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INFORMAÇÕES
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e
mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de
citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de
direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais
é apenas espelho da realidade ou mera coincidência.
SINOPSE
Coraline Sutherland era uma rica garota nerd. Estudiosa, a filha caçula
da família não tinha muitos interesses além de arte e cultura. Sempre gentil
e querida por todos, causou uma completa surpresa ao ser pega com o carro
cheio de drogas, jogando o nome da família no olho do furacão pelo
escândalo que a levou para a cadeia. No entanto, ela não fazia ideia de que
sua vida mudou por ser alvo de alguém que deveria lhe amar.
Boas garotas precisam se tornar más para sobreviver.
Diablo cresceu nas ruas. Conheceu o caos e a morte antes mesmo de
sentir amor. Vivendo com Priest e Angel, se tornou um homem ambicioso e,
querendo ter o melhor, dedicou-se aos estudos para ser um advogado. Após
anos de uma carreira de sucesso, abandonou tudo para ser vice-presidente
do infame clube Devil’s Ride. Comandando um vasto território, dominando
boates e servindo o melhor do entretenimento adulto nas noites, também era
conhecido por ser um homem capaz de causar muita dor na vida dos
inimigos.
Diablo não salvava vidas. Ele as levava diretamente para o inferno.
Quando uma jovem inocente é jogada no mar com seu nome tatuado
no ombro, ele se vê inesperadamente ligado a alguém como nunca havia
acontecido antes.
E ele fará de tudo para proteger a mulher que roubou seu fôlego… e o
coração.
Sumário
SINOPSE
CARTA DA AUTORA
Prólogo
Prólogo
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove
Capítulo Quarenta
Capítulo Quarenta e Um
Capítulo Quarenta e Dois
Epílogo
Epílogo
CENA EXTRA
SOBRE A AUTORA:
AGRADECIMENTOS
CARTA DA AUTORA
Com amor,
Mari Cardoso
Prólogo
Diablo
Ele estava queimando. Gritando e batendo no vidro, implorando para
que eu pedisse ajuda. O ar faltaria em breve e o fogo logo traria o
inconfundível cheiro de carne queimada.
Aquele filho da puta merecia.
Meu padrasto pervertido entrou no meu quarto uma vez e eu avisei
para não fazê-lo nunca mais. Ele tentou de novo e a vadia da minha mãe
estava bêbada demais para falar alguma coisa.
Eu avisei para o bastardo não tentar me tocar.
— O que você fez, monstro?! — Mamãe gritou, me puxando e caí no
chão. Ela bateu em meu rosto, mas eu levantei e peguei o frasco que havia
deixado cair.
— O que foi? — Eu me virei e joguei gasolina nela. — Quer ir para o
inferno com seu marido abusador?
— Você é louco!
— Eu sou o seu inferno. — Acendi o isqueiro e ela gritou, correndo
para longe.
Ela deveria ter cuidado de mim, me amado, alimentado e me feito
sentir feliz em casa. Mas ela apenas escolheu os homens ruins e o último,
me espancava sempre para sua diversão pessoal. Eu deixei o trailer pegando
fogo para trás e andei pela beira da estrada por longas horas até encontrar
uma cidade.
Del Ride.
Já tinha ouvido falar e só queria um pouco de comida.
Entrei em uma lanchonete, fedendo a gasolina e sujo da poeira, estando
a dias vivendo nas ruas e sem comer direito. A mulher atrás do balcão me
deu uma olhada.
— Oi, eu sou a Tina. Você quer um prato de sopa, criança?
— Não sou uma criança — rosnei, com a raiva familiar borbulhando
no meu peito.
— Quantos anos tem, docinho?
— Tenho onze anos, sou um homem — rebati, erguendo o queixo e
tirei o único dinheiro que tinha. Vinte dólares. — Traga toda comida que
esse dinheiro aqui pode pagar.
Ela pegou a nota e saiu, escolhi uma mesa no canto e fiquei atento a
todas as pessoas ao meu redor. Um garoto entrou pouco depois, ele usava
uma jaqueta de couro, bermuda e botas. Sem camisa. Falou com Tina, virou
em minha direção e parou perto da mesa.
— Soube que é um garoto com fome. — Ele era alto, mas bem mais
novo que eu.
— E o que tem com isso, pentelho?
— Eu sou Priest e aqui é meu lar. Se quer comida de graça, vem
comigo. — Ele me devolveu a nota. — Vem agora, porra.
Prólogo
Cora
Em um minuto, eu era uma garota feliz. Em sessenta segundos,
estava cantando minha música favorita a toda altura quando uma viatura
policial me mandou encostar meu carro, melhor dizendo, o carro da minha
irmã.
Era um conversível de luxo branco, lindíssimo, que ela ganhou dos
nossos pais. O meu estava sem seguro ainda e não podia usá-lo para longas
distâncias.
Pensei que fosse uma lanterna ou o fato de que troquei de pista sem
ligar a seta. Pensei que fosse qualquer coisa, não uma vistoria buscando
drogas, que eles encontraram no fundo falso da mala. A música alegre se foi
e em meio a uma multidão de pessoas que nos observavam naquela tarde
em uma área badalada de Los Angeles, eu ouvi a pior frase da minha vida:
“Coraline Sutherland, você tem o direito de ficar calada. Tudo o que
disser pode e será usado contra você no tribunal.”
Capítulo Um
Cora
Perto de Los Angeles
Califórnia
No mundo das pessoas ricas e precisando de um pouco de noção.
ANTES DE TUDO MUDAR.
Diablo
Coraline estava com os cabelos espalhados na minha cintura, a boca
tornando difícil sequer pensar. Reuni a massa loira cheia de cachos, tendo
uma belíssima visão daquela boquinha engolindo meu pau. Olhando em
meus olhos, abriu um sorriso safado ao chupar a cabeça, me provocando e
tocando uma punheta deliciosa. Seu corpo estava suado e vermelho, o olhar
brilhante e excitado me deixava ainda mais duro.
— Vem, amor. Senta no meu pau — pedi, louco para gozar naquela
boceta.
Mordendo o lábio como a safada por quem eu era profundamente
apaixonado, ela se afastou e montou em meu colo de forma invertida.
Olhando-me sobre os ombros, encaixou meu pau em sua entrada molhada,
brincando comigo. Dei-lhe um tapa na bunda, segurando sua nádega só para
ter uma deliciosa visão dela sentando completamente.
— Oh, porra! — Segurei seu quadril, grunhindo.
Ela ergueu as mãos, mexendo o cabelo, rebolando e testando os
movimentos para me enlouquecer. Amassei sua bunda, cheio de tesão e
mordi o lábio com força. Coraline estava me atentando desde o amanhecer,
me levando perto de gozar e parando, desinibida, brincando com meu
desejo. Só deixei porque era uma completa delícia ter minha esposa
completamente soltinha comigo.
Intensificando os movimentos, inclinou-se para frente, se deixando
levar no orgasmo. Foi um espetáculo. Empurrei-a gentilmente para que
ficasse com a bunda empinada na minha frente. Agarrei seu cabelo,
curvando suas costas e mordi-lhe o ombro, com meu pau todo dentro. Eu a
fodi até gozar e me perdi completamente ao senti-la me apertar,
encontrando o orgasmo mais uma vez.
Caímos na cama, abraçados, recuperando o fôlego, até que ela
começou a rir baixinho, tremendo contra o meu peito.
— Eu só queria desejar bom dia para o meu marido.
— Confesse que está me pentelhando desde as quatro da manhã. —
Beijei sua testa, acariciando suas costas. Ela ergueu o rosto e me beijou
preguiçosamente.
— Estamos em lua de mel, não precisamos dormir — falou contra
minha bochecha, serelepe e seu estômago roncou tão alto que foi possível
ouvir. Ergui minha cabeça, olhando para sua barriga e comecei a rir. —
Acho que precisamos sair dessa cama e comer.
Eu peguei sua mão e a levei para o chuveiro, em seguida, preparei
panquecas com frutas. Era seu desejo da manhã e prometi que a mimaria
pelo resto da minha vida. Servi os sucos e ela ficou na mesa, decorando o
prato com morangos e banana.
— Não jogue muito mel — pedi, ainda na pia, procurando não deixar
a louça suja.
— Eu sei a quantidade que devo colocar na minha panqueca —
cantarolou, me ignorando. Ela sempre sabia tudo, a senhora inteligente do
universo que claro, nunca errava.
— Coraline…
— Não me ensine o que fazer — ela se irritou, apertando mais forte o
vidro. A tampa explodiu, virando todo o mel no prato dela. — Viu? Se não
tivesse se metido, minhas panquecas teriam salvação.
— Achou que isso tudo aí era só para você, porra? Virei seu escravo
nesse caralho? — Joguei o pano no meu ombro. Inacreditável.
Ela arregalou os olhos, chocada e abriu um sorrisinho.
— Você me fodeu praticamente todas as noites desde que casamos e
está economizando na comida? Tenho que repor essas calorias! — Ela
cortou um pedacinho e enfiou na boca. — Está uma delícia, vem. Não sei se
vou conseguir te esperar.
— Vou preparar os ovos.
— Sem pimenta ou queijo — ela avisou, severa e ignorei.
Nós não fizemos nada além de ficarmos dentro de casa. Estava
ventando do lado de fora, Coraline não parecia interessada em conhecer a
cidade e o máximo que nos aventuramos foi indo ao mercado comprar mais
comida e vinho. Foi melhor do que qualquer viagem internacional, turismo
ou passeios cuidadosamente programados. Vi televisão depois de muitos
anos, assisti a filmes e comi todas as besteiras deliciosas que minha esposa
preparava.
Nós namoramos a cada minuto possível. Diferente da lua de mel de
Priest, não voltamos para casa com um corpo na mala, apenas roupas e
algumas histórias divertidas a dois. Escolhi o meio da madrugada para
retornarmos a Del Ride. Com tranquilidade, estacionei na garagem da
minha casa pela primeira vez.
— Nossas coisas já estão aqui?
— Serena quis muito te fazer essa surpresa. Ela estava ansiosa e
empolgada.
Coraline olhou para a porta com um sorriso.
— Ela é um dos melhores presentes que ganhei esse ano. Aqui vocês
são tão unidos, uma família forte, que está junto em todos os momentos. —
Pegou minha mão e entrelacei nossos dedos. — Serena é a irmã que eu
deveria ter tido de verdade.
— A vida sempre dá um jeito de trazer para perto aquilo que
merecemos. Vamos entrar?
Assentindo, saiu do carro, me provocando sobre querer verificar a
casa e apenas a mandei calar a boca. Chamando-me de grosso, foi andando
na frente. Ela abriu a porta dos fundos, acendendo a luz da cozinha, que era
um dos cômodos mobiliados. A geladeira veio do apartamento, o restante,
estava comprado e guardado há um tempo e foi instalado quando o cômodo
ficou pronto.
Passando para a sala de jantar, que ainda não tinha mesa e cadeiras,
ela desviou o caminho para a de estar e parou no meio do corredor,
acendendo a luz. A escada ficava entre o que seria um escritório meio
biblioteca, com uma sala de televisão e um quarto de hóspedes que também
estava vazio. Antes dela, seria meu quarto da bagunça, mas decidi levá-lo
para o porão e deixar que ela pudesse escolher o que fazer ali.
— Que bom que alguns móveis foram entregues, vai ser divertido
decorar e deixar toda a casa do nosso jeito. — Ela passou a mão no móvel e
foi para a escada. Subi atrás dela, os primeiros quartos estavam vazios e
assim ficariam por um tempo, apenas o principal estava arrumado. —
Serena organizou até suas roupas.
— Ela me conhece.
— Isso é ótimo, porque eu odeio arrumar seu lado do armário, acho
que vou pagá-la para isso.
Cora soltou uma risada e foi para o banheiro. Sim, as coisas dela
ficavam uma zona e ela jurava estar organizado.
— Vai ficar tudo do seu jeito?
— Claro que sim, a casa é maravilhosa, é linda.
Coraline foi criada em uma mansão que deixava a casa dos famosos
como uma cabana pobre na beira da estrada. A explosão sequer derrubou
trinta por cento de toda a construção, nem abalou as estruturas. O primeiro
carro que teve foi um conversível de luxo. Eu tinha dinheiro e condições de
dar a ela uma boa vida, mas não fazia parte do nosso estilo. Eu não estava
preocupado sobre o que poderia dar no sentido material, porque tive a sorte
de encontrar uma mulher que me amaria mesmo debaixo de uma ponte.
Sem sono, quis arrumar nossas roupas, colocando-as para lavar e
depois, tomou banho. Ainda faltavam alguns ajustes que eu passaria os
próximos dias organizando. Nós dormimos as horas restantes e depois,
fomos tomar café na casa dos vizinhos para montar a árvore de Natal tardia.
Nenhum de nós tinha ideia do momento em que se deveria começar, mas as
meninas queriam que Peter tivesse memórias natalinas.
— Olá, pombinhos. — Priest abriu a porta com a voz rouca de sono.
— Oi, bebê! — Coraline foi direto para Peter.
— E aí, imbecil. — Bati em sua nuca e ele tentou me acertar com um
soco.
— Ah, oi! Desculpe! — Cora ficou com as bochechas vermelhas. — É
que ele está muito lindo com esse pijama de pelúcia.
— Estou acostumado a ser ignorado por causa da criança. — Priest
sorriu de lado.
Fui direto para a cafeteira e enchi minha caneca. Angel e Cedrick
estavam no chão da sala, lendo o manual das luzes. Serena desceu com uma
caixa de itens decorativos. Como elas pareciam empolgadas demais com a
árvore e menos com a comida, assumi o preparo com Priest. Era melhor que
não reclamassem do meu tempero, porque ia fazer do jeito que sabia.
— Sage me ligou cedo. Ele não sabia se você já estava de volta. —
Priest parou ao meu lado, falando baixo. — Conseguiu algumas fotos de
Amanda. Ela está viva e ainda no complexo do Santiago. Parece que não sai
de lá há alguns meses. Nossa fonte descobriu que ela soube da compra do
escritório, teve um rompante de raiva e quebrou um quarto inteiro.
— Santiago segue no México?
— Sim. Dizem que a mulher dele está muito doente e ele não vai
deixá-la, nem mesmo pelos negócios, ao que parece, não está interessado no
que a amante está aprontando. No entanto, ela tem aliados e são esses que
temos que atingir. — Priest quebrou alguns ovos na vasilha para um grande
omelete.
— Recebemos os alvos? — Cortei o presunto, de olho em Coraline,
mas ela estava bastante alheia à nossa conversa. Escolhendo ser ignorante
nesses dias, ela só queria ser uma noiva e depois, uma recém-casada. Eu dei
a ela dias de paz e tranquilidade que eram mais do que necessários para
sobreviver nessa vida maluca em que fazíamos parte.
— Sim. Alguns, para nossa felicidade, circulam justamente nas áreas
que desejamos. Assim que sair do modo marido apaixonado, vamos caçar.
Temos um território para conquistar e alguns filhos da puta para eliminar.
— Priest me deu um aceno e Angel se debruçou no balcão, roubando alguns
pedaços de queijo.
— Temos material suficiente? — Bati na mão dele quando tentou
pegar de novo.
— Enquanto estava na sua festa de amor, fui às compras e também
recebemos algumas trocas que fizemos com King. Meu arsenal está cheio.
— Angel me deu um sorriso provocante. — E de nada sobre o seu porão.
Organizei tudo lá.
— Eu não tive oportunidade de ver a casa inteira, viemos de
madrugada para pegar a estrada tranquila e eu não queria que algo desse
errado.
— Vamos passar pelas festas, prometi a Serena que ficaríamos em
casa e depois, se preparem para nossa viagem — Priest determinou como
presidente e assentimos. Ele trocou um olhar com Angel, abrindo um
sorrisinho. — E aí, maridinho? Sobrevivendo?
— Você está vivo e nós dois sabemos que o mais idiota e sem noção
entre nós é… — Eu ia falar que era ele, mas Angel estava no meio. —
Deixa. Não faria um pingo de sentido te chamar de sem noção com o
loirinho com olhos de anjo aqui.
Angel bufou, sem falar nada. Cedrick se juntou a nós, pegando uma
cerveja preta na geladeira e fez as panquecas. Nossa conversa girou em
torno dos negócios, a faculdade dele, o trabalho pouco remunerado no
escritório e de vez em quando a gargalhada de Coraline invadia a cozinha.
Ela estava com um gorro de Mamãe Noel, erguendo as luzes e fazendo
caretas para Peter.
Como era possível amar tanto uma mulher? Era questão de honra dar a
ela o fim daquela história com a irmã. A vingança seria completa.
Capítulo Trinta e Seis
Cora
— Você está pronta? — Cedrick bateu na porta do meu quarto. —
Angel já voltou com o carro abastecido — avisou e engoli em seco, secando
minhas mãos suadas na roupa.
— Estou descendo em um minuto.
Ouvi seus passos se afastando e voltei para a frente do espelho.
Aquelas roupas pertenciam ao meu antigo eu. Tons claros, blusa larga, calça
jeans e sapatos baixos. Meus cabelos estavam escovados e havia uma tiara
delicada em minha cabeça. Eu me recusei a tirar a aliança, embora
soubessem do casamento, Sage achou que seria mais prudente me dar um ar
de jovem inocente em vez do de mulher casada.
Depois de meses, estava em Los Angeles para prestar depoimento
presencialmente na frente de várias pessoas sobre minha prisão no passado,
o sequestro arquitetado por Amanda e a explosão da nossa casa. A família
de Jude também estaria lá e eu só me comprometi em aparecer porque eles
mereciam justiça pelo filho morto pela minha irmã. Com tantos processos
correndo ao mesmo tempo, Amanda era oficialmente uma foragida da
polícia e a minha vontade era de dizer a eles que quando a encontrassem,
seria apenas o corpo.
O motivo de estar ali também tinha tudo a ver com os planos de Priest
e Diablo em expandir o território do clube. Foi muito difícil para meu
marido não estar comigo, eu pude ver a decepção em seus olhos quando
bati o pé e disse que poderia fazer aquilo sozinha. Eu o amava intensamente
e confiava em seu amor e proteção, mas também era uma mulher capaz de
fazer algumas coisas sem ele.
Não significava que meu marido fosse menos homem ou que eu não
precisava dele. Apenas podia enfrentar algumas batalhas contando apenas
com a força dos meus punhos.
Desci a escada com minha pequena mala, Serena ficou de pé e pegou
sua bolsa.
— Acabei de receber a mensagem do telefone descartável.
— Vai dar tudo certo. — Respirei fundo, ajeitando meu cabelo,
odiando o quanto estava liso e me remetendo a uma Coraline que minha
mãe insistia em vestir e eu a detestava.
— Tem que dar. Priest e Diablo estão na estrada, aguardando nosso
sinal. — Serena pegou minha mão e saímos juntas.
Angel e Nick estavam conosco, usando roupas comuns,
completamente disfarçados para que não parecessem membros de um clube
de homens perigosos. Sage estaria por perto, apenas como um advogado
amigo da família, outro homem, de um escritório usado como fantoche para
os interesses de Diablo, estava me representando.
No fundo, eu estava com medo de ser presa novamente. Era um pouco
do pânico de tudo que vivi no passado, entrando em uma sala de justiça
como aquela e saindo algemada. Não havia motivos para ter medo, foram
meses de trabalho árduo, manipulações necessárias e levantamento de
provas contundentes para mostrar que minha irmã era a mentora de tudo
que havia acontecido comigo e com minha família.
Por dentro, eu era um misto de medo e raiva. Uma queimação intensa
ao relatar, mais uma vez, tudo que Amanda me fez passar.
Quando acabou, fui dispensada friamente, sem mais perguntas. Para
todos, eu não estava na residência quando meus pais morreram e sim, saí
minutos antes com Sage para me acalmar e me recuperar de tudo o que
havia passado, porque meus pais queriam conversar com minha irmã
sozinhos. A briga foi relatada e a confissão de Amanda principalmente.
Sage era minha testemunha.
— Eu lamento profundamente — falei baixinho para a mãe de Jude.
— Obrigada por vir. Sei que é difícil aparecer, ainda mais com a sua
irmã solta por aí, envolvida com pessoas perigosas.
— Terá justiça. Acredite em mim. — Apertei sua mão e me afastei.
Serena estava me esperando dentro do carro com Angel e Nick. Já de
volta à segurança, deixamos o estacionamento rapidamente e me livrei
daquela camisa larga, de patricinha, ficando com a blusa preta por baixo.
Prendi o cabelo e vesti minha jaqueta de couro, pegando meu telefone para
tirar uma foto e enviá-la para o meu marido por mensagem, mostrando que
estava muito bem e inteira.
Troquei meus sapatos por minhas botas, guardei a minha faca, Nick
me entregou a arma e a enfiei na cintura, na parte de trás. Serena prendeu os
cabelos e também tirou as roupas comuns. Angel dirigiu até um lado da
cidade muito perigoso, mas nós avisamos que estávamos indo e sendo
esperados, então tivemos nossa passagem liberada.
— Eu vou na frente e não discuta comigo. — Angel vestiu o colete.
— Ela precisa me ver para aparecer.
— Fique entre Nick e eu. — Angel foi enfático. Serena abriu a porta
do carro e ficou de guarda, com a arma engatilhada. Nem Priest conseguiu
fazer com que ela ficasse em casa com Peter.
Era um milagre eles terem concordado com o encontro com minha
antiga colega de cadeia. Luci apareceu no complexo de apartamentos que
vivia com toda a família, acompanhada de dois primos. Segundo Sage, era
sobrinha de Santiago por casamento, mas todos trabalhavam para o cartel
de alguma maneira.
— Ei, chica linda. — A garota alta e morena que não havia mudado
nada desde a última vez em que nos vimos me deu um abraço. Brincou,
apoiando o queixo em minha cabeça. — É ótimo te ver fora daquele
inferno.
— Também estou feliz em te reencontrar. — Dei um tapinha em seu
ombro.
— Devil's Ride? Nunca iria imaginar, patricinha. — Ela olhou para
Nick e Angel em seus coletes, parados com as mãos à mostra, mas prontos
para agir se fosse necessário.
— Foi coisa do destino, eu também não imaginava. Escuta, preciso te
falar uma coisa. É sobre a amante do seu tio — comecei e Luci fechou a
expressão, porque não precisava explicar de que tio eu estava falando. —
Ela é minha irmã.
— E isso vai te ajudar de que maneira? — Luci arqueou a
sobrancelha.
— Não somos amigas. Eu e ela temos uma história mal resolvida e
tenho certeza de que sabe mais detalhes do que está fingindo não saber. —
Enfiei minhas mãos nos bolsos, relaxando a postura porque não queria que
ela pensasse que eu estava na defensiva. — Estou disposta a pagar muito
bem para que tire Amanda do complexo protegido do seu tio.
— Ela tem fortes aliados lá dentro. Com o passar dos anos, provou
lealdade e valor, entregou informações importantes que livraram muitos dos
nossos. — Luci estalou a língua. — Não é amada por todos, porém, foi
esperta o suficiente para conquistar o lugar em que está. Agora, se tem um
preço… é claro que podemos conseguir uma conversa diferente com
pessoas que importam dentro do complexo. E será isso que vou fazer por
tudo que me ajudou dentro da cadeia. O restante, terá que ser pelo que tem a
me oferecer.
— Ótimo. — Tirei minha mão do bolso. — E o que acha de
negociarmos um valor inicial?
Luci sorriu e chamou o primo. Angel e Nick se aproximaram. As
negociações começaram e nós marcamos um outro encontro com bastante
tranquilidade. Havia milhares de jovens garotos armados ao nosso redor,
porém, como tudo correu bem, saímos de lá sem problemas. Enviamos a
mensagem para Diablo e Priest agirem. Como esperamos, Luci e os primos
entraram em contato com outros membros do cartel.
Vários membros do clube estavam espalhados pela cidade, para caçá-
los e eliminar a maioria que poderia apoiar Amanda. Nossa intenção era
enfraquecê-la para que não tivesse valor e fosse fácil tirá-la da redoma que
se escondeu como uma puta covarde que era.
— Vamos fazer alguma parada? — Serena questionou.
— Não. Priest já está me enlouquecendo, ele quer que leve vocês duas
para a segurança de Del Ride o mais rápido possível — Angel respondeu do
banco da frente. — Eu é que não sou maluco para não obedecer.
— Meu marido raspa a cabeça, mas a barba vai ficar branca se
continuar nesse ritmo — Serena brincou enquanto digitava mensagens para
ele. Nick recebeu a confirmação de que haviam começado a caçada e torci
para que tudo desse certo.
Angel dirigiu tão rápido que me causou enjoo. Ele não fez nenhuma
parada e com isso, cheguei no clube com a bexiga cheia, louca de fome e
sede.
— Mamãe! — Peter correu para Serena com os bracinhos levantados.
Ele estava com Pink o dia inteiro.
— Oi, meu amor! Você se comportou com a titia?
— Não. — Peter riu. Ele era um malandrinho.
Corri para o banheiro, me aliviando, louca para tomar banho, mas o
cheiro do jantar venceu. O salão estava com alguns aspirantes e outros
membros que ficaram na cidade para tocar os negócios, fazer a segurança,
além de algumas esposas que os maridos estavam fora e gostavam de ficar
juntas, compartilhando boas energias.
Serena fez Peter dormir e o deixou no carrinho. Nós jantamos,
lavamos toda a louça depois e organizamos a cozinha sem pressa. Quando o
salão ficou vazio, não fizemos um movimento de irmos embora,
compartilhando uma garrafa de vinho.
— Você estava nervosa de manhã — ela comentou de forma delicada
e me deu o clássico olhar compreensivo. — Senti medo todas as vezes que
precisei voltar lá quando foi a minha vez de estar no olho do furacão.
— Tive um pouco do sentimento de quando saí da cadeia. Uma
angústia e ansiedade de não pertencer mais àquele lugar, o medo de sair
daquela sala algemada novamente… — Brinquei com a minha taça,
olhando para o vinho. — Só que diferente de quando saí da cadeia, dessa
vez eu tinha aquele quentinho no fundo do coração de que eu tinha um
lugar para voltar. Uma família me esperando sem ter vergonha de mim. Sei
que meus pais me amavam, mas eles estavam desesperados para fingir que
toda a dor que eu vivi nunca existiu e aquilo me magoava muito.
— O que você viveu foi um pesadelo, Cora. Tinha todo direito de ficar
ferida.
— Eu só queria que eles não tivessem me tratado como se eu fosse
tirar uma faca da cintura e matá-los, quando na verdade, quem assassinou
mamãe foi a filha que fingiu o tempo todo o quão era perfeita. — Apoiei
meus cotovelos na mesa. — Queria mais tempo com meus pais e vou viver
para sempre com essa coisa inacabada entre nós. Amanda tirou eles de
mim.
Esfreguei minhas têmporas, não querendo chorar, cansada de sentir a
dor de tê-los perdido daquela maneira. Não importava as falhas, eles não
eram perfeitos, tinham segredos e poderiam ter agido diferente comigo, mas
durante a minha vida toda foram pais incríveis que me dedicaram muito
amor.
— Você já pensou que, talvez, era isso que ela sempre quis? Talvez
fosse um ciúme doentio, patológico, que foi alimentado com a inveja
surreal que ela tinha de você. — Serena olhou para Peter. — Eu sou filha
única e não sei como funciona essa coisa de ter irmãos, mas vejo o quanto
Priest, mesmo com a diferença de idade absurda entre os dois filhos, faz
questão de tratar ambos com amor e respeito. Ele vive me dizendo que não
quer que Cedrick, adulto ou não, sinta que Peter é mais amado por ele por
ser fruto de um casamento feliz. Em algum momento, Amanda se sentiu
preterida. Já pensou nisso?
Eu odiava o quanto Serena era observadora. Ela trouxe todas as coisas
que contei a ela ao longo dos meses em que estávamos juntas para chegar a
uma conclusão e me levar a isso com seu jeitinho de saber juntar as peças
importantes.
Levei minha mão à nuca, sentindo uma pontada repentina no coração.
A realização chegou a doer. Mamãe dizia que o dia mais feliz da vida dela
foi o meu nascimento. Não o das filhas. Amanda sempre reproduzia essa
fala com um tom amorosamente falso, dizendo que o meu aniversário era o
ponto central da nossa família e eu nunca percebi o quanto ela ficava
ressentida.
— Eu acho que Amanda não gosta de mim desde o dia em que eu
nasci. Ela não foi planejada, mamãe nunca escondeu o quanto foi difícil
estar grávida na faculdade, precisando abrir mão de tudo. Eu fui planejada
cuidadosamente para nascer no momento certo. — Olhei para Serena com
os olhos arregalados. — Amanda me odeia porque nossos pais a fizeram
sentir como um acidente enquanto eu era a filha perfeita. Somando com o
fato de que ela é naturalmente ruim e muito filha da puta, não preciso
pensar em mais motivos.
— Eu não queria jogar isso na sua cara, mas foi o que pensei muito
nos últimos meses e hoje, te ouvindo falar naquele depoimento, fez ainda
mais sentido. — Serena pegou minha mão. — Você ficou se martirizando,
querendo entender por que sua irmã te escolheu como alvo se ela deveria te
amar, mas na verdade, nunca foi sua culpa e espero que agora entenda isso.
Não carregue esse fardo, Cora. Ele não te pertence.
— Obrigada. — Respirei fundo para não chorar. — Eu a amei a minha
vida inteira, é muito difícil aguentar a dor da traição e saber que ela ficava
perto de mim pensando em como me foder e pior ainda, me matar.
Eu não conseguia imaginar se um dia pararia de doer. Pensei em todos
os momentos que passamos juntas, que eu confidenciei minha vida e a
busquei como apoio porque era minha irmã mais velha. Todas as noites que
a apoiei em brigas com nossos pais, em que fiquei na cama dela até tarde
ouvindo as muitas aventuras com namorados e a incentivando a não desistir
dos estudos porque papai dizia que ela tinha que ser brilhante o tempo
todo.
Dei a ela o que tinha no meu coração.
Amanda retribuiu minha entrega com ódio e revolta.
Capítulo Trinta e Sete
Cora
Diablo entrou em casa pelos fundos, perto das três da manhã. Ele
passou direto para a escada, mostrando estar sujo e eu continuei no mesmo
lugar, aquecida com uma colcha e olhando para a lareira acesa porque
apesar de não nevar, estava frio. Fiquei ansiosa depois da minha conversa
com Serena e não consegui dormir. Havia acontecido tanta coisa naquele
dia e era apenas a primeira semana do ano.
Natal e Ano Novo foram tranquilos, fizemos uma grande festa no
clube, dançamos, bebemos e nos divertimos muito. Vários móveis foram
entregues nesse período e pude colocar parte da minha nova casa no lugar,
decorando aos poucos, me concentrando nos cômodos mais habitados e nos
desejos do meu marido.
Virei ao ouvir seus passos na escada, ele estava com uma calça de
pijama tentadoramente caída no quadril, exibindo a tatuagem de diabo que
eu nem achava mais tão assustadora e parou no encosto do sofá. Segurou
meu cabelo e o puxou gentilmente, levando minha cabeça para trás e
beijando minha boca.
Hum… aquele beijo era tudo para mim.
— Por que não está na cama? — questionou ao dar a volta e sentar ao
meu lado, puxando a colcha e as minhas pernas para ficarmos pertinho um
do outro.
— Estava te esperando. — Beijei seu ombro, com saudades.
— Eu vou voltar para a sede daqui a pouco. — Seu tom ainda estava
meio frio. A carga obscura em que ele mergulhava sempre que estava em
ação era conflituosa para mim.
— Há convidados no porão?
— Foi necessário trazer um quando percebemos que ele tinha muitas
respostas para nossas perguntas. — Ele virou o rosto e me beijou de novo.
— Fiquei muito preocupado em te deixar sozinha em Los Angeles. Você e
Serena são teimosas demais. — Estalou a língua. Meu eterno herói protetor.
— Eu fui e voltei muito bem, estava armada, protegida e ao mesmo
tempo, pronta para brigar. — Segurei seu rosto, olhando em seus olhos. —
O que importa é que o plano deu certo. Conseguiram ver toda a
movimentação e agora temos a chance de pegá-la. Mais do que antes, estou
cansada de esperar.
Ele olhou em meus olhos, pensativo, e recostou um pouco mais.
— Amanda não está saindo do complexo, segundo nosso amiguinho
no porão. Ela sabe que está por um fio porque todos os planos deram errado
apenas com a sua sobrevivência — Diablo falou baixinho. — Ela quer as
joias e mais fundos para financiar sua morte com mercenários conhecidos.
Nenhum dos aliados no cartel estão interessados em brigar conosco,
principalmente depois que nos casamos. Eles sabem que a fúria de mexer
com a esposa de um Devil's Ride é impossível de ser contida.
— Ela sabe que perdeu. — Respirei fundo, me afastando um pouco
por estar com raiva. — Covarde. Só teve força agindo silenciosamente,
como uma traidora.
— Isso é excelente para nós. Priest irrita com esse jogo de esperar e
cansar o inimigo, mas ele nunca está errado. Foi a mesma coisa com Gary.
Nós agimos de todos os lados, cercando-o silenciosamente. Fazer sua irmã
perder o acesso ao dinheiro e torná-la vilã de toda história publicamente deu
trabalho, gastamos muito dinheiro, mas está valendo a pena. — Ele me
puxou para perto novamente. — Não fique longe. Seu marido está com
saudades.
— Apenas um dia longe de mim e já ficou assim? — Pulei para seu
colo, abraçando-o. — Foi uma aventura grande e no fim, estamos juntos.
— Não tente me convencer a sair e correr risco novamente, não vai
acontecer. — Esfregou o nariz no meu.
— Sou grandinha e posso me cuidar.
— Não. — Ele apenas grunhiu e o beijei para encerrar o assunto. —
Vou te levar para a cama, foi um longo dia e amanhã também será.
Precisamos descansar um pouco.
Deitei por uma hora e não consegui pegar no sono. Diablo voltou para
a sede do clube e eu o observei da janela, tomando café. Certa de que não
voltaria a dormir, decidi cuidar das minhas coisas pendentes para não ficar
ansiosa. Sempre que minha mente começava a me pregar peças para ficar
com raiva, eu me sentia inútil e ainda mais furiosa.
Na hora do café, o clube estava vazio, somente com membros
moradores, então foi mais fácil organizar tudo. Serena estava com Peter no
colo, mas sempre com um olhar atento à porta que dava para a escada. Eu
morri de curiosidade, queria ouvir o que estava acontecendo e ter mais
informações.
Angel saiu de lá com uma expressão carregada e disse para Coconut
mandar as meninas para os quartos, os aspirantes tinham que ficar de olho
na estrada.
— Leve o bebê para casa. — Ele piscou para Serena, voltando para
baixo.
— Você vem comigo? Depois cuidamos da cozinha. — Ela pegou a
bolsa de Peter.
— Eu já vou. Só irei pegar umas coisas no apartamento para que
Angel consiga se mudar completamente — desconversei, ela assentiu e foi
andando. Eu parei, com o pano de prato na mão e a curiosidade me venceu.
Empurrei a porta aberta o suficiente e parei no primeiro degrau,
ouvindo gemidos dolorosos de alguém sofrendo. Priest estava encostado
contra a parede, de braços cruzados, olhando fixamente para frente e Angel
mexia em algumas peças de prata pequenas que pareciam itens cirúrgicos
bem afiados. Mordi o lábio, com o coração acelerado e desci mais um
pouco ao ver a mesa de ferro velha, um fio de sangue pingando no chão e
escorrendo diretamente para o ralo.
Diablo estava sem camisa, suado, seus cabelos um pouco
bagunçados.
— Por favor, me salve — O homem pediu baixinho, com uma súplica
desesperada de quem já estava delirando.
Diablo riu sombriamente, causando uma ânsia no meu estômago.
— Eu não nasci para salvar vidas. Estou aqui para te levar diretamente
para o seu pior pesadelo. Se espera paz e redenção, encontrou a pessoa
errada. Está pronto para experimentar o inferno? — Ele acendeu um
maçarico e o levou diretamente para uma ferida que pulsava sangue. As
pernas do homem encolheram tamanha dor e o grito deixou os pelos da
minha nuca em pé. — Recebeu dinheiro para matar minha esposa? Então,
você vai pagar…
— Eu vou dizer tudo o que quiser, apenas pare!
— Quem mais Amanda pagou? — Diablo o queimou novamente.
— Apenas eu e mais dois. Eles foram mortos na estrada, eu juro. —
Ele chorou e Diablo se inclinou um pouco mais. — Ela só quer as joias para
desaparecer. Amanda sabe que os dias como amante principal de Santiago
estão contados. Ele está interessado em outra garota loira mais jovem!
Covarde. Ela era o pior tipo de pessoa. Ia sumir para voltar quando
menos esperasse, talvez não mais pelo dinheiro, porque aquilo ela já havia
perdido. A herança dos nossos pais nunca iria para ela.
As joias. Por que ela tinha certeza de que papai estava com o restante
das joias? A mãe de Serena poderia tê-las enfiado em qualquer lugar! Ele
ser um advogado dela não garantia que estava fazendo as transações.
— Eu não sei mais nada! — o homem gritou, chorando. — Tudo que
eu sei é que ela estava chantageando o pai pelo passado. A tatuagem na
irmã, foi feita para que ela fosse encontrada morta e com o nome de um
homem perigoso, que o pai dela havia se envolvido no passado, ocultado
crimes e lavado dinheiro. Amanda queria infernizar a vida dos pais antes de
matá-los para ficar com a herança e eu ajudei só com isso, não fiz mais
nada, eu juro! Não toquei na sua esposa, não fui eu que fiz a tatuagem nela!
Diablo o queimou um pouco mais e foi o suficiente para mim. Seus
gritos ficariam eternamente marcados na minha mente. Dei meia volta e
parei na cozinha, respirando fundo, lavando minhas mãos excessivamente
para sair o cheiro da carne queimada da minha alma. Priest saiu em seguida,
encostando a porta.
— Eu sei que não deveria ter ido lá, mas eu precisava ouvir — falei
baixo, secando meu rosto.
— Você está bem? Vai vomitar? — Ele questionou em sua brutalidade
usual.
— Não estou bem, mas não vou vomitar.
Tudo ao meu redor parecia girar, meu peito doía e estava difícil
respirar.
— O que foi, Cora? Você parece que vai desmaiar. — Priest se
aproximou quando quase caí. — Merda! — Ele me ergueu em seu colo,
levando-me para uma mesa. — Seu marido não pode ficar com você agora,
porra. Eu vou te levar para ficar com Serena, ok?
— Eu consigo andar até lá. — Fechei meus olhos, tentando me
orientar.
— Não vou te deixar cair. — Priest me ignorou e me pegou
novamente.
Serena ficou agitada ao me ver chegar com seu marido e tirou as
almofadas do sofá para que eu me deitasse. Encolhi as pernas, ouvindo-os
falando baixinho mas não entendi o que era. Ela ajoelhou ao meu lado,
tirando o cabelo da minha testa.
— Priest exagerou, eu podia andar.
— Eles são assim, quando eu estava grávida, me carregavam na
escada o tempo todo. — Ela secou minha testa. — Fale comigo, Cora. Você
não deveria ter ido até o porão.
— Não estou assim por tudo que vi lá.
— Então, o que é?
— Estou cansada, Serena. — Meus olhos se encheram de lágrimas. —
Eu só quero ser feliz. Amanda roubou três anos da minha vida, ela só não
tirou mais porque eu vim parar aqui e ainda assim não posso sequer passar
um mês sem ter medo de estar grávida porque não posso trazer uma criança
ao mundo para que ela venha a ferir. Estou errada em estar tão cansada?
— Oh, querida! — Serena me abraçou apertado. — Você tem todo
direito de estar exausta por tudo que sofreu.
— Só preciso de um encerramento. Quantas coisas eu não poderei
viver porque minha irmã pagou homens como aqueles que estão lá no porão
para me destruir?
— Mais nada. — Serena olhou em meus olhos. — Você não
descansou um minuto. Não ficou por aí fingindo que nada aconteceu, é por
isso que está cansada. Gastamos dinheiro, articulamos planos, pagamos
muitas pessoas e tirando Javier, tudo deu certo. É por isso que estamos aqui,
obtendo informações importantes para terminarmos. Vai acabar, Cora.
Confie.
Assenti, absorvendo sua confiança e ela se esticou ao ouvir alguém se
aproximando da porta dos fundos. Sentei-me e olhei também. Era Angel
com Priest.
— Boas notícias, senhoras. — Angel abriu um sorrisinho charmoso.
— Sage acaba de encontrar um cofre com as joias e muitas informações
importantes sobre o passado de Bill Sutherland.
— Ai, meu Deus! — Cambaleei ao ficar de pé. — O que meu pai
estava fazendo que Amanda descobriu?
— Ele era informante do FBI. — Priest estava sério. — Seu pai tinha
muitas informações sobre o crime organizado. Uma pasta repleta de atos
nossos do passado, quando eu ainda não era presidente. Só não entendemos
por que ele nunca enviou, mas Sage encontrou a comunicação dele com um
agente do FBI. Há alguns anos, seu pai é quem vem denunciando vários
crimes, incluindo alguns que envolviam Santiago, como uma foto
verdadeira dele e da esposa, foi tudo revelado para os federais.
— Mas não responde como ela sabia disso — Serena refletiu.
— Havia uma escuta no escritório do seu pai que levava para a sala de
Amanda. Ela ouvia tudo o que ele falava o dia inteiro, só nunca conseguiu
encontrar as provas — Angel explicou e me sentei novamente, com a
cabeça explodindo. — São muitos áudios para ouvir. Sage disse que vai
fazer um compilado e logo nos dará informações, de primeira, é isso. Temos
as joias e agora, podemos agir com mais brusquidão para pegar sua irmã.
— Você realmente vai dar as joias para isso, Serena?
— Eu vou dar o que eu tiver para nossa família ter paz — Serena
confirmou, olhando em meus olhos e virou para o marido. — Ofereça as
joias aos caçadores que trabalhamos. Quem pegar Amanda primeiro, ganha
tudo — determinou.
Priest sorriu e saiu com Angel. Senti em meu coração que faltava
muito pouco.
Capítulo Trinta e Oito
Diablo
Eu odiava Los Angeles há muito tempo. Não tive uma boa relação
com a cidade, mesmo fazendo muito dinheiro ali, nada se comparava ao
meu lar. Talvez estivesse velho, cansado de aventuras, querendo Del Ride
como um porto seguro e não mais a agitação. Mas o clube vivia com o
melhor da noite e isso nós nunca cansaríamos de oferecer.
Estava deitado no chão frio de um galpão úmido à beira do píer, numa
área afastada da cidade, com o rosto ardendo e o lábio cortado porque eu
tive que deixá-los me bater um pouco. A adrenalina corria pelas minhas
veias. A garota entrou no meu campo de visão e pensei no quanto ela era
jovem demais para estar naquela vida, mas era esperta e soube como aceitar
o dinheiro.
Fui sequestrado. Quem diria? Diablo, um homem temido, pego por
inimigos filhos da puta. Olhando para o teto, fingi que os imbecis ao meu
redor não existiam. Era questão de tempo até minha família invadir a porra
daquele lugar e me levar para casa, porque eu sabia que eles nunca
cansariam de mim. Era assim que a lealdade acima de qualquer coisa
funcionava no meu mundo e eu tinha isso dos meus melhores amigos.
Eu tinha isso do clube.
Coisa que aqueles demônios que me pegaram sozinho no posto de
gasolina não tinham, porém, fazia parte de um plano maior. Nossa cartada
final.
— É ele? — Ouvi a voz feminina de Amanda. — Quem diria que
minha irmãzinha sonsa casaria com um homem como ele?
— Você deveria parar de subestimar sua irmã, piranha invejosa —
falei do meu lugar, sem precisar olhá-la para saber que ficou com raiva. —
A queimadura te fez bem. É por isso que Santiago está chutando sua bunda?
Já te fodeu toda e vai para a próxima loirinha inocente e virgem. Acho que
ele te trocaria fácil pela sua irmã. Mais bonita, mais inteligente, gostosa,
fode bem… — cantarolei e ela só respirou fundo, ergui o rosto e lhe dei um
sorriso exuberante. — Quer vir aqui sentar no meu pau?
— Calem a boca dele! — ela ordenou e ganhei um chute, fiz mais
show do que realmente doeu. — Falta pouco. Logo eles vão entregar as
joias e vocês terão o pagamento.
Eu comecei a rir, sem parar, porque sim… a festa estava quase
começando. Ao fundo, podíamos ouvir o som que eu mais amava na vida.
As motos. O chão tremeu, Amanda virou-se com os olhos arregalados e
percebeu que, inesperadamente, ficou sozinha comigo. A garota e os demais
homens saíram pelos fundos.
— Acho que a minha cavalaria está chegando. Última chance, vadia.
— Soltei parcialmente minhas mãos e fiquei de pé. — E aí? Vamos brincar
agora? — Amanda deu um passo para trás, olhando ao redor, procurando
uma fuga e visivelmente confusa. — Você deveria saber melhor que a
lealdade de algumas pessoas está no dinheiro. Achou mesmo que a família
do Santiago ia proteger a amante dele?
Ela virou bruscamente e parou ao ver Coraline do outro lado do
galpão. Não era para ela ter entrado enquanto eu não estivesse solto, porque
eles prenderam a corrente em uma coluna e não me soltaram antes de sair.
Foda! Podia ser a porra de uma armadilha também. Por que Coraline estava
sozinha?
— Oi, irmã! — Cora deu um passo à frente. Ainda não, porra. Ainda
não!
— Cora. — Amanda soou fria.
— Ah… por que não parece feliz em me ver depois de tanto tempo,
irmãzinha? Sou aquela de sempre, sua caçulinha… e nós temos muito a
conversar. Apenas eu e você.
— Não adianta correr — avisei, me movendo o quanto conseguia para
ficar entre as duas. Na lateral, vi Angel e Priest entrando no galpão. —
Peguem ela — pedi aos dois. Eles se adiantaram, porém, pareciam atentos
ao que acontecia do lado de fora.
Amanda fez um movimento inesperado, ela estava armada.
Foda-se, não. Não, porra! Foi muito rápido e eu apenas me joguei
com tudo que tinha. Em um segundo, ela estava apontando para Coraline,
despreparada e sem experiência, no outro, ela caiu no chão, atingida por
Priest. Então, eu ouvi o grito desesperado de Coraline, tocando-me em todo
lugar. Olhei para baixo e vi sangue saindo da minha barriga.
— Você pulou na frente! — Cora gritou, com as mãos vermelhas. —
Amor, ela não ia me atingir. Tinha a coluna para me esconder! — brigou
comigo, os olhos cheios de lágrimas.
— Por que você é sempre teimosa e furiosa?
— Foi assim que se apaixonou por mim! — Ela me olhou,
pressionando a ferida. — Diablo, não ouse morrer. Eu vou te matar!
— Eu não vou morrer — garanti, sentindo frio mas não dor.
— Não, amor. — Ela me sacudiu. — Gareth! Abra os olhos agora! —
Coraline me bateu e apesar de saber que os outros estavam falando comigo,
eu só podia ouvi-la. — Amor, por favor, te imploro. Não me deixe!
Eu sabia que não iria deixá-la. Em uma escuridão solitária e dolorosa,
eu sentia coisas desconexas no meu corpo, mas navegava em um limbo
silencioso. Estava ali, perdido, sem saber para que lado ir dentro da minha
própria mente. Era um caos que nós não previmos quando criamos o plano
para Amanda acreditar que seus aliados que restaram haviam conseguido
me pegar, em troca das joias que nós espalhamos estar em posse.
Ela queria fugir, estava desesperada porque o cerco estava se fechando
e não tinha mais o apoio do amante. Santiago recebeu muito de Sage para
não brigar conosco, assim como teve o que Amanda havia prometido: todas
as provas que Bill Sutherland acumulou para entregar ao FBI. Ele tinha algo
mais valioso do que brigar por uma guerra que ela inventou contra a própria
irmã.
Se os planos dela deram errado, ele não se interessava.
Foi fácil pagar todo o restante para fazê-la pensar que havia
conseguido me capturar. Coraline queria que fosse ela, mas eu não confiava
que minha esposa ficaria bem e pela vida dela, eu daria a minha. Em
questão de dias, fui pego no posto, no lugar combinado, levado para onde
Luci havia previamente nos dito junto a seus primos. Eles bateram em mim,
mas nem de perto com a força que fariam se fosse um sequestro verdadeiro
e tiveram a prova para entregar a Amanda, atiçando o interesse dela em sair
do complexo pela primeira vez e cair na nossa armadilha.
E ela caiu, mas poderia ter matado Coraline.
Por que ela entrou antes de Priest verificar se Amanda estava
desarmada?
Teimosa, maldita.
— Ei, cara. — Ouvi a voz de Priest. — É melhor você acordar, porra.
— Não ouse brincar com a morte, filho da puta. — Angel me cutucou
em algum lugar que doeu muito. Eu abri os olhos, zonzo. — Muito bem, ou
eu teria que dizer a todos que você morreu de tanto me amar.
— Vai se foder, caralho. O que um homem tem que fazer para
descansar de um tiro em paz? — Minha voz saiu arrastada, a língua, seca,
parecia pesar uma tonelada. — Por que vocês não entraram antes?
— Havia mais gente do lado de fora do que nos sentimos confortáveis
e a sua mulher é teimosa feito uma mula. Ela sequer estava preocupada com
Amanda, não ia parar até que te visse bem.
— Por favor, não me diga que a piranha morreu. — Tentei erguer
minha mão e meu braço caiu, pesado. — O que me deram?
— Ela viveu o suficiente para Coraline ter o que precisava. O que
importa agora é você. Pierce disse que está fora de risco preocupante e
precisa se cuidar. Só não queríamos te deixar pensar que podia ficar em
coma, porra. — Priest retrucou.
— E onde está minha esposa?
— Tombada. — Angel riu e virei o rosto. Coraline estava dormindo na
cama ao lado, coberta com uma colcha. — Tivemos que pedir alguns
calmantes, ela não dormia e se recusou a comer direito nos últimos dois
dias. Estava nervosa e com medo, sabe que pode ficar uma fera indomável,
então, o jeito foi derrubar o dragão.
— Não chame minha mulher de dragão, filho da puta — falei baixo,
sem tirar os olhos dela, da expressão serena de quem estava profundamente
mergulhada em um sono induzido por drogas. — Coloque a cama dela aqui
perto e abaixe essa grade entre nós dois.
— Ela quase cospe fogo como um. — Angel encolheu os ombros, mas
fez o que pedi. Só de sentir o cheiro daquele perfume doce, me senti
melhor. Queria afundar minha mão em seu cabelo macio e não conseguia
me mover direito ainda.
— Vou chamar Pierce e dizer que acordou. Ainda não pode ser levado
para Del Ride, mas conseguimos manter vocês seguros aqui. — Priest
apertou meu pé. — Não volte para o limbo novamente ou serei obrigado a
te enfiar a porrada.
— Eu só vou ficar descansando. Estou acordado e bem, confie em
mim, você não vai viver sem que eu esteja te infernizando a cada novo
segundo.
Eles saíram sem fazer muito barulho e voltei a encarar minha esposa.
Eu sabia que ela sentiria a minha presença como fazia na cama e chegaria
mais perto, buscando o calor do meu corpo e não foi diferente, mesmo
tombada. Pierce entrou e me examinou junto a um outro médico que eu não
conhecia, mas foi tranquilo, olharam a incisão e me explicaram sobre a
cirurgia de emergência.
Perdi muito sangue no local e imaginei o quanto deve ter sido
assustador para todos eles. Quando foi Angel e Priest, eu quase perdi a
minha cabeça, porque eu podia causar muita dor a quem entrasse no meu
caminho como inimigo, mas amava a minha família e não queria perdê-los
por nada nesse mundo.
Coraline deve ter surtado. Mas eu faria pior no lugar dela e por isso
não julguei. Queria que ela acordasse para me ver bem e deixar todas as
preocupações de lado porque enfim, estava completamente livre para ser
feliz do jeito que sempre sonhou e merecia.
E eu estava mais do que pronto para realizar todos os sonhos dela.
Capítulo Trinta e Nove
Cora
Amanda estava sentada na cama, olhando para a janela, fingindo que
não me ouviu entrar no quarto do hospital em que estava. Ela foi movida
para aquela área reservada para não atrair muita atenção e apesar das
algemas prendendo-a na cama, o policial responsável por tomar conta dela
teve as mãos agradavelmente molhadas para dar uma voltinha. Eram
incríveis as conexões do clube.
Diablo sequestrado, Amanda presa. Tudo para que eles tivessem um
atendimento a curto prazo ali em Los Angeles, porque não daria tempo de ir
para Del Ride. Pierce chegou o mais rápido que pôde, mas Sage tinha
clientes que eram médicos renomados, que sabiam bem quem ele era e o
que fazia, nos ajudando sem fazer perguntas e seguindo nossas ordens.
Os cantos das minhas unhas ainda estavam sujos do sangue do meu
marido e senti meu coração pesar por toda dor que passei nas últimas horas.
No entanto, era meu momento com ela. Amanda sobreviveu à cirurgia e
estava finalmente acordada.
— Pare de fingir que eu não estou aqui. Sei que você é capaz de
encarar todo o restante do mundo com frieza, menos a minha existência. —
Parei perto da cama. — Eu, a irmã que você odeia e despreza, de pé e
inteira. Você aí, na cama. Qual a sensação de ter falhado?
Ela virou e me encarou com ódio.
— O que foi, Cora? Vai me bater estando presa nessa cama? Hum?
Esse é o seu tipo de coragem?
Abri um sorriso, tirando uns vidrinhos do meu bolso e deixei na
mesinha ao lado, rasgando algumas agulhas e preparando as seringas
conforme a instrução de Pierce.
— Nos últimos quatro anos da minha vida, você me amarrou em uma
guerra sem que eu pudesse lutar de volta. O que te faz pensar que eu sou o
tipo de pessoa que só viria dar um discurso superior e sair? — Bati no
vidrinho, puxando o líquido para dentro. — Eu não sou a mocinha dos
livros que cresci lendo. Aquela que tem medo e hesitação de se vingar da
filha da puta que destruiu toda minha vida por ser uma vaca invejosa.
Então… — Peguei a conexão dos fios de medicação e engatei a seringa. —
Você vai ficar aí, sentindo dor. E eu vou assistir.
— Eu vou gritar e você vai voltar para a cadeia novamente. Não era
esse seu maior medinho? Ficava choramingando para mamãe, ganhando
colo e abraço dela?
Ela ainda sabia como apertar meus gatilhos.
— Não fale da minha mãe quando você a matou tão friamente. Não
ouse falar dos nossos pais, nada do que eles fizeram na vida justifica o que
você fez com eles. — Empurrei o líquido dentro.
Amanda soltou um grunhido quando começou a queimar. Seu rosto
estava ficando vermelho, os olhos pesados. Ela se debateu.
— Você nunca mereceu nada do que teve, Coraline. — A voz saiu
rouca, com um grunhido de ódio que seria assustador se eu não estivesse
com tanta raiva quanto ela. — Tudo que nossos pais faziam era amar você e
só você. Eu era o acidente da faculdade, a filha que chegou para atrapalhar
os planos do casal perfeito, a que fez com que eles se casassem às pressas e
fazia a mamãe chorar todos os dias por estar frustrada! Eu fui rejeitada todo
maldito tempo até que você nasceu e eles viviam dizendo que eu tinha que
te amar! — ela gritou, cuspindo em mim e devolvi com um tapa em seu
rosto de imediato.
— E em que momento você pensou que isso era minha culpa? Eu não
pedi para nascer e eu te amava! Eu te amava muito, Amanda! Você era
minha melhor amiga! Eu nunca tive culpa! — gritei de volta. — Você me
mandou para a cadeia só para se livrar de mim, depois me jogou no mar
para que eu morresse.
— E infelizmente, não morreu. Minha vida teria sido infinitamente
melhor se você nunca tivesse existido para roubar o amor dos meus pais —
ela falou baixo, entredentes, sentindo dor e não recuando. — Tudo mudou
no dia em que a mamãe engravidou de você. Eu nunca mais tive um colo e
nem abraços. Nem a vovó aparecia na cidade para me ver, tudo era você! —
Ela riu sombriamente. — Você não sabe o quanto foi incrível vê-la morrer.
Tão idosa, sozinha, só fiquei olhando sem chamar os médicos.
Amanda me encheu com tamanha fúria que peguei o bisturi e avancei,
mas alguém segurou meu braço. Ela começou a rir, enquanto eu gritava que
iria arrancar os olhos dela. Priest foi me puxando para trás, enquanto me
debatia e Angel fechou a porta, tomando o bisturi de mim.
— Eu sei que você está com raiva, bate em mim o quanto quiser, mas
se continuar, você vai ser uma assassina — ele falou no meu ouvido. —
Você é do tipo furiosa e corajosa, mas não vai carregar esse fardo sem
necessidade.
— Não! Ela não pode viver depois de tudo que fez! — Eu chorei,
arranhando seus braços. — Me solta, Priest! Me solta!
— Toda vez que Serena matou, foi por defesa e ela sofreu com
pesadelos. Eu conheço o seu coração, Coraline. Como presidente do clube
que faz parte, eu não permito que mate sua irmã. — Ele me soltou e
escorreguei no chão, abraçando minhas pernas. — Seu marido precisará de
você quando acordar.
— Faça essa dor parar! — pedi, olhando em seus olhos. — Só faça
essa dor parar!
— Não vai passar agora, mas nós vamos te colocar para dormir e
quando acordar, Diablo vai estar te esperando.
Priest me ergueu em seus braços e me embalou no peito, com o abraço
de irmão mais velho que eu precisava naquele momento. Ele me levou para
o quarto de Diablo, que descansava no pós-cirúrgico, ainda desacordado.
Pierce me deu uma medicação, Angel me cobriu e eu apenas esperei que
toda tempestade dentro de mim finalmente acalmasse.
Senti um toque suave nos meus lábios e bati na mão que estava
perturbando meu sono, mas foi a risada profunda que me fez abrir os olhos
e me sentar assustada. Diablo gemeu de dor por ter acertado seu braço e riu.
— Dorminhoca do caralho. Não ia acordar nunca, porra? — Ele pegou
minha mão.
— Você está sentado!
— Só um pouco, para comer, já que fui liberado para levantar um
pouquinho. Está dormindo tem mais de treze horas, já chega.
— Ah, amor! Me desculpa! — Peguei sua mão, louca para abraçá-lo.
— Eu deveria ter esperado, só que estava muito nervosa e ansiosa. Fiquei
com medo de que Amanda tirasse você de mim e por fim, minha
imprudência fez com que ela quase conseguisse. Me perdoa.
— Eu sei que estava com medo e que não fez de propósito, foi culpa
de Priest e ele vai me ouvir falar sobre isso para sempre. — Diablo abriu
um sorrisinho.
— Não. Você sabe que sou bem difícil de segurar.
— Sei disso, mas está tudo bem. Ela não queria me atingir e sim a
você.
— Você pulou na frente, idiota.
— Eu prometi que iria te manter segura para sempre. — Ele tocou
meu rosto. — Eu te amo, Coraline.
— Eu te amo muito mais, Gareth. — Inclinei-me com muito cuidado,
evitando tocá-lo para não machucar e beijei seus lábios. — Quase morri
pensando que tinha te perdido para sempre e essa é uma sensação terrível.
Nunca mais quero passar por isso.
— Sinto muito por te assustar. — Diablo arrastou o polegar no meu
lábio.
— Antes de eu dormir, Amanda estava viva.
— Priest disse que te trouxeram aqui e quando voltaram, ela estava
morta.
— Como assim? — questionei e olhei para a porta. — Eles mataram
Amanda?
— Não foram eles. — Diablo atraiu meu olhar novamente. —
Voltaram lá e ela estava morta. Enquanto dormia, o pessoal que está
trabalhando conosco aqui recuperou algumas imagens e conseguimos ver
um homem entrando no quarto segundos depois que Priest te pegou no colo.
Ele estava escondido no corredor o tempo todo, usando um uniforme de
enfermeiro.
— Seria alguém do cartel do Santiago? — sussurrei, completamente
confusa.
— Não. Sage vai te mostrar a fotografia depois. — Ele sinalizou para
que eu me aproximasse. — Estou com dor.
— Ai, meu Deus! Vou chamar a enfermeira!
— Não. Eu quero beijos da minha enfermeira favorita. — Diablo
sorriu de lado, sacana, eu ri e subi em seu colo, mas sem liberar meu peso e
o beijei com todo meu amor. — Porra, mulher. Vai me deixar de pau duro
aqui no hospital?
— Eita, caralho! — Angel abriu a porta. — Só porque vocês são
casados pode rolar sexo no hospital? Sendo assim, aceito o casamento!
— Deixa de ser idiota. — Eu pulei da cama. — Chega de hospital para
todos nós. Vamos voltar para casa e ficar em paz.
— A senhora é quem manda.
Já acordada e um pouco recuperada, decidi que não ia chorar a morte
de Amanda, mas havia algo no meu peito que implorava para colocar aquilo
para fora. Eu me afastei deles, dizendo que ia falar com a enfermeira e saí
do quarto, indo até uma área de fumantes para me acalmar. Ela não merecia
minhas lágrimas e muito menos o sufoco do meu coração apertado.
Um homem apareceu pela outra porta, alguns metros longe de mim,
eu ia sair para que ele pudesse fumar em paz e parei ao olhar para seu rosto.
— Você é irmão do meu pai. — Ofeguei, pensando que se ele estava
ali, provavelmente foi quem matou minha irmã. Ele iria me matar? Ergui
meu queixo. Me derrubar facilmente que não seria.
— Descanse, pequena. Seu pesadelo acabou — ele falou com
tranquilidade. — Eu quis estar lá quando você nasceu, mas foi melhor para
toda família que vocês ficassem longe de mim. Agora que Amanda está
fora, você precisa destruir todas as provas que seu pai mantinha sobre a
minha existência, Coraline. Ninguém pode saber que estou vivo.
— Por que isso tudo? Quem é você de verdade?
— Você vai descobrir. Queime tudo — pediu de um jeito bem severo e
senti que se eu não fizesse, também estaria na mira dele. Ao virar para sair,
eu o chamei.
— Por que você a matou? Ela não estava com as provas.
— Ela matou meu irmão e a minha cunhada. Ao chegar aqui, ainda
descobri que matou a minha mãe. No meu mundo, pessoas como ela são
eliminadas. — Com um olhar sombrio, ele saiu novamente. Corri atrás e
empurrei a porta da escada, sem saber se ele tinha subido ou descido. Fiquei
estagnada no lugar, chocada e encostei na parede.
Os Sutherland nunca foram o que demonstravam ser. Minha família
era uma farsa.
Capítulo Quarenta
Cora
Serena jogou algumas madeiras secas na grande fogueira e eu
terminei de picar todos os papéis enquanto Diablo jogava as fitas e as caixas
de papel. Tudo que era incriminatório em relação ao clube, ao meu tio, meu
pai e ao passado estava sendo queimado. Meu pai matou um homem com
meu tio, mas diferente do outro, ele foi pego.
A negociação consistia que ele se tornaria informante do FBI por
todos esses anos e assim, não cumpriria pena. Ele mudou de carreira, criou
diversos “personagens", usando identidades de pessoas mortas e por trás da
fachada de advogado íntegro, entregava o crime, ao mesmo tempo, fazendo
parte dele de algum modo.
O homem que meu pai matou era um pai de família. Testemunha de
um cliente dele, que havia assassinado a esposa a sangue frio. Ele ia perder
o caso e escolheu silenciar a pessoa que o faria perder. Esse cliente estava
livre até os dias atuais e me deu nojo saber que era alguém da alta
sociedade, convivendo entre os ricos, como se fosse alguém perfeito.
E eu me perguntava se foi a única pessoa que meu pai matou. Ele
ainda teve o desplante de ficar decepcionado comigo por drogas que na
realidade eu nunca vendi. Ora essa…
Meu tio era um assassino de aluguel procurado pela INTERPOL e
ninguém sabia o seu verdadeiro rosto.
Depois de um mês da morte de Amanda, o inquérito da explosão foi
encerrado e a casa liberada. Mandei retirar todas as coisas, vendi algumas,
doei as peças de arte para pequenos museus, fiquei com poucas fotografias
dos meus pais, da minha infância e algumas roupas. O restante, estava
queimando. Tudo para enterrar o passado de uma família que eu não fazia
mais parte e não queria tantas lembranças. Ficaria com as boas e estava
decidida a reconstruir minha vida.
Priest acendeu o fogo no pano molhado, colocando no lugar certo e
em pouco tempo, a chama se alastrou. Para mim, aquela fogueira enterrava
tudo que eu estava desesperada para esquecer. Meu pesadelo tinha acabado.
Estava livre de segredos e conspirações. Anos antes, eu era só uma menina
pensando no futuro. Não havia como recuperar o que perdi e a dor ainda
estava no meu coração, porém, o peso não mais.
A liberdade tinha um sabor gostoso.
— Você está bem? Se quiser chorar, eu juro que não vou ficar
impaciente. — Diablo me abraçou por trás.
— Pode bancar o macho que não aguenta lágrimas na frente dos seus
amigos, seu segredo de ser o dono do melhor abraço confortador está
guardado comigo — falei baixinho, beijando seu braço. — O que
aconteceria se meu pai entregasse tudo que tinha do Santiago, do clube e da
família King para o FBI?
— Ele deu pequenas informações, não o suficiente e por algum
motivo que só ele poderia responder, acumulou e guardou o restante. Talvez
usasse em um momento crítico…
— É comum?
— Claro que sim, amor. Segredos valem mais do que dinheiro. —
Diablo beijou minha bochecha. — Não se preocupe com isso. Talvez ele
nunca tenha feito nada, porque de algum modo, revelaria que seu tio está
vivo e toda pirâmide de lavagem de dinheiro, estelionato e falsas
identidades viriam à tona. Não teria acordo com o FBI que o livrasse de
pagar por tudo isso, fora que iria expor pessoas muito perigosas. Gente que
não brinca, Cora.
— Ainda bem que isso acabou.
— É esquisito querer assar alguma coisa nisso? — Angel inclinou a
cabeça para o lado, me fazendo rir.
— Vamos deixar queimar o suficiente para não ter recuperação e
depois mandar os aspirantes cuidarem de todo o lixo — Priest falou,
abraçado com Serena.
— Esse cheiro vai impregnar no meu cabelo — falei baixinho.
— Vem, vamos para casa. — Diablo me soltou só para pegar minha
mão.
Os aspirantes ficaram vigiando a fogueira, em um matagal longe da
nossa casa e voltamos a pé, com tranquilidade, conversando. Serena e eu
combinamos de malhar cedo no dia seguinte, desejando voltar para nossa
rotina mais do que tudo. Diablo ainda não podia pegar peso, não que ele
estivesse obedecendo as recomendações médicas. Nem mesmo o jejum
sexual durou muito.
Eu era uma otária, cedi pela ânsia e desespero de estar com ele,
agradavelmente surpreendida que nem mesmo um tiro, perder sangue e uma
cirurgia tirou o desejo do homem. Tudo bem que não foi logo que saímos do
hospital e sim, umas semanas depois, porque ele podia ser o meu herói, mas
não era de ferro.
Entramos pelos fundos, quase não usávamos a frente da casa, apenas
as duas portas da cozinha. Eu era meio chata com limpeza e ficar aspirando
a sala por causa da areia da praia já era mais do que o suficiente.
— O que vamos colocar nessa parede da sala de jantar? — Diablo
parou entre as portas.
— Está a fim de assaltar um museu? — Balancei as sobrancelhas. —
Estou brincando. Encomendei um quadro de uma artista de Los Angeles
que eu acompanhava antes de ser presa. Deve chegar em alguns dias e é
lindo.
— Vou adorar deixar os otários na frente do quadro pensando no
significado da arte. — Ele abriu um sorrisinho adorável.
— Priest vai perder a paciência e picar meu quadro todo.
— Como sabe? — Franziu o cenho, me abraçando e começou a rir. —
Era o que você faria, certo?
— Como sabe? — Arregalei os olhos, ainda me divertindo.
Subimos a escada para o nosso quarto, ele tinha um trabalho a fazer no
computador, usando a mesa da varanda, e eu fiquei lendo na cama. Com
meu livro, um romance que Serena havia me emprestado, olhei para meu
marido aproveitando o vento da praia com o notebook no colo, as pernas
esticadas, sem camisa e os cabelos bagunçados. Era impossível conter a
vontade de abraçá-lo e dizer o quanto o amava.
Nada podia me impedir, então, eu fui até ele e o peguei de surpresa,
ganhando um lindo olhar e todo seu amor de volta.
As semanas seguintes me fizeram entrar na rotina novamente. Eu
assumi a cozinha do clube, até estudando um pouco melhor os cardápios,
assim como passei a lidar com toda logística das doações. Serena
administrava o clube e o bar, era fácil ter nossas tarefas relacionadas,
porque nos entendíamos muito bem e era uma sessão de risada o dia todo.
Em um sábado comum e de sol, fomos às compras na cidade.
— Tenho que passar na farmácia — ela me avisou, com os braços
cheios de bolsas.
— O que precisa? — Olhei para a oficina. Diablo e Priest riam
maldosamente enquanto Angel parecia muito chateado.
— Teste de gravidez. Não estou atrasada, mas eu gosto de ter na
gaveta para meus dias de paranoia. — Serena abriu um sorriso e foi direto
para a sessão certa, pegando dois. — Quer um?
— Pode ser. Deve ser bom ter um guardado. — Dei de ombros,
agarrando a caixa.
Pagamos nossas compras, ela o escondeu entre as roupas e eu apenas
enfiei o meu na bolsa. Diablo não era do tipo fofoqueiro, ele só mexia nas
minhas coisas se eu pedisse algum favor, fora isso, ele deixava minha zona
no armário do meu jeito e organizava o dele como um senhor de idade
muito chato.
— Nós vamos pegar Peter na mãe de Sage e vamos embora — Serena
avisou ao entrar na oficina. — Te espero para jantar em casa?
Eu me refugiei nos braços de Diablo, falando baixinho que queria
ficar sozinha com meu marido, ele riu e prometeu que não iria demorar.
Angel começou a fazer sons de vômito e eu estava particularmente
contando os dias para o pentelho encravado encontrar um amor e ficar
apaixonado para que pudesse me vingar a cada minuto possível.
Fiquei com Serena enquanto Diablo não chegava. Meu jantar estava
praticamente pronto e o dela ainda não. Peter a deixava meio louca por
aprontar muito e eu brinquei com ele no quintal, depois dei banho e ainda
ganhei um chamego na cadeira de balanço. Ele dormiu segurando minha
mão.
— O moleque te pegou de jeito. — Diablo entrou de fininho no quarto
de Peter.
— Ele é irresistível, ainda mais quando fica fazendo carinho no meu
pescoço para dormir.
— Vamos colocá-lo no berço. — Diablo o pegou de mim com
maestria e levou para o outro lado, dando um beijo na testa. Peter
choramingou um pouco e ele rapidamente soube o que fazer, falando baixo
e com tranquilidade, dando ao menino paz e segurança para voltar a
dormir.
Se eu pudesse, derretia ali mesmo. Era lindo de assistir. Meus ovários
pareciam em colapso e ao mesmo tempo, sentia a dorzinha de que Diablo
podia ter vivido tudo aquilo com Stormi. Ela estava bem na Inglaterra, um
pouco chateada por Javier ter sumido de novo, mas sua rotina seguia
tranquila na cidade. Os seguranças relataram que Stormi estava com
dificuldade de se habituar, sempre reclamava que sentia falta de casa e eu
sabia que para ela, era ainda mais difícil: só teve a mãe a vida inteira e
depois, a perdeu brutalmente, precisando sair do país em seguida.
De mãos dadas, voltamos para casa, ele abriu um vinho para mim logo
que comecei a tirar a comida da geladeira. Legumes cozidos, purê e ele
grelhou o frango rapidamente na churrasqueira do lado de fora.
Organizamos nossos pratos na cozinha.
— E se deixarmos de usar camisinha? — sugeri, brincando com a
minha cenoura no molho da salada. Diablo parou de cortar o frango.
— Você quer parar de se prevenir?
— Não é como se a gente não vacilasse de vez em quando, mas eu
acho que podíamos simplesmente abolir o uso e deixar rolar? — Mordi meu
lábio, pensativa. — Sabe o que eu realmente quero dizer agora, certo?
Diablo limpou a boca, olhando para frente e levou a mão à nuca.
— Não sei o que te responder, acho que só quero te beijar pra caralho.
— Ele empurrou seu prato e me abraçou.
— Sabe que ainda não estou grávida e precisamos começar a praticar
sem impedimentos para acontecer…
— Deixa essa porra aí. — Ele soltou meu garfo e me pegou no colo,
soltei um grito com o susto e bati nele, derrubando um copo no balcão.
Sorte que estava vazio. — Vamos começar a fazer bebês agora mesmo!
— Eu tenho vontade de fatiar as suas bolas quando me pega assim! —
Bati de novo em seu ombro. Diablo riu, não se importando com a minha
fúria. Subiu a escada fingindo que iria me deixar cair por estar pesada, me
assustou mais duas vezes, tentei chutá-lo e acertei a parede.
Puta que pariu.
— Você é tão assustadora quanto um gatinho para mim, sossega. —
Me jogou na cama, tirando a camisa.
— É melhor fazer um showzinho mais excitante. — Dei de ombros.
— Você quer uma dancinha? — Fingiu que iria dançar ao tirar o cinto,
bati palmas, louca para ter meu exemplar de stripper sexy em casa. — Nos
seus sonhos. Eu não vou rebolar para foder. Tá maluca, cacete?
— Alguém já te disse que é um grosso, sem educação… — comecei a
falar e Diablo me silenciou com um beijo. Nossa, que boca gostosa.
Esqueci o que estava falando, completamente dominada por ele.
Capítulo Quarenta e Um
Diablo
Coraline estava dormindo no centro da cama, nua, com os braços
abertos e eu tirei uma foto para que ela acreditasse que nunca ficava parada
em um único lugar durante a noite. Fui para a varanda com meu copo de
suco, porque eu não sabia onde ela tinha enfiado minha garrafa de uísque.
Pedi para esconder de Angel, não para desaparecer com ela, porra. Minha
mulher levava tudo ao pé da letra.
Meu telefone vibrou e tirei do bolso do pijama, olhando o código de
área e meu coração acelerou. Era o segurança de Stormi.
— O que aconteceu? — atendi, preocupado. — Ela está bem? O que
houve?
— Pai? — A voz suave e baixa de Stormi quase me fez cair. Ela
nunca falou comigo antes, nem mesmo quando a levei para a Inglaterra,
ficou muda ao meu lado e sem me responder diretamente. — Desculpa
ligar essa hora, é que eu precisava falar com você e eu… não consigo te
chamar pelo outro nome. E no fim, acho que você é o meu pai, não é? —
ela gaguejou um pouco. — Desculpe.
— Não, tudo bem. Eu sou seu pai. — Respirei fundo.
— Eu sinto muito pela única vez que estivemos perto um do outro.
Não consegui falar com você porque estava triste e com medo, de luto, sem
me entender e nesse tempo todo, você nunca deixou faltar nada para mim.
— Ela parecia muito nervosa e me perguntei se era por falar comigo ou se
algo estava acontecendo.
— Stormi, eu sei que sua mãe não me pintou como um homem bom e
eu também sei que não sou. Mas nunca irei te ferir e farei o que puder para
te proteger, para ser feliz, porque é isso o que pais fazem. Não é?
— Mamãe estava com medo. — Stormi soou triste. — Ela nunca disse
coisas ruins de você, também não disse boas, apenas ficava falando que eu
tinha que aprender a me cuidar e eu não soube fazer isso. Só que estando
aqui, não consigo me encaixar e eu quero muito voltar para os Estados
Unidos.
— Stormi…
— Sei que ele sumiu, pai. Eu só não aguento mais me sentir sozinha
aqui. — Ela respirou fundo, se acalmando. — Me deixa voltar. Vamos
procurar um lugar seguro para que eu possa viver…
— E não quer terminar seu curso? — Deixei o copo em cima da mesa,
encostando na parede, ainda sem acreditar que Stormi estava falando
comigo diretamente.
— Eu quero, mas, assim como eu vivo segura aqui em uma grande
cidade, talvez eu possa ter um lugar que tenha independência e o direito de
construir a minha vida.
— Tudo bem. Sei mais ou menos a data que seu curso termina e vou
organizar tudo, vai ser mais seguro para você.
Ela ficou quieta por um momento.
— Espero que estando mais perto, possamos nos ver também —
Stormi falou baixinho. — Deveríamos nos conhecer melhor.
— Eu adoraria, Stormi.
— Você era um adolescente, isso é bizarro na minha cabeça, fiquei
muito magoada com a minha mãe quando soube da sua idade. Achei
absurdo, mas ela devia ter os motivos dela e… você era uma criança,
fazendo parte do clube ou não. — Ela soou um pouco amarga. — Sinto
muito por tudo. Não tenho muita desculpa.
— Eu era sim, uma criança, mas só sei disso agora que estou velho.
Mas eu já fazia muitas coisas, Stormi. Já era adulto para muitas partes da
vida há muito tempo e apesar de tudo, eu não me arrependo, porque daquela
relação errada, veio você e tenho certeza que sua mãe também não se
arrependia. Ela te amava mais do que tudo e eu sempre sonhei poder fazer
parte da sua vida. — Parei de falar por alguns segundos e engoli em seco.
— E você não me deve desculpas.
— Agora poderemos fazer parte da vida um do outro.
— Sim, poderemos — confirmei, feliz pra caralho, querendo gritar e
soltar fogos.
Stormi encerrou a chamada com suavidade e eu amei ouvir a voz da
minha filha. Foda-se um DNA, porra. Ela era minha menina. Antes de
desligar, perguntou se poderia me ligar mais vezes e confirmei que sim,
exultante pra caralho. Voltei para dentro e me sentei na cama, acordando
Coraline.
— Stormi falou comigo. — Eu a sacudi. Sentando-se na cama com
sono, levou alguns segundos para a mensagem fazer sentido.
— Sua filha te ligou? — Cora abriu um sorriso lindo. — Ah, meu
amor! Que felicidade!
Não existia absolutamente nada melhor do que compartilhar minhas
alegrias com alguém que me entendia e me amava. Eu achava que o
casamento era difícil. Sempre ouvia os homens reclamando de suas esposas
e sim, Coraline podia ser louca do nada e surgir com um humor ruim
complicado de lidar, mas a nossa convivência era maravilhosa. Ela se
entregou ao clube, ao nosso relacionamento e à própria vida de corpo e
alma.
Eu me preocupei que o sentimento depressivo ainda permanecesse
depois que tudo passasse. Mas ela se empenhava em ser feliz. Escolhia ser
alegre e olhar para as boas coisas que tínhamos. Era preciso muita conversa,
de uma maneira irritante e invasiva, porém, conhecer os defeitos e
qualidades do outro era vital para nossa sobrevivência a dois.
***
Priest me ajudou a encontrar um lugar seguro para Stormi voltar para
casa. Angel ficou ocupado com novos equipamentos, fazendo algumas
viagens necessárias para organizar nosso material de guerra e com isso, eu
tive que ficar mais em Del Ride e na oficina, para cobrir a ausência dele nas
semanas seguintes.
Quando Stormi chegou, seus seguranças a levaram para a residência
que comprei, um bonito apartamento no centro de São Francisco. Também
consegui que tivesse um emprego com um antigo conhecido de extrema
confiança. Ela seguiria sendo vigiada de perto, com uma rotina cuidadosa,
mas a cidade era grande e fora da nossa rota de convívio, assim estaria
longe dos holofotes e perto o suficiente para visitas.
— Vocês estão prontas? — Priest gritou de sua sala para a escada.
— Um minuto! — Serena gritou de volta.
— Peter está pronto! — Cedrick desceu com o garoto. — E como
estou?
— Estão todos ótimos, vamos logo! Vamos nos atrasar! — gritei,
ansioso. — Angel tinha que estar aqui, só falta ele, porra.
— Calma, teremos outras oportunidades, é só o primeiro dia. —
Cedrick bateu no meu braço. — Não fique nervoso, padrinho.
— Esperei muito por esse dia — confessei, sem me importar com o
que eles iriam pensar do meu momento de sentimentalismo.
— Irmão, eu tive a honra de criar esse moleque com você e sei que
mesmo agora, será um pai foda para Stormi. — Priest parou ao meu lado.
— Se Cedrick sobreviveu, qualquer um que chegar agora vai estar no lucro.
— Bom saber que eu fui cobaia. — Cedrick começou a rir.
Coraline e Serena finalmente desceram, prontas.
— Como estou? — Cora rodopiou com um lindo vestido preto com
bolinhas brancas, sapatilhas e o cabelo cheio de cachos perfeitos.
— Maravilhosa como sempre. — Eu me inclinei e beijei seus lábios.
— Vamos. Não quero me atrasar.
Usamos as duas SUV's escuras para a viagem. O tempo todo nos
certificamos de que a estrada estava segura, usando os aspirantes para irem
na frente, vigiando o caminho. Fizemos acordos necessários com as
patrulhas locais para não sermos pegos de surpresa pelo novo agrupamento
dos Malignos e muito menos, por Javier, que podia estar em qualquer lugar
em sua miserável existência.
Estacionamos dentro do prédio de Stormi e o segurança, Killian, veio
nos receber informando que ela nos aguardava no apartamento.
— Fique calmo. — Cora apertou minha mão. — Está tudo perfeito.
— Estou calmo.
Entramos no elevador todos juntos, saímos no andar e eu toquei a
campainha. Stormi parecia estar do outro lado, porque logo abriu a porta
com um grande sorriso.
— Oi, gente! — Ela acenou, parada no lugar.
— E quem precisa de DNA, porra? Ela é a sua cara! — Priest falou
atrás de mim, quebrando a tensão e todos riram.
— Uma versão infinitamente mais bonita. — Cora deu um passo à
frente. — Olá, estou muito feliz em te conhecer. Eu sou Coraline, esposa
desse homem que o gato comeu a língua.
— Meu pai disse que você era linda e ele não estava exagerando. —
Stormi e Cora trocaram um abraço e meu coração parecia que ia explodir no
peito. — Oi, pai.
— Oi, filha. — Eu a abracei. Caramba. Ela era pequena e cheirosa,
minha menina. — Estou feliz em te ver.
— Eu também — Stormi sussurrou e fungou, me apertando um pouco
mais.
— Quero que conheça meu irmão da vida. Priest e a esposa, Serena.
Esses são meus dois afilhados, filhos do meu coração, Cedrick e Peter.
— Caramba! É uma família grande agora! — Stormi abriu um
sorrisão.
— Definitivamente, não precisa de DNA! — Serena a abraçou
apertado. — Seja bem-vinda à nossa família, Stormi.
Priest limpou a garganta, também feliz por finalmente conhecer minha
filha. No passado, eu sequer tive direito a ver fotografias dela. O máximo
que Tereza me deu foram alguns desenhos que Stormi fez para mim e com o
passar do tempo e a falta de convivência, ela não fez mais. Peter abriu um
sorriso, acenando, com sua simpatia herdada da mãe. Cedrick ficou na dele,
ele sempre era mais quieto e reservado de primeira.
— Ainda falta um, mas ele estava ocupado com o trabalho e não
conseguiu chegar a tempo. Mas isso vai ser resolvido em breve.
— Eu fiz lasanhas! Não sou a melhor cozinheira, mas a vizinha me
deu um livro de receitas e eu segui à risca. Parece bom.
— O cheiro está delicioso, pode apostar. — Cora e Serena foram com
Stormi para a cozinha.
Eu olhei ao redor, aceitando a bebida oferecida. O mundo podia pegar
fogo lá fora, eu estava pouco me fodendo, dentro do meu peito, era só
explosão de felicidade.
Capítulo Quarenta e Dois
Cora
Alguns meses depois.
Diablo havia passado a madrugada no clube trabalhando e eu não
consegui esperá-lo acordada. Pela manhã, ele dormia pesado, roncando
baixinho no meu ouvido e por mais que tivesse sido um dos motivos pelos
quais perdi o sono, eu ri. Um ano dividindo a cama com ele. Um ano
completo havia se passado e eu estava em paz, podendo acordar sem medo
e não havia dinheiro no mundo que pagasse aquela tranquilidade.
Coloquei minha mão na testa, pela quinta manhã consecutiva sentindo
náuseas. Acreditava que era o momento de pegar o teste e fazer. Levou mais
tempo do que o esperado para engravidar e minha médica disse que era
perfeitamente normal alguns casais não conseguirem de primeira. Eu fiz os
exames necessários, Diablo também, estava tudo certo para concebermos.
Eu não coloquei muita pressão nisso, até porque, estive ocupada com
minhas funções no clube, fazendo amizade com Stormi mesmo que por
troca de mensagens (ela era como o pai, impressionante como o DNA não
precisava de uma convivência. Tal como Diablo, era curta, direta ao ponto,
sempre sacana e adoravelmente cretina com as respostas). Cedrick
finalmente ganhou um apartamento, o que fez com que eu entrasse em um
modo louco de decoração.
Ele estava feliz com o local só dele, os custos estavam sendo pagos
pelo pai, porque o salário de Cedrick era de estagiário-perto-de-passar-fome
e o tio disse que não lhe daria um aumento até que provasse seu valor para a
empresa. Isso fazia com que o garoto trabalhasse em todos os bicos que
surgiam pela frente. Eu pagava para lavar os carros, meus tapetes e passar
minhas cortinas. Serena explorava na função irmão-babá sem culpa.
Diablo era o único que dava dinheiro a ele escondido e Angel
comprava tudo o que ele queria sem questionamentos. Priest ficava maluco
de raiva. Eu amava a minha família incondicionalmente.
Saí da cama de fininho, fui para o banheiro e encostei a porta só para
Diablo não me pegar no meio do teste. Li as instruções e segui as etapas
cuidadosamente, esperando o resultado enquanto me arrumava para
começar o dia. Prendi o cabelo, lavei o rosto e escovei os dentes, foi o
tempo para o teste apitar e o resultado surgir na tela.
Levei a mão à minha barriga, louca para gritar e me aquietei. O
escondi no fundo da gaveta, vesti minhas roupas de ginástica, tomei café e
fui correndo para a casa de Serena porque iria precisar muito da ajuda dela.
— Ah, oi! Desculpa invadir! Achei que tivesse saído já! — Entrei e
bati nas costas de Priest, que estava tirando o lixo.
— Algum bicho te mordeu, diabo loiro? Tá com pressa de quê?
— Vamos malhar! — Disfarcei o quanto estava ofegante e querendo
pular no lugar com uma repentina vontade de praticar exercícios físicos.
— Você está esquisita. — Priest me olhou desconfiado. — Serena está
se vestindo. Já comeu alguma coisa?
Passei correndo por ele, subindo a escada e abri a porta do quarto dela.
— Priest, me dá licença! — Serena brigou e parou ao me ver. —
Caramba, achei que fosse o fofoqueiro do meu marido. Pedi uns minutos
sem ele andando atrás de mim feito uma sombra porque preciso fazer isso
aqui! — Mostrou o teste com alegria. — Estou atrasada! Quer fazer um
comigo?
— Tudo bem. Vamos fazer como naqueles vídeos da internet e ver
qual é o positivo e o negativo?
— Boa ideia, vai ser divertido!
Ela também seria surpreendida com a minha boa notícia.
Peguei um e fui para o outro banheiro, fazendo xixi o suficiente para o
teste e coloquei a tampinha no lugar. Nós os deixamos no balcão e eu queria
muito rir, porém, consegui me manter séria e por ela estar ansiosa, não
prestou tanta atenção em mim. Serena se vestiu, vigiando Priest no primeiro
andar e Peter ainda dormindo.
— Ah, caralho! — ela gritou, pegando os testes. — Coraline!
— Estou grávida! — sussurrei meio gritando. Serena se jogou em
mim tão forte que quase caímos na banheira, cobri sua boca para não falar
muito alto.
— Espera! — Ela se afastou rapidamente e pegou o outro. — Os dois
deram positivo! Cora? Estamos grávidas!
Cobri minha boca sem acreditar que seríamos amigas de barriga
também.
— Eu não acredito que estamos grávidas ao mesmo tempo! —
Trocamos um abraço apertado e eu comecei a chorar. — Que droga, fiquei
emocionada!
— Ah, para! Vou chorar também! — Serena abanou o rosto. —
Precisamos falar com a médica.
— O motivo pelo qual vim aqui como uma desesperada é porque eu
quero muito fazer uma surpresa para Diablo. Ele merece saber dessa
gravidez da melhor maneira possível.
— Claro que vou te ajudar e aproveitar para deixar meu marido um
pouco mais careca, que com a nossa sorte, vem outra peste por aí.
Ficamos no banheiro, falando baixo, até que Priest nos pegou e ficou
ainda mais desconfiado. Serena arrumou um motivo para começar uma
briga com ele e, sem nenhuma razão aparente, pegou a bolsa e a chave do
carro, saindo sem dar satisfações. Enviei uma mensagem para Diablo,
contando que iria à cidade e depois o encontraria no clube.
Sorte que meu marido era muito tranquilo.
— Tranquilo? Ele tem é medo que você jogue uma coisa nele! —
Serena bufou quando li a mensagem fofa dele em voz alta. — Priest que
ama me atentar. Ele gosta de me ver irritada, isso parece que dá um prazer
enorme a ele!
— Diablo também, a diferença é que a minha mordida dói.
— Eu não consigo morder Priest. A não ser que a gente vá fazer
outras coisas… — Ela abriu um sorriso sacana. — Eu não resisto àquele
homem, tanto que estou grávida de novo! — Bateu no volante, empolgada.
— E se forem duas meninas? Elas serão melhores amigas! Por que estou tão
ansiosa?
— Eu não sei, só sei que estou nervosa. — Ergui minhas mãos,
tremendo. — Acho que a ficha está caindo agora. Ai, meu Deus! Serena!
Tem um bebê dentro de mim!
— Outra coisa entrou aí, querida. Consequências — ela me provocou
e eu explodi em uma risada alta.
— Você é tão idiota!
— É por isso que você me ama! — cantarolou e parou em frente à
loja. — Então? Como vamos surpreender nossos maridos hoje?
— Eu tenho uma ideia.
Saímos do carro empolgadas e como sempre, levamos uma eternidade
na rua. Desencontrei de Diablo o dia inteiro propositalmente, com medo de
não conseguir esconder o quanto queria surpreendê-lo à noite. Agendei uma
consulta, peguei os primeiros folhetos que a enfermeira da clínica me deu
para leitura, livros e voltamos para o clube perto da hora do jantar.
Eu salivei com a macarronada do buffet e devorei meu prato, mal
deixando o molho.
— Hoje vocês fizeram compras novamente? — Diablo colocou a mão
na minha coxa. — Estão encomendando mais coisas pela internet?
— Chegou uma nova coleção e fomos antes de todas, para garantir as
melhores peças. — Serena inventou uma desculpa. — Vocês vão sair hoje?
— Não. Nick vai ficar no clube. — Priest nos deu uma olhada. Ele
sabia que alguma coisa estava acontecendo e não falou nada.
— Eu vou só dar uma olhada em uns processos que Sage me enviou
para analisar, mas depois estou livre. — Diablo virou o rosto na minha
direção, percebendo que Priest estava nos encarando, depois virou para a
esposa. — O que está havendo?
— Topa um filminho hoje? — desconversei, soando doce.
— Claro. — Ele me deu um beijo.
Consegui ir para casa antes dele, literalmente fugindo pela lateral da
igreja, deixei as luzes principais apagadas e me sentei na sala com a caixa
bem escondida. Enquanto ele não chegava, fiz um lanchinho, por algum
motivo que só meus hormônios poderiam explicar, cenoura com mel
pareceu uma excelente combinação para uma sobremesa.
— Muito bem, loirinha. Você e Serena quando começam de
segredinho, costumo ficar longe, mas dessa vez estou curioso por estar
agindo estranho. Cedrick fez alguma merda que Priest irá matá-lo de
verdade? — Diablo entrou em casa, tirou o colete e o pendurou com
cuidado, em seguida, chutou as botas longe, andando até o sofá só de calça
jeans e meias. — Ele foi pego fodendo alguém no carro dentro do campus
de novo?
— Não. Embora eu duvide que ele tenha parado de usar o carro como
abatedouro, ele está se comportando. — Comecei a rir e bati no lugar ao
meu lado.
— Cenoura e mel? Você está bem? — Ele agarrou o pote com as
minis cenouras besuntadas, cheirou-as e abusadamente, levou para longe de
mim.
— Ei, é meu. Devolve — ordenei, ele bufou e pegou de volta. —
Acho que vai ter que se acostumar com algumas coisas estranhas a partir de
agora.
— Mais? — me provocou e lhe dei um chute. — Contenha-se. Ainda
não desisti de te ensinar bons modos.
— Boa sorte — falei de boca cheia. — Chegou uma encomenda para
você. Está ali na segunda gaveta. — Apontei para o móvel aparador, ele se
esticou, abriu e tirou a caixa. Sacudiu um pouco, fez um barulho suave e
olhou o remetente.
— Comprou alguma coisa para mim na internet ou foi Stormi?
Ela usava meu nome para comprar algumas coisas, dei a ela um cartão
adicional e seu apartamento estava registrado no meu nome, por isso não
seria incomum.
— Eu não sei, abre. — Dei de ombros, sendo irritante de propósito.
— Sabe a paciência? Eu nunca tive, Coraline! — Ele bufou, agarrei a
bochecha dele e o beijei, falando foda-se bem devagar contra seus lábios,
tal como fazia comigo quando ficava furiosa. Divertido, me jogou no sofá e
gritei, escapando. — O que está aprontando, mulher?
— Abre a caixa, amor — pedi suavemente, voltando a me sentar.
Sem paciência, rasgou o embrulho, viu a caixa branca por baixo e
ficou sem entender nada. Virou e puxou a fitinha, levantou a tampa e ficou
completamente estático analisando o conteúdo. Devagar, pegou um
sapatinho branco, porque ainda não sabia o sexo, depois o teste de gravidez
e a chupeta também de cor clara. Virou a cabeça devagar e sua boca estava
um pouco aberta, o olhar brilhando com uma emoção que me fez largar as
cenouras e chorar.
— Cora… vamos ter um bebê? — ele questionou em um sussurro, a
voz embargada tamanha emoção. — Não brinca comigo.
— Não é brincadeira. Eu fiz o teste hoje e corri para comprar essa
pequena surpresa, porque você merecia saber da maneira mais fofa que eu
pudesse fazer em pouco tempo.
— Tem um bebê nosso aqui dentro. — Colocou a mão na minha
barriga. — Caralho… — Me puxou para um abraço apertado, escondendo o
rosto no meu pescoço. — Eu te amo muito, meu diabinho loiro. — Voltando
a tocar minha barriga, me deu um olhar divertido. — Serei pai!
— Stormi é oficialmente uma irmã mais velha.
— Eu nem acredito que está grávida e vou poder passar a gravidez
com a minha filha junto. — Ele balançou a cabeça, sorridente. — Porra,
puta que pariu! Eu quero soltar fogos nesse caralho! — gritou e eu ri,
cobrindo meus ouvidos. — Coraline! Vamos ter um bebê, porra! — Saltou
comigo no colo, me rodopiando. — Opa, porra. Desculpa. Você está bem?
— Estou ótima, mas evite fazer isso no futuro. — Bati em seu peito.
Caindo de joelhos na minha frente, ergueu minha blusa e começou a
encher minha barriga de beijos, falando baixinho com o bebê que
provavelmente ainda era menor do que um feijão. Aquela felicidade
borbulhante no peito, que um dia achei que nunca iria experimentar, era
muito melhor do que qualquer final feliz dos contos de fadas.
Epílogo
Diablo
Alguns poucos meses depois
Virei-me na cama, enfiando a mão na camiseta da Cora para sentir
meu pequeno moleque chutar. Ele não me decepcionou, movendo-se na
barriga da mãe e ela continuou dormindo. Fechei os olhos, querendo
cochilar novamente. Depois de uma noite intensa e sangrenta, estar ali era
meu ponto de paz no meio de tanto caos. Parecia que a minha vida nunca
encontraria a calmaria, mas eu tinha uma esposa maravilhosa, um bebê a
caminho e um bom relacionamento com minha filha mais velha.
Estava quase dormindo quando ouvi um gritinho, o som da porta da
geladeira batendo e um ofego. Saí da cama o mais rápido que pude, armado
e desci as escadas como um raio. Stormi estava na cozinha com as mãos na
boca e um pão caído aos seus pés. Angel, do outro lado, só de cueca e com
a boca cheia.
— Eu não te disse para andar com calças aqui dentro? — explodi com
ele.
— Andaria se a sua esposa não fosse maníaca por lavar roupa e me
deixasse sem nada para vestir hoje! — Angel retrucou, pegando a toalha da
mesa para se cobrir. — O que você está fazendo aqui? — questionou a
Stormi.
— Eu? O que você está fazendo aqui? — ela rebateu, cruzando os
braços. — Aqui é a casa do meu pai!
Angel ficou repentinamente pálido.
— Eu não sabia que vocês se conheciam — comecei, confuso e um
tanto desconfortável. — Stormi, filha. Esse é Angel, meu amigo, irmão da
vida. Ele esteve viajando nos últimos meses e está dormindo aqui em casa
esses dias porque o apartamento foi ocupado temporariamente com uma
família que perdeu a casa na última tempestade.
— O amigo que eu não consegui conhecer por estar fora? — ela
murmurou, mudando o peso dos pés. — Ah…
— Stormi veio para o chá de bebê das meninas. Sage a buscou de
madrugada, chegou aqui e você estava no clube — expliquei a Angel. —
Cara, o que foi? Por que está com essa expressão de moleque maldito,
porra?
Eles ficaram em silêncio. Stormi encarava qualquer coisa, menos os
meus olhos e Angel parecia que ia vomitar. De algum modo, minha mente
somou dois mais dois. Respirei fundo, me sentindo sem forças.
— Pai, por favor, se acalme… — Stormi falou baixinho.
— Eu conheci Stormi pelo nome de Diana — Angel começou a falar.
Oh, caralho, não! Simplesmente, não, porra!
— Não me diga que você fodeu a minha filha! — berrei com Angel.
Ele ergueu as mãos.
— Eu não sabia que ela era sua filha, a única foto que vi dela ainda
era adolescente e eu não estava aqui quando foram visitá-la! Mas estive em
São Francisco a negócios há uma semana e nos conhecemos em um bar…
— Angel ergueu as mãos. — Te juro que eu não sabia que essa louca era
sua filha!
— Louca?! — Stormi gritou.
— É, louca e mentirosa! Seu nome não é Diana!
— Eu não sou obrigada a dizer meu nome verdadeiro! — Ela pegou
um pão e jogou nele. — E além do mais, você disse que seu nome era
James!
— O meu nome é James! — Angel rebateu. — Angel é apelido,
gênia!
— Gênia? Inacreditável, seu porco miserável!
Enquanto eles gritavam, eu só conseguia pensar em uma coisa. Olhei
para minha arma, chegando à conclusão que sim, meu melhor amigo havia
transado com a minha filha.
— Eu vou te matar, Angel!
— Pai! Não! — Stormi me agarrou.
Epílogo
Cora
— Meu pequeno malandrinho — falei baixo, segurando os dedinhos
do meu bebê com apenas uma semana de nascido. — Eu não lembro mais o
que é dormir e você parece tão pacífico deixando a mamãe maluca.
— Pacífico? Ele não se importa. — Diablo bufou ao meu lado. —
Garotinho lindo do papai, hora de ir para o berço.
— Vai deixá-lo aqui, certo? Não sei se quero ficar longe. — Estiquei o
braço, querendo pegá-lo de volta.
— Se ele ficar aqui, não vai dormir e está precisando descansar. —
Diablo saiu do quarto com ele e fiz um beicinho, meio consternada, mas ele
tinha razão. Precisava de sete dias de sono, porém, dormir até a próxima
mamada parecia ótimo também.
Meu amado e lindo filho chegou ao mundo depois de um trabalho de
parto repleto de adrenalina. Ele também trouxe um amor sem igual,
inexplicável e puro ao meu coração. Charles Neil Atkinson trouxe a
verdadeira definição de felicidade para a minha vida.
Charles, em homenagem ao padrinho Priest, ganhou o segundo nome
de Neil. Embora a relação de Angel e Diablo estivesse esquisita, nosso filho
também homenageou seu outro padrinho. Não importava o que fosse
acontecer, nossa família seguia inabalável e unida. Stormi era uma irmã
presente e o relacionamento com o pai florescia do jeito que os dois
sonharam a vida inteira.
Continuamos tomando todas as precauções em relação a Javier e o
gasto de dinheiro para encontrá-lo seguia sendo exorbitante. Nunca
havíamos estabelecido um preço para nossa paz e só a teríamos por
completo quando ele deixasse de ser uma ameaça para a vida de Stormi,
pagasse por todas as vidas que feriu e parasse de querer se vingar do meu
marido. Para isso, eu não tinha problemas em assumir que ele precisava
morrer.
O mundo não precisava de pessoas como ele. Não faria falta e eu não
me preocupava com quem poderia me julgar por desejar aquilo. Se a justiça
e a cadeia fossem o suficiente para psicopatas como ele, poderia até ter uma
opinião diferente.
— Ele seguiu pleno. — Diablo deitou atrás de mim. — Entre ele e
meu anjinho de rosa, não sei quem chorou mais essa madrugada.
— Seu filho — murmurei com um bocejo. — Finalmente, Serena
ganhou o refresco de ter uma filha calma como ela.
— Calma? — Diablo bufou. — Tudo bem, ela é mais calma que você.
Se tivermos uma menina, ela vai ser furiosa, bad girl.
— Vamos pensar no próximo filho quando conseguirmos dormir, ok?
Rindo, meu marido me colocou de conchinha e me abraçou apertado.
Suspirei e simplesmente fechei os olhos, estava segura e podia dormir sem
medo.
FIM
E o próximo livro...
CENA EXTRA
Lucia DeLucca
Para todas as leitoras da série Poder e Honra que muito perguntaram por
esse momento.
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