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PERIGOSAS NACIONAIS

Nana Simons
1º Edição – 2019

Copyright © 2019 Nana Simons


Todos os direitos reservados.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Revisão: Hellen Caroline


Capa: Natalia Saj

PERIGOSAS ACHERON
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Dedicatória
Para todas que amaram Rubi, Teresa e
Paola Bracho.
Para todas aquelas que mesmo em segredo,
adoram pequenas mentiras. Afinal, elas nunca
fizeram mal a ninguém.

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Nota da Autora
Não se amargurem pela Aya, ela é um
pedaço de sentimentos que todas nós temos por
dentro, mesmo que uma fração. Ela tem atitudes
que nós gostaríamos de ter coragem para fazer em
alguns momentos e ela carrega uma ousadia que
nós mantemos escondida para não causarmos
problemas. Ela é a mulher sexy que nós deixamos
escondida e só permitimos que saia em pequenas
ocasiões. Ela não tem medo, não tem escrúpulos e
se você quiser, ela não tem moral.
Ela é tudo o que você quiser que ela seja.
Ela é a vilã que todas as mocinhas
detestam.
Ela é na verdade... a mulher mais absurda
que já viveu na minha mente.
Ela é sem dúvidas, a pessoa que eu mais
amei escrever.
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Dê a chance de conhece-la até o fim, afinal,


nem tudo é o que parece ser.

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Prólogo
CIDADE DO MÉXICO

"Ela é a mais bonita do bairro


A que por andar nas alturas não volta mais para
baixo
Não encontra futuro porque nega seu passado
e foi seguindo o rumo de um caminho errado.
Minha espinha dorsal
Minha dor de cabeça
Minha debilidade
Minha morte e minha fortaleza
minha fatalidade
Ela me levou para o céu, mas fui crucificado
Ela não vai à igreja para pagar seus 30 mil
pecados
Seu coração só pertence a um lado
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Assim é ela..."
Aaron Diaz, teresa

— Puta merda, olha aquela deusa — era o


quarto homem que dizia algo desde os poucos
segundos que ela passou por aquelas portas.
Quando ela entrou, todos os olhos no bar
foram para ela. Até então, meu foco era total na
minha companheira daquela noite, mas isso mudou
devido à ela.
Ela olhava ao redor como se ninguém ali
fosse digno dela, e eu concordava. Eu nunca tinha
visto uma mulher tão bonita como aquela.
Recostei-me e segurei meu copo mais firme,
disfarçando o fato de que minha boca quase foi ao
chão, salivando pela bela mulher.
Não era apenas a aparência, mas sua
atitude, a forma de andar, o jeito que parecia tão
confiante e segura de si.
Seus olhos tinham uma maquiagem forte
em volta, um preto que realçava seus olhos, e de
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longe eu podia ver que eram verdes. As águas de


uma ilha paradisíaca não faziam jus a eles.
Que rosto. Que corpo. Que energia. Que.
Mulher.
Foi preciso todo o esforço que havia em
mim para não agir, para não a emboscar e fazer
com que fosse minha. Meu corpo estava inquieto
desde que apareceu, minha cabeça girava em torno
dela e minhas mãos coçavam para alcançar um
pedaço da pele suave.
Eu estava enfeitiçado como cada maldito
homem naquele lugar.
A mulher ao meu lado puxou minha
atenção de volta para si, furiosa por ver que até eu
me liguei à bela loira que acabara de entrar. Não
havia um par de olhos masculino que não estivesse
preso a ela. Eu sorri para a morena incrível que me
encarava com uma sobrancelha arqueada,
esperando por um pedido de desculpas. Mas ela me
conhecia, sabia que não ia ter um.
Segurei sua mão e dei um beijo, então a
soltei e voltei a olhar a loira.

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O cabelo brilhava como fios de ouro, com


alguns cachos grossos nas pontas que os faziam
pular a cada passo que ela dava. Era tão comprido
que quase alcançava sua cintura.
As pernas levemente bronzeadas estavam à
mostra, e a saia do vestido preto alcançavam a
metade das coxas malhadas, subindo um pouco
mais. Os seios se destacavam em um decote com
babados, e o colar de pérolas preso ao pescoço dava
um ar delicado. Ela parecia poderosa no par de
saltos pretos incrivelmente altos, confortável
consigo mesma, e eu tinha certeza que ela estava
bem ciente do efeito que causava ao redor. Eu só
queria dobrá-la sobre a superfície mais próxima e
me perder nela.
Ela sorriu quando chegou perto do balcão
elegante do bar de luxo e abriu os braços, então
uma outra mulher se aproximou e a abraçou. Eu
desejei ser aquela mulher com todas as fibras do
meu ser. Seu sorriso era perfeito e a sobrancelha
fina, com uma curva no final, lhe dava um ar de
arrogância e eu gostei ainda mais dela por isso.
A loira parecia feliz, e as duas conversaram
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por breves minutos, então eu enrijeci, a assistindo


sair pela porta, e parecia que estava vendo em
câmera lenta ela fazendo seu caminho para fora, se
perdendo pela multidão.
Eu sabia que nunca mais ia vê-la e me
arrependi imediatamente de não ter ido atrás.
Engoli em seco e olhei em volta, me certificando de
que eu não era o único desesperado para olhar um
pouco mais a deusa que estava ali há poucos
segundos.
E realmente, eu não era. Nem de longe.
Olhei para frente finalmente, e a morena
pegou sua bolsa, bufando para mim.
— Você é pior do que dizem. Adeus.
Eu sorri para suas palavras e fechei os
olhos. Meio bêbado, meio desgovernado, mas
sabendo que a morena tinha razão em me achar pior
do que ouviu falar.
Pensei na loira.
Ela não tinha culpa de ser tão irresistível.
Mas mesmo sem conhecê-la, eu sabia que
ela fazia estragos por onde passava.
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Capítulo 1
"Não sou uma mulher das que acreditam,
que entendem o que é se sentir bem ou mal
Nunca terei as palavras para dizer coisas sem te
machucar
Sei que não é fácil fazer o que quero sem me
importar
Mas é parte de mim
Não me entenda, só me ame
Porque santa eu nunca fui"
Anahi, santa no soy

— Aya, o que você achou do manuscrito


que Jhona Nozi enviou?
Eu nem tirei os olhos da revista para
responder.
— Achei mais do mesmo de sempre. Mas
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gostei de Cezar Trolin.


— Eu digo que estamos conectadas via
cérebro. Sempre digo isso!
— Pensou o mesmo? — perguntei com
uma risada.
— Sim! Jhona é muito boa e fizemos bem
em publicar a primeira série dela, mas os livros que
ela tem mandado são sempre os mesmos. Parece
que só muda os nomes dos personagens e o título.
— Como muitos autores, ela se acomodou
— concordei. — Viu que deu certo a primeira, e
insistiu em continuar escrevendo praticamente a
mesma coisa nas seguintes.
— Foi o que eu pensei. — Ela deixou de
olhar a tela do computador e me fitou. — O que
está olhando aí?
— Vem ver isso — chamei. — É Mirian
Florez. Ela deu uma entrevista.
Ela arregalou os olhos e se aproximou,
olhando para onde eu apontei.
— Ai, meu santinho! Eu pensei que fosse
sair só na próxima semana!
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— Eu também. E ela nos citou.


— MEU DEUS! Deixe-me ver!
Eu dei risada de seu desespero.
— Se acalme! As letras não vão sair do
lugar.
Gabi me ignorou completamente e
praticamente arrancou a revista de minhas mãos,
buscando seu nome fervorosamente. Mirian Florez
era alguém especial para nós. Começou como uma
pequena autora independente, desconhecida ao
público grande e com apenas uma dúzia de leitoras
fiéis. Nos enviou seu manuscrito sem inflamar o
próprio ego como muitas faziam, citando os
prêmios que havia ganhado, quanto vendeu em
sites, sozinha, ou como era boa no que fazia. Ela
simplesmente se apresentou como alguém que tinha
um sonho e não ia parar até conseguir realizá-lo.
Foi lá que ela me ganhou. É claro que todo
o conjunto da obra e sua escrita eram o principal e
fundamental, mas ninguém quer publicar uma
autora que não é boa pessoa, e isso, Mirian era de
sobra. Humilde, amorosa e generosa, não importava
que tivesse passado a ser uma das maiores. Para
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ela, ela sempre seria a escritora que escrevia atrás


de um sonho em seu computador velho, que
precisava dividir com o marido, que também o
usava para seu trabalho como contador.
Eu estava orgulhosa demais dela. Eram
naqueles momentos que eu me lembrava e caía a
ficha de como meu trabalho era importante. O
sonho de tantas pessoas estava na minha mão,
apenas esperando o meu sim ou meu não. Eu podia
levá-los ao céu ou ao chão, tudo dependia do que
eu decidisse. É claro que nem tudo eram flores e
tinham dias que eu recebia e-mails tão absurdos
que respondia com pressa para me livrar logo, mas
fazia parte. No fim do dia, pessoas como Mirian me
faziam felizes da minha posição.
Gabi terminou de pirar ao meu lado e
voltou para sua mesa cantarolando, feliz de ter sido
mencionada na entrevista como uma das pessoas
que fizeram parte do sucesso de Mirian.
Eu sorri para minha assistente louca e
deixei a revista de lado também.
— Somos incríveis, Aya. — Ela apontou
para mim com todo o foco. — Você! Você é
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incrível!
— Eu sei, mas pare de inflar meu ego.
— É verdade! Você tem um olhar mágico
para reconhecer gente talentosa, trabalha feito uma
maluca e ainda tem tempo de cuidar do cabelo. Ele
sempre está tão lindo!
Eu joguei a cabeça para trás, rindo.
— Você faz maravilhas à minha
autoestima, Gabi.
Ela continuou digitando em seu
computador.
— Vou agora mesmo fazer um textão na
página e mandar para o pessoal do blog, para eles
publicarem sobre você.
— Mi santa madre! Puxando tanto assim o
meu saco, é agora que você me pede para sair mais
cedo na sexta-feira?
Ela parou o que fazia e me fitou com falsa
indignação.
— Claro que não, chefa! Acha que disse
tudo isso só por interesse?
— Absolutamente sim, meu bem.
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Gabi revirou os olhos, fazendo um bico.


— Claro que não quero sair mais cedo na
sexta. — Fez uma pausa e sorriu. — Quero pedir
uma “folgazinha” bem pequena na segunda.
— O quê?!
— Aya, por favoooor! Vou viajar com o
meu gatinho no sábado de manhã e queria
aproveitar pelo menos uns três dias! Juro juradinho
que terça-feira já estou aqui. E mais! Chego antes
de todos e ainda te trago um café da manhã
especial.
Eu fiquei de pé e coloquei as mãos na
cintura.
— Essa sua cabecinha está em viagem com
seu gatinho, mas quero saber onde é que está o
contrato de M. J. Rubens. Vou assinar e levar para
o Sr. Gomez.
Ela levantou depressa e me entregou a
pasta fina com os papéis. Estreitei os olhos e Gabi
juntou as duas mãos à frente do rosto.
— Pensa com carinho e amor?
— Já me decidi. — Lhe dei as costas e
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comecei a caminhar para fora da sala, mas antes de


sair a fitei. — É bom que quando for escolher meu
café, lembre-se que estou numa dieta especial.
Ela deu um gritinho e um pulo de alegria.
Sorrindo, caminhei até o elevador para subir ao
andar da sala do meu querido chefe. Estava tudo
perfeito.
Eu era uma mulher poderosa, com uma
carreira em crescente e bem-sucedida. O que mais
eu podia querer?

Eu estava arruinada.
Não, melhor! Eu estava arruinada e meu
chefe era um puto.
Ser mulher nos dias atuais não era nada
fácil.
Não se pode falar o que quer sem ser mal
compreendida, vestir o que quer sem ser chamada
de todos os nomes degradantes possíveis, pensar o

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que quer e expor ao mundo, e muito menos viver da


forma que quer, já que o tempo todo as regras da
sociedade estavam prontas para rebater e te dizer
como fazer as coisas. Quer dizer... poder, pode,
mas é aí que entra o problema. Os problemas.
Como é que as mulheres de outras épocas
aguentavam?
Se hoje com tanta modernidade,
atualizações, opiniões diferentes e vários estilos e
tipos de pessoas ainda é tudo tão metódico e antigo
desse jeito, como era antes? Na época das cavernas
e roupas de pelo? Por el amor de Dios, já
consideram até a possibilidade de médicos robôs e
quando eu ando na rua de shorts sou malvista?
Minha tia Selma sempre diz que o que é bonito, é
para ser visto. Eu aderi aquele pensamento e
mostrava mesmo. Deixava que vissem muito bem
meus atributos. Não eram meus? Pois quem não
quisesse ver, que fechasse os olhos!
Eu era bem consciente da minha aparência.
Altura mediana, nem alta e nem baixa, cabelos
enormes, naturalmente loiros e clareados num salão
que me arrancava uma pequena fortuna a cada
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retoque. Confiante e segura de mim mesma, jovem,


porém madura o suficiente, responsável na maioria
do tempo e independente. Por que é que viveria
sobre regras ditadas por um bando de hipócritas de
uma sociedade com pensamentos centenários?
Por isso mesmo é que encarava meu chefe
atônita.
— Demitida?
— Me entenda, Aya, é uma situação difícil!
Era um abuso. Um absurdo! Ultrajante e
descabido! Fui até a sala dele com o único e
exclusivo objetivo de entregar o contrato da nossa
mais recente futura publicação e escutei um
absurdo daqueles!
— Senhor Gomez, eu não tenho culpa de
onde ele coloca os olhos!
— E eu não tenho culpa que a esposa de
um dos sócios ameaçou tirar a parte dele da
empresa se você não saísse!
— Mas que culpa eu tenho se ele foi quem
olhou para os meus seios a noite toda? —
esbravejei, irritada.
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— Tem culpa, sim! Porque colocou um


vestido daqueles para vir no aniversário da editora!
E lá vamos nós de novo.
Eu já havia levado duas chamadas de
atenção por conta das minhas roupas. Não era nada
vulgar, mas gostava de me sentir bonita e meu
chefe simplesmente não aceitava meu batom
vermelho, minhas saias apertadas, mesmo que
fossem acima do joelho, e minhas camisetas
decotadas, nada extremo, mas fui abençoada com
seios grandes, o que podia fazer? Eles me davam
dores nas costas? Sim.
Mas a mamãe amava aqueles dois.
— Senhor Gomez, sabe o quanto sou boa,
vai realmente jogar fora porque aquele tarado não
conseguiu manter os olhos para sua esposa?
Ele fechou os olhos, massageando as
têmporas.
— Aya... Não é a primeira vez que tenho
problemas como esse relacionados a você.
Sim, aquilo poderia ser um pouquinho
verdade. Eu podia ter, acidentalmente, escorregado
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e caído direto na boca do filho dele, que


coincidência! A noiva do rapaz viu tudo e fez
minha caveira, fui salva apenas porque meu chefe,
Pablo Gomez, me adorava. Um homem cheinho,
em seus 58 anos, que me contratou quando eu
estava ainda na faculdade. Estagiei na editora nos
últimos dois anos da faculdade e ali mesmo fiquei.
A GMZ Editorial, estava no mercado há
mais de 10 anos e se manteve entre as principais
editoras desde que entrou no ramo. Terminei a
faculdade e desde então estava no time. Era uma
das principais editoras e, junto com Gabi, cuidava
dos romances. O selo da editora conquistou muitos
leitores, estava sempre nas vendas principais de
livrarias e lojas online.
E agora ele dizia que eu não... servia mais?
Eu que ajudei em tudo aquilo, que fiz parte, guiei
uma equipe sólida e firme!
— Senhor Gomez, não posso acreditar que
vai jogar esses anos no lixo por conta do capricho
de uma simples sócia.
— Aya, vou fazer o possível para indicá-la
a alguma boa editora. Vão aceitar você. Já recebeu
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muitas propostas! Mas, por favor, minha querida,


me entenda!
Eu realmente recebi propostas boas, mas
naquele momento, final de ano se aproximando e
todas as editoras firmes com seus funcionários, eu
duvidava muito que ia conseguir algo.
Eu lhe dei um último olhar.
— Essa foi sua escolha, senhor Gomez,
espero que não se arrependa.
Ele ficou de pé, segurando meu braço.
— Aya, sabe que a tenho como filha.
— Se tivesse, não estaria me deixando
cheia de malas e na rua da amargura.
É claro que vendo a decisão tomada em
seus olhos, minha única escolha era recorrer a um
drama. Meu santinho! Eu havia acabado de trocar
de carro. Um carro bem caro. Uma demissão
naquele momento não caía bem.
Ele arregalou os olhos.
— Menina, não diga isso!
— Mudou de ideia?

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— Menina! Não posso!


— Então, me solte.
Relutante, ele me deixou ir e lhe dando
uma última olhada recheada de drama, saí da sala.
Fui direto para a minha. Agradeci aos céus que
Gabi não estava lá. Se eu começasse a falar naquele
momento, ia me desmanchar ali mesmo em seu
ombro e seria mais humilhada ainda. Peguei todos
meus objetos pessoais e saí antes que alguém
voltasse e eu tivesse que explicar tudo. Estava
constrangida, chocada, surpresa e irritada.
Em um momento me glorificava da minha
carreira e meu sucesso, estava lá em cima como se
a roda gigante tivesse parado comigo no ar, mas
então, sem nenhum aviso, ela girou e eu desci. Caí
no mais profundo abismo da derrota. As pessoas
me viram sair com a caixa e evitei ir até o RH
naquele momento. Ligaria depois para saber se
estava tudo certo com meu desligamento. De
cabeça erguida, fui até o estacionamento, acenando
para o segurança que já não ia ver mais e entrei no
meu carro.
Meu moderno e caro carro, que o emprego
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dos sonhos me permitiu comprar. Jesus! Onde


encontraria outro emprego com salário tão bom? A
amizade do chefe, uma equipe unida e focada, e o
cargo que tinha?
Baixei a cabeça, batendo de leve no
volante, e me perguntei por que é que aquele
imbecil ficou me olhando. A esposa dele era
bonita! Se ela soubesse quantas vezes me chamou
para sair e recusei, não teria feito tamanha
barbaridade comigo.
Respirando fundo, liguei o carro e segui
para casa. Só quando entrei no silêncio e conforto
do meu bonito apartamento, foi que me livrei das
roupas e enchi a banheira. Evitando meu olhar no
espelho, prendi o cabelo e afundei na água.
Só então deixei as lágrimas caírem. Bati
com os punhos e os pés na água, esperneando e
chorando. Me imaginava naquelas cenas de filmes,
onde tudo de ruim acontece com a mocinha. Tudo
bem que eu estava bem longe de mocinha, mas
ainda assim, aquela musiquinha tema de tristeza
estava presente na minha cabeça.
Tinha certeza que quando a noiva do filho
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do senhor Gomez descobrisse que fui demitida faria


a festa, e pior, quando soubesse o motivo que
causou isso, me humilharia. Eu seria difamada e
nem estaria mais presente para me defender.
Pensei em forjar uma ligação. Ligar na
editora e fingir que era algum autor famoso,
exigindo falar comigo, mas a troco de quê? Voltar
para uma empresa que embora bem-sucedida e
tendo me dado a vida que eu levava, não me
respeitava? Era simplesmente um absurdo o Sr.
Gomez me demitir porque achava que minhas
roupas colaboraram para um marido desrespeitoso-
sem vergonha-ordinário querer trair sua mulher!
Levantei da banheira, furiosa, peguei meu
celular e disquei os números que eu sabia dar direto
a sala dele. Depois de alguns toques, ouvi sua voz.
— Gomez.
— Olá, senhor Gomez, é Aya. Só queria
deixar claro que eu me demito! Não preciso de
você e das suas ideias passadas sobre como uma
mulher deve agir. Se atualize e escolha melhor os
seus funcionários para não ficar injustamente
demitindo os outros!
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— Aya, mas o que...


— E tem mais! — Meu tom era estridente.
— Eu já ia me demitir, só estava esperando o meu
bônus da última edição cair. E não pense o senhor
que não o quero mais. Acho bom esse dinheiro
estar na minha conta antes do final do mês, caso
contrário, senhor Gomez, vou fazer um
estardalhaço nessa Editora. Passar bem!
Desliguei sem lhe dar a chance de falar e
voltei para a banheira.
Agora sim. Fui demitida, mas falei umas
boas verdades para ele. Ouvi o celular tocando por
alguns minutos e tinha certeza que depois do meu
desabafo, ele me ligaria outras vezes, mas quem
não queria lhe dar a chance de se explicar era eu.
Que ficasse com sua sócia!

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Capítulo 2
“Vou para o meu próprio sol
Sem medo
Me assista, porque não vou me desculpar
Eu sou assim"
Mite Perroni, asi soy

No dia seguinte acordei com uma ligação


da editora, a esperança reinou de que senhor
Gomez tivesse mudado de ideia. Segurei o telefone,
o deixando tocar um pouco, para quando atender,
fazer um certo charme antes de aceitar voltar. Mas
foi como tomar um banho de água gelada num dia
frio. Era apenas Renata do RH, dizendo que
poderia passar quando quisesse para retirar meu
cheque e assinar os papéis necessários.
Chorei mais uma vez, abraçada ao
travesseiro.
Gabi até tinha ligado no meu celular, mas
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não atendi. Então ela deixou uma mensagem


dizendo que sentia muito e quando eu precisasse
ela estaria lá para mim. Minha cabeça pronta para
atirar frustração para todos os lados, logo pensou:
“Sente muito nada, vai ficar com o meu cargo. Foi
o que sempre quis.” Eu quis ligar para ela na hora,
pois sabia que ela não era assim.
E como é que eu ainda queria meu emprego
de volta depois do pequeno show que fiz? Depois
dos nervos terem acalmado e ter pensado melhor,
percebi que a pior coisa foi ligar para o senhor
Gomez e gritar daquele jeito. Querendo ou não, o
homem tinha me ajudado quando ainda estava na
faculdade, precisava de dinheiro e era só uma
jovem universitária sem muitas esperanças. Mas ele
me contratou. Mesmo sem saber se o investimento
seria em algum momento bom para ele ou à
Editora, mesmo com meu jeito escandalosa e sem
controle de ser.
Eu achava, na verdade, que um grande fator
para a minha contratação foi o meu humor. Ele ria
o tempo todo quando eu estava perto. Dizia que eu
era iluminada, que se sentia como se fosse
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responsável por mim. Nunca tive pai e quando lhe


contei isso foi que desandou de vez.
Percebi que mesmo tendo cometido
tamanha injustiça comigo, fui terrível no que fiz.
Pretendia pedir desculpas. Não naquele momento, é
claro. Meus hormônios ainda estavam indecisos e
meu ego ferido. Portanto, qualquer palavra sua fora
de ordem, poderia me levar a explodir outra vez,
mas logo, logo eu iria atrás dele e deixaria claro
que o pessoal não tinha a ver com o profissional.
Mesmo que parte minha quisesse que ele
fosse para o inferno.
A semana passou daquele jeito e eu estava
fielmente decidida a terminar sair da fossa na
próxima segunda, quando começou a passar um
comercial na TV. O homem careca com um terno
muito mais largo que seu corpo sorria apontando
diretamente para a câmera. Para mim.
— Está se sentindo cansada?
— Sim — resmunguei, mordendo a barra
de chocolate.
— Deprimida? Sente que vai explodir de

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tanto chorar e já não vê mais saída?


— Sim! — respondi novamente,
estupidamente falando com a televisão.
— Essa é sua chance de se levantar. Só
neste final de semana, estamos com uma promoção
imperdível para o mais belo Spa de Veracruz! E aí,
vai perder essa grande chance?
— Eu?
— É! Você mesmo! Deitada aí nessa cama,
comendo e dormindo. Acorda para a vida e ligue
nesse telefone aqui em baixo na tela!
— Um sinal — falei baixinho, comigo
mesma. — É isso!
Pulei da cama, pegando meu telefone e
discando o número da tela. Depois de algumas
tentativas, finalmente consegui falar. E foi assim
que me vi comprando um pacote para um final de
semana em um Spa relaxante.
A atendente garantiu que seriam dias
inesquecíveis, que meu corpo e mente teriam um
descanso e eu voltaria brilhando, relaxada e feliz.
Eu esperava que sim, já que mesmo na promoção, o
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pacote ainda foi salgado. E eu precisava lembrar


que era uma desempregada agora, dinheiro
guardado não durava para sempre, e até conseguir
outro emprego, eu não sabia quanto tempo levaria,
então precisava me controlar.
Garanti que estava tudo certo, deixei um
táxi agendado para o dia seguinte — porque
pegaria um voo para Veracruz logo no início da
manhã e não queria atrasos. Na verdade, quando o
galo cantasse eu já estaria rumo ao aeroporto — e
comecei a arrumar minha mala.
Não ia esperando muito. Seria uma semana
em um Resort Spa, então tudo o que precisava era
de roupas leves, biquínis e um pijama. Por
precaução, coloquei um vestido de festa preto e
uma sandália também. Não estava com grandes
expectativas, mas nunca sabia o que podia
acontecer. E aquela combinação servia tanto para
um jantar, quanto uma festa ou qualquer outro
momento que surgisse inesperadamente.
Quando por fim fechei a mala, meu celular
tocou. “Mamãe” piscando na tela. Eu atendi com
um sorriso, sabendo que por ser a terceira ligação
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do dia, meu último “está tudo bem” não a tinha


convencido.
— Oi, mãe.
— Oi, minha menina! Fazendo o que de
bom por aí?
Sua voz tinha uma falsa animação que me
fez rir.
— Mãe, pode parar de gritar e sorrir à toa,
tenho novidades.
— Jura? Ah, madre de Dios! Seu chefe te
ligou, Aya? Conseguiu o emprego de volta? Eu
sabia, minha filha. Sabia que aquele homem era
bom! Sabia desde o início que ele ficaria
arrependido e te ligaria para contratá-la de volta!
— Mamãe...
— Eu falei a sua tia Selma. Vou chamá-la
aqui e dizer a ela. Está vendo só, meu bem? Agora
você não está mais jogada na rua da amargura,
abandonada aos ventos e nem vai passar fome!
Dios es bueno, muy bueno!
— Mãe...
— Eu já conseguia ver as olheiras debaixo
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dos seus olhos, já estava aparentando ter trinta ao


invés de vinte e seis.
— Mãe, eu tenho vinte e três, e...
— Só três aninhos a menos, meu bem.
Você sabe que sou distraída. Mas me conte, exigiu
um aumento? Diga que sim e que ele deu, porque
se não, amanhã mesmo eu vou lá e nem com reza e
crucifixo vão me tirar daquele lugar. Eu juro, Aya,
que...
— MÃE, PELO AMOR DE DEUS! —
gritei. Amava minha mãe, mas quando ela
desandava a falar, não parava.
As pessoas perguntavam de quem eu puxei
minha língua solta e ali estava a resposta. Mamãe
era a pior quando se tratava de falar demais. Uma
vez, em um daqueles dias da profissão dos pais na
escola, ela foi representando o pai que eu não tinha,
e na época trabalhava como recepcionista de um
hospital. Meus colegas de classe tiveram uma
verdadeira aula sobre tudo a respeito de médicos,
enfermeiras e as diversas profissões que ela
convivia na época. E isso não foi o pior, ela falou
até das garçonetes de uma lanchonete em frente ao
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hospital. Deu a hora do intervalo e minha mãe


continuava firme e forte falando, e ai de quem a
interrompesse.
— Desculpe, meu bem, é que fiquei feliz
demais por você. Vou acender uma vela agora
mesmo para agradecer a Nossa Senhora de
Guadalupe.
— Mãe, dá para me escutar?
— Claro, meu bem.
— Eu não fui recontratada. E muito
obrigada por me animar dizendo que estou com
olheira, parecendo velha e jogada ao abandono da
rua da amargura.
— Ai, minha Aya, mamãe estava
brincando. Falei no calor da emoção.
Revirei os olhos, caminhei até a cozinha e
abri a geladeira, pegando a tigela de vidro cheia de
morangos mergulhados no brigadeiro.
— A senhora sempre diz muitas coisas no
calor da emoção, né, mãe? Mas sempre tem um
fundo de verdade.
Ela riu.
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— Ah! Não é assim, meu bem! Mas me


conte, qual é a novidade, então?
Me servi de um copo de suco, colocando o
celular no viva voz, e sentei no banquinho do
balcão.
— Vou viajar para um Resort Spa.
Ela ficou em silêncio por alguns minutos
antes de falar novamente.
— Não brinque comigo, Aya Maria.
— O que foi? É verdade.
Ouvi um barulho e ela começou a
resmungar, falando num espanhol tão rápido que eu
não tive outra escolha, a não ser começar a rir.
Sabia que ela viria me dar lições de vida. Olhei no
relógio e já passavam das oito da noite, ótimo
momento para uma intervenção no estilo dona
Lourdes.
Ela começou a gritar o nome da minha tia,
e eu ri mais ainda, a imaginando colocar a cabeça
para fora da janela chamando tia Selma. As duas
eram uma figura e quando estavam juntas, resultava
sempre em gargalhadas na certa.
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— O que foi mulher? — Ouvi minha tia


perguntar e mamãe respondeu logo depois.
— Você não sabe o que Aya está
aprontando, vem aqui agora!
— Ué, Aya está aí, é?
— Não, bendita! Está no telefone, venha
logo!
Fechei os olhos, já esperando pelo show
das duas juntas.
— Aya?
— Ainda aqui, mamãe.
— Ótimo!
Nesse momento, houveram mais alguns
barulhos e ouvi as duas discutindo.
— Coloque no alto, mulher! — tia Selma
pedia.
— Como é? — mamãe respondeu. — Quer
o que aqui, Carmen? Não chamei você, sua
bandida!
— Mas o que tem a menina Aya? — Ouvi
a voz de Carmen perguntando.

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— Me dê o telefone aqui, Lourdes, me


deixa colocar no alto!
— É viva voz, Selma. Deixa de ser louca!
E quem foi que mandou você trazer a Carmen?
Essa bandida vem aqui depois fica na casa de Isabel
futricando minha vida.
— Aya? Está ouvindo? — tia Selma
perguntou.
— Sim, tia. Oi! — respondi ainda rindo.
— Menina, por que foi que sua mãe me
chamou? Desliguei o fogo, deixei as panelas lá e
daqui a pouco seu tio está chegando.
Mamãe resmungou.
— E seu marido não sabe ligar um fogão?
Deixa de ser mole, mulher.
— O meu marido trabalha o dia inteiro,
Lourdes, o mínimo que ele quer quando chega em
casa é uma janta fresquinha.
— É verdade. Nessa eu estou com a Selma
— Carmen concordou.
— E que direito você tem de palpitar aqui,
Carmen? Madre de Dios! Chamei minha irmã, não
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foi você, não!


— Mãe... — chamei, tentando lembrá-las
de que eu ainda estava ali.
— Ai, filha, me desculpe! Mas essa mulher
vem aqui me tirar a paz de Minha Madrezinha!
Minha tia riu.
— O que foi, Aya? O que você fez que
deixou sua mãe surtada?
— Aya foi demitida e agora vem com conversa
de que vai para um Resort, vê se pode?
— Mulher, não só pode como deve! Já
colocou o biquíni na bolsa, Aya?
Eu gargalhei alto, ouvindo o debate que a
resposta de minha tia iniciou.
Ela era a revolucionária, me inspirou a ser
assim. A acreditar em mim e me mostrar que eu
tenho o direito de pensar e agir como bem
entendesse. Mamãe me apoiava demais também,
mas sempre foi mais do tipo “Aya, se controle e aja
como esperam, com normalidade”. E esse era um
dos motivos pelos quais as duas viviam batendo de
frente. Nunca virava uma briga, mas rendiam boas
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discussões que na maioria das vezes terminava com


mamãe a chamando de bandida e virava as costas.
Porque sempre perdia a paciência.
— Você sempre dizendo essas bobagens,
Selma. Não vê que a menina perdeu o emprego por
conta dessas suas ideias toscas?
— Aya perdeu o emprego? — Carmen
perguntou.
— Mas cuide de sua vida, mulher! Sai
daqui, bandida! Anda! Sai daqui! Já vai espalhar
para a rua toda que minha filha foi demitida, vê se
pode, Selma. Aposto que vai correr na casa de
Nazaré para contar.
— Eu não vou dizer não, Lourdes! Ouviu,
Aya? Não vou dizer, porque gosto muito de você,
menina! Se quiser até vejo se o seu Claudio não
está precisando de alguém lá na mercearia.
— Que mulherzinha abusada. Saia da
minha casa, Carmen!
Mamãe gritava, e agora tia Selma me
acompanhava nos risos. Ouvi a porta batendo e
mais alguns gritos, então mamãe voltou,

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resmungando.
— Mas Aya, conta para a tia. O que foi que
te deu para resolver ir viajar?
— Ai, tia... vou ficar em casa me
lamentando? Melhor sair logo e ir aproveitar a vida.
É só uma semaninha e quando voltar vou atrás de
emprego.
— Está certo, menina. Sabe muito bem que
a tia concorda e apoia.
— Aya, eu não estou muito de acordo.
Acho que você deve esperar e ver se o senhor
Gomez não te liga. E se ele resolve falar com você
e seu celular está sem sinal nesse Spa?
Eu suspirei.
— Mãe, seu Gomez não vai mudar de
ideia. E mesmo se mudasse, quem não ia querer sou
eu. Ele me humilhou.
— Verdade, menina — tia concordou. — O
melhor que você tem a fazer é ir, sim, e aproveitar
muito. Descansa a cabeça e volta renovada.
Ouvi minha mãe suspirando.
— Aya, Aya, Aya... promete que não vai
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fazer besteira, que vai me ligar e que se algo


acontecer, voltará para casa, aqui comigo!
— A menina não está louca de querer se
enfiar aqui com você né, Lourdes?! Se oriente.
— Selma, você se acha a moderna, né? Os
meus quarenta e dois você também tem, viu? Não
se esqueça!
— Eu tenho um a menos. E minhas ideias
colam muito mais com as dos jovens de hoje em
dia do que as suas.
— Ah, tá bom, tá bom! Filha, você me
ouviu?
— Sim, mãe. Vou te ligar se algo
acontecer.
— E voltará para casa.
Eu hesitei.
— Isso eu não prometo.
Ela ainda tentou insistir, mas sabia que ir
para a casa dela depois de anos na minha
independência, era impossível. E eu não deixaria
chegar ao ponto de não conseguir me manter
sozinha. Ganhava muito bem no meu cargo, e tinha
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dinheiro guardado. Meu carro era meu — bem,


quase, só precisava ser quitado —, meu
apartamento já estava pago. Tudo em dia, só tinha
as despesas e meus luxos que, por um tempo,
teriam que ser cortados.
Nos despedimos com palavras de carinho e
muitas risadas, e tia Selma me mandando prometer
que encontraria um homem nessa uma semana de
férias para me divertir. Desliguei o telefone com o
coração cheio de saudade de mamãe, tia Selma e tio
Zé. Até mesmo das vizinhas animadas que mamãe
brigava, mas vivia junto nos finais de semana.
Eu era uma filha muito ruim, admitia.
Morava em Polanco, um dos bairros mais caros da
cidade, considerado o menino dos olhos do pessoal
rico. Fossem moradores ou turistas, quem tinha
dinheiro, estava ali. Eu não tinha tanto assim, mas
comprei meu apartamento de um antigo funcionário
da Editora. Ele mudou de país e não queria deixar o
imóvel parado. Então negociamos um valor bacana
para ambos. É claro que só de dar o meu endereço,
eu era olhada com outros olhos. Por isso que
quando saí da casa da minha mãe e o pessoal da
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vila soube para onde eu estava indo, começaram a


me ver como Aya, a ingrata.
“Vai pra um bairro de luxo e deixa a mãe.”
“Ficou rica e esqueceu de onde veio.”
Mas não era isso, nem de longe. Chamei
mamãe para morar comigo, mesmo que eu quisesse
meu próprio espaço, mas ela não quis. Dizia que
mesmo com as bandidas da vila, lá era seu lugar e
ela ficaria até seu último dia.
Eu respeitava e confesso que, para me
divertir, ir para lá era ótimo. Mas não trocaria
Polanco.
Lá desfilavam homens de negócios,
membros da elite e políticos. Restaurantes de luxo,
as lojas mais caras, o maior shopping, mansões e a
coisa toda. Uma reserva para um jantar tinha que
ser feita antes de sequer aparecer no lugar e se não
tivesse dinheiro para bancar o drink do momento e
a roupa exigida, era melhor que passasse longe.
Minha mãe morava em Del Valle, um
bairro pequeno, um pouco distante do centro da
cidade.

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E que cidade...
Eu nasci na Cidade do México. Bem ali no
meio, onde tudo acontecia.
Convivia com os muros antigos, as
histórias, os rostos nas paredes e as ruas
emolduradas pelo tempo. Tanta história, tanta coisa
boa...
Com um suspiro, guardei a tigela com os
morangos e voltei ao quarto. Entrei no banheiro,
precisava tomar um banho e deitar.
Queria estar descansada para a maravilhosa
semana que me esperava.

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Capítulo 3
“E pode ver que não sou um anjo com boas
intenções
Me joguei à queima roupa e ela me venceu
Joguei com uma diaba que é esperta em jogos de
amor...
E perdi"
Romeo Santos, la diabla

Como planejado, na manhã seguinte


acordei muito mais cedo que o normal e tomei um
banho. Nunca tive o costume de tomar café, então
me arrumei e deixei a mala já preparada ao lado da
porta. Garanti que todas as janelas estavam
fechadas e verifiquei as informações do voo uma
última vez. Cinco minutos antes do combinado com
o táxi, desci para o térreo do prédio.
Deixei Lúcio, o porteiro, avisado de que
ficaria fora por alguns dias e verifiquei meu celular.
Mamãe tinha deixado uma mensagem de

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bom-dia, e mais uma vez reforçou sobre ligar para


ela em qualquer situação. Eu sorri com seu senso
de proteção superelevado.
Ela sempre tinha sido daquele jeito.
Espalhafatosa e exagerada, mas quando se tratava
de mim, era como se eu fosse sua filhinha pequena,
seu bebê ainda nos braços precisando de proteção.
Como se eu fosse rolar e cair da cama me
machucando a qualquer momento, caso ela tirasse
os olhos de cima de mim.
Eu entendia seus motivos, afinal, ter sido
pai e mãe não foi fácil.
Ela me teve ainda muito jovem. Conheceu
meu pai em uma festa do bairro, ele não era de lá,
morava em outra cidade. Todos a avisaram para
não confiar no homem de fala grossa e terno caro,
mas ela se apaixonou. E meu pai também tinha
caído de amores por ela. Lhe prometeu que voltaria
para buscá-la, que tinha que ir à cidade onde
morava para resolver assuntos das empresas de sua
família, mas não ia esquecê-la.
Foram tempos cheios de promessas, juras
de amor e sonhos com um futuro feliz.
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Mas assim como a tinha avisado, ele


precisava voltar para sua cidade e assim fez. Nas
primeiras semanas ele ligava para mamãe o tempo
todo, sempre a procurando, estando disponível para
falar com ela e sendo o cara atencioso e amoroso
que ela conheceu.
Eu não sabia os detalhes depois disso, mas
no momento que mamãe precisou ele deixou de
estar ali para ela. O resumo foi que, minha mãe
tentou ligar, mas não conseguia falar com ele, então
deixou uma mensagem dizendo que tinha passado
mal, fez uns exames e que tinha uma notícia.
Claro que não houve resposta.
Na verdade, houve sim, e partiu de um
amigo dele que morava no bairro de mamãe. Meu
pai tinha ficado noivo. A notícia deu em todos os
jornais locais.
Meus avós, na época, humilharam minha
mãe da pior forma e ainda a deram um mês para
sair de casa. Sempre foram muito religiosos e
acharam um absurdo sua filha engravidar sem estar
casada. Piorou mil vezes quando ela não disse
quem era o pai.
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A partir daí, trabalhou onde a aceitavam e


cuidou de mim sozinha. E o que mais aprendi com
ela, o que enfiei em minha mente, foi que eu nunca,
nunca precisaria depender de ninguém.
Principalmente de homem nenhum. Se minha mãe
grávida, sozinha e sem muitas expectativas foi a
melhor, por que eu, solteira, estudada e de mente
aberta, não poderia?
Homem para mim era só para me divertir e
tchau. Com exceção dos meus amigos e primos —
que tinha de monte — não me deixava envolver
muito com nenhum. Vinte e três anos de vida, um
namorado e alguns muito bem escolhidos na minha
cama.
Eu estava resolvida, melhor não poderia
ficar.
O táxi, embora atrasado, chegou e o
motorista me ajudou a colocar a mala dentro. Logo
depois partimos para o meu lugar de paz pelos
próximos dias.


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Quando desembarquei no Aeroporto


Internacional de Veracruz, fui direto até uma
lanchonete lá dentro mesmo e comprei algo rápido
para comer no caminho. O voo tinha durado pouco
mais de uma hora e ao meu lado tinha uma senhora
que roncava mais alto do que mamãe quando
atacava a bronquite e ainda por cima, a cabeça
tombava no meu ombro sempre que ela dormia de
verdade.
Eu dava um chacoalhar de ombros bem
discreto, e ela acordava me dando um sorrisinho de
desculpas, só para voltar a dormir e repetir tudo. Eu
esperava que minha chegada e estadia no Resort
fossem diferentes dos incômodos do voo.
Levando minha mala para fora, coloquei os
óculos de sol, porque além de ser época de verão,
aquela região era sempre muito quente. Esperei um
táxi livre passar e logo já rumava ao meu destino
final.
— Para que entra então, em? Bando de
safados! — o taxista xingou enquanto dirigia.
— Senhor?
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Ele olhou para trás.


— Não é nada, chica. Estou ouvindo essas
notícias absurdas da rádio.
— Ah, sim. — Lhe dei um sorriso fraco e
voltei a olhar para fora do carro.
— Escute, chica, você que ainda é jovem e
é quem vai viver nesse mundo por mais tempo que
nós, os velhos. Está ouvindo o que esse salafrário
diz? É tudo mentira!
Ele aumentou um pouco o volume,
querendo me mostrar sobre o que falava.
"— Mas isso não é culpa nossa! A
prefeitura não tem orçamento para cobrir esse tipo
de despesas, isso é a cargo do governo e quem está
no governo? O governador está lá, posando para
fotos e vivendo do luxo custeado pelo povo, então
que cobrem dele! Meu partido estava governando o
estado com muito louvor, mas decidiram colocar
filhinhos de papai para brincar, olha no que deu!"
Eu ouvi o homem falando na rádio e sorri
forçado para o motorista.
— Não entendo muito de política.
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Ele balançou o dedo no ar.


— Nem é preciso entender muito para ver o
que esse aí está fazendo. Quer jogar tudo para cima
do governador. Esse sim é um homem de fibra,
verdadeiro e que cuida do povo!
— O senhor votou nele?
— Claro! Eu e toda a minha família.
— Então ele deve ser bom.
Respondi qualquer coisa para não ser mal-
educada. Não entendia realmente nada de política, e
embora tivesse votado toda a minha vida, sempre
acabava pegando um folheto qualquer na rua e
votava. Nunca admitiria isso em voz alta, sabia que
a situação era péssima, políticos eram, sim,
corruptos, e se não fosse, quando entrasse para o
meio provavelmente se tornaria. Mas que diferença
o meu voto iria fazer?
Se aquele senhor me perguntasse em quem
eu votei na última eleição, eu não saberia
responder.
Ele continuou rebatendo tudo o que o cara
na rádio dizia e eu dei graças a Deus quando
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chegamos ao meu destino. Fiz o pagamento e já


tinha virado as costas quando me chamou. Me
aproximei da janela, curiosa, e o fitei.
Ele estendeu a mão.
— Dê-me aqui o seu braço, chica.
Eu olhei ao redor, vendo algumas pessoas
em frente ao Resort, e esperava que ele não fosse
me machucar ali a vista de todos. Lhe dei a mão e
ele colou um adesivo na palma.
— Olhe para ele e grave esse rosto. Ele é o
futuro do país, chica! Governador hoje e presidente
amanhã!
Eu sorri forçado e me afastei, dando um
breve aceno em despedida. Sem olhar o adesivo, o
arranquei de mim, amassando e jogando numa lata
de lixo apoiada no poste. Em curtos minutos
percebi que aquele senhor era algum tipo de
militante.
O tipo de pessoa que você não consegue
conversar, porque de duas, uma. Ou sempre acaba
em política ou em debate. Ou seja, política dos dois
lados. E ai do outro dizer que não concorda, ou

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falar mal do candidato que o tal vota. Aí o circo


está formado mesmo.
De qualquer forma, eu não tinha paciência
para isso.


Parecia que Deus tinha ouvido minhas
preces, pois fui recebida maravilhosamente bem ao
chegar.
O lugar tinha paredes de vidro, e entre as
paredes, algumas fontes de água rochosas. Precisei
parar em uma e tirar uma foto, ficaria uma graça no
meu Instagram, minha única rede social. Confesso
que já usei aplicativos de relacionamentos, e só de
lembrar no que deu, eu já ficava injuriada.
O cara que eu conheci por um desses
aplicativos, Luiz — jamais esqueceria esse nome
—, parecia ser muito legal, até então. Conversamos
por três semanas até eu estar convencida de que ele
não era um psicopata. Concordei com um encontro,

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mas indiquei as condições. Tinha que ser em um


local público, de dia, e eu escolhia. Ele concordou,
eu fui.
Qual foi minha surpresa ao chegar lá e dar
de cara com toda a família do cara? Inclusive a ex-
mulher e os três filhos? Filhos adolescentes. Porque
ao invés dos quarenta e cinco que havia me dito, ele
tinha cinquenta e dois. Nada contra homens mais
velhos, inclusive, eu os preferia. Mas a pessoa
mentiu a idade na cara dura e ainda levou a
família? Eu fiquei indignada.
Almocei, é claro, porque a educação que
mamãe me deu está sempre presente comigo. A ex-
esposa dele — que estava lá com o marido também
— me disse que era normal para eles, que eram
amigos, e ela tinha uma chave da casa dele. Que eu
e ela poderíamos ser como irmãs. Quando o almoço
enfim acabou, deixei claro pra ele que não estava
interessada em um segundo encontro. Depois disso
nunca mais entrei em um desses, decidindo ficar
com as coisas da vida real mesmo.
Ser irmã de ex-esposas não estava na minha
lista de metas.
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A recepcionista entregou meu cartão e


sorriu.
— Senhora, tenha uma ótima estadia.
Qualquer coisa é só discar o número 1 no telefone
do quarto.
— Tudo bem, obrigada. — Retribuí o
sorriso e já ia saindo quando a outra me chamou.
— Senhora, desculpe o infortúnio, mas
preciso avisar uma situação.
— Hm... ok.
Esperava por tudo que havia de mais
sagrado que ela não dissesse que havia algo
quebrado no meu quarto, a reserva foi cancelada ou
meu cartão recusado.
— A senhora vai reparar que tem um
homem o tempo todo no corredor perto da sua
porta. Ele é o segurança de uma hóspede, então não
precisa se preocupar.
— Certo.
Ela se inclinou e olhou para os lados antes
de falar:
— Estou avisando porque uma hóspede
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ligou desesperada, dizendo que tinham homens da


máfia querendo sequestrá-la.
Ela prendeu o riso e eu fiz o mesmo.
— Ah, não se preocupe com isso. Do jeito
que a minha vida anda monótona, se ele fosse um
homem da máfia eu o convidaria a entrar por livre
vontade só pra ter alguma agitação.
Ela colocou a mão na boca e arregalou os
olhos, rindo. Eu pisquei e agradeci mais uma vez
antes de seguir meu caminho. Antes de as portas do
elevador fecharem, as duas me acenaram um
“tchau” e eu balancei a cabeça. Elas ainda estavam
rindo.
Quando cheguei no meu andar, o tapete de
veludo branco no chão, as paredes claras e a luz do
dia entrando pelas janelas do final do corredor me
fizeram relaxar quase na hora. A sensação só
melhorou ao notar o silêncio absoluto.
Segurei um sorriso ao passar pelo
segurança estilo militar em uma das portas e acenei
educadamente. Ele me deu um olhar, quase que
inspecionando, talvez procurando algum risco. Eu
me senti como naquela cena de “O Exterminador
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do Futuro”, quando o lazer nos olhos da máquina


humana averigua os humanos comuns.
Passei o cartão na minha porta e encostei
na mesma ao fechar. Quase fiquei sem ar, tamanha
a beleza. As paredes, ainda de vidro, me davam a
vista da grande piscina lá em baixo e mais pra
frente quilômetros e infinita água do mar.
Tudo ali gritava “relaxe, se acalme, vá
devagar”. O ambiente era fresco, uma grande cama
com lençóis cor de creme, sem televisão, sem rádio,
sem nada que tirasse o foco da natureza.
Eu amei tudo e entendi porque, mesmo na
promoção, era caro estar ali. Valia a pena.
Bateram à porta minutos depois e eu abri,
recebendo minha mala, e dei uma gorjeta ao
funcionário.
Peguei o celular pela primeira e última vez
ali dentro e mandei uma mensagem para a minha
mãe.

Acabei de chegar no Resort, vou desligar


meu celular.
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A resposta veio minutos depois.

Por que, Aya Maria?

Quero me conectar com a natureza, mãe.

Por que não se enfiou no jardim da Nazaré? Eu


mesma ia lá e regava você rsrsrs.

Você é absolutamente engraçada, mãe. Por


favor, cuidado para não deixar comediantes por
aí afora desempregados como eu.

Deixa de brincadeira besta, Aya!

Eu dei risada.

Vou enviar o telefone do hotel, mas mãe, sério!


Só me ligue aqui se for uma emergência. Não me
faz passar vergonha!
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Quando foi que te envergonhei, menina?

Quer a lista?

Ingrata. Mamãe te ama, aproveita. Um beijo.

Te amo, mãe. Beijo.

Postei minha foto na rede social que


raramente usava, com uma legenda pra dar muita
inveja e deixar claro aos funcionários da editora
que enquanto eles estavam trabalhando, eu relaxava
em um hotel spa. Desliguei o celular e guardei no
fundo da mala. Ele só sairia de lá no último dia do
paraíso.
Levantei, pegando uma toalha limpa em
cima da cômoda, e depois de admirar a vista uma
última vez, me despi e entrei no banheiro.
Nem precisava dizer que a banheira lá
dentro quase me fez desmaiar.

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Tirando os meus planos — com apoio total


de tia Selma — de encontrar um cara para dividir
aquela semana, eu poderia dizer que o resto deu
certo. O último dia no paraíso chegou, e junto a
isso veio a sensação de paz. É claro que no
momento em que eu chegasse em cada e minha
situação atual batesse à porta, tudo viraria caos
outra vez, mas ainda tinha uma noite para
aproveitar.
Comi comidas incríveis, me senti um peixe
de tanto tempo que fiquei na água, fosse mar ou
piscina. Pesquei — coisa que nunca me imaginei
fazendo —, e até fiz um pouco de yoga com uma
senhora que sempre me encontrava para o café da
manhã. Ela me contava de suas histórias de vida,
dizendo o que tinha aprontado, do que sentia falta,
suas melhores alegrias e os maiores
arrependimentos.
E ainda fiquei com um bronzeado lindo.

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Meu cabelo estava ainda mais loiro, graças aquele


sol sempre presente e minha pele foi naturalmente
beijada por ele. Fiquei parecendo aquelas garotas
californianas. Quando o sol se pôs, eu permaneci
sentada na espreguiçadeira. Só observando aquela
paisagem que na próxima tarde não veria mais.
Me levantei torno de uma hora depois. A
noite já começava a cair e a brisa gostosa do vento
passava pelas redondezas, anunciando uma
daquelas noites bonitas, que mesmo sem ter pra
onde ir, a gente quer se arrumar e ir fazer algo.
Era exatamente como eu me sentia.
Tomei um banho, lavando meu cabelo e
passando um óleo pelo corpo ao terminar. Saí do
banheiro com a toalha enrolada no corpo,
procurando no meio das minhas roupas o único
vestido decentemente social para sair. O vesti e
coloquei minha sandália também.
Sem maquiagem, sequei o cabelo e o deixei
natural. Terminei colocando uma flor na cabeça pra
enfeitar.
Me encarei no espelho com um sorriso,
feliz e mais do que satisfeita de ter agido
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impulsivamente e me permitido viver aqueles dias


mágicos.
Tirei o celular da bolsa, porque as férias
dele já haviam acabado, e deixei o quarto. Ansiosa
para curtir a última noite no paraíso.

O restaurante que as meninas da recepção


me recomendaram ficava dentro das propriedades
do Spa, mas funcionava com melhor e maior fluxo
nas sextas-feiras. Ou seja, naquele dia. Eu
confirmei com elas se minha roupa estava boa e
elas rasgaram elogios. Saí para o tal restaurante
andando mesmo. Andar de salto não era um
problema, mesmo na grama e nos cascalhos. Eram
anos de prática.
Andei por uns dez minutos até ver o lugar
bem iluminado e com uma fachada elegante. Abri a
porta de madeira, sendo recebida pelo delicioso
cheiro de comida fresca.
Uma moça se aproximou e me
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cumprimentou, guiando-me até uma mesa de canto.


Fiquei com o cardápio e pedi um champanhe para
comemorar a nova fase da minha vida.
Tinha decidido que ao voltar para casa, não
ficaria me lamentando. Faria tudo com calma,
pensando bem e nas situações que pedissem,
hesitaria. Mas em outras eu me jogaria de cabeça.
Perder um emprego não era o fim do mundo, seria
se eu não encontrasse outro, mas todos já foram
demitidos alguma vez na vida. Provavelmente por
um motivo melhor e mais decente que o meu, na
maioria dos casos, mas era um fato, isso é algo pelo
qual qualquer um passa.
O importante era que deixasse uma
mensagem, que ensinasse algo. E eu aprendi.
Aprendi que nem mesmo quem está lá em cima está
isento de cair. Em um dia eu era uma das maiores
editoras da maior editora do país; no outro, uma
desempregada por suposto mal comportamento. A
vida era uma roda gigante, definitivamente. Uma
hora lá em cima e outra lá em baixo.
O lado bom sobre mim, é que eu nunca me
conformava em cair.
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Eu não queria cair.


Agradeci quando o garçom entregou minha
bebida e lhe falei meu pedido. Como estava na
semana light, peguei uma salada e um purê de
legumes. Quando voltasse para casa, desandaria e
comeria lanche todos os dias, sabia disso.
Peguei meu celular e o liguei. Mensagens e
ligações incontáveis começaram a ser notificadas,
mas não ia responder ali. Garanti que mamãe não
tinha deixado nada urgente e fui ver as mensagens
de Maynara.
Ela parecia desesperada, usando letras
maiúsculas e carinhas de choro. Uma delas dizia:

Sua safada! Foi pra um Spa e nem me levou


junto.

Eu tomei um gole do champanhe e dei mais


uma olhada antes de deixar o celular de lado. Olhei
para a janela ao lado, vendo algumas pessoas do
lado de fora, depois inspecionei o restaurante.
Enchia a cada minuto mais. Passei meus olhos
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pelas mesas, vendo todos os casais acompanhados e


parei em uma que, particularmente, era muito fofa.
O homem, de costas para mim, enfiava um
anel na mão de uma loira sorridente. Ele falou algo
e ela assentiu, imaginei que estivesse a pedindo em
casamento. Eles se abraçaram e ele deu a volta na
mesa, se sentando. Eu estava quase decidindo que o
romance poderia ser uma exceção a regra fodida de
romances-não-dão-certo, quando o rosto do homem
finalmente ficou à minha vista.
Filho. Da. Puta.
Eu passei as mãos pelos olhos, balancei a
cabeça, pisquei, abri e fechei os olhos diversas
vezes e quando olhei de novo, continuava sendo
ele.
Roberto Rodriguez, marido de Melinda
Rodriguez e sócio da GMZ Editorial. O desgraçado
que me fez perder o emprego dos sonhos.
Recapitulando. A alguns dias atrás, aquele
sem vergonha deixou claro com os olhos para a
mulher dele e quem mais quisesse ver, que o meu
decote era muito mais interessante que qualquer
conversa profissional. Resultado disso? Meu chefe
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me demitindo porque Melinda era louca e disse que


se eu não saísse, saía ela e todo o seu investimento
da sociedade na empresa. Entre o lucro e a despesa,
é claro que senhor Gomez, mesmo me adorando,
me demitiu.
Aquele homem ridículo que comia com os
olhos não só eu, mas tantas outras mulheres da
empresa, estava ali, pedindo em sabe Deus o que,
outra mulher, quando já era casado.
Eu queria chegar para a mulher dele e
perguntar a ela como podia ser tão cega? Queria
jogar na sua cara que me deixou sem emprego por
um homem traíra e sem um pingo de decência.
Fiquei de pé, pronta para jogar meu champanhe no
imbecil, quando ele pegou o celular do bolso e
franziu a testa, olhou para a loira na mesa e fez
sinal com o dedo, depois se levantou e foi até a
porta.
Eu o segui, porque era o momento certo de
desmascará-lo. Ele parou ao lado da porta,
encostado na parede de fora, e eu na de dentro.
— Oi, amor... Ah, você sabe como é,
velhos chatos que só falam de negócios... Eu queria
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estar aí com você, bebezinha... Também estou com


saudade... Estou numa reunião com alguns caras
agora, mas assim que terminar, vou para o quarto
descansar... Que mulher, amor? Imagina... Não tem
nenhuma mulher, na verdade, aqui parece só ter
velhos e caras de negócios... Tá certo, amorzinho,
também te amo, Mel.
De boca aberta, eu voltei para minha mesa,
sentei e escondi o rosto atrás do cardápio.
Ele sentou com a loira segundos depois e
observei por trás da minha cobertura quando a
beijou, deixando o celular de lado, encenando como
o perfeito cafajeste que era. Eu estava louca de
raiva, com fome de ver aquele atorzinho meia boca
quebrar a cara.
Cheguei por um momento a ter dó de
Melinda, mas aí me lembrei o que ela fez, e a sede
de vingança bateu com força. Peguei meu celular,
colocando direto na câmera, e apontei na direção
dos dois. Tirei fotos, peguei o momento exato do
beijo e depois comecei a filmar aquele filme de
romance.
Convencida de que já tinha bons materiais,
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parei de gravar e abri a galeria, garantindo que


estava tudo ali.
Traíra, safado. Vai aprender a deixar de
ser mentiroso, resmunguei comigo mesma.
O garçom trouxe meu prato minutos depois
e eu comi observando Roberto pagar de namorado
do ano. Estava enojada.
— Você é admirável.
Eu pulei com o som da voz no meu ouvido
e virei. Encarei a mulher sorrindo para mim.
— Desculpe? — murmurei e ela riu.
Se levantou de sua mesa e parou na minha
frente.
— Posso me sentar?
— Hm... claro. — Limpei os lábios com
um guardanapo e bebi água.
Ela inclinou a cabeça, me encarando.
— Como consegue ser tão... indiferente?
— Como assim?
— Ouvi você o xingando, devo admitir que
se fosse eu em seu lugar, iria até lá e daria um
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show.
— Vontade não me faltou, acredite.
— E o que pretende com os vídeos?
Minha cabeça na hora relacionou os dois e
me peguei temerosa de que fosse alguma amiga
dele o acobertando.
— Ah, isso aqui é só uma pequena
vingancinha.
— Então seu namorado te trai?
— O quê? — Apontei com o dedão para a
mesa mais a frente. — Ele? Meu namorado? Nem
em outra vida.
— Ah. — Ela parecia confusa. — É que
você disse “traidor, safado”, então liguei os pontos.
Eu dei risada.
— Não, não sou nada desse encosto. Sorte
a minha.
Ela assentiu, me analisando.
— Qual o seu nome?
— Aya. Aya Maria. — Estiquei a mão. —
E você?
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— Jaqueline. Isso é um apelido?


— O que? Aya? — Eu dei risada. — Não.
Minha mãe disse que queria que eu fosse exclusiva.
— Com certeza, você é. Não conheço
nenhuma outra Aya.
Dei de ombros com outro gole do
champanhe.
— Minha mãe se gabaria ouvindo isso.
Ela assentiu, chamou o garçom e pediu
uma bebida.
— Tenho certeza que não vai se importar se
eu me juntar a você para um drink.
— À vontade.
Ela sorriu e apoiou o cotovelo na mesa, me
fitando.
— Preciso dizer que estou curiosa com a
coisa das fotos e o vídeo. Você é algum tipo de
detetive?
Balancei a cabeça. Entendia que era
realmente estranho. Se fosse eu de fora vendo
aquela cena, ficaria tentada a perguntar também.

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— Certo, você vai me achar maluca.


Ela riu.
— Melhor ainda.
— Aquele cara é sócio na empresa em que
eu trabalhava.
— Ouvi um verbo no passado aí?
— Com certeza. Ele é um safado. Faz
piadas inconvenientes, dá em cima de todas as
funcionárias e eu sempre o ignorei. Além de ser um
babaca, ele ainda é casado, ou seja, nada atrativo
para mim.
— Certa, você — ela confirmou,
totalmente focada na história.
— Algumas semanas atrás, aconteceu a
festa da empresa. E eu juro, não fiz nada errado e
quando cheguei no dia seguinte? Fui demitida.
Acontece que o canalha ali, ficou me encarando
tanto, que a esposa dele intimou meu chefe com o
típico “ou você a demite, ou eu desfaço nossa
sociedade “.
— Ele demitiu você.
— Em um piscar de olhos.
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— E agora você pretende mostrar isso à


esposa para alertá-la?
Eu franzi a testa.
— Na verdade, minha intenção era esfregar
sua injustiça na cara dela. Sua atitude é mais nobre
que a minha.
Ela olhou ao redor e suspirou. Começou a
falar, mas parou quando o garçom voltou com a
bebida. Ela pegou e estendeu para mim.
— Saúde.
— Saúde.
Nós bebemos e então ela voltou a me
observar.
— Eu sou casada, Aya. Você é? Sabe o que
é estar em um relacionamento?
— Graças ao meu bom Deus, não.
— Bem... eu amo ser casada.
— Que bom. Esse é o segredo para um
casamento feliz, não?
Ela deu de ombros.
— Eu pensava que sim. Adorava recebê-lo
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em casa com uma janta fresca, fazer seu churros de


nozes preferido, gostava que ele chegava em casa e
relaxava. Nós riamos juntos, éramos parceiros.
— O que aconteceu? — perguntei. Ela
parecia tão triste que eu imediatamente não gostei
do marido dela.
Fala sério, o cara gostava de churros de
nozes.
Ela olhou pela janela e seus olhos vagaram
um pouco, os dedos rodaram a aliança.
— Meu marido, de uns tempos pra cá, tem
se mostrado incapaz de honrar seus votos. Algo
está diferente.
— Acha que ele está te traindo?
Ela franziu a testa.
— Tenho quase certeza que sim.
— Que pesado. — Eu não me importava,
mas se ela se sentiu a vontade para compartilhar, eu
podia pelo menos ser educada. — Sinto muito.
Ela deu de ombros e bebeu. Ficamos em
silêncio por um momento e eu aproveitei para
analisá-la. Ela se vestia de forma rígida e seria, mas
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até então, poderia ser uma advogada ou corretora


de imóveis. E alguns homens até achariam o coque
superapertado, o terninho e a saia lápis, sexys.
Seu cabelo era cor de mel, não chegava a
ser claro como o meu, mas ela era loira também.
Tinha aparentemente um corpo em forma e um
rosto bonito. Muito bonita. Se eu fosse colocá-la
nas páginas de um romance, a classificaria como a
assistente social irritada. Frustrada com a vida e
que se comporta como uma anciã por ter medo de
viver.
Eu sorri para ela, que levantou uma
sobrancelha.
— O que você faz da vida, Aya? Ou fazia?
— Era editora chefe de um departamento.
— Qual editora?
— GMZ.
Ela sorriu.
— Conheço.
— O que é esse sorriso?
— Se eu te dissesse que tenho grande
influência nessa empresa, o que diria?
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— Diria... que mundo pequeno.


Ela deixou a taça na mesa e apoiou os
cotovelos, se inclinando para frente.
— Voltaria para lá se pudesse?
— Hoje em dia, não.
Ela apertou os lábios, mas depois sorriu.
— E o que pretende fazer agora?
— Vou voltar pra casa amanhã, atualizar
meu currículo e começar a buscar. Iniciar do zero.
— E como vai ser para uma editora chefe,
começar como uma mera recepcionista?
Eu quase estremeci com o pensamento.
Sabia que era uma hipótese, já que meu cargo era
alto.
— Vou me adaptar.
Meu tom já dizia tudo e ela reparou.
— Seria terrível — afirmou e eu tinha que
concordar.
— Torturante.
— Me diga, Aya... até que você encontre
um trabalho à altura do antigo, como vai se virar?
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— Tenho um pouco de dinheiro guardado.


— Uma mulher como você não parece o
tipo que se adapta com um pouco de dinheiro e
economias.
— Uma mulher como eu?
— Você parece vaidosa, chegou aqui toda
sorridente. Você não viu, mas quando passou,
muitos homens viraram para te olhar. É uma
mulher bonita.
— Hm... obrigada, Jaqueline.
— Me chame de Jaque. Meus amigos me
chamam assim.
— Já somos amigas?
Ela terminou sua bebida antes de falar:
— Eu espero que possamos nos tornar,
Aya.
— Há quanto tempo está casada? — eu
perguntei depois de alguns minutos de silêncio.
— Doze anos.
Arregalei os olhos.
— Doze anos?
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— Sim. — Ela riu. — Metade da sua vida,


não?
— Desculpe a pergunta, mas você tem
quantos anos? Deve ter casado muito jovem!
— Trinta e quatro.
Eu recostei na cadeira.
— É muito tempo. E depois de todos esses
anos o safado está te traindo?
— Talvez a vida ao meu lado tenha ficado
tediosa.
— Ou ele é um sem vergonha, sem índole e
sem palavra.
Ela me fitou, surpresa. Um pouco
assustada, talvez.
Eu suspirei.
— Desculpe, homens são um depósito de
relógios quebrados.
— Como assim?
— São uma perda de tempo.
Ela levantou uma sobrancelha, mas acabou
rindo. Então olhou seu relógio de pulso e me
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encarou seriamente.
— O que você diria se eu dissesse que
tenho uma solução financeira temporária?
— Sério?! Se for trabalho, bem remunerado
e eu souber fazer, aceito.
Ela sorriu e segurou minhas mãos.
— Ok. Escute bem e pense antes de me
dizer.
— Ok.
— O que você diria se a esposa desse cara
na mesa ao lado, quisesse comprar essas fotos e as
gravações que você fez dele?
Eu pensei um pouco sobre.
— Bom, eu já vou entregar a ela. Por que
ela me pagaria?
Jaqueline suspirou.
— Vou ser direta com você. — Eu assenti.
— Meu marido me trai e eu quero que você consiga
provas disso. Provas exatamente como essas. Fotos
e vídeos.
Eu a fitei por um segundo, talvez dois, mas

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não aguentei e comecei a rir. Dei um tapa na mesa


que chamou a atenção dos outros clientes e, graças
a Deus, Roberto já tinha ido embora. Continuei
rindo, mas ela não me acompanhou.
— Está brincando, não é?
— Pareço estar?
Eu sorri gentilmente.
— Olha só, você é uma mulher muito legal
de conversar, e sinto muito mesmo pela crise no
seu casamento e tudo o mais, mas contrate um
detetive. Eu fiz isso aqui por vingança e nem sei se
vou mandar para ela.
— Aya, por favor...
— Sem chances.
Ela suspirou pesadamente e então começou
a falar.
— Ele não fica em casa. Não dorme lá
nunca. Sonho em ser mãe, mas não posso, porque
ele quer se dedicar à carreira. Eu me mudei de
cidade, de estado para acompanhá-lo, e hoje vivo
praticamente sozinha, longe da minha família, de
amigos, de todos. E ele aproveita suas noites saindo
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do trabalho e indo direto curtir. Talvez levando


amantes nas viagens. E o que eu faço? Durmo
chorando agarrada à uma camiseta dele.
Porra! A mulher descreveu o ápice da
infelicidade.
— Eu não entendo o que você passa, mas
acredite quando digo que sinto muito e...
— Acho que ele está deslumbrado com as
coisas que seu trabalho tem proporcionado. Eu só
quero essas provas para poder mostrar a ele e lhe
dar um choque de realidade. — Ela fungou, e
arregalei meus olhos ao ver uma lágrima
escorrendo dos seus. — Quero que ele veja e diga
“o que estou fazendo?”. Entende? Quero que ele
pense na possibilidade de que eu vá deixá-lo e se
desespere a ponto de voltar a ser o homem que era.
Já contratei detetives, mas nunca conseguem nada,
ele despista muito bem.
Ela estava me convencendo.
Droga.
Droga.
Droga.
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Homens eram todos tão babacas e cruéis. A


esposa dele estava ali, chorando para uma estranha
em um restaurante e ele provavelmente estava em
alguma festa bebendo tequila nos seios de
desconhecidas. Mas não era da minha conta. Tinha
que ficar fora.
— Vejo isso sendo um sucesso como o
enredo de um livro. Mas em livros, entende?
Ficção. E nós não estamos em um livro.
Ela assentiu, limpou as lágrimas do rosto e
me fitou.
— A escolha é sua, Aya. Caso decida
aceitar, saiba que serei generosa com sua
recompensa. Me ligue em no máximo três dias.
Então ela se levantou e saiu, me deixando
ali com seu cartão na mão e mil perguntas na
cabeça.

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Capítulo 4
"Hoje à noite eu serei o interrogador
E darei um fim na impostora, usurpadora"
Romeo Santos, imitadora

— Caramba... e ela falou de quanto se


tratava?
— Maynara!
— Tem que pensar por todos os ângulos,
Aya!
Eu apoiei a testa na mesa e me perguntei
onde estava com a cabeça quando fui pedir
conselhos e uma opinião sobre o que fazer logo
para ela.
— A mulher quer que eu vá espionar o
marido dela, May. Onde já se viu isso?
— Aya, a questão aqui não é ela e o que ela
está pensando, mas você e o dinheiro que vai
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ganhar por fazer algo tão simples.


— Se fosse simples, ela não pediria a mim.
E você ouviu sobre a parte de ele despistar os
detetives que ela contratou?
Maynara bufou, impaciente.
— Até eu faço isso. Detetives são fáceis de
reconhecer, são óbvios demais. Aya, você é mulher.
O tempo que ele vai levar olhando sua bunda e
decote, é mais do que suficiente para pegar uma
prova.
— Por que você não vai lá e faz isso no
meu lugar?
Ela deu risada.
— Porque eu tenho um trabalho que
consome todo o meu tempo e quando não estou
aqui, estou em algum canto prejudicando meu
fígado ao seu lado.
— Seria bom. Você faz parecer tão fácil.
Você vai, consegue o dinheiro para nós, volta e
todos ficam felizes. Bem... o traíra cafajeste não,
mas ele não importa. Até nosso fígado ficaria feliz.
— Ela quer contratar você, espiã. Vai ser
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divertido, amiga. Se vista de rosa e imagine que


você é uma pantera.
— Panteras se vestiam de rosa?
— Não sei, mas se não vestem, use algo de
onça que ficará bom também.
— Você tem assistido filmes demais e isso
prejudica sua capacidade de ser realista.
— Melhor a ficção do que a trágica vida
real.
— Certo — falei rindo. — Vou desligar
porque faltam dez minutos para o prazo acabar. É
meu momento de decidir.
— Amiga, olha só. Eu fico brincando, mas
agora é sério... pense por esse lado: você vai ajudar
um traidor a quebrar a cara, uma mulher a ter forças
para se reerguer e ainda vai ganhar uma grana.
Coisa que na sua situação não é de se jogar fora.
— Eu sei — murmurei. — Era exatamente
o que eu tinha pensado. Não estou passando fome e
sei que não vou, mas May, emprego está tão difícil!
Parece até que Jaqueline caiu do céu para mim.
— E você caiu do céu para ela. Se você
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aceitar, uma vai lavar a mão da outra.


— Obrigada, amiga.
Ela estalou a língua.
— Me pague uma tequila depois e está tudo
acertado.
Eu dei risada.
— Te amo, até depois.
— Beijo.
Nós desligamos e eu respirei
profundamente. Faltavam cinco minutos. Comecei
a pensar nos prós e contras da situação toda. E a
verdade era que eu queria ajudar aquela mulher,
não, corrigindo, eu queria o dinheiro que ajuda-la
me traria, mas tinha medo. E se o marido fosse um
louco psicopata, e descobrisse o que eu fiz e fosse
atrás de mim?
Eu era muito jovem para morrer e tinha
muito ânimo de vida ainda. Nem tinha viajado tudo
o que queria, não fui a todos os shows dos meus
cantores favoritos, não completei a coleção de
botas da minha marca favorita, e mais... não fazia
sexo há meses!
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Um minuto.
Mas também tinha o lado do dinheiro.
Tudo dependia do valor. Eu não estava desesperada
por dinheiro no nível “pelo amor de Deus, faço
qualquer coisa”. Mas se viesse fácil assim, uma boa
quantia, que mal tinha? Eu só precisava da garantia
dela que o cara nunca saberia quem o dedurou. Ela
que dissesse que foi um dos detetives que
conseguiu finalmente provas, ou qualquer outra
coisa. Mas não me metesse no meio.
Meia noite.
Resignada, temerosa, me sentindo a
justiceira e cheia de furos nos bolsos, eu peguei
meu telefone e o cartão dela, e sem pensar mais,
disquei.
— Eu sabia que você não me
decepcionaria.
A voz dela era calma e controlada. Eu
conseguia imaginá-la com sua roupa de executiva e
o rosto sério.
— Oi. Eu sinto que vou me arrepender,
mas liguei.

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— E eu fico muito feliz por essa ligação,


Aya. Você tem uma resposta para mim?
Inspirei profundamente, soltei o ar e falei
de uma vez:
— Eu aceito.
Ela deu uma risada do outro lado e suspirou
de alívio.
— Certo. Eu estou saindo do centro agora,
você mora aonde?
Ela queria ir na minha casa agora?
— Hm... moro em Polanco.
— Ótimo, cinco minutos e estou aí. Me
passe seu endereço.
— Mas agora?! Não seria melhor
conversarmos e acertar tudo amanhã?
— Definitivamente, não! Amanhã você
precisa já estar preparada para conhecê-lo. Tenho
que desligar agora, mas mande-me seu endereço
por mensagem. Até logo.
Ela desligou e eu continuei lá com o
telefone na orelha, me perguntando o que diabos
estava fazendo.
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— Merda. Merda, merda, merda!


Resmunguei andando pela casa e pegando
meus sapatos jogados pelo chão. Voltei para a sala,
lembrando que precisava mandar meu endereço e
fiz isso, continuei a dar um jeito na bagunça logo
depois. Corri pelo corredor jogando tudo o que
achei perdido para dentro do meu quarto. Me olhei
no espelho e garanti que não tinha comida me
sujando na roupa ou rosto.
Estava tentada a ligar pra ela e dizer que
desistia. Mas a curiosidade de saber qual seria o
valor que me pagaria, a parte amiga em mim
gritando para ajudar uma mulher que era enganada
por quem deveria amá-la e respeitá-la, me fizeram
respirar fundo e lembrar que eu estava fazendo a
coisa certa. Quer dizer... parcialmente certa.
E tinha a parte aventureira, que me
implorava por alguma emoção.
Quando coloquei tudo em ordem, voltei à
cozinha e tentei me decidir no que fazer. Um chá?
Café? Suco? Ou esperava a mulher chegar e
perguntava a ela? Sim, isso seria melhor. Não deu
nem vinte minutos e meu interfone tocou. Liberei a
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entrada dela com o porteiro e esperei.


Minha campainha foi a próxima coisa que
ouvi. Caminhei até lá, olhando pelo olho mágico, e
abri.
— Olá! — cumprimentei com um sorriso
grande.
Ela foi mais contida, mas me estendeu a
mão.
— Como vai, Aya?
— Bem, e você? Aceita algo para beber?
Ela negou.
— Obrigada. Na verdade, tenho pressa.
Vim mesmo para olhar nos seus olhos quando
disser que está nessa comigo e deixarmos tudo
formalizado.
Eu concordei e a assisti sentar na mesa da
minha sala, abrir sua maleta e tirar algumas poucas
folhas.
— Você vai assinar esse contrato.
Eu senti meu rosto franzir.
— Ah, não. Olha só, essa coisa de contrato

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não funciona bem comigo.


— Ele vai garantir que você não espalhe a
história.
Eu não mencionei o fato de a minha melhor
amiga já saber.
— Certo, mas não tem nada de bizarro aí,
não é?
Ela me olhou, franzindo a testa.
— Claro que não. É um contrato de
confidencialidade. Uma garantia de que esse acordo
não vai vazar, por nenhuma das partes.
— E se acontecer?
— O que eu espero profundamente que não
aconteça, mas se... acontecer, você terá de me pagar
essa quantia como multa.
Eu olhei onde ela apontava no papel e
quase caí para trás.
— Tudo isso? Eu não tenho esse dinheiro e
não o consigo nem em dez vidas!
Ela sorriu sem mostrar os dentes, forçada.
— Isso é o que garante que ficará entre nós.

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E que bom que aprecia o valor, pois irá receber a


metade disso.
Eu estava boquiaberta. Era muito mais do
que eu imaginei!
— Vai me pagar essa quantidade absurda
de dinheiro só pra tirar umas fotos do seu marido
com outra?
— Não apenas fotos. Fotos, vídeos, áudios,
preservativos usados... o que conseguir. Podem ser
apenas fotos para você, mas para mim são muito
mais que isso.
Ela tinha um tom de voz tão frio quando
falava aquilo, diferente da mulher emotiva e
apaixonada que me convenceu naquele restaurante.
E além, estava insana se acreditava mesmo que eu
pegaria o preservativo usado do cara. Jamais. Mas
aquilo até dava para enganar. Era só eu dizer que
nunca tive a chance de encontrar nenhum. As fotos,
vídeos e áudios seriam fáceis de conseguir. Se o
cara fosse tolo como Roberto, seria mil vezes mais.
Tirando o absurdo todo da situação, eu
poderia abraçar Jaqueline e agradecê-la
eternamente. Ela estava me salvando e nem fazia
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ideia disso. Eu poderia procurar outro emprego


com calma, não teria que aceitar qualquer coisa
preocupada com contas a pagar. Aquele dinheiro
me daria uma segurança temporária muito tranquila
até que eu me estabilizasse profissionalmente outra
vez.
— Muito bem. Tudo o que eu conseguir,
anotado. Agora eu precisava ver uma foto dele para
reconhecer o rosto.
Ela ficou de pé e começou a anotar algo em
um papel.
— Assine o contrato, por favor.
Eu peguei a caneta e assinei. Era apenas
uma folha e ela deixou uma cópia comigo. Dizia
basicamente o que ela explicou. Que nada daquilo
poderia se tornar público, era estritamente
confidencial e coisas do tipo. Eu entreguei a caneta
de volta e sorri.
— A foto dele?
— Não é necessário.
— O quê? Mas... Como vou reconhecê-lo
sem uma foto?
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Ela olhou o relógio de pulso, pegou sua


bolsa e o casaco no sofá e acenou para mim.
— Te ligo amanhã logo pela manhã
passando os detalhes de onde encontrá-lo. Enviarei
a foto também.
— Está... — comecei a falar, mas ela já
havia saído e batido a porta fechada — bem.
Li novamente o contrato básico, de poucas
informações, e suspirei. Esperava que além de
traidor o cara não fosse um abusador. Quer dizer, se
eu de repente precisasse chegar perto demais para
coletar informações, não gostaria de ser assediada.
Só então pensei naquele caso. Se isso acontecesse
eu nem sequer poderia denunciar?
Algumas mulheres eram traídas e se
deixavam derrubar, e outras eram como Jaqueline,
que escolhiam dar a volta por cima e mostrar ao
cretino mentiroso tudo o que perdeu.
Eu estava fazendo a coisa certa. E quando
Jaqueline chutasse aquele babaca de sua vida, eu e
ela poderíamos sair solteiras, livres, lindas e
desimpedidas para comemorar. Ela também
adoraria Maynara.
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Com um sorriso no rosto e convencida de


que tudo estava bem, tranquei a porta e as janelas, e
apaguei as luzes. Coloquei o celular para despertar
e caí na cama. Não estava com sono, mas o dia
seria longo. Então era bom tratar de ir dormir.
Meu último pensamento foi que em breve,
minha coleção de botas iria aumentar.

Acordei com um barulho tocando em meus


ouvidos. Alto, irritante e não parava. Me libertando
a contragosto da terra dos sonhos, abri um olho
depois de mesmo ter colocado o travesseiro na
cabeça não ter conseguido ignorar o som e peguei
meu telefone.
O nome na tela de início era embaçado,
atendi assim mesmo.
— Alô?
— Oh... perdão, acho que foi engano.
— Não! Espera, quem fala?

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— Esse número é da Aya?


Me sentei, coçando os olhos, e fitei a tela.
— Jaqueline? É a Aya.
— Meu Deus... o que houve com sua voz?
Eu torci o nariz, mas deixei uma risada
escapar.
— Eu acabei de acordar. Minha voz é essa
pela manhã.
— Entendo. Olha, estou ligando para falar
dos nossos planos.
Bocejei.
— Sou toda ouvidos.
— Quer que eu ligue daqui algumas horas?
— Não, tudo bem. Eu bocejei, perdão.
Acordar e já fazer contato com o mundo é confuso.
Mas o que precisa me falar?
Ela suspirou.
— Ok, eu consegui a informação de que
hoje ele estará em um clube.
— E onde fica?
— Isso é algo que esquecemos de
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combinar. Durante esse tempo, você terá que ficar


em Veracruz, não tem jeito.
— Me mudar?
— Temporariamente. Estadia é por minha
conta.
Eu suspirei. Ela falava que tínhamos
esquecido aquilo como se fosse só uma pequena
coisa. Eu ter que me mudar não era só um detalhe.
Mas o que eu podia falar agora? Havia concordado
com aquilo, assinei o contrato e não tinha nem o
começo do valor que era aquela multa. Teria que
me adaptar a missão. E eu já estava ali mesmo, só
tinha que ligar para mamãe e inventar algo que
fosse convincente.
Ela nunca entenderia ou acreditaria em uma
mudança repentina para Veracruz.
— Tudo bem.
— Ótimo. Eu vou passar o endereço por
mensagem, alugaremos um carro para que você
chegue se misturando aos outros membros. Você
vai se sentar próxima de onde ele estiver. Mas não
tão próxima para não chamar sua atenção. Não

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fique olhando descaradamente para que ele não


perceba. Ele é muito observador, então cuidado
com suas reações e se você ver que ele foi para um
lugar muito fechado, siga-o com cuidado, sem que
ele perceba.
— Eu vou precisar anotar tudo isso. Meu
Deus! É muita coisa!
Seduzir um homem nunca me exigiria
anotar lembretes, mas ver um e ignorá-lo? Fingir
que não estou ali por ele? Fazia parte de mim
flertar, olhar e sorrir.
Ela suspirou.
— Aya, basta prestar atenção no que eu
digo para que se lembre das palavras lá na hora.
— Como saberei quem é ele?
— Eu soube que lá dentro todos usam uma
máscara. Mas você vai reconhecê-lo pela tatuagem.
Ele tem um leão nas costas.
— Mas isso é muito vago! E se ele estiver
com camiseta ou sei lá, algo tampando as costas?
— Ele é loiro, alto, musculoso, e é
chamado de “Don” lá dentro. Pelo amor! Descubra
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quando estiver lá. Eu nunca entrei, não sei de tudo!


Eu arregalei meus olhos, coloquei a mão na
boca e segurei a risada. Don?! As páginas dos
romances envolvendo BDSM imediatamente me
vieram à cabeça. E era até compreensível que ela
não soubesse de nada por nunca ter entrado, mas
saber algo concreto seria bom. A cor do cabelo,
uma tatuagem que poderia ou não estar visível,
eram muito vagos. E se eu perguntasse por ele daria
muito na cara.
— Aya?
— Estou aqui.
— Você está muito distraída, desse jeito
não conseguiremos nada!
— Não estou distraída, só pensando em
como vou encontrá-lo. Mas ainda nem levantei da
cama, meu raciocínio está lento. — Suspirei, passei
a mão pelo rosto e joguei as cobertas de lado,
levantando. — Mais alguma dica?
Afastei as cortinas e abri a janela, deixando
o sol entrar e protegendo os olhos da claridade
repentina.

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— Acho que já disse tudo o que realmente


importava. Eu não terei como saber o que acontece
lá dentro, então não se meta em confusão.
— Está bem. Mas Jaqueline, e se de
repente... eu não sei, algo acontecer e a única
escolha para conseguir uma prova for falando com
ele?
Ela ficou em silêncio por alguns minutos,
então afirmou:
— Se não tiver escolha, tudo bem, fale com
ele. Mas Aya, não diga nada sobre você, sobre
mim, sobre sua vida... se precisar até minta. E em
hipótese alguma diga o seu nome.
— E vou me apresentar como?
— Invente um. Qualquer um. Mas nunca o
seu.
— Tudo bem — concordei, mesmo
achando aquilo meio louco. — Mais alguma coisa?
— Sim, o mais importante.
— O quê?
— Meu marido pode ser muito, muito
sedutor. Eu não preciso nem dizer que você está
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absolutamente proibida de cair no jogo dele, ou


preciso?
Eu gargalhei.
— Eu não tenho nenhum interesse em
entrar para a lista de conquistas de um traidor.
Ela suspirou e quando falou, seu tom era
mais suave.
— Ótimo. Suspeito que nosso trato tem
tudo para ser perfeito, Aya. Vou deixá-la para se
aprontar agora. E... obrigada.
— Sim, dará tudo certo. Até.
Nós desligamos e eu joguei o celular na
cama, me espreguiçando. Fui à cozinha, bebi um
copo de água e voltei ao quarto. Um banho me faria
acordar para o longo dia que me aguardava. E a
promissora noite de começar a desmascarar o tal do
Don.

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Capítulo 5
"Uma aventura é mais divertida se cheira a perigo
O que diria se esta noite te eu seduzo no meu
carro?
Que embacemos os vidros
A única regra é aproveitar
Mas te parece prudente essa proposta indecente?"
Romeo Santos, propuesta indecente

Era um clube de strip tease, eu já tinha ido


a alguns e conhecia bem o suficiente para
reconhecer de fora.
O segurança me deixou passar logo que
parei na frente dele. Não pediu minha identidade,
uma carteirinha de sócia, nem nada do tipo. Eu nem
paguei. O estranho foi que todos os outros antes de
mim apresentavam um cartão, mas não me
preocupei com aquilo. Provavelmente Jaqueline já
havia organizado tudo para que eu fosse liberada.

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Passei por um longo corredor escuro, com


uma fileira de lustres de cristais no, o carpete preto
no chão abafava o pisar dos saltos da minha bota
que se estendia até o joelho, e por Dios, eu estava
vestindo couro. Quando Jaqueline me falou a coisa
do Don, imediatamente soube como me vestiria. Eu
não podia aparecer lá com um vestido florido e
sapatilhas, nem jeans, ou um vestido comum
vermelho apertado.
Eu precisava me misturar a multidão.
Uma mulher com um batom roxo e cabelo
preto curto, alta e magra, toda vestida em couro do
pescoço aos pés, pediu minha bolsa para guardar na
recepção e perguntou se eu queria uma máscara. Eu
neguei. Ia me camuflar nas colunas se possível.
— Tenha um bom divertimento, senhora.
Lembre-se das regras descritas no e-mail de
inscrição. Seja bem-vinda.
— Obrigada.
Passei por ela rapidamente, preocupada que
ela fosse fazer algum tipo de teste e me perguntasse
algo sobre as regras. Jaqueline não falou nada sobre
e eu sequer sabia que existiam regras ali. Não era
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um clube de swing? Ou uma masmorra de fetiches?


Sabe Dios o que era aquele lugar! Que tipo de
regras eles teriam?
Um homem que mais parecia um armário
de tão grande abriu uma porta redonda, e assim que
tive um vislumbre do salão, quis voltar para trás.
Tudo bem, estava dividida entre curiosidade,
trabalho e autopreservação. O trabalho ao qual
assinei um contrato me obrigava a entrar, a
autopreservação me mantinha hesitante por senso
de segurança e o medo de esquecer que estava ali
em uma missão. Mas a curiosidade... ela
simplesmente gritava.
Ele fechou assim que eu passei e me vi
perdida ali dentro. Eu não sabia n-a-d-a sobre o
lugar. Por que é que não pesquisei antes?
Devia ter feito uma pesquisa, sabia que
estava faltando algo. Ninguém entra nessas de peito
aberto, sem pensar no que pode acontecer.
De repente um pensamento me pegou... e
se tudo não passasse de uma armação e ela me
atraiu até ali para me levar a outro país? Santíssima
Madrezita!
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Que eu não seja traficada, que eu não seja


traficada, que eu não seja traficada...
— Senhora?
Quase pulei ao ouvir a voz de um homem
perto de mim. Era o garçom do bar. Mas ele não
falava comigo, falava com uma mulher sentada em
frente a ele. Desviei os olhos dos dois e fitei ao
redor, como no mundo eu o encontraria no meio
daquelas pessoas?
A maioria usava máscaras e eu nem sabia
qual era sua aparência. Eu tinha um apelido, uma
descrição rasa que incluía cor de cabelo e olhos, e
uma tatuagem que poderia estar escondida.
Comecei a caminhar pelo salão, queria
passar despercebida, mas não estava fazendo um
bom trabalho. Alguns homens e até mesmo
mulheres me fitavam com sorrisos maliciosos,
acenando em aprovação. Talvez minha roupa não
tenha sido muito bem pensada, ou eu devesse ter
prendido o cabelo.
No salão tinham mesas onde alguns
estavam sentados, de repente as luzes se apagaram
e apenas um clarão focou no palco. Um ferro do
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chão ao teto estava lá e eu observei, em transe,


quando uma mulher vestida similarmente a mim
envolveu suas mãos ali, começando a dançar
seguindo as batidas de uma música cruelmente
sensual.
Eu me sentei em um banco do bar e assisti.
O clima se tornou carregado, uma fumaça
de luxúria se pôs ali e enquanto ela dançava, o
silêncio era absoluto. Ninguém falava nada, todos
pareciam ocupados demais vendo a bela mulher no
palco. Ela era o foco completo, os cabelos negros
caindo pelas costas como um véu que pareceu só
aumentar o tesão compartilhado. Eu podia ouvir
alguns murmúrios de aprovação, mas eram rasos.
Quem podia tirar os olhos dela? Não foi uma
surpresa quando ela começou a tirar a roupa.
Striptease. Eu sabia. Estava me perguntando em
qual momento alguém passaria com uma coleira,
ou chicotes começariam a ser expostos.
— Você viu que Fernando Javier veio
hoje?
Uma mulher falou para outra perto de mim.
Estávamos de costas uma para a outra e eu
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permaneci com os ouvidos atentos ali.


Fernando Javier? Esse não é o...
— O ator da nova novela?
— Oh, sim... ele mesmo — comentou a que
havia iniciado o assunto.
Quase caí de cara no chão com aquilo.
Conhecia Fernando Javier. Quem não conhecia?
Ele era o novo galã das novelas e muito cobiçado.
— Eu vou pedir a ele para fingir que sou
Belinda e recriar comigo aquela cena do último
capítulo, você assistiu?
— É claro que sim! Não perderia por nada
aquele tesão tirando a roupa.
As duas deram risada.
— Mas estou decepcionada, quem eu
pensei que fosse ver não está aqui.
— Quem?
— Don — soltou um lamento, sendo
acompanhada pela outra.
Eu fiquei alerta na hora. Aquele nome era
tudo o que eu precisava ouvir.

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— Ficou maluca? Ele veio!


— O quê? — a outra perguntou e era o que
eu queria saber também. — Eu não o vi!
A primeira riu.
— É só olhar pra direita, perto do senador Sanchez,
que vai ver.
Senador?!
Por que é que eu não gostava de política
mesmo? Se fosse um pouquinho mais atenta ao
assunto, poderia identificar o senador Sanchez e
logo depois, Don.
— Ah, sim... meu Don Juan.
Don Juan?! Era daí que vinha o Don?
Não... ele não seria tão brega assim, seria?
— A máscara dele é de veludo. Carina está
me devendo um bom dinheiro.
— Por quê?
— Da última vez ele veio com uma branca
rodeada de pedras negras. Eu apostei que a próxima
seria veludo e ela jogou em diamantes. Perdeu!
Eu procurei alguém com uma máscara de

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veludo preta, mas não sabia para onde olhar. A


máscara branca podia ser a de hoje, me ajudaria
muito.
— Ele vai tirar o sobretudo. Amiga, me
abana!
— Meu Deus, ele é tãaao gostoso! Aquela
tatuagem me deixa louca.
Era agora! Eu precisava descobrir para
onde elas estavam olhando e para isso, tinha que
encará-las. Eu virei meu rosto minimamente e olhei
na mesma direção que as duas. Então o vi.
O sobretudo deslizou dos ombros para sua
mão, expondo costas fortes, largas e incrivelmente
desenhadas. Eu prendi a respiração ao ver o leão
cobrindo de sua nuca até metade das costas. Era
lindo. Lentamente ele virou, e assim como as duas,
eu quase suspirei. Babar não teria sido difícil.
Ele era um belo homem, e deixe-me dizer
isso, realmente belo. Alto, um corpo forte e
atlético, ombros largos e a pele era beijada pelo sol.
Eu não podia ver seu rosto, porque a máscara o
mantinha coberto, mas só pelo o que conseguia ver,
afirmava que o homem era lindo. Um pecado.
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Os cabelos eram claros, não chegavam a ser


loiros como eu imaginei pelo o que Jaqueline falou,
era uma leve cor de areia que combinava com seu
tom de pele. Eu queria chegar perto para conferir a
cor dos olhos, mesmo que ela tivesse me dito para
não fazer aquilo. Ela me disse também para não
encarar, mas eu estava comendo o homem com os
olhos.
Ele levantou os braços, colocando de volta
o sobretudo escuro que havia tirado e eu me deliciei
vendo como seus músculos flexionaram. As veias
visíveis e minha cabeça imediatamente foi tomada
por pensamentos proibidos. Eu amava veias
saltadas em um homem.
Santo Dios!
— Pode me dar uma dose bem gelada, por
favor?
Pedi ao garçom sem disfarçar meu olhar no
homem. Estava calor ali de repente e nem um balde
de gelo iria me refrescar.
— Dose do que, senhorita?
— Qualquer coisa — minha voz era um

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sussurro alto, rouco, cheio de desejos.


O sangue percorria pelo meu corpo
esquentando cada célula viva.
Jaqueline esqueceu um detalhe muito
importante: seu marido não era um simples homem
persuasivo. Ele era estupidamente gostoso!
Duvidava muito que ele precisava se esforçar para
estar com alguém. Eu estava ali sob uma promessa
de que não sentiria nada além de revolta por ele,
mas já pulsava de excitação só por vê-lo.
De repente, ele apertou a mão do homem
com quem conversava e deu um último olhar no
palco, para a morena dançando nua, então começou
a andar diretamente para o bar. Bem onde eu
estava. Com tudo o que restava do meu foco, virei
de uma vez a dose servida e desviei o olhar dele.
Eu tinha que ir embora. Precisava. Não
conseguiria fazer aquilo de jeito nenhum.
Foi uma grande, péssima burrada, ter
aceitado. Eu cairia na tentação em questão de
minutos, segundos. Por que ela não podia ser
casada com um velho pançudo e mal barbeado? Por
que ele não podia ser baixinho, menor que eu e
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cheio de pelos nas mãos a ponto de os dedos mal


serem vistos? Mas não... ele tinha que ser melhor
que um modelo de catálogo, passava para trás os
caras de academia e dava de dez a zero nos galãs de
filmes de Hollywood.
Já comecei a pensar em como faria para
pagar a multa do contrato. Venderia o corpo? Iria
até um agiota? Empréstimo no banco? Quase bufei
com o pensamento. Nenhum banco me daria aquele
valor, eu não tinha crédito o suficiente para isso.
Me virei para o outro lado e ouvi as duas
dando risadinhas.
— Don Juan. — A voz de uma delas se
tornou rouca e arrastada, diferente de como era
minutos antes.
— Olá, querida. — A voz dele era grave,
grossa e exalava sexo.
— Governador... na reeleição, o meu voto
já é seu.
Ele riu.
— Não vamos espalhar por aí, meu bem.
— Claro que não. Sua identidade está a
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salvo conosco.
Governador? GOVERNADOR?
Não. Não, não, não, não e não! Não
mesmo! Algo estava errado, aquele não era o
homem. Eu estava no lugar errado, Jaqueline errou
a tatuagem ou aquelas mulheres estavam loucas.
Alucinando! Será que eu já tinha bebido demais?
Larguei o copo no balcão como se fosse um
bicho e é claro que algo tinha que acontecer para
chamar a atenção dele naquele momento. Eu não
percebi a força com que deixei o objeto, só vi o
copo virando e rolando até a beirada, espatifando
no chão. Eu pulei no banco, tentando pegá-lo, mas
não tive tempo.
— Merda! — resmunguei ao ver o garçom
se abaixando para pegar os cacos. — Mil
desculpas, juro que pago.
Eu estava equilibrada com a beirada do
salto nos dois apoios do banquinho e senti meu
corpo ir para trás conforme o sapato escorregou.
Porém, não tive tempo de cair. Meu corpo foi
firmado por braços fortes, que estavam ao meu
redor impedindo o tombo majestoso que eu levaria.
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Fechei os olhos, sentindo minhas costas


pressionadas ao peito dele e comprovei que não era
apenas a vista que o fazia parecer forte, ele
realmente era. O peito duro, quente, emanando
calor e me deixando com a respiração presa.
Eu me arrepiei dos pés à cabeça quando sua
voz potente falou no meu ouvido.
— Te peguei.
Oh, sim... ele tinha pego. Pegou com força
e de jeito, e por que diabos eu ainda não tinha me
livrado de seu aperto e sentado novamente? Porque
era bom demais ficar ali e sentir aquelas sensações.
Um calor no estômago...
— Sim — sussurrei. — Obrigada por isso.
A contragosto, me firmei novamente,
tirando alguns fios de cabelo do rosto e vi o garçom
me estendendo um copo de água.
Estiquei a mão, mas Don o pegou e
empurrou de volta.
— Nos traga um champanhe, Luíz.
— Sim, senhor.
Eu levantei uma sobrancelha para ele.
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Buscando um pouco de força, um pouco de foco.


Eu estava parecendo uma adolescente cheia de
hormônios quando vê um homem nu pela primeira
vez.
Àquela altura ele já tinha apoiado um braço
no balcão, de pé ao meu lado. Tomei consciência
de como ele era alto e ao ver seu rosto tão de perto,
comprovei que seus olhos eram verdes. Um verde
tão claro que brilhava, bonito como eu nunca vi
antes.
— Eu queria a água.
Precisava de algo que me acalmasse
naquele momento.
— Você vai gostar mais do champanhe.
— Champanhe é para celebrar, eu não
estou exatamente comemorando ter quebrado um
copo e quase caído na frente desse tanto de gente.
Ele sorriu e eu tive um pré-infarto ao
constatar que o homem ficava ainda mais incrível
sorrindo. Pobre Jaqueline. Seu marido parecia ter
saído de um conto de fadas. Como ele conseguia se
olhar no espelho todos os dias e conviver com

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tamanha beleza? Ele era fascinante, o homem mais


bonito que eu já tinha colocado meus olhos.
— Vamos comemorar que eu te salvei e
que você não terá de pagar por um simples copo.
— É claro que vou pagar, eu quebrei.
Ele me analisou lentamente, vi seus olhos
se movendo pelo meu rosto até o pescoço e meu
decote aberto demais.
— Olhe para trás, o homem de gravata
vermelha.
Eu fiz aquilo, mesmo que a dificuldade de
tirar os olhos dele tenha sido enorme. Don se
aproximou mais, seu corpo quase grudado ao meu,
mas foi o sopro da voz na minha bochecha que me
fez sobressaltar.
— O que tem ele? — sussurrei, engolindo
em seco.
— Veja o copo na beirada da mesa e a
garrafa se movendo a cada tapa que ele dá ali. Ele
já quebrou duas cheias essa noite e não pagará
nenhum centavo.
Eu tirei os olhos do homem e virei meu
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rosto. Ele estava perto, perto demais. Passei a


língua pelos lábios secos.
— Bela tatuagem — soltei antes mesmo de
me dar conta de ter dito aquilo.
— Ela é um segredo.
— Bem... parece que eu sei algo sobre
você, então.
Ele me deu um mínimo sorriso sem mostrar
os dentes.
— Você gosta?
Dei de ombros.
— Não tenho nenhuma, mas acho que
dependendo do desenho e significado, são bonitas.
— Faria uma?
— Se tivesse algum significado especial,
acho que sim. — Eu não faria. Tinha pavor de
agulhas, mas ele não precisava saber disso.
— Então por que não fazemos uma, eu e
você?
“Eu e você”. Uma frase tão curta, tão
simples, mas capaz de fazer minha imaginação

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trabalhar fervente em torno daquilo. “Eu e você”,


se tratando de nós dois, não deveria ser uma
combinação tão tentadora. Ele não deveria ser tão
tentador.
— O que sugere?
— Você faz um isqueiro e eu faço um
balão.
— Qual o sentido disso?
— Tem um significado grandioso, não
entendeu?
— Não e não sei por que, mas tenho quase
certeza que vai me explicar.
Ele pegou as taças que Luíz trouxe e me
deu uma. Nós brindamos e tomamos um gole. Era
delicioso. O líquido gelado não esfriou meu corpo
quente, só me excitou mais.
Eu precisava ir embora. JÁ.
— Te olhando daqui, vejo que você é o
fogo que me acende e faz subir, como o isqueiro
com o balão.
Eu o encarei por alguns segundos.
— Isso foi terrível.
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Ele me deu um sorrisinho de quem sabe o


efeito que causa.
— Eu sei, estou um pouco bêbado.
— Sóbrio suas cantadas são melhores?
— Provavelmente não.
— Então você está ferrado.
— Por que você não fica até eu estar
sóbrio, loirinha, e descobre?
Nós não deveríamos estar tendo aquela
conversa. Na verdade, não deveríamos ter nenhuma
conversa. Era para eu estar vendo-o de longe e
buscando provas incriminadoras para sua esposa
fazer sabe Deus o que e não ser a prova.
— Não me chame de loirinha.
— Não? E do que devo chamá-la?
As palavras dela vieram à minha mente na
mesma hora “...em hipótese alguma diga o seu
nome.” Mas não pude evitar, eu queria ouvir meu
nome saindo de sua boca, queria saber como soava.
— Aya.
Ele inclinou a cabeça levemente.

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— Aya é um nome ou apelido para


combinar com o lugar?
— Aya Maria e minha mãe ficaria
extremamente ofendida se falasse mal.
— Não, loirinha... Não vou ofender. Na
verdade, adorei o nome. Incomum, único e raro,
como a sua beleza.
— Essa foi um pouco melhor.
— Não foi uma cantada... Aya Maria.
Tomei um gole do champanhe, passando as
mãos pela minha perna e quando o fitei novamente,
seus olhos estavam fixos lá na minha... só então
percebi o quanto o vestido tinha subido.
Eu adorei.
— Então. — Limpei a garganta. — Don é
um nome curioso. Preciso confessar que fiquei na
dúvida se você é um dominador.
— O quê?
— Chicote, algemas, varas... você sabe...
suspensão e aparelhos sexualmente úteis para
fetiche.
— Aparelhos sexualmente úteis para
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fetiche? — perguntou. Ele tentava esconder um


sorriso, mas percebi que estava achando engraçado.
— Sabe do que estou falando —
resmunguei, virando a taça.
— Devagar. — Ele segurou minha mão e
tirou a taça do meu alcance, mantendo meus dedos
presos. Foi quando eu senti. O ouro gelado em sua
mão esquerda.
Ele não tirava nem a aliança para estar ali?!
Don seguiu meu olhar e soltou minha mão. O rosto
dele foi de descontraído para sério no mesmo
momento.
— Sei do que está falando. — Sua voz se
tornou profunda e decisiva. — Mas Don não tem
absolutamente nada a ver com amarrar e
amordaçar. A não ser que você queira isso.
Minha cabeça virou para ele com
brutalidade, como se eu tivesse levado um susto
com suas palavras. E eu realmente estava
embasbacada com tamanha sinceridade.
Ainda estava admirando o sorriso dele
quando o DJ pareceu estar sintonizado comigo,

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porque começou a tocar “Cuatro Babys” de


Maluma. Qual o nível de coincidência? Ou
Jaqueline apenas previu que eu ficaria balançada e
combinou com o cara de tocar aquela música para
me levar de volta à realidade, me lembrando do
meu real objetivo ali?
Quando o primeiro trecho soou, um sorriso
cruzou o rosto dele. Ainda com a taça na boca ele
me fitou com aqueles olhos cruéis. Uma clara
provocação.

"Ya no sé que hacer, no sé con cual quedarme"


(Já não sei o que fazer, não sei com qual ficar)

O garçom o serviu de mais champanhe e


ele aceitou. Eu cruzei e descruzei as pernas, não
sabendo lidar com aqueles olhos penetrantes.

"Todas saben en la cama maltratarme, me


tienen bien, de sexo me tienen bien"
(Todas na cama sabem me maltratar, me têm bem,
em sexo eu sou bom)
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Desviei meu olhar ao lembrar das palavras


dela.
"Ele não fica em casa. Não dorme lá nunca. Sonho
em ser mãe, mas não posso, porque ele quer se
dedicar à carreira. Eu me mudei de cidade, de
estado para acompanhá-lo e hoje vivo
praticamente sozinha, longe da minha família, de
amigos, de todos..."
— Mais um drink, Aya?

"Estoy enamorado de 4 babys, siempre me dan


lo que quiero"
(Eu estou apaixonado por 4 gatinhas, sempre me
dão o que eu quero)

— Não, para mim é o suficiente.


Ele levantou uma sobrancelha.
— Fraca para beber?
Eu quis responder que era fraca para lidar
com ele.

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"...E ele aproveita suas noites saindo do trabalho e


indo direto curtir. Talvez levando amantes nas
viagens..."
Olhei para trás, na minha loucura
conferindo se Jaqueline estava atrás de mim,
porque sua voz era tão... tão forte na minha mente.
— Não estou acostumada a beber demais.
Essa taça foi o suficiente.
Era uma mentira, eu amava sair e beber
com as minhas amigas, ficar em casa e desfrutar de
algumas também, mas lidar com ele sóbria já estava
difícil, bêbada eu pularia em seu colo.

"Chingan cuando yo les digo, ninguna me pone


pero"
(Fazem sexo quando eu digo, nenhuma me
contesta)

"...E o que eu faço?..."


Ele deixou a taça mais uma vez e balançou
a cabeça, olhando ao redor. Foi irreal quando ele
cantou sem som o trecho mais chocante daquela
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música.

"Cuatro chinguitas, cuatro personalidades, dos


me hablan bonito, dos dicen maldades,
diferentes nacionalidades, pero cuando chingan
gritan todas por iguales"
(Quatro meninas, quatro personalidades, duas falam
bonito, duas falam maldades, diferentes
nacionalidades, mas quando elas fodem, todas
gritam igual)

"...Durmo chorando agarrada a uma


camiseta dele."
Eu balancei a cabeça, me lembrando do
rosto dela enquanto me dizia aquelas coisas. Não
podia fazer isso, não seria mais uma a trair aquela
pobre mulher. Eu sentia muito por ela, mas seu
marido era um homem impossível de lidar. Eu
tirava meu time de campo, ela precisava se resolver
com ele sozinha.
Pulei do banco e sorri para ele.
— Eu vou ao banheiro.
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Ele segurou minha mão e lentamente a


levou aos lábios, sem tirar os olhos de mim.
A aliança.
A aliança.
A aliança fazendo cócegas na minha
palma!
— Vou esperá-la aqui, loirinha.
Puxei minha mão, tentando não demonstrar
o quão nervosa estava, e lhe dei as costas. O
banheiro ficava na mesma direção que o corredor
da saída.
Resisti à vontade de olhar para trás uma
última vez e saí. Meus olhos traidores ardendo para
ver aquele homem de novo, mas eu resisti e segui
em frente. Quando o vento da rua bateu no meu
rosto, respirei profundamente e entrei no primeiro
táxi que vi.

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Capítulo 6
"Frente a frente e olhando seus olhos
Teus intensos olhos são divinos
Teus bonitos olhos que me fazem suspirar
Me hipnotizam e eu caio para você de joelhos
Há algo em seus olhos que amo
Amo seus olhos quando me olham"
Anahi, me hipnotizas

Estava sentada no sofá encarando a tela da


TV sem prestar atenção a nenhuma palavra a mais
de uma hora. Na verdade, desde a hora em que
acordei. Não tomei sequer um banho, nem escovei
os dentes. Do jeito que caí na cama na madrugada,
me pus de pé e fiquei ali, pensando na grande
enrascada que havia me metido. Já me sentia
neurótica. Olhei pela janela para verificar se não
tinham helicópteros e tranquei a casa, rezando para
caso assassinos de aluguel tentassem entrar, eu

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tivesse tempo para pular da janela para o vizinho.


Um Governador. Só o pensamento do que
aquele homem tinha o poder de fazer comigo, me
dava calafrios. Onde é que eu estava com a porra da
cabeça quando aceitei um “trabalho” daqueles?
Me odiei por não gostar de política. Se eu
fosse uma lunática pelo assunto, ou minimamente
interessada, saberia quem Jaqueline era. Saberia
talvez quem o Governador era, mas não... tinha que
gastar todo o meu tempo com livros de ficção e
horóscopos. Aliás, porque diabos o Senhor Luzu
não me alertou que aquilo estava para acontecer?
Arregalando os olhos, pulei do sofá e
procurei meu celular, abri o aplicativo já preparada
para a bomba que me traria.

Câncer:
Hoje sua lua está em Júpiter, a chegada de dias
movimentados se aproxima com a influência de
Peixes e Aquário, que fará com que você precise
reforçar sua mente para passar por cima do que
virá. Faça um pouco de exercício que além do

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físico, possa relaxar sua mente. O corpo


trabalha melhor quando a alma e a cabeça estão
descansadas. Não perca o humor e a paciência
em dias escuros, lembre-se que sempre há como
melhorar.
Palavra do dia: Autoestima.
Cor do dia: Bege.
Em sintonia com: Gêmeos.

Eu fiquei por alguns minutos encarando a


tela e as pequenas letras. Bege? Minha cor nunca
foi bege e eu absolutamente não tinha nenhuma
lingerie bege. Teria que passar em alguma loja para
comprar e garantir que teria. Como nunca pensei
em algumas delas antes?
Senhor Luzu sempre abrindo minha mente
para coisas novas.
Quando descobri a influência dos signos na
minha vida, passei a ter mais controle sobre os
meus dias. Obedecia à risca tudinho o que me era
previsto ali. Era difícil lidar comigo mesma na
maioria das vezes. Uma canceriana que adorava
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tentar fugir do próprio signo.


Eu odiava meu drama, minha carência,
minha veia natural para fazer com que as coisas
sempre saíssem do meu jeito e os dias de frio que
eu sofria querendo alguém para me abraçar. Por
que é que Câncer tinha que ser o mais chorão de
todo o zodíaco?
Ainda estava refletindo naquelas
informações quando a coisa vibrou na minha mão.
Fui a um estado de fúria só de ver o nome dela na
tela. Tomei uma longa respiração antes de aceitar a
chamada.
— Pois não?
Atendi com aquelas palavras para ela logo
ver que eu não estava afim de dialogar demais.
Nem mesmo forcei uma simpatia. Ela estava
querendo me sacanear, quase havia conseguido.
— Aya? — Sua voz era formal e séria,
como sempre.
— Quem mais seria?
Ela ficou em silêncio por alguns segundos.
— Há algum problema? Você parece meio
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irritada.
Eu tranquei meus dentes, jurando que não
iria explodir, mas sua calma me irritou de tal forma
que não aguentei.
— O governador! Seu marido é a porra do
governador do estado e você não achou importante
citar isso?!
Ouvi seu suspiro do outro lado.
— O que muda? Ele ainda é só um homem
que você precisa desmascarar, o status não importa.
— Ah, importa sim, porque se algo der
errado, se ele descobrir e ficar muito puto, vai
sobrar para mim!
— Deixa de bobeira, Aya! Faça tudo
direito e ele nunca vai saber.
— Não, olha só... eu estou fora. Não quero
mais fazer parte disso.
— O quê? — foi um grito agudo, como se
ela estivesse indignada.
Indignada estava eu.
— Sei que sua situação é complicada com
ele, mas não quero me envolver com gente nesse
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nível de poder. Dios me livre! Ele poderia se livrar


de mim em um piscar de olhos e ninguém nunca
saberia. Eu ainda nem casei, não tive filhos, não
viajei o quanto queria, ainda nem cheguei aos
trinta!
— Pare de dizer absurdos, pelo amor de
Deus! Meu marido não é um criminoso!
— Ainda assim, eu estou fora.
— A menos que queira me ver na sua porta
com um advogado, eu sugiro que cumpra com
nosso contrato!
— Olha, sei que assinei, mas realmente...
não me sinto nada bem com isso. Ontem enquanto
fiquei lá o observando, me senti intrometida, como
se estivesse cuidando da vida de vocês dois, me
metendo em algo que não é meu!
Menti. Menti descaradamente.
— Você se meteu na vida daquele homem
no Spa e não se sentiu mal, qual a diferença?
— A diferença é que Roberto estava
traindo a esposa e eu perdi o emprego por causa
dele! O seu marido apenas sentou lá e conversou
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com alguns caras. Já passou pela sua cabeça que ele


vá até esses lugares para disfarçar algo sobre os
assuntos secretos do cargo dele? Cargo que,
inclusive, você escondeu de mim!
Era mentira. Aquelas mulheres haviam
falado com ele como se fossem íntimas, mas eu não
diria a ela. Se ela mentiu para mim, porque eu não
podia esconder aquele pequeno pedaço de
informação? Na realidade, o cara nem fez nada
demais.
Quis me crucificar assim que o pensamento
de “fez nada demais” me passou pela cabeça. Só de
estar ali ele já estava fazendo tudo demais.
— Já que é assim que vai ser, tudo bem.
Chega de bancar a boazinha. — Sua voz se tornou
ácida, baixa e severa. — Você fez um acordo
comigo, assinou um contrato e vai ganhar uma
grana preta! O mínimo que pode fazer é terminar a
porra do serviço que se comprometeu!
— Ei, ei, ei! Abaixe o tom de voz! Eu
assinei, sim, mas não sou sua empregada!
— Estamos no mesmo barco, Aya. Se eu
afundar, você vai junto. É justamente pela posição
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do meu marido que você não deve dar para trás na


sua palavra comigo.
— Está me ameaçando?
— Entenda como quiser. Ele estará em um
almoço hoje, num hotel no centro, vou mandar o
endereço por mensagem. Ligo depois.
Ela desligou e eu tentei ligar de volta, mas
não fui atendida.
— Filha da mãe! — xinguei aos ventos.
Meu celular apitou com uma mensagem,
mas ignorei. Me perguntei brevemente o que ela
faria se eu não aparecesse. Provavelmente me
caçaria e faria algo ruim, muito ruim. A mulher
com quem eu havia falado naquele momento era
bem diferente daquela que se apresentou como uma
esposa sofredora. Por um momento repensei a ideia
de tê-la ajudado, mas por outro lado, a entendia. Se
meu marido fosse um canalha eu talvez me tornasse
fria como ela era.
Ou será que ela já era fria antes de ele
começar suas aventuras?
Um suspiro me escapou e me levantei,
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deixando o celular de lado.


Tirei a roupa pelo caminho até o grande
banheiro da suíte que estava hospedada e dei graças
a Deus pela água quente. Os jatos me renovaram.
Minhas costas doíam no colchão que não estava
acostumada e aproveitei para relaxar por alguns
minutos.
Quando o motorista enviado por ela me
pegou no clube e me levou até o hotel Playa
Caracol*, meu cérebro quase pifou. Eu nunca, em
três vidas, poderia pagar uma semana naquele
hotel, mesmo que meu salário fosse bom. Já tinha
ouvido falar dele. Era um hotel e spa de luxo, cinco
estrelas onde você só passa duas noites se tiver um
bom dinheiro.
Ali ou eu pagaria a diária, ou comia. Pagar
a cama e comer hot-dog na esquina era fora de
cogitação.
E agora estava eu, sendo bancada pela
esposa maníaca do ano a todas as regalias que
qualquer hóspede tinha direito. Com aquele
pensamento, saí do quarto decidida a terminar o
que me comprometi a fazer, mas daria a ela uma
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lembrança para nunca mais enganar alguém.


Liguei para a recepção e pedi um café da
manhã caprichado, tinha certeza que não almoçaria
no restaurante sob os olhares do homem, então
enquanto estava livre dele, me alimentaria sozinha.

Antes de seguir para o endereço informado,


pedi ao motorista para me levar a um endereço,
quando chegamos e ele conferiu que se tratava de
uma loja de roupas íntimas, pareceu constrangido,
mas ficou no carro me esperando.
Eu não demorei a escolher três conjuntos
de renda bege, um com detalhes pretos e outro com
pedrinhas sob o bojo, o último era de seda. Queria
dormir com um para obedecer exatamente o que
meus próximos dias mandavam. Antes de sair, fui
até o banheiro da loja e mesmo sob minha regra
absoluta de não vestir sem lavar, coloquei a
calcinha já que estava sem, colocando um protetor
antes. Não podia usar nenhuma outra cor até meia
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noite. Voltei ao carro e nós logo seguimos para o


restaurante. Estava quase na hora do almoço dele e
eu queria chegar antes, para garantir que o veria de
primeira.
— Aqui estamos. Portya Rolita.
Eu espiei pelo vidro do carro e ergui as
sobrancelhas ao notar o luxo do lugar. A rua toda
parecia classe alta, cheia de lojas chiques e padarias
refinadas, mas a fachada do Portya me surpreendeu
mais ainda. Eu já tinha ido a Veracruz, mas nunca
visitei aqueles lados mais abastados.
Saí do carro quando ele abriu a porta e
agradeci. Estava quase dentro quando vi uma
sombra atrás de mim. Me virei, vendo o motorista
me seguindo.
— Você não pode entrar.
Ele franziu a testa.
— Por que não?
— E se o seu chefe te ver?
— Eu não trabalho para o senhor Herrera,
apenas para sua esposa.
— Por quê?
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Ele apertou os lábios.


— A senhorita pode questionar dona
Jaqueline.
Eu dei de ombros.
— De qualquer forma, prefiro que fique
aqui, não quero chamar atenção. Chegando com um
segurança não estarei sendo discreta.
Ele pareceu pensar um pouco antes de
voltar alguns passos e ficar parado como uma
estátua perto da porta, encarando a rua. Eu balancei
a cabeça, não entendendo a necessidade de um
segurança, já que eu não era ninguém e curiosa
sobre Jaqueline ser sua única chefe.
— Boa tarde — uma moça alta e bem
vestida me cumprimentou logo que entrei. — Tem
reserva, senhorita?
— Olá, tenho sim. Aya Castillo.
Ela conferiu no controle antes de sorrir.
— Me acompanhe até sua mesa, por
gentileza.
Nós seguimos até o fundo do restaurante e
um garçom puxou uma cadeira para mim, já me
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entregando o menu da casa. Quando fiquei sozinha,


olhei ao redor. Se por fora o lugar já era um
escândalo, por dentro eu estava encantada. Seguiam
diversas linhas de algo como cristais, o chão reluzia
em um piso branco com detalhes prateados. As
mesas eram cobertas por toalhas vermelhas e flores
em vasos dourados enfeitando.
Eu alternei meu olhar entre as mesas e o
menu, fingindo que escolhia minha comida e
realmente tentando ver se o encontrava.
De repente eu travei, me dando conta de
que o veria sem a máscara. Um sentimento de
antecipação e temor se espalhou por mim, e era
errado. Eu não deveria estar... excitada e animada
com a ideia de descobrir seu verdadeiro rosto.
Logo que decretei aquilo, reparei uma
movimentação diferente na entrada, dois homens
entraram e o sorriso da mulher que me recebeu era
maior para eles, eu não havia entendido o porquê.
Eles eram bonitos, mas normais, como qualquer
outro que estava lá dentro. Mas quando o terceiro
virou a esquina, conversando com outro, eu entendi
completamente.
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Era ele.
Quando eu lia nos livros — e li incontáveis
deles — o que as mocinhas sentiam ao ver seus
amores pela primeira vez, sempre achei que as
autoras estavam exagerando. Quer dizer, quem
sentia borboletas no estômago e a gravidade em
falta?
Mas havia acabado de descobrir que era
tudo verdade.
Se fosse me dado uma caneta naquele
momento, eu teria sido mais exagerada que elas. Se
bem que descrever o que se passava por mim era
impossível.
Eu começaria por seu caminhar. A forma
como ele andava era tão sexy... e, por Deus, quem
ligava para como os homens andam? Eu nunca fiz,
mas com ele era impossível ignorar. Ele se movia
como se todo o seu corpo estivesse em sintonia, as
mãos nos bolsos e um sorriso sutil, prestando
atenção no que o homem ao seu lado falava.
Ele sorriu para o garçom quando chegaram
à mesa e acenou para as pessoas na mesa ao lado,
que o encaravam. Eu queria ter olhado para outras
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mulheres, para conferir se estavam tão afetadas


quanto eu, mas não podia desgrudar meus olhos
dele nem por um milagre.
Ele olhou para cima, e com um esforço
sobre-humano, eu abaixei a cabeça, não querendo
ser flagrada comendo-o com os olhos. Sabe Deus
quanto tempo folheei o menu, mas só parei quando
um garçom se aproximou e limpou a garganta. Eu
engoli em seco e o encarei, vendo-o segurar uma
garrafa e taça nas mãos.
— Senhorita, com os cumprimentos do
cavalheiro na mesa perto da janela.
Eu não levantei o olhar a ele, porque sabia
que me observava. Podia sentir. Sabia que era ele.
— Eu vou dispensar, obrigada.
Ele hesitou, mas depois assentiu, me
deixando sozinha.
Era só o que me faltava. É claro que ele me
reconheceria. Pensaria que eu o estava
perseguindo? Que o segui? Minha mente já criou
diversos cenários onde ele me esperava sair. Seus
seguranças me enfiavam em uma van e minha mãe

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nunca mais saberia de mim. Deus me livre!


O mesmo garçom voltou à minha mesa,
minutos depois, parecendo nervoso quando colocou
uma caixa dourada de chocolates na mesa.
Ele tentou forçar um sorriso.
— Do mesmo cavalheiro, senhorita. Devo
devolver?
— Não. Diga-lhe que agradeço. Estou de
dieta, mas minha vizinha vai aproveitar.
Ele arregalou os olhos, mas concordou e
saiu. Eu me cocei para olhar para cima e ver qual
seria a cara de Juan quando recebesse os meus
cumprimentos nada lisonjeiros. Fiz o certo. Deveria
ter recusado o chocolate também, mas minha
resposta no agradecimento seria boa para ele
aprender que chocolates não conquistam qualquer
uma e, com certeza, não eu. Eu estava realmente de
dieta, tentando perder os quilos que ganhei durante
a semana no Spa e os dias de descuido em casa. Ele
não estava me ajudando, dando-me chocolates
caros.
Estava pensativa, me perguntando qual

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deveria ser meu próximo passo, quando a cadeira à


minha frente arrastou para trás e ele se sentou
elegantemente. Eu subi lentamente meu olhar do
cardápio para ele, passando por suas mãos que
ajeitavam a gravata, o pescoço longo e o queixo...
Meu Deus, aquela mandíbula foi feita para testar o
psicológico de qualquer mulher, fortes e as maçãs
do rosto esculpidas.
Seu nariz era tão perfeito como eu me
lembrava e juntando com aqueles olhos... Eu só
podia me perguntar como foi que a população
feminina ainda não tinha se juntado para prendê-lo.
O homem era algo como uma junção de Brad Pitt,
William Levy e Sebastian Rulli. Claramente todos
os homens dos meus sonhos em um só. O cabelo
loiro estava penteado para trás, formal como o
terno que ele usava.
O rosto era lindo, preenchido com uma
barba rala que agora sim eu podia ver com mais
clareza, os olhos verdes pareciam mais brilhantes
também. E aqueles lábios...
— Confesso que fiquei esperando seus
agradecimentos pessoalmente — ele falou, o tom
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rouco de sua voz ainda mais compreensível na luz


do dia.
Nenhum cumprimento, nenhuma gentileza,
apenas decretou sua vontade. Eu engoli em seco a
vontade de subir no colo dele e levantei um ombro,
como se não me importasse muito.
Sua voz era rouca daquele jeito? A noite
passada parecia tão distante para eu me lembrar
daqueles detalhes. E ele ali na minha frente,
superava qualquer outra imagem. Sem máscara, na
luz do dia e no silêncio. Sem Maluma cantando
sacanagens ao fundo, que fariam Juan lamber os
lábios e me tentar sem dizer uma palavra sequer.
— Que pena decepcioná-lo.
— O garçom foi um tiro certeiro no meu
ego, obrigado por isso.
Eu dei risada e inclinei a cabeça. Precisava
começar a jogar. Aquele homem estava mexendo
comigo muito mais do que o normal, e se eu não
prestasse atenção, ele me passaria para trás.
— Seu rosto não me é nada estranho.
Ele me deu um leve sorriso. Santa maldita
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covinha abençoada.
— Considerando que está estampado em
todo o estado. — Estendeu a mão e eu hesitei
apenas um segundo em aceitar. — É um prazer.
Juan Carlo.
Eu não deveria ter tocado sua mão.
Segundos depois de ter feito isso, percebi a
burrada. Ele me afetava de uma forma quase
insana, queria puxá-lo para perto e cheirar seu
pescoço, descobrir mais sobre ele, mais do que sua
esposa havia me dito.
— Herrera — completei. — Governador
eleito há dois anos, com a maioria esmagadora dos
votos e deixando a oposição e a concorrência sem
qualquer esperança. Aya Maria, e o prazer é meu.
Nós éramos um jogo. Ele era um jogo. E eu
precisava ganhar. Uma simples pesquisa antes de
encontrá-lo me deu informações básicas para
mover a primeira peça do tabuleiro. Os olhos dele
brilharam com admiração. É claro que eu parecia
uma admiradora fanática, militante cem por cento
informada do político gostoso. Será que ele já me
via como um alvo?
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Ele me olhou como se não houvesse mais


nada naquele lugar. Ou era a minha imaginação de
quem não transava há meses falando? De qualquer
forma, era um olhar perigoso. Nenhum homem
nunca foi tão intenso, me comendo com os olhos e
tão focado em mim.
Ele provavelmente me reconheceu, mas
pareceu cair na minha de quem não se lembrava
dele na noite passada.
— É o nome mais bonito que já ouvi,
combina com a dona. E vejo que tenho uma eleitora
fiel aqui.
— Oh, não... na verdade, eu odeio política,
só me mantenho informada do básico.
Ele levantou uma sobrancelha, depois riu.
— Você está fazendo maravilhas à minha
autoestima, querida. Já fui chamado de muitas
coisas, mas básico é realmente novo.
— Isso foi péssimo de dizer, não foi?
— Foi terrível.
— Tudo bem, então vamos começar outra
vez.
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Ele assentiu, e mais uma vez esticou a mão.


— Juan Carlo.
Eu me preparei para o choque elétrico
dessa vez. Logo o soltei e levei a mão ao peito, com
falsa empolgação.
— Herrera? Oh, meu Deus! Tenho lido
tanto sobre suas propostas, penso muito em votar
no senhor a tudo que for se candidatar e tento
sempre apoiá-lo enquanto governador!
Ele mordeu um sorriso, franzindo a testa.
Ainda tão bonito como quando sorriu.
— Vamos nos conformar com sua aversão
à política.
— Não fui convincente como militante?
— Se você tivesse me elogiado um
pouquinho mais, teria dado certo.
— Então basta apenas alguns elogios e o
senhor se derrete?
— Os elogios são desnecessários quando é
colocado à minha frente uma beleza como você.
Eu soube naquele momento que ele seria
implacável.
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A firmeza de sua mão na minha e a certeza


nos olhos... ele emanava sucesso. Fosse na carreira
ou nas conquistas com mulheres. Percebi também
que, bem ali, eu me tornei um jogo. Juan parecia
acostumado a ter o que queria porque, obviamente,
tudo era fácil demais para ele. Quem lhe negaria
algo? Mas eu neguei quando fugi na noite passada e
se queria sua atenção, consegui. Ele provavelmente
pensava que eu não o reconheci sem máscara, e não
estava me dizendo o contrário.
Começando com uma mentira.
Examinei com atenção seu rosto, cada
contorno daquele deslumbre em forma de gente.
Depois, propositalmente, fitei sua mão esquerda em
cima da mesa. Bem ali, onde o anel de ouro
descansava.
Ele seguiu meu olhar e viu também, mas
ele a sentia ali. Como podia ser tão cínico sobre
isso?
Eu me levantei lentamente, antes que
fizesse qualquer besteira. Tinha que sair dali, de
perto dele. Eu deixei minha pista. Mostrei a ele que
a aliança em seu dedo não deixava seus flertes me
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ganharem. Sua esposa estava em casa, lhe


esperando, não havia nenhum ponto em ficar ali
flertando com uma desconhecida. Se ele se lembrou
de mim, eu precisava fingir que não fazia ideia de
quem ele era, assim como ele acreditava.
Tirei uma nota da bolsa, o suficiente para
pagar meu almoço que nem comi e deixar uma
gorjeta, e o fitei. Quando voltasse ao quarto, ia
chorar por aquela nota.
— Boa sorte, governador.
Ele ficou ali me olhando e quando virei as
costas, ainda sentia seu olhar queimando em mim.
Saí do restaurante sentindo o peso do mundo em
minhas costas, mas sabia o que era.
Minha consciência.
Porque se eu me tocasse, estaria molhada.
Por um homem que nem conhecia, e já era de
alguém.
Mas o pior?
Eu não dava a mínima.

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Capítulo 7
"Você é tão bonita
Tão malditamente bonita
Vejo você no clube
Você é matadora
Quero ir com você"
Dulce Maria, beautiful

— Acha que no fundo no fundo, ele ainda


me ama? — Maynara perguntou quando o
atendente atrás do bar finalmente entregou nossas
bebidas.
— Se não amar, azar o dele. Eu sempre te
disse que ele come merda.
Ela riu exageradamente, muito louca dos
efeitos de tudo o que já tínhamos tomado e jogou
os braços ao meu redor quando chegamos na pista
de dança.
— Galdino! — ela gritou. — Volte para
mim, meu amor. Eu prometo que farei todos os

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dias.
A música parou bem naquele momento. Era
a pausa para o DJ anunciar algum aniversariante
presente, e graças ao desabafo bêbado da minha
melhor amiga, tínhamos os mais próximos nos
encarando, mas eu não dei muita atenção a eles,
porque tinha uma pergunta séria a fazer.
— Faz o que todos os dias?
Ela riu mais ainda, voltando a dançar
quando Maluma tocou. Eu fiquei tão tensa que até
minha amiga franziu a testa para mim.
— O que foi, Aya? Ai, não, amiga, está
chateada?
Eu fiz um bico e assenti, me perguntando
porque bebi tanto. Ela arregalou os olhos e me
puxou para uma mesa próxima, ignorando que
tinham três caras sentados ali e ocupando comigo o
restante do sofá vazio.
— Aya, você sabe que não sou virgem
desde os quinze, por que reagiu assim? Galdino é o
amor da minha vida!
Então eu tinha três pares de olhos muito
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interessados no desenrolar da conversa. E por mais


que eu quisesse corrigir May e dizer que aquilo
tinha tudo a ver com Maluma e meu recente trauma
em ouvir sua voz, a bebida na minha mente falou
mais alto e precisei apelar ao meu lado louco.
Quanto tempo fazia que não tomava
alguma atitude irresponsável? Ah, é. Nem dois
dias. A não ser que flertar com o cara que deveria
investigar secretamente não fosse errado.
Coloquei as mãos no rosto dela e
aprofundei mais o bico.
— Eu não tenho culpa de ter me
apaixonado por você.
Maynara arregalou imensamente os olhos.
Um dos caras quase cuspiu a bebida, o outro apoiou
o cotovelo, se inclinando para mais perto de nós e o
terceiro se ajeitou no sofá.
— Merda — disse ele. — Por favor, se
beijem.
Maynara franziu a testa para mim, e quando
eu sorri ela pareceu ter adquirido um súbito
momento de sobriedade. Se virou para o cara que

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pediu o beijo e foi o mesmo se arrumando no lugar


e passou a mão pelo braço dele. Eu estava ansiando
pelo o que viria a seguir, porque minha amiga não
entrava no jogo para brincar em campo.
O cara se aproximou dela e sem perder
tempo, May tocou os lábios levemente pelo dele,
demorando apenas dois segundos para se afastar.
O cara estava para agarrar a cintura dela e
puxá-la para ele, quando ela apoiou os braços na
mesa e sorriu para os três.
— Acho tão legal que vocês não tenham
preconceito. Parabéns. Alguns caras correm na hora
quando eu e Tifanny tiramos a cueca.
O da ponta foi o primeiro a levantar, o do
meio logo depois, mas o que foi beijado estava
paralisado, e seus amigos o encaravam como se
tivesse contraído alguma praga.
Eu tampei a boca, segurando a gargalhada
que queria explodir, e May se aproximou dele de
novo, o que o fez acordar e levantar tão rápido que
tropeçou nos próprios pés enquanto corria com os
amigos.

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Finalmente me deixei cair para trás no


encosto e batemos as mãos em meio às risadas.
— Meu Deus! Foi genial, May.
— Certeza que os dois vão infernizá-lo
pelo resto da vida.
— Total. É errado eu não me sentir culpada
por isso?
— Se for, nós duas estamos na lista negra
de Deus.
Conheci Maynara antes mesmo da primeira
série. Ela era minha vizinha e crescemos juntas. Ela
estava comigo desde quando dei meu primeiro
beijo, até quando perdi a virgindade. Onde eu
estava, minha May estava atrás. Quando sua mãe
estava no trabalho, ela ficava em casa, e quando a
minha precisava, os pais dela cuidavam de mim
também.
Tudo o que uma ganhava, a outra ganhava
também. E quando não, dividíamos. Tudo, até
namorados. Houveram momentos que eu só respirei
porque ela estava presente para me consolar,
colocar minha cabeça no lugar ou até mesmo

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resolver uma bagunça para mim. Quando me


mudei, ela ficou para trás. Insisti para ir comigo,
que podíamos dividir o apartamento, mas ela tinha
Galdino, e enquanto Galdino segurasse seu
coração, ela ficaria com ele.
O problema é que ele segurava o coração
com a mão direita, e uma faca com a esquerda.
Continuamos sentadas e eu fiquei
observando ao redor enquanto ela conferia
rapidamente o celular.
— Tem uma mensagem da sua mãe no meu
celular — disse ela. — Por que não está a
atendendo?
— Eu não trouxe o meu, ficou no hotel.
— E que hotel... A dona lá está empenhada
nos resultados do serviço, pela forma como está te
tratando.
— Ela quer resultados, não posso culpá-la
por isso — resmunguei.
May deu de ombros.
— Quer falar sobre o gostosão?
Gemi e fechei os olhos, um pouco
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arrependida de ter contado a ela detalhes de sua


aparência, mas feliz de ter ocultado a identidade.
— Não mesmo. E May, obrigada por ter
vindo até aqui ficar comigo.
— Também te amo. Agora vem, vamos
dançar.
Ela ficou de pé e puxou minha mão, mas a
puxei de volta.
— Não, vamos esperar acabar essa.
— Mas é Maluma! Você ama, escuta. É
Felices Los 4!
Pelo menos não era Quatro babys.
Sim, eu amava Maluma, muito mesmo. E
era uma pena que Juan o estragou para mim.

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Capítulo 8
"Comemos de um fruto proibido, nós amamos e
sabemos disso
Eu não preciso de nenhum outro Don Juan
O nosso caso é ilegal e não vou negar que pago a
sentença por te beijar
Sei que com você é igual e não pode me negar
Eu já cometi o erro de me apaixonar
E siga assim, não pare mais
Você se converteu em uma doença
Que quanto mais perto chega mais aumenta minha
ansiedade
É clandestino
E assim mesmo desejava o destino"
Shakira ft. Maluma, clandestino

Vou me atrasar para o trabalho.


Esse foi meu primeiro pensamento. Ainda
estava meio que dormindo e não conseguia pensar
em um motivo além desse para o meu telefone estar
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tocando tão irritantemente num domingo. Em pleno


feriado. Mas a coisa de atrasada para o trabalho
estava fora de questão, afinal, fui demitida.
Assim que minha cabeça raciocinou isso,
foi como efeito dominó. Demissão. Spa. Roberto.
Fotos. Jaqueline. Contrato. Juan.
Porra, Juan.
Peguei o aparelho debaixo do travesseiro e
percebi que ainda estava usando uma das calcinhas
beges que lavei depois de voltar ao hotel na tarde
do almoço. Precisava conferir no senhor Luzu qual
era a cor de hoje.
— Alô?
— Meu bom Deus, acho que nunca vou me
acostumar com sua voz pós-acordar.
— Estamos brincando de ofender agora?
— Você perderia. — Fiquei boquiaberta
com a resposta dela, mas não tive espaço para
rebater. — Ele tem uma coletiva de imprensa hoje.
Vá até o hotel, fique em algum lugar distante, mas
que ainda seja fácil de vê-lo, e só o assista. Se o vir
saindo, o siga, se o vir conversando com alguma
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mulher, tire fotos. Vá com roupas formais para se


misturar.
— Me misturar?
— Sim, assim você será só mais uma na
multidão e ele não dará um segundo olhar para
você.
Com isso, ela desligou. Eu fiquei com o
celular no ouvido por mais alguns segundos,
respirando fundo para não ligar de volta e mandá-la
ir se foder.
— Que vaca!
Eu tinha ligado quando voltei do
restaurante no último lugar que ela me mandou ir e
confirmei que assim como no clube, não houve
nada diferente. Ele não estava de conversinhas,
nem tinha mulheres perto, e menti dizendo que o
observei e tudo o que vi foi trabalho.
Ela agradeceu com um humor do cão e
desligou.
Naqueles momentos, quando ela era uma
megera total, eu soltava a mão da sororidade e tinha
pensamentos como “se ela for assim o tempo todo,
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entendo porque ele a trai”. E esse foi só o mais leve


dos pensamentos. É claro que eu me arrependia e
me sentia horrível logo depois, porque nada
justificava a falta de respeito dele com ela.
Assim como nada justificava a minha
também.
Suspirando, com o peso do mundo em
meus ombros, mais conhecido como consciência
pesada, fui tomar um banho e verifiquei meu
horóscopo. Não tinha nada revelador, e minha cor
era rosa.
Palavra do dia: Resistência.
Senhor Luzu, maldito. Sabia bem que eu
precisaria ser resistente no dia de hoje.
Separei uma roupa básica, camisa branca
lisa e uma calça jeans. Isso faria com que eu me
misturasse. Estava quase no banheiro quando meu
celular apitou, deslizei o dedo pela tela e abri a
mensagem, era de Jaqueline.

Esqueci de dizer. A próxima vez que eu ligar,


atenda a droga do telefone. Vou te pagar para
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flagrar as diversões do meu marido, não para se


divertir também.

Para o inferno com o básico.


Joguei calça e camiseta no chão e pisei em
cima, segurando meus cabelos para não gritar de
raiva. Qual o problema dela? Não via que eu só
estava tentando ajudá-la? Mesmo depois de ter
mostrado seu lado megera, eu continuei ali. Tudo
bem que a multa do contrato era um incentivo para
continuar, mas ainda assim, eu vinha em primeiro
lugar! Qual o problema em ser pelo menos educada
e gentil?
Peguei na mala uma saia de couro que
chegava na metade da coxa e uma blusinha rosa
decotada 3/4. Voltei para o banheiro, mas saí de
novo, pegando o sutiã e calcinha rosa e
praticamente jogando na cama.
Não pensei, só agi.
Como sempre.


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A frente do hotel estava lotada. Eu me


espremi para dentro e mostrei minha carteirinha da
imprensa.
Jornalista por um dia.
Onde Jaqueline conseguiu aquilo, eu não
fazia ideia, e nem queria saber.
Segurei minha bolsa firmemente e olhei
diretamente para o palco, mas para minha
decepção, ele não estava lá. Me aproximei mais.
Fiquei a passos curtos do palco, provavelmente
nenhum jornalista deveria ficar ali. Mas qualquer
um que me perguntasse, eu diria que era estagiária
e que tinha ido substituir alguém, por isso estava
meio perdida. Jaqueline me mataria se eu ferrasse
com tudo, e morrer não estava exatamente nos
meus planos.
Tinham microfones, câmeras, jornais e
jornalistas em toda parte. As pessoas estavam
alvoroçadas. Eu estava contando os segundos,
imaginando que a qualquer momento alguém ia
começar a gritar: Juan, cadê você? Eu vim aqui só
pra te ver.
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Podia ter a câmara inteira ali, qualquer


partido, até o presidente poderia entrar, mas o
banner enorme com seu rosto estampado na parede
do palco me fez ter mais certeza ainda que ele era o
foco.
Claro que seria.
Só que nem isso me fez sair ou me afastar
do lugar. Cravei meus pés no chão. Queria vê-lo
imediatamente, no segundo que subisse ali. Mas
nem precisei de esforço, porque foi em uma rápida
conferida olhando para os lados que o vi atrás de
mim. Ele estava de cabeça baixa, assentindo
enquanto outro cara dizia algo em seu ouvido e
outro mexia num tablet, assentindo também.
Seu assessor? O cara que escrevia os
discursos para ele? O secretário, talvez?
Desviei o olhar antes que ele pudesse dar
conta da minha presença e fiquei observando o cara
à frente sem ouvir uma palavra do que ele dizia.
Percebi naquela hora que eu teria sido uma péssima
jornalista. Na faculdade, logo quando fui me
inscrever, cogitei fazer jornalismo, foi uma das
várias opções que me passou pela cabeça, mas
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estava grata aos céus e meu instinto por ter seguido


outro caminho.
— Você está tão entretida com o discurso
que vou ficar por perto só para garantir que não
caia no chão quando dormir de tédio.
Fechei os olhos brevemente, sabendo que
era a hora de respirar fundo, e virei o rosto para ele,
admirando a beleza estonteante a qual ainda não
havia me acostumado.
— Como me reconheceu? — Eu estava de
costas o tempo todo e ainda assim ele me viu. Mas
e daí? Quando o cara vê um desafio, ele faz de tudo
para conseguir vencê-lo. Me ver na multidão era o
básico para ele.
Ele desviou os olhos do palco para mim por
um breve instante.
— Impossível confundir os fios de ouro
que você carrega na cabeça.
— Governador — falei, quase que
suspirando —, é bom vê-lo. Mas estou começando
a pensar que estou sendo seguida.
Ele sorriu, voltando a olhar para frente.
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— Ora, é mesmo?
— Isso não é como um filme, é? Fomos
flagrados pela oposição conversando e agora
eles estão me perseguindo, pensando que
conseguirão informações sujas do senhor através de
mim. Mas... o senhor como um herói moderno, vem
me salvar todas as vezes. É isso? Está aqui para me
salvar de alguma emboscada, como no restaurante?
— Você tem uma imaginação e tanto, Aya.
Dei de ombros, querendo parecer
desinteressada.
— Minha mãe diz a mesma coisa.
— Ela é como você?
— Em que sentido?
Ele hesitou antes de responder.
— Intensa.
O encarei, virando totalmente o rosto para
ele, rezando a Deus que ninguém estivesse
prestando atenção o suficiente para tirar uma foto
dele naquele momento.
— Eu sou intensa?

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— Você tem olhos de mistério, Aya. Tem


uma delicadeza que eu não via em qualquer mulher
há muito tempo, mas ao mesmo tempo, tem
respostas para tudo o que eu digo. Além de ser,
provavelmente, uma das coisas mais bonitas que já
coloquei meus olhos. Então eu te pergunto, sua mãe
é como você?
Engoli em seco e voltei a olhar para frente.
Delicada. Bonita. Misteriosa... Intensa.
O que ele diria se soubesse que eu era uma
mentira feita exclusivamente para seus olhos?
— Sim. Pode-se dizer que minha mãe é um
pouco como eu.
— Então leve-me até ela, porque já estou
apaixonado.
Minha cabeça chegava um pouco acima de
seus ombros, apenas isso, e eu estava de salto. Mas
mesmo alta e transparecendo confiança, ele nunca
pareceu tão intimidante.
— Sua agenda parece meio ocupada no
momento, Governador.
— Por que não vem comigo por uns
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minutos? Podemos conversar em outro lugar. —


Ele olhou ao redor e deu um passo atrás, enfiando
as mãos nos bolsos e mal me olhando.
Disfarçando.
— Na verdade, eu vou ficar. Quero ouvir o
discurso do candidato.
Ele soltou uma risadinha, chamando minha
atenção. Só então percebi que seu cabelo não estava
penteado como naquele dia. Parecia que ele
simplesmente acordou e esqueceu que precisava
usar o pente. Só lavou e passou os dedos, esperando
secar sozinho. E ficou bom.
Caralho, ficou bom pra cacete.
— Tudo bem, mas ele não é um candidato.
É o dono do hotel.
Mordi o lábio, tentando prender o sorriso
de vergonha.
— Eu sabia, só estava te testando.
— Tudo bem, loirinha. Eu não estava
esperando que suas habilidades como militante
melhorassem em três dias.
Eu queria dizer que não iam melhorar
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nunca, porque política é um saco. Mas a verdade é


que ele torna o cenário bem fácil de aguentar. Eu
conseguiria assistir um discurso dele. Um debate,
qualquer coisa.
Merda.
Fechei os olhos com força rapidamente, me
concentrando. Lembrando que tinha um trabalho a
fazer.
Então, por que a câmera está na bolsa?
— Se quiser — ele falou mais perto, e juro
por Deus que parecia ter encostado a boca no meu
ouvido —, posso te ensinar tudo sobre o meu
Governo.
As palmas começaram no mesmo momento
e só então percebi que eram para ele. Que já não
estava mais do meu lado, mas subia no palco
improvisado. Deveria ser um momento de calma e
paz para eu respirar, me recompor, ficar tranquila.
Mas só aumentou minha inquietação.
— Amigos e colegas de estrada — disse
ele, começando assim que as pessoas o assistindo
se acalmaram. — Primeiro, não vou encher vocês

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com algum discurso emocionante porque ainda não


são nem quatro da tarde e eu preciso do almoço
para me inspirar o bastante. — As pessoas riram, e
até eu sorri um pouco. — Hoje completo 3 anos de
governo, e já sinto como se estivesse parindo um
filho, mas longe do hospital. Parece que estou
atrasado com tudo, com as preparações para a
próxima campanha, que em menos de 2 anos vou
viajar pelo estado com mais intensidade e falar com
todos vocês, que tudo começa de novo. O frio na
barriga, a incerteza, a emoção e tudo vale a pena.
Porque sei que no final, assim como fizeram 3 anos
atrás, vocês vão eleger com sabedoria e
consciência. Ontem, estivemos na cidade vizinha
comemorando a última escola e que prometi
construir dentro das comunidades mais pobres, e
hoje, aqui nesse hotel, comemoro a última das
metas de governo que tive e que prometi a vocês
quando pedi pelo seu voto. Vocês estão dentro do
futuro maior hospital do México. E não haverá uma
pessoa que passe por essas portas que sairá sem
atendimento.
A partir daí tudo virou uma confusão

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gigante. Ele tinha um sorriso enorme no rosto,


parecia orgulhoso de si mesmo, e pelas expressões
das outras pessoas, podia ver que ele não era o
único. Ele disse que foi sua última meta de
governo, então conseguiu, fez um bom trabalho.
Os repórteres começaram a fazer perguntas.
E eu queria fazer milhares também. Por que tão
jovem? Por que escolheu a política? Por que
Governador? Por que é casado?
A vergonha dos meus pensamentos me
golpeava a cada passo. Virei as costas para toda a
comoção acontecendo no salão do futuro hospital e
fui para dentro, seguindo pelo longo corredor que
deveria dar acesso à escada e elevador, e depois,
nos quartos. Cheguei na metade quando ouvi
passos apressados atrás de mim, olhei de soslaio e
meu coração foi na boca ao perceber que ele
caminhava atrás de mim. Estava há poucos passos
de distância, mas bem ali, me seguindo.
Me acuando.
Me pressionando.
E Deus... como eu queria que continuasse.

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Parei em frente ao elevador no momento


que a porta abriu e um cara saiu. Entrei e Juan
pegou o braço do cara do lado de fora, o levando de
volta para dentro. Meus olhos arregalaram ao ver
que não estávamos sozinhos e não soube se
agradecia ou chorava de frustração.
— Herrera, o que...
— O que achou do meu discurso? — ele
perguntou e apertou três botões no elevador. Três
andares diferentes.
— Foi legal, cara. Achei que poderia ter
seguido a dica do Santana, mas... — Parei de ouvir.
Parei de prestar atenção.
O cara continuou falando e eu desviei meus
olhos da porta à frente para olhar Juan
discretamente. Ele tinha o maxilar cerrado e os
olhos fixos no painel mostrando os andares
conforme subíamos. Os dedos estavam brancos
segurando o ferro abaixo do espelho. Olhei para
frente novamente quando o elevador parou.
— Ótimo, Santiago. Pode descer, obrigado.
O cara — Santiago — nos olhou sem

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entender nada e saiu. Do lado de fora, ele franziu a


testa, e quando seu olhar bateu em mim, abaixei a
cabeça.
A porta fechou e eu me preparei para virar
para ele.
— Juan, eu...
— Continue olhando para frente — disse
ele, levantou a cabeça e olhou para cima, eu segui
seu olhar e vi uma câmera.
O elevador parou de novo.
— Desça, Aya. Eu vou esperar você no
andar de cima. Suba pela escada e vá até o quarto
410.
Quando as portas se afastaram, eu hesitei,
sabendo que era naquela hora. Ficou claro como o
dia para ele o que eu começava a sentir. Dei os
últimos passos para fora e continuei parada de
costas, esperando as portas fecharem, e quando
aconteceu, fiquei quieta ali por mais alguns
minutos.
Inspirei e expirei. Cogitei até sentar e
meditar, mas se quisesse fazer meu trabalho
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direito, não podia mais fugir disso. E para fazer as


coisas certo, só tinha uma forma: chutando Juan
para longe. Longe o suficiente para que ele se
aproximasse de outra e o foco da minha câmera
agradasse a Jaqueline.
Queria o fim daquilo. O fim dele. Da nossa
interação tão repentina e estranha.
Desejava o fim do que sentia quando ele
estava perto.
Subi as escadas, decidida, bati na porta e
ele a abriu, ficando longe para eu entrar e depois
fechá-la. Imediatamente me ofereceu uma taça com
um líquido transparente e borbulhante dentro.
Champanhe.
— Comemorando algo? — perguntei e ele
bebeu o seu de uma só vez, então encheu de novo.
— Nossos encontros.
— Coincidências da vida — respondi,
cínica.
— Ou o destino.
Suspirei, encontrando seus olhos.
— O que você quer, Juan?
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Ele deu de ombros, caminhou lentamente


até a grande janela do chão ao teto e puxou uma
cordinha, fazendo a cortina se fechar.
— O que eu quero, o que desejo ou o que
preciso... essa é uma grande questão.
— Vamos começar com o que você quer de
mim.
— Essa é outra grande questão, porque
quero tantas coisas de você, Aya. E quase todas
incluem suas roupas fora.
— Recusar o vinho e os chocolates naquele
restaurante não foi fazer charme. Não estou
jogando. Você não terá nada de mim, governador.
Ele riu, e o som de seu riso borbulhou
como o champanhe no meu estômago.
— Que dilema.
— É bem fácil, na verdade — continuei. —
Você só precisa parar de vir atrás de mim quando
nos encontrarmos, já que ultimamente isso parece
ser recorrente.
Eu era tão cínica. Precisei forçar meus
olhos a continuarem nele mesmo mentindo.
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— Você recusa o vinho e o chocolate, mas


aceita o champanhe. É assim que me diz “não”?
Filho da puta.
— Ninguém recusa champanhe de
qualidade. E sua óbvia falta de caráter faz um
“não” ser desnecessário. Você já deveria ter
percebido que não há nenhuma chance na terra de
eu fazer qualquer coisa com você.
— E no inferno? Na Terra, sem chances,
mas no inferno, talvez? E me diga, onde está essa
óbvia falta de caráter? Você nem me conhece.
— Eu digo o que vejo, e a aliança firme no
seu dedo não me dá nenhuma impressão boa sobre
você.
Como no clube, na primeira noite, assim
que mencionei o anel, seu sorriso murchou. Mas
dessa vez ele tentou disfarçar.
— As coisas nem sempre são o que
parecem.
Levei a taça à boca e inclinei levemente a
cabeça.
— Parece bem claro para mim. Você gosta
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de se divertir quando sua mulher não está por perto.


Ele sorriu, mas não foi nenhum dos sorrisos
que eu conhecia, foi forçado.
— E se eu te disser que quando eu não
estou perto, ela se diverte também?
Quis defendê-la na mesma hora, jogar na
cara safada dele tudo o que ela me disse, todo seu
sofrimento. Mas engoli, me sentindo mais hipócrita
do que nunca.
— Eu diria que só está tentando me
convencer de me enrolar nessa cama com você.
Dessa vez ele sorriu de verdade. Então deu
um passo à frente, e mais um. Até que apenas um
suspiro nos separava. Juan tomou um gole do
champanhe e passou a língua pelos lábios, ciente de
que eu assistia cada movimento.
— Tem certeza, loirinha, que preciso fazer
algo para convencê-la?
Meu pai. Ele sabia. E como não saber? Eu
estava a ponto de virar uma poça em seus pés cada
vez que falava comigo, que sorria, que respirava
perto de mim.
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E aconteceu. Todas as vezes que tia Selma


me disse para ser livre, para não passar vontade,
que eu era uma mulher independente... tudo que eu
sempre me orgulhei... tudo, bateu direto na minha
cara. Foi um gancho de direita caprichado que nem
mesmo Mike Tyson poderia ter dado.
Me senti uma vagabunda. Pela primeira vez
na vida me senti uma total e completa vagabunda.
No pior e mais feio sentido da palavra. Franzi a
testa e dei um passo atrás, mal percebi a taça
escorregando dos meus dedos, só quando ele
segurou minha cintura e me tirou de perto dos
vidros. Ele estava falando, eu podia ver os lábios se
movendo, mas era só isso. Só mais um dos
movimentos dele que sem qualquer esforço me
seduziam.
Perdi qualquer sentido moral.
Ética.
Respeito próprio e alheio.
Por mim, por Jaqueline, pelos votos deles.
E fora o incomodo de me encaixar na
descrição de cada palavra que denegria uma

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mulher, eu não me importei.


Suas mãos tocaram meu rosto, segurando
minha bochecha e tentando chamar minha atenção.
Mas, caramba, ele não via que já tinha toda ela?
— Sou uma vadia — sussurrei.
— Pare, Aya. — O ouvi finalmente, e ele já
não mostrava mais os sorrisos, só uma expressão
quase que preocupada no rosto. — Não é uma
vagabunda, nem uma vadia, nem nada disso. É só
uma mulher jovem e linda que tem desejos, não é
sua culpa.
— Eu quero beijar você — falei, tirando
suas mãos de mim e dando dois passos atrás. Bati
direto na parede. — Quero beijar você tanto desde
a primeira vez que te vi, quero passar os dedos
entre os fios do seu cabelo e acariciar sua boca
quando você dá esses malditos sorrisos, mas você
me toca e eu sinto essa coisa no seu dedo e tudo o
que posso pensar é: “caralho, ele é...”.
Não pude nem terminar. Ele me fitou com
olhos em chamas e eu quis me dar tapinhas nas
costas pela atuação.

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— Se beijar fosse o único problema aqui,


eu estaria no céu. — Ele suspirou, se aproximando
de novo e me encurralando no canto da parede.
Juan fechou os olhos e encostou a testa na minha.
Eu respirava pesadamente. — Penso em você desde
que te vi também. Não posso ver uma cabeça loira
na rua que olho para ver se não é você. Não
consigo comer chocolate, mal tomo vinho, chamei
o meu assessor de loirinha. Porra, sonhei com você
e acordei com a mão no pau batendo uma, Aya,
caralho!
— Por favor, diga que não falou meu nome
deitado ao lado dela — pedi baixinho. Estava tão
chocada com suas palavras que a única coisa que
pude dizer, pateticamente, foi isso.
Ele riu. Riu e balançou a cabeça, então
levantou meu queixo e beijou o canto da minha
boca.
— Eu gemi por você enquanto gozava nos
meus dedos. Mas não falei seu nome deitado ao
lado dela, porque ela não dorme comigo.
Dito isso, ele me soltou e saiu do quarto,
batendo a porta quando me deixou sozinha.
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Sozinha e confusa.
E de repente, duvidando de todas as
palavras dela que me levaram até ali.

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Capítulo 9
"Se você disser que me ama eu não vou acreditar
Você não se importa com que o coração sente
Só te importa a caça
E se nota de longe a sua má intenção
E olha, me apaixonar nunca foi tão fácil
Traiçoeira, eu não me importo se você me quer
Mentirosa, você só quer que eu morra de amor
Mentirosa, eu não me importo que de amor você
morra"
Sebastian Yatra, traicionera

Eu voltei para a casa da minha mãe. Depois


daquele final de semana recheado de Juan, eu
precisava de um descanso, de ocupar minha cabeça
com qualquer coisa que não tivesse relação com
ele, e começaria bem, tirando um tempo para visitar
meu antigo bairro. Assim que cheguei, fui recebida
por mamãe e tia Selma, que me abraçaram por
longos minutos. Nazaré, Carmen e outras vizinhas
que convivi durante a infância e adolescência
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também apareceram. Mamãe me contou as


novidades da vila, com tia Selma e Carmen
emendando detalhes nas histórias. Como sempre,
me distraíram, o que era o necessário para mim
naquele momento. Tinha até me esquecido o
motivo real de ter ido para lá passar o dia.
O café da manhã passou, e quando
estávamos preparando o almoço, Maynara
apareceu. Galdino estava junto com ela e eu tremi
em antecipação quando o vi, porque se eles tinham
reatado o relacionamento, havia uma grande chance
da pequena parte mais tóxica de mim estar ali
também. Minha amiga me conhecia bem, porque
veio ao meu encontro assim que notou o olhar que
deveria ser de desespero em meu rosto.
Ela me abraçou e aproveitou que Galdino
estava conversando com mamãe e tia Selma para
falar.
— Meu irmão veio com a gente.
— Imaginei. Por que não me avisou? Uma
mensagem seria bem-vinda.
— Porque ele prometeu que não ia entrar
quando eu disse que você estava aqui.
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— E você acreditou?
— Enrico sabe que essa ainda é sua casa, e
ele não vai querer causar uma confusão, você sabe
disso.
Lhe dei um olhar cético.
— Me diga quando ele evitou uma
confusão quando eu estava envolvida.
Ela arregalou os olhos e mordeu o lábio,
mas eu sorri, disfarçando nossa conversa quando
Galdino se aproximou, me cumprimentando de má
vontade.
— E aí, menina da cidade grande. Ficou
milionária e esqueceu dos pobres?
— Como se você também não tivesse saído
daqui para buscar uma vida melhor, não é,
Galdino?
O sorriso dele escorregou e Maynara me
deu um leve belisco no braço.
— Desculpa aí, Aya. Eu estava brincando.
— Esquece. Estou de cabeça cheia por
alguns assuntos de trabalho.
— Mas você não foi demitida? — ele
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perguntou com um sorriso confuso.


Eu olhei acusadoramente para Maynara e
levantei.
— Já volto.
Minha mãe me chamou, mas eu tinha que
vê-lo. Parecia que faziam anos, mesmo que fossem
só algumas semanas desde que nos encontramos
pela última vez.
Enquanto descia a escada que dava para a
rua, ouvi passos atrás de mim e logo a voz de
Maynara.
— Aya, vamos voltar lá pra cima, por
favor, amiga.
— Relaxa, May.
Ela segurou meu braço, me suplicando com
o olhar.
— Do que adianta ele não entrar se você
desce atrás dele?
— Eu só quero ver. Uma olhadinha só e já
subo.
— Nós duas sabemos que não é isso o que
vai acontecer, Aya.
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— Sabemos também que não adianta você


tentar me segurar se eu estou decidida a ir.
Soltei-me e abri o portão, vi o carro dele do
outro lado da rua e sabia que ele estava na casa da
avó. Quase bufei. Aquela velha me odiava.
Maynara se colocou à minha frente e apontou o
dedo.
— Você é minha melhor amiga, mas ele é
meu irmão. Pare de brincar com ele.
— Eu não estou fazendo nada, só quero
ver.
Dei um passo na direção da casa antiga que
meu amor da infância estava.
— Ele está com a noiva, Aya! Não vá
cutucar, se pretende deixá-lo de novo. O deixe
seguir em frente.
Eu parei subitamente. Uma pontada me
atingiu e eu voltei atrás, a olhando sem acreditar.
— Noiva?
— Ele conheceu uma garota na faculdade.
— Mas ele terminou a faculdade há dois
anos!
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— E ela esteve ao lado dele todo esse


tempo, esperando até que ele entendesse que você
não voltaria mais. Só agora ele deu uma nova
chance ao amor.
— Mas... — comecei a falar, mas não sabia
o que dizer. Meu maior medo insano e desmedido
aconteceu. Engoli em seco, tentando disfarçar todos
os pensamentos loucos que me passavam, mas
Maynara me conhecia bem.
Ela sabia da história melhor do que
ninguém e, sinceramente, eu não entendia como ela
conseguia ficar neutra na minha situação com
Enrico. Ele era seu irmão e eu sua melhor amiga.
Nós dois brincamos um com o outro e quebramos
nossos corações inúmeras vezes. Eu sempre
voltando quando estava carente ou tinha um
momento impulsivo, e Enrico sempre largando tudo
por mim.
Até um tempo atrás.
Porque a partir de algum momento, ele
recomeçou.
Ele me esqueceu?

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— Aya, pare — May pediu, tentando me


levar de volta para dentro. — Merda, eu conheço
esse olhar. Se fizer alguma besteira...
— Ele não pode ter deixado de me amar em
tão pouco tempo — sussurrei, totalmente
concentrada nas lembranças com meu amor da vida
inteira.
Eu queria entrar naquela casa e arrastar a
talzinha para fora, lembrar a ele quem era seu amor
para sempre. Porque ele prometeu. E não
interessava quantas vezes a circunstância nos
separou, isso não mudaria.
Nunca.
— Faz tempo, sim, e você deveria seguir
em frente, como ele fez.
— Você realmente está me dando lição de
moral sobre relacionamentos quando acabou de
entrar aqui com Galdino?
— Não misture as coisas, Aya. Cada caso é
um caso.
Desisti de discutir com ela, porque sempre
era assim. Terminávamos uma de cada lado, porque
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Galdino era um anjo em sua visão e eu me tornava


o próprio demônio por odiá-lo. O cretino imbecil.
Deixei May me levar de volta e sentei à mesa com
mamãe e titia. Galdino me lançava olhares
preocupados, pois ele me conhecia muito bem. E
todas as pessoas naquela rua que tinham
consciência que eu estava ali e Enrico também,
provavelmente já estavam se preparando para o que
viria a seguir.
— Vou ao banheiro — falei, meia hora
depois. Eles já estavam distraídos conversando e
ouvindo as histórias de Galdino. Ele era delegado,
assim como Enrico.
Os dois foram melhores amigos desde
sempre, estudaram juntos na faculdade, entraram
para a polícia e foram promovidos em diferentes
momentos até alcançar a meta principal: se
tornarem delegados. E conseguiram. Eu sempre fui
muito orgulhosa dos feitos de Enrico, mesmo que
não demonstrasse isso como ele desejava, que era
ficar ao seu lado.
Saí da casa pela janela do banheiro, até se
darem conta de que eu estava demorando demais,
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eu já teria feito o que precisava. Dessa vez não teria


um show, eu estava mantendo isso como um
mantra para não arrumar confusão. Passei pelo
corredor dos fundos de fora da casa até a varanda e
abaixei para passar pela janela da sala. Corri pelas
escadas, acostumada a me mover tão rápido em
saltos. A rua estava vazia naquele pedaço, e assim
que saí do meu portão, o da avó dele se abriu
também. Esperei para ver a tal noiva saindo, mas
me surpreendi ao ver só ele.
Enrico deixou a barba crescer. Ele sempre
odiou barba, mas eu o convenci anos atrás de que o
deixava ainda mais lindo e ele passou a usar. Me
perguntei se sua noiva gostava disso, e se gostava,
se ela pensava que ele usava por ela. Onde estava
ela, afinal?
Precisei me conter por um momento para
observá-lo, continuava bonito como sempre. Usava
uma camisa social com os primeiros botões abertos,
uma medalha de ouro pequena que sempre teve
desde pequeno no pescoço e a calça social cinza
escuro. O cabelo estava penteado para trás, mas
Enrico nunca usou gel, o que fazia alguns fios
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desobedientes escorregarem.
Sem poder esperar mais, aproveitei quando
ele virou de costas e abriu a porta de trás do carro,
se inclinando para pegar algo. Me aproximei
rapidamente, parando dois passos atrás daquele
homem. E eu sabia o momento que ele percebeu
que não estava sozinho, que se deu conta de que
provavelmente era eu o perseguindo. Ele começou
a virar bem lentamente e eu me preparei para a
inundação de sentimentos que sempre me atacava
quando se tratava de Enrico.
Seus olhos escuros fizeram uma rápida
varredura em meu rosto, parando logo depois no
meu cabelo, pelo qual ele sempre tinha sido
fascinado. Até os meus onze anos, sempre mantive
o cabelo curto, eu gostava. Mas então Enrico me
disse que imaginava como eles seriam se eu
deixasse crescer, eu deixei e ele parecia
hipnotizado cada vez que me via. Mesmo quando
éramos crianças, depois na adolescência e quando
nos tornamos homem e mulher um com o outro, ele
sempre teve aquele olhar para mim. E o que me
incomodou, foi que aquele olhar não estava
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presente.
— O que você quer, Aya?
Precisei de alguns segundos para raciocinar
suas palavras brutas. Enrico sempre foi gentil e
doce comigo, nada perto do homem sério que me
encarava com olhos quase frios.
— Eu soube que você estava aqui e resolvi
descer. Dizer um oi.
— Oi. — Ele suspirou e voltou a fazer o
que estava fazendo antes de me notar atrás de si.
Meu sangue ferveu. Olhei para os lados,
depois para trás, conferindo se mamãe ou Maynara
não estavam vendo nada, então aproveitei que ele
estava de costas e o empurrei por completo para
dentro do carro, subindo junto com ele e fechando a
porta. O que acarretou de eu estar esparramada em
seu colo.
Nada apropriado, mas eu não estava
pensando. Nunca se tratava de ser coerente quando
ele entrava em questão.
— Que diabos você pensa que está
fazendo?
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Ele se sentou, segurando minha cintura


para tirar-me de cima, mas apertei minhas coxas ao
redor de suas pernas, me mantendo no lugar.
— Recuperando o tempo perdido? —
perguntei com um sorriso, recorrendo a qualquer
coisa que o fizesse me tratar como sempre. Como
nós.
— O tempo perdido está perdido, e é
passado. Saia de cima, Aya! Minha noiva não pode
nos ver assim.
— Então essa coisa de noiva é sério?
— É claro que é sério. Eu amo a Luz.
Eu ri, arqueando as sobrancelhas.
— Luz? Sério? Eu sabia que essa garota
sempre tentava dar em cima de você, mesmo
quando estávamos juntos.
— Mas ela respeitou, porque ela sabe o que
significa respeitar um relacionamento. E eu
também.
— Mesmo? Você sempre foi tão péssimo
mentiroso — Arrastei o dedo por sua mandíbula,
me deliciando quando ele passou a língua pelos
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lábios, nervoso. — Então por que seus dedos estão


cravados na minha bunda?
Ele soltou imediatamente. Nem tinha se
dado conta de quão natural e instintivo seus atos
eram comigo.
— Aya, por favor. Eu a amo e não vou
magoá-la.
— Eu respeito isso. — Franzi a testa,
tentando me fazer de ofendida, mas ele me
conhecia muito bem para cair.
— Vou me casar com ela, e não está nos
meus planos ver você novamente.
Dessa vez eu ri alto, aproximando nossos
corpos mais ainda. Meus seios estavam quase
colados ao queixo dele, e meus lábios tão perto... eu
estava tentada a acabar com a distância só para
matar a saudade que não sentia.
— Eu não acredito que vá ser feliz.
— Eu também não acreditava. — Cerrou os
dentes, começando a demonstrar a raiva que sentia
por mim. — Pensei que depois de você eu estava
acabado, mas ela me ajudou, me levantou. Ela foi
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quem me reergueu, diferente de você, que me


derrubou.
— Não seja tão sentimental. Nós dois
sabemos que você não é nenhum santo.
Enrico bufou, fechando os olhos
brevemente.
— O que você quer, Aya? Uma foda? Sinto
muito, mas meu pau não está disponível para você.
Não somos mais aqueles dois jovens de antes, que
tinham planos e sonhos, que eram felizes. E foi
você quem acabou com isso, então não me venha
com essa de que eu fiz algo errado, quando nós e
todo mundo nesse bairro sabemos a verdade.
— Nós ainda somos os mesmos.
— Não. — Ele segurou minha mão,
afastando meu toque de seu rosto. — Não somos
nem de longe. Agora eu vejo como você me usava,
como passava por cima de quem fosse preciso. Não
duvido nada que esteja fazendo algo errado e queira
que eu te console, que passe a mão na sua cabeça e
fique ao seu lado quando sabe que não merece isso.
Mas esse tempo acabou. Eu amo a Luz, e nem
mesmo suas táticas de sedução vão me fazer acabar
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com a melhor coisa que me aconteceu.


Desviei meus olhos e imediatamente a
imagem de Juan me veio à mente. Franzi a testa,
me perguntando se ele estava certo, se eu tinha
insistido em ir atrás dele porque Enrico podia me
fazer esquecer o que estava me atormentando,
como sempre fez antes.
Juan era, com certeza, algo errado. Eu não
estava acostumada com isso. Sempre fui eu a
seduzir, a enganar; sempre fui a tentação, nunca a
tentada. Mas ele parecia meu pior e mais delicioso
pesadelo. E Enrico sabia disso, o que me deixou
furiosa.
Eu queria que ele dissesse que a noiva que
se dane, que podia ficar comigo por um tempo, que
me distraísse, que me amasse por algumas horas e
depois voltasse para sua vida como se eu nunca
tivesse feito parte dessa nova fantasia encantada
que ele estava formando com a Luz. Mas não foi
isso que aconteceu. Ele estava me rejeitando, e
doeu de uma forma que não entendi.
Ergui o queixo, pouco me importando se
sua noivinha poderia aparecer a qualquer momento.
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— O que te faz pensar que vai conseguir


seguir em frente depois de nós?
— Eu já segui. Você não era o meu “para
sempre”.
Aproximei meus lábios dos dele, quase
encostando, e o senti tremendo debaixo de mim.
Ele podia negar o quanto quisesse, mas não existia
um fio de seu corpo ou mente que tivesse esquecido
de como éramos.
— Você não vai me esquecer, Enrico —
sussurrei, passando meus lábios por sua bochecha
até o ouvido. — Depois de tudo o que fez comigo,
não é justo que você me esqueça.
Ele respirou profundamente, e me
surpreendi ao notar que sua respiração não me
arrepiou e mesmo estando sentada diretamente em
cima de seu membro duro, eu não estava excitada.
Seus dedos apertaram minha cintura e,
dessa vez, ele conseguiu me afastar, abrindo a porta
do meu lado.
— Saia, Aya. Pelo amor de Deus, me deixe
em paz.

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Sorrindo, segurei seu queixo e antes que ele


pudesse piscar, selei nossos lábios por meio
segundo, me afastando depois.
— Tente ser feliz com a minha sombra
escura entre você e sua Luz.
— Aya, você é maldita.
Saí do carro sorrindo com suas palavras,
porém lamentando que sua noiva não estivesse
presente para me ver saindo dali.

— Eu soube que Enrico está por aqui hoje


também. — Todos na cozinha pararam o que
estavam fazendo para prestar atenção em mim
assim que eu disse aquilo. — Por que não o
convidamos para almoçar?
Maynara estreitou os olhos, desconfiada.
— Tem certeza que é uma boa ideia, filha?
— mamãe perguntou, secando as mãos no pano de
prato.

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— Ué, por que não?


— Porque pelo o que eu lembro, o último
almoço que vocês estavam presentes não acabou
bem — disse Galdino, mas nem me dei ao trabalho
de olhar para ele.
— Ele está com a noiva. Maynara é como uma
irmã para mim, não quero que haja sempre essa
divisão entre nós todos. Sei que Enrico é muito
querido por vocês. Ele é seu afilhado, mamãe.
— A menina tem razão, Lourdes. Maynara,
vá chamar seu irmão — disse Tia Selma.
Eu reprimi a vontade de sorrir,
inocentemente ajudando a colocar as coisas na
mesa.
— Eu, hum... Enrico e Luz tinham planos
para o almoço — falou Maynara, me lançando um
olhar confuso.
— Ah, não! Eu quero conhecer quem é a
moça que vai casar com meu menino — mamãe
declarou. — Aya vai se comportar. Sei que essa é
uma ótima oportunidade para recomeçarmos!
Selando a paz e dando as boas-vindas para a moça

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na família.
Tendo todos seus argumentos recusados,
tanto May quanto Galdino se deram por vencidos, e
minha amiga se levantou para ir chamá-lo, mas não
sem antes pedir para falar comigo. Eu sabia que ela
ia me dar um sermão sobre isso, me pedir para não
complicar as coisas, por isso me fingi de ocupada,
alegando que queria tudo pronto para receber
nossos convidados de última hora. Minha amiga
foi, mas nada feliz.
— O que pretende, Aya? — perguntou
Galdino.
— Almoçar com a minha família.
— Que família? A que você tentou
destruir?
Eu dei risada, querendo encerrar aquele
assunto antes que os três voltassem.
— Siga em frente, Galdino. Siga em frente.
— Fácil falar quando você é a pessoa que
plantou a bomba e saiu sem um único arranhão.
— Sabe onde eu gostaria de jogar uma
bomba? Na sua casa, enquanto você dorme.
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Seus olhos se mantinham firmes e sérios


em mim o tempo todo, sem vacilar.
— Essa jogada de provocar Enrico o
trazendo para cá, não vai funcionar. Você não vai
ferrar o relacionamento do meu amigo.
— O único relacionamento que eu gostaria
de destruir é o seu com a minha amiga — respondi,
lhe dando um sorriso irônico. — Mas como ela não
escuta ninguém quando se trata de você, vou ter
que esperar que descubra sozinha o cafajeste que é.
Galdino e May tinham uma história tão
tóxica quanto eu e Enrico, mas a diferença foi que
quando seu irmão me traiu, eu dei o troco e o
abandonei. Mas Maynara ficou e permitiu que
Galdino repetisse aquilo tantas outras vezes que me
enojava até mesmo olhar para sua cara. Mas May
jurava que ele havia mudado. Eu não confiava em
homens, em nenhum deles. Meu pai fez isso fácil
para mim, então acreditar que Galdino nunca mais
a faria correr para mim destruída, era impossível.
— Você não tem moral para falar.
Meu sorriso sumiu e a faca em minha mão
pareceu tentadora para cortar um dedo de sua mão
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espalmada na mesa.
— Sua hora vai chegar, Galdino. E eu,
como sempre, estarei ao lado dela.
Inclinando-se um pouco mais perto, ele
pegou uma batata frita, disfarçando.
— A sua também vai, e quando sua
máscara cair eu vou observar com muito gosto.
Nossa conversa foi interrompida quando a
porta abriu novamente, mostrando primeiro
Maynara, logo atrás dela, a garota que eu não via
há algum tempo, e protetoramente, segurando a
cintura dela, vinha Enrico. Fiz um esforço
descomunal para desfazer minha carranca e plantar
um sorriso convincente. No instante em que Enrico
olhou para mim, eu consegui sorrir, mas ele
desviou os olhos no mesmo segundo, nem me
dando tempo.
— Madrinha, essa é a Luz, minha noiva.
Tia Selma você já conheceu, assim como Galdino e
a May.
— Luz! Que bom receber você aqui.
Venha, menina. Eu sou Lourdes, madrinha desse

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menino lindo.
— Oi, dona Lourdes. Obrigada pelo
convite.
Cruzei as pernas debaixo da mesa,
infantilmente me recusando a ficar de pé.
— Na verdade foi ideia da minha filha, Aya
Maria. Você já a conheceu?
Os olhos da garota bateram em mim, e por
um segundo ela hesitou, parecendo nervosa. Ergui
uma sobrancelha, esperando qual seria a postura
dela perto de mim.
— Oi, Aya. Como vai?
— Melhor impossível. — Fitei Enrico, que
ainda não me olhava. — Olá, Enrico.
— Aya. — Me dando apenas um aceno, ele
se aproximou da mesa, puxando uma cadeira para
ela.
Todos pegaram seus lugares, e enquanto se
serviam, conversavam tranquilamente, até bem
animados. Meus olhos se mantinham em Enrico,
esperando que ele reagisse a mim, que me olhasse
de volta, que de alguma forma me mostrasse que
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aquilo era só teatro, que só estava tentando


preencher o lugar que eu deixei.
— Dessa vez você perdeu de verdade, gata
— Galdino disse ao meu lado, nem se preocupando
em conter o humor em sua voz.
Isso me fez desviar a atenção dele, vendo
que só eu ainda tinha o prato vazio. Maynara estava
sentada ao meu lado e me deu um balançar de
cabeça sutil, mas que mostrava como estava
descontente com o que fiz. Uma pena para ela. Já
devia estar acostumada. Quando se tratava daquele
jogo doente com seu irmão, eu não me importava
em machucar quem estivesse envolvido. Assim
como ele também nunca ligou para as
consequências quando se tratava de mim.
Minha intenção era fazer aquela noiva
indesejada dele se sentir desconfortável, mas minha
mãe e tia Selma tornavam isso impossível. Puxando
assunto com ela, agindo normalmente, como se
aquela garota não fosse a mesma que vivia atrás
dele enquanto ainda era meu namorado, que o
perseguia sem nenhuma vergonha na cara e ainda
fingia que não, quando eu a colocava em seu lugar.
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Como se ela fosse realmente da família.


Enrico e eu nos tornamos amigos desde que
saí para brincar na rua pela primeira vez.
Estudamos na mesma escola e demos nosso
primeiro beijo com doze. Com treze, decidimos que
íamos namorar, mas com dois dias de namoro, eu
soube que quando eu tinha onze, ele beijou outra
garota da rua de cima. Não me importei que quando
eu tinha onze ainda éramos só amigos. Fui para a
escola no dia seguinte e beijei o primo dele. Daí
tivemos nosso primeiro término.
Voltamos dias depois depois, e terminamos
semanas após reatar.
Um vai e volta foi constante. Quando eu
me mudei para Polanco, ainda namorávamos, e o
último término foi no qual tudo desandou.
Enrico assinava cada uma das minhas
atitudes, até as coisas mais perversas que fiz. Era
tudo culpa dele.
Ele finalmente me olhou, e me pegou com
aquele sorriso torto no rosto. Franzindo a testa, me
encarou profundamente, porque me conhecia e
sabia que aquele sorriso só podia significar uma
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coisa: ele nem sequer começou a pagar o que me


devia.

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Capítulo 10
"Eu me sento no meio da multidão
E fecho meus olhos
Sonho que você é meu, mas você nem sabe
Eu queria estar nos seus braços
Como aquele violão espanhol
E você me tocaria a noite toda
Até o amanhecer"
Toni Braxton, spanish guitar

Voltei para Veracruz na segunda-feira de


manhã. O final de semana que deveria ser de paz,
se tornou um desastre com Enrico e sua noiva
passeando pela vizinhança. Não era o fato de ele
estar com alguém que me incomodava, mas sim de
ter seguido sua vida. Não havia mais amor da
minha parte por ele, mas um sentimento de posse
que não importava quanto tempo passasse, assim
como a minha raiva, nunca ia embora. Não era
justo que ele deixasse tudo para trás e eu ainda
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tivesse pesadelos.
Eu estava inquieta no quarto de hotel,
fuçando as redes sociais de Luz Garcia, procurando
qualquer coisa, mas achando apenas as fotos e
declarações de amor deles.
Deixei o celular de lado, vencida. Sabia que
precisava me concentrar em uma coisa de cada vez.
E enquanto eu estivesse ali, meu compromisso era
com Jaqueline e seu Governador. E pensar nisso,
mais uma vez me fez voltar a caminhar de um lado
para o outro entre as paredes do quarto que estava
virando uma casa improvisada. Eu não estava
fazendo progressos com o nosso acordo, tinha
medo de ver o marido dela por medo de cair na
tentação, e sabia que a única forma de escapar
daquilo era fazendo o que me foi dito: conseguir
provas de uma traição.
Passou pela minha cabeça beijá-lo de
surpresa e pedir para alguém me fotografar. Claro
que eu usaria uma peruca ou algo assim, mas ele
saberia que fui eu que o entreguei e eu
provavelmente seria morta por mercenários mais
rápido do que dizer “X”.
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Jaqueline gostou de mim pela minha


sinceridade, pela coragem que demonstrei e a
aparente repulsa por cafajestes. Ela viu o que queria
ver, baseado nisso, me colocou em sua vida, e me
deixou na posição de júri e juiz referente ao seu
casamento. Mas ela não sabia muitas coisas sobre
mim. Eu não odiava cafajestes, eles eram muito
bons para se divertir por uma noite. Divertidos,
loucos e dispostos a fazer qualquer coisa, assim
como eu. Me divertir com o marido dela estava
agora na lista proibida, e o grande problema é que
proibições eram um letreiro tentador para mim. Eu
quase nunca resistia a elas.
Mas, para sair rápido dessa, eu precisava
que ela visse a Aya do nosso primeiro encontro,
aquela que ela quis como aliada. Que até cogitou
ter como amiga.
A campainha do quarto tocou enquanto eu
lia meu horóscopo, minutos depois. Olhei ao redor,
conferindo se tudo estava em ordem para evitar
qualquer crítica vindo de Jaqueline, porque, afinal,
todas as vezes que conversávamos, eu conhecia um
novo lado seu, e o último não foi exatamente tão
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caloroso. A deixei entrar e me surpreendi com sua


aparência. Nos cumprimentamos e ela entrou,
jogando a bolsa na minha cama e tirando os
sapatos, atirando-se no sofá.
Ok, esse era um lado que eu não esperava.
Despojada e... relaxada? Isso não parecia com ela.
— Hoje foi oficialmente um inferno.
— Mal anoiteceu.
— Ah, Aya... Sinta-se feliz que você não é
esposa de um político. Essa vida pode ser
cansativa, às vezes, e nada recompensadora.
— Aposto que você ganha umas joias de
vez em quando.
Ela deu de ombros, soltando os grampos
dos cabelos e passando os dedos entre os fios
loiros.
— Quase sempre. É o jeito do meu Juan
compensar a ausência.
— Bem, ele está cuidando do Estado.
— E ele cuida tão bem, sério. —
Levantando, Jaqueline foi até o frigobar e pegou
duas latas de refrigerante, me entregando uma e
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sentando-se novamente. — Você é ligada em


política?
— Na verdade, não.
— Meu pai foi o prefeito de uma cidade no
interior, então eu estou nessa vida desde cedo.
Talvez por isso sempre desejei estar o mais longe
possível e nunca planejei me casar com alguém do
ramo.
— E como foi que você acabou com o
Governador?
— Eu sei. — Ela sorriu, jogando a cabeça
para trás no encosto. — Isso me fascina nele. É tão
poderoso e imponente. Um dos homens mais
importantes do país e é todo meu.
Eu estava confusa. Ela achava cansativo e
não recompensador, mas gostava do poder do
marido. Estava fascinada com ele, mas não se
achava feliz por estar casada com ele? Qual o
problema real da situação? Sua postura relaxada era
tão distante da mulher que eu conhecia. Aquela
conversa me pegou tão de surpresa, e eu começava
a divagar sobre coisas que não tinham coerência.

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— Ele sempre foi um político?


— Sempre esteve envolvido. Juan é um
empresário muito bem-sucedido, mas por ter
muitos contatos resolveu brincar nesse mundo e
pegou gosto pela coisa.
— Entendo. E você, o que faz?
Ela deu de ombros, despreocupada.
— Sou a esposa dele.
Erguendo as sobrancelhas, me perguntei se
ela fazia algo além de ser uma esposa.
— Você não tem um namorado? —
perguntou, fugindo do assunto “seu marido
político”.
— Tenho. Ele viaja bastante a trabalho e
terminamos mais do que estamos juntos, mas tenho.
— Nem sei porque menti, só sei que a mentira
escorreu tão fácil dos meus lábios que não havia
como pegar de volta.
Mas pensando pelo lado bom, não havia
como ela desconfiar do meu crescente interesse
pelo Governador se pensasse que eu só tinha
cabeça para outro. Também notei que aquilo só
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acrescentava mais merda, e se o ventilador fosse


ligado, tudo iria pelos ares.
— Então, com a ausência do seu amado,
você entende um pouco o que eu passo. Sabe que...
ontem nós quase tivemos um momento.
Inclinei para frente, interessada e...
incomodada com o rumo da conversa.
— Que tipo de momento?
— Ele chegou um pouco alterado, deitou
comigo e começou a dizer coisas enquanto me
abraçava.
— Uau! Que... bom.
Não estou interessada.
— Me chamou de loirinha, acredita? Me
fez lembrar quando ele ainda era bem-humorado.
Mas ele ainda é. Espera, pensei comigo.
Ele a chamou de loirinha?
Ai, não! Merda!
— Hum... — Meus olhos voaram ao redor
do quarto, desejando desesperadamente sair dali
antes que eu começasse a rir, ou chorar. Ou a fazer
os dois ao mesmo tempo. — Quer ficar bêbada?
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— O quê? Não, claro que não.


— Ok. Então, isso é um bom sinal? O
apelido, o abraço meio bêbado e tal?
— Me deu esperanças. Todo mundo sabe
que a bebida liberta aquilo que queremos manter
oculto. Ele bebeu e veio direto para mim, cheio de
carinho. Uma pena que desmaiou segundos depois
e eu nem pude sequer dar um beijo.
O suspiro de alívio que me escapou passou
despercebido por ela, graças a Deus. Aquilo me
serviu como um alerta, porque eu tinha encontrado
o cara três vezes e já estava incomodada com o fato
da mulher dele desejá-lo. Me conhecendo, eu sabia
que não era um bom sinal.
— Isso é bem confuso, porque você acha
que seu marido te trai.
— Não acho, tenho certeza.
— Certo, você tem certeza. Acha que existe
algum motivo para isso?
Erguendo as sobrancelhas, ela pensou um
pouco.
— Está me perguntando se dei motivos
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para o meu marido me trair? Você mesma disse que


ele era um cafajeste, safado, perda de tempo e
outras coisas mais.
Mas isso foi antes de saber que existe a
possibilidade de vocês nem sequer dormirem
juntos, e que você também gosta de se divertir sem
ele.
Guardei o pensamento para mim e tracei
uma nova rota para aquela conversa. Jaqueline
estava na defensiva e não me diria nada.
— Eu disse, e realmente o acho um safado.
Mas pergunto porque, desde que comecei a segui-
lo, não o vi fazer nada de errado. Nenhuma mulher,
nenhuma atitude suspeita, então talvez vocês
tenham brigado e por não terem se acertado, ele se
tornou ausente. Muitos casamentos estão fadados
ao fracasso ou simplesmente um cansa do outro.
— O meu casamento não está fadado ao
fracasso! — ela praticamente rosnou. — Juan me
ama, eu o amo, e nós estamos juntos há anos!
Temos uma história, ele só precisa se lembrar dela.
— Por que ao invés de me pagar para
desmascará-lo, como você diz, não tenta começar
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de novo? Vá buscá-lo no trabalho, o receba em casa


de bom humor, seja sincera, converse com ele.
Ela levantou e balançou a cabeça.
— Já tentei. Já tentei tudo isso e muito
mais, mas a verdade é que aquele infeliz quer o
divórcio, mas sua imagem é tão importante que ele
não fará nada para manchar isso. Principalmente
encarar um divórcio.
— Não acho que essa seja a razão,
Jaqueline. Divórcios acontecem o tempo todo.
— Mas não com um político! Não com um
homem como ele, que sempre mostrou valorizar a
família, sempre foi centrado e impecável em tudo o
que faz. E é por isso, é exatamente por isso, que
preciso de você. Não vê que minha única chance é
conseguir mostrar a ele essas provas do que ele faz
de errado, e fazê-lo ver que precisa estar comigo?!
É por isso que temos que agir mais rápido, você
tem que conseguir isso. É a minha única chance.
— Espera, senta aqui e vamos...
— Eu já sei! — ela me interrompeu,
pegando o telefone e discando alguns números. —

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Você precisa ficar mais perto ou nunca vai se


achegar o suficiente. Quanto mais tempo passar
com ele, perto dele, mais chances tem de ele
confiar e abrir brechas para que você consiga o que
eu preciso.
— Epa, espera aí! — Levantei também, me
aproximando dela. — O que quer dizer com passar
tempo com ele?
— Você vai trabalhar com ele! Vou ajeitar
tudo, não se preocupe.
— O quê? Você ficou maluca? Claro que
não!
Seus olhos dispararam para mim, ela pegou
a bolsa e ainda com o telefone no ouvido, me
apontou o dedo.
— Lembre-se do contrato, Aya, pense
naquela multa. Nós só vamos dar um passo mais
perto e, quando você perceber, teremos acabado.
Eu tenho provas suficientes para mantê-lo e você
pode sumir com seu dinheiro.
— Você não vê que isso é um desastre? O
plano inicial era eu conseguir fotos, depois você

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passou a me mandar ir nos eventos que ele


frequenta, mas agora quer que eu trabalhe para ele?
— Você será uma funcionária qualquer.
Faça tudo direito e ele nunca vai desconfiar.
Eu bufei.
— Você não sabe disso.
— Ele nunca te viu na vida, não faz ideia
de quem você é. Será apenas uma garota com um
ótimo currículo que foi indicada para uma vaga de
emprego. Eu estou confiante, Aya. Se anime
também.
Dito isso, ela saiu do quarto, me deixando
sozinha com meus pensamentos.
Eu estava tão fodida.
Nunca me viu na vida? Se ela soubesse
como aquilo estava longe de ser verdade, me
mataria com suas próprias mãos. Eu não segui as
regras mais básicas que impôs: não chegar perto,
não ter contato direto, não ser vista, não dizer meu
nome. E quebrei cada uma delas. Cacete!
Deliciosamente quebrei a de chegar perto,
principalmente. Mas, tecnicamente, quem se
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aproximou foi ele, todas as vezes. Eu só dei corda


— o que também era ruim.
Trabalhar ao lado daquele homem nunca
funcionaria. Ele tiraria meu juízo, que eu pouco já
tinha, e me colocaria em uma linha de desejo
constante. Eu me conhecia o suficiente para saber
que machucar Jaqueline no processo para conter
esse desejo não seria um problema.
O meu problema com esse caso era egoísta:
o simples fato de saber que Juan poderia me
machucar no final.
A campainha tocou novamente, respirei
fundo. Provavelmente ela esqueceu algo, eu só
esperava que pegasse o que deixou e fosse embora
rapidamente, antes que eu implorasse para não me
forçar a estar em uma posição de traição com ela.
Mas assim que abri a porta, todos os planos
e pensamentos evaporaram. Minhas pernas deram
uma leve balançada, me mantendo firme em cima
do salto por um milagre. Meus olhos arregalaram
tanto que arderam e lacrimejaram. Por pouco não
pularam para fora. Não podia ser, eu estava vendo
coisas. Era a única explicação sensata para aquele
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homem estar diante de mim no quarto de hotel que


sua esposa pagava para eu me instalar, enquanto
planejava acabar com as mentiras dele.
— Juan? O que está fazendo aqui?
Seus lábios formaram um sorrisinho torto,
cheio de mistério. Parecia divinamente lindo, e
mais uma vez fui pega pela aparência bela e
máscula que o pertencia. Seus olhos desceram do
meu rosto, lentamente pelo corpo, e a ponta da
língua arrastou pelo lábio inferior, apreciando-me
da mesma forma que eu o apreciava também.
— Bem... — disse ele, a rouquidão de sua
voz grossa me fazendo suspirar — durante uma
inspeção geral mensal, me peguei olhando os
hóspedes fixos. E adivinhe a minha surpresa ao ver
um certo nome raro nessa lista.
— Inspeção geral?
— Claro, preciso ter o controle dos meus
hotéis, não acha?
Puta merda.
Aquele paraíso... era dele? Quase caí para
trás. Então me dei conta do que estava acontecendo
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e sem pensar duas vezes, agarrei seu terno, o


puxando para dentro e fechando a porta. Ele abriu
um sorriso sem nenhuma vergonha, erguendo as
mãos para agarrar-me de volta, mas dei um passo
atrás, escapando de sua investida.
— Não, fique aí. Fique aí, exatamente aí.
— Você me puxou para dentro.
— Sim, eu sei. — Porque se sua mulher
nos vir conversando, acaba com a minha vida.
— Aya... você está estranha. Está tudo
bem?
— Sim. — Limpei a garganta, me
afastando ainda mais dele. — Eu estou hospedada
aqui e para falar a verdade, não estou confortável
com você aparecendo.
— Eu não estava confortável tendo uma
reunião alguns andares acima, sabendo que o
motivo da minha insônia estava bem debaixo do
meu nariz. Literalmente.
Sentei na cama, cruzando as pernas e
tirando os saltos.
— Sabe, Governador... eu imaginei que em
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um hotel tão... sofisticado, privacidade seria um dos


pontos principais.
Seu olhar seguiu meus movimentos, e só
então, o olhando atentamente, percebi que ele
parecia cansado. Os olhos estreitos não estavam
fechados por me analisar demais como costumava
fazer, mas sim porque estava com sono. E o sorriso
preguiçoso não era uma tentativa de sedução,
embora ele continuasse sexy como o inferno. Era
um sorriso cansado. Juan estava exausto.
— Privacidade — falou baixo, como se
consigo mesmo. — Eu quase não me lembro do
que é isso.
— O senhor escolheu ser alguém público.
O poder vem com algumas baixas, eu imagino.
Ele encostou na porta, deitando a cabeça na
madeira pesada.
— Da cobertura até aqui foram seis
andares. Paramos em todos eles, e eu me dividi
entre conversas com os sócios, tirar fotos com
alguns hóspedes no caminho para baixo e escutar
meu assessor. Tudo isso mantendo um sorriso
fingido e forçadamente simpático, mas quando
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cheguei aqui, você sendo rude me fez sorrir mais


verdadeiramente do que aquelas pessoas me
bajulando. — Ele passou as mãos pelo cabelo,
suspirando. — Como você faz isso?
— Talvez eu tenha sido comediante na
outra vida.
Eu levantei e com cada instinto me dizendo
para ficar longe, me aproximei, pegando suas mãos
e o levando até a beirada da cama. Empurrei seus
ombros, fazendo-o sentar. Peguei uma água no
refrigerador, enchendo o copo antes de levar para
ele. Juan tomou em longos goles, me olhando
fixamente durante todo o nosso percurso.
— Ou talvez você seja uma feiticeira.
Eu dei risada e sem poder impedir a mim
mesma, passei a ponta dos dedos levemente por sua
mandíbula cerrada.
— Não se preocupe, governador. Eu nunca
jogaria um feitiço em você.
— Fez pior. Me prendeu em um encanto.
Seus intensos olhos claros nem piscavam, e
presa estava eu, dividida entre mandá-lo ir embora
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ou fazer o que cada célula do meu corpo me pedia


para fazer. Ele levantou o braço, segurando a barra
da minha saia e puxando-me para mais perto, para
o meio de suas pernas. Antes que pudéssemos
seguir com aquela loucura, meu celular tocou,
tirando-nos da nossa bolha traiçoeira.
— Preciso atender. Não faça nada que eu
não faria até eu voltar.
Aproveitando aquele momento para tomar
um ar longe dele, peguei o telefone vendo o nome
dela na tela. Fui para a varanda e fechei a porta de
vidro atrás.
— Ei, tudo certo?
Meu pai, minha voz estava tão suspeita.
— Adivinha quem tem um novo emprego?
Você! E vai começar depois de amanhã. Estará
como apoio na equipe do meu marido.
— Depois de anos como editora chefe,
virei staff? É assim que minha vida acaba?
— O cheque no final do horizonte te
esperando faz isso valer a pena. Amanhã estará
tudo no seu e-mail. Bons sonhos, Aya.
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— Tchau, tchau — cantarolei, disfarçando


o desespero.
Bati o telefone na minha testa, começando
a rever as possibilidades de fugir do país e
conseguir identidades falsas. Eu poderia voltar um
ano depois e Jaqueline não ia nem lembrar de um
acordo, contrato e multa comigo. Voltei ao quarto,
deixando a varanda um pouco aberta para entrar um
pouco de ar. Estava calor e com Juan ali dentro, a
temperatura seria escaldante.
— Ei, Gover... — Minhas palavras ficaram
soltas no ar com a cena à minha frente.
Ele estava sentado no mesmo lugar que eu
o deixei, a diferença é que seu corpo havia caído
para trás no meu colchão e ele dormia
pacificamente. Sorrindo, me aproximei e o cobri.
Poderia tentar puxá-lo para cima, mas fiquei com
tanta dó, porque o coitado estava tão cansado, que
sabia que se mexesse, ele poderia acordar. Pensei
que podia deixar que tivesse uma noite de sono
antes de enfrentar a loucura de sua vida no dia
seguinte.
Deitei no outro lado da cama. Ela era larga
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o suficiente para que coubesse ainda mais uma


pessoa no espaço entre nós. Decidi dormir no sofá,
para que quando acordasse, não pensasse coisas ou
tirasse conclusões precipitadas. Eu só queria
observar um pouco o homem que estava me
envolvendo tão perigosamente e tão rápido. O cara
que deveria ser uma missão simples, mas vinha se
tornando a coisa mais complicada que eu precisava
enfrentar.
Seu rosto de anjo, o cabelo loiro espetado
para várias direções e a camisa amassada... a boca
ligeiramente aberta, o peito forte subindo e
descendo com a respiração... o ronco baixo que
escapava. Foi a primeira vez que eu deitava ao lado
de um cara e o assistia dormir.
Meus olhos começaram a pesar, mas eu
sabia que precisava sair daquela cama e manter
uma distância segura. Eu só precisava fechar meus
olhos por alguns segundos e ia levantar.
Só por alguns segundos...

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Capítulo 11
"É essa magia de te ter perto quando você respira
Seu corpo em meu corpo, entrelaçados
Um beijo na boca e não há mais espaço
Eu me penduro em sua cintura
E vou me entregando a toda a sua loucura"
Dani J, quitemonos la ropa

A luz do sol queimava minha pele. Abri os


olhos e logo os fechei novamente, sentindo-os
irritados pela claridade. Me espreguicei,
estranhando que meu celular ainda não tinha tocado
com alguma mensagem ou ligação para me acordar.
Ainda sentia um pouquinho de sono, e estava quase
me convencendo a permanecer na cama, mas então,
em um segundo eu estava deitada, e no próximo,
um puxão brusco em meus braços me fez ficar
ajoelhada na cama, e com olhos arregalados, fitei o
rosto enfurecido de Juan Carlo.
Abri a boca para gritar, ou perguntar o que
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diabos ele estava fazendo ali, mas me lembrei da


noite passada. Por um momento lamentei não ter
acordado antes dele para vê-lo despertar. Não tive
tempo de pensar demais, confusa com sua atitude.
— Mas o que... — comecei a perguntar,
soltando-me de seu aperto e saindo da cama,
tomando alguns passos de distância dele.
O que não o impediu, pois em um segundo
ele colou em mim novamente. Mesmo irritado,
admirei como parecia lindo, como sempre.
— Colocou algo na minha água? O que fez,
Aya? Responda!
— O quê? — Puxei meu braço, tentando
escapar de novo de seu aperto. — Ficou louco,
porra? Me solta!
Seu rosto ficou perigosamente perto do
meu, e suas íris claras pareciam brasas de tão
furioso. Nas vezes em que nos vimos, ele sempre
tinha sido calmo e contido, gentil e sedutor, mas
naquela manhã parecia tomado pela fúria de um
animal.
— Não até que me diga o que aconteceu.

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— Nada! Nada aconteceu!


— Acha que eu sou idiota?
— Juan... por que está tão irritado?
— Com os anos aprendi a perceber
mulheres como você para não cair nessas
armadilhas, não sei como não notei logo de cara.
Suas palavras me deixaram furiosa. Eu
odiava homens autoritários e que pensavam que
podiam falar algo sobre mim, mas pensei no bem
maior, que aquele era um momento que eu podia
me aproveitar. Então forcei meu tom de voz a
permanecer neutro, e transformei meu rosto em
uma expressão de mágoa. Precisava apelar, porque
se ele pegasse meu celular, eu estava morta.
— Não acredito nisso — sussurrei e
pisquei, deixando uma lágrima fria escapar. —
Como pode me acusar de algo tão grave quando
tudo o que fiz foi querer te ajudar?
— Me ajudar? Eu desmaio na sua cama,
perco a hora de todos os meus compromissos, o que
nunca aconteceu, e você quer me dizer que nada
aconteceu? — Aproximando-se novamente, Juan

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segurou meu rosto, mantendo nossos olhares


firmes. — Tirou alguma foto, Aya? Armou para
cima de mim?
Se ele soubesse o quão próximo estava das
minhas reais intenções, teria me jogado pela
varanda.
Segurei seu pulso, mas não tentei afastá-lo,
ao contrário, o trouxe para mais perto. Outra
lágrima caiu, mas essa eu nem precisei forçar, era
de desespero. Minha pele estava fria de medo. Eu
não o conhecia, não sabia do que era capaz.
Precisava fazê-lo acreditar em mim.
— Olhe no fundo dos meus olhos e me diga
se realmente acha que eu seria capaz de algo assim?
Meu único pecado aqui é não ter forças para resistir
a você, ao desejo que sinto toda a maldita vez que
está perto. Mas nunca, jamais faria algo para
bagunçar sua vida. Sei o quanto ama sua carreira,
não sou uma aproveitadora, Juan. Posso querer
você, mas nunca ia usar um mal caminho para
consegui-lo.
Ele ainda estava ofegante, as narinas largas
a cada respiração. Os olhos me analisando,
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buscando nos meus algo que me denunciasse,


decidindo se acreditava em mim. Não sei se
consegui entrar em sua mente, mas seus dedos
afrouxaram o aperto e eu levantei uma das mãos,
levando-a em seu cabelo e enfiando os dedos entre
os fios ainda mais bagunçados do que ontem.
Ergui-me na ponta dos pés, a um suspiro de nossos
lábios se tocarem.
— Juan, eu juro — falei baixinho, fechando
os olhos. — Percebi como você estava cansado e
não quis te acordar, me segurei a noite toda para
não te agarrar, mas queria que descansasse, foi só
isso. Estava exausto, só pensei no melhor para
você.
Exalando profundamente, ele soltou meu
pulso e segurou minha nuca.
— Algo me diz que vou me arrepender
disso.
Não pude perguntar, porque imediatamente
sua boca tomou a minha. Arregalei os olhos,
surpresa, e quando sua língua passou pela costura
dos meus lábios, abrindo caminho, estremeci,
fechando os olhos, agarrando seus ombros fortes. O
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desejo voraz me tomou, seu corpo forte me


segurando e rodeando sufocaram-me de forma
iminente. Não havia nenhuma dúvida do quão
poderoso ele era, e enquanto o beijava, percebi que
aquele poder se tratava da carreira, na vida e na
cama. Não resisti ao beijá-lo, sentindo-me
completamente à mercê de seu toque. A língua
passeava em minha boca, se enrolando na minha,
buscando, tomando e exigindo.
Aquela beleza tinha uma força bruta
contida, e mais do que nunca, eu quis ver o que
aconteceria se um homem explodisse perto de mim.
Segurei seus cabelos, me entregando ao beijo como
se minha vida dependesse de senti-lo, meus joelhos
dobraram, e seu braço segurou firme minha cintura,
mantendo-me ainda mais perto de seu corpo.
As mãos me agarravam onde alcançavam,
entreabri os olhos rapidamente, vendo os dele
cerrados, totalmente focado em me beijar. Minhas
pernas tornaram-se bambas, e decidi ali, que ele foi
o melhor beijo da minha vida.
As sensações que correram pela minha pele
eram novas, de repente eu estava encostada na
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parede e as mãos dele agora não poupavam nada,


subindo pelas minhas coxas. Seus dedos arrastaram
o tecido para cima e quando agarrou minha bunda,
pareci acordar de um sonho, percebendo que se não
o parasse, aquilo ia longe demais. Mais do que já
tinha ido.
— Não, eu não posso. — O afastei com
muito esforço, cambaleando até a porta. Ele me
segurou antes que eu virasse a maçaneta,
agarrando-me novamente.
Seus lábios tocaram os meus, e suas mãos
seguraram firme minha cintura, batendo minhas
costas na madeira pesada. Eu ofeguei, revirando os
olhos, mas resisti e o empurrei novamente.
— Por favor, não posso fazer isso. —
Lancei um olhar inocente, mas me surpreendi
comigo mesma ao ver que estava tonta, baqueada
com as sensações que ele despertou.
— Não acredito em uma palavra que diz.
— Contornou meus lábios com o polegar e eu
quase o pedi para entrar novamente. — Eu,
definitivamente, vou me arrepender de você.
Juan me olhou firmemente uma última vez,
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então chamou o elevador, que, por sorte, estava


apenas um andar acima. Eu nem me toquei de sair
antes que alguém lá dentro me visse e percebesse
que estávamos juntos, mas quando as portas
abriram, vi que estava vazio.
Ele entrou e enfiou as mãos nos bolsos,
quando me fitou lá de dentro, não parecia nada
abalado. Não denunciava que estava aos beijos e
amassos com alguém segundos antes. Ele era ele
outra vez. O imponente Governador do Estado.
E eu parecia a ponto de me derreter.
Quando as portas do elevador se fecharam,
toquei meus lábios, ainda sentindo-os formigando
dos beijos ardentes, e sorri, sozinha.
— Sinto muito, Jaqueline. Sinto muito que
tenha me conhecido.

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Capítulo 12
"Você sabe que sou um pouco provocante
Você sabe que sou louca
Você pode me amar ou você pode me odiar
Alimente o meu ego
Tenho sido uma menina má, não sabia?"
Avril Lavigne, bad girl

Li pela terceira vez as informações que


Jaqueline havia me passado no e-mail e me
perguntei como faria aquilo. Quando ela disse que
me colocaria numa equipe, eu imaginei que seria
auxiliar do assistente do assessor. Não que ficaria
diretamente com as pessoas que trabalhavam com
ele. Jorge, o assessor; Dario, coordenador geral; e
Julio, o RP. No e-mail dizia que eu entraria como
uma espécie de secretária. Me perguntei se ela deu
um jeito de inventar aquela vaga, ou se tirou o
emprego de alguém para me colocar lá.
A que ponto chegava a obsessão dessa
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mulher por ele? Não que eu pudesse julgar, já que


eu mesma tinha meus problemas com minhas
próprias obsessões, mas pelo menos nunca meti
ninguém nos meus rolos, ou pior ainda, nunca tirei
o emprego de alguém para alimentar esses
problemas.
Suspirando, fechei o notebook e me joguei
para trás na cama, olhando para o teto iluminado
pela luz do sol. Debatia comigo mesma entre ficar
ali até a próxima mensagem de Jaqueline chegar,
ou descer para a piscina e pegar um sol. Eu nunca
fui de me segurar quanto as minhas vontades, mas
sempre consegui me controlar, o fato de não ter
controle de mim mesma perto de Juan era o que me
assustava. E já sabia que aquele hotel era dele, que
havia uma pequena chance de encontrá-lo se
descesse me segurou ali.
Sentei novamente, peguei o notebook e abri
a janela de pesquisa, digitando o nome dele ali.
Apareceu tudo o que eu já sabia. Coloquei “Juan
Carlo e Jaqueline Herrera”, e fui metralhada com
fotos dos dois. Pareciam tão bem, um casal tão feliz
juntos. Nas fotos haviam sorrisos grandes, olhares
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de carinho, de amor. Em algumas, as mãos dele


nela me incomodou e me peguei sorrindo,
lembrando de como aquelas mãos não se continham
mais cedo no meu quarto.
Aquele pedaço da minha personalidade era
difícil de lidar. Eu sabia que era arriscado desejá-lo
demais, eu simplesmente o queria e isso era tudo o
que contava para mim.
Me perguntei quando os dois se
apaixonaram, como foi o pedido de casamento,
onde foi a primeira vez. Se ele ainda a beijava da
forma como me beijou, se ela se importava com ele
pelo menos uma fração de como eu me importei na
noite passada. A invejei. E no momento que aquele
botãozinho foi ativado dentro de mim, eu decidi.
Não importava quais eram os planos iniciais de ter
entrado naquela confusão com o Governador do
Estado e sua esposa, eu ia matar as minhas
vontades, e no fim, se houvesse tempo e
oportunidades, honraria o nosso acordo.
Fechei o notebook e peguei minha toalha.
Precisava me arrumar.

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Entrei no gabinete e após pegar minha


identidade de volta, a recepcionista me pediu para
esperar. Olhei ao redor observando o meu possível
ambiente de trabalho. Era bonito, sofás de couro,
uma TV grande no suporte, uma estante de parede
preenchida de livros, e ao lado, um suporte menor
para revistas. Havia uma máquina de café e chá, e
um filtro. Bem aconchegante. As paredes e o chão
tinham um acabamento refinado, era lógico que o
dono do lugar tinha dinheiro.
Me perguntei se Jaqueline teve parte na
decoração, se ia muito ali, se eu a encontraria com
frequência. Lembrei a mim mesma que se esse
fosse o caso, eu teria que vê-la com Juan, então
minhas dúvidas entre os dois talvez pudessem ser
sanadas.
Uma das portas no corredor abriu e eu tirei
os olhos de lá, não querendo parecer curiosa, por
mais que estivesse. Muito. Dois homens passaram
por mim e um deles conteve um passo, olhando-me

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com atenção, e sorriu, acenando discretamente. Eu


acenei de volta, dando-lhe um sorriso fechado,
contido. Era muito bonito. O outro olhou para trás,
vendo o que seu amigo tanto olhava e sorriu
também, mas desviei o olhar.
Olhei para frente quando saíram, vendo a
recepcionista com o rosto cheio de humor para
mim.
— O que foi? — perguntei suavemente.
— Não se sinta constrangida. Confie em
mim, é difícil entrar aqui e não ser bombardeada
por eles. Os homens da família Herrera são uma
tentação.
Fiquei de pé e fui até ela, me apoiando no
balcão.
— Aqueles dois que saíram são parentes do
Governador?
— O que estava te secando é primo dele,
Micael. O outro é Álvaro, o Governador de
Chiapas, o irmão.
— São só eles dois de irmãos?
Ela deixou os papéis que olhava de lado e
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apoiou o queixo nas mãos, provavelmente ficava


tão entediada ali que foi só eu chegar e começar a
fazer perguntas para animar seu dia. Melhor para
mim, pois eu tinha a impressão que aquela garota
me ajudaria muito.
— Sim, só eles. Otto, o pai deles, aparece
de vez em quando. E sério, ele é maravilhoso. A
mãe é deslumbrante. A genética Herrera é
maravilhosa.
— O Governador parece muito gentil pela
TV. O irmão dele também é?
— O Governador tem seus dias. As vezes
ele entra e sai sem nem dar um “oi”, mas outras até
para aqui e fala brevemente comigo. E Álvaro,
bem... é complicado. — Ela baixou os olhos e
voltou ao trabalho. A pele branca, combinando com
os cabelos castanho escuro, ficou rubra, e uma
suspeita surgiu em minha mente.
— Complicado? — sondei.
— Sim, quer dizer... — Deu de ombros,
apertando os lábios em uma linha fina. — Ele é
noivo e tal.

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— Que pena. — Sorri e ela me olhou


surpresa, mas percebi que segurava um sorriso no
rosto.
Me senti um pouco mais leve, sabendo que
eu não era a única ali sem um pingo de moral,
fazendo coisas que não deveria fazer.
— Aya Maria? — Ouvi meu nome sendo
chamado de dentro da sala que os dois haviam
saído e ela arregalou os olhos, ficando de pé.
— Vem, vou te levar na sala.
— Qual o seu nome? — perguntei
enquanto andávamos.
— Esmeralda.
— Certo. Passo para me despedir quando
sair.
Ela acenou e sorriu.
— Boa sorte, Aya. Espero que você fique
com o trabalho.
Pisquei e entrei quando abriu a porta. Eu
não precisava de sorte, aquele emprego já era meu,
e se não soubesse disso por ser Jaqueline que me
arrumou, saberia pela secada que o cara sentado
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atrás da mesa me deu. Me aproximei dele e estendi


a mão, mostrando um sorriso profissional.
— Olá.
— Como vai, Aya? Sou Jorge, assessor do
Governador. Deveria ser o Dario, o coordenador, a
vir falar com você, mas ele teve um problema
pessoal.
— Sem problemas.
Me sentei e ele também. Começou a olhar
duas folhas, mas às vezes jogava olhares
expiatórios para mim. Por fim, largou os papéis e
cruzou os braços. Embora ele tivesse claramente
mais preocupado com olhar as minhas pernas do
que me analisar para o cargo, tentou mostrar uma
postura profissional e uma carranca.
— Bem, o trabalho já é seu. Não sei quem
te indicou, só recebi ordens diretas para te
apresentar como as coisas funcionam por aqui, mas
como eu disse, quem fará isso será o Dario, assim
que estiver disponível.
— Tudo bem.
— O Governador aprecia um trabalho bem
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feito, então eu espero que você seja profissional.


— Claro.
— Ele tem muitos compromissos durante o
dia e muitas vezes, à noite também. Você ficará
responsável por marcar e desmarcar esses
compromissos. Ficará com o celular comercial dele
e dará conta de pequenos serviços que eu não tenho
tempo para lidar. Seu contato será mais comigo,
mas às vezes pode ser que se encontre com o
Governador também.
— Certo. — Assenti, prestando atenção em
tudo que ele dizia. Momentaneamente parecia até
que era um trabalho real para mim. Quis sair da
sala e chamar Jaqueline. Eu não queria ser
secretária de ninguém, pensei que seria só fachada,
mas ela estava levando mais a sério do que o
esperado.
Jorge suspirou e se inclinou para frente,
fitando a porta antes de me olhar outra vez.
— Olha, vou ser claro com você.
— Eu te agradeço por isso. — Me inclinei
também, e não fiquei nada surpresa quando seu

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olhar baixou para o meu decote.


— Algumas garotas já tiveram problemas
trabalhando com ele.
— Problemas? Que tipo de problemas?
— Do tipo esquecerem que estão aqui para
trabalhar. Achar que por ele ser educado, isso é
uma brecha para algo mais. Até que a senhora
Herrera descobriu e colocou cada uma para correr.
Eu sinceramente estou cansado de lidar com isso.
— Entendo, mas não se preocupe, eu tenho
alguém na minha vida. Trabalhar com o
Governador e me manter profissional não será um
problema.
— Ótimo, que bom que esclarecemos isso.
Você tem alguma dúvida?
— Não, tudo ficou esclarecido no e-mail
que recebi do pessoal da contratação. Pediram para
eu vir apenas por questões de apresentação. —
Nem sei de onde tirei aquilo, mas como sempre, a
mentira escorreu facilmente dos meus lábios.
— Como hoje está morto por aqui, há
apenas eu e Esmeralda para conhecer. Teremos
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essa semana de trabalho e uma viagem na sexta-


feira. Você tem disponibilidade para viajar?
— Para onde? — perguntei
automaticamente, já sonhando com praias e lugares
calmos para relaxar.
— Bem, lugares de trabalho.
— Ah, claro! Sim, eu quis dizer isso.
Tenho disponibilidade total.
— Então, é isso. Nos vemos amanhã, e
como o resto do pessoal estará aqui, você vai
conhecê-los.
Levantei e estendi a mão outra vez.
— Obrigada, Jorge.
— Foi um prazer.
Dei as costas, pronta para sair, mas o fitei
por cima do ombro.
— E pode deixar que essa nossa conversa
sobre os problemas com funcionárias ficará entre
nós.
Ele me deu um pequeno sorriso, mas havia
uma desconfiança em seus olhos, como se ele
estivesse atento comigo. E realmente deveria ficar.
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Fazia parte do seu trabalho reconhecer ameaças


contra seu chefe. Uma pena para ele que eu era uma
ameaça perigosamente discreta, impossível de se
rastrear.
Me despedi de Esmeralda, dando as boas
novas de que passaríamos a nos ver mais vezes e
ela me recebeu com animação. Eu gostei da garota.
Ela não era como eu, não havia malicia em seu
olhar. Mas só o tempo para dizer como seria essa
interação.
Saí do gabinete recebendo as ruas com um
sorriso de satisfação, cheia de ansiedade. Peguei
meu celular e busquei o contato de mamãe na
agenda. Sempre me meti nos meus rolos, mas me
preveni em cada um deles, por isso, avisar minha
mãe que eu tinha um novo emprego era
fundamental. Afinal, quem melhor que ela para
confirmar uma história sobre mim?
Ela atendeu no quinto toque, com a voz
cheia de riso.
— Oi, meu amor!
— Mamãe! Adivinha?

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— Você parece feliz. O que foi? Senhor


Gomez te aceitou de volta?
— Mãe, já disse que não tem porque ele me
aceitar já que eu não quero voltar. Essa notícia é
ainda melhor, eu arrumei um emprego!
— Ah, que maravilha! Olha, Selma, Aya
está trabalhando de novo!
Atravessei a rua e me sentei em um banco
na praça em frente ao prédio de onde saí.
— Sim, e melhor ainda... Vou trabalhar
com o Governador de Veracruz!
Ela ficou em silêncio por alguns segundos,
antes de gritar:
— O quê? Como assim Veracruz?
Já ia começar a contorná-la para ficar mais
calma, mas então me dei conta de que nem sequer
mencionei que estava passando os dias em
Veracruz. Para minha mãe, eu nem tinha saído da
cidade após voltar do Spa.
— Sim... Então... — Revirei minha mente,
buscando qualquer coisa para usar como base
daquela história. — Ai, mamãe, a verdade é que...
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eu não soube lidar com a perda do meu emprego,


depois veio a notícia do noivado de Enrico e a
senhora imagina como fiquei.
— Ah, meu bebê. Eu sabia que mesmo se
fazendo de forte, essa história do Enrico ia te deixar
triste.
— Pois é, eu vou superar, mas senti que
precisava passar um tempinho longe. Além do
mais, ainda estarei por perto sempre que precisar e
pode me ligar quando quiser.
— Filha, quero que você viva sua vida e
seja feliz, mas não posso deixar de me preocupar.
Você está em outro Estado! Eu queria que tivesse
me contado antes de ir.
— Eu sei. — Cocei a cabeça e levantei,
acenando para um táxi que passou. — Mas eu tinha
que chegar aqui a tempo da entrevista, acabei de
sair de lá e só agora tive a confirmação do
emprego. Também quis esperar para não te deixar
com expectativas e não conseguir. A senhora sabe
que só quero te orgulhar.
— Eu vou rezar para dar tudo certo, filha. E
com ou sem emprego, você é meu maior orgulho.
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Agora me conte mais.


Falei o nome do hotel para o motorista e
encostei a cabeça no assento do carro, um sorriso
preenchendo meu rosto enquanto sanava a
curiosidade de mamãe.
Mais um dia em que meus planos deram
certo, e o Governador que me aguardasse. Eu
estava prestes a invadir sua vida, assim como ele
invadia meus pensamentos a cada dia mais.

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Capítulo 13
"Ele disse que eu valho a pena
Que sou o único desejo dele
Ele me beijou como se eu fosse a primeira e única
Sim, ele é um lindo mentiroso"
Shakira ft. Beyonce, beautiful liar

O suor escorria pelo vale entre meus seios,


testa e pernas. Passei a toalha onde alcancei,
ofegante e tentada e me jogar na grande piscina. Saí
da academia do hotel, me esgueirando entre os
hóspedes, reconhecendo e ignorando os olhares
jogados em minha direção.
Algumas pessoas eu já tinha visto, e
deviam estranhar o fato de eu estar constantemente
ali, como se morasse no lugar. Por vezes, até pensei
em alugar um loft, mas o pensamento de ficar
sozinha o tempo todo não me agradou. Pelo menos
no hotel, se eu ficasse entediada no quarto, era só
descer e ver aquele movimento. Fácil de se distrair.
Tirei o elástico do pulso e acionei o último
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elevador, aproveitando que estava sozinha por um


momento. Deixei a bolsa no chão e juntei o cabelo,
prendendo no alto da cabeça. O toque do celular me
chamou atenção e eu abaixei para pegar, me
enrolando para encontrar por ter enfiado tudo de
uma vez ali. Quando finalmente encontrei, já tinha
parado. Levantei, segurando a alça da bolsa, e
quando virei novamente, quase perdi o ar.
Dentro do elevador estavam Álvaro Herrera
e mais dois homens, mas o que me fez morrer de
vergonha por me ver naquela situação foi o do
fundo, lá estava Juan. Com um olhar malicioso que
não deixava nenhuma dúvida sobre seus
pensamentos. Me dei conta de que estavam ali e
minha posição quando a porta abriu não era das
melhores.
Álvaro sorriu abertamente, e segurava a
porta como se tivesse o dia todo livre para ficar ali.
Tirei os olhos do Governador e de seu irmão.
— Desculpe, eu não sabia que esse
elevador era privado — falei suavemente.
— De forma alguma — disse Álvaro. — E
mesmo se fosse, eu emprestaria para você.
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Abaixei a cabeça, como se estivesse


constrangida, e quando os fitei, todos estavam me
secando descaradamente, menos Juan, que
mantinha os olhos fixos nos meus.
— Eu agradeço, Governador — respondi
para Álvaro. — Então, se puderem me deixar
subir... seria ótimo tomar um banho.
Álvaro riu, passando a língua pelos lábios e
dando um passo à frente.
— Definitivamente um banho cairia bem
agora.
De repente os três estavam sendo
empurrados para fora, minha bolsa foi tomada da
minha mão e colocada dentro.
— Não vamos atrapalhar o caminho da
garota — disse Juan, num tom de voz grave. —
Tenha um bom dia. — Quando ficou mais perto,
disse baixo: — No seu quarto, sozinha.
Os outros três saíram rindo, e pouco me
importei. Só tinha olhos para o loiro à minha frente.
— Obrigada, Governador.
— Até mais, Aya.
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Ele ia saindo, mas o impedi, segurando seu


braço discretamente.
— Preciso falar com o senhor.
Ele franziu a testa, olhou por cima da
minha cabeça, examinando o local, e entrou, me
levando com ele para dentro da caixa de metal.
Juan apertou o botão do meu andar e encostou na
parede oposta. Eu queria me aproximar, mas
lembrei da câmera e me forcei a ficar distante.
— Falar sobre o quê? — perguntou de
cabeça baixa, disfarçando.
— Pode ser em privado? Eu queria ver seu
rosto enquanto te digo isso.
— Ver meu rosto? Por quê?
— Porque só seguirei em frente
dependendo da sua reação, e só saberei de verdade
olhando nos seus olhos.
Ficou quieto depois disso, e um minuto
depois descemos no meu andar. Ele tirou um cartão
do bolso, que imaginei ser o Mestre, e abriu a porta
antes de mim. Acenando para que eu entrasse.
Coloquei minha bolsa no canto e soltei o
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cabelo, deixando-o cair pelas minhas costas e


ombros antes de virar para ele. O belo e majestoso
homem estava encostado na porta do quarto, tinha
os braços cruzados e me encarava com atenção.
Sem sorrir, sem mostrar nada no olhar, só me
observando.
— O que foi? — perguntei baixinho.
Não me sentia tímida, longe disso. Mas o
fato de ele estar totalmente dentro de seu ambiente,
completamente vestido, bem arrumado e elegante,
enquanto eu usava um short saia que cobria só o
essencial e um sutiã esportivo, não me deixava à
vontade, como eu esperava que fizesse. Não me
envergonhava do meu corpo, pelo contrário, eu
sabia bem que era bonita. Mas Juan não olhava
nada do que estava exposto, ele fitava meus olhos,
apenas e unicamente meus olhos.
Esperei que mal fechasse a porta e fosse me
agarrar, que eu teria que fazer jogo duro e resistir,
mas ele não se moveu. Ele era um mistério para
mim, cada vez que eu pensava que já sabia o que
faria, ele me surpreendia e agia de outra maneira.
— Me desculpe chamá-lo, mas... precisava
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falar com você. Ainda bem que te encontrei lá


embaixo.
— Eu estou aqui, do que você precisa?
Peguei a toalha e comecei a passar pelo
meu pescoço e no colo, secando o suor e olhando-o.
— Me ofereceram um emprego, e eu
aceitei.
— Isso é ótimo — respondeu, ainda neutro.
— Trabalhar é sempre bom.
— Eu também penso assim. — Joguei a
toalha na cama e me aproximei um pouco dele. —
Mas quando fui saber mais sobre a vaga, me
surpreendi ao descobrir com quem ia trabalhar.
— Surpreendida para o bem ou mal?
Dei de ombros.
— Isso quem me diz é o senhor, já que é
para trabalhar contigo.
Ele ficou quieto, sua única expressão foi
franzir levemente o cenho.
— Como é?
— Também fiquei confusa. Eu trabalho na

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área da comunicação, tenho experiência e me


inscrevi para muitas vagas. Acabou que uma
conhecida me indicou para uma de secretária na sua
equipe e me chamaram. Fui à entrevista ontem.
— Eu não sabia que tinha uma vaga aberta.
— Olha, Governador... estou lhe dizendo
porque acho que tudo isso é tão estranho. Primeiro,
começamos a nos encontrar nos lugares, depois eu
fico hospedada no seu hotel, e agora... consigo um
emprego como sua funcionária.
— Funcionária do Governo — ele corrigiu,
me olhando friamente.
— Não me olhe assim, por favor. —
Balancei a cabeça e fiz com que meus olhos
lacrimejassem. — Eu vou ligar amanhã cedinho e
dizer que não posso aceitar o trabalho.
— Por quê?
— Porque está me olhando como se eu
tivesse armado tudo isso.
— E não armou?
Abri a boca, chocada com suas palavras,
dando um passo atrás e levando a mão ao peito.
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— Eu... como pode? Essa é a segunda vez


que duvida de mim e eu só tenho agido com
franqueza com o senhor. Desde o começo, fui clara
nas minhas atitudes e em cada palavra.
— Então aceite o trabalho. — Havia uma
calma estranha em suas palavras, uma tranquilidade
que me assustou. Ele não parecia preocupado. E eu
sabia como minha história era sem pé nem cabeça.
Ele não estava suspeitando?
— Como é?
— Se não armou para conseguir isso, aceite
o emprego.
— Governador... — Parei por um segundo
e fiquei perto novamente. Segurei sua mão, levando
até meus lábios, no caminho, os dedos dele roçaram
meus seios, o que o fez pela primeira vez, dar uma
olhada para meu corpo. — Juan... eu juro que estou
sendo verdadeira. Me investigue, vá até a casa da
minha família, pergunte aos meus vizinhos. Faça o
que quiser, mas não me olhe assim, como se eu
estivesse planejando um atentado contra você.
Ele se soltou delicadamente da minha mão
e arrastou as costas dela pelo meu pescoço,
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descendo pela clavícula e, novamente, meus seios.


Um rastro de fogo acompanhou seus dedos pela
minha coluna, até que ele agarrou minha cintura, e
com a outra mão, segurou meu queixo,
aproximando o rosto do meu.
— Investigar você? Acha que não fiz isso?
Meus olhos arregalaram e fiquei sem
palavras por um momento, com medo do que viria
a seguir.
— Juan...
Ele me interrompeu, pressionando o
polegar em meus lábios.
— Aqui está o que eu acho de você. Quer
ouvir?
— Não tenho certeza — sussurrei, presa no
encanto de seus olhos claros. Ele inclinou um
pouco a cabeça, os lábios entreabertos implorando
para serem beijados.
— Mas eu vou dizer. Acho que você é uma
garota linda. E a diferença entre você e as outras
garotas lindas por aí afora, é que você sabe o poder
que sua beleza tem. Você usa isso sem medo das
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consequências. Acho que você viu uma foto minha,


me achou interessante e resolveu brincar de perigo
com o político. Mas sabe o que acontece quando se
brinca com o perigo?
— Me machuco?
Dessa vez ele sorriu, e num instante, quem
estava contra a porta era eu. Ofeguei ao sentir
minhas costas baterem violentamente na madeira.
— Eu não diria machucar. Mas não sou um
cara legal, Aya. Não vou te prometer coisas e, se eu
prometer, há poucas chances de que vá cumprir. Se
ousar me enganar, pense duas vezes antes. Se
quiser um passeio selvagem, eu com certeza vou
adorar te dar um, mas pense bem... porque assim
como você sabe o poder que tem, eu também sei do
meu.
Eu estava excitada, tão, mas tão excitada.
Segurei seu pescoço e o puxei de encontro à minha
boca, beijando-o sem nenhuma reserva, tomando o
que eu queria e deixando que me consumisse de
volta da forma que desejasse. Sua franqueza bruta,
a alma cafajeste e a demonstração de egoísmo pura,
não me afastaram, pelo contrário. Eu o queria mais
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do que nunca. Gemi, deliciada. Nunca tinha sentido


nada como o beijo dele. Uma sensação
completamente nova, algo ao qual eu queria me
agarrar e segurar firme a vida toda. A forma como
ele me segurava, como me apertava, como me
beijava... era tão nova, tão única. Viciante.
Suas mãos passavam quentes pelo meu
corpo, não se poupando e não deixando de visitar
cada centímetro de mim. Eu estava tão excitada, tão
desesperada para tê-lo logo de uma vez, que por um
momento deixei de lado o real motivo de estar ali.
A verdade sobre eu ter entrado em sua vida.
Ele segurou minha perna no alto, fazendo-
me sentir o volume duro no meio de suas pernas, e
com a outra mão, invadiu meu decote. A alça do
sutiã não impediu nada, e sua mão grande e
calejada segurou meu seio. Ele apertou com força,
e eu me condenei ao sentir o gelado do objeto em
volta de seu dedo anelar.
— Gostosa! — Sua voz era um sussurro
grave, que fez todo o meu corpo vibrar.
Eu olhei para baixo quando sua mão livrou
meu seio, notando as marcas de seus dedos ali.
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— Não sei quando, nem onde, mas eu vou


fazê-la minha.
Deus, eu esperava que sim.
Eu não o corrigi dizendo que eu não era
dele ou que nunca seria. Porque eu queria ser. Mas
quem era eu na vida dele, o grande Governador
honesto, atencioso, jovem, ambicioso e com uma
linda esposa ao lado?
Eu podia ser tudo. Para nós, nas nossas
fantasias, e entre quatro paredes.
Mas na vida, ele era dela.
Quem se afastou foi ele, e só quando fiquei
livre de seus lábios foi que ouvi seu celular
tocando.
Ele beijou minha bochecha, depois a outra,
então meu pescoço, meu queixo e o nariz.
Segurando a pontinha do meu queixo outra vez, ele
sorriu com uma sobrancelha erguida.
— Vai aceitar o trabalho?
— Não sei.
Juan olhou a tela do celular rapidamente, e
voltou a me fitar.
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— Eu pensei que isso seria incentivo o


suficiente.
— Você facilitou um pouco minha decisão.
Mas não vou esquecer que continua com um pé
atrás comigo.
Ele me beijou outra vez, separando-nos
quando o celular começou a tocar de novo.
— Claro que continuo, assim como você
deve sempre ter dois pés atrás comigo. Eu preciso
ir.
— Tudo bem.
— Então me solte, loirinha. — Tirei as
mãos que permaneciam firmes em volta de seu
corpo musculoso e deixei os braços caírem ao lado
do corpo. — É tentador saber que você está tão
perto por aqui e ficará mais ainda se vier trabalhar
comigo.
Empurrei seu peito.
— Até mais, Governador.
— Até, linda mentirosa.
Ele segurou minha mão e me levou até a
cama, sentando-me e beijando minha testa
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carinhosamente, então saiu, me deixando sozinha.


Se eu não soubesse melhor, teria caído de
quatro por ele naquele mesmo momento.
Mas mantive seu conselho firme em minha
mente e prometi me lembrar sempre.
Ele nunca cumpriria suas promessas e eu
deveria manter dois pés atrás sempre.
Era assim que eu sairia viva de toda
daquela misteriosa confusão.

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Capítulo 14
"Você me confunde, não sei o que fazer
O que quero é me divertir
Mas tenho medo de gostar disso
E enlouquecer"
Shakira, perro fiel

Eu cheguei ao gabinete para o meu


primeiro dia de “trabalho” logo cedo. Acordei às 8h
e liguei para o escritório, mas Esmeralda me
garantiu que eu só precisava estar lá às 10h, pelo
menos naquele dia. Eu precisava ser apresentada
aos outros funcionários e ficar por dentro da agenda
do Governador. Por exemplo, na quarta — o que
era o caso — ele só chegava depois das 11h. Eu
precisava estar preparada. Esmeralda achou que
seria bom eu chegar mais cedo para receber o
Governador, e deixar uma boa impressão ao
conhecê-lo. Se ela soubesse a impressão que eu já
tinha deixado, nem se preocuparia com isso.
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Passei pelas portas, de cara já levando um


susto ao ver como estava cheio em comparação
com a primeira vez que estive ali. Esmeralda
conversava com dois senhores, e quando me viu,
pediu licença aos dois, vindo me cumprimentar.
— Você chegou mais cedo que o esperado!
— Segui seu conselho e achei melhor vir
ainda mais cedo pra deixar uma impressão
realmente boa no Governador.
Ela sorriu e percebi como era bonita. Da
primeira vez, já estava de tarde, ela parecia
cansada, mas hoje, estava sorridente, feliz.
— Você vai se dar muito bem por aqui.
Esses dois são o Secretário Garcez e David Diaz,
advogado e amigo do Governador. Eles vieram
para uma reunião com o Juan.
— Que horas será a reunião?
— Às onze e meia.
Franzi a testa, conferindo que ainda eram
nove e meia no relógio.
— Eles receberam o memorando ou caíram
da cama?
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— Eles sempre chegam muito adiantados.


Ergui uma sobrancelha, olhando-a de cima
abaixo.
— Me pergunto o porquê.
Esmeralda riu, me levando até os dois.
— Você é tão maliciosa. — Quando
chegamos perto dos dois, interromperam a conversa
para me conhecer. — Senhores, essa é Aya, a nova
secretária do Governador Herrera.
O Secretário me olhou de cima abaixo,
estendendo a mão e segurando a minha por mais
tempo que o necessário.
— É um prazer gigante, Aya. Que belo
nome.
— Obrigada. Minha mãe tem bom gosto.
O advogado, David, não foi tão rápido em
se apresentar. Na verdade, me olhava como se
tivesse vendo um fantasma.
— O senhor precisa de uma água?
Ele piscou várias vezes, engolindo em seco
antes de segurar minha mão.

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— Estou um pouco cansado, desculpe-me.


Bem-vinda à essa loucura toda aqui.
— Obrigada.
— É nova na política? — Garcez
perguntou.
— É a primeira vez que trabalho com
alguém tão grande, sim. — Fugi do assunto, não
querendo dar munição para ninguém ali.
— Vou dizer a Juan para pegar leve com
você.
— Não se preocupe, eu aguento.
Enquanto o secretário riu, o advogado ficou
mais sério e até franziu a testa para mim. Ótimo, já
fiz meu primeiro não-amigo lá dentro.
— Muito bem, agora vou mostrar algumas
coisas para a Aya antes que o Governador chegue.
— Com licença — pedi e saímos de perto,
deixando os dois. Me sentei ao seu lado, atrás do
balcão, e deixei a bolsa no chão ao lado.
— Legal — ela começou. — A primeira
coisa é a agenda dele. Mesmo que o Jorge fique
com ele o tempo todo, é importante que você saiba
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dos compromissos na ponta da língua. Julio é muito


presente, e como ele está mais próximo da nossa
idade, qualquer coisa você pode perguntar a ele.
Tem o Santiago também, que é filho do Jorge, ele
aparece de vez em quando. É advogado, mas não
trabalha por aqui. É outro que me ajudou muito
quando comecei.
— Certo. Santiago e Julio são legais. E o
Jorge? Eu o conheci, mas não deu para ter uma
opinião formada.
— Ele se acha responsável pelo Juan, quer
evitar a todo custo que algo saia errado, e quando
sai, ele fica com um humor do cão. Mas no geral, é
tranquilo de trabalhar. No começo, ele não sabia
como era meu ritmo de trabalho, então foi um
imbecil, mas eu aprendi a colocá-lo em seu lugar.
Consiga o respeito dele e ele vai te colocar para
dentro dos lugares certos.
— Ok. E tem o Dario, o coordenado?
— Dario não fica muito aqui. Ele ronda por
todos os lugares, vem aqui uma ou duas vezes na
semana. Mas em todas as viagens e eventos ele
está. — Ela pegou uma folha que havia acabado de
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imprimir e me entregou. — Aqui tem o número de


telefone e do lado do nome tem as especificações
de quem são. É basicamente com quem você irá se
comunicar todos os dias.
— Entendido. — Dobrei o papel e a fitei,
pensando em cada palavra antes de perguntar o que
queria, para não dar bobeira. — Como secretária,
eu vou trabalhar para todos aqui?
— Não. A escrava do lugar sou eu. — Ela
riu e a acompanhei. — Mas sério, eu lido com todo
mundo. Você focará exclusivamente no
Governador. Acredite em mim, é uma sortuda.
— Posso fazer uma pergunta... indiscreta?
— Eu já estava esperando por algumas
delas. Pode fazer.
— Eu ouvi boatos sobre o Governador, são
verdadeiros?
— Quais? — Esmeralda olhou para a porta
e para os dois homens sentados conversando, e
baixou a voz. — Que ele não presta?
— Tipo isso.
— Olha, ele nunca tentou nada comigo,
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então eu não sei. E sinceramente agradeço por isso.


Ele é um deus grego, mas só de pensar em ter que
lidar com a mulher dele, já quero distância total.
— Jaqueline Herrera... ouvi falar.
— Para você ter uma ideia, nem a sogra
suporta. O senhor Otto também não é muito
chegado nela.
— Sério? — Com isso fiquei surpresa. Os
pais do Juan não gostavam dela?
— Sério. Ela é muito nariz em pé, trata
algumas pessoas por aqui como se não fossem
dignos dela. Não tenho saco para isso.
— Surpreendente — comentei, segurando
um sorriso.
— Pois é, mas como estou a mais tempo
aqui, vou te dar um conselho, você segue se quiser.
Não sei como será com o Juan e você, mas como
ficará mais tempo com ele, tenha cuidado. Já vi
garotas aqui perderem o emprego só de olhar para
ele.
— Vou me lembrar disso. Embora seja uma
pena. Ele é uma ótima visão.
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Esmeralda riu.
— Meu Deus, é tão bom ter alguém da
minha idade aqui. Que me entenda.
A deixei mexendo em seus papéis e
continuar me explicando as coisas e sorri, meus
olhos viajaram até a porta escrito “Governador
Herrera”. Suspirei e comecei a contar os minutos
até às onze.
Seriam dias agitados. Eu mal podia esperar.
Julio havia chegado e eu fui apresentada a
ele, com quem simpatizei logo de cara, pois era
descontraído e pouco profissional. Jorge apareceu
também, e enquanto tomava seu café, ficou
conosco na recepção conversando. Parecia que
ninguém estava ligando para o trabalho que
precisava ser feito. Conversar, para eles, no
momento era mais interessante.
Julio estava na casa dos 25 anos, um
moreno alto e magro, superengraçadinho. Tinha
alguns cachos no cabelo de tamanho médio e um
sorriso brilhante. Já Jorge, devia estar no fim dos
40, e mesmo que conversasse comigo ali, vi que se
mantinha reservado. Provavelmente estava me
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sondando, esperando para ver se eu servia para


estar no meio.
A pessoa mais esperada chegou um pouco
depois das 11h. Juan entrou trazendo toda a sua
aura de poder com ele. Eu estava de pé, mas
apoiada no balcão, e se não fosse por esse apoio,
podia muito bem ter dado uma cambaleada. Ele
estava tão lindo, usava uma calça grafite e camisa
branca, e suspensórios, o que ficou incrivelmente
sexy nele, com o terno dobrado sobre o braço.
Os olhos verdes me digitalizaram sem
pressa dos pés à cabeça enquanto se aproximava,
não havia surpresa em sua feição por me ver ali.
Desviei o olhar, evitando causar qualquer
impressão dos outros três logo no primeiro dia.
— Governador! — disse Julio, recebendo o
aperto de mão de Juan. — Estávamos falando do
senhor agora mesmo.
— E quando vocês não estão falando de
mim, Julio? — Seu tom de voz era suave, divertido.
Um homem poderoso que conversava com seus
funcionários como se fossem iguais a ele.
— Chegou o homem do pedaço! — Jorge
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comemorou, recebendo dois tapinhas nas costas de


Juan.
Eu já tinha desconfiado que ele deveria ser
um grande puxa saco, mas ver ao vivo só
confirmava minhas suspeitas. Jorge provavelmente
lambia o chão que o homem pisava.
Ele acenou para Esmeralda, com um sorriso
educado e discreto.
— Como vai, Esmeralda? Tudo certo por
aqui?
— Sim, senhor, Governador. Está tranquilo
hoje.
— Está mantendo esses dois na linha?
Ela deu de ombros, entrando na
brincadeira.
— Eu tento, mas o senhor os conhece.
Senhor, essa é Aya Maria, a nova secretária. Ela
começou oficialmente hoje e eu a estava
apresentando como as coisas funcionam por aqui.
Ele me fitou intensamente, as palavras
soltas no ar entre nós dizendo muito mais do que
nossos lábios. Estendeu a mão, agindo como se não
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fizesse ideia de quem eu era. Como se não tivesse


me pressionado contra a porta do quarto caro de seu
hotel, como se não tivesse me beijado até nos faltar
o ar.
Como se não tivesse me tocado e não
tivesse se esfregado em mim.
— Olá, Aya. Seja bem-vinda. Que seu
tempo aqui seja muito proveitoso.
Eu controlei meu sorriso para não ficar
maior do que deveria na frente de outras pessoas, e
soltei sua mão após alguns segundos, assentindo.
— Tenho certeza que será, senhor.
Que meu tempo seja proveitoso? Sério que
foi essa a forma como ele resolveu começar a
brincar?
O telefone tocou, nos tirando daquela bolha
momentânea, e eu segui Esmeralda, como se
realmente estivesse interessada no trabalho. Juan
foi levado pelos dois homens para a sua sala e eu
esperei até que ela terminasse a chamada. Quando o
fez, bateu o telefone na base e me encarou de olhos
arregalados.

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— Cacete! Juan te comeu com os olhos!


— O quê? Claro que não!
— Claro que não? Acredite em mim, ele
comeu. Nossa! — Se abanando, ela praticamente se
jogou na cadeira. — Eu nunca tinha comprovado os
boatos, mas aí está. O Governador é um grande
safadinho.
— Não diga bobagens, Esmeralda.
— Me chame de Esme.
— Está bem, Esme. Mas ele só estava me
sondando, vendo se eu sou adequada para trabalhar
aqui.
— Ah, ele estava te sondando mesmo e
aposto que achou muito adequada!
— Pare com isso. — Me fiz de preocupada.
— Se alguém te escuta falar isso pode até pensar
que é verdade.
— Bem... o tempo dirá.
— O tempo não vai dizer nada. — Dei
risada, balançando negativamente a cabeça. —
Você diz que eu sou maliciosa, mas olha só quem
está criando teorias da conspiração. Quer que eu
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perca meu emprego, é?


Ela sorriu, os olhos cheios de
conhecimento.
— Sabe que... eu acho que se a senhora
Herrera tentasse te demitir, o Governador não
ligaria muito? Ele estaria muito ocupado te
“sondando”.
Meu queixo foi ao chão e ela começou a
rir. Eu não estava constrangida como demonstrava,
mas quanto mais ela acreditasse em mim, melhor.
Afinal, se as coisas dessem errado, antes para ele
do que para mim. A porta abriu e Juan saiu. Nós
duas disfarçamos o riso e eu o olhei com o canto
dos olhos, mas ele saía apressado demais e não me
deu um segundo olhar. Os dois homens seguiam
parecendo preocupados atrás dele.
Esme deu de ombros e eu esperei cinco
minutos antes de sair, dizendo que precisava cuidar
de algumas coisas de trabalho.
É claro que era uma mentira.
Trabalhar definitivamente não estava nos
meus planos.

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Enquanto saía e tentava caminhar com


alguma tranquilidade para o Shopping mais
próximo, percebi que a sombra de Jaqueline estava
me seguindo. O insuportável não desgrudava desde
que me pegava no hotel, até quando me levava de
volta. Precisava dar um jeito naquilo.
Mas é claro que ficaria para depois, pois
tinha que ir até a loja de roupas íntimas comprar
calcinhas laranjas.

Quando saí da loja, mais de meia hora


depois, passei para outra e depois mais uma. Por
fim, fiquei satisfeita ao perceber que mesmo sem
querer, despistei o segurança. Meu celular já tinha
tocado com uma ligação de Esmeralda, que ignorei.
Claro que eu precisava voltar ao trabalho, mas
infelizmente para ela, teria que se virar sem mim.
Em minha defesa, se Jaqueline tivesse especificado
que virar capacho de um bando de políticos estaria
no acordo, eu não teria assinado aquele papel por

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dinheiro nenhum.
Decidi tomar um café antes de voltar — de
táxi — ao hotel e fui em direção a um bistrô bem
aparentado lá dentro. Só precisava de um pouco
mais de paz antes de voltar ao papel de secretária
honesta e dedicada. Deixei as sacolas de compras
em uma das cadeiras na mesa, e esperei o garçom,
fiz meu pedido e peguei o celular, deslizando as
notificações de mensagens para o lado. Ninguém
no mundo era mais importante que meu atual café
de folga. Qualquer coisa podia esperar.
— Aya? — Olhei para cima ao mesmo
tempo que um homem se aproximou da minha
mesa, dois segundos depois percebi que era o tal
advogado, David.
— Olá — falei, meio insegura, lembrando
de como tinha me olhado estranho e não gostando
nada de estar “sozinha” com ele.
— Posso me sentar? — perguntou,
apontando a cadeira vazia à minha frente.
— Claro. — Forcei um sorriso e guardei o
celular na bolsa.

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Lá se foi meu café de folga e paz.


Dando-me um sorriso grande demais,
sentou e acenou, pedindo um café duplo quando o
garçom se aproximou para entregar o meu
cappuccino.
— Eu costumo vir aqui à tarde, distrair um
pouco a cabeça antes de voltar ao trabalho.
— É a minha primeira vez. Eu lido com o
estresse do trabalho de outras formas. — Acenei as
sacolas e ele riu.
— Cada um encontra um modo, certo?
— Com certeza. — Depois disso, um
silêncio estranho e desconfortável se instalou sobre
nós.
O café dele chegou, eu me apressei a tomar
o meu, disfarçando a vontade de levantar e ir
embora. Bebemos em silêncio, eu olhando ao redor
e ele batendo os dedos na mesa. Voltei a fitar seu
rosto e ele tinha a cabeça baixa, passando os dedos
da mão livre pelo pires da xícara.
— Está tudo bem? — perguntei. Sua
cabeça levantou com rapidez, como se tivesse
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levado um susto.
— Sim. — Pigarreou e tomou um gole do
café. — Estou distraído, pensando em trabalho.
— Pensando em trabalho no seu refúgio de
paz?
Ele sorriu, me olhando tão intensamente
que me remexi na cadeira, incomodada.
— Quantos anos você tem, Aya?
Pronto, estava demorando. Meu incômodo
rapidamente se transformou em defesa, se ele
ousasse começar a flertar comigo, eu jogaria a
bebida quente em seu rosto e estaria me lixando se
perdesse o emprego falso. Não importava a idade
que eu tinha, ele com certeza deveria ter bem uns
vinte a mais, no mínimo. A cabeça cheia com um
resquício de cabelo castanho, porém quase
completamente branco, e as linhas de expressão no
rosto, mas principalmente no canto dos olhos
verdes mostravam isso.
— Por quê? — Fui seca e direta.
Seus olhos arregalaram, colocando a xícara
de lado.
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— Me desculpe, não quis ser intrometido.


É que... bem... — Seus olhos estavam inquietos,
indo de mim para todos os lados, confuso. — É que
fora a Esmeralda, nunca teve ninguém tão jovem
trabalhando no escritório, e bem... eu só estava
curioso. Você deve ter um bom currículo, isso
explica. Quer dizer... — Parou por um momento,
então respirou fundo e levantou. — Me perdoe a
intromissão, Aya. Nos vemos por aí.
Confusa, fiquei vendo o velho homem ir
embora apressado. Nada dos últimos quinze
minutos tinha feito qualquer sentido. Dei de
ombros e terminei minha bebida.
Minha paz momentânea tinha sido
interrompida, mas não abalada. Voltei a sorrir.

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Capítulo 15
"Me coloque numa gaiola
me tranque e eu vou jogar todos os jogos que você
quer que eu jogue
Tenho esse apetite de loba que me mantém
acordada a noite toda
Você pode ter tudo isso
Qualquer coisa que você quiser, você pode torná-lo
seu
Tudo o que você deseja no mundo"
Shakira, give it up to me

— Atire logo nele, sua maldita imbecil —


resmunguei com o filme naquela noite.
A protagonista era uma molenga de
primeira linha, eu não podia lidar com ela sendo tão
boba nem por mais um minuto.
— Juro por Deus que se você não atirar
nele, eu atiro em você. — Fiz uma arminha com a
mão e mirei na testa dela, fechando um olho para
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ver melhor o alvo. Dois segundos depois, ela caiu


no chão e eu sentei na cama, confusa com o que
tinha acontecido.
Peguei o controle e voltei um pouco,
assistindo a personagem ser atingida pelo cara que
ela hesitava em atirar. Desliguei a televisão e a
xinguei novamente só para não perder a linha da
revolta. O filme estava tão bom, ela parecia forte,
decidida, mas conheceu um vigarista. Nada mau até
aí, eu meio que gostava dos vigaristas na ficção,
mas o cara foi de mau a pior e para dar o golpe
final, roubou toda a herança dela.
Se ele tivesse ao menos a chamado para dividir o
dinheiro e fugirem juntos, curtindo o amor e
compartilhando os ganhos do golpe, seria um final
razoável... na ficção, claro. Mas fugindo para
encontrar a comparsa dele? Ele não deveria só
atirar, devia criar uma vingança fenomenal e depois
atirar. Mas hesitou, esqueceu de pensar em si
mesma primeiro e seu grande amor cravou uma
bala em seu peito.
Esses filmes me ensinavam muito. Só coisas que
não prestavam e que mamãe me aconselharia a
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fazer o contrário. Mas eu tinha certeza que se fosse


eu no lugar da personagem, trancaria meu amor
numa caixinha e a jogaria no fundo do oceano.
Depois, se estivesse de bom humor, usaria a chave.
Primeiro eu, depois o mundo.
Foi com esses pensamentos sanguinários que
resolvi que um mergulho na piscina cairia bem.

Voltei ao quarto quarenta minutos depois,


preparada para tomar um banho mais caprichado do
que a chuveirada lá em baixo e dormir, mas assim
que acendi a luz, não pude me mover. O homem de
costas para mim virou, afrouxando a gravata e
dando-me aquele sorriso matador que só ele tinha.
Minha respiração falhou, me lembrando do impacto
que ele tem sobre mim.
— O ar condicionado está ligado?
Suas sobrancelhas dispararam para cima.
— Como?

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Larguei a toalha de canto, no chão. Depois


jogaria no cesto. Mas naquele instante, eu precisava
me acalmar.
Resistindo a abanar a mim mesma,
coloquei as mãos na cintura e, de repente, dei
graças a Deus que tirei o biquíni lá embaixo e
coloquei uma roupa seca. Ter encontrado esse cara
toda molhada, não faria bem. Não, não, nada, nada
bem.
— Está quente aqui, não?
Ele sorriu, sabendo bem o efeito que
causava, e deu de ombros ligeiramente.
— Se quiser tomar um banho para
refrescar, fique à vontade.
— Muito espertinho, Governador.
— Tenho que ser, sou um político.
— Por isso mesmo deveria saber que não é
certo entrar nos quartos de suas clientes sem ser
convidado.
— Não tive culpa. Eu tinha toda a intenção
de esperar você me convidar, mas como não estava
atendendo a porta, tive que usar meus meios.
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— Seus meios chamados “chave mestra”


deveriam ficar longes da minha porta, assim
evitaria grandes problemas para nós dois.
— Eu gosto de alguns problemas de vez em
quando. E falando em chave... onde você estava?
“Não é da sua conta” estava na ponta da
língua. Mas mordi as palavras duras e as engoli,
dando de ombros e sorrindo.
— Fui dar um mergulho na piscina. —
Passei por ele de lado, roçando meus seios em seu
braço. — Ela é deliciosa.
A intensidade de seus olhos verdes me
queimou por inteira. Principalmente quando ele
segurou meu braço, e sei que figurativamente, onde
seus dedos tocaram, deixou minha pele em chamas.
— Você nadou? — perguntou, sério.
— Sim. Foi muito bom.
Tentei dar mais um passo, mas ele
continuava me segurando, mantendo nossos olhares
trancados um no outro.
— Só tinha você lá?
— Por que o interrogatório? Pesquisa de
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satisfação?
— Quero saber quantas pessoas te viram
seminua lá embaixo.
Fiquei sem palavras.
— Não estou te entendendo.
A mandíbula dele cerrou, e só então percebi
que estava realmente sério.
— Não volte na piscina.
Um riso debochado involuntariamente me
escapou, segurei sua mão, abrindo um dedo de cada
vez e me soltei.
— Não me dê ordens.
— Você prefere que eu te tranque aqui
dentro e mude a fechadura? Assim só eu entro e
quando quiser fazer a porra de um espetáculo,
ficarei feliz em assistir.
Meus olhos arregalaram diante seu ataque.
Eu nem de perto podia começar a entender, muito
menos explicar porque ele estava agindo daquela
forma. Parecendo se dar conta do absurdo que
acabou de sair de sua boca, Juan me soltou e passou
as mãos pelo rosto. Suspirando, ainda sério, meio
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puto.
— Eu estou incomodado. É o que acontece
quando não tenho o que eu quero. É o que vem
acontecendo porque tenho que ouvir piadinhas
sobre você.
— Eu gosto de piadas — provoquei, mas o
olhar que me deu, deixou claro que não era hora
para brincadeiras.
— Não deveria gostar dessas.
— Governador... eu sou uma mulher livre.
Faz maravilhas à minha autoestima colocar um
biquíni e ser admirada, não porque preciso disso —
Fiquei mais perto e colei meus lábios em seu
ouvido —, mas porque gosto de ver como tiro até o
mais poderoso do controle.
— Acredite em mim. Me ver fora do
controle não é algo que você vai gostar de fazer.
— Eu discordo. — Saí de perto e me sentei
na cama. — Mas... é claro que não deveríamos
estar tendo esse tipo de conversa.
— Não deveríamos estar conversando.
Deveríamos estar... — ele foi interrompido
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quando seus lábios estavam a um centímetro


dos meus, pelo toque do meu telefone.
Eu podia ter ignorado, mas me toquei que a
tela estava à mostra, em cima da cama, e se fosse
Jaqueline, bastava ele bater os olhos para a minha
morte chegar. Pulei da cama, agarrei o telefone e
quase desmaiei de alívio quando vi o nome de
Maynara na tela. Desliguei e olhei para ele.
— Pode atender — rosnou.
— Não é importante. Onde estávamos? —
Dei um passo em direção a ele, e o maldito telefone
tocou de novo. Virei para pegá-lo, fechando os
olhos para conter a raiva.
— O quê? — vociferei, irritada.
— Aya.
— Não posso falar agora. — Eu teria
gritado se não quisesse manter a pose diante do
divino loiro que me analisava.
— Não me vire as costas! — Um soluço
cortou sua voz e eu saí de perto de Juan, dando
total atenção a minha amiga.
— O que ele fez?
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— Como sabe que foi Galdino?


— Porque esse choro só existe quando se
trata dele. Me diga logo o que ele fez.
— Por que você está irritada? Sou eu que
estou triste aqui!
— Porque eu — comecei gritando, mas
respirei fundo e me controlei. — Porque já
passamos por isso o suficiente a ponto de você
saber que não há como eu ficar calma quando se
trata desse imbecil.
— Mas eu acho que a culpa foi minha
dessa vez.
Revirei os olhos e segurei o telefone com
mais força, desejando que fosse o pescoço dele.
— Ai, Maynara, por favor! Todas as vezes
ele diz que a culpa foi sua, e você acredita. Já
passou da hora de entender que ele vem e vai
quando quer porque é um filho da puta, não porque
você fez algo errado.
— Ele disse que tinha uma viagem de
trabalho e eu disse que tudo bem. Você sabe que eu
o amo e nunca vou atrapalhar a carreira dele.
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Eu já quase podia ver onde a história estava


indo.
— E então?
— Então ele disse que ia para Jalisco, que
seria uma viagem chata e tediosa, por isso não me
convidaria para ir. Foi tomar banho e eu sem querer
vi as passagens.
— Sem querer?
— Não me julgue, Aya! Você também teria
olhado.
— Claro que eu teria. Para onde ele vai
realmente?
Ela soluçou outra vez.
— Cancún.
Fechei os olhos, irritada, nervosa. Muito
puta com Galdino.
— Calma, May. Já passamos por isso antes,
vai ficar tudo bem.
— Não vai! Ele ficou tão bravo, Aya, tão
bravo.
— Você vai superar, como todas as outras

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vezes e...
Ela soltou um grito de repente, me
assustando.
— Espere, é uma chamada dele. Ele está
ligando!
— May, espera...
— Preciso atender, te ligo depois. — Ela
desligou e eu fiquei com o telefone no ouvido um
minuto, me esforçando para não o jogar varanda
abaixo. Joguei o aparelho na cama e o fitei,
incomodada que tivesse ouvido e presenciado algo
tão pessoal.
— Nada importante, hein? — Sua voz tinha
um tom de ironia, e o sorriso de lado que
acompanhou as palavras também.
— Já resolvido.
— Não parecia resolvido para mim.
— Isso é porque o senhor, Governador... —
segurei sua gravata e a puxei, fazendo seus lábios
ficaram bem próximos dos meus — ... não sabe
nada sobre assuntos femininos desse tipo.
— Eu sei o essencial sobre assuntos
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femininos. — Enredando os dedos em meu cabelo,


apertou, fazendo-me conter um gemido. — Há duas
opções sobre o que fazer quando não podem ser
resolvidos.
— Qual a primeira?
Ele passou a língua pelo o meu pescoço,
mordendo meu lábio inferior.
— Sexo quente e gostoso, que só acaba
quando você desmaiar.
O perfume dele fazia coisas loucas para
mim, e quando ficava tão próximo, eu queria só me
jogar em seus braços e deixá-lo fazer o que bem
quisesse. Os lábios carnudos passaram raspando
pelos dentes e foi o único vislumbre que tive antes
de ser agarrada pela cintura e tomada por sua boca.
Juan possuiu minha boca com avidez, pressionando
nossos corpos juntos o máximo que pôde, beirando
a barreira do aceitável-para-continuar-vestida.
Quase não tinha forças para controlar a
inundação de sentimentos que me atingiu, e me
perguntei se queria controlar. Por que diabos
continuava fazendo aquele joguinho de sedução se
já sabia que, com ele, os jogos não funcionariam?
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Com ele... as fases passavam de fácil para quase


impossível.
Por Deus, estava quase implorando para
que me tomasse logo de uma vez, mas balancei a
cabeça e coloquei o dedo em seus lábios. Meu
coração martelando no peito, todo o meu corpo
tenso de frustração, de desejo, de vontade.
— Se controle, Governador — falei com a
mão em seu peito, ofegante. — Não tão rápido.
Estreitando os olhos, ele segurou minha
mão e abriu a porta de vidro da varanda.
— Então teremos que partir para a segunda
opção. — Sentou na espreguiçadeira e me puxou
para perto, sentando-me entre suas pernas.
— Que é?
— Falar sobre os seus sentimentos? — a
afirmação foi mais pra uma pergunta e eu dei
risada.
— Concordo que na ala sexual você deve
ser bem especializado, mas na de sentimentos...
— Vou fazer um esforço.
— Uau... — Sua mão adentrou lentamente
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por baixo da minha camisa, e ele começou a fazer


círculos na minha barriga. — O grande Governador
Juan Carlo Herrera vai perder alguns minutos me
ouvindo falar sobre problemas sentimentais?
Não que eu fosse falar, mas saber que ele
tinha a intenção de ouvir era estranhamente tocante
e... inesperado.
— Bem... — Sua voz soprou em meu
ouvido, e o movimento do peito forte subindo e
descendo em minhas costas ficou mais evidente,
minhas mãos tremeram e os dedos dos pés
apertaram. — Estou devolvendo o favor.
— Que favor?
— Uma certa linda mentirosa percebeu que
eu estava exausto e precisava dormir, então me
cedeu sua cama e nem sequer se aproveitou de
mim.
— Acredite, não me faltou vontade.
Ele riu e seu peito vibrou, os dedos na
minha pele apertaram, me levando para mais perto,
nos juntando completamente até que senti um
volume duro perto do meu quadril. Minha Santa

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Madrezita.
— Não diga coisas como essas quando não
quer que eu coma você.
— Eu nunca disse que não queria —
sussurrei, sabendo que estava brincando com fogo.
— Aya — ele rosnou e desceu a mão,
adentrando a ponta dos dedos em meu shorts. Com
muito esforço eu levantei, meio tonta,
cambaleando.
— Nunca falamos sobre o porquê de você
ter vindo... hoje. — Engoli em seco e voltei ao
quarto.
— Pensei que talvez você quisesse tomar
uma taça de vinho — disse atrás de mim.
Virei para ele. Nos encaramos em silêncio.
Na minha cabeça, a mais sensual das bachatas
começou a tocar, me tentando a dançar com ele.
Nua. Naquela cama. Juan era impossivelmente
sedutor, mesmo sem dizer uma palavra. Ele me
encarava a alguns passos de distância, passou o
polegar pelo lábio inferior, medindo meu corpo por
inteiro, uma mão no bolso e os olhos estreitos.

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Abri o frigobar, tirando uma garrafa de


água e engolindo metade dela de uma vez. Então o
fitei de novo e sorri.
— Na nossa situação, acho que vinho não
seria uma boa pedida.
— Nossa situação? — Deu um passo à
frente e eu, um atrás.
— Fique aí, Juan. Por favor, malditamente
fique aí!
— Está me dando ordens dentro do meu
hotel? — Um sorriso debochado surgiu naquele
rosto perfeito. Eu quis bater na cara dele.
— Estou fazendo uma exigência dentro do
quarto que, atualmente, é meu. Então, ou você
acata, ou serei obrigada a fazer uma reclamação
para a gerência.
O sorriso sumiu de seu rosto.
— Aya... — me ignorando, ele chegou
perto o suficiente para segurar meu queixo. Os
olhos claros muito sérios. — Não me ameace.
Dei de ombros.
— Você me obriga. — Me livrei de sua
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mão e fiquei de costas para ele, olhando por cima


dos ombros. — Você me tenta a fazer coisas que
não estou acostumada a fazer, Governador.
Assim como eu imaginei que faria, ele
quebrou a distância e colou seu corpo ao meu,
tornando ainda mais claro a evidência do quanto
me queria. Eu senti.
— Não está acostumada a fazer... o quê?
— Me entregar tão fácil. O senhor tem um
único propósito comigo, mas não vai tê-lo se eu
não achar que deve ter.
— O único motivo de você não estar
deitada naquela cama, nua e obedecendo as minhas
vontades... — Passou a mão pelo o meu pescoço,
colocando todo o meu cabelo para um único lado.
— É porque eu não estou pronto para colocar um
fim nesse seu jogo.
Virei-me na hora, a testa franzida.
— Não há jogos, Governador.
— Você parece ter esquecido o que eu
disse sobre saber que você tem um poder, mas que
eu tenho mais ainda.
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Lindo e fatal. Onde foi que eu me meti? Me


senti furiosa por não conseguir controlá-lo e
manipular as situações, aquela, afinal, era a única
forma como eu sabia lidar com homens. Mas é
claro, nunca encontrei um homem como ele. Talvez
porque não existissem muitos por aí. Juan era
único.
Me sentei no sofá e tentei parecer calma,
inocente, tocada e confusa.
— Se não veio tentar me seduzir, o que
quer então? Se sabe que eu não sou sexo fácil,
deveria ter ido para onde pode conseguir isso. —
Olhei intencionalmente para a sua mão esquerda.
O canto direito do lábio subiu
minimamente, mas os olhos perderam todo o brilho
de humor. Ele andou lentamente em minha direção
e sentou ao meu lado, colocando o braço no
encosto.
— Quando você tem um dia estressante,
você busca paz no final dele. Não vai atrás de mais
estresse.
Virei o corpo em sua direção e passei a
língua pelos lábios.
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— É isso o que eu sou para você? Paz?


Me senti venenosa, porque ouvi-lo dizer
indiretamente que Jaqueline o estressava me
animou mais do que eu poderia explicar.
— Sua juventude é revigorante. Seu
espírito. Você me seduz. Você está longe de ser
paz, Aya.
— Você não está fazendo muito sentido
agora, Governador.
— Você é um pedacinho do inferno. Mas é
o tipo de inferno que faz valer a pena pecar para
entrar.
Tentando controlar as batidas do meu
coração, segurei seu rosto sedutoramente, fixando
meus olhos nos seus, e o beijei levemente. Um
beijo leve como o toque de uma pena.
— Tenha uma boa noite, Governador.

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Capítulo 16
“É uma descarada por ser a mais bela
As mentiras desalmaram sua alma
Mulher que machuca
mulher que entrega e te arrebata
É minha maior fortuna e minha desgraça
a descarada”
Reyli Barba, la descarada

O dia seguinte foi tedioso. Eu faltei ao


trabalho e estava desejando com todas as forças que
Juan fosse até meu quarto para tirar satisfações.
Algumas sessões de beijos quentes e provocá-lo até
perdemos o ar não faria mal a ninguém.
Principalmente a mim, que estava ficando
entediada de passar os dias dentro daquele quarto,
tendo apenas a piscina para acalmar meus nervos
inquietos.
— Obrigada por vir — eu falei assim que
ela entrou.
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Jaqueline não se afastou muito da porta, e


nem de longe parecia aquela mulher relaxada e
falante que esteve ali da última vez. Quando ergueu
uma sobrancelha, cruzando os braços, comecei a
me sentir estranhamente pesada. Na minha cabeça
só passava que existia um slogan piscando em
minha testa dizendo “culpada”.
— Claro. O que você precisa? Pelo seu tom
de voz no telefone imaginei que fosse urgente.
— E é — confirmei, engolindo em seco. —
Não quer se sentar?
— Não, na verdade eu tenho que ir, então
se você puder adiantar de uma vez do que se trata.
— Olha só — falei, levantando e ficando a
sua altura. — Fazer o que você me pede não é fácil,
mas quando você me trata feito merda como está
fazendo agora, piora as coisas mil vezes mais!
— Eu te trato feito merda? — Bufou,
soltando um riso sem graça. — Aya, eu te salvei!
— Me salvou do quê?
— Da falência! Se não fosse por mim, você
estaria trabalhando em algum lugarzinho medíocre,
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bem diferente daquela editora, e mais... não


ganharia nem em dois anos a quantia que eu te
ofereci.
— EU... — Apontei para mim mesma,
frisando a palavra — te salvei! Você vai continuar
prendendo seu marido numa vida que ele
provavelmente não quer mais, graças a mim, então
se controle e me trate direito. Porque se eu resolver
abrir a boca, as coisas ficam feias para mim, mas
ficarão pra você também!
— Quem você pensa que é para falar assim
comigo?
Nós estávamos a um passo de distância, as
duas com os punhos cerrados. Éramos dois trens de
carga prestes a bater de frente.
— A única vez que você foi decente
comigo foi quando nos conhecemos, depois disso,
só sabe vir pra cima com chantagem barata falando
dessa porra de contrato, gritando, falando comigo
como se eu fosse sua funcionária. E adivinha só?
Eu não sou!
Cerrando os dentes, as narinas dela
alargaram e me deu as costas, passando as mãos
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pelo cabelo por um momento, então me encarou


novamente. Ainda furiosa.
— Certo. Desculpe-me, vou tratá-la...
melhor, a partir de agora.
— Ótimo — falei, cheia de sarcasmo. —
Muito obrigada.
— Agora, por favor, me diga porque estou
aqui. Tenho um compromisso.
Meu coração deu um aperto, eu quis
perguntar se o tal compromisso era com ele, mas
obviamente não fiz isso.
— Você sabe que seu marido fará uma
viagem amanhã, certo?
— Claro que sei.
— Eu aparentemente tenho que ir.
— É lógico que você tem que ir — disse ela,
indignada.
— Mas não quero estar lá.
? — perguntou impacientemente, os olhos
claros levemente arregalados e a boca pressionada
firmemente.

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— Porque... Porque...
— Diga, Aya!
Eu desviei o olhar, piscando os olhos
rapidamente para começar a produzir lágrimas.
— Porque acho que estão desconfiados de
mim.
Ela correu em minha direção, abaixando na
minha frente no instante que caí sentada na cama.
Suas mãos seguraram as minhas e ela parecia
genuinamente preocupada. Segurei o sorriso,
sabendo que tinha toda a sua atenção.
— Como assim desconfiados?
— Que tipo de funcionária do governo tem
motorista particular? O seu segurança fica me
seguindo, as pessoas percebem. Sabe o que a
recepcionista de lá me perguntou?
— O quê?
— Por que o seu segurança estava lá, se
você não estava.
— Não acredito — disse baixo,
decepcionada.
— Pode acreditar. Vão começar a falar e
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sabe o que vai acontecer? Seu marido vai mandar


me demitir para evitar historinhas em volta dele.
— Ai, que merda! — Levantou
subitamente, gritando. — Eu avisei àquele imbecil
para ser discreto!
— Acho que devemos suspendê-lo. Com o
carro, eu inclusive me sinto sufocada. Gosto de
caminhar, de ver as ruas, mas ele está sempre em
cima de mim.
— Tá, tá, tá. Tudo bem. Vamos tirar o
motorista.
Fiz uma dancinha da vitória no
pensamento. O único propósito daquilo era ficar
livre para fazer o que eu quisesse com Juan sem a
preocupação daquela sombra, que com certeza, se
visse algo, não hesitaria em dizer a ela. Eu mal
podia acreditar que aquela situação estava resolvida
tão facilmente.
Jaqueline falava grosso, mas era isso? Era
só saber usar as palavras com ela que caía feito um
patinho? Eu esperava mais. Se fosse fácil de
enganar daquele jeito, minha consciência não me
deixaria quieta para curtir livremente Juan.
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— Aliás — falou, apontando para mim —,


essa viagem é um pacote completo de brechas.
Você pode pegá-lo a qualquer momento, então
mantenha os olhos abertos. Parece até que está
demorando de propósito para curtir por mais tempo
as mordomias que estou te pagando.
— Claro que não! Eu já te disse que ele
nunca pareceu suspeito.
— Não me tire de idiota, Aya. Ele só
esconde muito bem, mas apronta, sim, eu sei!
Ela estava descontrolada.
— Bem, eu nunca vi, então...
— Então o quê? — berrou. — Ai! Onde eu
estava com a cabeça quando fui atrás de você?
— Jaqueline — alertei, tentando evitar que
ela não passasse dos limites.
Andando de um lado para o outro na minha
frente, ela segurou os cabelos e soltou um grito
abafado, rindo logo em seguida.
— Você estava tão desesperada tentando
provar que Roberto enganou a mulher, que entrou
nessa comigo. Eu achei que seria fácil, só não
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percebi que uma desesperada, ambiciosa como


você, não se contentaria em curtir uma semana de
luxo e voltar a sua vidinha de desempregada
medíocre! No final você é como uma prostituta de
luxo. Quer sempre mais e mais!
Eu podia ter respondido, a jogado da
varanda ou a expulsado do quarto. Mas ela não me
conhecia. Infelizmente Jaqueline não fazia ideia do
que eu era capaz. Ela não sabia que eu pensava em
maneiras de destruir o noivado do meu ex porque
ele me magoou no passado, não sabia que eu
manipulava meu chefe para fazer as minhas
vontades, não sabia que eu apertei o botão da
indiferença para a noiva do filho do meu chefe e saí
com ele apenas para o meu prazer.
Ela não sabia que suas palavras acabaram
de selar seu destino. O futuro de seu casamento e
como as coisas seriam a partir dali.
E tudo podia ter sido evitado se
simplesmente me tratasse como igual. Com o
mínimo respeito.
— Quer saber? — ela continuou. — Não
vou lidar com isso agora. Vá a essa viagem,
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consiga as evidências, volte e eu te pago o dobro do


que o prometido.
Quando a porta do quarto fechou com sua
saída, eu levantei, pedi um champanhe e esperei
chegar. Sorri para o garoto do serviço de quarto e
deitei na cama, ficando de bruços para servir uma
taça. Meu notebook estava perto. Abri a barra de
pesquisas, pesquisei o meu casal favorito e bebi.
Brindando sozinha.
Jaqueline e Juan Herrera sorriam na foto e
eu sorria comigo mesma.
Aquela viagem seria a mais prazerosa da
minha vida inteira.
Daria um jeito de conseguir as provas.
Entregaria a ela, só que ao invés de convencê-lo a
ficar ao seu lado, ela teria que lidar com as provas
da traição e com a minha sombra. Porque Juan ia
me desejar a cada passo que desse, e a única
culpada seria sua esposa.
Enquanto ela lidava com o marido infiel,
apaixonado pela garota que ela tanto destratou, a
prostituta de luxo, eu, curtiria seu dinheiro longe.

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Afinal... Primeiro eu, depois o mundo.

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Capítulo 17
VERACRUZ
CASA DOS HERRERA

"Se tudo o que sobrasse dele fosse o seu sorriso,


ainda assim seria mais homem do que todos os que
já conheci."
007 Cassino Royale

— Como meu filho está? — Mercedez


Herrera perguntou a sua nora, Jaqueline, enquanto
tomavam um chá, esperando que ambos os maridos
saíssem do escritório para finalizar a noite.
— Quer dizer como o nosso casamento
está? — Jaqueline perguntou, num tom de voz tão
ácido quanto o que a sogra havia usado.
— Não é preciso viver aqui para saber que
essa união tem dias contados.

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— Está enganada.
— Estou mesmo?
— Sim — a nora respondeu, batendo o
pires e a xícara por cima na mesa. — Juan está com
algum tipo de desvio de consciência, mas estou
tomando providências.
Mercedez a encarou, cética. Duvidava
muito que as tais “providências” adiantariam de
alguma coisa. Conhecia o filho bem o suficiente
para saber que quando colocava algo na cabeça,
não tinha quem o convencia do contrário. E ela não
fazia questão nenhuma daquele casamento. Por ela,
ambos seus filhos ficariam solteiros até que alguém
que realmente prestasse aparecesse para ocupar o
cargo ao lado deles.
— Assine o divórcio de uma vez, garanta
um bom acordo e vá viver sua vida.
— Seu casamento com Otto sempre foi
perfeito? Todo compromisso tem crises às vezes, as
nossas são passageiras também.
A mais velha continuou bebendo o chá
tranquilamente, fingindo que a nora não estava

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andando de um lado para o outro na sua frente.


— Quanto tempo dura a viagem dele de
amanhã?
— Dois dias. Será um ótimo momento para
contatar os eleitores dele.
— Sim — confirmou distraidamente. —
Claro. Você pretende ir?
— Não. Mas tomei providências quanto a
essa viagem. Está tudo correndo como o planejado.
— Arregalou os olhos e fitou a mulher mais velha
com preocupação. — Quer dizer... como espero que
aconteça em nome do nosso amor.
Mercedez não confiava nela. Disse isso a
seu filho no dia do casamento, e continuava
dizendo. Mas homens eram idiotas quando se
tratava de mulheres que sabiam dizer as palavras
certas. E ela pensava que com certeza, Jaqueline o
fisgou, mas o encanto aos poucos estava acabando.
Um capricho de seu filho que assim como
ela avisou, tinha data de validade.
Ouviram passos no corredor e a mais velha
de prontidão ficou de pé, mais do que pronta para
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sair de perto da nora e parar de fingir a pouca


simpatia que aguentava fingir.
— Faça uma boa viagem amanhã, Juan. —
A mãe beijou seu menino, acariciando o rosto dele.
— Tenha cuidado.
— Obrigado por ter vindo, mãe.
Otto Herrera se despediu da nora com um
abraço rápido, formal. Era um pouco mais brando
do que a esposa. Ele, na verdade, preferia deixar
suas opiniões guardadas para si mesmo, a não ser
que fosse necessário dizer o que estava pensando. E
ainda assim, sempre tomava cuidado com as
palavras, pois sabia que elas tinham poder.
— Que tudo siga como o planejado
amanhã, filho.
— Seguirá, pai.
Levou seus pais até a porta da frente,
esperando que entrassem no carro e acenassem uma
última vez, antes de entrar. Encontrou a esposa
parada na sala de visitas. Juan Carlo acenou para
ela educadamente e virou-se para sair da sala,
planejando se recolher para descansar. Mas assim

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que deu um passo em direção às escadas, foi


impedido pelo aperto em seu braço. Suspirou,
virando para encarar a mulher com quem dividia
um lar há anos, porém, não reconhecia mais. Tão
pouco a amava.
Os dois dividiam raiva, desprezo e uma
vontade mútua de destruir um ao outro. Ele se
perguntava todos os dias porque ela não assinava o
maldito divórcio que ele continuava levando para
casa.
— Precisa de algo? — perguntou com
calma, não querendo iniciar uma discussão àquela
hora. Sabia bem que não precisava de muito para
quebrarem a casa.
— Preciso. Preciso de você. — O pegando
desprevenido, segurou a bainha do vestido e o
tirou. Não usava roupas íntimas, portanto, estava
completamente nua na frente dele. Juan não se
surpreendeu, afinal, ela fazia muito aquilo.
Ele não estava morto, sua esposa era uma
mulher bonita. Tinha um corpo que ele costumava
amar por horas a fio, e mesmo que seu pau tivesse
dado uma balançada dentro das calças, sabia que
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caso se enroscasse com ela, pioraria a situação


muito mais do que já estava. Se sem sexo a
convivência ficava quase insustentável, se
acrescentasse essa questão, se tornaria impossível.
Ele virou novamente, ignorando o pequeno
espetáculo que ela ofereceu.
Deu dois passos antes que ela se colocasse
à frente dele.
— Não me ignore! — Pegou as mãos dele e
colocou sobre os seios. Instintivamente Juan os
apertou. Soube que fez merda na mesma hora, pois
o sorriso vitorioso da mulher provava isso.
Tirou as mãos dela e continuou andando,
passando por ela cada vez que se meteu na frente.
Quando finalmente chegou em seu quarto, ela
correu para entrar. Se jogou em sua cama e abriu as
pernas, mostrando a boceta depilada, exibindo o
que ele sempre gostou. Ela usava de anos de
conhecimento sobre os gostos dele para tentar
conseguir uma reação, mas conseguia apenas se
tornar insuportável.
Por que ela não assinava os malditos
papéis?
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Foi até ela e segurou seu pulso, tirando-a da


cama. Hesitou, tentado a enfiar a cabeça entre as
pernas da mulher, mas sabia que isso era o tesão
falando mais alto. Resistiu e a levou perto da porta.
— Mas Juan...
— Jaqueline — falou em alto e bom som,
aproximando-se dela e segurando seus braços sem
apertar, apenas a apoiando. Fitou seus olhos e disse
calmamente: — Não fode.
O rosto da mulher transformou-se, os olhos
estreitaram em fúria e começou a gritar, o atacando
com os punhos e unhas afiadas. O homem precisou
ter cuidado para tirá-la de dentro do quarto de
hóspedes, que agora era seu, e trancar a porta. Seus
gritos perpetuaram por mais meia hora até que ela
pareceu cansar e o silêncio reinou na casa.
Ele tirou a camisa, a calça e a boxer,
ficando nu para deitar e ter pelo menos um pouco
de descanso antes que precisasse levantar para
cumprir a agenda de compromissos. O lençol de
seda era bem-vindo em contato com seu corpo
cansado. Puxou o edredom até a cintura e fechou os
olhos, suspirando quando os músculos tensos
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pousaram no colchão.
Daria tudo por uma massagem, mas jamais
pediria a sua esposa. Isso renderia apenas mais
dores de cabeça e, no fim, teria que amanhecer sem
ter pregado o olho, como era de costume todas as
vezes que tentou sequer conversar com a mulher.
Deixou sua mente vagar para a viagem do
dia seguinte, no comício e nas reuniões rápidas que
teria com diversas pessoas do partido e de fora
dele. Gostava daquela interação, de ficar
informado, de saber o que estava acontecendo, e
isso era o tipo de coisa que só descobria no boca a
boca. Sempre gostou de ser direto, essa foi a chave
para sua candidatura e a vitória.
E sendo direto, cem por cento sincero
consigo mesmo, admitia sem medo e sem reservas
que a maior parte de sua ansiedade para a viagem
era uma certa deusa que vinha tirando seu juízo.
Seu pau contraiu e ele gemeu, pensando na
loira que vinha o enchendo de tesão, no delicioso
jogo de sedução que estavam brincando. Lembrou-
se de que passaria dois dias na presença dela, sob o
pretexto de trabalharem juntos. Mas Juan se
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conhecia, sabia que se as coisas fossem como ele


desejava, a última coisa que tratariam seria
trabalho.
Sua mente viajou para os possíveis
cenários.
Tinha tocado o seio cheio e macio, mas
queria vê-los. A queria nua, em cima dele, debaixo
dele, o rodeando, fazendo suas vontades e exigindo
dele também. Queria enrolar as mãos nos longos
fios de ouro e sussurrar em seu ouvido.
Suspirou, passou as mãos pelo rosto,
excitado. Levou a mão ao membro duro, que
implorava por alívio, e deu apenas um aperto,
mandando uma mensagem silenciosa às suas partes
baixas de que amanhã aquela tortura acabaria.
Prometeu que faria com que ela fosse sua, e
a hora estava finalmente chegando.
A linda mentirosa ia distraí-lo por tempo
suficiente. Ele a deixaria tão necessitada que a
única coisa que ela ia querer, seria sua atenção.
Mas prometeu a si mesmo que quando estivesse
saciado, a recompensaria, acabando com tudo
pacificamente.
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Sempre foi assim.


Ela nem poderia reclamar, afinal, ele avisou
para que mantivesse dois pés atrás. Ele esperava
que ela fosse esperta e deixasse também os olhos
bem abertos.

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Capítulo 18
"Porque eu sou seu veneno
Controlando seu corpo
Você me dá o que eu quero
Sou seu veneno
Você está brincando com fogo
Cuidado, que te queimo"
Anitta, veneno

— Façam uma boa viagem — Esmeralda


falou, anotou seu número pessoal no meu celular e
me entregou o aparelho.
— Será maravilhosa, tenho certeza —
respondi com um sorriso.
Eu me sentia revigorada.
— Aya. — Álvaro se aproximou de nós,
acenou para mim e eu o cumprimentei de volta. —
Esmeralda, pode me acompanhar até o arquivo?
Precisaremos de alguns documentos na viagem.
— Claro, Governador. — A morena me

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deu um sorriso de despedida e saiu, sendo seguida


por ele.
— Aya, estamos indo — Julio chamou da
van. Eu torci o nariz, não acreditando no tipo de
coisa que teria que inutilmente me prestar a fazer.
Por exemplo, ficar em uma van por horas,
balançando na estrada e lidando com uma multidão
de militantes políticos quando parasse.
— Onde posso colocar minha mochila?
— No porta-malas do carro ali na frente.
— Eu prefiro que fique comigo.
— Mas ficará. A equipe principal vai no
carro atrás do Governador e o irmão dele.
— Mas e a van?
— Equipe de mídia e filmagem. Outros
assuntos. Os equipamentos não cabem em um
carro.
— Graças a Deus — murmurei e ele riu,
levando minha mochila para guardar.
Fui em direção ao carro, mas antes que
pudesse abrir a porta, um cara surgiu na minha
frente e a abriu para mim. Ao olhá-lo, percebi que
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era o mesmo que Juan usou no hotel um tempo


atrás, para disfarçar que subíamos no elevador
juntos.
— Uma dama nunca deve abrir a porta
sozinha.
Meu Deus, de onde saiu aquela breguice?
Eu sorri, parecendo agradecida.
— Muito obrigada. E qual o nome do
cavalheiro?
— Santiago. E você... tenho certeza que é
Aya Maria.
Santiago...
— Ouvi falar de você — respondi. — E
como sabe que sou Aya?
— Tenho ouvido bastante sobre você. Mas
devo dizer que nem os melhores comentários
fizeram jus.
Inclinei a cabeça e sorri mais abertamente
para ele. Não estava nem um pouco interessada,
mas me perguntei onde poderia encaixá-lo em toda
a situação. A covinha nas bochechas combinavam
com os olhos cor de mel, e o cabelo castanho era
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um pouco grande, dividido no meio. Parecia uma


imitação barata e nada justa do meu Sebastian
Rulli. Mas ele era uma graça. Jovem e bonito.
— Sabe, Santiago... eu estava insegura com
essa viagem. Mas você acabou de me fazer
perceber que ela será muito agradável.
Ele deu uma mordiscada no lábio inferior e
acenou para mim. Me abaixei para entrar no carro,
e assim que me ajeitei lá dentro, olhei para fora.
Meus olhos bateram direto no loiro poucos metros
à frente, que me encarava seriamente. Ele balançou
a cabeça uma vez e desviou o olhar, apertando a
mão de dois homens antes de entrar no grande carro
esportivo à frente.
O que eu disse a Santiago, de repente, não
poderia ser mais verdadeiro. O Governador não
gostou de saber que eu andava me exibindo em sua
piscina e não lhe agradava que eu desse atenção a
outros homens. Será que ele percebia o quão
hipócrita estava parecendo?
Ri comigo mesma.
— Tudo bem aí, Aya? — Julio perguntou
do banco motorista.
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— Sim, tudo certo.


Santiago abriu a porta do meu lado
esquerdo e entrou, intencionalmente deixando sua
perna encostada na minha. Me fitou e sorriu.
— Muito bem, vamos começar a aventura.
Olhei pela janela e concordei.
Seria uma grande aventura.

Quando eu voltasse a morar no meu


apartamento, seria muito estranho. Saí de um hotel
para entrar em outro, e já fazia quase um mês que
estava naquela. Se eu não soubesse que Jaqueline
não ia ter que pagar nada pela minha estadia, ficaria
até preocupada com quanto dinheiro estava
gastando na diária. O espantoso hotel que toda a
equipe ficaria era enorme, tão bonito quanto o que
eu estava em Veracruz. Eu quis fazer uma piadinha
sobre eles estarem usufruindo do dinheiro público,
esquecendo por um momento que eu estava junto
com as pessoas da política, então calei a boca antes
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de complicar as coisas para mim.


Segundos depois, Julio se aproximou de
mim e começou a explicar como tudo funcionaria a
partir dali, junto com:
— Fique à vontade para usar e abusar do
serviço de quarto, o hotel é do Governador.
Fiquei por alguns segundos parada no
lugar, me perguntando quantos hotéis aquele cara
tinha ao redor do México. Ou até fora dele. Ele
devia ser podre de rico.
— Quantas garrafas de champanhe por
quarto são liberadas?
Julio riu da minha pergunta e colocou o
braço em volta do meu ombro.
— Garota, você é das minhas.
— Das nossas. — Santiago apareceu por trás
de nós, me brindando com um sorriso enorme.
— E eu soube que se estiver acompanhado,
além do champanhe você ganha morangos.
— É uma oferta e tanto — comentei sem
nenhum interesse, mas ele não precisava saber
disso.
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— Então... parece que vamos beber


champanhe e comer morangos hoje à noite? —
Julio perguntou.
Arqueei uma sobrancelha e ele levou a
latinha de cerveja à boca. Entendi então que já
devia estar bêbado. Desde que nos conhecemos,
conversamos algumas vezes e ele nunca foi tão
aberto. Resolvi deixar passar, apenas por saber que
não estava sóbrio. Fingir cair nas cantadinhas
baratas de Santiago era até aceitável, mas se Julio
começasse com algum tipo de investida, daqui a
pouco a equipe inteira estaria comentando que era
só me oferecer champanhe para conseguir alguma
coisa.
Segurei o braço de Julio e dei uma volta,
saindo de seu abraço.
— Calma lá com o álcool, menino da
publicidade. Daqui a pouco quem vai sair nas
manchetes é você — brinquei e ele piscou, rindo.
— Prontos para falar de trabalho?
Uma voz atrás de mim interrompeu e eu
sorri internamente, sabendo que Juan estava mais
do que incomodado ao me ver novamente
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interagindo com outros caras.


Como ele disse, o irritava não conseguir o
que ele queria. E eu estava definitivamente
dificultando as coisas.
— Governador. — Santiago acenou. — Às
suas ordens.
Juan me fitou friamente.
— Minha agenda?
— Um jantar com a equipe. Amanhã cedo
se reunir com a equipe para traçar estratégias e
conferir cronogramas — eu disse sem nem pegar o
telefone para conferir.
— Ótimo. Quem quiser subir ao quarto,
tomar um banho e descer, façam isso. — Me
olhando uma última vez, ele deu as costas e saiu,
com Dario e Jorge falando atrás dele.
Santiago abriu a boca, mas saí antes que
começasse a falar outra vez.

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Quando disseram “jantar”, eu pensei que


sentaria todo mundo junto no salão e comeria. Mas
estava mais para uma festa. Quando abri a porta
dupla do que deveria ser o restaurante do hotel, não
tinham nem muitas mesas. Tocava Romeo Santos,
o que eu achei bem desnecessário, já que só de eu
ouvir a voz daquele homem me dava vontade de
grudar em alguém e bailar la bachata.
Santiago acenou para mim de um canto,
mas fingi que não vi. Lamentei um pouquinho ter
dado atenção, porque percebi que ele deveria ser
um daqueles grudes chatos que não largam do pé.
Desbloqueei a tela do celular e mandei uma
mensagem para Esmeralda.

Desejando mais do que nunca que você tivesse


vindo.

A resposta chegou segundos depois.

Hahaha eu sinto muito ser egoísta, Aya, mas


estava pensando só em mim quando não fiz as
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malas.

Como assim?

Além de saber como essas viagens são tediosas, a


ideia de ficar presa por um dia e meio com esses
caras não me faz nada bem.

Franzi a testa, doida para perguntar o que ela queria


dizer com aquilo.

Eu entendo, tenho minha cota de egoísmo


também. Mas a próxima não vou perdoar, e
você está oficialmente convocada a me levar pra
beber, por sua conta.

Eu estava querendo te convidar, acredita?


Rsrs... Aproveite aí e não se meta em problemas.

Eu sorri e mandei dois emojis de beijo.


Olhei para cima e a primeira coisa que vi foi o
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Governador vindo em minha direção, mas não o


meu Governador. O outro. O irmão descarado.
— Tarde demais, Esmeralda — sussurrei,
sabendo que não me meter em problemas seria
impossível, dada a verdadeira razão daquela
viagem.
— Aya! — Álvaro exclamou, um tanto
quanto sorridente demais.
Eu estava de pé, confortável no meu salto
preto. Usava uma camisa branca decotada e uma
saia que quase chegava ao joelho. A primeira coisa
que ele olhou foi o meu decote. Tão óbvio, Álvaro.
— Como vai, Governador?
— Bem. Mas poderia ir melhor.
— Talvez uma cama ajudaria — assim que
falei, notei como minha frase pareceu sugestiva, e
ele sorriu.
— Eu concordo. — Álvaro estava próximo
demais, eu recuei um passo.
— Então... boa noite.
— Qual o seu jogo, Aya Maria?
— Você não é noivo? — perguntei com
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uma sobrancelha erguida.


Ele riu, bêbado.
Deus... aquela viagem não deveria ser a
trabalho para eles?
— Só quando minha noiva está por perto.
— A falta de vergonha é de família, pelo
jeito — falei baixinho, mas mesmo que tivesse
gritado ele não ia entender. Estava louco, olhava
para o meio do salão, onde haviam algumas rodas
separadas de pessoas, a maioria homens, e sorria
como se os 3 porquinhos estivessem dançando ali.
— Olha só, Aya... — ele começou e eu
encostei na parede, o ouvindo — Você é muito
gostosa. O tipo de mulher que eu olho e quero,
sacou? Então por que não me diz seu preço e a
gente resolve isso?
Olhei profundamente em seus olhos turvos.
— Mesmo se eu tivesse um preço, você não
poderia me pagar nem em 10 vidas.
— Eu acho que fui grosseiro, então mereço
essa resposta.
Erguendo a mão, ele pegou uma mecha do
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meu cabelo e enrolou. Eu olhei para o salão e sabia


que tinha que sair dali imediatamente. Flertar com
um advogado, ok. Mas aquele cara era o
Governador de Chiapas, tão poderoso quanto seu
irmão. E noivo.
Um relacionamento que eu não tinha
nenhuma intenção de destruir.
— Não, você está sendo grosseiro com a
sua noiva. Se a situação fosse outra, talvez eu te
acompanharia até o seu quarto, beberia uma taça de
vinho com você e te deixaria nu. — Me afastei
mais, pronta para sair e ir interagir com as outras
pessoas. Mas eu precisava desabafar, e ele estava
rindo à toa de bêbado. — Infelizmente,
Governador... como você disse, eu tenho um jogo.
E você não é uma peça significativa. Mas o seu
irmão é.
O deixei encostado na parede e fui em
direção a Julio e Santiago, feliz que haviam as duas
garotas da filmagem com eles, assim, nenhum dos
dois ficariam enchendo o saco.
Comi alguns salgadinhos, preferi ficar
sóbria, então me mantive no refrigerante, dancei,
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conversei, esqueci por um momento o motivo de


estar ali.
— O homem voltou — Julio comentou e eu
olhei para trás, vendo Juan entrando e falando com
Jorge e outro cara que eu não conhecia.
Suspirei internamente. Ele tinha tirado o
terno e usava só a camisa por fora da calça, sem
gravata e o primeiro botão aberto. Tão lindo. Mas
então, uma mulher chegou rapidamente perto dele,
arrancando um de seus sorrisos matadores e lhe deu
um abraço rápido. Ele dispensou Jorge e o outro
cara, dando sua total atenção à mulher.
Um sentimento estranho me pegou e
instintivamente me aproximei de Santiago,
colocando a mão em seu braço e sorrindo.
— Por que isso aqui mais parece uma
festa?
Ele deixou a menina da filmagem falando
sozinha e virou para mim.
— O Governador é um cara muito gente
boa. Sério. Ele sabe que amanhã tudo vai ser sobre
trabalho e mais trabalho, então a primeira noite

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podemos relaxar e conversar. Embora aposto que


todo mundo está falando sobre o mesmo assunto.
— Política?
— Com certeza.
Fingi que ia ajeitar o cabelo e olhei com o
canto dos olhos para onde Juan estava. Ele me
fitava, a mulher à sua frente fazia gestos com as
mãos, falando com ele, mas sua atenção estava em
mim. Eu sorri internamente e voltei a olhar
Santiago.
— Tem tantas coisas mais interessantes
para falar além de política.
— Ou fazer — disse ele, bebendo um gole
de sua latinha e me olhando por cima do copo.
— Ou fazer — concordei e desviei o olhar.
Era chato ficar calculando cada gesto, mas
homens eram tão fáceis! Santiago faria qualquer
coisa que eu mandasse em dois segundos.
— Pode pegar uma água para mim?
— Claro, já volto. — Com um toque na
minha bochecha, ele saiu.
Esperei que virasse as costas e se afastasse
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um pouco e comecei a andar, mas direto na direção


de Juan. Passei a dois palmos dele sem olhar em
sua direção e abri a porta. O hall do hotel estava
vazio, só uma recepcionista e um segurança lá.
Ambos acenaram para mim e eu acenei de volta.
Quando estava quase fora das vistas dos
dois, um estrondo soou e a recepcionista levantou
para olhar, mas eu nem me preocupei. Sabia que
era a porta batendo com a fúria do meu loiro
irritado.
— Senhor... — ela tentou dizer.
— Você não nos viu aqui — decretou com
a voz firme. Eu continuei andando calmamente, o
coração batendo forte contra o peito e a ansiedade
borbulhando em meu estômago.
Um puxão brusco em meu braço me fez
vacilar para trás, e como na primeira vez que nos
encontramos, ele me pegou. Seu peito forte subia e
descia com força, e eu fechei os olhos em deleite
por estar ali.
Juan seria meu maior trunfo, mas também
um sacrifício. Porque enquanto ele me via como
uma simples secretária para foder, eu planejava
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destruir sua vida. Era trágico, mas tinha que ser


assim.
— Estou curioso se você está
descaradamente tentando me fazer bater em todo
mundo ou só me fazer ficar malditamente
descontrolado de raiva?
— Nenhum dos dois — respondi baixinho,
inclinando a cabeça para o lado quando seus lábios
tocaram meu pescoço.
— Santiago estava salivando em você,
assim como Julio mais cedo. E o senador, e o
prefeito da cidade que me disseram a sorte que eu
tenho de trabalhar com alguém como você.
— Por que está com ciúme de mim, Juan?
— Meu tom de voz era suave e curioso, mas eu ria
por dentro.
— Não estou com ciúme, estou irritado.
— Mas por quê?
Me virei em seus braços, encostando na
parede mais próxima. Seus olhos claros dilataram.
— Aya...
— Sim?
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— Você é maldita.
Eu travei por um momento, me lembrando
de quando Enrico tinha me dito aquelas mesmas
palavras. Sem notar meu estupor, Juan continuou.
— Uma vez eu te disse que não sabia onde
e nem quando ia fazê-la minha. Mas adivinhe só?
Acabei de definir a hora e o lugar.
Com a mesma força que me segurava
contra a parede, começou a me arrastar para longe.

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Capítulo 19
A amei com minhas loucuras de poeta e morria por
ela
Eu também lhe ofereci um amor como Romeu e
Julieta
Eu descobri suas emoções
E mil aventuras
Eu lhe entregaria a lua
Tudo por ela..."
Romeo Santos ft. Marc Anthony, yo también

“— Você é maldita”
Enquanto subíamos pelo elevador, eu sentia
uma energia brutal emanando dele, por um
momento tive medo que fosse me machucar, mas
engoli e me mantive firme. Ele não me tocou diante
das câmeras, me surpreendendo que seu
descontrole o deixou lembrar desse pequeno grande
detalhe. Ele pegou a chave e foi em direção ao meu
quarto, eu segui atrás, atenta. Deveria estar dando
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pulos de alegria, me sentindo vitoriosa porque


quando ele pegasse no sono, eu esconderia meu
rosto e tiraria uma foto, mas só conseguia pensar
naquela frase.
“Você é maldita”.
— Juan... — o chamei, e tudo o que
consegui foi um olhar severo de sua parte, a mão
com um aperto tão forte na maçaneta que os dedos
ficaram brancos. — Você não deveria estar aqui
comigo.
— Por quê? Por que sou casado? Você não
dá uma merda para isso.
Foi a primeira vez que ele falou de seu
casamento sem que eu tocasse no assunto e eu
estava verdadeiramente chocada. Tentei pensar
racionalmente e acima da névoa de tesão e desejo,
percebi que talvez minha provocação tivesse ido
longe demais. Ou então, algo estava errado e eu só
contribuí para deixá-lo daquele jeito.
— Talvez devêssemos nos acalmar um
pouco e...
Estreitando os olhos claros, ele segurou

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meu braço e abriu a porta, me levando para dentro


do quarto. Me afastei, temerosa do que viria a
seguir.
— Está fugindo de mim? — Ele riu e
fechou a porta com um baque que me fez saltar. —
Está com medo? Ótimo. Assim vai responder às
minhas perguntas.
Fiquei tensa.
— Que perguntas?
Juan começou a abrir a camisa e eu tentei
ao máximo não salivar ao ver seu peito nu tão de
perto pela primeira vez, saber que estava a poucos
passos de poder tocar, de acariciar os músculos
desenhados que os faziam tão bonito. Jogou a
camisa para o lado, em qualquer canto no chão,
então passou para o cinto.
— Juan, por favor...
— Por favor o quê? — rosnou, me
desafiando a pedir para parar, para ir embora.
— Não faça algo que vá se arrepender
depois.
Ele hesitou por um momento, mas não
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havia incerteza em seus olhos, haviam chamas.


Chamas de um fogo que já existia, porém, se
mantinha controlado, mas eu joguei combustível o
suficiente para fazê-las crepitar e incendiar tudo
dentro dele. Juan estava furioso.
— Me arrepender? — Aproximou-se e
segurou meu queixo com a ponta dos dedos,
inclinando a cabeça. — Eu te dei um segundo olhar
sabendo que você seria um arrependimento eterno.
Aquilo doeu. Doeu e me enfureceu.
— Por que está me tratando assim? —
perguntei e bati em sua mão, quebrando nosso
contato.
— Por que você estava naquele
restaurante?
— O-o quê? — gaguejei, surpresa com sua
pergunta.
— Você ouviu muito bem. — Juan segurou
meu braço, sem apertar, mas a fúria em seus olhos
era tão grande que eu quis me atirar pela janela do
prédio ao invés de enfrentá-lo.
— Não sei do que está falando!
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Ele riu sem nenhum humor.


— O restaurante, depois a comitiva no
hotel. Sem contar a vaga que de repente te
apareceu? Corta a baboseira e comece a falar.
— Juan — o chamei baixinho, arregalando
os olhos. — Por favor, fale direito comigo.
— Diga-me, Aya. Diga-me por que diabos
você está no meu hotel há vários dias sem previsão
de sair?
— E-eu...
— A porra do seu trabalho como secretária
não paga três dias de estadia, então abra a boca e
comece a falar antes que eu perca o fio de paciência
que me resta! — vociferou.
Se ele ainda estava sendo paciente, eu com
certeza não queria estar perto quando o fio
rompesse.
— Olha você de novo me acusando! Mais
uma vez! — tentei mudar de assunto, mas dessa
vez ele riu. Riu e ficou mais perto de mim.
— Eu não sou um homem com quem você
brinca e sai ilesa, Aya. Estou te dando a chance de
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ser honesta pela primeira vez desde que me


conheceu.
Eu bati meus cílios inocentemente e forcei
uma lágrima, me aproximei dele e segurei seu
rosto.
— Juan, eu juro que não fiz nada de errado.
Você não consegue acreditar que foi tudo uma
coincidência?
— Não, não acredito. — Ele recusou meu
toque, segurando meus pulsos. Eu precisava pensar
rápido, tinha que fazer algo antes que me
pressionasse e me obrigasse a falar a verdade. Me
sacudi em seu aperto e quando me soltou, dei dois
passos atrás, intencionalmente virei o pé em meu
salto e caí no chão.
Sentada no chão, praticamente jogada, com
alguns fios de cabelo em frente ao meu rosto,
lágrimas escorrendo de desespero e ofegante, me
apoiei em minhas mãos e olhei para cima por entre
os cílios. Querendo que ele me visse frágil e
indefesa, que parasse de me questionar, de duvidar.
Que deixasse de ouvir a razão e se entregasse a o
que estava desejando de uma vez. Eu solucei e
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como esperado, ele ajoelhou na minha frente. Um


pouco da raiva havia dissipado de seus olhos,
dando lugar a preocupação, talvez. Ele tentou
segurar meus braços para me colocar de pé, mas me
afastei.
— Não! — bradei. — Não me toque. Não
quando eu não sei se vai continuar sendo irracional
e me machucar.
— Eu nunca machucaria você.
— Não é o que parece! Como pude me
enganar tanto a seu respeito?
— Você foi enganada? — Bufou. —
Vamos ser realistas, Aya. Nós dois estamos nos
enganando.
— Minha mãe! — gritei, meus olhos
correndo pelo o quarto, incapaz de olhar para ele.
Mentir era muito fácil para mim, mas vendo o
tamanho de sua desconfiança, a forma como
parecia estar vendo através de mim tornou difícil.
— Sua mãe?
— Sim! — Solucei e passei as mãos pelo
rosto, limpando as lágrimas. — Acha que eu te
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persegui? Que vim atrás de você tramando algo?


Quer saber o que aconteceu?
— Não. Eu não preciso ouvir mais mentiras
suas. Quero a verdade.
— Perdi meu emprego. Minha mãe não
estava conseguindo lidar com a forma como eu
estava triste e me presenteou com essa viagem.
Antes de falecer meu pai deixou uma quantia de
dinheiro para que se um dia eu precisasse não
ficasse desamparada. Minha mãe pagou minha
faculdade, eu comprei meu apartamento com o
dinheiro do trabalho, então o dinheiro estava lá
guardado. Ela achou que esse era o momento que
eu estava precisando descansar. Foi assim que
paguei o seu hotel.
Ele ficou me encarando em silêncio, virou
as costas para mim e passou as mãos pelo cabelo.
Eu assisti os músculos fortes contraírem a cada
movimento, mas me mantive firme.
— Está feliz agora? — perguntei e ele me
encarou de novo. — Me humilhou, está me fazendo
sentir a pior mulher. Acha que quero o que de
você? Dinheiro? — Balancei a cabeça. — Não
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quero nada de você.


Passei por ele como se fosse embora e um
certo receio me bateu quando ele não me impediu,
mas assim que estiquei a mão para a maçaneta,
ouvi sua voz.
— Não vá.
Um sorriso de alívio preencheu meu rosto
antes que eu me virasse para ele, bem séria, e
cheguei perto.
— Por quê? Porque eu não deveria ir
embora e nunca mais sequer pensar em você?
— Porque eu sou egoísta e nunca terei
sossego se não souber o que é estar com você.
Eu soltei uma respiração pesada e me
aproximei dele, segurei seu pescoço e beijei seus
lábios, mas ele não respondeu. Não retribuiu.
— Então acredite em mim — implorei em
sua boca, beijando-lhe o queixo, o pescoço, o peito,
até ser afastada.
Meus braços caíram para os lados e engoli
em seco. Ele me fitou fixamente, profundamente,
intensamente.
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Não sei por quanto tempo mantivemo-nos


olhando um ao outro, mas nenhum desviou. Eu,
hipnotizada demais pelos olhos que vinham me
tirando o sono, e ele, mal conseguindo lidar com o
que eu o fazia sentir. Juan deveria estar acostumado
a desejar mulheres, seduzi-las e tê-las quando
estalasse os dedos. Mas eu resisti. Ele me desejou,
me seduziu, mas enquanto eu não cedesse, ele não
me teria. E ele sabia que para voltar a ter sossego,
precisava me tomar. Precisava matar a coisa que
nos aprisionava.
Eu sabia bem disso, porque sentia o
mesmo.
Não sei se ele acreditou, mas se não fez,
não demonstrou.
Me senti estranhamente confusa, porque
enquanto queria dar uma lição na mulher dele, dizia
a mim mesma que não me importava de machucá-
lo no processo, que estaria tudo bem me divertir e
ter prazer em seus braços, porque quando chegasse
a hora, eu saberia partir sem me preocupar com os
estragos que causei. Sempre foi assim.
Então, por que com Juan havia essa
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imensidão de sentimentos que eu não podia nem


começar a definir?
Meu coração batia tão forte que tornava a
respiração difícil, e não sei quando ele percebeu
isso. Que eu caí. Que parei de dizer não. Mas em
algum momento naqueles poucos segundos, bastou
que ele esticasse o braço e envolvesse sua mão em
meu pescoço. Apenas um impulso e eu me joguei
em seus braços, esquecendo qualquer mentira,
esquecendo tudo fora daquele quarto. Enquanto ele
balançava sua língua contra a minha com uma
maestria incrível, me deixei levar pelo o que sentia
e pelo desejo de sentir ainda mais.
Ele se afastou de repente, apenas um
centímetro, e só quando passou o polegar na minha
bochecha e franziu a testa, percebi que havia
capturado uma lágrima.
Uma verdadeira? Uma falsa? Daquelas que
eu raramente sentia vontade de soltar, ou se tornou
tão fácil para mim mentir que meu corpo parecia
entender quando eu precisava desse tipo de defesa?
— O que foi? — perguntou. O mel
escorrendo de seus lábios me provocou.
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Me perdi nas minhas mentiras, pensei, mas


não disse, então o puxei de volta para mim e o
beijei com intensidade. Agarrando os seus cabelos
e gemendo em seus lábios quando ele agarrou meus
quadris, levantando-me e fazendo com que minhas
pernas enredassem em sua cintura. Sua ereção me
tocou no lugar certo e não evitei o gemido
desesperado que me escapou. Eu queria isso, queria
ele.
Não havia como dizer não.
Juan me deitou na cama e levantou,
deixando-me com frio sem a presença de seu corpo
quente. Ajoelhei no meio da cama, descabelada e
descontrolada, o observando se afastar.
— O que está fazendo? — perguntei,
ofegante.
— Eu já te disse que você é linda?
— Uma linda mentirosa — sussurrei suas
palavras de volta e ele me deu um sorriso que quase
me fez desmaiar naquela cama.
Juan foi até a porta e levantou o interruptor
de luz. Tinham dois pinos, ele levantou um e um

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barulho atrás de mim me fez dar um pequeno pulo


de susto, segundos depois, o que eu pensava ser a
parede, começou a subir, e quando menos esperava,
ficou diante de uma janela de vidro do chão ao teto.
Podia ver as luzes dos outros prédios e acima, o
céu, incrivelmente estrelado.
— Juan...
Braços me rodearam por trás e seus dentes
seguraram a pontinha da minha orelha, soltando-a e
beijando dali até meu pescoço logo depois.
Suspirei, arrepiada, ansiosa e excitada como nunca
estive antes na vida. Ele desceu o zíper da minha
saia e puxou a bainha da camiseta, a jogando em
algum lugar no chão. As mãos adentraram minha
saia, passando os dedos pela lateral da calcinha e
começou a abaixar o tecido, me desnudando diante
dos seus olhos, diante das estrelas e do céu azul
escuro.
Colocou meu cabelo de lado e começou a
distribuir beijos pela minha nuca, pelas costas, até o
fecho do sutiã. A peça também saiu e suas mãos
calejadas envolveram meus seios, os amassando em
deleite, gemendo em meu ouvido, apertando meus
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mamilos entumecidos. Com uma agilidade que me


fez perder o ar, ele me virou e colocou-me de
costas na cama, tirando a saia e a calcinha, abrindo
minhas pernas diante de seus olhos.
Joguei minhas mãos para cima da cabeça e
fechei os olhos, arqueando o corpo quando
começou a distribuir beijos do meu calcanhar até o
joelho, em minha coxa...
— Juan — choraminguei, nem sabendo o
que estava pedindo.
Continue? Pare e me possua de uma vez?
Ele considerou da forma que quis, como
tudo o que fazia na vida. A dor entre as minhas
pernas era demais e no momento em que sua língua
me tocou, eu sabia que não aguentaria o que quer
que estivesse planejando. Me inclinei, puxando
seus cabelos para que olhasse para mim. E quando
os olhos verdes dilatados me encararam com um
sorriso, ele passou a língua pelos lábios. Foi o meu
fim.
— Não pode fazer isso agora, eu esperei
demais. Tenho que ter você — terminei com um
sussurro torturado, esperando que ele obedecesse
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pelo menos uma vez. O tesão era tão grande que eu


quase o sentia dentro de mim, mesmo que não
estivesse realmente lá.
Ele se ergueu em cima de mim, trilhou com
dois dedos um caminho do meu joelho até meu
centro úmido, enfiando os dois de uma vez. Eu
gritei, mas sua boca me calou. Eu estava tão
molhada que escorria e seus dedos se moviam com
facilidade para dentro e fora. Mesmo perdida em
sensações, desci minhas mãos por seu peito,
agarrando a braguilha da calça e abrindo, a
empurrando junto com a cueca. Ele ia se afastar
para terminar, mas no momento em que o senti em
minhas mãos, não pude esperar nem mais um
segundo.
O coloquei em minha entrada e apertei
minhas pernas em volta dele, pronta para recebê-lo.
— Como você já está com um
preservativo? — perguntei, ofegante e confusa.
Ele mordeu meu lábio com força, rosnando.
— Meu pau está duro desde a hora que te
vi entrando no salão. Eu sabia que ia te arrastar
para algum canto a qualquer momento e quando
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isso acontecesse, não pensaríamos direito. Preferi


estar preparado.
Eu dei risada, uma risada sincera e alta,
mas no segundo seguinte, ele se impulsionou para
dentro de mim em uma única estocada e o riso
sumiu, dando lugar a um choque de frenesi e uma
dor tão gostosa que me fez arquear inteira debaixo
dele.
— Não é hora de rir — sussurrou no meu
ouvido. — É hora de foder.
Avidamente tomou conta da minha boca
outra vez. A mão direita emaranhada no meu
cabelo, num aperto firme e a esquerda apoiada na
cama.
— Você está chorando, loirinha, isso me
preocupa. Eu preciso entrar por completo dentro de
você. — Ele acariciou minha testa e a bochecha,
rindo quando meus olhos arregalaram.
— Você não está dentro o suficiente?
Um sorriso convencido tocou seus lábios e
ele deu um giro no quadril, fazendo-me gritar.
— Ainda tem um pouquinho por aqui.
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Agarrei suas costas e cravei minhas unhas


na pele bronzeada, imaginei o leão feroz tatuado, e
enquanto Juan rosnava para mim, o vi exatamente
assim, ele trincou os dentes e eu sorri, vingada.
Meu animal se rendendo a mim.
— Agora eu estou pronta.
Ele estreitou os olhos e beijou meus lábios
levemente, um toque delicado no meio da força
bruta com que me segurava. Mas foi a única leveza
que houve ali, pois no segundo seguinte, Juan se
enterrou por inteiro dentro de mim. A cada vez ele
saía e retornava com mais força, mais vontade,
como se sua vida dependesse disso. O suor se
acumulou em sua testa e peito e eu me inclinei para
a frente, passando a língua e sentindo o gosto puro
e salgado do homem delicioso em cima de mim.
Nossos corpos pediam mais, imploravam
por mais, e nenhum de nós estava disposto a negar.
Eu adorava a forma como ele me segurava, quase
que preocupado se eu escaparia e por alguns
segundos, me deixei admitir estar com medo que
fosse um sonho e quando abrisse os olhos, ele não
estaria ali.
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Os gemidos dele eram contidos, mas


brutos, como um animal enjaulado e eu só podia
soltar palavras inaudíveis, já rouca. Cada vez mais
perto de me perder no prazer que ele me dava.
— Abra os olhos, loirinha.
— Não — respondi, abafado, ele ajoelhou
no colchão, segurou minha cintura e minhas costas,
então me puxou para cima, sentada em seu colo.
— Abra a porra dos olhos para mim, Aya
— ordenou, e no momento que fiz isso, com meus
seios roçando em seu peito forte, joguei a cabeça
para trás.
Juan urrou de prazer, se derramando dentro
de mim na hora em que o êxtase me invadiu. Ele
me agarrou com força e eu enfiei o rosto em seu
pescoço, o segurando com força, ainda o sentindo
dentro de mim, e solucei.
Ele não desgrudou e não nos moveu, só
continuamos ali.
Ele não perguntou porque eu chorava.
Ainda bem, porque eu não saberia o que
responder.
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Havíamos nos acalmado e depois de um


momento recuperando o fôlego, eu o soltei, ficando
na cama quando ele foi para o banheiro, e quando
ele saiu, eu entrei lá e tranquei a porta, desejando
um minuto comigo mesma para colocar a cabeça no
lugar. Funcionou. Quando voltei ao quarto ele
estava deitado. Segurava uma taça de vinho e
olhava para fora pela janela de vidro.
Eu fiquei por dois minutos ou dez, parada
diante da porta do banheiro observando seu corpo
escultural banhando pela luz da lua e das estrelas.
Eu estava fascinada. A beleza dele era única, como
ele se referiu à minha.
Eu quis entrar no banheiro outra vez,
sentindo que precisava pensar, mas a voz dele me
impediu.
— Arrependida?
Então me aproximei e deitei ao seu lado,
pegando de sua mão a bebida cheirosa e com um
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sabor refinado. Como ele.


— O único arrependido aqui é o senhor,
Governador. Ou esqueceu que eu sou seu
arrependimento eterno?
Ele ainda não me olhava, mas sorriu para a
paisagem diante de nós e eu nem podia desviar
meus olhos dele. Estava embasbacada com tamanha
beleza. Nunca me acostumaria com isso.
— Tire o roupão, Aya.
— Eu estou confortável.
Sem que eu esperasse, ele me virou,
deitando-me na cama e abrindo meu roupão,
exibindo meus seios. Passou a língua pelos lábios
enquanto os encarava e tomou sua bebida.
— O que...
Ele me interrompeu quando abaixou a
cabeça e tomou meu mamilo entre os lábios,
chupando-o com força e depois subiu até meu
pescoço, meu queixo, minha boca.
— Eu mandei ficar nua.
Estreitei os lábios, mas estava fraca demais
para negar qualquer coisa a ele. E por aquela noite,
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nem queria. Ajoelhei e tirei o roupão, deitando


outra vez. Apoiada em um cotovelo, continuei
observando seu lindo rosto.
— Eu me sinto... — ele começou e parou,
hesitando. Me aproximei mais, apoiei o queixo em
seu peito, acariciando os poucos pelos ali e fitando
os olhos incríveis dele.
— Como? Como se sente?
Ele sorriu torto, finalmente fitando meus
olhos por dois segundos.
— Levemente saciado.
Escondi a decepção e sorri de volta. Mas
me sentia com um peso no peito, com uma vontade
de deixá-lo saber cada coisa que sentia, mesmo que
ele não fosse se abrir da mesma forma.
— Pode guardar um segredo?
— Todos que você quiser me contar.
— Nunca foi assim — sussurrei de olhos
fechados. Na minha mente, talvez se eu não o
encarasse quando confessasse aquilo, deixaria de
ser verdade.
A forma como ele me tomou, como me
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acariciava e olhava em meus olhos a cada passo do


caminho até estar dentro de mim, era única. Havia
desejo, luxúria, lascívia, mas fascínio também.
Uma paixão enlouquecedora que eu não sentia
sozinha, que estava presente em cada um dos seus
atos enquanto se embaralhava naquela cama
comigo. Quando esquecemos o mundo.
— Vou esquecer que você é uma linda
mentirosa e acreditar nisso, só por essa noite.
Abri os olhos. Meio arregalados, meio
cansados, meio confusos.
— Por favor... acredite. Quando acabarmos
e nos tornarmos lembranças, eu quero que se
lembre. Quero que se lembre que me fez sentir
perfeita.
Que talvez o futuro fosse doloroso, que
talvez eu destruiria seu mundo e aquilo que ele
mais prezava... Mas o guardaria sempre, em algum
lugar onde nenhum outro homem me tocou. Com
os olhos verdes reluzentes, ele virou seu corpo para
cima do meu e me beijou, surrando em meus lábios
palavras que nenhum de nós admitiríamos pela
manhã:
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— Eu entendo Adão. O fruto proibido é


delicioso. Você é a criatura mais fascinante que eu
conheci, Aya Maria.
Meu nome sussurrado em seus lábios
carnudos foi uma melodia bem-vinda, antes que
nossos gemidos tomassem a noite outra vez.

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Capítulo 20
Eu sei que no fundo desse cruel coração
Sua paixão continua sendo meu amor
E no final do caminho você vai reconhecer
Que no fim de tudo
Você não pode me esquecer"
RBD, que fue del amor

Acordei sozinha na enorme cama do hotel.


Ao me espreguiçar, senti pontadas de uma dor
gostosa: mãos, dentes, lábios e a força de um
homem que me possuiu a noite inteira. Abri os
olhos e agradeci mentalmente por Juan ter fechado
a cortina, ou a luz do sol viria diretamente em meu
rosto. Inferno, eu teria acordado toda queimada.
Levantei o lençol, tomando consciência da minha
nudez, e me estiquei até a cadeira ao lado da
cabeceira da cama, onde uma camisola curta estava
pendurada. A peguei e vesti, deitando novamente.
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Uma porta ao lado abriu e eu olhei para


cima, vendo Juan sair com a calça já vestida, e a
camisa posta em apenas um braço, mas assim que
notou meus olhos bem abertos admirando seu
corpo, veio direto para mim, tirando a camisa de
novo e a lançando no sofá de canto.
Virei para o outro lado e fechei os olhos,
rindo. Ouvi sua risada grave, rouca e a cama
afundou do outro lado. Ele tirou meus cabelos do
caminho e segurou meu rosto, seu hálito fresco em
contato com minha pele me fez arrepiar.
— Aya?
— Está dormindo — respondi e abri um
olho, encarando os olhos verdes brincalhões.
— Me beije — disse ele. Eu segurei um
sorriso e virei de lado, fugindo de sua presença
matinal.
— Ainda estou dormindo — resmunguei.
— Não está não. — Juan me virou e sem
negá-lo outra vez, joguei os braços em seus
ombros. — Como se sente?
— Maravilhosamente dolorida.
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— São minhas duas palavras favoritas a


partir de agora.
Minhas bochechas doíam de tanto sorrir.
— Eu tenho algumas outras opções de
palavras favoritas para você.
— Eu gosto de algumas combinações dessa
madrugada, como “mais forte”, “mais rápido”,
“sim, Governador!”.
Abri a boca, chocada, e ele riu.
— Ah, meu Deus. Eu disse “sim,
governador”?
— Algumas vezes.
— Tão brega — lamentei com um bico.
— São duas breguices que eu quero ouvir
cada vez que estiver dentro de você, loirinha.
Envolvi uma perna em sua cintura e o
puxei para mais perto. Ele estava prestes a me
agarrar quando seu telefone tocou. Todo o humor
de seu rosto foi sugado e ele abaixou a cabeça com
um suspiro cansado. Tirei minha perna e o soltei,
então ele levantou e foi até a mesinha do hall,
pegando o aparelho. Dando uma breve conferida na
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tela, ele olhou para mim. Eu queria entender o que


foi aquele olhar, mas então seu dedo deslizou para
o lado e eu virei para a janela, levantei e puxei a
cortina, me distraindo com o sol.
— O que você precisa? Trabalhando...
Talvez quando eu voltar para casa... Sim, não é a
porra de uma opção... Ligue para o advogado e
resolva.
Após isso ele não disse mais nada. O
telefone tocou outra vez, mas quando o toque foi
interrompido, sua voz não veio, então soube que
desligou. Contive um sorriso, satisfeita. Mas ao
mesmo tempo, percebi como minha mente estava
distraída do real propósito de estar ali. Eu estava na
cama, brincando e fazendo gracinhas, e nem sequer
tirei a foto que precisava na noite passada, quando
o tinha em meus braços para fazer o que quisesse.
Sorri quando ele sentou na cama e evitou
me olhar.
— Tudo certo, Governador?
— Quantos anos você tem, Aya? —
perguntou depois de alguns segundos de silêncio.

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— Vinte e três.
— Céus... você é muito jovem.
— Sou velha o suficiente para me deitar
com você.
— Não, eu é que sou velho demais para
estar nesse quarto com você.
Me ajoelhei ao seu lado e beijei o rosto
inúmeras vezes.
— Pare de se cobrar por coisas pequenas. E
me diga como uma ligação pode tirar aquele sorriso
lindo desse rosto perfeito? — pesquei. Ele virou o
rosto e beijou a palma da minha mão.
— Casamentos são difíceis.
Eu conhecia aquela história. “Nosso
casamento não anda bem.” “O divórcio está
enrolado para sair.” “Tentamos de tudo, mas não
deu certo.” E então ele estava tentando usar um
sinônimo daquelas cartas para me enrolar em seu
dedo mindinho e manter-me quieta e receptiva. Do
jeito que ele desejasse até que se cansasse e partisse
para a próxima.
— Deve ser difícil mesmo. Pela ligação eu
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percebi — respondi e me movi para trás dele,


passando a mão em suas costas até pousar nos
ombros, ali dei um aperto, começando uma
massagem. Ele suspirou de alívio.
— Fica mais fácil quando viajo. Me enterro
em trabalho e esqueço pelo menos um pouco.
Ela havia me avisado que trabalhava
demais, que só pensava em política. Que vivia para
isso, mas ouvir a suposta versão dele fazia com que
ela parecesse culpada também.
— Vocês foram felizes em algum
momento, certo? Ou o casamento não teria durado
tanto.
— Um dia — confirmou distraidamente. —
Ela sofreu uma perda muito grande e mudou
repentinamente. Drasticamente.
Minhas mãos pararam no ato e dei a volta
no sofá, montando em seu colo. Com minhas mãos
segurando seu pescoço, tentei mostrar empatia.
— Uma perda?
— Sim. — Ele abriu um sorriso quase
inexistente e passou as costas da mão pelo meu
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rosto. — Se você tivesse entrado em minha vida


três anos atrás, eu não teria dado um segundo olhar
a você.
Inclinei a cabeça, confusa.
— Isso é incrível para a minha autoestima.
Obrigada, Governador.
— Não me entenda mal. Você sabe bem
que eu te acho fascinante, Aya. Saberia mesmo que
eu nunca tivesse dito. Mas quando você ama uma
pessoa, não há nenhuma outra no planeta que te
chame a atenção.
— Não concordo com isso — respondi,
tendo consciência que fui grossa ao máximo. —
Você fica comprometido, não cego.
— Errada. — A mão que estava no meu
rosto passou para a minha nuca e ele deu um
pequeno puxão em meu cabelo, aproximando
nossas bocas. — Se você fosse minha, não olharia
para mais ninguém. — Ele me deu um beijo
estalado e soltou, acariciando o local que havia
apertado.
— Então. — Engoli em seco, ignorando

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sua última frase. — Tudo se complicou há três


anos.
— Sim. — Suas mãos desceram da minha
coluna para o meu quadril, pressionando-me mais
perto, onde eu já via a evidencia do efeito que
causava em seu corpo. — Mas esse assunto está
encerrado.
Virei o rosto quando foi me beijar,
pensando em uma desculpa qualquer.
— Vou passear um pouco lá fora, ver a
paisagem. — Levantar do colo dele foi um
tormento, porque eu queria me deixar levar outra
vez e não sair daquele quarto, mas suas palavras
estavam frescas em minha mente.
O fato de ela ter tido uma perda — o que
diretamente me levava a suspeitar que fosse uma
criança — complicava tudo. Porque um: se eu fosse
a esposa do homem diante de mim, seria tão
psicótica quanto ela.
E dois: perder um bebê pode desequilibrar
qualquer um.
E se ela estivesse mentalmente

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desequilibrada e eu estava ali, dormindo com seu


marido?
— Trocado por “ver a paisagem”. Me sinto
confiante e viril agora.
Eu olhei para ele e sorri.
— Governador... Já são nove da manhã,
você já deveria ter aparecido. Nós dois
provavelmente somos os únicos sumidos lá em
baixo. Quer realmente levantar essa suspeita?
Ele pareceu pensar um pouco, depois
assentiu.
— Está certa, alguém precisa ser coerente.
— Ele levantou e passou a mão pelo o rosto e
cabelo, bagunçando ainda mais os fios loiros. Eu
sorri, o observando pegar suas roupas espalhadas
pelo chão.
— Queria que pudesse ir comigo — falei
de repente, sem planejar. — Você tornaria a
paisagem mais bonita de se apreciar.
Juan segurou meu rosto, beijando-me,
tirando-me de órbita como só ele sabia fazer. Mas
quando senti meus joelhos na cama e caí sentada no
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colchão, saltei para fora de seu abraço, ofegando


por ar. Apontei para a porta.
— Por favor, Juan... Precisa me ajudar com
isso. Vá, se arrume e decore seu discurso.
Ele deu de ombros e vestiu a camisa. Eu
quis chorar a cada botão abotoado.
— Eu não escrevi um.
— Mas e o evento de mais tarde?
— Nunca levo um discurso pronto. Quando
subo na frente daquelas pessoas eu sinto o que
tenho que falar.
— Isso não me surpreende, você é muito
bom com as palavras.
Ele sorriu e se aproximou de mim.
— Governador... — alertei.
— Só uma despedida inocente. — Sem que
eu esperasse, seus braços me rodearam. Um abraço
realmente inocente. Ou quase, já que dificilmente
algum ato vindo de nós dois poderia ter inocência.
Eu o abracei de volta, apertando o pano de
sua camisa entre os dedos, inalando o cheiro dele e
sentindo um certo desamparo quando me soltou.
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— Obrigado por essa noite. — Com um


casto beijo na minha boca, ele abaixou para pegar
seu cinto no chão e se foi.
Quando a porta bateu, eu caminhei até ela e
encostei lá, deslizando até estar sentada no chão.
“Obrigado por essa noite” foi tudo o que eu
recebi.
Maldição... eu queria mais.

— Eu não vou dizer que o dinheiro de


vocês está sendo cem por cento usado em prol da
necessidade, mas eu garanto, que a parte que vem
para as minhas mãos está. — Ele levantou o dedo
no ar, afirmando suas palavras. — Eu luto e
continuarei lutando pela verdade. Para que as
escolas continuem evoluindo e oferecendo o
melhor para aqueles que serão os futuros médicos,
policiais, professores, advogados, artistas
e cientistas. Para que os hospitais não sofram com a
falta de remédios, de quartos, de socorro urgente e
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ambulâncias rápidas em emergências. Continuarei


lutando para que cada uma das promessas que fiz
durante as eleições se cumpram, porque vocês não
trabalham para me bancar, vocês trabalham para
me ajudar a trabalhar para vocês! É uma troca! E
tem que ser justa!
O povo aplaudiu, o ovacionando com
excitação e pulos. Algumas pessoas o olhavam com
lágrimas nos olhos, como se ele fosse a salvação de
cada um presente. Então aqueles eram os discursos
que ele não ensaiava? Ele só pensou em tudo aquilo
olhando para todo o seu eleitorado e colocou para
fora? Queria poder dizer que Juan era um político
vazio e mentiroso, mas até então, ele só tinha
mostrado o contrário.
Foi honesto até quando disse para eu
manter os pés no chão com relação a aquilo que
estávamos vivendo, seja lá o que fosse.
— Eu luto...
— Mas e as acusações, Governador? — um
rapaz no meio da multidão o cortou, gritando. — O
que tem a dizer sobre isso?
Algumas pessoas – provavelmente militantes a
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favor de Juan, começaram a reclamar, fazer um


burburinho.
— Deixe-o! Deixe que ele fale, quero
ouvir! Quero ouvir e responder!
— É muito fácil vir aqui e falar bonito
quando as coisas ficam feias, mas nós
acompanhamos pela TV e não é nada justo que o
senhor desvalorize nossos votos!
Algumas pessoas começaram a resmungar
coisas, alguns gritando com o menino, o chamando
de opositor.
— Acalmem-se, por favor. Nós vivemos
numa democracia, vamos respeitar isso — Juan
pediu, então fitou o cara. — Qual o seu nome?
O mesmo hesitou, mas respondeu.
— Jozé.
— Muito bem. Para quem não sabe sobre o
que Jozé está falando, eu fui acusado pela oposição,
que mesmo depois de três anos não aceita perder.
Continuam atacando a mim e ao meu partido. E
estão me acusando, me caluniando de usar o
dinheiro de cada um de vocês, desse Estado, para
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bancar meus luxos, como chamam. Eu não tenho


como fazer todos acreditarem em mim, mas peço
aos meus eleitores, a aqueles que acreditaram em
mim, que continuem. Pois estou colaborando com a
polícia e advogados mesmo que não tenha sido
feita uma denúncia, mesmo que eles não tenham
provas para requerer uma investigação. — Ele
parou de falar, a última palavra tinha um tom mais
alto, terminando as falas com glória. Então ele
apontou o dedo, passando da esquerda à direita e
olhando na direção de sua mão. — Confiem em
mim.
O povo aplaudiu mais uma vez e ele
levantou os braços no ar.
— Juan!
As pessoas começaram a chamar por ele,
uma praça cercada e cheia de gente gritando seu
nome. Ele abotoou o terno e sorriu para o público.
Levando todos quase que ao histerismo.
Antes de Juan, aquilo teria me feito rir de
vergonha daquela gente. Meu primeiro pensamento
seria: “Perda de tempo, ficam idolatrando alguém a
quem a última intenção é ajudá-los, se deixam levar
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por palavras banais de alguém com aparência boa.”


Mas o conhecendo, eu não podia pensar assim.
Na verdade, eu via a sinceridade em cada
um de seus atos.
Eu podia ver porque ele foi eleito, a
verdade nos olhos, o sorriso nos lábios, a firmeza
na voz e a certeza com a qual ele falava, já dizia
tudo. Juan seduzia as pessoas com seu discurso. As
mulheres se derretiam por ele e os homens o viam
como um herói. Ele tinha uma calma e ao mesmo
tempo energia suficiente para levantar e energizar
todos os que acompanhavam sua campanha.
Ele tentava o povo a apoiá-lo, tão bem
quanto me tentava a me entregar todas as vezes. E
conquistava votos e amor por onde passava do
mesmo jeito que conquistava minha
total submissão às suas vontades. Ele arrancava
gritos, sorrisos e abraços do povo, assim como
arrancava orgasmos de mim.
— Disfarce — Julio disse ao meu lado. Eu
o fitei, pensando que estivesse falando com outra
pessoa, mas ele me olhava com seriedade.
— O quê?
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Ele segurou minha mão, levando-me mais


para trás, um pouco longe dos outros das equipes.
— Olha... não tenho nada a ver com isso,
mas — ele se interrompeu e suspirou, evitando me
olhar. — Olha, Aya...
— Diga de uma vez! — exigi, sem
paciência.
— Eu o vi saindo do seu quarto.
Eu fiquei imediatamente tensa, olhando
para os lados.
— Pare de falar agora.
— Me escuta, eu não estou exatamente à
vontade falando sobre isso, mas você é bacana e ele
é um ótimo cara. Só estou te alertando para ser
cuidadosa.
— Você está alucinando. Ficou bêbado
ontem e está falando demais.
Julio me olhou como se estivesse com
pena.
— Desculpa. Só estou dizendo porque pode
imaginar se outros além de mim perceberem?
— Não há o que perceber! Pare de ser
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louco, porra.
— Tudo bem. — Ele ergueu as mãos. —
Apenas... se cuide.
O deixei falando sozinho e voltei para a
rodinha onde estava Dario, Jorge e Santiago.
Santiago acenou para mim, piscando. Eu ignorei.
As palavras de Julio vinham em minha
mente como uma fita reproduzindo, rebobinando e
tocando de novo repetidamente. Por que ele tinha
que abrir a porra da boca? E por que eu fui tão
descuidada? Ele me via como a amante, a outra.
Quando eu não era. Eu não era, certo?
Olhei para Juan, ainda conversando com
algumas pessoas, sorrindo, acenando, levando sua
vida sem nenhuma alteração. Enquanto eu havia
acabado de perceber o primeiro efeito colateral: as
outras pessoas. Não havia forma de enganar Julio,
ele não esqueceria aquilo. Eu me lembrava de como
agarrei Juan antes de sair, de suas roupas
amassadas e o cabelo todo emaranhado. Pelo amor
de Deus, ele segurava o cinto na mão! Julio viu
tudo aquilo?
Eu voltei a fitar o belo homem que descia
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do palco e recebia o povo, tirando fotos e dando


autógrafos. Ele era uma celebridade total. Eu estava
orgulhosa dele, de como tinha se saído bem. Eu era
a única ali que sabia como ele estava cansado,
preocupado e desgastado, mas ainda assim, não
podia chegar perto e lhe dizer que não precisava se
cobrar tanto, porque ele era incrível.
Saber que quando ele descesse do palanque
não correria para me abraçar, nem poderia beijá-lo
em sinal de apoio. Não podia nem mesmo ajeitar
sua gravata antes de ele posar para as fotos,
porque ela estava torta.
Eu só podia ficar parada e ser a secretária
bonitinha.
— O que temos depois daqui? — perguntei
baixo para Julio, que me deu um olhar irônico.
— Você me diz. A agenda dele está livre,
pelo menos a profissional.
Franzi o cenho, estranhamente machucada
com suas palavras.
— Deixa de ser um imbecil.
Ele suspirou. Seus olhos focados à frente,
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como se estivesse me explicando algo da


campanha.
— Gosto de você, Aya. Da forma como
trabalha, de como interage com todo mundo. Ele
anda parecendo mais leve ultimamente e agora
desconfio que seja por você. Mas...
— Sempre tem um “mas”, mas eu não
quero ouvir — resmunguei.
— Você é jovem e esperta. Use isso a seu
favor.
Eu encarei o chão, me esforçando para
manter as lágrimas — dessa vez verdadeiras —
para mim mesma. Ouvi a risada de Juan próxima de
nós e algumas pessoas do partido o felicitando,
dizendo como se saiu bem.
— Aya?
Com uma respiração profunda, colei um
sorriso no rosto e o fitei.
— Muito bem, Governador. Se saiu
perfeito, como sempre.
— Obrigado. — Ele sorriu, mas seus olhos
eram desconfiados, a testa levemente franzida.
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Dario o puxou pelo ombro, abraçando-o.


— Governador, não preciso nem dizer
nada, não é?
— Você vai dizer de qualquer forma.
— Ah, eu vou dizer sim. Esses opositores
de merda vêm aqui com o pagamento daqueles
filhos da puta no bolso, querendo tirar sua
concentração, Governador! Querendo que o senhor
perca o foco. Mas eles já deviam ter se acostumado
que o grande Herrera nunca abaixa a cabeça!
— Soube usar as palavras certas lá em
cima. Esse é o homem que o povo
elegeu! — concordou Jorge.
Juan suspirou, colocou a mão no cinto e
ameaçou abrir.
— Vou colocar para fora pra vocês
puxarem mais.
O pessoal em volta riu. Mas eu não
conseguia ver graça em nada. As palavras
de Julio impregnaram na minha mente e não
sairiam dali por nada, eu sabia disso. Eu observei
Juan. Como ele brincava com o pessoal do partido,
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com seus “funcionários”, como tinha jeito e lábia


até mesmo em suas relações pessoais. Ele era bom
em tudo.
Comecei a me questionar como seria
quando ele saísse da minha vida. Como seria passar
meus dias longe dele, sem sua risada, sem sentir
seu cheiro, sem seu jeito safado e autoritário. Em
pouquíssimo tempo, eu estava completamente
dependente de um homem fora de alcance.
— Governador, o que vai fazer por
agora? — Dario perguntou.
— Como está minha agenda, Aya?
Eu demorei um pouco para me mover e ele
levantou uma sobrancelha.
— Ah... Hm... — gaguejei.
— Livre por hoje, Governador. — Julio me
salvou.
Dario segurou o ombro de Juan.
— Então, meu amigo, vamos comemorar
mais um dia vencendo a luta nessa selva!
— Eu acabei de descer de um palanque,
estou suando, e você quer me embebedar? Ora,
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Dario, eu confiava em você, cara.


— Um drink, vamos lá. Tenho certeza que
sua patroa não vai se importar! — Dario insistiu,
rindo, acompanhado de Jorge.
Foi como um balde de gelo depois do balde
de água fria. Juan desviou os olhos de Dario para
mim.
— Eu fiquei de levar Aya até o hotel para
pegar uma pasta e voltar ao meu quarto para
terminar algumas coisas de trabalho.
— Não tem problema, Governador.
Santiago — o chamei, interrompendo sua conversa
com Julio. — Poderia me dar uma carona se for
passar por perto do hotel?
Ele me deu um sorriso cheio de segundas
intenções.
— Claro, mas já estou indo. Se tiver mais
alguma coisa para fazer, posso esperar.
Juan fechou a cara na hora.
— Aya, combinamos de ir comigo, precisa
me entregar aqueles documentos. Lembra?
Seu olhar e seu tom de voz não deixavam
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dúvidas. Ele queria que eu dissesse “lembro” e


o seguisse para fora. Provavelmente iríamos direto
para o hotel, pediria champanhe e me comeria até
desmaiar de exaustão. Ou ia se despedir com um
beijo depois que estivesse saciado. Eu acordaria de
manhã sozinha, porque ele não podia arriscar ser
visto — novamente — saindo do meu quarto, e
quando chegasse no compromisso do dia seguinte,
teria que vê-lo, agir normalmente, dizer bom-dia.
Talvez no almoço ele me chamaria até sua sala
improvisada e me comeria como almoço. Me faria
gozar alucinada e se despediria de mim com um
daqueles sorrisos.
Talvez ele me quisesse antes de ir embora
da viagem também. Ir embora para sua casa, com
sua esposa.
— Não tem problema, Governador, posso
ir com Santiago.
— Os documentos, Aya — ele quase
rosnava de raiva, e se os homens ao redor não
estivessem distraídos em suas próprias conversas,
teriam notado a situação na hora.
— Os documentos estarão em seu e-mail
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assim que eu chegar no quarto. Tenha uma boa


noite, senhor.
Santiago já me esperava na porta. Se
despediu de todos com um aceno, assim como eu.
Eu não olhei para trás. Sabia que Juan estaria me
enviando raios de morte pelos olhos. Eu sentia. E,
sinceramente, eu era uma cadela por estar
envolvendo Santiago naquilo, mas eu precisava de
uma folga de Juan Carlo Herrera e toda a sua força
incomum sobre mim.
Não estava me vitimizando nem nada do
tipo. Eu sabia que a vilã da história era eu, a
mocinha a Jaqueline e ele o coadjuvante. Talvez até
mesmo se encaixaria como vítima. Eu era quem
estava enganando os dois ao mesmo tempo. Mas
até mesmo a mais cruel e imoral das mulheres
merecia uma pausa de toda a merda.
Eu só queria um banho e minha cama,
exatamente naquela ordem. Droga, e pensar que a
cama estaria impregnada com o cheiro dele.
— Tem certeza de que vai ficar
bem? — Santiago perguntou assim que
estacionou. — Você parecia meio aérea.
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— Sim. Obrigada pela carona.


— Não foi nada, Aya.
Eu suspirei, antes de me virar totalmente
para ele.
— Então, até amanhã.
Ele se inclinou para a frente em minha
direção, eu fiz o mesmo, pensando que daríamos
dois beijinhos de adeus como colegas, mas ele não
virou o rosto, e a próxima coisa que senti foi o
toque de seus lábios nos meus. Me afastei,
arregalando os olhos, confusa.
— O que...
— Desculpe — disse, mas ergueu a mão
para tocar meu rosto, chegando perto outra vez. —
Eu quis te beijar no momento que coloquei os olhos
em você.
— Você fala como se estivesse esperando
há anos, e nos conhecemos só ontem de manhã.
— Eu não sou um cara paciente. Você é a
mulher mais linda que eu já vi, e estou te assistindo
passear na minha frente há dois dias. Simplesmente
precisava fazer isso agora.
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Eu sorri forçada, nem sei como não


percebeu. Sorri e o deixei me beijar outra vez. Mas
quando sua língua tocou a minha, abri os olhos,
vendo os dele fechados com força, aproveitando e
adorando ser beijado por mim. E comprovei que,
realmente, paciência não fazia parte dele, porque
suas mãos bateram na minha perna, fazendo-me
saltar e apertou, subindo até que os dedos tocassem
a renda da minha calcinha. Sua boca desgrudou da
minha e correu para baixo, beijando, lambendo e
chupando meu pescoço.
Nenhum arrepio.
Nenhuma sensação majestosa.
Nada.
Eu o empurrei, forçando uma respiração
rápida, como se estivesse ofegante do beijo —
embora nem de longe estivesse afetada — e
coloquei minhas mãos em cima da sua, o parando.
— Eu não posso.
— Aya... relaxa, a gente só vai curtir.
Não, eu não ia mesmo. Molhei os lábios e
segurei seu rosto, sorrindo com uma falsa
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inocência.
— Eu não sou assim, não consigo fazer...
isso, sem intimidade.
Ele selou nossos lábios antes de se afastar,
sorrindo e encostando a cabeça no banco. Ergueu a
mão, acariciando minha bochecha.
— Tudo bem, eu sei esperar. Boa
noite, Aya.
Eu o fitei por alguns segundos, debatendo
comigo mesma se cortava suas graças e dizia que ia
esperar para sempre, ou o deixava com aquela
ilusão. Então finalmente movi minhas mãos e abri a
porta, o deixando.
— Boa noite — respondi.
Ele acelerou o carro para longe,
provavelmente indo estacionar, e eu corri para
dentro. Cogitei até ir de escada para num possível
azar, não encontrar ninguém conhecido,
principalmente ele. Com sorte, cheguei ao quarto e
me joguei na cama, então me perguntei porque
diabos deixei Santiago ir tão longe.
Mas a resposta era óbvia no meu
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subconsciente.
Queria provar a mim mesma que assim
como eu era uma brincadeira temporária para Juan,
ele era uma para mim também.

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Capítulo 21
“Lábios compartilhados
Lábios divididos, meu amor
Eu não posso compartilhar os seus lábios
Mas compartilho o engano
E compartilho meus dias e a dor
Já não posso compartilhar seus lábios”
Maná, labios compartidos

Acordei com batidas fortes na porta. Pulei


da cama num sobressalto, olhando em volta e me
situando de onde estava. Ainda no quarto de hotel.
A escuridão me mostrava que ainda era de
madrugada, mais batidas me fizeram ir alguns
passos à frente, mas de repente parou e um barulho
começou a tilintar do outro lado.
Ah, merda. Era ele. O atrevido não perdia a
mania de entrar nos meus quartos usando sua chave
mestra.

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Corri de volta para a cama, me embalando


nos lençóis e fechando os olhos. A melhor
alternativa para não sucumbir a uma madrugada
inteira de Juan Carlo era fingir estar dormindo. Ele
iria embora, vendo que não iria conseguir o que foi
buscar, e mais tarde seria um novo dia. Esperei
contando as batidas errantes do meu coração,
tentando manter a respiração em controle.
A porta abriu, trazendo um vão de luz para
dentro do quarto e rapidamente fechou. Ele
murmurou algumas coisas, meio trôpego. Bêbado?
Fiquei tensa. Nada testa melhor o caráter de um
homem do que ser posto bêbado perto de uma
mulher dormindo. Se ele ousasse fazer alguma
merda, eu levantaria e não me importava que
haveriam repórteres em sua cola por um mês, mas
faria um escândalo.
Não o ouvi falar por vários minutos, mas o
farfalhar de roupas não deixava dúvidas do que
estava fazendo, principalmente quando a fivela do
cinto bateu no piso. Segundos depois, o colchão ao
meu lado deu uma abaixada, a coberta foi erguida e
um suspiro escapou por meus lábios ao sentir o
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corpo quente colando em minhas costas. Ele usava


a cueca, por sorte, porque eu estava apenas com
uma camisola muito reveladora e uma calcinha
mais ainda.
Minha cabeça foi levantada para que ele
passasse o braço e me acolhesse ali, e o outro me
enlaçou pela cintura. Juan me cobriu como um
cobertor, seu peito firme atrás de mim e a
respiração foi ficando calma.
— Eu estou ficando louco, porra — ele
resmungou consigo mesmo.
Eu concordava.
Não o ouvi mais, nenhum movimento,
então o barulho de sua respiração encheu meus
ouvidos. Me senti estranhamente inquieta. Meus
olhos abriram, encarando a parede à minha frente.
Eu queria entender o que estava acontecendo. Por
que ele foi até ali?
Deveria ter ido embora quando me
encontrou aparentemente dormindo, sabia que não
conseguiria nada para se satisfazer. Então, por que
ficou? Por que deitou comigo e dormiu
confortavelmente na minha cama?
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O músculo do braço esticado embaixo da


minha cabeça contraiu e eu olhei para a mão
espalmada no colchão perto da minha cabeça. E
mesmo na escuridão da noite, só com as luzes do
lado de fora entrando pela janela, eu vi. Porque o
ouro que enrolava seu dedo anelar esquerdo parecia
brilhar, me acusando.

O sol que invadia meu quarto naquela


manhã me acordou, em conjunto com a batida na
porta e uma música alta que vinha da rua. Apoiei-
me num cotovelo e abri os olhos devagar,
reconhecendo o quarto chique do hotel e me vendo
sozinha. Rolei novamente e me espreguicei,
tateando a mesinha de cabeceira até encontrar meu
celular. Nenhuma ligação, nem mensagem. Suspirei
de alívio. Ainda era cedo demais para alguém tentar
falar comigo. Eu teria pelo menos tempo para um
banho e um café.
— Eu já ia te acordar.

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Pulei num sobressalto, o celular voando da


minha mão em direção a voz grossa que me
assustou. Ele desviou do aparelho e olhou para trás,
onde espatifou no chão. Levei a mão ao peito,
aliviada com o rosto familiar.
— Santo Deus — sussurrei, apertando os
lençóis entre as mãos, e me sentei contra a
cabeceira.
— Talvez eu tenha merecido as boas vindas
não tão boas assim, admito — ele comentou
enquanto ajeitava a gravata e ia até a janela,
puxando a cortina para o lado, olhando para baixo.
— Sua mania de invadir meus quartos
deveria parar, Governador. Fica mais perigoso a
cada visita nova.
— Se você não se hospedasse nos meus
hotéis, não teríamos esses problemas. — O
comentário espirituoso veio acompanhado de um
sorriso matador. Os cabelos molhados e
bagunçados me diziam que tinha saído do banho, o
que era uma pena. Só de pensar naquele
monumento caminhando de toalha pelo quarto e eu
estava dormindo... perdendo toda a diversão.
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— Quando entrou? — Perguntei, mesmo já


sabendo a resposta.
— Não tenho certeza. — Franziu as
sobrancelhas e cruzou os braços sobre o peito forte.
— Aparentemente eu fico bêbado e recorro a você.
Aquela afirmação junto com a lembrança
de Jaqueline me dizendo que ele havia a chamado
de “loirinha” quando chegou alterado em casa me
fez sorrir.
— Eu ouvi em algum lugar que a bebida
liberta aquilo que queremos manter oculto. — E foi
a sua mulher quem disse.
— Você é melhor do que um segredo para
guardar, Aya. Lembre-se sempre disso.
Suas palavras me tocaram de uma forma
que eu recusei no mesmo momento, disfarcei um
sorriso e fiquei de pé. Com a luz do dia a camisola
não escondia muita coisa. Caminhei até ele,
arrastando minhas mãos espalmadas do peito até
seu pescoço, e segurei os cabelos da nuca. Na ponta
dos pés, beijei do peito até o pescoço, parando
quando cheguei à mandíbula, então encarei seus
olhos.
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— Agradeço a consideração em me lembrar


constantemente que eu sou seu pacote VIP de
diversão, mas... não seria mais fácil de me
convencer se não entrasse no meu quarto e passasse
a noite?
Ele fez um bico, o que me fez rir.
— Talvez eu estivesse com frio.
— Eu acho que não. Acho que o senhor
gosta um pouquinho de mim — brinquei, mas o
sorriso não foi tão grande quanto eu esperava.
Ele arrastou a boca da minha testa, até a
têmpora e a bochecha, cravando levemente os
dentes em minha orelha.
— Não, menina — sussurrou. — Eu gosto
de comer você. — Suas mãos seguraram minha
bochecha, e os dedos arrastaram até meu couro
cabeludo. Juan levou meu cabelo todo para trás e o
segurou como um rabo de cavalo, inclinando minha
cabeça. Agarrei firme em seus pulsos, trêmula, e
fechei os olhos, assim como ele. E quando sua boca
se aproximou da minha pele a ponto de eu sentir a
respiração controlada, ele parou. Eu abri os olhos
lentamente, vendo as íris verdes cintilantes
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estreitarem.
— O que...
— Quem fez isso no seu pescoço?
— Isso o quê?
Juan inclinou a cabeça e nos levou até a
penteadeira, ficou atrás de mim e afastou meu
cabelo. Um braço passou pela minha cintura, e o
outro segurou meu pescoço. Meus olhos
arregalaram ao ver uma marca ali. Santo Deus, eu
tinha vinte e três anos e um chupão amador. Os
dedos apertaram um pouco mais.
— Responda a minha pergunta.
— Eu... — gaguejei, sem poder encontrar
os olhos dele no espelho. — O senhor.
— Você parece esquecer que eu sou um
político, mentir está enraizado em mim e ainda
assim insiste em tentar me enganar uma e outra
vez.
— Governador. — O olhei, dessa vez meus
olhos arregalados a ponto de arder. — Preciso
lembrá-lo da nossa madrugada juntos, ou da
manhã? Sem contar que se esteve na minha cama
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essa noite, como sabe que não agiu por impulso e...
— E o quê? Estuprei você enquanto
dormia?
— Não! — gritei, assustada com seu tom
de voz e por sequer pensar que eu cogitei aquilo. —
Claro que não!
— Sejamos sinceros, Aya. — A mão na
minha cintura desceu até minha coxa, depois subiu
lentamente, no meio das minhas pernas. Ele parou
quando encostou na minha calcinha, fazendo-me
suspirar. — Mesmo que eu perceba que é difícil
para você ser verdadeira, assim como para mim,
dada as... circunstâncias da nossa relação, eu vou
continuar fingindo que não existem mentiras.
— Eu não estou ment...
— Supondo que — me interrompeu
novamente — você não está mentindo. Vou fingir
que não foi Santiago quem chupou esse pescoço e
vou perguntar apenas uma vez.
— Juan... — Eu fazia o possível para
continuar olhando nos olhos enquanto ele falava no
meu ouvido, mesmo quando a mão passou pelo

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tecido da calcinha e ele enfiou um dedo dentro de


mim. Um gemido me escapou e Juan pressionou a
ereção nas minhas costas.
— Ele enfiou o pau em você?
Balancei a cabeça, mas não consegui falar,
mal conseguia manter os olhos abertos quando ele
começou a massagear meu clitóris e enfiar e tirar o
dedo lentamente de mim. Um calor começou a
subir e minhas mãos agarraram seu pulso.
— Eu quero ouvi-la dizer isso.
— Nã-não...
Ele riu. Uma risada seca e sombria, e antes
que eu pudesse processar, os movimentos pararam,
meus olhos abriram e ele tirou a mão de lá.
— Supondo que eu acredite... Eu odeio
dividir. Então ou você fode comigo, ou com o meu
irmão, ou com os nossos empregados. Será que não
entendeu quando avisei para não tentar brincar
comigo?
Abri a boca, mas ele me soltou e caminhou
até a porta antes que eu pudesse sequer pensar
numa resposta.
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— Juan! — chamei, mas ele ignorou, abriu


a porta e saiu.
Me sentei na cama, arfando, e enfiei a
cabeça nas mãos. Segundos depois levantei e voltei
à frente do espelho, toquei aquela marca maldita e
tive uma vontade insana de ir até o quarto de
Santiago e esfolá-lo vivo.
— Idiota — disse para mim mesma
enquanto andava de um lado para o outro naquele
quarto. — Pensa, pensa, pensa...
Não podia deixar Juan escapar, tinha que
dar um jeito.
O problema quando tive essa percepção, foi
que não quis ir atrás dele nem pelo acordo e nem
por Jaqueline. Quis ir por mim mesma. Só que o
problema quando eu começava a ignorar a lógica, é
que passava a agir com minhas emoções.
E para o azar de Juan, eu geralmente não
tinha muito controle sobre elas.

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Eu tomei um banho, me controlei o


suficiente para consertar aquela situação e peguei
minha bolsa preparada para o dia. Mas tinha um
problema: não fazia ideia de onde encontrá-lo e só
tinha uma pessoa que podia me ajudar sem levantar
suspeitas.
— Aya! — Parei por um momento e fitei o
rosto que me chamou no corredor. Mal tinha dado
três passos para longe do meu quarto. Santiago
sorriu e caminhou até onde eu estava, me olhando
de cima abaixo. — Uau, você está de matar!
Eu com certeza me sentia assassina vendo a
cara dele.
— Santiago — cumprimentei, seca, curta e
grossa, mas ele não pegou a dica.
— Hoje a gente está de folga, então talvez
você queira...
Segurei meu cabelo e o afastei, expondo a
marca.
— Está vendo isso?
O imbecil sorriu, sorriu e deu mais um
passo à frente, as mãos estendidas como se fosse
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me abraçar.
— As mulheres gostam quando a gente
deixa o território marcado — ele disse e piscou.
Ele realmente piscou.
— Território? Você está brincando, certo?
Eu sou um cachorro para ser marcada? O que, vai
enfiar uma coleira no meu pescoço ou mijar em
mim? Você tem noção do que fez? — explodi,
gritando no meio do corredor vazio.
— Caramba, Aya. Desculpa! Eu não pensei
que fosse importar tanto. Fazia parte do nosso jogo.
Você não ia transar porque foi nosso primeiro beijo
e eu te deixava com uma expectativa.
Eu quase não tinha palavras diante daquele
absurdo. Ele realmente achava que eu estava
fazendo charme? Achava que existia alguma
possibilidade de dormir comigo?
— Claro que importa! O jogo que eu gosto
de jogar é maior do que você e com certeza esse
chupão não fazia parte dele. Me faça um favor e
não fale comigo o resto dessa viagem.
— Cara, sério...
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— Santiago? Some!
Ele me fitou por vários segundos, então
assentiu e me deu as costas, saindo pela escada
mesmo. Revirei os olhos e voltei a andar, indo até a
última porta do corredor. Bati e não tive respostas,
então continuei. Depois do que pareceu uma década
e eu passei a esmurrá-la, Julio apareceu, uma toalha
na cintura e outra nas mãos, secando o cabelo
apressadamente.
— Aya?! O que foi? — perguntou.
— Em que quarto Juan está?
— O quê? — Ele franziu a testa.
— O Governador. Onde ele está?
— Eu entendi da primeira vez que disse, só
perguntei de novo para ter certeza que você me fez
sair do banho correndo para perguntar isso.
Suspirando de raiva, segurei a toalha dele e
puxei, apontando para a câmera. Ele deu um grito e
colocou a outra na frente da intimidade,
escondendo.
— Ficou louca, porra?!
— Quase isso. Agora me diz logo em qual
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quarto ele está. Se eu não for até ele agora, vou dar
um jeito de pegar as filmagens da câmera e jogo
você pelado na internet.
Ele me encarou horrorizado e voltou ao
quarto, me entregou um cartão de acesso e
balançou a cabeça.
— Penúltimo andar, quarto 300. Fica fora
do meu quarto, sua psicótica.
Eu sorri e dei as costas.
— Eu vou. Obrigada, Julio!
A porta bateu violentamente e eu acionei o
elevador, rumo ao penúltimo andar.
Eu não planejei uma história, não sabia o
que falar e não inventei nada. Pela primeira vez
com Juan, eu seria sincera. Não sincera do tipo
abrir meu coração, mas sincera sobre o fato de não
ter feito nada com Santiago.
Juan era um hipócrita desgraçado. Tinha a
esposa e me queria, mas só de pensar em outro
homem me tendo, ele tinha um ataque. Eu queria
jogar isso naquele rosto de anjo dele, mas só
pioraria a situação. Homens não gostam de encarar
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suas falhas, e com certeza o caráter dele era uma


falha gigante. Mas o que eu podia dizer? O meu
também era.
Não bati na porta. Passei o cartão pelo
acesso e abri, a fechando de imediato quando
entrei. Sabia que era arriscado que ele estivesse
com alguém, com Jaqueline ou qualquer pessoa da
equipe. Mas ali estava o que eu sabia sobre minhas
obsessões: elas nunca me deixavam pensar demais.
A suíte dele era enorme, parecia um loft.
Passei sem me importar em reparar nos detalhes do
lugar e fui da sala até o quarto. Nada. Entrei no
banheiro e não o encontrei também. Voltei a sala,
pronta para sair dali e ir caçá-lo onde fosse preciso,
mas nem precisei. Ele estava fechando a porta e se
virou para mim.
— Aquilo com Julio era necessário? —
perguntou com a voz calma e monótona.
Eu estava quase surtando e ele nunca esteve
mais controlado.
— Eu não fiz sexo com ele. Juro, Juan.
Juro que não fiz nada com ele!

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— Especifique o “ele”.
— Nenhum “ele” que não seja você.
Ele caminhou até mim, passando o dedo
pela minha bochecha.
— Mas você quis, Aya? Quando Julio te
chamou para tomar champanhe no quarto dele, ou
quando meu irmão te pressionou na parede do salão
lá embaixo?
— Não.
— Quis Santiago quando ele a deixou na
porta do hotel?
— Como... como sabe tudo isso?
— Eu sou o dono. Eu pago para saber de
tudo. Para controlar o que é meu.
— Eu acabei de gritar com um cara que me
marcou como se eu fosse um brinquedo comprado
e aqui está você, dizendo que me controla.
— Sim, é exatamente o que eu estou
fazendo. E existe uma porta pela qual pode sair, se
não gosta disso, mas, no entanto, você continua
aqui.
— Eu não tenho escolha.
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— E eu me pergunto o porquê.
— Como assim? — Franzi a testa, sem
entendê-lo.
— Essa coisa de não ter escolha. — Ele
ergueu o queixo, pensativo. — O que faz com que
se sinta obrigada a ficar e aguentar?
— Eu... eu não entendo. — Dei alguns
passos atrás e ele me seguia lentamente.
— Tem algo aqui. Eu sei que tem.
Me recompondo, lembrando-me de que
precisava mudar o rumo daquela conversa, eu
balancei a cabeça e cheguei perto dele, segurando
as lapelas do terno.
— É claro que tem algo. Tem a minha
frustração por você estar sempre querendo estragar
os poucos momentos que temos juntos com suas
teorias da conspiração. — Dei risada e ele inclinou
um pouco a cabeça para o lado, me observando. Os
olhos verdes no rosto perfeito me avaliavam com
precisão. Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça e
ficou quieto, só me olhando. — Vamos, Juan...
fique de olho em mim, deixe meu celular com você

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e atenda qualquer ligação que chegar. Se quiser, te


dou as senhas das minhas redes sociais, do banco,
de tudo. Você pode ver com seus próprios olhos
que eu só quero uma coisa.
— E o que é?
— Você — sussurrei em seu lábio, sugando
antes de dar uma leve mordida e soltá-lo. — Vamos
nos divertir antes de precisarmos voltar à vida real.
Por favor, Governador?
— O que tem em mente?
— Existe um lugar que você pode ir
comigo e nem uma alma viva vai te reconhecer.
Suas sobrancelhas subiram em descrença.
— É mesmo? E que lugar é esse?
Ajeitando sua gravata, eu o fitei através dos
cílios e fiquei na ponta dos pés, beijando
castamente os lábios.
— Cidade do México.
Juan riu e segurou minhas mãos em seu
terno.
— Estou curioso se quer destruir minha
vida ou só minha carreira, sugerindo isso.
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— Ninguém vai te reconhecer, meu lindo


mentiroso. Porque hoje é o Dia dos Mortos.
Ele balançou a cabeça negativamente antes
de me jogar sobre seus ombros e me atirar na cama.
— Mulher esperta. Esperta demais para o
meu próprio bem.
Deixei-o tirar novamente minhas roupas, e
enquanto dedicava beijos por todo o meu pescoço,
encarei o teto, suspirando aliviada que por pouco
escapei de suas insinuações e dúvidas. Eu ficava
me esquecendo a todo o momento como ele era
esperto, me descuidava e escorregava nas palavras,
sem perceber que ele podia pegar apenas uma delas
e me colocar entre o fogo e o penhasco, onde minha
única escolha era encará-lo. Tinha que ficar mais
atenta, e principalmente, precisava ganhar sua
confiança de uma vez.

O desfile de 2 de novembro era incrível. O


Dia dos Mortos se tornava uma festa que tomava
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toda a cidade em celebração aos falecidos. Mamãe


me levou pela primeira vez quando eu ainda era
criança, e fiquei encantada. As fantasias, as
maquiagens... tudo era fascinante. Conforme eu
crescia e começava a entender melhor, criava um
respeito, além de admiração, pela forma como
aquelas pessoas encontravam na alegria uma forma
de homenagear os entes queridos que foram
embora.
Estar ali com Juan me fez pela primeira vez
encarar como algo além disso. Algo especial para
mim.
Enquanto caminhávamos pela rua na
direção contrária de todas as outras pessoas, eu
mantinha um aperto em seu braço e ele olhava ao
redor, sorrindo e apreciando tudo. Vez ou outra me
fitava e eu me pegava parando de andar tamanha a
intensidade de seus olhares para mim. Ele tinha o
rosto pintado. Eu levei mais de meia hora para
conseguir fazer uma caveira e quando terminei,
estava irreconhecível. Depois fiz em mim mesma
uma mais simples, sendo surpreendida quando
acabei por Juan pegando tinta vermelha com o
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pincel e desenhando uma rosa vermelha embaixo


do meu olho esquerdo.
A música alta e os gritos ao redor de nós
eram como um afrodisíaco, algo maior e melhor do
que preliminares, porque eu sabia que quando
parássemos de andar, seria para nos afundarmos um
no outro. Mal via a hora.
Minha saia preta curtíssima o deixou louco,
combinando com a bota que chegava no joelho e a
regata preta simples. E ele continuava divinamente
belo num terno preto como a noite e a camisa da
mesma cor. Usava um chapéu para disfarçar o
cabelo loiro e eu escondia nossos beijos do público
com um leque, mesmo que não fosse necessário.
— Quanto tempo faz que você não anda
pelas ruas no Dia da Morte e não é parado nem uma
vez?
— Não me lembro. Acho que antes de me
candidatar.
— É incrível, não é?
— Sim, Aya. É incrível e você fez isso.
Obrigado.

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Paramos de andar no meio do desfile e


meus braços rodearam seu pescoço, os dele
puxaram minha cintura para perto e colamos nossos
lábios. Um beijo lento e caloroso, mas que foi
interrompido quando as cornetas começaram a soar.
A grande caveira carregada por uma
carroça vinha já perto, e o mar de pessoas se abria
para deixá-la passar. Ciganas e místicos dançavam
ao lado, adorando o maior símbolo do dia. Era o
momento de começar a jogar rosas na rua.
Juan segurou minha mão e me arrastou para
longe, entrando em um prédio antigo. Ele foi até o
balcão falar com uma senhora e eu voltei para a
porta, assistindo com um sorriso a festividade. De
repente, braços me rodearam.
— Você realmente gosta muito disso.
Ergui minhas mãos até seu cabelo e puxei,
o levando para baixo até encontrar sua boca.
— Sim — sussurrei. — Eu amo.
Ele abriu os olhos e as brilhantes íris verdes
piscaram. Ele se afastou, segurando meus dedos e
balançou uma chave no ar.

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— Vamos.
O segui pelas escadas, subindo apenas um
andar antes que ele abrisse uma porta e ficasse de
lado, esperando-me entrar. O quarto era simples,
mas bonito, e tinha tanto das raízes mexicanas que
me trouxe um sorriso ao rosto. Dei uma volta no
meio do quarto, olhando para Juan que me encarava
fixamente.
— Parece que não importa onde vamos,
sempre acabamos confinados entre quatro paredes
— brinquei.
— Não me parece ruim.
— Ah, não. Nem um pouco. Eu adoro isso.
E além do mais... podemos ouvir o desfile.
Ele assentiu, mostrando-me um belo e
pequeno sorriso de canto.
Fomos para o bar pequeno no canto, ele
fuçou tudo e suspirou.
— Sem champanhe, sem vinho, sem água.
— Temos pulque. — Rindo, ergui a taça de
madeira aos lábios e o ofereci a outra.
— Há quanto tempo eu não bebo isso —
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comentou, aceitando e fechando os olhos ao inalar


o cheiro das raízes misturadas com álcool.
— É bom lembrar das nossas culturas de
vez em quando.
Meu celular apitou o alerta de mensagem e
meu sorriso congelou no rosto, porém foi por puro
terror. Me arrependi imediatamente de ter dito que
ele poderia atender, ver as mensagens ou ter minhas
senhas. Juan me encarou por alguns segundos,
quase como se estivesse me desafiando, querendo
ver qual seria minha reação. Se eu fizesse o que
estava em minha mente, pularia pela janela e
correria feito um foguete para longe. Mas me
controlei e bebi outro gole, o observando pela
borda.
— Não vai ver quem é? — perguntei com
certa ironia. A primeira coisa a se fazer para
convencer alguém de que está sendo sincero, é
deixar as cartas na mesa. Portanto, dando-lhe a
liberdade para olhar, ele pensaria que eu não tinha
nada a esconder.
Por Deus, eu estava rezando
silenciosamente para aquela estratégia desse certo.
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Ele sorriu um sorriso torto e estreitou os


olhos, então para o meu horror, pegou meu
telefone. Quando pensei que tudo estava perdido,
ele o estendeu para mim. Disfarcei o alívio
imediato e soltei uma respiração profunda
lentamente, pegando de sua mão.
Olhei a mensagem, quase rindo quando vi
que era de Jaqueline. Olhei para o teto,
agradecendo silenciosamente pela misericórdia de
Deus em não me deixar morrer naquele momento.
Desliguei o aparelho e o deixei de lado.
— Não quero nada nos atrapalhando —
falei como desculpa.
— Não sou de invadir a privacidade alheia.
Mesmo que tenha me dado carta branca para olhar
tudo.
— Isso vindo do homem que invadiu meus
quartos algumas vezes.
Ele deu de ombros e virou a taça,
terminando a bebida e deixando a taça na cama.
— Tenho meus motivos para ser
desconfiado.

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— Por que você ficou daquele jeito no


começo da viagem? Me assustou.
— Que jeito?
— Meio louco, me questionando sobre
tudo.
Juan me deu as costas, indo até a janela e
puxando a cortina para ver o lado de fora.
— Não quis te assustar, sinto muito.
Esperei que dissesse mais, mas ele se
manteve em silêncio, assistindo o desfile na rua.
— E então? — perguntei, me aproximando
e encostando a bochecha em suas costas com um
abraço.
— É... complicado.
— Sempre é, Juan.
Ele continuou estranhamente quieto, até
pensei que o assunto estivesse encerrado, mas senti
seu peito subindo com uma respiração longa e
profunda.
— Você não é a primeira mulher que esteve
por perto nos últimos tempos.

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— Não é de se surpreender, você sabe que


é maravilhoso.
— Não, isso era diferente. Elas vinham do
nada, apenas surgiam e tentavam chegar perto
demais.
— Como assim? — Franzi a testa e ele se
virou, logo eu estava sendo levada para o sofá
espaçoso. Juan se sentou e eu também, ficando de
frente para ele, ajoelhada, o observando com toda a
atenção.
— Minha esposa já contratou alguns
detetives, mas eles não sabem ser discretos, gostam
de seguir o clichê do sobretudo e chapéu de
mafioso. Era muito fácil reconhecer, então ela
mudou de tática. Quando parei de transar com ela,
ela deve ter pensado que eu ficaria tão desesperado
por sexo que faria com a primeira que aparecesse,
então... enviou uma linda morena para me
entrevistar.
— O que aconteceu?
— Eu precisei sair da sala por um
momento, e quando voltei ela me olhava inquieta,
desviando os olhos para todos os cantos. O que ela
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não sabia era que dentro da minha sala tinha uma


câmera escondida, onde Esmeralda a viu enchendo
o lugar de escutas. — Juan riu, balançando a
cabeça. — Pensei que fosse enviada pela oposição,
mas depois de pressionar minimamente ela
começou a falar tudo. Que precisava fazer isso, que
assinou um contrato, que minha mulher ia acabar
com sua vida e coisas do tipo.
Eu tentei não demonstrar meu choque
diante de sua confissão. Cheguei mais perto dele e
segurei suas mãos.
— Isso é uma droga, Juan.
— As que vieram depois da primeira foram
piores.
— Quantas?
— Quatro contando com ela. Jaqueline é
persistente. A cada uma ela contou uma história e
todas elas estavam convencidas de que eu era o
lobo mau.
— E o que você fez? O que fez com as
mulheres?
— Elas admitiram, eu paguei mais do que
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Jaqueline ofereceu e expliquei que o contrato não


tinha nenhuma validade.
— Você as deixou ir? Simplesmente?
— O que eu poderia fazer? Deixar o mundo
saber que minha esposa quer me chantagear não é
uma opção.
— Chantagear? Como... como assim?
— Meus advogados têm mandado para ela
os papéis do divórcio há algum tempo e ela sempre
dá uma desculpa para esperar. Meu palpite é que
quando ela conseguir o que tanto quer, vai usar
para me colocar contra a parede. Se eu ficar com
ela, as tais provas ficam guardadas e seguras. Mas
se eu me divorciar...
— Ela mostra ao mundo — terminei por
ele.
Havia um caminhão de ofensas sendo
dirigidas a ela na minha mente, e todas elas vinham
com um plano para matar aquela vadia louca.
Como podia ser capaz de algo assim? E pior... eu
que me achava tão esperta, caindo na armadilha
daquela mulherzinha calculista. Não sei o que me

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irritou mais em tudo aquilo. Ser enganada ou saber


que outras mulheres estiveram no mesmo lugar que
eu, bem ali com ele. Para quantas das quatro ele
tinha confidenciado aquilo? Com quais ele dormiu?
Alguma delas o deixou tão obcecado quanto eu?
E sobre Jaqueline... aquela vaca não
aprendeu a regra principal? Nunca minta para um
mentiroso.
— Eu nunca mentiria sobre algo assim para
você — falei automaticamente.
— Tenho minhas dúvidas — ele respondeu,
sorrindo.
Segurei seu rosto, deixando os olhos presos
aos meus.
— Eu te juro que sua mulher nunca teria
nada de mim, principalmente sabendo que usaria
qualquer coisa contra você.
— Então você não é uma delas? Não está
aqui para ferrar com a minha vida?
—Estou aqui porque quero estar com você.
Prometo que não sou uma delas.
Olhando no fundo dos meus olhos, Juan
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assentiu, segurando as pontas do meu cabelo.


— O desejo é uma droga e essa droga é
minha maior tentação. Você é minha maior
tentação. Eu lido com homens de negócios todos os
dias, o tempo todo, sou praticamente um vidente
perto deles porque sei o que vão fazer e dizer. Mas
você... não sei determinar se está me enganando ou
se é sincera. A que ponto a luxúria cega o
julgamento de um homem?
— Terá que esperar para ver. Estamos na
mesma posição aqui, Governador... A que ponto
seu desejo por mim te faz dizer a verdade?
— Não quero mentir para você.
— Tudo bem mentir.
Ele passou as costas da mão pela minha
coluna, acariciando a pele com o toque de uma
pena e manteve os olhos presos aos meus.
— Essa é a última cosia que eu esperaria
uma mulher dizendo.
Lhe dei um pequeno sorriso, eu queria
minha ironia estampada nele. Ele nunca conheceu
uma mulher como eu.
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— Todo mundo mente. Eu entrei nessa


sendo atraída por você, não pelo seu cavalheirismo.
Não me encantei por promessas falsas, mas sim por
mentiras reais.
— Todo mundo mente... inclusive você?
— Não sou santa, Juan. Jamais espere isso
de mim. É claro que já menti — Me apoiei em
minhas mãos, erguendo-me na altura de seu rosto e
beijei levemente os lábios
dele. — Pequenas mentiras não machucam
ninguém.
Ele me fitou com olhos estreitos, tomados
por paixão.
— Você faz com que mentiras se tornem
bonitas, Aya. Você é a minha perdição.
Ele me beijou dessa vez, suas mãos
afastaram minha saia, a enrolando na cintura. O ar
no cômodo se tornou espesso, o barulho da
multidão lá fora pareceu diminuir, nossa respiração
se tornando mais alta e eu não cansava de ser
beijada por ele. Mordi seu lábio, ele mordeu minha
língua. Dei risada, ele sorriu. Segurei seu membro
por cima da calça, mal me contendo para tê-lo de
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uma vez dentro de mim.


Ele sorria como se soubesse cada
pensamento meu, totalmente no controle da
situação, e eu era só uma boba que tentava em vão
resistir ao que mais desejava: ele.
— Qual o seu signo? — sussurrei,
afastando-me o suficiente para perguntar.
Ele franziu a testa.
— O que tem a ver isso?
— Tudo. Qual é?
— Sério que você quer falar sobre signos
enquanto acaricia o meu pau?
Dei risada, meio ofegante.
— Qual. É?
— Escorpião, porra. Por quê?
Meus olhos arregalaram e eu dei-lhe um
aperto, mordendo levemente seu lábio inferior. O
soltei, puxando minha camisa e livrando-me do
sutiã logo depois. Seus olhos esfomeados nos meus
seios me fizeram suspirar, e o agarrei de novo.
— O escorpião é o signo mais sensual —

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comecei a falar enquanto distribuía beijos em seu


pescoço. — Bonito e misterioso, sabem como
cativar, conquistar e seduzir uma mulher. São
inesquecíveis, são implacáveis, são libertinos.
Ele gemeu e apertou as mãos em meu
traseiro, quando abaixou a mão o suficiente para
tocar onde eu mais o desejava, desci em seu colo,
conseguindo um olhar frustrado.
— Suba de volta — ordenou, rosnando.
Balancei a cabeça, sorrindo, e pressionei as
pernas juntas.
— Eles começam com o olhar... —
Terminei um a um os botões da camisa, expondo o
peito malhado e desenhado por músculos
deliciosos. — Profundos e misteriosos, te fazem
imaginar loucuras.
Passei a língua de seu umbigo até o peito,
sentindo a pele quente arrepiar debaixo de mim.
— Aya...
— Ele é tão intenso na cama, que faz com
que você sinta que só existem os dois no mundo.
Ele não tem medo da entrega, da paixão e do
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prazer.
Puxei a calça junto com a cueca para baixo
o suficiente para libertar o membro rígido, pulsante,
molhado na ponta e com as veias saltadas. O
envolvi em minha boca, me deliciei quando sua
cabeça caiu para trás e os dedos enfiaram em meu
cabelo, ora puxando, ora me mantendo ali, exigindo
o que queria de mim.
Afastei-me e fitei seus olhos, indecisa entre
demonstrar como ele me fazia sentir, ou camuflar a
imensidão de sentimentos que desabrochavam
dentro de mim.
— Tem uma presença marcante, uma força
magnética fora do normal e o instinto sexual
incrivelmente aflorado. Tudo é um jogo... e ele
sempre vence.
Foi o estopim para ele. Juan segurou meus
braços e me puxou para cima, sentando-me em seu
colo como estava minutos antes. Com um puxão
brusco, ele foi clichê o suficiente para rasgar minha
calcinha, e no segundo seguinte seus dedos estavam
me acariciando lá. Minha necessidade, desejo e
excitação era tão grande, que meu grito ecoou no
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ar, sabendo que sem nenhum esforço ele me levaria


ao clímax.
Mantendo suas caricias vivas, enredou a
mão livre em meu cabelo e tomou minha boca num
beijo desesperado que me tirou o ar, eu latejava
embaixo e implorava em cima, meus lábios dando
tudo o que ele pedia sem precisar dizer nada. Seus
dedos ficaram mais rápidos, e quando eu estava
quase chegando... Ele me penetrou de uma vez,
fazendo-me revirar os olhos de prazer.
— Juan... — gemi. — Eu esqueci algo.
— O que? — rosnou, ofegante. Parando
seus movimentos por um segundo.
— Que o Escorpião gosta de uma
conquista, ele se diverte com a situação e quando
consegue o que quer, é quase impossível escapar
das garras dele.
Abrindo um sorrisinho maligno, os olhos
verdes brilharam quando estocou com força outra
vez.
— Bem-vinda ao meu mundo. — E mais
uma.

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Capítulo 22
“não peço que todos os dias sejam de Sol
Não peço que todas as sexta-feira sejam de festa
Eu sei que nem só de pão vive o homem
Mas nem só de desculpas eu posso viver também
Me dói tanto, foi uma tortura te perder”
Alejandro Sanz ft. Shakira, la tortura

Eu mudei do hotel no dia seguinte que


voltamos a Veracruz. Disse a Jaqueline que as
pessoas estavam começando a estranhar me ver
tanto ali, e eu não queria levantar suspeitas. Ela
aceitou, e se não tivesse feito, eu iria do mesmo
jeito. Insisti também em arcar com os custos da
minha própria hospedagem. Esse foi o primeiro
sinal para eu entender que as coisas começavam a
fugir do que deveriam ser, que eu estava
começando a sentir demais. E pior, eu sabia que era

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questão de tempo até que ela começasse a me


pressionar para conseguir as malditas provas.
Acabou que eu peguei um daqueles
apartamentos de aluguel por temporada, o dono
disse que não tinha pretensão de voltar, até porque
não morava lá, então se eu passasse do prazo
inicial, acertaríamos um novo valor até que eu
saísse. Eu estava ficando louca de pagar
praticamente um aluguel por todas as razões
erradas, mas ainda assim, segui com aquilo. O
prédio claramente não era tão luxuoso quanto o que
ela bancava, mas ficava num bom lugar, inclusive,
a dez minutos de distância do aeroporto, e a quinze
da rodoviária. Tinha uma enorme piscina, academia
— de forma que eu podia distrair a cabeça — e
parecia seguro. Eu não teria que ficar evitando sair
ou fazer qualquer coisa pensando se esbarraria em
Juan. Já que o prédio não pertencia a ele, bem, pelo
menos pelo o que eu sabia.
Jaqueline ainda não devia ter descoberto
que saí do hotel, já que ainda não tinha me ligado
em um de seus surtos. Embora eu estivesse tanto
ansiosa como agradecida que ela não fez. Sabia que
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podia mandá-la aos ares e jogar tudo naquela cara


cínica, mas um lado queria ficar calmo e ver até
onde ela iria.
Depois de ver Juan falando sobre as outras
quatro mulheres com tanta sinceridade, tudo se
encaixou. Jaqueline realmente me fez vê-lo como o
lobo mau. Entregar a ela qualquer foto, vídeo ou
outra coisa que o prejudicasse não fazia mais parte
dos meus planos. Na verdade, eu estava tentada a
continuar em Veracruz apenas para aproveitar um
pouco mais a companhia de Juan e voltar para a
casa. É claro que procuraria um bom advogado,
porque Jaqueline ia aparecer em algum momento.
Mas agora sabendo que os documentos que
assinei não tinham validade, só queria comprovar
isso de fato e esquecer aquela mulher e a situação
que prematuramente me meti.
— Está me ouvindo, Aya?
— Sim. — Deixei meus pensamentos de
lado e voltei a prestar atenção no que falava.
— Ainda acho que está estranha — minha
melhor amiga disse ao telefone, a voz preocupada.

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— Que nada, estou cansada.


— Quer que eu vá passar um tempo com
você por aí?
— Não, May. É só a coisa toda de trabalho.
— Aya. — Sua voz se tornou cuidadosa. —
Você precisa se lembrar que não está trabalhando
para ele de verdade.
— Mas ele acha que estou.
— E você está começando a entrar de
cabeça nessa coisa toda. Por favor, mantenha sua
mente segura e focada.
— Eu estou!
— Besteira! Já deveria ter tirado essas fotos
e voltado para casa. Não entendo porque demora
tanto.
Fechei meus olhos em conflito comigo
mesma. Minha amiga não fazia ideia do que Juan
me contou. Se eu dissesse, a primeira coisa que ela
me diria seria: se o contrato não é válido, vá
embora e deixe os dois para trás.
E sendo justa, aquela seria a coisa certa e
lógica a fazer, porém... ser lógica só se aplicava a
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mim quando me beneficiava, e fazer o certo não


entrava na minha lista de personalidade.
Eu havia percebido que a coisa toda já
ultrapassou a razão inicial: o contrato. Mesmo antes
de saber a cadela que Jaqueline era e a quanto
tempo armava daquelas, muito antes eu já queria
apenas uma coisa daquilo tudo: Juan. Eu o tive,
deveria ser fácil ir embora, o problema era que eu
queria mais. Mais tempo com ele, mais das nossas
conversas, mais dos nossos jogos e muito mais de
nós entre nossas várias quatro paredes.
— Ele fica de olho no meu celular agora —
menti.
— Da um jeito! Você é a garota que
sempre fez tudo do seu jeito, e mesmo quando seu
jeito parecia impossível você dava um jeito, porra!
— May, por favor, não é simples assim —
comentei distraidamente, revirando na cama e
mudando os canais da TV. — A única forma seria
tirar a foto quando ele dorme, mas eu sempre pego
no sono primeiro.
Passei por um canal que estava passando
um talk show e deixei lá, então percebi que
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Maynara estava quieta.


— May? Alô?
— Você dormiu com ele — sussurrou ela.
Eu arregalei os olhos e pulei da cama.
— O quê? Não! Claro que não!
— Acabou de dizer isso, Aya. Você disse
que sempre dorme primeiro.
— Sim, mas eu quis dizer que durmo no
meu quarto porque ele sempre fica até tarde nos
compromissos e eu volto para o hotel.
— Que droga, Aya! Agora além de detetive
você virou o quê? Amante?
— Não, inferno! Eu não dormi com ele.
— Santa Madre! Sua mãe vai ter um infarto
e ela ainda é tão jovem. Você ferrou tudo dessa
vez, Aya. Sério. Tudinho!
Eu andava pelo o quarto de um lado para o
outro, revirando os olhos, sabendo que seria difícil
convencê-la do contrário. May me conhecia bem
demais.
— May, não é assim, eu... — Parei de falar

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quando meus olhos voltaram para a TV e o rosto


sorridente do maldito estava lá. Cheguei mais perto,
quase colando meus olhos na tela, ouvia Maynara
me chamar, mas não consegui dizer nada.
Eu nem sabia que ele tinha uma entrevista
hoje!
— May, preciso ir. Depois te ligo.
— Aya!
Joguei o telefone na cama e peguei meu
computador, abrindo a agenda dele. Não constava
nada, então talvez fosse gravado. Mas ainda assim
eu sentei lá e assisti. Puxei a poltrona para a frente
da tela e prestei atenção nele. Ele lidava com o
público tão bem, sabia falar sério e responder às
perguntas sem hesitação, confiante e seguro. Mas
também tinha comentários bem-humorados e
piadas inteligentes. Ele arrancava suspiros pela
beleza estonteante que possuía e eu estava quase
babando.
Pelo menos até que o apresentador apontou
para a plateia e falou sobre ela.
— Nossa primeira dama está aqui também.

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Senhora Jaqueline Herrera.


As pessoas aplaudiram e ela sorriu para a
câmera, parecia tão inocente e amável, nada perto
da insuportável fingida que era.
— Sua vaca maldita — xinguei, com a
raiva corroendo meus pensamentos.
“— Governador, o senhor é um homem
importante para o Estado, mas me diga, é verdade
que ao lado de um grande homem existe uma
grande mulher?”
A pergunta do apresentador infeliz me fez
ficar de pé e agarrar meus cabelos, ansiando pela
resposta de Juan. Ele sorriu para a plateia, então a
câmera foi para Jaqueline, que também o olhava.
“— Sim. Eu governo o Estado, mas a
minha senhora é quem governa minha casa e meu
coração.”
— Seu filho da puta!
Peguei o controle e atirei nele, rachando a
tela da TV. Fechei os olhos e tentei respirar
profundamente algumas vezes, depois de dez
inúteis tentativas de me manter calma, percebi que
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nada ia funcionar. Nada a não ser enfiar a mão


naquele rosto dela e depois chutar o pau do imbecil.
Para zombar de mim, a câmera mudou de ângulo e
o rosto de Juan ficou mais perto, a tela limpa das
rachaduras me deu uma visão completa dele.
— Eu vou te matar, Juan — sussurrei
enquanto pegava um dos meus melhores vestidos e
alguns acessórios. Meia, colar, pulseiras e anéis. E
escolhia meu sapato para a noite.
Se aquela entrevista era gravada, então ele
estava em algum lugar e eu apostava que seria o
gabinete. Chamei o táxi quando estava quase
pronta, o relógio marcava oito e vinte da noite.
Coloquei o necessário em uma bolsa pequena e
soltei meu cabelo do coque, balançando-o e
conferindo as ondas que o prendedor naturalmente
deixou. Meu vestido vermelho chegava um pouco
abaixo do joelho, porém, grudava em meu corpo, e
o decote generoso com o colar de linhas pretas em
minha pele clara deixou tudo perfeito.
Fechei a porta do quarto e saí assim que
recebi a notificação no celular. Dei à recepcionista
um sorriso e pisquei para o porteiro, me divertindo
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ao ver o homem quase desmaiar. O taxista perdeu


uns segundos secando meu decote, eu abri a porta e
a fechei novamente, batendo com força para fazê-lo
acordar.
Limpando a garganta, ele ajeitou o boné na
cabeça.
— Para onde, minha senhora?
— Para a Casa do Governo.
Conferi meu celular e deixei uma
mensagem de boa-noite para minha mãe, passei o
batom e olhei para fora, meus olhos não vendo
nada realmente enquanto passávamos pelas ruas
cheias da noite. Formava um plano em mente, uma
estratégia para devolver a Juan o sentimento que eu
estava sentindo. Aquela desgraçada bolha de
desconforto no meu estômago que me fazia ficar
vendo a imagem dos dois sorrindo e ele se
declarando.
— Aqui estamos.
Entreguei uma nota ao homem e saí
apressada. Ignorei o aceno do porteiro e entrei, os
corredores até chegar ao gabinete dele pareciam

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intermináveis. Acelerei o passo, quase correndo.


Esperava que hoje fosse um dos dias que ele
trabalhava até tarde, que o encontraria em sua sala
e...
Parei no momento em que cheguei à porta.
A visão de todas as pessoas que
trabalhavam por ali e algumas que eu não conhecia
deixou claro que ele não estava. Na verdade,
parecia tudo, menos um local de trabalho.
— Aya? — Esmeralda sorriu para mim
quando chegou perto e me abraçou. — Não sabia
que ia vir. Como ficou sabendo?
— Sabendo do quê?
— Aniversário do Santiago hoje. Nós
vamos a uma boate tomar umas bebidas. Pensei que
você estava se sentindo mal.
— Eu a chamei. — Julio surgiu ao meu
lado, dando uma explicação para minha aparição
repentina.
— Santiago falou que você não estava
legal, fiquei triste.
Claro que Santiago ia inventar uma história
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para cobrir, provavelmente estava com raiva de


mim.
— É, eu melhorei um pouco.
— Mas pelo menos agora vamos curtir
bastante — Esmeralda continuou. — Afinal,
quando o gato sai, os ratos fazem a festa, né?
Ela riu e eu me esforcei para acompanhar,
mas o sorriso morreu quando ela saiu e ficamos só
e eu e Julio. Segurei o braço dele e falei baixo:
— Onde ele está?
— O que vai fazer se eu não disser?
Abaixar minhas calças aqui no meio de todo
mundo?
— Me desculpe por aquilo, mas era uma
emergência.
— Ah, claro. — Revirou os olhos. —
Tenho certeza que era.
— Julio, não seja infantil agora. Sabe onde
ele está ou não?
— Numa viagem. Uma viagem com a
esposa dele.
— O quê? — minha pergunta foi quase um
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grito. Julio me segurou pelo braço e me puxou para


uma sala vazia, deixando a porta aberta.
— Não faça uma cena! Quer que todo
mundo saiba do seu segredinho? Inclusive, que eu
estou muito descontente em saber.
— Ninguém estava prestando atenção em
mim.
— Você aparece aqui com toda essa coisa
de mulher fatal e estava na cara que não sabia que a
gente ia sair. Eu te cobri, você me deve uma. Mas
ficar acobertando vocês dois vai levar à minha
demissão!
— Você não está acobertando nada. Eu vi
uma entrevista dele e precisava... confirmar algo.
— Sim, ele gravou duas semanas atrás e foi
ao ar hoje. Mas a viagem não foi a negócios, hoje é
o aniversário de casamento dos pais dele.
Eu suspirei, recostando na parede.
— Por isso ela foi junto. — Refleti comigo
mesma.
Julio franziu a testa e estalou os dedos em
frente aos meus olhos.
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— Ela foi junto porque é a mulher dele.


Caraca, você está viajando. Aya, sério... sai dessa
furada.
— Cale a boca e vá cuidar da sua vida!
— Eu vou, mas se tiver que te vigiar para
não fazer nenhuma besteira, vou fazer isso.
— Eu não preciso de alguém me vigiando.
— É, não precisa. Mas está na cara que está
fazendo besteira e vai se ferrar sozinha, então sim,
vou ser o chato que te cobre mesmo sem você
pedir. Nós vamos sair em dois minutos.
Ele saiu e me deixou ali sozinha, mas não
esperei para segui-lo. Santiago não estava a vista, e
eu queria pelo menos falar com ele para não ficar
um clima chato, afinal, era a festa dele. Se preferiu
mentir do que me convidar, então ele não estava
exatamente feliz comigo.
Fui atrás do pessoal que se enfiou em
vários carros do lado de fora, e acabei em um com
outras meninas, onde só conhecia Esmeralda, e fui
apresentada a Samira, Marta e Beca. Samira que
dirigia, ligou o rádio e aumentou o volume e em

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poucos segundos as quatro dançavam e cantavam


com toda a empolgação. Me esforcei para sorrir e
ser simpática, mas tudo o que queria era voltar para
a casa provisória e esperar Juan aparecer, então
poderia descontar minha raiva e frustração.
Quando paramos em frente à boate, meus
planos se tornaram ainda mais distantes, visto que
estava todo mundo tão animado para curtir à noite
toda. Ninguém se tocou que no dia seguinte
trabalhávamos?
— Essa boate é incrível! — Esmeralda
disse no meu ouvido, segurando meus ombros por
trás de mim enquanto avançávamos em busca de
uma mesa.
— Parece bem legal — eu respondi, mas a
verdade era que tocava uma música eletrônica
irritante. Eu odiava eletrônica. Aquela batida
repetitiva constante cutucando os meus ouvidos me
deixava inquieta.
O que, aparentemente, não importava no
momento.
— Preciso beber — resmunguei e fui em
direção ao bar, acenando para o barman.
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— E aí, linda... vai querer o quê?


— Comecemos com três tequilas.
Ele sorriu e começou a enfileirar os três
copos pequenos na minha frente.
— Você não vai desmaiar com isso de uma,
vez não?
— Aguento coisas piores.
Ele ergueu as sobrancelhas, todo risonho.
— Duvido muito. Com esse tamanho,
aposto que você cai com esses três.
Apoiei os braços no balcão e me inclinei
para ele.
— Por que não me dá a garrafa inteira para
provar sua teoria?
O cara abriu a boca, surpreso e meio besta
com minha atitude, e enquanto ficava lá me
olhando, peguei o primeiro copinho e virei, depois
o outro e o próximo.
— Isso foi quente. Mas aí, se você cair eu
te pego. — Ele piscou.
— Me dá uma cerveja — pedi com uma

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risada e virei para a pista de dança quando me foi


entregue a garrafa, conformada. — Tudo bem, já
que é a única coisa tocando, vamos dançar.
Dançando e andando em direção à pista,
ergui os braços acima da cabeça e me enfiei entre o
mar de corpos animados. Meus pés foram se
tornando pesados e minha mente leve. A última vez
que dancei foi quando saí com May, e a gente se
divertia tanto que a música nunca nem fez
diferença. Só queríamos que o DJ nunca parasse de
tocar.
Um cara após o outro se aproximaram de
mim, perguntando se eu queria dançar e eu dancei
inocentemente com cada um, várias músicas, vários
goles da cerveja e a tequila aos poucos foi abafando
os pensamentos do porquê saí de casa naquela
noite. Desviei de beijos, afastei mãos bobas e sorri
muito, me divertindo com a música chata, mas que
servia muito bem naquela hora.
Quando o DJ mudou de uma remix
conhecido para uma coisa um pouco mais lenta,
tirei as mãos do cara da minha cintura e soprei um
beijo, balançando negativamente a cabeça quando
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ele fez menção de vir atrás. Voltei para o bar,


precisando de água, mas assim que encostei e vi
quem estava ao meu lado, decidi que ia escolher
algo mais forte.
— Aya — Santiago começou, mas parou e
olhou para baixo, envergonhado. — Eu queria...
— Santiago, tudo bem. — Coloquei minha
mão sobre a sua. — Feliz aniversário.
— Obrigado — respondeu com um toque
de insegurança na voz.
— Tudo bem eu ser penetra na sua festa?
Ele assentiu, sorrindo.
— Claro que sim, você deixa até melhor.
— Ótimo, eu estou meio que gostando. Não
suporto esse bate estaca irritante, mas aqui estou
eu, curtindo minha juventude.
Ele riu e aceitou a bebida que alguém
pagou para ele.
— Meu aniversário, tomo mundo me
pagando drinks e a mulher mais bonita que já vi. O
que mais um homem precisa?
Segurei o queixo, como se pensasse.
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— Hum... deixe-me ver... Streapers? Não!


Melhor ainda... um bolo com uma streaper dentro?
Santiago gargalhou, fazendo-me sorrir. Ele
não era ruim, só precisava ficar em uma posição
neutra. Por que todos os homens têm que achar que
precisam me ter? Tudo seria tão mais fácil se, por
exemplo, Santiago se contentasse com conversas
em boates.
— Ainda me sinto um idiota por aquele dia
no Hotel — ele falou como se lesse meus
pensamentos.
— Vamos deixar isso para trás. Eu estava
chateada com outros problemas e como você foi o
primeiro que apareceu, deixei meu temperamento
tomar conta. Será que pode me perdoar?
Ele inalou profundamente e segurou minha
cintura. Certo... rápido demais.
— E tem como não dizer “sim” para você,
Aya Maria?
— Não. — Eu sorri. — Mas você pode
tentar.
— É, posso. Mas não quero — dito isso,
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ele me beijou. Foi um beijo legal para uma boate


com aquela música eletrônica irritante tocando e
aquele monte de gente dançando e pulando ao
redor. Foi um beijo ok. Assim como Santiago. Um
cara ok, com uma pegada ok e uma língua ok. Ele
era todo ok. E eu não gostava de ok, gostava de
complexo e complicado. Como Juan.
O beijo do Santiago ok não serviu nem para
acalmar a raiva do meu Governador, sequer me fez
sentir vingada. Então separei nossos lábios e o
beijei castamente uma última vez antes de olhá-lo
nos olhos.
— Sem chupão dessa vez. Sem charminho
e sem pressão. Só um beijo e uma conversa entre
amigos, ok?
Ele sorriu e levantou as mãos em rendição.
— Você que manda.
Eu pisquei e saí de perto, voltando ao bar.
Os corpos dançantes atrapalharam o caminho até
minha próxima bebida, mas cheguei lá e puxei o
cabelo para um lado do ombro, abanando o suor
que cobria minha pele.

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— Aya, viu a Esmeralda por aí? — Olhei


para o lado e vi um dos caras que estava no
gabinete quando cheguei.
— Não, deve estar dançando.
Como ele sabia meu nome?
— Ela foi no banheiro faz algum tempinho,
pensei que tivesse ido com alguém, mas todas as
meninas estão na pista.
Eu deixei o copo no balcão e praticamente
corri para o banheiro. Estava sem fila, o que era um
milagre. Abri a porta e dei de cara com Esmeralda
segurando uma mulher. Ela falava e a moça tentava
se soltar, parecendo impaciente para ir embora.
Suspirei aliviada ao ver que ela estava bem, pelo
menos.
— Aya! — ela gritou assim que me viu, os
pés tortos a fizeram tropeçar. Ela riu e se apoiou na
pia, sentando-se em cima com dificuldade.
— Ah, graças a Deus. Você a conhece — a
mulher falou e passou por mim. — Boa sorte com
ela.
— Liga para ele — Esmeralda gemeu e
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encostou a cabeça na parede, fechando os olhos. —


Eu preciso que ele venha me buscar agora!
— Ele quem? — Segurei seu rosto e dei
três tapinhas leves, a fazendo me olhar. —
Esmeralda, fique acordada! Quem eu tenho que
chamar?
— O Governador — sussurrou.
Meu queixo caiu e estreitei os olhos de
raiva. Essa sem vergonha... A soltei e me afastei.
— Eu estou cansada de mulheres em cima
dele. — Apontei o dedo para ela, que ria.
Ajudar alguém que o queria tanto quanto eu
não estava na minha lista de afazeres. Então toda
aquela conversa de ficar longe dele por causa da
Jaqueline era mentira? Era só ela querendo manter
outra mulher afastada dele e com medo até de olhar
em sua direção? Bem... não funcionou comigo.
Juan era meu, e Esmeralda, que eu tinha começado
a criar um carinho, precisava aprender isso.
Caminhei em direção à saída.
— Aya, por favor... ligue para o Álvaro.
Eu parei e fechei a porta, a olhando.
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— O Governador é o Álvaro?
Ela riu, tão bêbada que se desiquilibrou
sentada e eu precisei correr até ela, a segurando.
— Juan é que não é. — Bufou.
Eu suspirei aliviada e sorri, a abraçando.
— Ai, que bom, que bom, que bom! —
Segurei o rosto e a fiz me olhar. — Precisa ser mais
clara da próxima vez, eu já ia fazendo uma besteira.
Sempre gostei de você!
— Pensei que ia me deixar aqui sozinha...
— Talvez eu fosse, mas isso foi só porque
achei que estava com o meu Juan. — Acariciei sua
bochecha e abri sua bolsa, pegando o celular. —
Mas como o seu Governador é o irmão que eu não
quero, somos amigas.
Pressionei seu dedo para liberar o telefone
com a digital e fui na agenda, ligando para Álvaro.
Arrumei o cabelo no espelho e voltei a segurar o
ombro dela, a mantendo ali.
— Legal — sussurrou. — Somos amigas.
— Sim. — Eu sorri. — E temos mais em
comum do que você imagina.
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— Álvaro — a voz do outro lado da linha


saudou.
— Governador... faz um tempo que não
conversamos.
Esmeralda franziu a testa, mas no dia
seguinte nada daquilo seria parte de suas
lembranças, então não me preocupei em fazer
jogos.
— Quem está falando?
— Aya Maria. Mas é claro que pelo
número o senhor esperava que fosse Esmeralda,
não?
— Eu não sei do que você está falando.
— O que foi? Sua noiva está perto? Será
que ela não pode saber que sua amante bêbada acha
que você vem buscá-la?
— Espere. — Ouvi alguns barulhos de
fundo e Esmeralda estendeu a mão, pedindo para
falar com ele. Revirei os olhos. — Onde ela está?
— Numa boate. Você chega em quanto
tempo?
— O quê?! Boate? Não, merda. Não tenho
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como sair agora!


— E não é que políticos realmente têm
segredos sujos?
Ele xingou algumas palavras e suspirou.
— Olha, eu não posso sair daqui agora. Por
favor, a leve para algum lugar seguro e vamos
conversar depois.
— Pode apostar que vamos, com certeza,
conversar. — Meu tom de voz era tão leve que ele
desligou, irritado enquanto eu me divertia.
— Ele vem? Ele disse que viria essa noite
— Esmeralda perguntou, sorrindo bobamente.
— Não, meu amor — respondi com
sinceridade, afinal, eu conhecia a sensação de
esperar alguém que não ia chegar. — Ele é um
mentiroso, assim como o irmão. Você ficará
comigo hoje.
A ajudei a descer da pia e abri a porta, com muito
custo passamos pela pista de dança enquanto eu me
esquivava dos lugares onde o pessoal do trabalho
estava. Peguei um táxi que acabara de deixar uma
garota na porta e coloquei Esmeralda dentro,
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entrando logo em seguida.

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Capítulo 23
“Continuo te desejando
Dizem que você é perigosa
Eu não ligo pra essas coisas
Você me deixa louco, sou um louco apaixonado”
Shakira, perro fiel

Bati na mão que sacudia meu ombro e


continuei de olhos fechados. A mão voltou
segundos depois, sacudindo com mais força. Bati
outra vez. Depois de um tempinho ela não retornou,
então me aconcheguei mais ao travesseiro. Quando
estava sucumbindo ao vale do sono novamente,
senti algo gelado em meu rosto e descendo pelo
pescoço. Agora bem desperta, passei a mão
limpando a água dos olhos e os abri, fitando
Esmeralda com horror.
— Você quer me matar?
— Você não acordava, tinha que dar um
jeito.
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— O seu jeito é sutil como uma granada.


— Cobri o rosto, protegendo os olhos da luz do sol.
— Que horas são?
— Quase nove e nós estamos atrasadas.
— Eu não levanto até que seja onze. —
Cobri o rosto de novo com o travesseiro.
Ouvi um suspiro frustrado dela e o
travesseiro foi arrancado de mim.
— Você vive esquecendo que tem um
horário fixo, né, Aya?
— Bem... eu estou pensando em me
demitir, então isso não importa muito.
— O quê? Por quê?
— Longa história. — Levantei da cama
mesmo sem querer, espreguiçando enquanto ia até
o banheiro. — Ok, você faz o café.
— Por que eu tenho que fazer?
— Porque eu te dei um teto. E porque
temos um assunto para tratar. E esse nível de
conversa exige muito café ou vodka.
— Vodka? Tão cedo?

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— O que não mata te fortalece. — Fechei a


porta e tirei a camisola, praticamente me atirando
debaixo do jato de água quente.

Servi meu café e experimentei, adicionando


mais quatro colheres de açúcar antes de sentar à
mesa com Esmeralda. Ela me observava
estranhamente quieta, me deixando na dúvida se
era uma bêbada com boa memória.
— Me conte sobre Álvaro.
Seus olhos arregalaram e ela pareceu sem
fala por um momento, o que provou que não, ela
não lembrava.
— O-o quê?
— Seu Governador.
— Que besteira é essa de meu Governador?
Você bebeu demais ontem à noite.
— Não, quem bebeu foi você. Agora me
conta.

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Seus olhos estreitaram e ela espalmou as


mãos na mesa, ameaçando levantar.
— Isso não é da sua conta.
Erguendo uma sobrancelha, continuei
sentada e passei a encher a faca de manteiga,
recheando minha torrada.
— É da minha conta quando você me faz
ligar para ele na madrugada pedindo para buscá-la.
Seus olhos lacrimejaram e ela recostou na
cadeira, perdendo a postura de defesa, se expondo
totalmente.
— Sinto muito por isso. Mesmo.
— Eu meio que desconfiava antes de
ontem.
— Como?
— Intuição. Só que você precisa se
controlar. Quando te encontrei no banheiro você
estava segurando uma mulher, choramingando para
ela. Como vamos saber que não disse algo?
Ela arregalou os olhos e sua mão voou na
boca.
— Meu Deus! É verdade! Como fui tão
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descuidada?
— Acontece. — Dei uma mordida e
encolhi os ombros. — Só fique mais atenta. A
gente nunca sabe quem está ouvindo.
— Tipo você?
— Sim, eu ouvi e participei. Acobertei
vocês dois. Mas o que acha que vou fazer com
isso? Jogar no mundo?
— Eu não sei — respondeu nervosamente.
— Não nos conhecemos muito bem.
— Nos conhecemos o suficiente para eu
não ter nenhuma intenção de ferrar com você. Só
acho justo que eu saiba o que é que está rolando. —
Levantei e puxei minha cadeira para o lado dela,
segurando sua mão. — Até porque... acho que
saber do seu caso nos passa de colegas para amigas.
— Eu nos considerava amigas antes disso.
— Bem, então mais um motivo para me
contar.
Ela riu.
— Você está se remoendo de curiosidade,
não está?
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— Você nem imagina. Desembucha, quando


tudo começou?
Esmeralda prendeu o lábio entre os dentes,
pensativa, mas por fim suspirou e assentiu,
largando a torrada na mesa e virando para mim.
— Certo, ok. Você sabe que ele é bonito.
— Sim.
— E tem um charme.
— Inegável. — Dei risada quando ela fez
uma careta para mim. — Só concordei.
— Não concorde, ele é só para os meus
olhos. Quer dizer... e os de Alyna. — Ela riu da
própria piada autodestrutiva e continuou. — Estou
com ele desde que os dois eram apenas dois
conhecidos que saíam para jantar, sabe? Época que
ele a estava cortejando.
— Há quanto tempo esse noivado tem
durado?
— Fará três anos no próximo mês.
— Meu pai... ele está cozinhando a garota
há tanto tempo assim?
— Ele não quer casar e deu como desculpa
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de que poderiam esperar ela terminar a faculdade.


Embora não vai servir para nada, já que ela vai
acabar como Jaqueline Herrera, apenas a esposa do
político.
— Imagino que sim.
— Quando as coisas ficaram sérias entre os
dois, eu tentei cair fora, o evitei, mudei meu
endereço e telefone, até saí do trabalho que tinha
antes.
— Mas ele insistiu — eu disse, era bem
previsível toda a história.
— Sim, muito. Disse que tentaria acabar
com tudo, que podíamos ficar juntos enquanto ele
resolvia aquela situação, mas acabamos assim... eu
indo trabalhar para o irmão dele e morando num
apartamento que ele comprou. Ficando bêbada e
ligando para ele de madrugada, mesmo sabendo
que ele não vai vir.
Ela abaixou a cabeça e quando me olhou de
novo, uma lágrima escorreu de seu olho.
— Oh, Esme... — Acariciei a bochecha,
sentida por ela. — Não chore.

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— É só que... eu o amo tanto, Aya. Tanto!


Ele é engraçado e inteligente, e incrivelmente
carinhoso quando estamos a sós. Ele ajudou minha
família em várias ocasiões e posso ver em seus
olhos que ele me ama. Mas são três anos! Três anos
que eu vivo para ele, dependente dele e à espera de
suas demandas.
— Eu imagino que deva ser difícil.
Eu não sabia o que dizer. Estava
acostumada a consolar Maynara quando Galdino
vacilava, mas eu a conhecia a vida toda, ela sabia
como eu funcionava naquelas horas. Mas
Esmeralda... ela parecia que ia quebrar no primeiro
grito que eu desse.
— Difícil? — Soltou um riso sem graça. —
Eu não desejo uma situação dessas nem para a
minha pior inimiga. Ser a segunda opção... a
outra... Isso te consome aos poucos. Se eu pudesse
voltar no tempo e ter sido mais firme com Álvaro,
faria sem hesitação. Sei que ia doer deixá-lo ir, mas
a dor eventualmente passaria. Só que agora... como
vou deixá-lo se ele é tudo o que me importa?
Desviei os olhos dela para a janela quando
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estranhamente suas palavras me deram vontade de


vomitar.

Depois do que pareceram horas, Esmeralda


tinha parado de chorar e foi para o banho, eu
separei uma roupa para ela e me arrumei em
silêncio, inquieta e incomodada. Todo o caminho
de casa até a Casa do Governo foi silencioso, ela
abalada e eu pensativa, suas palavras ricocheteando
em cada nervo do meu cérebro, tornando
impossível que me esquecesse de sequer uma silaba
que disse. E tudo fazia sentido. Ela estava há três
anos em um relacionamento com alguém que não
era inteiramente seu e estava destruída. E eu
conhecia um homem há pouco mais de um mês e
perdi completamente a razão na noite anterior
porque o vi dizendo coisas na televisão. Coisas que
ele sempre diria porque fazia parte de quem ele era.
Um homem e um político. As duas partes de uma
combinação tóxica.

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Duas partes que se uniam em um corpo


perfeito e um rosto diabolicamente bonito, que me
fizeram viciar naquela toxina. Que não me deixava
dormir sem esperar por ele e não me deixava
respirar sem pensar nele.
Antes de entrarmos, Esmeralda me deu um
abraço e me olhou nos olhos.
— Obrigada pelo teto, pelo café e pelo
ombro amigo. Não é todo dia que você pode
confidenciar a alguém que está apaixonada por um
homem quase casado.
— Você é sempre bem-vinda. — Eu sorri e
acariciei seu braço. — Sem julgamentos.
Até porque, quem era eu para julgar?
Estava tão afundada na merda quanto ela. A
diferença entre nós é que eu tinha um pouco de
oxigênio a mais antes de afogar. E Esme... a
pobrezinha ingênua já estava perdida.
— Então vamos trabalhar! — Ela tomou à
frente e entramos, cumprimentando algumas
pessoas que passavam por nós.
No gabinete, Julio suspirou alto quando nos

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viu entrar.
— Graças a Deus. Se eu tiver que atender
esse telefone mais uma vez vou surtar.
Ela beijou sua bochecha, achando graça.
— Obrigada por me cobrir, Ju. Fico te
devendo uma.
— Uma? Você me deve várias!
Enquanto Esmeralda tomava seu posto,
Julio veio em minha direção.
— E aí, loira.
Dei de ombros.
— Aqui nada. E aí?
— Engraçadinha. Escuta só. — Ele olhou
ao redor e diminuiu a voz. — Eu vi você e Santiago
curtindo ontem.
Revirei os olhos e dei um passo para o
lado, na intenção de fugir da conversa de Julio, o
intrometido. Ele segurou meu braço, disfarçando.
— Espera, Aya. Fala comigo.
— Falar o quê? Você continua com essa
chatice de me perseguir!
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— Não estou perseguindo!


— Ah, não? Então ontem ao invés de se
divertir como todo mundo, você ficou prestando
atenção em mim e o que eu fazia por qual motivo?
— Estou tentando te ajudar.
Cheguei um pouco mais perto dele e o
olhei bem nos olhos.
— Não vou dormir com você, então pare o
que quer que esteja fazendo.
— O quê? Eu não quero dormir com você!
— Não? — perguntei, confusa. Por que
diabos ele estava insistindo em se meter onde não
era chamado, então?
— Não. Só estou interessado em ser seu
amigo, garantir que não faça besteira.
Dei risada, incrédula, e cruzei os braços
sobre o peito.
— Essa conversa de “só vamos ser amigos”
é uma das mais furadas que já ouvi.
— Então esse é o problema. Você nunca
teve um amigo que queria só isso. Amizade.

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— Não. Eu trabalho com fatos e o fato é


que todo cara que se diz meu amigo, em algum
momento vai tentar arrancar a minha calcinha.
Julio riu e deu de ombros, tirando um
pirulito do bolso da calça e enfiando na boca.
— Então terá que esperar para ver e crer.
— Ver o quê? — perguntei e ele abriu a
boca para responder, mas na mesma hora a porta de
Juan abriu. Meu coração começou a acelerar pouco
a pouco até que eu quase ouvia as batidas.
Jorge saiu atrás de outros homens que eu
não conhecia, parou no balcão para falar com Esme
e, quando nos viu, pediu que aguardassem, então
veio até nós dois.
— Preciso dar uma saída, logo estarei de
volta — ele falou para Julio.
— Beleza. Preciso de algumas assinaturas
suas quando voltar.
— Deixe tudo pronto e assino. — Jorge me
fitou e acenou. — Aya.
— Oi, Jorge.
— O Governador quer vê-la na sala dele.
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— Já vou para lá. Obrigada.


— Agora — ele disse num único sopro. Eu
virei para encará-lo.
— Algum problema?
— Ele não parece feliz, mas é seu chefe e
quer te ver.
Olhei para Julio, que encolheu os ombros
discretamente, depois assenti para Jorge, saindo de
perto dos dois e indo em direção à sala tão temida.
Ver Juan novamente não ajudou. Não só
pela beleza desconcertante que me fazia querer
pular em seu colo ao invés de gritar com ele, mas
também pela frieza que os olhos claros tinham
quando levantou a cabeça para me olhar por um
segundo, depois abaixou novamente, ignorando
minha presença.
— Eu soube da festinha que aconteceu
ontem à noite — ele disse com uma calma
assustadoramente irritante. Soltou uma folha na
mesa e cruzou as mãos sobre as pernas, me fitando.
Os olhos verdes não demonstravam nada.
Eu deixei de lado o fato de sequer ter me
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dito um “oi” ou tentado começar a se explicar.


Partiu direto para o ataque.
— Natural. Afinal, você paga para
controlar tudo, não é assim?
Deixando a calma de lado, ele bateu as
mãos na mesa com os punhos. Erguendo-se.
— O que foi toda aquela atuação dizendo
que não estava com mais ninguém? Eu cheguei
aqui hoje ouvindo sobre você dançando com
qualquer um naquela porra de boate e pagando de
namoradinha do Santiago... Sério, Aya? Como
pode ser tão cínica?
— Não me venha com essa sua
conversinha! O único que estava declarando seu
amor em rede nacional era você! Quer saber? É tão
típico! Finge que não a suporta, mas a adora!
Ele franziu a testa e saiu de trás da mesa, se
aproximando de mim.
— De que porra você está falando?
— “Eu governo o Estado e ela governa
meu coração”. Isso não te lembra nada?
— O que queria que eu dissesse? Que estou
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casado com alguém fria como o gelo, mas me


aqueço nos braços da minha amante?
— Não me importa o que você ia dizer,
tudo o que importa é que eu vi! E quer saber de
uma coisa? Você não tem obrigações comigo, essa
discussão é ridícula. Se eu quiser Santiago ou
qualquer outro homem, não vou me segurar por
causa de você. Não exijo nada seu, então não se
ache no direito sobre mim!
— É assim que vai ser?
Aproximei meu rosto do dele, sentindo a
raiva transbordar.
— É assim que é!
— Muito bem. Está demitida!
— O quê?
— Se quer fazer do seu jeito, faça. Mas eu
não vou providenciar um palco para o seu
showzinho.
— Se me demitir eu te processo. Conheço
bem esse tipo de lei e você vai perder.
Ele riu. Riu e abriu os braços.
— Não é irônico como eu te disse apenas
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um dia atrás que vivo sob as ameaças dela e isso


me perturba, mas aqui está você... me ameaçando
da mesma forma.
— Não é a mesma coisa.
— É exatamente a mesma coisa, talvez
pior, porque eu te dei poder para fazer o que diabos
quiser.
Ele me virou as costas e foi até seu
pequeno bar perto da janela, servindo-se de uma
bebida.
— Você acabou de me demitir, Juan.
Tenho direito de estar nervosa.
— É claro que demiti.
— Então a culpa não é só minha! — me exaltei,
querendo bater naquele rosto perfeito. — E não me
compare com aquela mulher! Nós dois dizemos
coisas e fazemos coisas, mas você começou e...
— E o quê? — Ele atirou o copo na parede,
acertando o vidro da janela, que quebrou também.
Em um segundo estava na minha frente, segurando
meu pescoço por trás. — Sou culpado por preferir
deixar de vê-la todos os dias do que ter que ceder
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espaço para aquele playboyzinho pegar você onde e


quando quiser. Pelo menos aqui dentro essa coisa
de vocês não vai acontecer mais. Aliás... acho que
nenhuma coisa vai continuar acontecendo por aqui.
— O que quer dizer?
— Que tudo isso tem fugido do controle.
Essa... relação deveria ser simples, fácil e
silenciosa. Mas agora eu estou agindo feito um
louco porque você gosta da sua liberdade.
— Então você quer terminar? Se é que essa
é a palavra para usar já que nem começamos nada.
— Sim. Honestamente, eu acho que é o
melhor. Você fica livre para aproveitar com
Santiago e eu... bem, eu não preciso me preocupar
com as minhas palavras diante da mídia machucar
alguém que não me estende a mesma compaixão.
— Ok — respondi, mais irritada do que
quando entrei. — Você é quem sabe.
— É, eu sei. — Com um golpe final, ele
apontou para a porta e abaixou a cabeça, apoiando
as mãos na mesa.
Cheguei até a porta e segurei a maçaneta,
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mas ao invés de abrir, eu tranquei e virei para ele,


apontando em sua direção.
— Eu odeio você agora. Nesse momento eu
quero te matar! Quero te matar mais do que quando
te vi naquela entrevista.
Juan fitou o teto, fechando os olhos com uma
bufada alta.
— De novo a maldita entrevista.
— Sim! Você acha que eu gosto de ver
você se declarando para ela?
— Na verdade, acho que não se importa,
Aya. Já que sempre que pode enfia sua língua na
boca do meu empregado.
— Empregado do Governo. E que história
é essa de que a relação deveria ser fácil?
— Sem complicações. — Deu de ombros,
como se isso explicasse tudo.
Eu estava boquiaberta.
— Está me chamando de fácil? Eu não sou
fácil! E se está pensando que vai se livrar de mim
acenando para a porta como se eu fosse o Jorge,
está muito enganado!
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— Não quero terminar as coisas da forma


mais difícil, Aya. Mas você não me dá escolha. E a
questão aqui é simples... fique comigo ou fique
com ele.
Eu gargalhei, perplexa.
— Não posso acreditar que está me dando
um ultimato.
Mesmo que eu não tivesse qualquer
interesse em Santiago, Juan pensar que podia me
controlar daquela forma era absurdo.
— Entenda como quiser. Eu não vou ficar
me descabelando pensando que quando eu não
estiver, você vai correr para ele, como ontem, por
exemplo.
— Sim, ontem quando você estava com
ela!
— Era a porra de uma situação de família,
mulher louca! O que eu podia fazer?
— Não me chame de louca, Juan, você
ainda não me viu louca. Não me viu quando eu
quebrei a TV atirando o controle na sua cara e não
me viu destruindo esse escritório só porque você
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está me irritando!
— Tudo por causa de uma entrevista —
resmungou, resignado. — Eu nunca mais dou uma
dessas. Por Deus, nunca.
— Por quê? Prefere manter os momentos
íntimos de vocês em privado?
Juan caiu na gargalhada. Ele ria com
vontade e eu mal me contive de espumar de raiva.
— Está piorando sua situação — rosnei,
batendo o pé impaciente no chão.
Ele passou as mãos pelo rosto e o cabelo,
os bagunçando, e chegou perto de mim. Eu fugi
para trás, mas ele foi mais rápido e no momento
seguinte me prendeu em seus braços.
— Era mentira — disse ele, e começou a beijar
meu rosto, minha orelha, meu pescoço. — Tudo
mentira, cada palavra. — Suspirei quando sua mão
alcançou meu seio e apertou, a outra abria o zíper
da saia com pressa. — Eu durmo e acordo
pensando em você, minha loirinha.
— Mentiroso — sussurrei, abrindo os
botões da camisa. — Isso acaba agora, porque não
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vou deixar que me use novamente.


Ele assentiu e tomou minha boca de novo.
Se pudesse, teria me engolido viva. Sua língua
apressada e os lábios sugando os meus, chupando
meu pescoço e as mãos inquietas não me davam
folga, mal podia respirar.
— Ótimo, porque eu também não quero
mais saber de você — disse ele. Envolvi os braços
em seu pescoço e senti a mesa debaixo de mim
quando me ergueu, sentando-me na madeira e
empurrando as coisas para liberar espaço.
Minha calcinha estava fora junto com a saia
no minuto seguinte, e minhas mãos apressadas
abriam seu cinto e a calça, empurrando apenas o
suficiente para baixo, liberando o membro pulsante,
lindo e duro. Pronto para mim.
— Droga. — Ofeguei. — Você me faz
abrir as pernas tão rápido — confessei, irritada
comigo mesma.
— Ou você me empurra ou acaricia o meu
pau, amor. Mas está fazendo os dois ao mesmo
tempo e assim não dá para chegar a lugar algum.

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— Lembre-se bem desse momento, porque


se disser algo romântico para ela mais uma vez,
isso aqui nunca mais vai acontecer. — Estreitando
os olhos, apertei as pernas em volta dele e segurei-o
mais firme, apertando com um pouco de força.
— Aya — repreendeu, alarmado.
Eu sorri e soltei, voltando a beijá-lo. Juan
segurou a si mesmo e me puxou para a beirada da
mesa, nós dois gememos quando o sentimos por
inteiro dentro de mim.
Uma batida na porta soou e ele olhou
naquela direção, depois para mim. Nenhum de nós
disse nada, mas sorrimos, e como se estivéssemos
sincronizados em nossos pensamentos, ignoramos.
Ele se afastou e empurrou para dentro novamente,
eu o apertei ao senti-lo tão profundamente,
prendendo seu lábio carnudo entre os dentes para
evitar o grito que me subiu a garganta. Minhas
unhas cravaram em seu pescoço e ele rosnou,
apertando meus quadris e não se contendo,
enquanto batia mais rápido e mais forte dentro de
mim.
O porta canetas caiu no chão, fazendo-me
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rir com um gemido, minha cabeça caiu para trás e


sua língua bateu em meu pescoço, lambendo até
alcançar meus lábios num beijo faminto.
— Juan, mais... — Ele soltou um gemido
abafado, rouco e segurou minha nuca com uma
mão, prendendo nossos olhos um no outro, me
observando enquanto fodia todos os sentidos dentro
e fora de mim.
O calor começou a construir na boca do
estômago, meus braços arrepiaram e me contorci,
aceitando sua boca quando as sensações do clímax
me bateram. Os olhos de Juan brilharam com
desejo, mais do que antes, ele parecia alucinado,
enfeitiçado. Os músculos contraíram e cerrou a
mandíbula, endurecendo e me apertando mais
quando se derramou dentro de mim.
Ambos ofegantes, buscando a respiração e
surdos para o lado de fora.
— Isso realmente acaba aqui? — perguntei,
ofegante.
Ele riu, voltando a se mover, ainda duro
como pedra no meu interior.

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— É claro que não.


Eu dei risada olhando para o teto, mas dei
um último tapa em seu peito. Tinha pelo menos que
provar meu ponto.

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Capítulo 24
“Quem nunca quis uma deusa animal
No ardor de uma noite romântica
Sei o que quero:
Me divertir e me comportar muito mal nos braços
de um cavalheiro
Uma loba no armário tem vontade de sair
Silenciosa ao passar
Essa loba é especial”
Shakira, loba

Quando saí da sala de Juan depois de


termos terminado nossa irresponsável aventura da
tarde, esperei receber olhares ou até mesmo dar de
cara com alguém do lado de fora da porta, mas não
tinha ninguém. E embora quando cheguei na
recepção Jorge tenha me dado um olhar longo
demais, ninguém disse nada. Julio passou por mim,
mas não me olhou, o que estranhamente me deixou
incomodada.
— Aya — Esmeralda chamou de trás do
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balcão e eu parei, mesmo que tivesse ficado tentada


a fingir que não ouvi para escapar de qualquer
questionamento.
— Sim? — perguntei quando cheguei perto
dela.
Ela olhou ao redor e para a porta de
entrada, então franziu a testa.
— Você pode me avisar da próxima vez.
Eu tenho câmeras na sala do Governador.
Levei alguns segundos para deixar suas
palavras afundarem em minha mente, então fiquei
sem resposta. Abri e fechei a boca três vezes, mas
nenhuma palavra saiu.
— Esme...
— Agora entendo porque você disse que
temos mais em comum do que eu imagino.
— Eu não disse...
— Eu me lembro, Aya. Poucas coisas, mas
lembro. — Revirou os olhos e pegou uma pasta,
ficando de pé. — Mesmo que algumas coisas que
você disse me fizeram ter vontade de não ter boa
memória depois de bêbada.
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Ela saiu antes que eu pudesse chamá-la. Pensei em


voltar na sala de Juan para exigir que desse um
jeito nas filmagens da sala, mas lembrei que estava
com Jorge e chegar lá naquele momento só pioraria
a situação. Peguei meu telefone enquanto saía e
mandei uma mensagem para ele. Esperava que
visse antes que mais alguém tivesse acesso.

Na portaria do prédio que eu estava


morando temporariamente, a recepcionista me
chamou antes que entrasse no elevador. Voltei
alguns passos e esperei ela terminar de falar ao
telefone. Quando encerrou a chamada, me entregou
um envelope.
— Sua amiga a está esperando no
apartamento, dona Aya.
— Amiga? — Franzi a testa, confusa. —
Que amiga?
Ela olhou um papel pendurado no monitor.
— Maynara. Eu falei o nome para a
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senhora no telefone, esqueceu?


— No telefone? Falou comigo no telefone?
— Sim, senhora. Ela mesma ligou.
Virei as costas e saí, a deixando falar
sozinha. A incapacidade humana às vezes
surpreendia. Tinha certeza que era Jaqueline.
Aquele tipo de situação não exigia que a
recepcionista ligasse do telefone do prédio direto
para mim ao invés de aceitar o telefone de
Jaqueline? Ela podia simplesmente ter colocado
outra pessoa para fingir ser eu e autorizar a subida.
Tentando controlar meu temperamento do
elevador até o apartamento, destranquei a porta e
entrei, dando de cara com a maldita sentada na
cama como se estivesse tudo em ordem no mundo.
Ela fitava a janela, mas ao ouvir a porta abrir, virou
para mim, dando-me um enorme sorriso cheio de
más intenções.
— Como me encontrou?
— Oh, Aya... você me subestima.
Joguei a bolsa no sofá e cruzei os braços,
bem alerta em cada movimento dela.
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— Na verdade, acho que estou bem ciente


de que você pode ser capaz de tudo.
— Que bom que sabe disso, sinal de que
não vai me trair. Agora me diga, como andam as
coisas com o meu Juan?
Eu dei risada a ouvindo chamar de “seu”.
— Algumas complicações, mas tudo segue
o curso planejado. E, ah... eu vou me demitir.
Arregalando os olhos, ela levantou e veio
até mim.
— O quê? Não, você não pode! Não agora!
— Por que não?
— Acontecerá um evento que preciso que
vá. Aya, por favor... — Ela me surpreendeu ao
segurar minhas mãos, dando um aperto. — Por
favor, tenho certeza que nesse evento você vai
descobrir algo, é a nossa chance!
— Evento? Eu não vi nada na agenda dele
sobre isso.
— Não é sobre política. É um mega
acontecimento, com muitas pessoas do nível dele.
Faz parte de sua agenda empresarial, ou seja, a
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secretária das empresas é quem organiza.


— Outra secretária? Eu não a conheço.
— Eu não achei que era necessária uma
apresentação.
Soltei as mãos dela sem delicadeza e
caminhei para longe lentamente.
— Então, quando é esse tal evento?
— Hoje.
Ela perdeu minha cara de espanto, pois já
estava abrindo o zíper de uma capa preta e
deixando a vista um vestido bege com gola e longo,
três vezes mais largo que o necessário. Entendi na
hora sua jogada e comecei a rir.
— Você quer que eu vá a um evento mega,
como diz, vestida com isso?
Ela deu de ombros.
— Foi o melhor que encontrei de última
hora.
— Você está louca se acha sinceramente
que vou me enfiar nesse saco de batatas. Olha
como me visto no dia a dia, pelo amor de Deus.
Não espere nada menos de mim.
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Eu tinha muitos defeitos, mas estilo e senso


de elegância e moda, não era um deles.
— É uma pena, Aya. — Se aproximou e
deixou o rosto perto o suficiente para que eu
sentisse sua respiração. — Porque esse é o único
trapo que vai ter de mim.
Dito isso, ela pegou sua bolsa e saiu,
pisando na barra do vestido pelo caminho.
— Que sorte eu não precisar de nada seu,
então — eu disse para o quarto vazio e peguei
minha bolsa.
Tinha que ir às compras, e, claro... colocar
a madame em seu lugar com um trapo à minha
altura.

— Se você tivesse algo com a fenda mais


aberta, seria perfeito — falei para a vendedora, que
logo foi voltar a olhar as opções, então voltei ao
telefone. — May, tem certeza que só achou isso?

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— Sim, mas caramba Aya, parece muito


chique. Começa às sete, a apresentação será às oito.
Tem uma recepção logo em seguida.
— Ótimo, terei tempo mais do que
suficiente. Nas redes do Governador não tem nada?
A vendedora voltou com outra a
acompanhando e ambas seguravam vestidos. Meus
olhos brilharam e elas sorriram, satisfeitas. Àquela
hora a loja estava parada, então eu era um peixinho
dourado na rede das duas.
— Não, amiga. Nada importante. No
twitter tem um post simples com um banner do
evento, um banner bem elegante, na verdade.
— E o que diz? — Balancei a cabeça para o
vestido laranja curto e passei a mão pelo tecido do
verde, negando também.
— Nada importante também. Aya, sério,
você já sabe o que todo mundo sabe. Essa
companhia de dança vai se apresentar e depois tem
a recepção, esteja lá as sete e dará tudo certo.
— May, porque eu tenho a impressão que
você está com pressa para desligar?

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— Não estou, só quero encerrar o assunto


do evento para começar o assunto importante aqui,
que é seu caso com um dos homens mais
importantes do México!
— Eu preciso desligar, acho que encontrei
meu vestido, te ligo depois. — Desliguei,
lamentando ter que continuar escondendo os fatos
da minha melhor amiga.
— Encontrou? — a vendedora perguntou
cheia de esperanças que a comissão fosse dela —
Qual?
— Eu estava apenas fugindo da minha
amiga, ainda precisamos procurar. — Forcei um
sorriso e passei por ela, as duas me seguiram de
volta ao salão da loja, examinando tudo comigo. —
Lembrem-se, meninas, precisa ser perfeito!
Passamos mais dez minutos procurando até
que escondido atrás de um manequim, eu vi uma
tira de tecido vermelho. Passei tudo o que estava
segurando para a vendedora 1 e caminhei até lá
como se seguisse a luz no fim do túnel, e ao puxar
o manequim escondido para a frente, fiquei sem ar.
Era incrível.
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O vermelho sangue bem vivo era longo, e


diferente dos outros que experimentei nas últimas
três horas de loja em loja, tinha uma fenda sensual
e do tamanho exato que imaginei, pelo modelo
colado percebi que ele cairia perfeitamente sobre o
meu corpo. O decote de ombro a ombro tinha
pedras pelo busto, e um tule discreto preso nelas
que ia até a cintura, cheio de brilhos o cobrindo.
Era lindo. Perfeito.
— Eu quero esse. É perfeito.
— Não terá, não está à venda — uma voz
disse acima de nós e eu olhei, vendo uma mulher
descendo as escadas, ela me fitava superiormente.
— E por que não?
— Foi reservado. — Ela passou por mim,
por pouco não batendo seu ombro no meu, e tirou o
vestido do manequim.
— Já foi pago também? Eu pago o dobro.
— Eu já disse que não está à venda. — Sua
grosseria me fez parar por um momento e observá-
la. Usava uma camisa do mesmo modelo que as
outras meninas, mas a cor era diferente, o que me

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fez acreditar que deveria ser a gerente. Eu duvidava


que se fosse a dona da loja seria tão antipática com
uma cliente que se oferecia a pagar tanto por uma
peça de roupa.
Mantendo o sorriso no rosto, eu a fitei
atentamente. Ela ergueu o queixo, frisando mais
ainda seu tom de voz arrogante.
— Eu trabalho para o Governador do
estado, sabe de quantas formas diferentes eu posso
conseguir complicações para essa loja?
Ela bufou.
— É apenas um vestido, temos centenas de
outros. Não vou vender.
— Ótimo, se prepare para fechar isso aqui
em um mês.
Passei pelas três, mas parei ao ser chamada.
A vendedora 2 olhou para a gerente arrogante e
franziu a testa.
— Lucia, não acredito que vai deixar isso
acontecer ao invés de vender o vestido!
— Eu o vi primeiro, avisei que ia reservar,
eu o quero! — Ela bateu o pé, e a cada palavra que
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saía de sua boca eu ficava mais tentada a fechar


aquele lugar. Será que dava tempo de soltar uma
bomba ali e correr com o meu vestido nos braços?
A vendedora 1 pegou o vestido e foi até o
caixa, sorrindo nervosamente para mim.
— Senhorita, eu espero que ainda queira.
Por favor, desconsidere toda essa cena.
Sorrindo, eu assenti para ela e ofereci o
cartão, então lancei um olhar inocente para a
gerente.
— Não se preocupe, Lucia. Esse lindo
vestido será muito bem usado. De qualquer jeito,
vai ficar melhor em mim do que ficaria em você.

Jaqueline foi cara de pau o suficiente para


mandar o sombra ir me buscar.
— A que horas Jaqueline pretende ir?
— Ela não irá. Disse que as chances de o
Governador aprontar algo essa noite sem ela lá

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serão maiores.
E ela tinha razão. Juan geralmente ficava
bem solto quando aconteciam eventos. Aquela
viagem e o dia da conferência no hotel foram mais
do que provas daquilo. Retoquei meu batom
quando ele avisou que estávamos a menos de cinco
minutos do Plazza, conferi o cabelo e respirei
fundo. Aqueles sapatos me machucavam, mas eram
perfeitos com o vestido.
— Chegamos. — Ele saiu e foi pelo menos
educado o suficiente para dar a volta no carro e
abrir minha porta, mas antes de me deixar, abaixou
a cabeça bem perto. — A senhora Herrera espera
resultados hoje.
Revirando os olhos, sorri para as fotos e
entrei, nada surpresa quando disse meu nome e ele
constava na lista. Jaqueline realmente planejava
tudo muito bem. Não pude deixar de me perguntar
porque Juan não me falou sobre o evento. É claro
que eu não esperava que me convidasse para ser
sua acompanhante, mas pelo menos um aviso, ou
só que dissesse.
“Ei, olha só, vou estar em um superevento
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hoje”.
Eu me preocupava com ele, mesmo que
fosse ridículo da minha parte, e mais ainda, gostava
de saber do seu dia a dia. Estava tão acostumada a
ficar por perto e ciente de quase todos os seus
passos que não saber algo tão importante sobre a
carreira dele me abalou um pouco.
Não vi ninguém que conhecesse quando
entrei. As pessoas estavam muito bem vestidas,
sorridentes e bebiam champanhe ou whisky. Os
garçons serviam canapés, enroladinhos e creme
roquefort. Me lembrou um pouco os eventos
editoriais da GM, mas muito mais ostentoso.
A seleção de músicas era conhecida, nada
de clássicas melodiosas. Tocavam as trilhas
famosas das novelas e comerciais, e artistas
conhecidos, o que me agradou, mesmo que não
pudesse sair dançando pelo meio do salão.
Suspeitava que aquela noite seria um tédio, e
suspeitei que Jaqueline mandou o motorista me
buscar bem em cima das oito horas para que eu
nem tivesse tempo de me localizar, afinal, ela não
queria que eu tivesse qualquer diversão e já havia
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deixado isso bem claro.


O mestre de cerimonias pediu a todos que
tomassem seus assentos no teatro, pois a
apresentação da companhia começaria em breve.
Olhando ao redor pelo caminho, continuei
procurando um rosto familiar até que as luzes
apagaram. Mas vencida, percebi que teria que
esperar uma hora e meia até tentar encontrar
alguém.
— Senhoras e senhores, recebam a Connely
Dance Academy of Paris.

Quando acabou a apresentação, eu estava


verdadeiramente tocada. Foi lindo, emocionante e
tão real. As músicas, a delicadeza dos movimentos
dos dançarinos... eles pareciam todos apaixonados.
Talvez aquilo foi o que fez com que fosse tão
bonito em geral.
Eu segui de volta para outro espaço, dessa
vez com mesas num grande salão aberto e um bar
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perto da porta. Fui para o bar e sentei num banco


no canto, olhando cada rosto que passava pela
porta. Pedi uma bebida, tomando de uma vez para
acalmar os ânimos e pedi outra para segurar.
Levaram alguns minutos, mas finalmente reconheci
Esmeralda e Julio, e logo atrás vinha Santiago, mas
em seu braço estava pendurada uma mulher que
nunca vi na vida. Eu sorri aliviada de que teria paz
aquela noite. Jorge veio em seguida, e meu coração
parou quando segui com os olhos onde eles iam e o
vi. Estive procurando tanto tempo e ele estava ali
dentro, quase derreti no banco.
O garçom me ofereceu outra e aceitei sem
hesitar.
O terno escuro cobria o corpo musculoso,
mas era como se eu o estivesse vendo nu,
lembrando de cada nuance de pele e a força que
tinha naquele pacote sexy de homem. A gravata
estava frouxa, como sempre, e isso me tirou um
sorriso. Juan odiava se sentir preso, mesmo que
pelo nó da gravata. Os cabelos loiros penteados
para trás e os olhos verdes brilhantes o faziam
parecer um anjo. Meu Governador estava perfeito.
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Ele conversava com um cara alguns centímetros


mais baixo que ele, de terno que gesticulava e fazia
Juan rir. Reparei que não era um sorriso forçado
como quando geralmente era parado e precisava dar
atenção a alguém, mas sim que realmente gostava
de falar com o homem.
Eu olhei ao redor disfarçadamente, levando
meu copo aos lábios e sorvendo todo o liquido
escuro de uma vez antes de descer do banco e
caminhar direto para ele. Os olhos de Juan me
encontraram por cima do ombro do outro e ele
engoliu com força, surpreso, sem reação de me ver
ali. Mais cedo estávamos fodendo em sua mesa, e
agora eu aparecia com um convite que sua própria
esposa me dera. Ele passou o polegar pelo lábio e
repetiu meu movimento de olhar ao redor, voltando
a falar com o homem, mas me olhava novamente
segundos depois. Seu olhar vagou por todo o meu
corpo e se tornaram brasas ao ver meu vestido. Eu
sabia que ele ia adorar.
Quando fiquei a dois passos de distância
ele percebeu que eu não desviaria e acenou para
mim.
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— Aya — cumprimentou e segurou meu


cotovelo, dando um aperto, então me girou para o
homem. — Enrico, deixe-me apresentar a minha
secretária, Aya Maria.
Eu parei de respirar. Meus olhos
arregalaram de pavor. O que diabos Enrico estava
fazendo ali? Ele ergueu uma sobrancelha, tão
surpreso quanto eu por vê-lo.
— Aya — disse ele sem revelar nada.
— É um prazer conhece-lo, Enrico. —
Estiquei minha mão para ele, orando para que
entrasse na minha e fingisse que nunca me viu na
vida. Ele tomou minha mão depois de alguns
segundos e sorriu, mas eu conhecia aquele sorriso.
Deixava claro que eu não ia escapar daquela.
— Sim, é muito bom te conhecer.
— Enrico é um dos melhores delegados
que conheço, e como nos esbarramos muito,
acabamos nos tornando bons amigos.
— Ah sim — falei com todo o esforço para
permanecer calma. — É uma boa história.
— Com certeza é — Enrico concordou
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enigmaticamente.
— Aya tem salvado minha vida nas últimas
semanas. Praticamente não vivo mais sem ela. —
Quase me derreti com suas palavras, então me
surpreendendo, ele deu um aperto na minha cintura,
subindo a mão pela minha coluna e a pontinha dos
dedos roçaram meu seio esquerdo.
Os olhos de Enrico acompanharam o
movimento e se estreitaram, desviando da mão para
meus olhos.
— É compreensível, Herrera.
— Aya também é da Capital, nunca se
cruzaram? — a pergunta de Juan fez Enrico sorrir
mais ainda, ao contrário de mim, que estava a ponto
de um infarto.
— Não — respondi, atravessando qualquer
possível resposta do meu ex-namorado. — Nunca
nos vimos, falamos ou nos cruzamos por aí.
— Enrico teve a sorte, enfim. — Juan
aproximou os lábios do meu ouvido
disfarçadamente. — Você está um absurdo essa
noite, Aya.

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Sufocando um sorriso, me afastei um passo


de Juan e o fitei.
— Eu vou deixá-los conversando, preciso
procurar Esmeralda.
Juan segurou meu cotovelo.
— Espere, pode fazer companhia para
Enrico por um minuto? Vou falar com Jorge, eu
volto já.
— É claro — concordei com um sorriso
forçado, inquieta, nervosa e desejando não ter que
ficar sozinha com Enrico.
Juan baixou a cabeça e olhou no fundo dos
meus olhos, ele estava tão bonito que minhas
pernas quase fraquejaram.
— Comporte-se, loirinha. — Ele não
abaixou a voz, e eu vi Enrico se mexendo nos
próprios pés ao ouvir o apelido íntimo e carinhoso.
Esperei Juan virar as costas e me virei para
seguir em outra direção, mas senti uma mão
segurando meu braço.
— Enrico, não — olhei profundamente em
seus olhos — Não faça nenhuma besteira.
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— Acho que a única aqui fazendo isso é


você. E sei que se ainda não fez, vai fazer.
— Você não tem uma delegacia para cuidar
ou uma noiva para encher o saco? Porque
caramba... mesmo depois de anos, sua prioridade
ainda continua sendo a minha vida.
— Eu te conheço, Aya. Conheço o
suficiente para saber que está planejando algo
grande.
Dei risada, balançando a cabeça e soltando
meu braço com um puxão.
— Você fala como se eu fosse uma
vigarista preparando o próximo golpe.
— Na verdade te acho pior que isso.
Vigaristas fazem por dinheiro, você faz porque
gosta de deixar pelo menos uma sequela por onde
passa.
— Vá se foder, Enrico.
— Não vou deixar que prejudique meu
amigo.
Sorrindo, deixei meu ex saber com o que
estava lidando.
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— Ah Enrico... o homem da justiça. Quer


saber? — Segurei as lapelas do terno dele e as
ajustei — Vou deixar você tentar dizer qualquer
coisa sobre mim para Juan. Depois me conta o que
sobreviveu, seu rosto ou sua amizade com ele.
— O que você fez? — Ele arregalou
levemente os olhos.
Dei de ombros e me preparei para sair.
— O que eu faço de melhor. Deixei uma
sequela.
Quando virei as costas e o deixei, ele não
tentou me segurar. Comecei a rezar para que ele
não testasse o que eu disse e fosse falar com Juan.
Enrico pensava o pior de mim, isso era um fato,
então fazê-lo acreditar que eu fiz algum tipo de
lavagem cerebral em alguém não precisava de
muito esforço. Eu só esperava que ele não testasse
a teoria.
Depois de procurar por cinco minutos,
finalmente encontrei Esmeralda sentada em uma
mesa sozinha. Me aproximei dela com alívio
estampado no rosto, a tirando um sorriso hesitante.
Eu me sentei na cadeira a sua frente e encarei
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minhas mãos sob o colo por alguns segundos, então


a fitei.
— Esme, olha só...
— Não — me cortou — Está tudo bem.
— As coisas que eu disse no banheiro da
boate... sinto muito.
— Você foi sincera, eu prefiro que seja
verdadeira. Inclusive, principalmente quando eu
estiver sóbria.
— Ok — sussurrei.
Estava tão aliviada que ela não criou todo
um caso em cima a situação. Correr atrás e forçar
as pessoas quando elas estavam mais preocupadas
com coisas pequenas do que seguir em frente não
era o meu estilo.
— Eu estava te procurando desesperada —
disse ela e me apontou a cadeira à sua frente.
— Eu te procurei desde que cheguei antes
da apresentação.
Corando, ela desviou o olhar.
— Desculpe, acho que me perdi por aí.
Aqui é grande demais.
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— Ah, sim... — comentei, irônica. —


Tenho certeza que se perdeu com alguma coisa
grande.
Ela riu, arregalando os olhos.
— Aya, seja discreta!
— Ninguém está prestando atenção —
desconversei e me aproximei um pouco mais dela
— Olha só, sobre ontem na boate... me desculpe.
Eu estava irritada com Juan, depois fiquei mais
ainda por Álvaro não se importar com a sua
situação, aí juntou todo o estresse desse segredo e
eu só... explodi e disse coisas desagradáveis. Não
tenho o melhor temperamento do mundo.
— Eu posso imaginar — dando um aperto
na minha mão, ela parou um garçom que passava e
pegou duas taças de champanhe, me entregando
uma — Mas... eu te contei sobre Álvaro, agora me
conte sobre Juan. Ou será que tenho que te deixar
bêbada para ouvir isso?
— Não ia funcionar — balancei a cabeça,
sorrindo — Eu sou uma bêbada que sabe guardar
segredos.

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— Graças a Deus — revirando os olhos, ela


riu — Pelo menos uma de nós tem que ter o
controle da situação. Comece a falar antes que os
outros voltem.
— Outros?
— Santiago, Julio e Jorge. Somos os únicos
do comitê que receberam convite.
Eu bebi para segurar as palavras amargas
que queriam sair da minha boca, afinal, não ser
convidada por Juan ainda me irritava.
— Passamos uma noite juntos, depois
aconteceu aquilo no escritório. Uma coisa levou a
outra, não há muito o que dizer.
— Eu desliguei a câmera quando ele te
colocou em cima da mesa. Confesso que fiquei
curiosa, e não me culpe. Eu só posso imaginar o
que é aquele homem transando, mas você tem isso
e eu estou com uma pequena invejinha.
Dei risada.
— Ele é incrível — fiquei grata por ela ter
aceitado tão fácil uma explicação simples.
— Mas, e Jaqueline? Sabe que ela é um
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falcão em cima dele.


— O que sabe sobre ela? — pesquei. Mas a
verdade é que minhas preocupações com Jaqueline
não existiam mais.
Ela era só a mulher que atrapalhava meus
planos com Juan. Temporariamente, é claro.
— Apenas aquilo que te disse quando nos
conhecemos.
— Juan me disse que ela ficou abalada a
três anos atrás, depois de uma perda. Fiquei
imaginando se foi uma criança.
Esme franziu a testa, mas balançou
veemente a cabeça.
— Não, imagina! Ele provavelmente estava
se referindo a Juliana.
— Juliana?
— Sim, a irmã gêmea da senhora Herrera.
Meus olhos arregalaram tanto que eu senti
que podiam estourar. Irmã gêmea?! O que diabos
havia acontecido? Se uma já era péssima, eu não
queria nem imaginar duas juntas.
— Juliana era insuportável, caramba —
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Esme continuou — Isso é algo que depois que ela


foi internada, Jaqueline adquiriu. Mudou
completamente.
— Uma irmã gêmea... — sussurrei comigo
mesma. Então fiquei de pé, ouvindo Esme me
chamar, mas não podia continuar sentada ali. Tinha
que encontrar Juan.
De repente me senti com falta de ar, como
se todo um quebra cabeça estivesse diante de mim,
mas eu não conseguia montar. Não tinha todas as
peças.
Comecei a andar pelo salão até encontra-lo,
procurei em cada rosto, pegando uma taça e outra.
Ignorando os convites para dançar e os sorrisos
intencionais. Fingindo que não via as esposas me
fitando com amargura porque não podiam controlar
seus maridos de olharem para mim.
Elas deveriam saber que eu não me
importava com eles, que não estava interessada em
me meter em suas uniões. A única pessoa que eu
queria era ele. E quando finalmente o encontrei, ele
conversava com um homem seriamente, como se
estivesse concentrado no assunto. Bem, ele
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provavelmente estava mesmo, já que se tratava de


um evento de negócios.
O homem que falava com ele me viu
primeiro, e sorriu quando viu que eu ia diretamente
em sua direção. Tirei os olhos dele e fitei Juan, que
me observava com atenção. Eu conhecia aquela
expressão. Ele estava tentando entender, até
adivinhar o que eu estava fazendo.
Bem... eu havia dito que ele não me viu
louca, mas estava prestes a ver.
— Porque não me falou sobre esse evento?
— perguntei a um passo dele, ignorando totalmente
o outro cara.
Ele inclinou a cabeça ligeiramente para o
lado, e sorriu, disfarçando para qualquer pessoa que
pudesse estar prestando atenção em nós. Com os
olhos frios como gelo, ele disse:
— Pode nos dar licença, Reinaldo?
— Claro, Herrera — ele foi embora e Juan
enfiou uma mão no bolso, me olhando atentamente.
— Você ficou maluca? — ele perguntou
com o rosto tranquilo, quem o fitasse, nem
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perceberia que havia uma briga prestes a acontecer.


— Eu acho que sim — eu me sentia
sufocada. Algo estranho cutucava meu peito, tinha
vontade de gritar. De socar seu peito e beija-lo
depois. — Porque não me disse?
— Não pensei que fosse algo relevante.
— Só é relevante quando se trata de um
quarto e um lugar onde eu possa deitar pra você me
foder?
O sorriso foi embora de seu rosto por um
momento e ele balançou a cabeça. Era tão fácil tirá-
lo do sério que eu poderia fazer isso sem nenhum
esforço, assim como ele fazia comigo.
— Não comece com a sua merda agora —
disse, com a voz bruta, baixa e ameaçadora.
— Minha merda?!
— Aya...
— Olha se não é o Governador de Veracruz
— uma voz forte e acentuada disse atrás dele, e
Juan se virou, o rosto iluminando com um sorriso
quando reconheceu o homem.
— James! — Juan sorriu e o cumprimentou
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com um abraço bem amigável — Quanto tempo


não nos vemos?
— Desde que você virou um desses
engravatados safados da câmara — o tom de voz
dele era monótono, mas os dois deram risada.
Pareciam velhos amigos.
Juan segurou meu cotovelo e apontou seu
copo para ele.
— Aya, esse é Cobain James, um amigo e
sócio de longa data.
Apertei a mão que ele ofereceu e sorri.
— É bom conhece-lo, senhor James.
— Apenas James. — Ele assentiu, polido
— E essa... — ele olhou para trás, como se
procurasse alguém e franziu a testa quando não
encontrou. — Ela estava bem aqui.
— Vejo que as mulheres continuam de uma
forma ou de outra fugindo de você — provocou
Juan, e James já ia responder, mas uma mulher
apareceu ao seu lado, sorrindo enquanto olhava ao
redor.
— Eu te perdi — disse ela, beijando a
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bochecha dele. Os longos cabelos escuros quase


alcançavam a cintura dela, e usava um vestido azul
claro cheio de brilhos. Ela era bonita, delicada e
sorriu sinceramente para mim. — Governador
Herrera, é um prazer conhece-lo.
— Sem formalidades — Juan segurou a
mão dela e levou aos lábios, dando um beijo casto.
— Pode me chamar de Juan. Você deve ser
Danielle.
Ela sorriu, concordando, e James rosnou,
tirando a mão dela de Juan e fez um gesto como se
limpasse o beijo de Juan, nos fazendo rir.
— Por onde você se perdeu? — ele
perguntou a ela carinhosamente, mas parecendo
preocupado.
— Tentei encontrar o banheiro, mas não
dei sorte e voltei.
— Aya — Juan me chamou e eu até
adivinhei o que viria a seguir — Poderia
acompanhar Danielle até lá?
— Claro — eu sorri forçado e olhei para
ela — Eu já a trago de volta.

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Dando um último olhar para Juan, vi como


ele observou-me de cima a baixo pela borda do
copo que segurava, e mal continha aquele sorriso
safado. O mal humor da nossa discussão de
segundos atrás havia sido esquecido, ou ele só
guardou para mais tarde. James parecia discreto,
mas franziu a testa para mim por um segundo antes
de fingir que nada aconteceu.
Comecei a andar, mas reparei que a mulher
havia ficado um pouco para trás, parei e olhei para
ela, que me fitou com um sorriso de desculpas.
Notei então que mancava levemente.
— Sinto muito, eu vou atrasar um pouco a
caminhada até lá.
— Não se preocupe — eu disse simpática,
mas a verdade é que queria leva-la logo e dar um
jeito de atrair Juan para um lugar vazio. Queria
continuar nossa conversa, e depois, fazer outras
coisas.
Sentia falta dele. Do toque e dos beijos, era
como uma droga que se ficasse muito tempo sem,
começaria a ficar inquieta até ter outra dose.
Danielle tentou puxar assunto na nossa lenta
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caminhada, mas eu fui educada e curta, sem dar


abertura para mais papo. Quanto mais enrolássemos
para ir, mais demoraríamos para voltar.
Depois de ter usado o banheiro, ela lavou
as mãos e passou uma água no pescoço, respirando
fundo e olhando-se no espelho.
— Você está bem? — perguntei.
— Eu percebi que você quase não
conseguiu sorrir para dizer ao Governador que
estava tudo bem vir comigo. Pode ir embora se
quiser — ela disse secamente, me surpreendendo.
Parecia tão educadinha perto de Juan e do
tal James, mas é claro que ia se revelar quando
estivesse longe dos dois. De repente um
pensamento me veio à cabeça e estreitei os olhos, a
observando.
— Eu fui educada em te acompanhar, só fiz
o que meu chefe pediu. Você, no entanto, não
parece tão feliz quanto se mostrava na frente dele.
— O que está insinuando?
— Que eu conheço o seu jogo, sou
especialista nele — me aproximando dela, me
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segurei para não apontar um dedo em seu rosto para


frisar as palavras. — A menina doce perto, mas fica
desse jeito quando não precisa mais fingir.
— Então você admite? — disse, tão irritada
quanto eu, não recuando nem um passo. — Quando
eu cheguei você já estava de olho no Cobain!
Eu precisei de cinco segundos para
raciocinar o que ela disse.
— O que?
— É por isso que só faltou revirar os olhos
para mim, não é, Aya?
— Cobain? Sério? — Era por isso que ela
estava sendo antipática de repente? Pensou que eu
tinha qualquer interesse no homem rústico que
deixamos no salão? Tive vontade de rir. — É uma
piada?
— Não! Eu entendi os sinais! Porque mais
então você... — ela parou e arregalou os olhos, foi
até a porta, trancando. Se virou para mim
boquiaberta — Oh meu Deus... Você está com o
Herrera!
Correndo até ela, tapei sua boca.
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— Porque você não grita mais alto?


— Caramba... Eu ouvi dizer que a esposa
dele é ruim, mas não esperava uma amante.
— Ah pronto, uma puritana — resmunguei
ao olhar para o teto — Era só o que me faltava.
— Não sou uma puritana — ela riu e
balançou a cabeça — Eu estava achando que você
estava de olhos no meu ogro, mas vejo que não,
então está tudo bem.
— Porque eu estaria de olho nele?
— Porque ele é um gato, e geralmente as
mulheres que me tratam como você tratou, é porque
tem intenções com ele.
— Eu te tratei normalmente, mas confesso
que fui um pouco hesitante em acompanha-la, já
que tenho algo importante para tratar com Juan.
— Tudo bem — ela deu de ombros e abriu
a porta — Não acredito que sei o segredo de um
Governador do México.
— Danielle, isso não é algo que pode ficar
dizendo!
— Desculpe. — Ela fez uma cara de
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cachorro sem dono. — Mas vou dividir isso com o


Cobain. A gente não tem segredos.
Desistindo de discutir com ela, saí do
banheiro. Parando no meio do caminho, ela virou
para mim e estreitou os olhos.
— Se não estivesse com Juan, olharia para
Cobain?
Ela perguntou isso no meio de outras
pessoas, me deixando boquiaberta.
— Seja discreta, porra — sussurrei. — Fale
baixo. E é claro que não olharia! Eu prefiro ser a
única com cabelo hidratado na relação.
Danielle riu e enganchou o braço no meu,
nos levando de volta para os dois.
— Ótimo! Eu vou te passar meu número
para que você me deixe atualizada da situação com
o Governador.
Olhei para aquela mulher como se duas
cabeças tivessem crescido no lugar de uma. Ela era
louca, mas de alguma forma, a situação parecia tão
insana que eu quis rir. E quando voltamos para
onde tínhamos deixado os dois, James era o único
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lá.
—Onde está o Governador? — perguntei.
Ele apontou para o palco.
— Fez um discurso rápido e depois eu não
o vi mais.
Danielle sorriu e me deu um joinha,
inevitavelmente eu sorri de volta, admitindo que
gostei da garota. Então acenando para os dois,
voltei para a mesa e sentei ao lado de Esme,
ignorando o sorriso de Santiago. Olhei ao redor,
mas estava cansada de procurar por ele. Levantei e
saí, sem me despedir de ninguém. Disse que já
voltava. Enquanto seguia para a saída mais discreta
e vazia, reconheci David, que fez menção de se
aproximar, mas desviei o olhar e continuei
andando. Depois passei por Enrico, que me deu um
olhar mortal.
Estava apenas me segurando quando
finalmente sai e comecei a descer as escadas. Seria
um inferno para conseguir um táxi. No meio dos
degraus, vi um homem de terno preto caminhar
para perto de mim. Instintivamente comecei a
voltar alguns passos.
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— Aya Maria — ele chamou e eu parei,


virando-me para ele. — O Governador espera
encontrá-la no carro em dois minutos.
Sem fazer perguntas, o segui cegamente,
deixando todo o senso de proteção ir aos ares. Num
canto escuro da rua estava um grande carro. Assim
que entrei, sua voz irada veio.
— Que porra você estava pensando lá
dentro?
Eu não queria discutir. Sem perder tempo,
montei no colo dele e ataquei sua boca. Mordendo
os lábios carnudos, desci meus lábios pelo pescoço,
lambendo e chupando enquanto abria os botões da
sua camisa.
— Não vamos brigar, me desculpe por
aquilo. Eu só estava pensando em você.
Ele me segurou, afastando-me o suficiente
para me olhar.
— Pensando em mim? Você fez uma cena
que por pouco não saiu do controle. Isso não pode
acontecer.
— Não vai — me soltei de sua mão e
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segurei seu rosto — Não vai acontecer nunca mais.


— Você é impulsiva, Aya. Não pode me
prometer isso e cumprir.
— É, não posso. Você vai me comer ou
não?
— Eu deveria?
— Bem, se você não for, eu vou força-lo.
Isso tirou dele um sorriso, mas um suspiro
veio junto. Ele me olhava como se não soubesse o
que fazer comigo. Ele estava pensando demais. Eu
mesma tirei meu vestido do caminho e afastei
minha calcinha para o lado, soltando um gemido
quando a ponta dos meus dedos tocou meu clitóris
inchado. Estive excitada a noite toda, ansiando tê-lo
para mim. Os olhos de Juan escureceram ao ver
meus dedos molhados.
— Aya — ele chamou, estava tão
controlado, tão dentro de si. Tão certinho.
Eu abri sua calça e abaixei o suficiente
junto com a cueca, liberando o pênis duro e
pulsante. Tive vontade de ajoelhar aos seus pés e
lamber aquele mastro cheio de veias. Mas ele
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continuou parado, me observando com o cenho


franzido.
Quando o segurei e o posicionei na minha
entrada, Juan me parou.
— Me diga o que está acontecendo —
exigiu.
Eu senti lágrimas piscando meus olhos e
fiquei horrorizada pela vontade sincera de chorar.
— Eu espero que seu motorista saiba se
fazer de surdo, cego e mudo — Dito isso, dei um
tapa na mão que me impedia de ter meu prazer e
me abaixei sobre ele. Quase gritando com as ondas
da deliciosa dor e o alívio de ser tomada por ele.
Juan fechou os olhos, cerrou o maxilar e
deixou a cabeça cair para trás.
— Acho melhor que saiba se não quiser
perder a cabeça.
Agarrei seus ombros e comecei a me
mover, meu quadril saltando para cima e para baixo
sobre ele. Suas mãos guiando meus movimentos,
mesmo que seus olhos não me transmitissem calor,
mas uma frieza que nunca existiu quando fazíamos
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sexo.
— Juan... — arrastei as mãos dos ombros
pelo pescoço, até segurar seu rosto. Encostei minha
testa na dele e fitei seus olhos, tentando suavizá-lo.
— Sinto muito.
— Porque? Sente pelo o que?
— Por tudo. — O beijei e ele finalmente se
deixou levar.
Ele não fazia ideia do que o “tudo” a que eu
me referi queria dizer. Eu sentia muito por sentir
demais, por mentir e por enganá-lo. Mas não tinha
volta.
Isso éramos nós dois.
Fodendo e nos divertindo enquanto
brigávamos. Ignorando todo o resto ao redor.
Duas bombas ativas.
E quem é que sabia onde íamos parar ou
quando íamos explodir?

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Capítulo 25
“Tua pele envenenou meu coração
Me deixando em completa escuridão
E assim no lugar de te esquecer
Eu estava querendo muito mais
Me diz como eu faço
Para esquecer dos teus beijos
Sem te arrancar para sempre de mim”
Camila, de mi

Durante a madrugada nós conversamos,


transamos, rimos e bebemos. Não necessariamente
nessa ordem. Eu fiz uma daquelas danças no colo
dele e ele devolveu uma para mim no estilo Magic
Mike que deixou Channing Tatum no chinelo.
Foram várias garrafas de champanhe e uma delas,
foi metade no meu corpo e a outra na dele. Nós
éramos criativos.
Eu desliguei meu telefone depois de
ignorar todas as ligações de Jaqueline e ele
manteve o dele ligado, mas silenciou e respondeu
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cada mensagem que chegou. Eu preferi não


perguntar de quem era, afinal, sabia que acabaria
com a nossa noite. Precisei implorar para que ele
não rasgasse o vestido fora do meu corpo, mas ele
só concordou se eu mantivesse meu sapato e me
curvasse sobre o sofá. Antes de me pegar duro, ele
perguntou se tudo bem estragar meu penteado, eu
disse que não. Mas ele estragou de qualquer jeito.
A vida pessoal, profissional e outras
pessoas ficaram do lado de fora, concordamos
silenciosamente em esquecer o mundo. Mas o fato
era que... ele começava a fazer parte do meu
completamente.
Eu o satisfiz de todas as formas, o
surpreendi e o deixei sem ar. Me senti uma amante.
Uma mulher desesperada para provar que era boa o
bastante para estar com ele, louca para que ficasse
ali por mais algumas horas. Joguei sujo quando ele
disse que precisava ir, abusei do meu corpo e de
qualquer truque de sedução que conhecia e o fiz
ficar. O fiz pedir mais. O fiz me abraçar tão
apertado que me faltou o ar e me senti vitoriosa
quando ele caiu no sono ainda me segurando.
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Mas não senti culpa, arrependimento ou


tristeza.
Talvez essa fosse a pior coisa sobre mim:
saber que estava errada, mas não me importar.
Porque naquela situação, não deveria
interessar que Jaqueline fosse uma cadela fria, eu
devia ter um senso de moral e caráter e me sentir
mal que havia um elo entre eles. Mas eu não ligava.
Na verdade, naquela noite, eu pensei como alguém
que ama o homem de outra mulher.
Eu o queria para mim. Mesmo sabendo que
podia haver uma chance de isso acabar com ela.

— Você ainda não me disse porque mudou


do hotel — ele falou na manhã seguinte, enquanto
eu tomava café na cama e ele se preparava para ir.
— Achei que era arriscado demais. E além
disso, as pessoas já estavam começando a estranhar
a minha longa estadia.

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— Eu quero que volte, sinto falta de te ver


todos os dias por lá.
Eu sorri e mordi um morango.
— Você precisa dar um jeito nas câmeras
da sua sala. Não sei como esqueci que estavam lá.
Ele parou de abotoar a camisa e me fitou,
nervoso.
— Esmeralda — disse ele, alarmado —
Puta merda, a Esmeralda provavelmente viu.
— Relaxa, ela não vai dizer nada.
— É claro que não vai. Mas eu vou reforçar
os riscos para ela de qualquer forma.
Ajoelhei na cama e fui até ele, puxando-o
para mim.
— Juan, não a assuste. Ela é minha amiga.
— Você é muito jovem, Aya. Ainda tem
muito o que aprender nessa vida. — Ele riu, quase
como se dissesse “criancinha inocente”.
— Você fala como se eu fosse uma criança
burra — franzi a testa, não gostando daquilo.
— Longe disso. É uma mulher inteligente

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até demais, mas... o mundo dos negócios é sujo, o


da política é mais ainda. As vezes quem você pensa
que conhece, pode ser aquele que puxa seu tapete
ou pior, enfia uma faca nas suas costas.
— Esme não é assim. Vai por mim, ela tem
tanto o rabo preso comigo quanto eu tenho com ela.
Juan me olhou por alguns segundos, então
assentiu.
— Você sabe sobre ela e meu irmão — foi
uma afirmação.
— Como você sabe?
— São poucas as coisas que meu irmão não
me conta.
— O Governador e a amante. Isso nunca
pareceu tão comum.
— Nós dois? — Ele riu. — É diferente.
— Porque? Na verdade, parece muito igual.
Ele terminou a gravata e virou para mim,
enlaçando minha cintura e beijando meu queixo.
— Esmeralda o ama e se for ser sincero,
acho que meu irmão é apaixonado por ela. Isso
complica as coisas. Os dois deveriam ter entrado
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nisso sabendo que era sexo. A posição dele, nossa


família e principalmente a Alyna sempre foram
presentes, é óbvio que um caso nunca ia para a
frente.
Engolindo em seco, disfarcei a mágoa
indesejada de suas palavras e passei as mãos pelo
rosto dele.
— Acho que está no sangue da sua família
ser um mau caráter — pude sentir minha voz tensa,
mas ele não pareceu perceber.
— Sorte a sua então. — Ele me beijou de
novo e me soltou, pegando sua mala na cadeira e
indo até a porta, mas parou e virou para mim.
Eu estava ajoelhada na cama, cutucando o
esmalte da unha. Ele voltou e segurou meu
pescoço, colando nossos lábios outra vez.
— Eu volto para você mais tarde.
Eu assenti sorrindo e o assisti sair. Meu
rosto caiu numa indignação, tristeza e fúria sem
medidas quando a porta fechou.
“Os dois deveriam ter entrado nisso
sabendo que era sexo.”
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“...é óbvio que um caso nunca ia para a


frente.”
Grandíssimo filho da puta.
Com as mãos tremulas e o coração abalado,
usei o telefone para pedir passagens rápidas para a
Capital. Me vesti e chamei um táxi. Quando
cheguei no apartamento, arrumei minha mala sem
planos de voltar.
Precisava de uma folga. Pelo menos por
alguns dias decidi me dar um tempo.

Quando eu liguei para mamãe para avisar


que estava no táxi a caminho de lá, foi para a caixa
postal. Avisei que estava a caminho e que se ela
não estivesse em casa, ia esperar na tia Celma.
Senti falta de falar com minha mãe. A imaginei
gritando e pulando pela casa quando me visse. Ia
fazer meu almoço favorito e uma sobremesa
caprichada. Eu adorava a comida da minha mãe,
mas a verdade é que fiquei tantos dias presa
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naquele hotel e depois no apartamento, que enjoei


de ficar em casa. Queria andar um pouco, passear
pelos lugares que gostava da Capital, levar mamãe
para almoçar fora e fazer compras.

Não faça almoço, mamãe, vamos comer fora de


casa.

Levaram mais alguns minutos para


chegarmos na minha casa de infância. Paguei o
taxista e abri o portão, arrastando a mala atrás de
mim e ignorando os vizinhos. Não tive coragem de
ir até o apartamento depois voltar, e também
pretendia ficar com mamãe o final de semana.
Me deu um desanimo ao pensar em voltar
para o meu apartamento de sempre e ir procurar
emprego, que por um minuto pensei sobre o
dinheiro de Jaqueline. Se não fosse a inconveniente
atração descontrolada que sentia por Juan, não teria
que me preocupar com minha recém descoberta
crise de consciência. E se não tivesse sido tão
estúpida, podia ter saído dessa ilesa e com a conta
bancária cheia, mas ao invés disso tive sexo
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incrível e o estúpido me dizendo que eu era apenas


sexo que não ia pra frente.
Acenei para Nazaré, que ao me ver
começou a balançar o pano de prato de sua janela.
A porta de casa estava aberta, eu entrei e deixei a
mala no canto da cozinha.
— Mamãe? — chamei e dei mais alguns
passos para dentro. Ela apareceu vindo da sala, as
mãos torcendo uma na outra e um olhar abatido no
rosto. Fiquei imediatamente preocupada. — Mãe?
O que houve?
— Aya... — comecei a caminhar até ela
quando disse meu nome fraco daquele jeito, mas
parei alguns passos de distância quando uma
sombra apareceu atrás dela.
Meus olhos arregalaram e eu o fitei,
confusa. Quase sem palavras.
— Juan?
Ele saiu de trás da minha mãe e veio direto
para mim. Era tão estranho vê-lo dentro da casa
pequena, naquele tamanho alto e largo, com a
camisa e calça social, a gravata como sempre

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frouxa e os cabelos bagunçados.


Ele passou um braço ao meu redor e
segurou meu queixo, deixando nossos olhares
presos um no outro.
— Porque voltou para cá?
— E-eu queria ver a minha mãe.
— Você fugiu de mim.
— Não, não foi assim.
— Foi assim, sim. — Acariciando meu
rosto, ele beijou meus lábios levemente — Não
gosto que fuja de mim, não faça isso outra vez.
Um arrepio percorreu meu corpo e uma
emoção nova bateu em mim ao perceber que ele
tinha ido até ali para me ver, porque eu tinha ido
embora.
— Aya Maria. — A voz da minha mãe
cortou o momento e eu escapei do abraço de Juan.
Diferente do sussurro fraco que ela disse segundos
antes, dessa vez quando me chamou, era forte e
determinado.
O cabelo um pouco mais escuro que o meu
estava preso no topo da cabeça em um rabo de
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cavalo, e ela tinha um corpo bonito. Usava jeans e


camisa simples, provavelmente estava fazendo os
serviços de casa quando Juan inacreditavelmente
bateu na porta. Seu rosto ainda jovem, mas maduro,
estava cheio de confusão, e depois de me ver nos
braços dele, os olhos dela seguiram a aliança grossa
no dedo. Decepção a tomou.
— Mamãe...
— Governador Herrera — disse ela — Eu
quero falar com a minha filha, se puder nos dar
licença.
— Claro, estão em casa. Eu sou o invasor
aqui.
— Sim, você é — ela disse e eu a fitei
constrangida por sua grosseria.
Juan não disse nada, só se desculpou e me
olhou outra vez. Sem se importar com a repreensão
de mamãe, segurou meu rosto.
— Esteja pronta as oito. Acha que
consegue fugir para se encontrar comigo?
Eu sorri.
— O que eu ganharia com isso?
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— Ter atravessado o estado para chegar até


você não conta?
— Isso foi o básico, é claro que eu espero
mais.
— Aya... eu sempre esqueço de como você
é gulosa. — Ele beijou o canto da minha boca
rapidamente e virou para a minha mãe. — Senhora
Castillo, foi um prazer conhece-la. Até mais.
Eu o observei sair com um sorriso bobo no
rosto.
— Eu não posso acreditar que você trouxe
um homem casado para dentro da minha casa —
ela disse e eu fechei brevemente os olhos, me
preparando para uma longa conversa.
Virei para ela com olhos brilhantes e me
aproximei.
— Mamãe... não é assim como parece.
— Não é como parece? Aya Maria! O que
está passando na sua cabeça?
— Amor — dei de ombros e ela bufou. —
Ele está divorciado! Só que é um momento
movimentado na política, então não pode anunciar
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a separação agora. Eu não vou abandoná-lo,


mamãe!
Ela balançou a cabeça em negação.
— Você o olha da mesma forma que olhou
para Enrico naquele dia.
Me aproximei dela e segurei suas mãos, a
puxando junto a mim para o sofá. O segredo para
soltar lágrimas era simples, arregalar os olhos até
senti-los arder, isso os seca e produz água. Ou
simplesmente fazer uma cara de choro enquanto
pisca rapidamente os olhos.
— Enrico foi alguém importante, mamãe.
A senhora sabe como eu o amei, mas não era para
ser. Confesso que ainda é difícil vê-lo com a noiva,
mas... tenho lidado com isso. E agora Juan
apareceu...
— Com uma aliança no dedo — disse, me
interrompendo.
Percebi então que seria mais difícil do que
pensei. Ela segurou meu rosto e passou o polegar,
pegando uma lágrima.
— Você pelo menos compreende que essa
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sua forma de tentar me manipular é errada, Aya?


— Eu não estou...
— Está sim. Eu criei você. Eu te vi fazendo
coisas erradas na adolescência e passando por cima
de quem tentasse te parar. Mas quando esse homem
entrou na minha casa, eu soube que você perdeu a
noção do mundo real. Esqueceu que limites
existem.
Soltei sua mão e me levantei, o choro já
não era mais necessário. Eu a fitei com seriedade,
todo o meu corpo tenso.
— Eu não estou fazendo nada de errado.
— Ele parece apaixonado. Os olhos dele
brilham quando diz seu nome.
Eu franzi a testa, um pouco duvidosa, mas
não surpresa. Juan estava fascinado por mim, não
apaixonado, mas mamãe não sabia a diferença.
— Isso é porque nós estamos apaixonados.
— Não, Aya! Você não sabe o que é
paixão. Isso é luxúria! Esse é o trabalho que você
disse que arrumou em Veracruz? E eu boba aqui
dizendo a Deus e o mundo como estava orgulhosa
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da minha filha.
— Mas você deve ficar orgulhosa, eu
nunca te dei motivos para pensar o contrário de
mim.
— Você está se vendendo! — Ela se
aproximou e segurou meu braço, olhando o
bracelete pendurado — Foi ele quem te deu isso? E
esses brincos? O colar? Ele te dá tudo isso porque
sabe que simples assim te conquista. Eu podia
pensar qualquer coisa de você antes, mas isso...
você me magoou demais, Aya.
— Eu estou fazendo a minha vida
acontecer! — rosnei, puxando o braço de seu aperto
— Acha que quero terminar numa casinha em
alguma vila, mãe solteira e sem sonhos?
— Os seus sonhos não valem nada se eles
destroem o de outra pessoa. Como a esposa dele.
— Você não sabe como ela é, mamãe. É
uma mulher calculista, fria e manipuladora. Juan
não a ama!
— Então ela não me parece diferente de
você.

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Eu abri a boca, chocada.


— Como pode dizer algo assim para sua
própria filha?
— É fácil quando eu não a reconheço. Será
que ele sabe de Enrico? Sabe que seu amor por ele
é igual ao que dizia sentir por Enrico e depois por
Izac?
Eu endureci na menção daquele nome,
aproximei meu rosto do dela e falei tão sério quanto
podia.
— Não se atreva a me ameaçar sobre isso.
— Ele te daria joias e viria atrás de você se
soubesse?
— Não estrague isso para mim, mamãe —
ameacei — Se disser qualquer coisa a Juan, vou
esquecer que é minha mãe.
Uma lágrima desceu pelo rosto dela.
— Esse homem vai brincar e atropelar
você.
— Se isso fosse acontecer, seria o
contrário. Eu passaria por cima dele.
Ela balançou a cabeça e passou as mãos
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pelo cabelo, incrédula.


— O prazer por tudo o que é proibido...
isso não foi algo que eu mostrei a você. Isso é o que
vai te derrubar, Aya. Essa é a sua sentença.
— Meu pai ficou noivo. Ele disse que ia
terminar o compromisso e ficar com você. Você
aceitou, mãe. Não é diferente de mim.
— Esse olhar desenfreado que há no seu
rosto nunca esteve no meu. O que eu estava
disposta a fazer por amor, você faz por obsessão.
— E os motivos importam? No final nós
duas nos deitamos com homens comprometidos.
Ela me encarou por vários minutos, a
decepção ali me seguiria para sempre, mas essa era
a verdade. Ela me julgava por algo que também
tinha feito. E tão triste quanto era... suas lágrimas
não me fizeram sentir nada.
— Saia da minha casa. — Ela disse e
entrou pelo o corredor, a porta de um quarto bateu
com força segundos depois.
— Primeiro eu, mamãe. Depois o mundo
— sussurrei e enxuguei as lágrimas frias. Respirei
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profundamente antes de levantar a alça da minha


mala e ir em direção a casa da minha tia de cabeça
erguida. Quando ela me viu entrando sorridente, me
abraçou e já começou a me mimar.
Sequer desconfiou dos acontecimentos de
poucos minutos antes, tampouco reparou que eu
chorava antes de entrar sorrindo ali.

Em algum momento durante o dia, tia


Selma desconfiou das minhas desculpas para não ir
a casa de mamãe e eu inventei uma rápida história
de que tínhamos tido uma pequena discussão, mas
que logo seria resolvida.
— Então deixe de graça e vamos lá resolver
agora, Aya!
— Não tia — segurei suas mãos — Mamãe
disse coisas que me magoaram, não quero ir agora.
Ela aceitou e me deixou sozinha por volta
das seis, quando eu disse que ia encontrar May para
tomar umas bebidas e colocar o papo em dia. Eu
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me sentia uma adolescente outra vez, mentindo


para fugir com um garoto e curtir a adrenalina de
dar uns beijinhos escondido. Mas dessa vez era
diferente, porque não haviam borboletas na minha
barriga, haviam chamas. Chamas de desejo e
ansiedade, eu estava louca para ver Juan e colocar
as mãos nele.
Foi uma tortura conseguir me arrumar de
tanta impaciência, tive que trocar de calcinha uma
vez, porque a que eu havia saído do banho estava
molhada quando terminei a maquiagem. Aquilo era
o que Juan fazia comigo. Mesmo a distância,
apenas pensar nele me excitava e me fazia suar.
Quando terminei de me aprontar, coloquei
o necessário em uma pequena bolsa que combinava
com meu vestido e saí quando vi o carro parar no
meio fio pela janela. Do outro lado da calçada
tinham dois homens vigiando e ao lado do meu
portão, um terceiro. Eu não esperava que Juan
descesse do carro e mostrasse o rosto a todos os
vizinhos na rua, ele já tinha se arriscado demais
tendo até mesmo entrado na minha casa mais cedo.
Mas uma pontinha de decepção me pegou quando
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entrei no carro e não o vi. Os três homens pegaram


um carro atrás e começaram a nos seguir.
O motorista que me levava informou
formalmente que ele me esperava no local, mas
conhecendo os homens que trabalhavam para Juan,
sabia que não adiantava fazer perguntas, então
fiquei calada e esperei chegar.
O restaurante era um dos melhores, é claro,
eu não esperava nada menos dele. O segurança
abriu a porta, mas não me seguiu para dentro. Os
quatro assumiram posições, prontos para proteger
seu chefe enquanto eu entrava. Passei por um hall
elegante, que conhecia pois já havia ido ali. E ao
passar pelas portas duplas que dava para o salão
principal, encontrei o belo homem que tirava meu
sono de pé, me esperando com as mãos nos bolsos
da calça e a cabeça inclinada para o lado. Assim
que me viu, os olhos dele desceram por todo o meu
corpo lentamente, como se acariciasse cada pedaço
de pele, depois começou a se aproximar.
Eu respirei longa e profundamente,
aproveitando sua caminhada para admirar a beleza
que possuía. O cabelo cor de areia estava penteado
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para trás, quase que com um topete charmoso na


frente. O terno pendurado na cadeira e a camisa
com a manga dobrada até abaixo dos cotovelos. Os
braços musculosos eram evidentes, e o primeiro
botão da camisa deixava à mostra os poucos pelos
claros que ele carregava ali.
Ele parecia um delicioso pirulito que eu
não via a hora de chupar.
— Você parece mais bonita cada vez que te
vejo — disse quando me alcançou.
— Deve ser a abstinência falando alto.
—Bem, se for... sorte a minha que você vai
acabar com ela a qualquer momento.
— Eu vou? — Ergui as sobrancelhas e ele
beijou minha bochecha demoradamente,
arrancando arrepios de mim. Me levou para a única
mesa no salão e puxou a cadeira. Me sentei,
admirando rapidamente ao redor antes de voltar
meus olhos para ele. — O que é isso? Preparou
uma noite romântica?
— Você duvidaria se fosse? — perguntou
enquanto me servia vinho.

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— Não, na verdade... o Juan que me comeu


sob a vista de céus e estrelas parecia bem
romântico.
— Então, sim. Podemos chamar de noite
romântica.
Brindamos, eu com vinho e ele com
whisky.
— Mas a verdade é que eu acho que está
tentando se redimir por ter me perseguido até aqui.
— Não tenho do que me redimir sobre isso.
Eu já disse que tomo conta do que é meu.
Ignorando a centelha de faíscas que
acendeu em meu estomago pela sua declaração de
posse sobre mim, deixei a taça na mesa e cruzei as
mãos, apoiando o queixo.
— Como sabia para onde eu estava indo?
— Você ligou do meu hotel e pediu para a
recepcionista reservar passagens. É claro que ela
estava avisada de me passar qualquer informação
importante sobre a minha convidada.
— Ela me dedurou?
— Claro que sim. Ela é paga para isso.
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— E como você chegou antes de mim?


Juan inclinou-se para a frente e segurou
meu queixo.
— Eu tenho um jato, loirinha.
— É claro que tem — bufei, revirando os
olhos.
— As maravilhas de ser rico.
— Você não é só rico.
— Não. Também sou educado, charmoso e
tenho um pênis talentoso.
Rindo, balancei a cabeça em negação.
— Não só isso. Você é trilionário.
— Não... Por enquanto só bilionário — ele
ia falar mais alguma coisa, mas parou e enfiou a
mão no bolso, tirando uma caixa.
Hesitando por alguns segundos calculados,
a peguei e abri, quase perdendo o ar com a beleza
que havia dentro. A pedra redonda tinha uma cor
rosa, brilhante e cintilava com nuances lilás e roxa.
Meu rosto se abriu em um sorriso ao admirar os
pequenos diamantes que formavam a corrente que a
segurava no meio.
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— É lindo... tão diferente de tudo o que já


me deu — sussurrei, encantada.
Juan ficou me encarando com um olhar
sério, profundo, voraz.
— Tenho uma casa para você em Cancun,
onde eu quero vê-la nos finais de semana. É sua.
Arqueando uma sobrancelha, tirei o colar e
fechei a caixa, a empurrando para o lado.
— É lindo e eu vou ficar com ele.
— É claro que vai. E com a casa?
— Apenas o colar, Governador — dei
risada — Obrigada — me aproximei e beijei seus
lábios, aproveitando para cheirar o pescoço.
— Vem, deixe-me colocar em você. O
nome dele é Pink Star.
Passei os dedos pela pedra no meu pescoço
e virei para ele.
— Me sinto tão cara agora.
Ele segurou as duas tiras do meu vestido e
as desceu. Eu franzi a testa, mas não o impedi,
curiosa para o que estava por vir.

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— Setenta e um milhões e duzentos mais


cara, loirinha.
Meu queixo foi ao chão.
— O quê?! — gritei, chocada.
— Não implique com isso. — Me deu um
olhar sério. — É seu. Não ficaria bom em mais
ninguém além de você.
Ele voltou a descer as tiras até que colocou
meus seios para fora. Abaixando a cabeça, capturou
um mamilo entre os dentes e mordeu, lambendo
logo depois. Depois foi para o outro, chupando e
subindo beijos até onde a pedra pousava na minha
pele.
— Juan... é demais. Isso tem que ser a coisa
mais cara que eu já vi.
— Atualmente ele é a joia mais cara do
mundo. A mais preciosa, como você.
Ele disse isso enquanto observava a pedra e
meus seios. Ele os apertou, amassando meus peitos
antes de ajeitar minha roupa.
— Você é a mulher mais sexy que eu já
coloquei os olhos. Não sei lidar com isso, fico
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louco.
— Porque homens gostam de mulheres
sensuais? Não há um charme na inocência?
Me dando um sorriso torto, Juan soltou o
único botão preso do terno, depois estendeu a mão.
— Alguns homens adoram a inocência, é
claro.
Eu aceitei, o deixando me levar para a pista
de dança vazia. A luz baixa do salão e a bachata de
fundo fazia com que a noite parecesse mais
calorosa, diferente. O único lustre que iluminava
nós dois, não iluminava o suficiente. Nos deixando
até mesmo sensíveis aos toques. Pelo menos eu.
— Por exemplo — continuou — Uma
mulher inocente talvez ficasse com vergonha se eu
resolvesse dar a ela um orgasmo durante essa
dança, mas você... talvez você até mesmo ficaria de
joelhos e me daria um boquete.
— Em que momento te dei a entender isso?
— perguntei, fingindo indignação.
— Hm... eu não sei, mas acho que em todos
os outros boquetes inusitados.
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Ele me segurou perto, uma mão acima do


meu quadril e a outra segurando a minha. Seu
polegar roçava lentamente a abertura do vestido nas
costas. Eu estava prestes a responder, mas a
primeira nota da música me fez ficar parada por
alguns segundos, esquecendo de seguir Juan na
dança.

“Vou te apresentar a ela


A que dorme na sua cama
A que é uma completa dama
A que não te pede nada, mas gosta do melhor“

— Aya?
Piscando, sorri e disfarcei meu abalo,
fitando seus olhos com atenção. Os lindos olhos
verdes que eu adorava. Deixei minha mão no
ombro subir para seu cabelo e acariciei os fios, os
empurrando para trás e bagunçando um pouco,
admirando como ficava ainda mais lindo.

“Vou te apresentar a ela


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A que diz que te ama


A que nunca te diz ‘não’
A que daria até a vida
só pra te fazer feliz”

— Quando esses olhinhos se derretem


assim, eu fico no modo alerta.
— Ah, Governador... você e as teorias da
conspiração.
Ele me soltou e eu dei uma volta, mexendo
os quadris no ritmo lento e sensual da música até
voltar aos seus braços.
— Você é uma mulher perigosa, Aya. Todo
o cuidado é pouco. Veja só, da última vez que
vacilei, fugiu de mim.

“Essa mulher foi minha amiga


Maldito seja aquele dia
Roubou o que eu mais queria
E tudo por ambição“

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— Fugi e você veio me buscar com


diamantes.
Embora suas palavras tivessem me
divertido, eu fechei os olhos naquele trecho da
música. Quase podia ver Jaqueline andando em
volta de nós, cantando diretamente para mim.

“Eu sei que ela é tão bonita


Que até parece bendita
Mas é um anjo caído
Ela é uma maldição”

“Aya, você é maldita”


O rosto de Enrico apareceu na minha
mente, depois evaporou e foi a voz de Juan me
dizendo aquilo.
— Acho que se eu te desse motivos, você
roubaria meus bens, quebraria meu coração e iria
embora com o meu melhor amigo.
Dei risada e ele me girou, rindo do meu
sorriso.

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— É uma visão equivocada essa que tem


de mim, Governador.
— Ah, é?
— Claro que sim. Eu também colocaria
fogo nos seus carros.

“Dirá que por toda a vida


Te amara incondicionalmente
E te enchera de beijos
E te entregara seu corpo
Jurando muito amor
Mas tudo isso é mentira
Apenas uma parte do seu engano
E quando tiver terminado
Outro recebera
Essa mesma demonstração de amor”

— Sim, acho que você faria isso. Mas


ainda assim, talvez eu ainda fosse atrás de você,
implorando para que não me abandonasse — ele
disse com um brilho divertido nos olhos.
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Inclinando a cabeça para o lado, olhei no


fundo de seus olhos, tentando fazer com que visse a
sinceridade doente das minhas palavras.
— Sabe que eu nunca te deixaria Juan. Não
há força de vontade o suficiente em mim para não
te ver mais.

“Essa mulher é má
Essa mulher machuca
Essa mulher mente
Essa mulher é má
Tem veneno nos lábios
Sua carícia é um insulto
Para o seu coração”

— Então você é minha pelo o tempo que eu


quiser que seja.
— Não — sussurrei contra sua boca —
Serei sua até depois disso.

“Essa mulher que você ama

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Está jogando contigo


Essa mulher perfeita
É puríssima traição"

Segurei seu pescoço e o puxei para baixo,


tomando seus lábios nos meus.
— Acredite em mim Juan... eu faria
qualquer coisa por você. Qualquer coisa.
Seus olhos ficaram presos nos meus lábios
enquanto cada palavra saía da minha boca, e
quando terminei de falar, ele fitou meus olhos,
piscou algumas vezes, como se estivesse
enfeitiçado. Então me beijou outra vez.

Nós jantamos falando sobre política, ele


contou superficialmente sobre seus hotéis, onde
descobri que havia uma rede espalhada pelo mundo
de hotéis spa cinco estrelas. Depois dançamos mais
duas músicas, mas entre taças de vinho e copos de

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whisky, o espaço começou a ficar apertado, nossas


roupas mais pesadas e as mãos inquietas.
— Porque tem tantos seguranças com você
hoje?
— Eles sempre estão lá, mas são difíceis de
ver. Discretos, treinados. Eu tenho que voltar a
Veracruz — ele disse no carro, rindo enquanto
tentava me fazer parar de abrir os botões de sua
camisa.
— Não — fiz um bico e me apoiei na porta,
o fitando inteiramente — Quem é que está fugindo
agora?
— Acredite quando eu digo que minha
vontade é te levar para o melhor hotel daqui e foder
a sua boceta apertada até você desmaiar, mas
preciso cuidar do Estado.
— Você cuida do Estado, mas quem é que
vai cuidar de você?
— Uma linda loira mentirosa que me deixa
louco — ele beijou meu pescoço e eu me ajeitei no
banco, me derretendo quando Juan colocou o cinco
em mim antes de começar a dirigir.

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— Seus seguranças estão onde?


— No carro que daqui alguns segundos vai
virar a esquina e nos seguir.
Afastei meu cabelo para um lado e virei
para olhar seu perfil enquanto dirigia. Tão
pecaminosamente bonito. Me fez necessitar de cada
minuto de sua atenção e agora estava indo embora.
Ele me olhou pelo o canto dos olhos e um
sorrisinho sacana brincou naqueles lábios carnudos.
— Você está me olhando com esses
olhinhos bonitos e um bico tentador. O que está
pensando?
— Acho que preciso de você mais do que
gosto de admitir, Governador — sussurrei.
Ele ficou quieto por alguns minutos, depois
estendeu a mão e segurou a minha. Deu uma
mordidinha e um beijo antes de colocá-la em sua
perna.
— Porque acha que eu viajei para outro
estado e vim atrás de você?
— Eu não sei... — franzi a testa, pensando
— mas acho que não te agradeci por isso.
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Eu havia dado a ele o endereço de Maynara


para voltar, era mais perto do restaurante que
estávamos e eu sabia que precisaria conversar com
minha melhor amiga. Nós viramos uma rua e em
seguida, ele parou na frente do portão da casa dela.
Virando para me encarar, ele tocou meu
nariz com a ponta do dedo.
— Não faz essa carinha.
Eu soltei o cinto e ajoelhei no banco,
segurando seu pescoço.
— Suas madrugadas deveriam ser minhas
— sussurrei em seu ouvido, mordendo a pontinha
da orelha e desci a mão de seu rosto até o peito,
barriga e na braguilha da calça. Habilidosamente
abri e o puxei para fora. Cara a cara com os olhos
mais intensos que já vi na vida, me inclinei e beijei
seus lábios antes de abaixar e passar a língua na
cabeça do membro grosso.
Ele pulsou na minha mão quando lambi da
base até a ponta, o abocanhando com vontade.
— Puta merda — gemeu, rouco.
Sorrindo como pude com seu pau na boca,
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passei os dentes levemente, causando arrepios em


Juan, levantei a cabeça para olhá-lo enquanto
chupava. Ele me fitou com os olhos apertados, o
peito subindo e descendo com a respiração pesada.
— Sua boca é uma delícia. Como a sua
boceta, como você inteira.
Eu gemi, o chupando com mais força.
Senti-me ficar mais molhada ainda. Ele segurava
meu cabelo pelo couro com uma mão e a outra
bateu na minha bunda erguida. Minha mãe teria um
infarto se saísse e visse aquilo, e o pensamento de
ser pega me fez mais feroz na tarefa de dar prazer a
ele.
Minhas mãos fechadas o masturbavam
onde minha boca não chegava, meus olhos ardiam
de leva-lo até a garganta e o aperto em meu cabelo
só aumentava a sensação da pegada bruta.
Ele jogou a cabeça para trás de repente,
levantando os quadris quando senti o primeiro
gosto dele encostar na minha língua. Tentei me
afastar um pouco para respirar, mas sua mão
apertou mais.
— Fique aí, loirinha. Eu vou gozar na sua
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boca.
Céus... eu poderia ter gozado apenas com
aquelas palavras roucas saindo de sua linda boca.
Segundos depois ofeguei quando os jatos de sêmen
tomava conta da minha boca. Engoli tudo,
chupando sem parar e só me afastei quando o
aperto no meu couro diminuiu, então o lambi de
cima abaixo, como se o limpasse.
Quando me dei por satisfeita, levantei e o
encarei com todo o carinho que sentia dentro de
mim.
— Até mais, Governador.
Com um sorriso diabólico no rosto, o
deixei boquiaberto, ofegante com o pau para fora e
saí do carro. Enquanto o barulho dos meus saltos
cumprimentava a noite eu mantive a pose, mas
quando passei pelo portão, me deixei encostar na
parede num canto escuro e respirei profundamente.

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Capítulo 26
“Quando se trata de você
Eu vejo apenas o lado bom, é memória seletiva
Eu continuo esquecendo que eu deveria deixar você
ir
Mas quando você olha para mim, a única memória,
é a gente se beijando ao luar
Eu não consigo me lembrar de te esquecer
Eu roubo e mato para mantê-lo comigo
eu daria meu último centavo para agarrá-lo hoje à
noite
Eu faço qualquer coisa por ele”
Shakira ft. Rihanna, can't remember to forget you

— Caramba, que susto! — May


praticamente gritou ao me ver tomando café na sua
cozinha na manhã seguinte.
— Entrei de madrugada, não quis ir para a
casa.
— Tudo bem. E não se preocupe, eu

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garanti para a tia Selma quando ela me ligou que


estávamos bem tomando umas bebidas — ela disse
e ergueu as sobrancelhas.
— Desculpe por isso, eu precisava de uma
desculpa rápida.
— Estava com ele?
Levei um minuto para responder, mas meu
sussurro veio. Um baixo e sofrido “sim”.
E como eu esperava May começou a falar,
mas eu nem queria prestar atenção no que dizia.
Ouvi que eu era irresponsável, estava totalmente
fora da razão, estava fazendo as coisas errado e por
esse caminho ela continuou falando por vários
minutos. Quando terminou, me fitou bem séria.
— Não vai dizer nada?!
— Eu estou... apaixonada.
May continuou me encarando sem
expressar nenhuma reação, como se não tivesse
escutado.
— May?
— Espera, eu preciso de um momento para
respirar e absorver essa informação.
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Caí para trás no encosto da cadeira e fechei


os olhos. Entendia a surpresa dela, afinal, nunca
ouviu aquelas palavras saindo da minha boca. Eu já
tinha dito a Enrico que o amava, mas comparado a
Juan, tudo o que sentia por meu ex parecia tão...
frio. Sem graça, imaturo e uma piada.
— Você tem certeza?
— Sim.
— Como?
— Ele me deu o diamante mais caro do
mundo e eu continuei triste apenas porque sabia
que ele não ia ficar ontem à noite comigo.
— O mais caro do mundo? — questionou,
de boca aberta.
— Sim. Milhões, Maynara. Milhões a
perder de vista.
— Merda — resmungou e sentou na
cadeira a minha frente. Nenhuma de nós sabia o
que dizer. Eu nunca a procurava para desabafar
meus sentimentos, isso simplesmente não
acontecia. Pelo menos não até agora, e ela não
sabia como agir comigo.
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— May, eu me sinto péssima. Que droga é


essa que eu sinto? Não consigo mentir para ele, não
consigo agir normalmente!
— Ah, minha amiga... — ela suspirou —
Isso é porque amor e mentiras não andam lado a
lado. Ou você ama ou você mente.
— Mas como vou fazê-lo fazer o que eu
quero se não puder controla-lo?
Maynara riu, mas eu não via graça
nenhuma. Me sentia fora de órbita.
— Você não pode controlar a pessoa que
ama, Aya. Na verdade... não deveria tentar
controlar ninguém. As coisas seguem o curso
natural da vida e só acontecem.
Franzindo a testa, balancei a cabeça em
negação.
— Mas isso é horrível! A minha vida segue
como eu quero, e Juan faz parte de uma linha que
deveria ser padrão, que eu tenho o controle. Mas
agora... não consigo nem segurar as palavras que
surgem na minha cabeça perto dele.
— Amiga, isso que você está dizendo é
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assustador e ruim. Controlar as pessoas é ruim,


Aya. Qual é o seu medo com relação a Juan,
verdadeiramente?
O meu medo? Entre tantos? Céus... eu nem
sabia por onde começar.
— Ele tem votos com outra, quem sou eu
na vida dele? Ele disse que um caso nunca iria para
a frente, que era apenas sexo.
— Já vi maridos deixarem esposas por
amantes.
— Eu não quero que ele a deixe por mim!
— Então o que você quer?
— Eu não sei! Nunca quis isso. Eu só
queria... não me derreter sempre que o vejo, queria
ser mais forte quando ele me toca. Mas
é impossível resistir a ele.
— Aya, você é uma mulher adulta,
independente e pode fazer suas próprias escolhas.
Eu não estou te julgando. Eu estava com todo um
discurso moralista na ponta da língua quando você
deixou escapar que andava dormindo com ele e
depois ficou me escondendo as informações, mas te
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vendo tão desesperada... acho que nem preciso


dizer nada.
— Isso não ajuda. — Fiquei de pé e andei
de um lado para o outro — Essa coisa de abrir o
coração não funciona. Por que diabos as pessoas
gostam de amar? Porque querem essa paixão e esse
vínculo com outro? Eu já me senti meio obcecada
com outros homens, mas isso é diferente. Até
mesmo a forma como eu transo com ele é diferente!
— falei, indignada, o que fez Maynara rir mais
ainda, deixando-me mais irritada.
— Aya, desculpe, mas é tão estranho te ver
assim.
— Assim como? Louca? Eu não quero essa
sensação. Esse... esse aperto no peito.
Ela levantou também e segurou meus
ombros, me olhando nos olhos.
— Então eu te pergunto novamente... o que
você quer?

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Eu cheguei em Veracruz de noite. Quando


eu disse a May o que queria fazer, ela assentiu e
disse que ia comprar a passagem, então passamos
na tia Selma e eu entrei, dando um abraço rápido e
pegando minha mala. Ela acreditou na minha
desculpa de que precisava voltar ao trabalho.
May me acompanhou até o horário do
embarque, segurou minha mão e quando eu
perguntei porque ela não dizia nada, sua resposta
foi simples.
— Há certas coisas que precisamos
aprender sozinhos. E só aprendemos da forma mais
difícil.
Eu não entendi sua declaração, mas só de
ela estar comigo naquele momento e não ficar
falando no meu ouvido, tentando me fazer mudar
de ideia, já era o suficiente.
Quando desembarquei, vi de relance meu
nome em uma placa. Olhei novamente, e confirmei,
mas não podia ser para mim. Afinal, ninguém sabia
que eu estava fazendo a loucura de voltar a aquele
lugar. Peguei minha mala e comecei a caminhar
para fora, mas uma parede de músculos se colocou
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a minha frente, fazendo-me parar.


— Aya Maria Castillo?
— Hã... depende de quem quer saber.
— O Governador espera que aceite as
acomodações em seu hotel spa cinco estrelas.
— Como ele sabia que eu estava voltando?
O homem olhou por cima da minha cabeça,
rígido com os braços atrás das costas.
— O Governador espera que aceite as
acomodações em seu hotel spa cinco estrelas —
repetiu.
— Tá, tá. Já entendi — revirei os olhos,
percebendo que qualquer pergunta que fizesse não
seria respondida, ou pior, receberia aquela mesma
resposta. — Ok, vamos.
Eu mal tinha chegado e Juan já estava
tomando as rédeas da situação, assumindo o
controle como ele sempre fazia. Não que eu
estivesse reclamando, afinal, voltei sabendo que ele
era exatamente daquele jeito.
Quando entrei na suíte do penúltimo andar
que Juan havia reservado para mim, precisei de
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alguns minutos de pé olhando ao redor para me


situar e absorver a beleza que era aquilo. Invejei a
ou o design de interiores dele, porque todos os seus
hotéis eram tanto bem localizados como bem
decorados. Desde a arquitetura de fora até a beleza
de cada móvel por dentro. E percebi que em todos
que já estive, tinha sempre algo em comum, as
grandes janelas do chão ao teto. Juan realmente
devia amar o céu e as estrelas.
Resolvi fazer uma surpresa para quando
chegasse. Aquele era um spa hotel, mas não podia
simplesmente leva-lo para baixo e fazer-lhe uma
massagem no meio dos hóspedes. Então decidi que
em frente àquela janela era perfeito. Afastei os
móveis e aproximei o tapete felpudo que caberia
nós dois. Teria que descer e dar um jeito de
conseguir acesso a óleos e velas, até um incenso se
desse sorte. Também ia pedir algumas frutas e
chocolate, para dar a ele depois do champanhe. Isso
me trouxe um sorriso. Champanhe... sempre
fazendo parte das nossas aventuras.
De repente parei no meio do caminho e
peguei minha mala e bolsa, lembrando que
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precisava me precaver de qualquer coisa e conferir


minha cor da noite antes de colocar uma lingerie.
Abri a mala, não encontrando meu
computador, então comecei a colocar tudo para
fora, jogando para todos os cantos por cima da
cabeça e começando a entrar em desespero quando
não achei. Procurei por fim na minha bolsa,
finalmente achando.
— Gracias a madre — murmurei.
Liguei o tablet e fui direto para o meu bom
e velho Senhor Luzu. Como sempre, pesquisei
primeiro como deveria ter sido o meu dia. Hoje
seria tranquilo, me alertava para evitar brigas e
confusões e atritos familiares. Bem diferente de
ontem, que me dizia que uma grande decisão
precisaria ser tomada. Depois de conferir meus
astros, fui direto na aba Escorpião. Juan não se
preocupava com o que o universo tinha a lhe dizer,
mas eu sim e cuidaria disso já que ele não dava
a mínima.

"A semana começa influenciada pela Lua


Minguante em seu signo, que chega unida a Júpiter
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e em tenso aspecto com Vênus em Aquário


indicando dias de fechamento de um ciclo poderoso
de mudanças importantes que agora envolve todos
os setores de sua vida. O período pode envolver a
finalização de um projeto. Diminua o ritmo e
procure descansar. No dia 11, Vênus, a deusa do
amor e dos relacionamentos começa a caminhar
através de Peixes movimentando seu coração. Um
novo romance pode começar a ser desenhado pelo
Universo nas próximas semanas."

Oh, meu Deus!


Um novo romance pode começar?! Era
isso, ele tinha outra. Outra além de mim e ela,
outra ela. Outra A outra.
Estreitando os olhos, fui no botão das
combinações e testei o signo dele com todos,
deixando o meu por último. Ele era perfeito com
Touro e Sagitário, com os outros, apenas bom ou
ruim. O que me deixou um pouco mais tranquila já
que eu teria que lidar com apenas dois tipos, fiquei
feliz pelas minhas duas possíveis ameaças não
serem de Gêmeos, que era normalmente o signo
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que eu me dava sempre mal.


Senhor Luzu dizia que era porque Câncer e
Gêmeos tinham sua parcela de egoísmo, entre
outras características, mas o fato de serem tão
semelhantes é que fazia com que de cara, não se
suportassem. Me perguntei se Jaqueline era de
Gêmeos. Ou ela podia ser Virgem, Áries ou
Capricórnio, de acordo com vários zodíacos, eram
os piores signos onde a maldade se encaixava.
Não que o meu ficasse muito atrás.
Por fim, fiz a nossa combinação. Quase
pulei pelo quarto quando os cinco corações foram
preenchidos, e a frase “Vocês são perfeitos juntos!”
apareceu em cima.

“Dois signos da água, um relacionamento onde a


intensidade iria dominar. São pura emoção, se
entregam e se jogam. A atração é intensa, parece
coisa do destino. Mas com tanta intensidade, pode-
se esperar também muito drama, ciúme, chantagem
emocional e manipulação. O lado mais frio e
racional da relação vem do Escorpião, que se
esforçará para não se afogar em meio a tantas
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emoções. Porém, esse é um signo que, quando se


sente ameaçado, pode se defender de forma fria ou
agressiva, o que pode magoar profundamente os
sentimentos do sensível Câncer. Ou seja, essa
relação é quase uma novela mexicana.
O grande problema do casal é a capacidade que
cada um tem de chantagear e manipular o outro
para conseguir o que querem. A relação sempre
será intensa e carregada de sentimentalismos.
Pode também ser dramática nos momentos que
entra em desequilíbrio, pois os medos de cada um
podem ser atingidos e despertados.”

— Senhor Luzu, continua me chamando de


manipuladora. Não sabe que isso machuca meus
sentimentos? — resmunguei, buscando outros sites
para testar Escorpião + Câncer.
Os sites diziam mais do mesmo, mas o
importante é o que todos eles concordavam: Juan e
eu éramos certo. Não me importava nem um pouco
as consequências disso.
— Aya?

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Eu levantei a cabeça, encarando seus olhos


arregalados.
— O que aconteceu aqui? Eu não sabia que
alguém vinha redecorar a suíte hoje — ele acenou
ao redor, para a bagunça que não terminei de
colocar em ordem. Só então me lembrei dos móveis
e a bagunça que deixei por onde passava desde que
entrei no quarto.
— O que está fazendo aqui? — Fechei o
computador e deixei de lado.
Ele levantou uma sobrancelha.
— Vim ver a minha loirinha, mas estou
achando que não sou bem-vindo.
— Não, não, não! Droga, Juan! É claro que
é, mas você deveria chegar mais tarde.
— Eu estou aqui agora, e bem ansioso pra
bagunçar ainda mais esse lugar com você.
— Como você sabia que eu estava
voltando?
— Tenho meus contatos — deu de ombros.
— Não me diga que alguém da linha aérea
estava esperando meu nome magicamente surgir
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nos registros?
— Magicamente não, eu sabia que você ia
voltar. Só fiquei preparado.
Ele deixou o paletó nas costas da poltrona e
se aproximou, apoiando um joelho na cama.
Segurou meu pescoço, olhando profundamente em
meus olhos.
— Não deveria ter chegado agora —
resmunguei.
— E porque eu não deveria chegar? Está
escondendo algo de mim, dona Aya?
— Eu ia fazer uma surpresa. Porque você
chegou cedo?
Ele riu, passando o nariz pelo meu pescoço
e deixando beijos por lá.
— Minha última reunião foi cancelada.
Mas eu vou querer a minha surpresa.
Suas mãos desceram acariciando minha
coxa. A palma quente me fez suspirar.
— Deus... você fica tão sexy no meio das
minhas pernas depois de chegar do trabalho.
Ele riu.
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— Você vai me ver muito sexy daqui


alguns minutos. Logo depois que eu terminar de
chupar você inteira.
Eu joguei a cabeça para trás, rindo de suas
palavras. Ele já tinha os dedos na camisola para
tirá-la de mim quando seu telefone tocou.
— Merda — resmungou, saindo de cima de
mim.
Eu ajoelhei na cama, tentando puxa-lo pela
mão.
— Ah, não! Não atenda...
Juan colocou um dedo nos lábios, pedindo-
me para ficar em silencio, fazendo bico, eu obedeci.
Ele pegou o telefone do bolso e franziu a testa antes
de atender.
— O que foi, Jorge? — Eu ouvi a voz
alterada do assessor, mas não o suficiente para
entender o que ele dizia. — O quêe... Não, porra...
Onde é isso? — Ele saiu do quarto, indo direto para
a sala e eu o segui. Alterado, Juan pegou o controle
da TV e apertou alguns botões até parar em um
canal.

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Eu sabia que era algum problema assim que


vi o canal transmitindo o jornal, uma foto dele e a
do Álvaro ao lado.
— O que está acontecendo? Certo, eu te
ligo depois.
Ele desligou, deixando o telefone de lado e
sentou no sofá, os olhos totalmente focados no que
passava na tela. Ele aumentou o volume e eu fiquei
ali, olhando junto com ele, rezando para que não
fosse nada grave.
— O Governador Álvaro Herrera sofre
uma ameaça de investigação se tudo for
confirmado. Nós estamos com a repórter
Paula Ruaz no Congresso, onde ela foi ver de perto
o que acontece. Boa noite, Paula.
— Boa noite, Valéria. Nós estamos aqui
desde as quatro da tarde, quando começou a
reunião onde o delegado Luiz Villas apresenta a
petição para investigar o Governador. A suspeita
inicial foi de um áudio vazado na internet cerca de
três meses atrás, mas pela falta de provas maiores,
o Governador não sofreu uma investigação. Mas
agora, ao que tudo indica o delegado conseguiu
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grampear as linhas de telefone de Alvaro Herrera e


conseguiu provas contundentes para iniciar
o inquérito.
A câmera cortou para a repórter
entrevistando pessoas dentro do congresso. Juan
xingou, resmungando palavrões e mexendo em seu
celular, digitando enquanto intercalava olhares para
a tela e sua conversa.
— Filho da puta, desgraçado! —
Continuou, então colocou o celular no ouvido,
escutando alguma coisa.
A repórter fez uma pergunta a um homem
de idade mais avançada e ele respondeu.
— Essa acusação é completamente
descabida. O Governador Herrera é um homem
integro e vai provar sua inocência.
— Então o senhor acha que não é nenhuma
chance dessas conversas serem ilícitas?
— Não. Nenhuma! Inclusive, o delegado
Villas pode se dar mal, prejudicar a si mesmo,
porque ele violou a lei do sigilo do funcionário e
isso é absurdo!

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— Mas ainda é sigilo quando um chefe de


Estado comete um crime, Senador?
— É aí que entra, ele não cometeu um
crime. O delegado não tinha um mandato para
fazer esse tipo de violação. E eu não tenho nada
mais a declarar.
A repórter olhou para a câmera.
— O Senador Vigilio alega que a acusação
é falsa, ele é do mesmo partido do Governador
Herrera. Vamos tentar falar com alguém da
oposição para ouvir mais.
Ela andou sendo acompanhada pela
câmera e nas filmagens era possível ver uma
movimentação tensa onde ela estava. Eu não
entendia nada daquilo, mas apenas por observar as
reações de Juan, tinha noção que deveria ser grave.
— Deputado, o senhor como do partido
opositor ao de Alvaro Herrera, acha que toda essa
situação é contrária, assim como o partido dele
próprio ou pensa que há sim motivos para uma
investigação?
— Olha, eu como Deputado Federal afirmo

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com toda a convicção que é necessário sim


verificar até os mínimos passos do Herrera, e digo
mais, ir atrás do irmão dele em Veracruz. Porque
caráter é de família e se um faz, o outro não está
isento de fazer também.
A jornalista agradeceu e deu boa noite,
finalizando a reportagem.
— Nós continuaremos trazendo mais
informações para vocês sobre o caso dos
grampos telefônicos, mas...
Juan desligou a TV, a cortando.
Eu permaneci de pé, observando-o afundar
a cabeça em suas mãos e respirar profundamente.
Me aproximei, segurando seu rosto e abrindo
espaço para sentar no colo dele. Fiquei com uma
perna de cada lado, o abraçando pelo pescoço. Ele
deixou cair a cabeça no meu peito e suspirou.
As mãos descendo e subindo pelas minhas costas.
— Vai ficar tudo bem. — Tentei consola-
lo.
— Vai, apenas porque eles não têm o que
achar caso me investiguem. Eu ou o partido. Pelo
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menos a minha equipe está livre. Agora eu serei


obrigado a ir até Chiapas e apoiar Álvaro, fazendo
com que sua imagem de bom moço convença.
— Mas nesses casos não são só a imagem e
o cargo que fazem uma investigação sumir, não é?
— Nossa família tem um patrimônio
alto, Aya. Meu pai não vai poupar dinheiro para
evitar que um de seus filhos perca o posto ou vá
para a cadeia. E Álvaro não é burro. Ele tem os
esquemas dele, ilegais sim, mas não é estúpido o
suficiente para tratar dessas coisas por telefone.
Passando as mãos pelo cabelo dele, o fiz me
encarar.
— Então se acalme. Respire fundo e não se
preocupe demais.
— Estar envolvido em uma investigação
logo agora não é nada bom.
— Eu imagino. Mas vai dar tudo certo.
Ele fitou meus lábios e chegou para a
frente, sugando-os e acariciando meu quadril.
— Talvez sim, mas talvez dê tudo errado.
— Você precisa de um corte de cabelo —
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falei enquanto o fitava atentamente — Vai dormir


muito bem essa noite — passei as mãos por seu
rosto, massageando as têmporas — Porque posso
ver o cansaço em seu rosto. Amanhã vai acordar
disposto e com a cabeça limpa para lidar com
qualquer problema que aparecer no seu caminho.
— Você esqueceu uma coisa nessa lista.
Inclinei a cabeça, pensando.
— Esqueci? O que?
— Antes de dormir eu vou comer você.
Dei risada e me segurei firme quando ele
ficou de pé, levando-me pendurada nele para o
quarto.
— Hoje a sua Lua está em Libra — falei.
Ele jogou a cabeça para trás, rindo.
— Isso traz um tenso aspecto de Urano e
Plutão indicando um dia de nervosismo e sensação
de mal-estar emocional.
— Aya, pelo amor de Deus...
— É essencial que você mantenha a calma
e o autocontrole. Precisa estar atento aos ambientes
que vai frequentar e as pessoas ao redor.
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— Ela é completamente louca — ele falou


baixinho, balançando a cabeça.
Eu dei risada, forçando-o a me olhar.
— Sua cor hoje é azul. E a palavra do dia...
— Sexo? — perguntou, puxando a alça da
camisola para baixo e cobrindo meu mamilo com
os lábios.
— Não — eu disse, meio gemendo com os
olhos revirando de prazer.
— Oral?
Eu gemi quando me pressionou na parede e
sua dureza encostou na minha intimidade. Beijei
seu rosto lentamente enquanto ele me acariciava
onde alcançou e por fim abriu as calças se
esfregando em mim antes de me penetrar.
— Você é tão bonito — sussurrei, fitando
profundamente seus olhos.
— Ora, obrigado, minha senhora. Mas
porque diz isso assim, com tanta melancolia?
— Porque me desespero de saber que posso
não ter você algum dia.
— Porque está dizendo isso?
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— Eu não sei, Juan. Pode me prometer


algo?
— Quando eu estou dentro da sua boceta
posso te prometer o que você quiser — ele meteu
mais fundo, arrancando um grito de mim.
— Que nunca vai me odiar.
Ele me olhou profundamente por alguns
segundos, então assentiu.
— Eu prometo.
Assenti e o abracei. Ele me abraçou de
volta, entrando e saindo de mim com mais força,
apertando-me tão forte quanto eu o apertava.
Me permiti por um momento esquecer que
no começo ele disse que não cumpriria suas
promessas.

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Capítulo 27
“Essa mulher é má
Tem veneno nos lábios
Seu carinho é um insulto para seu coração
Eu sei que ela é tão bonita
Que até parece abençoada
Mas ela é um anjo caído
Ela é uma maldição”
Gloria Trevi, esa hembra es mala letra

Eu acordei cedo no dia seguinte, procurei


um salão para fazer as unhas e o cabelo, sabendo
que seria um dia agitado. Ignorei as chamadas de
Jaqueline, li suas mensagens e apaguei sem
responder. Meu tempo era precioso, e nenhuma
gota dele seria destinado a ela. A nota que Juan
deixou ao meu lado na cama estava no meu bolso, e
as vezes eu a pegava para ler, boba que aquele
gesto delicado vinha do homem que dizia que eu
era apenas sexo.
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Eu aceitei que estava apaixonada. Ainda


não entendia por completo o sentimento, afinal, era
a primeira vez que sentia isso de verdade, mas
estava me dedicando. Planejei noites românticas
para nós, fiz perguntas pessoais, mas confortáveis
para ele e tentei falar coisas boas sobre mim.
Queria que nos conhecêssemos, que ficássemos
mais próximos, mais íntimos.
Desejava a cada dia mais que ele tivesse
comigo tudo o que não tinha com ela.
Juan ainda não se deu conta, e até então, eu
esperaria. Mas se demorasse demais, eu teria que
pensar em alguma forma de fazê-lo ver que
precisava de mim tanto quanto eu necessitava dele.
As palavras de Maynara me dizendo que não se
pode controlar a pessoa amada vieram à minha
mente, mas eu as descartei de prontidão, eu só sabia
fazer as coisas daquele jeito, foi dessa forma que
Juan me quis e era exatamente dessa que
continuaria me tendo.


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Quando Esmeralda me viu, arrastou-me


para trás do balcão dela e só faltou pular em cima
de mim me questionando sobre o sumiço, depois
atropeladamente me contou sobre sua noite com
Álvaro. Eu mal disse “oi” antes que as informações
começassem a escorrer de sua boca. Era engraçado
e enquanto ela falava, eu me pegava pensando se eu
era sua única amiga. Mesmo que fosse, as pessoas
se sentiam tão desesperadas por ter alguém por
perto que confiavam tão rápido em falar tudo sobre
sua vida pessoal?
Sentindo-me compadecida e empática por
ela, a abracei. O gesto surpreendeu até a mim
mesma, mas ela sorriu quando nos afastamos, como
se eu tivesse acabado de fazer seu dia.
— Fico feliz que Álvaro te deixou tão bem
e relaxada, esse trabalho te estressa demais —
comentei. Eu não tinha prestado muita atenção nos
detalhes que ela contava, mas entendi que houve
um encontro, muito romantismo e ela estava feliz.
— É verdade, sabe que minhas férias estão
chegando? Eu vou fazer uma viagem e queria que
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você fosse junto, mas provavelmente estará presa


aqui.
— Na verdade não — falei, ajeitando no
pescoço a corrente de ouro que Juan havia me dado
— Eu passei aqui apenas para te ver, mas já fui
pegar meus documentos e encerrar o contrato. Me
demiti.
Ela soltou a caneta que segurava e me fitou
boquiaberta.
— Você fez o que?
— Me demiti — repeti, rindo de seu
espanto — Não aguento mais esse lugar, as únicas
pessoas que tornam suportáveis são você e Juan, até
mesmo Julio ajuda no humor. Mas se eu passar
mais um dia enfurnada aqui, vou pirar.
— Nossa... quando eu disser para o Álvaro
que Juan te convenceu ele vai me infernizar para
sair também.
Arregalei os olhos, negando veemente.
— Não vai dizer nada a ele, ele não pode
saber! E não foi Juan que me convenceu a nada, eu
é que quero dar outro rumo na vida.
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— Eu pensei que você ia sair e Juan ia


cuidar de você.
Suspirando, segurei a mão dela.
— Esme... não é assim. E por favor, não
dependa financeiramente de Álvaro. Ainda que ele
te prometa o mundo. Aceite os presentes, joias,
roupas, viagens, o que for. Mas não abandone
emprego e casa para se jogar nas ideias dele. Me
prometa.
— Eu sei. Já fiquei muito tentada a fazer
isso, e ele não entende porque quero ser
independente, mas eu preciso disso. Essa é a única
segurança que tenho na vida.
— Ótimo — eu sorri — Continue com esse
pensamento, é o melhor que você faz.
— Podemos almoçar juntas amanhã?
— Claro — Levantamos e nos despedimos
com um abraço, dei a volta no balcão. — Onde
você vai querer comer?
— Queria comida japonesa, acordei com
uma vontade essa manhã.
— Do nada? — Inclinei a cabeça para o
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lado, a observando mais atentamente.


— É, mas devo ter visto um comercial ou
alguém falou sobre, daí despertou vontade.
— É, pode ser — concordei, mas no fundo
do coração, já começava a temer outras coisas.
Outra especifica coisa. — Nos vemos amanhã,
Esme.
— Até mais, amiga. — Ela acenou um
tchauzinho e pegou o telefone quando tocou.
Fechei a porta e fui em direção a saída, mas
quando estava chegando no corredor principal, uma
porta abriu de repente e uma mulher trombou em
mim. Eu quase corria e ela parecia tão alvoroçada
que ambas caíamos com a força do impacto,
sandálias se engancharam e o telefone dela voou
em outra direção.
— Ai, Alyna, cabeça nas nuvens! — ela
resmungou consigo mesma e só então vi que
também segurava um copo, agora vazio. O suco
estava espalhado pelo chão.
Me olhando com olhos arregalados, ela
levantou e me estendeu a mão para ajudar-me a

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ficar de pé.
— Desculpe, eu estava tão distraída! —
Correu em direção ao celular e o pegou, colocando
no ouvido — Preciso esperar e ver se ele vai vir,
mamãe. Não posso continuar com essa dúvida que
me persegue!
Eu passei as mãos pela minha roupa e a
observei enquanto minhas dúvidas se confirmavam.
Alyna...
A noiva de Álvaro Herrera. E estava
desconfiada daquele sem vergonha. Bem, com
razão, já que ele não tinha nenhuma lealdade no
sangue.
— Mamãe, vou desligar agora — me deu
um sorrisinho de desculpa — Acabei de causar uma
confusão aqui e tenho que resolver, eu te ligo
depois. Beijo.
Eu sorri de volta e balancei a mão em
desdém.
— Não causou confusão alguma, veja só...
estou ótima. — Eu não estava, e se ela fosse
qualquer outra pessoa eu a teria derrubado no chão
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de novo. Sorte que aquele suco não pingou uma


gota no meu vestido.
Ela me estendeu a mão, quando aceitei, vi o
diamante enorme que enfeitava o anel de noivado.
— Sou Alyna Muñoz.
— Aya Maria. Não foi a minha melhor
apresentação, confesso.
— Não foi minha melhor entrada — nós
rimos e ela chamou uma moça da limpeza que
passava, pedindo que passasse um pano na sujeira
do suco.
— Faz parte — comentei. — Eu vou indo
então. Bom te conhecer.
Ela assentiu e engoliu em seco, passando a
mão pela testa. Eu hesitei propositalmente,
chegando um pouco mais perto e tocando seu
ombro.
— Você parece abalada, tem certeza de que
está bem? — perguntei inocentemente.
— Sim, Aya. Só um pouco estressada.
Nossa, eu esbarrei com tudo em você e você está
sendo tão gentil, sério... obrigada. Se alguém
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gritasse comigo hoje acho que eu teria um treco!


Dei risada.
— Não se preocupe, eu também tenho
meus dias sensíveis. Olha só, já que eu acabei de
ser mandada embora e você perdeu seu suco que tal
irmos conseguir outro?
Ela hesitou, olhando para trás de mim antes
de suspirar e assentir.
— Sim, claro. Eu preciso mesmo me
distrair um pouco.
Eu apontei para a porta sorrindo e ela me
mostrou seu carro com o segurança dentro.
Entramos e dissemos onde queríamos ir. Eu mal
podia me conter, mas no fim disso, Esme ficaria
bem.

— Então — eu disse assim que nos


sentamos numa mesa dos fundos e pedimos dois
sucos naturais. — Espero que eu consiga te distrair.

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— Só de me manter falando você já faz


isso, sério — ela espalmou as mãos na mesa e me
fitou com total atenção — Aquele ditado “mente
vazia é a oficina do diabo” nunca fez tanto sentido.
— Caramba, tão ruim assim?
— Você nem imagina.
Alyna era muito bonita. Os cabelos
castanhos com alguns reflexos mais claros
chegavam um pouco abaixo dos ombros, tinha uma
franjinha reta e os olhos castanhos esverdeados.
Magra, alta, e tinha jeito daquelas meninas que já
nasceram ricas. A noiva de Álvaro era uma esposa
troféu perfeita.
— Bem... não quero entrar em uma
competição de quem está na pior aqui, mas eu
acabei de me demitir, tive uma briga horrível com a
minha mãe e tem um cara que eu simplesmente não
consigo decidir se o mando para o inferno de uma
vez e sigo minha vida ou explico detalhe por
detalhe onde ele está errando. Sabe? Dar a chance
de acertar — eu disse entre pausas e frisando as
palavras certas, dando a impressão de que estava
desabafando. Era o primeiro passo para mostrar a
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ela que podia fazer o mesmo comigo.


— Uau... você está mal, garota —
concordou de cenho franzido. — Mas... eu estou
noiva. — Ela ergueu a mão direta, mexendo os
dedos para destacar o anel. — E acho que ele tem
outra.
Nossas bebidas chegaram e eu tomei aquele
tempo para encará-la como se estivesse de boca
aberta com sua confissão.
— Mas porque pensa isso?
— Ah, pequenas coisas, sabe? Horários,
ligações e mensagens, sem contar os presentes que
as vezes vem aos montes. Nunca vi nada e nem
ouvi, mas... eu sinto alguma coisa errada.
Você está sentindo muito bem, pensei.
— Para quando é o casamento?
— A data ainda não está certa, mas eu
estou com essa dúvida chata agora de “adio ou
acelero?”.
— Ah — lamentei. — Deve ser horrível!
Vocês estão juntos a quanto tempo?
— Nós namoramos durante a faculdade e
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quando eu disse a ele que ia fazer minha


especialização no Canadá ele surtou, tipo, só faltou
me amarrar em algum lugar dizendo que eu não
podia ir e que não podia ficar sem mim.
Eu me inclinei para a frente prestando
atenção, afinal, aquela não foi a história que eu
ouvi. Levando em conta o que Esme me disse,
Álvaro estava se casando pela pressão dos pais que
arranjaram Alyna para ele.
— Então o casamento é meio que uma
forma de te manter aqui?
— Isso é o que eu digo a ele, sempre achei
que era cedo demais, mas ele se rasga de
declarações e gestos tão fofos. Por fim, eu desisti
da especialização e comecei a planejar o
casamento.
— Você se arrepende?
— Eu queria, mas não. Abri mão de muitas
coisas por ele, mas ele também cedeu muitas vezes
por mim. É de igual para igual, entende?
Eu tomei um gole do suco para impedir
palavras amargas de escaparem da minha boca,

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como “só seria igual se você estivesse fodendo


outro cara”.
— O amor as vezes faz a gente fazer coisas
loucas — eu disse, como se fosse uma especialista
no assunto. — Mas acho que se está desconfiada
deveria falar com ele, você vai saber se ele estiver
mentindo. Ou talvez seja algo do trabalho, até
mesmo uma coisa que ele está com medo de te
dizer e te incomodar. Homens são confusos as
vezes.
— Você acha? Eu venho pensando em um
detetive.
— Não! — falei mais rápido do que
deveria, mas disfarcei com a expressão. — Se você
fizer isso e por fim ele não tiver caso nenhum, pode
até prejudicar você. Ele vai dizer que você não
confia e jogar na sua cara que deveria ter falado
com ele. Vai por mim, muitas relações entram em
crise por falta de comunicação.
— Tem razão, eu nunca tinha pensado por
esse lado. Caramba, é tão bom poder falar
abertamente com alguém. Minhas amigas me
diriam que eu não tenho do que reclamar e
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blábláblá. Mas você... nós nem nos conhecemos e


eu me sinto tão à vontade para falar contigo.
— Eu também — concordei com um
sorriso forçado. — Estranhamente confortável.
— Obrigada, Aya. Eu me sinto
oficialmente distraída! — Ela riu e eu a
acompanhei.
Engolindo em seco, ela mudou de assunto e
perguntou se eu me importava se pedíssemos o
almoço. Em nenhum momento ela me falou quem
era o noivo, e nem nada que a ligasse a Álvaro ou
pessoas conhecidas, ela sabia ser reservada nas
coisas importantes.
Eu pedi uma salada, ansiando para
terminarmos logo e eu poder sair dali, já estava
arrependida de ter iniciado aquilo. Algo
definitivamente estava errado comigo, porque ao
invés de seguir meus planos e acabar com o
noivado de Alyna com Álvaro para que Esmeralda
fosse feliz com ele, eu me peguei querendo que ele
sumisse da vida das duas.
Eu não queria mais machucar Alyna, queria
machucar Álvaro. Por mentir, por ser tão falso e
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descarado. Por fazer Esme acreditar que Alyna era


um incômodo quando ele claramente parecia gostar
dela, ou no fim, enganava as duas e só pensava em
si mesmo.
Quando ela me deixou um quarteirão antes
do hotel, nós já havíamos trocado telefones e eu
sabia até o nome do seu gato de estimação.
E ela ainda era a noiva do homem que
minha amiga estava apaixonada.

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Capítulo 28
“Um me ensinou amor
Um me ensinou paciência
Agora eu sou tão incrível
Eu amei e perdi, mas não vejo assim
Eu sou tão grata pra caralho pelo meu ex
Obrigada, próximo”
Ariana Grande, thank u, next

Tudo maravilhosamente bem.

Eu respondi para Maynara por mensagem.


Vinte minutos atrás tinha saído da piscina e voltado
ao quarto para tomar um banho. Sequei o cabelo e
vesti uma camisola totalmente de renda. Era branca
e mal chegava apenas no topo das minhas coxas.
Dei risada ao perceber que Juan não teria nenhuma
dificuldade em chegar até a minha calcinha. Meus
mamilos apareciam através da renda e eu adorei.
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Quando a vi na loja do hotel sabia que precisava


dela no meu guarda roupa, mais especificamente,
depois de Juan tirar.

Você não está me mantendo atualizada, eu


mandei me atualizar.

Ela respondeu, me fazendo rir.

Eu estou esperando ele chegar e nós vamos


foder. São esses detalhes que você quer? Eu
posso gravar.

Ela enviou três emojis de capetinha.

Não ouse. Eu pagaria para ver esse homem nu,


mas se isso inclui você junto, tô fora.

Deixei o celular de lado e peguei meu


notebook, abrindo a única página na aba de
favoritos. Eu estava evitando acessar o senhor Luzu
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depois de ter conhecido Alyna na tarde de ontem.


Fiquei temerosa de lá ter algo sobre isso, ou pior,
que me mostrasse que eu agi errado de alguma
forma.
Devia ter a encorajado a procurar um
detetive? Assim ela descobria, rompia com Álvaro
e Esme seria feliz. Ou fiz o certo? Convencendo-a
de não fazer nada e dando a ele a chance de mentir
ainda mais? Eu não fazia ideia, mas é claro, estava
odiando não ter controle sobre aquilo. As
consequências, caso eu dissesse algo, podiam cair
sobre Esme. Nada garantia que Alyna ia se separar
dele. E se no fim, ele só afastasse Esmeralda? Ou
Alyna a prejudicasse de alguma forma?
Aquela foi a única situação que em anos eu
decidi que não podia resolver, teria que deixar o
tempo colocar tudo no lugar, ou pior, bagunçar
mais ainda.
Selecionei o dia no site e respirei fundo
antes de começar a ler.

“Uma viagem que você programou pode não

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acontecer ou talvez você enfrente imprevistos no


caminho. Pode ter preocupação com alguém que
mora longe.”

— Eu não tenho nenhuma viagem —


resmunguei e suspirei quando li o restante. — Mas
estou preocupada com você, mamãe. Porque
precisa complicar tudo?
Ela era muito teimosa. Faziam quatro dias
que não falava com ela. Já tínhamos ficado até mais
do que isso sem contato, mas nunca brigadas.
Nunca com ela me expulsando de casa. Nunca nos
confrontamos e nos magoamos tanto como daquela
vez. Eu não gostei da sensação. Me fazia sentir
insegura. Minha mãe era como uma casa para onde
eu sempre poderia voltar, mas agora eu me
perguntava se ela ainda me receberia como antes.
— A culpa foi dela — murmurei.

“NO AMOR:
Pensar em alguém perto do seu grande amor é
insuportável para você. Caso comece a se sentir
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insegura, se revela ciumenta e possessiva.


Obcecada. Aí discute sem razão. Mas antes de
brigar com ele sem motivos certos, se controle e
controle o seu ciúme. Só revele suas intrigas
quando houver uma razão verdadeira e ele der
motivos. Se for o contrário, transforme a
possessividade, o ciúme e a obsessão em amor,
compreensão, apoio e muita atenção.”

Franzindo a testa, eu li mais uma vez para


garantir que entendi tudo certo.
— Senhor Luzu, você me escreve isso
porque não conhece o meu amor.
Para Juan e eu conversar primeiro e brigar
depois não existia. E para ser sincera, a gente
gostava de gritar antes de tudo, eram os melhores
tipos de preliminares.
Cliquei na aba Escorpião para conferir o
dele, mas antes que pudesse começar a ler, vieram
batidas fortes na porta. Eu praticamente pulei da
cama, correndo para ele. Com um sorriso enorme
no rosto, abri a porta e... murchei no mesmo
instante.
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— O que você quer, Enrico?


Ele passou por mim entrando, segurou meu
braço e fechou a porta.
— Faça suas malas, eu vou te colocar num
avião para a Capital agora mesmo.
Joguei a cabeça para trás numa gargalhada
incrédula.
— Você não cansa? Sua noiva por acaso
sabe que está aqui? — Coloquei as mãos na cintura
e nesse momento os olhos dele desceram para a
minha vestimenta, ele engoliu em seco e desviou o
olhar.
— Isso não tem nada a ver com ela.
— Eu acho que tem sim, já que você se
enfia no quarto de outra mulher sem ser convidado.
Como sabia que eu estava aqui?
— Todos sabem, esse é um dos clubes que
nós frequentamos quando estamos em Veracruz,
sua imbecil!
— Todos? — perguntei, hesitante.
Ele me deu um olhar nada agradável.
— Santiago, Galdino, Julio, Jorge. Juan se
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atrasou e nós sabíamos que ele estaria aqui, só que


ninguém esperava encontrar a “secretária” saindo
da piscina.
— Enrico...
— Eu consegui impedi-los de subir e
confrontar você com a ajuda de Julio, mas estou me
perguntando porque diabos fiz isso.
Eu olhei ao redor, pensando velozmente no
que fazer.
— Desça e diga que não era eu, que se
enganaram.
— O que?! Eu não vou participar dos seus
jogos, Aya! Você escolheu o cara errado para
brincar e olha as consequências chegando. O cerco
está se fechando para você! A equipe não vai dizer
nada, mas se isso cair na boca de alguém, seja pela
mídia ou por Jaqueline, você está fodida. Ele é
peixe grande e ainda que eu não devesse, estou te
avisando, estou preocupado pela a sua mãe!
— Minha mãe não tem nada a ver com
isso.
— Eu sei que vocês brigaram. Você não vê
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que só prejudica a si mesma? Se isso — ele abanou


a mão ao redor — fosse certo, sua mãe ficaria
contra você?
— Você deveria cuidar da sua vida. Vá
embora e cuide dela.
— Eu estou cuidando, e muito bem. Mas
sou um idiota que vê você caminhando direto para
um penhasco e tento te impedir.
Revirei os olhos e dei de ombros.
— Eu estou apenas me divertindo, você
deveria fazer o mesmo. Eu não tenho culpa que
você esqueceu o que é viver e se tornou amargo
para a vida.
— Eu me tornei amargo pela vida? —
perguntou quase num grito. — Eu mudei, é claro
que sim! Como não mudar depois de pegar a minha
namorada com o meu primo na cama?
Eu vacilei para trás com aquilo, mas soltei
uma risada sem humor.
— É incrível como você sempre esquece
que isso só aconteceu porque eu te peguei primeiro
com aquela vadia da faculdade!
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Aquilo no passado havia me machucado


tanto, mas hoje não fazia nem cócegas, nem mesmo
falar sobre ou me lembrar da cena foi um
incomodo. Ele chegou mais perto e segurou meu
braço, apertando e me puxando para si, rosnando
no meu rosto.
— Você achou que viu uma coisa, mas
aquilo não aconteceu. Nem me esperou explicar e
foi usar Izac para se vingar de mim. Porque isso é o
que você faz.
Me soltei de seu aperto e deixei meu rosto a
centímetros do seu.
— Fiz. Fiz e faria de novo. Aquela vaca
não caiu do céu na sua cama, e eu não me importo
se algo aconteceu ou não, eu te vi deitado com ela e
quer saber? Foi bom que isso tenha acontecido.
Ambos ficamos livres de algo que fracassaria mais
cedo ou mais tarde. Só antecipamos.
— Como você sabe que fracassaria? Como
tem tanta certeza?
— Eu apenas sei, Enrico.
— Você não ficou para nos dar uma chance

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de descobrir.
— Não teria dado certo porque eu não te
amava! — gritei. Os olhos dele arregalaram.
— Aya... — ele sussurrou. A voz tinha um
tom magoado que me surpreendeu.
— É a verdade.
— Não... nós passamos anos juntos. Nós
nos amávamos.
— Eu pensei que te amava, sempre
acreditei nisso. Mas a forma como eu amo Juan me
mostra que o que eu sentia por você não era amor.
Enrico deu alguns passos atrás, passando as
mãos pelo cabelo, meio desnorteado.
— Você o ama?
— Sim, loucamente — me sentei na cama e
joguei os braços ao ar. Passei as mãos pelo meu
rosto, horrorizada ao ver aquelas malditas lágrimas
verdadeiras começando a cair sem controle. —
Argh! Não é um bom sentimento.
— Amar é sempre bom, Aya. Amor se for
verdadeiro é o melhor dos sentimentos.
— Não no meu caso — dei a ele um sorriso
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que o fez dar um passo atrás. — Eu o amo de uma


forma que me faz sentir doente.
Enrico se aproximou e ajoelhou na minha
frente, tomando minhas mãos nas suas e olhando
nos meus olhos.
— Você precisa ir embora, é para a sua
segurança.
— Juan vai me manter segura. Eu não vou
embora.
— Esqueça todos os nossos assuntos, as
vezes que nos machucamos, por favor, finja que
nada disso existiu e controle a sua raiva. Agora me
escute.
— Isso não tem a ver com você. Eu não
vou deixa-lo!
— Porra! Aya! Me escute! — gritou e eu
não aguentei mais sua pressão em cima de mim. Só
havia um jeito de fazê-lo entender que eu jamais
abandonaria Juan.
— Eu não tenho tomado as minhas pílulas.
Enrico arregalou os olhos mais ainda e
balançou a cabeça em negação.
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— Aya, pelo amor de Deus!


— Não tomo desde a primeira vez que
transamos. — Dei de ombros — Se não tiver nada
de errado comigo ou com ele, acho que já devo
estar grávida.
Eu permaneci sentada na cama e Enrico
ajoelhado na minha frente segurando minhas mãos
sem se mover. Seu aperto era a única coisa que me
impedia de cair para trás e desabar de chorar.
Admitir para o meu ex namorado da vida toda que
eu estava prestes a dar um golpe em seu amigo não
era algo que eu me imaginaria fazendo. Mas a ideia
de Juan me deixar algum dia passou a me deixar
inquieta, sem saber o que fazer. Amar não era bom,
eu odiava amar.
— Pense no que está fazendo, Aya. Pense
na sua mãe.
Eu lhe dei um sorriso inocente e acariciei
seu rosto.
— Você jura que está pedindo para eu
pensar em alguém além de mim mesma?
Ele abaixou a cabeça, percebendo que

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aquela conversa não levaria a lugar nenhum. Uma


batida soou na porta, o fazendo ficar de pé
rapidamente. Ele levantou e foi até lá, abriu apenas
um pouco e perguntou o que a pessoa queria, mas
um segundo depois a porta estava sendo empurrada
e Santiago entrava, me olhando assustado.
— Aya, você está bem? — Ele correu para
mim ao ver meu rosto molhado. Pelo menos teve a
decência de não ficar olhando meu corpo quase
completamente exposto.
— Santiago, não é um bom momento cara.
— Enrico tentou segurá-lo, mas ele se afastou,
franzindo a testa.
— Eu quero saber se você está bem, fale
comigo. — Segurando meu rosto, Santiago me deu
um leve e rápido beijo nos lábios antes que eu
pudesse prever isso e reagir.
— Ah, puta merda Aya! — Enrico gritou
atrás de nós, puxando os próprios cabelos.
— Cara. — Santiago se endireitou e
apontou para fora. — Você é meu amigo, mas eu
vou cuidar dela agora, cai fora.

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— Cuidar dela? — Enrico gargalhou e uma


parte minha quis rir junto. — Você está pirado,
porra! Ela não precisa ser cuidada, precisa que
alguém coloque juízo nessa cabecinha oca! Aya,
olhe para mim.
Eu olhei e mordi o lábio, não sabia como
me sentia. Queria que os dois dessem o fora porque
Juan chegaria a qualquer minuto.
— Você está dançando na corda bamba, se
enrolando nesse monte de situações, elas vão
explodir na sua cara. Me escute, pelo amor de
Deus! — Achei uma graça que ele parecia tão
desesperado para me ajudar.
Decidi naquele momento que não estava
mais com raiva de Enrico, na verdade, queria que
ele tivesse uma boa vida. Não me importava que
fosse com Luz, ou qualquer outra. Ele nunca
encontraria alguém para me substituir, e o carinho
que eu via em seus olhos por mim deixava claro
que ele ainda sentia algo, mas eu não sentia nada.
Só por Juan.
— Eu conversei com você, mas agora vou
falar com Santiago.
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Ele me fitou por vários minutos, incrédulo.


Então suspirou e jogou os braços no ar.
— Foda-se, eu desisto dessa merda — disse
e abriu a porta, saindo do quarto.
Desviei meus olhos da porta e olhei para
Santiago. Ele sentou do meu lado e me abraçou,
suas mãos descendo e subindo pelas minhas costas.
— Fiquei preocupado quando te vi assim.
— Ele se afastou e me olhou, seus olhos desceram
rapidamente para meus seios. Ele pousou uma mão
na minha coxa, subindo-a perto da calcinha e veio
me beijar outra vez. Bastou encostar para que eu
tomasse outra decisão.
Eu não queria mais Santiago por perto.
— Eu amo outro homem — eu disse perto
de seus lábios e ele travou, franzindo a testa.
— O que?
— Eu tenho dormido com outro homem e
eu o amo. Nós não podemos mais nos beijar. —
Peguei sua mão da minha perna e a coloquei na sua
própria. — E você não deve mais me tocar assim.
Ele levantou, meio em choque.
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— Você está de sacanagem.


— Na maioria das vezes eu estou —
concordei — Mas estranhamente agora é sério.
— Você me deu esperanças, Aya. Ficou
cheia de gracinhas e agora me diz isso?
— Sim. — Eu olhei ao redor, decretando
que ele não era mais importante para nada, fiquei
de pé e me aproximei dele. — Acho que me cansei
de você.
Ele bufou, soltando um riso amargo.
— Você é uma vadia.
— Sim — concordei novamente. Passei por
ele e fui até o frigobar, peguei uma garrafa de água
e a abri, tomando um gole. — Pensando bem, eu
realmente sou.
Santiago pegou a garrafa da minha mão e a
jogou na parede. Se foi para me assustar, não surtiu
efeito. Ele me encarou respirando pesadamente por
vários minutos e levantou a mão, mas deu alguns
passos atrás.
— Você não vale a pena. — Ele abriu a
porta e saiu sem fechá-la.
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Eu respirei aliviada que os dois tinham ido


embora. Olhei ao redor no quarto e decidi que
precisava de uns ajustes antes que Juan chegasse.
Fui até a porta fechá-la, mas assim que meus olhos
bateram lá fora, percebi que nem precisaria esperar.
Meu lindo loiro estava lá de pé com a
cabeça baixa. E quando olhou para cima, a fúria em
seus olhos me fez dar alguns passos atrás, o
encarando com temor. Ele entrou e fechou a porta.

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Capítulo 29
“Com este rosto que ilumina o céu
Eu já sei muito bem o que fazer
Nunca sobrará mais um beijo meu
Porque eu vou dar todos a você
Você nunca perderá uma música
Porque você será minha inspiração
Para cantar para você”
Maite Perroni ft. Alexis & Fido,
como yo te quiero

— Meu amor! — eu disse, sorrindo e


correndo para abraçá-lo, mas antes que meus
braços rodeassem seu pescoço, ele segurou meus
pulsos e deu um passo atrás, então me soltou.
— É assim que você recebe seus
convidados? — ele perguntou calmamente, mas eu
podia ver pela rigidez de sua mandíbula e os
punhos cerrados ao lado do corpo que o controle
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estava por um fio.


Maldito Santiago.
Por um momento fiquei tensa que ele
tivesse visto também Enrico sair dali, mas não ia
me entregar antes de saber a quem se referia.
— Ele não era um convidado.
Simplesmente apareceu.
— É engraçado como as coisas sempre “só
acontecem” com você, Aya. É malditamente
conveniente todas as vezes.
— Você vai começar logo cedo? Sério? Eu
estava te esperando, mas se soubesse que haveria
uma briga, teria ido dar um passeio. — Revirei os
olhos, dando-lhe as costas.
Ele me alcançou, puxando-me de volta para
seu peito.
— Você está no meu hotel, comigo. Não
existem outros aqui.
— Se você vai dar um chilique por causa
de Santiago eu já disse que...
— Não — ele me interrompeu, levando
suas mãos a segurar meu pescoço com firmeza —
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Não me importo com isso. Apenas me deixe ter


você. Se precisa de outros, se quer outras pessoas,
eu aceito, eu não vou dizer nada. Só não posso ficar
sem você. Você é minha, Aya. Mesmo que não seja
inteiramente.
Franzi a testa, totalmente confusa por suas
palavras.
— O que está querendo dizer?
— Vou te dar tudo. Casas onde quiser,
viagens, todas as joias que quiser são suas. Eu não
me importo com o que é preciso, apenas fique
comigo.
— Eu não preciso do seu dinheiro — puxei
meu braço e o encarei friamente.
Agora me sentia exposta naquela camisola
que coloquei unicamente para ele, me arrependi de
tê-lo esperado e ainda o recebido com tanta
ansiedade. Como ele ousava falar comigo daquela
forma? Insinuar algo do tipo?
— Eu tenho vontade de ir atrás de Santiago
e rasgar a garganta dele. Me corrói por dentro não
saber sobre o que falaram e o que fizeram aqui.

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Estou com tanta raiva que quero te mandar embora


com a roupa que está, mas nem isso posso fazer. —
Ele passou as mãos pelo cabelo, frustrado e fechou
os olhos.
— Porque não faz? Se precisar que eu lhe
poupe o trabalho, faço eu mesma minha mala.
— Não. Não posso deixa-la ir. — Recuei
alguns passos enquanto ele avançava, mas minhas
pernas encontraram a cama e cai sentada, ele se
inclinou sobre mim. — Não posso impedi-la de ver
outros homens. Deveria amarrá-la nessa cama até
que eu volte todos os dias. Você seria apenas
minha. Mas não posso fazer isso também. A única
coisa que posso fazer é convencê-la de ficar,
mesmo que seja uma maldita que ainda queira
outros homens.
— Pare! — Segurei seu rosto, meus olhos
estavam arregalados por sua confissão. A voz rouca
beirava a raiva, ao desespero. Ele me olhava como
se quisesse me enforcar e procurar maneiras de me
manter tudo ao mesmo tempo. — Eu não quero
mais ninguém, não desejo ninguém.
— Não posso acreditar nisso quando te
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vejo vestida dessa forma e presencio um homem


que já beijou sair do seu quarto. — Ele passou as
mãos pela renda da camisola, seus dedos fazendo
tremores passarem por meu corpo. — Com esse
pano inútil ele pode ver cada parte de você, cada
parte que é minha.
— Eu não me importo com ele ou com o
que ele viu, o que preciso fazer para que acredite?
Eu só quero você, Juan. — Acariciei o rosto, beijei-
o e cheirei, tentando convence-lo com palavras e
gestos.
Ele levantou a cabeça e me olhou, seus
olhos buscando os meus. Eu via refletida nelas
fúria, desejo, raiva, paixão, chamas de um fogo que
nós dois acendíamos juntos todas as vezes que nos
tocávamos.
— Diga que é minha. Diga que não quer
mais ninguém. Eu duvido que essa boceta fique tão
encharcada para qualquer outro como fica para
mim.
Suspirei com suas palavras, sentindo meu
ventre apertar e emoções me tomarem por inteira.
— Então você se importa.
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— O que quer dizer? — perguntou com


olhos estreitos.
— Disse que não se importava se eu
quisesse outros, contanto que ainda fosse sua
prostituta.
— Eu nunca te chamaria de algo assim. —
Ele segurou meu queixo, seu tom foi sombrio,
severo.
— Me oferecendo joias, casas e viagens
para te receber entre minhas pernas parece
exatamente isso.
— Eu te daria tudo isso de qualquer forma,
você é minha. Diga.
Mordiscando meu lábios, passei os dedos
por seu peito ainda coberto pela camisa, como se
estivesse pensando.
— Aya — rosnou, impaciente. — Diga.
Lhe dei um sorrisinho.
— Eu sou sua. Não quero mais ninguém.
Minha boceta fica encharcada apenas para você
como nunca ficou com ninguém antes e você não
precisa nem me tocar para isso.
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Um barulho quase que animal escapou de


seus lábios.
— Boa menina — sussurrou — É a mesma
coisa com a porra do meu pau.
Sua língua passou deslizando pelos meus
lábios, abrindo o caminho quase com delicadeza,
mas a suavidade acabou ali mesmo, porque assim
que nossas línguas se tocaram ele segurou o topo da
camisola e puxou ambos os lados juntos, rasgando
ao meio a renda que me cobria. Separou a boca da
minha, arfando e estreitou os olhos.
— Você deveria ser proibida de usar
branco.
Eu quis rir, mas sabia que não era um
elogio.
— Você vai pagar por isso, eu a adorava.
— Te compro dez. — ele mordeu meu
lábio inferior o suficiente para me fazer soltar um
gritinho pela dor aguda e ajoelhou na cama,
empurrando o terno para fora dos ombros fortes e
abriu a camisa, deixando o peito a amostra para
mim.

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Lambi os lábios, como sempre maravilhada


com a visão.
— Hoje seu signo...
— Aya — rosnou, me interrompendo e
segurando meu rosto com uma mão. A outra desceu
pelo o meu pescoço, apertou meu seio e desceu
pela barriga, parando quando a palma quente cobriu
meu sexo molhado e já pulsante. — Não venha
com as suas merdas agora. Eu não estou no melhor
humor.
Um fio de raiva começou a crescer em
mim, tentei me sentar e empurrei seu peito, mas a
parede de músculos mal se moveu.
— Se estava com raiva não deveria ter
vindo para mim. — Ele enfiou um dedo em mim,
calando-me instantaneamente, caí para trás
novamente, gemendo quando acrescentou o
segundo. Ele se inclinou, abaixando a cabeça e
pousando abaixo da minha barriga.
— Você me deixou com raiva, nada mais
justo que seja a única acalmá-la.
Eu quis perguntar o que fiz para irritá-lo,

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sabia que ver Santiago saindo do meu quarto


poderia provavelmente ser o motivo. Mas seus
dedos entrando e saindo de mim impediam
qualquer palavra, e mais ainda quando senti sua
língua passar pelo lugar mais necessitado do meu
corpo. Eu gemi, deliciada. Desci minhas mãos,
tocando os fios de cabelo que tanto adorava,
ansiosa para depois vê-los bagunçados.
Os dedos saíram e os braços fortes vieram
ao redor das minhas coxas, impedindo qualquer
movimento, ele pressionou a língua mais forte no
meu clitóris inchado, balançando-a naquele ponto
que me deixava louca como se sua língua e minha
boceta estivessem dançando juntos. Minhas costas
arquearam, puxei seu cabelo mais forte e ele
rosnou, levantando a cabeça e subindo o corpo
acima do meu. Ele usou uma mão para segurar as
minhas e as bateu acima da minha cabeça, olhando
meus olhos com chamas polvilhando nos seus.
— Deixe-me examinar os meus bens,
porra. — Com a outra mão ainda livre, ele
continuou fodendo-me lentamente com os
movimentos mais calculados.
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Meus olhos reviraram com a sensação,


aquele sentimento único começou a crescer no meu
estômago, meus dedos dos pés apertaram juntos e
ergui a cabeça, arqueando-me completamente, mas
quando ia caindo no meu abismo-paraíso particular,
ele parou. Eu gritei de agonia e gemi ao mesmo
tempo quando voltou a enfiar os dedos em mim.
— Pare de me torturar — pedi baixinho,
lágrimas de prazer escorrendo pelas minhas
têmporas.
Ele inclinou a cabeça para o lado e afastou
as mãos de mim, saindo da cama para se desfazer
de suas calças e cueca, então voltou e deitou em
cima de mim novamente, mas pressionando todo o
nosso corpo juntos dessa vez.
— Diga-me Aya... — ele começou a falar
enquanto beijava meu pescoço, girando os quadris
e deixando seu pau roçar na minha abertura. —
Você está protegida?
Mesmo em meio a névoa torturante de
prazer meus ombros endureceram, fechei os olhos e
segurei seus ombros, cravando minhas unhas nele.
— Eu não tenho nenhuma doença —
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sussurrei e deslizei minha mão entre nós, tentando


alcançar seu pau e enfiá-lo dentro de mim.
— Ainda não — disse ele, capturando meu
pulso no meio do caminho. — Eu sei que você é
saudável, eu também sou.
— Então, pergunta respondida — abri os
olhos e lancei minhas pernas ao redor de sua
cintura. — Agora me foda.
— Você entendeu a pergunta. Temos
fodido sem proteção, então estou dizendo a mim
mesmo que você toma algo, mas preciso de
certezas.
— Sim — eu menti sem hesitação, olhando
com firmeza em seus olhos — Eu tomo.
Ele me avaliou por alguns minutos sem
demonstrar nada, eu não conseguia sequer suspeitar
o que passava em sua mente, e quando abri a boca
para perguntar ele se ergueu e segurou minha
cintura, me rolando de barriga para baixo e ergueu
meu quadril, deixando minha bunda para cima. Eu
gemi só de pensar na sensação dele me enchendo
tão fundo naquela posição.

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Ele arrastou a mão do meu pescoço pelo


meio das minhas costas até minha bunda,
alcançando-a com um tapa estalado que me fez dar
um salto contido. Minhas mãos esticaram para
cima, agarrando o travesseiro e o arrastando para
mim, o enfiei embaixo dos seios e pescoço,
tentando ficar mais alta para olhar para trás e ter
uma boa visão daquele homem me tomando.
Balancei minha bunda no ar, num convite e
aceitação claros do que queria. Ansiava. Ele soltou
um riso sombrio e baixo, batendo-me outra vez.
Gritei de novo.
— Tão linda, tão gostosa — outro tapa,
mas dessa vez meu grito se estendeu, porque ele se
posicionou na minha entrada e entrou com tudo. A
cabeça grossa do pau abrindo caminho e fazendo-
me revirar os olhos em êxtase.
— Mia madre, Juan... — ofeguei — Você
está tão fundo...
Segurando minha cintura, ele recuou,
saindo quase por inteiro e impulsionou para a frente
de novo, fechei meus olhos, apoiando a bochecha
no travesseiro e levando minhas mãos para trás das
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costas, procurando qualquer parte dele para tocar.


Gememos com cada impacto, ele metia tão fundo e
com tanta força que me perguntei meio tonta se era
possível me rasgar em duas.
— Porra — rosnou — Quero me afundar
em você e não sair mais. É tão quente. — Ele deu
outro tapa e acariciou onde acertou. — Eu vou
comer essa bunda. Em breve.
Eu queria isso, céus... como queria. Seus
dedos me seguravam com firmeza, os quadris
batendo na minha bunda e o barulho se juntando as
nossas respirações, gritos e gemidos.
— Essa bocetinha apertada me recebe tão
bem — ele puxou meu cabelo, fazendo minha
cabeça ir para trás com tudo. — Ah, minha
loirinha... ela foi feita para mim.
Inalei bruscamente, quase não conseguindo
me manter nos joelhos, e parecendo adivinhar isso,
ele passou um braço pela minha cintura, erguendo
minhas costas até seu peito. Os dentes travaram na
pontinha da minha orelha e as mãos agarraram
meus seios, apertando e girando meus mamilos
duros enquanto metia sem parar. Eu senti os
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músculos dele ondulando em minhas costas, nosso


suor se misturando, seus ruídos e palavras safadas
abafadas contrastando com meus gemidos sôfregos.
Um gemido estrangulado escapou enquanto
eu gozava, quase me debatendo na cama, Juan me
fodeu ainda mais forte, implacavelmente metendo
mais e mais. Eu não era a única delirando de
prazer, olhei para seu rosto e seus olhos estavam
cerrados, a boca apertada numa linha fina, se
segurando. Os músculos tensos, as veias saltadas e
quando meu clímax se estendeu, ele agarrou meus
seios, enfiando o rosto na curva do meu pescoço e
mordendo, abafando um grito. Senti seu sêmen
espalhando dentro de mim e um sorriso mole se
plantou no meu rosto.
— Eu te amo — sussurrei em seu ouvido,
foi tão baixo, mas ele parou rigidamente por um
momento. Eu pensei que fosse se afastar, mas seus
braços me rodearam com mais força e ele se jogou
para o lado, caindo na cama e deixando-me
esparramada em cima de seu corpo. Respiramos
fundo, encaramos o teto, e nos recuperamos em
completo silêncio.
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Só para minutos depois começar tudo outra


vez.

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Capítulo 30
“Não preciso de permissão
Tomei a decisão de testar meus limites
Porque é da minha conta, Deus é minha
testemunha
Vou terminar o que comecei
Não preciso hesitar
Vou tomar o controle da situação
Estou travada e carregada, completamente focada
Porque algo em você
Me faz sentir como uma mulher perigosa”
Ariana Grande, dangerous woman

Apaguei a sétima mensagem que digitei


para mamãe e suspirei, eu sentia sua falta.
As sacolas das maiores lojas do Shopping
de elite de Veracruz não fizeram muito para
acalmar meu coração ferido, tampouco me distraiu
como pensei que fosse. De alguma forma, todas as

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coisas que sempre fiz para esquecer os problemas


não estavam mais dando certo. Eu imaginava que
devia ser como para um viciado, depois de muito
tempo com a mesma droga, ela se torna sem graça,
pouco satisfatória.
Sexo, compras e me encher de mimos não
estava dando certo. Nem mesmo de manhã quando
Juan me beijou antes de sair me fez esquecer
totalmente o que vinha me atormentando: minha
briga com mamãe. Claro que não havia sido o
primeiro dos nossos desentendimentos, já ficamos
sem nos falar por alguns dias, mas as palavras que
dissemos uma a outra, os olhares que ela me deu e
a forma como eu falei com ela me assombravam.
De todas as pessoas, havia apenas uma em
quem eu pensava antes de tomar algumas decisões,
sempre a considerei por um minuto. Nunca do tipo
“o que mamãe pensaria?”, mas sempre “será que
isso afetaria o bem-estar dela?”. Isso me ajudava a
dormir um pouco mais tranquila de noite, sabendo
que pelo menos tentei levar em conta as opiniões da
pessoa mais importante da minha vida. Mas do que
adiantou? No momento em que eu precisei do
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apoio dela, ela me julgou. Eu não podia voltar para


a casa e pedir desculpa por um erro que não foi só
meu.
Ela precisava aceitar Juan, precisava
acreditar que eu estava apaixonada. Ela me
conhecia. Sabia que eu faria de tudo por ele e para
estar com ele. E foi contra isso. Minha primeira
paixão real e sincera e mamãe não ficou ao meu
lado.
E sperei para atravessar, guardando o celular
quando me decidi que ainda não era o momento de
ceder com ela. Quando cheguei ao outro lado,
retomei minha caminhada, mas segundos depois
uma limusine chegou ao meu lado e se mantinha
em movimento lentamente. Eu olhei tentando ver
discretamente através do vidro, mas era escuro
demais.
Já estava pronta para parar de andar e voltar
uns passos quando uma das janelas de trás abriu e
uma mulher tirou os óculos escuros, fiquei cara a
cara com Jaqueline. Ela me fitou com olhos
estreitos.
— Entre.
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Eu fiquei parada por um momento, surpresa


com sua aparição repentina e excêntrica. Lhe dei
um sorriso e dei a volta quando fechou a janela,
abri a porta e entrei. Estava tão ansiosa para ver
aquela cadela outra vez que sua surpresinha sequer
me desconcertou. Eu tinha muito a dizer. E ela
finalmente ia me ouvir.
Assim que me acomodei no banco de frente
para ela, tive uma visão clara e um tanto quanto
inesperada. Da primeira vez que a vi, a fria e
concentrada mulher triste parecia contida, as roupas
mais sem graça que eu já vi e um coque horrendo
no cabelo. Mas hoje, assim como nas outras vezes
que a vi depois que aceitei nosso trato, ela exibia
uma aparência totalmente diferente.
O vestido verde musgo estava um pouco
acima dos joelhos, era franzido da cintura para
cima e tomara que caia, exibindo seios generosos.
Silicone ou natural, eram bonitos. Os cabelos loiros
estavam um pouco mais curtos do que eu tinha
visto dias antes, batendo dois dedos abaixo dos
ombros e caíam em ondas brilhantes. Ela usava
pérolas de tamanho exagerado no pescoço e nas
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orelhas também, e tinha uma maquiagem bem feita.


Estava a minha altura.
Bonita, elegante e fina.
De uma forma distorcida isso me fez sentir
bem. Eu queria Juan, e ela queria também, eu não
sabia suas motivações reais para isso, mas o que me
interessava era que ela desejava o que era meu. Se
fosse a antiga triste Jaqueline, eu teria dó só de
lembrar das noites selvagens que passava com
Juan, mas estando diante da refinada Jaqueline,
toda a culpa ia embora, principalmente quando ela
cruzava suas pernas como acabara de fazer,
exibindo um Louboutin da última coleção e soprou
a fumaça mal cheirosa do cigarro em minha
direção.
— Aya, já faz um tempo.
— Não parece ser tanto assim.
— Eu te procurei — ela levou o copo com
uma bebida escura aos lábios e tomou um gole —
Fui ao apartamento que você alugava, te liguei e
mandei mensagens. Cheguei a pensar que tinha
evaporado. Ou até mesmo... que estaria me

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evitando.
Ela estava tentando fazer um suspense,
criar um clima para me deixar tensa, mas àquela
altura, ela já devia me conhecer o suficiente para
saber que precisava de muito mais do que indiretas
para me deixar desconfortável.
— Tive outras prioridades.
Olhando as sacolas de compras, ela ergueu
uma sobrancelha bem feita.
— Estou vendo. Resolveu gastar suas
economias?
— Sim, algo me diz que não vou precisar
tanto quanto imaginei — cruzei as pernas, o
pingente da tornozeleira de ouro que Juan havia me
dado tilintou, atraindo sua atenção.
— Que bom, fico feliz que eu ter lhe
trazido para Veracruz tenha dado novos ares para
respirar, e bem... resolver algumas partes da sua
vida como essa.
As palavras educadas e simpáticas eram um
contraste enorme com o veneno em seus olhos. Eles
estavam um pouco cerrados, uma veia em sua testa
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pulsava e os lábios estavam apertados. Além disso,


o copo em sua mão tremia, o que me fazia perceber
que ela lutava para manter aquela pose calma.
Eu estava ansiosa para o momento que ela
perdesse o controle e mostrasse sua verdadeira
face.
— Você não me trouxe para Veracruz.
— Paguei sua passagem e estadia.
— Sim, nos primeiros dias, mas como deve
saber eu já devolvi cada centavo.
— É, eu vi uma pequena quantia na minha
conta.
A pequena quantia para ela, era um grande
maço de dinheiro para mim, mas mantive o sorriso
no rosto. Mais uma vez insinuando sua riqueza em
comparação a minha falta dela.
— A que devo o prazer da visita surpresa,
Jaqueline? — Acenei com a mão ao redor da
limusine. — Esse é um jeito excêntrico de
surpreender alguém. Pegando de surpresa no meio
da rua. Algumas pessoas até diriam que é meio que
assédio.
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Ela deu de ombros.


— Eu faço o que é preciso para garantir
que meus assuntos fiquem sob controle, você
sabe... mantenho os cães nas coleiras.
— Cães? — perguntei com um toque de
humor na voz. Minhas unhas afiadas torciam para
encontrar seu rosto.
— No seu caso, as cadelinhas. Prefiro ir
atrás antes que pensem que podem demais, que são
livres para fazer o que bem entendem.
Eu sorri novamente e assenti, estudando-a
com atenção. Seu rosto exibia uma expressão tensa,
mas ela parecia querer me mostrar outra coisa.
Poder talvez. Jaqueline pensava que porque tinha
uma assinatura que não valia nada, me tinha na
palma das mãos. Estava tão malditamente errada.
— Não vou cumprir o acordo — soltei de
uma vez, sem me preocupar em amaciar o baque.
Ela olhou pela janela com um sorriso
irônico, se inclinou até a porta e apagou o cigarro.
Depois virou para mim.
— Você dormiu com ele?
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— Sim — respondi em uma única batida,


sem hesitar.
Eu a vi engolir em seco e seus olhos
arregalarem levemente, como se ela já soubesse a
resposta para sua pergunta, mas a fez mesmo assim
e não estava sabendo lidar com a resposta. O
controle que tanto prendeu, se soltou. Inclinando-se
em minha direção, ela levantou a mão e a jogou em
meu rosto. Foi tão rápido que por pouco não me
acertou, mas antes que sua palma fizesse contato
com a minha bochecha, peguei seu pulso no ar e o
segurei entre nós.
— Não ouse — rosnei.
Ela puxou do meu aperto e se encostou no
banco, apertou um botão na porta.
— Continue dirigindo.
— Para onde, senhora? — A voz do
segurança que antes era meu sombra.
— Apenas dê voltas. — Ela soltou o botão
e me fitou novamente. — Eu deveria matá-la,
deveria bater nesse seu rostinho até que estivesse
desfigurado, sua puta infernal! — Sua voz foi

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subindo a cada palavra, até que estava berrando.


— Já fui chamada de coisas piores, e vá em
frente com o meu rosto. Essa não é a única parte de
mim que ele gosta.
Eu estava provocando uma mulher que,
provavelmente, era capaz de tudo, mas havia
segurado aquilo por tanto tempo que não conseguia
parar de ataca-la. Queria que sentisse cada vez que
foi grossa e mal-educada comigo, queria que
pagasse por ter me enganado. Antes de eu conhecer
Juan, me compadeci de sua dor e da evidente
tristeza — que agora eu sabia ser pura atuação —
mas ela havia me enganado, usado as palavras
certas para me fazer entrar em seu jogo.
Porque diabos eu teria dó dela?
— Ele é meu! — Ela bateu no peito,
descontrolada. — O meu marido, o meu homem!
— Aquele que você vem tentando prender
em uma armadilha, aquele que você engana e
mente. Pare com a atuação, Jaqueline. Juan me
disse sobre as outras mulheres, os outros contratos
e sua insistência em não assinar o divórcio.

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Ela pareceu surpresa com minha revelação,


mas logo substituiu por descaso.
— Isso não convém a você. Sua única
obrigação era fazer o que foi combinado.
— Você me contratou, mas mentiu
descaradamente sobre suas razões, se eu soubesse
desde o início do que se tratava nunca teria aceitado
isso. Você é louca, porra!
— EU NUNCA TE MANDEI TRANSAR
COM O MEU MARIDO!
— Tarde demais. — Ergui o queixo e dei
de ombros. — Eu o quero e eu vou tê-lo.
— Você o quer? — Ela riu. — Quer seu
dinheiro, seu status. Tenho certeza que já está
fazendo planos nessa sua cabeça para assumir meu
lugar.
— Está enganada. Eu o amo. Não que isso
seja da sua conta, mas eu vou lutar por ele e vou
fazê-lo ver que ele pode te dar um pé na bunda
definitivo e ficar com quem diabos quiser, é claro,
eu.
— Tesão acaba, e quando ele estiver velho
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e mal aguentando consigo mesmo, será que você


ainda vai estar lá?
Me inclinei em sua direção e sorri.
— Nem que eu tiver que dar a ele pílulas
azuis, nem que precise ficar sem sexo, mas é claro
que estarei. E não vou ter tão burra como você a
ponto de contratar mulheres para conseguirem algo
para chantageá-lo. Na verdade, eu nem precisaria
disso, Juan não vê nada além de mim. Uma pena
para você.
Ela estava ofegante, o peito subindo e
descendo com raiva. A expressão de ódio em seu
rosto não se parecia com a de uma mulher que
descobria a traição do marido, mas a de alguém que
perdeu um brinquedo muito valioso e estava
querendo sangue.
— Não te paguei para ser a prostituta dele.
Eu queria uma prova de que ele era infiel, só isso!
Mas eu tinha que ter desconfiado. Você estava tão
desesperada para ter alguém na sua
vidinha medíocre e vazia que meu marido foi a
opção perfeita. Jogado nas suas mãos!
— Para que você quer essas provas? Para
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força-lo a ficar com você? Para chantageá-lo por


dinheiro?
— Isso não é da sua maldita conta!
— Você me envolveu nisso e a partir daí se
tornou meu assunto também. Eu posso ser uma
vagabunda, vadia e o que mais você quiser que eu
seja, mas uma coisa é certa, eu nunca faria com ele
o que você está fazendo.
— O que eu estou fazendo? — Ela riu, uma
risada amarga e incrédula — Nós duas fomos
cumplices nisso, eu menti, mas você o tem
enganado desde então. Não pode me falar merda
quando faz a mesma coisa e até pior do que eu,
Aya.
— É sempre tempo para mudar e eu
definitivamente mudei de opinião sobre essa
parceria com você. Acabou. E ah... eu espero
sinceramente não ter que te ver novamente. — Bati
no bloqueio entre nós e o motorista — Pare o carro!
Ela não fez nenhum movimento para ir
contra minha ordem, o que eu achei bom, ela não
deveria testar minha paciência. O carro foi ficando
mais devagar.
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— Pense muito bem antes de abrir essa


porta e me dar as costas, Aya Maria. Eu não sigo
regras e não tenho limites.
— Parece que temos algo em comum,
então.
Toquei na maçaneta e ela segurou meu
braço, dando-me um olhar raivoso, cheio de fúria.
— Você vai se arrepender disso.
— Eu nunca vou me arrepender de Juan,
mas quero ver você tentar fazer isso.
Abri a porta quando paramos e agarrei
minhas sacolas, caminhando lentamente enquanto
os carros paravam em meio a buzinas para me
deixar atravessar. A limusine continuava parada no
mesmo lugar, a janela abaixou e os olhos de
Jaqueline estavam cravados em mim.
Sorrindo para ela uma última vez, caminhei
para o outro lado.

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Meu celular vibrou no meio do filme,


pausei, ansiosa que fosse Juan. Ele estava atrasado.
Tínhamos nos falado apenas de manhã e eu nunca
ligava ou mandava mensagens, ele podia estar em
momentos impróprios ou em companhias que não
precisavam presenciar nosso segredo.

Não espere por mim acordada.

Meu coração começou a bater quando li a


mensagem. Reli uma e outra vez, certificando-me
de que li corretamente, e com dedos trêmulos,
digitei a resposta.

“Nãooo :( O que houve?”

Esperei longos três minutos até sua


resposta chegar.

“Estou com um problema agora, vou te ligar


depois”

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Sentei na cama com um pulo, minha


garganta fechando em agonia e meus pensamentos
atirando como loucos em minha mente. Eu só podia
imaginar que Jaqueline fez ou disse algo, mas
rezava para que não.

Você está bem?

Passaram dois minutos, cinco e no sétimo


eu não aguentei esperar mais.

Juan, está me preocupando.

Quando o aparelho vibrou novamente dez


minutos depois, eu já tinha lágrimas nos olhos e
andava de um lado para o outro no quarto. Não
demorei a atende-lo, eu já segurava o celular
desbloqueado e tinha os olhos fixos na tela e
quando a mensagem carregou, eu pisquei uma vez,
então duas. E uma terceira. Ao ver aquilo, sentei-
me novamente, me arrastando até o meio da cama.
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Um enorme sorriso tomou conta do meu


rosto. Na imagem, eu estava deitada em seu peito,
minha mão fechada num punho em seu estômago e
meus olhos fechados, eu parecia dormir
pacificamente. Na foto podia ver apenas sua boca.
Os lábios carnudos que eu tanto adorava estava
curvado sutilmente de um lado, num daqueles
sorrisinhos que ele dava para me provocar, e sua
mão segurava um punhado do meu cabelo. Ele tirou
a foto de cima, de modo que eu era bem visível, e
nossa posição íntima me trouxe um aperto no peito.
Aquela foto significava mais do que
qualquer coisa que ele pudesse me dizer. Meus
dedos coçaram para digitar uma declaração
permanente do meu amor, de modo que ele poderia
ver em qualquer momento, mas segurei as mãos
juntas e respirei fundo. Sentia arrepios por todo o
meu corpo, e uma saudade descomunal. Uma
tristeza, amor e uma vontade louca de abraça-lo.
Nada se comparava aos braços fortes de
Juan ao meu redor, segurando-me enquanto eu
segurava o mundo.
Com aquela imagem gravada em minha
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mente, me agarrei ao travesseiro dele e fechei os


olhos.

Um toque insistente me arrancou do sono e


eu mal aguentei abrir os olhos para ver o que era,
esticando o braço, tateei atrás do celular para
desligar o despertador, mas segundos depois do
silêncio começou a tocar de novo.
— Merda — suspirei, suspirando e
atendendo a ligação. — O que é?
— Preciso de você agora! — Olhei o visor,
estranhando a voz, mas “desconhecido” brilhava na
tela.
— Quem está falando?
— Jorge. É Jorge. — Me sentei, esfregando
os olhos. Ele parecia frenético — Estamos na
minha casa, envio o endereço por mensagem, venha
agora. Rápido! — E desligou.
Pisquei um olho para conferir a hora e vi

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que faltavam dez para as três. Fiquei quieta por


mais um minuto sentada, lutando entre me orientar
ou deitar novamente, mas uma palavra no meio da
frase me fez quase pular da cama. Ele disse
“estamos”, e para Jorge me ligar três da madrugada
só podia ter a ver com Juan. Lutei com uma calça e
um sobretudo, enfiando meus pés no par de bota
casual e corri para a porta, alcançando bolsa e
celular no caminho.
Meu coração batia acelerado, sem nenhuma
ideia do que ia encontrar quando chegasse lá. Na
frente do hotel sempre tinham alguns táxis, graças a
Deus por isso. Recitei o endereço ao homem e
prometendo uma boa gorjeta pedi que fosse o mais
rápido possível.
Mil cenários passavam na minha mente no
caminho, um atentado, um assalto, um infarto — o
que diante do cansaço e estresse que ele sempre se
expunha, não seria difícil —, imaginei até mesmo
que Jaqueline pudesse ter se rebelado e tentado
contra a vida dele.
Liguei para Julio, tentei falar com Jorge,
Esmeralda e até Álvaro, mas ninguém atendia.
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Deixei mensagens para todos, até Maynara que


nada tinha a ver.
— Estamos aqui — o taxista avisou e eu
lhe passei uma nota generosa, correndo para fora e
até o portão com o número indicado. Tinham
seguranças na frente, montando guarda, e um deles
se aproximou, ninguém parecia surpreso com a
minha chegada. Eu imaginei a casa de Jorge mais
segura, um prédio ou um condomínio, mas até onde
eu sabia, se esse era o lugar onde ele estava me
chamando para provavelmente encontrar Juan,
ficou óbvio que não era sua casa de família.
O segurança abriu a porta e eu corri para
dentro, me espantando por um segundo com o
alvoroço que acontecia na espaçosa sala aberta.
Haviam pelo menos dez homens lá dentro,
correndo de um lado para o outro, gritando, falando
ao telefone, acompanhando a TV ligada, laptops
abertos. No canto, os seguranças que geralmente
acompanhavam Juan estavam quietos, observando.
Um caos. No meio daquela zona de guerra eu
procurei freneticamente pela pessoa que me levou
ali, mas não o vi, foi quando uma mão contornou
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meu braço e me levou para o meio da sala. O rosto


vermelho de Jorge chegou tão próximo do meu que
me assustei, dando um passo atrás.
— Porque diabos demorou tanto!?
— Me desculpe, o que? — Cruzei os
braços. — Você sabe que horas são?
— Não me interessa que horas são, o
trabalho nunca acaba, nunca para. E você tem um a
ser feito.
Olhei em volta novamente, ainda confusa.
— Você entende que me tirou da cama as
três da madrugada então eu mereço no mínimo um
pingo de educação?
Ele nem se conteve de revirar os olhos.
— Não seja dramática, sabemos que você
não faz questão desses clichês — eu ergui uma
sobrancelha, ofendida e ele suspirou, passando as
mãos pelo rosto — Preciso de você, preciso da sua
ajuda. Ele precisa de você.
— O que... o que quer que eu faça? Não
entendo nada de política, vocês são os caras aqui,
essa não é minha área!
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— Aquele homem é a sua área — gritou,


apontando para uma porta fechada e meu estômago
caiu, sabendo que era Juan — Seu único trabalho é
acalmá-lo, fazê-lo pensar com clareza, colocar a
porra da cabeça dele no lugar.
Meus olhos arregalaram diante de seu
pedido.
— Jorge... eu não...
— Não, poupe-me da negação, eu não sou
estúpido. Não sei de que forma vai fazer isso, mas
vá até lá e o traga de volta. O homem inteligente,
calmo, educado e a fera política que nós
trabalhamos para colocar no poder. — Eu hesitei,
ainda chocada com suas palavras, ele perdeu o fio
de paciência que lhe restava — Agora!
— Primeiro — eu disse, levantando um
dedo e jogando minha pequena bolsa na primeira
mesa que vi pela frente — Você vai parar de gritar
e me dizer o que diabos está acontecendo, depois
eu vou ver se posso dar um jeito nisso.
Ele riu.
— Querida, — ele deu um passo mais

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perto, baixando a voz — vá até aquele quarto e tire


uma solução das suas coxas mágicas, porque eu
preciso do governador da porra do estado aqui.
Eu não podia acreditar nas palavras daquele
porco cretino maldito.
— Coxas mágicas?
— Coxas mágicas — disse ele
ironicamente. — Cartola do poder, do que você
quiser chamar.
— Vá para o inferno. — Dei a volta, pronta
para sair pela porta onde entrei, mas Jorge me
chamou de volta. Eu parei, mas não virei. Ele veio
à minha frente, juntando as mãos.
— Me desculpe! Ok? Nunca mais me refiro
a nada com relação a essa pequena... aventura de
vocês. Eu estou desesperado, me entenda, sou um
homem desesperado agora!
— Quer a minha ajuda? Quer que eu foda o
seu chefe até que ele esteja relaxado o suficiente
para sorrir e acenar? Quer que eu acalme a fera
humana e traga a besta política? Tudo bem, faço
isso com prazer. Mas você vai me tratar com o

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respeito que eu mereço e se algum dia falar sobre


qualquer parte do meu corpo novamente, eu uso
alguma parte mágica minha e arranco uma sua.
Entendeu?
Os olhos dele estavam arregalados quando
terminei, o rosto ainda mais vermelho.
— Perfeitamente.
— Certo, agora... me traga a minha besta.
— Você pode ir até lá e...
— Não, traga-o aqui. Acredite em mim, se
eu entrar num quarto com ele agora, sua situação de
emergência não será minha prioridade —
murmurei.
— Isso — ele começou, mas parou e olhou
para o teto — Me poupe dos detalhes, quanto
menos eu souber, menores as chances de
testemunhar.
Dito isso, ele foi até a porta aonde tinha
apontado e tirou uma chave do bolso, abrindo-a.
Juan saiu descontrolado, quase agarrando a
garganta do homem.
— Qual a porra do seu problema? — rugiu.
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— Senhor, quase destruiu minha sala, eu


senti que precisava de um espaço.
— Um espaço? Me trancando num cômodo
sozinho? Eu quase perdi minha mente nas últimas
horas, filho da puta!
Eu levei a mão aos lábios para esconder
meu sorriso, mas ele estava gritando e tinha uma
sala cheia de homens a postos para resolver seja
qual fosse o problema, a única coisa que os impedia
era: Juan. Então eu percebi que deveria ser
realmente sério para que estivesse tão louco, e
Jorge, tão desesperado que me chamou.
Caminhei até ele, e depois de dar dois
passos, seus olhos vieram para mim. Ele parou de
falar no mesmo instante e me fitou de cima abaixo,
a pontinha da língua correu pelo lábio inferior e ele
colocou as mãos na cintura, me observando ficar
mais e mais perto.
— Quem a trouxe? — ele perguntou, sua
voz de repente tinha suavizado, mas a borda de
irritação ainda estava lá.
— Eu pensei que fosse deixa-lo mais...
tranquilo, senhor.
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Juan o fitou por dois segundos e lhe deu um


tapinha nas costas.
— Uma coisa que você fez certo.
— Ei — eu disse quando restava apenas
um palmo de distância entre nós.
Ele soltou uma respiração pesada e ergueu
uma mão, como se quisesse me tocar, mas no
último segundo a fechou em punho e voltou atrás.
— Aya. Você está aqui.
— É claro que sim, parece que meu
governador não sabe lidar muito bem com a raiva.
— Ele sorriu. Os olhos estavam cansados, meio
avermelhados, a camisa amassada e eu apostava
que ele não tinha comido. — Você jantou?
— Não tive tempo para isso — ele olhou ao
redor e começou a se agitar novamente. — Preciso
voltar ao trabalho.
— Porque você não come primeiro? —
Ousei tocar seu peito, uma reação automática para
quando eu queria confortá-lo — Que tal se eu pedir
algo?
Eu vi que alguns dos homens me olhavam
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com surpresa, não demorando a entender o que


estava acontecendo ali. Juan já tinha me falado
sobre alguns deles, eu sabia que eram seus caras de
confiança, se Jorge me levou ali, não havia o que
temer. Eu podia amar meu homem e apoiá-lo sem
receio dos olhos em nós.
— Onde está Álvaro? Esse filho da puta
tinha uma obrigação, apenas uma e era estar aqui!
— gritou. — Onde diabos ele está?
— Querido... — chamei, segurando seu
braço.
Ele empurrou suavemente, mesmo diante
da fúria que o cegava.
— Agora não, Aya. — Apontando para
Julio, que só agora eu tinha percebido a presença,
ele disse — Encontre o meu irmão, não me
interessa onde ele está, ache-o! Mesmo que tenha
que arrastá-lo com uma faca na garganta ou
desmaiado, apenas faça!
Ok, eu estava feita. Ele surtou. Me
aproximando dele, sem nenhuma hesitação, segurei
seu rosto, trazendo os lindos olhos verdes para mim
e foquei totalmente nele.
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— Juan. Olhe para mim, concentre-se em


mim. Não sei o que é, mas você pode fazer isso,
você vai fazer isso, só tem que estar calmo. Se
Álvaro não está, você resolve.
— Eu não posso...
— Pode. Você pode fazer qualquer coisa
maldita que quiser.
— Precisamos dar uma declaração,
governador — Julio disse atrás de mim.
— Uma declaração — eu repeti
suavemente, acariciando seu rosto. — Nós
podemos sentar e você vai beber uma água, um
uísque, café ou o que quiser beber, depois faremos
a declaração e você vai dar um jeito nisso. O que
quer que seja.
Juan se sentou, um segundo depois uma
garrafa âmbar foi posta em sua frente e um copo
meio cheio na mão.
— Precisamos escrever a declaração — um
homem disse, ignorando o momento de calma que
eu queria que Juan tivesse.
— Não — eu disse em alto e claro som,
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encarando o que disse. — Ele não escreve os


discursos, deixe-o saber sobre a situação, explique
o que está acontecendo, o atualize em cada
momento que alguma novidade aparecer, isso vai
dar a ele a declaração. Apenas o deixe a par de tudo
e na hora que for para falar, ele se sairá perfeito,
como sempre.
— Eu preciso de alguns minutos com você
a sós — murmurou.
— Só alguns minutos? — brinquei.
— Talvez minutos que configurem horas
— ele segurou minha mão, começando a ler os
papéis que o entregavam, mas parou e virou para
Jorge. — Me tranque de novo e estará demitido.
A boca de Jorge contraiu, mas ele não
deixou o sorriso aparecer.
— Sim, senhor.
Mas eu sorri, feliz de ver sua interação com
seus companheiros de trabalho, de estar com ele
quando precisou. Feliz de saber que tinha ajudado a
colocar sua cabeça no lugar e com o coração cheio
de perceber que quando não sabiam o que fazer

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com ele, eu era a primeira a ser chamada.


Então eu voltei ao trabalho, segurando sua
mão a cada minuto da madrugada.

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Capítulo 31
“E onde está esse botão que levava para felicidade
Lua de mel, rosa pastel
Clichês e coisas triviais
Não falar do que nós dois construímos
E no final que tal?
Você e eu já não existimos”
Belanova, rosa pastel

— Devemos fazer uma viagem — disse


ele, dando uma pausa no café que tomava.
— O quê? Por quê?
— Porque eu quero passar um tempo com
você. Tenho que ir amanhã à tarde para Cancun e
acho que deveria vir comigo. Poderíamos esticar a
viagem um ou dois dias. Não posso me dar ao luxo
de sair mais do que isso, você sabe.
Sim, eu sabia. A política, seus hotéis,
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Jaqueline... ele tinha uma vida para cuidar. Mas o


fato de que estava abrindo cada vez mais espaço
para mim dentro dela trouxe uma centelha de fogo
em meu coração.
— Sua esposa não precisa ir? — perguntei
suavemente.
Ele deixou a xícara de lado e levantou,
levantando da cadeira e ajoelhou na minha frente.
— Eu preciso da mulher que passou a
madrugada acordada comigo, me acalmando,
gritando com meus colegas de partido, colocando
meus seguranças para comer e descansar. Preciso
daquela que me apoiou, que me fez ser um líder.
Preciso de você.
— Essa viagem será muito aberta —
sussurrei, lutando com a emoção obstruindo minha
garganta.
— Sim, será. Mas eu sei ser cuidadoso.
Deslizei da cadeira para seu colo e o
abracei.
— Então sim, vou viajar com você.
Ele sorriu aquele lindo sorriso matador.
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— Bem, então... se prepare para amanhã.


Dei de ombros.
— Não há muito o que preparar. Faço isso
em quarenta minutos.
— Só acredito vendo.
— Você sabe, não são todas as mulheres
que levam um tempo muito grande para arrumar
alguns pares de roupas.
— Considerando que você não precisará
das suas, eu concordo.
— Então essa viagem é nada mais que um
pretexto para me deixar nua. Ah, Juan... você
sempre dá um jeito.
— Aya — disse em tom de aviso enquanto
beijava diferentes lugares do meu rosto e pescoço
— Quando se trata de você, eu sempre vou dar um
jeito.
— Porque você não fica essa noite e me
mostra outras maneiras de dar seu jeito?
— Espertinha — um sorriso torto cruzou
seus lábios e ele roçou um beijo leve no meu
pescoço. — Ligue para a sua mãe e diga que estará
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fora por dois dias. Pretendo deixar seu celular longe


do mundo e te manter para mim enquanto
estivermos lá.
O sorriso deixou meu rosto e me senti
cansada, de repente.
— Mamãe não será um problema —
murmurei.
Juan franziu as sobrancelhas.
— Entendo. Ela não se deu bem com a
ideia de nós dois juntos. Sinto muito por ter
aparecido lá, tenho certeza que foi um choque para
ela.
— Sim, foi — forcei um sorriso e o beijei
— Mas não há nada para se desculpar, eu sou
adulta e mamãe precisa entender isso.
Ele segurou meus braços e me afastou,
sentando na minha frente.
— Aya, não quero que haja problemas
entre vocês duas, e principalmente que brigue com
sua mãe por causa de mim.
— Isso não é sobre você — menti — É
sobre a minha vida e o fato de que eu a controlo.
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Mamãe precisa me apoiar ou... aprender a lidar com


minhas escolhas.
Ele me encarou por alguns segundos antes
de assentir.
— Tudo bem. Como disse, você é adulta e
faz suas escolhas.
— Sim, e escolhi você — murmurei em
seus lábios, aproximando-me novamente e jogando
uma perna em seu colo. — E não me arrependo.
— É muito bom saber disso. — Seus olhos
escureceram e eu sorri, sabendo que tinha
conseguido um pouco mais de tempo quando ele
começou a me abaixar no chão, pairando em cima
de mim. — Ou eu teria que lembrá-la por que fez
essa escolha.
— Você sabe o quê?
— Hum?
— Acho que me esqueci.
Ele rosnou e suspirou no meu ouvido
quando passei as unhas por seu pescoço.
— Então deixe-me refrescar sua memória.

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Eu o encontrei pouco depois de uma da


tarde no dia seguinte para a viagem. Me controlei
para não correr em seus braços e agarrá-lo até que
pudéssemos ficar nus entre as paredes do avião.
Caminhei lentamente até ele, seu segurança e
motorista que sempre me pegava onde eu precisava
ir estava a alguns passos atrás de mim, tinham mais
dois homens atrás de Juan e eu deduzi que a equipe
de voo já deveria estar lá dentro. Os homens
mantinham os olhos longe, robôs treinados para
ignorar tudo o que acontecia enquanto não
colocasse Juan em perigo.
Ele sorriu para mim quando me aproximei
e ignorando minha discrição, passou um dedo da
minha mandíbula até o queixo, erguendo meu rosto
para ele.
— Minha loirinha. — Suas palavras foram
baixas e me derreteram ali mesmo. Juan capturou
meus lábios num beijo delicado e eu espalmei as
mãos em seu peito, tentando afastá-lo. Ele sorriu

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como se entendesse minha preocupação e me


achasse engraçada.
Ele não estava preocupado que alguém nos
visse?
— Se comporte, Governador — murmurei
provocando-o.
— É claro, posso me segurar até subirmos
as escadas.
Eu dei risada.
— E fecharmos a porta e colocarmos o
cinto e chegarmos ao nosso destino.
— Você está louca se pensa que eu vou
deixar minhas mãos longe durante o voo inteiro.
— Deve ser um voo rápido. — Dei dois
tapinhas em seu peito. — Você aguenta.
— Quase duas horas? Não.
Dei risada e comecei a responder, mas um
dos seguranças se aproximou.
— Senhor, movimento no pátio sul. Vocês
dois precisam subir.
Selei meus lábios e ergui as sobrancelhas

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para ele, fazendo um movimento em direção as


escadas.
— Suba — ele ordenou e eu fiz, ansiosa
para ver se poderíamos aguentar pelo menos até o
avião estar no ar.
Nós mal sentamos quando uma pessoa que
eu não esperava ver nunca mais entrou, o segurança
e motorista de Jaqueline. Ele não disse nada,
apenas me deu um olhar que arrepiou meus cabelos
da nuca e entregou um telefone a Juan.
— Não tenho tempo agora — Juan
dispensou.
— É urgente, senhor. O senhor vai querer
atender.
Com um suspiro, Juan se levantou e
apertou minha mão.
— Eu volto já.
Sentindo um desespero súbito, tentei
segurá-lo.
— Não! Não vá, vamos deixar o trabalho
aqui e seguir com a nossa viagem.
Eu comecei a espalhar beijos em sua
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mandíbula, e Juan me deu um sorriso descontraído,


mas tirou minhas mãos de sua camisa e balançou o
telefone.
— Nós vamos viajar, mas eu vou resolver
isso rapidamente e já volto. — Ele segurou meus
rosto, me deu um último beijo e se afastou, saindo
do avião.
Com pernas trêmulas, me aproximei da
janela e olhando para baixo, o vi afastado dos
outros seguranças. Cabeça baixa, os ombros caídos
e uma mão fechada em punho ao lado do corpo
enquanto a outra segurava o telefone no ouvido.
Franzindo a testa, eu levei um minuto
olhando em volta e pensando em mil coisas.
Nenhuma delas parecia tão terrível quanto a que
começou a borbulhar na minha mente.
Todas as vezes que ele tinha um problema,
sempre me deixava ajuda-lo. Que fosse
conversando, nos saciando da melhor forma que
sabíamos na cama ou apenas falando enquanto eu
escutava, mas nunca, em nenhuma ocasião ele me
desprezou. Nunca me deu as costas quando algo
ruim acontecia. Eu sempre era sua tábua de
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salvação, seu apoio e conforto. Porque não daquela


vez?
Comecei a hiperventilar, a possibilidade do
que poderia estar acontecendo rasgando meu peito
e cortando o ar para fora dos meus pulmões. E
como se me visse no meio do pânico absoluto, ele
levantou a cabeça e seus olhos bateram diretamente
em mim. Diante de seu olhar, não me restaram
dúvidas.
Então sim, a terrível parecia a mais certa
opção do que estava acontecendo. Eu me afastei da
janela, tropeçando para trás e nem cinco minutos
depois ele voltou. Eu ainda tentava encontrar calma
para contornar qualquer que fosse a situação.
— Nós precisamos voltar — foi a primeira
coisa que ele disse, estava tenso.
Eu me aproximei e abracei sua cintura,
encostando meu rosto no peito forte.
— Não, Juan... diga a quem quer que fosse
que não pode voltar agora. Vamos seguir com
nossos planos, meu amor.
Ele olhou para baixo, para mim e cerrou a

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mandíbula. Os olhos estavam sérios e com um


brilho que eu não reconheci. Me assustou na
mesma medida que fez-me pensar que deveria ser
sério o suficiente para perturbá-lo daquela forma.
— A viagem não vai acontecer — disse ele
com os dentes cerrados e me afastando de vez, saiu
do avião novamente.
Eu ainda estava parada sem saber o que
fazer quando um de seus seguranças entrou e pegou
minhas malas.
— Senhora? O carro está esperando.

Nós chegamos tarde no hotel, Veracruz que


antes parecia ensolarada e bem-vinda, agora me
fazia temer os próximos minutos do que me
aconteceria. Juan saiu do carro no estacionamento
subterrâneo e não me deu um olhar, fiz um
movimento para descer, mas seu segurança me
parou e manteve um olhar atento sobre mim.
Apenas depois de alguns minutos ele me deixou
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sair, segurou meu braço e me arrastou elevador


adentro. Nós não paramos até chegar ao meu andar,
e quando passou o cartão pela porta do meu quarto,
a abriu e acenou para dentro.
Eu entrei e a porta fechou.
Vi Juan de imediato, estava encostado na
janela com a cabeça baixa, as mãos nos bolsos e a
linda boca apertada numa linha fina.
Dei uma rápida olhada ao redor para
garantir que estávamos sozinhos e me aproximei
lentamente dele, um passo lento depois do outro.
— Juan... meu amor... o que houve? —
Engoli em seco. — Você vai me dizer agora?
Passaram vários segundos, as batidas do
meu coração soando no ouvido e só então ele
ergueu a cabeça, seus olhos atiravam punhais de
fogo em mim.
— Por que você não me diz?
— O-o quê?
— Já passamos por isso, certo? Eu já te
questionei sobre suas intenções várias vezes e você
foi verdadeira em todas elas, não é mesmo?
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Eu não sabia o que dizer, lágrimas picavam


em meus olhos, quase transbordando para fora.
— Eu... Eu...
As palavras não saíam. Por que as malditas
palavras não saíam? Eu só precisava pedir perdão,
me explicar e tudo ficaria bem. Mas como fazer
isso sem me entregar? Se ainda nem sabia porque
ele estava nervoso. Mesmo tendo uma suspeita, ele
não havia dito uma palavra para confirma-las.
— Você o quê? Quer me dizer algo?
Meus olhos arregalados e minhas mãos
trêmulas eram um claro sinal de que sim, eu queria
dizer algo, mil coisas, mas nenhuma única palavra
saiu da minha boca. Ele deu um passo à frente,
ergueu as mãos e segurou meu rosto, analisando-
me calmamente. Os olhos pareciam duas pedras de
gelo. Sem nenhum vestígio do calor que sempre
transbordava dele.
— Você quer finalmente ser verdadeira,
Aya?
Ergui minhas mãos para tocá-lo, mas ele se
afastou antes disso, foi até a poltrona onde seu

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paletó estava pendurado e pegou o celular.


— Juan...
Ele mexeu por alguns segundos, então se
aproximou de mim novamente e virou a tela para
mim. Todo o sangue drenou do meu rosto quando
vi as fotos ali.
— Você quer me dizer porque estava em
um resort com a minha esposa? — Ele passou para
a próxima e me mostrou de novo — Ou porque em
várias ocasiões estava com o segurança dela? Vai
me contar porque ela frequentemente te visita nos
meus hotéis e até no apartamento que ficou por
alguns dias?
Eu permaneci quieta, em completo choque
diante da revelação de que Jaqueline contou tudo a
ele. Minha cabeça estava entrando em parafuso e
não pude dizer uma palavra em minha defesa, não
só porque não tinha uma, mas também porque
Jaqueline registrou cada passo da nossa interação.
As provas estavam ali diante dele e cada uma
apontava para mim.
— É, eu pensei que não fosse. Ao que
parece, a honestidade é um ponto difícil para você.
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Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa,


a porta foi aberta e Jaqueline entrou. Ela exibia um
enorme sorriso no rosto e passou por mim me
olhando diretamente nos olhos, quando chegou ao
lado de Juan, segurou o braço dele e apoiou o rosto
em seu ombro, a outra mão foi para seu peito,
acariciando-o. Eu dei um passo à frente, pronta
para arrancar seus malditos dedos, mas a voz dele
ecoou alga e grave pelo quarto.
— Não se aproxime de mim.
Meus olhos correram para ele. Surpresa,
magoada e ferida que tivesse a escolhido acima de
mim.
— Juan?
— Tudo era muito suspeito desde o início.
Eu sempre desconfiei, e até tinha como descobrir se
cavasse mais fundo, mas eu não queria. Não quis
acreditar que você realmente seria capaz de algo
assim.
— Não é desse jeito... — tentei falar, me
explicar, mas ele me interrompeu.
— Você mentiu, me enganou, me

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manipulou. Você derramou lágrimas e usou cada


tática possível para ficar cada vez mais perto de
mim. Eu te contei coisas sobre o meu trabalho,
sobre minha carreira... sobre mim!
— Eu sei...
— E você me traiu. O que é irônico na
verdade, talvez até a porra do karma. Eu traí minha
esposa e minha amante me traiu.
— Não foi assim, no começo eu aceitei
sim, mas ela me disse que você era o contrário de
tudo o que conheci depois. Você é bom e leal e um
homem incrível. Eu só queria ajuda-la, mas juro
Juan, eu mudei de ideia no momento em que te
conheci melhor!
— Eu te contei o que ela fez, eu te disse
que houveram outras mulheres que se aproximaram
para conseguir me chantagear, e você me olhou nos
olhos e disse que nunca faria o mesmo.
Ignorando seus avisos, me aproximei dele,
desesperada para fazê-lo ver a verdade em meus
olhos.
— E eu disse a verdade! Naquela época já

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havia mudado de ideia! Me convenci de que não


cumpriria o trato com ela, eu juro! Me apaixonei
por você Juan, me apaixonei e não faria nada para
machucá-lo.
Ele balançou a cabeça, tinha um olhar
resignado e a expressão dura, não acreditava em
uma palavra que saía da minha boca.
— Você trouxe? — ele perguntou, sem
tirar os olhos de mim.
— É claro, meu amor. — Jaqueline abriu
sua bolsa e tirou um papel, entregando a ele.
Eu reconheci de imediato e olhei para ela,
esperando que visse as promessas de morte em meu
rosto, mas ela apenas sorriu. Ainda segurando Juan
como se ele precisasse do seu apoio. Ele não
precisava, ele a detestava!
— Esse contrato... — ele disse,
balançando-o para mim. — Pensei que nunca mais
veria um desses.
— Eu sinto muito que tenha te colocado em
perigo, amor — ela disse a ele. — Se eu soubesse
como Aya era instável nunca teria feito isso. Foi a

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última vez, eu prometo. Isso acabou.


Ele se soltou do aperto dela e se aproximou
de mim.
— Eu vou te dar o triplo e você vai sumir.
— Não... Juan... eu não quero o dinheiro.
Você precisa acreditar que...
— Te dou quatro vezes mais do que você
assinou aqui. Mas não quero vê-la outra vez. Se eu
ver seu rosto novamente vou me certificar de que as
coisas se tornem difíceis para você.
— Isso... isso não é verdade. Eu juro. —
Solucei e estava pronta para ajoelhar e implorar seu
perdão. Se Jaqueline não estivesse ali, eu teria feito
isso.
Juan tirou os olhos do papel e me fitou, a
mágoa que vi ali me fez dar um passo atrás,
desnorteada. Jaqueline pegou a folha de sua mão e
jogou no meu rosto.
— Essa assinatura não é verdade também?
A fitei, focando toda a minha raiva nela.
— Sua vaca desgraçada! Você me
procurou, e agora você tramou tudo isso!
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Ela riu sem humor, os olhos me atirando


adagas.
— Claro. O que mais vai dizer? Que eu a
persegui e a convenci de dar em cima do meu
marido? Que a obriguei a assinar um contrato
garantindo que ficaria quieta? O que mais? Que eu
mandei que seguisse meu marido e até trabalhasse
ao lado dele?
— Sim! Sua cínica! E sabe que fez tudo
isso!
— Eu te ofereci um contrato, Aya, mas foi
apenas isso. Que tipo de mulher joga outra em cima
do próprio marido? Eu só te mandei tirar fotos se
ele me traísse, não pedi que fosse você a que
estivesse nessas fotos.
Ouvindo ela dizer tudo aquilo, percebi
como não fazia sentido algum. Todas as evidências
estavam contra mim. De repente desejei que ele não
tivesse atendido o telefone, desejei nunca ter feito
as malas. Queria voltar no tempo e tê-lo
convencido a ficar no nosso paraíso.
Ela bufou, sabendo que não haviam
chances para mim e olhou para ele.
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— Isso é para você aprender, Juan. Existe


apenas uma mulher em quem você pode confiar. Só
uma que sabe dos seus defeitos, conhece cada
pedaço seu e ainda assim te ama a ponto de
aguentar tudo! Eu errei em tentar salvar nosso
casamento dessa forma, mas agora você sabe que
existe coisas muito piores do que um casamento em
crise, como por exemplo, uma mulher mentirosa e
interesseira. Como Aya.
Ele me encarou por mais alguns segundos,
então como se aquilo fosse uma reunião de
negócios encerrada, pegou seu paletó, a folha no
chão e passou por nós duas, indo para a porta. Eu
abri a boca para chama-lo, mas ela falou antes que
eu pudesse pensar em algo.
E também... o que eu poderia sequer dizer
que o faria me ouvir? Acreditar em mim?
— Meu amor, eu estarei logo atrás de você
— ela gritou, e quando a porta fechou com um
baque, virou para mim. A inocência que havia ali
antes foi embora, restando apenas o sorriso maligno
e uma expressão vitoriosa.
— Por que fez isso? — perguntei, dando
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um passo mais perto. — Por que fez tudo isso?


— Era o único jeito.
— Do quê? De se vingar? Você disse que
eu me arrependeria, então foi isso? Vai fazê-lo
pensar que sou louca e ia acabar com ele quando
você sabe que eu não ia?
— Não. Não foi por vingança. Juan já me
traiu antes, isso é passado. Isso foi porque... era a
única forma de conter uma ameaça. A destruindo
antes que ela te destrua.
— Ameaça? Que ameaça?
— Você.
— Eu não tenho culpa do que Juan
começou a sentir por mim — rosnei.
— Juan? — Ela riu. — Isso não é sobre
Juan.
— Então o quê?!
— Minha família. Aquela que você quase
destruiu. Mas agora... agora você não é nada além
da amante do meu marido. Aquela que entrou em
nossas vidas e tentou me destruir, tirando meu
marido de mim.
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Eu não estava entendendo nenhuma única


coisa. Ou Jaqueline tinha ficado louca de vez, ou
algo muito estranho estava acontecendo.
— Acha que me importo com as traições
do meu marido? Ele me dá uma vida refinada,
joias, luxos, viagens e dinheiro ilimitado. De
brinde, eu o tenho para mim.
— Do que adianta isso? Tudo isso. Eu
posso ter o perdido, mas você também não o tem.
— Eu não preciso dele, só preciso que ele
faça exatamente o que vai fazer agora.
— E o que é?
— Sumir com você. Você era o meu
problema em primeiro lugar e agora... você seguiu
cada passo até o seu fim. — Olhando-me de cima
abaixo, ela riu — Adeus, Aya.
Ela foi até a porta e abriu, mas antes me
olhou por cima do ombro.
— Ah, devo avisá-la que quando ele diz
que causará problemas se você não sumir, ele fala
sério.

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PARTE II

“Por que você está tão obcecado por


mim?”
mariah carey, obsessed

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Capítulo 32
“Ontem me beijava e não podia parar
E dançou pra mim até o amanhecer
Quando acordei eu quis te chamar
E agora me diz que não se lembra”
Maluma, borro cassete

Me tornei uma mera espectadora.


Assistindo o homem que amava em seus
discursos, palestras e quaisquer compromissos
públicos em que seu nome foi confirmado. Eu
sempre estava lá. Três semanas haviam se passado
e eu desisti de tentar contatá-lo apenas dois dias
atrás, não por ter desistido de nós, mas porque a
ordem de restrição deixava claro que deveria
manter distância.
Eu nunca pensei que ele cumpriria suas

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ameaças se eu não me afastasse, mas quando


segurei o papel que legalmente me obrigava a ficar
longe dele, percebi que machuquei Juan mais do
que poderia ter imaginado. Não importava o quanto
estava doendo em mim, para ele, devia ser dez
vezes pior. Me consolava que Jaqueline não estava
com ele quando eu o via nas minhas caçadas
escondidas, que os dois não estavam fazendo o
papel de casal do ano. Embora eu soubesse que se
ele a exibisse, seria mais do que merecido para
mim.
A verdade é que o amor estava ferrando
com a minha cabeça. Essa porra de amor que eu
nunca quis sentir. Eu sabia que amava mamãe,
amava May e amava Esme. Mas o amor que sentia
por Juan... não havia explicações para isso. Era um
sentimento que corroía e machucava, que forçava
lágrimas pelos meus olhos e roubava minha
respiração.
Eu o queria de volta. Todos os dias.
Havia também Alyna. Depois saímos juntas
no dia que nos conhecemos, ela me ligou três dias
depois, dizendo que precisava de mim para um café
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e de um ouvido para reclamar sem ser julgada. Eu


dei isso a ela, me sentindo um pouco culpada por
confraternizar com o inimigo pelas costas de Esme,
mas Alyna era boa e mesmo que parecia toda
gentil, eu percebia que ela tinha uma casca dura.
Nossos encontros ocasionais para cafés no meio da
tarde correram por três vezes, e depois que Juan me
deixou, embora ela não soubesse o motivo da
minha tristeza e amargura, continuou me ligando,
mandando mensagens, agindo como uma amiga.
Uma amiga que eu não merecia ter, mas ainda
assim não abri mão. Eu fui até mesmo convocada
para seu casamento. Foi quando percebi que
precisava falar com Esme, só não sabia como
chegar ao assunto.
— Aya, está ouvindo?
Eu pisquei, olhando para minha mais
recente amiga e sorri. Mas diferente das outras
vezes, esse sorriso forçado não pareceu verdadeiro,
não enganou. Nem mesmo Esme, que sabia que eu
podia ser a mais incrível enganadora, se convenceu.
— Não tenho preferidos — eu disse. —
Peça e vou te acompanhar.
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Ela me deu um olhar cheio de


compreensão, mas havia um pouco de pena ali
também, como se soubesse o que eu estava
sentindo. E eu não duvidava que ela poderia saber,
afinal, estava com
Álvaro, e eu sabia que ele podia ser mil vezes pior
que Juan. Esme estava com ele a anos, ela o amava
quase que acima de si mesma.
Alguns meses atrás eu a teria chamado de
idiota e a levado para alguma balada, e só me daria
por vencida quando ela beijasse, bebesse e se
divertisse. Mas quando ela e May tentaram essa
tática para me fazer deixar Juan fora dos meus
pensamentos, fui a maior cadela. Maior do que já
era em tempo integral.
— Japonesa não é sua favorita, em geral —
resmungou — Preciso começar a lembrar disso e te
levar para outros lugares.
— É comida — dei de ombros — Esses
lugares me acalmam, o incenso e as luzes. Gosto de
vir e a comida não é ruim.
Suspirei profundamente. Incenso me
lembrava Juan. Cancun. Massagens e jasmim.
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— Certo. Então vai ser esse aqui. — Ela


apontou para uma opção e começou a pedir as
bebidas, a funcionária do restaurando ia anotando
tudo.
Esme esperou a mulher se afastar e me
fitou seriamente, como se estivesse considerando
suas palavras antes de dizer.
— Diga de uma vez — pedi sem
delicadeza.
— Álvaro me disse algumas coisas.
— E você vai me dizer ou fará como das
outras vezes? Me deixando no suspense enquanto
imagino mil e um cenários.
— Eu nunca te disse porque sei que não é
nada que te ajudará.
— Você não sabe disso.
— Tudo bem — disse, exasperada — foi
você quem pediu. Ele voltou para a casa com
Jaqueline.
Meu coração afundou, mas me inclinei para
a frente, estreitando o olhar nela.
— É mentira. Álvaro é um mentiroso, é
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isso o que sabe fazer, ele mente.


— Não é mentira, Aya.
— Como você pode saber? Ele colocou
câmeras lá dentro? Tem fotos do Juan com ela?
Porque eu não acredito nem por um minuto que eu
fui uma crise e agora o que? Os dois estão
milagrosamente se reconciliando.
— Casamentos dão certo e errado o tempo
todo, o fato é...
— O fato é — a interrompi — que Juan
não faz o tipo que vai para terapia de casal. O fato é
que nós nos amamos, eu o magoei e agora preciso
lidar com isso. Se ele precisa de distância, tudo
bem. Se ele quer um tempo, ok! Mas não me diga
para desistir porque eles voltaram.
Ela selou os lábios, balançando a cabeça.
— Tudo bem, eu desisto.
— Ótimo! Porque acredite em mim, os dois
moraram juntos por anos e nem isso fez com que
desse certo. Depois de mim? — Soltei um riso
amargo. — Para Juan, não há recuperação depois
de mim. Ele vai perceber.
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— Odeio te ver assim — resmungou. —


Sinto falta da Aya dos primeiros dias.
— Qual? A manipuladora, vadia, mentirosa
e sem escrúpulos? — Dei de ombros. — Ainda está
aqui, só não há mais utilidade para ela.
Esme riu e estendeu a mão, segurando a
minha.
— Não, a Aya que se colocava em primeiro
lugar.
Eu desviei o olhar e não respondi, mas em
alguns momentos, quando doía demais pensar em
Juan, eu sentia falta daquela Aya também.
O amor era uma droga.

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Capítulo 33
“Gostaria de parar o tempo e ver o céu em teu
olhar
Por cada estrela, por cada noite
Nossas almas se encontram e se reconhecem
Porque queres, porque pedes
Vou te mostrar que o amor existe
Te amar é meu desafio
Vou sentir e esperar
E teus olhos, tua voz e teus sonhos seguirei
E lutarei para te conquistar”
Jennifer Lopez, tu

Liguei para Julio pela terceira vez naquele


dia e a resposta foi a mesma: caixa postal. Eu não
sabia se o homem estava me evitando ou não podia
falar no momento. Ou pior, se Juan descobriu que
Julio vinha me dando pequenas informações sobre
ele e cortou qualquer contato. Julio vinha
cumprindo o que disse e eu percebi o que era ter
um amigo. As vezes ele aparecia com comida,
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outras ligava por um minuto ou dois e perguntava


se eu estava bem. Mensagens de texto eram diárias,
como se para me checar, ter certeza que eu não
tinha ficado maluca de vez.
Por isso eu tinha um plano e estava prestes
a fazer o que ia fazer. Colocar o emprego de um
dos meus únicos poucos amigos em risco não era
uma opção. Então eu decidi agir por conta própria e
assumir riscos maiores. Como aquela.
— Aya, por favor minha amiga, você
precisa voltar para a casa.
— Eu estou em casa — sussurrei,
encarando o prédio a minha frente sem piscar.
— Não Aya, sua casa é aqui, na Capital.
Você só vai superá-lo se...
— Eu nunca vou superá-lo. E não preciso,
porque é apenas uma questão de tempo até que ele
volte para mim.
Maynara suspirou.
— Uma ordem de restrição não é
exatamente uma declaração de que ele só quer
tempo para pensar, Aya. Você precisa abrir os
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olhos e encarar a verdade.


— E que verdade é essa?
— Que acabou. Que ele está seguindo com
a vida e você precisa fazer o mesmo. Você...
Eu tirei o telefone do ouvido e o abri,
tirando a bateria e jogando-o dentro da bolsa.
Maynara e Esmeralda estavam me tirando cada
grama de paciência com os monólogos quase
diários. As duas queriam colocar na minha cabeça
ideias que simplesmente não estavam certas, como
abandonar Juan. É claro que eu sabia que ele estava
puto comigo, furioso. Magoado. Eu tinha completa
noção do estrago que fiz, mas a ideia de ficar sem
ele fazia uma dor crescer do meu estômago até cada
nervo do cérebro.
Eu não podia. Desistir de nós, mesmo que
ele já tivesse feito isso, não ia acontecer.
Sugando uma última profunda respiração,
atravessei a rua e empurrei as portas duplas do
prédio bonito e antigo, o porteiro estava no meio de
uma conversa animada com um casal que imaginei
serem moradores, então não me viu passar, graças
ao enorme espaço da recepção.
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Subi de escada até o segundo andar para


não chamar sua atenção no térreo e peguei o
elevador lá, acionando para o sétimo andar. Eu
sabia o endereço e número do apartamento porque
Julio considerou um último favor conseguindo a
informação. Ele sabia que eu seria inofensiva, aos
seus olhos, era apenas uma mulher sofrendo, nada
para se preocupar. E acrescentou isso a sua longa
lista de favores que eu lhe devia.
Corri até a porta no final do corredor, sem
nem precisar conferir o número na porta duas vezes
já que tinha decorado tudo de tanto planejar a
visita.
Toquei a campainha e esperei dez
segundos, não ouvi nada de dentro, então comecei a
bater. Conhecendo-o, deveria estar se vestindo,
desmaiado na cama ou se preparando com arma e
distintivo para sua inesperada visita — eu.
Assim que a porta foi aberta eu exalei e
entrei como um furacão. Ele me chamou, irritado e
ouvi a porta batendo com força atrás de mim,
depois seus passos pesados me seguiram.
— Quem diabos você pensa que é para
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entrar aqui assim? E quem te disse onde eu moro?


— Você precisa convencê-lo a falar
comigo, Enrico. Tem que dizer a ele!
— O que? Quem?
— Juan! — gritei e as lágrimas começaram
a cair, eu não soltava nem um soluço, mas a
insuportável água não parava de vazar. Deus, eu
odiava esse choro descoberto depois de Juan. —
Por favor, Enrico...
Me aproximei dele e segurei sua camisa
entre os punhos, o encarando com desespero.
— Diga a ele para... — comecei a falar,
mas fui cortada por um estrondo atrás de mim e
logo uma voz que eu não ouvia a semanas.
— Então, você não o conhece? — sua
pergunta atiçou todos os pelos do meu braço, e não
da boa maneira.
Soltei Enrico e virei para ele, tão aliviada
em vê-lo, amargurada que ainda parecia tão incrível
como quando tínhamos estado juntos, diferente de
mim, que me sentia terrível, mas coberta de amor e
desejo por colocar meus olhos nele outra vez.
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— Juan... meu amor... — sussurrei e dei


um passo em sua direção.
Um sorriso sombrio cruzou seus lábios.
Como se estivesse enojado. Ele segurava um copo e
apontou para Enrico, erguendo as sobrancelhas em
sarcasmo.
Era cedo demais para beber, porque ele
estava bebendo tão cedo?
— Ou melhor, nas suas palavras... Nunca
se viram, falaram ou se cruzaram por aí.
Passei as costas das mãos pelo rosto,
limpando as lágrimas e tomando um fôlego.
— Eu posso explicar isso — acenei para
Enrico com desdém, como se não fosse nada. E
realmente, comparado a Juan, ele não era.
— Eu não quero suas explicações, essa é só
mais uma mentira na sua conta.
Franzindo o cenho com suas palavras,
cheguei a um passo dele, minhas mãos doendo para
subir e tocar seu rosto, acariciar a barba que
começava a crescer. Mostrar com meu toque, beijos
e carinho como senti sua falta.
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— Te amar nunca foi uma mentira.


— Me amar? — perguntou com
indignação. Ele riu, balançando a cabeça em
negação. — Você me destruiu, Aya. Isso nunca
poderia ser amor.
— Eu vou dar algum espaço para vocês. —
Enrico disse atrás de nós, abrindo a porta.
— Não é necessário. — Juan disse, ao
mesmo tempo que eu falei — Ótimo.
— Eu vou ainda assim — Enrico nos deu
uma última olhada, então saiu.
Juan bebeu e se jogou no sofá, colocando
os pés para cima na mesa de centro e esticando o
braço no encosto. Ele parecia bem, relaxado... em
paz. Mas eu o conhecia bem o suficiente para saber
que o olhar em seu rosto era tudo, menos bem,
relaxado e pacífico.
— Eu não vou nem perguntar por que você
tem tanta liberdade para entrar aqui como e quando
quer — disse ele.
Meu pulso acelerou. Um sorriso quase
subindo aos meus lábios ao perceber que ele se
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importava.
— Não é cedo demais para beber?
— A bebida tem ajudado.
— Em quê?
— Em tirar você da minha mente fodida.
Eu andei os passos curtos até ele e me
sentei em seu colo, segurando os ombros fortes e
fechando os olhos por um momento no alívio
imediato de tê-lo novamente.
— Você não quer me tirar da cabeça. Como
pode querer esquecer como somos bons juntos?
— Sim, o sexo é incrível, mas
eventualmente vou encontrar alguém tão boa como
você.
Trincando meus dentes, me segurei para
não me exaltar. Ninguém tocaria nele, nem por
cima do meu cadáver debaixo da terra.
— Me perdoe — sussurrei, incapaz de
continuar fitando o homem que eu amava sem dizer
qualquer coisa. — Eu sinto tanto, Juan.
Ele nada disse, só olhou para mim como se
eu fosse a coisa mais bonita que ele já viu, mas
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também se arrependesse de cada minuto que


permaneceu na minha presença. E eu entendia, tudo
o que fiz, as mentiras, os enganos e a forma como o
manipulei... tudo tão calculado.
— Eu deveria ter dito. Eu deveria ter te
contado, eu sinto muito. — Solucei, segurando as
mangas de sua camisa cada vez mais apertado —
Eu te amo. Eu te amo tanto... Me perdoe, por favor.
Eu amo você.
— Você me destruiu, Aya. Não há mais
uma palavra que diga que me faça acreditar em
você, não consigo olhar nos seus olhos e vê-la
como algo além de uma mentirosa.
— Não... — protestei, quase gritando em
desespero — Isso não é verdade. Eu te amo e
vamos passar por isso.
— Não, não existe mais um “nós”. Você
ainda é a mulher mais linda que eu já vi. Mas é
apenas isso. Alguém para me lembrar que existe
mais do que beleza.
Eu chorei, mas não importava quantas
lágrimas deixei cair e o quanto elas doíam no mais
profundo do meu coração, ele parecia não voltar
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para mim. Segurando meus pulsos, ele me colocou


sem se preocupar em ser delicado para o sofá e
levantou, ajeitando a camisa.
— Você está violando a lei, ignorando uma
ordem de restrição que eu coloquei em você. Então
vá embora, porra. Isso não é um pedido.
— Nenhuma ordem de restrição me para,
Juan. — Fiquei de pé, seguindo-o. — Você é meu.
— Não, Aya. Não sou.
— É sim. Assim como eu sou sua.
— Antes. Antes de descobrir cada mentira
e agora, saber que elas não acabaram. Eu estou me
perguntando quando a próxima revelação virá à
tona.
— Juan, me escute...
— Acabou.
— Pare com isso! — sussurrei, furiosa.
Empurrando seu peito e fazendo-o tropeçar
ligeiramente para trás. — Olhe para nós! Você quer
me estrangular? Ok, mas tenho certeza que quer me
beijar também. E eu quero abraça-lo, quero te
beijar e fazer amor com você. Vamos brigar, vamos
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lutar, mas no fim... meu bem, no fim você sabe que


somos nós dois e nada, nem um pedaço de papel
mudará isso.
Seus olhos arderam com fogo, o rosto
começando a torcer em fúria.
— Eu disse que você seria minha enquanto
eu quisesse, e como pode ver, não quero mais.
Soltei um riso sem graça.
— Você esqueceu, Juan? Eu disse que seria
sua até depois disso. Quando você me deu o
diamante caro e me ofereceu casas, quando gozou
dentro de mim, cada maldita vez, eu fui sua em
todos esses momentos. Mesmo quando planejei te
derrubar, quando sua esposa me ofereceu dinheiro e
depois, quando eu te vi e decidi que não queria
dinheiro, queria você!
Sua mandíbula estava tão apertada que
poderia rachar, quando ele chegou ainda mais
perto. Eu pensei que fosse me beijar, mas ao
contrário disso, ele apertou meu coração ainda mais
em suas mãos.
— Se você ficar por perto, eu vou aceitar a

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oferta e te foder. Vou foder sua boca, sua boceta e


sua bunda se tiver vontade, mas quando acabar, é
adeus. É isso. Vou me enfiar em cada buraco seu e
não darei uma segunda olhada quando te deixar
para trás. Então aceite a minha oferta e vá embora.
Suas palavras me tiraram o ar, mas ao
mesmo tempo, fizeram uma raiva descomunal
crescer no meu peito, subir pela garganta e vazar
pelos meus lábios.
— Você sabe o quanto sua ordem de
restrição me magoou, Juan? Seu grandíssimo hijo
de puta. Eu te amo, sim. Com tudo o que eu sou,
como nunca soube que poderia amar. Mas te amar
não significa que preciso te aguentar sendo um
idiota. Por isso, eu vou sair por aquela porta e
quando você estiver pronto para rastejar, estarei
esperando. Talvez até mesmo não te faça implorar
tanto, mas até lá... — meu dedo em seu peito se
desfez e espalmei a mão sob sua camisa, sentindo
os músculos contraírem ao meu toque, sua
mandíbula cerrada me dando a indicação de que
não havia nenhuma maneira de estar imune as
minhas palavras, minha presença ou meu toque.
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Minha palma arrastou até seu estômago, e quando


segurei o cinto de sua calça, parei e o fitei
diretamente nos olhos. — Até lá você pode se
contentar com sua própria mão e se perguntar a
cada minuto, se estou fazendo o mesmo ou se já
coloquei outro em seu lugar.
Com seus olhos enviando-me adagas, virei
e caminhei para a porta, mas quando toquei a
maçaneta ouvi sua voz.
— Você não me ama tanto assim se já
pensa em me substituir.
Olhei por cima do ombro, segurando as
lágrimas.
— Ah, Juan... eu te amo demais. Mas uma
coisa que você já deveria ter aprendido sobre mim é
que primeiro vem eu... depois o mundo.
Com meu coração sangrando de sua
rejeição e as palavras que fui obrigada a dizer, abri
a porta e saí, correndo para encontrar um táxi. Mas
ao invés de dar o endereço do apartamento de
Esme, fui para o aeroporto.
Encostei a cabeça na janela e fechei os

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olhos, e sem que ninguém visse, deixei as malditas


lágrimas se derramarem outra vez.

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Capítulo 34
“Quem vai me entregar suas emoções?
Quem vai me pedir que nunca a abandone?
Quem me cobrirá essa noite se fizer frio?
Quem me vai curar o coração partido?
Quem encherá de primaveras este janeiro
E baixará a lua para que brinquemos?
Diga-me se você vai, meu amor
Que vai me curar o coração partido?”
alejandro sanz, cozaron partio

Como pode pensar que eu posso te


substituir, Juan?
Essa foi a pergunta que me fiz durante o
voo e quando peguei um ônibus até a casa de
mamãe, refleti nela outra vez. A viagem de uma
hora fazendo as paradas dos passageiros e
assistindo as ruas do outro lado da janela não
serviram para me distrair. Então tudo o que pude
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pensar era nele. Na nossa última conversa. Na


forma como me olhava. Na dor que causei, que
sabia estar refletida nos meus próprios. E agora me
perguntava se ele voltou para ela, quando eu
praticamente o joguei nos braços de Jaqueline.
Só aquele nome me fazia querer vomitar,
maldita. Maldita viagem, maldita hora que a
conheci, maldita boa mentirosa que me fez
acreditar em cada uma de suas farsas.
Mas também... e se eu nunca tivesse estado
lá?
Me peguei tentando refleti sobre como teria
sido uma vida sem Juan Carlo Herrera. Sem as
brigas, as viagens, os momentos de amor, o sexo
incrível e a forma como nos desejávamos. Como
colocávamos fogo ao nosso redor quando
estávamos juntos.
Mesmo se eu tivesse enganado cem
homens, deitado com quinhentos e amado mil...
valeria sem nunca ter sentido sequer o toque de
Juan?
Não.

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A resposta veio tão fácil e rápida, mas nem


me surpreendeu.
Eu ainda teria mentido, ainda teria
enganado, ainda teria desfeito uniões e teria fingido
amar. Ainda quebraria corações, derramaria falsas
lágrimas e passaria por cima de quem fosse preciso
passar. Eu teria passado pela dor, pelas incertezas e
teria feito tudo o que fiz outra vez para tê-lo.
Meu Juan... meu lindo loiro.
Com um suspiro, respirei profundamente e
me levantei, evitando contato com qualquer um e
rapidamente me arrependendo de ter escolhido um
ônibus ao invés do táxi. Os homens geralmente
esqueciam os limites de espaço pessoal dentro de
transporte público, e não importava quanta
educação eu tinha, mas minha língua nunca resistia
a ofender aqueles que pensavam que podiam me
tocar sem serem convidados.
Desci na minha parada e soltei um suspiro
de alívio, ajeitei a saia e me firmei no salto antes de
começar a caminhar até o final da rua, onde a casa
de mamãe ficava.
— Nossa senhora, hein tia! — Virei para
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onde a voz vinha, e vi um adolescente jogando


pedrinhas no rio, sorrindo para mim enquanto me
olhava de cima abaixo.
Ergui uma sobrancelha para ele e quase
revirei os olhos.
— Se coloca no seu lugar, garoto. — Voltei
a andar, mas parei e o fitei novamente. — Ah... e
tia é a sua mãe.
Ele disse algo, mas não fiquei o suficiente
para ouvir. Passar tanto tempo em meio a hotéis de
luxo e pessoas de alto nível me fez esquecer como
eram as coisas onde nasci. Tipo garotos descalços
na rua cantando qualquer uma que tenha penteado o
cabelo.
Respondi alguns acenos de conhecidos pelo
caminho, evitei conversas e passei os olhos pelas
casinhas e as pessoas ali. Tudo tão familiar, tão
íntimo para mim, mas parecia tão distante agora.
Cada passo mais perto da casa de mamãe
deixava meu coração batendo mais forte, minhas
pernas tremiam mais e a respiração ficava mais
rápida. Eu estava com medo, apavorada,
desesperada em vê-la depois de semanas sem nem
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uma única mensagem. May era quem me garantia


que minha mãe estava bem, e mesmo que minha
amiga nunca tivesse dito, eu tinha certeza que
mamãe sabia sobre meu bem-estar através dela
também. Nós nunca tínhamos ficado tanto tempo
sem conversar, então quando abri a porta e deixei
minhas coisas na mesa, eu sabia, só sabia que seria
uma longa e conturbada conversa.
Quando ela visse meu rosto ia me expulsar,
gritar, me dizer como eu era uma péssima filha. Eu
esperava tudo. Menos ver o que vi.
— Mamãe! — meu grito encheu a sala, e
no momento que percebeu que não estavam
sozinhos, ela pulou do sofá, o homem se atrapalhou
um pouco, mas ficou de pé também, tomando o
lugar na frente dela. Eu estava pronta para descer o
inferno no meio da casa onde cresci, mas quando
coloquei os olhos no rosto dele, parei.
Tudo parou.
— David? Que porra você está fazendo
aqui?!
— Aya! — mamãe repreendeu, parecendo
ter se recuperado do amasso que estava a segundos
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atrás e passou as mãos pelo cabelo. — Olhe a boca,


você é uma dama!
— Ora, mamãe, eu já disse coisa muito
pior. Agora me surpreende você com... ele!
Ela olhou entre nós dois com os olhos
arregalados.
— Vocês já se conhecem?
— É claro que sim, por que mais ele estaria
aqui? — Estreitei os olhos no homem e lhe apontei
o dedo. — Juan te mandou vir me dizer algo? Vou
ouvir. Mas isso não significa que você pode entrar
aqui e seduzir minha mãe, seu perseguidor de
merda.
— Aya... — disse ele, dando mais um
passo à frente. — Eu e sua mãe...
— Não — o interrompi. — Não me venha
colocando os dois em uma mesma frase, por Deus!
Mamãe, podemos falar a sós?
— Aya — David recomeçou, mas minha
mãe o cortou dessa vez.
— David, você tem que sair. Eu preciso
falar com a minha filha.
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Ele virou completamente para ela,


erguendo as sobrancelhas, passamos um minuto em
silêncio, os dois se olhando de igual para igual, mas
por fim ele suspirou, pegou sua mala e o casaco do
sofá.
— Certo, mas vamos falar sobre isso. —
Ele passou por mim, mas parou e me fitou com
uma suavidade que me parecia tão estranha. — Até
mais, Aya.
Eu não respondi. A porta bateu instantes
depois e eu soltei uma respiração pesada.
— Bem, isso foi estranho — murmurei.
Minha mãe me olhava sem demonstrar
qualquer coisa sobre nossa última briga. Eu
esperava que até esse ponto, fossemos estar
gritando agora, mas ela parecia tão calma.
— Agora podemos falar sobre nós? —
perguntei, sentando no sofá, esperando que ela me
acompanhasse. E depois de um minuto ela fez,
cedendo.
— O que há para falar? Você vai começar a
me fazer acusações novamente? Me desrespeitando

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e esquecendo que eu sou sua mãe?


— Isso depende. Você vai me tratar como
uma criança que não sabe o que faz da vida?
— Não. Se você quer falar de mulher para
mulher, eu vou ser direta e simples.
— Quero que sejamos sinceras, mãe. Mas
não que nos machuquemos e fiquemos mais dois
meses sem nos falar.
— Eu concordo.
— Muito bem — assenti, resolvendo dar o
primeiro passo — Sinto muito sobre tudo que eu
disse sobre você naquele dia. Eu tinha acabado de
perceber que amava alguém e você não me deixou
explicar, saltou para julgamentos, embora tenham
sido verdadeiros, mas ainda assim... não custava me
deixar te dar a minha versão.
— Você me deu sua versão, Aya. E ela era
mentirosa. Sobre estar apaixonada por ele e que ele
estava se separando. Um governador do Estado não
se separa e fica com a amante, isso simplesmente
não acontece. E sendo sua mãe, eu não posso ficar
de braços cruzados enquanto você se ilude assim.

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Eu recostei, puxando uma almofada para o


meu colo e desviando o olhar dela.
— Eu já menti muitas vezes para você. Na
escola, na faculdade... tenho mentido desde que era
uma criança. Sei que isso nos distanciou algumas
vezes e afetou sua confiança em mim. Sim, eu
menti sobre a separação dele, mas sobre amá-lo...
não. Sobre isso eu não menti, não poderia.
Os olhos dela suavizaram, ficando
simpáticos comigo.
— E o que você planeja? Ficar por trás das
câmeras com os pequenos espaços de tempo que
ele poderá te dar? Arriscar ser descoberta e
chamada dos piores nomes?
— Se não isso, o que então? — Dei de
ombros — Ficar sem ele? Ele me ama, mamãe. Nós
nos amamos. As coisas são difíceis agora,
principalmente agora, mas... eu sei que o amo.
— O que aconteceu? Porque diz “agora”?
— Ele descobriu algumas coisas... ruins
sobre mim. Coisas que o fizeram acabar com tudo,
se distanciar de mim. E na verdade, não posso

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sequer culpa-lo.
— São coisas ruins o suficiente para você
deixar o orgulho de lado e vir até aqui?
— Você também é ruim em dar o braço a
torcer, mamãe. Eu tenho um ponto de vantagem por
ceder primeiro.
Ela riu, deixando as coisas ligeiramente
mais leves.
— Temos isso em comum, quem pode nos
culpar?
— Ninguém — eu ri baixinho — eu acho.
Ele não queria que nós brigássemos, se sentiu
culpado por ser a razão de tudo.
Ela assentiu e segurou minha mão.
— Ele é bom para você?
— Ele era incrível — sussurrei — Ele
falava comigo sobre tudo, e nós ríamos e fazíamos
amor e... Deus... eu perdi. Perdi tudo por nada.
— Foi uma briga?
— Sim.
Ela pensava que tivesse sido uma simples

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briguinha de casal e eu queria tanto explicar.


Queria dizer os motivos pelos quais ele me odiava a
ponto de não querer olhar para mim agora. Queria
um conselho, uma opinião, mas dizer tudo a minha
mãe significava expor a ela o tipo de pessoa que
sua filha realmente havia se tornado. E ela talvez
não aguentasse saber tudo o que já fiz.
— Brigas podem ser resolvidas, Aya. Se é
realmente amor como diz, então é só dar tempo ao
tempo e conversar.
Eu a fitei confusamente.
— Você não parece tão contra agora.
Ela deu de ombros.
— Como eu disse... se é amor tudo é
possível. É claro que não é uma situação boa. Se
ele é casado, eu não apoio, eu apoio você em ser
feliz. E com respeito, não o quero aqui. Mas você
está feliz, meu bem. Eu só posso rezar para nossa
Madre que fique bem e que nada lhe machuque.
Meu lábio inferior tremeu, e senti uma
pontada familiar começando a doer no peito.
— Ele me odiaria por tantas coisas, e até
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agora que fiz algo... terrível.


— O que? — Eu solucei e ela chegou mais
perto, alarmada. — Filha, o que você fez?
— Nunca foi sobre dar um golpe —
sussurrei de olhos fechados, mal acreditando que
estava finalmente admitindo o que fiz.
— Aya?
— Eu só queria ter uma parte dele para
mim.
— Ah Aya... — os olhos dela se encheram
de pena, choque e confusão.
— Eu sabia que não seria para sempre.
Queria ter pelo menos um pedaço dele quando
fosse embora.
— Ele sabe?
— Não. Eu disse a ele que estava protegida
com controle de natalidade.
— Filha... isso... — ela gaguejou, tentando
buscar palavras. E pela sua expressão eu sabia,
sabia que era ruim.
— Eu sei. Sou uma pessoa terrível, mas
mamãe... não consigo me arrepender.
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— O amor nos faz fazer coisas... — ela


balançou a cabeça, olhando através de mim —
Muitas vezes agimos sem pensar, falamos sem
saber e esquecemos de ouvir, mas quando o
coração está na jogada ficamos estúpidos. — Ela
deu um sorriso fraco, uma lágrima correndo pela
bochecha e estendeu a mão, tocando minha barriga
ainda reta. — Não importa o que aconteça, você
sempre tem a mim.
Eu solucei e me joguei aos seus braços.
Sempre foi assim, eu podia rodar ao mundo, mas
sabia que ela sempre estaria de braços abertos
quando eu fizesse besteira. Eu podia ter ferrado
tudo, mas sempre teria uma pessoa que acreditaria
em mim. Aliás, duas... uma dependendo
inteiramente de mim.
Mesmo quando eu agia por impulso em
nome do meu doente amor.

Eu planejava ficar na casa de mamãe pelo o


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resto do final de semana, tentando descobrir que


caminho seguir com a minha vida, mesmo que
ainda esperava com o telefone na mão por alguma
ligação de Juan. Uma ligação que eu sabia, sentia
que não ia chegar. Não tinha vontade de ir até meu
apartamento, e já começava a pensar em maneiras
de aluga-lo ou vender. Voltar para lá me fazia
pensar que eu estava voltando definitivamente a
minha antiga vida. Ficar na casa de mamãe, me
dava a falsa ilusão de que era temporário, mesmo
que eu não soubesse o que fazer daqui para a frente.
Durante minhas noites em claro comecei a
pensar ainda mais profundamente em tudo o que
estava acontecendo. Eu estava chorando pelos
cantos, deixando de me arrumar, ignorando
ligações e mensagens de amigos e me afastando do
mundo, mas por quê? Nada disso trouxe Juan de
volta. Todo o choro, a mágoa e minhas infinitas
tentativas de fazê-lo me ouvir, de conversar, ele
parecia decidido, como se nada mudaria sua mente
sobre me deixar para trás.
Mas esse era o grande problema. Ele
esqueceu que nunca me deixaria realmente.
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Juan cobiçou, desejou, conquistou e depois


se apaixonou pela Aya que eu costumava ser antes
dele. Mesmo com as minhas mentiras e a forma
como mudei algumas situações a meu favor, ele
não quis uma chorona fraca que corre atrás de um
homem que a chutava apenas porque errou, não...
ele quis uma mulher fatal, decidida e poderosa. Que
o fez correr atrás.
Todos os passos do caminho foi assim, ele
me conquistou por quem era, e eu o conquistei por
quem pensei que fingia ser, mas na verdade, nunca
foi fingimento. Nós dois nunca fomos uma mentira.
Ele precisava se lembrar porque me quis e porque
me amou, mesmo nunca tendo dito. E eu precisava
lembra-lo da nossa forma como era ser nós.
Sorrindo... percebi que eu tinha um homem
para reconquistar, mas acima disso, tinha meu
orgulho e dignidade para recolher do chão.

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Capítulo 35
“Em suas mãos está o meu coração
E ela não vai me deixar ir até que esteja cheio de
cicatrizes
Ela tem sangue frio como gelo
E seu coração de pedra
Mas ela me mantém vivo
Ela consegue tudo o que quer
Ela se encontra no pecado
E eu queimo respirando-a
Verdade seja dita, eu não me importo
Porque ela segura meu paraíso
Ela pode esmagar toda a força
Tem seus saltos batendo na minha garganta
Ela tem chifres como os do diabo
Apontando para mim, e não há lugar para correr
Do fogo que ela respira”
Bryce Fox, horns

Positivo.
Eu tinha aqueles testes de gravidez
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guardados há semanas, mas por algum motivo, me


senti pressionada para fazer hoje. Eu havia tomado
um banho, me vesti e voltei para o banheiro para
me maquiar e fazer o cabelo. E quando terminei,
fiz. Me senti inquieta e ansiosa e apenas quando
tinhas as caixas na mão parei de tremer, sabendo
que tinha chegado o momento de ter certeza.
Mesmo que dentro de mim eu já soubesse. E a
menos que Juan não pudesse ter filhos, não tinha
como eu não estar grávida depois de semanas
fodendo sem nada entre nós, e cada vez ele gozou
tão fundo e forte dentro de mim, que era impossível
não ter plantado uma sementinha lá.
Admitir para mamãe sem ter certeza era
uma coisa. Pensar sobre a possibilidade era outra.
Mas fazer o teste e ter a prova em minhas mãos
tornava tudo real, então isso me batia nas duas
faces de uma vez. Repetidamente.
Eu estava grávida.
Grávida de um filho de Juan. Um filho que
ele achava que não poderia ser possível, porque eu
jurei que me prevenia, um filho que arruinaria a
carreira dele, um filho que provava que ele não era
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um homem íntegro em sua vida pessoal como era


na política.
Um bebê que destruiria a vida de um
homem.
Eu fiz isso. Eu fiz isso sozinha.
E a pior parte era que enquanto encarava os
dois testes um em cada mão, eu tinha um sorriso no
rosto.
Eu nunca me senti maternal, nunca pensei
muito sobre crianças, então não sabia se aquela
alegria era por ainda ter um pedacinho do homem
que eu amava ou era porque amava meu filho.
Provavelmente a primeira opção. Eu não sabia o
que isso fazia de mim. Fria, insensível? Talvez.
Mas minha pior qualidade e meu melhor defeito era
fazer sempre o que eu jugava certo para mim
mesma, e em algum momento durante minhas
noites com Juan, decidi fazer isso.
Eu apostava qualquer coisa que ele ficaria
furioso se sequer desconfiasse o que eu fiz, mas
quanto mais tempo passávamos juntos, mais eu me
conformava que nunca teria um espaço em sua
vida, e mesmo sabendo que aquele arranjo de nós
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dois poderia acabar, eu nunca pensei que seria tão


cedo. Então agora me sentia grata e feliz comigo
mesma de não ter hesitado, de ter mentido e o
forçado a colocar seu filho dentro de mim.
Eu sabia que era passageira na vida dele,
talvez meu bebê nunca fosse ter um pai e talvez eu
me arrependeria em algum momento da vida, mas
naquele momento, eu estava feliz. Uma felicidade
que nem a dor de perder Juan podia arruinar.
Uma batida veio na porta, fazendo-me
saltar. Eu guardei um dos testes e escondi no
gabinete da pia do meu banheiro e enrolei o outro
num monte de papel, jogando no lixo.
— Está tudo bem aí dentro? — Julio
perguntou, sua voz abafada pela porta entre nós.
— Sim, eu estou quase terminando.
— Bom, estamos atrasados.
— Saindo em cinco minutos.
Ele deu uma última batida fraca, mostrando
que entendeu e ouvi seus passos afastarem. Soltei
um suspiro e conferi se minha maquiagem estava
boa o suficiente, cabelo arrumado e o vestido no
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lugar.
Era o dia do casamento de Alyna e Álvaro,
e Julio era meu acompanhante. Nós dois fomos
convidados e quando ele soube que eu tinha um
convite, me convocou a ir com ele, já que não
queria levar nenhum caso romântico para não dar
esperanças à mulher. De acordo com ele, levar
alguém com quem você transa para um lugar com
amigos do trabalho e pessoas que você considera
família, é mais simbólico do que pedir em namoro.
Eu concordei, porque não queria ir sozinha e sabia
que não havia ninguém fora Julio, que iria comigo
sem segundas intenções.
Eu ainda não tinha falado com Esme sobre
Alyna, e sinceramente, não gostava nem de pensar
sobre isso. Me sentia como se estivesse traindo uma
com a outra. Eu era um Álvaro 2.0 quando se
tratava das duas. Passando um tempo com uma e
com outra, sem deixar que nenhuma soubesse.
Seria uma conversa difícil, mas eu jurei a mim
mesma que depois do casamento ia direto para ela e
contar tudo. Como conheci Alyna por acidente, mas
me aproximei na intenção de fazê-la deixar Álvaro,
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como Alyna era tão enganada por ele como ela,


como ele não merecia nenhuma das duas. Então
sim, seria uma conversa fodidamente impossível.
Enfiei o batom na minha pequena bolsa de
mão prateada, conferindo o cartão, convite e
celular, então abri a porta, saindo.
Julio assobiou quando me viu, sorrindo
para mim.
— Você está... porra, Aya. Ainda bem que
somos amigos, ou eu estaria investindo todo o meu
repertório de sensualidade para te manter aqui.
Dando risada, passei por ele e lhe dei um
tapinha no peito.
— Não seja um imbecil, eu ainda estou
considerando se devo te dar uma carona ou fazê-lo
ir sozinho.
— A-hã mocinha. Nada disso. Você é
minha acompanhante e eu sou o seu, chegamos
juntos e saímos juntos.
— Considerando que eu estou indo apenas
porque me importo com Alyna, sei que vou sair
mais cedo do que todos, então repense sua oferta de
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sair junto comigo.


Ele estreitou os olhos e mordeu a bochecha
por dentro, como se estivesse pensando nisso.
— Tem razão, mas eu posso sempre te
colocar num táxi.
Fingindo indignação enquanto ele ria,
apontei para a porta.
— Fora, cretino. Já estamos atrasados.
— Por culpa de quem?
Ele tinha razão.

A cerimônia foi linda. Por mais que eu


evitasse olhar para Álvaro a todo custo, Alyna
estava incrível e todos os meses em que ela
planejou o casamento valeram a pena. Ela tinha um
enorme sorriso no rosto e eu me senti mal por Esme
ao perceber que ele parecia feliz na mesma medida.
Eles fizeram seus votos e se beijaram, foi
emocionante, mas eu não consegui chorar como

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praticamente todas as outras mulheres estavam


fazendo.
Uma risada de repente quis escapar quando
pensei que provavelmente eu e Jaqueline éramos as
únicas duas mulheres que não tinham lágrimas no
rosto.
O casal recém-casado saiu da pequena
capela ao ar livre ao som de Alejandro Sanz e
flores brancas sendo jogadas em cima deles e
caminharam pela trilha de pedras até o espaço da
festa mais à frente. Alyna não queria casar na
igreja, então fez Álvaro comprar uma enorme
chácara, pensando que seria próprio para a
cerimônia e a festa.
Ela sorriu quando passou por mim no
corredor e esticou a mão, segurando a minha por
dois segundos. Álvaro não gostou, eu podia dizer
só por seu olhar. Eu não sabia se ele tinha
conhecimento de Alyna e eu nos encontrando e
crescendo numa amizade ou se tinha acabado de
descobrir, de qualquer forma, ele não gostou da
ideia. Eu era um risco para seu casamento aos seus
olhos, e até conhecer Alyna, eu realmente era. Mas
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agora eu queria que ela estivesse bem e se ele a


fazia feliz, se foi ela que ele escolheu para casar, eu
só podia apoiá-la e depois ajudar Esme a passar por
isso, fosse qual fosse o rumo que ela ia escolher
para tomar.
Eu segurei o braço de Julio enquanto
fazíamos nosso caminho até uma mesa e deixei que
ele me distraísse com alguma conversa até que o
almoço foi servido. Nós comemos enquanto ele
fazia comentários sobre algumas coisas e
convidados que conhecia. Eu sabia que ele estava
tentando me manter focada nele, então não olharia
ao redor para procurar Juan.
— Dizem que ela teve um caso com o
professor de yoga — disse Julio, comentando sobre
a mulher de algum senador que eu não conhecia.
Eu dei risada.
— Você é tão fofoqueiro. Ia se dar bem na
vizinhança onde eu cresci.
Ele limpou o canto da boca e apoiou os
cotovelos na mesa.
— Querida, esse é seu jeito de me pedir

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para conhecer seus pais?


Eu dei risada, reconhecendo suas
constantes tentativas de me fazer sorrir. Então
percebi que ele se referiu aos meus “pais”, não a
minha mãe, lembrando-me que eu nunca tinha dado
informações sobre minha vida. Na verdade, eu não
dizia muito para ninguém, nem para Juan. As
pessoas confiavam em mim, me diziam tudo, mas
eu sempre me mantinha atrás, como se esperasse o
pior delas, que fossem usar qualquer palavra minha
contra mim.
Então resolvi dar um primeiro passo para
fora dessa concha.
— Eu não tenho um pai. Minha mãe me
criou sozinha. — Antes que ele pudesse se
lamentar, eu levantei uma mão. — Por favor, não
se sinta mal. Ela fez um trabalho bom comigo, foi o
mundo que me corrompeu.
Ele deu risada.
— Eu ia dizer que sinto muito pela sua
mãe.
Nós estávamos rindo quando eu ouvi uma

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voz ao lado e fiquei tensa. A mesa estava vazia


desde então, mas de repente, pareceu encher
enquanto um por um puxava uma cadeira.
Bem na porra do meu lado. Eu queria ficar
olhando para frente, mesmo Julio percebeu minha
inquietação e começou a falar novamente, mas eu
não pude evitar. Eu olhei para o lado.
Mesmo que fosse ela falando, meus olhos
bateram direto nele. Ele estava tão lindo que tirou
meu ar. Eu parei de respirar, sem conseguir
arrancar meus olhos dele. Vestido num paletó
preto, ele não usava gravata e o primeiro botão da
camisa estava solto, os cabelos penteados, mas
ainda rebeldes brilhavam com o sol batendo nos
fios e ele tinha um sorriso no rosto enquanto ouvia
as pessoas conversando na mesa. Ele parecia maior,
mais bonito. Parecia tão incrível como quando eu o
vi pela primeira vez, ainda melhor. Nossa
separação tinha afetado apenas a mim, eu podia ver
enquanto o olhava.
Meu coração doeu com a percepção disso.
Como se um punho estivesse torcendo-o e fazendo
sangrar.
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Eu sentia tanta saudade.


— Não o deixe ver — Julio disse — Não
dê a ele o gosto de ver seu sofrimento, olhe para
mim e continue falando comigo. Você merece mais
do que ser a segunda opção.
Eu queria, mas não podia. Ele não me
olhou, mas eu o olhei. E eu sabia que ficaria
olhando enquanto estivéssemos os dois ali.
— Aya — Julio chamou novamente.
— Meu marido sempre faz o impossível
para não falar de si mesmo — disse Jaqueline,
tocando o peito dele enquanto ria. — Mas o que
posso fazer? Não consigo parar de falar das
qualidades desse homem.
Os dois homens e a mulher deram risada,
entretidos, se divertindo com ela. A primeira-dama
orgulhosa do marido. Era incrível ver como essas
coisas funcionavam do lado de fora. Juan me
odiava, eu sabia disso, mas nem sua atual aversão a
mim o fez aceita-la de volta. Nem mesmo um
suspiro em sua direção. Ele não estava se
empenhando para ajudá-la a manter o teatro, era
como se nem se importasse, enquanto ela usava
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cada oportunidade para mostrar o amor dos dois,


ele se esquivava.
O sorriso que cresceu em meu rosto foi
escondido pela taça de champanhe, mas quando ela
olhou para mim como se estivesse conferindo que
eu estava assistindo, deixei que visse meu
contentamento com suas tentativas falhas. Ergui a
taça discretamente em sua direção e ela
praticamente bufou, voltando a conversar e se
agarrando ainda mais a Juan. Chegava a ser
indiscreto diante de tantos olhares.
Eu não podia mentir, doeu cada pedaço do
meu corpo e alma ver os dois juntos, como um
casal, como a porra de uma família, sabendo que
ela era sua esposa, que todos se dirigiam a ela como
a Sra. Herrera, que falariam com ela a respeito dele,
que ela sairia nas fotos com ele... e depois, iam
embora juntos. Ajudava um pouco com a dor
pensar que Juan a detestava, então assim que
entrassem no carro colocaria distância imediata,
cortando qualquer tentativa dela em se aproximar.
Mas mesmo com isso, sabendo que era tudo uma
grande encenação, doía. Porque eu daria tudo para
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poder pelo menos encenar com ele.


— Vamos ver os noivos, o que você acha?
— Julio me chamou mais uma vez, segurando
minha mão e já levantando, me puxando para fora
da mesa.
Eu engoli em seco, assentindo e
caminhando com ele para a mesa principal, onde
Álvaro e Alyna estavam de pé, recebendo seus
convidados.
— Você veio! — Alyna gritou, pulando
para me alcançar.
Eu a abracei de volta, sorrindo. Ela me
segurou por longos segundos e eu vi os olhos de
Álvaro presos em mim por cima do ombro dela. Ele
não parecia feliz.
— É claro que vim — disse quando nos
afastamos. — Está tudo tão lindo, você fez um
ótimo trabalho.
O lábio inferior dela tremeu, como se
estivesse prestes a chorar e ela me puxou para outro
abraço, falando no meu ouvido:
— Tenho poupas amigas aqui, mas vendo
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que você veio me faz sentir bem, porque você é


uma verdadeira amiga. Obrigada, Aya. De verdade.
Sorrindo gentilmente eu a soltei e fiquei de
lado para deixa-la receber os cumprimentos das
outras pessoas. Teríamos tempo para conversar
depois. Julio estava conversando com Álvaro e
outro cara, e eu não me preocupei em ir fingir
qualquer simpatia com o noivo.
— O código das mulheres permite que você
seja amiga da esposa e da amante? — A voz que eu
amava veio atrás de mim, eu virei, dando um passo
atrás para nos afastar, e o fitei, tentando não
demonstrar meus sentimentos.
— Conhecer Alyna foi algo do acaso.
— Por que será que não acredito nisso?
— Você não precisa acreditar, eu sei o que
sinto por uma e pela outra. O que me consola é que
agora Álvaro precisa parar de brincar com as duas.
Então não machuca mais Esme e Alyna para de ser
enganada.
— Ele não vai parar.
— Claro que não. — Bufei. — Você pode
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ensinar para ele algumas táticas de como se


esquivar da esposa para praticamente viver com a
amante.
A mandíbula dele apertou.
— Claro que posso. Mas vou alertá-lo para
não ser idiota de gastar milhões com ela, não
importa quantas vezes ela declare seu amor.
Ele queria me machucar. Ele sabia que eu
nunca estive com ele para me aproveitar de seu
dinheiro, que nunca pedi o colar, que nós dois
nunca teríamos dependido disso. A mágoa em meu
rosto deve ter sido evidente, mas ele não pareceu
arrependido.
— Não fale com a sua prostituta em
público, Juan. — Jaqueline surgiu de repente,
falando num tom de voz baixo e com um sorriso no
rosto. Qualquer um que olhasse pensaria que
estávamos tendo uma conversa agradável.
— Ele precisa — respondi. — De que outro
jeito faria o pagamento do nosso último encontro?
O sorriso caiu e ela virou para ele.
— Você a está vendo de novo? Você me
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prometeu, seu filho da puta! — rosnou e seus olhos


estavam tão arregalados de raiva que eu pensei que
a qualquer momento ela teria um aneurisma
cerebral.
— Você prometeu, Governador? —
perguntei com falsa inocência na voz. — Será que
sua esposa não sabe que você costuma não cumprir
suas promessas?
— Como você se atreve?! — Jaqueline
falou mais alto, chamando a atenção de algumas
pessoas a nossa volta.
Eu não queria estragar o casamento de
Alyna, então decidi acabar com aquela cena antes
que ficasse pior. Mas para deixar claro como ele
me magoou, ergui minhas mãos para trás do
pescoço e abri o colar, Juan deu um passo em
minha direção, percebendo que eu estava me
desfazendo de uma coisa não só preciosa, mas
simbólica que ele havia me dado.
— Não se preocupe, Jaqueline. Eu já tenho
tudo o que preciso do seu marido. — Nenhum dos
dois podiam entender sobre o que eu estava
falando, mas era verdade. Eu tinha o bebê dele, e
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isso era tudo o que importava para mim.


Olhando o colar uma última vez, eu o
joguei aos pés de Juan. Seus olhos brilharam para
mim, e ele abriu a boca, mas eu saí antes que
pudesse dizer qualquer coisa. Fui direto para o
banheiro, conferindo se as cabines estavam vazias
antes de lavar as mãos e passá-las pelo meu
pescoço. Respirando profundamente enquanto me
olhava no espelho. Queria estar sozinha no caso de
começar a me debulhar de chorar. De repente
comecei a me perguntar o quanto eu havia o
machucado. Tinha sido tanto assim para explicar a
forma como ele estava me tratando? Como me
olhava? Como me odiava?
A porta de repente abriu e eu me preparei
para sair. Mas a mulher trancou e encostou nela,
cruzando os braços e arrastando seus olhos do meu
cabelo até meus pés.
— Com licença — eu pedi educadamente
enquanto secava minhas mãos e dei um passo à
frente, demostrando que queria sair.
— Eu não gosto da minha nora, mas eu não
gosto de mulheres que olham para o meu filho por
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interesse. Entende o que eu estou dizendo?


Eu levei alguns segundos para entender o
que ela quis dizer, e quando percebi que aquela era
a mãe de Juan, deixei escapar um suspiro trêmulo.
Ela era alta, tinha os cabelos num tom preto e
puxados para cima num coque elegante, os olhos
verdes idênticos ao de Juan, mas não eram quentes
como os dele. Eram frios. A única coisa que eu
sabia sobre ela, de acordo com Esme, é que a
mulher era tão ruim quanto Jaqueline. Parecia até
uma piada que Juan estivesse cercado de mulheres
frias, mulheres odiosas, mulheres como nós.
— Mercedez, certo? — perguntei, sem me
lembrar se era mesmo o nome dela.
— O meu nome não importa. Apenas me
diga agora quanto quer para ficar longe de Juan e
nunca abrir a boca sobre o ter conhecido.
Eu soltei um riso amargo, balançando a
cabeça para ela como se estivesse conversando com
uma criança ingênua.
— Você acha que pode me oferecer
dinheiro para ficar longe do seu filho?

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— Tipos como você só querem dinheiro.


Ele nunca vai coloca-la no lugar de Jaqueline, então
por que não pegar o dinheiro de uma vez e caçar
outro homem para se aproveitar?
Me aproximando dela, eu sorri com
sarcasmo e coloquei as mãos na cintura, inclinando
a cabeça para o lado.
— E quem disse eu que quero o lugar dela?
— É bem óbvio, minha querida. — Ela deu
de ombros. — Você é jovem, muito bonita, e
parece o tipo de mulher que passaria por cima de
todos para subir na vida.
— O seu óbvio está bem errado —
sussurrei para dar efeito as minhas palavras. — Eu
não preciso ser a esposa. Ser a amante é muito mais
gostoso. Saber que ele vai me colocar em todos os
lugares que estiver para poder chegar a mim porque
não se aguenta de saudade, que me leva em suas
viagens porque não pode ficar sem mim, que mal
pode manter suas mãos longe quando me vê... isso
é algo que eu não troco e muito menos vendo.
Então você pode guardar seu dinheiro e usá-lo para
algo mais útil. Eu só vou deixar o seu filho quando
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ele quiser.
Ela não precisava saber que ele já tinha me
deixado, meu orgulho era grande demais para
admitir isso.
— Então é pelo sexo?
Eu segurei o queixo como se estivesse
pensando.
— Mamãe... Acho que isso você nunca vai
saber.
Ela bufou e destrancou a porta.
— Não ficarei aqui ouvindo esses absurdos.
Apontei a porta e sorri.
— Sinta-se livre para sair.
Ela passou por mim, esbarrando no meu
ombro e saiu, batendo a porta com força. Eu deixei
meu orgulho cair aos meus pés e me inclinei contra
a parede, fechando os olhos. Ótimo. Agora não só o
filho me odiava, mas a mãe também.
A porta abriu novamente e eu me obriguei
a abrir os olhos, sabendo que tinha que voltar a
festa. Mas assim que vi quem entrou, fiquei tensa,
mole e frágil tudo ao mesmo tempo. Incapaz de me
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mover ou falar. Nós não dissemos nada, não era


preciso. No momento em que nossos olhares se
cruzaram, eu sabia que não havia como manter-nos
longe por mais tempo.
— Eu odeio a sua mãe.
— Imaginei que se a conhecesse um dia ia
gostar dela.
— Por quê?
— Ela é manipuladora, mentirosa, esnobe,
e gostava de me controlar. Exatamente como você.
Ergui minha mão numa rapidez que mal
percebi e atingi seu rosto com um tapa, respirando
pesadamente, o fitei impassível, sabendo que a
melhor coisa a fazer a seguir seria correr o mais
longe possível, mas não fiz isso. Apenas fiquei ali
observando aquele pedaço de pecado em forma de
homem, aguardando sua reação, e ele não
decepcionou. Enrolando uma mão na minha
garganta, ele me empurrou para trás até que
entramos em outro cômodo e ele fechou a porta
com um chute, então me segurou pela cintura e me
levantou, minha bunda batendo em cima do
gabinete de mármore do banheiro.
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— Você acha que tem o direito de me


bater? Eu sou o único que deveria estar irritado
aqui, porra — rosnou com o nariz quase colado ao
meu.
— Foda-se você e sua irritação —
provoquei, sabendo que tirá-lo de seu juízo seria a
única forma de sentir suas mãos sobre mim naquele
momento. — O que vai fazer sobre isso?
— Não. Me. Provoque.
Eu bati outra vez, e com um rosnado suas
mãos seguraram meus pulsos, erguendo-os para os
lados da minha cabeça. Eu sorri, passando a língua
pelos meus lábios secos.
— Me empurre de volta, governador. É
assim que nós fazemos.
— Nós não fazemos mais nada.
— Foi você mesmo quem disse que ia me
foder em cada buraco e me esquecer, certo? Eu
estou aqui de pernas abertas e não estou te vendo
fazer nada sobre isso. — Aproximei mais nossos
rostos. — Aliás, porque me seguiu até aqui? Por
que veio atrás de mim?

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Seus olhos arderam com fogo e um sorriso


lento, fatal subiu em seu rosto. Ele ergueu mais
meus braços e segurou ambos os pulsos numa mão
só, a outra desceu acariciando minha pele até meu
seio, onde ele apertou e sentiu meu mamilo rígido.
Com um inclinar de cabeça, ele juntou as
sobrancelhas, como se estivesse pensando enquanto
observava as reações do meu corpo.
Ele plantou um beijo no meu peito por
cima do tecido do vestido e continuou descendo a
mão, parou na minha barriga e eu prendi a
respiração, meus olhos lacrimejando de emoção,
mesmo que ele não soubesse o porquê. Sem
perceber meu momento, Juan voltou a descer e
parou quando chegou no topo da minha coxa.
Arqueei meu corpo quando sua mão vai para o lado
e ele passou os dedos levemente pela minha boceta
molhada, a respiração pesada batendo no meu
pescoço, onde ele se inclinava para dedicar beijos e
mordidas.
Eu joguei a cabeça para trás, gemendo
quando as sensações de prazer e a saudade
ameaçaram me derrubar com força.
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Os dedos hábeis que eu conhecia tão bem


empurraram minha calcinha para o lado, mas ele
não me tocou, só ficou perto, tão perto que eu podia
sentir a antecipação correndo pelas minhas veias.
Eu não podia ver nada, ouvir nada e menos ainda
falar. Nem implorar para que acabasse com minha
miséria de uma vez.
— Por favor... — sussurrei tão baixo, ou
pensei que falei, não tinha certeza.
Mas devo ter dito, pois a ponta de seus
dedos encostou no meu clitóris e foi como um
choque elétrico. Minha carne quente, fervendo e
seus dedos gelados, acariciando e girando meu
pontinho doce, duro e embrulhando-me em prazer.
— Você fodeu alguém, Aya?
— Não é da sua conta — sussurrei,
gemendo.
Ele me penetrou com força, fazendo minha
cabeça bater no espelho. Eu não estava esperando e
uma pontada de dor queimou junto com prazer,
meu grito foi silenciado pela sua boca, ele
empurrou a língua entre os meus lábios e me beijou
avidamente, sem mover a parte do corpo que estava
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profundamente enterrada dentro de mim.


— Eu acho que não, loirinha. Eu acho que
você não teve nenhum pau desde que eu estive
aqui. — Ele começou a se mover, lentamente
primeiro, mas aos poucos foi parando de conter
seus movimentos.
— Solte minhas mãos, me deixe olhar para
você, deixe eu te tocar...
— Me diga, Aya. Me diga o que eu quero
ouvir.
— Não — murmurei, sentindo o suor
começar a brotar na minha testa. Tentei alcançar
sua boca, mas ele virou o rosto, eu choraminguei e
gemi mais alto com a força de suas investidas no
meu interior.
— O quê? Diga, Aya. Eu não te ouvi,
porra.
— Não! — gritei. — Eu não fodi ninguém,
seu imbecil do caralho! Como poderia?
Ele parou de se mover e afastou o rosto
para olhar para mim. Soltou minhas mãos e segurou
os dois lados da minha face, beijando-me
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delicadamente e voltando a me penetrar, mas com


calma dessa vez, lentamente. Eu o beijei de volta
com tudo de mim. Com amor, com paixão, com
saudade, com raiva, com ódio e com todo o meu
coração. Seu pau arrastando dentro e fora, e
acertando todos os pontos que me deixavam mole
em seus braços estavam quase me levando ao
limite, e eu sabia pela força dos golpes lentos, que
ele estava quase lá também. Uma mão enrolou na
minha perna, puxando-a para cima e ele foi ainda
mais profundo, voltando a bater golpe após golpe e
eu explodi em volta dele, gemendo seu nome e
segurando-o o mais perto que podia de mim. Eu
ainda estava tremendo quando Juan se deixou ir,
gozando dentro de mim com um gemido rouco,
aquele que eu adorava mais do que qualquer outro
som no mundo.
Nós ficamos ali naquela posição por alguns
minutos, meia hora ou uma hora talvez. Quem ia
saber já que eu não estava contando? Seu corpo
estava tenso, eu não sabia se porque eu o apertava a
ponto de tirar o ar ou porque ele estava se
preparando para se afastar e me deixar.

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Eu não queria deixá-lo ir. Nunca.


Eu acariciei seus cabelos e respirei seu
cheiro, tentando guardar o máximo na memória,
porque sabia que ele iria se afastar outra vez. Juan
ainda não estava pronto para me perdoar.
— Álvaro está usando uma gravata — eu
disse suavemente, procurando um assunto neutro
para aliviar a tensão do momento prestes a ser
quebrado.
— Sim.
— E o cabelo está penteado.
— Está. — Houve um toque de riso em sua
voz, mas foi tão rápido que por um momento
pensei ter imaginado, então olhei para ele,
querendo descobrir.
— Ele finalmente parece formal como
deveria ser todos os dias. Acho que casamentos
fazem milagres.
Ele devolveu o meu olhar, não desviando
por um segundo, sem piscar.
— Nem todos.
Dando-lhe um sorriso sem mostrar os
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dentes, beijei sua bochecha e o canto dos lábios, me


despedindo. Qualquer um podia ter entrado, já
tínhamos ficado fora tempo demais e ele sabia
disso, assim como eu. Espalmei minhas mãos em
seu peito, me arrependendo no mesmo minuto,
porque quis acaricia-lo, sentir mais e mais, mas o
afastei até que tive espaço para descer do gabinete.
Me olhando no espelho, limpei o batom borrado,
passei um lenço pelo o rosto e pescoço, ajeitei meu
vestido e o colar, depois conferi os brincos.
Então me virei para ele, o homem que eu
amava. Ele ainda estava parado como uma estátua
onde eu o deixei, os olhos distantes, mas treinados
em mim. Eu soltei a respiração que nem percebi
estar prendendo e comecei. Ajeitei sua calça,
arrumei o cinto e depois a camisa. Limpei o suor do
pescoço e do rosto, tirei meu batom de sua boca,
conferi se não havia manchas na camisa e coloquei
seu terno de volta no lugar.
— Perfeito — disse por fim, dando um
passo atrás e deixando-o livre para ir. Mas ele ainda
me fitava.
— E se eu renunciasse? — perguntou
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subitamente.
— O que?
— Se eu deixasse tudo isso? Desistisse da
política?
— Não diga bobagens, você adora isso. Faz
parte de quem você é. Você é um líder, Juan. Você
não desiste.
— Eu teria desistido por você.
Lágrimas picaram meus olhos e eu balancei
a cabeça, negando-me a reconhecer que tinha feito
aquilo com ele.
— Não, Juan Carlo...
— Há poucas coisas que eu não teria feito
por você. Tudo ao meu alcance, qualquer coisa que
você quisesse. Eu teria cobrado favores, teria
comprado pessoas e passado dos limites que me
foram estabelecidos no papel. Tudo, Aya.
— Eu nunca teria pedido nada além de
você — sussurrei.
— Tudo — repetiu — Mas assim como
ela... você me lembrou que todos têm um preço,
basta saber em que moeda pagar.
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Ele segurou meu pescoço por trás e me


puxou para a frente, beijando minha testa. Eu
suspirei, mas quando fui me agarrar a ele, Juan já
tinha ido, deixando-me sozinha como se nunca
tivesse estado ali, como se sua presença não tivesse
passado de um sonho.
Eu fitei o espelho enquanto as lágrimas
caíam, e levei a mão trêmula ao meu estômago.
Onde o meu maior tesouro estava.
A prova de que nem tudo estava à venda.

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Capítulo 36
“Um dia chegarei, com um disfarce
Com um tom diferente, mas a mesma face
Te desarmarei, você nem se dará conta
Para te entregar meu coração
Aos poucos, irei te amando mais
Me entregarei a você
A usurpadora, esperando pelo seu amor”
Pandora, la usurpadora

Fitei Julio e Esmeralda cheia de confusão


quando ele estacionou seu carro do lado de fora de
um hospital de saúde mental e suspirou.
— Eu vou me arrepender disso — disse,
apertando o volante.
— Eu também — Esme concordou do
banco de trás ao meu lado.
— Certo, mas antes de começarem a se
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arrepender, me digam o que diabos está


acontecendo!
Eu estava vivendo com Esme e ela tinha
me arrancado do sofá e do meu balde de pipoca
para me enfiar no carro dele e saímos sem me dizer
nosso destino. Era bom que eu estivesse com ela,
isso impedia que Álvaro passasse da porta da
frente, que ela saísse no meio da noite para
encontrá-lo e sempre que ela começava a chorar
olhando fotos e vídeos dos dois, eu estava lá para
tirar sua cabeça disso e distrai-la. Mas era sempre
temporário, ela sempre tinha uma crise por ele. Ela
estava sofrendo e não havia nada que eu podia
fazer.
— Vocês vão me internar?
— Você é minha amiga — começou Esme.
— Assim como já fez coisas para me ajudar, eu
precisava fazer algo por você agora.
— Você já faz, Esmeralda. Esqueceu que
tem me abrigado por semanas?
— Mas é mais do que isso. Você precisa de
um encerramento, mas não quer. Então eu vou te
ajudar a conseguir o que acha que precisa.
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— O que eu acho que preciso?


— Sim, explicações. Acho que a melhor
pessoa para te fazer entender certas coisas é quem
melhor conhece aquela que te meteu nessa
confusão toda.
Ela deveria estar falando sobre Jaqueline, já
que ela era a única que tinha me colocado na minha
recente confusão de vida. Eventualmente eu tinha
contado a Esmeralda como vim a conhecer Juan, a
poupei de muitos detalhes, mas ela sabia que
Jaqueline basicamente me colocou no colo de seu
marido e as coisas foram a merda quando eu me
apaixonei e ele descobriu tudo.
— Esme, você não está fazendo nenhum
sentido.
— Foi Álvaro quem me contou que ela está
aqui.
— Ela? — Franzi o cenho, confusa. — Ela
quem?
— Juliana Gonzalez. A irmã de Jaqueline.
Olhei para Julio, que fitava à frente e batia
os pés nervosamente, e depois para Esme, que
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mordia os lábios sem parar, os olhos tão


arregalados que ela começaria a hiperventilar a
qualquer momento.
— Você está brincando, certo?
— Não — sussurrou e antes que eu pudesse
dizer mais alguma coisa, ela abriu a porta e saiu.
— Julio? — chamei, esperando ter alguma
ajuda, qualquer que fosse.
— Não me responsabilizo pelo o que
acontecer lá dentro, eu fui apenas a carona.
— Covarde — murmurei e saí também,
seguindo minha amiga em sua missão louca. —
Esme, espera!
— Não podemos demorar muito. O horário
de visitas começa em dez minutos. Você tem
quinze lá dentro com ela.
Segurei seu braço, fazendo-a parar de andar
e me olhar.
— Ficou louca? Eu sou a favor de algumas
aventuras de vez em quando, mas entrar em um
hospício e interrogar uma interna?
— Quem disse que vamos interrogar?
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Somos parentes que só tivemos tempo de vir visitar


agora. Álvaro Herrera ligou mais cedo para
confirmar.
— Ele ligou?
Ela olhou para o carro e assentiu.
— Sim.
Eu segui seu olhar para ver Julio com a
cabeça encostada no volante e as mãos apertadas,
segurando-se. De repente isso me bateu e eu a fitei
sem acreditar.
— Você o convenceu de falsificar uma
ligação e te ajudar a invadir uma instituição
privada?
Ela deu de ombros.
— Ele me deve, então eu cobrei um favor
de muitos. Agora podemos ir? Faltam sete minutos.
O lugar tinha dois andares, era rodeado de
cercas medianamente altas e um gramado que se
estendia por toda a propriedade. Embora tivesse
apenas dois andares, era grande, largo. Eu a segui
ainda sem acreditar no que estava acontecendo e no
que ainda ia acontecer lá dentro. Nós passamos
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pelos portões e na recepção entregamos nossas


identidades para pegar um cartão de visitante, então
avançamos com um guarda calado à nossa frente.
Ele parou em frente a uma sala com duas
mulheres dentro e uma delas acenou, pedindo que
entrássemos.
— Bolsas, por favor — a guarda pediu e
nós entregamos. — Existe algo afiado ou que possa
ser usado como algum tipo de arma nos bolsos?
Clips, caneta, cotonetes, pingentes?
— Não — respondi e Esme balançou a
cabeça. — Cotonetes?
A mulher deu de ombros.
— Acredite em mim. Até mesmo um botão
aqui dentro pode ser perigoso.
Eu não tinha uma resposta para isso. De
repente comecei a perceber como aquilo era sério.
Ficaria frente a frente com uma mulher que se
estava ali dentro, era porque perdeu a sanidade ou
estava com algum problema grave, alguém que
estava fora do juízo o suficiente para ser trancada
entre quatro paredes e condenada a passar a vida

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assim. Me perguntei o que ela fez.


— Vocês têm quinze minutos, podem
retirar seus pertences na saída. Uma enfermeira vai
acompanhá-la. Depois da visita, a paciente vai ficar
por alguns minutos no jardim, então estejam
prontas para sair quando a enfermeira for buscá-las,
para não atrapalhar a rotina da paciente.
— Ok — Esme confirmou, mas eu não
podia falar.
Segui a enfermeira e minha amiga por um
longo corredor, depois viramos em outro e eu podia
ver janelas largas que davam para o lado de fora,
onde tinham algumas pessoas sentadas, outras
fazendo ginástica com auxilio médio, e vi até
mesmo uma apenas andando em círculos. Nós
paramos em frente a uma porta e a enfermeira
destrancou, abrindo-a para nos liberar.
— Vocês conhecem os procedimentos dentro
do quarto, eu volto em quinze.
Com isso, ela saiu e eu fitei Esme de olhos
arregalados.
— Merda, que procedimentos?

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— Como é que eu vou saber, gênia? —


perguntei, irritada. — Você não pensou em tudo
antes de nos enfiar aqui. Juro por Deus, se eu for
atacada vou te processar.
— Até lá já estaremos na cadeia. — Ela
pegou meu braço, ignorando meu olhar matador e
nos puxando para dentro.
Quando entramos, a mulher sentada no
canto da cama virou a cabeça de uma vez e pulou
no colchão, correndo para o lugar mais afastado do
quarto e se encostando na parede. Meus olhos
arregalaram e eu travei no lugar, horrorizada.
Ela tinha os olhos estreitos enquanto nos
olhava, como se estivesse avaliando o perigo.
Eu olhei ao redor, imaginei que a decoração
do quarto deveria ser para transmitir algum senso
de paz e tranquilidade, mas me parecia morto e
metódico. Mórbido. Pobre mulher. Senti tanta pena,
tanta tristeza por ela. Me perguntei há quanto
tempo ela vivia ali, trancada e esperando a vida
passar à sua frente. Será que ela sabia o que
acontecia ao seu redor?
— Quem diabos são vocês duas? — ela
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perguntou, chocando-me e me surpreendendo com


a clareza em sua voz e a forma como falou.
Será que tinha problemas de raiva?
— Hum... — Esme começou, tentando uma
desculpa decente. — Nós conhecemos Álvaro,
somos amigas dele.
A mulher relaxou um pouco e revirou os
olhos, então levantou e caminhou até nós. Eu fiquei
tensa e dei um passo atrás, me preparando para
correr o inferno de lá. A mulher, parecendo
perceber isso, sorriu e passou por mim, fechando a
porta.
— Relaxa — disse ela. — Só quero deixar
a porta aberta para eles não me ouvirem. Então, por
que Álvaro mandou vocês aqui?
— Eu sou Esmeralda. — Ela esticou uma
mão para a mulher, mas eu a puxei de volta.
— Ficou louca? Ela pode arrancar seus
dedos com os dentes!
A mulher caiu na cama, rindo e balançando
a cabeça como se eu fosse muito engraçada. Algo
estava errado.
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— Eu já disse para relaxar, não sou louca e


muito menos canibal.
— Não é louca? Isso não é o que todos
internados num hospital de saúde mental dizem?
— Bem... — disse ela, dando de ombros.
— Acho que sim. Mas não são todos que são
internados pela irmã.
Minhas sobrancelhas franziram e
respirando profundamente, peguei a cadeira do
canto do quarto e coloquei a dois pés de distância
na frente dela, me sentando.
— Eu conheci Jaqueline.
Os olhos dela se encheram de fúria e ela
desviou o olhar. Fitando a janela.
— Que azar o seu — sussurrou.
— Sim, eu concordo. Eu sou ruim, mas ela
é provavelmente pior do que eu.
— Você não conheceu Jaqueline. Você
conheceu Juliana. Há três anos ninguém conhece
Jaqueline, porque ela está presa aqui.
— Eu não entendo.
— Não, você não entende. — Ela cruzou as
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pernas e deu de ombros. — Mas quando entender,


vai concordar com todos e dizer que realmente sou
louca.
— Não acho que você é louca.
— Não? — Inclinando-se para a frente,
apoiou o queixo nas mãos e me fitou diretamente
nos olhos — Deveria. Às vezes, eu mesma começo
a acreditar nisso.
— Desde o minuto em que começamos a
falar, comecei a achar que você não é louca. —
Suspirei e fitei Esme, que olhava a mulher com
confusão. — Olha... sua irmã fez um estrago muito
grande na minha vida. Ela fez algo tão bem
planejado que eu ainda nem sequer consegui
montar todas as peças do quebra-cabeça para
entender porque ela me fez o que fez, então
acredite quando eu digo que há uma chance de você
não ser louca.
Ela engoliu em seco, olhou para nós duas e
ficou em silêncio por alguns minutos. Eu estava
com pressa, nosso tempo era curto, mas não queria
pressionar.
— Transtorno bipolar e mania de
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perseguição. Foi assim que me diagnosticaram


quando cheguei aqui. Uma louca gritando que tinha
sido substituída. Juliana e eu nunca fomos amigas,
mas ela era minha irmã e eu queria pelo menos
tentar me aproximar dela. Ela nunca fez questão,
mas isso mudou quando eu conheci Juan. Desde o
primeiro momento que os apresentei, ela foi
apaixonada por ele. Nós dois estávamos juntos há
anos, estudamos na mesma faculdade, planejamos
nosso casamento, iriamos ter três filhos. Mas minha
irmã não podia aceitar o fato de que ele me amava.
Ele me queria e me escolheu.
— Então, o que aconteceu? — perguntei
suavemente, ignorando a pontada de ciúme ao
ouvi-la falar sobre ela e Juan.
— Eu acordei um dia me sentindo estranha,
um pouco atordoada e com os pensamentos
confusos. No dia seguinte foi pior. Juan começou a
perceber meu comportamento estranho, mas eu não
tinha uma resposta para explicar. Eu não sei dizer
quanto tempo durou, mas o que aconteceu, só sei
que foi naquela manhã.
Seus olhos encheram de lágrimas e ela
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olhou pela janela, fungando.


— Eu acordei no quarto de hóspedes, meu
cabelo estava cortado na altura do pescoço e eu
estava ouvindo coisas, vendo coisas. Era pior que
nos outros dias. Eu cambaleei até o meu quarto e de
Juan, e quando entrei... — Ela fechou os olhos
como se estivesse com dor. — Quando entrei ela
estava em cima do meu marido, montando-o como
se ele fosse dela para tocar. Mesmo na neblina dos
remédios eu peguei a primeira coisa que vi e fui
para cima dela, puxando seu cabelo e a atingindo
com o objeto. Depois eu soube que era um
cabideiro. Eles têm fotos dela com hematomas,
sangue e cortes do meu “ataque”. Eu só me lembro
de um segurança da casa me segurando enquanto
ela chorava e Juan olhava para mim horrorizado, a
segurando como se ela fosse sua vida. Ainda assim
eu não entendi naquele momento. Não entendi até
que ela veio aqui depois que eu estava há uma
semana internada, então percebi que seus cabelos
estavam grandes como os meus eram antes, e ela
vestia as minhas roupas, usava a minha aliança. Eu
estava dopada demais para fazer perguntas, mas ela

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fez questão de me contar como não podia suportar


ficar sem Juan e resolveu que só havia uma
solução.
— Oh, meu Deus! — Esme ofegou, tão
perplexa e horrorizada como eu estava.
— Ela pegou sua vida — concluí e a
mulher assentiu.
— Ela pagou uma empregada para colocar
remédios controlados nas minhas bebidas, comida,
chá, café, tudo. A todo momento que eu ingeria
algo, estava me afogando nos malditos remédios
que me tiravam da minha cabeça e afundava no
plano dela. Por mais insano que pareça, no final...
deu certo. Ele expandiu os negócios, virou um
homem importante na política e tudo isso, era ela
ao lado dele. Ele a ama. Ele pensa que ela sou eu.
— Não — eu disse. — Ele a detesta. Ele
pensa que a perda da irmã a transformou numa
pessoa amarga e ruim. Ele não se divorcia apenas
pela política.
— Por que você nunca tentou dizer? —
Esme perguntou.

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Jaqueline... ou Juliana, bufou.


— Quem acreditaria nisso? Ela atua tão
bem. Sempre tivemos personalidades diferentes. Eu
era educada, boa, gentil e ela... bem, se Juan a
detesta quer dizer que ela está mostrando sua
verdadeira face. Mas ainda assim, quem ia acreditar
nessa história? Até eu reconheço que parece
loucura das grandes!
— Não custaria tentar. Você parece bem,
está normal.
— Apenas porque nos últimos seis meses
um médico novo percebeu que tinha algo errado
com o diagnóstico e parou com os remédios até me
avaliar novamente, mas quando minha mente
clareou, ele viu. Ele me viu. Ele ouviu minha
história e acreditou, então tem evitado que outros
médicos me deem remédios e não me dá também.
Me traz doces, às vezes. De qualquer forma, Juliana
é a única que ainda vem me visitar. Quando nossos
pais ou Juan vêm, ela paga às enfermeiras para me
sedarem, assim eu fico parada e não posso falar,
então só os escuto. — Ela ficou de pé e começou a
caminhar pelo quarto. — Escuto enquanto
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lamentam, escuto enquanto ela fala com ele,


enquanto nossos pais sofrem pela minha perda.
Eu fiquei de pé e a segurei pelos ombros,
olhando diretamente em seus olhos.
— Acalme-se! Fique calma. Nós não
queremos as enfermeiras vindo e sedando você,
certo?
Uma lágrima escorreu, correndo pela
bochecha e ela assentiu, um olhar tão triste que me
fez odiar Jaqueline ainda mais.
— Certo — sussurrou e respirou fundo,
depois continuou. — Nos primeiros anos eu parecia
realmente louca, os remédios me deixavam
totalmente descontrolada, mas agora minha cabeça
está clara, se eu ao menos pudesse falar com Juan...
dizer coisas que só nós dois sabemos, poderíamos
confrontar Juliana e sua máscara cairia, mas ela
sabe disso, então faz de tudo para que ninguém me
veja assim. Sedativos. Sempre os malditos
sedativos.
— Só temos três minutos, Aya — disse
Esme, com a voz entrecortada. Eu sabia que ela
estava quebrada pela situação da mulher à nossa
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frente.
— Te consola saber que nós acreditamos?
Acredite em mim, eu odeio a sua irmã, e agora
sabendo o que ela fez para você... Deus, eu a odeio
ainda mais. Vou dar um jeito nisso, ok? Em tudo
isso. Vou tirar você daqui.
— O que você ganha com isso?
Eu não podia dizer. Como você diz a
alguém que sofreu tudo o que ela tem sofrido que
ama e está grávida do homem que ela ama?
Forcei um sorriso e apertei sua mão,
sabendo que era hora de ir.
— Odiar aquela mulher é mais do que
suficiente para fazê-la pagar pelo o que está
fazendo com você e com isso, me vingo do que ela
fez comigo.
— Acabou nosso tempo — Esme disse.
Juliana-Jaqueline olhou entre nós duas e
assentiu, então um pequeno sorriso surgiu em seu
rosto e lágrimas começaram a fluir de seus olhos.
— Obrigada — sussurrou.
A maçaneta da porta girou, mostrando que
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a enfermeira estava pronta para nos levar e ela


correu para a cama, ficando numa pose como se
fosse realmente uma paciente do lugar. Entendi que
era sua vida ali dentro. Para permanecer sã, ela
precisava fingir ser louca.
Esme me arrastou para fora enquanto a cada passo
eu planejava como tirar aquela mulher dali e, por
fim, fazer Jaqueline cair em miséria.

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Capítulo 37
Naquela mesma noite nós duas invadimos o
prédio de Enrico e batemos à porta até que ele
abriu, muito mal-humorado, e levou cinco minutos
para convencê-lo de nos deixar entrar. Eu tentei ser
doce, tentei não xingar, tentei não ser eu mesma,
mas Enrico tinha manobras para me fazer perder a
paciência e antes de terminar minha explicação eu
já estava gritando, apenas com Esme entre nós para
nos impedir de atingir um ao outro.
— Você perdeu a porra da sua mente? —
ele gritou, me encarando com olhos arregalados e
as mãos na cabeça, puxando os fios de cabelo
escuros.
— Nunca falei tão sério em toda a minha
vida.
— É realmente sério — Esme concordou,
tentando me ajudar.
Ele olhou para ela da mesma forma.
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— Você está compactuando com essa


loucura? Fodido inferno, eu não vou ajudar vocês a
tirar alguém de uma clínica, principalmente com
essa história maluca que contou, pelo amor de
Deus, Aya!
— Ela não é louca!
— Isso é o que todos lá dentro dizem!
— Eu sei, eu sei... mas ela é verdade. Eu
juro, Enrico, vi com meus olhos e ouvi com esses
ouvidos bem aqui!
— Piorou ainda mais. Você não é
exatamente uma ótima juíza de caráter.
— Considerando que namorei com você
durante anos, preciso concordar, mas como já
falei... ela é mais sã do que eu e você juntos.
Ele deu um passo ameaçador em minha
direção.
— Vai querer realmente falar sobre o nosso
namoro agora?
— Pessoal... — Esme chamou, inquieta no
sofá. — Se vamos fazer isso, precisamos ser
rápidos. Eu sei que deveríamos ter um plano, mas
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eu não consigo parar de pensar naquela mulher


trancada durante anos lá dentro, drogada e
constantemente abusada por sua irmã. Quero tirá-la
de lá.
— Eu sei, Esme. Também quero.
— Tem certeza, Aya? — Enrico perguntou.
— Porque mesmo se essa história fosse verdade,
você perderia Juan de vez. Ele já me contou sobre
como adorava a esposa anos atrás, supondo que ela
volte à vida dele e volte a ser quem ela era, o que
você acha que ele escolhe? Você, que é uma outra
versão da Juliana, ou Jaqueline, a mulher que ele
amava?
— Acha que eu não pensei nisso? Porra,
você acha que eu quero simplesmente entregar o
homem que eu amo à mulher que ele ama? Inferno,
ele me odeia tanto agora que escolheria até a
megera de sua mãe acima de mim. Mas o jeito que
Jaqueline... a verdadeira Jaqueline está sofrendo lá
dentro, é desumano. Ela foi arrancada de sua vida e
traída por sua irmã. Eu preciso ajudá-la. E Enrico...
nós precisamos da sua ajuda para isso.
Ele me encarou por vários minutos, mas
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por fim, com um suspiro alto e um rosnado de


irritação, assentiu, passando as mãos pelos cabelos.
— Faremos isso essa noite. Eu conheço o
lugar. Nós entramos e saímos, e temos menos de
vinte e quatro horas para provar essa história
absurda, caso contrário, eu serei demitido, vocês
duas são presas e ela volta para lá em uma camisa
de força. Entendem o risco disso?
— Sim — nós duas concordamos.
Minha mão voou automaticamente para
minha barriga, um ato involuntário que vinha se
tornando constante. Enrico percebeu e seus olhos
suavizaram um pouco.
— Aí está — ele disse, por fim.
— Aí está o quê?
— A Aya que eu conheci na escola, a
menina por quem eu me apaixonei.

A picape escura de Enrico parou num ponto

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mal iluminado da rua que com o escuro da noite


não seria fácil de ver. Ele conferiu com um amigo
na delegacia se haviam câmeras de segurança por
perto e como era a guarda dentro do hospital, e
depois de fazer anotações numa folha onde estava a
planta do lugar, nós esperamos dar uma hora e
saímos da casa dele. Inicialmente, ele queria que,
tanto eu quanto Esme, ficássemos em casa, mas
sabendo os ricos que ele estava correndo. Eu não
podia deixá-lo fazer aquilo sozinho e menos ainda
envolver alguém do trabalho. Minha consciência
não podia lidar com mais uma grama de peso.
Nós tínhamos lanternas, um horário da
grade do hospital — que um outro amigo conseguiu
invadindo o sistema de computadores interno —,
que eu não concordei, mas sabia que facilitaria
muito mais a nossa entrada e saída.
— Será que esse cara invadiria o celular de
Juan para me dizer se ele tem conversado com
outras mulheres? — perguntei, sinceramente
curiosa e na intenção de fazer aquilo.
Enrico me deu um olhar nada agradável.
— Eu vou fingir que não ouvi a pergunta.
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— Você tem tudo isso a uma chamada


telefônica de distância?
— Não faça perguntas sobre o meu
trabalho, Aya. Nunca se coloque na posição da
testemunha.
— Droga — Esme resmungou. — Eu
deveria ter sido uma delegada.
— Você seria péssima — eu disse.
— Por quê?
— Qualquer novo caso que tivesse que
envolvesse mulheres, crianças ou animais, você ia
começar a chorar e recorrer ao assassinato de quem
machucou as vítimas. Sobre os assassinatos eu não
acho exatamente errado, mas o choro com certeza
ia dificultar seu trabalho.
— Não fale sobre assassinatos na minha
frente, Aya — Enrico cortou. — Eu poderia apenas
te algemar agora e te enfiar num dos quartos dessa
clínica, alegando que você é uma ameaça à
segurança própria e de quem está ao redor.
— Sim. — Esme riu. — Eu definitivamente
tinha que ter sido da polícia.
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— Fiquem quietas, eu preciso me


concentrar agora.
Nós obedecemos, nos entreolhando e
observando Enrico. Eu não sabia o que diabos ele
estava esperando, mas como ele era o experiente
desse tipo de coisa, cedi, ficando parada e quieta,
por mais difícil que fosse me fazer o que era
mandado.
— Pronto! — disse ele, pegando sua
lanterna e algo que parecia uma pochete, mas sem
alças. Eu nem queria saber o que poderia ter lá
dentro.
— Pronto o que? — perguntei.
Ele abriu a porta e saiu, abrindo a de trás do
meu lado e acenando para que eu saísse também.
— A última luz foi apagada. O plano é o
seguinte: — Ele esperou Esme estar ao meu lado e
nos entregou nossas lanternas. — Eu vou abrir o
portão, dois de nós passaremos por ele e o terceiro
fica de fora, tocará a campainha e espera o guarda
sair. Quem ficar para trás precisa distraí-lo tempo o
suficiente para passarmos pelas câmeras com ele
longe da recepção, assim não nos verá nos
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monitores.
— Como sabemos que ele sairá?
— É procedimento padrão. Por ser um
hospital e estar sempre a riscos de emergência, ele
tem que sair.
— Tem apenas um guarda?
— De acordo com os registros do hospital,
no horário da madrugada, sim, só o interno. Ele
estará armado, então quem ficar precisa ser
convincente e não irritar o cara, porra. Amanhã um
dos meus garotos da delegacia virá e confiscará as
câmeras antes que a polícia seja acionada de que a
paciente fugiu. Vocês entenderam?
— Sim, eu quero ir com você — eu disse.
— Esme vai conseguir distraí-lo, quando ela
começa a falar não para mais.
Ela me deu uma cotovelada, mas não
discordou, sabendo que eu tinha razão. Enrico
assentiu e começamos a nos mover para o portão de
trás.
— Esmeralda, você pode ir para o portão
da frente agora. Aya e eu levaremos no máximo
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dez minutos.
Ela acenou e correu para a frente. Eu não
queria nem imaginar que tipo de coisa estava
passando na cabeça dela para distrair o homem de
seu trabalho.
— Você fala com tanta certeza. — Estreitei
os olhos em sua direção. — Já fez isso antes?
— Invadir uma instituição privada? Que
policial nunca fez isso?
— Hã... os corretos, talvez?
Houve um barulho baixo no trinco do
portão e ele me fitou.
— Quer chamar um desses corretos para vir
ajudá-la agora?
— Entendi. — Selei os lábios. — Vou ficar
quieta.
Ele empurrou as grades o suficiente para
passarmos e deu alguns passos à frente,
certificando-se de que estávamos sozinhos.
— Esses lugares são sempre fáceis de
entrar?
— A maioria — explicou. — Eles pensam
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que ninguém será louco o suficiente para tirar um


louco daqui.
Ele pegou um papel do bolso e segurou
minha mão, começando a correr em alguma
direção.
— Você sabe como chegar até ela?
— Eu fiz um mapa e memorizei algumas
direções. Vamos tirá-la pela janela.
Nós corremos, seguindo sua direção e um
minuto depois paramos do lado de fora, por trás dos
quartos. Eu podia ver o corredor pelo qual tinha
passado mais cedo.
— O quarto dela é esse, tenho noventa e
oito por cento de certeza. Eu vou te levantar e você
vai precisar abrir a janela, tente ser rápida.
A janela era alta do lado de fora,
provavelmente para evitar fugas, mas Enrico já
tinha pensado em tudo. Ele me deu duas pinças e
cruzou as mãos para apoiar meus pés. Me levantou
até que eu estava sentada em seus ombros.
— Como diabos eu vou arrombar uma
janela com duas pinças? Eu não tenho treinamento
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de...
Mas não foi necessário qualquer esforço,
porque segundos depois a janela foi aberta e o rosto
assustado e confuso de Jaqueline estava ali. Ela
arregalou os olhos quando me viu.
— Aya? O que está fazendo aqui?
— Ei, garota. — Eu sorri com confiança,
querendo deixá-la segura. — Vim buscar você.
Pronta para sua liberdade?
— Eu vou mesmo sair? — Seus olhos
brilharam com esperança enquanto olhava para
fora.
— Sim. Mas precisamos ser rápidas. Meu
amigo aqui em baixo vai te pegar, depois disso, nós
vamos correr, ok?
— Sim. — Assentiu freneticamente. — Eu
vou fazer isso.
— Ótimo, Enrico, me desça.
Ele fez isso e eu assisti enquanto ela jogava
uma perna, depois a outra para fora e ele a segurou
até que seus pés bateram no chão. Ela me deu um
grande sorriso e correu para mim, abraçando-me.
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Eu estava impressionada que ela não hesitou em


aceitar e correr de lá comigo, que havia me
conhecido apenas mais cedo naquele dia, mas
confiava sua segurança a mim. Esse era o preço do
que anos sendo trancada por sua própria família
fazia.
Quando íamos começar nossa saída, a porta
de dentro para o jardim abriu.
— O que está acontecendo aqui? — A voz
que veio trovejando naquela direção me parou, eu
olhei ao redor procurando qualquer coisa que
serviria como uma arma para impedi-lo de nos
impedir, mas não encontrei nada. É claro que não.
— Eu tenho uma arma e vou usá-la — eu
menti. — Afaste-se e você vai ficar bem.
O médico fechou a porta e olhou por cima
do meu ombro.
— Jaqueline? Querida, você está bem?
— Miguel... — disse ela, com um suspiro
de alívio. Confundindo-me ainda mais, ela saiu de
trás de mim e correu para ele, o abraçando. — Essa
é uma das mulheres que eu lhe disse. Eu não sabia

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que ela ia vir hoje... eu nem tinha ideia de que


planejava me ajudar desse jeito.
O médico olhou para ela com carinho,
acariciando seu cabelo antes de me fitar.
— Você está sozinha?
— Meu amigo aqui é um delegado e tenho
uma amiga distraindo o guarda para sairmos sem
sermos vistos.
Ele assentiu e a fitou novamente.
— Você vai finalmente sair daqui.
— Sim — sussurrou ela.
Eu supus que aquele era o médico que a
ajudava a ficar sã.
— Prometa-me que ficará segura, que vai
contar sua história e que vai fazer de tudo para ficar
livre, que nunca mais voltará aqui.
Ela riu baixinho.
— Eu prometo.
Ele deu um passo atrás.
— Eu espero vê-la novamente, Jaque.
— Eu também, Miguel.
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— Agora vai, corra. Seja livre daqui.


Ela sorriu para ele e assentiu, voltando para
nós.
— Obrigado — ele me disse com os olhos
brilhando de lágrimas não derramadas.
Eu assenti.
— Guarde a emoção para o reencontro do
lado de fora, doutor.
Ele sorriu um pequeno sorriso, assentindo
enquanto nos observava sair. Nós não perdemos
tempo antes de começamos a correr em direção ao
portão pelo qual entramos. Ele carregava Jaqueline,
ainda fraca para fazer qualquer esforço, e assim que
alcançamos o lado de fora, ele olhou ao redor e
apontou para o carro.
— Você precisa pegar o carro e fugir com
ela daqui. — Ele me entregou um molho com três
chaves. — Agora, Aya.
— Mas e você? E Esme?
— Uma viatura vai vir nos buscar, eu vou
esperà-la lá na frente e improvisar alguma história
para afastá-la do guarda, não se preocupe.
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— Não me preocupar? É a minha amiga


correndo o risco de ser internada!
Parecendo perceber o quão realmente
assustada eu estava, ele segurou meu rosto e me
olhou diretamente nos olhos.
— Aya, confie em mim. Se eu tinha um
plano de entrada, é claro que teria um de saída.
Você confiou até agora, então acredite que vamos
encontrá-las no meu apartamento dentro de uma
hora. Ok?
— Ok — sussurrei.
— Leve Jaqueline daqui, deixe-a
confortável e preparada para o que vem a seguir.
— Tudo bem — eu confirmei, mas não me
movi. Apenas quando senti um toque delicado na
minha mão, puxando-me para longe em direção ao
carro, percebi que era Jaqueline, que ela estava
contando comigo e eu precisava colocar minha
cabeça no lugar.
Tínhamos chegado tão longe, eu não podia
parar agora apenas porque estava assustada.
— Fiquem seguros — eu pedi suavemente.
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Era até estranho, porque há muito tempo Enrico e


eu não trocávamos algumas palavras sem nos
ofender de alguma forma. Mas ali estava ele, me
ajudando, mesmo quando não me devia nada e não
precisava fazer isso.
— Deixa comigo.
Levei Jaqueline para o carro e dei partida,
indo o mais rápido que eu podia dentro dos limites
para fora de lá.
— Você estava acordada? — perguntei.
— Sim, às vezes não consigo dormir. Eu
ouvi uma voz e como sei que não sou louca, abri
para olhar. Madre santa! — ela sussurrou ao meu
lado com um grande sorriso no rosto. — Nós
fizemos isso... você fez isso!
— Nós. Nós fizemos. Você se saiu bem.
Virei uma rua em direção à estrada aberta e
pegamos mais velocidade. Estava muito escuro,
mas outros faróis ajudavam a iluminar o caminho à
frente.
— Minha família não acreditou em mim,
nem meu marido ou meus amigos. Foi muito fácil
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me deixar lá, esquecer a louca e fingir que eu não


fazia mais parte do círculo deles.
— Devemos ir até Juliana agora e
assassiná-la. Sem testemunhas, sem crime.
Ela riu.
— Sim, e o fato de eu ter fugido no dia do
assassinato só serviria para me mandar de volta
para lá, mas amarrada na cama dessa vez. De
qualquer jeito, eu quero que ela sofra viva.
— Você é mais nobre do que eu.
— Ela vai sofrer, certo? Pelos crimes que
cometeu? — Ela parou e me fitou com medo nos
olhos. — Aya... o que ela fez foi um crime?
— É claro que sim. Além dos remédios, ela
vem fingindo ser você há anos. Se a polícia não der
um jeito nela, conhecendo Juan, eu sei que ele dará.
— Você o conhece bem?
Eu fiquei tensa. Até agora tinha me cuidado
em todas as palavras, tinha mantido as possíveis
suspeitas longe. Por algum motivo eu não queria
machucá-la mais do que sua irmã já havia feito.
Não queria tirá-la de um inferno e jogá-la em outro.
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É claro que quando tudo se resolvesse, eu ia querer


Juan de volta, a esperança de que ele me perdoaria
depois de ajudá-la fez tudo melhor, mas sabendo
que eu estava a uma confissão de distância de
quebrar o coração daquela mulher mais ainda, me
impediu de dizer ou fazer qualquer coisa.
— Eu não... Nós... — Apertei meus lábios
juntos, não sabendo como terminar a frase, o que
dizer.
Mas ouvi um suspiro trêmulo e quis
imediatamente parar o carro e correr o mais longe
possível. Ao invés disso, olhei para ela, vendo os
olhos arregalados e a boca aberta.
— Como eu não pensei nisso? —
sussurrou. — Você é...
Eu desviei o olhar do dela, fixando-o na
estrada à frente, querendo escapar das palavras que
ela diria a seguir, mas foi tarde demais. Eu não ouvi
suas próximas palavras e ela não pôde dizer nada,
porque num minuto estávamos correndo para a casa
de Enrico, onde eu a deixaria segura e forte o
suficiente para me ajudar a me livrar de Juliana,
mas no próximo, estávamos gritando enquanto o
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carro ia para fora da estrada. A luz que me cegava à


nossa frente foi o suficiente para me fazer pensar
que aquele era o fim. Batemos e caímos.
Eu tentei ajudá-la, mas só a arruinei. Outra
sequela que deixei para trás.
No minuto seguinte tudo ficou escuro.

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Capítulo 38
"Sempre acabamos assim
Só nos fazendo sofrer por não evitar discutir
Por que não podemos falar sem uma guerra
começar?
Aonde vamos parar?
Caindo sempre no mesmo erro
Dando sempre mais valor a tudo, menos ao amor
Que é o que nos impede de separar”
Marco Antonio Solís, a dónde vamos a parar

— Você está acordando!


A voz meio abafada veio de algum lugar
por perto. Enquanto eu piscava meus olhos
tentando acordar e me orientar, senti imediatamente
minha cabeça pulsar e ergui a mão para tocar o
local dolorido, mas alguém a segurou para baixo.
— Você vai tirar a IV, querida. — Eu olhei
para o lado, vendo o rosto de Maynara sorrir para
mim. — Fique parada até o médico voltar.
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— O-onde estou? — sussurrei e minha


garganta ardeu como se estivesse em chamas.
— Hospital, minha amiga. Você teve uma
batida feia na cabeça.
— Água — pedi.
Ela ia começar a responder, mas a porta foi
aberta em seguida.
— A paciente já acordou exigente, hein? —
disse o médico, com humor na voz, aproximando-
se de mim com uma prancheta.
— Água — pedi novamente e ele alcançou
um copo descartável ao lado da cama, deixando-me
dar três pequenos goles antes de tirar.
— Você se lembra o que aconteceu, Aya?
Fechei os olhos, tentando concentrar meus
pensamentos e procurando a resposta, sabendo que
ele só me deixaria sair dali dependendo da minha
recuperação, e se dependesse de mim ela seria o
mais rápido possível. De repente, um flash de luz,
buzinas e pneus derrapando na estrada encheram
minha mente e um gemido abafado escapou da
minha garganta.
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— Jaqueline — sussurrei para mim mesma,


lembrando-me que não estava sozinha no carro.
— Aya? — chamou o médico.
— Sim, sofri um acidente de carro. Eu me
lembro.
— Muito bem.
— Há quanto tempo estou aqui?
— Algumas horas. Você deu entrada no
início da madrugada e agora é apenas um pouco
depois das dez.
— Então estou bem para ir?
Ele sorriu, quase revirando os olhos com
minha impaciência.
— Se sua amiga aqui concordar em manter
um olho em você para garantir que continue bem,
sim, você pode. Você tem algumas contusões, pode
ter dor de cabeça pelos próximos dias e dor no
corpo, mas analgésicos vão ajudar. O airbag te
salvou. Não houve nenhum dano grave, sua amiga
está um pouco pior.
Minhas mãos imediatamente voaram para
minha barriga e me senti uma desnaturada por
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pensar em meu bebê apenas quando ele citou


analgésicos.
— Meu bebê? — minha pergunta foi um
sussurro baixo, mas o sorriso acolhedor do médico
me deixou um pouco aliviada.
— Tudo bem com o bebê. Embora ainda
seja cedo demais para dizer se está vindo uma ela
ou um ele, está a salvo e protegido.
— Graças a Deus.
Ouvi um suspiro do outro lado e virei para
ver o rosto em choque de Maynara, mas como se
ela visse meus olhos implorando para discutir
depois, respirou fundo e se aproximou, colocando a
mão em cima da minha.
— Pode deixar, doutor. Vou garantir que
esses dois não aprontem pelos próximos dias.
— Muito bem. Suas roupas estão no
banheiro e vou deixar os papéis de alta assinados na
recepção. — Ele estendeu a mão. — Se cuide, Aya.
Eu apertei e sorri.
— Obrigada, doutor.
Eu o esperei fechar a porta e quando
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estávamos sozinhas, joguei a coberta para longe do


corpo, colocando as pernas para o lado na intenção
de levantar.
— Ei, ei ei! Vai com calma, aí, tigresa! —
Maynara me segurou.
— May, eu fiz algo muito grave na noite
passada, preciso resolver isso. Então, por Deus, me
ajude a levantar ou saia do caminho.
— Isso explica porque seu telefone está
explodindo com ligações de Enrico e uma tal de
Esmeralda?
— Merda. — Fechei os olhos e a empurrei
delicadamente, sugando uma respiração quando
uma pitada de dor caminhou dos meus pés até o
pescoço e sacudiu minha cabeça.
Eu pegaria Jaqueline, ligaria para Enrico e
iríamos para a casa dele, e quando ela estivesse
bem o suficiente nós duas terminaríamos de
resolver o nosso assunto em comum: Juliana.
Depois de me vestir, ignorando as
perguntas que Maynara fazia a cada dez segundos,
abri a porta e saí, mas, de repente, me bateu que eu

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não tinha ideia de como ou onde Jaqueline estava.


Andei mais rápido para chegar a recepção e
perguntar sobre ela, mas assim que alcancei o final
do corredor, passos ecoaram no corredor e quem eu
menos esperava virou a esquina, cruzando o meu
caminho.
Com minha parada abrupta, May esbarrou
em mim por trás, lançando-me dois passos à frente.
Os olhos dele estreitaram em mim.
— O que você está fazendo aqui?
Então ele ainda não sabia? Alívio me
inundou. Logo desconfiei que se algum familiar de
Jaqueline já tivesse sido avisado que ela estava no
hospital, Juliana faria de tudo para mantê-la longe
de Juan. Ela fez isso durante anos, mas aquela farsa
acabava agora.
— Juan. — Minha voz era baixa e saiu
como um chamado e uma exclamação ao mesmo
tempo. Eu nem sabia se ele havia me ouvido.
Eu me lembrei imediatamente de uma das
primeiras vezes em que o vi. A primeira, de fato,
que ele invadiu meu quarto em seu hotel.

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Lembrava-me dos olhos cansados, o cabelo


bagunçado e a camisa amarrotada, o terno jogado
no ombro como se o tivesse arrancado sem nenhum
cuidado e apenas o largou ali, sem ter onde colocar.
Mas mesmo parecendo que não dormia há dias, ele
continuava perfeito. O homem mais bonito em que
já pus meus olhos.
— Você! Sua desgraçada! — Os gritos
vieram de trás de mim e eu não precisava virar para
saber que era Juliana. — Como se atreve a roubar
minha irmãzinha? Tem noção do que poderia ter
acontecido com ela aqui fora?
— Você não se atreva a tocar nela! —
Maynara gritou, e eu ouvi sem qualquer foco uma
discussão começar, mas meus olhos ainda estavam
nele. Eu observava seu rosto esperando qualquer
reação, mas não veio nada. Ele apenas me fitava de
volta e pela primeira vez não consegui ler o que o
verde selvagem de seus olhos me dizia.
— Aya? — A voz era igual a dos gritos,
mas pela suavidade, eu sabia que era Jaqueline.
Obrigando-me a resolver a confusão que se
formava ao redor de mim, virei para encará-la e
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alívio me tomou quando percebi que estava bem.


Ela ainda vestia a roupa do hospital, mas estava em
pé, apoiando-se na parede com cansaço na porta do
quarto que agora eu percebia que ela estava.
Passando por Maynara, eu fui direto para
Jaqueline, mas unhas afiadas engancharam no meu
braço quando passei por Juliana.
— Não se atreva a se aproximar dela, sua
vagabunda — rosnou.
Eu fitei sua mão e lentamente subi meu
olhar para ela. Nós tínhamos a mesma altura, mas
eu estava em desvantagem pelo seu salto.
— Tire a porra da sua mão de mim.
— Dê a volta e saia daqui, antes que eu
chame a polícia.
— Solte-a agora! — Jaqueline gritou,
forçando-se para fora de seu apoio e cambaleando
até onde eu estava.
Os olhos de Juliana cresceram com fúria
quando ela olhou Jaqueline.
— Cale a boca e leve a sua bunda louca
para dentro do quarto de volta!
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Arrancando meu braço de seu aperto, eu


senti as unhas arranharem minha pele, mas ignorei
a picada de dor e a empurrei para longe.
— Você nunca mais a chame de louca!
— É o que ela é. E você é pior ainda vendo
que a ajudou a fugir de lá!
— Sim, do inferno onde você a colocou!
— O que você fez? — O rosnado veio nas
minhas costas. Meu corpo inteiro ficou tenso e
pelos olhos arregalados de Jaqueline à minha
frente, eu sabia que Juan estava emanando raiva.
Eu abri a boca para começar a me explicar, mas no
segundo seguinte suas mãos me viraram pelos
ombros e ele me empurrou na parede, abaixando o
rosto até estar a centímetros do meu. — Isso é
verdade?
— Deixe-me explicar, Juan...
— Apenas responda a maldita pergunta, e
pela primeira vez na sua vida, não minta!
— Sim — respondi com a mesma raiva.
Ele estava machucando minhas costas com
a força de seu aperto e nem sequer ligava. Meu
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rosto tinha machucados do acidente, mas ele não


perguntou se eu estava bem.
Ele não se importou.
Com a minha resposta, me soltou e deu um
passo atrás, um olhar como eu nunca tinha visto
antes cruzando seu rosto. Ele estava horrorizado
comigo.
— Como você pôde? — Sua voz estava
cheia de indignação.
— Ela não é o que vocês pensam. Ela está
bem... ela...
— Isso não é um assunto seu para resolver.
Essa é a minha família e você não faz parte dela,
porra!
As lágrimas costumeiras começaram a cair
pelo meu rosto com a força de suas palavras. Eu
não fazia parte de sua família. Eu fui apenas a
amante e isso não me dava direito a nada.
— Jaqueline? Juliana? — Veio uma outra
voz do corredor e eu olhei para ver David e uma
mulher ao seu lado correndo para nós. David
franziu a testa quando me viu. — Aya? O que está
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acontecendo?
Ignorando-os, eu olhei para o rosto cheio
de medo de Jaqueline e percebi que tinha que
tentar, tinha que fazer isso por ela. Ela parecia tão
indefesa e fraca, e mesmo que o homem que nós
duas amávamos estivesse me destruindo, eu
precisava tentar.
— Eu sei que você me odeia agora, mas
por favor, acredite em mim.
— Isso é mentira! — Juliana gritou. —
Essa mulher — Apontou para mim — está
obcecada pelo meu marido e está fazendo de tudo
para chamar a atenção dele! Olhe a que extremos
chegou, tirar a minha irmã da ala psiquiátrica para
me atormentar! Eu a quero presa agora mesmo!
Juan me fitou novamente.
— Quando você vai parar de me machucar?
— Sua voz era tão baixa, mas me bateu como um
soco. Eu não queria machucá-lo, eu queria libertá-
lo. De uma vida de mentiras, de uma mulher
maluca e de estar preso a ela.
Eu fui começar a dar-lhe uma explicação,

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mas antes que pudesse, Jaqueline tomou à frente e


segurou meu ombro, fitando todos eles.
— Vocês deveriam agradecer a Aya. Ela
foi mais família para mim do que todos vocês.
— Te colocando em risco? Te ajudando a
fugir e deixando-a do lado de fora do lugar que te
mantém segura? — sua mãe perguntou, me olhando
com repulsa.
— Um lugar que me mantém presa! —
Jaqueline gritou e apontou para Juliana. — Ela me
deu remédios para me deixar desorientada, ela
armou para parecer que a ataquei enquanto estava
com seu marido, mas na verdade... ela roubou a
minha vida! Nenhum de vocês percebeu?
Simplesmente concordaram em me trancar naquela
clínica e me visitar uma vez a cada poucos meses.
Como se eu fosse um animal que era necessário
visitar para manter a aparência, para fingir que se
importavam! Confiram nosso sangue com nossa
certidão de nascimento, me façam qualquer
pergunta que apenas eu saberia, se é necessária uma
prova, eu estou disposta a fazer qualquer coisa, mas
não voltarei para lá jamais! — Até esse ponto ela
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estava chorando e Juan e seus pais estavam sem


fala. Ela falava nitidamente, não atropelava as
palavras e mais do que isso, a verdade estava em
seus olhos. Mas, além disso, a reação de Juliana foi
o suficiente para tirar qualquer dúvida.
— Cale a boca! Cale a boca agora! — Ela
correu para Jaqueline, não a alcançando apenas
porque David a segurou a tempo. — Ele é meu!
Você não vai tirá-lo de mim outra vez, eu não vou
deixar! Ele foi meu desde que nos vimos pela
primeira vez — ela gritava descontroladamente, e,
pelo canto dos olhos, vi enfermeiros se
posicionando para assumir o controle, um deles
segurando uma seringa.
David olhou entre as duas e sua esposa
soltou um grito abafado, se apoiando na parede
para não cair.
— Juliana... Jaqueline... — disse ele, sem
saber quem chamar. — Eu não posso acreditar que
você faria uma coisa dessas.
— Por que, papai? — perguntou ela,
olhando para todos nós freneticamente. Parecia que
tinha injetado algo direto nas veias. — Foi você
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que sempre me disse para correr atrás do que eu


queria. E eu queria Juan.
Eu olhei para Juan, vendo quando seu rosto
perdeu a cor. A história e a conclusão dela batendo-
lhe diretamente no estômago, quando percebeu que
os últimos anos foram uma mentira. Ele amava
Jaqueline, a verdadeira. Ele havia me dito que anos
atrás nunca teria a traído, a mulher que ele
realmente amava.
— Ela é sua maldita irmã! — gritou David,
abrindo os braços.
— Mas não é com ela que você realmente
se importa, não é, papai?
— Do que você está falando?
— Jaqueline não importa para você, eu não
importo para você. Tudo com o que se preocupa é
com sua outra filhinha bastarda. Ou você pensa que
eu não ouvi você e mamãe brigando porque você
queria ir atrás dela?
Os olhos dele arregalaram e deu um passo à
frente, esticando a mão para ela.
— Isso não é o que você está pensando,
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Juliana.
— Ah, não? Então Aya não é sua filha
perdida? A filha com a única mulher que você
amou? A única criança com quem você se
importava, mas teve que abandonar? Então
Jaqueline e eu não somos nada, apenas os erros no
caminho!
Houve um suspiro coletivo na sala, mas eu
não podia tirar meus olhos de David. Seus olhos
azuis brilharam com lágrimas não derramadas, e
quando ele virou para mim, eu vi, mesmo sem que
sua boca confirmasse, que ela não estava mentindo.
E enquanto minhas pernas ficavam fracas com a
revelação, tudo começou a fazer sentido. A maneira
como ele me olhou no minuto em que entrei no
gabinete, como sempre ficava me encarando
estranhamente, como se sentou naquela mesa do
Shopping comigo e tinha aquele comportamento
estranho, inquieto. E por último, o dia em que o
peguei na casa de mamãe, tocando-a como se
fossem íntimos, como se tivessem se conhecido há
anos... e essa era a verdade, eles se conheciam.
Lembrei-me de ele dizendo a mamãe que
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tinham assuntos inacabados e a suavidade com que


falou comigo antes de sair. Tudo o que estava bem
diante dos meus olhos fazia sentido agora, até
mesmo Juliana vindo atrás de mim. Ela havia
planejado tudo contra mim para se vingar de seu
pai... nosso pai. Fazer-me parecer como se eu
tivesse roubado seu marido teria sido o plano
perfeito se as coisas não tivessem ido por água
abaixo com ela.
“Sumir com você. Você era o meu
problema em primeiro lugar e agora... você seguiu
cada passo até o seu fim.”
As palavras dela no dia em que Juan
descobriu tudo fizeram sentido, tudo fez sentido.
Eu não podia acreditar.
David era meu pai.
Juliana e Jaqueline eram minhas irmãs.
Aquele homem havia deixado mamãe para
trás, grávida e sozinha. Deixou-a com esperanças
de que voltaria e voltou mais de vinte anos depois,
mas o que ele esperava? Um agradecimento? Um
abraço e um convite para um chá? Aquele homem

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não teria porra nenhuma de mim. Eu o esperei


durante anos enquanto era uma criança, e até
mesmo no começo da adolescência eu me
perguntava onde estava meu pai, porque ele não
estava presente para afastar os meninos e me
colocar para dormir, para me dar segurança.
Mas agora? Agora eu era uma mulher
crescida o suficiente que não precisava de nada
dele. E minha veia cruel nunca foi tão bem-vinda.
Com May ali segurando firmemente minha
mão, eu fitei Juan, esperando que ele fosse vir até
mim, me agradecer, me perdoar... pelo menos me
oferecer um ombro como eu tinha oferecido a ele
tantas outras vezes.
Mas ao contrário disso, foi naquele
momento que o que restava do meu coração
quebrou. Ele me deu um último olhar e foi para o
lado de Jaqueline, então a pegou com delicadeza e
cuidado, e me virou as costas, entrando no quarto
sem olhar para trás. Para mim.
— Aya, filha... — disse David, com o rosto
espremido em agonia.
— Não me chame assim. Nunca. Me.
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Chame. Assim. — Dirigindo a ele um olhar com


meu mais puro desprezo, poupei-lhe de quaisquer
outras palavras.
Juliana, vendo Juan escolher Jaqueline
mais uma vez, começou a se agitar novamente,
gritando e correndo para alcançá-los, mas foi
sedada e contida, e se acalmando aos poucos. Eu
puxei Maynara e caminhei o mais rápido que podia
para fora com meu corpo dolorido. Assim que
chegamos à sala de espera em frente a saída do
primeiro andar, vi Enrico encostado em uma
parede.
Ele me encarou por vários minutos antes de
se aproximar.
— Ele está lá em cima — eu disse. — Ele
está com ela.
— Eu sei, querida — afirmou ele. — Eu
subi, mas quando vi todos lá, preferi descer e
esperar vocês aqui.
— O que acontece agora? — perguntei para
ninguém em particular.
Maynara segurou minha mão mais forte

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enquanto, do outro lado, Enrico passou o braço


pelo meu ombro, como se soubesse que eu poderia
cair a qualquer momento.
— Você sabe, Aya. Ele vai seguir em
frente.
— Ela é minha irmã — sussurrei, ainda
sem saber o que fazer com aquela informação.
— Sim, e pela primeira vez você fez algo
bom para alguém além de si mesma. Fique
orgulhosa de si mesma.
— Eu não sei se isso é uma ofensa ou um
elogio.
— Uma ofensa, com certeza. — Ele riu. —
Mas espero que um convite para o meu casamento
abafe a mágoa.
— Eu estou convidada? — A surpresa era
evidente na minha voz.
— Só se levar um presente e prometer que
não tentará me beijar na frente da minha noiva.
— Eu superei você há décadas, Enrico. Se
toca.
Ele gargalhou e nos levou para o carro.
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Eu me mantive firme o quanto pude, mas


sentia a cada passo um pedaço do meu coração
ficando para trás.

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Capítulo 39
“Quero nas suas mãos abertas buscar meu
caminho
E que você se sinta feliz somente comigo
Quero apagar em teus lábios a sede da minha alma
E descobrir o amor juntos a cada manhã
Hoje eu quero você“
Alejandro Fernández ft. Christina Aguilera, hoy tengo ga
de ti

— Aya, se apresse, a comida vai esfriar! —


Esme gritou da cozinha, seus pés batendo no chão
enquanto corria pela casa.
Eu bloqueei a tela do meu celular,
escondendo a foto que olhava e levantei da cama,
antes de sair para encontrar minha amiga.
Três semanas haviam se passado e eu ainda
estava sentindo os efeitos de toda a confusão das
semanas anteriores em cima de mim.
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Jaqueline era o ponto principal. Nós nos


vimos pelo menos uma vez a cada semana, duas
vezes em algumas delas. David tentou se
aproximar, me procurou, mas eu não queria ter
nada a ver com ele. A única coisa que ainda me
segurava em Veracruz era Jaqueline. Mamãe ainda
não sabia que eu descobri, e eu sabia que David não
tinha dito a ela, porque nas vezes em que nos
falamos, ela nunca tocou no assunto.
Juliana tinha tomado o lugar que era de
Jaqueline e estava internada, mas diferente de como
a família delas fazia com Jaqueline, eles a
visitavam toda semana. Acho que depois de Jaque
ter confidenciado o inferno que viveu lá dentro,
eles perceberam como a fizeram sofrer e decidiram
que fariam diferente com Juliana, para que, pelo
menos, ela não se sentisse tão abandonada.
May precisou voltar para a Capital depois
de dois dias, mas confiou a Esme a tarefa de me
fazer pelo menos tentar seguir em frente. Quando
fui embora do hospital, percebi que não havia mais
nada para mim ali, então fiz minhas malas e depois
de conseguir fazer Esmeralda parar de chorar, a fiz
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me acompanhar até o aeroporto. Mas não cheguei a


entrar no táxi, porque meu telefone tocou com uma
ligação de Jaqueline.
Ela precisava de ajuda para aprender a
conviver do lado de fora depois de tantos anos
trancada e eu não podia negar isso a ela.
Principalmente quando ela puxou a carta fatal e me
disse:
— Você não quer ter nada a ver com nosso
pai e eu entendo isso, mas nós somos irmãs e eu sei
que você sentiu uma conexão desde o momento que
nos conhecemos. Eu senti também e você é minha
única amiga aqui, Aya. Preciso de você.
Eu queria dizer a ela que era crueldade me
pedir para ficar e assistir enquanto ela reconstruía
sua vida com o homem que eu amava, e ela sabia
que eu amava porque antes do acidente, ela
percebeu e descobriu sem que eu precisasse dizer,
mas ela nunca disse nada sobre isso e eu não entrei
no mérito também. Eu tentava não pensar nele,
tentava não lembrar de nós e até mesmo dispensei
as roupas que já tinha usado com ele. Mas todo o
esforço acabava sendo em vão, porque no fim, eu
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tinha seu filho crescendo dentro de mim e isso era


lembrança suficiente.
— É tão injusto que não podemos ir na
cerimônia — Esme resmungou, engolindo seu
terceiro taco e se esparramando mais no sofá.
O casamento de Enrico estava acontecendo
naquela tarde e mesmo que ele houvesse dito que
eu estava convidada, sabia que não ia querer ir,
muito menos Luz ia me querer presente.
— Não é injusto. — Bufei. — Luz acha
que eu sou uma megera e eu acho que ela é uma
sem vergonha e mau caráter.
— Você foi realmente uma megera com ela
em algum momento?
— É óbvio que sim.
— E ela foi uma sem vergonha e mau
caráter com você?
— Inferno, sim.
Esme assentiu, como se estivesse pensando.
— Então deveríamos beber até não lembrar
de mais nada e assistir algum reality na TV.
— Eu não estou bebendo — eu disse, a
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olhando com o canto dos olhos e um sorriso


ameaçando escapar nos lábios.
— Eu também não — ela respondeu e eu a
fitei, desconfiada, pescando se ela queria dizer o
que eu estava imaginando. Se não estava bebendo
pela mesma razão que eu.
Ela virou completamente para mim e
começou a sorrir, sua expressão feliz espelhando a
minha, então no minuto seguinte, estávamos nos
abraçando e rindo.
— Três meses e meio, e você? — Meu
sorriso escorregou ligeiramente com sua pergunta.
— Eu não faço ideia — respondi
horrorizada. — Deus, meu bebê nem nasceu e eu já
sou uma péssima mãe.
— Pare com isso — repreendeu. — Você
não foi ao médico?
— Não, só fiz dois testes e deixei como
estava.
Ela pulou do sofá, ficando de pé e batendo
palmas em entusiasmo.
— Então vamos agora mesmo. Minha
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médica atende aos sábados e ela me disse que eu


posso ir até ela em qualquer caso de emergência.
Minha amiga grávida com certeza é uma
emergência.
— Não. — Balancei a cabeça
veementemente. — Não estou pronta para isso.
— Mas Aya... é importante acompanhar o
bebê. Você precisa começar o pré-natal, ver se Juan
vai fazer parte disso e também...
Eu levantei a mão, a cortando.
— Nós fomos as amantes, Esmeralda. Você
não vê? Nossos filhos nunca vão ter um pai e nós
estamos aqui felizes de ter uma parte deles para
nós. E pior ainda sou eu, que fiz isso de propósito!
— O quê? — Arregalou os olhos,
sentando-se novamente. — O que quer dizer que
fez de propósito?
— Juan pensava que eu estava me
cuidando, dentro do controle de natalidade. Eu
menti para ele na intenção de ter o bebê quando ele
não estivesse mais na minha vida.
Ela me encarou de boca aberta por alguns
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minutos antes de assentir lentamente e se aproximar


mais, segurando minhas mãos.
— Aya... não importa o que vai acontecer,
nós vamos cuidar do seu bebê e...
— Droga — sussurrei. — Por que você é
sempre tão boa comigo?
Suas sobrancelhas franziram em confusão.
— Você é minha amiga. A única, para falar
a verdade.
— Eu fui ao casamento de Álvaro — soltei
de uma vez, me sentindo pior a cada minuto que
lembrava estar guardando aquela informação,
principalmente quando ela estava me dando todo o
apoio mesmo quando eu fazia algo errado, como
enganar Juan mais uma vez.
— Oh... Juan a convidou ou algo assim? —
perguntou com um sorrisinho inseguro.
— Não, Esme. Alyna me convidou. Me fez
prometer que ia e o tempo todo ela continuava
dizendo a mesma coisa que você disse agora, que
sou uma de suas únicas amigas, porém a única com
quem ela pode falar de verdade.
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Ela se afastou um pouco, criando um


espaço entre nós.
— Mas... mas... eu não entendo. Como
você a conhece? Desde quando?
— Foi um acidente. Nós literalmente nos
esbarramos nos corredores da Casa do Governo e
eu pensei que poderia me aproximar dela para... —
eu parei de falar, envergonhada com o que passou
pela minha cabeça de fazer naquele dia.
Esmeralda era uma boa pessoa e confessar
a ela que eu estava prestes a destruir Alyna para dar
a Esme um pouco de felicidade, não a deixaria
feliz, eu tinha certeza disso.
— Para o quê?
— Por favor, não me odeie.
— Aya... o que você fez?
— Eu ia contar a ela. Ela estava
desconfiada sobre Álvaro ter uma amante e eu
estava prestes a livrá-lo dela para que ele pudesse
ficar com você.
— Meu Deus, Aya! — ela gritou, seu rosto
irritado, como se não soubesse o que fazer comigo.
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— Eu sei, sinto muito. Mas não fiz isso de


qualquer maneira.
— Por que não me disse? Sobre tudo! Isso
são o que amigas fazem!
— Porque eu não tinha boas intenções!
Mas depois de conversar com ela e ouvir as coisas
da versão dela... eu fiquei com tanta dó, Esme! Ela
falou comigo como se estivesse aliviada, como se
não tivesse mais ninguém na vida, e eu a entendi.
No final, Álvaro mentia para vocês duas.
— Como assim mentia?
— Sobre ela forçar o casamento, sobre
casar com ela por obrigação... tudo. Ele a fez
desistir da faculdade propondo um casamento o
mais rápido possível. Ela tentou deixá-lo, mas
assim como você, ela o ama, está presa nas
mentiras dele. E eu sou a única que sabe como as
coisas funcionam dos dois lados, mas não posso
dizer, porque te contando agora, machuco você e se
contar a ela, a machuco também. Álvaro quer vocês
duas e a única maneira de mantê-las presa a ele é
mentindo.
As lágrimas silenciosas escorrendo pelo
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rosto de Esme quebraram meu coração. Ela não


disse nada enquanto se levantava, calçava seu
sapato ao lado da porta e pegava suas chaves.
— Esme?
— Preciso... — ela começou a falar com a
voz embargada, mas parou, respirando
profundamente. — Preciso vê-lo.
— Esmeralda. — Eu a alcancei e segurei
suas mãos. — Pense no bebê em primeiro lugar.
Não saia daqui desse jeito. Se acalme e quando
estiver mais tranquila, você conversa com ele.
— Não — sussurrou. — Tenho que fazer
isso agora.
— Tudo bem — cedi quando ela tentou
passar por mim outra vez. — Então, pelo menos
deixe-me ir com você, ok? Me espere aqui.
Sem esperar sua resposta, corri para o
quarto, colocando um casaco grande por cima da
camisola e um par de botas baixas. Meu celular e
carteira, então voltei à sala, encontrando-a no
mesmo lugar que a deixei. Abri a porta e voltei
atrás, pegando sua mão para levá-la para fora.

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— Qual exatamente é o seu plano? —


perguntei a ela enquanto corria atrás da minha
amiga furiosa, descontrolada e indomável.
— Eu não sei.
— Você vai dizer o quê?
— Eu não sei.
— Esme... você pelo menos pensou sobre o
que está fazendo aqui?
Ela parou e virou para mim com uma
expressão furiosa.
— Eu não sei! — rosnou. — Quer dizer...
Você se importa?
— O quê?! É claro que sim! Que pergunta
é essa?
— Bem, você claramente se importa com
Alyna também.
— Sim, porque ela é tão vítima de Álvaro
quanto você.
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Esmeralda mordeu o lábio quando ele


começou a tremer e olhou para baixo, quase
derrotada.
— Sabe qual é o pior nisso? Acho que
sempre desconfiei. Sempre soube que as coisas não
poderiam ser completamente como ele dizia. Eu já
vi Alyna e ela foi até simpática comigo, então eu
pensava... ela não pode ser tão ruim como Álvaro
diz, certo? Mas ele mentia. Ele simplesmente
mentia para nós duas e para quê? Ter duas
mulheres aquecendo sua cama?
— Esme... — sussurrei sem saber o que
fazer.
— Eu o odeio tanto agora, mas... mas ainda
o amo na mesma medida!
— Eu sei. — Colocando uma mecha de seu
cabelo atrás da orelha, suspirei. — Escuta... nós
vamos fazer o que você quiser fazer. Quer ir
embora? Nós vamos. Quer entrar lá, ver se ele está
e gritar para todo mundo ouvir como ele é um
cretino? Faremos isso também. Mas Esme, eu
preciso que você pense agora mesmo se essa é a
melhor coisa para o bebê.
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— Eu não sei o que é melhor para o bebê!


Ele nem está aqui ainda e eu já quero matar seu pai!
— Mas você precisa saber. Você é a mãe
dele, então agora mesmo precisa fazer uma escolha,
entrar lá e armar o barraco da sua vida ou dar meia
volta, se acalmar e falar com o cretino depois?
Eu estava gritando.
— O que você faria? — perguntou.
Uma risada involuntária me escapou.
— O que eu faria? Jura que você está
perguntando a quem engravidou de propósito o que
eu faria?
— Tem razão, isso foi estúpido, mas e se...
— Que merda vocês duas estão fazendo
aqui? — Nós viramos para ver Julio correndo em
nossa direção. — Não interessa o que as duas estão
aprontando agora, mas esse não é o melhor
momento.
Ele ia passando por nós, mas segurei seu
braço.
— O quê? — perguntei, preocupação me
enchendo de repente. — Por quê?
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— Álvaro deu entrada num hospital em


Chiapas, estamos indo para lá agora.
Esmeralda ofegou, levando a mão ao peito.
— O-o quê? Mas... mas como? O que
houve?
Ele passou a mão impaciente pelo rosto
vermelho.
— Não tenho tempo para explicar agora.
Você pode acompanhar porque é da equipe do
Governador, mas Esme, te aviso agora que Alyna
vai estar lá e eu não vou ajudar você nessa.
— Tudo bem — sussurrou e me olhou. —
Eu preciso ir. Oh meu Deus, eu acabei de dizer que
queria matá-lo.
— Pare com isso — eu disse. — Nada
disso tem a ver com você ou o que quer que
estivesse pensando. Vá com Julio, fique calma e me
ligue a qualquer momento.
Eu queria ir junto com ela, mas eu sabia
que Juan, Jaqueline e a família deles estaria lá. E
mesmo que ver minha recém descoberta irmã não
fosse mais algo estranho para mim, vê-la outra vez
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com Juan não seria divertido. Eu cruzei os braços


sob o peito e me encostei na parede, tomando um ar
antes de seguir de volta para casa, me ajeitar no
sofá e ligar a TV no noticiário.
— Eu pensei que você iria com eles. — A
voz que eu havia aprendido a amar e desejar
durante todos os meus dias disse de repente, e
mesmo de olhos fechados eu sabia que ele estava
perto. Provavelmente alguns passos de mim. Ele
nem mesmo fez um barulho ao chegar até que se
anunciou, falando.
— Não é exatamente o meu tipo de
diversão. Hospital, família e tudo mais.
— Eu diria que combina com você. Um
pouco trágico, mas a tensão do ambiente misturado
com a minha família estar lá.
A forma como ele disse “minha família”
me irritou mais do que ele poderia imaginar.
— Bem — Girei para encará-lo e precisei
me segurar firme para não babar na aparência sexy
e desgrenhada que ele tinha —, nem tudo se trata
de você, Juan. Então, não, eu não iria a um hospital
apenas para vê-lo.
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— E sobre as últimas semanas me


perseguindo? Quando dizia que não ia desistir de
mim, que nós éramos mais. Foi tudo mentira?
— Não, não foi. Mas o amor da sua vida, o
real amor da sua vida, está de volta. — Ele vacilou
para trás, como se minha resposta fosse algo que
ele nunca tivesse esperado ouvir. — Mas não
importa o quanto eu ame você, não posso fazer isso
outra vez, não posso ser sua amante enquanto
minha irmã... — Suspirei. — Minha irmã espera
por você. Eu vou deixar você ir e pela primeira vez
na vida não vou forçar lágrimas, não vou mentir.
Você é da minha irmã e ela merece ser feliz depois
de tudo o que passou. — Surpreendendo-o ainda
mais, me aproximei e fiquei na ponta dos pés,
colocando um beijo em sua mandíbula e virando
sem olhar para trás.
— Aya...
Ele chamou, mas eu acelerei os passos,
buscando distância entre nós o mais rápido
possível.
Essa era a sensação de ser boa? De ter
moral? De fazer a coisa certa? Porra, eu odiei o
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sentimento.
Aquelas eram palavras que eu nunca
esperava dizer. Abrir mão de algo que eu queria
quando estava bem ali na minha mão, quando eu
tinha meu maior desejo a algumas palavras de
distância. Eu o deixei ir, e embora a tristeza já
familiar começasse a me preencher outra vez, não
me arrependi.
Inferno, quem eu queria enganar? É claro
que me arrependi, a cada passo para mais longe
dele me perguntava porque diabos as pessoas
deixavam a maldita moral e a consciência liderar
seus caminhos.
Mas antes que pudesse mudar de ideia,
passei de andar para correr e no momento que
coloquei os pés na calçada, meu telefone tocou. Eu
o peguei e atendi, desesperada para ter algo mais
para pensar além de Juan, mesmo sabendo que nada
me distrairia o suficiente para esquecê-lo.
— Aya.
— Aya? Minha filha, sou eu... senhor
Gomez.

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— Senhor Gomez? — Tirei o telefone da


orelha e fitei a tela, não reconhecendo o número.
— Sim, filha. Ouça, podemos marcar um
almoço?
— Por quê?
Eu o conhecia o suficiente para saber até
mesmo por telefone quando ele estava inquieto e
aquele era um desses momentos.
— Senhor Gomez. — Pressionei, ouvindo
seu suspiro do outro lado da linha.
— Eu quero lhe fazer uma proposta.
Meu coração acelerou e um sorriso tocou
meus lábios, e como um entendimento, bateu em
mim que aquele era meu encerramento. Apenas
depois de tudo o que passei em Veracruz, depois de
Juan, a pessoa que começou toda aquela confusão
me ligava no momento em que eu tinha desistido de
vez do homem que amava.
Apertando o aparelho em minha mão, girei
para enfrentar o prédio onde tinha pisado pela
última vez.
— Não, senhor Gomez. Quem fará a
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proposta sou eu.

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Capítulo 40
TRÊS MESES DEPOIS
“Não se surpreenda
Se uma noite
Entro em seu quarto e novamente te faço minha
Você conhece bem
Meus erros
O egoísmo de ser o dono da sua vida
Você é minha
Não se faça de louca porque você já sabia”
Romeo Santos, eres mia

— Tem certeza que não vai voltar?


— Gabi... quantas vezes eu te respondi isso
hoje?
— Eu sei, eu sei. É só que... eu sinto sua
falta na Editora.
Com um sorriso que ela bem conhecia,
ergui uma sobrancelha duvidosa.
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— Tem certeza? Porque se eu voltar, vou


pegar meu cargo de volta.
Ela torceu o nariz e continuou enrolando o
meu banner.
— Sim, tem razão. Sinto sua falta, mas não
o suficiente para abrir mão do meu poder de chefa
lá dentro.
Eu dei risada e arranquei o banner de sua
mão.
— Pegue a caixa, eu não posso segurar
peso.
Nós olhamos ao redor da livraria agora
vazia, apenas com uma atendente se preparando
para fechar, e sorrimos uma para a outra.
— Você fez isso — disse ela.
— Eu sei. E foi incrível.
Gabi riu e apontou para a porta.
— Eu vou levar essa caixa para o carro.
Não quer mesmo uma carona?
— Não, eu vou ficar por mais alguns
minutos. Mas obrigada. Por hoje e por tudo.

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Ela deu de ombros e foi saindo, mas falou


por cima do ombro:
— Não me agradeça, eu vou receber muito
bem às suas custas.
Balançando a cabeça com a familiaridade
das nossas conversas, eu sentei na cadeira atrás da
mesa de vidro onde eu tinha passado três horas a
mais do que o planejado, e suspirei, feliz. Nunca
tinha me imaginado do outro lado da moeda.
Agenciei autores, assessorei e fui editora de
inúmeros, realizei mais sonhos do que podia contar,
mas nunca almejei ser aquela que escrevia. Sentir
aquele friozinho na barriga, me perguntar o que as
pessoas achariam das palavras que sairiam da
minha mente direto para o papel.
Mas quando senhor Gomez me ligou e me
ofereceu meu trabalho de volta, eu nem sequer lhe
dei a oportunidade de falar. Disse a ele que tinha
uma história a contar e ele ia publicar porque me
devia isso. Mas além de me dever, seria bom pra
caralho. Eu não aceitaria um “não” como resposta e
ele nem pestanejou em concordar na hora. Dois
meses e alguns dias depois, eu tinha trezentas
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páginas de Maria e Juan Antônio, uma mulher


exatamente como eu e um herói tão vilão quanto
Juan.
Eu deixei o político, os cenários e qualquer
coisa que ligasse a ele de fora, mas contei nossa
história pelos meus olhos. Em alguns momentos eu
via como uma carta para ele, algo que mesmo que
ele não fosse ler, eu ainda estaria sendo lida,
ouvida, alguém ia prestar atenção. Alguém ia me
entender. Naquelas páginas eu contei a ele como
não era o grande homem bom e íntegro, mas sim
tão cruel quanto eu.
Eu menti, mas ele me fez amá-lo.
Eu menti, mas ele me fez precisar dele.
Eu menti, mas ele quebrou meu coração.
Eu menti, sim, mas ele destruiu algo que eu
nem sabia ser capaz de sentir: amor.
— Senhora? — a jovem que havia ficado
para esperar eu e Gabi, me chamou. — Tudo
pronto?
— Sim, claro — confirmei e fiquei de pé,
pegando minha bolsa. Minha mão instintivamente
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foi para a curva começando a aparecer da minha


barriga e o vestido a deixava bem à mostra, coisa
que eu não tentava esconder.
— Já passa de uma da manhã. Foi um
lançamento incrível.
— Obrigada.
Eu tinha sentado naquela cadeira às sete da
tarde, e a última pessoa saiu da livraria às onze. Em
meio a autógrafos, livros esgotados e bate-papo, me
senti tão feliz que havia me perdido no tempo.
Mas no fim, valeu a pena. Cada pontada
dolorida no meu quadril de ficar sentada valia mais
do que a pena.

Eu abri a porta e cliquei interruptor de luz,


entrando e jogando minhas sacolas no chão, pronta
para me jogar no sofá e tirar os saltos, mas assim
que ganhei um olhar para a minha sala iluminada,
um grito saiu da minha boca. Quase tropecei para
trás quando vi o homem parado de braços cruzados
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no meio do cômodo. Seu olhar imediatamente caiu


para a minha barriga e ele ergueu as sobrancelhas,
mas não pareceu surpreso. Na verdade, Juan
parecia divertido.
— Você realmente achou que poderia fugir
com o meu filho e o que... seguir com a vida?
— Eu não fugi. — Joguei minha bolsa na
mesa e bati a porta, colocando as mãos na cintura
numa posição de ataque. Ele estava na minha casa,
eu estava no controle. — Só me coloquei em
primeiro lugar.
— E como isso deixa o nosso filho?
— Ele está dentro de mim. Forte e
crescendo, então não há nada para se preocupar.
Ele não é sua obrigação, Juan. Não se sinta como se
devesse vir aqui e ser o pai do ano.
— Você me disse que estava no controle de
natalidade.
— Eu menti.
— Por quê?
Abri a boca duas vezes, mas não encontrei
palavras para explicar. Nenhuma aceitável.
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— Não é da sua conta. Sinta-se livre para


ir.
— Já que você não vai dizer, eu vou supor.
Você sabia que suas mentiras iam te alcançar em
algum momento, sabia que me amava, e sabia que
eu não perdoaria sua traição. Então preferiu agir
com tal desespero a ponto de decidir algo que não
era direito seu para fazer sozinha.
— Eu não estava desesperada! — gritei. —
Espera... você não acha que eu quis dar um golpe?
— Sério, Aya? — zombou. — Um golpe
da barriga não faz o seu estilo.
— Não fiz isso esperando um casamento,
também.
Ele suspirou.
— Eu sei. Na verdade, acabei percebendo
que nada do que você fez foi pelas razões que eu
imaginei.
— Como? Quer dizer... você praticamente
me mandou para o inferno cada vez que tentei me
explicar.
— Sim, mas isso abriu os meus olhos.
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Sem que eu esperasse, ele se inclinou para


o sofá e pegou algo em suas mãos, e eu ofeguei
quando percebi o que era. Ele tirou uma gravata do
meio, abrindo num certo ponto e levando para perto
do peito.
— “Mas como eu poderia? Quando você
me olhava de canto dos olhos ou dava aquele meio
sorriso. Acho que nem você sabe o quanto os seus
olhos brilham. Eu sabia desde o começo, quando vi
você naquela boate, que me envolver era a última
coisa certa. Juan... esse nome tem tanta história. E a
história se repete, não? Você pode fazer uma
mulher se sentir muito mais desejada do que algum
homem já fez. Você consegue com apenas um
toque, fazer com que uma mulher se sinta
muito mais mulher, feminina, delicada e ousada.
Você me fez tremer com apenas um olhar. Juan...
sedutor e libertino. Don Juan perderia o posto para
você.” — Ele parou e ergueu uma sobrancelha para
mim. — Dessa parte eu gostei. Muito.
Puta. Merda. Ele leu. Ele leu e marcou
justamente aquela parte, uma das mais fortes, na
qual eu praticamente desnudava meu coração e
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alguns dos pensamentos mais íntimos.


— Pare.
Ele me ignorou.
— “Eu sabia desde o início que nunca
ganharia aquele jogo. Que não havia uma
competição entre nós duas, mas de qualquer forma
o prêmio sempre era seu. Você se dividia entre o
primeiro e o segundo lugar. E nós
duas tínhamos que correr em uma pista sem fim e
sem linha de chegada para ver quem ficaria com
você. Com o suposto prêmio.” — Ele parou
novamente e respirou profundamente, seus dedos
apertando ao redor do livro. — “Eu me apaixonei
pelo político, pelo homem por trás dele, e pelo
menino dentro desse homem. Amei um coração
magoado, cheio de rancor e ambições, mas você
sabe que a dúvida me pega diversas vezes? Eu
entrei de cabeça em uma relação na qual só eu
estava fadada a me afogar. Nós mergulhamos num
mar de intensidade, de paixão, de sexo e luxúria, e
foi só isso, não é? Você usou boia e eu mergulhei,
perdi o ar.”
Ele deu mais uma pausa, mas eu não deixei
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que continuasse, caminhei até ele e tirei o livro de


suas mãos.
— Já chega.
— Tudo bem. Eu já li, de qualquer forma.
— Você leu?
— É claro que sim.
— Por quê?
Ele pegou o livro de volta, jogou com certa
delicadeza no sofá e pegou minha mão, puxando-
me para seu peito.
— Se afaste.
— Eu vi a nossa história pelos seus olhos.
— Juan...
— Agora sei como você se sentiu, sei como
tudo aconteceu, sei o que pensou a primeira vez
que me viu. Sei que sou um mestre na cama. Foi
assim que você chamou, não foi?
— Isso foi apenas para dar emoção ao
livro.
Juan riu e assentiu, mas o que me pegou de
surpresa foi o casto beijo na testa que me deu.
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Então ele se afastou e segurou minha mão, levando-


me pelo corredor.
— O que está fazendo?
— Shiii... deixe-me cuidar do meu filho.
O caroço na minha garganta foi difícil de
engolir, mas eu o segui e assisti quase em transe
quando entramos no banheiro, ele acendeu a luz e
de cara vi a banheira cheia, pétalas de rosa sobre a
superfície, e um aroma perfumado no ar. Ele tirou
meus brincos, meu colar, a pulseira e meus anéis,
deixando num canto da pia antes de voltar e descer
o zíper do meu vestido. Eu queria afastá-lo, dizer a
ele para parar e ir embora, mas a expressão em seu
rosto me impediu. Ele não me fitava com nosso
desespero, desejo ou tesão, mas como se estivesse
acariciando meu corpo com os olhos. O toque
cuidadoso, amoroso e dedicado a cada centímetro
da minha pele me deixou paralisada diante dele.
Por último foi a minha calcinha e os
sapatos. Ele prendeu meu cabelo no alto, soprando
alguns fios para longe dos meus olhos antes de
sorrir e ir até a banheira.
— Demos sorte, a água não esfriou.
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— Você não vai entrar nessa banheira,


Juan.
— Eu sei.
Ele abaixou e me pegou, colocando-me na
água com uma delicadeza impressionante.
— Você sabe? — Franzi a testa. — Você
não quer?
Um sorriso cruzou seus lábios e ele mexeu
na água, fazendo as pétalas se moverem para todos
os lados, algumas grudando no meu pescoço.
— Eu quero. Mas se eu entrar nessa
banheira agora, nós vamos foder. Muito.
— Isso é um problema? — perguntei num
sussurro.
Deus, o que estava acontecendo comigo e
aquele pulsar irritante no meio das minhas pernas?
Minutos atrás eu estava mandando o homem ir
embora e agora estava sentida porque ele não ia
me foder?
— Não, nós dois fodendo nunca é um
problema. Mas eu vou levar meu tempo e assim
como tirei o amor de você, vou te devolver. Você
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vai confiar em mim outra vez.


Ele se inclinou para frente, molhando a
frente de sua camisa, e me beijou. Eu gemi com o
simples contato de seus lábios nos meus, mas antes
que pudesse me entregar e mandar seu tempo aos
ares, ele se afastou e deslizou o dedo tão rápido
quanto, pela minha barriga nua. Então me dando
um sorriso, abriu a porta.
— Não vá cair no sono aí dentro. Saia
quando a água começar a esfriar. E Aya... cuide do
nosso bebê até que eu possa fazer isso.
— Eu devo parar minha vida e esperar por
você?
— Não. Não pare a sua vida, mas espere
por mim. Me dê isso, loirinha. Espere por mim.
Então ele saiu e eu desabei meu corpo
dentro d’água, minhas lágrimas de confusão e
saudade misturando com a água perfumada. Mas
junto a elas, percebi um fogo que havia acendido
novamente em mim.
E era esperança.

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Capítulo 41
“As me lembro de você
E outra vez perco a calma
Mas me lembro de você
E minha alma se rasga
Mas me lembro de você
E se apaga meu sorriso
Mas me lembro de você
E meu mundo se faz em pedaços”
Christina Aguilera, pero me acuerdo de tí

Foi na semana seguinte que eu ouvi dele


novamente.
— Eu quero tanto te beijar agora que dói.
Eu nem sequer me assustei quando ele
apareceu dessa vez. Me abordando dentro de uma
loja infantil num dos maiores shoppings da Capital.
Ele estava pedindo para ter problemas.
— O que está fazendo na Capital, Juan? —
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Meu tom de voz era entediado, mas pelo sorriso


que ele exibia, eu me perguntei se podia ouvir meu
coração batendo tão forte como estava.
— Tenho algumas reuniões.
— Jura? Porque para mim, parece que está
me seguindo.
Ele deu de ombros.
— Só garantindo que está fazendo o que eu
pedi.
— O quê?
— Me esperando.
Eu me afastei, passando para a próxima
prateleira, e bufei.
— Eu estou numa loja de bebê comprando
algo para o seu filho, o que mais isso parece?
— Filho? Você já sabe o que é?
Ele engoliu em seco, seus olhos
arregalando levemente quando chegou mais perto.
Ciente de que estávamos em público, dei um passo
atrás.
— Não, mas eu estava passando e quis

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comprar algo.
— Sendo assim, eu voto no lilás — disse e
apontou para a caixa de sapatinhos que eu segurava
na mão esquerda, na direita havia um par verde.
Segurando um sorriso e a emoção de que
havíamos acabado de comprar a primeira coisa do
nosso bebê juntos, eu virei as costas antes que
aquilo se tornasse publicamente chamativo demais.
— Até mais, Governador.
— Aya?
Eu parei e virei para ele.
— O que, Juan?
— Fique de olho nos jornais.
Ele disse isso com um sorriso e me
confundindo ainda mais, chamou seu segurança
quando saiu da loja. Eu fiquei parada por dois
minutos antes de ir até o caixa, depois comi e
chamei um táxi para casa. Mas o tempo todo fiquei
de olho nas notícias pelo celular.


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— O que está acontecendo? — perguntei


num grito assim que ela atendeu.
A risada relaxada que Jaqueline me deu,
arrepiou os cabelos da minha nuca. O divórcio dela
estava passando na TV, por que diabos ela estava
rindo?
— Olá, irmãzinha! Bom falar com você
também.
— Jaqueline, o que é isso? Por que você
está rindo? Oh, meu Deus! É tudo culpa minha —
sussurrei o fim da frase.
— Pare com isso, nada é sua culpa.
— É sim! — gritei. — Ele esteve aqui na
semana passada e hoje de tarde ele apareceu, e...
— Eu sei.
— E nós... — Eu parei quando percebi o
que ela disse. — Você sabe?
— Aya, a verdade é que quando eu voltei,
já não estava mais apaixonada por ele. Tentei
continuar o casamento por culpa, pensando que de
alguma forma o estava traindo se desse uma chance
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ao que sentia por Miguel, mas comecei a ver como


Juan estava distante, como prestava atenção quando
eu falava de você.
— Mas... isso... isso não é possível. Vocês
se amam.
— Eu sempre vou amar Juan, mas como
um amigo. Como o cara que conheci praticamente a
minha vida inteira, mas é Miguel. Desde que ele
apareceu como o próximo médico a me tratar, mas
ao invés disso me viu e acreditou em mim, sempre
foi Miguel. Juan e eu concordamos em esperar três
meses após o divórcio para eu levar as coisas
adiante publicamente com Miguel. E Aya, eu
espero de verdade que vocês possam resolver
qualquer que seja a questão que os impede de
ficarem juntos.
Haviam tantas. Enquanto lágrimas
silenciosas de alívio, felicidade e esperança
deslizavam pelo o meu rosto, nós nos despedimos e
eu me joguei no sofá. De repente tudo se tornou
real. Juan me dizendo para esperar por ele, o
divórcio, o bebê, e a possibilidade de podermos
ficar juntos sem fingir e sem nos esconder.
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Eu passei dias planejando seduzir aquele


homem, depois passei meses mentindo para ele e a
cada momento o sentimento se tornava mais e mais
forte. Me apaixonei a cada beijo, me deslumbrei
com cada palavra e o admirei cada vez que vi de
perto como ele se preocupava com seu povo. Vi o
quão apaixonado ele era por fazer mudanças, por
melhorar a cada dia, e também conheci o homem
falho, selvagem e, por vezes, quando eu mereci,
cruel.
Mas então... junto com a fantasia do
possível final feliz que poderia se tornar minha
realidade, veio uma realização, uma que me fez
pegar minha bolsa e o primeiro ônibus até o centro
que encontrei, então fui até o Hotel onde eu sabia
que Juan estava. Ele não fazia questão de esconder
dos constantes jornalistas que estava hospedado ali
e o Hotel fez a maior propaganda possível,
principalmente atraindo ainda mais clientes,
incluindo o público feminino.
Dei sorte de encontrar um segurança que
sempre estava com Juan e já tinha nos
acompanhado diversas vezes. No momento em que
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me viu, veio até mim e me cumprimentou.


— Senhorita Castillo.
— Eu preciso vê-lo.
— A senhorita...
— Querido — eu disse mais firme,
cortando-o. — Se você gosta do seu emprego, sabe
que deve me levar para ele agora mesmo.
O homem hesitou por um instante, olhando
ao redor, antes de girar e começar a me levar para o
elevador. Até o décimo segundo andar foi quase
uma tortura, e o homem ao meu lado parecendo
uma estátua não ajudou em nada a diminuir minha
ansiedade eminente.
Quando finalmente descemos, eu o segui
até o quarto e ele tocou a campainha, mas depois de
dez segundos sem resposta, comecei a bater. O
homem se remexeu em seus pés, provavelmente
incomodado com a minha falta de consideração
com os outros hospedes e a discrição em encontrar
seu chefe, mas não me importei.
No momento em que a porta abriu, eu
fiquei abalada o suficiente para perder qualquer
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frase de impacto que demonstrasse minha


frustração, raiva e descontentamento com ele.
— Que porra você estava pensando? —
gritei, empurrando o dedo em seu peito.
O segurança deu um passo mais perto de
mim, pronto para intervir, mas Juan o parou com
um olhar.
— Não se atreva.
O homem voltou atrás e encostou-se à
parede, na posição vigia de sempre. Sem perder
mais tempo ou me esperar fazer um escândalo, Juan
chegou à frente, puxando-me para dentro e batendo
a porta atrás de nós.
— Quando você quiser falar comigo —
disse ele —, venha até mim e fale comigo. Nossos
assuntos são nossos, não da porra do hotel inteiro.
— Divórcio? Você se divorciou da minha
irmã?
Ele trintou os dentes, apertando os punhos
ao lado do corpo.
— Não me lembre que vocês são irmãs.
— E por que não? Isso te excita?
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— Aya — rosnou, dando um passo à


frente.
— Ou te faz sentir um merda porque você
sabe que foi errado. Que pela segunda vez trocou
uma irmã pela outra?
— Pare com essa porra.
— Ou você queria as duas, Juan? Queria
que eu continuasse sendo a sua vadia em tempo
parcial e ela podia ser a esposa em tempo integral?
— Cale a boca! — gritou, o peito subindo e
descendo com a força de sua respiração. — Cale a
porra da sua boca.
Eu passei por ele na clara intenção de ir
embora, mas ele segurou meu braço, a força
fazendo-me voltar alguns passos atrás e colidir de
frente com seu peito.
— Onde pensa que vai? Agora você vai me
ouvir.
— Não preciso te ouvir, eu já disse tudo o
que precisava dizer.
— Mesmo, Aya? Porque eu não acho que
tenha vindo para se chamar de vadia e brigar pela
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honra da sua irmã.


— Você fala como se eu não fosse capaz
disso.
Os olhos dele brilharam.
— Você é. Já provou isso quando me
deixou para trás e acolheu Jaqueline na sua vida.
Mas diante de todo esse seu desabafo, eu preciso
lembrá-la de que até um dia atrás você estava
disposta a me esperar?
— Eu nunca esperei que você fizesse isso!
Homens dizem às amantes o tempo todo que vão se
separar, por que você seria diferente? E eu nem
sequer quero isso. Uma vida chata e morna com um
marido e filhos — solucei a última palavra, uma
dor atravessando meu peito.
Ele balançou a cabeça e encostou a testa na
minha brevemente, depois acariciou meu rosto.
— Você está com medo — disse
suavemente.
— Eu não!
— Está sim. Está com medo porque no
momento em que eu assinei os papéis do divórcio
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você deixou de ter uma escolha. Não pode mais


fugir, não pode mentir, não pode e não vai me
deixar. Não terá a chance e isso te apavora.
— Você está errado.
— Eu amo você, Aya. Você me escutou
dizer isso? Não há nenhum outro caminho para nós
dois além desse.
— Nós... nós não... eu não sei como —
sussurrei.
— Não sabe como me amar? Não sabe
como ser minha esposa?
— Não sei como seguir em frente se você
decidir me tirar da sua vida outra vez — admiti
finalmente.
Juan sabia o quanto aquilo tinha me
machucado. A distância, as recusas em me ouvir, e
todas as palavras que me disse.
— Eu não vou — disse ele, segurando meu
rosto para olhar em meus olhos. — Você está
enganada se pensa que ficar longe de você foi fácil.
Eu passei o inferno, mas você me quebrou, Aya.
Você mentiu, me enganou e mesmo depois de eu
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dizer como me sentia sobre as coisas, você


continuou mentindo. Mas o pensamento de deixá-
la... isso é mil vezes pior do que as mentiras.
— Quando eu amo, eu amo demais, Juan.
Você precisa entender isso agora.
— Querida... atreva-se a não me amar
demais e nós teremos um problema.
— Você está rindo? — Franzi a testa,
empurrando-o. — Não vai achar engraçado quando
eu cismar com casos que não existem, mulheres
perto demais, quando ficar obcecada com qualquer
coisa que não exista!
— Eu vou amar tudo isso. Caso contrário,
posso sempre pedir outra ordem de restrição.
Eu não resisti a soltar uma risadinha
quando bati em seu peito.
— Falo sério, Governador. Você precisa
jurar, precisa me prometer agora mesmo que nunca
vai me deixar novamente. Eu não vou deixá-lo,
Juan. Nunca!
Suas mãos fecharam em meu rosto como
uma concha, protegendo e mantendo apertado ao
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mesmo tempo. Os olhos torturados brilhavam com


lágrimas não derramadas, ao contrário de mim, que
já tinha o rosto molhado.
— Você é a mulher mais louca, malvada e
sexy que eu já conheci. Nós vamos nos casar e eu
não estou pedindo. Eu te amo. Eu te amo pra
caralho. Eu amo que você fez de tudo para me
conquistar, que se recusou a desistir de mim e que
vai ter o nosso bebê. Eu amo você e eu amo nossa
criança.
— Você nunca cumpre suas promessas.
— Isso não é uma promessa, é um
juramento.
Eu fechei os olhos, deixando aquela
sensação encher meu coração. Aquele amor, a paz,
a ansiedade e o desejo feroz. E quando os abri, o
verde iluminado de suas íris sorriam para mim,
deixando-me saber que ele sentia o mesmo.
Que nós começamos do jeito errado, mas
que de nenhuma outra forma teríamos dado certo.
Que não havia nenhuma outra mulher para
ele e absolutamente nenhum outro homem para

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mim.
Ninguém nos veria como comuns, como
normais, mas essa era a coisa entre mim e Juan, nós
não nos importávamos com ninguém. Eu quebraria
leis por ele e ele criaria qualquer uma para mim. Eu
lutaria por ele e eu morreria por ele.
Eu o amaria obsessivamente, assim como
ele faria por mim. Até a porra do fim.
Nós tínhamos um ao outro e para nós, não
importava como chegamos ali, um nos braços do
outro.
Eu criaria o paraíso para ele, e ele, bem...
Ele comandaria o inferno para mim.

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Epílogo 1
“Eu te olho, me corta a respiração
No silêncio o seu olhar disse mil palavras
E a noite imploro que não nasça o sol
você me olha e me leva para outra dimensão
Seus batimentos aceleram meu coração
Que ironia do destino não poder te tocar
Abraçar você e sentir a magia do seu perfume
Seu corpo e o meu, dançando, amor”
Enrique Iglesias, bailando

Desligando a ligação, coloquei o telefone


para baixo e bebi um copo d’água antes de voltar
ao jardim onde a festa acontecia. Esme havia ligado
para avisar que não viria, ela estava quase dando à
luz ao meu afilhado, e a última vez que a vi foi
quando estava com sete meses. Depois do dia que
ela saiu com Julio para ver Álvaro no hospital, eu
nunca mais tinha falado com Alyna e Esme nunca
me disse o que aconteceu naquele lugar. Ela voltou
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na noite seguinte como se nunca tivesse saído, e


saiu uma semana depois, me dizendo que precisava
dar um novo rumo a sua vida. Todas as vezes que
tentei voltar no assunto, insistir em saber o que
causou sua gigante mudança, ela se afastava. E não
havia nada que eu pudesse fazer além de esperar
que ela se sentisse bem para voltar. Com o tempo,
eu aprendi a não perguntar, mas eu percebia que
vinha perdendo minha amiga a cada dia mais, e isso
me aterrorizava. Juan insistia em dizer que não era
minha culpa, que o que aconteceu com Alyna não
poderia ter causado tamanha mágoa em Esme, que
se algo aconteceu, foi quando ela foi ver Álvaro. Eu
não tinha mais o que fazer, agora só fazia de tudo
para estar por perto quando ela precisava e rezava
para que o que quer que tivesse acontecido, não a
levasse embora para sempre.
Quando Juan e eu nos acertamos, eu
finalmente conversei com mamãe sobre David e
disse a ela a minha decisão sobre não querer ter
nada a ver com ele. Ela até mesmo conheceu
Jaqueline e a adorou, mas ter minha irmã por perto
era uma coisa, já o homem que nos abandonou para

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cumprir as vontades fúteis de seus pais seria


completamente diferente. Eu não conhecia David,
não tinha vontade de conhecê-lo e ele não me fazia
falta alguma. Era um estranho.
Eu sabia que nunca deixaria David chegar
perto. Não por rancor, mas por saber que se Juan
abandonasse a mim e nosso bebê por mais de duas
décadas sem nenhuma justificativa, quando
voltasse não haveria lugar para ele. Eu seria a
melhor mãe para o meu bebê e Juan já era um pai
incrível, o resto nós íamos descobrir.
Livrando-me daqueles pensamentos,
agarrei as mãos da minha irmã quando a música
chegou na parte mais sensual, e enquanto May
segurava minha cintura por trás, eu abaixei o
máximo que pude, fiz um bico e apertei um dedo
nos lábios, olhando o meu noivo gostoso e, como
esperado, ele já fazia uma careta para mim.
A barriga de oito meses não interferia, mas
Juan era tão protetor e não entendia porque eu me
recusava a ser uma grávida preguiçosa, descer do
salto e me comportar como uma futura mãe
“comum” se comportaria. Ele me conhecia bem o
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suficiente para saber que ficar sentada observando e


bebendo água não fazia meu tipo.
— Traga a minha Maria das Graças aqui
agora mesmo — ele exigiu, apontando o chão à sua
frente.
Eu gargalhei.
— Pare de insistir nesse nome. Minha filha
não vai se chamar Maria das Graças, nem das
Dores, nem de nada.
— Por quê? — Ele abraçou minha cintura,
encostando a testa na minha. — Você é Maria e eu
sou feliz por isso. Deixe-me ter minha Mariazinha.
— Eu já te disse que minha mãe estava
bêbada quando escolheu meu nome, eu não vou
cometer o mesmo erro.
— Como agora? — Ele riu, apontando em
direção aonde mamãe estava numa mesa
conversando com Jorge, bebendo sem nenhuma
reserva com o homem que sempre foi tão sério
comigo. Juan, vendo onde meus olhos estavam, riu
e segurou meu queixo, levando minha atenção de
volta a ele.

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— Deixe a mulher ser feliz.


— Com Jorge?
— Se ele não fosse um cara bacana, eu
seria o primeiro a chutar a bunda dele para longe
daqui.
— Você não é sempre um bom juiz de
caráter, Governador. Não vamos esquecer como
esse noivado começou.
— E se eu pudesse voltar no tempo, faria
exatamente a mesma coisa outra vez.
— Você faria?
— É claro que sim. Me apaixonar pela
minha amante nunca foi o plano, mas essa foi a
melhor coisa que me aconteceu.
— Eu não queria que meu primeiro amor
fosse um trabalho, também.
— E ainda assim, aqui estamos nós.
Eu o abracei mais forte, encostando o lado
do rosto em seu peito, ouvindo nossos amigos
conversando ao redor e Maluma tocando no fundo.
— Juan?

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— Estou bem aqui.


— As estrias que vão ficar no meu corpo
vão te custar um belo diamante. Não se esqueça
disso.
Ele riu e me girou em seus braços, levando-
me para dançar outra vez.
— Você vai ter que trabalhar para arrancar
mais uma pedra de mim, loirinha.
— Isso é uma promessa?
— Você sabe que eu não faço promessas,
mas essa eu vou cumprir.
Agarrei sua camisa e o puxei para mim.
— Eu vou cobrar.
— Eu sei que os dois pombinhos estão
animados, hormônios da gravidez e tudo mais, mas
está na hora de abrir os presentes — disse
Jaqueline, me puxando pela mão até uma cadeira
no meio do salão.
Juan ajoelhou um pouco a minha frente,
recebendo ordens de sua ex-mulher e uma cerveja
de Enrico, meu ex-namorado e um de seus
melhores amigos.
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Ele gemeu e tomou um longo gole, revirando


os olhos.
— Onde está Miguel pra colocar um freio em
você?
— Está ocupado fazendo o que eu mandei que
fizesse.
Eu dei risada e evitei revirar os olhos quando o
primeiro presente que peguei estava em nome de
Enrico e Luz. Olhei para cima, fitando-a
diretamente nos olhos e secretamente agradeci pela
mau caráter ter ido atrás do meu namorado. Sabe
Deus o que teria acontecido se Enrico não tivesse
começado algo com ela. Teria ido atrás de mim?
Me impedido de conhecer Juan? Eu não sabia e
graças a Dios, nunca precisaria descobrir.
Meus sogros chegaram durante a minha
pausa para o banheiro em abrir os presentes.
— Otto — cumprimentei, dando um abraço
rápido no meu simpático sogro — É sempre um
prazer recebe-lo.
Mercedez riu, passando por mim sem se
preocupar em tentar fingir que gostava da nossa

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atual situação: nora e sogra.


— Como está a minha netinha? — Perguntou
Otto.
— Muito bem, ansiosa para sair.
Ele riu e acariciou minha barriga uma vez.
— Vou encontrar meu filho, vocês senhoras,
comportem-se. — Nos dando um olhar
significativo, ele nos deixou.
— Otto é tão bom para você.
— Assim como meu filho é com você.
Preocupo-me com essa menina.
— Algumas vezes eu me preocupo por ela
também, querida sogra. Afinal, ela terá uma avó
terrível e uma mãe pior ainda. Mas Juan é o melhor
dos homens, então podemos ficar tranquilas. —
coloquei a mão na minha barriga e sorri. — Nossas
depravações não alcançarão essa inocente e amada
criança.
Ela me fitou por longos segundos antes de
pegar uma taça de champanhe de uma bandeja
quase vazia no balcão e colocar seu sorriso político
no rosto, então enganchou nossos braços e me
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levou para fora.


Jaqueline e Juliana comeram merda de
Mercedez, mas eu não, eu a enfrentava e assim
como Juan havia dito, nós tínhamos muito em
comum. O fato de que eu nunca a deixava pisar em
mim a fez criar um respeito distorcido, e
aprendemos a nos aturar, mesmo que quando Juan
não estava vendo, podíamos ser as cobras mais
cruéis do jardim uma com a outra.
Ela sorriu quando passou pelas pessoas e
acenou, até alcançarmos nossos maridos.
— Porque Hermidia Lopi está aqui? —
Perguntou disfarçadamente.
— Juan quis convidá-la e a seu marido. — Me
esforcei para não torcer o nariz em desgosto, mas
minha sogra não estendeu a mesma simpatia,
ignorando totalmente a mulher que ambas não
gostávamos.
Sim, eventualmente entravamos em acordo
sobre algumas coisas.
— Filho — ela abraçou Juan. — Falta pouco
para Rebeca estar aqui. Como se sente?

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— O nome dela será Maria. — Eu respondi,


sorrindo para ela.
Juan ergueu as sobrancelhas para mim, como
quem dizia “você não concordava com isso pouco
tempo atrás”.
Mercedez me deu um de seus olhares
desagradáveis.
— Não acho um nome de classe.
Eu estava prestes a dar uma resposta, mas Juan,
prevendo uma de nossas longas discussões,
envolveu minha cintura.
— Vou levar minha noiva para dançar, com
licença.
Otto ergueu sua taça para nós e Mercedez
revirou os olhos. Eu sorri, contente de ter aprendido
a lidar com minha sogra.
— Eu me pergunto como vocês duas ainda não
se mataram quando não estou perto para evitar
essas brigas.
— Ah, meu noivo... Na escola que sua mãe
estudou, eu dou aula. Sei lidar com ela.
Ele balançou a cabeça, rindo.
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— Aya, Aya... onde foi que me meti?


Abraçando-o com mais força do que o
necessário, fechei os olhos enquanto ele me levava
numa dança lenta e nossos amigos e familiares
conversaram, riam, dançavam e cantavam em nossa
volta.
— Você ainda se lembra?
— Do que?
— Que me faz sentir perfeita.

JUAN CARLO

— Minha vez — eu disse a Aya quando


silenciei a babá eletrônica, tranquilizando-a para
voltar a dormir.
— Você vai ser recompensado por isso —
ela prometeu em seu sono, a voz grogue e rouca
fazendo-me sorrir.
Até dormindo ela não perdia seu

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atrevimento. Eu afastei a bunda da minha esposa do


meu pau e chutei o edredom, gemendo ao observar
minha deusa deitada na nossa cama. Dando um
aperto em meu membro para buscar algum alívio
temporário, levantei da cama e fui apressadamente
para o meu lugar favorito da nossa nova casa.
Estava cansado, havia chegado em casa depois de
um dia inteiro de reuniões e mais reuniões, e já
tinha uma noite sem dormir, mas quando eu ia para
aquele cantinho e olhava o pequeno anjo querendo
minha atenção, todo o cansaço evaporava, mesmo
que temporariamente.
— O papai está aqui, princesa. — Ela me
fitou com seus olhos verdes manchados de azul, e
foi se acalmando aos poucos, batendo as mãozinhas
em todas as direções. — Você sabe que não precisa
chorar, certo?
A campanha para a minha reeleição estava
de vento em poupa, e as pesquisas mostravam que
não haveria desafios para a minha vitória. A única
mancha no meu mandato foi o livro de Aya, já que
quando assumimos o relacionamento ele veio à
tona junto com todos os detalhes da nossa relação.
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Ela havia construído uma ficção fora dos quartos de


hotéis onde começamos nosso relacionamento, mas
a relação homem casado e amante foi o suficiente
para levá-la de Primeira Dama à destruidora de
lares. Foram meses de entrevistas e estratégias para
limpar seu nome e Jaqueline ajudou em tudo o que
era possível, dizendo até mesmo que tinha estado
com Miguel antes de nos separarmos.
Houveram momentos em que eu pensei que
não tivesse nenhuma chance de governar o estado
por mais um mandato, e, surpreendentemente,
aquilo não me afetava como eu imaginei que faria.
E a bonequinha em meus braços, junto com a
mulher dormindo no quarto ao lado, eram a
explicação disso.
Entre o mandato e Aya e Maria, eu
escolheria as minhas meninas todas as vezes.
— O papai está tão cansado, filha. —
Sentei na cadeira de balanço e não deixei seus
olhos enquanto falava com ela. — Eu sou um
homem importante, muitas pessoas dependem de
mim, mas eles nem acreditariam que eu dependo
unicamente de você. Quer dizer, de você e da sua
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mãe maluca. — Ela riu, fazendo barulhos


incompreensíveis. — Você escuta essa história
todas as noites, mas o papai não cansa de contar.
Alisando suas bochechas rosadas, beijei o
pequeno nariz e agradeci silenciosamente pelo
precioso presente. Pela Maria que mudou minha
vida e pela Mariazinha que fizemos juntos.
— Essa história não deveria começar com
“Era uma vez...”. Deveria, na verdade, começar
com “Aviso” — eu continuei, os olhos de Maria
estavam arregalados, sem nenhum pingo de sono.
— Mas não são assim todas as boas histórias, filha?
Ela riu novamente e eu comecei a dizer a
ela sobre aquela noite, em que uma misteriosa
mulher me seduziu num bar. Aquela que nem sua
mãe sabia. Aquela onde eu vi minha Aya pela
primeira vez, mas era a minha lembrança para
guardar.
Afinal... “AVISO”, se o fogo não fosse
bom, ninguém iria se queimar.

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Epílogo 2
Anos Depois
“Sua missão, caso decida aceitar...”
Missão Impossível

— Hombre! — gritei enquanto corria para


o escritório de Juan. Empurrei a porta com as duas
mãos e entrei, olhando em linha reta para o homem
de pé no meio da sala, apoiando as mãos na cintura,
ergui o queixo. — Como você se atreve? Eu disse,
Juan. Eu avisei que eu preciso do meu espaço, você
não me deixa respirar! Vou pegar a minha
Mariazinha e sumir da sua vida!
— Loirinha... — disse ele, aproximando-se
com aquele sorriso cheio de más intenções.
— Nada de loirinha, não me toque!
Ele parou a dois passos de mim e sorriu
mais ainda.
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— Tudo bem, mas pelo menos deixe-me


apresentá-la a alguns parceiros de trabalho. — Ele
acenou atrás de mim e eu fiquei tensa, arregalando
os olhos para ele.
— Tem alguém atrás de mim? — sussurrei.
— Sim. — Ele riu e me alcançou, passando
um braço pela minha cintura e girando-me.
Ao lado da porta dupla, havia um canto
mediano onde Juan colocou uma antiga mesa,
herança de seu bisavô. Era uma bela peça de arte
em madeira antiga e esculpida em detalhes ricos
impressionantes. E nela, quatro das seis cadeiras
estavam ocupadas com quatro dos homens mais
impressionantes que eu já vi na vida.
Juan era incrível. Ele sabia que eu poderia
olhá-lo por um dia inteiro e nunca me cansaria, mas
ser casada não me fazia cega, e aqueles homens...
Madre Santa!
— Senhor — suspirei, recebendo um aperto
do meu possessivo marido.
— Comporte-se. — Levando-me mais para
frente, ele começou as apresentações. — Esses são

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meus amigos de Berlim.


— Eles entendem o que estamos falando?
— perguntei baixinho. Estávamos no México,
falando espanhol, os homens deveriam falar
alemão.
O homem do meio, com os cabelos
levemente prateados, deu um meio sorriso, ficando
de pé e se aproximando.
— Ah, querida... nós sabemos muitas
línguas. — Ele pegou minha mão e olhou para
Juan. Quando meu marido deu um leve aceno, o
homem deu um beijo na minha pele e se afastou,
mas seus olhos azuis cristalinos ainda estavam
focados em mim. — Você é uma mulher
deslumbrante, Aya. Nós ouvimos muito sobre você.
Esses são meus filhos, Demeron e Regnar, e meu
sobrinho, Siriu. Eu sou Stark Konstantinova.
Ele devia estar na casa dos sessenta anos,
mas era tão bonito quanto seus filhos. Stark foi o
único a se levantar, mas todos eles acenaram.
Regnar e Siriu me brindaram com sorrisos quase
idênticos e mais uma vez eu fiquei boquiaberta com
a beleza daqueles homens. Demeron não me
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demonstrou nada além de um aceno rápido e cortes.


Todos usavam ternos escuros, dois deles usavam
sobretudos, e Regnar até mesmo usava um par de
luvas pretas. Mas não era como se eles
combinassem roupas.
— Não está muito calor para luvas? —
perguntei a ele.
— Não gosto de deixar minhas digitais
espalhadas por aí — ele respondeu com bom
humor, dando-me uma piscada. Siriu riu e Demeron
desviou o olhar, mas o canto de sua boca contraiu.
— Você tem um sobrinho e filhos
encantadores, Stark.
— Ora, muito obrigado, minha querida.
Eles seriam quatro, mas eu perdi um.
— Oh... sinto muito.
— Não sinta. — Seu sorriso era sincero, e
me fez perguntar a mim mesma porque um pai
estaria tão feliz falando de seu filho morto.
Mas antes que eu pudesse dizer mais
alguma coisa, um grito alegre e uma coisinha
pequena veio correndo pela porta, descalça, seu
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vestido de verão rodando com cada passo e os


cachos do cabelo loiro pulando ao redor de sua
cabeça.
— Mamãe, você não me encontrou! —
Franzindo todo o rostinho, ela olhou para o grande
homem mais velho à minha frente e se aproximou
dele, então, apontando um dedinho, cutucou sua
perna, como se estivesse testando se era de
verdade. Seus olhos viajaram ao redor para os três
ainda sentados e um sorriso iluminou seu rosto. —
Oh, não, papai! São todos para eu brincar de pique
esconde?
Juan sorriu e ouvi a risada de Regnar ecoar
pela sala, então ele se aproximou a agachou na
altura da minha pequena.
— Ei, mocinha — disse ele, esticando a
mão. — Eu sou Regnar.
— Você é amigo do papai?
— Sim, eu sou. Seu papai chama a mim e
meus irmãos quando está com problemas.
Maria olhou para Juan e deu de ombros.
— Ele chama mamãe quando está com
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problemas, também. Ela diz que ele não consegue


esvaziar seu joelho sem ela.
Dessa vez todos riram, e até mesmo
Demeron deixou um sorriso se mostrar antes de
fechar em sua casca novamente, e eu me apressei,
pegando Maria, sabendo que era só o começo.
Quando minha pequena espevitada começava,
ninguém era capaz de controlá-la.
— Merda, cara — disse Siriu. — Eu me
lembro quando Blair era pequenina assim e
ninguém segurava sua boca.
— Sua filha? — perguntei.
— Não, de Regnar.
Eu fitei o homem grande e bem-humorado,
e me surpreendi. Ele não parecia muito o tipo
paternal. Juan deu um beijo na cabeça de Maria, lhe
fazendo cócegas, e disse as três palavrinhas
mágicas no ouvido dela, antes de me pedir para
levá-la para fora. Eu o abracei rapidamente e beijei
sua bochecha, saindo com Maria antes que a sala
explodisse. Sorri para minha filha e corri com ela
para o quintal, deixando-a livre para brincar.

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— Mamãe?
— Sim, amor?
— Eu vou me casar um dia, certo?
Eu segurei o riso com sua pergunta,
sabendo que se Juan a ouvisse dizendo aquilo, teria
um ataque cardíaco.
— Se você quiser, sim, bebê.
— Ok. Eu quero me casar com o homem
bravo daquela sala.
— O homem bravo?
— Sim. — Ela acenou distraidamente,
brincando com sua boneca. — Aquele na janela do
papai.
Eu ergui a cabeça, me perguntando ao que
ela se referia e pela janela do jardim, vi Juan
atravessando a sala e um dos homens o seguindo,
mas como se sentisse que estava sendo observado,
ele olhou para fora e os olhos azuis cristais bateram
direto em mim. Era Demeron, e apenas com alguns
segundos desconfortáveis, eu desviei o olhar.
Parecia que ele olhava através de mim e via cada
pensamento através dos meus olhos. Assim como
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seu pai, seu primo e irmãos, ele não parecia ser um


homem fácil de lidar. De fato, eu temia por aqueles
que os irritassem.
Mas me perguntei... O que poderia
acontecer se o amor cruzasse seu caminho? Será
que algum deles sequer conhecia essa palavra?
Um sorriso brincou no meu rosto quando
percebi a direção dos meus pensamentos.
Pelo que vi, seria mais fácil fazer frio no
inferno do que um dos Konstantinova se apaixonar.

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Agradecimentos
Eu sempre pensei bastante sobre amantes.
Gosto de ler os diários que elas escrevem online, os
desabafos que fazem em cartas e adoro ver filmes
sobre elas. Não gosto particularmente dos livros em
que elas aparecem, já que nunca terminam felizes.
Foi aí que a Aya surgiu. Uma mulher incontrolável,
obcecada, apaixonada por si mesma em primeiro e
último lugar, e que não se importa com suas
famosas sequelas deixadas para trás. Eu a amei,
você não?
Polli, eu espero que esse livro tenha tido
descrições da língua dele o suficiente.
Obrigada a todas as Monstrinhas que
constantemente me pediram por esse livro.
Obrigada por como sempre, terem embarcado em
mais essa aventura comigo. Cada vez mais vocês
me fazem acreditar que realmente leriam minha
lista de compras.

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E Daniel... secretamente, obrigada.

Informações
O casal Cobain James e Danielle, são do meu livro
“Por Você, Cobain James”.
No Epílogo 2, vocês tiveram um vislumbre do que
vem por aí na minha próxima série de Romance
Dark “A Liga dos Diamantes”, o primeiro livro será
postado primeiramente no wattpad. Te espero por
lá!

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Mil beijos e até o próximo!

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PLAYLIST

Aaron Diaz – Teresa


Anahi – Santa no Soy
Maite Peroni – Asi Soy
Romeo Santos – La Diabla
Romeo Santos – Imitadora
Romeo Santos – Propuesta Indecente
Anahi – Me Hipnotizas
Dulce Maria – Beautiful
Shakira ft. Maluma – Clandestino
Sebastian Yatra – Traicionera
Toni Braxton – Spanish Guitar
Dani J – Quitemonos La Ropa
Avril Lavigne – Bad Girl
Shakira ft. Beyonce – Beautiful Liar
Shakira – Perro Fiel

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Shakira – Give it Up To Me
Reyli Barba – La Descarada
Anitta – Veneno
Romeo Santos ft. Marc Anthony – Yo También
RBD – Que Fue Del Amor
Maná – Labios Compartidos
Alejandro Sanz ft. Shakira – La Tortura
Shakira – Perro Fiel
Shakira – Loba
Camila – De Mi
Shakira ft. Rihanna – Can't Remember To Forget
You
Gloria Trevi – Esa Hembra Es Mala
Ariana Grande – Thank U, Next
Maite Perroni ft. Alexis & Fido – Como Yo Te
Quiero
Ariana Grande – Dangerous Woman
Belanova – Rosa Pastel
Maluma – Borro Cassete
Jennifer Lopez – Tu
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PERIGOSAS NACIONAIS

Alejandro Sanz – Cozaron Partio


Bryce Fox – Horns
Pandora – La Usurpadora
Mrco Antonio Solís – A Dónde Vamos A Parar
Alejandro Fernández ft. Christina Aguilera – Hoy
Tengo Ganas De Ti
Romeo Santos – Eres Mia
Christina Aguilera – Pero Me Acuerdo De Tí
Enrique Iglesias – Bailando

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