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Copyright © 2021 por Caroline Andrade

Ariel| 1ª Edição
Todos os direitos | Reservados
Livro digital | Brasil

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos aqui são produtos da
imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos
reais é mera coincidência.

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escritor, exceto no caso de breves citações incluídas em revisões críticas e alguns
outros usos não-comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.

Capa:Mellody Ryu
Revisão:Assessoria Grámaticalizando
Diagramação:Mellody Ryu

O artigo 184 do Código Penal tipifica como crime, apenado com detenção de 3
(três) meses a 1 (hum) ano, ou multa, a violação de direito de autor. Pela Lei nº
10.695/2003 incluiu, em seu tipo penal, a violação dos direitos conexos aos
direitos de autor, que são aqueles relacionados aos artistas intérpretes ou
executantes, aos produtores fonográficos e às empresas de radiodifusão,
conforme o disposto nos artigos 89 a 96 da Lei nº 9.610, de 19.2.1998 ("Lei de
Direitos Autorais"), mantendo-se a mesma pena.
Por sua causa, eu nunca ando muito longe da calçada...
Por sua causa, eu aprendi a jogar do lado seguro, assim não me
machuco...
Por sua causa, eu acho difícil confiar não só em mim, mas em todos
à minha volta...
Eu não posso chorar, sou forçada a fingir um sorriso, uma risada,
todos os dias da minha vida. Meu coração não pode quebrar quando
não estava inteiro para começar...
Por sua causa, eu tenho medo!
Because Of You, de Kelly Clarkson
Playlist

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Sumário
Copyright © 2021 por Caroline Andrade
Ariel| 1ª Edição
Todos os direitos | Reservados Livro digital | Brasil
Esta é uma obra de ficção.
Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos aqui são produtos da
imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos
reais é mera coincidência.
Capa:Mellody Ryu
Revisão:Assessoria Grámaticalizando
Diagramação:Mellody Ryu
Playlist
Sinopse
Prólogo
Roleta-russa
Cristina Pener
Doutor Miller
Capítulo 01
O céu é o limite
Cristina Self
Capítulo 02
Toy Boy
Cristina Self
Capítulo 03
Vírus carnal
Cristina Self
Capítulo 04
O engano
Cristina Self
Capítulo 05
Nada angelical
Cristina Self
Capítulo 06
Doce vênus
Cristina Self
Capítulo 07
Férias interrompidas
Cristina Self
Capítulo 08
Do céu ao inferno
Ariel Miller
Capítulo 09
Gatilhos
Cristina Self
Capítulo 10
Terror noturno
Cristina Self
Capítulo 11
Eu também não sei o que fazer comigo
Cristina Self
Capítulo 12
Anjo sombrio
Ariel Miller
Capítulo 13
Olhos de coruja
Ariel Miller
Capítulo 14
Pílula mágica
Ariel Miller
Capítulo 15
Anjo protetor
Cristina Self
Capítulo 16
Atenuante
Ariel Miller
Capítulo 17
Irrevogável
Cristina Self
Capítulo 18
Lei e ordem
Ariel Miller
Cristina Self
Capítulo 19
O desembargador
Ariel Miller
Capítulo 20
Na companhia do medo
Ariel Miller
Cristina Self
Capítulo 21
Argumentos válidos
Ariel Miller
Capítulo 22
Apelação
Cristina Self
Capítulo 23
Arcanjo negro
Ariel Miller
Capítulo 24
Tambores do medo
Cristina Self
Capítulo 25
A visita do anjo ao inferno
Ariel Miller
Capítulo 25
Entre anjos e demônios
Cristina Self
Ariel Miller
Cristina Self
Capítulo 26
Buquê de rosas
Cristina Self
Epílogo
Ariel Miller
Agradecimentos
Sinopse

Cristina Self passou anos reclusa em seu mundo seguro, o


qual criou para si mesma depois de uma separação conturbada e
violenta. Até que seu caminho se cruzou com o notório advogado
criminalista Ariel Miller, conhecido nos tribunais por seu cinismo e
frieza calculista. Seduzida pelo magnetismo que ele possui, a
encantando com seu olhar intenso, Cristina se desprende do seu
mundo seguro, se permitindo se perder por uma única noite no calor
dos braços do charmoso homem. Mas o que Cristina não sabe é
que o destino tem outros planos para eles, um que ligará as duas
almas quebradas para sempre. E de um engano nada angelical,
mas sim completamentesexy e envolvente, Cristina irá do céu ao
inferno para viver sua história de amor.
AVISO DE GATILHO: o livro contém violência doméstica e
relacionamento abusivo.
Prólogo
Roleta-russa
Cristina Pener
Sacramento – Califórnia
Aperto meus olhos, os fechando com força, enquanto meus
braços se erguem sobre minha cabeça. O grito de dor que invade o
quarto sai dos meus lábios quando o terceiro chute desferido em
puro ódio acerta minhas costelas. Sinto o ar faltar dentro dos meus
pulmões e me retorço de dor. O ataque de cólera dele não para,
nem diminui, mesmo eu gritando e implorando por minha vida. As
mãos sujas com meu sangue puxam meus cabelos, os segurando,
olhando para minha face machucada, com o sangue escorrendo do
meu nariz quebrado. Seus olhos frios e vazios não demonstram um
único fio de arrependimento por estar me espancando.
— Renan... Renan...
Minha voz entrecortada pela dor e o choro, fala seu nome,
implorando por clemência. Não sei mais onde estou, nem em qual
momento ele começou a me bater. Minha mente vaga entre o pavor
e o desespero e imagino que minha vida terminará dentro desse
quarto.
— Fica tão bela quando chora, meu amor. — A voz gélida,
como a de um cadáver sem coração, fala mansamente.
Ele beija meu rosto, me fazendo chorar ainda mais. Estou
ferida, acovardada e sem esperança de sobreviver ao seu ataque de
fúria. Seu punho fechado se ergue uma única vez, acertando minha
face com pura pressão. É rápido e brutal, fazendovoar sangue pela
minha boca. Meu corpo mole, sem mais força ou coragem para se
mexer, se estica ao chão, e sinto as lágrimas em minha bochecha
colarem ao piso, junto ao meu sangue. Em meio à baixa visão que
minhas vistas têm, com os olhos nublados de vermelho, observo
apenas seu vulto caminhar para fora do quarto, e aqui, caída,
anulada, humilhada, fico pelo que parece uma eternidade para
minha alma, até conseguir me arrastar pouco a pouco, chorando,
com medo de que ele volte. Consigo pegar o telefonecaídoperto da
cama. Me encolhendo, disco os números. O toque se prolonga, me
torturando dentro do meu cérebro, até que ouço a voz do outro lado
da linha me saudar.
— Alô?
— Mãe, me tira daqui. — O telefone rola dos meus dedos,
enquanto luto para continuar consciente.
— Todos de pé! — A voz do policial, assistentedo juiz, é alta,
me tirando das minhas lembranças.
Me levanto junto com meu advogado, observando o juiz
entrar no tribunal para deferir a sentença. Eu não preciso olhar para
o lado para ver Renan, meu corpo sente seus olhos repousados
sobre mim.
— No caso de violência doméstica e tentativade homicídio
de Renan Pener contra sua cônjuge, Cristina Pener, a corte chega
ao seu veredito final.
Meu coração se aperta dentro do meu peito, estou olhando
para o juiz. A bancada dos jurados, que tem como grande maioria
homens, me olha com atenção. Me sinto silenciada, renegada, com
meu sofrimento desmerecido diante de todos que me julgam
silenciosamente com seus olhares frios e calculistas.
— Declaro Renan Pener inocente de todas as acusações.
— Não... Não... Oh, meu Deus! — Tapo meu rosto, negando
com a cabeça, balbuciando em meio ao choro desesperado que me
domina ao ouvir a voz do juiz declarar a sentença.
Falta ar em meus pulmões. Sinto meu corpo desabar
lentamentena cadeira, tendo as lágrimas nublando minha visão. O
pranto dolorido rasga por minha garganta. Me sinto humilhada,
diminuída, degradada, como um ser humano sem valor algum, uma
poeira, alguém sem caráter. Colocaram à prova minha sanidade
mental e meus princípios.Minha cabeça se ergue e vejo Renan sair
caminhando altivo, com um sorriso cruel nos lábios, com seus olhos
frios cravados em mim.
— Senhora Pener...
O toque da mão do meu advogado ao meu lado me assusta,
me deixando alarmada. Giro minha face na mesma hora para ele.
— Eu sinto muito, lamento. Se puder fazer algo pela senhora,
basta apenas me falar...
— Self! — murmuro, chorando, limpando meu rosto. — O
divórcio já foi assinado, me chamo Cristina Self.
Ele sorri com vergonha e balança a cabeça em positivo para
mim.
— Se precisar de algo é só me avisar, senhorita Self.
O vejo fechar sua maleta e partir junto com os outros dentro
do tribunal, que vai se esvaziando. Tapo minha boca, chorando
desesperada. A única coisa que eu carecia, a única coisa que eu
queria, era a justiça!
E ela foi tirada de mim. Foi distorcida, ficando a favor de um
homem frio, sem remorso, que usou todo dinheiro, poder e
influência da sua família para me humilhar mais uma vez. Comprou
o julgamento, desmereceu as provas. Renan tinha arrancado tudo
de mim: minha dignidade, minha alma, anos da minha vida ao lado
dele, meu mundo todo. Ele me fez morrer a cada lágrima que ele
sentia prazer em tirar de mim. Uma roleta-russa, na qual ele me
torturou psicologicamente, fisicamente e emocionalmente, até eu ser
apenas uma sombra da mulher que já fui um dia.
Doutor Miller

Nova York

— O grande júri chega ao veredito final, Meritíssimo.


Levo minha mão ao bolso da calça, observando os rostos dos
jurados. Meu cliente,de pé ao meu lado, transpira pelos poros como
um porco prestes a ir para o abate, deixando sua respiração alta a
cada puxada de ar pelas narinas.
— Contra o caso de agressão e tentativade homicídio à
senhorita Vagas, declaramos Charles Lorax inocente das
acusações, por não haver provas contra ele.
Meu rosto se mantém imparcial, não demonstro minha reação
com o resultado do julgamento. Charles se vira, me abraçando de
forma desagradável. O afasto educadamente, fecho minha maleta e
comprimo meus lábios com desagrado pelo seu toque imundo em
meu terno.
— Oh, meu Deus, estou livre... Estou livre da acusação dessa
vadia!
Lhe dou um olhar semicerrado, não dividindo meus
pensamentos de desprezo por ele. É um homem patético,com seus
1,58m de altura, cabelos curtos, pernas finas e barriga
sobressalente.
— Realmente você é o melhor! Valeu cada centavo! Muito
obrigado, muito obrigado, doutor Miller...
— Não me agradeça, fiz apenas meu trabalho. — Seguro
minha maleta e olho por cima da cabeça dele, para a vítima,que
está sentada no banco da promotoria, chorando melancólica. —
Faça o pagamento dos meus honorários para minha secretária.
Caminho para fora da sala de julgamento a passos firmes,
seguindo para a porta da frente, mas antes mesmo de sair para fora
do prédio, os flashes dos fotógrafos me acertam, junto com o
enxame de repórteres que aguardam do lado de fora pelo fim do
julgamento. A mídia em peso está cobrindo o caso do dono de uma
das maiores transportadoras da cidade, que foi acusado de agredir
uma mulher dentro do apartamento dele.
— Doutor Miller, poderia nos dizer como se sente com a
absolvição do seu cliente?
Não olho para seus rostos, apenas mantenho meus passos,
os empurrando lentamente, tentando sair de perto deles.
— Acreditamesmo na inocência do seu cliente?Acha que foi
correto ele ter sido inocentado?
— Oh, saiam logo da frente, seus abutres! — O segurança do
tribunal me ajuda a ter passagem livre, abrindo um pequeno
corredor entre os repórteres, para que eu possa passar por eles e
retornar para dentro do tribunal. — enha
T um bom dia, doutor Miller.
— Muito obrigado, Bill. Depois me conte como anda Flin na
escola. — Pisco para ele, que balança a cabeça em positivo.
— Ele está muito feliz com a bolsa de estudos, doutor. Nunca
vou poder lhe agradecer o suficiente pelo que fez ao meu menino.
— Bill abre a porta da cafeteria do tribunal, apontando para mim. —
Saia pelos fundos, vou segurar esses vermes curiosos na entrada
do tribunal.
— Agradecido, meu amigo.
Bato em seu ombro e passo apressado pela porta, sentindo
alívioem deixar a aglomeração dos repórteres para trás. Passo pela
cafeteria a passos rápidos, indo direto para o elevador, no intuitode
descer no estacionamentodo subsolo. Antes das portas fecharem,
um corpo esguio entra ligeiro, com os olhos castanhos brilhando de
raiva para mim.
— Você é um grande cretino miserável, Miller! — A mulher
zangada, com sua boca semicerrada, arruma seus cabelos, os
jogando para trás, com suas bochechas vermelhas de ira.
— Bom dia para você também, Adele.
— Bom dia uma ova! Como consegue voltar para sua vida e
dormir à noite depois de soltar aquele monstro nas ruas?!
— Não seja dramática, minha querida. — Sorrio, negando
com a cabeça para ela. — Você, como promotora, sabia o final
desse julgamento melhor do que eu. Não existiam provas reais
contra meu cliente.
— Você distorceu as palavras da minha cliente e a fez
parecer uma mulher promíscua!
— Eu?! — A olho, rindo, negando mais uma vez com a
cabeça. — Oh, meu Deus, como eu pude fazer algo tão horrível, não
é? Onde já se viu fazer uma prostitutaviciada em metanfetamina
parecer promíscua?! Chega a ser abominável minha conduta!
— Abominável é sua frieza, Miller!
— Deveria ter aceitado meu acordo, Adele, quando eu
propus. Avisei para você que não pegaria leve se chegássemos a ir
diante do grande júri. Eu sou condicionado em liberdade. Não
escolho causas para defender alguém, apenas desempenho com
maestria minha profissão, e nunca perco! Isso não faz de mim um
cretino, mas sim um advogado criminalista bem-sucedido.
Ela fecha sua face com raiva, virando seu rosto para as
portas, negando com a cabeça.
— É por causa de advogados como você, que existem tantos
monstros de colarinho branco[1] impunes, como Charles Lorax. —
As portas se abrem no térreo. Adele dá dois passos para fora do
elevador, antes de se virar para mim. — Você sabe que Charles
Lorax é um maníacodepravado e que é apenas questão de tempo
antes dele fazer algo hediondo e fatal contra uma vítima.Quando
isso acontecer, espero que você sofra muito com sua consciência,
por ter deixado esse monstro à solta!
— Meu sentimento de inimizade por você é recíproco
também, minha cara. Nos vemos no próximo caso. — Pisco para
ela, apertando o botão das portas do elevador
, para se fecharem.
Assim que as portas se fecham, solto o nó da gravata,
afrouxando o aperto em minha garganta. Respiro fundo, desejando
que esse dia acabe logo. Quando o elevador chega ao
estacionamento, caminho para fora, indo em direção ao meu carro.
— Doutor Miller?
A voz masculina que me chama, me faz virar. Vejo um
homem grisalho, sério, me encarando. Ele retira seu documento, o
mostra para mim e estende sua outra mão para me cumprimentar.
— Sim, sou eu. — Olho da sua mão aberta para sua face,
repuxando meu nariz. — E você seria?
— Detetive Maiar. Passei no seu escritório, mas sua
secretária me avisou que poderia lhe encontrar aqui, no tribunal.
Como estava em audiência, tive que aguardar
.
— E qual seria o motivo da sua espera? Se quer uma
consultoria, sugiro que marque uma hora.
Me viro e volto a caminhar para meu carro, retirando as
chaves do bolso da calça.
— Doutor, não estou aqui por conta de uma consultoria.
Nesta madrugada, por volta das três e quarenta, uma Mercedes
Sedan vermelha colidiu com outro veículo— o homem fala nervoso
atrás de mim, o que me faz parar de andar. — O veículo está
registrado em seu nome, doutor Miller, foi assim que conseguimos
identificar os passageiros.
— Esse carro fica com minha ex-mulher, estamos passando
pelo processo do divórcio, meu motoristaé quem conduz o veículo.
Não consigo ver Tober se perdendo na direção...
— Doutor Miller, sua esposa estava na direção.
— Oh, merda! — grunho com raiva. Mais uma vez, Silvia se
superou com suas infantilidades. — Ela machucou alguém, as
pessoas do outro veículo,por isso está aqui? — Esfrego meu rosto
com cólera, respirando fundo. — Olha, eu não tenho mais paciência
para as irresponsabilidades de Silvia, vou lhe passar o contatoda
irmã dela. Se tiver algo que possa fazer para...
— Houve uma morte — o homem me corta, me fazendo
calar.
Esfrego meu rosto, não acreditando que ela fez isso. Como
pôde dirigir o carro de madrugada, sendo que tinha Tober para
conduzir o veículo? Ela tirou a vida de alguém por sua falta de
responsabilidade.
— Deus! Eu nem sei o que dizer. Quem estava no outro
veículo?
— Doutor Miller, não foi no outro veículo.Havia mais alguém
com sua esposa, deitada no banco de trás do Mercedes, e ela não
estava na cadeirinha.
Meus olhos caem para o chão enquanto compreendo o que
ele está falando. Meu coração vai parando de bater, o frio sobe pela
minha espinha.
— Dolly?! — Ergo minha face com ira, segurando a jaqueta
do detetive, o puxando com desespero. — Minha filha! O que
aconteceu com a minha filha?!
Capítulo 01
O céu é o limite
Cristina Self
Sacramento – Califórnia

Quatro anos depois


Depois de muita resistência, observando a parede e não
tendo para onde fugir, ao som do insistente alarme em cima da
penteadeira, me sento na beirada da cama, esfrego meus olhos e o
desligo. Caminho pelo quarto, vou ao banheiro, deixo meu rosto
focar na mulher descabelada que me encara pelo reflexo do
espelho. Posso ver as olheiras, destacadas abaixo dos olhos por
conta das noites mal dormidas e do cansaço puro. Desvio minha
atenção para o panfleto que tinha colado na moldura superior do
espelho e solto um suspiro de alívio.Observo a praia paradisíacade
areias brancas e águas de um azul-céu, que arranca meu fôlego.
Abaixo das palmeiras há uma delicada rede, que destaca a beleza
de Kona, no Havaí.
— Apenas mais um dia de trabalho, Cris, e em quarenta e
oito horas tomará Mai Tai[2] de frente para essa bela vista. — Sorrio,
animada, ansiosa para minha viagem de férias. Me dei ao luxo de
pagar essa viagem para mim.
Só preciso aguentar mais esse dia. Tentar não cair no
estresse total do trabalho e sobreviver a mais algum presente
terrivelmenteconstrangedor da minha mãe. Depois de fazer minha
higiene matinal e estar pronta para o trabalho, respiro fundo, abro a
porta do quarto, torcendo para minha mãe ainda estar no quarto
dela, trancadaa sete chaves. Mas, ao entrar na cozinha, colido com
o cara da semana da minha mãe, o que não é novidade, já que toda
semana ela tem uma nova paixão.
— Olá, bom dia, gata! — Ele sorri, me saudando assim que
me vê.
O homem, que deve estar próximo da casa dos trintaanos,
me cumprimenta, segurando uma xícarade café, só de cueca, com
seus cabelos úmidos de quem acabou de sair do banho.
— Bom dia — balbucio, desviando meus olhos dele, me
encaminhando para o armário de louças.
Pego uma xícara para mim, me sirvo de café o mais rápido
que posso, e ao tentarsair da cozinha, dou de cara com minha mãe
entrando só de roupão.
— Oi, meu anjo, bom dia. — Ela me dá um beijo estridente na
testa,sorrindo animadamente para mim. — Vejo que já conheceu
Filipe.
Ela sorri, dando um beliscão na bunda do homem, parando
ao lado dele.
— Filipe é latino, meu bem. Olha que coisa mais linda! —
Suas sobrancelhas se mexem de forma desavergonhada, fazendo
uma careta safada para mim.
Minha mãe dá um superbeijo no cara, digno de cinema,
aqueles de fazer o pescoço ficar torto.Vejo a mão dele espalmada
na bunda dela, pressionando seu quadril mais ao dela. Ela solta um
grande suspiro, sorrindo para ele, quando finalmente o exagerado
beijo termina.
Fico observando minha mãe, uma mulher excepcional, no
auge dos seus cinquenta e nove anos, se deleitando nos braços do
latino, suspirando como uma colegial. Quem olha para ela num
primeiro momento, pensa: “nossa, essa mulher é uma porra
louca[3]”, mas não imagina o tantoque ela já sofreu nessa vida.
Meu pai morreu quando eu ainda estava na barriga dela, e meus
avós a expulsaram de casa, a largando à própria sorte. Minha mãe
trabalhava como garçonete em dois turnos em uma lanchonete
decadente para poder se virar. Se casou quando eu ainda era um
bebê e nos mudamos de Los Angeles para a Califórnia. Conforme
os anos se passavam e eu ia crescendo, via a cada dia o brilho de
minha mãe se apagar, seu espírito aventureiro morrer, sem os
traços da mulher alegre que ela sempre foi. Bruce, seu marido, era
um alcoólatra narcisista, batia nela com grande frequência. Me
recordo que até os meus doze anos, nossas vidas foram horríveis.
Em uma noite de chuva, Bruce estava dirigindo embriagado quando
se perdeu em uma curva. Seu carro bateu de frente com um
caminhão, o levando a óbito instantâneo.Sei que é horrível dizer
isso, mas aquele infeliz prestou para algo, a deixou com uma vida
estável e ela não precisa se preocupar com grana. Porém, como
minha mãe sempre foi uma mulher de paixões avassaladoras, ela
nunca conseguiu ficar sozinha, e assim fui vendo a cada semana
um novo amor entrar e sair de sua vida. Mas, ao fim, sempre
desconfiei que era meu pai que ela procurava em todos esses
envolvimentos relâmpagos.
Sorrio sem graça para os dois, que estão namorando na
minha frente, e tento escapar da cozinha outra vez, mas sou
impedida pela pequena mulher, que começa a tagarelar ao me ver
me afastar.
— Ande, Cris, sente-se! Vou preparar o seu café da manhã.
Não achou que esqueci o aniversário da minha gatinha, né?!
— Na verdade, eu já estou de saída, mãe. — Dou um sorriso
amarelo, girando meu corpo e caminhando para a porta.
— Nem tente,Cristina! — Seus dedos já estão bem presos
em meu braço, me puxando para me sentar na cadeira. — Não
pode achar que está tão velha assim para me negar um pequeno
carinho para minha rosquinha...
— Oh, meu Deus, mãe! — Esfrego meu rosto, deixando a
xícaraem cima da mesa. — Já falamos sobre eu não ter mais idade
para apelidos, certo?
— Pense em uma menina que apenas comia rosquinha
recheada quando criança, Filipe. — Ela me ignora descaradamente,
sorrindo para o sarado seminu dentro da cozinha. — Ainda continua
se entupindo de rosquinha, a única diferença é que agora não é
mais minha menininha.
Me afundo na cadeira, desejando poder transformar meu
corpo do estado sólido para o gasoso, apenas para poder evaporar
daqui. Sinceramente, detesto datas comemorativas, e meu
aniversário está no topo delas. Estar completando vinte e oito anos,
morando dentro da casa da minha mãe de favor, enquanto espero a
reforma do meu apartamento terminar, apenas me faz me sentir
mais patética.Devia ter ido para um hotel, ao invés de ceder e vir
para cá pela insistência dela. É estranho saber que quando eu
completei a maior idade, tinha toda minha vida planejada, e ela
simplesmente desmoronou.
Aos vinte anos conheci Renan enquanto eu cursava
faculdade de Direito, e ele Gestão Empresarial. Me apaixonei por
ele perdidamente. Logo após minha formatura, nos casamos, e ao
invés de seguir carreira, me vi trocando códigos civis por afazeres
domésticos, já que era o que Renan queria e o que eu também
achava que queria. Me transformei em uma perfeita mulher que fica
em casa, pois para a educação que ele teve, isso seria o correto. E
eu, por amá-lo demais e ser uma completa idiota, renunciei à minha
formação acadêmica e virei a melhor dona de casa que um homem
poderia querer. Mas sempre me sentia como se não fosse
suficientementeboa para ele. Seu ciúme em demasia me sufocava
tanto,ao ponto de eu não ter nenhum tipo de amizade verdadeira
com outra pessoa, nenhuma amiga e muito menos um amigo, e
poucas vezes eu visitava minha mãe. Eu mentia para mim mesma
que estava tudo bem, que não precisava me preocupar, que seu
ciúme era algo normal, porque, afinal, ele me amava. Mas não tem
nada de normal em um ciúme doentio, não existe nada de saudável
em um parceiro que te diminui, que usa sua fraqueza contra você, te
torturando lentamente, como um vampiro que chupa toda sua
alegria, sua luz e sua vida, até restar apenas dor.
Depois do primeiro ano de casamento, tudo piorou quando
ele decidiu ter um filho. Claro que abracei a ideia da maternidade na
mesma hora, pois meu sonho sempre foi ser mãe. Mas então nada
acontecia, cada mês um novo fracasso, até que procuramos ajuda
médica. Quando Renan trouxe os resultados dos exames, me deu a
notíciaque eu não poderia ser mãe. Meu corpo é oco e seco por
dentro. Isso me devastou, me deixou mais abalada
psicologicamente do que eu já me encontrava, e fiquei de bandeja
para a dominação que ele tinha sobre mim.
Aprendi da pior maneira a distinguir uma relação saudável de
uma relação maligna. O ciúme doentio de Renan, em nossa relação
tóxica e narcisista, me consumia. Em nosso último agonizante ano
de casamento, no qual já me encontrava melancólica ao extremo,
em uma noite, quando voltávamos do cinema, sorri com ternura
para uma criança dentro do shopping, não reparei no homem ao
lado dela, apenas imaginei como seria estar passeando com meu
filho, se eu pudesse ser mãe. Foi apenas um sincero sorriso para
uma criança, mas Renan não viu com esses olhos. Ao chegar em
casa naquela noite, Renan ficou louco, zangado, espumando de
ódio pela boca, enraivecido. Ficou alterado de uma forma brutal, só
que dessa vez ele não usou apenas de palavras maldosas para me
ferir, não foi só o abuso psicológico. Ele me olhava com nojo
enquanto me arrastava para o nosso quarto, puxando meus
cabelos. Gritando palavras chulas e grosseiras, me arremessou ao
chão, jogando todas as coisas da cômoda na parede, me dizendo
que eu era uma vagabunda, que mesmo ao lado dele estava
paquerando outro homem, que o sorriso que dei era para o homem
e não para a criança, que no fim ele sempre soube que eu seria
igual à minha mãe, uma puta suja. Fiquei assustada e com muito
medo, acuada, me sentindo pequena e insignificante. Não tive
qualquer tipo de reação quando ele partiu para cima de mim. Renan
me bateu de forma brutal, desferindo um murro em meu rosto,
puxando meus cabelos, dando chutes no meu estômago, que me
faziam contorcer de dor caída ao chão, sentindo o gosto do meu
sangue se misturar às minhas lágrimas a cada vez que ele acertava
minha face.
— Sempre soube que no fim você seria só mais uma
vagabunda negra! — Ele me chuta com força. Minhas mãos só
conseguem tapar meu rosto, tentando estancar o sangue que sai
pelo meu nariz. — Bem que me avisaram, mulheres como você são
fogosasdemais para se contentarem com apenas um pau dentro da
boceta. Não passa de uma vadia que não tem onde cair morta. Você
sem mim não é nada, só uma cadela imunda!
Deus, eu ainda posso ouvir a voz dele me dizendo aquilo
dentro do quarto.Renan é duas vezes maior que o meu tamanho. O
que seriam meus 1,59m contra um homem de 1,85m e com 90
quilos me espancando? Nada!
O que Renan sentia por mim não era amor, e sim posse. Seu
ciúme patológico, que eu tentavasempre perdoar, era assustador, e
não tinha mais como enganar a mim mesma que nossa relação era
saudável. Ele me abusava psicologicamente, me fazia me sentir
inútil e culpada por qualquer coisa que o irritasse.
Renan saiu de casa me xingando de todos os nomes sujos e
depravados. Me arrastei até o telefone, que estava no chão, o
peguei em meus dedos sujos de sangue, e liguei para minha mãe.
Quando minha mãe chegou e me encontrou toda machucada,
encolhida no chão do quarto, ela me tirou daquela casa na mesma
hora. Não houve nenhum diálogo entre nós, questionamentoou um
“eu te avisei que ele não era bom para você”. Ela não falou nada.
Minha mãe não pegou nenhuma roupa minha, já que todas foram
Renan quem comprou, nem fez as malas, apenas me tirou de lá. E
assim deixei quatro anos de casamento para trás. Minha única
felicidade em tudo isso foi que pelo menos para alguma coisa me foi
útil meu ovário seco: não tivemos filhos.
A separação foi dolorosa em todos os sentidos. Fui
humilhada pelos advogados da família dele diante do tribunal, que
me espezinharam, apontando como ele era um bom marido. E de
vítimaagredida fisicamente, emocionalmente oprimida por quatro
anos, me vi tendo minha sanidade mental contestada. Os
advogados distorceram tudo, desmerecendo os fatos, omitindo a
personalidade agressiva de Renan, o transformando em um
empresário de boa índole,familiar, respeitoso, de famílianobre. Isso
foi feito de uma forma tão fria, calculistae baixa, que até eu mesma
tive dúvida sobre minhas memórias e sanidade mental. Eu estava
fraca e abalada, e fui de vítimapara ré em questão de segundos.
Depois dessa humilhação, quando achei que tudo iria terminar,
Renan retornou dia após dia, vindo me ofender na porta da casa da
minha mãe, onde fiquei um tempo depois da separação.
Quando me estabelecia em algum apartamento,ele sempre
dava um jeito de descobrir onde eu estava, e ia até a porta do meu
prédio ficar me acuando. Mudei de endereço por três vezes, de
tantomedo que eu sentia. Passava um tempo e eu ficava calma,
quando achava que tudo estava se encaminhando e eu podia
respirar aliviada, Renan voltava, me perseguindo na rua, fazendo
juras de amor, implorando por uma segunda chance, me
aterrorizando na frente do prédio do meu novo apartamento,
cuidando de cada passo da minha vida. E toda vez que eu dava
uma queixa na polícia contra ele, Renan não ficava mais que duas
horas preso, logo era solto por conta do seu pai, que tem grande
influência por ser um governador do estado. O máximo que eu
consegui foi uma restrição protetiva, e mesmo assim ele a quebrava,
ficando feito um fantasma, parado do outro lado da rua do meu
prédio.
Apenas tive um pouco de paz quando Renan arrumou uma
garota. Descobri por acaso, em uma reportagem de jornal, que ele
estava noivo outra vez. Isso me deixou aliviada e ao mesmo tempo
triste.Aliviada por mim, mas temerosa pela coitada da mulher que
deve ter caído no charme irresistível de predador dele.
Finalmente encontrei um bom lugar para morar, sem precisar
mais fugir dele, agora que Renan encontrou alguém. É um
apartamento simples, mas acolhedor, e estou animada com meu
imóvel. Já estou lá há uns três meses, só que decidi retirar a parede
que divide a cozinha da sala e trocar o porcelanato do chão, para o
deixar mais belo, por isso precisei passar uns dia na casa da minha
mãe.
No entanto,de alguma forma, eu morri, não dentro daquela
casa sendo espancada por ele, mas por dentro, em minha alma. A
garota sorridente, extrovertida, romântica, apaixonada pela vida e
pelo amor, não ri mais, nem brinca ou dá brecha para outra pessoa
entrar na sua vida. Os vestidos soltos e saltos altos, com roupas
coloridas e alegres, foram trocadospor saias compridas sem cor até
as canelas, sapatilhas discretase blusas de gola alta, que me dão a
sensação de proteção. Os cabelos soltos viraram um coque, as
maquiagens foram jogadas no lixo. Eu era uma luz brilhante que
tinha se apagado. Prefiro ficar no escuro, onde os monstros não me
alcançam.
— Olha só o que preparei para você. — Minha mãe me tira
dos meus devaneios, colocando um prato de panquecas com mel na
minha frente.
— Obrigada, mãe, sabe que é minha comida preferida —
digo, sorrindo para ela, lhe dando uma piscada.
— Feliz aniversário, meu amor! — Ela sorri carinhosa,
apoiando seus cotovelos na mesa. — E aí, já sabe o que vai fazer
hoje? — Ela está parecendo uma adolescenteme olhando, ansiosa,
batendo seus longos cílios. — Vai sair para beber, encher a cara,
pegar uns rapazes gostosos para transar a noite toda?
Meus dedos congelam segurando o garfo, que está enfiado
em cima das panquecas. Expando meus olhos, a encarando.
— Por favor, não faça isso...
— Por quê? Você gostava quando brincava com você, antes
de virar esse fantasma ambulante.
— Mãe...
— Isso mesmo! Transar, foder, trepar até suas coxas ficarem
assadas... — Olho para o rapaz, que sorri atrás dela e segura sua
cintura. Perco qualquer resquício da mínima fome que eu pudesse
ter, enquanto ela tagarela sem parar: — São atos naturais para o ser
humano.
— Mãe, suspeito que erraram nossos corpos, sabia? —
suspiro envergonhada, soltando o garfo, sentindo uma falta de ar
me pegar.
— Ah, qual é, Cris? Pelo amor de Deus! Você parece uma
velha chata! Só se faz vinte e oito anos uma vez na vida. — Ela
puxa uma cadeira e senta ao meu lado, segurando meu rosto em
suas mãos. — Sério, garota, você está precisando de uma boa noite
de sexo, com um deus grego maravilhoso, que te tire desse mundo
chato que você se fechou, por conta daquele merda do Renan.
— Mãe, meu mundo não é chato, e eu não sou assim — falo
séria, afastando meu rosto de suas mãos.
Meu mundo, no qual eu tinha me recluído depois do
aterrorizantefim do meu casamento, durante esses quatro anos de
divórcio, não é chato, é seguro.
— Não?! — Ela encosta suas costas no encosto da cadeira,
cruzando os braços. — Então me diz, quando foi a última vez que
transou? E não venha com encontros enfadonhos de reuniões da
empresa. O que estou lhe perguntando é sobre dar, foder de uma
forma que ficou dolorida por pelo menos um dia.
Pisco, confusa, negando com a cabeça para ela.
— Veja... — Ergo meu dedo, apontando no ar, tentando trazer
algum encontro, no qual eu transei, em minha mente. — Bom...
Teve... Humm... Foi... Foi...
— Foi há muito, muito tempo. — Minha mãe balança a
cabeça em negativo, sorrindo para mim, me dando um olhar arteiro.
— Precisa voltar a viver, Cris. Precisa de sexo, e já resolvi isso para
você da minha maneira.
— Mãe?! — Ela sorri, gesticulando seus dedos no ar como
quem não quer nada. — Não quero que faça nada. Sem gracinha ou
qualquer presente que vá me deixar envergonhada.
— Relaxa, relaxa. — Minha mãe se levanta da cadeira e se
afasta da mesa. — Sabe do que você precisa, dona Cristina?
— Desconfio que mesmo que eu não queira saber, a senhora
vai me contar...
Ela se vira, me olhando, sorrindo diabólica. Bebo meu café,
não quebrando nosso contat o visual, tentandodescobrir o que ela
está tramando.
— De um cara com um pau bem grande, não digo tipo
McLanche Feliz[4], com aqueles brinquedos pequeninos mixurucas,
mas sim aqueles homens Subway[5], com 21cm.
Me engasgo na mesma hora que ela me diz isso, quase
jogando o café da minha boca para fora. O tal de Filipe ri junto com
ela, saindo da cozinha, indo na direção do quarto dela.
— Mãe, pelo amor de Deus! — Solto a xícara de café na
mesa, limpando minha boca com o guardanapo, a olhando de cara
feia. — A senhora não pode falar sobre minha vida sexual na frente
dos caras da semana.
— O que foi? É verdade! Veja o Filipe, por exemplo. Pensa
em um homem que sabe usar o que tem, Cris. Deus, se você
soubesse como ele tem doutorado em manusear aquela língua
dele... — Enquanto a estou olhando chocada, quase saltando meus
olhos para fora do meu globo ocular, minha mãe está rindo
descaradamente da minha face de pânico. — Filipe me
proporcionou os melhores orgasmos que já tive na minha vida...
Me levanto em um pulo, derrubando no chão a cadeira em
que estava sentada com o movimento abrupto.
— Lembra aquela linha invisível que eu estipulei sobre
assuntos que podemos falar uma para outra? — Respiro rápido,
sentindo a falta de oxigênio aumentar. Faço um risco com meu dedo
no ar na frente dela, como se fosse nossa linha imaginária. — A
senhora acabou de ultrapassá-la. Não vamos falar sobre seus
orgasmos ou como o cara da semana sabe usar a língua.
— É Filipe, Cris. Não chame ele de cara da semana, pega
mal falar assim, sem dizer que parece que estou desmerecendo-o...
— Ela abaixa o tom de voz, olhando na direção que o homem foi,
enquanto ergo a cadeira do chão. — Meio que ontem à noite eu dei
uma mancada, esquecendo o nome dele na hora do sexo...
— Mãe, você é inacreditável. — Aliso meu peito por conta de
uma palpitação em meu coração, e percebo a dor latenteem minha
nuca. — Não vai me contar mais nada das suas aventuras sexuais,
a senhora vai me fazer ter um infarto antes dos trinta anos. — Passo
meus dedos em minha nuca, a massageando. — Acho que minha
pressão está alta...
— Você está ótima, Cristina. Pare com essas suas manias de
hipocondríaca[6]. E outra, não vejo qual o problema de falarmos
sobre minha vida sexual. Se eu não contar para você, eu vou falar
com quem? Para a vizinha amarga do outro lado da rua?
— Inacreditável! Mude de assunto, por favor
.
— Inacreditável é uma mulher na sua idade ficar sem transar
por quatro anos. — Ela nega com a cabeça, revirando seus olhos.
— Já que quer mudar de assunto, me diga: vai voltar para casa
cedo hoje ou vai ficar até tarde no escritório?
— Não vou voltar cedo, amanhã estou oficialmente de férias,
então preciso deixar tudo encaminhado hoje, para a secretária
temporária.
— Secretária. — Ela volta a revirar seus olhos, me deixando
saber que vai fazer um discurso. — Ainda não entendo como pode
ficar trancada dentro de uma sala, atendendo telefonemas, quando
poderia estar brilhando dentro dos tribunais, defendendo as
pessoas, como sempre foi seu sonho.
— Mãe, por favor...
— Anos de estudos, uma carreira promissora em Direito
jogada no lixo, para sobreviver de atender telefones...
— Mãe, para seu governo, meu serviço é muito mais do que
atender telefones, e não há nada de errado com a profissão de
secretária. — Ela ergue sua mão, me calando, fechando sua face.
— Não pense que estou desmerecendo o serviço de
secretariado, eu seria a primeira a me encher de orgulho por você
ser uma ótima profissional — minha mãe me olha séria, negando
com a cabeça —, se essa fosse a profissão que você realmente
queria exercer. Eu quero que você seja feliz, que viva, e não que
apenas sobreviva nessa forma sem cor na qual você se
transformou.
— Eu sou feliz, mãe. Da minha maneira, eu sou.
Desvio minha face do rosto dela, olho para a janela e respiro
fundo. Não quero voltar a ter essa conversa com ela.
— Bom, se é o que você diz a si mesma para acreditarnessa
mentira, não falarei mais nada.
— Eu tenho que ir, vou me atrasar para o trabalho. — Olho
para ela e lhe dou o mais próximo de um sorriso que minha face
consegue expressar.
— Se não tiver nessa casa antes das 20h, vou mandar seu
presente para seu trabalho, uma entrega especial. E nem pense em
o recusar, Cristina. — Ela sorri para mim, me dando uma piscada. —
Irá gostar de algo palpável para animar essa sua vida.
Minha mãe desliza sua língua pelo canto da boca de forma
obscena, olhando na direção do quarto, onde o cara da semana
está.
— Você precisa de uma terapeuta. — Esfrego meu cenho,
sentindo meu coração palpitar dentro do peito. — Na verdade, eu
preciso de uma terapeuta,não sei mais como lidar com uma mãe
ninfomaníaca[7].
— Não precisa de terapia porra nenhuma!
Saio da cozinha e ouço minha mãe rir e gritar em alto e bom
som atrás de mim, enquanto caminho apressada para meu quarto.
— Você tem que transar, Cristina! — ela continua gritando,
eufórica. — 21cm, lembre-se disso!
Pego minha bolsa no cabideiro e saio a passos acelerados,
antes que eu acabe me atrasando para o serviço. Paro perto da
porta da saídae pego minha chave de casa na mesinha do telefone.
O pequeno cartão vermelho chama minha atenção, me fazendo
olhá-lo atentamente.
O céu é o limite, escrito em negrito, brilha em letras
ofuscantes. Tem a descrição de garotos de programa logo abaixo.
Olho em direção à cozinha, que agora está vazia, voltando a
encarar o cartão.
— Ela não ousaria fazer isso comigo! — resmungo baixo,
puxando as chaves, me negando a acreditar que minha mãe me
sacanearia no dia do meu aniversário. Mesmo assim fico com a
pulga atrás da orelha ao sair para o trabalho.
Capítulo 02
Toy Boy
Cristina Self
— Cris, será que você pode me cobrir hoje?
Desvio meus olhos da tela do computador para a mulher
parada do outro lado da minha mesa, e vejo Bete me dar um sorriso
travesso. Não, eu não posso, e não quero. Já estou três horas a
mais depois do meu expediente, deixando todo o trabalho
mastigado, direcionando meu serviço para a moça que ficará
cobrindo minhas férias. Bete me sacaneou durante todo o dia,
jogando o serviço dela em cima de mim, redobrando todos os
relatórios que eu tive que transcrever durante o expediente, e
apenas agora pude finalizar as planilhas para a menina da agência
de secretárias temporárias.
— Preciso resolver uns assuntos com Dover...
Minha vontade é de dizer para ela que sair para dar para o
cara do departamento de contas não é assunto para resolver, é
apenas uma forma dela ser vadia.
— Claro. — Tiro meus óculos, suspirando, me restringindo a
apenas uma única palavra.
Confesso que hoje a única coisa que mais quero é estar
longe de casa, caminhando para o aeroporto com minha mala. Sei
que minha mãe está aprontando alguma coisa, e no meu íntimoaté
desconfio o que possa ser. Ela sempre faz algo fora do normal nos
meus aniversários, e dessa vez não irá ser diferente, aquela
porcaria de cartão que encontrei hoje pela manhã me alerta disso.
Graças a Deus, quando eu retornar das férias, meu apartamentojá
estará liberado, para eu poder voltar!
— Sei que deve estar ansiosa para sair de férias, mas
acontece que não tenho como desmarcar esse compromisso. —
Bete cruza seus braços acima do peito, me olhando sorrindo. —
Queria ter essa sorte de poder encaçapar 60 dias afastada da
empresa.
— Estou com férias vencidas e a outra vence daqui a três
dias, então não havia como adiá-las... — falo calma para ela,
recolocando os óculos em minha face.
— Bom, que seja, teve sorte. A propósito, pode ficar até as
21h30 também. Vai chegar um daqueles jovens que acabou de sair
da faculdade de Direito, o novo sócio da firma. Se caso o novato
aparecer, pode recebê-lo para mim. Não é certeza que ele venha,
mas precisa ter alguém aqui até este horário apenas por precaução.
Se ele vir, entregue para ele o envelope que está em cima da minha
mesa. São apenas os direcionamentos de como funciona a firma, e
depois pode ir embora — Bete tagarela e se encaminha para a
saída da sala.
— Na verdade, eu... — Ela nem sequer se vira para me ouvir,
apenas acena, dando tchau. — Piranha! — murmuro baixo,
balançando minha cabeça em negativo, me sentindo exausta e com
raiva dessa vadia exploradora.
Olho para o canto da tela do computador e vejo que já são
quase sete horas da noite. Me sinto desanimada por saber que não
vou ter chance alguma de trocar minha passagem de amanhã para
hoje à noite. Já são 21h50 quando finalmente finalizo as planilhas.
Sendo a última funcionária dentro do escritório, abro uma nova
janela de pesquisa, navegando entre os sites de companhia de
viagem aérea, torcendo para que milagrosamente apareça alguma
disponibilidade de trocar meu voo para hoje à noite, para assim
conseguir fugir da minha mãe. Eu não tenho do que reclamar do
meu serviço, gosto de trabalhar com Pietro e Max. Consegui um
bom trabalho de secretáriana companhia de Direito dos irmãos Toll,
na qual eu realmente aprecio trabalhar
. Viro meu rosto para a janela,
vendo a noite alta. O prédio está praticamente vazio, restando
apenas eu no meu andar, esperando algum filhinho de papai
mimado que acabou de receber seu diploma de advogado, sem
compromisso algum. Imagino quando tiver que ir ver um juiz, com
certeza vai dizer:
— Desculpe, Vossa Excelência, estava testando meu novo
carro esporte, que meu pai me deu...
Disco o número da recepção no primeiro andar e ouço a voz
do segurança que me atende.
— Oi, Mithi, é a Cris. Boa noite...
— Feliz aniversário, boneca. — A voz alegre dele me corta,
me fazendo sorrir.
— Obrigada, Mithi — suspiro, girando meu corpo na cadeira
de rodinhas. — Me diga uma coisa, sabe me informar se alguém se
apresentou aí na recepção ou se algum carro entrou no
estacionamento da firma depois do expediente?
— Não apareceu ninguém, e pelo que estou vendo nas
câmeras, o estacionamento está vazio...
— Bom, está tudo bem. — Bocejo, preguiçosa, balançando
meus pés.
— Estava esperando alguém? — o segurança me pergunta,
animado.
— Um novo sócio que iria vir. Mas, pelo visto, ele não vem
mais.
— Bom, se ele aparecer, eu te ligo avisando... Mas, escuta,
você não vai embora para comemorar seu aniversário?
— Eu estou finalizando uns trabalhos e vou embora daqui a
pouco. Agora preciso terminar as coisas aqui. Obrigada — minto
descaradamente para ele, desligando em seguida, não dando tempo
de me perguntar mais nada.
Tiro o sapato do meu pé e solto as sapatilhas ao chão,
admitindo mentalmenteque prefiro ficar aqui dentro, escondida, do
que voltar para casa e me surpreender com as loucuras da minha
mãe. Sabia que ela estava blefando, não seria louca de mandar um
motoboy fazer uma entrega aqui no meu serviço depois das 20h.
Continuo a ficar vadiando na internetpor um tempo. Tendo certeza
de que o engomadinho não vai aparecer, solto a presilha dos meus
cabelos, o livrando do coque. Talvez eu possa passar a noite em um
hotel. Isso é tentador. Pela manhã vou para casa, pego minha mala
e corro para o aeroporto. Sorrio com a ideia.
Abro uma guia para pesquisar um hotel próximo ao escritório.
Depois retiro o telefone do gancho, para discar para um que achei,
mas abre uma porcaria de propaganda em cima da página. Clico em
cima do pequeno x, tentandofechar a guia, mas sou direcionada
para outro site diferente no computador e uma outra guia se abre
sozinha. A porcaria da propaganda que estava tentandofechar me
direcionou para um site de vídeos pornográficos. Meu rosto queima
de vergonha, me fazendo olhar assustada para a tela, correndo o
mouse na mesa com rapidez e o deixando se espatifar no chão. Me
entortona cadeira, tentandopegá-lo, e, quando consigo, arrasto a
flechinha em cima do x na lateral da página, mas ao invés de
encerar a página, fico curiosa ao ler o título que brilha na tela.
Garota má com T
oy Boy.
Sério, eu juro que não iria ver, mas sabe aquele minuto de
besteira que bate na gente? Pois então, provavelmente é isso que
deve estar acontecendo comigo. Ergo meus olhos e percorro o
escritório vazio, confirmando que estou sozinha, e antes que pense
se é o certo ou não, minha bisbilhotice me faz clicar no play
.
Como a grande maioria dos vídeos pornôs, ela começa
chupando o cara no sofá. O homem é extravaganteem todos os
sentidos, é bem-dotado, musculoso e tem tatuagenspreenchendo o
corpo inteiro. As mãos enormes apertam a bunda dela, se cravando
na carne. Não sofro de nenhum tipo de libido sexual, pelo contrário,
por mais que não transe com nenhum cara há muito, muitoooo
tempo, eu sou sexualmente ativa comigo mesma e meus vibradores.
Acho que por não transar e estar por fora da prática, fico abismada
com tudo que vejo acontecer nesse vídeo. Ele a pega de quatro e
volta em um frenesi rápido, se afundando dentro do rabo dela.
Chega a ser assustador como essa mulher é flexível com as juntas
do corpo dela, pelo tantoque ele a gira de cima do sofá. Ele sai dela
e joga seu corpo debruçado sobre o braço do sofá, erguendo sua
perna até ela estar toda reta, e começa a penetrar mais fundo e
mais rápido ainda. E como uma idiota, tombo minha cabeça para o
lado, tentando entender que posição é essa, e fico olhando as
estranhas acrobacias. Se eu tentassefazer algo assim com minha
perna, provavelmente iria rasgar algum músculo ou morrer gritando,
tendo uma câimbra agressiva.
— Como ela consegue fazer isso, meu Deus! — murmuro,
arrumando os óculos no meu rosto, me aproximando da tela do
computador.
— Suspeito que ela faça pilates[8]. — Uma voz rouca
sussurra próximo ao meu ouvido, assoprando um ar morno em meu
pescoço.
Dou um pulo na cadeira, jogando meu corpo para trás e
soltando um grito, apavorada.
— MEU DEUS! — grito, assustada, me atrapalhando em
minhas pernas, andando para trás. A maldita cadeira se vira, me
levando ao chão junto com ela, de pernas para cima.
Fico lá, caída,por alguns segundos, antes de ver duas mãos
grandes nos meus tornozelos, afastando minhas pernas, as abrindo.
Seus cabelos dourados são tudo o que vejo antes de enxergar um
sorriso irônico alargado de orelha a orelha em um rosto másculo e
charmoso ao mesmo tempo. Pisco, confusa, me perdendo em seus
olhos azuis e em seus lábios grossos, que estão sorrindo para mim.
Capítulo 03
Vírus carnal
Cristina Self
— Vejo que é adepta de pilates também, senhorita... — O
intruso terrivelmentesexy desvia seu olhar para minha mesa e vê a
placa com meu nome. — Cristina Self!
Suspeito que meu cérebro ainda não assimilou que estou
esborrachada no chão, com as pernas erguidas e com o traseiro
preso na cadeira, encarando um homem estranho dentro do
escritório. Continuo cativa em seu olhar provocador e em seus
lábios, que possuem um sorriso travesso no canto. Seu olhar
penetrante arrancaria o que quisesse de mim, pois não tenho
capacidade mental para raciocinar com clareza. Meu QI[9] diminui
drasticamenteassim que tenho a noção que suas mãos ainda se
mantêm em minha pele. Ele brinca com seus dedos, subindo e
descendo em meus tornozelos, desenhando pequenos círculos,
trazendo arrepios pelo meu corpo, os quais há muito tempo não
sentia. Sua mão quente, unida com o tecido da meia fina da minha
perna, me faz imaginar como seria se ele descesse um pouco mais
suas mãos. Pisco diversas vezes, tentando me livrar desses
pensamentos libertinos que estão inundando minha mente. Arrumo
os óculos tortosem meu rosto. Em um movimento ágil, o intruso
sexy estica seu braço e segura meu pulso, me erguendo em um
solavanco só, como se eu fosse uma almofada largada no chão, que
estava atrapalhando seu caminho. Meu corpo vai de encontro ao
dele, me chocando contra seu peitoral, dando um soco na minha
libido assim que seu cheiro amadeirado invade minhas narinas.
— Se machucou? — A voz rouca me pergunta de forma
íntima,próxima ao meu ouvido, enquanto mantenho meus olhos nos
botões da camisa jeans que contém os três primeiros abertos. —
Cristina?
Ele chama pelo meu nome um pouco mais firme, e ergo meu
rosto para encarar o seu. Se minha mente estava paralisada, agora
ela entrou em modo de bloqueio. Inferno! Ele realmente é
terrivelmente sexy. Um anjo sexy com cabelos dourados e olhos
safira com um ar sombrio. Pigarreio, balançando minha cabeça em
positivo para ele. Me afasto dele, mesmo contra os protestos do
meu corpo para que eu não me distanciedesse aroma embriagante.
Deixo uma boa distância entre nós dois, endireitando minha saia.
— Estou bem. Obrigada! — balbucio com um fio de voz. Olho
pelo canto dos olhos, o avaliando com cautela.
Percebo agora como ele é extremamentealto. Lhe dou no
mínimo 1,96m de altura, com ombros largos e uma falsa magreza,
escondida sobre a camisa jeans de botões e a bermuda branca.
Tem uma postura despreocupada, com ares despojados, e os traços
em seu rosto masculino me deixam saber que não é mais um jovem,
talvez tenha uns trintae oito ou quarenta anos. Coço minha cabeça,
olhando para a porta aberta do escritório e os corredores vazios.
Como ele entrou aqui?
— Foi um tombo e tanto, hein?
— Eu... — Meus dedos trêmulos erguem meus cabelos, os
enrolando em um coque, sentindo meu rosto queimar de vergonha.
— Estou bem, apenas estava... — Aponto para a tela do
computador, soltando o ar do meu peito.
OH, ME FODE... MAIS RÁPIDO... MAIS FUNDO...
O grito da mulher na tela do computador faz eu querer abrir
um buraco e me enfiar dentro para o resto da minha vida, enquanto
ela geme, soltando um ruído agudo da garganta.
Olho para o homem, que está sério, observando o monitor
em cima da minha mesa. Seus olhos voltam-se para mim, me
encarando, arqueando suas sobrancelhas claras.
— É vírus! — digo em uma voz baixa, sem coragem de
manter meus olhos nos seus.
Ele apenas balança a cabeça para mim em positivo, levando
suas mãos ao bolso da bermuda. Me obrigo a me mexer, indo para
o computador, e tento fechar a merda da tela, mas é como se
tivesse congelado, ficando travada na cena do pau se afundando no
rabo da peituda. Em um ato de desespero, puxo o fio da tomada,
forçando o desligamento do aparelho. Ao me virar, dou de cara com
o homem alto a dois passos de distância de mim, me olhando
curioso. Meu corpo se cola à minha mesa e puxo minha perna para
o lado enquanto me arrasto para longe, deixando ele remotamente
distante do meu espaço pessoal.
— Em que posso lhe ajudar, senhor? — falo, nervosa,
tentando resgatar um pouco da dignidade que possa ter me
sobrado.
— Acho que não gostaria de saber, Cristina — ele me diz
com sua voz rouca, em tom baixo. — Quando cheguei, estava tão
distraídacom seu... — Sua cabeça tomba para o lado, dando uma
pequena pausa em suas palavras, me olhando sério. — Vírus.Creio
que foi esse termo que usou para descrever seu momento.
— Realmente foi um vírus, abriu uma página...
— Percebi — ele fala sério, me cortando, caminhando pela
sala de forma autoritária. — Tanto que não quis lhe interromper,
você estava tão concentrada com seu “vírus”, que seria uma pena
lhe atrapalhar, sem falar no seu rosto tão expressivo. — Sua face se
volta para mim e sorri diabolicamente. — Seria até um crime privar
um homem de ver suas expressões faciais.
Ele é um grande filho da puta que sabe usar as palavras!
Meu cérebro grita “perigo” em alto e bom som, mas minha vagina
repete as palavras da minha mãe: “você precisa transar, Cristina”.
Balanço minha cabeça, para tirar essas ideias de lá, e avalio sua
forma despojada com roupa casual, não parecendo nem um pouco
com um advogado, e muito menos um jovem saído da faculdade de
Direito, como Bete falou. Fico confusa e me pergunto o que um
homem como esse está fazendo por aqui.
— Bom, e o senhor é quem? — pergunto, tentandodescobrir
de onde diabos ele veio. — Como conseguiu subir?
Olho para o telefone, vendo que o aparelho está fora do
gancho. Merda, devia estar tão curiosa com a porcaria da acrobacia
pornográfica, que nem reparei que não tinha enganchado o telefone!
Antes de me mexer para arrumar o aparelho, a sombra se movendo
chama minha atenção. Me volto para ele a tempo de o enxergar
dando dois passos, parando à minha frente. Seu braço se estende e
a grande mão fica parada no ar, perto da minha barriga.
— Sou Ariel. Creio que o segurança devia estar ocupado, por
isso não me viu subir. — Ele não tem cerimônia alguma em pegar
minha mão na sua, apertando forte entre seus dedos.
Ele faz círculos com os dedos dentro da palma da minha
mão, me embebedando com sua colônia, e nunca um aperto de
mão me pareceu tão pecaminoso e sacana como o dele está sendo
agora. Mas, em um estalar de dedos, tudo se encaixa dentro da
minha mente. Seu rosto sexy, o ar autoritárioe perverso, até sua
roupa despojada, com os três botões abertos da camisa,
provocativo, deixando um vislumbre do seu peitoral musculoso.
Corpo atléticocom mãos ásperas demais para ser um advogado, os
cabelos angelicais dourados que têm uma mecha preguiçosa caída
em sua testa, sorriso avassalador em sua face quadrada,
praticamente uma festa sexual ambulante repleta de testosterona.
“O céu é o limite.”
As palavras do cartão se fazem em minha mente, tão nítidas
quanto seu olhar safira agora preso ao meu. Vou matar minha mãe!
Não é um motoboy com um presente estranho que ela me mandou,
mas o próprio homem é o presente.
— Ariel, sério? — digo, não acreditando no que estou vendo
à minha frente. — Muito criativo mesmo, muito criativo.
Solto sua mão, balançando minha cabeça para os lados, me
afastando dele e esfregando meu rosto. Deus, vou matá-la! Como
pôde fazer isso comigo?!
— Não acredito que ela fez isso — rosno entre meus dentes,
fechando meus dedos em punho, soltando meus braços ao lado do
corpo. — Está certo que estou sozinha há bastante tempo, mas
mandar você?! — Aponto para ele, negando com a cabeça, odiando
muito minha mãe nesse momento. — Quanto ela te pagou?
O vejo piscar seus cílios dourados, arrumando seus cabelos
e voltando a levar suas mãos ao bolso.
— Pagou?
— Minha mãe se superou agora! — Me viro com raiva para
não olhar para a face dele, cortando suas palavras. — Sério,
contratarum garoto de programa para mim?! — Bufo pelas narinas,
batendo meus pés no chão. — Tá certo que você é muito lindo e
gostoso, e, porra, lhe daria numa boa — giro, o encarando —, mas
saber que ela te pagou para me comer, isso é humilhante!
O grande homem ergue minha cadeira do chão, sentando-se
nela, cruzando suas pernas, olhando para mim.
— Ela não me pagou.
— Oh, meu Deus, sou eu que vou ter que te pagar! — Bato a
mão em minha testa, não acreditando nisso.
— Se lhe disser que ela não me pagou, e que estou
pensando se você precisa me pagar ou não, isso lhe deixará mais
calma?
— Não, claro que não me deixa calma. Uma mãe normal dá
um perfume de presente de aniversário para a filha, um dia de SPA
ou qualquer outra merda fútil feita entre mãe e filha. Mas não minha
mãe. Não! Ela me dá um garoto de programa! — falo rápido,
tentando não ter uma crise de falta de .ar
— Creio que devo parabenizá-la. — A voz dele sai calma,
não perdendo um movimento sequer meu. — Feliz aniversário,
Cristina!
— Não seja cínico, pois isso é feio. — Esfrego meu rosto,
andando da janela até a minha mesa e mantendo o ritmo dos meus
passos fazendo o caminho contrário. — Olha, minha vida não anda
fácil, isso eu admito, me fechei depois do que Renan fez comigo,
mas eu vou saber quando será a hora certa para transar .
— Presumo que ele seja um cretino?
— Cretino seria elogio. — Massageio minha nuca, sentindo
minha pressão subir.
Não acredito que ela me mandou um garoto de programa,
ainda mais para o meu trabalho. Estou andando de um lado ao outro
da sala, balançando minha cabeça em negativo.
— Por que não me fala sobre ele? Poderia se sentar, sim? —
Ele puxa a cadeira vazia perto da dele, deixando de frente para a
sua, apontando para mim.
Olho da cadeira para o rosto inexpressível do garoto de
programa, descendo para sua cintura, e vejo o volume acomodado
por baixo da bermuda.
— Acho que isso é uma má ideia, estou bem de pé. —
Balanço minha cabeça em negativo, desviando meus olhos da sua
virilha. — Renan é o babaca do meu ex-marido. Olha, eu sou
limitada em sexo, eu sei, mas acho que tenho capacidade para
arrumar um homem por conta própria. Te garanto que não seria tão
lindo e angelical como você, mas poderia achar um cara para
transar sem ter que pagar por ele.
— Não sou tão angelical assim, Cristina. — Ele me olha
sério.
Paro meus passos no meio do meu caminho e fico olhando
para ele, engolindo minha saliva. Sim, realmente ele não tem um
aspecto tão angelical assim, está mais para um demônio sexual,
que desencadeia pensamentos perversos na minha cabeça. Sinto
minhas mãos úmidas, meu corpo enérgico, as pernas trêmulas. A
adrenalina corre solta dentro de mim a cada segundo que olho para
esse ser de outro mundo sentado na cadeira, com suas pernas
abertas e suas mãos que se esfregam em suas coxas grossas,
deixando eu ter uma bela visão do seu pau, que está começando a
ficar ereto, acompanhando seu olhar para meus pés descalços.
— Isso será interessante!— Ariel fala calmo, erguendo seus
olhos para minha face. — Por que não fazemos assim? Você está
aí, eu estou aqui. Esta sala está completamente vazia, vai ser
inesquecível para nós dois, isso lhe garanto.
— Olha, eu vou te pagar por ter vindo até aqui, daí você não
perde sua noite por completo, mas não vou ter relação sexual com
você. Não que esteja te desvalorizando, tenho certeza de que deve
valer cada centavo,mas, sem chance... — Me viro, procurando pela
minha bolsa que caiu no chão quando a cadeira tombou. A ergo em
meus dedos, puxando minha carteira. — Acho que se você sair
agora, ainda consegue arrumar outra cliente...Escute,por um acaso
trabalha com cartão de crédito? Acho que estou com pouco
dinheiro. Garoto de programa consegue parcelar as prestações sem
juros? — pergunto, preocupada, talvez eles não parcelem. —
Quanto eu lhe devo?
O giro abrupto que meu corpo recebe, faz com que eu me
assuste quando ele segura firme meu quadril, me manobrando
como uma boneca de pano para me chocar em seu peitoral.
Derrubo a carteira da minha mão, tendo meu coração acelerado
batendo tão rápido, que posso jurar que vai sair pela minha
garganta.
— Para uma pessoa tão pequena, você fala demais,
senhorita Self. — Sua voz rouca é enérgica, e ele cola sua boca
perversa na minha.
Meu cérebro explode, virando uma geleia molenga sem
consistência,igual as minhas pernas. O gosto de menta que tem em
seus lábios é refrescantee ao mesmo tempo abrasador, me fazendo
me render pela forma urgente como ele me beija. Minha sorte é que
ele está me segurando bem presa, com suas grandes mãos na
lateral da minha cintura, pois é só por conta disso que não caio no
chão, visto que não tenho condição de me manter em pé. Sinto suas
mãos deslizarem para minha bunda, a achatando bem apertada
sobre o tecido da saia, chocando meu quadril com o seu. Meus
dedos se prendem em sua camisa, esmagando o jeans com o
desespero de um náufrago que está se afogando. Realmente ele
vale cada centavo. Ele me beija com pressão, me incendiando a
cada toque da sua língua com a minha. Deus, eu tinha me
esquecido como beijar alguém pode ser tão mágico!
— Tentador demais para que eu possa perder essa chance,
pequena — ele sussurra no meu ouvido, descendo seus beijos para
meu pescoço, apertando minha bunda em sua mão.
— Oh, Cristo... Por favor, preciso que me solte — balbucio
em meio a um fio de lógica em que me seguro.
O telefone tocando insistentementeem cima da mesa chama
minha atenção, o que me dá uma chance de tomar o controle de
volta do meu corpo. Me afasto desse homem que me deixou
excitada e com a pele do meu corpo completamentequente com
apenas um beijo. Com a respiração entrecortada,retiro o aparelho
do gancho, o levando ao ouvido.
— Cris, o rapaz que estava esperando chegou aqui agora...
— Deus, o sócio! — Meus dedos tremem enquanto seguro o
aparelho, tentando não olhar para o grande volume na frente da
bermuda do garoto de programa, que respira pesado, com seus
olhos cravados em mim.
— Eu tive que ir buscar minha carteira de cigarro dentro do
carro, quando voltei ele estava na frente da porta do prédio...
— Inferno, Mithi! Quantas vezes te falei para não largar o
saguão para ir fumar?! — Droga de víciodesse segurança, por isso
esse cretino sexy conseguiu subir sem ser visto. — Mande-o subir!
Olho para a parede, vendo que já são quase 22h30 da noite.
Por que isso tinha que acontecer comigo justamente hoje?
— Na verdade, já mandei, você disse que estava esperando
por ele...
Desligo o telefone no momento que compreendo o que ele
falou. Minha cabeça se abaixa e vejo minha roupa desalinhada.
Levo meus dedos ao rosto, arrumando meus óculos, respirando
apressadamente. O diabólico homem, com seu rosto calmo, me olha
despreocupado, passando uma mão nos lábios. O som do elevador
subindo me faz olhar para lá na mesma hora.
— Oh, merda!
Capítulo 04
O engano
Cristina Self
Eu não tenho tempo para pensar. Uso toda minha força para
empurrar o grande homem para dentro do banheiro.
— Por favor, não sai daí! — Fecho a porta do toaletena sua
cara, que esboça surpresa com meu ato, mas nesse momento estou
mais preocupada em salvar meu emprego do que ser educada com
o garoto de programa.
Me movo, catando minhas sapatilhas no chão, as calçando
com pressa, correndo rápido para a mesa de Bete, que fica na outra
ponta da sala, perto do escritório de Pietro e Max. Puxo o envelope
marrom que está perto do computador dela. Quando me aproximo
da porta do elevador, a vejo se abrir na mesma hora, e sou
surpreendia pelo jovem rapaz de terno, com sorriso largo e perfume
exagerado.
— Olá, deve ser...
— Senhorita Self. — Seguro as portas do elevador, soltando
as palavras com urgência pela minha boca, não o deixando sair. —
Me pediram para lhe entregar isso. Por conta do horário tardio,
presumo que prefira conhecer a empresa na segunda-feira, correto?
Passo o envelope para ele, apertando o botão do elevador
para ele voltar para o térreo, me afastando das portas.
— Acho que não entendi...
— Dentro do envelope tem todas as diretrizes sobre o que vai
precisar saber. Apenas esteja aqui na segunda-feira, às oito, sim?
— Aceno para ele, que olha da minha face para o envelope, ficando
perdido. — E não se atrase!
Fecho meus olhos e respiro fundo assim que as portas do
elevador são fechadas.
— Deus, minha mãe vai me fazer ter um infarto antes dos
trinta! — Esfrego meu peito, tentando me acalmar
.
Minhas pálpebras se abrem assim que escuto a porta do
banheiro ser aberta. O grande homem caminha silenciosamente,
olhando para os lados e parando sua atenção em mim quando seus
olhos safiras me encontram.
— Olha, por favor, preciso muito que você vá embora, sim?
— Encolho meus ombros, caminhando para perto da minha mesa.
— Presumo que foi surpresa dupla? — Ele olha para o
elevador, o encarando.
Ignoro o som de brincadeira em suas palavras, pois elas não
passam despercebidas aos meus ouvidos, insinuando que estava
esperando outro homem.
— Qual foi o valor que minha mãe combinou com você?
Apenas me diga, eu dou um jeito de pagar, ok? — Caminho para o
centro da sala, erguendo minha carteira caídano chão. — Tem um
caixa eletrônico do outro lado da rua, posso efetuar seu pagamento
em dinheiro, se você não trabalhar com cartão...
— Vamos fazer um trato,Cris. — Ele caminha lento, correndo
seus olhos pelo escritório. — Não tenho pretensão em arrumar
outros compromissos agora. Podemos atravessar a rua, e ao invés
de ir ao caixa eletrônico, você toma uma bebida comigo.
— Está tarde. — Puxo minha bolsa de cima da mesa e ando
para o elevador, apertando o botão, aguardando-o subir. A sombra
alta para ao meu lado, mantendo seus olhos safiras presos em mim.
— O mais longe que vou acompanhada com você é até a saída do
prédio.
— Uau, que língua felina! — É estranho como o magnetismo
do seu olhar me prende. Ariel solta um longo assobio, deixando um
sorriso sarcástico no canto dos lábios. — Desmerecimento
profissional é crime.
— Veja, não quero parecer grossa, e muito menos estou
insultando sua profissão. — Balanço minha cabeça em negativo,
enganchando a alça da bolsa em meu braço, guardando minha
carteira lá dentro. — Mas isso não vai rolar. Tenho certeza de que
sua agenda deve estar repleta de clientes interessadas em tomar
um drinque com você, posso notar que deve ter muito tempo nessa
profissão...
— Está me chamando de velho? — ele me interrompe, me
olhando cínico.
— Bom, claro que não. Apenas estou dizendo que...
— Agora compreendo algumas coisas! — O tom da sua voz
sai em deboche, me fazendo ficar confusa com a forma prepotente
que se direciona para mim.
— Como?
A porta do elevador é aberta e sinto a grande mão espalmada
em minhas costas, nos conduzindo para dentro dele. Ariel estica sua
mão, aperta o botão do térreo e logo as portas de aços se fecham.
Ele se vira para me olhar, levando suas mãos aos bolsos, como se
estivesse me estudando.
— O motivo de precisar pagar por sexo — ele fala
casualmente, como se estivesse falando qualquer assunto
corriqueiro do dia a dia.
— Isso foi extremamente grosseiro da sua parte. — Ergo
meus dedos, empurrando meus óculos em minha face. — E para
seu governo, eu não preciso pagar por sexo... Posso fazer sexo a
hora que eu bem quiser.
— Me corrija se eu estiver enganado, mas suas palavras lá
dentro do escritórioforam:está certo que estou sozinha há bastante
tempo... — Ele sorri descaradamente, usando minhas palavras
contra mim.
— Estar sozinha e estar sem sexo são duas coisas
completamenteopostas — rebato sua provocação, não lhe dando o
prazer da minha confirmação.
— De fato, mas, no seu caso, presumo que não seja isso. A
forma quente como recebeu meu beijo desmente esse seu
argumento. — Ele recai seus olhos para o meu coque e depois para
minha roupa. — Quantos anos está fazendo, afinal, babá
McPhee[10], sessenta e nove?
Meus olhos se expandem e sinto vontade de esganar esse
homem prepotente. Meus dedos se erguem, cutucando seu peito
repetidas vezes com ódio.
— Definitivamente, eu não transaria com você, nem que
fosse de graça! — Fecho minha cara e semicerro minha boca. —
Nem que fosse o último pau da Terra, para ficar esclarecido. Sim, eu
lhe chamei de velho. Não acha que está muito maduro para estar
vendendo seu corpo, tiozão?!
As portas abertas do elevador, com o segurança parado,
olhando para nós, faz com que eu me cale. Os olhos bisbilhoteiros
do guardinha param em meu dedo, congelado no peito de Ariel, e
depois se erguem para minha face.
— Não sabia que tinha alguém lá em cima com você. — Mithi
me olha com mais interesse, segurando a porcaria de um sorriso
malicioso.
— Se não tivesse largado seu posto para ir fumar, saberia
que tinha alguém lá em cima comigo. — Lhe dou um olhar de
advertência, para que ele mantenha sua boca fechada. — Bom, de
qualquer forma já estou de saída, tenha um bom trabalho, Mithi. —
Saio do elevador o mais rápido que posso, encarando o homem
arrogante. — Quanto a você, desejo que volte para o lugar de onde
veio, velhote!
Não dou tempo de resposta para nenhum dos dois, batendo
em retirada, rumo à saída do prédio. Respiro aliviada quando passo
pelas portas giratórias. Troco minha bolsa de braço, caminhando
apressada na calçada.
— Babá McPhee! — resmungo com raiva. Meus olhos param
em minha imagem refletida no grande vidro do prédio, me fazendo
me sentir desgostosa.
Está certo que não sou nenhuma modelo sensual da
Victoria's Secret[11], mas também não me pareço com uma babá
velha, rabugenta e repleta de verrugas. Prendo meu olhar no coque
alto, todo torto, o soltando e desfazendo a bagunça dos meus
cabelos com meus dedos.
— Idiota...
Paro na esquina, esperando o sinal abrir para que eu possa
atravessar a rua.
— Presumo que não é muito de relaxar. — Me assusto com a
voz baixa de Ariel, que está parado ao meu lado.
— Oh, meu Deus, por que está me seguindo?
— Não estou te seguindo, estamos indo para o mesmo lado.
— Ele passa seus olhos pelos meus cabelos, me pegando de
surpresa quando sua mão se ergue, afastando os fios soltos do meu
rosto.
— Assim está bem melhor, McPhee. — Seu sorriso aumenta
quando estapeio sua mão, o fazendo se afastar de mim.
— Seu grande cretino arrogante!
Me afasto dele e atravesso a rua a passos duros quando o
sinal de pedestre fica verde.
— Por que tem que ser tão desagradável?
— A única pessoa desagradável aqui é você. E, além de
detestável,ainda por cima é um psicopata que está me seguindo —
rosno com raiva, desejando estar um inferno longe dele.
— Por mais que me doa ferir seu ego, minha cara McPhee,
realmente não estou te seguindo. — O encaro por cima do meu
ombro, cerrando meus olhos.
— Vou enfiar essa bolsa na sua cara se me chamar de
McPhee outra vez!
— Não lhe chamo mais de McPhee se você me contar
porque se veste como uma velha de sessenta anos e é rabugenta
como tal.
— Minhas roupas não são da sua conta, e eu não sou
rabugenta. Apenas quero ficar longe de você. — Respiro aliviada
quando vejo o hotel ao longe, sabendo que estarei a pouco passos
de finalmente me livrar dessa criatura impertinente. — Olha, está me
seguindo porque quer dinheiro, se for isso, é só me falar e eu te
pago, e assim eu nunca mais tenho que olhar para você.
— Me diz como deve ser sua vida, ou melhor, deixa eu
adivinhar — Ariel fala, divertido, acompanhando o ritmo dos meus
passos. — Se divorciou por conta da amargura desse seu
coraçãozinho frio e acabou se vendo abandonada dentro de um
apartamentocheio de gatos, trabalhando até tarde como secretária.
Adora assistir filme pornô às escondidas, mas não pratica sexo há
muito tempo e se masturba toda noite. É socialmente deslocada e
raramente se diverte ou relaxa. Era o Patinho Feio na adolescência,
que se habituou com as roupas bregas de segunda mão, de alguma
seção de liquidação de supermercado. — Fecho meus olhos,
sentindo o ódio me tomar por esse homem arrogante. — Me diga,
seu marido lhe deixou por que não conseguia mais lidar com sua
amargura e sua limitação sexual?
Giro abruptamente,o pegando distraídoe acertando minha
bolsa com força em sua cabeça. Deus! Eu nunca tinha agredido
alguém na minha vida, mas esse homem parece ter o dom para
desencadear a agressividade dentro de mim.
— Sou alérgica a gatos, Sherlock Holmes[12]. — Minha voz
zangada sai baixa, enquanto o estapeio outra vez com a bolsa. — E,
se quer saber, lhe bater com essa bolsa me deixou extremamente
relaxada.
Seus olhos têm um lampejo de ira rapidamente, enquanto ele
deixa sua face carrancuda. O largo para trás e caminho rumo ao
hotel, não me dando o desprazer de olhar para a direção dele outra
vez.
Capítulo 05
Nada angelical
Cristina Self
— Nenhum quarto? — insisto para a moça, olhando-a com
melancolia.
— Infelizmente, não. — Ela nega com a cabeça. — Estamos
com todos os quartos lotados. Está tendo uma conferência de
medicina na cidade, como estamos mais perto do salão de reuniões,
grande parte dos médicos vieram para cá.
— Não quer olhar mais uma vez, talvez possa ter alguma
coisa. É apenas para eu passar a noite, não quero uma suítenem
nada. Aceito até o cantinho onde guardam as vassouras...
— O último quarto foi locado hoje, no começo da noite.
Suspiro com desânimo, balançando minha cabeça em
confirmação. Me viro, olhando o hall do hotel, pensando seriamente
em passar a noite sentada no sofá que tem perto da porta. Eu
realmente não pretendo ir para casa agora, seria capaz de gastar
meu réu primário[13] enforcando minha mãe com minhas próprias
mãos por conta do maldito presente que ela me deu esse ano.
— O bar do hotel ainda está aberto? — pergunto para a
recepcionista.
— Está sim, senhorita. Pode seguir à direita.
Chateada, sem um pingo de vontade de ir para casa, me
arrasto na direção do bar do hotel, para afogar minha frustação em
um reconfortante copo de bebida. Solto minha bolsa sobre o balcão,
tamborilando meus dedos com preguiça na madeira, aguardando o
barman vir me atender.
— Olá, boa noite. Em que posso lhe ser útil?
— Vodca — murmuro tristepara ele, que balança sua cabeça
positivamente, me dando um sorriso amigável.
Não faço muita cerimônia quando ele entrega o copo para
mim, enchendo-o. Seguro-o em meus dedos, o ergo para minha
boca e aponto para a garrafa, para ele saber que é para deixá-la
sobre o balcão. Sinto a bebida queimar ao descer por minha
garganta, mas isso não me impede de virar o copo de vez, não
deixando nenhuma gota dentro dele. Bato o copo no balcão,
segurando a garrafa para enchê-lo outra vez.
— Feliz aniversário, Cristina! — sussurro para mim mesma,
levando o copo aos lábios.
— Aposto cinco pratas, que antes do quarto copo você vai
tomar direto no bico da garrafa. Cafona, amarga e alcoólatra,
praticamente a mulher fatal.
Sou pega por um ataque de tosse, que me faz arregalar os
olhos e abaixar o copo da minha boca. Dou um passo para trás,
inclinando meu corpo para olhar para a ponta do balcão do bar,
encarando o grande filho da puta nada angelical do Ariel, que
segura uma garrafa de cerveja e a entorna na boca. Ele termina de
beber e a ergue para mim, esticando seu braço em um gesto de
brinde.
— Oh, meu Deus, você realmente é um psicopata? — Tomo
minha bebida e esfrego minha testa.— O que faz além de vender o
seu corpo? Fica aterrorizando as pessoas por prazer?
— Depende da clientela. — Olho para o lado e o vejo sério,
me encarando. — Mas, nesse momento, eu estou de folga, então
não precisa se preocupar.
— Fico extremamentealiviada — falo com desdém, puxando
a banqueta ao meu lado e sentando-me nela.
Olho para meu copo de bebida e para minha bolsa,
encolhendo meus ombros quando avisto pelo canto dos olhos a
chave de um quarto de hotel em cima do balcão, perto do cotovelo
dele. O idiota não estava me seguindo, realmente estávamos indo
para a mesma direção.
— Eu sinto muito por ter lhe batido.
— Não, acho que não sente não. Mas vou fazer de contaque
eu acredito. — Sou obrigada a rir da voz debochada dele.
— Lá no fundo, bem no fundinho, eu realmente lamento por
ter batido... tão pouco em você. — Sua gargalhada alta repercute
dentro do salão do bar, me fazendo olhar para sua face relaxada e
observar como um sorriso fica bonito em seus lábios.
— Nisso acredito — Ariel fala, se levanta, pega sua cerveja e
a chave do quarto e anda na minha direção. — Bom, senhorita
vírus, além de espancar as pessoas na rua com sua bolsa pesada,
ter alergia a gatos e estar comemorando seu aniversário hoje, o que
mais esconde?
Ergo meu copo para ele, balançando-o na sua frente.
— Eu me divirto de outra maneira. — Tomo minha vodca e
respiro fundo quando abaixo o copo dos meus lábios. — A bebida
me relaxa.
— Bom, creio que ter uma companhia para beber possa ser
mais divertido do que beber sozinha.
Ariel puxa um banco e se senta ao meu lado, pedindo um
copo para o garçom e o enchendo de vodca quando o rapaz o
entrega. Logo na sequência serve meu copo, abaixa a garrafa no
balcão e bate seu copo de mansinho no meu.
— Feliz aniversário, Cristina.

Realmente beber na companhia de um homem como Ariel


não faz mal a ninguém. O que é maléfico à minha saúde é minha
libido carente, são os olhos safiras que brilham em divertimento,as
gargalhadas em tom rouco ao ouvir as loucuras da minha mãe
enquanto as conto, o vendo sentado ao meu lado no banco do bar
do hotel.
— Juro, ela não tem um pingo de discernimento.— Ergo meu
copo para meus lábios. Já parei de contar depois da segunda
garrafa de vodca.
— Ela parece ser uma mulher divertida. — Ariel vira sua
banqueta e fica de frente para mim, abaixando sua garrafa de
cerveja no balcão.
— Na verdade, ela é — suspiro baixo, balançando minha
cabeça em positivo, sorrindo. — Tanto que ela achou divertido
mandar você para meu trabalho.
Ele respira fundo, diminui seu sorriso e confirma com a
cabeça. Na sequência, pega sua bebida em cima do balcão e a
toma pouco a pouco.
— Posso te fazer uma pergunta, Cristina?
— Claro que pode. Acabei de te contar sobre minha mãe,
pode me perguntar qualquer coisa... — Seguro meu copo em meus
dedos, olhando para minha bebida.
— Por que sua mãe achou necessário te pagar um garoto de
programa?
Sorrio amargamente, me sentindo duplamente patéticapor
ouvir essa pergunta saindo da boca dele. Tomo um grande gole da
bebida, balançando meu corpo na banqueta.
— Por favor, não ria, mas ela acha que eu preciso transar. —
Rio da minha própria desgraça, desviando meus olhos para o balcão
do bar quando deixo meu copo em cima dele. — Então me mandou
você...
— E presumo que você não quer transar comigo.
— Sim, eu quero! — As palavras são soltas pelos meus
lábios antes que eu possa as segurar dentro da minha boca, por
conta dos copos de bebidas. — Oh, meu Deus, não acredito que
falei isso!
Fico sem graça e sinto minhas bochechas queimarem de
vergonha, o que me faz levantar da cadeira cambaleando, olhando
para ele com pouca coragem. Eu tinha me esquecido como era ser
assim: natural, espontânea, falando bobagem sem se preocupar
com as pessoas em volta me julgando. Tento me recompor, pois
estou sentindo-me estranha. É como se eu pudesse ouvir a voz de
Renan dentro da minha cabeça me xingando, me condenando, me
humilhando.
— Obrigada por ter bebido comigo — sussurro para Ariel.
Abro minha carteira e jogo uma nota de dinheiro para o
barman. Não fico para esperar o troco.Estou me afastando de Ariel,
quase correndo para fora do bar, rezando para não tropeçar e cair,
por conta de tanto álcool que está no meu corpo.
O que estou pensando... O que passa pela minha cabeça
para falar algo tão despudorado assim?
— Nós dois somos adultos, o que há de errado nisso?
A voz rouca fala firme, me fazendo parar perto da saída,
olhando para o grande homem alto que está de pé, me encarando.
— Ariel... — Minha boca fica seca, pisco rapidamente.
Observo o bar do hotel quase vazio, e arfo, com meu peito
acelerado a cada respiração que puxo pelo nariz. — Eu não sou
assim.
Ele me examina por um tempo, antes de seus passos virem
em minha direção, como uma locomotiva desgovernada, tão
decidido e certeiro. T
alvez eu devesse ir embora, com toda certeza o
correto é me virar e sair daqui. Só que eu não consigo, estou
paralisada, desejando realmente sentir mais dos seus beijos, me
perder nem que seja uma única vez em seus braços. Me fechei
depois da minha separação, me sentindo anulada como mulher,
fisicamente e psicologicamente. Todas as coisas que Renan me
falou me sufocam por todo esse tempo. Não sou como minha mãe,
não tenho nada contra a forma como ela vive a vida dela, acontece
que eu não sou o tipo de mulher que dorme com um cara diferente
toda semana. Porém, eu era feliz, eu amava a vida, amava o
contatocom as pessoas. Fiquei tão aterrorizada pelo que passei,
pela forma como Renan me condenou e me aplicou seu castigo, que
após nosso divórcio nunca quis estar fisicamentecom nenhum outro
homem. Mas esses olhos safiras embargados de magnetismo, tão
sexuais com seu sorriso charmoso, me fazem querer mais. Ariel
finaliza o caminho entre nós e estica seu braço, espalmando sua
mão em minhas costas, me puxando para ele. Sua outra mão se
ergue e sinto as pontas dos seus dedos alisarem meu rosto. Uma
caríciaroubada, a qual eu entregaria de bom grado a ele a qualquer
momento que me pedisse.
— Me deixe ver como você realmente é, então. — Seu
sorriso charmoso é devasso, tanto quanto seu toque brando em
minha pele. — Eu não lhe parabenizei da forma que você merece.
— Sua voz fala perto do meu ouvido mansamente.
Seu rosto se move, alastrando sua face, e se esfrega em
meu cabelo. Minhas mãos trêmulas param em seu peito, me
segurando em sua camisa. Meu coração descompassado acelera
suas batidas, enquanto puxo o ar para meus pulmões, sentindo
minhas pernas ficarem estremecidas.
— Feliz aniversário, pequena vênus. — O beijo quente
depositado em minha bochecha faz uma corrente elétrica se
espalhar pelo meu corpo, me queimando por inteira.
— O-bri-ga-da... — Posso pôr a culpa de estar gaguejando
na bebida, mas sei que isso é uma grande mentira.
O que está me deixando tão débil quanto a moleza que
assalta meu corpo é a aproximação de Ariel. Mas meu ódio por mim
mesma desfalece rapidamente, ao ser substituídopor um calor
infernal que me abrasa, quando sua mão em meu rosto desce pela
minha garganta, indo para minha nuca. Nossos rostos estão tão
próximos, que sinto sua respiração quente acertarmeus lábios. Meu
coração está saindo pela minha boca, de tão disparado que se
encontra. Meu desejo por ser beijada por seus lábios vai
aumentando. Minhas mãos espalmadas prendem sua camisa em
meus dedos. Sinto o leve roçar de sua boca em minha bochecha.
Um predador que atiça sua presa a cair na tentação.
— Me dê um motivo, apenas um único motivo, para que eu
não faça o que realmente nós dois temos vontade, Cristina. — Ariel
se afasta e segura meu rosto em suas mãos, me deixando
completamente enfeitiçada em seus olhos safiras.
Minha mente tenta refutar todos os argumentos que eu possa
ter, os anulando um a um, me deixando à mercê dos desejos do
meu corpo. E é por impulso que ajo, assim que fico na ponta dos
meus pés, me alavancando, colando nossos lábios. E em questão
de segundos estou sendo beijada com tamanha fome despudorada,
tão selvagem e urgente.
Capítulo 06
Doce vênus
Cristina Self

Foi só tempo do elevador do hotel abrir, antes de Ariel


segurar em meus dedos e me arrastar para a porta do seu quarto.
Assim que ele a abre, meu corpo já está colado ao seu. O beijo com
fervor e sinto suas mãos presas em minha bunda, me tirando do
chão. Circulo minhas coxas em sua cintura, gemendo a cada raspar
da minha calcinha em cima da braguilha da sua bermuda. Seu pé
chuta a porta, a fechando, e ele nos leva para o sofá. Seu grande
corpo se senta, me arrumando em seu colo, com minhas pernas
esparramadas nas laterais das suas pernas, aumentando a pressão
do seu beijo.
Meu cérebro para de funcionar, se negando a raciocinar ou
até mesmo a questionar o fato de eu estar indo mesmo ter uma
noite de sexo com um estranho sexy e devasso. Suas mãos
grandes esfregam minhas coxas, as esmagando com seus dedos,
parando na lateral do meu quadril, acelerando a fricção entre os
tecidos das nossas virilhas. Empurro sua cabeça para trás e meus
dedos se prendem em seus cabelos dourados. Mordo seu pescoço
e escorrego minha língua por sua pele, lambendo seu pomo de
adão. Os gemidos roucos que escapam por sua boca, me
incentivam a libertar esse meu lado libertino, o qual vai gostando
cada vez mais de estar no controle.
Ariel esfrega meu quadril ao dele, me fazendo sentir seu pau
rígido pulsar dentro da bermuda. Relaxo meu quadril, o soltando e
mexendo lentamente em um tortuoso rebolado, ficando com a
calcinha molhada a cada investida do seu pau acertando minha
boceta dolorida e inchada, que implora por senti-lo por completo
dentro de mim. Ariel solta um urro, como o de um animal feroz, no
meu ouvido, achatandomais suas mãos em minha cintura,forçando
meu quadril para baixo. Escorrego minha mão entre nós dois, a
infiltrando por baixo de sua camisa, e sinto sua pele lisa com
músculos firmes. Tão perdido quanto eu nessa chama de prazer
urgente que nos queima, Ariel não precisa de muito esforço para
tirar minha camisa, me deixando apenas de sutiã. Seus olhos
recaem para a lingerie vermelha, me presenteando com um sorriso
perverso.
— Babá McPhee. — Suas mãos se espalmam em meus
seios, os comprimindo entre seus dedos. — Como você é devassa
com suas lingeries sexys escondidas por baixo dessas roupas
puritanas.
— Seu cretino! — Puxo seus cabelos em meus dedos,
beijando sua boca, mordiscando seu lábio inferior, o sugando de
mansinho.
— O que mais você esconde, pequena vênus?
Ariel liberta meus seios do sutiã, o jogando para longe assim
que passa as alças pelos meus braços. Sua mão se ergue, retirando
meus óculos, os deixando em cima do sofá. Ele impulsiona seu
corpo para frente, me fazendo inclinar para trás, com meus dedos
entrelaçados atrás da sua nuca. Meu corpo vibra com o toque
gelado da sua boca quando ela captura um dos meus seios.
Perversamente, ele se diverte, passando sua língua com preguiça
sobre o bico da mama. Minhas mãos se alastram, se embrenhando
em seus cabelos, e os puxo com força, estufando meu peito para
frente, lhe dando totalacesso para continuar me desbravando. Ariel
morde minha pele na lateral do meu seio, cravando seus dentes
fundo, perfurando a pele, arrastando suas mãos na lateral da minha
coxa, movendo o pano da saia para cima. Sinto que todo meu corpo
está queimando nessa loucura. Viverei esse momento me deixando
ser livre, sem nenhum tipo de restrição ou receio, não ficarei me
controlando por medo dele me achar depravada ou uma vagabunda
qualquer. Se é por esse motivo que ele veio a mim, para me dar
muito prazer, então será isso que pretendo aproveitar dessa noite.
Vou arrancar dele até o último gemido e suspiro. O mais puro e
glorioso prazer, o qual eu me neguei a sentir por tantotempo, terei
hoje.
Ariel arrasta sua bunda, se sentando na ponta do sofá, e
deita o meu corpo por completo no tapetemacio. O vejo ficar de pé
sobre mim, me olhando com intensidade, e nunca me senti tão viva
com apenas um único olhar.
— Magnífica, minha doce vênus! — O timbre grosso, quase
como um rosnado sexy, sai dos seus lábios. Ele percorre seus olhos
por meus seios nus, que estão arrepiados, latentesde desejo por
seu toque.
Não estou me preocupando com minhas estrias ou celulites,
muito menos com algumas gordurinhas bem localizadas do meu
corpo, pois Ariel faz eu me sentir mulher, uma mulher desejável e
viva. Me sinto em chamas com seus olhos percorrendo meu corpo
com tanta fome. Que eu vá me arrepender, talvez haja alguma
chance;que ele esteja aqui agora só por conta do seu trabalho, eu
não sei, só sei que este momento é apenas meu, e me nego a sentir
menos do que eu mereço neste instante.Quero me sentir amada
por esse homem.
Minhas mãos descem despudoradas pelo meu corpo
lentamente, alisando minha pele, e retiro minhas sapatilhas, as
jogando para os lados com meus pés, os usando como apoio para
alavancar meu quadril pouco a pouco, mantendo meus olhos presos
aos dele. Mordo meus lábios devagar, não me importando de ser
promíscua.Abaixo minha saia, a retirando do meu corpo, deixando
apenas a minúscula calcinha vermelha à mostra para ele. Vejo o
ritmo do seu peito acelerar, enquanto ele suga forte o ar, dilatando
suas narinas a cada respirada. Engancho meus dedos na lateral do
tecido fino vermelho, alastrando a calcinha tão preguiçosamente,
como se nada tivesse importância além desse singelo ato. A
escorrego por minhas pernas, descendo-a por completo, até ficar
completamentenua diante dos seus olhos. Por essa noite ele será
meu delicioso demônio com ar de anjo, que paira sobre mim, com
seus olhos safiras repletos de fome carnal, me consumindo a alma
com a sensualidade que exala dele.
Ariel retira sua camisa sem desviar sua atenção de mim,
deixando seu peitoral em exibição, me deixando ver que estava
correta em pensar que por baixo da roupa e da falsa magreza, os
músculos de atleta se escondem. Ele retira suas botas, as
descartando com a mesma rapidez que tirou sua camisa,
silenciando qualquer resquício de dúvida que possa ter em minha
mente assim que abaixa sua bermuda por completo. Ariel é tão
onipotente em sua nudez, não possui vergonha alguma, está
totalmenteà vontade, com seu pau ereto para a frente, me fazendo
expandir meus olhos e percorrer todo o comprimento.Mordo o canto
da minha boca com mais pressão, observando o belo espécie de
pênis com o qual ele foi agraciado. Ariel pode ter apenas o nome
angelical, sendo um completo demônio sexual irresistível,mas, com
toda certeza, seu pau é divino. Minha língua passa por meus lábios,
desejando que fosse seu pau em minha boca.
Ele se abaixa de forma territorialista, como um predador, em
minha direção. Age como um caçador mortal em busca da sua
presa, a qual ele sabe que não tem escapatória. Sua boca para em
minha coxa, depositando beijos quentes, me torturandocom leves
mordidas, subindo sem pressa até parar com sua face em cima da
minha boceta.Sinto sua língualamber o meu sexo pouco a pouco, e
meu corpo vibra em felicidade por sentir ele me sugar em sua boca,
me chupando com desejo, ludibriando meu clitóris entre lambidas
lentas, com círculoscerteirose sucção forte dos seus lábios. Minhas
unhas se cravam no tapete, esparramando minhas coxas para o
lado, dando-o acesso livre para me chupar em pura fome. Ele faz eu
soltar um grito de desespero, que há muito tempo estava preso em
meus lábios. Meu corpo ansiava por isso, por cada toque, calor, pele
raspando, transpiração, respiração acelerada e o coração
disparado. Os gemidos escapam dos meus lábios e seguro seus
ombros em euforia, marcando sua pele com minhas unhas. Meu
quadril se move junto à sua boca freneticamente,recebendo um
choque que corta meu corpo. Ariel se afasta, me deixando em
loucura por ele ter cortado a onda de clímax que me atingia. Seu
corpo se estica, pairando sobre o meu, me engaiolando entre seus
braços, com suas mãos espalmadas no tapete ao lado do meu
rosto. Seus olhos azuis se fundem com os meus, perversos e
quentes.
— Ainda não, minha doce vênus. Quero ver seu lindo rosto
quando seu orgasmo chegar. — A voz rouca sai repleta de luxúria,
sorrindo malicioso para mim.
Seu quadril se encaixa no meio do meu, movendo seu pau na
entrada da minha boceta, se empurrando lentamente, me forçando a
receber seu pênis grosso. Sinto as paredes da minha boceta se
expandirem para lhe acomodar, perdida entre a dor e o prazer de
estar sendo preenchida. Minhas mãos escorregam, segurando em
seus braços, cravando minhas unhas em sua pele. Meu corpo
arqueia para cima, afastando o máximo que consigo minhas coxas,
para lhe acomodar entre elas. Nem se estivesse morrendo de dor,
iria lhe mandar parar. Ariel me penetra cada vez mais fundo, se
aprofundando dentro do meu corpo. Nós dois gememos, em um
misto de prazer e dor a cada segundo que nossos corpos se ligam.
Ao senti-lo por completo dentro de mim, perecendo meu corpo por
inteiro, com minha boceta o sugando, aperto as paredes internas em
volta dele, me sentindo viva, extasiada e com pura fome.
— Oh, meu Deus! Eu amo Subway! — sussurro entre os
gemidos, tombando meu rosto para o lado, mordendo seu pulso.
— O que disse? — Ouço a voz dele preocupada, ficando com
seu corpo rígido, sem se mover.
— Esqueça, apenas se mova, por favor. — Meu braço enlaça
sua nuca, puxando seu rosto para perto do meu, aplacando minha
agonia e prazer em seus lábios.
Ariel começa a se movimentar devagar dentro de mim, se
retirando pouco a pouco, voltando na sequência a afundar seu pau
dentro da minha boceta. Nossos gemidos são abafados em meio a
beijos de perdição que nos consomem, tão selvagem quanto nossos
corpos se unindo.
— Porraaa! — Ariel quebra o beijo e rosna entre seus dentes,
me penetrando fundo, até ter sua pélvis colada à minha. — Isso é
um inferno de quente...
Ele se retira e retorna seu pau profundamente em uma única
estocada. Minhas pernas se cruzam em sua cintura, o deixando
preso a mim. Meus braços se esticam,levando minha mão para sua
bunda, agarrando com força, o incentivando a me foder duro. Seu
quadril se choca com o meu, aumentando o ritmo das estocadas,
não tendo mais nada de lento em seu ato, apenas a mais pura e
necessidade da luxúria. Ariel, em um movimento rápido, me puxa
para cima, prendendo suas mãos em minhas costas,dobrando suas
pernas, me deixando montada em seu colo, com seu pau dentro de
mim, estourando em penetrações brutas.
— Quero que se liberte, minha vênus. — Ariel segura meu
cabelo em sua mão, puxando minha cabeça para trás.
Sua boca trilha um caminho da minha garganta ao meu peito,
deslizando sua língua sobre a pele quente, até seus lábios
capturarem meu seio, o sugando com força, me deixando mais
inflamada. Movimento meu corpo, sentindo por completo seu pau
dentro de mim. Meu corpo está em chamas, e Ariel atiça, para
aumentar ainda mais o fogo, que ganha vida, explodindo em
labaredas de luxúria. Relaxo meu quadril, o deixando solto para lhe
cavalgar, e subo e desço freneticamente, o engolindo dentro da
minha boceta, fazendo Ariel gemer alto, assim como eu.
Rebolando e intercalando em cavalgadas, o tomo por inteiro
cada vez mais dentro de mim. Suas mãos espalmadas em minhas
costas me abraçam com força, me prendendo em seus braços.
Deixo livre oito anos de pura frustração, onde perdi minha vida em
um casamento miserável por quatro anos, o qual prendia minha
libido, e os anos que passei em abstinência, aprisionando meus
desejos, por medo de ser julgada outra vez, da mesma forma que
Renan fez comigo. Mas, nesse momento, não quero ser mais essa
mulher reprimida, anulada, eu quero ser livre e pecaminosa.
A cada movimento do meu quadril cavalgando no colo de
Ariel, o fodendo com vontade, caio no abismo de euforia que o
orgasmo me puxa. Sinto a energia crescer em meu íntimo,
percorrendo cada parte do meu corpo, queimando em minhas veias.
E mesmo sentindo o orgasmo me rasgar de dentro para fora, eu não
paro, não diminuo o ritmo do meu quadril se chocando com o de
Ariel, faço o inverso, aumento a cadência, jogando para fora minha
mente por completo, com tamanha luxúria e força, que o clímaxme
pega. Meu corpo o engole, fazendo seu pau se afundar com mais
profundidade dentro da minha boceta, o prendendo dentro de mim,
fazendo nós dois gritarmos juntos com toda a euforia do gozo. Outro
clímax vem com mais força do que o anterior .
Ariel me segura com mais força, me pegando de surpresa
quando fica de pé, com seus braços me segurando firme contra o
seu corpo. Sinto seu pau se enterrar dentro de mim a cada passo
que ele move, e apenas tenho consciência que ele me soltou sobre
o colchão, quando ele se afasta de mim, se retirando de dentro do
meu corpo, me girando com rapidez sobre a cama. Ele esmaga meu
quadril em sua mão, empinando meu traseiro para cima. O colchão
se afunda, seu pau me invade sem aviso, me penetrando até ter
suas bolas coladas em minha bunda. Ariel me prende firme, me
fodendo selvagemente em bruscas estocadas, me marcando de
todas as maneiras possíveis para ele, e sinto meu corpo tremer
quando outro orgasmo me toma. Grito em meio aos gemidos, com
minha pele colando por causa da transpiração. Ariel mantém o ritmo
descontrolado, me fodendo duro, ganhando sua libertação, soltando
um gemido alto e rouco da sua boca, com seu corpo trêmulo,
gozando forte.
Meu corpo se desmancha sobre o colchão, molengo, suado e
completamentegelatinoso, sem um pingo de lucidez. A respiração
pesada de Ariel se faz próxima ao meu ouvido assim que ele se
deita sobre mim, me puxando para seus braços quando se vira na
cama, jogando sua coxa sobre minhas pernas. Ergo meus olhos
para sua face, deixando nossos olhos se encontrarem. As safiras
intensas brilham para mim, entregues à luxúria. Elas me fazem me
entregar por completo a esse demônio nada angelical. Nós dois
dividimos o silencioso momento, apenas ouvindo nossas
respirações descompassadas. Acho que meu erro não foi ter
transado com ele, meu erro é o que estou cometendo agora, me
deixando ficar cativa do seu olhar, enxergando o completo
abandono e entrega que refletem em suas safiras intensas, e isso,
de alguma forma, mexe comigo, me assusta. Eu prometi a mim
mesma nunca mais me sentir assim por ninguém, a não dar a
chance para outra pessoa me machucar. Ariel move seu braço,
passando-o por baixo da minha cabeça, se aproximando mais de
mim, até minha face se encostar em seu peito. Sua mão alisa
minhas costas e ele deposita um beijo em meu ombro, roçando seus
dentes em minha pele, erguendo sua face outra vez para mim.
— Inesquecível, minha doce vênus.
Ouço a voz em tom brando sussurrar cálida, de forma íntima,
afagando meu rosto com o seu de forma carinhosa. Meus olhos se
fecham, enquanto tento não perder o controle, e ainda posso
observá-lo por um longo tempo. Quando Ariel adormece, me arrasto
para fora da cama de mansinho, me sentindo confusa e
amedrontada. Não tem mais o efeito da bebida, nem a euforia da
luxúria, apenas uma sensação estranha que me aperta tantoa alma
como meu coração. Me esgueiro pelo quarto de hotel como uma
ladra noturna, começando a pegar cada peça de roupa minha caída
ao chão e minhas sapatilhas. Volto meus olhos uma única vez para
a cama, observando Ariel adormecido, completamentebelo em sua
nudez. Me visto correndo e abro minha bolsa, olhando as duas
notas de cem pratas que estão lá dentro, as deixando sobre a
bermuda dele. Não é muito, eu nem sei quanto ele cobra, mas é o
que eu tenho comigo. Saio do quarto com pura pressa, fechando a
porta bem devagar atrás de mim, carregando uma pontada de
tristeza, sem nem saber o motivo pelo qual ela está me ferindo.
— Estúpida, estúpida, estúpida! — me recrimino enquanto
corro para o elevador, fugindo apressada e envergonhada de dentro
do hotel.
Capítulo 07
Férias interrompidas
Cristina Self
Dois meses depois
Inalo o ar com força pela minha boca, soltando pouco a
pouco pelas narinas, e mantenho meus olhos fechados, sentindo o
gosto salgado da minha bílis dentro da minha boca pelo tantoque
vomitei. Fecho a tampa da privada, dando a descarga, e me afasto
do vaso sanitário do banheiro. Caminho para a pia e abro a torneira,
enchendo minha mão de água e lavando meu rosto. Escovo meus
dentes, suspirando desanimada, olhando meu reflexo no espelho do
banheiro do meu apartamento.O dia mal começou e já é a terceira
vez que o enjoo matinal me pegou nessa manhã. Abaixo meus
olhos para meu ventre, alisando minha barriga, enxaguando minha
boca na pia.
— Vocês dois podiam me dar uma trégua — sussurro,
mantendo a caríciano meu ventre enquanto escovo meus dentes.
— Mamãe vai ter que voltar ao trabalho hoje, bebês.
Depois de secar minhas mãos, caminho para o quarto e pego
a roupa que deixei separada em cima da cama para me trocar. Me
visto rapidamente, parando de frente ao guarda-roupa. Arrumando
meus cabelos, opto por um rabo de cavalo em vez do costumeiro
coque alto como penteado. Me olho no espelho do guarda-roupa,
conferindo meu aspecto, e me vejo apertada na minha saia azul-
marinho, que comprime minha cintura. A blusa de lã negra, com
gola alta, disfarça um pouco minha cintura. Calço as sapatilhas,
passando minhas mãos pela saia, garantindo que não esteja torta.
Meu corpo está mudando rápido demais, se adaptando à gestação,
percebo isso pelo volume dos meus seios, que estão aumentando.
Descobri que estou grávida na metade das minhas férias, que
foi interrompida por conta de um desmaio que tive no hall do hotel
que estava hospedada no Havaí. Quando começou o mal-estar
repentino, eu não dei muita bola, achava que era apenas pela
mudança de clima ou por estar sobrecarregada com tantotrabalho e
estresse nos últimos tempos. Mantinha em meu pensamento que
apenas precisava descansar e relaxar. Quando o vômito e os enjoos
me pegaram, coloquei a culpa na comida exótica. Minha
menstruação atrasada nunca foi de me deixar preocupada, até
porque nunca fui regrada e sabia que não podia ter filhos. Foi uma
surpresa sem tamanho quando o médico me disse que estava
grávida. Não acreditei, entrei em absoluta negação. Lhe falei que
tinha acontecido algum engano, pois eu não podia ter filhos, que fiz
exames que comprovavam que eu era estéril. Mas ele me mostrou
que estava completamente enganada, refazendo todos os meus
exames, comprovando que meus ovários e útero são saudáveis,
tanto que eu estava grávida de um mês.
As férias foram interrompidas imediatamente, me fazendo
embarcar no primeiro voo que achei de volta para casa. Fui direto
para o ginecologista que tinha feito meus exames na época que eu
era casada com Renan. O médico me olhou espantado quando lhe
disse que eu não podia ser mãe e não entendia por que estava
grávida. Ele buscou pelo meu históricoem suas fichas clínicas, e no
arquivo de pacientes confirmava que eu nunca tive qualquer
problema de saúde, que quem não podia ter filho não era eu, mas
sim Renan. Eu chorei, me derramei em lágrimas segurando aquele
maldito papel. Renan mentiu para mim, fez eu me sentir uma mulher
incompleta por acreditar que nunca seria mãe, e mesmo me vendo
sofrer, Renan manteve sua mentira.
Mas mal eu sabia que estar grávida seria apenas o começo
da virada de pernas para o ar que minha vida daria. Minha mãe
simplesmente me deixou um recado na caixa de mensagem,
avisando que estava no Marrocos. Estava quase tendo uma crise de
desespero, precisava falar com ela, precisava do maldito cartão da
agência de garoto de programa. Quando saí do hotel aquela
madrugada, largando Ariel para trás, apenas corri para a casa dela,
fazendo minhas malas, chamando um táxi e indo direto para o
aeroporto. Nós duas nem chegamos a conversar, minha mente
estava confusa. Achei que quando voltasse de férias estaria mais
calma para conversar com ela, entretanto,minha mãe embarcou
para mais uma de suas viagens de loucura, a qual ela não tem data
de retorno. A última viagem que ela fez repentina foi para África, e
ela demorou cinco meses para voltar para casa, se desligando por
completo de telefone e e-mail. Para minha sorte, pelo menos a
reforma do meu apartamento ficou pronta na data estipulada.
Tentava assimilar tudo que estava acontecendo, as consequências
de uma noite fora de série, impulsionada por duas garrafas de
vodca, com um garoto de programa terrivelmente sexy, sem
proteção alguma.
Na última consulta de pré-natal que fui, com uma obstetra
recomendada pelo ginecologista, eu realmente fiquei sem conseguir
falar nem uma palavra sequer. Na ultrassonografia, que me deixava
ver e ouvir o meu filho que está dentro de mim, me fazendo chorar
de emoção, a médica apontou para o pontinho ao lado dele, e eu
descobri que tenho dois corações batendo fortes dentro do meu
ventre. Fui de emocionada para desesperada em questão de
segundos, não acreditando que não estou apenas grávida, mas sim
duplamente grávida. São gêmeos! Sem minha mãe para me ajudar
a encontrar Ariel, comecei a procurar pelo nome dele na lista de
telefone, até pesquisei sobre o nome da empresa do cartão na
internet,mas nada. Sem rastro algum que me ajudasse o encontrar,
fui até a casa dela. Revirei cada cômodo e gaveta atrás da porra do
cartão, e nada, ele simplesmente sumiu. Não tenho medo de ser
mãe, esse sempre foi meu maior sonho, e mesmo sem ele nem
saber, Ariel me deu o melhor presente de aniversário que eu poderia
ganhar em minha vida. Não sei se ele pensará assim se um dia
descobrir que é pai, mas não me importo como ele agirá, meus
filhos se tornaram tudo para mim. Suspiro, alisando minha barriga,
ficando de lado, a olhando no espelho. Imagino como ficarei daqui
alguns meses, com a barriga grande, não conseguindo esconder de
mais ninguém que vou ser mamãe.
— Vou proteger vocês, sempre — sussurro para eles,
sorrindo, pegando minha bolsa no cabideiro e caminhando para fora
do quarto.
Nem penso em passar perto da cozinha, pois sei que
qualquer coisa que eu comer agora vai ser vomitado imediatamente.
Tranco meu apartamentoe vou para a escadaria, mas ao passar
pela portaria, sou parada pelo porteiro, que sorri para mim.
— Retornando para o serviço hoje, senhorita Self.
Sorrio, confirmando para ele com um balançar de cabeça,
parando perto do seu balcão.
— A mordomia das férias acabaram. — Olho o cesto de
envelopes para ver se tem alguma cartapara mim, qualquer sinal de
vida da desmiolada da minha mãe.
— Senhorita Cris, eu sei que é chato tocar nesse assunto —
ouço a voz dele abaixar, enquanto se levanta da cadeira,
tamborilando seus dedos no balcão —, mas a senhorita me pediu
para lhe avisar se aquele rapaz voltasse a aparecer.
O sorriso que tenho em meus lábios morre, sinto um arrepio
de medo percorrer minha nuca, enquanto olho perdida para ele.
— Renan apareceu aqui? — As palavras pesam em meu
coração, e institivamente levo minhas mãos para meu ventre.
— Infelizmente, sim, três vezes só no meu turno. Perguntei
para os outros porteiros e eles confirmaram que ele também esteve
aqui. Como sempre, o rapaz ficou alterado quando falamos que ele
não tem permissão de entrar no edifício.
Deus, por que justo agora esse inferno tinha que voltar?
Renan tinha arrumado outra pessoa, por que ele simplesmente não
me deixa em paz?
— Quando foi a última vez que ele veio, Bobe?
— No começo da semana passada, a senhorita tinha saído
cedo. — Bobe me dá um olhar compreensivo, falando calmo para
mim. — Quando voltou, lhe achei com o rosto tão abatido, que não
quis lhe deixar mais preocupada.
Foi na última consulta de pré-natal, quando eu soube dos
gêmeos. Me recordo desse dia, voltei para o apartamento tão
desligada, que apenas queria entrar dentro do apartamentoe ficar
encolhida na minha cama. Não tenho como lidar com as loucuras de
Renan, não agora. As medidas protetivasnão estão funcionando,
ele não se importa de ser preso, porque sabe que seu pai vai tirá-lo
da cadeia. Respiro nervosa, esfregando meu rosto, sentindo meu
coração bater acelerado.
— Obrigada por ter me avisado, Bobe.
Saio do edifícioe caminho apreensiva pela calçada, sentindo
todas as emoções me engolirem: o acuamento, o medo, o pavor a
cada carro que passa na rua e os pedestres que andam na calçada.
Não acho justo ter que passar por todo esse terror outra vez, não
agora, não quando tenho meus bebês dentro de mim. Depois de ter
colocado toda minha vida em ordem, Renan volta para me
assombrar. Vou ter que conversar com Max, ele me ajudou uma vez,
talvez possa conseguir outra restrição mais rigorosa, algo definitivo,
que mantenha Renan longe de mim. Durante todo o trajetodo meu
apartamento ao ponto de ônibus e até eu chegar na frente do
edifício que trabalho, fico me sentindo apreensiva, como se Renan
fosse aparecer a qualquer momento na minha frente. Olho no
relógio do meu pulso, vendo que ainda tenho alguns minutos, e
aproveito para ligar para minha mãe, mas, novamente, a ligação
chama até cair na caixa de mensagens. Droga!
— Mãe, sou eu, sua filha, se recorda?! Não sei mais quantas
mensagens eu lhe deixei nesses últimos dias, mas, por favor,
preciso que me retorne assim que as ouvir. Preciso urgente da
senhora, você vai ser vovó... — Respiro fundo e encerro a ligação.
Olho para a rua e volto a encarar o prédio.
Entro no prédio da empresa e guardo o celular dentro da
minha bolsa, pendurando-a no meu antebraço. Olho para o elevador
e repuxo meu nariz, me sentindo desconfortável, sabendo
exatamentea tonturaque vou sentir por conta da gestação, com os
solavancos do elevador, quando ele começar a subir pelos andares.
Fecho meus olhos, entro e espero ansiosamente até ele chegar ao
terceiro andar. Assim que as portas são abertas, respiro fundo, abro
meus olhos, e ao sair do elevador vejo uma outra secretáriasentada
em minha cadeira. Não era para ela estar aqui. Como eu voltava
hoje, o contrato de serviço temporário dela acabou.
— Graças a Deus você voltou, Cris! — Ouço a voz ansiosa
me chamar, e sou pega pelos braços de Bete, que me espreme com
força em um abraço. — Nunca desejei tanto que suas férias
acabassem — ela diz, rindo, se afastando, soltando um longo
suspiro.
Olho perdida para ela, sem entender por que o escritórioestá
desorganizado, com pastas espalhadas pelas mesas.
— Por que tem uma moça no meu lugar, Bete? E qual o
motivo de tantaspastas espalhadas? — pergunto baixo para ela,
desviando meus olhos da menina que está ao telefone.
— Nem te conto! Perdeu tantacoisa... — Bete olha em volta,
cruzando seus braços. — Esse maldito sócio que chegou assim que
você saiu de férias fez muitas mudanças. Ele disse que seria melhor
ter alguém aqui na recepção, enquanto nós duas ficamos à
disposição dele, Pietro e Max. Estou ficando louca tendo que
atender os três... Esse homem é o capeta!
— Por um momento pensei que fui demitida — falo, sentindo
alívio. — Está organizando os documentos?
— Não, ele mexeu no seu computador e viu que metade dos
documentos estavam digitalizados, separados em pastas, na
nuvem. Ele me obrigou a digitalizar o restantee transferir para o
computador... Acho que vou morrer com cãibra em meus dedos.
Olho para ela e arqueio uma sobrancelha, sentindo uma
feição pelo novo sócio, por finalmente conseguir fazer Bete me
ajudar com algo dentro desse escritório. Eu comecei a transferir os
arquivos para o computadorjá tem um tempo, mas sou uma só, não
posso fazer tudo sozinha, pois há casos imensos, com mais de 300
páginas. Se tivesse que fazer isso sem ajuda, levaria anos para
finalizar.
— Ele não me parece tão diabólico assim, afinal. — Sorrio
para a moça sentada na minha mesa, que acena para mim.
— Não se engane, Cris. Lhe dou três dias para pedir as
contas, porque o homem é um demônio carrasco. Três estagiárias
temporárias pediram demissão, saindo chorando da sala dele
depois que foram severamente repreendidas.
— Cristina, meu bem, está de volta! — A voz de Max me
chamando faz eu me virar, olhando para trás de mim.
O vejo sorrir, fechando os botões do seu terno, caminhando
em minha direção com sua forma galanteadora de sempre. Sou
puxada para seus braços, recebendo um abraço forte de Max. Eu
gosto dele, o adoro muito, sempre foi um homem bom, e foi por
conta do meu caminho se cruzar com o seu em uma audiência no
tribunal contra Renan, que o conheci. Estava abalada, sentada na
cadeira perto da saída, por conta da forma distorcida e fria com que
o advogado de Renan me fez passar por uma mulher
desequilibrada, que estava inventando calúnias contra ele apenas
para ganhar uma pensão. Cristo, eu nunca quis nada de Renan,
apenas quero que ele fique longe de mim! Max assistiu à audiência,
estava esperando pelo caso que iria representar, que seria o
próximo, e foi empático, conversando comigo e ouvindo meus
relatos quando me perguntou por que eu estava no tribunal. Não foi
o advogado que contrateique conseguiu me ajudar com a medida
protetiva, mas sim Max. E de sua cliente, virei sua funcionária,
quando um dia ele me fez a proposta de trabalho. Ele estaria
abrindo a firma de advocacia junto com seu irmão mais velho,
Pietro, que é o oposto de Max, um homem reservado, mas
igualmente educado como seu irmão.
— O que você fez? — Max diz quando se afasta, dando um
passo para trás e levando as mãos aos bolsos da calça, me
avaliando intrigado. — Cortou o cabelo?
— Não, eu não fiz nada, Max — falo, sorrindo, negando com
a cabeça.
— Não! Você fez, sim! — Ele me olha de cima a baixo,
retirando uma das mãos do bolso, coçando seu queixo. — Está
diferente, com um brilho bonito na pele. Me conte o que fez.
Engravidei!
Meu cérebro dispara rápido dentro da minha mente. Em
alguns meses o brilho da minha pele vai choramingar em meus
braços, ou melhor, vão...
— Ei, Pietro! — Max ergue a mão, chamando pelo seu irmão.
— Olha só quem voltou de férias! Me diga se ela não está diferente.
Viro e vejo Pietro sair da sua sala. Ele sorri ao me ver,
andando para mim, me dando um sorriso carinhoso, apertando
minha mão em cumprimento.
— Está linda como sempre, Cristina, mas Max tem razão, tem
um brilho diferente em você, meu anjo. — Sua grande mão cobre a
minha, e a outra dá um leve tapinha em meu ombro.
— Deve ter sido o sol do Havaí — falo baixo, lhe dando um
sorriso amarelo, encolhendo meus ombros.
— Senhorita Carlon, pode vir até minha sala?!
A voz alta e severa chamando por Bete ganha minha
curiosidade, o que me faz olhar para a porta da sala ao lado da de
Max e Pietro, e então a porta é aberta abruptamente.
— Miller, quero que conheça minha pequena joia. — Max gira
seu corpo, ficando na minha frente, bloqueando minha visão.
Ouço os passos pesados andando até nós, o que me faz
esticarminha perna, dando um passo para o lado, saindo de trás de
Max, deixando um sorriso profissional estampado em meu rosto
para dar as boas-vindas ao novo sócio. Naquela noite, a única
memória que fiquei dele foi do seu perfume enjoativo, quando as
portas do elevador foram abertas.
— Querida, este é Miller. Ariel Miller chegou há dois meses
de Nova York para assumir o cargo de novo sócio da empresa. — A
voz animada de Max fala, mas a única coisa que sinto são minhas
pernas ficando bambas.
— Ariel e eu nos formamos juntos em Direito, em Nova York.
— Pietro sorri, piscando para mim. — Conheça o melhor criminalista
de nossa época. — Pietro segura meu ombro, deixando sua mão lá.
— Se não se importar, fizemos algumas mudanças enquanto estava
de férias, Cris, e achei correto designar você para ser a secretária
dele, assim Ariel para de ficar aterrorizando as pobres estagiárias da
agência de emprego.
Não preciso nem dizer que meus joelhos fraquejam e que
tenho grandes chances de desabar no chão, no meio do escritório.
Meu coração bate descarrilhado e uma tontura me pega, me
fazendo ficar com as mãos suadas e trêmulas, encarando o homem
sério, trajado em seu terno negro, com as safiras presas em minha
face. Ariel não esboça nenhuma reação ao me ver, simplesmente
está parado, com suas mãos nos bolsos, não parecendo nem um
pouco com aquele homem casual com roupa despojada que entrou
nesse escritório dois meses atrás.
— Acho que não entendi...
— Dentro do envelope tem todas as diretrizes sobre o que vai
precisar saber. Apenas esteja aqui na segunda-feira, às oito, sim?
— Aceno para ele, que olha da minha facepara o envelope, ficando
perdido.
— Deus... — A palavra sai tão baixa da minha boca, que
apenas balbucio, medrosa, compreendendo o que aconteceu
naquela noite.
— Seja bem-vinda, senhorita Self. — Sua voz é rude,
salientando seu ar tirano, me olhando zangado. — Se já terminaram
a confraternização, gostaria de voltar ao trabalho, tenho que ir ao
tribunal ainda hoje — ele fala e se vira, voltando para sua sala,
batendo a porta atrás de si.
Me sinto horrível ao ver a forma como ele me tratou, seu
olhar acusador me condenando com a voz rude. Meu Deus! Eu
transei com esse homem, sem pudor algum, tantoque estou com a
consequência dessa noite dentro de mim, mas se já era
desesperador ter passado todos esses dias procurando por ele,
agora, nesse momento, eu desejo nunca ter o reencontrado.
— Não se preocupe, meu bem — Pietro fala calmo, batendo
em meu ombro. — Ariel parece um diabo quando está focado em
seus casos, porém, por trás da sua cara rabugenta, ele é um bom
homem.
Max me dá outro beijo na testae sai andando, conversando
com Pietro, dispersos do frangalho que eu me encontro. Deus!
Esfrego meu rosto, respirando fundo. Ariel não era um garoto de
programa. Eu dormi com a porcaria do novo sócio da firma! Eu
estou grávida de um dos advogados. Merda!
— Você não me disse que o novo sócio era um rapaz jovem,
saído da faculdade? — pergunto para Bete, me sentindo sem .ar
— Oh, eu me confundi, devo ter ouvido errado. Quando
Pietro me falou, eu estava no telefone — ela fala rápido, dando de
ombros. — A verdade é que o doutor Miller fez faculdade com
Pietro, não estava se formando recentemente,ele é apenas dois
anos mais novo que Pietro, tem trintae sete anos. Já é um veterano
nos tribunais.
— Oh, meu Deus!
Bete olha para a porta fechada, balançando a cabeça em
negativo.
— Ele aceitou a proposta de associado e veio trabalhar na
Califórnia, e você nem imagina quem está tentando pescar esse
demônio — Bete sussurra, abrindo um sorriso, tão preocupada em
fazer a fofoca, que não percebe que estou tendo um surto de medo.
— Malvina já está com as garras nele. Ouvi dizer que eles estão
transando, sabia? Aquela advogada vadia do setor trabalhistanão
perde tempo. Como não conseguiu fisgar Max e muito menos Pietro,
ela atacou o novo sócio.
— Eu... eu preciso ir ao banheiro. — Viro para trás, girando
em meus calcanhares, praticamente correndo rumo à porta do
toalete dos funcionários.
Me escondo dentro de um dos lavabos, o trancando,
respirando descompassada, sentindo minhas pernas sem força
alguma. Cristo, eu sofri o pão que o diabo amassou nos primeiros
dias, quando vim trabalhar aqui na empresa, pois grande parte dos
funcionários achavam que eu apenas consegui o serviço porque
estava transando com Max. Dei duro, me esforçando todo dia dentro
dessa empresa, para mostrar que se estava aqui, é porque tenho
competência em realizar meu serviço, e não porque fazia troca de
favores sexuais. Todo o falatório vai começar em dobro quando
minha barriga começar a crescer e eles souberem que o pai dos
meus bebês é o novo advogado criminalista.
— Oh, meu Deus, ficou sabendo da novidade? — Ouço a
risada de uma das meninas do almoxarifado, que entra no banheiro.
— Designaram a estranha quatro olhos para ficar como secretária
do bonitão de Nova York.
Olho para a porta fechada, ouvindo os risos aumentarem,
entendendo que é de mim que elas estão falando.
— Cristo, aquela mulher é uma geladeira fria! Coitado dele
por ter que passar o dia todo olhando para as roupas cafonas dela!
Abro a porta do banheiro e saio de dentro do lavabo, não
direcionando meu olhar para elas. Apenas caminho até a pia, lavo
minhas mãos e jogo uma água refrescante em meu rosto, usando o
papel toalha para me secar. O descartono cestode lixo, abro minha
bolsa, retiro meus óculos de lá e levo à minha face. Me viro, olho
para elas rapidamente e saio do banheiro. Antes mesmo de sair do
corredor, meus passos param ao ser confrontada pelo olhar de aço
de Ariel, que se mantém sério, me encarando com sua face
fechada.
Capítulo 08
Do céu ao inferno
Ariel Miller

— Terei que sair à sua procura toda vez que precisar dos
seus trabalhos, senhorita Self?
Minha voz sai firme, enquanto meus olhos se mantêm presos
em sua face pequena. Tento não inalar o aroma do seu perfume,
que invade meu nariz, me fazendo ter memórias dos sons suaves
que escaparam dos seus lábios enquanto ela queimava em meus
braços. Quero poder afirmar para mim mesmo que não reconheci
sua voz no momento que ouvi ela conversando com a outra
secretária, que meu coração não errou uma batida e que muito
menos fiquei ansioso, como um maldito novato que acaba de
reencontrar sua garota. Não foi para esse propósito que aceitei vir
trabalhar na Califórnia, quando Pietro me convidou, eu apenas
almejei novo ares, largar as velhas lembranças dolorosas que
estavam me consumindo em Nova York. A morte de Dolly, minha
pequena filha de dois anos, tinha devastado minha vida, e por
quatro anos depois da sua perda eu me mantive focado apenas no
trabalho, despejando toda minha concentração nos julgamentos e
nos meus clientes. Tinha cometido um erro quando me casei com
Silvia, no fundo sabia que ela apenas ambicionava uma vida
luxuosa, o status,o glamour. Seu grande amor era a boa vida que
eu lhe proporcionava, não eu, muito menos nossa filha. Eu amava
minha filha, ela era a minha conquistamais preciosa. Me recordo do
seu sorriso em sua face carinhosa na última vez que a vi, quando
parti daquela casa.
— Ei, minha princesa, papai tem que ir. — Beijo seu pescoço
apenas para ouvir o som da sua risada gostosa.
Deposito Dolly no berço, alisando seus cabelos, pegando
minha bolsa em cima da cama e caminhando para fora do quarto.
— Quer que eu faça alguma coisa? — Meus olhos pousam
na mulher parada no corredor, com os braços cruzados.
— Arrume um advogado. — Caminho reto, passando a
passos duros, sem olhar para ela. — Minha filha vai ficar comigo.
— Ariel... Ariel, não pode.
Não paro de caminhar, nem me viro para olhar sua face.
— Apenas observe.
— Não pode fazer isso, eu sempre cuidei da minha filha...
— Silvia, que horas ela dorme? Qual é o desenho preferido
dela? Sabe ao menos com qual bichinho de pelúcia ela dorme
abraçada? — grito com raiva, tendo ela alterada, caminhando atrás
de mim, me seguindo até a garagem, puxando minha bolsa com
força das minhas mãos.
— Ela fica comigo!
— Você sabe o que ela come no café da manhã? Sabe o
nome do pediatra dela? Por um acaso, tem ele anotado na sua lista
de contatos? Você não sabe nada sobre nossa filha!
— Eu não vou deixar você tirar minha filha de mim, não vou
deixar você a levar para longe. Você acha certo nunca estar
presente, trabalhando toda hora, estando sempre na merda do
telefone nos fins de semana, e me deixando triste o tempo todo?
— Triste? — Cerro meu maxilar com ódio, olhando para sua
face. — Está triste?
— Estou... — ela grita, com a voz chorosa.
— Eu lamento se estava tão triste com a vida de luxo que eu
sempre lhe dei, com toda sua forma frívola,se ludibriando em salão
e joias caras. Lhe deixei tão triste que precisou ir atrás do seu amigo
Samuel, da época da faculdade, apenas para trepar com ele dentro
da minha casa! — Puxo minha bolsa com ódio da sua mão,
respirando com força.— Realmente deve ser muito triste saber que
não vai gastar mais nenhum centavo meu, e muito menos usar
minha filha como moeda de troca para continuar se mantendo às
minhas custas.
Entro no carro e bato a porta com força,ligando-o e pisando
no acelerador.
Dois dias depois, em uma noite chuvosa, após Silvia sair de
uma festa na casa de uma amiga, mesmo ela conscienteque tinha
bebido, decidiu conduzir o veículo, dispensando o motorista. Ela
perdeu a direção do carro e colidiu contra outro automóvel. Dolly
estava adormecida no banco de trás, deitada ao invés de estar na
cadeirinha. Perdi minha filha naquela noite, restando apenas um
buraco imenso em minha alma. Me afundei no trabalho depois do
luto pela perda dela, e por todos esses anos nada mais me fez sorrir
e muito menos me despertou encanto ou curiosidade. Isso até dois
meses atrás, quando me deparei com os grandes olhos de coruja
brilhosos, olhando tão atenta para a tela do computador, distraída da
minha presença. Seu modo atrapalhado me despertou interesse e
intriga, e talvez tenha sido por isso que não desfiz seu engano.
Fiquei tão fascinado na atrapalhada senhorita Self, com suas roupas
estranhas para sua idade e gestos nervosos, falando pelos
cotovelos, que aproveitei o breve momento. Suponho que o fato
dela não se parecer com as mulheres ambiciosas que sempre me
rodeiam, me fez ficar intrigado com ela.
Dormir com a moça não foi algo intencional.Não tinha planos
de trepar com alguém quando fiz o check-in[14] no hotel e me
direcionei para o edifícioda empresa. Talvez meu primeiro erro não
foi ter omitido a verdade sobre quem eu sou, mas sim ter cedido à
tentaçãode provar seus lábios. Depois, no hotel, foi algo natural, o
que meu instinto implorava para ter, mas não foi a dor da ressaca
por conta do porre que tomamos juntos que me fez acordar de mau
humor, mas sim despertar naquela cama de hotel tendo apenas a
fragrância do seu corpo impregnada no lençol.
E na segunda-feira, quando cheguei para me apresentar ao
trabalho, apenas a cadeira vazia da sua mesa estava, pois havia
uma moça diferente, que saiu do banheiro, e muito tempo depois de
Pietro me apresentar a todos os funcionários, descobri que a
pequena vênus estaria ausente pelos próximos sessenta dias. As
lembranças da sua face, do seu sabor, a forma doce como ela se
entregou, tão viva, sem barreiras ou vergonha, me levou à lona. Por
trás daqueles óculos grandes e roupas antiquadas, uma mulher
intensa e lasciva governava seu corpo. E foi com ódio que me vi
revivendo cada momento dela em meus braços dentro da minha
mente. Os boatos que chegaram aos meus ouvidos de forma
perversa, se infiltraram dentro de mim como veneno, e eu percebi a
forma carinhosa com que Max falava constantementeda sua pupila
Self. Me senti amargo assim que soube sobre como a senhorita Self
tinha alcançado seu cargo dentro da firma de Direito. Me controlei,
tentando disciplinar minha mente, me negando a ficar pensando
nela, mas aqui estou eu, a farejando como um animal que há muito
tempo ansiava por sua doce presa.
— Eu precisei usar o toalete, e agora estava indo procurar
onde será minha nova mesa de trabalho, doutor Miller. — Sua voz
sai baixa, com seus dedos comprimindo a bolsa em suas mãos,
olhando em volta antes de repousar seus olhos nos meus.
— Me acompanhe, senhorita Self.
Giro, caminhando para minha sala, abrindo minha porta. Ao
me virar, a vejo olhar apreensiva para a sala e depois para a direção
do elevador.
— Poderia ser para hoje, temos trabalho a fazer!
O tom da minha voz sai ríspido, não consigo esconder a
forma desorientada que fico com seu retorno. Ela entra de
mansinho, balançando sua cabeça em positivo, olhando a sala
brevemente, parando ao centro dela. Aponto a segunda mesa
pequena ao canto da sala, que fica de frente para a minha, olhando
sério para ela.
— Sua mesa é aquela. — Seus olhos se expandem, ficando
arregalados com seu olhar de coruja amedrontado. — Como pode
ver, seu computador estará ligado ao meu, assim não precisará
perder tempo com vírus.
Cruzo meus braços, acompanhando os gestos nervosos dos
seus dedos, que esfregam sua face. Eu poderia dizer que me sinto
horrível por ter finalmente conseguido ela para ficar como minha
secretária, mas não me sinto. Quando dei a ideia que seria mais
vantajoso cada advogado ter uma secretária particular, ao invés de
sobrecarregá-las os três juntos, sendo que cada um trabalha em
uma área de Direito diferente, eu já pensava em ter a senhorita Self
para mim. Max saiu na frente, solicitando ela, enquanto Bete ficaria
com Pietro. Odiei todas as estagiárias, sempre reclamava de algo.
Eram sem competência, risonhas demais, desastradas, mas o que
me incomodava é que nenhuma delas era a atrapalhada babá
McPhee. Recusei todas elas. A última estagiária não chegou a ficar
nem meio período antes de pegar sua bolsa e ir embora. Pietro
reconsiderou a divisão e designou a senhorita Self para mim. E
agora percebo a armadilha que eu mesmo me fiz. Estou com ela em
minha frente, desejando quebrar o curto espaço que tem entre nós
dois, apenas para sentir outra vez o sabor dos seus beijos e saciar
essa maldita vontade que me corroeu por todos esses dias, desde a
noite que meus olhos se encantaram pela atrapalhada mulher com
olhos de coruja.
— Ariel. — Sua voz nervosa é baixa, enquanto olha para a
porta aberta atrás dela. — Sobre aquela noite. Bom, foi um engano.
— A encaro, levando meus dedos para o bolso da calça, para
mantê-los longe dela. — Eu não sou, bom... eu não sou aquilo.
— Atenha-se ao seu lado profissional, senhorita Self! — As
palavras duras saem da minha boca, cortando suas desculpas. Não
quero ouvir seus arrependimentos. — A menos que queira seu
dinheiro de volta. — Um sorriso amargo estampa minha face. — A
propósito, confesso que fique insultado por valer tão pouco no seu
ponto de vista.
Ela nega com a cabeça, mordendo seus lábios
nervosamente.
— Ariel, preciso lhe contar...
Dou um passo à frente de forma pesada, respirando com
força, cerrando meu maxilar, parando à sua frente.
— Limite-se ao seu trabalho! — falo frio, com firmeza, com
um tom de voz alto, para ela parar com o assunto.
Minha mão sai do bolso da calça e se ergue abruptamente,
com força, rumo a ela, apontando na direção da sua mesa, mas
congelo no ar meu braço quando vejo seu corpo se encolher à
minha frente, como se fosse se afundar ao chão. Seus olhos
assustados estão presos em minha mão aberta, estagnada no ar, e
seu peito sobe e desce rapidamente. Dou um passo para trás, me
distanciando dela, balançando minha cabeça em negativo, com a
forma petrificada que ela ficou apenas por um gesto abrupto da
minha parte.
— Não precisa dar uma de vítima,Cristina — digo com raiva,
passando as mãos nos cabelos, a encarando. — Se toda vez que
eu gritar dentro dessa sala, você ficar assim, estarei perdido, com
uma secretária inútil. — Respiro fundo e pego minha maleta sobre
minha mesa. — Foi um inesquecívelengano, como você bem sabe.
Digamos que adorei o presente de boas-vindas da empresa. Só que
agora acabou, quero que faça um favor a nós dois e deixe esta
história para lá. — Aponto para a mesa dela, olhando a hora no
relógio que está meu pulso. — Preciso estar no fórum, volto ao fim
da tarde. Aconselho que vá se sentar e faça seu trabalho, senhorita
Self. Pelo tantode elogios que ganhou, creio que não precisa da
minha presença para direcioná-la ao que fazer.
Abandono a sala, precisando achar meu controle outra vez.
Não imaginei que reencontrar essa mulher me deixaria tão
desestabilizado. Repuxo o nó da minha gravata, aliviando um pouco
o aperto sobre o colarinho do meu pescoço, caminhando a passos
duros para o elevador. Aperto o botão para ele subir no meu andar,
e assim que as portas são abertas, me encaminho para dentro,
respirando profundamente, fechando meus olhos.
— Quase perdi ele. — A voz ansiosa de Max é alta. Ele ri,
entrando no elevador.
Abro minhas pálpebras e observo Maximiliano olhar
atentamente para seu aparelho de celular
.
— Se perdesse o elevador, tinha grandes chances de chegar
ao fórum da família atrasado. Pietro me contou que você está com
um caso grande. — Ele ergue seus olhos para mim, enquanto
balanço a cabeça, confirmando.
— Caso Brat.
— Acho que vi alguma coisa sobre isso. Foi corajoso em
pegar esse caso, ouvi boatos na comarca que há bastanteprovas
contra o sr. Brat, o deixando como principal suspeito da morte da
esposa e do amante dela.
— Até que se prove o contrário, meu cliente é inocente —
falo calmo. Sei que será fácil retirar a acusação do Estado de cima
do meu cliente.
— Bom, eu esbarrei na advogada da tia do enteado dele, a
guarda do adolescente vai ficar com o Estado até que o caso
finalize.
— Estava pensando em encaminhar essa parte do caso para
você, não trabalho com a área da família — falo sereno, olhando
sério para ele.
— Realmente não sei se é um caso que eu quero me
intrometer. Por mais que seja bom para chamar a atenção dos
repórteres que estão cobrindo esse caso para nossa firma, ainda
assim repasso educadamente. — Ele respira fundo, me dando um
olhar atento, fechando seu semblante. — Optei pela carreira de
Direito para fazer a diferença, ser um profissional honrado, não me
vejo como um advogado cínico, sem nenhum respeito pela lei.
Troco minha pasta de mãos, levando a outra mão ao bolso do
terno, compreendendo o comentário mordaz.
— Devo presumir que esse segundo tipo de advogado sou
eu. — Rio, sarcástico, respirando calmo. — Eu respeito a lei,
apenas não a venero, não me sinto oprimido por ela. Se o estado da
Califórnia não puder arcar com um bônus culpado, e eu livrar meu
cliente, a culpa não é minha, e sim da promotoria, com seus
profissionais honrados e incompetentes.Argumento que gostei do
seu ponto de vista, Max... — Retiro a mão do bolso, olhando para a
tela do meu celular. — Mas, da próxima vez que desejar falar sobre
as índoles profissionais, sugiro marcarmos um almoço.
Ele fecha mais ainda sua face, cerrando seu maxilar, me
olhando acusadoramente.
— Como consegue dormir à noite, Miller? Apenas me tire
essa curiosidade. Como se sente sendo um advogado renomado,
com grandes casos, um dos mais caros atualmente?— Ele balança
a cabeça em negativo, rangendo entre seus dentes. — Como se
sente sabendo que todas as pessoas que você representa são
culpadas?
— Simples, eu não ligo. E você mesmo respondeu sua
pergunta. Como disse, eu sou caro. Inocentes não têm como me
pagar.
Finalizo a conversa e volto minha atenção para as portas do
elevador, quando elas se abrem.
Eu poderia ter optado por exercer minha profissão na área
cível, da família, até mesmo trabalhista, mas havia um certo
magnetismo na criminalista, esse é meu habitat natural: refutar,
desmoronar como um castelo de cartas cada argumento contra
meus clientes, olhar para os jurados e os fisgar em minha rede, em
cada palavra, as quais sei usar bem ao meu favor, invertendo o pior
réu em vítimaaos olhos do júri. Esse é meu mundo, meu jogo, meu
tabuleiro de xadrez, o qual sempre termina comigo dando xeque-
mate e meu cliente saindo inocentado. E o caso Brat não foge à
regra. A promotoria pode ter muitas provas, mas todas são vagas,
sem estruturaspara se manterem. Eles alegam que Brat assassinou
a sangue frio a esposa e seu amante, mas há muitas controvérsias.
Nenhuma câmara da residência comprova a entrada dele dentro da
casa, muito menos acharam a arma do crime, e não há uma única
testemunha. Consegui seu habeas corpus[15] com uma fiança
estipulada em cem mil dólares, a qual ele pagou imediatamente.Um
homem íntegro diante da sociedade, com uma grande fortuna
avaliada em mais de dois bilhões de dólares.
Respiro fundo enquanto ando pelo hall do edifício, sabendo
que Max está caminhando ao meu lado, com seus olhos presos na
porta. Dou uma olhada de lado para ele, ainda sem compreender o
que ele quer. Nossa amistosa conversa no elevador, pelo visto, não
foi o suficiente.Não que eu não tivesse boa convivência profissional
com Maximiliano, mas minha amizade é com Pietro. Raramente
troco algumas palavras com Max, nossas ideias não são
compatíveis.Max é um idealista que ainda acredita na bondade
humana, e sei que ele condena minha forma de trabalhar.
— Quer me dizer alguma coisa, Max? Ou apenas está
emocionado com nosso momento dentro do elevador?
— Na verdade, eu quero. — Max para na saída do edifício,
gira seu rosto para mim e abre a porta, apontando para fora.
Caminho a passos lentos para a calçada, me virando com
calma, confrontando seu olhar, me sentindo enfadonho com sua fala
maçante.
— Como meu irmão falou, Self foi designada para ser sua
secretária. Confesso que preferia ela sendo minha secretária, pois
trabalhamos bem juntos.
Ouço a voz de Max e o encaro sério, travando meu maxilar a
cada palavra que sai dos seus lábios.
— Compreendo. Me parou na saída do prédio para reivindicar
sua pupila?
— Poderia não ser sempre tão cínico,Ariel — ele fala com a
voz contrariada. Na sequência, esfrega seu rosto e respira fundo. —
Não estou aqui para pedir que troque de secretária comigo. Até
acho que vai ser bom para vocês dois trabalharem juntos,
principalmente para Self. Ela é uma pessoa esforçada, o que ela
não souber, ela vai dar um jeito de aprender, para poder ser útil para
você...
— Mas? — o indago, querendo saber onde ele quer chegar
com essa conversa.
— Apenas não seja um babaca com ela, como foi com as
estagiárias, sim?
Sorrio friamente para ele, retirando a chave do meu carro de
dentro do bolso do terno e olhando para ela, a balançando em meus
dedos.
— Noto que se preocupa muito com a senhorita Self. —
Arqueio minhas sobrancelhas, mantendo meu olhar sério quando
encaro sua face. — Algum interesse específico, Maximiliano?
— Cris é uma boa amiga, tenho um carinho especial por ela.
Conheço sua fama carrasca, Miller. Cristina não precisa de um
otário egocêntrico a diminuindo. Pode ter certeza de que eu vou
estar com meus olhos em você!
— Uma via de mão dupla, Maximiliano. Lembre-se que
também te conheço. Assim nós dois podemos ficar um de olho no
outro. Se me recordo bem do que seu irmão me contou, sua fama
conquistadora ainda continua a mesma da época da faculdade —
falo sério, esmagando a chave em minha mão. — Se conhece tão
bem assim minha fama, como diz, sabe que não costumo ser
complacente com distrações da minha equipe de trabalho.
Me afasto dele e caminho para meu carro, desejando poder
ter socado sua boca. Max ter me parado, apenas para me confrontar
dessa forma, só mostra que os boatos de como a senhorita Self
conseguiu esse emprego são verdadeiros.
Passo o resto do dia dentro dos fóruns e em reuniões com
juízes, trabalhando em cima dos meus casos. Poderia dizer que
realmente gosto dessa burocracia, e não que estou protelando meu
tempo, para não ter que voltar para o escritório e me sentir atraído
pelos olhos de coruja da doce vênus que me virou do avesso, mas
eu estaria mentindo, pois tive certeza que foi exatamentepor isso
quando retornei ao fim da tarde e me senti agitado ao olhá-la, a
encontrando dentro da sala, arrumando os documentos em cima da
minha mesa. Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos suas
curvas suaves, moldadas por sua pele macia, tão quente, que se
encaixou tão perfeitamente em mim, jamais acreditaria que por
baixo da saia comprida até suas canelas e da blusa sem vida, existe
uma mulher apaixonante. Ela se vira, distraída, se assustando
quando me vê parado dentro da sala, atrás dela.
— Eu não o ouvi. — Seus dedos vão ao rosto e arruma seus
óculos, endireitando-os sobre seu nariz. Prefiro seus cabelos soltos,
moldando sua face, salientando as covinhas que tem em suas
bochechas quando ela ri.
— Como foi seu retorno? — Tento respirar o mínimo que
posso, para não ser traídopelo meu próprio corpo a cada segundo
que inalo seu perfume.
— Foi bom, senhor. Consegui ficar a par dos meus novos
afazeres, também gostei de poder rever meus colegas de trabalho.
Sugo as paredes internas da minha bochecha, mordiscando-
as com meus dentes, balançando minha cabeça em confirmação
para ela.
— Analisei seu histórico aqui na empresa e achei
interessante ter uma advogada desempenhando a função de
secretária — falo sereno, caminhando para minha mesa, escorando
minha bunda nela, olhando para a senhorita Self. — Está correta
essa informação, minha cara colega de profissão?
— Na verdade, em partes, doutor. — Os movimentos dos
seus ombros, os encolhendo, me faz ficar atentoem seus braços,
que vão para trás das costas, negando com um movimento de
cabeça. — Me formei em Direito, mas não cheguei a ter meu
registro diante da Ordem dos Advogados.
— Reprovou ou apenas se formou e desistiu da carreira?
Posso saber o motivo para ter abdicado de anos de estudos em sua
formação acadêmica?
— Para ser franca, não pode. — Sua voz não falha quando
ela me responde rápido, respirando com força.
— Que seja! A única coisa que me importa é que sua
formação será útil para mim. Ter alguém que saiba o que quero é
melhor do que ficar me estressando com as estagiárias
temporárias...
— Na verdade, se não abrisse sua boca para despejar todas
essas palavras pomposas do seu vocabulário, elas poderiam
entender... — Ouço seu resmungo, me provocando, o que me faz ter
apenas um leve deslumbre da mulher de língua felina que me
encantou.
— Está me recriminando, senhorita Self, por não ter
paciência com jovens acadêmicas? — Me afasto da mesa, dando a
volta nela com passos lentos.
Sento em minha cadeira e olho para minha mesa organizada
cuidadosamente.
— Eu tomei a liberdade de fazer uma agenda dos seus
compromissos da semana, senhor Miller. — Balanço minha cabeça
em positivo, olhando para ela, que ignora minha pergunta.
Seu rosto ficou gravado em minha mente e me assombrou
por muitas noites, me fazendo ver o brilho dos seus olhos negros
em cada face que enxergava. Não me recordo de ter passado por
isso em toda minha vida, nem com Silvia foi assim. Mas a
atrapalhada senhorita Self tem, de alguma forma, se esgueirado
para dentro de mim, me fazendo ficar condicionado a ela, me
levando do céu ao inferno em uma única noite.
— O senhor recebeu três ligações de clientes antigos de
Nova York, marquei os recados e deixei à esquerda, no bloco
amarelo em cima da sua mesa. Também agendei novos clientes
para semana que vem...
— Como foram suas férias? — pergunto, ansioso, desejando
ouvir qualquer disparate da sua boca atrevida, testandoaté onde ela
se mantém nesse papel de funcionária exemplar.
Quero enxergar a Cris daquela noite, que me encantou, não
essa forma robótica,que repassa seus afazeres e os meus como se
fosse uma inteligência artificial.
— Como?
— Suas férias, relaxou? — Pego uma caneta sobre a mesa, a
rodando em meus dedos. — Bateu em alguém com sua bolsa
estranha e pesada?
Quero ouvir qualquer coisa, um grito, uma risada, algo natural
e espontâneo, qualquer sinal de calor daquela mulher que ela
esconde dentro dela a sete chaves. Seu lábio superior suga o canto
do inferior, mordiscando sua boca lentamente.Seus olhos piscam,
com ela desviando-os de mim, olhando para a janela do escritório,
respirando fundo, batendo seus pés no chão.
— Ariel, eu estou...
— Você voltou, Miller. — O som da voz estridenteda mulher
parada na porta da sala silencia as palavras de Self.
Ergo meus olhos para Malvina. Nunca odiei tantoela como
estou nutrindo esse sentimento agora.
— Passei o dia no fórum, agora a senhorita Self está
passando minha agenda para mim. Gostaria de esperar lá fora até
nós dois terminarmos nossa conversa? — falo sério para a
advogada trabalhistado segundo andar, que está a me infernizar há
vários dias.
— Na verdade, já terminamos, senhor — Self fala rápido,
quase como se estivesse aliviada pela intrusão de Malvina.
— Mas eu não. — Olho para Malvina, a deixando
compreender que desejo que ela saia.
Mas, ao invés de sair, ela apenas se mantém na porta, com
seus braços cruzados.
— Precisa de mais alguma coisa, senhor Miller? — Volto meu
olhar para a senhorita Self e a vejo se encaminhar para sua mesa.
— Amanhã terei uma audiência de apresentação de provas,
você vai me acompanhar. — Solto a caneta, falando sério para ela.
— Mas eu sou funcionária interna, não faço serviço de
campo. Max nunca me pediu para acompanhá-lo.
— Como pode ver, não sou Maximiliano.
— Mas não vejo necessidade de precisar de uma secretária
nos tribunais... — Ela se cala, notando pela minha expressão facial
que não estou nem um pouco inclinado a mudar de ideia. — Como
desejar... — O som baixo da voz de Self sai em tom bravo, me
dando um pequeno sinal de zanga. — Já estou no meu horário,
posso ir ou deseja mais alguma coisa?
Arqueio minha sobrancelha, lhe dando um sorriso malicioso.
Nego com a cabeça, erguendo minha mão, a dispensando.
— Excelente, isso quer dizer que não preciso ficar lá fora. —
Malvina se desencosta da porta, caminhando pela sala, puxando a
cadeira que fica de frente para minha mesa. — Bom descanso, meu
anjo!
Acompanho o andar apressado de Cris para fora da sala,
mantendo seus olhos ao chão.
— Passei três vezes por aqui hoje, para saber se já tinha
chegado.
— Estava ocupado, trabalhando — respondo seco, me
levantando e caminhando para a porta da minha sala, segurando a
maçaneta dela.
— Imagino, ainda mais agora com esse caso que pegou...
Minha mente se desliga do que Malvina tagarela dentro da
sala, me concentrando apenas na imagem de Cris caminhando para
o elevador, deixando um sorriso largo em sua face se abrir, o
mesmo sorriso que eu desejo ver, mas que não é direcionado a
mim, e sim a Max, que se aproxima, conversando e entrando no
elevador junto com ela.
— Vai quebrar desse jeito. — A risada de Malvina me faz
virar para ela, sem entender o que ela fala.
— Desculpe, mas o que disse?
— A maçaneta. Está segurando-a tão forte, que cheguei a
ouvir o estalo do metal, então disse que vai quebrar. — Movo meus
olhos para lá, vendo os nervos dos meus dedos vermelhos pela
pressão que faço.
Solto a maçaneta, esfregando minha mão, olhando apenas
uma vez na direção do elevador, onde os dois partiram.
— Estava pensando, o que acha de irmos jantar juntos essa
noite?
— Tenho trabalho a fazer, mas agradeço seu convite,
Malvina. — Caminho para minha mesa, me sento na cadeira e olho
para o pequeno bloco, com as anotações que Cristina deixou. — Se
recorda sobre aquele boato que me contou sobre Max e a senhorita
Self?
— Oh, aquilo nunca foi comprovado! Max sempre alega que
só a vê como uma irmã caçula. Sabe como são os funcionários,
adoram aumentar — ela fala, rindo, olhando para mim. — Mas,
como diz o ditado, onde há fumaça, há fogo, e Max nunca escondeu
a superproteção que tem com ela. Pelo que me recordo, acho que
Cristina foi uma cliente dele... Tem certeza de que não quer ir
jantar?
Nego com a cabeça, repousando meu olhar na cadeira vazia
da mesa ao canto da sala.
Capítulo 09
Gatilhos
Cristina Self

Me sinto tola e humilhada com a forma que Ariel vem me


tratandono decorrer das duas semanas, piorando gradativamentea
cada dia que se segue. Ariel faz de tudo para fazer eu me sentir
mal, sendo grosseiro e tirano com suas demandas e perfeccionismo.
Ele faz questão de ser estúpido e desagradável, e cada vez mais
vou desistindo de lhe contar sobre a gravidez. Mas não é apenas
com seu mau humor que tenho que lidar, estou há três dias sem
dormir, sem pregar o olho, me sentindo aterrorizada com o pavor
que me assola.
Começou com dois telefonemas durante o dia, um de manhã,
antes de eu sair para trabalhar;e outro à noite, quando já estava em
casa. Ninguém fala nada, fica apenas a respiração pesada do outro
lado da linha, fria e apavorante, como se ele quisesse me avisar que
está se aproximando. Então a quantidade de telefonemas
aumentou. Renan liga constantemente, toda noite, seja no celular ou
no telefone fixo, me aterrorizando apenas com sua respiração
pesada do outro lado da linha. Cheguei ao ponto de desligar todos
os aparelhos e me trancar dentro do meu quarto. À noite, fico
olhando para fora da janela do meu apartamento,escondida pela
cortina, tendo a certeza que ele está em algum lugar me vigiando.
Já deixei uma enxurrada de ligações no celular da minha mãe,
comuniquei à polícia, mas eles não me ajudam, não fazem
absolutamentenada, já que o número que me liga está codificado
como desconhecido. Não tenho como provar que é o Renan, mas
eu sei, tenho certeza de que é ele. Não tive nem tempo de
conversar com Max sobre isso, pois ando tão soterrada de trabalho,
tendo que andar de um lado ao outro atrás de Ariel, entre fóruns e
audiências.
Antes, raramente eu tinha que sair do escritório, agora,
depois que fiquei designada a ser a secretária particular dele, o
acompanho por todos os lados, o auxiliando em tudo que precisa. É
quase como se ele quisesse me manter longe do escritório quando
não está aqui. E quando está, ele consegue ser terrivelmente
egocêntrico,pairando como um gavião ao meu redor, cuidando para
que eu faça meu trabalho, o qual eu nunca deixei de fazer. Em meio
a todo caos que está me pegando, sou obrigada a ficar na sala,
olhando para Malvina, que vem como uma cadela no cio atrás dele.
Porém, de tudo que ele me faz, minha maior raiva se tornou o
maldito café. Ariel se nega a tomar o café do refeitório. Todos os
advogados tomam o café da maquininha, Max vive lá, se entupindo
de cafeína, e nunca morreu, mas Ariel não. Ele simplesmente tem
aversão de passar perto da sala de café. Sendo assim, tenho que ir
buscar o café dele e o meu, em uma cafeteria que fica uma quadra
acima do nosso prédio. Subo e desço todos os lances de escada,
pois só de imaginar me aproximar do elevador, já passo mal. Invento
todo tipo de desculpa quando ele se encaminha para o elevador, e
já cheguei a dizer que estou optando pela escadaria porque só
assim pratico algum exercício.
Ariel me faz trabalhar como uma escrava, me mantendo
sempre ocupada. Apenas me vejo presa mais e mais em meu
segredo. Se ele já me trataassim apenas porque dormimos juntos,
imagina como ficará ao saber dos bebês? Mas uma coisa eu tenho
que admitir:Ariel é um advogado brilhante, diabolicamente astuto,
que manuseia suas palavras, brincando com os jurados como se
fosse uma criança em um dia ensolarado no parque. Ele tem como
causa ganha o caso Brat, e o álibi é que Stano Brat estava em seu
escritório, com sua assistentepessoal, mantendo seu caso secreto,
na hora que sua esposa foi assassinada junto com seu personal
trainer[16], o suposto amante da vítima.Isso deu a Ariel mais uma
carta na manga. Suponho que por conta de toda minha carga
emocional e da minha destruidora relação com Renan, não consigo
acreditar em Stano Brat, mas prefiro não expor minha opinião para
Ariel. Fico em silêncio, sentada no segundo andar, na primeira fileira
de bancos ao canto do tribunal, acompanhando a audiência,
enquanto o promotor de justiça conversa com os jurados.
— E quando as provas forem apresentadas e todas as peças
estiverem encaixadas, os senhores concluirão — o homem calvo,
franzino e de estaturamediana diz, caminhando diante da bancada,
de uma ponta a outra, sem desviar os olhos dos jurados — que
Stano Brat matou duas pessoas a sangue frio, calculadamente e
com intensão premeditada — o promotor finaliza seu argumento
apontando para o acusado, que está ao lado de Ariel. Seus olhos se
voltam para os jurados, que o encaram complacente. — Obrigado.
Observo as safiras, que brilham em tédio puro na face de
Ariel. Vejo seus dedos, que batem na mesa, cessarem seus
movimentos. Ele ergue seu pulso, verificando o horário em seu
relógio. Ariel se levanta de forma dominante, como o jogador
atacante que entra em campo, segurando os olhares de todos
dentro do tribunal. O magnetismo natural que exala dele dá mais
autoconfiança, tão belo quanto brutal. Seus dedos param em frente
ao blazer do terno, o fechando, caminhando para a banca dos
jurados.
— Senhoras e senhores do júri, sei que passaram a manhã
toda ouvindo o senhor Black falar. — Ele aponta para o promotor,
deixando um olhar ardiloso em sua face quando retorna sua atenção
para os jurados. — Sei que estão com fome, cansados de estarem
há tantotempo sentados nessas cadeiras, mas prometo que serei
breve no que tenho a lhes dizer.
Ariel sorri manso para eles, ganhando a simpatia dos jurados.
As mãos dele se prendem na grade de madeira, dando leves toques
com a ponta dos seus dedos, ficando sério quando se silencia.
— Serei breve e direto. Eu não aprecio Stano Brat, não creio
que seja um ser humano de boa índole. — Os murmúrios se
espalham pelo tribunal assim que Ariel começa seu discurso. — E
realmente não espero que gostem dele.
A face de Stano Brat está carrancuda, se fechando como
uma máscara de ferro. Meus olhos ficam atentos aos gestos de
Ariel, que se vira, caminhando casualmente, como se divagasse
seus pensamentos de forma natural, e não como alguém que está
desmerecendo a credibilidade do seu cliente diante dos jurados.
— Foi um péssimo cônjuge para suas antigas esposas, as
duas que ele teve antes do terceiro casamento. — O tom de voz
rouco aumenta, deixando todos calados, apenas concentrados em
suas palavras. — É uma horrível influência para seus filhos e seus
enteados. Renega suas obrigações com o Estado, burlando os
pagamentos fiscais da sua empresa, usando de manobras para
continuarempurrando seus impostos para debaixo do tapete.E sim,
eu volto a afirmar, eu não gosto nem um pouco dele.
Solto minha bolsa no banco vazio do meu lado, arrastando
minha bunda para a ponta da cadeira, debruçando meus braços no
parapeito de madeira, admirando o diabólico advogado Miller.
— Posso garantir que até o final desse caso, estarão
repudiando o senhor Brat tantoquanto eu. — Seu corpo gira rápido,
olhando os jurados, caminhando em linha reta para eles. — Mas
não estamos aqui para fazer laços fraternos com ele, e sim para
julgá-lo. E o fato incontestáveldesse julgamento, é que meu cliente
estava em outro local quando esses crimes bárbaros aconteceram.
Suas manobras com as palavras vão desfazendo as faces
cansadas dos jurados. Eles o olham com interesse, não perdendo
uma palavra sequer que sai dos lábios do advogado calculista.
— Nosso promotor não está medindo esforços. Rebuscando,
recorrendo a fatos não pertinentes ao caso. — Ariel respira fundo,
erguendo seu indicador. — Mas da minha parte, vou pedir apenas
uma coisa, apenas uma, meus caros jurados. — Suas mãos voltam
a segurar a viga de madeira próxima à banca do júri, olhando sério
para a face de cada um, pouco a pouco. — Perguntem a si mesmo:
não sentir empatia por Stano Blat, por ele ser um homem baixo, que
mantinha relação sexual com outras mulheres, e por ser portador de
grandes falhas de caráter, é aceitável para culpá-lo por assassinato?
Ele os ganha apenas com um olhar. Ariel tem os jurados na
palma da sua mão, de forma astutae fria, distorcendosuas próprias
palavras para ganhar a atenção da banca do júri, os cativando em
sua argumentação desmerecida da péssima índole de Stano Blat.
Ele dá um passo atrás, levando as mãos ao bolso, mantendo
contato visual com eles.
— Desejo um bom almoço a todos vocês! — Ariel fala firme,
se virando e voltando para sua mesa. Seus olhos se erguem
repentinamente, parando em mim, me flagrando o admirando.
Eu achava que o advogado que o pai de Renan tinha
contratadoera cruel, mas ele não passaria de um benfeitor puritano,
de porta de igreja, perto do impiedoso e diabólico Ariel Miller. Abaixo
meus olhos, me sentindo angustiada dentro do tribunal, revivendo
em minha mente todas as lembranças daquele julgamento, no qual
fui desmerecida, silenciada, anulada diante de um monstro que saiu
impune pelo mal que me causou. Me afasto do parapeito, pego
minha bolsa, me levanto lentamente e fujo pela porta atrás da
arquibancada superior. Preciso de vinte minutos dentro do banheiro
para ficar apresentável outra vez, depois de ter tido uma crise de
choro e vomitado todo meu café da manhã. Saio do banheiro a
passos lentos, respirando fundo, arrumando meus óculos em minha
face, a cabeça abaixada, com a mesma forma apática e melindrosa
que saí há quatro anos atrás de dentro desse tribunal.
— Achei que teria que chamar o segurança para entrar lá
dentro e saber se estava viva. — Ergo meu rosto e me deparo com
o grande homem parado à minha frente, me olhando sério.
— Eu acabei sujando minha blusa, precisei limpar. — Aliso
minha roupa, escondendo a barra da camisa dentro do cós da saia.
— Pensei que demoraria mais um pouco, por isso demorei no
toalete.
As safiras gélidas recaem para minha blusa de lã com
desdém, soltando o ar pelas narinas.
— Tenho certeza que deve ter mais umas trinta desse modelo
de mau gosto, uma para cada dia do mês, dentro do seu guarda-
roupa. — Sua voz mordaz é fria, e ele trocasua maleta de uma mão
para a outra. — Venha, a audiência já terminou, temos que almoçar
antes de trabalharmos em cima do álibi de Brat.
Ele gira seu corpo, me deixando para trás, caminhando a
passos duros. Antes que possa lhe mandar à merda e dizer que
minhas camisas não são de mau gosto, Stano Brat passa por mim
como um tratordesgovernado, me empurrando para a parede. Meu
braço se esmaga no concretoe a bolsa desliza dos meus dedos, me
fazendo soltar um baixo som de dor. Quando Ariel se vira, seus
olhos passam de mim para seu cliente.Me abaixo para pegar minha
bolsa, esfregando meu ombro, deparando-me com a face vermelha
enraivecida de Ariel encarando Stano.
— Seu filho da puta engomadinho! Que porra foi essa que
fez?! — A voz baixa de Stano, em tom zangado, sai carregada de
ira ao confrontar Ariel. — Eles vão me odiar por culpa sua!
Ariel é ágil. Em segundos engancha sua mão no braço de
Stano, pegando-o de surpresa e puxando-o para a porta de uma das
salas abertas.
— Self, entre e feche a porta. — Ariel respira rápido, me
ordenando a ir atrás deles.
Fecho a porta da sala com rapidez, e ao me virar vejo o corpo
de Stano sendo empurrado conta a parede por Ariel. Os dedos dele,
presos à lapela do terno, forçam o homem a ficar contido. Fico com
meus olhos arregalados, sem ação, não sabendo o que fazer.
— Tenha mais respeito ao se dirigir a mim, e respeite a minha
secretária. Não está lidando com suas vadias de rua, Stano! — Ele
bate outra vez o corpo de Stano na parede, fazendo o homem se
alarmar, com a voz rouca carregada de cólera.
Ariel o solta, dá dois passos para trás, passa as mãos em
seus cabelos e endireita as mangas do blazer do seu terno.
— Agora preste atenção nas minhas palavras. Muita atenção,
Stano. — Ariel não quebra seu contato de visão com Stano,
apontando para o meio da cara dele com raiva. — Eu vou dar o meu
melhor para que eles odeiem você, que não suportem olhar para
você, porque enquanto estava com seu pau afundado dentro da
boceta larga da sua assistente,seu dedo não estava na porra do
gatilho da arma que matou duas pessoas dentro da sua casa, seu
grande cretino de merda!
Ariel se vira para mim, parando suas safiras em minha face
amedrontada. Sinto meu coração acelerar, bater forte dentro do meu
peito. Atentaà sua face raivosa, vejo-o suavizar suas expressões,
respirando fundo.
— Por que simplesmente não me contou seus planos, não
conversou comigo? — O senhor Brat se desencosta da parede,
endireitando seu terno, tendo um sorriso maléfico nos lábios quando
compreende a estratégia de Ariel.
— Porque você não me paga para conversar, e sim para tirar
seu rabo da reta de uma cena de crime. — Ariel se abaixa, pega sua
maleta, que ele havia jogado no chão, a deixa pendurada em uma
das mãos e leva a outra ao bolso. — Agora peça desculpa para
minha secretária, pelo seu comportamento grosseiro, senhor Brat.
Não me atrevo a falar que não precisa de uma retratação,
não quando a voz de Ariel sai mais rouca que o normal, parecendo
um rosnado alto de um lobo alfa. Stano se move nervoso em minha
direção, com a respiração alterada. Me resigno a abaixar meu olhar,
segurando firme minha bolsa em meus dedos, olhando para as
pontas do meu sapato.
— Claro, onde estão meus modos... Eu lamento pela
grosseria. — A voz tão falsa como uma cobra, fala de forma branda.
Balanço minha cabeça em positivo para ele, me sentindo
sufocada quando ele se aproxima ainda mais de mim, ao ponto de
eu poder sentir o ar da sua respiração. Não consigo explicar, não
consigo ter poder sobre meu corpo quando ele se aproxima de mim,
invadindo meu espaço pessoal, esticando sua mão. Meu corpo se
encolhe de medo, como se eu estivesse diante de um predador. É a
mesma sensação que eu tinha quando Renan se aproximava de
mim, falando com uma voz mansa. Sinto a fisgada em meu
pescoço, a transpiração que aumenta em minhas mãos. O medo me
engole, a dor em minha cabeça é grande, como se fosse explodir.
Estar dentro desse tribunal, e ter esse homem frio e cruel perto de
mim, desencadeia lembranças dolorosas. Sinto as memórias me
sufocarem, como se estivesse revivendo todo o abuso que sofri com
Renan.
— Está tudo bem, senhor Brat. — Balanço minha cabeça
outra vez em positivo, me afastando da porta, abrindo-a o mais
rápido que posso, precisando sair de dentro desse cômodo.
E é apenas quando saio para fora do prédio do tribunal de
justiça, que consigo respirar com alívio. Retiro os óculos e esfrego
minha face, intercalando entre respiradas longas pela minha boca e
dispersão do ar pelas narinas, até meu coração desacelerar. Recolo
meus óculos e fecho meus olhos.
— Me dê sua mão! — A voz enérgica me deixa sobressaltada
quando seus dedos puxam minha mão para as suas, fazendo minha
respiração voltar a ficar desregular.
— O que pensa que está fazendo? — Ele gira minha mão,
sentindo a pele suada, logo erguendo seu dedo, esfregando em
cima da veia do meu pulso. — Oh, meus Deus!
Ariel segura minhas costas, espalmando uma de suas mãos
abertas nela, sua outra mão vai para meu rosto, baixando os óculos,
como se estivesse analisando minhas pupilas.
— Oh, céus, dá para parar? Está chamando a atenção das
pessoas. — Tento me afastar de Ariel, mas isso apenas o faz me
prender mais, colando seu corpo ao meu.
— Há quanto tempo está sofrendo com esse transtorno?—
Ele entrega meus óculos para mim e ergue sua mão para meu
pescoço, passando seu dedo na veia que pulsa rápido em minha
pele.
— Não tenho transtorno algum, Sherlock Holmes —
resmungo brava, não compreendendo o que ele está fazendo. Levo
meus óculos para minha face, o estapeando quando ele tentavoltar
seus dedos curiosos para minha garganta.
— A transpiração na sua mão, seu batimento cardíaco
acelerado, o sangue que pulsa em sua veia... — ele fala sério,
pensativo, olhando para minha boca. — Seu corpo se retraiu com a
aproximação explosiva do senhor Brat, da mesma forma que se
encolheu de medo quando eu me alterei dentro da minha sala. E
você se esquivou do aperto de mão dele agora há pouco, por medo.
— Para. — Forço meu corpo para trás, apertando minhas
mãos em seu peito, tentando me afastar dele. — Por favor
, me solte,
doutor Miller.
— O que desencadeou esse transtorno de estresse pós-
traumático[17], Cristina? — Pisco, confusa, sendo esmagada de
dentro para fora por seu olhar penetrante.
— Já pedi para me soltar. Não sofro com transtornoalgum...
— falo brava, virando meu rosto para o lado, não suportando ter
mais o peso do seu olhar inquisidor em cima de mim. — E mesmo
se sofresse, você seria a última pessoa a saber os motivos, então
me solte, doutor Miller! Não sabia que a Ordem dos Advogados
agora está carecendo de graduação de psicanálise para seus
pomposos doutores.
Seu toque em minha face é brando. Respira profundamente,
relaxando o aperto, apenas me mantendo junto a ele.
— Não seja obtusa, Cristina. Tenho anos de prática como
advogado criminalista, sei ler bem o comportamentohumano... —
Se cala, ficando em silêncio por um breve tempo, olhando para meu
rosto, repuxando o cantodos lábios. — Achou que eu iria lhe agredir
aquele dia, dentro do meu escritório, não foi?
— Ariel, por favor... — Minha voz baixa sai envergonhada,
não quero lhe confessar que meu corpo paralisou de medo com o
repentino ataque de fúria dele. — Me solte, por favor
.
Ariel tira sua mão das minhas costas, mas ainda posso sentir
seu olhar em cima de mim. Fecho meus olhos, respirando fundo,
esfregando minha nuca para amenizar a dor latente que sinto nela.
— Não procurou ajuda médica? — A voz dele mantém o tom
autoritário,mesmo soando baixa. — Não, óbvio que não procurou.
Seu trauma está ligado ao motivo que a fez desistir da carreira em
Direito?
Volto meus olhos aos seus, me odiando por ficar à sua frente
como um livro aberto. Me senti tão humilhada ao ter minha sanidade
mental testadadentro desse tribunal, sendo vista como uma mulher
desequilibrada, que não tive coragem de procurar ajuda médica
quando os ataques de estresse pós-traumáticocomeçaram. Minha
memória se recordava dos chutes, murros, gritos, e eu revivia o
episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento, com a
mesma sensação de dor e sofrimento que senti no brutal dia. E
conforme comecei a reconhecer os gatilhos que me acionam, com o
tempo apenas os evitei. Porém, não posso contar para Ariel sobre
como sofro com o estado medroso e tão frágil que me tornei. Estou
andando entre a cruz e a espada, sem saber qual predador vai me
machucar primeiro. Se será Renan com sua perseguição, ou Ariel
quando descobrir sobre a gravidez. Ele pode ser tão brutal quanto
Renan, não me refiro fisicamente, mas tirando meus filhos de mim.
Eu o vi por todos esses dias em ação dentro do tribunal, e o que
seria de mim diante da sua astúcia? Renan já me tirou tanto,me
destruindo de todas as formas, mas Ariel me mataria se arrancasse
meus bebês de mim. Eu passei anos da minha vida me
amargurando, me amaldiçoando por acreditar que eu não poderia
ser mãe, e agora que eu tenho meus tesouros, vou protegê-los com
todas as minhas forças.
— Eu estou bem, ok? — Mordo meus lábios, o encarando.
Ariel mantém seu olhar severo, não comprando minha mentira. —
Não gosto de Stano e muito menos confio nele, foi por isso que não
apertei a mão dele. Sinto muito se ofendi o cliente.
— Foda-se o Stano! — Ariel gira seu corpo, caminhando duro
pela calçada. — Caminhe, babá McPhee, não tenho o dia todo para
lhe esperar para o almoço.
Respiro fundo, me sentindo aliviada por esse breve momento,
sabendo que ele está voltando sua mente para o caso Brat.
Relaxo meu corpo na minha cadeira, no escritório de Ariel,
enquanto ele repassa o álibi com a assistente pessoal de Stano
Brat.
— Senhorita Violet, confirma que na segunda-feira do dia 02
de julho de 2021, passou do seu horário de expediente porque
estava esperando o escritório estar vazio para ter relações sexuais
com o acusado?
— Sim.
— Então o senhor Stano não é apenas seu patrão, mas
também seu amante?
— Sim, está correto, estamos juntos há um...
— Pare! — A voz rouca de Ariel silencia a mulher sentada à
minha frente, enquanto ele anda de um lado ao outro da sala, com
as mãos nas costas. — Não se engane com o promotor, senhorita
Violet, ele não vai ser brando e muito menos fácil, pelo contrário, irá
fazer perguntas ardilosas, que vão lhe deixar abstraída.O ritmo dele
consiste em arrancar muito mais da senhorita do que apenas seu
testemunho.Se obtenha apenas em dizer “não” e “sim”. — Ariel se
vira, a olhando sério. — Compreendeu?
— Sim, senhor Miller, eu entendi...
Ariel arqueia as sobrancelhas, a fazendo se calar com
apenas um olhar de advertência.
— Sim — ela responde baixo, cruzando suas pernas,
deixando as coxas aparecerem.
Fico em silêncio, observando a mulher que alega ser o álibi
de Stano. Alta, esbelta, com os cabelos vermelhos de fogo
compridos, unhas bem-feitas e maquiagem impecável. Entretanto,
não sei o motivo de não conseguir vê-la se deitando com o senhor
Brat, não porque ele seja um velho gordo ordinário, mas sim porque
Stano é reservado. Nenhuma das suas amantes anteriores, que
estão nos relatórios, têm o perfil da senhorita iolet.
V
— Pode confirmar, senhorita Violet, que das 19h30 até as
20h56 estava tendo relações sexuais com o acusado dentro do
escritório dele?
— Sim.
— E no decorrer dessas horas, onde comungava a ligação
carnal, não se distanciou do senhor Brat em momento algum?
— Não, não perdi nenhuma das bolas dele de vista! — ela
fala, rindo de forma vulgar, olhando para mim.
— Ele precisou ir ao banheiro?
Demoro um segundo para compreender o que ela falou,
enquanto Ariel mantém o ritmo do interrogatório com a testemunha.
— Uma bola... — sussurro, pensativa.
— O quê? — A moça ri, olhando de mim para Ariel, confusa.
— Self? — Giro meu rosto para Ariel, que caminha e para ao
meu lado.
Me levanto e caminho para a mesa dele, puxando o arquivo
perto do computador, procurando pela informação que tinha
levantado. Eu tive que estudar a vida de Stano Brat, parte por parte,
na terça à noite. Ariel investigou de nota fiscal de banca de jornal
até o último fio de cabelo que cai da cabeça daquele verme do
Stano quando se deita para dormir no travesseiro. Acho minha
informação, confirmando meu pensamento.
— Disse bolas, não foi? — Ergo meu rosto, perguntando para
Violet. — No sentido plural.
— Sim, disse.
— Quantos sacos o senhor Brat tem, senhorita Violet? —
Caminho para ela, parando na frente da mulher.
— O que isso tem a ver? Achei que quem me interrogaria
seria o advogado...
— Responda-a! — Ariel fala firme, a encarando. — Está
fodendo com seu patrão há mais de cinco meses, não tem como
errar uma pergunta dessa!
A face dela fica vermelha, e quase posso sentir pena pela
forma como o olhar de gelo de Ariel a incrimina.
— Ele tem dois, como todo homem!
— Senhor Brat sofreu um acidente de bicicletaquando tinha
seis anos, colidiu contra um automóvel. — Solto a pasta aberta
sobre minha mesa, virando meu rosto para Ariel. — Ele perdeu um
dos testículosno acidente. Os médicos removeram o saco escrotal
inutilizado, ele tem apenas um.
— Filho da puta!
Ariel entende imediatamenteque ela está mentindo. O álibi
de Stano Brat é tão falso quanto ele.
Capítulo 10
Terror noturno
Cristina Self

O som dos rosnados de fúria na outra mesa, próxima à


janela, me faz olhar para o homem bravo, que esmaga uma bola de
tênis em sua mão, enquanto grita no telefone.
— Já lhe disse que não vou levar Violet para testemunhar no
tribunal! — Ariel está quase espumando de raiva, enquanto
conversa com Stano. — Quer saber o motivo? Então vou lhe dizer o
porquê, seu cretino de merda! Sua assistentevadia está mentindo,
assim como você, Brat! E vou lhe falar mais uma vez, sou a única
pessoa em quem você pode confiar para livrar seu rabo da pena
máxima! Se não me contar a verdade do que aconteceu aquela
noite, pode procurar outro advogado!
Ariel desliga o telefone com raiva, jogando a bola que tem em
seus dedos na lixeira, a qual ele estava usando como cesto. Ele se
arruma de frente para a tela do computador e pega a caneta em
cima da mesa, erguendo seus olhos para mim. Desvio meu olhar
dele na mesma hora, voltando para meus relatórios. Não precisa ser
um gênio para saber que a mentira do álibi da senhorita Violet
desestabilizou o caso. Ariel vai ter que usar outras manobras e
estudar o caso por completo novamente. Eu não disse a ele o que
penso, que dentro de mim tenho quase certeza de que Brat
realmente cometeu o assassinato a sangue frio da esposa e do
personal trainer, todavia, no fundo, desconfio que Ariel saiba disso
desde o começo, no segundo que Stano passou pela porta do
escritório solicitando seus serviços. E isso apenas diminui cada vez
mais minha vontade de contar para ele sobre os bebês. Ele retira o
aparelho do gancho e disca rapidamente, cerrando o maxilar.
— Tenho um serviço para você, preciso que venha para a
Califórnia! — Sua voz enérgica é séria. Aperta o aparelho em suas
mãos e desliga logo em seguida.
O som da porta da sala sendo aberta me faz olhar para a
face risonha de Max, que bate lentamente na madeira, me olhando.
— Poderia roubar sua secretária por uma hora, Miller?
Max invade a sala, rindo para mim. Me sinto feliz, pelo menos
há um pouco de compaixão nesse escritório.Finalmente terei tempo
para conversar com Max sobre o que vem acontecendo:as ligações
insistentesfora de hora, o aparecimentode Renan no meu prédio, e
se tiver um pouco que seja de coragem, lhe confidenciar sobre estar
grávida. Retiro meus óculos, sorrindo animada para Max, que desvia
seus olhos de mim para o homem carrancudo sentado na outra
mesa. Ariel quebra sua atenção de Max, repousando sua carranca
em mim, e vejo seus dedos se esmagarem em volta da caneta que
há em seus dedos, respirando fundo.
— Creio que terá que ficar para outro momento. — Ele me dá
um balde de água fria no instanteque sua boca cretina se abre. O
vejo ficar de pé e estufar seu peito, sorrindo falsamente para mim.
— A senhorita Self tem um compromisso agora — ele diz sem um
pingo de compaixão, dando de ombros.
— Mas agora? — Max olha para seu pulso, negando com a
cabeça. — Está quase no horário do almoço.
— Ela almoçará aqui. Preciso de Self, estou fechando o caso
Brat, estamos a poucos dias da próxima audiência. Ela vai me
ajudar a rever alguns pontos que possam ter ficado em aberto.
— Bom, se é assim, fica para próxima então, meu anjo. —
Max me dá um sorriso triste, piscando para mim. Retribuo seu
carinho apenas com um sorriso amarelo, não disfarçando minha
tristeza por não poder conversar com ele. — Depois nos falamos.
— Claro... — sussurro em resposta, levando meus óculos de
volta para meu rosto.
Volto meu olhar para as porcarias dos documentos, me
afundando na cadeira, ficando chateada. Assim que Max parte, ouço
os passos pesados de Ariel andando rumo à porta, a batendo com
força demasiada, tão forte que faz os quadros da parede
balançarem. Fico parada, sem saber o que dizer com o estranho
rompante de agressividade que ele tem. Não consigo evitar o
encolher dos meus ombros. Me sinto amedrontada toda vez que
algum homem se altera próximo a mim, e isso me tira da minha
zona de conforto. E apenas para piorar, como ando com os nervos à
flor da pele, só o som da sua respiração enérgica já é o suficiente
para me engatilhar todas as lembranças ruins do que Renan fez
comigo. Permaneço olhando para os documentos, com minha
cabeça abaixada, voltando a digitar os processos pendentes, nos
quais eu trabalhava.
— Me diga, deu o mesmo tratamentopara Max, Cristina? —
Sua voz amarga infesta a sala feito veneno, saindo ríspida por seus
lábios.
Levanto meu olhar para a face endurecida de Ariel,
compreendendo o que ele está insinuando. Não preciso ser um
gênio para saber que os malditos boatos sobre eu ter dormido com
Max já chegaram em seus ouvidos. E como posso me defender
diante do seu olhar acusador, o qual me julga impiedosamente, se já
me condenou como culpada?
— Qual é o meu compromisso urgente, senhor Miller? —
pergunto baixo para ele, tentandonão ficar mais nervosa do que já
estou, para não prejudicar meus bebês.
Sua boca se esmaga. Passa seus olhos pela sala e abre um
sorriso gélido em seus lábios.
— Tão prestativa, babá McPhee. — Sua voz zomba de mim
de forma malvada, caminhando para perto da minha mesa. —
Responda minha pergunta.
— Não me chame assim — falo brava, odiando-o com todas
as minhas forças por estar me julgando dessa maneira. — Já
separei alguns documentos sobre o caso Brat, senhor. Está na
minha hora de almoço... — Me levanto, querendo fugir dessa sala,
não suportando mais a forma fria que ele me olha.
Sua mão se fecha com força em meu braço, me assustando
quando ele me puxa, me fazendo ir de encontro a ele. Ergo minha
face e encontro seu olhar frio próximo ao meu rosto, com sua boca
esmagada, puxando o ar pelo nariz, como se fosse um touro bravo
que apenas enxerga vermelho à sua frente.
— Responda a porra da pergunta, Cristina! Trepou com Max
igual fez comigo? — ele rosna perto do meu rosto, espumando de
ódio por sua boca. — Ou manteve essa forma fria e distante, o
deixando iludido, sem saber a verdadeira mulher selvagem que se
esconde por trás desses óculos?
— Me acusa como se dormir com você fosse algo
premeditado. Do que o nobríssimo advogado Miller se esquece tão
facilmente, é que quem sabia a verdade aquela noite era você! —
Soco com raiva o ombro dele, querendo que me solte. — Você, seu
cretino! Você sabia que eu tinha me enganado e mesmo assim se
divertiu, brincando comigo, manipulando minha mente como se eu
fosse mais uma da sua banca de jurados burros!
— Não seja ingênua, Self. — Sua mão me aperta com o
dobro de força, me fazendo encará-lo. — Em nenhum momento eu
afirmei ser um garoto de programa, todos os pensamentos e
certezas foram apenas seus.
— Seu bastardo! Você também não negou, preferiu continuar
brincando comigo, então não ouse abrir essa sua boca arrogante
para me fazer acusações com sua forma desagradável!
— Forma desagradável para mim é ver a porra do
Maximiliano entrando nessa sala feito um cachorrinho, abanando o
rabo toda vez que você olha para ele... — Sua voz escorre veneno
por sua boca, me deixando presa por suas mãos, enquanto destila
sua raiva. — Ansioso para ver a mulher sedutora de lingeries sexys
e provocativas que se esconde por baixo dessa carapuça mórbida
em que você se fechou.
— Você não tem o direito de me falar isso! — Tento me
afastar dele, mas isso apenas o faz me puxar para mais perto,
prendendo sua outra mão em minha cintura.
— Não se engane, meu bem, tenho todo o direito. — Ariel é
rápido, soltando meu braço, me mantendo presa pela cintura,
arrancando os óculos da minha face. Ele os joga sobre minha mesa,
me empurrando para trás, fazendo minha bunda ficar esmagada na
mesa. — Tenho todo o maldito direito desde o momento que meu
pau se afundou dentro da sua boceta.
— Seu cretino de merda! — Tento o estapear com ódio, mas
sinto sua grande mão soltar o coque dos meus cabelos. — Filho de
uma puta depravado, não tem direito algum de falar assim comigo
apenas porque se meteu no meio das minhas pernas!
— Aqui está! — Ele range seus dentes, me olhando eufórico,
com suas safiras brilhando zangadas. — A pequena vênus, a
provocadora de boca ligeira, é essa mulher que Max conhece? É
essa versão que ele vê o rosto se torcer tão lindamente quando
chega ao clímax?
Minha mão estoura em sua face, a deixando vermelha,
enquanto meu corpo todo treme de medo, raiva e ódio, encarando
esse homem maldito que virou minha vida de pernas para o ar. Ariel
esfrega seu rosto onde minha mão o acertou, estou assustada com
a explosão agressiva que acabei de ter. Meus olhos ficam
arregalados quando sua mão se prende firme em meus cabelos, os
puxando para trás, mantendo minha cabeça parada.
— Vou tomar esse seu pequeno ato de bravura como um
não, doce vênus. — Sua voz rouca fala raivosa, rosnando com ira.
— Max, com toda certeza, não teve nem um minúsculo vislumbre
dela. — Ariel abaixa seu olhar para minha boca, me deixando ver as
safiras ficando claras como um céu ensolarado. — Não, ele não a
viu, muito menos ouviu os gemidos suaves que escapam dos seus
lábios, fazendo o homem que a fode se sentir um maldito imperador,
por ser o responsável pelo prazer que floresce dentro do seu corpo.
É um bote rápido, como o de um predador selvagem sem
piedade, que o faz massacrar meus lábios com um beijo duro e
perverso, cheio de turbulência. Meus dedos se achatam em seu
braço e me seguro no terno dele, enquanto me pressiona contra a
mesa. Sinto meu corpo sendo aceso entre a raiva e a saudade pelo
sabor dos seus lábios colados aos meus. Mesmo de forma dura e
ríspida, obrigando minha boca a se abrir para dar passagem para
sua língua felina, sua mão em minha cintura sobe lenta, afagando
minhas costas, me fazendo ronronar em seus braços, me
desfazendo pouco a pouco.
Não existe nada lá fora, nem aqui dentro dessa sala. Não tem
mais Renan, nem os terrores noturnos, apenas a emoção de estar
sendo aplacada por seu beijo devasso e cruel. Noto suas pernas se
infiltrando entre as minhas, afastando minhas coxas, esfregando seu
joelho no centro do meu quadril. Gemo com mais luxúria com o
raspar dos tecidossobre minha boceta.Meus dedos se desprendem
dos seus braços, enlaçando seu pescoço, me deixando presa a ele.
Sinto dor quando seus dentes mordem meu lábio inferior, o sugando
dentro da sua boca. A mão firme arrasta minha saia para cima,
apalpando minha coxa com posse. Ariel solta meus lábios, beija
meu queixo e escorrega sua boca para minha garganta. Fico
perdida em um estado lascivo, no qual ele me consome. Minha
cabeça tomba para trás e mordo minha boca, gemendo baixo assim
que seus dedos tocam o tecido da calcinha, o que o faz soltar um
ruídorouco da garganta ao sentir a renda molhada, o deixando mais
dominador. Seguro em seus ombros, navegando em um mar
perigoso, ao qual o grande tubarão me leva, infiltrando seu dedo
dentro da calcinha, inflamando minha boceta apenas com um único
toque escorregadio para dentro dela.
— Ariel... Ohhh!
— Preciso ouvir dos seus lábios, pequena. — Sua face se
ergue, me beijando com luxúria, retirando mais gemidos dos meus
lábios com seu beijo bruto. — Dormiu com Max?
Eu quero abominá-lo, quero me desvencilhar do seu toque e
tomar o controle do meu corpo, mas não consigo, não quando ele
me castiga, me fodendo com seu dedo, o empurrando duro dentro
de mim, e ao mesmo tempo me acalentacom beijos quentes. Fecho
meus olhos, cravejando minhas unhas em seu ombro,
choramingando baixo a cada sensação que se desperta dentro de
mim. Nunca foi assim, Renan nunca me tocou dessa maneira tão
possessiva, nenhum homem jamais tinha me tocado dessa forma,
silenciando meus pensamentos. Seu polegar para em cima do meu
clitóris, o achatando enquanto o massageia. Estou sendo empurrada
à deriva, a línguaquente marca meu pescoço, pairando sobre a veia
da minha garganta com sua boca se fechando, me chupando com
pressão. Ariel introduz outro dedo, aumentando o ritmo das
estocadas.
— Diga-me, Cris. — Ouço sua voz próxima ao meu ouvido
trazer arrepios para meu corpo, mantendo seus dedos perversos me
fodendo.
— Não... Oh, Deus, não... — Minha cabeça se inclina para
frente, tombando meu rosto em seu peito. Meus dentes se cravam
em sua camisa, para abafar meus gemidos.
Meu corpo implora por mais, como se reconhecesse cada
toque dele, o cheiro, o calor, me condicionando apenas a Ariel.
Poderia lhe confessar todos os meus temores apenas para que ele
não me abandonasse justo agora. O som das batidas na porta da
sua sala nos tira desse momento de loucura no qual nos
encontramos. Ariel grunhe com ódio, retirando os dedos de dentro
do meu corpo, e eu quero chorar, quero segurar seu pulso para que
ele não se afaste. Ele mantém seus olhos aos meus, levando seus
dedos para sua boca, os sugando sem resquício algum de
acanhamento.Territorialista,ama o estado em que me abandonou e
a resposta que ouviu. Minhas mãos trêmulas abaixam minha saia e
puxo o ar com força. Sinto meu peito bater acelerado e me
desencosto da mesa com minhas pernas bambas.
— Pode entrar! — Sua voz rouca é brava, com a insistência
das batidas na porta aumentando.
Ariel se vira e caminha silencioso para sua mesa, com sua
face sombria.
— Queria saber se poderia me tirar algumas dúvidas... Cris
ainda não foi almoçar? — Olho para o chão, não tendo coragem de
encarar doutor Pietro, apenas negando com a cabeça. — Estão
trabalhando? Não queria interromper...
— Não, está tudo bem, senhor. Eu estava indo buscar nosso
almoço... — Me viro rápido, pegando minha bolsa pendurada em
minha cadeira, não olhando para nenhum dos dois homens dentro
da sala.
Saio da sala feito um furacão, nem olho para trás, apenas
caminho depressa. Vou direto para as escadas, respirando com
força quando me encontro sozinha, longe dos olhos dos outros
funcionários. Me encosto na parede e esfrego meu rosto, sentindo
meus lábios inchados e doloridos por conta da forma bruta como
Ariel me beijou. Arrumo minha calcinha e a sinto melada pela minha
boceta. Eu perdi completamentea lucidez. Como me deixei levar
por seu toque outra vez? Se Pietro não tivesse batido naquela porta,
eu teria me entregado outra vez para Ariel, com tantaurgência e
necessidade, que seria até maior do que quando me entreguei na
primeira vez que estive em seus braços.
Ergo meus cabelos, os arrumando no coque outra vez,
usando as pontas dos cabelos para prendê-lo, sentindo minhas
pernas fracas. Consigo me movimentar outra vez, sem perigo que
eu desmorone no chão. Tento pôr meus pensamentos em ordem,
não querendo cair nessa armadilha a qual meu coração está me
puxando. Desço as escadas lentamente, querendo poder correr
para meu apartamentoe ficar trancada lá dentro. Assim que saio do
prédio, ando até o restaurante da esquina, rezando para que ele não
esteja cheio, para que eu possa ficar o menor tempo possível lá
dentro. Ao chegar lá, para meu prazer, fico grata por não ver tantas
pessoas. Faço meu pedido e fico próxima à janela, o que diminui
meu mal-estar, causado pelos cheiros misturados de comida que
invadem o local. Depois de pagar pelo almoço e pegá-lo, bato em
retirada para fora do restaurante, pois o cheiro da comida está
embrulhando meu estômago a cada segundo que passo dentro do
local. Porém, ao passar pelas portas apressadamente, saindo do
restaurante, de cabeça baixa, esbarro em uma pessoa na calçada.
— Oh, eu sinto muito! — me desculpo, trocando as sacolas
de mão.
Meu corpo gela, meu coração bate acelerado em puro terror
assim que levanto a cabeça para olhar para o estranho em quem
colidi. Fico com as pernas moles, meus dedos transpiram em pavor
ao ver Renan parado, me olhando em silêncio.
Capítulo 11
Eu também não sei o que fazer
comigo
Cristina Self

Fico com a respiração acelerada e um medo puro me


domina. A sensação que tenho é que estou de frente para o mal que
havia me destruído,e que agora voltou para me machucar de novo.
Ele sorri para mim, um sorriso doentio, deixando à mostra seus
dentes brancos. É apavorante olhar para a face que um dia eu já
amei tanto e que agora a única coisa que desencadeia em mim é o
mais perverso horror.
— Cris, que saudade estou de você! — Ele tenta se
aproximar de mim, mas dou um passo para trás, sentindo meu suor
frio escorrer por minha testa. Renan para na mesma hora,
abaixando seus olhos para meu peito, sorrindo melancólico. — Eu
queria te ver, apenas te ver. Você sumiu, eu não sabia onde estava,
faz tempo que não te vejo.
— Renan, não pode estar aqui. — Sinto meus olhos
encherem de lágrimas, choro de medo e angústia. Olho para ele e
fico paralisada quando sua mão se ergue, alisando minha face. —
Por favor, se afasta, sabe que não pode chegar perto de mim,
Renan. Estou atrasada, se me der licença, gostaria de passar
.
As lágrimas escorrem por minha face, que está quente e
amedrontada. A cada segundo que sinto seu toque frio em minha
pele, mais paralisada vou ficando. Seus olhos vazios ficam perdidos,
olhando para minha boca, como se não escutasse as palavras que
saem dos meus lábios.
— Renan, eu vou chamar a polícia...— balbucio, com a voz
embargada de choro.
Sua face se fecha em uma máscara fria e recolhe sua mão
para o lado do seu corpo. Me obrigo a me mexer, para me afastar
dele, em uma tentativade fuga, mas antes de dar um passo que
seja, sinto seus dedos em meus braços, me mantendo presa.
— Espera, me deixa te olhar mais um pouco.
Fecho meus olhos quando ele aproxima sua face, cheirando
meu pescoço.
— Renan, por favor, por favor... — Choro com medo,
balançando minha cabeça em negativo.
Meu corpo se encolhe quando ele volta a erguer sua mão
para meu rosto, alisando minhas bochechas, que estão úmidas
pelas lágrimas.
— Você sempre fica tão linda quando chora... — A voz fria
dele sussurra, como se sentisse prazer em ver meu pranto.
Meu Deus, eu quero gritar de medo e nojo, por sentir seu
toque outra vez em mim!
— Por favor, Renan, me deixa ir embora... Para de ficar me
ligando, me deixa ser livre...
— Eu pensei tanto no que iria lhe dizer quando encontrasse
você, Cris. — Ele aumenta a força da sua mão em meu braço, me
segurando com força, não querendo ouvir minhas súplicas. — Cris,
eu quero você de volta, amor. Eu perdi a cabeça, todos perdem a
cabeça, me perdoa. Eu ainda te amo, mais do que tudo. Você é a
única mulher que eu quero.
Tento me desvencilhar dele quando seu rosto volta a se
enterrar em meu pescoço, me cheirando. Olho desesperada para os
lados, vendo as pessoas passarem. Todos estão ocupados demais
com suas conversas, que nem notam o meu completo desespero
diante desse homem que sente prazer em me aterrorizar
.
— Renan, me larga ou vou gritar por socorro — digo
desesperada, puxando meu braço para que ele solte. — Já nos
separamos, Renan. Nossa história acabou. Acabou, Renan! —
Torço meu braço e consigo me livrar do seu toque frio sobre minha
pele.
Saio de perto dele, correndo desesperada o mais rápido que
posso, porém, ao chegar na esquina, antes de atravessar a rua para
ir para a outra calçada, Renan me segura de volta, usando de mais
força bruta. Ouço a sua respiração de raiva, enquanto seus olhos
estão brilhando com ódio.
— Por quê? — Ele está com seus olhos semicerrados, com
sua boca comprimida, chacoalhando meus ombros com raiva. —
Por que não pode voltar para mim? Sempre me jurou amor eterno,
ou vai me dizer que aquele amor todo acabou?
— Meu amor por você acabou, porque você me espancou,
Renan. Quebrou duas costelas minhas e deixou meu rosto
completamentemachucado. — Estou quase desmaiando, sentindo
minhas pernas moles a cada chacoalhada bruta que ele impulsiona
em meu corpo.
— Eu pedi perdão, eu disse que errei. Por que não pode me
perdoar? Por que não quis dar uma chance para o nosso
casamento? Você é a culpada dele ter terminado...
— A única chance que lhe daria seria de me matar se eu
tivesse continuado casada com você. Por favor, me solta — digo,
sentindo meu rosto molhado, chorando, apavorada. — Oh, meu
Deus, por favor, me solta...
— Não voltou para mim porque não quis. Deve ter descoberto
como é ser como a sua mãe, não é, Cris? Ser a vagabunda imunda
que sempre foi — ele fala com raiva, ficando mais agressivo a cada
segundo.
— Renan, por favor...
— Cristina? — A voz de Max atrás de mim me dá um alívio
imediato quando a ouço.
Renan me solta na mesma hora, olhando para trás de mim
com raiva. Sinto as mãos de Max passarem por meus ombros,
parando ao meu lado, e ele me puxa, me levando para perto dele.
Max passa seus braços pela minha cinturae dou graças a Deus por
isso, porque já não sinto mais minhas pernas. Estou a um passo de
desabar no chão, de tão fraca que estou.
— A gente não terminou nossa conversa. — Renan me olha
com nojo, cuspindo no chão. — Faça bom proveito dessa puta! —
ele diz com raiva para Max, virando as costas, se misturando no
meio dos pedestres que passam pela rua. Max tentair atrás dele,
mas o seguro, me mantendo presa ao lado dele.
— Não, por favor, deixa para lá, Max. Não sei se consigo ficar
de pé se você me largar agora.
Vejo sua boca semicerrando enquanto ele olha com ódio na
direção por onde Renan foi.
— Você devia me deixar ir atrás dele e dar uma surra naquele
bosta! — ele fala, nervoso. — Esse filho da puta não está
respeitando a medida protetiva! Ele voltou a lhe incomodar
, não foi?
Balanço minha cabeça positivamente.Sinto vergonha e olho
para o chão.
— Queria apenas poder ter cinco minutos com esse bosta, e
deixar essa cara de filhinho de papai dele duas vezes pior do que
ele fez com você!
Ergo minha mão, tapando minha boca, abafando o soluço do
choro. Max tinha revisado todo o meu processo de agressão, ele
tinha visto todas as fotos do meu rosto machucado e sangrando. Eu
odeio tanto essa forma melindrosa na qual Renan me transformou.
Mas eu sinto tudo, ainda acordo no meio na noite com o corpo
suado, como se estivesse dentro daquele quarto outra vez.
— Um dia ainda vou ver esse filho da puta preso — ele fala
baixo, me virando lentamente. — Um dia ele não vai ter como
escapar.
— A família dele tem dinheiro, Max. Você se lembra do que
fizeram comigo dentro daquele tribunal. Foi a palavra de uma
mulher negra contra a de um homem de classe alta da sociedade,
de família nobre — digo triste para ele, relembrando o julgamento
horrível, do qual saí com fama de mulher desequilibrada. Os
advogados alegaram que eu tinha me machucado de propósito.
— Ele machucou você? — ele pergunta, me avaliando,
limpando meu rosto.
— Eu estou bem, foi mais o psicológico mesmo...
Minhas palavras são interrompidas pelo mal-estar que vem
com força, só me dando tempo de abaixar meu rosto e vomitar todo
o meu café da manhã na rua. Max segura minha cinturapara que eu
não caia, retirando as sacolas da minha mão, me olhando
assustado, esperando a vertigem passar.
— Vem, Cris, vamos voltar para a empresa! Vou avisar a Ariel
que você precisa ir para casa.
Max nos conduz pela calçada, até chegarmos na frente do
edifícioda empresa, mantendo seus braços sustentandomeu corpo.
Estou tão fraca e pálida, que nem vejo o momento que ele me leva
para o elevador. Quando a grande máquina se movimenta, seguro
seu braço com força e fecho meus olhos, por conta da tonturaque
me dá.
— Vendo você assim, me lembrei do dia que peguei o
elevador com a Ângela — diz, alisando minhas costas, afagando
meu ombro. — Só que no caso dela, os enjoos e o mal-estar de
elevador eram por causa da grav...
Max para de falar, segurando meu rosto, me fazendo olhar
para ele. Sua face tomba para meu ventre, voltando para meu rosto
em seguida.
— Cris?
Apenas balanço minha cabeça em confirmação, com os olhos
cheios de lágrimas, não conseguindo segurar mais o choro. Max me
puxa para seus braços outra vez e eu me escondo em seu peito,
chorando, sendo acolhida por ele. Estou exausta, assustada com
tantasemoções novas me pegando. A gravidez, Ariel, o retorno de
Renan, tudo me levou ao limite.
— Por favor, não diga a ninguém, Max — sussurro para ele
em meio ao choro.
— Oh, Cris, me diz que você não se envolveu com nenhum
cliente idiota!
— Não, foi pior, eu engravidei de um dos sócios da firma. —
Max puxa o ar com força, ficando em silêncio, entendendo minhas
palavras.
— Bom, sei que não foi o Pietro, pois ele ama a Ângela, e sei
que também não fui eu, pois não esqueceria de ter tido uma noite de
amor com você. Mas fora nós dois, só sobra... Puta merda! Meu
Deus, Cris! Me diz que não é quem estou pensando...
— Eu não sabia, Max, te juro. Não sabia que Ariel era o novo
sócio na noite que nos conhecemos, foi um engano. — Meu rosto se
esconde em seu ombro e volto a chorar, melancólica.
Max alisa meus cabelos e deposita um beijo na minha
cabeça, dizendo que tudo acabará bem, como se eu realmente
pudesse acreditar nisso. Não vai acabar bem.
— Já contou a ele sobre a gravidez?
— Não. Eu nem sei como contar a ele, Max. — Fungo,
soluçando em meio ao choro, negando com a cabeça.
— Ariel não é o tipo de homem que vai querer se envolver,
Cris. Não tem ideia do que ele fez com Silvia. Ele vai lhe
estraçalhar... — Max fala, nervoso, no mesmo momento que as
portas do elevador são abertas.
Não me mexo, não consigo mover um músculo sequer. Meu
corpo sente sua presença só pelo aroma do perfume que invade o
elevador, me avisando que Ariel está aqui. Me afasto de Max,
ficando de costaspara as portas abertas do elevador, limpando meu
rosto, não tendo coragem para confrontarAriel agora, não depois de
ter acabado de ver Renan.
— Achei que tinha deixado claro que o encontro de vocês
dois poderia esperar. — A voz amarga de Ariel é altiva, mostrando
sua raiva.
— Encontrei Cristina por acaso na rua. Ela passou mal, então
ajudei-a a voltar para a empresa — Max diz de modo protetor,
alisando meu ombro. — Vou levá-la para casa.
— Senhorita Self! — A voz de Ariel sai baixa, com um
rosnado rouco.
Me viro com pouca coragem, pegando as sacolas da mão de
Max, tendo mais força para encarar Ariel. Bete, que aparenta estar
nervosa, com seu rosto vermelho, fica séria, me olhando.
— Me desculpe pela demora, senhor Miller — digo baixo,
saindo do elevador, ouvindo o som pesado da sua respiração. Viro
meu rosto, olhando para Max, observando suas íris apreensivas. —
Eu estou melhor, Max, muito obrigada pela ajuda.
Volto minha atenção para Ariel, o vendo olhar para mim e
para a sacola com raiva, voltando a encarar Max.
— Vamos para a minha sala — ele fala zangado, respirando
com força.
Justo nesta hora, em meu estado mais frágil, chega Malvina,
com seu perfume adocicado, parando à minha frente. Não posso
controlar, e antes que me dê conta, meu corpo se inclina para a
frente e vomito outra vez, em cima do sapato de grife dela. Meus
joelhos falham, não sustentando meu corpo, se flexionando para
tocar o chão. As mãos grandes de Ariel me seguram pela cintura,
me amparando. Ele tira as sacolas da minha mão e as entrega para
Max. Meus dedos tocam seu ombro, me dando apoio para me
manter de pé, forçando meus joelhos a ficarem eretos. Ariel leva
uma das suas mãos à minha testa,puxa o lenço da lapela do terno,
o ergue e limpa minha boca.
— Você está bem? — ele diz, preocupado, com a voz baixa.
— Se ela está bem? — Malvina grita, enraivecida, apontando
para o pé, me olhando com ódio. — Esse sapato é um Prada[18],
um Prada! E ela acabou com meu sapato! DESTRUIU ELE! —
Malvina grita, dando um passo em minha direção.
Ela é bloqueada pela grande sombra que fica entre nós duas.
Não sei o que ela iria fazer, se queria me bater ou me xingar por
conta do sapato caro dela, estou tão enjoada que não consigo
pensar, apenas fecho meus olhos, encolhendo meu corpo, me
sentindo como um balão que se esvazia pouco a pouco.
— Vá até porra da loja e compre outro, Malvina! — A voz fria
como aço é de Ariel, que rosna com raiva. — Se não vai fazer nada
para ajudar, sugiro que suma da minha frente!
Ele gira sua cabeça de volta para mim. Sua feição está
zangada, seus olhos safiras se prendem aos meus, enquanto ele se
abaixa manso, passando um braço pelo meu joelho e outro em
minhas costas. Facilmente me ergue no colo, me assustando com
seus movimentos rápidos. Seguro forte seu ombro, fechando meus
olhos para diminuir a tontura.
— Pode deixar que cuido da minha secretária agora,
Maximiliano. Obrigado! Bete, chame o pessoal da limpeza. — Ariel
me endireita em seus braços, me segurando firme. — O SHOW
ACABOU, VOLTEM AO TRABALHO!
Ariel sai andando comigo pelo escritório, rumo à sua sala, e
escondo meu rosto em seu terno negro, conseguindo imaginar todo
os olhares maldosos dos funcionários em nossa direção.
— Deveria ter me dito que estava com mal-estar, Cristina —
ele sussurra próximo ao meu ouvido quando entra na sala, fechando
a porta atrás de si.
Ariel me aperta forte em seus braços, e nessa hora uma dor
imensa me atinge. Antes que perceba estou soluçando alto, com o
rosto coberto em lágrimas outra vez. Fico me sentindo sem futuro,
sem saída, acuada, com medo de Renan machucar meus filhos.
Não sei o que fazer, nem como vou fugir dele. Choro por não saber
como vou contar sobre a gravidez para Ariel, visto que ele é frio e
calculista, não se importando em ser rude com as pessoas se for
para conseguir afirmar seus objetivos. Imagino o que fará se souber
dos meus bebês! Ele pode me dizer que fiz aquilo de propósito, para
pescar um peixe grande, e tirará meus filhos de mim. Sinto quando
ele desce meu corpo devagar no sofá do escritório, me deitando
como se eu fosse um filhotinho ferido. Ariel se levanta e tira a parte
de cima do seu terno, usando-o para cobrir minhas pernas. Retira os
óculos da minha face e os deixa no braço do sofá. Seus dedos
alisam meus cabelos, descendo para minha face, acariciando meu
rosto, e aqui me perco, em meio ao choro, sendo presa em seus
olhos, que estão me encarando como da primeira vez que o vi, tão
belos e quentes.
— O que eu faço com você, minha doce vênus? — ele diz
mais para si mesmo, com sua voz rouca sussurrando, tão confuso
quanto eu me encontro agora.
E não sei por que, mas isso só me faz chorar com mais
sofrimento. Sei que meu coração se prendeu ao seu dentro daquele
quarto de hotel, quando me encantei por suas safiras. Eu o amei
antes mesmo de querer aceitar. Amo este anjo perverso que me
levou ao céu e me largou no inferno em um curto espaço de tempo,
e isso só me faz desabar mais em choro. Eu não sei se Ariel é meu
anjo ou o meu diabo, que vai me arrastar para a dor.
— Eu também não sei o que fazer comigo, Ariel! — digo,
soluçando com dor, desfazendo-me em lágrimas.
Muita carga emocional em tão pouco espaço de tempo me
afunda, como uma avalanche de sentimentos.É demais para mim.
Mantenho o choro sofrido, não consigo ter controle sobre mim. Ariel
continua me acariciando, para me acalmar, e a única coisa que me
lembro vagamente depois que a crise de choro passa, é de sentir
um beijo gelado em meus lábios antes de eu cair no sono, exausta.
Capítulo 12
Anjo sombrio
Ariel Miller
— O que pretende fazer?
Meus olhos estão concentrados no sinal de trânsitodo lado
de fora, observando a noite, tendo a pequena face chorosa de
Cristina inundando meus pensamentos. A confusão que ela
desencadeia dentro de mim, me tirando de rotação, me fazendo
querer apenas a manter em meus braços, para que ela nunca
escape, é atordoante.O perfume da sua pele está impregnado em
meu blazer e me acalma a cada sugar de ar para meus pulmões.
Entrar em minha sala algumas horas depois, devido ao fato de ter
precisado dar uma saída, e ver apenas o blazer dobrado,
descansando no sofá, onde eu a tinha abrigado e passado longos
minutos observando sua face abatida, e o encontrar vazio, sem sua
presença, me desencadeou uma grande frustação. Quando Bete me
avisou que Max tinha levado Cristina para casa, a frustação foi
trocada por ira. Relaxo meus ombros, respirando fundo, girando
meu corpo e ficando de frente para Pietro, que está sentado na sua
cadeira, olhando para a tela do computador.
— Ouviu o que eu disse?
— Sim. — Ergo meu dedo, afrouxando o nó da gravata. —
Não posso levar Violet para testemunhardiante do grande júri, ela
está mentindo.
— Todos mentem, Ariel — Pietro fala calmo, tamborilando
seus dedos na mesa. — Se descartar o álibi do seu cliente, tenha
consciência que a promotoria vai investigar o porquê.
— Stano a comprou, Pietro, ele forjou seu álibi e continua a
omitir a verdade do que aconteceu aquela noite. E sem saber a
verdade, não posso construir a defesa dele.
— Suspeita que ele cometeu o crime? Que matou aquelas
pessoas?
— Stano é um puto de merda, que pode matar a sangue frio,
mas ele não é o tipo de homem que negaria a morte da esposa. —
Respiro fundo, soltando os botões do blazer. — Conheço esses
tipos de criminosos de colarinho branco há muito tempo, sei
exatamente o modus operandi[19] deles. Stano está mentindo. Pode
não ter apertado o gatilho daquela arma, mas sabe quem foi.
— Crime premeditado — Pietro responde rápido. — Pode ter
contratado alguém.
— Não, homens como Stano são calculistas e pragmáticos
em tudo, até para cometer um crime. O assassino agiu pela
emoção, de forma bagunçada. Os dois corpos foram atingidos na
sala, estavam um distantedo outro. — Esfrego meu rosto, erguendo
minha face de volta para a janela. — Na segunda-feira vou passar
na casa de Stano, para descobrir o que está faltando nesse quebra-
cabeça.
— Tenho certeza de que vai se sair bem com esse caso.
Como sempre se saiu. — Pietro solta um longo suspiro, pigarreando
baixo, chamando minha atenção para sua face. — Quer falar sobre
a Cris?
Ele me dá um sorriso amarelo, repuxando o canto da sua
boca quando tomba a cabeça para o lado.
— O que quer saber, Pietro? — pergunto polido, mas não
estou inclinado a ceder alguma informação para saciar sua
bisbilhotice.
— Bom, como nos conhecemos há muito... muito tempo, vou
fingir que não notei o que realmente estava acontecendodentro da
sua sala quando entrei no horário de almoço, e nem adianta me
dizer que não estava acontecendo nada, porque a energia dentro
daquela sala era praticamentepalpável. — Desvio meus olhos dos
dele, afundando meu corpo na cadeira quando descruzo minhas
pernas. — Não tenho nenhuma objeção, desde que seja algo
desejado pelas duas partes. Suspeito que não pegaria bem, para o
notório Ariel Miller, advogado criminalista, ter uma ação de assédio
sexual sendo movida contra ele, e eu iria chutar muito seu traseiro
daqui até Nova York se você estiver molestando a Cristina.
Sorrio sem nenhum traço de alegria, travando meu maxilar.
Meus dedos se fecham em punho, dando leves socos no braço de
descanso da cadeira.
— Não tem com o que se preocupar. Como disse, nos
conhecemos há muito tempo, jamais forçaria uma mulher a nada.
— Forçar sei que não, mas manipularia a situação, do
mesmo modo como manipulou ao descartar todas as secretárias
que lhe foram oferecidas, com apenas um único objetivo. — Sua voz
calma solta uma risada baixa. — O qual julgo que alcançou com
êxito.
— Ela é uma boa secretária,tem discernimentocom o mundo
jurídico... — Reclino meu rosto em sua direção. — Foi apenas por
isso. E, a meu favor, posso garantir que aquelas secretárias que me
encaminhou eram incompetentes...
— Está gostando dela? — Pietro me corta, fazendo a
pergunta à queima-roupa.
Me arrumo na cadeira, ficando desconfortável com sua
pergunta direta.
— Aprecio a companhia da senhorita Self, se é o que quer
saber. — Balanço meu corpo na cadeira, olhando para minha mão,
que soca o braço da cadeira.
— Aprecio sua companhia, meu amigo, mas não tenho
vontade de lhe ver pelado em minha cama. Como pode ver, há uma
diferença entre minha pergunta e sua resposta, e você sabe disso
— Pietro rebate meu argumento com petulância, em meio às suas
risadas, debochando de mim. — Pare de ser evasivo com sua
resposta e me conte. — Ele abre a gaveta da sua escrivaninha e
puxa uma garrafa de uísque e dois copos, os enchendo em seguida
e empurrando um para a ponta da mesa, para que eu possa pegar.
— Somos amigos há quinze anos, não precisamos de meios-
termos.
Esticomeu braço, pegando meu copo e o trazendo aos meus
lábios, o virando de uma única vez. Sinto a bebida queimar ao
deslizar dentro da minha garganta. Meus olhos se fecham enquanto
respiro fundo, vendo a pequena face abatida de Cris e tudo que ela
desencadeou em mim: o instintode proteção, a raiva por Pietro ter
nos interrompido dentro da minha sala, quando a assisti partir a
passos apressados, se distanciando de mim, quando tudo que eu
queria naquele momento era sentir meu pau se afundar dentro da
sua boceta quente, arrancando mais gemidos suaves dos seus
lábios e aplacando essa maldita condenação que ela me jogou
desde a noite naquele quarto de hotel. Como senti saudade do seu
cheiro, do seu sabor, do toque macio das suas mãos sobre mim. Eu
senti saudade dela. E ver Max ganhando dela aquele sorriso, o qual
eu desejei ver tantopor todos esses malditos dias desde que ela
voltou, me fez perder o controle. Aquele sorriso me pertence, os
olhos brandos e brilhantes devem estar voltados para mim, não para
ele. E em questão de segundos fui de um homem pragmático para
um neandertal dominador, que apenas teve sua fúria refreada
depois de ouvir dos lábios dela a confirmação que Max nunca lhe
tocou. Inferno! O que ela está fazendo da minha vida?!
— Vocês dormiram juntos?
— Sim. — Deixo o copo sobre a mesa de Pietro, encostando
minhas costas no couro da cadeira. — Foi no último dia dela antes
de sair de férias. Eu cheguei tarde, muito tarde, passei no hotel que
tinha me hospedado e vim para o escritório. Então eu a vi. No
primeiro momento fiquei fascinado por sua face expressiva, como de
uma pesquisadora curiosa. — Sorrio melancólico, me recordando
exatamenteda forma divertida como seus olhos negros de coruja
brilhavam por trás dos óculos. — Houve um engano, e eu não
desmenti e nem confirmei, estava curioso pela forma atrapalhada
dela.
— Sua curiosidade insaciável sempre foi seu mal, Ariel —
Pietro suspira calmo, enchendo os copos. — Está apaixonado por
ela.
— Não usaria essa palavra. Tenho sentimentospor ela, se é
o que quer saber. — Pego meu copo, o tomando sem pressa.
— Não há vergonha em dar nomes às emoções, Ariel, lhe
digo isso por experiência. Quanto mais rápido aceitar que está
apaixonado por ela, mais fácil sua vida se tornará. — Pietro arrasta
seu corpo com a cadeira, apoiando seus cotovelos em cima da
mesa. — Vou ser franco com você, meu amigo. Max tem um carinho
imenso pela senhorita Self. — Pietro ergue sua mão quando eu
rosno baixo, virando meu rosto. — Não faça essa cara. Disse que
meu irmão tem carinho por ela, não que nutre uma paixão platônica.
O que liga Max e Cris é outro sentimento,um afeto fraternal, e foi
por isso que o autorizei a tirar ela de sua sala enquanto você estava
em reunião.
Volto meu rosto para Pietro, esmagando meu maxilar,
sentindo raiva ao saber que ele está confraternizando com isso.
— Eu iria cuidar dela, iria levá-la para casa — falo bravo,
abaixando o copo na mesa. — Acha que eu seria tão baixo a ponto
de me aproveitar do momento frágil de uma mulher? Oh, pelo amor
de Deus, nos conhecemos há anos!
— Sei disso, e foi justamenteesse seu propósito que me fez
agir assim — Pietro fala sério, negando com a cabeça. — Vou lhe
mostrar algo, o que pode custar a renegação de laço de sangue
entre mim e o meu irmão, se ele descobrir que quebrei o sigilo dele
com a sua cliente.
Pietro abre a gaveta e retira uma pasta marrom de dentro
dela, depositando-a sobre a mesa.
— Cristina não é só uma amiga para Max, muito menos a
secretária antiga. Cris é aquele caso que nos ligamos de forma
emocional e sabemos que merece justiça, mas ela nunca teve, e
isso é uma marca na vida de Maximiliano, por nunca ter conseguido
justiça para ela.
Puxo a pasta para minhas mãos, vendo o nome dela escrito
em uma etiqueta.
— Max estava no tribunal no dia que o julgamento estava
acontecendona vara da família, violência doméstica. Meu irmão se
sentou do meu lado enquanto esperávamos pela audiência da
cliente dele, com seus olhos perdidos em toda dor que a face de
Cristina demonstrava.
Escuto a voz de Pietro enquanto abro a pasta, lendo apenas
pelos autos a descrição do caso.
— Já ouviu falar de Hugo Pener? — Balanço minha cabeça
em positivo, folheando as páginas. Não tinha sido apurado
absolutamentenada, o caso dela estava frágil, sem consistência.—
Renan Pener, o filho de Hugo, espancou Cris até ela ter duas
costelas quebradas, sua mandíbula fraturada, supercílio esquerdo
cortado, diversos hematomas pelo corpo e vinte por cento da sua
visão do olho esquerdo comprometida. Porém, com o dinheiro e a
influência do pai, em conjunto com o batalhão de advogados que
eles levaram para a audiência, além de muita propina distribuída
dentro do tribunal, Cristina Self passou de vítima para ré em questão
de segundos.
Paro no laudo médico que foi feito de forma errônea, um
serviço de porco, apenas relatando brevemente o estado da
paciente. O perito filho da puta, dava a entender que foi algo sem
grande repercussão.
— Todos foram comprados: perícia, o relatório policial
manchado, os vizinhos que foram de testemunhas, dizendo que
nunca viram Renan Pener maltratarsua esposa, e que no fatídico
dia não ouviram nada dentro da residência.
— Ela não chamou a polícia? — Ergo meus olhos para
Pietro, sentindo meu corpo se abrasar de ódio puro.
— Não. Cris foi socorrida pela mãe, que a tirou de dentro da
casa. Ela procurou o hospital apenas no outro dia. Os advogados
usaram isso para alegar que ela mesmo podia ter feito aquilo —
Pietro fala amargo, suspirando pesado. — O filho da puta do juiz
comprou a ideia escrota que eles passaram dela, alegando que ela
era uma mulher desequilibrada, que tinha se ferido de propósito
apenas para arrancar dinheiro do marido quando ele pediu a
separação, e manchar a boa reputação e índole impecável dele.
Mas o covarde nunca pediu a separação, quem pediu foi Cristina.
Posso vê-la sozinha dentro do tribunal, acuada, sendo
empurrada por mentiras e alegações falsas, com os olhos de coruja
negros brilhando de medo.
— Por que não recorreram? Por que não assumiram o
serviço de merda desse advogado? Cristina não tinha como perder
essa ação...
— Como você mesmo me disse... — A voz baixa vem de trás
de mim, fazendo tantoeu como Pietro olhar para a porta da sala
dele, enxergando Max parado, com os olhos no arquivo. — Vítimas
não podem pagar por advogados caros e ardilosos como você.
Ele se desencosta da porta e caminha para nós, jogando
outra pasta sobre a que eu olhava.
— Acho que meu irmão esqueceu dessa pasta quando foi
mexer em meus arquivos sem pedir minha permissão. — Ele para
perto da mesa, pega a garrafa de bebida e enche um copo para ele.
— Ou na certa quis lhe poupar de ver como o doente do Renan
deixou Cristina.
Pietro encolhe seus ombros, olhando para a garrafa com
pesar.
— Não faça essa cara, Max, Ariel precisava saber. — Pietro
respira fundo, fechando seus olhos.
Devolvo a pasta para ele, ficando apenas com a que Max
entregou para mim. Abro ela lentamente,me deparando com a foto
de Cristina machucada. Seus olhos quase não se abrem, a boca
está inchada e cortada. O filho da puta tinha batido nela com todas
as forças. Vejo tudo vermelho à minha frente. Quero encontrar esse
homem que a machucou, lhe ferir de forma tão miserável quanto ele
a feriu. Cruel e brutal, até sua face não ser nada mais que um
esboço horripilante de um homem morto.
— Quando assumi o caso, depois que o advogado dela
perdeu propositalmente,Cristina estava muito abalada, não queria
seguir adiante. Renan a estava ameaçando, perseguindo-a
constantemente,ela apenas queria uma medida protetiva— Max
fala amargo, olhando para a fotografia.
— Ele não foi preso? Não foi condenado pelo que fez a ela?
— Não, ele não foi. Ele sequer chegou a passar uma noite
dentro da cadeia, mesmo infringindo a medida protetiva— Max me
responde baixo. Fecho a pasta com raiva, jogando-a sobre a mesa.
Me levanto e caminho dentro da sala, me sentindo um animal
enjaulado, sentindo a porcaria da gravata, mesmo afrouxada, me
sufocar.
— Disse “mesmo infringindo a medida protetiva”,correto? —
rosno entre meus dentes, olhando para Max. — Isso quer dizer que
ele ainda continua se aproximando dela?
— Eu o vi pessoalmente hoje, no horário de almoço,
amedrontando-a. — Esfrego meu rosto, respirando fundo ao ouvir a
voz de Max.
— Filho da puta! — Pietro xinga baixo, socando a mesa.
— Ele é um miserável que a persegue. Ele para por um
tempo, some, se distancia dela, mas não demora muito para voltar.
Cris me contou que ele anda rodeando o novo endereço dela, liga
para o celular e para o telefone fixo, sem dizer nada, apenas a
assustando.
— E por que vocês me contaramisso só agora? — Cuspo as
palavras com raiva, sentindo o gosto amargo em minha saliva.
— Porque o advogado dela sou eu. Não precisa saber sobre
a vida da Cris — Max fala amargo, me fazendo erguer meus olhos
para ele. — Não passa de um advogado sem escrúpulos.
— Não gosta como eu trabalho, não é? E quer saber? Até
acho louváveis seus pensamentos de salvador da pátria, mas eu
cago para seus conceitos puritanos. — O olho sério, não medindo
minhas palavras. — Mas deixa eu lhe contar um segredo, meu caro
benfeitor. São advogados mesquinhos e ordinários, como eu, que
comem homens como Renan Pener no café da manhã, que não se
vendem e muito menos se intimidam por conta de rótulos do
papaizinho dele. Se diz o advogado dela, mas o que fez até agora
para sua cliente, além de arrumar a porcaria de uma medida
protetiva falha?
Pego as duas pastas em cima da mesa, as segurando com
raiva, repousando meus olhos em Pietro.
— Me fez uma pergunta, e aqui está minha resposta, Pietro.
— Ergo as pastas, balançando-as com ira em minhas mãos. — Vou
garantir pessoalmente a estadia desse verme asqueroso em uma
penitenciária máxima. Renan Pener não chegará mais perto de
Cristina. Se ele chegar, é um homem morto, esse é o tamanho do
apreço que tenho por ela!
Saio de dentro da sala, os largando lá, caminhando com raiva
para o meu escritório.
Capítulo 13
Olhos de coruja
Ariel Miller
Inalo o ar com força para meus pulmões, tentandonão perder
minha paciência no sábado de manhã, enquanto encaro o homem
melindrado à minha frente.
— Senhor, eu realmente não posso lhe passar informações
sobre os moradores.
Levo as mãos aos bolsos da calça, olhando sério para o
porteiro, respirando fundo.
— Quantas vezes Renan Pener já apareceu na porta desse
prédio, atrás da senhorita Self? — falo ácido, o deixando saber que
não vou embora tão cedo desse prédio sem as respostas que
preciso.
— Como eu já falei, não posso falar sobre...
— Fala logo, sua criatura preguiçosa, eu não estou lhe
pedindo. Não estou aqui como um especulador curioso, eu sou a
porra de um advogado que não pensaria duas vezes antes de lhe
foder, por omitir informações da minha cliente!
O homem pequeno arregala seus olhos, ficando com sua
face vermelha.
— Realmente não está fingindo, não é? É a pessoa mais
desagradável que já conheci. — Ele ergue seu dedo, apontando-o
para mim.
Sorrio com ironia para o gorducho, dando um passo à frente,
parando perto do balcão que ele usa para se esconder.
— Nesse momento estou na minha versão mais doce, seu
idiota. — Movo minha mão para fora do bolso da calça, a erguendo
para minha face e retirando os óculos escuros. — Mas assim que eu
te intimar e colar essa sua grande bunda flácida em um banco de
testemunhae extrair cada informação de dentro do seu rabo, lhe
dando a sensação da mais alarmante colonoscopia[20] da sua vida,
aí sim você vai conhecer meu lado desagradável. — Cerro meus
dentes com raiva, o olhando de cima a baixo. — Então lhe
aconselho a responder minha pergunta!
O homem se encolhe, se sentando na cadeira atrás dele,
balançando a cabeça em confirmação.
— Senhor Pener aparece com bastantefrequência atrás da
senhorita Self. Como ela já tinha nos repassado sobre a presença
dele ser proibida, ele não passa do saguão do prédio. Só nessa
semana ele veio duas vezes.
Retiro meu cartão do bolso, empurrando em cima do balcão,
apontando para ele.
— Quando ele der o ar da graça outra vez, você vai ligar para
mim, não importa a hora do dia. Vai ligar diretamente para esse
número e não vai repassar mais nada para a senhorita Self. — Ele
pega o cartão e fica em silêncio. — Compreendeu?
— Sim, senhor Miller.
— Esplêndido! — Sorrio para ele, arrumando meu terno,
levando os óculos de volta à minha face. — A propósito, senhor... —
Estalo as pontas dos dedos, olhando para o crachá dele. — Bobe,
gostei do nome. Adorei nossa conversa amistosa, conto com sua
discrição sobre esse momento também.
Ele apenas balança a cabeça, confirmando. Me viro e saio do
prédio, caminhando até o meu carro. Antes que eu possa abrir a
porta, reconheço o pequeno corpo que vira a esquina, andando
apressado, segurando firme as sacolas em seus dedos, olhando
para trás. Me afasto do carro e marcho de encontro à Cristina, que
mantém sua cabeça virada, olhando por cima do seu ombro,
andando rapidamente. Estico meu braço e seguro seu ombro antes
que ela trombe em mim, o que a faz soltar um grito, derrubando
suas sacolas.
— Oh, meu Deus! — Sua face se ergue para mim, ficando
com a respiração pesada, puxando o ar fortemente para suas
narinas. — Ariel! Quer me matar do coração?
Ela se afasta, abaixando para pegar as coisas que caíram
das sacolas. Olho no rumo de onde ela veio, mas não enxergo
ninguém caminhando atrás dela. Me abaixo e auxilio Cristina a
pegar suas compras, repousando meu olhar em sua face. Sua veia
está saltada na lateral da sua garganta, os olhos arregalados. Seu
coque bagunçado, com fios soltos, cai na lateral do seu rosto.
— Do que estava fugindo? — pergunto sério. Cristina ergue
seus olhos para mim, se levantando lentamente.
— Nada, apenas estava distraída... — Ela abaixa seus olhos
para minha mão, tentando pegar o frasco de xampu dos meus
dedos, mas eu o puxo para trás, a impedindo de pegá-lo. — O que
está fazendo em pleno sábado no portão do meu prédio, doutor?
Pensando bem, como sabe meu endereço?
— Passei no setor de RH[21] da firma — respondo sem
pressa, abrindo seu xampu e o levando perto do meu nariz e
cheirando. — Apenas Ariel, babá McPhee. Não estamos em horário
de trabalho, para ser tão formal. — Repuxo meu nariz, fazendo cara
feia. — Não sei se gosto desse xampu, tem cheiro de produto de
liquidação.
— Oh, meu Deus, não acredito que vai resolver me infernizar
até nos fins de semana! — Ela pega o frasco da minha mão,
fechando sua face enquanto o joga dentro da sacola.
— Na verdade, ainda temos muito trabalho a fazer sobre o
caso Brat — falo a primeira coisa que vem em minha mente, não
querendo a deixar saber meu real motivo para ter vindo até seu
endereço. — O que mais tem aí dentro das sacolas?
— O quê? — Ela tenta se afastar quando me aproximo.
Minha mão se estica, e olho curioso para suas compras,
retirando uma das sacolas da mão dela.
— Veja, alguma coisa de qualidade. — Pego o molho de
tomate.Olho o restantedas coisas e não gosto muito do que vejo:
cereal de morango, iogurte, doce, pasta de amendoim... E piora a
cada segundo que mexo dentro dela. — Foi fazer compras para
uma criança?
— Me devolve a merda da minha sacola, Ariel!
Puxo a barra de chocolate, a virando em meus dedos,
negando com a cabeça.
— Não é à toa que passou mal, olhe o tanto de porcaria!
Come alguma coisa que preste, babá McPhee?
— Babá McPhee é o seu c... — Ela se cala quando ergo meu
rosto para ela, sorrindo sarcástico. Olho a ponta do seu dedo
erguida em minha direção.
— Vejo que está recuperada, pelo desenrolar do seu
linguajar, minha adorável secretária — falo em deboche, a vendo
resmungar zangada, esticando sua mão para mim.
— Devolva a minha sacola e vá embora, Ariel. Hoje é minha
folga e me nego a ser escravizada por você.
Observo sua face abatida e vejo as olheiras embaixo dos
seus olhos, de quem passou a noite toda em claro. Sei que deve ser
isso, já que foi esse o motivo que me fez usar os óculos escuros,
pois minha noite foi longa, enquanto andava como um felino
enjaulado dentro do meu apartamento,de um lado ao outro, lendo
cada palavra do seu caso, vendo as fotos dos hematomas do seu
corpo, sua face machucada. Me viro e caminho para a entrada do
prédio, levando sua sacola de compra comigo.
— Ande, babá McPhee, não tenho o dia todo para esperar
que você tenha bons modos e me convide para entrar
.
— Como assim entrar? Você quer subir no meu
apartamento? — Ouço sua voz perguntar confusa atrás de mim.
Paro meu corpo, olho para ela e retiro meus óculos.
— Aceito seu convite!
Self se engasga, erguendo sua mão no ar e a fechando em
punho, apontando apenas o indicador para mim.
— Não foi um convite, sabe disso. E você distorceu minhas
palavras. — Ouço seu gritinho de raiva enquanto ela bate seu pé no
chão, feito uma menina pirracenta.
— “Você quer subir no meu apartamento?” — falo suas
palavras anteriores, as usando contra ela. — Para mim, isso foi um
convite.E agora que eu aceitei subir, será feio da sua parte o retirar.
— Inacreditável! Você é um ser humano inacreditável!
— Eu sei disso, meu bem. Não precisa inflar meu ego. —
Pisco para ela, lhe provocando. — Ande, vamos, estou com fome!
Talvez ache alguma coisa decente dentro dessas sacolas, para nos
alimentar.
Aponto para a entrada do seu prédio, esperando que ela
passe, rabugenta, balançado sua cabeça em discordância. Antes
que ela se afaste, retiro as outras sacolas da sua mão, levando as
compras para ela. Meus olhos param na esquina uma última vez,
em busca de alguma pista do que a estava deixando assustada,
mas não tem ninguém. Ando atrás dela, voltando para o prédio,
passando pelo segurança quando entro com Cristina do meu lado.
— Olá, Bobe, como está indo seu dia? — Cris sorri para ele
de forma branda, apontando para mim. — Esse é o doutor Miller,
meu chefe.
— Olá, Bobe, prazer em lhe conhecer — cumprimento-o
cinicamente,não demonstrando para ela que já me apresentei para
ele.
O homenzinho flácido com rosto vermelho apenas balança
sua cabeça para mim, em saudação. Cristina está distraída,
caminhando para as escadarias, o que me faz parar e olhar das
merdas dos degraus para o elevador.
— Por que serei obrigado a subir escadas quando tem
elevador nesse prédio? — Ela para no terceiro degrau e segura no
corrimão, olhando para mim.
— Oh, meu Deus, é verdade! Você tem preguiça de usar
escadas, correto? — Sua mão bate em sua testa,negando com a
cabeça. — Está tudo bem, não vou me sentir ofendida se recusar
subir, e nem no caso do nobre doutor Miller quiser voltar para o
quinto dos infernos de onde veio.
— Bonitinha... — falo com desdém, subindo o primeiro
degrau da escada.
— Eu sei que sou, não precisa ficar inflando meu ego, doutor.
— Sua voz risonha é baixa, me fazendo erguer meu rosto e olhar
para ela.
Sou pego pelo sorriso doce que se alarga em sua bochecha,
me levando ao nocaute a cada segundo que ela me fisga com seus
olhos grandes de coruja estalados, como uma noite quente de
verão.
— Ande, Ariel, não é o fim do mundo subir escadas! — Seu
corpo gira, com ela voltando a se mover.
Ouço o pequeno pigarro vindo de trás de mim, me fazendo
olhar para o bisbilhoteiro do Bobe, que tem seus olhos atentosem
mim. Fecho meu semblante para ele, subindo os degraus atrás de
Cristina.
— Cobro uma fortuna dos meus honorários aos meus clientes
pelo meu tempo, para manter meu padrão elevado de vida, para no
fim estar aqui, trocando o elevador por escadas em um prédio
mediano na periferia da cidade.
— Oh, céus, cale essa sua boca cretina, Miller!
O som da sua risada se espalha, me fazendo sorrir por ser o
causador do som feliz que sai dos seus lábios. Estico minha perna,
subo de dois em dois degraus, alçando a pequena vênus, parando
no degrau abaixo do dela. Cris gira sua face para mim, ficando a
poucos centímetrosdo meu rosto, soltando um baixo sorriso,
tranquila.
— O que foi? — A voz envergonhada pergunta baixinho.
— Estou pensando sobre o que disse. — Recaio meus olhos
para seus lábios, que se comprimem, quase em um convite doce
para que eu os prove.
— No quê?
— Sobre calar minha boca cretina — sussurro rouco,
engolindo minha saliva, sentindo minha boca ficar seca. — Aprecio
quando seus lábios felinos silenciam minha boca cretina.
Ela me desarma com tantafacilidade, como se eu fosse um
castelo de cartas sendo desempilhado pela brisa suave do vento.
Observo os gestos desajeitados das suas mãos, que se erguem,
empurrando seus cabelos para trás das orelhas, sorrindo de lado,
tombando sua face em seu ombro.
— O que realmente veio fazer aqui, Ariel, em pleno sábado?
Me enganar!
Menti para mim mesmo, dizendo que apenas revirei os
arquivos do RH atrás do endereço dela, porque odiava o serviço
porco de advogados aproveitadores, como o que a deixou à mercê
de um julgamento inescrupuloso, e não porque cada parte do meu
corpo, do meu ser, grita ansioso, tendo minha alma inquieta e ao
mesmo tempo esperançosa por encarar seus olhos negros
expressivos de coruja. Puxo o ar com força para meu peito, inalando
seu perfume que me embriaga, a quentura da sua respiração morna
que me acaricia a face. Tombo meu rosto na mesma direção que o
dela se encontra, me aproximando lentamente,não resistindo aos
seus olhos pecaminosos, que me chamam para ela.
— DROGA, VOU ME ATRASAR! — A voz alta gritando nos
faz afastar.
Ergo meu rosto para cima da cabeça de Cris e vejo um
jovem, que desce correndo os degraus, com um celular em suas
mãos, que provavelmente está filmando tudo. Ele sorri quando nos
vê, apontando o celular para Cristina.
— Bom dia, lindona, dá oi para a galera do canal! — Cris se
afasta, respirando rápido, olhando para o chão, ficando de costas
para mim, erguendo seus olhos para o garoto.
— Olá, Estence! Olá, galera do canal do Estence! — Ela
acena para ele e volta a subir a escadaria.
Respiro com desânimo, encarando o pivete que sorri para
mim, apontando a porcaria do aparelho na minha direção, com sua
face espinhenta e os dentes presos a um aparelho ortodôntico.
— E aí, tiozão! — Ele desce os degraus apressado, me
cumprimentando, dando um leve tapinha em meu ombro.
Olho para meu ombro, onde sua mão de bater punheta
juvenil tocou, sujando meu terno de alfaiataria.
— Tio é meu ovo, moleque de merda! — resmungo baixo,
desviando meus olhos do meu ombro, olhando para minha frente
vazia.
Estalo minha língua, me sentindo mal-humorado pelo pivete
ter interrompido meu momento com Cristina.
— Vai me dizer que já está fadigado de subir degraus,
tiozão?
Ergo minha cabeça e a vejo no segundo lance de escadas,
sorrindo para mim, me provocando, com a parte superior do seu
corpo inclinado sobre a barra de proteção da escadaria.
— Engraçadinha! — Volto a subir os degraus, odiando,
definitivamente, esse prédio cafona. — Qual tipo de padrão de
emissora contrata um pré-adolescente?
Ouço a risada dela explodir em uma gargalhada, ao mesmo
tempo que nega com a cabeça.
— Estence filma para seu canal em uma rede social na
internet,doutor Miller. Ele filma de tudo que puder, acho que fica 24
horas com esse celular na mão, gravando. Está por fora da
atualidade dos jovens, tiozão!
— Patético, babá McPhee!
Capítulo 14
Pílula mágica
Ariel Miller
— Meu Deus, isso é assustador!
Me afasto do fogão, depois de abaixar o fogo da panela, onde
está cozinhando o molho para o espaguete. Olho Cristina sentada
na ponta da mesa, cortando os legumes para a salada.
— O quê? — Limpo minha mão no pano de prato, me
encostando na pia. — Não acredita que Stano possa algum dia ter
posto o pau velho e murcho dele dentro da boceta larga da
assistente?
— Bom, isso também, agora que acabou de falar com tantos
detalhes. — Ela faz careta, negando com a cabeça. — Mas, na
verdade, me refiro a você com esse avental amarelo preso na
cintura, invadindo minha cozinha.
Ela aponta para mim e abaixo meu olhar, vendo os desenhos
de patinhos no tecido brega, num amarelo pavoroso. Cruzo meus
braços, que tem as mangas da minha camisa dobradas em meus
cotovelos.
— Discordo, acho que combina com o dourado do meu
Rolex[22]! — Pisco meus cíliosdocementepara ela, debochando do
pano feio. — Estou até pensando em ir com ele na audiência, acho
que fará um bom par com meu blazer.
Aponto para a parte de cima do meu terno, pendurada na
cadeira, rindo para ela. Cristina se levanta, rindo, negando com a
cabeça, caminhando para a pia e me fazendo me afastar. A vejo se
abaixar para pegar uma travessa, olhando para mim.
— Tenho uma teoria! — Ela ergue sua mão, empurrando sua
mecha de cabelo teimosa para trás da orelha. — Stano entrou em
casa, pegou sua mulher no flagra com o suposto amante, aguardou
os dois terminarem o momento íntimo e os matou quando eles
saíram da área de exercício e entraram na casa.
— Teoria falha! — rebato para ela, pegando a taça de vinho e
levando aos lábios.
Cris me olha perdida e caminha para perto da mesa, jogando
os legumes na travessa.
— A esposa de Brat estava a quatro metros de distância do
outro corpo. A não ser que ela tenha entrado e caminhado até o
marido, enquanto o amante ficou parado na porta, vendo a mulher
com quem ele trepava ser assassinada, não tem como eles terem
entrado juntos na casa.
— Ela já tinha sido baleada — Cris fala, pensativa, erguendo
sua cabeça. — Veja, ele ouviu o som do tiro e entrou na sala. O
assassino estava com a arma em mãos, se assustou e matou o
rapaz.
— Correto, isso que pensei. — Seguro a garrafa de vinho
barata que encontreino armário dela, fazendo uma anotação mental
de deixar bebidas com mais qualidade dentro desse apartamento.
— O personal morreu porque foi abelhudo. Lugar errado, hora
errada. — Passo meus olhos pela mesa, procurando pela taça de
bebida dela. — Não está bebendo?
O som da tábua de cortar legumes caindo da mão dela, me
faz olhar, sem entender, para seus olhos arregalados.
— Eu tomei remédio ontem à noite por conta do mal-estar.
Prefiro não beber — ela fala rápido, pegando a tábua, indo para a
pia e ficando de costas para mim.
— Posso lhe garantir que é o melhor que faz, até eu não
queria estar bebendo esse vinho de atacadista
[23]. — Deixo a taça
no balcão, olhando com desgosto para ela.
— Oh, meu Deus, você pensa antes de abrir sua boca ou
apenas solta todas as bobagens que vêm em sua mente
egocêntrica? — Cris fala, rindo, lavando a louça que está na pia.
— Eu sei, é um charme natural. — Dou de ombros para ela,
indo para perto do fogão, conferir o meu molho. — Acho que mais
um pouco e minha massa italiana vai estar pronta.
— É macarrão, Ariel. — Cris se afasta da pia, parando ao
meu lado, secando suas mãos no avental da minha cintura. Seu
dedo se ergue, indo na direção da panela. Estapeio seu dedo e a
recrimino assim que percebo o que ela pretende.
— Não difame meu prato gastronômico.Se estou falando que
é massa italiana, então é.
Ela age rápido, levando o dedo para dentro da panela e o
melecando de molho, o sugando rapidamente em sua boca.
— É macarronada, doutor Miller! — Suas sobrancelhas se
arqueiam, me dando um sorriso debochado.
— Agora é, já que enfiou seu dedo curioso dentro do meu
molho — rebato, me virando para pegar minha taça de vinho no
balcão do armário.
Caminho para a sala com poucos passos, devido ao fato do
apartamento ser pequeno, e o olho atentamente:o sofá de três
lugares está de frente para a TV na parede e tem alguns livros
espalhados sobre a mesinha de centro. Minha atenção se retém na
moldura, onde há duas mulheres sorridentes abraçadas. Vejo
Cristina segurar seu chapéu de formatura com um grande sorriso na
face jovial, os cabelos estão soltos, destacando o vestido vermelho
elegante e terrivelmente sexy no corpo. Quem olhar para essa
mulher impecavelmente arrumada, desde a sandália de salto fino no
pé até a maquiagem em sua face, não encontrarásemelhanças com
a mesma que se encontra na cozinha. Deixo a taça na estantee
pego o porta-retratos, admirando-a de perto. Parece animada.
Observo o brilho de felicidade que tinha em seus lábios pintados de
vinho. Paro perto das cortinas escuras compridas, as abrindo,
observando a porta da varanda fechada. O som dos passos dela,
caminhando rápido para mim, me faz virar. Cristina fecha as cortinas
imediatamente, passando seus dedos agitados em sua saia.
— Está sol lá fora, não quer deixar aberta? — pergunto baixo,
olhando-a.
Sua boca se comprime, com ela negando com a cabeça.
— Esse horário, prefiro elas fechadas. — Seus olhos param
no quadro em minha mão, sorrindo melancólica. — Foi o dia da
minha formatura...
Travo meu maxilar e balanço minha cabeça em positivo. A
moça do porta-retratosestá escondida dentro de Cris, deixando
apenas essa casca frágil que a protege aparecer.
— Estava feliz?
— Sim, muito feliz. A época da faculdade foi a mais alegre da
minha vida. — Sua voz é um sussurro triste.
Meu ódio pelo seu ex-companheiro só aumenta, sabendo que
foi ele que a transformou nisso, que apagou a vida dela, como se
fosse uma vela sem importância.
— Segure para mim, sim? — Entrego o porta-retratospara
ela, a deixando o guardar de volta no lugar dele.
Giro meu corpo e fico de frente para as cortinas. Minha mão
se estica e segura com força, as abrindo até o fim, destrancando a
porta, as empurrando para fora.
— Ariel... — Cris estica seu braço para me impedir, mas eu
apenas o seguro, apertando sua mão em meus dedos.
A trago para perto de mim, envolvendo meu braço por sua
cintura, a deixando protegida, envolvida por mim, de frente para a
grande porta.
— Por favor, feche a porta. Realmente preciso que feche a
porta, Ariel... — Sua voz é quase um fio de choro, e ela olha
assustada para o meu rosto.
Nego com a cabeça, varrendo com meus olhos a rua e a
pequena praça do outro lado, buscando algum rosto virado para a
janela dela. Quero que ele veja, se ele estiver lá, como eu tenho
certezade que deve estar, escondido como a barata nojenta que ele
é, a espreitando. Quero que ele saiba que ela não está sozinha.
Que ele tenha consciência que ele não é mais o caçador, que ele é
a minha caça. Ergo meus dedos, me virando para ela, segurando
seu rosto em minha mão, a impedindo de se afastar de mim.
— Estou com o arquivo do seu caso, Cristina — falo sério,
acompanhando o ritmo descompassado do seu peito, que sobe e
desce. — Também sei que Renan te acuou na rua ontem, assim
como eu também sei o porquê de você ter medo de ficar exposta
diante dessa janela.
— Você não tinha esse direito. — Suas mãos tentam me
empurrar, ela me olha assustada. — Max me prometeu nunca
mostrar para ninguém aquele arquivo...
— Maximiliano continua com sua preciosa ética intacta,
Cristina. Quem me mostrou foi Pietro. — A puxo pela cintura, a
deixando impossibilitada de fugir. — Você já se escondeu por muito
tempo, minha vênus, está na hora de sair desse casulo, e não
pretendo te deixar mais nem um minuto aí dentro.
Não me privo mais nem um segundo sequer do que
realmente desejo. Minha cabeça se inclina e a beijo com pura
posse. Sinto seu medo, seus dedos agitados que se prendem em
minha camisa, tentandose afastar. Forço meu domínio, aplacando
toda minha fúria e ódio em um único ato. Abraço-a com força com
os dois braços, a tirando do chão, a beijando com uma fome de mil
anos por estar junto a ela. Sua língua se solta, assim como seus
dedos relaxam, presos à minha camisa, devolvendo o beijo na
mesma intensidade com a qual a tomo. Meu coração bate acelerado
dentro do meu peito, desfibrilado, ganhando um real motivo para se
manter batendo, pulsando sangue pelas minhas veias. Eu morri por
dentro quando perdi minha filha, achando que nada no mundo me
faria voltar a desejar viver, mas cá estou, gritando dentro de mim por
uma segunda chance de poder lutar e cuidar de algo que seja meu,
de abrigar ela em meus braços, destruindo qualquer coisa que
possa machucá-la.
Ela é minha, apenas minha, e não vou abdicar dela. Estou
reivindicando o que é meu, e vou lutar por ela com toda minha fúria,
não deixarei Renan sair ileso se tentar ferir Cristina. Uma das
minhas mãos se solta das suas costas quando sinto seus braços
circularem meu pescoço. Puxo suas pernas para cima, a forçando a
me prender entre elas. Caminho segurando seu corpo, não
afastando minha boca da sua, a beijando com prazer. Suas costas
batem na parede da sala quando a uso para apoiar seu corpo.
Afasto meu tórax do seu apenas poucos centímetros,para facilitar
minha mão de se livrar daquela maldita blusa de lã, a jogando para
o chão. Os olhos mornos dela me olham intensos, brilhando com
luxúria.
— Sua massa italiana? — ela fala, atrapalhada, com sua voz
entrecortada.Enfio minha mão em seu quadril, abaixando o zíperda
minha calça, libertando meu pau.
— É só a porra de um macarrão!
Colo meus lábios aos seus, tendo a fome que consome meu
corpo muito além do que o espaguete poderia saciar. Meu desejo é
por ela, por seu corpo, por sua essência, por tudo que essa mulher
me desperta. Empurro sua saia para cima, segurando sua calcinha
com meu dedo, a empurrando para o lado, e é de forma animalesca
que me afundo forte e duro dentro da sua boceta, estocando meu
pau tão fundo, como se a pudesse pregar na parede.
— Ariel... Oh, meu Deus! — Ela solta meus lábios, gemendo
alto, me recebendo dentro do seu corpo.
Beijo seu queixo, arrastando minha boca por cada canto da
sua pele, mordendo sem raciocínio seu pescoço, movendo meu
quadril para trás, apenas o suficiente para voltar implacável meu
pau em sua boceta. Minha mão se espalma na parede, ao lado do
seu rosto, com a outra esmagando sua coxa, a fodendo com
tamanha urgência, sabendo que nada me faz me sentir tão vivo
quanto estar enterrado, a fodendo até minhas bolas colarem em sua
pele quente. A cada bateria desregulada de estocadas frenéticas,
tão intensas e insanas quanto minha mente, e a cada gemido que
escapa dos seus lábios, colados em meu rosto, com suas mãos
presas em meus cabelos, mais necessitadoeu fico. Não é sexo, não
é a porcaria de uma foda, é a mais carnal urgência que minha alma
pede. A tomo com fúria, como um animal sem raciocínio, que
apenas precisa a marcar. Cristina trava suas pernas em minha
cintura, apoiando seus calcanhares em minha bunda, o usando
como alavanca para duplicar o impacto das estocadas, me
cavalgando com a mesma lascividade com a qual a fodo. Essa é
minha mulher, essa é a criatura selvagem e libertina que me
prendeu a ela dentro daquele quarto de hotel.
— Ohhhhhh... — Sinto seus dentes morderem meu ombro,
com ela me engolindo por completo. Meu pau escorregadio desliza
por sua boceta molhada para fora do seu corpo, voltando mais
agressivo.
Fecho meu punho na parede, alavancando seu corpo com a
força do meu quadril, que se choca com o seu. Meus dedos em sua
coxa, atracados em sua pele, a comprimem, retirando novos
gemidos da sua garganta quando ela se liberta, gritando pelo meu
nome, gozando com euforia, lavando meu pau com seu esguicho e
me fazendo me sentir a porra de um imperador prepotente que
chegou ao topo do mundo. Seu corpo trêmulo convulsiona e aperta
as paredes quentes da sua boceta no meu pau, que está tão fundo
dentro dela, ao ponto de fazer minha mente explodir. Sinto quando
meu gozo chega, tendo um breve momento de lucidez em meio ao
nirvana que me engole, saindo de dentro dela. Colo minha face
entre seus peitos, ouvindo seu coração disparado, enquanto meu
pau pulsa, soltando os jatos da minha porra na parede. Meu corpo
todo, cortado pela corrente elétrica, desencadeia por completo
minha adrenalina. Ergo minha face para a sua quando os tremores
diminuem, me perdendo em seu olhar carinhoso. Beijo seu queixo,
esfregando meu nariz em sua garganta, ouvindo o suspiro suave
que ela solta. Sua pele suada está colada à minha camisa e
escorrego suas pernas molengas ao redor da minha cintura. A
seguro, mantendo seu corpo preso ao meu, protegido de uma
queda, respirando com força. Sorrio, fechando meus olhos.
— Mais um pouco e eu não teria conseguido tirar meu pau a
tempo. — Rio para ela, balançando a cabeça para os lados, me
sentindo um calouro de faculdade, que acaba de meter com vontade
dentro da sua garota. — Em nossa primeira noite, tudo foi tão
explosivo e ardente, e ainda teve aquelas garrafas de vodca que
tomamos. Não me lembro se te perguntei se toma algum
contraceptivo.Se quiser, posso comprar uma pílula do dia seguinte
por precaução. Acho que mesmo eu tirando agora, acabou ficando
um pouco de esperma dentro de você...
Me calo ao ouvir o som baixo do soluço que escapa dos seus
lábios. Meus olhos se abrem e me deparo com Cristina chorando.
— Eu te machuquei? — pergunto, me sentindo inseguro.
Estava com tantasaudade de tê-la em meus braços, afoito
apenas por aplacar minha necessidade de marcá-la como minha,
que foi inevitável a possuir com tamanha aspereza pelo tantode
adrenalina que corria em minhas veias.
— Não era para ter sido assim, eu a queria como ainda quero
agora, apenas perdi o controle. Não tem ideia de como desejei ter
você de volta em meus braços desde aquela noite do hotel.
O choro aumenta, ficando cada vez mais forte. Seu rosto está
lavado em lágrimas, os olhos de coruja tristes se fecham,
escondendo sua face em meu pescoço, me fazendo me sentir
perdido, não compreendendo o motivo dela chorar com tanta dor .
Capítulo 15
Anjo protetor
Cristina Self
Abro meus olhos com preguiça e enxergo a noite que toma
conta do quarto. Meu rosto tomba do travesseiro e olho o espaço
vago ao meu lado. Me mexo na cama, ficando deitada de lado, e
estico meu braço, percorrendo minha mão, alisando o lençol
amarrotado, marcado pelo corpo grande do homem que estava
deitado aqui. Seu cheiro masculino ainda paira dentro do quarto,
assim como em minha pele. Suspiro vagarosa, levando meu braço
para cima do meu rosto e tapando meus olhos.
— O que foi fazer, Cristina?! — me recrimino baixinho por ter
abaixado por completo a guarda diante de Ariel.
A urgência como me tocou,a necessidade como meu próprio
corpo respondeu a ele, tudo nebulou minha mente, meu raciocínio, e
o amei com pura devassidão, não me importando com nada além de
ser sua. O medo, o pavor, a ansiedade, tudo se silenciou. Apenas
uma mulher apaixonada, vibrando nos braços do homem que
deseja, se fez dentro da minha sala. E foi por isso que quando sua
voz falou tão naturalmente,que as palavras pesaram dentro do meu
coração. Tinha que ter tomado a pílula do dia seguinte dois meses
atrás, agora não adiantava mais, mas como eu poderia pensar
nisso? Acreditava que nunca poderia ser mãe, então nem me
preocupei.
Hoje eu estava em seus braços, o amando perdidamente,
sendo que dentro de mim duas vidas estão sendo geradas, e eu não
tenho nem ideia de como contar para Ariel. Ele me desarmou com
sua forma presunçosa e cínica, com piadas sacanas, que tiraram de
mim o amedrontamento que eu estava desde ontem, quando
encontrei Renan. Essa nova face de Ariel, tão íntimo, invadindo
minha cozinha, revirando minhas sacolas, enquanto tirava seu
blazer, falando todos os tipos de disparates, que apenas ele
consegue falar, me deixou à mercê dele, pois, de alguma maneira,
sua presença me pareceu tão familiar, tão desejada em minha vida
solitária, que me perdi.
Ainda sinto meu corpo dolorido, tendo cada músculo, juntas e
nervos se deleitando por terem sido usados de forma devassa em
seus braços. De um ataque brusco e selvagem, me tomando com
lascividade colada àquela parede, ele virou um guardião protetor,
que me abraçou forte, me consolando do choro triste que me
golpeava, sem ter noção que eu não chorava porque ele tinha me
amado da melhor forma que eu já fui tomada em minha vida, eu
chorava por não saber como ele aceitará a notíciade que vai ser
pai. E mesmo assim, fraca, demonstrando minha fragilidade, ele não
me afastou. Ariel me acolheu em seus braços, caminhando para o
quarto, soltando meu corpo apenas depois que me depositou na
cama. Tapei meu rosto para abafar meus soluços, tão dispersa em
minha dor, que nem senti seus dedos me despindo, e muito menos
percebi em qual momento ele saiu do quarto para desligar as
panelas do fogão, ou quando se livrou da sua própria roupa. Apenas
me segurei em seus ombros, o abraçando com força, quando seu
corpo se juntou a mim na cama. E morri a cada segundo que suas
safiras me encararam, parecendo um menino perdido, se culpando
pelas lágrimas que rolavam por minha face. Talvez tivesse que ser
ali, naquele breve segundo, enquanto ele me confortava, que eu
devia ter tido coragem de lhe confessar meu segredo, mesmo
sabendo que me destruiria se ele tirasse meus filhos de mim. Mas
eu fui fraca, me rendi à minha covardia, me deixando esquecer
todas as minhas dores no beijo calmo que ele me deu. Meu anjo
perverso que me presenteou com mais uma nova faceta entre
tantas que ele tem.
O suor está transpirando por minha pele, colando meu cabelo
bagunçado em minha face. Meu coração e minha respiração estão
completamente acelerados, apressados, como se estivesse parada
diante de um penhasco. Ariel se move em um ataque seguro,
parando seu corpo sobre o meu, deixando seu rosto próximo à
minha face. Seus olhos me fitam diretamente, com seus cabelos
dourados revoltos por meus dedos, que os desalinham. Tão perfeito
na mais controversa beleza brutal, um anjo ou demônio. Eu não sei
como lidar com Ariel, estou completamente rendida a ele. Meu corpo
implora por ser amado por ele, exigente por seu toque, ansiando por
tê-lo dentro de mim, me tomando até não restar mais nenhuma dor
em minha alma. E como um anjo benevolente, que lê os pedidos
mais secretos da minha alma, não preciso esperar por muito tempo.
Sua face para na lateral da minha. Ele flexiona seu tórax nu para
cima, impulsionado seu quadril para frente, e sinto seu pau entrar
dentro de mim, sem pressa, me torturando a cada centímetro que
sou preenchida. Meus olhos vão em busca dos seus, segurando seu
rosto, precisando olhar para ele. Ariel vira sua face,beija minha mão
antes de cravar os dentes na pele, se enterrando por inteiro dentro
de mim quando seus olhos se abrem, ficando cruzados com os
meus. Avisto a luz da luxúria que queima tão fortemente dentro dele,
e sei que é a mesma que incendeia dentro de mim.
— Eu não quis machucar você. — Sua voz é rouca, com seu
peito se estufando a cada ar que ele suga para seus pulmões.
Ariel move seu quadril, retirando seu pau de dentro de mim,
voltando a me foder lento e profundo. Gemo com prazer, apertando
minha mão em seu braço, afastando minhas pernas da cama, para
que eu possa o ter mais colado a mim.
— Quero isso de você. Seus sons, seu sabor, seu prazer,
seus arrepios e tremores, me deixando ver sua face tão expressiva
quando se entrega para mim.
Seu corpo repete os movimentos, me fazendo cair entre o
prazer de estar sendo tomada por ele e a depravação do meu ser,
que precisa de mais.
— Ariel... Ohhh!
Seu corpo se abaixa, colando seu peitoral em meus seios, os
comprimindo. Sinto o gosto dos seus lábios me drogando, não tendo
nada mais real do que esse segundo em seus braços. Sua língua
invade minha boca, trazendo mais desejo ao meu corpo com seus
beijos quentes, e acelera o ritmo do seu quadril, me fodendo com
mais propriedade. Meus gemidos se silenciam entre nossos beijos,
minhas mãos rodeiam suas costas, me colando mais a ele, o
abraçando com força.Seus lábios se separam dos meus, descendo
para meu pescoço, mordiscando, beijando com paixão. Ariel ergue
seu tórax e seu corpo se afunda com pressão dentro de mim.
Minhas unhas cravam em sua pele, e seus olhos se mantêm presos
aos meus. Suas estocadas aumentam. Rápido, forte, me esticando,
fodendo muito além do que apenas minha boceta, mas a minha
mente. Sinto meu corpo ser consumido por uma corrente elétrica,
que vai se expandindo cada vez mais. Enlaço minhas pernas em
sua cintura, colando minhas coxas na lateral do seu corpo. Com
uma das suas mãos, Ariel me prende por baixo de minha cintura,
fazendomeu corpo ficar ainda mais cativo a ele. Meu anjo devasso
acelera as investidas, soltando toda sua energia em cada
penetração, e minha cabeça explode quando o orgasmo me pega,
me jogando para o abismo. Meus músculos se apertam mais em
torno do seu pau, fazendo meu corpo entrar em erupção com o
orgasmo que me rasga. Minhas mãos se prendem em seu rosto,
trazendo-o para mim, o beijando com abandono, o levando para a
queda junto comigo. Ariel me fode com mais força, se enterrando
uma última vez antes de sair de dentro de mim. Sinto seu corpo
trêmulo, enquanto seu pau jorra sua porra em cima da minha
barriga, me melecando a cada pulsar do seu corpo.
E é com meu coração acelerado e minhas pálpebras ficando
pesadas depois que ele retorna do banheiro, trazendo uma tolha
umedecida e me limpando, que vou me concentrando apenas no
som rouco da sua respiração. Com ele deitado ao meu lado, me
abraçando com pressão, adormeço. Seus braços me prendem a ele,
e toda falta de sono por medo, que tive nos últimos dias,
desaparece quando me sinto protegida em seus braços.
Um anjo, um demônio ou um protetor? Eu desconheço a
verdade.
Mas, nesse momento, nada mais tem importância.
Me sento na cama e esfrego meu rosto, batendo meus pés
lentamente no piso do quarto. Solto um espirro, que me pega
quando o ar da janela aberta me acerta. Coço a ponta do meu nariz
e olho para lá. Ariel deve ter a deixado aberta, e o gato da vizinha
andou passando por aqui. Espirro outra vez, direcionando meu olhar
na direção da porta do quarto aberta. Levanto e caminho para o
armário, pegando uma camisa dentro dele e a vestindo. Ando para
fora do quarto silenciosamentee vejo a cozinha arrumada. O relógio
da parede me mostra que dormi a tarde inteira, já que passam das
19h30. Caminho sonolenta pelo apartamento, avistando um
pequeno bilhete sobre a mesa da cozinha, e reconheço a caligrafia
de Ariel, que se destaca em um tom azul sobre a folha branca, com
uma singela, mas impactantefrase, que torna o meu mundo seguro.
Já volto!
Esfrego minha nuca, virando meu rosto para a sala, e vejo a
janela da varanda fechada, com as cortinas abertas. Caminho
lentamente para lá, apertando seu bilhete em minhas mãos.
Observo a noite estrelada do lado de fora, com o céu tão belo. Meus
olhos repousam para o local onde o veículo dele ainda está
estacionadodo outro lado da rua, de frente para o prédio, e suspiro,
sem ter ideia do que vou fazer. Ergo minha mão e mordo o cantinho
da minha unha, me recordando das palavras de Max dentro do
elevador. Elas martelam forte em minha cabeça, de forma pesada,
me estrangulando o coração.
— Ariel não é o tipo de homem que vai querer se envolver,
Cris. Não tem ideia do que ele fez com Silvia. Ele vai lhe
estraçalhar...
Quem é Silvia?
Um ex-amor, uma mulher importante em sua vida? O que
Ariel fez de tão abominável para ela que causou o repúdio de Max?
Ontem eu estava tão abalada quando Max me trouxe para casa, que
nem me atenteia isso, e agora me sinto perdida. Porque o homem
que me amou em minha cama essa tarde, não parece ser o mesmo
homem frio de olhos safiras que Max me advertiu para ter cuidado.
— Onde você foi se meter, Cristina? — sussurro,
completamente perdida
Mas, dentro de mim, eu sei que não posso esconder mais do
Ariel sobre os bebês. Terei que enfrentar sua reação, independente
de qual seja. Não posso prolongar mais o segredo. Me giro e volto
para o quarto, caminhando a passos decididos. Vou contar para ele
sobre os bebês, talvez ele entenda que não fiz por maldade, que
não penso em lhe dar um golpe e muito menos tenho pretensão em
prendê-lo a mim. Eu só quero meus filhos, poder cuidar deles.
Mostrarei o exame de gravidez e a ultrassonografia, e que seja o
que Deus quiser.
— Merda! — Coço meu nariz e solto outro espirro assim que
volto para o quarto.
Caminho direto para a janela e a fecho. Meus olhos param na
rua escura sem ninguém. Respiro com força, me negando a sentir
ansiedade agora. Não agora! Ando pelo quarto, tendo a luz do
corredor iluminando um pouco o ambiente, e empurro a porta do
banheiro. Espirro com mais força, sentindo agonia pela sessão de
espirro alérgico que me pega.
— Oh, droga! Esse gato entrou dentro do meu quarto. —
Puxo a gaveta do armário do banheiro, tentando encontrar meus
exames. Assim que seguro os documentos, espirro outra vez,
cambaleando para trás. Sinto meu pé escorregadio pela viscosidade
líquida no chão do banheiro, como se eu tivesse pisado em uma
poça de água. — Mas o quê?! — Ergo meu pé, olhando para o
chão, sem entender de onde está vindo o vazamento.
Meus dedos se esticam e aperto o interruptor. Acendo a luz
do banheiro e olho para o chão. A grande poça vermelha de sangue,
na qual eu piso, mancha o chão por inteiro. Olho a mancha vindo de
dentro do boxe e sinto meu corpo frio, com minhas pernas perdendo
forças a cada segundo. Estico minha mão e empurro a cortina do
boxe.
— OH, MEU DEUS! — grito apavorada, vendo o pobre gato
da minha vizinha pendurado pelo rabo, com a mangueira do meu
chuveirinho no ferro do chuveiro, com seu pescoço cortado.
Ando atrapalhada, com meus pés melados de sangue, e
escorrego quando tentofugir do banheiro. Meus dedos se seguram
na pia para eu não cair. E é ao olhar para o espelho, lendo a palavra
escrita com sangue no vidro, que meu corpo desaba no chão, em
meus joelhos. Engatinho para fora do banheiro, gritando apavorada,
chorando de medo, me segurando ao batente da porta para me
levantar. A luz do quarto acesa me faz erguer a cabeça para Ariel,
que entra como um furacão, parando seus olhos em mim.
— Cris!
Estico meu braço para ele, derrubando os exames no chão,
sentindo a pontada de dor que me acerta no ventre. Retraio todo o
meu corpo com a cólica forte, que me rasga como uma faca
invisível. As batidas do meu coração pulsam desregular a cada
lufada de ar, tanto que vai se tornando difícil respirar
.
— Meus bebês... Meus bebês... — Seguro minha barriga,
olhando para minhas pernas, vendo meus joelhos sujos de sangue.
— MEUS BEBÊS! EU TÔ PERDENDO MEUS FILHOS, ARIEL!
Tudo é tão frio, tão lento, enquanto meu corpo vai se
inclinando para o lado, perdendo as forças dos movimentos. O
grande corpo me pega antes de eu tocar o chão. Vejo os mesmos
olhos que me amaram parando a poucos centímetrosdo meu rosto,
se expandido, trocando as safiras por um azul-escuro, enquanto me
segura em seus braços, interrompendo a queda.
— Meus bebês... — Minha voz é um murmúrio, com os
pensamentos ficando vagos, tendo minha mente sendo invadida
apenas pela mais sombria escuridão e medo.
Capítulo 16
Atenuante
Ariel Miller

— A caixa torácica dela não suportou a colisão com o painel


do veículo no momento que ocorreu a abatida.
Tapo minha boca, mordendo o mais forte que posso minha
mão, abafando minha dor dentro do necrotério.
— Ela foi arremessada do banco de trás para a parte frontal
interna do carro. Sua morte foi instantânea. Lamento por sua perda,
senhor Miller.
Meus dedos acariciam seu rosto pequeno tão frio, retirando
seus cabelos da sua face, enquanto tombo meus joelhos no chão,
ficando ajoelhado ao lado dela, morrendo junto com minha filha.
Sinto meu coração ser arrancado de dentro do meu corpo, privado
de seus olhos alegres, da sua face risonha, que agora é apenas o
aspecto do adormecer eterno.
— Foi uma grande fatalidade. Sei que não serve de consolo,
ainda mais nesse momento, mas o senhor e sua esposa são novos,
poderão, quem sabe...
— CALE-SE, pelo amor de Deus! Antes que eu lhe mate
dentro dessa sala! — grito com ódio, urrando como um animal
ferido, que perdeu a parte mais importante do seu corpo.
Seguro sua mão pequena entre as minhas, a beijando, não
querendo acreditar que nunca mais terei ela em meus braços, que
não ouvirei sua doce voz. Na minha vida, nada pôde me preparar
para perder minha filha. Nem a condenação da minha alma no
inferno pela eternidade me faria sofrer o tanto que estou sofrendo
agora. Me deixo ficar caído, ajoelhado ao seu lado, chorando, sem
consolo algum que possa me acalmar a alma. E por quatro horas
seguidas, me mantenho aqui, ao lado dela, odiando a Deus por ter
me presenteado com meu pequeno anjo apenas para tirá-la de mim
de formatão fria. Excomungo minha fé,meus sonhos, me odeio, me
amaldiçoo por não ter a protegido. Nessa hora, nada me parece ter
valor, nem importância, nada. Nem todo o dinheiro que tenho no
banco, nem minha carreira, carros, casa, nada que eu tenho trará
minha filha de volta. Meu corpo se levanta inerte, sem alma, tão
robótico e apático como minha vida se tornará de agora para frente,
olhando meu bebê sobre a maca fria.
— O senhor gostaria de saber alguma notícia sobre sua
esposa, senhor Miller? — A voz do médico é baixa, parando ao meu
lado.
— Silvia está morta? — pergunto com a voz quebrada. As
lágrimas secaram em meu rosto, enquanto eu olho minha filha.
— Não, sua esposa...
— Então não tem nada que eu queira saber sobre ela. —
Estico meu braço, alisando o rosto frio sem vida da minha filha,
olhando para ela como eu fazia todas as noites, quando chegava
em casa e a encontrava dormindo no berço. — Gostaria que nos
deixasse a sós, doutor.
Meu coração congela, não tenho mais nenhum motivo para
pulsar com vida dentro de mim.
Seguro o exame em meus dedos, olhando para o estranho
esboço da imagem, não sendo nada mais do que dois pontos, que o
médico circulou com a caneta.
— Ela está estável agora, senhor Miller. Tanto ela como os
bebês. — Ele sorri para mim, amistoso, falando com a voz calma. —
A pressão arterial disparou.
— O sangramento era todo dela ou do gato?
— Não era dela, o sangue em suas pernas era do felino. Pelo
que o senhor me relatou, foi um grande susto para ela, o que
acabou disparando a pressão arterial. O senhor gostaria de entrar
para ver sua companheira? Ela está adormecida, mas, se quiser,
pode ficar ao lado dela.
Apenas balanço minha cabeça em positivo, tendo as palavras
bloqueadas dentro da minha garganta. Seguro firme o papel,
seguindo o médico, que me conduz para a porta do quarto, onde
Cristina está hospitalizada.
— O senhor agiu rápido ao trazer ela direto para nós, alguns
papais de primeira viagem acabam entrando em pânico — o médico
fala baixo, abrindo a porta do quarto.
Respiro fundo, pousando meus olhos em Cristina, que está
deitada na cama hospitalar. Os fios de soro estão ligados em suas
veias, e ouço o som dos bipes dos aparelhos, que medem e
controlam os batimentos cardíacos e sua pressão. Não respondo
para o médico que não sou pai de primeira viagem e que não sabia
sobre a existência dos meus filhos até uma hora atrás.
— Vou deixar vocês a sós — fala calmo, se virando para sair
do quarto.
— Obrigado.
Espero ele fechar a porta atrás de mim e caminho para perto
dela, olhando sua face adormecida, que não traz a mesma dor e
medo que estavam em seus olhos quando entrei no quarto, a
encontrando gritando apavorada. Se fechar meus olhos, ainda
posso enxergar sua mão esticadapara mim, enquanto segurava seu
ventre, implorando pela vida dos bebês. Não precisei ser um gênio
da matemática quântica quando o médico me contou de quantas
semanas Cristina está grávida. Os bebês que crescem dentro da
sua barriga são meus. E, por um instante,a sensação de perder
algo que tinha acabado de descobrir me acertou como dois punhos
fortes e certeiros em meu estômago, destrancando memórias
antigas e dolorosas, que havia detido dentro da minha mente. A
mancha vermelha de sangue do animal ainda está em minha camisa
e ainda posso sentir o suor frio do rosto de Cristina na ponta dos
meus dedos. O chão do banheiro ensanguentado, o gato pendurado
no chuveiro. O filho da puta ainda escreveu vagabunda no espelho
dela. Eu tinha saído por dez minutos, dez malditos minutos, para ir
até o meu carro, que estava estacionado do outro lado da rua, na
frente do seu apartamento,que começou a disparar o alarme sem
parar. Isso foi o suficientepara ele invadir o quarto dela e a ver nua,
adormecida na cama. Dez minutos que quase me custaram meus
filhos e Cristina! Desço meu olhar por seu corpo, parando em cima
do seu ventre, sentindo meu coração tão apertado e minha alma se
enchendo de ódio profano a cada segundo que observo seu corpo
em cima dessa cama.
— Por que não me contou, Cristina? — sussurro, perdido em
meus pensamentos, tentando compreender por que ela não me
falou que estava grávida.
O vômito no escritório, as manias dela de fugir dos
elevadores, a expressão abatida e cansada, tudo vem em minha
mente, se formando como uma quebra-cabeça. A porta do quarto
sendo aberta me faz olhar para Pietro, que passa apressado,
olhando para mim.
— Como ela está?
Meus olhos não param nele, mas sim em Maximiliano, que
caminha preocupado atrás do irmão. Afasto Pietro da minha frente e
prendo meus dedos no terno de Max, o empurrando contraa parede
e estourando suas costas com raiva.
— Sabia a verdade, não é?! — Empurro com mais força,
mantendo meus dedos presos em sua roupa, mesmo com ele
tentando se desvencilhar
.
— Me solta, porra!
— Me responda, filho da puta! Sabia que Cristina estava
grávida, e mesmo assim não me contou! — rosno com ódio a
centímetrosda sua face, estourando seu corpo outra vez na parede.
— Não era eu que tinha que te contar, Miller! — ele grita com
raiva, enquanto Pietro me puxa para trás, tentandolivrar seu irmão.
— Cristina tinha que te contar, cabia a ela contarpara você. — Solto
sua roupa com ódio, querendo socar sua cara maldita. — Se ela não
te contou, a pergunta que devia fazer para si mesmo é: o que a
levou a preferir omitir a gravidez ao invés de lhe contar a verdade?
— CRETINO DE MERDA...
— Parem os dois! — Pietro entra na frente, me olhando
nervoso, respirando fundo. — Imagino o que deva estar sentindo
com essa notícia, mas ter uma explosão de raiva não vai ajudar
.
Não, ele não tem ideia de como eu estou me sentindo. Estou
sendo levado por uma gangorra do céu ao inferno, sentindo todas
as emoções que trancafiei por anos dentro de mim aflorarem com
ardor, sem ter controlesobre elas. O som dos aparelhos bipando me
fazem virar para Cristina, a olhando preocupado. Respiro fundo e
observo a atrapalhada mulher que bagunçou minha vida em todos
os sentidos, deitada na maca, tão frágil, não lembrando em nada a
criatura doce e sensual que passou a tarde em meus braços.
— Ariel, como ela está? — Pietro coloca a mão em meu
ombro, parando ao meu lado. — Aconteceu algo com o bebê?
— Bebês... — falo baixo, deixando a palavra sair pela
primeira vez da minha boca. — Cristina está gravida de gêmeos. —
Olho para ele confuso, balançando minha cabeça. — Vou ser pai de
gêmeos, Pietro, gêmeos...
— Gêmeos? — Max fala baixo, olhando para a cama.
— Seu filho da puta sortudo, não acredito que acertou dois
tiros de primeira! — Pietro bate em minhas costas,rindo para mim e
virando seu rosto para Cris. — Estou feliz por vocês, meu amigo,
realmente estou feliz!
Nunca imaginei sentir essa emoção outra vez, nunca me vi
sendo pai de novo. Havia trancafiado essa palavra dentro de mim,
junto com as lembranças dolorosas, mas agora, olhando para Cris,
compreendo que não consigo parar de pensar que fizemos nossos
filhos naquela noite, embriagados dentro do quarto do hotel.
— Eu vou ser pai.
Me afasto de Pietro e caminho para perto da cama, esticando
minha mão, repousando-a sobre a barriga de Cristina, me
permitindo pela primeira vez tocar seu ventre conhecendo sobre a
existência dos meus filhos. Ergo meus olhos para ela, e dentro de
mim sei que vou caçar esse filho da puta até dentro do inferno.
— Vou acabar com Renan Pener, Pietro. Vou fazê-lo se
arrepender amargamente por ter machucado ela — falo baixo,
deixando o ódio profano sair da minha boca. — Mato esse homem
com minhas próprias mãos, se for preciso, mas ele vai se
arrepender.
O som das batidas na porta me faz olhar para lá. Logo ela é
aberta, me deixando ver o policial que chama por mim.
— Doutor Miller, sou o investigador responsável pela
ocorrência na residência da senhorita Self, poderia me dar um
segundo do seu tempo?
Olho para Cristina, relutando em deixá-la, mas será
necessário. Bobe chamou a polícia,tinha feito o que mandei quando
desci às pressas do apartamentode Cristina, com ela desmaiada
em meus braços.
— Sim — respondo para ele, caminhando para a porta,
sendo seguido por Pietro.
— Já foram atrás do responsável? — Pietro pergunta sério
para o policial, parando no corredor, do lado de fora da porta do
quarto de Cristina, cruzando os braços sobre o peito.
— Não, ainda não temos nada, o caso é muito atenuante[24].
— Atenuante? — pergunto sério para ele. — Acha que
invasão de propriedade, maldade com um animal, o qual foi
degolado de ponta-cabeça,preso dentro do banheiro dela, com uma
palavra agressiva escrita no espelho, claramente sendo uma
ameaça e coação para uma mulher grávida, é atenuante?
— Não estou dizendo que não estamos dando importância a
esse caso, doutor Miller. Mas não tem arrombamento, não teve
invasão. As câmeras de segurança não pegaram ninguém estranho
no prédio, e, infelizmente, a lateral do prédio não tem segurança de
câmeras nas escadas de incêndio.
— Filho da puta! — rosno com ódio, esfregando meu rosto.
Pietro balança a cabeça em negativo, olhando para o policial.
— A senhorita Self tem uma medida protetivacontra seu ex-
companheiro, a qual ele não cumpre, então me diga, qual prova
precisa para ir atrás dele?
— É apenas uma suposição, ninguém o viu no prédio,
perguntamos para os vizinhos, revisamos as filmagens.
— Inacreditável, inacreditável! — Pietro resmunga com raiva,
olhando para mim.
— Passei apenas para lhe assegurar que vamos investigar
esse caso a fundo, doutor Miller.
— Eu percebi — respondo irônico, olhando sério para ele.
Capítulo 17
Irrevogável
Cristina Self

— Está com fome, sede, quer algo?


— Não, eu estou bem... — Estalo meus dedos, os apertando
um a um, observando minha mala ser depositada lentamente no
chão. — Por que eu não estou no meu apartamento?
— A polícianão liberou ele ainda, e não é seguro para você
ficar lá. — Ariel atravessa o grande quarto, se encaminhando para a
janela, abrindo as cortinas bordô.
Observo o grande quarto com carpete creme no chão, a
cama de casal arrumada ao canto, com o guarda-roupa combinando
com a cabeceira da cama.
— Ali fica o banheiro, o guarda-roupa pode usar para guardar
suas coisas.
Ele não olha para mim, nem sequer me dirige as palavras
diretamente. Seus olhos passam por todo o cômodo, menos em
minha face. A única vez que Ariel me olhou diretamentenos olhos e
manteve o mais humano e brando contatovisual comigo, foi no
domingo de manhã, quando eu despertei, e ele estava sentado na
cadeira, ao lado do leito da minha cama. Sua face se abaixou,
recaindo sua atenção para o meu ventre, me deixando saber que
ele enfim tinha descoberto sobre a gravidez. Sua voz foi baixa
quando me falou que estava tudo bem comigo e com os bebês. Eu
tinha me preparado, de certa forma, para qualquer tipo de reação
que ele tivesse: explosão de raiva, grito, seu cinismo e até
aceitação, que eu tinha esperança que iria haver, mas a única coisa
que eu não tinha previsto foi seu totalsilêncio. Ainda fiquei vinte e
quatros horas em observação no hospital, até o médico me dar alta,
e qual não foi a minha surpresa quando a porta do quarto foi aberta
na segunda-feira por Ariel, taciturno, segurando uma mala minha em
seus dedos. Ele não foi para meu apartamento, e muito menos
ouviu meus protestosquando disse que queria ir para a casa da
minha mãe, que estaria segura lá. Ele me trouxe para a residência
dele. Sua casa fica afastada de Sacramento, é grande, arejada e
completamente silenciosa, com paredes brancas, arquitetura
moderna, tão sem vida e calor humano quanto seus olhos safiras
estão agora, olhando para a varanda do quarto.
— Ariel... — chamo por ele, vendo seus ombros enrijecerem
e a pequena repuxada em seu pescoço para a esquerda não me
passa despercebida.
— Por que não me contou sobre meus filhos? — Ele
finalmente volta sua face para mim, parando seus olhos enigmáticos
nos meus.
— Eu tentei... — respondo baixo, mordendo a lateral dos
meus lábios. — Estava tentando achar o momento certo.
— O momento? — Sua voz é fria, se igualando ao seu olhar,
quando me corta de uma única vez. — E quando exatamente seria
esse momento? Talvez quando lhe perguntei sobre o
anticoncepcional? Ou quando passou mal dentro da firma? Talvez
até nos primeiros dias teria sido interessante.Então me fala, qual
seria a porra do momento perfeito para me contar que está
carregando meus filhos, Cristina?!
— Eu não sei, tá legal?! — Tapo meu rosto, negando com a
cabeça. — Tive medo.
As palavras saem pesadas, igual meu coração se sente
agora. Ergo meu rosto e olho para ele, que se mantém fechado.
— Medo?! Medo de ser mãe? Medo de ter que cuidar de
outras vidas? Defina seu medo. Não queria meus filhos, é isso? —
Sua forma fria me contra-atac
a com palavras maldosas, me olhando
como se eu fosse um animal irracional.
— Oh, meu Deus! Como ousa abrir essa sua boca arrogante
de merda para dizer uma banalidade desse tipo?!
— Eu não sei, estou tentando entender porque omitiu a
verdade sobre meus filhos. Talvez não os quisesse, por isso não me
contou. Pretendia abortá-los?
— NÃO! — grito com raiva, negando com a cabeça para ele.
— Por anos da minha vida achei que eu era seca, Ariel, uma mulher
incompletapor não poder gerar uma vida. Renan usou isso para me
torturar, me culpando por não poder lhe dar um filho. Isso me
destruiu psicologicamente... E quando descobri sobre os bebês e
sobre a mentira de Renan, sobre eu não poder ser mãe, foi o
momento mais assustador e mágico da minha vida. A única certeza
que eu tive, e tenho dentro de mim, é que eu vou protegê-los...
— De mim? — O som rouco sai da sua boca em tom de
ressentimento.
— Se for preciso, sim. — Ergo meus dedos para minha
barriga, abaixando minha face para meu ventre, segurando o choro.
— Eu não quero nada, não vou te obrigar a nada também. — Sinto
as lágrimas quentes escorrerem pela minha face, mesmo eu
tentandoprendê-las. — Mas eu não vou deixar você tirar eles de
mim.
O som dos passos dele atravessando o quarto é tudo que
ouço antes do meu corpo ser arrematado em seus braços, me
apertando forte. Sinto meu coração voltar a bater com força em meu
peito a cada segundo que ele me acalenta. Ariel afasta apenas um
pouco sua face da minha, trazendo uma de suas mãos para frente,
alisando minha bochecha, retirando os óculos, que estão
embaçados pelo choro dos meus olhos.
— Eu apenas precisava ter certeza de que você os quer o
tanto que eu quero.
Fungo baixo, ficando com meus olhos presos aos seus, não
sabendo o que ele quer dizer com isso. Como ele pôde achar que
eu não queria meus filhos?
— Não existe lei e poder nesse mundo que me faça renunciar
a eles, Ariel.
Ariel me abraça em silêncio, trazendo minha cabeça para seu
peito. Sinto seu queixo no topo dos meus cabelos, com o som calmo
da sua respiração.
— Venha, precisa deitar-se um pouco. — Sua voz rouca, em
tom brando, sussurra para mim.
Girando nossos corpos lentamente, nos leva para a cama.
Ele me deita e se arruma ao meu lado, ficando em silêncio. Fecho
meus olhos, sentindo o toque quente da sua mão sobre minha
barriga, com seu peito arfando para frente a cada respiração
pesada. Estou tão cansada e exausta, que não quero brigar. Não
quero gritos, nem ataque de fúria, apenas quero proteger meus
filhos.

— Gosta?
Desvio meus olhos do grande jardim para Ariel, que entra na
varanda da sala com suas mãos nos bolsos.
— É bem espaçosa. — Volto a olhar o jardim, percorrendo
meus olhos pela piscina. — Para ser franca, achava que você ainda
estava hospedado no hotel.
Ouço a risada baixa dele, enquanto dá um passo à frente, se
virando de frente para mim.
— Para ser franco, vim apenas três vezes aqui, ainda durmo
naquele mesmo quarto de hotel. — Ariel olha em volta, parando sua
atenção em mim. — Eu comprei ela tem quatro semanas. Um antigo
cliente de Nova York, que é corretor de imóveis, entrou em contato
com alguns conhecidos e conseguiu achar essa casa para mim.
— Ela é linda, muito linda! — Desvio meus olhos dos seus,
abaixando para meus sapatos. Esfrego meu braço com minha mão,
podendo imaginar como as crianças vão ficar felizes aqui, quando
vierem visitar o pai.
— Tem bastante espaço, é distante, gosto disso.
— Sim, tem bastanteespaço, e parece ser muito segura. —
Ergo meu rosto para ele, tentando não me sentir melancólica. — Vai
ser bom para você ter todo esse espaço com a chegada dos bebês.
Veja se aquele quarto lhe agrada, escolhi ele para ser o quarto de
casal por conta do quarto ao lado, que vai ficar com as crianças.
— Como? — Pisco, confusa, olhando na direção dos
corredores do quarto. — Quarto de casal?
— Não pensou que vou dormir no sofá, não é?
— Não somos um casal, Ariel, a gente apenas...
— Transa e faz filhos no tempo livre?!
Ele arqueia a sobrancelha, me encarando, negando com a
cabeça. Esfrego minha nuca, batendo meu pé no chão, preocupada.
— O que está querendo dizer com quarto de casal, Ariel?
— Estou falando sobre onde os casais dormem juntos depois
que se casam.
— VOCÊ QUER CASAR?!
— Esperava pelo menos um anel ou você de joelho, um
pedido romântico. Mas, pedindo assim, tão eufórica... eu aceito! —
Ariel passa por mim e entra na casa, me deixando atrapalhada com
o cinismo dele e com essa mania de distorcer minhas palavras.
— Ariel... Ariel, volte aqui, eu não lhe pedi em casamento,
você sabe muito bem disso! — Caminho rápido atrás dele. — Não
pretendo me casar.
— Uma pena, porque você já pediu e eu aceitei. — Ele
aponta para a mesa, nem sequer se dando ao trabalho de disfarçar
sua arrogância. — Tem que se alimentar, se sente.
— Não vamos nos casar, doutor Miller! — Puxo a cadeira, me
sentando emburrada, discordando completamente dessa ideia
absurda. — Não existe casamento por conta de filhos, está me
entendendo? Somos dois adultos e podemos agir como tais.
— Preparei torradas, se quiser tem frutas, o que prefere?
— Ariel, pare de me ignorar!
— Não estou lhe ignorando, fiz uma pergunta comum. — Ele
aponta para a torradeira e para as frutas em cima da mesa. — O
que prefere?
Filho da puta prepotente,está fazendo isso de propósito, nem
sequer dá ouvidos para o que eu falo! Retiro os óculos e esfrego
meu rosto, bufando com raiva pelas minhas narinas.
— Não vou me casar com você...
— Torrada. — Ele pega um prato, indo para a torradeira,
caminhando com preguiça. — Entenda uma coisa, Cristina, não vou
ver meus filhos em horários estipulados ou festas de final de ano,
muito menos deixar outro homem criá-los.
— Não funciona assim. Você, melhor do que ninguém,
entende de leis e sabe que podemos ter a guarda compartilhada.Eu
já tenho vontade de matar você apenas por trabalharmos juntos,
imagina se for sua esposa?
— Pequenos detalhes matrimoniais que podemos chegar em
comum acordo.
— Casamento não é um acordo. E eu vou deixar claro para
que entenda: não vou me casar com você!
Ariel se vira rápido, depositando o prato à minha frente e o
empurrando para mim. Mesmo sobre seu olhar zangado, não desvio
nem por um centímetro meus olhos dos dele.
— Entenda uma coisa:não vou deixar meus filhos em perigo
por conta da sua teimosia, e muito menos lhe deixar voltar para
aquele apartamento. — Seus punhos se fecham ao lado do corpo,
cerra seu maxilar. — Quem segurou você no colo foi eu, quem teve
que descobrir a existência dos meus filhos enquanto você estava
entrando no pronto-socorro foi eu, não estou inclinado a revogar
minha sentença.
— Não sou uma das suas clientes, doutor Miller! Muito menos
um acordo comercial será feito pela segurança dos meus filhos. Vou
voltar para minha casa...
— PELO AMOR DE DEUS! O FILHA DA PUTA ENTROU NO
SEU APARTAMENTO, CRISTINA!
Me calo, ficando congelada assim que sua voz estoura dentro
da cozinha, seguida de um soco forte em cima da mesa. Sinto meu
corpo trêmulo e assustado, meus olhos arregalados, e respiro com
força. Ariel amaldiçoa baixo, recolhendo seu braço, com sua face
vermelha de raiva, virando de costas para mim. Não consigo falar,
nem sequer sei se posso me mexer, me sinto paralisada com seu
rompante.
— Merda! — Vejo suas mãos passarem por seus cabelos,
com ele soltando uma respiração pesada. — Preciso que entenda
que não está segura. Renan entrou dentro daquele apartamento
sem ninguém ver. Ele deve ter entrado no quarto enquanto você
dormia, depois de disparar o alarme do meu carro, o que me obrigou
a descer para o desligar. Ele não teve medo de ser pego, ele foi frio,
deixando um animal degolado dentro do seu banheiro, Cristina. —
Fecho meus olhos, desejando poder esquecer aquela barbaridade
feita ao pobre animal. — Nossos filhos não estão seguros. Quero
cuidar de vocês.
Ariel gira seu corpo e caminha lento, parando perto de mim.
Observo sua mão tão grande, com os nervos vermelhos, por ter
socado a mesa. Ele poderia me derrubar apenas com um tapa, se
ele quisesse.
— Não me olhe assim, por favor. — A voz rouca dele sai
baixa. Se aproxima mais um pouco de mim, com cautela. — Estou
zangado, isso é visível, mas eu nunca machucaria você. Nunca na
minha vida eu lhe faria mal, Cris.
A verdade é que, no fundo do meu coração, eu desejo poder
acreditar nisso, mas as memórias que me prendem me seguram ao
meu medo. Eu nunca conheci Ariel verdadeiramente, não sei como
era sua vida em Nova York, muito menos como foi sua relação
antiga. As palavras de Max voltam a me assaltar e tudo me
amedronta.
— Só quero cuidar de você. — Ariel estica sua mão para
tocar as minhas em cima da mesa, mas para seus movimentos
assim que eu recolho as minhas, as depositando em minhas pernas.
— Eu vou ficar aqui até minha mãe retornar de viagem, Ariel.
Já tem minha resposta sobre sua ideia de casamento, e ela é
irrevogável.
Empurro meu corpo para fora da cadeira e me levanto
apressada. Sinto minhas pernas fraquejarem pelos tremores
enquanto caminho, voltando para o quarto, tentando manter o
controle da minha respiração. Fecho a porta atrás de mim, meu
rosto se inclina para frente, repousando minha testa na madeira,
sentindo toda as lembranças me rasgarem de dentro para fora.
Gatilhos, malditos gatilhos sendo disparados dentro da minha
mente!
— Não faznada, absolutamente nada nessa porra de vida, e
a única coisa que te peço, ainda faz errado! — Renan se move
rápido, me deixando encurralada na porta do banheiro. — Tem
alguma coisa aqui dentro? Hein? Sabe usar isso que tem na sua
cabeça? — Seu dedo esmaga com força minha testa, cutucando
com raiva. — O nome dessa porcaria é cérebro, mas acho que você
não tem, é oco aí dentro, vazio igual seu útero!
— Eu não fizde propósito, sinto muito. — Fecho meus olhos,
desejando desaparecer.
— Você sempre sente muito. Sente pelo quê, Cristina? — O
som do punho socando a porta do banheiro, ao lado do meu rosto,
me faz ficar paralisada. — Pelo que sente? Por ser uma
imprestável? — ele grita com raiva, empurrando sua camisa
estragada com força para meu peito.
Continuo petrificada, enquanto ele se afasta, entrando no
chuveiro, me xingando por conta do tecido da sua camisa polo que
diminuiu durante a secagem na máquina de lavar e secar. Me
arrasto de mansinho, saindo do quarto, usando como abrigo a
lavanderia. Tapo meu rosto, chorando por ser tão burra, por não ter
separado as peças de roupas na hora da lavagem. Estou tão
atarefada, que apenas peguei todas as roupas e joguei dentro da
máquina, não conferindoquais estavam misturadas. Nem para lavar
a porcaria de uma muda de roupa eu presto!
— Ei, bonequinha. — A voz baixa fala tão lenta perto do meu
ouvido, abraçando meu corpo por trás. — Estou zangado, não
queria te magoar. — Renan beija o topo da minha cabeça,
acariciando sua face em meus cabelos. — Eu nunca machucaria
você, nunca na minha vida eu lhe faria mal, amor. Você é minha
bonequinha de porcelana.
Sinto seu peito úmido pelo banho se colar em minhas costas.
Sua mão empurra meus cabelos para meus ombros, beijando meu
pescoço. Sinto a lágrima escorrer pela minha bochecha, tão
dolorosa, como se seu toque me machucasse.
— Eu cuido de você, protejo você.
O arrepio que percorre meu corpo não é de prazer, e muito
menos de emoção por seus carinhos, é apenas a mais pura
melancolia.
— Eu cuido, não cuido?
Sua mão esmaga meu peito por cima do tecido do vestido,
mordendo minha orelha com força.
— Responda minha pergunta, Cristina! — Sua voz não é
mais baixa, o tom carregado de agressividade escondido em
rouquidão é firme. Ele leva a outra mão para a barra do vestido.
— Sim, sim, você cuida. — Tento segurar sua mão, para ele
não erguer meu vestido, mas isso apenas o instiga. Nos empurra
para perto da máquina e pressiona a frente do meu corpo nela. —
Renan, por favor... Por favor, hoje não.
Minhas palavras são apenas um murmúrio em meio ao choro.
Não quero seu toque em meu corpo.
— Cuido de você, lhe dou uma vida de princesa. Sabe que
sem mim, você não seria nada, Cris. — Sua respiração quente
acerta minha nuca, enquanto ele beija minha pele. — É tão
distraída, atrapalhada, delicada como uma bonequinha, por isso eu
lhe protejo.
— Renan, por favor...
Sinto o empurrão em minhas costas abruptamente, meu tórax
é inclinado em cima da máquina de lavar, com a lateral do meu rosto
colando ao frio do material de inox do eletrodoméstico.
— E quando eu peço uma coisa, uma única coisa simples,
você ainda faz errado. Isso me deixa chateado, amor. — Sua mão
joga o vestido para cima das minhas costas, enquanto sua perna
empurra a minha para o lado. Sinto seus dedos puxarem a calcinha
para o lado e ouço o som forte da sua respiração. — Você me deixa
bravo, me fazficarzangado com besteira. Por que fazisso, boneca?
Por que gosta de me deixar chateado? Isso é culpa sua.
Mordo meu pulso com força,abafando o grito de dor quando
sinto minha boceta ser invada de forma bruta, sem lubrificação
alguma. A mão forte se prende na minha cintura, tendo a outra
sendo posta em meu ombro, sustentando os impactos do seu
quadril em meu traseiro.
— Eu cuido de você, sempre vou cuidar de você, amor.
O som da sua voz em meio aos gemidos sai alta. Me fodendo
com mais rapidez, seus dedos comprimem meu ombro, me fazendo
sentir dor com a forçaque ele deposita no toque. Abro meus olhos,
focando no azulejo branco da lavanderia, tendo apenas o som da
respiração forte de Renan dentro do cômodo.
— Não cuido bem de você?
— Cuida — sussurro, sentindo minha alma morta, tendo as
lágrimas quentes transbordando pelos meus olhos.
Capítulo 18
Lei e ordem
Ariel Miller

— Tem que ter paciência com a moça, Ariel.


Ergo meus olhos para Greg, que me observa sentado na
cadeira do seu quarto de hotel, ouvindo eu contar sobre Cristina.
— Eu tenho paciência, só que assintomática. — Solto a
porcaria da gravata, respirando com desânimo. — Não sei como
fazer ela entender que não vou deixá-la sozinha e muito menos
meus filhos. Não pretendia ser pai, Greg, jamais me imaginava
construindo uma família novamente, mas agora que tenho, não
estou disposto a abdicá-los...
— Já contou isso a ela? Falou sobre Dolly e Silvia com
Cristina?
Nego com a cabeça. Tinha passado a noite dentro do
hospital, sentado ao lado do seu leito, revivendo cada momento do
meu passado em minha mente:as brigas constantesentre Silvia e
eu, o fim do casamento, a trágica forma como perdi minha filha.
Tudo me nocauteava:a mistura de emoções, a forma como Cristina
entrou em minha vida, os sentimentosnovos que ela me faz sentir, o
choque pela descoberta da sua gravidez, o pavor que senti ao
segurar essa mulher desmaiada em meus braços, e o ódio
incondicional que estou nutrindo por Renan Pener .
— Gosta dela? — Levanto meu rosto para Greg, que está
pensativo.
— Aprecio a companhia de Cristina.
— Da mesma maneira que apreciava a companhia de Silva
quando vocês dois se casaram? Porque, se for assim, você já sabe
que não vai funcionar.
— Não! — Minha voz sai firme, negando essa comparação
entre a empolgação que eu e Silvia sentíamosum pelo outro, ao
que Cristina me faz sentir. — Cristina é diferente, ela me desperta
emoções confusas.
Não sei como explicar, nem sei ao certocomo dizer a ele que
aquela mulher me leva do céu ao inferno em questão de segundos,
me desencadeia batidas descompassadas em meu coração na
mesma proporção que a vontade de estrangular seu pescoço fino
por conta da sua teimosia é grande.
— Talvez esteja fazendo errado, meu amigo. Sempre admirei
sua inteligência e astúcia dentro de um tribunal. Como advogado,
seus atributosintelectuaissão incontestáveis,mas quando se trata
de sentimentos, assuntos do coração, você é um ser obtuso — Greg
fala, rindo. Se levanta e caminha para o frigobar.
— Obrigado pela sua franqueza desnecessária, Greg — o
respondo com ironia.
— Qual é, Miller? A garota não tem lembranças nem um
pouco memoráveis do seu antigo matrimônio, passa por uma
situação pavorosa, e você acha que ela iria ir saltitando para os
seus braços, quando você a pediu em casamento?
Desvio meus olhos dos seus, ficando calado. Greg pega uma
garrafa de água do frigobar, o fechando, ficando estático, me
encarando por um segundo.
— Oh, merda! Não me diga que você nem ao menos fez um
pedido decente para a garota.
— Tecnicamente, foi ela quem fez o pedido.
— Usou manobras com ela, não foi?! Filho da puta! — Greg
abre a garrafa de água, a levando aos lábios, enquanto sorri.
— Ela vai aceitar, apenas preciso achar uma forma de induzi-
la a ver que meu ponto de vista é mais assertivo que o dela.
— Assertivo seria você agir como um ser humano e descartar
todos os protocolos que aprendeu em todos esses anos de
advogado. Lidar com uma mulher que deseja ter ao seu lado não é
como um caso jurídico,Ariel, mas sim coração. Use isso, não isso.
— Greg aponta do seu coração para sua cabeça. — Mude a
estratégia, seja paciente e descubra uma forma de conseguir
demonstrar esse lado meigo que você deve ter enterrado em algum
canto bem fundo e escuro da sua alma.
Fecho meus olhos e nego com a cabeça, rindo com a forma
de velha casamenteira que Greg tinha se transformado.
— Obrigado pela sua consultoria amorosa, mas não foi para
isso que eu pedi para que viesse para Sacramento, Greg. — O
encaro sério, finalizando essa conversa de coração. — Como foi a
viagem para cá?
— Foi maçante. Sabe como é. Mas esse hotel que arrumou
para me hospedar é bom. — Ele pisca para mim, sorrindo irônico. —
Então me chamou aqui para eu ser seu padrinho de casamento, ou
uma testemunha a seu favor, caso a moça denuncie o cárcere
privado que você impôs a ela?
— Ela não está em cárcere privado, Greg. — Fecho meu
semblante, negando com a cabeça.
— Não? Jura? Então me conte quantos seguranças ficaram
cuidando da sua casa, com ordem absoluta de não a deixar sair da
sua residência?
— Dois — falo baixo, desviando meus olhos dos seus,
verificando a hora em meu pulso.
— Miller? — Sua impertinência aumenta, com ele me
encarando astutamente.
— Inferno! Foram cinco, ok? Deixei cinco seguranças —
respondo rápido, afrouxando o nó da minha gravata. — Preciso ir
para as montanhas, tenho que garantir a segurança dela.
— Viu, isso para mim se enquadra legalmente em sequestro.
— Não, não se enquadra. Legalmente sou apenas um
homem superprotetorcom a segurança da minha residência e de
quem está dentro dela.
— Seu cretino. — Greg ri e caminha para perto da sacada.
Ele cruza seus braços, me olhando sério. — Disse que vai para as
montanhas, está indo paraGeorgetown, visitar o velho?
— Sim. — Respiro fundo, confirmando com a cabeça para
Greg.
— Já tem quanto tempo que vocês não se falam? Três ou
quatro anos? — Greg coça a nuca, soltando um longo assobio, me
olhando curioso.
— Desde a morte de Dolly.
— Nossa, tem tempo que estão sem se falar. Vai contar para
o desembargador sobre os netos dele?
Eu não sei ainda. A verdade é que ir visitar meu pai é a última
coisa que eu quero, mas sei que ele é o único a poder me dar
qualquer tipo de informação sobre a família Pener. Seus contatos
antigos sempre lhe devem favores, e não há nada que o
desembargador Ostem Miller não saiba.
— Ele pode saber de algo útil para me auxiliar com o pai de
Renan, afinal, é justamentepor conta do velho que esse merda se
garante.
— Durante a viagem analisei os documentosque me mandou
por e-mail, pelo visto vai querer trabalho completo, né, Miller?
Balanço minha cabeça para ele em positivo. Greg é bom no
que faz, o conheço desde que comecei minha carreira de advogado.
Trabalhamos em muitos casos juntos, com ele levantando todas as
informações dos meus clientes, me deixando me antecipar a
qualquer alegação do lado oposto. É o melhor detetive particular
que já conheci. A princípio, o chamei para me ajudar com Stano
Brat, mas agora tudo mudou, meu alvo se tornou um só.
— Quero tudo sobre Pener. O que faz, o que fez, quantas
mulheres já passaram pelo mesmo que Cristina passou nas mãos
dele. Se esse filho da puta der um espirro, eu quero saber quem foi
que lhe entregou o lenço.
— Pode deixar, chefe. — Greg balança a cabeça em positivo,
me deixando saber que ele não falhará. — Vou fazer um pente fino
minucioso.
— Mandei o endereço do apartamentodela para seu e-mail
também, quero que vá até lá, converse com os vizinhos, com os
pedintes da rua, qualquer um que o tenha visto. A políciadisse que
não tem nada que prove que foi Renan que entrou no apartamento
dela, que as câmeras de segurança do prédio não pegaram
ninguém, mas eles não procuraram as câmeras dos comércios da
rua. Deve ter alguma, de um poste, banco ou da loja de
conveniência que tem na esquina, pode ser que uma delas o tenha
filmado.
— Depois disso, o que pretende fazer?
— Ele é um predador frio, Greg. Sem medo porque sabe que
tem costas quentes com o cargo políticodo pai dele, mas como todo
predador que se sente inalcançável, está propenso a erros. Ele deve
ter deixado rastro, deve ter caçado durante esse tempo do divórcio.
— Respiro fundo, batendo a ponta do meu sapato no chão. —
Busque pelas mulheres que passaram pela vida dele, antes e
depois de Cristina.
— Se estiver certo em suas suspeitas, não será apenas um
agressor.
— Sim, exatamente isso — respondo baixo.
Se eu realmente estiver certo em minhas suspeitas, Renan
Pener é mais perigoso do que Cristina pensa. Tinha visto suas fotos,
seus olhos vazios, ele é um predador nato.
— Sei de uma promotora de justiça que vai gostar de saber
que existe um predador sexual à solta em Sacramento.
— Adele?! Jura? — Balanço a cabeça em negativo para ele.
— Ela me odeia desde o caso de Lorax.
— Não tinha como saber o que aquele monstro iria fazer
depois que foi absolvido.
— Sim, eu tinha — falo sério para Greg, me virando,
caminhando para a janela do seu quarto de hotel.
Eu sabia, dentro de mim, que Charles Lorax era um maníaco
filho da puta. Os olhos frios sem alma que me encaravam, quando o
homem sentou-se na cadeira dentro da minha sala na primeira vez
que o vi, confirmavam que ele era culpado. Charles Lorax tinha
espancado aquela mulher com toda força que seu punho pôde
desferir no rosto dela. A garota de programa apenas conseguiu se
salvar porque acertou um chute entre as pernas dele quando ele
tentouestrangular seu pescoço, e aproveitou o segundo de chance,
pulando pela janela da sala, correndo para a rua, gritando incêndio.
Todos os vizinhos saíram para fora, para saber o que tinha
acontecido, mas ela não parou, continuou correndo, até ninguém
mais a ver. Reapareceu duas semanas depois, que foi quando deu
queixa na polícia. Adele se interessou pelo caso de agressão na
mesma hora, ainda mais porque estava de olho em Lorax há muito
tempo. Ele já tinha espancado outras prostitutas,mas nenhuma
delas iam adiante, retiravam a queixa no outro dia.
Eu não me importei. Nunca me importei com quais eram os
motivos que faziam meus clientes passarem por minha porta em
busca do meu serviço. Apenas cumpria meu trabalho, finalizava os
casos e me concentrava no próximo. A garota não errou apenas
porque procurou a polícia duas semanas depois, mas sim porque
especulou sobre quanto ganharia em cima de uma indenização
corporal. Precisei apenas dessa informação para desmerecer o caso
inteiro diante do tribunal. Sem testemunha que reconhecesse que foi
ela que saiu gritando na rua, sem perícia da agressão ou
confirmação que ele tinha solicitado seus serviços aquela noite, se
tornou fácil derrubar o caso. Foi um castelo de cartas frágil e sem
nada sólido, que não ratificava que foi meu cliente que a espancou.
Charles Lorax foi absolvido pela corte.
Três semanas depois do julgamento, enquanto eu estava
trancado dentro do meu apartamento, sobrevivendo de bebidas
alcoólicas e com uma dor sem fim pelo luto da perda de Dolly,
acompanhei pelo noticiário matinal a prisão de Charles Lorax, pelo
assassinato de uma garota de programa. Livinia Lin tinha vinte anos
e estava se vendendo para pagar a faculdade. Ela foi brutalmente
estuprada e depois teve seu corpo esquartejado, sendo enterrado
no quintal, ao fundo da residência de Lorax. O cachorro do vizinho
apareceu um belo dia roendo o pé de um cadáver e,
automaticamente,seu dono ligou para a polícia.Adele tinha me dito
no dia do julgamento, quando Charles foi absolvido, que desejava
que eu sofresse muito com a minha consciência quando isso
acontecesse. E ela tinha razão, eu sofri, e não tem um maldito dia
da minha vida que não fecho minhas pálpebras e não pense nos
olhos frios de Charles Lorax, sentando-se à minha frente e me
dizendo que era inocente, mesmo eu sabendo que ele era culpado.
Não vou cometer esse mesmo erro com Pener. Não vou
cometero mesmo erro, o qual eu cometicom Dolly, com meus filhos
e Cristina.
— Quando vai querer que eu comece?
Me viro para Greg, retirando minha mão do bolso. Arranco
meus óculos escuros, que estão enganchados em minha camisa, os
levando para meu rosto, e digo:
— Agora.
Lhe dou sua resposta e caminho para a porta de saída do
quarto.
Cristina Self
— A senhora precisa de alguma coisa?
— Senhorita — respondo séria, fechando meu semblante
para o gigante homem parado diante da porta. — Preciso que saia
da minha frente.
— As ordens que recebi são para deixá-la dentro da casa,
senhorita — ele fala calmo, esticando seus braços, parando-os à
frente do seu corpo, com seus ombros retos. — Se deseja algo,
apenas precisa me dizer, que peço para um dos meninos ir buscar.
— Ordens... — Respiro fundo, puxando o ar pelo nariz,
esmagando minha bolsa em minha mão, tentandocompreender o
que Ariel aprontou. — E como assim meninos?
Estico meu pescoço, olhando para o lado, tentandover algo,
me atentando às palavras do grande homem.
— Os outros seguranças, senhorita. Sou o chefe dos
seguranças, estou aqui como seu guarda-costas pessoal...
— Oh, meu Deus! — Ergo a mão para meu coração,
espalmando-a sobre a camisa, esfregando freneticamente,sentindo
minha respiração se acelerar. — Não acredito que ele teve a
audácia de fazer isso...
— Está se sentindo bem? Precisa de um médico? — o
grandão com voz rouca fala, preocupado, dando um passo em
minha direção. O que automaticamentefaz meu corpo dar três
passos para trás, balançando a cabeça em negativo.
— Vou matá-lo... Deus, vou matar aquele homem! — Quero
gritar de ódio.
Apenas queria sair um pouco da casa, já estava cansada de
ficar deitada a tarde toda. Seria uma esticada de pernas, uma
caminhada para tentar descobrir exatamente onde estou. Mas foi
apenas abrir a porta da casa, para me deparar com o protótipode
Wesley Snipes[25], parado feito uma estátua,me encarando. A face
fechada, com o cabelo curto em corte militar, deixa o homem negro
mais mal-amado, com seus óculos escuros e o grande casaco preto
que ele veste, além do coturno de soldado no pé. Se ele me
dissesse agora que sai caçando vampiros no meio da noite, igual no
filme Blade[26], eu acreditaria.
— Quantos de vocês ele deixou aqui?
— Cinco, senhorita.
— CINCO? — A palavra sai em um grito pelos meus lábios,
com meus olhos se expandindo em espanto. — O que ele acha que
eu sou? Uma criminosa fugitiva? — Nego com a cabeça, não vou
aceitar essa loucura de Ariel. — Olha, não quero ser grossa com
você... — Pisco, confusa, tendo que ficar com o pescoço esticado
para encarar o grande homem. — Qual seu nome, moço?
— Me chamo Brow.
— Brow, eu sou a Cris...
— Cristina, senhorita Cristina Self, doutor Miller me passou
todas as informações sobre a senhorita.
— Claro que ele passou, aquele egocêntrico de merda! —
xingo Ariel com raiva, olhando para dentro da casa. — Olha, eu não
preciso de segurança para sair e comprar uma barra de chocolate
ou dar um passeio. Pode ir embora, sim? Eu não preciso dos seus
serviços.
— A senhorita quer de qual marca?
— O quê? — Olho confusa para ele, que me interrompe,
parecendo não ouvir o que eu acabei de lhe falar.
— O chocolate.
— Eu não sei, gosto de todos. Veja, meu sabor preferido de
chocolatenão vem ao caso, o ponto dessa conversa é o que estou
te falando agora, eu não preciso de um guarda-costas...
Ele se vira, me largando falando sozinha, levando sua mão à
orelha enquanto conversa com alguém. O celular dentro da minha
bolsa começa a tocar, me fazendo abri-la com raiva. O atendo de
forma brusca, levando-o ao meu ouvido.
— Alô — murmuro com ódio.
— COMO ASSIM EU VOU SER AVÓ?
O grito estridente do outro lado da linha me fez afastar o
aparelho alguns centímetros da minha orelha.
— Graças a Deus! — Me sinto aliviada ao reconhecer os
gritos da minha mãe. — Por que não me atendeu e não retornou
minhas ligações, mãe?
— Eu estava fazendo um tour por Marrocos, deixei o celular
no hotel que estou hospedada, sabe que não mexo muito nele.
— Eu te liguei, só Deus sabe quantas vezes, mãe. Tem ideia
da loucura que está minha vida? — Respiro com urgência,
massageando minha nuca, desejando poder passar pelo outro lado
da linha e esganar essa mulher.
— Eu sinto muito, meu amor, sabe como eu sou. Respire com
calma. Ande, estou ouvindo sua respiração disparada daqui. —
Tento não prestar atenção na voz debochada dela enquanto estou
sofrendo um ataque de raiva. — Não sabia que se eu lhe deixasse
sozinha por um tempo você iria adotar uma criança.
— Mãe, eu não adotei uma criança, eu estou esperando um
bebê — falo rápido.
— Mas, você...
— Renan mentiu, mãe. Aquele resultado não era o meu, e
sim o dele. — Fecho meus olhos, encostandomeu corpo na parede.
— Eu nunca fui estéril, mãe, eu nunca fui uma inútil.
— Deus, vou matar aquele verme nojento! Apenas uma
ligação e você sabe que eu posso achar alguém para dar fim na
vida daquele merdinha!
— Mãe, esquece isso. Meu problema agora não é Renan. —
Abro meus olhos, encarando a grande casa de Ariel. — Preciso que
volte, tem que voltar o quanto antes para Sacramento. Compre a
porcaria de uma passagem e volte para casa. Minha maior dor de
cabeça nesse momento é o pai dos meus bebês.
— BEBÊS? — ela grita outra vez. Afasto o aparelho da minha
orelha, repuxando meu nariz. Estou com uma agonia nos meus
tímpanos pelos gritos dela. — VOCÊ ESTÁ GRÁVIDA DE
GÊMEOS? Quem é o pai dessas crianças, Cristina?
— Oh, meu Deus, mãe, eu nem sei como explicar! — Nego
com a cabeça. — O cara apareceu no meu trabalho, nós tomamos
um porre de vodca e eu dormi com ele. Jurava que Ariel era um
garoto de programa que você tinha me mandado, então fui embora
correndo depois que ele dormiu. No meio das férias, passei mal, o
testede gravidez deu positivo, descobri que são gêmeos, e o cara
que eu achava que era o garoto de programa, na verdade, é Ariel
Miller, meu chefe. A gente se encontrou quando voltei ao trabalho.
— Cristina, fale devagar — ela me corta, me deixando saber
que estou falando tudo atropelado, vomitando todas as informações
de uma vez só.
— Mãe, preciso que volte, apenas faça isso por mim.
— Respire com calma e me deixa ver se entendi. Dormiu com
um dos seus chefes?
— Sim.
— E não foi com Max e muito menos Pietro?
— Isso, mãe. Claro que eu nunca iria dormir com Max e
jamais com Pietro. Pelo amor de DEUS! Qual parte do novo chefe
não ouviu?
— Ok, ok, apenas queria ter certeza de que estou
entendendo. Dormiu com o chefe novo? E como não sabia que era
ele seu chefe? Meu Deus!
— Mãe, se lembra do nosso café da manhã no dia do meu
aniversário? Recorda-se de dizer que mandaria meu presente para
o serviço? No momento que ele falou o nome dele, eu tive certeza
de que você mandou um garoto de programa. Nunca me passou
pela cabeça que ele seria o novo sócio da firma.
— Que ideia mais absurda! De onde tirou uma coisa dessas,
Cristina?!
— Mãe — rosno com raiva, esmagando o aparelho com
força. — Vamos ver de onde eu tirei uma ideia absurda dessas. No
meu aniversário de vinte e cinco anos, você me deu um kit de
vibradores;no de vinte e seis, um vale-massagem com final feliz em
um local bem suspeito;sem esquecer o presente dos vinte e sete,
que a senhora contratouum stripper para arrancar a roupa no meio
da sala da sua casa, na hora de cantar os parabéns. Me desculpe
se passou pela minha cabeça que você teria coragem de me
mandar a porcaria de um garoto de programa!
— Jamais mandaria um garoto de programa para seu
trabalho...
— Você mandou, tantoque ele também apareceu lá. — Me
recordo do rapaz que ficou com aspecto confuso quando lhe
entreguei o envelope. Cristo, se não tivesse ficado tão eufórica com
o beijo de Ariel dentro daquele escritório, teria visto o imenso
engano que tinha acontecido.
— Lober? Está se referindo ao decorador de interiores?
— Como? — pergunto, pasma, sem entender mais nada
agora.
— Lober Tiler, o rapaz que mandei para seu trabalho. O
serviço dele era seu presente, uma decoração para seu quarto, em
seu apartamento novo. Confesso que tinha esperança de que você
se encantasse com ele, quem sabe saíssem para beber...
— Decorador? — Caminho para perto da mesa da sala de
estar, deixando a bolsa em cima dela, me segurando na cadeira. —
Mãe, eu vi o cartão da agência de garotos de programa, como agora
está me dizendo que mandou um decorador?
— Cartão? — ela pergunta, perdida, logo caindo na risada,
deixando sua gargalhada ficar estridente.— Oh, meu Deus, Cris! O
cartão da agência de garotos de programa era de Filipe.
— O carinha da semana? — Tento respirar fundo, não
acreditando nas loucuras que ela faz.
— Claro! Como acha que ele sabia usar tão bem aquela
língua? Filipe valeu cada centavo que paguei por ele.
— Meu Deus, a senhora vai me fazer ter um infarto! — A
sombra parando ao meu lado me faz virar o rosto na mesma hora
para Brow, que está com uma sacola estendida para mim.
— Seus chocolates, senhorita Self.
— Isso é a voz de um homem, Cristina? — A voz curiosa da
minha mãe é alta no telefone.
Fico com a boca aberta, olhando perdida para ele, abaixando
meus olhos para a sacola. Dou um passo para perto dele e movo
minha cabeça para ver a sacola cheia de barras de chocolates
variadas, que ele estende para mim.
— Solicitei para trazerem todas as marcas que achassem.
— Oh, meu Deus! — Pego a sacola da sua mão, ainda não
acreditandoque o homem fez isso. Eu dei apenas um exemplo para
ele, não que estivesse indo comprar chocolate. — Obrigada, Brow.
— Sorrio sem graça para ele.
— Precisa de mais alguma coisa?
— Essa voz é do cretino que enfiou o pau dentro da sua
boceta e te engravidou? — minha mãe grita tão alto, que até Brow
arregala seus olhos com a pergunta descabida dela.
Tapo o celular, fechando meus olhos e balançando a cabeça
em negativo, sussurrando um “sinto muito” para ele.
— Eu preciso... preciso... — falo atrapalhada, apontando para
a direção do sofá da sala para ele. — Vou me sentar um pouco,
acho que minha pressão subiu.
Brow concorda com sua cabeça. Me viro lentamente e
caminho, indo me sentar no sofá.
— Deus, eu vou infartar antes dos trinta! — resmungo,
chateada. — Mãe, ainda está aí?
— Claro que estou! Quem está no seu apartamento?
— Mãe, não estou no meu apartamento.Ariel me trouxe para
a residência dele, a voz que ouviu é do guarda-costas que ele pôs
na porta de entrada, para eu não sair de dentro dessa casa. Isso é
praticamente um sequestro manipulado.
— Guarda-costas? Ele te levou à força? Machucou você?
— Não, não, Ariel não fez isso. Talvez ele tenha me trazido a
contragosto, mas não à força. Tive uns problemas com o
apartamento. — Lhe dou uma breve informação, não querendo
entrar em detalhes sobre o pobre gato dentro do meu banheiro, que
me fez parar no hospital. — Preciso que volte. Faça as malas e volte
agora, por favor... Por favor, preciso sair daqui e descobrir uma
forma de me mudar para outra cidade e fazer ele desistir dessa ideia
de casamento.
— Eu já retorno a ligação! — ela fala rápido, antes de deixar
apenas o som da ligação encerrada repercutir no aparelho.
— SÉRIO?
Olho meu celular, não acreditando que ela desligou na minha
cara, sem cerimônia alguma. Grito com raiva, jogando o celular no
sofá, abrindo a porcaria da sacola e puxando uma barra de
chocolatepara mim. Descontominha ira na embalagem, a rasgando
com o dente e mordendo com o dobro de zanga a guloseima.
— Um suco fresco lhe ajudaria a se acalmar?
Meus cílios batem rapidamente, com meu pescoço girando
para cima do meu ombro. O gigante homem está com um copo de
suco estendido para mim, me dando um sorriso amável, e por um
breve segundo me sinto afeiçoada pelo gentil senhor Brow.
Capítulo 19
O desembargador
Ariel Miller

— Bete me avisou que queria falar comigo, estou de saída


em cinco minutos.
Entro na sala de Pietro depois que bato na porta e ele me
chama para entrar. O vejo sentado em sua cadeira, rindo ao
telefone.
— Claro, claro que entendo. A propósito, falando no diabo,
ele acabou de aparecer. — Pietro ri escancarado com algo que ouve
do outro lado da linha. — Não, não se preocupe. Sabe que jamais
mentiria para você.
Respiro fundo, me sentindo estressado por estar perdendo
meu tempo aqui. Estava tentandopôr meus pensamentos em ordem
e focar em meus casos, quando a secretária de Pietro bateu em
minha porta, me interrompendo. É para ser apenas uma passada
rápida no escritório antes de eu ir para o aeroporto.
— Vou passar para ele, depois nos falamos mais.
Arqueio minha sobrancelha, olhando sem entender para ele,
que estica o telefone em minha direção. Notando minha
desconfiança, ele usa sua mão para bloquear a parte inferior do
telefone, inclinando seu corpo para perto da mesa.
— Lhe aconselho a atender, vai precisar de reforço.
— Quem é? — Estico meu pescoço e olho o aparelho.
— Isso vai depender de você. Se lhe disser o que ela quer
saber com sinceridade, vai ser sua melhor amiga; se mentir, lhe
garanto que vai ser sua carcereira.
Pego o aparelho da mão dele, o vendo se levantar
lentamente da sua mesa, com um sorriso cretino na face,
caminhando para fora da sua sala e fechando a porta atrás de si.
Fico um tempo ainda olhando o telefone, antes de o erguer,
levando-o ao meu ouvido.
— Ariel Miller falando.
— Sei quem é você, doutor! Se não soubesse, não teria
ligado atrás da sua pessoa!
— Desculpe, mas quem está falando?
— A avó dos seus filhos, senhor Miller! — A mulher de voz
séria fala rápido, o que me faz xingar Pietro mentalmente, por não
ter me avisado sobre a identidade de quem estava do outro lado da
linha. — Bom, serei breve e franca, não tomarei muito do seu
tempo. Pietro já me repassou o que precisava saber sobre seu
caráter, então apenas lhe dou um aviso:se realmente pretende ser
um homem bom para Cristina, sugiro que faça isso antes de eu
regressar para Sacramento, pois quando isso acontecer, e eu ir
direto para a porta da sua casa, onde está hospedando minha filha,
e ela ainda desejar querer sair de lá, não vou pensar duas vezes
antes de chutar seu rabo para tão, TÃOOO distante dela. Fui clara,
doutor Miller?!
— Sim. — Rio, balançando a cabeça para frente e para trás,
podendo ver a pequena mulher bater na porta da minha casa,
cumprindo sua promessa. — Não pretendo deixar sua filha longe de
mim, senhora Self, e muito menos não participar da vida dos meus
filhos. Quero cuidar dela...
— A última vez que um homem disse para Cristina que
cuidaria dela, isso quase lhe custou a vida, doutor Miller!
— Eu sei sobre Renan Pener, creio que nós dois dividimos o
mesmo sentimento por ele.
— Não, o senhor não sente nem um décimo do que eu sinto
por esse homem. O desejo de explodir da faceda Terra a existência
de alguém que machucou seu filho. Esse sentimento perpétuo de
ódio contra alguém que feriu a parte mais importante do seu corpo
cabe apenas aos pais, doutor Miller. — Meus olhos se fecham ao
ouvir o suspiro melancólico do outro lado da linha. — Eu a segurei
em meus braços, eu vi a monstruosidade que ele feza ela, eu limpei
seus ferimentos enquanto ela chorava amedrontada, com medo de
buscar ajuda, se negando a ir ao hospital e ele ir atrás dela. Foram
os meus joelhos que se dobraram ao chão, segurando sua mão
entre as minhas, enquanto o médico lhe dava os primeiros socorros
dentro da minha casa.
— Posso lhe garantir que sei o que a senhora sentiu, senhora
Self. A única diferença é que um de nós pôde continuar com sua
filha. — Solto o ar dos meus pulmões pela minha boca, abrindo
meus olhos, que ficam presos na janela aberta. — Já nutri
ferozmente por alguém esse mesmo ódio que a senhora sente por
Renan Pener.
— Lamento por sua perda, Ariel. — A voz branda, que
responde baixa, é calma ao telefone. — Quantos anos ela tinha
quando você a perdeu?
— Dois anos, foi em um acidente de carro. — As palavras
pesam ao sair pela minha boca. Não falo sobre Dolly, é um assunto
que evito dizer em voz alta, mesmo pensando nela todo santo dia da
minha vida.
— Cristo...
— Não lhe contei sobre isso para ganhar sua empatia,
senhora Self, mas sim porque quero que entenda o quanto Cristina
é importante para mim, o quão importante meus filhos são para
mim. E realmente não pretendo me afastar de nenhum deles.
— Gosto da sua franqueza, senhor Miller, aprecio a
honestidade de um homem e a respeito. E será por isso que vou lhe
retribuir com toda minha franqueza e sinceridade. Se pretende ficar
com minha filha apenas pelos seus filhos que ela espera, esqueça.
Cristina não vai ficar presa a um segundo casamento. Isso apenas
fará com que ela queira se afastar de você, e lhe digo, não há nada
mais selvagem para despertar a ira em uma mulher do que o instinto
de proteção pelas suas crias, o qual a maternidade causa.
— Não quero fazer mal a ela, quero cuidar de Cristina.
— Risque essa palavra do seu vocabulário, não a diga para
Cris, pois vai causar o efeito contrário — ela fala rápido, me
deixando pensativo.
— Não compreendi. O que há de errado?
— “Cuidar”, isso é errado. Cuidar, para nós, é proteger,
abrigar, mas para Renan significa a posse, a forma dominadora que
ele exercia sobre ela. Eu assisti minha filhase fechardentro de uma
ostra, ficando aprisionada, se afastando de todos à sua volta,
enquanto ele brincava com ela, como se ela fosse uma boneca, a
deixando com medo de ser cuidada, porque Renan ensinou para ela
que cuidar significa dor.
— Cuidar... — repito baixo a palavra, tendo a recordação
entrando em minha mente.
— Só quero cuidar de você. — Estico minha mão, querendo
tocar na dela, sentir seu calor, lhe mostrar que não precisa ter medo
de mim, mas refreio meus movimentos assim que Cristina tira suas
mãos de cima da mesa, as depositando em suas pernas, como se
meu toque fosse indesejado.
— Merda! — Balanço a cabeça em negativo, compreendendo
o porquê dela responder daquela forma o meu contato.
— Sugiro que ache uma forma de chegar até ela antes que
eu atravesse o Oceano Atlântico, Ariel.
A mulher é breve em sua despedida. Reponho o aparelho ao
gancho e encaro silenciosamente o telefone.

Assim que estaciono o carro esportivo na frente da grande


propriedade, depois de ter encarado seis horas de voo, fico em
silêncio, observando a casa de madeira escondida em meio à mata.
Quem olha a propriedade rústica, talhada toda à mão, não imagina
que o mais temido desembargador da Califórnia está se abrigando
aqui. Minha relação com o velho não é a das melhores, mas se não
fosse por Cristina, eu realmente não o teria procurado. Brow me
contou sobre como ela passou o resto da tarde. Não quis informá-la
sobre minha viagem precipitadamente, pois sei que acabaríamos
entrando em outra discussão por conta da sua relutância em
perceber que apenas quero proteger e cuidar dela.
Abro a porta do carro e caminho para fora dele, olhando
pelos arredores e voltando a olhar para a casa. A fumaça que sai da
chaminé no telhado me garante que meu pai está em casa. Respiro
fundo, alinhando as mangas do meu blazer, andando até a casa. A
grande porta de madeira da frente da residência se abre, me dando
um vislumbre do morador, que segura uma caneca em seus dedos,
parado no batenteda porta, dando dois passos para fora. Paro a
três passos da varanda, com as mãos nos bolsos, mantendo meus
olhos fixos aos dele. Meu pai olha para o carro de luxo estacionado
atrás de mim e depois para a minha face com ar aristocrata.
— Estacionou em cima das minhas hortênsias.
Giro meu rosto por cima do meu ombro, olhando para as
porcarias das flores que o pneu da frente do carro está amassando.
Repuxo o canto da minha boca e sinto a fisgada em meu ombro.
Retorno meus olhos sérios para ele, o vendo se virar e caminhar
para dentro da casa, deixando a porta aberta. Estalo meu pescoço,
tentandosuavizar a tensão que tem em meus músculos, sabendo
que vou odiar cada segundo que passar dentro dessa casa.
— Não espera que eu estenda um tapetevermelho para você
entrar, correto?
A voz ríspida vem de dentro da casa, com as luzes da
varanda sendo acesas.
— Jamais esperaria algo assim vindo de você, Vossa
Excelência — respondo seco, caminhando para dentro da casa.
Meus olhos param nos porta-retratospregados nas paredes,
indo até as cabeças de cervos que ele ostenta.A espingarda de
caça, destacada sobre a lareira, está lustrada e brilhando, como se
ele tivesse acabado de limpá-la. Puxo a cadeira e me sento em
silêncio, observando o velho caminhar dentro da cozinha, mexendo
em um fogão rústico, feito de barro, que ele mesmo construiu.
Desvio minha atenção dele e olho para o porta-retrat os com a
fotografia da minha mãe sobre a mesa de centroda sala. Ela possui
um sorriso amável enquanto segura um buquê de girassol. Chega a
ser de mau gosto saber que por trintae três anos de casamento,
minha mãe sonhou com o dia que meu pai largaria finalmente seu
trabalho e viria morar nas montanhas com ela. Minha mãe tinha
desenhado a arquiteturada casa inteira, seria o chalé dos sonhos
dela, mas ela nunca viu o projeto além das linhas das folhas. O
infarto a levou de forma rápida e fulminante quando a pegou. Depois
que ela morreu, ele finalmente se afastou dos tribunais, ficando
recluso, como se tivesse se penitenciado por não ter vivido esse
momento com ela ao lado dele.
— Ainda gosta de café ou mudou esse gosto também? —
Meu pai empurra uma caneca em cima da mesa, me olhando sério,
cruzando seus braços.
— Nunca deixei de gostar de café, desembargador.
— Quem foi que te ensinou esse gosto? — Ele mantém seus
olhos presos aos meus.
— O senhor, desembargador.
— E o que mais lhe ensinei, além do bom gosto, Miller?
A ser um cretino sem remorso como você, meu cérebro
responde rápido dentro da minha mente, desejando que sejam
essas palavras que saiam dos meus lábios.
— Me ensinou muitas coisas que não vêm ao caso agora. —
Minha resposta polida é completamentereversa ao que penso, mas
me calo, quebrando nosso contato visual.
— A ligar antes de vir à casa de alguém, para saber se ela
quer lhe receber, foi uma delas.
Solto o ar com desgosto, ouvindo a voz dele ríspida me
recriminar de forma cínica.
— Preciso da sua ajuda, Meritíssimo.— Nunca me foi tão
pesado falar uma frase, como está sendo agora. Apenas o fato de
dizer a frase “preciso de ajuda” e ela ser direcionada ao meu pai, já
me parece um martírio.Odeio ter que pedir ajuda, ainda mais sendo
ele.
— Que você precisa, eu sei! — ele fala sério, cruzando seus
braços. — Apenas algo muito pertinentefaria você trazer essa sua
bunda arrogante de Nova York para cá. O que eu não sei, é se
quero saber o porquê precisa da minha ajuda.
— Estou tão radiante de felicidade em te ver quanto você
está em me receber, velho. — Levanto e me afasto da cadeira,
socando meus dedos no bolso da calça com raiva, os esmagando
firme.
— Oh, peço desculpa se não fiz uma celebração à altura do
notário cínico doutor Miller, que pensa que toda vez que o vejo,
tenho que dar cinco estrelinhas pelo bom desempenho...
— Qualquer maldito pai me daria cinco estrelas! Eu me fiz
longe de você. Se formei minha fama e minha carreira, foi com meu
próprio esforço, e você nunca teve a capacidade de dizer nada de
agradável para mim.
— Não fez mais que sua obrigação. Lhe dei um teto,comida,
estudos, uma vida em um lar honrado. Se é quem é hoje, não foi por
suas pernas, mas sim pela educação que lhe dei, pelo homem que
aperfeiçoei você para ser. Então, de nada!
— Velho miserável de merda! — rosno enfurecido, odiando
esse maldito homem. — Enche essa sua boca velha e flácida para
falar de honra, mas o que sabe de honra? De um lar honrado? Qual
honra deu à minha mãe enquanto você se esquentava em camas de
prostitutas?A única coisa que tenho para lhe agradecer é por eu
não ter puxado nada de você, desembargador.
— No que você foi melhor do que eu, Miller? Um advogado
de merda cínico, que nunca se importou com nada além do seu
trabalho. Posso não ter sido o mais perfeito marido desse mundo,
mas eu cuidei da minha casa, da minha esposa e do meu filho. Já
você, o que fez, além de casar-se com uma vagabunda siliconada,
que matou sua própria filha?
Chuto a porcaria da cadeira em uma explosão de
agressividade, a fazendo voar, estourando na parede. Minhas mãos
se fecham em punho, com ódio, ao lado do meu corpo, e respiro
rápido, desejando poder chutar esse velho maldito.
— Você devia ter morrido, não minha mãe — sibilo baixo,
esfregando meu rosto. — Deveria saber que seria perda de tempo
ter vindo atrás de você, sua múmia decrépita.
Giro com hostilidade, caminhando para fora da casa dele, me
amaldiçoando por mil vidas por ter vindo nesse lugar. Retiro a porra
das chaves do meu bolso e ando com amargura na direção do
carro. O disparo é alto e acerta o pneu da frente do veículo antes
mesmo que eu possa perceber. Olho com antipatiapara o velho,
que está feito uma estátua, segurando sua espingarda em sua mão.
— SEU LOUCO DE MERDA! — grito com fúria, apontando
para ele. — Essa porra é alugada!
— A janta fica pronta em vinte minutos.
Ele se vira e entra na casa, me largando gritando sozinho,
exasperado. Chuto a porcaria do pneu, que está colado à terra. Abro
a porcaria do porta-malas e xingo o dobro, sentindo meu rosto ferver
de ira.
— INFERNO!
O maldito carro esporte não possui estepe. Chuto o pneu do
carro outra vez, aborrecido, o que me faz ficar um bom tempo do
lado de fora, extravasando minha ira entre chutes no pneu, antes
que eu tenha que entrar na casa outra vez. Vejo o velho sentado na
cadeira, com uma garrafa de uísque,e em cima da mesa um copo à
sua frente e outro vazio. Caminho na direção da cadeira caída ao
chão, perto da parede, a levanto com brutalidade e a empurro para
perto da mesa, me sentando.
— Eu fui caçar semana passada. — Ouço a voz dele baixa,
enquanto olha para seu copo.
Puxo a garrafa e a destampo, enchendo meu copo, o virando
de uma única vez em meus lábios, olhando com ódio para ele.
— Percebi um rastro diferente e segui para saber do que se
tratava.Eu dei de cara com um urso marrom. Nunca tinha visto um
animal magníficotão de perto, poderoso, grande e selvagem. A mira
estava ajustada para o centro da cabeça dele, entre os olhos,
precisava de apenas um disparo, mas recolhi a espingarda e voltei
lentamente, caminhando de costas, sem desviar meus olhos dos
dele.
— E o que isso me importa? — Encho meu copo outra vez,
bebendo outra dose.
— Suspeito que nada, mas eu fiquei pensando que ele podia
ter me matado da mesma forma que eu a ele. Mas nenhum dos dois
quis o confronto. Você, hoje aqui, é aquele urso, Ariel. Por que veio
até minha porta, se não foi para me confrontar?
Abaixo meus olhos para o copo e o rodo em minha mão. O
desprezo na mesma medida que um dia desejei poder ser motivo de
orgulho para ele. Jurei a mim mesmo que jamais viria atrás dele
depois que perdi minha filha. A última vez que o vi foi parado ao
meu lado, diante do caixão, me olhando com olhos frios, refletindo a
mesma culpa que me corroía.
— O senhor será avô... — sussurro para ele e encho meu
copo e o dele. — Avô de gêmeos, desembargador.
Meu pai fica em silêncio por um breve momento, olhando seu
copo, antes de erguer sua face para mim, com seus olhos se
expandindo.
— Vai ser pai... Por que não trouxe ela para me conhecer? É
mais uma daquelas plastificadas de Nova York?
Solto o botão do meu blazer e o empurro para o lado, me
recostando na cadeira.
— Sacramento. Não vivo mais em Nova York já tem três
meses.
— Está me dizendo que está em Sacramento por todo esse
tempo e só agora resolveu vir me contar que engravidou uma
mulher?
— Não sabia sobre a gravidez, fiquei sabendo no fim de
semana. Mas não foi para lhe dar as boas novas que vim até aqui.
— Estufo meu peito e solto o ar pesado dos meus pulmões.
— Claro que não. — Ele ergue seu copo, tomando sua
bebida, o depositando logo em seguida sobre a mesa. — Do que
precisa?
— Me perguntou o que tinha me ensinado, e o que me
ensinou bem é sempre estar a dois passos diante dos meus
inimigos. Preciso saber tudo sobre Hugo Pener e sua trajetóriana
política.
O desembargador se encostana cadeira e cruza seus braços
acima do peito, me encarando com um sorriso cínico nos lábios.
— Vamos jantar, depois falaremos sobre o lixo!
Capítulo 20
Na companhia do medo
Ariel Miller

A visita ao meu pai me tomou mais tempo do que eu


imaginava, não só pelo transtorno de chamar um guincho para
aquela porcaria de fim de mundo entre as montanhas, mas sim por
ter que achar uma borracharia e trocar o pneu do carro, o que
acabou me tomando dois dias. Brow me manteve informado a
respeito de como ela estava, e sobre seu mau humor e
xingamentos, por não poder sair de dentro da casa. Mas por um
lado foi bom. Meu pai conhece Hugo Pener, e com alguns
telefonemas foi rápido em levantar minhas informações. Pener não
passa de um político de merda que teve toda sua campanha
financiada por dinheiro vindo da prostituição. Renan tem a quem
puxar, afinal, seu pai não passa de um cafetãorevestido com ternos
caros, ocupando um cargo importante no governo. Porém, se
misteriosamenteessas informações vierem a público, acho que isso
não deixará o nobre políticoconfortável, já que as investigações que
cairão sobre ele podem destruir sua carreira. Com o pai já sei como
lidar, agora apenas preciso saber o que Greg descobriu sobre
Renan.
Passei no escritório quando aterrissei em Sacramento,
acompanhando o caso de Brat, que está perto de ter o julgamento
final marcado, o que acabou tomando mais tempo do que eu
imaginava. Quando estaciono o carro na frente da minha casa já
passa das 23h da noite. Pensei nela todos os dias. Segurava o
telefone, desejando poder ligar para ela e ouvir sua voz, saber como
estava, mas a imagem dos seus olhos assustados, me encarando
na cozinha, na última vez que a vi, me fez evitar fazer isso. Não
quero que ela me olhe com medo, amedrontada. Desejo seus olhos
brandos e negros, que ela esconde por trás daqueles óculos
grandes de grau, cheios de travessura. Quero apertá-la em meus
braços e dizer que vou condenar todos que tentaremmachucá-la
cruelmente,e que nunca mais ela terá que sentir medo em sua vida.
— Os dias foram agitados por aqui? — Deixo minha maleta
em cima da mesa, olhando Brow dentro da cozinha.
O vejo deixar o pano de prato sobre o balcão de mármore, ao
lado de um refratário cheio de rosquinha.
— Você não tem ideia. — Ele segura o pote, depositando-o
sobre a mesa, o empurrando na minha direção. — Há mais três
desses dentro da geladeira e outros dois no micro-ondas, fora os
que ela deu para mim e os rapazes comerem e levarem para casa.
Ela quis cozinhar.
Estico meu pescoço e olho em direção à saída da cozinha,
levando minhas mãos aos bolsos da calça.
— Como ela está?
— Ela disse que iria assistir TV depois do jantar, mas ficou
agitada durante todos esses dias, nervosa e com picos emocionais
disparados, oscilando entre a vontade de te matar e a segurança
dos bebês — ele me responde, rindo.
— Devo me preocupar?
— É uma mulher, Ariel, sempre temos que ter preocupação.
— Ele coça sua nuca, balançando seus ombros. — Ela gosta de
cozinhar quando está brava, acho bom deixar sua despensa
abastecida.
— Vou me atentar a isso.
— Boa noite, chefe.
— Obrigado por ter aceitado o trabalho, por ficar cuidando
dela para mim.
— Eu que agradeço. Sabia que estava fora de campo há um
tempo. — Ele pisca, sorrindo, caminhando para fora da cozinha.
— Boa noite, Brow — murmuro e olho para o refratário de
doces. Sabia que Brow tinha sido uma boa escolha para proteger
Cristina na minha ausência.
Tinha ajudado Pietro com o julgamento dele uma vez, quando
meu amigo me chamou. O caso do ex-pugilista que estava sendo
condenado por assassinato tinha me intrigado. Brow estava com
sua namorada na época, saindo de uma casa noturna, quando dois
indivíduos aliciaram ela. O homem que mexeu com sua namorada
partiu para agressão física,usando um canivete,mas foi muito idiota
para querer encarar o nocaute de um pugilista. Brow acertou um
soco no cara na mesma hora, o levando ao chão. O impacto da
batida da cabeça do rapaz no chão causou a morte dele
instantaneamente.Consegui a liberdade de Brow e provar sua
inocência, alegando legítimadefesa, mas o estrago já tinha sido
feito na vida dele. Brow perdeu todos os patrocinadores, seu
treinador e a equipe, deixando de ser um boxeador profissional e
virando um segurança de boate, com alguns bicos de guarda-costas
aqui ou ali, apenas para poder sobreviver.
No sábado à noite, quando os policiais saíram do hospital,
me deixando saber que estavam pouco se lixando para o que
Renan fez no apartamentode Cristina, compreendi que teria que
cuidar da segurança dela e dos meus filhos. Pietro me indicou uns
seguranças de uma firma que ele conhecia para cuidar da minha
casa, mas para ficar de segurança dela sabia que teria que ser
alguém em quem eu confiava em seu carátere índole.E foi isso que
me fez ir atrás de Brow, contratando seu serviço.
Caminho para a sala e observo a TV ligada. Não pretendia
voltar tão tarde, queria vê-la, ouvir sua voz raivosa. Me preparei
para os gritos dela, seu ataque de raiva e até mesmo sua bravura,
que me deixa ver um relance da verdadeira Cristina, que se
esconde dentro dela. Mas o que vejo à minha frente é seu rosto
cansado, com cabelos bagunçados e fios soltos sobre sua testa,
completamente torta, deitada no sofá. Afrouxo o nó da gravata,
retirando a parte de cima do meu terno, os depositando no braço do
sofá. Seu corpo quente se aconchega em meu peito assim que ergo
ela em meus braços, caminhando para o quarto. Sinto o cheiro bom
que tem em seus cabelos, o que me faz sorrir. Respiro
profundamente para inalar seu aroma. Brinquei com ela naquele dia,
na frente do seu apartamento,desmerecendo a marca de xampu,
mas a única verdade é que amo o aroma dele nos cabelos dela.
Não vou deixá-la ir para longe de mim. Caminho com Cristina
adormecida em meus braços até nosso quarto, e a deito na cama,
afastando as mechas de seus cabelos coladas em sua bochecha,
admirando seu rosto. Puxo a manta aos pés da cama e a cubro, lhe
deixando aquecida. Minha mão escorrega por seu pescoço,
descendo até parar sobre seu ventre. Recaio meus olhos para lá
quando sinto o toque da sua mão sobre a minha, me segurando
como se não quisesse que eu me afastasse. Acomodo meu corpo,
deitando-me ao seu lado, me aproximando do seu corpo.
— Ariel... — Um murmúrio tão sonolento quanto ela escapa
dos seus lábios.
Ela se encolhe, tão delicadamente, me permitindo levar meu
outro braço para debaixo da sua cabeça.
— Durma, pequena vênus — sibilo baixo, alisando seu
ventre, ouvindo o som da sua respiração calma, com ela dormindo
em meus braços.
— Você sabia que eu não queria isso.
A mulher brava dentro do quarto anda de um lado ao outro,
empurrando seus cabelos para trás, balançando sua cabeça em
negativo.
— Não vou autorizar o que está me pedindo, Silvia.
— É o meu corpo, minha vontade, e eu não quero isso que
está aqui dentro!
— Isso é o nosso bebê. Não pode achar que vou lhe apoiar a
tirar nosso filho.
Me viro, ficando de costas para ela, não sabendo como lidar
com essa notícia. Silvia me atropelou, indo de uma notícia
maravilhosa para a mais assustadora que já ouvi. Foi fria e raivosa
ao me contar que estava grávida, e mais fria ainda ao dizer que
pretendia tirar o bebê.
— Não preciso do seu apoio, é o meu corpo, minha escolha,
e eu não quero ser mãe. Não estou pedindo, estou lhe informando
minha decisão.
Ouço o som da porta do quarto, que é fechada com
brutalidade, enquanto ela sai a passos decididos. Não pensei, nem
cogitei a hipótese de ser a favor disso, não a deixarei tirar nosso
filho. Já estou traçando meu caminho atrás dela, a pegando antes
de chegar perto da porta de entrada do apartamento, segurando
firme seus braços.
— É o seu corpo, mas dentro de você é o meu filho. E não
vou deixar que o tire de mim. — A olho e tento manter minha
paciência, negando com a cabeça. Meus dedos se esticam para
acariciar sua barriga, mas são interrompidos pelo tapa fortedela em
minha mão.
— Não toca em mim! Você pôs isso dentro de mim!
Meus olhos se abrem, ficando focados no teto do quarto,
ouvindo o som baixo da respiração de Cristina. Sua mão ainda
segura a minha sobre seu ventre, a mantendo lá.
— Medo? Medo de ser mãe? Medo de ter que cuidar de
outras vidas? Defina seu medo. Não queria meus filhos, é isso? —
Mantenho meus olhos presos aos seus, precisando ouvir a verdade
dos seus lábios.
— Oh, meu Deus! Como ousa abrir essa sua boca arrogante
de merda para dizer uma banalidade desse tipo?
— Eu não sei, estou tentando entender porque omitiu a
verdade sobre meus filhos.Talvez não os quisesse, por isso não me
contou. Pretendia abortá-los? — A empurro para a borda, sentindo
todo meu controle se desfazer em minhas mãos.
Não serei benevolente com Cristina se ela cogitar dizer que
não quer esses filhos, não passarei por isso outra vez.
— NÃO! — O som da sua voz gritando com raiva irrompe
pelo cômodo, ela nega com a cabeça para mim. — Por anos da
minha vida achei que eu era seca, Ariel, uma mulher incompleta por
não poder gerar uma vida. Renan usou isso para me torturar, me
culpando por não poder lhe dar um filho. Isso me destruiu
psicologicamente... E quando descobri sobre os bebês e sobre a
mentira de Renan, sobre eu não poder ser mãe, foio momento mais
assustador e mágico da minha vida. A única certeza que eu tive, e
tenho dentro de mim, é que eu vou protegê-los...
— De mim? — pergunto baixo, sentindo meu peito ser
aliviado pelo peso que o prendia.
— Se for preciso, sim. — Ela ergue os dedos para sua
barriga, abaixando seu rosto para o ventre, soluçando baixinho. —
Eu não quero nada, não vou te obrigar a nada também. — Respiro
fundo, sentindo meu mundo todo se ligar a ela de forma urgente. —
Mas eu não vou deixar você tirar eles de mim.
Preciso de dois passos para atravessar o quarto e a prender
em meus braços.

Depois de um banho gelado e ter vestido um pijama para


dormir, adormeço rápido, abraçado à Cristina, quando me deito para
dormir. Mas os gritos dentro do quarto escuro me fazem despertar
sobressaltado, acendendo o abajur ao lado da cama. Vejo Cristina
se debater na cama e a puxo, tentando controlá-la para não se
machucar.
— NÃO... NÃO! — Cristina grita mais alto, querendo se
afastar.
Seguro seus pulsos como contenção, colando seu peito ao
meu, abraçando suas costas rapidamente. Sinto sua pele suada,
com o som da sua respiração alterada.
— Shhh, está tudo bem... — sussurro em seu ouvido,
abraçando-a mais forte. — É só um pesadelo.
— Não... não. — Cristina chora, soluçando, negando com a
cabeça.
— Está segura, vocês estão seguros.
Me afasto apenas o suficiente para segurar sua face entre
meus dedos, e empurro seus cabelos bagunçados, colados em suas
bochechas molhadas de choro.
— Meus bebês... — Suas palavras se cortam com o soluço
de choro, seu corpo trêmulo se cola mais ao meu. Sinto seus braços
passarem por meu pescoço, me segurando firme entre eles.
— Estão bem, está tudo bem com eles. — Afago suas costas,
me arrumando na cama, a trazendo comigo, sentando seu corpo
sobre minhas pernas.
— Oh, meu Deus, foi tão real! — Seu rosto busca abrigo em
meu pescoço, choramingando assustada.
Meus dedos espalmam em suas costas, acariciando,
depositando um beijo em seu ombro, a deixando se sentir segura
em volta dos meus braços, que circulam seu corpo.
— Você não foi embora? — A voz quebrada pelo choro,
embargada de dor, cochicha próximo ao meu ouvido.
Empurro meu corpo para trás, apoiando minhas costas na
cabeceira, segurando seu queixo. Cristina me mostra dor em seus
olhos confusos.
— Precisei resolver algumas coisas, não fui embora. Pensou
que tinha te deixado?
Cristina chora com mais urgência, fechando seus olhos,
libertando as lágrimas que escorrem por sua face. Ela volta seu
corpo para o meu, prendendo seus braços em meu pescoço,
escondendo sua face de mim. Me colo em seu corpo, sentindo meu
coração disparar, tão perdido com todas essas emoções que ela
arrebenta dentro de mim. Seu cheiro floral tem o poder de me
acalmar na mesma proporção que tira meu autocontrole.
— Nunca vou deixar vocês, Cristina. — Suas mãos estão
enroscadas em meus cabelos, com ela choramingando em meu
pescoço. — Não posso dizer que vou controlar totalmentemeu
temperamento e meus rompantes, mas juro que nunca vou
machucar você.
O som do seu choro aumenta e a aperto firme em meus
braços, beijando seus cabelos.
— Eu tive medo — ela diz baixinho. — Sei que você não é
como ele, mas eu tive medo e fiquei paralisada. Dentro da minha
mente tudo se repete, é como se estivesse vivendo outra vez aquela
agonia. — Esfrego meu rosto em seu pescoço, sentindo a quentura
da sua pele, dando graças a Deus por ela não poder ver a vontade
que tenho de causar dor a Renan. — Não sou forte, Ariel, eu sou
uma covarde presa dentro da minha própria mente.
A agonia vai tomando conta de mim, aumentando os
batimentos do meu coração. Quero mostrar a essa mulher que
jamais permitirei que ela se sinta assim. Minhas mãos passam por
suas costas, descendo por sua pele, entrando por baixo da sua
camisa. Beijo seu pescoço, fazendo uma trilha junto com suas
lágrimas até ter sua boca para mim, devorando seus lábios com
uma saudade que me consumia, precisando sentir seu sabor para
aplacar minha raiva. Suas mãos seguram com força meus ombros,
devolvendo com o mesmo ardor o beijo que tomo dela. Subo sua
camisa, libertando sua boca apenas para tirar de vez o tecido do
seu corpo, o descartando para longe.
— Preciso de você, Ariel — ela fala baixo, trazendo seu corpo
para perto do meu outra vez, sussurrando, me beijando mais
desesperada. — Preciso de você agora.
Seu choro em nenhum momento cessa. É dor, paixão, medo
e raiva, tudo de uma vez. Só que ela demonstra isso com seus
toques atrapalhados, retirando minha camisa e a jogando no chão
junto com a dela. Giro na cama, a deitando no colchão, cuidando
para não esmagar seu corpo com o meu. As unhas de Cristina
cravam em minhas costas, ela arfa com seus seios estufados, me
deixando morrer em seus beijos. Passo minhas mãos pelas laterais
do seu corpo, descendo até o quadril, e empurro a calcinha para
baixo, a descartando com a mesma urgência que usei para tirar sua
camisa. Espalmo minhas mãos em cada lado das suas coxas, a
segurando com posse. Sinto seus dedos apertarem minha pele, com
o corpo quente dela abaixo do meu. Sua boca solta meus lábios,
mordiscando meu queixo. A ponta da sua língua desliza, lambendo
minha garganta, enquanto suas unhas traçam um percurso por
meus braços, os arranhando. Sua mão para em minha cintura,
empurrando a calça para baixo, usando seu pé como auxílio para a
descartar de vez do meu corpo. Capturo com minha boca,
prendendo entre meus dentes, um dos bicos dos seus seios, o
sugando com mais força, até ouvir os gemidos escaparem dos
lábios dela. Seu corpo quente se afunda no colchão, empurrando
seu tórax para cima. Ergo uma das minhas mãos, a prendendo em
seus cabelos espalhados no travesseiro. Meu corpo inflama em
desejo puro, implora por tê-la, com uma necessidade de mil vidas.
— Ariel, por favor... — Sua voz abafada entre o choro e o
desejo me pede para possuí-la com urgência.
Liberto seu seio, erguendo minha cabeça para ela. Seus
olhos queimam como chamas, me dizendo com apenas um olhar,
tudo que ela poderia me contar em palavras. Ouço cada batida do
seu coração, que bate rápido em seu peito, no mesmo ritmo que o
meu. Sua mão apressada se move, esbarrando na minha. Solto sua
coxa, prendendo seus dedos entre os meus. Suas pernas cruzam
em volta do meu quadril, minha boca procura pela sua com
urgência, da mesma forma que estimulo minha pélvis para frente,
chocando com a dela. Meu pau invade sua boceta, a tomando por
cada canto, me fazendo arfar com a quentura com a qual sua
cavidade me suga. A beijo com ardor, apertando seus dedos aos
meus, me afundando de uma única vez, profundamente, dentro
dela. Suas coxas raspam minha pele, comprimindo suas pernas em
minha cintura, me dando mais acesso ao seu corpo. Cris desgruda
sua boca da minha, soltando seus gemidos. Minha mão em seu
cabelo se solta, achatando-seà cabeceira da cama, usando-a como
alavanca para impulsionar meu corpo para cima. Volto a me enterrar
dentro dela, movimento meu corpo em um frenesi desenfreado.
Preciso de cada som, sabor, calor que ela me entrega,
enlouquecendo nessa montanha-russa que ela me jogou,
acelerando a cada estocada forte e rápida, a fodendo.
— Ariel... — Seu grito sai em um rompante. Move seu corpo
de encontro ao meu, fazendo assim meu pau se aprofundar com
mais pressão dentro da sua boceta quente.
Ergo nossas mãos e as deixo paradas próximo à sua cabeça.
Cris ergue seu rosto, com sua mão livre se embrenhando em meus
cabelos, me beijando com luxúria.
— Nunca vou te deixar. Você é minha, Cris — digo, cerrando
meus dentes. A voz grossa está inundada de desejo, olhando no
fundo dos seus olhos.
— Ohhh, Ariel, eu não vou aguentar! — Seus dentes mordem
meus lábios, com sua boceta me sugando forte. Seu corpo febril
treme com força a cada estocada.
Cristina me entrega tudo, me recebendo em abandono. Não
estamos fodendo nem trepando, é uma urgência, e a cada ritmo das
estocada, onde me afundo por completo dentro dela, seu clímax a
rasga ao meio, com suas pernas suadas travadas ao meu redor.
Suas unhas se cravam no couro da minha cabeça. A cada segundo
sinto meu pau melado com o orgasmo dela, que me lambuza com
seus fluidos quentes.
— Porra! — rosno entre meus dentes, escutando seus
gemidos.
Meu corpo treme todo, com minha mente explodindo junto
com a onda de prazer que me acerta. Seguro sua mão com força
bruta, empurrando meu quadril com impactos latentes, gozando com
euforia dentro dela, que me ordenha, recebendo cada jato de porra
que solto em sua boceta quente. Meu gemido sai rouco, sendo
liberado por minha garganta como um rugido, que se espalha pelo
cômodo. Não a deixo se afastar quando meu corpo tomba ao seu
lado, a seguro em meus braços, arrumando seu corpo sobre o meu.
Ficamos colados um ao outro, com seu coração disparado no
mesmo ritmo que o meu se encontra. As bochechas quentes se
esfregam em meu peito de mansinho, e deixo minha mão em suas
costas, acariciando sua pele nua, respirando rápido, olhando para o
tetodo quarto. Sua mão pousa em cima do meu coração, ouço os
baixos sons da sua respiração, que vai voltando ao normal,
diminuindo seus batimentos cardíacos, enquanto ela suspira,
bocejando. Seguro ela firme, a mantendo em cima de mim, alisando
seus cabelos, sussurrando que jamais a deixarei.
Cristina Self

A claridade do sol acerta meu rosto, me fazendo comprimir


meus olhos fechados, me virando na cama. O aroma fresco
amadeirado invade minhas narinas de forma agradável. A primeira
lufada de ar quente acerta a ponta do meu nariz, como um assopro
provocativo, me fazendo abrir as pálpebras com preguiça. Pisco,
confusa, demorando apenas um segundo para me chocar com as
duas esferas claras me encarando serenamente. O rosto de Ariel
está tão perto do meu, que posso acompanhar o delinear da sua
sobrancelha e cada espaço que suas narinas dão quando são
alargadas para respirar.
— Você ronca terrivelmente,babá McPhee. — Sua voz cínica
é baixa, trazendo um tom provocador, com a mesma travessura que
brilha em seus olhos. — Dormiu bem?
Quero odiá-lo, puxar o travesseiro e lhe dar uma surra por me
fazer me sentir tão tola e fora da minha zona de conforto depois dele
me deixar sem saber onde ele estava, se voltaria. Mas Ariel é isso,
esse estranho ser humano egocêntrico,que consegue ser arrogante
e gentil com a mesma porcentagem para ambos os lados. E isso me
dificulta a ser fiel ao meu ódio por ele.
— Eu não ronco — murmuro preguiçosamente, levando
minha mão para baixo da minha bochecha, não conseguindo
controlar meus olhos, que desbravam seu corpo despido ao meu
lado. — O que está fazendo dentro desse quarto, doutor Miller?
— Seu traseiro empinado, se aconchegando em minha
cintura enquanto ficou de conchinha comigo, quando te reboquei do
sofá para a cama, foi algo tentador demais, tantoque me fez desistir
do quarto de hóspede. — Ele dá de ombros, fechando seus olhos,
soltando o ar lentamente.
— Ariel, isso não vai funcionar — suspiro com acalento,
olhando seu rosto, aproveitando o breve segundo da pequena paz
que vejo em seus traços.
— Seja mais precisa, sim? O que não vai funcionar?
Transarmos à noite e acordarmos juntos na mesma cama, ou seu
ronco quando entra em sono profundo?
Ele abre seus olhos, erguendo sua mão para o lençol, em
cima dos meus seios, circulando lentamenteminha mama por cima
do tecido com a ponta do seu dedo.
Depois do telefonema da minha mãe, passei todos esses dias
sentindo raiva por ela ter desligado na minha cara, e por ele
simplesmente ter desaparecido. O pobre Brow foi quem ficou como
vítima, suportando meus momentos de desabafo. Entendo que
agora, mais do que nunca, não posso lidar com Renan, mas isso
não é motivo para que eu me case com Ariel.
— Não vou me casar, preciso que entenda isso. Vamos achar
uma forma de lidar com a gravidez e tudo que acarreta a chegada
dos bebês à nossa vida, mas eu não posso passar por um
casamento outra vez.
Ariel afasta sua mão do meu seio, a levando para minha
cintura, fechando seus olhos, apenas me deixando ver seu peito se
estufar com a respiração profunda que ele inala.
— Eu me casei por amor uma vez e foi com esse amor que
eu quase perdi minha vida. Não posso embarcar novamente em um
relacionamento, ainda mais com todos esses gatilhos que tenho,
seríamos infelizes...
— Ok!
Apenas uma palavra sai dos seus lábios, de forma calma e
rápida, cortando meu discurso, que tinha ensaiado por todos esses
dias, sobre o que diria a esse homem quando nos encontrássemos
novamente, todos os motivos pelos quais não daria certo nosso
casamento. Com uma única palavra de uma sílaba, ele causa um
turbilhão de confusão, jogando meu discurso no lixo.
— Ok?
— Sim. — Ele abre seus olhos, me sugando para a
impetuosidade profunda das suas íris. — Se é o que quer, não
falaremos mais sobre casamento, mas com uma condição.
— Claro que tem uma condição. — Fecho meus olhos e cerro
meus lábios. Seria muita ingenuidade da minha parte pensar que o
trapaceiro Miller não teria alguma condição para ter aceitado tão
bem minha resposta. — Diga logo, seu cretino astuto.
Sua mão grande escorrega para minha bunda, me pegando
de surpresa e me fazendo abrir meus olhos, atentaaos seus, que
me encaram.
— Me deixe proteger vocês, Cris. — Ariel não pisca, muito
menos demonstra alguma emoção, apenas abaixa seus olhos para
meu ventre, ficando em silêncio, olhando-o. — Não estou lhe
impondo um casamento, nem mantendo você aqui como capricho,
estou protegendo vocês, pedindo uma chance para conseguir fazer
você me ouvir.
— Ariel...
— Eu já fui casado, Cristina. — As palavras dele, sendo ditas
de forma tão pesada, me fazem calar. — Um casamento aceito pela
empolgação do momento. Ela engravidou no nosso primeiro ano
morando juntos. No dia que ela me contou sobre a gravidez, eu
explodi de alegria, apenas para segundos depois ser atropelado
pela decisão que ela tomou em abortar a criança.
— Ariel, eu sinto muito... — murmuro com dor. Vejo à minha
frente o homem impertinentese desnudando por completo. Ariel não
me mostra sua pele, mas sua alma, e, pela primeira vez, desde
nosso atrapalhado engano, Ariel me mostra um pouco dele. Quase
como por instinto,minha mão se ergue, segurando seu braço. —
Lamento...
— Eu não a deixei tirar o bebê — ele fala sério, mantendo os
olhos em meu ventre. — Dolly nasceu em uma manhã de primavera.
Acho que foi a primeira vez que tomei noção que teria alguém tão
pequeno e indefeso dependendo de mim. Silvia nunca quis ser mãe.
Eu me iludia, achando que ela mudaria de ideia quando nossa filha
nascesse, mas não mudou. Ela cuidava, fazia suas obrigações
maternas a contragosto,mas fazia. Quando Dolly completou dois
anos, descobri que Silvia estava me traindo com um amigo antigo
dela.
Não sei o que dizer, nem sequer o que posso falar para
amenizar a escuridão que está dentro do seu olhar, se escondendo
atrás das suas palavras ditas em tom calmo.
— Pedi o divórcio, já estava saturado há muito tempo com
nossa relação. Acho que a traição foi a última gota, tanto que não
sofri por saber do caso dela, me senti aliviado, em certo ponto. —
Ariel sorri sem um pingo de alegria, negando com a cabeça. — Saí
de casa, fui para um hotel qualquer, entrei com o pedido de divórcio
e a guarda integral da minha filha. Silvia foi para uma festa e levou
nossa filha junto. Ela dispensou o motoristana hora de voltar para
casa, deixando nossa filha adormecida no banco de trás, sem a
proteção da cadeirinha...
É estranho, como se mesmo antes das palavras saírem pela
boca dele, eu pudesse sentir toda a dor que as acompanhará.
Talvez o olhar vazio dele tenha me alertado, ou o aperto em meu
coração, ou seus dedos que me esmagam com mais força. Não sei
ao certo dizer, mas dentro de mim sinto toda a melancolia que Ariel
soterra dentro dele.
— Dolly foi enterrada em uma manhã de primavera florida e
cheia de cor, igual a que ela nasceu.
Meus olhos se fecham, não consigo segurar a lágrima que
escorre por minha face.
— Muitas vezes me questiono se teria sido melhor ter
deixado Silvia ter feito o que ela queria desde o princípio, quando
soube da gravidez, isso teria causado menos sofrimento.
— Ariel, eu nem posso imaginar o que sentiu...
— Não vou lhe impor minha vontade, babá McPhee, mas vou
fazer de tudo para proteger vocês. — Sinto o toque quente da sua
mão, que se espalma em minha bochecha, a afagando com carinho,
e ouço o som pesado da sua respiração. — Não me afaste, Cristina.
Por favor, não me afaste.
Meus olhos se abrem e enxergo o mundo de promessas que
brilham em seus olhos. Tudo tão nítido e vivo, despertando um
sonho antigo, há muito tempo adormecido dentro de mim. Mas o
medo é um companheiro perigoso para se conviver por muito
tempo, ele se entranha dentro de você, acorrentasua vontade, suas
ambições. Os desejos de outrora, que pareciam tão certos, na
companhia dele se tornam assustadores e aterrorizantes. Meu
mundo, que construípara mim, tijolo por tijolo, que era tão seguro
alguns meses atrás, porém depois do desastroso engano dentro do
escritório, que me levou até aquele quarto de hotel com Ariel, agora
me parece frágil. E, lentamente, o cínico homem arrogante se
infiltrou dentro dele, se apossando de cada canto.
Capítulo 21
Argumentos válidos
Ariel Miller

Passo a esponja por seus braços, fazendo-a rir para mim,


relaxando seu corpo dentro da banheira. Ela descansa sua cabeça
em meu peito e empurro seus cabelos para o lado, assoprando a
espuma que tem em cima da sua cabeça. Esfrego demoradamente
cada parte do seu corpo, apreciando esse momento dela abaixando
sua guarda, me permitindo cuidar dela. Solto um beijo em seu
ombro, e seu corpo se aninha mais ao meu, suspirando baixinho.
Meus braços contornamsua cintura,trazendo-a mais a mim, ficando
com minhas mãos em cima do seu ventre. Suas pequenas mãos se
encaixam por cima dos meus braços. Aliso sua barriga com uma
das mãos, que a abraça por debaixo da água quente. Me vejo
sentindo um grande desejo de vê-la crescendo com nossos filhos.
— Como pode ter certezade que isso vai funcionar? — A voz
baixa de Self pergunta calma.
— Não possuo vícios, você compreende o que eu falo,
aprecio sua companhia e gosto de ficar com meu pau enterrado
dentro da sua boceta.
— Oh, meu Deus, sua boca cretina só fala merda! — Ela me
dá um tapa, o que acarreta em água transbordando pela banheira.
Mordo a ponta da sua orelha, fazendo seu corpo se encolher.
— O que foi? Apontei a lógica, temos pontos compatíveis.
— Cale-se, Ariel! — Cris esfrega seu rosto em meu braço,
suspirando com preguiça. — Acho que devo me sentir honrada pelo
traste do doutor Miller apreciar minha companhia.
— Gosto do seu aroma, assim como de quando fica irritada,
com os olhos espremidos, parecendo que vai soltar um raio de
energia em minha direção. — Ela molha meu braço, o esfregando,
soltando o ar dos pulmões. — Ainda estou pensando o que vamos
fazer sobre o som cavernoso e áspero que sai dos seus lábios
quando dorme...
— Idiota! — Cristina joga água por cima do seu ombro,
acertando meu rosto, rindo quando eu belisco sua coxa.
— Fique quieta, estou elaborando meus argumentos.
— Seus argumentos são falhos, doutor Miller. Gostar de
boceta, do meu cheiro e da forma como eu te olho quando você me
irrita, não são motivos para fazer um casamento dar certo.
— Muitos casamentos não têm nem isso — falo sério,
assoprando seus cabelos. — Acho muito válido. Boceta, perfume e
olhares.
— Seu advogado pervertido.
Belisco sua coxa de volta, a fazendo rir, gargalhando dentro
do banheiro.
— Para seu governo, a secretária pervertida, que assiste
vídeos pornográficos no serviço, é você. Eu, pelo menos, quando
quero ver algum vírus, faço isso sozinho, em um lugar discreto,
como uma pessoa normal.
— Oh, meu Deus, eu já falei que não foi culpa minha! — Seu
corpo se vira para mim, com seus olhos brilhando em divertimento.
A calo, segurando seu queixo, beijando seus lábios, os
sugando lentamente, absorvendo seu sabor conforme aprofundo o
beijo.
— Quais são seus argumentos, babá McPhee?
Olho sua face com seus olhos fechados e boca inchada
quando solto seus lábios, afastando apenas um pouco minha
cabeça de perto da sua para poder admirá-la.
— Seu pau — ela sussurra, deixando um pequeno sorriso ao
lado dos seus lábios.
— E?
Cris abre seus olhos, os deixando fixos em um ponto
aleatório do banheiro, como se estivesse pensando profundamente
sobre isso. Sua cabeça balança para os lados em negativo, rindo,
voltando a olhar para mim.
— Não! Apenas seu pau é meu argumento. Não consigo
pensar em mais nada.
— Me tornei apenas um brinquedo sexual para você. — Solto
seu queixo, mantendo minha atenção em seu sorriso.
— Não seja tão cínico,Ariel, acabou de dizer que gosta da
minha boceta também.
— Mas ainda tive mais argumentos que você.
— Sua boca cretina é irrevogavelmente impertinente,assim
como seu humor ácido é terrívelde lidar. Sem falar quando tem
aquela expressão neandertal no semblante, sabe? — Ela ergue
suas mãos, movendo seu dedo na direção do meu rosto,
gesticulando. — Igual essa que está fazendo agora, doutor Miller
.
Seus lindos olhos negros risonhos me deixam em transe e
me sinto sendo sugado por ela, repercutindo apenas o som da sua
risada dentro do banheiro. Suas pequenas mãos se erguem,
repousando em meu peito, me fazendo sentir diversas emoções.
Mas meu mundo para, quando, sem que eu espere, seu rosto se
levanta e seus lábios repousam nos meus de forma tão terna,
espontânea, e sinto como se tudo em minha vida voltasse a fazer
sentido. Não sou mais a metade de um homem amargo, que odeia a
vida, e nem o difamado advogado sem caráter. Aqui, com ela em
meus braços, me beijando de mansinho, eu estou inteiro. Meus
lábios forçam mais os seus, e logo a puxo para colar seu corpo ao
meu, não me importando com a água que cai para fora da banheira.
Sua pequena forma se encaixa tão perfeita a mim enquanto a
arrumo em meus braços, a deixando totalmentede frente para mim.
Suas mãos se enroscam em meus cabelos, apertando seus dedos
entre eles, e antes que Cris perceba, estou a erguendo em meu
colo, me levantando firme dentro da banheira. Suas pernas travam
em minha cintura, me fazendo sentir mais seu corpo quente e
molhado colado ao meu. Ela arfa, respirando fundo quando minhas
mãos, em sua bunda, apertam sua carne. Saio da banheira e
caminho a passos firmes, a segurando com proteção, colada a mim.
Cris está com suas mãos agarradas ao meu cabelo, e as minhas
estão presas à sua bunda, a massageando. Sinto a pele tão macia
sobre meus dedos. Não possuo mais minha vontade, apenas
obedeço ao desejo de sentir ela cada vez mais.
— Ariel... — Escutar meu nome em seus lábios é algo tão
paradisíaco, que desejo passar o resto da minha vida ouvindo.
Deito seu corpo, que arfa, na cama, me afastando apenas um
pouco para ter uma visão privilegiada das suas mamas molhadas.
Minha boca vai para elas, abocanhando um seio com pura luxúria. A
fome que me invade pelo seu pequeno corpo, me faz sentir uma
necessidade animal. Não me prendo mais, apenas libero essa
necessidade que Cris despertou dentro de mim pelo corpo dela.
— Ariel... Oh, Deus! — ela geme alto, segurando meu ombro.
Solto seu seio, repetindo a mesma sucção no outro antes de
libertá-los. Cris está com seus lindos olhos brilhantes me fitando
com luxúria, com a mesma liberdade com que a vi a primeira vez.
Desço meu corpo lentamente sobre o seu. Meu pau, como um
caminho que ele aprendeu bem, já se encaixa entre os lábios
molhados e inchados da sua boceta, que o deixa entrar devagar,
com meu quadril se empurrando contra sua pélvis. Ela segura mais
forte meus ombros, fazendo assim suas unhas marcarem minha
pele.
— Cristo! Vai me fazer virar uma viciada... — Ela fecha seus
olhos e morde sua boca. Minhas mãos estão paradas ao lado do
seu corpo, sustentando meu peso para não a machucar .
E apenas me deleito, saboreando cada expressão de
lascividade que tem em sua face.
— Seu argumento, doce vênus. — Inclino meu rosto,
lambendo sua garganta, sugando a lateral da pele, onde a veia dela
pulsa com força.
Usarei tudo que tiver em meu poder para mantê-la ao meu
lado. Poderia apenas ter me levantado e ido embora naquele dia,
quando a vi pela primeira vez, enquanto observava a pequena
atrapalhada falando sem parar, mas ela me acorrentou, me
capturando com seus olhos, e agora, nem que minha vida
dependesse disso, eu me afastarei de Cristina. Ainda mais quando
ela se entrega tão bela assim para mim.
Seus lábios se colam aos meus, com suas pernas cruzando
atrás do meu quadril, me deixando preso a ela. O gosto do seu beijo
me rouba cada pensamento e a linha tênue que eu possa ter, e
então a fodo com mais urgência. Seu grito é abafado pelos nossos
beijos, e cada vez mais nossos corpos se prendem em um só. Ela
se aperta mais a mim, engolindo meu pau dentro da sua boceta.
Seu corpo treme junto ao meu quando ergo meu tronco para cima,
aumentando minhas estocadas. A luz do sol que entra pela janela,
brilha em cima do seu corpo, e tenho a perfeita visão dele. Observo
seus olhos, que se fecham. Sua boca morde o canto dos lábios, e o
som que ela solta quando chega ao seu orgasmo é lindo. Continuo
acelerando dentro dela, sua vagina aperta meu pau, fazendo assim
a sensação ser três vezes mais forte no seu interior escaldante. A
fodo mais forte, aumentando as investidas, me perdendo no sorriso
sacana que ela abre em seu rosto. O gozo vem certeiro, e jorro
dentro dela minha porra. Meu cérebro explode por completo, meus
pulmões voltam a se encher de ar aos poucos, minha respiração vai
desacelerando e meu corpo cai ao seu lado.
— Definitivamente, seu pau, sempre seu pau — ela fala,
fadigada, rindo.
— Suspeito que posso viver com seus roncos também. —
Viro meu rosto no travesseiro, esticandominha mão e alisando suas
bochechas.
— Vai chegar atrasado para o trabalho, doutor Miller — ela
fala baixo, suspirando.
— Talvez possa tirar a manhã de folga. — Olho para sua
boca, gostando de como seus lábios ficam inchados depois dos
meus beijos.
— Não, não pode. Se bem me recordo, sua agenda está bem
atarefada para hoje. Amanhã será o julgamento de Brat, precisa
rever seus argumentos e tudo que envolve o caso.
— Alguns pontos negativos de engravidar a secretária.
— Cale essa boca cretina, Miller. — Cristina ri, se levantando
e se afastando da cama. — Já decidiu o que vai fazer com aquela
assistente mentirosa de Stano?
Ela vai para o banheiro e pega uma toalha para ela e outra
para mim.
— Não me decidi ainda se a levo diante do júri ou não. Se
não levar, Brat vai preso. Se a levar, vai ser perjúrio. Se eu contar a
alguém sobre a mentira dela, será quebra de confiança entre
advogado e cliente. De todas as formas, estou amarrado a esse
caso.
— Você realmente acredita na inocência dele, Ariel?
— Stano não matou sua mulher e muito menos aquele
preparador físico.
Seus olhos desviam dos meus, mordendo o canto dos seus
lábios, batendo lentamente seu pé no chão.
— Bom, eu vou dar um jeito nessa bagunça de quarto
molhado. Já que meu atestadotermina hoje, amanhã estarei com
você no tribunal.
Me sento na cama, pego a tolha no ar, quando ela me joga, e
fico em silêncio, observando-a secar seus cabelos.
— Estava pensando que talvez não precise voltar para a
firma.
Ela para seus gestos, olha para o chão e volta sua face na
mesma hora para mim, negando veementemente com a cabeça.
— Não, nem pense em abrir sua boca para continuar.
— Cristina, me ouça. — Me levanto e jogo a tolha em cima da
cama. — Não estou dizendo para largar o serviço, apenas que por
esse momento poderia se afastar, até ser seguro.
Ela caminha para o armário, o abre e pega uma regata e uma
bermuda, com um sutiã e uma calcinha, se vestindo às pressas.
— Vou preparar algo para tomarmos café, e não vamos mais
falar sobre isso.
A vejo sair a passos rápidos para fora do quarto, me largando
sozinho. Esfrego meu rosto e respiro fundo.
— Mulher teimosa!

— Como assim não achou nada? — rosno com raiva,


encarando Greg dentro da minha sala no escritório.
— Não encontrei nada que incrimine e ligue Renan Pener à
invasão do apartamento da sua garota e a morte do gato, mas
consegui outras informações — Greg fala sério, respirando pesado.
Ele estica suas pernas quando se senta na cadeira de frente
para minha mesa, abaixando sua mochila.
— O que descobriu sobre esse verme, Greg? — pergunto
sério, esmagando meus dedos, sentindo raiva por saber que não
tem nada ainda que prove que Renan fez aquela barbaridade com o
animal, com o intuito de acuar Cristina.
— Me pediu para fazer um pente fino, não foi? Bom, eu fiz. —
Ele retira uma pasta de dentro da mochila, arremessando em cima
da mesa.
A puxo em minhas mãos, a virando, abrindo apressado a
pasta de documentos.
— Renan Pener, categoricamente,é doente pela ex-esposa.
Pode ver pelas mulheres que ele se envolveu depois do casamento,
desde as trepadas rápidas, namoradas de curto prazo ou as
prostitutas, todas se...
— Parecem com a Cristina — termino por ele, olhando as
fotos das meninas dentro do documento. Cabelos pretos, pele
negra, estatura baixa, fisionomia volumosa do corpo, todas têm
algum traço de Cristina. — Filho da puta!
— De onze meninas que rastreei, ele espancou oito, mas
nenhuma delas quis falar comigo. — Greg respira fundo. — O cara é
um usuário contínuodo pozinho mágico, o nariz dele é praticamente
um aspirador de pó portátil, consegue cheirar cinco carreiras de
cocaína em uma noite, brincando.
— Se droga há quanto tempo?
— Ao que parece, desde a época da faculdade, mas eu chuto
um pouco mais, pelo tanto de grama que ele consome.
— Homem patético.
— Bom, em relação às meninas anteriores a ela, todas são
mistas, cores, tamanhos, peitudas, com peitos pequenos. A primeira
agressão dele foi em uma empregada que trabalhava na casa dele,
na época da adolescência. O pai abafou o caso e pagou uma boa
quantia para a garota sumir do mapa. Na faculdade, ele se acalmou,
até conhecer...
— Cristina. — Balanço minha cabeça em positivo, já sabendo
o que ele dirá.
— É, a sua garota. Ele se encantou por ela. — Greg puxa o
ar com força para seus pulmões, respirando fundo. — Pener é
agressor de mulheres, isso é incontestável, não passa de um
merdinha escroto!
— Alguma prova concreta,que ele agrediu essas mulheres?
Depoimento, procura em hospitais? Não achou nada contra esse
puto que possa incriminá-lo?! — pergunto para ele, o vendo negar
com a cabeça.
— São garotas de programa, Miller. Ele solta um dinheiro alto
nas mãos delas, as fazendo se calar.
Aperto meus olhos e respiro fundo, fechando a pasta com
força e sentindo tudo dentro de mim me puxar para ela.
— O medo foi aumentando gradativamente, a cada vez que
ele descobria meu endereço novo e aparecia. No começo, achei que
estava louca, por achar que ele me seguia.
Seus olhos amedrontados ficam expressivos, com o brilho de
lágrimas em suas esferas negras. Seguro sua face em minhas
mãos, beijando sua testa e limpando as lágrimas do seu rosto em
seguida.
— Mas não estava louca. Eu sabia, podia sentir os olhos de
alguém cuidando de cada passo que eu dava. No mercado, nas
lojas, qualquer lugar que eu fosse, eu sentia a presença de alguma
pessoa me vigiando.
— Contou à polícia quando foi registrar as queixas?
— Eu contei, disse para eles que alguém me seguia, e que
eu sabia que era Renan. Mas eles me disseram que sem provas
não poderiam fazer nada. — Ela sorri, triste, negando com a
cabeça. — Um policial me perguntou se eu estava tomando algum
remédio controlado. Eles me acharam louca, mas eu não estava...
não estava.
Quero tirar sua dor, abraçar ela tão forte, abrigá-la em meus
braços para sempre, ao ver o sofrimento que ela carrega.
— Um dia eu estava voltando do trabalho, já era tarde, estava
cansada, então parei perto de um aglomerado de pedestres,
esperando o sinal abrir. Eu o senti, Ariel, senti o momento exato que
os dedos tocaram em meus cabelos. As pessoas começaram a
andar e eu corri, corri o mais rápido que pude, atravessando a rua.
Quando me virei, avistei apenas a sombra do homem virando a
esquina.
Ela se cala e respira fundo. Vira seu rosto para a janela do
quarto.
— Mas eu sabia que era ele.
— Aconteceu outras vezes? — pergunto sério, trazendo seu
rosto para frente, segurando a ponta do seu queixo.
— Uma noite acordei quando o telefone começou a tocar.
Atendi ainda sonolenta, e apenas a respiração alta se fazia do outro
lado da linha. — Cristina fecha os olhos, apertando seus dedos em
meus braços. — Ele estava do outro lado da rua, eu o vi distante,
com o capuz da jaqueta cobrindo sua cabeça e seu rosto, mas ele
estava lá, me vigiando. E depois disso...
— Não abriu mais as cortinas.
— Exatamente isso, porque eu sabia que ele estaria me
olhando em algum lugar.
Abro meus olhos, ainda podendo ver sua face amedrontada,
de quando me relatou tudo pelo que estava passando desde o
divórcio, sobre a sensação constante de estar sendo vigiada.
Naquele momento que olhei para ela, apenas disse a mim mesmo
que ninguém a machucaria. Eu destruirei qualquer um que tente
fazer mal a ela ou aos meus filhos.
— Há um assunto que eu quero falar com você. — A voz
baixa de Greg sai preocupada, com ele batendo seus dedos no
encosto da cadeira.
— Diga — falo sério para Greg, que não contou tudo ainda.
— Eu fui até o endereço dela, falei com o tal do Bobe, como
me passou no e-mail. Ele me deixou entrar no apartamentoquando
eu citei o seu nome. Pelo que eu analisei, não teve arrombamento
algum. Precisa conversar com ela, pedir para lhe contar tudo o que
aconteceunaquele sábado, do normal ao mais diferente que possa
ter sido.
As memórias do sábado de manhã me acertam
precisamente.
Estico meu braço e seguro seu ombro antes que ela trombe
em mim, o que a faz soltar um grito, derrubando suas sacolas.
— Oh, meu Deus! — Sua face se ergue para mim, ficando
com a respiração pesada, puxando o ar forte para suas narinas. —
Ariel, quer me matar do coração?
Ela se afasta, abaixando para pegar as coisas que caíram
das sacolas. Olho no rumo de onde ela vinha, mas não enxergo
ninguém caminhando atrás dela. Me abaixo e auxilio Cristina a
pegar suas compras, repousando meu olhar em sua face. Sua veia
está saltada na lateral da sua garganta, os olhos arregalados. Seu
coque bagunçado, com fios soltos, cai na lateral do seu rosto.
— Do que estava fugindo? — Cristina ergue seus olhos para
mim, se levantando lentamente.
— Nada, apenas estava distraída...
Ela estava assustada. Cristina não estava distraída,mas sim
amedrontada. Algo ou alguém a tinha assustado. Estava tão
agitado, me sentindo elétrico por estar com ela perto de mim, que
não me atentei a isso como deveria.
— Continue buscando por algo, volte outra vez ao edifício,
converse de porta em porta se for preciso, Greg. E eu vou conversar
com Cristina, descobrir mais algumas informações.
Depois que Greg parte, ainda espero uns dez minutos, antes
de me levantar e caminhar para a porta, a abrindo e encarando
Stano Brat, que está na sala de espera. Aponto minha sala para ele,
esperando-o entrar, fechando a porta atrás de nós. Ele se senta
calmo, olhando em volta, cruzando suas pernas, balançado seu pé
de forma impaciente. A respiração eufórica aumenta o som dentro
da sala, o que apenas me faz sentar em minha própria cadeira, o
encarando por um tempo antes do confronto.
— Não estou no meu melhor momento de paciência, Brat, e
serei ríspido e franco. Ou me conta a verdade de onde estava, e o
porquê mentiu sobre sua assistente,ou pode se retirar da minha
sala e procurar outro advogado para lhe representar amanhã, diante
do grande júri.
— Não pode fazer isso comigo, Miller.
— Posso, e irei fazer sem um pingo de remorso, a escolha
será sua! — Me encosto na cadeira, segurando minha caneta, a
rodando em meus dedos. — Tenho dez minutos antes de ter que ir
ao fórum, então sugiro que fale rápido.
Ele esfrega seu rosto, negando com a cabeça, me
amaldiçoando baixinho.
— Nove minutos — falo sério, erguendo meu pulso, olhando
para meu relógio.
— Estava em um motel — Stano vomita as palavras de forma
rápida, desviando seu rosto para o chão.
— Se abrir sua boca para me dizer que estava na companhia
da sua assistente, vou te chutar para fora da minha sala.
— Era Deem, meu enteado, que estava comigo, por isso eu
não lhe falei. E é por isso que eu não posso contar para ninguém
com quem eu estava.
Solto a caneta dos meus dedos sobre a mesa, respirando
fundo, querendo passar por cima da porra da madeira e socar a
cara escrota de Stano Brat.
— Está me dizendo que no momento que sua esposa foi
morta, você estava na porra de um motel comendo seu enteado?
— Não foi algo planejado, eu não pretendia ter nada com
ele...
— Pare! — Ergo minha mão, o silenciando. — Onde estava
com a cabeça, Stano? Tem ideia de que isso é crime de todas as
formas? Estamos falando de um menor de idade.
— Miller, é minha vida que está em jogo, acha que eu não
sei? Tudo que eu construí,minha empresa, meu nome, um império
todo irá desmoronar se isso vier a público. Aconteceu...
— Aconteceu?! — Balanço minha cabeça em ironia por suas
palavras. — Será isso que vai dizer ao juiz quando ele lhe perguntar
o que passou na sua cabeça quando teve a brilhante ideia de pedir
para seu enteado chupar seu pau?
— Deem fará dezoito anos mês que vem, não será mais
crime.
— Inacreditável!
Respiro fundo, o encarando com nojo, não pelo fato de
manter uma relação sexual com um homem, mas pelo fato de ser
uma criança. E ele parece não ouvir o que sai da boca dele. O fato
do menino estar prestes a completar a maior idade, não anula que
foi com idade insuficiente que os dois começaram a ter uma relação
sexual.
— Precisa levar Violet ao tribunal, eu não posso trazer esse
assunto a público. Não matei minha mulher e nem aquele bosta que
estava com ela. Porra, eu não matei, preciso que me ajude!
— Saia da minha sala, Brat!
— Não pode me abandonar. — Ele ergue seu rosto para mim,
balançando sua cabeça para os lados. — Tem a obrigação de me
defender, é o meu advogado!
— Minha única obrigação nesse momento é não quebrar sua
cara escrota depravada. Agora, saia da porra da minha sala! — A
voz carregada de raiva sai da minha boca, enquanto o fuzilo de ira
com meu olhar.
— Estará no tribunal amanhã, não é?
Ele se levanta e caminha para a porta do escritório.
Mantenho meus olhos em sua cadeira vazia, não o respondendo,
ficando em silêncio, e apenas quando ouço o som da porta sendo
fechada, é que chuto com repúdio a porcaria da mesa.
— Doente de merda!
Capítulo 22
Apelação
Cristina Self
Suspiro com prazer ao sentir o aroma da tortade banana que
acabei de tirar do forno. A deposito em cima da ilha da cozinha.
— Acho que me empolguei. — Coço minha testae me viro
para o fogão, vendo as panelas de comidas que fiz.
Eu tinha me esquecido de como era preparar uma refeição
para outra pessoa, como eu amo essa demonstração de afeto que é
alimentar o outro, dedicar-se ao tempo de preparar algo saboroso.
Eu evitava cozinhar depois do divórcio, apenas fazia isso quando
estava nervosa e precisava silenciar meus pensamentos. Hoje
comecei com pequenas bolachas caseiras no começo da tarde, para
poder distrair minha mente, e, quando vi, já me encontrava dispersa
dentro da cozinha, atarefada entre o frango assado, o macarrão
caseiro, o creme de milho, o arroz, a batatafrita e a tortade banana.
Brow tinha ficado comigo a tarde toda, sentado na cozinha,
conversando e experimentando o que eu ia fazendo. Sei que, no
fundo, ele apenas está fazendo isso para me distrair, me
perguntando sobre as receitas, mas fico feliz pela presença dele. E
é tão bom, tão prazeroso esse momento de paz que sempre tenho
quando cozinho, que nem vejo a hora passar. Me familiarizei rápido
demais com a cozinha de Ariel, que é o local da casa onde mais
passo tempo desde o dia que ele me trouxe para cá. Corro meus
olhos pela mesa e a vejo arrumada, com os copos e talhares
dispostos corretamenteao lado dos pratos. Transfiro as comidas
para as travessas e as levo para a mesa, olhando para a janela, que
já mostra a noite.
— O que você está esquecendo? — Bato meu pé no chão,
conferindo tudo disposto na mesa. Alinho os óculos em meu rosto,
confirmando minhas suspeitas ao não avistar a jarra de suco. — O
suco!
Giro rápido, com intensão de ir para a geladeira, mas sou
bloqueada pelo corpo revestido em seu terno sob medida, que tem
seu dono silencioso me encarando.
— Deus, eu não tenho suficiência cardíacapara levar sustos!
— Esfrego meu peito, olhando assustada para ele.
Ariel desvia seus olhos de mim para a mesa, a olhando com
estranheza.
— Isso seria?
— Nossa refeição — falo orgulhosa, olhando para a mesa
que eu arrumei, estufando meu peito. — Bom, não é nenhuma
receita de massa italiana, mas me saí bem.
A grande mão dele se estica, me pegando de surpresa
quando espalma em meu rosto, me fazendo olhar para ele.
— Percebo! — Ariel mantém sua concentração em meus
cabelos, erguendo sua outra mão e tirando algo da minha mecha,
abaixando a ponta do seu dedo para que eu possa ver o farelo de
trigo. — Isso é alguma hidratação para o cabelo?
Assopro a sujeira de trigo da ponta do seu dedo, repuxo meu
nariz e aliso minha camisa, tentando me endireitar.
— Largue de ser chato, Ariel.
— Não estou sendo chato, gostei desse seu aspecto
desmazelado, completamentedesarrumada, digo que é até melhor
que aquele saiote e blusa de gola alta que você compra em quantia
absurda. — Ele abaixa seus olhos para a regata, sorrindo
cinicamente, enganchando seu dedo no decote e puxando-o de
mansinho. — É, com toda certeza prefiro essa vista.
Estapeio seu dedo, tirando sua mão de perto dos meus seios.
— Não há nada de errado com as minhas roupas —
respondo baixo, forçando um sorriso, inclinando meu corpo para
trás, tentandome afastar um pouquinho da força que emana dos
seus olhos. — Pare de ficar me constrangendo.
— Cozinhou especialmente para mim?
— Óbvio que não, cozinhei porque estava com fome.
Desvio meus olhos dos seus, a mão dele ainda está em meu
rosto, o segurando para si. Foi para ele, a verdade é essa.
Conscientemente,eu sabia que queria fazer um jantar para nós
dois, e isso me deixou feliz, silenciou os temores e medos dessa
manhã.
— Devo julgar que sua fome é de uma leoa, pela quantidade
de comida que fez. Ainda bem que trouxe você para cá, assim meus
filhos param de ficar se nutrindo de porcaria açucarada. — Ariel
estende sua mão para meu ventre, a espalmando, sorrindo.
— Cale essa boca cretina, Miller! Eu não como apenas
besteira.
— Sim, eu sei. Estou aqui para comprovar seu bom gosto. —
Entendo sua piada banal com o trocadilho, o que me faz rir de sua
forma descarada.
— Nojento, presunçoso! — Me afasto dele, o contornando,
indo para a geladeira. — Vá se limpar, antes que eu mude de ideia e
não o deixe comer a comida que fiz.
É o tempo de Ariel ir para o quarto se limpar e tirar seu blazer
do terno, para que eu finalize o suco, levando a jarra para a mesa. O
vejo sentar na ponta, onde arrumei um dos lugares, enquanto puxo
a cadeira do lado direito, me sentando também. Ele tem sua face
enigmática, olhando para as travessas de comida.
— Ficou sabendo de algo? — Seguro meu copo e me sirvo
de suco, voltando a olhar para ele.
— Stano está transando com o enteado dele — Ariel fala
rápido, de forma simples, me dando a notíciade uma única vez.
Minha mão aperta o copo de suco em meus dedos, o deixando
parado no meio do caminho, suspenso no ar, próximo à minha boca.
— Nossa! — sussurro, espantada, piscando confusa. — Não
era bem a isso que me referi, mas... NOSSA!
— Não tem com o que se preocupar, lhe disse que estaria
investigando sobre o que aconteceu no seu apartamento.
Ariel estica seu braço e pega meu prato de forma ágil, e
antes que eu possa fazer algum protesto,já está empanturrando o
prato de comida e devolvendo à minha frente. Olho para a comida,
ainda incrédula com a notícia que recebi.
— Stano não matou mesmo a esposa dele.
— Não, ele estava com o garoto no motel. — Ariel faz seu
prato, o deixando duas vezes mais farto do que o meu.
— Isso... isso é nojento em todos os aspectosda moralidade.
Ele criou o menino como se fosse filho dele por sete anos. E é
crime, Ariel, o menino tem o quê? Quinze anos?
— Dezessete anos, vai completar a maior idade mês que
vem.
— Sabia que Stano é um medíocre,mas nojento a esse grau
de se envolver com o filho da esposa dele, isso não esperava.
— Por isso ele comprou o álibi falso, está tentandoesconder
sua relação extraconjugal com seu enteado, Deem. — Ariel corta o
frango e pega a coxa, a levando para seu prato e fatiando outro
pedaço imenso do peito para mim. — Está com uma cara boa.
— Oh, meu Deus, não precisa ser esse exagero todo...
— Está comendo por três agora, precisa se alimentar. Nessa
fase sente muita fome.
Meu sorriso morre pouco a pouco em meus lábios, imaginado
se ele cuidava da sua esposa assim também.
— Como era...
— O quê? A relação de Stano, eu não sei, não pedi para ele
entrar em detalhes. — Ele leva uma garfada de comida à boca,
mastigando, dando de ombros para mim.
— Não. — Nego com a cabeça, enrolando o macarrão em
meu garfo. — Digo, como era sua relação com Silvia?
Não olho para ele quando finalizo a pergunta, mantenho
minha atenção nos cordões de macarrão que levo à boca, como se
fosse o ápice da minha noite e merecesse toda minha concentração.
Escutoo som rouco da sua garganta quando ele pigarreia, limpando
sua boca com o guardanapo.
— Minha relação com Silvia foi uma cadeia de erros seguida
de arrependimento, Cristina.
Dou uma rápida olhada pelo canto dos meus olhos nele,
enxergando sua face abaixada, encarando seu prato de comida.
— Entendo. — Bebo o suco, tentandodisfarçar o desconforto
que sinto, imaginado como devia ser a vida dele com outra mulher
.
— Creio que não entende. Silvia é uma mulher linda, como
um belo carro de colecionador, custa caro manter a manutenção
dele, mas o interior é frio e vazio, se igualando à sua lataria brilhosa.
— Uauuu, isso realmente foi uma comparação única. — Volto
a me alimentar, preferindo ficar em silêncio e esperar ele falar mais
alguma coisa ou apenas deixar o assunto morrer.
Ariel opta pelo silêncio, não dizendo uma única palavra que
seja sobre sua ex-esposa. E, por incrível que pareça, de resto é
agradável, ficar apenas nós dois saboreando o jantar, sem briga,
gritos ou pratos voando, sendo arremessados com raiva na parede.
É familiar, o que acaba me fazendo levar meus olhos para as
cadeiras vazias, imaginando qual será a probabilidade dessa
relação dar certo. Após o jantar, o deixo partir em silêncio, indo
conversar com Brow, que está fazendo a ronda com os outros
seguranças. Limpo a mesa, guardo tudo que sobrou em potes,
armazeno na geladeira, recolho a louça suja e as coloco na pia,
para lavá-las.
O som baixo da música tocando no aparelho de som da sala,
quebra meu silêncio, me distraindo de manter minha atenção focada
entre talheres e espumas da esponja. O ar quente da respiração
calma acerta minha nuca, fazendo meu coração parar de bater por
apenas um segundo, sendo disparado por batidas violentas quando
ele inclina sua face, encostando a ponta do seu nariz em meus
cabelos. Os longos braços, com as mangas da camisa dobrada até
os cotovelos, se infiltram pela lateral do meu corpo, repousando
suas mãos, uma em cima da outra, sobre meu ventre. Sua cabeça
se mexe, apoiando seu queixo no topo da minha cabeça,
embalando nossos corpos em um balançar calmo, pouco a pouco.
Enxáguo os talhares, os deixando no escorredor de louça, sentindo
seu coração colado em minhas costas,batendo desalinhado como o
meu, enquanto ele puxa fundo o ar para seus pulmões. Suas mãos
massageiam meu ventre, circulando seus dedos pelo meu umbigo,
por cima da camisa. Inclino minha cabeça para trás, tendo seu peito
como um encosto macio e aconchegante.
— Era uma relação agressiva, onde eu me sentia mais
estressado dentro de casa do que no trabalho. Não digo agressiva
fisicamente,mas mentalmente.Brigas, discussões, o que apenas foi
desgastando tudo rapidamente. Foi um amor venenoso e violento.
Ergo minha cabeça para a janela e olho a imagem dele
refletida atrás de mim, com seus olhos presos ao meu rosto.
— Não tínhamos maturidade, eu não tinha paciência,
principalmente, e nem estava disposto a tentarcompreender Silvia.
Assim como ela não estava inclinada a melhorar.
— Eu aprendi muitas coisas com a forma tóxica que Renan
julgava erroneamente ser amor. — Mantenho meus olhos presos
aos seus através do reflexo. — E uma delas é saber que o amor é
bonito, brando, protetor, quente e acolhedor. Mas se tem uma coisa
que o amor não é, é doloroso e violento.
Baixo minha cabeça, puxando o pano de prato e secando
minhas mãos, desviando meus olhos dos seus. As grandes mãos
em minha barriga se separam, ficando cada uma de um lado do
meu quadril. O giro calmo em meu corpo me faz ficar de frente para
ele. Respiro fundo e ergo meus olhos aos seus, me perdendo no
azul mais limpo e calmo que transmite em seu olhar
.
— Aprecio sua companhia, babá McPhee. — Ariel tem sua
voz rouca. Ergue sua mão para o meu queixo, o segurando com
seus dedos, passando seus olhos por minha face. Ele solta meu
queixo e retira os óculos dos meus olhos, o deixando no cantinho da
pia. — Aprecio muito sua companhia.
Minhas pálpebras se fecham e sinto a fraqueza que sempre
me pega quando fico dessa forma, tão íntima diante dele. O
escorregar dos seus dedos por minha bochecha, se embrenhando
no coque do meu cabelo, me mantém presa à sua delicada carícia.
— Aprecio muito sua companhia, doutor Miller — sussurro,
abrindo meus olhos e colidindo com as íris mais cintilantes que já
me encararam.
E eu caio de cabeça, escorregando sem apoio algum em
meio ao turbilhão de emoções que me acarreta quando seus lábios
se apossam dos meus. Envolvo meus braços em seu pescoço,
usando seu corpo como meu apoio, para me garantir um ponto de
equilíbrio nessa tempestade chamada Ariel que entrou em minha
vida. Não me sinto como se estivesse perdendo a direção, mas sim
a encontrando.
O amor pode ser tudo. A loucura, a queimadura e a exatidão.
Mas o amor nunca será violento.

Meus dedos circulam seus joelhos, que estão flexionados ao


lado do meu quadril. Me sinto preguiçosa, com meu corpo lânguido
deitado na cama, entre as pernas de Ariel, apoiando minha cabeça
em seu peito. A janela aberta deixa uma brisa fresca entrar para
apaziguar o calor no qual tí
nhamos nos queimado, bagunçando o
quarto por completo.Rio ao sentir a ponta dos seus dedos correrem
por meus braços, fazendo pequenas cócegas quando toca meu
cotovelo. O movimento do seu peito, respirando calmo, me faz ficar
mais dengosa, aproveitando as suaves carícias dele.
— Por que não seguiu em frente com o caso contra Renan?
Ariel inclina sua cabeça e beija meu ombro, dando uma leve
mordida, sussurrando próximo ao meu ouvido. Suas mãos passam
por debaixo do meu braço, alisando meus seios nus.
— É muito cansativo e doloroso para uma mulher passar por
um momento cruel, como foi o meu, e ainda ser julgada duplamente,
com perguntas que não são ditas e palavras que mascaram o
julgamento.
— Podia ter recorrido.
— Eu recorri a mim, Ariel, recorri à minha autoproteção.Foi
tudo uma distorção vulgar e doentia dos fatos, ao ponto de me fazer
questionar minha sanidade mental, se eu realmente estava louca e
se foi tudo coisa da minha cabeça, mesmo eu trazendo em cada
canto do meu corpo as provas da agressão que sofri.
Fecho meus olhos e respiro fundo, balançando minha cabeça
em negativo.
— A mulher, quando é agredida pelo seu parceiro, não
encara apenas a dor física e a humilhação, mas ela também lida
com os julgamentos de terceiros. — Esmago minha boca e sinto o
gosto amargo das frases horríveisque tive que ouvir. — Na certa,se
apanhou, foi porque fez alguma coisa para merecer a surra. Ou, se
estava tão ruim assim, por que continuou com ele?
Sorrio sem um pingo de felicidade, me recordando de toda
humilhação que passei dentro da delegacia, quando fui registrar a
queixa, e dos meus antigos vizinhos, quando me encontraram no
tribunal. Tudo tão feio e cruel.
— Não importa qual o seu grau de estudo, sua condição
financeira, quando uma mulher é agredida, ela se torna uma vítima.
E ninguém nos olha como vít ima, somos apenas uma consequência
das nossas escolhas. — As lágrimas queimam minha visão,
enquanto nego com a cabeça. — Mas ninguém escolhe sofrer na
mão de quem julga amar, ficamos frágeis, acorrentadas àquela
situação, psicologicamente abaladas, fisicamente molestadas pelo
parceiro, que força o corpo dele ao nosso. Somos incapazes de
enxergar nossa própria força, porque nos julgamos inúteis, pois
ficamos condicionadas ao fracasso, à incapacidade de quebrar o
vínculo.
O som da sua respiração pesa, enquanto ele me abriga forte
em seus braços, me enjaulando em seu abraço, movendo nossos
corpos, me fazendo ficar de frente para seu rosto. Seu maxilar está
apertado, com seus olhos semicerrados confrontando os meus.
— Renan te molestou? — Ariel pergunta seco, me deixando
ouvir o som rouco da sua voz sair de forma grave.
Levo meus dedos para frente do meu rosto, tapando minha
face, abafando o soluço do choro, que me rasga por dentro. Balanço
minha cabeça, confirmando sua pergunta.
— Sim... — digo baixo, fechando meus olhos.
Dizer isso em voz alta, pela primeira vez, é o mesmo que
quebrar uma barricada de um lago. O choro vem forte e violento. Sai
para fora toda dor que tranquei dentro de mim por anos. Os braços
fortes que me têm sobre seu domínio, se mantêm firmes, apenas
me deixando me sentir segura, sem julgamento, sem repúdio. Me
presenteia com seu silêncio, sabendo que de alguma forma isso me
corroeu por dentro durante esses últimos quatro anos.
— O pior disso tudo é ter que compreender e admitir que se
não tivesse chegado ao ponto extremo da agressão, provavelmente
eu ainda estaria presa naquela relação doente — digo, chorando
com melancolia. — Estava tão condicionada psicologicamente
àquela situação doentia, me sentindo covarde, inferior e inútil, que
eu mesma não me achava digna e capaz de conseguir sair dela por
conta própria. E isso é humilhante.
Sua mão se ergue e segura meu rosto, puxando minha face
para seu peito, me acolhendo em seus braços. O choro me domina
com uma força possessiva, saindo de dentro das minhas entranhas,
rasgando minha alma a cada soluço que escapa dos meus lábios. E
tenho de Ariel a única coisa que preciso:um abrigo seguro que me
sustenta,me garantindo desmoronar em seus braços. Suas mãos
alisam meus cabelos, sussurrando palavras ternas em tom brando,
não se importando se demorará uma hora ou a noite inteira para
cessar as lágrimas. Com sua forma silenciosa e gestos calmos, me
diz sem palavras que ele continuará exatamenteaqui. Depois que o
choro passa, pelo que me parece um longo tempo, me livro do
desespero antigo, que finalmente foi libertado do meu coração. Me
sinto em paz.
— Gentil — sussurro, fungando e erguendo meus olhos para
ele. Ariel se demora em minha face, levando sua mão para minhas
bochechas, as limpando.
— Gentil não é palavra que eu ousaria aderir para descrever
meu estado de espírito nesse momento, minha doce vênus.
— Mas eu sim. Essa manhã usou seus argumentos válidos, e
agora eu estou usando de apelação, doutor Miller. — Sorrio para
ele, escorregando meu dedo pela sua sobrancelha, a contornando
lentamente.— É a pessoa mais arrogante que eu conheço, mas
também a mais gentil.
Colo minha testaà sua, esfregando meu rosto na pele quente
dele, suspirando com calma. As mãos de Ariel escorregam por
minhas costas,parando em minha cintura,segurando firme. Não sei
ao certo dizer como faremos isso funcionar, se tem grandes chances
de erros muito mais do que acertos, mas a verdade é uma só: eu
me sinto segura em seus braços, me sinto viva. Ariel nos gira na
cama, depositando minhas costas no travesseiro. Sua mão alisa
meu rosto com seus gestos dominantes, se arrumando sobre mim,
se apossando com poder da minha boca, com seus beijos apagando
todas as lembranças ruins.
— Ohhh, Ariel! — A minha virilha inflama em desejo,
enquanto estico minhas pernas, as empurrando para os lados,
quase me torcendo de dor com toda a luxúria que ele desencadeia
em mim.
Meus braços se erguem, parando perto da minha cabeça,
esmagando meus dedos no travesseiro. A língua de Ariel desliza
curiosa pela minha garganta, entre beijos e mordidas, até chegar
aos meus seios, que arrepiam a pele quando a quentura da sua
respiração paira sobre eles. Meu peito sobe e desce rapidamente,
aumentando as batidas do meu coração. Arqueio meu tórax para
cima, com o bico ereto da mama praticamente implorando por
atenção.
— Apelação aceita, senhorita Self — Ariel fala rouco, com a
respiração acelerada, erguendo meu pulso para cima da minha
cabeça, levando o outro junto logo em seguida, os segurando
unidos, me deixando com eles imobilizados.
Minha boca se abre em um perfeito “O” quando sinto o hálito
quente dos lábios de Ariel se fechando sobre meu seio, mamando
com força, circulando sua língua em volta da auréola. Choramingo
de prazer, o que o incita a sugar mais forte meu seio com pura
vontade.
— Ohhh... — Mordo meus lábios, fechando meus olhos,
sendo arrastada para a sedução tão crua a qual ele me tem.
Ele desliza mais sua língua, brincando apenas com o bico
entre seus dentes, dando pequenas pinceladas apenas para voltar a
sugar como se tivesse pretensão de me aplicar essa tortura a noite
toda. Seu pau pulsa entre minhas pernas, raspando na entrada da
minha boceta molhada, que parece apenas precisar tê-lo por perto
para estar pronta para recebê-lo. Ariel segura meu quadril,
investindo-o de forma lasciva contra o meu. O leve toque da cabeça
grossa do seu pau, raspando em minha boceta,como provocação, é
o suficiente para me fazer querer chorar, em uma mistura de ódio e
desejo. Sua grande boca curiosa solta meu seio apenas para pegar
o outro, o torturando da mesma forma que fez com o primeiro.
Gemo, com os olhos fechados em abandono, me sentindo ser
empurrada para a borda, quando finalmente Ariel começa a
empurrar seu pau dentro de mim, encaixando nossos quadris. Minha
vagina se expande para receber seu pau latente dentro do meu
interior.
Ariel entra pouco a pouco, se afundando lentamente, me
torturando enquanto sua boca continua a sugar meu seio, o
chupando com pressão, o deixando tão firme entre seus lábios. E
como um perfeito quebra-cabeça, nossos corpos se completam. O
gemido escapa dos meus lábios e desejo apenas estar com as
mãos livres, para me segurar a ele, pois posso jurar que estou
caindo em um precipício.Sinto o sangue que corre como fogo em
minhas veias, me levando a respirar duas vezes mais rápido,
enquanto meu mundo é sugado para o dele. O quarto escuro se
torna minha cela preferida, me prendendo em meio ao misto de
paixão que Ariel está me levando. Meu cérebro lateja forte, como se
explodisse em mil partículas.Meus dedos se fecham em punho e
sinto as mãos fortes dele segurando com brutalidade meu quadril.
Meu coração bate acelerado, como se pudesse sair explodindo de
dentro do meu peito. A boca de Ariel suga com mais força meu seio,
tendo seu pau pressionando dentro de mim. Em leves movimentos,
sai e entra, tomando cada canto do meu ser. Ele me marca quando
seus dentes se forçam sobre a pele sensível com tantaforça, me
fodendo fundo, nos colando um ao outro.
— Ohhh, Ariel! — Minha cabeça vira para o lado, abafando
meu grito na pele grossa do braço dele, que se mantém esticado,
segurando meus pulsos.
E, por impulso, meu corpo se arqueia para cima. Tento mexer
meu quadril, querendo mais, implorando por tudo que ele me faz
sentir.
— Mais rápido... Por favor. — É como se fogo puro
percorresse minhas veias agora, a lava mais pura e quente de um
vulcão que entrou em erupção depois de muito tempo adormecido,
me incendiando, queimando meu corpo por inteiro.
Não sei ao certo se sinto alívio, abandono ou perdição
quando ele solta meu seio, trazendo suas mãos para o lado do meu
corpo, libertando meus pulsos, deixando as grandes mãos dele
espalmadas no colchão, movendo com pressão o corpo contra o
meu. Minha vagina o recebe com alegria descarada a cada
estocada bruta, que vai aumentando conforme a batida forte da sua
pélvis contra a minha. As mãos, que estão livres agora, me fazem
matar minha vontade, e deslizo-as por seus braços, apertando meus
dedos à carne. Meus olhos se abrem e gemo enquanto chamo seu
nome, sendo fisgada pela sua intensidade. Vejo os olhos brilhantes
em azul, que me absorvem. Ergo minha mão e seguro em sua nuca,
abrindo ao limite minhas pernas, as deixando esparramadas na
cama. Meu braço se prende em suas costas, cravando minhas
unhas em sua bunda, gemendo com seu pau tão fundo, que me
toma por completo. Tudo vira uma eterna montanha-russa de
emoções.
— Mais! Deus... Mais, mais... — imploro sem vergonha
alguma a ele, pois é a única coisa que consegue sair com algum
nexo dos meus lábios.
Meus dedos espalmam em seu rosto, e o vejo tão perdido
quanto eu em sua queda livre, na qual nós dois nos encontramos.
— Nunca vou deixar você, Cris.
Sua cabeça se abaixa, tomando meus lábios em toques
desesperados, e o gosto do seu beijo é como um vício, liberando
todas as químicas que disparam dentro de mim, me deixando em
perdição por vontade de nunca o deixar ir para longe de mim. Os
corpos se unindo, a dor, a agonia, tudo misturado ao beijo, a cada
penetração profunda. Minha vagina se aperta mais, se colando em
volta do seu pau, o sugando para mim, o recebendo entre o desejo
e a euforia. Meus dedos param em seus ombros, e me agarro a
eles. O som rouco que sai pelos lábios de Ariel entre nossos beijos,
entra em meus ouvidos e se espalha por todo meu corpo, que vibra
junto ao dele. E entre batidas latentese rápidas, vejo tudo explodir à
minha volta em milhões de partículas,com o orgasmo forte que
corre por todo meu corpo. Ele separa nossos lábios e geme alto, me
deixando tão cheia e quente a cada jato que solta dentro de mim,
gozando junto comigo.
Ariel deixa novos sons roucos escaparem dos seus lábios,
travando seus olhos com os meus, se arrematando fundo entre as
últimas estocadas. Seu grande corpo tomba sobre o meu, mantendo
seus cotovelos presos ao colchão, segurando parte do seu peso,
enquanto nossos corações batem com força desesperada, como
dois náufragos que chegam à terra firme. Minha boceta se retrai,
assim que a curiosa língua dele desliza em minha garganta,
parando em cima da veia, circulando a pele. Ele respira fundo,
esfregando seu rosto em meus cabelos.
— Somos bons nisso. — Minha voz trêmula sussurra.
Escondo meu rosto em seu pescoço, abafando um gemidinho
quando ele empurra seu quadril contra o meu.
— Somos muito bons nisso, babá McPhee.
Meus braços se apertam em suas costas e solto o ar
lentamentedos meus pulmões, relaxando os músculos das minhas
pernas.
— Podemos tentar — murmuro, abrindo meus olhos e
encarando o teto do quarto.
A respiração de Ariel se acalma enquanto ele se afasta, se
retirando lentamente de dentro do meu corpo. E é muito a
contragostoque meus braços o soltam. O vejo em seus joelhos
quando ele se senta entre minhas pernas, olhando para meu corpo
nu e suado à sua frente. Seu olhar recai sobre minha barriga. Estica
sua mão, parando-a em cima dela, a deixando achatada com os
dedos abertos.
— Somos bons juntos. — Sorrio para ele, arrumando meus
cotovelosno colchão, inclinando a parte superior do meu corpo para
cima, olhando sua mão sobre o meu ventre. — Talvez dê certo.
E mesmo em meio à escuridão, com a pouca luz que entra
pela janela do quarto, eu posso jurar que vejo, por uma fração de
segundos, uma centelhade tristeza brilhar em seus olhos, o que me
faz ficar com a guarda erguida. E se o homem se arrependeu da
ideia de querer realmente formar uma família?
— O que... O que foi? — Ariel desvia seus olhos dos meus,
voltando a olhar para o meu ventre. — Se arrependeu?
Uma vergonha tão grande vai me consumindo, e estar nua e
exposta diante dele nunca me pareceu uma cena tão horrível quanto
agora. O deixei ver muito além do meu corpo, tinha mostrado a Ariel
minha alma. Tento puxar as pernas, procurando uma maneira de
esconder meu corpo, para me afastar dele, mas suas mãos são
mais rápidas quando ele segura meus joelhos, mantendo minhas
pernas quietas, as deixando exatamentecomo estavam. Ele volta
sua atenção para meu corpo, passando seu olhar por cada cantode
mim, e a grande mão que estava em meu ventre, desliza livre por
minha pele, me fazendo observar atenta o contrastedas nossas
peles, alisando de mansinho, deixando meu corpo relaxado.
— Não sou gentil, Cristina — Ariel fala baixo com sua voz
rouca, tombando sua face para o lado, com seus cabelos
bagunçados, tendo sua pele brilhando pelo suor.
Ele para sua mão sobre meu seio, onde sinto a pele tão
sensível e acompanho seu olhar, enxergando a marca da sua
arcada dentária. É visível a pressão que ele usou para morder
minha pele. Estava tão dopada com toda a luxúria, que nem notei a
força com que ele tinha me mordido.
— Não foi com cavalheirismo que eu a fodi, foi com posse.
— Está tudo bem. — Volto meus olhos para os seus. — Não
foi ruim. Na cama eu posso lidar com seu controle.
Sorrio, me deitando no colchão e alisando seu braço,
suspirando com calma.
— Não posso garantir que minha necessidade por controle
não falará mais alto em alguns momentos fora da cama.
— Quando isso acontecer, eu vou lhe informar, doutor Miller.
Vejo seus olhos brilharem de forma quente enquanto ele se
deita lentamentesobre meu corpo novamente. Deixo meus dedos
voltarem para seus braços, acompanhando as linhas dos seus
músculos, indo para seus ombros, percorrendo suas costas,
fechando meus braços em sua volta em um abraço assim que seu
corpo volta para mim outra vez. Sinto a ponta do seu nariz passar
por minha bochecha, alisando meu pescoço como se estivesse me
farejando. Sua respiração pesada retorna e viro meu rosto para o
lado, o tombando no travesseiro, procurando por seus lábios. Posso
sentir aquela emoção que me aquece, o coração me tomando outra
vez quando nossos lábios se encontram. Não é mais a loucura ou o
desejo desenfreado que me consome, é algo brando, acolhedor, de
forma terna, o que nunca senti por ninguém. E de repente não me
vejo mais amedrontada ou assustada com todos os rumos que
nosso futuro pode tomar. Sua mão forte afaga meu corpo, apertando
cada canto que toca. Felicidade e paz me assaltam com seus
toques. Afasto novamente minhas pernas, o deixando confortável
entre mim, sentindo seu pau voltar a ficar duro, se encaixando entre
os lábios da minha boceta inchada. Ariel entra, mesmo não estando
tão duro como antes, mas posso sentir como ele cresce em meu
interior, quando seu corpo começa a se mover lentamente.
— Somos fodidamente bons juntos.
Sua voz baixa geme rouca entre meus cabelos, me
apertando mais a ele, enquanto nos conduz de volta ao precipício,
só que dessa vez de uma forma que me rouba muito mais que
gemidos, rouba a minha alma, a deixando presa a ele.
Sim, somos bons juntos.

— Mas, senhorita Self...


Ergo minha mão, negando ao ouvir seu discurso outra vez.
— Não vai entrar comigo, Brow — falo rápida, pegando
minha bolsa. — Imagina o que as pessoas do escritóriovão dizer se
eu entrar com um homem de dois metros de altura me escoltando a
cada passo dentro do meu trabalho?
— Foi ordem direta do Ariel, Cristina.
— Deixa que me viro com ele. Eu cumpri minha parte, não
foi? Aceitei você me trazer e me levar para casa quando ele não
puder, e me acompanhar quando eu precisar, mas nada de querer
entrar junto comigo na firma.
— Ele vai ficar bravo. — Os olhos de Brow me encaram pelo
retrovisor interno do carro.
— Ariel sempre está bravo, Brow. — Repuxo meu nariz e
olho para o prédio.
— Não quer mesmo que eu suba com você?
Não posso mentir que não estou tentadaa aceitar sua oferta,
pois posso imaginar o olhar gélido que o notório criminalista vai me
dar assim que me ver entrando em seu escritório.
— Creio que consigo dar conta do mau humor dele.
— Qualquer coisa vou estar aqui na frente do prédio, lhe
aguardando.
Pisco para ele em concordância, abrindo a porta do carro e
saindo feito uma bala disparada para dentro do prédio. Passo pelas
portas do edifícioe me deparo com Bete, que está tagarelando com
duas assistentes do primeiro andar.
— Cris, bom dia!
— Merda! — murmuro baixo quando ela me avista, deixando
as assistentes de lado e caminhando para mim. — Bom dia, Bete.
— Menina, fiquei preocupada com você, sumiu todos esses
dias, fiquei assustada. A última vez que lhe vi, foi sendo carregada
nos braços daquele demônio.
Desconfio que a preocupação de Bete não seja com a minha
saúde e nem com as minhas faltas. Ela apenas quer especular
porque um dos sócios me pegou no colo.
— Pois é, acabei precisando de mais alguns dias para minha
saúde estabilizar.
— Ainda bem que teve ajuda rápida do doutor Miller. —
Esmago minha boca, balançando a cabeça em positivo para ela. —
Todos nós ficamos sem reação com a forma grosseira como ele
falou com Malvina. Dizem que ela está tão ressentida por ele não ter
se desculpado, que nem olha na cara dele...
Atravesso o hall do prédio, indo direto para as escadarias,
tentando-a fazer desistir de me acompanhar. Mas, para meu
desânimo, Bete não só abriu a porta para que eu pudesse passar,
como ela também começou a subir os degraus à minha frente.
— Na verdade, estava tão desligada com a minha queda de
pressão, que não reparei — falo séria, tentandosoar calma, mas
dentro de mim admito que estou feliz por saber que aquela vadia
está afastada dele.
— Pois foi só você. De resto, todos repararam. Malvina saiu
com os olhos marejados de lágrimas, soluçando baixo. — Bete ri,
me contando sobre Malvina, o que me faz ficar mais preocupada
com os rumores. — Não que eu tenha sofrido por ela, para ser
franca, gostei de ver alguém colocando aquela megera no lugar
dela, mas eu ainda continuoachando aquele homem pavoroso. Não
sei por que não pede para o doutor Pietro lhe remanejar para Max.
Ele ainda não arrumou uma secretária...
Ela não para. Bete tem um dom peculiar de falar diversas
asneiras pela sua boca como se estivesse palestrando, e o pobre
desavisado que cai no seu momento de discurso apenas se torna
um ouvinte entediado, que cortariaos próprios pulsos para poder se
matar e parar de escutar sua voz irritante.Avisto a porta do meu
andar e me sinto feliz por saber que logo meu momento tortuoso
terminará.
— Estou agradecida por sua preocupação, Bete, mas não
penso em pedir remanejamento para trabalhar com Maximiliano. —
Passo à sua frente, quando ela para, se virando para me encarar.
Subo mais quatro degraus, usando meu cotovelo para
empurrar a porta. Antes mesmo de dar dois passos para dentro do
escritório, sou confrontada pelo diabo em pessoa em seu terno sob
medida, completamente negro, me encarando severo.
— Para minha sala agora! — Ariel estica sua mão, a
espalmando em minhas costas, levando sua atenção para Bete
tagarela, que finalmente entope sua grande boca ao encarar o olhar
bravo de Ariel.
— Como? — Olho perdida para ele, sem entender como ele
sabia que eu estava subindo, mas então me lembro do linguarudo
do Brow. — Bom dia, doutor Miller... — Minha voz, com altivez
fajuta, usa uma mixaria de coragem, que raspo do meio das minhas
entranhas. Mantenho meus olhos fixos aos seus.
E quem me olhar aqui, o encarando, não notará que passei a
noite toda dormindo feito um bebê, aconchegada em seus braços,
com sua grande mão espalmada em meu ventre.
— Vamos. — Ele dispensa Bete com um olhar bravo, se
virando e caminhando rabugento rumo à porta da sua sala,
mantendo sua mão em minhas costas, de forma íntima.
Sorrio apáticapara alguns dos funcionários bisbilhoteiros que
nos acompanham com seus olhares curiosos. Ariel abre a porta do
escritório e nos leva para dentro dele, fechando a porta atrás de si
de forma bruta, a chaveando.
— Vou ser obrigado a te amarrar na cama?
— Oh, deixe de bobagem, doutor Miller. — Solto a bolsa em
cima da mesa e me viro para encarar meu sexy carcereiro zangado.
Ariel me surpreende, parando à minha frente, com suas mãos
ligeiras e terríveispuxando minha camisa para cima, espalmando
sua mão em minha barriga.
— Devia estar descansando, como o médico recomendou. —
Ele tomba sua cabeça para o lado em seu ombro, com um leve
brilho nos olhos azuis ao contemplar meu ventre. — Por que tem
que ser tão teimosa, Cristina?
— Ariel, estou bem, o atestado não duraria para sempre.
— Posso arrumar isso, se for o caso.
— Não... Não pode! — Tento estapear seus dedos, para que
ele se afaste de mim, mas isso é quase o mesmo que tentar
empurrar uma parede. — Ariel... Ariel, o que pensa que está
fazendo?
Ele não me responde, apenas mantém o ritmo das suas
carícias em minha barriga, me fazendo ter cosquinhas quando a
ponta do seu dedo contorna meu umbigo.
— Quando será a próxima consulta com a obstetra?
— Semana que vem. — Ele balança sua cabeça em positivo
e ergue seus olhos para mim. — Vou ter que arrumar uma brecha
na sua agenda — digo.
— Daremos um jeito. — Suas mãos escorregam por minha
pele, enlaçando minha cintura, apertando seus braços em minhas
costas, tirando meus pés lentamente do chão. — Bom dia, babá
McPhee.
— Bom dia, doutor Miller. Como foi sua noite? — Meus
braços param ao lado do seu pescoço, abaixando meus olhos para
seus lábios.
— Muito boa, deliciosamente boa.
— Descarado! — murmuro, sorrindo, me agarrando em seus
ombros.
Solto de vez minha vontade de sentir a textura dos seus
lábios nos meus, o capturando lentamente,me derretendo com a
forma esmagadora como Ariel me tira o ar. Sinto minha bunda
aterrissar em cima da minha mesa, com os dedos curiosos dele
puxando a barra da grande saia para cima, resmungando entre
nosso beijo.
— Não pode ser tão pervertido, de querer ficar de amasso
com a secretária dentro da sua sala — sussurro, mordiscando seus
lábios.
Não preciso de muito para ele me incitar. Meu corpo queima
como uma chama forte sempre que seu toque repousa em mim.
Minhas mãos imploram por sentir sua pele entrando em contatocom
a minha, e essa fome apenas me desencadeia tanto vontades
quanto urgências. O som das coisas caindo ao chão enquanto ele
me empurra para trás não me incomoda, nem o fato de Ariel estar
prestes a me tomar aqui dentro dessa sala de escritório. Ele sabe
como deixar uma mulher viciada por seu sexo. Seus beijos marcam
minha pele, sendo depositados em um caminho tortuoso,do meu
queixo ao pescoço, passando por cima do tecido da camisa até sua
cabeça ficar posicionada entre minhas pernas. E é assim que me
sinto eufórica. Meus hormônios descontrolados pedem mais dele,
sendo disparados desenfreados dentro de mim com apenas um
beijo. E eu me queimo feliz assim que sua respiração quente
assopra em cima do tecido fino da calcinha, apenas a empurrando
para o lado, me sugando entre seus lábios.
— Oh, merda! — Mordo minha boca, segurando um gemido,
tentando abafar os sons que escapam dos meus lábios.
As pinceladas da sua língua aumentam como uma chibata
certeira, que me pune, me levando ao prazer pleno. O som do
telefone, que começa a tocar dentro da sala, me faz rir, e o empurro
para longe de mim. Ariel segura minha cintura e me ajuda a descer
da mesa, abaixando a minha saia.
— Não pense em sair dessa sala. — Ele caminha para sua
mesa e retira o telefone do gancho, levando-o à sua orelha. — Miller
falando. — Assim que estou devidamente alinhada outra vez,
arrumo meus óculos tortosem minha face e olho para ele. — Sim,
sim. Diga que já estou chegando.
Ele deposita o aparelho no gancho e encerra rapidamente a
ligação, olhando para o relógio em seu pulso.
— Eu tenho que ir para o tribunal.
— Claro, só vou pegar sua agenda.
— Não, Cristina. Disse que eu tenho que ir para o tribunal.
Você fica e me aguarda aqui, até o fim do julgamento.
— Mas, Ariel... — Nego com a cabeça. Não entendo por que
ele tem que ser tão teimoso. — Estou bem, eu quero acompanhar o
final do caso Brat.
— Preciso saber que você está segura, para que eu possa
me concentrar — ele me corta de uma única vez, sério, com sua
face fechada. — Já que não posso te amarrar de vez na cama, pelo
menos fique dentro da minha sala. Brow trará seu almoço, não sei
quanto tempo o julgamento pode demorar.
— Está legal — respondo a contragosto,sabendo que se eu
tentarargumentar, será pior. — Mas não precisa pedir para Brow
trazer meu almoço, eu posso pedir para o restauranteentregar aqui.
— Brow vai trazer seu almoço e você vai ficar dentro dessa
sala, me esperando. — Ele não me deixa falar, tapa minha boca
com a sua em um bote sorrateiro e rápido, me beijando com força.
— Por favor, eu preciso que faça isso para que possa me concentrar
nesse julgamento.
Estou pronta para brigar, discutir até o último argumento, se
for o caso, mas seu olhar preocupado me desarma. Mais uma das
diversas facetas do notório infame doutor Miller, que mais uma vez
me desestabiliza, me deixando ver uma de suas faces. E o que ela
me mostra é medo, não apenas sua mania de me controlar, mas sim
uma preocupação alarmante. Posso compreender um pouco da
egocentricidade de Ariel e a sua forma amarga de lidar com a vida
depois que ele me contou sobre Dolly. Isso deve ter abrangido
bastante essa sua persistência de ser autoritário.
— Já que não tem remédio, fazer o quê, né?! — Lhe dou um
sorriso calmo, recebendo dele um beijo em minha testa.
O vejo partir e me largar dentro da sala, a fechando atrás
dele. Solto o ar pelos meus lábios, esfregando meu cenho franzido.
Ainda não acreditoque ele não me deixou acompanhá-lo. Depois de
arrumar a bagunça que fizemos em minha mesa, pegar o que caiu
no chão, guardando em seu devido lugar, me sento e puxo os
relatórios para cima da mesa. Vou deixar em ordem toda a
documentação que eu perdi nesses dias, já que é o que me resta
para fazer. Entre novos casos que deixei digitalizados, e
telefonemas marcando os recados para Ariel, cumpro minha parte,
ficando dentro do escritório pela manhã toda, apenas matando
minha curiosidade uma hora ou outra, buscando por informação do
andamento do caso de Brat pela internet.Mas nada de notíciado
resultado da audiência ainda. Provavelmente levará grande parte do
dia até sair o veredito final. Não sei se Ariel irá levar Violet para o
banco das testemunhas ou a descartará.
— Fiquei sabendo que alguém voltou e nem foi me ver. — O
som da voz de Max, falando dentro da sala, me tira da concentração
do meu trabalho, me fazendo sorrir ao olhar para ele, que segura
um copo de café, deixando sobre minha mesa. Me levanto e afasto
a cadeira, lhe dando um abraço.
— Oh, Max, perdão, eu devia ter ido na sua sala!
— Imagino que deva estar cheia de trabalho, por isso lhe dou
um desconto. — Ele se afasta, sorrindo, alisando meu rosto. —
Como está a futura mamãe?
Automaticamenteolho na direção da porta aberta e caminho
para lá, a fechando, sorrindo sem graça para ele.
— Estou bem — sussurro, olhando meu ventre.
— Quis ir te visitar, mas Pietro não achou que seria de bom
tom, ainda mais agora, que Ariel está tão superprotetor em relação a
você.
— Ele exagera, eu sei. — Coço minha cabeça e a tombo para
o lado. — Devia ter me ligado, mandado uma mensagem, eu o teria
recebido de qualquer jeito.
— Eu sei que sim, e é por isso que te amo. — Ele pisca para
mim, levando seu olhar para meu ventre. — Mãe de gêmeos?!
— Sim, dá para acreditar, Max? — Tapo meu rosto e encolho
meus ombros. — Às vezes tenho medo de que seja um sonho, mas
então olho para minha barriga e sei que é verdade. — Retiro meus
dedos do meu rosto, olhando sua face risonha. — É uma sensação
única, saber que estou gerando duas vidas dentro de mim.
— Você merece, Cris, merece toda felicidade desse mundo.
E eu estou muito feliz por você. — Max caminha para mim,
segurando meus ombros. — Vai ser uma mãe maravilhosa.
O abraço com carinho, dividindo com ele esse momento tão
feliz que estou. Max, melhor do que ninguém, sabe o quanto eu sofri
nessa minha trajetória. Sinto seu beijo terno em cima da minha
cabeça, com ele respirando fundo.
— Sabe que pode contar comigo no que precisar, não vai
estar sozinha.
— Eu sei, meu amigo. — Me afasto dele, mordendo meus
lábios, decidindo se converso com ele ou não sobre minhas
decisões sobre o futuro. — Ariel quer se casar, Max.
O vejo dar um passo para trás, levando suas mãos aos
bolsos da calça, olhando surpreso para mim, dando um comprido
assobio.
— Uau! Sério? Miller quer se casar por causa dos filhos?
— Bom, não é exatamentepor conta dos filhos. — Desvio
meus olhos dos seus, sentindo minhas bochechas queimarem de
vergonha.
— Estão se entendendo? — Max me pergunta de uma vez
só.
— Digamos que sim. Ariel pode ser muito difícil de lidar em
alguns momentos, mas ele é, ele é...
— Está apaixonada por ele, Cris? — ele pergunta, intrigado,
estreitando seus olhos, me analisando.
Cruzo meus braços em cima do meu peito, batendo
lentamente a ponta do meu sapato no chão.
— Estou... Acha que isso é ruim, Max? — Elevo meus olhos
aos seus, que estão pensativos. — Que estou fazendo outra
burrada, como foi com Renan?
O som das batidas na porta nos interrompe, e Bete entra,
chamando por ele. Max retira sua mão do bolso da calça, ergue seu
dedo indicador e endireita meus óculos.
— Vou ficar com meus olhos em você, ok?!
— Ok!
Sorrio para ele e o vejo se retirar da sala. Os olhos curiosos
de Bete estão parados em mim, bisbilhotando, e ela morde o canto
lateral da sua boca.
— O que foi? — Descruzo meus braços e a olho.
— Já que voltou, poderia me dar uma ajuda com alguns
documentos que estão pendentes? Meio que cuidar de Pietro, Max
e do doutor Miller foi muita coisa para uma só durante esses dias,
acabei acumulando trabalho.
Seu sorriso se expande, com ela batendo seus cílios para
mim, com cara de pedinte. Sou obrigada a rir e caminho para perto
dela, para lhe ajudar.
— Vamos lá, me mostre no que está precisando de ajuda.

Fingir que não vejo os olhares estranhos em minha direção,


quando Brow entra no escritório, me trazendo o almoço, não é nada
comparado ao desconforto de ter que encarar Malvina na sala de
café, que não esconde um segundo sequer sua antipatiapor mim.
Acho que a mulher nasce com um faro natural para saber quando
outra chutou o rabo dela para fora da jogada, pois a rivalidade que
ela mantém no seu olhar de rapina é gritante,o que me faz perder o
apetite por completo, descartando meu almoço na lata de lixo, o
deixando pela metade. Saio de lá o mais rápido que posso, para não
ouvir os murmúrios. Passo no banheiro, me limpo e escovo meus
dentes, indo na direção da sala de Ariel em seguida.
Encontro um entregador, parado no meio da sala da
recepção, e não há ninguém para recebê-lo. Ele segura uma imensa
caixa em suas mãos, e é o responsável por me fazer mudar minha
rota. Certeza que Bete saiu para almoçar, sem esperar que o meu
horário de almoço terminasse, e a outra menina também não tinha
voltado.
— Pois não? Em quem posso te ajudar?
— Senhorita Self? — ele pergunta, puxando uma prancheta
pendurada na lateral do seu corpo.
— Sim, sou eu.
— Entrega para a senhorita.
Olho confusa para a caixa branca com o laço negro
aveludado, sem entender o que seria isso.
— Poderia assinar aqui, por favor? — O rapaz estica a
prancheta para mim.
Pego a caneta em cima da minha antiga mesa, onde eu
trabalhava na recepção, e assino o documento. Assim que a folha é
rubricada, o entregador estende a caixa para mim.
— De quem é? Veio algum cartão?
— Veio sim, só um momento. — Ele leva a mão para trás da
calça, puxando o envelope negro com ele. — Mas não está
assinado. Só tinha a caixa lá no balcão da firma, com o endereço de
entrega para a senhorita, quando fui pegar minha rota.
— Claro, obrigada.
O vejo se afastar, enquanto me viro, voltando para a sala de
Ariel. Deixo a caixa em cima da minha mesa e solto o laço negro.
Assim que meus dedos vão para a tampa, o telefone começa a tocar
com insistência. Estico meu braço e o tiro do gancho, atendendo a
ligação.
— Escritório de advocacia. — Abro o cartão e puxo o bilhete,
que contém letras digitadas.
O som grave de uma respiração pesada do outro lado da
linha me faz ficar alarmada.
— Alô?
“Ainda se lembra de quando nos conhecemos?”
O som baixo de uma puxada forte de ar, do outro lado, me faz
gelar. Ouço a respiração alterada dele enquanto leio o cartão.
“Eu sim. Me lembro de tudo, de cada segundo. E se eu fechar meus
olhos, posso me ver diante de você agora.”
— Renan... — Fecho meus olhos e seguro o aparelho,
sentindo meus dedos trêmulos, compreendendo as palavras do
bilhete. — Por que fica fazendo isso?
Abro meus olhos e sinto as lágrimas os queimarem, enquanto
ele mantém suas lufadas de ar fortes e roucas no telefone.
“Me recordo que olhei você e a vi de cabeça baixa, desprotegida,
tão frágil... E a única coisa que pensei foi em como seria a esposa
mais linda, como eu queria ser o pai dos seus filhos. Mas eu não
sou, não é, Cristina? Você foi rápida em achar um pau para meter
em suas pernas, para lhe engravidar. Espero que aproveite seu
presente, meu amor. Servirá tanto para você como para o que
cresce dentro do seu ventre.”
— Oh, meu Deus! — Tapo minha boca, sentindo meus olhos
queimarem. — Como... — Seguro o choro, olhando a mesa de Ariel.
— Renan, como soube? Quem te contou?
Meus olhos se voltam para a caixa em cima da mesa e
respiro com força. Esticomeus dedos e empurro a tampa. Meu rosto
está queimando, com o ar sendo puxado rápido para meus pulmões,
com meu coração acelerado. A coroa de flores negra, com uma
faixa de condolências a cobrindo, tranca por completo minha fala.
Mas é o que tem no meio dela, que fraqueja de vez minhas pernas.
O telefone escorrega pelos meus dedos, caindo ao chão, ficando
pendurado ao fio, enquanto meus olhos estão presos ao pequeno
feto envolto no cordão umbilical. Minha mão vai ao meu ventre e
solto o bilhete. Tento me mover, mas minhas pernas parecem ter
petrificado, ficando pesadas, com toda a sala rodando à minha volta.
Um breu horripilante me puxa para dentro dele, me engolindo
enquanto meu corpo vai ao chão.
Capítulo 23
Arcanjo negro
Ariel Miller
O som dos pneus do meu carro freando bruscamente em
frente à calçada do bar noturno no centro da cidade, faz o pessoal
se assustar, pulando para trás. Greg traga um cigarro, encostado na
parede, do lado de fora, e olha para mim preocupado. Ele se
desencostada parede e joga seu cigarro no chão, pisando em cima,
esfregando suas mãos uma na outra.
— Onde ele está? — Bato a porta do carro com força quando
saio dele, encarando Greg. Seu dedo se ergue, apontando para
dentro da boate.
— Quarto quinze, com uma prostituta.
Meus punhos se fecham, enquanto toda adrenalina entra no
meu corpo, fazendo meu coração bombardear em velocidade
extrema.
— Não achei que iria querer vir pessoalmente quando me
ligou, pedindo para rastrear o engomadinho, pensei que desejava só
algumas fotos. Vai querer conversar com ele?
— Podemos dizer que sim! — Respiro com força, esmagando
minha boca, me dirigindo para a entrada da boate. — Pode ir, daqui
eu comando.
Retiro a grana do meu bolso e entrego para ele, o
dispensando. Greg precisou de apenas quarenta minutos para me
passar a informação que eu precisava depois que liguei para ele,
pedindo para encontrar Renan Pener. O achou dentro de uma
espelunca nojenta, que pertence a um dos meus clientes. Há uma
pequena regalia quando se defende homens inescrupulosos,
independentementede seus negócios. Se você os livra do corredor
da penitenciária máxima, você faz muito mais que clientes felizes,
faz aliados. E um bom advogado criminalista sabe quais são os
clientes que podem ser úteis futuramente. O corpulento homem
careca, parado na porta da boate, com os braços cruzados, que me
encara enquanto ando para ele, não precisa de muito tempo para
me reconhecer, já que Greg o tinha alertado que eu estava a
caminho. Ele estica sua mão para mim quando me aproximo, me
cumprimentando.
— Boa noite, patrão Miller, seu GPS se perdeu por esses
lados da cidade? — A grande barriga dele balança, passando a mão
pelo rosto. — Ou resolveu finalmente conhecer minhas meninas?
— Tem alguém dentro do seu estabelecimentocom quem eu
preciso conversar, Bosh! — Minha voz sai ríspida, enquanto o
encaro. — Em particular.
— Isso não vai me dar dor de cabeça, patrão? Tenho que
ganhar pelo menos alguma coisa. — Ele ergue sua outra mão,
passando por sua cabeça careca, olhando para mim. — Eu ainda
estou em liberdade provisória.
— Sabe que eu posso tirar sua liberdade provisória com a
mesma facilidade que eu a consegui para você, não é? — Mantenho
meu aperto firme em sua mão, não a soltando, espumando de raiva
por minha boca. — Posso lhe garantir que o juiz não será brando
dessa vez, quando souber que está aliciando menores de idade
para se prostituir nesse lixo de casa noturna.
Solto sua mão enquanto ele xinga baixo, olhando para trás
dele. Sua cabeça balança em positivo para um dos seguranças,
confirmando minha entrada.
— Tenta pelo menos tirar aquela vadia da assistência
penitenciária do meu pé. — Ele se afasta, apontando para a porta.
— Quarto quinze? — pergunto com raiva.
— Segue até o bar, vire à esquerda, primeira porta à direita.
Passo reto por ele e caminho com raiva, olhando o corredor
escuro, com luzes neon piscando. Ao fim, a porta branca é aberta,
me levando para dentro do miserável cubículo com música alta e
cheiro de cigarro misturado com odor de corpos suados. Vejo
mulheres nuas transitando pelo salão, ao fundo os clientes
observam as dançarinas fazendo striptease em cima da mesa.
Encontro o bar e vou direto para ele. Minha mente se desliga, nada
me acalma, ainda tenho o cheiro do corpo dela colado em minha
roupa, seu rosto abatido dentro do hospital, com os olhos vermelhos
de choro, olhando fixamente o teto do quarto da sala de
emergência.
Foi Bete quem a encontrou caída dentro da sala e a levou
direto para o hospital. A maldita caixa de presente ainda estava em
cima da mesa do meu escritório quando eu entrei em busca dela,
recebendo a notíciaque Cristina estava internada e teve o começo
de uma hemorragia. O maldito julgamento tinha me tomado
praticamente o dia todo. Stone saiu livre da acusação de
assassinato, por conta do álibi mentiroso da sua assistente. Eu
apenas queria vê-la, queria esquecer esse maldito caso e nunca
mais olhar na cara de Stone. Voltar para Cristina, isso foi tudo que
pensei durante cada segundo dentro daquele tribunal. Mas eu perdi
o controle quando soube do que aconteceu. Há poucas coisas que
me deixo governar, e minha raiva é uma delas, porque tenho
consciência dos estragos que faço quando a liberto, mas nada me
controla nesse momento.
A porta do quarto sendo estourada pelo meu chute,assusta a
prostituta,que pula da cama, correndo para o cantoda parede. Olho
o homem pelado, que de forma patéticaestufa seu peito a cada
respirada, me observando com raiva.
— O que pensa que está fazendo?
Olho para a garota de programa, balançando minha cabeça
na direção da porta, a ordenando sair. Ela passa ligeira, de forma
assustada. O corpo negro, com cabelos bagunçados, recorda
Cristina, o que me faz sentir o dobro de raiva. Caminho para perto
da cama e tombo minha face para o lado, mantendo meus olhos
fixos no fodido Pener.
— Sabe quem eu sou? — Ele se arrasta para fora da cama,
ficando de pé, parando à minha frente. Meus olhos recaem para sua
mão grande, e posso visualizar ela fechada enquanto desferia socos
no rosto frágil e pequeno de Cristina. — Tem ideia de quem é minha
família, seu otário?
Ele não vê, nem sequer estava preparado. Minha cabeça se
inclina para trás e acerto uma cabeçada em seu rosto, o fazendo
gritar de dor. Meu punho fechado o presenteia com um golpe
certeiro na lateral da sua mandíbula. Ergo minhas mãos e o puxo
pelos ombros, o arremessando para cima da estante,estourando
seu corpo no espelho da penteadeira.
— Filho da puta! — Renan grita, erguendo sua mão para
tapar sua boca ensanguentada, cuspindo sangue em seus dedos.
— Se defenda, seu verme! — Minha mão desfere um tapa
forte em seu rosto, para ele prestar atenção em mim.
— Seu... Seu...
Fecho meu punho e o soco com toda força em seu rosto, o
fazendo tombar para o lado.
— Se defenda, PORCO DE MERDA! — grito com ódio,
apertando meus dedos em sua garganta, o arrastando para perto de
mim. — Ou só sabe usar sua força para espancar mulher?
Seus olhos se expandem, ficando escuros, e ele ergue suas
mãos, segurando meu braço.
— Está aqui por ela, não é? Por aquela vadia! Você é o pau
que Cristina arrumou...
Dou outra cabeçada em seu rosto, o desnorteando, fazendo
ele se engasgar com suas palavras. Soco seu rosto com ódio,
desferindo um murro atrás do outro. Seu nariz quebrado pinga
sangue, que escorre por sua boca. Quando o solto, vejo seu corpo
rolando, deslizando da penteadeira ao chão. Renan se torce de dor
a cada chute que acerto em sua barriga. Não vejo nada à minha
frente além da ira que governa meu corpo. Aumento a sequência de
chutes, prensando seu corpo contra a penteadeira, a balançando a
cada impacto que ele recebe. Ele grita de dor, feito um porco
imundo, e sua boca se abre, se engasgando com seu sangue
quando meu último chute acerta com toda a força seu pau nojento.
Respiro com raiva, me afastando dele, passando as mãos em meus
cabelos, com minha mente bombardeando com as imagens das
fotografias da face ferida de Cristina; do choro dela dentro do
quarto, se abrigando em meus braços; das suas mãos segurando
sua barriga, deitada na maca do hospital;do feto enrolado com o
cordão umbilical dentro da caixa, com a porra de uma coroa de
flores. O chuto com mais ódio, mirando em sua barriga, a cada
memória que vai me inundando, me enchendo de ira.
— Não vai falar o nome dela, nem sequer vai chegar perto
dela outra vez. — Olho para ele e o vejo gemer, com seu corpo se
torcendo de dor.
— Miserável... — Ele tomba seu corpo, ficando de barriga
para cima, segurando seu estômago.
Dou um passo à frente, até Renan, me abaixando perto dele,
ficando agachado. Uma das minhas mãos segura seu cabelo,
erguendo sua cabeça, para que ele olhe para mim.
— Miserável será o estado do seu corpo quando for
encontrado dentro de uma cela imunda de penitenciária, com o
maldito buraco do seu rabo arrombado por todos os presidiários,
depois que eles te foderem até a merda do seu cu sair pela sua
boca. — Cerro meu maxilar, não desviando meus olhos dos dele. —
Se pensar em intimidá-la, assustar Cristina ou ficar a espreitando
como uma barata nojenta de volta, tenha em mente que será meu
rosto a última coisa que você vai ver
.
— Vadia desgraçada! — Sua boca se abre, cuspindo seu
sangue nojento em minha camisa.
Meu punho se fecha, e soco seu nariz quebrado com ódio,
soltando a cabeça dele com força no chão, batendo-a três vezes
seguida no chão, antes de eu o libertar. Me levanto, endireito meu
corpo, arrumo as mangas do meu blazer e encaro o ser desprezível.
Minha perna se ergue, flexiono meu joelho e solto o peso com força,
esmagando seu pau com meu pé. Ele arqueia seu corpo para cima,
ficando com sua face roxa e os olhos arregalados, soltando um grito
fino da sua garganta. Tombo minha face para o lado, esmagando
meu pé em suas bolas, como se fosse uma inútil porcaria de bituca
de cigarro.
— Nunca mais vai machucar ela, vou garantir que você
apodreça na cadeia se alguma coisa de ruim acontecercom ela ou
com meus filhos! — Retiro meu pé de cima das suas bolas,
cuspindo em sua cara.
— Ela nunca vai me esquecer, nunca. — Ele tenta se
levantar, espalmando seus dedos no chão.
Seu corpo explode na cômoda com a força que eu chuto seu
abdômen, como se fosse um saco de merda. Estou cego, apenas
me mantendo governado pela raiva, desferindo bicudas no corpo
dele com toda força que solto em minha perna. A última acerta seu
rosto, o que o faz cuspir seus dentes para fora, junto com a gosma
de sangue.
— Filho da puta, doente de merda! — rosno com ódio,
segurando seus cabelos, fechando meu punho, pronto para socar
sua cara.
— CHEGA, ARIEL! — Greg me puxa pelos ombros, me
empurrando para trás. — Vai matar esse verme se não parar.
Eu não me importo, é isso que quero. Desejo apagar a
existência asquerosa desse homem da face da terra. Olho com raiva
para Greg, que entra na minha frente, bloqueando Renan de mim.
Respiro com fúria, me levantando, cuspindo no chão.
— Vamos, precisa sair desse quarto. — Greg estica seu
pescoço, encarando o que está atrás de mim.
Direciono minha atenção para lá e noto a presença de
algumas prostitutasparadas na entrada do quarto, olhando de mim
para Pener caído no chão. Meus dedos empurram meus cabelos
para trás e aperto o nó da minha gravata, girando meu corpo,
andando na direção da porta do quarto, respirando fundo.
— Meu Deus, nunca pensei que sentiria prazer em ver
alguém apanhar — uma delas fala, rindo, tirando o celular do bolso
do short. — Merda, devia ter gravado esse porco levando uma
surra!
Saio de lá sem encará-la, sendo seguido por Greg, que me
acompanha. Volto todos meus pensamentos para Cristina. Estou
agitado, respirando com furor, querendo voltar dentro daquele
quarto e o matar de forma fria, o destruindo da mesma forma que
ele fez com o espíritodela. Esfrego meu rosto com indignação e
empurro as pessoas à minha frente, até conseguir respirar o ar
fresco da noite, que entra pelos meus pulmões quando saio para
fora da boate imunda.
— Vamos encontrar algo que o ligue aos fatos, precisa ter
calma. Mas não pode querer fazer justiça com as próprias mãos,
porra!
Retiro a porcaria do bilhete do bolso da calça, empurrando no
peito dele, o olhando com exasperação.
— Ligue esse miserável a isso. Ligue ele à porra daquele
apartamento. Me dê uma prova concreta para acabar com ele
dentro de um tribunal, mas não ouse me pedir calma, não depois
dele ter mandado um feto morto, enrolado em um cordão umbilical,
para a minha mulher, junto com a merda de uma coroa de flores,
GREG!
Ele fica sério e olha para minha face, erguendo o bilhete e o
lendo.
— Caralho! — Greg fecha seus olhos, balançando sua
cabeça em negativo. — Não me disse no telefone porque queria vê-
lo. Ela está bem?
Nego com a cabeça e entro no carro. Meus dedos se erguem,
estrangulando o volante, e observo os nervos das minhas mãos
vermelhos. A porta do carona é aberta, com o corpo de Greg se
sentando ao meu lado.
— Quer que eu dirija?
— Não — falo de forma ríspida, girando a chave que ficou
largada na ignição quando estacionei o carro.
— Como sua garota está, Ariel?
— Ela teve um iníciode aborto, Greg. Cristina só não perdeu
os bebês, porque uma funcionária a encontroudesmaiada dentro da
minha sala e chamou a ambulância. E eu não tenho nada de
concreto contra esse filho da puta!
Viro meu rosto para a janela, esmagando o volante com
irritação.
— Se alguém tinha a filmagem de Renan daquele sábado à
noite, simplesmente ela sumiu...
— Vou matar esse cretino...
Minha voz se cala quando volto meu rosto para Greg. A
prostitutaque tirou o celular do bolso perto da porta do quarto, onde
eu estava com Renan, caminha, rindo, segurando o aparelho,
mostrando para outra garota na calçada.
— Bom dia, lindona, dá oi para a galera do canal! — Cris se
afasta, respirando rápido, olhando para o chão, ficando de costas
para mim, erguendo seus olhos para o garoto.
— Olá, Estence! Olá, galera do canal do Estence! — Ela
acena para ele e volta a subir a escadaria.
Respiro com desânimo, encarando o pivete que sorri para
mim, apontando a porcaria do aparelho na minha direção, com sua
face espinhenta e os dentes presos a um aparelho ortodôntico.
— E aí, tiozão! — Ele desce os degraus apressado, me
cumprimentando, dando um leve tapinha em meu ombro.
Olho para meu ombro, onde sua mão de bater punheta
juvenil tocou, sujando meu terno de alfaiataria.
— O punheteiro de aparelho ortodôntico— falo baixo, me
lembrando daquele dia.
— Punheteiro?
— Engraçadinha! — Volto a subir os degraus, odiando,
definitivamente, esse prédio cafona. — Qual tipo de padrão de
emissora contrata um pré-adolescente?
Ouço a risada dela explodir em uma gargalhada, ao mesmo
tempo que nega com a cabeça.
— Estence filma para seu canal em uma rede social na
internet, doutor Miller. Ele filma de tudo que puder, acho que fica 24
horas com esse celular na mão, gravando. Está por fora da
atualidade dos jovens, tiozão!
— Me disse que foi ao apartamento dela, não foi? —
pergunto sério para Greg.
— Sim, eu fui. Disse que não encontrei nada.
— Conversou com os moradores? Com um moleque
espinhento com aparelho nos dentes chamado Estence?
— Não, eu não posso ficar batendo de porta em porta,
interrogando os moradores, Ariel. Sou detetive particular, não a
porra de um policial com um mandado.
Arranco com o carro, pisando fundo no acelerador assim que
ele fala. Viro o volante, entrando na outra pista, engatando a marcha
e disparando os ponteiros de velocidade do carro.
Capítulo 24
Tambores do medo
Cristina Self

— Esse medicamento, junto ao soro, lhe ajudará a dormir. —


A enfermeira risonha me olha amavelmente, se afastando de mim
depois de verificar minha pressão pela quinta vez. Seus olhos
param no grande homem encostado na parede, com seus braços
cruzados, o que é o suficientepara fazer a pobre ficar intimidada. —
Sua pressão já está estável e seus bebês seguros. Isso quer dizer
que só amanhã cedo vou te incomodar, lá pelas quatro horas da
manhã, quando vai tomar outra dose de remédio, para manter sua
pressão estabilizada. — Ela volta seus olhos para mim, me dando
uma piscada. — Apenas descanse.
Gostaria de poder retribuir o sorriso brando com que ela me
presentou, mas me sinto tão fadigada, que apenas confirmo com um
leve balançar de cabeça. A vejo sair do quarto, nos deixando
sozinhos. Meu rosto se vira para a janela do quarto e enxergo a
noite que está alta. Apenas consegui sentir meu coração voltar a
bater quando escutei os batimentoscardíacosdos meus filhos e o
médico me garantiu que eles estavam bem. Ariel não ficou mais que
cinco minutos dentro do quarto quando soube da notíciade que eu
quase perdi os bebês. A instabilidade da minha pressão é um risco
para a vida deles. Os olhos azuis que me amaram com tanta
intensidade, roubando minha alma na noite passada, agora não
passavam de duas pedras frias, que mal me olharam. Não
suportando ver a raiva dentro das suas íris, direcionei meus olhos
para o tetodo quarto, sendo esmagada pela minha dor, meu medo,
minha incapacidade por não ser forte o suficiente para proteger
meus filhos dentro do meu próprio corpo. Quando minhas pálpebras
se fecham, ainda posso ver aquele feto enrolado no cordão umbilical
no meio da coroa de flores. Era tão frágil e pequeno, que podia
caber na palma da minha mão. Uma coisa é ver em fotografias, mas
quando a imagem real de um feto morto envolto de sangue e
resquício de placenta se apresenta à sua frente de forma nítida,é
esmagador.
— Tenho algo para lhe deixar feliz — Brow fala baixo,
caminhando para a cama. Viro, o vendo descruzar seus braços e
olhar por cima do ombro na direção da porta, como se estivesse
com medo da pequena enfermeira. — Chocolate com caramelo.
Sorrio para ele, que estende a barrinha de guloseima para
mim.
— Está traficando produtos ilícitosdentro do hospital, Brow?
— Ele ri, encolhendo seus ombros, negando com a cabeça.
— Fui pegar um café para mim, mas a máquina desse andar
está com defeito, só a do oitavo está funcionando, então não quis ir
lá para buscar, mas resolvi pegar o chocolatee trazer um para você.
— Obrigada, Brow. — Seguro o doce em minha mão,
abaixando meus olhos para o acesso da agulha perto do meu pulso.
Suspiro com melancolia, piscando rápido para dissipar as lágrimas.
— Vai ficar tudo bem, vocês vão ficar bem — ele fala calmo,
me olhando com carinho. — O chefe avisou que vai demorar um
pouco para chegar, mas ele virá assim que puder.
O sorriso em minha face é de tristezaao ouvir Brow. Balanço
minha cabeça em positivo para ele. Acho que, de certa forma, já
sabia dentro de mim, me preparava para isso, apenas não queria
acreditar. Ariel deseja estar junto com seus filhos, não comigo.
— Quer que eu ligue para ele?
— Não, não. Gostaria que tentasseligar para aquele número
da minha mãe outra vez, se for possível.
— Claro, irei tentar novamente. — Brow sorri em
compreensão, ao entender que eu não desejo falar com Ariel.
— Por que não vai ao oitavo andar buscar seu café?
— Não posso deixar você sozinha novamente, Cristina. —
Sua voz sai baixa, como se estivesse se culpando. — O hospital
não autorizou a entrada dos outros seguranças, apenas o
acompanhante. Não quero lhe deixar sozinha.
Nego com a cabeça sua indagação, sabendo que ele se
refere ao trabalho. Brow queria ter subido comigo para o escritório,
mas eu não o deixei, jamais imaginei que Renan mandaria aquele
presente cruel para mim.
— Brow, eu estou bem agora. Foi eu quem pedi para você
não subir comigo. Se alguém tomou a decisão errada, fui eu. —
Fecho meus olhos e seguro as lágrimas que ardem em minhas
vistas.
— Não foi sua culpa, senhorita Self.
Balanço minha cabeça em positivo. Apenas consinto com
suas palavras para lhe confortar, mas dentro de mim eu sei que é.
Foi minha culpa ter ficado presa àquela relação por tanto tempo com
Renan, foi minha culpa por não ter tido coragem de levar ele a
justiça, quantas vezes fosse preciso, até ele parar de me
atormentar.
— Por que não fazemos assim? — Limpo meu rosto,
tombando minha face no travesseiro, abrindo meus olhos para ele.
— Vá pegar seu café, assim você pode trazer um suco de morango
para mim, sinto minha boca amarga.
— Vai ficar bem?
— Sim, vou ficar exatamenteonde estou. — Sorrio para ele,
o incentivando a ir buscar seu café. Sei que ele está cansado,
mesmo ele não dizendo uma única palavra.
— Não vou demorar mais de cinco minutos, ok? — Seus
dedos se esticam, deixando a luz do quarto mais fraca. — Por que
não tentadormir um pouco? Ouviu a enfermeira, ninguém vai vir te
incomodar por enquanto.
Ele pisca para mim, se virando, saindo do quarto. Fecho
meus olhos e abaixo minha mão para minha barriga, suspirando
fundo. Não vou perdê-los. Já perdi demais na minha vida, mas não
vou deixar nada acontecer com eles. O barulho da máquina que
acompanha meus batimentoscardíacosé todo som que tem dentro
do quarto, com a luz baixa. Suspiro fundo, me sentindo sonolenta,
com meus pensamentos confusos. A ardência em minhas veias,
com o remédio circulando pelo soro, torna tudo tão vago. O som da
porta sendo aberta por uma mulher alta, com jaleco branco e salto
alto, me faz olhar em sua direção.
— Hora do medicamento, senhorita Self.
Pisco diversas vezes, tentando dissipar meu sono, olhando
para ela sem compreender.
— Mas... — Minha voz se cala, enquanto tentosentir alguma
saliva dentro do céu da boca, que está amargo. — A enfermeira
disse que não teria mais...
A mulher para perto de mim, sorrindo, negando com a
cabeça, retirando a seringa do bolso do seu jaleco. Com muita força
consigo me arrastar na cama, me sentando, tentandofocar minha
visão nela.
— Ela esqueceu de uma, acredita? Como está ocupada, me
pediu para vir aqui lhe medicar.
— Não entendo... — Forço minha respiração para entrar em
meus pulmões, negando com a cabeça quando ela estica sua mão,
segurando meu braço.
Viro meu rosto e estico meu braço para o balcão pequeno,
próximo à cama, pegando meus óculos em cima dele, os arrumando
em minha face, olhando para a porta do quarto aberta, e vejo a
mesa da enfermeira sorridente vazia.
— Que remédio é esse que está me dando?
— É só uma picadinha, para lhe ajudar a dormir. Quando
acordar, vai ser tudo como antes.
Volto meu rosto para a mulher, com meu cérebro disparando,
com o fluxo de sangue acelerando ao entender suas palavras.
Minha mão se move rápido e seguro o pulso dela, a afastando do
meu braço.
— Não... Não! — Balanço minha cabeça em negativo, vendo
suas mãos desprotegidas, sem as luvas, com unhas compridas
pintadas de rosa pink. O cheiro forte do seu perfume é enjoativo e
entra em minhas narinas. — Você não é uma enfermeira!
— Senhorita... Senhorita, precisa se acalmar
.
— NÃO! — grito forte, puxando meu braço quando ela tentao
pegar de volta, o que faz a seringa do acesso se desconectar
.
— Droga! — ela fala baixo, olhando o sangue que começa a
sair do meu braço. — Me dá seu braço!
— Fica longe de mim!
Estou tão nervosa, que não me importo com o sangue
escorregando do meu acesso aberto. Desço da maca e ouço os
disparos da máquina do coração, que bipa alto quando levo minhas
mãos por debaixo da camisola hospitalar, desconectando os
eletrodos do meu peito, jogando os cabos para longe.
— Está sangrando, precisa sentar aqui e me deixar cuidar de
você.
— Fica longe de mim! — Ergo minha mão e aponto meu dedo
para ela. — Veio matar meus bebês... Isso não é remédio!
— Senhorita, está tendo alucinações, ninguém aqui quer lhe
fazer mal.
— Não, não... não... — sussurro, olhando perdida para ela.
— É apenas coisa da sua mente, eu só quero cuidar de você.
Gatilhos são disparados como uma bala potente em meu
cérebro: latente, fria e dolorosa. Os jurados comprados, que
aceitarama alegação que eu estava mentalmentedesequilibrada. O
som dos meus gritos ecoando pelas minhas ondas cerebrais a cada
lembrança dos murros que Renan me desferia. O martelo do juiz
batendo sobre a madeira, o inocentando. Tudo pago, comprado de
forma injusta e fria. Levo a mão à minha cabeça, a esmagando forte,
como se pudesse tirar tudo de dentro dela, espremendo para fora
como a um pus sujo que infecta o sangue.
— Ele comprou você também, não foi? Pagou você para vir
tirar meus bebês de mim.
A imagem do feto sem vida, tão desprotegido em sua cor
arroxeada, empastado de sangue seco e placenta, me acerta, tudo
me engole. Meu coração bate disparado, como um tambor forte,
repercutindo o som de medo a cada sequência de batidas.
— Volte para a cama, garota!
Ergo meu rosto quando ouço a voz dela, e a vejo segurar
firme a seringa em suas mãos. É um click, um botão de alarme
sendo repercutido pelos tambores do medo, pode se dizer que é
reflexo, ou apenas a teoria de toda ação ter uma reação, mas, para
mim, é o mais primitivo instintode proteção com os meus filhos.
Assim que ela dá a volta na cama, vindo em minha direção, meu
braço puxa o cabide de ferro que sustenta o saco do soro,
acertandonela com força, a fazendo cambalear para trás, caindo no
chão. Meus passos já estão se atrapalhando apressados, e me viro
com urgência, enquanto corro para a porta do quarto, largando o
ferro no chão. A adrenalina entra em minha mente, o medo me
anula, sinto tudo vindo: as lembranças, as memórias me
empurrando para a borda da minha lucidez e da loucura.
— Fica tão bela quando chora, meu amor. — A voz gélida
como a de um cadáver sem coração, fala mansamente.
Ele beija meu rosto, me fazendo chorar ainda mais. Estou
ferida, acovardada e sem esperança de sobreviver ao seu ataque de
fúria.
Ergo minha mão e esfrego meu rosto, tentando tirar os
cabelos da minha face. A vista apenas fica nublada pelo
embaçamento das lentes dos óculos, decorrente das lágrimas.
Limpo de forma grotesca, apenas com as pontas dos meus dedos,
olhando perdida para os lados, sem saber para onde ir, em quem
confiar, o que é real e o que é efeito do medo sendo projetado em
meu desequilíbrio. O corredor quase vazio, tendo apenas alguns
visitantes,me faz encolher, e enxergo todos como pessoas hostis,
que querem machucar meus filhos. A dor rasga minha cabeça
novamente, com uma pontada profunda, quase como se um martelo
estivesse pregando um prego dentro dela. Minhas mãos se erguem,
esmagando minha cabeça, e mordo minha boca com força, até
sentir meus dentes machucarem a pele, para poder parar a dor
.
— Declaro Renan Pener inocente de todas as acusações.
— Não, não... Não sou louca! — murmuro entre a dor
agressiva, respirando com força, sentindo cada parte do meu corpo
rígida.
Abro meus olhos e encaro o corredor frio, sentindo pavor.
Estou sozinha e assustada.
— Ariel... — Meus dedos trêmulos param perto dos meus
lábios, enquanto sussurro seu nome como se fosse uma ponte que
me mantém estável. — Ariel, Ariel... Ariel.
Meus pés descalços caminham rápidos no chão frio, com
meu corpo tremendo. Estou amedrontada, usando seu nome como
um mantra. Preciso chegar até ele, tenho que sair daqui. Renan
pode ter mandado outras pessoas, ele vai mandar mais pessoas
para fazer mal aos meus bebês. Eu não estou desequilibrada, nunca
fui louca. Meu corpo não diminui o ritmo acelerado, apenas corro,
olhando assustada para trás, como se a qualquer segundo Renan
fosse aparecer para me machucar. Estaco na frente do elevador,
apertando o botão, desesperada para que as portas se abram.
— Ariel... Ariel. Preciso chegar até Ariel. — Fecho meus
olhos com dor, tentandome lembrar para qual andar Brow foi. Ele
me levará até Ariel. — Ariel...Oh, meu DEUS! — Tapo minha boca,
segurando o soluço de choro, sentindo o gosto do meu sangue se
misturar com minhas lágrimas.
Choro de dor, medo e angústia, por não conseguir me
lembrar em qual andar Brow está. É como se minha mente
regressasse entre memórias do passado e o agora, me torturando
com flashes de dor, me levando de volta para aquele quarto e
depois para o tribunal. A porta do elevador se abre, fazendo meu
rosto se erguer para ela.
— O que está fazendo aqui? Deus! O que aconteceu com
você?
Meu cérebro bagunçado demora alguns segundos para
processar e fazer o reconhecimentoda voz do homem que me olha
preocupado.
— MAX... Oh, meu Deus, Max!
Entro no elevador, não o deixando sair, levando meus dedos
para seu terno, me segurando firme a ele.
— O que houve? Está fria, com seu corpo suado. Oh, meu
Deus, está sangrando! — Ele tentasegurar as portas, para que não
se fechem. — Precisa voltar para o quarto.
— Não, não, não, não — falo rápido, com meus lábios
trêmulos, balançando minha cabeça em negativo.
Puxo seu braço, para que as portas se fechem, cravando
minhas unhas em seu terno, olhando apavorada para ele.
— Ele... ele está aqui, não é seguro. — As palavras saltam
por minha boca em pavor. — Meus bebês estão em perigo. Uma
mulher, ela tinha uma seringa, não era remédio para dormir, não era,
não era... — Direciono meus olhos para o ponto de acesso que está
sangrando em meu pulso. — Eu bati nela, bati nela. Oh, meu Deus,
eu bati em uma pessoa, Max, mas foi para proteger meus bebês.
Preciso que acredite em mim, eu não estou louca. Max, não estou...
— Eu acredito em você, Cris... Calma...
Levo meus olhos aos seus, que estão preocupados, me
olhando.
— Ariel, Ariel... Preciso chegar até o Ariel. — Escondo meu
rosto em seu peito, chorando desesperada. — Não estou louca, não
sou louca, não sou...
— Ei, está tudo bem. Tudo bem — Max sussurra próximo ao
meu ouvido, me abraçando com força. — Sei que não é louca.
Ele me afasta apenas um pouco, tirando seu paletó e jogando
por cima dos meus ombros, voltando a me abraçar com força. As
palavras martelam em meu cérebro como um disco arranhado, que
se repete por várias vezes.
— Ariel, Ariel... Ariel.
Capítulo 25
A visita do anjo ao inferno
Ariel Miller

— Por mais que ache instrutiva a anatomia humana das


garotas da Playboy, retratadasnas páginas de revista pregadas na
parede do seu quarto imundo, meio que já estou ficando irritado de
ficar aqui dentro.
— Qual é, tiozão? — O garoto sentado na cadeira gamer, se
vira para mim, abrindo seus braços. — Estou dando o meu melhor.
Tem ideia de quantas filmagens eu fiz naquele dia?
— Estence...ESTENCEEEEEEE! — O som agudo da mulher
gritando na sala por ele, o faz virar seu rosto para a porta do quarto.
— QUE FOI, MÃE?
— VEM LOGO JANTAR!
Fecho meus olhos, respirando fundo, me sentindo
aprisionado dentro do quarto que tem aroma de meia suja, e tenho
até medo de pensar há quanto tempo o lençol desarrumado da
cama está sem ser trocado.
— NÃO VOU JANTAR, MÃE, TÔ TRABALHANDO COM
MEUS AMIGOS! — Ele volta seus olhos para mim, sorrindo.
— QUE AMIGOS? VOCÊ NÃO TEM AMIGOS!
— Você me cobrou quinhentos paus pela porra de uma
filmagem que nem sabe se tem, então, definitivamente,você não é
meu amigo. — Balanço minha cabeça em negativo, comprimindo
meus lábios.
— Se eu filmei, eu tenho todo direito de cobrar. Amizade é
uma coisa, negócios são outra. Não me culpe se eu posso ter feito
um headshot[27].
Não entendo o que ele disse, mas antes que pergunte, o som
de portas sendo batidas com força se faz alto pela casa.
— VÊ SE ARRUMA A PORCARIA DESSE QUARTO,
ESTENCE!
— Qual o problema de diálogo em tom baixo entre você e sua
mãe? — pergunto sério para ele.
— A gente se entende, mas às vezes ela é surda, quando tá
muito estressada dá uns BUG[28].
— Por que eu não entendo nada que sai da boca desse
garoto?
— Gíria de gamer[29], Ariel. — Greg dá de ombros, me
respondendo.
Olho para Greg, que está sentado ao lado do garoto, com o
notebook do pivete em sua perna, conferindo as imagens na tela,
enquanto Estence fica com o computador. Greg segura o riso, me
olhando divertido. Balanço minha cabeça com desgosto, respirando
profundamente.
— ESTENCEEEEE, VEM JANTAR!
O grito sonoro da mulher repercute pelo quarto, com a voz
dela zangada outra vez.
— JÁ FALEI QUE NÃO VOU, EU TÔ TRABALHANDO! DÁ
PRA RESPEITAR?!
— DESDE QUANDO FICAR VADIANDO NA INTERNT É
TRABALHAR? SE APARECER MAIS UMA COBRANÇA NA MINHA
FATURA DE CARTÃO DE CRÉDITO, PORQUE VOCÊ ENTROU
EM SITE PORNOGRÁFICO, EU VOU TE MATAR!
O som da porta batendo novamente com força em algum
canto da casa, me faz balançar a cabeça em negativo. Já estou me
arrependendo terrivelmente por ter vindo atrás do moleque de
quinze anos, que está me extorquindo, cobrando quinhentos dólares
para o caso de achar alguma coisa de valia para mim em suas
filmagens. Tive que me segurar para não estrangular o pescoço dele
quando ele quis me ensinar sobre direito de imagens.
— Ela exagera, foi só uma vez — Estence fala,
envergonhado, com suas bochechas ficando vermelhas.
— Explicar esse tipo de coisa só piora. — Greg bate em seu
ombro, rindo para ele.
— Vocês estão com fome? Eu nem sequer perguntei se estão
com fome. Minha mãe não é uma cozinheira de mão cheia, mas é
tragável o que ela prepara. Se quiser, posso buscar um prato de
comida para vocês.
— Depende, o que ela fez para o jantar? — Greg fala, rindo.
Seguro o ombro de Estence, o fazendo se sentar outra vez,
quando ele ergue sua bunda da cadeira, dando a ele e a Greg uma
prévia da raiva que está estampada em meu rosto.
— Você se senta e acha os vídeos de sábado à noite e
começa a falar na mesma língua que a minha! — rosno para o
pirralho. — E você, Greg, se concentra nos vídeos que está
assistindo!
— Ok... Ok, tiozão, relaxa um pouco. — O menino sorri,
fazendo o metal dos seus dentes brilhar. — Por que não se senta
um pouco? Relaxa.
Olho para a cama dele bagunçada e as imagens das
mulheres nuas coladas na parede, ao lado da cama.
— Estou bem de pé. — Alinho meu terno com força,
endireitando meu blazer.
— Está legal, você que sabe. — Ele volta sua atenção para a
tela do computador, olhando as datas e horários. — Então, você é o
carinha que deu match[30] na Cris. Está dando uns pegas nela?
— O que ele falou agora? — Olho para Greg, buscando por
ajuda.
— Ele quer dizer que vocês se gostam, que você deu uns...
— Greg fala, se calando, erguendo seus braços ao lado do corpo,
fazendo um gesto de foder com o quadril, olhando para o notebook.
— Entendeu?
Observo o menino espinhento curioso, que ri para mim, e
fecho meu semblante, o encarando.
— Para seu governo, eu dei muito mais que uns pegas nela.
E sim, eu e a senhorita Self apreciamos a companhia um do outro.
— Nossa, tiozão, isso foi deprimente! — Ele bate seu braço
no de Greg, com os dois trocando olhares. — Quem diz isso?
— Ariel, é realmente deprimente. — Greg balança a cabeça
em negativo, não desviando seus olhos da tela.
— Escuta, por que não diz para ela que a curte e que quer
muito mais que dar uma ficada? As meninas gostam de caras
sinceros e emocionalmente decididos. — Seu sorriso metálico se
expande, enquanto eu estou me segurando para não estrangular
sua garganta fina.
Minha mão se prende em sua cabeça, a virando de volta para
o computador, respirando com raiva.
— Foca na porra dos vídeos, ou seus quinhentos paus já
eram!
Solto sua cabeça, esfregando meu cenho, ainda não
acreditando que recebi conselhos amorosos de um punheteiro, que
passa mais tempo no mundo virtual que no real. Vejo Greg se
segurar para não rir, com sua boca se esmagando. Ergo meu pulso,
verificando a hora no relógio. Tenho que voltar para o hospital.
Desejo tanto olhar Cristina e lhe deixar segura.
— Acho que achei alguma coisa! — o menino fala rápido,
apertando o botão de enter. — Eu fiz essa filmagem de noite, depois
da janta, quando fui jogar o lixo. Não soltei ela no canal, não sei se
tem serventia para você.
— Onde fica a lixeira?
— Fica do lado do prédio, no beco.
— Deixa eu ver. — Me abaixo, me aproximando da tela,
apoiando minha mão na mesa.
— Olha, mas foi só por curiosidade mesmo que eu fiz, viu? —
Estencefala rápido, assim que o carro estacionadono beco começa
a balançar.
A câmera dá zoom, nos presenteando com a imagem de um
casal trepando dentro do automóvel. Viro meu rosto para Estence,
que tem sua face corada, repuxando a ponta do nariz.
— Eu achei que podia ser alguém roubando. Não foi nada
demais.
Nego com a cabeça, o encarando, vendo seu rosto ficar cada
vez mais vermelho.
— Não, isso é direito de imagens, Estence, e tenho certeza
de que o casal do carro não te autorizou a fazer um vídeo caseiro da
trepada deles.
— Lembra o que te falei? Se explicar é pior. — Greg vira seu
rosto para Estence, batendo em seu ombro. — Já assistimos mais
de vinte filmagens, uma por uma, ele não está em nenhuma delas
— Greg fala para mim, repuxando seu nariz.
— Miserável, filho da puta! — Me afasto da tela do
computador, levando minhas mãos para a cabeça, respirando com
raiva.
— Talvez deva levar ela para as montanhas, deixá-la
escondida, longe disso tudo, até descobrirmos o que aconteceu,
como ele entrou no prédio dela e saiu sem ser visto.
— A lavanderia — o menino fala rápido, respondendo Greg,
virando sua cadeira para me olhar.
— Como?
— A lavanderia que tem no beco. Quando quero entrar e sair
do prédio sem ser visto, uso a escada de emergência deles. Você só
precisa ir para o terraço do nosso edifício. — Ele aponta para a
janela do quarto, rindo para mim. — Às vezes faço isso quando
minha mãe não me deixa sair. Os prédios são unidos, entende? Um
ao lado do outro. Você apenas precisa pular a divisória e já está no
terraço da lavanderia, e daí para a escada de incêndio é um passo.
Greg retira o notebook das suas pernas, deixando em cima
da cadeira que ele estava sentado, caminhando para a janela do
quarto de Estence, olhando para fora.
— A janela dela fica distante do prédio da lavanderia, ao
menos que ele fosse o Homem-Aranha, não teria como ir até lá.
— Mas se você estiver dentro do prédio, não precisa ter que
invadir uma janela.
O menino ri, respondendo Greg outra vez.
— Você me disse aquele dia no escritório que não tinha
arrombamento. — Olho de Estence para Greg, o vendo confirmar
com sua cabeça.
— Sim, não tem vestígio algum, a polícia estava
completamentecerta. — Greg se afasta da janela, com um olhar
intrigado.
— Talvez quem entrou no prédio tinha a chave da porta do
apartamento da Cris — Estence fala, voltando seus olhos para a tela
do computador.
Greg olha na mesma hora para mim, batendo as mãos com
força, como se tivesse pescado alguma informação com a teoria de
Estence.
— E ficou esperando o momento certo de você sair, para
entrar no apartamento... — Ele se cala, abaixando seus olhos para o
chão. — Ou...
— Ou? — pergunto, nervoso, dando um passo à frente.
— Ou ele já estava lá dentro, junto com vocês, Ariel. — Greg
trava seus olhos com os meus. — O tempo dele foi pouco, para
disparar seu alarme e correr para as escadas de incêndio da
lavanderia, fazer todo o percurso e entrar no apartamento,
degolando o gato... O alarme do veículo sendo disparado foi uma
vantagem que ele não esperava, mas ele não se aproveitou disso
para entrar.
— Mas sim para sair — termino por ele.
— Você saiu em algum momento antes disso? Qualquer
brecha que tenha dado para ele entrar?
— Não, eu não saí — falo com convicção. — Nós dois fomos
para o quarto, acabei pegando no sono depois que fizemos... — Me
calo, olhando para o garoto curioso, que está com sua atenção em
mim.
— Pode falar, eu não sou nenhum virgem!
— Se masturbar não é perder a virgindade. — Bato na
cabeça de Estence, revirando meus olhos, respirando fundo. — Eu
só saí de perto dela quando o alarme disparou — termino de falar
para Greg.
— Deixei passar alguma coisa. — Greg olha em volta,
levando suas mãos à cintura. — Passou alguma coisa batido, que
eu não percebi dentro do apartamento quando entrei. Um sótão,
closet, qualquer lugar que alguém possa ficar sem ser percebido.
O ar entra em meus pulmões como gasolina, e sinto os
nervos da minha mão se fecharem com ira.
— Os dois! — Estencese levanta, esfregando a cabeça onde
eu bati, indo para uma porta do quarto dele. — Vê? Todos os
apartamentos vêm com um pequeno armário dentro dos quartos.
Ele abre a pequena estrutura, acendendo a luz interna e
apontando para o teto. Caminho para lá, erguendo minha mão e
puxando a alça pequena. A escada que cai, fica pendurada,
mostrando a ligação do closet para o sótão.
— Os apartamentos são padrão?
— Sim, todos são. Quando quero me esconder da minha
mãe, entro nele. Acredita que eu consigo ver tudo dentro do
apartamento por conta das frestas de ar? Minha mãe nem sabe
disso.
— O filho da puta a vigiava — Greg fala, sério.
— Ele estava o tempo todo a espreitando. — Meus olhos
vagam pelo quarto de Estence. Me lembro dela em meus braços,
comigo.
Apenas por imaginar que ele estava lá dentro, olhando para
ela, enxergando a forma livre e amorosa dela, como eu enxerguei,
me faz ter vontade de matar esse verme doente.
— Você tinha razão, realmente temos um caso de predador
aqui.
— Renan a manteve afastada de qualquer pessoa,
controlando-a de longe, usando o medo da Cristina para ficar
presente na vida dela, acuando-a.
— Deus, há quanto tempo ele pode estar fazendo isso?
Invadindo a casa dela, a perseguindo...
— Tudo começou depois do divórcio... — falo, perdido, com
meus olhos presos na filmagem pausada na tela do computador.
Mas não é o casal trepando que chama minha atenção, mas sim o
rosto que reflete na janela do banco do carona, passando do outro
lado da rua.
— Noto que se preocupa muito com a senhorita Self. —
Arqueio minhas sobrancelhas, mantendo meu olhar sério quando
encaro sua face. — Algum interesse específico, Maximiliano?
— Cris é uma boa amiga, tenho um carinho especial por ela.
Conheço sua fama carrasca, Miller. Cristina não precisa de um
otário egocêntrico a diminuindo. Pode ter certeza de que eu vou
estar com meus olhos em você!
— Filho da puta! Filho da puta doente! — Minha boca
espuma de raiva, enquanto empurro Estence da minha frente,
dando mais zoom na tela do computador
.
Me afasto da tela, agitado, levando as mãos à minha cintura,
respirando forte. Tudo se encaixa: a superproteção, a forma como
ele olha para ela quando a vê... Cris é sua presa, e ele se alimenta
do medo dela.
— O bilhete. Cadê a porcaria do bilhete que mandaram para
ela?! — Viro meu rosto para Greg na mesma hora.
— O bilhete de Renan? — ele pergunta sério, retirando o
papel do bolso.
Pego a folha em minhas mãos, relendo outra vez as palavras.
“Ainda se lembra de quando nos conhecemos?
Eu sim. Me lembro de tudo, de cada segundo. E se eu fechar meus
olhos, posso me ver diante de você agora. Me recordo que olhei
você e a vi de cabeça baixa, desprotegida, tão frágil... E a única
coisa que pensei foi em como seria a esposa mais linda, como eu
queria ser o pai dos seus filhos. Mas eu não sou, não é, Cristina?
Você foi rápida em achar um pau para meter em suas pernas, para
lhe engravidar. Espero que aproveite seu presente, meu amor.
Servirá tanto para você como para o que cresce dentro do seu
ventre.”
— Cristina conheceu Renan Pener na faculdade. — Me
lembro do porta-retratos,do sorriso na face dela, que a iluminava,
deixando-a tão linda.
— Estava feliz.
— Sim, muito feliz. A época da faculdadefoia mais alegre da
minha vida. — Sua voz é um sussurro triste.
— Não foi Renan Pener. Nunca foi Pener!
Greg para ao meu lado, virando seu rosto para a tela do
computador, encarando a face de Max, que está visível pelo reflexo
do vidro do carro.
— Max estava no tribunal no dia que o julgamento estava
acontecendo na vara da família,violência doméstica. Meu irmão se
sentou do meu lado enquanto esperávamos pela audiência da
cliente dele, com seus olhos perdidos em toda dor que a face de
Cristina demonstrava.
Chuto a porra do cesto de lixo com raiva, travando meu
maxilar. Cris se tornou uma presa fácil e instiganteassim que ele
pôs os olhos nela dentro do tribunal. Não era a medida protetivaque
era falha, mas sim as manobras nojentas de Max. Se Renan
continuasse se aproximando dela, Cristina nunca suspeitaria de
quem é o verdadeiro monstro, que a está assustando com os
telefonemas e as vigias constantes nas ruas.
— Maximiliano foi quem conheceu a versão triste de Cristina.
— Filho da puta! — Greg fala sério, xingando com raiva.
— Pega as filmagens, vou ligar para a polícia— falo rápido.
Giro e caminho para a porta do quarto, a abrindo e saindo
apressado. Antes mesmo de levar a mão ao bolso, para retirar o
aparelho, meu celular começa a tocar insistentemente.O puxo com
rapidez, olhando o nome de Brow na tela. Atendo na mesma hora, o
levando ao ouvido.
— Como ela está?
— Ela saiu do hospital, chefe. — A voz dele é nervosa
enquanto fala rápido. — Eu procurei por tudo, mas não a achei,
então consegui ter acesso às câmeras de segurança. Aquele rapaz
do serviço dela tirou Cristina do hospital. As filmagens do
estacionamento gravaram ela entrando no carro dele.
Meus olhos se fecham enquanto sinto meu mundo congelar.
O sentimento de impotência emerge, um enorme desespero me
atinge. Tudo isso está me engolindo de uma única vez.
“O amor é bonito, brando, protetor, quente e acolhedor. Mas
se tem uma coisa que o amor não é, é doloroso e violento.”

Estou caindo no inferno, voltando para aquele lugar sombrio,


onde o luto da perda da minha filha me jogou, ouvindo as orlas de
demônios que me rodeiam, instigando toda a violência para fora de
mim, sendo misturadas com a voz doce de Cristina, que me
governa.
— Brow, preciso que arrume uma coisa para mim. — Esmago
o aparelho em minhas mãos, me virando para a entrada do quarto,
cravando meus olhos na imagem parada na tela do computador. —
Preciso de uma arma sem numeração.
Capítulo 25
Entre anjos e demônios
Cristina Self

— Está se sentindo melhor?


Max estica sua mão e alisa meu rosto, abaixando seus olhos
para o curativo que fez em meu pulso.
— Sim — sussurro lentamente,puxando a manta para cobrir
meu corpo.
— Viu, lhe disse que um banho quente lhe ajudaria a se
sentir melhor. — Seu dedo bate na ponta do meu nariz, sorrindo
para mim. — Trouxe chá para você.
Olho perdida para a xícara e avisto o vapor que sai dela.
Balanço minha cabeça em negativo, sentindo o enjoo que me acerta
ao inalar o aroma forte que exala do chá. Me sinto mais calma
depois que Max me tirou do hospital, me trazendo para a sua casa.
Ele me emprestou uma muda de roupa, me deixando usar seu
banheiro, para que eu pudesse tomar um banho. Depois que saí, fez
o curativo, me levando para a cama, mas ainda assim não me sinto
segura, por não estar junto de Ariel.
— Vai lhe ajudar a dormir, você vai ver. Beba um pouco — ele
fala calmo, apertando minha mão, me ajudando a segurar a xícara.
— Não tenho vontade, Max, meu estômago está embrulhado.
— Encolho minhas pernas na cama, olhando a xícara. — Tenho
medo de que piore o enjoo se eu tomar.
— Não vai, isso vai lhe fazer bem. — Ele sorri e ergue a
xícarajunto comigo, a parando perto dos meus lábios. — Eu sempre
cuido de você, não cuido?
Meus lábios se apertam e sinto uma fisgada de dor dentro do
meu cérebro. Repuxo meu nariz, tendo os gatilhos sendo
disparados na minha mente.
— A mulher, o que houve com a mulher? — Pisco, confusa,
ainda me lembrando do rosto dela. — Ela não pode escapar, ela
tentou ferir meus bebês.
— Eu liguei para o hospital, Cris, como se quisesse saber
notíciassuas, e eles não comunicaram que você fugiu. Mas quando
falei da enfermeira, eles disseram que não havia nenhuma pessoa
com as características que você descreveu dentro do hospital.
— Não... Não... Ela é real. Eu a vi, Max. Ela estava lá, entrou
no meu quarto, tentando me medicar , então bati nela.
— Você estava nervosa, Cris. Foi um dia conturbado.
— Eu vi... Max, eu a vi, não estou louca...
— Não, não está, meu anjo — ele sussurra carinhoso,
tentando me acalmar
.
Fecho meus olhos e balanço minha cabeça em negativo. Não
estou tendo alucinações, aquela mulher estava lá dentro.
— Ariel... — murmuro com dor, abaixando a xícara. —
Conseguiu achar ele? Ligar para ele? Avisar onde eu estou? Ele vai
encontrar essa mulher, ele vai saber o que fazer.
Max nega com a cabeça, esticando sua mão e alisando meu
rosto.
— Eu liguei, mas ele não atendeu. Deixei inúmeras
mensagens de voz pedindo para ele retornar assim que ver o
telefone dele.
— Tentou no escritório? — Seguro mais firme a xícara,
olhando perdida para Max. — Talvez ele esteja lá...
— Não tem mais ninguém no escritório. Brat foi inocentado.
Sabe como Pietro é, adora levar os funcionários para comemorar no
bar quando nossa firma ganha um caso grande.
— Miller ganhou o caso... — Dou um fraco sorriso
melancólico.
— Isso era certo que ia acontecer. Miller nunca se importou
em burlar as leis, não foi nada para ele levar uma testemunha falsa
para o tribunal.
— Ele a levou... Eu... eu não sabia que ele usaria o
testemunho dela. — Me sinto afundar dentro de mim mesma. —
Pietro deve estar feliz com a visibilidade que a empresa vai ganhar
.
— Não tem ideia do quanto. Malvina estava toda curiosa,
querendo saber qual foram os truques que Ariel usou no caso. —
Max se cala, fechando seu rosto, negando com a cabeça. — Droga,
eu não devia ter lhe contado.
— Ariel está comemorando com eles? — Sinto as lágrimas
queimarem meus olhos e volto minha atenção para a xícara.
— É coisa rápida, garanto que ele já vai olhar o celular dele.
— Max se senta na beirada da cama, ficando próximo a mim. — Na
verdade, quando eu saí de lá, ele e ela já não estavam mais no bar,
eu até pensei que Miller estaria no hospital quando cheguei.
— Ele... Ele... — Fecho meus olhos, tentandoorganizar meus
pensamentos. Ariel mal tinha olhado para mim, saindo apressado de
dentro do quarto, sem trocar uma única palavra comigo.
— Não fica assim. Descanse e tome seu chá, vai se sentir
melhor depois de uma boa noite de sono. — Sua mão cai em meu
braço, fazendo pequenos círculos em minha pele. — Não temos
controle sobre as ações das outras pessoas, o ser humano é uma
criatura perigosa.
— Ele não iria fazer isso...
— O quê? Lhe deixar solitária em um quarto de hospital
enquanto aproveita a grande noite dele, recebendo os louros[31]
pela mente brilhante do notório advogado criminalistaem que ele se
transformou? — Max sorri para mim e ergue seus olhos para os
meus. — Nada é de valor para Ariel, absolutamentenada, apenas a
carreira dele, que sempre virá acima de qualquer coisa e pessoa
para ele.
Sinto meu coração se partir com meus sentimentos, me
negando a acreditar nas palavras de Max. Luto para achar algum
argumento que desminta as acusações, mas as palavras se
prendem em minha garganta.
— Com Silvia foi a mesma coisa, tantoque foi por isso que o
casamento dele afundou. Silvia apenas servia para ele quando lhe
convinha desfilar com ela ao seu lado, nas festas que ele
frequentava. Quando não precisava, ele a descartava
instantaneamente.A coitada acabou se perdendo na bebida, mas
ele não se importou, não até perder a filha.
— Dolly... — sussurro triste.
— Sim. Depois que a filha morreu, ele acabou com a vida da
mulher. É muito triste a forma como Silvia está.
— O que houve com ela?
— Ele não te contou? — Max balança a cabeça em negativo,
encolhendo seus ombros. — Não sei se devo te contar, isso não é
um assunto que eu deva falar, ainda mais que você está grávida
dele.
— Max, o que ele fez com a ex-esposa? — Seguro sua mão
na minha, não deixando seus olhos desviarem dos meus.
— Ariel a internou. Silvia está desde a morte da sua filha
internada em um sanatório em Nova York. Ele a levou a julgamento,
alegando que ela é um risco para a sociedade por conta do seu
desequilíbrio mental e do alcoolismo, e que por isso a filha deles
morreu.
— Ariel não faria algo assim...
— Oh, ele fez! Ariel fez sim. Foi diante do juiz e fez ele
mesmo sua representação contra sua ex-esposa. No fundo,
suspeito que ele queria fazer isso desde a época que a filha era
viva, pois, se a internasse, a guarda seria só dele. É mais fácil para
ele se livrar de alguém do que ajudar. — Max respira fundo, alisando
meu rosto, e solta um suspiro lento. — Ela estava assustada, se
sentindo abandonada, inútil e fragilizada, então se entregar à bebida
foi quase inevitável, mas ela não era louca, apenas não tinha mais
serventia para Ariel. Mas isso não quer dizer que ele vá fazer a
mesma coisa com você.
— Comigo...
Fico em silêncio, tentandocompreender tudo que ouvi. Ariel
quer ficar com os filhos, ele deixou claro no primeiro momento que
nunca se afastará dos filhos. Me pedir em casamento não foi por
mim, mas sim pela descoberta dos gêmeos. Max me puxa para seus
braços, cuidando para não me deixar derrubar a xícara. Sinto seu
queixo ficar no topo da minha cabeça, com os dedos dele
acalentando minhas costas com palavras suaves, me acalmando.
— Não sofra, não vai mais sofrer, eu te prometo, Cris. Está
segura agora. — Escondo meu rosto em seu peito, sentindo a dor
que sai entre as lágrimas. — Nunca mais vai sofrer. Não se
desgaste, Cris. Beba seu chá e descanse agora... — Sua mão para
na xícara,olhando para ela. — Esfriou. Demorou tanto,que acabou
ficando fria. Vou preparar outra para você.
Ele beija minha testade forma carinhosa, se levanta, pega a
xícara da minha mão e olha com brandura para mim.
— Está segura agora, Cris. Prometo que nada mais de ruim
vai acontecer com você.
Meus olhos se fecham assim que ele sai do quarto. Deixo as
lágrimas rolarem por minhas bochechas, fungando entre os soluços,
com meus dedos achatadosem minha barriga. Eu tinha fugido tanto
de me envolver com outra pessoa durante tantotempo, para no fim
seguir o mesmo caminho que embarquei no início. Estou confusa,
sozinha, me sentindo isolada, apenas eu e os meus bebês. Tapo
meu rosto, sentindo o enjoo me tomar, me dando apenas poucos
segundos para levantar-me da cama, correndo para o banheiro e
vomitando minha bílis. O gosto amargo em minha boca é o mais
doloroso fel, se igualando ao meu coração e minha alma quebrada.
Tento, assim que passa os espasmos do vômito, me escorar na
parede para me erguer.
Caminho para a pia e dou descarga na privada. Lavo meu
rosto com a água gelada da torneira. Procuro por uma toalha no
banheiro do Max, mas não encontro, o que me faz sair para fora do
banheiro olhando em volta, para ver se ele levou a toalha que me
emprestou. Mas nada está ali, Max a levou, junto com a camisola do
hospital. O vento que passa por minhas costas me faz encolher,
estou com um pouco de frio. Ergo meus olhos para a janela e a vejo
fechada. Meu rosto se vira, procurando de onde vem a corrente de
ar gelado, observando uma das portas do guarda-roupa encostada.
Ajeito meus óculos em minha face, olhando sem entender para ela.
Meu braço se estica e deixo minha mão aberta, próxima à fresta,
sentindo a correnteza fria que sai dela. Abro lentamente, vendo a luz
que se acende lá dentro. O que julgava ser um guarda-roupa, é o
closet refrigerado de Max. Mas não são suas peças de roupas que
encontro, o que vejo é aterrorizante. Dou um passo para frente e
olho a quantidade de fotos minhas pregadas na parede. Fotos
íntimas,inclusive. Em algumas estou dormindo em meu quarto, em
outras deitada no sofá, lendo um livro, em outras andando na rua.
Cada foto reflete um momento da minha vida. Em uma mesa ao
canto, há um manequim sem braços e pernas, apenas o torço,
usando um dos meus conjuntos de lingerie, que julgava há muito
tempo perdido. Em volta dele tem mechas de cabelos humanos,
iguais aos meus.
— Oh, meu Deus... — Tapo minha boca, vendo a foto grande
do meu rosto em cima do pescoço do manequim.
Minha respiração está acelerada, meu coração bate
desesperado. Tropeço quando ando para trás, fechando a porta
com força.
— Não era para ter entrado aí. — Giro meu rosto para Max,
que tem sua feição zangada, apertando forte a xícaraem sua mão.
— Não era para ter visto isso.
— Você... Você, Max... — Me afasto dele e vou para a outra
ponta do quarto, abraçando meu corpo. — Todo esse tempo foi você
me aterrorizando.
— Cuidando — ele fala baixo, negando com a cabeça. — Eu
cuidei de você, cuidei para nunca mais ninguém te machucar...
Vigiei você. Eu protegi você.

— Não voltou para mim porque não quis. Deve ter descoberto
como é ser como a sua mãe, não é, Cris? Ser a vagabunda imunda
que sempre foi — ele fala com raiva, ficando mais agressivo a cada
segundo.
— Renan, por favor...
— Cristina? — A voz de Max atrás de mim me dá um alívio
imediato quando a ouço.
Renan me solta na mesma hora, olhando para trás de mim
com raiva. Sinto as mãos de Max passarem por meus ombros,
parando ao meu lado, e ele me puxa, me levando para perto dele.
As memórias me acertam,me deixando perdida. Max sempre
esteve ao meu lado, como um bom amigo em quem eu confiava. Me
sentia segura ao lado dele. Sua amizade verdadeira era
reconfortante.Desde o primeiro dia que nos conhecemos, dentro do
tribunal, a empatia que ele sentiu por mim, o acolhimento... Agora
tudo é tão cínico, tão distorcido.
— Você estava me seguindo... Fez aquilo com o pobre gato...
O presente mórbido... Deus, Max... Eu confiava em você...
— Você errou, precisava ser disciplinada. — Ele joga a xícara
no chão, balançando sua cabeça para os lados. — Se comportou
como uma vagabunda suja, se deitando com qualquer um de forma
promíscua, sentindo prazer em ser fodida na parede, como uma
cadela.
— Meu Deus, Max, o que fez?
— Eu te vi, enxerguei você quando ninguém mais te viu,
avistei a mulher linda que você é, mas você ficou feia, ficou
asquerosa, como uma vadia barata, trepando com Ariel e gostando
de ser fodida feito uma porca nojenta. — Ele suaviza sua face,
sorrindo para mim. — Mas eu perdoei você, eu perdoei sua traição,
porque eu cuido de você, sempre cuidei de você, Cris, nunca te
deixei sozinha.
— Não... Não, por favor, para. — Tapo meus ouvidos,
batendo minhas costas na parede quando recuo, fechando meus
olhos. — Fez eu me sentir uma louca, uma louca que não conseguia
provar que estava sendo ameaçada...
— CUIDEI DE VOCÊ! E até agora eu cuido de você... Então
você disse que queria casar. Não vê que ninguém nunca vai cuidar
de você como eu cuido? — Abro meus olhos e vejo sua mão
esticada em minha direção.
Meu corpo se encolhe, sinto medo, pavor do olhar
desequilibrado de Max. Ele recolhe seus braços para o lado do seu
corpo, abaixando seus olhos para o meu ventre.
— Tentei fazer você enxergar que essas coisas dentro de
você foram um erro, que precisava tirá-las, mas não saiu como eu
esperei.
— Mandou aquela mulher para o meu quarto...
— Eu não queria chegar a esse ponto, mas precisei. Pietro
me contousobre sua pressão alta, ele não me deixou ir te ver. Miller
afastou você de mim, tirou você de mim, por conta desses estorvos
que ele pôs dentro de você. — Sua boca se esmaga com ódio.
— Você mandou um feto morto para mim, Max, fez isso para
me machucar.
— Não, não. Eu nunca machucaria você... — Ele nega com a
cabeça, sorrindo. — Eu precisei agir rápido. Você se apaixonou por
aquele verme... Se perdesse seus filhos, você não teria mais
serventia para Ariel, e o veria como ele realmente é. Mas não
perdeu as sementes dele, elas são maléficas igual a ele,
entranhadas dentro de você, se negando a morrerem. — Max
respira fundo. — Eu vou cuidar de você agora, para sempre. Ele não
vai afastar você de mim, nunca mais ninguém vai machucar você.
— Max, não faz isso, por favor...
— Devia ter deixado a mulher te dar a injeção, Cris, devia ter
tomado o maldito chá. Assim, pelo menos, seria menos doloroso.
O som dos seus passos aumenta, com ele caminhando em
minha direção de forma fria, me encarando.
Aperto meus olhos, os fechando com força, enquanto meus
braços se erguem sobre minha cabeça. O grito de dor que invade o
quarto sai dos meus lábios quando o terceiro chute desferido em
puro ódio acerta minhas costelas. Sinto o ar faltar dentro dos meus
pulmões e me retorço de dor.
As lembranças me inundam, me pegando com força, me
paralisando a cada passo que Max dá em minha direção.
— Você não vai sofrer por conta dessas coisas que estão
dentro de você, não vai. — Max retira o cinto da sua calça, o
esticando em sua mão, olhando para o couro. — Nunca mais vai
sentir dor, medo, nunca mais vai chorar... Nunca mais vai sofrer ou
ser chamada de louca, eu vou cuidar para sempre de você.
O instinto primitivo de sobrevivência pura, de proteção de
uma mãe pelos seus filhos, é o que me arranca da minha paralisia e
me faz chutar suas pernas quando ele se aproxima de mim, com
seus braços esticados, prontos para me estrangular com seu cinto.
O rompante do meu corpo, que se move em disparada para a saída
do quarto, é ligeiro. Ouço os gritos de ódio de Max, que vem atrás
de mim. Ouço o som da respiração dele se aproximando. Meus pés
estabanados se atrapalham, me levando ao chão quando ele puxa
meus cabelos. Sinto o impacto e a dor dos meus joelhos sendo
pregados no chão, a textura do cinto em minha pele, sendo
comprimido tão forte, como se fosse ultrapassar minha garganta e
quebrar minha traqueia. Meus gritos roucos e grotescos são
abafados pelo ar que me falta, e entre tudo, o caos, o medo, o terror
que submerge, minha mão se estica, como se eu pudesse de
alguma forma alcançar a porta da saída da casa, que está tão
distante.Vejo a madeira ser arrombada, escancarando a porta. Um
vulto alto se move. Apenas um único som se faz em meio ao caos, é
frio, sonoro, latente e inabalável. O aperto do couro cede, me
fazendo sugar com todas as minhas forças o ar para meus pulmões,
tombando a parte superior do meu corpo para frente, com meus
dedos espalmados no chão. Rapidamente, tudo fica lento, distorcido
com os gritos de ódio e passos pesados, que parecem minas
terrestres explodindo dentro da minha mente. Então tudo se silencia,
abafa, os zumbidos, os ecos... Sinto apenas o calor quente da mão
firme que segura minha face em seus dedos. A escuridão me suga
no segundo que meus olhos se chocam com os seus, em um azul
tão angelical, mas em uma face demoníaca, violenta, agressiva e
cruelmente perversa. É como ir do céu ao inferno.
Ariel Miller
— Chefe, precisa ficar calmo, vamos chegar a tempo! —
Brow fala nervoso, sentando-se ao meu lado enquanto dirijo o carro
em alta velocidade.
Sinto tudo me sufocar. Um anseio de medo, desejo de morte
e incompetência por tê-la deixado sozinha. Como não vi, como não
consegui enxergar a verdade que estava diante de mim por todo
esse tempo? Meu desejo por vingança me fez ficar concentrado em
Renan Pener e em todo mal que ele causou na vida de Cristina, me
fez ficar restritoa uma única linha de raciocínio.Não abri os leques.
Estava tão assertivo, todos os índicesapontavam que era o maldito
do Renan, que não me atenteia única outra pessoa que estava ao
lado dela desde o divórcio dela.
Greg me passou o endereço pelo celular, e estacionoo carro,
o deixando atravessado na frente do jardim. Em seguida, pego o
revólver da mão de Brow. Os gritos, que vêm da residência, faz eu
sentir meu sangue congelar dentro das minhas veias. Corro rápido e
estouro a porta da frente. A imagem dela ajoelhada ao chão, com
seu rosto ficando pálido, completamente lavado por lágrimas,
esticando a mão para mim, me faz não pensar. Vejo apenas ela
lutando para tentarrespirar. Meu dedo pressiona o gatilho da arma
assim que a ergo em um rápido movimento. Miro em Maximiliano e
disparo contra ele. Seu corpo desaba no chão, próximo a ela, que
tentase arrastar para outra direção. Eu estou ao lado de Cris em
questão de segundos. Retiro o couro do seu pescoço e a pego em
meus braços.
— Não... Não! — Minha voz, carregada de cólera, sussurra
enquanto tentonão cair na insanidade, a tendo desmaiada em meus
braços.
— Cretino de merda! Seu cretino doente de merda, você não
pode tirá-la de mim! — Ergo meu rosto para Max, que grita,
tentando fugir, segurando seu ombro baleado.
Minha mão se ergue mais uma vez, e miro o revólver em sua
direção, tendo cada canto do meu ser implorando para matar esse
desgraçado. Brow entra na frente, marchando como um demônio
enfurecido em sua direção.
— Doente filho da puta! — Brow o amaldiçoa, e seu punho se
fecha, acertando a face de Max com toda força, o derrubando no
chão. Ele retira o celular do bolso e disca para a emergência.
Aperto as costas dela, a mantendo colada em meu corpo.
Ainda quero acabar com a vida de Max, pelo que ele fez por todos
esses anos a ela. Max usou do trauma dela para aprisioná-la,
melindrá-la tão fodidamente, a ponto de fazê-la se sentir sozinha e
louca.
— Sai da frente, Brow! — Cerro meu maxilar, ainda com a
arma empunhada para o filho da puta que é Max. Brow se vira e
olha o revólver em minha mão.
— Ariel, não faça isso... — Ele tentasoar calmo, esticando
sua mão para mim.
— Sai da frente dele, Brow!
— Chefe, ela precisa de você. Eu sei o que está sentindo, e
eu sei também quais são as consequências de fazer algo por
impulso. — Ele abaixa seus olhos para ela, voltando a encarar a
arma. — Não precisa da morte desse verme lhe assombrando. Me
entregue a arma, chefe. Te garanto que ele vai pagar pelo que fez.
Cuide dela e deixe o resto comigo.
Não reluto quando Brow se aproxima de mim e retira a arma
dos meus dedos, a tirando lentamenteda minha mão. Me volto para
Cris, tiro os fios de cabelos da sua face e vejo sua pele molhada.
Arrumo ela em meu colo e me levanto. Brow segura a arma e usa
sua camisa para não tocar nela, enquanto a limpa. O vejo caminhar
de volta para Max. Saio com ela rumo à porta e o som da
ambulância ao longe vai ficando alto. Os paramédicos estão se
aproximando da residência.
A giro pouco a pouco, a fazendo ficar de frente para mim. A
quentura da sua respiração morna me acerta, tendo seus olhos
brandos me fitando. Nada do que sinto ao seu lado é o que eu
dividia com Silvia. Meu mundo tinha encontrado o ponto de
equilíbrio desde o segundo que entrei naquele escritório e meus
olhos repousaram nela.
— Aprecio sua companhia, babá McPhee — murmuro com
rouquidão, não conseguindo dizer para ela que não só aprecio estar
ao seu lado, mas que eu a amo. Ergo minha mão e seguro seu
queixo, observando cada centímetroda sua face.Solto seu queixo e
retiro os óculos dos seus olhos, os deixando no cantinho da pia. —
Aprecio muito sua companhia.
— Eu te amo, babá McPhee... — A aperto mais forte em
meus braços.
Cristina Self

Quando abro meus olhos outra vez, tenho minha mente


confusa. Está tudo tão claro, o tetobranco... O cheiro de álcool que
invade minhas narinas, faz voltar lentamentemeus sentidos. Sinto
as agulhas em meu braço e ouço o som distantede um insistente
bipe, que se repete. Fico com meus olhos parados, sem desviar do
teto,piscando com minhas pálpebras pesadas. Sinto o toque forte
em meus dedos, sendo segurados por uma mão firme. Movo minha
cabeça lentamente,olhando o grande homem desalinhado, com sua
cabeça baixa, com os cotovelos apoiados na cama, segurando
minha mão na sua, à frente do seu rosto, sentado em uma cadeira
ao lado da cama, com sua postura melancólica. Vejo seus ombros
se enrijecerem quando mexo meus dedos, retribuindo seu carinho.
Seu rosto mortificadose ergue, apertando minha mão entre as suas.
Ariel tem sua feição abatida, a pele pálida e seus cabelos
desalinhados.
— Graças a Deus, você acordou! — Seus olhos vermelhos se
fecham por um instante,antes dele se mover rápido e se levantar da
cadeira abruptamente, soltando minha mão, inclinando seu corpo
para cima do meu.
Sinto o aperto forte dos seus braços ao redor dos meus
ombros, e ouço sua respiração pesada, esfregando seu rosto em
minha bochecha.
— Tirou uma grande soneca, não foi? — ele me diz baixo,
beijando minha testa, afastando apenas um pouco sua face,
passando seus olhos pela minha.
— Meus... meus bebês. — Minha mão pesa, sem conseguir
se erguer mais que poucos centímetrosdo colchão. — Meus
bebês...
— Eles estão bem, estão seguros, minha babá McPhee. —
Sua mão se abaixa sobre a minha, a levando até meu ventre,
espalmando nossas mãos juntas.
Sua mão em meus cabelos os massageia, empurrando para
trás, sorrindo para mim. Fecha seus olhos e respira fundo, colando
sua testa à minha. Sinto o alíviome inundar e felicidade de ver seus
olhos presos aos meus. Ariel se afasta um pouco, passando seu
dedo por minha boca, tombando sua cabeça para a esquerda, em
cima do seu ombro.
— Quando minha filha morreu, eu rompi os laços com Deus,
o amaldiçoando por Ele ter me tirado ela, ter levado minha menina
de mim, me privando da existência dela, por ter deixado sua
inocência partir de forma tão trágica. — Ele esmaga seus lábios
melancolicamente, fechando seus olhos e esfregando minha
barriga. — Jurei a mim mesmo que jamais deixaria nada ser tão
importanteoutra vez. — Uma única lágrima escapa por sua face,
com seus olhos se abrindo, me olhando. — E por uma maldita
semana, os sete dias mais longos da minha vida, senti todo aquele
sofrimento outra vez, enquanto segurava sua mão, conversando
seriamente com Deus outra vez, tentandocompreender o que eu
podia ter feito de tão errado nessa minha vida, para não ser
merecedor de uma segunda chance. Se foi uma esmola que neguei,
algum domingo que deixei de ir à missa, qual foi meu pecado para
merecer perder as pessoas que eu amo.
— Ariel...
— Ele me ouviu, Ele me ouviu — Ariel murmura calmo,
sorrindo para mim. — Ele não me deu uma segunda chance, Ele me
deu três.
Meu peito arfa e sinto meu coração disparar. Respiro fundo,
ficando presa na intensidade dos seus olhos. O azul tão calmo e
suave, está sem aquela tempestade que brilhava lá dentro.
— Eu te amo, Cristina Self. Te amo como eu nunca amei
nenhuma mulher. Te amo como eu jamais vou amar qualquer outra.
— Sua testa se cola à minha novamente e sinto as lágrimas
descerem pela minha face. Aperto seus dedos com força sobre meu
ventre.
— Te amo, eu te amo... — Beijo sua bochecha e sinto o gosto
da sua lágrima em meus lábios, murmurando o que grita em meu
coração.
— Oh, meu Deus, ela acordou! — O som estridente,o qual
reconheço bem, me faz sorrir, olhando para Ariel.
Ele se afasta apenas um pouco, ainda deixando sua mão em
minha barriga.
— Oi, mãe. — Viro meu rosto no travesseiro, olhando na
direção dela, a vendo entrar no quarto, sendo seguida por Brow.
— Cristo, você vai me fazer ter um infarto ainda!
Sua mão se estica para meu rosto, com ela se abaixando,
disparando vários beijos em minha face.
— Quando a senhora chegou?
— Já tem quatro dias, meu amor. Liguei para Ariel e o
guarda-costasali foi me buscar no aeroporto, me trazendo direto pra
cá. Me senti a própria Whitney Houston[32]. — Ela pisca para mim,
me fazendo rir com a forma envergonhada que o pobre Brow fica.
— Fico muito contenteem lhe ver bem, senhorita Self. —
Brow se aproxima da maca e me dá um sorriso triste.— Eu sinto
muito...
— Ainda me deve um chocolatecom caramelo e um suco de
morango, Brow — respondo a ele, lhe dando um sorriso terno. Ele
sorri, balançando a cabeça em positivo. — É tão bom lhe ver, ver
todos vocês.
— Eu senti tanto medo de perder você, meu amor
.
Volto meus olhos para minha mãe e vejo seus olhos
marejados, balançando sua cabeça lentamente para os lados.
— Eu te amo, dona Kenia — sussurro para ela, sentindo o
beijo demorado que ela dá em minha testa.
— E eu te amo mais que tudo, meu amor — ela suspira e
limpa meu rosto, sorrindo. — Chega de lágrimas, nada de choro, o
único choro que quero ouvir de agora em diante é dos meus netos.
— Netas. — A voz de Ariel é calma.
Tanto eu como minha mãe erguemos nossos rostos para ele.
O vejo dar um leve sorriso de lado, com sua mão massageando
meu ventre.
— Mas, como... — Fico perdida, sem entender. Estou
entrando para a décima quinta semana, o médico tinha me tido que
a ecografia de sexo seria feita apenas depois da décima sexta
semana.
— Pedi para fazerem todos os exames em você e nos bebês,
queria ter certeza de que vocês estavam bem. Um deles foi a
sexagem fetal...
— Três chances — sussurro, me recordando do que ele
disse.
— Sim. — Sua mão se ergue para meus cabelos, os
acariciando. — As três mulheres que mais amo em minha vida, três
vênus.
Fecho meus olhos, rindo, não acreditando que vou ser mãe
de duas meninas. Sinto meu peito explodir a cada batida, como
fogos de artifícios.
— Te amo, babá McPhee.
Abro meus olhos para me chocar com as esferas azuis de
Ariel de frente para mim, com seu corpo inclinado.
— Aprecio sua companhia também, doutor Miller. — Sorrio
para ele.
— Acho bom mesmo, porque pelo que consta nos autos,
você me pediu em casamento e eu aceitei.
Ele pisca descarado para mim, sorrindo com malícia.
— Pediu o homem em casamento, Cristina? — A gargalhada
da minha mãe se espalha, me fazendo rir para a face cínica de Ariel.
Balanço minha cabeça em positivo, erguendo minha mão
lentamente,até conseguir tocar sua face. Seus olhos se fecham,
com ele inclinando seu rosto em meus dedos, sentindo meu carinho.
— É, eu pedi.
Seus olhos se abrem, abaixando sua cabeça, beijando meus
lábios de forma suave.

Ainda tenho que ficar mais alguns dias no hospital em


observação, antes do médico me dar alta. Ariel me dá as notícias
em doses homeopáticas, cada dia um pouquinho. Ele tinha
conseguido rastrear o endereço de Max, indo direto para lá depois
que se encontrou com Brow. Greg ligou para a polícia.Meus gritos
foram ouvidos por Ariel assim que ele desceu do carro, o que o fez
correr para a porta da casa e a estourar. Ariel atirou no braço de
Max, o fazendo me soltar, e correu para mim, para me proteger,
enquanto Brow imobilizou Max com um nocaute, que o fez
desmaiar. Brow pegou a arma com um lenço que tinha no bolso,
fazendo Max segurá-la, espalhando as digitais dele por toda a
pistola, antes da polícia chegar
.
Ariel foi comigo na ambulância dos paramédicos, não saindo
de perto mim em momento algum. Os médicos acharam mais
seguro me manter sedada, para manter a estabilidade da minha
pressão. Quando a sedação acabou, ainda permaneci apagada por
mais alguns dias. Encontraram o quarto assustador dentro da casa
de Max, e logo uniram com a filmagem do computador de Estence.
A polícia fez uma perícia novamente no meu apartamento,
encontrando no sótão esperma e a digital do Max. Ariel não quis
entrar em detalhes e nem contar toda a história, preocupado com
minha saúde. Tudo que Max tinha me falado era mentira, apenas
para me manter fragilizada. Ariel nunca foi para festa alguma, e
muito menos se aproximou de Malvina. Quando lhe perguntei sobre
Silvia, se ele tinha a internado em um hospício, ele desmentiu a
história toda. Silvia está casada novamente, mora na Carolina do
Sul com seu marido, que é um jogador de tênis. A políciaencontrou
a mulher que tinha entrado em meu quarto. Ela realmente é uma
enfermeira, mas não do hospital no qual eu estava. Ela era uma
antiga clientede Max, que recebeu uma boa quantia para injetar um
remédio abortivo em minhas veias. Eu não conseguia acreditar em
tantacrueldade e frieza, em como Max, de uma forma horripilante,
fez tudo isso alegando me amar.

Algumas semanas depois


— Cris, você tem que sair desse quarto.
Meus dedos estão tremendo, segurando o delicado buquê em
minhas mãos, olhando perdida para ele.
— Já vou, mãe — respondo para ela, que me chama pela
terceira vez, batendo na porta.
— Você está bem? — Sua voz preocupada pergunta.
— Sim, eu estou...
— Cristina, se não abrir essa porta, vou chamar Ariel para
arrombá-la.
Me sento na cama, observando tudo à minha volta, sendo
pega por um medo que me deixa mais que aflita. Ouço a porta do
meu quarto ser aberta à força por Brow, que com todo o seu grande
tamanho, não precisa de muito esforço para arrombá-la. Minha mãe
passa por ele, alisando seu braço, dando uma piscada.
— Belos músculos fortes, Brow.
— O que os dois estão fazendo aqui dentro? — Levanto e os
encaro.
— Sua mãe estava preocupada. — Ele me dá um sorriso,
admirando meu vestido. — Está linda, Cris. Vou voltar lá para
segurar o noivo.
Minha mãe se entorta na porta, sorrindo para Brow, que
caminha nos corredores.
— Olha que bunda durinha, já pensou dar uma mordida ali?
Hummm...
— Mãe!!!
Ela ri e balança sua mão no ar, se virando para mim. Seus
olhos me avaliam de cima a baixo.
— Deus, está linda, minha rosquinha!
Me olho no espelho mais uma vez, admirando o vestido claro
que vai até minhas canelas, tendo as duas alças finas. Estou
ficando a cada dia que passa maior. Nesse mês que passou, minha
barriga cresceu mais um pouco. Aliso minha barriga, feliz por saber
que minhas duas meninas lindas crescem saudáveis aqui dentro.
Viro para minha mãe, que está toda emocionada, tentando não
borrar a maquiagem.
— Mãe, já passamos por isso, lembra? — falo baixo, a vendo
me dar um sorriso torto.
— É, eu sei — ela diz, limpando suas lágrimas. — Mas dessa
vez é diferente, é especial.
Dou um dos meus melhores sorrisos para ela, que me avalia
com toda cautelaquando seus olhos se prendem aos meus, e assim
vou deixando meu sorriso morrer.
— Estou com medo — digo, sentindo meu coração disparar.
Me sento na cama outra vez, batendo meus pés ao chão.
— Oh, meu anjo, é normal, ainda mais depois de tudo que
passou — ela fala e caminha até a cama, se sentando ao meu lado.
— Qual o motivo do seu medo? — Ela segura minhas mãos nas
suas, apoiando seu braço no meu joelho. — Vocês serão uma
família agora.
— E se Ariel se arrepender depois? E se for realmente só por
causa dos bebês?
— O homem te ama, Cristina. — Ela limpa uma lágrima que
escorre pela minha face. — E ele está lá na sala agora, andando
como um animal enjaulado, louco para vir lhe buscar, como um
homem das cavernas. — Ela sorri para mim. — Se isso não for
amor por você, então eu não sei mais nada nesta vida, meu anjo.
Abraço forte a minha mãe, e fico colada a ela por um tempo,
sentindo todo seu carinho.
— Eu te amo, mãe.
— Oh, Cris... vai me fazer borrar a maquiagem assim. — Ela
beija meu rosto e alisa meu queixo. — Eu te amo muito, meu amor.
Agora vá para aquele seu homem sexy, que só pelo tamanho do
volume da calça, suspeito ser um Subway.
Caio na risada assim que ela me fala sua bobagem.
— Vamos, garota! — Ela sorri para mim, se levantando. —
Tem um homem lindo lhe esperando.
Seguro forte minhas flores em meus dedos e solto uma longa
respiração. Passo minha mão sobre meu ventre e me levanto,
sorrindo para ela.
— Vamos — digo, encaixando meu braço ao dela, que me
leva para fora do quarto.
Saímosnós duas caminhando pelo corredor da casa de Ariel.
Ao me aproximar da sala, a vejo toda florida. Minha mãe decorou
tudo para o meu casamento, mesmo sabendo que será apenas eu,
ela, Ariel, Brow, Greg e o juiz de paz. Uma balada antiga, lenta,
começa a tocarno rádio, assim que entro na sala. Sorrio para Brow,
que pisca para mim, se afastando do aparelho de som. Mas é no
homem irresistívelque meus olhos param. Ariel está magnífico ao
centro da sala, perto do juiz, vestindo um terno branco sob medida.
Seu aspecto me lembra um anjo, mas seus olhos brilhando em
travessura me falam que não há nada de angelical. Fico fascinada
com meu anjo sombrio, que esconde por trás da sua forma
excêntrica tanta gentileza, a qual ele renega. Ele me dá um lindo
sorriso largo, balançando a cabeça para mim, me convidando a me
juntar a ele. Viro meu rosto para minha mãe, que está soluçando,
tentando segurar suas lágrimas para não borrar a maquiagem.
— Mãe — a chamo baixinho, a fazendo olhar para mim. — 23
cm — sussurro para ela, lhe dando uma piscada.
Vejo seus olhos se expandirem, com ela engolindo o choro.
Começo a andar, sorrindo. Caminho para o simples e modesto altar,
feito com a mesa de centro da sala. Sinto os olhares dos outros
sobre mim, mas os meus estão presos a uma única pessoa. Deus,
eu amo esse homem de boca cretina, que sempre tem alguma
palavra estranha para me irritar, mas que faz eu me sentir segura
quando seus olhos estão presos aos meus, como eu nunca me senti
em minha vida.
— Onde está a saia e a gola alta? — Ariel segura minha mão
quando me aproximo dele.
— Não achei apropriado para o casamento — falo, rindo, o
olhando.
— Você demorou. — Ele estica a mão livre, alisando meu
ombro. — Eu pensei que tivesse...
— Aprecio sua companhia, doutor Miller — o corto,
murmurando, apenas para ele me ouvir. — Amo sua companhia.
Ariel deposita um beijo na ponta do meu nariz, nos virando de
frente para o juiz, soltando o ar dos seus pulmões, me deixando o
sentir ficar relaxado ao meu lado. E nada mais me aflige ou me
deixa amedrontada, pois meu lugar é aqui, ao lado dele.
A cerimônia é formal, mas de uma forma bela e quase
cômica, já que quando o juiz nos declara marido e mulher, Ariel olha
para Brow e Greg, como se estivesse os intimando a se retirarem,
parecendo ser algo que já estava planejando e arranjado antes da
festa. Quando vou procurar por minha mãe, ela já está encostada
nos braços de Brow, rindo com ele, entrando no carro.
— Eles não ficaram nem para comer. — Olho perdida para a
janela, e quando me viro, apenas tenho tempo de erguer meus
braços para o ataque que recebo.
Ariel está me erguendo no colo, caminhando para o quarto,
respirando fundo.
— Eles vão comer, eu fiz reserva para eles em um ótimo
restaurante.
— O correto não é os noivos irem junto, doutor Miller?
— Creio que no nosso caso, podemos optar por jantar no
quarto. — Jogo minha cabeça para trás, rindo do cinismo dele. — O
que quero comer, está em meus braços.
— Seu cretino. — Beijo sua boca, suspirando dengosa
quando ele morde meus lábios de mansinho.
Meu corpo desaba na cama em pouco tempo, e sou despida
de forma urgente, com Ariel tirando minha roupa e a dele. Fecho
meus olhos e respiro fundo, sentindo suas mãos se fecharem em
volta do meu rosto. Seus dedos acariciam minhas orelhas e vão
descendo por meu pescoço. Abro meus olhos e me perco nos seus.
Meu corpo implora pelo que seus olhos me prometem, e apenas me
deixo levar quando seus lábios tocam os meus com acalento,
candura, me fazendo derreter. Suas mãos tomam direções opostas.
Uma se prende em meu rosto e a outra me puxa pela cintura, me
colando ao seu corpo quente. Sinto seu coração pulsar forte sobre
meus dedos quando espalmo minha mão em cima de sua pele. Ariel
me beija sem restrição, me tomando como sua, derretendo todo
meu autocontrole,me fazendo promessas mudas de tempos felizes.
Não sei se está certo, mas só quero que ele me tome nesses
braços.
Suas mãos me prendem com força, para que eu não me
afaste dele. Ariel se ajoelha, levando minha calcinha ao chão com
seus dedos ágeis. Meus olhos acompanham seus movimentos, sua
testadescansa sobre meu ventre, parando por alguns segundos em
cima da minha barriga. Sinto sua respiração quente sobre minha
pele, e logo seus lábios depositam um beijo no meu umbigo. Ariel se
arrasta, deixando traços dos seus beijos por todo meu corpo. Vou
me perdendo em seus beijos lentos e devassos, que me queimam a
alma. Meus dedos seguram em seus cabelos, para não me deixar
cair de vez nesse mar revolto que se chama Ariel. Ele deixa um
beijo em cada canto das minhas pernas, mordiscando meu joelho,
lambendo minha virilha. Sua língua percorre do começo da minha
barriga até a minha garganta, me chupando, me marcando com
seus dentes. Ele se encaixa, afastando minhas pernas com as suas,
tomando controle do que já é seu.
— Cris — fala meu nome baixo, com sua face perto da
minha. — Olhe para mim.
Seus olhos azuis brilhosos, que tantogosto de admirar, que
me fazem lembrar do céu em um dia lindo, que sempre me fazem
me apaixonar mais e mais por ele, me observam. O sinto se
encaixar em minha boceta,que vai o tomando com prazer, enquanto
ele empurra seu quadril devagar. Ele abre seus lábios para mim,
soltando um baixo gemido, se empurrando com mais pressão, até
estar por completodentro de mim. Minhas mãos vão para sua nuca,
se enroscando atrás da sua cabeça, com as dele descansando
entre meus cabelos. Ariel se move lentamente,me fazendo gemer,
mordendo meus lábios.
— Ariel...
Ele me beija com paixão, e conforme sua língua entra dentro
da minha boca, ele se movimenta, tornando mais profundo o beijo,
mais rápidas suas estocadas. Suas mãos se apertam em minhas
costas, cruzo as minhas pernas ao redor do seu quadril, me
deixando tê-lo mais para mim. Posso sentir ele enterrado até o
último centíme tro do seu pau dentro de mim. Meus gritos, abafados
pelos nossos beijos, saem baixos entre os gemidos, e seu gosto me
faz me sentir embriagada. Ariel acelera as estocadas, com seu pau
me fodendo. Sua cabeça se vira, trazendo seus dentes para o meu
ombro.
— Oh, meu Deus, Ariel... — Minhas palavras morrem,
seguidas por um gemido, que o faz acelerar as penetrações.
Aperto mais forte minhas coxas em volta dele, com seu pau
me fodendo de forma urgente, o que me empurra para cair no
êxtase. Seus olhos, que não deixo desviarem de mim, brilham como
chamas quentes, e gozo chamando por seu nome, abraçando Ariel
com todas as minhas forças, o sentindo latente dentro de mim,
gozando junto. Quando enfim a euforia passa, Ariel rola seu corpo
para o lado e me puxa com ele, para não pressionar minha barriga.
Ouço sua respiração voltar ao normal junto com a minha. Meus
braços moles ficam soltos em sua cintura, com ele me abraçando,
alisando minhas costas, fazendo carinho.
— Eu te amo — sussurra em meu ouvido. Sorrio para ele,
sabendo que Ariel entrou em minha vida, me tirou do inferno e me
levou ao céu.
Capítulo 26
Buquê de rosas
Cristina Self

Quatro meses depois

— Não precisa abrir a porta se não quiser.


Paro meus passos no corredor, me virando para Ariel, que
tem seu rosto sério, com o olhar emburrado.
— Está falando isso de brincadeira, não é? — Levo minha
mão à cintura, com a outra espalmada no grande barrigão, o
alisando.
Ariel dá de ombros, levando as mãos aos bolsos, olhando
para a porta e depois para minha barriga, batendo a ponta do seu
pé no chão, repuxando a ponta do seu nariz, se assemelhando a
uma criança zangada.
— Desfaça essa cara emburrada, Ariel.
— Não estou emburrado, apenas disse que não precisa abrir
a porta se não quiser.
A campainha tocando outra vez, o faz fechar os olhos,
rangendo seus dentes.
— Ele não é uma pessoa amável, e muito menos amigável, é
grosseiro e arrogante, além de cínico...
— Nossa, por que essa descrição me parece tão familiar? —
Estico meus braços para ele, que retira as mãos dos bolsos e para
ao lado do meu barrigão, nos puxando para seu peito.
Beijo sua boca, mordiscando seus lábios e ouvindo seu
gemido rouco. Ele escorrega uma das suas grandes mãos para
minha bunda, apalpando-a por cima do vestido.
— Meus argumentos foram melhores que os seus, não
entendo por que eu tive que perder.
— Fazer espanhola[33] com meus peitos não é um
argumento válido...
— Depende do ponto de vista. Para o meu pau é. — Ele
abaixa seu rosto e esfrega seu nariz em meu decote. — Inferno de
petições ilegais! Isso que dá aceitar seus pedidos quando está com
sua boca no meu pau!
— Pare de reclamar, fui extremamente justa.
A campainha toca outra vez, o que me faz afastar dele e o
olhar, sorrindo.
— Não vai ser tão ruim assim.
— Vai ser torturante,Cris. — Ariel sorri quando as meninas
se mexem, o fazendo abaixar seu rosto e beijar minha barriga. —
Viu? Elas concordam comigo.
— Não as induza a isso. Ande! Vamos abrir a porta. Não
estamos recebendo “Jack, o estripador”[34] na nossa casa, mas sim
o seu pai.
Balanço minha cabeça em desgosto para ele. Caminho para
a porta, segurando o trinco,mas sinto o aperto firme da sua mão em
meu braço, o que me faz olhar para ele.
— Ele não é como sua mãe, é rude e rabugento. Não quero
que ele seja tirano com você. — Ele olha para a porta e depois para
minha barriga, caminhando para perto de mim. — Não quero que se
decepcione.
Abro a porta e me preparo para conhecer o homem ranzinza.
Foi praticamenteum parto conseguir fazer Ariel aceitar o convite de
trazê-lo aqui em casa, para participar do churrasco de família. Vejo
um homem grisalho e alto, o que me deixa saber de quem Ariel
herdou o porte aristocratae olhos claros. O homem charmoso, com
rosto quadrado e másculo, está encarando Ariel, mas ao repousar
seus olhos em mim, abre um largo sorriso, erguendo sua mão à
frente do corpo, me deixando ver o gracioso buquê de rosas cor-de-
rosa bem clarinhas.
— Você deve ser a doce Cristina. — Ele estende sua mão
para mim de forma galanteadora, e sorrio para ele, esticando minha
mão, recebendo um beijo casto sobre meus dedos. — Acho que
essas rosas não fazem jus a essa beleza toda, minha linda nora.
— Obrigada, são lindas! — Seguro as rosas em minhas
mãos, encantada com a beleza delas. — Eu fico tão feliz que tenha
aceitado nosso convite. Olha essas flores delicadas, Ariel!
O som ranzinza da respiração pesada ao meu lado, de Ariel,
me faz olhar para sua face emburrada. Ele revira os olhos com
tédio, desdenhando das minhas rosas.
— Olá, Miller. — Seu pai o encara, falando sério, com sua
voz tão rouca quanto a de Ariel.
— Olá, desembargador. — Ariel arqueia suas sobrancelhas,
olhando para as flores em minha mão e depois para o seu pai. —
Você veio.
— Óbvio que eu vim, Miller. Não achou que eu recusaria o
conviteda minha nora, certo?!Porque, claramente,não foi algo seu.
— Por que não entra, desembargador? — Estico meu braço
para ele, empurrando Ariel da frente da porta, para desbloquear a
entrada. — Apenas faltava o senhor para chegar, os outros
convidados já estão aqui.
— Sem formalidades, minha querida. Faça uma gentiliza para
esse velho e o deixe ouvir uma mulher bonita o chamar pelo seu
nome.
— Inacreditável! — Ariel rosna entre os dentes, o que me faz
o ignorar, sorrindo para o cavalheiro que sorri para mim.
— Posso tocar em minhas netas? — Os olhos do
desembargador brilham com emoção, e ele estica sua mão, mas
ainda a mantém parada perto do meu ventre volumoso.
— Claro que pode, Ostem! Na verdade, deve! — Minha voz
sai feliz, sentindo a grande mão dele espalmar minha barriga.
Seus olhos ficam petrificados e ele respira fundo. E um olhar
de surpresa, misturado à alegria, me encara quando ele sente o
chute de uma delas.
— Elas gostam do vovô. — Elevo meu rosto para Ariel, que
está com os braços cruzados, olhando curioso, agora caminhando
para perto da minha barriga. Outro chute vem seguido de novas
sequências. — Elas estão bem animadas.
— Elas estão agitadas — meu sogro fala, rouco, emocionado.
Ariel descruza seus braços, não se aguentando mais em si
quando um dos chutes marca o vestido certinho. Ele espalma sua
mão em minha barriga. Agora tenho a do pai dele de um lado e a de
Ariel do outro.
— Talvez elas estejam com medo — Ariel murmura,
rabugento, dando uma olhada pelo canto dos olhos para o seu pai.
— Talvez elas saibam que se dependesse do pai delas, o avô
morreria sem conhecê-las — Ostem o rebate, mantendo sua
atenção em minha barriga.
— Elas estão felizes, é isso — falo rápido, me afastando dos
dois. — Ostem, por que não segue até o jardim? Pode ficar à
vontade, que eu já vou lhe servir uma bebida.
Sorrio para o senhor, o vendo retribuir o sorriso, balançando a
cabeça em positivo.
— Vou amar, Cris... Não se incomoda de eu te chamar assim,
certo? — Nego com a cabeça, segurando minhas flores, as
cheirando.
Vejo ele se afastar com o mesmo andar dominador do seu
filho. Suspiro, animada, cheirando minhas flores novamente, e
recebo uma encarada zangada de Ariel quando o olho.
— O quê? Eu gostei dele — falo em minha defesa
rapidamente. — Ele é um cavalheiro.
— Ele é uma múmia, Cristina!
— Uma múmia bem conservada, educada e charmosa. — O
abandono e caminho em direção à cozinha.
— Charmosa? Como assim?
— Seu pai é muito bonito, Ariel, e ele me deu flores. — Olho
por cima do ombro para ele.
— Eu lhe dou orgasmos e não ouço você me chamar de
charmoso.
— Cala essa boca cretina, Ariel! — Rio com sua forma
insultada. — Pegue um vaso para mim, quero deixá-las bem-
cuidadas.
Ariel passa por mim, se abaixa perto da pia e pega o cestode
lixo.
— Ariel... — rosno brava para ele.
— O quê? Me pediu um vaso, cesto de lixo serve também.
— Suma da minha frente, Ariel.
Fecho meus olhos, negando com a cabeça, indo eu mesma
buscar um vaso no armário. O encho de água na pia, deixando o
belo ramo de rosas dentro dele. Ariel abre a geladeira e pega duas
cervejas.
— Deixa que eu sirvo aquela múmia — ele fala sério, abrindo
uma delas e levando aos lábios, respirando fundo.
— Se comporte, doutor Miller. — Sorrio, olhando para sua
face descontraída.
— Está feliz? — ele pergunta baixo, dando um sorriso de
lado.
— Estou, estou muito feliz. — Paro à sua frente e recebo um
beijo em meus lábios.
— Ótimo, porque sua mãe está lá fora dançando colada com
o Brow — Ariel fala, rindo, cochichando para mim.
— Quantas cervejas ela tomou? — Fecho meus olhos,
respirando fundo.
— Algumas. Digamos que eu parei de contardepois da sexta
cerveja...
— Cristo! Vamos lá, antes que ela o agarre!
Ariel passa sua mão pelo meu ombro, nos levando para o
nosso quintal. Rio, balançando minha cabeça assim que vejo Brow e
minha mãe dançando colados. Greg, o detetiveamigo de Ariel, que
ele tinha me apresentado assim que recebi alta do hospital, está
rindo, conversando com o jovem Estence,o qual caiu nas graças de
Ariel, virando estagiário no escritório do doutor Miller. Isso aí, Ariel
rompeu com a sociedade da firma de Pietro e abriu seu próprio
escritóriode Direito Criminalista. Bete quase caiu da cadeira quando
me viu entrar no escritório ao lado do notório diabólico doutor Miller,
de mãos dadas, no dia que ele foi tirar seus pertences. Os olhos de
Malvina, que saia do elevador, entrando no escritório nesse
momento, pararam diretamentenas nossas alianças de casamento,
e mesmo que eu nunca tenho falado isso em voz alta, senti uma
leve pontada de felicidade ao ver as outras duas funcionárias
cretinas,que caçoaram de mim dentro do banheiro, ficarem de boca
aberta quando Bete gritou, eufórica, no escritório, assim que lhe
contei sobre as meninas.
Quem é a geladeira fria e cafona de quatro olhos agora?!
Greg gostou da ideia de vir morar em Sacramento, para
trabalhar junto com Ariel. E sabe quem procurou Ariel, dois meses
depois do seu julgamento, buscando seus serviços, mas foi
educadamentedirecionado a ir embora pelo infame doutor Miller? O
escroto do Stone Brat, quando misteriosamenteuma filmagem das
câmeras de segurança do motel foi vazada na internet,mostrando
Stone saindo do estabelecimentocom seu enteado no dia que a
mulher dele morreu, em um certo canal de um jovem aspirante a
advogado criminalista. Óbvio que Ariel negou ter alguma
participaçãonisso, e disse que não tinha ideia de como as filmagens
foram parar com Estence. Greg nem sequer se deu ao trabalho de
disfarçar a faceta dos três, apenas rindo quando os confrontei.
Depois de uma denúncia anônima, Renan Pener foi pego em
flagrante pela polícia dentro de um quarto de hotel em Nova York,
com uma acompanhante de luxo, que estava cheia de hematomas.
E para piorar a situação de Renan, ele estava em posse de oito
quilos de cocaína.O que não se encaixou nessa história, nem foi a
quantidade gigantesca de droga, mas sim a mulher, uma promotora
nova-iorquina, que ligou para Ariel, lhe contando sobre a prostitua
espancada por Renan, que a procurou. E o astutocriminalista fingiu
muito bem sua cara de surpresa, quando ela perguntou se ele não
estaria interessado em dar um pulo em Nova York e trabalhar nesse
caso junto com ela. Mas se não fosse pelo prazer que vi brilhar em
seus olhos azuis, quando Ariel retornou da audiência de Nova York,
garantindo um longo e penoso tempo da vida de Renan dentro de
um presídio, eu até podia ter acreditado em todas as coincidências
do destino e que não tinha um único dedo dele metido nessa história
toda. Renan foi espancado brutalmente no primeiro dia que
começou a cumprir sua pena, teve três costelas fraturadas, o
maxilar trincado e perdeu a visão de um dos olhos. E mais uma vez
Ariel fez bem seu papel, demonstrando surpresa, quando ficou
sabendo destes acontecimentos por Greg.
A última vez que vi Pietro foi quando recebi alta do hospital.
Ele não conseguia nem falar, estava completamenteabalado com
tudo que tinha acontecido. Me deu um longo abraço, dizendo que
sentia muito pelo que aconteceu. Tentei conversar com ele no dia
que fui junto com Ariel no escritório, mas ele se recusou a me ver.
Desconfio que Pietro ficou em choque quando entrou naquele
cômodo assustador dentro do quarto do irmão dele. O julgamento
de Max foi dois meses atrás, mas não tive coragem de ir. Porém,
Ariel fez questão de estar sentado na primeira fileira. Max pegou
vinte anos de cadeia, mas não chegou a completar nem três
semanas, foi encontrado enforcado com um cinto de couro dentro
da cela dele, com sua face roxa e língua cortada. Tive medo de
perguntar a Ariel se ele tinha alguma ligação com isso, mesmo
dentro do meu peito eu sabendo a resposta.
A verdade é que tentonão pensar sobre aquele dia, porém,
ainda acordo no meio da noite suada, como se eu estivesse sendo
enforcada outra vez. Mas são os olhos azuis de Ariel que me
acolhem, me tirando daquela imensa dor, me abraçando forte, até
eu me sentir segura e adormecer nos seus braços. Busquei ajuda
médica com uma psicóloga, para conseguir lidar com todos esses
traumas. Acho que nunca teria imaginado passar por tudo isso que
passei, e muito menos que seria no momento mais doloroso da
minha vida que meu destino se cruzaria com uma pessoa cruel. Da
mesma forma que no momento mais estapafúrdio conheci o homem
que mudaria minha vida para sempre. Foram-me apresentadas
algumas formas do que dizem ser amor em minha vida. O maléfico,
o tóxico, o que envenena a alma, o cruel, o frio, o perverso, o
intenso, o avassalador, o revigorante e o carinhoso. E foi apenas em
um deles que eu encontrei o que realmente é amor , e é nos olhos de
Ariel que me sinto viva e forte a cada dia.
— Eu amo você, doutor Miller — sussurro para ele, erguendo
meus olhos aos seus. Ariel abaixa seu rosto e beija a ponta do meu
nariz.
— Aprecio sua companhia, minha doce vênus.
Sorrio e encostomeu rosto em seu peito, olhando para nossa
famíliae amigos. Aliso minha barriga e suspiro feliz, me sentindo em
paz, e isso é um sentimento de amor.
O amor é bonito, brando, protetor, quente e acolhedor. Mas
se tem uma coisa que o amor não é, é doloroso e violento.

Fim!
Epílogo
Ariel Miller

— Prometi que nunca mais conversaria com você, nem lhe


pediria nada, porque você já me tirou tudo. — Passo as mãos pelo
meu cabelo, negando com a cabeça. — Apenas queria que me
dissesse o que eu fiz de tão mal, nessa porra da minha vida, para
merecer perder as pessoas que eu amo.
Respiro fundo e olho para a face frágil de Cristina, que está
ligada aos soros e eletrodos. Minha vida parou, meu mundo perdeu
a cor por esses sete dias que se seguem sem ela abrir seus olhos
para mim. Os médicos conseguiram estabilizar a pressão dela
apenas no quinto dia, a deixando medicada por um longo período.
Terei que deixá-la despertar sozinha, mas Cris não abre seus olhos,
apenas se mantém em um sono longo, que está a levando para
longe de mim a cada dia que passa. Eu fui ao céu quando recebi o
resultado que Cristina está esperando duas meninas, o que me fez
chorar de emoção;e caíao infernopor ela ainda não acordar. Tento
entender por que Deus fez isso comigo. Por que fez meu caminho
cruzar com essa mulher, que está gerando minhas filhas dentro do
seu ventre, apenas para tirar ela lentamente de mim, me castigando
por ser o grande filho da puta egocêntrico que sempre fui?!
— Eu sei que já fizmuitas coisas nessa minha vida que não é
de se orgulhar. — Abaixo meu rosto, sentindo meu peito ser rasgado
enquanto tudo vai quebrando à minha volta. — Não sou perfeito, e
entre todos seus filhos,devo ser o que o Senhor tem menos apreço.
Mas se não for por mim, que seja por ela. — Esmago minha boca,
sentindo a umidade em minha face, com a lágrima que rola por
minha bochecha, enquanto vou morrendo pouco a pouco. — Por
ela. — Fecho meus olhos e esfrego meu rosto, respirando fundo. —
Eu preciso dela, eu preciso de uma segunda chance... Preciso
dessa segunda chance. Por favor, não me faça passar por isso outra
vez, não me dê algo que traga cor e esperança para minha vida,
apenas para arrancar logo em seguida. Porque eu não tenho mais
forças.Se me tirar ela e minhas filhas,não vai me restar mais nada,
Deus.
Deixo meus cotovelos se apoiarem à cama, ao lado do seu
corpo, segurando sua mão entre as minhas. Me sinto fraco,
impotente, pequeno como uma criança que busca por colo. Sinto as
lágrimas ficarem mais fortes. O choro que tranquei por quatro anos
dentro de mim, depois da morte da minha filha, rompe de dentro da
minha alma. Trago sua mão entre as minhas, para perto dos meus
lábios, a beijando, fechando meus olhos, tentando compreender o
que eu fiz, o que eu pude fazer para não merecer uma segunda
chance de ser feliz, e dessa vez ao lado da mulher que eu amo e
das minhas filhas.
— Por favor, por favor...
Esmago minha boca, abaixando meu rosto, implorando para
Deus não me condenar outra vez a cair no inferno. Cristina chegou
em minha vida como um pontinho de luz de sol, que se infiltra pela
fresta de uma casa velha fechada e trancafiada há muito tempo. Me
fezquerer ver a luz do sol outra vez, sentir a quentura do calor tocar
minha pele, me fazer sair do breu no qual minha vida tinha se
transformado. E eu não quero voltar para lá, não quero viver no
escuro e saber que nunca mais a terei ao meu lado.
O gesto suave, um aperto leve, quase imperceptível em
minha mão, corre por minha pele como choques, descarregando
uma carga elétrica de vida em minhas veias. Ergo meu rosto e olho
na direção da sua face, encontrando o sentido da minha vida me
observando, tão delicada, frágil, arrancando batidas
descompassadas do meu coração.
— Graças a Deus, você acordou! — Fecho meus olhos,
sentindo a luz voltar para mim. Me movo rapidamente, levantando
da cadeira às pressas, libertando sua mão, inclinando meu corpo
sobre o dela, precisando senti-la em meus braços.
— Mãe, você tem que sair! — Cristina fala agitada, enquanto
minha sogra volta para perto da médica, batendo mais fotos. — Oh,
meu Deus, Ariel! Tire esse celular da mão dela!
Os olhos arregalados de Cristina se expandem quando ela
me encara, enquanto tentorespirar com calma. Aperto a mão dela
com firmeza.
— Ariel... Ariel, você está pálido. Vai desmaiar no meio da
cesárea das nossas filhas? — Nego com a cabeça, tentandonão
olhar na direção da médica, que está fazendo o parto das meninas.
— Oh, meu Pai, Cris! Elas estão vindo ao mundo... — Ergo
meu rosto, virando-o na direção da voz eufórica da minha sogra ao
mesmo tempo que Cristina.
O choro estridente se faz forte quando a médica retira a
primeira bebê, e aperto mais forte os dedos de Cristina, me
encostando na lateral da cama do quarto do hospital, sentindo meu
coração parar de bater. A médica passa minha filha para a
enfermeira, que a enrola em uma manta, e logo em seguida retira a
outra.
— Elas nasceram! — sussurro, virando meu rosto para Cris,
que está com sua face chorosa toda molhada de lágrimas.
— Oh, meu Deus, elas nasceram, Ariel! — Beijo sua testae
esfrego meu nariz no seu.
— Eu te amo, Cristina Miller. Te amo mais que tudo em minha
vida. — Uma lágrima rola pelo meu rosto, se juntando as dela, e seu
sorriso se expande em sua face.
— Obrigada por me dar o melhor presente da minha vida,
Ariel. — Sorrio para ela, beijando seus lábios.
— Não, meu amor, você foi o meu presente. Você foi a
melhor coisa que aconteceu na minha vida.
— Duas meninas saudáveis, mamãe e papai — a enfermeira
fala, alegre, fazendo com que eu me afaste de Cris, erguendo meu
rosto para minhas filhas.
— Cristo, elas são lindas... — Cristina sussurra, emocionada,
assim que a enfermeira arruma as meninas perto dela. — Oi, meus
amores, eu sou a mamãe... Aquele ali, babando em vocês, é o
papai.
Meus joelhos se dobram lentamente,e fico ao lado da cama,
com meu olhar nublado pelas lágrimas, admirando cada tracinho
delas. Ergo minha mão e tapo minha boca, sentindo uma emoção
imensurável me tomar, pelas duas vidas que estão ao lado de
Cristina. Estico meu braço e toco na mãozinha lambuzada de uma
delas, que chora. Sorrio, olhando para Cris. Inclino meu corpo e
deposito um beijo em seus lábios.
— Eu juro que sempre vou proteger vocês!

Cruzo meus braços em cima do peito, o estufando com


orgulho, olhando para o vidro do berçário enquanto admiro minhas
filhas deitadas nos berços, uma ao lado da outra. O sorriso bobo
permanece em minha face desde o segundo que eu saí da sala,
sendo direcionado pela enfermeira a vir para cá. Já faz quase duas
horas que estou parado na frente da vidraça, encantado, olhando
minhas filhas. O som da respiração pesada ao meu lado, me faz
girar meu rosto para o desembargador, que está calado, com seus
olhos presos nas meninas. Estava tão absorto em contemplá-las,
que nem notei a presença do meu pai.
— Obrigado! — ele murmura, soltando o ar lentamentedo
seu peito, mantendo seus olhos nas meninas.
— Agradeça à Cris, ela me obrigou a te avisar — respondo,
retornando minha atenção para o berçário, tendo um sorriso de
orelha a orelha a cada segundo que olho para elas.
— Obrigado mesmo assim — meu pai fala calmo, levando
sua mão ao bolso da calça, se aproximando do vidro. — Deus, elas
são lindas...
— Claro que são lindas, são minhas filhas. — Dou um passo
à frente, ficando lado a lado com ele, sem conseguir desviar meus
olhos delas.
— Se lembre que sua genética é a mesma que a minha,
então, de nada! — Fecho meus olhos e balanço a cabeça em
negativo ao ouvir a provocação dele.
— Você não vai me irritar hoje. Nada que falar vai conseguir
me fazer sair do sério — falo firme, tendo tantoorgulho das minhas
filhas, sorrindo com alegria para elas.
— Eu estava errado, meu filho.
Meu sorriso morre lentamente. Giro meu pescoço devagar,
olhando para meu pai, que me encara sereno.
— Não me diga que está morrendo e veio justo aqui, nessa
maternidade, querendo algum tipo de perdão, para poder fazer sua
passagem em paz...
— Não! Para seu desgosto, saiba que minha saúde está
excelente. Nunca estive me sentindo tão bem como agora.
Arqueio minha sobrancelha, estudando a velha raposa astuta
e ardilosa que é o desembargador.
— Está emocionado ou está passando por algum tipo de
menopausa da terceira idade? Porque, realmente, não me recordo
quando foi a última vez que você me chamou de filho,
desembargador.
— Você tinha dezesseis anos na última vez que me chamou
de pai — ele me responde baixo, balançando a cabeça para os
lados. — Me recordo disso até hoje, foi quando você partiu para o
reformatório.
— Eu não parti, você me obrigou a ir embora e me fez me
referir a você com títulos jurídicos.
— Achei que seria o melhor para você, Ariel. Eu sabia do seu
potencial, sabia que precisava passar por aquilo para se tornar
homem.
Fecho meus olhos e nego com a cabeça, esmagando minha
boca.
— Eu tinha dezesseis anos, era um garoto que estava
aprendendo a lidar com a vida. Um erro, eu cometia porcaria de um
maldito erro, e você me sentenciou a seis meses em um
reformatório! Você não deixou nem a minha mãe ir me visitar...
— Mas eu fiz aquilo pensando ser o melhor para você. Você
precisava saber que toda ação tinha uma consequência.
— Oh, não vem com essa! Eu cometi um erro que qualquer
adolescente comete. Eu precisava do meu pai ao meu lado, e não
da porra do juiz Miller me sentenciando.
Quero gritar com ele, chutar seu rabo para bem longe de
mim. Eu era um adolescente besta, tinha pego seu carro às
escondidas e ido para um show em outra cidade. Quando estava
voltando, fui parado em uma blitz. Meu pai tinha dado queixa de
roubo do seu veículo,mesmo sabendo que tinha sido eu a pegar a
merda do carro.
— Eu sempre fui o seu pai. Até naquele momento, quando
bati o martelo, eu estava ali, na sua frente, como o seu pai.
— Não, quem estava lá era o juiz Miller. E você, no fundo,
realmente desejava que eu fosse aquele merda inútil que você
sempre me julgou ser, mas você estava errado, eu criei minha vida
sozinho, fiz meu nome indo para bem longe de você. E pode até
achar que eu sou um inútil por não ter conseguido cuidar da minha
própria família, por não ter protegido a minha filha...
Viro meu rosto para o berçário, respirando fundo, sentindo
toda raiva partir assim que as vejo.
— Eu vou protegê-las, vou amar aquela mulher cada dia da
minha vida, e nada do que você pensa sobre mim vai me fazer
fracassar.
— Eu sei, e eu tenho muito orgulho de você por isso. Tenho
orgulho do homem que você se transformou, do esposo que é, sinto
orgulho do pai que você foi para Dolly e do pai que você será para
as minhas duas netas. Por isso, volto a dizer, eu estava
completamente errado.
Ouço sua voz ficar baixa, com a longa respiração dele sendo
solta. Meu pai e eu somos fluentes com as palavras, em
conversações, diálogos, palestras e argumentos, menos quando
temos que nos comunicar entre nós dois.
— Eu errei por ter sido duro com você. Errei ao sempre exigir
o máximo de você, até isso lhe transformar em uma cópia minha, e
me odiei por ter lhe afastado de mim. — Sua voz falha e ele respira
fundo, soltando o ar lentamente.— E a única coisa que posso dizer
é que sou grato por você ser muito melhor do que eu. Será um bom
marido, um excelente pai, muito melhor do eu fui para você, e muito
melhor do que o meu pai foi para mim. Você é o maior orgulho da
minha vida, Ariel.
Viro meu rosto e olho para ele, enxergando o sorriso em sua
face enrugada enquanto admira suas netas.
— Elas vão gostar de ter você na vida delas — murmuro para
ele. Meu pai ergue seu braço e bate em meu ombro.
— E eu vou amar estar na vida delas e na sua. — Ele sorri,
falando baixo. — Elas se parecem comigo. — Ele vira sua face para
mim, me dando uma piscada.
— Não exagera, pai — o respondo debochado, ouvindo a
gargalhada alta que ele solta.
Meu pai me puxa para um abraço, dando leves tapinhas em
minhas costas.
— Parabéns, meu filho!
— Obrigado, pai. — Correspondo ao seu abraço, o apertando
forte. Me afasto dele e balanço minha cabeça em positivo, sorrindo
para o velho, nos virando de frente para as meninas.
— Já sabem quais serão os nomes delas?
— Já. — Sorrio, erguendo meu dedo e apontando para a
esquerda. — Aquela é Merediti. — Desvio meu dedo para a direita,
olhando para ele. — E essa é a Sofia. — Cris e eu passamos os
últimos meses da gestação decidindo quais seriam os nomes das
meninas, e amamos Merediti e Sofia.
Meu pai respira fundo, ficando em silêncio, olhando para elas.

— Eu nunca vou cansar de lhe agradecer.


Giro meu rosto e desvio meus olhos das minhas filhas, que
estão adormecidas, cada uma amparada por um dos braços de
Cristina, comigo sentado ao seu lado na cama da maternidade,
admirando minhas meninas.
— Sobre o quê? — sussurro para ela, esticandominha mão e
alisando sua face tranquila.
— Por ter me dado os melhores presentes de aniversário de
toda minha vida, doutor Miller — Cris murmura, sorrindo, virando
sua face e dando um beijo em minha mão, que alisa sua bochecha.
— Por ter entrado em minha vida.
Inclino meu pescoço e me aproximo do seu rosto, deixando
nossos olhos na mesma altura.
— Você que foi o meu presente, Cris. Um dos melhores
presentes que eu recebi em minha vida, babá McPhee. — Dou um
beijo em seus lábios, sorrindo ao ouvir os sons manhosos das
pequenas em seus braços. Me afasto dela e volto para a minha
posição ereta, sentado ao seu lado, esticando meu braço por cima
do seu ombro e alisando a pequena cabecinha de Merediti.
Cris suspira, recosta sua cabeça em meu peito e segura o
dedinho de Sofia, que corresponde e aperta firme o polegar da mãe.
Sorrio para minhas meninas, sentindo uma paz que há muito tempo
eu não sentia. Minhas três chances de ser feliz: Cristina, Merediti e
Sofia. Tive que ir do céu ao inferno para, enfim, poder ter minha paz
ao lado delas.
— Eu amo vocês, amo muito todas vocês. — Beijo a cabeça
de Cris, respirando com força, tendo o que mais importa em minha
vida junto comigo.
— A gente também te ama muito, Ariel.
Agradecimentos

Muito obrigada à Cristina e Ariel, que me deram a honra de


poder contar suas histórias, que são tão comoventes quanto
apaixonantes. Obrigada a todas as noites em claro, a cada segundo
que eles tagarelavam dentro da minha cabeça, não silenciando até
o último ponto final.
Obrigada a todas as colaboradas que ajudaram a enriquecer
essa obra, minhas revisoras e capista. Obrigada às minhas
meninas, que amo de paixão e que sempre estão ao meu lado:
Halana Oliveira e Janaina da Silva.
Meu muitíssimo obrigada eterno para minha doçura de
pessoa, Val Gonçalves, a qual não me canso de agradecer.
E obrigada a você, maravilhoso leitor, por se permitir
embarcar nessa história!
Outras obras:
Primeira série:

KATORZE - LIVRO 1
PAOLO A RENDIÇÃO DO MONSTRO - LIVRO 2
PAOLO O DESPERTAR DO MONSTRO - LIVRO 3

ATENÇÃO:contém cenas eróticas e gatilhos que podem gerar desconforto. não


indicado para menores de 18 anos.

Quando um pesadelo deixa marcas. Quando em um dos piores momentos,


nasce uma luz para guia-la. Quando ela se apaixona por seu algoz e finalmente
tudo está na mesa, o desejo carnal e selvagem se revelam. Mas a ferida agora,
está aberta.
Vocês irão odiá-lo, cobiçá-lo e até mesmo deseja-lo. Conheçam Daario Ávila e
embarquem em uma aventura na Espanha, regada de erotismo e reviravoltas
de tirar o fôlego. Será que o príncipe encantado, pode se tornar um pesadelo?

Criado como um animal de estimação desde criança, entre a sarjeta e os


abatedouros da fazenda Ávila, Paolo se tornou o cão de ataque perfeito de
Joaquim Ávila, um animal feroz, sem remorso, sem empatia. Moldado pela dor
e degradação, é uma alma condenada e vazia, que sente gosto de liberdade
quando sua coleira invisível é quebrada. O destino, contudo, o leva, entre a
vida e a morte, pelas as águas turbulentas do rio, até os cuidados da pequena
Yara.
Em um ímpeto de desespero pela morte que o chama em seu leito, Yara
faz de tudo para salvá-lo, até o que não deve. A pequena boneca solitária só
não sabia que quem ela salvava não era apenas um forasteiro com faces
tristes, mas sim um monstro que traz em seus olhos tanta morte quanto o cano
do seu .38.
Yara entende de monstros. Teve seu caminho cruzado por um, que a
deixou marcada para sempre. Mas ali, diante da face do mal encarnada entre
os olhos marrons daquele forasteiro, que traz uma dor tão antiga, não é medo
que sente, mas sim sua luz, que se liga à escuridão dele.

Tudo nessa vida tem um preço, e Yara sabia disso quando salvou a vida
do monstro que entrou em seu caminho. Tendo que escolher entre o homem
que amava e os frutos dessa paixão que cresciam em seu ventre, partiu,
deixando-o sem olhar para trás. O que ela não sabia é que sua magia deixou
rastros, e agora algo muito pior vêm atrás dela.
Seu mundo desaba quando suas filhas são levadas por um mal maior, e
o destino brinca com a pequena bruxa, colocando-a frente a frente com o
homem que tanto assombrou suas lembranças por longos anos.
O monstro se perde assim que seus olhos pousam na pequena mulher
solitária que vê em seus sonhos, e que agora está em carne e osso na sua
frente. Algo dentro de Paolo desperta, puxando-o para ela cada vez mais, sem
entender o que os liga.
O Cão e a Bruxa estão de volta em mais uma batalha.
Yara lutará com toda sua força para ter suas filhas de volta. No meio da
sua jornada, precisará mostrar ao monstro o poder e a força da magia do amor,
e encarar a ira de cinco anos longe dos olhos tão sombrios quanto o portão do
inferno.
Poderá o cão de caça perdoar a bruxa que o jogou no limbo por cinco
anos, sem despertar o monstro que habita nele?
Um inimigo antigo uniu os irmãos Ávilas em uma derradeira vingança.
Daario e Paolo juntos, lado a lado, abriram as comportas do inferno, trazendo
carnificina e sangue para aqueles que machucaram suas famílias.
A cada percurso da caçada, em uma busca cruel e implacável pelas suas
mulheres, os monstros estavam famintos por morte e justiça, fazendo aliados
poderosos e alianças inquebráveis, deixando um rastro de corpos por onde
passavam.
A pequena bruxa Yara encontrou forças para lutar pela sua sobrevivência e
do seu filho quando a destemida pantera Katorze cruzou seu caminho de uma
forma inesperada. As duas mulheres traziam fé em seus corações de que seus
monstros iriam libertá-las, afinal nem todo predador é fatal, mas todos os
monstros Ávilas criados pelo cruel Joaquim são assassinos.
História e conto Irmãos Falcon
Recomendando para maiores de 18 anos
Este livro contém descrição de sexo explícito e palavrões

Doty só queria uma coisa:achar o miserável que engravidou Tifany e chutar seu
rabo até Dallas.
A única coisa que Joe queria era dobrar o demônio de olhos negros que o tirou do
sério, fazê-la pagar por sua língua afiada e boca suja.
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Sete dias!
E tudo foi para os ares!

Bem-vindo à Arena

Billi tinha traçado seu destino, já não era mais o menino delinquente, tinha se
transformado em um homem, foi atrás do seu sonho e criou seu mundo em cada
touro que montou aos 32 anos.
Arena Ranger lhe trazia apenas um desejo, o grande touro Asteroide 8 segundo
que valeria sua carreira, mas o pequeno cometa que cruzou seu caminho. Fez o
Cowboy mudar seus planos.
Únicos

ATENÇÃO:CONTÉM CENAS ERÓTICAS E GATILHOS que podem gerar


desconforto. NÃO INDICADO PARA MENORES DE 18 ANOS.
Se me perguntarem se já era amor desde o início, garanto-lhe
com as minhas palavras salgadas pelas lágrimas que sim. Eu já o
amava antes do princípio, assim como no meio e fim. Nosso amor
mórbido e louco nos unia em nossa agonia chamada vida.
Se existia um inferno, eu iria para lá por ele, pois onde mais
dois pecadores poderiam descansar suas almas negras manchadas
pelos pecados da carne? E então, eu fui. Joguei-me de cabeça em seu
mundo. Conforme trazia Ben para mais perto de mim a cada sonho, a
cada parte dele que eu salvava, uma parte minha ficava presa em
seu labirinto. Em meu peito, onde batia um coração de uma menina
apaixonada, não importava em quantos pedaços eu teria que destruir
minha alma para salvá-lo, pois a loucura que o habitava era a mesma
que tinha morada fixa em meu coração.
Lizandra, essa sou eu, ou a sombra de quem eu fui um dia.

ATENÇÃO:CONTÉM CENAS DE SEXO E LINGUAJAR INAPROPRIADO PARA


MENORES DE 18 ANOS
Zelda estava preparada para tudo em sua vida:uma híbrida latino Afro-Americana
com sangue quente que desejava apenas ter uma chance para mostrar que não
veio ao mundo para brincar. Queria um lugar ao sol entre as indústrias de
construção civil. O que ela não imaginava, no entanto, ao aceitar o estágio na
Indústrias Ozbornes, era que, junto com a porta do seus sonhos ao mundo do
negócios, também se abriria a porta dos desejos e fantasias quente como o
inferno:seus dois chefões em ascensão.
Quatro mulheres desesperadas por apenas uma noite de folga e por um segundo
de descanso ganham, misteriosamente, um sorteio relâmpago de rádio, que tem
como prêmio uma estadia nas suítes luxuosas do novo hotel da pacata cidade.
Cada uma tem sua história e seus segredos, mas todas trazem uma coisa em
comum:desejos reprimidos.
O Dia das Bruxas nunca mais será o mesmo para elas.
Não deixem de perder essa deliciosa noite de Halloween, principalmente se for
uma menina malvada.

Handrey, junto com seu irmão Jonny, participava ativamente de um grupo


de neonazistas violentos, pregando a supremacia branca. Seu destino mudou ao
encontrar o corpo do seu irmão junto a um homem negro dentro do seu
apartamento, ambos sem vida. Ele nutriu apenas ódio e autodestruição por
catorze anos, jogado dentro da penitenciária federal, almejando apenas uma
chance de descobrir quem era o verdadeiro assassino do seu irmão. Sua chance
veio acompanhada de um pro bono misterioso, que lhe deu sua liberdade
provisória.
O homem passou a ver as coisas de uma maneira diferente ao se deparar
com Eme, uma stripper negra que o levou a questionar uma doutrina de uma vida
inteira. Ele já não se sentia mais à vontade com o grupo neonazista.
Quando corpos mutilados de mulheres negras e imigrantes começaram a
aparecer pelas ruelas do porto, assombrando todas as garotas de programa ao
descobrirem que tinha um assassino em série que matava por esporte, Handrey
percebeu que mais alguma coisa tinha escapado junto com ele do esgoto imundo
que era seu passado.

Dylan Ozborne sabia que a pior época da sua vida era dezembro. Ainda
não acreditava que seu irmão havia o obrigado a ser o Papai Noel para o evento
beneficente.
Elly poderia ter sido a boa menina o ano inteiro, mas deixou para ser a menina má
justamente três dias antes do Natal, indignada com o nada bonzinho e muito
menos velhinho Noel. Então resolveu se vingar do tirano e por fim lhe dar uma
lição que nenhum

Sedrico Lycaios, mais conhecido pelas noites quentes regadas às


promiscuidades de Chicago, como uma divindade do prazer, é proprietário do
clube peculiar, nada ortodoxo e, sim, envolvente e pecaminoso:a Odisseia, onde
proporciona todas as experiências desejadas por seus clientes, para aplacar seus
prazeres mais obscuros. Mas, como todo semideus, Dom Lycaios tem sua
fraqueza, e é entre as paredes do seu templo da perdição que se vê sendo
fisgado pela doce inocência de Luna, a dançarina exótica, tão silenciosa e
misteriosa, que o prende a cada movimento do corpo dela. Uma perfeita sugar
baby, que desperta o interesse do sugar daddy que ele traz aprisionado no canto
mais obscuro do seu ser. Luna não tem chances para escapar das manobras do
implacável homem, que a envolve em suas teias de aranha. Afinal, o prazer
sempre fora o maior império de Sedrico.

Um amor além do tempo, do universo, do grande desconhecido. E se nada fosse


o que realmente é? E se entre seu mundo tivesse outro, onde magia e realidade
se chocassem? Onde uma maldição foi imposta, obrigando um príncipe do
submundo a enxergar com outros olhos a raça que ele julgava a mais inferior de
todas. Onde fosse condenado a vagar por eras e eras em busca de uma estrela
solitária.
E se nada fosse o que é?
Maria Eloiza estava acostumada com a batalha diária que a lavoura tinha e
com o esforço sobre-humano que seu trabalho lhe trazia. Seguia batalhando mais
uma vez, atrás de outra usina, dando graças a Deus quando essa apareceu, mas
nunca imaginou que o canavial lhe traria mais do que já estava acostumada a ter,
até se perder nos olhos mais verdes que as plantações de cana.
Pedro Raia trazia o legado de sua família junto com ele. Mesmo
renunciando aos sonhos que tinha, aceitou voltar para casa quando foi
convocado, cuidando de perto de cada um que entrava em suas terras, pois
nunca foi de ficar dentro de quatro paredes. Sua paixão pela terra era antiga,
desde menino trabalhava na lavoura. Gostava da terra em suas mãos, sabendo
que era dali que vinha toda sua essência. Mas sua vida mudou quando, entre
mais uma remessa de boias-frias, a pequena cabocla, com olhos assustados, lhe
mostrou o mais puro brilho de sua alma. Dois mundos, que andavam entre linhas
finas, se chocaram. A realidade de um contra a vida do outro.
A vida sempre foi puxada para Maria Rita, fazendo-a se tornar o alicerce da
sua casa e a moldando para ser a presença materna e paterna para suas irmãs.
Não é de riso fácil, e muito menos de ser dobrada por homem, mas algo muda em
sua vida quando seus olhos se cruzam com o peão chucro, Zeca Morais. Ele fará
de tudo para laçar a mulher endiabrada, que faz seu coração disparar. Um amor
nasce sem freios entre os dois em meio aos cafezais. E juntos terão que enfrentar
um grande inimigo, que fará de tudo para acabar com a vida de Zeca Morais.

Yane Rinna tem sua vida mudada da água para o vinho quando se torna
testemunha principal de um assassinato. Ela se vê obrigada a entrar em um
disfarce para garantir sua segurança até o dia do julgamento. E de uma stripper
desastrada, inteiramente azarada, se torna uma freira monitora de quatro
adolescentes rebeldes. O que ela não imagina é que no último lugar que poderia
sonhar, o amor e o desejo puro estarão no ar. Dener Murati, o vizinho aristocrata
do convento, tem seu autocontrole testado por uma fajuta freira sexy, nada santa,
que invade sua residência para se refrescar na calada da noite, pelada, em sua
piscina. A pequena feiticeira que o encanta vai virar sua vida meticulosamente
organizada de cabeça para baixo.

[1] O crime do “colarinho branco” encontra-se relacionado a fraudes, uso de


informações privilegiadas, subornos e outras atividades praticadas principalmente
por pessoas instruídas culturalmente e financeiramente, e que, muitas vezes,
detêm de cargos políticos ou possuem influência no governo. O termo “colarinho
branco” possui essa designação por fazer referência às pessoas instruídas e
influentes que geralmente vestem terno e camisa social, dessa forma, uma
caracterização atípica do que geralmente se tem de um criminoso.
[2] O Mai Tai é um coquetel à base de rum, licor de curaçao, xarope de orgeate e
suco de limão. É um dos coquetéis quintessencial da cultura Tiki.
[3] Uma pessoa que só faz o que quer, sem se preocupar com a opinião dos
outros.
[4] Sanduíche de uma rede de lanchonetes.
[5] Uma rede de lanchonete, que vende lanches por comprimentos.
[6] É uma condição na qual uma pessoa está excessivamente e indevidamente
preocupada em ter uma doença grave.
[7] A ninfomania, também chamada de desejo sexual hiperativo, é um transtorno
psiquiátrico caracterizado pelo excesso de apetite sexual ou desejo compulsivo
por sexo.
[8] Chamado primeiramente de "contrologia", o pilates é um tipo de atividade
física que busca o controle dos músculos do corpo, fortalecendo a musculatura e
melhorando seu tônus, além de conferir maior flexibilidade ao corpo.
[9] É uma medida, um número que expressa a capacidade intelectual de um
indivíduo com base em critérios de referência e comparações, estabelecendo uma
relação entre sua idade mental e cronológica.
[10] Nanny McPhee é um filme de 2005 baseado na personagem Nurse Matilda,
de Christianna Brand.
[11] Victoria's Secret (em português: "Segredo de Victoria") é uma marca de
lingerie e produtos de beleza fundada em 1977 por Roy Raymond.
[12] É um personagem de ficção da literatura britânica criado pelo médico e
escritor Sir Arthur Conan Doyle. Holmes é um investigador do final do século XIX
e início do século XX.
[13] Réu Primário é o termo utilizado no direito penal para determinar os
acusados que nunca foram sentenciados anteriormente.
[14] Registro de entrada.
[15] É uma medida jurídica para proteger indivíduos que estão tendo sua
liberdade infringida, é um direito do cidadão.
[16] Ou treinador pessoal, é um profissional da área de Educação Física que atua
com seus clientes de forma individualizada, elaborando e supervisionando
treinamentos físicos específicos para cada um.
[17] O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é um distúrbio de ansiedade
que se manifesta em decorrência de o portador ter sofridos experiências de atos
violentos ou de situações traumáticas.
[18] É uma marca italiana de moda, considerada um símbolo de luxo e status. Foi
fundada em 1913 por Mario Prada. É especializada em bolsas de couro,
acessórios de viagem, sapatos, perfumes e outros acessórios.
[19] Significa o modo de agir e, no mundo jurídico, é a expressão utilizada para
caracterizar a forma peculiar que um criminoso (ou vários) tem de agir.
[20] É um exame que avalia a mucosa do intestino grosso, sendo especialmente
indicado para identificar a presença de pólipos, câncer intestinal ou outros tipos de
alterações no intestino, como colite, varizes ou doença diverticular.
[21] Recursos humanos.
[22] Rolex S.A. é uma empresa suíça fabricante de relógios de pulso e
acessórios com sede em Genebra, fundada em 1905 por um alemão, Hans
Wilsdorf. É considerada por muitos como um símbolo de status social.
[23] Relativo ao comércio feito por atacado ou o que compra em grandes
quantidades os artigos de sua especialidade e os revende igualmente por lotes
aos comerciantes do varejo (diz-se comerciante). Aqui ele quis dizer que o vinho é
barato e de qualidade ruim.
[24] Atenuante é aquilo que torna menos grave, mais tênue.
[25] É um ator, produtor de cinema e artista marcial norte-americano.
[26] Blade é um filme de terror norte-americano de 1998, dirigido por Stephen
Norrington e escrito por David S. Goyer. Baseado no super-herói da Marvel
Comics de mesmo nome, é a primeira parte da série Blade.
[27] O termo significa “acertar alguém na cabeça”. Para um jogador de FPS, fazer
um headshot é como marcar um gol na gaveta.
[28] O termo emprestado da computação, descreve um erro do próprio jogo. Um
personagem ficando preso em uma parede, por exemplo.
[29] Jogador.
[30] Dar match. Match é uma palavra em inglês que pode significar “combinação”,
então a expressão “dar match” seria o mesmo que combinar, formar um bom par
com alguém.
[31] Gloria.
[32] Uma premiada cantora, compositora, atriz, produtora, supermodelo e
empresária norte-americana. É considerada pela crítica musical como a melhor
cantora de todos os tempos.
[33] Quando o sexo oral é executado, são a base do corpo do pênis e os
testículos que recebem estímulos pela fricção com os seios, sendo a glande
estimulada pela boca. Essa prática é também conhecida como "espanhola" em
países como Itália, França, Portugal e Brasil.
[34] Jack, o Estripador (em inglês: Jack the Ripper) é o pseudônimo mais
conhecido para designar um famoso assassino em série não identificado que
atuou na periferia de Whitechapel, distrito de Londres, e arredores em 1888.

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