Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SANTOS
__________________________________________________________
É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por
qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos
xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor
(Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor,
qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa (1990), em vigor desde 1º de janeiro de 2009.
Uma garota humilde.
Um magnata.
Um desejo avassalador.
Amanda, aos vinte e três anos, é uma mulher de personalidade forte.
As dificuldades que encontrou em sua vida a moldaram. Em meio ao caos
que é viver como acompanhante de luxo, ela sonha em ter uma condição de
vida digna para si e sua família.
Quando seu caminho se cruza com o de um homem arrogante e
misterioso, essa jovem deseja poder viver mais do que apenas uma noite ao
lado dele. Mas ele é um magnata poderoso que não quer e nem pode se
envolver.
Gabriel é um homem reservado, procura sempre a discrição, e viver
nas sombras é o que faz de melhor. Embora seus trinta e um anos de idade
tenham trazido a ele a experiência, quando seu olhar se entrelaça com o de
uma certa garota, ele só a deseja em seus braços e nada mais. O problema é
que para tê-la em sua cama ele tem que pagar, e se envolver com uma garota
de programa vai contra tudo o que ele acredita. Será que esse magnata vai
ceder ao desejo?
Este livro já esteve disponível na plataforma em formato de conto em
2020, como “Coração Implacável”. Mas decidi que iria dar a ele uma versão
mais estendida. Ela está 97% modificado, considero-o como um novo
enredo. A história “A garota do Magnata” é um livro de leitura rápida e
muito gostosa, espero que goste de Amanda e Gabriel tanto quanto eu.
Escute a Playlist de inspiração do livro no aplicativo Spotify.
Sinopse
Nota da autora
Playlist
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras
Capítulo 01
∞∞
∞∞
∞∞
— Tire a roupa. Quero ver se o que tem por baixo desse vestido me
agrada — manda grosseiramente, chutando seus sapatos no canto do quarto.
— Sim, senhor. — Desço o zíper do vestido sem tirar os olhos do
homem à minha frente, que não demonstra nada. O que tem de bonito,
cheiroso, forte e aparentemente viril, tem de idiota.
Que belo partido Judite me arrumou. Só que não!
— Pare. — Assusto-me com a sua aspereza.
Vindo em minha direção, ele joga seu blazer em cima da poltrona. Em
seguida, me pega pela cintura e me põe bruscamente de costas.
Inesperadamente, Gabriel pega em meu cabelo, provocando em mim um
gemido de dor e prazer.
— É disso que você gosta, sua putinha? — inquire, mordendo e
beijando meu pescoço.
— Oh, sim... — concordo, gemendo em resposta.
— Vou tirar toda essa roupa do seu corpo, está me ouvindo, vadia?
O seu xingamento não deveria me afetar, mas eu adoro a pegada firme
que tem e a boca porca. Minha boceta pulsa e umedece com seu palavreado.
Ele desliza o tecido para fora do meu corpo, tão delicadamente que
nem parece o mesmo grosseiro de segundos atrás. Começo a me movimentar
cuidadosamente, fazendo com que minha bunda toque em seu pau. Quando
sinto sua excitação me cutucar, Gabriel geme baixo e rouco.
— Percebi que você é muito atrevida, gosto disso — diz, com voz
grossa.
Viro para ele, ficando cara a cara, sentindo a respiração um do outro.
Minha vantagem é o salto que estou usando, pois me permite olhá-lo nos
olhos. Insinuo que vou beijá-lo na boca, mas beijo o seu nariz.
Cuidadosamente, toco seus ombros para me apoiar e tirar os sapatos. Gabriel
me olha com as pupilas dilatadas, sinal que está ansioso para o próximo
passo.
— Me coloque na poltrona, por favor — peço, manhosa, e ele atende
ao meu pedido.
Viro-me de costas para que tenha uma visão perfeita da minha bunda
e, sensualizando, eu me movimento para um lado e para outro, até que o
homem me pega, beija cada lado da minha bunda e cheira toda a minha pele
vestida apenas com a lingerie vermelha de renda.
— Vire para mim, quero desfrutar daquilo que estou pagando —
ordena com rispidez, então me viro, dançando para ele e me aproximando de
seu ouvido.
— Sua grosseria está me excitando muito mais do que você imagina.
Pretende me dar ordens a noite inteira? Caso seja essa sua ideia, sugiro que
me amarre na cama e me foda duro. — Assim que lambo sua orelha, ele
cobre a minha garganta com a sua mão.
— Você gosta de ser amarrada? — A sua curiosidade é nítida.
— Não, mas estou disponível para satisfazê-lo da forma que desejar
— falo em seu ouvido, bem sexy e suave.
Não sou atriz, mas sei atuar muito bem. Não será esse homem gostoso
que vai me passar para trás.
— Me diga, como você gosta de ter a sua boceta fodida, Milena? —
pergunta em sussurro. Ao soltar meu pescoço, ele desliza a mão quente e
máscula por meu ombro, fazendo um caminho lento por meu braço, até
chegar à minha cintura e apertar.
Isso. Entrou de vez no meu jogo, acho que estou por cima agora.
— Gosto que me tratem com carinho e respeito na cama, apesar de ser
completamente louca por uma boa transa — conto, tentando soar inocente. —
Você me parece um ótimo parceiro na cama. Pegada sei que tem, a julgar
pelo tanto que aperta a minha bunda e acaricia meu corpo, enquanto falo em
seu ouvido — finalizo, passando meu dedo em seus lábios naturalmente
avermelhado.
— Você é deliciosa, e eu estou louco para te foder de uma maneira
que você jamais foi fodida na vida. Me permita. — Seus olhos brilhantes e
febris colidem com os meus.
Dou meu consentimento com um meneio de cabeça. Preciso engolir
em seco quando Gabriel me pega no colo. Aproveito e prendo minhas pernas
em seu quadril. Ele começa a roçar seus lábios quentes nos meus, e eu
estremeço inteira com o contato. Logo após, nossos olhares se encontram e
eu arfo ao vê-lo sorrir de uma maneira arrogante, ao tentar unir nossas bocas
para um beijo.
— Sem beijos... — aviso, virando o rosto. Sou uma profissional,
demonstrar qualquer sentimento é inconveniente e perigoso.
— Você me disse que está aqui para me satisfazer, então se eu quiser
que me beije, vai me beijar. — Ele mira na minha boca e eu noto suas íris
faiscarem em desafio.
Esse homem rabugento, inconstante e arrogante mexe comigo, me
atiça.
Gabriel me põe sobre a cama, em seguida, mira nos meus seios com
os bicos enrijecidos de um tesão antecipado e morde os lábios, sexy, mas não
diz uma palavra sequer. Ele inicia beijos em meus pés, vai subindo,
saboreando minha pele como quem saboreia uma sobremesa, beijando e
lambendo parte a parte. Um arrepio me consome ao sentir sua respiração
forte e quente bater na minha pele.
Ao chegar no meu ponto mais ardente, que já está úmido, é possível
sentir toda a minha pulsação causada pelo seu toque. Ele me beija por cima
da lingerie, subindo em direção ao meu umbigo, beijando lentamente cada
parte da minha barriga. A textura dos seus lábios me faz arquejar e soltar um
gemido involuntário, e, segundos depois, ouço a sua risadinha convencida.
Ele sobe até meus seios, com uma mão apalpa um deles e eu ofego;
depois, inclina o rosto e suga meu mamilo. O cretino me mama com vontade,
sua língua fazendo movimentos de sucção no meu biquinho, enquanto a outra
mão desliza para meu meio, se infiltra na minha calcinha e seus dedos
escorregam para dentro da minha boceta com facilidade, um instante antes de
massagearem meu clitóris em uma velocidade que preciso agarrar o lençol da
cama e morder a boca para reprimir um gemido. O filho da puta é
convencido, mas ao menos não é daqueles que promete o céu e não dá nada.
— Ahhh... — Rebolo o quadril, sentindo minha vagina pulsar
incontrolavelmente.
Nunca me importei em gemer, afinal, a maior parte do tempo no meu
trabalho é o que sei bem fazer; gemer mesmo sem me sentir satisfeita para
inflar o ego de alguns dos meus clientes que nem sabem trepar. E aqui estou
eu, gemendo de verdade por causa de uma masturbação de um homem
metido.
Gabriel aumenta o ritmo dos seus dedos ao perceber que estou quase
gozando. Instintivamente, levo meus olhos até os seus e nos encaramos sem
quebrar o contato visual, nesse meio-tempo ele consegue me levar aos
espasmos. Com o corpo formigando e arfante, miro nele, que me observa em
silêncio e não deixo de notar que ainda não tirou quase nada da sua roupa,
somente o paletó.
Não abrirei minha boca para perguntar o porquê.
Sem que eu tenha tempo para raciocinar, ele vem para cima de mim e
sou surpreendida com um beijo profundo e delicioso. Ele suga meus lábios,
esfomeado, e eu os dele. É impossível que eu o pare, porque também quero
mais e mais. Abro a boca para receber a sua língua e é a sensação mais
prazerosa que eu poderia ter. Eu me contorço embaixo do seu corpo viril e
gemo baixinho enquanto Gabriel passeia uma mão por minha coxa e roça o
pau na minha boceta.
Curiosamente, exploro os botões de sua camisa, mas ele afasta minhas
mãos para que eu não o toque. Então mantenho minha posição, mas de
repente ele se afasta de mim e sai do quarto, batendo a porta, deixando-me
sozinha e sem entender nada.
O que fiz de errado?
Que homem estranho, agora pouco estava se esfregando em mim!
Sento-me na cama meio atordoada esperando que ele retorne, mas
minutos se passam e nada dele. Desistindo da ideia de o cliente voltar, caço
meu vestido e me visto. Saio do quarto em direção ao salão na esperança de o
encontrar para saber o que houve, mas não o acho mais, provavelmente foi
embora.
∞∞
Perdi minha noite de sono por causa de um cliente indeciso que fugiu
de mim como seu eu fosse a pior coisa do mundo. Neste exato momento,
estou em uma discussão com minha chefe. Não permitirei que meu
pagamento fique em branco.
— Podemos rever isso. Talvez você tenha feito alguma coisa errada
para ele ter ido embora. — Ela nem me olha nos olhos, está simplesmente
distraída em frente ao monitor e digitando no teclado.
— Está louca? O homem parecia gostar de tudo, mas na hora H
decidiu deixar o quarto como se nada tivesse acontecido! — Ranjo os dentes,
furiosa.
— Tenho certeza de que o erro foi seu — repete, dessa vez me
encarando.
— Que eu saiba, esse seu cliente de ouro correu do quarto como se
estivesse com medo de mim! Por que o erro seria meu? Tem alguma prova
disso? — Cruzo os braços, arqueando a sobrancelha.
— Sim, eu tenho, meu doce. — A mulher sorri de lado.
Logo me assusto ao ver Bruna surgindo na sala, com um sorriso
sarcástico.
— Oi, amadas! — cumprimenta minha colega, bocejando, antes de se
jogar na poltrona ao meu lado e soltar um suspiro longo e provocante.
— O sr. Vilela pediu outra garota. Talvez você não soube satisfazer o
homem direito, por isso ele não a quis mais. Agora quer me passar a perna
achando que sou boba?! — A velha miserável só informa isso depois de tanto
questionamento que fiz.
— E essa garota fui eu — Bruna se intromete. — Céus, como deixou
aquele pedaço de mau caminho fugir? Que homem maravilhoso! E quando
digo maravilhoso, é em todos os sentidos.
— Não quero saber com quem ele transou, a única coisa que me
interessa é meu dinheiro! Tenho contas para pagar! — grito, enfurecida,
batendo na madeira da sua mesa.
— Baixe o seu tom! — ordena a quenga-mor, atrevida.
— Eu não disse que ela fica louca quando o assunto é dinheiro? —
provoca Bruna, e eu lhe lanço um olhar mortal.
— Estou de saída, só volto na segunda-feira — aviso, engolindo
minha raiva e levantando-me.
— Como é, Milena? — Judite levanta-se também e põe a mão na
cintura.
— É isso o que acabou de ouvir, chefe. Vou pra Búzios ver a minha
família, então, como hoje é final de semana, pretendo descansar. —
Mantenho-me firme, encarando-a com a expressão fechada.
— Desde quando puta tem descanso? Acha que já deu a boceta
suficiente para ficar rica e largar o OpenSea? — rebate a velha, pensando que
suas palavras irão me afetar.
— Mais uma palavra que me ofenda e eu pego minhas coisas e saio
dessa merda! Sou livre. Só porque sou funcionária, não quer dizer que estou
presa a você! — Aponto para ela com o dedo em riste, em seguida olho para
Bruna, que nos encara de olhos arregalados.
— Bruna, saia, depois falo com você, agora preciso de privacidade
com a Milena — diz, fazendo um sinal com a mão. A minha colega de
trabalho rapidamente obedece às ordens e sai da sala sem olhar para trás. —
Me diga, Amanda, se não é presa a mim, por que ainda está no meu clube? —
indaga, soberba.
— Estou aqui por livre e espontânea vontade, mas em breve vou
embora. Quero ver quem vai te trazer mais lucros! E outra, só sairei daqui
com o meu cachê, Judite! — Cuspo as palavras, irada.
— Você vai receber, sim, mas será repassado um valor menor porque
o cliente não ficou e ainda fez reclamações. — Ela tem a audácia de dizer.
Não deixarei ninguém me rebaixar.
— Como é essa porra? Está maluca, é? — Rio, desacreditada, ao vê-la
abrir a gaveta da sua mesa e tirar de lá algumas notas.
— Se acha tão especial assim, querida? — pergunta, venenosa.
— Jamais disse que era, só quero que cumpra com nosso acordo. —
Miro na sua mão que segura a pequena quantia.
— Esse é o único valor que vai receber, você não tem opção. —
Estende o dinheiro, então fecho a mão fortemente e sinto minhas unhas
afiadas machucarem a minha pele. — É isso ou nada. — Balança as notas
para mim, raivosa. Decido pegar, e logo a puta velha sorri satisfeita.
— Estou indo ver minha família, volto na segunda. — Pego minha
bolsa no chão e enfio o dinheiro dentro dela, então eu a ponho no ombro e
dou as costas para Judite.
— Você não vai a lugar algum. — Paro de caminhar quando ouço-a
dizer.
— Você não pode me impedir! — Nego-me a mostrar fraqueza.
— Realmente, eu não posso. Mas você não vai sair daqui até que o
evento desse fim de semana acabe. Se comporte como uma profissional e
faça o seu trabalho direito! — fala com arrogância, elevando a voz.
Respiro fundo, procurando controlar minha raiva.
— Você é uma vadia — rosno, passando a mão no meu cabelo.
— Em todos os sentidos. Agora, vá dormir pelo menos duas horas
para ver se consegue melhorar essa olheira horrível. — Avalia-me com
desdém e contorce a boca.
— Miserável — sussurro, tremendo de repulsa.
Apesar de ela ter um pouco de razão, não vou dar esse gostinho a ela.
— Saia daqui, faça o que te mandei! Ah, jamais se esqueça de uma
coisa, eu ainda sou sua chefe, a qualquer momento posso destruir a sua
carreira e nem mesmo será capaz de rodar bolsinha nas esquinas para receber
alguns trocados. — Seu tom é ameaçador.
Eu fecho os punhos, ignoro-a e dou as costas para ela, saindo da sua
sala. Nego-me a derramar qualquer lágrima nesse lugar, porque ninguém me
fará chorar. Mostrarei a essa velha desclassificada o quanto está enganada a
meu respeito.
Capítulo 02
∞∞
∞∞
Judite é uma vaca velha que gosta de passar por cima das pessoas,
principalmente de nós, que trabalhamos ao lado dela. Nos últimos dias, não
tenho tido tempo para ver a minha família. Estou trabalhando mais que o
dobro, praticamente sem folga, e ainda fui punida por conta da nossa
discussão por causa do cliente fujão. A cafetina não gosta de ser desafiada e
decidiu que eu trabalharia uma semana inteira e só receberia metade do valor.
Todas as garotas do clube seguem suas ordens, seja lá qual for, sem
dizer um “ai”. Mas eu não sou assim, luto pelos meus direitos quando
percebo que as coisas estão saindo da linha. Minha agenciadora pode ter me
dado a mão lá atrás, mas quem fez o meu destino fui eu, e até hoje quem se
deita com estranhos por dinheiro sou eu, e não ela. Só quem sabe dos meus
sacrifícios sou eu, mais ninguém.
Não quero me vitimizar com a minha situação, a escolha foi minha
viver nesse ramo, contudo, tenho mãe e irmã, como ela pode me privar de ter
um pouco de liberdade? Jamais deixei de cumprir a minha agenda, mas
bastou a cadela se sentir “ameaçada” para me castigar, arrumando uma forma
de me manter distante das minhas garotas. Esses dias já recebi várias
mensagens e ligações da minha mãe me perguntando se estou bem e o motivo
de não ter ido mais visitá-las. Como uma boa mentirosa que sou, eu a
tranquilizei dizendo que havia conseguido aquele segundo emprego e era isso
que estava me sobrecarregando, mas que encontraria uma folga para vê-las.
Bastou que eu dissesse isso para que mamãe me entendesse.
Agora, estou pronta para o outro evento que Judite propôs aos amigos.
Dirijo-me até o salão com a intenção de conseguir um cliente qualquer,
porém, eu não esperava encontrar Gabriel Vilela aqui. Da sua mesa, ele me
encara a todo instante. Veste um terno bem cortado risca de giz, parecendo
feito sob medida para o cretino. O maldito está mais bonito que duas semanas
atrás.
Aproveito para andar como se estivesse no tapete vermelho – linda,
elegante e ousada –, rebolando enquanto caminho. Ergo o rosto, fingindo não
ter notado a presença do abutre gostoso.
Estou sentindo-me uma rainha com o vestido que escolhi para brilhar
esta noite. Ele tem um tom rosé, com um tule trabalhado e pedraria por todo
o busto em decote em V. Na parte de trás, há um decote em U até a altura da
cintura, além de uma fenda na coxa, que deixa à mostra toda beleza que há
em minha perna. O vestido marca perfeitamente a minha cintura e dá
destaque aos meus seios de maneira sutil, porém sexy. Sinto-me a mais bela
da noite, sem a menor dúvida, levando em consideração como todos me
olham. Parte do meu cabelo está preso em um coque alto, a parte de baixo em
cascata com ondulações perfeitas.
Observo todo o local atentamente, e, sem demora, começo a caminhar
até a mesa onde estão muitos homens reunidos – inclusive ele. Ao seu lado,
há um cliente que me come com os olhos, enquanto Gabriel finge ignorar a
minha presença.
Passo por trás dele, destilando meu aroma marcante – de uma fruta
chamada cupuaçu que nem todos conhecem a fragrância. Em instantes, reparo
como ele se remexe em sua cadeira. Acredito que deve ter pensado que eu
rastejaria por ele. Ledo engano. Sou requisitada pelo homem ao seu lado e
paro para lhe dar atenção.
— Boa noite — cumprimento o homem de cabelo grisalho e olhos
escuros, com elegância e sensualidade. — Não desejaria um lugar mais
reservado? — pergunto a ele, que aceita e se levanta. Estendo a mão para o
cliente, e quando está prestes a pegá-la, é interrompido por Gabriel. Ele
segura meu punho e me arrasta para longe da mesa, levando-nos até o meio
do salão como se eu fosse a sua propriedade.
A contragosto, tento me livrar do seu toque sem parecer rude ou
causar alarde, até que paramos. Eu me afasto de Gabriel, mas sou
surpreendida pela firmeza que põe em minha cintura para que fiquemos com
os corpos colados um no outro.
Entredentes, aproximo meu rosto do dele, deixando um pouco de
espaço.
— Espera mesmo que eu vá com você para mais uma noite dos
horrores sem nem ser plenamente agradada? — sussurro. — Me poupe, sr.
Vilela... Estou trabalhando, não faço caridade. Se eu fizesse, estaria agora em
abrigos atendendo a necessidade de pessoas que realmente precisam de ajuda,
em vez de estar aqui.
Ele escuta tudo em silêncio, contudo, o imbecil roça o nariz em meu
cabelo, sem esboçar uma só reação. Afasto-me em uma nova tentativa de me
soltar e consigo. Viro-me na intenção de retornar à mesa e dar atenção àquele
outro homem, que nem sei o nome, mas que certamente faria o que eu
quisesse, porém, sou impedida novamente por Gabriel e sua mão forte. O
miserável me segura com mais firmeza, tomando-me de vez em seus braços
firmes.
— Garotinha petulante... Você vai me dar prazer como eu quiser, pois
ninguém ofende um Vilela e fica por isso mesmo. Estamos entendidos agora?
Olho com fúria para o homem que tem um sorriso no canto dos
lábios.
— Oi? — Gargalho, debochada, sem acreditar na audácia.
— Isso mesmo. Você vai sorrir e me levar para o melhor quarto que
tiver nesse lugar. Mostre que está bastante satisfeita, ou ficarei bem
decepcionado com o seu serviço. Então não me provoque e faça o seu
trabalho como deve. Eu quero comer essa boceta hoje e você vai me dar em
todas as posições que eu quiser, ainda vai gozar chamando por meu nome
bem alto, para que cada porra de pessoa que estiver nesse clube saiba que está
sendo fodida por mim. — Suas últimas palavras saem baixas e roucas.
Fecho os olhos ao me arrepiar com o que ele disse e aperto as coxas
quando sinto o calor na minha boceta.
Que confusão de sentimentos é essa que Gabriel Vilela me faz ter?
— Me siga, senhor. — Esse filho da mãe quer jogar comigo. Só
porque é rico acha que pode ter tudo aos seus pés, mas eu também sei fazer o
meu jogo.
Caminhamos até a minha suíte – uma das melhores do clube. Quando
os clientes não pedem para serem atendidos fora, eles vêm para cá.
Abro a porta e, pela primeira vez, estou nervosa. Estou tremendo feito
uma vara verde. Que situação desagradável foi aquela... Mas essa é diferente,
é gostosa. Sinto-me renovada com as farpas que ando trocando com o senhor
cretino. A situação é irônica, porque o odeio e o quero também, mas somente
para provar que sou muito melhor do que ele merece. E, claro, também
receber um pouco de prazer.
Esse ser desprezível vai me obrigar a me deitar com ele, e o pior é que
tenho interesse em fazer isso e muito mais.
— Quer tomar um banho antes? Assim entramos no clima. Já notei
que você está bem arisca, quem sabe assim não relaxa e esconde essas garras
— fala com um pouco de malícia. O descarado passeia os olhos por meu
corpo e meu estômago se contorce, um anseio dentro de mim faz com que
meu coração fique acelerado.
— Você sabe bem que estou muito limpa, bem perfumada, a julgar
pela sua falta de bom senso em me roubar de um cliente em que eu estava
interessada! — retruco, afastando essa sensação absurda de ter esse homem
dentro de mim.
Viro-me em direção ao minibar embutido na parede e sinto que estou
sendo observada, que ele está calculando meus movimentos. Preciso beber
água. Estou aquecida demais, a ponto de entrar em combustão. Esse homem
me deixa descontrolada.
— Não reclame, posso pagar o dobro que ele te daria — rebate com
rispidez depois de um tempo. — Vou tomar uma ducha, a porta está aberta,
caso mude de ideia e queira me acompanhar.
Reviro os olhos e decido ficar esperando até que o rei da ignorância
volte para que eu realize os seus desejos majestosos.
Deito-me na cama, mas antes tiro os sapatos, e fico observando o céu
estrelado através das portas francesas que dão de frente para a praia. A vista é
incrível... e amo observá-la. Nascida e criada em cidade praiana, não tem
lugar que mais ame se não o mar.
— Merda de cansaço... Maldita Judite — murmuro, sentindo a
sonolência me tomar.
∞∞
∞∞
Com a mulher deitada ao meu lado, deslizo meus dedos por suas
costas e a bunda, sentindo-a ficar arrepiada com o meu toque. Bastou que ela
acordasse algumas horas atrás, comigo entre suas pernas beijando suas coxas,
para que passássemos a manhã inteira na cama, transando igual loucos.
— Você é bem misterioso, não diz muita coisa... Te acho muito
calado — tagarela Milena, passando as unhas grandes no meu peito nu.
— E às vezes você fala demais — retruco, escondendo o meu sorriso,
fazendo-a gargalhar.
— O seu humor me deixa molhada — diz, já trazendo seu corpo para
cima do meu.
— Por que esse seu vocabulário não me surpreende? — Coloco
minhas mãos em seu quadril, e a cachorra rebola manhosa no meu pau.
— Esse seu jeitinho de carrasco é uma delícia , sr. Vilela... —
provoca ao falar bem perto do meu ouvido. Dou um tapa em sua bunda e giro
seu corpo para baixo do meu.
— Carrasco? — Arqueio a sobrancelha, divertido.
— Aham, é sexy. — Ela dá uma risada gostosa, em seguida, pega a
minha mão e leva até o meio das suas pernas, me fazendo tocar na sua boceta
depilada e escorregadia.
— É bom saber, loirinha. — Com um olhar duro, fixo nos seus olhos
verdes e dedilho seu clitóris.
— Eu sei que sim. — Morde os lábios e fecha os olhos, soltando um
gemido ao empurrar o quadril para mim.
— Você é bem convencida... — sussurro no ouvido dela. Em seguida,
começo a roçar os lábios em sua pele macia e cheirosa, masturbando-a com
velocidade.
— A-h-hh... — Em resposta, ela geme baixinho e rebola nos meus
dedos que a come.
Aproximo meu rosto do seu e roço nossos lábios. Ela tenta me beijar,
mas viro o rosto para a curva do seu pescoço e ali deixo uma mordida de
leve, nada que vá deixar marcas. Antes que Milena goze, tiro meus dedos
molhados com a sua excitação de dentro dela e pego a última camisinha que
temos logo ao lado.
— Arreganhe as pernas, loirinha, porque agora você vai me dar bem
gostoso. — Repuxo um sorriso travesso, vendo-a obedecer às minhas ordens
e se abrir para mim. Milena tem uma flexibilidade do caralho, e essa porra me
deixa atiçado, imaginando as posições que podemos foder nos dias em que
estaremos juntos.
— Aiii... que delícia, sr. Vilela, me fode vai... — Ela lambe os lábios
sensualmente, me observando vestir o preservativo no meu pau.
— Você adora ser comida por mim, não é, sua putinha fogosa? —
Agarro sua perna esquerda e seguro meu membro, mirando na sua entrada
com dobras molhadas.
— Uhum... — Geme, passeando uma mão por seu mamilo.
A mulher ergue o quadril para mim e eu me afundo nela lentamente,
sentindo meu pau ser engolido por sua boceta quente e apertada.
Capítulo 05
∞∞
∞∞
Dormi que nem percebi. Acordei sem dor na cabeça e com mais
disposição. Desfrutei da banheira por alguns minutos, depois fui tomar um
banho completo. O telefone no quarto começa a tocar insistentemente, sinal
de que Milena já está aqui, pois eu pedi para a recepção me ligar quando ela
estivesse subindo. Ao terminar de escovar os dentes, confiro as horas no
relógio em meu pulso e vejo que ela é pontual, chegou no horário combinado.
Saio do banheiro e vou atender o telefone.
— Boa tarde, sr. Vilela, a sua acompanhante acaba de subir — diz a
recepcionista do outro lado da linha.
— Boa tarde. O.k., obrigado — agradeço, desligando em seguida.
Passo os dedos por meu cabelo, arrumando os fios bagunçados, em
seguida, dirijo-me até a sala e ouço as batidas na porta conforme vou na
direção dela. Dobro as mangas da minha camisa preta, deixando metade do
meu braço à mostra, depois umedeço os lábios antes de receber minha
convidada.
Milena está exuberante diante de mim.
Atencioso, eu a observo com mais cautela e só confirmo o que já
sabia – ela é muito linda. Uma beleza extraordinária. Eu me pergunto como
alguém que me parece ser tão inteligente foi parar no mundo da prostituição.
Lentamente, passeio meus olhos por ela. O seu rosto bonito está com
uma leve maquiagem, nada exagerado, apenas um gloss labial clarinho nos
seus lábios grossos, e sombra um pouco escura, dando destaque a sua pele
alva. E eu gosto disso.
Ao notar que estou a examinando demais, ela arqueia a sobrancelha
clara e põe a mão na cintura. Só então noto a bolsa que segura na mão direita.
— Se perdeu na minha beleza, sr. Vilela? — Estala a língua, ousada, e
dá uma voltinha.
Aproveito o seu momento de glamour para secar suas costas nuas, que
tem duas alças finas trançadas de cada lado, e a sua bunda deliciosamente
empinada que está coberta por um vestido preto comprido com uma abertura
na perna esquerda. Notei que ela adora roupas com fendas, e eu aprovo
porque o que é bonito deve ser apreciado.
— Talvez eu esteja — retruco, voltando a explorar a sua beleza.
Dessa vez vasculho seus seios, que estão firmes no decote simples, mas que
se torna ligeiramente atraente por eu saber o que tem por baixo daquele
tecido.
— Pois me deixe entrar, assim pode passar mais tempo fazendo isso.
— Ela se aproxima de mim, empurrando-me pelo ombro e entrando na suíte.
— Você está linda — elogio-a.
— Me arrumei para você. — Pisca para mim, em seguida, avalia ao
nosso redor. — Dessa vez estou vestida de um jeito bem elegante para
combinar com o luxo desse hotel — diz, erguendo o rosto e sorrindo
maliciosamente.
Milena tem traços delicados e contornos perfeitos, como se tivessem
sido feitos à mão. Eu diria que ela se parece com um anjo, mas com a malícia
do diabo.
— Devo me sentir privilegiado? — Arqueio a sobrancelha, bem-
humorado, e me perco novamente em suas curvas tentadoras.
— Oh, pois se sinta! — Passa por mim e segue para a sala. Com a
porra de um sorriso idiota, sigo seus passos. — Uau, essa é a famosa suíte
presidencial, não é? — Ela me olha por cima dos ombros, com os olhos
esverdeados brilhando.
Ela está deslumbrada.
— É sim — afirmo, parando atrás dela e colocando a mão na sua
cintura. Para me provocar, a safada empina mais a bunda e roça no meu pau.
Gostando da putaria, passo o braço esquerdo ao seu redor e a faço bater as
costas no meu abdômen. — Você gostou, loirinha? — pergunto, ao levar a
mão ao seu pescoço e fechar meus dedos ali, puxando-o o suficiente para que
possa ter seus olhos quentes em mim.
— Eu amei, você tem um bom gosto. — Lambe os lábios
sensualmente, convidando-me para descobrir qual o sabor do seu gloss.
— É claro que tenho. — Exibo-me, virando-a para mim. A maneira
como a girei fez com que um pouco de cabelo grudasse na sua boca. Com
uma careta, ela tira os fios, mas ri de um jeito contagiante, me conduzindo a
fazer o mesmo.
Ela é tão menina ainda.
— Hum, o que acha de me mostrar os outros cômodos, sr. Vilela? —
Recompõe-se da risada e traz a Milena sedutora de volta.
— É uma ótima ideia. O que quer conhecer primeiro? — inquiro,
gentilmente.
Ela se afasta de mim assim que a solto, vai até o sofá e coloca a sua
bolsa lá, então faz um gesto com a mão para que eu vá ao seu encontro. E eu
vou.
— Neste momento, tenho preferência em descobrir a qualidade do
colchão. — Joga o cabelo longo para trás.
Eu já disse que essa ninfa vai me enlouquecer com essas palavras de
duplo sentido? Já tive outras mulheres, mas nenhuma como Milena
Albuquerque. Sempre achei que fosse impossível ter tantas qualidades em
uma pessoa só, mas me enganei.
— Isso é um convite para que eu foda a sua boceta, minha putinha?
— Dou passos na sua direção, parando na sua frente.
Audaciosa, ela rodeia os braços em meu pescoço.
— Aham. Eu vim pronta para dar ela a você, sr. Boca porca. —
Inclina o rosto para perto do meu e roça nossos lábios. A sua altura é quase
compatível com a minha por causa dos saltos altos que usa.
— Boca porca? — Deslizo uma mão nas suas costas e a outra em sua
bunda.
— Esse será o seu apelido agora. — Sua mão abre os botões da minha
camisa.
— Carrasco, boca porca... Qual o próximo? — brinco, apertando a
sua bunda com força, fazendo-a gemer manhosa.
— Ainda não faço ideia... — diz, tentando descer a minha camisa por
meus ombros.
— Essa pressa toda é por que está louca para me dar? — provoco,
vendo-a mirar em mim.
— Não é sempre que um cliente sabe foder bem, então tenho que
aproveitar o máximo.
Quase me engasgo com a sua sinceridade.
— Uau, isso sim que é um elogio de qualidade — digo. Ela ri
baixinho e volta a se concentrar na minha camisa. — Vou te ajudar a se livrar
das minhas roupas, porque sei que é isso que você quer, me ver nu. —
Afasto-me dela e tiro a peça. Milena sorri de lado e se senta no sofá,
cruzando as pernas e fazendo um gesto com a mão para que eu desça a calça.
— Preciso de mais, sr. Vilela. — Seus olhos claros estão escurecidos,
a malícia em sua voz faz meu pau engrossar e ficar apertado na cueca.
— E do que precisa? É só pedir que eu dou, loirinha. — Meu tom sai
baixo, mas suficiente para que ela ouça.
— Tire o resto da sua roupa e depois venha até mim, e eu te mostro
do que precisamos — me inclui, mirando no volume em minha calça.
A primeira peça que tiro é o cinto, e jogo no colo dela, que sorri e o
põe em volta do seu pescoço. Depois, abro o botão da calça, desço-a com a
cueca, que cai nos meus tornozelos, então chuto tudo para o lado, ficando
completamente nu. Em passos lentos, paro bem perto dela. Meu membro
duro aponta na sua direção e Milena lambe os lábios como se estivesse
saboreando algo muito gostoso, antes de erguer o rosto para mim.
— Eu ainda não chupei o seu pau, por isso, vamos começar por ele —
diz, determinada a me tirar de uma vez a sanidade.
Ela leva o seu corpo mais para a frente e toca nas minhas coxas,
afundando as unhas ali. Em resposta à sua provocação, empurro o quadril
para a frente e meu pau, que pulsa descontroladamente por ela, bate no seu
queixo.
— Podemos fazer isso agora mesmo, ele é todo seu. — Minha
excitação suja a sua pele branquinha e macia.
— Gosto da ideia de ele ser todo meu. — Uma mão massageia minha
coxa esquerda junto a unhas afiadas e vai subindo ao encontro da minha
virilha. Minha respiração já não é a mesma com o seu toque nada
despretensioso. — Como você gosta de ser chupado, Gabriel? — Sua mão
envolve meu pau.
Não me recordo de ela ter alguma vez me chamado pelo primeiro
nome, mas a porra sai tão excitante dos seus lábios safados que preciso soltar
um gemido quando começo a ser masturbado com maestria.
— Me mostre como você gosta de chupar... — murmuro, ofegante
com sua mão fechada ao meu redor.
— Com prazer. — Ela bate a punheta em mim com velocidade, e é
necessário que firme meus pés no chão para aguentar o caralho da
intensidade que coloca.
Sem que eu espere, Milena abocanha meu pau, suga-o apetitosa, e eu
solto um gemido alto e rouco ao jogar a cabeça para trás por alguns segundos.
Agarro o seu cabelo pela nuca e movo meu quadril, fodendo a sua boca com
rapidez. Ela quase se engasga, então reduzo os movimentos ao sentir que
estou quase lá.
Milena eleva os olhos até os meus e me chupa, dessa vez usa a língua
e passa por toda extensão, antes de voltar a me abocanhar com fome.
— Ahh, que boca... Eu vou gozar, loirinha. — Gemendo e com a
respiração acelerada, sinto um formigamento forte da cabeça aos pés.
Mesmo com meu aviso, a mulher continua sugando meu pau. Sinto
minhas entranhas apertarem com fisgadas e um gemido animalesco sai da
minha garganta. Gozo forte e duro na boca dela, a libertação é deliciosa, mas
não mais que vê-la engolir cada gotinha do meu sêmen sem reclamar.
— Estou aprovada no boquete? — pergunta, batendo os cílios longos
e limpando os cantos dos lábios depois de me dar o melhor boquete da minha
vida.
— Mais do que isso. — Inclino-me, pegando meu cinto que ainda está
no seu pescoço e o fechando ali, transformando em uma coleira.
— Agora vai me pedir para andar de joelhos, sr. Gabriel? — Encara a
ponta do cinto que seguro.
— Loirinha, de joelhos você só fica se for para me chupar. O que
pretendo fazer com você é muito diferente do que imagina. — Mordo os
lábios, puxando-a com a coleira improvisada para cima. Nossas testas se
grudam e ela geme manhosa.
— Eu sou uma pessoa que tem a cabeça muito fértil, adoro imaginar,
mas dou preferência à realidade, então me mostre o que vai fazer comigo. —
Põe a língua para fora e lambe minha boca.
— Gosta de brinquedos? Comprei alguns para judiar da sua
bocetinha.
Ela ofega com a minha fala e sua respiração quente bate no meu rosto.
— Eu amo... Tanto que tenho um pênis de borracha e me masturbo
quando estou em casa. É uma delícia.
Meu corpo inteiro fica quente.
— E se eu disser que quero ver como você faz para gozar sozinha? —
Afasto-me dela e olho em seus olhos.
— É só me pedir... — Então agarra meu pau e o massageia.
— Eu quero que você se masturbe na minha frente, Milena, e goze
para mim — peço, baixo e rouco, quando ela para de me tocar.
— Com os dedos ou...?
— Com um dos brinquedinhos que comprei — eu a interrompo,
tirando o cinto do seu pescoço e o jogando no sofá.
— E o que você comprou? — pergunta, curiosa.
— Está lá no quarto, me acompanhe que eu te mostro. — Afasto-me
dela, pronto para conduzi-la até o quarto.
— Só um instante.
Seu tom é tão sensual que preciso olhá-la por cima do ombro. Sou
surpreendido por ela quando tira o vestido do seu corpo, ficando apenas de
calcinha vermelha e rendada, e com os mamilos à mostra.
Ousada e quente. Essa é a definição que tenho para ela.
— Assim é bem melhor — concordo, sorrindo cínico.
Ela vem na minha direção, rebolando o quadril. Direciono-me para o
quarto e ela me segue. Entro no quarto primeiro, com ela vibrando logo atrás.
— Você realmente tem um bom gosto, esse lugar é o paraíso de tão
lindo.
Ouço seus passos se aproximarem. Ela me abraça por trás e morde
minhas costas, então desce as mãos por minha barriga e segura meu pau.
Ela está deslumbrada com a decoração padrão do hotel – clássica e
luxuosa.
— Ainda vamos ter muito tempo para falar do quanto você achou
aqui lindo, mas neste momento meu único desejo é outra coisa. — Tiro sua
mão de mim e viro-me para ela. — Eu quero que você tire a calcinha e se
deite ali, de barriga para cima — digo, apontando para a cama king-size com
lençóis brancos.
O peito de Milena sobe e desce com a minha orientação. Ela assente e
leva as mãos à única peça que resta em seu corpo e desliza para baixo, me
dando a visão da sua boceta depilada. A loira passa a calcinha por uma perna
e depois pela outra. Com o pedaço de pano na mão, ela tem a petulância de
jogar no meu rosto, em seguida, passa por mim e se deita na cama. Pego o
tecido e levo para perto do meu nariz, inspirando a essência de chocolate.
É uma delícia.
— Estou te esperando, Gabriel — diz, soando inocente. Então viro-
me, tendo a visão da mulher esbelta deitada de barriga para cima no colchão.
— Não vai me mostrar os brinquedos que comprou? — Ela junta os dedos
indicador e o médio, levando-os à boca e os chupando sem tirar os olhos de
mim; depois, abre as pernas, me revelando a sua vagina.
O líquido escorre por suas dobras e eu preciso ser muito forte para
reprimir o gemido ao vê-la levar os dedos que molhou até seus lábios
vaginais e começar a movimentar ali, se masturbando. Ela joga a cabeça para
trás, arqueando as costas e se arreganhando mais ao enfiar os dedos dentro da
boceta. Estou quase caindo na tentação em bater uma assistindo à cena,
porém, uso o pingo de autocontrole que me resta.
Sem querer que a loira goze do jeito que está se tocando, vou até o
móvel ao lado da cama e pego as sacolas do Sex Shop. De lá tiro um vibrador
embutido a um sugador de clitóris, uma algema e um pênis de borracha.
— Pare de se tocar, loirinha, tenho algo melhor para você — digo,
mirando a mulher que geme manhosa ao encarar-me com os olhos brilhando.
— Qual você prefere? — Ergo os objetos.
— Esse... — Aponta para o cor de rosa, o que tem o sugador.
Sabia que ela iria escolher esse.
Com o pau ereto e latejando, assinto e guardo somente o pênis de
borracha.
— Esse brinquedinho aqui vai ficar enfiado em você, mas enquanto
isso, vou chupar os seus peitos e beijar a sua boca, está me ouvindo? —
inquiro.
Ela balança a cabeça e encara o meu membro que está babando por
ela.
— Aham... E o que vai fazer com essas algemas? — pergunta, sua
respiração falha e eu noto.
— Vou prender os seus pulsos enquanto o vibrador te come, você
quer? — questiono.
Milena concorda, então entrego o objeto rosa para ela. Abro as
algemas e guardo as chaves na mesa de cabeceira para libertá-la depois.
Por livre e espontânea vontade, ela junta os pulsos para que eu os
prenda. Subo na cama e fico entre suas pernas. Assim que a prendo, jogo seus
braços para o alto da sua cabeça, e ouço o seu ofego ao me ver pegar o
vibrador.
— Abra mais as pernas, quero você toda arreganhada — falo e ligo o
objeto, conduzindo-o até a sua boceta molhada. Vagarosamente, eu a penetro
com o vibrador, que é engolido por seu buraquinho encharcado e guloso.
— Ai... Ai... Q-que g-gostoso... — geme, rebolando ao sentir o objeto
ser enfiado até o final para dentro dela. Depois encaixo o sugador de clitóris e
a mágica acontece, arrancando gemidos altos da sua boca.
Deito-me por cima do seu corpo e apoio meu peso nos meus
cotovelos, depois, inclino meu rosto para perto do seu e beijo a sua boca,
engolindo os seus gemidinhos de prazer que sente ao ser fodida pelo
vibrador.
Um beijo que iniciamos lento se torna em poucos segundos
avassalador. Eu sugo a sua língua e ela a minha, dou lambidas, chupo, mordo
seus lábios e sou retribuído na mesma intensidade.
— E-eu... V-vou g-gozar... — ameaça Milena, contra minha boca,
enquanto meu pau cutuca a sua barriga.
Pois não vai, se for para gozar, vai ser no meu pau. Afasto-me dela,
que se contorce por inteira, e tiro o vibrador da sua boceta, jogando-o no
canto. Mesmo que resmungue, não permito que um objeto tire o que por
direito é meu – seu gozo.
— Fique de quatro para mim e empine bem a bunda — mando, saindo
de cima dela. Inclino-me para o lado e pego as chaves das algemas para soltá-
la, e assim que a libero, eu a vejo se posicionar como havia pedido.
Levanto-me da cama, vou até as sacolas novamente e vasculho até
encontrar o plug anal de silicone e o lubrificante. Antes de retornar para ela,
procuro o preservativo na gaveta e só depois me ponho atrás da mulher que
está toda empinada para mim, com o rosto apoiado no travesseiro.
— Já usaram um plug anal no seu cuzinho, Milena? — questiono,
abrindo o frasco de lubrificante sabor de mel e embebendo o plug.
— N-n-nuca... Já fiz anal, só que nunca foi prazeroso, sempre feito
com brutalidade — diz, baixinho, envergonhada.
Limpo a garganta, quase incomodado com a resposta.
— Hoje não vou comer o seu cu, mas vou colocar o plug nele
enquanto fodo a sua boceta, o.k.? — aviso, notando que ela relaxa mais.
— Uhum... O.k. — responde.
Com uma mão, massageio um lado da sua bunda levemente para que
se sinta segura ao meu toque, enquanto com a outra introduzo um dedo
molhado com um pouco de lubrificante no buraquinho, abrindo-o. Notando
que está com a musculatura apertada, peço que relaxe porque não vou
machucá-la. Milena me atende e eu aproveito para posicionar o brinquedo no
seu ânus.
— Ahh... — geme.
— Doeu? — indago, gentilmente, mas no fundo estou louco para que
peça logo para enfiar o meu pau nela.
— N-não... É bom, agora vem e me fode. — Move o rabo gostoso
para mim.
Decido molhar mais a sua boceta, derramando um pouco do
lubrificante na palma da mão e passando por todo seu sexo. Inclino-me e
encosto meu rosto na sua vagina escorregadia com cheiro de mel e lambo
suas dobras, enfiando a língua lá dentro. Quando ela se contrai, abocanho o
seu clitóris e sugo avidamente.
Milena empurra a sua bunda no meu rosto e rebola, me deixando
submerso em toda aquela baba, mas eu continuo chupando e sentindo meu
pênis inchar ainda mais. Lambo-a apetitosamente, enquanto a loira geme e
fica arrepiada com a minha barba arranhando a sua pele.
— Ahhh... — grita a mulher.
Noto que sua mão se direciona até a sua bocetinha, que escorre a
excitação pelas pernas. Ela tenta se masturbar, mas afasto sua mão para longe
e volto a me pôr atrás dela, pegando o envelope do preservativo e o abrindo.
— Nada disso, loirinha, você só vai gozar no meu pau, eu estava
apenas te aquecendo — digo, salivando, quase fora de controle.
— Pois não demore, estou me sentindo como uma cadela no cio,
maluca para te dar — comunica, se empinando mais e me olhando por cima
do ombro enquanto visto a camisinha.
Levo uma mão ao seu quadril e a outra seguro firme meu pau,
esfregando-o na sua entrada, me lambuzando com os seus fluidos que
gotejam pelos lábios rosados. Empurro devagarinho só a cabeça e ela chia,
abrindo as pernas como se estivesse me pedindo por mais, então me afundo
nela, dando estocadas duras em sequência.
— Ah, caralho... — urro, com meu pau latejando dentro da sua
bocetinha.
Eu soco fundo, ouvindo seus gemidos altos com a respiração já
ofegante.
— Isso, assim, assim... Ahhh — grita, escandalosa.
Fecho mais a minha mão em seu quadril, enquanto ela agarra o
travesseiro e esconde o rosto nele para abafar o gemido. Eu me curvo sobre
seu corpo, agarrando o seu cabelo em um punhado e a trazendo para mim,
deixando-a de joelhos também. Sem parar de fodê-la, deslizo a mão livre no
seu mamilo e o aperto, em seguida, beijo o seu pescoço suado e Milena
treme, rebolando no meu cacete, adorando a minha pegada forte. Mesmo com
os meus joelhos já doendo, continuo na posição, comendo a sua bocetinha
apertada.
— E-eu... Q-quero g-gozar olhando em seus olhos. — O seu pedido é
inusitado, mas estou disposto a ceder porque também quero ver a expressão
do seu rosto quando eu estiver lhe dando um orgasmo.
Saio de dentro dela com muita dificuldade. Ela solta um grunhido
quando tiro o seu plug anal e o jogo no móvel ao lado, então me arrasto até a
cabeceira da cama, apoiando minhas costas ali. A loira engatinha na minha
direção com os cabelos desgrenhado e as bochechas coradas, noto que as
pupilas estão dilatadas e a cor verde dos seus olhos se encontra em um tom
mais escuro. A mulher lambe os lábios ao apoiar as mãos nas minhas coxas e
mirar no meu pau duro. Certamente, se ele não estivesse coberto por um
preservativo, ela o abocanharia com vontade.
— Eu o chuparia nesse momento... — Ergue os olhos até os meus e
eu toco o seu rosto.
— Não, neste momento te quero por cima de mim, me esfolando com
essa boceta — murmuro, deslizando o dedo indicador em seus lábios. Ela os
abre, chupando-o lentamente. — Venha se sentar no pau e gozar nele, minha
putinha deliciosa. Eu te quero de frente para mim, batendo seus peitos na
minha cara enquanto fodemos. — Um calor sobe por meu corpo, minha
pulsação aumenta a cada segundo que ponho os olhos nessa mulher.
— Como quiser, sr. Boca porca... — Milena vem e acomoda uma
perna de cada lado no meu quadril, então se apoia nos meus ombros e me
arranha de leve. Deslizo as mãos por sua bunda, dando-lhe um tapa e a loira
sorri safada. — Ai... sr. Vilela — geme, ao receber outro tapa.
— Calada e faça o seu trabalho. — Meu tom grosso a excita, ela
ofega e lambe os lábios.
— Qual é o meu trabalho? — pergunta, manhosa, descendo os olhos
até meu membro.
— Me dar essa boceta até ela ficar inchada e dolorida — murmuro,
segurando o seu pescoço com uma mão e trazendo seu rosto para mim.
Quando roço nossas bocas, Milena se derrete.
— Ah, eu quero muito fazer o meu trabalho agora. — Pega no meu
pênis e ergue o quadril, logo está esfregando o seu sexo no meu, me
provocando. Correspondendo aos meus anseios e os dela, eu a puxo para
baixo e a penetro. E assim nos tornamos um só.
Abraço as costas da loira com uma mão e a outra agarro a sua bunda.
Enquanto ela sobe e desce em mim, começo a chupar seus mamilos
alternadamente. Sinto meu corpo vibrar com leves choques, proporcionando-
me sensações únicas.
Quanto mais chupo seus peitos, mais ela se arreganha e cavalga em
mim. Nossos corpos, em resposta ao nosso exercício, começam a dar sinais
de um vasto orgasmo. Os pingos de suor descem por suas costas e molham
meus dedos. Começo a me movimentar junto a Milena em um vaivém
delicioso, e a cada estocada sinto que vou entrar em erupção. Meu coração
bate acelerado e um gemido estrangulado fica preso na minha garganta.
— Aiii... Ser fodida por você é bom... Muito... Ahhh — diz ela, em
um estado de deleite violento.
Por mais que Milena seja paga para fazer sexo, sinto verdade em suas
palavras. Em nenhum momento, quando esteve comigo, fingiu prazer, ela
realmente encontrou em mim o que jamais teve com outros. Eu sei quando
uma mulher está fingindo, e a loirinha não está.
Notando que ela vai gozar, esfrego dois dedos em seu clitóris e a
mulher deita o seu corpo no meu. Eu começo a beijar o seu pescoço molhado
e sua orelha, dando uma mordidinha na sua pele antes de ela rebolar
sofregamente.
— Você disse que queria gozar me olhando nos olhos, então olhe para
mim — peço, rouco, quase explodindo em um orgasmo vigoroso.
Ela atende ao meu pedido e nossos olhares se encontram em meio a
bolha ardente entre nós. Milena morde os lábios carnudos e chama por meu
nome sem quebrar o nosso contato visual. Animalesco e sentindo-me
possessivo com a cena, seguro em seu pescoço e trago o seu rosto para perto
do meu, tomando a sua boca para um beijo.
Nossas línguas se movimentam uma contra a outra de uma maneira
desordenada, então sugamos os lábios do outro com ferocidade, intercalando
com gemidos e soluços de prazer. Quando o clímax vem, não sei quem goza
primeiro, porque ambos estamos trêmulos, arfantes e bebendo, através de um
beijo lento, cada gota do êxtase alcançado.
Capítulo 07
Não sei exatamente quantas horas levamos para explorar cada canto
dessa suíte, mas Gabriel e eu conseguimos aproveitar bem dos móveis às
paredes brancas de decoração clássica. Transamos como dois loucos, só
paramos quando nos sentimos saciados. A fome que estávamos pelo outro era
intensa a ponto de nos tornarmos dois coelhos por algumas horas.
Nossa aventura termina às dez da noite. Durante a pausa que fazemos,
ele pede o jantar no quarto e ainda temos direito a um mordomo para nos
servir. Comemos e bebemos algumas taças de vinho – nada que possa nos
embriagar — e logo retornamos para cama, mas não duramos muito, porque
somos pegos pelo cansaço.
Um tempo depois, Gabriel me convida para me juntar a ele na
banheira e eu aceito na hora, lógico que não perderia a oportunidade de
aproveitar cada segundo nesse hotel luxuoso e de ficar mais um pouco em
seus braços.
— Você está tão calada, estou estranhando. — Escuto a risadinha
baixa dele no pé do meu ouvido e fico arrepiada.
Estamos sentados na banheira – ele está atrás de mim, e eu com as
costas apoiada em seu peitoral. Enquanto Gabriel lava meus braços com a
espuma, eu observo o mar, as ondas indo e voltando, através da janela de
vidro ao nosso lado.
— Estou apreciando a vista... — respondo, olhando dessa vez para as
lindas estrelas que brilham no céu.
— Com uma vista maravilhosa dessas atrás de você? — diz,
brincalhão, me fazendo rir.
— Adoro a sua autoestima, sr. Vilela. — Mordo os lábios e o olho por
cima do ombro.
— Tenho de sobra — responde, ostensivo.
— Hum, exibido... — digo, bem-humorada, arrancando uma
gargalhada dele.
— Só um pouco — retruca, divertido.
Ele lava meus ombros, depois a minha barriga, então vai subindo até
chegar ao meus peitos, e com os dedos acaricia meus biquinhos que
enrijecem com o seu toque.
— Ama me provocar com esses toques inocentes, não é?
Em resposta, ele beija meu pescoço, enquanto seu pau está cutucando
minhas costas.
— Não tenho culpa se você é tão gostosa a ponto de não me permitir
ficar longe por muito tempo. — Arfo com as suas palavras e com a sua mão
boba deslizando para o meio das minhas pernas.
De repente, um acontecimento de dias atrás explode em meus
pensamentos. Talvez pareça bobagem, mas vê-lo soar tão convicto do que diz
sobre gostar de estar comigo – mesmo que não use essas palavras – me faz
querer questionar o motivo de ter me rejeitado naquela noite.
— P-p-osso t-te fazer uma pergunta? — Meu tom deveria sair sério,
mas é impossível com ele dedilhando a minha boceta.
— Faça — diz, perto da minha orelha, me causando arrepios com o
seu hálito morno.
— Na noite em que nos conhecemos, você realmente não gostou de
mim e por isso pediu outra? — inquiro, gemendo baixinho.
— Por que a pergunta? — Sua voz sai em uma calmaria
surpreendente.
Viro-me para ele e o encaro. Seus olhos azul-claros estão mais
escuros e sua boca está curvada em um sorrisinho irritante. De joelhos na
banheira, apoio-me em suas coxas e inclino-me sobre seu corpo,
aproximando nossos rostos.
— Me senti profundamente ofendida com a sua desfeita, e quando
soube o “motivo”, foi pior ainda — acrescento, e ele ergue a sobrancelha.
— Não imaginei que ficaria tão afetada. — Gabriel olha diretamente
para a minha boca e umedece seus lábios.
Lógico que eu fiquei abalada, mas não pela razão que ele deve estar
imaginando – seja lá o que for. É o meu trabalho, levo muito a sério minha
profissão, e ser desprezada daquele jeito foi uma merda. Mas a parte pior foi
ter minha cafetina me acusando de ter feito um serviço meia-boca e deixado o
cliente insatisfeito a ponto de ter pedido outra garota que supostamente
conseguiu suprir as necessidades dele.
— Só fiquei irritada por quase ter saído no prejuízo. Naquela noite,
tinha acabado de fechar a minha agenda e... — Mordo a língua e me afasto
dele ao perceber que estou falando demais. Os clientes não podem saber dos
assuntos particulares das garotas do clube, desde o início ficamos cientes de
sermos discretas em qualquer questão.
— E o quê? — Vasculha meu rosto com os olhos semicerrados.
— Só fiquei chateada pelo fato de que você fugiu de mim e eu só
perdi minha noite — desconverso e encolho os ombros, em seguida, levanto-
me na banheira e Gabriel me observa atento. — Será que já podemos sair da
água? Estou ficando com frio. — Abraço meu corpo e miro a janela extensa
de vidro.
— Claro.
Fico grata por ele concordar, pois poderia me dar outra resposta.
Sou a primeira a deixar a banheira. Encontro a toalha dentro da gaveta
de um dos armários. Gabriel faz o mesmo, então seguimos para o quarto.
Assim que me sento na cama, pego a minha bolsa que deixei mais cedo ali.
Eu trouxe três peças de roupas e conjunto de biquíni. Sempre que os clientes
me pedem serviço fora do clube, costumo levar alguma peça por precaução.
Mexendo na bolsa procurando pela camisola, vejo Gabriel se pôr na
minha frente. Subo os olhos lentamente e noto o volume do seu pau na toalha
branca que está enrolada no seu quadril.
— Se está procurando por roupa, pode parar, você não vai precisar
delas quando estiver em um quarto comigo — diz, ficando muito próximo de
mim, mais um passo vai esfregar o seu abdômen malhado no meu rosto.
Antes que eu responda, ele se inclina e com uma mão toca em meu
queixo, erguendo-o.
— Loirinha, nesses dias que estaremos juntos, roupa será a menor das
suas preocupações. Só vai precisar usá-las quando estiver na rua, fora isso, te
quero sempre nua para mim. — Aproxima o rosto do meu e roça nossos
lábios, então uma quentura sobe por meu corpo. — E eu odeio dormir
vestido, recomendo que você faça o mesmo, porque quando eu for te
procurar, já vai estar pronta para receber o meu pau na sua bocetinha — diz,
contra a minha boca, que formiga com o contato macio dos seus lábios.
Gabriel está prestes a me beijar, mas viro o rosto com a menção do
seu pedido de exclusividade. Eu não beijo em meu trabalho, quem me
contrata sabe disso, mas ele está sendo a minha exceção. Porém, por mais que
adore nossos momentos, é perigoso demais quebrar uma regra que criei,
então, de agora em diante, será válida para o sr. Vilela também, afinal, regras
são regras e servem para todos.
— Precisamos esclarecer uma coisa. — Toco no ombro dele e o
afasto.
— Fale — pede, sério.
— Eu não quero que você me beije mais. Lembra que eu disse na
primeira vez que era algo muito íntimo? — Gabriel assente, alternando os
olhares entre minha boca e meus olhos. — Você é o primeiro cliente que eu
permito que me beije, Gabriel, mas isso vai terminar hoje. Vamos parar por
aqui antes que isso vá longe demais — digo, determinada.
Ele fecha o rosto e bufa irritado, parecendo não acreditar nas minhas
palavras. Gabriel passa mão na barba, em seguida, me encara com a
expressão de puro escárnio. Sem entender, remexo-me no colchão tentando
controlar o frio que bate no meu estômago.
— Só porque eu gosto de beijar não quer dizer que estou querendo me
envolver emocionalmente com você. Conhecemos os nossos limites,
principalmente eu — retruca, com grosseria. — E eu posso saber por que isso
agora? Já nos beijamos tanto que nem dá mais para contar nos dedos. —
Demonstra indignação.
— Eu já te disse a razão! Não quero me envolver. Você é meu cliente,
tem a sua vida fora dessa bolha que estamos vivendo e eu tenho a minha
também... E beijos não estão inclusos no nosso acordo — argumento.
— Eu pago por seus beijos, me fale o valor e eu faço agora mesmo a
transferência para a sua conta. Dinheiro não é um problema.
Esbugalho os olhos com o seu tom imperativo.
Ele quer pagar para me beijar? Estou ouvindo mesmo isso? Limpo a
garganta e fito-o, completamente perplexa.
— Meus beijos não estão à venda, sr. Vilela — falo, decidida.
— A sua boca não está à venda, mas a sua boceta está? Se eu quisesse
trepar sem emoção, compraria uma boneca inflável — resmunga, grosseiro.
— Sim, isso mesmo. — Empino o nariz, mesmo com o coração
batendo acelerado só pelo fato de o homem ter ficado enraivecido por eu ter
negado beijá-lo.
— O.k., sem beijos, Milena. — Assente, quase em um rosnado, e vai
para a sala de estar em passos duros.
Levanto-me e tiro a toalha do meu corpo antes de ir atrás do Gabriel.
Eu o encontro sentado no sofá, com o celular nas mãos, tão concentrado no
que está fazendo que nem ergue o rosto. Sua expressão é dura e o seu maxilar
está cerrado. Ele digita algumas coisas raivosamente e solta alguns
resmungos, depois joga o celular no canto e passa a mão por seu cabelo
asperamente.
— Está tudo bem? — ouso perguntar, dando passos na sua direção.
Só assim ele me nota, e ao me ver nua não expressa nenhuma emoção.
— Sim. — A resposta é curta e severa.
— Você parece tenso — murmuro, ficando na sua frente.
— Impressão sua. — Respira longamente e coça a barba.
— O.k. — Dou-me por vencida, mas ao invés de deixá-lo sozinho
com o seu mau humor, sento-me em seu colo e ficamos de frente um para o
outro. — Quer uma massagem para relaxar? — Toco em seus ombros e o
massageio.
Ele, por sua vez, fecha os olhos e suspira como se estivesse cansado.
— O que eu quero você não vai me dar e nem vender — fala, como se
fosse um garotinho malcriado, deslizando as mãos quentes até o meu quadril.
— Céus, você está se comportando como uma criança birrenta por
causa de um beijo! Qual a sua idade, bebezinho?! — Rio baixinho, fazendo
uma pressão leve e consistente em seus músculos.
— Sou oito anos mais velho, a única bebezinha aqui é você. — Pisca
para mim.
Faço cálculos da diferença entre nós. Chego à conclusão de que quase
acertei sua idade. Arrisquei trinta, mas ele tem trinta e um.
— Devo encarar isso como um elogio? — Arqueio a sobrancelha,
mas logo um gemido involuntário sai da minha boca quando ele desliza uma
mão para a minha virilha e faz caminho até minha boceta.
— Deve.
Um suspiro sai trêmulo de mim quando ele massageia o clitóris com o
polegar, enquanto me penetra com outros dois dedos.
Choramingando baixinho, movo-me em seu colo, com a sensação de
estar encharcada. Seu pau logo endurece por baixo do tecido da toalha. Os
seus dedos me penetram fundo e rápido, e eu curvo minha coluna, oferecendo
meus peitos para que chupe. Gabriel me mama, alternando entre eles,
esfomeado, enquanto vai fazendo vaivém na minha vagina.
— Ahh.... — Ensopada de tanto tesão, libero meus gemidos de prazer
e rebolo me esfregando nele. Instintivamente, eu o abraço pelos ombros,
escondo meu rosto na curva do seu pescoço e afundo meus dentes na sua
pele, deixando ali uma mordida.
De olhos fechados, aos poucos vou reduzindo os movimentos do meu
quadril ao sentir leves choques por meu corpo, em questão de segundos, caio
em espasmos.
Alguns minutos se passam e nós continuamos na mesma posição. Eu
me remexo no seu colo e percebo que ainda tem uma ereção, então afasto-me
dele pronta para dizer que posso aliviar o seu tesão, porém, o seu celular
começa a tocar ao lado.
— Vá dormir, já é tarde. Amanhã iremos acordar cedo, temos uma
viagem para fazer até Búzios. — Meu coração erra a batida com a menção ao
lugar que a minha família mora.
Como assim iremos para lá? Era Arraial do Cabo. A cor foge do meu
rosto, e, em choque, saio do colo de Gabriel, que está neste momento vidrado
em seu celular que não para de tocar.
— Como assim? Eu não estou sabendo dessa...
— Tenho a sua exclusividade, Milena. Se eu precisar que atravesse o
oceano comigo, você tem que vir. Agora preciso atender a esse telefonema,
vá para o quarto — me interrompe, com o humor já azedo.
— Mas eu não trouxe roupa adequada para uma viagem — digo, sem
conseguir controlar o desespero na minha voz.
E se minha mãe me vir? O que vou dizer a ela? Com os joelhos quase
falhando e os olhos ardendo, tento controlar o sufoco que preenche meu
peito.
— Será algo rápido. Vou a negócios e quero a sua companhia,
acredito que a roupa que veio mais cedo sirva ou alguma peça que você
trouxe — fala, levantando-se.
— P-pela manhã, posso buscar algo mais apropriado na minha casa
— sugiro, gaguejando.
Até trouxe duas peças de roupas elegantes caso ele me chamasse para
jantar em um dos restaurantes do hotel, mas, na realidade, o que quero
mesmo é encontrar uma forma de fugir dessa viagem.
— Você vai com o que trouxe, sem discussão. Agora me dê licença.
Em vez de eu sair, quem sai é ele, com toda a sua atenção depositada
no telefone, seguindo até a varanda e fechando a porta de vidro.
Céus. O que vou fazer? Praticamente uma bomba foi jogada em meu
colo sem que eu estivesse preparada.
∞∞
Passo quase que o restante da noite em claro, uma vez que meus
pensamentos se encontram atribulados pela notícia da viagem. Quando
consigo dormir, o sol está nascendo, e ao acordar por volta das oito, não
encontro Gabriel na cama, apenas um bilhete ao meu lado dizendo que ele
saiu para falar com o piloto.
Sem ter o que fazer, peço café no quarto e me acomodo no sofá,
procurando um livro para ler no aplicativo do Kindle. Às vezes, quando tenho
tempo e estou em casa, leio alguns e-books para me distrair, e é o que estou
fazendo agora por estar me sentindo entediada.
Com o celular em uma mão, começo o capítulo seguinte e as
primeiras linhas me deixam boquiaberta. A mocinha descobriu que o cliente
gostosão com quem ela tinha dormido anos atrás e a engravidou é o pai da
melhor amiga.
As batidas na porta me tiram a concentração da leitura. Soltando um
resmungo, levanto-me e deixo o celular no sofá. Quem será? Será que
Gabriel está esperando por alguém?
Antes de dirigir-me até a porta, avalio minha roupa e agradeço por ter
vestido algo adequado. A cada passo que dou, as batidas se tornam
constantes. Com os olhos semicerrados, toco na fechadura e, assim que abro,
deparo-me cinco pessoas superelegantes, só faltando estar escrito “luxo” na
testa deles. Acho que bateram na porta errada. Prestes a desfazer o mal-
entendido, uma mulher alta, negra e muito bonita sorri abertamente para mim.
— Milena Albuquerque? — pergunta a desconhecida, analisando-me
dos pés à cabeça, enquanto faço o mesmo ao notar que todos eles têm várias
malas nas mãos.
— Depende... Quem são vocês? — indago, desconfiada.
— O sr. Vilela nos enviou. Eu me chamo Vanessa, e essas pessoas
aqui são a minha equipe — diz a mesma mulher que sorriu para mim. —
Danilo, Maria, Joana e Denise. — Ela aponta para cada um, que acena para
mim.
Se o sobrenome do Gabriel não tivesse sido mencionado, com certeza
estaria ainda paranoica, porque nunca vi essas pessoas em minha vida.
— Bom dia, é um prazer — digo, gentilmente, fitando-os, curiosa por
eles carregarem tantas malas. — Por que ele enviou vocês? — Mordo os
lábios, encostando-me no umbral da porta.
— Viemos te auxiliar em algumas coisas a pedido dele — diz
Vanessa, animada. Em seguida, a sua equipe se afasta e ela também.
— Com o quê? — Enrugo a testa e fico sem entender por alguns
segundos, até que vejo duas pessoas arrastarem uma arara de roupas e
pararem perto da porta.
— Nos deixe entrar que vou nos apresentar direito a você — pede
Vanessa.
Mesmo receosa, dou espaço para que entrem com a arara de roupas.
Como Gabriel pode ter me enviado essas pessoas sem avisar? Mas
como avisaria, se nem temos o número do outro? Quer dizer, normalmente
quando estou exclusiva de algum cliente, ele me dá algum contato para que
possamos nos falar, só que Gabriel não me deu nenhum número.
Meio atordoada com esses desconhecidos, eu os observo. Vanessa se
aproxima de mim e se põe ao meu lado, enquanto as pessoas que ela me
apresentou formam uma fileira, cada um com suas malas em uma postura
elegante. O jeito como estão me faz lembrar aquelas cenas de filmes em que
os ricos têm muitos empregados, e quando precisam dar alguma ordem, ficam
assim.
— Pela sua expressão, imagino que esteja um pouco assustada com a
nossa chegada. Mas não se preocupe, porque somos profissionais, os
melhores da nossa área — fala a mulher, que pelo visto é a chefe.— O Danilo
é o nosso cabeleireiro, a Maria, a manicure, Joana, a maquiadora, eu, a
personal stylist. E a Denise é a minha assistente. Estamos aqui para te dar um
dia de princesa, como fora solicitado pelo sr. Vilela.
Arregalo os olhos quando a ouço terminar de falar.
Mas ele me disse ontem...
Meu celular começa a tocar no sofá, então peço licença a todos e vou
pegá-lo. Na tela, brilha um número desconhecido, e para ter mais
privacidade, sigo para a varanda e atendo a ligação.
— Quem é? — pergunto, olhando o mar e as pessoas que passeiam
pela praia, mesmo com o sol escaldante.
— Sou eu, o Gabriel.
Meu coração erra a batida ao reconhecer a sua voz, e seu tom rouco
faz meus joelhos estremecerem.
— Como conseguiu meu número? — Limpo a garganta, controlando-
me para não gaguejar.
— Bastaram algumas ligações — se vangloria, e eu quase reviro os
olhos. — Enviei algumas pessoas para você, já chegaram aí? — pergunta, já
sério.
— Uhum, sim. — Passo a mão por meu cabelo, jogando-o para trás
quando o vento bate sobre ele e o bagunça.
— O.k., você está em boas mãos — assegura-me.
Eu viro-me na direção da sala de estar e vejo que os profissionais
estão se mobilizando, tirando algumas coisas das malas.
— Mas não íamos sair cedo? Mudou de ideia? — Arrisco-me a
perguntar.
Será que ele desistiu de viajar para Búzios? Espero que sim... Lá é o
lugar que eu menos gostaria de ir com um cliente.
— Ainda vamos para Búzios, Milena.
— E precisava de tanta gente assim para me ajudar com algo que eu
poderia fazer se me deixasse ir até a minha casa pegar minhas coisas? — Sei
que estou dificultando as coisas, mas quero entender qual a sua intenção.
— Você é minha por alguns dias, é minha responsabilidade agora.
Não vejo necessidade de você se deslocar para a sua casa, sendo que posso
trazer profissionais até você — retruca, como se estivesse impaciente. —
Pedi a Vanessa que trouxesse algumas joias para você escolher a que
desejar. Se cada uma delas for do seu agrado, fique com tudo, assim como as
roupas e sapatos. Não se preocupe com valores, tudo será pago por mim,
nada sairá do seu bolso — fala com uma naturalidade absurda. Lógico que
ele não vai se importar com valores, ele é um magnata.
— T-tudo bem — gaguejo.
— Daqui a algumas horas eu retorno, mas qualquer coisa que
precisar, é só ligar para a recepção e pedir. — Gabriel nem me espera
responder antes de encerrar a ligação.
Afasto o celular da orelha e encaro a tela, tentada a fazer algo que
jamais achei necessário – pesquisar sobre a vida dos meus clientes. Ligo
meus dados móveis e dou um Google no nome “Gabriel Vilela”. Sem
demora, aparece algumas fotos dele, não muitas. Acho que o mandachuva
não saí muito na mídia, deve ser daqueles empresários reservados.
Só encontro a sua data de nascimento e não há nada falando sobre a
sua família. Porém há algumas informações sobre o seu negócio: ele tem uma
rede de restaurantes chamada Lissol. Já ouvi falar dessa empresa, só não me
recordo se foi em uma revista ou em algum jornal.
Pelo visto, Judite tem razão. O homem é o magnata de uma rede
alimentícia. Seu negócio está no topo, já ganhou muitos prêmios e a cada ano
está se destacando ainda mais para conseguir implantar seus restaurantes em
resorts, hotéis e etc. Chego ao fim da informação que encontrei, que foi bem
básica, mas que me serviu.
Quando eu disse que Gabriel Vilela era misterioso não estava
enganada. É estranho um homem poderoso como ele não ter a sua vida
exposta na internet já que hoje em dia, com a tecnologia avançada, as pessoas
conseguem encontrar o que querem – ou não, já que ele tem influência para
permitir que só saibam o que acha que é necessário.
Retorno para a sala depois de alguns minutos com o rosto queimando
de vergonha por ter vários pares de olhos em mim. Sorrindo, aproximo-me
deles.
— Acho que podemos começar — digo, ouvindo-os comemorar.
— Vamos começar pelas unhas e o cabelo — diz Vanessa, e o
cabeleireiro e a manicure se mobilizam com os seus materiais. — Querida,
sente-se ali. Enquanto estão ocupados, vou te mostrar algumas peças
exclusivas da Gucci, Dolce & Gabbana e a Chanel. — Me indica a poltrona.
Mesmo em choque com as referências das marcas, concordo e logo
eles começam a magia.
Capítulo 08
∞∞
∞∞
∞∞
∞∞
∞∞
∞∞
Há exatos três minutos que chegamos ao bairro que minha mãe mora
e eu sequer saí do carro. Assim que entramos na rua, pedi ao André que
estacionasse um pouco distante. Minha intenção não é chamar atenção, e esse
carrão com certeza não tem cara de um Uber ou táxi.
Não sei por que, mas estou com um pressentimento ruim desde a
nossa saída do Pérola Beach. Meu peito está tão apertado que parece que a
qualquer momento vou sufocar. Acho que o verdadeiro motivo é porque a
minha cota de mentiras está fazendo com que eu me sinta péssima nessa vida
dupla que levo. Estou arriscando muito vir até aqui. Se Judite sonhar com
essa escapada, ela vai querer me estrangular.
— Senhora, é esse mesmo o endereço? — pergunta o motorista,
olhando-me pelo retrovisor.
— É sim. — Remexo-me no banco.
— Desculpe a pergunta, é porque faz tempo que chegamos e a
senhora não desceu — diz, envergonhado.
— Não peça desculpas, sei que é o seu trabalho. — Encaro a rua com
algumas crianças brincando de bola na maior gritaria.
— A senhora precisa de algo? Se quiser posso parar mais lá na frente
— sugere, num tom preocupado.
— Não, eu estou bem, obrigada. — apresso-me a dizer, com o
coração batendo fortemente.
— O.k.
— André, não precisa abrir a porta para mim, eu posso fazer isso,
tudo bem? — Puxo a minha bolsa do banco e ponho no meu ombro.
— Sim, sra. Milena — concorda.
Abro a porta do carro, pronta para sair, mas ao olhar para a casa do
meio cor salmão, meu corpo inteiro congela. Rapidamente, fecho a porta e
escorrego meu corpo pelo banco. Beatriz passa pelo portão alto de madeira
com uma vasilha nas mãos, e segue para a casa da vizinha.
— Está tudo bem, senhora?
Arregalo os olhos com a pergunta do motorista e, como se minha irmã
pudesse o ouvir, instintivamente peço que se cale, fazendo um gesto com o
dedo.
Não olhe para cá, Bia. Mas é o mesmo que pedir que olhe. Beatriz
ergue a cabeça para espiar na direção do carro e franze o cenho,
aparentemente curiosa, antes de entrar na casa da vizinha. Agradeço por ela
não insistir em sua curiosidade. Quase taquicardíaca, ajeito-me no banco
depois do meu papel ridículo e noto, através do retrovisor, que André está
com o semblante preocupado.
— André, vou descer e você não precisa ficar me esperando, pode
voltar para o resort. — Passo as mãos por meu vestido branco e azul floral.
— Sinto muito, mas o sr. Vilela me deu ordens expressas para ficar e
te esperar — diz ele, desviando o olhar.
— Acontece que eu não necessito de você aqui, pode retornar. Com o
seu patrão, eu me resolvo depois — falo, com determinação, e o homem fica
meio pálido.
— Senhora...
— Sem senhora. Você pode voltar, com o Gabriel me viro mais tarde.
— Mantenho meu tom firme e abro a porta do carro. Preciso sair antes que
Beatriz volte e me veja.
— O.k. — gagueja ele, nervoso.
— Não se preocupe, você não vai sair prejudicado, dou a minha
palavra. Agora pode ir embora — peço, saindo do carro. Antes de bater a
porta, vejo-o assentir e engolir em seco.
Ajeito a bolsa no meu ombro e caminho até a calçada da casa que tem
um pequeno jardim. Nem me atrevo a olhar para trás, daqui posso ouvir o
som do motor do carro. Eu daria pulinhos e bateria palmas por meu plano ter
dado certo e o André ter cedido rápido demais, mas controlo a criança em
meu interior e continuo andando.
Empurro o portão e entro. Aquela sensação ruim vai embora quando
piso na pequena trilha de pedrinhas. O vento bate na árvore à minha esquerda
e faz com que algumas folhas caiam em mim. Rindo, espano meus ombros e
jogo meus cabelos para trás.
Ao erguer o rosto, deparo-me com mamãe saindo de casa com um
homem jovem, talvez da minha idade, ambos sorridentes. E o seu sorriso se
amplia quando nota a minha presença. Ela pede licença a ele e corre para
mim, com os braços abertos.
— Filha! — Me abraça forte.
— Mãe, apesar de estar quase sufocada com esse abraço de urso, eu
gosto dele — falo, e ela ri alto.
— Você sabe o que significa sentir saudade, Amanda? — fala,
fingindo estar emburrada, e rimos juntas.
— Lógico que sim, dona Lara! Só de morar em outra cidade sem
vocês duas fico com o coração apertado — murmuro, afastando-me dela e
olhando em seus olhos lacrimejados.
— Eu sei disso! Estava brincando! — Então aperta minha bochecha
como se eu ainda fosse uma criança. Fico com o rosto ligeiramente vermelho
ao perceber que esquecemos do rapaz.
— Mamãe, cadê a Bia, e quem é ele? — questiono, levando meus
olhos até o desconhecido que está a poucos metros da gente, coçando a
cabeça.
— A sua irmã foi à casa da nossa vizinha levar um pedaço de torta. —
Ela se põe ao meu lado e toca em meu braço. — Mandy, este é o João Pedro,
filho da nossa vizinha. Chegou semana passada do interior da Bahia —
explica, gentilmente, apontando para o vizinho.
— Ah sim. É um prazer, João. — Sorrio educadamente.
— João Pedro, esta é a minha filha mais velha, Amanda, ela mora em
Engenho Novo, mas sempre que pode vem nos visitar. — Mamãe me
apresenta, mas não gosto do olhar do vizinho sobre mim, não que ele esteja
sendo malicioso, só parece desconfiado.
Ele me analisa dos pés à cabeça, não sei o que está pensando, só que
repara demais na pulseira de ouro que comprei há dois anos por dois mil reais
e que para a minha mãe é apenas uma imitação barata. Notando que estou
desconfortável, ele volta sua atenção para dona Lara, que está saltitante de
alegria.
— Com todo respeito, mas a senhora tem uma filha muito linda. —
Ele sorri, estendendo a mão para mim. — É um prazer te conhecer também,
Amanda. — Aceito o seu aperto de mão.
— Minha nossa, esqueci o fogo ligado! — exclama minha mãe,
batendo de leve na testa. — João, meu querido, muito obrigada por arrumar o
cano da pia. Não esperava que aquele meu improviso daria tão ruim assim, se
não fosse por você não sei o que faria! — agradece-o, gentilmente.
— Que isso, dona Lara, precisando é só falar comigo — profere ele,
sorridente.
— Ah, meu filho, muito obrigada mesmo. Hoje em dia é difícil achar
pessoas dispostas a ajudar ao próximo — afirma mamãe, e eu concordo com
ela. — Filha, leve o rapaz até a saída, vou ter que desligar o fogo antes que o
doce de abóbora queime! — Em passos apressados, ela se vai.
— Muito obrigada por ajudar a minha mãe — agradeço, mesmo que
ela já tenha feito isso.
— Não precisa agradecer, sou uma pessoa que, podendo ajudar, eu
ajudo — garante.
Caminhamos na direção da saída. Novamente o vento bate na árvore e
suas folhas caem, dessa vez não sou a única premiada, o João também.
Nós nos limpamos, e quando chegamos ao portão, ele abre e fica do
lado de fora, enquanto eu permaneço para dentro do portão. Cada um sabe
das suas necessidades, e como não os vi mencionar nada sobre pagamento,
começo a abrir minha bolsa para pegar a minha carteira.
— O que está fazendo? — pergunta ele, quase ofendido.
Paro na hora de mexer em minha bolsa para encará-lo.
— Quanto ficou o serviço? — inquiro, e ele franze o cenho.
— Não é necessário pagar, Amanda. Obrigado. — Sua expressão é
séria. Ele me avalia tão estranhamente, que sinto uma imensa vontade de
perguntar o motivo. — O.k., me desculpe, não quis te ofender. — Fecho
minha bolsa. — Posso te fazer uma pergunta? Por que me olha tanto como se
me conhecesse de algum lugar? — Vasculho o seu rosto magro e seus olhos
castanho-claros.
— Mas eu conheço, não pessoalmente — declara, com suavidade.
Minhas pernas tremem com medo da sua resposta.
— De onde? — indago, com a voz baixa e as mãos suando.
— Tenho um amigo que mora no Rio de Janeiro. Uma vez ele me
mostrou uma foto sua em um clube de prostituição — revela.
Eu quase caio para trás, mas ele me segura pela cintura.
— Meu Deus... Você deve ter me confundido. — Meus lábios tremem
e eu seguro o choro.
— Ei, se acalme, você está tremendo e pálida. — Toca no meu rosto e
eu deixo as lágrimas caírem.
Ele vai contar para a minha mãe o que eu sou? Será que vai me
chantagear? E agora? Imagina se a minha família descobre que sou uma
prostituta através de terceiros? Eu serei eternamente odiada.
— Poderia me soltar, por favor? — peço, observando ao nosso redor,
e congelo ao ver o carro do motorista de Gabriel ainda ali, parado a alguns
metros. André está nos encarando, e a maneira como o vizinho está me
segurando pode dar a entender várias besteiras para quem está de fora.
— Você está quase passando mal, Amanda. Foi só revelar o que sei
que ficou assim, então não acho que seja uma mentira, nem mesmo a foto que
ele me enviou quando esteve ano passado naquele clube. — Ele me solta.
— Quanto você quer para não falar nada à minha mãe? — Soluço,
sem conseguir olhar para ele. Estou focada em André, que arrasta o carro
para longe.
O quanto devo estar fodida? De um lado minha família, do outro um
cliente importante que pode perder a confiança em mim e chutar a minha
bunda.
— Quando a sua mãe nos apresentou fiquei surpreso, e notei que ela
não deve saber da sua vida em Engenho Novo. — Soa ácido e meu peito arde
como fogo.
— Me diga quanto quer e dê o fora daqui! — Fecho os punhos e
machuco a palma da minha mão com as unhas.
— Não quero nada, garota, só não acho certo mentir para a sua mãe,
que parece ser uma pessoa de bem. — O semblante dele está endurecido. —
Você deve falar a verdade para ela antes que seja tarde demais. Nunca vi
alguém elogiar tanto uma pessoa como ela faz com você. — Bufa,
desdenhoso.
— E quem você pensa que é para me exigir algo assim? — Cuspo as
palavras, raivosamente.
— Apenas alguém que teve a família destruída por causa de uma puta
como você. — Tenta tocar no meu ombro, mas eu recuo.
— Você não me conhece, não sabe nada da minha vida Suma da
minha frente e nunca mais coloque os pés aqui — ordeno, apontando para a
rua.
— Seja esperta e não decepcione a sua mãe por alguns trocados,
vendendo o corpo — provoca-me e eu me controlo para não o esmurrar.
Quem esse filho da puta pensa que é para falar assim comigo? Ele é
louco.
— E o que você ganha se envolvendo na minha vida? — Trinco os
dentes, com os olhos ardendo.
— Nadinha, Amanda, mas pense mais em sua família. Eles não
merecem viver com uma mentirosa. Conheço mulheres do seu tipo, fode com
homens casados por dinheiro e destrói lares sem se importar com os filhos
deles. — Estala a língua.
— Dê o fora daqui! — Encorajada, eu o pego pelo braço e o empurro
para a calçada.
— Vá até a minha casa e veja como a minha mãe é hoje por causa de
gente como você, que entrou na vida do miserável do meu genitor e destruiu
a felicidade dela. — Ele tenta me segurar, mas me afasto.
— Mandy, Mandy! — Escuto a voz infantil de Beatriz, que corre na
minha direção. Rapidamente me recomponho e o maluco também, que age
como se fosse outra pessoa.
Ela me abraça apertado na cintura, então agacho-me e beijo a sua
cabeça. Tremendo, encaro o vizinho descontrolado, que sai a passos largos
para longe da gente e vai para a sua casa. Nervosa, puxo Beatriz para dentro e
fecho o portão.
— Você está chorando, o que foi, maninha? — Minha irmã segura a
minha mão.
— Nada, Bia, está tudo bem. Só fiquei emocionada em ter vindo ver
vocês hoje — minto, piscando para ela.
— O João te incomodou?
Salivo com a pergunta inesperada.
— Como assim, Beatriz? Claro que não! — digo, enquanto seguimos
pela trilha de pedrinhas.
— Eu não gosto dele, sabia? Dias atrás, ele quebrou umas coisas
dentro da sua casa e a mãe dele veio aqui esperar que ele se acalmasse. Não
ouvi mais nada da conversa delas, porque era coisa de adulto e a mamãe me
mandou ir para o quarto — confessa, baixinho, para que só eu possa ouvir.
Céus, minha família pode estar correndo perigo?
— Humm, vamos deixar isso para lá? Esse assunto não é coisa de
criança mesmo, e você não pode se envolver. — Toco na sua cabeça e ela
assente quando entramos em casa.
— Tá, mas eu não gosto dele, só da dona Vera, ela é uma senhora
muito boa — diz, mas logo se cala quando mamãe surge na sala.
— Bia, como está a Vera? — Nossa mãe vem até nós.
— Parecia triste, mãe, mas ela está sempre assim. — Crianças tendem
a sempre ser sinceras.
— O.k., você pode ir ao seu quarto enquanto converso com a sua
irmã? É assunto para adultos, querida — pede mamãe.
Beatriz me dá outro abraço e sai da sala correndo.
Cruzo os braços sobre o peito e fixo os olhos em dona Lara.
— Mãe, eu não gostei daquele João Pedro, ele parece problemático. E
a Beatriz me disse algumas coisas que não me agradaram. — Solto uma
respiração pesada.
— Vamos nos sentar, filha. — Aponta o sofá para mim e eu deposito
minha bolsa no aparador ao lado antes de me sentar.
— Eu sei que ele foi gentil te ajudando em casa, mas quando precisar
de algum serviço que não consiga fazer, me ligue e eu envio dinheiro para
pagar um profissional. — Meus pensamentos vão para a discussão que tive
com o vizinho. — Não é bom colocar estranhos dentro de casa, e aquele
rapaz tem um olhar estranho. — Engulo em seco.
— A Vera não é uma estranha, todos no bairro a conhecem, menos o
seu filho que chegou por esses dias e realmente não tem agradado alguns
vizinhos, mas é um bom rapaz. — Olha-me com pena. — Ela me contou que
na infância, ele era muito problemático... vez ou outra que fica atacado.
Arregalo os olhos com a informação.
— E por que ele tem esse temperamento difícil? — pesquiso,
amedrontada com o que posso ouvir.
— A Vera não teve um bom casamento com o pai dele, na época que
ele era criança, o pai se envolveu com uma garota de programa e ela acabou
com o casamento deles — diz, quase baixo, com o rosto vermelho. — O
esposo da Vera os abandonou e foi embora para o interior da Bahia viver com
essa mulher. Deixou-os com quase nada, só com essa casa que vinham aos
finais de semana. Com isso, o rapaz foi crescendo muito revoltado por causa
do abandono paternal — conta e eu levo a mão à boca.
— Mas ele ainda procura problemas? Digo, a senhora me disse que
ele não tem agradado algumas pessoas do bairro. — Meus lábios chegam a
tremer.
— Ele é só valentão uma vez ou outra, mas nada que devamos nos
preocupar. É a primeira vez que o João Pedro entra aqui, e sempre deixo o
portão fechado e o muro da nossa casa não tem como pular, já que temos a
cerca elétrica. — Me tranquiliza nessa parte.
— Mãe, estou preocupada com essa sua amizade com a Vera. Ficar
perto dela significa ficar perto dele. A senhora nunca foi de amizade, a última
vez que estive aqui não me disse nada dessa mulher. — Uma saliva grossa
parece rasgar a minha garganta.
— E por acaso vou te incomodar com besteiras, Amanda? — Faz
careta.
Ela vem até mim e se senta ao meu lado, então encosta a boca perto
do meu ouvido.
— Filha, ele não tem muitos dias aqui, ele só veio mesmo para visitar
a mãe.
— Tudo bem, talvez eu esteja exagerando um pouco. — Respiro
aliviada. — Mas quero te pedir um favor, não deixe a Beatriz ficar indo à
casa deles.
— Pode deixar, querida, eu sou uma pessoa com o coração bom, mas
não sou inocente. O João só entrou aqui em casa porque o rapaz que arruma
minhas coisas teve um imprevisto e eu não tinha as ferramentas certas para
ajeitar a pia. — Me abraça pelos ombros.
— Pois vamos providenciar outro profissional para ser a sua segunda
opção — digo, encostando a minha cabeça na dela.
— O.k., agora vamos na cozinha preparar o seu prato de comida,
testei um novo tempero — avisa.
— Hum, vamos, vamos! — Levanto-me com ela.
— Além do doce de abóbora fiz pé de moleque, a quantidade que
preparei vai dar para você levar um pouco para casa — diz, animada, indo
para a cozinha.
Mãe sendo mãe, e é algo que a minha nunca deixará de ser.
Capítulo 11
∞∞
Horas atrás fiz o checkout no hotel onde ficaria com Milena, porque
decidi passar meus dias no resort, agora que Samuel e eu fechamos uma
parceria. Dei oportunidade para ele que me apresentasse a sua proposta e fui
surpreendido por um pedido de empréstimo. Não é segredo para ninguém que
o resort está à beira da falência, apesar de ainda ser bem frequentado. Mas
realmente não esperava que o homem viesse me fazer um pedido tão
inesperado.
Pude ver na expressão dele o quanto estava envergonhado em me
fazer o pedido depois que fizemos um tour pelo resort e voltamos para o seu
escritório. De fato, ontem, quando tivemos uma reunião, notei que estava
querendo me dizer algo, no entanto, parecia receoso demais para me falar o
que era do seu interesse.
Para se reerguer por completo, ele precisa de alguns milhões. Como
garantia de que vamos fazer um bom negócio, serei o sócio majoritário, vou
ter a maior fatia nas ações. Ele vai ter o investimento e eu vou implantar
meus restaurantes no Pérola Beach.
Na realidade, estou cedendo dinheiro ao Samuel não por ele ter
aceitado o que propus de imediato. Mesmo que meses atrás eu já tenha tido
todas as informações de como o resort havia sido fundado, ouvir da boca dele
com tanta paixão, em como os seus avós construíram com muito esforço o
lugar que antigamente era apenas uma pequena pousada à beira mar, me
estimulou para que abrisse uma exceção pela primeira vez nos meus
negócios. Costumo ser implacável, em hipótese alguma deixo o coração agir
em uma situação como essa, todavia, eu me identifiquei com o progresso do
Pérola Beach e quebrei uma das minhas principais regras. E por mais que
tenha feito isso, não me arrependo, sei que futuramente me trará bons frutos.
O meu humor estava ótimo até André chegar e me dizer que viu
Milena conversando com um homem na casa em que foi deixada,
supostamente de sua amiga. Em minha cabeça, ela estava com outro homem.
No início, fiquei com o sangue fervendo pela possibilidade de ela
estar me enganando, fazendo um trabalho por fora do nosso acordo. E eu não
iria tolerar que me fizesse de idiota, mas por mais que eu estivesse
enraivecido, controlei meu impulso e permaneci no Pérola Beach, esperando
que retornasse para que me desse uma bela explicação. A única coisa que
recebi dela mais cedo foi uma mensagem que sequer me dei ao trabalho de
responder, estava puto demais para ter que lidar com ela naquela hora.
As horas foram passando e a minha desconfiança em estar sendo
passado para trás foi aumentando, e logo me vi pedindo ao meu motorista que
me levasse ao endereço onde deixou Milena. Ao chegar ao local, fui recebido
por uma senhora que parecia ser uma versão mais velha da garota que
conseguiu em tão pouco tempo me tirar do sério. Naquele momento, não
consegui associar o nível de parentesco entre elas até ser convidado para
entrar na casa e descobrir que eu estava na casa da família dela ao ver
algumas fotos espalhadas pela sala.
E, porra, isso não era para estar acontecendo. Esse acordo não deveria
envolver familiares, já que uma das regras do clube é manter sigilo das
identidades. E aqui estou eu, depois de uma discussão com Milena, que
descobri que se chama Amanda, levando-a embora da casa da mãe, que
provavelmente descobriu a sua vida na prostituição por minha causa. Por essa
razão, sinto-me culpado em ter deixado o resort e ter vindo atrás dela. O.k.,
não sou inteiramente culpado, se ela não tivesse mentido para mim, não
estaria passando por isso agora.
Certamente, o Gabriel de semanas atrás nem teria tentado tirar
satisfação ao pensar que ela tinha se encontrado com outro homem, bastaria
fazer uma ligação para a cafetina dela para dispensá-la.
E se eu... São tantos e “e se” na minha cabeça que estou com ela
quase estourando. Se eu não tivesse entrado naquela casa e esperado a garota
chegar ao resort, talvez nada disso teria acontecido, mas caralho, pensei que
estava sendo feito de idiota e não aceito que brinquem comigo. Como eu
poderia adivinhar que a mãe dela não sabia que era uma acompanhante?
Existem tantas pessoas trambiqueiras por aí, que achei que ela estaria
mentindo para mim.
— Milena, o que aconteceu lá dentro? A sua mãe descobriu como
você ganha a vida? — pergunto pela terceira desde que entramos no carro.
Ela não responde, não quer dizer nada, só fica encolhida e com a
cabeça abaixada, chorando baixinho. O cabelo dela está desgrenhado e o seu
lábio machucado. Ela não está bem, estou vendo com meus próprios olhos
que Milena não está nada bem.
Vê-la neste momento vulnerável, em lágrimas e tremendo, faz com
que meu coração fique apertado.
— André, vá mais rápido.
O motorista me olha pelo retrovisor e assente ao dizer um “sim,
senhor”.
Percebendo que a loira está passando as mãos nos braços como se
estivesse com frio, peço ao motorista que diminua o ar-condicionado, em
seguida, tiro meu blazer e ponho em seus ombros, fico mais aliviado por ela
não recusar o meu gesto cavalheiresco. Por saber que Milena não está em
condições de desabafar, deixo-a em seu canto e viro meu rosto para a janela
ao meu lado.
∞∞
∞∞
Eu pensei que quando encontrasse o cliente ideal para ser o meu pote
de ouro, como costuma dizer minha agenciadora, conseguiria tirar proveito
dele para me beneficiar em minhas ambições. Que não são muitas – apenas
três, e todas envolvem a minha família. Mas acho que mirei no homem
errado, porque neste momento estou com a cabeça fervilhando e o coração
apertado por ter aceitado o cartão de crédito de Gabriel para comprar as
coisas para Beatriz.
Eu sei que a quantia que for usada não vai fazer diferença para um
homem milionário, porém, estou incomodada, dentro de mim é como se eu
estivesse lesando-o. Ele me dar dinheiro por fora não estava incluso no
acordado, e de alguma maneira isso está me afligindo.
A ajuda veio em uma boa hora? Sim. Só que não estou bem com essa
situação. Não estou me fazendo de boa moça, mas o Gabriel demonstrou ser
uma pessoa tão pura no quesito de querer me ajudar, que isso está martelando
na minha cabeça.
— Milena, você está bem? — Sinto o toque dele nas minhas costas.
Meio perdida em meus pensamentos, eu o encaro com a testa franzida.
Saímos do restaurante onde tomamos o café da manhã e agora
estamos voltando para a suíte.
— Humrum, estou sim. — Dou um sorriso para ele.
— Você está tão pensativa — fala, avaliando-me cuidadosamente.
— Gabriel, preciso te dizer algo. — Comprimo os lábios e paro de
andar.
— O que é? — indaga.
— Eu não posso aceitar o seu cartão. — Fico de frente para ele, com
os ombros caídos.
— Por que não? Você quer dinheiro vivo? Pode dizer quanto é, eu
providencio...
— Não é isso, por favor — interrompo-o, com os olhos ampliados. —
Será que podemos caminhar um pouco na praia para conversarmos? —
pergunto ao ver que o resort está bem movimentado.
— O.k. — concorda, então seguimos na direção da praia.
Com os olhos fixos no mar, paramos na areia depois de passar pelo
cercadinho. Gabriel para ao meu lado e cruza os braços, enquanto abraço meu
corpo e suspiro longamente. Na parte que estamos, há somente eu e ele, então
teremos um pouco mais de privacidade, e essa é a minha intenção.
— Eu sei que para você, me ceder o seu cartão não é nada, mas para
mim é, ainda mais se tratando de uma coisa que não acordamos. Você está
me dando apenas porque quer. — Passo a língua em meus lábios e viro o
rosto para encarar o meu cliente, que está com a expressão séria.
— Ter feito isso te ofendeu? — Acho superfofo o seu jeito
preocupado de perguntar.
— Não, claro que não... É que não estou acostumada com gentileza,
sabe? A minha vida toda apanhei muito para conquistar tudo o que tenho
hoje, jamais recebi algo de graça, aí vem você com essa consideração, sendo
que não fiz nada para merecer, pelo contrário, te dei uma grande dor de
cabeça. Mesmo assim, me deu o seu cartão. — Até me emociono, afinal,
nenhum homem fez isso por mim, nem mesmo o primeiro e único namorado
que tive, aos meus dezoito anos.
— Eu jamais te julgaria por ter mentido para se encontrar com a sua
família, Amanda. — Ele usa meu nome verdadeiro e meu coração dispara.
Sem se corrigir, Gabriel se põe na minha frente e toca no meu rosto. — Pois
saiba que não é pecado alguém ter uma família, amá-la e fazer de tudo por
ela. E você não deve falar com tanto desprezo de si mesma. Nunca em
hipótese alguma se desvalorize, loirinha. Nesse pouco tempo que estamos
juntos, pude perceber que a sua maior beleza não está por fora, ela está em
seu interior. — Aponta para o meu coração e os meus olhos ardem.
Lindas palavras. Eu quero me jogar nos braços dele e dizer que ele
sabe como conquistar uma mulher sem precisar de muito.
Querendo chorar, aperto a boca e desvio meu olhar do dele, que toca
em meu queixo e me faz encará-lo fixamente.
— Você é preciosa, menina. O homem que terá o seu coração será um
sortudo.
Eu me derreto com o seu elogio, e ao mesmo tempo deixo minhas
lágrimas caírem.
Eu posso perguntar se ele poderia ser esse homem? Estou tão sensível
que acabo pensando asneiras.
— Talvez, se existir outra vida, eu possa encontrar um homem que
tenha coragem de me assumir e me amar, porque nessa, tenho pouca chance
de encontrar alguém que queira me dar amor e ter uma família comigo.
Quem assumiria uma prostituta? Não quero generalizar, mas
dificilmente um homem passaria por cima do preconceito para assumir uma
mulher que foi garota de programa.
— Quando eu falo de homem, Milena, não incluo moleque, porque
homem de verdade não se importa com o passado da sua mulher.
— E você? — Arqueio a sobrancelha.
— E eu o quê? — Umedece os lábios.
— Se se apaixonasse por uma mulher que já foi, ou é uma garota de
programa, teria coragem de assumi-la, sendo alguém tão importante na
sociedade? — Por que diabos fiz essa pergunta?
Envergonhada, eu fecho os olhos com medo da resposta. É um ato
infantil, me arrependo por ter agido no impulso da curiosidade.
— Pode abrir os olhos? — pede, rindo baixinho. Sinto meu rosto
esquentar. Abro um olho e depois o outro, Gabriel gargalha, achando graça
enquanto eu queimo de vergonha. — Se eu me...
— O sol está esquentando, né? Vamos voltar — eu o interrompo,
fugindo da sua resposta, e tento passar por ele, mas Gabriel segura meu pulso
e me puxa para seus braços, por pouco não rolamos na areia.
— Me pergunta e depois quer fugir? — Seus olhos brilham em
divertimento.
— É... é... Esquece o que eu te perguntei — gaguejo, me odiando por
isso e espalmando a mão em seu peito para afastá-lo de mim.
— Caso eu me apaixonasse por você, quer saber se eu teria coragem
de enfrentar o mundo pelo nosso amor? — O filho da mãe pronuncia palavras
que não foram ditas por mim, mas não o corrijo, porque sei que no fundo era
isso mesmo que queria ouvir. — Sim, loirinha, é lógico que eu sentiria ciúme
de todos os homens que tiveram o seu corpo, mas isso não me impediria de
agir como um homem de verdade, deixar o seu passado para trás e focar no
nosso presente. — Ele põe a mão em meu rosto e acaricia minha bochecha.
Ofegante, miro-o, completamente hipnotizada.
— Ter maturidade não quer dizer que sou um bobo. No mundo
machista que vivemos hoje, os homens podem fazer de tudo, e as mulheres
não, porque é errado, mas a educação que recebi dos meus pais me ensinou
que não devo ser um juiz. — Sorri de canto e eu me derreto.
— Então, nunca te julgaria por ter sido uma garota de programa ou
deixaria que os outros te olhassem torto, porque quem ama cuida, e se você
fosse minha, eu cuidaria de você, te amaria independentemente de qualquer
coisa. Porque o amor de verdade não machuca, e eu nunca seria capaz de te
machucar pelo que você foi. E não ache que estou falando apenas palavras
bonitas, estou sendo sincero. Esse sou eu, meus pensamentos são verdadeiros.
— Ele não mente, posso ver em seus olhos.
Uau... Estou boquiaberta.
Minha respiração fica pesada, mas o que me faz arfar é sentir os
dedos de Gabriel massagear o meu pescoço e ele aproximar o rosto do meu,
estamos tão perto que sou capaz de sentir sua respiração se misturando com a
minha.
— Gabriel... — Suspiro pesadamente ao ter seus lábios encostados
aos meus.
Lindo. Gostoso. Milionário. Intenso. Fode bem. Sabe como
enlouquecer uma mulher com pequenos gestos. Ah, droga, esse homem está
sendo meu maior desafio. Como manter meu coração protegido dele? Não
sou de ferro, impossível manter minha pose de inabalável com um
monumento desses me deixando fascinada.
Ele não pode se envolver.
Eu também não.
— Preciso ir — digo, afastando-me dele como se tivesse levado um
choque.
— O.k. — Assente, como se também estivesse atordoado.
Não posso me apaixonar por Gabriel Vilela e ter o meu coração
partido depois que ele for embora. Por que só de pensar que em breve cada
um vai seguir seu caminho dói profundamente?
Só temos mais alguns dias juntos, seria loucura deixar uma paixão me
dominar e colocar o meu futuro em jogo por alguém que para mim ainda é
um sentimento incerto. Uma coisa de momento. Espero que ele seja
passageiro.
Capítulo 14
∞∞
— Odeio cortar cebolas, sempre choro! Faz tanto tempo que não
cozinho, que parece até que perdi o jeito — resmungo com os olhos
lacrimejados, ouvindo minha mãe rir.
— Eu disse que era para você colocar a cebola um pouco de molho na
água gelada — diz ela, risonha.
— Pois eu deveria ter te ouvido. — Semicerro os olhos por causa do
ardor.
Enquanto Beatriz está na sala assistindo à televisão, estamos
preparando o almoço. Eu pico os temperos e mamãe desfia o peito do frango
para o recheio da lasanha. É tão delicioso compartilhar esse momento junto a
ela. Faz anos que não tenho tempo para chegar em casa e preparar uma
comida com mamãe, mas agradeço ao Gabriel por ter me permitido vir para
cá e ainda ter três dias com a minha família. Farei desses poucos dias os
melhores de nossas vidas.
— Filha — chama-me e eu a olho por cima do ombro.
— Sim? — Arqueio a sobrancelha.
— Esse homem que está com você, realmente não sabe se ele é
casado? — inquire, preocupada.
— Mamãe, é como expliquei para a senhora ontem. No clube, não
temos acesso à vida pessoal dos clientes, mas acredito que não seja. Acho que
se fosse, não iria querer ficar saindo comigo para cima e para baixo — falo,
envergonhada, porque sei que é tudo muito novo para ela.
— Ele parece gostar de você — diz, e eu arregalo os olhos.
— Por que fala isso? — Largo a faca e a cebola na tábua e viro-me
para ela.
— Acho que se ele não gostasse, não te deixaria vir ver a gente, nem
se importaria.
Sinto um reboliço dentro de mim.
— Hum, será? — Mordo os lábios e reprimo o sorriso que quer surgir.
— Acho que sim, Mandy. — Encolhe os ombros.
Ainda não falei com ela sobre o convite do Gabriel. Seria uma ótima
oportunidade dizer agora? Acho que vou esperar mais um pouquinho, talvez
depois do almoço eu diga.
— A senhora o achou uma boa pessoa? Tipo... Sei lá, não sei explicar
— sondo, curiosa.
— Apesar de parecer um pouco arrogante, ontem ele não foi mal-
educado, me tratou muito bem ao perguntar de você. E quando o convidei
para entrar, parecia envergonhado, mesmo assim agradeceu e aceitou o meu
convite. O melhor foi ver que ele não olhou para a casa como se fosse algum
E.T. — Ao ver que ela sorri, vibro por dentro, mas gargalho com o “E.T.”.
— Quando nos conhecemos eu o achava muito prepotente —
confesso, puxando a boca para o lado.
— Por quê? Ele te maltratou? — Ela parece ter receio da minha
resposta.
— Não. É que o Gabriel nunca esteve com uma garota de programa,
então tinha aquele comportamento grosseirão, sabe? Mas nada que eu não
pudesse lidar. Ele nunca chegou a me agredir fisicamente nem nada, não é da
sua personalidade — revelo e mamãe fica boquiaberta.
— Ah, entendi. — Ela fica aliviada.
— Mãe... a senhora acha que se o Gabriel fosse casado, noivo ou
tivesse uma namorada, ele me contaria? — Meu estômago congela.
Por que estou me importando com isso agora? Gabriel não tem
obrigação alguma de me dizer sobre a sua vida amorosa, mas em meu
interior, sinto uma imensa curiosidade de saber se em São Paulo existe
alguma felizarda o esperando quando ele for embora.
— Filha, você está apaixonada por esse homem?
Meus joelhos tremem com os olhos avaliativos de mamãe em cima de
mim.
— Eu pareço estar? — Preocupo-me de imediato.
Minha mãe balança a cabeça e meu coração bate descompassado.
— Os seus olhos brilham ao falar dele, Amanda. — A sua seriedade
me faz engolir em seco.
— N-não acho que seja isso. Se a senhora disser que esse meu
sentimento por ele é paixão, posso até acreditar — murmuro, com a
respiração ofegante.
— E como você se sente quando estão juntos? — questiona,
avaliando-me.
— Me sinto viva, acho que ele também. É um sentimento avassalador,
provocador, impulsivo, desesperado e inquieto. Estar nos braços dele é muito
diferente de tudo o que já vivi, mãe. Quando ele me toca é como se eu
esquecesse de tudo ao meu redor. Acho que vou sentir falta dele assim que
cada um for para o seu canto, mas eu não quero correr o risco de deixar esse
sentimento de saudade se apossar de mim, porque Gabriel tem a sua vida em
outra cidade, e eu tenho a minha aqui. — Meu peito fica apertado.
— Minha menina... — Mamãe limpa as mãos com o pano de prato e
vem até mim.
— Ele me trata tão bem, sabe? Hoje me disse tantas coisas bonitas,
fiquei boba, por um instante quis ser uma pessoa normal. — Sorrio, nervosa.
Ela toca em meu rosto com as duas mãos e nossos olhares se
encontram.
— E desde quando você é anormal, Amanda? — Faz uma careta.
— Falo sobre ele ser um homem muito importante e eu, uma
acompanhante de luxo. — Respiro fundo.
— Quem disse que isso impede vocês de terem sentimentos maiores
um pelo outro? — Acaricia meu rosto.
— Eu sei que não. — Lambo os lábios. — Cheguei a perguntar para
ele se teria coragem de enfrentar a sociedade caso se apaixonasse por uma
garota de programa... Sabe o que me disse? Que sim, e depois me falou tantas
coisas lindas que fiquei derretida, mas então fugi porque nem eu suportei a
ideia de me apaixonar por um cliente.
— Pois se você não quer se apaixonar por esse homem — ela toca no
meu peito com uma mão e a outra continua em meu rosto —, trate de cuidar
desse coração, Mandy. Você está tão envolvida, filha. Ainda não se deu conta
disso, e quando acontecer, será tarde demais. E eu não quero que se
machuque. O amor é bom, mas também pode machucar muito. — Suspira.
— Ele convidou a senhora e a Beatriz para passarem a tarde de
amanhã no resort. — Solto num impulso.
Ela se afasta de mim e passa a mão na testa como se estivesse
preocupada.
— Filha, esse homem não está querendo brincar com os seus
sentimentos, não? Alguma vez algum cliente já fez isso? — pergunta, pálida.
Ah, se ela soubesse que ele me deu o cartão dele para comprar coisas
para a Beatriz.
— Não, mãe, mas acho que não é por maldade que ele fez isso. —
Passo a mão em meu pescoço.
— Essa gentileza toda vai te confundir — diz, soando aflita.
— Mamãe, não sou boba, sei me cuidar. O Gabriel só quis ser gentil.
Desde o início, deixamos claro que não queremos nos envolver, não existe a
possibilidade de termos algo a mais — tento explicar, mas no fundo sinto que
as coisas estão fugindo do meu controle, e do dele também.
— Mandy, você é maior de idade, sabe o que faz. Mas vou ter que
recusar o convite desse senhor, porque eu e Beatriz não vamos para esse
resort. Não estou sendo orgulhosa, só não acho certo eu e a sua irmã nos
envolvermos tanto. E o seu trabalho ainda é novo para mim, estou tentando
me adaptar — fala, decidida, e eu abaixo a cabeça.
— O.k., mãe, imaginei que não fosse aceitar mesmo. Mas isso não é
um problema, porque eu tenho ainda três dias para ficar com vocês — digo,
sorridente, e vou até ela e a abraço por alguns segundos.
— Você me entende, não é?
— É um direito seu, é claro que sim, jamais te obrigaria a ir a um
lugar que não vai se sentir bem só para me agradar — murmuro, afastando-
me dela.
— Obrigada, filha.
Ouvimos alguns passos, e ao olharmos para a porta, nós nos
deparamos com Beatriz passando a mão na barriga e dizendo que está
faminta. Rimos e voltamos aos nossos afazeres.
∞∞
Hoje é o meu segundo dia com elas e eu não poderia estar mais feliz.
Sentada na calçada, observo Beatriz andar de bicicleta com duas
meninas – uma mora na quarta casa ao nosso lado, e a outra do outro lado da
rua. Quando Bia e eu saímos minutos atrás, nós já as encontramos por aqui e
as garotas a convidaram para brincar. Mesmo que suas mães estejam de olho
nelas, decidi ficar para cuidar da minha irmã. Em se tratando de crianças,
todo cuidado é pouco, e vez ou outra passa um carro na rua.
Sinto o celular vibrar em meu colo. Desde que deixei o resort pela
manhã, esqueci de tirar o modo vibrar. Ontem à noite, o André me buscou
como o combinado, e quando cheguei na suíte, encontrei um jantar à luz de
velas. Gabriel me pegou tanto de surpresa que fiquei emocionada. Mesmo
que ele não tenha insinuado nada em ser um jantar romântico, eu me senti em
um daqueles filmes que o homem faz algo bonito para a mocinha.
Após comermos e descansarmos, dois funcionários foram tirar a mesa
e depois fui convidada para caminhar na praia, o que resultou em mais uma
de nossas loucuras. Gabriel e eu entramos no mar e transamos, por pouco não
fomos flagrados por um casal que passava ali por perto. Quando eu ia gozar,
tive que grudar minha boca no ombro dele para que não ouvissem os meus
gemidos.
Só de pensar na adrenalina que senti ontem meu corpo formiga.
— Amanhã, com certeza, vai ficar uma marca. Me desculpe. —
Encaro-o, mordendo os lábios enquanto ele sorri de lado.
— Era isso ou saberiam que estávamos fodendo dentro da água —
diz, tranquilo, e massageia a minha bunda.
— Acho que ainda estamos, não é? — Rebolo no seu pau que está
dentro de mim e solto um gemidinho. Ele geme junto, apertando a minha
carne.
— Você gosta do perigo, né, loirinha? — Ele me agarra pela nuca e
volta a me comer.
— Uhum, sr. Vilela... Então me fode gostoso, vai... — Roço nossas
bocas, mas não o beijo.
— Me segure mais forte, Amanda. — Meu nome verdadeiro escapa
dos seus lábios e não faço questão de corrigi-lo, ao invés de cortar o clima, o
meu tesão só aumenta.
— Repete — peço, com ele se afundando em mim e me arrancando
gemidos.
— Amanda. Esse é o seu nome, não é? — Soca forte e minhas pernas
tremem.
— Ohh... sim, sim! — Rolo os olhos e arranho seus ombros.
O celular volta a vibrar, me tirando dos meus pensamentos.
Suspirando, olho para a tela e vejo o nome de Gabriel. Antes de atendê-lo,
levanto-me da calçada e passo a mão na minha bunda para limpar a sujeira.
— Vi que ainda não usou o cartão — é a primeira coisa que ele diz.
Eu saí do resort dizendo que hoje iria comprar as coisas da Bia, mas
ainda não tive tempo. Ajudei mamãe com umas roupas que estavam sujas e
depois saí com Beatriz para a rua.
— Eu vou usar, não precisa se preocupar, Gabriel. Espera um
instante, por favor — falo, levando meus olhos à minha irmã, que sobe na
calçada do outro lado com a bicicleta e por pouco não cai. Afasto o celular da
orelha e tapo-o com uma mão. — Beatriz, tenha mais cuidado ou vai entrar,
está me ouvindo?! — repreendo-a.
— Tá, Mandy! — responde a garotinha que tem o cabelo castanho
preso em uma maria-chiquinha.
— Me desculpe, estava falando com a minha irmã, ela quase teve uma
queda feia — digo, envergonhada.
— Entendo — diz, então ficamos em silêncio.
— Ligou somente para falar do cartão? — Ao ouvir a sua risadinha,
juro visualizar o seu sorriso depois disso.
— Não. — Limpa a garganta.
— E o que foi? Ser tímido não faz o seu tipo, Gabriel — provoco-o,
estalando a língua, e ele gargalha.
— E quem disse que estou envergonhado. — Bufa.
Então é a minha vez que gargalhar, mas ao notar que as vizinhas do
outro lado me encaram, sinto meu rosto arder.
— Hum, o.k., né. O que tem para me dizer, senhor não-tímido? —
Passo a mão no meu cabelo.
— Arrumei uma pessoa da minha inteira confiança para buscar o
restante das minhas coisas no Copacabana Palace. O meu funcionário vai
trazer até aqui, quer dizer que não iremos precisar retornar ao Rio de Janeiro,
vamos para Arraial do Cabo daqui mesmo — revela, com naturalidade.
Ter muito dinheiro é outro nível. O homem está fora do estado que
mora e ainda assim têm funcionários que podem se deslocar de lá para cá
somente para atender o patrão.
— O.k. — digo, olhando para um lado e para outro antes de
atravessar a rua.
— Você precisa que eu compre algo para você levar para Arraial do
Cabo? — inquire.
— Não, já tenho tudo — falo, o que não é mentira.
— Tudo bem. Até à noite, então — diz, depois encerra a ligação sem
que eu possa falar qualquer coisa.
Guardo o celular no bolso traseiro, em seguida aproximo-me de
Beatriz, que está agachada arrumando a corrente da bicicleta que soltou.
— Por Deus, Bia, olha essa bagunça! — resmungo ao vê-la erguer o
rosto e constatar que não só sujou as mãos, como a testa também.
— Ah, Mandy, foi sem querer! — defende-se, emburrada.
— Por hoje chega de brincadeira, vamos entrar e você vai direto para
o banho, mocinha — falo, olhando para as duas meninas que estão um pouco
distantes de nós, com suas bicicletas.
— Mas ainda é cedo, Mandy! — diz, tristonha, me olhando com
aqueles olhos pidões.
— Daqui a pouco o sol esquenta e você fica com dor de cabeça, então
vamos entrar, amanhã você brinca de novo. — Em questão de segundos, eu a
convenço.
— Taaaá! — Sorri, depois me pede para ajudá-la com a bicicleta.
Arrumo um modo de não me sujar e consigo nos atravessar com segurança.
Já em nossa calçada, ouço um som de portão ser aberto com
brutalidade e uma voz feminina cansada. É a vizinha da mamãe, a sra. Vera.
Ela é a primeira a passar pelo portão preto, depois o filho encrenqueiro com o
rosto transtornado. Quem me vê primeiro é a mãe dele, que acena para mim
de um jeito triste e tímido. Eu me pergunto o que leva uma pessoa que me
parece ser tão bondosa a ter um traste desses como filho.
— Bom dia, senhora, está tudo bem? — pergunto.
— Bom dia, menina, está sim — assegura, mas não acredito. O filho
dela, por outro lado, mostra descontentamento ao me ver dialogar com a mãe,
tanto que bufa como um touro bravo. — Você é a filha mais velha da Lara,
né? — pergunta, sorridente.
— Sou sim. — Sorrio, gentilmente, sem tirar os olhos do babaca que
me encara com desdém.
— Bem que ela me disse que você é muito bonita e educada — elogia
a senhora de cabelo grisalho e com olheiras profundas.
— Ela esqueceu de dizer para você que a filha dela é uma puta que
vende o corpo no Rio de Janeiro — se intromete o desgraçado, sem respeitar
Bia, que é apenas uma criança inocente.
— Mandy, por que ele está falando assim de você? — pergunta minha
irmã sem que eu tenha tempo para impedi-la que presencie o que o merda
fala.
— Ele está brincando, Bia, agora entre e leve a sua bicicleta. Daqui a
pouco eu entro — peço carinhosamente e ela me obedece, mas antes mostra a
língua para João Pedro.
— João, respeite a moça! Quem você pensa que é para a tratar assim?
— repreende a mãe dele, aborrecida com o filho.
— Por que eu respeitaria uma prostituta, Vera? Essa aí é da mesma
laia que a piranha que acabou com o seu casamento e você ainda a defende
— retruca o maldito raivosamente.
— Me respeite, seu babaca de merda! Nem nos conhecemos para
você agir como um maluco. Se ficar me agredindo verbalmente todas as
vezes que eu vier ver a minha família, você vai se entender com a justiça,
porque darei uma queixa de você! — ameaço, com o dedo em riste.
Ele me encara friamente e sorri.
— Ficou ofendida, putinha? Me diga quanto cobra para dar essa
boceta podre para mim? Ah, aliás — cospe no chão, enojado —, quem te
comer deve estar desesperado, aposto que deve ter DST!— provoca-me,
massageando o rosto.
— Já chega, João! — exclama dona Vera, envergonhada, puxando o
filho pela camisa.
— Fica aí com essa vagabunda barata que eu vou dar o fora daqui.
Não me espere, porque não volto mais hoje! — Ele cospe novamente e faz
uma careta, em seguida se afasta da gente.
Tremendo de raiva, abraço meu corpo e respiro fundo.
— Oh, filha, me desculpa. Esse menino tem um gênio ruim mesmo.
— A voz dela está embargada.
— Não se desculpe pelo filho mau caráter que tem, já sei da índole
dele, senhora, tive o desprazer de conhecê-lo através da minha mãe —
confesso, controlando minha vontade de ir atrás do imbecil e enchê-lo de
porrada, mesmo que eu não vá aguentar enfrentá-lo fisicamente.
— Sinto muito mesmo, Amanda. — Desvia os olhos dos meus.
— Não sinta. Se a senhora me der licença, preciso entrar. — Passo a
mão no meu bolso traseiro e tiro meu celular de lá.
— Vá lá, filha — diz dona Vera.
Dou as costas para ela e sigo para a casa. No meio do caminho,
desbloqueio o celular e envio uma mensagem para o Gabriel falando sobre
João Pedro, explico que o idiota vem me incomodando desde a primeira vez
que nos conhecemos. Ao falar do acontecimento de agora pouco, meu cliente
ameaça vir até a minha casa. Peço que não se exalte e pergunto se pode me
ajudar a encontrar alguma coisa que faça o imbecil se manter distante de mim
e da minha família, de preferência que não seja nada ilegal. Em nossa última
mensagem, ele me garante que vai tomar providências e que devo ligar para
ele se precisar de qualquer coisa. Gabriel me pede para não lidar sozinha com
um homem que evidentemente é descontrolado.
Capítulo 15
∞∞
Por fim, meu tão sonhado descanso começa depois de uma semana
cheia de agitações.
Ontem à noite, Amanda quase não pregou os olhos por conta do que
descobriu do vizinho, mas eu garanti que tudo será resolvido e que ninguém
sairá machucado. Bastou que eu dissesse isso – pela milésima vez –, para ela
descansar o coração e ir dormir. Eu não dormi direito, mas foi por outro
motivo. Isabel não para de me ligar para infernizar meus únicos dias de paz.
Acho que vou pôr um ponto final em tudo isso e seguir sozinho, curtindo a
vida com companhias agradáveis apenas.
Pela manhã, liguei para Alexandre para confirmar o combinado, e ele
me assegurou que será bem cauteloso e que vai me manter informado.
— O que acha desse vestido? — pergunta, atraindo a minha atenção.
— Quer saber o que eu acho? — Lambo os lábios quando ela dá uma
voltinha para mim, em seguida, vem e se senta em meu colo.
— Sim. — Toca em meus ombros e os massageia de leve.
— Você está gostosa, muito. — Deslizo as mãos por suas coxas e vou
subindo o tecido cor nude até o alto da sua barriga lisinha.
— Eu falo do vestido e não de mim. — Sorri.
— Mas sem você, ele não seria nadinha. — Seguro em seu quadril.
— Assim você infla o meu ego. — Bate os cílios e eu gargalho.
— E você adora que eu sei. — Pisco para ela.
— Claro que sim. Que horas o André vai nos levar para Arraial do
Cabo? — Se move em meu colo e eu solto um gemido baixinho.
— Ele foi colocar combustível no carro e já vem nos buscar — digo,
colocando a sua calcinha para o lado e a dedilhando lentamente.
— Hum, o.k. — Ela geme e rebola.
A poltrona que estamos se torna pequena para nós. Passo o braço ao
redor dela e me levanto, levando-a comigo. Quase aos tropeços, alcanço a
cama e a deito no colchão. Seu cabelo se espalha nos lençóis, e quando ela
abre um sorriso bonito para mim, meu coração fica acelerado.
Para disfarçar o quanto fico mexido com apenas um sorriso que ela
me dá, começo a beijar suas pernas e Amanda facilita as coisas ao erguer o
quadril e subir o vestido. Vou trilhando beijos por sua pele até chegar no
meio das suas pernas e ali me debruço. Com a ajuda dela, tiro a sua calcinha.
O cheiro da sua bocetinha molhada misturado ao sabonete impregnado em
minhas narinas me enlouquece.
— Abre mais as pernas para mim, loirinha, vou te foder com a minha
língua — peço, e ela obedece e fica toda arreganhada.
Fico de pau duro, excitado pra caralho com a porra da visão que tenho
da sua boceta lambuzada. Sem ter muito o que esperar, enfio meu rosto entre
suas pernas e Amanda geme alto, o seu corpo estremece quando passeio
minha língua por suas dobras e sugo o seu clitóris em seguida. Fodo-a com a
língua por um tempo, e ao vê-la se esfregar com força em mim, eu a penetro
com três dedos e vou alternando as estocadas dentro dela.
— Ahh... Ahh.... Gabriel. — Arfa, rebolando e sujando meu rosto
com sua excitação.
Nosso clima é cortado ao ouvirmos o meu celular tocar
estridentemente. Ainda assim, continuo foder a minha mulher, mas é
impossível ignorar a ligação de quem quer que seja, porque a pessoa não
desiste. Frustrado, saio da cama e pego o meu celular. Na tela, brilha o nome
do André.
— Sr. Gabriel, estou aqui fora esperando por vocês — diz o homem,
mas minha atenção está completamente na mulher que tem a respiração
ofegante e as pernas abertas.
— O.k., André. Daqui a cinco minutos estamos saindo — falo,
passando o polegar nos lábios e chupando o resquício do líquido viscoso.
— Certo, senhor — fala, e encerro a ligação.
— A nossa diversão vai ficar para Arraial do Cabo, loirinha, o André
já chegou.
Amanda faz uma careta, mas assente, então se levanta da cama já
ajeitando a sua roupa.
∞∞
∞∞
∞∞
∞∞
Na hora de me arrumar para sair com Gabriel, opto por um macacão
esporte fino, na cor champanhe, com busto todo bordado com renda e pedras,
e um cinto combinando com a cor do busto, que é um tom mais escuro de
champanhe. Na frente, há dois detalhes que se encontram sem se tocar, em
formato de folha, decorado com pedrarias. O macacão tem cortes laterais nos
bolsos, que dão um charme e não deixam marcar demais o quadril. O decote
em U dá um ar bem sexy, sem tirar a elegância do look.
Saio do quarto pronta para o evento, com uma sandália simples na cor
prata, e encontro duas caixas douradas em cima do aparador e um bilhete.
Abro o envelope da caixa maior, e leio: Espero que goste do mimo.
G.V.
Ansiosa, abro a primeira caixa, encontrando uma linda sandália
branca com pedrarias. Não penso duas vezes e troco as minhas pelas que
acabo de ganhar. Ajeito-me e vejo como ficou perfeita em meus pés.
Na outra caixa, um envelope pequeno diz: Toda mulher merece
diamantes.
G.V.
P.S. Te aguardo no hall da casa.
Abro a pequena caixa e vejo um conjunto de colar e brincos. Fico sem
palavras. É bem simples, porém charmoso. O colar é bem fininho, com uma
pequena pedra de diamante. No brinco, uma simples gota da mesma pedra.
— Esse homem é louco — falo, encantada com o que ganhei.
Olho-me no espelho que tem acima do aparador e coloco o colar e os
brincos. Realmente, ele sabe como escolher um presente.
Desço a escada, indo ao encontro de Gabriel, que me aguarda logo
abaixo. Para a minha surpresa, ele está mais bonito que o normal, vestido
com um terno azul-marinho feito sob medida, o cabelo castanho penteado
para trás. Não é a forma como está vestido que me encanta, é o sorriso
singelo. Esse homem é intenso demais.
Termino de descer cuidadosamente a escada, fazendo questão de
mostrar bem a belezura em meus pés, que reluz. Ele sorri ao me ver exibir as
sandálias. Sorrio em resposta.
— Inacreditável como você consegue ficar ainda mais linda vestida
tão formal — elogia, coçando a barba por fazer. Por alguns instantes, perco-
me em seu par de olhos azuis.
— Veja só se não é o meu par muitíssimo promissor — brinco,
chegando ao fim das escadas e aproximando-me dele. — Juro que se você
não estivesse comigo hoje, eu te conquistaria a qualquer custo. — Toco em
seu braço.
— Quanta pretensão. — Ri baixinho.
— O que posso fazer se gosto de ser sincera? — Empino o nariz.
O seu sorriso aumenta quando termino de falar.
— Você parece ainda mais linda próxima aos meus olhos, e esse
perfume é de enlouquecer qualquer pessoa. Sorte a minha tê-la como minha
companhia hoje. Acredito que terei trabalho em afastar os velhos safados que
estarão no evento — finaliza ele, com pesar disfarçado.
— Só terei olhos para você, meu bem, fique tranquilo. E espero que
cuide bem de mim, não sou adepta à geriatria — digo, bem-humorada.
Gabriel me conduz até a saída, onde encontramos André nos
aguardando, que nos cumprimenta e logo dá partida no carro. Espero não me
sentir deslocada, nem ser largada na mesa como todos os outros clientes
cansam de fazer. Sei lidar com isso, mas espero que hoje seja diferente.
∞∞
Poucos minutos se passam até que chegamos. Acho que nem estou
vestida adequadamente para o evento, que agora tenho certeza de que não é
apenas um “jantarzinho”, como Gabriel havia dito.
— Uau, que lugar lindo — falo, com olhos vidrados na entrada do
restaurante.
— É sim.
— Você acha que estou adequada para o jantar? — pergunto, tímida,
esperando uma resposta pesada dele. Agora, estou até com medo de
envergonhá-lo diante dos seus clientes.
— Você está incrível, sua escolha foi perfeita. Não se preocupe com
seu visual, você é naturalmente linda, até mesmo as roupas mais caras não
poderiam competir com você. — Pega em minha mão e eu estremeço com as
palavras. Sem ter resposta para ele, viro meu rosto para o outro lado da
janela. — André, fique por perto caso eu precise de você — pede ao
motorista.
— Sim, chefe.
— Vamos? — pergunta-me Gabriel, atraindo a minha atenção.
Saímos do carro e Gabriel me dá a mão. Meu coração erra uma batida,
porque não imaginava que ele iria querer que entrássemos de mãos dadas.
Meio receosa, aceito que entrelace nossos dedos. Ele nota que estou um
pouco gelada, mas não diz nada, apenas nos conduz até o hall do restaurante
do resort.
— Boa noite. Os seus nomes, por favor? — pergunta cordialmente a
hostess assim que nos aproximamos dela.
— Gabriel Vilela e Milena Albuquerque — ele informa. Gostaria que
usasse meu nome verdadeiro, mas eu o entendo. Está agindo corretamente ao
não misturar as coisas, embora ter a sua mão grudada na minha seja mais
comprometedor do que não me chamar pelo meu pseudônimo.
— Ótimo. O sr. Braga os aguarda, ele está na zona leste. Fiquem à
vontade para desfrutar de nossas dependências. — Consigo ver a cobiça nos
olhos da morena em direção ao meu acompanhante, que parece não ter
notado.
— Obrigado, tenha uma boa noite! — Gabriel se despede da moça.
A cada passo, um novo deslumbre, pois é um lugar extremamente
bonito. Já estive em Arraial do Cabo antes, mas nunca vi esse lugar. Quase
não tenho tempo livre para me divertir.
Entramos no restaurante, que por sinal se estende até a piscina,
superbacana, com um bar todo iluminado onde algumas pessoas desfrutam.
Nada muito extraordinário, porém confortável e elegante, tal como todo o
restante do local. Tudo em tons de azul-claro, imitando o céu, e azul-escuro
nos pequenos detalhes.
Estou me sentindo feliz demais. Só tenho a agradecer por ser tratada
tão bem durante essa semana.
Percebo que o celular de Gabriel toca e ele ignora a ligação.
— Aquele ali é Antônio Braga, ao lado é a Virgínia, esposa dele —
fala perto do meu ouvido.
— Certo. — Olho para o casal elegante que está a poucos metros de
distância de nós. O sr. Braga é um coroa bem charmoso, cabelo grisalho em
um belo corte. A mulher dele também é elegante, bem-vestida. Exalam puro
luxo.
— Eles estão vindo para cá — Gabriel avisa, e eu respiro fundo.
— Algum pedido especial? — cochicho, meio nervosa. Não sei por
que esse nervosismo, se já estou acostumada com esse tipo de coisa.
— Apenas seja você mesma — pede, abrindo um sorriso acolhedor
para o casal que está à nossa frente.
— Boa noite, senhores. Sejam bem-vindos! — sr. e sra. Braga nos
cumprimentam.
— Boa noite, Antônio — Gabriel fala, desviando os olhos para mim.
— Deixe-me apresentar a minha acompanhante. Milena.
Somente o homem pega em minha mão, a mulher dele, não.
— É um prazer, querida — diz Antônio Braga, gentilmente.
— Pensei que estivesse vindo com a sua... — diz a sra. Braga.
— Quando pedi para a minha secretária te fazer o convite, não
imaginei que fosse aceitar tão rápido, já que vive com a agenda cheia. Mas
fico feliz que tenha vindo para o meu aniversário, a presença do meu sócio é
muito importante para mim. — A forma como o esposo dela a interrompe me
deixa desconfiada. Olho para o meu acompanhante e ele está meio tenso.
— É seu aniversário hoje? Não fui informado, apenas soube que era
um pequeno evento. Meus parabéns, meu amigo! — Ele tira a mão das
minhas costas e dá um breve abraço no sr. Braga.
— Às vezes, a Eva é muito desatenta, só não a demito porque são
muitos anos trabalhando comigo e é praticamente da família — diz o sócio de
Gabriel, nos fazendo rir.
— Sr. Vilela, se nos der licença. Um amigo acaba de chegar com a
sua esposa, vamos cumprimentá-los. — Virgínia só se direciona ao meu
cliente como se eu não existisse.
Respiro profundamente e dou um sorriso falso para ela, que retribui.
O casal se afasta de nós e Gabriel pergunta em meu ouvido se estou bem.
Apenas digo que sim, mesmo que não esteja. Um garçom passa oferecendo
champanhe e eu aceito. Beber um pouco vai aliviar a tensão que estou
sentindo.
De vez em quando, Virgínia me lança um olhar curioso e depois
parece querer falar algo, porém disfarça com um sorriso. Sem entender o
motivo, dou de ombros e mantenho minha pose.
∞∞
Amanda está nitidamente brava por ter descoberto que sou casado,
mas se soubesse de toda a verdade, tenho certeza de que pularia em meus
braços e ainda me beijaria por saber que Isabel não significa nada para mim e
nunca vai significar.
Se minha esposinha acha que vai sair de São Paulo para vir atrás de
mim tentar reivindicar o que nunca foi dela, está enganada. Fora do resort,
liguei para ela e a questionei como sabia que estou em Arraial do Cabo,
Isabel me disse que não sou somente eu que tenho os meus contatos. O que
deu a entender que alguém que estava no aniversário de Antônio passou essa
informação para a mulher. Mesmo com suas ameaças em vir para cá, deixei
claro que não deve vir me procurar, porque pode se arrepender amargamente.
Ela desdenhou de mim, mas ao perguntar se seu pai sabia que as
escapadas dela tinham rendido uma gravidez, a mulher baixou a guarda.
Antes de encerrar a ligação, jurou que não posso fugir dela o tempo todo, que
uma hora vamos ter que nos encontrar. Isso é verdade, mas, por enquanto, eu
a quero bem distante de mim.
Em todos esses anos, jamais tive relações sexuais com ela ou troca de
beijos. Ou melhor, houve uma única vez que nos beijamos e, ainda assim,
aconteceu apenas para que a imprensa não saísse especulando no dia do
nosso casamento. E aquilo nem era um beijo de verdade, mal encostamos os
nossos lábios.
São anos de casamento, mas em nenhuma circunstância nos
envolvemos. Primeiro, porque eu não a quero e nem sinto nada por Isabel.
Ela nunca foi uma mulher para encher os meus olhos. Embora seja bonita,
nunca me encantou. O seu nível de toxidade é muito elevado para que alguém
como eu, que não compactua com as suas atitudes, se interesse por ela ou
pense em um futuro juntos.
Desde o nosso noivado, deixamos claro que seria um contrato e só
ficaríamos unidos por alguns anos. Eu precisava de dinheiro para salvar a
minha família. O pai dela, não ela, precisava de um marido para a filha que
quase toda semana saía na mídia por escândalos envolvendo brigas em festas,
uso excessivo de álcool e, às vezes, orgias. Gonçalo tentava abafar
comprando os jornalistas, mas sempre tinha um disposto a receber mais para
soltar notícias sobre a herdeira do banqueiro.
E quando veio a fase em que minha família estava passando por
problemas financeiros, o homem quis unir o “útil ao agradável”, que de
agradável não tinha nada em me casar com a filha problemática dele. Antes
de assinar qualquer documento que me unisse a Isabel, fui homem ao
esclarecer ao meu sogro que eu e a filha dele poderíamos até nos casarmos,
mas que ali não existia e nem poderia existir qualquer tipo de sentimentos,
não da minha parte, que só aceitei a farsa por necessidade, nem da parte dela,
que também nunca se mostrou interessada em mim.
Jurava que Gonçalo Correia queria que a filha encontrasse um amor,
mas ele só queria dar a ela algo que a prendesse e limpasse a sua imagem
diante da sociedade. Bastou que Isabel e eu nos casássemos e ela saísse da
casa do pai para que voltasse aos seus costumes. Voltava para casa
embriagada, às vezes, machucada por brigar, e eu que tinha que ter a
responsabilidade de correr atrás da mídia para não sair nenhuma fofoca sobre
ela. Por ter muitos contatos, eu sempre conseguia esconder as escapadas da
mulher, que com o passar dos anos, se adaptou a aprontar e ter o seu nome
longe dos sites de fofocas.
Até hoje, Isabel faz uso do meu sobrenome para jogar debaixo do
tapete as suas sujeiras. Nesses seis anos, ser casado com ela me trouxe um
único benefício – ter cuidado da minha mãe até onde eu pude, conseguindo
bancar os seus tratamentos médicos. Para a minha querida esposa, foi como
ter ganhado na loteria. Vive em farras, usa e abusa do meu dinheiro como se
fosse dela, sai para viagens ao redor do mundo e ainda tem os seus amantes
que nem dá para contar nos dedos.
Não me importo que ela tenha outros homens, afinal, acordamos em
viver nossas vidas normalmente sem a interferência um do outro, mas com a
condição era que fôssemos discretos.
Há algumas pessoas que desconfiam dessa união, porém, jamais
tiveram a prova ou ousaram nos questionar, e nem poderão. Daqui a seis
meses, esse contrato termina, e eu estarei livre para poder finalmente viver a
minha vida como sempre quis – longe dos Correia.
Quero cortar de uma vez por todas o vínculo com eles. Não vejo a
hora de vê-la parar de usar o meu sobrenome e ser reconhecida como minha
esposa. Ela nunca deveria carregar esse título.
Assim que chegamos, Amanda sai do carro e vai para a casa sem
olhar para trás. Dispenso André e a sigo.
A passos largos, vou para a sala e não a encontro, então olho na
direção da cozinha ao ouvir um barulho de algo quebrando. Preocupado,
corro até lá e encontro a loira agachada no chão, tentando catar os cacos de
vidro. Ao notar a minha presença, fica ainda mais nervosa e acaba cortando o
dedo. Ela solta um gemido, que é acompanhado por um soluço.
— Amanda, se levante agora. — Uso um tom autoritário, mas ela me
ignora. O seu sangue se mistura ao vidro e eu preciso ir até ela e tocar em seu
queixo para que me encare.
Seus olhos esverdeados estão mais claros, seus lábios tremem e o seu
rosto está vermelho.
Ela está chorando e tenta não demonstrar evitando olhar para mim.
Desde a ligação de Isabel, Mandy ficou estranha, mexida ao saber que
minha esposa infernal está vindo para Arraial do Cabo. Eu preciso
tranquilizá-la em relação a isso, só que ela não quer me dar espaço.
— Pode me dizer o que está acontecendo? Por que está fugindo de
mim?
— Você ainda pergunta? Quer mesmo que eu te diga o que está na
cara, Gabriel? — Abre um sorriso irônico.
— Eu só preciso confirmar as minhas suspeitas, loirinha. Mas antes
vou cuidar desse corte. — Pego a sua mão machucada e dou uma olhada,
depois a encaro com ternura.
Ela gosta de mim, e não é por eu ser um cliente generoso, da mesma
forma que eu gosto dela, mas não por ser uma mulher que consegue me
satisfazer. Amanda se tornou alguém muito especial para mim em tão pouco
tempo que nem sei descrever.
— É melhor esquecer isso, Gabriel. — Suspira, como se estivesse
cansada. — Me deixe limpar a bagunça que fiz, por favor. — Encolhe os
ombros e, ao se levantar e se afastar de mim, o sangue pinga no chão.
Tentando ignorar a minha presença, Amanda segue para a pia e lava as mãos.
— O corte é profundo? — indago, pondo-me atrás dela e segurando
em sua cintura.
— Não, apesar de todo o sangue — responde-me, com o corpo tenso
quando beijo seu ombro por cima do tecido da sua roupa, depois cheiro o seu
pescoço e ela se arrepia.
— Me deixe ver — eu peço.
Ela é vencida pelo cansaço e se vira para mim.
— Com quem aprendeu a ser tão insistente assim? — Ela quase sorri,
mesmo com a expressão de dura.
— Da mesma forma que você é teimosa, sou insistente — digo,
focado no pequeno corte em seu dedo indicador. De fato é superficial, mas
sangrou que é uma beleza. Depois de lavado, estancou. — Precisamos fazer
um curativo nisso. — Toco no local e ouço o seu gemido.
— Foi apenas um arranhão, não precisa — diz.
Ergo o rosto e arqueio a sobrancelha.
— Não está sendo orgulhosa, não é? — inquiro.
Ela fecha a expressão, negando.
— Já perdi meu orgulho há muito tempo. De qualquer maneira,
obrigada por se preocupar — murmura, afastando a mão do meu toque. — Se
eu puder me recolher mais cedo, vou agradecer, estou ficando com
enxaqueca. — Massageia as laterais da cabeça.
— Se está pensando que vai fugir da nossa conversa está enganada,
Amanda.
Ela entorta a boca com a minha fala.
— Gabriel, é o seguinte, vou ser curta e grossa. Assim como você não
gosta de enrolação, eu também não. — Fecha os olhos por um momento,
depois me encara com eles cheios de lágrimas. — Eu não deveria sentir essas
coisas, mas estou sentindo, sabe? Quando te vejo, o meu coração fica
acelerado, de repente fico boba, meus joelhos tremem... É um misto de
sentimentos que nem eu sei descrever direito. — Umedece os lábios e as
lágrimas caem por suas bochechas. Não sou capaz de pedi-la para parar de
chorar, porque estou focado em suas palavras.
Se ela ainda não percebeu, está se declarando para mim. Novamente
vou até ela e a abraço, e sou surpreendido por seu abraço tímido.
— Eu sei que tem poucos dias que estamos juntos, mas parece que
são anos, sabe? Você é um homem incrível, apesar da primeira vez ter sido
um babaca — fala, aos risos, e eu a acompanho. — Mas esses dias
convivendo com você me fizeram enxergar algumas coisas de outra maneira.
Com você, eu aprendi que posso sim ser amada por um homem, não que eu
esteja dizendo que você vai ser esse homem, falo sobre futuramente, quando
eu não estiver mais nessa vida.
Ela sai do meu abraço, e eu toco em seu rosto. Mandy fecha os olhos
suavemente, soltando um suspiro.
— Eu acredito agora que tudo depende da entrega. Se você tiver um
parceiro e os dois se entregarem de corpo e alma, se houver respeito e amor,
não importa o passado daquela pessoa, somente o presente com ela. —
Mandy me encara, seus olhos estão brilhando com lágrimas. — Talvez você
esteja confuso com o que quero dizer, mas eu chego lá.
— Por favor. — Sorrio, nervoso, ao perceber que ela começa a falar
como se estivéssemos em uma despedida.
— Eu não queria, nem tinha pretensão. — Desvia o olhar, mas eu
seguro em seu queixo e o trago de volta para mim. — Não nos apaixonamos,
lembra? — diz, e eu balanço a cabeça, rindo baixinho.
— Mas você se apaixonou por mim. — Dou um sorrisinho para ela,
que respira profundamente e tira minha mão do seu rosto — É o seguinte...
sei que temos só mais alguns dias juntos, mas quero encerrá-los agora. Eu
criei sentimentos por você, e é muito forte para ser deixado de lado. Eu não
quero estar aqui quando ela chegar, não é justo que ela se magoe e nem eu.
— Ela me olha séria e eu fico paralisado com a sua decisão.
Em choque, afasto-me dela e passo a mão por minha barba. Ela está
confundindo tudo e quer ir embora.
— Amanda... — calo-me ao vê-la pedir silêncio com um gesto de
mão.
Meu coração nunca bateu tão forte no peito quanto agora. A mulher
começa a tirar o colar do seu pescoço, depois os brincos, em seguida, com
eles na palma da sua mão, se aproxima e os estende para mim. Eu os pego e
os coloco na ilha, às minhas costas.
— Isso aqui é seu. E a questão do dinheiro que me pagou pelas duas
semanas de serviço contratado, podemos calcular e eu de devolvo a diferença.
— Seus lábios tremem, sua voz vacila.
— Não estou te pedindo nada de volta e não quero que vá embora.
Não aceito devolução, muito menos que quebre o nosso acordo. — Irrito-me,
sentindo o músculo da minha mandíbula latejar.
— Sei que não, mas não é da minha índole, Gabriel. Mesmo que eu
seja uma acompanhante de luxo, para tudo tem um limite, e eu cheguei no
meu — defende-se, engolindo em seco. — Eu misturei as coisas, comecei a
te enxergar com outros olhos e acabei me ferrando, dei espaço para que o
meu coração agisse e olha só o que aconteceu!
Sinto uma queimação em minha garganta.
— Se me ouvisse, saberia que não é nada disso que está pensando.
Os olhos dela brilham de raiva.
— Você é casado, a sua esposa está vindo para cá e eu vou sobrar,
não quero ficar entre vocês. Jamais ficaria! Trabalhar, agir como uma
profissional da minha área é uma coisa, mas gostar de você é outra, então eu,
Amanda, não vou permitir que no final eu seja a mais machucada. — Aponta
para si com determinação. — Se não aceita devolução, o.k. Obrigada, mas
estou indo embora.
— Você não vai a lugar algum. — Dou um passo para a frente e
ficamos cara a cara.
— Não pode me impedir, mesmo que tenha me pagado muito, eu que
determino quando acaba. — Empina o nariz, que está vermelho pelo choro.
Ela fica linda até quando chora.
— Pois estamos empatados, porque penso o mesmo que você. — O
canto da minha boca se curva para cima e a loirinha fica mais vermelha. Ela
está com raiva.
— O que você quer de mim? Ficou todo estranho quando a sua esposa
te ligou e eu atendi, me ignorou, e agora está querendo me obrigar a ficar?
Vou ficar em cárcere privado? — Arqueia a sobrancelha, e, em resposta,
passo um braço ao seu redor e a puxo de encontro ao meu peito. Ela ofega e
põe a mão em meu ombro.
— Você está aí falando, falando, mas nem me permite que eu me
defenda, loirinha? Não quer ouvir a minha versão? Você está muito agitada,
precisa descansar esse coração. — Aproximo meu rosto do dela, nossas bocas
estão quase se tocando. A respiração de Amanda se torna pesada, o seu peito
sobe e desce rápido.
Ela não abre a boca, mas o seu corpo estremece com o meu toque
quando deslizo a outra em seu cóccix.
— Eu sou casado e não sou.
Mandy franze o cenho, confusa.
— Como assim? — Agora tenho a sua atenção e quase sorrio.
— Está vendo alguma aliança em meu dedo, ou marca de que já teve
alguma? — inquiro.
Ela nega, aquele brilho de mais cedo quando estávamos saindo para o
resort volta.
No primeiro ano, usamos alianças, mas nos seguintes, inventamos
para pessoas próximas que não precisávamos de alianças para demonstrar o
quanto nos amávamos e blá-blá-blá, e assim seguimos sem elas até hoje.
— Não, mas...
— Shhh, me escute e depois você decide se vai partir ou não — peço,
interrompendo-a.
— O.k.
— Sim, eu sou casado, mas só no papel. Isabel e eu nunca tivemos
nada, a única coisa que nos prende é um maldito contrato que em breve vai
terminar — explico detalhadamente um segredo que só sete pessoas sabem,
agora oito.
Sou um homem muito desconfiado, e neste momento, acabo de contar
algo que se a mídia souber, vai transformar a minha vida em um inferno, mas
essa confiança que deposito em Amanda me impressiona.
— Não sabia que essas coisas realmente aconteciam, casamentos por
conveniência... E meus sentimentos por sua mãe — diz, perplexa e
melancólica.
— Acontece muito em nosso meio. Eu fiz mais por minha mãe, ela
era a mulher mais importante da minha vida — digo, sentindo-me aliviado
por ela saber da verdade.
Poderia deixar que Mandy continuasse pensando que sou casado de
verdade? Sim, mas não vi necessidade de mentir para ela e nem a machucar
com um casamento que jamais foi e será consumado. Eu não amo Isabel, ela
não me ama. Por que eu estragaria o que estou vivendo com Amanda por um
relacionamento que nem existe? Não sou idiota.
Está na hora de pensar em mim, pelo menos uma vez na vida.
— Ah... E vocês moram na mesma casa e dormem no mesmo quarto?
— Morde os lábios em uma timidez que me faz rir baixinho, porque sei que
ela não é tímida.
— Tenho uma cobertura em um condomínio e ela fica na minha
mansão. Encontrei uma forma de despistar os curiosos usando o meu trabalho
como desculpa para não voltar para casa — falo, acariciando suas costas.
— Mesmo que tenha me contado a verdade, ainda estou brava com
você. — Faz biquinho e eu rio contido.
— Por quê? — Ergo as sobrancelhas, unindo-as.
— Me fez chorar e ficar com ciúme. — Estreita os olhos.
Gargalho, alegre, mas recebo um tapa no braço esquerdo.
— Não precisa ser agressiva, loirinha. — Ela sorri para mim.
— Como ficamos? — indaga, tocando em meu rosto e raspando os
dedos em minha barba.
— Do mesmo jeito, nada mudou e nem vai mudar. — Beijo o seu
dedo quando ela o encosta perto da minha boca.
— E a sua esposa? E se ela vier? — Comprime os lábios.
— Ela não vem — garanto, olhando bem em seus olhos, que se
iluminam.
— Então você é todo meu? — Abre um sorriso largo quando me vê
anuir.
— E você é toda minha esses dias, não vou te deixar fugir de mim —
digo.
Ela ri baixinho e concorda.
— Eu acho que você merece um beijo agora — diz, tocando em meu
rosto com as duas mãos.
— Só agora? E depois? — Finjo estar chateado.
— Sim, e talvez depois você ganhe mais e mais, vai depender do meu
humor — fala, brincalhona.
— Vou me certificar de que ele fique ótimo durante esses dias, assim
terei muitos beijos seu. — Avalio os seus lábios, louco para devorá-los.
— E como pretende fazer isso? — desafia-me.
— Te fazendo gozar com a minha boca, com meu pau e com meus
dedos. — Tiro o cinto dela e o jogo no chão, depois, abro o único botão atrás
do seu macacão. — Podemos começar a missão agora e aqui mesmo. — Ergo
o rosto e a vejo com os lábios entreabertos.
— Gabriel... Alguém pode nos ver — repreende-me.
— Ninguém vai nos ver. Angelina e o filho foram embora antes de
sairmos, a casa é todinha nossa — falo, mencionando a senhora que cuida da
casa na minha ausência, e o seu filho, que cuida da jardinagem.
— O.k. — Geme quando apalpo a sua bunda com força.
Estou prestes a descer as alças da sua roupa quando o meu celular
começa a tocar. Frustrado, aperto os olhos e solto um palavrão baixinho por
não ter desligado essa merda no meio do caminho.
— Vou ver quem é, um instante — peço.
Amanda diz que sim com um meneio de cabeça e eu me afasto dela,
já tirando meu celular do bolso. Verifico a tela e não dá outra, é Isabel. Por
que diabos ela não esquece da minha existência? Agora que está em apuros,
decidiu acabar com a minha sanidade.
Em um suspiro longo, passo a mão na nunca antes de olhar para
Mandy por cima do ombro e a ver encarar-me com curiosidade.
— É a Isabel — digo, e seus olhos arregalam. — Mas não vou
atender.
A expressão dela suaviza, então olho para o celular novamente.
— Se quiser que eu suba para que possa ter privacidade...
— Não precisa, Amanda, não vou atendê-la. — Viro-me para Mandy,
que está meio pensativa, então vou até ela, mas antes coloco o celular no
silencioso e o ponho no bolso. — Ainda não entramos na piscina, o que acha
de aproveitarmos um pouquinho? Podemos ver se tem alguns petiscos na
geladeira e levar bebidas, quem sabe assim não relaxamos — sugiro, vendo-a
sorrir com a ideia.
— Entrar na piscina uma hora dessas? — Sei que fica tentada, porque
seus olhos se iluminam.
— Por que não? É uma ótima ideia, mas acho que a gatinha não gosta
muito de água, pois está sempre fugindo — falo num tom brincalhão e ela ri
baixinho.
— Oh, que mentiroso! — Me dá um beliscão e eu arregalo os olhos.
— Você está mesmo me agredindo, loirinha? Pois agora vou te dar o
troco. — Vasculho o seu rosto, depois, eu a pego desprevenida e a coloco
sobre meu ombro.
— Ei, o que vai fazer?! — exclama, enquanto saio da cozinha.
— Te levando para colocar um biquíni, loirinha — falo, caminhando
para o quarto.
— Você está agindo como um homem das cavernas me carregando
assim! — Se diverte e eu dou um tapa em sua bunda.
— Estou sendo um cavalheiro, isso é muito diferente. — Dou risada.
— Cavalheirismo, sr. Vilela? — zomba, e rimos juntos.
Capítulo 18
∞∞
— Eu nunca bebi com meus clientes, sabia? Quero dizer, como bebi
com você agora. Claro que tomo um golezinho ali e aqui para enganar o
cliente, mas em hipótese alguma fico embriagada, porque sempre tem um
babaca que tenta se aproveitar da gente achando que só porque está pagando,
temos que fazer tudo o que eles querem — confessa, com os olhos fixos em
mim.
Só em pensar que algum filho da puta já foi agressivo com ela, meu
sangue ferve.
— Algum cliente já chegou a te machucar? — pergunto, espalmando
as mãos em suas coxas. Ela está sentada em meu colo, de frente para mim e
com os braços envolvendo o meu pescoço.
Após alguns copos de caipirinha, deixamos a jarra quase pela metade,
mas quem mais tomou foi Mandy. Eu tomei moderadamente, porque caso ela
ficasse bêbada, alguém teria que cuidar dela. Não considero que esteja
bêbeda neste momento, mas um pouco alterada, mais leve.
— Eu tinha um cliente bem frequente, ele sempre quis me beijar, mas
nunca permiti que ele e nem ninguém fizesse isso. Então, em uma noite, o
imbecil estava tão bêbado que tentou me beijar, quase machucou a minha
boca — confessa, com um olhar triste, e instintivamente fecho os punhos.
— Mas além disso, ele não tentou mais nada à força não, né? —
Passeio os olhos por seu rosto.
— Isso não — afirma, me deixando aliviado.
— Então quer dizer que realmente sou a sua exceção? Posso me
considerar um sortudo por ter sido o único cliente a ter os seus beijos? —
inquiro, lembrando-me que ela jamais beijou outros clientes além de mim.
— Você é a minha exceção em muitas coisas, Gabriel Vilela. —
Morde os lábios e depois me dá um sorriso ao massagear meus ombros.
— Estou curioso para saber mais.— Seguro-a pelo quadril.
— Você é o primeiro a saber da minha família e ter contato com ela.
— Seus olhos se enchem de lágrimas. — O primeiro a saber do meu nome,
um pouco da minha história de vida — acrescenta, lambendo os lábios. Um
vento bate e o cabelo dela é jogado para a frente, escondendo o seu rosto de
mim.
— Eu fico feliz em ter a oportunidade de te conhecer melhor. Se me
permitir, quero muito mais, Mandy. — Toco em seu rosto com uma mão,
afastando o seu cabelo.
— Não quero te entediar com a minha história triste, Gabriel —
murmura, suspirando.
— Todo mundo tem uma história triste a ser contada — incentivo-a.
— Não gosto de falar sobre a minha vida. As pessoas podem pensar
que eu quero que fiquem com pena de mim. Então, prefiro guardar meus
momentos ruins para mim. — Sua voz quase vacila.
— Eu jamais pensaria isso de você, seria um idiota. — Deslizo o
polegar por sua bochecha. — Se quiser desabafar e precisar de um ombro
amigo, pode contar comigo, Mandy. O que existe entre nós não se resume a
sexo, embora pareça, mas não é. Eu sou um bom ouvinte.
Ela me olha por alguns segundos, até que sai do meu colo. Penso que
vai me ignorar, mas em vez disso, senta-se de lado na espreguiçadeira – acho
que não quer me encarar enquanto fala.
Amanda fica cabisbaixa e o seu cabelo cai por seu rosto, então ela o
prende com um coque desajeitado. A loira apoia os cotovelos nas mãos e
volta a ficar como estava. Apesar de querer muito ouvi-la, deixo que tenha o
seu tempo e se sinta à vontade.
— “O que você vai querer ser quando crescer?” Eu costumava ouvir
muito isso quando era criança, e sempre respondia a mesma coisa. “Quando
crescer, quero ser médica para cuidar da mamãe e do papai.” — A voz dela é
quase inaudível. — Até meus nove anos, vivi em um lar cheio de amor.
Mesmo sendo humilde, tinha tudo o que uma criança poderia desejar – uma
família maravilhosa e muito amor.
Meu peito fica apertado ao ouvir um soluço vindo dela.
— Mas meu mundo ruiu quando completei dez anos... — Aqui, ela
me conta sobre a morte do pai dela, que vinha do trabalho. — Após o trágico
acidente, minha mãe e eu ficamos desamparadas. A empresa não indenizou as
famílias dos funcionários. Meses se passaram até descobrirmos que a fábrica
estava falida e que tinham demitido meu pai dois dias antes. — Amanda
começa a chorar, instintivamente, vou até ela e a abraço.
A dor que expressa em seu choro é de partir o coração de qualquer
um.
— Ele não havia nos contado e, por azar, pegou carona na van para
chegar mais rápido à nossa casa. — Funga, encostando a cabeça em meu
ombro. — Soubemos por um colega dele que, naquela manhã, ele estava
procurando emprego e que só nos contaria que já não estava mais trabalhando
lá quando encontrasse outro trabalho.
Às vezes, alguns têm muitos e outros quase nada. Na minha infância,
fui uma criança muito privilegiada, nunca me faltou nada, mas porque meus
pais tinham condições de me criar rodeado de luxo.
— Nós nunca tivemos casa, sabe? A vida toda moramos de aluguel.
Ter uma casa própria sempre foi um sonho distante para uma família humilde
como a minha. — Em um ato protetor, beijo a sua cabeça. — Morávamos em
uma casinha muito simples dentro da favela, nem reboco tinha, ainda assim,
era nosso lar, mas depois que meu pai morreu, ficamos sem condições de
pagar o aluguel.
Mandy soluça e treme. Preciso sussurrar em seu ouvido que se acalme
um pouco, e se não estiver mais confortável que pare de falar, mas ela nega
dizendo que está bem.
— O dono nem teve consideração por nós, nos colocou para fora
dizendo que não ia poder ficar esperando que um milagre acontecesse em
nossas vidas para quitar os alugueis atrasados. — Dá uma risada amarga. —
Minha mãe e eu fomos procurar emprego em uma das pousadas da região.
Mesmo tendo pouca idade, sentia na pele o desespero da mulher que me
trouxe ao mundo.
— E vocês conseguiram algo? — pergunto, sentindo uma ardência na
garganta.
— Que nada. Por vezes, eu a vi de joelhos no chão, aos prantos,
perguntando a Deus por que aquilo estava acontecendo conosco. Sentia um
aperto enorme no peito, porque sabia que nós não tínhamos parentes a quem
podíamos pedir socorro e nem mesmo um lugar para dormir... — Em
seguida, Mandy narra que passaram um ano dormindo de favor na casa das
pessoas onde a mãe fazia faxina, e que nenhuma delas confiava o suficiente
para ceder seus quartos, por isso, elas ficavam em garagens ou varandas.
— Passamos por tanto tipo de humilhações, que não desejo nem para
o meu pior inimigo. — Seu tom é tristonho. — Somos sobreviventes.
Vivemos na miséria, só tínhamos nossos documentos e a nossa roupa do
corpo. Até as roupas que usávamos eram dadas pelas donas das casas onde
minha mãe fazia as diárias.
Um nó se forma em minha garganta e meus olhos ardem com a sua
confissão.
— E não é só isso. — Ri, amarga. — Um ano e cinco meses depois,
nossa vida mudou, ou pelo menos achávamos que sim. Mamãe conheceu o
Cláudio. Ele era gerente em um mercadinho onde ela trabalhava duas vezes
na semana. A dona do mercado nos dava alimento em troca do serviço.
Mamãe engatou um namoro com o homem por alguns meses e decidiram
morar juntos algum tempo depois.
Amanda puxa o ar para os pulmões, em seguida se afasta de mim e
me encara. Seus olhos estão mais claros, e a parte branca, completamente
vermelha por causa do choro.
— Meu padrasto se mostrou um bom homem no começo, alugou uma
casa e nos colocou dentro. Comprou móveis, roupas para a gente, e até deu
dinheiro para que eu voltasse para a escola. — Ela limpa o rosto molhado. —
Também fez uma compra maravilhosa. Estávamos encantadas com a sua
bondade. Um ano depois morando com o Cláudio, minha mãe descobriu que
estava grávida, eu, que já estava com meus treze anos, fiquei fascinada por
saber que teria um irmãozinho ou irmãzinha, mas ele não ficou animado com
a ideia, se tornou agressivo e bateu nela, quase a matou.
Fecho os punhos.
— Por sorte, o vizinho deu uma surra em meu padrasto e chamou a
polícia, só que não conseguiram prender o desgraçado. Ele fugiu e nunca
mais tivemos notícias dele. Espero que esteja queimando no inferno. — E
mesmo que ela tente controlar a sua tristeza, as lágrimas insistem em cair por
suas bochechas.
— E não termina aí. — Morde o lábio com tanta força que quase o
machuca.
Quando revela que trabalhou em um mercadinho como empacotadora
dos quatorze até os dezoito, mas teve que sair porque o filho dos patrões
tentou estuprá-la, fico com a alma dilacerada.
— Você ao menos denunciou? — Toco em uma mão, que está gelada.
— Não tinha como. Para me livrar do verme, quebrei uma garrafa de
cerveja na cabeça dele e fomos ameaçadas para não prestar queixa. — Seus
dedos apertam os meus com força.
— Desgraçados — rosno, revoltado.
— Ainda aos dezoito, conheci um rapaz, meu primeiro amor, mas ele
não soube me dar valor. — Dessa vez Mandy está com a voz fria. — Nosso
namoro não durou nem um ano, pois descobri que ele era garoto de
programa. Saía com homens e mulheres, e eu era careta. Estava apaixonada,
mas de uma forma abrupta percebi que o rapaz que eu gostava jamais ficaria
comigo, porque tínhamos ideais diferentes. — Desvia os olhos dos meus.
Como alguém pôde ter uma joia dessas nas mãos e não valorizar?
Diante de mim está uma mulher sensacional, compará-la com uma guerreira
ainda é pouco. Não tenho nem palavras para definir Amanda.
— Foi então que Beatriz adoeceu. Descobrimos que ela estava com
bronquite aguda e não tínhamos dinheiro para comprar os remédios, já que
estávamos desempregadas. Em um momento difícil, Bia pegou essa maldita
doença. — Seus ombros caem. — Eu só tinha dezoito quando fiz o meu
primeiro programa. Na inocência, fui pedir ajuda ao meu ex, chorei em seus
braços e pedi que me ajudasse, sabe o que o desgraçado fez? Ao invés de me
socorrer, me levou para o mundo da prostituição. Desesperada para salvar a
vida da minha irmãzinha, transei com um velho gringo asqueroso. Foi assim
que consegui o valor que precisava para os remédios. — Sua expressão é de
nojo, ela abraça o próprio corpo e volta a chorar.
Por Deus, ela já foi tão machucada.
Levanto-me e estendo as mãos para Mandy, que está aos prantos.
— Olhe para mim, Amanda. — Ela ergue o rosto e me encara.
Eu quero tanto protegê-la e curar as suas feridas. Quem a vê
sorridente e cheia de autoestima, não diz que essa menina-mulher já sofreu
tanto na vida e ainda assim se mantém de pé. Em momento algum eu a ouvi
falar dela, tudo para ela gira em torno da sua família.
— A partir de hoje, não quero mais que se sinta sozinha. — Umedeço
os lábios, com as mãos estendidas para ela. — Porque você não está mais. —
Sem dizer uma palavra sequer, Amanda vem e me abraça forte, quase caio
para trás, mas firmo os pés no chão.
— Não fala isso por pena, não é? — indaga, rouca por conta do choro.
— Não. Ter orgulho é muito diferente de pena. — Afasto-me dela e
toco em seu rosto, erguendo-o para mim. — Mesmo antes de saber do seu
passado, já te admirava, loirinha, mas agora te admiro muito mais. — Limpo
o seu rosto molhado.
— Obrigada. — Sorri, depois respira fundo.
— Depois da nossa conversa, imagino que esteja exausta. O que acha
de me deixar te preparar um banho na hidro, com sais aromáticos? — sugiro,
vendo-a me olhar com admiração.
— Faria isso? — Seus olhos brilham.
— Mais do que isso — digo, com sinceridade.
— Eu aceito. — Suspira, como se estivesse exausta.
A minha nova missão é não permitir que mais ninguém apague o
brilho dela. Estou disposto a ser o homem que ela precisa. Achava que não,
mas eu sou, sim, essa pessoa. Se já a queria antes, agora a quero muito mais.
Amanda não é digna de pena, é digna de amor. Ela só precisa ser
amada e ter um homem de verdade em sua vida. E eu sou homem suficiente
para enfrentar uma porra de sociedade preconceituosa por essa mulher.
Ela será a minha mulher. Ela já é. Desde a primeira vez que a possuí,
ela é minha.
Capítulo 19
Passaram-se três dias desde a nossa conversa. E está sendo como ele
prometeu – nada mudou entre nós. Tudo está indo bem, melhor do que eu
esperava. A esposa de Gabriel não apareceu, como havia ameaçado. Não sei
se fico feliz ou assustada com essa calmaria.
Quando uma mulher está quieta demais, algo de errado tem, ainda
mais Isabel, que não me pareceu ser nada boba. No fundo, sei que ela não
engoliu o que falei ao telefone. Bom, não importa se ela acreditou ou não.
Gabriel me assegurou que eles só estão unidos por um contrato, então vou
tranquilizar o meu coração e aproveitar a companhia e o carinho que estou
recebendo dele.
Faltam poucos dias para a minha exclusividade com ele terminar, mas
tenho certeza de que vai estender os nossos dias para aproveitar mais desse
nosso clima gostoso.
Ontem pela manhã, liguei para minha mãe por chamada de vídeo e
quem atendeu foi Bia. Minha irmã me contou sobre suas notas e que está
muito feliz no novo colégio. Conversamos por alguns minutos. Consegui
matar um pouco da saudade que estava sentindo dela e não demorou muito
para dona Lara surgir vestida com um avental e uma touca na cabeça. Antes
de entregar o celular para nossa mãe, Bia se despediu e disse que ia brincar
um pouco no quarto. Após isso, ficamos por quase uma hora nos falando, até
que me despedi e disse que em breve ligaria.
— Esse vinho é delicioso — elogio, degustando a bebida cara que
Gabriel trouxe para nós da adega que tem na casa.
— É sim. — O homem fecha os olhos ao tomar um gole da sua
bebida.
Estamos na varanda da suíte, jantamos aqui mais cedo.
Só tenho elogios para fazer a Angelina, que é uma cozinheira
excepcional. Seu tempero é tão delicioso que me faz lembrar dos da minha
mãe.
Confesso que dessa vez fui pega pelo estômago. Esbaldei-me no prato
principal – Lagosta ao thermidor, feita com creme de leite, cenoura, cebola,
conhaque e queijo acompanhado de arroz branco. Estava maravilhoso. Nunca
tinha comido antes, mas adorei experimentar e achei muito chique.
— Uma pena que a Angelina já tenha ido, iria agradecê-la pela
comida, ela tem mãos abençoadas! — falo, colocando a taça na mesa.
— Outro dia você pode fazer isso — diz, e eu assinto. A mão dele
alcança meu rosto e seus dedos deslizam por minha pele, que queima com
seu toque gentil.
Juro que se continuar com essas carícias, vou dormir. Seu toque é leve
e gostoso.
— Hum... Você tem umas mãos boas.
Ele ri baixinho e balança a cabeça.
— Eu acho que mereço um beijo por isso, não é? — Passa a ponta da
língua nos lábios avermelhados por causa do vinho.
— Merece? — Levanto-me e vou até ele, que empurra a sua cadeira
para trás.
— Muito. Agora venha aqui. — Aponta para o seu colo.
Sento-me de frente para ele e logo o seu pau me cutuca entre as
pernas. Rapidamente fico úmida, porque estou sem calcinha e mais sensível
ao seu toque. Gabriel espalma as mãos em minhas coxas e vai subindo o meu
vestido. Ao me ver sem a peça íntima, fica surpreso, porque não sabia e nem
notou quando viemos para cá. Tivemos um jantar tranquilo e sem segundas
intenções.
— Caralho, você quer mesmo me enlouquecer. — Geme, ao subir o
tecido mais para cima, deixando minha boceta à mostra.
— Talvez sim, talvez não. — Pego a sua mão e trago até a minha
boca, junto dois dedos dele e os chupo. Em resposta à minha provocação, o
pau dele pulsa embaixo de mim.
— Cacete, Mandy... Você quer mesmo que eu te foda em cima dessa
mesa, não é?
Levo sua mão para o meio das minhas pernas, e ele faz o restante do
trabalho ao esfregar os dedos em meus lábios vaginais e me penetrar em
seguida.
Gemendo, seguro em seus ombros e me abro. Ele me fode, jogo a
cabeça para trás e rebolo de leve.
— M-mais rápido, p-por favor — peço, aos gemidos, e mordendo os
lábios.
O som do mar. A brisa. Nós. Definição perfeita.
— Sempre que estou te fodendo, não importa se é com meu pau ou
meus dedos, gosto que os seus olhos estejam em mim, então me olhe,
Amanda. — Seu tom é autoritário. Fico excitada e o encaro com a expressão
de safada enquanto ele enfia mais um dedo em mim.
— V-você gosta dos meus olhos, é? — inquiro, aproximando meu
rosto do dele e soltando um ar pesado pela boca quando seus dedos entram e
saem de dentro de mim com velocidade.
— Também, mas gosto mais de ver a suas expressões quando goza
para mim, loirinha — confessa e continua me fodendo.
— Podemos terminar isso na cama, o que acha? — sugiro, ofegante e
movimentando o quadril. Estou morrendo de medo da cadeira quebrar.
— É uma boa ideia. — Então para de me penetrar antes que eu goze e
me carrega para dentro do quarto.
∞∞
Acordo tão bem hoje. Aliás, tenho acordado bem todos os dias. Nunca
me senti tão feliz como agora. Estou tão animada que chega a me assustar.
Percebo que mais uma vez o fujão não está ao meu lado. Provavelmente, já
deve estar trancado no escritório.
Pego meu celular para visualizar algumas mensagens no WhatsApp
que uso para o trabalho e vejo que tenho algumas propostas. Desinteressada,
ignoro quase todas, mas uma chama a minha atenção. É uma mensagem de
voz de Judite de quase um minuto. O que essa bruxa quer?
Suspirando, ajeito-me na cama e puxo o lençol mais para cima para
cobrir meu corpo nu, em seguida, aperto no chat da minha cafetina e
reproduzo o áudio dela.
“Milena, minha menina de ouro, o que você tem feito para enfeitiçar
esse homem? Na madrugada, recebi uma mensagem dele avisando que
estenderia os dias com você e exigiu que eu te tirasse do nosso catálogo.”
Pauso o áudio e sorrio. Ele me quer e não mediu esforços para isso.
“Minha querida, não sei o que tem feito, mas continue assim. Você
merece meus parabéns por ter conseguido conquistar esse magnata em tão
pouco tempo. Só não caia na loucura de se apaixonar por ele. Gabriel Vilela é
lindo, jovem, milionário, um homem desses jamais teria a coragem de te
assumir, então se mantenha profissional até o fim desse acordo. Não se
esqueça que você é uma das minhas acompanhantes que me traz mais lucros,
eu odiaria te perder para uma paixonite!”
Ela nunca deixa de destilar o seu veneno. Com um aperto no coração,
sinto-me assombrada pela realidade. No fundo, a megera tem razão. Quer
dizer, eu não sei como o pai dele reagiria se soubesse que o filho está
gostando de uma garota de programa. Nesse momento, tantos medos me
rodeiam que minha bile sobe e um gosto amargo toma a minha boca.
Tenebrosa com um futuro que para mim ainda é incerto, levanto-me
da cama, largo o celular ali sem dar resposta à minha cafetina e sigo para o
banheiro. Vou tomar um banho, esquecer todas as coisas ruins e focar nas
coisas boas, que é ter um homem maravilhoso ao meu lado.
∞∞
∞∞
∞∞
Ao adentrar em casa, vou direto para a cozinha e procuro por Mandy.
Angelina me informa que faz um tempo que ela esteve na ali aos prantos, mas
que não disse nada. Minha funcionária estranhou sua tristeza, porque ela
estava bem quando foi levar um copo de água e suco para o meu pai. Basta
essa informação para que eu entenda o motivo do choro de Amanda.
Caralho! Ela ouviu a minha conversa com o meu pai e, obviamente,
se magoou. Se eu fiquei ofendido com a atitude dele, ela deve ter ficado
arrasada. Espero que tenha me ouvido defendê-la, porque não suportaria que
achasse que a deixei ser humilhada.
A passos largos, vou para o andar de cima e, ao alcançar a porta
fechada, tento abri-la, mas noto que está trancada. Bato na madeira, só que
não obtenho resposta.
Com o peito batendo acelerado e respiração ofegante, encosto a testa
na porta.
— Amanda, podemos conversar? — pergunto, pacientemente. — Eu
sei que ouviu a minha conversa com meu pai, mas me deixe esclarecer as
coisas, por favor.
Ela não responde, mas sei que está me ouvindo. Giro a maçaneta de
novo e fecho os olhos.
— Não faça isso com a gente, loirinha. — Minha voz está arrasada
como nunca a ouvi antes. — Abre a porta para mim, prometo que vai valer a
pena me ouvir. — Respiro fundo.
— Tudo bem. — Escuto a sua voz embargada do outro lado.
Arrumo a minha postura e seguro o sorriso de vitória, em seguida, a
porta é aberta.
No mesmo instante, a minha felicidade morre quando meus olhos
caem na mulher miúda, com o rosto inchando e vermelho, os lábios trêmulos
e as bochechas molhadas. Os seus olhos estão tão avermelhados, que chego a
me preocupar.
— Me perdoe por ter permitido que você escutasse a minha...
— Você não tem culpa, não tinha como saber que eu estava atrás da
porta. Tenho uma parcela de culpa nisso, porque não deveria ter ido levar
aquela bendita bandeja a lugar algum — diz, me interrompendo e limpando o
rosto.
Tento me aproximar dela, mas Mandy recua e vai se sentar na cama.
Depois de passar a mão por seu cabelo solto, abraça os próprios ombros e me
encara.
— Tomei uma decisão e preciso que saiba disso. — Seu tom é
controlado.
— Gostaria que me ouvisse antes de qualquer coisa. Nos permita ter
uma conversa sincera. — Vou até a cama e me sento de frente para Amanda.
— Estou te ouvindo.
— Independentemente do que ouviu o meu pai falar, peço que não dê
credibilidade. Sou um homem adulto, ele não pode se meter na minha vida.
Decidi que te quero comigo e vou lutar por isso, doa a quem doer. — Seguro
nas mãos dela. — E peço perdão pelas ofensas dele, nada do que Emanoel
disse me importa. O importante para mim é ter você. Se tivesse escutado a
conversa inteira, teria me ouvido te defender. Jamais permitirei que alguém
tente te desvalorizar. — Olho bem em seus olhos, que estão carregados de
tristeza.
— Gabriel, o que ele falou me deixou magoada. Sei que não deveria
sentir isso, até porque já estou acostumada a lidar com esse tipo de
preconceito. — Respira fundo. — O que vou te dizer agora não é
consequência do que ouvi, mas sim por achar que é o certo a se fazer. Acho
que precisamos de um tempo.
— Por que isso, Mandy? Nada nos impede de ficarmos juntos. Acha que
estamos indo rápido demais? Podemos ter um primeiro encontro, ir nos
conhecendo aos poucos — sugiro.
— Não, Gabriel, me escute bem, por favor. — Ela se aproxima mais e toca
em meu rosto com as duas mãos. — Neste momento, estou com medo desse
futuro incerto, sabe? Estamos apaixonados agora, mas e daqui a uma semana?
Um mês? Não sabemos como será. — Acaricia minha barba com seus dedos.
— Mas isso podemos construir juntos, teremos todo o tempo do mundo
para...
— O momento está muito complicado para nós dois, até porque você
tem um contrato com Isabel, e mesmo que não sejam um casal de verdade,
acho melhor darmos um tempo para que você possa resolver tudo com ela. —
Tento falar, mas ela faz um gesto com o dedo para que eu a escute. — As
coisas entre nós aconteceram muito rápido, esse tempo vai ser bom para
assimilarmos se realmente nos gostamos ou é uma atração. Arriscarmos os
nossos trabalhos por algo que pode ser passageiro é loucura. — Os olhos dela
brilham, mas não é de alegria, ela está quase chorando.
— É isso mesmo que você quer, Amanda? — Engulo em seco e sinto meu
peito doer fortemente.
Ela demora para responder, mas com um balançar de cabeça, entendo
que não vai mudar de ideia.
— Se esse é o seu desejo, vou respeitar, não posso te obrigar a ficar
comigo — falo, mesmo a contragosto. — Vou te dar o seu tempo, enquanto
isso, organizo a minha vida. E se futuramente você quiser tentar algo de
verdade, me procure.
Ela meneia a cabeça.
— Posso te dar um abraço? — pergunta, trêmula.
— Um abraço para uma despedida tão dolorosa não é muito pouco,
não? — indago, com um sorriso fraco, sentindo um nó se formar em minha
garganta.
— Acho que se formos longe demais, não vou ser capaz de manter a
minha palavra, e eu não quero isso — confessa e toca em meu braço.
Eu quero que você vá longe e quebre esse maldito muro que
constituiu ao nosso redor, penso.
— Vamos lá, Gabriel — pede, se levantando e abrindo os braços.
Atendendo ao seu pedido, eu a abraço. Ela me aperta com força e eu
não sou muito diferente dela. Ficamos ali por longos minutos em silêncio, até
que me afasto e toco em seu queixo, erguendo o seu rosto para que me
encare.
— Acho que merecemos algo mais memorável. — Deslizo o polegar
em seus lábios e ela ofega.
— Gabriel... não faça isso, vai ser mais difícil para nós — repreende-
me, fechando os olhos e suspirando quando a puxo para mim.
— Me deixe adorar o seu corpo pela última vez, Mandy. Amanhã
prometo que te envio de volta para casa e seguiremos com o acordado, cada
um para o seu canto — praticamente imploro ao encostar minha testa na sua.
— Sabemos que não será assim quando estivermos na cama, nos
perdendo um no outro.
Ela tem razão, mas não vou assumir em voz alta.
— Amanhã termina o acordo de exclusividade comigo, mas a Judite
me disse que você pediu para me tirar do catálogo e estendeu nossos dias
juntos — revela, me deixando puto pelo fato de a cafetina ter corrido para dar
a notícia antes de mim, sendo que pedi para eu contar a novidade.
— Sim. Eu ia te falar mais tarde — confirmo.
— Cancele, por favor — pede.
Uma dor aguda se apossa do meu peito, que me quebra por dentro.
— Mesmo que não fiquemos juntos, não quero que você trabalhe
mais naquele lugar, Amanda. Independentemente de estar comigo ou não,
vou te tirar do clube. Você não vai mais ser uma garota de programa — digo,
olhando em seus olhos. — Se quiser, posso te dar um emprego com um bom
cargo no restaurante do resort de Búzios. — Dou a sugestão, mas se recusa,
destruindo todas as minhas expectativas.
— Gabriel, antes de você aparecer na minha vida, eu já tinha
pretensão de sair de lá, e se for para conseguir um trabalho, quero que seja
por mérito meu — confessa. — Não estou querendo ser orgulhosa, mas seria
hipocrisia da minha parte aceitar o seu emprego e permitir que o que temos
acabe, entende? Eu vou procurar uma oportunidade sem ter a necessidade de
você usar a sua influência.
— O.k., Amanda. — concordo, por saber que não vou convencê-la do
contrário. — Mas promete que se precisar de qualquer coisa vai me ligar?
— Obrigada por tudo. Você foi a melhor coisa que aconteceu em
todos esses anos nesse ramo. Nunca encontrei alguém tão maravilhoso —
agradece-me. — Saiba que você sempre vai estar em meu coração — garante,
pegando em minhas mãos.
— E você vai estar em meu coração e nos meus pensamentos,
loirinha. — Ergo suas mãos e as beijo.
— Acho que isso é um adeus, não é? — Seus olhos enchem de
lágrimas.
— Adeus é uma palavra muito forte. — Meus olhos queimam a ponto
de fazê-los encher de água.
— Um até breve, então? — Sorri, fraco.
— Assim soa melhor. — Sorrio de lado, mesmo com o coração em
pedaços. — Arrume as suas coisas, amanhã cedo peço ao André para te
deixar em Búzios, na casa da sua mãe.
— Ele poderia me deixar na rodoviária de Cabo Frio? Vou direto para
o Rio, preciso me resolver com Judite — diz, mordendo os lábios, nervosa.
— Amanhã pretendo voltar para São Paulo, acho que não tem
problema se dividirmos o Jato até o Rio de Janeiro, não é? — inquiro.
— Não tem. — Sua voz vacila ao me ouvir dizer que estou voltando
para o meu estado.
— O.k., prepare as suas coisas, amanhã cedo partiremos — aviso,
antes de dar as costas para ela e sair do quarto.
**
∞∞
∞∞
∞∞
∞∞
∞∞
A ligação vai direto para a caixa postal. Essa é a terceira vez que ligo
e não consigo contato. Desisto de outra tentativa, saio do meu quarto e
encontro mamãe sentada no sofá, assistindo à série que havíamos combinado
de ver juntas. Beatriz foi para casa de uma amiguinha brincar. Antes de tentar
fazer a ligação para Gabriel, eu a deixei lá.
— Conseguiu? — pergunta, olhando-me por cima do ombro e eu
nego.
— Só cai na caixa postal. — Respiro profundamente e me sento ao
lado dela.
— Tenta mais tarde — incentiva.
— A senhora está se saindo um ótimo cupido, dona Lara! — Rio
baixinho.
— Lógico. Nesses três meses, partiu meu coração te ver sofrer por
causa do Gabriel — confessa.
Eu apoio a cabeça em sua coxa e ela começa a pentear meu cabelo
com os dedos.
— Se sofri foi porque quis, mamãe, tenho consciência disso —
murmuro, com os olhos enchendo de lágrimas. — Ele me pediu tanto para
ficar, mas queria ter certeza de que o que sentíamos não era apenas desejo.
Agora sei que não era, ao menos da minha parte, e é tarde demais. Se
passaram três meses e o meu coração continua sendo dele.
— Não se martirize tanto, Amanda, se o Gabriel sente o mesmo por
você, ele vai voltar. — Acaricia meu rosto.
— Espero que sim, estou morrendo de saudade — confesso, fechando
os olhos e me lembrando da nossa despedida que jamais saiu da minha
memória.
— Agora vamos assistir, porque já passaram várias cenas e nem vi!
— Ela tenta me animar.
O interfone toca, então peço a mamãe que fique aqui enquanto vou
atender. Do outro lado, um homem diz que tem uma entrega para mim.
Estranho, porque não estou esperando nada. Mesmo sem saber do que se
trata, decido receber a encomenda.
— Amanda Garcia? — pergunta o entregador com um buquê de rosas
na mão e uma caixa vermelha de veludo.
— Sou eu, sim — digo, olhando para um lado e para o outro na rua.
— O.k. — Ele me entrega minha encomenda.
— Quem é o remetente? — indago, avaliando a caixa bem lacrada e
com um design muito chique.
— Senhora, não sei, mas tem um bilhete dentro do buquê — avisa,
então olho para as rosas vermelhas e confiro que realmente tem um bilhete
pequeno entre elas. — Pode assinar aqui, por favor? — pede, mostrando um
papel. Ponho a caixa e o buquê no degrau da escada e assino.
— Obrigada.
Entro na casa e mamãe franze o cenho. Ela está estranhando esses
presentes tanto quanto eu. Não tenho nenhum admirador secreto, não que eu
saiba. Sento-me na poltrona e tiro o bilhete de dentro do buquê.
— Quem será? — Arqueio a sobrancelha.
O sr. Leonardo não foi, ele não faz esse tipo de coisa, a nossa relação
é só de amizade. E se fosse para me dar algum presente, ele me falaria antes.
Abro o bilhete e meu coração dispara ao notar que a caligrafia é idêntica à de
Gabriel.
“Não tivemos um primeiro encontro, nem um segundo, muito
menos um terceiro, mas espero que, em breve, possamos ter vários. Guarde
esse colar com você, ele é especial.”
Até breve, loirinha, Gabriel Vilela.
Ao virar o papel, vibro ao ler o nome dele. Não estou sonhando, é ele.
Céus! O meu amor voltou para mim. Notando meu olhar emocionado, mamãe
se levanta e vem ao meu encontro.
— É ele, não é? — pergunta, animada.
— Tudo indica que sim. — As lágrimas caem por meu rosto e eu
sorrio. — Olha que lindo o que ele escreveu. — Entrego para ela o bilhete e
abro a caixa. Dentro tem um colar com pedrinhas de esmeralda personalizado
com as letras A.G.M.
Vou tentar ligar para ele novamente.
Deixo tudo na poltrona e pego meu celular no sofá, e neste momento,
ele toca. Verifico o nome de quem está ligando. Judite.
O que ela quer comigo em meu dia de folga?
— Boa tarde, Judite. Precisa de algo? — Já vou logo perguntando,
porque sei que quando me liga quer algo de mim.
Do outro lado, ouço seu suspiro longo.
— Boa tarde, minha querida. Como você está?
— Bem. Por que está me ligando hoje? — indago, encarando minha
mãe antes de ela sair da sala.
Semicerro os olhos ao ouvir sua risada forçada.
— De bom humor como sempre.
— Do que precisa? Você só me liga quando quer algo. — Passo a
mão por meu pescoço.
— Você está certa. Preciso que saia com um cliente amanhã. Ele é
um amigo, é muito especial — fala, com a voz melosa.
Judite só pode estar louca. Não posso sair com outro cliente porque já
tenho um fixo, e esse nunca me faltou com respeito.
— Arrume outra garota. Você sabe que não posso. — Volto a me
sentar e passo a mão em meu cabelo.
— Por favor, Amanda! Você é minha melhor garota, não vai me fazer
passar essa vergonha! Ele disse que paga o valor que você quiser, mas quer
te conhecer. — Judite parece estar tão nervosa, a voz dela a entrega.
— Esse serviço está incluso o sexo, né? Pelo seu modo de falar, sei
disso. Pode dispensar, não trabalho mais fazendo programas, o nosso
combinado é sem sexo — lembro-a, irritada.
— Se me ouvir, vai saber que não é como pensa! O cliente não quer
sexo, disse que só precisa desabafar com alguém, então eu te indiquei,
porque você é a minha melhor garota. Aproveite essa oportunidade para
ganhar um extra, sei que depois da compra da casa você ficou apertada
financeiramente.
— Você me promete que esse homem não vai tentar nada? —
pergunto, depois de um tempo.
— Você só vai transar com ele se quiser, Amanda. Alguma vez já
prometi algo que não cumpri? — Ela se chateia e dessa vez com razão.
— Não, Jud, me perdoe. — Limpo a garganta. — Diga ao seu amigo
que vou ao encontro dele. — Mordo o lábio inferior, nervosa.
Minha agenciadora solta um gritinho de vitória e quase reviro os
olhos.
— Te adoro, garota! Você vai amar conhecer o meu amigo! — diz,
saltitante de felicidade.
— Como é o nome desse seu amigo?
Judite parece hesitar ao me responder: — O sobrenome dele é
Campos, é tudo o que precisa saber por enquanto. Você não o conhece, ele
nunca esteve no clube. É um homem muito importante e quer te conhecer,
minha querida. Mais um detalhe, ele quer te encontrar fora do clube.
De repente, Gabriel vem em minha mente. Óbvio que não deve ser
ele, o sobrenome dele é Vilela, e se quisesse me ver já estaria batendo à
minha porta.
— O.k., mais tarde me passe o endereço do local por WhatsApp. —
Encerro a ligação.
Pensativa, busco pelo contato de Gabriel e ligo para ele. Meus joelhos
tremem quando sou atendida. Com a respiração travada e o coração
parecendo saltar pela boca, escuto sua voz baixa e rouca: — Senti saudade,
loirinha, esperei ansiosamente por essa ligação.
Emocionada, controlo a vontade de chorar.
— Gabriel? —Seu nome sai quase em um sussurro.
— Sou eu sim, você recebeu o meu presente, Mandy? — Meu apelido
soa tão carinhoso.
— Recebi, sim. Você está aqui no Rio de Janeiro? — pergunto,
esperançosa.
— Estou sim.
Tenho tantas perguntas para fazer a ele.
— E... E... — Nem consigo falar direito.
— Quero te encontrar. Amanhã você está disponível? — A pergunta
dele me deixa nervosa.
Com as mãos trêmulas, engulo em seco.
— Que horas? — Um calafrio bate na minha barriga.
— À noite — diz, e o meu coração estremece.
— N-não sei se sabe, mas continuo trabalhando com a Judite, amanhã
à noite tenho um encontro e...
— Eu sei absolutamente tudo sobre você, cada detalhe — ele me
interrompe.
Isso explica como ele sabe meu novo endereço. Claro que descobriria,
tem muitos contatos.
— Posso cancelar — digo, rápido.
— Não se preocupe comigo, vou ser o seu último encontro, isso que
importa para mim, loirinha. Teremos todo o tempo do mundo para ficarmos
juntos. Até breve.
Por um instante, fico desconfiada com o seu tom tão sutil. Em choque,
me sento no sofá e encaro a tela do celular. Gabriel está de volta e quer me
ver, quer dizer que ele já deve ter conseguido se divorciar.
Recebo uma notificação de mensagem. Ao ver que é ele, abro um
sorriso.
“Gostou do colar? Espero que quando nos reencontrarmos, você
esteja o usando. Logo você vai entender o meu pedido.”
Observo a caixa vermelha aveludada na poltrona, em seguida, digito
para Gabriel.
“É muito bonito, mas estou curiosa com o significado daquelas
letras. Arrisquei ser Amanda, Gabriel e Mandy, mas não faz sentido.”
Envio a mensagem, mordendo os lábios. Ele parece já estar preparado
para a resposta porque ela não demora.
“Eu queria dizer pessoalmente, mas por que esperar tanto se já
passamos meses longe um do outro? Já perdemos tempo demais.”
Com o peito explodindo de alegria, começo a ler a mensagem
seguinte.
“A.G.M não são as siglas dos nossos nomes, significa ‘A garota do
Magnata’, porque você, Amanda Garcia, é a minha garota.”
Céus, como eu continuo louca por esse homem. Se ele estivesse agora
na minha frente, eu me jogaria em seus braços e o encheria de beijos.
“E eu escolhi esmeraldas porque elas me lembram a cor dos seus
olhos.”
E eu acabo de confirmar que escolhi o homem certo para entregar o
meu coração.
Capítulo 24
∞∞
Faz algumas horas que deixamos a casa da minha sogra, mas não tem
quem faça Ravi e Ana Laura dormirem. Após o banho da noite e terem
mamado, parece que ficaram ligados no 220, quanta energia.
— Eu te disse que hoje eles não iam dormir tão cedo — diz Amanda,
se curvando no berço das crianças e tirando a mão de Ravi da boca. Ele está
todo babado, e a irmã dele está de pé, se apoiando na madeira chamando
“mamã e papá”.
— Precisamos descobrir qual o segredo desse leite do seu peito. —
Uso um tom brincalhão.
— Gabe! — repreende-me, me chamando pelo apelido que ela me
deu dois anos atrás.
— Só estou dizendo a verdade. E acho que nossos planos mudaram,
amor. — Rio baixinho, indo até a minha miniatura e a pegando no colo.
— Papá, papá — diz Ana Laura, e eu fico bobo.
Mesmo que tenha o cabelo loirinho por causa da mãe e com meus
olhos, os gêmeos se parecem mais comigo. Mandy insiste em dizer que se
parecem com os dois, e no fundo, sei que é verdade, mas gosto de vê-la brava
para depois enchê-la de beijos.
— Ravi, meu amorzinho, chama “mamã”, já que a sua irmã só gosta
de chamar “papá”.
Escuto Amanda falar e eu a olho, divertido.
— Ele vai chamar papá — provoco-a.
Ela o pega para limpar o seu rostinho e suas mãos com a fralda de
pano. Ravi começa a bater palmas e faz uns sons nos ignorando, depois põe a
mão na boca novamente.
— Filho, não faz isso com a mamãe! — Amanda consegue a atenção
do nosso pequeno ao cutucá-lo na barriga. Ele ri e agarra o rosto dela com as
mãos sujas. Mandy faz uma careta, mas logo está sorrindo.
— Papá, papá, mamã, mamã! — ele repete as palavras e, para a nossa
alegria, chama por nós dois.
— Esse não era o combinado, mas me contento. — Minha loirinha
finge um resmungo, mas está toda derretida.
— Já que eles não vão dormir agora, podemos ver um filme — sugiro,
ajeitando Ana em meus braços.
— Eu escolho dessa vez o que iremos ver — ela diz rapidamente,
porque da última vez, eu que escolhi e acabamos não gostando do filme. Era
de terror e não foi como esperávamos, achei fraco.
— Já tem algo em mente? — pergunto ao sairmos do quarto das
crianças.
— Como Ravi e Ana estão acordados, vamos ver algo mais leve —
decide, assim que chegamos à sala e nos acomodamos no sofá-cama.
— Vou pegar alguns brinquedos para eles e algo para comermos —
falo, deitando a Ana Laura. Mandy faz o mesmo com Ravi e eu aproveito
para beijar a testa dos dois.
— Amor, traz uma barra de chocolate para mim, por favor — pede,
manhosa.
Eu assinto ao me inclinar em sua direção e beijar seus lábios macios.
Jamais pensei que ser pai seria tão bom até me tornar um. Quando
soube que Amanda estava grávida, foi uma explosão de sentimentos. E ao
descobrir que eram gêmeos, quase surtei em dose dupla, mas fiquei feliz,
porque sabia que quem estava me dando uma família era a mulher da minha
vida. A que escolhi para ser a mãe dos meus filhos.
Primeiramente, sempre agradeço a Deus em todos os livros que lanço,
porque sem Ele nada é possível. Obrigada, Senhor, por me ser o meu escudo
em todos os meus momentos ruins e nunca me deixar desistir dos meus
sonhos, esses que foram dados por Você.
Obrigada, Mandy, minha amiga, que mesmo com nossas diferenças,
você continua ao meu lado me apoiando, puxando a minha orelha. Se hoje
este livro chegou até aqui é por ter me ajudado com a betagem, ter se
colocado a minha disposição para me ajudar foi essencial, e eu nunca vou me
esquecer disso. Gratidão, Mandy, são em momentos como esses que nós
descobrimos quem é nosso amigo de verdade.
Obrigada a você, Andrea, minha revisora, que está sempre comigo. Te
admiro muito, você é uma excelente profissional.
Meus agradecimentos vão também para as minhas parcerias do
Instagram. Obrigada pelo apoio, meninas! Em especial, para minha assessora
Vanessa. Muito obrigada por me apoiar sempre nos meus lançamentos, você
é o máximo! Quero agradecer também a você que chegou até aqui e leu a
história de Amanda e Gabriel. Eles são especiais para mim, todos os meus
personagens são, mas gostaria de deixar registrado.
Escrever A Garota do Magnata não foi muito diferente dos outros –
chorei, surtei, quase morri de ansiedade, mas, no final das contas deu tudo
certo, e agradeço isso a todas as pessoas que me apoiaram. E saber que você
se deu a oportunidade para ler este livro me torna uma pessoa muito grata e
feliz.
Jessica Santos nasceu em 22 fevereiro de 2001, na Bahia. Em 2014, surgiu
o gosto pela leitura, e em 2015 para 2016 ela decidiu que escreveria o seu
primeiro romance e não quis mais largar a escrita. Já tem lançado alguns
livros na Amazon, entre contos e novelas, e atualmente está trabalhando na
série Herdeiros da Máfia, um de seus maiores sucessos que vem
conquistando os leitores nas plataformas on-line.
Minha página no Facebook:
https://www.facebook.com/JessicaSantosAutor/
Meu e-mail - autorajessicasantos@gmail.com
Instagram (me sigam lá para saber das novidades de primeira mão!):
https://www.instagram.com/autorajessicadsantos/
ACASO PERFEITO: (LIVRO ÚNICO) Compre aqui:
https://amzn.to/35xifIy
Safira nunca imaginou que tomar umas doses com um cliente bonitão
teria alguma consequência. Mas teve. Uma gravidez.
A jovem se viu encrencada quando as duas linhas no teste de gravidez
apareceram. Ela jamais imaginou que anos depois o reencontraria. Muito
menos que ele era o pai da sua melhor amiga.
Ele continuava o mesmo homem que a seduziu naquela noite. Agora,
ela estava em apuros, guardando o segredo a sete chaves com o mesmo
tremor inquietante que Victor Guterres tem o dom de causar nela.
Victor faria Safira se render, e no processo tentaria não acabar na
cama com ela.
Mais uma vez.
Dois desconhecidos entrelaçados em um acaso perfeito que o destino
fez questão de uni-los. Mas será que o amor será capaz de superar as
mentiras, intrigas e perseguições?
Para Alina Martins, uma menina humilde, ele é só mais um garoto rico que
quer brincar com a empregada. Tudo na sua vida ia bem e era feliz, apesar de
não ter o emprego dos sonhos.
Em um dia qualquer, seus destinos se entrelaçam e tudo muda. Então Alina e
Andreo veem todas as suas convicções destruídas.