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Acordo com uma puta dor de cabeça e com malditas batidas na minha
porta; e, para ter passado pela segurança, é alguém da família. Se forem meus
sobrinhos, Daiane, Henrique ou David, mato eles, sem dó. Essas porras sabem
me atrapalhar e me tirar do sério! Amo os muito, mas são um inferno quando
querem.
Vou para o banheiro, escovo rapidamente os dentes e vou atender a porta.
Assim que abro, conto de um a dez, para não matar a pessoa que está nela.
— Liziara! — A esposa completamente maluca do David me olha e sorri,
segurando as gêmeas que dormem.
— Bom dia! — ela me cumprimenta passando por mim.
— Tinha tudo para ser um bom dia, mas você apareceu. O que quer,
porra-louca?!
— Primeiro passe a grana, cinquentinha, pois acaba de falar palavrão na
presença das minhas filhas e este é o combinado!
— Porra, abre uma conta para elas e me passa, porque será mais prático
depositar o dinheiro.
— Antes, passe a grana para cá!
Pego o dinheiro no quarto e retorno entregando para ela, ou não dirá o
que quer, conheço muito bem essa bendita!
— Agora diz logo o que faz aqui!
— Preciso que fique com elas até a Beatriz chegar, pois ela está vindo da
casa da tia, na praia. Tenho que ir resolver alguns problemas, David, Paula,
Daiane e Ana Louise estão ocupados. Só você pode me salvar.
— E achou que eu sou babá?!
— Pare de ser ruim! Por favor, Marcos! Tenho que ir até uma tia minha.
— Você não tem tia, Liziara.
— Não precisa jogar na minha cara... Bom, a Bia chega rápido. Fui! As
mamadeiras e fraldas estão na bolsa.
Ela dá um beijo em cada uma. Caminha até meu quarto e a sigo. Ela
deixa as meninas na minha cama.
— Cuide bem delas ou corto suas bolas! Tchau.
Ela sai, deixando-me parado no meio do quarto.
Posso ser um juiz temido, autoritário e bipolar, mas tenho muito carinho
por minhas sobrinhas, que são quatro, afinal, Henrique e a esposa Ana Louise
tem uma menina também e tem Daiane.
Sei que Liziara está aprontando algo e, quando eu descobrir, eu a
enforco.
Deito-me ao lado das meninas, que dormem gostoso. Sorrio.
Sou um exemplo para muitos como juiz. Venho de uma família
importante. Perdi meus pais há anos e depois meu irmão Joseph, que era um
renomado juiz e construiu uma bela família ao lado de Paula, mas, infelizmente,
partiu deixando todos sofrendo, inclusive a mim. Porém, tenho um enorme
orgulho por ele, pois soube criar bem seus filhos e fazer com que tivessem uma
boa perspectiva para o futuro. Daiane, a mais nova, é promotora; David, o do
meio, é delegado; e Henrique, o mais velho, é advogado criminalista. Henrique e
David estão casados e com filhas, somente Daiane está solteira, o que espero que
fique por muito tempo, sobrinha minha tem que ser freira. Já Paula, é advogada
civil, e uma mãe, conselheira e cunhada maravilhosa. As esposas dos meus
sobrinhos são maravilhosas. Eu só tenho o que agradecer pela família que eu
tenho.
A mídia mostra apenas que sou um juiz temido, ou um libertino, mas não
mostram que também sou família, sou amor. Minha imagem é de um predador, e
não nego que sou como um em noite de caça, e também não sinto vergonha, pois
amo saber que levo mulheres à loucura, que várias gritam meu nome enquanto
gozam por minha causa. Estou em uma idade que minhas necessidades se
intensificaram. Sou homem, porra, tenho o direito de transar sem ter
compromisso, e parece que isso é difícil de ser compreendido.
Tudo o que quero para a minha vida é ter um nome a ser lembrado
sempre na história da lei, e que minha família esteja sempre segura. Sempre digo
que um Escobar precisa apenas encontrar a pessoa certa para perder o coração
para esta pessoa, mas que eu sou exceção. Não quero encontrar a pessoa certa e
muito menos entregar meu coração a ela. Eu quero ficar livre dessa história de
amor, porque já me fodi demais com isso.
Assim que escuto a campainha, eu levanto e ajeito os travesseiros em
volta de Laura e Helena. Vou até a sala e abro a porta. É Beatriz Oliveira.
— Vim buscar as meninas. Disseram que eu podia entrar...
— Sei. Entre.
Beatriz me avalia.
Eu e ela não nos suportamos desde que a conheci na universidade que a
Liziara estudava há alguns anos. Eu e meus sobrinhos precisávamos dela para
um caso. E ela meio que me desafiou e desde então somos como cão e gato, e
vivemos assim.
— Não é necessário. Apenas traga as meninas.
— Está com medo de entrar e não querer ou conseguir sair?! — provoco.
— Não me tira do sério, porque não tenho unhas grandes à toa — rebate.
— Cuidado, quem assina a sentença sou eu. Pode ser que a sua seja longa
e peculiar.
Ela engole em seco e fica ruborizada.
— Traga logo elas, Marcos.
— Entre logo!
Ela entra e fecho a porta.
— Estão no meu quarto.
— Vamos logo pegar elas. Tenho pressa.
— Para fugir de perto de mim?
— Você se acha demais!
— Não me acho. Apenas sou um homem observador e sincero.
— Que seja. Vamos!
Caminho com ela me seguindo até o meu quarto. Entramos e, sem
cerimônia, ela pega Laura no colo.
— Me ajude com a Helena, pois preciso colocá-las nas cadeirinhas do
carro.
— Claro.
Pego Helena, que dorme.
Saímos de casa e fomos até seu carro. Ela abre a porta e fica empinada
para colocar a Laura na cadeirinha.
Fico olhando atentamente sua bunda, coberta e marcada pelo tecido da
calça justa que usa.
Não posso negar que ela é bem gostosa e que sua língua afiada apenas
comigo, mesmo sendo tímida, me deixa louco.
Porra, se controle! Estou ficando duro com essa visão.
Ela se vira para mim e pega a Helena. Contorna o carro e abre o outro
lado para pôr a menina na cadeirinha.
Quando termina, fecha a outra porta e caminha até o lado que estou para
fechar a porta que ficou aberta.
— Sem segurança?
— Vim do litoral. Passei em casa, peguei as cadeirinhas reservas e vim
para cá. Não tem nada demais.
— Ambas são filhas de um delegado e são Escobar.
— Não pira, homem!
— Tome cuidado!
— Tchau, Marcos.
Ela passa por mim e entra no carro.
Essa porra é teimosa!
Viro-me e vejo o Simon, meu segurança, sorrindo.
— O que foi, porra?
— Nada, senhor!
— Envie uma equipe atrás dela. Não vou testar a sorte.
— É para já.
Ela sai rapidamente com o celular na mão.
Retorno para dentro de casa e vou para meu escritório. Acesso meu e-
mail e respondo os mais importantes.
A bela bunda da Beatriz não sai da minha mente e está me deixando duro
de novo.
Porra, preciso de um banho bem gelado! Cacete, virei um merda de um
adolescente agora?!
Estou no meu escritório no centro. Não viria trabalhar hoje, mas achei
melhor para adiantar umas papeladas que parecem não ter fim.
Porém, estou com a mente longe, só não sei exatamente aonde. Estou
distraído, e sei disso porque assinei duas vezes um documento errado.
— Marcos! — Assusto-me com a voz da irritante, que acaba de gritar
meu nome.
— Porra, Débora, quer me matar, mulher?!
— Não, porque eu ficaria sem emprego. Não tenho culpa que está
paralisado olhando para o nada há um bom tempo enquanto eu te chamo.
— O que quer? — Solto a caneta na mesa e passo a mão pelo cabelo.
— Precisa assinar esses papéis. — Ela os coloca na mesa — Tem
audiência amanhã, às 8h, e precisa disso tudo aí assinado.
— Qual caso?
— Está de brincadeira, não é?! Como assim qual caso? Com um juiz
assim, entendo o motivo do país estar nesse estado.
Olho seriamente para ela, que sorri.
Débora é uma grande amiga, a conheço há anos. Ela trabalha para mim
como secretária enquanto cursa Direito. É casada, linda, e mesmo sendo louca
quase sempre, é muito inteligente e boa no que faz. Tivemos no passado um caso
de alguns meses, mas nada grande e que deixasse marcas ou qualquer sentimento
complicado... Bom, com o marido dela sim, o cara tem um ciúme filho da puta
em relação a mim, mas confesso que provoco.
— Qual o caso, loira?
— A idade já está te causando esquecimento, entendo. Bom, é o caso do
marido retardado que tentou matar a esposa, fugiu e foi pego, e depois pegou a
filha à base da tortura... O caso que eu disse que deveria amarrar ele e meter o
chicote e depois jogar óleo quente.
— Me lembrei. E saiba que, às vezes, tenho medo de você. Nem eu sou
tão frio assim.
Ela ri.
— Trabalho para um juiz, meu marido é um investigador da polícia, o
melhor amigo dele delegado, minha mãe enfermeira, e meu pai um traste, eu
tinha que ser um pouco fria, ou estava ferrada. — Ela dá uma piscadela e
caminha para sair da sala.
— Seu marido sabe que você veio trabalhar hoje com essa calça bem
justa? — provoco e sorrio. Ela ergue a mão e mostra o dedo do meio. — Menina
má, isso é feio.
— Eu realmente não mereço aguentar isso, não mereço! — Ela sai da
sala e bate a porta.
Rio.
Pego os papéis e leio. Preciso me concentrar no trabalho.
Dias depois...
Primeira coisa a ser lembrada sempre: jamais aceite dar palestras apenas
para as mulheres em universidades.
Pela primeira vez, a universidade quis fazer algo diferente e dar uma
palestra apenas para as mulheres que querem ser juízas. Mas, pelo visto, tenho
certa fama entre elas, já que me olhavam como se fossem me comer vivo, e
estava começando a ficar preocupado de alguma pular no meu colo. Odeio
mulheres que se insinuam, e era tudo o que elas faziam, desde as perguntas com
segundas intenções, aos sorrisos safados. Tenho que confessar, que estou um
pouco aterrorizado.
É um alívio que tenha terminado.
Segunda coisa a ser lembrada: bate-papo pós palestra com o reitor e
diretor pedagógico é um porre.
Edson, o reitor, e Eric, o diretor pedagógico, não saem da porra do meu
pé!
— Fico grato por ter vindo e permitido que a palestra vá para nosso site e
nossas redes sociais. É uma grande forma de destacar ainda mais a universidade.
É claro que você aqui é bom para as nossas alunas. Espero poder ter você aqui,
mas com todos os alunos do Direito — Edson diz, e tomo um gole da minha
bebida, antes de responder:
— Pode contar com isso. — Preciso avisar a Débora para dizer, quando
me ligarem, que tenho compromisso mesmo não tendo.
— Ter um Escobar entre nós é uma honra. Nossa universidade já teve
contato com você e sua família, porém em um momento triste, na perda de nosso
professor Rodolfo. Mas, agora, são tempos novos, e estava na hora de termos
você aqui novamente para coisas boas — Eric diz sorridente.
— Claro. — Apenas consigo dizer, além de dar um famoso sorriso
diplomático.
Alguém bate à porta e sinto um alívio. Essa pessoa salvou meus ouvidos
de diálogos irritantes de gente puxa-saco.
— Entre, por favor — Edson diz. E percebo que ele não gostou de
alguém vir interromper.
A porta se abre e me viro para ver quem é o salvador do momento.
Terceira coisa a ser lembrada: evite a universidade que a pessoa que não
te suporta trabalha.
Ela me olha e fica vermelha na hora. Sorrio.
Isso vai ser bom!
— Beatriz, diga — o reitor fala a ela, que tem alguns papéis na mão.
— Eu... Hã... — se atrapalha nas palavras e isso me diverte. Até que não
foi tão ruim vir aqui.
— O que houve? — Eric pergunta.
Ela entra na sala e se aproxima da mesa, ficando bem próxima de mim.
Ergo o olhar e bebo um gole da minha bebida, para esconder o sorriso. Ela não
me suporta, tanto que nem sequer consegue me olhar.
— Me desculpe por interrompê-los, não imaginei que estivessem... — ela
procura as palavras. — Bom, preciso que o senhor assine esses documentos, pois
tenho que enviar aos advogados.
— E que papéis são esses? — o reitor pergunta.
E, porra, não gostei muito do jeito que ela olha para ela. E sei que não fui
apenas eu que percebi, porque o diretor fica sem graça e me olha dando um
sorriso forçado. Beatriz fica mais séria que o normal.
— Os acordos de parceria com a universidade internacional. — Ela
entrega os papéis. — Depois retorno para buscar. Com licença.
Ela se retira sem olhar para mim. O reitor não tira os olhos da bunda
dela, e isso me deixa com uma raiva dos infernos. Caralho, quem esse velho
pensa que é?! Porra, preciso ir embora daqui, ou sairei dentro do carro da
polícia.
Merda, hoje realmente não é o meu melhor dia. O reitor e o Marcos na
universidade é azar demais. O pior é que Edson não soube disfarçar seu olhar
idiota para mim. Esse homem não se enxerga mesmo. É um safado escroto!
Entro na minha sala, e para ajudar está me dando dor de cabeça por não
ter comido e dor no estômago. Vou terminar de responder aos e-mails de ontem e
irei até a lanchonete comer algo.
Concentro-me no trabalho para terminar logo.
— Se for um ladrão, ele entra, rouba e você nem vê! — Dou um pulo da
cadeira e solto um grito.
Coloco a mão no peito e a outra, apoio na cadeira.
— Quer me matar do coração, idiota? E o que faz aqui? Que droga!
Ele me olha sério.
— Te matar não é exatamente o que vim fazer aqui, Beatriz. Mas tenho
uma curiosidade.
— Sério?! Marcos, eu tenho trabalho a ser feito. E se você não tem algo
de útil para fazer, ou algum réu jurando que não vai mentir enquanto é julgado,
me dê licença.
— Olha só, ela sabe o que é réu.
Reviro os olhos e puxo a cadeira para me sentar, porém ele é mais rápido
e se senta nela.
— Por favor, vai embora.
— Irei assim que me responder algo. Sei que aqui não terá como fugir.
— Pergunte logo.
Droga, por que esse homem tem sempre que ficar aparecendo na minha
vida?!
— Por que só consegue me olhar nos olhos e me enfrentar quando
estamos a sós? Deveria ser o contrário, não?
Sinto minhas bochechas corarem.
— Não acredito que veio até aqui para me perguntar isso.
— Já entendi. Você é tímida, Beatriz! Porém, por algum motivo, não é
quando estamos sozinhos. Interessante. — Ele sorri do jeito safado dele.
— Se já tem a sua própria resposta para sua pergunta, então pode ir!
— Só mais uma coisa.
— Fala!
— Tome cuidado com o Edson. Esse cara pouco se fode de despir você
com o olhar na frente dos outros! — Seu tom é sério e autoritário.
— Sei cuidar de mim. Agora saia.
Ele se levanta e apoia as duas mãos nos braços da cadeira. Engulo em
seco. Além de idiota, tinha que ser sexy, que clichê!
— Quem assina a sentença sou eu. Espero que ele tome muito cuidado e
você também, para eu não ter que assinar a dele, que poderá ser longa e com um
pacote de torturas incluso — ele diz e sai da sala.
Sento-me na cadeira e respiro fundo. Os Escobar são para foder o juízo, e
não é de uma boa forma!
Saio do elevador e vejo uma pessoa cair da cadeira bem na minha frente.
— Débora, eu irei querer saber o que aconteceu? — Aproximo-me da
mesa dela, e a ajudo se levantar.
— Fui pegar a caneta de um jeito preguiçoso. Minha bunda está doendo.
Droga!
— Bom saber da sua bunda nesse momento. Agora preciso que puxe a
ficha completa de Edson Almeida, o reitor da universidade que acabei de voltar.
— Poxa, isso que é um bom chefe. Acaba de ver a funcionária se quebrar
e nem sequer oferece um remedinho, já manda ela trabalhar.
— Irei almoçar no McDonald’s, pensei em te convidar, mas se machucou.
— Já sarei! — Ela se levanta. — Edson Almeida, saindo a ficha em um
minuto!
Rio.
— Pensei que estivesse machucada.
— Curei rapidamente. Milagres existem, meu querido chefe!
Sorrio e vou para minha sala.
Revejo uns casos importantes que terá julgamento essa semana.
A porta se abre.
— Senhor — diz Simon, meu segurança.
— Muito corajoso da sua parte vir até aqui, onde tem uma arma grudada
embaixo da minha mesa e outra embaixo da minha cadeira. — Largo os papéis e
olho para ele. — Ainda não esqueci que acatou uma ordem da Beatriz e
desacatou uma minha.
— Já pedi perdão e te expliquei a situação, senhor.
— E eu ainda não perdoei. Mas, diga, o que quer?
— Venho pedir permissão de ir até o hospital, visitar minha irmã, que
acaba de ter filho. Será rápido.
— Pode ir. Não irei sair antes das 18h.
— Obrigado, senhor.
— Cuidado quando for dormir.
Ele me olha e sorri.
— Porra, estou sem moral!
Ele se retira da sala.
A porta se abre novamente e, desta vez, é a Débora.
— Foi difícil. O cara sabe esconder as coisas, mas para mim nada é
impossível. Entrei em contato com alguns conhecidos, e veja só o que descobri
do tal Edson Almeida. — Ela me entrega dois papéis. — Agora vou indo, porque
tenho uma tonelada de papéis para revisar.
— Obrigado.
Assim que ela se retira, eu leio os papéis, e confirmo minha suspeita de
que aquele cara não vale nada. Não foi à toa meu aviso a Beatriz.
Esse filho da mãe foi detido na cidade onde morava, por assediar uma
funcionária de um restaurante, e depois por agredir verbalmente outra da
universidade e tentar assediar a mesma, e isso há sete anos, porém nos dois casos
ele se safou e, pelo visto, escondeu bem da mídia. E duvido que não tenha outros
casos, mas sem denúncias. Sua ex-esposa pediu medida protetiva contra ele...
Que cacete esse homem faz como reitor em uma universidade?!
Pego os papéis e vou até a Débora.
— Faça uma cópia para mim.
— Ok. A curiosidade é mais forte. Por que quer saber desse homem?
— Tenho alguns motivos.
— Quais? — Sei que ela não vai desistir, enquanto eu não dizer.
— Além de ser um puxa-saco da porra, a Beatriz trabalha na mesma
universidade que ele, e o cara quase comeu ela com os olhos na minha frente e
do diretor, ele pouco se importou conosco, e ela ficou desconfortável com a
situação. Apenas isso.
— Beatriz... A amiga da Liziara? — Ela sabe quem é, está se fazendo de
sonsa.
— A mesma — respondo com ironia.
— Agora sei por que quer tanto saber do cara. Pelo visto, o jeito que ele
olhou para ela não incomodou apenas ela.
— Faça a cópia e calada!
— Não está mais aqui quem falou!
O elevador se abre e olho para ver quem é o palhaço que não pediu
autorização para subir.
— É o que imaginei. Um palhaço. Porra, virou a casa da sogra? Entram e
saem, sem anunciar?
Débora gargalha.
— Sei que sou bem-vindo. Não precisa insistir em dizer, tio.
— Henrique, só tem um motivo para você vir até aqui. Qual o caso que
quer saber se já chegou ao meu reconhecimento, para aliviar o seu lado?
— Nossa. Anda bem espertinho. Ficou assim com a idade, ou...
— Que caso, Henrique?!
— Como você aguenta esse mau humor, Déb?
— Estou fazendo algumas pesquisas para descobrir.
— Você em minha sala, e você faça o que pedi e calada!
Estou cansado. A audiência foi difícil, e não pôde ser concluída, foi
marcada para mais um dia, o que odeio ter que fazer, mas não tive escolha.
Sento-me na cadeira, e solto o nó da gravata. O caminho até aqui foi com
um trânsito caótico, que tenho certeza de que levei multa, pela impaciência e
cansaço. Odeio agir com insensatez, porém hoje o dia está uma nuvem negra
sem previsão de sol.
A porta se abre e Débora entra, parece estar mal.
— O que aconteceu? — pergunto preocupado.
— Dor de cabeça. Mas já tomei remédio, logo passa. Ligaram do
escritório E.A..
— O que o Henrique quer?
— A secretária dele queria saber se o que o Henrique pediu para você, já
chegou ao seu conhecimento.
— Ainda não. Vou ligar para ele e resolver isso.
— O escritório da dona Paula também ligou. A secretária dela mandou
informar que tem um jantar hoje com a família, e sua presença é indispensável.
— Porra! Estou fodido hoje! A nuvem negra virou um poço escuro e sem
fim. Só quero paz — resmungo. — Alguém mais dos Escobar ligou para me
exigir algo? — pergunto irritado.
— Na verdade, Daiane veio até aqui. Precisa conversar sobre algo, mas
acredito que não tenha nada a ver com a promotoria.
— Ligarei para ela também. Alguém mais?
— Não mais. — Ela dá uma piscadela. — Dia difícil? — Ela se senta na
cadeira.
— E como! Só preciso relaxar.
— Marcos, posso te fazer uma pergunta?
— Se eu não deixar, vai fazer do mesmo jeito.
— Ainda bem que sabe. Não está na hora de deixar de ter uma vida
sozinho? Sei lá, você precisa de alguém, homem!
— Você sabe que não sou capaz, não mais.
— Marcos...
— Débora, você é a única que sabe o que aconteceu, e deveria entender
os meus motivos.
— E por saber o que aconteceu, está na hora de esquecer o passado.
Quando estávamos juntos, que nos encontramos na nossa dor, você me fez lutar
e ir em busca da felicidade, e eu encontrei o Cleber, porque me permiti isso. Se
permita lutar por algo novo.
— Não consigo. — Jogo a cabeça para trás apoiando na cadeira. — Não
posso esquecer.
— Então se permita ser feliz e use do passado como uma lição de vida.
Aprenda que contos de fadas não existem. A vida é dura, e você como ninguém
deveria saber, afinal, convive com casos terríveis dia e noite, tem marcas no
passado, perdeu seu irmão. Nem todos que vão entrar na sua vida vai ser para
ficar. Tivemos algo no passado, e hoje estou casada, e nem por isso foi ruim, são
lembranças boas, de um tempo triste, mas que me permiti a começar a lutar e ir
atrás da minha grande felicidade, e encontrei no homem que amo demais e sei
que ele me ama da mesma forma ou até mais. Faça da mesma forma. Eu sonho
em te ver com uma alegria duradoura, homem!
Ajeito-me na cadeira e olho para ela sorrindo.
— Déb...
— Me prometa que vai tentar, por favor?
— Eu...
— Me prometa, porque o tempo está passando e lá fora tem alguém à sua
espera, mas se demorar, pode perdê-la, ou perdê-lo.
— Uma porra! Não sou gay, sua praga! — Ela ri. — Prometo. E sei que
já sabe disso, e confio em você. Mas nunca conte a ninguém o que sabe. Isso é
meu segredo, que escolhi apenas a você para dividi-lo, porque você é uma
grande amiga, mesmo me tirando do sério sempre.
— Não contarei. Mas sei que um dia terá alguém para se libertar desse
trauma, e que confie tanto quanto confia em mim, para dividir o que tanto
esconde.
— Quem sabe.
— Sei que vai, apenas permita que isso aconteça. Agora tenho serviço.
— Ela se levanta.
— Obrigado.
Ela sorri e se retira.
Depois dessa conversa depressiva, hora de ver o que os Escobar querem.
Ligo para o escritório do Henrique, na E.A. (Escobar Advocacia). A
secretária dele atende e passa a ligação para a sala dele.
— Vejam só, o tio amoroso liga para o sobrinho que tanto ama. Eu sei
que sou o predileto, prometo não contar ao David.
— Você tem dois minutos, antes que eu me arrependa de ter ligado.
— Senhor bom humor, recebeu o caso do Lorenzo Silva?
— Não. Em qual delegacia ele foi detido?
— Do David.
— Certo. Vou dar uma passada lá, e depois conversamos.
— Às vezes, paro para pensar, eu sou o único que fode tudo pra vocês.
— Por que diz isso?
— David prende, você e a Daiane fazem de tudo para os culpados terem
o que merecem, e eu acabo libertando eles. — Ele ri.
— Pois é. Até na vida profissional, você é um porre. Depois nos falamos.
— Beijinho na bochecha, titio.
— Vá se...
Ele ri e desliga antes que eu termine de falar.
Eu vou infartar com esses sobrinhos. Que porra!
Lembro que tenho que ler e assinar uns papéis. Faço isso antes de ligar
para a Daiane.
Assim que termino, ligo para ela imediatamente.
— Oi, tio. Aconteceu algo? — pergunta preocupada.
— Não. Apenas soube que veio aqui. O que está acontecendo?
— Nada. É que passei na delegacia depois daí, e soube que o David está
na rua, em uma invasão a um mercado, e tem reféns. Já pensei o pior, porque
não consigo contato com ele, e ele e sua equipe não retornaram, e pediram para
os jornais pararem a transmissão do ocorrido.
— Porra! Não se preocupe, vai acabar tudo bem — tento acalmá-la.
— Tomara. Espero que todos os reféns e os policiais saiam ilesos. Tio,
qualquer coisa que souber me avise. Vou entrar em uma audiência agora.
— Certo. Mas, antes o que queria comigo?
— Depois conversamos, eu prometo. Agora vou indo. Por favor, tenta
descobrir algo.
— Irei, não se preocupe. Amo você.
— Também amo você. Beijos. — Escuto chamarem ela, e ela desliga.
Era só o que faltava, cacete!
Ligo para Liziara. Ela atende depois de um tempo.
— Oi. — Ela está chorando.
— Está tudo bem? — pergunto preocupado.
— Não. O David, acabei de receber a notícia de que ele está na rua com
a equipe dele. Ninguém sabe mais nada. Não consigo falar com ele. Estou
desesperada. Na delegacia falaram que eles estão fora há mais de três horas e
que não podem passar mais informações. Pediram até para os jornais não
transmitirem mais nada. Marcos, e se...
— Não diga. Estou saindo do escritório. Fique calma. Vá para a casa da
Paula com as meninas. Qualquer novidade ligo para vocês.
— Ok!
Desligo e pego minhas coisas na mesa.
Saio da sala rapidamente.
— Débora, está dispensada. Tenta contato com o Cleber, e se conseguir
diz que quero falar com ele urgentemente!
— Se é sobre o David... — Ela se levanta e seu olhar é estranho.
— Débora, o que houve?! — indago preocupado.
— Cleber acabou de ligar avisando... Tem uma notícia boa e uma ruim.
— Diz logo!
— A boa é que prenderam os bandidos, e nenhum refém se feriu. A
notícia ruim é que teve um confronto com os bandidos, e o David foi atingido.
Não se sabe o estado dele. Foi encaminhado para o hospital que ele tem
convênio.
— Caralho! Está dispensada. Mantenha-me informado sobre qualquer
novidade. Ligue antes para a casa da Paula e informe lá. Estou indo para o
hospital.
Sinto meu peito apertar. Estou desesperado. Este dia estava ruim e ficou
pior.
O que tinha para ser um bom dia, virou um pesadelo. Quando Liziara me
ligou, estava comendo em um restaurante perto do hospital com minha tia. Corri
para o hospital sem pensar duas vezes. Fico aliviada por saber que David está
bem. Tenho muito carinho por ele, afinal, é esposo da minha melhor amiga e pai
das minhas afilhadas.
Quando chego na dona Paula, Jurema e os seguranças perguntam
agoniados por notícias do David, e digo a eles que foi um susto, mas a cirurgia
correu bem e não foi nada grave. Vejo o carinho que todos têm pela família que
são seus patrões, pois ficam aliviados com a notícia.
Digo para dona Jurema que pode ir embora, e com muito custo ela se vai.
Ela informou que as meninas já mamaram. Elas estão dormindo no quarto do
David. E fico com elas na cama. E pensar que poderiam ter perdido o pai tão
novas. Melhor nem pensar. Deus as livre de algo tão difícil assim.
Tia Jaqueline sai de férias, mas o trabalho não sai dela. Aquela mulher
ama sua profissão e faz de tudo por ela. Me orgulho disso, pois é uma profissão
linda, e merece profissionais bons como ela.
Porém, só um rosto me vem à mente sem parar: Marcos.
Nunca o vi tão abatido como hoje. Parecia tão frágil, ali sentado sem
ação, com o olhar perdido. É estranho ver um homem que conheço há um bom
tempo e sei que é sempre de ação, grosso, de atitude, e hoje o vi daquela forma.
Esse juiz de quinta está mexendo com minha mente há um bom tempo. Droga!
Sinto meu olho pesar. Acordei cedo, e o dia foi longo. Estou exausta.
Levanto da cama e a empurro com cuidado para que fique encostada na parede, e
assim ter certeza de que as meninas não vão se mexer e cair. Ajeito elas certinho
na cama e me deito novamente. Estou realmente cansada.
O dia de ontem foi terrível. Torço para que o de hoje seja bom.
Estou no hospital. Todos já foram visitar David, eu fiquei por último, mas
tenho que ser rápido, tenho audiência em breve.
Entro no quarto e ele me olha. Está com uma péssima aparência, o que é
difícil para eu ver, pois sempre o vi forte, determinado, sorrindo por aí.
— Não foi dessa vez que se livrou de mim — ele diz, rindo.
— Nem pense nisso. Quer me matar do coração, cacete? Que não tenha
uma próxima vez, David Escobar, ou serei eu a tentar te matar! — digo
seriamente.
— Não posso prometer.
— Como se sente?
— Bem, mas querendo ir embora, ficar com minha mulher e minhas
filhas. E voltar ao trabalho. Porém, ficarei uns dias sem poder entrar em ação, só
ficando nos bastidores. Recebo alta amanhã, o que é um alívio. Se eu tiver que
aguentar mais uma enfermeira derrubando remédios, se engasgando quando vai
falar, ou ficando parada me olhando como se eu fosse um bife bem suculento, eu
me suicido.
Rio.
— Está rodeado de mulheres e ainda reclama? Porra, quem é você e o
que fez com o David? — provoco.
— Não vou mentir, me deparo sempre com mulheres lindas, gostosas,
que em outros tempos eu as levaria para a cama, porém em casa tem uma mais
linda, mais gostosa, que amo, e não a trocaria por nenhuma outra.
— Vou vomitar ali um pouco, e já venho. Essa declaração me fez ver
unicórnios.
Ele revira os olhos e sorri.
— Fiquei sabendo que a tia da Beatriz ajudou. Liziara me contou hoje,
antes de eu expulsar ela, que não queria ir embora de jeito algum.
— Essa é sua mulher, uma porra-louca teimosa. Quando eu digo,
ninguém me dá atenção. E sim, ajudou.
— Levou a Beatriz para casa. Mandou o Simon levar o carro para ela
hoje... — diz e ri.
— Puta que pariu, as notícias correm nessa família! Sim a levei, o que
não tem nada de mais. Só não queria ter que acompanhar todos a um hospital
novamente, porque ela bateu o carro. Ela estava cansada, não ouviu nem a
Daiane e a Ana chegando e pegando a Helena e a Laura, imagine dirigindo?
Partiria o carro ao meio.
— E agora preocupado com ela? Quem é você e o que fez com o
Marcos? — ele me provoca.
— É, você está bem, perdeu até o medo de morrer. Vou indo, alguém
aqui trabalha.
Festa, tudo o que eu não queria. Ainda mais quando, o que era para ser
entre família, ficou entre o Brasil inteiro.
Porra, Daiane e Paula não sabem fazer nada simples?!
Estou jogado no sofá da sala da Paula, vendo o pessoal do buffet para lá e
para cá, e Paula e Daiane dando ordens. Não tenho paciência para isso não.
— Cadê a Ana Louise? Ela disse que viria ajudar. Vou enforcá-la —
Daiane diz digitando algo no celular.
— Ela faz bem em não estar nesta loucura. E cadê o David e família?
— Não queremos eles aqui antes da festa, pois é para o David, não quero
nem ele e nem a Liziara ajudando. E você, por que não está fazendo nada?
Poderia estar conferindo o moço que vai cuidar das bebidas e ver se está tudo
certo.
— Eu poderia. Mas não irei. Estou cansado. Ontem foi um inferno aquela
maldita audiência e correndo atrás de um caso para o Henrique.
— Vocês, homens, são todos moles... — Desvia o olhar de mim. — Não!
Essas coisas devem ficar lá fora! — ela grita para um rapaz com caixas passando
pela sala. Coitado! — Mãe, liga para a Louise! — ela grita e sai da sala.
Porra, que tanto grita?! Maldita hora que falei que ficaria aqui com elas.
O telefone começa a tocar, mas não tenho tempo de atender, pois a
Jurema atende e me traz.
— Senhor, é a Beatriz. — Pego o telefone.
— Senhor está no túmulo. Que porra, mulher, desapegue disso!
— Não, não! E olha a boca! — Ela se retira e rio.
Deito novamente no sofá e coloco o telefone na orelha.
— Oi — digo.
— Marcos? Isso é perseguição.
— Você que ligou. Então você que está perseguindo! Diga o que quer?
— Quero falar com a Paula, Liziara... Qualquer uma das mulheres que
devem estar por aí.
— Só está a Paula e a Daiane e não me atrevo a chamá-las para nada,
pois tenho amor as minhas bolas.
— Não tenho um pingo de interesse de saber do amor por suas bolas.
Estou tentando falar com a Liziara, mas não consigo. Avise, por favor, que irei
com minha tia.
— Vai pra porra! E precisa avisar algo? Sabe que te tratam como da
família, não fode minha paciência e humor com isso.
— Avisa! E me respeita, seu juiz de quinta.
— Juiz de quinta, mas o pau é de primeira!
— Eu não ouvi isso! Tchau! — Ela desliga e começo a rir.
Essa noite você não me escapa!
Já são 22h, e isso aqui parece mais um metrô na parte da manhã, do que
uma festa. De onde veio tanta gente?
— Senhor Marcos Escobar, juiz mais amado pelas mulheres e odiado
pelos réus. — E a noite acaba de piorar.
— Henrique, você não tem uma filha ou uma esposa para cuidar?
— Minha esposa está lá fora com a Daiane e a Liziara, e minha filha
dormindo.
— E eu saindo... — mas sou interrompido por uma morena que se
aproxima e cumprimenta a mim e ao Henrique. E não, eu não sei quem é ela.
— Henrique... — ela diz toda manhosa. Olho para a cara dele e rio. Está
fodido se Ana Louise aparecer.
— Oi. — Pelo tom da voz dele, sabe quem é, mas não sabe o nome.
— Sumiu. Não apareceu mais na boate. — Ele engole em seco. —
Saudades, amor! — Ela acaricia o braço dele. Eu não me aguento e me viro para
o lado para disfarçar o riso. Ele está pálido.
Vejo Ana Louise vindo, e parece que está indo para a guerra. Isso vai
ficar melhor ainda. Nunca imaginei me divertir tanto em poucos segundos.
— Eu... Então... Melhor sair enquanto é tempo, tenho uma fera como
esposa. — Ele retira a mão dela do braço dele. Coloco a mão no bolso.
Ana Louise para ao lado dele e olha a morena de cima a baixo.
— Cuidado, nem sempre minhas pernas servem apenas para andar. Na
maioria das vezes é para chutar o rosto de oferecidas como você. — A morena
olha assustada.
— Eu disse a você que eu tinha uma fera! — Henrique diz.
— Lá fora e agora, Henrique Escobar! — Ana diz, e se afasta.
A morena baixa o olhar e fica mais sem jeito do que já estava e eu adoro
ver isso.
— Se eu não voltar em três minutos, diga a minha filha que a amo —
Henrique fala e se retira.
— É, morena, nunca mexa com o homem de uma Escobar — digo a ela,
que se retira rapidamente.
Isso sim é festa! Henrique se estrepando... Escuto um riso atrás de mim e
me viro para ver quem é.
Meu olhar segue das suas pernas até o maldito vestido vermelho, colado
e justo ao seu corpo. Talvez eu tenha ficado tempo demais olhando, pois ela
pigarreia. Continuo o trajeto com o olhar até parar em seu rosto. Essa mulher vai
foder comigo!
Preciso manter a postura, porra!
Beatriz me olha e ri ainda mais.
— Virei dentista agora, para ficar rindo? — pergunto a ela.
— Não — ela responde e bebe sua bebida para disfarçar o riso.
— E por que ri então?
— Porque você realmente está ficando para "titio". Depois de dizer a
moça "nunca mexa com o homem de uma Escobar", me fez perceber que você é
o único homem Escobar, velho, mal-humorado e sozinho — provoca.
Em seguida, ela me entrega a taça e se afasta, rindo.
— Beatriz Ferreira de Oliveira, você me paga! Titio, é uma porra!
Eu não acredito que essa porra veio até aqui para me provocar. Isso não
vai ficar assim. Agora ela conseguiu me irritar!
Entrego as taças para um garçom que passa.
Saio para o lado de fora, onde o som está bem alto. Daiane não mentiu
quando disse que teria DJ, e colocariam a casa abaixo.
Dou de cara com a Débora, que está com uma bebida na mão. Qual o
problema dessas mulheres para comprarem roupas faltando pano? A outra, com
um vestido que parece uma blusa; e essa, com um short que parece uma
calcinha. Se Daiane estiver nua, não irei me impressionar.
— Vai matar quem? — pergunta rindo.
— Está tão óbvio que estou irritado?
— Sim.
— Então por que está falando comigo?
— Seu humor é foda!
Começa a tocar outra música.
— Se quem está procurando for a Beatriz, ela está ali — aponta na
direção — dançando com as meninas e a tia dela.
— E quem disse a você que procuro ela?
— Intuição feminina. Vai, homem. Vamos nos divertir. — Ela me puxa.
Vamos até onde estão as meninas dançando e os rapazes conversando.
— Sofre no presente por causa do seu passado. Do que adianta chorar
pelo leite derramado. — Débora canta junto com a música e sei que é para me
provocar mais.
Beatriz ainda não nota minha presença. Aproximo-me do David, que está
com o Cleber.
— Posso saber o que fazia com minha mulher? — Cleber pergunta.
— Tentando me livrar dela, mas o que posso fazer, se ela não resiste ao
que já provou? — Ele tenta vir até a mim, mas o David segura.
— Hoje não, caralho! — David diz.
Beatriz dá um passo para trás e acaba batendo as costas em mim.
— Ai, des... — ela vai pedir desculpa, mas desiste quando me vê.
Viro-a para mim. E foda-se, sei que as meninas olham e os rapazes
também e que está lotado de gente. Ela me olha assustada.
— Titio, Beatriz, é uma porra!
Ela vai responder, mas não permito.
Seguro-a com mais força, e a beijo. No início, ela não corresponde, mas
logo o faz. Mergulho com força minha língua e a dela se encontra com a minha.
Escuto o berro da Liziara e da Débora, mas não me importo. Desço minha mão
até a altura da sua bunda, enquanto permaneço com a outra em sua nuca. Seus
braços contornam meu pescoço e ela pressiona ainda mais em mim, soltando um
gemido em meus lábios.
— Caralho! Eu bebi demais, só pode. Beatriz e Marcos! — Henrique
grita. Beatriz se afasta no mesmo instante.
Ela olha para mim e depois para todos, mas sai em disparada para o
jardim dos fundos.
— Fiz merda? — Henrique pergunta.
— Eu... — não consigo responder. Apenas me afasto, indo à procura da
Beatriz.
Porra!
Encosto-me na árvore, do jardim. Escuto a música de longe. Que merda
eu fiz?! Inferno! Isso não podia ter acontecido! Henrique salvou a pátria. Que
vergonha, na frente de todos, e ainda gemi. Que ódio de mim! Não vou
conseguir olhar na cara de ninguém mais.
Assusto-me quando alguém toca meu braço. Mas reconheço seu perfume.
— Marcos, me deixe sozinha, por favor.
— Queria eu ser capaz disso. Olhe para mim, por favor. — Ele me solta e
então me viro para ele e só consigo me perder em seus olhos lindos.
— O que aconteceu...
— Foi um erro, eu sei.
— Não diga isso. Bata na minha cara, mas jamais repita isso a mim. Não
foi um erro. Foram dois adultos se beijando e que sabiam o que estavam
sentindo.
— Marcos, entenda...
— Entenda você. Eu não brinquei quando disse aquilo no almoço para
você. Eu não brinquei quando te beijei agora...
— Eu estou confusa. Só preciso ficar sozinha — sussurro.
— Você não está confusa. Sabe o que sentiu agora há pouco, pois foi o
mesmo que eu. Porque, se aquele beijo não tivesse tido nenhuma importância,
não teria fugido.
Sinto um frio na barriga.
— Marcos. A gente sempre implicou um com o outro. Eu não posso...
Não faz sentido. Eu não quero ser brinquedo de ninguém, e não posso ter
ninguém, não agora. Então...
— Cale a boca e me ouve, porra! Qual a parte que você ainda não
entendeu que algo está acontecendo entre nós e não é de hoje? Sou homem o
suficiente para te confessar que você mexe comigo, e isso tem me deixado louco.
Beatriz, eu... — ele tem dificuldade em dizer.
— Você o quê, Marcos? — pergunto com os olhos marejados. Não posso
chorar, não agora.
— Eu me apaixonei por você.
— Você não pode dizer isso. Não se brinca assim com as pessoas.
— Você calada é muito mais linda.
Ele me agarra e invade minha boca com a sua. Não consigo resistir.
Afinal, é nestes braços que eu quero estar.
Beijo-o, mas, desta vez, é um beijo tranquilo... Leve. Suas mãos apertam
minha cintura. Ele encosta na árvore comigo ainda em seus braços, encaixa-me
entre suas pernas e continua me beijando.
Seu beijo apenas confirma tudo o que ele me diz. O juiz de quinta
realmente diz a verdade.
As lágrimas escorrem por meu rosto e deixa o beijo salgado. Afastamos
nossos lábios. Ele me olha e seu olhar é diferente, difícil de explicar. Em
seguida, enxuga minhas lágrimas.
— Não chora. Se soubesse o quanto é linda sorrindo, jamais derramaria
uma lágrima.
— Não estou chorando de tristeza. Eu nem sei por que estou chorando.
Ele sorri.
— Eu não minto em relação aos meus sentimentos, porque já sofri
demais no passado, e não desejo aquela dor a ninguém.
— Por que eu?
Ele sorri novamente.
— Porque foi a única que não correu atrás de mim. Foi a única que
mostrou o sorriso e a fúria ao invés dos seios. Foi a única que teve coragem de
me chamar de juiz de quinta e a única que fica vermelha após me beijar, e é
tímida quando me beija. — Sorrio envergonhada. — E é a única que vi uma
beleza que nunca vi em nenhuma outra.
— Marcos... Não sou as mulheres que você está acostumado. Não aceito
que brinque comigo. Não sou uma mulher da lei, e muito menos sei lidar com
uma arma. Não sou rica, e curto muito pouco baladas, ou beber. E prometi a mim
que abriria meu coração no momento certo, e não seria a qualquer um.
— E é por tudo isso que você conseguiu me conquistar. Eu jamais
ousaria brincar com os seus sentimentos ou de qualquer mulher. E tem mais, será
um prazer não ter uma mulher que ande armada. Vejo o que meus sobrinhos
sofrem.
Rio.
— Parece mentira. Nós dois aqui... — Sorrio.
— O juiz de quinta é irresistível. Confessa, delícia! — Ele me dá um
beijo leve nos lábios.
— Convencido, sim. Irresistível? Não.
— Não me provoca! Quem assina a sentença sou eu e a sua pode ser
longa e peculiar.
— E eu não tenho unhas grandes à toa.
— Adoraria que testasse elas em meu corpo.
Tenho certeza de que fiquei roxa.
— Fica linda quando está tímida. Eu disse, delícia. — Ele ri.
— O casal fora da lei poderia vir para festa? Depois planejam os filhos e
o casamento! — David grita.
— David! — Paula e Liziara dizem juntas.
— Vamos, ou vão vir até aqui, pode acreditar.
— Não duvido, se tratando da Paula e Liziara.
— Tenho que cuidar de certo sobrinho. Henrique só fode. Aparece
quando não tem que aparecer. Esse porra me paga.
Rio.
— Não sei com que cara vou olhar para eles. Estou morrendo de
vergonha.
— Com a cara de que foi beijada por mim, e que se não tivesse ninguém
ali, teria sido fodida por mim.
Certo, agora eu fiquei roxa de vez.
— Nunca vou me acostumar com seu jeito.
— Pois se acostume, delícia. Vamos logo! — Ele segura minha mão e
começamos a retornar à festa.
Eu juro que ainda estou achando que é algum tipo de sonho, e que irei
acordar logo.
Capítulo 6
Pego tudo o que ele pede e desço. Ele está na sala com uma garrafa de
vinho na mão.
Jogo um travesseiro na direção dele, mas o imbecil tem um bom reflexo e
segura rapidamente.
— Vamos — ele diz.
Acompanho-o, seja lá aonde for que estamos indo.
Não demora muito e nos aproximamos de um lugar lindo onde tem um
rio, onde a luz da lua reflete.
— Que lindo! — digo e ele sorri.
— Um dos meus lugares prediletos aqui.
Ele coloca a garrafa no chão e me entrega o travesseiro.
Pega o cobertor e forra o chão, coloca os travesseiros nele e deixa o
lençol dobrado na ponta.
Ele se deita e sorri.
— Vem, eu não irei te engolir. Apenas te trouxe aqui para curtir um
pouco da tranquilidade. Esse lugar traz paz, e você precisa disso.
Deito no travesseiro ao seu lado, e ajeito o vestido que sobe um pouco.
Olho para o céu onde tenho uma bela visão da lua. É realmente tranquilizador
aqui.
— Nunca tinha visto este lugar nas vezes que vim aqui — digo e olho
para ele.
— Nunca quis ir onde eu estava. — Ele sorri.
— Tenho que concordar.
Ficamos em silêncio por um tempo, perdido em nossos pensamentos.
— Me diz a verdade. Por que saiu da casa daquele jeito e foi para o
carro? — interrompo o silêncio.
Ele coloca um braço atrás da cabeça e me olha sorrindo.
— Você é bem insistente.
Concordo.
— É que, de repente, tive algumas lembranças do passado, que ainda
machucam.
— Quer falar sobre isso?
— Não posso, não agora.
Ele olha para o rio e fica sério e me sinto culpada por ter tocado no
assunto, talvez seja bem difícil para ele.
— Por que me trouxe para cá? Poderia ter ficado na cidade mesmo, na
Paula, qualquer outro lugar, se o problema é segurança.
— Porque eu queria ficar sozinho com você.
Engulo em seco e olho para ele, que me olha atentamente.
— Minha tia está aqui também.
— Não aqui. — Ele vira o corpo para mim e apoia a cabeça na mão.
Com a outra mão acaricia meu rosto.
— Eu estou com medo — deixo sair o que eu realmente sinto.
— Não fique. Daremos um jeito no Edson.
— Não me refiro a ele, pois sei que ele vai pagar, os Escobar não falham.
Eu me refiro a você.
— Está com medo de mim? — pergunta preocupado.
— Estou com medo do que você despertou em mim, Marcos.
— E o que eu despertei, Beatriz? — pergunta aproximando seu rosto do
meu.
— Eu devo estar louca, pelo que irei dizer, mas acredito que eu realmente
me apaixonei por você.
— Pensei que nunca iria perceber! — Ri.
— Não ria. É sério. Toda vez que está por perto, sinto algo diferente.
Você me deixa diferente. Eu...
— O sentimento é recíproco.
E com essas palavras, ele me beija apaixonadamente. Seu corpo se
aproxima do meu, e minha mão toca seu rosto. Sinto a sensação de adrenalina,
como se eu estivesse em uma montanha-russa que acaba de descer do ponto mais
alto.
Ele desce a mão pelo meu corpo, até minha perna, que ele puxa para
cima da sua.
— Me deixe... — ele diz entre o beijo, mas não permito que termine o
que vai dizer, pois sei o que é e eu quero.
— Sim.
Não paro para pensar, porque sei que o medo pode me fazer desistir. Ele
junta ainda mais nossos corpos. Sua mão sobe por baixo do meu vestido,
passando por minha bunda, onde ele aperta me causando um forte arrepio. Sua
língua chupa a minha com uma força bruta e sexy. Ele desce até meu pescoço
onde beija me fazendo inclinar a cabeça para trás. Seu beijo sobe lentamente até
minha orelha onde ele morde levemente e solto um gemido baixo.
Ele me vira, subindo em cima de mim, e com isso meu vestido sobe
deixando minha calcinha à mostra.
Não precisamos de palavras no momento, apenas olhares mostrando o
desejo crescendo cada vez mais. Ele retira a camisa e joga ao lado. Admiro suas
tatuagens e seu físico.
— Espero que não tenha muito apego por este vestido.
Ele puxa o vestido com força e as alças estouram. Com isso ele retira o
mesmo, me deixando apenas de calcinha e sutiã. Se levanta e seu olhar é
diferente, me traz um calor inexplicável. Ele retira a calça sem tirar os olhos dos
meus. Sua cueca marca visivelmente o seu membro duro. A lua reflete sobre seu
corpo e isso deixa a visão mais adorável ainda. Sem cerimônia, ele tira a cueca
revelando o quão grande e duro está. Isso me excita ainda mais, e sinto minha
calcinha se molhando. Ele se ajoelha retirando minha calcinha, e o mesmo faz
com o sutiã, logo em seguida abre minhas pernas, me deixando completamente
exposta para ele.
— É linda — diz com a voz rouca.
De repente, a vergonha me invade, tento fechar as pernas, mas ele
impede.
— Nunca, a partir de hoje, feche as pernas para mim, ou sinta vergonha
diante de mim por estar nua. Você é linda, e a cada segundo que passa me deixa
ainda mais duro, apenas por te olhar.
E era tudo o que minha coragem precisava ouvir para se manifestar, e
assim, abro bem minhas pernas e ele sorri maliciosamente. Se encaixa entre elas,
e ataca meu seio chupando com força e me fazendo fechar os olhos e gemer em
resposta.
— Olhe para mim, delícia. Você é mais gostosa ainda quando está louca
de tesão. — Abro os olhos, e ele retorna a sua tortura.
Ele segura seu membro rígido, e começa a esfregar no meu clitóris,
completamente molhado de desejo, enquanto chupa agora meu outro seio.
— Marcos... — digo seu nome, sem nem saber porque, apenas sai. Estou
fora de raciocínio.
Ele larga meu seio, e continua seu trabalho de massagear excitantemente
meu clitóris, só que desta vez mais rápido, me fazendo perder o controle sobre
meus gemidos e sobre meu corpo. Me ofereço mais para ele. Preciso de mais,
muito mais.
— Sei o que quer, apenas preciso saber se toma anticoncepcional, ou é
pedir para o gozo não ser abençoado, porque não colocarei a porra de uma
camisinha agora — ele diz sem parar o que está fazendo.
— Eu tomo... — digo com dificuldade.
— Ótimo. Porque está na hora de você sentir o pau do juiz de quinta e
gozar nele — diz com a voz rouca de desejo.
Ele me penetra e gemo alto de prazer. E quando penso que vai inclinar o
corpo sobre mim, ele ergue minhas pernas, colocando em seus ombros, e assim
sinto ainda mais fundo dentro de mim. Ele segura minha cintura com força, e
começa com movimentos fortes de vai e vem. Agarro o cobertor e gemo sem me
importar com a altura que deve estar. O barulho de nossos corpos se chocando
um contra o outro é ainda mais excitante. O suor começa a escorrer a cada
penetração.
Ele desce minhas pernas e, desta vez, se inclina sobre mim sem deixar de
me penetrar. Agarro seus ombros, e ele começa a me beijar. Minha mão segue o
percurso de suas costas, onde passo minhas unhas, e ele geme, afastando-se dos
meus lábios.
Sinto que não irei mais aguentar, e o agarro com força. E assim começo a
gozar disparando gritos involuntários.
— Minha delícia! — ele diz e me penetra com mais força ainda, e posso
sentir seu gozo jorrar fortemente dentro de mim.
Ficamos assim, por alguns segundos, e sinto como se eu tivesse corrido
uma maratona. Ele me olha e sorri com carinho, em seguida me dá um beijo leve
nos lábios. Sai de dentro de mim com cuidado, e pega a garrafa de vinho
retirando a rolha que já se encontrava aberta.
— Acho que esqueceu a taça — digo ainda mole.
— E quem disse que irei beber na taça? — Seu olhar é de um predador
em caça.
— Marcos, o que vai...
Não tenho tempo de dizer, pois sinto o líquido frio escorrer por minha
intimidade, e a sensação é... deliciosa.
Ele se inclina e molha os lábios com a língua.
— Marcos...
— Para que taça, quando se tem sua boceta, onde posso beber muito
melhor o vinho?
E com essas palavras, ele se inclina e começa a me chupar. O fogo se
reacende dentro de mim. Ele chupa com força, e isso é dolorido, mas muito
gostoso.
Ele derrama mais vinho, só que dessa vez por todo meu corpo, e lambe
cada parte que o líquido escorre. E vai subindo até minha boca.
— Abre a boca, amor — ele diz e faço.
Derrama o vinho nela e coloca a garrafa de lado. Sua boca invade a
minha, e nosso beijo é preenchido pelo sabor do vinho, que escorre por minha
boca e meu corpo. Ele fica duro novamente, e faz questão de se esfregar em
mim, para me deixar mais louca do que já estou ficando.
— Abre bem as pernas, e não ouse fechar. — Nessa altura da situação,
não ouso nada, apenas quero ele.
Abro as pernas como ele pede, e volta a me chupar, só que desta vez me
preenche com seu dedo, e com a mão livre esfrega o bico do meu seio. A
sensação é diferente, nunca senti antes. Seu dedo me penetra na mesma
intensidade que ele me chupa.
— Marcos! — grito, e me contorço.
Ele não para, e aprofunda cada vez mais me deixando mais louca. Minha
garganta fica seca, assim como meus lábios, travo meus pés no chão, e cravo
minhas unhas no cobertor. Não tenho mais como aguentar. É mais forte que tudo
que já senti. Sinto meu ventre se contrair, e inclino a cabeça. Começo a gritar de
prazer e a tremer como uma louca, e ele não para. Tento fechar as pernas, mas
não consigo. Sou atingida por um forte orgasmo, que me faz gozar em seus
dedos. Ele lambe tudo.
Estou desnorteada, e com uma sensação maravilhosa. Olho para ele, que
me olha satisfeito e então se encaixa entre minhas pernas.
— Marcos, eu não aguento... mais nada.
— Aguenta sim, e sabe disso. — Então ele me penetra com calma, e é
automático, minhas mãos o agarram.
Desta vez ele é calmo, mas mesmo assim é gostoso. Seu olhar é fixo no
meu. Sua boca alcança a minha e nos beijamos, sem pressa. Fazemos amor. Ele
se vira, deixando-me por cima dele, sem sair de dentro de mim. Está tudo
perfeito.
— Eu já disse e repito, eu estou apaixonado por você — ele diz, e sorrio
com sua declaração.
— E eu por você, juiz de quinta. Quem diria?!
Sua boca ataca a minha novamente, e passamos a noite assim, nos
amando sem importar com a hora, o vento que começou, ou com qualquer outra
coisa.
Capítulo 8
Edson atira, mas erra. Esse idiota não sabe atirar, ele não tem autorização
para andar armado. Ele olha com raiva para a parede que acertou o tiro.
Aproveito esta brecha e dou um chute em sua mão fazendo ele derrubar a arma.
Simon se aproxima rapidamente e o imobiliza.
— Senhor... Olhe!
Viro-me para onde Simon indica, e vejo meu mundo ir ao chão. Beatriz
está caída, apagada. Está completamente pálida.
— Tirem esse filho da puta daqui!
Os seguranças da universidade pegam o Edson do Simon.
— Seus idiotas, me soltem! — Edson grita.
— Soltar você? Nem tão cedo! Peguem ele e recolham a arma — David
diz entrando no banheiro com policiais.
— Senhor, temos que tirar ela daqui — Simon diz.
Aproximo-me dela e confiro seu pulso, está fraco... Porra, está fraco!
— Foi culpa minha. Eu não devia ter vindo aqui... Eu a empurrei... Porra!
— Marcos, ela precisa de um médico, e você delegacia. Agora! — David
diz. — Você tinha que ter vindo aqui, cacete?! Me desculpe, mas tenho que agir
como delegado.
— Não irei a porra nenhuma! — digo. Pego ela no colo.
Saio do banheiro e caminho sob o olhar de todos até o estacionamento.
Semanas depois...
Visto meu short e vou atender a porta, pois a campainha não para de
tocar. Sei bem quem é. Acabei de sair do banho correndo, porque a pessoa do
lado de fora é impaciente e, pela minha demora, deve estar pensando mil merdas,
e todas envolvem eu com um assassino em casa, porque é bem a cara dele pensar
loucuras do tipo.
Abro a porta, e ele me dá um beijo rápido nos lábios. Ele entra e eu fecho
a porta. Retira as coisas do bolso e se senta no sofá.
— Eu quero a chave daqui — ele diz me fazendo revirar os olhos, pois
não aguento mais esse assunto nessas últimas semanas.
— Já disse que não vou dar. Não tenho da sua, por que quer tanto da
minha? — Deito no outro sofá.
— Você não precisa de chave para entrar na minha casa. Tenho
seguranças lá vinte e quatro horas, ela fica aberta, e você tem autorização de
entrar com ou sem mim lá. E respondendo sua pergunta, é porque toda vez que
venho aqui fico uma porra de um século esperando você abrir essa merda.
— Falando nessa educação, até me convence — digo com ironia e ele me
olha quase que me fuzilando.
— Sabe que posso conseguir a chave daqui, não é?
— Sei. E se fizer isso, te denuncio a polícia, e a denúncia não vai ser com
o David.
— Não seria capaz!
— Testa para ver.
— Cuidado, amor, quem assina a sentença sou eu e a sua pode ser longa
e peculiar.
— Minhas unhas não são grandes à toa, Marcos. — Ele sorri.
— Está tranquilo por aqui...
— Minha tia reencontrou uma amiga de muitos anos atrás e passou a
noite na casa dela.
— Entendi. Voltando ao assunto das chaves, por que não quer me dar?
Me fala a real razão.
— Porque não estou a fim de chegar em casa e encontrar o exército aqui
dentro!
— Até que não é uma má ideia, mas infelizmente não tenho poder para
tanto — ele provoca.
— Marcos! Chega desse assunto. O que veio fazer aqui? Não devia estar
trabalhando?
— O caso do Edson vai para julgamento. Descobriram muita merda dele.
Quando ele foi preso e a noticia percorreu, várias mulheres procuraram a
delegacia para denunciá-lo. O filho da puta tinha um amigo dentro da polícia, e o
cara tinha um nível de poder alto e por isso Edson sempre ficava impune, o
amigo dele também está fodido. Edson é um tarado que merecia ter o pau
cortado ao invés de apenas pegar tempos de prisão.
— Isso é maravilhoso! Ele tem que pagar o que fez comigo, e com essas
moças.
— E vai pagar! Porém, eu preciso ser o juiz desse caso, mas estão me
privando. Não querem, porque se trata do cara que minha namorada teve
problemas. Estão dizendo que não irei agir com a razão e com profissionalismo.
Tenho que fazer de tudo, porque é apenas essa semana, na sexta-feira eles vão
dizer quem vai ser o juiz e, em poucos dias, marcar a data do julgamento.
— E estão certos. Esquece esse homem. A justiça vai cobrar dele.
— Não irei esquecer. Ele mexeu com a pessoa errada, e não é apenas por
você, é por todas as outras que ele fez o que fez. Eu preciso ser o juiz do caso,
mas estão vendo outros juízes.
— Eu acho ótimo. Não quero que você se envolva em mais nada que
ligue ao Edson. Eu vi o que aconteceu da última vez, e foi por um milagre que
tudo não acabou em uma grande tragédia. Vamos seguir nossa vida e torcer
muito para que ele pegue muito tempo na cadeia.
— Beatriz...
— Chega. Eu não quero. Você não vai agir com profissionalismo, eu sei
disso, porque quando fala dele ainda tem o mesmo ódio nas palavras e na
expressão. Não vai colocar sua carreira em risco novamente. Você quase se
prejudicou da última vez, então não vai se meter nisso. E não falo isso apenas
como Beatriz, digo isso como sua namorada também. Da mesma forma que você
deseja que eu siga as coisas que manda, eu quero que faça o que estou
mandando. Final de semana é meu aniversário e eu só quero passar essa semana
na mais pura paz, com dias normais, até chegar final de semana e eu assim
envelhecer com tranquilidade e não infartando porque meu namorado está louco
querendo matar um idiota. Então não, você não vai ser o juiz!
— Me peça qualquer coisa, menos isso.
— Seja apenas o Marcos essa semana e não o juiz, por favor?
— É o pacote, amor. Fica com um e ganha o outro.
— Marcos, por favor, só seja um homem normal, essa semana.
Ele se levanta e sobe em cima de mim.
— Por você, apenas por você farei isso. Posso ser um homem normal
essa semana, desde que você fique comigo a semana toda.
— Por mim tudo bem. Minha tia vai embora amanhã, então fica mais
fácil.
— Certo!
Ele me beija com completo desejo. Pressiona meu corpo com o seu. Uma
de suas mãos vai para minha perna e ele a acaricia. Seguro seu rosto com ambas
as mãos. Sinto sua ereção e isso me excita.
— Tenho que passar no escritório e pegar alguns papéis para estudar um
caso em casa e tem que ser agora, porque tenho que assinar algumas coisas
urgentes para a Débora cuidar.
— Não pode fazer isso comigo. Me atiçar e dizer que tem que ir!
— Vamos comigo. De lá, vamos para a minha casa e você não vai sair da
minha cama tão cedo. E eu que teria que reclamar, sou eu que vou dirigir de pau
duro.
— Preciso pegar minha bolsa, e trocar de roupa.
— Não precisa trocar de roupa. Não vou ficar por lá, e mesmo que eu
fosse, pouco me importaria você estar de short e camiseta, é minha namorada, se
quiser ir até meu escritório de pijama tem permissão. Agora seja rápida, porque
você embaixo de mim está me deixando cada vez mais duro. — Ele se levanta e
se senta no sofá. O volume em sua calça jeans é visível e isso me faz sorrir.
Meses depois...
Acordo com o despertador, e Beatriz não está na cama. Levanto e vou até
o banheiro. Escovo os dentes, faço minha necessidade e entro no chuveiro.
Odeio quando acordo com dor de cabeça, porque fico o resto do dia em um
completo mau humor.
Saio do banho, enrolo a toalha na cintura e vou para o quarto. Beatriz
está nele agora, e encolhida na cama.
— Aconteceu algo? — pergunto preocupado.
— Cólica. Estou naqueles malditos dias. Que ódio!
— Começou hoje? — pergunto entrando no closet.
— Sim — ela diz alto para que eu ouça. — Por quê?
Pego a roupa que vou usar, e retorno ao quarto.
— Curiosidade, apenas.
— Sei... Pior que hoje tenho entrevista de emprego. Que raiva que estou.
Tenho que passar na minha casa, para me arrumar e tomar remédio para ver se
essa cólica passa logo.
— Está tomando o anticoncepcional ainda? — pergunto enquanto visto a
cueca.
— Óbvio. Por que tantas perguntas? Algum tipo de julgamento aqui? —
pergunta sorrindo.
— Não — respondo, e sei que fui seco.
— Marcos, o que foi? Quem está na TPM sou eu.
— Dor de cabeça. Só isso. Vai querer carona para sua casa?
— Não. Vou com meu carro, vou precisar dele hoje, então não dá para
deixar ele aqui de novo.
— Vou pedir ao Simon que deixe algum segurança com você.
— Como eu sei que mesmo dizendo que não quero, você vai fazer, então
nem irei discutir.
— Ótimo. — Visto a calça jeans preta.
— Marcos, olha para mim. — Faço o que pede — O que foi? Ficou
assim por que estou menstruada e vai ficar sem sexo por dias? Se bem que deve
estar acostumado, porque ficou três semanas, depois do evento que encontrou
suas “putianes”.
— Já disse que é apenas dor de cabeça. — Visto a camisa branca que
peguei.
— Não vai de terno hoje?
— Não. Ficarei apenas no escritório.
Ela se levanta e caminha até a mim, parando na minha frente. Coloca os
braços ao redor do meu pescoço.
— Me fala logo o porquê do mau humor?
— Dor de cabeça. — Dou um beijo nela e me afasto para terminar de me
arrumar.
— Vou fingir que acredito. Deixa eu me arrumar, porque ainda vou
passar em casa. — Ela entra no banheiro.
Saio do quarto e vou para a cozinha. A raiva está me deixando com mais
dor de cabeça. Vejo que ela preparou café. Pego uma caneca e encho com ele.
Caminho até a porta de vidro que dá acesso ao jardim nos fundos e me
encosto com a caneca em mãos.
O tempo está passando. Cada dia é um dia a menos de aproveitar. Parece
que a cada dia que se passa as chances de me tornar o que sempre quis ficam
longe. Estou começando a ficar cansado de persistir. Faz meses que estou
insistindo para ela vir morar comigo, fazendo de tudo para ela desistir do maldito
anticoncepcional. Porra, quando ela vai entender que eu não sou mais jovem, e
que vai chegar um dia que não terei mais capacidade de atuar na minha área, de
ter energia para fazer as coisas, e desta forma não ter mais tanto tempo ou
disposição para ter um filho? Ela sabe que não quero mais enrolações, que eu
quero algo sério, porque meu tempo logo se esgota, ainda mais com a carreira
que tenho.
Ela me abraça por trás.
— Café gelado é horrível. — Olho a caneca ainda cheia.
— Estava perdido em pensamentos.
— Posso saber quais?
— Nada que importe. Preciso terminar de me arrumar — respondo e
forço um sorriso.
— Tudo bem. Vou indo. Quando eu sair da entrevista te ligo. Me deseje
boa sorte.
— Não precisa de sorte. Vai se sair muito bem. Confio em você. — Ela
sorri. Beijo-a e cuido para não derrubar o café da caneca.
— Já falou com o Simon?
— Não. Me distraí. Pode sair e avisar que quer segurança com você.
— Ele vai querer que você diga.
— Na verdade, ele vai amar você pedindo, já que sempre expulsa ele.
— Ok. — Ela sai e fico olhando a porta se fechar.
Deixo a caneca dentro da pia. Vou para o quarto e termino de me
arrumar. Logo depois, vou para o escritório.
Vou para a minha casa. Troco a roupa por uma mais confortável. E tento
ligar novamente para o Marcos, porém só chama. Merda, odeio segurar as
novidades! Nada hoje pode sair fora dos planos! Tem que ser tudo uma grande
surpresa. Preciso me controlar, para não deixar escapar.
Ligo para o escritório dele e a Débora atende.
— Bia...
— Eu mesma! Marcos está ocupado? Estou ligando, porém só cai na
caixa postal.
— Ele... é... Está em reunião por videoconferência.
— Ah, sim. Quando ele tiver um tempinho, pede para me ligar, por
favor?
— Peço sim. Mas, Bia, vocês estão bem?
— Estamos sim... Por quê?
— Ele está meio estressado hoje. Fiquei preocupada.
— Ele está estranho comigo também. Deve ser algo do trabalho.
— Por falar em trabalho. Edson foi condenado a sete anos de prisão,
não só pelo que fez com você, mas por todas as merdas!
— Que bom! Merecia mais, porém a melhor justiça será a Divina.
— Com certeza! Assim que Marcos estiver livre, peço para te ligar.
— Obrigada! Beijos!
— Beijos! — Ela desliga.
Vou para o banheiro, e faço minha necessidade. Depois me deito toda
animada.
A campainha toca, e tenho vontade de xingar, porque acabo de me deitar.
Vou atender, mas desconfio ser a Liziara.
Abro a porta e é ela mesma.
— Esqueci a chave em casa! — diz sorrindo.
— Não é novidade. Vamos para o quarto.
Ela concorda e entra.
Entramos no quarto e me deito, enquanto ela deita de bruços nos pés da
cama.
— Conta tudo!
— Passei!
— Ai, que tudo, Bia! Estou tão feliz. Realizou seu sonho! Que bom!
— Sim, estou tão feliz.
— Você merecia esse emprego. Minha amiga trabalha em um banco
agora. Que chique. Inimigas vão chorar no recalque. — Rimos.
— E as meninas?
— Estão com a Paula, ela está de folga e quis ficar com as meninas.
— E você, como adivinhou que eu já tinha chegado?
— Torci. Porque, quando estava aqui perto, lembrei-me da chave.
Rio.
— Você não muda! Desastre completo.
— Sempre, querida! Antes que eu me esqueça. Soube da novidade?
— Não. Sou a pessoa mais desatualizada do mundo.
— Ana está grávida novamente.
— Mentira?! Henrique deve estar todo bobo! — Filho da mãe não me
falou nada hoje quando falei no caminho para entrevista, para ver se ele e David
já tinham feito o que pedi.
— Está sim. Estava na Paula quando eu soube da notícia. Paula pirou,
aquela ali ama crianças.
— Imagino! Ser avó é tudo para ela!
— Sim. Fiquei boba sabendo da novidade. Eles dois são tão fofos, e
agora pais novamente, vai ser incrível.
— Com certeza! Tomara que seja um menininho, assim faz casal!
— Sim! Essa família precisa de menino. Eu tive duas meninas, Ana uma
menina, não dá para vir mais meninas, os homens Escobar vão ficar loucos. —
Rimos.
— Vamos ver se vem um menino agora, aí sim Henrique vai ficar mais
bobo.
— Nem me fale. David vai pirar dizendo que jogaram praga nele, para
ter três mulheres na vida dele.
Gargalho.
— Bem a cara dele fazer isso!
— E você... Como anda o relacionamento com o senhor juiz gostosão?
— pergunta sorrindo maliciosamente.
— Estamos bem, tonta.
— Ele ainda continua com o papo de morarem juntos e terem filhos?
— Continua, mas no momento não dá. Quero fazer as coisas com calma,
uma de cada vez. Não quero correr e acabar tropeçando. Acho que as coisas têm
que acontecer em seu devido tempo — respondo meio desconfortável.
— Vai deixar o homem doido! Ele é louco por você. Dá logo um time de
futebol para ele e se casa, antes que ele enlouqueça. — Ela ri.
— O problema é que ele quer morar junto e ter filhos, nenhum momento
ele se referiu a casarmos e termos filhos. Quero as coisas corretas — tento soar
firme em minhas falas.
— Amiga, ele querer morar com você é sinal de que quer se casar.
Marcos Escobar não faz nada pela metade.
— Eu sei, mas... Ai, sei lá.
— Ele ainda não fez o pedido como deve ser feito. Já entendi. Você
sonha com cada detalhe, tudo em ordem. Te entendo e não te condeno.
Sorrio.
— Exatamente.
— Se ele fizesse, você aceitaria?
— Quem sabe... — Rimos.
— Tenho que passar na casa dos meus pais e tenho faculdade depois.
Depois a gente se fala. Está meio corrido hoje. Tenho que ir. Passei apenas para
te dar um “oi”. — Sorrio.
— Vai lá! A gente se vê.
Ela me dá um beijo no rosto.
— Depois eu vou lá e fecho a porta, só bate ela.
— Ok.
Ela se retira, e corro ligar novamente para a Débora.
— Oi, Bia.
— Chegou algo?
— Algo tipo o quê?
— David ou Henrique estiveram por aí?
— Henrique sim.
— Então não chegou nada?
— Não. O que aconteceu?
— Nada. E, por favor, não diga ao Marcos que liguei desta vez.
— Ok. — Desligo.
Estou muito ansiosa. Planejei tudo com o Henrique e David há semanas,
só que não contava com a entrevista hoje, para sair dos horários programados.
Ligo para o David, que atende no primeiro toque.
— Calma. Tive que despistar a Liziara o dia todo, e só agora o Henrique
conseguiu um tempo. Estamos bolando aqui. Vai rolar hoje, se acalma!
— Estou agoniada. Ele não me atende. Quero dar logo as novidades a
ele. Tive que fazer quase que um teatro hoje mais cedo.
— Henrique pensou em você aparecer lá. Assim que chegar lá, nos avisa
e enviaremos para o e-mail da Débora. Ela também não pode saber de nada. Se
quer que dê certo essa surpresa, por enquanto apenas, eu você e o Henrique
podemos ficar sabendo.
— Pode deixar. Vou me arrumar e vou para lá. Hoje, já despistei ele e a
Liziara.
— Ok. Henrique o viu hoje, e disse que ele está estranho.
— Ele ficou depois que eu disse que estava naqueles dias e com cólica.
— Rimos.
— Lembrando que isso tudo foi ideia sua, não queremos morrer junto.
— Seus medrosos. Ok. Estou indo. Assim que chegar lá aviso.
— Seja o que Deus quiser! — ele diz e sorrio.
Marcos está mais cuidadoso e protetor do que nunca nos últimos dias, e
confesso que estou ficando louca com isso, pois esse homem está me deixando
sem paciência com tanta proteção. Já não basta ser fofoqueiro. Pedi que
esperássemos, pelo menos, eu completar três meses e contaríamos a todos, pois
ontem teve um jantar no Henrique e, quando me ofereceram champanhe e eu
recusei, Marcos abriu a boca do motivo, mas nem consegui brigar com ele,
entendo sua alegria, e sua ansiedade, é como uma criança que acaba de ganhar
um brinquedo que tanto queria. Todos enlouqueceram, principalmente Ana e
Liziara, que ficaram bravas por eu ter dito ao Henrique e David antes delas, mas
compreenderam que não iria conseguir segurar essa novidade mesmo e
acabariam com minha surpresa — o que meu noivo já fez!
Hoje recebi uma ligação do banco em que vou trabalhar, para avisarem
que começarei no início do próximo mês, para começar com a nova turma que
vai entrar e começar de uma forma correta para o calendário de trabalho deles.
Minha tia está indo à loucura por eu estar grávida, e noiva! Disse que foi
só ela ir embora, e eu tratei de me amarrar, que está bem orgulhosa e feliz por
mim. Henrique disse que se não for padrinho do casamento, nunca mais olha na
minha cara, e David disse a mesma coisa, porém não aceita que Henrique seja,
porque ele tem que ser o padrinho que vai roubar a cena, já meu noivo muito
paciente, disse que se os dois continuarem com a putaria — palavras dele —
nem um e nem o outro será e ele contratará padrinhos.
Daiane está organizando o casamento, que nem sequer escolhemos o dia,
hora, lugar... mas ela ama organizar festas, e isso me preocupa bastante, porque
ela adora extravagância quando se trata de festas; e, para piorar, Paula disse que
vai indicar as melhores empresas de organizações de festas para a Daiane ir atrás
pesquisar; e, como o Marcos ficou preocupado, acredito que eu tenha que ficar
também, porque essa mulher sabe ser louca quando quer.
Estou ficando na casa do Marcos, não por escolha própria, ele
basicamente me obrigou, a maior parte das minhas roupas já estão aqui, Simon
trouxe, e esse homem só acata ordens do Marcos, então não adiantou eu dizer
para ele não trazer tudo, somente o básico.
Neste momento estou na sala, escutando Daiane falar sobre o que
imaginou para o casamento, e Ana e Liziara concordarem. Laura e Helena estão
no sofá junto a mim, e Yasmim brincando no tapete no chão.
— Pensei em ser na fazenda. Afinal, é do seu futuro marido mesmo —
Dai diz, e olho surpresa.
— Quis dizer que é dos Escobar, não é?
— Não! A fazenda é no nome do meu tio, é dele, mas, como quase não
vai, nos apossamos, e mamãe é quem cuida para ter pessoas cuidando da parte
das plantações, e manter aquele lugar inteiro.
— Isso é novidade. — Ela sorri.
— Amiga, todo dia descubro coisas novas dessa família, e preciso de
plásticas em breve, de tantas caras e bocas que faço a cada novidade — Liziara
brinca e rimos.
Laura está fechando os olhinhos de sono, e Helena come a mãozinha.
Sorrio vendo a cena.
— Daiane, você sabe que nem data marcamos, não é?
— Não, mas vão! Nada de enrolar para esse casamento acontecer, meu
tio já enrolou demais para casar, comigo é tudo para ontem!
— Ela organizou o meu! — Ana diz. — Ficou lindo, pode confiar.
— Ana, não está ajudando — brinco.
— Aprendi com o melhor, meu marido. Ele mais atrapalha que ajuda. —
Rimos.
— Yasmim entra com plaquinha, e escolhemos alguém para ajudar ela.
Helena e Laura vão carregar as alianças, e Simon leva elas, como se estivesse
protegendo as alianças. Madrinhas, cada uma de uma cor.
— Você tem que ser madrinha também — Liziara diz. — Não é, Bia?
— É sim! — Aprendi que concordar é o melhor nesses momentos.
— Não tenho par.
— Já sei! Cleber entra com você, Dai, e Débora entra ajudando a
Yasmim! — Ana diz.
— Isso! Adorei. Débora vai amar, aquela ali adora fazer algazarra, e
entrar com a Yasmim vai ser uma oportunidade para ela fazer isso.
— E por que Cleber aceitaria? Ele não é bem meu amigo. Tenho mais
amizade com a mulher dele.
— Bia, Cleber é amigo da família, e jamais recusaria um pedido do
David! — Daiane fala.
— David não vai querer pedir, conheço meu marido. São melhores
amigos, mas ele não vai pedir.
— Eu peço. Falo com a Débora e ele! — digo.
— Até que enfim está colaborando! — Ana brinca. — Gente, esse
casamento realmente tem que ser para ontem. Pensem que logo mais estarei
redonda e vai ser um inferno conseguir um vestido bacana, assim será o mesmo
para a Bia.
— Boa, Ana. Eu como que nem louca quando estou ansiosa, então bora
colaborar comigo! — Dai diz e anota algo na agenda em suas mãos.
— Quero algo mais familiar! — digo enquanto coloco a chupeta na boca
da Helena, que começa a querer chorar.
— Pode deixar! Tem a despedida de solteira. Como sei que eles vão falar
até pelos cotovelos sobre isso, então para evitar estresse, pensei em irmos nós
todos juntos para curtir em algum lugar...
— Dai, boa ideia, e podíamos ir para a fazenda, se vai ser lá, já íamos
para lá na semana do casamento, igual aqueles casamentos de filmes, que as
madrinhas e alguns convidados já vão para o lugar uma semana antes, acho bem
legal e divertido! — Liziara comenta.
— Tem um detalhe. Paula não vai a fazenda, desde o ocorrido com seu
pai, Dai — comento.
— Relaxa. Darei um jeito, está em tempo disso mudar!
— Lua de mel? Onde vão? — Ana pergunta animada.
— Não sei, mas provavelmente devido ao trabalho e a gravidez, nenhum
lugar muito longe.
— A casa na praia! Faz tanto tempo que meu tio não vai para lá. E tenho
certeza de que vai adorar, Bia, é bem diferente de tudo que já viu dos Escobar, é
tão acolhedor lá — Dai diz e sorri.
— Boa ideia. Pensarei nisso, pois fiquei curiosa agora.
Yasmim tomba e bate a cabeça levemente, levando-a a chorar. Ana corre
pegar ela e começa a acalmá-la.
— Ela está bem? — pergunto preocupada.
— Está sim. Yasmim é mimada, qualquer coisa chora — responde
enquanto acaricia a cabeça dela.
— Bom, tenho aula, e ainda preciso deixar as meninas em casa com o
David.
A porta da sala se abre e viramos todas para olhar.
Sinto um friozinho na barriga. Sempre que vejo ele chegando em algum
lugar é essa sensação.
— Ok. Devo correr? Porra, quatro mulheres juntas é perigoso. — Ele
solta a pasta em cima da Daiane.
— Oh, homem folgado! — ela diz e ele finge nem ouvir.
Caminha até a mim e me dá um beijo rápido, e faz o mesmo com Laura e
Helena.
— Não esquece de depositar o dinheiro. Falou palavrão perto das minhas
meninas — Liziara diz e começamos a rir.
— Só me fod... deixa pra lá! — ele cumprimenta elas com um beijo no
rosto, e dá um beijo na Yasmim.
Retira o paletó, e a gravata e coloca no braço do sofá, se aproxima do
sofá que estou e pega a Helena no colo. Se senta com ela no colo.
— Essas meninas vão enriquecer à custa do padrinho! — brinca.
— Quem manda ser boca suja? — Ana brinca.
— Ruiva, fica quieta aí — diz rindo.
— Tio, estamos organizando as coisas do casamento. Quando vai ser?
— Olha, fui bom de mira e ela engravidou. — Sinto meu rosto arder. —
Comprei o anel, pedi-a em casamento e fiz um bom discurso. Além de amar ela
demais, querer que eu saiba a data é foda pra caralho! Calcula o que tenho que
depositar — ele diz e aponta para Liziara.
— Pode deixar! As meninas no futuro vão amar.
— Ela que tem que decidir. O que ela escolher, por mim tudo bem. —
Olha para mim e dá uma piscadela.
— Bia? — Dai me olha.
— Não tenho ideia — confesso. — Marcos, ajuda! — Jogo a bomba para
ele.
— Se eu der o dia, você não vai querer. Melhor eu ficar quieto.
— Parem de jogar um para o outro! Qual a porra da data?! — Daiane
fala.
— Se você cobra o Marcos por falar palavrão na frente das suas meninas,
irei cobrar a Daiane por falar na frente da Yasmim.
— Faça, Ana, dá supercerto. Faculdade garantida! — Liziara brinca e
elas riem.
— Eu quero que os dois me falem logo, tenho compromisso!
— Já disse que não tenho ideia! — Dai revira os olhos.
— Viu como é difícil? — Marcos brinca.
— Marcos escolhe você — peço.
— Ok. Mas você não vai poder negar. Promete?
— Prometo.
— Semana que vem! — ele diz e arregalo os olhos.
— Não! Muito rápido! — digo.
— Você prometeu diante de todos que não iria negar — ele fala e ergue a
sobrancelha.
— Que ódio! Isso não vale. Você fez de propósito! — exclamo irritada.
— Exato! — ele fala e brinca com a Helena, que ri.
— Fechado! Semana que vem. Tenho que correr com tudo. Vamos,
meninas! — Daiane diz animada e se levanta. — Amo festas.
Não acredito. Eu devia ter escolhido qualquer mês, menos ter deixado
Marcos fazer isso. Eu deveria ter imaginado que ele aprontaria.
Na semana seguinte...
Entro no quarto, rindo, ele me olha bem sério. Fecha a porta e tranca com
a chave.
— Isso é algum tipo de cárcere privado? — brinco.
— Quase.
Ele me puxa para si, e me vira. Minhas costas encostam em seu peito.
Sinto sua ereção.
— Vamos ver o quanto o juiz aqui é de quinta...
— Você sabe que eu disse em outro sentido!
— Calada agora.
Ele retira minha blusa, e faz o mesmo com o sutiã. Suas mãos agarram
meus seios e apertam. Inclino a cabeça, e seus lábios passam por meu pescoço.
— Isso é golpe baixo...
— Eu disse para ficar calada — ordena com sua voz rouca, que me
causam tremores.
Suas mãos deslizam para as laterais da minha calça legging, e devagar,
vai descendo ela junto a calcinha, até chegar aos meus pés, onde termino de
retirar. Caminha parando na minha frente. Seu olhar é provocante e intenso. Ele
retira a blusa, e jogo no canto do quarto. Suas tatuagens e músculos chamam a
atenção como sempre. O botão de sua calça é aberto e ele a retira, e dá a ela o
mesmo destino que sua blusa. A cueca toma o mesmo caminho, e seu membro se
torna completamente visível e duro. Ele se senta na beirada da cama e me chama
com um gesto. Caminho até ele, que me vira de costas novamente, já estou
completamente excitada. A ansiedade e a intensidade que ele carrega estão me
deixando louca.
— Afaste as pernas um pouco — ordena e faço. Minha respiração é
ofegante. — Vou massageá-la, e somente quando eu achar que está excitada ao
máximo, irei fazer você sentar no meu pau, eu vou te foder a noite toda.
Deixo um gemido escapar.
Ele cumpre o que diz. Sua mão me massageia, e enquanto a outra me
mantém firme. Estou ficando louca, e gemendo muito. A cena é refletida no
espelho enorme a nossa frente e isso torna tudo mais excitante. Sua mão não
para, e estou sem controle sobre meus atos. Um de seus dedos entra em mim e
grito:
— Marcos... Eu preciso de você... — gemo.
Ele não diz nada, um dedo entra e sai de mim, enquanto continua me
massageando. Seu dedo sai de mim, e ele me vira para ele. Seu olhar é escuro.
Começa então a me chupar. Automaticamente, minhas mãos vão para seu cabelo,
e puxo com força.
— Eu vou...
Ele para, e isso me deixa aborrecida.
— Se vira de costas e senta no meu pau. Agora!
Sento-me, e seu pau vai se encaixando em mim, até estar completamente
dentro. Ele geme. Segurando minha cintura, começamos a nos movimentar. A
cada sobe e desce é mais intenso.
— Tenta se controlar e não gozar agora — ele pede e apenas consigo
concordar com a cabeça.
Seu pedido tornou tudo ainda mais gostoso. Tentar o controle sobre isso é
doloroso, mas de uma forma louca, deliciosa.
— Porra, você é muito deliciosa! Caralho!
O suor escorre por nós. O barulho de nossos corpos, ecoa pelo quarto.
Ele me levanta rapidamente e me deita na cama. Abre bem minhas
pernas e me penetra com força. Depois me beija e retribuo.
— Não vou mais... — não consigo terminar de dizer.
Libero o que privei por um tempo. Ele me acompanha, e juntos
alcançamos o que ansiamos. Gozamos juntos, como dois loucos.
Deita com cuidado em cima de mim, e me beija com carinho.
— Um banho, minha noiva?
— Adoraria.
— Como eu disse, a noite toda!
Sorrio.
Estou começando a ficar agoniada. Marcos não diz para onde estamos
indo. Sei que é na cidade, nada com a fazenda. Saímos logo após o café da
manhã.
— Estou ficando louca. Me fala logo!
— Calma, mulher. Estamos chegando!
Ele entra em uma rua que conheço, a da casa da dona Paula.
— Vamos na Paula? — Ele me olha e sorri. — Aaargh! Seu insuportável!
Ele estaciona o carro em frente à casa da Paula. Descemos.
— Que milagre, Simon não surgiu do nada.
— Porque é aniversário da filha dele.
— Ele tem filha?! Uau!
— Ele é casado. — Marcos sorri.
— Gente! Não imaginava. Ele é tão sério, e tão focado no trabalho, que
não imaginava que tivesse tempo para vida social. — Sorrio.
— Ninguém imagina isso dele. Agora vamos.
— O que vamos fazer na Paula?
— Não vamos na Paula. Vamos ali. — Ele aponta para uma casa enorme
em frente a Paula.
— Marcos, isso não é o que estou pensando, é?
— Vem. — Ele segura minha mão.
Caminhamos até a casa. Ele tira uma chave do bolso e abre o portão.
Paramos na entrada, em frente e porta.
— Estou fechando negócio. Porém, quero depois do casamento, para
estar em seu nome também, e você já estar casada comigo. Precisa de reformas,
mas queria que você escolhesse tudo.
— Podemos entrar? — pergunto chocada.
— Claro.
Ele abre a porta e entramos na casa. O primeiro cômodo que nos
deparamos é enorme, todo branco, tem um longo corredor, e uma escada de
madeira com o corrimão de vidro que dá acesso ao andar superior, embaixo há
flores, parece de casa de novela.
— Marcos... Isso...
— Precisa de reforma, eu sei. Acredito que em menos de seis meses
esteja do jeito que quer. É muito grande, tem cinco quartos, todos com suíte, sala
de jantar e de estar, três banheiros, e três lavabos, piscina, biblioteca, ambientes
para escritórios... Bom, vou te mostrar, é bem grande, então pode ser que a
reforma demore. Tem que escolher os móveis também...
— Marcos, reforma?!
— Não gostou da casa? — pergunta preocupado.
— Eu amei. Estou procurando onde precisa de reformas, desde que
entramos. Não precisa. É linda!
— Tem certeza?
— Claro que tenho. Vamos, quero ver tudo! — digo animada e ele sorri.
Ele me leva para conhecer toda a casa, e é muito, mas muito grande
mesmo. Se eu disser que decorei cada lugar, estou mentindo. Isso é uma mansão.
Meu Deus!
— O que achou agora que viu tudo? — Estamos nos fundos da casa.
— Vamos pintar ela toda de pink — brinco.
— Pink, porra?! — pergunta assustado e rio.
— Não precisa de reforma. Isso deve ter sido reformado há poucos dias,
ainda tem um pouco do cheiro da tinta. Marcos, é linda. Eu nem sei o que dizer...
— falo emocionada.
— Vai ficar ainda mais linda, quando você escolher a decoração.
— Você levou a sério o que eu disse, sobre um lugar grande, no meu
surto.
— Apenas quero que minha futura esposa, e nosso filho, tenha um bom
lugar, e uma excelente vida.
— Você não existe. Tem que ter sido feito em algum laboratório. — Ele
sorri e me abraça.
— Eu te amo, e farei de tudo por vocês.
— Você já é tudo que eu preciso.
— Idem, amor. — Ele me beija e sorrio. — Não vejo a hora de assinar
muitas sentenças suas em cada cômodo aqui.
— Marcos! — Dou um tapa de leve em seu braço e ele ri. — Te amo, seu
louco!
— Louco por você, porra! — Ele me beija.
Às vezes, penso que tudo pode ser um sonho, mas toda vez que sinto seus
beijos, seus toques, vejo que é real. Merda, é real!
Depois de sábado, não terei mais como pensar que pode ser um sonho, a
realidade vai gritar para mim e dizer: Sua louca, você vai ser mãe, se casou com
Marcos Escobar, o juiz mais conhecido do país!
Capítulo 13
Meses depois...
Chego em casa, após uma porra de um trânsito que dificultou tudo. Pego
minha pasta e saio do carro, jogando as chaves para o Simon, que já estava de
prontidão.
— Como foi a reunião?
— Muito bem, senhor!
— Não contou aonde eu estava, certo?
— Não. Mantive segredo, como pediu!
— Ok!
Entro em casa. Olho em meu relógio de pulso, e são dez horas da noite.
Demorei muito.
Deixo a pasta, junto ao celular e carteira no sofá. Enfrentar a fera agora
será foda.
— Olha só. O juiz Marcos Escobar resolveu retornar para o seu lar, desde
que saiu há horas do julgamento, e não teve a coragem de atender às ligações da
esposa dele, que poderia estar morrendo.
Olho para ela, que está com uma camisola de seda preta, evidenciando
seus seios maiores que me excitam ainda mais e marcando sua barriga que me
preenche de amor.
— Isso tudo é um grande fato, delícia. — Sorrio.
— Não me chame de delícia. E não sorria. Não estou brincando.
Caramba, Marcos! Onde esteve? Teve a coragem de enviar o Simon aqui para
ver o que eu queria, mas não prestou para me atender. Você não estava no
escritório, e nem nos seus sobrinhos ou na Paula. Sim, eu estou com muita raiva!
— É melhor se acalmar. Sabe que não pode ficar se estressando.
— Ah, não me diga! Então é melhor parar de me enlouquecer, porque
você é o culpado de todas as raivas que passo. Onde estava que não podia me
atender? Sei que o Simon sabe, mas o infeliz não quis me dizer. E por que diabos
está com a camisa toda amarrotada? Marcos Escobar, quero uma resposta agora!
— Ela cruza os braços e me fuzila com o olhar.
— É melhor se acalmar antes de eu dizer.
— Só pode ser brincadeira! Quer me pedir calma? Agora sim, perdi
qualquer chance de tê-la. — Ela se aproxima e tenta mexer em minha camisa,
mas não deixo. — Se for o que eu estou pensando, eu corto seu pau em pedaços.
Eu juro! — Sorrio.
— Anda bem agressiva!
— Fale logo, Marcos! — ela grita.
— Primeiro, tem que se acalmar. E não estou brincando!
— Me acalmar? Nunca! Chame o Simon, porque eu quero testemunhas
quando eu te matar.
— Na verdade, não deveria querer.
— Mas eu quero. Para todos terem a certeza do porquê te matei!
— Amor, senta.
— Só vou fazer isso, porque estou tremendo!
Ela se senta e fica me olhando atentamente. Começo a retirar o paletó.
— Não quero um striptease!
— Porra, apenas espere!
Entrego o paletó a ela, e logo depois começo a retirar a camisa com um
pouco mais de dificuldade. Entrego a camisa a ela, que está boquiaberta.
— Eu não acredito! — diz se levantando e parando a minha frente. —
Marcos, você não fez isso!
— Bom, pelo visto fiz.
Retiro a proteção transparente que Patrícia colocou. Dói um pouco, mas é
suportável.
— Eu realmente não acredito! Você é louco!
Sorrio.
— Só agora percebeu? O que achou?
— É linda. Muito linda. — Ela toca com cuidado. — Os traços são
lindos. Então foi por isso que não me atendia e enviou o Simon.
— Sim. Enviei ele por não poder atender, ou desconfiaria, afinal, eu não
tinha nenhuma desculpa de onde estaria, por incrível que pareça.
— E resolveu colocar o Simon para me enfrentar? Que baixo! — Sua
pose de durona se desfaz por completo e o sorriso que tanto amo surge.
— Eu queria ter o nome dele registrado não só em meu coração, como
também em minha pele.
— Que lindo, meu juiz de quinta!
Beijo-a com carinho.
— A Patrícia, minha tatuadora, tentou ser rápida, mas não pôde. Por isso
demorei tanto.
— Então é mulher sua tatuadora? Não sei se curto muito saber que outra
mulher toca e vê partes do seu corpo.
— Relaxa, delícia! Você é a única que me tem por inteiro, enquanto as
outras apenas desejam.
Ela sorri.
— Nunca mais me deixe preocupada. Estava ficando louca com a sua
demora.
— Agora sabe como me sinto, quando sai sem os seguranças, e demora.
— Isso não vem ao caso — ela diz, rindo.
— Te amo, e por vocês dois... — me ajoelho, segurando sua barriga com
cuidado — eu faria qualquer coisa. — Deposito um beijo sobre o tecido preto.
— Eu também te amo, meu eterno juiz de quinta.
— Nunca vai desistir desse apelido, não é? — Sorrio e ela também. —
Viu só, filhão, como sua mãe é má?
Levanto e ela fica olhando a tatuagem, em meu peito, que pega uma parte
da âncora, onde se lê claramente:
— É uma pena ter demorado tanto em ter feito a tatuagem. Desse jeito,
não posso te tocar como eu quero, e só por ter me deixado louca, merece saber
que estou sem calcinha, e que não terá o que planejei — diz deslizando as unhas
por meu abdômen. — A noite poderia ser tão quente. — Deposita um beijo em
meus lábios.
— Só pode ser brincadeira! Porra, mulher!
— Boa noite, amor!
Ela se retira, rindo. Caralho, eu vou morrer antes de conhecer meu filho,
se ela continuar me deixando louco e excitado assim.
— Isso não vai ficar assim! — grito, indo atrás dela.
Porra, me atiça e foge? Aí é para me ferrar.
Fim
Bônus
“BELOS E FAMOSOS”
O assunto não para de circular pelos corredores dos tribunais. Desde que
o casal Beatriz e Marcos Escobar retornaram de um final de semana romântico
na praia, as notícias começaram. Fontes seguras afirmam que até o nome já foi
escolhido; e o que era para ser segredo se espalhou para todos, pela boca do
papai coruja.
ARTHUR ESCOBAR (JÁ SABEMOS O NOMINHO), DESEJAMOS
QUE VOCÊ VENHA COM MUITA SAÚDE, E QUEREMOS ESTAR AQUI
POR MUITO TEMPO, E ASSIM CONFIRMARMOS QUAL CARREIRA VAI
SEGUIR, JÁ QUE TODA SUA FAMÍLIA PARECE GOSTAR MUITO DA LEI,
DIFERENTE DA SUA MAMÃE!
As apostas aqui na redação já começaram, para saber qual será a futura
carreira do pequeno. E você, no que aposta?