados estão no jardim na presença do padre.

Engraçado, há um ano e dois meses, prometi para Deus que nunca


iria voltar a transar com Cesare.

Respiro fundo ao abrir a porta do quarto, caminho sozinha pelo


corredor até o fundo da mansão. As portas para o jardim estão abertas.

Meus passos são lentos, quero guardar todos os momentos e


substituir no lugar da cerimônia do ano passado.

Os convidados ficam de pé. Ramires e sua esposa estão na primeira

fileira da direita, Carlo Rossi também está ao lado da mulher que ele
escolheu.

A fileira da esquerda está Alessa com Hope nos braços, meu irmão
pega na mão dela, chamando a atenção da pequena.
Meu pai e mamãe estão ao lado de Gianluca. Mamãe sorri com

grande entusiasmo. Meu pai olha para Hope e depois para mim,
acompanhando meus passos.

Atrás deles, Greta Salvatore está ao lado de algumas de suas amigas,


um olhar perturbado marca seus olhos.

Olho para frente onde o padre e Cesare estão.

Meu marido dá um passo para pegar em minha mão, de frente para


ele, vejo Cesare repetir a cena que sempre rondou minha mente.

O véu é tirado relevando o meu rosto, perco-me em seus olhos mais


uma vez.

Ele beija a minha mão, encontrando os meus olhos.

— Estamos reunidos para a renovação dos votos da união entre


Cesare e Isabel Salvatore — prefere o padre, ao abrir a bíblia.

Palavras são ditas, repito meus votos para Cesare, que segura a
minha cintura e cola nossos lábios.

Tenho a cerimônia que planejava para nós dois durante grande parte

da minha vida.

Cesare sabia dos meus planos. E essa renovação de votos foi a forma

que encontramos para validar essa promessa.

Acredito que nossas almas possuem um elo incapaz de quebrar, fui


predestinada a ser sua.

E ele a ser meu.

FIM.
Anos depois....

O verão finalmente chegou na Itália.

Saboreio um sorvete enquanto observo Hope e Enzo brincando no


jardim.

A segunda gravidez trouxe um irmão para a minha primogênita. Os


dois são muito parecidos.

Os olhos de Cesare estão presentes em Enzo, cabelos escuros é uma


característica nossa.

— Mamãe — chama Hope ao se aproximar.

Minha pequena está com seis anos, aliso seus cabelos que já estão na
altura da cintura.

— O que foi, amor? — pergunto.

— Me ajude a pegar uma rosa? Eu quero entregar para o namorado


da minha boneca — explica.
— Vamos — digo, ao me levantar do sofá.

Ela me acompanha até o roseiral, pego uma observando se há alguns


espinhos.

— O papai te dá rosas. Por quê? — pergunta, curiosa.

Entrego a flor para ela.

— Quando eu era pequena, conheci o seu pai e ele me dava rosas.


Elas têm um significado, quando você entrega ela para alguém é porque ama
aquela pessoa — conto para ela.

— O papai e você eram namorados?

— Sim, minha filha, mas só quando ficamos adultos — explico.

— Eu vou ganhar rosas também?

— Não — responde Enzo, encarando nós duas. — Você não vai


namorar.

— É claro que eu vou, Enzo.

— Vocês são muito novos para falar sobre esses assuntos.

— Eu vou deixar a rosa na casa de bonecas — diz Hope.

Cesare comprou uma casa de bonecas feita com base em nossa


mansão.

Hope não desgruda mais do presente, enquanto Enzo tem uma pista
com carros.

Quando os dois não querem brincar mais separados, vão brincar

juntos.

— Não quer brincar com ela? — pergunto para o meu caçula.

Aliso os cabelos dele.

— Hope, vamos brincar? — sugere indo até ela.

Volto para o sofá, os dois decidem brincar de pega-pega.

Ouço passos atrás de mim, depois sinto o nariz dele passeando pelo
meu pescoço.

Sua mão se aproxima com uma rosa, ele me entrega.

— Mais um ano de casados — Cesare diz.

— Pensei que iria viajar para Nova Iorque. Até achei que havia
esquecido dessa data — comento.

Cesare dá a volta e aparece no meu campo de visão.

Meu marido está mais forte, não há mais resquícios do menino ou o


adolescente que me apaixonei. Assim como eu.

O tempo traz mudanças, aconteceu o mesmo com a máfia Salvatore.

A França se tornou um território aliado, o chefe da máfia parisiense:


Sebastien Cartier [1]aliou-se à máfia Salvatore.
Cesare buscou crescer como Don, ele sempre teve grandes planos.

— Mandei Carlo, eu jamais iria estar longe nessa data — reforça.

Certas coisas nunca mudam, o que sinto por ele e nosso

relacionamento é algo que ambos cuidamos.

— Nem por uma negociação importante? — indago, arqueando uma

sobrancelha.

— A levaria comigo. — Aproxima-se.

Ele se senta ao meu lado.

— Não consigo dormir longe ou ficar sem sentir seu cheiro, o calor
do seu corpo — afirma, trazendo-me para seus braços.

Deito a cabeça em seu ombro, encaro seus olhos.

— Hope perguntou sobre as rosas que você me dá — comento. —


Contei um pouco sobre nós, acredito que ela pergunte depois para você sobre
namorados — aviso.

— Quando ela estiver com dezoito anos saberá o que é — diz.

Dou risada.

— Enzo disse que não vai deixar que ela receba rosas. Vocês dois
tem que encarar o fato de que ela vai crescer, além de que, pode se apaixonar

na adolescência, somos um exemplo, Cesare — reforço.


— Não comente mais nada com ela.

Passo os dedos pelas pétalas de rosa.

— Rosas são as flores que eu tanto amo, apenas elas. Você me

acostumou a tê-las, durante todos esses anos, amo isso — declaro, próxima
de seu rosto.

Cesare se aproxima diminuindo a distância.

— Sempre ganhará rosas, Isabel. Elas sempre mandavam um recado


quando eu estava em silêncio, quando queria dizer que te amo.

Nós nos beijamos lentamente.

Eu sempre sentia um recado ao ganhar as flores.

Os lábios de Cesare me dão o ar que preciso e os meus retribuem.

Ele termina o beijo. Encaramos Hope e Enzo, uma pequena versão


nossa, eles são a continuação do nosso poder.

Além de serem frutos, do nosso amor de infância.


Hope

— Mamãe, o que é o baile dos prometidos? — pergunto, parando de


andar para olhar para ela.

Estamos indo em uma festa de noivado, dos amigos do papai.

Mamãe está segurando a minha mão enquanto papai está com Enzo,
os dois estão à frente.

— É um baile onde os noivos são apresentados para os demais

convidados como prometidos. Escolhidos, para se casarem — explica.

— Eles vão dançar? — pergunto, curiosa.

— Sim. Agora guarde as perguntas para depois, filha — pede. —


Vamos falar com os amigos do papai, fale com todo mundo.

— Tá bom.

O salão é muito grande, não tem muita criança, apenas adultos.

Encontro minha prima Elena, junto com a tia Alessa e o tio


Gianluca.
Papai fala com meus tios, cumprimento-os, Elena e eu andamos

juntas olhando ao redor.

— Mamãe disse que o baile dos prometidos é para os noivos que

foram escolhidos. Eles vão dançar juntos — comento, e ela sorri.

— Será que eles vão beijar na boca? Todos os namorados fazem isso

— pergunta, curiosa.

— Não sei, Elena.

— Hope.

Viro para saber quem é que está me chamando e encontro um


menino um pouco maior do que eu, com uma rosa na mão.

É o filho do amigo do meu pai.

— Só quem me dá rosas é o meu pai — aviso.

— Mas eu quero dar ela para você — insiste.

Pego a flor, ao encarar os olhos azuis dele.

— Você é a mais bonita.

— Obrigada — agradeço, ainda curiosa sobre ele.

Quando olho para o outro lado, Enzo está entregando uma rosa para
Elena, meu irmão sorri e ela também.

Olho para o garoto que está à minha frente.


— Por que você me deu?

— Quando eu ficar grande quero namorar você — diz.

Ele pega na minha mão, olho para a rosa que é igual as que papai dá

para a minha mãe.


Escrevi esse livro em um momento conturbado, foi um pouco difícil

lidar com a ansiedade a mil para entregar tudo nesse projeto.

Amo criar, e quando surgiu a ideia de um romance de infância na


máfia, precisava criar Beijada pelo Don para nós. É mais um pedaço meu

para vocês que amam esse universo mafioso.

Agradeço as minhas leitoras betas, minha revisora, diagramadora e


capista, parceiras do Instagram, a minha equipe é muito especial, sem eles
não estaria aqui!

Obrigada leitores por mais um projeto juntos, vocês embarcam


comigo e tornam esse sonho cada vez mais real é único.

Não esqueça de deixar a sua estrela e me contar o que achou!

Para me acompanhar e saber tudo sobre o meu trabalho basta ir no

meu Instagram: @isbabiautora

Um grande beijo!
IsBabi
IsBabi nasceu em São Paulo no dia 04 de agosto de 2000.

A escrita sempre esteve presente na vida dela, mas foi escrevendo


fanfics aos treze anos que ela descobriu esse dom que é escrever.

Escrever era um hobby, mas amigas e leitoras de suas fanfics

conseguiram fazer a autora pensar em algo maior.

Agora como autora independente da Amazon ela trabalha com


romances mafiosos, darks, e com um toque único dela em cada livro.

Ela é motivada a escrever pensando em sua mãe que sempre disse


para a mesma correr atrás dos seus sonhos, lutar, hoje sua mãe é um anjo e
ilumina seu caminho.

A IsBabi que também é a Talia, ambas são gratas por tudo o que
você, leitor, proporciona.
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Sinopse: Filha da mais perigosa ndrina da Ndrangheta, Leona


Bellini é o oposto de sua mãe, quieta, um tanto quanto retraída. Ela possui um
rosto nada angelical, sua postura é uma arma.
Cartas de mafiosos são destinados a nova principessa desde a sua
concepção, mas em seu décimo nono aniversário é revelado que o seu sangue
irá se unir com o sangue rival.

O Capo Dei Capi da Chicago Outfit, Callan Castelli é um homem


mais velho, que respinga ambição, assim como sua famiglia.

Callan carrega as sombras da morte, Leona as da sua própria


personalidade, ambos unem seus sangues em um matrimônio carregado de
ódio e promessas.
Os dois precisam entender que brechas não devem existir, pois as
sombras se aproveitam delas para entrar.
Link: https://amzn.to/382pjyE

Angel Castelli sonha em ser modelo e deixar o mundo da máfia,


porém, os planos de seu pai são outros: entregar a única filha em matrimônio
para um ancião da máfia Ndrangheta.
Nero Gambino, agora como Don da Cosa Nostra, se torna Rei de
Nova Iorque, ele almeja um dos territórios dos Castelli, mas para conseguir
esse pedaço de terra terá que se casar.
Ele a escolhe, Angel Castelli em troca de mais poder.
As aparências enganam, por trás do homem que transmite a morte e
o anjo corrompido existem segredos perigosos que são guardados a sete
chaves.

[1]Personagem de um novo livro da autora.


Fiquem ligadas.

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