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Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 4. PARTE II
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 12. Parte II
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
BÔNUS - FERNANDO & CLARA
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
CAPÍTULO 23 PARTE. II
Capítulo 24
CAPÍTULO 24. PARTE II
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 27 Parte. II
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
BONUS - FERNANDO & CLARA
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 47. PARTE II
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 50. Parte II
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 53. Parte II
Capítulo 54
EPÍLOGO
Felipe Alencar & Eloíse Galvani
6 anos antes
Dias atuais
Por que não podemos prever o destino? Por isso... por ele ser
inesperado. Eu continuo encarando seus belos olhos. Ele sorri discreto,
surpreso e ao mesmo tempo misterioso. Eu, então, inclino o olhar para baixo
e vejo uma criança segurando a mão dele.
— [...] não gostaria nem de pensar no caso de substituição?
Envergonhada, eu retorno a Nilce e me recordo também do Mariano.
— É... me perdoe, Nilce, de verdade, mas eu preciso muito ir. E-eu
estou atrasada, depois conversamos, ok? Até mais...
— Está bem... Até mais, Eloíse.
Eu saio caminhando apressada e abraçada aos meus braços,
amaldiçoando minha vida. Era ele, eu não tenho como negar. E jamais
esquecer. Entretanto, não existe importância.
Eu entro no carro e dirijo para a pensão. No caminho, pensativa, eu
mudo de ideia e concluo que não contarei nada para a minha mãe, sobre a
vida "tirando fotinhas" que eu desejo, pois Mariano já fará o favor de contar
primeiro. Os dois são carne e unha. Certeza que ela ficará histérica e
incompreensível. Ou até pior.
— Filha, meu anjo, venha aqui me ajudar. Fazendo favor — assim
que eu cruzo a porta de trás da cozinha e coloco a chave no suporte da
parede, minha avó aparece ao lado do arco, chamando-me.
— Oi, vó, que foi? — Eu me direciono a ela. — Bença.
— Deus te abençoe. Agora eu preciso que você me ajude a preparar a
lista de compras deste mês. Aquele teu irmão fugiu após prometer me ajudar.
E isto a dois dias.
— Ué, e aquele preguiçoso foi aonde? Não tem coragem de sair do
quarto nem para arrumar um trabalho digno.
Eu penso em revelar o mais novo sonho dele de querer ser
acompanhante de luxo, porém, eu resolvo não matar a vó Aurora do coração
hoje.
— Ah, ele está impossível — diz, colocando a caneta em cima da
mesa de madeira rústica e o caderninho e, em seguida, senta-se. Eu a
acompanho, puxando uma das cadeiras. — Sabe o que me confessou? Que
queria ser acompanhante de luxo. E que já começaria esta noite.
— O quê?! Mentira, o cretino do Otávio te contou também? Eu não
acredito. Garoto desmiolado!
Ela ri.
— Está rindo, vó?
— Otávio é você em forma de homem — eu fico chocada pela ofensa.
— Deu muito trabalho para os seus pais. Lembro de, na adolescência, você
fugir de madrugada para sair com os namoradinhos. Graças a Deus,
melhorou, querida, mesmo só depois da faculdade, melhorou.
— Nossa, dona Aurora. Sempre sincera, né? Eu nunca fui igual ao
Otávio. Ele é cafajeste, depravado. Por mais que eu igualmente não seja e
fosse santa, qual foi a última vez que eu trouxe um homem desconhecido
para dormir na casa dos meus pais? Nunca! Nem mesmo o Mariano. Agora se
deixar, Otávio traz quase todos os dias uma vadia aqui. Só parou porque a
senhora e a mamãe puxou as orelhas dele.
— Sim, isto é verdade. Você teve juízo e noção de respeito. Tirando
este detalhe valioso, é o Otávio cuspindo e andando.
Meu Deus. Eu rolo os olhos.
— Tá bom, vozinha, tá bom. Por favor, vamos fazer a lista?!
Dona Avelina, a querida cozinheira do restaurante e pensão da vó
Aurora, chega para nos ajudar a complementar a lista de compras. Ela e as
suas filhas, Pietra, de 16, e Suellen, de 27, a minha melhor amiga. E no final,
as compras do mês sobram para nós três, eu, a Pietra e a Suellen irmos no
supermercado realizar.
•••
Na manhã seguinte, às 06h30, estamos nós três saindo de dentro do
carro com a maior cara de enterro e caminhando no estacionamento do
supermercado até a porta onde fica os carrinhos.
— Meu pai amado, eu estou morta de sono — boceja Suellen. — Na
próxima vez, diga para a sua avó e para a minha mãe que não aceitamos outro
convite.
— E eu? Que para colaborar nem dormi esta madrugada.
— Por quê, Eloíse?
— Ontem, eu fui na escola conversar com o Mariano... e confessei
tudo para ele. Mas ele não aceitou nada do que eu disse. Pelo contrário, jogou
na minha cara que era desperdício eu trocar anos de faculdade por um sonho
patético.
— Ele disse isso? Poxa, eu... eu não esperava, sinto muito — antes de
pegarmos os carrinhos, ela me abraça.
— Infelizmente, era de se esperar a incompreensão dele — eu
comento, soltando-me. — Só que eu estou farta de pensar só nos outros. Não
me deixarei abater. Eu quero ser feliz, apenas feliz.
— Concordo, amiga. E eu ajudarei na sua felicidade, eu e a Pietra.
— E-eu? — Pietra, que estava quieta, olha para a irmã e para mim. —
Não sei como eu poderia ajudar na felicidade de alguém, sendo que a minha
vida está pior de que a de vocês duas, juntas.
Sem nos segurar, eu e a Suellen caímos na risada.
— Que vida, menina, você só tem 16 anos.
— Larga de ser ridícula. Nem parece que teve 16 anos — replico,
empurrando os carrinhos com ela. — Éramos o capeta dentro da caixa de
fósforo. Além de problemáticas. Sofríamos por cada garoto imbecil.
— Eu não estou sofrendo por garotos. É outros problemas pessoais —
murmura emburrada.
E damos de ombros, quem entende aborrecentes, né? Então iniciamos
a compra dos fardos para a pensão. Mais tarde, com tudo riscado na lista,
passamos pelo caixa, pagamos e partimos super doloridas das pernas.
— Eu só quero um analgésico.
— Eu, a minha cama...
— E eu comer este pote de sorvete — Pietra esbraveja, indo pegar as
colheres na cozinha, enquanto nós duas nos jogamos no sofá feito sacos
mortos.
— Onde vocês foram? — Otávio questiona, saindo da área de lazer.
— Fazer compras para a vovó. Agora vai lá tirar do carro.
— Nem posso, eu vou ter que me arrumar para sair. Fui, princesas.
— Preguiçoso... — Eu seguro a vontade de gritar por respeito a paz
do ambiente.
— Não dá vontade de matar o Otávio? — Suellen bufa. — Nem com
uma mãozinha o idiota gosta de nos ajudar.
— Não se preocupe, o que é dele está guardado, e por minha divinal
intercessão. Como diz o ditado popular, a vingança é um prato que se come
frio. E eu irei saborear acompanhada de champanhe.
— Nossa, mulher vingativa! Se precisar de ajuda, conte comigo,
tenho ótimas técnicas de tortura psicológica.
Eu sorrio, espreguiçando os pés nela. E aguardando Pietra, que não
demora a voltar com o delicioso sorvete de flocos e cobertura de chocolate.
Capítulo 4
•••
Sem esperar por uma resposta, Felipe vira as costas e sai caminhando
veloz. Eu balanço a cabeça, tentando não admirar seu corpo malhado, e
respiro. Esse infeliz não tem vergonha de andar sem camisa pelos arredores
da pensão da minha avó não? Sem respeito!
Ao voltar, pelo menos vestido, Felipe me deixa perplexa ao revelar o
tal "presente" — uma bicicleta.
— Eu não acredito.
— Eu estava te devendo uma nova, afinal, o restante da outra foi
furtada com certeza.
— E você chamou a minha indenização de presente?
— O quê? — Ele franze o cenho. — Esse é o meu muito obrigado?
Menina mal agradecida.
— Mal agradecida é tua vó.
Felipe ri, achando graça não sei do quê.
— Eu acho que a professora está muito esquentadinha.
— Esquentadinha vai ser a... espera! Como você sabe que eu...
— Eu sei tudo sobre a sua vida — ele interrompe, solta a bicicleta ao
lado da mesa e aproxima-se. — Eu não brinco em serviço, senhorita Eloíse.
Desconcertada, eu desvio dos seus passos.
— Isso é obsessão, sabia? Tem que cair na real, eu não sou mulher
pra você. Jamais vai me tirar dos braços do homem que eu amo.
— Jura que isso é um desafio? Pois eu já provei que posso. E caso
não se recorde, a loira retribuiu meu beijo e as minhas carícias.
— Mentira! Não manipule o que fez. Não fale como se eu fosse uma
vadia. Foi você quem me atacou, foi você seu infeliz! — Eu me apavoro,
querendo estapear a cara dele, querendo apagar, queimar, passar uma
borracha nas sensações que meu corpo sentiu aquela noite. — Você é um
canalha! Sai daqui! Sai da minha frente! Vai embora!
— Não fique apavorada, é normal se atrair por outro homem, além do
seu "amor". — Ele puxa um olhar cínico.
E eu não aguento, eu quase dou um tapa no seu rosto. Mas Felipe
agarra meu braço e pressiona-me pelo quadril.
— Hã, hã. Nem ouse!
— Você está pedindo guerra!
— Eu só quero você! — Eu me sacudo para ele tirar as mãos de mim.
— Não pense que terá paz. — Ele toca minha pele da bochecha com a sua
respiração. — Considere ganha toda a batalha.
— Me solte.
Sinto o calor da sua boca. Ele acaricia meu pescoço, enxergando
minha alma com as suas íris castanhas e o seu olhar profundo.
— Eloíse?
Eu fecho os olhos, abrindo-os ao virar a cabeça, afastando-me do
Felipe e encarando Otávio.
Capítulo 11
****
— Felipe... o meu carro, eu vim com ele! — Exclamo após irmos para
o estacionamento e eu dar de cara com a sua bela BMW X4. Puta merda.
— Não há o que se preocupar, princesa, amanhã ele se encontrará na
sua garagem — pisca.
— Você é todo cheio de mistérios.
— Eu sou um anjo, já não te falei? — O misterioso me agarra pelos
quadris e pressiona-me contra a lataria gelada do seu veículo. — Eu estou
louco para arrancar suas roupas. Não tem um pingo de noção de como é
perfeita. Parece uma boneca.
Feliz por seu comentário, eu me entrelaço no seu cangote e acaricio a
sua barba por fazer.
— Hum... Você também é bonitinho. Dá pro gasto.
Sem afetá-lo, Felipe joga a cabeça para trás, rindo gostosamente.
— Eu sou maravilhoso, loira. Um Deus do prazer e da beleza.
— Não é. Tá mais para convencido.
Ele é sempre cheio de humor. Quem vê esse homem de longe com
certeza deduz que é sério, rude, grosseiro, soberbo e que tem um quarto
vermelho – esse foi o meu pensamento; será que tem?. Na realidade, é
humorado, galanteador, educado, sexy, meio possessivo com seus objetivos
— bom, comigo está sendo. Felipe é sensual, intenso e tão bonito que é
hipnotizante encarar seu rosto. Porém, jamais saberá disso.
Ele me encaminha para dentro do carro. E sentados no banco da
confortável BMW, ele liga o som e observa-me carregado de malícia.
— Eu adoro os seus olhos. Eles enxergam o profundo do mais
profundo dos meus pecados. Eu te encaro, esperando a qualquer momento
você abrir a boca e revelar cada uma das minhas tormentas.
— E que tantas tormentas o senhor teria? — Aproximo-me.
Felipe toca o meio das minhas coxas, subindo até o tecido da calcinha
rendada, eu latejo.
— Eu sou um cara fodido, Eloíse. Nada sobre mim é bom.
— Eu discordo das suas palavras. Eu olho para você e vejo um
homem em redenção dos próprios pecados. — Felipe me apalpa. — As
tormentas que sente, você jamais vai se livrar delas, todavia, vai superar o
pesar que tem ao lembrá-las.
— Eloíse, Eloíse... doce Eloíse — Ele me penetra os dedos e eu
grunho, estimulando-o a mexê-los. — Eu digo que a loira tem poderes, e não
estou enganado. No entanto, eu jamais vou me livrar das minhas tormentas,
porque você é uma delas. Felipe, então, me solta, deixando-me acesa feito
fogo. Ele vira o belo queixo e pisa no acelerador igual um bad boy rico.
•••
No elevador de um hotel luxuoso, ele me rouba o fôlego. No corredor,
antes mesmo de entrarmos no quarto, ele me ergue do chão e mergulha a
boca em cada canto do meu decote. Esfrego-me nele sem pudor, toda
devassa. Dentro do quarto, a situação sai ainda mais do controle. Loucos,
insaciáveis, nos beijamos enquanto eu retiro a sua camisa e ele a minha blusa.
— Felipe... me coloca no chão? — peço em gemidos, mas o safado
não permite. E me joga com brutalidade na cama.
Ele me fita repleto de maldade, luxúria. Eu analiso seu porte
masculino. Seu físico é impecável. Ele tem cicatrizes... mas as esqueço
quando desço para o volume do seu pau. Ergo o pé fora do salto, sentindo-o
de longe. E é tão...
— [...] humum... tão grande — aperto.
— Safadinha. — Felipe inclina as costas, agarra-me pelos cabelos e
puxa-me, esfregando seu volume bem na minha cara.
Maluca de tesão, desço a braguilha da calça, abro o cinto, a peça da
roupa e só fica a cena de uma cueca azul com um pau por pouco não
perfurando o pobre tecido.
Mordendo os lábios, eu olho para ele... deslizando as mãos pelo seu
abdômen de gomos. No cós da boxer, coloco os dedos por dentro, e ansiando,
tiro-o e abaixo o olhar, engolindo em seco, sem crer que eu... que eu suportei
esse cavalo dentro de mim. Meu pai amado... Felipe ri da minha feição de
terror. Eu toco só na "cabecinha", pronta para devorá-lo.
— Porra, loira, se não colocar a boca aí logo, eu entro mais uma vez
em você sem cortesia!
— Me ameaçando? — Começo a massagear o tesouro precioso, cheio
de veias e rosado. Felipe pulsa ereto na minha mão. É a sensação mais
maravilhosa do planeta.
Eu espremo as coxas, elevando-as para suportar a ansiedade
desenfreada.
— Eu estou apenas te prevenindo. Porra... safada. — Eu não resisto e
passo a língua na glande. Felipe fecha os olhos. — Eu sonhei tanto com esse
momento, com a sua boca macia e respondona, calada, chupando meu cacete.
Indignada, mergulho a boca, abocanhando-o quase até a garganta.
Nem cabe.
— Porra, puta merda... — ele segura a minha nuca. — Que mulher
você é? Só tem cara de santa.
Faço som de sucção, e ele geme. Resolvo controlar as chupadas
nervosas para não o ver gozar rápido. Volto, oras subindo e chupando a
cabeça da glande. Eu fico uns dez minutos só assim, olhando-o safada e
sugando-o na cabecinha. Pareço uma criança brincando com o seu
brinquedinho preferido. Eu nunca agi assim... vadia? Jamais! Eu nunca agi
foi é solteira, desprendida de relacionamento qualquer.
— Sua safada. Porra, diaba.
Com agilidade, inclino para as bolas. Felipe aperta os olhos e xinga
sem parar. Eu dou atenção para uma de cada vez, voltando sempre ao seu
amigo enorme.
— Eu vou foder o caralho dessa boquinha gulosa — ele começa a
foder a minha boca com movimentos velozes, por longos minutos, afogando-
me e deixando-me louca.
Felipe não avisa que vai gozar e quando vem, enche-me de orgasmo
grosso. Mal consegui engolir. Engasgo-me, sem cuspir.
Ele permanece com a mão nos meus cabelos. Eu estou muito excitada.
Observo-o feito uma menininha dócil, provando do gosto de um pirulito
temperado.
— Eloíse... — ele sorri. — Tu é foda, loira. É a minha vez!
Ele avança, detonando o restante da saia, da calcinha, do sutiã. Sobe
por cima do meu corpo nu e lambuza meus seios eretos. Arqueio as costas.
— Nã-não.... — Felipe me beija, flexionando o pau.
Encaixa-o bem na minha entrada latejante. Desespero-me por ele
querer entrar igual na primeira vez.
— Calma — ele sorri. — Farei bem devagar. — Lendo meus
pensamentos, Felipe começa a se introduzir lentamente e massagear meu
clitóris.
— Ohhh!
Eu abro a boca, arfando para trás. Cada centímetro é uma tortura. A
dor é grande, mas muito excitada, lubrificada, mal sinto tanto incômodo.
— Felipe... — o chamo, observando sua bunda pelo espelho do teto.
Ele, então, penetra toda a pica e leva-me ao céu, bombando o pau
dentro da minha boceta. Eu entrelaço as pernas no seu quadril e grito,
arranhando as suas costas conforme investe selvagem.
— Mais rápido! Mais rápido!
Feroz, ele rosna e coloca-me para cavalgar, sugando meus mamilos.
Eu rebolo. Rebolo feito uma maluca. O prazer, o pecado, o fogo abrasador
preenche cada canto do nosso corpo.
— Eloíse, sua professorinha descarada! — Ele volta a me deitar por
baixo e fode-me com força. Puxo seus cabelos. — É disso que você gosta,
cachorra?
— Oh... Ah... Felipe... — eu choro de satisfação. — Mete, cretino!
— Caralho! — Felipe geme.
Seu peitoral se esfrega nos meus seios. Eu contraio o abdômen,
sentindo estar gozando. Ele não para, continua a me foder. Flexiono as
paredes vaginais.
— Olha para mim, gostosa.
Eu olho para ele, suspirando alto. Grunho de desespero e chego ao
ápice pela segunda vez. Fecho os olhos, choramingando. Felipe estoca mais
fundo.
— Eu disse para olhar para mim, Eloíse! — Eu tento olhá-lo de novo
e fitando-o nos olhos negros de tesão, gemendo, ele estoca mais e mais e
preenche-me de gozo quente.
Eu perco ar.
— Ohhh.... seu selvagem...
— Loba!
Ainda me impedindo de buscar oxigênio, Felipe abaixa e beija-me
sem pensar no amanhã.
— A vontade é de... — ofegante, ele morde meu queixo — devorar
cada pedaço do seu corpo... — eu sorrio, tentando falar — te sequestrar —
ele me chupa a orelha — e prendê-la no meio do nada. Para fodermos noite e
dia.
— Você... é impossível, Felipe.
O safado, ao parar, me encara com os fios rebeldes. Porém, sensuais.
E sai de dentro de mim. Eu gemo de prazer.
— Eloíse... atualmente, não pretendo procriar deuses. Você toma algo
conceptivo?
Eu poderia dizer que não?
— O senhor está agindo bem irresponsável. — Ele franze o cenho. —
E se eu não estiver?
— Não é maluca! — Felipe fica nervoso e afasta-se. — Eu sei que
toma o anticoncepcional. Afinal, era noiva daquele professorzinho imbecil.
Surpresa pelo homem rude na minha frente, eu puxo seu maxilar e o
encaro.
— Eu tomo anticoncepcional. Entretanto, deveríamos ter usado a
camisinha.
— Eu sempre uso a camisinha — ele me beija. — Porra, mas você,
esse seu corpo... Não discordo de que fui irresponsável.
Felipe me agarra. Envergonhada, eu pego o travesseiro e coloco entre
a minha nudez.
— A gente já vai embora? — Eu estou tão exausta, tão dolorida, que
cairia dura aqui mesmo nesta cama gigante.
— Não. E nem que me suplicasse, eu te deixaria sair deste quarto. Eu
ainda não terminei meu trabalho de satisfazê-la.
Ele levanta e pega-me pelas pernas. Eu solto um gritinho de susto.
— Vamos prepara a jacuzzi, minha loirinha feroz!
Eu sorrio, deixando a atração do momento me guiar. Felipe me
carrega até a luxuosa jacuzzi. Onde a preparamos e provamos de mais um
maravilhoso... relaxamento. Até champanhe, chocolate e morangos, eu comi.
****
— Eu estou me sentindo uma adolescente licenciosa. — Na manhã
seguinte de sábado, no carro, a caminho da pensão eu confesso para o Felipe.
Ele ri.
— E o que estaríamos fazendo de tão licencioso, loira?
— Você ainda pergunta? "Inocente".
— Eu só sei de uma coisa; que nesta história, eu me encontro sendo
um submisso seu.
É a minha vez de rir.
— Ah, jura? Um submisso meu?
— Sim, pois se a senhorita mandar eu tirar a sua roupa, eu tiro.
Deslizar as mãos nesse seu corpo maravilhoso, eu deslizo. Chupar entres
essas pernas... eu chupo imediatamente. — Ele articula ardiloso.
— Ai, meu Deus. Não dá para crer no teu grau de safadeza.
— E eu tenh... — o celular do Felipe toca, interrompendo-o. —
Droga...
Ele pega o aparelho.
— Que filho da puta?! — e esbraveja, observando a chamada.
— Fala, minha putinha? [...] Passei anteontem. O que tem? — Ele
para no semáforo, descansando as costas e escutando a voz da pessoa. — [...]
Agora? Nem fodendo. [...] Não, porra! Eu estou com a minha loira dos olhos
azuis.
Sem evitar, eu sorrio, revirando os olhos. E Felipe me encara,
galanteador. Então volta a dirigir.
— [...] Não te interessa. [...] Pede para... [...] O quê? Como você não
sabe onde ela está? [...] Porra, Fernando! — Felipe fica tenso. — Rastreou o
número dela? [...] Ok. Que merda, eu irei para lá imediatamente!
Eu o analiso, curiosa.
— O que foi, Felipe? — Questiono assim que ele desliga o telefone.
— Você se importaria de mudarmos de rota? — A pergunta é séria.
— Aconteceu um imprevisto com a minha mãe.
— Agora? — Eu engulo em seco, referindo-me as minhas roupas. No
entanto, mais preocupada com a sua mãe. — O que houve?
— Além do seu desaparecimento, eu também não sei. Espero que
nada grave!
Capítulo 15
Felipe Alencar
****
— Eu não posso ser esta mulher, Clara. — Desvio dos seus olhos. —
Eu não sinto nada além de raiva por Felipe — e volto a olhá-la, suando as
mãos. — Ele apenas me conquistou para satisfazer os seus desejos. Não fiz a
menor diferença. E igualmente ele não fez para mim. Quero que aquele
canalha se dane, assim como ele não se importou com as minhas dores, eu
não sou obrigada a me importar com as dele!
— Eu sinto muito, de verdade. Não posso dizer que são dois
orgulhosos, pois não sei o que o Felipe aprontou. Seria uma escolha hipócrita
dos lados. E a minha escolha sempre será o amor. No entanto, para dar certo,
nesse bolo, só falta a cereja... e alguns ajustes no glacê. — Collins sorri
misteriosa, pega a bolsa e levanta-se, chamando-me para irmos.
Nem me atento a questionar a frase. Não existe nenhum ajuste, não
tem o "que" para faltar alguma coisa. O detesto.
Dentro do seu carro, eu vou pensando nas palavras articuladas dela. E
também, Clara insiste outra vez que eu vá ao jantar. Nem insiste, ela reafirma
a minha presença esta noite. Confesso não estar nem um pouco feliz.
Eu pego meu carro e volto para a pensão. À tarde, eu ajudo a minha
vó com a soma de algumas contas. Às 17h30, antes de subir para tomar
banho e me arrumar, eu passo pela porta da lavanderia e volto encabulada,
pois noto um som de vozes muito baixas. A vó Aurora está na cozinha com a
dona Alverina. E os hóspedes não têm acesso a este lugar. Quem poderia ser?
Curiosa, eu giro a maçaneta. E ao entrar, eu deixo um grito de pavor e susto
escapar. Arregalo os olhos, furiosa.
— OTÁVIO!
Rapidamente, Pietra se desenrosca do pescoço do sem vergonha e o
empurra. Dois sem vergonhas!
— Como você ousa?! NÃO TEM VERGONHA?!
Ele se distancia, encarando-me, pego no flagra. Eu vou matá-lo.
— Essa menina só tem 16 anos. Eu vou matar você!
— Eu... porra, eu não tive culpa. Ela...
— Cala a boca!
— Que merda, Eloíse!
— Os dois deveriam ter vergonha na cara. Você é um homem adulto!
Pietra abaixa a cabeça.
— E não pense que eu não vou contar para a sua irmã, Pietra. Não
quero ver esta cena se repetindo. Eu quero matar vocês!
Otávio me olha, puto.
— Eu não sou pedófilo, é essa garota que fica me enchendo o saco.
— Volta aqui! Otávio, voc....
Ele, então, pega o capacete do chão e sai da lavandaria sem me deixar
terminar de falar. Eu coloco a mão na testa, pedindo calma e paciência.
— Eloíse, não conte a...
— Você não tem o direito de me pedir nada! — Esbravejo. — Estou
chateada com as suas ações. O que conversamos aquela noite não te serviu?
Entrou num ouvido e saiu no outro?
— Me desculpe, eu... eu amo ele.
Nervosa, eu me aproximo dela.
— Você só tem 16 anos. É uma paixão que não é certa. Eu já lhe
expliquei o porquê!
— Eu faço 17 daqui a dois meses. E já estou cansada de todo mundo
me tratando igual a uma criança. Eu não sou uma menina boba, eu sou uma
mulher. Otávio retribuiu meu beijo.
— Ah, então a senhorita "mulher" assume que o beijou? Que está
provocando ele? Você sabe a consequência dos seus atos? Tem noção?
— Eu... eu sei. Mas só quero que ele se apaixone por mim. Que me
ame.
Eu vejo que não importa o que eu fale, os conselhos que eu berre, essa
menina está irredutível. Suellen vai surtar. É capaz de bater na irmã. Eu terei
que conversar com o Otávio. Ele precisa parar esta obsessão dela, antes que o
próprio faça uma besteira.
— Eu gosto muito de você, Pietra. Sabe que te considero como uma
irmã. E não posso deixar que o Otávio estrague a pessoa doce e carinhosa que
você é. Vá para cozinha, sua mãe já deve estar indo embora.
Sem me contestar, ela sai do apoio da máquina e passa por mim de
olhos baixos. Eu suspiro, viro as costas e caminho em direção ao primeiro
andar.
Aqueles dois vão me levar a loucura. Meu maior medo é de que dona
Alverina descubra da tal paixonite. Ela sabe que o Otávio não quer
compromisso nenhum. É um traste mulherengo.
No quarto, indecisa e ansiosa por não saber qual roupa escolher, eu
saio tirando todos os vestidos dos cabides — e no fim, opto por um preto
soltinho, com decote V profundo e ombros nus. Ele vai até o meio das coxas.
Tomo banho, seco os cabelos, faço uma escova caprichada, a maquiagem,
coloco o vestido e para finalizar, calço as sandálias de salto pretas. Concluo
que não fiquei tão chamativa, contudo, elegante.
Na sala da pensão, aguardo o tal motorista, sentada no sofá. Graças a
Deus, ele chega quinze minutos depois.
— Boa noite! — Aproximo-me do carro e do senhorzinho na beirada
do meio-fio, ele me cumprimenta segurando a porta do passageiro.
— Olá, boa noite! — Consinto educada.
— Por favor...
Eu entro, ele fecha a porta e volta ao volante.
Durante a viagem, eu vou admirando a vista da cidade pela janela. E
sem querer, pego-me pensando naquele discurso da Collins hoje no
restaurante. Eu não deveria me importar com as dores, com as feridas dele.
Eu não deveria era nem pensar nele. O que ele fez para me ver entregue aos
seus desejos, foi nojento, sem caráter. Sem dizer... que não se importou com
o meu sofrimento. Senti-me um objeto descartável.
Em uma hora, o motorista entra num conjunto residencial luxuoso.
Ele vai até a sexta casa chique e desce, abrindo a porta e aguardando-me. Eu
estou nervosa. Muito nervosa.
— Obrigada. — Ele me ajuda a sair, apoiando cavalheiro a minha
mão.
Parada na calçada que leva a enorme porta principal, eu respiro,
olhando o jardim da frente bem iluminado e rodeado de pedras brancas. Isso
não é uma casa, é uma mansão. Que coisa linda. Na porta do local, eu aperto
a campainha. E quem me recebe é uma moça de cabelos cacheados. Ela sorri,
receptiva.
— Olá, por favor, me acompanhe. Srta. Clara está na sala com os
outros convidados.
Agradeço e vou, encantada com o interior aconchegante e bem
mobiliado. Ao fundo, toca um jazz romântico.
— Eloíse?! — Do sofá, Clara exclama meu nome ao se levantar do
meio do grupo de seis homens e três mulheres, entre outros que se encontram
espalhados.
O desgraçado do Felipe está entre eles. Conversa animadamente com
as pessoas.
— Olá, seja bem-vinda. — Ela me abraça.
— Obrigada, é uma honra. É tudo muito glamouroso.
— Que isso. É você que está lindíssima. Aceita um vinho? Um
champanhe?
Noto Guilherme desfilar faceiro em minha direção.
— Uh-la-la, hein Eloíse? Tá um xuxu, meu bem! — Ele comenta e
pisca.
Eu sorrio. Ele veste uma bermuda, com estampa de abdômen
malhado, e camisa azul, combinando com os sapatos de grife. Gui é muito
inovador.
— Obrigada, Guilherme. Você também está muito bonito e charmoso.
— Ai, são seus olhos!
— Gui, por favor, poderia pegar uma taça de champanhe para a
Eloíse?
— Só um minuto, minhas queridas, eu estou de olho naquele garçom
moreno de olhos claros. O deuso maravilhoso.
— Sangue meu, não me faça trancá-lo no sótão, Guilherme!
— Ok, já vou, mas não garanto retornar!
— Cadê a dona Marta, srta. Collins? Gostaria de lhe desejar um feliz
aniversário.
— Ah, sim, é mesmo, ela está com as duas irmãs e a minha mãe,
organizando a mesa de jantar. Venha, vou te levar até ela.
Ao passarmos por de trás dos enormes sofás, rindo, Felipe vira a
cabeça e fecha devagar os lábios, encontrando meus olhos semicerrados. Eu
desvio, puxando assunto com Clara.
Na sala de jantar, eu vejo uma mesa de vinte quatro lugares já pronta
com os pratos e talheres. Em pé, Marta, dona Juliana e mais duas mulheres
conversam entusiasmadas. Eu sou apresentada a todas elas. Em especial, dou
um abraço e desejo um feliz aniversário a anfitriã. Pena não ter trazido
nenhum presente, afinal, eu fui convidada de última hora.
Após muita graça delas, que são uns amores, eu deixo Clara
resolvendo outro assunto e volto caminhando com o Guilherme.
— Eu não entendi o porquê da Srta. Collins ter insistido tanto em me
convidar. Sinto-me deslocada — confesso a ele.
— Está tudo bem, Eloíse, eu também não conheço direito a família da
mãe dos Alencar. E adorei conhecer, ela tem uns sobrinhos lindos. Olhe
discreta pro segundo sofá a nossa esquerda, aquele ruivo alto.
Eu olho discreta... e que isso? Nossa, realmente o cara é bonito.
Tirando o monte de barba ruiva e os cabelos até os ombros, até gostei.
— E aí, não é um pedaço de pão multiplicado por Afrodite? O buraco
da minha fome chega a roncar. Eu ficaria cem dias tranquilo no deserto se no
final o meu alimento fosse aquele gostoso.
Eu caio na risada.
— É sim. Você é terrível.
— Ai, ai, minha senhora dos bofes divinos, ele se levantou do sofá.
Venha, vamos nos aproximar do garçom para pegar mais vinho. —
Guilherme me puxa. — Quero provocar ciúmes. Socorro, eu estou pegando
fogo!
O homem ruivo caminha na mesma direção que a nossa. Meu Deus. E
o Guilherme não para de andar.
— Guilherme, Guilherme, ele, ele...
Paramos de encontro com o garçom e o moço de madeixas
enferrujadas.
Ele me fita e eu ergo a cabeça, corada.
— Ai, querido, perdão, parece que só temos uma taça de vinho para
disputar.
— Eu posso pegar mai.. — o garçom diz e Guilherme pisa no pé do
coitado, calando-o.
— Não... tudo bem, podemos deixar para a senhorita. Se não se
importar? — O homem pega a taça e oferece-me.
Senhor, eu estou queimando de vergonha.
— Eu? De forma alguma, anjinho, nossa linda loira merece.
— Realmente, muito linda.
Eu quase caio para trás.
— Por favor, aceita, senhorita...? — Ele questiona o meu nome, bem
paquerador.
— [...] Eloíse... Obrigada, é muita gentileza. — Eu pego, tocando-o
nos dedos.
— Você é sobrinho da Marta, né? — Guilherme puxa assunto.
— Sou sim, mas não moro na capital.
— Hum, é do interior?
— Sou. Cheguei ontem de viagem.
— Que incrível... né Eloíse? — Gui bate de leve no meu braço.
Quase tusso o vinho.
— É, é sim. Muito interessante.
— Qual o seu nome?
— Samuel. Vocês são parentes de algum familiar da Collins? — Ele
me observa com segundas intenções.
— Não. Eu sou o sócio dela e a Eloíse é uma amiga nossa.
— Hum, amiga? É um prazer conhecê-la — pisca.
Eu sorrio.
— Samuel! — Uma voz grossa e arrogante surge ao meu lado, quase
me fazendo perder as pernas de incredulidade.
Eu fecho a boca, seguro na mão do Gui e o encaro. Meu coração só
falta saltar pela caixa torácica. Como esse homem ousa aparecer quase
raspando em mim?
— Felipe?
— Lembro-me de não termos finalizado o assunto da sua noiva.
Estava tão... tocante.
— Ah... — o homem fica boquiaberto e desvia dos meus olhos. — É,
claro. Ela está bem.
— Noiva? — Gui sussurra para mim. — Gente, o bofe não presta?
— Hum. Que bom que vocês não perderam a criança. Soube que
nasceu prematura?
— Não, não perdemos. Ele continua internado na incubadora.
O que o Felipe pretende com estas perguntas, intrometendo-se no
papo alheio?
Ele está tão cheiroso... alto... de camisa social preta por dentro da
calça jeans. E um blazer dando ar de classe. Um desgraçado lindo... O odeio.
O detesto!
— É... peço licença, vamos deixar os senhores conversando à sós.
Felipe me encara bravo, fuzilando-me com os músculos rígidos.
— Sem caráter... — então, sussurro para que ele ouça.
Eu sinto vontade de bater na cara dele, mas Guilherme me puxa.
— Eu não acredito... como, como ele... eu quero matar aquele homem
estúpido! — Exclamo nervosa.
— E eu? Caramba, o safado tem noiva e um filho. No entanto, pelo
menos funcionou. Um Alencar nunca deixaria de marcar território.
— O... o quê? Eu não estava falando... Espera, eu não acredito.
Aquilo era um plano seu e da Clara?
— Não! — Ele me para rápido e afobado. — Desculpa, bonequinha,
foi eu quem tentei chamar a atenção do boy.
Desconfiada, cerro os olhos.
— Eu e o Felipe nunca tivemos algo sério, quero deixar bem
explícito. Ele me usou. Eu o odeio. É um cafajeste sem escrúpulos, sem
caráter!
— Que tal procuramos as outras mulheres? Acho que o jantar já deve
estar para se iniciar — Guilherme desvia do assunto. — Vem?
Eu terei que revelar a verdade para que entendam a minha situação de
uma vez!
CAPÍTULO 24. PARTE II
Que porra esse cabelo de cenoura está querendo? Merda, Clara vai me
tirar do Controle se insistir em me aproximar da Eloíse. Eu estou louco por
ela. Mais do que tudo. Só que não posso. Eu não sou esses otários
arrependidos. Que bosta!
Inquieto, vejo a loira conversando com o filho da puta do Samuel. E
ele ousa tocar na cintura dela. É o limite. Eu caminho pronto para torcer o
pescoço do desgraçado. Contudo, Fernando aparece ligeiro, agarrando meu
braço.
— Que porra, Felipe. Não vai estragar a festa!
— Aquele cabelo de cenoura está do lado da minha... — relincho
furioso — da porra daquela loira!
— Você não estava desprezando a mulher? Agora aguente, bundão!
— Você também era sim! — Fuzilo-o. — E se fosse a Clara dando
mole para outro prego?
— Eu mirava duas balas na cabeça do arrombado. Mas você não vai
fazer. Decida o que quer primeiro!
Ele me solta e eu sacudo os ombros. Porra. Eu quero ela. Eu preciso
dessa mulher. Puto, eu escolho ficar de pé, encarando-a até ela descobrir o
meu olhar enfurecido. Viro o copo de whisky de uma vez só e balanço a
cabeça. Que se foda esta festa!
Em instantes, eu me materializo do lado do Samuel, fazendo a Eloíse
arregalar os olhos de surpresa. Ele inclina o rosto.
— O que foi, Felipe? — Pergunta desprezível.
— Não é da sua conta. Eu não vim falar com você. Me acompanhe,
Eloíse?
— Como é? Não mesmo! — Ela me fuzila, incrédula.
Que droga, eu vou arrastar esta mulher pelos cabelos.
— Eu sou capaz de fazer uma besteira se você não vir comigo!
— Calma, priminho postiço. — Rindo, Samuel coloca a mão no meu
ombro. — Ela está muito bem acompanhada. Não notou?
Eu fecho os olhos, cerro os punhos e mordo o maxilar.
— Você tem cinco segundos para tirar as patas imundas do meu
ombro!
— Ah, é sério?
Ele não tira e eu não preciso contar, pois quando abro os olhos, com
um soco, só o nariz dele estrala, desabando em sangue. Samuel cai no chão.
— Felipe! — Eloíse exclama apavorada.
— Seu infeliz! — Samuel retorna, socando-me.
— SOCORRO, POR FAVOR!
Eu voo mais feroz sobre ele. Alguns homens surgem. Porém não
conseguem me prender, eu continuo a bater e o filho da puta a revidar.
— Felipe, meu filho!
— Gente!
— Fernando! Amor!
— Porra, Felipe!
Fernando surge empurrando o Samuel e com um único soco no meu
peito, me faz bambear contra a mesa da decoração. As coisas rolam para o
piso de mármore.
— Está louco?!
Ofegante, meus olhos não saem do cabelo de cenoura. Ele cospe em
fúria contra mim. Pela segunda vez, eu quase o agarro. Só que desta vez,
Fernando me prende pela camisa.
— Tire o Samuel daqui, caralho!
— Eu vou matar esse verme! Esse filho da puta!
— Controle-se, droga!
Eu afasto a mão do Fernando e limpo o sangue da sobrancelha e da
boca. Garanto que aquele arrombado ficou pior do que eu. Estrume!
— Sobe com ele para o quarto, Fernando, vamos cuidar desses
ferimentos.
— Eu estou bem, me deixem! — Exclamo.
Levanto a cabeça e Eloíse está do lado da Clara, que a chama
incessante para a seguir. Porra, eu só sei foder mais as coisas. Os convidados
e parentes da Marta me olham incrédulos, descrentes.
— Vamos, Felipe...
— Por favor.
Marta e dona Juliana me pedem quase suplicando. Descontrolado, eu
me rendo e acompanho as duas.
— Chamem a Eloíse!
No quarto, eu tiro o blazer e sento-me na cama.
— Acho que ela não quer falar com você. Eu vou pegar a bolsa de
primeiros socorros na cozinha, só um minuto.
— Por favor, chamem a Eloíse! — Eu ordeno desta vez alterado,
violento. — Eu quero ver aquela mulher!
Dona Juliana abre a boca, ergue a cabeça e entreolha a Marta. Então
se retira do quarto dos hóspedes, nervosa. Minha mãe a acompanha sem
contestar uma palavra. Porra, eu estou ficando pior do que o obcecado do
Fernando. Que caralho aquela bruxa loira está me provocando? Eu vou ficar
maluco!
Ao me ver sozinho, não demora a surgir um furacão no batente e eu
saltar da cama.
— Fique a onde você está! — Ela bate à porta.
— Droga, Eloíse!
Ela vem até mim com uma bolsa branca, furiosa. Ao se aproximar,
empurra-me contra o colchão. Abre a bolsa, pega um pedaço de rama e a
porra do álcool.
— Você é um cretino, um infeliz sem escrúpulos! — Murmura,
virando o corpo e pressionando forte, o infernal do algodão na minha
sobrancelha.
— Merda, melhor jogar o vidro inteiro na minha cara!
— Não me deixe com vontade, pois eu regresso na cozinha para pegar
um isqueiro também. Eu te odeio!
Eu levanto a cabeça, mas ela desvia dos meus olhos.
— Eu estou aqui me humilhando só porque a dona Marta suplicou
desesperada. Por mim, depois daquela demonstração boçal e vergonhosa, eu
iria embora. E que você sofra no inferno!
— Se humilhando? — Analiso-a, fissurado pelo seu perfume doce.
Esqueço o furor.
— Você é desprezível. Eu jamais esquecerei o que você armou contra
mim.
Porra, as suas palavras... droga. Eu não vou me sentir culpado. Pego o
algodão da mão da Eloíse e levanto-me ríspido. Em susto, ela dá um passo
para trás.
— Agradeço o favor humilhante. Agora pode retornar ao seu querido
ruivo. Garanto que ele se encontra mais necessitando de primeiros socorros
do que eu!
— Grrrr, como consegue ser tão mesquinho e... — Vermelha de raiva,
ela ergue a cabeça e grita: — Orgulhoso!
— Eu sou assim! — Esbravejo com ódio. — Um filho da puta fodido.
O que esperava de mim? Um prego cheio de sentimentos?! — Por pouco, eu
não berro mais alto, no entanto, o corte na minha boca dói e sangra sem
parar.
— Merda! — Eu xingo, estancando-o.
Ela respira fundo e volta a pegar o algodão. Eloíse se aproxima de
novo, segurando meu queixo. Sua ação me faz desaparecer com a armadura.
Eu fico desarmado, sem defesa. Eloíse pressiona a ferida.
— Fique quieto seu idiota. Isso está horrível.
Ela me xinga, sendo delicada com o machucado.
— Você colocou o alco....
— Calado. Sangra mais quando você fala.
Permaneço em silêncio, agitado pelo toque feminino da loira. Ela
ergue o pescoço e sem querer me encara nos olhos. Eu controlo o impulso de
puxá-la e sentir a maciez da sua pele, o cheiro dos seus cabelos, o sabor dos
seus lábios vermelhos. Apenas fecho os dedos e não desvio dos olhos azuis
dela.
— Sabe de uma coisa? Vejo ser verdade, Felipe, você é um homem
orgulhoso. E o orgulho não leva ninguém a ser bom. Só te leva a dor, ao
sofrimento e a ruína. Deus nos ensinou a perdoar e a ter amor ao próximo.
Por mais que seja difícil hoje, amanhã pode ser tarde demais. E um dia eu
terei que lhe perdoar. Mesmo que perdoar não seja esquecer.
Eu franzo o cenho, em surpresa pela sua declaração sincera. Eloíse se
desvia de mim outra vez e pega dois band-aids.
— Você me perdoar? — Eu balanço a cabeça, rindo sem humor. —
Eu não mereço perdão. Eu sou um fodido!
Ela regressa incomodada. E como uma professora ensinando boas
maneiras ao moleque mais arteiro da classe, profere:
— Todos merecemos. Perdoar é ser forte, é cicatrizar. Pedir desculpas
é ser corajoso. E ter amor é acolher um coração generoso. Tudo isso nos
liberta da angústia, nos faz tirar grandes fardos das costas. E não perdoar... é
jamais ser feliz.
Ela penetra a minha alma. Vendo todos os meus pecados. Eu não sei
pedir esta droga de perdão.
— Talvez eu tenha nascido para morrer em ruína. Esse é o fim de
qualquer desgraçado.
— Que mesquinho. É o orgulho que acarreta a ruína e a inquietação.
Abra os olhos e veja que as coisas boas existem dentro de nós. É a gente que
faz o momento. É a gente que decide a hora de levantar a cabeça e reconstruir
outra vida por cima dos entulhos. Por cima das ruína. Os dias maus também
chegam ao fim. Viver é a coisa mais rara do mundo. Por isso, que sejamos a
raridade de um mundo onde as pessoas só existem. Que sejamos raros e
felizes!
Trêmula, Eloíse cola ligeira os curativos na minha cara e tentar sair
para ir embora, só que eu a pego pelo braço e a tomo em um aperto tortuoso,
que me dói no coração. Ela tenta me afastar. No fim, não consegue.
— Por favor, não vá... — sussurro, rendendo-me a culpa. — Você
merece me ver quebrado assim. Eu estou todo fodido. Por dentro e por fora.
Em lágrimas, ela ergue a cabeça e balança o rosto triste. Isso parte o
meu interior.
— Mas te ver assim me dói, Felipe, pois mesmo você não merecendo
as minhas lágrimas, as minhas noites de sono em claro, eu ainda tenho pena
de você.
— Porra... pois não tenha! Eu sou assim! Eu sou um verme sem
sentimentos, que não merece pessoas boas como você! E que não merece a
pena de ninguém!
Irritada, ela molha os lábios e não luta para que eu a solte.
— Para de ser orgulhoso! Pelo amor de Deus! Nem que seja por um
instante! Você não tem esse direito! Você não tem o direito de ignorar os
erros, de ser vaidoso, de ser um arrogante! Você é um humano como eu! Que
sofre, que chora, que ri e que ama!
Num estalar dos dedos eu largo ela e pressiono os punhos, raivoso.
— Cala a boca, Eloíse!
— Cala a boca você! Esta é a verdade que um homem fodido nunca
ouviu! Você ama! Você se apaixona! Você tem compaixão!
Sem controle, eu a agarro novamente pelo braço e a jogo na cama
com rompante.
— Me solta!
Eloíse grita, socando-me o peitoral, enquanto eu soco sem parar o
colchão.
— Não seja covarde... — A mulher fecha os olhos e noto que se
aquietou. Merda!
Eu xingo, cessando a minha exasperação em violência.
— Porra, você apareceu para infernizar tudo! Para me deixar louco!
Eu vou virar um maníaco!
Meu tórax sobe e desce ofegante. As coxas da Eloíse estão
completamente nuas embaixo de mim. Seu decote demonstra a força que seus
seios buscam para respirar. Ela me fita. Rendido, fissurado de desejo, eu
inclino e a beijo com ânsia, com vontade de amordaçá-la no meu corpo e
nunca mais deixar que se vá da minha vida.
Capítulo 25
Que merda...
Tonto, eu acordo com uma dor de cabeça terrível. Eu inclino o tórax e
assusto-me com um braço de mulher sobre o meu peitoral. Droga. Eu olho
para o lado e Eloíse está cochilando em profundo sono. Porra, o que eu fiz? O
que Eloíse faz aqui?
Desespero-me.
— Felipe? — Ela abre os olhos inchados, sonolenta.
Eu abaixo a visão e a ficha caí, eu estou de calça e a Galvani de
vestido.
— Eu não fiz nada com você? — Questiono necessitado de esclarecer
meus atos.
— Não. Está tudo bem.
— Merda, eu não me lembro.
— Vo-você não se lembra?
— Não. O que eu fiz, Eloíse? Eu fodi mais as coisas?
Ela está com os olhos arregalados. Eu aguardo a resposta, louco de
medo.
— Fala, Eloíse! Responda!
— Não. Eu já disse, está tudo bem.
Prestes a explodir de enxaqueca, eu saio da cama, aliviado.
— Eu só me lembro de ter ido embora de manhã daquele bar. E sei lá.
Dormi na praia.
— É melhor não pensar.
Ela também se levanta, sem me encarar na face.
— Eu vou embora. Você me deixou fedendo a álcool. Até parece que
foi eu quem bebi.
— Eu sinto muito se a forcei a vir para cá. Sinceramente, não me
recordo. Eu estou morto de cansaço.
— Pare de querer se lembrar. Tome um banho. Antes de ir embora, eu
preparo um café forte. Vai ajudá-lo na ressaca.
Ela quer ainda cuidar de mim? Porra, eu sou um filho da puta. Ela
deveria era chutar o meu traseiro e tocar o foda-se.
Eloíse me deixa sozinho com os meus tormentos. Eu tomo um banho
gelado, sentindo a tensão alcoólica de ontem descer pelo ralo abaixo. Ao sair,
eu me seco, visto a cueca e uma calça pijama.
Na cozinha, adentro, analisando a loira preparar umas torradas na
torradeira, enquanto aguarda o café da cafeteira ficar pronto. Ela é tão linda,
consegue ser doce e sexy sem ao menos perceber.
— Que susto!
Ao se virar, ela coloca a mão na caixa do peito.
— Estava entretida.
— Se sentindo melhor? — Questiona igual a uma mãe cautelosa. —
Acho bom nunca mais agir igual a ontem. Foi desesperador.
— Eu não sou assim. — Sento-me na banqueta, fitando seus olhos
azuis. — Eu fiquei louco.
Ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. E desconcertada, se
desvia de mim, notando que as torradas estão queimando.
— Por pouco!
Ela tira os pães ainda intactos, em seguida o café e oferece-me. Eu
pego só o café, sem a menor fome.
— Já estou acostumada a fazer cafés para "pós-ressaca". Eu era a
garçonete do bar do meu pai. Eu lidava todos os dias com inúmeros bêbados.
Sem assunto, não respondo.
Ela nota, pois desconfortável, termina de guardar as coisas no armário
e veste seus saltos.
— Eu... eu já vou. Tenho afazeres na pensão. — Ela passa devagar
atrás de mim. — É... adeus, Felipe.
Aperto os olhos, mordo o maxilar, lutando contra esse caralho
doloroso dentro do meu interior. Eloíse abre a porta. Eu então me ergo num
pulo. E a alcançando, a puxando feroz pela cintura.
— F-Fe...
— Eu não vou deixar você ir! — Bato a porta.
Eloíse coloca a mão no meu peitoral nu, tentando me afastar. Sem
saber o que dizer, ela para.
— Eu não entendo você, Felipe.
— Porra, nem eu, nem eu, Eloíse!
Eu jogo a minha loira contra a parede e beijo seus lábios, sugando-a
de corpo e alma. Eloíse perde as forças.
— Felipe... não... por favor. Não me machuque mais.
Sua frase me faz ficar louco de raiva. Eu seguro a cabeça dela com as
duas mãos.
— Você é minha. Entendeu, Eloíse?
— Não, eu não sou sua.
— Voc...
— Não! — Ela me interrompe. — Eu não te perdoei pelo que fez.
Você é um orgulhoso, que não tem a minha confiança. Você só quer saber de
sexo. Depois que se cansar do meu corpo, vai me largar abandonada, vai me
deixar com esse buraco mais aberto. E eu prefiro sofrer agora, do que
amand... do que sentindo algo forte pelas suas mentiras! — Ela chora.
— Eu não sou assim... eu não... — Largo-a.
— Como você sabe? Qual foi a última mulher que você amou de
verdade? Que sonhou em montar uma família? A gente não arruma uma
pessoa pensando no fim do relacionamento. A gente arruma uma pessoa
pensando no pra sempre. E é por isso que você não me merece. Porque eu
não sou um objeto. Eu não sou as suas vadias de só uma noite. Você me tirou
de um homem que eu desejava me casar e ter uma família. E você sabia
disso!
Suas palavras me doem. Eu fico puto.
— Você só me deixa mais culpado. Que porra! Eu fui um canalha, um
filho da puta que te usou! Só que eu não quero ser mais assim. Porra, veja, eu
confesso, eu estou louco por você. Eu quero ser diferente. Eu quero tudo seu,
você não sai dos meus pensamentos, do meu peito! Eu quero você, Eloíse!
— Assim como não se importou com a minha dor, eu não me
importarei com a sua. Se me quer, prove que é sincero, que merece a minha
confiança e o meu perdão. Tente ser um homem menos orgulhoso. Conquiste
a palavra 'amor'. Eu vou estar no mesmo lugar, pensando em você. Tendo
esperanças de que vai se redimir.
— Eu não sei se eu vou conseguir. Eu fiz muita coisa errada. Metade
das minhas canalhices, não chega nem perto desses demônios. Eu sou um
completo fodido, que não vive, que só é um peso na terra. E você não merece
sofrer por mim, carregar mais fardos, descobrir mais podres. Eu tenho medo.
É por isso que eu nunca tive outras mulheres. Eu vou te decepcionar, eu sei
que eu vou.
Eloíse se aproxima, acariciando a minha barba e encarando meus
olhos em desespero.
— Você é um homem bom. Tente descobrir esse humano aqui
dentro... — ela toca na direção do meu coração. — E se falhar, tenha
coragem de se reerguer de novo e de pedir perdão. Isso não tira pedaço, é ser
uma pessoa forte. Eu gosto muito de você, mas eu só vou poder ajudá-lo
depois de provar que é sincero, que merece a minha confiança. Só assim eu
posso ser sua, te ensinar a curar as feridas. Te ensinar a viver apenas com as
cicatrizes do passado. O amor cura tudo. Você precisa de mim, Felipe. — Ela
me dá um beijo, carinhosa ao afagar os meus cabelos úmidos.
— Que porra, não vá, Eloíse. — Eu a agarro, mantendo-a grudada no
calor do meu corpo. — Eu quero correr qualquer risco.
— Mas eu não quero, já cansei de sofrer. Eu disse que vou estar no
mesmo lugar, talvez não dê certo, mas se estiver disposto a mudar, já tem
uma amiga.
Sua frase me corta a alma. Eu não aceito uma amizade. Eloíse é
minha, é minha loira! Eu a solto, puto por estar perdendo a guerra para esta
droga de orgulho que assumo ter.
— Então esteja disposta a deixar sempre a porta aberta. Porque é
minha, e eu não vou aceitar ficar um só dia longe de você. Eu mato qualquer
filho da mãe que te olhar, que ousar tocar no que é meu!
— Tchau, Felipe... E por favor, coma as torradas e vá descansar.
Eloíse me beija outra vez, só que no rosto. Eu seguro o impulso de ir
atrás de uma algema. Ela limpa as lágrimas, afasta-se e vira as costas. Sem
olhar para trás, minha loira abre a porta, passa pela mesma e me deixa à
mercê da solidão ao fechá-la.
Que droga, este apartamento tem o cheiro, a presença feminina dela.
Eu me sento no sofá, gemendo igual a uma criança derrotada. Fernando disse
que o momento da minha redenção estava a caminho. E há seis anos, naquela
noite, se eu não morri pelos cinco tiros no corpo, foi porque esta redenção
não viria pela morte, nem pela dor física, ela viria de vestido, de saltos e
espalhando um perfume tão doce quanto o puro mel. E eu debochei do filho
da puta!
Capítulo 27
[...]
Ofegante, resistindo às suas carícias, eu o encaro, sem gemer. Felipe
fica ainda mais bravo. Eu, então, pego com firmeza nos seus cabelos e o
aperto doloroso na mandíbula. Ele cerra os olhos, não demonstrando que vai
me largar.
— Felipe, eu não vou ser a sua cadelinha. Você não merece a minha
confiança. Quanto mais o direito de me invadir, exigindo sexo. Por isso, o
que faremos é um acordo.
— Acordo? Você me chamou de... Eu estou furioso! — Ele me
prende pela cintura.
— Me solte e me deixe terminar de falar!
Cuspindo fogo pelos olhos, ele engole o ego de macho gostosão e
solta-me.
— Fale, Eloíse?
— Eu quero muito transar com você, afinal, eu sou de carne e osso.
Felipe fica obstinado pela minha confissão.
— Isso é para me levar ao desespero? — Ele me toca no clitóris,
arrepio-me.
— Pare, eu ainda não terminei!
— Porra... — Ele me solta novamente.
— Vamos lá, você não vai me tocar mais. É eu quem mando aqui. O
corpo é meu!
— O quê?
— Isso mesmo. Sai de cima de mim! — Felipe relincha feito um
cavalo e vira-me por cima dele. Encaixo as coxas no seu quadril. — Segundo,
é eu quem busco prazer. Você que se dane! — Eu inclino as costas, pegando
dois pares de algemas na gaveta do criado mudo.
Felipe, por pouco, não me impede, entretanto, eu sou mais ligeira.
— Você vai me deixar incapacitado com essas bostas. Quer me
enlouquecer?
— Eu só quero me vingar de você. E não pode me negar tal desejo.
Mê de seus pulsos, Felipe! Anda!
— Onde arrumou as porcarias?
— E te interessa?
— Onde arrumou isso, Eloíse?! — Ele quase me segura com força
pelas coxas e tenta "correr".
— Tire as mãos de mim! Eu ganhei de aniversário da minha amiga
Suellen. A gente gosta de sacanear os presentes. E achei uma boa hora para
usá-las. Agora, me dê seus pulsos?!
Puto por eu estar mandando na sua pessoa orgulhosa, o canalha me
nega a ordem. Eu bato nele. E em meio a reluta, eu consigo finalmente
algemar seus pulsos na barra da cama de solteiro. Ele fica totalmente à mercê
de mim. Todo meu escravo. Só meu. Eu sorrio, feito uma diaba. Ah, Felipe,
eu tenho tanta, tanta raiva de você. Eu queria socar a sua cara.
— Eu não vou te tocar, caralho!
— Oras, agora que o canalha notou? Você não vai colocar um dedo
em mim. O que me interessa está abaixo da sua cintura. Vamos dizer que
você será o meu "vibrador humano" — pisco.
— Sua di...
— Diaba? — Eu sorrio. — Você está me tornando assim. Por sua
causa, eu não vou ser mais uma bobinha sem valor. Se me quer, prove que
me merece por inteira, prove que tem caráter para tocar no meu corpo. E se
não provar, o azar é teu. Pois, homens... é o que não me falta no mundo.
— Eu mato cada um! Você é minha! — Esbraveja, em furor, tentando
se desprender da cama.
— Mas e você... é só meu? — Com o coração acelerado, aguardo a
resposta, brincando com o cinto da sua calça jeans.
Ele me encara.
— Se eu disser que não, você vai cortar meu cacete?
Eu bato no peitoral dele.
— Canalha!
— O que quer? Você sabe a droga da resposta, meu pau, meu corpo,
meus pensamentos, tudo é seu!
“E o coração?” — engulo a pergunta formulada no meu pensamento,
recordando-me da declaração dele naquela noite. Mesmo bêbado, eu senti
tanta sinceridade. Isso me encheu de esperança em poder ajudar o Felipe a ser
alguém melhor. A dar uma chance para o lado "amigos".
— Hum... Até me provar que é de caráter, sofrerá as consequências.
— Puxo o cinto de uma vez.
— Eu vou ficar maluco!
O cretino se mexe, enrijecendo-se abaixo da minha intimidade.
Arrependi-me de não ter tirado a camisa dele antes de amarrá-lo. É um
desperdício eu não abusar dos seus músculos também. A partir de hoje, eu
quero ver ele rastejando, almejando me sentir.
— Isto é um castigo, não colocar as mãos em você. — Ele geme sobre
o meu toque. O arranho o abdômen de gomos. — Eu estou sendo abusado.
Um objeto sexual.
O que tem de canalha, tem igualmente de beleza. Desgraçado!
— Considere uma vingança. Só a ponta do 'iceberg'. Eu quero que
você sofra, seu cafajeste sem escrúpulos!
Abro o zíper da sua calça, desabotoando e retirando. Arranco seus
sapatos, as meias e volto, admirando o volume gigantesco na boxer branca.
Que delicia de safado.
— Tem certeza que não vai arrancar meu pau?
— Você está brincando comigo? — Brava, aperto-o com as unhas.
— Que merda, sua loira gostosa... — ele urra de dor. — Se me soltar
daqui, não respondo por meus atos. Que se dane a porra toda!
Buscando a ousadia do meu interior feminino, com raiva, eu puxo a
boxer e dou olá para o "Felipe Junior". Eu pulso, desejando chupá-lo. Porém,
seria muito prazer para este infeliz. E quem merece prazer não é ele.
— Você não merecia os dotes que tem... — o toco e ele se enrijece
mais.
Eu respiro fundo, excitada.
— Já nesse caso, você teria que discutir com Deus, loira — ele sorri.
O canalha tá gostando? Não era para ele estar gostando de nada!
Nervosa, solto o pau inchado dele e levanto-me, sem a parte de baixo do
short e da calcinha, apenas com o top. O homem late igual a um cachorro
carnívoro.
— Essa visão é o céu. Me solte e me deixe provar do seu corpo. Eu te
darei todo o prazer do mundo.
Eu sorrio, aproximando-me.
— É uma proposta tão tentadora. Mas você não me merece.
Felipe me fuzila sem paciência. Feliz por ele estar puto comigo, eu me
sento no seu pau, sem penetrar. Inclino a boca até seu rosto e beijo o canto
dos seus lábios. Doida para começar a diversão.
— Merda...
— E não se preocupe moreno, o senhor me dará muito prazer. Só que
sem as mãozinhas... — sussurro maliciosa.
— Pare de judiar...
Eu me apoio no seu peitoral e deslizo o corpo pelo seu comprimento
cheio de veias. Os lábios do meu clitóris o abraça, levando-me a gemer.
Felipe fica inquieto, xingando, pulsando.
— Que porra...!
— Eu estou tão molhadinha... hummm... é uma pena você não poder
sentir.
— Eu vou morrer assim! Me solta, caralho!
Eu mordo a carne da boca, fecho os olhos e rebolo.
— Você não tem o direito de me dar ordens. Fique quieto! É eu quem
estou no controle aqui!
Abro os olhos, tiro o top de ginástica e Felipe lambe os beiços com a
visão. Meus seios estão duros, empinados.
— Eu iria devorar esses peitos a noite inteira. Enquanto a masturbo.
As palavras cretinas dele me deixa fraca das pernas.
— Por favor, cala a boca, Felipe!
— Eu queria tocar a sua pele, puxar os seus cabelos... você é minha, e
eu iria provar que digo o caralho da verdade.
— Não, eu não acredito mais em você.
— Eu não vou discutir...
— É um desgraçado.
— Chega de falar e me penetra logo essa buceta lambuzada! Pois os
meus braços estão dormentes e as minhas bolas roxas!
Eu sorrio e volto a dançar sobre ele. Minha vagina palpita. Meu
sangue ferve.
— Já disse, fique quieto, você me desconcentra do meu objetivo.
— Eloíse, eu sou capaz de amputar as mãos com os dentes. Penetra
essa buceta, porra!
— Pare de xingar... — Eu esfrego tão forte a xota nele que, por
pouco, não desmaio de tesão.
Ele late de desejo.
— Meu pau doí de vontade ter você o devorando.
Eu gemo. Acho que pela cara do Felipe, se ele estivesse solto, já teria
me deixado sangrando de tantos tapas na bunda. Eu queria ter um chicote
agora, para chicotear esse homem sem dó. Ele pensa que ainda tem o direito
de mandar em mim?
Ele me fuzila louco de fúria. Eu pego na sua rola quente, levanto o
corpo e coloco a cabeça rosada direcionada a minha entrada latejante.
— Não precisa ficar com essa carinha. Eu não ligo para nada além do
seu "cacete". — Safada, eu, então, sento, abro a boca e choro, invertendo os
papéis... pois desta vez quem sofre sou eu pela grossura inchada entrando em
mim.
Felipe relincha igual a um animal, mexendo as pernas com
exasperação. Familiarizando-me com o pau robusto me rangando a xota em
câmera lenta, eu, enfim, movimento os quadris indo e vindo. Esta posição
não vai ser nada fácil. Que droga de homem.
— INFERNO!
Querendo ser fodida, eu cavalgo nele. Trepo. Desço e subo. Rebolo as
paredes vaginas, sufocando-o em uma dança torturante. Meus cabelos
grudam no meu rosto. Abaixo e mordo a sua camisa. Minha vontade era de
estalar gritos de satisfação aos quatro cantos da terra.
— Droga, droga... pensa em coisas brochantes, coisas brochantes;
velhas gordas, obesas transando, traveco... — Sem ar, eu paro e olho o Felipe
que está blasfemando entre gemidos não sei o que para si. — Não pare, ou eu
vou gozar igual a um adolescente!
Eu continuo a cavalgar sobre ele, choramingando de dor e de prazer.
Eu mastigo seu pau, ora devagar, ora rápida. Minhas mãos oprimem meus
seios com força. Massageando os mamilos eretos, excitados.
— Ahh, que gostoso.
Ele fecha os olhos para não me ver e aperta os dentes e os punhos.
— [..] um soco nos testículos... sexo com defunto, pornô viado...
merda, inferno de mulher apertada, tesuda...
— Feli... — Antes de eu poder questioná-lo, ele não suporta e goza.
Eu... eu não acredito. Deveria ter me prevenido com uma
masturbação.
— Caramba! Sua loba, sua devassa! Eu vou morrer!
Sua ejaculação me preenche de jatos fortes e quentes. Eu fico tonta,
sem a energia do corpo. Arqueio as costas e da mesma forma, gozo ao ápice
em segundos, rebolando.
Cansada, paro, respiro.
— Muito gostoso, sr. Alencar, meu escravo. — Tiro-o de dentro de
mim e esfrego a minha boceta encharcada na sua perna.
— Eu estou pagando todos os meus erros, só pode. QUE CARALHO,
ELOÍSE!
— Está sim... não grita!
— Vai me deixar de molho a noite toda aqui? Se for, pelo menos me
come mais. — Ele está ficando duro de novo.
Antes de libertar o Felipe, eu me visto. Até queria mais sexo, só que
essa posição é horrível, chega ao útero e minhas coxas estão queimando.
— Eu poderia mesmo. Mas se contente com pouco.
Vou atrás das chaves e do meu spray de pimenta. Acha que eu sou
burra? Eu não confio neste cafajeste, não.
— Eu vou soltar você. E não ouse me tocar. Ou eu uso este spray.
Ele não responde. Eu solto um dos seus pulsos e afasto-me, jogando a
outra chave para que se solte sozinho. Soltando-se, eu pego a calça do chão e
taco nele.
É irrisível o calor do quarto, está cheirando a macho, sexo.
— Eu não mereço um beijo?
— Nenhum. Pode ir embora.
— O quê? Nem fodendo. A gatinha abusa do meu corpinho e depois
quer me mandar se lascar? — Nu, ele se põe de pé, veste a boxer, a calça e os
sapatos.
— Eu disse para você ir embora!
Felipe deita na cama, chamando-me.
— Não resolvemos aquele assunto de me chamar de gay, pô! E o que
aquele prego do seu ex-noivo queria?
— Você ainda pergunta? Ele veio me pedir perdão.
— E você perdoou o covarde?
Eu suspiro nervosa, sentando-me aos pés do colchão.
— Não. Eu não quero mais saber dele. E pare de me questionar sobre
o Mariano, como se você não fosse o motivo de nada. Você presenciou a
confusão!
Agitado, Felipe chega áspero, bem próximo de mim. Eu fico com
aquela sensação de milhares de borboletas no estômago.
— Eu nunca disse que prestava. Eu fui um filho da puta, e não vou
negar esta culpa. Não culpa por você ter se separado daquele prego, mas por
você estar magoada. Por eu ser o motivo de lhe fazer sofrer.
Eu desvio dos seus olhos atraentes, alisando a barra da minha
camisola.
— Eu achei que aquela noite, após pegar aquela mulher na cama do
meu "noivo", transar com você diminuiria a minha dor. Me entregar aos seus
encantos, preencheria o vazio do meu peito. E foi tudo real, eu esqueci do
Mariano. Só que... — Eu o encaro, pois ele segura no meu queixo,
interrompendo o que eu ia falar.
— Eu sei, eu sei. E eu não mereço um anjo como você. Ninguém
merece estar ao meu lado. No entanto, te imaginar nas mãos de outro, me
leva a loucura. Você é minha!
Afasto-me dele.
— Eu não sou sua, eu tenho medo de você me magoar outra vez. De
querer só me usar e, em seguida ir embora — as lágrimas são inevitáveis.
— Eu não vou, eu preciso de você, loira. — Ele me puxa para o seus
braços. Felipe limpa a minha bochecha com o polegar. — Eu só tenho uma
chance de consertar as coisas.
— E você tem — eu confesso, encarando-o. — Se me quer, se diz
tanto que eu sou sua, por favor, se esforce e não me decepcione. Eu só
preciso de certezas. Eu não sou essas vadias de esquina. Eu fui roubada,
conquistada por você para sexo. Antes de eu saber que era o responsável, até
concordei em viver as loucuras sexuais que me ofereceu. Foi tudo novo para
mim. Eu tinha sido traída e estava tentando superar a fase.
— Você só me deixa mais culpado. Eu não sei como eu vou consertar
as minhas cagadas, eu sinceramente não sei. Sou um fodido.
— Comece por aqui... — repito o que eu disse para ele no seu
apartamento, colocando a mão na direção do seu coração. — Você sofre
vivendo do passado, conserte isto. Eu lhe ajudarei.
— E quando o passado resolve retornar? — Felipe me fita
profundamente. — Eu tenho duas escolhas, Eloíse. Aceitar meus pecados e
sofrer as consequências, ou achar os demônios da minha vida e apagá-los. O
que fazer?
— Eu... eu não sei.
— Então não pode me ajudar. — Ele beija a minha testa e se levanta.
— Por que não? — Seguro no seu braço. — Você me fez perguntas
sem dizer o que são esses tais pecados ou demônios? — Solto-o.
— Ninguém pode me ajudar. É só eu e ponto final! — Ele é ríspido.
— Está sendo orgulhoso, é por isso que necessita de provar que me
merece. Eu não tenho a sua confiança, assim como você não tem a minha.
Vai embora, por favor!
Felipe fica estranho. E super ágil, puxa meu corpo ao favor do dele.
— Fe...
— Eu disse para estar preparada, pois bateria todos os dias na sua
porta. E eu não mereço você, jamais vou merecer. Eu sou um desgraçado, que
hoje está disposto a mudar pela primeira vez. Por isso, não reclame das
minhas atitudes. Eu sou sozinho, solitário. Eu nunca tive outra pessoa para
compartilhar dos problemas. Nunca confiei em ninguém, além do puto do
Fernando. Porém, há dores, sentimentos, coisas que são impossíveis de ser
ditas a um colega ou familiar. Não digo, é particular. Por isso repito, não me
cobre, não me faça pressão. Eu quero você. E se também está disposta a ficar
com um fodido como eu, tenha paciência. Eu posso te decepcionar pelo
caminho. Não sou perfeito, nunca fui ou serei. E saiba... — Felipe segura a
minha cabeça. — Minha armadura, minhas defesas, só você pode desarmar.
Ele me beija com carinho e sua barba me arranha. Eu permito seu
toque, os seus lábios, com a sensação de que vai tentar mudar. Eu tenho
esperanças. Esta noite, vejo um novo homem em sacrifício pela felicidade.
— Até amanhã, Eloíse. — Ele me solta. — Ainda vou trabalhar esta
tarde.
Trêmula, consinto deslocada. Amei sua sinceridade.
— Bom trabalho... Felipe. — E ergo os pés, dando um beijo
demorado na sua bochecha.
— Eu não merecia outro beijo? Você me amarrou igual a um frango
de granja.
— Não, seu canalha! — Eu bato nele, segurando o riso. — Se você
realmente está disposto a não me deixar ir, então sofra com as minhas
vinganças. Não vai me tocar!
O garanhão vai se arrepender de ter nascido.
— Porra, loira, é maldade.
— É! E tchau, vai embora logo!
— Marrenta!
Antes de ir, rápido, ele me rouba outro beijo e um aperto doloroso na
bunda. Fico furiosa pela ousadia. Até o Felipe fechar a porta, eu saio catando
todos os objetos pelo quarto na sua direção. Canalha! — eu sorrio e me
recomponho, indo tomar uma ducha, sem tirar as suas palavras dos meus
pensamentos.
Eu posso desarmar as suas defesas...
Ele tem que mudar... o amo, o gosto como nunca gostei de outro na
vida.
Capítulo 28
[...]
Desesperada, eu vou até a garagem. E assim que eu fecho a porta do
carro, coloco a palma das mãos trêmulas no rosto. Jamais vou perdoá-la!
Bato no volante, pego o celular e disco para o Felipe. Chama, mas ele não
atende — só porque eu precisava de você... agora, aqui comigo.
O celular, então, vibra e desperta em menos de três segundos da
minha penúltima ligação apavorada. É ele. Meu ele.
— Felipe.
— Oi, loirinha?
— O-onde você está?
— No trabalho. O que foi? Tudo bem?
Não... — de repente, a minha consciência cai em si. Eu não posso
desabafar com o Felipe. É loucura. Ele é explosivo, impulsivo. Poderia sair
da agência e vir voando atrás de mim. É muito injusto interromper seu
trabalho. Decido em sã consciência, acalmar minha voz e demonstrar
serenidade.
— Sim... sinto muito por atrapalhá-lo. Ainda é cedo, deve...
— Não ligaria à toa, aconteceu alguma coisa? — Ele me interrompe,
afrontoso.
Droga de homem ávido, inteligente.
— Não... eu liguei para... — pensa, pensa Eloíse. — Para mais tarde
almoçarmos juntos! — Rapidamente, me alívio. — Você vai estar ocupado?
— Acho que eu vou te dever. Tem certeza que era só por isso?
— Sim. Você não pode? — Minha voz soa baixa e embargada.
— Se disser que precisa de mim, eu dispenso qualquer serviço e vou
até você.
— Não exagere. Tudo bem. À noite, podemos nos ver e conversar com
calma.
— O que quer conversar?
— Nada importante. Vou te deixar trabalhar, tá?
— Realmente espero que não seja nada importante.
— Não, é. Beijos, meu moreno.
— Beijos, loirinha.
Eu desligo, com o peito apertado de tristeza. E um embrulho
repentino no estômago... droga! Imediatamente, eu abro a porta do carro e o
desejo explode. A vontade de vomitar chega, expelindo até a alma. Quando
acaba, ainda abaixada, em direção ao chão, eu coloco a mão na barriga,
tremendo sem fôlego. Minha cabeça roda. Eu me sinto mal, abatida. O
vômito passou, porém, o enjoo continua intacto.
O que está acontecendo comigo? Acho que eu fiquei muito nervosa
com a discussão entre a minha mãe. E aquele café forte da vovó não
colaborou.
— Eloíse, tudo bem com você?
Na confecção, após me levantar da cadeira de maquiagem, eu fecho a
corda do robe de cetim bem fechado ao ser chamada pelo Oliver e a sua
beleza de cabelos acinzentados. Ele sorri, aguardando a minha resposta
embaraçada.
— Tudo sim.
— Pronta para as fotos? Quero muita animação.
— Vou tentar...
— Não se preocupe, Oliverzinho do meu core. Estou aqui para deixar
a nossa Elô saltitando! — Guilherme brinca. — Essa maquiagem ficou um
arraso, Eloíse. Acompanhe-me, seu vestido já foi escolhido.
— Obrigada, Gui. Com licença.
Depois de me vestir com a ajuda de uma assistente ruiva, eu vou para
o estúdio ser fotografada pelo Oliver. Recebo inúmeros elogios exagerados,
que me deixam pegando fogo de tamanha vergonha. Eu me recomponho ao
lado de uma coluna estilo romana, soltando-me no decorrer das poses. Eu
fico mais confiante, divertida, poderosa, sexy. A música sensual toma conta
do meu ser. Eu esqueço do mundo lá fora. Só existe eu, a lente da câmera
redonda, os flashes e a voz do Oliver a cada segundo exclamando "perfeita",
"incrível" "maravilhosa"... e entre outros comentários estimulantes.
Guilherme não ficou de fora. Ele bateu palminhas, assobiando e me
"aclamando" sem cessar.
No total, são treze modelos de vestidos. Hoje fotografei apenas seis.
Amanhã finalizaremos o restante. Eu me despeço do Oliver e da sua equipe
incrível. Em seguida, visto minhas roupas normais e saio do provador.
— Você já vai embora? — Guilherme questiona, acompanhando-me
no corredor de piso de mármore chique.
— Vou sim. Necessito de deitar um pouco. Minha cabeça está
doendo.
— Descansa, bonequinha. Tem que estar com esse rostinho
resplandecendo outra vez. Toda linda.
— Gui, vem cá... será que a Clara vai gostar das imagens? Ela não
estava no estúdio.
— Mas o quê? É claro que vai! Aquela mulher não erra. E sobre ela
não estar no estúdio hoje, foi por conta de uma reunião de última hora com os
gerentes das nossas matrizes. Amanhã aquela deusa vai comparecer também,
não se preocupe.
Eu sorrio, meio insegura. Tomara que a Collins goste das imagens. Eu
dei tudo de mim. Foi como se eu estivesse dentro de uma personagem
poderosa, uma Gisele Bündchen encarnada. Amei me sentir assim.
Ao chegar no estacionamento do subsolo, encontro alguém encostado
no capô do meu carro branco. E sim, é ele mesmo... meu lindo homem.
— O que faz aqui?
— Eu saí mais cedo do serviço. E resolvi saber o que a dona Eloíse
gostaria tanto de conversar comigo?
— Como o senhor é exagerado. Não precisava se preocupar.
Ao me aproximar, eu recebo seus braços fortes entorno da minha
cintura.
— Eu senti que sim. — Ele me beija. — Tudo bem?
— Bom — suspiro —, terei que ser sincera... não, não estou bem. É a
minha mãe.
— O que houve? — Felipe semicerra os olhos, preocupado. — Ela te
fez alguma coisa?
— Calma, primeiro, podemos ir para outro lugar? Tem uma sorveteria
aqui perto que eu desejava muito conhecer. Dá para irmos caminhando.
Topa?
Felipe concorda. Entrelaça minha mão na sua e leva-me pela calçada.
Enquanto não chegávamos na sorveteria, meu salto fino, às vezes, se
enroscava nos buraquinhos ocasionais, causando as piadas naturais dele.
Palhaço.
— Na volta, quer que eu te leve no colo, princesa? — Questiona
assim que entramos no local todo azul royal.
— Está sendo cavalheiro ou sarcástico?
— Hum... eu estou sendo um namorado prestativo. Acredito que não
queira ir descalço para estragar a delicadeza desses belos pezinhos. Pois eu
não quero. Deus não me deu uma perfeição dessa à toa. Tenho que valorizar.
— Jura? — Rolo os olhos. — Não se preocupe com meus pés. Eu
dava aula por horas em cima deles e continuam aqui, grudados nos meus
calcanhares.
Felipe afasta a cadeira para eu sentar, rindo da minha resposta.
— Depois fala que eu sou um canalha. Enquanto na verdade, eu tento
te tratar com todo carinho, disposição e ternura, você é grossa, sem
sentimentos. Saiba que hoje em dia não se acha anjos como eu. O mercado é
escasso.
Uma senhorinha ao nosso lado, me observa de cara feia, julgando-me.
Eu desvio ruborizada, batendo no braço do cretino do Felipe.
— É claro que não se acha anjos como você, os últimos foram
expulsos do céu a milênios!
— Sua sem coração. — Ele me rouba um selinho. — Mas o assunto a
seguir é sério. Almejo saber o que desejava conversar.
— Prometo pedir uns dez sorvetes para começar, enfim, a te explicar?
— Só dez sorvetes? — Ele balança a cabeça.
— É minha vontade. Não me julgue.
E de fato, eu peço uma taça comprida, bem funda para caber todos os
meus desejos gostosos. Não escapa uma cobertura ou granulado sequer.
— Não sei se dividirei — pisco, afastando a colher do espertinho.
— Se tudo isso couber dentro desse seu corpo pequeno, eu ficarei
surpreendido. Não é possível, Eloíse.
— Metade disso é recheio — explico, hipnotizada pelo sabor gelado.
— Todavia, serei boazinha, caso consiga finalizar o seu.
Nossas brincadeiras me deixaram descontraída para começar a
detalhar o que a minha mãe me revelou hoje cedo. Só de lembrar... quero
surtar de raiva. Quero chorar, bater nela! Felipe também ficou puto da vida,
furioso.
— Desde quando uma mulher dessa é mãe? Se fosse homem, eu
quebrava a cara. Porra. E deveria ter me contado no mesmo momento em que
me ligou. Ainda mente que não era nada importante!
— Desculpa... eu só não queria atrapalhá-lo no serviço. Não com
meus problemas. Conheço o seu jeito, seria capaz de vir atrás de mim sem
pensar duas vezes.
Felipe fica quieto, nervoso, pensando sozinho.
— Eu terei que ter a conversa o quanto antes com o banana do
professorzinho. Agora entendo a ameaça para se casar a todo custo.
— Felipe, não vai fazer besteira! O mais fundamental é o controle
racional do meu irmão! Mariano é um crápula!
— Do seu irmão, eu já estou cuidando. Ele aceitou a ideia de se
formar como um agente. Não posso mentir que é um desejo a qualquer garoto
de vinte anos, louco por adrenalina e ação.
— Eu e a vovó vamos esclarecer as coisas com ele. Só estamos
tomando coragem. Ah, e eu tenho que contar também sobre esse assunto para
ela. Minha mãe é uma víbora. Tudo por causa de dinheiro. Vó Aurora vai se
decepcionar. Tenho até medo.
— Sinto muito. — Felipe beija a minha mão.
— O que mais me abalou foi de ela ter vendido a casa do papai e
roubado o dinheiro para fugir com um amante. Como eu fui burra de não ter
notado as coisas antes. Burra de só querer o seu amor de mãe. De não ter
afrontado ela mais cedo.
— Pense na sua mãe verdadeira, na sua avó que te ama. Não é hora de
se lamentar. Tem que ficar firme, com o brilho único desses olhos azuis.
Detestaria se ficasse triste.
Eu beijo-o, grata por seu apoio e carinho.
— Eu serei forte. Prometo. Só preciso revelar as coisas para o Otávio.
Como irmã mais velha, daria a vida por ele. Só o desejo bem.
— Já disse que pretendo ajudá-la. Inclusive a terminar esse sorvete,
pois o meu já acabou. — Sem avisar, Felipe arranca uma colherada da minha
taça. E eu quase taco a mão no meio da sua testa.
— Não, seu ladrão de comida!
Capítulo 42
Eu levo Eloíse para o quarto. E dou o amor mais marcante que um dia
eu pude dar a alguém — a mulher da minha vida. Eu não paro por um
segundo de saboreá-la. Desenho e redesenho seu corpo milhares de vezes
com a boca. Levo-a ao céu sem sair do chão. Eloíse é minha. Estar dentro do
seu corpo me torna único, um sortudo. Eu a amo de verdade. E agora que
entendo esse sentimento, eu morreria para não a perder.
Eu queria permanecer a madrugada inteira no calor dos seus lençóis,
das suas pernas entrelaçadas, escutando o som da sua respiração tranquila
enquanto dorme. No entanto, eu necessito de "finalizar" esses franceses. Com
eles atrás de mim, me faz me sentir um lixo, um assassino. Sei que Eloíse
ficará brava ou triste quando levantar e não me ver ao seu lado. Mas não
tenho escolha.
Eu saio da pensão e vou para o meu AP, em seguida, para a empresa
me encontrar com a equipe.
— Bom dia, Felipe!
03 para na minha lateral, dentro da gigantesca garagem de carros
pretos da agência. Já estamos prontos. Temos cinco homens com seus
uniformes, fuzis e armas de fogo. Eu apenas aguardo o Murilo e o Fernando
voltarem do escritório com a equipe Força.
— Bom dia!
— Murilo conseguiu mudar? — Ele questiona, sério.
Pela primeira vez, eu não estou com o clima para graças e piadas. Eu
queria adiar este dia o mais longe possível. Não nego sentir insegurança. Que
porra!
— Sim, não vai ser na favela. Vamos pegar os franceses numa mata
de estrada aberta, onde é transportado as drogas que comerciam.
— E vai dispensar o garoto?
— Não. Eu fiz um acordo com o Otávio. Além de ser algo que eu
prometi a outra pessoa — a minha loirinha. — O plano apenas mudou. E o
qual nunca o incluiu.
— Felipe, porra, cadê suas roupas comuns? — Interrompendo-nos,
Fernando surge acompanhado do Murilo e com mais quatro agentes,
questionando-me ao se aproximar rápido e uniformizado.
— Não há necessidade de roupas comuns.
— É pela sua segurança!
— Eu estou me sentindo muito seguro assim, bobão, não se preocupe.
E Murilo, cadê o ponto de escuta?
— A escuta é em formato de colar. Toma. — Ele me joga e eu coloco
no pescoço. — Também tem um rastreador para te acharmos.
— E aí, já trouxeram o caminhão?
— Sim. É um caminhão de esterco. Está lá fora, atrás do segundo
portão da agência.
— Ha-ha, muito engraçadinho os travecos!
— Ele não está acreditando — Murilo bate no braço do 03, rindo. —
É o mesmo transporte que os traficantes vão estar dirigindo.
— Que filhos da puta.
— Vamos logo. Todas as equipes já estão postas conforme manda a
ação. E segue o plano conforme manda o seu roteiro, Felipe. Nada de agir
sozinho! — Fernando esbraveja, cerrando-me nos olhos. — Se fizer, te
castro!
— Isso eu não garanto, caso metam bala, revidarei!
— Bora! — 03 bate no peito, fazendo o sinal dos Garras.
— Boa sorte a nossa operação! — Fernando os observa.
— Boa sorte, homens!
Todos acompanhamos o sinal. Em seguida, eu pego a chave e viro as
costas, caminhando em direção ao caminhão azul, de merda. Eu entro, coloco
o boné, os óculos, ligo o veículo e saio devagar até a BR, sentido São Paulo.
O melhor momento desta missão será o final! Em uma hora e meia de
estrada, eu recebo no rádio transceptor, pelo Fernando, a informação de que a
rua de terra branca que eu devo virar é na próxima. Assim eu faço, desta vez,
diminuindo a velocidade para visualizar a qualquer instante um segundo
transporte de esterco de boi.
Pelas minhas contas, quem vai estar manobrando a carga de drogas é
um dos filhos franceses do chefão do morro. Se estivermos certos, o plano é
sequestrá-lo em troca das tais provas que os desgraçados garantem ter contra
mim — tudo por vingança. Eles jamais vão me deixar em paz. Não enquanto
eu não morrer, ou assumir o crime que eu não me lembro de ter cometido. Eu
não me lembro de nada daquela noite. Porra. E isso está me matando a cerca
de dez anos! Eu me sinto um lixo!
Em meio aos devaneios perturbados, noto um caminhão preto, de
carroceria aberta, vindo em alta velocidade, do outro lado da minha
contramão.
— Cambio, Fernando na escuta?
— Câmbio, na escuta — o som chia.
— Suspeitos em vista. Automóvel preto. Confirma operação?
— Confirma. Tem sete minutos até chegarmos. Câmbio. Não deixe
que te reconheça, Felipe.
Não tenho tempo de respondê-lo, pois ao imediatamente notar a
chegada do transporte, eu jogo meu caminhão em cima deles. Na direção do
capô. O estrondo da batida faz com que parem instantâneos. E assim que as
coisas se acalmam, eu desligo o veículo, escondo a arma e desço ligeiro.
— Tu tá louco, seu porra? — Um homem gordo fecha a porta e vem
furioso até mim.
— O caminhão perdeu o freio. — Disfarço a voz.
— E precisou jogar essa merda em cima do meu?
Outro cara, o meu alvo, desce também. Ela para junto do comparsa.
Grande dia para a ocasião ficar tão fácil.
— Antes de começarmos a diversão, quem aqui tem seguro de vida?
— O que está dizendo?
— Não podemos parar, Levi. Vamos embora logo, caralho!
— Pra que tanta pressa? Vamos brincar de faroeste.
Eu, então, tiro duas armas da cintura e miro neles. Eles se assustam,
tentam pegar as suas, todavia, eu disparo bem perto dos dois. Balançando o
semblante.
— Não mesmo! Um passo e o próximo aperto no gatilho é na direção
das suas cabeças!
— Quem é você? Veio roubar a nossa carga, hein? FALA!
— Joguem as suas armas no chão! Andem!
Os dois se entreolham, enraivecidos, em seguida, jogam o armamento.
Eu ouço som de freadas de carros. Fernando e os outros homens descem com
os fuzis, correndo em torno deles.
— Operação bem-sucedida, senhor! — 03 declara.
— Mão na cabeça! — Fernando chega por trás, chutando as pernas
deles e fazendo com que se ajoelhem.
Eu abaixo as armas, indo até os dois merdas. Arranco o boné e os
óculos. Saulo, o filho do chefão francês, me observa. Talvez me reconheça,
sim ou não. E tanto faz, são mais de dez anos!
— Para onde levavam o transporte das drogas? — Questiono-o.
— Não te interessa!
Sem paciência, Fernando chuta a bunda dele e agarra o cabelo do
Saulo, mirando o cano no seu ouvido.
— Se tivemos que perguntar de novo, eu meto esse cano no seu rabo!
Francesinho de bosta! Responda!
— Vocês sabem quem eu sou. A carga é para o morro do francês.
— É o um dos filhos dele?
— Sim.
— Pega o celular, Fernando. — Peço e ele revista os bolsos, achando
o aparelho. — Tem o número do chefão aqui?
— É loucura tentar falar com ele. O francês matará todos vocês!
— Queremos que ele venha ao nosso encontro. Temos o filho e a sua
carga milionária. Um grande prejuízo, não acha? — Sou sarcástico. — Ligue
para informá-lo agora!
Jogo o celular diante dos seus joelhos e ele me fuzila.
— E diga para o seu pai que quem o apreendeu, foi o Felipe Alencar,
Filho de Antônio!
Capítulo 43
Assim que eu digo meu nome, Saulo quase se levanta para avançar
sobre mim. Porém, Fernando segura seus pulsos e o algema. Os outros
agentes, imediatamente, apontam os canos dos fuzis.
— Você é um assassino que merecia estar morto!
— E vocês franceses uma cambada de traficantes que mereciam estar
na cadeia. Bandidos!
— É você quem vai para a cadeia, seu assassino!
Sem evitar, furioso, eu dou um pulo e soco o queixo dele com toda a
violência do meu braço. Ele quase cai para trás.
— EU NÃO SOU UM ASSASSINO! FILHO DA PUTA!
— Murilo, 03, tirem Felipe daqui! Andem!
No momento em que eu vou puxar a arma, 03 agarra meu braço e
Murilo o outro, arrastando-me a força pelo chão de terra.
— Porra, está louco, Felipe?!
— Me soltem! — Afasto-os, recompondo-me, enfurecido.
— Se controla!
Eu paro sobre o olhar dos dois putos e aguardo o Fernando resolver a
questão do telefonema.
****
Eu sei que eu não deveria me sentir assim. Que droga! Porém, eu me
sinto. Acordar e não ver o Felipe ao meu lado na cama me deixou
decepcionada, traída de confiança, com medo. A nossa noite foi única, sem
palavras para tanto amor. Ele é o homem da minha vida. Criar a ideia de
nunca mais tê-lo, senti-lo, me dilacera a alma. Por isso, eu estou me
perguntando sem cessar: e se ele não voltar como me prometeu? E... e se ele
realmente estiver colocando-se em risco? Que erros, que pecados são esses
que não pode confiar em mim para confessá-los?
São tantos pensamentos, tantas questões. O nervosismo, a ansiedade
por notícias do Felipe, que eu não suportei. A minha cabeça rodou. Eu senti
uma leve impressão de que estava caindo de costas e fechei os olhos,
desmaiando num vasto escuro.
— Elozinha, por favor...
— Eloíse?
— Eloíse, fale conosco!
Clara e Gui apoiam a minha cabeça. Ela toca no meu rosto, em
seguida, sente meu pulso. Eu abro a visão ampla, encarando suas feições
borradas de preocupação. Inclusive a do Oliver.
— Aí, graças a Deus. Você acordou!
— O que foi, Eloíse?
Eu me ergo tonta, sentando-me no chão com eles.
— Minha cabeça... não sei — coloco a mão um pouco acima da nuca.
— Você desmaiou enquanto fotografava. — Oliver explica.
— E com certeza, bateu a cabeça no chão. Está doendo?
— Sim — respondo. — Eu senti uma tontura e de repente caí. Não
suportei mais o peso das pernas.
— Vamos adiar as fotos para amanhã. E você se recupera.
— Mas, Cla...
— E sem contestar, Eloíse. É pela sua saúde. Está fraca, abatida. Não
vou deixar que continue trabalhando.
— Também nos parece estranha, meio nervosa.
— Eu concordo com a Collins — Oliver comenta. — É sem
problemas se deixarmos para amanhã. Vem, tente se levantar.
Com o carinho e a ajuda deles, eu me levanto devagar.
— Obrigada, vocês são as melhores pessoas. Fico com vergonha de
adiarem as últimas fotos do catálogo por minha culpa. Mas realmente eu não
estou muito bem.
— Deveria ter nos avisado antes. Eu jamais deixaria que você
trabalhasse doente. Não é a sua culpa se sentir indisposta. — Clara me dá um
abraço. — Agora se troque e suba para o meu escritório. Gui vai ajudá-la.
Aguardo vocês lá em cima.
Eu sorrio, agradecida por ter o apoio e a amizade da Clara na minha
trajetória. Serei uma eterna admiradora.
— Tudo bem?
Após me trocar, e assim que eu saio do provador, Gui pega o vestido
com cuidado e eu o acompanho.
— Sim, já me sinto muito melhor. Agradeço a ajuda.
Eu também me despeço do Oliver, pedindo mil desculpas. Ele
demonstra preocupação e diz ser uma ofensa a ele, eu pedir desculpas por
estar indisposta e passando mal. Então antes de ir, eu dou um beijo na
bochecha dele como amigos e afasto-me ao lado do Guilherme.
— Prometo não fazer comentários sobre aquele beijinho fofo. Só por
você não estar bem hoje. Ok?
Gui pisca. Eu pego no seu braço, rindo sem-graça. Na sala da Clara,
eu me sento, ainda com certa dor longínqua na cabeça.
— Melhor? — Ela pergunta.
— Sim, obrigada. Acho que só foi uma queda de pressão.
— Tem certeza? Estou te sentindo estranha desde manhãzinha. Com
os pensamentos longes, triste.
— Isso é verdade, Elô. Um pé na terra, outro na lua.
— Tem algo que está te afligindo?
— Serei sincera com vocês, tem sim.
— Tem a ver com o Felipe? — Ela se levanta.
Indiferente, eu franzo o cenho para ela. Certamente a Clara deve saber
onde o Felipe se meteu. Afinal, seu marido é o Fernando e ele não deixaria
que seu irmão colocasse a própria vida em risco.
— Tem sim, Clara. Eu queria te...
— Elô... você está grávida?
No instante em que eu sou interrompida pelo questionamento, eu
arregalo os olhos e caio de encontro ao encosto do assento, em choque.
Guilherme pisca sem parar, pasmo.
— O-o quê? Como? Não!
— Não? — Desta vez, é ela quem fica espantada. — Certeza?
— E-eu, eu não estou! É claro que eu não estou! — Eu paro, fixada na
mesa.
Oh, meu Deus, o desmaio.
— Não, não posso estar...
— Elô...
Uma lágrima escorre. Olho-a amedrontada.
— Não estou...
— Desculpa... você não tinha parado para desconfiar disso, né? — Eu
nego. — Sinto muito por ter te perguntado assim, bruscamente. Só que está
estranha, desde a nossa última prova dos vestidos com o Thales e a Maya,
todos eles haviam ficado perfeitos no seu corpo. E hoje disse que as peças
pareciam te sufocar de tão apertadas. Tivemos que afrouxá-las. E em súbito,
desmaia... Serei invasiva. Esse é o primeiro desmaio? Ou notou outros
sintomas?
— Não, é o segundo desmaio. E eu já senti muitos enjoos... t-tudo que
eu como... — desabo a chorar, colocando a mão no rosto. — Eu não posso
estar grávida, clara, eu não posso.
— Ei, Elô, isso não é ruim. — Clara me abraça. Gui beija meus
cabelos.
— Fique calma, bonequinha.
— Sua menstruação, ela...
— Eu não tive! — exclamo apavorada. — Eu estou atrasada há três
semanas. Só que não apontei como uma possível gravidez. Às vezes,
atrasamos. Você sabe que é normal, Clara, você sabe.
— Eu sei, respire. Suas mãos estão tremendo. Não fique nervosa.
— Eu não quero estar grávida. Ter um filho... não, não agora. Eu não
posso!
— Não é certeza — Gui sussurra. Já a Collins, fica quieta.
— E os enjoos, as tonturas, os desmaios? A vontade de comer as
coisas como uma louca? — choro. — Eu não me lembro de ter ficado
nenhum dia sem tomar o anticoncepcional. As marcações na cartela estão
certinhas.
— Acredite, essa foi a primeira questão que eu perguntei ao médico,
quando fiquei grávida dos gêmeos. E as respostas são diversas. A começar
pela troca do método contraceptivo e não usar preservativos nas primeiras
semanas, vomitar após tomar a pílula, digerir em horários incorretos etc.
— Eu não sei o que houve, não me lembro do que fiz, se tomei em
horários errados. Não sei.
— Se acalme. Se estiver, isso não é ruim, acredite.
— Não é ruim, tendo o Felipe na mesma frase?
— É isso que está te apavorando, então? — Gui pergunta.
— Sim, é a minha carreira, o fim dos meus sonhos, o medo do Felipe
e aquele seu jeito de ser, todo imprevisível.
— Meu Deus, relaxe. Você o tornará o homem mais feliz desse
mundo. Ele te ama. E não é o fim dos seus sonhos. É o começo de um, com
um serzinho pequeno e de possíveis olhinhos azuis ou castanhos. Ah, e a sua
carreira apenas estará em pausa. Além de eu ter evidências de que a agência
Volumbre vai te roubar de mim para te fotografar de barrigão.
— O que diz até parece um conto de fadas. Eu não acredito. Eu estou
com medo. O único filme que se passa na minha cabeça neste instante é do
Felipe não voltando.
— Como assim?
— Por favor, Clara, diga que você sabe o que aquele homem foi
fazer? E o que possivelmente colocaria a vida dele em risco? Por favor? Você
é esposa do Fernando. Ele deve ter te contado. Diga?
Clara se afasta, assustada, com a mão no peito, como que se pensando
em algo aterrorizante. E sua reação só me deixa mais temorosa.
Capítulo 44
Clara não me disse nada. Sua reação foi de súbito choque. Mesmo
assim, não explicou o motivo desse súbito. Minha cabeça dói, minhas mãos
tremem. Eu estou assombrada, ansiosa. Reproduzo milhares de perguntas
como um filme de terror sem fim.
— Ele não está atendendo — Clara comenta, jogando o celular em
cima da mesa. — Fernando me enganou! Não explicou nada sobre missão
nenhuma!
— Felipe não disse que o irmão estava fazendo parte. Na verdade, ele
só contou que arriscaria a vida nessa missão.
— Fique calma, Elô. Eu vou pegar um pouco de suco natural para
você. — Gui se levanta. — Aceita também, patroa?
— Não, obrigada, Guilherme.
Enquanto o Gui pega o suco no frigobar, Clara vem até mim.
— Elô, vamos deixar as fotos para semana que vem. Eu gostaria de
marcar um médico para você amanhã. É importante. Só assim poderá
descobrir se está grávida.
— E se eu estiver, Clara? Como eu vou contar para o Felipe? Tudo
indica esse fato. Eu fui tão burra de não ter notado os sintomas antes. Estava
confiante no anticoncepcional.
— Tem que ficar consciente. Eu já passei pelo que você está
passando. E acredite, o Fernando é muito mais complicado do que o Felipe.
Eles parecem dois ogros musculosos, prontos para arrancar seus ossos da
pele. Contudo, no fundo, não passam de dois bobões apaixonados, que amam
incondicionalmente as suas "presas" e as suas "crias". E Felipe te ama. — Ela
segura a minha mão gelada. — Eu não quero que pense bobagens, por favor.
Uma criança é uma benção. Você vai gerar um serzinho cheio de amor. E que
vai te encher de alegria. Confia em mim.
— Eu sei. Só tenho que ter certeza. Só assim poderei administrar a
situação com mais calma.
— Ok. Então posso marcar um médico para você? Ele é de confiança.
Me consulto nesse ginecologista há mais de oito anos. Ele vai te ajudar.
— Tudo bem. E obrigada, Clara.
— Por nada. Vai dar tudo certo — ela me abraça com ternura. — Vou
pedir para o motorista te levar em casa.
— Não precisa, o Felipe já me disponibilizou um sem eu pedir. É para
a minha segurança.
Ela sorri de lado, enquanto Guilherme volta me entregando o suco de
uva.
Mais tarde, um pouco mais consciente do meu estado emocional, eu
vou embora. Collins prometeu que, ao sinal de qualquer notícia, ela me
avisaria e pediu para eu fazer o mesmo. Estou contando com o retorno do
Felipe esta noite. Sinto-me aflita. E se ele estiver realmente colocando a sua
vida em risco? Não posso nem pensar. Eu amo aquele homem. E se me
decepcionar... ficarei dilacerada.
Eu tomo um banho e passo o restante do dia procurando apartamentos
na internet. Só que não consigo focar... uma hora ou outra eu toco na minha
barriga... aterrorizada com a possibilidade de estar esperando um filho do
Felipe.
— Mas eu me sinto grávida... — Eu abandono o notebook e caio em
lágrimas, olhando para o meu reflexo no espelho da parede, perto da poltrona.
O meu abismo é de o Felipe não voltar. E se voltar, ele não aceitar o
filho. E se eu tiver que desistir dos meus sonhos? É por isso que não é o
momento certo de eu estar grávida. Eu não posso voltar a dar aula para ter
sustento. Essa fase das modelagens é tudo o que eu sempre desejei e lutei
para conquistar. Clara foi um anjo na minha vida. Não aceito perder as
oportunidades. Logo agora.
Deito-me na cama e penso em comprar o teste de gravidez, porém...
eu sou uma covarde, uma grande medrosa. Prefiro a incerteza do que a
certeza.
À noite, desço para "jantar" — mesmo quase tudo me embrulhando o
estômago —, retorno, escovo os dentes, penteio os cabelos, visto uma
camisola e aguardo o Felipe. Ele prometeu que voltaria para mim. Para
esclarecer todo o seu passado. E eu não vou dormir. Não enquanto ele não
aparecer nesta pensão e me esclarecer tintim por tintim. Ansiosa, eu visto o
robe e vou até a sala dos hóspedes outra vez, averiguar o movimento da rua
pelas longas janelas. São 22h40. Não é justo ele fazer isso comigo. Eu estou
enlouquecendo de preocupação. Não recebi nenhum telefonema para acalmar
meus nervos.
Às 00h55, indignada de ficar esperando igual a uma besta sentada no
sofá, eu apenas deixo a porta dos fundos meio entreaberta e subo, com o
coração triste. Só espero que não tenha acontecido nada grave. Pois eu não
acredito que pela primeira vez... ele vai descumprir uma promessa e me
decepcionar desta forma, provando que nunca confiou em mim.
Por favor, Felipe. Eu ainda tenho esperanças...
Capítulo 45
— Então foi isso que te tornou assim? Tão distante, sozinho, triste...
— Felipe fica quieto diante da minha pergunta, com os punhos fechados. —
Você não fez essa atrocidade! Disse que tinha digerido a tal garrafa de bebida
cheia de droga!
Eu me aproximo dele, puxando seu rosto para me encarar em prantos.
— E você sabe disso!
— Fernando também disse a mesma coisa.
— E se for uma armação?
— Existe milhares de possibilidades. Eu não sei o que houve, é
apavorante crer que foi eu... eu não teria coragem!
— Exatamente! Você não teria! — No fundo, eu estou tão
desesperada quanto demonstro. — A verdade sempre prevalece, acredite
nisso!
Eu o abraço, colada ao lado esquerdo do seu peito. Ouço a aceleração
do seu coração aflito.
Agora eu entendo. Eu entendo tudo. Felipe é triste, traumatizado por
causa disso. Foi esse acontecimento horrível que o tornou completamente
distante de todos, um delinquente sem amor a própria vida. Ele se culpa,
desejando a morte sem saber a veracidade dos seus atos. Se foi ele ou não que
esquartejou essas tais mulheres, e eu acredito que não foi, o homem que eu
amo não seria capaz!
— Eu estava esperando qualquer coisa... — ele sussurra. — Eu não
sei o que faria sem você, loirinha.
— Eu disse que estava disposta a te ajudar. E não o julgaria. É um
homem bom. Por favor, não se culpe.
— Acredita que eu sou um homem bom?
Felipe acaricia as minhas costas e eu levanto o pescoço, dando um
beijo nele.
— É claro. Não pode se auto julgar sem antes ter provas. Tem que
confiar em você, de tal modo como confio.
Ele retribuiu o beijo e fica quieto. Ainda em choque, eu apoio a
cabeça sobre o seu ombro, também calada. Não sei mais o que dizer. Só me
sinto livre de desconfianças, assim como ele. Precisava disso, de entendê-lo,
de compreender esse 'erro' que omitia. Eu queria que ele confiasse seus
segredos a mim. E fico aliviada por finalmente ter feito isso, mas apavorada
pelo seu passado cheio de terror.
— Vai querer ir embora? — Ele me afasta e levanta-se mais seguro
diante de toda a minha opinião positiva.
— Bom, eu não tenho nada para fazer aqui. E talvez a Clara... Clara
precise de mim... — Eu entro em paralisação ao me lembrar de que ela
prometeu marcar uma consulta para confirmar a possível gravidez.
Só revelarei ao Felipe se eu tiver certeza. A história do seu passado
me deixou com medo, angustiada. Eu não acredito que ele seja um assassino.
Sua índole, mesmo pelos erros, é de um homem bom, sem capacidade de tal
maldade.
— Já fez as fotos?
— Não, falta mais um dia para finalizarmos. Acho que na semana que
vem termina. Vamos embora?
— Podemos ficar um pouquinho a mais aqui... — Ele se aproxima e
agarra a minha mão, beijando-a. — O que acha?
— Ficarmos de que forma... — Eu me aconchego nele, tocando a
ponta do meu nariz no seu nariz.
— Bem coladinhos nesse sofá... no calor do seu corpo e do meu —
ele sorri lindo.
Ah, como é quente e tentador.
— Tá bom, de conchinha...
•••
Até antes de irmos, eu e o Felipe ficamos por um longo tempo juntos
no sofá. Ele aproveitou para me explicar melhor sobre a história do seu pai,
da Marta e da mãe biológica — Agnes. Ah, e claro, da sua relação com a base
FAL e do tal irmão postiço que tentou matá-los a todo custo por vingança. A
sua história não é confortável. É tragédia atrás de tragédia. Todavia, é mais
do que certo de que o Felipe não é um assassino. E eu vou acreditar na sua
inocência até o fim!
Mais tarde, almoçamos em qualquer restaurante. Em seguida, ele me
deixa na confecção da Collins, onde eu mal chego no corredor do último
andar, e já sou arrasta por ela para o seu escritório.
— Eloíse, não quero te assustar... — Ela rapidamente fecha a porta.
Eu me sento, encarando-a com uma das sobrancelhas arqueadas,
enquanto vem caminhando e dando a volta na sua bonita mesa.
— O que foi, Clara? É sobre a consulta?
— Sim e não, eu já marquei ela, mas ficou para semana que vem. Por
isso o assunto de emergência é esse... — Ela, então, abre a bolsa e joga dois
testes de gravidez na minha frente.
Eu arregalo os olhos, em súbito espanto.
— Você tem que fazer para descobrir a verdade. Já comprei dois, para
não haver dúvidas. Ainda comprei o tradicional e não o digital. Será mais
rápido do que o exame de sangue, até o momento.
— Eu estou tentando fugir dessa "verdade" desde que descobri dos
sintomas. Só que é infantil a minha fuga. Se eu estiver grávida, não posso me
esconder, é a minha responsabilidade.
— Lembre-se da responsabilidade do Felipe. E isso não é ruim, verá.
É o sonho daquele homem. Agora sabe como fazer? Pode usar o lavabo do
meu escritório.
— Isso é certeza, Clara?
— Absoluta! É de 95% a 99% de eficácia.
Nervosa, eu me levanto tremendo de ansiedade.
— Pode urinar diretamente na ponta das canetas, ou usar o copinho
coletor para mergulhá-los. Se nos testes aparecerem duas linhas vermelhas...
é porque está grávida.
Meu coração acaba de saltar pela boca. Eu pego os testes, engolindo
em seco. Seja o que Deus quiser.
— E-eu já volto.
— Boa sorte, Eloíse. E faça os procedimentos sem pensar muito. Se
preferir, veja o resultado sozinha ou comigo. Estarei ao seu lado.
— Ok, obrigada.
— Por nada.
Eu me direciono ao lavabo. E ao fechar a porta e antes de começar o
passo a passo, eu analiso meu reflexo no enorme espelho chique, limpando as
lágrimas que começam a cair. Eu sempre quis ser mãe, eu amo crianças. E
não gostaria de criar esse bebê sem família. Eu realmente espero ver o Felipe
feliz, e que não me abandone. Pois sem fazer os testes, eu já tenho a absoluta
certeza de estar grávida... os sintomas foram tão óbvios. A burra aqui que não
percebeu as evidências.
Eu amarro o cabelo num coque alto e abro as embalagens, dando
início aos procedimentos pelo copinho coletor. Não é a primeira vez que eu
uso um desses, então eu faço tudo o mais acelerado possível. Assim que eu
tiro as canetas de testes do copo, eu decido não receber a confirmação
sozinha. Resolvo retornar para a sala da Clara. Apreensiva.
Quando retorno, Collins demonstra estar mais inquieta do que eu, pois
estava andando de um lado para o outro. Ao me ver, ela sorri nervosa, vindo
até mim.
— Tudo bem?
— Eu não vi ainda...
— Então veja pelo amor de Deus. Terei um troço, Eloíse.
Eu respiro fundo e ergo as duas canetas... não sendo um sonho, nem
um pesadelo, eu abro a boca... ousando dizer a confirmação do que já era
explícito. E eu desabo a chorar. Clara também olha, para adiante me abraçar
apertado, cheia de carinho.
****
[...]
De imediato, eu tiro a arma da cintura e empurro devagar a maçaneta.
Então, eu entro na sala, ligando a luz no interruptor e notando tudo
aparentemente conforme eu deixei. Mas continuo a averiguar os quartos e os
banheiros. E quando eu retorno para a sala, abaixando quase a guarda, eu
tenho a resposta de quem foram os filhos da puta que invadiram a minha
casa. Arrombados!
— Quanto tempo, nosso caro amigo. — Gabriel sorri, segurando uma
pistola ao lado do sofá. — Tá com saudades do papai? Queremos te fazer
voltar a rever ele.
— Oras, vocês foram de traficantes para médiuns? — Debocho dos
três irmãos franceses na minha frente, contando com Tessa, que agora é toda
tatuada e cheia de piercings. Bem diferente da menina de 18 anos. E
contatando com Luís, o primo-irmão deles.
— Tem uma dívida conosco. E não tem mais seu pai para te proteger,
seu assassino! — O primo deles, o Luiz, esbraveja.
— Achei que tivessem vindo atrás do Saulo e da carga de drogas.
— É o que queremos também. Porém, faremos uma troca para
obtermos ambos.
— Posso me sentar para ouvi-los?
— Cala a boca, seu patife! — Tessa declara, apontando a arma de
fogo. — Queremos justiça pela a nossa mãe!
— Como eu poderia ter matado ela se uma noite antes estávamos
juntos, sua vagabunda?!
Os irmãos a encaram.
— Caso não se lembre, você foi sequestrada pela facção inimiga do
chefão!
— Isso não vem ao caso! Quem não nos garante que você não era
informante deles? E que armou tudo aquilo para matar a nossa mãe? Como o
Gabriel frisou, desta vez, você não tem a proteção do seu paizinho morto! Vai
pagar pelo que fez!
— Me mostrem as provas em vídeo que dizem ter daquela noite? Só
assim acreditarei que eu sou um assassino!
— Se não quer morrer, ou viver na cadeia, te daremos uma condição.
— Não me responderam!
— A gente vai te mostrar, Felipe... no tempo certo — Luiz comenta,
"sereno".
— Algo me diz que vocês estão mentindo. E não me ameacem, pois
eu posso colocar é os quatro no xilindró!
— Ele se acha o manda chuva? — Eles riem. — Podemos poupar a
sua vida se colaborar conosco. Basta apenas nos entregar o nosso irmão, a
carga que roubou e mais uns cinco milhões de reais.
Desta vez, sou obrigado a rir.
— Ah, sério? Cinco milhões de reais?
— Não é piada, seu assassino! — René range os dentes. — Chega de
conversa fiada, é isso ou matamos você e toda a sua família!
— Cala a boca, seu verme, eu estou esperando as provas que me
prometeram!
Eu ganho tempo para poder acionar o relógio de pulso e chamar
reforços.
— Pelas horas... — levanto o braço, ainda segurando a arma e aciono
num piscar dos olhos. Eles nem notam. — Não temos a noite inteira. Ou
temos?
— Te daremos dois dias, Felipe! — Tessa declara.
— Se não fizer o que te mandamos, já sabe o que acontecerá. Não
mediremos esforços para matá-lo junto da sua família!
— O encontro da troca será na mesma estrada onde roubou o nosso
caminhão. Não tente nenhuma gracinha pois além de nós, outros caras estarão
te esperando!
— Vocês são muito burros — eu sorrio. — Já acabaram?
— Ele merecia um tiro para fechar esses dentes!
— Vamos sair logo daqui. Esse puto não é confiável.
— Por que tão cedo?
— Não estamos brincando, Felipe!
— Não ouse ser mais esperto do que nós!
Tessa começa a andar para trás, na direção da porta, com a arma
apontada.
— Vamos... — Os irmãos igualmente.
E assim que ela abre a porta, dois homens garras — Júlio e Pedro, que
estão morando temporariamente no andar de cima — a surpreende com dois
fuzis de assalto, mirados.
— Que isso!
— FILHO DA PUTA!
Furioso, Gabriel arregala os olhos e vira rápido, quase me acertando
um tiro. René e Luiz também. No entanto, todos param quando Tessa grita.
— Parem ou eles atiram em mim, porra!
Eu respiro com o sangue fervendo nas veias, sentindo meus músculos
pulsarem.
— As drogas já comeram o cérebro de vocês. São uma cambada de
burros de virem até meu apartamento sem achar que meus homens não
estariam de prontidão! Eu não sou mais aquele moleque protegido! Hoje eu
tenho meus próprios agentes, e que trabalham para a lei!
— Eu quero matar você!
— Cadê as provas contra mim? Andem, me entreguem!
Júlio empurra Tessa para dentro da sala, com o cano do fuzil
diretamente ligado à sua cabeça. Pedro fica na porta. Os garras já devem ter
chamado mais reforços.
— Nossos caras teriam visto esses bostas subindo!
— Realmente tem caquinha na cabeça de vocês. Esses homens não
vieram de baixo, vieram de cima — sorrio. — E não é do céu, crianças.
Agora joguem as pistolas de fogo no chão!
— Acha que vamos nos entregar tão fácil?
— E você acha que eu não vou fazer um buraco nesse seu peito?
Joguem essas porras no chão!
Tessa é a primeira a reagir, mas ela me engana, no momento em que
inclinava as costas para jogar a arma, a vagabunda chuta a canela do Júlio e
dispara na coxa dele e na do Pedro, logo atrás. O que deu tempo para o René,
Gabriel e o Luiz se dirigirem com tudo para cima de mim e dos garras. Eu
consigo me proteger embaixo do bar de mármore, tomando reflexo do
momento certo de reagir a cada puxada do gatilho lerdo deles. E consigo
derrubar dois, René e Gabriel, sem matá-los. Júlio e Pedro parecem feridos,
pois não reagem, ao caírem agonizando no tapete. Porra, e isso me deu forças
para me reerguer do bar e mirar na Tessa, em seguida, no Luiz. Entretanto
eles tacam as armas no chão e conseguem sair correndo para fora do
apartamento.
— Continuem deitados! — Grito para o Gabriel, que tenta se levantar
junto com o René.
— Pedro, Júlio, vocês estão conscientes?
— Sim, senhor... — sussurram, sangrando pela perna e na região do
peito. — Droga, eu chamarei socorro, tentem estancar esses buracos ao
máximo possível. E se mantenham acordados!
— Sim, senhor...
O cano da minha Heckler não sai da direção dos irmãos franceses. Eu
sei que se eu pedir as ambulâncias... não virá só a ajuda para salvar meus
homens e esses vermes. Os socorristas acionaram também a polícia civil. O
que aconteceu aqui é mais do que criminal. E eu já sou um fodido sem
chances.
Fernando, 03 e outros garras chegaram antes da ajuda. Eu tento me
manter calmo, só que não tenho escolha sobre o que, enfim, me espera.
— Felipe, o que esses bostas vieram fazer aqui?
— Dois fugiram, Tessa e Luiz. Eles vieram me ameaçar. Pediram
cinco milhões de reais para poder me deixar em paz. Caso eu não faça,
matariam toda a minha família. — Fernando fica puto, nervoso. — Eu acho
que chegou a hora. Não aguento mais. Você sabe que não pode fazer nada.
— Podemos dar um jeito, Felipe!
— Não, desta vez, não! Não recuperaremos essas provas sozinhos! E
se recuperar, minha mente, minha vida, tudo continuará o mesmo inferno! Eu
correrei o risco!
— Se fizer isso, será preso sobre suspeita de assassinato!
— Que seja! Apenas aguardarei o socorro para poder dar as
providências!
Fernando não diz nada, apenas fecha os punhos. Contudo, eu sei que
foi uma apunhalada nas suas costas. Por mais que ele me ameaçasse com as
consequências de um dia eu ir em cana, ele não queria isso. Como o irmão
mais velho, ele só almejava me proteger, nem que fosse preciso apagar a
verdade para me ter ao seu lado. Mas eu não sou mais aquele moleque. Eu
devo arcar com os meus erros. Eu necessito de tirar esse peso da consciência,
essa dor, esse medo de um dia ter matado alguém com tanto sangue frio. Não
quero só existir... como Eloíse me disse um dia: "Os dias maus também
chegam ao fim. Viver é a coisa mais rara do mundo. Que sejamos raros e
felizes." E para isso, a minha escolha já foi traçada. Só me dói.... não a
encaixar neste destino.
Capítulo 48
Eu tento convencer Eloíse a comer algo, mas ela teima em dizer que
está sem fome e isso me preocupa. Ela precisa ficar forte para não desmaiar
de fraqueza e não ter vertigens e nem cefalalgia.
— Elô, por favor, almoça qualquer coisa. É para a sua saúde...
Após eu teimar sem cessar com ela, Elô só se rende depois que a
Marta aparecer para insistir junto comigo.
— Como está se sentindo, Marta? — Eu pergunto, acariciando sua
mão trêmula.
— Não se preocupe, eu estou bem, querida.
Ela apenas me dá uma palmadinha, demonstrando não querer tocar no
assunto, e compreendo seu olhar direcionado a Elô. Esse é um momento
doloroso para todas nós. Eu tentei controlar as minhas lágrimas quando ela
chegou, entretanto, foi impossível. Ainda bem que hoje de manhãzinha minha
mãe estava aqui para pegar as crianças e receber a notícia junto da dona
Marta e de mim — o que ajudou a consolar nós duas. Espero que papai esteja
movendo montanhas pelo Felipe. Ele gosta muito daquele rebelde cheio de
humor. A vida, a casa, tudo sem o nosso "palhação" não têm graça e nem
ânimo. É a alma da família.
— Será que o Fernando vai conversar com o Felipe para me deixar
vê-lo? — Ela pergunta outra vez aflita, com o olhar de desespero e de medo.
— Como a mãe dele, eu te peço calma, Eloíse. Temos que deixar tudo
nas mãos do Fernando e na sabedoria de Deus.
Ela não demonstra conformidade com a resposta e eu compadeço do
seu sofrimento. O amor é isso, é querer estar ao lado da pessoa que se ama,
lendo nos seus olhos que, no fim, tudo ficará bem... mesmo que
possivelmente não fique.
No finalzinho da tarde, Fernando chega e eu o atualizo sobre a saúde
da sua mãe — estabilizada — e que Eloíse almoçou conosco, em seguida, foi
para casa tomar banho, arrumar suas coisas e esclarecer a situação direito
para a sua vó, pois voltaria para dormir aqui, enquanto aguardamos por
notícias.
— E o Felipe? Você perguntou se ele vai deixar a Eloíse visitá-lo?
— Ele já sabe, Clara.
— Do quê? — Eu me aproximo do Fernando, assim que fecho a porta
do escritório.
— De que a mulher dele está grávida e de que aquele bosta fez uma
grande burrada de ter se alto confessado suspeito de assassinato!
Eu fico suando frio.
— Amor... — e me dou conta de que o Fernando está preste a surtar
de tanto furor. — Va-vai ficar tudo bem. — Eu chego perto e o abraço forte,
mostrando que ninguém está sozinho. — Eu te amo. E Felipe vai colaborar
para voltar para nós, para a Elô e para o seu filho que ainda é uma pequena
sementinha. — Eu o encaro, acariciando seus cabelos. — Agora ele tem mais
motivos de querer esquecer o passo e de construir um novo futuro. O amor
tem dessas... ele muda as pessoas. E no final, o amor há de vencer.
Fernando suspira mais calmo, beija a minha testa, e em seguida, os
meus lábios.
— Você é a minha luz, morena dos olhos verdes — ele sussurra,
pressionando minha cintura com força e afastando nossa boca. — Vou
precisar sair.
— Para onde? — Arqueio a sobrancelha.
— Será rápido.
— Mas para on...
— Sem perguntas, amor.
Capítulo 50
Eu me levanto, nervoso.
Eu vou surtar dentro deste inferno. Eu quero ver a Eloíse mais do que
tudo neste mundo. Eu não posso acreditar que ela está grávida. Eu não
consigo cair na real, já metia a cabeça na parede mais de mil vezes para enfiar
essa informação no meu cérebro, mas não tem como. Eu estou
enlouquecendo. Ficar preso aqui faz com que você entre em crise de colapso.
E te faz preferir a morte a passar o resto da vida entre quatro paredes sujas.
Ah, que inferno, porra! Eu chuto o nada... e antes de voltar a me deitar
no caralho da cama de concreto, um policial aparece batendo na grade e
chamando-me pelo nome.
— Felipe Alencar?
— Eu?
Ele começa a abrir o cadeado.
— Me acompanhe, o delegado quer falar com você.
— Mais perguntas e investigações? — Eu me levanto desanimado e
vou até ele.
— Não. Parece que está em liberdade.
Em surpresa, eu franzo o cenho. É uma piada?
Sem fazer mais perguntas, eu sigo o policial até a sala do delegado
Jonas. No interior, encontro o Augusto sentado de frente para a mesa dele,
finalizando minha liberação, que é verdade.
— Olá, Felipe.
— Olá.
— Sente-se, por favor, quero explicar seu processo de soltura em
análise.
Eu me sento e o delegado vai direto ao ponto, explicando todo o meu
caso. E após eu finalmente ter meus pertences devolvidos e a liberação
decretada, eu saio.
E porra, que sensação é essa? Não tive tempo nem de parar para crer
na minha soltura.
— Como se sente? — Augusto pergunta já fora da DP.
— Fedido e louco para comer um podrão. Trabalhei como policial, só
que nunca tive a "maravilhosa experiência" de ficar encarcerado. Uma
merda!
Augusto balança a cabeça.
— Fico feliz por se sentir livre. No entanto, seu caso ainda se
encontra em análise. Tente colaborar para virar réu. E você está dependendo
do Fernando.
— Eu dependendo dele? Onde aquele louco está?
— Ele quem te buscaria hoje, contudo, o que foi fazer é um risco de
vida. E não recebi nenhuma informação desde ontem sobre o seu estado.
— Droga, Augusto... o que o Fernando fez?
— Fernando subiu no morro.
— O QUÊ?!
Esse filho da mãe não fez isso!
— Eu não acredito. Me leve agora mesmo na agência!
Capítulo 50. Parte II
[...]
Dentro do carro, enquanto Augusto dirigia, eu ligava como um louco
para o Fernando. Até que, graças a Deus, esse estrume atendeu uma das
minha cem chamadas.
— Seu desgraçado... onde você está?
— Filho da puta! Eu quem pergunto o motivo de estar me ligando no
momento em que estou a caminho da delegacia para te buscar! — Ele
esbraveja bravo do outro lado.
— É que aqui é obrigatório o preso ter um celular.
— Vai se foder.
— O Augusto já me soltou. Estamos indo para a agência. Ele disse
que você subiu no morro. O que pensa? Quer morrer, Fernando? Você tem
uma família!
— Exatamente, eu tenho uma família! É por isso que eu estou
salvando a pele do meu irmão! E continue indo para a agência! Acabo de
pegar outra rota! Lá a gente conversa!
Ele desliga na minha cara. Que porra!
— O que houve? — Augusto pergunta.
— Fernando ia me buscar agora na delegacia, no entanto, como eu
avisei que você já havia me pegado, ele se redirecionou também para o nosso
destino.
Não sei... mas desconfio que o Fernando tenha feito alguma coisa
naquele morro. E espero que ele me conte. Aliás, igualmente sobre as
investigações e sobre o depoimento dos irmãos franceses.
— Eu vou para casa. Avise ao Fernando que à noite nos falamos.
— Tá bom. Valeu, Augusto!
Augusto só me deixa na porta e vai embora. Eu entro, já dando de
cara com meu amigo. Ou parça de crimes; Leão.
— E aí, 69. Como você está?
— Dois dias sem tomar banho — digo assim que ele aperta a minha
mão.
E ele não demora a soltar seus dedos e me empurrar com cara de nojo.
— Sai daqui, puta cheiro de queijo podre!
— Vai a merda.
— Era muita felicidade para pouca paz. — Murilo e 03 vem
caminhando do outro lado da recepção. Nem percebi a presença deles.
— Não me diga... quis assustar a gente, Felipe?
— Não se preocupem minhas dançarinas de stripper, seu macho já
está de volta para organizar o puteiro.
Leão chuta a minha perna e eu ergo a mão, rendendo-me.
— Ei, ei! Eu não bato em mulheres.
— Parece que a cadeia foi um parque de diversões para você.
— Quem me dera, 03. — Desta vez, eu cruzo os braços, com o
semblante sério. — Foi um inferno na delegacia, imagina numa
penitenciária?
— Se conseguirmos informações hoje, já se considere longe disso.
Sabe que nunca seria capaz de tal criminalidade.
— Quero saber é que informações "vamos" conseguir hoje para
provar isso.
— Já deve estar sabendo que o Fernando regeu uma operação de
emergência ontem à noite, onde reuniu mais de quinze carros. Fomos para o
morro — Murilo comenta.
— Eu já sei que ele se arriscou. E jamais aprovaria tal maluquice. Eu
sou um fodido que precisa resolver as coisas sozinho. Esse é meu passado e
não concordo com o Fernando nem a agência se arriscando!
— Sabe o que ele te responderia, né?
— Que é um fodido, e que se não calar essa boca de trambiqueiro, eu
te castro a língua! — Fernando, então, aparece na porta de entrada, com o
rosto arranhado e o braço machucado. Está mais bravo e sem paciência do
que o normal (como se fosse normal o vermos com paciência).
Ele para ao lado do Murilo e direcionando-se a ele, questiona:
— Onde você colocou ela?
— Lá embaixo, na sala de interrogatórios.
— Cuidaram dos seus ferimentos? Precisamos daquela vadia viva.
— Por enquanto não amputamos nenhum membro seu — Leão
responde e eu fico intrigado com eles.
— É, com licença, eu tenho duas bolas, mas não sou nenhum médium
para adivinhar o que os porras estão dizendo em código!
Fernando inclina o olhar semicerrado em minha direção e eu não
mudo o meu, mais semicerrado ainda!
— Iremos descer para você ver de que ilustre presença estamos
falando. Nos acompanhe!
Eles três começam a sair sem me esperar. E quieto, eu os acompanho
até a sala de interrogatórios. E antes de abrirem a porta, Fernando vira de
repente, segurando meu pulso com força.
— Te armas, Felipe?
— Não! Por quê? — Estranhando, eu afasto a mão dele.
— Só para te prevenir de uma futura loucura.
— Do que está falando?
Murilo puxa a maçaneta e finalmente eu vejo de quem eles três
estavam fazendo mistério. E porra! Franzo a testa, puto!
— O que droga essa mulher faz aqui?
— A operação no morro só foi possível na casa dos irmãos. —
Fernando entra e eu permaneço parado, encarando a vagabunda. — Ou seja,
na casa dela e do Luís, o primo mais novo. Eu sabia que invadindo o
"santuário" do chefão logo em cima da hora, sem planejamento, seria uma
puta sentença de guerra. E posso dizer que a minha decisão não poderia ter
sido a mais inteligente possível. Porque agora você está de frente para o
motivo em carne e osso dos seus demônios.
Tessa está sentada, algemada, com os punhos para trás e toda ferida.
Ela me olha, com os seus olhos negros. Entretanto, não dizem nada, são
vazios.
— Vocês cortaram a língua dela? — Refiro-me a ela não estar
falando.
— Deve estar agonizando de dor com o tiro na batata da perna —
Leão brinca. — Essa aí é boa com armas.
— O que pretende, Fernando? Você pegou as provas que eles diziam
ter contra mim? O delegado falou que estava implícito.
— Não. É óbvio que eles não têm, tudo não passou de ameaças. O que
precisamos é interrogar esta mulher para ela confessar a sua armação há mais
de dez anos. Como eu disse a poucos minutos, você está de frente para o
motivo em carne e osso dos seus demônios! — Após ele declarar, eu fito a
Tessa, encaixando o diagnóstico.
— Como pode ter sido você? — Ela não fala. — Abre essa boca!
— Eu não tenho nada para falar! — Enfim, esbraveja.
— Seu irmão Saulo já entregou seus podres! É melhor falar de uma
vez! Já está fodida! E se continuar aqui com essa bala cravada na perna, vai
morrer!
— Ótimo. Eu morrendo, vocês não têm a quem interrogar!
— Nem pela a sua filha vai querer sobreviver?
Ela arregala os olhos.
— Achamos a menina embaixo da sua cama... — Murilo sussurra. —
Se tentou escondê-la, é por algum motivo... será o "amor de mãe".
— Ah, que besteira. — Leão sorri malvado, com seus dentes
amarelos.
— Seus nojentos, vocês não toquem um dedo na minha filha!
Eu cruzo os braços, vegetando. Pois ainda não encaixo Tessa nesta
história.
— Diga toda a verdade!
— Foi eu!
— Como?! — Eu exclamo com os músculos rígidos.
— Isso já sabemos. Eu quero detalhes! — Fernando abaixa a cabeça.
— E desde o início!
— Se eu disser, vão devolver a minha filha para o morro?
— Podemos colaborar e entregá-la a algum parente seu. Agora fale!
Ela me olha e diz sem rodeios:
— Foi um plano para matar a minha mãe!
— Vo... você quis dizer que realizou aqueles esquartejamentos cruéis
e me fez acreditar ser o acusado? Sua desgraçada! — 03 e Leão
imediatamente me seguram.
— Continuem a segurar ele! E continue a falar, sua vadia!
— [...] foi um plano entre a facção inimiga do meu pai. — Ela desvia
os olhos. — Minha mãe descobriu que eu estava traindo a nossa família,
passando informações para eles em troca de dinheiro e presentes. Só que eu a
enganei, dizendo que era ameaças. E ganhamos tempo para planejar a sua
morte.
— Isso não explica o porquê de me colocarem a culpa! — Eu, por
pouco, não grito, furioso.
— Explica, pois eu desisti do plano de matá-la um mês antes!
Contudo, a facção não perdoou! E me chamaram de covarde! Eles mandavam
bilhetes dizendo que iriam me queimar viva! Foi então que aquela noite, sem
esperar eles armaram uma emboscada para me sequestrarem a força. E
conseguiram com sucesso.
— Sua mãe tentou salvar você!
— E se você não tivesse matado ela naquele acidente de carro, não
teria levado a culpa dos assassinatos nas costas! Pois a facção seguiu vocês
dois! E após a batida, eles pegaram o corpo dela e te raptaram sem
consciência!
Relembrando a noite do acidente, isso não vem a minha mente. De
jeito nenhum.
— E por que eles não te mataram ou te colocaram naquele banheiro
para ser a responsável pelas mortes? — Fernando cospe as palavras, antes de
eu desejar me soltar para voar sobre o pescoço dela.
— Porque eu consegui o perdão daqueles traficantes trouxas! E
convenci eles de colocarem a culpa no Felipe! Logo que meus irmãos já
sabiam que ele tinha um caso com a nossa mãe mesmo! E foi uma ideia
perfeita!
— Vagabunda! — 03 e Leão não me soltam. — Eu agora seria capaz
de te matar!
Tessa sorri discreta, sem um pingo de arrependimento.
— E a outra mulher? Por que esquartejaram ela e a sua mãe tão
cruelmente?
— Isso já foi maluquice da facção... pois tirar a cabeça e costurar os
olhos era e é da índole do meu pai. Eles fizeram a minha família "provar do
próprio veneno". A outra mulher era uma perua da favela, que já estava
marcada para morrer. Ela devia os traficantes. Pronto, era só isso que vocês
desejavam saber?
— FILHA DA PUA! — Grito.
Fernando suspira tão furioso quanto eu e vira, também me segurando
para eu não fazer uma loucura. Meu queixo treme, meus olhos estão vidrados,
sem piscar e prontos para saltarem. Eu aperto as mãos, semicerradas. De
verdade, eu seria capaz de estrangulá-la!
— Vem, vamos sair daqui, Felipe!
— E VAI FICAR ASSIM?! IMPUNE?!
— Não, a gente gravou tudo. — Murilo mostra o celular.
— Escuta, você não é culpado de nada... — Fernando apoia meu
ombro. — Bola pra frente, essa desgraçada é uma psicopata que vai pagar
caro pelos seus crimes. Você já pagou pelos seus erros, é hora de dar o
segundo passo, irmão. Chega de sofrer. Todos aqui nos empenhamos para te
ver longe daquela cadeia, longe desse passado, dessas aflições. Sozinho,
jamais conseguiria, eu sei disso, você é forte, mas não tão quanto nós, as
pessoas que te suportam e te amam. Chega dessas dores em vão. Vem logo...
Eu luto para não me emocionar com o peso saindo das minhas costas.
Ninguém sabe, ou entende como é conviver com a dúvida... com a dor
de se achar um assassino por mais de uma década. De colocar a cabeça no
travesseiro e de se imaginar com um facão, destroçando pedaços humanos.
Eu paguei caro pelos meus erros. E não escondo que errei como um fodido e
mereci. Mas eu quero ter outras escolhas, outras oportunidades, meu Deus.
Eu quero ser bom. Eu amo a minha loira, eu já amo meu filho que mal sei se
existe, eu amo me sentir vivo pela primeira vez. Eu amo ser feliz.
E eu sou inocente! Eu sou inocente porra!
Capítulo 51
— Desse jeito, você vai ficar sem os belos lábios, minha querida —
Guilherme sussurra, sorrindo acolhedor, por eu estar mordendo a boca de
ansiedade e de nervosismo, sem parar. O que eu nem havia percebido.
Augusto passou agora pouco aqui na casa da Clara, dizendo que havia
pegado o Felipe na delegacia, entretanto, a pedido dele, o deixou na agência
logo em seguida. O Fernando foi também para a agência, Clara acabou de
ligar para confirmar a informação com ele.
— Acho que eu vou para casa descansar — cansada de ficar sentada,
eu me levanto com o rosto inchado de tanto chorar.
E graças a Deus, muito melhor psicologicamente.
— Certeza, Eloíse? — Clara se ergue do lado da mãe, preocupada. —
Não vai esperar por ele?
— Talvez nem venha. Deve estar cansado, querendo tomar um banho,
comer alguma coisa e dormir.
— É bem improvável. O que foi? Ficou diferente? Está triste?
— Não foi nada. De maneira nenhuma. Eu estou feliz, de verdade. No
entanto, também quero deitar um pouco. Já vou, preciso repousar tranquila...
— Desvio-me do assunto. E sem contrariar-me, após eu me despedir do Gui e
da dona Juliana, Clara apenas me acompanha até o motorista do lado de fora,
sendo insistente sobre o motivo da minha mudança de humor. Só que não
estou mudada.
— Por que ficou estranha? — Ela insiste.
Resolvo ser sincera.
— Talvez eu tenha me chateado por ele não ter aceitado a minha
visita ontem. E agora que saiu, eu não sei — dou de ombros. — Eu precisava
vê-lo, abraçá-lo, senti-lo. Eu amo aquele homem.
— Elô, não fique magoada por isso, você vai vê-lo. Essa tensão toda
não faz bem para você e nem para o seu bebê. O que aconteceu, foi de fortes,
extremas emoções. E o Felipe só... bom, é difícil limpar a barra daquele
imprevisível. Porém, não é hora disso. Certeza que só foi orgulho, medo de
compartilhar o que estava passando dentro de si. Ele, da mesma forma, te
ama. E sei que é tanto amor que nem o próprio sabe como lidar com esses
sentimentos de proteção e de querer ver a sua amada bem.
— Eu entendo, pois nem eu sei às vezes como lidar com esses
sentimentos apaixonados — limpo as bochechas molhadas. — Será que ele
vai me procurar hoje? Necessito de contar da gravidez logo. Isso já está me
enlouquecendo.
Clara arregalo um pouco dos olhos.
— É... é claro que ele vai. Não tenho dúvidas — ao pigarrear, ela
parece pensar sozinha. — E peço desculpas a você.
— Desculpas?
— Sim... depois saberá o motivo das minhas desculpas, ou não.
Estranhando, mas ansiosa para ir embora, eu me despeço com um
abraço bem apertado, sem mais conversa. Adiante, entro no carro, respirando
sem energia. Só preciso descansar. O pior já passou, mesmo que a incerteza
do Felipe parar numa penitenciária seja... provável. Todavia, não pensarei
mais nisso. Aperto meu corpo e encosto a cabeça na janela. Quando eu chego
em casa, a primeira coisa que eu faço é tomar um longo banho quente, depois
deitar a coluna na cama macia, fingindo viver um conto de fadas, onde nele,
eu consigo dormir vinte minutos no colchão de plumas do príncipe.
Ao anoitecer, eu vou para a cozinha inventar algo comestível —
minha barriga ronca. Mas, pela sorte do destino, eu encontro a vovó já
preparando uma deliciosa pizza portuguesa. Aproveito para ajudá-la a montar
os ingredientes que faltam. Enquanto isso, a atualizo sobre as notícias do
Felipe.
— Você está esperando ele vir aqui?
— Por dentro, sim, contudo, não vou atrás dele.
— Não estava doida para ver esse homem, minha filha? — Ela
resolve frisar meu desejo não tão omitido. — O ama, ou esqueceu?
— Claro que eu amo aquele ser humano complicado. Só não vou ficar
ligando e atrapalhando as coisas nesse momento difícil. A Collins teve razão
ao dizer que o Felipe possa estar só com medo. Quem sabe atordoado?
Aflito? É uma situação de desespero. Quero que ele descanse, pense melhor e
possa me pro...
— AAHHH!
De repente, a vó Aurora dá um grito de susto atrás das minhas costas,
deixando a colher suja e o copo do molho de tomate voarem estridentes no
piso branco. Eu me assusto, virando tão ligeira para ver o que aconteceu que,
sem querer, as minhas rasteirinhas escorregam nos cacos e me levam por
pouco... por muito pouco, de bunda para o chão... pois, em menos de um
estalar dos dedos, eu sinto mãos firmes me segurarem pela cintura e girarem-
me, puxando-me a favor do seu peitoral e da sua pélvis máscula. Sou salva!
— Meu deus!
Eu fecho os olhos, ofegante, e abro sem acreditar no motivo do grito,
da bagunça na cozinha, no meu coração e no meu cérebro. Então, sem
aguentar eu choro, o abraço mais forte do que tudo no mundo. Ah, meu
senhor!
— Felipe... — minhas lágrimas molham sua camisa. — Você quase
matou a minha vó, seu doido.
Ele ri, acariciando meus cabelos e beijando-os.
— Eu te amo...
Eu não o largo e nem ele solta suas mãos de mim.
— Eu também te amo. Te amo muito.
Quando eu volto a encará-lo em prantos, não temos tempo para mais
nada, beijamo-nos com pressa, amor, desejo, saudades — milhões de
sentimentos embrulhados, confusos, felizes. É abrasador de tal forma que o
meu peito salta. Sua barba grande arranha meu rosto, eletrizando-me a tocá-la
na medida em que seus lábios conduzem os meus junto da sua língua hábil.
— Ham-ham, queridos... — vó Aurora pigarreia. — Tem uma
velhinha de respeito aqui.
— Felipe! — Sem ar, eu me afasto e ele cola nossas testas, sorrindo
sedutor. Eu retribuo o sorriso.
— Desculpa, dona Aurora — ele ergue a cabeça. — Digo pela sujeira
que fiz.
E o beijo? Foi uma vergonha.
— É... é melhor que eu limpe o chão — o afasto. — Tem cacos de
vidro e podem ser perigosos.
Quando eu ia começar a deslocar-me, Felipe me impede bruto.
— Exatamente, e se você cair de novo, loira? Não mesmo, cadê a
vassoura e o pano de chão, dona Aurora?
— Não precisa, filho, eu limpo. O copo não se quebrou muito.
— Não, vó, eu limpo, é arriscado!
— Não vai! — Ele infla o peito e de um minuto de saudades, eu já
quero socá-lo!
— Eu vou limpar, já disse!
— Não! Onde tem uma vassoura?
— Chega, não creio que vão se estranhar depois de uma
demonstração de amor linda dessas. Saem daqui, andem! Eu mesma limpo!
— Vó é perigo...
— Eloíse, eu vou te mandar embora a base de vassouradas! Vão para
sala, os dois! Perigoso é vocês brigarem!
Felipe ri, pega na minha mão e pede desculpas outra vez a ela, em
seguida, arrasta-me sem o consentimento das minhas pernas.
— Felipe, a vovó vai pisar naqueles cacos!
— Imagina, não tem tanto vidro. E acha que eu não vou acreditar que
ela é capaz de uma vassourada? Aquela ali é amiga da minha mãe. Marta já
me tacou até panela nas costas. E por favor — no hall da antessala, sem
avisar, ele me joga na parede dura, pressionando o tecido do meu vestidinho
curto. — Eu preciso ficar a noite, a madrugada e a vida inteira junto de você,
sentindo seus lábios...
Desvio-me do seu rosto sexy, pronto para me fazer viajar na sua boca
carnuda.
— Nada disso! Você vai escutar tudo o que eu passei nesses últimos
dois dias! Sabe como quase me matou de angústia? Medo? Terror? Eu queria
te ver naquela bendita delegacia e nem isso você permitiu para poder acalmar
meu coração! Eu fiquei ontem e hoje na Clara, lutando contra às horas no
torturoso relógio!
— Por favor, eu fui um covarde orgulhoso. Não queria te ver, pois
isso me machucaria. E eu peço perdão, Eloíse. Não fique magoada comigo.
Prometo te contar tudo.
— Contar que é possível você ir parar numa penitenciária? E que a
qualquer momento pode ser o nosso último momento? — As lágrimas voltam
sem eu mandar. — Eu já sei.
— Não, não sabe. E eu não vou parar em nenhuma penitenciária. Eu
sou inocente.
— Co-como? — Eu entro em choque.
— Vem, vamos conversar lá no seu quarto.
Ele nos leva para cima. E assim que fecha a porta, senta-se na
poltrona, fazendo-me igualmente sentar no seu colo para começar a detalhar
todo ansioso o que acabou de descobrir na agência com o Fernando. E eu só
pude chorar de tamanha alegria.
— Eu sabia que você não era culpado! Eu sabia! — Abraço-o,
agarrando seus cabelos úmidos com entusiasmo.
— Acho que só eu não acreditei na minha própria inocência. Não sabe
como eu me sinto mais vivo agora.
— Imagino — eu encaro suas íris, respirando aliviada. — É oficial, o
senhor é um novo homem!
— Espera — ele pisca. — Corrigindo: "é oficial, eu sou um novo
anjo".
— Bobo — o beijo.
Felipe aperta meus quadris, acariciando minhas coxas nuas e
demonstrando desta vez estar inquieto.
— Tem algo que está me matando, Eloíse. E você precisa dizer logo,
senão eu vou surtar.
— O que foi? — Franzo o cenho, curiosa.
Ele então coloca a mão na minha barriga.
— Você está esperando um filho meu?
Em pavor, eu arregalo os olhos.
— O-o quê???
Eu tento me levantar, mas ele não deixa de jeito nenhum. Acabo de
ter um ataque cardíaco.
— Diga?
— Senhor amado, como você soube? Quero dizer, quem te contou?
— Fernando, uma noite antes de eu ser liberado. Vai, mulher! Eu vou
ficar maluco!
— Maluca foi eu quem fiquei!
— Está ou não, Eloíse? — Felipe é direto, autoritário e desesperador.
A voz grossa dele me faz engolir em seco, e com as mãos trêmulas,
desvio-me dos seus olhos.
— Sim...
Ele aperta meu corpo, em choque. E choro, já emocionada.
— Ainda não fiz os exames por um médico. Foi pelas canetas de
teste. Clara quem comprou.
Sem dizer nada, ele sorri. E não acredito — de orelha a orelha. Está
feliz?
— Porra! — E sem esperar, Felipe me abraça e agarra as minhas
pernas, erguendo-me forte do seu colo.
— Felipe!
— Loira, eu sou o homem mais feliz desse mundo! — Ele me joga na
cama com seu peso por cima.
— Jura?
— Deus, eu serei pai, não me faça perguntas nesse momento!
— Ah, e o bebê vai nascer de quem?
— Um bebê! Deus, teremos um bebê, loira!
— Felipe?
— Teremos um serzinho pequeno.
— Você está bem?
— Eu disse pra não fazer perguntas — o homem abaixa o tronco e a
boca na minha barriga, beijando-me nervoso. — Acho que já paguei o preço
dos meus pecados valendo pela próxima reencarnação, não posso sair
ganhando nessa, meu Senhor?
— Eu vou te levar num médico.
— Xiuu, deixa eu rezar.
— Rezar?
— Eloíse, já viu seu reflexo? Tu é uma puta deusa linda! Se tivermos
uma filha, eu vou criar uma artilharia em casa! Ela vai puxar seus fios loiros,
os olhos azuis e a beleza 60% do pai!
Eu rolo os globos oculares, mais revoltada do que feliz. Mesmo
assim, confesso que a felicidade não cabe no peito.
— Minha vontade é de bater em você! E tomara que seja menina!
— Enlouqueceu?! — Assim que eu digo a palavra "proibida"
(menina), Felipe se ergue rapidamente. — Fernando vai zombar de mim até
depois da morte! Sabe como eu reagi quando a Adri nasceu? Torturei o
psicológico dele dizendo da beleza puxada da mãe, até levar um tiro de
raspão no pé!
— Bem feito! Vai provar do próprio veneno!
— Sua maldosa!
Eu sorrio, encaixando minhas coxas no seu quadril.
— Eu te amo, Felipe. Além de você, eu me sinto a mulher mais feliz
do planeta terra inteiro. E ver que está alegre por termos uma filha...
— [...] ou um filho — interrompe.
— [...] é, ou um filho — revivo os olhos de novo. Ele sorri. — É
maravilhoso!
— É só o começo, minha princesa. Você é minha para todo o sempre.
E não vou perder mais nenhum minuto para te ter acordando todos os dias ao
meu lado. Quero te conquistar a cada manhã e a cada final de noite com um
vinho bom, música e muito prazer. Não sou homem de duas palavras, por
isso, eu estou prometendo até o último fôlego de nossas vidas.
Ah, isso foi a declaração mais linda que eu já ouvi, do jeito dele, mas
foi uma declaração linda.
Sem dizer o que meus sentimentos já deixam explícitos, ao limpar os
lados da minha face molhada, ele volta a me beijar como sempre faz,
apaixonado, abrasador, flamante, feroz e mostrando que eu sou a sua mulher.
Capítulo 52
— Eu ainda não acredito que posso respirar feliz. Essa madrugada foi
horrível. Não preguei os olhos nem por um só minuto pensando em você.
Após Felipe virar para me deitar por cima do seu peitoral, ele fica
acariciando meus cabelos, enquanto eu, a sua camisa.
— Eu fui um covarde. Só quando o Fernando jogou na minha cara
que você estava grávida e que eu corria o risco de não ver o meu filho nascer
e nem de estar ao seu lado... que eu surtei feito um louco sem acreditar.
Tentei colocar na mente que não era verdade. Pois eu não sei se suportaria,
Eloíse. Não sei mesmo. Mais um dia naquela gaiola e as paredes se partiriam
com as batidas da minha testa.
— Por favor, não vamos pensar em coisas ruins. Já acabou. Você está
comigo e é isso que importa.
Eu ergo a cabeça e dou um selinho gostoso nos seus lábios, o que faz
ele desejar um beijo bem mais demorado de língua. Porém, eu não dou, tento
sair da cama para descer e saborear da pizza da vovó. Eu estou roncando de
fome.
— Como é maldosa — Felipe me impede, dramático. — Até quando
eu acabo de sofrer dentro de uma cela, você judia de mim. Vem cá me encher
de beijinhos...
— Eu gosto muito do senhor. Só que a pizza lá embaixo é meu grande
amor. Sinto muito. Me solta, moreno.
— É assim? — A carinha de tristeza dele é a pura safadeza.
— É assim, seu sem-vergonha! E vai, se levanta, já demoramos
demais neste quarto! A vovó pode pensar que estamos fazendo coisa errada!
Sem evitar, ele gargalha.
— Ah, é claro, como se não fossemos dois adolescentes virgens.
Falando nisso, será que a sua vó não poderia ligar para os meus pais e pedir
para eles me deixarem passar esta noite aqui brincando de papai e mamãe
com a minha coleguinha loira?
— Felipe, larga de ser palhaço!
— Não fala assim senão eu te esnobo na escola!
Eu rolo os olhos, levantando-me.
— Como é infantil! Vamos descer logo, amiguinho de tamanho "P".
Instigado, ele franze o cenho e antes de eu abrir a porta para sair
fugida, o deuso gato me agarra por trás, enconchando seu pau contra a minha
bunda.
— Felipe, me larga!
— Tamanho P?
— Exatamente!
— Tamanho P nem a minha língua tem!
— É? Eu nem sinto ela! — Assim que eu vocifero, Felipe pega ligeiro
na barra do meu vestido, ergue-o e estapeia ardido na pele do meu traseiro.
— FELIPE! AIII!
Eu bato nele, lutando para me soltar. Só que, em seguida, esse cretino
apanha os meus pobres fios loiros desde a raiz e me esfrega o volume do seu
cacete trincado dentro da calça. — Aí, seu bruto! Quando a brincadeira é
mais embaixo, você não gosta, né? Canalha! Minha bunda está ardendo! Isso
não vai ficar assim!
— Safada provocadora da porra! Está fazendo isso porque está doida
para ter meu pau metendo duro entre essas suas pernas brancas! — Puto, ele
sarra mais forte e mais sem pudor no meio das nádegas.
Ai, que delícia. Até me falta ar.
— P-pois que se dane, eu estou mesmo!
— O quê?!
Não sei se é por eu estar grávida, mas só de ver o Felipe, eu já sinto
ânsia de transar 24h por dia. O calor me consome, pareço um vulcão pronto
para expelir entre as coxas.
— Ah! Eu não ouvi isso não, pode repetir a resposta? — Ele morde o
meu pescoço com a preza dos seus dentes, tocando na testa quente da minha
intimidade por dentro da calcinha.
— Hmm, não... — Seguro sua mão grossa, impedindo que ela desça
mais. — Vó... vovó está nos esperando. Mais tarde, o senhor Alencar cobra a
minha resposta. Terei o maior prazer em repetir com o seu pau duro estre as
minhas pernas.
— Porra, caralho... você me mata, Eloíse! Acho que eu preferia a
prisão a mais dez minutos ouvindo suas palavras provocantes! Diaba loira! —
Ele me solta, virando-me para me beijar invasivo e com pega de um homem
cheio de tesão.
No entanto, com sacrifício, o meu tarado me larga resmungando e
descemos para comer da pizza recém tirada do forno pela Vó Aurora.
Também encontramos o Otávio a mesa — o que levou ele e o Felipe a
ficarem por "horas" conversando sobre umas tais etapas de novatos que ele
enfrentará na agência e blábláblá pois eu estou morta de sono e cochilando
sentada. Não terá mais sexo!
— Eloíse? Filha?
— Oi? — Ela me acorda.
— [...] fiquei feliz por te ver livre, é um cara bacana... deve ser um
inferno ficar prezo.
— É uma experiencia que eu não recomento, Otávio.
— Rapazes, em outra ocasião, vocês conversam melhor sobre isso.
Vamos dormir. Felipe teve dois dias cansativos e inimagináveis sendo
acusado por um crime que não fez — vovó se refere às informações que ele
omitiu da existência dos franceses e de como foi a morte das duas mulheres.
— Eloíse sofreu, e os dois merecem descansar. Chega de relembrar desse
acontecimento triste.
Devo concordar que a vovó tem razão, chega de passado. Sem esse
peso na consciência, o Felipe é um novo homem. Vemos de longe o brilho de
alegria nos seus olhos. Não é falso, oculto e misterioso. É ele, é sem
explicação. Que a partir de agora a sua única luta seja para fazer essa Tessa
pagar caro pelo seu crime. E para sermos felizes sem medidas.
— Eu sabia que eu ia te fazer acordar rapidinho... — Ao retornarmos
para o quarto, ele tranca a porta, mordisca meus lábios, meu pescoço, meu
decote e joga-me sobre o colchão.
Encontro-me é acordadíssima!
— Vai, Felipe, sem preliminares!
— É como pedir para um artista pintar numa folha de caderno
qualquer, minha deusa — ele tira a camisa, observando-me todo safado-
cafajeste. — Eu quero degustar cada parte do seu corpo, atenuando com a
minha língua devoradora.
— Para de falar e vem logo! — Eu me inclino, tocando no seu
abdômen definido e no seu volume delicioso. — Eu estou subindo pelas
paredes!
Cheio de paciência, brincando comigo, ele se afasta, terminando de
tirar os sapatos, a calça jeans e por fim, permanece apenas de boxer azul. E é
uma visão espetacular. Toda uma plateia bateria palmas de pé, com certeza.
Que homem! Que músculos! Que abdômen! Que gostoso! Aproveito para
arrancar o vestido. Fico só de lingerie branca.
— Gosta do que vê?
— Muito... — Mordo os beiços. — Mas eu quero você logo! Vem,
Felipe!
— Calma, gostosa.
Ele acaricia meu rosto, segura meu queixo e aperta meus lábios para,
em seguida, me empurrar.
— Eu vou tirar essa tensão, relaxa.
Ah, tá. Se fosse ele, estava convocando até o diabo das profundezas
do inferno.
Felipe arqueia as costas, vindo até mim, beijando-me os dedinhos do
pé, a batata da perna e a carne macia do bumbum. Ao se debruçar entre as
minhas coxas, apalpa-me, morde, cheira... e perto do meu sexo, esfrega a
ponta do seu nariz sem maiores cerimônias.
— Felipe... — murmuro de desejo.
— Perfeição... — ele abocanha minha bucetinha por cima da calcinha
lambuzada.
Eu fico estremecida, inchada, encharcada de ansiedade. O canalha
nota a pulsação. Só que ao invés de me penetrar a língua, ele me abandona
ofegante e sobe para os meus seios, onde abre o fecho do sutiã igual
profissional, apertando-me possessivo, adiante, chupando-me com desejo,
fome, lascivo. Eu delírio. Ele se diverte com os bicos duros, mordiscando-os
selvagem, lambendo instintivamente lento e feroz. Enquanto as suas mãos
másculas percorrem as voltas do meu corpo, indo e voltando na minha
bocetinha desesperada. Eu salivo rouca, pedindo-o misericórdia.
— Por favor... me penetra... — Jogo a cabeça para trás. — Mete em
mim!
Ouvindo-me ou não, Felipe para de dar atenção aos peitos empinados,
descendo a saliva da sua boca cálida até a minha barriga; e beija meu umbigo,
a virilha, fazendo todo o processo brando que me leva a mais e mais
lubrificação. Aperto o travesseiro, e como um cachorro vira-lata, ele rasga a
calcinha e passa a língua de baixo para cima na minha vagina.
— Oooohh...
— Céus, que visão incrível... — Eu sinto o calor da sua voz, o hálito
de um animal sobre o meu corpo. — Rosadinha, loirinha... porra, linda! —
Ele me fareja e eu gemo de prazer. — É um gosto doce, convidativo, perfeito
para me deleitar a noite inteira!
— Felipe... — eu pego nos seus cabelos, forçando a sua cara na minha
intimidade latejante — me faça gozar. Pelo amor do meu desejo, me faça
gozar agora mesmo!
— Qual as palavrinhas mágicas? — Ele me beija na parte interna bem
perto da xota.
— Me foda?! Me coma?! Me devore?!
— Não.
— Por favor... por favor... por favor!
— Também não. É me chupa, meu anjo!
Sem ao menos esperar, ele abre a minha vagina com seus polegares e
afunda a língua hábil, sugando o clítoris sem pena. Eu urro, contorço-me,
berro de satisfação aos quatro cantos da terra. Felipe me devora a boceta com
destreza, alternando entre beijos e lambidas. Ele não para, suga até o estreito
do meu cuzinho que pisca.
— Ahhh... Felipe — esfrego-me deliberadamente na sua cara,
gritando sem cessar igual louca e gozo sem medo de nos escutarem.
Ele absorve meu mel, como se fosse um ralo engolindo água!
— Huumm!
— Maravilhosa... assim os hóspedes vão nos ouvir. — Sem ar, ele se
ergue, exalando sexo e tampa a minha boca. Eu choro tremendo. — Shiiuu,
gostosinha... só estamos começando.
Felipe desce a boxer que mal cabia seu pau e a textura do seu pênis
duríssimo bate na minha virilha, expelindo espasmos de excitação. Eu afasto
a mão dele, respirando acelerada.
— Eu te amo! Te amo!
— Após um sexo oral, não vale declarações — sorri.
— Va-vale sim... droga... umm... isso... — ele esfrega a cabeça da sua
piroca na minha gruta melada de gozo.
— Que gostoso seus gemidos... loira. Eu estou enlouquecendo de
vontade te foder como um louco! — Diz, rebolando e roçando gostoso.
— Penetra em mim... você não tem esse autocontrole! Penetra!
— Eu tenho quando eu quero, mandona!
— Você está se vingando!
Brava, puxo seus fios!
— Me foda, cretino!
— Ai, caralho! — Ele bate na lateral do meu traseiro, gruindo
enfurecido de dor.
— Seu canalha! Cafajeste!
— Diaba infernal. Eu vou te deixar assada nessa buceta loira! — Meu
coração para. A minha coluna se arqueia. Feito um ogro, ele me agarra pelas
nádegas e arromba-me, penetrando seu mastro bem-dotado, indo até o limite
das bolas, sem pena. Pela primeira vez, a minha boca se abre a procura de
voz. E quando eu retorno cheia de fôlego, pronta para bradar de desespero e
de prazer, Felipe impede doloroso, bombardeando o seu membro sem dó
dentro de mim, à medida que geme. Oras indo feroz, oras indo lento e animal.
Ah... como eu te amo meu doce canalha. E não preciso repetir em
palavras, pois os meus e os seus olhos dizem isso a cada segundo que se
encontram em meio às idas e vindas que me investe, conquistando a cada
atrito a minha alma e o suor de paixão para si.
•••
— Ei, linda, o que foi?
Mais tarde, bem de manhãzinha, eu acordo correndo para vomitar
toda a pizza de ontem à noite. E agora que eu voltei para o quarto, sem força,
após escovar os dentes, encontro o Felipe acordado, aguardando-me nervoso.
— Não se preocupe, moreno. É as maravilhas de ter um bebê dentro
do seu útero.
Assim que ele ouve a palavra "bebê", ele puxa um sorriso tranquilo,
abrindo espaço para eu me sentar na cama.
— É o meu meninão. Já está dando os sinais ao seu pai.
— É, é sim... — reviro os olhos — Eu vi no vaso, o vômito era azul!
— Que droga, sua respondona! — Ele me captura pelos quadris,
deixando a marca vermelha dos seus dedos.
— Para, Felipe, eu já estou bastante dolorida de você — meu
murmuro sincero faz ele me soltar e me abraçar mais amoroso.
— E se eu der beijinhos, melhora?
— Não.
— Por que não?
— Porque... vamos dizer que o lugar onde eu sinto dor não é muito
apropriado.
Ele sorri.
— Compreendo, mas e esse pescoço aqui? — Inesperado, arrepio-me
com a aproximação no cangote. — Tá tão cheiroso... — ele abocanha. —
Apaixonante...
— Meu moreno, para...
— Certeza?
— Sim.
— Tá bom. É que a minha namorada é maravilhosa, fica difícil
resistir. Vai querer que eu te deixe na empresa da Collins? Preciso ir, tenho
que passar na delegacia com o Fernando, para entregar a vagabunda francesa
e o primo dela.
— Não se incomode. Ainda tenho que tomar banho para me arrumar.
Não sei se a Clara vai querer me fotografar hoje. Esse final de semana foi
horrível para ambas.
Ao concordar, Felipe se ergue esbelto, dando-me a visão da sua bunda
nua. Eu finjo que sou uma puritana santa, para ele não perceber meu olhar
admirado, de vontade apertar seu bumbum.
Depois dele se vestir e de nos despedir como amantes apaixonados, é
a minha vez de me arrumar para ir até a confecção ver o que será desta
semana. Espero, de verdade, que a Clara não pretenda terminar o catálogo
atarde.
— Oi, Eloíse do meu coração. — Guilherme vem me abraçar no hall
de entrada, todo saltitando. — Com você está, bonequinha?
— Eu estou bem. Vim ver o que será das fotos.
— Ai, vai ser na quarta, vamos subir, a patroinha quer falar com você.
Ela está tão animada para te contar uma coisa. Cruzes, não posso falar, estou
dando spoilers — ele faz cara de apavorado, mexendo ansioso no suspensório
colorido da sua jardineira jeans. — Vem, mulher! Senão a minha língua vai
fofocar!
Sem esperar, Gui agarra a minha mão e por pouco, não me arrasta
pelo piso de mármore.
— Gui, calma, criatura...
Após Guilherme me levar "super tranquilamente" até a Clara, eu
descubro o que ela gostaria tanto de me contar. E essa mulher é maravilhosa,
alucinante, ela não poderia ter me dito coisa mais doida. Porém, eu super
apoio.
— Você planejou agora?
— Sim, e é bom começarmos a arrumar as coisas o quanto antes.
Temos que arrasar!
— Isso é loucura, se o Felipe e o Fernando detestam festa surpresa,
eles não vão ficar furiosos conosco?
— Escuta, minha querida, esses bofes musculosos não têm o que
gostar!
— Isso aí, é o aniversário deles, Fernando faz na sexta que vem e o
Felipe um dia depois. E eles não tem o que contestar, Elô. Farei a festa do
ano!
— Eu nem sabia do aniversário dele — sorrio. — Já vou comprar
milhares de coisas no sex-shop, para as torturas.
— Minha nossa, dona Eloíse! — Guilherme arregala os olhos e
gargalha.
Clara fica divertida, rindo.
— Acho que faremos essas comprinhas juntas, minha cunhada.
— Clara, você vai torturar o Fernando? Sabe que isso é impossível,
né? Sempre diz que não dá certo. Além dele se vingar duas vezes pior.
— Não é nada difícil, era até fácil antes daquele cretino começar a
esconder suas algemas da agência no cofre do escritório! Desta vez,
comprarei correntes e cadeados para amarrar touro! A torturar será tão, mas
tão sofrida, que ele não vai poder se vingar por um mês!
— Misericórdia, mulher, esse homem vai se arrepender de ter
nascido.
— Vai mesmo — eu sorrio do comentário do Gui. — Felipe tem o
caso idêntico. Já estou frustrada dele sempre estragar as coisas. Usarei
mordaças para fechar seu bico.
— Eu tenho, quer emprestado?
— Gente, que isso? Quando foi que o clube das maldosas viraram
sadomasoquistas? Eu estou aterrorizado com vocês! — Ele coloca a mão no
coração fingido "chocado". — Minha alma pura pede uma missa de
libertação pelos ouvidos feridos de pecaminosidades.
— Olha, nem vem, safadinho. Eu sei que você está de rolo com um
boy por aí.
— Ui, não, não, neném! Não vai me tirar confissões que eu não vou
contar! — Ele faz cara de malicioso. — Mentira, eu vou contar, o nome dele
é Júlio e a espada de "César" é enorme.
Não suportamos e somos obrigadas a perder o ar de tanto rir.
— Ninguém te merece, purpurina desvergonhada. Mas vai, conta
mais da sua vítima...
Capítulo 53
Eu não achei que fosse terminar assim. Na verdade, não era nada do
que eu estava esperando. Como eu fui boba.
— Essa carinha é boa ou ruim? — Suellen pergunta preocupada. —
Sinto muito... não era a minha intenção quebrar, Eloíse. Droga, eu sou tão
desastrada.
— Tudo bem, Ellen. Só estou recordando desse momento. — Ela
resolve observar o retrato mais atentamente comigo, após derrubá-lo e
quebrá-lo perto das cortinas. — Nunca me senti tão feliz e realizada.
— Não se esqueça que você caiu feito um patinho.
— Ah, é claro, como esquecer disso? Clara e Guilherme foram umas
verdadeiras víboras teatrais. Dá uma lista encadernada de todos os
envolvidos, inclusive o Felipe.
— Espera, eu ouvi o meu santo nome? — Clara surge da cozinha com
uma bandeja de doces.
— Sim. — Ellen sorri, acariciando o seu barrigão. — Eloíse está
comentando pela milésima vez do dia em que caiu direitinho no plano do seu
próprio casamento surpresa.
— Esse dia foi épico. — Ela sorri animada. — Felipe foi um
verdadeiro maluco de amor. Ele me fez planejar aquela festa em menos de
duas semanas. Quase fiquei sem os cabelos...
Minha cabeça voa para as lembranças, deixando as vozes
conversando longínquas. Aquele sábado foi o mais lindo de tudo que eu já
vivi.
Toco na nossa foto de costas para a cachoeira. Após tirar a venda,
tudo o que eu vi... Eu não tive palavras, eu só pude chorar sem chão. Havia
inúmeras pessoas bem vestida e de pé. As cadeiras enfileiradas. Um coral de
instrumentos tocando Hallelujah, decoração de rosas brancas e uma passarela
de madeira indo até o altar onde estava o cerimonialista. E na entrada, eu
estava vestida de noiva, com o meu homem de joelhos, trajando um terno
preto e segurando a minha mão. Por alguns minutos, eu não sabia se era real.
Eu não sabia o que pensar. O que era aquilo? O que estava acontecendo?
Como me enganaram? Como eu fui para naquele lugar perfeito sem saber;
vestida de véu e grinalda? Era tudo um plano? Minha mente fervia.
Eu levantei o pescoço e, em meio às lágrimas, eu observei a minha
avó toda elegante de vestido turquesa; a Ellen, a Pietra, a Clara, a Marta, o
Guilherme, a Juliana e a dona Alverina perto do altar. Meu irmão estava de
roupa formal, no papel do nosso querido pai, aguardando-me para
caminharmos ao meio dos nossos padrinhos; Augusto, Fernando e 03.
Enquanto nesse momento, nem o pedido de casamento do Felipe, eu tinha
respondido ainda. Eu, então, o fitei, ele se encontrava nervoso, apreensivo,
bonito, com os seus cabelos penteados para trás e aquele rosto másculo.
Ele sorriu... eu respirei fundo... soltei o ar... e dos meus lábios secos
saiu o gaguejo lento que todos aguardavam, o sim... eu queria viver ao seu
lado até o último fôlego de nossas vidas.
— Elô, você está chorando? — Clara e Ellen me seguram,
apavoradas. — Senta um pouco. Por favor.
— Não, tudo bem, é o emocional de grávida.
— Te entendo perfeitamente. — Ellen olha para as nossas enormes
barrigas.
— Você nem estava ouvindo a gente, né?
— Não, eu estava pensando em como eu cai direitinho no plano de
vocês a três anos atrás. E para chegar hoje, na terceira renovação dos nossos
votos.
— Gente do céu, cadê vocês?! — Guilherme aparece gritando,
interrompendo-nos. — Heron e Hayron estão roubando brigadeiros da mesa!
Andem depressa! Venham logo!
—Meu Deus, são meus filhos! — Clara abandona a forma de
bolinhos. Ela está muito estranha, está comendo mais do que eu e a Ellen
juntas. — Vamos logo, Eloíse, temos que reunir todo mundo!
Como foi no ano passado, estamos fazendo outra foto em família. E
essa é a melhor parte. Fica impossível de reunirmos todos quietinhos e
sorridentes para falar "x". É a total bagunça.
— Felipe, amor, vem! — Lá fora no jardim, eu o chamo, que está
acompanhado do Fernando, do Heitor e do Leão (Leandro).
Ele me olha com a Lis no colo e levanta-se junto deles.
— O Fernando está vindo também? Preciso procurar a Adri.
— Sim. E a sua filha está com a dona Marta e a dona Juliana. Não se
preocupe, Clara.
— Aí que bom, olha eles!
Ao falarmos das crianças, os gêmeos aparecem correndo até a mãe
com a irmãzinha de três anos. As mulheres chegam e os homens também em
volta da mesa repleta de docinhos e do bolo.
— Dá ela pra mim segurar, amor? — Eu peço a nossa bebezinha do
colo do Felipe, mas o protetor não deixa.
— De jeito nenhum, você escutou o médico: nada de esforços! Eu a
seguro! — Ele beija a sua bochecha branquinha, acariciando seus cabelos
dourados.
Vovó Aurora, Marta, Otávio, Pietra e dona Alverina aparecem nas
nossas laterais. Depois Fernando e Clara com as crianças, com Adri no colo
do pai. Em seguida, vem Ellen e o seu noivo Heitor, Juliana e Augusto,
Guilherme e o namorado. Por fim, os melhores amigos do Felipe e do
Fernando; Murilo, a esposa, o filho Leo e Leão, sua mulher e a filhinha Ana.
— Gente, se apertem.
— Nada disso, vão apertar a minha mulher gravida! Saem da foto!
— Cala a boca, seu bastardo! — Fernando bate na cabeça do irmão.
— Eu não quero mais é você aqui, sai da minha casa, seu rosinha!
— Fernando e Felipe, parem! Isso não é hora de serem Tom e Jerry!
— Se comportem!
— Foi ele quem começou.
— Fica quieto, Felipe!
— PRONTOS? QUERO BEM ALTO TODOS DIZENDO:
"FAMÍLIA"! — O fotógrafo brinca e rimos.
— FAMÍLIA! — Então gritamos rápidos, acolhendo o maior amor do
mundo numa única foto.
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