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PRÓLOGO

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 4. PARTE II
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 12. Parte II
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
BÔNUS - FERNANDO & CLARA
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
CAPÍTULO 23 PARTE. II
Capítulo 24
CAPÍTULO 24. PARTE II
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 27 Parte. II
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
BONUS - FERNANDO & CLARA
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 47. PARTE II
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 50. Parte II
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 53. Parte II
Capítulo 54
EPÍLOGO
Felipe Alencar & Eloíse Galvani

Felipe é um agente da polícia federal, após o acontecimento


envolvendo o sobrenome do pai e inúmeras tentativas de assassinato contra a
vida dele e a do irmão, a exatos seis anos atrás, ele agora resolveu ressuscitar
sua obsessão particular da época. O problema? É que sua obsessão cresceu,
evoluiu e está prestes a se casar com um "banana" (entre outros adjetivos
preferidos de Felipe). Para impedir o casamento, ele fará o possível e o
impossível do mais sórdido, descarado, cafajeste, canalha e maligno contra
Eloíse. A mulher que prometeu conquistar para si, custe o que custar.
Ela não é fácil. Nem tanto ele de desistir.
Nesta história, só a paixão e o amor saberá lapidar a dor e as
diferenças depois de abrir o diamante desejado.
"Eu creio haver corações que poderiam cortar diamantes." -
Emanuel Wertheimer
PRÓLOGO

6 anos antes

A espreita dentro do carro, eu observo o ambiente, como sempre, falta


cinco minutos para às dez horas, e nada daquela loira sair. É hoje, droga!
Tem que ser hoje. Eu criei inúmeras posições de dar inveja ao escritor de
kama Sutra. Não falhará as investidas. Eu preciso conhecê-la. Eu preciso
provar dos seus lábios, do seu corpo, do seu toque. Ela será minha, não
importa a ação necessária para isto!
Ansioso, desisto de aguardá-la sair e desço. Eu vou até o local,
notando a porta do barzinho meio entreaberta e entro no espaço que, por
sinal, é bem organizado.
— Perdão, senhor, mas já fechamos.
Escutar esta doce voz pela segunda vez me deixou com os músculos
rígidos. Eu me viro, fazendo a mulher arregalar os olhos e abrir a boca, sem
expressar qualquer outra palavra. Que joia preciosa. Parece uma boneca de
tão linda. Seus cabelos loiros me atiçam a pegá-los e puxá-los com tesão, seu
vestido azul me incrimina num ato doentio de levantá-lo e cheirá-la, depois
provar da sua umidade e lamber até adormecer a língua. Eu posso ouvir os
gemidos, a contração ao segurar o orgasmo. E a minha visão deste incrível
paraíso de pernas abertas...
— S-senhor… não estamos atendendo...
— É? Só que eu não vi nada ali fora informando que já fecharam —
aponto com o dedão. — Por favor, poderia me trazer um whisky?! — e
tranquilamente, eu caminho até a banqueta do bar.
Ela deve estar me fuzilando de raiva, ou incrédula pelo reencontro. Eu
só repito: bendita hora que a mal-educada cruzou o meu caminho a três meses
atrás, derrubando chá gelado e sendo uma deusa vingativa. Eu recordo de
cada ação; eu levantando o olhar após sentir o líquido frio nas minhas costas,
em seguida, fitando aqueles seus olhos azuis tão inocentes, e mandando-a
prestar mais atenção pois não estava na casa da mãe joana, ou na sua, pois é,
o encontro foi no shopping. A garota, claro, só não me xingou de todos os
nomes possíveis porque notou meu distintivo da federal no pescoço. Todavia
e contudo, a bela deusa-maluca fez questão de limpar o restante do copo na
minha camisa e sair correndo após me mandar catar coquinho.
Paro de pensar, vendo-a atravessar o balcão;
— É apenas o dono, que esqueceu de virar a placa lá fora — explica
irritada.
— Entendo… Como é o seu nome? — pergunto, mesmo sabendo que
é Eloíse.
Ela termina de preparar a bebida e entrega, desviando seu olhar para
fitar o balcão e o nada.
— Amanda!
O quê?!
O quê? O que mil vezes! Puta que pariu, garota descarada.
— Muito prazer... Amanda! — digo pausadamente o seu "nome". —
Felipe Alencar!
— Prazer...
Eu não estendo minha mão ou o que for, mas viro de uma vez só o
whisky abrasador. Depois volto, batendo o copo e pegando a loira safada me
averiguando.
— Eu não cobro se quiser tirar uma foto — pisco e ela fica corada.
— Eu te conheço. O que deseja aqui?
— Exato, você me conhece, por isso eu também estou aqui, pois eu te
conheço, Eloíse.
Ela dá um passo para trás, quase tropeçando.
— E-eu não disse meu nome… como você...
— É que você mente muito mal.
A mulher pisca, vermelha de raiva.
— Ok, é um espertinho. E policial, para vir aqui, é porque está a
trabalho. Diga logo! O que deseja?!
— Engano seu, eu não estou a trabalho. Eu estou por outras intenções.
Talvez imagine... — analiso suas pernas torneadas, subindo até os seus seios
branquinhos e então volto aos seus olhos. — Bebidas! — sorrio como anjo
que sou.
Ela cora mais. Meu Deus, que ser humano maravilhoso.
— Só que estamos fechados. Por favor, me dê licença!
— Que mal educada. É desta forma neste bar? A garçonete maltrata
os clientes quando o dono não se encontra?
— É, e você vai me dar voz de prisão? — debocha, saindo de trás da
banqueta para a mesa de bilhar.
Eu seguro o riso, decretando que chegou a hora dessa mulher calar a
boca com a minha língua dentro. Assim, levanto-me.
— Que tal… eu posso prendê-la na minha casa?
— Ah, e que tal o maluco sem vergonha ir embora?
— Que feio, Eloíse… Eu, sem vergonha? Eu sou um anjo.
— Que interessante, suporto anjos assediadores todos os dias! Agora
sai daqui! — Ela abre a porta do bar sem cara de muitos amigos.
— E se eu não for?
— Eu... eu tenho um telefone, eu ligo para alguém tirá-lo à força!
Aproximo-me do corpo dela, segurando a vontade de puxar seus
cabelos.
— Eu nem paguei pela bebida. Toma… — tiro do bolso vinte reais e
estendo-a — não gosto de dever belas damas.
— Hum… — e voilà, na hora de pegar o dinheiro, eu a puxo pelo
braço e roubo um beijo invasivo.
Eloíse reluta desesperada, batendo no meu peito. Morde minha boca,
mas eu não largo, uso de covardia. Empurro-a e aprofundo a língua em sua
boca. Eu logo vejo que a garota é osso duro de roer, pois quase arranca
pedaço dos meus lábios.
— Ai, maluca!
— Ta-tarado! — grita e, no instante seguinte, tasca um tapa ardido no
meu rosto. — Me larga!
— Droga…
— Sai daqui, antes que eu chame a polícia para você!
— O quê?
— Eloíse… — um homem com uma espingarda surge atrás do
balcão. Ela arregala os olhos.
E eu só tenho tempo de dar no pé, após um tiro ser disparado no teto e
outro na porta, assim que eu a bati. Caramba, são todos pirados da cuca! Mas
valeu o risco... Eu sorrio. Seus lábios são doces, como sempre imaginei.
Ah... Eloíse, espero que me perdoe até eu voltar novamente. Doce
menina, violenta e indomável!
Capítulo 1

Dias atuais

A minha vida é tão monótona, mas, ao mesmo tempo rica de amor,


pessoas boas, humildade e modéstia. Eu moro numa pensão familiar, a
pensão “Luara Aurora” da minha querida avó, Aurora. Infelizmente, após a
morte do meu pai, provocada por um incêndio, há dois anos, eu, a minha mãe
e o meu irmão tivemos que pedir abrigo, ficamos sem teto; queimou a casa,
os pertences, o bar; tudo. E vovó foi a única que nos acolheu, quem nos deu
roupas, comida, força e motivos de se reerguer e de seguir adiante de novo.
Hoje, é a nossa mãezinha da guarda. A amamos como ninguém. E por mais
que ela diga não afetar a renda de outros futuros hóspedes, recompensamos o
enorme carinho, o abrigo, a paciência; trabalhando, limpando, cozinhando,
recepcionando e fazendo de tudo pela pensão. É o mínimo.
Porém, ontem à noite, deitada na minha cama, com as luzes apagadas,
no escuro, eu refleti que chegou a hora de mudar as coisas, não de sair da
pensão da minha vozinha. Mas de sair da monotonia. De eu tomar coragem
na cara e de correr atrás do meu grande sonho, de me tornar modelo
fotográfica.
Aos 28 anos, eu sou formada em pedagogia. Após a triste tragédia da
morte do meu pai, o incêndio da nossa casa, do bar e pelo luto fastio, eu ainda
não consegui retornar a rotina de dar aulas. Eu tive que largar o emprego
como professora, e só de pensar em licenciar de novo... me sinto infeliz. Não
de estar ensinando as crianças, de forma alguma, eu as amava, mas por estar
trabalhando numa profissão influenciada pelos conselhos do meu pai e no
desejo explícito da minha mãe –também professora pedagoga. Errei de certa
forma, quis orgulhá-los, quis seguir os passos dela sem pensar nos meus
passos sozinha. Jamais compartilhei desse sonho.
Ser professor não é fácil. Respeito a carreira. E respeito a minha mãe.
Afinal, vivi a experiência dela na pele. Contudo, eu agora quero ser feliz. Eu
quero saber o que é ter felicidade pela primeira vez, fazendo o que se ama. E
mesmo aos 28 anos, eu recuperarei esse tempo perdido.
05h42
Sem sono, após ferver um chá na cozinha da pensão, eu me sento a
mesa, enquanto, bebericando da caneca, artículo como devo dizer a verdade
para minha mãe e para Mariano, meu noivo e professor de química. Não
queria decepcioná-los. Não quero. Apesar de já saber que vão ficar
decepcionados. Todavia, lecionar não faz parte de um segundo futuro infeliz.
— Oras, bom dia, acordou com o sol e os galos cantando na janela?
— Quem questiona é o divertidinho do meu irmão Otávio. Que adentrou na
cozinha só de cueca samba canção.
— Otávio, por favor, pela milésima vez só nesta semana, toma
vergonha na fuça de cachorro e vista-se. Aqui não é bordel para se andar
pelado, é uma pensão familiar!
Otávio nem liga, dá de ombros, pega uma caneca de café e cruza os
pés perto dos armários. Então, retornamos o assunto em pauta:
— Então... vai me dizer o que lhe deixou sem sono?
— Não. Na verdade, é eu quem desejo saber, o que fez o senhor
levantar tão cedo?
— Vou sair... entrevista de emprego, sabe?
— Ah, é? Sério? Assisto a National Geographic e nunca vi um bicho
preguiça espalhando currículos pela selva. E ainda mais de manhã.
— Ha-ha-ha! Engraçadinha. Mas é isso que ouviu, eu vou procurar
um serviço. Quero ser acompanhante de luxo.
O-o quê? Eu rolo os olhos.
— Com 20 anos, o único acompanhante que você pode ser é de cegos.
Vai estudar, garoto!
— Quanta blasfêmia — ri irônico. — Estudar para quê? Para ser
professor? Uma profissão que eu odeio... como voc... — Quando eu vejo, tem
uma caneca de chá quente preste a sair voando. — E-ei calma!
— Cala a boca, e sai daqui!
— Eu estava só tirando onda.
— É? Mas eu e esta caneca de chá quente não estamos. E você tem a
plena consciência de que eu não brinco em serviço. Some daqui!
A minha maior qualidade: Ser muito vingativa. Quase ninguém sabe
ou entende que não se deve tirar a minha paz, nem o meu sossego. Eu só
tenho carinha de anjo e, mesmo sendo meiga, eu não sei brincar quando eu
quero arrancar o pescoço de certos inoportunos. É difícil revelar um jeito tão
"maldoso", apenas Otávio conquista esta proeza toda semana. E será por quê,
né?
— Já estou ralando, sua maluca.
Ele sai e, em seguida, o pesar da indecisão se possui outra vez do meu
corpo. Eu suspiro e então decido que chegou a hora de correr atrás do
prejuízo. Antes, eu mando uma mensagem para a minha melhor amiga,
Suellen. Quero conselhos. Ela vai saber como me ajudar. Como hoje é seu
primeiro dia de férias, Suellen aceita e vem mais cedo passar a tarde comigo.
— Tem certeza?— Ela questiona após sentarmos no jardim e eu
finalmente relatar a alguém dos meus planos futuros.
— Você quer a verdade? Sim, é total certeza. É o que eu desejo para a
minha vida, e eu não posso seguir o sonho de terceiros. Ser professora foi
uma ambição da minha mãe.
— Está certa. Aconselho você a fazer o que ama, se te faz bem ser
modelo, então mergulhe de cabeça. Não vá pelo desejo da sua mãe ou do seu
noivo. Procure as suas próprias realizações sem olhar para trás.
— Ah, amiga, era isso que eu gostaria de ouvir.
Eu concordo feliz. E ficamos em silêncio, enquanto ela me especula
curiosa.
— O que foi, Suellen, tem algo de errado?
— É... Eloíse, mesmo eu aconselhando você a seguir seus instintos...
O Mariano... e o sonho de montar uma escolinha... Não vai abalar a relação?
Pois era o sonho dos dois.
— Não, não vai.
Mariano foi a melhor pessoa que poderia ter conhecido nos últimos
dois anos. Eu não sei como aguentaria tanta dor sem ele. Foi uma coluna de
apoio. Eu o agradeço por tudo e inclusive, por existir na minha vida. Não
quero que ele fique chateado ou magoado. Porém, o plano é sempre apoiar
um ao outro em cada decisão, seja ela individual. E eu tenho a absoluta
certeza de que ele vai me apoiar no meu sonho de infância.
Capítulo 2

Decidida a revelar primeiro tudo para o Mariano, meu noivo, eu vou


até a escola particular onde ele trabalha e onde eu já trabalhei, sendo
inevitável as crianças não me reconhecerem.
— Amor... — Mariano é o único que está de folga no primeiro e no
segundo tempo, então eu aproveito para conversarmos à sós na sala dos
professores. — Você reparou o olhar de saudade deles? Estão ansiosos pela
sua volta. Era a professora mais querida.
— Mariano...
— Não, não pode negar.
— Por favor, amor, eu... eu preciso que me escute. É relacionado ao
mesmo assunto.
— O que foi? — Seus olhos estão ansiosos.
Eu estou quase achando que foi uma péssima ideia ter vindo até a
escola, dizer que eu odeio dar aula e que nunca mais eu quero me obrigar a
seguir os passos de terceiros. Ou corrigindo, os passos da minha mãe.
— Aconteceu alguma coisa com a sua vó? Ou com o infeliz do seu
irmão?
— Não chame Otávio de infeliz. E não, graças a Deus, não aconteceu
nada com eles. É sobre eu voltar a dar au...
— Eloíse... Meu Deus, menina! — Nilce, a coordenadora, cruza a
porta, gritando e interrompendo-me. — Você voltou?!
Que ótimo, à sos eu já não estava conseguindo dizer nada para o
Mariano, agora, com ela aqui, que eu não digo mesmo. Continua preso na
garganta.
— Ontem, a sua mãe e eu estávamos discutindo sobre o seu retorno. E
acabei de ser informada que você estava na escola. Vai voltar a dar aulas, por
favor?
Mariano me observa esperançoso, como a coordenadora Nilce.
— E-eu... eu... na verdade... — droga, eu estou lascada.
O que dizer a eles?
— Não... não retornarei — opto de uma vez pela franqueza e vejo o
olhar dos dois recaírem. — Eu apenas gostaria de rever a escola.
— Ah, que pena. Uma pena mesmo. Esperava vê-la recuperada.
Mariano está chateado, triste comigo. E a situação me acarretou sapos
na goela. Eu engulo em seco e levanto-me.
— Eu já me sinto recuperada, Nilce, porém... eu quero um momento
sem pressões. A hora certa chegará!
— A hora certa? — Mariano questiona baixo e irônico.
— Bom eu deixarei vocês conversando sem interrupções. E retorne,
Eloíse. Esta escola, as crianças, todos nós temos enorme afeição por seu
trabalho e dedicação. Desejo felicidades!
E se a minha felicidade for longe das salas de aula? — eu penso na
resposta, após ela fechar a porta e me deixar com o Mariano.
— Não compreendo você, Eloíse. Está recuperada, todavia, não
deseja voltar a dar aula? Quer distância da sua profissão? Faz dois anos que
não leciona, nem pensa no caso.
Eu não devo mais enganar o meu noivo, nem a mim própria. Eu
respiro fundo e peço para ele me acompanhar até a piscina de natação.
— Eu preciso te confessar tudo, sem rodeios — finalmente, comento,
caminhando, sem encará-lo nos olhos.
— Eu estou a todos ouvidos, diga?! — Ele para, cruza os braços e me
faz levantar a cabeça.
— Ficará chateado, ou até bravo. Só que eu... — aperto meus dedos
— eu não quero mais ser professora. Eu precisava te dizer, Mariano, ser
professora pedagoga sempre foi o desejo da minha mãe. Eu nunca quis me
formar nesta profissão!
— O quê? Só pode estar de zoeira — ele ri. — Você não gosta de ser
professora? É isto?
Meus nervos fervem, parece que eu acabei de contar uma piada de
mau gosto.
— Sim, eu odeio ser professora! É isto!
— Não, não, você está de brincadeira. Sempre brincalhona.
— Tudo bem, eu não esperava que “meu noivo” me compreendesse
logo de início. Entretanto, só me ouve... por favor? — Ele não interfere e eu
continuo. — Desde que eu era menina, meus pais deixavam explícito de que
eu deveria seguir a profissão da mamãe, que eu deveria ser professora, pois o
sonho dela era promissor. Criaram expectativas. E tanta, que eu não pude
decepcioná-los. Eu entrei na faculdade, fiz o curso, me formei, trabalhei, dei
aula, todos ficaram felizes.... — pauso.
— [...] porém, não estava. Nunca esteve feliz, odiava! Fingia!
Surpreendida, eu tento priorizar o controle emocional.
— Você não está me entendendo, ouvindo... não compreende. Eu
confesso, eu nunca estive feliz presa dentro de uma escola barulhenta. Mas eu
amava as crianças. Eu amava elas, carinho nunca faltou. O meu sonho, a
minha felicidade, o meu bem estar... estes sim faltaram de sobra.
Mariano passa a mão no rosto, negando tudo o que eu disse. Eu estou
chocada, não esperava a incompreensão logo dele.
— Eloíse, a morte do seu pai ainda é recente. Você está desabilitada,
desistindo por conta do luto. E pelo que aconteceu na sua vida...
— É exatamente pelo que aconteceu na minha vida! — triste e
magoada, eu fragilizo. — Eu não posso acreditar que não me escuta, que não
me compreende. Você não pensa na minha felicidade?
— Eu penso na minha e na sua felicidade. Por isso eu nunca deixei de
estar presente com você em cada decisão!
— Mas não apoia o meu sonho de modelar. Sabia que eu sempre tive
este sonho. E o ignorou!
— Sim, não vou ser hipócrita. Contudo, a beleza acaba. É patético
querer desistir de lecionar para tirar fotinhas do corpo!
Eu sorrio, sentindo meu sangue borbulhar de raiva, de afronta.
— Que ótimo, meu amor! Porém, quer saber de uma coisa? Eu farei o
que me der na telha. Como a minha melhor amiga me disse ontem, eu não
devo dar ouvidos a você e nem a minha mãe. Eu devo fazer o que me torna
bem! E não tenha dúvidas de que farei!
Eu viro as costas. Trêmula, quase chorando de ódio, mágoa. Eu amo
tanto o Mariano, só que o que ele jogou no ventilador foi como levar um soco
no estômago. Seria idiotice eu desistir de anos de faculdade para correr atrás
de um sonho imprevisível, patético? Que droga! Por que não podemos ver o
futuro? Prever a merda do destino?
Eu saio por pouco correndo no corredor dos professores, viro na saída
do pátio e perto da porta da coordenação, eu não vejo a Nilce... e trombo de
frente com o corpo dela. Ela segura rápida o meu quadril e eu, a sua cintura.
— Meu Deus, Nilce! Me perdoe, eu não vi você. Se machucou?
— Não, está tudo bem — responde, recompondo-se. — Parece com
pressa.
— Na verdade, sim, eu estou. Desculpa.
— Tá, eu falo pra ela... tá bom, e do atestado também.
Eu ergo o semblante apressado. E vejo o homem másculo que acaba
de sair pela porta da coordenação me faz arregalar os olhos e dar um passo
para trás. Nã-não pode estar se repetindo.
— É chato tomar o seu tempo, mas não vai nem pensar no caso de
temporalmente substituir alguns professores? Seria uma ótimo experiência,
Eloíse...
Ao ouvir meu nome, como se fosse ontem, o homem inclina a cabeça.
Então, eu, o mundo, o ambiente, tudo para. Só existem as suas íris, aquele
olhar que eu jamais poderia confundir com qualquer outro.
Capítulo 3

Por que não podemos prever o destino? Por isso... por ele ser
inesperado. Eu continuo encarando seus belos olhos. Ele sorri discreto,
surpreso e ao mesmo tempo misterioso. Eu, então, inclino o olhar para baixo
e vejo uma criança segurando a mão dele.
— [...] não gostaria nem de pensar no caso de substituição?
Envergonhada, eu retorno a Nilce e me recordo também do Mariano.
— É... me perdoe, Nilce, de verdade, mas eu preciso muito ir. E-eu
estou atrasada, depois conversamos, ok? Até mais...
— Está bem... Até mais, Eloíse.
Eu saio caminhando apressada e abraçada aos meus braços,
amaldiçoando minha vida. Era ele, eu não tenho como negar. E jamais
esquecer. Entretanto, não existe importância.
Eu entro no carro e dirijo para a pensão. No caminho, pensativa, eu
mudo de ideia e concluo que não contarei nada para a minha mãe, sobre a
vida "tirando fotinhas" que eu desejo, pois Mariano já fará o favor de contar
primeiro. Os dois são carne e unha. Certeza que ela ficará histérica e
incompreensível. Ou até pior.
— Filha, meu anjo, venha aqui me ajudar. Fazendo favor — assim
que eu cruzo a porta de trás da cozinha e coloco a chave no suporte da
parede, minha avó aparece ao lado do arco, chamando-me.
— Oi, vó, que foi? — Eu me direciono a ela. — Bença.
— Deus te abençoe. Agora eu preciso que você me ajude a preparar a
lista de compras deste mês. Aquele teu irmão fugiu após prometer me ajudar.
E isto a dois dias.
— Ué, e aquele preguiçoso foi aonde? Não tem coragem de sair do
quarto nem para arrumar um trabalho digno.
Eu penso em revelar o mais novo sonho dele de querer ser
acompanhante de luxo, porém, eu resolvo não matar a vó Aurora do coração
hoje.
— Ah, ele está impossível — diz, colocando a caneta em cima da
mesa de madeira rústica e o caderninho e, em seguida, senta-se. Eu a
acompanho, puxando uma das cadeiras. — Sabe o que me confessou? Que
queria ser acompanhante de luxo. E que já começaria esta noite.
— O quê?! Mentira, o cretino do Otávio te contou também? Eu não
acredito. Garoto desmiolado!
Ela ri.
— Está rindo, vó?
— Otávio é você em forma de homem — eu fico chocada pela ofensa.
— Deu muito trabalho para os seus pais. Lembro de, na adolescência, você
fugir de madrugada para sair com os namoradinhos. Graças a Deus,
melhorou, querida, mesmo só depois da faculdade, melhorou.
— Nossa, dona Aurora. Sempre sincera, né? Eu nunca fui igual ao
Otávio. Ele é cafajeste, depravado. Por mais que eu igualmente não seja e
fosse santa, qual foi a última vez que eu trouxe um homem desconhecido
para dormir na casa dos meus pais? Nunca! Nem mesmo o Mariano. Agora se
deixar, Otávio traz quase todos os dias uma vadia aqui. Só parou porque a
senhora e a mamãe puxou as orelhas dele.
— Sim, isto é verdade. Você teve juízo e noção de respeito. Tirando
este detalhe valioso, é o Otávio cuspindo e andando.
Meu Deus. Eu rolo os olhos.
— Tá bom, vozinha, tá bom. Por favor, vamos fazer a lista?!
Dona Avelina, a querida cozinheira do restaurante e pensão da vó
Aurora, chega para nos ajudar a complementar a lista de compras. Ela e as
suas filhas, Pietra, de 16, e Suellen, de 27, a minha melhor amiga. E no final,
as compras do mês sobram para nós três, eu, a Pietra e a Suellen irmos no
supermercado realizar.
•••
Na manhã seguinte, às 06h30, estamos nós três saindo de dentro do
carro com a maior cara de enterro e caminhando no estacionamento do
supermercado até a porta onde fica os carrinhos.
— Meu pai amado, eu estou morta de sono — boceja Suellen. — Na
próxima vez, diga para a sua avó e para a minha mãe que não aceitamos outro
convite.
— E eu? Que para colaborar nem dormi esta madrugada.
— Por quê, Eloíse?
— Ontem, eu fui na escola conversar com o Mariano... e confessei
tudo para ele. Mas ele não aceitou nada do que eu disse. Pelo contrário, jogou
na minha cara que era desperdício eu trocar anos de faculdade por um sonho
patético.
— Ele disse isso? Poxa, eu... eu não esperava, sinto muito — antes de
pegarmos os carrinhos, ela me abraça.
— Infelizmente, era de se esperar a incompreensão dele — eu
comento, soltando-me. — Só que eu estou farta de pensar só nos outros. Não
me deixarei abater. Eu quero ser feliz, apenas feliz.
— Concordo, amiga. E eu ajudarei na sua felicidade, eu e a Pietra.
— E-eu? — Pietra, que estava quieta, olha para a irmã e para mim. —
Não sei como eu poderia ajudar na felicidade de alguém, sendo que a minha
vida está pior de que a de vocês duas, juntas.
Sem nos segurar, eu e a Suellen caímos na risada.
— Que vida, menina, você só tem 16 anos.
— Larga de ser ridícula. Nem parece que teve 16 anos — replico,
empurrando os carrinhos com ela. — Éramos o capeta dentro da caixa de
fósforo. Além de problemáticas. Sofríamos por cada garoto imbecil.
— Eu não estou sofrendo por garotos. É outros problemas pessoais —
murmura emburrada.
E damos de ombros, quem entende aborrecentes, né? Então iniciamos
a compra dos fardos para a pensão. Mais tarde, com tudo riscado na lista,
passamos pelo caixa, pagamos e partimos super doloridas das pernas.
— Eu só quero um analgésico.
— Eu, a minha cama...
— E eu comer este pote de sorvete — Pietra esbraveja, indo pegar as
colheres na cozinha, enquanto nós duas nos jogamos no sofá feito sacos
mortos.
— Onde vocês foram? — Otávio questiona, saindo da área de lazer.
— Fazer compras para a vovó. Agora vai lá tirar do carro.
— Nem posso, eu vou ter que me arrumar para sair. Fui, princesas.
— Preguiçoso... — Eu seguro a vontade de gritar por respeito a paz
do ambiente.
— Não dá vontade de matar o Otávio? — Suellen bufa. — Nem com
uma mãozinha o idiota gosta de nos ajudar.
— Não se preocupe, o que é dele está guardado, e por minha divinal
intercessão. Como diz o ditado popular, a vingança é um prato que se come
frio. E eu irei saborear acompanhada de champanhe.
— Nossa, mulher vingativa! Se precisar de ajuda, conte comigo,
tenho ótimas técnicas de tortura psicológica.
Eu sorrio, espreguiçando os pés nela. E aguardando Pietra, que não
demora a voltar com o delicioso sorvete de flocos e cobertura de chocolate.
Capítulo 4

Antes de me deitar, eu escovo os cabelos e passo um creme corporal


nos braços, pensativa sobre o meu noivo e a minha mãe. A insegurança é uma
merda, né mesmo? O medo de machucar quem amamos é sempre maior do
que a dor de machucar a nós próprios. E eu fiz isso por tanto tempo na vida
que hoje eu estou como? Infeliz, machucada.
Meu celular vibra sobre a cama, tirando-me dos devaneios. Eu deixo a
escova na penteadeira e vou pegá-lo. Desbloqueio a tela, notando ser uma
mensagem nada normal.
"Boa noite, eu sinto muito por você ter cruzado meu caminho pela
terceira vez. A quarta vez, eu mesmo farei!"
Eu releio duas, três, cinco vezes a mensagem, franzindo a testa. O que
é isto? Pensei ser o Mariano, mas pelo jeito estava longe de ser. Acho que foi
engano.
No dia seguinte, obrigada a participar de um coquetel oferecido por
uma hóspede da pensão, bem em cima da hora, eu me arrumo a caráter –
vestido floral, justo e sandálias rasteirinhas – e desço as escadas.
— Que cara de desânimo é esta, querida? — Minha avó questiona
toda reluzente.
— Hoje é domingo, vó. Dia de dormir até onze horas, não de
trabalhar.
— Ah... para, você nem precisa trabalhar. O coquetel foi um presente.
Vem aqui, eu quero te apresentar a nossa anfitriã.
Eu vou, seguindo-a logo atrás.
— Eloíse, filha... — ela pausa — esta é Marta, minha amiga anfitrião.
Eu viro educada e sorrio para a senhora, que deve estar na casa dos 60
anos. Me enganei em pensar que era uma hóspede, nunca a vi por aqui.
— Olá! — a cumprimento
— Marta, esta é minha neta, Eloíse. A mocinha que eu vivo
comentando com você no Forró do Papelão.
— Que alegria, até que enfim eu pude conhecer sua joia preciosa,
Aurora. E ela é muito linda, tem razão. Parabéns.
— Que isso... — eu agradeço envergonhada. — A senhora que é
muito elegante.
Ela sorri fofa.
— Filha, Marta ofereceu este coquetel para as senhoras da
fraternidade Crianças Carentes, comemorarmos os 15 mil arrecadados na
reforma do orfanato em apenas um mês. É ela quem nos doará os 9 mil
restante.
Então, eu sinto que acabei de vencer na vida.
— Sério, vó? Meu Deus, que orgulho de vocês. Parabéns. As crianças
ficarão tão felizes — e sem evitar, eu me emociono.
— Ah, meu bem... — vó Aurora me abraça. — Eu só não te contei
antes porque eu gostaria de te fazer uma surpresa. Sabemos que tem um
coração de ouro.
— Eu estou muito feliz. Obrigada, Sra. Marta. A mamãe, a vovó e as
outras senhoras do orfanato fazem um trabalho incrível por aqueles anjinhos.
— Que isso, eu que fico feliz por ajudar. Fazer o bem nos torna bons.
Eu sorrio para a minha vó, que se encontra limpando as lágrimas. Ela
faz parte da fraternidade há mais de dez anos, minha mãe há seis. E por mais
que eu não tenha grandes laços com o orfano, eu tento sempre participar das
campanhas de fundos de arrecadações. É meio difícil concluir objetivos tão
altos em tão pouco tempo. Marta foi como um anjo que caiu do céu.
— Eu gostaria que você conhecesse o meu filho também, Aurora. Só
que ele recebeu uma ligação urgente e precisou sair...
— Com licença, eu vou deixar as duas conversando aços. E agradeço
de novo, Marta. A senhora é um anjo.
— Ah, que nada, querida, você que é uma linda princesa. Foi um
prazer conhecê-la.
Eu faço questão de lhe dar um abraço apertado. E ao me soltar,
revigorada, eu saio caminhando feliz até a área da piscina.
— Eloíse... Eloíse! — Eu olho para o lado e vejo Suellen correndo
pelo jardim até o banco de concreto, onde eu me encontro sentada, pensativa.
— Que foi, Suellen?
Ela para, ofegante.
— Vo-vo-você... espera... eu...
— Senta um pouco, criatura.
— Não... eu preciso te entregar.
— Entregar o quê?
Ela finalmente revela uma folha de caderno amassada entre os dedos.
— Um homem... ele, ele... ah, eu não saberei dizer. Apenas leia — ela
senta e entrega-me a folha. — Minha mãe que recebeu na cozinha.
Sem compreendê-la, eu desamasso o papel, abrindo-o decente. Então,
leio:
"Em 24 horas, você acordou o que hibernava há anos. Sua lembrança
permanece viva em minha memória. Passei a noite toda imaginando
reencontrá-la. E parece que a sorte bateu na minha porta pela quarta vez. Eu
estou onde desejar imaginar que eu esteja. Fique sozinha e não duvide!"
Chocada, incrédula, eu encaro a Suellen.
— Eloíse, o que está escrito? Amiga?
— Quem foi que deu esta folha para a sua mãe? Era um homem?
Suellen, por favor, me responda?
— Calma. Era um homem sim.
Eu olho os arbustos e as passagens para dentro da pensão.
— Como ele era? Droga, me dê detalhes? — Eu me levanto,
montando o quebra cabeça mais óbvio: o encontro de ontem, a mensagem e
agora este bilhete. Só pode ser...
Não, não, não pode ser aquele estranho!
— Minha mãe só informou que um homem muito bonito havia
deixado a folha toda amassada para você e que era para entregá-la
imediatamente.
Eu aperto os olhos e ergo o bilhete para lê-lo de novo. Não pode ser
verdade.
— Eii... onde você vai? — Eu reajo, andando apressada pelo
gramado. Sullen vem adiante. — Aconteceu alguma coisa? Quem era? O que
estava escrito no papel? Eloíse...
Eu para e toco no braço dela.
— Depois eu te conto... só me deixa sozinha por um momento. Por
favor, eu prometo te explicar tudo mais tarde.
— Ok!
Ela revira os olhos e dá de ombros, murmurando um "vaca" antes de
sair.
Ótimo!
Cansada, eu paro perto da academia ao ar livre e sento-me num dos
aparelhos de malhar. Como a mensagem de ontem à noite, eu leio e releio o
bilhete misterioso. Droga! E... e se não for ele? E se for um maníaco? Ou
maluquice da minha parte? O homem deve ter casado. Tem um filho lindo
como ele e deduzo uma mulher da mesma forma. É um erro aguardar certo
"alguém".
— Eloíse...
Eu inclino o pescoço e meu semblante recai.
— Mariano?
— Amor, eu estava te procurando lá na pensão. O que faz aqui fora?
— Mariano se aproxima e eu engulo em seco.
Meu Deus, eu estou é maluca. Mastigo o papel com os dedos, para
escondê-lo.
— Eu? Eu nada... Só tomando ar fresco.
— Ainda está brava por sexta?
— Sim, mas eu não quero discutir. Vó Aurora te informou do
coquetel?
— Não, eu que apareci intrometido para podermos conversar.
— Hum... — Eu levanto e ele me abraça.
— Sinto muito.
— Não quero discutir... por favor.
Mariano não insiste e beija-me.
— Vamos entrar?
— Vamos...
Na sala gigantesca da pensão, encontramos "dona Roberta", minha
mãe.
— Bom dia, dona Roberta. Tudo bem?
— Eu estou na medida. Bom dia, Eloíse — ela cumprimenta fria e
seca.
Desde a morte do papai, minha mãe nunca mais sorriu e deixou-se
alegrar. Aliás, comigo e a vovó.
— Oi, mãe, bom dia... você soube da doa...
— Da doação de Marta? Sim, sim, eu soube. Vou circular, eu quero ar
fresco.
Eu fecho a cara e sou a primeira a sair andando.
— Minha mãe é um porre!
— Mas é a sua mãe.
— Ah, é? Pega ela pra você! — E já nervosa por ele ter me tirado do
controle sexta-feira, eu decido que quero continuar sozinha. — Eu vou achar
a Suellen — dou um beijo nele.
— Está me dispensando?
— Não, eu estou apenas te liberando para curtir a comida e as bebidas
em paz.
Mariano balança a cabeça, reprovando a tamanha grosseria e irritação,
como se ele não fosse sempre grosseiro e todo nervosinho, né?
No caminho para a cozinha da Alverina, minha avó me vê de longe e
chama-me para o sofá, onde se encontra acomodada. Ela acena novamente.
— Oi, vó? Que foi?
— Marta está louca para conhecermos o filho dela. Vem, senta aqui,
ela só foi cumprimentar a diretora do orfanato. Já volta.
— Ok... não estou fazendo nada mesmo.
— E que carinha é esta?
— É tudo... desde a minha mãe ao Mariano, e a história de eu não
querer voltar a lecionar.
— Você não quer mesmo?
— A senhora e a Suellen sabem que não... meu sonho é...
— [...] de modelar — completa e eu assinto triste. — Aconselho a
fazer o que te faz bem. Não seja manipulada pela opinião forçada deles.
— Aurora, você achou ela? Eu preciso te apresentar meu menino —
eu ouço a voz de Marta e ergo a cabeça. Tendo a mesma reação de sexta, na
escola.
Eu arregalo os olhos, sem acreditar. E espremo cada vez mais o papel
do bilhete. Chocada. Ele me encara.
— Este é Felipe, e Felipe, esta é Aurora e a sua neta, Eloíse.
Minha avó se levanta. Já eu mal consigo mover as pernas.
— Um prazer... Acho que agora eu posso retrucar o seu elogio, Marta.
Que homem bonito! — Ele desvia os olhos e sorri lindamente para a vovó, ao
apertar sua mão.
— É uma honra conhecê-la, senhora Aurora!
— Querida... — minha avó me olha. — E-está sentada?
Eu engulo em seco. E vermelha de vergonha, eu também me levanto.
— Oi...
— Olá, Eloíse! — Ele estende a mão e reproduz meu nome, com certo
prazer entres os lábios.
Eu não desvio do seu olhar penetrante e aperto seus dedos quentes,
tomada por ondas de arrepios e a falta de saliva. É ele, sem dúvidas! O
tarado!
Capítulo 4. PARTE II

Analiso cada traço do seu rosto. Admirada, em choque. Mesmo


fazendo seis anos desde aquele encontro no bar do meu pai, este homem
continua lindo de morrer. Eu gostaria de entender o motivo dos nossos
destinos sempre se cruzarem.
— Eu adorei conhecer o seu filho, Marta — minha avó, então,
comenta e eu rapidamente solto a mão dele.
Pena que eu não posso dizer o mesmo, vozinha.
— E eu de conhecer a senhora. E a sua neta... — Ele faz um tour
discreto das minhas pernas até os meus seios e desvia. — Está sendo um
prazer.
Revoltada, concluo que o homem não mudou o descaramento e
calculo o melhor ângulo, caso eu pudesse lhe dar um tapa.
— Felipe, gostaria que eu não revelasse, porém, eu faço questão de
dizer que ele também contribuiu na vaquinha para a reforma do orfanato.
— Por favor, mãezinha, não precisava revelar.
— Não acredito, por que esconder, Felipe? Seu ato foi generoso. E eu
não tenho palavras para agradecê-los tamanha bondade.
— Eu me sinto sem graça... por favor, não agradeça. Foi de coração.
Este homem é cínico. Eu estou revirando os olhos por dentro, eles já
estão até atrás da alma.
— Foi realmente muito generoso — eu replico. — As crianças ficarão
felizes.
— Acredito que ficarão.
— Bom, como a sua mãe, eu quero que você se sinta em casa. Não
gostaria de tomar algo?
— Um suco, apenas.
— Claro... Eloíse, vai pegar. Querida?
Mereço!
— Sim, já volto.
Eu vou marchando igual retardada, com cara de poucos amigos. Ele
não tem mãos e pernas não? Jesus, me dê mais amor ao próximo.
— Aqui...
Eu volto com dois sucos de laranja: um para ele e outro para a sua
mãe.
— Obrigada, meu anjo, não precisava se incomodar.
Ele me encara de novo, saboreando do suco. Eu desvio.
— E cadê a Roberta? — Marta questiona.
— Se eu não me engano, ela foi para o jardim. Quer que eu a chame?
— Ah, não, por favor, não se incomode, Aurora, eu mesma a procuro.
Você vem, Felipe?
— Não, eu já estou de saída. Voltei apenas para buscá-la, mas como
vai embora depois de táxi, não há necessidade da minha presença.
— Que isso, fique à vontade, filho, a pensão é como uma família.
Será sempre bem-vindo. E eu te acompanho, Marta.
Eu permaneço olhando para a cara dele, enquanto elas se retiram
juntas. Ele faz o mesmo, até piscar, galanteador.
— Não tem vergonha?
— Como vai, Eloíse?
— Desculpa, eu nem conheço você! — Dou um sorriso tão cínico
quanto o dele, que me surpreende.
— Perdão, eu esqueci que você se chamava Amanda. Faz tanto
tempo.
— É? Não, eu mudei, me chamo "vai a merda". Ou melhor, vai
embora!
— Perdoarei sua falta de coração. Afinal, eu estou aqui pela minha
mãezinha.
— Que cínico.
Ele sorri.
— Por que achou que eu viria por outro motivo?
Eu coro envergonhada.
— Não finja, está aqui para me ver.
— Eu sinto muito decepcioná-la, mal desconfiava que a encontraria.
Mas não nego grande prazer em revê-la... saudável! — Ele inspeciona por
três segundos os meus seios e volta a me fitar sem escrúpulos.
— É melhor você ir embora e leve a sua falta de descaramento!
Nervosa, com o coração quase saltando pela boca, eu taco a bolinha
de papel amassada na fuça dele e viro as costas, abandonando o infeliz no
mesmo lugar. Será a última vez que o verei! Eu prometo!
•••
Após o fim do coquetel em homenagem a fraternidade, eu, a minha
vó, a minha mãe, a Suellen e a dona Avelina nos jogamos sobre as cadeiras
da cozinha, devorando os docinhos e os salgadinhos que sobraram na
geladeira. Mariano decidiu ir embora antes dos convidados
— A MeLhOr paRtE cOm ceRteZa é EssA... — Suellen comenta de
boca cheia.
E sua mãe estende o braço, beliscando o ombro e a coxa dela.
— Ai, mãe!
— Quanta falta de educação, Suellen, não coma igual uma criança de
cinco anos.
— Relaxa, Avelina, as duas só tem tamanho.
Espera aí... Eu paro de mastigar a mini coxinha, engulo e arqueio a
sobrancelha, encarando a vó Aurora.
— A senhora somou eu, na falta de classe da Ellen?
— Aaaah, como se a soberana aí não fosse sem classe. Rainha da
Noruega.
— Eu tenho muita classe, querida!
— Vaca!
— Olha as duas, parem — minha mãe diz, como sempre, levando
tudo a sério.
Eu perco o humor e paro a tiração de sarro. Suellen também.
— E o Otávio, não chegou em casa desde ontem? Eu fui no quarto
dele para chamá-lo, mas a cama estava organizada, arrisco dizer que nem foi
tocada.
Ríspida, eu finalmente faço questão de responder.
— Não, não dormiu. Ele agora está muito ocupado, trabalhando como
acompanhante de luxo.
— Ele o quê???
Minha avó balança a cabeça, reprovando-me. Só que depois eu peço
desculpas a ela. Mamãe precisa saber de tudo para dar limites aquele
preguiçoso. Otávio, o "sexo masculino", sempre teve mais privilégios do que
eu. E menos pressões por ser homem.
— É isso que você escutou, mãe. O "homem da casa" está
praticamente se vendendo para acompanhar velhas ricas.
— Otávio não teria a audácia! Ele não me envergonharia assim,
Eloíse!
— Então quando o "exemplo da família" chegar, questione ele. Se
bem que meu irmão já é maior de idade, ele tem todo o direito de fazer o que
bem entender da vida! — E a minha personalidade vingativa surge outra vez.
— Depois você resolve esse assunto, Roberta. Alguém mais vai
querer salgadinhos e doces? — Vó Aurora interfere, levantando-se e
questionando.
Confirmamos que não e eu a acompanho, pondo-me de pé.
— Vou subir, já volto para ajudá-las. Quero só trocar de roupa.
— Ah, querida. Aproveitando que vai lá em cima, na volta, me traga a
sua lanterna emprestada. Preciso organizar o quarto da bagunça.
— Tá bom, vovó.
Eu deixo as três na cozinha e cantarolando "mal acostumado", eu subo
para o primeiro andar. Onde fica meu quartinho minúsculo. Fecho a porta,
ligo a luz e viro, por pouco, não berrando de surpresa e pavor. Porém, ele
imediatamente se desloca da cama e abafa meus gritos com sua mão grossa
sobre a minha boca e a outra pressionando meu corpo contra a porta e contra
o desespero de socá-lo.
— HUUUUM! HUUUMM!
— Shhhh, Eloíse.
Consigo morder seus dedos.
— VOCÊ, SEU, SEU LOUCO, IMBECIL! — Grito quando o
vagabundo se afasta. MANÍACO! SAI DAQUI! EU VOU CHAMAR A
POLÍCIA!
— Isso, grite. Imagine o que a sua família vai dizer quando entrar no
quarto e ver um homem nu, deitado na sua cama?
— O quê?! Não seria LOUCO!
— Olha, eu sou um homem de muitas faces. Tiro a camisa?
Eu me calo quando o semblante dele se torna sério pela primeira vez,
desde quando o vi, e toco minha boca, pressionada pelas patas violentas do
infeliz.
— Ótimo, agora a fera está bem calminha — o homem vira as costas
largas e senta-se na poltrona ao lado da cabeceira da cama de solteiro.
— O que quer comigo? Por que não desaparece da minha vida? Por
que não para de me perseguir, seu tarado?
— Simples, porque eu quero você!
Eu dou uma passo para trás.
— Você, o... quê?
— Eu posso soletrar, se assim desejar.
— Não! Não! Você só pode sofrer de algum distúrbio psicológico.
Some daqui, sai da pensão da minha avó e nunca mais apareça!
— Meu anjo, eu disse que quero você.
Eu começo a rir de nervoso.
— Meu Deus, como você é ridículo!
— Eu contei alguma piada?
— Sim. Eu sou noiva, e muito bem noivada. Quer que eu soletre? N-
O-I-V-A!
Ele simplesmente descansa o tornozelo sobre a coxa esquerda e
analisa-me calmo e pensativo.
— Bom, eu não me recordo de ter pedido você em casamento. Talvez
eu esteja bêbado demais na ocasião?
Eu fuzilo seus olhos.
— Seu maníaco, some daqui!
Ele sorri, lindo. Um prostituto.
— Eu não vou fazer nada com você, Eloíse, não sou o tipo de homem
criado na sua cabecinha fértil. Eu sou um cavalheiro.
— Cavalheiro? Me poupe, tá mais para pervertido que não tem nada
para fazer e fica perseguindo mulheres indefesas. E olha que o senhor é
policial, né? Não tem medo?
— Eu, medo? Medo do quê? Até o momento não encostei um dedo
malicioso na mocinha indefesa. Já a mocinha, só soube fazer escândalo,
escândalo e não deu a providência de mover um passo para me tirar deste
quarto. A verdade é que você não quer que eu vá embora. Você se sente
atraída por mim. Me olha como se fosse prever que avançasse e roubasse um
beijo.
— Se-seu depravado!
— Mais adjetivos? Por favor, continue, são elogios a um cão.
Co-como pode?!
— Eu sou noiva! Eu tenho um homem!
— Mas quem disse que eu estou incomodado? — Ele ri. — Eu quero
você! E nada poderá e nem ficará no meu caminho.
— Você se acha tão convencido, né? Mas consegue ser ao contrário,
patético!
— Intérprete da sua melhor forma inteligente. Patético, convencido,
sei lá. Maníaco? No final, eu sempre serei um anjo.
— Ah, claro, já disse tudo? Vaza daqui!
— Sempre de bons modos, Eloíse.
— Escute, não é porque tivemos... aquele... — coro envergonhada —
aquele beijo a seis anos... que, que tem o direito de me importunar como
mulher!
— Eu fiz uma promessa a mim mesmo. Em todos esses anos... E
agora que a encontrei.... — ele abaixa a perna, apresentando o porte alto e
musculoso ao se levantar. A ação me causa arrepios, que desprezo —
realizarei as promessas...
Ele se aproxima com o olhar enigmático e eu seguro a maçaneta da
porta, sem saber se corro ou se entro debaixo da cama.
— Não se preocupe, eu disse que não tocaria em você. E na minha
família, homem tem palavra! — Felipe fica a um mísero passo do meu corpo.
Eu engulo em seco.
— Sai... do quarto...
— Calma, eu preciso guardar teu olhar.
— Some daqui, Felipe!
Os arrepios voltam e o ambiente se afunda num calor indescritível.
Minha voz blasfemando o nome dele o fez fechar os olhos e em seguida,
abri-los com luxúria, cobiça.
— Será um até breve, muito breve, mulher Indomável. E "n-o-i-v-a".
O homem sai rindo, zombando do meu caráter. E eu só sinto vontade
de tirar as sandálias dos pés e jogar no meio das costas do depravado
perseguidor. Mas com o ego ferido, eu apenas bato a porta do quarto e coloco
os dedos entre os cabelos, puta da vida, trêmula.
Droga, que desgraça! Eu te desprezo. Por que resolveu aparecer na
minha vida, diabo? Desaparece! Some!
Capítulo 5

Eu não consigo... eu não consigo... Meu Deus, me ajude a dormir, por


favor!
Cansada de ficar girando na cama, eu ligo a luz do abajur e sento-me
de costa para a cabeceira. A imagem do seu rosto, sua voz, suas palavras...
Ele não sai dos meus pensamentos. Eu estou me sentindo culpada. Mariano
vai pensar o quê? Será que digo? Droga. Eu só quero esquecer!
— Bom dia, filha!
— Bom dia, vó Aurora... — sonolenta, eu caminho feito um zumbi
até a garrafa de café, pego uma xícara e sento-me ao lado do Otávio. — Bom
dia, dona Avelina. Bom dia, Otávio.
— Bom dia, querida.
— Bom dia, fofoqueira! — Ele me fuzila. E eu faço questão de fingir
a maior paz do mundo. — Você disse para a mamãe, Eloíse?! Ela quase me
arrancou o pescoço ontem.
— É? E eu com isso?
Dona Avelina ri. Vó Aurora balança a cabeça.
— Deixe de ser importuno, Otávio. Ainda acha errado da sua mãe
brigar com você?
— Sim, óbvio. Eu sou adulto, vó. Faço o que bem entender da minha
vida.
— Não enquanto estiver sobre o teto da nossa vó e da nossa mãe! —
Eu exclamo, sem paciência para briguinhas infantis. — Deve respeito a
todos!
— É claro... irmãzinha. E por respeito, eu peço desculpas a senhora,
vovó.
— Está tudo bem, filho. Só não quero mais discussões no café da
manhã. É um momento de silêncio, reflexão e união.
Ficamos em silêncio. Entretanto, para Otávio, o assunto ainda não
acabou. Ao me dirigir para a garagem, ele me pede uma carona para o centro.
E no carro, o infeliz volta a me irritar.
— Ela é nossa mãe, não há o que fazer!
— Eu tenho a porra de 20 anos na cara.
— Ninguém está te impedindo de viver a vida. Vende o pau para a
velha que bem desejar. Só não diga depois que eu não avisei.
— Eu não transo com elas. É acompanhante, eu ganho dinheiro
apenas para acompanhá-las. E preciso da grana, quero comprar uma moto.
Eu respiro fundo.
— Eu vou dar este voto de confiança a você. Mas prometa não me
decepcionar? Prometa arranjar um emprego de respeito? Eu te amo, diferente
de mim, eu quero que você seja feliz fazendo o certo.
— Eu prometo, sua chata. E não me faça repetir que a amo.
— Humm... — eu tento encarar seus olhos — me ama?
— Não! — Ele pisca e eu reviro os olhos.
— É aqui? — Questiono quando chego no local que pediu.
— É sim. E você está indo aonde tão arrumada?
— E te interessa? Descendo, Otávio.
— Nossa...
Otávio desce após vociferar "quanta grosseria" e eu sigo para o meu
destino. Nervosa! Eu não sei se dará certo. Mas igualmente não sei se dará
errado. O que importa é eu jamais desistir. Será só a primeira... só a primeira.
Na primeira agência de modelos "Model Brasil", eu sou muito bem
recepcionada, converso com uma mulher e preencho uma ficha com meus
dados pessoais, cor do cabelo, cor dos olhos, peso, medidas do corpo, entre
altura, a tamanho dos pés. Também detalhes da minha personalidade.
— Eloíse, você tem um book profissional de fotografias? E quais jobs
se encaixam no seu perfil?
— Perdão, mas eu não tenho um book profissional. Marquei a
entrevista de cara a tapa, disposta a ouvir suas análises sinceras. Eu, na
verdade, sou professora pedagoga, me formei a pouco tempo na profissão.
Todavia, não é algo que me deixa muito feliz ou realizada. Meu sonho
sempre foi ser modelo, gosto de moda, gosto do meu corpo, de me cuidar. Eu
vivo atualizada e sempre participo de workshops.
— Bom... entendo — ela ajeita as costa no assento e examina-me
pensativa, após cruzar as pernas. — Eloíse, além de um portfólio, eu deveria
analisar outras fotos suas e daqui há algumas semanas ligar, caso seja
aprovada pela agência. Também precisava tirar fotos de você vestida de
biquíni e vê-la desfilando. Eu gostei muito da sua aparência, se encaixa
perfeitamente com nossos clientes. Tem o rosto geométrico, angelical... é
bonita desde os olhos azuis aos pés. E considere o elogio pessoal. Entretanto
— meu ânimo que estava por pouco dando pulinhos começa a desanimar —,
suas medidas como modelo de passarela não preenchem, é bem avantajada no
busto e nas nádegas. Ainda é uma pedra de diamante que precisa ser lapidada.
Ademais, não possui experiência nenhuma.
— Sim... eu... eu não tenho.
— Creio que, no momento, terá mais sucesso na modelagem
fotográfica. Com certeza, terá. Eu quero ajudá-la.
Meu mundo entra em colapso.
— Isto é um sim?
— É claro, meu bem. Você é o diamante que eu me disponho a
lapidar e a expor no mundo. Com uma pequena condição.
— Sim, qual?
— Não envelheça!
Eu sorrio aliviada.
— Você é incrível, Rose. Muito obrigada. Não sabe como eu estou
arriscando a vida por este futuro incerto.
— Incerto? É mais do que certo. Com seu esforço e a visão dos
profissionais gabaritados da agência, terá um futuro garantido tanto da moda
quanto da publicidade. Antes disto, anseio de marcarmos mais três reuniões.
Preciso colher informações complementares e fazer books para a confecção
do portfólio.
Neste instante, acho que ninguém poderá entender a tamanha
felicidade no meu peito. Rose, a bookers da agência, após marcar a nossa
segunda reunião, me dá um beijo no rosto e um abraço formal. Eu não
esperava ser aceita logo de início... Eu saio da sua sala, trêmula, com as
pernas bambas. Já considere este o meu mais novo trabalho!
— Siiimmm! — Eu dou pulinhos após sair do elevador gritando como
uma louca. E me recomponho, sorrindo constrangida da recepcionista que me
observava.
Pai amado. Pai amado!
E finalmente, dentro do carro, eu posso ligar o som e começar a cantar
e gritar de felicidade!
— Suellen! — Disco para a minha melhor amiga.
— Oi, bom dia... que foi?
— Acordaaaa, é 10h já. Eu preciso te contar tudo!
— Huumm? — Ela boceja. — Contar o quê? Está em alguma festa?
— Eu fui aceita na terceira maior agência de modelos do Rio! Ellen,
eu irei realizar meu sonho!
— Terceira maior o q... Espera... Eu... eu não creio. Sua cachorra
magra, você conseguiu mesmo?
— SIIMMM!
— AII! É VERDADEEEE?
— ÉÉÉÉÉ!
— MALUCA, EU TO MUITO FELIZ POR VOCÊ! — Ela grita,
pulando da cama.
— VAMOS BEBER TANTO HOJE!
— O quê? Nem pensar! — Recupero o fôlego após quase morrer de
tamanha emoção.
— Vamos, você merece cair bêbada.
— Não, não posso, hoje eu vou jantar com o Mariano. E preciso
"compartilhar" da notícia com ele.
— Vixe, prevejo DR?
— Torça para que não. Mesmo achando quase inevitável — suspiro.
— Beijos, Ellen, vou pra casa ajudar a vovó no restaurante. E contar a ela!
Imagine como ficará?
— Eu imagino. Tá bom, beijos. E parabéns pela sua conquista! Quem
sabe amanhã cedo eu apareço para conversarmos das novidades.
— Mais novidades?
— Nem te conto. Só que te deixarei curiosa. Tchau, vaquinha.
— Nossa... Tchau, vacona!
Desligo e volto os sentidos para a minha atual vontade de correr nua
pelo mundo, de imensa felicidade. Meu Deus, meu Deus!
•••
Mais tarde, no quarto, após tomar um banho quente, escovar os
cabelos, escolher um vestido sexy e passar a maquiagem, finalizada, eu
admiro meu reflexo pronto no espelho. Bom, independente do que vai dar
este jantar, pelo menos, eu estou à altura de uma revanche. Ao descer as
escadas, aguardo-o no hall da recepção.
— Uau, como sempre, linda, meu amor. — Mariano chega, beija-me
e cavalheiro, me conduz até seu veículo na calçada.
— Onde vamos?
— É um barzinho no centro — responde, após fechar a porta e
colocar o cinto de segurança.
— Eu esperava um lugar mais reservado.
— É reservado, tem poucas pessoas. Não se preocupe.
Ao chegar no tal barzinho, de fato, é como ele disse, bem reservado e
com poucas pessoas. Acomodamo-nos em uma mesa de casal, ao ar livre. E
sem me questionar, Mariano resolve tirar o maço de cigarro e o isqueiro do
bolso.
— Eu odeio quando faz isso, por favor, amor, guarda. Você sabe que
eu tenho alergia.
— Apenas um.
— Nenhum. Eu detesto ficar espirrando.
Derrotado, ele guarda o maço e o isqueiro.
— O que vai pedir? Eu quero churrasco de espetinho e refrigerante.
— Pra mim também. Está perfeito — eu digo, visualizando do outro
lado a enorme churrasqueira de tijolinhos cheia de carne.
Mariano chama o garçom e confirma nossos pedidos simples.
— Eu queria conversar seriamente com você, querida — ele,
repentino, esbraveja sério. — Ao tocante assunto de sexta.
Meu estômago se embrulha.
— É o que eu desejava colocar em pratos limpos. Mas depois de
aproveitarmos a noite. Ok?
Ele concorda e eu fico em silêncio, mastigando minha personalidade
impulsiva. Até, graças a Deus, voltarem com os pedidos e o refrigerante.
— Se eu não te conhecesse tão bem, diria que até parece um anjo
calado.
— Eu já disse, só quero aproveitar a noite, Mariano.
— Tem certeza de que não está correndo do assunto?
— Eu, correndo? É você que está desejando me ver discutir em
público.
— Não iremos discutir. Iremos conversar civilizados.
— Sim. Em casa!
No final do jantar, sem aturar mais as implicâncias do Mariano, eu
resolvo revelar toda a situação no carro.
— Quer saber? Hoje de manhã eu consegui um emprego como
modelo fotográfica na terceira maior agência do RJ.
Ele aperta o volante.
— Vai recusar... você não está em condições psicológicas.
— O quê? Está me chamando de maluca?
— Não, eu estou apenas te aconselhando como noivo e futuro marido.
É completa perda de tempo.
— Pois bem, só me amarrando para eu voltar atrás!
— Eloíse, não vou discutir. Entretanto, pare e pense. É recente a
morte do seu pai. Veja se ele concordaria com esta loucura.
Meus olhos ardem da tamanha dor que ainda habita.
— Você mal conheceu ele para chegar a tal conclusão. Meu pai me
amava, o que fiz a vida inteira foi tentar agradá-lo. Ele e a mamãe! Todavia,
se ele soubesse o que fiz, jamais permitiria a insistência no erro!
— Não posso pressioná-la. Mas também não posso permitir jogar
anos do seu futuro no lixo.
— Só para de querer ser meu dono. Seja meu noivo e me apoie. Se me
ama, me deixa ser feliz!
— Feliz? Eu te amo, mas não sou obrigado a agir feito marionete seu.
Estou pensando na nossa felicidade. Não apenas na sua ou só na minha. É
hipócrita.
— Já está me ofendendo!
Mariano mal parou o carro na frente da pensão e eu desci puta da
vida.
— Eloíse, volta aqui! — Bato a porta e ele xinga, então pisa no
acelerador e quase leva meu braço e a minha mão junto.
Eu a puxo com dor, sem acreditar, e choro, vendo o homem que eu
mais amo partir sem se importar com meus medos, minhas lágrimas, meus
sentimentos feridos. Ele se vai, simplesmente se vai após agir como um ogro!
— Droga!
Desamparada, com dor, eu me apoio no portão perto dos arbustos do
jardim e sento-me na escadinha, permitindo as lágrimas abrirem a saudade do
papai e dos seus conselhos.
— Por que o senhor teve de me deixar, pai? — Eu olho para as
estrelas e sinto um pequeno brilho piscar no céu. E pela primeira vez, eu
converso com ele. — Está me ouvindo? Eu fiz tudo errado. Eu só queria
agradar a mamãe e o senhor. Subestimei os sentimentos — uma brisa balança
as folhas dos arbustos e acaricia meus cabelos e o meu rosto. Eu fecho os
olhos, cercada pela presença de alguém. — Me ajuda a encontrar a
felicidade... a fazer só o certo... me ajuda, papai. Eu necessito de curar esta
dor, de ser feliz... por favor...
Eu abro os olhos, inspiro farta e levanto-me com o braço e a mão
ainda muito dolorida. E sendo tarde da noite, com medo, eu fecho o
portãozinho no cadeado e caminho com dificuldade pela grama.
Não sei explicar, mas parece que depois que eu decidi optar pela
felicidade de voltar a ver as cores de um mundo em preto e branco, só me
aconteceu o contrário. Estou triste, sufocada, pronta para pedir socorro.
Eu tiro os saltos e ando mais rápida pelo jardim escuro. Na piscina,
quando eu também vou atravessar a pequena ponte, ouço um barulho perto
das espreguiçadeiras. E minha imaginação cria mil atrocidades. Será que
volto? Não, não. Para! Eu tenho que parar de ser louca da silva. Atravesso
"tranquilamente" a piscina cantando "entra na minha casa, entra na vida". E
do outro lado, noto uma sombra forte, sentada. Então, paraliso.
— Você! — Sussurro, apontando a ponta do salto para o diabo em
carne e osso.
Ele sorri, levantando-se e surgindo das trevas para a luz com o seu
olhar nublado e impertinente.
— Boa noite.
— Eu já não mandei o cretino desaparecer da minha reta?
— Eu pensei que era só por aquela noite.
— Não, é para sempre!
— Fingirei que suas frase não houve vírgula. Como vai?
Mas é idiota!
— Ah, que gentil... — comento sarcástica. — Estaria melhor sem
certos idiotas invadindo a pensão da minha avó e a minha privacidade.
— Que coisa, posso aconselhá-la? É só não deixar o portão mais
aberto. Lá em casa ocorre o mesmo problema.
Bufo, desejando ver o número de dois saltos gravado na testa dele.
Ah, e que doce vontade.
— E como foi o jantar com o seu n-o-i-v-o? — Ele coloca as mãos no
bolso da calça e olha-me sem muito interesse, dialogando como se fossemos
grandes amigos de décadas.
— Não é da sua conta. Aliás, andou me seguindo?
— Não... eu sou um homem que economiza tempo. Prefiro pagar
pessoas para me trazerem as informações.
— Humm, ah, é? — Puxo um "sorriso" de lábios fechados. — E o que
o teu "informante" andou te dizendo sobre a minha prazerosa noite?
— Posso garantir que não foi prazerosa. Seu noivo é um bacaba com
B maiúsculo.
— Não dei liberdade de xingá-lo! Na verdade, eu não dei liberdade
nenhuma!
— Eu não estou xingando, linda. Eu estou apenas descrevendo um
retrato falado.
Furiosa, fuzilo seu olhar divertidinho.
— Este será o nosso último encontro. Me deixe em paz!
— Não posso. — Antes de eu entrar para a pensão, ele me segura e
puxa-me pelo antebraço dolorido. Eu gemo. — O que foi? — assustado, ele
afasta rapidamente a mão de mim e aproxima-se tão perto que eu tonteio
bêbada, embriagada por seu perfume.
— N-não é nad... não é da sua conta.
— Eu machuquei você, Eloíse? Não tive a intenção!
Ficou surpresa ao ver verdade e desespero nas suas palavras.
— Não, não, claro que não. Por favor, eu estou bem. Foi... foi um
incidente.
Aliviado, Felipe abaixa os olhos e toca meus dedos trêmulos. Eu
arrepio, sem coragem de fugir.
— Como se machucou?
— Eu... eu não sei.
— Não sabe? — Ele sobe o toque e levanta as íris castanhas. — Não
foi eu?
— Eu disse que não... isso foi que eu dormi em cima do braço.
Ele sorri.
— Meu Deus, você mente muito mal.
— Eu não minto.
Desesperada por ele estar me desarmando, eu desvio os olhos e puxo
a mão. Respirando fundo.
— É melhor eu entrar...
— Me desculpe se...
— Não, Felipe..! — Eu exclamo dócil e me recomponho. Dizer seu
nome é tão ilícito. — Já disse que foi um incidente de sono. E peço que não
volte a me procurar mais. Não sou esse tipo de mulher que deve estar
acostumado.
— Acostumado? — murmura "ofendido". — Eu disse que quero
você. E tudo no seu tempo. Não posso fazer o que desejo. Caso contrário, a
senhorita já estaria algemada em mim.
— Olha o que está dizendo! Você é um imbecil. Idiota, tarado. Sem
escrúpulos!
— Já tentou me chamar de amor? Daqui a pouco, acaba todo o seu
arsenal de adjetivos ruins.
Aaarrrg! Eu viro as costas, pisando firme e marchando para dentro.
— Ei! — Ele chama, mas continuo andando. — Ótimos sonhos. Pois
os meus serão maravilhosos... — sussurra.
Meu sangue ferve. Eu ouvi em perfeito timbre a frase libertina.
— Os piores sonhos a você! Cafajeste!
Eu fecho a porta e de imediato, encosto meu corpo atrás nela. Eu
quero matar aquele homem! Só um cego não veria as más intenções dele. Ou
não, afinal, tá bem explícito. Seu toque foi desrespeitoso. Eu sou noiva. Um
mulher que se deve respeito. Eu tenho que dar um basta...
Uma mensagem vibra no meu celular, enquanto eu começava a subir
os degraus da escadaria. Eu paro, pego o aparelho e abro o SMS.
"Você trancou o portão, princesa. A intenção era que eu passasse a
noite no seu quarto? Estou tentado a aceitar."
O quê? Não... não, eu não posso estar lendo isso. Como ousa?
"Pule o muro. Você já sabe invadir a casa dos outros igual criminoso.
Deve ser ótimo para sair delas também."
E bloqueio o celular, correndo para trancar a porta do meu quarto e
suspirar aliviada.
Capítulo 6

Dentro do carro, eu sorrio para a mensagem da loira. Pela terceira vez,


a história se repete. Bendita hora que você cruzou meu caminho, Eloíse
Galvani. Eu quero você, e você será minha, garota indomável! Desta vez,
custe o que custar!
Eu jogo o celular no banco do passageiro e sorridente, eu saio pisando
no acelerador. Na manhã seguinte, acordo disposto a infernizar a vida de
outras pessoas, da minha família. E para isso, eu dou uma passadinha na casa
do meu irmão.
— Bom dia, querida dona Marta. Ou diria... linda e maravilhosa mãe?
Ela nega com a cabeça, enquanto eu adentro no ambiente.
— O que seja, a resposta é não!
— Gente... eu dei um bom dia, não uma faca para você enfiar direto
no meu peito.
— Oras! Bom dia, Felipe.
— Obrigado. Agora a senhora poderia me dar duas panquecas doces?
— Eu sabia. E mesmo assim, eu sempre caio! — brava, ela bate no
meu ombro e caminha até o fogão. — As panquecas estão contadinhas para
os meninos. Se Clara te ver comendo doce uma hora dessa perto deles, ela te
mata.
— Faz rapidinho. Aproveita que a babá e nem eles chegaram ainda.
— Estamos a muito tempo acordados, infeliz. — Fernando, meu
irmão, entra na cozinha, abotoando o punho da sua camisa social, com o
habitual bom humor de um pinscher.
Eu rolo os olhos. Marta ri.
— Olha, não comecem.
— Adivinha quem começará?
Ele caminha até o balcão onde eu me encontro encostado de braços
cruzados.
— Eu é quem não sou, querida irmãzinha.
— Vai a merda, Felipe, o que aconteceu com você ontem?
— Eu fui tomar um sorvete — sorrio debochado. — Precisei intervir
sem a equipe. 03 que é a porra de uma fofoqueira.
— Você é sócio da agência, tem responsabilidades maiores para se
preocupar. Última vez: Não quero te ver se metendo nas operações. É
impulsivo!
— Eu fiz o que foi necessário. E tem que assumir que fiz o correto.
— É um filho da puta, não fará de novo!
— Não acredito, que novidade, Tom e Jerry brigando como sempre. E
xingando perto das crianças!
A gente vira para encarar a fúria de uma leoa e assistimos os gêmeos
correrem para se sentar à mesa.
Fernando suspira e soca meu braço.
— Daremos um basta no seu posicionamento de ontem! Arrombado!
Clara o fuzila.
— Que foi, mulher? Eu sou um homem que precisa expressar sua
fúria.
— Ah, me poupe, Fernando!
— Papai, tio Felipe pode levar eu e o maninho no shopping pra ver os
carrinhos?
Eu sorrio para os meus garotões e pisco.
— Não! — Clara responde no lugar dele, também me fuzilando. —
Chega de besteiras, chega de divertimentos, estão ainda de castigo!
As crianças bufam, cruzando os bracinhos.
— Ela não superou o fato de você ter ensinado os dois a lutarem? —
Eu sussurro próximo do Fernando.
— Não! — E ao ouvir, é ela que responde de novo.
— Não por muito tempo — sussurra de volta.
Eu rio.
— Hoje a empregada e a babá se atrasaram devido a uma greve. Por
isso, eu preciso que você deixe as crianças na escola , amor. — Clara e Marta
servem as panquecas dos meninos, enquanto ela continua: — Tenho um
compromisso urgente na confecção. E eu já estou atrasada. Também preciso
que você deixe Adri na casa dos meus pais. Vou acordá-la. Mamãe a levará
no pediatra
— Por que não? Minha linda esposa... — Fernando murmura,
pegando a garrafa de café.
E eu não acredito.
— Eu estou sentindo uma leve greve de lençóis. Fernando submisso?
— E continuará! Cada um faz por merecer! — A cunhadinha declara,
em seguida, empina o queixo e retira-se da cozinha, marchando emburrada.
Eu caio na risada e Marta me reprova.
— Está fodi... — lembro-me dos gêmeos — ferrado, moça dos olhos
azuis!
— Se eu escutar mais um timbre da sua voz, vai perder as cordas
vocais!
Eu me calo, em chacota, caminhando até as panquecas doces,
escondidas atrás da banqueta.
— E aí, o que você aprontou?
— Eu rasguei a droga de um vestido devasso. Mas eu vou deixar a
mulher se divertindo por enquanto. Ela não suportou três dias de greve,
imagine a porra de uma semana — ele rosna e Marta imediatamente lança um
pano de prato na direção dele.
— Fernando!
— Foi inevitável.
— Papai xingou... — os meninos riem, mas, em instantes, se calam
com o olhar intenso e repreensivo do pai.
— Vou indo. Quero adiantar algumas equipes.
— Tio, vai voltar?
— Papai, deixa nos ver os carrinhos. Deixa, deixa!
— Vocês escutaram a mamãe, de castigo.
Eu me aproximo deles e beijo suas cabecinhas tristes, inconformadas.
— Hoje não, crianças. Mas o tio promete que se vocês se
comportarem na escola e após o castigo, no final de semana, eu levarei os
dois para andarem de carrinho no shopping. Que tal? E se o papai deixar.
— Papai vai deixar? — Heron, o mais arteiro, pergunta.
— O que é o final de semana?
— Obrigado, Felipe, seu... adorável gazela.
Eu sorrio implicante, como o anjo que sou, e deixo o ferrado do
Fernando com as suas lindas crias curiosas. Eles estão na melhor fase da vida,
onde no vocabulário só existe "o que é...?" "Por quê?" e "Como é?". E eu
amo aqueles mínis atentados.
•••
Na agência de segurança "Agência de segurança Garra", que, por
infelicidade do destino, eu virei sócio do meu irmão Fernando, o "CEO", eu
encontro na recepção a minha ex-amante de noitadas.
— E aí, minha ex-putinha?!
— Seus dentes estão muito preservados, infeliz do inferno! — Leão, o
agente diretor, responde ao se virar.
— Meu doce, não esquece que eu sou seu chefe também.
— Posso confessar, uma das piores lembranças do meu dia.
Ele sorri e então o abraço.
— E como foi a lua de mel? Nem te dei parabéns direito.
— Foda, foda e mais foda! Obrigado, irmão.
— Olha, cuidado para não enjoar. Acho um inferno, não sei como
vocês conseguem se prender a um pedaço de lata no dedo.
— Meu caro... é o amor — ele abre os lábios de fora a fora, igual
bobão. — Você não entende, é um cretino de um cafajeste sem escrúpulos.
— E tenho motivos. Mulher pra mim será apenas sexo.
— Fala isso depois de Antonella ter lhe deixado. Certeza que se vocês
estivessem juntos até hoje, não teria uma pedaço de lata no dedo.
Eu trinco o maxilar e Leão percebe.
— Foi mal, Felipe.
— Eu vou subir. Fernando vai demorar. E precisamos de uma equipe
pronta antes das 08h40.
— Vou providenciar os agentes.
Eu confirmo e saio para o elevador com a porra do coração apertado.
Eu não aceito as recordações! Eu não aceito a droga dessas lembranças! Eu
não aceito ouvir seu nome!
Dentro da minha sala, para dispersar os pensamentos de merda, eu
decido trabalhar. E para também mais tarde poder fazer o que eu sei fazer de
melhor — infernizar a vida alheia. Eu quero aquela mulher. E se eu não levar
ela para cama logo, meu pobre e grande pau vai explodir de tamanho tesão.
Droga, eu já tô excitado. Ela é muito linda. Parece uma boneca, branquinha e
loirinha. Tenho certeza que chupadas boas durariam semanas naquele
pescoço. Nos seios, na barriga, virilha, coxas... caralho, entre as suas pernas e
no meio dos seus lábios rosados e inchados... Eu gemo, ajeitando o volume
na calça.
— Felipe!! — Inesperado, Fernando arromba a porta.
Que susto, mano!
— Filho da mãe, não sabe bater?
— Meu tempo é curto — Ele responde e reviro os olhos. — Cadê a
pasta do contrato?
— Vai fechar realmente com a empresa de eventos? — questiono.
— Sim, eles necessitam de vinte homens. 03 ficará responsável da
equipe.
— Eu posso ficar responsável, Fernando.
— Meu ovo, seu imbecil. Está proibido de reger qualquer ação. É
imprevisível e autônomo.
Eu fico furioso pela falta de confiança dele.
— Eu não sou mais um garoto. Eu tenho 31 anos. Se eu aceitei ser
sócio da agência, foi porque eu sabia das minhas futuras obrigações. Também
efetivei na federal e de lá, se caso esqueceu, eu não sai possuindo histórico
nenhum de "imprevisível ou autônomo".
— Na verdade, se caso esqueceu da merda do seu passado, eu e os
profissionais da Força apagamos muito do seu histórico. Se continuasse na
carreira de policial logo, logo já estaria investigado, atuado e julgado! —
(Força, nome da equipe de investigação e de extrema inteligência, captação
e êxito da Agência central 'Garra Segurança')
Eu fico em silêncio, detestando recordar dos erros do meu passado e
de ter que aceitar a realidade. Eu sou grato por Fernando, meu irmão. Eu sei
que se não fosse por ele e pela Agência, hoje meu corpo nem estaria aqui.
Estaria enterrado a sete palmos, podre. E por isso, não discuto.
— A pasta! — Sério, eu entrego o documento a ele.
Fernando pega e retira-se.
No fim do expediente, eu resolvo fazer o que prometi fazer de melhor
— infernizar a vida daquela Deusa. Eu rastreio seu número e descubro que
ela não está na pensão. O endereço é nos arredores de um parque natural.
Desloco-me até a proximidade do tal parque, aguardando o ponto parar e eu
achá-la — isso quase vinte minutos.
Dirijo seguindo a localização e finalmente, perto de uma esquina, o
ponto no celular para. Eu olho para frente, procurando-a, mas nem sinal
daqueles cabelos loiros.
Caramba, a mulher foi roubada, ou está invisível?
O ponto volta a se locomover. Murmuro, virando junto com o celular
na próxima rua. E sem tirar os olhos do mapa, eu acelero. Da mesma forma,
em instantes, eu freio após sentir um baque no para-choque. Puta merda,
desligo a chave e então vejo a mulher se levantar enquanto tira o capacete de
ciclista.
Será que você achou ela, seu bundão? Puta azar!
— Eu não te vi! — exclamo, abrindo rápido a porta.
— O sinal estava vermelho, seu maluco. Você se jogou em cima da
faixa de pedes... pe...
Ela inclina a cabeça e arregala os olhos, quase caindo sobre o asfalto e
bicicleta novamente.
— Meu Deus! E-eu fiz um pacto sem saber e o diabo está voltando
para cobrar minha alma!
Não tiro os olhos do minúsculo shortinho de ginástica preto e o top
rosa, espremendo seus seios avantajados.
— Não duvido que eu seja o diabo — sorrio.
Ela bufa de fúria. Vira o rosto e tenta insanamente levantar a bicicleta
do chão. É aí que eu percebo a gravidade da minha tremenda filhagem da
puta. Seu tornozelo e coxa estão sangrando. Droga, o que fiz?
— Deixa eu... — tento ajudá-la a recolher seus pertences, mas ela me
empurra.
— Some da minha reta!
— Droga, você está ferida!
— Eu não pedi a sua ajuda, vai embora!
— Não vou. Eu irei te ajudar, e não tem a porra de direito de me
impedir!
Ligeiro, eu abaixo, pego a garrafinha, as verduras, enfio na cesta,
levanto e levo a bicicleta com os raios do pneu torto até uma árvore. Ela fica
sem ação. Eu também, estacionando o carro numa calçada e retorno para
analisar a gravidade da minha patética forma de agir.
Capítulo 7

Enquanto o idiota tirava o carro do meio da rua, eu tentava correr para


ir embora. Mas meu tornozelo torcido e machucado se negava a me obedecer.
Eu faço careta de dor, ao chegar ao lado da bicicleta toda estropiada.
— É melhor irmos no médico.
— Não, eu não quero.
— Eu tenho o dever de te prestar socorro.
— Claro, já que foi o mesmo que quase me matou!
Paciente, ele apenas coloca as mãos no quadril.
— Eu peço desculpas, pronto. Agora posso ajudá-la?
— E o que pretende? Você é um desconhecido.
— Só confie em mim, por hora, eu prometo não ser o anjo do diabo.
Bufo, não suportando a dor, mas do que as graças dele.
— E a minha bicicleta?
— Ela não cabe no carro. Não se atordoe com isso. Depois
resolvemos os prejuízos. Eu te levo...
— Não!
Em pavor pela aproximação, eu me afasto.
— Não... eu vou sozinha.
— Sozinha? Impossível. Pare de ser orgulhosa e aceite!
Orgulhosa? Eu estou é com medo das suas intenções, cretino.
Eu noto que, em segundos, esse cara pode se transformar e ficar sério
e autoritário. Mas eu estar latejando de dor, rendo-me e aceito a droga da
ajuda.
— Ok... só até o veículo.
Felipe concorda e para ao meu lado, apoiando-me nos seus braços
fortes. Sinto-me sufocada e vermelha de vergonha. Mas não demonstro
intimidade. Ele segura na carne da minha cintura, carregando-me, enquanto
eu pulo igual o saci.
— Não se preocupe com a bicicleta, Eloíse, é sério.
— Eu tenho maiores preocupações.
Ele vira o rosto sexy... e eu perco o fôlego.
— Deduzo que comigo? — sorri.
— Saiba que eu tenho um spray de pimenta e sei perfeitamente como
usá-lo.
— É aquele que está lá na cestinha? Bem longe?
Abro a boca, sem expressar fala. E perto do veículo, puta da vida, eu
mesma me coloco sentada no banco. Meu pai santo! A ação faz toda a dor se
concentrar só no tornozelo torcido e grunho.
— Você é muito marrenta... — Felipe murmura "bravo" ao fechar a
porta.
Marrenta é a tua vozinha!
Eu o observo voltar até os meus pertences, pegar tudo, retornar e dar
partida no carro sem esbravejar um “a”.
— Onde você pensa que está indo? — resolvo tirar a dúvida, logo que
me encontro insegura, sozinha e desprotegida num espaço minúsculo com um
cafajeste sem respeito.
Eu me recordo perfeitamente daquela noite em que ele invadiu meu
quarto e garantiu que eu seria dele. Maníaco!
— Não posso deixar que você vá para casa machucada.
— E o senhor é um "Deus" para me curar?
— Acredito que sim — ele sorri.
Eu rolo os olhos. E de relance, assisto um raio se estender na extensão
do céu nublado. Em seguida, o barulho de trovão e a chuva.
— Que lugar é esse? — Após quinze minutos dirigindo na chuva
intensa, noto-o entrar no subsolo de um conjunto de edifícios brancos e
desespero-me. — Eu vou ligar para a polícia! Você não ia me levar para
casa?
— Ei... calma. Por enquanto, só vamos nos proteger da chuva no meu
apartamento.
Eu arregalo os olhos.
— Abre agora mesmo esta porta! Abre!
— Você não pode fugir, sabia?
— Abre a merda desta porta, Felipe! Eu vou gritar! Você está me
sequestrando!
— Caramba, calma. — Ele fica estranho. Então estaciona o carro
numa vaga qualquer e olha-me. — Relaxa, eu estava de gozação. Eu só te
trouxe para ser socorrida no posto de enfermagem do meu prédio. É mais
inteligente e mais rápido para poder ajudá-la. Aqui destina-se às emergências
que necessitem de primeiros socorros ou casos menos graves dos moradores.
Engulo em seco, sem saber se confio.
— De verdade. Pode até pegar o spray de pimenta e segurar nas mãos.
Vou levá-la só até a enfermagem. Só isso...
— Eu não confio em você.
— Para de marra, Eloíse. Está se torturando de dor e ainda não
"arreda o pé" — ele ri.
Encaro-o séria.
— Patético!
— É rir para não passar nervoso, meu anjo. Odeio gente teimosa, dá
vontade de dar uns tapas bem dados na bunda.
Coro, recriminando a frase de duplo sentido. Filha da p... puta, sim!
— Sua companhia me embrulha o estômago. Me leve até essa
enfermagem logo. E se for mentira, vai responder por sequestro e
atropelamento no xilindró! E vou levar o spray!
Ele somente ri, abrindo a porta.
— Vamos... vou ajudá-la a descer.
Felipe me ajuda, apoiando-me nos seus ombros e conduzindo-me pelo
estacionamento e pelo saguão do edifício luxuoso. E de verdade, eu sou
realmente levada por ele até a tal enfermagem.
— Dona Malena cura até coração partido em menos de dois dias.
Eu me seguro para não achar graça.
— Essa profissão não teria outro nome?
— Estou falando sério, mocinha.
— Felipe... — uma voz brota, assim que terminamos de cruzar a porta
de vidro. — O que aconteceu desta vez?
Noto a sala possuir no interior duas macas e muitos armários brancos.
— Por favor, Maleninha, me ajuda a ajudar esta dama.
Eu fito tímida a senhora de estrutura alta e rosto na casa dos
cinquenta.
— O que houve? Olá, prazer... sou Malena. Senta aqui. Ajude ela,
Felipe.
— Eloíse — aperto sua mão e sento-me com a ajuda dele.
— Eu bati nela sem querer...
— O quê?!
— Eu atropelei a mulher.
— Ahh... Meu Deus, horrível!
Eu fito a cara do engraçadinho. Idiota!
— Foi sem querer, Malena. Eu não vi ela atravessando a faixa de
pedestre.
— Você está bem, menina? — Dona Malena ignora o Felipe. —
Sente dores na região do peito, quadris ou costas?
— Não, eu só torci o pé e tive estas duas escoriações na perna.
— Ok, eu vou pegar a bolsa de primeiros socorros. Só um minuto!
— Também estou ferido, Maleninha.
— Me poupe, Sr. Alencar. E se for importunar eu ou a moça, é
melhor sair daqui e aguardá-la lá fora.
— Importunar? Me magoe assim não.
Malena volta, encarando meu spray de pimenta.
— Aconselho ser mais seguro um spray de ácido, Srta. Eloíse —
pisca, em seguida sorri.
Eu retribuo, agradecendo a sugestão, e desprezo o olhar debochado do
Felipe.
No fim, após limpar as escoriações e me dar uma bolsa de gelo para
descansar no pé inchado, eu sinto a dor se amenizar quase 70%. A enfermeira
também diz para eu não esforçar o tornozelo, antes de eu deixar a sua salinha.
— Você não escutou a Malena dizendo para não se esforçar?
— Sim. Contudo eu não preciso mais de você me tocando.
Felipe sorri pensativo.
— Hum... ainda não...
Repudio seu tom de voz lento e obsceno.
— Que tal subirmos e tomarmos um bom champanhe? Juro que não
será necessário usar o spray.
— Não. Eu ligarei para o meu noivo vim me buscar. Não quero mais
nem meio segundo da sua companhia.
— Então isso significa que em algum momento você queria a minha
companhia?
— O-o quê? — Fuzilo seus olhos. — Eu te odeio!
— Como pode odiar quem ainda nem conheceu direito, princesa?
— Para de me encher a paciência! E vai buscar a minha bolsa lá no
seu automóvel. Eu vou ligar para o meu noivo me socorrer urgente.
Sento numa das quatro poltronas da recepção, cansada, detonada.
— Bom... ok... Se você quiser o seu celular e a sua bolsa, é só me
seguir. Eu moro no apartamento de número 15. 7° andar. Te aguardo!
— O... o...
Após informar, sem cara de brincadeira, Felipe vira as costas,
deixando-me boquiaberta. E furiosa.
— Desgraçado, você não pode me deixar aqui sozinha. Eu quero as
minhas coisas! — grito. — Eu não vou subir!
Contudo, ele não dá atenção, e exclamo mais furiosa ainda:
— FELIPE! AS MINHAS COISAS!
O filha da puta dá uma piscadinha antes do elevador se fechar. E fora
do alcance da minha visão e dos meus palavrões, só imagino ele despencando
lá do alto.
Infernos. Onde eu me menti? Meu Deus, onde eu me meti? Para
ajudar, eu não quero que o Mariano venha me socorrer. Eu continuo magoada
com ele, depois da cena ridícula de ontem à noite. Só posso contar com meu
irmão, Otávio.
Caso seu celular não estivesse nas garras daquele maníaco, né dona
Eloíse? Nervosa, eu fico uns dez minutos olhando para o nada. Então me
levanto, vermelha de ódio e tento caminhar devagar. Até o momento, sem
maiores dores no pé.
Eu sei que eu estou caindo num truque sujo. Pois caso eu não
precisasse das minhas coisas, eu já teria zarpado para bem distante daqui. Eu
estaria na pensão.
No corredor, acho o apartamento de número 15 e detono a campainha
no dedo.
— Caramba! — Ele esbraveja ao puxar a porta com velocidade. — Eu
vou precisar dessa campainha ainda, moça!
— Cadê as minhas coisas, Felipe? Você está pensando que eu tenho
quantos anos para ficar jogando esses joguinhos infantis de criança? Me
respeita! Eu não sou qualquer uma não!
— Eu posso dizer que, até o momento da senhorita parar de me tratar
mal, vamos resolver as coisas como adultos civilizados. Por favor, entre. Não
gostaria de uma xícara de café?
Argggg!
— Você é um infantil, cheio de piadinhas sem graça!
— Eu sou? Uau...
— Cala a boca e vai pegar as minhas coisas logo, seu imbecil!
Incrédulo, Felipe trinca o maxilar e fuzila-me furioso. Parece que não
gosta de ser mandado.
Sinto arrepios. Só que continuo nem aí.
— Eu vou pedir mais uma vez: entra ou corre o risco de eu fechar a
porta na sua cara! Se me quer sério, eu serei, porra!
Ele me larga sozinha na entrada do AP e afasta-se. Em choque, eu
fecho os olhos, segurando os punhos semicerrados.
— Como tem a...
— Eu tenho é o caralho da paciência curta!
— Que se dane a sua falta de paciência!
Eu adentro, encarando ele.
— Ótimo, pois a mesma conseguiu a proeza sem maiores
dificuldades!
— Cadê as minhas coisas? Anda! Vai pegar!
— Não se preocupe garota! Você terá seus pertences!
Ele pega um copo médio, despeja um líquido da garrafa do armário ao
lado, bebe e eu arregalo os olhos. Sem tempo de correr, sem estabilidade
física, observo Felipe apenas jogar o copo no chão e se aproximar, por pouco
não voando sobre mim. Eu grito. Ele puxa meu quadril, agarra meus cabelos,
chuta a porta e ataca minha boca com força, com extrema fúria e ódio.
Soco seu peito, gritando, e mordo seus lábios, desesperada. Ele
grunhe mais furioso. E sem escrúpulos, penetra a língua e joga seu peso
contra o meu corpo fraco e o sofá. Eu caio remexendo, sentindo
imediatamente sua rigidez roçar na minha intimidade. Perco as forças de
bater nele. Ele roça outra vez forte. Prende meus punhos no alto da minha
cabeça e cola nossas testas.
Eu não consigo respirar, nem gritar, nem falar. Felipe ofega seu calor
nos meus lábios e afunda as íris castanhas nos meus olhos, sentindo minhas
coxas nuas. Trêmulo, pulsando, tentando fechar as pernas.
— Eu posso entrar em você agora mesmo! Caralho, eu posso, pois me
deseja, me quer e não sabe esconder!
Desesperada, começo a lacrimejar.
— Não sabe mentir, Eloíse!
— M-me largue... — choro, querendo que ele pare, sem força para
gritar, bater, mas querendo que ele pare. Eu não quero isso. — Por favor,
pare...
Felipe nota e xinga ao abaixar a cabeça.
— Droga! — sem acreditar, ele ergue o rosto. — Eu nunca agi assim.
Eu nunca fui assim!
— Felipe... pare...
— Você me enlouqueceu. Eu fiquei louco! Eu estou descontrolado!
Ele solta meus punhos e levanta-se, passando as mãos pelos cabelos.
Eu encolho o corpo, com nojo dele estar certo. E-eu o desejei... eu fiquei
excitada. Eu... eu sinto que trai a minha própria confiança!
— Eu te quero, Eloíse. Eu estou fissurado por você. E não vou
esconder que farei o possível e o impossível para tê-la. Todavia, por
completo. Você tem que ser minha por completo!
— Não, está louco, eu não quero que coloque as mãos em mim de
novo! — Consigo exclamar, colocando-me de pé e apoiando as pernas
trêmulas. — Eu não quero você. Eu tenho um noivo. Pelo amor de Deus, pare
de provocar o inferno nas nossas vidas! Me deixe em paz!
Ele alisa a barba por fazer, ainda descontrolado.
— Eu peço que vá para casa. Eu levo as suas coisas amanhã e deixo
na recepção. Só peço para não continuar aqui... droga, estimulando mais a
minha fúria, eu vou surtar!
Apavorada, eu tento me mover.
— Desculpas pelo acidente. E aceite o dinheiro do táxi, é por
segurança. — Felipe tira uma nota de cem reais do bolso e aguarda eu pegar.
Sem explicar, só querendo distância dele, do seu calor, dos seus olhos,
do seu perfume, meu coração aceita o dinheiro. E ao fechar a porta, eu saio
andando em meio ao choque. Aflita, amofinada de tantos terrores. No
elevador, crucifico meu corpo e choro, encarando minha face no espelho.
Eu não resistiria a luxúria? Por favor... por algum momento, eu me
renderia? Eu tenho que ficar longe daquele homem... eu não sou assim.
Capítulo 8

Eu subo as escadas da pensão, gemendo de dor. Cada degrau é uma


tortura. E no meu quarto, após tomar um banho quente, enrolada na toalha, eu
me sento na cama e respiro fundo.
Eu não vou aguentar essa consciência pesada. Aquele beijo... a
excitação... o calor... nada sai nos meus pensamentos. Eu estou com medo do
Mariano descobrir. Ele vai pensar o que da sua futura noiva? Uma traíra! E
eu o amo, eu não viveria sem ele. Felipe está querendo me destruir. Destruir o
meu psicológico e a minha integridade. E ele não vai! Eu o odeio!
— Meu pai santo... Filha, o que houve com você?
Não demoraria muito para vó Aurora notar os arranhões na perna.
— Não se preocupe — afirmo, caminhando até ela. — Só caí de
bicicleta, após quase ser atropela. Bença, vó...
— Como assim? Foi ontem na volta da academia? Deus te abençoe,
— Sim... mas a pessoa me prestou socorro — seguro a careta de
repúdio aquele homem. — Está tudo bem.
— Oxe, eu já disse, mãe, eu não trouxe a garota! — Otávio esbraveja
ao entrar na cozinha, chamando atenção com a mamãe berrando atrás.
— A vagabunda estava no seu quarto!
— É uma menina que eu conheci na internet, ok. E porra, para de me
encher a paciência.
— Ai, não acredito... — eu sorrio, sentando-me para assistir toda a
cena.
— Roberta, que escândalo é esse?
— Eu vi uma piranha quase nua sair do quarto desse moleque.
— E você expulsou ela, mamãe?
Otávio inclina a cabeça, fuzilando-me de raiva.
— Deve estar se divertindo com o espetáculo, né Eloíse?
— Eu nada, maninho do meu coração. Já disse para você pagar motel.
Mamãe me encara, sem acreditar no que ouviu.
— É uma mulher de quase 30 anos e ainda defende as poucas
vergonhas desse desmiolado, Eloíse?
— 28, mãe, 28! E ele é adulto. Otávio está numa fase que logo, logo
vai passar — dou de ombros, sim, defendendo meu irmão de propósito.
Otávio até franziu o cenho, sem acreditar.
Interesse, meus caros, interesse.
— Ah, já não suporto mais. Vocês estão indo de buraco abaixo. Se
José Luís estivesse aqui, já teria dado um jeito nessa situação!
Não acredito.
Chocados, ficamos em silêncio. É a primeira vez que escutamos dona
Roberta tocar no nome do papai após seu falecimento. Eu engulo em seco.
Ela, então, respira fundo, pede licença e retira-se para trabalhar. Vó Aurora
tenta contornar o clima:
— É hoje o segundo dia da reunião com a agência de modelos,
querida?
— Sim... aliás, eu estou atrasada para me arrumar.
Essa manhã será uma das mais corridas, prevejo.

•••

Prevendo o menor tempo curto possível, é fato. Eu não consigo nem


almoçar direito, eu tenho a segunda reunião na agência, com book novo de
fotografias já marcado para o final de semana. À tarde, passo em três bancos,
resolvo meus problemas com os gerentes e na volta para casa, encontro-me
com Mariano na praça de alimentação do shopping.
Eu estou nervosa, ansiosa. Não paro de tremer.
— Eloíse... — ao chegar, ele me dá um beijo. — Tudo bem?
— Tudo... como foi seu dia na escola? — Eu pergunto, quebrando o
nervosismo.
— Normal, como sempre. E você, querida?
— Bem corrido, eu fui na agência — não encaro o olhar do meu
noivo —, almocei, depois passei em três bancos e agora estou aqui.
— Hum. E como foi na agência?
Estranho a interação no assunto.
— Eles marcaram um book de fotografias para fazer no final de
semana. E irei — faço questão de frisar.
— Legal... — Mariano, então, descansa as costas na cadeira. — Eu
queria te pedir desculpas pelo meu comportamento de anteontem. Sei que agi
mal. Você é adulta, Eloíse. Mas precisamos esclarecer as diversidades.
— Lá vem você... quais diversidades? Nunca tivemos que discutir
sobre isso antes.
— Estamos juntos a dois anos. Iremos nos casar em breve. E sobre
esse seu sonho totalmente fora dos meus planos, não tem como apoiá-la.
— Por que você não quer...
— Porque não foi desta forma que eu planejei o nosso futuro.
— Tudo bem, Mariano. Tudo bem. Mesmo não esperando, eu já
imaginava a tal rejeição. Mas e agora, quer terminar? Quer me deixar por
causa dos meus "planos individuais"?
— Não, é óbvio que não. Eu te amo. Se não posso apoiá-la hoje, eu
posso batalhar para um dia conseguir. Entretanto, serei sincero de que é
recente, ainda me revolta.
— Ok... pelo menos é um "progresso". — Eu não escondo a
decepção.
Até a vontade de revelar sobre aquele homem desapareceu.
Mariano balança a cabeça.
— Vamos esquecer as coisas por enquanto e aproveitar o nosso
passeio? —Ele se levanta. — Vamos dar uma volta no shopping. Tomar um
sorvete?
Concordo. E na hora de irmos embora, eu ganho um lindo ursinho de
pelúcia. Também nos despedimos no estacionamento, pois eu estou com o
meu carro e ele com o dele.
— Boa noite! — Eu digo para dona Alverina, após entrar na cozinha.
— Boa noite, querida!
— Cadê todo mundo?
Noto a cozinha estar só na meia luz, sem mais ninguém.
— As funcionárias já foram embora. E a sua vó está lá na sala
tomando café com um rapaz. Eu também já estou de saída. Depois avise a
ela, por favor?
— Pode deixar. E bom descanso, dona Alvenaria. Até amanhã.
Ela se despede e eu aproveito para comer o jantar antes de subir.
— Vó... — Mas, na sala, eu dou de cara com ela e com aquele
estrupício desgraçado!
Eu fico cega de fúria, nervoso, ódio!
— Ah, filha. Que bom que você chegou.
Ele inclina o olhar e sorri discreto.
— Felipe veio lhe trazer seus pertences. Por que não me disse que era
o filho de Marta, o rapaz que lhe atropelou sem querer?
Engulo em seco e o fuzilo.
— Eu não me lembrava de que ele era o filho daquela senhora tão
educada... e respeitosa. Nem parece.
— Ah, mas é. Fiquei feliz por você ter acudido, Eloíse.
— Eu fiz apenas o certo, dona Aurora. — Ele pigarreia. — Mas
voltando ao nosso assunto, eu posso estar vindo amanhã?
— Que isso, filho, você pode ficar agora mesmo. Já está registrado.
— Ficar aonde? — Eu me aproximo desconfiada e cruzo os braços.
— Na pensão. Felipe ficará uns dias conosco.
— O QUÊ?! — Eu praticamente grito, sem acreditar, chamando a
atenção completa da vovó. Não, não e não! — Como assim? Você já tem a
sua casa! E o mesmo já não é um turista do RJ para se hospedar aqui!
— Eloíse... filha. O que é isso? Cadê a sua educação?
— Desculpas, vovó — murmuro entre dentes, recompondo-me.
— Felipe ficará aqui apenas por uns dias, ele está reformando seu
apartamento e não tem aonde ficar. Né, filho?
Mentira. Mentira! Eu vi o lugar onde ele mora, o prédio luxuoso e o
apartamento de gente rica! Falso, cretino, desgraçado. Ele é rico, poderia
muito bem pagar qualquer hotel da cidade.
— Está tudo bem, dona Aurora. Sua neta deve estar chateada pelo
incidente de ontem. Eu já pedi desculpas a ela.
— É por conta de ontem, querida?
— Não! Eu só... eu só fiquei surpresa.
Felipe parece segurar o riso de gozação. Vagabundo mentiroso! Que
vontade de jogar um jarro de planta no meio da cabeça dele.
— Eu só acho que teria tantos outros lugares mais chiques para você
passar esses dias da "reforma".
— Eloíse!
— Sim, srta. Eloíse, até teria. Contudo, eu achei a pensão Aurora um
castelo de tamanho acolhimento e amor. E a comida? Divina, uma das
melhores que eu já provei.
— Ah... que educado. Esse homem é de ouro, vovó.
— Ah, é sim — vovó olha para ele encantada, concordando.
Meu Deus. Infeliz do inferno! Eu fico boquiaberta e furiosa. Quer
saber? Que ele vá a merda!
— Eu vou subir... tchau para vocês.
— Eloíse! — Ela me impede em repreensão e vira mais uma vez para
ele, toda sorridente. — Por favor, senhor Felipe, perdoe o mau
comportamento da minha neta. Ela está estranha hoje.
Eu não acredito que esse tarado iludiu a minha avó com esse papel
falso de "bom moço". O cara não vale a beleza que tem!
— Não tem o que perdoar. Está tudo bem.
— Boa noite! — bufando, eu viro as costas.
— E, senhora Aurora, acho que eu já vou passar esta noite aqui.
Então, eu imediatamente travo no meio do caminho e fecho os olhos,
sentindo meu sangue ferver de raiva. Meus punhos se fecham tão doloridos,
que se eu soltar... EU EXPLODO!!
— No meu quarto... do primeiro andar.
— É, claro, é claro. Ele já está pronto, querido.
Eu volto a caminhar, por pouco, não correndo.
FILHO DE UMA... MÃE! GRRRR, EU QUERO MATAR ELE,
ESTRANGULAR ELE, FAZER PICADINHO DA CARA DELE, TACAR
ELE NO FOGO MAIS ARDENTE DO QUE O DAS PROFUNDEZAS DO
INFERNO E DEPOIS FAZER UM BONECO DE VODU PARA
TORTURAR A ALMA DELE!
AAAH! EU QUERO ASSASSINAR ELE!
Capítulo 9

Sem saber se aquele capiroto, vulgo Felipe, passou a noite ou não na


pensão, eu só sei que de tanta raiva e culpa, eu não pude dormir. Pensando
nele... naquele beijo.
Pai amado! Eu passo as mãos no rosto. O que eu fiz para merecer um
encosto gratuito, hein? Que esquina e que macumba foi essa que eu chutei
sem ver? Eu sinto vontade de me trancar no quarto e nunca mais sair daqui.
Para não encarar a cara daquele homem outra vez.
Respiro até o fundo dos ossos, então me levanto; escovo os dentes,
visto um vestidinho de alcinha, calço as sandálias e saio lentamente. Observo
o corredor desde a segunda escada ao do térreo, constatando "a barra limpa"
para eu poder descer.
— BUH!
— Aiii, Otávio! — Eu exclamo assustada após ele me pegar de
surpresa no penúltimo degrau.
Quase tive uma parada cardíaca. Puta merda.
— Seu cérebro de galinha, quase me matou do coração!
— Hummm, está tão assustada por quê?
— Ah, porque eu não estava esperando logo nas primeiras horas do
meu dia dar de cara com uma coisa tão feia como você!
Ele ri.
— Pelo jeito, não se olhou no espelho ainda, né?
— Ha-ha! Me respeita!
Cheio das graças, Otávio sobe as escadas enquanto eu me direciono
até a cozinha.
— Eloíse, que bom que você já se levantou. — Mal cruzei o arco do
hall e de longe, vó Aurora me encarou com o olhar pior de quando me
repreendia aos meus nove anos de idade.
Antes das suas advertências, eu desejo bom dia a Suellen, a Pietra, a
dona Alverina e sou mais rápida do que ela.
— Eu sei o que vai me dizer, vó. E por isso eu já peço milhares de
desculpas pelo meu comportamento de ontem. Eu não estava me sentindo
muito bem. Perdão.
— Eu percebi, filha. E você deveria ter se desculpado com o senhor
Felipe também. Ele vai pensar o que da minha neta? Agiu muito estranha.
Não era a menina doce e educada que conhecemos.
— Talvez o incidente tenha me dado dor de cabeça... me desculpa,
vovó. Eu te amo — dou um beijo no topo da cabeça dela e ela retribui
carinhosa.
— Está tudo bem. Tome seu café para ajudá-la a se recuperar.
— Que incidente foi esse? — Suellen questiona.
— Nada grave... foi um rapaz que me atropelou na volta da academia.
Eu estava de bicicleta. Só tive duas pequenas escoriações na coxa e torci o pé.
Recordar esse dia me faz embrulhar o estômago.
— Nossa, mas você está melhor, né?
— Sim, estou.
— O rapaz que Eloíse se referiu é o filho da Marta. Lembra-se dele,
Alverina?
— Não muito. Não fomos apresentados corretamente.
— Não se preocupe, terei o prazer de apresentá-los. Ele ficará
conosco esses dias na pensão.
Ao ser relembrada da infeliz notícia, eu quase me engasgo com o
café.
— Eloíse... tudo bem? — Pietra me olha.
Confirmo e tento manter o controle dos nervos trêmulos.
Mais tarde, no jardim com a Suellen e a sua irmã, eu chamo a atenção
dela para o assunto inacabado de segunda-feira, sobre algo que a maluca iria
me contar, após eu dar a notícia de que consegui entrar na terceira maior
agência de modelos do RJ, ainda nem acredito.
— Vai, Ellen, diga logo. Eu estou curiosíssima. O que você tinha para
me contar de tão novidade assim?
Ela tentou de tudo para desviar a conversa, mas não conseguiu.
— Já nem seria tão novidade. É sério.
— Então fale, você não vai fugir do assunto.
— Deixa que eu falo — Pietra intervém. — Pois Ellen está com
vergonha de dizer.
— Pietra, fique quieta!
Eu rolo os olhos.
— Vai, Pietra, deixa essa chata de lado e me conte tudo o que
aconteceu!
— Vou falar.
— Vai falar nada. Eu mesmo conto; o que aconteceu foi que eu
conheci um rapaz pelo Tinder a duas semanas atrás e ele me chamou para
jantarmos domingo à noite. Foi o nosso primeiro encontro e ocorreu mil
maravilhas, eu amei, ele pagou tudo. Então, ontem, terça-feira, ele me
convidou para nos conhecermos de novo. Eu fui, né, o cara era gostoso.
Jantamos, tomamos vinho, sobremesa... só que desta vez, na hora de pagar...
aqueles pratos de se cobrar um rim e as duas córneas do zoio...
— Ai meu Deus... — Eu murmuro.
Pietra segura o riso.
— Na hora de pagar, ele falou que precisava ir ao banheiro. Fiquei
aguardando dez, vinte minutos, meia hora e nada do ladrão voltar.
— Ellen, eu não acredito. Ele te enganou?
— Sim! — Ela esbraveja furiosa. — O homem não voltou e ainda me
fez pagar mil reais de conta. Pois é lógico que alguém precisava pagar, né?
Fui mó burra. Agora estou sem um centavo.
— Nossa, amiga. E você não vai fazer nem um boletim de
ocorrência?
— Acho que não. Não quero mais problemas pra mim.
— Que problemas? Tem que denunciar o infeliz. Vai que ele faz isso
com outras mulheres? Não, não. A senhorita vai amanhã na delegacia, vai
levar a nota fiscal do restaurante e o seu celular com todas as provas
(conversas, fotos).
— Você é mandona, Eloíse. Meu pai amado.
— Eu concordo com a Eloíse.
— Viu? Até a sua irmã concorda.
— Ok, amanhã eu farei esse B.O.
Eu dou uma piscada.
Ao chegar ao fim da tarde, as meninas vão embora com a dona
Alverina.
— Eloíse! — Minha mãe me chama assim que eu viro no corredor
para descer os três andares restantes.
Aproveitei esta noite para ajudar a vovó com os documentos da
administração da pensão. Mas, mortas de cansaço, deixamos um pouco para o
outro dia.
— Oi? — retorno.
— Onde estava? Fiquei te procurando igual idiota.
— Eu estava ajudando a vó Aurora lá no escritório. Por quê?
— Quero conversar seriamente com você.
O olhar dela é rígido, sério.
— Pode ser depois do jantar? Eu estou morta de fome, não comi nada
esta tarde.
— Não demore. Vou aguardá-la só até 22h30. Tem vinte minutos!
Com os passos duros, minha mãe vira as costas e sai caminhando para
o último andar, onde fica seu cômodo, o do Otávio e o escritório.
Já acostumada com tamanho "amor e carinho", eu dou de ombros e
desço. Só que quando eu piso no térreo, para completar ou estragar o final da
minha noite, eu bato de cara com o capiroto vivo, em carne e osso sentado
numa poltrona.
Era de se esperar o "reencontro".
— Quanta coincidência... Boa noite. — Ele declara igual uma
prostituta de esquina, aguardando seu cliente.
— Só se for para você! — Eu me afasto furiosa. — Como teve a
ousadia de se hospedar aqui? Eu já disse milhares de vezes para você me
deixar em paz. Para parar de me perseguir, Felipe!
— Que eu saiba... é uma pensão, né? E eu não estou te perseguindo,
senhorita, eu estou apenas revogando o que já é meu.
Eu fuzilo seu olhar soberbo.
— Jamais! Nunca! Nem morta, nem podre num caixão!
— Meu Deus, como pode odiar uma pessoa tão maravilhosa como
eu?
— Você é um maníaco, um completo maluco sem limites. Deveria
tentar fazer outra coisa além de me encher o saco. Não é policial? Por que
não vai trabalhar?
— Eu não sou mais policial. Pedi demissão para focar num único
objetivo.
— Tem certeza de que não foi demitido? Acho que nem teu chefe te
suportava.
— Não... de forma alguma. Eu saí para ser um fora da lei, como disse,
"um completo maluco sem limites".
— Hum. Legal. Já vai começar as gracinhas?
— Podemos conversar "civilizadamente", se preferir.
— Eu tenho coisa melhor para fazer do que ficar aqui te aguentando.
Espero que amanhã você já esteja de malas feitas e bem longe da minha reta.
De preferência, no inferno!
— Ei, ei! — Antes de eu sair, Felipe se põem de pé. — Eu gostaria de
te dar uma coisa — diz calmo.
— Não quero! — Declaro sem menor tempo.
— Está lá no jardim. Poderia me acompanhar?
— Não, eu não vou. Eu não confio em você.
— É sério, Eloíse. Para de marra só por um minuto. Vem comigo?
Será rápido.
— Fala aqui mesmo.
— Vai estragar a surpresa. Vem?
Ainda estou traumatizada por aquelas sensações dele estar tão
próximo de mim e ao ponto de... eu fico tensa ao imaginar. Minha
consciência pesa. Não, tire isso da cabeça, Eloíse.
— Traga aqui, Felipe, o que for que seja, eu não vou com você nem
na china.
— Caramba, tu é impossível! — Felipe vira os ombros másculos,
volta a se sentar na poltrona e nervoso, pega um jornal. — Se a dona toda
certinha não quer me acompanhar, eu também não dou presente nenhum!
Ação me deixa ridicularizada e chocada.
— Cafajeste! E-e eu nem fiz questão desse seu tal presente idiota!
Eu saio pisando duro, mortífera de furor. Eu odeio ele! Quem o infeliz
pensa que é para me tratar igual uma adolescente? Ele está muito enganado
comigo. Ah, muito enganado. Ele ainda não sabe com quem está mexendo.
Arrisque me tirar do limite e Felipe verá a pior parte de Eloíse Galvani. A
mulher vingativa!
Capítulo 10

Após Eloíse sair da sala, eu amasso o jornal e taco no chão. Puta


merda, ela está irredutível. Meu comportamento aquela noite só fez a mulher
se afastar cada vez mais.
Eu fiquei fora de mim. Pela primeira vez na vida, eu senti vontade de
tirar a roupa dela e fazê-la notar a porra do desejo que a sua malcriação e
educação me deixou. Fora do controle! Só que eu nunca fui assim. Eu jamais
desrespeitei uma mulher antes. Nunca avancei os limites. Pode me chamar do
que for, mas não de tarado, psicopata sexual, assediador de vítimas. Todas as
mulheres presas em algum relacionamento sério que eu já levei pra cama,
foram por vontade própria. Não as obriguei a transar. A decisão de botar um
chifre no marido, namorado, noivo, ou sei lá quem, não foi minha. O
problema é delas. Eu só flerto, se querem sexo ou não, foda-se, tem outras.
Amantes é o que não me falta nesse mundo, mas algo é fato, sinto-me mais
obcecado pelas mulheres comprometidas. O proibido é sempre mais gostoso.
É como pescar um pacu no meio de um rio cheio de piranhas.
E agora, Eloíse é minha sereia. Mesmo antes dela colocar a porra de
um anel no dedo, a seis anos atrás, eu já era cego, obstinado, louco por sua
beleza, voz, charme, corpo. Tudo nela me deixou apaixonado de tesão em
segundos. Porém, as tragédias ocorridas nesse passado e meu envolvimento
com Antonella a dois anos fez eu esquecê-la. É como se a minha mente
tivesse apagado Eloíse, mas meu corpo adormecido de desejo. Ele hibernou
aguardando seu reencontro. E quando nossos caminhos se cruzaram pela
terceira vez, eu lembrei das promessas, do calor, da excitação. De possuí-la
como prioridade!
E eu farei, custe o que custar, eu conquistarei Eloíse Galvani!
Eu pego o jornal do chão, pensando no meu plano B. O qual a maluca
já caiu de amores. O plano era esse, de se hospedar na pensão. Aqui, ela não
terá para onde fugir. Minhas investidas estarão só começando! Eu sorrio.
•••
— Como vai, Felipe? Dormiu bem? — Senhora Aurora me
cumprimenta assim que eu adentro o local do seu restaurante.
Não é um lugar ruim, é aconchegante e rústico.
Ela está no caixa.
— Bom dia, senhora Aurora. Dormi perfeitamente bem. Garanto que
melhor do que em qualquer outra noite no meu apartamento.
Ela ri.
— Eu fico feliz. Você é um rapaz gentil e muito educado. Espero que
se sinta sempre em casa.
— Obrigado. Eu já me sinto só pela recepção de grande acolhimento.
Agora se me der licença, eu preciso provar do café da manhã; ontem não tive
o tal privilégio.
Encantada, ela concede e eu me retiro, provocando o olhar faminto de
duas meninas, acho que garçonetes. Pisco para as duas. Elas sorriem e sem
me olhar, cochicham entre si.
Eu tomo o maravilhoso café. Sendo sábado, não tendo a necessidade
de trabalhar hoje, ou seja, Fernando que se foda. Eu aproveito a área de lazer
da academia para malhar — e é claro, meu físico não deixaria de chamar a
atenção das hóspedes e de algumas outras funcionárias. Tudo safadas. Eu me
senti um anjo abusado por olhares maliciosos.
Ao fim dos exercícios, eu jogo a camiseta no ombro e saio
caminhando pelo jardim. Sei que Eloíse está por aqui, rastreei seu número de
celular em tempo real. É horar de cutucar a onça com vara... comprida e bem
grossa, futuramente. Caralho!
Perto da piscina, eu, então, a vejo sentada numa mesa com guarda sol,
mexendo no seu notebook e fazendo anotações a caneta.
Sem pressa, eu fico a observando por quase cinco minutos. Até ela
bocejar, levantar a cabeça e dar de cara com o meu rosto. Eu permaneço
sério. Eloíse arregala os olhos, desce para o meu abdômen e imediatamente,
desvia. Será que envergonhada? Tadinha, deixa eu verificar.
— O que faz? — Pergunto, aproximando-me.
— Não é da sua conta! — Ela exclama sem me encarar fixamente.
Eu puxo a cadeira e sento-me de frente para a loira.
— Eu não permiti você de sentar aí.
— Só queria te fazer companhia.
— Eu não pedi a companhia de ninguém.
— Como está se sentindo, ainda pelo acidente? — Mudo de assunto.
— Viva?! — Ela então me olha óbvia e retorna de novo para o
notebook.
— Eu gostaria que você me encarasse, Eloíse.
Ela fica em silêncio.
— Você tem a cor dos olhos da minha mãe biológica.
Por incrível que pareça, ela levanta o semblante curioso e os belos
olhos azuis.
— Marta não é a sua mãe biológica? — a pergunta saiu como um
pensamento em voz alta. Um pensamento que ela mesma se arrependeu de
fazer, todavia, não teve como voltar atrás.
— Poderia se dizer que não. Mas mãe é quem cria. E ela criou a mim
e o meu irmão com o maior amor do mundo. É a nossa mãe do coração.
— Mas... mas e a...
— A minha mãe biológica? É uma longa história, desnecessária para
se recordar. Ela abandonou a mim quando eu tinha cinco meses e o meu
irmão aos oito anos de idade.
— Que horror. Por que ela fez isso com vocês, Felipe?
O assunto incomoda, por mais que eu tenha começado a conversa, eu
não gosto de relembrar do passado, aliás, desse passado, o do meu pai e a
minha vida errada.
— Meu irmão herdou os olhos azuis dela. É como os seus. Só que
você é mais bonita — eu pisco, cortando a curiosidade.
E ela nota, pois me fuzila sem estar brava ou histérica.
— Hum... Espero que o senhor já esteja de malas prontas e de saída.
Eu sei perfeitamente de que não está fazendo reforma nenhuma no seu AP.
Eu vi.
— Você viu? Pode me detalhar?
— Para de omitir a verdade. Confessa logo que está hospedado aqui
só para poder me perseguir!
— Eloíse, responda, a senhorita, uma coisinha: Você acha que todo
cara solteiro, que se hospedar na pensão da sua vó, quer apenas para te
perseguir?
— O quê? Não! Larga de ser cínico! E você não é solteiro! Quero
dizer... eu lá sei da sua vida. Se você é pai ou casado, eu... — ela cora e
embanana-se toda tentando fechar o notebook — eu... isso não é problema
meu.
— Eu, com filho? Da onde tirou isso? Só se eu engravidei algum
inseto no ralo do banheiro. Porque, até onde eu saiba, eu não possuo filho
nenhum.
Eloíse se levanta, abre a boca uma, duas, três vezes e no final, molha
os lábios.
— E aquele menino... na escola...
— Era o meu sobrinho. Ele tinha passado mal durante a aula e os pais
não puderam buscá-lo. Eu fui, e ainda bem — tento não admirar seu decote.
— Explicado?
— Explicado uma ova. Eu não tive um pingo de interesse nas suas
explicações pessoais.
— Antes de ir — eu também me ponho de pé e estremecida, ela dá
um passo para trás —, já aproveitando a sua ilustre presença, eu quero te
entregar algo.
— O-o que seria?
— O presente de ontem. Só um segundo.
***

Sem esperar por uma resposta, Felipe vira as costas e sai caminhando
veloz. Eu balanço a cabeça, tentando não admirar seu corpo malhado, e
respiro. Esse infeliz não tem vergonha de andar sem camisa pelos arredores
da pensão da minha avó não? Sem respeito!
Ao voltar, pelo menos vestido, Felipe me deixa perplexa ao revelar o
tal "presente" — uma bicicleta.
— Eu não acredito.
— Eu estava te devendo uma nova, afinal, o restante da outra foi
furtada com certeza.
— E você chamou a minha indenização de presente?
— O quê? — Ele franze o cenho. — Esse é o meu muito obrigado?
Menina mal agradecida.
— Mal agradecida é tua vó.
Felipe ri, achando graça não sei do quê.
— Eu acho que a professora está muito esquentadinha.
— Esquentadinha vai ser a... espera! Como você sabe que eu...
— Eu sei tudo sobre a sua vida — ele interrompe, solta a bicicleta ao
lado da mesa e aproxima-se. — Eu não brinco em serviço, senhorita Eloíse.
Desconcertada, eu desvio dos seus passos.
— Isso é obsessão, sabia? Tem que cair na real, eu não sou mulher
pra você. Jamais vai me tirar dos braços do homem que eu amo.
— Jura que isso é um desafio? Pois eu já provei que posso. E caso
não se recorde, a loira retribuiu meu beijo e as minhas carícias.
— Mentira! Não manipule o que fez. Não fale como se eu fosse uma
vadia. Foi você quem me atacou, foi você seu infeliz! — Eu me apavoro,
querendo estapear a cara dele, querendo apagar, queimar, passar uma
borracha nas sensações que meu corpo sentiu aquela noite. — Você é um
canalha! Sai daqui! Sai da minha frente! Vai embora!
— Não fique apavorada, é normal se atrair por outro homem, além do
seu "amor". — Ele puxa um olhar cínico.
E eu não aguento, eu quase dou um tapa no seu rosto. Mas Felipe
agarra meu braço e pressiona-me pelo quadril.
— Hã, hã. Nem ouse!
— Você está pedindo guerra!
— Eu só quero você! — Eu me sacudo para ele tirar as mãos de mim.
— Não pense que terá paz. — Ele toca minha pele da bochecha com a sua
respiração. — Considere ganha toda a batalha.
— Me solte.
Sinto o calor da sua boca. Ele acaricia meu pescoço, enxergando
minha alma com as suas íris castanhas e o seu olhar profundo.
— Eloíse?
Eu fecho os olhos, abrindo-os ao virar a cabeça, afastando-me do
Felipe e encarando Otávio.
Capítulo 11

— O que está acontecendo aqui? — Otávio questiona ao parar na


nossa frente. — Quem é esse cara, Eloíse?
Eu tento fingir serenidade.
— Esse é o Felipe.
— Que Felipe?
— Como vai?! — Felipe estende a mão.
Ele a aperta, desconfiado.
— Eu sou Felipe, amigo da sua irmã.
Não acredito. Como ele soube que eu tinha um irmão? Será que ele
investigou tudo sobre a minha vida mesmo?
— Hum... e eu o Otávio
— O que quer, Otávio? — indago, pegando meu notebook.
— Eu... — ele desvia o rosto para me encarar, observador. — Eu
queria falar com você, à sós!
— Bom, creio que estarei sobrando. Tchau, Eloíse, até mais tarde. —
Felipe se despede e retira-se enquanto eu rolo os olhos para o seu “até mais
tarde”. Nem morta!
— Humrun... — Otávio pigarreia.
— Diga logo, o que você quer?
— Primeiro... Amigos? Você e aquele cara?
— O-o que tem? — Puta merda, eu gaguejo sem evitar. — Não há
nada de errado em uma mulher ter uma amizade masculina. Tem?
— Não... Mas, Eloíse, você reparou nele? E você nunca teve
amizades masculinas. Não me lembro de nenhum Felipe.
— É claro, você é acompanhante de luxo! Essa profissão não te dá
tempo de nada, nem de se relacionar com a sua família. Agora... — eu tento
segurar o riso. — Felipe é um amigo gay da época da faculdade.
— Como? Aquele cara, ele... porra, não tem jeito disso não. Ele
parece um... você sabe, bem homem.
— Pois ele é! — Eu ergo a cabeça. — E diga logo o que o senhor
preguiça deseja tanto comigo! Quero cuidar do meu cabelo e fazer a unha.
— Ah, é... eu preciso que você me leve amanhã à noite num lugar. É
bem perto do centro. Por favor, maninha!
— Não sei se eu vou poder.
— Por favor, é muito importante. É só pra me deixar no lugar. Às
20h30.
— E que lugar é esse?
— Aí você já está especulando demais. Na hora, eu te informo o
endereço. Vai me levar ou não?
— Tá bom, eu faço esse sacrifício!
Ele ri. E ao me ver sozinha, eu quase agradeço de joelhos. Essa
situação está ficando errada. Eu tenho que me opor e tomar uma atitude. Mas
o que farei para aquele cafajeste cair do cavalo e ir embora? Depois pensarei
num plano. No momento, o mais importante é eu me concentrar no ensaio
fotográfico. Estou tão ansiosa e animada!
No domingo de manhã, eu visto uma calça e uma blusa simples –
graças a Deus a agência fornecerá as roupas, o maquiador e o cabeleireiro –,
tomo o café e aproveito a presença da Suellen na mesa para convidá-la a me
acompanhar até o ensaio. E é claro que essa maravilhosa não deixou de
aceitar. Sou tão grata por ela.
— Você acha que vai ser como? De lingerie?
— Não, não, a agenciadora Rose me informou que será looks casuais
e sexy.
— Nossa, que incrível. Eu já estou roendo as unhas. Vai arrasar!
— Obrigada, amiga. Espero que ocorra tudo bem! — Meu estômago
está se revirando de tanto nervosismo.
Ao chegarmos na agência, eu sou recepcionada por dois jovens. Eles
me levam até o estúdio onde também se encontra a dona Rose, o fotógrafo, o
maquiador, entre outros assistentes.
— Olá, Eloíse? Como vai? Pronta para começarmos? — Empolgada,
Rose me dá três beijos no rosto.
— Olá, Rose. Claro que sim. Mas confesso um friozinho bem
incômodo de ansiedade na barriga.
— Não se preocupe, linda. Se sentirá em casa. Você vai fazer o
cabelo, a maquiagem, enquanto eu e a Lola separamos as peças que usará no
book. Ok?
— Ok! Antes, eu gostaria de apresentá-la a minha melhor amiga. Esta
é Suellen.
— Ah, sim. Olá, Suellen — Rose a cumprimenta. — Sinta-se à
vontade, se desejar, pode ficar ali com as meninas. Temos vários quitutes.
— Obrigada.
Ellen me deixa e eu sigo até a cadeira do maquiador e o cabeleireiro.
Quando estamos prontos, no estúdio e no decorrer dos clicks, eu vou
me soltando cada vez mais. Eu me rendo aos pedidos da Rose e do Gabriel, o
fotógrafo. E como ela garantiu, eu me sinto literalmente em casa. É como que
se eu tivesse nascido para estar aqui, para estar de frente para esta lente. E a
trilha das músicas só me faz acreditar nisso. Eu me sinto poderosa, dona dos
próprios sonhos. Estou realizando uma parte de tudo aquilo que eu mais
almejei antes de dormir.
— Nossa, Eloíse, amiga, eu estou no chão. Você é demais. Acredito
que nenhuma das fotos tenha saído defeituosa.
— Você achou que eu fui bem?
— Menina, eu não disse? Tu foi uma rainhaaaa! E a agenciadora tem
completa razão.
— Para de ser exagerada. E razão do quê? Vocês conversaram à sós?
— Sussurro para ela não ouvir.
— Não. Enquanto você estava fotografando, a mulher não parava de
fazer elogios e murmurar que "essa garota" tem futuro. E tem amiga, você é
linda. Por favor, quando ficar famosa, não esquece das amizades aqui, tá?
— Ah, sua bobona!
Ao me trocar, eu e a Suellen nos despedimos de todos. Não tendo do
que nos queixar de nenhum. Eles foram uns amorzinhos comigo. Educados,
carinhosos e profissionais, me trataram melhor do que eu mesma imaginava.
Inclusive, Rose!
— Vamos almoçar na pensão, Eloíse?
— Não, vamos sair para comer no shopping. E olha, relaxa, não se
preocupe.
Ellen franze o cenho.
— Me preocupar com o quê?
— No final do almoço, eu não vou ir ao banheiro... prometo.
— Nossa, sua cachorra! — Ellen revira os olhos, enquanto eu aperto o
volante, caindo na risada.
— Acabou? — Ela se referiu a minha crise de risos. — Fica aí
zombando da desgraça alheia, fica.
— Mas, Ellen, não é possível que possa existir homens tão descarados
assim. E eu sei que acontece de tudo no mundo, todavia, logo com você?
— Afff... Só que aconteceu, né, não seja inocente. Eu levei um
prejuízo de mil reais. O meu salário das férias inteirinho roubado numa única
noite. E por um homem bonito. Puta azar que eu passei no débito!
— Eu sinto muito, amiga. Tem que ter calma, logo, logo você
encontrará uma pessoa boa. Que valorize esse mulherão do caramba que você
é.
— Ah, vou sim. Me diz quando? Eu estou envelhecendo.
Eu volto a cair na risada.
•••
No shopping, famintas, a gente vai passando pelos restaurantes e
quiosques, sem decidir ainda qual escolher.
— Eu estou quase entrando no McDonald's.
— Ellen, não torture a minha dieta. Por favor.
— Você merece sofrer por ficar zombando da “amiga trouxa”.
— Larga de drama. E ... ah... este tem comidas saudáveis. Vem...
Eu a puxo para dentro e depois de nos servirmos e pagarmos,
pegamos nossas bandejas e escolhemos uma mesa "quase" vazia na praça de
alimentação — está lotadérrimo, tivemos é muita sorte.
— Você viu? As pessoas não pararam de te olhar. E óbvio, você já é
linda sem nada, com essa maquiagem ficou chamativa!
— Agradeço a sua observação. Eu nem reparei. Eu quero é comer.
Ela rola os olhos e então comemos feito duas condenadas. E quando
terminamos, imediatamente aparece uma senhora pegando as bandejas e
limpando a mesa para podermos desocupá-la. Não tivemos tempo nem de
respirar.
— Misericórdia, eu não consegui nem tomar todo o suco.
— Nem eu. — Rimos. — Quer sorvete?
— Sim. Que tal aquele perto da segunda saída? É maravilhoso os
sabores.
— Por mim, tanto faz.
Descemos na escada rolante, observando muitas crianças brincando
num tipo de pista gigante de corrida, entre outras diversões infantis. Talvez
seja esse o motivo do shopping estar tão lotado.
— Não dá saudade dos pestinhas?
Eu sorrio para Ellen, confessando que sim. Eu amo crianças. Eu só
não sinto mais saudade da profissão de ser professora. Esse foi o sonho
insano da minha mãe, jamais o meu. Entretanto, dos menininhos e
menininhas, eu amava vê-los, estar na presença de tanta inocência.
Ao virar para a direita, conversando com a Suellen sobre alguns
planos, eu desvio o olhar tão veloz que confundo ter visualizado, entre
inúmeras pessoas, um ser idêntico ao diabo do Felipe. Sem acreditar, talvez
delirando, eu me nego a voltar a olhar para ter certeza. Não é possível eu
estar louca desta forma. Eu não aceito. Esse homem é um cafajeste que vai
sair dos meus pensamentos e da minha vida!
— O que acha, Eloíse?
— O quê? — Eu olho para Suellen. — Eu acho o quê?
— O quê, o quê? Não estamos falando dos nossos planos futuros. Está
tudo bem?
— É... sim. Estamos, eu boiei sozinha. Foi mal. Você falava da sua
faculdade?
— Sim, eu queria destrancar a matrícula e voltar a estudar. Minha
vida melhorou com o trabalho no Pet Shop. Eu consegui arrecadar uma boa
grana. Daria até para pagar os dois anos restantes.
— Ah, é óbvio que eu apoio. Só que parte o coração de você sair do
serviço. Os donos te consideram como uma filha. E já trabalha naquele lugar
há oito anos.
— É, mas será que não ficaria pesado demais a carga horária de
estudos com o... — instantânea, Ellen para de falar e arregala os olhos.
— Ellen? O que foi?— Sem entender, eu também paro e seguro no
braço dela. — O que aconteceu?
— E-eu não acredito. — Então, Ellen volta a conversar, emociona. —
Eu não acredito, Eloíse! É ela!
— Ela quem? — Eu viro a cabeça para entender... e vejo de quem a
minha amiga está falando. Meu Deus! Mesmo de óculos escuros, é
impossível não reconhecer.
— Clara Collins! — Ellen quase grita. — Você está vendo? É a
Collins. É ela!
Ellen é menos louca por moda do que eu, entretanto, Clara Collins,
uma das maiores Desing de moda do Brasil e da América Latina, admirada
por seu talento, tem a fã mais insana, doida e obcecada do mundo. Se fosse
possível e barato, Suellen comprava todos o vestido da marca Diamante
Collins.
— Vamos lá, por favor, vamos lá dar pelo menos um oi. Eu vou
morrer do coração!
— Calma, Ellen. — Sem esperar, ela me puxa desesperadamente. —
E se ela odiar que a importune? Ninguém gosta de ser incomodado. Hoje é
domingo... e... — Ao observá-la de novo, a cena de um homem entregando
uma criança nos seus braços me deixa sem saber agir. Meu coração acelera e
eu perco a vontade de existir, de ser visível. — Ellen, para! Ellen, me solte!
Por favor, me solte!
Sem evitar, sem ter para onde correr, o homem inclina o rosto e
consegue me reconhecer. Eu balanço a cabeça, desvio dos seus olhos e puxo
meu braço com veemência, quase derrubando Ellen no chão.
— Ai, Eloíse. Que foi? Não podemos perder esta oportunidade. Por
favor. — Ela pega outra vez na minha mão e desviando de algumas pessoas,
consegue me carregar a força.
Sem escapatória, eu a deixo. Que desespero. Como eu não liguei os
traços da cruzada antes? Eu lembro do registro do seu nome e sobrenome na
pensão... Felipe Alencar. E eu sei tudo sobre esta mulher, mas não tive a
capacidade de ligar os sobrenomes. A esposa, Clara Collins Alencar.
Ao pararmos na frente deles, eu encaro a face do cretino.
— Eloíse? — Felipe questiona meu nome, sem surpresa, sem medo,
sem remorso.
Ele segura a mãozinha de dois meninos iguais. Clara Collins nos
encara com a outra criança no colo. Ela ergue o óculos e olha-me com seus
olhos verdes, depois para Ellen..
— Oi, eu sou Suellen, não queríamos te perturbar, ou estragar o seu
domingo. Mas poderíamos tirar uma foto conosco, senhorita Clara? Quero
dizer, podemos tirar uma foto com você? Eu e a minha amiga Eloíse somos
as suas maiores fãs. Eu sou louca pela marca Diamante Collins, e eu a admiro
muito. Sua biografia, eu sei de cor.
— É... Oii... — Ela só consegue dizer, após sorrir em meio ao
derramamento de palavras de Ellen.
Já eu não tiro os olhos do Felipe. Com nojo dele. De ser tão
mentiroso. Sem caráter!
— É claro, é claro que podem. Vocês não atrapalham em nada, que
isso. É um prazer.
Felipe sorri.
— Como vai, Eloíse?
Não respondo. Como ele ousa? Ao lado da sua própria mulher.
— Deixa eu pegar meu celular. Estou tão nervosa. Desculpa!
— Tudo bem.
— Acho que o nosso mundo é pequeno mesmo, né?
Ele continua falando comigo?
— Pela quinta vez, é inacreditável!
A senhorita Collins nota Felipe e seus comentários. Pois o encara, em
seguida, a mim. Eu fico nervosa.
— Vocês já se conhecem?
— É óbvio que sim.
— Não... Desculpa!
— É claro que nós conhecemos.
Ellen nos observa, chocada.
— Você conhece a família da senhorita Collins, Eloíse?
— Eu não! Eu...
— Não teima como sempre, Eloíse. Somo ótimos amigos.
— O quê? Cala a... — Eu fecho os punhos. — A-a gente não é nada.
Sinto muito, senhorita Collins. Eu e o seu marido não....
— Marido? — Ela me interrompe e então olha para o Felipe. — Eu
casada com esse tipo? — E começa a rir.
— Ei, que isso? Eu sou um príncipe, Clara. E como assim, Eloíse?
Você é foda, já te disse um milhão de vezes que não sou casado. Nem tenho
filhos!
— Eloíse, o que está acontecendo aqui? — envergonhada, eu só sinto
vontade de fugir. — Você é o irmão do senhor Fernando Alencar, não é?
— Sim, ele é. E eu não estou entendo o motivo dessa situação.
— Nem eu, senhorita Collins.
O cretino do Felipe só saber rir feito um idiota.
— Eloíse achou que eu fosse o Fernando. Mas essa é a minha
cunhada e esses são os meus sobrinhos. Eu nunca fui casado.
Minhas bochechas queimam, minhas mãos soam frias. Eu quero matá-
lo!
— E por que você achou isso, Eloíse? — Senhorita Collins questiona
desconfiada do Felipe.
— Por nada! — Ele responde no meu lugar. — Somos amigos, bons
amigos.
— Mamãe... — as crianças a chamam, emburradas.
— Ellen, vamos tirar essa foto logo e parar de importunar a senhorita
Collins. Desculpa.
— Não precisa se desculpar — ela continua a me observar
desconfiada.
Meu Deus, o que ela está pensando de mim? Que vergonha, que
vergonha.
Tiramos a foto. E quando estamos indo, Felipe me para e agarra a
minha mão. Eu arregalo os olhos, desconcertada.
— Eu só queria dizer tchau... para a sua amiga também. — Ele não
olha para Suellen.
Felipe sorri e então me solta.
— Tchau, senhorita Collins. Foi um prazer conhecê-la. É
maravilhosa. É mais linda ainda pessoalmente.
— Igualmente, meninas. Tchau, tchau!
Eu vou embora sem conseguir encarar Ellen. Sem conseguir acreditar
no que fiz. Eu não sei se eu estou mais apavorada por ter deixado uma má
impressão para Clara Collins, ou pela vergonha de ter achado que Felipe era
o marido dela e o pai dos seus filhos, sendo que ele era o cunhado. Meu
Deus.
— Eloíse... — Minha amiga suspira. — Você sabe que tem muita
coisa para me explicar, né? Eu não acredito que você era amiga daquele
bonitão, nunca me disse nada. Ele parece um modelo de capa de revista. Sem
falar que é o cunhado da senhorita Collins Alencar. E que história é essa de
você ter achado que ele era casado com ela?
Eu só respondo Ellen após compramos os sorvetes para esfriar a
cabeça e o corpo.
— Você... achou que ele fosse o marido dela também?
— Bom... ao chegarmos sim. Mas depois eu notei que não era, pois eu
já vi a foto dele. Pensa num boy divino. Santo amado. Viu aquelas crianças?
Não saíram de um útero, foram desenhadas a pincel. E entre os dois irmãos,
difícil decidir qual é o mais gato, né?
— Eu não sei, eu nunca vi o marido da senhorita Collins. — Por mais
que eu não queira pensar, meus pensamentos insistem em lembrar do toque
do Felipe e na sensação de alívio ao descobrir que ela não era a sua mulher.
E sensação de alívio por ele não ter mentido, claro. Claro, Eloíse! Eu
odeio ele! Com todas as minhas forças.
Capítulo 12

Ao chegar na pensão, eu subo para o quarto, tomo banho, troco de


roupa, só que sem vontade de descer outra vez, eu permaneço na cama,
arejando as ideias. Na verdade, pensando naquele micão idiota no shopping
com a senhorita Clara. E por conta do Felipe.
Eu mudo os pensamentos quando uma mensagem vibra no meu
celular e me faz levantar para pegá-lo e lê-la.
"Boa tarde, meu amor. Que tal nos encontrarmos hoje às 20h30?
Estou com saudades. Te espero aqui em casa."
Eu sorrio para a mensagem do Mariano. Faz tanto tempo que não
ficamos juntos.
"Também estou com saudades, meu amor. Posso chegar 21h? Tenho
que levar Otávio num lugar. Ele me pediu esse favor."
Acho que era disso que eu estava precisando; do meu noivo. De
termos uma noite bem romântica e apimentada — ah, e essa apimentada será
minha.
"Ok. Estarei te aguardando."
"Hummm... e o que o senhor planeja de especial para nós?"
Mariano não responde, apenas visualiza a mensagem e me deixa no
vácuo. Eu rolo os olhos, fingindo costume. E animada, eu me levanto
sorridente.
Vamos escolher qual será a lingerie e o vestido sexy para esta noite.
Quero deixá-lo louquinho.
Às 19h45, Otávio vem bater na porta. Ainda finalizando a
maquiagem, eu peço para ele esperar só mais dez minutos.
— Caralho, maninha. — Ele me analisa, enquanto eu desço os
degraus. — Vai trabalhar comigo esta noite?
Eu sou obrigada a rir.
— Não! Eu vou me encontrar com o Mariano.
Escolhi um vestido justo, vermelho, com as costas nuas e decote
profundo nos seios. Sem necessidade da peça do sutiã.
— Não quero nem pensar no que vão aprontar esta madrugada.
— Muitooo amor, maninho. Muitooo amor!
— Não seria foda?
— É claro, meu doce — eu pisco.
Ele finge vomitar, em seguida, caminhamos abraçados para a
garagem.
— E que lugar é este, que o senhor tanto deseja que eu o leve?
— É perto do centro. Vou compartilhar a localização no GPS e você
segue a rota. Ok?
— Tá bom!
Ele configura para eu seguir no tal endereço. E meia hora depois,
descubro que é num condomínio conjunto residencial, luxuoso. Evitando
fazer perguntas, eu apenas deixo o sem vergonha na frente do condomínio e
parto para a casa do Mariano. Quando chego, pela janela da sala, eu noto tudo
escuro. Desconfiada de alguma surpresinha, eu desço do veículo, arrumo o
vestido e aperto a campainha ao lado do portão.
Pai amado, o que esse homem vai aprontar? Ele é muito romântico.
Foi assim que me conquistou. Nunca resisti a suas flores, chocolates e os
jantares a luz de velas.
Sem resposta, eu aperto de novo. E desta vez, a luz do seu quarto
acende, entretanto, ele ainda não vem abrir o portão. O que houve?
Sem entender nada e ansiosa, eu resolvo entrar.

****

Após Eloíse virar as costas, Clara me olha racional. E feito uma


raposa, já deve ter catado as coisas pelo ar. Essa cunhadinha é esperta.
— Felipe, Felipe. Tem algo que o senhor queira me esclarecer?
— Eu? Logo eu? O que eu teria para esclarecer, meu anjo?
— Por que aquela moça achou que você fosse o meu marido?
— Eu...
— E... — ela exclama caminhando, ainda sem terminar de falar — e
que história mentirosa foi aquela de amiga? Os homens "Alencares" não tem
amigas. Ou é esposa, no caso, eu do Fernando, ou só ficantes... vagabundas
oferecidas das noitadas! — Clara murmura.
— Bom, é uma longa história. Mas só contarei se você me ajudar.
Foi muito... muito não. Foi maravilhoso saber que Eloíse é fã da
Clarinha.
— Não creio que você queira a minha ajuda para levar uma mulher
pra cama e na manhã seguinte abandoná-la. Pois se for esse o plano, nem me
pagando!
— Nem é para isso... — porra, é sim.
Clara é difícil de convencer. Prometi que ficaria com os meninos uma
semana, dando a oportunidade dela e do Fernando foderem sem interrupções,
em troca da ajuda. Pelo contrário, ela me bateu na cabeça com o brinquedo da
bebê. Caramba, acho que essas mulheres são tudo unidas, mas a cunhadinha
seria só o plano reserva. Caso o primeiro falhe.
E ela não pode falhar. Eu preciso tirar logo Eloíse dos meus desejos
insanos.
No jardim da pensão, eu caminho de um lado para o outro. Que porra!
Eu me sento na espreguiçadeira e olho para as mensagens no celular. Desta
vez... tendo a certeza de que garanti meu lugar VIP no inferno. E sem check-
in.
Eu me levanto e decido ir até a cozinha tomar um copo de água.
— Boa noite! — Quando estou no bebedouro, ouço uma voz.
Ao olhar para trás, vejo ser dona Aurora
— Boa noite, senhora Aurora.
Ela sorri.
— Eu sinto muito por ser pego na sua cozinha.
— Que isso, filho. Fique à vontade para tomar a sua água.
— Eu agradeço, mas não acontecerá outra vez. Eu sou um hóspede e
devo respeitar os meus limites.
— Não se preocupe, por favor. É bem vindo. Pode retornar a cozinha
quando desejar.
Eu assinto.
— Vou subir. Só vim fazer a ronda diária da pensão. Com licença,
querido.
Ela se retira, deixando-me com meus demônios particulares. Nervoso,
eu vou até a mesa pegar uma maçã. Entretanto, um estrondo longínquo me
faz parar no meio do caminho. Eu chamo a atenção para deduzir. Comparo o
som a um objeto sendo estilhaçado. Que ótimo momento para ter deixado a
arma lá na cama. Desistindo da fruta, eu saio, passando pela antessala, antes
da verdadeira sala dos hóspedes. Ao atravessar o hall, analisando o local, eu
sou apanhado de surpresa.
— Eloíse?
Ela está sentada no chão, perto da saída da área de lazer, com a mão
no rosto, chorando.
— Eloíse! — Preocupado, eu me aproximo para poder ajudá-la a se
levantar.
— Sai daqui, Felipe... me... me deixa. — Ela gagueja, sem me olhar.
— Só quero ajudá-la. Têm hóspedes acordados. E a sua vó...
— Vai embora!
Eu percebo que foi ela quem fez todo o barulho, pois tem pedaços de
vidro na varanda.
— Não está bem?
— Não...
— Deixe-me te ajudar a subir? Por favor!
— Não, não precisa... E-eu vou pro jardim. — Eloíse tenta se levantar
e mesmo sem permitir, eu a ajudo. — Eu quero ficar sozinha. — Ela, então,
me encara e a porra dos meus dedos se fecham. Eu fervo de fúria.
— O que é isso no seu olho?
— N-nada. — Ela protege o olho e vira as costas, quase correndo.
— Porra! — Só que eu a alcanço e a agarro feroz. — Quem te bateu,
Eloíse?
— Ninguém me bateu... ninguém! — Ela chora, empurrando meus
braços. — Ninguém... Droga, Felipe! Que merda!
Eloíse para, sem saber mais o que falar, e xingo, acolhendo seu corpo
num aperto tão forte que ela não contesta. Eloíse se encolhe, soluçando.
Quando ela não tem mais lágrimas para chorar, eu seguro a sua
cabeça.
— O que houve?
Ela não diz nada, apenas fita meus olhos.
— E esse olho roxo? Eloíse, eu estou falando com você... Quem te
bateu?
— Ninguém...
— Está mentindo. Porra... conte a verdade?
Sutil, ela respira fundo, segura meus cabelos e solta o ar, acariciando.
— Me beija, Felipe!
— O-o quê?
— Me beija, agora!
Eu a beijaria agora mesmo, só que a situação que se... Porra!
Eloíse puxa ainda mais forte meu cabelo e eu grunho de dor. Sem
evitar, irritado, agarro e devolvo seu puxão com mais força, mergulhando
minha boca nos seus lábios e penetrando a língua com eloquência. O beijo é
molhado, mas ela volta a chorar.
— Elô... — ela finca as unhas nos meus ombros, não deixando que eu
pare.
Eu toco nas suas costas nuas, sentindo a carne, a quentura e a maciez
da sua pele. Ofegante, ela joga a cabeça para trás e volta aos meus lábios
famintos, quase me empurrando pro chão.
— Eloíse... — eu a freio pelos fios, segurando nossos impulsos.
Que caralho... eu estou me sentindo um bosta. Um tremendo
desgraçado.
— Não era isso que você queria, Felipe? Não era a mim? Então não
pare, pois eu estou me entregando a você!
Engulo em seco e ela se emociona.
— Eu jamais fui beijada desta forma... Com tanto desejo e vontade. E
você tem que ir até o fim. Não pode parar. Me mostre o que tanto almeja!
Porra. Eu a desejo. Eu a desejo com um louco.
— Não tem nada que nos impedirá, Felipe. N-não tem. E eu preciso
disso.
Com os músculos rígidos, sem conversa, eu conduzo Eloíse até a
ponte da piscina. Pressiono seu corpo contra o corrimão e provo novamente
dos seus lábios. Beijo-a como se fosse o último e ao mesmo tempo, o
primeiro beijo da minha vida.
— Eu não vou parar, Eloíse! — sussurro, colando nossas testas e
deixando-a deslizar as mãos pelo meu abdômen. Está afobada.
Eu pulso. Desço sua mão e paro em cima do volume da minha calça.
— A-aqui... — ela geme, sem fôlego. — Aqui não, os hóspedes
podem nos ver da janela.
Eu encaro os olhos de uma mulher sem pudor. Uma mulher escondida
atrás de uma aliança. Capaz de qualquer coisa. Tacando o foda-se no caralho
da culpa, vou para o outro lado da academia, onde fica uma pequena cabana
de ferramentas. Atrás dessa casa, ela tira os saltos e eu avanço. Levanto
Eloíse do chão, esfregando-me como um tarado faminto. Ela range, agarrada
a minha camisa, e pressiono seus seios para fora do decote. E com
insegurança dela desistir, a sugo. Lambuzo cada pedaço de pele. Mordo seus
mamilos rosados e a afago por debaixo do tecido da calcinha, doido para vê-
la cavalgando no meu pau.
— Felipe... — ela rebola, almejando por meus dedos.
Coloco-a de pé na grama. E ainda inseguro, não perco tempo, tiro a
camisa, ajoelho-me com fogo nos olhos e encaro suas íris, enquanto removo a
calcinha, descendo-a pelas suas pernas. Necessito de prová-la! Porra, eu
necessito. Ela segura meus cabelos e abocanho a sua boceta melada. Eloíse se
esfrega na minha língua que vai bem funda, penetrando-a.
Descontrolada, sem saber se geme ou respira, eu faço movimentos
circulares. E quase me deixando careca, a loira geme. Permaneço, deliciando-
me do sabor que noites e mais noites que estremeci só de imaginar.
Ofegante, ela continua apoiada em mim. Sem dizer nada, levanto-me,
abaixo a cueca junto com a calça e prendo-a para provador do seu próprio
gosto. Eloíse suspira e toca-me com a mão trêmula. Mesmo assim, eu, por
pouco, não gozei. Já desnorteado, pego essa gostosa com força e sento-me na
grama, amparado com as costa na parede.
— Eloíse, porra, eu vou entrar de uma vez em você! — Aviso a ela,
desejando ter o caralho de uma luz para ver a cara de tesão dessa mulher.
— Fe... — então, agarro nos seus quadris e desço a sua boceta de uma
vez só no meu cacete.
Eloíse grita, em desespero. Permaneço a prendendo para não sair, com
dificuldade, pois filha de um mãe. A mulher é apertada, extremamente
apertada. Caramba... Ou seria meu... Eu abro a boca, tendo um mini AVC.
Eloíse começa a cavalgar, chorar e gemer. Ela fica louca, sobe e desce
intensamente, dançando sobre o meu pau. Apanho seus fios, jogo a sua
cabeça para trás e chupo seus seios enquanto rebola, castigando-me.
— Caralho... — abocanho também seu pescoço.
Seus gemidos se transformam em gritos. Eloíse continua a cavalgar.
— Ah, Felipe! — Choraminga.
Eu meto o dedo no seu cuzinho e a foda só fica mais sensacional. A
loba perde a voz. Nossos corpos se grudam de suor. Ela contrai a bunda.
— Ah... Mete, Felipe, mete, seu cafajeste!
Ao ouvir essa frase inacreditável, eu desconheço o limite. Eloíse é
jogada na grama e eu deito, afundando... a porra do caralho tão fundo, que
chegaria no útero. Noto-a perder as forças. A loira parece ficar branca, sem
oxigênio e chora.
— Eu estou gozando... Ah, mete, seu tarado, mete e oohh... goza em
mim!
Sem suportar o que diz, descrente de ser a mesma Eloíse, e sem
segurar a desgraça do orgasmo, estoco mais três vezes e na última, explodo
de porra dentro da sua boceta. Transborda leitinho. Nossos prazeres de
misturam feito mel. Ela fecha os olhos e abre os braços, desabando no mato
pinicante. Já eu destruído, desabo sobre o seu corpo.
— Eloíse... que caralho de mulher você é?
Ela não responde. Eu ergo a cabeça e Eloíse me puxa para beijá-la.
— Uma mulher livre! — Ela brada rouca, voltando a me beijar e se
esfregar.
Capítulo 12. Parte II

Algumas horas antes...

Parada na frente da porta principal, eu dou duas batidas e percebo-a só


encostada, então a abro. Mariano, Mariano. O que terá em mente? Eu
caminho para dentro da sala.
— Amor...?
Observo a única iluminação do local vir só do seu quarto. Sorrio.
— Cadê você? Nem cheguei tão atrasada...
Eu caminho lentamente pelo corredor... apoiada com a mão na parede.
— Amor... — ainda sorrindo, eu paro na frente do seu quarto. — M-
ma... — E meu semblante recai. Com o corpo em choque, seguro-me no
batente.
Ele ergue a cabeça e arregala os olhos.
— Eloíse! Mi-minha mulher — ele tenta pular da cama, mas desaba
tonto para o lado da escrivaninha, destroçando-a em pedaços.
— O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?!
A vagabunda protege a nudez com o lençol.
Sem acreditar, eu começo a chorar.
— COMO TEVE A CORAGEM, MARIANO?!
Nu, ele se coloca de pé com a ajuda da cama.
— Eu... eu não fiz nada — gagueja alcoolizado.
— SEUS NOJENTOS, SUA VAGABUNDA!
Nervosa e desesperada, quando dou por mim, eu estou voando sobre
os cabelos dela, sobre o corpo da desgraçada, estapeando a cara de cachorra
com força.
— Aaaah, me solta, sua puta! Eu não sabia que ele tinha namorada!
— EU SOU A NOIVA, SUA VADIA! A NOIVA!
— Elô... Eloíse — Mariano tenta me agarrar, mas também é
esbofeteado.
Eu choro. Não quero acreditar que isto esteja acontecendo na minha
vida. Eu não quero.
— Vo-você precisa ouvir, amor. — Ele me puxa.
A vagabunda foge, sangrando.
— EU TE ODEIO! SEU CRETINO! COMO PODE, COMO PODE
FAZER ISSO COMIGO?! EU ACEITEI ME CASAR COM VOCÊ! EU TE
AMAVA! — Eu choro, socando as costas dele. — MANDOU AQUELA
MENSAGEM SÓ PARA EU PEGÁ-LO NA CAMA COM OUTRA???
Mariano tosse, tonto, e agarra-me pela cintura, eu o afasto, com ânsia.
— Eu não... — ele bambeia — Eu não fiz... foi ela... — e aponta para
a amante.
— MENTIROSO!
Isso não pode estar acontecendo. Não, isso não pode estar
acontecendo comigo. Meu Deus.
Desesperada, eu me levanto.
— Eu sinto muito pelo seu noivo... eu não sabia. Ele me enganou.
— Cala a boca, é mentira. Por favor, nã-não escuta ela, amor, não
escuta — Mariano aperta meus braços. — Eu te amo.
— VOCÊ NÃO ME AMA! ME SOLTA! — Grito, empurrando-o
novamente.
— Ela... ela apareceu na minha cama. Eu não encostei um dedo.
— Eu quero sair daqui, eu quero vomitar. Não suporto mais escutar a
sua voz, olhar para a sua face de traíra!
— Não pode me deixar, eu não fiz nada, eu te amo!
Trêmula, eu quase saio correndo. Entretanto, ele volta a segurar na
minha cintura, com veemência e puxa meu cabelo.
— NÃO! EU QUERO QUE VOCÊ MORRA! — Declaro com nojo,
raiva.
Viro e chuto as suas bolas, fazendo-o bater o cotovelo no meu olho
direito antes de cair sobre o tapete.
Lutando contra a dor, eu me afasto para reconquistar os sentidos. E
reconquistando, com as pernas bambas, cuspo nele e fujo para fora, em
lágrimas.
______________________________________
Momentos atuais...
Sentada na grama, no meio da noite escura, eu olho para as estrelas.
Em seguida para o Felipe.
— "Quando a vida te derrubar no chão, vire para cima e olhe as
estrelas".
— Como disse?
— Meu pai vivia repetindo essa frase para mim e o meu irmão. Mas
acho que só agora eu pude compreendê-la. — Eu me levanto... e arrepio-me
ao sentir o prazer do Felipe escorrer entre as minhas coxas.
Ele também se levanta, sem notar meus tremores, e ajuda-me a
colocar o vestido para, em silêncio, voltarmos caminhando pelo jardim.
— Você já amou alguém, Felipe? — pergunto sem encará-lo, mas
sinto que a pergunta o deixou sério.
— Não. O amor é um comediante, o qual jamais permitirei de fazer
piadas de mim.
— Vo-você não acredita no amor?
— Não. Na verdade, a vida só me mostrou o contrário.
Triste por, no fundo, ele ser tão sombrio... eu me crucifico, com
inveja de não ser como ele. Fria e sem sentimentos.
— O que aconteceu com o seu olho?
Ao pararmos na luz da cozinha, eu engulo em seco. Felipe encara
meus olhos, enquanto eu caio na realidade. Me entregar para ele não muda a
dor, a raiva, o nojo. Tudo continua igual.
— Eu achei que... — me afasto. — Eu achei que me entregando para
você, mudaria algo...
— Mudaria o quê? — Felipe toca a pálpebra do meu olho, puxando
meu corpo, e mordisca minha orelha. Arrepio-me, esquecendo de que um dia
já tive pernas. — Você é maravilhosa, Eloíse. Porra... continuo louco por
você. Maluco!
— Ma-mas não vai se repetir.... o que fizemos. Eu só queria...
Droga, eu agi no calor do momento, eu só queria me vingar do
Mariano. Pagar na mesma moeda. Agora, depois de ter feito como ele... eu
não sei... eu não sei o que mudou. Ou se mudou. Felipe é... quente e feroz,
pude comprovar na prática, extremamente bom no que faz. Pelo menos,
fazendo sexo ele é.
— Eu vou te ajudar, Eloíse — Felipe declara, como que se atualizado
dos meus problemas internos. — Pois, sem dizer, eu sei que você gostou.
Você é uma loba, pronta para ser solta. Loba essa que eu adoraria ver do que
é capaz.
Sem querer, eu coro envergonhada e o afasto, recompondo-me.
— Não Verá! Fo-foi até legalzinho. Mas não quero outra vez. —
Incomodada pela pequena ardência entre as pernas, omiti o "legalzinho".
Foi o melhor sexo da minha vida. Felipe é experimente e tem um pa...
ele tem proporções que, bem... Merda, eu confesso, ele quase me esfolou.
Quando toquei no seu pau, não acreditei naquilo, eu queria ter uma luz para
vê-lo na hora... Eu quero. Não, não quero!
— Adeus!
— Eloíse... Que merda tu disse? — Felipe me agarra por trás. —
Legalzinho?
— Tire as mãos de mim.
— Eu poderia te dar outra foda bem legalzinha nesta mesa. Só para
vê-la pedindo uma cadeira de rodas amanhã!
Ele me solta e eu fico sem coragem de rebater seu rancor de macho
alfa, ferido. Parece disposto a cumprir o que disse.
— E peço que coloque qualquer coisa gelada neste olho roxo, pois
está inchando. Boa noite... droga. — antes dele sair, eu o ouço xingar.
E só, abandonada, pego um pedaço de bife e caindo em si, sento-me
no chão. Eu fui traída pelo homem que amava, e de vingança, dei meu corpo
de bandeja para o homem bonito, que tanto desejava me comer. E então?
Então o que sobrou?
Uma trouxa, uma mulher sem valor para nenhum deles. Eu choro,
com raiva de ser tão burra.
Capítulo 13

Na cama, eu observo a luz do sol atravessar as cortina e refletir no


chão. Extremamente cansada, com dores nas pernas, fecho os olhos. Conto
até dez, então, num estalar dos dedos, minhas lembranças estampam mil
vezes tudo o que aconteceu ontem. Eu abro os olhos. Com a mão na cabeça,
sento-me na beirada da cama.
— Bom dia!
Viro para o lado da porta e vejo o Felipe escorado nela, de braços
cruzados. Desanimada, não faço questão de repreendê-lo.
— Como se sente? — Felipe se aproxima.
— Ótima. — Dou de ombros, sem coragem de encarar seu semblante
bonito.
Que está ao contrário da minha realidade; horrível por dentro e por
fora.
— Seu olho me parece melhor. Colocou gelo?
Consinto, envergonhada.
— O gelo ajuda a diminuir o inchaço e a vermelhidão. A água quente
na circulação sanguínea do local. Digo como um profissional em se foder.
— Isto foi um incidente, não se preocupe. Obrigada pela visita e
atenção, mas pode ir embora.
— Seu noivo está lá embaixo — Felipe revela, fazendo-me engolir
em seco e arregalar os olhos.
— E-eu... eu não quero falar com ele! — Nervosa, levanto-me, mas
recordo de estar trajando só uma regata e uma calcinha de fio. Rápida, puxo o
edredom.
— Sai daqui, Felipe!
— O quê?
— Sai daqui, anda! Eu preciso me arrumar!
— Loira, eu te vi em condições piores... ou melhor, em condições
maravilhosas.
Taco meu travesseiro nele.
— Só que não vai se repetir de novo, seu libertino. Cafajeste! E some
do meu quarto agora, ou eu te taco este abajur — esbravejo, pegando o
objeto.
— Não duvido, é uma histérica.
— Vai logo, Felipe!
Rindo, o diabo sai fechando a porta. E irritada, eu caio outra vez sobre
o coxão. Felipe deveria ter nascido feio, e sem os dotes masculinos que deve
se achar por aí. Minha intimidade ainda arde. Ontem foi... maravilhoso, sem
palavras.
— Ah, não... olha no que você está pensando, Eloíse! — murmuro.
Mas quem sabe ter transado com o Felipe não tenha me consolado?
Não sinto mais vontade de chorar. Eu só quero vingança, só vingança por
Mariano ter me feito pegá-lo na cama com a vagabunda da amante. Um ano e
nove meses jogados no lixo. A quanto tempo será que eu vinha sendo
enganada? O que eu deveria fazer era denunciar o olho roxo.
Jogo a aliança de noivado bem longe, não tem nem quatro meses que
eu aceitei o pedido. Triste, troco de roupa, tomo o anticoncepcional e peço
forças para erguer a cabeça e não sucumbir às lágrimas de decepção.
Nos degraus da escada, noto só os passarinhos cantando no jardim. Na
sala, dois hóspedes idosos folheiam uma revista de turismo. Passo por eles,
correndo para a garagem.
— Onde vai? — Levo um susto quando Otávio questiona, antes de eu
entrar no carro.
Olho para ele e para a moto enorme, da cor preta, a qual está sentado
em cima.
— Vou sair... Onde o senhor arrumou isso, Otávio?
— Isso... — Ele alisa o tanque da moto com uma flanelinha laranja.
— É o meu mais novo bebezinho. Gostou?
— É bonita. Só não foi bonito a forma que você conseguiu a grana
para comprá-la.
Ele revira os olhos.
— Foi com trabalho árduo. Imagine agora quantas novinhas eu vou
pegar?
— Se a intenção era essa, deveria ter comprado um vara de pesca. Ou
quem sabe milho?
Otávio ri, levanta-se da moto, para ao meu lado e surpreendendo-me,
abraça-me. Sem reação, eu me aconchego, retribuindo o carinho.
— O que o Mariano aprontou? Ele saiu daqui agorinha, desesperado.
Dizendo que precisava falar com você urgente e voltaria logo.
— Eu não quero conversar com ele — digo com a voz embargada.
— O que foi, maninha? Ontem estava tão animada, se arrumou toda
para vê-lo. O que aquele professorzinho fez?
Eu me afasto dos seus ombros e pelos óculos, encaro suas íris azuis.
— Eu... eu fui na casa dele e quando entrei no quarto, encontrei o
Mariano na cama com a amante.
— O-o quê? Ele não... ele não fez isso! — Otávio abre a boca. —
Filho da puta! Eu deveria ter quebrado a cara daquele arrombado. Ter
expulsado ele à chutes!
— Eu não quero mais sofrer. A cena de ontem foi o limite de tanta
dor emocional. Já perdemos o nosso pai, a casa, os nosso pertences... E hoje,
não tendo o que perder mais, eu preciso reconstruir meu futuro, meus
sentimentos. Eu quero ser feliz.
— Você vai ser feliz. Mariano nunca te amou. Quer a real? Ele só
estava disposto a se casar com você porque é linda. Os dois viviam brigando.
E se aquele idiota aparecer outra vez na pensão, não se preocupe. Eu mesmo
o expulso.
— Agradeço, Otávio. Te amo!
— Eu também te amo. Vai ficar tudo bem. As coisas vão se resolver.
A intenção de sair de casa era só para não me encontrar com o
Mariano, estava com vergonha do olho avermelhado, parece bem perceptível
uma "surra". Espero superar esse acontecimento e voltar ao normal.
•••
Após a minha família e a minha amiga ficar atualizada do que me
aconteceu, durante uma semana, eu não fui mais importunada pelo assunto. E
felizmente, nem fui incomodada pelo Mariano. Desde aquela noite pego no
flagra, não conversamos mais. Acho que ele apareceu, contudo a minha avó e
o Otávio o expulsaram todas essas vezes e não me disseram. Eu fico
agradecida, imensamente agradecida. Não quero ver aquele desgraçado nem
pintado de ouro.
Hoje, sendo sexta-feira, "suplicando companhia", Ellen resolveu
surgir e me arrastar para uma festa. Não pude negar a droga da ordem. E está
um porre!
— Amiga, se anima. Os caras não param de te paquerar!
— Achei todos sem graça.
— O quê? Nunca negou fogo, criatura.
— Eu não quero. Não consigo me ver atraída.
— Deveria tentar. É uma ótima vingança — pisca.
Eu sorrio. Eu já me vinguei, pouco, mas eu já me vinguei. E agora,
antes dormir, nada daquelas sensações saem da minha cabeça.
— Eu vou ir ao banheiro retocar o batom. Já volto.
Consinto. Mas estando sozinha, os caras não perdem tempo em se
aproximar.
— Boa noite!
Analiso o belo homem que se apresenta e sem mandar, senta-se ao
meu lado no bar.
— Boa noite.
— Só estava esperando a sua amiga sair. Tudo bem? Sou Flavio!
— Tudo ótimo. Ela é minha namorada.
— Como? — O homem parece incrédulo.
— Sim. O senhor teria algum preconceito?
— É, é claro que não. Desculpa, eu só fiquei... surpreso.
— Ah, sim. Logo em pleno século 21?
— Sinto muito, moça, não tenho preconceitos. Peço desculpas outra
vez!
O rapaz se retira nervoso e eu caio na risada. Pelo menos serviu para
me divertir neste tédio de festa.
— Uau... incrível como a senhorita é malvada... — uma voz sexy
surge com seus lábios, sussurrando bem próximos do meu ouvido.
Arrepiando-me, inclino o pescoço e encaro seus olhos e a sua boca
atraente.
— Ainda não viu nada...
— Eu gostaria de ver. Está disposta a me mostrar?
— Não... o senhor já é passado.
Ele sorri lindamente e sem mandar, senta-se também ao meu lado,
puxando a minha baqueta para junto das suas pernas e o seu corpo cheiroso.
Ele parece que acabou de sair do banho. Está tão... sensual.
— O erro do mané foi simples... não era eu!
Eu caio na risada.
— Patético e convencido!
— Eu sou um anjo. — Felipe alisa minha coxa esquerda, quase
elevando-se.
— Me perseguindo como sempre? Até fiquei alegre... achei que você
teria ido embora da pensão. — Afasto seus dedos inapropriados. — Mas a
minha avó informou que você só estava viajando.
— Não era saudade? — Ele me fita galanteador. — Não posso
acreditar em outra coisa.
— Me poupe, né?
— Diga?
— Não!
— Então eu posso te confessar algo? — Dou de ombros e ele segura
meu queixo, chegando tão perto, tão intenso, que sinto a sua respiração. Ele
acaricia meus lábios. — Eu estava louco de saudade; saudade da sua boca, do
seu corpo, da sua pele. — Felipe volta a me tocar, caminhando os dedos entre
as minhas pernas. — Saudade do seu gosto... do seu sabor...
Arrepio-me, excitada..
— Azar o teu. Pois não vai se repetir. Você nunca mais vai me levar
pra cama.
— Nunca diga nunca. Pra cama não, mas posso te levar outra vez pro
mato!
— Cafajeste! — Empurro-o. — Ordinário!
O infeliz gargalha. Então num estalar dos dedos, volta, pegando-me
com força pelos cabelos e beijando-me de forma faminta, devorando meus
sentidos e a minha sanidade. Eu aperto seu peitoral rígido, sem ação. Felipe
varre toda a minha boca. Sua língua percorre cada canto, cada espaço.
— Você é o diabo... — gemo, tentando respirar.
— Eu te quero. O que tem a perder, Eloíse?
Após me morder, o homem me encara com a mão ainda entre meus
fios da cabeça. Eu estou ofegante. O peitoral do Felipe desce e sobe, como o
meu.
— Olha para o seu dedo. Não temos mais aquele banana para nos
atrapalhar.
— Co-como você...
— Eu sei de tudo sobre você! O que fez ontem, o que comeu hoje... e
o que vai comer daqui a pouco... — murmura malicioso. — Repito: não
brinco em serviço.
Felipe me solta. Eu me distancio, pensando estar caindo, porém,
retorno ao controle do corpo.
— Vamos para outro lugar mais reservado?
— A minha amiga... a Suellen foi ao banheiro e voltava já, já.
— Não se preocupe, já tratei desse assunto. Um amigo estará
cuidando dela.
— O-o quê? Que amigo? — Levanto-me, preocupada e aterroriza de
verdade.
Felipe é um tarado, sem vergonha. Qualquer tipo de amigo ligado a
ele não deve ser coisa boa. E Ellen é iludida, sonhadora e muito romântica.
Romantiza até uma folha com uma rosa. Beijo já é mais do que uma ficada
para ela, sexo então seria um pedido de casamento.
— Já disse — ele se põe de pé —, ela está bem. Não confia em mim?
— Não! E nem nesse seu tal amigo aí. E se ele abusar dela?
— Eloíse, a sua amiga não é adulta? Porra, 03 a tratará como uma
madame. Relaxa, mulher.
— Idiota. E que nome é esse? Se Ellen chegar em casa com um
arranhão que seja, o mato!
— Olha, eu acho que neste momento a loira deveria era se preocupar
com a sua segurança. Pois nem em casa vai chegar!
— Vo-você vai me levar pra onde? — Caminho para trás.
— Bom, muito bom. É disto que deveríamos estar discutindo. — Ele
me agarra pela cintura e noto que o bartender nos observa o tempo todo.
— O bartender está nos observando.
— Acho que a festa toda está nos observando. Agora pouco quase
transei no balcão dele.
Rindo, agarro-me aos seus cabelos.
— Eu quero um lugar bem iluminado, com muita luz, Felipe!
Eu preciso ver esse homem nu. Eu necessito!
— Olha, o sol só nasce 05h30. E não sei se eu aguentaria esperar
tanto.
Bato no seu braço. Cheio das graças, ele me vira por trás e mordisca
meu pescoço. Eu sinto a sua ereção evidente como pedra se aconcha a favor
da minha bunda.
— Eloíse, Eloíse... esta noite provarei que é só minha!
Capítulo 14

— Felipe... o meu carro, eu vim com ele! — Exclamo após irmos para
o estacionamento e eu dar de cara com a sua bela BMW X4. Puta merda.
— Não há o que se preocupar, princesa, amanhã ele se encontrará na
sua garagem — pisca.
— Você é todo cheio de mistérios.
— Eu sou um anjo, já não te falei? — O misterioso me agarra pelos
quadris e pressiona-me contra a lataria gelada do seu veículo. — Eu estou
louco para arrancar suas roupas. Não tem um pingo de noção de como é
perfeita. Parece uma boneca.
Feliz por seu comentário, eu me entrelaço no seu cangote e acaricio a
sua barba por fazer.
— Hum... Você também é bonitinho. Dá pro gasto.
Sem afetá-lo, Felipe joga a cabeça para trás, rindo gostosamente.
— Eu sou maravilhoso, loira. Um Deus do prazer e da beleza.
— Não é. Tá mais para convencido.
Ele é sempre cheio de humor. Quem vê esse homem de longe com
certeza deduz que é sério, rude, grosseiro, soberbo e que tem um quarto
vermelho – esse foi o meu pensamento; será que tem?. Na realidade, é
humorado, galanteador, educado, sexy, meio possessivo com seus objetivos
— bom, comigo está sendo. Felipe é sensual, intenso e tão bonito que é
hipnotizante encarar seu rosto. Porém, jamais saberá disso.
Ele me encaminha para dentro do carro. E sentados no banco da
confortável BMW, ele liga o som e observa-me carregado de malícia.
— Eu adoro os seus olhos. Eles enxergam o profundo do mais
profundo dos meus pecados. Eu te encaro, esperando a qualquer momento
você abrir a boca e revelar cada uma das minhas tormentas.
— E que tantas tormentas o senhor teria? — Aproximo-me.
Felipe toca o meio das minhas coxas, subindo até o tecido da calcinha
rendada, eu latejo.
— Eu sou um cara fodido, Eloíse. Nada sobre mim é bom.
— Eu discordo das suas palavras. Eu olho para você e vejo um
homem em redenção dos próprios pecados. — Felipe me apalpa. — As
tormentas que sente, você jamais vai se livrar delas, todavia, vai superar o
pesar que tem ao lembrá-las.
— Eloíse, Eloíse... doce Eloíse — Ele me penetra os dedos e eu
grunho, estimulando-o a mexê-los. — Eu digo que a loira tem poderes, e não
estou enganado. No entanto, eu jamais vou me livrar das minhas tormentas,
porque você é uma delas. Felipe, então, me solta, deixando-me acesa feito
fogo. Ele vira o belo queixo e pisa no acelerador igual um bad boy rico.
•••
No elevador de um hotel luxuoso, ele me rouba o fôlego. No corredor,
antes mesmo de entrarmos no quarto, ele me ergue do chão e mergulha a
boca em cada canto do meu decote. Esfrego-me nele sem pudor, toda
devassa. Dentro do quarto, a situação sai ainda mais do controle. Loucos,
insaciáveis, nos beijamos enquanto eu retiro a sua camisa e ele a minha blusa.
— Felipe... me coloca no chão? — peço em gemidos, mas o safado
não permite. E me joga com brutalidade na cama.
Ele me fita repleto de maldade, luxúria. Eu analiso seu porte
masculino. Seu físico é impecável. Ele tem cicatrizes... mas as esqueço
quando desço para o volume do seu pau. Ergo o pé fora do salto, sentindo-o
de longe. E é tão...
— [...] humum... tão grande — aperto.
— Safadinha. — Felipe inclina as costas, agarra-me pelos cabelos e
puxa-me, esfregando seu volume bem na minha cara.
Maluca de tesão, desço a braguilha da calça, abro o cinto, a peça da
roupa e só fica a cena de uma cueca azul com um pau por pouco não
perfurando o pobre tecido.
Mordendo os lábios, eu olho para ele... deslizando as mãos pelo seu
abdômen de gomos. No cós da boxer, coloco os dedos por dentro, e ansiando,
tiro-o e abaixo o olhar, engolindo em seco, sem crer que eu... que eu suportei
esse cavalo dentro de mim. Meu pai amado... Felipe ri da minha feição de
terror. Eu toco só na "cabecinha", pronta para devorá-lo.
— Porra, loira, se não colocar a boca aí logo, eu entro mais uma vez
em você sem cortesia!
— Me ameaçando? — Começo a massagear o tesouro precioso, cheio
de veias e rosado. Felipe pulsa ereto na minha mão. É a sensação mais
maravilhosa do planeta.
Eu espremo as coxas, elevando-as para suportar a ansiedade
desenfreada.
— Eu estou apenas te prevenindo. Porra... safada. — Eu não resisto e
passo a língua na glande. Felipe fecha os olhos. — Eu sonhei tanto com esse
momento, com a sua boca macia e respondona, calada, chupando meu cacete.
Indignada, mergulho a boca, abocanhando-o quase até a garganta.
Nem cabe.
— Porra, puta merda... — ele segura a minha nuca. — Que mulher
você é? Só tem cara de santa.
Faço som de sucção, e ele geme. Resolvo controlar as chupadas
nervosas para não o ver gozar rápido. Volto, oras subindo e chupando a
cabeça da glande. Eu fico uns dez minutos só assim, olhando-o safada e
sugando-o na cabecinha. Pareço uma criança brincando com o seu
brinquedinho preferido. Eu nunca agi assim... vadia? Jamais! Eu nunca agi
foi é solteira, desprendida de relacionamento qualquer.
— Sua safada. Porra, diaba.
Com agilidade, inclino para as bolas. Felipe aperta os olhos e xinga
sem parar. Eu dou atenção para uma de cada vez, voltando sempre ao seu
amigo enorme.
— Eu vou foder o caralho dessa boquinha gulosa — ele começa a
foder a minha boca com movimentos velozes, por longos minutos, afogando-
me e deixando-me louca.
Felipe não avisa que vai gozar e quando vem, enche-me de orgasmo
grosso. Mal consegui engolir. Engasgo-me, sem cuspir.
Ele permanece com a mão nos meus cabelos. Eu estou muito excitada.
Observo-o feito uma menininha dócil, provando do gosto de um pirulito
temperado.
— Eloíse... — ele sorri. — Tu é foda, loira. É a minha vez!
Ele avança, detonando o restante da saia, da calcinha, do sutiã. Sobe
por cima do meu corpo nu e lambuza meus seios eretos. Arqueio as costas.
— Nã-não.... — Felipe me beija, flexionando o pau.
Encaixa-o bem na minha entrada latejante. Desespero-me por ele
querer entrar igual na primeira vez.
— Calma — ele sorri. — Farei bem devagar. — Lendo meus
pensamentos, Felipe começa a se introduzir lentamente e massagear meu
clitóris.
— Ohhh!
Eu abro a boca, arfando para trás. Cada centímetro é uma tortura. A
dor é grande, mas muito excitada, lubrificada, mal sinto tanto incômodo.
— Felipe... — o chamo, observando sua bunda pelo espelho do teto.
Ele, então, penetra toda a pica e leva-me ao céu, bombando o pau
dentro da minha boceta. Eu entrelaço as pernas no seu quadril e grito,
arranhando as suas costas conforme investe selvagem.
— Mais rápido! Mais rápido!
Feroz, ele rosna e coloca-me para cavalgar, sugando meus mamilos.
Eu rebolo. Rebolo feito uma maluca. O prazer, o pecado, o fogo abrasador
preenche cada canto do nosso corpo.
— Eloíse, sua professorinha descarada! — Ele volta a me deitar por
baixo e fode-me com força. Puxo seus cabelos. — É disso que você gosta,
cachorra?
— Oh... Ah... Felipe... — eu choro de satisfação. — Mete, cretino!
— Caralho! — Felipe geme.
Seu peitoral se esfrega nos meus seios. Eu contraio o abdômen,
sentindo estar gozando. Ele não para, continua a me foder. Flexiono as
paredes vaginais.
— Olha para mim, gostosa.
Eu olho para ele, suspirando alto. Grunho de desespero e chego ao
ápice pela segunda vez. Fecho os olhos, choramingando. Felipe estoca mais
fundo.
— Eu disse para olhar para mim, Eloíse! — Eu tento olhá-lo de novo
e fitando-o nos olhos negros de tesão, gemendo, ele estoca mais e mais e
preenche-me de gozo quente.
Eu perco ar.
— Ohhh.... seu selvagem...
— Loba!
Ainda me impedindo de buscar oxigênio, Felipe abaixa e beija-me
sem pensar no amanhã.
— A vontade é de... — ofegante, ele morde meu queixo — devorar
cada pedaço do seu corpo... — eu sorrio, tentando falar — te sequestrar —
ele me chupa a orelha — e prendê-la no meio do nada. Para fodermos noite e
dia.
— Você... é impossível, Felipe.
O safado, ao parar, me encara com os fios rebeldes. Porém, sensuais.
E sai de dentro de mim. Eu gemo de prazer.
— Eloíse... atualmente, não pretendo procriar deuses. Você toma algo
conceptivo?
Eu poderia dizer que não?
— O senhor está agindo bem irresponsável. — Ele franze o cenho. —
E se eu não estiver?
— Não é maluca! — Felipe fica nervoso e afasta-se. — Eu sei que
toma o anticoncepcional. Afinal, era noiva daquele professorzinho imbecil.
Surpresa pelo homem rude na minha frente, eu puxo seu maxilar e o
encaro.
— Eu tomo anticoncepcional. Entretanto, deveríamos ter usado a
camisinha.
— Eu sempre uso a camisinha — ele me beija. — Porra, mas você,
esse seu corpo... Não discordo de que fui irresponsável.
Felipe me agarra. Envergonhada, eu pego o travesseiro e coloco entre
a minha nudez.
— A gente já vai embora? — Eu estou tão exausta, tão dolorida, que
cairia dura aqui mesmo nesta cama gigante.
— Não. E nem que me suplicasse, eu te deixaria sair deste quarto. Eu
ainda não terminei meu trabalho de satisfazê-la.
Ele levanta e pega-me pelas pernas. Eu solto um gritinho de susto.
— Vamos prepara a jacuzzi, minha loirinha feroz!
Eu sorrio, deixando a atração do momento me guiar. Felipe me
carrega até a luxuosa jacuzzi. Onde a preparamos e provamos de mais um
maravilhoso... relaxamento. Até champanhe, chocolate e morangos, eu comi.
****
— Eu estou me sentindo uma adolescente licenciosa. — Na manhã
seguinte de sábado, no carro, a caminho da pensão eu confesso para o Felipe.
Ele ri.
— E o que estaríamos fazendo de tão licencioso, loira?
— Você ainda pergunta? "Inocente".
— Eu só sei de uma coisa; que nesta história, eu me encontro sendo
um submisso seu.
É a minha vez de rir.
— Ah, jura? Um submisso meu?
— Sim, pois se a senhorita mandar eu tirar a sua roupa, eu tiro.
Deslizar as mãos nesse seu corpo maravilhoso, eu deslizo. Chupar entres
essas pernas... eu chupo imediatamente. — Ele articula ardiloso.
— Ai, meu Deus. Não dá para crer no teu grau de safadeza.
— E eu tenh... — o celular do Felipe toca, interrompendo-o. —
Droga...
Ele pega o aparelho.
— Que filho da puta?! — e esbraveja, observando a chamada.
— Fala, minha putinha? [...] Passei anteontem. O que tem? — Ele
para no semáforo, descansando as costas e escutando a voz da pessoa. — [...]
Agora? Nem fodendo. [...] Não, porra! Eu estou com a minha loira dos olhos
azuis.
Sem evitar, eu sorrio, revirando os olhos. E Felipe me encara,
galanteador. Então volta a dirigir.
— [...] Não te interessa. [...] Pede para... [...] O quê? Como você não
sabe onde ela está? [...] Porra, Fernando! — Felipe fica tenso. — Rastreou o
número dela? [...] Ok. Que merda, eu irei para lá imediatamente!
Eu o analiso, curiosa.
— O que foi, Felipe? — Questiono assim que ele desliga o telefone.
— Você se importaria de mudarmos de rota? — A pergunta é séria.
— Aconteceu um imprevisto com a minha mãe.
— Agora? — Eu engulo em seco, referindo-me as minhas roupas. No
entanto, mais preocupada com a sua mãe. — O que houve?
— Além do seu desaparecimento, eu também não sei. Espero que
nada grave!
Capítulo 15

O Fernando só deve estar de sacanagem. Como que a Marta sumiu


por dois dias e ele não se atentou a procurá-la mais cedo? Olha, se tiver
acontecido alguma desgraça, eu sou capaz de enlouquecer.
— Você está nervoso?!
— Eu estou bem.
Meu desejo era ter deixado Eloíse na pensão, mas não daria tempo, só
me atrasaria na hora de voltar.
Eu chego na casa simples de Marta. E puta merda, o carro da Clara
está estacionado bem na frente. Se ela ver Eloíse, adeus paz. Fodido!
— Loira, você poderia me esperar aqui?
— É claro. Eu acho até melhor.
Sem respondê-la, entretanto, grato, eu desço do veículo e caminho até
os portões pretos. Abro-os. E no interior, confirmo a presença da cunhadinha
sentada no sofá, lendo vários papéis. Ela me olha, então abandona os papéis e
levanta-se ligeira.
— Felipe, o que faz aqui? O Fernando te deu alguma informação?
— Fernando só me falou que a Marta havia desaparecido há dois dias.
E pediu para eu vim procurar os documentos dela. Porra... você sabe de mais
alguma coisa, Clara?
— Sim, parece que a sua mãe viajou.
— O quê? E ela viajou para onde?
— Essa é a questão; dona Marta viajou sem deixar notícias. Eu estou
preocupada.
— E eu? Que merda. Por que será que ela fez isso?
— Ninguém sabe. Ou sabe, aquele Fernando é o cúmulo do mistério.
Mas sobre os documento que você veio procurar, eu já procurei. Me intrometi
em pegar as chaves no vaso de planta e tomar partido. Porém, só achei a
certidão de nascimento.
— Não ajuda. Mas obrigado pela intenção. Vou deixar a Elô... —
pigarreio. — Eu vou depois para agência ficar a par do assunto.
— Deixar o quê? — Ela me analisa dos pés à cabeça. — Não está
muito apresentável para trabalhar, né? Da onde você veio?
— Do céu, meu doce. Eu sou um Deus. Agora se me der licença,
cunhadinha...
— Espere! Eu só vou trancar a casa e já lhe acompanho.
Droga... jura?
Ela sai, trancando todas as portas. E ao fechar a penúltima, antes do
portão, vem me acompanhando até a calçada.
— Ficará tudo bem, Felipe. Não se preocupe. Tenho fé de que Marta
só possa ter ido visitar os parentes. Afinal, ela tem duas irmãs.
— Não escondo que estou nervoso e preocupado. Ela nunca se
ausentou sem nos avisar. Quero chegar na agência o quanto antes. Fernando
já deve estar a par das razões, aquele infeliz é ágil.
— Boa sorte. Ficarei na torcida aguardando por vocês.
Despeço-me da Collins. Todavia, eu tenho o puta azar dela olhar para
o para-brisa do meu carro.
— Hum... quem está no automóvel com o Deus todo poderoso da
virilidade? É "ela", a pessoa que você precisa deixar em algum lugar?
— Caramba, como diz o pensador sem paciência: atrevida. A senhora
não perde uma, né?
— Senhora a sua avó! — Ela exclama. — Não vai me apresentar a
moça?
— Apresentar o quê?! Eu não sou esse tipo de homem não. Meu lema
é foder e não se foder!
— Felipe! — Eu levo um tapa no braço. — Chega de ser cafajeste.
Precisa acabar com a pose de machão e encontrar uma mulher para aquietar o
facho. Fica aí iludindo, aprontado na madrugada. O que a pessoa planta, um
dia ela colhe!
— Então espero que eu não colha nenhum bastardo... pois se for
analisar pelo que eu estou "implantando" ultimamente... — iço um sorrisinho
de lado.
— Meu Deus! — Ela revira os olhos. — Eu não mereço sujar a minha
audição. Tá pior do que o seu fã encubado, o Guilherme. E com a sua licença,
irei me apresentar a querida vítima.
— O-o quê? — literalmente... com o cu na mão. — Não a
necessidade, Clara!
Ela nem me dá ouvidos. Sem poder impedir a mulher impulsiva.
Collins, como um flash para na lateral da porta do passageiro, a puxa. Porra...
Eloíse arregala os olhos azuis, vermelha feito um extintor de incêndio. Clara
não tem uma reação muito diferente da dela, fica surpreendida.
Extremamente surpresa.
— Vo-você? Você não é a moça do shopping? — Ela abre a boca. —
Não acredito!
Nervoso, apoio-me no capô. Eloíse engole em seco. Ela está tão gata
com esse cabelo umedecido e essa cara de "não sei onde me enfiar".
— S-sim, sou eu... senhorita Collins.
— É... não nos apresentamos corretamente? Assim recordo... — a
cunhadinha tenta disfarçar rápida o clima de confusão e embaraço e me faz
rir.
— Não... eu sou Eloíse. Não deve estar lembrada do meu nome.
— Não estou. Prazer, Eloíse... Eu e o Felipe estávamos conversando
justamente sobre a moça.
— Estava? | — Estávamos?— Surpresos, eu e a loira questionamos
em conjunto.
— Sim! Claro, estávamos muito! — Clara sorri para mim, feito uma
cobra venenosa. Porra, ela bebeu? — Mas não justamente sobre você, perdão.
Entretanto, sobre a companhia que o Felipe necessita para terça-feira à noite.
— Eu necessito? — Franzo o cenho, revoltado. — Pra que eu
necessito de companhia?
— Esqueceu, meu “doce cunhado”? Tá com amnésia temporária?
Agorinha, acabamos de conversar em relação a isso. E fique quieto, eu
explico as coisas.
Caralho, eu só queria foder e eu estou literalmente saindo fodido.
Mordi a língua mil vezes. Fernando não se casou, foi domesticado. Ninguém
tem mais dúvidas.
— É que terça-feira acontecerá o aniversário da marca Diamante
Collins. 7 anos de indústria no mercado. E será um evento badaladíssimo.
Com presenças ilustres da moda. Sem falar em famosos até internacionais.
Contudo, o nosso Felipe aqui não quer ir sozinho.
— Eu não quero? Quem disse?
Óbvio que eu quero. Lá vai estar repleto de mulheres gostosas!
— Você me disse que não queria! Tá esquecidinho demais. Enfim,
você aceita o convite, Eloíse? Tadinho, olha pra ele.
— E-eu não posso. — Ela me encara, envergonhada, pedindo socorro.
— Eloíse não quer!
— Você não quer? — Clara insiste. — Por favor, Eloíse, como assim?
Por que não?
— Seria uma honra... mas não posso. Eu agradeço, senhorita Collins.
Terei outro compromisso.
— Que outro compromisso?
— Eu...
— É porque o Felipe não te convidou, né? É isso? — Ela me fuzila.
— Felipe! Seja cavalheiro e convide esta linda mulher para ir com você!
Merda, mano. Tem como negar? A leoa está com uma faca invisível,
apontada direta para o meu Felipe Júnior!
— Eu convidarei, não se preocupe. Farei assim que estivermos à sós.
— Confiarei em você! — Clara me fita ameaçadora.
Eu permaneço sério.
— Bom, já vou indo. Tchau, Eloíse. Espero nos reencontrarmos terça
à noite.
— Foi um prazer revê-la, Srta. Collins.
— O prazer foi todo meu. Tchau, Felipe. E anseio que convide
realmente esta mulher! — Ela ameaça pela terceira vez.
E se retira formal para o seu Chevrolet Trailblazer. Eu fecho a porta
de Eloíse e entro no meu carro, colocando o cinto.
— Me-meu Deus! Eu não acredito. O que a Srta. Clara deve estar
pensando de mim?
— Garanto que "a vítima". — Eu a encaro. — E se não aceitar o
convite de me acompanhar neste evento importante, me verá encapado das
bolas.
— Eu não quero. Você é só sexo. Qualquer envolvimento a mais é
prejuízo.
— Caramba, loira? Isso doeu mais do que perder as bolas e o pau
numa serra elétrica.
Tem como não gostar dessa gata? No entanto, agora eu faço questão
da respondona ir.
— Só que você vai, mulher! Vou te esperar até às 20h30 da noite, de
terça. E se não descer pronta, do jeito que estiver, eu te levo pelos cabelos
igual um neandertal das cavernas.
— Me poupe, seu...
— Calada, Galvani. Já considero o seu sim!
•••
Ao chegarmos na pensão, Eloíse vai para o quarto. Eu chego e só
tenho tempo de trocar de camisa, de calça, a boxer e os sapatos. Em cinco
minutos, retorno para a rua. Eu vou dirigindo tão rápido que me surpreendo
estar vivo, quando paro na garagem do subsolo da agência.
— Fernando está no escritório? — No último andar, indago a dona
Eva, a secretária do meu irmão.
— Sim, Sr. Felipe. E com mais três senhores.
— Obrigado, Eva — pisco e ela sorri. — Com licença!
Caminho até a porta, então puxo a maçaneta para o lado e entro. 03,
Murilo e Leão estão no interior, em pé. Fernando sentado. Eles me encaram.
Eu me aproximo, sentindo a porra do clima tenso.
— Demorou, Felipe.
— O que está acontecendo?
Eles se entreolham. Fernando suspira nervoso.
— É sobre a Marta? Você descobriu onde ela está?
— Não se preocupe, Marta se encontra bem. O único que não ficará é
você!
— Eu? Tá de gozação, Fernando?
Ele pega uma pasta de cima da mesa, levanta-se e fica olho a olho
comigo.
— Marta viajou para as extremidades da cidade. Ela recebeu uma
ligação ameaçadora. E caso não fosse... — Fernando trinca o maxilar, puto.
— Eles entregariam todas as provas.
— Que provas? — Eu olho para a pasta, deduzindo ser as tais pro...
— Estas provas, Felipe. A porra das provas contra você! — Ele taca o
documento no meu peito, chuta o balde de lixo e mete o dedo na minha cara.
— Desta vez, não conte comigo para limpar a sujeira da sua bunda! Eu não
vou viver outro inferno. Não para livrá-lo do próprio destino. O que tiver para
pagar, pagará. Mesmo que esse destino seja na cadeia!
Capítulo 16

Aproveito a tarde do meu sábado para dormir. E não foi pouco,


acordei ao anoitecer com um peso sobre o coxão.
— Você tem que parar de entrar no meu quarto sem ser convidado —
balbucio para o cafajeste do Felipe, fitando-o na ponta da cama de solteiro.
Ele não diz nada. Eu bocejo, espreguiçando-me, e sento-me,
encarando seu semblante sexy.
— Tudo bem? — Ele está estranho. Sério, com os olhos nublados e
intensos. — O que foi?
— Eu já disse que você tem os olhos mais lindos que já vi? — Então
sorri.
Por um segundo, o alívio percorreu meu interior. Mas não
permaneceu, pois eu não acreditei nesse falso humor. Afinal, ninguém pode
segurar a máscara de “alegria” o dia inteiro.
— Felipe, está tudo bem? É a sua mãe? Você encontrou ela? Fiquei
preocupada de verdade.
— Sim, ela está bem — ele aproxima o corpo, desviando do assunto.
— Não se preocupe. Mas e a senhorita? Já olhou para a poltrona ali do lado?
Ele toca na minha perna e eu viro. Então encaro um lindo buquê de
rosas vermelhas.
— O que é isso? Foi você? — Fico pasma.
— Não, sinto muito. Eu não sou esse tipo de homem tolo.
Sem explicar, no entanto, descontente, eu dou um pequeno tapinha na
sua coxa.
— Quem será, então? — Questiono, arqueando o corpo e sem evitar,
a poupa da bunda, até a poltrona ao lado do criado mudo. Estou nem aí para o
grau de safadeza desse tarado. Visto no momento só uma calcinha marrom e
um micro pijama branco.
— Eloíse... Eloíse.
Quando retorno a cama com o buquê, finjo estar na presença de um
padre. Eu pego o cartãozinho do meio das lindas flores e leio, sem muita
surpresa ao descobrir quem foi o mandante; Mariano.
— É do Mariano.
Felipe rola o globo ocular. E rapidamente pega o buquê dos meus
braços e taca com força no chão. Eu me assusto.
— Foda-se esse banana!
— Ei! — Desta vez, ele mereceu o tapa bem forte.
— Ei o quê, mulher?! — Felipe me agarra pela cintura e joga seu peso
másculo contra mim e o coxão. — Gostou do presente dele?
— Não é assim... eu não gostei. Só que...
— Só quê...? — Ele beija meu pescoço.
— Só que a sua ação me pegou de surpresa.
Felipe acaricia meu rosto, fitando-me autoritário.
— Esse traidor ainda é presente em você?!
Mordo o lábio inferior, respirando fundo.
— Ele era meu noivo a cerca de uma semana, e de repente, eu pego
esse noivo transando com outra. Não é simples. Eu estou confusa sobre os
meus sentimentos, mas confesso que não sofro mais, não choro. Eu só quero
vingança — afago seus fios cheirosos. — E o senhor, moço... — aperto seu
nariz — está sendo ótimo, muito bom nisso.
— Oras, vejam só! Eu não disse que eu era o submisso da história? A
loira está me usando!
Eu começo a rir. Ele abaixa, beijando-me.
— E o senhor... vai dizer... que não está gostando? — Eu o afasto,
com a respiração irregular.
— Doce Eloíse... já perguntou para uma criança se ela gosta de
chocolate? A resposta será bem óbvia, gatinha.
— Você não presta... — Voltamos a nos beijar.
Felipe me a polpa na bunda e nos seios.
— Não... eu não tenho mais forças, Felipe. Já me sugou tudo o que
poderia hoje de madrugada.
— Eu estou me sentindo a todo vapor. Não posso dar nem uma
chupadinha?
— Seu tarado. Não! — Eu saio debaixo dele e sento-me, prendendo
os cabelos.
Ele continua deitado na cama, observando-me com sua face bonita.
— Eu não queria ir terça-feira no evento da Srta. Collins — revelo
preocupada. — Eu estou... insegura.
— Eu já disse que você vai. E não ouse teimar no contrário, loira.
Rolo os olhos.
— Você nem me quer lá. É cafajeste, eu vou estragar seus
"esquemas".
Felipe sorri.
— Da onde tirou isso?
— Larga de ser falso. Está estampado no seu rosto.
— Na verdade, Eloíse, o que me importa... é que nada importa. — o
safado me puxa outra vez e prende-me pelos pulsos. — Sua loira gostosa!
Eu me aproveito só mais um pouco do Felipe e logo depois de deixá-
lo subindo pelas paredes, o expulso do quarto. Eu, má? Imagina. Graças a
Deus que amanhã não o verei. O safado vai trabalhar o domingo todo.
No segundo dia da semana, com o book de fotografia pronto, o
portfólio igualmente, Rose, uma das bookers da agência, me convoca para
falarmos de trabalho. E as notícias não poderiam ser as melhores. Uma
empresa analisou meu portfólio e escolheu-me para fazer a sua campanha.
— Poucas meninas têm esta oportunidade, Eloíse. O que eu estou
fazendo com você é fora das regras, pois não se perde um rosto tão perfeito
como o seu. Irá desfilar em breve, primeiro pa...
— De-desfilar? — interrompo-a. — A senhorita disse desfilar? Eu
vou desfilar?
— Sim, sim. Só que tenha calma. Levará meses de estudo, prática,
dedicação e enfim, a perfeição. Será um desafio. Espero que não desista no
caminho. Está disposta a aceitar?
— Bom... posso ser sincera? Eu fico muito feliz, não sabe como eu
me dedicaria a esta carreira nas passarelas. Mas eu estava pensando nas
mudanças drásticas de mais. E quero, no momento, focar apenas na
modelagem fotográfica.
— Será a sua escolha, vejo futuro nas duas carreiras que escolher.
Eu sorrio.
— Agora vamos conversar sobre o seu contrato e o cachê da primeira
campanha.
Sabe aquele sensação de felicidade por seus sonhos estarem tudo
dando certo? Pois eu estou. Meus Deus, obrigada. Obrigada! Me sinto feliz,
realizada!
— Que brilho, que alegria toda é essa, menina? — Suellen indaga,
assim que eu passo pela porta da sua humilde casinha.
Hoje eu vim visitá-la. Semana que vem começará a rotina de trabalho.
Também de estudos. Ellen vai destrancar a faculdade de medicina veterinária.
Verei raramente a minha irmã-amiga.
— Estou muito feliz. Vou fazer a primeira campanha de trabalho. O
cache não é lá grande coisa, no entanto, Rose disse que é assim mesmo no
início. Daqui a pouco eu posso crescer e me destacar na carreira. E até ficar
famosa entre as marcas queridinhas — sonhadora, jogo-me no seu sofá. —
Imagina eu, famosa? Imagina eu, famosa e rica?
— Mas essa sonha alto! — Ela ri e joga-se no outro sofá.
— Já fiz perfil público em todas a redes sociais possíveis.
— Eloíse... eu tenho uma coisa para te contar... — Mudando de
assunto, Ellen me encara.
— O que foi? — Sento-me direito para prestar atenção nela. — Tudo
bem?
— Eu acho que eu estou apaixonada.
— O-o quê? Por quem?
— Primeiro. Me perdoe por aquele dia na festa eu ter deixado você
sozinha e sumido. Mas um homem apareceu... e que homem. Ele me beijou...
Eu pigarreio, quase me engasgando.
— Que homem?
— Ele se chama Heitor, trabalha numa agência de segurança. E é
lindo de morrer, forte, tem cabelos cacheadinhos, uma bundinha... que
misericórdia, meu Deus. Ele é cavalheiro, educado. Um verdadeiro homem
das antigas. E eu estou louca, apaixonada por ele. Tenho todos os nomes para
os nossos futuros filhos. Ah, e eu já procurei meu modelo de vestido de
noiva. Vou te mostrar...
Gente... eu já disse que a Ellen romantiza até sapo com galinha? Ela é
muito apaixonada. Sonhadora pelo tal "príncipe encantado". E iludida como
pobre jogando sem cessar na loteria.
Após voltar, ficamos por horas conversando da sua vida de "casada",
rindo. Até chorei de felicidade e tristeza por ela voltar a estudar. A tristeza é
porque não nos veremos mais com tanta frequência. A felicidade é por ela
voltar a realizar seu sonho de infância, assim como eu fiz.
— Eu tenho uma coisa para te revelar também... E espero que não
fique magoada comigo — sussurro, meio contraída.
— O quê?
Eu, então, começo a relatar sobre o Felipe. Sim, eu resolvi confessar a
devastação de sexo que escolhi por vingança. E por fim, eu digo sobre o
convite de Clara Collins — e foi como jogar gasolina no fogo.
— Eu não acredito! É muita informação. Você está saindo com o
cunhado da senhorita Collins? A senhorita Collins Alencar? E ainda foi
convidada por ela pessoalmente para ir na sua festa baladeira do ano? A festa
mais chique, a festa mais esperada pelo Brasil e pela América latina? Eu
estou impactada. Eu não posso acreditar!
— Nem eu acredito... ainda estou num sonho desesperador.
— Eloíse, me perdoe a falta de indiscrição para querer supor alguma
coisa. Não que seja da minha conta, a vida é sua. Contudo, sendo a sua
melhor amiga... Você e o Felipe Alencar... como já se conheciam a seis
anos... Vocês já estavam se pegando quando...
— Não, Ellen. É claro que não. Eu fui fiel ao Mariano! — Eu me
levanto nervosa do sofá. — Não nego que o Felipe investia em mim,
enquanto eu era noiva. Entretanto, eu jamais cedi. Pelo contrário, eu mandava
aquele cafajeste me deixar em paz. E eu nunca conheci o Felipe. Foi só umas
esbarradas por acaso.
— Eu sei, Eloíse, eu confio em você. Lembre-se de que
confidenciamos todos os segredos. Mas quer a verdade? Tô nem aí para o
Mariano. Que ele se dane. Ele só te fez sofrer. Tem é que curtir o Felipe
mesmo. Aproveitar daquele pecado na terra. O homem bonito. Meu Deus!
Eu sorrio, jogando-me sobre ela.
— Ele é tudo de bom!
— Cuidado para não se apaixonar, hein? — Ela zomba.
— Eu jamais. Eu não sou iludida como você. Felipe e eu é apenas
sexo.
— Que horror. Eu não entendo como alguém pode ir para cama com
outra pessoa sem amá-la. Isso é um passo muito grande. Quando perdi a
minha virgindade, foi com o meu amor de infância.
— Vou te explicar; isso se chama foda. Foder, minha cara amiga!
— Aí, Eloíse. Sua safada sem vergonha. Nunca foi santa.
— Nem você. Éramos o cão do ensino médio.
Eu pisco e deito a cabeça no seu colo, pensando no evento importante
de amanhã à noite. Estou tão ansiosa. O que usarei? E o cabelo e a
maquiagem? Acho que parcelarei tudo em dez vezes no cartão de crédito.
Inclusive o salão de beleza. Pai amado, eu vou estourar a fatura.
Capítulo 17

Na terça-feira, a primeira coisa que eu faço após tomar o café da


manhã é me arrumar e correr para o shopping com a Suellen. E desesperadas,
visitamos quase todas as lojas — quando eu digo quase todas, é praticamente
TODAS!
Estamos na última boutique do shopping. E antes de irmos embora, eu
"encontrei", o vestido mais perfeito e mais lindo que já pude provar.
— Ellen, os vestidos são caríssimos, misericórdia. O que eu vou
fazer? Onde já se viu pagar três mil reais num tecido de brilhinhos?
— Amiga, não é qualquer vestidinho de brilhinhos não. Olha esse
tule, a textura divina — ela afirma, acarinhando a peça chique. — Se eu fosse
você, eu levava. É peça única.
— Claro, e amanhã morrer de fome. Não dá, o que eu vou fazer? Tô
desistindo.
— Desistindo um ova. Para de ser dramática que tu tem dinheiro.
Leva logo. Com este vestido maravilhoso e essa beleza sua, chamará atenção
até dos céus. Ficou a coisa mais perfeita em você, não tenho palavras para
descrever. Leva, ou vai se arrepender amargamente.
— Ai, Ellen... será a maior loucura da minha vida.
No fim, eu levo o vestido e um salto de trezentos reais. Que a sorte
esteja ao meu favor e que eu ganhe muita, mais muita grana com a carreira de
modelo. Pois me declaro endividada!
— Você marcou o salão para que horas?
— Para as 16h20. E o evento começa às 20h30. Creio que tudo dará
certo.
Assim espero. Que ansiedade. Meu pai santo, eu estou infartando.
Às 16h20 então, eu vou para o salão. Faço tudo o que eu tenho direito,
desde os cabelos aos dedos dos pés. Às 18h30, eu me encontro prontíssima.
Nem acreditei. Na verdade, nem me reconheci pelo próprio reflexo do
espelho. Até as meninas do salão me elogiaram, admiradas. De toda maneira,
permaneço preocupada e insegura.
No meu quarto, já tomada "banho", enrolada na toalha, eu me sento
na cama e fico analisando o lindo vestido pendurado no cabideiro aberto no
canto da arara. Será que eu vou chamar tanta atenção com ele? Meu medo é
de estar indo extravagante. Sua cor é um verde floresta, com cristais bordados
e tecido de tule também bordado com lantejoulas. Ele tem uma fenda aberta
na coxa direita e a curiosidade é que existe uma pequena "manga" caída dos
ombros tomara que caia. Tão perfeito e sexy.
Bom... mas vamos lá? — estou morta de ansiedade para vesti-lo. Eu
começo a colocar a peça caríssima, o salto e nada de joias (afinal, nem
tenho). Esborrifando o perfume, levanto a cabeça e sorrio encarando a minha
imagem no espelho. Meu Deus... eu... eu fiquei incrível. Nem parece ser a
mesma pessoa.
Uma mensagem vibra no meu celular, resgatando-me do momento
"me namorando". Corro para lê-la. Imaginando e deduzindo o autor das
palavras autoritária.
"Eloíse, eu estou aqui na recepção. E você está atrasada. Não me
faça subir aí, loira. Se eu disse que a senhorita vai, é porque a senhorita
respondona vai, seja por bem ou por mal, mas vai! Desça logo!"
— Que cretino! — Faço careta.
Se ele me quer e eu estou super pronta, não existe mais o porquê de
esperar, né?
— Po-porra!
Parada no topo da escada, eu visualizo os olhos deslumbrados do
lindo homem de terno a minha espera. Sedutora, eu então começo a descer
degrau por degrau. Alguns hóspedes que acabam de sair da sala, param,
chocados. Eu me sinto a mulher mais linda do mundo. Os saltos soam
agudos.
Felipe abre a boca um milhão de vezes, coça a barba, porém, não tira
a visão de mim. Ele é tão bonito, atraente. Um gentleman absoluto.
— Uau, moça... você está perfeita — uma das mulheres elogiam.
— Parece aquelas atrizes de Hollywood...
Tímida, agradeço-as e meu semblante volta ao rosto do Felipe.
— Estou pronta — sorrio.
Ele balança a cabeça, ainda hipnotizado.
— Eloíse, precisarei usar as algemas esta noite. Não deixarei que saia
do meu lado nem por um segundo.
Franzo o cenho.
— Mas por quê?
— Porque a loira é exclusividade minha!
Ai, senhor pai. Virei mercadoria agora?
— Não sou exclusividade de ninguém, meu querido.
Eu inspeciono ele dos pés à cabeça. E só digo uma coisa: que
homem... que homem, Brasil!
— Você ficou muito bonito neste terno requintado, doce diabo. —
Pisco, arrumando a sua gravata negra.
Ele ri e agarra-me enfático pela cintura.
— Eu sou bonito. O terno só realçou esta verdade que você não
assume.
— Larga de ser convencido!
Como que pode ele se gabar de tal beleza e ninguém achar ruim?
— Eloíse, já a senhorita... — ele inclina os lábios para o lóbulo da
minha orelha — está uma perfeição. Vamos? A sua carruagem a aguarda,
princesa.
Eu sorrio boba, apoiando-me no seu braço cavalheiro. O perfume que
exala está me embriagando.
— Fiquei com medo da vó Aurora nos flagrar juntos. Ela me encheria
de perguntas. Tivemos sorte.
— Ela saiu assim que eu te mandei mensagem.
Ao atravessarmos a porta e chegarmos na calçada, eu fico
boquiaberta.
Uau... que Porsche incrível.
— Vamos com esse carro?
— Lógico, minha princesa — ele abre a porta. — Não disse que a sua
carruagem estava a sua espera? Por favor, faça as honras.
Balanço a cabeça e entro. Felipe me ajuda com o vestido. E ao fechar
a porta com calma, dá a volta e também entra. Eu fico pensando, será que o
Felipe é rico? Vida de policial não dá tanta grana assim não, gente. O que
esse homem faz?
Antes dele dar partida no carro, Felipe coloca uma canção. E
finalmente acelera pelas avenidas do RJ. Eu o noto bem silencioso. Dando de
ombros, nem faço questão de quebrar o silêncio. E só quando estamos perto
da festa da Srta. Collins que ele volta ao "normal".
— Queria entrar por trás para evitarmos os fotógrafos, paparazzis e
câmeras de TV. Mas não acharíamos estacionamento.
— Você, querendo evitar de chamar os holofotes?
— Eu só queria evitar a demora, loira.
Felipe direciona o carro a parar suave na frente da fachada chique do
evento. Está lotada de fotógrafos. E outras pessoas da mídia se encontram
posicionadas adiante das grades.
— Os seguranças vão levar o carro. Pronta?
— Nervosa, entretanto, sim, pronta!
Ele então abre a porta. Alguém faz o mesmo com a minha. Fotógrafos
e celulares de curiosos em segundos começam a disparar flashes. Eu desço.
Rápido e elegante, Felipe aparece me conduzindo pela entrada forrada de um
tapete cor ouro.
— Por favor, um click senhor e senhorita!
Felipe descansa a mão na minha cintura. Meio sem jeito, eu sorrio
para os fotógrafos. Ficamos só uns três minutinhos posando para eles. E ao
entrarmos, chocada, deslumbro cada detalhe glamouroso, rico, luxuoso. Meu
Deus, ainda tem incontáveis famosos que só seria possível conhecer em
sonhos. Vejo-me tonta. Contudo, feliz. É uma honra.
— Acho que a primeira mesa lá da frente é a nossa.
— Este lugar é perfeito. Está repleto de famosos.
Noto muitos homens e mulheres nos admirarem enquanto
caminhamos entre as mesa bem postas. E até a pequena passarela.
— Eu não conheço ninguém — Felipe sussurra debochado e pega na
minha mão. — Vem, é aquela ali.
Tem dois casais sentados nessa mesa... e... e a dona Marta.
— Felipe, é a sua mãe! — Paro-o.
— O que tem?
— Ela sabe quem eu sou. Ela é amiga da minha vó!
— Fique tranquila, depois converso com a Marta — pisca.
Ai meu Jesuzinho, que vergonha.
— Felipe! — Uma mulher de cabelos loiros se levanta formal, assim
que nos aproximamos.
O homem que estava ao seu lado inclina o pescoço. Marta arregala os
olhos, reconhecendo-me.
— Dona Juliana, olá. Está uma deusa, hein?!
— E o mocinho, como sempre, muito bonito e charmoso.
Ela sorri, abraçando-o. E se afasta, observando-me chocada e
animada. Marta continua surpreendida. Eu, vermelha de vergonha.
— Meu Deus, e essa linda mulher, Felipe? — Sou analisada dos pés à
cabeça. — Não vai me apresentar a ela?
— Claro. Esta é Eloíse... minha amiga. Eloíse, esta é dona Juliana,
mãe da Clara.
Dona Juliana franze o cenho.
— Amiga? — murmura, mas se recompõe. — Olá, Eloíse — ela me
abraça também. — Desculpa a indiscrição, só que você parece uma boneca de
tão bonita. É uma prazer conhecê-la.
— Obrigada. O prazer foi todo meu. A senhorita é igualmente linda.
— Obrigada, meu anjo.
— Olá, Eloíse. — Dona marta se levanta. — Tudo bem?
— Olá, dona Marta. Tudo. E com a senhora?
— Eu ótima...
— Eu sabia! Você trouxe ela!
Uma voz conhecida me faz virar a cabeça e quase perder o queixo. É
a Srta. Collins. Pai amado, e ela está maravilhosa, deusa, a mulher mais linda
que já vi. Que vestido, que corpo. Ela está perfeita numa peça prateada e
brilhosa. O homem ao seu lado não é diferente, é muito bonito, forte e tem os
olhos azuis. Ele é só um pouco mais alto do que o Felipe, creio ser o tal
Fernando, o irmão Alencar que a Suellen vive comentando. E o esposo da
Srta. Collins. O semblante dele é sério, tem cara de uma pessoa autoritária e
de poucas palavras. Os irmãos são gatos de morrer.
— Você achou que eu não a convidaria, doce cunhada?
— Não sei, você é imprevisível e furtivo.
Srta. Collins para, chique.
— Oi, Eloíse — e deslumbrante, ela inclina a cabeça e me dá um
abraço e dois beijos no rosto. Retribuo. — Sinta-se bem-vinda. Você está
belíssima.
— Obrigada, senhorita Cla...
— Não. Apenas me chame de Clara, por favor. Eu faço questão.
— Clara... — corrijo, sorridente. — Não tenho palavras para
descrever a sua beleza e classe.
— Que isso. Esta noite você roubou toda a cena, mocinha.
— Pela cara do Fernando... é ele que não sabe descrever a sua beleza.
— Felipe começa a gargalhar. — Que vestido sexy, hein cunhadinha?
Fernando dá uma olhada tão penetrante no Felipe, que engulo em
seco.
— Vai perder os dentes se voltar a elogiar a minha mulher, seu
arrombado!
Clara rola os olhos. Dona Juliana e Marta sorriem.
— Se forem começar as implicâncias de "machos alfas", aviso desde
já que a porta da rua é a serventia da casa. Se comportem. Principalmente
você, Felipe!
Felipe agarra meus quadris. Eu fico sem jeito. O que ele pensa estar
fazendo?
— Não está mais aqui o deuso que falou, maninho — Felipe pisca.
Eu sinto vontade de mandar ele parar, só que o irmão, o Fernando,
desvia as íris azuis para mim e de novo para ele. Clara ri e pega com
delicadeza no meu braço.
— Quero te levar aos bastidores... já deve ter sido apresentada a
minha...
— Nem pensar. Eu disse que você não iria sair nem por um segundo
de perto de mim! — Fernando a puxa.
— Fernando, vai catar coquinho, me solta, seu ciumento!
— Não acredito, bate nele, Clara! — Felipe também não me solta.
— Fernando! — Marta intervém na fúria do filho.
— O evento é meu e eu tenho que saudar as pessoas, amor!
— Claaaraaa, sóciaaa, sua louca! — Alguém aparece gritando.
Ele a solta, bravo.
— Essa mulher quer me torturar!
— Eu estava te procurando há horas. Precisamos nos apresentar aos
convidados. Eu achei que... Ai...eu... Ai — o rapaz que veste um conjunto de
terno de listras douradas e vermelhas, para ao lado de dona Juliana e coloca a
mão no peito, sem tirar os olhos do Felipe. — Anjo do boys divinos, me
segura que eu vou agarrar o hétero!
— Guilherme! — Clara o repreende.
— Felipe, corre, meu filho — dona Juliana aconselha, rindo.
Felipe só falta matar o pobre do rapaz com o seu olhar rude.
— Ficou bravinho, florzinha? — Fernando caçoa.
— Vai se foder, porra!
— Vamos, Eloíse, antes que aconteça o pior — ela me puxa.
Felipe pigarreia e tira as mãos de mim.
— Felipe, não se preocupe. Devolvo a sua bela Eloíse daqui a pouco.
Mãe, você vem?
Eu olho para o Felipe e ele desvia dos meus olhos.
— Ah, não, querida. Ficarei com o seu pai e a Marta. Leve o
Guilherme, por segurança.
— Tá bom... e já volto — esse último recado foi para o seu marido
ciumento.
Ela o beija carinhosa e sai, chamando-me para acompanhá-la. Já
Guilherme é quase arrastado.
— Gente, que brutalidade, meu terninho, aí, sua cobra. Eu não disse
que eu queria sair de lá!
— Você não tem mesmo medo do perigo, né, sua purpurina maluca?
Uma hora o Felipe ainda torce esse seu pescocinho delicado e eu não vou
estar por perto para socorrê-lo!
Eu sorrio. Clara o solta. Ele bufa, fazendo biquinho ao desamassar a
roupa chamativa.
— Aff, eu não resisto aquele boy divino! Se ele piscar, eu ajoelho no
chão e na hora pago um...
— Eii! Que falta de classe! Perdão, Eloíse. Essa purpurina não tem
filtro na língua.
— Eloíse? Espera... espera um segundo aí, meu bem. — Guilherme
me encara. — Então você é a mulher que está roubando meu hom...
— Gui! — Clara o belisca.
Eu coro.
— Mais respeito!
— E-eu e o Felipe somos só amigos.
— Amigos? — Guilherme zomba, voltando a caminhar.
Jesus, por que todo mundo vem com este questionamento debochado
de "amigos"?
— Alencares não tem amigas. Por favor, informe: o pacote do bofe é
grande, né? Por favor, me diga, mulher!
Eu arregalo os olhos.
— Guilherme! Meu Deus, se aquiete. A vida pessoal do Felipe e da
Eloíse não te desrespeita!
— Desculpa, anjinha. Eu vou manter a classe. Mas nem um pista da
giromba...?
Eu começo a rir.
— Desculpa. Já tentei levá-lo num psiquiatra, é sem solução.
— A senho... você não tem com o que se desculpar. Guilherme é
maravilhoso e engraçado.
Ele sorri.
— Obrigado, só estou fazendo a fina.
— Bom, mudando de assunto, vamos ter um tese do evento? Vai amar
os bastidores!
Sem contestar a atenção dada exclusiva a mim, eu apenas aproveito o
carinho e a companhia da Srta. Collins — a minha inspiração real. É como
realizar um sonho.
Capítulo 18

Felipe me observa retornar sozinha à mesa. Clara foi intimada a


começar o evento, para, em seguida, iniciar a festa de comemoração. Não sei
o que dizer, eu amei conhecer cada convidado — bom, boa parte que foi
possível.
Assim que eu chego na mesa repleta de taças de champanhe, as luzes
se abaixam. Eu me sento, observando tímida os familiares da Collins. Felipe
puxa minha mão para descansar na sua perna. Eu tento afastá-la, mas ele é
mais forte.
— Aí, os dois vão entrar, Augusto! — Dona Juliana, a mãe da Clara,
exclama para o marido.
Adiante, uma trilha da Rihanna começa a tocar. As pessoas batem
palmas, enquanto a Srta. Collins e o Guilherme entram desfilando
glamourosos. Eles são incríveis.
— Obrigada... — ela pega o microfone. — Agradeço a presença de
todos. É uma honra... — e dá início a suas palavras emocionantes. Sim, eu
estou emocionada. Seria impossível não escorrer uma única gota de lágrima.
No final do discurso, ela é mais uma vez assediadas por palmas e
assobios. De emoção, respeito e carinho por sua história como fundadora,
idealizadora e CEO da "Diamante Collins". Lembro-me de que a cinco anos
atrás se chamava "Diamante Da Moda". Hoje acolhe muito bem o sobrenome
da sua família.
Após as luzes voltarem a ficar azuis e a Srta. Clara e o Guilherme
deixarem a passarela – ainda aplaudidos, dois DJs abrem a festa do evento.
— Estou achando que eu vou precisar usar as algemas! — Felipe fala,
devido aos meus olhos... que não saem do ator Malvino Salvador.
— Ele é mais lindo ainda pessoalmente. Mais do que eu imaginava.
— Ah, porra, me poupe dos seus comentários, Eloíse! — Felipe me
solta e levanta-se da cadeira, bravo.
Eu desvio a atenção para ele. E chocada. Felipe ficou puto? Não
acredito!
— Bom.... não está mais aqui quem falou — dou de ombros.
Clara retorna rápida, abraçando e agradecendo os elogios da mãe, do
pai e da Marta.
— Onde o Fernando foi? — Ela nos olha. — Perdão — e também me
abraça.
— Meus parabéns, seu discurso foi maravilhoso. É admirável.
— Obrigada, Eloíse! — Ela sorri.
— Parabéns, Clara! — Felipe se encontra ainda sério.
— Que isso, obrigada, Felipe.
— Filha, o Fernando acabou de sair daqui.
— Onde ele foi?
— Não sabemos.
— Ai, tá bem. Com licença, eu vou procurar meu amado cretino.
Aproveitem da bebida, da comida e das músicas.
Ela se retira. A fim de obedecer seu adorável pedido, eu me levanto
louca para comer do banquete de Sushi distribuído na mesa enorme perto do
bar.
— Hum-rum... — pigarreio "meiga". Ele continua bravinho. —
Felipe... me leva até a mesa de Sushi?
Peço, só porque estou morrendo de vergonha.
— Tem certeza que pediu para o galã certo?
Eu rolo os olhos. Era de se esperar.
— Bom... então já que o lúcifer não vai. Tchau pra...
— Nem ouse!
Eu não dou nem meio passo, pois Felipe me puxa feroz pela cintura.
— Você é a marrenteza em pessoa. Eu te levo, caramba!
— Você que um irritante!
Eu o acompanho.
— Se você está todo nervosinho por minha causa... ou melhor, por
minha presença, diga logo, Felipe!
Eu sei que esse cafajeste não me queria no evento. É óbvio. Só um
cego não notaria que foi a Srta. Clara quem fez ele me convidar à força,
sábado. E... e eu não ligo!
Ao pararmos no Sushi, ganhamos dois pares de hashi. Mas ele faz
questão de devolver o dele para o garçom.
— Não precisa ficar igual cão de guarda no meu pé, se for por
obrigação de "acompanhante" — eu o encaro e ele debocha. — Divirta-se
como se eu não existisse. Eu sou adulta.
— Eu faço o que eu quiser, Eloíse! — esbraveja, colocando as mãos
no bolso e refletindo pouco pelo que eu disse.
Afetada pela sua forma rude, eu abandono os pauzinhos. Não quero
mais. O que esse homem tem?
— Não quero comer mais nada!
— Ótimo, vamos dançar?! — Isso não foi um pedido e sim, uma
ordem.
Eu sou arrastada. No meio da pista, ele me agarra e toma-me com
possessividade.
— Me solte! — Insisto mil vezes, furiosa.
A minha voz até chama a atenção de alguns olhares curiosos. Por
respeito, eu seguro o desejo de levantar a mão e cesso o "escândalo".
— Acabou?
— Te detesto... seu idiota — nervosa, eu deito no peitoral dele.
— É a mulher mais linda dessa festa... — Ele murmura. Então me faz
fitar suas íris. — Que caralho, Eloíse. Não notou?
— Notou o quê, Felipe?
Nervoso, ele morde o maxilar. A música de fundo é trocada por um
reggaeton lento.
— Que está me deixando louco, sua loira linda da porra?
Felipe me desequilibra dos saltos, pressionando-me contra os seus
músculos e tomando minha boca com a sua língua selvagem. Eu tonteio.
Apoio todos as forças nele e fecho os olhos. Ah... o roçar da sua barba
impetuosa. Meu coração acelera. Afago seus cabelos, pouco me importando
se borrarei o batom. Felipe caça onde deixar suas mãos, se na minha bunda
ou nos meus quadris. Anulo a noção de onde estou. Sua mão sobe para os
meus fios, em seguida, para o meu pescoço, enquanto a outra pressiona ainda
mais o meu corpo contra o volume da sua calça. Aperto as suas costas fortes,
como se... almeja- tirar, rasgar o terno com as unhas.
— É... han-ram... desculpa atrapalhar o fogo do casalzinho —
jogando um balde de água fria, ofegantes, soltamo-nos assustados.
E excitados, entreolhamos com intensidade, com fogo, desejo.
Arrepio-me.
— Melhor dizendo, aconselho vocês a irem para um motel!
Eu ruborizo, reconhecendo as duas vozes atrás de nós. Em meio às
luzes piscantes, Felipe me vira para esconder o "detalhezinho" duro na
virilha.
— Mas é um empata foda! — Felipe rebate o irmão.
— Vingança por várias vezes fazer isso conosco! — Clara exclama e
pisca.
Eu a observo envergonhada.
— Não vamos atrapalhar... ma-mais...
Fernando pega a esposa pela cintura e beija sua orelha. Mas ela o
empurra e se recompõe.
— Não duvido que vocês já tenham aproveitado o momento sem as
crianças — Felipe ri.
Clara empina o nariz. Só que em posse, Fernando a toma outra vez.
Furioso.
— Uma porra! Caso essa mulher saísse da castidade!
Desconcertada, ela não tem como impedi-lo, pois o marido é forte.
— Você não vai ter meio milímetro do meu corpo, Fernando. Não
enquanto esconder meu anticoncepcional! Tá me achando uma égua
parideira?
Desta vez, eu relaxo e sorrio.
— Nem louca!
— Como assim? Eu quero mais sobrinhos.
Clara fuzila o homem, que me prende pelos braços.
— Usa o sêmen da sua intimidade e fabrique os seus. Pois eu não
carrego nem mais um filho com esse DNA. Eu deveria ter tido gêmeas. Três
filhas!
— Nem fodendo, mulher! — Fernando exclama com sangue nos
olhos. — Tá reclamando porque não tem uma filha bonita como a porra da
atrevida da mãe!
— Ah, e é maravilhoso ter dois mínis Fernandos briguentos,
ciumentos, mandões e autoritários como o cretino do pai!
— É, com licença, você esqueceu da beleza do tio aqui.
— Me erra, Felipe. E me solte, Fernando. Eu quero dançar.
— Não me tire a paciência, Clara. Eu vou te fazer dançar e noite toda!
— Eles se vão.
— Loira... — Felipe sussurra no meu ouvido. — Bora comer algo
saboroso?
— Sim. — Eu consinto, pensando animada nos deliciosos Sushi. —
Tem muito Sushi.
— Então vamos para casa, pois eu já possuo o pau, só falta a carne
crua da sereia para temperarmos com caldo de pinto.
Eu bato na mão dele, morrendo de rir. Meu pai amado. Mereço!
BÔNUS - FERNANDO & CLARA

Fernando está maluco, só pode. Eu vou matar esse cretino. No meio


da festa, sentados com a nossa família, por baixo da mesa, ele aperta minha
coxa com extrema força, várias e várias vezes. Eu chego a arfar. O que ele
pretende é virar o jogo. Ele seria capaz de me torturar de forma insaciável,
para depois me ver suplicando penetração.
— Clara, filha, tudo bem?
— Si-sim... — Sorrio falso para a mamãe.
— Onde será que o Felipe foi com... como se chama aquela moça
mesmo? Ela é muito bonita.
— Eloíse — eu respondo, encarando os olhos do meu esposo.
Ele me aperta ainda mais forte. Fecho os olhos, em sussurro, gemendo
de dor.
— Onde eles foram? Não vi nenhum dos dois.
— Eu só espero que o Felipe não esteja aprontando nada com aquela
menina. Eu conheço a família dela. E também conheço o filho que tenho —
Marta diz, conversando.
— Você conhece ela?
Eu inclino a mão para repousar sobre a calça social do Fernando. Ele
pega meus dedos e esfrega no seu pau...
— Sim. É a neta de uma grande amiga minha.
Eu fico inquieta, latejando de desejo. Fernando está sério. Puto da
vida.
— Já deve estar amanhecendo — digo, puxando minha mão. — Me-
melhor irmos embora.
Por mim, eu ia para qualquer lugar do planeta, menos para casa com a
companhia do meu pré-histórico. Eu sei que quando estivermos sozinhos esse
homem, vai descontar tudo. Ele vai me torturar para suplicá-lo por prazer.
Fernando vai ser imperdoável.
— Vocês vão pegar as crianças?
— Acho que sim.
— Mas agora elas estão dormindo, filha.
Meu Deus, mãe... não está vendo que eu não posso ficar na minha
casa hoje?
— Sua mãe tem razão, Clara!
— É que amanhã é feriado... quero dizer, hoje, quarta-feira. É bom
que dormimos tranquilos. Papai e mamãe cuida dos gêmeos e da bebê.
— Tudo bem. É uma ótima ideia para você descansar. Nem imagino a
correria que foi. Vão, nós também já iremos.
— Ok.
— Vamos, Clara!
Ele se levanta insolente e puxa-me para entrelaçamos as mãos. Ao
sairmos, levo um beliscão maldoso na bunda.
— Ai, amor... — Grunho. — Para, seu cretino!
— Saiba que a porra dessas tuas provocações não passaram de hoje.
Não importa onde estivermos!
— É melhor você tirar o cavalinho da chuva. Pois não me terá!
Ele se mantém sério e autoritário. Fernando é um homem que no
vocabulário pessoal não existe a palavra "não". É sim, ou eu te faço aceitar à
força. Selvagem!
No carro, eu vou preocupada com meu pobre vestido. E se ele o
rasgar? Como é um ogro, eu tô ferrada, foi quase meio milhão. Que droga. Eu
sempre me arrependo depois.
Na casa dos meus pais, assim que ele estacionou o automóvel na
garagem, eu desci, caminhando apressada para dentro. Cadê eles? Achei que
chegariam primeiro do que nós dois.
— Correndo de mim? — A pergunta foi feita no exato momento em
que cruzei a porta de vidro.
Eu paro no meio da sala. Ele também para, ao lado do gigantesco
sofá, com as mãos no bolso.
— E-eu? Por que eu estaria fugindo de você?
Fernando fica em silêncio, analisando-me.
— Tire o vestido, Clara. Agora! — Esbraveja, surpreendendo-me.
— O quê? Eu não vou fazer seu jogo. Eu quero dormir.
— Não estou pedindo. Hoje não tolero seus atrevimentos.
Eu o fuzilo e viro as costas.
— Se der mais um passo, eu te pego pelos cabelos e rasgo esse trapo
com os dentes.
Droga!
Furiosa, eu retorno a atenção para ele. Fernando se aproxima,
desarmando-me a cada passo.
— Este vestido foi quase meio milhão. Não ouse me tocar...
Fernando! — Ele me toma pelos braços.
— Eu mandei você tirar, não vai?
— E-eu... — seus dedos fortes me pressionam. — Está louco, né?
Estamos na casa dos meus pais, eles podem chegar a qualquer momento. Eu
vou ficar nua? E a babá? E se ela pega...
Ele não me escuta, enquanto eu reclamava, ele abriu o detalhe "capa"
do vestido de alcinha, no pescoço.
— Não, amor... — A peça cai no chão, envolto das minhas costas e
faminto, Fernando vem, mordendo, chupando e lambendo meus ombros,
pescoço, queixo.
— Eu nunca vou me cansar da sua pele, do seu cheiro, das suas
provocações. É minha, e sempre será minha! — Com o dedo, ele percorre o
decote cavado dos meus seios.
— Te amo... — sussurro. — Mas não vai me ter hoje. Não aqui!
— Quem disse? — Ele me solta egocêntrico. Observo-o ir até o sofá e
sentar-se. — Vem, querida... — Ele dá umas batidinhas sexy na perna. Eu
teimo, negando veemente.
— Não.
— Merda, não me faça conquistar o que desejo a força, mulher!
Cretino sem escrúpulos. Ele sempre me engana fingindo ser todo
romântico, só para amolecer meu coraçãozinho. Mas, por trás, é um ogro
selvagem.
— Você é um maluco sem limites.
Desejosa, eu vou e sento-me no seu colo.
— Transamos incontáveis vezes na casa dos seu pais. Qual a
novidade? — Fernando pega por dentro da barra do meu vestido, subindo
entre as minhas pernas... coxas... e... e na calcinha...
— E-eles podem chegar e nos pegarem no flagra — murmuro,
encarando-o excitada.
Ele belisca meu clítoris.
— E daí? — E afasta a renda, penetrando-me os dedos.
Eu abro a boca. Arrepiada.
— É a sensação mais gostosa sentir a carne da tua entradinha macia,
inchada e melada. — Ele massageia, masturbando-me. — Cheia de tesão. —
Achando meu ponto G... eu enlouqueço. Tiro-o quase metade dos cabelos.
Flexiono as coxas, latejante.
— Vamos subir para o quarto e você me come a vontade.
Ele sorri.
— Quer que eu te coma na cama?
— Você quer... ohhh — seus dedos começam a me penetrar rápidos,
voltando e saindo com luxúria.
— Eu vou te comer aqui mesmo, na sala da tua família, minha esposa.
Com o risco de sermos apreciados por meu sogro.
— Ahh, huuumm... amor... por favor, n-não...
Segurando-me, ele afasta os dedos melados e abre o cinto da calça.
Arfante, eu vejo seu pênis pular ereto da cueca, com as veias inchadas e
rochoso.
— Tira a calcinha e esfrega gostoso essa boceta encharcada em mim,
sem sentar.
— Fernando, depois que o tesão se for, eu vou matar você.
— Tira essa porra, amor.
Eu levanto, tiro a calcinha e jogo com força na cara dele.
— Atrevida!
Sou puxada. Volto a me sentar de pernas abertas para o seu
amiguinho. Toco-o, deixando a cabecinha bem na entrada do meu grelinho
lubrificado. Ele me morde e beija-me. Por dentro da roupa, eu começo
esfregar no belíssimo comprimento pulsante. O vestido atrapalha nossa visão.
Gememos, apreciando o tesão, as sensações e o prazer do atrito dos sexos.
— Ai... ohh, que delícia. — Eu rebolo, sarrando mais forte nele.
Fernando suspira igual a um pitbull. Ele mama minha língua. Passa a
dele no céu da minha boca e selvagem, tira sangue do meu lábio inferior.
— Rebola no meu caralho, safada, ele é só seu. — Fernando cata
meus cabelos, soltando-o do coque.
Rebolo, rebolo e rebolo sem sanidade, danço com uma estripe
sensual. Enlouquecendo, ele me bate na coxa e na bunda. Minha vagina pede,
anseia que a foda. Eu vou desmaiar, pirar, se ele não penetrar.
— De-deixa eu sentar gostoso, amor?
— Direito... como que se pede, Srta. Alencar?
— Por favor... me fode? Me fode, meu cretino selvagem?!
Fernando fica maluco quando eu peço. Ele sempre fica. Ainda mais
quando o provoco e ele só de raiva, tortura-me para suplicá-lo o meu segundo
marido, o sem CPF (teu grosseiro tronco). O amo!
— Com todo prazer! Empina esse rabo, mulher!
Eu empino. E morrendo de medo de alguém aparecer no corredor de
entrada, olho para a porta, enquanto meto a pélvis no seu pau delicioso e
rebolo sem pudor. Chorando de tesão, Fernando chupa meu pescoço, aperta
meus seios e urra. Então, desce a mão e estimula meu clítoris na medida em
que quico e cavalgo, engolindo-o todo, todinho dentro de mim. Eu jogo a
cabeça para trás, abafando minha boca e meus gemidos. Não é 15... nem 20...
é com 26 cm de pura grosseria animal que eu me casei. Ooor... e ele é meu,
só meu!
— Porra. Caralho. Trepa gostoso, minha safadinha... — urra, dando-
me palmadas.
— Huuum... — eu só penso em gozar, em explodir de prazer logo. —
Me-meus... pais... Oh, Fernando, amor, goza. Por favor. Por favor!
Minhas pernas doem. Eu vou falecer, morta da silva! Fernando é só
gemidos e rugidos. Nesta posição, eu choramingo de dor, ele sempre chega a
bater duas vezes pior no colo do meu útero.
Eu não suporto mais. Finco as unhas no seu terno, explodindo num
orgasmo intenso. E rápido, Fernando opõem os músculos do peitoral e
pressiona os berros da minha boca, pois escutamos o barulho de saltos. E
vozes! Meu coração para!
— Porra... shiuu...
— [...] Ah, eu achei que ela viria conosco — é a minha mãe. — Mas
foi bom termos deixado Marta ir com o motorista.
Eu choro, desesperada por não poder liberar meu prazer em berros.
Minha boceta palpita.
— Ela estava preocupada — ouço papai colocar a chave em cima da
mesa de vidro.
— Continua... devagar... — Fernando sussurra no meu ouvido,
beijando no lóbulo.
Tremendo, eu volto a me elevar. Fernando segura mais forte os meus
lábios... pois ele morde o maxilar, fecha os olhos e presenteia-me com jatos
de esperma quente. Eu choro, também gozando de novo. A ejaculação é tão
forte que me entope até o talo.
— Será com quê, Augusto?
Fernando se controla, ainda de olhos fechados para não xingar de
satisfação.
— É bem óbvio. O Felipe.
— É... eu percebi isso. Mas ele é adulto. Marta tem que se
tranquilizar. Vem, vamos descansar, já é seis e doze. Clara e Fernando devem
estar no terceiro sono. Aquele evento luxuoso deu trabalho para ela.
Perfeccionista do jeito que é.
Sem querer, quando Fernando afasta a mão da minha boca e tira o
pênis pulsante, o líquido dele escorre igual cocheira dentro mim, lambuzando
tudo. E eu alarmo os gemidos eriçados.
— Querido, voc...
— Porra, mulher...
Fernando me puxa para deitarmos no sofá.
— Oi?
— Você ouviu?
— O quê?
Certeza, eles devem estar prontos para virem até o meio da sala,
pegarem-nos suados e cheirando a sexo. A parte que meus pais se encontram
conversando é a antessala, que fica a escadaria e o elevador.
— Deve ser o Todd, o cachorrinho dos meninos. Vou subir para
tomar banho.
— Espera, já vou com você. Daqui a pouco, as crianças acordam.
Tendo certeza de que eles se foram, eu desgrudo meu corpo melado
do colo dele.
— Espero não termos sujado o estofado. — Arfo, dolorida das pernas.
— Pois meu vestido de meio milhão foi regado de gozo!
Fernando volta o pau para dentro da calça. Eu o beijo, carinhosa,
acariciando sua barba.
— Te amo, vida.
— Estava deslumbrante esta noite — ele confessa, mesmo
enciumado. — Te amo, morena dos olhos verdes.
— Moreno dos olhos azuis! — Brinco, passando os dedos para
pentear seus fios lisos. — Quero só deitar. Estou com sono. As crianças,
principalmente a Adri — nossa bebezinha de 1 ano —, acordam daqui a
pouco para tomar o café da manhã.
— Então eu levo a Jane, a mãe dos meus filhotes para descansar —
meu Tarzan diz, carregando-me nos seus braços musculosos.
— Solta o rugido, meu rei da floresta! — Eu gargalho.
Ele me solta para pegar minha capa e a calcinha.
— Mais tarde, a senhorita ainda balança no cipó do teu homem.
Estamos só aquecendo. — Eu sou puxada para ele.
— Eu quero é meu anticoncepcional de volta. Faça o favor de me
providenciar antes das 10h.
Ele ri, sem cara de quem fará. Ah, mas não é nem louco. Eu giro a
gandaia atrás dessa cartela!
— Cretino!
Capítulo 19

Felipe me levou para o seu apartamento "em reforma". Mentiroso. O


ambiente é muito confortável, bonito. Da última vez que eu vim, não pude
observar direito. As coisas, os móveis, os objetos aparentam refinados e bem
modernos.
— Você é um mentiroso... eu sabia que estava se hospedando na
pensão da minha avó apenas para me perseguir.
— E desde quando era novidade, loira?
Antes de eu chegar no meio da sala para investigar mais, ele me puxa
pela cintura e pelos cabelos, esfregando a ereção petrificada na minha bunda.
— Vo-você já está assim? — questiono-o, beijada no cangote por
seus lábios ágeis.
— A culpa é sua!
Sorridente, inclino a mão para trás e aperto o generoso órgão
volumoso. Ele geme.
— Droga, Eloíse, meu desejo durante a festa toda era matar cada filho
da puta que te olhasse. Está me deixando pirado. — Ele me afasta.
Eu me viro, fitando seus olhos agressivos.
— Eu gosto de te deixar assim — instigada, colo nosso corpo,
envolvendo-me no pescoço dele. — Eu gosto de te provocar.
— E a loira acha seguro? Não confie, não faça isso. Eu posso surtar e
agir de forma que não aprove.
— De que forma? — Acaricio seus cabelos, cada vez mais
hipnotizada por suas íris nubladas. Meu interior pede, suplica que eu não
atice... no entanto, é tarde, aproximo a boca do lóbulo da sua orelha. O
mordo. — Me fale, moreno? Sou tão curiosa.
Ele suspira fundo, ergue a cabeça, então abaixa a mão e aperta meu
quadril com tanta força, veemência, que eu perco ar.
— Fe-Felipe...
— Eu disse para não fazer isso.
Ele me solta e empurra-me para me deixar cair sentada no sofá. Eu
fico boquiaberta, dolorida. Felipe, com seu porte alto e musculoso, caminha
até a estante de vidro.
— Gosta de vinhos?
Não respondo. Não tenho voz.
— Bom, acho impossível não gostar. Este é um Tinto Ausone.
Ele volta indiferente, com o vinho e duas taças.
— Ele deve ser caríssimo — sussurro, enquanto coloca a garrafa em
cima da mesa de centro.
— Não sei. Não averíguo valores. Por favor.
Após servir, oferece. Eu pego a taça. Ele se senta ao meu lado.
— Prove.
Ansiosa, conduzo o líquido aos lábios. Assim que provo do sabor,
arrepio-me, excitada pela textura mais maravilhosa e mais cara que já pude
provar em vida.
— Uau, Felipe. É perfeito!
Ele sorri. Tomamos toda a garrafa. Na última taça, que é a minha, ele
abre outro vinho com teor maior de álcool. Bêbada... um tiquinho, tiro os
saltos, gargalhando das suas histórias criminais.
— [...] jura, você foi bater no homem?
— É óbvio que sim. E não sai com um arranhão. — Risonho, Felipe
desvia do meu rosto e descansa os dedos na minha coxa, voltando a
serenidade.
— Eu gosto de você.... — bem baixinho, confesso, pegando no seu
queixo e fazendo ele me encarar. — Não sei como explicar, mas me sinto
livre. Você me faz acreditar que posso correr atrás de qualquer sonho. Que eu
tenho um mundo colorido. E não preto e branco, da forma que me fizeram
enxergar. Eu posso viver. E como eu quiser viver a minha vida.
— Hum, acho que eu te invejo.
Ele eleva minha perna a repousar no seu colo, flexiona minha cintura
e fita-me de forma indecifrável.
Eu estou a um centímetro de seu nariz. Sinto a batida do nosso
coração, escuto a minha respiração arfante e o seu peitoral subir e descer
acomodado.
— Eu jamais vou deixar de ver meu mundo vermelho — ele ergue o
vinho.
— Vermelho? Por quê?
— Porque eu tenho demônios, pecados, erros que nunca, jamais serão
apagados. São tormentas que fazem parte de quem eu sou hoje. Eu gozo da
vida, pois não tenho escolha de paz. O meu único consolo é carnal.
— O que você fez, Felipe? — Aproximo nossas testas. — Que
pecados, que demônios são esses? É tão misterioso. Eu sinto medo por você.
— Fecho os olhos. — É incompleto aqui — toco no seu coração. — Sofre
sozinho. E não é capaz de se abrir com ninguém.
— Eu não confio nas pessoas. Elas têm demônios em segredos, todos
escondem seu mundo obscuro. É apenas eu e a minha fé — sua voz soa rouca
e em pesar profundo
Eu me calo, com o peito apertado. Não sei justificar. Felipe sofre. E
por que sofre? Eu queria entendê-lo. Eu queria ajudá-lo.
— A morte do meu pai foi um baque — desabafo, triste. — Foi mais
doloroso do que perder todos os pertences, pois bens materiais a gente
recupera. Mas e a vida? Eu achei que eu não suportaria. Eu desejei morrer,
estar junto dele naquele incêndio. — Olho fixamente para a porta.
— Talvez eu imagine a sua dor... — Felipe pega a garrafa e vira a
bebida no gargalo.
Eu toco seus cabelos lisos. Ele bebe quase tudo.
— Perdi meu pai da pior maneira que possa imaginar — me aperta
junto de si. — Aquela noite... Ela também não sai dos meus pensamentos. Eu
tinha a certeza de que havia perdido os dois. Meu pai e o meu irmão.
Fernando só não morreu porque não era a sua hora. Mas foi grave, ficou
meses no hospital.
— Eu sinto muito.
— Não sinta, às vezes, merecemos a perda para mudarmos com a dor.
— Como aconteceu, Felipe?
— Ele foi assassinado — responde sem rodeios e mistérios. —
Fuzilaram ele a sangue frio. Foram vinte e um tiros. Morreu no mesmo
instante. Já Fernando recebeu quatro balas no peito ao tentar correr
inconsequente para ajudá-lo. Eu não pude fazer droga nenhuma. A cena foi
num piscar dos olhos. Quando eu dei por mim já era tarde. Os dois estavam
atirados no chão, banhados de sangue. E a única coisa que fiz em dor, em
desespero, foi pegar a arma e disparar contra o vidro do carro dos ratos.
Meus Deus, eu permaneço chocada.
— Todos temos históricos. Minha família foi complicada. Poderíamos
ficar o dia todo aqui relatando sobre o passado de cada um. Mas não vale a
pena. Já estou acomodado com tanta merda. Quero deixar o passado no
passado.
Eu fico calada. Deito-me no seu ombro, sentindo o efeito do álcool
pesar na visão sonolenta.
— Então chega do passado, chega de sentir o que vivemos ontem... —
Ele me beija a testa. — Você vai me levar para a pensão?
— Não, eu tomei acima da lei do bafômetro. Ficará aqui hoje.
— Então me deixe dormir?
— O quê?
Eu bocejo. Ele abre um sorriso.
— A loirinha é bem fraquinha para bebidas. Não aguentou um vinho.
— Falso... esse segundo vinho é super alcoólico. E você me fez beber
a garrafa toda. E eu estou com meus neurônios raciocinando super bem —
bato de leve no peitoral dele. — Fique avisado. Posso cuidar de mim.
— Eu notei. Vou ter que na próxima te encher de cachaça.
Eu sou obrigada a rir.
— Engraçadinho. Não vai nada. E onde eu vou dormir? Estou com
sono.
— Óbvio que na minha cama, ao lado de um macho irresistível. E
fique que tranquila — ele me interrompe, antes de eu poder contestá-lo. —
Eu resisto a tentação do seu corpo.
— Fe... ai, seu... — ele então me pega rápido no colo e cala a minha
boca com um selinho.
— Eu serei a castidade do prazer em pessoa. Não a com que se
preocupar.
****
Porra. Filha de uma... puta merda!
Sem consegui dormir, quase uma hora inquieto... com as bolas roxas,
eu puxo Eloíse contra meu pau duro, que pulsa de tesão pela sua bunda
empinada. Como esta safada ousa dormir só de calcinha e com a minha
camisa? Eu estou surtando.
— Felipe, eu vou te mandar pro sofá!
— Eu lá sou homem de ser mandado? — Prendo suas pernas com a
minha por cima. — Achei que estivesse dormindo.
Minha rola se acomoda satisfeito no meio do seu traseiro redondo.
— E-e tem quem consiga dormir com um tarado? — Ela tenta me
afastar. — Você disse que não faria nada. Me solte, controle esse... esse
negócio no meio das suas pernas.
Eu respiro o cheiro gostoso dos seus fios.
— Só se eu fosse um viado, Eloíse. Eu sou macho caralho... —
murmuro, esfregando-me nela.
Ela se apoia na minha mão. Eu sinto que só o toque desta mulher me
faria gozar em segundos.
— Vai pro sofá, Felipe! — Ela manda, brava.
Eu rio.
— Vai pro sofá! — De repente, esta louca inclina os dedos por trás e
aperta as minhas bolas com tanta força, que me faz soltá-la e encolher o
pinto, de dor.
— Que merda, garota... porra, maluca!
Lutando ainda contra a dor, ao melhorar, com ódio no sangue, eu
volto, erguendo a palma da mão bruta e grossa e estapeio a caralho do seu
rabo. O atrito a faz suspirar na hora e gemer tão dolorida, que me dá pena.
Pena das minhas bolas!
Ela choraminga, vira o corpo e quase morde o lençol.
Nervoso, sem condições de dormir na droga da cama, eu pego o
travesseiro, taco-o no tapete do chão e deito-me.
— Agora durma. Durma, sua malvada do inferno!
Capítulo 20

Eu acordo sem a presença do Felipe no quarto. Minha bunda continua


muito dolorida. Eu levanto da cama, analisando cada detalhe do ambiente
luxuoso. Será que ele está chateado comigo? Eu caminho até o espelho da
parede, viro a bunda e visualizo uma mancha vermelha na polpa. Aquele
homem é um bruto, tarado.
— Não se preocupe, creio que vai melhorar em poucos dias.
Assustada, eu coloco a mão no peito ao dar de cara com ele saindo de
um corredor, apenas de toalha enrolada na cintura.
Seus cabelos se encontram úmidos. Seu abdômen definido tem
gotículas de água mau secas.
— Você é um bárbaro, maldoso, Felipe.
— Eu? Você quase explodiu meus ovos, mulher!
— Ah, e foi por que eu quis, né? O moço não teve um pingo de
culpa?!
— Talvez eu tenha! — Esbraveja, aproximando-se sexy e puxando-
me por trás.
Não reclamo, eu gosto de sentir os braços fortes dele, ainda mais após
um banho. Tão cheiroso.
— Você está cheiroso.
Ele me beija na nuca.
— A maldade dessa manhã vale o seu carinho, não acha?
— Você está falando da sua maldade? Pois foi pior do que eu. Não
tem noção da força masculina desses braços... dessas mãos grossas e brutas
— toco-as.
Ele me morde e aperta-me contra a pélvis, descendo para as minhas
nádegas, onde a acaricia afável.
— Por trégua da minha impetuosidade, serei bonzinho com seu
traseiro. Prometo. Darei muitos beijinhos.
— Você promete? — Coloco a mão no “cós” da toalha branca. —
Promete que não vai ser bruto comigo? — Sussurro.
Sinto-o sorrir cafajeste.
— E eu sou bruto, linda? Eu sou um anjo, é você quem gosta de
provocar esse lado selvagem meu.
— Não... é você que é um selvagem por natureza! — Afrouxo a
toalha e finalmente a puxo para o chão.
— Eloíse... loirinha safada.
Fecho os olhos e suspiro, então, toco-o por detrás... no seu membro
avantajado. Ele pulsa, enrijecendo-se mais. Como se fosse possível esse
cavalo brutal ficar ainda maior.
— É assim que eu gosto... com carinho — Felipe pega na minha mão
e a distribui pelo seu comprimento. Arrepio-me. — Mas não vou suportar
preliminares — geme. — Só teu toque já me faria gozar em segundos.
Ele me vira, tirando a minha camisa, beija minha boca e belisca os
meus mamilos eretos. Arfo.
— Eu quero esta bocetinha rosada comendo meu caralho lá no
chuveiro — o homem me dá umas palmadas safadas no clítoris e cata-me no
colo.
Eu choramingo pela sarrada do seu pau. Só não penetrou porque o
tecido da calcinha encharcada impediu.
— Acredite... por hoje, eu daria até na sacada para você.
— Hum... que delícia ouvir isso, gostosa. Por que não?
Arrependida, sem saber antes da mentalidade e da capacidade fora do
normal desse homem, ele me segura com força e realmente me leva para a
sacada do quarto, fodendo-me de quatro, virada para a rua. Como louca,
gemo, grito, perco a noção de que as pessoas poderiam me ouvir e nos verem
lá de baixo. Sem falar dos moradores dos outros apartamentos.
No chuveiro, é aí que eu me dou mais gostoso para ele.
Felipe prende minhas costas contra os azulejos frios do banheiro,
beija meus ombros, chupando minha pele eriçada e alisando meu corpo com
as suas mãos hábeis. Gemendo, eu começo a masturbá-lo. Felipe olha para
mim, malicioso, satisfeito.
— Quer meu pau dentro da diabinha de novo? — Sorri.
— Eu quero tudo de você, até a última gota de orgasmo, querido
Lúcifer.
Ele ergue o antebraço, apoia-se na parede e beija-me cheio de tesão.
— Não pare o que começou — refere-se a acariciá-lo. — Ou terei que
jogá-la no chuveiro gélido.
Com as pernas bambas, volto a masturbá-lo. O homem ruge, inclina a
cabeça para os meus seios e suga forte os meus mamilos. Eu me delicio,
sentindo dor. Ele morde, lambe e geme.
— Oohh, Felipe... eu seria capaz de gozar só com a sua boca.
— Não ouse!
Enquanto eu me perdia em seus lábios agradáveis, ele se ajoelhou,
apertou minhas coxas, minha bunda dolorida e abocanhou-me entre a carne
macia da virilha. Ele brinca só nessa região, estremecendo-me.
— Sobe, Felipe, sobe mais!
Puxo seus cabelos. Ele, enfim, sobe, beija a testa da minha boceta e
abre a boca gulosa, comendo-me o clítoris encharcado. Quase desmaio. Os
pelinhos arrepiados pulam da pele sem cessar.
— Gostosa, vire de costas, vou pagar a minha promessa!
Eu viro, apoiando-me trêmula na parede do box, e empino o bumbum
para o seu deleite. Felipe beija onde me bateu, atenua sua língua ágil com
carinho e encaminha-se outra vez para o meio da minha xota ansiosa. Eu
fecho os olhos. Ele abre mais as minhas pernas, então, feito um cachorro,
escorrega os beiços, lambendo, mamando e adentrado o órgão lubrificado.
Começo a gemer pedindo forças divinas.
Eu grito, grito alto o seu nome, pirada de tesão, esfrego-me na sua
cara, rebolando. E quanto mais eu grito e berro ofegante, mas ele pressiona
sua língua áspera e veloz. Eu me vejo fora de órbita. Pelo ritmo desenfreado,
contraio o abdômen. Felipe percebe a pulsação, pois, sem tempo de me deixar
respirar, de sentir meu ápice, ele se levanta, puxa a minha cintura, vira-me,
ergue a minha coxa e enfia o pau grosso dentro de mim. Eu respiro o último
fôlego dos pulmões, abro a boca e jogo a cabeça para trás, bradando 'Ohh' aos
quatro cantos da terra.
— Humm, Felipe... Ooh... Vo-você é enorme.
— PORRA, ELOÍSE! — Sem ainda me acostumar com o seu pau
dentro de mim, ele me volta, erguendo-me do piso de mármore.
Entrelaço as pernas no quadril dele, sendo, pela segunda vez,
arrombada por seu tamanho até o talo. Felipe esquece o que é piedade.
Agarro nos seus ombros, beijando-o sem ar.
— Mais rápido!
Ele xinga como um animal selvagem, taca-me no vidro do box e mete
a rola mais fundo, investindo as bombadas sem pausas. O vidro vibra e
balança. Eu brado de prazer, gozando novamente.
Felipe é só xingamentos. Seus jatos de sêmen transbordam grossos,
abundantes e ferventes no meu interior pulsante.
— Eu vou morrer desta forma, loira. Meu pau lhe pede arrego —
declara rouco e cessando.
Juro que se ele não estivesse me segurando, eu já teria caído dura.
— Você é incrível.
— E-e você, um deus do sexo. Acho que amanhã não vou aguentar
nem andar.
— Sem maiores preocupações, eu te carrego no colo, como a princesa
que você é e merece ser — sussurra galanteador.
Oh, meu Deus! Eu sorrio idêntica a uma adolescente boba e encantada
pelo playboy da escola.
Felipe me desce, dando pinceladas na minha entradinha com a cabeça
do seu pau. Terminamos o banho ensaboando e enxaguando um ao corpo do
outro. Mas antes, na minha vez, eu tive que vociferar brava milhares de vezes
para ele trocar a água do Polo Norte pela quentinha do "inferno" — dita nas
palavras brutas dele. Deus me freie, dá vontade de matá-lo a cada instante.
Durante o preparo do almoço — logo que eu resolvi permanecer por
"livre arbítrio" — Felipe me prende a favor da pia e me propõe uma viagem
libertina, de fugirmos para uma pousada na serra. Quatro dias de puro sexo,
fetiches e safadezas. Dois amantes entregues a luxúria carnal. Eu até
contrapus, achando uma maluquice. Como vamos viajar assim de repente?
Mas com a sua carinhosa ameaça de me sequestrar por bem ou por mal,
convenceu-me a voltar a noite na pensão e fazer a mala. Na verdade, eu quem
repensei e quis aceitar.
Não tem nada que me impeça de viver este pecado.
Felipe é incrível, eu gosto de cada momento quente com ele. Ele está
me mostrando alguém que eu desconheço, mais forte, mais decidida e a cada
dia mais sonhadora. Quando isso acabar, pois... eu sei que vai... eu serei grata
por todas as lembranças boas. Cada sensação que está me fazendo sentir. É
indescritível. Mariano nunca me proporcionou tanta paz, desejos, vontades e
loucuras. Estou adorando a companhia do Felipe. O plano de me "sequestrar"
será eterno, pelo menos em minhas memórias mais íntimas.
— Você não gosta de doces? — Ele me indaga, surpreso.
— Não é que eu não goste, eu gosto, só não curto comer de monte.
— Vou fingir que acredito.
— É verdade, mocinho — afirmo, descendo o dedo pelo seu
abdômen... até a braguilha da sua bermuda. — Só que existe certo pirulito...
que é exclusivo, eu amo chupar todo o seu doce — pisco divertida.
Então viro as costas e saio correndo pelo gramado ensolarado. Deixo
ele parado, plantado na árvore. Felipe não demora a alcançar-me. Ele me
pega pelas coxas e forte, me joga sobre os seus ombros.
— Felipe!
— Podemos falar mais sobre esse pirulito ali na cachoeira!
A pousada não está suprindo tanto tesão. Parece que quanto mais a
gente fica junto, mais e mais queremos estender as coisas. Eu me sinto em
chamas vinte quatro horas por dia.
— Esta água está congelante. Nem louca eu entro aí — bramo,
tocando-a, enquanto ele tira a camisa e abre a bermuda.
— Em que cláusula da viagem, eu disse que a loira teria o direito de
dizer não? — Ele me captura.
— Eu tenho todo o direito...
O safado começa a abrir os botões do meu vestido de jardineira.
— Garanto que daqui a pouco a água vai estar fervendo conosco.
Ele me deixa só de lingerie.
— Meu pai amado.
Ao entrarmos no rio, abraçada a ele, eu me arrepio com a sensação
congelante nas costas. Felipe me solta e mergulha... puxando minhas pernas.
Eu vou até o fundo. Submerjo ofegante, procurando-o assustada. Ele retorna
e impede-me de repreendê-lo, pois sua língua faminta me deixa sem fala e
sem ar.
— Felipe... — murmuro, sua boca libertina me chupa, devorando
minha orelha.
Pego no seu rosto... e com o coração acelerado, fito seus olhos
castanhos. Ele para e une nossas testas. O som da água descendo violenta
pelas pedras da cachoeira se torna a melodia relaxante do nosso afago...
calor... desejo... sem palavras... do nosso sortilégio de toques na alma e no
espírito. Ele me beija e eu recebo seu beijo, seus lábios vivos, com
inspiração.
Felipe me tira da terra sem eu estar com os pés firmes. Eu chego ao
céu sem receber asas. Ele faz amor comigo. Eu me entrego aos seus, aos
nossos anseios. Desejando, almejando, senti-lo para sempre dentro de mim.
Mais tarde, no restaurante da pousada, após o jantar, dançamos
colados ao som de um moço cantando cover ao vivo de Ed Sheeran - Perfect.
E Felipe parece um bobo soletrando a letra tudo errado. Tem outros casais
como nós, dançando calmos e coladinhos.
— Você nem sabe o que a letra quer dizer — brinco, envolvendo-me
no pescoço dele.
— Mas é claro que eu sei. Aqui temos um fluente em inglês, linda.
— Ah, é? — Gargalho.
Ele se aproxima do meu ouvido e sussurra, acompanhando o cantor e
a música em inglês. Eu fecho os olhos, traduzindo em pensamento.
— Baby, I'm dancing in the dark — (Amor, eu estou dançando no
escuro). — With you between my arms — (Com você entre meus braços).
— Barefoot on the grass — (Descalços na grama). — Listening to our
favorite song — (Ouvindo nossa música favorita). — I have faith in what I
see — (Eu tenho fé no que vejo). — Now I know I have met an angel in
person — (Agora sei que conheci um anjo em pessoa). — And she looks
perfect — (E ela está perfeita). — I don't deserve this — (Eu não mereço
isso). — You look perfect tonight — (Você está perfeita esta noite.
Eu abro as pálpebras e sorridente, balanço a cabeça.
— Desculpa, eu nunca mais duvido de você. O senhor é mais fluente
do que eu.
Ele pisca todo convencido e volta-me a descansar no seu peitoral
cheiroso. Penso estar num sonho. Por isso... só o que peço.... é que não me
acorde. Não me acorde.
— Eu gostaria de fazer outra proposta a você... de fugirmos para bem
longe. Quem sabe para o interior do Brasil?
— Felipe, está delirando? — Fito suas íris. — Temos que voltar para
a cidade. Amanhã já é domingo.
— Todavia, não é uma ótima proposta? O amanhã não pertence a nós.
— Não é não, seu bobo — o beijo. — Tenho responsabilidades. E
acredito que o senhor também. E confesso do coração, eu amei tudo que me
proporcionou.
•••
Domingo à tarde, na volta de carro para casa, eu vou o caminho todo
pensativa e calada, como o Felipe. Ele não dialogou nem um 'a'. Estamos a
três horas só ouvindo a melodia da rádio. Pela primeira vez, eu não aprecio a
música, cada trecho da letra. Os quatro dias na serra passou voando. Nunca
me senti tão paparicada, feliz, risonha e alegre nos momentos em que
vivemos colados na linda pousada. Agora, neste veículo, aqui ao lado dele e
acordada para realidade, eu não sei, eu me sinto incompleta, estranha. Sinto
medo?
Ao chegarmos no seu AP, ele vai atrás de um carregador de celular.
Eu me sento no sofá, esperando ele retornar. Só quero meu quartinho e a
minha cama.
— Você vai me levar para a pensão? — Pergunto quando ele retorna
sem a camisa.
Seu físico é perfeito, impecável.
— Achei que não quisesse voltar agora?
— Eu quero... — revelo sem jeito.
Ele inclina os ombros e me dá um selinho.
— Sua família está preocupada com você?
— Acho que não, eu disse que ia fazer uma viagem de trabalho para a
agência de modelos. — Fito-o. — Por favor, Felipe... se você não quiser me
levar, eu vou de táxi.
Estranhando, ele arquea a sobrancelha e franze o semblante bonito.
— Eu estou achando que a loirinha quer é fugir de mim.
— O quê? Não, claro que não. Eu só quero a minha cama. Você vai
me levar?
Ele permanece sério.
— Ok. Eu só vou vestir uma camisa, os sapatos e já te levo.
Agradecida, consinto, desviando do seu olhar intenso. Ele se vai. Eu
me levanto do sofá e vou até o espelho ver a minha aparência. Eu pego o
batom da bolsa, entretanto, antes mesmo de cruzar a sala, a campainha toca...
Capítulo 21

Eu olho para o corredor, mas Felipe não vem atender a porta. A


campainha toca pela segunda vez. Eu retorno o batom para a bolsa e vou até à
entrada. Coloco a mão na maçaneta, então a puxo...
— Feli...
No mesmo instante, eu solto a maçaneta e dou um passo para trás. Ela
arregala os olhos. Não pode ser. É como se uma faca atravessasse direto no
meu peito.
— Você? O QUE VOCÊ FAZ AQUI?!
— Foi-foi um engano…
Ela tenta correr, mas esbravejo antes da infeliz sequer mover os pés.
— A vagabunda disse o nome dele!
Meu mundo desaba num estalar dos dedos. Novamente. Eu não creio
na realidade.
— Pronto, loira. Vamos?
Felipe volta, pegando a chave do carro de cima da mesinha de centro.
— Talvez eu durma na pensão hoje. — Ele ergue a cabeça e encara-
me. — O que fo...
Em seguida, a porta e a amante do meu ex-noivo. Seu semblante fica
em pavor. Sem forças para discutir, eu choro. Viro as costas e saio sem saber
andar.
— Eloíse! — Ligeiro, ele me alcança e puxa-me.
— Foi assim? — Bato no seu peitoral, empurrando-o. — Foi tudo
arquitetado? Tudo planejado para me levar para a cama? Para eu me entregar
a você? Ela disse o seu nome!
Ele me solta e passa a mão no rosto.
— Eloíse... Eu...
— Como pode fazer isso comigo, Felipe? Confessa a verdade. As
coisas estão óbvias. — As lágrimas desabam. — Não posso acreditar. Eu
encontrei aquela mulher ali — aponto para ela — na cama com o homem que
eu escolhi me casar, que eu escolhi montar uma família. E que por mais... —
soluço — que em meio aos defeitos dele, eu escolhi para me fazer feliz. Você
sabe como me doeu? Você sabe a dor que eu senti? E agora descubro que foi
tudo por sua causa!
Ele fica em silêncio.
— Eu sinto muito... — então diz. Seus olhos estão frios, neutros. —
Foi eu, Eloíse. Eu contratei a Bianca.
Seguro e vontade de berrar.
Abaixo a cabeça, chorando, ergo a mão e estapeio a sua face. Ele não
se move.
— Você é horrível. Desprezível. Sem caráter. Eu tenho nojo de você.
Eu quero esquecer cada minuto que passei ao seu lado. Não me procure
nunca mais. Suma da pensão. Suma da minha vida. Você já teve o que
desejava. Você já conquistou o que queria. Não existe mais o que tirar de
mim!
Em lágrimas descontroladas, eu viro as costas de novo e caminho com
a dor mil vezes pior do que o dia da traição do Mariano. O que eu fiz para ser
tão machucada? Sucumbida ao tormento, eu entro no elevador e apoio as
costas na parede de metal, sofrendo tão profundo que desejo pegar as minhas
coisas e ir para bem longe de todos que só me ferem.
****
Eu vejo o que restou da carcaça de um homem se desmontar em
segundos. Ela se vai. Ela se vai por minha culpa e eu não posso impedi-la.
Que porra, mas eu não deveria me sentir assim. Eu não quero me sentir
assim!
Chuto a parede do corredor.
— Felipe... — Bianca me toca no ombro.
— Eu disse para não me procurar mais!
— Eu estava com saudade...
Furioso, afasto sua mão, apertando e encarando com toda a ira do meu
sangue!
— Se você voltar aqui, eu mato você!
Solto-a. Ela se distancia assustada. E desesperado, retorno para dentro
do meu apartamento. Eu bato a porta com tanta força que as paredes vibram.
Porra... por que eu estou me sentindo assim? Que caralho!
Eu pego a mesinha de centro e a jogo com violência. Ela se estilhaça
em míseros pedaços no chão.
— POR QUE EU ESTOU ME SENTINDO ASSIM?! — Grito. —
EU NÃO VOU CORRER ATRÁS!
Certo ou errado, eu queria ela, eu queria aquela mulher. Eu estava
louco pelo seu corpo. Eu estava louco pela Eloíse. E eu a conquistei, eu
consegui o que eu queria da forma essa que fosse necessária. Agora não
bastava só me conformar? Por que eu deveria me sentir culpado? Nunca
prestei. Comi milhares de mulheres comprometidas. Qual a porra do motivo
da Galvani ser diferente?
Eu me sento no sofá, sem tirar a imagem do seu rosto em lágrimas,
nem das suas palavras... a sua voz embargada pelo desespero. Eu não consigo
parar esta merda de culpa. Eu não posso ter destruído a vida dela. Aquele
professorzinho não a merecia.
E nem eu. Eu nunca vou merecer uma pessoa tão linda, tão
esperançosa e sonhadora. Eu fui predestinado a morrer pobre de alma. Eloíse
se foi, igual Antonella. Só que Antonella se foi para ser feliz. Para encontrar
outro que a recompensasse no sentimento recíproco do coração. Essa merda
de sentimento que buscava e não poderia encontrar em mim. E eu aceitei que
ela me deixasse. Mas e a Eloíse? Ela... Eu não permiti que se fosse. O meu
desejo pelo seu toque, pela sua voz, pela sua pele, pelo seu perfume… meu
desejo por aquela loira linda era e é sem fim. Eu gostei dela mais do que a
qualquer outra. Até mais do que Antonella.
Não aceito a culpa, estou cansado de carregar tantos fardos. Machucá-
la foi similar ao dia em que invadia a base de jogos do meu pai e levei cinco
tiros no corpo. Aquele dia eu pude sentir a dor física do meu irmão… e agora
poderia ser a dor de ter armado para conquistar meus desejos banais mais
uma vez.
Porra... esta merda de culpa vai passar e eu vou voltar a ser o filho da
puta sem sentimentos de sempre. O que é um pecado a mais para quem já
está todo fodido na vida?
______________________________________
"Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está
ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível." –
Mahatma Gandhi
Eu pego o dinheiro, pago o mototáxi e caminho para dentro da
pensão.
No hall, antes da sala, chorando, eu olho para a escadaria e recordo-
me de como desci feliz, tão alegre com meu vestido verde. Eu me senti a
mulher mais bonita, mais incrível, mais valorizada do mundo. E hoje, eu me
sinto uma qualquer, usada no plano do mesmo homem que me aguardava
aqui, parado com o seu terno e a sua face atraente. Ele me olhava como se eu
fosse dele.
Oh, meu Deus! Eu quero que aquele traste morra. Eu odeio cada
segundo dessas recordações. Co-como ele pode ser capaz de armar para eu
ser traída? Tudo para me ver entregue as suas promessas, as suas luxúrias.
Felipe foi a pessoa mais desprezível e sem coração que eu já conheci. Espero
que um dia ele pague muito caro por ter me machucado desta forma.
Eu subo em prantos. Entro no quarto, trêmula, jogo-me na cama e fixo
os olhos no quadro de estrelinhas na parede.
— “Quando a vida te derrubar no chão, vire para cima e olhe as
estrelas”. — Então repito a frase do papai.
É só mais um sofrimento, é só mais um pai… eu não aguento.
Eu acordo no dia seguinte do mesmo jeito em que me joguei no
colchão. Minhas pálpebras doem. Meus olhos estão inchados de tanto chorar.
Eu ouço batidas na porta e julgo que foi isso que me acordou. Ao me
levantar, tenho uma vertigem pela tamanha força da dor de cabeça.
A pessoa do outro lado bate novamente.
— Filha, Eloíse, você está aí? — É a vó Aurora.
— Oi… — sussurro tonta. — Pode entrar, vó.
— Com licença.
Ela entra segurando uma pequena mala de rodinhas, roxa. A minha
mala da viagem com o… o Felipe. A angústia de ontem corta meu interior
outra vez.
— Querida, sua mala foi deixada por um homem alto. Acho que deve
ser algum segurança. Vim trazê-la para você.
— O-obrigada, vó Aurora. — Ela tenta averiguar meu rosto. Desvio-
me. — Desculpa, bença.
— Deus te abençoe. Aconteceu alguma coisa? Está triste? Foi a
viagem da agência?
— Não... eu só estou com uma forte dor de cabeça. Cheguei meio
tarde. E a viagem foi cansativa.
— É o Mariano, né? — Ela questiona repentina, ao parar na minha
frente e segurar meu queixo. — Confesso que ele passa quase todas as
manhãs antes do trabalho para ver se te encontra saindo da pensão. Ele está
tentando de todas as formas falar com você.
— É sim... — minto. — No entanto, por favor, não vamos mais falar
sobre ele. Depois resolvo esse "problema".
— Tudo bem. — Ela me solta. — Ah! E a sua mãe está espumando de
raiva para também conversar com a mocinha. E nunca tem a oportunidade,
pois você não para em casa. Por isso, Roberta pediu que a procurasse esta
noite. E sem falta.
— Será que ela vai falar sobre a minha nova carreira?
— Não, ela já sabe disso.
Eu esbugalho os olhos.
— Tenha calma — vovó me interrompe antes de eu abrir a boca. —
Vai ser mais fácil de discutirem, filha.
— Acho que não. Minha mãe quase surtou por eu ter terminado com
o Mariano. Como se eu fosse a culpada. Imagine agora?
— Você é adulta, tenha sangue-frio. Querendo ou não, Roberta vai ter
que aceitar. E, querida, desça para tomar o café, comer algum lanche. Estou
sentindo você muito abatida.
Após vovó sair, sento-me na poltrona, literalmente derrotada.
Capítulo 22

Sentindo-me necessitada de ar fresco, de paz, eu saio esta manhã para


caminhar na praia. Eu estaciono o carro em qualquer lugar da orla e começo a
andar sem destino na areia. O barulho das ondas me acalmam. A sensação de
natureza me deixa viva.
Eu sento debaixo de uma árvore e admiro por horas o mar. Pensativa,
imagino a cada segundo o Felipe, os seus toques, a sua voz, seu perfume,
nossos momentos na serra. Ele não sai da minha cabeça. Eu quero matá-lo, ao
mesmo tempo… — suspiro — ao mesmo tempo, não sei. Quando eu me
recordo do Mariano e dos dois anos em que vivemos juntos, não é igual, não
é tão intenso, tão forte.
O que está acontecendo com o meu interior? Eu só quero esquecer
estas lembranças.
À noite, na pensão, descubro o que a minha mãe queria tanto falar
comigo. Era sobre a herança da casa em cinzas do papai, ela pretende vender
para dividir entre nós três. Seu discurso é de que tentemos recomeçar
sozinhos. De que invistamos o dinheiro em qualquer negócio e que
cresçamos por si só. Por enquanto, Otávio não ficará informado. Bom, até ela
arrumar um comprador. Também achei que íamos discutir sobre a minha
mais nova profissão de modelo, todavia, ao entrar no assunto, ela apenas
soletrou em alto bom-tom: "que você sofra todas as consequências da sua
escolha" — nada negativo do que eu já não estivesse esperando há anos. Ela
me odeia e não esconde. E espero que eu realmente sofra todas as
consequências da minha escolha, pois, não descansarei enquanto não provar e
mostrar que Eloíse Galvani pode ser uma mulher de sucesso!
Sem um pingo de sono, de madrugada, sentada na sala enorme dos
hóspedes, lendo meu livro e saboreando de um chá de hortelã, eu noto um
barulho estranho vindo dos degraus da escadaria. Levanto os olhos e, em
assombro, quem atravessa o arco da antessala é Pietra, em seguida,
surpreendendo-me, o Otávio. Os dois param ríspidos e olham-me assustados.
Pietra principalmente.
— Pietra? — Eu arregalo os olhos. — O que você faz uma hora
dessas aqui? Otávio?
Eu analiso a blusa decotada e a mini saia jeans dela. Otávio me
encara, sem saber o que dizer. Eu não acredito. Eu vou matar esse merda do
inferno!
— Pietra, sua mãe sabe onde você está? — Levanto-me furiosa do
sofá.
— É... é claro que sim. Hoje eu estive trabalhando. Dona Aurora me
contratou para trabalhar como caixa do restaurante. Foi meu primeiro dia.
— Isso não justifica o que eu gostaria de saber. São 01h15 da
madrugada. O que vocês dois faziam juntos lá em cima uma hora dessas? Sua
mãe sabe que você se encontra fora de casa?
— Ela... ela não sabe, Eloíse, me desculpe. — Pietra abaixa a cabeça,
envergonhada.
Acho que eu não preciso perguntá-la mais nada.
— O que você fazia com esta menina, Otávio? Não me faça criar
possibilidades repu...
— Nada, Eloíse — ele me corta, nervoso. — Pietra não tem um
arranhão. Não por minha responsabilidade!
Sem vergonha, eu conheço esse desgraçado e não confio nele. Pietra
só tem 16 anos, assim como a Suellen, a minha amiga-irmã, considero Pietra
como outra irmã. Afinal, eu carreguei essa menina no colo. Eu até troquei as
suas fraldas. Otávio é um homem formado, ele não teria a capacidade de
estragar a vida de uma adolescente. E nem os laços das nossas famílias.
— Eu... eu estava estudando e cochilei. Otávio me encontrou no
escritório e quis me dar uma carona. Só isso.
— Pois, ele não vai mais. A mocinha vai passar esta noite na pensão.
Amanhã digo para dona Alverina que você ficou estudando até tarde comigo.
Vem, vamos subir para o meu quarto!
Eu pego o livro e caminho até ela. Pietra me acompanha. Otávio não
move um passo.
— E você, vá para o seu antro! — Ele me fuzila, odiando ser
mandado.
O deixo na antessala.
— A cama tem um baú com outro colchão — informo, após
entrarmos. — É só eu afastar o criado mudo.
— Eloíse... — chorosa, ela me para, pegando na minha mão. — Por
favor, eu te imploro, não diga nada a minha mãe. Ela vai me matar. Por
favor!
— Eu prometo não contar nada. Tenha calma — a levo para se sentar
na cama. — Mas o que o Otávio estava querendo com você? Ele não presta,
Pietra. Por mais que seja meu irmão, e que seja bonito, ele é um infeliz sem
caráter. Não vale o chão que pisa.
— Não foi ele... fui eu — ela chora. — Eu vi ele no escritório sozinho
e achei que gostasse de mim. Só que não gosta.
Vejo o brilho de decepção nos seus olhinhos.
— Eu sou muito menina para ele. Ele prefere as mais velhas. Mas eu
o amo.
— Meu Deus! O que você pensou, Pietra? Ellen sabe dessa paixão?
— Ela já me pegou o olhando. E me proibiu de vir aqui. Mas a minha
mãe me arrumou hoje o serviço do caixa. E eu quis tentar seduzi-lo. Porém,
fui rejeitada.
— Não, isso está errado. Você tem que tirar o Otávio da sua cabeça.
Ele é um homem mais velho, por mais que só tenha 21 anos, já viveu
experiências que... Meu Deus!
Eu me levanto da cama.
— Não, eu tenho que conversar com aquele imprestável. Você é
menor de idade. Uma adolescente!
— Não, Eloíse. Pelo amor de Deus, não diga ao Otávio. Não diga!
Desesperada, ela agarra meu pulso.
— Ele vai me evitar. Não vai nem querer conversar comigo. Nem ser
meu amigo.
— Pietra, você já se olhou no espelho? Já analisou o seu corpo? Você
está se tornando uma mulher. Otávio só não retribuiu suas investidas porque é
como uma irmã, é da nossa família. No entanto, não muda a razão dele ser
um homem na flor da idade, cheio de desejos. E você uma jovem bonita.
Ela fica triste, em silêncio.
— Eu sei, desculpa.
— Eu vou te emprestar uma roupa. Melhor que se deite e pense que
não vale a pena um rapaz como o meu irmão. Ele só tem beleza. Não tem
qualidades de um homem sério. Ele vai te iludir até você dar o que tanto
necessita. Depois o mesmo vai te descartar como uma mercadoria barata.
Afinal… não há o que você oferecer mais. Além do corpo, qual é outra
qualidade que eles buscam? — A sinceridade é dita tanto para a minha pessoa
trouxa, quanto para a dela.
Limpo a lágrima perdida no meu rosto e vou atrás de organizar a baú
da cama e pegar um pijama.
•••
Ao amanhecer, quando eu finalmente me vejo quase dormindo, sou
obrigada a levantar. Pelo jeito, Pietra não vai a aula. Ela dorme tão quietinha
e, em profundo sono, que não penso em despertá-la. Levanto, tomo banho,
visto-me e desço até a cozinha escura. Faço um café bem forte.
Algumas horinhas depois, a primeira pessoa a aparecer é a minha
mãe, em seguida, a vó Aurora, a dona Alverina e a Suellen. As três surgem
preocupadas, desesperadas.
— Eloíse! — Ellen vem correndo até mim. — Você sabe onde Pietra
se meteu? Mamãe me ligou dizendo que ela não havia dormido em casa. Que
levantou agora cedo e a infeliz não se encontrava em lugar nenhum! Sua vó
disse que…
— Calma, Ellen, calma. Ela passou a noite na pensão.
— O quê?
— Por que não nos informou?
— Eu fiquei ajudando a Pietra com uns deveres da escola até tarde. E
ela preferiu dormir no colchão do meu quarto. Me desculpem se eu não pude
avisar, estava cansada, exausta.
Ellen me encara, aliviada até o osso.
— Ai, meu Deus, essa menina me deixou louca. Apesar disso, que
bom que ela estava com você. E ainda te pedindo ajuda. Obrigada, Eloíse. —
Consinto, calada.
Dona Alverina vem até o fogão.
— Filhos é uma dádiva, mas dão um trabalho… — vovó comenta,
conversando.
— Ellen, pega um pouco do café e me acompanhe até a sala — peço
discreta.
— Por quê?
— Hum-hum — pigarreio. — Vem logo.
Ela pega e vem.
— Pietra deveria ter avisado pelo menos para a mamãe. Né?
— Ellen, me explica que história é essa da Pietra ser apaixonada pelo
cafajeste do Otávio?
— Ah, não... — Suellen cospe por pouco o café. — Eloíse, eu vou
matar essa menina. O que aconteceu de verdade? A vida dela se encontra nas
tuas mãos!
Eu conto tudo o que aconteceu, deixando-a perplexa.
— Não me deixa subir atrás da idiota. O que ela estava pensando? Se
oferecer como um saco de carne para um canibal descarado? Com certeza,
escondeu as roupas curtas na mochila!
— Fiquei surpreendida ao ver os dois.
— Que bom que, pelo menos, o Otávio respeitou a minha irmã.
— Desde que ela não atice mais os sentidos de homem dele. Você
sabe que Pietra é bonita. Ela está criando corpo. Me perdoe, mas é um "prato
cheio" aos sem vergonhas.
— Eu sei, depois converso com ela. Inocente, a gatona não é. Que
fogo no rabo dessas meninas hoje em dia.
— Humm... você perdeu a virgindade com 17 anos.
— Cala a boca. E você também. E ele era meu amor nerd da infância.
Mais feio do que um boneco de terror. Misericórdia. Como eu pude gostar
daquilo? Não chega nem perto do meu Heitor, forte, musculoso e cavalheiro.
E nem do seu pitelzão, o "Alencar"… como vai a sua vida descarada, hein
minha ami...
Meu sorriso se vai junto com o oxigênio.
— Bom dia.
Eu aperto o braço da Suellen em desespero. Ela se cala. Eu... eu tento
manter meu coração no peito ao engolir a saliva acumulada na boca. Eu paro
e ele me fita. Está sério, com os cabelos após banho. Olhá-lo me traz toda a
revolta à tona e um peso doloroso no estômago.
— O-olá — Ellen sussurra.
— Eu só vim pegar as minhas coisas, não quero atrapalhá-las. Com
licença!
Como ousa? Como pode, meu Deus?
Ellen me encara, após Felipe sair em direção aos degraus. Eu tento
esconder a vontade chorar.
— Eloíse, amiga? Ele… eu não entendi. O que foi?
— Nada!
Eu só queria ir atrás dele e socar sem parar o seu peitoral, o seu rosto,
até ele sentir esta dor. Esta tristeza no meu coração. O odeio. Que ela vá
embora para sempre. Que desapareça do meu caminho e que pague muito
caro pelo que me fez!
Capítulo 23

Felipe Alencar

Após me despedir da dona Aurora, eu saio da pensão sem olhar para


trás. Jogo as coisas no bagageiro do veículo, entro no carro e nervoso, dou
partida. Hoje tenho três planejamentos táticos para formular. A agência vai
estar pegando fogo. Porra, e eu ainda preciso resolver aquela droga de
problema.
— Bom dia, Sr. Felipe! — Minha secretária deseja.
Eu apenas consinto, calado. Ela franze o cenho, estranhando a minha
falta de humor. Peço licença e vou em direção ao escritório. No interior,
tenho a prazerosa visita do Fernando me aguardando.
— Bom dia, Felipe. Se divertiu? — Ele gira a poltrona, com o
semblante sério.
Nem faço questão de responder.
— Se quiser comprar as minhas ações, fique à vontade. Não preciso
dessa porra não!
— Estressado, florzinha?
— Diga logo o que você quer, Fernando?
— Eu quero saber se você resolveu o caralho das suas pendências. Eu
e nem a agência nos responsabilizamos. E nem pense que terá a minha ajuda.
Não movo um dedo!
— Inferno, eu não sei onde eles estão. Como eu posso resolver se os
filhos da puta não me procuram?
— Eles têm provas comprometedoras, você tem que deletar os
verdadeiros documentos. Ou caso contrário, vai apodrecer na cadeia!
— Talvez eu mereça. O que eu tenho mais a perder? — Jogo-me em
frente ao assento da mesa. — E por mais que eu não vá em cana, esses
demônios vão me matar. Meus dias estão contados. Eu preciso pagar pelo que
eu fiz.
Fernando se levanta, nervoso. E puto, ele soca a mesa de vidro.
— Você tem uma família, seu arrombado. E aquela noite, ninguém
sabe se foi ou não a sua culpa. Você estava sob efeito de álcool!
— E se não for eles também, Fernando? — Ele me encara. — E se for
uma outra quadrilha de bandidos infernizando a minha vida? Pois, esse dossiê
era impossível de alguém, senão os próprios familiares depois de dez anos
descobrirem a verdade e virem atrás do infeliz. E aquela noite, naquele crime,
só havia eu. Era só eu e mais ninguém.
— Foi um porra inconsequente, você se meteu logo com traficantes. E
não acredito que possa existir outros bandidos envolvidos. Tem que ser
alguém dos próprios familiares. A questão no momento é: ou você acha essa
pessoa antes que ela comece a te chantagear, ou confessa o crime e assista o
sol nascer quadrado.
Eu suspiro fundo, ainda sem saber o que fazer e como agir. A minha
maior vontade era de ir até a laje do prédio da agência e me atirar de lá de
cima. Não aguento colocar a cabeça no travesseiro e me imaginar naquela
noite. Eu não seria capaz de tal impetuosidade. Ou seria?
Fernando sai inquieto da sala. Eu volto para as obrigações do dia a
dia. Mesmo avoado das ideias. E mais tarde, após o fim do expediente, eu
decido visitar os meus lindos sobrinhos. Fiquei quase uma semana sem ver
aqueles arteiros.
— Felipe? — Na mansão, é Marta quem abre a porta.
Ela sorri toda alegre. Com certeza, eu sou o filho preferido.
— Seu maluquinho, quis me matar do coração?
Ela vem me abraçar, brigando comigo por eu ter sumido esses dias.
— Relaxa. Eu estava viajando, não se preocupe, mãe. Cadê as
crianças?
— Eu fiquei preocupada, sim. Elas estão tomando banho, chegaram
da escola agora a pouco. Vem, vem comer algum lanche saudável. Clara está
na cozinha com o Fernando.
— Porra, não bastava eu ver a sua cara o dia inteiro?
Eu rolo os olhos para o Fernando e o seu comentário recepcionista.
Joaninha do cu rasgado. Eu me sento a mesa. Clara está com a bebê no colo.
— Eu vim ver os meus sobrinhos, seu feioso.
Eu sorrio encantado para a minha sobrinha de olhinhos verdes. Ela
sorri igual a uma bonequinha. Fernando é um puta azarado. Adri puxou tudo
da mãe, desde os dedinhos dos pés, a pontinha do fio de cabelo castanho-
claro. Coisa linda do tio.
— Eu gostaria de um dia ver os dois machões se declarando, como
ama um ao outro.
Eu sorrio, zombador. Clara me fita de cara feia.
— Fernando já me ama, eu não preciso ser uma bixa declarada igual a
ele.
— Eu vou arrancar seus dentes da frente para nunca mais rir,
arrombado do inferno.
— Ei, para! — Clara pega a mamadeira da Adri e a deita para mamar.
— Ham-ham… — Ela pigarreia, fitando-me. — E a Eloíse, Felipe?
Meus músculos se enrijecem. Eu perco a vontade de me manter
divertido.
— Ela está na casa dela. Nem sei.
— Eu queria convidá-la para jantar aqui amanhã à noite.
Engulo em seco, inquieto.
— Esqueça. Não temos laços nenhum. Eloíse foi apenas um caso
passageiro.
Clara revira os olhos.
— Fernando e eu também éramos um caso bem passageiro. E olha
agora? Me casei com o cretino selvagem que eu odiava e que jurava ser só
uns "pegas".
Fernando a fita e dá uma piscadinha safada. Quase vomito de pena.
— Vocês estão casados a seis anos e não se enjoam de ficar juntos?
— Jamais. A gente se ama. Um casamento feliz se constrói por vários
fatores. Para dar certo, precisa da dedicação fiel dos dois lados. Eu sempre
estou fazendo a minha parte e sempre aprendendo com os erros e acertos,
para saber onde eu devo concordar e onde eu devo discordar do meu marido.
Ah! E vice-versa.
— O “discordar”, eu já não concordo!
— Quieto, amor. Eu quero por juízo na cabeça do teu irmão. Já que
você não ajuda!
— Mulher atrevida!
Eu gargalho, mas muito interessado na explicação da cunhadinha.
Não posso mentir que ela é sincera, esses dois demonstram de todas as
formas como se amam. Assim como igualmente amam e se dedicariam até a
morte pelos filhos. São amantes e companheiros. Fernando teve a grande
sorte de ganhar na loteria a mulher da sua vida. E eu nunca vou ter uma sorte
dessa. Nasci para morrer sozinho e com o peso do passado.
— Traga amanhã a Eloíse aqui, Felipe. Por favor. Será maravilhoso.
— Garanto que ela não viria nem se você insistisse. Ela não quer me
ver na frente dela nem pintado de ouro. E não faço questão de correr atrás de
mulher nenhuma. Não sou esses homens babacas!
— Meu Deus, eu me pergunto: como pode existir alguém tão
orgulhoso? Eloíse parece ser uma moça diferente de todas as outras mulheres
que eu já te vi acompanhado. Até da sua ex, a Antonella. E confesse: o que o
senhor fez? Pois, para ela não querer te ver nem pintado de ouro, é porque
aprontou alguma coisa.
— Não vem ao caso. Eu não quero que insista, fazendo favor. Eloíse
foi uma distração de dias. Já acabou. Não me acrescentou em nada!
Ela fica em silêncio, olhando-me de forma ameaçadora. Porra, eu
blasfemei contra o meu próprio interior. Aquela loira não supriu metade dos
meus desejos. Quanto mais eu penso nela, mais e mais eu quero tudo que
venha da sua pessoa.
— Felipe, os formulários, você entregou para os agentes da Força?
Quinta temos um evento para cobrir. Verificarei os helicópteros e os novos
equipamentos que chegaram dos Estados Unidos — Fernando questiona,
mudando de assunto.
— Eu entreguei. Ficarei com o despacho de uma equipe de segurança
na sexta. 03 será o chefe responsável. Tenho também os novos alistados para
verificar no galpão. O treinamento deles começará na próxima segunda.
— Não se apresse, eu gosto de verificar na etapa de dor.
Eu sorrio do prazer do Fernando que é torturar psicologicamente os
novos recrutas. Para ver se é digno ou não de ser um Garra. Não minto prazer
igual. O meu é no curso de tiros. Sou apaixonado por armas. E se o camarada
não acertar pelo menos na oitava linha do alvo, merece permanecer uma
semana no alojamento limpando chão.
— Eu vou deixar vocês conversando à sós. Vou ver se a babá
conseguiu trocar aqueles dois espertinhos.
Clara se levanta com a Adri sonolenta no ombro. Ela chupa o bico
rosa que lhe dei de presente na semana passada. Ao sair, eu o Fernando
continuamos a conversar sobre o trabalho e a droga das provas que os
desgraçados fizeram a Marta buscar do outro lado do RJ.
Entretidos, eu sou pego de surpresa quando Hayron e Heron aparecem
correndo para me abraçar. E chateados, ansiosos, os dois começam a discutir
sobre uma bola de futebol que o Fernando comprou e que a Clara, a mamãe
deles, havia confiscado, pois os dois tinha chutado no lustre da sala. E agora,
ela só entregaria a bola no final de semana para eles jogarem no jardim. Nem
preciso relatar de que eu fiquei com dó dos meus anjinhos e desejei comprar
mil bolas de futebol, né? Mas prezo pela saúde do meu pescoço. Clara
deceparia a minha cabeça. Fernando disse que ela faltou comer os olhos dele
de tanta raiva pelo lustre caro. E que a culpa era toda sua.
Mulheres? Como amar e suportar?

****

Duas semanas depois...

Após a correria da minha primeira campanha pela agência de modelos


ser um "arraso" — palavras da minha booker linda —, ela, ontem à noite, por
mensagem, me convocou para hoje cedo comparecer a uma reunião de última
hora. E a responsável pela reunião estaria a minha espera junto com a nossa
chefe, a CEO da agência de modelos "Model Brasil". Exatamente, a CEO da
terceira maior agência do RJ. Meu Deus. Eu vou morrer, eu nem conheço
essa mulher. E se ela não gostar de mim?
— Bom dia, Eloíse.
Na recepção da empresa, eu sou cumprimentada pelo mesmo rapaz de
sempre, o Junior. Ele é uma graça, tem vinte anos e ama moda. Já nos
consideramos amigos.
— Sortuda, hein? Já vai conhecer a CEO no primeiro mês de
modelagem.
Eu o acompanho no elevador, até o último andar.
— Meu pai santo, eu estou é morrendo de medo, Júnior. Será que ela
é chata? Pois a Rose, a minha booker, é maravilhosa. Adoro ela.
— Bom, eu não vou prometer que é um amor de pessoa — eu o
encaro, estremecida do coração. — Brincadeira, nossa chefa é legal.
Eu me alívio um tiquinho.
— É aquela porta ali — Junior informa, assim que saímos do elevador
e paramos no hall da secretária. — Converse com a secretária, se estiver no
horário certo, a Rose e a Chefa já devem estar lhe aguardando. Boa sorte,
Eloíse.
— Obrigada, Junior.
Eu engulo em seco. E ansiosa, com os saltos estridentes, eu caminho
até a secretária. Ela apenas pede a confirmação do meu nome, em seguida,
avisa da minha presença e me leva até a porta azul, maciça.
— Por favor — ela puxa. — Entre... estão à sua espera.
— Obrigada! — Eu consinto e dou três passos para dentro.
Ela fecha a porta. E ao entrar, as três mulheres inclinam a cabeça para
eu, por pouco, não cair dura. Na cadeira principal, encontra-se a tal chefa. E
nos dois assentos à frente da mesa está a Rose e a Srta. Clara Collins. Oh,
meu Deus. Eu posso morrer agora?
CAPÍTULO 23 PARTE. II

— Por favor, Eloíse. — Rose se levanta, formal. — Vem, sente-se ao


nosso lado.
Eu vou, mas antes de me sentar, em pé, ela me apresenta a CEO.
— Primeiro, eu quero te apresentar a nossa chefa, esta é a Jessica
Imogen. Filha da dona da Model Brasil. E a nossa CEO.
— Olá, é um prazer conhecê-la.
— Igualmente, Eloíse. — Ela retribui o aperto de mão firme.
— E essa é a maravilhosa Clara Collins. Acho que você já a conhece,
não há quem não conheça este sucesso de mulher e de moda!
— Claro que eu conheço. Sou uma grande fã e admiradora.
A Collins pisca e levanta-se para beijar meu rosto.
— Como vai, Eloíse?
— Bem... — Respondo, retribuindo o carinho e desta vez, sentando-
me junto delas. — E a senhorita?
— Eu, ótima. Apesar de que ficaria ainda melhor se você aceitasse
uma proposta.
— Proposta? — Encaro-a, em seguida, a dona Rose.
— Exatamente — Jéssica, a nossa chefa reafirma, chamando-me a
atenção para a sua face quadrada. — A srta. Collins nos procurou para entrar
em acordo. Ela te almeja como o rosto oficial dos seus esboços e da sua
marca de sucesso.
Eu abro a boca, incrédula.
— Eu quero você para mim, Eloíse. — Ela me olha, com a sua beleza
de dar inveja. — Eu quero que você seja a modelo da Diamante Collins.
Meu pai amado, eu vou ter um infarto. Como assim?
— Ma-mas eu tenho um contrato com a Model Brasil.
— Bom, a senhorita tem! — Jessica encara a Collins. — E não sei
como ficaremos nessa história. Caso quebre o contrato, pagará as cláusulas.
Elegante, Clara descruza as perna, opõe o corpo e sorri educada.
— Vocês continuaram com a Eloíse enquanto o contrato de dois
meses dela permanecer de pé. Eloíse fará todas as campanhas da minha
marca. E nesse período a Model Brasil também receberá a porcentagem como
descrita no contrato, os 46% de cache. No entanto, ao se finalizar o acordo,
ela não renovará nada com a agência e eu a empregarei oficialmente no meu
grupo de marketing.
Uau!
— E claro, caso a nossa linda Eloíse aceite a minha proposta. Então,
Eloíse, aceita?
Ela me fita. Eu sorrio, sem acreditar.
— Eu não sei. Eu estou confusa. Eu serei exclusiva da marca Collins?
— Sim e não, pois terá que fazer outras campanhas pela agência, caso
a convoquem. Pois a senhorita tem um contrato de dois meses restante —
Clara explica.
Em silêncio, eu olho para dona Rose e para dona Jessica. Elas estão
aguardando, sérias.
Ok, pelo jeito não é um sonho.
— Eu aceito sim. — Enfim respondo, feliz. — É uma proposta
maravilhosa!
— Ai, meu Deus! Que bom, Eloíse! — Declara, erguendo-se rápida
do assento. — Achei que seria um sacrifício te convencer.
Animada, Clara se despede da Rose, da Jessica e puxa-me para
acompanhá-la até o saguão. Pai amado, eu nem tive tempo de me despedir
direito.
— Seu lugar não é aqui. Vou te colocar na maior agência do Brasil.
Não desmerecendo a Model, por favor. Mas eu sou amiga da Tatiane, a CEO
da Volumbre. Contrato milhares de modelos dela.
— O-o quê? — Eu paro de andar, chocada. — Não acredito. A
Volumbre é impossível, Srta. Collins. Digo por merecimento próprio. É a
mais poderosa do brasil. É tipo uma Victoria Secret, só que em agência, ou
até a própria IMG Models. A maior do mundo.
— Minha cara, nada é impossível. Digo que vou te colocar, mas não
de forma ilegal ou errada. Jamais. O que farei é te apresentar para Tatiane
analisar o seu portfólio. E se for para ser, será. Não se preocupe. Eu não
preciso mover um dedo depois disso. Certeza que a Volumbre já é seu mais
novo sobrenome. Porém... — Ela volta a se deslocar. — Temos um contrato
de dois meses pela frente. Muito trabalho.
Ao chegarmos na calçada, Clara me impede de ir embora.
— Por favor, eu gostaria de convidá-la para conhecer o grupo
Diamante Collins. Logo que representará nossas peças nos catálogos de toda
a América Latina. E do mundo!
Eu vou desmaiar. Sinto-me em um sonho; de terror ou de conto de
fadas? Será que mereço alto grau?
— Eu não sei o porquê da senhorita estar fazendo isso por mim. Ou os
seus motivos — esperta, eu me refiro ao desgraçado do Felipe, seu cunhado.
— Contudo, serei eternamente grata se for por merecimento.
— Bom, é simples a razão. Eu estava procurando um rosto há meses e
o destino colocou "Eloíse Galvani" no meu caminho bem na hora certa. E eu
não sou de deixar as oportunidades passarem de mãos beijadas. É perfeita. —
Ela sorri, articulada e inteligente. — Vamos?
Bom, seu discurso foi deveras... convincente.
Eu aceito. Ela me passa o endereço da empresa e a sigo com o carro.
Ao chegarmos, ela me recepciona em direção ao incrível edifício, enorme e
bem arquitetado. É uma obra prima, idêntica as fotos da internet. Fico feliz
em poder conhecer.
— Eu gostaria de te mostrar tudo, caso desse tempo. Pois Guilherme
deve estar arrancando os cabelos de tanta raiva. Cancelei duas reuniões só
para ir na Model Brasil. E daqui a pouco já é hora do almoço, marquei de
almoçarmos com o meu marido. E Fernando odeia esperar.
— Almoçarmos? — Questiono no elevador.
— Sim, sim, daqui a pouco — ela responde, desentendida da palavra
em plural. E aperta no último número 10.
— Misericórdia, mulher! — Assim que o elevador se abre no andar
luxuoso, damos de cara com o Guilherme, que desfilava de um lado para o
outro, impaciente. — Eu estava ficando rosa choque de nervoso!
Eu sorrio como a secretaria do hall de entrada. Guilherme se encontra
uma graça de calça florida, blazer em conjunto florido, camisa branca e
sapatos... adivinha? Floridos. Tudo fashion e combinando. Lindo!
— Guilherme, por favor, mais tarde você dá os seus chiliques de
purpurina escandalosa. Quero te pedir uma coisa, que apresente a empresa
para a Eloíse. Preciso montar uma reunião de planejamento.
— Me respeite, sua cobra de saltos. E apresentar a empresa para... —
Ele, então, me encara. — Para quem... Eu não acredito! — Exclama perplexo.
Eu levanto discreta a mão.
— Oi, Guilherme.
— Oi... — Ainda perplexo, ele desvia dos meus olhos e fita a Clara.
— Deusa minha, chefinha baladeira, quando tu promete uma coisa, ninguém
pode ficar no teu caminho, hein? Chocado bebê!
— É lógico, meu anjo, agora vá. Faça o tour da empresa. Tem meia
hora até o almoço. Almoçaremos juntas. — Ela pisca para mim.
Gente, almoçaremos mesmo?
— Eloíse, deixa eu te aconselhar. Tome cuidado com a Clara Collins,
tu tá numa enrascada, minha querida — ele sussurra e puxa meu pulso para
retornamos ao elevador.
— Olha, eu escutei, purpurina maléfica.
— É sem volta. A mulher é uma atrevida inteligente — diz muito
mais baixo no meu ouvido.
Sorrio. Acho que o Guilherme tem plena razão. Ela é muito
inteligente e ardilosa. Uma verdadeira mulher de sucesso. Já a amo mais
ainda. Meu Deus, eu vou ser o rosto da sua marca de grife. Dois vestidos seus
já foram usados na cerimônia do Oscar. As famosas brasileiras consideram a
marca queridinha delas. Até a Marina Ruy Barbosa já fotografou para
Collins. Agora sou eu sendo o rosto das revistas!
Aaaaah, eu tô surtando por dentro!
•••
Quando retornamos do tour incrível — a empresa é um luxo, eu fiquei
até tonta —, Collins consegue me convencer de almoçar com ela só na
terceira vez.
E tem como dizer não para a minha mais nova chefa?
— Gostou da parte da confecção? — Pergunta, enquanto eu a
acompanho no estacionamento do subsolo. Nossos saltos agulha cantam o
andado feminino.
Hoje eu escolhi uma calça jeans bem justa e uma blusa vermelha com
recorte delicado nos seios. Clara Collins veste um vestido preto, de manga
curta e de fenda até o meio da coxa esquerda.
— Eu amei. Simplesmente incrível. Perfeito!
— Ai, que maravilha. Quero que você se considere em casa.
Ao entrarmos no seu automóvel, antes dela dar partida, ela suspira
feliz ao ler algo no celular.
— Graças ao bom Dios, os fornecedores orientais chegam hoje as 15h
com a remessa de tecidos árabes. Meus designs ficarão pirados: fios de ouro
puro. — Ela me olha. — Já imagino você fotografando essas peças
exclusivas. Vão brilhar com a sua beleza loira. Vou montar o desfile oficial
em Milão, antes do inverno!
Clara está saltitante, pois sai cantarolando satisfeita e fazendo-me
conversar com o meu próprio controle nervoso. Será que eu estou preparada?
Se for, eu não acredito.
Ao estacionar perto do restaurante, eu desço do carro conversando
com ela sobre moda. E recebo dicas de ouro. Na entrada, atravessamos a
porta do local já sentindo o cheiro mais do que bom da comida. Clara analisa
os arredores movimentados de mesas e de pessoas conversando. Acho que
procura o marido.
— Ah, será que chegamos prime... não! — Ela faz careta. — Esse
homem sempre chega antes de mim. Vamos?
— Sim.
Eu a acompanho, procurando a direção que es... estava olhando. Eu
arregalo os olhos. E então paraliso, em desespero!
— Eloíse? — Surpresa, ela também para na minha lateral. — O que
foi? Por quê parou?
— Eu... eu...
— Tudo bem?
Não. Não está!
Furiosa, eu levanto a cabeça e encaro a srta. Collins. Quer saber de
uma coisa? Eu não vou pagar de patética medrosa e intimada só por conta da
presença daquele cafajeste sem escrúpulos. Se eu já estou aqui, eu vou me
vingar. Felipe pagará muito caro por ter me usado.
— Nada. Tudo ótimo. Foi só a ponta do salto que se enroscou no
tapete!
— Ah, sim. — Ela pigarreia e voltamos a andar. — Bom, eu estou
faminta, espero que você também esteja — supõe sincera.
— Não muito.
Eu perdi até a fome. Minha vontade era de virar as costas e ir embora
deste restaurante. Todavia, por respeito a Clara, eu serei educada e forte. Eu
preciso provar para mim mesma que posso ser uma mulher de força.
Eu me darei o próprio valor.
Ao nos aproximarmos, Felipe levanta a cabeça e encontra-me,
incrédulo. Eu engulo em seco, mas não pisco, desta vez, eu não vou ser
intimada por tal beleza máscula. Nele, não existe um sinal sequer de
arrependimento. Ultraja frieza.
— Chegamos, amor. — Clara beija o marido. — Acho que você já
conhece a Eloíse.
Desvio dos olhos do Felipe e aceno séria, em cumprimento ao
Fernando. Ele retribui sem aperto de mão e sem mover um “a” dos lábios.
Esse homem me causa arrepios.
— Bom, o Felipe e você já são conhecidos. Sem maiores delongas.
Sentamo-nos, eu bem ao lado da Clara. Estranho o comportamento
dela. Chego a pensar que ela sabe do que me aconteceu e armou este
encontro. Ou... s-será armado desde o começo de hoje, na Model Brasil? E-e
por que ela faria isso? Não, não pode ser. Eu estou é criando coisas na minha
consciência. Eu estou tirando conclusões precipitadas. E por conta deste
infeliz.
Felipe me encara frio e áspero. Eu o encaro rude e sem vontade de
estar compartilhando do mesmo espaço que a sua pessoa. Ele deveria era se
ajoelhar e pedir perdão aos meus pés, para eu humilhá-lo na frente de todo
mundo!
Clara nos nota, pois pigarreia,
— Ham-ham, eu vou contar em primeira mão para os senhores. Eloíse
será o mais novíssimo rosto da marca Diamante Collins. Trabalhará comigo.
E vai fotografar as peças para todos os catálogos.
— Hum. Parabéns, Clara. — Felipe abre um sorriso de linha. —
Achou, enfim, a sua "modelo". — Ele é grosso ao se desviar e fingir que eu
não existo.
Como ele ousa achar que está no direito de agir ignorante?
— Veja só como o mundo é pequeno, né querido cunhado? Não se
pode perder as oportunidades boas da vida. O destino jamais nos garantirá
outra sorte como esta. — Ela é enigmática, deixando-o inquieto.
— Vamos pedir a comida logo, temos muito trabalho na agência! —
Fernando joga o cardápio para o irmão. — E parabéns, Eloíse!
Espera, ele se dirigiu a mim? Jesus!
— Obrigada, Fernando.
Clara sorri e escolhe o que vai comer. Eu escolho o mesmo que o
dela. Enquanto os nossos pratos não chegam, ficamos em silêncio. Bom, eu e
o cretino do Felipe. E quando os pedidos chegam, o silêncio é preenchido
pela ação dos garfos e da "fome".
— Quero convidá-la, Eloíse, para participar de um jantar hoje à noite
na minha casa. — Clara diz. Felipe ergue o rosto na hora. — É aniversário da
Marta. Eu acho que você já deve conhecê-la. Ela disse que te conhece. Ah, e
que ficaria muito feliz se você comparecesse. Será algo em família.
Em família? Piorou. Eu não quero nenhum envolvimento com a
família Alencar. E por motivos óbvios. Odeio o Felipe!
— Eu ficaria muito feliz, mas...
— Então fechou. O motorista te pega às 19h30 em ponto. — Eu abro
a boca, só que ela continua a falar, não me deixando contestá-la. — Ai, Marta
vai pular de alegria. Já tinha até reservado o seu lugar na mesa, acredita?
Eu me calo. O que eu teria mais a dizer?
Felipe balança a cabeça. Não parece nada surpreso pela ação da
esposa do irmão. Será que o Guilherme tinha razão?
Após o almoço, Fernando nos impede de pagarmos a conta. Entrega o
dinheiro vivo e levanta-se para sair com ele, o idiota do Felipe. Diferente do
irmão, nem se despede. Como pode agir falso, estúpido? Se acha o quê? O
certo de ter armado aquela traição do Mariano contra mim? Me-meu senhor,
Isso... isso prova que eu fui insignificante, apenas mais uma foda na sua lista
extensa de vagabundas. Eu caí certinho no teatro. Eu o odeio para sempre.
Quero matá-lo!
— Me perdoe ser indiscreta, mas eu sei que você e o Felipe estão
brigados — sozinhas, Clara entra no assunto. Ela degusta do vinho, larga da
taça e observa-me. — Ele quem confessou.
— Não tivemos nada para estarmos brigados. Felipe é um homem
sem caráter. Até me surpreendo por ele ter lhe dito sobre mim. Pois fomos
uma distração de duas semanas. Na verdade, eu fui a distração.
— Eloíse, esqueceu que ele te levou na minha festa?
— Porque a senho... você o fez me convidar — sussurro, escondendo
a tristeza.
E que merda de tristeza? Não! Eu não sinto nada além de raiva e nojo!
Contudo, ela nota a minha voz embargada.
— Perdão, eu não sabia que o Felipe tinha te magoado tanto assim. E
nem imagino o que ele possa ter feito, pois o cretino não me confessou.
— Acho que ele foi a pessoa que mais me decepcionou após a minha
frustrante carreira de professora — desabafo, desejando revelar a verdadeira
face dele. — Eu o odeio. Quero que esse homem pague muito caro pelo que
me fez.
— Eloíse, eu não sei o que ele te fez de ruim. E igualmente sei que o
Felipe não presta no sentido ter um compromisso duradouro. Pois depois que
Antonella o deixou, a sua primeira e última namorada, ele gritou aos quatro
cantos da terra que mulher só o serviria para sexo, até encontrar outra que o
abalasse e que nos apresentasse a família. Você!
— Só que ele não me apresentou. Você o fez me convidar aquele
sábado, Clara. E ele, forçado, não teve como negar. Da mesma forma na sua
festa, não teve jeito, ou o Felipe, me desculpe, mas apresentava a sua "foda" a
sua família, ou pareceria grosseiro. O que não faz o feitio dele. Logo que ele
é meio educa... — Ela sorri e recomponho-me. — Que ele é ele!
— Felipe é galanteador. E Eloíse, um Alencar nunca é "mandado à
força". Deve haver alguma recordação disso aí na sua cabecinha.
Eu engulo a saliva acumulada, confirmando pelo dia em que Felipe
me atropelou e me fez subir a força no seu apartamento. Nervosa, eu ordenei
os meus pertences aos berros e ele saiu do controle, agarrando-me e beijando-
me a força. Também na noite antes de viajarmos para a serra; "eu lá sou
homem de ser mandado" — recordo-me da sua fala, esfregando aquele... grrr.
Cafajeste.
— Creio que deva ter se recordado. Agora diga, quem sou eu para
mandar num homem daquele porte? Ele nem escuta o irmão, que é um ogro
autoritário, mandão e cheio de leis. Quem me dirá a cunhada. Felipe é
impulsivo, faz o que bem quer e o que bem lhe der na telha. Fernando só falta
o estrangular nas operações da agência de segurança. E quando eu disse que
ele te apresentou a família, foi por que ele quis, Eloíse. Foi como dizer a nós,
esta é a minha mulher! — Ela declara, fixa a mim. — Você mexeu com
aquele coração orgulhoso. O que você viu aqui nesta mesa não foi nada mais
do que orgulho e medo de assumir os reais sentimentos. Ele não vai aceitar e
nem admitir que ama uma mulher de todo o coração. E por mais que ele
possa ter te magoado de forma essa que eu desconheço, Felipe não saberá
pedir perdão ou desculpas. Não é da sua índole. Ele é egoísta, egocêntrico,
prefere deixar você ir do que te ter ao lado dele, estancando as suas feridas...
os seus pecados e o ajudando a carregar a cruz. Ele prefere morrer sozinho do
que amar alguém e compartilhar dos fardos. E por que eu sei? Porque
Fernando Alencar foi desarmado por mim. E Felipe está te dando a tesoura e
o fio na mão. Eu não conheço a tua vida, o teu passado, ou as tuas dores.
Entretanto, eu sinto que gosta dele. E é a única que pode ajudá-lo. Não a
carregar a cruz, ou a carregar esses tais fardos pesados, mas o ajudar a
estancar, a cicatrizar as inúmeras feridas abertas no peito. Ele precisa
conhecer o amor. Amadurecer as atitudes de meninão derrotado. Ele precisa
de uma mulher como você!
Capítulo 24

— Eu não posso ser esta mulher, Clara. — Desvio dos seus olhos. —
Eu não sinto nada além de raiva por Felipe — e volto a olhá-la, suando as
mãos. — Ele apenas me conquistou para satisfazer os seus desejos. Não fiz a
menor diferença. E igualmente ele não fez para mim. Quero que aquele
canalha se dane, assim como ele não se importou com as minhas dores, eu
não sou obrigada a me importar com as dele!
— Eu sinto muito, de verdade. Não posso dizer que são dois
orgulhosos, pois não sei o que o Felipe aprontou. Seria uma escolha hipócrita
dos lados. E a minha escolha sempre será o amor. No entanto, para dar certo,
nesse bolo, só falta a cereja... e alguns ajustes no glacê. — Collins sorri
misteriosa, pega a bolsa e levanta-se, chamando-me para irmos.
Nem me atento a questionar a frase. Não existe nenhum ajuste, não
tem o "que" para faltar alguma coisa. O detesto.
Dentro do seu carro, eu vou pensando nas palavras articuladas dela. E
também, Clara insiste outra vez que eu vá ao jantar. Nem insiste, ela reafirma
a minha presença esta noite. Confesso não estar nem um pouco feliz.
Eu pego meu carro e volto para a pensão. À tarde, eu ajudo a minha
vó com a soma de algumas contas. Às 17h30, antes de subir para tomar
banho e me arrumar, eu passo pela porta da lavanderia e volto encabulada,
pois noto um som de vozes muito baixas. A vó Aurora está na cozinha com a
dona Alverina. E os hóspedes não têm acesso a este lugar. Quem poderia ser?
Curiosa, eu giro a maçaneta. E ao entrar, eu deixo um grito de pavor e susto
escapar. Arregalo os olhos, furiosa.
— OTÁVIO!
Rapidamente, Pietra se desenrosca do pescoço do sem vergonha e o
empurra. Dois sem vergonhas!
— Como você ousa?! NÃO TEM VERGONHA?!
Ele se distancia, encarando-me, pego no flagra. Eu vou matá-lo.
— Essa menina só tem 16 anos. Eu vou matar você!
— Eu... porra, eu não tive culpa. Ela...
— Cala a boca!
— Que merda, Eloíse!
— Os dois deveriam ter vergonha na cara. Você é um homem adulto!
Pietra abaixa a cabeça.
— E não pense que eu não vou contar para a sua irmã, Pietra. Não
quero ver esta cena se repetindo. Eu quero matar vocês!
Otávio me olha, puto.
— Eu não sou pedófilo, é essa garota que fica me enchendo o saco.
— Volta aqui! Otávio, voc....
Ele, então, pega o capacete do chão e sai da lavandaria sem me deixar
terminar de falar. Eu coloco a mão na testa, pedindo calma e paciência.
— Eloíse, não conte a...
— Você não tem o direito de me pedir nada! — Esbravejo. — Estou
chateada com as suas ações. O que conversamos aquela noite não te serviu?
Entrou num ouvido e saiu no outro?
— Me desculpe, eu... eu amo ele.
Nervosa, eu me aproximo dela.
— Você só tem 16 anos. É uma paixão que não é certa. Eu já lhe
expliquei o porquê!
— Eu faço 17 daqui a dois meses. E já estou cansada de todo mundo
me tratando igual a uma criança. Eu não sou uma menina boba, eu sou uma
mulher. Otávio retribuiu meu beijo.
— Ah, então a senhorita "mulher" assume que o beijou? Que está
provocando ele? Você sabe a consequência dos seus atos? Tem noção?
— Eu... eu sei. Mas só quero que ele se apaixone por mim. Que me
ame.
Eu vejo que não importa o que eu fale, os conselhos que eu berre, essa
menina está irredutível. Suellen vai surtar. É capaz de bater na irmã. Eu terei
que conversar com o Otávio. Ele precisa parar esta obsessão dela, antes que o
próprio faça uma besteira.
— Eu gosto muito de você, Pietra. Sabe que te considero como uma
irmã. E não posso deixar que o Otávio estrague a pessoa doce e carinhosa que
você é. Vá para cozinha, sua mãe já deve estar indo embora.
Sem me contestar, ela sai do apoio da máquina e passa por mim de
olhos baixos. Eu suspiro, viro as costas e caminho em direção ao primeiro
andar.
Aqueles dois vão me levar a loucura. Meu maior medo é de que dona
Alverina descubra da tal paixonite. Ela sabe que o Otávio não quer
compromisso nenhum. É um traste mulherengo.
No quarto, indecisa e ansiosa por não saber qual roupa escolher, eu
saio tirando todos os vestidos dos cabides — e no fim, opto por um preto
soltinho, com decote V profundo e ombros nus. Ele vai até o meio das coxas.
Tomo banho, seco os cabelos, faço uma escova caprichada, a maquiagem,
coloco o vestido e para finalizar, calço as sandálias de salto pretas. Concluo
que não fiquei tão chamativa, contudo, elegante.
Na sala da pensão, aguardo o tal motorista, sentada no sofá. Graças a
Deus, ele chega quinze minutos depois.
— Boa noite! — Aproximo-me do carro e do senhorzinho na beirada
do meio-fio, ele me cumprimenta segurando a porta do passageiro.
— Olá, boa noite! — Consinto educada.
— Por favor...
Eu entro, ele fecha a porta e volta ao volante.
Durante a viagem, eu vou admirando a vista da cidade pela janela. E
sem querer, pego-me pensando naquele discurso da Collins hoje no
restaurante. Eu não deveria me importar com as dores, com as feridas dele.
Eu não deveria era nem pensar nele. O que ele fez para me ver entregue aos
seus desejos, foi nojento, sem caráter. Sem dizer... que não se importou com
o meu sofrimento. Senti-me um objeto descartável.
Em uma hora, o motorista entra num conjunto residencial luxuoso.
Ele vai até a sexta casa chique e desce, abrindo a porta e aguardando-me. Eu
estou nervosa. Muito nervosa.
— Obrigada. — Ele me ajuda a sair, apoiando cavalheiro a minha
mão.
Parada na calçada que leva a enorme porta principal, eu respiro,
olhando o jardim da frente bem iluminado e rodeado de pedras brancas. Isso
não é uma casa, é uma mansão. Que coisa linda. Na porta do local, eu aperto
a campainha. E quem me recebe é uma moça de cabelos cacheados. Ela sorri,
receptiva.
— Olá, por favor, me acompanhe. Srta. Clara está na sala com os
outros convidados.
Agradeço e vou, encantada com o interior aconchegante e bem
mobiliado. Ao fundo, toca um jazz romântico.
— Eloíse?! — Do sofá, Clara exclama meu nome ao se levantar do
meio do grupo de seis homens e três mulheres, entre outros que se encontram
espalhados.
O desgraçado do Felipe está entre eles. Conversa animadamente com
as pessoas.
— Olá, seja bem-vinda. — Ela me abraça.
— Obrigada, é uma honra. É tudo muito glamouroso.
— Que isso. É você que está lindíssima. Aceita um vinho? Um
champanhe?
Noto Guilherme desfilar faceiro em minha direção.
— Uh-la-la, hein Eloíse? Tá um xuxu, meu bem! — Ele comenta e
pisca.
Eu sorrio. Ele veste uma bermuda, com estampa de abdômen
malhado, e camisa azul, combinando com os sapatos de grife. Gui é muito
inovador.
— Obrigada, Guilherme. Você também está muito bonito e charmoso.
— Ai, são seus olhos!
— Gui, por favor, poderia pegar uma taça de champanhe para a
Eloíse?
— Só um minuto, minhas queridas, eu estou de olho naquele garçom
moreno de olhos claros. O deuso maravilhoso.
— Sangue meu, não me faça trancá-lo no sótão, Guilherme!
— Ok, já vou, mas não garanto retornar!
— Cadê a dona Marta, srta. Collins? Gostaria de lhe desejar um feliz
aniversário.
— Ah, sim, é mesmo, ela está com as duas irmãs e a minha mãe,
organizando a mesa de jantar. Venha, vou te levar até ela.
Ao passarmos por de trás dos enormes sofás, rindo, Felipe vira a
cabeça e fecha devagar os lábios, encontrando meus olhos semicerrados. Eu
desvio, puxando assunto com Clara.
Na sala de jantar, eu vejo uma mesa de vinte quatro lugares já pronta
com os pratos e talheres. Em pé, Marta, dona Juliana e mais duas mulheres
conversam entusiasmadas. Eu sou apresentada a todas elas. Em especial, dou
um abraço e desejo um feliz aniversário a anfitriã. Pena não ter trazido
nenhum presente, afinal, eu fui convidada de última hora.
Após muita graça delas, que são uns amores, eu deixo Clara
resolvendo outro assunto e volto caminhando com o Guilherme.
— Eu não entendi o porquê da Srta. Collins ter insistido tanto em me
convidar. Sinto-me deslocada — confesso a ele.
— Está tudo bem, Eloíse, eu também não conheço direito a família da
mãe dos Alencar. E adorei conhecer, ela tem uns sobrinhos lindos. Olhe
discreta pro segundo sofá a nossa esquerda, aquele ruivo alto.
Eu olho discreta... e que isso? Nossa, realmente o cara é bonito.
Tirando o monte de barba ruiva e os cabelos até os ombros, até gostei.
— E aí, não é um pedaço de pão multiplicado por Afrodite? O buraco
da minha fome chega a roncar. Eu ficaria cem dias tranquilo no deserto se no
final o meu alimento fosse aquele gostoso.
Eu caio na risada.
— É sim. Você é terrível.
— Ai, ai, minha senhora dos bofes divinos, ele se levantou do sofá.
Venha, vamos nos aproximar do garçom para pegar mais vinho. —
Guilherme me puxa. — Quero provocar ciúmes. Socorro, eu estou pegando
fogo!
O homem ruivo caminha na mesma direção que a nossa. Meu Deus. E
o Guilherme não para de andar.
— Guilherme, Guilherme, ele, ele...
Paramos de encontro com o garçom e o moço de madeixas
enferrujadas.
Ele me fita e eu ergo a cabeça, corada.
— Ai, querido, perdão, parece que só temos uma taça de vinho para
disputar.
— Eu posso pegar mai.. — o garçom diz e Guilherme pisa no pé do
coitado, calando-o.
— Não... tudo bem, podemos deixar para a senhorita. Se não se
importar? — O homem pega a taça e oferece-me.
Senhor, eu estou queimando de vergonha.
— Eu? De forma alguma, anjinho, nossa linda loira merece.
— Realmente, muito linda.
Eu quase caio para trás.
— Por favor, aceita, senhorita...? — Ele questiona o meu nome, bem
paquerador.
— [...] Eloíse... Obrigada, é muita gentileza. — Eu pego, tocando-o
nos dedos.
— Você é sobrinho da Marta, né? — Guilherme puxa assunto.
— Sou sim, mas não moro na capital.
— Hum, é do interior?
— Sou. Cheguei ontem de viagem.
— Que incrível... né Eloíse? — Gui bate de leve no meu braço.
Quase tusso o vinho.
— É, é sim. Muito interessante.
— Qual o seu nome?
— Samuel. Vocês são parentes de algum familiar da Collins? — Ele
me observa com segundas intenções.
— Não. Eu sou o sócio dela e a Eloíse é uma amiga nossa.
— Hum, amiga? É um prazer conhecê-la — pisca.
Eu sorrio.
— Samuel! — Uma voz grossa e arrogante surge ao meu lado, quase
me fazendo perder as pernas de incredulidade.
Eu fecho a boca, seguro na mão do Gui e o encaro. Meu coração só
falta saltar pela caixa torácica. Como esse homem ousa aparecer quase
raspando em mim?
— Felipe?
— Lembro-me de não termos finalizado o assunto da sua noiva.
Estava tão... tocante.
— Ah... — o homem fica boquiaberto e desvia dos meus olhos. — É,
claro. Ela está bem.
— Noiva? — Gui sussurra para mim. — Gente, o bofe não presta?
— Hum. Que bom que vocês não perderam a criança. Soube que
nasceu prematura?
— Não, não perdemos. Ele continua internado na incubadora.
O que o Felipe pretende com estas perguntas, intrometendo-se no
papo alheio?
Ele está tão cheiroso... alto... de camisa social preta por dentro da
calça jeans. E um blazer dando ar de classe. Um desgraçado lindo... O odeio.
O detesto!
— É... peço licença, vamos deixar os senhores conversando à sós.
Felipe me encara bravo, fuzilando-me com os músculos rígidos.
— Sem caráter... — então, sussurro para que ele ouça.
Eu sinto vontade de bater na cara dele, mas Guilherme me puxa.
— Eu não acredito... como, como ele... eu quero matar aquele homem
estúpido! — Exclamo nervosa.
— E eu? Caramba, o safado tem noiva e um filho. No entanto, pelo
menos funcionou. Um Alencar nunca deixaria de marcar território.
— O... o quê? Eu não estava falando... Espera, eu não acredito.
Aquilo era um plano seu e da Clara?
— Não! — Ele me para rápido e afobado. — Desculpa, bonequinha,
foi eu quem tentei chamar a atenção do boy.
Desconfiada, cerro os olhos.
— Eu e o Felipe nunca tivemos algo sério, quero deixar bem
explícito. Ele me usou. Eu o odeio. É um cafajeste sem escrúpulos, sem
caráter!
— Que tal procuramos as outras mulheres? Acho que o jantar já deve
estar para se iniciar — Guilherme desvia do assunto. — Vem?
Eu terei que revelar a verdade para que entendam a minha situação de
uma vez!
CAPÍTULO 24. PARTE II

Durante o jantar, o tal Samuel não tirou os olhos de mim. Da mesma


forma, o Felipe com as suas íris rudes. Eu escolhi me sentar ao lado da dona
Juliana, a mãe da Clara. E ao lado do Guilherme, seu design e melhor amigo
famoso. Eles conversam a todo instante excitados. Me fazem até esquecer dos
olhos do Alencar.
— Querida Eloíse, não aceita uma fatia de bolo? Juro que não fará
muita diferença na dieta — Marta brinca, estendendo-me o prato, após eu
terminar a entrada principal.
Sorrindo agradecida, eu pego e volto a conversar com o Gui. Ele fala
sobre seus mais novos lançamentos de vestidos finos. E claro, com muita
graça para divertir um pequeno quadrado da mesa. Na extensão, ao todo se
encontram vinte quatro convidados rindo e cada um contando inúmeras
histórias de vida.
— Então, você foi professora? — Dona Marta questiona, buscando
assunto.
E curioso, Samuel inclina a cabeça para me observar.
— Sim, eu fui pedagoga.
— Professora? Uau, jurava que era alguma modelo.
— Como assim, meu bem? Ela é uma modelo! — Guilherme faz
questão de frisar a ele, mas Clara o fuzila para se calar.
Eu coro, envergonhada.
— Não sou ainda. Todavia, batalhando para conquistar este objetivo.
— Creio que terá muito sucesso. — Marta é um amor. Eu retribuo o
sorriso.
— Eu também acredito que terá muito sucesso. É hipnotizante
examinar a tua beleza. É linda demais.
Algo na mesa estoura, chamando a atenção do nosso quadro de
conversas. E é o Felipe que apertou uma taça de vinho na mão e quebrou-a.
Eu engulo em seco, surpresa. Ele encara o Samuel, sem esconder o semblante
furioso.
— O que foi com o Felipe? — Dona Juliana sussurra perplexa para
Clara.
— Não sei... — ela me olha. — Talvez seja ciúmes?
Eu quase me engasgo com a minha fatia de bolo de chocolate.
Ciúmes? Não, não pode ser. Felipe é um desgraçado sem sentimentos.
Dona Juliana olha na mesma direção que a filha e cala-se. Marta
percebe. Eu fico nervosa.
— Melhor deixar quem terminou voltar a sala para degustar da
música, das bebidas e dos quitutes doces. É mais confortável.
— Ótima ideia, Marta.
Dona Juliana não demora a se levantar e a deixar livre para quem
quiser voltar a sala de entrada. De pouco em pouco, vamos abandonando a
mesa. Samuel vem me seguindo.
— Eloíse...
— Flor, quer que eu continue com você ou te deixe a sós com o
Samuel? — Guilherme pergunta rápido.
— Pode ir se divertir, eu sei de umas defesas pessoais — pisco.
— Tá bom, xuxu. Vou atrás dos garçons. — Ele ri e então se vai.
— Oi... — Samuel para perto das cortinas. — Eu achei muito
interessante a sua antiga profissão. De verdade, não te imaginava como
professora.
— Acredite, eu também não — sorrio, sentindo-me livre para
conversar com ele. — Você é noivo?
— Bom, a verdade é que não. Eu e a Sofia, minha futura ex
resolvemos nos separar após o nascimento do bebê. Entretanto aconteceu um
acidente de carro com ela e a mãe. E a criança nasceu prematura. Por medo,
ainda não revelamos da separação. Achamos melhor aguardar alguns dias.
— Nossa. Eu sinto muito por ela e pelo seu filho.
— Estão bem... foi um susto...
****

Que porra esse cabelo de cenoura está querendo? Merda, Clara vai me
tirar do Controle se insistir em me aproximar da Eloíse. Eu estou louco por
ela. Mais do que tudo. Só que não posso. Eu não sou esses otários
arrependidos. Que bosta!
Inquieto, vejo a loira conversando com o filho da puta do Samuel. E
ele ousa tocar na cintura dela. É o limite. Eu caminho pronto para torcer o
pescoço do desgraçado. Contudo, Fernando aparece ligeiro, agarrando meu
braço.
— Que porra, Felipe. Não vai estragar a festa!
— Aquele cabelo de cenoura está do lado da minha... — relincho
furioso — da porra daquela loira!
— Você não estava desprezando a mulher? Agora aguente, bundão!
— Você também era sim! — Fuzilo-o. — E se fosse a Clara dando
mole para outro prego?
— Eu mirava duas balas na cabeça do arrombado. Mas você não vai
fazer. Decida o que quer primeiro!
Ele me solta e eu sacudo os ombros. Porra. Eu quero ela. Eu preciso
dessa mulher. Puto, eu escolho ficar de pé, encarando-a até ela descobrir o
meu olhar enfurecido. Viro o copo de whisky de uma vez só e balanço a
cabeça. Que se foda esta festa!
Em instantes, eu me materializo do lado do Samuel, fazendo a Eloíse
arregalar os olhos de surpresa. Ele inclina o rosto.
— O que foi, Felipe? — Pergunta desprezível.
— Não é da sua conta. Eu não vim falar com você. Me acompanhe,
Eloíse?
— Como é? Não mesmo! — Ela me fuzila, incrédula.
Que droga, eu vou arrastar esta mulher pelos cabelos.
— Eu sou capaz de fazer uma besteira se você não vir comigo!
— Calma, priminho postiço. — Rindo, Samuel coloca a mão no meu
ombro. — Ela está muito bem acompanhada. Não notou?
Eu fecho os olhos, cerro os punhos e mordo o maxilar.
— Você tem cinco segundos para tirar as patas imundas do meu
ombro!
— Ah, é sério?
Ele não tira e eu não preciso contar, pois quando abro os olhos, com
um soco, só o nariz dele estrala, desabando em sangue. Samuel cai no chão.
— Felipe! — Eloíse exclama apavorada.
— Seu infeliz! — Samuel retorna, socando-me.
— SOCORRO, POR FAVOR!
Eu voo mais feroz sobre ele. Alguns homens surgem. Porém não
conseguem me prender, eu continuo a bater e o filho da puta a revidar.
— Felipe, meu filho!
— Gente!
— Fernando! Amor!
— Porra, Felipe!
Fernando surge empurrando o Samuel e com um único soco no meu
peito, me faz bambear contra a mesa da decoração. As coisas rolam para o
piso de mármore.
— Está louco?!
Ofegante, meus olhos não saem do cabelo de cenoura. Ele cospe em
fúria contra mim. Pela segunda vez, eu quase o agarro. Só que desta vez,
Fernando me prende pela camisa.
— Tire o Samuel daqui, caralho!
— Eu vou matar esse verme! Esse filho da puta!
— Controle-se, droga!
Eu afasto a mão do Fernando e limpo o sangue da sobrancelha e da
boca. Garanto que aquele arrombado ficou pior do que eu. Estrume!
— Sobe com ele para o quarto, Fernando, vamos cuidar desses
ferimentos.
— Eu estou bem, me deixem! — Exclamo.
Levanto a cabeça e Eloíse está do lado da Clara, que a chama
incessante para a seguir. Porra, eu só sei foder mais as coisas. Os convidados
e parentes da Marta me olham incrédulos, descrentes.
— Vamos, Felipe...
— Por favor.
Marta e dona Juliana me pedem quase suplicando. Descontrolado, eu
me rendo e acompanho as duas.
— Chamem a Eloíse!
No quarto, eu tiro o blazer e sento-me na cama.
— Acho que ela não quer falar com você. Eu vou pegar a bolsa de
primeiros socorros na cozinha, só um minuto.
— Por favor, chamem a Eloíse! — Eu ordeno desta vez alterado,
violento. — Eu quero ver aquela mulher!
Dona Juliana abre a boca, ergue a cabeça e entreolha a Marta. Então
se retira do quarto dos hóspedes, nervosa. Minha mãe a acompanha sem
contestar uma palavra. Porra, eu estou ficando pior do que o obcecado do
Fernando. Que caralho aquela bruxa loira está me provocando? Eu vou ficar
maluco!
Ao me ver sozinho, não demora a surgir um furacão no batente e eu
saltar da cama.
— Fique a onde você está! — Ela bate à porta.
— Droga, Eloíse!
Ela vem até mim com uma bolsa branca, furiosa. Ao se aproximar,
empurra-me contra o colchão. Abre a bolsa, pega um pedaço de rama e a
porra do álcool.
— Você é um cretino, um infeliz sem escrúpulos! — Murmura,
virando o corpo e pressionando forte, o infernal do algodão na minha
sobrancelha.
— Merda, melhor jogar o vidro inteiro na minha cara!
— Não me deixe com vontade, pois eu regresso na cozinha para pegar
um isqueiro também. Eu te odeio!
Eu levanto a cabeça, mas ela desvia dos meus olhos.
— Eu estou aqui me humilhando só porque a dona Marta suplicou
desesperada. Por mim, depois daquela demonstração boçal e vergonhosa, eu
iria embora. E que você sofra no inferno!
— Se humilhando? — Analiso-a, fissurado pelo seu perfume doce.
Esqueço o furor.
— Você é desprezível. Eu jamais esquecerei o que você armou contra
mim.
Porra, as suas palavras... droga. Eu não vou me sentir culpado. Pego o
algodão da mão da Eloíse e levanto-me ríspido. Em susto, ela dá um passo
para trás.
— Agradeço o favor humilhante. Agora pode retornar ao seu querido
ruivo. Garanto que ele se encontra mais necessitando de primeiros socorros
do que eu!
— Grrrr, como consegue ser tão mesquinho e... — Vermelha de raiva,
ela ergue a cabeça e grita: — Orgulhoso!
— Eu sou assim! — Esbravejo com ódio. — Um filho da puta fodido.
O que esperava de mim? Um prego cheio de sentimentos?! — Por pouco, eu
não berro mais alto, no entanto, o corte na minha boca dói e sangra sem
parar.
— Merda! — Eu xingo, estancando-o.
Ela respira fundo e volta a pegar o algodão. Eloíse se aproxima de
novo, segurando meu queixo. Sua ação me faz desaparecer com a armadura.
Eu fico desarmado, sem defesa. Eloíse pressiona a ferida.
— Fique quieto seu idiota. Isso está horrível.
Ela me xinga, sendo delicada com o machucado.
— Você colocou o alco....
— Calado. Sangra mais quando você fala.
Permaneço em silêncio, agitado pelo toque feminino da loira. Ela
ergue o pescoço e sem querer me encara nos olhos. Eu controlo o impulso de
puxá-la e sentir a maciez da sua pele, o cheiro dos seus cabelos, o sabor dos
seus lábios vermelhos. Apenas fecho os dedos e não desvio dos olhos azuis
dela.
— Sabe de uma coisa? Vejo ser verdade, Felipe, você é um homem
orgulhoso. E o orgulho não leva ninguém a ser bom. Só te leva a dor, ao
sofrimento e a ruína. Deus nos ensinou a perdoar e a ter amor ao próximo.
Por mais que seja difícil hoje, amanhã pode ser tarde demais. E um dia eu
terei que lhe perdoar. Mesmo que perdoar não seja esquecer.
Eu franzo o cenho, em surpresa pela sua declaração sincera. Eloíse se
desvia de mim outra vez e pega dois band-aids.
— Você me perdoar? — Eu balanço a cabeça, rindo sem humor. —
Eu não mereço perdão. Eu sou um fodido!
Ela regressa incomodada. E como uma professora ensinando boas
maneiras ao moleque mais arteiro da classe, profere:
— Todos merecemos. Perdoar é ser forte, é cicatrizar. Pedir desculpas
é ser corajoso. E ter amor é acolher um coração generoso. Tudo isso nos
liberta da angústia, nos faz tirar grandes fardos das costas. E não perdoar... é
jamais ser feliz.
Ela penetra a minha alma. Vendo todos os meus pecados. Eu não sei
pedir esta droga de perdão.
— Talvez eu tenha nascido para morrer em ruína. Esse é o fim de
qualquer desgraçado.
— Que mesquinho. É o orgulho que acarreta a ruína e a inquietação.
Abra os olhos e veja que as coisas boas existem dentro de nós. É a gente que
faz o momento. É a gente que decide a hora de levantar a cabeça e reconstruir
outra vida por cima dos entulhos. Por cima das ruína. Os dias maus também
chegam ao fim. Viver é a coisa mais rara do mundo. Por isso, que sejamos a
raridade de um mundo onde as pessoas só existem. Que sejamos raros e
felizes!
Trêmula, Eloíse cola ligeira os curativos na minha cara e tentar sair
para ir embora, só que eu a pego pelo braço e a tomo em um aperto tortuoso,
que me dói no coração. Ela tenta me afastar. No fim, não consegue.
— Por favor, não vá... — sussurro, rendendo-me a culpa. — Você
merece me ver quebrado assim. Eu estou todo fodido. Por dentro e por fora.
Em lágrimas, ela ergue a cabeça e balança o rosto triste. Isso parte o
meu interior.
— Mas te ver assim me dói, Felipe, pois mesmo você não merecendo
as minhas lágrimas, as minhas noites de sono em claro, eu ainda tenho pena
de você.
— Porra... pois não tenha! Eu sou assim! Eu sou um verme sem
sentimentos, que não merece pessoas boas como você! E que não merece a
pena de ninguém!
Irritada, ela molha os lábios e não luta para que eu a solte.
— Para de ser orgulhoso! Pelo amor de Deus! Nem que seja por um
instante! Você não tem esse direito! Você não tem o direito de ignorar os
erros, de ser vaidoso, de ser um arrogante! Você é um humano como eu! Que
sofre, que chora, que ri e que ama!
Num estalar dos dedos eu largo ela e pressiono os punhos, raivoso.
— Cala a boca, Eloíse!
— Cala a boca você! Esta é a verdade que um homem fodido nunca
ouviu! Você ama! Você se apaixona! Você tem compaixão!
Sem controle, eu a agarro novamente pelo braço e a jogo na cama
com rompante.
— Me solta!
Eloíse grita, socando-me o peitoral, enquanto eu soco sem parar o
colchão.
— Não seja covarde... — A mulher fecha os olhos e noto que se
aquietou. Merda!
Eu xingo, cessando a minha exasperação em violência.
— Porra, você apareceu para infernizar tudo! Para me deixar louco!
Eu vou virar um maníaco!
Meu tórax sobe e desce ofegante. As coxas da Eloíse estão
completamente nuas embaixo de mim. Seu decote demonstra a força que seus
seios buscam para respirar. Ela me fita. Rendido, fissurado de desejo, eu
inclino e a beijo com ânsia, com vontade de amordaçá-la no meu corpo e
nunca mais deixar que se vá da minha vida.
Capítulo 25

Meu coração suplicou, a cada segundo que seus lábios frenéticos me


tocavam a alma, que não parasse. Mas meu subconsciente doeu, martelando a
realidade dos fatos horríveis. Eu não poderia permitir que esse homem fosse
tão longe. Ele é orgulhoso, sem caráter. Felipe vai abrir mais as feridas do
meu peito e eu não aguento.
Felipe cessa o beijo, ofegante. Eu fecho os olhos, crucificando-me por
ser tão fraca. Então o empurro. Só que ele nem se move. Ele faz o contrário, o
canalha me prende pelos pulsos e pelas coxas.
— Me larga, cretino, cafajeste!
— Eu... — Seu olhar é de desespero. — Eu preciso de você, Eloíse!
— É um covarde! Não ouse me tocar!
Nervoso, ele une nossas testas. Sinto o ar afobado da sua respiração
quente. Tento fugir da atração avassaladora.
— Por favor, Felipe. Me deixe ir embora.
— Eu fui um filho da mãe, desgraçado... — murmura. — Não vou
mais fingir que esta culpa não está me consumindo. Pois, esta merda está!
Finalmente, ele me solta. Eu fico boquiaberta. Saio da cama, tonta,
trêmula. Meu coração parece que vai saltar. Os batimentos estão
desenfreados. Felipe assumiu seu erro?
— Então que você consuma em culpa e que possa ser um homem
melhor! — Exclamo triste, mas com esperança.
Ele não responde. Permanece sério. Sem motivos de continuar o
observando, eu viro as costas e saio rápida, em silêncio. Fecho a porta e
angustiada, escoro-me ao lado.
— Eloíse? — Clara vem até mim.
Eu tento esconder as lágrimas.
— Por favor, Clara, eu poderia ir embora?
— É-é claro. Está tudo bem? O Felipe...
— [...] se encontra melhor do que o Samuel, com certeza — a
interrompo. — Me perdoe pelo vexame. Sinto que eu fui a responsável.
— Você responsável? De forma alguma. Foi o Felipe que não mentiu
o sangue Alencar. Comprovei de que os homens desta família são uns
verdadeiros selvagens, brutos e descontrolados. Por favor, não há o que se
perdoar. O motorista vai levá-la de volta.
— Obrigada.
Oficialmente, quando eu me vejo sentada no banco dos passageiros do
automóvel do motorista, eu escoro a cabeça na janela, pensando nas palavras
do Alencar. E choro. Eu gostei de verdade dele. Às vezes, eu desejava saber o
ponto em que chegaríamos se eu não tivesse descoberto a armação de me
conquistar só para realizar suas promessas libertinas. Será que o Felipe uma
hora se cansaria e chutaria a minha bunda? E eu? A que ponto eu chegaria
por desejo? Eu daria um basta?
Não sei. Talvez tenha sido melhor ter terminado assim.
•••
— Eloíse, vê se estes textos estão bons. E se tem muitos erros de
ortografia.
São 07h25 da manhã. E advinha quem invadiu meu quarto para
suplicar ajuda? Ela mesma, a querida Suellen, a nossa futura médica
veterinária.
— Ellen, eu ainda estou de pijama. E a sua faculdade é só no período
da noite.
— Por favor, levanta logo. E me socorra. A senhorita é professora. É
muito boa com produção de texto. Tenho que aproveitar a minha folga para
colocar tudo em dia. Vou te esperar lá na área do jardim.
— Ai meu Deus, tá bom, tá bom, gatona.
— Levanta logo!
Ela se vai. Eu me arrumo, tomo o café e passo a manhã ajudando a
Suellen com os seus erros imperdoáveis de coesão. Lembramos muito da
época do ensino médio, estudávamos grudadas desde o ensino fundamental.
Também nessas horinhas de estudos, eu coloco as novidades em dias. Eu
revelo que serei o mais novo rosto da Collins. E Ellen surta como sempre.
Relacionado a isso, após ajudar a Suellen, à tarde, eu compareço na
empresa da Collins. Clara disse ontem que me apresentaria ao seu fotógrafo
oficial. Ela quer muito me fotografar vestida com uma ou duas peças da sua
nova coleção.
— Eu estou louca para o Oliver te ver. Ele vai surtar — Clara diz,
levando-me ao estúdio da confecção.
— Eu surto é de olhar para ele. Sangue de Jesus tem poder. Você
convocou esse homem logo no dia em que eu não me vesti a altura. E a
minha reputação?
Que mentira, o Gui está belíssimo. Só usa peças de marca.
— Segura o forninho, Guilherme. E por favor, Eloíse, não será nada
profissional. É apenas para o nosso fotógrafo te analisar e fazer alguns clicks
sem interesse. Preciso de imagens para a mesa de marketing.
— Tudo bem. Eu estou ansiosa para vê-lo.
Quando entramos no estúdio, eu fiquei boquiaberta. O tal fotógrafo é
um homem que se encontra na casa dos 45. É belíssimo. Muito lindo. Ele tem
os cabelos platinados. E a barba da mesma cor. O topete grande chama
atenção. Ele é magro e alto. Tem uma câmera pendurada no pescoço. Eu
estou impactada. Pai amado.
— Oi, Oliver. Meu fotógrafo maravilhoso! — Clara o aperta a mão.
Sem beijinhos e sem nenhum outro contato.
Também, com um marido arrepiante igual ao seu, eu colocaria uma
placa de "não me toque, casada" nas costas.
— Olá, Collins. Como vai, minha querida?
— Tudo ótimo. Bom, olha aqui... como eu havia te informado esta
semana, eu quero te apresentar a nossa mais nova beldade.
Ágil, ela me puxa e eu paro de frente para o homem. Fico vermelha.
— Minha nossa... — Surpreso, ele sorri me analisando. — Uau,
maravilhosa. Sem palavras!
— Eu não disse que te surpreenderia? Esta é a Eloíse Galvani. A
raptei da Model Brasil.
— É um prazer. — Ele me estende a mão e eu a aperto.
— Igualmente — sorrio.
Eu não sei se eu vou conseguir posar para este fotógrafo. Gente, é um
pecado... quero dizer a minha imaginação. Não vou me sentir à vontade, nem
confortável.
— Ela é perfeita para representar os catálogos. — Guilherme surge
com uns três botões da camisa, abertos. Este não perde tempo, né mesmo?!
— Não acha?
— É claro, Guilherme. — O deuso pisca para mim. — Demorou, no
entanto, a nossa CEO Collins encontrou o diamante que tanto buscava.
Clara o agradece, toda feliz.
— Eu preciso que você faça uns clicks dela natural com uma peça da
nova coleção. Pode ser somente uma.
— Tudo bem, sem problemas. É só a Eloíse se trocar e se quiser,
retocar a maquiagem, trouxe uma pequena equipe. Estive realizando outros
trabalhos esta manhã.
— Maravilhoso. Guilherme vai ajudá-la a se vestir, por favor.
— Vem, Eloíse do meu core — Guilherme me chama e eu peço
licença para acompanhá-lo.
— O que achou do bofe? — Sussurra animado. — Ele fotografa há
três anos para os catálogos da marca Collins, no entanto, ainda não me
acostumei. O cretino lindo é hétero.
Eu gargalho.
— Ele é muito bonito. Vou ficar com vergonha.
— Vai nada, Oliver é até legalzinho. Garanto.
Durante os vinte minutos, poso com o vestido sexy e bem comprido.
Um espetáculo. Ele tem uma cauda enorme. O tal Oliver cessa os flashes,
muito satisfeito com as imagens ao mostrá-las para a Clara e o Guilherme. Os
dois demonstraram satisfação igual. O homem é extremamente profissional, a
cada segundo me pedia uma pose diferente.
— Menina, que linda!
— Nossa, Eloíse. Você ficou incrível. Eu poderia incluir qualquer
uma dessas fotos no catálogo, sem dúvidas.
— E sem Edição — Oliver incrementa, brincando. — Vou passá-las
para o teu e-mail. Com certeza, Eloíse é perfeita. Sua equipe de marketing vai
amá-la. Foi uma roubada de mestre.
Mais tarde no escritório, eu vejo as fotos com mais calma. E fico feliz
pelo resultado ter atingido os desejos da Collins.
— O nosso Oliver gostou da Eloíse. Tadinho, só que mal sabe do
Alencar selvagem que habita na terra — Guilherme comenta, repentino, ao se
sentar na poltrona rotativa.
— Você fala do Felipe? — Eu rolo os olhos.
— É óbvio. O homem está louco por você. O que ele fez com o
Samuel ontem foi uma tremenda demonstração de posse e de ciúmes.
Idêntico ao Fernando. Jesus, uns selvagens!
— Bom, eu terei que concordar com o meu amigo. — Clara descruza
as pernas e fita-me. — Foi uma tremenda demonstração de ciúmes.
Guilherme e Clara são unidos como carne e unha. Os dois se
conectam apenas num olhar.
— Eu entendo o plano de me fazerem ter algum relacionamento com
o Felipe. Todavia, não é possível. Eu jamais vou querer algo com aquele
traste.
— Mas vocês não estavam tão bem, minha princesa? — Gui
questiona atencioso.
— Nunca "estivemos". Felipe armou um plano para que eu me
entregasse a ele e as suas luxúrias. Ele foi um canalha. E eu vou compartilhar
com os dois, para que entendam a tristeza e os meus motivos.
Os dois ficam em silêncio. Eu começo a relatar da minha história
primeiro, desde a morte do meu pai, ao meu ex-noivo, o Mariano, que me
ajudou a superar o luto e a depressão. Relato de quando "conheci" o Felipe há
seis anos. E do reencontro na escola. Chego no momento das investidas dele,
em seguida, do dia em que peguei meu "noivo" na cama com a suposta
amante. E respiro fundo, revelando que, na verdade, o autor de ter me
implantado esta traição foi nada mais, nada menos do que o próprio Felipe. O
homem que confiei a minha superação.
— E-eu não acredito. Eu não posso acreditar que o Felipe possa ter
sido capaz de aprontar uma barbaridade dessa com uma mulher. Meu Deus
amado!
— Meu santinho, esse homem não pensou nas consequências?
— Parece que não. Felipe foi um hipócrita. Você ama seu ex-noivo
ainda, Eloíse?
Eu abro a boca, a pergunta dela me pegou de surpresa. Eu não sei o
que dizer.
— Eu... eu não sei.
— Hum, não sabe o que dizer? — Gui morde o dedo. — Está lógico,
tu já foi laçada pelo Felipe, meu anjo.
— O quê? Não fui, eu o detesto!
— Isso parece um enredo de filme. — Clara se levanta, nervosa. —
Agora te dou completa razão. Só que não se preocupe, isto não ficará assim.
Vamos fazer aquele homem comer o pão que o diabo amassou. Eu quero ver
o traste rastejando aos seus pés. Aquele safado orgulhoso vai te suplicar na
vida dele!
— Meu amor, eu faço questão de cortar o brinquedinho dele e fazer
hot-dog.
Sem querer, eu sorrio.
— Eu agradeço a intenção de vocês. Contudo, eu não quero o Felipe.
Não quero saber de homens. Eu vou seguir a minha carreira em paz.
— Gente, tu vai ser bi?
— Guilherme, sua purpurina maluca, fique calado. Sem
interpretações!
Eu levo no humor. Clara ri, com o olhar ainda perplexa.
— Eu fiquei muito triste por você, Eloíse. Sua história me abalou. Eu
sei como é ser traída. Não é fácil. Compreendo a sua raiva e angústia.
Eu me levanto e ela me abraça forte, retribuo carinhosa.
— Eu estou bem.
— Por favor, a partir de hoje, não me considere só a Clara, a sua
'chefa'. Eu quero ser a sua amiga. Tem a minha confiança!
— Ah, lindonas, e eu?
Gui se levanta, colocando a mão na cintura. Sorrimos.
— Garanto que a Eloíse gosta muito de você.
— Sim. E eu gosto muito.
Feliz por meus novos amigos, eu me despeço deles e vou para o
estacionamento, pensando no que a Srta. Collins me perguntou. Será que eu
ainda amo o Mariano?
E o que é sentir o real amor? Eu já senti? Eu estou tão confusa. A
conversa de ontem com o Felipe e o seu possível ciúmes não saem da minha
cabeça.
Eu entro no carro. E antes de colocar a chave no miolo de ignição, eu
solto um grito de susto com o homem que acaba de abrir rápido a porta do
carona, sentando-se e batendo de novo a porta.
— Seu... seu cafajeste. Some daqui!
Capítulo 26

Felipe me olha, roubando o aroma do carro com seu cheiro odioso de


álcool. Ele bebeu? Uma hora dessa? São 17h40 da tarde.
— Eu queria te ver.
— O-o quê? — Meu coração dispara.
Não, não, isso só pode ser uma brincadeira.
— Só que não é bem-vindo. Você está alcoolizado?
— Eu estava passando pela confecção e quis admirar o teu rosto, a tua
pele loira. Os teus olhos azuis. — Ele sorri. — Estava com saudade.
— Você está brincando comigo? Você está bêbado uma hora dessa,
Felipe? Como me achou?
— Talvez eu esteja? — Ri em deboche. — Comprei uns quatro
corotes. — Ele abre a jaqueta e tira a pequena garrafa de dentro. — É a
última, quer?
— Meu Deus, eu não acredito. Eu não quero nada. E pare de beber —
puxo a bebida dele.
Só que Felipe é mais forte e veloz.
— Não, é a minha coragem, porra! Só assim para eu poder encarar os
seus olhos!
Eu respiro fundo, pedindo ao meu interior, paz.
— Por favor, Felipe. Já não está nem falando direito. Pegue um táxi.
Vá embora para o seu apartamento tomar um banho. Descanse a cabeça.
— Eu não vou descansar nunca. Eu quero você. — Ele puxa meu
braço. — Não me rejeite. Fique comigo!
— Eu vou chamar a Clara, alguém para te ajudar — tento me soltar,
assustada.
— Eu não quero ninguém. Eu quero você!
Felipe não me solta. Ele puxa a minha mão ainda mais forte a favor
do seu peitoral. O que eu faço com esse monte de músculos, meu Deus?
— Passe seu endereço, Felipe. Agora! — Puxo minha mão.
— Você está mandando em mim?
— Passa seu endereço? Eu estou pedindo com calma.
Ele fala o nome da rua, voltando a beber o corote. Decido não o
xingar ou provocá-lo mais. Eu não sei como vai reagir bêbado. Opto pelo
silêncio.
— Você é minha — ele murmura embriagado. — Só minha!
Meu peito se aperta. Ele vai a viagem toda resmungando coisas sem
nexo. Ao chegarmos no seu endereço, eu o faço liberar a minha entrada no
estacionamento do subsolo.
— Pronto, Felipe — declaro, estacionando. — Suba para o seu
apartamento. Você está fedendo a cachaça. Tome um banho
— Você não vai subir comigo?
— Sinto muito, não.
— Então eu fico!
Esse homem... que nervoso!
— Eu já te trouxe até o prédio. Exijo a obrigação de ter um pingo de
dignidade.
Felipe ri.
— Dignidade?
— Você não está entendendo droga nenhuma, né?!
Irritada, eu saio do carro, dou a volta e abro a porta para ele.
— Por favor, saia!
Felipe tira os pés do carro, quase caindo ao se retirar tonto.
— Felipe! — Seguro-o ágil. — Você não bebeu só estes corotes? Seu
mentiroso!
— Eu estava no bar desde hoje de madrugada. — Ele se agarra na
minha cintura. — Eu precisava te ver.
— Eu vou te levar só até a porta. Esforce as pernas, pois eu não te
aguento sozinha.
Felipe me ajuda a apoiá-lo. No elevador, fedendo, ele encosta o rosto
na minha cabeça e cheira os meus cabelos, tocando-os.
— Eu estou louco por você.
— Felipe, se afaste. Não me toque.
Ele fecha os olhos, ainda me cheirando.
— Você é minha!
Sem forças para afastá-lo, eu o seguro e deixo-o dizer coisa com coisa
até chegarmos no seu andar. Voltar aqui, onde eu peguei aquela vadia, me
desarma. Eu fico triste.
— Você está entregue! — Exclamo, empurrando-o sobre as
almofadas do sofá.
Só que Felipe se levanta de novo, mesmo com dificuldades. E eu me
desespero, pois, o homem vai até à estante repleta de mais álcool.
— Felipe, pare de beber. Não ouse!
Eu tento pará-lo a todo custo.
— Você vai entrar em coma!
— Foda-se!
Sendo mais alto, ele pega a garrafa do topo, abre e vira no gargalo.
— Pelo amor de Deus. Pare com isso. Por favor, seu idiota, covarde!
— Bato desesperada nele.
Felipe me puxa e encara-me, furioso.
— Eu não sou covarde!
— E-e eu sei — choro. — Chega de beber. Me dê isso?
Felipe não me larga e nem me entrega a bebida.
— Isso me dá coragem de te olhar. Só que ainda dói. Você está me
enlouquecendo. Eu queria você aqui comigo. Eu estou sonhando, é só uma
ilusão. Sai dos meus pensamentos, Eloíse! — Felipe me afasta, torcendo as
pernas.
— Ei, pare, não é sonho — seguro-o novamente. — Eu estou aqui, ao
seu lado. Venha, eu vou te ajudar a se deitar.
— Você me odeia. Eu te machuquei.
— Vamos esquecer. — Eu pego na mão grossa dele. — Eu quero o
teu bem. Me acompanhe. Se apoie nos meus ombros.
— Você não existe...
Felipe se apoia, delirando a minha realidade. Ao chegarmos no seu
quarto, eu ligo a luz e faço-o se sentar no colchão King.
— Precisamos tirar pelo menos a jaqueta e a camisa suja.
Felipe me ajuda a despi-lo. Ele permanece só com a calça jeans.
— Encoste a cabeça no travesseiro — peço, terminando de tirar seus
sapatos.
— Você vai ficar? Não vai sumir? — Ele deita, muito bobo de sono.
Esse cretino bebeu mais do que deveria.
— Eu disse que ia ficar ao seu lado, não disse? — Tiro os saltos e
sento-me na cama, acariciando-o os cabelos macios.
— Eu não estou sonhando?
— Não, moreno — choro.
Felipe começa a fechar as pálpebras. Admiro-o e respiro fundo.
— Eu gosto tanto de você — sem querer, confesso bem baixinho. —
Eu só queria que você sentisse o mesmo por mim. — Então beijo bem
devagar a testa dele e o abraço forte. — Acho que agora eu entendo o que é
sentir o real amor. Eu te amo.
— Eu te amo, Eloíse — ele murmura extremamente em sussurro,
virando a cabeça para dormir.
Desacreditada. Eu desabo em lágrimas. Toco-o no rosto, na barba,
buscando conforto no coração.
Eu não acredito, será que você me ama ou só sente desejo por mim?
Isso me dói. É um orgulhoso, senhor Alencar. Eu tenho medo...
•••

Que merda...
Tonto, eu acordo com uma dor de cabeça terrível. Eu inclino o tórax e
assusto-me com um braço de mulher sobre o meu peitoral. Droga. Eu olho
para o lado e Eloíse está cochilando em profundo sono. Porra, o que eu fiz? O
que Eloíse faz aqui?
Desespero-me.
— Felipe? — Ela abre os olhos inchados, sonolenta.
Eu abaixo a visão e a ficha caí, eu estou de calça e a Galvani de
vestido.
— Eu não fiz nada com você? — Questiono necessitado de esclarecer
meus atos.
— Não. Está tudo bem.
— Merda, eu não me lembro.
— Vo-você não se lembra?
— Não. O que eu fiz, Eloíse? Eu fodi mais as coisas?
Ela está com os olhos arregalados. Eu aguardo a resposta, louco de
medo.
— Fala, Eloíse! Responda!
— Não. Eu já disse, está tudo bem.
Prestes a explodir de enxaqueca, eu saio da cama, aliviado.
— Eu só me lembro de ter ido embora de manhã daquele bar. E sei lá.
Dormi na praia.
— É melhor não pensar.
Ela também se levanta, sem me encarar na face.
— Eu vou embora. Você me deixou fedendo a álcool. Até parece que
foi eu quem bebi.
— Eu sinto muito se a forcei a vir para cá. Sinceramente, não me
recordo. Eu estou morto de cansaço.
— Pare de querer se lembrar. Tome um banho. Antes de ir embora, eu
preparo um café forte. Vai ajudá-lo na ressaca.
Ela quer ainda cuidar de mim? Porra, eu sou um filho da puta. Ela
deveria era chutar o meu traseiro e tocar o foda-se.
Eloíse me deixa sozinho com os meus tormentos. Eu tomo um banho
gelado, sentindo a tensão alcoólica de ontem descer pelo ralo abaixo. Ao sair,
eu me seco, visto a cueca e uma calça pijama.
Na cozinha, adentro, analisando a loira preparar umas torradas na
torradeira, enquanto aguarda o café da cafeteira ficar pronto. Ela é tão linda,
consegue ser doce e sexy sem ao menos perceber.
— Que susto!
Ao se virar, ela coloca a mão na caixa do peito.
— Estava entretida.
— Se sentindo melhor? — Questiona igual a uma mãe cautelosa. —
Acho bom nunca mais agir igual a ontem. Foi desesperador.
— Eu não sou assim. — Sento-me na banqueta, fitando seus olhos
azuis. — Eu fiquei louco.
Ela coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. E desconcertada, se
desvia de mim, notando que as torradas estão queimando.
— Por pouco!
Ela tira os pães ainda intactos, em seguida o café e oferece-me. Eu
pego só o café, sem a menor fome.
— Já estou acostumada a fazer cafés para "pós-ressaca". Eu era a
garçonete do bar do meu pai. Eu lidava todos os dias com inúmeros bêbados.
Sem assunto, não respondo.
Ela nota, pois desconfortável, termina de guardar as coisas no armário
e veste seus saltos.
— Eu... eu já vou. Tenho afazeres na pensão. — Ela passa devagar
atrás de mim. — É... adeus, Felipe.
Aperto os olhos, mordo o maxilar, lutando contra esse caralho
doloroso dentro do meu interior. Eloíse abre a porta. Eu então me ergo num
pulo. E a alcançando, a puxando feroz pela cintura.
— F-Fe...
— Eu não vou deixar você ir! — Bato a porta.
Eloíse coloca a mão no meu peitoral nu, tentando me afastar. Sem
saber o que dizer, ela para.
— Eu não entendo você, Felipe.
— Porra, nem eu, nem eu, Eloíse!
Eu jogo a minha loira contra a parede e beijo seus lábios, sugando-a
de corpo e alma. Eloíse perde as forças.
— Felipe... não... por favor. Não me machuque mais.
Sua frase me faz ficar louco de raiva. Eu seguro a cabeça dela com as
duas mãos.
— Você é minha. Entendeu, Eloíse?
— Não, eu não sou sua.
— Voc...
— Não! — Ela me interrompe. — Eu não te perdoei pelo que fez.
Você é um orgulhoso, que não tem a minha confiança. Você só quer saber de
sexo. Depois que se cansar do meu corpo, vai me largar abandonada, vai me
deixar com esse buraco mais aberto. E eu prefiro sofrer agora, do que
amand... do que sentindo algo forte pelas suas mentiras! — Ela chora.
— Eu não sou assim... eu não... — Largo-a.
— Como você sabe? Qual foi a última mulher que você amou de
verdade? Que sonhou em montar uma família? A gente não arruma uma
pessoa pensando no fim do relacionamento. A gente arruma uma pessoa
pensando no pra sempre. E é por isso que você não me merece. Porque eu
não sou um objeto. Eu não sou as suas vadias de só uma noite. Você me tirou
de um homem que eu desejava me casar e ter uma família. E você sabia
disso!
Suas palavras me doem. Eu fico puto.
— Você só me deixa mais culpado. Que porra! Eu fui um canalha, um
filho da puta que te usou! Só que eu não quero ser mais assim. Porra, veja, eu
confesso, eu estou louco por você. Eu quero ser diferente. Eu quero tudo seu,
você não sai dos meus pensamentos, do meu peito! Eu quero você, Eloíse!
— Assim como não se importou com a minha dor, eu não me
importarei com a sua. Se me quer, prove que é sincero, que merece a minha
confiança e o meu perdão. Tente ser um homem menos orgulhoso. Conquiste
a palavra 'amor'. Eu vou estar no mesmo lugar, pensando em você. Tendo
esperanças de que vai se redimir.
— Eu não sei se eu vou conseguir. Eu fiz muita coisa errada. Metade
das minhas canalhices, não chega nem perto desses demônios. Eu sou um
completo fodido, que não vive, que só é um peso na terra. E você não merece
sofrer por mim, carregar mais fardos, descobrir mais podres. Eu tenho medo.
É por isso que eu nunca tive outras mulheres. Eu vou te decepcionar, eu sei
que eu vou.
Eloíse se aproxima, acariciando a minha barba e encarando meus
olhos em desespero.
— Você é um homem bom. Tente descobrir esse humano aqui
dentro... — ela toca na direção do meu coração. — E se falhar, tenha
coragem de se reerguer de novo e de pedir perdão. Isso não tira pedaço, é ser
uma pessoa forte. Eu gosto muito de você, mas eu só vou poder ajudá-lo
depois de provar que é sincero, que merece a minha confiança. Só assim eu
posso ser sua, te ensinar a curar as feridas. Te ensinar a viver apenas com as
cicatrizes do passado. O amor cura tudo. Você precisa de mim, Felipe. — Ela
me dá um beijo, carinhosa ao afagar os meus cabelos úmidos.
— Que porra, não vá, Eloíse. — Eu a agarro, mantendo-a grudada no
calor do meu corpo. — Eu quero correr qualquer risco.
— Mas eu não quero, já cansei de sofrer. Eu disse que vou estar no
mesmo lugar, talvez não dê certo, mas se estiver disposto a mudar, já tem
uma amiga.
Sua frase me corta a alma. Eu não aceito uma amizade. Eloíse é
minha, é minha loira! Eu a solto, puto por estar perdendo a guerra para esta
droga de orgulho que assumo ter.
— Então esteja disposta a deixar sempre a porta aberta. Porque é
minha, e eu não vou aceitar ficar um só dia longe de você. Eu mato qualquer
filho da mãe que te olhar, que ousar tocar no que é meu!
— Tchau, Felipe... E por favor, coma as torradas e vá descansar.
Eloíse me beija outra vez, só que no rosto. Eu seguro o impulso de ir
atrás de uma algema. Ela limpa as lágrimas, afasta-se e vira as costas. Sem
olhar para trás, minha loira abre a porta, passa pela mesma e me deixa à
mercê da solidão ao fechá-la.
Que droga, este apartamento tem o cheiro, a presença feminina dela.
Eu me sento no sofá, gemendo igual a uma criança derrotada. Fernando disse
que o momento da minha redenção estava a caminho. E há seis anos, naquela
noite, se eu não morri pelos cinco tiros no corpo, foi porque esta redenção
não viria pela morte, nem pela dor física, ela viria de vestido, de saltos e
espalhando um perfume tão doce quanto o puro mel. E eu debochei do filho
da puta!
Capítulo 27

Após a minha corrida matinal, eu volto andando para a pensão. E ao


chegar, eu encontro o Mariano na porta da frente, agarrado a um buquê de
rosas vermelhas. O que ele quer aqui? Pensei que neste domingo eu teria paz
dos problemas. Digo pelo Felipe, ontem.
— Eloíse, por favor, deixa eu falar com você? — Ele vem rápido e
afobado até mim.
— Calma, Mariano. Eu não vou te expulsar.
— Me perdoa? — Ele cai de joelho aos meus pés, estendendo o
buquê. — Eu não tive culpa. Aquela garota entrou na minha casa sem nem ao
menos eu a ter convidado. Ela me seduziu. Eu...
— Pare de passar vergonha. Levante-se. Eu não quero mais saber de
você — o corto, autoritária. — Eu sei que não teve culpa da amante. No
entanto, ainda houve uma traição. Você transou com aquela vadia. Estava
explícito.
Ele se levanta.
— Você me evitou por um mês. Não escutou as minhas explicações e
acha que ainda tem o direito de dizer que não quer saber mais de mim?
— "Ainda acha"? Me poupe. Vai se fingir de vítima? Eu te evitei
mesmo, estava ocupada com outro homem.
— O quê? — Ele taca as flores no chão. — Está tentando me tirar do
sério, Eloíse?
— Confessa, Mariano. Você transou com aquele baranga?
— Sim. Mas eu estava bêbado. Eu não tive culpa!
— Era só isso que eu gostaria de saber da veracidade. Por favor, agora
suma da minha vida. Eu não vou continuar com o noivado. Eu não quero
mais saber de você.
— O que está dizendo? Eu te amo, droga! — Mariano se aproxima,
puxando-me com força pelos pulsos.
— Me solta. Você está me machucando. Vai embora!
— Eu fiquei dois anos ao seu lado. Aguentando seu chororô pelo seu
paizinho ter morrido. Você tem que se casar comigo!
— Como pode di...
Eu sinto outro par de mãos me agarrar feroz pela cintura e me jogar
na grama molhada. Em seguida, voar na cara do Mariano.
— Você não toca na minha mulher, seu filho da puta!
Acontece num piscar dos olhos. Felipe cai sobre ele, socando cada
vez mais forte o seu maxilar.
— Felipe!
— QUEM VOCÊ PENSA QUE É?! — Mariano se defende,
erguendo-se rápido e o chutando.
Eu me levanto, com medo dos dois. Mariano é praticante de boxe.
Felipe é ex-policial. Mais alto e mais musculoso.
— Olha, a bichinha sabe lutar. Aprendeu na escolinha da Barbie? —
Ele ri, e sem dificuldades, com um único soco, faz o Mariano perder o fôlego
e desabar em dor, contra os degraus da pensão.
— Felipe, pare! Por favor!
Eu seguro o homem feroz, que está com os punhos semicerrados e
olhar de intimidar um leão.
— Eu já parei com o professorzinho.
— Que porra é esse idiota, Eloíse?! Seu amante?!
— O que está acontecendo aqui?! — Otávio surge de trás do portão
do jardim, adiante a vó Aurora e a minha mãe.
Meu Deus. Eu me desespero. vovó me olha, arregalando das
pálpebras e assustada.
— VOCÊ NÃO ME RESPONDEU, ELOÍSE! É VOCÊ QUEM TEM
UM AMANTE? — Mariano se põe de pé, furioso.
— O quê? Não. Foi você quem me traiu, seu cretino!
— Vaza daqui, verme insignificante. Antes que eu use estas flores no
seu funeral! — Felipe pega o buquê e taca na cara dele.
Mariano quase revida, só que Otávio vem correndo e o para pelo
peitoral.
— Ei, vocês. Chega, Mariano. Vai embora daqui. Você já magoou
demais a minha irmã!
— Ela tem um amante! Confessa, sua vadia!
— O que é isso, Eloíse? — Minha mãe vem rápida, acompanhada da
vovó. — Vocês parecem uns animais.
— O-o que você faz aqui, Felipe? — Vovó o questiona, apavorada.
— É o amante dela!
— O quê?!
— Não, vó, é mentira. O Felipe é só um amigo!
— Amigo? Eu já vi milhares de vezes este homem pela pensão.
— Ele ficou hospedado conosco, Roberta.
— Esse cara não era gay?
— Como? — Eu seguro o Felipe, para não questionar o Otávio.
Mas ele faz.
— Gay? Gay é o caralho, seu bastardo!
— Eu não estou entendendo nada!
— É SIMPLES, ROBERTA! ESSE CARA É O AMANTE DA SUA
FILHA QUERIDA!
— CALA A BOCA, MARIANO! VOCÊ SÓ ESTÁ QUERENDO SE
VINGAR DE MIM, PORQUE EU NÃO QUIS MAIS FICAR COM VOCÊ!
— Parem de gritar. Estão em público. Os vizinhos e as pessoas estão
vendo e ouvindo esta baixaria.
— Eu acredito no Mariano! — Minha mãe declara ao lado dele. —
Pois eu vi esse homem... esse Felipe ai milhares de vezes na pensão.
— O que você disse, mãe? — Fico arrasada. — Você está duvidando
da sua filha?
— Eu também já vi esse cara um monte de vezes por aqui. E já peguei
ele com a Eloíse. Só que ela me disse que eles eram amigos da faculdade. E
que ele era gay.
Felipe me encara, enfurecido. Eu desvio dos seus olhos.
— Eloíse, minha filha. Isso é verdade?
— Eu não sou gay, Sra. Aurora. Eu e a sua neta so...
— AMANTES!
— CALA A BOCA! — Eu grito. — Não é verdade, vovó!
— Eu não posso acreditar que você já conhecia este rapaz, minha
filha. E que me fez colocá-lo dentro da nossa pensão. Ele é o seu amante?
Ficarei decepcionada com vocês. Eu sou amiga da sua mãe, Felipe.
— Não, vó. Pelo amor de Deus! — Eu choro, jogando-me aos pés
dela. — Eu... eu conheci o Felipe depois! — Omito, com dor. — Isso, após
eu já ter pego o desgraçado do Mariano na cama com outra mulher!
— Mentirosa!
— As provas estão óbvias. Eloíse quem traiu o Mariano primeiro. Ela
colocou este homem na pensão. Otávio disse que já pegou os dois juntos. Foi
tudo armado para ficar com ele.
— FIQUE QUIETA, MÃE! PARE DE DEFENDER ESSE INFELIZ!
PARE DE SER INSUPORTÁVEL! — Eu esbravejo, erguendo-me.
E louca, sem me dar tempo, ela voa sobre mim.
— Me respeite, sua sem vergonha. — Ela me estapeia. — Foi você
quem colocou outro homem dentro da casa da tua avó. Você que agiu igual a
uma mulherzinha qualquer!
Felipe me puxa dela. Otávio também para ao meu lado.
— Eu não acredito que a Eloíse tenha feito isto. Ela jamais teria um
caráter baixo. Vou defendê-la!
— Não se meta, Otávio!
— Minha pressão está baixa, vocês, parem de brigar.
— Vovó!
— Mamãe!
A seguramos.
— Eu não quero acreditar que a minha neta seja assim. Eloíse nunca
foi desrespeitosa.
— Eu não sou, vó Aurora. Eu juro pelo meu amado pai. Eu juro por
tudo que é mais sagrado!
— Melhor entrarmos. Vem, ajude a sua vó, Otávio.
Mamãe me empurra, impedindo-me de ajudá-la. Eu a sigo, chorando
desesperada. Isso não pode estar acontecendo. Que inferno!
Na cozinha, a sentamos na cadeira. Dona Alverina fica assustada,
corre para saber o que aconteceu. Noto a falta do Felipe e do Mariano. Meu
Deus. Devem estar no jardim, sozinhos.
— Otávio, expulsa o Mariano da pensão, por favor — suplico ao meu
irmão.
— Eu confio em você — ele sussurra e beija a minha testa.
Eu o abraço e ele se vai.
— Vó, deixa eu falar com a senhora?
— Ela já está passando mal por sua causa, Eloíse. Quer matá-la de
vez? Some daqui!
— Respeite a sua filha, Roberta. É você quem eu quero que saia
daqui.
— Como? — Incrédula, mamãe ergue a cabeça.
— Nos dê licença, peço com educação.
Ainda incrédula, sem falar nada, ela me encara bruta e então vira as
costas. Dona Alverina também nos deixa a sós.
— A senhora está bem? — Aproximo-me preocupada.
— Que isso, eu estou ótima. Danço forró todo final de semana. Só
inventei a queda de pressão para sairmos do meio da calçada. Vocês pareciam
galos de briga.
— Eu, eu não acredito, vó Aurora — a repreendo.
— Agora se esclareça, filha. Realmente não quero acreditar que você
e o Felipe possam ter me enganado esse tempo todo. E que sejam amantes.
Eu não quero acreditar nas palavras do Mariano. O detesto.
Eu digo toda a verdade para ela. Exceto que foi o Felipe o causador da
traição e desse inferno na minha vida. Contudo, eu não tenho tempo de ouvir
a resposta dela. E nem ela de me responder, pois o Felipe surge.
— Me desculpem. Eu...
— Tudo bem, Felipe.
Eu franzo o cenho, desviando dele.
— Acho que vocês dois têm muito o que conversar. Depois
resolvemos, Eloíse. Eu te amo. Mas ainda me sinto decepcionada. Conheço a
mãe do Felipe, será uma longa história.
— Perdão, vovó. Eu te amo.
— Já foi esclarecido a tal traição. E fico aliviada. Agora os dois são
adultos, se resolvam. Não posso julgar, nem apontar o dedo. São lindos... —
Ela pisca.
Gente, eu tô chocada com a minha avó.
— Peço também desculpas, dona Aurora.
Ela assentiu, calada. Vejo que esse rolo só está começando.
— Podem ir. Me deixem com a Roberta. Só eu para suportar aquela
minha filha.
Eu peço licença e trêmula, eu saio para a sala, ao lado do Felipe.
— Como você ousa apare...
— Você falou que eu era a porra de um gay?! — Felipe exclama,
furioso ao me interromper.
— Eu...
— Eu vou te mostrar o caralho do gay! Eu estou puto! Venha, Eloíse!
— Felipe pega no meu braço e arrasta-me pela escada.
Sua reação me surpreende. Ao mesmo tempo, me deixa em pavor.
— Você está louco?!
Ele abre a porta do meu quarto, bate com força e empurra-me contra a
cama.
— Eu vou matar você, Felipe! Não tem o direito! Você foi o causador
de toda essa desgraça!
Tento empurrá-lo. Ele se deita ligeiro sobre mim, segurando meus
cabelos desde os fios da raiz.
— Felipe...
— Você disse que ia ser a minha amiga caso eu aceitasse me redimir.
— Ele beija o meu pescoço. — E eu respondi que iria bater todos os dias na
sua porta! — Ele toca o cós do meu shortinho de ginástica. — Você não
disse?!
Arrepio. Os olhos dele estão nublados de fúria.
— S-sim. Mas o que eu disse pro Otávio, não justifica este ato
selvagem e cretino. Eu não quero me entregar a...
Felipe me aperta forte entre as coxas. Fico palpitando.
— Felipe. Você agiu como um crápula. Me magoou, me feriu. Eu não
lhe perdoei.
— Eu sou capaz de uma loucura. Não me rejeite. Você me tem nas
tuas mãos. Eu sei o que eu fiz. Eu sei que eu sou o responsável por magoá-la.
Mas... porra!
Sem controle, o cafajeste me rasga o short, a calcinha e prende meus
braços, impedindo-me de resistir ao seu beijo avaro, ébrio... e ao seu toque
profundo em minha carne apertada.
Capítulo 27 Parte. II

[...]
Ofegante, resistindo às suas carícias, eu o encaro, sem gemer. Felipe
fica ainda mais bravo. Eu, então, pego com firmeza nos seus cabelos e o
aperto doloroso na mandíbula. Ele cerra os olhos, não demonstrando que vai
me largar.
— Felipe, eu não vou ser a sua cadelinha. Você não merece a minha
confiança. Quanto mais o direito de me invadir, exigindo sexo. Por isso, o
que faremos é um acordo.
— Acordo? Você me chamou de... Eu estou furioso! — Ele me
prende pela cintura.
— Me solte e me deixe terminar de falar!
Cuspindo fogo pelos olhos, ele engole o ego de macho gostosão e
solta-me.
— Fale, Eloíse?
— Eu quero muito transar com você, afinal, eu sou de carne e osso.
Felipe fica obstinado pela minha confissão.
— Isso é para me levar ao desespero? — Ele me toca no clitóris,
arrepio-me.
— Pare, eu ainda não terminei!
— Porra... — Ele me solta novamente.
— Vamos lá, você não vai me tocar mais. É eu quem mando aqui. O
corpo é meu!
— O quê?
— Isso mesmo. Sai de cima de mim! — Felipe relincha feito um
cavalo e vira-me por cima dele. Encaixo as coxas no seu quadril. — Segundo,
é eu quem busco prazer. Você que se dane! — Eu inclino as costas, pegando
dois pares de algemas na gaveta do criado mudo.
Felipe, por pouco, não me impede, entretanto, eu sou mais ligeira.
— Você vai me deixar incapacitado com essas bostas. Quer me
enlouquecer?
— Eu só quero me vingar de você. E não pode me negar tal desejo.
Mê de seus pulsos, Felipe! Anda!
— Onde arrumou as porcarias?
— E te interessa?
— Onde arrumou isso, Eloíse?! — Ele quase me segura com força
pelas coxas e tenta "correr".
— Tire as mãos de mim! Eu ganhei de aniversário da minha amiga
Suellen. A gente gosta de sacanear os presentes. E achei uma boa hora para
usá-las. Agora, me dê seus pulsos?!
Puto por eu estar mandando na sua pessoa orgulhosa, o canalha me
nega a ordem. Eu bato nele. E em meio a reluta, eu consigo finalmente
algemar seus pulsos na barra da cama de solteiro. Ele fica totalmente à mercê
de mim. Todo meu escravo. Só meu. Eu sorrio, feito uma diaba. Ah, Felipe,
eu tenho tanta, tanta raiva de você. Eu queria socar a sua cara.
— Eu não vou te tocar, caralho!
— Oras, agora que o canalha notou? Você não vai colocar um dedo
em mim. O que me interessa está abaixo da sua cintura. Vamos dizer que
você será o meu "vibrador humano" — pisco.
— Sua di...
— Diaba? — Eu sorrio. — Você está me tornando assim. Por sua
causa, eu não vou ser mais uma bobinha sem valor. Se me quer, prove que
me merece por inteira, prove que tem caráter para tocar no meu corpo. E se
não provar, o azar é teu. Pois, homens... é o que não me falta no mundo.
— Eu mato cada um! Você é minha! — Esbraveja, em furor, tentando
se desprender da cama.
— Mas e você... é só meu? — Com o coração acelerado, aguardo a
resposta, brincando com o cinto da sua calça jeans.
Ele me encara.
— Se eu disser que não, você vai cortar meu cacete?
Eu bato no peitoral dele.
— Canalha!
— O que quer? Você sabe a droga da resposta, meu pau, meu corpo,
meus pensamentos, tudo é seu!
“E o coração?” — engulo a pergunta formulada no meu pensamento,
recordando-me da declaração dele naquela noite. Mesmo bêbado, eu senti
tanta sinceridade. Isso me encheu de esperança em poder ajudar o Felipe a ser
alguém melhor. A dar uma chance para o lado "amigos".
— Hum... Até me provar que é de caráter, sofrerá as consequências.
— Puxo o cinto de uma vez.
— Eu vou ficar maluco!
O cretino se mexe, enrijecendo-se abaixo da minha intimidade.
Arrependi-me de não ter tirado a camisa dele antes de amarrá-lo. É um
desperdício eu não abusar dos seus músculos também. A partir de hoje, eu
quero ver ele rastejando, almejando me sentir.
— Isto é um castigo, não colocar as mãos em você. — Ele geme sobre
o meu toque. O arranho o abdômen de gomos. — Eu estou sendo abusado.
Um objeto sexual.
O que tem de canalha, tem igualmente de beleza. Desgraçado!
— Considere uma vingança. Só a ponta do 'iceberg'. Eu quero que
você sofra, seu cafajeste sem escrúpulos!
Abro o zíper da sua calça, desabotoando e retirando. Arranco seus
sapatos, as meias e volto, admirando o volume gigantesco na boxer branca.
Que delicia de safado.
— Tem certeza que não vai arrancar meu pau?
— Você está brincando comigo? — Brava, aperto-o com as unhas.
— Que merda, sua loira gostosa... — ele urra de dor. — Se me soltar
daqui, não respondo por meus atos. Que se dane a porra toda!
Buscando a ousadia do meu interior feminino, com raiva, eu puxo a
boxer e dou olá para o "Felipe Junior". Eu pulso, desejando chupá-lo. Porém,
seria muito prazer para este infeliz. E quem merece prazer não é ele.
— Você não merecia os dotes que tem... — o toco e ele se enrijece
mais.
Eu respiro fundo, excitada.
— Já nesse caso, você teria que discutir com Deus, loira — ele sorri.
O canalha tá gostando? Não era para ele estar gostando de nada!
Nervosa, solto o pau inchado dele e levanto-me, sem a parte de baixo do
short e da calcinha, apenas com o top. O homem late igual a um cachorro
carnívoro.
— Essa visão é o céu. Me solte e me deixe provar do seu corpo. Eu te
darei todo o prazer do mundo.
Eu sorrio, aproximando-me.
— É uma proposta tão tentadora. Mas você não me merece.
Felipe me fuzila sem paciência. Feliz por ele estar puto comigo, eu me
sento no seu pau, sem penetrar. Inclino a boca até seu rosto e beijo o canto
dos seus lábios. Doida para começar a diversão.
— Merda...
— E não se preocupe moreno, o senhor me dará muito prazer. Só que
sem as mãozinhas... — sussurro maliciosa.
— Pare de judiar...
Eu me apoio no seu peitoral e deslizo o corpo pelo seu comprimento
cheio de veias. Os lábios do meu clitóris o abraça, levando-me a gemer.
Felipe fica inquieto, xingando, pulsando.
— Que porra...!
— Eu estou tão molhadinha... hummm... é uma pena você não poder
sentir.
— Eu vou morrer assim! Me solta, caralho!
Eu mordo a carne da boca, fecho os olhos e rebolo.
— Você não tem o direito de me dar ordens. Fique quieto! É eu quem
estou no controle aqui!
Abro os olhos, tiro o top de ginástica e Felipe lambe os beiços com a
visão. Meus seios estão duros, empinados.
— Eu iria devorar esses peitos a noite inteira. Enquanto a masturbo.
As palavras cretinas dele me deixa fraca das pernas.
— Por favor, cala a boca, Felipe!
— Eu queria tocar a sua pele, puxar os seus cabelos... você é minha, e
eu iria provar que digo o caralho da verdade.
— Não, eu não acredito mais em você.
— Eu não vou discutir...
— É um desgraçado.
— Chega de falar e me penetra logo essa buceta lambuzada! Pois os
meus braços estão dormentes e as minhas bolas roxas!
Eu sorrio e volto a dançar sobre ele. Minha vagina palpita. Meu
sangue ferve.
— Já disse, fique quieto, você me desconcentra do meu objetivo.
— Eloíse, eu sou capaz de amputar as mãos com os dentes. Penetra
essa buceta, porra!
— Pare de xingar... — Eu esfrego tão forte a xota nele que, por
pouco, não desmaio de tesão.
Ele late de desejo.
— Meu pau doí de vontade ter você o devorando.
Eu gemo. Acho que pela cara do Felipe, se ele estivesse solto, já teria
me deixado sangrando de tantos tapas na bunda. Eu queria ter um chicote
agora, para chicotear esse homem sem dó. Ele pensa que ainda tem o direito
de mandar em mim?
Ele me fuzila louco de fúria. Eu pego na sua rola quente, levanto o
corpo e coloco a cabeça rosada direcionada a minha entrada latejante.
— Não precisa ficar com essa carinha. Eu não ligo para nada além do
seu "cacete". — Safada, eu, então, sento, abro a boca e choro, invertendo os
papéis... pois desta vez quem sofre sou eu pela grossura inchada entrando em
mim.
Felipe relincha igual a um animal, mexendo as pernas com
exasperação. Familiarizando-me com o pau robusto me rangando a xota em
câmera lenta, eu, enfim, movimento os quadris indo e vindo. Esta posição
não vai ser nada fácil. Que droga de homem.
— INFERNO!
Querendo ser fodida, eu cavalgo nele. Trepo. Desço e subo. Rebolo as
paredes vaginas, sufocando-o em uma dança torturante. Meus cabelos
grudam no meu rosto. Abaixo e mordo a sua camisa. Minha vontade era de
estalar gritos de satisfação aos quatro cantos da terra.
— Droga, droga... pensa em coisas brochantes, coisas brochantes;
velhas gordas, obesas transando, traveco... — Sem ar, eu paro e olho o Felipe
que está blasfemando entre gemidos não sei o que para si. — Não pare, ou eu
vou gozar igual a um adolescente!
Eu continuo a cavalgar sobre ele, choramingando de dor e de prazer.
Eu mastigo seu pau, ora devagar, ora rápida. Minhas mãos oprimem meus
seios com força. Massageando os mamilos eretos, excitados.
— Ahh, que gostoso.
Ele fecha os olhos para não me ver e aperta os dentes e os punhos.
— [..] um soco nos testículos... sexo com defunto, pornô viado...
merda, inferno de mulher apertada, tesuda...
— Feli... — Antes de eu poder questioná-lo, ele não suporta e goza.
Eu... eu não acredito. Deveria ter me prevenido com uma
masturbação.
— Caramba! Sua loba, sua devassa! Eu vou morrer!
Sua ejaculação me preenche de jatos fortes e quentes. Eu fico tonta,
sem a energia do corpo. Arqueio as costas e da mesma forma, gozo ao ápice
em segundos, rebolando.
Cansada, paro, respiro.
— Muito gostoso, sr. Alencar, meu escravo. — Tiro-o de dentro de
mim e esfrego a minha boceta encharcada na sua perna.
— Eu estou pagando todos os meus erros, só pode. QUE CARALHO,
ELOÍSE!
— Está sim... não grita!
— Vai me deixar de molho a noite toda aqui? Se for, pelo menos me
come mais. — Ele está ficando duro de novo.
Antes de libertar o Felipe, eu me visto. Até queria mais sexo, só que
essa posição é horrível, chega ao útero e minhas coxas estão queimando.
— Eu poderia mesmo. Mas se contente com pouco.
Vou atrás das chaves e do meu spray de pimenta. Acha que eu sou
burra? Eu não confio neste cafajeste, não.
— Eu vou soltar você. E não ouse me tocar. Ou eu uso este spray.
Ele não responde. Eu solto um dos seus pulsos e afasto-me, jogando a
outra chave para que se solte sozinho. Soltando-se, eu pego a calça do chão e
taco nele.
É irrisível o calor do quarto, está cheirando a macho, sexo.
— Eu não mereço um beijo?
— Nenhum. Pode ir embora.
— O quê? Nem fodendo. A gatinha abusa do meu corpinho e depois
quer me mandar se lascar? — Nu, ele se põe de pé, veste a boxer, a calça e os
sapatos.
— Eu disse para você ir embora!
Felipe deita na cama, chamando-me.
— Não resolvemos aquele assunto de me chamar de gay, pô! E o que
aquele prego do seu ex-noivo queria?
— Você ainda pergunta? Ele veio me pedir perdão.
— E você perdoou o covarde?
Eu suspiro nervosa, sentando-me aos pés do colchão.
— Não. Eu não quero mais saber dele. E pare de me questionar sobre
o Mariano, como se você não fosse o motivo de nada. Você presenciou a
confusão!
Agitado, Felipe chega áspero, bem próximo de mim. Eu fico com
aquela sensação de milhares de borboletas no estômago.
— Eu nunca disse que prestava. Eu fui um filho da puta, e não vou
negar esta culpa. Não culpa por você ter se separado daquele prego, mas por
você estar magoada. Por eu ser o motivo de lhe fazer sofrer.
Eu desvio dos seus olhos atraentes, alisando a barra da minha
camisola.
— Eu achei que aquela noite, após pegar aquela mulher na cama do
meu "noivo", transar com você diminuiria a minha dor. Me entregar aos seus
encantos, preencheria o vazio do meu peito. E foi tudo real, eu esqueci do
Mariano. Só que... — Eu o encaro, pois ele segura no meu queixo,
interrompendo o que eu ia falar.
— Eu sei, eu sei. E eu não mereço um anjo como você. Ninguém
merece estar ao meu lado. No entanto, te imaginar nas mãos de outro, me
leva a loucura. Você é minha!
Afasto-me dele.
— Eu não sou sua, eu tenho medo de você me magoar outra vez. De
querer só me usar e, em seguida ir embora — as lágrimas são inevitáveis.
— Eu não vou, eu preciso de você, loira. — Ele me puxa para o seus
braços. Felipe limpa a minha bochecha com o polegar. — Eu só tenho uma
chance de consertar as coisas.
— E você tem — eu confesso, encarando-o. — Se me quer, se diz
tanto que eu sou sua, por favor, se esforce e não me decepcione. Eu só
preciso de certezas. Eu não sou essas vadias de esquina. Eu fui roubada,
conquistada por você para sexo. Antes de eu saber que era o responsável, até
concordei em viver as loucuras sexuais que me ofereceu. Foi tudo novo para
mim. Eu tinha sido traída e estava tentando superar a fase.
— Você só me deixa mais culpado. Eu não sei como eu vou consertar
as minhas cagadas, eu sinceramente não sei. Sou um fodido.
— Comece por aqui... — repito o que eu disse para ele no seu
apartamento, colocando a mão na direção do seu coração. — Você sofre
vivendo do passado, conserte isto. Eu lhe ajudarei.
— E quando o passado resolve retornar? — Felipe me fita
profundamente. — Eu tenho duas escolhas, Eloíse. Aceitar meus pecados e
sofrer as consequências, ou achar os demônios da minha vida e apagá-los. O
que fazer?
— Eu... eu não sei.
— Então não pode me ajudar. — Ele beija a minha testa e se levanta.
— Por que não? — Seguro no seu braço. — Você me fez perguntas
sem dizer o que são esses tais pecados ou demônios? — Solto-o.
— Ninguém pode me ajudar. É só eu e ponto final! — Ele é ríspido.
— Está sendo orgulhoso, é por isso que necessita de provar que me
merece. Eu não tenho a sua confiança, assim como você não tem a minha.
Vai embora, por favor!
Felipe fica estranho. E super ágil, puxa meu corpo ao favor do dele.
— Fe...
— Eu disse para estar preparada, pois bateria todos os dias na sua
porta. E eu não mereço você, jamais vou merecer. Eu sou um desgraçado, que
hoje está disposto a mudar pela primeira vez. Por isso, não reclame das
minhas atitudes. Eu sou sozinho, solitário. Eu nunca tive outra pessoa para
compartilhar dos problemas. Nunca confiei em ninguém, além do puto do
Fernando. Porém, há dores, sentimentos, coisas que são impossíveis de ser
ditas a um colega ou familiar. Não digo, é particular. Por isso repito, não me
cobre, não me faça pressão. Eu quero você. E se também está disposta a ficar
com um fodido como eu, tenha paciência. Eu posso te decepcionar pelo
caminho. Não sou perfeito, nunca fui ou serei. E saiba... — Felipe segura a
minha cabeça. — Minha armadura, minhas defesas, só você pode desarmar.
Ele me beija com carinho e sua barba me arranha. Eu permito seu
toque, os seus lábios, com a sensação de que vai tentar mudar. Eu tenho
esperanças. Esta noite, vejo um novo homem em sacrifício pela felicidade.
— Até amanhã, Eloíse. — Ele me solta. — Ainda vou trabalhar esta
tarde.
Trêmula, consinto deslocada. Amei sua sinceridade.
— Bom trabalho... Felipe. — E ergo os pés, dando um beijo
demorado na sua bochecha.
— Eu não merecia outro beijo? Você me amarrou igual a um frango
de granja.
— Não, seu canalha! — Eu bato nele, segurando o riso. — Se você
realmente está disposto a não me deixar ir, então sofra com as minhas
vinganças. Não vai me tocar!
O garanhão vai se arrepender de ter nascido.
— Porra, loira, é maldade.
— É! E tchau, vai embora logo!
— Marrenta!
Antes de ir, rápido, ele me rouba outro beijo e um aperto doloroso na
bunda. Fico furiosa pela ousadia. Até o Felipe fechar a porta, eu saio catando
todos os objetos pelo quarto na sua direção. Canalha! — eu sorrio e me
recomponho, indo tomar uma ducha, sem tirar as suas palavras dos meus
pensamentos.
Eu posso desarmar as suas defesas...
Ele tem que mudar... o amo, o gosto como nunca gostei de outro na
vida.
Capítulo 28

Eu olho as horas no relógio de pulso e volto a bater na porta.


— Otávio, eu poderia falar com você?
Antes de partir para a empresa da srta. Collins, eu precisava resolver
um assunto inacabado com esse preguiçoso.
Ele abre.
— Que foi?
— Eu gostaria de conversar seriamente com você.
— E sobre? — Ao me dar espaço, eu entro sem ser convidada. — É a
confusão de ontem com o seu amigo "gay"?
— Não, não. — Rolo os olhos, após ele fechar a porta e vir até mim.
— É sobre a Pietra. O que está acontecendo com vocês dois?
— Ah, sério? Você vem me encher o saco uma hora dessa pra isso?
Relaxa, Eloíse. Eu não curto crianças — pisca.
— Engraçadinho, o assunto é sério. Ela está obcecada pelo bonitão. E
Pietra é só uma menina inocente da vida. Não quero imaginar segundas
intenções vindas de você.
— Aquela menina. Inocente da vida? Tá muito enganada. E aquele
beijo na lavanderia foi a garota que me roubou. Ela não sai do meu pé.
— E será por quê, né? Não deveria dar atenção a ela, Otávio. É um
homem adulto. Se continuar assim, só vai alimentar mais a paixão
adolescente da menina. Eu sei que a Pietra é bonita, alta e tem todo aquele
jeito meigo de seduzir olhares curiosos. Por isso, resista. Ela só tem 16 anos.
Além de que Suellen te castraria. E ninguém ficaria ao seu lado. Nem eu.
Tente afastá-la para o mesmo não perder a cabeça.
— Calma. Eu já disse. Pietra é só uma garota boba. Não sou pedófilo.
Eu gosto de "novinhas" mais velhas. Pode se dizer acima dos dezoito.
Balanço a cabeça, dando um tapa no braço dele.
— Gostar de trabalhar que é bom, não gosta. Me prometa que fará o
que lhe pedi?
— Tudo bem, eu estou com as mãos limpas.
— Acho bom. Ah! — Levanto da cama, lembrando-me de outro
assunto. — E outra coisa, daqui a poucos meses eu pretendo não estar mais
morando na pensão. Quero tentar alugar um apartamento barato. Já tenho 28
anos, preciso ser independente, construir a minha própria casa mobiliada.
Guardei dinheiro para realizar esse sonho ao lado do Mariano. Mas você sabe
que não deu certo.
— Sério? Eu fico feliz. Também triste por abandonar o seu
irmãozinho indefeso aqui.
— Ai, tadinho — eu sorrio, abraçando-o. — Já passou a época em
que eu ajudava o papai a trocar as suas fraldas. Acho que a gente mimou você
demais. E ainda era o preferido da mamãe.
— Só que hoje ela me detesta. Diz que eu e você somos a maior
decepção da sua vida. E eu taco o foda-se.
— Já eu — dou de ombros —, nem me afeta mais. Papai era o único
que nos compreendia. Eu me arrependi amargamente de ter fingido para ele
que meu sonho "sempre" foi ser professora igual a mamãe. Morrerei com este
remorso.
Após conversar e deixar tudo muito bem explicado para o Otávio, eu
vou embora sem tomar o café. Preferi comer na rua. Quero fugir da discussão
sobre o Felipe e a tal história de "amantes". Vovó Aurora acreditando na
minha inocência, é o que basta. Não quero ficar tentando provar droga
nenhuma a ninguém. Aquele infeliz do Mariano é um sujo. Jamais esquecerei
a sua falta de sentimentos ao confessar que suportou o meu "chororô" pelo
luto do meu pai. É um traste. Mentiroso. Falso!
Quando eu chego no estacionamento da confecção, recebo uma
ligação do bendito santo Felipe. É só pensar no canalha que o diabo já se
manifesta.
— O que quer?
— Que isso, loira. Bom dia. Tá virando a Hiena do meu irmão?
— Por que será? Você persegue ele também? Bom dia, Felipe. O que
o "santo" canalha deseja?
— Pode ser você? Estou te vendo de longe. Poderíamos realizar o
meu desejo.
— Como assim? Você está aqui? — Franzo a testa.
— Olha pra frente.
Eu olho e alguém dá o farol alto. Meu Deus, eu vi esse homem ontem.
— O que está pensando, Felipe? Eu não te perdoei. Pare de me
perseguir.
— Porra, mulher, eu não disse que iria bater todos os dias na sua
porta? Eu sou um homem de palavra! Cumpra a sua de me suportar!
— Você é? Não acredito. E eu estou cumprindo!
— Não acredita? Quer provas? Você é muito marrenta. Isso me deixa
louco!
— E que provas o moço teria?
— Tem certeza que almeja saber?
Eu aperto o volante, curiosa.
— Sim. Que provas?
— Eu prometi que te conquistaria. E da forma essa que fosse
necessária.
Eu suspiro, em irritação.
— É. Quer meus parabéns? Você conseguiu, realizou as suas
libertinagens cretinas, você teve o meu corpo da forma que queria. Parabéns!
— Elô...
Brava, eu desligo o celular na cara dele, pego as minhas coisas e saio
rápida do veículo. Ele agora vai ficar se gloriando de que me conquistou para
sexo? Que agiu como um covarde? Que me magoou?
— Eloíse!
Ele me alcança e arrebata-me bruto pelo braço.
— Some da minha reta, Felipe! Ou eu te taco este café quente na cara!
— Você não queria provas? Eu disse, droga.
— Como consegue ser tão... — eu tento me desviar da sua beleza e
perfume inebriante, concentrando-me em mandá-lo a merda — Mesquinho?
O que conversamos ontem não te valeu? O que você disse sobre mudar as
coisas, vai descartar? O que me fez... ainda, infelizmente é uma ferida aberta.
Não sei fechá-la.
— Eu sinto muito. Eu sou um filho da puta. — Ele tenta me tocar na
cintura, e consegue por ser mais forte.
— Me solta.
— Porra, Eloíse. Eu não vou conseguir agir igual a um santo do pau
oco com você. Eu sei que eu disse que tentaria mudar pela primeira vez. Só
que... eu sou... droga, algo não vai dar certo. Eu não sou um cara cândido.
— Por quê? O-o que não daria certo?
— Essa caralha de ideia de achar que eu vou resistir a você. Pois, eu
sou um animal que pensa em te tacar neste capô agora mesmo e meter a porra
do pau entre as suas pernas, sem um pingo de dó! — Ele me puxa feroz,
fazendo-me derrubar o restante do café no chão. — Eu penso em te foder 24h
por dia! Até não poder andar mais!
Felipe agarra os fios dos meus cabelos loiros, desde a raiz, tirando-me
o fôlego e as palavras.
— Este sou eu. Capaz de fazer loucuras sem pensar duas vezes. E se
me negar, não vai dar certo!
— Não... e-eu...
Antes de eu conseguir formular a frase, ele balança o semblante
tarado e me beija feito um animal selvagem. Felipe me penetra os cantos da
boca com a sua língua profissional. Eu fico mole das pernas, sem ar e sem
força. Nossas línguas se entrepassam.
— Felipe... não...
Ele desce para o meu pescoço, chupando, sugando e arranhando a
pele com a sua barba.
— Você está excitada, Eloíse?
Eu fecho os olhos.
— É um selvagem... Me solta, por favor. — Ofego, escondendo o
tesão.
Felipe me fita, como o diabo galanteador que é.
— Eu perguntei se você está excitada!
— Você não merece me tocar. Eu já disse que não vai, o corpo é meu!
— Você não vai responder o que lhe perguntei? Eu disse que eu faço
as coisas sem pensar duas vezes. E você não me deixa outra escolha a não ser
tirar a resposta a força!
— Felipe, não ouse... seu canalha!
Ele me prende contra o capô desconhecido, segura as minhas mãos e
aperta o meio das minhas coxas. Eu me desespero, pressiono-as forte, veloz.
— Quer saber como eu estou? Eu estou com a calcinha encharcada.
Não era isso que você queria ouvir? Pronto, respondido. Chega de ser um
tarado sem controle.
— Eu quero tocar você, abre essas pernas.
— Eu sabia que essa história de deixar você ser um "amigo" era a
maior burrada. Você não para de pensar em sacanagens nem por um só
segundo.
— É óbvio. Você é minha!
— E já provou que me merece para exigir sexo?
Furioso, o Felipe me encara.
— Você está testando os meus limites. Esta noite é bom me esperar
sem as algemas. Ou eu fodo você como o canalha que diz tanto que eu sou.
Até da China vão ouvir os seus gemidos de prazer. Eu jamais prometo em
vão!
— É nem louco de me aparecer hoje naquela casa. Minha mãe pensa
que foi eu quem trai o traste do Mariano. Que você é o meu amante. Só que
nós dois sabemos bem da verdade.
— Foda-se. Eu não vou mudar o que eu disse! Não me tire do
controle! — Ele aperta forte as minhas pernas. Dolorida pela sua brutalidade,
eu abro em rendição, e seus dedos chegam ao tecido molhado da calcinha.
Pisco sem parar, com os batimentos explodindo. — Isso vale a tortura de
ontem.
— Safado... Cafajeste!
Ele me acaricia os lábios genitais, sem a menor delicadeza. Eu tento
soltar as minhas mãos para afastar o seus bíceps, mas nem me movo. Seu
polegar passa por de baixo da minha coxa, saindo da poupa da bunda e
voltando a renda da calcinha e a minha excitação em latejo.
— Um ótimo dia de trabalho, Galvani!
Felipe, então, me dá uma pressionada impetuosa no quadril e com a
feição de vingança, solta-me para virar as costas... me abandonando com uma
pulsação que quase me leva ao orgasmo. Fico tonta, trêmula. Eu coloco a
mão no peito e chego ao veredito de que eu jamais vou controlar esse
cafajeste. Felipe é um animal, um animal sem controle. O que eu vou fazer?
É tão imprevisível. Eu sei que é difícil mudar de um dia para o outro. Eu terei
que ser ligeira para ele não me seduzir e eu cair nos seus encantos tarados.
— Bom dia, Eloíse. Atrasada! — Guilherme me pega de surpresa,
barrando-me na entrada do saguão.
Eu arregalo os olhos.
— D-desculpa, eu... eu tive um contratempo.
— Hum... é claro. E esse "contratempo" tem a ver com o seu batom
borrado?
— O quê?! — Eu me desespero e limpo a boca, só que não sai a
vermelhidão.
Droga.
— Eu estava só brincando, bonequinha. Cheguei agora. Mas vem cá,
quem foi? — Ele pisca, deduzindo com um olhar. — Você perdoou o Felipe?
— Não... É claro que não. Eu não perdoei aquele canalha. É ele que
não sabe o que é ser 'amigos'.
— Hann, então foi ele o motivo desse batom borrado?
Meu Deus.
— Mas você é muito ardiloso, Guilherme.
— É claro, meu anjo, aqui somos cobras perigosas. Ainda não chego
aos pés da Clara. É bom ser esperta nesse ninho de víboras.
— É, é bom eu acordar. É capaz de eu matar alguém a pedido de
vocês e nem perceber.
Ele ri. Eu balanço a cabeça e acompanho-o um pouco recuperada do
Alencar.
Capítulo 29

Esta manhã, Clara estava em reunião com a sua equipe especialista


em marketing. Eles iriam apresentar umas três propostas de catálogos. Eu
fiquei esperando sozinha na sua sala luxuosa. Guilherme não pode ficar
comigo. Ele é o vice da CEO. É o COO (Chief Operation Officer) — Diretor
operacional e presidente da empresa. É o braço direito da Clara. É ele quem
coordena de perto a rotina da confecção. É também o design que assina e cria
inúmeras peças dos catálogos. Ele foi participar da reunião. Posso dizer que o
Gui é o pilar do sucesso Collins. Hoje admiro os dois como grandes
profissionais.
Ao retornar sozinha, Clara me encontra a aguardando como
combinado ontem. Eu estou ansiosa para saber a opinião final da sua equipe.
Meus batimentos cardíacos parecem uma bomba relógio.
— Fique calma, Eloíse. Estou sentindo você tensa demais. — Ela
senta atrás da mesa de mármore branco, que os pés são detalhados em arco
amadeirado, e pisca calma, parece uma pluma tranquila. Queria eu estar
assim.
— Desculpa, eu estou muito ansiosa. O que eles disseram?
— O que você espera?
— Eu não sei. É tudo muito novo. Sinto-me insegura. Sua marca é o
sonho de consumo dos brasileiros. E ser a modelo desses catálogos é imensa
responsabilidade.
— Tenha calma. Devo lembrá-la de que eu sou a dona da confecção, e
a palavra final sempre será a minha. E é claro que eu tenho a melhor equipe
do mundo, sendo meramente humilde, eles são perfeitos! — Ela sorri. —
Temos concordâncias iguais. Exceto com o Guilherme que gosta de ser muito
extravagante. Por isso, o veredito sobre eu ter uma Diamante fixa foi dada. A
ideia, no começo, deixou eles apreensivos. Até os designs. Porém, foi quinze
votos a, cinco... com certezas!
— O-o quê? — Eu me emociono. — Não acredito.
— Eles amaram a ideia de te tornar a Diamante oficial dos catálogos.
No começo, a apreensão foi por eu, desta vez, não apostar em rostos famosos.
E sim, numa modelo em ascensão.
— É uma oportunidade rara. Jamais saberei agradecê-la.
Clara pega no meu braço, como uma amiga sincera.
— Eu não quero depender de rostos conhecidos. Eu sempre sonhei
com o rosto oficial da marca. E não imagina como procurei e procurei
incessante, sem parar pelo meu Diamante. Eu estou confiando a tarefa a você.
Quando te vi, não tive dúvidas de que seria a pedra perfeita — seus olhos
verdes brilham. — Assinamos esse contrato assim que os dois meses da
Model Brasil se finalizarem. Após assinar, terá o direito de desistir a hora que
desejar. Não quero lhe obrigar a ficar presa.
Eu sorrio, limpando as lágrimas de felicidade.
— Obrigada, Clara, de verdade. Sua confiança será recompensada
pela minha lealdade e dedicação. Vou me tornar melhor todos os dias. De
cabeça erguida.
— Posso te dar um conselho? — Consinto. — O segredo do sucesso
está aqui... — Ela coloca a mão no coração. — Ser humilde, jamais perder a
essência e a fé. Também aqui... — Ela toca na cabeça com o dedo indicador.
— Manter a positividade, a paciência, a perseverança e o silêncio. Jamais
diga os seus sonhos a ninguém. As pessoas são invejosas por natureza. Faça
acontecer em silêncio. E aí, quando estiver no topo, abaixe a cabeça e diga:
obrigada, meu Deus. Porque a cabeça muito erguida, traz o orgulho... e certo
torcicolo — sorrimos. — Só que continue sempre olhando para frente.
Eu guardo o seu conselho, disposta a ser diferente comigo mesma.
Isso inclui as minhas decisões. Eu quero me tornar uma mulher mais forte.
Sem chororô, sem lamentações. Uma nova Eloíse. E irei passar esta realidade
na vida e nas fotos, ao representar todo o trabalho da equipe Collins.
•••
A noite, na pensão, eu me arrumo um tiquinho sexy para provocar.
Não nego estar aguardando o cafajeste do Felipe. Eu repensei e quero ele
aqui. Esse homem me deixa louca, eu lembro de safadezas todos os dias. Eu
pareço um vulcão, pronta a entrar em erupção. É inexplicável. Nunca fui tão
ativa sexualmente.
Desta vez o aguardo no jardim. Eu sei que ele tem algo que rastreia o
meu celular. Só essa razão responde o porquê dele sempre saber onde eu
estou.
— Aguardando o lobo-mau?
Eu não disse? Ergo o rosto, encontrando-o. Ele vem caminhando pelo
gramado, com as mãos no bolso. Eu estou sentada perto da piscina. Observo
a lua cheia, em seguida, ele e toda a sua beleza.
— Apenas observando o céu. Estava torcendo para você ir ao meu
quarto e não me achar.
— Que malvada essa loirinha. — Ele para de frente para os meus
joelhos. — É uma pena eu ter o dom de farejar seu cheiro.
— Achei que você rastreasse o meu celular... Me enganei... o senhor
Alencar é apenas um cachorro com pedigree. E de ótimo faro.
Ele sorri paquerador, balançando a cabeça, e analisa a minha roupa
curta, meus seios, minhas pernas torneadas, devido a muitas corridas,
malhação e cuidados estéticos. Não omito que cuido muito bem do meu
corpo e sou um tanto privilegiada pelos seios e a bunda farta.
— Essa visão é o paraíso, dona Galvani. Já se viu no espelho hoje?
— Acho que não. Mas, pelo seu olhar tarado, eu não estou nada ruim.
Em silêncio, Felipe se senta ao meu lado na espreguiçadeira. Eu
descruzo as pernas, de modo a não deixar que ele me toque nas coxas.
— Veio cobrar a sua promessa de hoje mais cedo? — Eu encaro a sua
face harmoniosa pela barba. — Ficou calado?
— Tem ideia de como eu estou sofrendo? — Confessa de repente. —
Isso dói.
— Sofrendo? — Fico preocupada.
Ele pega na minha mão e a beija.
— Sim. É horrível... — Então o canalha leva os meus dedos ao seu
volume na calça. Respiro nervosa, ansiosa. Ele esfrega sem cerimonias. —
Eu não posso nem pensar em você que as minhas pobres bolas doem. Meu
pau lateja de tortura.
— Tadinho. Você sabe que eu posso ser pior, né?
— E a senhorita sabe que eu sou um animal, né? Eu não costumo
pensar duas vezes.
Eu toco no volume do Felipe com as unhas, bem lentamente. Ele
aperta a minha coxa.
— Está levando outras mulheres para cama, Felipe?
— Só uma mulher me interessa.
— Isso não responde a minha pergunta.
— Eloíse, eu já disse que a porra do meu cacete só obedece aos seus
feitiços. Eu estou igual a um cavalo adestrado. Só consigo ser cavalgado por
uma domadora.
— Co-como eu posso confiar... que você diz a verdade? — Gaguejo
devido a sua mão me apalpando.
— Eu não posso provar porra nenhuma se ficar me exigindo
promessas. Mas se esse é um dos nossos problemas, eu não ligo em
entrarmos em trato. Não suporto a ideia de outro homem a não ser eu te
tocando. É minha e ponto final. E te devo o mesmo ponto de vista.
— Justo, muito...
Mal termino de falar e Felipe me deita contra a espreguiçadeira. Ele
avança, mordiscando o meu cangote, erguendo a minha coxa e roubando a
minha autonomia.
— E-espera, Felipe!
Eu puxo os seus cabelos para que me fite. Ele está sério, respira
obstinado, feroz.
— O que a dona deseja mais? Quer fazer um contrato diante do juiz?
— Seu cretino. Não! Eu quero dizer que trato feito.
— E?
— E só.
— Só isso?
— É, só isso.
— Então licença que eu vou voltar a fazer o meu trabalho!
E ele volta, beijando-me esfomeado. Não tenho tempo de pensar. Só o
deixo conduzir tudo. Deixo que me toque, que saboreie da minha pele. Eu
preciso da sua atenção. Felipe é tão bom no que faz... que nem se dá conta
dos feitiços sexuais de um deuso. Ou percebe, né.
— Eu quero morder cada pedaço desse corpo, dessa pele quente. —
Ele lambe o meu decote dos seios com a língua áspera, molhada. Gemo. —
Peço que a loira respire bem fundo.
— Respirar fundo?
Felipe prende as minhas pernas nos seus quadris, pisca com o olhar de
quem vai aprontar e ergue-me tão rápido quanto no momento em que nos
joga dentro da piscina. Eu grito, mergulhando com ele, e eu bato no infeliz ao
retornarmos ofegantes.
— F-Felipe! Seu, seu louco!
Ele ri, tirando a camisa encharcada. Ah, esse homem, realmente não
pensa duas vezes antes de agir. A água está quente, uma delícia. Eu me
afasto, do mesmo modo, erguendo o vestido. E fico só de lingerie vermelha.
— Vermelho? Quer me deixar louco?
— Quero!
— Sua diaba, vire-se de costa!
Sorridente, eu viro. Ele termina de tirar a calça e acho que a cueca.
Sou arrebatada pela cintura, recebendo uma enconchada do seu pau dotado
no meu traseiro. Isso me deixa pegando fogo. Felipe beija as minhas costas
molhadas, sugando-as, enquanto caminha dois dedos pela lateral da calcinha.
Eu descanso a cabeça no seu ombro. Ele me masturba. Fecho os olhos,
gemendo.
— Relaxante? — Sussurra ao pé do meu ouvido.
Arrepio-me, sem dizer que sim e abro os olhos.
— Eu estou com medo de sermos pegos por alguém. Estamos nus. —
Acaricio seu braço que se move na água, no meu ponto 'G'.
— Tudo vale o risco para ter você.
Felipe abre o fecho do meu sutiã. Eu o ajudo a tirá-lo. Ele joga a peça
na borda e aperta o bico dos meus peitos. Inquieta, eu esfrego a bunda nele,
inclino a mão por de trás e espremo a cabecinha do tesouro exuberante. Que
gostoso... É como acionar o fio de uma dinamite. O safado late.
— Porra, eu vou ficar doido. — E me vira, devorando a minha boca.
— Felipe... — Sem ar, abraço seu pescoço. — Me penetra, não quero
preliminares.
— Eu vou te foder, loirinha. Calma. Vem aqui.
Ele me senta nos degraus da piscina, retira a minha calcinha e alisa o
meu sexo pulsante. O que o safado vai fazer?
— Feli... — Então me lambe, mamando-me sem dó.
Eu delírio de prazer.
— I-isso não é foder... como eu quero!
Ele finge não me ouvir, penetra a língua mais fundo e os dedos.
Huuum, eu vou desmaiar. Ele acaricia, dedilhando o meu grelinho. Passeia os
beiços com determinação na minha pobre intimidade. Eu explodo. Seguro os
gemidos altos.
— Que delicia, toda depiladinha, toda macia.
— Pare, eu quero ser fodida, moreno. Eu vou ficar louca. Me penetra!
Ele continua a me ignorar.
— Ooor, Felipe. Me fode... me fode... — repito sem cessar.
Um hora, de tanto ouvir as minhas preces desesperadas, e antes dele
parar, ele me dá uma linguada, mais dois tapas ardidos na boceta.
— Ai, ai!
— Safada!
Felipe distribuiu o peso sobe mim. Cheio de maldade, o libertino
morde os meus mamilos e brinca com o meu traseiro.
— Felipe! — Surto. — Me foda logo!
— Como disse?
— Para. Você só está querendo se vingar de mim, me torturando com
preliminares.
Ele massageia o pau, com o olhar canalha.
— Quer ser fodida? Eu, então, vou te foder gostoso!
Ergo a cabeça e arregalo os olhos, recebendo a sua pica dura como
rocha. Ele enfia até o limite do saco. Tampo a boca para não gritar e choro de
tesão. O homem bombardeia, entrando e saindo. Eu sou fodida! Ele aperta os
meus seios, não tendo pena das minhas lágrimas de desespero, de prazer, de
vontade de gritar. Apoio-me na cadeira de sol, sem força. Bramo o seu nome
em sussurro, deixando-o mais faminto. Ele mete ágil, enquanto eu gemo.
Felipe urra.
Ao gozar, tira o pau, espirrando o sêmen no meu abdômen. Eu fico
uns cinco minutos absorta, beijando-o e gozando, gozando muito.
— Agora eu posso voltar a saborear do seu corpo?
— Não, agora é a minha vez. — Aperto a bunda perfeita dele.
— Que isso, loirinha, tem certeza que é a mesma Eloíse? Tá muito
safada.
— Nem percebi — sorrio maliciosa. — Não sabe com quem mexeu,
senhor Alencar. Vamos entrar na piscina. Estamos nus e podemos ser pegos.
Felipe me puxa para mergulharmos. De baixo d'água, eu passo várias
e várias vezes a mão no seu pau. Encaramo-nos e ele me beija, pressionando
forte a minha bunda.
— Ai, Felipe... — murmuro.
— É tão gostosa que me deixa louco. Quero morder, apertar, arrancar
sua carne com os dentes — o selvagem me morde.
— Se controle — abraço-o, provocando o atrito do seu peitoral contra
a minha nudez — ou eu usos as algemas.
— Eloíse, Eloíse. — Ele me apalpa, voltando a fitá-lo. Sua ereção
roça na minha barriga. Arrepio-me. — Não espere eu agir como um louco.
Estou aguardando você abaixar e chupar o meu cacete.
— O quê? Safado, quer me matar afogada?
— Não disse que era a sua vez? Cumpra o que disse, caramba.
Talvez eu esteja julgando um tanto errado esse homem. Tem algo que
é verdadeiro nele, não posso ser mesquinha. Felipe demonstra ser um homem
de palavra. E que gosta da mesma reciprocidade. Eu preciso ver coisas boas
nele. E espero jamais provar do contrário. Quero confiar no seu caráter e
obter a mesma confiança. Ele tem segredos, dores, tais "demônios" que me
deixam preocupada, curiosa.
— Vamos pro meu quarto e eu faço só coisas boas com o "Felipão"
— sussurro, acariciando a sua barba. — Prometo.
— Antes, eu quero dar uma surra de pica nessa sua bunda. Vire-se e
se apoie na borda.
— Felipe... eu vou sair daqui sem andar.
— Serei carinhoso. Vire-se!
Sinto que ele está segurando a vontade de judiar de mim. E isso o
tempo todo. Sua exasperação é de um cavalo com sangue nos olhos. Só que
controlado.
É simples o motivo, basta eu me negar e o tarado enlouquece. E basta
eu colaborar e ele se controla. Será que eu volto a provocar mais daquele
pervertido de hoje cedo? Felipe não estava de brincadeira. É capaz de
qualquer loucura. É impulsivo e não pensa duas vezes antes de agir.
Bom... e claro que eu vou!
Capítulo 30

No meu quarto, após cumprir a "santa" promessa ao safado do Felipe,


com prazer, eu engulo todo o seu líquido quentinho e salgado. Sem me
engasgar, ainda finalizo passando a língua na glande. Enlouquecendo-o. Ele
geme de olhos fechados. Tenta administrar a vontade de xingar feito um
maluco.
— Sua loba. Porra, Eloíse. Assim não tem como. Você chupou a
minha alma junto com a rola!
Eu limpo a boca e os seios, levantando-me com as coxas doloridas... e
'entre' as coxas. Felipe não tem um pau, é uma pessoa grudada ao seu corpo.
Ofegante, volto a amarrar os cabelos. Ele me observa.
— Vem aqui, loira.
Batendo na perna, ele me chama para sentar no seu colo nu. Eu vou.
— O senhor é muito tarado. — Acomodo-me vestida com a camisola.
Tivemos que tomar um banho lá embaixo, saímos da piscina,
ensopados. E no chuveiro, transamos de novo. Não resisti.
— Está dolorida?
— Não... — Desvio dos seus olhos castanhos. — Exceto que eu quase
não aguentei subir os degraus da escada.
Ele ri e beija meus cabelos. Eu descanso a cabeça entre o pescoço e o
seu ombro.
— Eu estou me sentindo castigada por fazer aquela tortura com você.
— Eu sou um anjo carinhoso. É a loirinha que gritou aos quatro
cantos da terra que queria ser fodida. E como eu poderia deixar de atender
aos desejos da minha patroa?
— Seu cretino — rindo, eu bato no peitoral dele. — Estava se
controlando por quê?
Ele franze a testa.
— Me controlando?
— Sim... foi o que eu achei. Seus olhos... eles pareciam aguardar algo
de mim. Para me despir a pele dos ossos.
— Você sabe o porquê.
— Eu sei? — Arqueio a sobrancelha.
O safado não responde.
Será aquele meu pensamento? Pois, desta vez eu fui "boazinha",
"colaborei".
— Espero não aparecer por aqui amanhã.
— Mas é claro... que eu vou!
Ele puxa meu rosto e beija-me, como uma fera, mordiscando meus
lábios inchados.
— Gostosa. Eu sou um homem de palavra. Eu disse que iria bater
todos os dias na sua porta! E eu vou bater todos os dias na sua porta! Quer
que eu repita mais?
— Você não tem jeito. Tudo bem.
Ele fica curioso. Esse homem é tão bonito que me deixa intimidada.
— Agora sou eu quem quero questioná-la. A minha Eloíse, marrenta,
explosiva, bravinha, o que aconteceu com ela? Era para ela estar segurando o
sagrado spray de pimenta, ameaçando arrancar meus olhos.
Eu sabia! Viu, é porque eu colaborei com o canalha gostoso.
— Ela está aqui ainda. É só não sair da linha — pisco e começo a
acariciar seu abdômen atraente. — Eu também disse que se estivesse disposto
a mudar, eu estaria a sua espera. Lhe ajudaria caso provasse ser sincero, que
me merecesse. E eu sei que é difícil mudar de um dia para o outro. Não posso
exigir algo que se aprende. Mudar as vezes é renascer.
— E eu provei algo?
— Está provando. Você precisa de mim. E eu não vou desistir de você
enquanto não desistir de se tornar uma boa pessoa. No entanto, saiba que eu
não vim a esta terra para facilitar uma vírgula. É muito canalha. Não ouse
comer outras mulheres!
— Claro. E isso não é exigir nada de mim? — Sorri.
— Felipe, cretino! — Bato forte nele. — É o mínimo! Se tentar trair a
minha confiança, eu transo com outros homens também. Não existe só você
no mundo.
Sinto seus músculos se enrijecerem. Ele fica sério, puto.
— O que disse, porra?
— O que ouviu... — Meu coração acelera.
— Temos um trato! Eu mato cada filho da puta! Você é minha e é
bom não esquecer disso!
Ele me beija, erguendo-me forte do seu colo.
— Felipe. — Fito-o, preocupada. — O que vai fazer?
— Não se preocupe, eu não vou te foder. Meu pobre pau foi sugado
até a terceira reencarnação. E não teríamos desculpas para explicar o porquê
da dona Eloíse não estar andando.
— Seu doido. — Beijo-o, feliz por ter a palavra de que não levará
outras mulheres para cama.
É o mínimo que eu precisava para criar alguma confiança. Eu quero
ajudá-lo. Eu gosto tanto dele... Vou deixar as coisas acontecerem. Ah,
todavia, sem facilitar. Continua um cafajeste, lindo de morrer. E vai ser
domado cada vez mais, ou eu não me chamo Eloíse Galvani. Vamos jogar,
Felipe!
•••
De manhã, para o safado não ir embora como veio ao mundo — o que
não seria uma má ideia de vingança — eu cato umas roupas escondidas do
Otávio e obrigo-o a vestir. Felipe dá dois do meu irmão. Peguei a maior
bermuda e a maior camisa que havia no seu guarda-roupa.
— Ficou uma graça — gargalho da cara dele. — Melhor do que ir nu,
né?
Felipe ficaria irresistível até fantasiado de árvore.
— Nem vou discutir. Vem aqui.
Ele me chama para me roubar um... dois... três... cinco beijos
molhados.
— Se... se você não for logo, vai se atrasar para o trabalho. —
Derretida por ele, eu me afasto do imenso calor.
— Eu sou sócio da agência. E temos pouco serviço hoje.
— Você se aposentou da federal por causa daquele incidente, né...?
Os tiros que levou? — Pergunto inocente. No entanto, parece que Felipe não
gostou da pergunta.
— Foi por conta de uns assuntos do passado. Já vou, terei que virar o
homem invisível para a sua família não me reconhecer. Nós vemos no
almoço.
— No almoço?
— Sim, eu pego você. — Ele me dá outro beijo.
Ao sair, eu fecho a porta, suspirando com uma coisa muito curiosa na
mente. O que o Felipe fez nesse seu passado? Será o motivo dele ter se
tornado tão solitário, triste, orgulhoso?
Na cozinha, hoje eu participo do café em família. E o clima não é
nada bom. Digo pela minha mãe. Ele me olha detestável.
— Dormiu no seu quarto hoje, Eloíse?
— É Claro, mãe, e a senhora? — Sou cínica.
— Humhum. — Vovó pigarreia. — Tomem o café sem discussões.
Todos aqui estamos em casa. E somos adultos.
— Bem lembrado, vó. Já tenho 28 anos. — Coloco a xícara sobre o
pires. — Por isso, não queria te magoar, no entanto, eu vou começar a
procurar um apartamento novo. A partir do mês que vem, eu estarei
recebendo uma boa quantia de dinheiro da minha carreira de modelo.
— Jura, filha?
— Eu não entendo com uma pessoa tão velha conseguiu um espaço
de "modelo".
Eu aperto meus punhos, engolindo toda a minha raiva contra a minha
mãe.
— Para as passarelas, eu posso não ter a idade apropriada, isso é
obvio. No entanto, para modelo fotográfica não existe idade. Não existe "a
regra perfeita". O que se precisa é de oportunidades. O que não me faltou.
Graças a Srta. Clara Collins.
— Collins? — Minha mãe arregala os olhos.
— Sim, eu serei oficialmente a modelo dos catálogos da Diamante
Collins. Eu serei o "Diamante" da marca.
— Meu Deus, querida. Essa marca é famosa?
— A número um do Brasil. — Encaro a minha mãe, saboreando do
meu café.
— Eu fico muito feliz por você, filha. Fico mesmo. É o seu sonho se
realizando. Nem posso acreditar.
— Obrigada, vovó.
— Eu já vou pro trabalho. Tchau para vocês. — Minha mãe se
levanta, bruta.
— Roberta, não vai dar os parabéns para a sua menina?
— É claro. — Ela me olha, mastigando o ser humano malévolo. —
Parabéns, Eloíse. Tchau.
Ahh, que gostinho é esse? Não é de café... espera, é delicioso, é de
vingança? É sim. E eu vou alcançar todos os meus objetivos para saborear
cada vez mais desse maravilhoso sabor.
Eu estou tão feliz que vou cantarolando para a confecção. Hoje eu vou
fazer a prova de quinze vestidos para serem ajustados e fotografados daqui a
alguns dias. Minha animação não cabe no peito.
— Oliver está atrasado. — Guilherme murmura, andando de um lado
para o outro na sua sala bem... peculiar.
É vermelha e sexy.
— Gui, mas por que o Oliver viria hoje? Não seria só os ajustes dos
vestidos?
— É que temos outras modelos nos catálogos. Precisamos de tons de
pele, também tamanhos, P, M, G, GG. Clara gosta de mostrar que é uma
marca de roupa flex, para todas as mulheres que a desejam.
— Que incrível. Isso é muito importante.
— O que mudará daqui em diante é que teremos uma estrela. A
"Diamante", onde estará brilhando com seus olhos azuis e cabelos loiros.
Eu sorrio, ansiosa. Ele pisca.
— Clara igualmente está bem atrasadinha. Deve estar se aproveitando
daquele marido gostoso dela. Ai, que calor. Vocês duas são muito sortudas.
Queria eu pensar assim...
Não demora nem cinco minutos e a secretária avisa da entrada do
Oliver. Acho que não estou preparada para ver esse fotografo. Ele é muito
gato e muito estiloso.
— Bom dia, Guilherme. Bom dia, Eloíse.
Ele aperta as nossas mãos, e, em especial, me dá um beijo no rosto.
— É a segunda vez que eu te vejo e fico mais impressionado com a
sua tamanha beleza.
Santa madalena. Minhas bochechas coram.
— Obrigada.
— A sua equipe está te aguardando, Oliver. Lá no estúdio. Venha,
enquanto a nossa patroinha não chega, vamos acompanhá-lo no trabalho com
as modelos. Se não for incômodo...
— Claro que não, seria um prazer.
— Você vem, Eloíse?
— Sim.
Acompanho-os pelo corredor.
— Se não tiverem nenhum compromisso após as onze, aceitariam o
convite de almoçar comigo?
Eu encaro o Guilherme, que pisca.
— Por mim, eu não tenho nenhum compromisso, Oliver.
— E você, Eloíse? Não faria tal desfeita, né? — O fotógrafo
questiona divertido.
Capítulo 31

— Olá, onde os meus tesouros vão?


Interrompendo-nos, Clara aparece toda elegante, saindo do elevador.
Essa mulher é uma Deusa maravilhosa. Seu perfume se exala pelo ambiente.
— Bom dia, Clara.
— Bom dia. Onde o sr. Guilherme e a srta. Eloíse pensam que iam?
Temos muito trabalho hoje. Os designs Thales e Maya querem fazer os
ajustes primeiros na Elô. Por isso, leve ela até o ateliê, Gui.
— Iriamos acompanhar o Oliver no estúdio. Eu não sabia dos seus
planos esta manhã; não deixou agendado. Mas tudo bem. Vem, Elô, prevejo a
gata ficando de pé por horas. Vou só te deixar com os designs, tenho ainda
que passar uns relatórios para a patroinha.
Guilherme me leva até eles, apresenta-me aos dois e logo se vai. Esta
manhã, eu faço tudo o que me pedem. E acreditem, eu não levei uma
agulhada sequer. Thales e Maya são bem atenciosos e carinhosos. Estou
apaixonada por tantos elogios.
No horário do almoço, eu sou pega novamente por Guilherme.
Acompanho-o até a sala da Clara.
— Com quem você vai almoçar, Clara? — Ele pergunta.
— Com vocês. Por quê?
Ela está concentrada, assinando alguns papéis.
— É que o Oliver nos convidou para almoçar com ele. Viria conosco?
Ele vai amar.
— Vou sim...
— Eu não vou poder — confesso.
— Como não?
— É que... o Felipe prometeu que ia me pegar para almoçarmos
juntos.
Clara para o que estava fazendo e encara-me. Guilherme cai sentado
sobre a cadeira de pluma.
— Vocês voltaram mesmo?
— Perdoou ele?
— Explica essa novela, menina.
— Não. O que está acontecendo, nem eu sei explicar. É uma longa
história.
— Não sei se eu fico feliz ou preocupada. Vocês estão se resolvendo?
— A verdade é que eu decidi ajudar o Felipe, caso ele provasse que
seria sincero, de caráter, que seria um "novo homem". Prometi também que
seria uma amiga, e se ele realmente estivesse disposto a mudar, poderia me
procurar. Acho que não deu muito certo, sabe. — Dou de ombros. — Um
"Alencar" é um Alencar...
— Selvagem... — Clara sussurra e sorrimos. — O que ele te disse?
— Que era para eu largar a porta sempre aberta, pois ele bateria todos
os dias. E pelo jeito, acho que agora eu verei aquele homem de domingo a
domingo. Meu Deus. — Eu me sento, cruzando as pernas.
— Vocês duas ficam esfregando esses Alencares na cara de nós
pobres meros mortais. Vou entrar em depressão. Quero um pra mim. O bofe
do Felipe que estava disponível já foi furtado.
— Tadinho.
Rimos.
— Mas, vem cá, Elozinha. Você está judiando desse homem, né? Tem
que fazer o safado comer na sua mão, rastejar aos seus pés igual cachorro. O
que ele te fez precisa ser recompensado por uma grande prova de amor e de
mudança.
— É o que eu espero. É tão imprevisível. Só que não o perdoei, vou
deixar acontecer, sem facilitar a vida dele.
— Super apoio, Elô. Não se preocupe, se precisar de mim, eu estarei
aqui para conselhos e para lhe ajudar. Felipe precisa se redimir, se render ao
amor, sem amarras, sem orgulho. E se ele está disposto a mudar pela primeira
vez, já é um grande passo nesta jornada pela redenção. Eu sabia que você
tinha mexido com os sentimentos daquele impulsivo. Espero que os dois
sejam fortes.
Eu gostaria tanto de aproveitar o embalo do assunto e perguntar sobre
o passado do Felipe. Desses tais pecados, tais demônios que omite sempre. O
que ele tem medo de dizer?
— Eu quero ser forte. Eu quero ajudá-lo. Só não sei se eu aguentaria
outra decepção. Eu estou cansada de tanto sofrimento.
— Há algo que o Fernando sempre elogia no irmão. Felipe é uma
pessoa de palavra. Por isso é uma raridade ver ele prometendo em vão. O
defeito daquele cabeça dura é ser impulsivo, fazer o que bem entende sem
pensar no amanhã. A frase é "se a vida já me fodeu, o que me resta é foder
com o resto dela". Para ele, era tanto fez, tanto faz. Hoje, tenho fé de que
possa estar repensando nos erros, na vida, e querendo valorizá-la graças a
você e aos sobrinhos que ama de todo o coração. Aquele jamais escondeu o
sonho de ser pai, de ter uma família. Se não está disposta a desistir dele igual
a ex, Antonella, ele não vai desistir de você. Como disse, é ter paciência. É
deixar 'acontecer'.
Eu quase me emociono. Gui pega um lencinho.
— Nossa, Clarinha é a melhor conselheira. Deu até vontade de me
casar para sair dessa fossa.
Eu não aguento, vou de emocionada a vontade de rir.
— Obrigada, Clara. Suas palavras são de valor.
— Por nada, Eloíse. Bom, é melhor irmos almoçar. Tenho uma
reunião marcada para às uma e quarenta da tarde, com os gerentes das nossas
lojas.
— Ah, o Feli...
— Deixa esse homem sofrer, flor. Vem logo, vamos almoçar com
aquele gato do Oliver. Olhar não tira pedaço. Clarinha que me diga.
— Shiu, sua purpurina. Deus me livre, tenho até medo do Fernando
descobrir acerca do meu fotógrafo. É capaz dele colocar os seguranças atrás
de mim, feito chicletes. E detesto todos os brutamontes. Por isso, segredo
vocês, hein? Fernando nunca promete, ele faz e ponto final. Cretino!
Gui ergue as mãos.
— Não está mais aqui quem falou.
— Eu nem sei do que vocês estão falando. — Pisco.
Como o Guilherme orientou a poucos dias, terei que ser uma víbora,
no sentido figurado de 'esperta'.
Ao descermos no térreo, encontramo-nos com o Oliver na recepção
luxuosa. Ele fica feliz pela minha presença e a da Clara. Ao atravessarmos o
vidro da saída, eu, por pouco, não caio dura no chão. Eu sabia que não
precisava dizer onde eu estaria, ele sempre sabe onde me encontrar.
— Não acredito, ai, meu Deus, seu bofe, Eloíse. Puta homão da porra.
Ai, que calor, desculpa.
Felipe tira os óculos escuros, desencosta do carro e vem desfilando a
sua beleza máscula até nós.
— Quinze minutos te esperando, Galvani!
Assim que para, embriago-me pelo seu perfume gostoso.
— Bom dia para você também, Felipe.
— Bom dia, cunhada. — Ele encara a Collins, o Guilherme, em
seguida o Oliver. — Bom dia para vocês.
— Bom dia.
— Bom dia, pão de mel.
Oliver o responde sério. Guilherme morde o dedo, dando o melhor
olhar sedutor e voz sexy.
— Vamos, Eloíse?
— Mudei de ideia. Eu vou almoçar com a Clara. Não se importaria,
né?
Ele me fita, nem um pouco satisfeito.
— Me importo.
— Sinto muito. Não ligo.
O cachorro se desvia de mim.
— Que restaurante vocês vão? Eu e a Eloíse acompanhamos vocês.
O quê? Esse homem não conhece o sentido da palavra "não"?
— Acho que a Eloíse já foi bem franca.
Sem acreditar, arregalamos os olhos para o Oliver.
— Ninguém te perguntou nada!
Clara puxa a garganta.
— Vocês já combinaram de irem juntos, o certo é acompanhá-lo,
Eloíse. Em outra ocasião, almoçamos nos quatro. E que fique bem entendido,
Felipe! — Ela o fuzila.
Droga, Collins tem razão. Nervosa, eu me despeço deles e caminho
para o carro, ao lado do canalha do Felipe, morrendo de vergonha.
— Você não conhece a palavra "não"? Que raiva!
— Não o quê? Que droga era aquele velho de cabelos brancos?
— Não é branco, é platinado. É bonito. E o "velho" se chama Oliver.
Felipe abre a porta para mim, penetrando as suas íris castanhas de...
ciúmes? Ele está com ciúmes? Mentira. Eu acabo de sorrir igual a uma besta.
— Ele é muito estiloso — provoco mais.
— Entra nessa porra, Eloíse.
— O que foi com você? Está bravo? — Tento me manter séria, sem
rir.
— Você ainda não me viu bravo. Entra!
Eu entro e o bruto bate à porta.
— Que Oliver é esse? — Ao sentar-se no banco do motorista,
continua a especular, rude.
— É o fotógrafo da Collins. Ele vai me fotografar para os catálogos.
— Fotógrafo? Aquele frango vai ficar admirando o seu corpo. Não
vai mais!
— Você não manda em mim, canalha. E ele já me fotografou uma
vez.
— Infeliz. Fernando deve estar desatualizado do velho, cabelo de
panela de alumínio! Não é difícil de tirá-lo da minha reta! Basta informar ao
meu "irmãozinho". — O possessivo pisa no acelerador.
— Você é um louco possessivo. Não vai contar nada para o seu
irmão. E nem atrapalhar o trabalho da Clara. Oliver é um profissional famoso
e requisitado no Brasil. Todos querem trabalhar com ele.
— É? Olha a minha cara. Até eu fotografo naquela bosta de câmera
idiota.
— Para, Felipe!
— Você me tirar do sério só em pisar na rua! Vontade de andar com
um arsenal de munição!
— A hora que o senhor bravinho voltar ao normal, fale comigo.
Ele aperta o volante, puto como um animal selvagem. Não vou mentir
que eu me sinto satisfeita. Ele está sentindo ciúmes, é óbvio. Isso faz as asas
das borboletas baterem mais ligeiras no meu estômago.
Ele só volta a falar quando para no restaurante que escolheu e dentro
do ambiente, senta-se à mesa, perguntando o que eu gostaria do cardápio. Eu
escolho algo leve, com salada e deixo-o finalizar o restante do pedido.
— Normal? — Sussurro a ele, referindo-me ao seu estado de humor.
— Você é uma diaba bonita. — Ele descansa a mão na minha coxa.
Bom, o cavalo parece bem normal, né?
— Temos algo em comum pelo menos, Lúcifer.
— Você vai me fazer matar pessoas. — O depravado me acaricia,
analisando meu decote generoso.
— Pelo menos se for para a confecção, vista coisas decentes perto
daquele velho imbecil.
— Isso vai te tranquilizar?
— Lógico!
— Então eu não vou vestir nada. Eu estou confortável. O corpo é meu
e quem compra as roupas sou eu. Atura ou surta, querido canalha.
— Droga, loira marrenta do cacete!
No fim do horário de almoço, ele me leva de volta para a confecção.
Porém, no estacionamento, Felipe não me deixa sair do carro.
— Felipe, eu tenho muita prova de roupas hoje. Preciso ir, vou me
atrasar.
— Só uns minutos comigo não vai ser absurdo. — Ele beija a minha
mão, com o olhar malicioso.
Meu Deus, como pode ser tão lindo, gato, cheiroso, forte. Que muso.
— Safado. Não se cansa de sexo?
— Que isso, linda? Eu nem disse o que eu queria. Eu sou um anjo. É a
loba que me olha desejando me devorar.
— Ah, sim, sou eu. E o que o senhor "deseja", me impedindo de
trabalhar? Esta é a minha primeira semana no emprego, sabia?
— Eu só quero carinho... atenção.... preciso de afeto aconchegante...
— Ele alisa meu quadril. Rolo os olhos.
— Eu conheço isso como sexo. E não posso. Eu estou... — coro as
bochechas — dolorida por ontem. Você é um monstro.
O safado se aproxima, agarra delicado os meus cabelos e chega ao
meu pescoço. Ele me morde, me beija e no lóbulo da minha orelha, me faz
pulsar de tesão.
— Uma mamada boa nesses peitos já nos recompensaria, loirinha —
sussurra. — Não acha?
— Felipe... — Ele me acaricia no decote, descendo a cabeça pelo colo
do busto.
— É tão branquinha, macia, cheirosa. Me deixa louco. É uma boneca,
perfeita.
Eu gemo, apertando as paredes das pernas. E sem mandar, ele abaixa
uma alça do meu vestido. Apoio-me nos seus fios sedosos, sentindo a sua
respiração arfante sobre o meu seio direito.
— Por que está sem sutiã? — Ele me lambe o mamilo, sugando-o,
assim que questiona especulador.
— P-porque não há necessidade — arfo, sua saliva fica cálida,
fervente. — O tecido do vestido é grosso.
— Humm.
Eu abaixo a segunda alça, deixando tudo nu para o seu deleite. Ele se
entusiasma, dando atenção para os dois.
— Seja rápido, moreno. Não tenho o dia todo.
Felipe detesta que o mande. Por conta disso, recebo uma mordida bem
dolorida nas auréolas rosadas.
— Ai...
Seguro nas suas orelhas. Ele me aperta mais forte com as mãos e
afasta-se.
— Vem aqui, gostosa. Senta no meu colo.
Sem discutir, eu ergo a bunda e sento-me nele. Desta vez, Felipe não
perde tempo. Já começa a me chupar e a mamar como um bárbaro faminto.
Ele me suga, fazendo círculos com a língua. Seus beiços fazem som de
sucção.
Eu fico em total êxtase. Eu delírio, fecho os olhos, palpitando. Eu
estou queimado ainda por ontem. Mais uma penetração e me internem, é meu
fim.
Felipe toca no seu pau viril, incomodado pelo aperto da calça e da
cueca. Está com um volume duro, rochoso.
— O que pensa?
— Não quero machucar você.
Ele me beija na boca, abrindo a braguilha da calça.
— Mas não vai me abandonar nessa tortura, Eloíse.
Ao tirar o gigantesco pau para fora, eu grunho. Ele alisa a glande
inchada, encarando-me. Esse homem é um sem-vergonha.
— A gente combinou só... só os seios. — Eu toco na sua quentura,
latejante, e começo a massageá-lo de leve.
Não tem como resistir. Sabe aquela vontade de saborear algo? De
querer chupar... lambuzar-se de prazer? Aquele tesão... aquele fogo... aquela
vontade. É isso o que eu queria. Só de imaginá-lo entrando em mim... na
minha intimidade apertada, eu explodo de lubrificação. Não existe mais uma
calcinha seca, está encharcada.
Felipe morde o lábio inferior, gostando do meu toque trêmulo. Ele
sorri como o diabo que é.
— É melhor acelerar, loira. Não estava atrasada?
N-não acredito! Eu abro a boca. Desgraçado!
— Você vai pagar muito caro por isso, Felipe!
Rápida, o masturbo com raiva, torturando o seu psicológico. Mas, na
verdade, quem saiu judiada deste carro foi eu, sem penetração. Não tem como
torturar o Felipe. Preciso de algemas e mordaças. Ele é mais forte e
controlador dos prazeres. Seja pela força, seja pela voz e a inteligência.
Quando eu penso que estou no controle, eu estou é jogando o jogo tarado
dele. Canalha, canalha, canalha!
Ainda terei que me limpar e retocar a maquiagem no banheiro, antes
de comparecer aos últimos ajustes de roupas, do próximo design da srta.
Collins.
Capítulo 32

Ao sair da agência e ao chegar no meu apartamento, eu sou informado


pelo síndico de uma encomenda recebida esta tarde por ele, no meu nome.
Acho estranho, pois não me lembro de ter pedido encomenda nenhuma. Eu
desço para buscar a tal caixa, que, inclusive, é bem grande. No AP, começo a
abri-la sobre a mesa. Tiro todo o revestimento de fita crepe e na última fita,
eu abro a embalagem, dando um pulo de susto ao ver dentro uma cabeça de
porco, morta, com os olhos e a boca do animal costurados.
— Porra, Felipe. Você tem que resolver esse problema logo!
Eu liguei para o Fernando e não demorou para este infeliz chegar
nervoso e com seus sermões controladores.
— Isso foi um aviso! — Fernando me encara, após virar a caixa no
chão e a cabeça do porco sair rolando. Está fedendo a podre. — É isso o que
vai acontecer se eles vierem atrás de você!
— Eu sei, droga. Só que eu não posso subir naquela favela e sair
gritando a minha "inocência". Eles querem justiça. E eu sou o único culpado,
eu sei que eu sou. Essa família deseja me ver morto. Ou até atrás das grades,
confessando o crime.
Fernando passa a mão pelos cabelos, puto.
— Você é um irresponsável. Desde que nasceu só soube foder a sua
vida. Foi por conta de um par de pernas que se ferrou nessa enrascada a dez
anos. E foi o mesmo motivo naquela base de jogos do nosso pai. Já estou
cansado de limpar as suas merdas. Por toda a sua existência nunca teve
coragem de assumir os erros e de se redimir! É mimado, infantil!
— Cala a boca! Eu não estou pedindo a sua ajuda!!! — Cerro os
punhos, enrijecendo os músculos. — Também era um fodido!
— Fodido que seja, eu jamais fui um delinquente! — Ele esbraveja
em furor. — Eu sempre fui homem para assumir meus erros. Aprendi tudo no
duro. Apanhando na cara. E isso, para mudar a sua vida e a minha. É oito
anos mais novo do que eu. Você sabe o que eu passei para socorrê-lo todos os
dias da nossa mãe biológica. Como eu te incentivei a passar naquele concurso
público da PF. Eu e a Marta te criamos para não sofrer pelas garras dos
nossos pais. E você é um ingrato que não soube dar valor as esses esforços!
Só soube se meter em cagadas e mais cagadas! Não valorizou nem as suas
noites de estudo. Nem o seu trabalho na federal!
— VAI JOGAR NA CARA? — Explodo com ele.
— VOU SEU PORRA! CHEGA DE SER UM MOLEQUE!
— EU NÃO SOU UM MOLEQUE!
Sem controle, desloco-me em um pulo sobre o Fernando. Mas, em
instantes, eu recebo um, dois, três socos violentos, que me afastam de dor
contra as cadeiras, cuspindo sangue sem parar.
— VIU COMO É UM IMPULSIVO QUE NÃO PENSA? — Ele
sacode os ombros. — Quer me socar para diminuir a culpa, o orgulho. Só que
é um fraco, um covarde que não tem força, pois está do lado do vilão. Não
quero te machucar. Quero que aprenda a assumir as suas responsabilidades e
mude pela primeira vez. Tente conviver com as cicatrizes. Pare de ficar
abrindo mais buracos!
— Você não sabe de nada, Fernando. Eu não preciso de você e dos
seus favores como irmãozinho mais velho. Vaza daqui. Foda-se o que fez ou
o que deixou de fazer para não me ver morto. Daqui pra frente, eu não quero
ver a sua fuça. Compre as porras das minhas ações daquela sua agência e se
importe apenas com a sua vida!
— É um ingrato. Não vai resolver droga nenhuma se isolando. Somos
unidos!
— Agora você diz unidos? Depois de jogar na minha cara que sempre
foi o gostosão "responsável"!
Fernando bate o punho na mesa.
— O que joguei na sua cara foi que apenas eu e a Marta nos
importamos com as suas merdas. É um moleque para assumir sozinho a ficha
suja. Porém, nunca me decepcionou como um braço de confiança, como um
bosta de palavra. Aquela agência está de pé desde a sua fundação graças aos
nossos esforços e aos seus conselhos. Agora seja responsável como um
homem de verdade e ouça a voz de um ex-fodido que se importar com o seu
irmão decrépito. Procure se redimir. Valorize o oxigênio, a vontade de viver.
Não morra sozinho dentro deste apartamento, mastigando erros, pecados,
dores do passado.
— Sai daqui, Fernando!
— Eu não posso lutar por você, se não busca se ajudar. Hoje desisto
de pelejar por dois. Mas não de te socorrer de mais uma enrascada. Somos
unidos. Sempre estivemos lado a lado. Você ligou para mim, por que sabia
que se fosse eu no seu lugar faria o mesmo sem pensar duas vezes. É o
primeiro que eu confio. E me orgulho por igualmente ser o seu irmão e amigo
de confiança.
Eu abaixo a cabeça, não escondendo a fraqueza de um covarde.
— Valorize as pessoas que te amam, que só querem o seu bem. Não
nos afaste. Seja o protagonista da sua história e vamos sair dessa juntos,
porra!
Não respondo. Fernando pega o membro do porco pela orelha, coloca
na embalagem e abraça a caixa.
— Vamos conferir as digitais desses ratos. Te vejo amanhã, às sete na
agência. Não fuja das suas obrigações de sócio e chefe!
Fernando bate no peito, fazendo o sinal dos garras. Eu viro a cabeça,
o desprezando. E, em silêncio, nervoso, ele caminha em direção a porta.
Solitário, ao fechá-la, feito um inútil, eu me largo no sofá. Pouco me
fodendo que é uma puta viadagem estar quase chorando. Eu sou um egoísta,
orgulhoso. Não suporto mais me sentir esse nojento, criminoso. Fraco! Eu
estou cansado de me olhar no espelho e não me sentir feliz. Concordo com o
arrombado do Fernando, eu sou um moleque por não querer levantar a cabeça
e valorizar os esforços da nossa mãe e os esforços dele. Eles lutam por mim,
enquanto eu fico aqui, lamentando do passado infernal.
Porra, e o que faço para sair desse poço?
****

Assim que eu guardo o carro na garagem, eu corro para comer alguma


porção gigantesca na cozinha. Eu estou morrendo de fome. Devoraria até
uma vaca crua. Fiquei a tarde toda em pé, sendo ajustada aos vestidos dos
catálogos. Ainda resta mais amanhã.
— O que tem para a sua querida filha de consideração, dona
Alverina? — Eu digo assim que piso no batente da porta, assustando-a.
— Que susto, Eloíse.
Dona Alverina está sentada, separando feijões.
— Sinto muito. Estou faminta — digo indo até a geladeira, abri-la.
— Tem salgadinhos que sobrou do restaurante, estrogonofe e arroz
bife.
Ah, meu Deus, eu pego todos os salgadinhos da geladeira, enfio no
micro-ondas e ao apitar, já tiro, devorando igual a uma maluca sem educação.
— Que isso? — Ela ri.
— É a fome. — É inevitável não responder de boca cheia.
— Você faz muito regime, fica com essas ideias de manter corpo
aqui, corpo ali. Tem que se alimentar saudável.
— Deus me livre, eu trabalho com este corpo — digo eu, com dois
salgadinhos prontos para serem devorados antes de engolir o qual eu já
comia. — Desculpa.
— Melhor que coma, tá fraquinha — pisca.
Ao terminar de matar o que estava me matando primeiro, eu subo para
tomar um banho delicioso. Lavo até a alma e os ossos. Quando eu saio do
banheiro, eu solto um grito de surpresa. As luzes do quarto estão apagadas e
Felipe se encontra acomodado na poltrona de leitura, só com a iluminação do
abajur.
— Felipe? O que faz aqui?
Ele não responde. Recuperada do susto, antes de questioná-lo de
novo, eu vou até o guarda-roupa pegar um short e uma blusa de alcinha.
Visto-me por etapas com a toalha, protegendo a nudez desse homem. E
vestida, eu me aproximo devagar dele.
— A gente já se viu hoje, né, senhor Alencar?
— Senti a sua falta. — Ele pega na minha mão e a beija nas costas.
Felipe está estranho, voz grave, sério.
— Vou ligar a luz...
— Não, a deixe assim. Vem, sente-se aqui no meu colo.
Não me sento. Quando o observo direito, descubro algo de relance na
face do Felipe, que me faz arregalar os olhos de pavor.
— O que é isso? Por que a sua boca está inchada e esse olho... — Eu
ergo o seu queixo áspero. — Roxo! — Ele desvia-se, bravo.
— É nada, Eloíse.
— É nada? Você andou brigando? Eu vou ligar esta luz ago...
— Não! Sente-se aqui, por favor!
Pede, autoritário. Eu respiro fundo, buscando manter o controle dos
nervos. Então, sento-me sobre as suas coxas.
— Não me questione nada, por dez minutos. Apenas... fique assim.
Eu quero sentir o seu cheiro.
Felipe me abraça, segurando meu corpo com força. Parece não quer
me deixar fugir, correr, evaporar. Só que eu não vou correr, nem fugir ou
evaporar. Meu lugar é onde eu estou. O que será que aconteceu?
— Eu não vou fugir... — Sussurro, acariciando seus fios morenos. —
Eu estou aqui, para quando você precisar.
— Eu sinto que eu não vou ter você para sempre. Não a mereço.
Meu coração dói.
— Terá, enquanto não desistir de mim e de se ajudar a ser uma pessoa
boa, nova.
Felipe puxa todo o ar dos pulmões, afetado pelo que eu disse.
— O mesmo que o Fernando cuspiu na minha fuça. Porra, eu sou uma
pessoa tão podre? Um homem tão mesquinho que não é capaz de pensar no
próximo?
Afasto-me, pela exasperação da sua voz. E ele nota, pois se cala e
relaxa o corpo no apoio da poltrona.
— Só teu coração e a tua consciência saberia dizer. Entretanto, se
pensa em primeiro lugar nas pessoas que você ama, isso já demostra um
grande caráter.
— Os únicos que eu pensava era na minha família. Mesmo não
valorizando eles com merecem.
— Pensava?
— Estou diferente. Acredite, Eloíse, há três meses, eu não estaria aqui
conversando, nem desabafando com uma mulher gostosa. Eu estaria no
caralho de um puteiro afogando as mágoas e os erros em sexo e álcool. No
outro dia era só eu levantar e trabalhar, sem me lembrar de porra nenhuma.
Reproduzindo constantemente esse conforto.
— Essa mentira. — Eu o encaro, séria. — Isso é enganar a si próprio.
Não é conforto. É não ser capaz de assumir os seus erros, as suas mágoas. É
medo. É uma máscara de mentiras.
Devagar, eu entendo o tanto de orgulho que Felipe acarreta.
— É claro que é. — Felipe dá de ombros, confessando sem rodeios.
— Mas, com você, não existe máscaras falsas. Você enxerga todo o meu
interior com esses olhos azuis, meio lilás. Eu estou louco por você. E não
compreendo tamanha fissura.
Ou não assume? — murmuro triste em pensamento. Ele me ama.
Contudo, ainda não merece a minha dedicação a uma relação amorosa. Não
se ele continuar a sofrer e a viver com esses tais pecados e demônios. Felipe
necessita de mudar por dentro, para encontrar a felicidade. Aí, então, daremos
certo. Até lá, eu permaneço aqui, aguardando-o bater na minha porta. Sendo a
sua casa de refúgio, mas não sei até quando.
— Por que dessa cara machucada? — Eu toco com delicadeza na sua
face ferida, mudando de assunto.
— Meu irmão e eu brigamos.
— Jura? Quem apanhou mais.
— É deboche, Eloíse?
— É preocupação! Eu vi o Fernando. Você dois parecem dois touros
musculosos. E seu irmão o pior como um... bruto.
— Pode apostar que eu sou o mais calmo e de cabeça fria. — Eu
arqueio a sobrancelha, cerrando-o nos olhos, desconfiada. — Ok, nem tanto
cabeça fria, pô!
— E calmo? — Rolo os olhos.
— É óbvio. E Fernando pode dizer que eu sou impulsivo e a porra de
um irresponsável. Todavia, ele é um louco, maluco, que age de sangue quente
e pronto para matar qualquer pessoa que desobedeça às suas ordens
perfeccionistas. E eu não aceito ser mandado, nem controlado! E essa droga
de surra não vai ficar em vão. Arrombado do inferno!
Capítulo 33

Após esterilizar os hematomas do Felipe, eu colo três band-aid nas


suas feridas. E me parece bem melhor.
— Pronto. Agora tente não se meter em mais confusões.
Ele revira os olhos, tocando na minha coxa. Seu toque é suave.
— Você já comeu alguma coisa?
— Posso levar para o lado malicioso?
Sou obrigada a puxá-lo pela orelha.
— Ai, loira maldosa!
— Tem hora que dá vontade de te dar uma surra. Eu estou
perguntando séria, Felipe!
— Você era assim com as suas crianças, quando dava aula? Pois se
for, terei que te denunciar na secretaria de educação. Certeza que os alunos
chegavam beliscados em casa.
— Engraçadinho, e o mocinho não é uma criança.
— Eu poderia ser uma... — Ele analisa o meu corpo. — Eu tenho
tantas lições para aprender, professora. Sou um aluno tão mal criado.
— Então aprenda que não é não. E que hoje não tem sexo!
Corto o barato. Esse homem já teve a sua cota de me tocar. Aquele
momento, no estacionamento da confecção, foi o limite. Não posso ceder por
vontades. Ainda não me recuperei de ontem.
— Diabinha.
— Você não pensa em nada além de safadezas?
Ele se levanta, envolvendo-me no seu calor e beija a minha boca,
empurrando-me devagar sobre o colchão.
— Felipe... não apronta.
— Eu penso em tantas coisas... que, no final, esses pensamentos me
levam a um único propósito. Você!
Eu sorrio. Passo as mãos por baixo da sua camisa e gosto de sentir a
pele quente das suas costas definidas.
— Só eu nos seus pensamentos? Hum, fico feliz.
— Acredite, eu nem um pouco. Quem sofre é o meu pobre membro,
que dói só de imaginá-la nua.
— Meu Deus, para de pensar em safadezas! E você não me respondeu
se havia comido algo!
— Eu comi depois que sai da agência. Respondido?
— Sim.
A gente se beija e arruma-se mais confortável na cama. A minha
perna direita fica sobre ele, enquanto a minha cabeça em cima do seu braço e
ombro. Ele tira os sapatos. É aconchegante estarmos entrelaçados assim.
Queria congelar o tempo.
— Você vai dormir aqui?
— Não sei, da última vez, você quase me deixou sem as bolas. Me
expulsou da cama igual a um cachorro cheio de pulgas.
— Porque você mereceu, é um tarado sem controle. — Beijo-o.
Ele acaricia o meu cabelo.
— Está cedo ainda, não quer ver um filme de ação na Netflix? —
Sugiro, apontando para a TV na parede.
Ele concorda. E adivinhem? No meio do filme, o homem dorme.
Tadinho, sou obrigada a sentir pena, devia estar cansado.
Sem evitar, eu fico o admirando... é tão bonito, está indefeso, sereno.
E as suas feridas desincharam. Percebo que o Felipe se esforçou em me
procurar para desabafar e buscar ajuda. Entusiasma-me. Meu coração cria
cada vez mais esperança. É hipocrisia não admitir que ele está tentando
mudar de verdade.
•••
— Bom dia...
Sonolenta, eu abro os olhos, focando no rosto másculo dele.
— Meu Deus, até acordando é coisa mais linda desse mundo. Assim
não dá loirinha.
Mereço. Quem acha o outro bonito ao acordar? Boba de preguiça, eu
espio as horas no seu relógio de pulso — 06h35.
— Você não vai trabalhar hoje?
Felipe se acomoda, sem responder. Será que pela briga com o irmão?
Do jeito que é orgulhoso e vaidosos, creio que sim.
— Estou puto com o Fernando. — Viu, não adivinhei? — Mas tenho
deveres.
— Então está atrasado.
— Quer me escorraçar? — Ele apalpa a minha bunda por baixo do
short. — Gostosa.
— Felipe... — Eu "sem querer" raspo o pé sobre o volume da sua
calça. — Está excitado, ou é só o seu "natural"? — Pergunto inocente.
Ele sorri, virando o peitoral por cima do meu.
— Vamos dizer que é meio termo.
— Meio termo?
— Sim. — Ele toca no meu mamilo, revelado ereto pela blusa. —
Meia bomba, meio em pé, meio morto, meio pra cá, meio pra lá.
— Hum... — começo a rir. — Para mim, o safada se encontra vivo é
toda hora.
— Obrigado pelo elogio, loirinha.
— Eu não estou falando do seu... do seu tamanho... — Tento afastá-
lo. Ele segura forte no meu short. — Me solta, safado.
— Te pego hoje, às sete!
— Pra quê?
— Quero te levar para jantar.
Meu coração dispara.
— E não vai me convidar?
— Te convidar? Pra quê? Você vai querendo ou não.
Rolo os olhos. Que ogro!
— Seu ogro! Eu vou se eu quiser!
— Te pego às sete, Eloíse!
Ele se afasta, levantando-se todo exibido com o seu corpo escultural.
Eu vou, mas bem provocante para torturá-lo. Vou levar até as algemas
e outros... certos... apetrechos dolorosos. Não vejo a hora.
Felipe veste os sapatos, escova os dentes com uma escova nova que
lhe emprestei e com dificuldades por não parar de me beijar, só vai embora
depois que eu o ameaço com um salto fino. Em seguida, eu tomo um banho,
arrumo-me, desço para o café e parto para a empresa da Collins. Hoje eu
tenho outra prova dos catálogos, às 08h30. Estou indo cedo.
— Bom dia, srta. Eloíse — o designer Thales me cumprimenta com
um beijo no rosto. — Pronta para mais provinhas? Seremos rápidos.
— Super pronta e amando. Obrigada, Thales.
Durante os ajustes, Guilherme apareceu no estúdio do ateliê para me
dar um oi.
— Como sempre, lindíssima, Elô. Gostando dos modelitos?
— Eu estou impactada. Nunca na vida me imaginária dentro de tantos
vestidos caros, bonitos e de uma marca famosa. É uma honra.
— Eu fico feliz, bonequinha. Por favor, quando vocês terminarem, me
procure no meu escritório.
Consinto e permaneço mais uma hora com o Thales. Desta vez, na
próxima semana, eu começo a ser fotografada pelo Oliver. Só de imaginar,
meu coração palpita, ansioso.
— Quero que saia tudo perfeito, Gui. — Clara está no escritório dele,
visualizando algo no tablet. — Essa remessa tem que ser tendência nas nossas
lojas.
— Não "tem", vai ser. Sempre é minha deusa.
Ela sorri, se sentando e me olhando.
— Tudo bem, Eloíse? Ansiosa?
— Completamente. Não sei nem se eu vou conseguir dormir a noite,
até o dia das fotos.
— Como assim, sol da minha manhã? Tem que dormir super bem
para estar um arraso de gata. E se quiser... — Ele aproxima as costas,
sussurrando. — Eu tenho uns segredinhos de beleza bem peculiares. Vai
amar.
Clara rola os olhos. Eu sorrio, divertida. Continuamos a conversar. E
antes do almoço, após eu sair da confecção, passo numa imobiliária para
encontrar algum AP de orçamento baixo. E com sorte, eu consigo gostar do
valor de dois imóveis. Até marquei de visitá-los na sexta.
— Que carinha de felicidade é essa, hein filha? — Minha avó
pergunta após eu entrar na cozinha e me jogar alegre sobre a cadeira. Eu vim
por pouco saltitando.
— Vou conhecer dois apartamentos na sexta. E tenho fé de que vai
dar tudo certo.
— Sério? — Vovó sorri. — Que felicidade, querida. Estou torcendo
por você. Vai dar tudo certo sim.
— Parabéns, Eloíse — dona Alverina sussurra, feliz.
— Obrigada, dona Alverina.
E no finalzinho do dia, sentada no jardim, somando algumas contas,
ao levantar a cabeça, eu tenho uma surpresa apavorante ao dar de cara com o
Mariano do outro lado da área de lazer.
Ele vem até mim.
— O que faz aqui, Mariano?
— Gostaria de conversar com você. Sua mãe liberou a minha entrada.
— Mas eu não. Vai embora!
— É melhor me ouvir. O que eu tenho para te falar é de suma
importância, acredite.
— Você não teria nada de importante para me falar.
— Eu quero ainda que você se case comigo. Eu te amo. E não terá
outra escolha.
— Eu já disse! Eu não quero mais me casar com você! Está maluco?
Esqueceu do teatro, da confusão que me fez? É um mentiroso, um falso, um
canalha!
— Você vai se casar comigo, Eloíse, ou caso contrário, eu revelo para
o seu irmão que vocês dois não são filhos do mesmo pai!
Eu arregalo os olhos.
— O-o quê?!
— Exatamente.
Levanto-me, em choque.
— Mentiroso! Está inventando!
— Eu não estou inventando. Imagine como a sua avó ficará arrasada?
Naquela idade, poderia até ter um ataque do coração. E o Otávio? Como já é
um marginal, enlouqueceria neste mundo de violência e de drogas.
— Cala a boca. Está inventando isso para poder me chantagear e me
obrigar a se casar com você. Sai daqui, vai embora!
— Eu vou te dar um prazo de duas semanas. Pense, Eloíse, vamos ser
muito felizes. Teremos um futuro perfeito.
— Eu não vou me casar com você! Eu não te amo, seu desgraçado!
— Será a sua escolha... matar a sua avó e destruir as lembranças do
papai do Otávio... da mãezinha fiel. Ele não vai concordar maleável. Será um
trauma.
— Minha mãe jamais trairia o meu pai!
— É... acha? Está muito enganada sobre a Roberta. — Ele se levanta,
sorrindo de lábios fechados. — Pensa, meu amor, ou se casa comigo... ou eu
destruo a estabilidade da sua família.
— SEU MALIGNO! — Eu levanto a mão e quase o estapeio, porém,
ele me segura pelo braço.
— O que vai, volta! — E me empurra. — Tem duas semanas!
— SOME DAQUI! — Grito, desesperada.
— Bom final de tarde, minha noiva.
Ele vira as costas. E sem força nas pernas, eu caio no chão, chorando
de desespero. Não, isso... isso é uma mentira, meu Deus! Minha mãe não
trairia o amor do meu pai! Mariano está mentindo para me obrigar a se casar
com ele! É mentira!
Eu não vou cair nessa chantagem. Aquele homem não vai destruir a
minha vida!
Capítulo 34

Eu me levanto, limpando as lágrimas. Pego o celular e nos contatos,


vejo o nome e o número da minha mãe. Eu ligo. Chama, chama, mas ela não
atende.
Droga!
Vejo às horas, e já são 17h20. O que eu faço? Tenho o Felipe, o jantar
para me arrumar e acompanhá-lo. Minha cabeça parece que vai explodir. A
voz do Mariano me bombardeia, repetindo tudo o que ele cuspiu a poucos
minutos.
Decido tomar um banho e me arrumar com calma, derrotada. Minha
animação para esta noite morreu. Mesmo assim, eu me esforço, coloco todas
as peças sexy que eu havia comprado há dois dias. Faço a maquiagem,
cabelo. E às 19h em ponto, Felipe avisa que já está me aguardando do outro
lado da calçada. Ele é tão pontual.
— Felipe?
Eu vou em sua direção e vejo o homem apoiado com as costas na
porta de um automóvel ostentoso
— Boa noite, princesa.
Seu cheiro possui os meus sentidos cada vez mais que eu me
aproximo do seu corpo robusto. E sem explicação, quando ele me agarra, eu
o beijo apaixonada, necessitando dos seus braços fortes, do seu afeto. Eu o
sinto como o meu caminho para a liberdade.
— Que foi? — Ao me afastar, Felipe sussurra em ofego, acariciando
os meus quadris.
— Na-nada. Vamos?
Limpo a sua boca suja de batom e faço-o abrir a porta para mim, sem
perguntas. Eu entro, crucificando-me por não estar agindo normal.
— Onde o senhor pretende ir?
Ele coloca o cinto de segurança.
— É um restaurante bem confortável. Vai gostar.
Sorrio com os lábios fechados e caminho ao lado dele, calada,
pensando no desgraçado do Mariano. Como pode me ameaçar daquela
forma? Aquele infeliz não pode exigir que eu me case a força. Eu não o amo.
Eu o odeio. Eu quero que ele suma. Que grrrr...
— [...] Eloíse, eu estou falando com você.
— Oi... — Assustada, o encaro piscando frenética. — Sim?
Felipe para o veículo não sei aonde e permanece sério, ao me fitar
desconfiado.
— A-aonde estamos? É o restau...
— [...] a gente não sai daqui enquanto você não me explicar o motivo
desse silêncio. — Ele me interrompe. — Está com o olhar distante,
preocupada.
— Eu estou normal. É só impressão sua.
— Eu te conheço, loira. Pode ter certeza que de mim você não
esconde nem o que almoçou hoje. Diga, ou eu descubro!
Eu desvio dos olhos dele, para as luzes dos carros na estrada. Esse
possessivo, assim como eu, vê o meu interior apenas pelas íris castanhas.
— Eu não sei se você poderia me ajudar.
— Eloíse, se está acontecendo alguma coisa, você tem o dever de me
contar!
— Eu tenho o dever? Me poupe.
— Estou esperando a sua explicação. Não posso ajudá-la com o quê?
Eu suspiro e seguro na mão dele, com medo de como pode reagir.
— É o Mariano.
— O Mariano? — Ele pressiona de leve os meus dedos. — O que esse
arrombado tem a ver com a conversa?
— Não fique descontrolado, por favor. Você não vai explodir igual a
um animal. Me prometa?
— Eu não faço promessas que são impossíveis de se cumprirem. Diga
de uma vez, Eloíse!
Molho os lábios. Sinto necessidade de desabafar, de compartilhar
desta aflição. Mesmo Felipe não sendo a melhor pessoa.
— Mariano foi esta tarde lá na pensão pedir para reatarmos o noivado.
Ele revelou que o Otávio não era filho do nosso falecido pai. E que contaria
toda a verdade para ele e para a minha avó.
Felipe morde os dentes, com as veias saltando.
— Contaria por quê? Ele te ameaçou?
— Ele disse que eu tinha o prazo de duas semanas para pensar e dar a
resposta — revelo, chorando.
Felipe afasta a mão para bater no volante. Seus olhos cospem fúria.
— Filho da puta! Ele não sabe com quem está mexendo!
— O que vai fazer? — Pergunto, após ele pegar o celular do bolso. —
Felipe? — Arregalo os olhos.
Ele me observa tremendo de raiva e espera alguém atender do outro
lado da linha.
— Alô, Murilo, onde você está? — [...] — Tenho um serviço, porra!
Quero que me entregue um relatório sobre um professorzinho que trabalha
na escola dos meus sobrinhos. Ele se chama Mariano. — [...]. — E te
interessa? — [...] — Não te interessa caralho, eu sou seu chefe também! —
[...] — Se não fizer isso, eu vou atrás desse cara e nem fiança me tira do
xilindró. Irei torturá-lo pior do que um hamster de laboratório!
Eu coloco a mão sobre o coração, desesperada.
— [...] — ok, aguardo o retorno amanhã na agência! — Ele desliga,
ainda puto.
— Felipe, o que você vai fazer? Isso não é problema seu.
— Se você é minha mulher, o problema é meu!
— Não, não é. Eu não sou a sua mulher. Você já tem dificuldades
demais para se preocupar. É a minha vida, eu resolvo isso.
— E vai fazer o quê? Reatar com o seu noivinho ameaçador? Tem
medo daquele resto de aborto? — Ele se encosta no banco, passando a mão
pelo rosto. — Eu sou capaz de matá-lo.
— O que está em jogo é o meu irmão, a saúde da minha avó. Não lhe
envolve.
— Envolve mais do que você imagina! — Ele me olha. — Você é
como a minha lucidez. E se eu perdê-la, eu perco tudo, eu volto a ser aquele
canalha pior do que antes.
Sua confissão me faz ficar em lágrimas.
— Eu não sei o que fazer...
Felipe ergue o meu queixo e limpa a minha bochecha com o polegar.
— Desta vez, sou eu quem precisa de ajuda. O que eu faço, Felipe?
Sinto medo.
— Eu vou cuidar do Mariano, não chore por isso. Nem sinta medo
daquele banana. Estou aqui para te proteger.
— Eu digo sobre o meu irmão e a minha avó. E se a minha mãe
realmente tiver traído o meu pai? E se for verdade? E a minha avó? Ela pode
sofrer. E o Otávio pode entrar numa vida errada. Já temos traumas demais.
— Não tire conclusões precipitadas. Você deve conversar com ela.
— Com a minha mãe?
— Não, Eloíse, com a sua avó. Dona Aurora conhece a sua mãe como
ninguém. Toda mãe conhece o caráter do filho. Digo pela Marta e por eu ser
o filho estúpido. E sobre o seu irmão, deixa aquele pirralho comigo.
— Deixar com você? Está louco? Você vai falar para ele sob...
— Não! — Corta-me. — Eu vou fazer aquele moleque saber o que é
ser homem. Vou alistá-lo na nossa agência Garra. Pretendo ser a babá do
bebezão.
— Impossível. O meu irmão é um canalha igual a você! É um fora da
lei sem limites. Ele não escuta conselhos nem da nossa vó Aurora.
— Eu não estou mudando, Eloíse? — Sua voz é grave, de acusa. —
Eu sei como é ser um moleque sem pai, sem mãe. Seu irmão só está no
começo da vida. E eu vou tentar salvá-lo, caso o rapaz aceite. Mas por você.
— Eu ficaria muito agradecida. Eu quero que faça, seria uma chance
para ele. Só não sei como você vai conseguir.
— Primeiro, eu cuidarei daquele frango feio do seu ex. E resolva as
coisas com a sua avó e com a sua mãe.
Eu estou me sentindo mais leve por ter o apoio do Felipe. Não
esperava tanto autocontrole vindo de um animal selvagem, impulsivo. Só
que, o que planeja ainda para o Mariano me aflige.
— Eu não esperava isso de você. Só me preocupa o que planeja para o
Mariano.
— Eu planejava um fim bem lento e doloroso. Contudo, nem todas as
nossas vontades podem ser feitas!
— Felipe... — Nervosa, inclino-me, fitando-o e tocando na sua barba.
— Não seja um louco, por favor. E obrigada... não sabe como o meu coração
lhe agradece.
Ele me beija.
— Já deu, chega desse assunto, cansei daquele prego. Você vai querer
jantar ou prefere ir embora? Está abatida, Eloíse.
— Eu só fiquei abalada. Vai passar. E já não fez a reserva do
restaurante?
— Não fiz. Acho melhor pedirmos a comida no meu apartamento.
Tudo bem?
— O seu plano não era esse... — Sussurro.
— Qualquer lugar que estejamos, desde que os meus planos envolvam
uma loira muito gata, é mero detalhe.
Sorrio. Ele pisca, paquerador.
•••
Ao chegarmos no seu apartamento aconchegante, eu me sento no
sofá, na espera das suas decisões. Eu nunca sei o que ele pretende. É
imprevisível.
— Comida japonesa? — Indaga, pegando o celular.
— O que preferir.
Sem mais conversa, Felipe pede a comida. Em seguida, vem até mim.
Eu fico chateada por ter estragado... quem sabe uma noite bem romântica?
Queria ter deixado esse homem louco. Seduzido da cabeça aos pés. Só que os
acontecimentos me desanimaram, me deixaram tristes.
Pensativa, sem querer, eu cruzo as pernas e revelo a cinta liga por
baixo do meu vestido preto, extremamente decotado e curto. Ele não evita e
inspeciona-me.
— O que foi? — Eu coro, envergonhada.
Deixando-me sem um pingo de ação, ele, então, se ajoelha.
— 03, Murilo e outros macumbeiros da agência tem plena razão.
— Ra-razão do quê?
— Algo nosso.
Felipe me encara e eu acaricio a sua face bonita.
— Desculpa por ter estragado o nosso jantar. Eu queria ter te deixado
louco.
— Mais do que você deixa? Impossível, loirinha. — Ele pisca,
beijando-me safado. — Não precisamos ir num restaurante para poder
escolher cardápio... a comida já está aqui, diante dos seus olhos azuis, com
muita variedade de sabores.
— Ah, seu canalha. — Bato nele. — Só que eu quero sempre te
enlouquecer. Você é um cretino que merece sofrer nas minhas unhas.
— Porra, tá do lado do diabo, mulher?
— Não, na realidade, eu estou de frente para ele. — Beijo-o. — Deixa
eu recompensar o jantar perdido.
— Como?
— Só um minuto...
Eu o empurro e levanto-me, indo devagar, até a mesa pegar uma
cadeira. Eu preciso terminar a nossa noite bem afortunada.
— Eu vou te mostrar. Por favor, sente-se aqui, Felipe. — Coloco-a
entre a sala de visitas.
Ele se levanta, especulador.
— O que planeja? A poucos minutos se encontrava em prantos.
— Mas eu não quero permanecer triste. Eu quero me aproveitar de
você. Vem, sente-se logo!
Felipe vem, zombando da minha autoridade. Idiota!
— Tá rindo do quê?
— Nada.
— Hum, é bom você rir mesmo, pois daqui a pouco vai estar
chorando de desespero. — Ele se senta.
— É que você é tão meiga com a voz, com os seus traços loiros. Dá
vontade de morder essas bochechas vermelhas, após chorar tão tristinha.
— Fique quieto seu palhaço. Não estrague o clima!
Eu o deixo gargalhando de costas e vou até a minha bolsa pegar todos
os meus apetrechos de tortura. E com as algemas... ao voltar, eu quase o
prendo. Todavia, o Felipe me agarra por trás, fazendo-me cair sobre o seu
colo.
— Me solta!
— Acha que eu não sei o que pretende?
— É óbvio que sabe! E você vai permitir! Eu tenho os meus direitos!
— Tem os seus direitos? Mas é tão fofa. — Ele morde o meu
pescoço.
— Fofa é minha mão na sua cara. Me solta agora! — Ameaço,
apertando suas bolas na jeans.
— Porra, Eloíse! — Urra e solta-me. — Sua malévola do caralho. É
esse o seu "recompensar o jantar perdido"?
— É sim! Você vai ficar quieto e me dar esses pulsos também!
Na base da ameaça, eu consigo domar a fera pilantra e prendo-o. Em
seguida, eu apago as luzes, menos a da sala de jantar, que fica por meio, bem
sexy. Esse homem vai me suplicar.
— Mais abusos sexuais? Vou te denunciar na lei do Mario do Penho.
Isso é uma tortura!
Rolo os olhos. Mereço!
Eu escolho uma música bem sedutora na televisão e retorno, pegando
nos seus cabelos com delicadeza. Ele enrijecesse os ombros.
— Eu preparei uma surpresinha especial.
— Que surpresa?
— Observe atentamente.
— E tem como eu ficar cego para não observar? Se tiver, eu aceito —
murmura.
Eu sei que ele está pagando de engraçadinho para resistir a mim. É
sem saída, eu quero fazer tudo o que planejei de manhã. E nada vai me
impedir. Eu paro de frente para ele. E no tom da música sexy, pisco... abrindo
lentamente o meu vestido de zíper frontal.
— Que isso ,gostosa...
— Um stripper. O que acha, eu ainda continuo sendo muito fofa?
Ele não responde. Fica sério, assistindo-me com cara de cachorro
babento. Tiro as alças pelos ombros e braços, descendo o vestido pelas pernas
e mexendo os quadris...
— Gostou? — A peça cai no chão, revelando a minha fantasia
peculiar de policial. — Responda. É em sua homenagem...
Está escrito "police". É um body de cinta liga, com fio encravado na
bunda e material em vinil. Tem transparência pelo recorte de tule e cetim. Eu
não pude trazer a boina, nem o cassetete. Afinal, o "cassetete" já temos.
— Eu estou olhando para o paraíso. Droga, eu vou perder o controle.
— E que controle, sr. Alencar? — Sorrateira, eu me aproximo,
desfilando.
Felipe morde os lábios e xinga, quando eu paro atrás da cadeira. Dou
uma voltinha para ele analisar a minha fantasia bem de perto.
— Não vai me elogiar? — Eu paro com a bunda na sua cara. — Está
escrito "policial" ai nas costas. Está lendo?
Sem se segurar, ele, por míseros centímetros, não me morde. Todavia,
afasto-me, sorridente.
— Caramba. Diaba!
— Diga alguma coisa, moreno?
— Eu só peço que não me solte daqui!
— Hum... não se preocupe... A policial não soltará nenhum bandido.
— Eu rebolo para ele, em cima do seu volume... bem de levinho. — Eu
trabalho para a lei.
— Que porra, bunduda. Assim eu gozo.
Eu me levanto, deixando que ele lamba o meu traseiro e o beije.
Depois me ajoelho, abrindo a sua camisa social a força, estraçalhando botão
por botão. No entanto, antes de continuar descendo para o nosso cassetete, a
campainha toca.
— Que bom, parece que a comida chegou — digo ao me reerguer
inocente.
— Nem meio passo!
— Não quer que eu a busque?
— Faça isso e eu te mostro num estalar dos dedos, como é que se
livra de algemas!
Felipe me fuzila. Eu seguro o riso, observando seu abdômen definido,
com alguns pelinhos excitantes. Meu escravo irresistível. Hoje eu não me
importarei com nada ou ninguém, apenas em enlouquecer esse homem até o
racional pensamento se esvair.
Capítulo 35

Porra, mano, Eloíse vai me levar a loucura. Meio passo dela e eu me


solto dessas algemas.
— Calma, moreno. Não vou atender a porta. Prometo. — Ela vira a
bunda branca, redondinha e deliciosa, para sair rebolando até a cozinha. —
Só sinto dó do pobre entregador.
Eu a observo atentamente, com o cenho pronto para explodir de raiva.
Essa droga de me deixar sem tocá-la será a segunda e a última vez. Farei a
diaba pagar caro com esse traseiro.
— O que foi?
Ela volta, ajoelhando-se maliciosa, com uma caixa de leite
condensado e abre a minha calça, tocando no meu membro enrijecido por
cima da cueca. Seu toque feminino me faz fechar os olhos e pulsar.
— Eu vou te chupar só daqui a pouco.
Eloíse levanta e senta-se no meu colo e, em segundos, eu devoro a sua
boca. Arranco sangue dos seus lábios, enlouquecido de desejo.
— Ai, Felipe...
Ela se esfrega, olho a olho comigo.
— Você é gostoso demais.
— É sua desgraçadinha? Você também
— Tem um pau que é só meu!
— Só seu? — Eu mordo o decote do peito generoso dela.
— É, só meu! Eu não sou só sua? — Ela se afasta, aguardando a
minha resposta.
— Temos que fazer sacrifícios — respondo e ela me bate.
— Sacrifício, seu estúpido?
— Infelizmente, loirinha.
— Quer saber, serei mau!
— Será, é?
— Sim. Me imagine transando com outro homem. Chupando o pau de
um alto, loiro, musculoso...
— Cala a boca! — Eu brado e ela não se cala.
— Rebolando nele, afundando...
— Eu mandei você calar a boca!
Furioso, eu estouro as algemas falsificadas e ela arregala os olhos,
dando um pulo instantâneo, afastando-se de mim.
— Já fui muito bonzinho. — Ergo-me bruto, arrumando a cueca e
indo até Eloíse. — Chega dessas torturas!
Ela corre para o canto.
— Sai, Felipe!
— Sua diaba. Vem aqui, não vou chamar de novo!
— As algemas... você... é um louco!
Eu a alcanço na sala e pego-a pelos cabelos.
— Droga, me solta!
Jogo Eloíse contra a coluna de concreto, apertando sua xota e o seu
pescoço. Em seguida, taco-a sobre a mesa.
— Ai, Felipe! — O impacto faz dois vasos de vidro se quebrarem. Ela
me bate.
— Eu vou te mostrar que é seu homem, loira!
— Humm... humm...
Eu a beijo, tirando o seu fôlego dos pulmões, como se dependesse
deles para viver. E louco, eu rasgo a porra da fantasia nos dentes.
— Felipe! — A loira continua a tentar se afastar.
E só quando eu penetro a mão na sua buceta, que ela pira de vez,
parando de me forçar a segurá-la. Eu abaixo a cabeça, admirando sua
entradinha lisa, rosada e arrombada por meus dedos. Ouço seus suspiros de
prazer. Seus seios balançam, convocando-me a dar boas mamadas. Porra,
essa mulher é uma deusa. Que corpo. Que beleza.
— T-tire as mãos de mim!
— Não!
— Me larga!
— Vai continuar com essa insistência de me impedir de te dar sexo?
— É descontrolado... oohhh... — Eu forço mais o grelinho dela. —
Por favor, eu não terminei a minha tortura, Felipe. Deixe-me continuar. Você
estará com as mãos livres.
— E o que mais?
— D-depois pode fazer o que bem desejar comigo. Eu estarei a sua
mercê.
— Hum!
— Por favor...
Convencido, eu a solto e ela arquejante, imediatamente, tampa a
nudez.
— Estragou a fantasia...
— Finge que eu estou morrendo de remorso. — Encaro-a, nervoso.
— Canalha, me dê a sua camisa e senta no sofá.
Feito um cachorro de estimação, tiro a porra da camisa desabotoada e
ela se veste. Adiante, sento-me no sofá, assistindo a gostosa caminhar
recuperada até mim.
— Me senti um ser humano inerme, correndo de um animal no meio
da África.
— Sem conversa, faça o que tem para fazer, pois tenho planos para
mais tarde com esse traseiro.
Ela rola os olhos, abrindo o leite condensado.
— Você não tem um pingo de romantismo. É um ogro sexual.
Fico quieto. Eloíse se ajoelha, retirando a minha calça e a cueca. Eu
massageio o pau, vendo-a reprovar e me afastar, derramando o doce.
— Só de criar essa cena na minha imaginação já me deixava molhada
— ela confessa safadinha e inclina-se para me chupar.
Que delicia do caramba. Droga, eu tento não pegar nos seus fios, mas
é impossível. A diaba me olha, mamando-me a cabeça com habilidade.
— Esse olhar é uma putaria! — Eu grunho e a faço ser mais ligeira.
****

No ápice do orgasmo, Felipe goza dentro da minha boca. Seu liquido


transborda, descendo pelo meu pescoço e os seios. Eu me limpo, beijando-o.
Ele me senta nas suas coxas e cheio de firmeza, apalpa meu corpo com as
mãos. Tirando-me de órbita.
— Seu toque, Felipe... eu não aguento — confesso, ofegante. — É por
isso que o moço tem que ser amarrado. Torturado!
— Bom saber, gatinha. Agora eu quero você de quatro com esse
rabão.
— O que pensa?
Ele me pega nos braços, levando-me para a cama enorme do seu
quarto masculino.
— Eu vou me vingar de cada tortura sua. Por isso, vire a bunda aqui
para o macho.
— Felipe...
— Anda gatinha.
Eu tiro a camisa e viro-me estarrecida, empinando o traseiro para ele.
— Que bundinha durinha/redonda! — Levo dois tapas ardidos. O
safado me morde, lambendo feroz as minhas costas e entre as minhas ancas.
Oorr, eu aperto os olhos. Minha lubrificação escorre pelas coxas,
sujando os lençóis. Ele me penetra os dedos, esfregando a cabecinha inchada
do seu pau de cima para baixo no grelo. Até que ele cospe no meu ânus. E me
apavoro, imaginando o que está por vir.
— Felipe, você não vai fazer isso! Está louco? — Quase me afasto, no
entanto, ele me segura pela cintura. — Eu vou morrer! Olha o tamanho do
seu pau!
— Shhh, farei bem devagar — diz, massageando meu buraco
apertado. — Delicia seu cuzinho, parece uma flor.
— Eu nunca fiz isso...
Eu gemo, com o coração acelerado. Aperto o lençol da cama, quase o
rasgando.
— Vai doer... seu pau não cabe aí!
— Calma, minha princesa. Vou fazer você gozar primeiro, tá muito
tensa.
Ele faz, abaixando e dando-me uma oral gostosa nos lábios do clítoris,
até eu gozar e perder as forças. Então, desta vez, ele se afasta, pega a
camisinha no bolso da calça do chão, reveste o látex no membro e
novamente, instiga a glande no meu ânus.
— F-Felipe... só a cabecinha... por favor... — Eu choro, sentindo-o
literalmente me rasgar em câmera lenta.
— Oh, céus!
O homem geme, mais cheio de tesão do que nunca. Eu não aguento,
mordo a boca, com dor e de relance... certo prazer. É pior do que perder a
virgindade. É horrível. Felipe vê meu sofrimento em lágrimas e para de
forçar, tirando a ponta da rola, a camisinha e introduzindo-me pele com pele
numa só estocada dentro da vagina encharcada. Eu grito. Não desmaiei
porque faltou só os testículos dentro — cavalo. Ele mete devagar, ora rápido
e faminto.
Seu jeito de me foder é feroz, é gostoso.
— Meu Deus. — No fim, jogo-me no colchão, sem fôlego.
Nossos orgasmos deixaram as minhas pernas grudentas e esgotadas.
Eu continuo a pulsar.
— Está com dor? — Ele me beija, acariciando a minha barriga.
— Está se referindo a qual entrada do meu corpo? — Eu faço careta
de dor.
— Só não estava relaxada. Essa posição não é adequada para uma
primeira vez de anal. É gostoso com lubrificante e deitados.
— Não faço de novo. É horrível. Tire o cavalinho da chuva.
— Nem fizemos, loirinha.
— Por isso. Imagine você todo me penetrando?
Sem discutir, ele pisca tranquilo e abraça-me.
— Não farei nada que você não aprove. Seu prazer é importante.
— Eu sei que não... — O beijo.
— Sabe, eu estou morrendo de fome.
— Ué, achei que eu já tinha matado a sua fome?
— Ha-ha, engraçadinho. É fome de comida comestível!
Ele ri.
— Somos dois. Quer pedir o quê?
— Bom... Logo que fez o outro entregador ir embora, que tal pizza?
Ele concorda. Só que primeiro tomamos uma ducha de meia hora,
cheia de afagos e carícias maliciosas. E pedimos a maravilhosa pizza gigante,
que não demorou a chegar, pois Felipe prometeu pagar vinte reais a mais pela
entrega ligeira.
— Isso é o paraíso.
Estamos sentados no tapete da sala, devorando as fatias e tomando um
suco de laranja natural. Eu observo o Felipe, com uma questão bem curiosa
em mente.
— Eu queria te perguntar uma coisa.
— O quê? — Ele me fita.
— É algo... que talvez te deixe bravo, não sei. Tenho medo de como
vai reagir.
— Sou de boa, pergunte.
De boa? O que declarou até pareceu uma piada. Eu coço o cabelo
atrás da nuca, desviando dele e respirando fundo. Meu Deus... agora é sem
saída.
— Quem é Antonella?
Em instantes, eu vejo o Felipe ficar sério, neutro. Seus ombros se
enrijecem duros. Minhas mãos soam. Ele engole em seco.
— A... a Clara que me disse sobre ela. A sua primeira e última
namorada.
— Então você já sabe quem é.
— Eu não sei... — Fico corada. — Apenas que foi a sua ex.
— Ela é do passado, Eloíse. Qual o interesse no assunto?
— Só... curiosidade. Desculpa se eu fui muito invasiva, não foi a
minha intenção.
Envergonhada, eu volto a comer da fatia já sem sabor. E me
maldizendo por ter perguntado acerca dessa tal Antonella. Passado é passado.
Não tem interesse.
— O que tem que saber, é que eu fui um mau caráter com ela —
comenta de repente, fazendo-me encará-lo. — A verdade é que eu nunca
assumi Antonella como namorada, ou qualquer outro tipo de relacionamento.
Eu brinquei com os sentimentos daquela mulher por dois anos. E como uma
pessoa normal, ela foi atrás de alguém que a valoriza-se e prestasse.
A confissão do Felipe deixou meu coração apertado, com medo. E ele
nota, pois puxa meu braço e beija a minha mão.
— Entenda, desde aquele dia no shopping, que derrubou o copo de
chá gelado nas minhas costas, em seguida, jogou o restante na minha cara,
que eu a quis. E após o beijo, há seis anos no bar do seu pai e o reencontro a
pouco tempo, eu a quis ainda mais do que antes. Desta vez, prometendo te
conquistar da forma essa que fosse necessária. Não importava o que eu
precisasse fazer, eu queria você. Nunca desejei uma mulher tão intensamente
como a marrenta da Galvani.
Eu encho meus olhos de lágrimas.
— E não precisa repetir que eu fui um canalha. Eu sei que fui, e
assumo a minha responsabilidade. Quero me esforçar para não te
decepcionar. Eu encontrei em você a minha última chance de ser melhor. De
poder consertar meus erros. E não vou perder esta chance. É meu primeiro
pecado a ser consertado, Eloíse.
Felipe limpa as minhas bochechas, unindo nossas testas.
— Eu nunca vou merecer você, jamais serei digno de tanta beleza,
afeto... desse sorriso, desses lábios carnudos, doceis. Olhos azuis... que, às
vezes, me deixa encabulado. Penso ser verdes, lilás.
Eu sorrio e o beijo.
— Como o mocinho pode ser bobo.
Para não dizer... apaixonante.
— Que isso? Eu sou...
— [...] um anjo — completo a sua frase repetitiva.
— Exatamente. — Felipe se aproxima do meu ouvido, mordendo o
lóbulo bem devagar. — Minha namorada.
Eu arregalo os olhos. Tendo um mini ataque cardíaco. M-meu Deus.
— O-o que você disse? — Afasto-me, olhando no fundo dos seus
olhos castanhos. — Felipe o...
— Eu disse minha namorada.
Eu fico sem palavras, em choque. Ele pisca, abraçando-me e beijando
meus cabelos.
— Você me deixa um louco possessivo, andando por aí solteira. Meu
coraçãozinho não aguenta.
— Eu não acredito — estou emocionada. — Mas isso não vai mudar
o fato de eu continuar dificultando a sua vida, sr. Alencar. Não vai mesmo.
— Jura? Não vai dar nem uma afrouxada nos coices?
— Está supondo que eu sou grossa, seu animal impulsivo? — Bato na
perna dele.
— Ai, loba. — Felipe aperta meus peitos por cima da sua camisa
furtada.
Ele veste só a deliciosa cueca, que modela seus quadris largos e a sua
bundinha cheia.
— Ah, e sermos namorados não te dá liberdades sobre o meu corpo.
Exceto eu sobre o seu. Só quero avisar.
— Um caralho, Eloíse!
— E me solta. Meus seios já estão doloridos de tanto você pressioná-
los.
O canalha me solta, roubando-me um beijão de sugar a alma.
Não sei como descrever tamanha felicidade. Não esperava um pedido
de namoro, vindo assim, tão cedo desse homem orgulhoso e complicado. E é
real, ele quer mudar por mim. Vejo que está começando de passinho em
passinho, a assumir seus erros e sentimentos.
Como o amo... não vou desistir, jamais. Quero ir até o fim para ajudá-
lo a superar as dificuldades e os traumas. Eu quero entender o Felipe.
Capítulo 36

Na manhã seguinte, após Felipe me deixar em casa, eu fui direto


procurar a vovó no seu escritório. E assim que eu me sentei de frente para ela,
tremendo de medo, eu comecei a falar sobre o que o Mariano havia me
revelado e me ameaçado ontem; do Otávio não ser filho do nosso falecido pai
e dele usar isso para me fazer casar a força. Vovó ficou calada, apenas
ouvindo. No final, sem surpresa, sem indiferença, assentiu sincera com a
cabeça.
— Sinto muito, não posso mentir. É verdade, Eloíse. Esse segredo
estava guardado a sete chaves entre mim e a sua mãe há anos. Mas antes de
morrer, seu pai soube da traição da Roberta. E a perdoou mesmo assim. Ele a
amava.
— E meu pai sabia que Otávio não era seu filho biológico?
— Não, ele morreu sem saber. Só que não por escolha minha, saiba
disso. Quando eu descobri, Roberta me fez prometer silêncio. Ela jogava na
minha cara que a vida era dela. E no momento em que achasse apropriado,
revelaria ao seu marido da traição e da paternidade do segundo filho. Ela
nunca disse. Eu insistia na verdade, todavia, a sua mãe me xingava, mandava
eu não me meter, a "infernizar". Foram inúmeras discussões. Ela até evitava
de me visitar e de trazer as crianças.
— Minha mãe é uma víbora! Como pode esconder algo tão
importante do homem que a amava? Que raiva dela! E de quem Otávio é
filho?
— Eu não sei. Ela nunca me disse. Outro assunto de inúmeras
confusões.
— Isso foi errado, uma mentira de anos. Não consigo acreditar. Por
que não nos contou vovó?
— No decorrer do tempo, eu vi como o seu pai amava vocês. Como
seria uma decepção horrível para ele saber da paternidade do filho homem.
Pois quando Roberta finalmente revelou que o traiu, ele enlouqueceu, saiu
por semanas sem rumo, bebendo. E só perdoou ela por contas dos filhos. Pois
vocês não mereciam pagar o preço de um erro. Não tinham culpa de virem ao
mundo. — Vó Aurora beija a minha mão. — Agora entenda, Eloíse, o medo
que eu senti de estragar a família. De todos se revoltarem e de seguirem outro
futuro por culpa da sua mãe. De ficarem longe.
— Eu entendo. Porém, papai sofreu... — Eu choro, com dor. — Ainda
perdoou a esposa suja antes da morte horrível! Sem saber totalmente dos seus
segredos. E como Otávio fica? Por mais que o magoe, é o direito dele saber
do caráter da nossa mãe!
— Não posso revelar de qualquer jeito. É um assunto delicado. Vai
revoltar aquele menino. Ele amava o pai como um herói. Perdê-lo já foi uma
dor sem precedentes, imagine saber que não é seu progenitor?
— Eu entendo que possa descontrolá-lo. Mas o Mariano também
sabe. E ele está usando isso para me fazer casar a força.
— Queria entender como ele descobriu do segredo da sua mãe. Terei
que conversar sério com a Roberta. Mariano não pode usar isso para te
ameaçar, Eloíse. Fique tranquila, vamos resolver as coisas, juntas. E te peço
perdão.
— Está tudo bem, jamais ficaria magoada com a senhora. Te amo —
a abraço.
Por outro lado, eu entendo a situação da minha avó. Já a da dona
Roberta, para ela não existe desculpas. Como pode agir fria e mentirosa? Ela
enganou o nosso pai, a mim e o meu irmão.
Deixo o escritório e vou para o meu quarto tomar um banho. Graças a
Deus, para distrair a cabeça dos problemas, hoje almoçarei com a Clara e
mais tarde, visitarei os dois apartamentos que a imobiliária marcou de eu
conhecê-los. Eu estou ansiosa. Não vejo a hora de dar o primeiro passo
gigantesco na minha vida pessoal.
Na confecção, eu, o Gui, o Oliver e a Clara combinamos, enfim, de
almoçarmos juntos. Marcamos nós quatro de irmos em um só carro. Eu atrás
com o Gui, Oliver e Clara na frente. Ao chegarmos no belíssimo restaurante
rústico, animados, acomodamo-nos em uma das mesas elegantes.
— Clara adorava vir aqui quando estava grávida da Adri. Essa deusa
comia igual a uma maluca desvairada. Eu não tinha uma amiga, era uma leoa.
Sangue dele.
— Na dos gêmeos, foi pior. Virei um balão ambulante. Parecia que eu
estava esperando dois monstros — ela declara e rimos.
— Concordo.
— Eu entendo, lembro-me da minha ex-esposa na mesma situação.
— Uau, interessante. Você foi casado há quantos anos, Oliver? —
Clara pergunta, degustando da água, enquanto aguardamos nossos pratos.
— Há 17 anos. Temos dois filhos adultos. Eles moram no exterior.
— Fico com inveja dos seus filhos já serem adultos. Por outro lado,
me dói imaginar meus três bebês crescidos. Adri tem um ano. Os gêmeos já
têm cinco. E parecem dois homenzinhos iguais ao pai. Imaginem maiores de
idade? Dois mandões ciumentos. A Adri é a minha única salvação desse
DNA.
— Ai, que sonho, esses Alencares têm é que crescer mesmo.
Frutificar a terra com mais beleza selvagem de olhos azuis e verdes.
Sorrimos. E Gui continua, desta vez, observando-me.
— E você também não escapa, Eloizinha. Imagine uma mistura de
beleza entre você e a do Felipe?
Eu quase fico sem as córneas, chocada
— Tudo loirinho. Misericórdia, que calor.
— Você é namorada do cunhado da Collins? — Oliver questiona
repentino, curioso.
— Eu... bom — minhas bochechas ruborizam — não... — Ai, meu
Deus. — É... estamos só nos entendendo.
— Que triste. — Ele pisca e Clara tosse, engasgada.
— Clara?!
— Não acredito! — Ela arregala os olhos ao levantar a cabeça e olhar
por cima dos nossos ombros.
— Ai, credo, o que foi mulher?
A analisamos assustados. Em seguida, curiosos, eu e o Gui viramos o
pescoço. E meu Deus é mais... a minha reação se torna a mesma que a dela.
Boquiaberta.
— Fernando e Felipe! O que esses dois cretinos fazem aqui?
— Jesuzinho, agora que o parquinho pega fogo.
****

Murilo me entrega o dossiê em mãos. E para a sorte daquele banana,


descubro que a ficha dele está limpa. Que porra.
— Pelo jeito, eu terei que usar o plano B.
— O que planeja, Felipe? Quem é esse Mariano que pediu para a
minha equipe da Força investigar? Caso não notou, temos assuntos mais
importantes.
— Agradeço o "favor", Murilo, mas caso não se lembre, você recebe
um salário para isso, seu cara de bolacha.
— Não quero usar minha arma nova. Vai fazer o quê?
— Meu plano era de torturá-lo, depois enterrá-lo vivo. Só que isso
ainda é crime. Darei apenas um ultimato. Ele está ameaçando a minha loira.
— Sua loira? — Sorri. — Então o que o 03 disse ontem é verdade... o
trouxão caiu no próprio buraco de palavras; "mulher é só para sexo". Tá
morrendo de amores.
— Cala a boca, Murilo. Vamos logo para o escritório do Fernando.
Outro arrombado.
— Pelo jeito, vejo que ele deixou poucos hematomas na sua fuça. Eu
não teria pena.
— Eu fui pego desprevenido. — Fecho o semblante. — Isso não
ficará assim. Mas, mudando de assunto, ele te falou alguma coisa sobre o
caso da cabeça do porco? Ontem não pudemos conversar a sós.
— Sim. Estive analisando as digitais no membro do animal
apodrecido. E sinto muito, Felipe, contudo, as provas novamente te levaram
para os mesmos traficantes.
— Merda...
Quando as portas do elevador se abriram, eu chutei a parede, nervoso.
E caminhamos calados até a sala do Fernando.
— A tática de operação para sábado já está pronta. — Murilo o
informa, após entregar o documento. — Não sabia se pretendia usar os
helicópteros. Entretanto, caso pretenda, já estão equipados nos helipontos.
— Não pretendo, a operação ficará na responsabilidade do Felipe.
— Comigo? — Eu cruzo os braços. — Esqueceu que eu trabalho
autônomo?
Fernando mexe o maxilar.
— Não é brincadeira, Felipe. Não tente agir igual a um herói. Não é
Robin Hood e nem Tom Cruise, estreando o Missão impossível. Nossa firma
deve manter a competência e a postura em equipe. Sabe muito bem que quem
trabalha sozinho é os investigadores e os agentes espiões. De você, o chefe,
eu quero posições responsáveis, maduras. Seu dever é de proteger vidas.
Incluindo a segurança dos nossos Garras!
— E não demonstro? Nenhuma das operações de segurança que eu
dirigi saíram do controle ou das estatísticas. Se eu agi sozinho, eu pensei
antes.
— Já discutimos milhares de vezes. — Ele se desvia de mim e olha
para o Murilo. — E Murilo, quero que formule uma investigação contra os
traficantes franceses. Vamos resolver esse assunto o mais rápido possível.
— Providenciarei amanhã de manhã.
— Colocará a agência em risco, Fernando. Isso é problema meu!
— E o que fará, seu porra? Se metermos a polícia, você é preso. Se
agir sozinho, é morto. Não há escolha. Nem escapatória. Trabalharemos em
conjunto como na operação da base FAL, há seis anos, em sigilo do governo.
Tenho a confiança dos meus homens.
Detestando a ajuda e a ideia do meu irmão estar certo, eu fico em
silêncio, sem escolha. Eu quero mudar, ser um novo homem. E se essa é a
minha última chance para isso, eu vou fazer valer a pena. Quero viver uma
segunda oportunidade do zero.
— Com licença, eu vou voltar para o setor dos Forças. Vejo vocês
mais tarde. — Murilo se retira, deixando eu e o Fernando encarando um a
fuça do outro.
Desde a nossa última discussão no meu AP e dos seus socos de
merda, eu não fiz questão de conversarmos. Agora faço!
— Quero uma luta limpa no ringue do galpão leste.
— Ficou com o ego ferido?
— Cala a boca, seu cor de rosa. O que fez não ficará em vão.
Fernando debocha. Então me encara e estende a mão.
— Uma trégua de paz.
— Só te darei uma trégua se houver revanche.
— Porra, Felipe, seu bastardo. Quer que eu dispare a droga da arma
no meio das suas bolas infantis?
Eu me sento, mostrando o dedo.
— Ok, uma trégua. No entanto, cobrarei minha revanche na avaliação
dos novatos. Vou te humilhar na frente deles.
— Acho que até os gêmeos têm mais maturidade que você!
Ficamos em silêncio. Ele volta aos trabalhos táticos sobre a mesa.
Inquieto, eu analiso a foto da Clara e das crianças ao lado do seu computador
e desabafo:
— Foi assim que você se sentiu?
— Quê?
— Sobre os seus sentimentos em relação a Clara. — Fernando levanta
a cabeça, sério. Ou talvez surpreso.
— Então é a Eloíse?
— Acho que está bem obvio.
— Quero dizer que é ela quem está fazendo você virar homem, seu
imbecil!
Rolo os olhos.
— Ela é diferente. Me deixa louco de ciúmes, um obsessivo nato. Eu
quero pegar aquela mulher e prendê-la em casa para ninguém tirá-la de mim.
Para ela não ir embora. Eu estou vivo. Sonhador. — Encaro-o sendo sincero.
— Quando começou a sair com a Collins, eu no começo quis entender o que
tinha de "anormal" tanto assim nela para te fazer esquecer das outras garotas.
Para mudá-lo. E para bom. Eu me perguntava do Murilo, de todos "presos" da
agência: qual era a graça de se ver todas as santas noites com uma única
mulher? O que teriam de especial?
— E você sabe?
— Acho que sim. Ela está me fazendo mudar. Por ela. Essa droga do
lado esquerdo do peito é dela. Tudo tem o ela.
— Seria um covarde se a deixasse partir. Eu lhe disse que um dia as
suas consequências viriam de saltos e a droga de um traseiro irresistível.
Tudo seria único; sem ter nas outras. Ela iria te enlouquecer e mostrar que só
o seu respirar é uma afronta a sanidade. Assim como Clara. — Fernando
desmonta o seu semblante durão. — Nenhuma mulher antes me desafiou com
tanta avidez como aquela atrevida de olhos verdes fez e faz. Nem que
questionasse as minhas ordens. Me enlouquece-se para tê-la. Ou na primeira
foda me fizesse sentir que era pouco, que eu necessitava de mais e cada vez
mais do seu corpo, do seu cheiro, da voz, das suas mãos delicadas... Nada era
o suficiente. Eu poderia transar com milhares numa semana, que ela ainda
permaneceria ali, presa nos meus sentimentos, no meu peito... até eu aceitá-
la.
— É como se me descrevesse. Que porra. Eu acho que não
sobreviveria sem a minha loira marrenta. Eu conquistei ela para sexo. Hoje
quero conquistá-la para além de esquentar os lençóis. Quero conquistá-la para
sempre. Até um dia merecê-la de verdade. Até provar todas as mudanças.
— Inacreditável. Tanto que até me deixa orgulho de te chamar de
irmão.
— Escuta, se eu não conseguir, eu quero que cumpra a promessa de
meter uma bala no meio das minhas pernas. Pois não seria digno desse pau
maior que o seu.
É a vez do Fernando quase revirar os olhos.
— Já provamos que não.
— Éramos novos. Eu tinha 23 anos. Naquela suruba, meu pau ainda
estava em fase de crescimento.
— Jura, seu bosta, que depois de algo sério, estamos falando do
tamanho do seu caralho?! Vai a merda!
— Não quero decepcionar sua virilidade, irmãozinho. Mas cadê a
régua?
Fernando me fuzila, pronto para se levantar e me estrangular.
— Me lembre outro dia de dar os parabéns pela Eloíse ser a única a
conseguir suportar tanta infantilidade.
— É que minha loirinha era professora do fundamental. — Eu me
levanto. — Meu Deus... olha só, tudo faz sentido. Somos como Adão e Eva,
criados um para o outro. O criador é perfeito.
— Felipe, vaza daqui!
— Calma, antes, acho bom sairmos hoje. A surpresa será
maravilhosa.
— Não vamos sair, eu não sou os seus encontros viados! — Ele
esbraveja, assinando dois papéis.
Eu debocho, sorridente.
— Vamos almoçar, morena dos olhos azuis. Sua esposa estará lá
também.
Ao me fitar, sou direto.
— Vou detalhar; ele é magro, alto, velho, cabelos de cinza e se veste
igual a um traveco. Apresento, o fotógrafo da cunhadinha.
E furioso, Fernando fica com a sua habitual cara de pinscher nunca
vacinado.
— Nome, caralho?
— Ainda não tive tempo de averiguar. Podemos dividir o assassinato.
Tenho interesse na metade do corpo. Quero fazer dissecação e dar de presente
para a loira pôr na sala dela. Ficará admirando o velho todo dia, do jeito que
deve gostar.
— É bom Clara não estar escondendo o que se passa naquela droga de
empresa. Pois se eu for averiguar, levo a arma!
— Já estou com a minha aqui. Pega a sua e bora, seu porra!
Capítulo 37

Ao parar do lado da nossa mesa, Felipe me olha e Fernando a Collins.


Os dois parecem dois animais em fúria. Com todo respeito a Clara... mas que
canalhas!
— O que vocês fazem aqui? — Ela os questiona, puta da vida.
— Eu quem pergunto, mulher! — Fernando a responde, rude.
Eu também fuzilo o Felipe, sabendo que essa armação é tudo culpa
dele.
— Viemos almoçar. Estamos famintos por carne fresca!
Incoerentes, sem serem convidados, Felipe pega duas cadeiras na
mesa ao lado, passa uma para o irmão e coloca-as bem nas nossas laterais
minúsculas. Fazendo sobre pressão do desconforto e do aperto, Oliver e
Guilherme imediatamente se deslocarem para as pontas.
— Você me paga seu cretino... — Clara sussurra ao esposo, brava.
— Isso é obra sua?! — Reafirmo ao Felipe, que pisca, satisfeito por
ser maligno.
— Não nos apresentou ao seu fotógrafo! — Fernando encara o Oliver
e eu sinto por ele.
Os olhos azuis desse homem não são de brincadeira. Nem a sua voz
grossa e poderosa. Causa arrepios na espinha. Parece o Felipe, bravo. Porém,
ainda muito diferente do irmão, que demonstra estar bravo é toda hora.
— É... esse é o Oliver, meu fotógrafo famoso e profissional. E Oliver,
esse é o Fernando, meu marido. Já deve conhecê-lo de vista, devido ao último
evento da Marca. E talvez em outras ocasiões.
— Sim, já o conheço. Tudo bem? — Oliver estende a mão e Fernando
aperta os seus ossos, sem responder.
— E esse é o Felipe, meu cunhado. Acho que vocês já foram
apresentados a poucos dias.
— Sim, olá.
Felipe apenas acena com a cabeça, sério.
— Vou ter que pedir para atrasarem os nossos pratos. Vocês
chegaram importunos após já termos realizado os pedidos.
— Aproveita para acrescentar mais dois.
O atrevido sorri para a cunhada. E certeza, se não estivéssemos em
público, ela já teria tacado essa taça de água na fuça dele. Clara, enfim,
chama o garçom e acrescenta os dois pratos, pedindo para adiar também a
nossa comida, que chegará junto com a deles.
— E o que conversavam?
— Bom, antes da ilustre presença dos senhores, falávamos sobre
relacionamento.
— Sim. E Eloíse que nos diga. — Gui sorri, dando uma piscadela.
Meu senhor, Gui não ajuda!
— Ah, é? E que relacionamento? — Felipe me encara com a sua
incrível beleza masculina.
A barba dele está por fazer. Se eu a tocar com meu rosto, arranha-me.
E se ele raspar o queixo no meu pescoço, eu me derreto, excitada.
— Nada importante.
— Jura?
O cafajeste analisa meu decote revelador e fica ... sáfaro — bravinho.
No momento, me encontro de blusa branca, decotada e sainha preta de malha
macia.
— Tirou fotos hoje?
— Não, ela não tirou, Felipe. — Clara é debochada, ao sorrir do
nervoso repentino dele. Parece que o plano de trazer o Fernando para
atazanar eu e ela, está saindo dos trilhos. — Nosso querido Oliver fará isso
na semana que vem. Estamos tão animados. Eloíse vai brilhar com esse corpo
e essa beleza sensual.
O 'sensual' o faz semicerrar a testa.
— E o seu querido Oliver trabalha a quanto tempo na sua empresa?
— Fernando indaga a esposa com destreza.
Felipe sorri, voltando ao topo do jogo. Clara pigarreia, incomodada,
revoltada.
— Há três anos. Quase o mesmo período em que deixou aquela
secretária trabalhando na sua agência. Como era o nome da oferecida...
espera... ah, lembrei, Evelyn!
— Não era minha, era do Felipe, porra!
— Sem xingamentos, mais respeito!
— Sua secretária? — Questiono-o.
— Já passou, loirinha. A despedi a cerca de nove meses atrás.
— Hum...
— Só despediu ela porque eu obriguei insistente o Fernando a fazer.
Onde já se viu, uma menina jovem, oferecida, no meio de uma firma só de
homens?
— Ai, que sonho... — Sendo inevitável, Gui sussurra e o observamos.
— Mil desculpas, gente, continuem com o show de farpas. Adoro uma
guerra.
— Já acabou o showzinho. E sinto muito, Oliver. Família... sabe? —
Ela os fuzila.
— Tudo bem. Normal.
Normal não é. Esses homens são ciumentos e possessivos até a alma.
Misericórdia. Fernando só faltou arrastar a Collins pelos cabelos. E o Felipe,
me cobrir os seios e as coxas com os guardanapos.
•••
No fim do almoço, Oliver se despediu explicando que precisava ir
embora de táxi para não se atrasar. Ele tem um voo programado para São
Paulo às 16h da tarde. Mas acho que ele quis é fugir mesmo.
Só sobrou nos cinco.
— Que droga, os dois não tem vergonha de aparecer assim sem serem
convidados não?
— Vergonha tem que ter é a atrevida de me esconder por três anos
esse porra de infeliz! Pensou o quê?
— Eu não escondi nada! Agora devo uma lista dos meus funcionários
a você?! Me poupe!
— Pois eu quero essa lista no meu escritório até domingo, caralho de
respondona!
— Uma ova, seu desgraçado! Vamos embora, Elô e Guilherme! —
Ela se levanta, cuspindo fogo.
Felipe me segura. Fernando, sem brincadeira, igualmente afasta a
cadeira e se põe de pé num estalar dos dedos, puto com a sua mulher. Eu
arregalo os olhos, chocada. Guilherme tranquilamente degusta da bebida,
como que se já estivesse acostumado com eles.
— Você vai comigo, Clara!
— Vou sim, para o inferno, pois quero matar vo... grr... — Ela para e
respira fundo, recompondo a classe de nariz empinado. — Eu e o Gui e a Elô
só temos um carro! Em casa, conversamos, Fernando! E do jeito que você
gosta, feito um silvestre grosseiro! Pois se não notou, estamos em público!
As pessoas estão nos assistindo!
— Felipe, por favor, me solta — sussurro. — Precisamos ir.
— Vamos, Gui. Vamos, Eloíse!
A gente se levanta e vai até a frente do restaurante, sendo escoltadas
pelos dois brutamontes.
— Isso é culpa sua! — Perto do carro, eu esbravejo contra o canalha
cheiroso.
Clara e Fernando se afastaram para perto do outro veículo deles. Na
verdade, ela foi arrastada pelo Alencar. Gui se acomodou no banco dos
passageiros do nosso.
— Aquele Oliver pateta está de gracinha, se insinuando para você!
— De onde tirou isso? E não mude de assunto.
— É óbvio que aquele velho está. Eu conheço um filho da puta de
longe.
— Ah, me erra. Olha o que você armou contra a Clara por causa de
ciúmes?!
— Ciúmes o quê?! Eu só estou cuidando do que é meu! E não fiz
nada. Clara sabe o gênero do homem que tem, se ela gosta de desafiar ele, aí
já não é culpa minha.
— Seu maldoso!
— Você, da mesma forma, não ouse me desafiar, loirinha. — Ele me
abraça firme e me beija. — Quero nem ver essas fotos. Só de imaginar aquele
velho te fotografando, eu surto. Minha vontade era de furar os olhos dele!
— Que horror, maluco!
— Horror uma ova!
— Pare, moreno. É meu trabalho — volto a beijá-lo, acariciando-o na
barba.
Ele me morde, pressionando minha pobre cintura com as suas mãos
robustas.
— Não quero ser grosso, princesa... mas que droga de sainha
minúscula é essa que você está usando? E ainda me taca um decote
espremendo a porra dos seios fartos!
Aff, era de ser esperar.
— Gostou? — Desafio-o. — E não é mini, ela é decrescente. Atrás é
maior e na frente vem diminu...
Sem aviso, a fera me bate na bunda, interrompendo-me.
— Ai, caramba! — Estapeio-o dolorida, furiosa.
— Eu não quero saber se é da moda, ou sei lá de onde. A única coisa
que eu vejo na minha frente são dois pares de pernas compridas, torneadas e
nuas para qualquer malando admirar!
— Se você continuar "regulando" as minhas roupas, vai ficar é
solteiro!
— Repita isso de novo, sua marrenta! Eu não consigo evitar, você me
deixa louco! É minha e ninguém vai desejar o que é meu!
Antes de eu chutar as bolas dele, novamente, alguém me interrompe:
— Eloíse, você vai ficar aí com esse traste, ou vai me acompanhar?
Felipe me solta, encarando as íris verdes da Collins. Ela está parada
na porta do motorista, aguardando-me, irritada.
— E tá me olhando com esse olhar de cachorrinho sem ração, por
quê? Eu sei que essa palhaçada tem dedo seu, Felipe! E eu quero cortar as
suas mãos! Por isso, aconselho a não aparecer na minha frente por uns bons
dias!
Eu balanço a cabeça.
— Bem feito, seu cachorrinho sem ração! — Eu caio na risada. Só
que o olhar dele... OMG... cala-me, dando-me arrepios.
— T-tchau, Felipe.
Eu me afasto sem fôlego, caminhando desconcertada para o carro da
Clara.
— Fernando está uma fera comigo. Que droga! — Ela confessa,
limpando o batom borrado da boca, após colocar o cinto de segurança.
— Ferradinha, patroinha.
— E culpa do Felipe. Agora ele vai encher a minha confecção de
seguranças! E eu vou matar cada um deles! Aquele cretino!
— Felipe não tem jeito — eu murmuro, com seus olhos furiosos de
ciúmes tatuado no meu subconsciente.
Dá até um calor em lembrar. Meu pai amado.
— Faça esse homem sofrer, Eloíse, por mim. E que seja uma
vingança digna.
— Esses Alencares são ciumentos, né? Cruzes, que nervoso. Ou
inveja. Felipe parecia ser mais controlado do que o Fernando.
— Tudo cretino, que merecia uma surra. Depois terei que conversar
com o Oliver. Ele ficou sem jeito. E eu, envergonhada.
— Acho que nós todos ficamos. Tadinho.
Assim que chegamos no estacionamento do subsolo da empresa, eu
me despedi do Gui e da Clara, com a intenção de seguir para a imobiliária.
Onde no período da tarde, com a companhia da corretora Luciana, eu sou
levada para conhecer os dois apartamentos reservados visita. No entanto, no
fim do tour, infelizmente eu saio sem gostar da localização de nenhum dos
dois.
— Oi, amiga gatinha.
Em casa, eu encontro a Suellen sentada no sofá da sala dos hospedes,
lendo um livro. Ela, ao me ver, arregala os olhos, abandona seus pertences e
corre para me abraçar.
— Oi, sua vaca louca. Que saudade. Por hoje ser sexta, eu resolvi
faltar da faculdade para dormir aqui com você e colocarmos as fofocas em
dias. Tenho tantas novidades para te contar.
— Eu fico muito feliz. Também estava morrendo de saudade e com
novidades fresquinhas.
— Vem, me conta tudo logo... senta aqui.
A gente se senta animada no sofá.
— Você me falou muita pouca coisa por telefone essa semana.
— Você igualmente não sai atrás, dona Ellen. Vem cá, safadinha, não
vai me detalhar?
— Detalhar o quê?
— Como foi a primeira noite com o Heitor? — Eu pisco e ela fica
corada.
— Ai, Eloíse, tenha classe... que vergonha, isso é pergunta que se faça
a uma moça de família?
— Epa! Moça de família, quem? Vai fazer a santa?
— Nunca fomos. — Ela se rende, rindo. — Ok, ai, meu Deus. Eu vou
te contar. Porém, não sei nem por onde detalhar aquele homem!
— Você me disse por telefone que rolou depois dele ter te pegado da
faculdade.
— Ah, é, sim, sim. Heitor colocou esses dias na cabeça que é muito
perigoso o horário que eu saio da aula e decidiu sozinho que iria me buscar
querendo eu ou não. Deixei, né? — Ela dá de ombros. — Ele é muito
certinho e protetor. Até entendeu que antes da nossa primeira vez, eu queria
um relacionamento tipo namorados, sabe? Queria nos conhecer melhor para
ter certeza de que eu não iria pagar papel de trouxa. Mas os nossos beijos
após a facu, na frente de casa, era muito quente. Dentro do carro, às vezes,
acontecia até umas mãos bobas... bem invasivas.
Eu rio da cara de nervoso dela.
— Hummm... quer dizer que a senhorita não resistiu as pegadas do
segurança?
— Não resisti... anteontem foi o nosso limite. Ele entrou na minha
casa e na sala mesmo aquele indivíduo me levou ao céu. — Ellen me encara.
— Eu nunca tinha feito amor daquele jeito, de sentir prazer... do homem
pensar em mim e não só nele em chegar ao ápice sozinho. — Ela cora. — Eu
estou louca, apaixonada por ele, Eloíse. Só que eu coloquei na minha mente
que... que eu sou um patinho feio, pouca coisa... que eu não mereço o Heitor.
E que deve existir milhares de mulheres lindas aos pés dele.
— Ei, como assim? — Pego firme na sua mão. — Da onde tirou isso?
Apague esses pensamentos agora! Você é linda, atraente. Tem umas íris
verdes de tirar o fôlego. Um corpo espetacular. E além da qualidade física,
que é insignificante de se colocar em prioridade. Certeza que o Heitor está
vendo é suas qualidades interiores. Você é ÚNICA, fiel, amorosa, doidinha,
engraçada. Uma mulher de se respeitar e de se contar até a morte.
— Você acha? — Ela se emociona. — Eu não sou tão decidida e
cheia de autoestima como você, não chego aos seus pés. Sempre foi a que
chamou mais atenção dos homens bonitos... e não pode negar esse fato. E ter
o Heitor, que é muito lindo e todo forte, me flertando, mostrando estar a fim
de mim do jeitinho pirado que eu sou, me deixa com medo, insegura.
— Ellen, quanta besteira. Eu nunca me importei sobre estar chamando
atenção ou não. Nunca nem estive em um relacionamento antes do Mariano,
você sabe. E quando eu resolvi namorar com ele, não enxerguei beleza
exterior.
— Eu sei, Eloíse. Acho que eu estou sendo muito patética e
paranoica, né?
— Terei que concordar. Você é linda. Se valorize. Faça esse homem
cair aos seus pés. E eu te amo, minha amiga-irmã doidinha. Estarei aqui,
sempre, sempre para te ajudar.
Eu a puxo para um abraço apertadíssimo.
— Desculpa, amiga. Te amo.
— Pare de chora que é a minha vez de te falar o que anda
acontecendo na minha vida. Você não vai acreditar no rolo da minha mãe,
envolvendo o meu pai... É uma longa história. Que é melhor ser dita lá em
cima. Vem... ah, além disso, eu estou namorando!
Ela, antes de se levantar, leva a mão na testa, esbugalhada.
— O quê?!
BONUS - FERNANDO & CLARA

Eu termino de arrumar a minha mesa para poder ir embora da


confecção. E ao sair do escritório, na saída do saguão, eu dou de cara com o
Fernando me esperando de braços cruzados, com as pernas grossas cruzadas
e as costas largas apoiadas na porta do seu belo veículo esportivo. Seu olhar é
de fúria, sem paciência. Ele vem rápido até mim.
— Resolveu até me buscar no trabalho agora?
— Não me desafie, que eu te estapeio na bunda e no meio dessa
calçada. Que porra de dom de me enlouquecer é esse?
Eu fico quieta, nervosa.
— Eu já te expliquei sobre o Oliver, amor. Não quero discutir!
— E eu avisei que não me escondesse nada, nem uma vírgula!
— Eu não te escondi. Eu... eu só omiti para evitar uma situação de
raiva e de descontrole.
Sem mais conversa, Fernando me puxa de volta para dentro do saguão
da empresa. E suspira, beijando-me faminto, devorador.
— Isso é uma trégua? — Questiono ofegante no seu pescoço. — Diga
que sim, por favor.
Ele não diz nada, apenas belisca forte o meu traseiro e eu grunho,
estapeando-o.
— Seu cretino!
— Eu só te darei uma trégua, em troca de uma condição, mulher!
— Já sei, tem foda no meio, né?
— Também. — Ele morde a minha boca e estende o braço na parede,
ao lado da minha cabeça. Eu encaro seus olhos azuis. — O que eu quero é
que você aceite os agentes. É pela sua segurança e a dos nossos filhos. Eu
vou resolver alguns B.Os que envolvem o passado do Felipe. E confesso não
ser algo tão ameno.
— Como assim? É grave?
— Não. Está tudo sob controle. Entretanto, me deixaria mais tranquilo
em saber que meus bens mais preciosos estão seguros, sendo escoltados
enquanto eu trabalho longe de vocês.
— Amor, diga o que está havendo com o Felipe?
— Ainda não posso. Ele prefere assim e respeito o pedido do
bastardo. Sabe que ele me preocupa e eu faria de tudo para ajudá-lo.
— Eu sei. Igualmente me preocupa. E eu vou respeitar o seu pedido
por saber que isso vai te tranquilizar. Além de nos tranquilizar, pois só em
saber que envolve a segurança dos nossos pequenos, me aflige.
— Tenha calma, os seguranças, é só uma precaução. Está tudo bem.
Fernando volta a me beijar como um homem das cavernas, sedento
por carne.
— Sobre eu te foder lá no seu escritório, já é um outro assunto de
mais emergência. Com a bebê doente e dormindo entre nós, me deixou esses
dias na seca.
— Seu mentiroso, a gente transa no chuveiro para resolver isso!
— Eu chamo aquilo de tortura, mulher. Temos que tomar banho e
ainda correr para arrumar as crianças antes de perderem o café da manhã!
— É problema seu, eu não tenho culpa, você que escolheu não usar
camisinha! Agora arque com os seus minis DNA mandões e teimosos! Eu já
pari eles!
— Atrevida do caralho!
Puto, num estalar dos dedos, o selvagem me pega pelas pernas e joga-
me sobre os seus ombros altos e fortes. Eu esperneio de cabeça para baixo,
afastando os cabelos do rosto para socá-lo.
— Me volta para esse chão! Ainda temos funcionários saindo do
expediente! Seu cretino, libertino! Me coloque no chão! Olha o exemplo que
eu darei! Fernando!
Bufando como uma fera, ele apenas bate na minha bunda e caminha
para o elevador. Por sorte, e amém, eu não encontro nenhum funcionário nos
corredores. E no meu escritório, Fernando entra, fecha a porta com
brutalidade, em seguida, taca-me na mesa de mármore branco.
— Fernando, isso...
— Calada, provocadora!
O cretino me puxa os fios desde a raiz, com força.
— Fale que é vingança pelo Oliver? Confesse, seu ciumento!
— Eu não mandei você ficar calada? — Ele me beija, devorando
minha língua.
— Já que vai ser assim — afasto-o —, eu quero uma coisa antes de se
vingar...
— O quê?
— Eu quero o senhor se masturbando.
O pequeno batimento das asas do nariz do Fernando demonstra que
ele quer é triturar meu vestido nos dentes. Delicia de homem meu.
— O dia que eu nascer de novo, eu faço, porra!
Ele aperta minha coxa e levanta meu vestido apertado. Rolo os olhos.
— Vai, amor... larga de ser chato, eu sempre faço tudo o que você me
manda.
— Eu já fiz isso milhares de vezes para você, hoje não!
— Eu gosto de te ver se masturbando para mim. Me deixa louca.
— Infernos, Clara.
— É um sacrifício? — Mordo os lábios, acariciando seu abdômen
musculoso. E ao mesmo tempo, insegura. Fernando pode acatar minha
vontade ou pode se vingar, pior do que eu imagino. — Hein, meu homem
gostoso? — Chego no volume do seu pau. — Meu selvagem mandão —
espremo-o.
Fernando respira em fúria e desejo, afasta-se, abre a calça, a camisa, a
boxer e a desce sem menor delicadeza — aperto as pernas. Ai, meu
santíssimo... como eu amo essa visão descomunal. Não acredito que ele fez.
Minha intimidade assa em chamas. Ele alisa o membro dotado, de cabeça
vermelha, que pulsa com a massagem obscena.
— Que delicia, amor. Eu amo essa visão.
— Atrevida, é melhor tirar a roupa ou eu a rasgo! — Ordena,
masturbando-se.
Eu saio de cima da mesa, tiro o vestido, ficando só de lingerie rosa e
de salto agulha na frente dele.
— Vem cá!
Ele abre o meu sutiã no fecho e dilacera a minha pobre calcinha nas
mãos brutais. Que merda! Adeus, conjuntinho lindo! Ele surra o meu
bumbum empinado com a sua pica ereta, esfregando a ponta da glande nos
lábios da minha vagina. Ohhh! Eu fecho os olhos, arrepiada, arquejando.
Então nus, ele me volta para observá-lo gemer, enquanto bate a punheta mais
rápida. Fico salivando, excitada em lubrificação.
— Se ajoelha — geme.
Sabendo o que me espera, eu me ajoelho próxima, assistindo-o por
baixo. Que visão gostosa. A mão do Fernando está frenética, ele faz
movimentos de vai e vem, ágeis. Pulso, louca para também me tocar. No
entanto, não tenho tempo, quando eu me dou conta, já estou levando uma
enxurrada de gozo golfado na cara, nos cabelos e nos peitos.
— Era me masturbando que você queria ver? Aproveite o banquete!
— Ele abraça a minha cabeça e esfrega o pau enorme nos lábios da minha
boca.
Eu tusso, cuspindo o sêmen.
— Seu cretino! Espere que tem volta!
Eu termino de me limpar com a sua camisa e levanto-me,
empurrando-o em cima do tapete fofinho do chão. Ao se deitar, eu me viro
inversamente para fazermos um 69. Fernando é quem começa a chupar a
minha intimidade igual a um cachorro. Ele segura as minhas ancas com
firmeza. Eu inclino as costas, arfando de tesão e o engulo. Já estamos
profissionais nisso. Enquanto gememos de prazer, chupando um ao outro,
Fernando mete seu dedo no meu grelo e um segundo, no meu ânus. Eu surto,
esfregando a buceta na cara dele. Ficamos nesse compasso de chupadas e
lambidas até gozarmos. Eu retorno, provando do meu próprio sabor salgado
na sua boca.
— Vou te poupar hoje.
Ele ajeita o peso do corpo e joga-me por baixo, onde mama os meus
seios, mordiscando o bico que sai leite para diverti-lo. Eu urro de prazer. Ele
movimenta a pélvis, invadindo-me com seu cacete enorme. Embora sejamos
casados por anos e transamos quase todas as noites com frequência, a tora do
Fernando ainda me causa certo incomodo ao entrar. Bem pouco, logo fica
espetacular.
— Mais fundo, amor, mete!
Raivoso, ele comanda a penetração. Fernando me enterra sem dó, me
fode com força. Eu o abraço, gritando, delirando. Suas investidas entram e
saem, rasgando-me gostoso.
— Ohhh, fode!
— Porra, gostosa...
Eu sinto uma onda de calor imensa. Fecho as pálpebras, jogo a cabeça
para trás, arranhando a pele macia das suas costas em meio aos temores do
meu segundo ápice. Fernando goza. Eu entrelaço as pernas em torno do seu
quadril para senti-lo se derramar bem fundo dentro de mim.
No fim, eu caio sobre o tapete. Fernando distribui seu corpo e
"descansa" no meu colo, apertando a minha bunda. Mas não tem jeito, ele não
para, como um silvestre sexual de outro planeta, ele se recupera em instantes
e já começa a me encher de beijos no meu pescoço, a minha orelha, meus
ombros.
— Feroz, amor. — Eu esfrego a xota no meu macho suado, forte e
bruto, mostrando que eu já estou pronta para mais o que ele quiser.
— Quer ficar sem andar amanhã, querida? — Seus olhos azuis
brilham libertinagem.
— Mesmo eu dizendo que não, você vai me arrombar!
— Sim... — sorri maldoso e afunda os dedos no meio das minhas
coxas.
Eu suspiro em desespero de prazer.
— Fernando!
— Fica de quatro, mulher. Você nunca mais vai me esconder nada
dessa porra de empresa!
Capítulo 38

Do lado de fora do carro, eu aguardo o moleque sair dos fundos da


conveniência. São 23h00 da noite. Eu estou parado bem ao lado da sua moto.
Quando ele, enfim, sai e vem caminhando com o capacete em mãos, o
bastardo reconhece a minha pessoa.
— Você? — Surpreso, ele aponta o dedo indicador ao parar perto de
mim e da moto. Ele esconde algo no bolso da calça. — Você não é o... sei lá
o que da minha irmã?
— Felipe — eu digo. Porém não o cumprimento com nenhum aperto
de mãos. Mantenho-me sério e linha dura. — Parece que o seu pneu furou.
— Furou... — Ele olha e xinga. — Que droga!
— O que fazia no fundo desse estabelecimento suspeito?
— Não é da sua conta! — O bastardo responde, abaixando para
analisar o pneu. — Merda, eu comprei rodas novas ontem!
— Que pena. Mas pode resolver isso sem maiores dificuldades, ou
valores.
— O que você quer, seu idiota? Apareceu aqui para quê?
Ele se levanta brutinho, encarando-me. Eu olho para o lado e sorrio.
Em seguida, volto de novo, fitando-o sem brincadeiras. O pirralho parece um
zé mané.
— Eu tenho uma troca de ajuda. Quer aceitar? Pode salvar a sua vida.
— Salvar o quê? Eu não preciso de nenhuma ajuda, vaza daqui!
— Otávio, vamos ser camaradas. Há onze anos, eu estive na mesma
situação que a sua. Eu sei que não quer decepcionar a sua irmã, nem a sua
avó. Por isso, eu estou te oferecendo uma chance de não seguir o mesmo
destino que eu. De ser diferente.
— Ser diferente com o quê? Você nem me conhece. É só o carinha
imbecil que come a minha irmã por ela ser bonita. E eu sei da sua!
Porra, sem evitar, em surpresa, eu voo sobre ele e soco a fuça do
moleque em menos de dois segundos. O frango cai igual saco de terra no
chão.
— Cala a boca, seu bastardo! Respeita a Eloíse! Quer levar uma surra
para chegar em casa rastejando socorro?
— É você quem vai apanhar!
Ele se reergue. E desta vez, eu não preciso mover um passo para ele
retornar ao chão.
— Posso ficar a noite toda aqui te dando uma surra. Quer continuar?
Sua cara ainda não me parece muito deformada.
— O que quer, merda?
Ele arrega e afasta-se, sangrando pelo nariz e pelo corte na
sobrancelha.
— Eu sei o que anda fazendo. Aliás, o que guardou no bolso.
— E daí? — Ele cospe. — Eu sou maior de idade, não é da sua conta
o que eu ando fazendo e deixando de fazer! É a minha vida!
— O pirralho não deve saber, mas eu fui agente da polícia federal por
oito anos. Continuo sendo agente interligado do governo. E tenho ótimas
provas para te colocar na cadeia.
— Não acredito em você. Continua sendo o namoradinho imbecil da
minha irmã.
Eu tiro o distintivo garra de dentro da camisa e esfrego na cara do
pirralho chorão.
— Sua família vai amar descobrir a sua forma de ganhar dinheiro
fácil. Tenho provas, filmagens que meus agentes conseguiram.
— Não vai contar nada para ela! Não se meta com coisas que você
não compreende!
— Eloíse deve te amar muito. Entendo a posição dela. É a mesma que
a minha, em relação ao infeliz do meu irmão. Você tem sorte de não ser ele
aqui no meu lugar, pois creio que a essa altura já teria uma bala encravada
bem no meio das suas coxas. Ele tem pouca paciência, sabe?
— Diga logo o que você quer para me deixar em paz!
— É simples. Me procure neste endereço.
Eu estendo o cartão de visita. No entanto, ele não pega. Então jogo na
cara do garoto.
— Te quero lá segunda-feira, às 08h da manhã.
— E se eu não for?
— Mando te buscar de camburão. Ah... — Eu sorrio, quase virando
de costas. — E o seu pneu, é só encher.
E saio caminhando entediado até o veículo.
O que eu não faço para ver a felicidade no rostinho sexy da minha
loirinha gostosa? Promessa para mim, é dívida. E eu tenho palavra.
— Bom dia, mãe.
Na manhã seguinte de sábado, olha eu aqui na casa da Clara. Ou ela
me mata de vez, ou me escorraça a base de vassouradas, por ontem.
— Bom dia, meu filho. Já estava com saudades de te ver por aqui. As
crianças vão enlouquecer.
— E cadê os atentadinhos?
— Como hoje é feriado, Clara permite deles dormirem até tarde.
— Hum... e ela já levantou? Se ela aparecer, me deixa se esconder
atrás da senhora? Por favor.
Marta ri. E me bate, entregando um prato de torradas com queijo. Eu
me sento, provando de início do café, em seguida das torradas maravilhosas.
— O que aprontou, hein?
— Olha o bastardo aí. — Fernando surge do arco amadeirado, vindo
até nós com a bebê.
— Eu nada, eu sou um perfeito anjo.
— Sei desse "anjo". O outro lá de baixo também era. E bom dia,
Fernando. — Marta se aproxima da mesa quando ele se senta ao meu lado e
beija a Adri. — E bom dia para a princesinha linda da vovó, que não deixou
ninguém dormir esta noite.
— O que foi com ela? — Questiono, pegando na sua mãozinha
pequena e brincando com a sua carinha melancólica de sono.
— Ela estava chorando e berrando de dor por causa dos dentes —
Fernando explica, sentando-a no seu colo e dando-lhe a mamadeira de água.
— Só um segundo, Fernando... Lívia, faça mais três torradas, por
favor — Marta pede a empregada, assim que ela entra na cozinha vestida com
o uniforme azul. — E quando Clara chegar com as crianças, faça mais umas
cinco. Os gêmeos preferem quentes.
— S-sim senhora — Lívia gagueja ao encontrar o meu olhar.
Então vermelha de vergonha, desvia-se de mim, virando as costas
para realizar os seus afazeres.
Com a minha cara de pau, não nego que eu já dei uns amassos
invasivos nessa garota de cabelos cacheados. Mas claro, antes de reencontrar
o meu furacão loiro. Lívia só tem 21 anos, trabalha aqui com mais duas
funcionárias — tirando a ex-babá, despedida esses dias pela cunhadinha
ciumenta.
— Felipe... eu estive anteontem com a minha amiga, Aurora, acho
que você já a conhece, né? Daquele dia do coquetel.
Eu mastigo os alimentos, inocentemente, de corpo e alma do assunto
em que a minha mãe pretende chegar.
— Hum?
— Pois bem, ela veio conversar comigo sobre você e as suas
intenções no que diz respeito a neta dela. E ao que parece... não existe nada,
eu não pude citar um bom histórico seu. Tem algo que o senhor queira me
explicar?
Fernando ri, observando-me do mesmo jeito em que eu o olharia;
zombador.
— As melhores, mãezinha — pisco.
— Acha que eu acredito?
Não demora para Clara aparecer com os meninos, desfocando do
assunto. Os olhinhos azuis deles brilham ao me ver, os dois vem correndo
ligeiros para me abraçar.
— Bom dia, pirralhos do tio.
— Tio, joga bola com a gente? — Animados e uniformizados, eles
mostram a bola de futebol. — Mamãe só deixa hoje. E papai não pode.
— Joga, tio, joga!
— Tio Felipe também não pode meninos. Ele e o papai trabalham. —
Clara se senta à mesa, chamando-os para comerem do café. — Só que o vovô
Augusto vai pegar vocês para jogarem no clube com os amiguinhos. Vem
sentar aqui.
— Agora entendi a porque deles terem levantado as 08h da manhã —
Fernando comenta, entregando a bebê para ela. — Aos sábados, só estamos
trabalhando com operações táticas de segurança. Hoje eu não tenho a
necessidade de estar na agência. Apenas o Felipe.
— Caso não saiba, eu tinha outros planos para esta noite.
— Hum, e que envolvem alguém? — Clara me analisa, atrevida.
— Claro, doce cunhadinha dos olhos verdes, cor liberdade. Seu
marido está me escravizando aos finais de semana.
Ele me olha com pouca vontade de zoação. Arrombado.
— Pelo menos você vai deixar a Eloíse em paz para poder me
acompanhar num evento de moda hoje.
— Quem disse que eu vou deixar? — Indago.
— Oras, temos alguém comprometido aqui! — Marta me fuzila.
Eu rolo os olhos. Caí no próprio buraco.
— Tio, tem namorada?
No momento em que Lívia vai servir as torradas dos meninos, ela
treme a mão e deixa a do Heron cair fora do seu prato, quase sobre o colo da
criança.
— Meu Deus! Cuidado!
— D-desculpa, srta. Clara. Perdão!
— Tudo bem, Lívia. Fique calma. Foi só um descuido. Eu termino
isso para você. Pode se retirar. — Marta pega a espátula, ajudando-a.
Eu pigarreio, levantando-me preguiçoso.
— Eu já vou, antes do turno tático da noite, vou aproveitar a minha
meia folga do dia para malhar no galpão com os garras.
— Hum, me espera. Eu estou indo para o mesmo destino.
— Amor, eu achei que você fosse ficar em casa, descansando e
tomando conta da Adri. Eu trabalho até às 14h.
— Droga, mulher. Você não avisou. Posso levar ela comigo?
— Uma ova!
Eu e o Fernando rimos, "sem querer".
— Quer saber, vaza daqui seus dois cretinos. Palhaços! — Ela
começa a nos tacar os guardanapos. — Vocês somem da minha reta!
— Mamãe... — Os gêmeos riem do comportamento da mãe,
balançando as pernas, arteiros.
— Ei, ei, cunhadinha!
— Calma, amor, eu nunca trocaria a nossa princesa — Fernando diz,
beijando o bracinho da Adri, que fala bababa e sei lá... é tão lindinha, dá
vontade de parar o tempo e nunca mais deixar essa boneca crescer.
— Caso você se livre desta prisão, procure os seus amigos de fé,
brother. Estaremos te aguardando. — Eu bato nas costas dele, triste,
cabisbaixo e elas reviram os olhos.
— Juntos, rosinha.
— Juntos, florzinha.
— Aí vocês, que lindo o amor animal de Tom e Jerry!
— Olha essa atrevida, Fernando!
Capítulo 39

Eu me contorço na cama confortável, sem coragem de abrir os olhos.


Estou passando muito mal. Foi após a festa que a srta. Collins e o Guilherme
me convidaram para acompanhá-los. Eu fui gulosa, devorei uma tonelada de
comida de gente rica. Bebi também. Resultado: falecendo. Nunca mais eu
quero beber e nem comer lagostas e ostras igual a uma morta de fome. Meu
estômago expeliu até as tripas essa madrugada.
Ainda estou passando mal na casa da Collins. Clara decidiu me trazer
com ela depois da festa. Estava chovendo forte, com granizo. E quem nos
buscou foi o Fernando. Ele só deixou o Gui no AP dele — logo que era perto.
Eu abro os olhos, assim que ouço a porta do quarto luxuoso sendo
fechada. E com uma cara nada agradável, ergo a cabeça. Adivinhem? Felipe,
o anjo caído.
— Bom dia, minha loirinha.
— Bom dia — sussurro rouca de sono.
— Se divertiu muito? — Ele se aproxima, provocador, implicante.
— Sim. E sai daqui que eu estou horrenda.
Escondo-me embaixo no edredom. Mas o espertinho joga o seu peso
sobre o meu corpo e quase me sufoca.
— Felipe, sai, não estou bem — submerjo para respirar.
— O que foi?
— Dor de cabeça e enjoo. Comi mais do que deveria. Posso até sentir
o gosto da lagosta na boca.
Ele se senta preocupado, bravo. Não me questione o porquê do
"bravo".
— E por que não me avisou disso ontem?!
— Ah, e o meu salvador da pátria já resolveria tudo, né? O bonitão
não estava trabalhando?
— Você bebeu? — Ele é persistente na preocupação.
— Todos bebemos. Agora dá para você se retirar, fazendo favor?
Quero me vestir. Mais tarde conversamos.
— Clara te emprestou um pedaço de tecido. Disse que está lá no
closet.
— Ok... agora saia!
— Porra, loira, qual a novidade desse corpo que eu já não tenha visto
de camarote?
— Não se finja de inocente, seu tarado. Vai embora, por favor!
— Eu vou, só que te esperarei com um copo de água e um remédio
anticachaça. Está com a feição de ressaca.
— Me respeita que eu não sou cachaceira! — Taco o travesseiro na
fuça dele. — Sai daqui, anda!
Ele sai rindo. Canalha! Eu me espreguiço e levanto com a mesma
velocidade em que quase caio no chão. Pois sinto o enjoo se tornar presente
pela terceira vez. E corro para o vaso do banheiro, sem nada para sair. Meu
Deus, nunca mais me permita beber!
Observando a casa luxuosa, após descer os degraus da escadaria de
granito branco, eu entro na sala de jantar chique. E sem esperar, é dona Marta
quem me recebe toda feliz.
— Olá, Bom dia, Elô. Seja bem-vinda outra vez.
— Bom dia, dona Marta... e obrigada.
Felipe franze o cenho, erguendo-se imediatamente.
— Mãe, você não acha que a Eloíse está com a face abatida?
— Bom, olhando de perto parece que sim. Tudo bem, Eloíse?
— Sim, eu estou bem.
— Não minta, loira.
Ele toca no meu rosto e eu coro de vergonha pela presença da sra.
Marta nos assistindo.
— Pare... é... eu estou bem.
— Não está droga nenhuma — murmura, fitando-me contrariado.
— Felipe, larga de ser inconveniente e deixa a Eloíse se sentar para
tomar uma água, comer do delicioso café da manhã. Isso pode ajudá-la a se
sentir melhor. Caso não esteja bem.
Felipe me solta, ainda bravo e leva-me até a mesa.
— Bom dia, meus amores!
Assim que eu me sento, Clara aparece ao lado de duas crianças
gêmeas. Da última vez que eu vi esses dois no shopping, não havia reparado
muito. Porém, agora... jesus amado, eles são a cópia do pai Alencar em
tamanho infantil! Todos os traços. Até os olhos azuis tem. São uns príncipes
lindos. Que vontade de apertar suas bochechas.
— Bom dia.
— Bom dia, Clara, sua influenciadora de maus caminhos! — Felipe
declara, fuzilando-a e recebendo os meninos, que se sentam ao lado dele.
Eu os observo. Eles também, bem curiosos.
— Ah, lá vem, ótimo dia para se ter cunhado.
— Você levou a minha loirinha para encher a cara! Cadê o Fernando
para ouvir isso?
Sem evitar, ela sorri dele. Marta igualmente. E eu coro da cor do
quadro na parede: vermelho.
— Faz das palavras dele, as suas, Elô? — Ela se senta, articuladora.
— Desculpa, Clara. Nem dá bola para esse exagerado. Eu acordei só
indisposta. Afinal, nos divertimos igual adolescentes ontem — pisco.
— Está tirando onda da minha autoridade? E que história é essa de se
divertirem igual adolescentes?
— Coisas de mulheres, queridinho.
— As madames têm é sorte. Ainda bem que o Fernando infiltrou
homens para ficarem disfarçados. Ou me encontrariam lá, de braços
cruzados, as observando olho a olho.
— Ah, não vou nem discutir. — Clara dá de ombros. — DNA da
família Alencar.
Felipe só neste exato momento percebe que o sobrinho estava
chamando-o, ao puxá-lo pela camisa.
— Que foi, Hayron?
Ele abaixa a cabeça e o garotinho cochicha algo sigiloso no seu
ouvido.
— Vem cá... — Felipe também cochicha algo.
E Hayron, ao se afastar, faz questão de me olhar sorridente, em
seguida, passa a "informação" para o irmãozinho e os dois riem juntos.
— O que é que vocês dois estão cochichando em segredo com seu
tio?
— É coisa de homem — respondem engraçados e rimos dos "minis
homenzinhos".
— Eu não disse que são idênticos ao pai e ao tio.
Clara pega um pão doce de cima da mesa e mostra para eles.
— Eu dou os doces proibidos se vocês nos contarem.
— Mulheres, meninos, aprendam desde cedo que elas podem ser
persuasivas e chantagistas.
— Que tal banho de piscina hoje, a tarde toda?
Os olhinhos deles saltam, entusiasmados. E Clara encara superior, o
Felipe.
— Desculpa, tio. — Heron sussurra com seus pequenos lábios.
— Mulheres!
— Homens, são tão fáceis de serem comprados. Digam para a
mamãe, meus amores?
— Tio disse que ela é a sua namorada. — Ele aponta o dedinho para
mim.
E meu santo, eu estou o próprio quadro na parede. Que vergonha.
Clara fica em choque. Marta igualmente.
— Nem as crianças respeitam a minha autoridade mais. Preciso
aumentar o grau linha dura.
— I-isso é verdade? — Marta me olha, feliz, resplandecida. — Meu
Deus, eu fico muitíssima feliz por você ter domado esse rebelde sem limites.
Quem iria imaginar unirmos as nossas famílias? Aurora é a minha compadre
há doze anos. Ter a sua neta como minha nora é emocionante.
— A relação aqui foi de namoro para casamento sem sermos
consultados, mãe?
— Se duvidar, a gente prepara a cerimônia amanhã mesmo, meu anjo
— Collins ressalta. — E espero que cuide dessa mulher linda, Felipe. A
senha de espera é grande, viu — provoca, ardilosa. — Pode ser o primeiro,
mas jamais será o último.
Felipe fica nervoso. E quando ia começar a expor suas selvagerias
cheias de ciúmes, é interrompido pelo Fernando. Ele surge de camisa branca,
bermuda despojada, chinelo masculino e caminhando até nós com o seu
físico admirável. É a primeira vez que eu vejo esse homem fora dos seus
trajes formais, ou com o uniforme preto da agência. Diria normal, no entanto,
continua bem enfático e intimidador. Felipe segue as duas linhas quando
necessário. Sua aparência é de proponente. Porém, ao abrir a boca, se mostra
engraçado e divertido. Não sei o que mais me atraiu nele. É como se eu
tivesse encontrado a minha cara metade. Eu vejo liberdade, oxigênio, amor,
paixão. Tudo. É indescritível, nem milhares de livros poderiam explicar.
A noite, ele me leva para a pensão. E na frente de casa, beijamo-nos
até o clima esquentar e sermos obrigados a subirmos para o meu quarto. Ele
entra, fecha a porta e levanta-me rápido do chão.
— Eu já não via a hora de ficarmos a sós.
— Eu também, meu moreno.
Não conseguimos falar mais nada, em silêncio, sentimos o nosso
coração pulsar mais forte. Felipe me deita na cama, tocando meu corpo com
calma, sem pressa, sem eloquência feroz. Suas mãos percorrem pele a pele
por fora e por dentro do vestido. Seu nariz me cheira, ansiando por etapas da
minha fêmea ardente. Seu olhar me deseja como fogo e suavidade de delírio.
Ele me eleva em erupção. Nossa nudez se consome em suor e insaciáveis
gemidos. Eu sou explorada nas partes mais avassaladoras de uma mulher.
Suspiro seu nome, pedindo mais e cada vez mais prazer.
Meus tremores o amam, nossos toques se amam. Nossas batidas se
amam. Existe um certo mistério, uma magia. A aspiração é única. O tempo
para... Mas eu ainda o desejo a cada minuto do relógio lá fora.
— Eu sou sua... toda a minha alma é sua.
Abraçada aos seus cabelos, fecho os olhos, entrelaço minhas pernas...
e o permito ser só dele.
— Minha loira, eu sou seu... toda a minha alma é sua.
Ele ergue o rosto e eu o beijo com paixão. Ele retribui na mesma fome
de amor.
Capítulo 40

Deito Eloíse sobre o meu peito e ela sorri.


— O que foi? — Pergunto, acariciando sua coxa suave.
— Você... agindo todo calmo e... não sei, diferente, amoroso.
— É só mais uma das minhas qualidades perfeitas, loirinha.
— Ah, convencido! — Ela me bate e volta a se deitar. — Fiquei com
vergonha da sua família hoje. Agora eles sabem... o que tem entre a gente.
Oficial...
— Não era novidade. Também não me importo. Eu quero isso. Quero
sempre ser transparente em relação a nós dois e as pessoas a nossa volta.
— Felipe, eu não sei o que dizer. Fico apenas feliz. Está provando as
suas mudanças.
Eu beijo a minha deusa de olhos azuis, admirando o toque dos seus
dedos femininos no meu queixo. Eu sou louco por ela. É por Eloíse as minhas
mudanças. É por ela que eu necessito de começar a ser feliz de verdade. Essa
mulher é meu sol, a fonte. É a minha lucidez resplandecida.
Nossa noite me deixou sorrindo igual a um bocó zoado. Por conta
disso, eu fui para o trabalho cantando música de pagode romântico. E nem
me importei com a minha mente me chamando de retardado. É um
sentimento maneiro. Me descreveria numa ave de asas quebradas, que foi
encontrada por uma criança brincando no parque, onde a adotou e cuidou
com muito carinho das suas feridas, dos seus arranhões. E com o passar dos
dias, fez com que a ave se visse almejando voar novamente, em busca da
própria liberdade interior.
Eu estou diferente, eu me vejo vivo e disposto a enfrentar qualquer
dificuldade em troca da felicidade. É por isso que ao receber o Otávio na
empresa e no meu escritório às 08h00 desta manhã, eu faço um acordo de
ajuda entre ele. Ou diria uma ameaça de leve. Ele ficou admirado em
conhecer a nossa firma, gostou de se ver como um agente que causa
admiração onde se passa com o distintivo de A.G (Agente Garra). É uma
oportunidade dele mudar de vida. De fazer o certo — o que eu não pude
fazer, por ser um filho da puta orgulhoso e autoconfiante demais.
Otávio fica calado, pensando e ouvindo o dilema da nossa troca. E seu
corpo, pela primeira vez, desde o momento em que entrou nesta sala e
sentou-se na cadeira de frente para mim, relaxou.
— Você me livraria deles? — Questiona, engolindo em seco.
— Se está disposto a fazer o que lhe pedi, eu apago esse seu
presente... melhor, o seu passado. E te dou a oportunidade de se tornar parte
de nós. Porém, precisará mostrar capacidade e força. Se alistará entre os
alunos novos do curso, terá seis meses de preparo. Serei seu instrutor pessoal
antes de passar pelas provas da academia de segurança. E óbvio, se merecer
chegar até o final. É 100% barra pesada!
— Eu aceito! Gosto de armas, de operações! E é óbvio que eu vou
merecer!
Fico admirado pela decisão ligeira. E a confiança em si próprio.
Veremos na prática.
— Certeza?
— Sim.
— Ótimo. Vou limpar suas merdas. E fará o que lhe pedi logo em
seguida, para ser alistado!
— Trato feito! — Ele estende a mão, só que ainda sem apertá-la, eu o
encaro, dando um olhar rigoroso.
— É melhor não fazer coisa errada, pois estará fodido nas minhas
mãos! E quando eu resolver o B.O, lhe informarei. Pode se retirar agora. —
Abaixo a cabeça, voltando ao meu trabalho.
Calado, o garoto então se põe de pé e retira-se, sem pedir licença. Ao
fechar a porta, eu descanso o cotovelo no apoio da cadeira, com a mão no
queixo. Foi mais simples do que eu imaginava. Muito simples. Não confio
nele. Contudo, é o plano B, ou o eventual A?
Porra, não aguento mais. Eu quero apagar esse passado, esses erros. O
que eu fiz por prazer pessoal... e não digo só por sexo, tudo foi uma
delinquência. Eu gostava daquilo, era um louco sem limites. Preciso
esquecer. Superar. Mudar do 0!
— Não é complicado, Felipe. É impossível! — Assim que eu explico
do meu plano, Fernando cruza os braços, duplicando o tamanho do seu
peitoral e músculos. — Como você vai saber onde está essas provas
originais? Essas tais gravações que eles garantem ter?
— Eu não fui amigo dos caras? Eu sei como achar essas provas. Mas
antes, almejo um encontro com o chefão. E eu tenho uma pessoa que pode ser
possível me ajudar.
— É suicídio.
— Ou uma idiotice — Fernando declara ao Murilo e ao 03. — Essa
família de traficantes franceses quer a sua cabeça em troca de vingança,
justiça!
— Tem certeza daquela noite, Felipe? Consciência de que disparou
aquela ponto cinquenta? — 03 indaga, especulador.
— Eu era um atirador de elite, um jovem louco por violência...
— [...] E se ferrou! Você nos garantiu que estava sobre efeito de um
coquetel de drogas. Está omitindo as informações? Confirme, Felipe! Se
formos atrás desses caras e com as gravações, comprovarmos seu "crime",
não sairá ileso da pena! Sinto muito!
— Eu não me lembro, porra. Somente bebi do coquetel para ter
coragem de ir atrás dessa facção e recuperar a mina. E não me ferrar com os
franceses. Os "amigos" que eu achava que tinha. E de qualquer modo, após
recuperá-la, eles me matariam. Eu estava comendo a filha mais nova do
Chefão! — Cuspo as palavras.
Eles ficam em silêncio, apreensivos.
— E aí?
— Fernando quem diz...
03, Murilo e Fernando se entreolham, prontos para dar o ultimato, se
invadirão ou não a casa dos franceses. Até que Fernando relata ter outra
infeliz estratégia.
E depois dizem que o meu plano é suicido!
****

Eu bato na porta do quarto da minha mãe, ansiosa, torcendo para não


explodir de raiva quando ela começar a vociferar, cheia de grosseria, as
brutalidades de sempre.
Não pude aguentar... chegou a hora de colocarmos as coisas em pratos
limpos.
— Entra! — Ela exclama, antes de eu bater uma segunda vez, e entro.
Ela está sentada na cama, mexendo no seu iPad vermelho.
— Gostaria de falar com a senhora — sou direta.
— Sua avó já me contou tudo. Não precisamos de delongas.
— Abrirá o jogo então? Porque todo o óbvio da traição eu já sei. O
que eu preciso saber, é como o Mariano descobriu desse seu segredo a sete
chaves?
— Bom, logo que está sendo ostensiva. E se deseja a verdade, eu
direi! — Ela se levanta tranquila, tirando os óculos de lentes redondas.
Não posso omitir que a minha mãe é bonita. Na sua juventude, devia
chamar muita atenção dos homens. Ela é loira, tem os olhos azuis e a boca
carnuda. Atualmente é um pouco cheia no entorno das coxas, os quadris são
largos. Sua barriga é inchada. Ela é séria, bruta e cheia de segredos. Gostaria
de um único dia termos sentado na sala, ou no jardim ensolarado e
conversado como mãe e filha. Dela ter me falado da sua juventude, contado
dos seus romances passageiros, dos seus amigos, se já teve outros sonhos —
além de pedagoga. Eu gostaria de termos sido "irmãs". De eu ter recebido
muitos conselhos seus, dela ter me ouvido com calma... e até ter me dado um
tiquinho de amor que fosse... Ah, como sonhar dói! A verdade é que em
todos os meus 27 anos de existência, o que ela sempre fez foi me tratar como
um nada. Uma coisa indesejada, pegajosa. Insignificante e cheia de doenças
contagiosas.
— Eu estou a todo ouvidos.
— Eu sou adulta. Você também. E esteja consciente da não
importância com nenhum julgamento. Quanto mais de filhos. A realidade é
que eu e o pai do Mariano somos próximos. Faz pouco mais de dez meses.
Meu queixo cai. Eu não acredito nisso.
— Você quis dizer amantes?! Porque, que eu saiba, os pais do
Mariano são ainda casados! Que nojo!
— Intérprete da forma que desejar, Eloíse. Como eu frisei a poucos
segundos, não me importo com nenhum julgamento! Flávio vai se separar da
Daniela e viveremos juntos!
— Meu Deus! Como pode ser baixa? É por isso que a Daniela está
entrando em quadro de depressão, brigando regularmente com o "esposo". Os
dois são baixos!
— Onde quero chegar — ela despreza a minha revolta —, é que o
Mariano descobriu sem querer sobre o nosso romance. Inclusive, ouviu sobre
a paternidade do Otávio, e sobre o plano; você.
— O que tem eu?
— Após a traição e após o Otávio nascer, seu pai havia ganhado um
milhão de reais na loteria. Gastamos metade do dinheiro e a outra, ele
resolveu deixar para a princesinha biológica. José não confiava em mim, não
depois daquela traição que feriu seus sentimentos. Ele quis te contemplar
porque você dividiria o restante da grana com seu irmão. Eu fui até atrás do
cartório, mas descobri que o dinheiro só poderia ser liberado, caso você fosse
casada. Uma grande burrice. Nem sei como ele conseguiu a assinatura de um
juiz para fazer esse documento patético.
— Por isso o Mariano quer se casar a todo custo! — Coloco a mão na
cintura e começo a rir sem humor, digerindo cada informação.
Meu pai amado, isso só pode ser brincadeira.
— E até que não foi patético. Papai foi é esperto. Olha só, agora vocês
dois estão brigando por causa desse "meu dinheiro", ou herança, sei lá. — Eu
sorrio. Ela me fuzila. — Mas espera aí, dona Roberta, e Mariano não eram o
genro e a sogra mais unidos desse mundo?
— Éramos, sua idiota! Foi eu quem arrumei o Mariano para te
conquistar e se casar com você! Eu expliquei sobre a herança para aquele
imbecil! No entanto, acerca de três semanas, ele ouviu de mim e do Flavio,
que faríamos o bobão nos dar todo o dinheiro de vocês para morarmos no
exterior!
— Ah, sim. Tudo faz sentido — mantenho-me "calma", com as
têmperas pegando fogo. E o desejo de voar nos cabelos chanel da minha mãe,
falando mais alto. Porém, de sangue frio, abro a linha dos lábios. — Parece
que o "plano" desceu ladeira abaixo, mamãe. Não estava contando em se
apaixonar pelo Flavio, né? Nem do Mariano descobrir da traição da
cúmplice?
— Me respeita, sua cachorra! — Ela fecha os punhos.
— Respeito, me defina respeito, por favor?
— Mariano detestou sim, quando nos descobriu. Ele odiou o fato de o
pai estar fazendo a mãe "sofrer" e de querer trair o coitadinho, o
"extorquindo" na herança. Foi então que resolveu colocar em pratica o
projeto de reatar o noivado com você sem nós!
— Para vingar-se? É, bem que eu achei muito fácil de ele ter se
afastado um mês de mim. Responda, mãe, era só um tempo para eu esquecer
da traição e me rastejar atrás do seu genro fabricado? Meu Deus, como eu sou
grata ao Felipe. Extremamente grata aquele homem.
— O que tinha para ser esclarecido, eu já disse. A verdade nua e crua!
— É uma mulher baixa. Se formou em professora para quê?
— Porque todo filho de pobre sonha em se formar para sair da
miséria! E eu fiz, ainda sustentei dois ingratos do meu sangue, achando que
me dariam lucro!
Patética. Eu nasci dela mesmo?
— E por que me esclareceu de uma vez as coisas? Tão fácil?
— Pois eu já vendi a casa em cinzas do seu pai e já depositei os
duzentos mil na minha conta. — É a vez dela sorrir e eu ficar enfurecida. —
Apenas aguardando meu passaporte. Logo, logo viverei longe de vocês e
dessa vida miserável.
— Era a nossa herança! Nós três!
— Não seja egoísta, filha. Se caso casar, terá quinhentos mil para
dividir com seu marido e seu irmão.
— Não me chama mais de filha! Porque eu nunca mais vou te chamar
de mãe! A odeio por ter destruído a nossa vida! Por ser suja, por ser uma
víbora! Papai foi carbonizado e você nem sofreu por ele!
— Isso ninguém saberá, se eu sofri ou não. Mas eu estive até o fim ao
lado daquele homem! Ao lado de vocês! Suportando e infernizando!
— Bruxa! Cobra! Eu torço pela sua infelicidade! Que sofra em dobro
a minha dor e a do Otávio! Vai embora para nunca mais convivermos com
alguém tão maléfica!
Chorando, eu cuspo as minhas palavras e viro as costas, batendo a
porta com força. As paredes tremem. Meus passos aceleram depressa,
transformando-se em corrida. Eu corro para não enlouquecer e matá-la! Eu
seria capaz de esfregar seu rosto naquele assoalho de madeira, mais de mil
vezes! Ou tacá-la da janela!
Eu a odeio! A odeio!
Capítulo 41

[...]
Desesperada, eu vou até a garagem. E assim que eu fecho a porta do
carro, coloco a palma das mãos trêmulas no rosto. Jamais vou perdoá-la!
Bato no volante, pego o celular e disco para o Felipe. Chama, mas ele não
atende — só porque eu precisava de você... agora, aqui comigo.
O celular, então, vibra e desperta em menos de três segundos da
minha penúltima ligação apavorada. É ele. Meu ele.
— Felipe.
— Oi, loirinha?
— O-onde você está?
— No trabalho. O que foi? Tudo bem?
Não... — de repente, a minha consciência cai em si. Eu não posso
desabafar com o Felipe. É loucura. Ele é explosivo, impulsivo. Poderia sair
da agência e vir voando atrás de mim. É muito injusto interromper seu
trabalho. Decido em sã consciência, acalmar minha voz e demonstrar
serenidade.
— Sim... sinto muito por atrapalhá-lo. Ainda é cedo, deve...
— Não ligaria à toa, aconteceu alguma coisa? — Ele me interrompe,
afrontoso.
Droga de homem ávido, inteligente.
— Não... eu liguei para... — pensa, pensa Eloíse. — Para mais tarde
almoçarmos juntos! — Rapidamente, me alívio. — Você vai estar ocupado?
— Acho que eu vou te dever. Tem certeza que era só por isso?
— Sim. Você não pode? — Minha voz soa baixa e embargada.
— Se disser que precisa de mim, eu dispenso qualquer serviço e vou
até você.
— Não exagere. Tudo bem. À noite, podemos nos ver e conversar com
calma.
— O que quer conversar?
— Nada importante. Vou te deixar trabalhar, tá?
— Realmente espero que não seja nada importante.
— Não, é. Beijos, meu moreno.
— Beijos, loirinha.
Eu desligo, com o peito apertado de tristeza. E um embrulho
repentino no estômago... droga! Imediatamente, eu abro a porta do carro e o
desejo explode. A vontade de vomitar chega, expelindo até a alma. Quando
acaba, ainda abaixada, em direção ao chão, eu coloco a mão na barriga,
tremendo sem fôlego. Minha cabeça roda. Eu me sinto mal, abatida. O
vômito passou, porém, o enjoo continua intacto.
O que está acontecendo comigo? Acho que eu fiquei muito nervosa
com a discussão entre a minha mãe. E aquele café forte da vovó não
colaborou.
— Eloíse, tudo bem com você?
Na confecção, após me levantar da cadeira de maquiagem, eu fecho a
corda do robe de cetim bem fechado ao ser chamada pelo Oliver e a sua
beleza de cabelos acinzentados. Ele sorri, aguardando a minha resposta
embaraçada.
— Tudo sim.
— Pronta para as fotos? Quero muita animação.
— Vou tentar...
— Não se preocupe, Oliverzinho do meu core. Estou aqui para deixar
a nossa Elô saltitando! — Guilherme brinca. — Essa maquiagem ficou um
arraso, Eloíse. Acompanhe-me, seu vestido já foi escolhido.
— Obrigada, Gui. Com licença.
Depois de me vestir com a ajuda de uma assistente ruiva, eu vou para
o estúdio ser fotografada pelo Oliver. Recebo inúmeros elogios exagerados,
que me deixam pegando fogo de tamanha vergonha. Eu me recomponho ao
lado de uma coluna estilo romana, soltando-me no decorrer das poses. Eu
fico mais confiante, divertida, poderosa, sexy. A música sensual toma conta
do meu ser. Eu esqueço do mundo lá fora. Só existe eu, a lente da câmera
redonda, os flashes e a voz do Oliver a cada segundo exclamando "perfeita",
"incrível" "maravilhosa"... e entre outros comentários estimulantes.
Guilherme não ficou de fora. Ele bateu palminhas, assobiando e me
"aclamando" sem cessar.
No total, são treze modelos de vestidos. Hoje fotografei apenas seis.
Amanhã finalizaremos o restante. Eu me despeço do Oliver e da sua equipe
incrível. Em seguida, visto minhas roupas normais e saio do provador.
— Você já vai embora? — Guilherme questiona, acompanhando-me
no corredor de piso de mármore chique.
— Vou sim. Necessito de deitar um pouco. Minha cabeça está
doendo.
— Descansa, bonequinha. Tem que estar com esse rostinho
resplandecendo outra vez. Toda linda.
— Gui, vem cá... será que a Clara vai gostar das imagens? Ela não
estava no estúdio.
— Mas o quê? É claro que vai! Aquela mulher não erra. E sobre ela
não estar no estúdio hoje, foi por conta de uma reunião de última hora com os
gerentes das nossas matrizes. Amanhã aquela deusa vai comparecer também,
não se preocupe.
Eu sorrio, meio insegura. Tomara que a Collins goste das imagens. Eu
dei tudo de mim. Foi como se eu estivesse dentro de uma personagem
poderosa, uma Gisele Bündchen encarnada. Amei me sentir assim.
Ao chegar no estacionamento do subsolo, encontro alguém encostado
no capô do meu carro branco. E sim, é ele mesmo... meu lindo homem.
— O que faz aqui?
— Eu saí mais cedo do serviço. E resolvi saber o que a dona Eloíse
gostaria tanto de conversar comigo?
— Como o senhor é exagerado. Não precisava se preocupar.
Ao me aproximar, eu recebo seus braços fortes entorno da minha
cintura.
— Eu senti que sim. — Ele me beija. — Tudo bem?
— Bom — suspiro —, terei que ser sincera... não, não estou bem. É a
minha mãe.
— O que houve? — Felipe semicerra os olhos, preocupado. — Ela te
fez alguma coisa?
— Calma, primeiro, podemos ir para outro lugar? Tem uma sorveteria
aqui perto que eu desejava muito conhecer. Dá para irmos caminhando.
Topa?
Felipe concorda. Entrelaça minha mão na sua e leva-me pela calçada.
Enquanto não chegávamos na sorveteria, meu salto fino, às vezes, se
enroscava nos buraquinhos ocasionais, causando as piadas naturais dele.
Palhaço.
— Na volta, quer que eu te leve no colo, princesa? — Questiona
assim que entramos no local todo azul royal.
— Está sendo cavalheiro ou sarcástico?
— Hum... eu estou sendo um namorado prestativo. Acredito que não
queira ir descalço para estragar a delicadeza desses belos pezinhos. Pois eu
não quero. Deus não me deu uma perfeição dessa à toa. Tenho que valorizar.
— Jura? — Rolo os olhos. — Não se preocupe com meus pés. Eu
dava aula por horas em cima deles e continuam aqui, grudados nos meus
calcanhares.
Felipe afasta a cadeira para eu sentar, rindo da minha resposta.
— Depois fala que eu sou um canalha. Enquanto na verdade, eu tento
te tratar com todo carinho, disposição e ternura, você é grossa, sem
sentimentos. Saiba que hoje em dia não se acha anjos como eu. O mercado é
escasso.
Uma senhorinha ao nosso lado, me observa de cara feia, julgando-me.
Eu desvio ruborizada, batendo no braço do cretino do Felipe.
— É claro que não se acha anjos como você, os últimos foram
expulsos do céu a milênios!
— Sua sem coração. — Ele me rouba um selinho. — Mas o assunto a
seguir é sério. Almejo saber o que desejava conversar.
— Prometo pedir uns dez sorvetes para começar, enfim, a te explicar?
— Só dez sorvetes? — Ele balança a cabeça.
— É minha vontade. Não me julgue.
E de fato, eu peço uma taça comprida, bem funda para caber todos os
meus desejos gostosos. Não escapa uma cobertura ou granulado sequer.
— Não sei se dividirei — pisco, afastando a colher do espertinho.
— Se tudo isso couber dentro desse seu corpo pequeno, eu ficarei
surpreendido. Não é possível, Eloíse.
— Metade disso é recheio — explico, hipnotizada pelo sabor gelado.
— Todavia, serei boazinha, caso consiga finalizar o seu.
Nossas brincadeiras me deixaram descontraída para começar a
detalhar o que a minha mãe me revelou hoje cedo. Só de lembrar... quero
surtar de raiva. Quero chorar, bater nela! Felipe também ficou puto da vida,
furioso.
— Desde quando uma mulher dessa é mãe? Se fosse homem, eu
quebrava a cara. Porra. E deveria ter me contado no mesmo momento em que
me ligou. Ainda mente que não era nada importante!
— Desculpa... eu só não queria atrapalhá-lo no serviço. Não com
meus problemas. Conheço o seu jeito, seria capaz de vir atrás de mim sem
pensar duas vezes.
Felipe fica quieto, nervoso, pensando sozinho.
— Eu terei que ter a conversa o quanto antes com o banana do
professorzinho. Agora entendo a ameaça para se casar a todo custo.
— Felipe, não vai fazer besteira! O mais fundamental é o controle
racional do meu irmão! Mariano é um crápula!
— Do seu irmão, eu já estou cuidando. Ele aceitou a ideia de se
formar como um agente. Não posso mentir que é um desejo a qualquer garoto
de vinte anos, louco por adrenalina e ação.
— Eu e a vovó vamos esclarecer as coisas com ele. Só estamos
tomando coragem. Ah, e eu tenho que contar também sobre esse assunto para
ela. Minha mãe é uma víbora. Tudo por causa de dinheiro. Vó Aurora vai se
decepcionar. Tenho até medo.
— Sinto muito. — Felipe beija a minha mão.
— O que mais me abalou foi de ela ter vendido a casa do papai e
roubado o dinheiro para fugir com um amante. Como eu fui burra de não ter
notado as coisas antes. Burra de só querer o seu amor de mãe. De não ter
afrontado ela mais cedo.
— Pense na sua mãe verdadeira, na sua avó que te ama. Não é hora de
se lamentar. Tem que ficar firme, com o brilho único desses olhos azuis.
Detestaria se ficasse triste.
Eu beijo-o, grata por seu apoio e carinho.
— Eu serei forte. Prometo. Só preciso revelar as coisas para o Otávio.
Como irmã mais velha, daria a vida por ele. Só o desejo bem.
— Já disse que pretendo ajudá-la. Inclusive a terminar esse sorvete,
pois o meu já acabou. — Sem avisar, Felipe arranca uma colherada da minha
taça. E eu quase taco a mão no meio da sua testa.
— Não, seu ladrão de comida!
Capítulo 42

No meu carro, após dar partida e antes de irmos embora, Felipe se


lembra de algo, pois bate no volante, vira a cabeça e observa-me nervoso.
— O que foi, moreno? — Com o cenho franzido, toco no seu braço.
— Eu não vim aqui só para descobrir o que almejava conversar... Eu
até queria esperar para te dizer isso, mas sinto que precisava adiantar o
quanto antes. Não vou aguentar.
— Adiantar o quê?
— Como deve saber, eu sou um completo fodido, que está tentando se
regenerar pela primeira vez. Só que para eu conseguir, terei que apagar meu
passado. Colocar tudo em jogo, inclusive a minha vida.
— Sua vida? — Meu coração acelera.
Felipe percebe e aproxima-se do meu rosto assustado, arregalado.
— Eu farei uma missão amanhã. Vou atrás dessas pessoas que me
ameaçam. É meu destino, não posso fugir. Tentei adiar, porém, chegou o
grande dia do afronte.
— Por que não me deixa te ajudar? Me conta do seu passado, desses
seus erros. Dessas pessoas que te...
— Eloíse... — Ele rapidamente segura a minha face com mais
possessividade. — Você já está me ajudando. Apenas existindo, respirando,
me deixando sentir seus lábios, seu corpo, seu cheiro. Ouvir a sua voz. Eu
sou louco por você. Eu quero ficar ao seu lado.
— Então fique! Não precisa pôr a sua vida em risco para isso!
— Eu tenho!
— Não, não tem! Eu não quero que faça missão nenhuma para
morrer!
— Porra! — Felipe me solta, furioso. — Está sendo incompreensível!
— Ah, mas eu estou sendo é muito compreensível. E seria mais ainda
se você se abrisse! O que esconde? Diga?
— Eu estou fazendo isso por nós dois. Se eu não fizer, eles podem te
descobrir. Fernando colocou seguranças na redondeza da pensão. Também
terá um motorista treinado para te levar no serviço e onde desejar.
— Eu não quero segurança nenhum! E não mude de assunto! Seja
sincero!
Irritado, Felipe fica em silêncio, engata a primeira macha, tira o pé da
embreagem e acelera pelo estacionamento até a saída. Eu me calo, furiosa,
tremendo de raiva por ele fugir do assunto, me deixar no vácuo... e por não
confiar seu passado a mim. A sua história!
— Eu não quero que fique chateada.
— Chateada? Eu estou furiosa!
— Droga, eu não deveria ter ouvido o Fernando. Eu não deveria ter te
contado nada sobre amanhã!
— O que não faria muita diferença, afinal, não confia em mim. Se
morrer, morreu, né?!
Ele bufa, atravessando o sinal vermelho em velocidade.
— E o que pensou? Que eu ficaria feliz em ouvir você dizer que vai
arriscar a sua vida por algo que não me revela a verdade? Saiba que eu me
importo... que eu não quero ficar sem você...
— Eloíse, já...
— Se for para abrir a boca, que seja para ser sincero!
E ele não abre. Covarde! Ao chegar na calçada da pensão, abraço a
minha bolsa e tento abrir a porta para descer. Só que ele a tranca.
— Abra! E pode ir embora com meu carro!
— Porra, não vou te deixar sair daqui nervosa. Me ouça.
— Eu já te ouvi. O que tem mais para me dizer? — Quase chorando,
com os olhos embargados, encaro-o. — Que vai arriscar mais a sua vida?!
— Que eu amo você, loirinha.
Eu paraliso, abraçando mais forte a alça da bolsa.
— Dizer isso me deixa cada vez mais livre, meu coração se alivia.
Sem evitar, as lágrimas que me cegavam, finalmente se rendem. Eu
choro. Ele me puxa para me abraçar e beijar meus cabelos.
— Não vou detalhar o que farei amanhã, no entanto, prometo voltar o
mais cedo possível para você.
— E se não voltar?
— Eu voltarei... — Sinto a garganta do Felipe soar baixa.
— Me prometa que... que se voltar, contará tudo? — O "se" me doí
como uma adaga no peito.
— Eu contarei, Eloíse. Prometo.
Ele toma meus lábios para os dele, beijando-me apaixonado, caloroso.
— Felipe... — Afasto sua boca, fitando-o ofegante, emocionada. —
Eu também te amo.
Ele sorri, retornando a me beijar.
****

Eu levo Eloíse para o quarto. E dou o amor mais marcante que um dia
eu pude dar a alguém — a mulher da minha vida. Eu não paro por um
segundo de saboreá-la. Desenho e redesenho seu corpo milhares de vezes
com a boca. Levo-a ao céu sem sair do chão. Eloíse é minha. Estar dentro do
seu corpo me torna único, um sortudo. Eu a amo de verdade. E agora que
entendo esse sentimento, eu morreria para não a perder.
Eu queria permanecer a madrugada inteira no calor dos seus lençóis,
das suas pernas entrelaçadas, escutando o som da sua respiração tranquila
enquanto dorme. No entanto, eu necessito de "finalizar" esses franceses. Com
eles atrás de mim, me faz me sentir um lixo, um assassino. Sei que Eloíse
ficará brava ou triste quando levantar e não me ver ao seu lado. Mas não
tenho escolha.
Eu saio da pensão e vou para o meu AP, em seguida, para a empresa
me encontrar com a equipe.
— Bom dia, Felipe!
03 para na minha lateral, dentro da gigantesca garagem de carros
pretos da agência. Já estamos prontos. Temos cinco homens com seus
uniformes, fuzis e armas de fogo. Eu apenas aguardo o Murilo e o Fernando
voltarem do escritório com a equipe Força.
— Bom dia!
— Murilo conseguiu mudar? — Ele questiona, sério.
Pela primeira vez, eu não estou com o clima para graças e piadas. Eu
queria adiar este dia o mais longe possível. Não nego sentir insegurança. Que
porra!
— Sim, não vai ser na favela. Vamos pegar os franceses numa mata
de estrada aberta, onde é transportado as drogas que comerciam.
— E vai dispensar o garoto?
— Não. Eu fiz um acordo com o Otávio. Além de ser algo que eu
prometi a outra pessoa — a minha loirinha. — O plano apenas mudou. E o
qual nunca o incluiu.
— Felipe, porra, cadê suas roupas comuns? — Interrompendo-nos,
Fernando surge acompanhado do Murilo e com mais quatro agentes,
questionando-me ao se aproximar rápido e uniformizado.
— Não há necessidade de roupas comuns.
— É pela sua segurança!
— Eu estou me sentindo muito seguro assim, bobão, não se preocupe.
E Murilo, cadê o ponto de escuta?
— A escuta é em formato de colar. Toma. — Ele me joga e eu coloco
no pescoço. — Também tem um rastreador para te acharmos.
— E aí, já trouxeram o caminhão?
— Sim. É um caminhão de esterco. Está lá fora, atrás do segundo
portão da agência.
— Ha-ha, muito engraçadinho os travecos!
— Ele não está acreditando — Murilo bate no braço do 03, rindo. —
É o mesmo transporte que os traficantes vão estar dirigindo.
— Que filhos da puta.
— Vamos logo. Todas as equipes já estão postas conforme manda a
ação. E segue o plano conforme manda o seu roteiro, Felipe. Nada de agir
sozinho! — Fernando esbraveja, cerrando-me nos olhos. — Se fizer, te
castro!
— Isso eu não garanto, caso metam bala, revidarei!
— Bora! — 03 bate no peito, fazendo o sinal dos Garras.
— Boa sorte a nossa operação! — Fernando os observa.
— Boa sorte, homens!
Todos acompanhamos o sinal. Em seguida, eu pego a chave e viro as
costas, caminhando em direção ao caminhão azul, de merda. Eu entro, coloco
o boné, os óculos, ligo o veículo e saio devagar até a BR, sentido São Paulo.
O melhor momento desta missão será o final! Em uma hora e meia de
estrada, eu recebo no rádio transceptor, pelo Fernando, a informação de que a
rua de terra branca que eu devo virar é na próxima. Assim eu faço, desta vez,
diminuindo a velocidade para visualizar a qualquer instante um segundo
transporte de esterco de boi.
Pelas minhas contas, quem vai estar manobrando a carga de drogas é
um dos filhos franceses do chefão do morro. Se estivermos certos, o plano é
sequestrá-lo em troca das tais provas que os desgraçados garantem ter contra
mim — tudo por vingança. Eles jamais vão me deixar em paz. Não enquanto
eu não morrer, ou assumir o crime que eu não me lembro de ter cometido. Eu
não me lembro de nada daquela noite. Porra. E isso está me matando a cerca
de dez anos! Eu me sinto um lixo!
Em meio aos devaneios perturbados, noto um caminhão preto, de
carroceria aberta, vindo em alta velocidade, do outro lado da minha
contramão.
— Cambio, Fernando na escuta?
— Câmbio, na escuta — o som chia.
— Suspeitos em vista. Automóvel preto. Confirma operação?
— Confirma. Tem sete minutos até chegarmos. Câmbio. Não deixe
que te reconheça, Felipe.
Não tenho tempo de respondê-lo, pois ao imediatamente notar a
chegada do transporte, eu jogo meu caminhão em cima deles. Na direção do
capô. O estrondo da batida faz com que parem instantâneos. E assim que as
coisas se acalmam, eu desligo o veículo, escondo a arma e desço ligeiro.
— Tu tá louco, seu porra? — Um homem gordo fecha a porta e vem
furioso até mim.
— O caminhão perdeu o freio. — Disfarço a voz.
— E precisou jogar essa merda em cima do meu?
Outro cara, o meu alvo, desce também. Ela para junto do comparsa.
Grande dia para a ocasião ficar tão fácil.
— Antes de começarmos a diversão, quem aqui tem seguro de vida?
— O que está dizendo?
— Não podemos parar, Levi. Vamos embora logo, caralho!
— Pra que tanta pressa? Vamos brincar de faroeste.
Eu, então, tiro duas armas da cintura e miro neles. Eles se assustam,
tentam pegar as suas, todavia, eu disparo bem perto dos dois. Balançando o
semblante.
— Não mesmo! Um passo e o próximo aperto no gatilho é na direção
das suas cabeças!
— Quem é você? Veio roubar a nossa carga, hein? FALA!
— Joguem as suas armas no chão! Andem!
Os dois se entreolham, enraivecidos, em seguida, jogam o armamento.
Eu ouço som de freadas de carros. Fernando e os outros homens descem com
os fuzis, correndo em torno deles.
— Operação bem-sucedida, senhor! — 03 declara.
— Mão na cabeça! — Fernando chega por trás, chutando as pernas
deles e fazendo com que se ajoelhem.
Eu abaixo as armas, indo até os dois merdas. Arranco o boné e os
óculos. Saulo, o filho do chefão francês, me observa. Talvez me reconheça,
sim ou não. E tanto faz, são mais de dez anos!
— Para onde levavam o transporte das drogas? — Questiono-o.
— Não te interessa!
Sem paciência, Fernando chuta a bunda dele e agarra o cabelo do
Saulo, mirando o cano no seu ouvido.
— Se tivemos que perguntar de novo, eu meto esse cano no seu rabo!
Francesinho de bosta! Responda!
— Vocês sabem quem eu sou. A carga é para o morro do francês.
— É o um dos filhos dele?
— Sim.
— Pega o celular, Fernando. — Peço e ele revista os bolsos, achando
o aparelho. — Tem o número do chefão aqui?
— É loucura tentar falar com ele. O francês matará todos vocês!
— Queremos que ele venha ao nosso encontro. Temos o filho e a sua
carga milionária. Um grande prejuízo, não acha? — Sou sarcástico. — Ligue
para informá-lo agora!
Jogo o celular diante dos seus joelhos e ele me fuzila.
— E diga para o seu pai que quem o apreendeu, foi o Felipe Alencar,
Filho de Antônio!
Capítulo 43

Assim que eu digo meu nome, Saulo quase se levanta para avançar
sobre mim. Porém, Fernando segura seus pulsos e o algema. Os outros
agentes, imediatamente, apontam os canos dos fuzis.
— Você é um assassino que merecia estar morto!
— E vocês franceses uma cambada de traficantes que mereciam estar
na cadeia. Bandidos!
— É você quem vai para a cadeia, seu assassino!
Sem evitar, furioso, eu dou um pulo e soco o queixo dele com toda a
violência do meu braço. Ele quase cai para trás.
— EU NÃO SOU UM ASSASSINO! FILHO DA PUTA!
— Murilo, 03, tirem Felipe daqui! Andem!
No momento em que eu vou puxar a arma, 03 agarra meu braço e
Murilo o outro, arrastando-me a força pelo chão de terra.
— Porra, está louco, Felipe?!
— Me soltem! — Afasto-os, recompondo-me, enfurecido.
— Se controla!
Eu paro sobre o olhar dos dois putos e aguardo o Fernando resolver a
questão do telefonema.
****
Eu sei que eu não deveria me sentir assim. Que droga! Porém, eu me
sinto. Acordar e não ver o Felipe ao meu lado na cama me deixou
decepcionada, traída de confiança, com medo. A nossa noite foi única, sem
palavras para tanto amor. Ele é o homem da minha vida. Criar a ideia de
nunca mais tê-lo, senti-lo, me dilacera a alma. Por isso, eu estou me
perguntando sem cessar: e se ele não voltar como me prometeu? E... e se ele
realmente estiver colocando-se em risco? Que erros, que pecados são esses
que não pode confiar em mim para confessá-los?
São tantos pensamentos, tantas questões. O nervosismo, a ansiedade
por notícias do Felipe, que eu não suportei. A minha cabeça rodou. Eu senti
uma leve impressão de que estava caindo de costas e fechei os olhos,
desmaiando num vasto escuro.
— Elozinha, por favor...
— Eloíse?
— Eloíse, fale conosco!
Clara e Gui apoiam a minha cabeça. Ela toca no meu rosto, em
seguida, sente meu pulso. Eu abro a visão ampla, encarando suas feições
borradas de preocupação. Inclusive a do Oliver.
— Aí, graças a Deus. Você acordou!
— O que foi, Eloíse?
Eu me ergo tonta, sentando-me no chão com eles.
— Minha cabeça... não sei — coloco a mão um pouco acima da nuca.
— Você desmaiou enquanto fotografava. — Oliver explica.
— E com certeza, bateu a cabeça no chão. Está doendo?
— Sim — respondo. — Eu senti uma tontura e de repente caí. Não
suportei mais o peso das pernas.
— Vamos adiar as fotos para amanhã. E você se recupera.
— Mas, Cla...
— E sem contestar, Eloíse. É pela sua saúde. Está fraca, abatida. Não
vou deixar que continue trabalhando.
— Também nos parece estranha, meio nervosa.
— Eu concordo com a Collins — Oliver comenta. — É sem
problemas se deixarmos para amanhã. Vem, tente se levantar.
Com o carinho e a ajuda deles, eu me levanto devagar.
— Obrigada, vocês são as melhores pessoas. Fico com vergonha de
adiarem as últimas fotos do catálogo por minha culpa. Mas realmente eu não
estou muito bem.
— Deveria ter nos avisado antes. Eu jamais deixaria que você
trabalhasse doente. Não é a sua culpa se sentir indisposta. — Clara me dá um
abraço. — Agora se troque e suba para o meu escritório. Gui vai ajudá-la.
Aguardo vocês lá em cima.
Eu sorrio, agradecida por ter o apoio e a amizade da Clara na minha
trajetória. Serei uma eterna admiradora.
— Tudo bem?
Após me trocar, e assim que eu saio do provador, Gui pega o vestido
com cuidado e eu o acompanho.
— Sim, já me sinto muito melhor. Agradeço a ajuda.
Eu também me despeço do Oliver, pedindo mil desculpas. Ele
demonstra preocupação e diz ser uma ofensa a ele, eu pedir desculpas por
estar indisposta e passando mal. Então antes de ir, eu dou um beijo na
bochecha dele como amigos e afasto-me ao lado do Guilherme.
— Prometo não fazer comentários sobre aquele beijinho fofo. Só por
você não estar bem hoje. Ok?
Gui pisca. Eu pego no seu braço, rindo sem-graça. Na sala da Clara,
eu me sento, ainda com certa dor longínqua na cabeça.
— Melhor? — Ela pergunta.
— Sim, obrigada. Acho que só foi uma queda de pressão.
— Tem certeza? Estou te sentindo estranha desde manhãzinha. Com
os pensamentos longes, triste.
— Isso é verdade, Elô. Um pé na terra, outro na lua.
— Tem algo que está te afligindo?
— Serei sincera com vocês, tem sim.
— Tem a ver com o Felipe? — Ela se levanta.
Indiferente, eu franzo o cenho para ela. Certamente a Clara deve saber
onde o Felipe se meteu. Afinal, seu marido é o Fernando e ele não deixaria
que seu irmão colocasse a própria vida em risco.
— Tem sim, Clara. Eu queria te...
— Elô... você está grávida?
No instante em que eu sou interrompida pelo questionamento, eu
arregalo os olhos e caio de encontro ao encosto do assento, em choque.
Guilherme pisca sem parar, pasmo.
— O-o quê? Como? Não!
— Não? — Desta vez, é ela quem fica espantada. — Certeza?
— E-eu, eu não estou! É claro que eu não estou! — Eu paro, fixada na
mesa.
Oh, meu Deus, o desmaio.
— Não, não posso estar...
— Elô...
Uma lágrima escorre. Olho-a amedrontada.
— Não estou...
— Desculpa... você não tinha parado para desconfiar disso, né? — Eu
nego. — Sinto muito por ter te perguntado assim, bruscamente. Só que está
estranha, desde a nossa última prova dos vestidos com o Thales e a Maya,
todos eles haviam ficado perfeitos no seu corpo. E hoje disse que as peças
pareciam te sufocar de tão apertadas. Tivemos que afrouxá-las. E em súbito,
desmaia... Serei invasiva. Esse é o primeiro desmaio? Ou notou outros
sintomas?
— Não, é o segundo desmaio. E eu já senti muitos enjoos... t-tudo que
eu como... — desabo a chorar, colocando a mão no rosto. — Eu não posso
estar grávida, clara, eu não posso.
— Ei, Elô, isso não é ruim. — Clara me abraça. Gui beija meus
cabelos.
— Fique calma, bonequinha.
— Sua menstruação, ela...
— Eu não tive! — exclamo apavorada. — Eu estou atrasada há três
semanas. Só que não apontei como uma possível gravidez. Às vezes,
atrasamos. Você sabe que é normal, Clara, você sabe.
— Eu sei, respire. Suas mãos estão tremendo. Não fique nervosa.
— Eu não quero estar grávida. Ter um filho... não, não agora. Eu não
posso!
— Não é certeza — Gui sussurra. Já a Collins, fica quieta.
— E os enjoos, as tonturas, os desmaios? A vontade de comer as
coisas como uma louca? — choro. — Eu não me lembro de ter ficado
nenhum dia sem tomar o anticoncepcional. As marcações na cartela estão
certinhas.
— Acredite, essa foi a primeira questão que eu perguntei ao médico,
quando fiquei grávida dos gêmeos. E as respostas são diversas. A começar
pela troca do método contraceptivo e não usar preservativos nas primeiras
semanas, vomitar após tomar a pílula, digerir em horários incorretos etc.
— Eu não sei o que houve, não me lembro do que fiz, se tomei em
horários errados. Não sei.
— Se acalme. Se estiver, isso não é ruim, acredite.
— Não é ruim, tendo o Felipe na mesma frase?
— É isso que está te apavorando, então? — Gui pergunta.
— Sim, é a minha carreira, o fim dos meus sonhos, o medo do Felipe
e aquele seu jeito de ser, todo imprevisível.
— Meu Deus, relaxe. Você o tornará o homem mais feliz desse
mundo. Ele te ama. E não é o fim dos seus sonhos. É o começo de um, com
um serzinho pequeno e de possíveis olhinhos azuis ou castanhos. Ah, e a sua
carreira apenas estará em pausa. Além de eu ter evidências de que a agência
Volumbre vai te roubar de mim para te fotografar de barrigão.
— O que diz até parece um conto de fadas. Eu não acredito. Eu estou
com medo. O único filme que se passa na minha cabeça neste instante é do
Felipe não voltando.
— Como assim?
— Por favor, Clara, diga que você sabe o que aquele homem foi
fazer? E o que possivelmente colocaria a vida dele em risco? Por favor? Você
é esposa do Fernando. Ele deve ter te contado. Diga?
Clara se afasta, assustada, com a mão no peito, como que se pensando
em algo aterrorizante. E sua reação só me deixa mais temorosa.
Capítulo 44

— O encontro foi marcado? — Quando Fernando retorna, eu o


questiono, nervoso.
— Essa é a porra da questão. Quem conversou com o meliante foi
outro capanga. E esse capanga disse que entraria em contato a qualquer
momento por este celular. — Sem paciência, ele me joga o celular. — Fique
atento! E Murilo, grampeie o aparelho! 03, faça a troca dos caminhões, em
seguida, apreenda os dois indivíduos! Temos que manter o filho do francês
sobre a nossa vigilância!
— Sim, senhor, com licença!
— Eu queria resolver isso hoje!
— Morrer hoje, você quis dizer? — Fernando é irônico. — Esses
traficantes te desejam morto!
— E se invadir a residência do chefão, considere suicídio.
Em outra ocasião, eu pouco me importaria em colocar a minha vida
em risco. Este seria o exato momento em que eu correria atrás daqueles
bostas e fuzilaria cada um a sangue frio. Porém, Eloíse... a sua voz, seu rosto
vermelho, molhado de lágrimas... nada sai dos meus pensamentos. Eu não
quero deixá-la, nem a entristecer ao ponto de sofrer por minha culpa. O que
eu quero é ver o rosto da minha loirinha até o último fôlego de existência.
— Vamos embora, Felipe!
Eu saio, quieto, calado, indo até o carro preto dos garras. E para a
minha surpresa, antes de ligar o veículo, Fernando surge abrindo a porta e
sentando-se ao fechá-la forte.
— Não vai com o 03 no caminhão? — Sou desprezível.
— Você precisa conversar. E por uma hora e meia, eu faço esse favor.
— Não quero conversar!
— Não perguntei. Cala a boca, bastardo. E dá partida!
Furioso com o Fernando, eu vou só até o fim da estrada de chão sem
abrir a boca. Pois, na rodovia de asfalto, eu sou obrigado a bater no volante e
xingar esse estrume!
— Você é um filho da puta! Eu queria ir hoje atrás do francês!
— Já repetiu isso milhares de vezes. E você iria. É um teimoso,
rebelde, imprevisível, que só pararia com um tiro encravado no rabo. Mas a
verdade é que não foi eu quem te segurou.
Observo-o, em seguida, a estrada. Ele tem razão.
— Pegue a arma, seria uma ótima hora para você estourar a minha
cabeça. Pois ontem, prometi a ela que se eu voltasse vivo da missão, revelaria
tudo do meu passado.
Fernando fica em silêncio, entendendo o medo que me aflige.
— Ela confiará em você.
— E se não?
— Eu acredito na sua inocência. E não é só por ser o delinquente-
mimado do meu irmão mais novo. É por saber de olhos fechados que não
seria capaz daquela barbaridade. Seus crimes jamais passariam de comer
piranha de bandido. E de um louco por jogos de racha.
— Não sei se será tão simples. Você acredita em mim, porque
realmente me conhece.
— Nada que envolva mulheres, é simples, Felipe. Elas todas são um
enigma.
— Meu enigma loiro pode me chamar de monstro... ou me tacar um
salto nas costas.
— Vai ter que arriscar. Seja sincero, tente se abrir com ela.
— Claro, depois de um sexo selvagem, talvez eu tente me "abrir".
Irritado, Fernando pega a arma e mira no meio das minhas coxas.
Cuzão do inferno!
— Você não é nem louco!
— Eu não estou de zoeira. Se continuar escondendo os seus
sentimentos, você vai perder aquela mulher. E se ela te suportou até agora,
ela vai ser compreensível! Entendeu, ou prefere que eu deixe um buraco no
meio da sua perna para se lembrar de que é um orgulhoso, crianção?
— Você é um arrombado. Tire essa arma do meu pau!
Ele tira e eu o soco.
— Ontem, eu fiz o que me aconselhou, e ela não compreendeu porra
nenhuma! Quase brigamos!
— O negócio é arriscar, seu puto. Já disse. Não tem como fugir. Não
pode esconder-se dela e nem afastá-la. Se agir sozinho com os seus
tormentos, vai morrer igual a um velho solitário. Sem ninguém!
— Eu sei... só queria manter a Galvani sem meus tormentos.
— Você tem é medo. É um covarde.
— Cala a boca, seu bosta! Eu não sou um covarde, eu só não quero
perder a Eloíse! Não quero o julgamento de quem está me mudando! Se
ponha no meu lugar, coloque a Clara na posição dela!
Fernando não responde, pois eu sei que a resposta dele será a mesma
de sempre: "arrisque", "seja sincero", "abra os seus sentimentos". Um
caralho! Eu não vou perdê-la!
Ao chegarmos na agência, eu mal tenho tempo de entrar no meu
escritório e de tomar um copo de água, pois 03 vem atrás de mim, conversar
sobre o meu servicinho de hoje à noite.
— Não pode ir sozinho, Felipe. Está louco? E se matar o cara?
— Eu não vou matar ele! Se bem que eu queria... mas não vou!
Pretendo só deixar as coisas bem claras!
— Terei que te acompanhar. E não vou como um garra. Irei como o
seu amigo.
— Quis dizer babá, ou minha ex-putinha?
03 me fuzila e eu o fuzilo mais autoritário ainda.
— Você não vai, Heitor!
— Será sua decisão!
— Que seja, seu porra. Esqueceu que quem age com a cabeça quente
é o Fernando?
— Fernando nunca foi delinquente. Já você, não tem medo de perder
a vida. Faz as coisas como se fosse um adolescente sem limites.
Eu cruzo os braços, arqueando a sobrancelha.
— Vai acreditar mim se eu disser que estou pensando mais na vida?
— Como o seu amigo de anos, eu digo que só acredito vendo!
— Filho da puta! Você já viu!
— Não me lembro... ela é loira?
— Ela não é para o seu bico! Tá reparando demais! Tire os cabelos da
minha loira dos seus pensamentos!
03 coloca a mão na cintura, rindo.
— Não. O meu negócio é mais as morenas de cabelos compridos. —
Ele mexe o queixo de barba grande.
— Humm... o negócio tá sério. 03, o gêmeo fera do Fernando achou
alguém para dividir as escovas de dentes. Mas, vem cá, me tire uma dúvida,
sua morena de cabelos compridos é fêmea ou macho?
— É dois socos nessa sua fuça de palhaço. Vai se foder, Felipe!
Eu gargalho, satisfeito por ter deixado a minha ex-putinha irritada.
****

Clara não me disse nada. Sua reação foi de súbito choque. Mesmo
assim, não explicou o motivo desse súbito. Minha cabeça dói, minhas mãos
tremem. Eu estou assombrada, ansiosa. Reproduzo milhares de perguntas
como um filme de terror sem fim.
— Ele não está atendendo — Clara comenta, jogando o celular em
cima da mesa. — Fernando me enganou! Não explicou nada sobre missão
nenhuma!
— Felipe não disse que o irmão estava fazendo parte. Na verdade, ele
só contou que arriscaria a vida nessa missão.
— Fique calma, Elô. Eu vou pegar um pouco de suco natural para
você. — Gui se levanta. — Aceita também, patroa?
— Não, obrigada, Guilherme.
Enquanto o Gui pega o suco no frigobar, Clara vem até mim.
— Elô, vamos deixar as fotos para semana que vem. Eu gostaria de
marcar um médico para você amanhã. É importante. Só assim poderá
descobrir se está grávida.
— E se eu estiver, Clara? Como eu vou contar para o Felipe? Tudo
indica esse fato. Eu fui tão burra de não ter notado os sintomas antes. Estava
confiante no anticoncepcional.
— Tem que ficar consciente. Eu já passei pelo que você está
passando. E acredite, o Fernando é muito mais complicado do que o Felipe.
Eles parecem dois ogros musculosos, prontos para arrancar seus ossos da
pele. Contudo, no fundo, não passam de dois bobões apaixonados, que amam
incondicionalmente as suas "presas" e as suas "crias". E Felipe te ama. — Ela
segura a minha mão gelada. — Eu não quero que pense bobagens, por favor.
Uma criança é uma benção. Você vai gerar um serzinho cheio de amor. E que
vai te encher de alegria. Confia em mim.
— Eu sei. Só tenho que ter certeza. Só assim poderei administrar a
situação com mais calma.
— Ok. Então posso marcar um médico para você? Ele é de confiança.
Me consulto nesse ginecologista há mais de oito anos. Ele vai te ajudar.
— Tudo bem. E obrigada, Clara.
— Por nada. Vai dar tudo certo — ela me abraça com ternura. — Vou
pedir para o motorista te levar em casa.
— Não precisa, o Felipe já me disponibilizou um sem eu pedir. É para
a minha segurança.
Ela sorri de lado, enquanto Guilherme volta me entregando o suco de
uva.
Mais tarde, um pouco mais consciente do meu estado emocional, eu
vou embora. Collins prometeu que, ao sinal de qualquer notícia, ela me
avisaria e pediu para eu fazer o mesmo. Estou contando com o retorno do
Felipe esta noite. Sinto-me aflita. E se ele estiver realmente colocando a sua
vida em risco? Não posso nem pensar. Eu amo aquele homem. E se me
decepcionar... ficarei dilacerada.
Eu tomo um banho e passo o restante do dia procurando apartamentos
na internet. Só que não consigo focar... uma hora ou outra eu toco na minha
barriga... aterrorizada com a possibilidade de estar esperando um filho do
Felipe.
— Mas eu me sinto grávida... — Eu abandono o notebook e caio em
lágrimas, olhando para o meu reflexo no espelho da parede, perto da poltrona.
O meu abismo é de o Felipe não voltar. E se voltar, ele não aceitar o
filho. E se eu tiver que desistir dos meus sonhos? É por isso que não é o
momento certo de eu estar grávida. Eu não posso voltar a dar aula para ter
sustento. Essa fase das modelagens é tudo o que eu sempre desejei e lutei
para conquistar. Clara foi um anjo na minha vida. Não aceito perder as
oportunidades. Logo agora.
Deito-me na cama e penso em comprar o teste de gravidez, porém...
eu sou uma covarde, uma grande medrosa. Prefiro a incerteza do que a
certeza.
À noite, desço para "jantar" — mesmo quase tudo me embrulhando o
estômago —, retorno, escovo os dentes, penteio os cabelos, visto uma
camisola e aguardo o Felipe. Ele prometeu que voltaria para mim. Para
esclarecer todo o seu passado. E eu não vou dormir. Não enquanto ele não
aparecer nesta pensão e me esclarecer tintim por tintim. Ansiosa, eu visto o
robe e vou até a sala dos hóspedes outra vez, averiguar o movimento da rua
pelas longas janelas. São 22h40. Não é justo ele fazer isso comigo. Eu estou
enlouquecendo de preocupação. Não recebi nenhum telefonema para acalmar
meus nervos.
Às 00h55, indignada de ficar esperando igual a uma besta sentada no
sofá, eu apenas deixo a porta dos fundos meio entreaberta e subo, com o
coração triste. Só espero que não tenha acontecido nada grave. Pois eu não
acredito que pela primeira vez... ele vai descumprir uma promessa e me
decepcionar desta forma, provando que nunca confiou em mim.
Por favor, Felipe. Eu ainda tenho esperanças...
Capítulo 45

Mesmo eu teimando que não, no final, o porra do 03 veio atrás de


mim. O plano é pegar o frango dentro de casa. Estamos o aguardando na
cozinha. Eu até fiz um cafezinho na cafeteira. O forno está aquecendo. Nosso
jantar é galinhada assada com farinha. E já sabem o ingrediente principal que
falta, né?
— Aceita um café, meu caro Heitor?
— Você é um sem noção, Felipe!
— Eu sei que você gosta de bem forte e grosso — eu sorrio maligno e
malicioso. 03 não deixa barato e chuta irritado a minha perna. Cuzão! —
Filho de uma mãe mal agradecida. Eu estou sendo educado!
— Já te mandei a merda hoje?
— Só duas vezes. Vai querer o caf... — De repente, um barulho de
chave abrindo a maçaneta da porta da sala nos faz pegar a arma e ficar em
alerta.
Eu faço um sinal para o 03 sair de visão e eu permaneço esperando ao
lado da mesa de jantar. Quando o Mariano surge, ele para em choque,
arregala um pouco dos olhos e ao notar que está F-0-D-I-D-O, engole em
seco!
— Bom dia, princesa.
— O que faz na minha casa, seu bosta? Isso é violação de domicílio!
— Olha só, violação do quê? Eu chamaria de futuro assassinato com
intenção de matar... Brincadeirinha. — Pego a minha arma e aponto para ele.
— Vi que tem facas, que tal começarmos o jantar?
— Felipe, cala a boca! — 03 volta a aparecer.
Mariano dá um passo para trás.
— Não estraga o clima. E mais um passo seu e eu destroço a sua
coxa! — Aproximo-me dele. Desta vez, com o olhar fatal. — Sente-se no
caralho desta cadeira!
Pego a cadeira, jogo para o resto de aborto e ele não abaixa a guarda.
Ótimo! Eu miro a arma de novo!
— Eu não lembro de ter falado em grego! Quer que eu soletre?
— Desgraçado!
Agora, sim, a bonita se senta. Boa menina.
— Vamos ao que me interessa. — Eu ligo a tempo do fogão e o
encaro. — Quero que repita o que ameaçou para a Eloíse.
— Não é da sua conta, seu bandido!
— Por favor, 03, faça as honras de segurar o nosso frango.
— Vocês não vão encostar em mim, se tentar, eu mato! Sou faixa
preta em judô!
— Você escutou isso? — Eu sorrio sem humor. — E o bandido aqui é
formado em atirador de precisão... ex-agente da federal. Com militância
federada de 26 anos de JIU-JITSU. E mérito por competência de VII (sétimo)
grau. Esqueci alguma coisa? Ah, espera, praticante de boxe no mesmo
período. Preceptor e instrutor de luta numa das melhores agencias de
segurança do brasil. Sem me gabar, mas ficaríamos a noite toda aqui.
Esse borrão na calça dele é merda?
— Também apresento o nosso ex-lutador de boxe profissional e ex-
policial civil, 03. Garanto que, no primeiro golpe, teria que aguardar um
transplante de coração.
03, como um belo amigo, dá a inciativa de segurar o nosso frango
pelo pescoço.
— Me solta!
— Já fomos apresentados. Agora repita comigo... — Eu pego a mão
dele à força e aproximo do calor do fogo. — Eu... Mariano cagão de Freitas...
Ele não repete. Eu não queria fazer isso, só que serei obrigado. Eu,
então, coloco o dedinho dele no fogo e ele agoniza de dor.
— Aaaaah!
— Repita! Anda! — Retiro-a. — [...] nunca mais...
— E-eu... Mariano... — Ele cospe em mim e eu bato na sua cara.
— Continua, seu filho da puta!
— Eu... Mariano cagão de Freitas... — seus dentes rangem. — Nunca
mais...
— [...] nunca mais vou me aproximar e nem ameaçar a Eloíse!
— [...] nunca mais vou me aproximar...
— Abre essa boca!
— [...] E NEM AMEAÇAR A ELOÍSE! — Esbraveja.
— Entendido? — Isso ele não precisa repetir. — Eu sei que o seu
plano era de se casar em poder de interesse. Não voltará a cruzar a esquina
daquela pensão!
— Você deveria era estar fazendo isso com a puta da Roberta! Ela
quem armou tudo para tirar a herança da filha! Ela quem me convenceu a
conquistar Eloíse! E nem foi difícil, aquela mulher é linda!
— Cala a boca! Foi vocês dois! — Eu soco o queixo dele.
— Você apareceu para estragar a nossa reconciliação — murmura,
sangrando. — Eu e a Eloíse seriamos felizes juntos.
— Quando eu estiver na cama com a minha loira, eu lembrarei desse
seu comentário, não se preocupe. Só para ver aqueles lábios macios
gargalhando da piada. Ela fica mais linda quando debocha.
A noite é sem maiores delongas, meu recado fica dado e bem
marcado. Se o frango voltar a ameaçar a minha mulher, eu coloco ele, a
Roberta e o seu pai na cadeia. Ainda sobre a Roberta, planejarei alguma coisa
contra aquele vagabunda!
****

Deitada na cama e quase mergulhada em um sono profundo, eu


desperto num estalar dos dedos. Pois sinto um peso incômodo no colchão, um
calor humano e uma mão firme na minha cintura. Eu toco na pessoa... e
arregalo os olhos, despertando por definitivo e estendendo ligeiramente o
braço até o criado mudo, para ligar a luz do abajur. Felipe, em instantes,
tampa a cabeça com meu travesseiro, detestando a claridade, e eu explodo de
raiva.
— Seu canalha! Como você me aparece assim sem avisar? Me deixou
louca de preocupação o dia inteiro!
— Porra, jura que vai querer brigar uma hora dessa?
Eu bato nele.
— Felipe, seu filho... da mãe!
Ele afasta o travesseiro e revela a sua cara de cansado, louco de sono.
— Disse que faria uma missão de morte!
— E eu fiz... bom, metade. Não fui até o fim.
— Não foi até o fim?
— É, Eloíse, eu não fui atrás das pessoas que eu adoraria matar. Em
compensação, torturei seu ex-noivo. Agora eu posso voltar a dormir? — Ele
boceja. Até assim o homem é lindo.
— Você fez o que com o Mariano? Espero que não tenha cometido
nenhuma bobagem! E que bom que você desistiu de ir atrás da morte!
— Relaxa, tirando os nove dedos da mão dele, de resto, continua
intacto. E desliga essa luz, loira.
Eu desligo, voltando a me deitar indignada ao lado dele.
— Eu vou deixar você dormir. Mas saiba que hoje de manhã terá
muita coisa para me explicar. Você fez uma promessa!
— E eu detesto que as me cobrem!
É apenas isso que o Felipe proclama, nervoso. Pois, em seguida, me
deixa sozinha com meus pensamentos, angústias e um pouco de alívio por tê-
lo de volta. Felipe consegue dormir outra vez, enquanto eu encaro o vazio do
ambiente silencioso e triste. Agora que eu tenho ele e o calor do seu corpo...
eu só quero chorar. É tão imprevisível, solitário consigo mesmo. Se eu estiver
grávida, pode reagir como? Surtar? Fugir?
Eu viro de costas, borbulhando de mais e mais pensamentos. Também
não sei o que pode me esperar hoje de manhã. O medo de saber demais sobre
os seus erros, esses tais demônios é... apavorante — suspiro fundo. É medo.
Em meio aos delitos imaginários, eu durmo.
De manhãzinha, a claridade das janelas voltam a me acordar para o
"novo dia". Eu abro as pálpebras sonolentas, olhando para as paredes brancas
e os móveis organizados. Inclino o pescoço e Felipe já está despertado,
observando-me. Eu não digo nada. Volto a posição onde eu dormia,
pressionando o braço grosso dele com meu toque carinhoso. Ele me puxa,
para eu sentir o volume na sua calça jeans. Surpresa, reajo com arrepios. Que
ousado...
— Você vai trabalhar? — Ele pergunta em sussurro.
— Não sei. Tenho que ligar para a Collins e perguntá-la.
— Hum. — Felipe me abraça, beijando-me as costas. — Como você
está?
— O quê? — Recebo uma eletricidade de susto no corpo.
— A sua mãe, Eloíse. Em relação ao que ela te disse anteontem?
— A-ah, tá, sim — me alívio. — Ainda não tive tempo de sofrer
direito por isso. Estava mais preocupada com você!
Felipe sabe o que eu almejo. O que eu esperei ontem o dia todo. E
para mudar de assunto, tenho plena certeza, ele inclina o tronco, levantando-
se do canto após a minha alfinetada.
— Eu não fui em casa. — Ele tira a camisa (viu, mudando de
assunto). Todavia, pelo menos, me faz analisar seu peitoral definido.
Felipe tem algumas cicatrizes bem pouco perceptíveis. Seu peitoral é
desprovido de pelos, seus ombros são largos, os bíceps é de tirar o fôlego. Ele
é tão bonito, gostoso. Um Deuso.
— Gosta do que vê? — Omg... eu nem notei que estava mordendo o
lábio inferior.
O cretino sorri, pegando-me despercebida.
Nem fico sem graça. E para provocá-lo mais, eu ergo o pé e esfrego
na sua cara, descendo para os gomos da barriga. Ele me pega, me morde,
adiante, acaricia meu tornozelo, a batata da perna e as minhas coxas.
— Está proibido de atravessar o elástico da calcinha. — Eu o chuto de
leve, afastando o canalha delicioso.
— Sacanagem, sabe a última vez que transamos?
— Espera... hum... deixa eu ver... tirando hoje... um dia?
— Seria um século, princesa. — Ele volta a apertar as minhas coxas.
— Uma foda bem gostosa, que tal? — Eu rolo os olhos.
— Não! Já disse que está proibido!
— Caralho, não me faça cobrar irritado depois!
Felipe me larga enfurecido e se põe de pé, todo brutinho.
— E que porra, Eloíse. Eu prometi que iria te contar tudo. E vou!
Contudo, não aqui! Levanta e arruma-se, quero que me acompanhe.
— Para onde? — Eu ergo o corpo.
— Para um lugar onde eu possa desabafar direito com você.
Não contesto o "pedido" do Felipe. Se necessita de me levar para
outro lugar para poder desabafar, eu não ligo. Eu só quero que ele seja
sincero, que abra seu coração, seus sentimentos e me conte o que lhe aflige.
— Espera eu tomar um banho?
Oh, oh, talvez eu não devesse ter... perguntado.
— E precisa fazer essa droga de pergunta?
O olhar do homem na minha frente é de pura frustração e tesão. Me
dá uma "dó", que antes de eu sair, eu sou obrigada a ceder.
— O banheiro é pequeno, porém... cabe dois... — pisco, então viro de
costas, erguendo a camisola e revelando minha quase nudez.
Conto um... dois... três, e Felipe não demora a surgir por trás. E sem
saber o que fazer com a minha bunda. Onde colocar as mãos; se nos meus
seios, nos cabelos, no traseiro, na cintura, nas coxas, na virilha. Até que acha
certos lábios. Que fome... Ele afasta o tecido rendado e penetra-me dois
ferozes dedos. Eu grunho, estremecida, colocando a cabeça no seu peitoral
robusto.
— Vo-você não vai nem esperar a gente chegar na ducha? — Sorrio,
rebolando indiscreta na sua mão e esfregando no volume duro do seu
membro.
Juro que ele não conseguiu responder. Está tão cheio de tesão que, ao
chegar no banheiro, me taca na parede de azulejos brancos e me beija,
rasgando a calcinha sem maiores dificuldades.
— Felipe... o que fez? Eu vou querer outro conjunto de lingerie.
— No momento, eu só posso te dar um pau bem duro entre as pernas.
— O safado devora meu pescoço.
Eu aperto sua bunda redondinha e durinha, descendo a cueca cinza. O
pênis pula contra a minha pélvis e paro. Ele nota meu súbito evidente.
— Que foi?
— Eu... é... — Meu estomago se embrulha de nervoso. — Só faça
com calma... por favor.
Felipe franze o cenho.
— Tudo bem com você?
— Sim... só quero que faça com calma para eu senti-lo lento.
— Ok. Mas não dou nem cinco minutos para você começar a me
pedir a velocidade de um coelho!
Eu sorrio, abandonando a tensão do nervosismo.
— Seu safado...
— Minha loirinha gostosa...
Ele me suga a língua e apoia-se.
— Se não for muito incômodo, posso erguer a sua perna e fazer um
leve movimento de prazer?
— Pode?
Ele faz.
— Agora posso com um pouquinho de brutalidade entrar com todo o
carinho do mundo em você?
Eu sou obrigada a bater nele.
— Também não é tão lento assim seu palhaço! Enfia logo esse pau!
Capítulo 46

Assim que saímos do banho, eu me vesti e Felipe trocou a mesma


roupa. Ele disse que precisava passar no seu AP. E fomos sem o precioso
café da manhã — algo que me deixou quase tonta. Mas aproveitei, enquanto
ele se arrumava no quarto, para preparar algo comestível com o que eu achei
perdido na geladeira e nos armários da cozinha. Esse homem deveria fazer
uma compra urgente de alimentos saudáveis. Eu fiz ovos mexidos, bacon
frito na sanduicheira, café e torradas com geleia. Ficou uma delícia. Comi
faminta. Felipe igualmente não mediu elogios.
— Para onde vamos? — Enfim, no estacionamento, prontos para
entrar no veículo e irmos embora, eu o questiono curiosa, meio preocupada.
— É sem segredo, vamos numa área onde é só minha. É onde eu
malho, treino tiro, luta etc.
— Hum... e por que esse lugar específico?
— Não sei, acho que é por ser o espaço de descontar os problemas,
pensar na vida... Eu gosto de lá e gosto de você. É uma combinação maneira
— dá de ombros.
Que fofo... eu sorrio e o beijo, concordando. Então entro no carro, ele
fecha a porta e seguimos calados para o tal local. É numa área bem distante
da civilização, diria no mato. Ele vira em muitas ruas de chão longa — 25
min. E quando chega no seu destino, estacionando na frente do lugar, eu
observo ser num galpão fechado, de metal, todo da cor preta.
— É aqui?
— Sim. Vem...
Ele pega as chaves, sai do carro e aproxima-se, abrindo os dois
cadeados gigantes da porta enferrujada. Eu o acompanho, aguardando abri-
los. Assim que abre, puxa-me para dentro.
No interior, eu noto tudo ser bem grande e másculo, com uma
academia particular, sofás de cor negra, mesa de jogos, frigobar e um ringue
gigante de luta com um saco de pancadas pendurado ao meio. Um santuário
para ele, creio eu.
— Sinta-se à vontade.
— Acho difícil... — comento especuladora, caminhando até o centro
do piso batido e observando o ringue vermelho. — É a primeira vez que eu
vejo um desses de perto. É tão incrível.
— Você não disse isso quando meu viu nu.
Eu rolo os olhos, tentando não cair nas graças do engraçadinho.
— Me poupe, né! Felipe!
— Só estou descontraindo, loirinha. Quer experimentar?
— O quê? — Encaro-o. Ele aponta para o ringue e eu nego. — Não
mesmo!
— Eu te ensino alguns golpes para a sua segurança pessoal, o que
acha?
— Não sei. Eu não gosto de violência.
— Pode se defender caso a minha pessoa heroica não esteja por perto.
— Não...
— Pense em diversão. É gostoso descontar a raiva nesses sacos de
pancadas.
— Melhor não... — Dou de ombros, indo até ele. — Prefiro ter você
para descontar a minha raiva.
Felipe arqueia a sobrancelha, revoltado.
— Só tem cara de menina meiga. No fundo, é uma torturadora
maléfica. E além de torturadora, quer me bater!
Rindo, eu enrosco os braços no seu pescoço e ele segura a minha
cintura.
— Eu sou muito má, cuidado — beijo-o, em seguida, encaro seus
olhos castanhos, sexy.
Felipe alisa minha bochecha, um pouco estranho do que o normal.
Está apreensivo, agitado e inseguro.
— Eu jamais descumpri uma promessa. E não seria logo com você.
Mas agora... eu não sei como fazer isso, te contar do meu passado.
— Eu entendo que passado é passado. Tem que enxergar o presente e
o futuro. Hoje é um novo homem. Precisa superar esse histórico. E eu disse
que te ajudaria, esqueceu?
— Eu não acreditei que pudesse ajudar. De verdade, é por eu ser
meio...
— [...] orgulhoso e teimoso? — Complemento, acariciando sua barba.
— Talvez ignorante. — Felipe fica sério. — É a mulher mais linda
desse mundo, Eloíse. Tudo em você me deixa um louco obcecado pela
felicidade e pela mudança interior. Acho que nunca me senti assim antes. É
bom, é libertador. E sei que só vou continuar mudando, se você permanecer
ao meu lado.
Eu me emociono, pois, de uns dias para cá, estou chorando até pela
morte de uma pobre formiguinha pisada.
— Eu vou estar, Felipe. É desta forma que eu me sinto com você:
livre, apaixonada, feliz. E eu quero te compreender. Me deixe?
Ele me abraça, segurando a minha cabeça no seu peitoral forte e
cheiroso.
— Não quero saber a sua expressão. Continue assim. — Ele beija
meus cabelos e eu permaneço como pediu. — Não vou te enrolar. O que eu
tenho para dizer é que há dez anos, eu... eu fiz uma grande maldade. Que eu
não me lembro de ter a cometido. — Meu coração se aperta num profundo
medo. Felipe suspira e enfim, diz: — Acho que eu matei duas mulheres
esquartejadas num banheiro, Eloíse.
Eu arregalo os olhos... em choque, querendo me afastar para encará-lo
e acreditar que o que disse é mentira. Só que ele me mantém a todo custo
presa no seu peitoral.
****

Eloíse luta para afastar a cabeça, empurrando as minhas mãos com


força. E eu estou prestes a surtar de nervoso pela sua reação.
— Me solta, Felipe, por favor!
— Não...
— Me solta!
Suando de raiva, sem escolha, eu, enfim, a solto e desvio das suas íris
azuis.
— Me olhe! Me olhe agora!
Eu faço. Ela engole em seco, com o rosto já em lágrimas.
— Me conte tudo, desde o início. Eu disse que estaria disposta a te
ajudar e a te entender. E eu também tenho palavra!
Respiro fundo, consentindo mais calmo, e levo-a para se sentar no
sofá.
— Eu vou falar. Mas antes quero que saiba que os franceses que eu
vou citar daqui em diante é relacionado a traficantes.
Eloíse franze o cenho, surpresa.
— Você quis dizer a máfia francesa de drogas que vive aparecendo
nos jornais?
— Sim...
Ela não pergunta mais nada, fica quieta.
— Acontece que eu sou um louco apaixonado por armas. E aos 19
anos, eu já era um ótimo atirador de elite quando conheci o René, um dos
cinco filhos desses franceses. Nós dois nos conhecemos no clube de tiro em
que praticávamos. Nos tornamos grandes amigos. Nesse período, eu já sabia
que a família dele era de traficantes. E mesmo assim eu fui fazendo parte, até
aquele mundo me atrair completamente. E eu começar a desejar mais daquilo;
mais das mulheres fáceis, os prazeres das armas de nível militares. Eu virei
um maluco pelo mundo errado e sem leis. Os franceses me acolheram no
decorrer das minhas visitas na casa da família... inclusive a mãe e a filha do
chefão. Eram duas vadias que davam para o morro inteiro. O que não seria
diferente para mim. Eu chegava a ficar com as duas juntas.
— Foi alguém dessa máfia? — Eloíse é direta e esperta, entretanto eu
continuo a falar e a detalhar cada momento, como se eu necessitasse de
esclarecer até o motivo das pausas em minha voz.
— Se eu pudesse voltar a dez anos atrás, jamais teria me envolvido
com essa merda de família. — Observo a minha loira. — Foi numa sexta-
feira à noite, quando tudo aconteceu. Os quatro filhos homens já haviam
descoberto há um mês que eu estava transando com a sua mãe, exceto com a
sua irmã Tessa. Nesta noite, eu tinha saído com ela e com a mãe para uma
balada. E na estrada, fomos surpreendidos por uma emboscada armada pela
facção inimiga dos franceses. A facção atirou nos meus pneus, me abateram e
sequestraram a menina, deixando só a mãe desesperada e com um tiro de
raspão na perna. Eu já sabia que de uma forma ou de outra eu estaria ferrado.
Se o chefão descobrisse que eu saí com a sua filha sem a segurança dos seus
capangas, ele me mataria a fogo frio. Imagine descobrir que eu tinha um caso
com as duas? Eu surtei. Necessitava de fazer algo urgente para contornar a
situação. Luana não podia ir para o hospital, era arriscado, pois óbvio que
acionariam a polícia para investigar o motivo daquele ferimento de bala.
Então chamei um táxi. Ela não entendeu o que eu fiz. Eu só sabia que antes
de procurarmos a Tessa, teríamos que nos proteger.
— E-e vocês foram para onde? Desculpa interrompê-lo...
— Para a minha casa com o desespero de estar fodido. Quando eu
cheguei, deixei Luana lá fora, subi revirando tudo no meu quarto. Procurava
as armas escondidas do René. E quando as achei vi também dois pacotes de
drogas. Sem pensar duas vezes, peguei as armas e um dos pacotes, descia até
a sala de bebidas do meu pai, furtei qualquer garrafa das suas coleções e sai
— passo as mãos nervosas pelos cabelos. — É daqui em diante que eu não
sei o que houve direito; lembro-me de ter corrido de casa com a Luana,
caminhado até o carro novo do Fernando e o roubado na garagem. No
caminho, eu dividi a bebida cheia de droga com ela. Pensei ser algo que
ajudaria a aliviar sua dor. Só que a bebida fez o efeito contrário em mim.
Aquilo entrou no meu sangue, subiu para os meus neurônios, me deixando
paranoico. Em minutos, me vi dirigido alucinado para o morro da facção
inimiga. Durante o percurso, meus sentidos já tinham se esvaído. Apaguei no
momento em que o carro começava a capotar em alta velocidade.
— Felipe... — Elô tenta me consolar.
— Eu não faço a mínima ideia de quanto tempo, ou dias se passaram.
Eu simplesmente acordei com a visão turva, olhando para umas paredes de
azulejos brancos... eu estava sentado no chão de um banheiro de uma casa
abandonada, coberto de sangue e com pedaços humanos espalhados ao meu
redor.
Eloíse coloca a mão na boca, tremendo. Eu continuo a relatar o filme
real que se passa no meu cérebro.
— Eu estava ferido, "segurava" um facão. Olhei para baixo e pensei
ser só um sonho, um pesadelo, o qual eu acordaria. A cabeça da mãe dos
franceses se encontrava no meio das minhas pernas abertas, com os olhos
perfurados por palitos de dente. E da outra mulher, que eu desconheço,
pendurada numa corda logo acima de mim, pingando sangue sobre os meus
ombros.
— Que horror... n-não era a menina? A... a Tessa?
— Não, ela foi recuperada. Essa mulher é desconhecida até hoje pelos
nossos investigadores.
— Meu Deus... e o que aconteceu mais?
— Nada ali era sonho, lógico. Eu me levantei daquele chão banhando
de sangue, estava tonto, desesperado. Era pedaços humanos visíveis, que
ficaram gravados na minha mente até hoje. Cada membro despedaçado... Eu
joguei o facão no chão, cambaleando, abri a porta e sai correndo. Contudo, ao
chegar na escada desta casa abandonada, eu encontrei os quatro irmãos
franceses me esperando. Parecia que alguém tinha avisado para eles daquele
lugar, eu não sei, parecia uma armação, todavia, como seria possível? Pois
não matariam a própria mãe e perfurariam os seus olhos, eles a amavam. Os
franceses me pegaram, eu não pude contestar direito, permanecia mórbido e
fraco. Fui amordaçado e amarrado por eles. Era meu fim. Eu seria morto por
acharem que eu era o assassino dela e ponto final. Porém, não fui... Enquanto
eu era transportado numa van para o morro, Fernando surgiu com alguns
amigos seus da federal... ele me rastreou pelo relógio, onde comprou e me
deu de "presente" no meu aniversário. Descobrir que era para me vigiar.
— Seu irmão salvou a sua vida... — Ela limpas as lágrimas.
— Passando o resgate, ele também quase me matou de fúria. Eu tive
que confessar tudo para ele e para o nosso pai Antônio. No entanto, como o
meu pai já era um bandido dono de arena de jogos, o que não sabíamos na
época, foi fichinha me livrar dos filhos e do chefão francês. Eles nunca me
procuraram depois disso. Tentei mudar, aceitei a ideia do meu irmão de
prestar concurso público para agente da federal... E passei... só que fiquei
paranoico, não tinha alegria, não tinha prazer pela vida. As perguntas, as
imagens de mim, matando aquelas mulheres eram... — pauso — são criadas
todas as vezes que eu deito a cabeça no travesseiro. Na época, eu queria
apagar esse passado de qualquer forma, fingir que não existia. E quanto mais
eu fazia isso, indo atrás de sexo, festas e bebidas, mais cagadas eu aprontava
e tocava o foda-se... — Pegando a deixa... eu detalho para ela da arena de
jogos de corrida, desde o momento em que eu entrei, de como era as
perseguições e até o momento em que descobrimos que tínhamos um irmão
postiço.
— Não consigo digerir. Seu passado foi um verdadeiro inferno na
terra.
— As ameaças dos franceses apareceram após a morte do meu pai, a
minha paz igualmente acabou. Demorou um pouco para os traficantes
descobrirem que eu não tinha mais a proteção dele. E agora que eles
descobriram, querem "justiça" pela mãe, dizem ter provas de que eu sou o
assassino daquela mulher e da outra.
— Eu não acredito que você matou essas mulheres, Felipe! — Eloíse
aperta a minha mão, apavorada.
— E quem sabe? Eu só convivo com esses demônios me dizendo ter a
capacidade de sim ou de não a cada noite!
Capítulo 47

— Então foi isso que te tornou assim? Tão distante, sozinho, triste...
— Felipe fica quieto diante da minha pergunta, com os punhos fechados. —
Você não fez essa atrocidade! Disse que tinha digerido a tal garrafa de bebida
cheia de droga!
Eu me aproximo dele, puxando seu rosto para me encarar em prantos.
— E você sabe disso!
— Fernando também disse a mesma coisa.
— E se for uma armação?
— Existe milhares de possibilidades. Eu não sei o que houve, é
apavorante crer que foi eu... eu não teria coragem!
— Exatamente! Você não teria! — No fundo, eu estou tão
desesperada quanto demonstro. — A verdade sempre prevalece, acredite
nisso!
Eu o abraço, colada ao lado esquerdo do seu peito. Ouço a aceleração
do seu coração aflito.
Agora eu entendo. Eu entendo tudo. Felipe é triste, traumatizado por
causa disso. Foi esse acontecimento horrível que o tornou completamente
distante de todos, um delinquente sem amor a própria vida. Ele se culpa,
desejando a morte sem saber a veracidade dos seus atos. Se foi ele ou não que
esquartejou essas tais mulheres, e eu acredito que não foi, o homem que eu
amo não seria capaz!
— Eu estava esperando qualquer coisa... — ele sussurra. — Eu não
sei o que faria sem você, loirinha.
— Eu disse que estava disposta a te ajudar. E não o julgaria. É um
homem bom. Por favor, não se culpe.
— Acredita que eu sou um homem bom?
Felipe acaricia as minhas costas e eu levanto o pescoço, dando um
beijo nele.
— É claro. Não pode se auto julgar sem antes ter provas. Tem que
confiar em você, de tal modo como confio.
Ele retribuiu o beijo e fica quieto. Ainda em choque, eu apoio a
cabeça sobre o seu ombro, também calada. Não sei mais o que dizer. Só me
sinto livre de desconfianças, assim como ele. Precisava disso, de entendê-lo,
de compreender esse 'erro' que omitia. Eu queria que ele confiasse seus
segredos a mim. E fico aliviada por finalmente ter feito isso, mas apavorada
pelo seu passado cheio de terror.
— Vai querer ir embora? — Ele me afasta e levanta-se mais seguro
diante de toda a minha opinião positiva.
— Bom, eu não tenho nada para fazer aqui. E talvez a Clara... Clara
precise de mim... — Eu entro em paralisação ao me lembrar de que ela
prometeu marcar uma consulta para confirmar a possível gravidez.
Só revelarei ao Felipe se eu tiver certeza. A história do seu passado
me deixou com medo, angustiada. Eu não acredito que ele seja um assassino.
Sua índole, mesmo pelos erros, é de um homem bom, sem capacidade de tal
maldade.
— Já fez as fotos?
— Não, falta mais um dia para finalizarmos. Acho que na semana que
vem termina. Vamos embora?
— Podemos ficar um pouquinho a mais aqui... — Ele se aproxima e
agarra a minha mão, beijando-a. — O que acha?
— Ficarmos de que forma... — Eu me aconchego nele, tocando a
ponta do meu nariz no seu nariz.
— Bem coladinhos nesse sofá... no calor do seu corpo e do meu —
ele sorri lindo.
Ah, como é quente e tentador.
— Tá bom, de conchinha...
•••
Até antes de irmos, eu e o Felipe ficamos por um longo tempo juntos
no sofá. Ele aproveitou para me explicar melhor sobre a história do seu pai,
da Marta e da mãe biológica — Agnes. Ah, e claro, da sua relação com a base
FAL e do tal irmão postiço que tentou matá-los a todo custo por vingança. A
sua história não é confortável. É tragédia atrás de tragédia. Todavia, é mais
do que certo de que o Felipe não é um assassino. E eu vou acreditar na sua
inocência até o fim!
Mais tarde, almoçamos em qualquer restaurante. Em seguida, ele me
deixa na confecção da Collins, onde eu mal chego no corredor do último
andar, e já sou arrasta por ela para o seu escritório.
— Eloíse, não quero te assustar... — Ela rapidamente fecha a porta.
Eu me sento, encarando-a com uma das sobrancelhas arqueadas,
enquanto vem caminhando e dando a volta na sua bonita mesa.
— O que foi, Clara? É sobre a consulta?
— Sim e não, eu já marquei ela, mas ficou para semana que vem. Por
isso o assunto de emergência é esse... — Ela, então, abre a bolsa e joga dois
testes de gravidez na minha frente.
Eu arregalo os olhos, em súbito espanto.
— Você tem que fazer para descobrir a verdade. Já comprei dois, para
não haver dúvidas. Ainda comprei o tradicional e não o digital. Será mais
rápido do que o exame de sangue, até o momento.
— Eu estou tentando fugir dessa "verdade" desde que descobri dos
sintomas. Só que é infantil a minha fuga. Se eu estiver grávida, não posso me
esconder, é a minha responsabilidade.
— Lembre-se da responsabilidade do Felipe. E isso não é ruim, verá.
É o sonho daquele homem. Agora sabe como fazer? Pode usar o lavabo do
meu escritório.
— Isso é certeza, Clara?
— Absoluta! É de 95% a 99% de eficácia.
Nervosa, eu me levanto tremendo de ansiedade.
— Pode urinar diretamente na ponta das canetas, ou usar o copinho
coletor para mergulhá-los. Se nos testes aparecerem duas linhas vermelhas...
é porque está grávida.
Meu coração acaba de saltar pela boca. Eu pego os testes, engolindo
em seco. Seja o que Deus quiser.
— E-eu já volto.
— Boa sorte, Eloíse. E faça os procedimentos sem pensar muito. Se
preferir, veja o resultado sozinha ou comigo. Estarei ao seu lado.
— Ok, obrigada.
— Por nada.
Eu me direciono ao lavabo. E ao fechar a porta e antes de começar o
passo a passo, eu analiso meu reflexo no enorme espelho chique, limpando as
lágrimas que começam a cair. Eu sempre quis ser mãe, eu amo crianças. E
não gostaria de criar esse bebê sem família. Eu realmente espero ver o Felipe
feliz, e que não me abandone. Pois sem fazer os testes, eu já tenho a absoluta
certeza de estar grávida... os sintomas foram tão óbvios. A burra aqui que não
percebeu as evidências.
Eu amarro o cabelo num coque alto e abro as embalagens, dando
início aos procedimentos pelo copinho coletor. Não é a primeira vez que eu
uso um desses, então eu faço tudo o mais acelerado possível. Assim que eu
tiro as canetas de testes do copo, eu decido não receber a confirmação
sozinha. Resolvo retornar para a sala da Clara. Apreensiva.
Quando retorno, Collins demonstra estar mais inquieta do que eu, pois
estava andando de um lado para o outro. Ao me ver, ela sorri nervosa, vindo
até mim.
— Tudo bem?
— Eu não vi ainda...
— Então veja pelo amor de Deus. Terei um troço, Eloíse.
Eu respiro fundo e ergo as duas canetas... não sendo um sonho, nem
um pesadelo, eu abro a boca... ousando dizer a confirmação do que já era
explícito. E eu desabo a chorar. Clara também olha, para adiante me abraçar
apertado, cheia de carinho.
****

Otávio para na minha frente e eu me despeço com um aceno


amigável. Hoje conversamos sobre o seu "quase" oficial alistamento para a
nossa academia de segurança. E o dispensei da minha "ajuda". Não preciso
mais dele, ao contrário dele, que precisa de mim. Otávio será acompanhado
pelo Leão, para finalizar os métodos de saúde necessários.
— E aí, informações? — Na sala "secreta" do Fernando, eu entro
roubando um pouco do seu whisky. E ele me fuzila, sem falar nada.
— Eu quem pergunto! Alguém ligou no celular do francês?
— Droga nenhuma. Até parece que ele não está interessado na vida
do filho.
— Pois ele está, Felipe! Fique de olho nesse aparelho e ao seu redor!
Esses merdas são capazes de qualquer coisa!
— O que mais me preocupa é a Eloíse. Deles descobrirem da
existência dela... e você sabe... porra, de tentarem sequestrá-la! — Meu
sangue sobe à cabeça com a possibilidade.
Eu lembro de como foi para o Fernando quando Clara foi levada por
aqueles ratos. Eu senti todo o seu desespero. Não desejo que se repita.
— A segurança dela já foi reforçada, sabe disso. Só acontecerá algo
se ela desobedecer a presença dos nossos agentes.
— Eloíse agora sabe de tudo. Ela não faria — revelo, virando todo o
whisky na boca.
— A contou?
— Sim, e tinha razão sobre eu arriscar. Infelizmente, seu florzinha.
Ele fica quieto, analisando-me com o braço apoiado na cadeira e a
mão alisando o queixo. Seu olhar está vidrado.
— Quer tirar uma foto? — Pisco.
— Cala a boca, bastardo. O que mais Eloíse te disse?
— Ela me ouviu até o fim, foi compreensível. E confesso que meu
medo era de perder aquela loira. Não aceitaria seu julgamento. Eu preferia
um tiro no rabo do que escutá-la me chamando de assassino.
— Isso não significa que as dúvidas não estejam no ar. Tem que se
empenhar para descobrir a verdade daquela noite. E se perguntar quem armou
os esquartejamentos para te ver morto pelos franceses.
Eu apenas consinto e mudo de assunto, já cansado de pensar nessa
história.
— Você já vai embora?
— Vou, tenho que pegar os meninos na escola.
— Também já vou. Não tenho nada para fazer hoje na agência.
Não sei se passarei na Eloíse. Nossa conversa a deixou
desassossegada. E o certo é eu dar um tempo a sua mente. Por outro lado,
algo súplica dentro de mim, mandando-me dar meia volta e passar a noite no
calor do seu corpo irresistível. Mas eu não mudo de ideia. Ela precisa ficar
sozinha. Não quero pressioná-la. Pego o carro na garagem e vou para casa. E
da mesma forma, eu preciso dessa merda de tempo para planejar os
problemas, de como farei caso o encontro com o chefão aconteça. Desta vez,
eu tenho motivos para continuar vivo.
Ao chegar no prédio, eu subo para o andar do meu apartamento.
Procuro as chaves no bolso, pego-as e antes de sequer colocar a certa no
miolo da fechadura, eu noto que eu nem necessito dessa porra. E cato a arma
do coldre!
Capítulo 47. PARTE II

[...]
De imediato, eu tiro a arma da cintura e empurro devagar a maçaneta.
Então, eu entro na sala, ligando a luz no interruptor e notando tudo
aparentemente conforme eu deixei. Mas continuo a averiguar os quartos e os
banheiros. E quando eu retorno para a sala, abaixando quase a guarda, eu
tenho a resposta de quem foram os filhos da puta que invadiram a minha
casa. Arrombados!
— Quanto tempo, nosso caro amigo. — Gabriel sorri, segurando uma
pistola ao lado do sofá. — Tá com saudades do papai? Queremos te fazer
voltar a rever ele.
— Oras, vocês foram de traficantes para médiuns? — Debocho dos
três irmãos franceses na minha frente, contando com Tessa, que agora é toda
tatuada e cheia de piercings. Bem diferente da menina de 18 anos. E
contatando com Luís, o primo-irmão deles.
— Tem uma dívida conosco. E não tem mais seu pai para te proteger,
seu assassino! — O primo deles, o Luiz, esbraveja.
— Achei que tivessem vindo atrás do Saulo e da carga de drogas.
— É o que queremos também. Porém, faremos uma troca para
obtermos ambos.
— Posso me sentar para ouvi-los?
— Cala a boca, seu patife! — Tessa declara, apontando a arma de
fogo. — Queremos justiça pela a nossa mãe!
— Como eu poderia ter matado ela se uma noite antes estávamos
juntos, sua vagabunda?!
Os irmãos a encaram.
— Caso não se lembre, você foi sequestrada pela facção inimiga do
chefão!
— Isso não vem ao caso! Quem não nos garante que você não era
informante deles? E que armou tudo aquilo para matar a nossa mãe? Como o
Gabriel frisou, desta vez, você não tem a proteção do seu paizinho morto! Vai
pagar pelo que fez!
— Me mostrem as provas em vídeo que dizem ter daquela noite? Só
assim acreditarei que eu sou um assassino!
— Se não quer morrer, ou viver na cadeia, te daremos uma condição.
— Não me responderam!
— A gente vai te mostrar, Felipe... no tempo certo — Luiz comenta,
"sereno".
— Algo me diz que vocês estão mentindo. E não me ameacem, pois
eu posso colocar é os quatro no xilindró!
— Ele se acha o manda chuva? — Eles riem. — Podemos poupar a
sua vida se colaborar conosco. Basta apenas nos entregar o nosso irmão, a
carga que roubou e mais uns cinco milhões de reais.
Desta vez, sou obrigado a rir.
— Ah, sério? Cinco milhões de reais?
— Não é piada, seu assassino! — René range os dentes. — Chega de
conversa fiada, é isso ou matamos você e toda a sua família!
— Cala a boca, seu verme, eu estou esperando as provas que me
prometeram!
Eu ganho tempo para poder acionar o relógio de pulso e chamar
reforços.
— Pelas horas... — levanto o braço, ainda segurando a arma e aciono
num piscar dos olhos. Eles nem notam. — Não temos a noite inteira. Ou
temos?
— Te daremos dois dias, Felipe! — Tessa declara.
— Se não fizer o que te mandamos, já sabe o que acontecerá. Não
mediremos esforços para matá-lo junto da sua família!
— O encontro da troca será na mesma estrada onde roubou o nosso
caminhão. Não tente nenhuma gracinha pois além de nós, outros caras estarão
te esperando!
— Vocês são muito burros — eu sorrio. — Já acabaram?
— Ele merecia um tiro para fechar esses dentes!
— Vamos sair logo daqui. Esse puto não é confiável.
— Por que tão cedo?
— Não estamos brincando, Felipe!
— Não ouse ser mais esperto do que nós!
Tessa começa a andar para trás, na direção da porta, com a arma
apontada.
— Vamos... — Os irmãos igualmente.
E assim que ela abre a porta, dois homens garras — Júlio e Pedro, que
estão morando temporariamente no andar de cima — a surpreende com dois
fuzis de assalto, mirados.
— Que isso!
— FILHO DA PUTA!
Furioso, Gabriel arregala os olhos e vira rápido, quase me acertando
um tiro. René e Luiz também. No entanto, todos param quando Tessa grita.
— Parem ou eles atiram em mim, porra!
Eu respiro com o sangue fervendo nas veias, sentindo meus músculos
pulsarem.
— As drogas já comeram o cérebro de vocês. São uma cambada de
burros de virem até meu apartamento sem achar que meus homens não
estariam de prontidão! Eu não sou mais aquele moleque protegido! Hoje eu
tenho meus próprios agentes, e que trabalham para a lei!
— Eu quero matar você!
— Cadê as provas contra mim? Andem, me entreguem!
Júlio empurra Tessa para dentro da sala, com o cano do fuzil
diretamente ligado à sua cabeça. Pedro fica na porta. Os garras já devem ter
chamado mais reforços.
— Nossos caras teriam visto esses bostas subindo!
— Realmente tem caquinha na cabeça de vocês. Esses homens não
vieram de baixo, vieram de cima — sorrio. — E não é do céu, crianças.
Agora joguem as pistolas de fogo no chão!
— Acha que vamos nos entregar tão fácil?
— E você acha que eu não vou fazer um buraco nesse seu peito?
Joguem essas porras no chão!
Tessa é a primeira a reagir, mas ela me engana, no momento em que
inclinava as costas para jogar a arma, a vagabunda chuta a canela do Júlio e
dispara na coxa dele e na do Pedro, logo atrás. O que deu tempo para o René,
Gabriel e o Luiz se dirigirem com tudo para cima de mim e dos garras. Eu
consigo me proteger embaixo do bar de mármore, tomando reflexo do
momento certo de reagir a cada puxada do gatilho lerdo deles. E consigo
derrubar dois, René e Gabriel, sem matá-los. Júlio e Pedro parecem feridos,
pois não reagem, ao caírem agonizando no tapete. Porra, e isso me deu forças
para me reerguer do bar e mirar na Tessa, em seguida, no Luiz. Entretanto
eles tacam as armas no chão e conseguem sair correndo para fora do
apartamento.
— Continuem deitados! — Grito para o Gabriel, que tenta se levantar
junto com o René.
— Pedro, Júlio, vocês estão conscientes?
— Sim, senhor... — sussurram, sangrando pela perna e na região do
peito. — Droga, eu chamarei socorro, tentem estancar esses buracos ao
máximo possível. E se mantenham acordados!
— Sim, senhor...
O cano da minha Heckler não sai da direção dos irmãos franceses. Eu
sei que se eu pedir as ambulâncias... não virá só a ajuda para salvar meus
homens e esses vermes. Os socorristas acionaram também a polícia civil. O
que aconteceu aqui é mais do que criminal. E eu já sou um fodido sem
chances.
Fernando, 03 e outros garras chegaram antes da ajuda. Eu tento me
manter calmo, só que não tenho escolha sobre o que, enfim, me espera.
— Felipe, o que esses bostas vieram fazer aqui?
— Dois fugiram, Tessa e Luiz. Eles vieram me ameaçar. Pediram
cinco milhões de reais para poder me deixar em paz. Caso eu não faça,
matariam toda a minha família. — Fernando fica puto, nervoso. — Eu acho
que chegou a hora. Não aguento mais. Você sabe que não pode fazer nada.
— Podemos dar um jeito, Felipe!
— Não, desta vez, não! Não recuperaremos essas provas sozinhos! E
se recuperar, minha mente, minha vida, tudo continuará o mesmo inferno! Eu
correrei o risco!
— Se fizer isso, será preso sobre suspeita de assassinato!
— Que seja! Apenas aguardarei o socorro para poder dar as
providências!
Fernando não diz nada, apenas fecha os punhos. Contudo, eu sei que
foi uma apunhalada nas suas costas. Por mais que ele me ameaçasse com as
consequências de um dia eu ir em cana, ele não queria isso. Como o irmão
mais velho, ele só almejava me proteger, nem que fosse preciso apagar a
verdade para me ter ao seu lado. Mas eu não sou mais aquele moleque. Eu
devo arcar com os meus erros. Eu necessito de tirar esse peso da consciência,
essa dor, esse medo de um dia ter matado alguém com tanto sangue frio. Não
quero só existir... como Eloíse me disse um dia: "Os dias maus também
chegam ao fim. Viver é a coisa mais rara do mundo. Que sejamos raros e
felizes." E para isso, a minha escolha já foi traçada. Só me dói.... não a
encaixar neste destino.
Capítulo 48

O choque da certeza foi mais um alívio do que a tormenta da


incerteza. Eu estou grávida. No fundo, eu me sinto feliz, mesmo sem a reação
do Felipe. Imagine a minha pessoa de barrigão? Esperando um bebê?
— Hum... e esse sorriso? — Clara brinca, limpando as lágrimas. —
Você vai ser uma mãe maravilhosa.
— Acho que eu estou feliz... — Dou de ombros. — Sempre quis ser
mãe... só estava esperando o tempo certo. Casar, ter uma casa, uma família.
Era o que eu planejava com meu ex. Todavia, acho que deu uma pequena
reviravolta, né?
— Deu, com certeza. Mas não se preocupe. Confia em mim, o Felipe
nasceu para você. Assim vice-versa. Ele vai surtar quando souber da
gravidez.
— É bom ou ruim?
— Se for uma menina é bem ruim. — Ela gargalha, eu também
começo a rir. — Tomara que seja uma menina. Ele pagaria o preço do
Fernando na mesma moeda. Esses homens têm um problema com "filhas".
Ciumentos até o osso. E será muito bom estar grávida, porque sempre foi o
sonho do Felipe ser pai. Até mais do que o irmão. Tinha que ver na época em
que os gêmeos nasceram, o "tiozão" não saia da nossa casa. E eu não sei o
que seria de mim sem o meu cunhado para ser a "babá" dos meninos nas
manhãs de sábado. Felipe é um grande pai, assim como o irmão. O defeito
dos dois é só ceder por tudo quando as crianças fazem aquela carinha
manhosa de birra...
Clara me deixa mais esperançosa e alegre na medida em que vai me
contando sobre os dotes de pai do Felipe com os sobrinhos. O que me permite
mais tarde ir embora pensando se espero a consulta de terça-feira para revelar
a verdade, ou conto está noite, quem sabe? Quero tirar esse peso da cabeça. A
ansiedade me sufocada.
À noite, aguardo dar umas 19h20 para poder ligar para ele. Só que o
Felipe não entende nenhuma das minhas ligações. Acho estranho, pois aquele
homem possessivo jamais deixaria de me dar o ar da graça com a sua
presença. Seja ela por telefone ou não. Só espero que ele não esteja tentando
se afastar de mim, depois de ter me relatado do seu passado horrível. Não...
isso não — espero realmente. Ou talvez eu esteja criando falsas hipóteses.
Felipe deve estar ocupado, trabalhando. Ele disse que as operações de
segurança da agência sempre acontecem no período noturno. Por isso, melhor
deixar que ele se manifeste. Não que ser a chata perseguidora.
Na manhã seguinte de sábado, às 11h00, eu ainda fico sem receber
nenhum sinal de existência daquele Alencar. Eu até realizei outras cinco
chamadas, porém, nada dele responder. Começo a me preocupar. Felipe não
tem uma vida tranquila e segura. Existe pessoas do morro tentando matá-lo.
Traficantes não são gente de meia palavra. E isso me apavora até os nervos.
Meus Deus, cadê esse homem? Ele não me abandonaria sem notícias.
Tirando-me dos meus devaneios angustiantes... na entrada da porta do
restaurante da vovó Aurora, eu me assusto com o físico de um homem alto,
musculoso, entrando e caminhando até o caixa, onde eu me encontro
rabiscando uma caderneta qualquer — que faço o favor de abandoná-la
ligeira, pois o homem é o Fernando.
— Fernando? — Franzo o cenho, indagando-o pelo olhar.
— Bom dia, Eloíse.
— Bom dia. O que faz aqui? — Sou direta.
— Eu vim lhe buscar a pedido da Clara.
— Me buscar a pedido da Clara? Aconteceu alguma coisa? Afinal,
você não viria à toa.
— Acredito que aqui não seja o melhor lugar para conversarmos.
Meu coração dispara num frenesi estridente.
— Tem a ver com o Felipe? Pelo amor de Deus, não diga que é por
causa dele?!
— Tem a ver, Eloíse. Por isso eu preciso te levar em casa. Me
acompanhe, por favor?
Eu tento não me emocionar, pensando no pior e no pior e no estremo
pior.
— O-ok... tá bom... — consinto. — Só me dê um segundo para avisar
a minha avó e para poder trocar de roupa.
— Tudo bem.
— Já volto.
Assim que eu invento uma desculpa qualquer a vovó — que ela me
perdoe —, eu subo para trocar a blusa e a calça jeans. E retorno ligeira,
caminhando desta vez até a calçada. Observo o Fernando que se encontra de
pé, nervoso e inquieto atrás da lataria do automóvel.
— O Felipe está bem? — Mal chego e o questiono com a visão
marejada.
Pois sinto que nada está bem!
— Sim, ele está bem. Entre...
Ele abre a porta de trás, sem mais nada para declarar. Eu me sento
quieta e trêmula — o que durou durante o percurso todo em direção a casa
dele. Alguns momentos, eu cheguei a apertar a alça da bolsa tão forte,
respirando fundo para me manter concentrada, que as unhas ficaram
doloridas. Fernando não me buscaria à toa. O que aconteceu? Isso está muito
estranho. É sem motivos ou fundamentos.
Ao chegarmos, minhas pobres pernas pareciam geleias enquanto
desciam do carro e subiam os pequenos degraus até a porta principal da
residência luxuosa do Fernando e da Collins.
— Clara está sozinha, pode entrar.
Fernando abre a porta e acompanha-me para dentro. Eu invado o local
com ele, indo até a sala de sofás brancos. E já encontro a Clara em pé, com as
mãos na cintura. Ela está chorando. Por que está chorando? Isso me causa um
choque de pavor.
— Eloíse... — Mal digo oi e ela vem até mim.
— O Fernando... ele me buscou, e só...
— É sobre o Felipe. Preciso que você se sente. Não pude te buscar
porque a Marta precisava mais ainda de ajuda.
— O que foi com a dona Marta?
— Ela está bem... vem Elô...
Clara me puxa para o sofá, em seguida olha na direção do marido que
estava prestes a virar as costas e sair.
— Amor, não vá.... Eloíse confiará na sua palavra também. Por
favor... fique só alguns minutos.
Fernando consente e permanece.
— Clara, isso tudo está muito estranho. Fernando já disse que tem a
ver com o Felipe. O que aconteceu com ele? Estão me deixando assustada. E
Felipe não me deu nenhuma notícia desde ontem.
— Eu sei... serei direta, o Fernando me esclareceu a poucos dias sobre
uns tais de irmãos franceses. E o que aflige a consciência do Felipe. Você
sabe do que eu estou falando, né?
— S-sim... — Aperto o braço da Clara.
— Elô, fique calma, ok?
— Não, eu não vou! Me conte de uma vez! Não precisa ter essa
"paciência"! Eu sei tudo que envolve esse passado dele! E da mesma forma,
eu sei dos riscos em relação a esses franceses que o acusam de assassinato!
Fale, pelo amor de Deus!
— Diga, Clara! — Fernando é autoritário ao fitá-la rígido.
— Ah, Elô... Me desculpe — ela chora... — Ontem o Felipe foi até a
delegacia e relatou todo o crime que o acusam.
Meus dedos gelam, eu abro a boca e a olho, adiante para o Fernando.
Não, não e não!
— Ele... ele...
— Ele foi preso.
— Não, não pode... — Eu coloco a mão na cabeça, segurando a
vontade de desabar. — Não, ele não fez isso!
Clara chora... e olhá-la, me faz cair na realidade e, em prantos.
— O-onde ele está? Por favor, me levem até ele? Eu preciso vê-lo!
— Elô, você tem que se manter controlada. Pense na sua gravidez...
Minhas mãos tremem, eu só sei gemer de dor, enquanto as lágrimas
abrem mais o furo vazio que se forma no meu peito.
— Ele não fez isso...
— Escuta, meu pai tem uma das melhores advocacias do RJ. Ele e
mais uma penca de advogados estão trabalhando para ajudar na inocência do
Felipe. Eu juro que estão.
— E se ele não for inocente?
— Ele é, Eloíse! — Fernando brada com tanta raiva e autoridade que
faz Clara o enfrentar com o olhar severo.
— Desculpa... eu só estou com medo, não era essa a pergunta — tento
enxugar o nariz, mas toda vez que eu tento, não consigo, é em vão, choro
mais e mais. — Eu vou poder vê-lo?
Fernando mexe o maxilar e ergue o pescoço, tomando coragem para
abrir a boca.
— Peço perdão por aquele covarde. Só que ele não me permitiu que a
deixasse vê-lo na delegacia.
Então eu levo um soco no estômago.
— Ele não tem esse direito! Vai me deixar assim sem nada a dizer?
— Fernando, fale para ele, o convença. Eloíse precisa disso para se
tranquilizar, nem que seja o mínimo... Você sabe que se ela não ver ele
agora... ele... ele pode... — Quando encaro a Collins, ela gagueja nervosa.
No entanto, eu sei o que ia dizer.
— Ele pode ser transferido para um presídio? É o que querem dizer?
— Não, por enquanto não. Felipe não confessou crime nenhum,
apenas relatou. Ele também não é burro de se auto acusar de assassinato. A
delegacia que foi preso temporariamente é de um delegado parceiro nosso —
Fernando responde. — Vão segurar ele até colherem o inquérito policial do
caso. E se assim comprovado, as provas do crime serão analisadas por um
juiz do Poder Judiciário.
— Mas e a tal instauração? — Clara pergunta.
— É o que eu disse. A instauração de inquérito de possíveis infrações
penais deve ser cercada de cuidados, para só serem consideradas indiciadas
pessoas que tenham realmente contra si indícios de autoria de crime cuja
materialidade já deve estar comprovada. É por isso que ele ficará preso
temporariamente. Até a instauração do inquérito policial ser colhida, que
tornará público o fato do Felipe estar passando pela investigação criminal.
— Isso vai demorar, Fernando? — Minha voz soa baixa.
— De três, cinco, dez, noventa dias. Não sabemos. Se for realizada
uma investigação complementar, durará entre três a cinco meses. E a criminal
no máximo dezoito meses. Pretendo fazer pressão com meu ex-chefe superior
da federal para invadirem o morro atrás do restante dos franceses e termos
mais provas. O que pode igualmente demorar, pois necessitamos da liberação
da porra de um juiz. Entretanto, é só uma opção.
— Deus amado... nesse meio período, o Felipe fica lá, mofando na
cadeia? Ou será transferido? Pois a delegacia é só provisória.
— Não tire conclusões precipitadas, Eloíse. Como irmão daquele
teimoso, eu garanto que o delegado é parceiro nosso e o segurará por mínimo
dez dias, até a sorte conspirar ao seu favor.
Ah, que angustia. Eu não posso, eu não consigo suportar mais tanto
sofrimento. Eu o amo. Amo-o com todas as minhas forças. Não o tire de
mim, meu senhor, não o tire! Eu não aceito!
— Minha cara, Elô... se controle pelo bem do seu bebê. Está
tremendo. Eu juro que meu pai e o Fernando farão o possível e o impossível.
Eu garanto a você! — Clara me abraça, sussurrando chorosa. — Temos que
esperar o delegado colher todas as provas para "montar" o inquérito. Temos
que deixar nas mãos deles e só torcer para o Felipe ficar livre. Apenas torcer.
Capítulo 49

O desespero da Eloíse só me fez ficar mais puto com aquele covarde.


E sem mais palavras para prometer as duas mulheres na minha frente,
eu viro as costas e saio para fora de casa, sem me despedir. No carro, aciono
o Murilo pelo rádio receptor — peço mais informações sobre o interrogatório
com Saulo, um dos irmãos franceses. O que ele afirma ainda não ter
conseguido com as "torturas". Porra, e a cada má notícia, eu explodo de
raiva!
Ontem, após a polícia ser acionada, não pudemos mexer na área do
crime. Eu tive que cruzar a merda dos braços e só ficar observando os outros
dois irmãos serem levados como coitadinhos na ambulância. Em seguida,
segurar o Felipe para que não fugisse de vista. O que, óbvio, esse caralho foi
em vão. Cheguei tarde demais. Aquele porra já tinha falado que estava sendo
acusado de assassinato. A nossa sorte foi do delegado ser o Jonas, um amigo
antigo que eu conheci por outros federais. Passei a madrugada toda
recolhendo provas e levando até a DP. Espero que a investigação não prove o
que me rasgaria o peito.
— Não sei se o Felipe fez um favor aos policiais, ou uma grande
sandice — Jonas comenta, em relação aos traficantes franceses do morro, que
a polícia vivia investigando na intenção de pegar pelo menos um. — A ficha
desses irmãos é mais suja do que um banheiro público!
— O que eu quero saber é do Felipe. Pode ser comprovado provas
embasadas que o levam ao judiciário? E consecutivamente, a ser preso numa
“máxima”?
— Não prendemos seu irmão em flagrante. Ele simplesmente veio
aqui e confessou estar sendo acusado de assassinato. Iremos interrogá-lo,
ainda é um caso estranho e misterioso.
— Creio que você não queira perder tempo com isso?
— Não, Fernando. Por isso, se você deseja tirar o quanto antes o seu
irmão daqui, recomendo, em sigilo, a correr atrás das provas que os franceses
garantem ter de que ele esquartejou essas tais mulheres. Pois eles já
confessaram no hospital que as tem. E eles vão ferrar o Felipe a seguir juntos
para a penitenciária. E ademais, necessito de explicar o motivo do tiroteio
ontem à noite no apartamento dele, para, em seguida, arquivar a investigação.
Eu bato na mesa e levanto-me.
— Então, eu farei o inferno atrás dessas provas!
— Não vou descumprir a minha palavra. Será o nosso sigilo, pois
confio na sua índole e admiro seu trabalho.
Consinto, calado.
— Pode ver ele. Um dos policiais o acompanhará.
— Obrigado!
Eu saio da sala do Jonas com a cabeça quente e sigo para o corredor
das gaiolas (celas). Felipe se encontra na primeira. Assim que eu me
aproximo, já o vejo sentado numa cama de concreto, sem fazer nada, apenas
olhando para a parede. E com a mesma roupa de ontem; camisa polo, jaqueta,
calça jeans e os sapatos de couro marrom.
— Comeu alguma coisa? — Eu pergunto, sem dizer oi ou qualquer
outro tipo de cumprimento de saudação.
Felipe nem me olha.
— Não sinto fome. Como estão as investigações? O delegado disse
que era necessário me manter atuado. Não achei que seria antes das
sondagens criminais.
Eu fico na minha... sem paciência!
— Eu gostaria de quebrar essa sua cara, seu arrombado! Não era para
você estar preso! O delegado é obrigado a te manter aqui até que se prove ser
o atuante de alguma morte! E pelo tiroteio!
— Se eles não têm provas, sabe que não vão me manter preso!
— E por que se entregou a troco de nada?
— Para os irmãos me deixarem em paz! E dizerem se têm provas de
que foi eu quem matei aquelas duas mulheres! Me responda: o delegado
descobriu a verdade?
— Falaremos disso depois que você voltar atrás na decisão sobre a
Eloíse.
— Não tem o que voltar! — Ele se levanta bruto e encara-me pela
primeira vez.
— É um teimoso! Eu seria capaz de te deixar sem dentes!
— Foda-se! Você não vai contrariar a minha decisão! Se eu for
condenado daqui para um presídio, ela não vai ser mulher de preso! Não
quero ela me visitando! Agora me conta sobre o levantamento do inquérito!
Os irmãos revelaram algo?
— Ela não é obrigada a ser mulher de preso... e nem carregar um filho
de pai preso! Seu bosta!
— O quê?
Felipe desfaz o cenho, com o choque da minha revelação e para de
reagir bruto, soltando os punhos e dando um passo para trás.
— O que você disse?
— Que você vai ser pai!
Sem ainda cair na real, ele me encara, coloca a mão na parede, passa a
outra pelos cabelos e demonstra um olhar mortal de confusão e medo.
— Está mentindo! Cala a boca!
— Eu não minto! E acho bom você lutar para sair dessa gaiola o
quanto antes como falsa denúncia! Pois caso contrário, não verá seu filho
nascer, nem crescer e nem estará ao lado da sua mulher!
— Os advogados vão me tirar dessa merda!
— Seu bastardo!
— Eu fui um burro! Volta aqui, seu porra!
Eu o largo sozinho, chutando a grade. Não vou dar mais informações.
O mínimo de saliva que eu tenho que gastar é para ajudar a limpar a barra
desse fodido. Porque o amo e moverei o inferno para ajudá-lo, nem que seja
pela última vez.
E se for preciso, será esta noite!
****

Eu tento convencer Eloíse a comer algo, mas ela teima em dizer que
está sem fome e isso me preocupa. Ela precisa ficar forte para não desmaiar
de fraqueza e não ter vertigens e nem cefalalgia.
— Elô, por favor, almoça qualquer coisa. É para a sua saúde...
Após eu teimar sem cessar com ela, Elô só se rende depois que a
Marta aparecer para insistir junto comigo.
— Como está se sentindo, Marta? — Eu pergunto, acariciando sua
mão trêmula.
— Não se preocupe, eu estou bem, querida.
Ela apenas me dá uma palmadinha, demonstrando não querer tocar no
assunto, e compreendo seu olhar direcionado a Elô. Esse é um momento
doloroso para todas nós. Eu tentei controlar as minhas lágrimas quando ela
chegou, entretanto, foi impossível. Ainda bem que hoje de manhãzinha minha
mãe estava aqui para pegar as crianças e receber a notícia junto da dona
Marta e de mim — o que ajudou a consolar nós duas. Espero que papai esteja
movendo montanhas pelo Felipe. Ele gosta muito daquele rebelde cheio de
humor. A vida, a casa, tudo sem o nosso "palhação" não têm graça e nem
ânimo. É a alma da família.
— Será que o Fernando vai conversar com o Felipe para me deixar
vê-lo? — Ela pergunta outra vez aflita, com o olhar de desespero e de medo.
— Como a mãe dele, eu te peço calma, Eloíse. Temos que deixar tudo
nas mãos do Fernando e na sabedoria de Deus.
Ela não demonstra conformidade com a resposta e eu compadeço do
seu sofrimento. O amor é isso, é querer estar ao lado da pessoa que se ama,
lendo nos seus olhos que, no fim, tudo ficará bem... mesmo que
possivelmente não fique.
No finalzinho da tarde, Fernando chega e eu o atualizo sobre a saúde
da sua mãe — estabilizada — e que Eloíse almoçou conosco, em seguida, foi
para casa tomar banho, arrumar suas coisas e esclarecer a situação direito
para a sua vó, pois voltaria para dormir aqui, enquanto aguardamos por
notícias.
— E o Felipe? Você perguntou se ele vai deixar a Eloíse visitá-lo?
— Ele já sabe, Clara.
— Do quê? — Eu me aproximo do Fernando, assim que fecho a porta
do escritório.
— De que a mulher dele está grávida e de que aquele bosta fez uma
grande burrada de ter se alto confessado suspeito de assassinato!
Eu fico suando frio.
— Amor... — e me dou conta de que o Fernando está preste a surtar
de tanto furor. — Va-vai ficar tudo bem. — Eu chego perto e o abraço forte,
mostrando que ninguém está sozinho. — Eu te amo. E Felipe vai colaborar
para voltar para nós, para a Elô e para o seu filho que ainda é uma pequena
sementinha. — Eu o encaro, acariciando seus cabelos. — Agora ele tem mais
motivos de querer esquecer o passo e de construir um novo futuro. O amor
tem dessas... ele muda as pessoas. E no final, o amor há de vencer.
Fernando suspira mais calmo, beija a minha testa, e em seguida, os
meus lábios.
— Você é a minha luz, morena dos olhos verdes — ele sussurra,
pressionando minha cintura com força e afastando nossa boca. — Vou
precisar sair.
— Para onde? — Arqueio a sobrancelha.
— Será rápido.
— Mas para on...
— Sem perguntas, amor.
Capítulo 50

Eu garanti a Collins que dormiria está noite na sua casa... mas... —


passo as mãos trêmulas pelos cabelos, suspirando, cansada de tanto chorar —
mas Otávio e a vovó estão precisando de mim. Ah, meu Deus, por que as
coisas revolverão acontecer como uma bomba? É o Felipe, é o medo de terem
provas dele ser um... um assassino, e é a minha mãe revelando agora toda a
verdade.
Pelo menos, é definitivo, não temos mais segredos, não entre mim, o
Otávio e a vovó. Ela se vai para nunca mais voltar. E eu sinto tanta raiva que
eu quero até esquecer o seu nome. Que ela vá e desapareça do planeta terra!
— Eloíse...
Da porta do jardim, Otávio me chama, vindo caminhando até o
gramado, onde eu me encontro sentada, olhando as estrelas.
Quando eu cheguei, Roberta já tinha contado tudo para eles. Subi para
o quarto da vovó para esclarecer o motivo de hoje cedo eu ter saído correndo,
e encontrei-os discutindo. Ela permanecia em choque, sentada na sua cama,
enquanto o Otávio se segurava para não avançar sobre a nossa mãe. Não sei o
que teria acontecido se eu não tivesse chegado na hora da gritaria. E quando
se acalmou, o que mais nos doeu foi no momento em que a vovó enxugou as
lágrimas, levantou-se, caminhou até a Roberta e deu um tapa estridente na
sua cara, em seguida, mandou-a pegar todas as suas coisas para ir embora da
pensão, pois o "único papel de mãe que havia feito, foi de parir os filhos. E
isso até uma mulher da vida faz"! Ah, como foi doloroso... por mais que não
mereça... aquela mulher... aquele ser humano que colocou o dinheiro a frente
de tudo e de todos... a gente conviveu com ela, a amou e a chamávamos
de mãe. Contudo, hoje somos definitivamente órfãos, assim como há dois
anos e meio, perdemos o nosso pai, Otávio e eu a perdemos. Só ficou seu
quarto vazio e nem adeus teve a capacidade de nos dar.
— Eu era o "preferido"... — Otávio se senta ao meu lado. Eu o
encaro, limpando o rosto. — Agora eu sou só um vagabundo que nem sabe se
estudar eu quero. — Ele dá de ombros, desabafando. — Desculpa, Eloíse,
mas que se dane aquela bruxa. Que se dane o que ela acha e o que deixou de
achar de nós. Ela é uma golpista que só suportou o nosso pai até a morte por
causa da herança dos quinhentos mil! Que ela vá para o inferno! Temos a
vovó, e eu tenho você!
Otávio, então, abaixa a cabeça e chora sem suportar a pressão. Eu o
abraço, beijando-lhe os cabelos aloirados.
— E eu também tenho você. Se alivie, já é maior de idade. Tente
achar algo para ser feliz. Não sejamos como ela. Se inspire no homem que
nos criou. Ele é tão seu pai quanto um exame sanguíneo. Sabe que ele, ao
descobrir da traição, não te abandonou, pelo contrário, te amou e te amaria
até a velhice, caso estivesse vivo.
— Eu sei! E ele é meu pai! Está na minha certidão de nascimento! E
que se foda o restante! Não vou continuar um vagabundo! Já tomei uma
decisão!
Meu coração dá uma pontada de susto.
— Do que está falando?
— Calma, você já sabe. — Ele sorri fraco. — E sinto muito pelo
Felipe. Ele é um cara bacana, do bem. É ele quem estava me ajudando a
mudar. Espero que saia dessa.
Eu suspiro, voltando a lacrimejar ao me lembrar da situação daquele
homem tão cheio de "demônios". Ele tem que superar esse passado horrível e
recomeçar do zero. Felipe precisa sair daquela delegacia, pois não vou
suportar se ele for acusado e transferido para um presídio. Não vou mesmo, o
amo com todo a minha alma.
— Vem, maninha, saí desse sereno. Vamos comer alguma coisa.
•••
Na manhã seguinte de domingo, eu acordo ligeira, arrumando-me
para ir o quanto antes até a casa da Clara. Ao me levantar e ao pegar o
celular, eu li uma mensagem dela dizendo que precisava me ver urgente. E
lógico que eu quase tive um mini ataque cardíaco enquanto trocava de roupa
e saía correndo até o motorista, que já me aguardava na calçada. Nem penteei
os cabelos direito. Afinal, só tive tempo de me vestir.
— Oi, bom dia.
Na porta da linda casa da Collins, eu sou recebida pela empregada.
Ao entrar na sala, não encontro ninguém.
— Só um minuto, senhorita Eloíse. Clara está servindo o café de
manhã para as crianças. Ela pediu que assim que chegasse, a chamasse para
conversarem a sós.
— Tudo bem, a espero.
— Com licença.
Eu me sento no sofá; ansiosa, nervosa, mexendo os dedos gelados. E
cheia de pensamentos, desde a felizes a tragédias.
— Elô. — Clara não demora a surgir do hall, com uma calça rasgada,
camiseta branca e saltos pretos, vindo rápida até mim. — Leu a minha
mensagem? Bom dia!
— Sim. Bom dia. Disse que precisava falar urgente comigo?
— O Fernando sumiu!
— OI?! — Eu dou um passo para trás.
— Eu não sei onde ele está! Ele falou ontem à noite que iria resolver
um assunto e saiu de madrugada sem me dar mais detalhes de nada! Aquele
cretino!
— Cla-Clara, como assim? Será que ele não foi na delegacia?
— Não sei, eu já liguei para todos os cantos, até na agência, mas
ninguém me atendeu! Eu gostaria que você fosse lá comigo, por favor!
— Não acha que está cedo, não quer esperar mais umas duas horas até
às nove? Vai que ele surge?
— Não, Eloíse. — Ela coloca a mão na cintura, tentando não chorar.
— Eu acho que o Fernando subiu no morro do francês atrás das
provas contra o Felipe. E ele não quis me falar. Eu estou apavorada
imaginando só o pior! Ainda não atende nenhuma das minhas ligações!
Com a notícia, eu fico angustiada. Todavia, não podemos sair como
loucas atrás dele.
— Eu acho melhor esperar, pois sair assim, correndo, procurando
desesperada... não vai ajudar. Pelo contrário, pode até acontecer algo pior.
— Eu sei... — Clara se senta. — Se ele tiver feito isso sem me avisar,
ficarei muito chateada. Passei a madrugada toda em claro!
— Vamos esperar mais um pouco.
Ela concorda. A seguir se levanta, pedindo-me insistente para
participar do café da manhã junto com as crianças e a Marta. Eu aceito, já que
não comi nada quando sai da pensão.
Dez minutos depois, chega a mãe da Collins, a dona Juliana e o
Guilherme. Ao conversarmos, eles também repetem a mesma coisa que eu
disse, sobre a Clara aguardar o Fernando. O que ela faz. E posso dizer que foi
uma decisão certa, já que o Fernando apareceu às 13h40 da tarde; com
ferimentos.
— Você me deixou louca! — Ela para na frente dele, tocando no seu
braço e no seu rosto. — Por que está ferido? Saiu ontem sem me dar mais
informação!
— Fernando, onde você estava? — Marta também vai até ele.
— Eu estou bem. O Augusto passou por aqui? — Ele é direto, sem
enrolação.
— Não. Por quê?
— Sabe onde eu posso encontrá-lo, Juliana?
— Não sei. Ele saiu cedo, sem me dizer seu destino — ela, que está
sentada com a neta no colo, explica preocupada. — Aconteceu alguma coisa?
Vocês estão estranhos.
— Augusto está na correria para esclarecer o caso do Felipe. E eu
preciso falar com ele, antes de pegar aquele bastardo.
Eu arregalo os olhos, acabo de compreender como é sentir o coração
pular pela boca. Clara e todos nós reagimos iguais.
— O que você disse? E-ele foi solto? — Eu pergunto, já quase
chorando.
— Amor, o Felipe vai ficar em liberdade?
— Sim, o delegado estava o mantendo na delegacia por conta das
denúncias dos irmãos e dos tiroteios no apartamento. Mas o juiz não declarou
prisão preventiva. E até o momento não está entendendo que há provas para
manter o acusado preso, graças ao Augusto.
Gui, Juliana, Clara e eu sorrimos. Parece que eu tomei um fortificante
e estou reerguendo as forças.
— O que vai acontecer depois?
— Está em fase processual. Farão análise de provas, relatos de
testemunhas, se houver. Tudo estará nas mãos do advogado e do juiz. Por
enquanto, Felipe se encontra em liberdade.
— Ah, meu Deus, que alegria. Obrigada, Senhor, obrigada, Senhor!
— Marta exclama, recendo o abraço apertado da Clara.
Eu limpo as lágrimas, feliz por ele finalmente estar livre.
****

Eu me levanto, nervoso.
Eu vou surtar dentro deste inferno. Eu quero ver a Eloíse mais do que
tudo neste mundo. Eu não posso acreditar que ela está grávida. Eu não
consigo cair na real, já metia a cabeça na parede mais de mil vezes para enfiar
essa informação no meu cérebro, mas não tem como. Eu estou
enlouquecendo. Ficar preso aqui faz com que você entre em crise de colapso.
E te faz preferir a morte a passar o resto da vida entre quatro paredes sujas.
Ah, que inferno, porra! Eu chuto o nada... e antes de voltar a me deitar
no caralho da cama de concreto, um policial aparece batendo na grade e
chamando-me pelo nome.
— Felipe Alencar?
— Eu?
Ele começa a abrir o cadeado.
— Me acompanhe, o delegado quer falar com você.
— Mais perguntas e investigações? — Eu me levanto desanimado e
vou até ele.
— Não. Parece que está em liberdade.
Em surpresa, eu franzo o cenho. É uma piada?
Sem fazer mais perguntas, eu sigo o policial até a sala do delegado
Jonas. No interior, encontro o Augusto sentado de frente para a mesa dele,
finalizando minha liberação, que é verdade.
— Olá, Felipe.
— Olá.
— Sente-se, por favor, quero explicar seu processo de soltura em
análise.
Eu me sento e o delegado vai direto ao ponto, explicando todo o meu
caso. E após eu finalmente ter meus pertences devolvidos e a liberação
decretada, eu saio.
E porra, que sensação é essa? Não tive tempo nem de parar para crer
na minha soltura.
— Como se sente? — Augusto pergunta já fora da DP.
— Fedido e louco para comer um podrão. Trabalhei como policial, só
que nunca tive a "maravilhosa experiência" de ficar encarcerado. Uma
merda!
Augusto balança a cabeça.
— Fico feliz por se sentir livre. No entanto, seu caso ainda se
encontra em análise. Tente colaborar para virar réu. E você está dependendo
do Fernando.
— Eu dependendo dele? Onde aquele louco está?
— Ele quem te buscaria hoje, contudo, o que foi fazer é um risco de
vida. E não recebi nenhuma informação desde ontem sobre o seu estado.
— Droga, Augusto... o que o Fernando fez?
— Fernando subiu no morro.
— O QUÊ?!
Esse filho da mãe não fez isso!
— Eu não acredito. Me leve agora mesmo na agência!
Capítulo 50. Parte II

[...]
Dentro do carro, enquanto Augusto dirigia, eu ligava como um louco
para o Fernando. Até que, graças a Deus, esse estrume atendeu uma das
minha cem chamadas.
— Seu desgraçado... onde você está?
— Filho da puta! Eu quem pergunto o motivo de estar me ligando no
momento em que estou a caminho da delegacia para te buscar! — Ele
esbraveja bravo do outro lado.
— É que aqui é obrigatório o preso ter um celular.
— Vai se foder.
— O Augusto já me soltou. Estamos indo para a agência. Ele disse
que você subiu no morro. O que pensa? Quer morrer, Fernando? Você tem
uma família!
— Exatamente, eu tenho uma família! É por isso que eu estou
salvando a pele do meu irmão! E continue indo para a agência! Acabo de
pegar outra rota! Lá a gente conversa!
Ele desliga na minha cara. Que porra!
— O que houve? — Augusto pergunta.
— Fernando ia me buscar agora na delegacia, no entanto, como eu
avisei que você já havia me pegado, ele se redirecionou também para o nosso
destino.
Não sei... mas desconfio que o Fernando tenha feito alguma coisa
naquele morro. E espero que ele me conte. Aliás, igualmente sobre as
investigações e sobre o depoimento dos irmãos franceses.
— Eu vou para casa. Avise ao Fernando que à noite nos falamos.
— Tá bom. Valeu, Augusto!
Augusto só me deixa na porta e vai embora. Eu entro, já dando de
cara com meu amigo. Ou parça de crimes; Leão.
— E aí, 69. Como você está?
— Dois dias sem tomar banho — digo assim que ele aperta a minha
mão.
E ele não demora a soltar seus dedos e me empurrar com cara de nojo.
— Sai daqui, puta cheiro de queijo podre!
— Vai a merda.
— Era muita felicidade para pouca paz. — Murilo e 03 vem
caminhando do outro lado da recepção. Nem percebi a presença deles.
— Não me diga... quis assustar a gente, Felipe?
— Não se preocupem minhas dançarinas de stripper, seu macho já
está de volta para organizar o puteiro.
Leão chuta a minha perna e eu ergo a mão, rendendo-me.
— Ei, ei! Eu não bato em mulheres.
— Parece que a cadeia foi um parque de diversões para você.
— Quem me dera, 03. — Desta vez, eu cruzo os braços, com o
semblante sério. — Foi um inferno na delegacia, imagina numa
penitenciária?
— Se conseguirmos informações hoje, já se considere longe disso.
Sabe que nunca seria capaz de tal criminalidade.
— Quero saber é que informações "vamos" conseguir hoje para
provar isso.
— Já deve estar sabendo que o Fernando regeu uma operação de
emergência ontem à noite, onde reuniu mais de quinze carros. Fomos para o
morro — Murilo comenta.
— Eu já sei que ele se arriscou. E jamais aprovaria tal maluquice. Eu
sou um fodido que precisa resolver as coisas sozinho. Esse é meu passado e
não concordo com o Fernando nem a agência se arriscando!
— Sabe o que ele te responderia, né?
— Que é um fodido, e que se não calar essa boca de trambiqueiro, eu
te castro a língua! — Fernando, então, aparece na porta de entrada, com o
rosto arranhado e o braço machucado. Está mais bravo e sem paciência do
que o normal (como se fosse normal o vermos com paciência).
Ele para ao lado do Murilo e direcionando-se a ele, questiona:
— Onde você colocou ela?
— Lá embaixo, na sala de interrogatórios.
— Cuidaram dos seus ferimentos? Precisamos daquela vadia viva.
— Por enquanto não amputamos nenhum membro seu — Leão
responde e eu fico intrigado com eles.
— É, com licença, eu tenho duas bolas, mas não sou nenhum médium
para adivinhar o que os porras estão dizendo em código!
Fernando inclina o olhar semicerrado em minha direção e eu não
mudo o meu, mais semicerrado ainda!
— Iremos descer para você ver de que ilustre presença estamos
falando. Nos acompanhe!
Eles três começam a sair sem me esperar. E quieto, eu os acompanho
até a sala de interrogatórios. E antes de abrirem a porta, Fernando vira de
repente, segurando meu pulso com força.
— Te armas, Felipe?
— Não! Por quê? — Estranhando, eu afasto a mão dele.
— Só para te prevenir de uma futura loucura.
— Do que está falando?
Murilo puxa a maçaneta e finalmente eu vejo de quem eles três
estavam fazendo mistério. E porra! Franzo a testa, puto!
— O que droga essa mulher faz aqui?
— A operação no morro só foi possível na casa dos irmãos. —
Fernando entra e eu permaneço parado, encarando a vagabunda. — Ou seja,
na casa dela e do Luís, o primo mais novo. Eu sabia que invadindo o
"santuário" do chefão logo em cima da hora, sem planejamento, seria uma
puta sentença de guerra. E posso dizer que a minha decisão não poderia ter
sido a mais inteligente possível. Porque agora você está de frente para o
motivo em carne e osso dos seus demônios.
Tessa está sentada, algemada, com os punhos para trás e toda ferida.
Ela me olha, com os seus olhos negros. Entretanto, não dizem nada, são
vazios.
— Vocês cortaram a língua dela? — Refiro-me a ela não estar
falando.
— Deve estar agonizando de dor com o tiro na batata da perna —
Leão brinca. — Essa aí é boa com armas.
— O que pretende, Fernando? Você pegou as provas que eles diziam
ter contra mim? O delegado falou que estava implícito.
— Não. É óbvio que eles não têm, tudo não passou de ameaças. O que
precisamos é interrogar esta mulher para ela confessar a sua armação há mais
de dez anos. Como eu disse a poucos minutos, você está de frente para o
motivo em carne e osso dos seus demônios! — Após ele declarar, eu fito a
Tessa, encaixando o diagnóstico.
— Como pode ter sido você? — Ela não fala. — Abre essa boca!
— Eu não tenho nada para falar! — Enfim, esbraveja.
— Seu irmão Saulo já entregou seus podres! É melhor falar de uma
vez! Já está fodida! E se continuar aqui com essa bala cravada na perna, vai
morrer!
— Ótimo. Eu morrendo, vocês não têm a quem interrogar!
— Nem pela a sua filha vai querer sobreviver?
Ela arregala os olhos.
— Achamos a menina embaixo da sua cama... — Murilo sussurra. —
Se tentou escondê-la, é por algum motivo... será o "amor de mãe".
— Ah, que besteira. — Leão sorri malvado, com seus dentes
amarelos.
— Seus nojentos, vocês não toquem um dedo na minha filha!
Eu cruzo os braços, vegetando. Pois ainda não encaixo Tessa nesta
história.
— Diga toda a verdade!
— Foi eu!
— Como?! — Eu exclamo com os músculos rígidos.
— Isso já sabemos. Eu quero detalhes! — Fernando abaixa a cabeça.
— E desde o início!
— Se eu disser, vão devolver a minha filha para o morro?
— Podemos colaborar e entregá-la a algum parente seu. Agora fale!
Ela me olha e diz sem rodeios:
— Foi um plano para matar a minha mãe!
— Vo... você quis dizer que realizou aqueles esquartejamentos cruéis
e me fez acreditar ser o acusado? Sua desgraçada! — 03 e Leão
imediatamente me seguram.
— Continuem a segurar ele! E continue a falar, sua vadia!
— [...] foi um plano entre a facção inimiga do meu pai. — Ela desvia
os olhos. — Minha mãe descobriu que eu estava traindo a nossa família,
passando informações para eles em troca de dinheiro e presentes. Só que eu a
enganei, dizendo que era ameaças. E ganhamos tempo para planejar a sua
morte.
— Isso não explica o porquê de me colocarem a culpa! — Eu, por
pouco, não grito, furioso.
— Explica, pois eu desisti do plano de matá-la um mês antes!
Contudo, a facção não perdoou! E me chamaram de covarde! Eles mandavam
bilhetes dizendo que iriam me queimar viva! Foi então que aquela noite, sem
esperar eles armaram uma emboscada para me sequestrarem a força. E
conseguiram com sucesso.
— Sua mãe tentou salvar você!
— E se você não tivesse matado ela naquele acidente de carro, não
teria levado a culpa dos assassinatos nas costas! Pois a facção seguiu vocês
dois! E após a batida, eles pegaram o corpo dela e te raptaram sem
consciência!
Relembrando a noite do acidente, isso não vem a minha mente. De
jeito nenhum.
— E por que eles não te mataram ou te colocaram naquele banheiro
para ser a responsável pelas mortes? — Fernando cospe as palavras, antes de
eu desejar me soltar para voar sobre o pescoço dela.
— Porque eu consegui o perdão daqueles traficantes trouxas! E
convenci eles de colocarem a culpa no Felipe! Logo que meus irmãos já
sabiam que ele tinha um caso com a nossa mãe mesmo! E foi uma ideia
perfeita!
— Vagabunda! — 03 e Leão não me soltam. — Eu agora seria capaz
de te matar!
Tessa sorri discreta, sem um pingo de arrependimento.
— E a outra mulher? Por que esquartejaram ela e a sua mãe tão
cruelmente?
— Isso já foi maluquice da facção... pois tirar a cabeça e costurar os
olhos era e é da índole do meu pai. Eles fizeram a minha família "provar do
próprio veneno". A outra mulher era uma perua da favela, que já estava
marcada para morrer. Ela devia os traficantes. Pronto, era só isso que vocês
desejavam saber?
— FILHA DA PUA! — Grito.
Fernando suspira tão furioso quanto eu e vira, também me segurando
para eu não fazer uma loucura. Meu queixo treme, meus olhos estão vidrados,
sem piscar e prontos para saltarem. Eu aperto as mãos, semicerradas. De
verdade, eu seria capaz de estrangulá-la!
— Vem, vamos sair daqui, Felipe!
— E VAI FICAR ASSIM?! IMPUNE?!
— Não, a gente gravou tudo. — Murilo mostra o celular.
— Escuta, você não é culpado de nada... — Fernando apoia meu
ombro. — Bola pra frente, essa desgraçada é uma psicopata que vai pagar
caro pelos seus crimes. Você já pagou pelos seus erros, é hora de dar o
segundo passo, irmão. Chega de sofrer. Todos aqui nos empenhamos para te
ver longe daquela cadeia, longe desse passado, dessas aflições. Sozinho,
jamais conseguiria, eu sei disso, você é forte, mas não tão quanto nós, as
pessoas que te suportam e te amam. Chega dessas dores em vão. Vem logo...
Eu luto para não me emocionar com o peso saindo das minhas costas.
Ninguém sabe, ou entende como é conviver com a dúvida... com a dor
de se achar um assassino por mais de uma década. De colocar a cabeça no
travesseiro e de se imaginar com um facão, destroçando pedaços humanos.
Eu paguei caro pelos meus erros. E não escondo que errei como um fodido e
mereci. Mas eu quero ter outras escolhas, outras oportunidades, meu Deus.
Eu quero ser bom. Eu amo a minha loira, eu já amo meu filho que mal sei se
existe, eu amo me sentir vivo pela primeira vez. Eu amo ser feliz.
E eu sou inocente! Eu sou inocente porra!
Capítulo 51

— Desse jeito, você vai ficar sem os belos lábios, minha querida —
Guilherme sussurra, sorrindo acolhedor, por eu estar mordendo a boca de
ansiedade e de nervosismo, sem parar. O que eu nem havia percebido.
Augusto passou agora pouco aqui na casa da Clara, dizendo que havia
pegado o Felipe na delegacia, entretanto, a pedido dele, o deixou na agência
logo em seguida. O Fernando foi também para a agência, Clara acabou de
ligar para confirmar a informação com ele.
— Acho que eu vou para casa descansar — cansada de ficar sentada,
eu me levanto com o rosto inchado de tanto chorar.
E graças a Deus, muito melhor psicologicamente.
— Certeza, Eloíse? — Clara se ergue do lado da mãe, preocupada. —
Não vai esperar por ele?
— Talvez nem venha. Deve estar cansado, querendo tomar um banho,
comer alguma coisa e dormir.
— É bem improvável. O que foi? Ficou diferente? Está triste?
— Não foi nada. De maneira nenhuma. Eu estou feliz, de verdade. No
entanto, também quero deitar um pouco. Já vou, preciso repousar tranquila...
— Desvio-me do assunto. E sem contrariar-me, após eu me despedir do Gui e
da dona Juliana, Clara apenas me acompanha até o motorista do lado de fora,
sendo insistente sobre o motivo da minha mudança de humor. Só que não
estou mudada.
— Por que ficou estranha? — Ela insiste.
Resolvo ser sincera.
— Talvez eu tenha me chateado por ele não ter aceitado a minha
visita ontem. E agora que saiu, eu não sei — dou de ombros. — Eu precisava
vê-lo, abraçá-lo, senti-lo. Eu amo aquele homem.
— Elô, não fique magoada por isso, você vai vê-lo. Essa tensão toda
não faz bem para você e nem para o seu bebê. O que aconteceu, foi de fortes,
extremas emoções. E o Felipe só... bom, é difícil limpar a barra daquele
imprevisível. Porém, não é hora disso. Certeza que só foi orgulho, medo de
compartilhar o que estava passando dentro de si. Ele, da mesma forma, te
ama. E sei que é tanto amor que nem o próprio sabe como lidar com esses
sentimentos de proteção e de querer ver a sua amada bem.
— Eu entendo, pois nem eu sei às vezes como lidar com esses
sentimentos apaixonados — limpo as bochechas molhadas. — Será que ele
vai me procurar hoje? Necessito de contar da gravidez logo. Isso já está me
enlouquecendo.
Clara arregalo um pouco dos olhos.
— É... é claro que ele vai. Não tenho dúvidas — ao pigarrear, ela
parece pensar sozinha. — E peço desculpas a você.
— Desculpas?
— Sim... depois saberá o motivo das minhas desculpas, ou não.
Estranhando, mas ansiosa para ir embora, eu me despeço com um
abraço bem apertado, sem mais conversa. Adiante, entro no carro, respirando
sem energia. Só preciso descansar. O pior já passou, mesmo que a incerteza
do Felipe parar numa penitenciária seja... provável. Todavia, não pensarei
mais nisso. Aperto meu corpo e encosto a cabeça na janela. Quando eu chego
em casa, a primeira coisa que eu faço é tomar um longo banho quente, depois
deitar a coluna na cama macia, fingindo viver um conto de fadas, onde nele,
eu consigo dormir vinte minutos no colchão de plumas do príncipe.
Ao anoitecer, eu vou para a cozinha inventar algo comestível —
minha barriga ronca. Mas, pela sorte do destino, eu encontro a vovó já
preparando uma deliciosa pizza portuguesa. Aproveito para ajudá-la a montar
os ingredientes que faltam. Enquanto isso, a atualizo sobre as notícias do
Felipe.
— Você está esperando ele vir aqui?
— Por dentro, sim, contudo, não vou atrás dele.
— Não estava doida para ver esse homem, minha filha? — Ela
resolve frisar meu desejo não tão omitido. — O ama, ou esqueceu?
— Claro que eu amo aquele ser humano complicado. Só não vou ficar
ligando e atrapalhando as coisas nesse momento difícil. A Collins teve razão
ao dizer que o Felipe possa estar só com medo. Quem sabe atordoado?
Aflito? É uma situação de desespero. Quero que ele descanse, pense melhor e
possa me pro...
— AAHHH!
De repente, a vó Aurora dá um grito de susto atrás das minhas costas,
deixando a colher suja e o copo do molho de tomate voarem estridentes no
piso branco. Eu me assusto, virando tão ligeira para ver o que aconteceu que,
sem querer, as minhas rasteirinhas escorregam nos cacos e me levam por
pouco... por muito pouco, de bunda para o chão... pois, em menos de um
estalar dos dedos, eu sinto mãos firmes me segurarem pela cintura e girarem-
me, puxando-me a favor do seu peitoral e da sua pélvis máscula. Sou salva!
— Meu deus!
Eu fecho os olhos, ofegante, e abro sem acreditar no motivo do grito,
da bagunça na cozinha, no meu coração e no meu cérebro. Então, sem
aguentar eu choro, o abraço mais forte do que tudo no mundo. Ah, meu
senhor!
— Felipe... — minhas lágrimas molham sua camisa. — Você quase
matou a minha vó, seu doido.
Ele ri, acariciando meus cabelos e beijando-os.
— Eu te amo...
Eu não o largo e nem ele solta suas mãos de mim.
— Eu também te amo. Te amo muito.
Quando eu volto a encará-lo em prantos, não temos tempo para mais
nada, beijamo-nos com pressa, amor, desejo, saudades — milhões de
sentimentos embrulhados, confusos, felizes. É abrasador de tal forma que o
meu peito salta. Sua barba grande arranha meu rosto, eletrizando-me a tocá-la
na medida em que seus lábios conduzem os meus junto da sua língua hábil.
— Ham-ham, queridos... — vó Aurora pigarreia. — Tem uma
velhinha de respeito aqui.
— Felipe! — Sem ar, eu me afasto e ele cola nossas testas, sorrindo
sedutor. Eu retribuo o sorriso.
— Desculpa, dona Aurora — ele ergue a cabeça. — Digo pela sujeira
que fiz.
E o beijo? Foi uma vergonha.
— É... é melhor que eu limpe o chão — o afasto. — Tem cacos de
vidro e podem ser perigosos.
Quando eu ia começar a deslocar-me, Felipe me impede bruto.
— Exatamente, e se você cair de novo, loira? Não mesmo, cadê a
vassoura e o pano de chão, dona Aurora?
— Não precisa, filho, eu limpo. O copo não se quebrou muito.
— Não, vó, eu limpo, é arriscado!
— Não vai! — Ele infla o peito e de um minuto de saudades, eu já
quero socá-lo!
— Eu vou limpar, já disse!
— Não! Onde tem uma vassoura?
— Chega, não creio que vão se estranhar depois de uma
demonstração de amor linda dessas. Saem daqui, andem! Eu mesma limpo!
— Vó é perigo...
— Eloíse, eu vou te mandar embora a base de vassouradas! Vão para
sala, os dois! Perigoso é vocês brigarem!
Felipe ri, pega na minha mão e pede desculpas outra vez a ela, em
seguida, arrasta-me sem o consentimento das minhas pernas.
— Felipe, a vovó vai pisar naqueles cacos!
— Imagina, não tem tanto vidro. E acha que eu não vou acreditar que
ela é capaz de uma vassourada? Aquela ali é amiga da minha mãe. Marta já
me tacou até panela nas costas. E por favor — no hall da antessala, sem
avisar, ele me joga na parede dura, pressionando o tecido do meu vestidinho
curto. — Eu preciso ficar a noite, a madrugada e a vida inteira junto de você,
sentindo seus lábios...
Desvio-me do seu rosto sexy, pronto para me fazer viajar na sua boca
carnuda.
— Nada disso! Você vai escutar tudo o que eu passei nesses últimos
dois dias! Sabe como quase me matou de angústia? Medo? Terror? Eu queria
te ver naquela bendita delegacia e nem isso você permitiu para poder acalmar
meu coração! Eu fiquei ontem e hoje na Clara, lutando contra às horas no
torturoso relógio!
— Por favor, eu fui um covarde orgulhoso. Não queria te ver, pois
isso me machucaria. E eu peço perdão, Eloíse. Não fique magoada comigo.
Prometo te contar tudo.
— Contar que é possível você ir parar numa penitenciária? E que a
qualquer momento pode ser o nosso último momento? — As lágrimas voltam
sem eu mandar. — Eu já sei.
— Não, não sabe. E eu não vou parar em nenhuma penitenciária. Eu
sou inocente.
— Co-como? — Eu entro em choque.
— Vem, vamos conversar lá no seu quarto.
Ele nos leva para cima. E assim que fecha a porta, senta-se na
poltrona, fazendo-me igualmente sentar no seu colo para começar a detalhar
todo ansioso o que acabou de descobrir na agência com o Fernando. E eu só
pude chorar de tamanha alegria.
— Eu sabia que você não era culpado! Eu sabia! — Abraço-o,
agarrando seus cabelos úmidos com entusiasmo.
— Acho que só eu não acreditei na minha própria inocência. Não sabe
como eu me sinto mais vivo agora.
— Imagino — eu encaro suas íris, respirando aliviada. — É oficial, o
senhor é um novo homem!
— Espera — ele pisca. — Corrigindo: "é oficial, eu sou um novo
anjo".
— Bobo — o beijo.
Felipe aperta meus quadris, acariciando minhas coxas nuas e
demonstrando desta vez estar inquieto.
— Tem algo que está me matando, Eloíse. E você precisa dizer logo,
senão eu vou surtar.
— O que foi? — Franzo o cenho, curiosa.
Ele então coloca a mão na minha barriga.
— Você está esperando um filho meu?
Em pavor, eu arregalo os olhos.
— O-o quê???
Eu tento me levantar, mas ele não deixa de jeito nenhum. Acabo de
ter um ataque cardíaco.
— Diga?
— Senhor amado, como você soube? Quero dizer, quem te contou?
— Fernando, uma noite antes de eu ser liberado. Vai, mulher! Eu vou
ficar maluco!
— Maluca foi eu quem fiquei!
— Está ou não, Eloíse? — Felipe é direto, autoritário e desesperador.
A voz grossa dele me faz engolir em seco, e com as mãos trêmulas,
desvio-me dos seus olhos.
— Sim...
Ele aperta meu corpo, em choque. E choro, já emocionada.
— Ainda não fiz os exames por um médico. Foi pelas canetas de
teste. Clara quem comprou.
Sem dizer nada, ele sorri. E não acredito — de orelha a orelha. Está
feliz?
— Porra! — E sem esperar, Felipe me abraça e agarra as minhas
pernas, erguendo-me forte do seu colo.
— Felipe!
— Loira, eu sou o homem mais feliz desse mundo! — Ele me joga na
cama com seu peso por cima.
— Jura?
— Deus, eu serei pai, não me faça perguntas nesse momento!
— Ah, e o bebê vai nascer de quem?
— Um bebê! Deus, teremos um bebê, loira!
— Felipe?
— Teremos um serzinho pequeno.
— Você está bem?
— Eu disse pra não fazer perguntas — o homem abaixa o tronco e a
boca na minha barriga, beijando-me nervoso. — Acho que já paguei o preço
dos meus pecados valendo pela próxima reencarnação, não posso sair
ganhando nessa, meu Senhor?
— Eu vou te levar num médico.
— Xiuu, deixa eu rezar.
— Rezar?
— Eloíse, já viu seu reflexo? Tu é uma puta deusa linda! Se tivermos
uma filha, eu vou criar uma artilharia em casa! Ela vai puxar seus fios loiros,
os olhos azuis e a beleza 60% do pai!
Eu rolo os globos oculares, mais revoltada do que feliz. Mesmo
assim, confesso que a felicidade não cabe no peito.
— Minha vontade é de bater em você! E tomara que seja menina!
— Enlouqueceu?! — Assim que eu digo a palavra "proibida"
(menina), Felipe se ergue rapidamente. — Fernando vai zombar de mim até
depois da morte! Sabe como eu reagi quando a Adri nasceu? Torturei o
psicológico dele dizendo da beleza puxada da mãe, até levar um tiro de
raspão no pé!
— Bem feito! Vai provar do próprio veneno!
— Sua maldosa!
Eu sorrio, encaixando minhas coxas no seu quadril.
— Eu te amo, Felipe. Além de você, eu me sinto a mulher mais feliz
do planeta terra inteiro. E ver que está alegre por termos uma filha...
— [...] ou um filho — interrompe.
— [...] é, ou um filho — revivo os olhos de novo. Ele sorri. — É
maravilhoso!
— É só o começo, minha princesa. Você é minha para todo o sempre.
E não vou perder mais nenhum minuto para te ter acordando todos os dias ao
meu lado. Quero te conquistar a cada manhã e a cada final de noite com um
vinho bom, música e muito prazer. Não sou homem de duas palavras, por
isso, eu estou prometendo até o último fôlego de nossas vidas.
Ah, isso foi a declaração mais linda que eu já ouvi, do jeito dele, mas
foi uma declaração linda.
Sem dizer o que meus sentimentos já deixam explícitos, ao limpar os
lados da minha face molhada, ele volta a me beijar como sempre faz,
apaixonado, abrasador, flamante, feroz e mostrando que eu sou a sua mulher.
Capítulo 52

— Eu ainda não acredito que posso respirar feliz. Essa madrugada foi
horrível. Não preguei os olhos nem por um só minuto pensando em você.
Após Felipe virar para me deitar por cima do seu peitoral, ele fica
acariciando meus cabelos, enquanto eu, a sua camisa.
— Eu fui um covarde. Só quando o Fernando jogou na minha cara
que você estava grávida e que eu corria o risco de não ver o meu filho nascer
e nem de estar ao seu lado... que eu surtei feito um louco sem acreditar.
Tentei colocar na mente que não era verdade. Pois eu não sei se suportaria,
Eloíse. Não sei mesmo. Mais um dia naquela gaiola e as paredes se partiriam
com as batidas da minha testa.
— Por favor, não vamos pensar em coisas ruins. Já acabou. Você está
comigo e é isso que importa.
Eu ergo a cabeça e dou um selinho gostoso nos seus lábios, o que faz
ele desejar um beijo bem mais demorado de língua. Porém, eu não dou, tento
sair da cama para descer e saborear da pizza da vovó. Eu estou roncando de
fome.
— Como é maldosa — Felipe me impede, dramático. — Até quando
eu acabo de sofrer dentro de uma cela, você judia de mim. Vem cá me encher
de beijinhos...
— Eu gosto muito do senhor. Só que a pizza lá embaixo é meu grande
amor. Sinto muito. Me solta, moreno.
— É assim? — A carinha de tristeza dele é a pura safadeza.
— É assim, seu sem-vergonha! E vai, se levanta, já demoramos
demais neste quarto! A vovó pode pensar que estamos fazendo coisa errada!
Sem evitar, ele gargalha.
— Ah, é claro, como se não fossemos dois adolescentes virgens.
Falando nisso, será que a sua vó não poderia ligar para os meus pais e pedir
para eles me deixarem passar esta noite aqui brincando de papai e mamãe
com a minha coleguinha loira?
— Felipe, larga de ser palhaço!
— Não fala assim senão eu te esnobo na escola!
Eu rolo os olhos, levantando-me.
— Como é infantil! Vamos descer logo, amiguinho de tamanho "P".
Instigado, ele franze o cenho e antes de eu abrir a porta para sair
fugida, o deuso gato me agarra por trás, enconchando seu pau contra a minha
bunda.
— Felipe, me larga!
— Tamanho P?
— Exatamente!
— Tamanho P nem a minha língua tem!
— É? Eu nem sinto ela! — Assim que eu vocifero, Felipe pega ligeiro
na barra do meu vestido, ergue-o e estapeia ardido na pele do meu traseiro.
— FELIPE! AIII!
Eu bato nele, lutando para me soltar. Só que, em seguida, esse cretino
apanha os meus pobres fios loiros desde a raiz e me esfrega o volume do seu
cacete trincado dentro da calça. — Aí, seu bruto! Quando a brincadeira é
mais embaixo, você não gosta, né? Canalha! Minha bunda está ardendo! Isso
não vai ficar assim!
— Safada provocadora da porra! Está fazendo isso porque está doida
para ter meu pau metendo duro entre essas suas pernas brancas! — Puto, ele
sarra mais forte e mais sem pudor no meio das nádegas.
Ai, que delícia. Até me falta ar.
— P-pois que se dane, eu estou mesmo!
— O quê?!
Não sei se é por eu estar grávida, mas só de ver o Felipe, eu já sinto
ânsia de transar 24h por dia. O calor me consome, pareço um vulcão pronto
para expelir entre as coxas.
— Ah! Eu não ouvi isso não, pode repetir a resposta? — Ele morde o
meu pescoço com a preza dos seus dentes, tocando na testa quente da minha
intimidade por dentro da calcinha.
— Hmm, não... — Seguro sua mão grossa, impedindo que ela desça
mais. — Vó... vovó está nos esperando. Mais tarde, o senhor Alencar cobra a
minha resposta. Terei o maior prazer em repetir com o seu pau duro estre as
minhas pernas.
— Porra, caralho... você me mata, Eloíse! Acho que eu preferia a
prisão a mais dez minutos ouvindo suas palavras provocantes! Diaba loira! —
Ele me solta, virando-me para me beijar invasivo e com pega de um homem
cheio de tesão.
No entanto, com sacrifício, o meu tarado me larga resmungando e
descemos para comer da pizza recém tirada do forno pela Vó Aurora.
Também encontramos o Otávio a mesa — o que levou ele e o Felipe a
ficarem por "horas" conversando sobre umas tais etapas de novatos que ele
enfrentará na agência e blábláblá pois eu estou morta de sono e cochilando
sentada. Não terá mais sexo!
— Eloíse? Filha?
— Oi? — Ela me acorda.
— [...] fiquei feliz por te ver livre, é um cara bacana... deve ser um
inferno ficar prezo.
— É uma experiencia que eu não recomento, Otávio.
— Rapazes, em outra ocasião, vocês conversam melhor sobre isso.
Vamos dormir. Felipe teve dois dias cansativos e inimagináveis sendo
acusado por um crime que não fez — vovó se refere às informações que ele
omitiu da existência dos franceses e de como foi a morte das duas mulheres.
— Eloíse sofreu, e os dois merecem descansar. Chega de relembrar desse
acontecimento triste.
Devo concordar que a vovó tem razão, chega de passado. Sem esse
peso na consciência, o Felipe é um novo homem. Vemos de longe o brilho de
alegria nos seus olhos. Não é falso, oculto e misterioso. É ele, é sem
explicação. Que a partir de agora a sua única luta seja para fazer essa Tessa
pagar caro pelo seu crime. E para sermos felizes sem medidas.
— Eu sabia que eu ia te fazer acordar rapidinho... — Ao retornarmos
para o quarto, ele tranca a porta, mordisca meus lábios, meu pescoço, meu
decote e joga-me sobre o colchão.
Encontro-me é acordadíssima!
— Vai, Felipe, sem preliminares!
— É como pedir para um artista pintar numa folha de caderno
qualquer, minha deusa — ele tira a camisa, observando-me todo safado-
cafajeste. — Eu quero degustar cada parte do seu corpo, atenuando com a
minha língua devoradora.
— Para de falar e vem logo! — Eu me inclino, tocando no seu
abdômen definido e no seu volume delicioso. — Eu estou subindo pelas
paredes!
Cheio de paciência, brincando comigo, ele se afasta, terminando de
tirar os sapatos, a calça jeans e por fim, permanece apenas de boxer azul. E é
uma visão espetacular. Toda uma plateia bateria palmas de pé, com certeza.
Que homem! Que músculos! Que abdômen! Que gostoso! Aproveito para
arrancar o vestido. Fico só de lingerie branca.
— Gosta do que vê?
— Muito... — Mordo os beiços. — Mas eu quero você logo! Vem,
Felipe!
— Calma, gostosa.
Ele acaricia meu rosto, segura meu queixo e aperta meus lábios para,
em seguida, me empurrar.
— Eu vou tirar essa tensão, relaxa.
Ah, tá. Se fosse ele, estava convocando até o diabo das profundezas
do inferno.
Felipe arqueia as costas, vindo até mim, beijando-me os dedinhos do
pé, a batata da perna e a carne macia do bumbum. Ao se debruçar entre as
minhas coxas, apalpa-me, morde, cheira... e perto do meu sexo, esfrega a
ponta do seu nariz sem maiores cerimônias.
— Felipe... — murmuro de desejo.
— Perfeição... — ele abocanha minha bucetinha por cima da calcinha
lambuzada.
Eu fico estremecida, inchada, encharcada de ansiedade. O canalha
nota a pulsação. Só que ao invés de me penetrar a língua, ele me abandona
ofegante e sobe para os meus seios, onde abre o fecho do sutiã igual
profissional, apertando-me possessivo, adiante, chupando-me com desejo,
fome, lascivo. Eu delírio. Ele se diverte com os bicos duros, mordiscando-os
selvagem, lambendo instintivamente lento e feroz. Enquanto as suas mãos
másculas percorrem as voltas do meu corpo, indo e voltando na minha
bocetinha desesperada. Eu salivo rouca, pedindo-o misericórdia.
— Por favor... me penetra... — Jogo a cabeça para trás. — Mete em
mim!
Ouvindo-me ou não, Felipe para de dar atenção aos peitos empinados,
descendo a saliva da sua boca cálida até a minha barriga; e beija meu umbigo,
a virilha, fazendo todo o processo brando que me leva a mais e mais
lubrificação. Aperto o travesseiro, e como um cachorro vira-lata, ele rasga a
calcinha e passa a língua de baixo para cima na minha vagina.
— Oooohh...
— Céus, que visão incrível... — Eu sinto o calor da sua voz, o hálito
de um animal sobre o meu corpo. — Rosadinha, loirinha... porra, linda! —
Ele me fareja e eu gemo de prazer. — É um gosto doce, convidativo, perfeito
para me deleitar a noite inteira!
— Felipe... — eu pego nos seus cabelos, forçando a sua cara na minha
intimidade latejante — me faça gozar. Pelo amor do meu desejo, me faça
gozar agora mesmo!
— Qual as palavrinhas mágicas? — Ele me beija na parte interna bem
perto da xota.
— Me foda?! Me coma?! Me devore?!
— Não.
— Por favor... por favor... por favor!
— Também não. É me chupa, meu anjo!
Sem ao menos esperar, ele abre a minha vagina com seus polegares e
afunda a língua hábil, sugando o clítoris sem pena. Eu urro, contorço-me,
berro de satisfação aos quatro cantos da terra. Felipe me devora a boceta com
destreza, alternando entre beijos e lambidas. Ele não para, suga até o estreito
do meu cuzinho que pisca.
— Ahhh... Felipe — esfrego-me deliberadamente na sua cara,
gritando sem cessar igual louca e gozo sem medo de nos escutarem.
Ele absorve meu mel, como se fosse um ralo engolindo água!
— Huumm!
— Maravilhosa... assim os hóspedes vão nos ouvir. — Sem ar, ele se
ergue, exalando sexo e tampa a minha boca. Eu choro tremendo. — Shiiuu,
gostosinha... só estamos começando.
Felipe desce a boxer que mal cabia seu pau e a textura do seu pênis
duríssimo bate na minha virilha, expelindo espasmos de excitação. Eu afasto
a mão dele, respirando acelerada.
— Eu te amo! Te amo!
— Após um sexo oral, não vale declarações — sorri.
— Va-vale sim... droga... umm... isso... — ele esfrega a cabeça da sua
piroca na minha gruta melada de gozo.
— Que gostoso seus gemidos... loira. Eu estou enlouquecendo de
vontade te foder como um louco! — Diz, rebolando e roçando gostoso.
— Penetra em mim... você não tem esse autocontrole! Penetra!
— Eu tenho quando eu quero, mandona!
— Você está se vingando!
Brava, puxo seus fios!
— Me foda, cretino!
— Ai, caralho! — Ele bate na lateral do meu traseiro, gruindo
enfurecido de dor.
— Seu canalha! Cafajeste!
— Diaba infernal. Eu vou te deixar assada nessa buceta loira! — Meu
coração para. A minha coluna se arqueia. Feito um ogro, ele me agarra pelas
nádegas e arromba-me, penetrando seu mastro bem-dotado, indo até o limite
das bolas, sem pena. Pela primeira vez, a minha boca se abre a procura de
voz. E quando eu retorno cheia de fôlego, pronta para bradar de desespero e
de prazer, Felipe impede doloroso, bombardeando o seu membro sem dó
dentro de mim, à medida que geme. Oras indo feroz, oras indo lento e animal.
Ah... como eu te amo meu doce canalha. E não preciso repetir em
palavras, pois os meus e os seus olhos dizem isso a cada segundo que se
encontram em meio às idas e vindas que me investe, conquistando a cada
atrito a minha alma e o suor de paixão para si.
•••
— Ei, linda, o que foi?
Mais tarde, bem de manhãzinha, eu acordo correndo para vomitar
toda a pizza de ontem à noite. E agora que eu voltei para o quarto, sem força,
após escovar os dentes, encontro o Felipe acordado, aguardando-me nervoso.
— Não se preocupe, moreno. É as maravilhas de ter um bebê dentro
do seu útero.
Assim que ele ouve a palavra "bebê", ele puxa um sorriso tranquilo,
abrindo espaço para eu me sentar na cama.
— É o meu meninão. Já está dando os sinais ao seu pai.
— É, é sim... — reviro os olhos — Eu vi no vaso, o vômito era azul!
— Que droga, sua respondona! — Ele me captura pelos quadris,
deixando a marca vermelha dos seus dedos.
— Para, Felipe, eu já estou bastante dolorida de você — meu
murmuro sincero faz ele me soltar e me abraçar mais amoroso.
— E se eu der beijinhos, melhora?
— Não.
— Por que não?
— Porque... vamos dizer que o lugar onde eu sinto dor não é muito
apropriado.
Ele sorri.
— Compreendo, mas e esse pescoço aqui? — Inesperado, arrepio-me
com a aproximação no cangote. — Tá tão cheiroso... — ele abocanha. —
Apaixonante...
— Meu moreno, para...
— Certeza?
— Sim.
— Tá bom. É que a minha namorada é maravilhosa, fica difícil
resistir. Vai querer que eu te deixe na empresa da Collins? Preciso ir, tenho
que passar na delegacia com o Fernando, para entregar a vagabunda francesa
e o primo dela.
— Não se incomode. Ainda tenho que tomar banho para me arrumar.
Não sei se a Clara vai querer me fotografar hoje. Esse final de semana foi
horrível para ambas.
Ao concordar, Felipe se ergue esbelto, dando-me a visão da sua bunda
nua. Eu finjo que sou uma puritana santa, para ele não perceber meu olhar
admirado, de vontade apertar seu bumbum.
Depois dele se vestir e de nos despedir como amantes apaixonados, é
a minha vez de me arrumar para ir até a confecção ver o que será desta
semana. Espero, de verdade, que a Clara não pretenda terminar o catálogo
atarde.
— Oi, Eloíse do meu coração. — Guilherme vem me abraçar no hall
de entrada, todo saltitando. — Com você está, bonequinha?
— Eu estou bem. Vim ver o que será das fotos.
— Ai, vai ser na quarta, vamos subir, a patroinha quer falar com você.
Ela está tão animada para te contar uma coisa. Cruzes, não posso falar, estou
dando spoilers — ele faz cara de apavorado, mexendo ansioso no suspensório
colorido da sua jardineira jeans. — Vem, mulher! Senão a minha língua vai
fofocar!
Sem esperar, Gui agarra a minha mão e por pouco, não me arrasta
pelo piso de mármore.
— Gui, calma, criatura...
Após Guilherme me levar "super tranquilamente" até a Clara, eu
descubro o que ela gostaria tanto de me contar. E essa mulher é maravilhosa,
alucinante, ela não poderia ter me dito coisa mais doida. Porém, eu super
apoio.
— Você planejou agora?
— Sim, e é bom começarmos a arrumar as coisas o quanto antes.
Temos que arrasar!
— Isso é loucura, se o Felipe e o Fernando detestam festa surpresa,
eles não vão ficar furiosos conosco?
— Escuta, minha querida, esses bofes musculosos não têm o que
gostar!
— Isso aí, é o aniversário deles, Fernando faz na sexta que vem e o
Felipe um dia depois. E eles não tem o que contestar, Elô. Farei a festa do
ano!
— Eu nem sabia do aniversário dele — sorrio. — Já vou comprar
milhares de coisas no sex-shop, para as torturas.
— Minha nossa, dona Eloíse! — Guilherme arregala os olhos e
gargalha.
Clara fica divertida, rindo.
— Acho que faremos essas comprinhas juntas, minha cunhada.
— Clara, você vai torturar o Fernando? Sabe que isso é impossível,
né? Sempre diz que não dá certo. Além dele se vingar duas vezes pior.
— Não é nada difícil, era até fácil antes daquele cretino começar a
esconder suas algemas da agência no cofre do escritório! Desta vez,
comprarei correntes e cadeados para amarrar touro! A torturar será tão, mas
tão sofrida, que ele não vai poder se vingar por um mês!
— Misericórdia, mulher, esse homem vai se arrepender de ter
nascido.
— Vai mesmo — eu sorrio do comentário do Gui. — Felipe tem o
caso idêntico. Já estou frustrada dele sempre estragar as coisas. Usarei
mordaças para fechar seu bico.
— Eu tenho, quer emprestado?
— Gente, que isso? Quando foi que o clube das maldosas viraram
sadomasoquistas? Eu estou aterrorizado com vocês! — Ele coloca a mão no
coração fingido "chocado". — Minha alma pura pede uma missa de
libertação pelos ouvidos feridos de pecaminosidades.
— Olha, nem vem, safadinho. Eu sei que você está de rolo com um
boy por aí.
— Ui, não, não, neném! Não vai me tirar confissões que eu não vou
contar! — Ele faz cara de malicioso. — Mentira, eu vou contar, o nome dele
é Júlio e a espada de "César" é enorme.
Não suportamos e somos obrigadas a perder o ar de tanto rir.
— Ninguém te merece, purpurina desvergonhada. Mas vai, conta
mais da sua vítima...
Capítulo 53

Uma semana depois.

Eu entendo agora o que o Fernando passa quando briga com a sua


atrevida! E porra, eu estou surtando! Não acredito que esta mulher está
insistindo a três dias neste mesmo assunto!
— Eu vou ter bolas roxas, Eloíse!
— É? Que se dane! Vai lá resolver seu "probleminha" com a
"empregada"!
— Caralho, sua ciumenta! Se me deixar mais meia hora sem você, eu
mostro o "probleminha" de tamanho gigante te surrando!
De nariz empinado, ao abrir a porta do meu apartamento, ela passa
rebolando as nádegas redondas. Filha da mãe! Eu só não estapeio esse
traseiro branco porque eu deixaria ela sem sentar por mais de três semanas!
Bravo, eu bato a porta com força, taco a chave na mesa de centro e começo a
desmontar o blazer e a gravata que sufocava meu pescoço. Acabamos de vir
daquela desgraça de evento da Clara, onde ela apresentava as bostas dos
catálogos que eu não tirava os olhos, pois a minha loira estava toda hora
mostrando a droga dos peitos e por pouco a calcinha! Só não quebrei aquele
slide na base do tiro, porque o puto do Fernando me impediu!
— Você não tem o direito de me negar nada! Naqueles infernos de
catálogos, faltou por pouco não estar nua para tudo mundo ver! Além de ser o
filho da puta do cabelo cor de bombril que tirou as fotos! Eu vou castrar
aquele frango!
— Não adianta ficar 'bravinho'. Para a sua informação, a América
latina toda vai me ver! — Ela volta da cozinha com um copo de água. — E
isso não se compara a empregadinha que você vivia pegando escondido na
casa da Clara! Seu sem-vergonha!
— É passado! Eu já disse que nunca transei com aquela garota! —
Fuzilo-a. — Que porra, sua diaba! Parece até que você gosta de provocar
essas discussões só para me ver puto!
Nervoso, eu chuto a mesa, jogo o blazer bem longe e vou até a estante
de bebidas virar uma garrafa de cachaça inteira!
Eloíse não diz nada. Ela se levanta quieta do apoio da poltrona, indo
até a cozinha guardar o copo na pia. Ao voltar, passa por mim com os saltos
estalando e o pedaço de pano branco modelando as curvas do seu corpo
sensual. Ela vai para o meu quarto carregando uma bolsa preta, que, na
pensão, ao entrar no carro, guardou no banco de trás.
E foda-se!
Furioso com ela, eu não a sigo, nem faço questão. Cato a minha
cachaça que não discute e nem me deixa puto por conta de ciúmes e jogo-me
sentado de pernas abertas no sofá. Eu passo as mãos pelos cabelos, fecho os
olhos, deito a cabeça no encosto da costa, tentando relaxar a tensão dos
músculos, para igualmente esfriar o sangue quente — o que é em vão e não
dura nem vinte minutos, já que a Eloíse retorna com a sua presença
perceptível do corredor.
— Felipe? — Eu não abro as pálpebras. Sua voz soou doce, mas
venenosa! — Você ainda está bravo? — Não acredito que esse ser sem
coração está me perguntando isso! — Me olha... moreno. — Para quê? Para
ela me mandar se foder junto com a empregada? Diaba loira! Marrenta!
Provocadora! É o anjo do mau, isso sim! — Felipe... por favor, eu não queria
te deixar tão bravo... — Ela faz uma pausa que sinto a distância ser pensativa.
— Bom, eu queria sim. Vai, olha, por favor. — Pressinto Eloíse se aproximar
devagar. — Eu sei que você não está dormindo. — Ela para no meio das
minhas coxas, escondendo a sombra da luz. — Fala alguma coisa, homem!
— Não!
— Ok, vai ser assim? Vai mesmo perder esta vista? Comprei com
tanto carinho... vai te dar água na boca... é vermelho... com rabinho... tão
sexy...
Caramba, é difícil ser curioso. Eu então abro as pálpebras, em
seguida, a boca. Caralho, mano, mil vezes caralho! Eu chego a abandonar a
cachaça.
— Porra!
— Gostou? — Ela sorri. — Logo que me verbaliza tanto de diabinha.
Hoje eu serei toda a diaba em carne e osso!
Ah, que gostosa! Meu pau pulsa enquanto eu a observo da cabeça aos
pés e vice-versa. E sem evitar, eu surto, por pouco não a agarrando bruto.
Entretanto, ela pega o pequeno tridente de diabinha e puxa o cabo,
aumentando duas vezes a mais para colocar contra o meu peitoral. Cacete!
— Han, han, não, não. Eu quero que o senhor Alencar descreva o que
vê.
— Eu vejo é o céu aberto. Só pode ser o paraíso isso na minha frente!
— Felipe, se não for para fazer o que eu mandei, vai apanhar! — Ela
imediatamente desce o tridente para o pobre do junão Fefe, MEU PAU.
— Não é nem louca, sua maldosa!
— Fale! Eu estou esperando!
Que bosta. Meu caralho está quase explodindo dentro da cueca. Eu a
analiso duro como pedra. Dizer será como assistir um filme pornô e descrevê-
lo.
— Eu vejo essa porra vermelha que espreme os seus peitos, revelando
esses bicos rosados bom para dar umas mamadas!
— Se chama mini bory, seu tarado. Continua!
— Eu vejo... vejo... — Então inclino mais a vista e eu vejo mesmo!
Puta merda! Arregalo os olhos, putasso! — Eloíse, diaba do cão! Tem uma
abertura no meio dessa sua buceta!
Ela ri, amando me torturar.
— É, tem sim... E o bumbum? já viu o detalhe? — A loira dá uma
viradinha e eu deliro com a visão do meio da sua bunda enfiada num fio
dental minúsculo. E o rabinho vermelho colado no rego da fantasia.
Tento puxá-la para poder arrancar um pedaço da carne macia com os
dentes, no entanto, ela me impede de novo com o garfo afiado.
— Não ouse, mocinho.
— Eu vou meter o pau em você sem dó!
— Sabe que eu estou grávida, né? — Eloíse pisca. — Seja bonzinho.
Eu abaixo as sobrancelhas, sem responder.
— Vem, minha querida alma pecadora... — ela se afasta, maliciosa,
chamando-me safadona. — O inferno te aguarda lá no quarto.
— Eu prefiro me jogar da janela!
— Hum, está recusando fogo?
— ESTOU RECUSANDO O QUÊ?! — Eu brado com o olhar fatal.
E ao me levantar, Eloíse é ágil. Ela saí fugida. Safada! Gosta de
provocar, mas quando o bicho pega, corre!
****
Ao chegar no quarto quase correndo, eu o aguardo vir. E no momento
em que aparece na porta, muito, mais muito furioso — é tão raro ver ele
assim... eu aponto para a cama king.
— Senhor Alencar, bem-vindo ao inferno.
Ele cruza os braços musculosos, irredutível. Aff, eu vou socar a cara
dele.
— Não quero! Você vai me torturar!
— Nada disso... farei carinho em todo o seu corpo, eu prometo. Darei
beijinhos... o chuparei e massagearei.
Noto o tesão subir as duas cabeças da minha vítima sedutora.
Hoje nenhum método pode dar errado. A comprinha com a Clara foi
maravilhosa. Ela me explicou o modo de uso de um monte de "brinquedinhos
torturadores".
— Devo acreditar?
— É claro, meu amor... deite-se, sabe que eu não sou de mentir... —
eu sorrio com o coração "bondoso" e tão "sincero" que o "coitadinho" se
rende. — Só tire a camisa.
— Por que não tira você mesma, loirinha? Vem aqui. — Acho que
alguém pensa que eu nasci ontem, né? Ele me analisa, com fome de um
felino. — Podemos começar comigo sugando os lábios dessa xaninha loira.
Eu fico excitada com as suas palavras e aproximo-me, protegida com
o tridente.
— Só se você se deitar... — Faço carinha de "anjo", revestida de
chifres vermelhos.
— Pensa que eu sou burro? — Ele, então, sorri de lado. — Além
dessa fantasia, o que tinha mais dentro daquela bolsa preta? Coisas de
tortura?
Que canalha!
— Nada que te interessa! Cala a boca e se deita logo! — Perco a
paciência.
Ele sente prazer em me deixar com raiva! Entretanto, pelo menos, tira
a droga da camisa e deita-se, nervoso.
— Você vai ficar quieto enquanto eu te algemo! — Digo indo até a
bolsa pegar as algemas perfeitas. Elas são de corrente, com cabo distanciador.
— É sério? E como conseguirá essa proeza, dona bunduda gostosa?
— Zomba, descarado.
— Simples, seu cachorro, se não deixar, ficará sem nenhum sexo!
Eu vou até ele segurando o spray de pimenta. Já estava com saudades.
— Não tem coragem!
Sem dizer algo, eu chego bem pertinho, fazendo-o desfocar da nossa
briga e focar na minha intimidade a mostra, despida.
— Só me deixa usar as algemas, por favor?
— Eu vou enlouquecer! É isso o que você quer?!
— Eu...
— E não precisa responder!
É, é sim!
Ergo a perna revestida de meia, apoiada com o salto no colchão. Ele
balança a cabeça feito animal. E permito seu dolorido toque no meu
tornozelo.
— Só isso... só as algemas...
Ele não tira os olhos... vai subindo, subindo e subindo as mãos...
chega na virilha.... e vai direto ao seu destino molhado. Ele acaricia os lábios
com as pontas dos dedos sórdidos. Oh, e eu respiro fundo, por pouco não
gemendo.
— É um insulto esta vista, esta sensação deliciosa, céus, você está
molhada! Pronta para ser penetrada por mim!
Eu me distancio, trêmula, e retorno, sentando-me rápida sobre ele.
— Eu vou surtar!
— Não me toque! — Desta vez, não permito, ameaçando-o com o
spray e o garfinho.
Só que nervoso, pegando-me de surpresa, o homem me ergue e eu só
digo uma coisa: eu avisei! Imediatamente reajo, descendo o braço e
espremendo seu pau e os testículos por cima da calça. Droga! E ao abrir a
boca, o canalha surta, dando-me um tapa tão, mas tão ardido na bunda, que
eu lacrimejo.
— Aiii!!!
— Sua filha da... desgraça, diaba, porra, solta as minhas bolas!!!
— Eu... eu disse para não me tocar, não ouviu? — Eu luto contra a
dor no traseiro. Caramba, eu vou matar ele! — Agora me dê esses pulsos, seu
cretino bruto, e não ouse reagir!
— Solta as minhas bolas, Eloíse!
— Vai me estender os pulsos?
Ele relincha igual a um cavalo, apertando-me a coxa e enfim, após
tanta guerra, o homem se senta resmungando.
— Eu vou morrer! — Vencida, o algemo. Coloco suas mãos atrás das
suas costas com a sua permissão.
— E vai mesmo. Hoje eu quero me divertir só com o meu vibrador
humano... e você vai pagar caro por este tapa na minha bunda... — Sussurro
com uma voz sexual maldosa.
Dou um selinho nele, adiante, me levanto para começar a arrancar sua
calça e os sapatos.
— Vê se pelo menos me masturba, antes de começar!
— Acho que te colocarei é mordaças antes de começar!
Eu o deixo só de cueca, com o pinto duríssimo perfurando o tecido,
pronto para saltar esbelto. Ah, que visão, dá vontade de torcer de
tanto... carinho! Pego a outra algema para prender seus tornozelos. E
adivinha? Ele surta mexendo as pernas.
— Você não vai colocar outra merda dessas nos meus pés! Eu permiti
só os pulsos!
— Aqui no inferno, meu querido... quem manda sou eu! Fique quieto!
Primeiramente, eu engatinho até o cós da boxer do Felipe, para tirá-la,
assistindo-o me intimar igual canibal.
— Aí se eu te pego dona, Eloíse... ficará um mês toda assada!
Rolo os olhos, dando atenção para o seu volume petrificado. E ao
apertá-lo... o safado geme gostando. Até calou o bico. Sem resistir, eu molho
os lábios, inclino as costas e beijo bem lento o delicioso vibrador. Em
seguida, mordo o tecido, puxando-o para baixo. E o pau bate bem na minha
cara ao ser colocado sozinho em pé, feito rocha, rosado e veiudo. Sorrio,
dando uma pequena lambidinha na glande.
— Porra... porra! — Felipe se contorce, com os músculos tensos.
Ainda não acredito que essa tora entrou em mim pela primeira vez
sem ao menos eu saber ou ver o que estava preste a me matar! Teria chamado
a polícia!
Após controlar-me, termino de retirar sua boxer sem menor
delicadeza. No decorrer, prendo seus tornozelos mesmo com ele resistindo.
Quando tudo está pronto, distancio-me orgulhosa do serviço. Observo-o
amarrado e sentado todo nu. Jamais conseguirá se soltar daí, nem fugir.
Palmas para o meu sucesso!
Agora só falta a música, o chicote e o anel peniano com vibrador para
darmos início a noite dolorosa de prazer do caro Felipe!
Capítulo 53. Parte II

Eu deixo a luz do quarto ligada, coloco a música sexy, ligo o ar-


condicionado, pego o chicote, reservo o tridente, o anel e subo na cama.
Felipe me assiste, enquanto eu paro sobre ele de pernas abertas. Ele xinga,
delirando de tesão. E eu dou uma rebolada, iniciando a dança tão lenta e
sensual.
— Assim eu gozo, loira. Que vontade de meter a língua entre essas
suas coxas meladas. Você é muito deliciosa. Um mulherão.
— Conte-me mais? Adoro elogios.
Sorrio, descendo o bumbum até o peitoral dele, e esfrego-me
alucinada. Felipe se mexe com exasperação. Eu chego mais perto do seu
focinho e ergo-me de pé. O cachorro late, pois não deixei que me lambesse o
clítoris. Quero que ele veja o quanto eu estou lubrificada.
— Merda, já deu essa brincadeira! Desisto!
— Não... não deu! Agora é tarde! Só termina na hora que eu quiser!
Então viro de costas e abaixo as nádegas no seu rosto, olhando para o
seu pau inchado, que pulsa solitário. E ao um trisco de distância, se eu não
tivesse me afastado ele teria me mordido doído. Senti a saliva dos seus
dentes.
— Eloíse!
Seguro a risada, rebolando.
— Eu vou enlouquecer, sua demônia! Chega, me solta!
Excitada, encaro-o, pego o rabinho da fantasia e a demônia, que no
caso eu... esfrega a ponta dura no grelo pingando lubrificação. Ohh... Felipe
dá um pulo, louco, maluco. Ele tenta quebrar as algemas, mover os pés, só
que não consegue. Bem feito! Eu continuo a esfregar deliciosamente em
mim.
Sim, eu me masturbo na cara dele. Com força, vontade, desejo,
satisfação!
— PORRA! PARA COM ESSA MERDA! PARECE QUE NÃO
TEM UM MACHO AQUI PRA TE DAR PRAZER! — Felipe esbraveja
insano, com a veia artéria do seu pescoço saltando descompensada.
Eu não paro. Ah, de jeito nenhum. Pelo contrário, imagino é o meu
macho me dando muito prazer de todas as posições existentes. Meu melzinho
até escorre entre os dedos, umedecendo as laterais do tecido aberto no sexo.
— Humm... Ah, Felipe!
— ELOÍSE!
Meus tímpanos se fecham para qualquer ruído da fera enfurecida e
mergulho os dedos, afrontando-o, gemendo. Eu preciso do seu pau! Eu
preciso de algo me fodendo! Eu reviro os olhos, quase sem controle das
pernas. Mas não agora, não, eu não posso! Eu acelero as fricções, apreciando
já o gozo espirrando e o Felipe puto da vida.
— Eu vou surrar a sua bunda, porra, caralho, infernos!
Eu tento me manter sã para não cair. Levanto a mão e chupo o sabor
quentinho.
— Que-quer provar, meu caro pecador? — Gaguejo sem ar.
— Eu quero é que abra essas algemas para você aprender a nunca
mais ousar se masturbar sem a minha permissão!
— Ah, é? Sem você permitir?
Cato o chicote e deslizo pelo seu corpo de alfa treinado, que gosta de
uma perigosa violência. E passo meu dedinho no seu nariz, adiante na sua
boca. Ele me cheira, me lambe e por pouco, não me dilacera. Homem feroz!
— Pare de reagir negativo, tenta relaxar— sussurro, sentando-me
aberta entre ele.
— Só farei isso o dia que eu estiver a sete palmos do chão! Senta essa
buceta de uma vez, pô! Minhas bolas estão doendo! — Felipe brada e eu sou
obrigada a açoitar o seu peitoral.
— Que droga!
— Não seja bruto.
Sem demora, eu agarro a sua cabeça e o beijo, rebolando no seu órgão
sem penetrar na minha vagina evidente pelo buraquinho da fantasia. Nossas
línguas se entrelaçam maliciosas, eu esfrego com poder, vigor. O atrito do
tecido, em seguida do seu membro e os lábios a mostra me trazem delírios
alucinantes. Gememos juntos. Eu quico, indo mais frenética. Deixo o pau
dele todo adoçado.
— Safada do caralho... minhas bolas estão roxas!
— O senhor é tão gostoso. — Paro de beijá-lo, ofegante.
— Diga-nos uma novidade?! E você está o cão, Galvani!
— E é também metido! — Desço as alças do meu body de diabinha,
revelando os seios enrijecidos. — Eu só estou sendo a diaba do meu querido
Lúcifer.
Felipe molha os beiços, tentando se inclinar para me chupar. E eu
faço melhor, fricciono os seios pertinho da sua cara. Porém, não deixo que
ele me beije e nem me lamba com a língua musculosa e hábil. O homem fica
louco.
— Infernos! Porra! Eu explodirei!
Eu chupo, devoro o pescoço dele, sugando-o até ficar bem vermelho.
— Está me carimbando? — Ele estremece.
— É claro, você é meu! Não quero piranha nenhuma de olha no meu
brinquedo humano!
— Que maldosa, eu vou ficar traumatizado com esses abusos sexuais.
Vem cá, me dar de mamar nesses peitos. Preciso de consolo psicológico.
Nem dando ouvidos a ele, eu vou beijando os seus ombros, abaixando
para a sua barriga de gomos, a pélvis e deito-me de bruços... nossa, de cara a
cara com o Felipão; atraente, grosso, bruto e exibido como o dono.
— Elô... — eu beijo a cabecinha, calando-o. — Desgraça, é meu fim!
Pego o mastro na mão, lambendo a base das bolas até a ponta da
glande. Ele urra de prazer, pulsando mais duro do que uma tora. Eu quero
aproveitar disso, desfrutar o máximo possível até a última gota. Felipe fecha
os olhos. E na medida em que eu vou declinando a língua na extensão, eu vou
sentindo seu cheiro, seu gosto de homem. Minha intimidade pinga de vontade
tê-lo me comendo. Mas não paro. Tenho que fazê-lo gozar para ficar menos
tencioso.
— Ahhh, que delícia mulher má! — Engulo-o, enfiando quase no
fundo da garganta. Fico por minutos no processo de vai e vem fazendo sons
de sucção. Oras mamo os testículos, lambo os pentelhos, todavia, sempre
direcionada ao gigante na goela.
Ele não para de xingar e de mexer os braços, doido para soltar as
mãos e agarrar os meus pobres cabelos.
— Bosta de pinto... não goza, não goza... — ele delira de olhos
fechados. — Desgraça de pinto! Piroca covarde! Rola de adolescente varjão!
Eu estou morrendo!
E sem se segurar por muito tempo, ele não resiste. Felipe me inunda
de jatos fortes. Por instantes, eu não me afogo com a intensidade fervente
descendo garganta abaixo. O sêmen escorre pelos cantos da minha boca.
Escorre no queixo e no comprimento do pescoço. Eu respiro com dificuldade.
Seu peitoral desce e sobe frenético. Ele me olha com o "gigante caído".
— Esse foi o gozo de toda a minha vida. A partir de hoje, os nossos
futuros filhos serão só adotados. Você não fez um boquete, foi uma
vasectomia!
— Palhaço... — Rindo, ergo-me de quatro e ao beijá-lo, obrigo-o a se
lambuzar do seu próprio gosto doce entre os meus dentes.
— Me solta, peituda, eu quero comer você. Deixa eu passar as mãos
nessa sua grutinha loira. Quero sentir o seu corpo, essa sua bunda macia.
Céus, como tudo na voz dele soa sexual. Fraca das pernas, nego,
pressionando as coxas.
— Você precisa de atenção, está escorrendo feito uma cachoeira.
Deixa seu macho aqui te dar uma fodida gostosa.
— Por favor... para de falar essas sacanagens ou terei que te colocar
mordaças. — De repente, eu tenho uma ideia melhor do que mordaças. —
Melhor, terei que te colocar a minha boceta!
Ele joga a cabeça para trás, amando a sugestão. Não acredito.
Canalha!
— Desculpa, minha gatinha, mas você é péssima no controle. É tão
delicada, meiga, uma fofura do papai.
— Cala a boca!
Eu o fuzilo com a raiva me dominando os nervos.
— Minha boneca.
E fico maluca de ódio!
— Você vai ver a fofura!
— É, vou ver? Vai fazer biquinho? Vem cá pro papai te dar uns
beijos.
— EU VOU TE MATAR, SEU CANALHA, CRETINO! — Pego o
chicote e levanto-me, acertando a sua virilha com força. — Hoje, eu mando
em você e nessa sua rola!
— Aí, porra, eu estava de zoeira! — Exclama puto, latindo de dor.
Em seguida, tenta fechar as pernas, mas não consegue, está algemado!
Eu limpo a boca e o colo dos seios, tiro todo o body, o chifrinho e os
saltos, e começo a passar as cerdas pelo tórax dele até os joelhos. E surro de
novo, mas, dessa vez, o seu quadril.
— MERDA, ELOÍSE, ERA PIADA! SE VOCÊ ME BATER DE
NOVO COM ESSA DESGRAÇA, EU VOU PERDER A PACIÊNCIA COM
VOCÊ! — Ele profere feroz, com o olhar de um predador.
— Foda-se! — Digo percorrendo os testículos dele com os dedinhos
do pé e percebo seu pau duro novamente. Chego na sua boca com a minha
nudez e aproximando-me, estendo a meia. — Tira com os dentes, anda!
— Achei que essa merda de tortura já tinha acabado, caralho! Acaba
com isso logo !
— Já disse: Vai acabar na hora que eu quiser! Tira!
Detestando ser mandado, ele morde o meu joelho antes de descer a
meia. E eu puxo a sua orelha, para o cachorro gemer de dor. Ele tira. No
final, ajudo-o a se livrar da última peça.
— E agora? Vai me castrar?!
— Shiuu, fica quietinho. Caso contrário, eu faço mesmo!
Eu jogo o chicote longe. E escondida, pego o anel peniano com
vibrador, em seguida, seu bastão grosso.
— Se você ficar toda hora pegando na minha pica assim, eu vou gozar
— confessa excitado.
Eu massageio seu abdômen e volto na virilha... então, revelo o anel.
— Eu não preciso disso! — Ao ver, ele fica audaz.
— É só para esse pau ficar ainda mais delicioso — começo a encaixar
sem a permissão dele.
É muito apertado, parecia que nem ia caber. Felipe xinga, com o pênis
mais sensível e extremamente latejante. É urgente, essa visão é de matar. Ele
ficou mais inchado, as veias roxas, saltando duro como pedra. E seu tamanho
está duas vezes maior do que o normal. Rápida, eu ligo o vibrador,
inclinando-me para ser penetrada. E a sensação é... meu deus... está me
rasgando...
— Felipe... — gemo, chorando de prazer. — O seu pau
está tão... tão duro.
Eu o encaro, penetrando até a base do massageador. Só não desmaiei
de prazer porque segurei nos seus ombros. Uma lágrima escorre do meu
rosto, seguida de outra e outra. Eu começo a cavalgar feito alucinada. É uma
tortura.
A medida em que o vibrador vai encostando no meu grelo, berro alto
de tesão. Eu grito, quico, rebolo, danço. Eu perco o controle.
Ele também perde o controle. E tudo o que mais almejamos no mundo
é chegar ao ápice; gozar, ejacular, explodir!
Eu choro, urro, arranho as suas costas e aperto as suas orelhas.
Minha xota o mastiga, subindo e descendo, indo para frente e para
trás. E não suporto, eu não aguento.
— Cacete, caralho.... céus.... Goza, sua demoninha loira, lambuza o
cacete do seu macho — sussurra, estalando, zunindo das minhas investidas
apavoradas de desejo. Olho para a sua face e está transtornada de prazer.
A minha intimidade contrai, as paredes musculares sufocam a rola
enorme. Felipe morde o lábio inferior, pirado de dor com o anel. Sinto as
coxas úmidas. Então, um choque, uma onda, percorre o meu corpo. Eu perco
as forças dos braços, tremo e explodo, gozando. Neste exato momento jorra
um leite quente e grosso dentro de mim. A eletricidade me volta a subir, eu
fecho os olhos e grito forte, tendo múltiplos orgasmos que me fazem segurar
no topo da cabeceira estofada da cama, para não tombar inconsciente.
— Pelo amor do meu pau... — Felipe ofega, recuperando do ápice —
tira esse arame de mim!
Tremendo, afasto-o, provocando a enxurrada de porra. Em seguida,
gememos ofegantes. Eu tiro a peça apertada e ele pode descansar a cabeça
para aproveitar do nosso calor em paz. Estamos transpirados, grudentos. É
tanto fogo que nem o ar condicionado no 16°C abafou as gotas de suor.
— Acho que pode me soltar dessas algemas também!
— Mas eu quero mais... — sussurro.
— Você grávida é um furacão, loira. Então deixa eu trabalhar livre
sem essas bostas.
— Eu não confio em você.
— Eu quem não confio em você. "Prometo que serei carinhosa e te
darei muito carinho, não se preocupe" — repete, imitando uma voz feminina.
A minha! E revira os olhos. — "Eu não minto". Blá, blá, blá. Mentirosa! Não
confiarei mais nessa sua cara de diabinha revestida de anjo! O único anjo
aqui sou eu! Se me soltar daqui, eu procurarei é meus direitos!
— Eu te torturei foi é pouco! Seu sem graça! Eu vou te soltar,
contudo, não venha ser maldoso!
Cansada, eu vou atrás das chaves. E receosa, libero primeiro os
tornozelos, logo os pulsos e distancio-me.
— Não tem vergonha, Eloíse? Faz o que faz e mais tarde, foge para
não levar uns beliscões?!
— Claro, você é mil vezes mais forte do que eu!
Ele massageia o lugar onde as algemas o apertavam.
— Vem cá, deita aqui.
— Está sendo bonzinho? Ou vai se vingar?
— Loira, você está nua e eu livre! Se eu fosse fazer algo, já teria
feito!
— Tá bom...
Meio convencida, ao me deitar sobre o seu peitoral másculo, ele me
abraça, beijando-me faminto. Sua mão me agarra e a outra percorre as laterais
dos meus seios, a bunda, os quadris, a cintura e as costas. Ele me redesenha;
apertando, pressionando, tocando, sentindo com possessividade e mostrando
que eu sou dele.
— Você é minha! — murmura meus pensamentos, puxando com
ardor meus fios loiros. — Só minha!
Meus olhos azuis encontram os seus, enquanto aproximo meus lábios
inchados da sua boca carnuda.
— Eu te amo, Felipe. — Acaricio a sua barba. — É só meu! —
Mordo-o.
— Te amo, diaba saborosa.
Ele me puxa, provocando a pressão do seu membro na minha pélvis.
E está duro. Arregalo os olhos.
— Você já está pronto?
Ele sorri da minha cara de impressionada.
— Eu sou uma máquina do sexo, loira. E para vingar estas torturas, eu
vou chupar essa pepeca devoradora de pobre piroca, de quatro! Está noite só
vamos parar quando o sol estiver nascendo!
— Você prometeu que não ia fazer nada! AÍ, FELIPE! — Ele me joga
na cama com violência e estapeia as minhas nádegas, virando-me de bruços.
— Eu não prometi bosta alguma! E falei de quatro, Eloíse! Agora sou
eu quem vai usar o chicote nessa rabo redondo! Porra de torturadora infernal!
Vai aprender a se masturbar de novo comigo sem algemas!
Capítulo 54

Sexta-feira, 15h30 da tarde;


Sem maiores explicações, além da mensagem da Collins
dizendo: "pega as suas malas e haja naturalmente, ele já está a caminho", eu
pego e aguardo o Felipe na sala de hóspedes da pensão. Tomara que esse
homem não desconfie do nosso plano. Clara está planejando esta festa há
duas semanas com o Guilherme. Será num hotel fazenda incrível, com rio,
ponte de madeira, piscina, palmeiras e grama super verdinha. Pelas fotos,
teremos quinze dias incríveis de descanso e de muito amor. É a coisa mais
linda. Estou tão ansiosa! Espero que o Felipe e o Fernando gostem.
Não pude ajudar a Clara e o Gui nas decorações, pois estava correndo
atrás de cuidar da saúde do bebê e da minha. Além de eu ter
sido CONTRATADA pela Volumbre. Isso mesmo, a VOLUMBRE, a agência
de modelos número um do brasil ME CONTRATOU. Parece um sonho, meu
Deus! Quanto mais eu me recordo disso, mais me soa inacreditável. Eles
estão loucos para me fotografar de barrigão. Trabalharei com modelagens
fotográficas — o que eu amo fazer.
— Pronta para a viagem, minha princesa? — Felipe pergunta após
chegar na pensão, agarrando-me pela cintura e roubando-me dezenas de
beijos — Minha loirinha, gatinha, gostosinha.
— Felipe... para... deixa eu respirar! — Eu me apoio no peitoral largo
dele, empurrando-o.
— Loira maldosa, estou sendo romântico.
— "Gatinha", "gostosinha", é ser romântico agora, amor?
— Eu só descrevo o que o meu coração sente. E neste exato
momento... — Ele me analisa dos pés à cabeça. — Ele está bombardeando
sangue para os braços, onde eu sinto um grande desejo de rasgar esse seu
vestido curto nas mãos! Não tem um lugar onde você não esteja exibindo o
corpo, Eloíse!
Eu olho para o meu vestido florido, curto, com decote nas costas e no
desenho dos seios, e dou de ombros.
— Se eu gostei e comprei com o meu dinheiro, não tem problema
nenhum!
— Tem problema quando você tem um namorado igual eu!
— Claro, um namorado louco? Ciumento? Chato? Possessivo?
Ele me puxa rápido, revoltado.
— Vou tirar a camisa até chegarmos no hotel! Quero ver se você vai
gostar das outras mulheres me olhando!
— Tira! Olhar não arranca pedaço mesmo!
— É, mas eu tiro pedaço de quem olhar para o que é meu! — Ele me
dá um tapa na bunda e segura os meus pulsos atrás das costas, para eu não
castrar o seu pau com as unhas afiadas!
— Eu sinto vontade de socar a sua cara! — Esbravejo brava,
fuzilando seu rosto quadrado, de barba bem-feita. — Me solta e para de me
tirar do sério!
— Shiuu... é você quem me tira do sério, boneca — sussurra ao pé do
meu ouvido.
— Felipe, para... chega dessa palhaçada boba, vamos logo!
— Já tomou o café? Já almoçou? — O safado me beija no pescoço,
fazendo-me perder a força das pernas. — Você e o nosso bebê têm que estar
saudáveis. Sempre bem alimentados.
— Estamos bem. Pare de me seduzir. Agora pega a mala e leva para o
carro logo! — Empurro-o.
Ele me solta, nervoso.
— Eu estou sendo sabotado! Um dia, encontro a mulher da minha
vida e no outro, descubro que esse ser feminino se parece com a droga do
meu irmão mandão!
Sem me segurar, eu sou obrigada a rir dele.
— Tenho que te pôr regras, seu sem limites.
Murmurando por estar sendo obrigado a concordar que eu realmente
tenho esse poder, ele pega a mala gigante.
— Não quer me pôr uma coleira também não?
— Você não deixaria.
— Maldosa!
No carro, assim que o Felipe arrumou as minhas coisas, meio
amontoadas com as dele, nós nos despedimos da vó Aurora e fomos para a
estrada para chegarmos no hotel fazenda antes do anoitecer. A festa surpresa
acontecerá amanhã à tarde. Nossas vítimas acham que a Clara inventou a
viagem apenas para tirarmos "férias de casais". Tadinhos, engano deles,
como ela disse: "será a festa do ano". E falando nisso, hoje já é o aniversário
do Fernando. Domingo que é do Felipe. E bom... fingiremos desinformação
até a noite.
Durante a viagem, sem perceber, eu cochilo umas três vezes no
banco. E no final, só descubro que chegamos quando ouço o Felipe me
despertar carinhoso com a sua voz sexy, alisando a minha bochecha.
— Chegamos, linda...
— Jura? — Abro os olhos.
— Com certeza. Quatro horas de estrada bem-sucedidas pelo seu
herói.
— Humm... já estou orgulhosa — beijo-o meio sonolenta. — Meu
herói. Te amo.
— Que delícia, acho que eu prefiro a senhorita sonolenta, é mais
dócil. Agora vem, antes que eu te leve no colo. Você precisa comer alguma
coisa.
— Estou tentada a aceitar.
— Jura?
— Não. Você é louco, vamos antes que faça.
— Eu faria mesmo.
Dentro do hall rústico da recepção, Felipe confirma a reserva do
nosso quarto para podermos subir, trocar de roupa e encontrar a Clara, o
Fernando e as crianças no restaurante. Eles chegaram há uma hora, fomos
avisados por mensagem onde estariam nos esperando. Marta e os pais dela
também vieram. E Claro, o Guilherme, divo, revestido de Amazônia verde.
Jantamos e conversamos sobre a estrada cansativa. Mais a noite,
resolvemos descansar para depois nos reunirmos outra vez num ambiente
particular do hotel. E com um bolinho simples de chocolate, comemoramos o
aniversário do Fernando.
Ele até gostou do bolo e dos parabéns. Talvez por não ter sido
surpresa. Clara disse que eles odeiam festa surpresa. Antigamente, nem
gostavam de comemorar. Hoje seus coraçõezinhos são mais "amaciados"
devido as crianças.
— Eu estou tão ansioso para amanhã à tarde... — Guilherme sussurra
para mim, Clara, dona Juliana e dona Marta.
Encontramo-nos separados deles, cochichando em segredo e
degustando do vinho, é claro, menos eu.
— Nem me diga, a festa vai ser um arraso. Os amigos da agência e de
profissão, eu convidei tudo.
— Esses convidados vão chegar ainda hoje? — Pergunto.
— Um pouco, não sei. No convite está marcado para antes das 13h00,
o horário do evento. Espero que venham, em segredo.
— Aí, Elô. Você tinha que ver a decoração, ela ficou espetacular.
Uma pena que só verá amanhã.
— Ah, e falando em amanhã, lembrando-lhes que eu quero todo
mundo acordado bem cedinho. Senão eu saio batendo panela pelos
corredores.
— Cruzes, ainda bem que eu tenho tampões de ouvidos. Para ter esse
rostinho lindo aqui, meu bem, tenho que dormir 10h de sono completíssimo
— Guilherme comenta e Clara e todas nós gargalhamos.
Ela ri, afagando o cabelo da sua filha linda. Acho que eu nem preciso
mencionar que eu fiquei com a fofura da Adri o restante da noite inteirinha no
meu colo, depois cochilei junto com os meninos no sofazão. Deveriam ter me
avisado que ser uma grávida é viver dormindo pelos cantos a cada boa
oportunidade, igual uma criança após às nove.
•••
Na manhã seguinte, eu saio fugida do quarto para não acordar o
Felipe, como combinado ontem, e vou para o outro quarto reservado para nos
arrumarmos. Peguei tudo o que era necessário, porém, ao chegar, eu vi que
não usaria nada. Clara contratou dois maquiadores e dois cabeleireiros. Ela
realmente não está de brincadeira com esta festa.
— Como eu estou? — Juliana dá uma voltinha dentro do seu vestido
azul turquesa, muito chique e caríssimo, assinado pela marca "Diamante
Collins". Marta, da mesma forma, veste um. Estão maravilhosas.
— Deusas, rainhas, mulheres desbravadoras de beleza!
— Nossa, Gui, sem exageros, meu querido.
— Eloíse, você tem que ver o vestido que eu também preparei para a
sua beleza única! — Clara confessa animada, ainda sem se vestir.
— U...um vestido para mim? Mas eu já tenho. — Fico surpresa,
enquanto ainda sou maquiada, escovada os cabelos e fazendo a unha por uma
moça assistente.
— Esquece o que você trouxe. Fiz um lindíssimo. Entretanto, você
não vai ver ele... Porque a purpurina sem vergonha do Guilherme não foi
buscá-lo!
— Que isso, mulher? O modelito está lá no meu closet.
— Então vai buscá-lo logo, criatura! Já são onze e meia da manhã! Eu
preciso ver como está a festa! Nossos decoradores já devem estar
organizando o bufê.
— Só um minutinho... — Ele se levanta da cadeira, exibindo o seu
quase "terno" azul naval, cheio de brilho e extravagância para uma ocasião a
luz do sol. Só ele mesmo.
— Vem, mamãe, vem, Marta. Vou precisar da ajuda de vocês. E,
Eloíse, já volto, o Guilherme te ajudará por enquanto. Eu também precisarei
me vestir para fazer os nossos machos caírem o queixo — ela pisca. — Não
demoro.
— Está bem.
Na verdade, quem não demorou foi o Guilherme com o tal vestido. Só
pude ver quando estava pronta da cabeça ao pescoço. E, meu Deus, quando
eu me vi pelo espelho, precisei sentar na cama para acreditar. É uma obra de
arte. É lindo, incrível, perfeito!
— Vai deixar o boy babando, baby.
Eu sorrio. Ele é todo branco, com decote nos seios, tecido chique,
manga de alça fina, fenda até os joelhos e com pérolas no detalhe da renda.
— Ele é lindo, Gui, exuberante. Estou sem palavras, acho que eu não
merecia tanto.
— Para, sem modéstia. Você merece tudo e mais um pouco. Vista-se,
bonequinha. Já são meio-dia e quarenta. A festa está para começar. Ah, e
calce os saltos.
— Além dessa maravilha, eu tenho saltos?
— Claro! E são a pura perfeição. Vamos, seja com o flash!
Com rapidez, eu sou "montada" pelo Gui e com os últimos retoques
da equipe de beleza, os quais não saíram de cima de mim, fico finalizada.
— Cadê o Fernando e o Felipe?
— Não se preocupe com eles. Vão ser pegos na hora certa. Vem... —
Ele me puxa ao abrir a porta.
— A Clara ainda nem se arrumou, deve estar desesperada.
Gui sorri e continua a me arrastar para o elevador. No térreo, saímos
por trás do hotel, correndo muito ligeiros numa estradinha de pedras
quadradas.
— Calma, ou eu caio desses saltos.
— Elô, nem fale isso, você está grávida, mulher!
— Estamos perto? Parece do outro lado do mundo.
— Estamos, fica depois dessas árvores gigantes.
Reparo que não existe forma de atravessarmos as árvores.
— Guilherme, como assim? Não há como passar!
Ao nos aproximarmos, eu ouço o som de violino e o barulho de água
emanando.
— Relaxa, tem uma porta bem ali, é que ela está coberta de
trepadeiras.
— Uma por...
— Aí, graças a Deus, vocês chegaram! — Dona Juliana surge de uma
área onde se tem arbustos e um espaço de bancos para se sentar.
— Ela chegou! — Clara aparece toda arrumada e vestida de azul
turquesa, como a sua mãe e a dona Marta logo atrás de mim.
Eu estranho.
— Vocês estão da mesma cor?
— Sim... — Collins para na minha frente, com os seus olhos verdes
resplandecentes.
— Clara, cadê o Fernando e o Felipe? Aliás, por que não estamos na
festa? Eu e o Gui viemos correndo super atrasados. Por pouco, não voando.
Ela sorri.
— Estamos no evento... agora toma, coloque isto. — Clara ergue uma
venda branca, que me faz ficar encabulada.
— Para quê?
— Faz parte da nossa surpresa.
— Você vai pôr uma dessas? Não entendi.
— Você vai entender, apenas a coloque e terá todas as suas respostas.
Prometo.
Com o cenho franzido, eu paro e começo a estranhar a situação.
— Coloque, Elô... — Marta segura a minha mão.
— Clara, vai se vendar também?
— Já disse, tudo faz parte do plano, não se preocupe. Posso?
— Ok...
Então, convencida, eu deixo que ela me coloque. E ao pôr, ela, Marta,
Juliana e Guilherme se afastam.
— Pronta, Eloíse?
— Não sei, o que está acontecendo? Isso faz parte mesmo?
— Sim. E, por favor, fique calma. Não se mexa.
De repente, eu sinto mãos rasgarem o meu vestido de fora a fora e
deixarem as minhas coxas quase nuas. Tento arrancar a venda, mas Collins
pede que eu não faça. As mãos não param, elas colocam um tecido gigante
entorno da minha cintura, algo nos meus cabelos que é pesado e cai atrás das
minhas costas. Minhas mãos tremem, eu fico apavorada querendo saber o que
está havendo.
— Clara, o que é isso? Me deixa tirar a venda dos meus olhos!
— Eloíse, relaxe, minha filha... — Sem esperar, levo um susto ao
ouvir a voz da vó, Aurora.
— Vovó?! — Exclamo em choque, apertando as suas mãos macias.
— Sim, sou eu. Não tire a venda, ok? Apenas quando a gente te pedir.
— Vó, o que está acontecendo? O que faz aqui? O que é isso no meu
corpo e cabelo? Me deem respostas? É a festa do Fernando e do Felipe, não
é?!
— Você verá... não se apavore.
— Podem abrir! — Guilherme grita e eu ouço o ranger de portas
serem arreganhadas.
Eu não solto a mão da minha avó, meu coração está acelerado,
palpitando. Eu fico estática, querendo arrancar a venda imediatamente.
— Calma, querida... eu vou me afastar e você vai virar para frente e
dar alguns passos. Tudo bem? Você confia em mim?
Sem timbre na garganta, eu não respondo.
— Eloíse, por favor, você confia em mim?
Tento consentir.
— Então boa sorte, sua avó-mãe te ama muito. Desejo que seja uma
mulher feliz e amada. E que Deus esteja sempre com vocês três. — Antes da
vovó sair, ela toca na minha barriga e me deixa só.
Sem saber o que está sucedendo, eu me viro sobressaltada de
confusão, dou cinco passos. E quando eu sinto atravessar a porta, um vento
me sopra, amolecendo as pernas. Ouço mais de perto o som de água fluindo...
e de súbito, uma música começa a ser tocada por instrumentos presentes: —
Hallelujah.
— Continue, Eloíse. — Clara sussurra. — Estamos todos aqui com
você.
Eu dou mais quatro passos.
— Agora pare. — Desta vez, é a vovó quem fala. Eu paro, suando as
mãos.
— O que está acontecendo?
Uma pessoa alta para na minha frente, eu percebo a sua estrutura
esconder a luz do sol sobre o meu corpo.
— Por favor, alguém me responde?!
— Está tudo bem, minha loirinha. Sou eu, o Felipe.
— Felipe?! — Se eu estivesse vendo, arregalaria os olhos mil vezes.
Ele segura o meu braço, dando um beijo na minha mão gelada.
— Você está linda.
— Não! Você, não! É o seu aniversário... seu e do Fernando! — Meus
dedos vão em direção ao tecido branco, só que ele me impede.
— Nunca foi uma festa de aniversário, odeio surpresas. E não tire a
venda, só quando eu pedir.
— Felipe. O que é isso? É tudo mentira?
— Não, é mais do que pensa.
— Então, é o quê?!
— Não fique brava. Só não é uma festa qualquer. É a nossa. Eu te
amo, Eloíse. Eu me sinto o homem mais sortudo do mundo por ter te
conquistado. Você é a minha luz de cabelos loiros. Foi o motivo de eu ser um
novo homem, de eu querer ser feliz. Você é simplesmente o meu motivo de
vida. A primeira vez que eu te vi, te achei a coisa mais perfeita criada por
Deus. Linda por dentro e por fora. E fui desonesto, trapaceei, te roubei, te
magoei. Mas o destino no final me fez ralar para ter você, a quem eu jurei
bater todos os dias na porta, a quem eu jurei mudar meu jeito orgulhoso,
reconhecer o amor, os sentimentos. A quem me disse que os dias maus
também chegam ao fim. Que viver é a coisa mais rara do mundo. E que por
isso sejamos raros e felizes. — Felipe para, suspira fundo e percebo a sua
sombra se abaixar. A música ao fundo continua lenta e acompanhando cada
palavra que sai dos seus lábios calmos, eu choro emocionada. — Quando
você abrir os olhos, me chamará de louco, de um tremendo imprevisível. E
não sei o que me responderá.... contudo, saiba que eu quero estar ao seu lado
até quando eu não souber mais como é dizer um eu te amo. Até as flores
murcharem, até eu não saber respirar o último fôlego de existência. Você se
tornou tudo aquilo que eu sempre quis e tudo o que eu sempre vou querer. Eu
só consigo imaginar a minha vida ao seu lado. A gente cuidando um do outro
enquanto a velhice restar. Por isso, Eloíse Galvani... hoje, aqui, de joelhos,
diante desta vista bonita, diante de todas estas pessoas, diante de Deus, eu
faço o pedido mais sincero do fundo do meu coração. Você aceita tirar esta
venda e se casar comigo? Até que a morte nos separe?
EPÍLOGO

Três anos depois.

Eu não achei que fosse terminar assim. Na verdade, não era nada do
que eu estava esperando. Como eu fui boba.
— Essa carinha é boa ou ruim? — Suellen pergunta preocupada. —
Sinto muito... não era a minha intenção quebrar, Eloíse. Droga, eu sou tão
desastrada.
— Tudo bem, Ellen. Só estou recordando desse momento. — Ela
resolve observar o retrato mais atentamente comigo, após derrubá-lo e
quebrá-lo perto das cortinas. — Nunca me senti tão feliz e realizada.
— Não se esqueça que você caiu feito um patinho.
— Ah, é claro, como esquecer disso? Clara e Guilherme foram umas
verdadeiras víboras teatrais. Dá uma lista encadernada de todos os
envolvidos, inclusive o Felipe.
— Espera, eu ouvi o meu santo nome? — Clara surge da cozinha com
uma bandeja de doces.
— Sim. — Ellen sorri, acariciando o seu barrigão. — Eloíse está
comentando pela milésima vez do dia em que caiu direitinho no plano do seu
próprio casamento surpresa.
— Esse dia foi épico. — Ela sorri animada. — Felipe foi um
verdadeiro maluco de amor. Ele me fez planejar aquela festa em menos de
duas semanas. Quase fiquei sem os cabelos...
Minha cabeça voa para as lembranças, deixando as vozes
conversando longínquas. Aquele sábado foi o mais lindo de tudo que eu já
vivi.
Toco na nossa foto de costas para a cachoeira. Após tirar a venda,
tudo o que eu vi... Eu não tive palavras, eu só pude chorar sem chão. Havia
inúmeras pessoas bem vestida e de pé. As cadeiras enfileiradas. Um coral de
instrumentos tocando Hallelujah, decoração de rosas brancas e uma passarela
de madeira indo até o altar onde estava o cerimonialista. E na entrada, eu
estava vestida de noiva, com o meu homem de joelhos, trajando um terno
preto e segurando a minha mão. Por alguns minutos, eu não sabia se era real.
Eu não sabia o que pensar. O que era aquilo? O que estava acontecendo?
Como me enganaram? Como eu fui para naquele lugar perfeito sem saber;
vestida de véu e grinalda? Era tudo um plano? Minha mente fervia.
Eu levantei o pescoço e, em meio às lágrimas, eu observei a minha
avó toda elegante de vestido turquesa; a Ellen, a Pietra, a Clara, a Marta, o
Guilherme, a Juliana e a dona Alverina perto do altar. Meu irmão estava de
roupa formal, no papel do nosso querido pai, aguardando-me para
caminharmos ao meio dos nossos padrinhos; Augusto, Fernando e 03.
Enquanto nesse momento, nem o pedido de casamento do Felipe, eu tinha
respondido ainda. Eu, então, o fitei, ele se encontrava nervoso, apreensivo,
bonito, com os seus cabelos penteados para trás e aquele rosto másculo.
Ele sorriu... eu respirei fundo... soltei o ar... e dos meus lábios secos
saiu o gaguejo lento que todos aguardavam, o sim... eu queria viver ao seu
lado até o último fôlego de nossas vidas.
— Elô, você está chorando? — Clara e Ellen me seguram,
apavoradas. — Senta um pouco. Por favor.
— Não, tudo bem, é o emocional de grávida.
— Te entendo perfeitamente. — Ellen olha para as nossas enormes
barrigas.
— Você nem estava ouvindo a gente, né?
— Não, eu estava pensando em como eu cai direitinho no plano de
vocês a três anos atrás. E para chegar hoje, na terceira renovação dos nossos
votos.
— Gente do céu, cadê vocês?! — Guilherme aparece gritando,
interrompendo-nos. — Heron e Hayron estão roubando brigadeiros da mesa!
Andem depressa! Venham logo!
—Meu Deus, são meus filhos! — Clara abandona a forma de
bolinhos. Ela está muito estranha, está comendo mais do que eu e a Ellen
juntas. — Vamos logo, Eloíse, temos que reunir todo mundo!
Como foi no ano passado, estamos fazendo outra foto em família. E
essa é a melhor parte. Fica impossível de reunirmos todos quietinhos e
sorridentes para falar "x". É a total bagunça.
— Felipe, amor, vem! — Lá fora no jardim, eu o chamo, que está
acompanhado do Fernando, do Heitor e do Leão (Leandro).
Ele me olha com a Lis no colo e levanta-se junto deles.
— O Fernando está vindo também? Preciso procurar a Adri.
— Sim. E a sua filha está com a dona Marta e a dona Juliana. Não se
preocupe, Clara.
— Aí que bom, olha eles!
Ao falarmos das crianças, os gêmeos aparecem correndo até a mãe
com a irmãzinha de três anos. As mulheres chegam e os homens também em
volta da mesa repleta de docinhos e do bolo.
— Dá ela pra mim segurar, amor? — Eu peço a nossa bebezinha do
colo do Felipe, mas o protetor não deixa.
— De jeito nenhum, você escutou o médico: nada de esforços! Eu a
seguro! — Ele beija a sua bochecha branquinha, acariciando seus cabelos
dourados.
Vovó Aurora, Marta, Otávio, Pietra e dona Alverina aparecem nas
nossas laterais. Depois Fernando e Clara com as crianças, com Adri no colo
do pai. Em seguida, vem Ellen e o seu noivo Heitor, Juliana e Augusto,
Guilherme e o namorado. Por fim, os melhores amigos do Felipe e do
Fernando; Murilo, a esposa, o filho Leo e Leão, sua mulher e a filhinha Ana.
— Gente, se apertem.
— Nada disso, vão apertar a minha mulher gravida! Saem da foto!
— Cala a boca, seu bastardo! — Fernando bate na cabeça do irmão.
— Eu não quero mais é você aqui, sai da minha casa, seu rosinha!
— Fernando e Felipe, parem! Isso não é hora de serem Tom e Jerry!
— Se comportem!
— Foi ele quem começou.
— Fica quieto, Felipe!
— PRONTOS? QUERO BEM ALTO TODOS DIZENDO:
"FAMÍLIA"! — O fotógrafo brinca e rimos.
— FAMÍLIA! — Então gritamos rápidos, acolhendo o maior amor do
mundo numa única foto.
****

Eloíse sorri o sorriso mais lindo de cada manhã, tarde e anoitecer,


dando-me um beijo demorado e safado. Ao cortarmos o bolo e entregarmos
os primeiros pedaços as vovós Marta e Aurora, eu recebo uma chuva de
champanhe de três filhos da mãe: Fernando, 03 e Leão. Arrombados!
Após eles irem embora, no final da festa, eu encontro as minhas
loirinhas derramadas no sofá da sala. Eu me afasto dos lábios da dona esposa
deliciosa e jogo-me ao lado delas.
— Cansada? — Eu toco na sua barriga de nove meses, sentindo o
meu molecão chutar na mesma hora.
— Eloíse, amor, ele chutou!
— Shiiu, Lis já está dormindo. E como você deve ter percebido, esse
garotão aqui dentro de mim não para de se mexer. Está querendo sair para
brincar com a irmãzinha e aprontar com o papai.
Eu sorrio, feliz demais para descrever tamanho amor no coração.
Somente obrigado, meu Deus!
— Essa é a minha maior alegria. Juro que eu gostaria de procurar
palavras. Mas... — eu respiro fundo — não existe.
Eloíse me olha sorrateira, procurando me entender com os seus traços
meigos.
— Não entendi, o que quis dizer?
— Sobre eu ter você, essa bonequinha de olhos azuis idêntica a beleza
loira da mãe, e esse rapazinho aqui dentro, louco para sair e cuidar comigo
das duas mulheres da nossa vida.
— Amor, jura que vai me fazer chorar? — Ela limpa o rosto e me
beija emocionada. — Pois eu já estou chorando. Isso é lindo. Eu te amo tanto,
tanto, que nem cabe no peito.
— E eu amo vocês. Obrigado por ter me dado essa família linda,
Eloíse. Como eu disse no dia do nosso casamento, eu me sinto o homem mais
sortudo do mundo por ter te conquistado. Eu quero estar ao seu lado até
quando eu não souber mais como é dizer um eu te amo. Até as flores
murcharem, até eu não saber respirar o último fôlego de existência. Você se
tornou tudo aquilo que eu sempre quis e tudo o que eu sempre vou querer.
— E como eu te respondi? Não há dúvidas de que você é o homem
que Deus escolheu para ser meu esposo. Não há dúvidas de que você é quem
eu quero ao meu lado até a eternidade. É por isso que enquanto houver vida,
eu serei sempre sua. Feliz três anos de casados, meu moreno!
— Feliz três anos de casados, minha loira. Te amo!
FIM

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