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Copyright© 2022 JESSICA D.

SANTOS

Revisão: Andrea Moreira


Betagem: A.c. Nunes
Sinopse: Mari Vieira
Capa: Ellen Ferreira
Imagens: Adobestock e pngtree
Diagramação: Jessica D. Santos
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Dados internacionais de catalogação (CIP)
A GAROTA DO MAGNATA – LIVRO ÚNICO
1ª Edição

1. Literatura Brasileira. 2. Romance contemporâneo. 3. Romance.


Título I.

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É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer forma ou por
qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio de processos
xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem permissão de seu editor
(Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, nomes, personagens,
lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor,
qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa (1990), em vigor desde 1º de janeiro de 2009.
Uma garota humilde.
Um magnata.
Um desejo avassalador.
Amanda, aos vinte e três anos, é uma mulher de personalidade forte.
As dificuldades que encontrou em sua vida a moldaram. Em meio ao caos
que é viver como acompanhante de luxo, ela sonha em ter uma condição de
vida digna para si e sua família.
Quando seu caminho se cruza com o de um homem arrogante e
misterioso, essa jovem deseja poder viver mais do que apenas uma noite ao
lado dele. Mas ele é um magnata poderoso que não quer e nem pode se
envolver.
Gabriel é um homem reservado, procura sempre a discrição, e viver
nas sombras é o que faz de melhor. Embora seus trinta e um anos de idade
tenham trazido a ele a experiência, quando seu olhar se entrelaça com o de
uma certa garota, ele só a deseja em seus braços e nada mais. O problema é
que para tê-la em sua cama ele tem que pagar, e se envolver com uma garota
de programa vai contra tudo o que ele acredita. Será que esse magnata vai
ceder ao desejo?
Este livro já esteve disponível na plataforma em formato de conto em
2020, como “Coração Implacável”. Mas decidi que iria dar a ele uma versão
mais estendida. Ela está 97% modificado, considero-o como um novo
enredo. A história “A garota do Magnata” é um livro de leitura rápida e
muito gostosa, espero que goste de Amanda e Gabriel tanto quanto eu.
Escute a Playlist de inspiração do livro no aplicativo Spotify.
Sinopse
Nota da autora
Playlist
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras
Capítulo 01

Meu reflexo no espelho do banheiro está deplorável – batom borrado


e lábios inchados. O corretor facial que passei foi quase todo retirado por um
cliente bêbado desesperado, que lambeu até meu rosto tentando me beijar na
boca. Mas não permiti, o que resultou no estrago na minha maquiagem.
Só de lembrar da cena, tenho náuseas.
A maioria dos meus clientes é maduro, bem-sucedido e casado, e está
em busca de distração. Raramente atendo homens com menos de quarenta
anos. Os mais velhos sempre me procuram por ser a garota mais jovem do
clube. Recebem boas recomendações dos amigos, que são clientes de longa
data, e não demoram a vir confirmar a indicação.
Sempre estão dispostos a pagar caro para ter minha boca no pau deles.
Penso em suas mulheres, que ficam em casa, dedicando tempo ao lar,
enquanto esses cafajestes imundos pulam a cerca comigo. Essa é a parte mais
complicada do meu trabalho, porque tenho que deixar a empatia de lado para
prestar um bom serviço. Uma vez, atendi um figurão que sem querer
confessou que a mulher, apesar de ser linda e ter um corpo belo, não
conseguia o satisfazer na cama e não realizava as suas fantasias. Fantasias
que conseguiu realizar comigo quando me procurou. Segundo ele, a esposa
não era habilidosa para sexo oral e nem anal, e ele só ficava na vontade
quando seus amigos falavam sobre suas experiências fora de casa.
Minutos atrás, deixei o quarto onde atendi o último cliente da noite. O
local é tão discreto que só quem sabe da existência dele são os nossos
clientes, que por sinal são todos VIPs e não podem ser identificados por
questões óbvias. Aqui, atendemos deputados, senadores, juízes, promotores,
só gente do alto escalão. Judite, nossa cafetina, teve uma grande sacada com
esse empreendimento. A discrição é nosso carro-chefe aqui no OpenSea. Ela
recolhe seus melhores lucros, fornecendo suas melhores garotas.
— Milena, a noite foi boa hoje, hein?! O Rodrigo até tirou todo
aquele reboco que passou no rosto para esconder as imperfeições! — Bruna
provoca, chamando-me por meu pseudônimo que uso no clube e ajeitando o
decote do vestido em frente ao espelho.
Minha colega de serviço é uma bela mulher, cabelo negro longo que
bate na bunda, olhos grandes e azuis, e um corpo cheio de curvas que deixa
muitos clientes loucos, mas a chatice dela a torna horrorosa aos meus olhos.
— Me erra, nojenta — resmungo, abrindo minha bolsa para pegar
alguns lenços umedecidos e tirar a maquiagem.
— Que grossa — reclama, em um tom de deboche.
Estou tão exausta que nem tenho energia para gastar com ela, entrar
em uma discussão agora é o que menos desejo.
— Está sabendo da nova? — pergunta, notando que não dou
importância à sua provocação.
— Não. O que é? — Passo o lenço no meu rosto para tirar a
maquiagem.
— Hoje, iremos fazer uma festa particular para o sr. Franco e alguns
amigos dele aqui mesmo no prédio. — Seu tom é animado.
— Que bom que está contente, mas a minha agenda de hoje já está
cumprida — anuncio, assim que tiro o batom da minha boca.
— Hum, então tá... Menos uma concorrente! — diz, como se eu
gostasse de disputar com ela ou qualquer outra colega de trabalho.
— Boa sorte. — Jogo os lenços na lata de lixo antes de deixar o
banheiro.

∞∞

Ando pelo corredor, tropeçando de sono, mas me mantenho firme.


Calmamente, olho para o relógio no meu pulso e vejo que já são onze e meia
da noite. Ansiosa para chegar ao meu apartamento e dormir, eu sorrio. Quero
recuperar minhas energias, porque amanhã bem cedo verei minha mãe e
minha irmãzinha de novo. Estou com saudade delas, faz um tempo que não as
vejo.
— Milena, venha aqui. — Assusto-me com a voz empolgada da
minha chefe preenchendo o corredor pouco iluminado.
— Algum problema, Judite? — indago, bocejando.
— Nenhum, meu doce. Quero te pedir um favor, é algo muito
importante — cantarola, sorridente, quando para na minha frente.
— O que é? — pergunto, já desconfiada e arqueando a sobrancelha.
— Hoje, o Franco trará seus amigos próximos ao clube, ele me pediu
para fornecer as minhas melhores garotas. — O sorriso que ela abre é
malicioso.
— Fiquei sabendo, mas onde eu me encaixo nisso? — Levo a mão
aos lábios e bocejo outra vez. Embora saiba que faço parte dessa lista, estou
esgotada para lidar com mais um programa.
— Você está na lista das minhas melhores, Milena — diz, empolgada,
como se fosse um elogio.
Coitada. Se vivesse um terço do que passamos, mudaria esse
entusiasmo.
— Já fechei minha agenda e estou indo para casa — aviso.
Rapidamente, noto a mudança de humor em sua expressão. Entretanto, ela
parece pensar em algo que devolve sua empolgação.
— Por favor, eu lhe pago por fora duas vezes mais. — A mulher faz
uma oferta, deixando-me um pouco interessada. — Esses novos clientes
podem nos trazer grandes oportunidades! Quem sabe uma de vocês não fisga
o Gabriel Vilela? — menciona um homem que nunca vi na minha vida ou
ouvi falar. Pela ênfase no nome dele, o cara é muito importante e isso faz
com que sua proposta soe mais interessante. — Vamos dizer que ele é um
magnata no ramo alimentício.
— Jud, sr. Franco e seus amigos chegaram. Mandei a Rose enviá-los
diretamente para o salão — interrompe Iago, o seu fiel funcionário faz-tudo,
aproximando-se, mas a nossa chefe está tão focada em mim que o ignora.
Notando que não vai ter a atenção dela, pede licença e sai dali.
— Por favor, Milena! É a primeira vez dele aqui, deveria aproveitar a
chance e investir no homem para que ele venha mais vezes — implora a
cafetina, como nunca fez para nenhuma das suas garotas.
Estou impressionada ao vê-la chegar ao ponto de pedir por favor e
implorar para que eu dê atenção a um cliente.
— Eu aceito, mas tenho algumas condições. Quero uma porcentagem
maior no meu cachê e mais o bônus por fora — exponho, lembrando-me que
falta pouco para eu comprar a casa dos sonhos da minha mãe.
A mulher parece contrariada e contra-argumenta: — Mas já te ofereci
um cachê duas vezes maior, Milena.
— E eu quero uma porcentagem maior sobre esse valor, Judite. —
Abro um sorriso cínico. — É pegar ou largar.
— Tudo bem, será como você desejar! Agora, corra para seu quarto e
se arrume, tome um banho bem tomado! Enquanto isso, eu irei dar as boas-
vindas aos nossos ovos de ouro! — Bate os cílios, ridiculamente.
— O.k. — Dou as costas para ela e sigo para o quarto, sem deixar de
ouvir a sua comemoração atrás de mim.

∞∞

Suspiro levemente ao encarar a enorme porta marrom do salão onde


ocorrem eventos importantes, como esse de agora.
Antes de entrar no cômodo, eu me olho no grande espelho na parede à
minha esquerda. Estou deslumbrante. Apesar do meu corpo só pedir cama e
descanso, consegui um bom resultado ao me arrumar. Tirei o meu melhor
vestido do armário – que só o usei duas vezes, mas ainda assim é o que mais
gosto. Ele é preto, com lantejoulas brilhantes, alças finas, tem um decote V
bem generoso nos meus seios, que estão sem sutiã, e uma fenda na perna
esquerda.
Avalio-me pela última vez e passo a mão por meu cabelo longo de
fios dourados, arrumando algumas mechas para trás.
Fiz tudo na medida certa –roupa, maquiagem e penteado –, agora,
estou pronta para conhecer esse tal Gabriel.
Tomo coragem, empurro a porta de madeira com abertura dupla e dou
de cara com o garçom, que me oferece uma bebida, mas eu recuso.
— Vamos lá, mostre a esses homens que todo investimento em você é
válido — encorajo-me baixinho, pronta para exibir um sorriso sedutor.
De longe, posso ver Judite rindo, completamente relaxada, passando
as mãos no ombro de um homem alto, que, mesmo que esteja de costas, dá
para ver que é muito gostoso e todo trabalhado no luxo, como todos os
homens aqui são. O que mais me atrai é seu cabelo castanho bem penteado
para trás.
Quase salivo quando minha agente sinaliza para o desconhecido e ele
se vira em minha direção. Perco o chão ao notar que o homem me olha
estranhamente. Ele exala sedução, mistério e sexo, mas tem algo nele que me
intriga. O seu olhar arrogante e penetrante me causa uma sensação gostosa
entre as pernas.
— Milena, venha aqui — chama Judite, vibrante, atraindo atenção dos
outros presentes.
— Uma adolescente? A senhora está brincando comigo. Só pode —
ele fala, em tom de deboche e irritação, ao medir-me com o olhar.
— Está interpretando errado, sr. Vilela... — Judite começa a dizer,
pálida.
— Está enganado, senhor — eu a interrompo, respondendo por ela. —
Tenho vinte e três anos, acredito que já passei da adolescência. — Acabo
soando ríspida.
Meu corpo se arrepia quando o homem percorre seus olhos cor de
diamante sobre mim. O seu olhar acaricia e queima a minha pele ao mesmo
tempo. Ele para a sua avaliação no ponto mais interessante, como costumam
dizer meus clientes, meus seios firmes.
— Interessante. Sou Gabriel Vilela.
Depois de ser revelado que não sou nenhuma menor de idade, ele se
dirige a mim todo presunçoso e com a expressão mais suavizada, encarando
meus lábios que cintilam por causa do brilho labial.
— Milena Albuquerque. — Estendo a mão para cumprimentá-lo, mas
sou ignorada.
Filho da mãe.
— Um nome agradável — diz Gabriel, olhando-me de um jeito
imperativo.
É um verdadeiro prepotente.
— Sim. — Minha voz soa firme.
— Vou querer ela e mais outra — fala o mal-educado, deixando-me
surpresa pela sua escolha tão súbita. — Aquela ruiva, a da esquerda. —
Aponta para Pilar, e ela sorri maliciosamente em nossa direção, como se já
soubesse da preferência do cliente.
— Mas ela está acompanhada. Pode levar Milena, ela é tão boa que
não sentirá falta de uma segunda pessoa — bajula a agenciadora.
— Espero que Franco esteja certo do que disse sobre suas garotas,
Judite — diz o insolente, fechando a mão em meu pulso. — Existe um ditado
que diz melhor um pássaro na mão que dois voando. Então, vai ela mesmo.
Mordo a língua para não o responder. Em vez de mandá-lo procurar
outro lugar para se satisfazer, mostro o sorriso falso e começo a passar os
dedos pelos botões da sua camisa.
— Sábia escolha, sr. Vilela. Mostrarei que valho o seu tempo —
sussurro em seu ouvido, em seguida, aproveito para roçar o nariz em seu
pescoço.
— Vamos sair daqui — determina Gabriel, ignorando-me.
Ao passar por minha agenciadora, pisco para ela, que me olha
vitoriosa e fala sem deixar a voz sair: “Agarra esse para você.”

∞∞

— Tire a roupa. Quero ver se o que tem por baixo desse vestido me
agrada — manda grosseiramente, chutando seus sapatos no canto do quarto.
— Sim, senhor. — Desço o zíper do vestido sem tirar os olhos do
homem à minha frente, que não demonstra nada. O que tem de bonito,
cheiroso, forte e aparentemente viril, tem de idiota.
Que belo partido Judite me arrumou. Só que não!
— Pare. — Assusto-me com a sua aspereza.
Vindo em minha direção, ele joga seu blazer em cima da poltrona. Em
seguida, me pega pela cintura e me põe bruscamente de costas.
Inesperadamente, Gabriel pega em meu cabelo, provocando em mim um
gemido de dor e prazer.
— É disso que você gosta, sua putinha? — inquire, mordendo e
beijando meu pescoço.
— Oh, sim... — concordo, gemendo em resposta.
— Vou tirar toda essa roupa do seu corpo, está me ouvindo, vadia?
O seu xingamento não deveria me afetar, mas eu adoro a pegada firme
que tem e a boca porca. Minha boceta pulsa e umedece com seu palavreado.
Ele desliza o tecido para fora do meu corpo, tão delicadamente que
nem parece o mesmo grosseiro de segundos atrás. Começo a me movimentar
cuidadosamente, fazendo com que minha bunda toque em seu pau. Quando
sinto sua excitação me cutucar, Gabriel geme baixo e rouco.
— Percebi que você é muito atrevida, gosto disso — diz, com voz
grossa.
Viro para ele, ficando cara a cara, sentindo a respiração um do outro.
Minha vantagem é o salto que estou usando, pois me permite olhá-lo nos
olhos. Insinuo que vou beijá-lo na boca, mas beijo o seu nariz.
Cuidadosamente, toco seus ombros para me apoiar e tirar os sapatos. Gabriel
me olha com as pupilas dilatadas, sinal que está ansioso para o próximo
passo.
— Me coloque na poltrona, por favor — peço, manhosa, e ele atende
ao meu pedido.
Viro-me de costas para que tenha uma visão perfeita da minha bunda
e, sensualizando, eu me movimento para um lado e para outro, até que o
homem me pega, beija cada lado da minha bunda e cheira toda a minha pele
vestida apenas com a lingerie vermelha de renda.
— Vire para mim, quero desfrutar daquilo que estou pagando —
ordena com rispidez, então me viro, dançando para ele e me aproximando de
seu ouvido.
— Sua grosseria está me excitando muito mais do que você imagina.
Pretende me dar ordens a noite inteira? Caso seja essa sua ideia, sugiro que
me amarre na cama e me foda duro. — Assim que lambo sua orelha, ele
cobre a minha garganta com a sua mão.
— Você gosta de ser amarrada? — A sua curiosidade é nítida.
— Não, mas estou disponível para satisfazê-lo da forma que desejar
— falo em seu ouvido, bem sexy e suave.
Não sou atriz, mas sei atuar muito bem. Não será esse homem gostoso
que vai me passar para trás.
— Me diga, como você gosta de ter a sua boceta fodida, Milena? —
pergunta em sussurro. Ao soltar meu pescoço, ele desliza a mão quente e
máscula por meu ombro, fazendo um caminho lento por meu braço, até
chegar à minha cintura e apertar.
Isso. Entrou de vez no meu jogo, acho que estou por cima agora.
— Gosto que me tratem com carinho e respeito na cama, apesar de ser
completamente louca por uma boa transa — conto, tentando soar inocente. —
Você me parece um ótimo parceiro na cama. Pegada sei que tem, a julgar
pelo tanto que aperta a minha bunda e acaricia meu corpo, enquanto falo em
seu ouvido — finalizo, passando meu dedo em seus lábios naturalmente
avermelhado.
— Você é deliciosa, e eu estou louco para te foder de uma maneira
que você jamais foi fodida na vida. Me permita. — Seus olhos brilhantes e
febris colidem com os meus.
Dou meu consentimento com um meneio de cabeça. Preciso engolir
em seco quando Gabriel me pega no colo. Aproveito e prendo minhas pernas
em seu quadril. Ele começa a roçar seus lábios quentes nos meus, e eu
estremeço inteira com o contato. Logo após, nossos olhares se encontram e
eu arfo ao vê-lo sorrir de uma maneira arrogante, ao tentar unir nossas bocas
para um beijo.
— Sem beijos... — aviso, virando o rosto. Sou uma profissional,
demonstrar qualquer sentimento é inconveniente e perigoso.
— Você me disse que está aqui para me satisfazer, então se eu quiser
que me beije, vai me beijar. — Ele mira na minha boca e eu noto suas íris
faiscarem em desafio.
Esse homem rabugento, inconstante e arrogante mexe comigo, me
atiça.
Gabriel me põe sobre a cama, em seguida, mira nos meus seios com
os bicos enrijecidos de um tesão antecipado e morde os lábios, sexy, mas não
diz uma palavra sequer. Ele inicia beijos em meus pés, vai subindo,
saboreando minha pele como quem saboreia uma sobremesa, beijando e
lambendo parte a parte. Um arrepio me consome ao sentir sua respiração
forte e quente bater na minha pele.
Ao chegar no meu ponto mais ardente, que já está úmido, é possível
sentir toda a minha pulsação causada pelo seu toque. Ele me beija por cima
da lingerie, subindo em direção ao meu umbigo, beijando lentamente cada
parte da minha barriga. A textura dos seus lábios me faz arquejar e soltar um
gemido involuntário, e, segundos depois, ouço a sua risadinha convencida.
Ele sobe até meus seios, com uma mão apalpa um deles e eu ofego;
depois, inclina o rosto e suga meu mamilo. O cretino me mama com vontade,
sua língua fazendo movimentos de sucção no meu biquinho, enquanto a outra
mão desliza para meu meio, se infiltra na minha calcinha e seus dedos
escorregam para dentro da minha boceta com facilidade, um instante antes de
massagearem meu clitóris em uma velocidade que preciso agarrar o lençol da
cama e morder a boca para reprimir um gemido. O filho da puta é
convencido, mas ao menos não é daqueles que promete o céu e não dá nada.
— Ahhh... — Rebolo o quadril, sentindo minha vagina pulsar
incontrolavelmente.
Nunca me importei em gemer, afinal, a maior parte do tempo no meu
trabalho é o que sei bem fazer; gemer mesmo sem me sentir satisfeita para
inflar o ego de alguns dos meus clientes que nem sabem trepar. E aqui estou
eu, gemendo de verdade por causa de uma masturbação de um homem
metido.
Gabriel aumenta o ritmo dos seus dedos ao perceber que estou quase
gozando. Instintivamente, levo meus olhos até os seus e nos encaramos sem
quebrar o contato visual, nesse meio-tempo ele consegue me levar aos
espasmos. Com o corpo formigando e arfante, miro nele, que me observa em
silêncio e não deixo de notar que ainda não tirou quase nada da sua roupa,
somente o paletó.
Não abrirei minha boca para perguntar o porquê.
Sem que eu tenha tempo para raciocinar, ele vem para cima de mim e
sou surpreendida com um beijo profundo e delicioso. Ele suga meus lábios,
esfomeado, e eu os dele. É impossível que eu o pare, porque também quero
mais e mais. Abro a boca para receber a sua língua e é a sensação mais
prazerosa que eu poderia ter. Eu me contorço embaixo do seu corpo viril e
gemo baixinho enquanto Gabriel passeia uma mão por minha coxa e roça o
pau na minha boceta.
Curiosamente, exploro os botões de sua camisa, mas ele afasta minhas
mãos para que eu não o toque. Então mantenho minha posição, mas de
repente ele se afasta de mim e sai do quarto, batendo a porta, deixando-me
sozinha e sem entender nada.
O que fiz de errado?
Que homem estranho, agora pouco estava se esfregando em mim!
Sento-me na cama meio atordoada esperando que ele retorne, mas
minutos se passam e nada dele. Desistindo da ideia de o cliente voltar, caço
meu vestido e me visto. Saio do quarto em direção ao salão na esperança de o
encontrar para saber o que houve, mas não o acho mais, provavelmente foi
embora.

∞∞

Perdi minha noite de sono por causa de um cliente indeciso que fugiu
de mim como seu eu fosse a pior coisa do mundo. Neste exato momento,
estou em uma discussão com minha chefe. Não permitirei que meu
pagamento fique em branco.
— Podemos rever isso. Talvez você tenha feito alguma coisa errada
para ele ter ido embora. — Ela nem me olha nos olhos, está simplesmente
distraída em frente ao monitor e digitando no teclado.
— Está louca? O homem parecia gostar de tudo, mas na hora H
decidiu deixar o quarto como se nada tivesse acontecido! — Ranjo os dentes,
furiosa.
— Tenho certeza de que o erro foi seu — repete, dessa vez me
encarando.
— Que eu saiba, esse seu cliente de ouro correu do quarto como se
estivesse com medo de mim! Por que o erro seria meu? Tem alguma prova
disso? — Cruzo os braços, arqueando a sobrancelha.
— Sim, eu tenho, meu doce. — A mulher sorri de lado.
Logo me assusto ao ver Bruna surgindo na sala, com um sorriso
sarcástico.
— Oi, amadas! — cumprimenta minha colega, bocejando, antes de se
jogar na poltrona ao meu lado e soltar um suspiro longo e provocante.
— O sr. Vilela pediu outra garota. Talvez você não soube satisfazer o
homem direito, por isso ele não a quis mais. Agora quer me passar a perna
achando que sou boba?! — A velha miserável só informa isso depois de tanto
questionamento que fiz.
— E essa garota fui eu — Bruna se intromete. — Céus, como deixou
aquele pedaço de mau caminho fugir? Que homem maravilhoso! E quando
digo maravilhoso, é em todos os sentidos.
— Não quero saber com quem ele transou, a única coisa que me
interessa é meu dinheiro! Tenho contas para pagar! — grito, enfurecida,
batendo na madeira da sua mesa.
— Baixe o seu tom! — ordena a quenga-mor, atrevida.
— Eu não disse que ela fica louca quando o assunto é dinheiro? —
provoca Bruna, e eu lhe lanço um olhar mortal.
— Estou de saída, só volto na segunda-feira — aviso, engolindo
minha raiva e levantando-me.
— Como é, Milena? — Judite levanta-se também e põe a mão na
cintura.
— É isso o que acabou de ouvir, chefe. Vou pra Búzios ver a minha
família, então, como hoje é final de semana, pretendo descansar. —
Mantenho-me firme, encarando-a com a expressão fechada.
— Desde quando puta tem descanso? Acha que já deu a boceta
suficiente para ficar rica e largar o OpenSea? — rebate a velha, pensando que
suas palavras irão me afetar.
— Mais uma palavra que me ofenda e eu pego minhas coisas e saio
dessa merda! Sou livre. Só porque sou funcionária, não quer dizer que estou
presa a você! — Aponto para ela com o dedo em riste, em seguida olho para
Bruna, que nos encara de olhos arregalados.
— Bruna, saia, depois falo com você, agora preciso de privacidade
com a Milena — diz, fazendo um sinal com a mão. A minha colega de
trabalho rapidamente obedece às ordens e sai da sala sem olhar para trás. —
Me diga, Amanda, se não é presa a mim, por que ainda está no meu clube? —
indaga, soberba.
— Estou aqui por livre e espontânea vontade, mas em breve vou
embora. Quero ver quem vai te trazer mais lucros! E outra, só sairei daqui
com o meu cachê, Judite! — Cuspo as palavras, irada.
— Você vai receber, sim, mas será repassado um valor menor porque
o cliente não ficou e ainda fez reclamações. — Ela tem a audácia de dizer.
Não deixarei ninguém me rebaixar.
— Como é essa porra? Está maluca, é? — Rio, desacreditada, ao vê-la
abrir a gaveta da sua mesa e tirar de lá algumas notas.
— Se acha tão especial assim, querida? — pergunta, venenosa.
— Jamais disse que era, só quero que cumpra com nosso acordo. —
Miro na sua mão que segura a pequena quantia.
— Esse é o único valor que vai receber, você não tem opção. —
Estende o dinheiro, então fecho a mão fortemente e sinto minhas unhas
afiadas machucarem a minha pele. — É isso ou nada. — Balança as notas
para mim, raivosa. Decido pegar, e logo a puta velha sorri satisfeita.
— Estou indo ver minha família, volto na segunda. — Pego minha
bolsa no chão e enfio o dinheiro dentro dela, então eu a ponho no ombro e
dou as costas para Judite.
— Você não vai a lugar algum. — Paro de caminhar quando ouço-a
dizer.
— Você não pode me impedir! — Nego-me a mostrar fraqueza.
— Realmente, eu não posso. Mas você não vai sair daqui até que o
evento desse fim de semana acabe. Se comporte como uma profissional e
faça o seu trabalho direito! — fala com arrogância, elevando a voz.
Respiro fundo, procurando controlar minha raiva.
— Você é uma vadia — rosno, passando a mão no meu cabelo.
— Em todos os sentidos. Agora, vá dormir pelo menos duas horas
para ver se consegue melhorar essa olheira horrível. — Avalia-me com
desdém e contorce a boca.
— Miserável — sussurro, tremendo de repulsa.
Apesar de ela ter um pouco de razão, não vou dar esse gostinho a ela.
— Saia daqui, faça o que te mandei! Ah, jamais se esqueça de uma
coisa, eu ainda sou sua chefe, a qualquer momento posso destruir a sua
carreira e nem mesmo será capaz de rodar bolsinha nas esquinas para receber
alguns trocados. — Seu tom é ameaçador.
Eu fecho os punhos, ignoro-a e dou as costas para ela, saindo da sua
sala. Nego-me a derramar qualquer lágrima nesse lugar, porque ninguém me
fará chorar. Mostrarei a essa velha desclassificada o quanto está enganada a
meu respeito.
Capítulo 02

— Mamãe, olha o que a Mandy trouxe pra mim! — Beatriz corre


toda sorridente com as duas sacolas nas mãos, em direção à nossa mãe.
Antes de vir para Búzios, comprei para ela duas bonecas e algumas
peças de roupas. Minha irmã está crescendo muito rápido. Um dia desses, ela
estava com seus cinco anos, e agora está com quase dez. Para nossa mãe,
comprei quatro vestidos e duas sandálias rasteirinhas.
— Que menina apressada, meu Deus! — fala mamãe, já se sentando
no sofá com Bia, que continua sorrindo.
— Trouxe algo para a senhora também. — Pego as três sacolas e
ponho em meu colo. Emocionada, minha mãe me olha com os olhos cheios
de lágrimas.
— Filha... não precisava. Você já faz muito por nós — fala ela.
— Nada disso. — Eu nego com a cabeça. — Sempre que eu vier, vou
trazer presentes. Meu salário dá muito bem para que eu mime vocês. —
Demonstro emoção na voz.
— Confrontar você não vai adiantar nada, né? — Minha guerreira
sorri. — Me diz, minha filha, como anda o seu trabalho lá em Copacabana?
Ainda continua como gerente na loja da Judite?
— Sim, mamãe. Nesses últimos meses, estou fazendo hora extra
também. — Abaixo a cabeça ao falar para ela mais uma das minhas mentiras.
Com muito custo, quando Judite foi me agenciar para o OpenSea, ela
conseguiu convencer minha mãe a me deixar sair de Búzios e ir morar no Rio
de Janeiro. Por um tempo, morei na casa da minha cafetina, em Copacabana,
embora, para minha mãe, eu estivesse morando no Engenho Novo. De início,
eu não ganhava muito, pois comecei fazendo programas nas ruas e o meu
faturamento diário era em torno de trezentos reais. Tinha dias que eu nem
conseguia chegar à metade desse valor.
Foi uma longa e traumática jornada até chegar a esse patamar. Não
que eu me orgulhe, mas até que me tornasse uma acompanhante de luxo de
um dos bairros mais nobres do Rio de Janeiro, passei por dias infernais. Só
depois de um tempo que fui escalada para acompanhar alguns clientes bem-
sucedidos, e conforme saía com eles, era recomendada para seus amigos. Aos
poucos, fui subindo de nível e conquistando meu espaço, e os anos foram se
passando e meu cachê aumentou conforme a clientela surgia, foi então que
consegui alugar um apartamento só para mim.
— Sou tão grata pela ajuda que essa senhora te deu naquela época,
Amanda. Você só tem o ensino médio completo e não tinha experiência
nenhuma na área de vendas. Mesmo assim, ela te deu uma oportunidade —
fala minha mãe de um modo inocente que faz a minha bile subir.
Às vezes, sinto que dona Lara tem uma certa desconfiança em relação
ao meu trabalho, mas ainda não teve coragem de me falar das suas suspeitas.
Mãe é mãe, ela sabe quando tem algo de errado com os seus filhos.
— Sim... é verdade. — Tensa, esfrego as mãos no tecido da minha
roupa e puxo o ar para os pulmões.
Sempre que abordamos o meu trabalho e a minha chefe, fico nervosa.
— Mãe, posso ir brincar em meu quarto? — pergunta Beatriz
animada, interrompendo-nos.
— Pode sim, meu amor — respondo por nossa mãe, que assente.
Quando percebemos que Bia já não está mais entre nós, voltamos a
conversar.
— Filha, você tem dormido direito? Está adoentada por acaso e não
quer me dizer? — Examina o meu rosto com aquele olhar protetor.
— Não tenho dormido direito, acho que é por isso a aparência de
doente, mas estou bem. — Dou o meu melhor sorriso para que se tranquilize.
— À noite, leio algumas apostilas do curso que estou fazendo. Essa é a causa
das minhas olheiras. — Mentiras e mais mentiras, elas têm se tornado um
enredo na minha vida.
— Por que não tira um cochilo enquanto preparo nosso almoço? —
sugere, visivelmente preocupada com minha aparência de cansada.
— Não se preocupe, estou bem. De verdade. — Fixo meus olhos na
linda mulher que mesmo com os maus bocados que passou, não desistiu de
mim.
Levanto-me e vou até ela. Agacho-me na sua frente e toco seu rosto,
que já mostra algumas rugas na testa, perto dos seus lindos olhos. Minha mãe
é uma mulher muito linda, puxei à sua beleza. Muitos diziam isso quando
morávamos na favela daqui de Búzios, principalmente porque não herdei
nada do meu pai. Na verdade, só a magreza mesmo, até meu cabelo loiro veio
igual ao dela, assim como os olhos esverdeados.
Aos dez anos, eu me vi órfã de pai após um acidente de van a
caminho de casa. Infelizmente, o motorista colidiu com um caminhão, e o
impacto foi tão forte que capotou várias vezes. Era o transporte da empresa e
somente um funcionário dos vários funcionários que estavam dentro do
veículo conseguiu sobreviver, embora com grandes sequelas.
— Tenho tanta saudade de você, minha querida. Gostaria tanto que
pudéssemos nos ver todos os dias, conviver... — Seus olhos ficam úmidos e
as lágrimas caem, mas não permito que cheguem muito longe, pois eu as
limpo.
Em breve te darei o mundo, minha rainha. Pode acreditar.
Esses anos vendendo o meu corpo, minha alma, minha paz não vão
ser em vão, não pretendo passar o resto da minha vida me deitando com
homens. Só não tive condições de comprar a nossa casa porque tenho tido
gastos ao longo dos anos com meu aluguel e as despesas da minha família. E
o que tenho juntado para tirá-las daqui de Búzios ainda não é o suficiente
para meus planos. Pretendo ter mais para que possamos ter um bom capital
para abrirmos um negócio e vivermos bem, afinal, o mundo da prostituição
não é e nunca vai ser um mar de rosas como muitos julgam que seja.
— Um dia, iremos ter o prazer de acordar na mesma casa e tomar café
juntas, em família. Eu prometo. — Acaricio o rosto dela e continuo
limpando-o quando ela começa a chorar pra valer.
— Não se doe tanto, Mandy. Eu já disse que você é muito jovem para
se responsabilizar por tudo... — Soluça, ao tocar em meu ombro.
— Não, mãe. É o mínimo que posso fazer. — Fito-a com os olhos
inundados, nem eu suporto segurar o choro por muito tempo.
— Te amo tanto, filha. Tenho muito orgulho de você por ter se
tornado uma mulher forte, independente... guerreira — fala, enquanto enxuga
meu rosto molhado com as mãos.
— Eu também te amo e tenho muito orgulho da senhora. Mamãe, a
senhora e Beatriz são minhas fortalezas, minhas inspirações. — O sangue
bombeia em meu coração mais rápido.
— Não chore, minha princesa. Ponha um sorriso nesse rosto lindo e
erga a cabeça, meu bem. — Pega em minhas mãos e deposita um beijo.
— Está bom assim? — Abro um sorriso e ela balança a cabeça,
dizendo que sim.
— Isso. É assim que quero ver você. Agora que nossa choradeira
terminou, vou ajeitar nosso almoço. Preparar lasanha, seu prato preferido! —
A sua expressão de choro já não existe mais.
— Hum... Que delícia! — exclamo, batendo palmas animadamente.
— Enquanto preparo a lasanha, quero que você vá descansar um
pouco. Quando tudo estiver pronto, eu te chamo, tudo bem? — Toca no meu
cabelo e põe uma mecha atrás da minha orelha.
— A senhora me convenceu! — Pisco para ela, que ri baixinho.
— Ótimo. Descanse um pouco, porque sua fisionomia está de
cansada. — Ela beija minha testa antes de se levantar e seguir para a cozinha.

∞∞

Consegui renovar as energias ao ter tirado algumas horas de sono.


Minha mãe não me acordou como havia prometido, me deixou dormir e,
quando acordei, fui diretamente para cozinha procurar o que comer. Deparei-
me com ela fazendo sorvete caseiro para encomendas. Dona Lara nunca para.
Por mais que eu peça para que ela descanse um pouco do trabalho, continua
fazendo alguma coisa aqui e ali para ganhar um dinheiro extra. Minha
guerreira não para.
— Céus, isso aqui está maravilhoso! — Saboreio o sorvete de
morango com calda de chocolate.
— Prove o de musse de maracujá também, está muito bom. —
Mamãe abre a geladeira e tira um pote de sorvete, pondo-o na mesa.
— Amo os mimos que recebo da senhora quando venho para cá —
profiro, colocando outra colher com o sorvete na boca.
— É o mínimo que posso fazer já que nos vemos poucas vezes e você
nos ajuda tanto aqui em casa, né? — Ela sorri, feliz com meus elogios.
— Te admiro demais, dona Lara... Mesmo com todas as coisas que já
passou, nada conseguiu arrancar esse seu sorriso lindo, nem a alegria que
carrega nesse seu coração. Foi forte até o fim. — Sofremos demais,
principalmente minha mãe. Comemos o pão que o diabo amassou, vivemos
na miséria no passado e hoje estamos aqui e eu posso dizer com propriedade
que somos sobreviventes.
— Nós, mães, fazemos de tudo pelos nossos filhos. E você e Bia são
meu tudo — diz sem conseguir impedir que a voz fique embargada.
— Ouvi meu nome? — Beatriz surge na cozinha. Menininha
inteligente e carismática.
— Ouviu, meu amor, venha aqui. — Abro os braços e ela vem
correndo em minha direção, envolvendo os bracinhos em minha cintura. —
Como está indo na escola, minha gatinha? — Acaricio seus fios castanhos e
ela sorri.
— Estou indo bem! Tirei dez em matemática, acredita, Mandy? Eu
sou boa em cálculos! — Ao erguer o rosto em formato oval, noto o brilho em
seus olhos.
— Ah, é? E quem disse isso? — Arqueio a sobrancelha, divertida
com a sua euforia.
— Minha professora, ué? Todas as minhas notas são boas, pergunte a
nossa mãe! — A alegria dela me contagia e eu só sei sorrir.
Que olhinhos de jabuticaba lindos! Apesar de ter puxado tudo da
escória do pai, o marido do segundo casamento da minha mãe, eu a amo com
toda a minha força. É meu xodó.
— Vou confiar em sua palavra — brinco, e ela faz uma carranca,
arrancando-me uma gargalhada.
— Vocês duas são uma graça... Agora, tomem o sorvete, senão vai
derreter — diz mamãe, que está com os olhos fixos em nós duas.
Fico tão feliz quando vejo um brilho em seus olhos, é sinal que está
contente.
— Mas eu não tenho um! — exclama Beatriz, franzindo a testa.
— Aqui o seu, sua sapequinha. — Nossa mãe tira outro pote da
geladeira e entrega para a minha irmã caçula, que não perde tempo e corre até
a gaveta do armário para pegar uma colher.
Como não as amar?, penso ao sorrir abertamente.

∞∞

Após conversamos bastante, enfim entrego o dinheiro para as


despesas da casa. Venho a Búzios uma vez na semana, geralmente em dias de
semana, que é quando tenho um “tempo” para curtir minha família sem as
interferências da minha chefe.
— Mãe, tome aqui o dinheiro para as despesas do mês. Aqui está o
valor para o aluguel, água, luz, gás, mercado... Com o restante, faça o que
quiser, é seu. — Tiro da bolsa uma quantia e estendo para ela, que arregala os
olhos ao ver tantas notas de cem.
— Filha... E você? Esse valor é bem alto... Como se vira por lá? E a
comida? O seu aluguel? — Mostra-se apreensiva.
Quando minhas condições melhoraram, mudei minha família para a
parte mais tranquila de Búzios e aluguei uma casa melhor para dar conforto
às minhas meninas.
— Não se preocupe com isso. Esse mês fiz muita hora extra e peguei
alguns serviços por fora. E há anos venho guardando na poupança algumas
quantias. Pegue esse dinheiro e faça o que tem que fazer, certo? — Pego a
sua mão e ponho o dinheiro.
— Tem certeza? — pergunta, incerta. Sei que não é por orgulho, é por
ter receio só de imaginar me ver passando por aperto longe dela.
— Mãe, estou quase arrumando um segundo emprego, não fique
preocupada. Pegue esse dinheiro e faça um bom uso — peço,
carinhosamente.
— Tudo bem, minha filha. — Respira fundo e, por fim, assente, para
a minha felicidade.
— Volto para o Rio hoje à noite. Tenho que resolver algumas
questões por lá, mas prometo que na próxima visita fico mais dias, tá? — É
sempre doído ter que ficar longe da minha família, mas lamentavelmente
ainda não tenho outra opção.
— Certo... mas por que não deixa para ir pela manhã bem cedinho? Já
são seis e meia, querida. — O sentimento de saudade bate antecipadamente
com o seu pedido.
Era o que eu mais queria, mãe, mas hoje tenho um cliente muito
importante.
— Infelizmente tenho que voltar — falo, e noto a tristeza em seu
olhar. — Mas prometo que em breve passaremos uma semana juntas, sem
interferências, tudo bem?
— Certo, mas me prometa que ao chegar à sua casa vai me ligar ou
mandar uma mensagem para que eu não fique preocupada.
— Pode deixar que ligo assim que eu chegar. — Levanto-me do sofá
e ela também, então ficamos por um tempo abraçadas em silêncio,
aproveitando o nosso momento.
— Se cuida, minha filha — pede, um tempo depois.
— Pode deixar. Bênção, mãe! — Beijo a sua testa antes de me afastar
dela.
— Que Deus te abençoe.
Amém.
Capítulo 03

Judite é uma vaca velha que gosta de passar por cima das pessoas,
principalmente de nós, que trabalhamos ao lado dela. Nos últimos dias, não
tenho tido tempo para ver a minha família. Estou trabalhando mais que o
dobro, praticamente sem folga, e ainda fui punida por conta da nossa
discussão por causa do cliente fujão. A cafetina não gosta de ser desafiada e
decidiu que eu trabalharia uma semana inteira e só receberia metade do valor.
Todas as garotas do clube seguem suas ordens, seja lá qual for, sem
dizer um “ai”. Mas eu não sou assim, luto pelos meus direitos quando
percebo que as coisas estão saindo da linha. Minha agenciadora pode ter me
dado a mão lá atrás, mas quem fez o meu destino fui eu, e até hoje quem se
deita com estranhos por dinheiro sou eu, e não ela. Só quem sabe dos meus
sacrifícios sou eu, mais ninguém.
Não quero me vitimizar com a minha situação, a escolha foi minha
viver nesse ramo, contudo, tenho mãe e irmã, como ela pode me privar de ter
um pouco de liberdade? Jamais deixei de cumprir a minha agenda, mas
bastou a cadela se sentir “ameaçada” para me castigar, arrumando uma forma
de me manter distante das minhas garotas. Esses dias já recebi várias
mensagens e ligações da minha mãe me perguntando se estou bem e o motivo
de não ter ido mais visitá-las. Como uma boa mentirosa que sou, eu a
tranquilizei dizendo que havia conseguido aquele segundo emprego e era isso
que estava me sobrecarregando, mas que encontraria uma folga para vê-las.
Bastou que eu dissesse isso para que mamãe me entendesse.
Agora, estou pronta para o outro evento que Judite propôs aos amigos.
Dirijo-me até o salão com a intenção de conseguir um cliente qualquer,
porém, eu não esperava encontrar Gabriel Vilela aqui. Da sua mesa, ele me
encara a todo instante. Veste um terno bem cortado risca de giz, parecendo
feito sob medida para o cretino. O maldito está mais bonito que duas semanas
atrás.
Aproveito para andar como se estivesse no tapete vermelho – linda,
elegante e ousada –, rebolando enquanto caminho. Ergo o rosto, fingindo não
ter notado a presença do abutre gostoso.
Estou sentindo-me uma rainha com o vestido que escolhi para brilhar
esta noite. Ele tem um tom rosé, com um tule trabalhado e pedraria por todo
o busto em decote em V. Na parte de trás, há um decote em U até a altura da
cintura, além de uma fenda na coxa, que deixa à mostra toda beleza que há
em minha perna. O vestido marca perfeitamente a minha cintura e dá
destaque aos meus seios de maneira sutil, porém sexy. Sinto-me a mais bela
da noite, sem a menor dúvida, levando em consideração como todos me
olham. Parte do meu cabelo está preso em um coque alto, a parte de baixo em
cascata com ondulações perfeitas.
Observo todo o local atentamente, e, sem demora, começo a caminhar
até a mesa onde estão muitos homens reunidos – inclusive ele. Ao seu lado,
há um cliente que me come com os olhos, enquanto Gabriel finge ignorar a
minha presença.
Passo por trás dele, destilando meu aroma marcante – de uma fruta
chamada cupuaçu que nem todos conhecem a fragrância. Em instantes, reparo
como ele se remexe em sua cadeira. Acredito que deve ter pensado que eu
rastejaria por ele. Ledo engano. Sou requisitada pelo homem ao seu lado e
paro para lhe dar atenção.
— Boa noite — cumprimento o homem de cabelo grisalho e olhos
escuros, com elegância e sensualidade. — Não desejaria um lugar mais
reservado? — pergunto a ele, que aceita e se levanta. Estendo a mão para o
cliente, e quando está prestes a pegá-la, é interrompido por Gabriel. Ele
segura meu punho e me arrasta para longe da mesa, levando-nos até o meio
do salão como se eu fosse a sua propriedade.
A contragosto, tento me livrar do seu toque sem parecer rude ou
causar alarde, até que paramos. Eu me afasto de Gabriel, mas sou
surpreendida pela firmeza que põe em minha cintura para que fiquemos com
os corpos colados um no outro.
Entredentes, aproximo meu rosto do dele, deixando um pouco de
espaço.
— Espera mesmo que eu vá com você para mais uma noite dos
horrores sem nem ser plenamente agradada? — sussurro. — Me poupe, sr.
Vilela... Estou trabalhando, não faço caridade. Se eu fizesse, estaria agora em
abrigos atendendo a necessidade de pessoas que realmente precisam de ajuda,
em vez de estar aqui.
Ele escuta tudo em silêncio, contudo, o imbecil roça o nariz em meu
cabelo, sem esboçar uma só reação. Afasto-me em uma nova tentativa de me
soltar e consigo. Viro-me na intenção de retornar à mesa e dar atenção àquele
outro homem, que nem sei o nome, mas que certamente faria o que eu
quisesse, porém, sou impedida novamente por Gabriel e sua mão forte. O
miserável me segura com mais firmeza, tomando-me de vez em seus braços
firmes.
— Garotinha petulante... Você vai me dar prazer como eu quiser, pois
ninguém ofende um Vilela e fica por isso mesmo. Estamos entendidos agora?
Olho com fúria para o homem que tem um sorriso no canto dos
lábios.
— Oi? — Gargalho, debochada, sem acreditar na audácia.
— Isso mesmo. Você vai sorrir e me levar para o melhor quarto que
tiver nesse lugar. Mostre que está bastante satisfeita, ou ficarei bem
decepcionado com o seu serviço. Então não me provoque e faça o seu
trabalho como deve. Eu quero comer essa boceta hoje e você vai me dar em
todas as posições que eu quiser, ainda vai gozar chamando por meu nome
bem alto, para que cada porra de pessoa que estiver nesse clube saiba que está
sendo fodida por mim. — Suas últimas palavras saem baixas e roucas.
Fecho os olhos ao me arrepiar com o que ele disse e aperto as coxas
quando sinto o calor na minha boceta.
Que confusão de sentimentos é essa que Gabriel Vilela me faz ter?
— Me siga, senhor. — Esse filho da mãe quer jogar comigo. Só
porque é rico acha que pode ter tudo aos seus pés, mas eu também sei fazer o
meu jogo.
Caminhamos até a minha suíte – uma das melhores do clube. Quando
os clientes não pedem para serem atendidos fora, eles vêm para cá.
Abro a porta e, pela primeira vez, estou nervosa. Estou tremendo feito
uma vara verde. Que situação desagradável foi aquela... Mas essa é diferente,
é gostosa. Sinto-me renovada com as farpas que ando trocando com o senhor
cretino. A situação é irônica, porque o odeio e o quero também, mas somente
para provar que sou muito melhor do que ele merece. E, claro, também
receber um pouco de prazer.
Esse ser desprezível vai me obrigar a me deitar com ele, e o pior é que
tenho interesse em fazer isso e muito mais.
— Quer tomar um banho antes? Assim entramos no clima. Já notei
que você está bem arisca, quem sabe assim não relaxa e esconde essas garras
— fala com um pouco de malícia. O descarado passeia os olhos por meu
corpo e meu estômago se contorce, um anseio dentro de mim faz com que
meu coração fique acelerado.
— Você sabe bem que estou muito limpa, bem perfumada, a julgar
pela sua falta de bom senso em me roubar de um cliente em que eu estava
interessada! — retruco, afastando essa sensação absurda de ter esse homem
dentro de mim.
Viro-me em direção ao minibar embutido na parede e sinto que estou
sendo observada, que ele está calculando meus movimentos. Preciso beber
água. Estou aquecida demais, a ponto de entrar em combustão. Esse homem
me deixa descontrolada.
— Não reclame, posso pagar o dobro que ele te daria — rebate com
rispidez depois de um tempo. — Vou tomar uma ducha, a porta está aberta,
caso mude de ideia e queira me acompanhar.
Reviro os olhos e decido ficar esperando até que o rei da ignorância
volte para que eu realize os seus desejos majestosos.
Deito-me na cama, mas antes tiro os sapatos, e fico observando o céu
estrelado através das portas francesas que dão de frente para a praia. A vista é
incrível... e amo observá-la. Nascida e criada em cidade praiana, não tem
lugar que mais ame se não o mar.
— Merda de cansaço... Maldita Judite — murmuro, sentindo a
sonolência me tomar.

∞∞

Acordo e, ao meu lado, está ninguém menos que Gabriel Vilela


dormindo de bruços, com suas costas largas à mostra. Pelo visto, o gostoso
dormiu pelado, pois o tecido fino do lençol que cobre só uma parte da sua
bunda evidencia isso. Sem me lembrar da noite anterior, confusa, me olho e
percebo que ainda estou vestida. Então quer dizer que caí no sono? Pelo
visto, ele nem se importou.
Com raiva, levanto-me da cama e vejo que são três da madrugada.
Porcaria! Mais uma vez não aconteceu nada, e mais uma vez vou sair no
prejuízo, mas reconheço que eu não cumpri com minhas obrigações dessa
vez. Acho que o jogo virou.
Vou até o banheiro, tiro minha roupa, encosto a porta para não
acordar o rabugento e me enfio embaixo da água.
Nossa, como eu precisava desse banho quente para relaxar meus
músculos. Fecho meus olhos para aproveitar a sensação de paz. Passo uns
bons minutos cantando e dançando, liberando toda energia ruim do corpo
para descer ralo abaixo.
— “Quando perco a fé, fico sem controle” — cantarolo a música
Cedo ou Tarde, da banda NX Zero. — “E me sinto mal, sem esperança, e ao
meu redor a inveja vai fazendo as pessoas se odiarem mais.”
Desligo o chuveiro e abro a porta do boxe, mas me assusto ao ver
Gabriel nu, observando-me dos pés à cabeça. Seus olhos escurecidos pelo
desejo em me ver nua percorre por meu corpo lentamente, parece que vou
entrar em combustão quando faço o mesmo com ele.
É a primeira vez que o vejo pelado... e ele está com uma puta ereção.
Uau, faz jus ao homem, é um santo pau, grande, grosso e com algumas veias
avantajadas. Descaradamente e faminta, passeio os olhos por seu abdômen
trincado, depois volto e fixo no seu pênis pulsante. Meus mamilos endurecem
de imediato e minha vagina fica molhada e dolorida com a sua atenção posta
em mim.
Estamos nos comendo com os olhos.
— Hum-hum. — Limpo a garganta ao parar de ficar o encarando com
tara.
É necessário saber satisfazê-lo da melhor maneira possível, então abro
um sorriso largo para ele.
— Sr. Vilela, pretendia me matar com esse susto para não precisar
pagar pelos meus serviços? — pergunto a ele, bem-humorada, disfarçando
minha vontade louca de sentar nele.
— Dessa vez, foi você que falhou comigo, então estamos quites —
retruca à altura e estende-me uma mão com a toalha e a outra com o roupão.
De bom grado, aceito. Pelo menos uma vez na vida está sendo educado.
Enrolo meu cabelo, em seguida visto o roupão. Reparo em seus olhos,
que me observam novamente, atentos a cada parte do meu corpo. Parece um
apreciador de diamantes que olha com cuidado para identificar cada pequena
variação de ângulos da pedra preciosa.
— Podemos ter uma noite bem gostosa de sexo se quiser, mas
precisamos parar de falar de dinheiro e serviços. — O safado continua me
secando com os olhos. E eu também não sou nenhuma boba, miro no seu pau
por alguns segundos.
— Certo. Vamos para o quarto, ou pretende ficar na porta me olhando
com essa cara de pidão? — questiono, colocando a mão na cintura.
Gabriel solta uma gargalhada jovial com a minha ousadia.
Céus, como não dar para um homem que surge pelado na sua frente,
com um pau suculento? A carne é fraca e eu não sou de ferro.
Dando-me passagem, ele indica a saída. Notando que está com os
olhos fixos em mim, rebolo de maneira bem ousada. Caminho até ele e
ficamos frente a frente, em seguida, contorno meus lábios com a ponta da
língua.
— O que acha de me deixar te recompensar por ter dormido? —
Seguro o seu pau, que lateja em minha mão. Noto que o safado ergue a
sobrancelha e dá um sorriso maroto antes de me pegar pela cintura,
exatamente como fez no salão mais cedo.
— Você está me testando, não é mesmo, srta. Milena? Gosto de
jogos... que tal fazermos uma aposta? — propõe, galante, avaliando o meu
rosto.
— Que tipo de aposta, sr. Vilela? Eu nunca jogo para perder —
sussurro, levando a mão livre ao seu queixo e traçando seu lábio com a minha
unha.
— Se eu for bom o suficiente para você até o dia amanhecer, você
passará quantos dias eu quiser ao meu lado. Passarei alguns dias aqui no Rio
de Janeiro, com alguns parceiros de negócios antes de voltar para São Paulo e
quero a melhor companhia que puder ter. Se eu não for bom para você, o
prêmio será seu. Direi o que é apenas ao amanhecer. O que me diz? —
pergunta, deixando-me extremamente confusa.
— Mas qual é a finalidade dessa aposta? Nem precisamos fazer nada,
já estou certa do resultado — desdenho, e o sinto me apertar mais contra seu
corpo, aquecendo o meu junto ao dele, com seu membro cutucando a minha
barriga.
— Menina, eu garanto que serei a sua melhor transa — se gaba,
rouco, roçando em meus lábios. Toma-me um beijo quente, urgente,
desesperado e maravilhoso.
Cuidadosamente, suspende-me em seu corpo, segurando-me com
firmeza, e vai até a cama, deitando-se comigo. Nós nos encaramos, e eu subo
sobre seu corpo, beijando-o com tesão. Sinto o pau dele tocar em minha
boceta, e sua virilidade me excita ainda mais. Sou capaz de afirmar que
gozaria apenas de sentir esse membro tão rígido roçando em mim.
Esfrego meu corpo contra o dele, que me toca com força, apertando
minha bunda, fazendo-me sentir melhor seu pênis sob minha entrada úmida.
Ao lembrar que precisamos de segurança, me inclino ao lado da cabeceira da
cama e pego um preservativo, então abro a embalagem sob o olhar atento
dele. Encaixo-a sobre a extensão do membro duro e lambuzado. Gabriel não
demora muito para me posicionar melhor e encaixar seu pau em mim.
Não sei se gemo ou grito. É divino, que delícia de penetração. Com
movimentos circulares, mexo-me em cima dele, contendo os meus gemidos,
vendo-o se deliciar. Suas mãos passeiam por minha bunda e meu quadril, ele
aperta cada centímetro do meu corpo.
O som do clap clap clap provocado pelos nossos corpos ecoa pelo
quarto. Ele me agarra pelo cabelo com força e me puxa para baixo, depois
toma a minha boca com sofreguidão e mete dentro de mim. Enquanto uma
mão está ocupada, a outra desliza por minhas costas e vai de encontro às
minhas curvas que ele apalpa bastante apetitoso.
Repentinamente, ele nos gira sobre a cama, pondo-me presa sob o seu
peso. Agora, Gabriel tem todo o controle.
— Achou que iríamos brincar de papai e mamãe? — Gabriel sai de
dentro de mim e abre as minhas pernas, deixando-me exposta. Gosto disso,
de vê-lo olhando para a minha boceta encharcada pingando no lençol. —
Estique uma perna e deixe a outra dobrada — ordena, mas antes bate nos
meus lábios vaginais, me deixando mais pulsante e escorregadia.
— O-o q-que vai fazer? — Solto um gemido involuntário.
— Comer essa bocetinha quente direito.
Excitada com a sua fala, eu arfo.
Nunca pensei que um homem carrancudo igual a ele fosse me fazer
esse tipo de proposta. Sentando-se sobre a minha coxa direita estirada,
Gabriel segura firme a minha perna esquerda e a posiciona para cima. Apoia
a mão na minha coxa, e com a outra, pega em seu pau e pisca para mim.
— Pode gemer bem alto. Eu deixo, minha putinha. — O homem soa
convencido ao deslizar o seu pau dentro de mim na nova posição.
Mantendo-se equilibrado, ele me segura pela cintura e mete para
frente e para trás. Soca fundo e duro, meus peitos sobem e descem conforme
me penetra com avidez. Minhas pernas tremem e meus gemidos
entrecortados inspiram o homem, que me alarga a cada gemido que dou.
Gabriel me fode movendo os quadris com rapidez, seu pau entra e sai
da minha vagina e eu jogo a cabeça para trás e mordo o lábio. Com as duas
mãos livres, alcanço meus mamilos e os aperto entre meus dedos.
Estou louca de tesão.
— Oh... Gabriel, me come mais forte... — Arqueio minhas costas e
ofereço meus peitos para ele, que entende o recado e se inclina, já mamando
em um deles. Ele me golpeia e suga o biquinho do mamilo avidamente, me
enlouquecendo.
— Agora eu entendo por que os homens te olham como se você fosse
única — fala, já passando a língua no bico dos meus seios, sem deixar de
enfiar seu pau gostoso na minha entrada, que implora por mais a cada
segundo. — Você é gostosa, não posso negar, garota, e essa boceta apertada,
então...
O seu elogio aumenta meu ego.
— Fale menos e me coma mais — reclamo, gemendo e tentando fazer
movimentos também.
Fecho os olhos quando a língua quente do homem trilha meu pescoço.
— A sua boceta já está apertando meu pau. Quer que eu te dê mais? É
só pedir que te dou, minha vadiazinha deliciosa — sussurra, gemendo
roucamente e estocando com vigor, me causando formigamento entre as
pernas.
— Não sou de pedir nada aos meus clientes, só estou aqui para servi-
lo — informo, com a voz abafada, mas logo fico frustrada quando ele sai de
dentro de mim, sem me deixar gozar.
— E se eu não quiser ser servido? — pergunta, virando-me
bruscamente para que eu fique de quatro. — Posso comê-la assim? — Ele
prende meu cabelo úmido pelo suor na mão, enquanto a outra está segurando
meu quadril.
— Deve... — Rebolo quando sinto a penetração me preencher mais
uma vez.
— Porra, loirinha, você uma verdadeira tentação. — Ri baixinho,
provocante, depois me estapeia na bunda.
— Ei... — Dou uma risadinha ao sentir a ardência.
— Shhh... Me deixa terminar de te foder, você ainda não gozou. —
Eleva mais meu quadril e faz o que promete, me fode até o juízo.
Talvez mais tarde eu vá sentir uma dor de cabeça pela pegada firme
do homem em meu cabelo, mas no momento está tudo tão gostoso,
principalmente o jeito que ele coloca em mim e se mexe rápido, levando-me a
mudar de ideia. Entre mordidas e beijos na minha pele suada, o homem faz
movimentos circulares. Aproveito o travesseiro para abafar meus gemidos de
rendição.
O que fazer agora? Esse cretino me surpreendeu. Aquela carinha de
santo me enganou direitinho. Pensei que ele fosse daquele tipo de homem que
só sabe o tradicional, mas esse é o problema. Ele não me prometeu muita
coisa, mas foi além das minhas expectativas. Na cama, Gabriel Vilela já me
tem, mas não irei demonstrar o quanto estou envolvida. Não agora, não
enquanto eu não conseguir fazê-lo me tornar a sua preferência de hoje em
diante.
Capítulo 04

Aos meus vinte e cinco anos, eu já trabalhava ao lado do meu pai na


sede da Lissol. Como sou filho único, não tive para onde correr, e quando vi,
estava completamente envolvido nos negócios. Fazer parte de algo tão
especial para a minha família era motivo suficiente para que a cada dia eu
desse o meu melhor e deixasse meus pais orgulhosos do filho que eles tanto
investiram para que mais tarde fizesse valer à pena cada centavo gasto nos
meus estudos.
Mas infelizmente, ter uma boa formação não foi o bastante para salvar
a nossa rede de restaurantes de uma falência anos atrás. Para que meus pais
não perdessem o império que tinham construído com muito esforço, eu tive
que me sacrificar, vender a minha alma ao diabo, mesmo tendo a certeza de
que passaria longos anos vivendo no inferno.
Foi o mínimo que poderia fazer por eles. Por minha mãe, que partiu
há um ano. Sol Vilela conseguiu lutar contra o câncer duas vezes, foi uma
guerreira, mas na terceira não resistiu às sessões da quimioterapia e faleceu.
Perdi uma parte de mim no dia em que a enterramos. Minha mãe era a nossa
força. Por ela, eu enfrentaria qualquer coisa, e as enfrentei. Não digo que me
arrependo, porque às vezes, para obtermos sucesso na vida, é necessário fazer
algum tipo de sacrifício. E eu fiz o meu.
Durante anos, trabalhei arduamente para reerguer os negócios da
família e devolver centavo por centavo a Gonçalo Correia, o melhor amigo de
décadas do meu pai. Em três anos, consegui recuperar o que havíamos
perdido e pagar a quantia que devia ao meu credor. Mais de três anos depois,
já somos a rede de restaurantes mais famosa do Brasil. Conseguimos em
pouco tempo expandir os negócios para outros estados.
Sentado em um sofá de couro perto da cama king-size usando apenas
um roupão, leio alguns e-mails no meu celular que foram enviados por minha
secretária, e vez ou outra observo a loira nua estirada na cama dormir
profundamente. Enquanto ela não se importa com a minha presença, observo-
a dormir, silenciosamente. Quando deixei-a gozar, abriu um sorriso bonito e
safado para mim, e depois disse “Estou exausta, sr. Vilela, mereço descansar
um pouco, não acha? Ao acordar, prometo recompensá-lo”. Apenas a ignorei
e mandei fazer o que quisesse. Ousada, me lançou beijos no ar, jogando-se na
cama e caindo num sono profundo.
Franco sempre me fala das garotas da Judite. Os elogios são tão
exagerados que a vontade de mandá-lo calar a boca é imensa, porém, tendo-o
como o melhor amigo do meu pai e meu sócio, devo respeito a ele, apesar de
nunca ter me importado com as referências que ele dava das acompanhantes.
Nunca levei a sério os convites de Franco quando vínhamos para cá
fazer negócios, nunca precisei pagar as mulheres para fazer sexo comigo, não
é do meu feitio me envolver com garotas de programa, mas, dessa vez, meu
interesse foi maior. Ele veio me falando de uma jovem garota que trabalha
para a Majestosa Judite, como ele a chama. Foram tantos elogios repetitivos
até chegarmos que, por fim, decidi que aceitaria o convite dele para ir até o
tal Clube OpenSea.
Franco é um homem já de idade, mas isso não o impede de continuar
curtindo às escondidas da esposa e da família. Ele garantiu que o clube tem
extrema segurança e total sigilo das identidades. Somos homens de negócios
e temos família, mas precisamos nos distrair e diminuir o estresse que é nosso
dia a dia, após reuniões de negócios intermináveis.
A minha vinda ao Rio de Janeiro não foi para me envolver com
nenhuma mulher, nem tinha essa pretensão, se vim foi para tentar convencer
um empresário a me vender o seu resort em Búzios que está à beira da
falência. Ter nossa marca naquele lugar que tem belíssimas praias vai nos
trazer muito dinheiro, o sucesso é garantido.
Embora esteja tudo encaminhado, estou tendo um pouco de dor de
cabeça. Eu só preciso que Samuel Mesquita assine o contrato, mas ele está
sendo resistente por algum motivo que ainda desconhecemos, apesar do valor
oferecido ter sido milionário. Se ele não tinha certeza desse negócio, não
deveria ter aceitado a nossa proposta e nos deixado na expectativa.
Hoje, Franco ficou de encontrá-lo pela manhã em um hotel em
Copacabana para que possam conversar, e com um incentivo do meu sócio,
Samuel venha a assinar o contrato. Tenho certeza de que dessa vez o homem
vai ceder, o velho é bom de lábia, em todos esses anos de sociedade ele nos
trouxe bons resultados.
Era para eu me reunir a eles, contudo, passei a noite toda fodendo um
certo alguém e perdi o horário que havia marcado com meu sócio – e eu não
gosto de chegar atrasado nos meus compromissos, remarcar essa reunião não
seria uma boa ideia para alguém que tem pressa em fechar o negócio. Por
sorte, ele se dispôs a me representar, e assim que Samuel aceitar a nossa
proposta, ele me ligará para dar notícias.
Percebo que Milena não irá acordar por agora, nem eu pretendo
acordá-la, porque sei que eu a cansei, assim como ela fez comigo. Nem
consegui voltar para o hotel onde estou hospedado, fiquei por aqui mesmo.
Levanto-me do sofá, colocando meu celular no bolso do roupão, e
sigo para a varanda do quarto. Puxo a cortina branca para o lado e abro a
porta transparente de vidro, logo sinto o vento bater conta a minha pele e no
meu cabelo.
Daqui, tenho o privilégio de ver a praia, a Princesinha do Mar, como
é carinhosamente chamada. A vista é realmente belíssima, o mar é de um azul
incrível, e daqui do alto, a minha admiração se torna maior ainda.
Puxo o ar para os pulmões e apoio meus cotovelos no guarda-corpo
de vidro, em seguida, observo a movimentação lá embaixo dos carros e das
pessoas.
Alguns minutos se passam e eu decido entrar quando sinto o sol
incomodar a minha pele. No meu bolso, meu celular vibra. Vejo que o meu
sócio mandou uma mensagem de áudio. Diminuo o volume do som e levo o
celular perto do ouvido.
“Gabriel, nada feito, o homem decidiu que não quer mais vender,
mas tem uma proposta para você. Ele disse que vai ser um bom negócio para
ambos os lados.”
Termino de ouvir o áudio com os olhos semicerrados. Que diabos?
Esse cara já torrou a minha paciência. Quem rejeitaria tantos milhões assim?
Só um idiota mesmo.
Irritado e com as narinas infladas, aperto no botão e começo a gravar
um áudio para responder Franco.
— Deve existir algum motivo para ele estar tão relutante, não é?
Tente descobrir por que esse homem não quer nos vender um resort que está
quase fechando. — Envio a mensagem com o maxilar travado, em questão de
pouco tempo tenho a resposta.
“É uma herança da sua mãe, ele disse que tem um valor afetivo, mas
se você quiser ouvir o que ele tem para dizer não vai se arrepender. Palavras
dele, e eu acho que deveríamos ouvi-lo.”
Eu poderia até dizer que Samuel está sendo um filho da puta
envolvendo família nos negócios, porque é um assunto que me toca, mas ele
nem sabe da minha história, mal me conhece, então não tenho como acusá-lo
de estar tentando jogar sentimentalismo para o meu lado.
Analiso por alguns minutos a situação, até que por fim decido que
quero descobrir o que sr. Mesquita tem para me propor, levando também em
consideração que o meu sócio acha que é uma boa ideia. Ouvir nunca é
demais, darei essa oportunidade a ele.
Sem querer gravar outro áudio, escrevo para o Franco que ele marque
uma reunião com Samuel. Sem demora, ele me retorna avisando que o
homem sugeriu que fôssemos até Búzios para ter essa conversa. Mesmo puto
com as pequenas exigências, cedo e peço ao Franco que marque o dia e a
hora para resolvermos isso de uma vez por todas.
Erguendo os olhos até a cama, noto que a mulher se remexe e solta
um gemidinho dengoso, mas não acorda. Continuo parado apreciando-a, e
amaldiçoo o caralho do lençol que cobre a sua bunda empinada e gostosa,
deixando à mostra apenas suas costas nuas. Mas a visão que tenho do seu
cabelo longo e loiro espalhado no travesseiro não tem preço.
Ela muda de posição ainda de olhos fechados e eu sinto meu pau
latejar quando fixo nos seus mamilos de aréolas num tom rosado pálido que
mamei a noite toda enquanto a fodia sem parar. Ah, porra, preciso de mais...
Ainda não me sinto saciado dessa boceta. Ter comido por algumas horas não
foi suficiente para mim.
Na noite em que conheci a loira, saí do quarto e a deixei para trás sem
explicação. Não consegui dar continuidade ao que estávamos fazendo. Por
mais que estivéssemos em um clima delicioso, me bateu um certo
arrependimento em estar prestes a fazer sexo pago, aquilo me incomodou
profundamente.
A partir do momento que coloquei meus pés no clube, sabia o que
encontraria, apesar de não ter conseguido seguir em frente naquele dia, não
com ela. Eu estava pronto para dar o fora daquele lugar quando me deparei
com Franco acompanhado. Ao me indagar o motivo de estar ali sem a minha
acompanhante, dei a desculpa de que a garota que escolhi não tinha suprido
as minhas necessidades, foi então que meu sócio me ofereceu uma das suas
garotas, ninguém menos que a Bruna.
A porra da mulher passou horas tagarelando sobre ser a melhor do clube e
blá-blá-blá. Se fez muito, foi chupar o meu pau porque na cama não rolou
nada. Fiquei saturado de tanto ouvi-la falar, que a dispensei. Talvez o
problema tenha sido eu, já que enquanto estava com a morena, meus
pensamentos se encontravam na loira gostosa que deixei na cama, com a
expressão confusa.
Milena... Reconheço que a loirinha fogosa sabe trepar. Há um tempo não
encontrava alguém que fosse capaz de me satisfazer sexualmente, e a sua
colega de serviço não chegou nem perto do prazer que essa pequena menina
me deu nessas poucas horas. Posso imaginar o quanto ela deve ter ficado
furiosa por ter sido rejeitada por mim e descobrir que, logo após, pedi outra
em seu lugar. Mas se eu soubesse que foder a sua bocetinha seria tão bom
assim, teria feito isso antes. E enquanto eu estiver no Rio de Janeiro, quero
essa mulher na minha cama e vamos foder até que eu fique saciado.
Novamente acomodado no sofá, volto a mexer no celular e percebo
que não tenho o número da cafetina salvo para solicitar mais tempo com
Milena antes que algum outro cliente passe na minha frente. Entro no
aplicativo e procuro pelo contato que Franco havia me passado, e assim que
encontro, ligo para ela.
— Bom dia, sra. Silva — falo ao ser atendido do outro lado da linha.
— Bom dia. Com quem eu falo?
Soube que a dona do clube é excelente em bajulação. Vou aproveitar
toda sua atenção para ter o que desejo da garota dela e desfrutar de outras
coisas que podem me ser úteis nessa cidade maravilhosa.
— Gabriel Vilela. — Passo a mão por baixo do meu queixo.
— Ah, sr. Vilela, que prazer falar com o senhor. Em que posso ser útil
hoje? Está precisando de algo? A Milena não o agradou? Quer que eu envie
a Bruna mais uma vez?
Faço uma careta com a menção da outra garota.
— Não é nada disso, senhora. Desejo outra coisa. — Fito a diaba
gostosa que ainda dorme despreocupadamente na cama.
— Pode me chamar de Judite, senhor. Não precisamos de toda essa
formalidade. Os amigos do Franco são meus amigos também. — Seu tom é
jocoso, quase reviro os olhos.
Ignoro as palavras da mulher e continuo: — Quero contratar os
serviços da sua garota por alguns dias, vou fazer uma viagem até Arraial do
Cabo e a quero comigo. — Passo a língua por meus lábios.
De repente, só me vem em mente a mansão que tenho situada na
Região dos Lagos. Poucas vezes vou lá, mas sempre há um funcionário
trabalhando para manter o local bem limpo e com uma boa aparência. O lugar
é ideal para meus planos com a loira, lá vou me sentir mais confortável do
que no hotel que me hospedei.
— A Bruna?
Que parte ela não entendeu que eu quero outra coisa?
— Não, a Milena Albuquerque — respondo, com uma certa
impaciência.
— Pensei que o senhor não tivesse gostado da...
— Dos meus gostos cuido eu, senhora — eu a corto. — Só estou te
ligando para notificar a minha decisão — retruco, friamente.
— Ok, sr. Vilela. A Milena é a minha menina de ouro. O senhor está
ciente que o investimento nela é alto, né? — Dá uma risadinha.
— Sim, estou, e me disponho a pagar o dobro por ela. Quando tiver o
valor da sua garota, me retorne. E se ela estiver com clientes na agenda os
dispense, enquanto passar esses dias comigo quero total exclusividade. Eu
não a quero colocando os pés no clube, e hoje eu a quero no hotel onde estou
hospedado. — Nem a espero responder, somente desligo a chamada.
Volto para a cama, disposto a ter mais uma vez a loirinha em meus
braços.

∞∞

Com a mulher deitada ao meu lado, deslizo meus dedos por suas
costas e a bunda, sentindo-a ficar arrepiada com o meu toque. Bastou que ela
acordasse algumas horas atrás, comigo entre suas pernas beijando suas coxas,
para que passássemos a manhã inteira na cama, transando igual loucos.
— Você é bem misterioso, não diz muita coisa... Te acho muito
calado — tagarela Milena, passando as unhas grandes no meu peito nu.
— E às vezes você fala demais — retruco, escondendo o meu sorriso,
fazendo-a gargalhar.
— O seu humor me deixa molhada — diz, já trazendo seu corpo para
cima do meu.
— Por que esse seu vocabulário não me surpreende? — Coloco
minhas mãos em seu quadril, e a cachorra rebola manhosa no meu pau.
— Esse seu jeitinho de carrasco é uma delícia , sr. Vilela... —
provoca ao falar bem perto do meu ouvido. Dou um tapa em sua bunda e giro
seu corpo para baixo do meu.
— Carrasco? — Arqueio a sobrancelha, divertido.
— Aham, é sexy. — Ela dá uma risada gostosa, em seguida, pega a
minha mão e leva até o meio das suas pernas, me fazendo tocar na sua boceta
depilada e escorregadia.
— É bom saber, loirinha. — Com um olhar duro, fixo nos seus olhos
verdes e dedilho seu clitóris.
— Eu sei que sim. — Morde os lábios e fecha os olhos, soltando um
gemido ao empurrar o quadril para mim.
— Você é bem convencida... — sussurro no ouvido dela. Em seguida,
começo a roçar os lábios em sua pele macia e cheirosa, masturbando-a com
velocidade.
— A-h-hh... — Em resposta, ela geme baixinho e rebola nos meus
dedos que a come.
Aproximo meu rosto do seu e roço nossos lábios. Ela tenta me beijar,
mas viro o rosto para a curva do seu pescoço e ali deixo uma mordida de
leve, nada que vá deixar marcas. Antes que Milena goze, tiro meus dedos
molhados com a sua excitação de dentro dela e pego a última camisinha que
temos logo ao lado.
— Arreganhe as pernas, loirinha, porque agora você vai me dar bem
gostoso. — Repuxo um sorriso travesso, vendo-a obedecer às minhas ordens
e se abrir para mim. Milena tem uma flexibilidade do caralho, e essa porra me
deixa atiçado, imaginando as posições que podemos foder nos dias em que
estaremos juntos.
— Aiii... que delícia, sr. Vilela, me fode vai... — Ela lambe os lábios
sensualmente, me observando vestir o preservativo no meu pau.
— Você adora ser comida por mim, não é, sua putinha fogosa? —
Agarro sua perna esquerda e seguro meu membro, mirando na sua entrada
com dobras molhadas.
— Uhum... — Geme, passeando uma mão por seu mamilo.
A mulher ergue o quadril para mim e eu me afundo nela lentamente,
sentindo meu pau ser engolido por sua boceta quente e apertada.
Capítulo 05

Sentada na cama e mordendo o lábio com força, observo o sr. Vilela


se vestir. O seu cabelo castanho está meio bagunçado, mas ainda continua
gostoso. Cabisbaixo, ele fecha os botões da camisa social. Vez ou outra seus
olhos encontram os meus e eu pisco para ele, charmosa. Em resposta, Gabriel
balança a cabeça e ri baixinho.
O homem que está aqui parece ser diferente do que conheci no
primeiro dia. Esse, por mais que ainda tenha aquela faísca de mal-humorado,
consegue me fazer sorrir e me sentir bem em sua companhia.
Ele é o primeiro cliente que me agrada na cama, que consegue me dar
bons orgasmos. Jamais imaginei que poderia unir o útil ao agradável na
minha profissão, muito menos com uma pessoa que, à primeira vista, quis
estrangular por ser tão prepotente. E olha só, temos poucos dias juntos e ele
ainda me proporciona uma boa foda.
Muitos homens já passaram por minha cama, contudo, nenhum nunca
me levou a desejá-lo de tal maneira como estou desejando Gabriel Vilela.
Acho que sei de onde vem esse fascínio – há muito tempo que não atendo
alguém da sua idade, jovem, por volta dos seus trinta anos.
— Você vem hoje? — Deixo escapar a pergunta ao vê-lo se sentar no
sofá de couro e calçar os sapatos caros.
Ele ergue o rosto e me encara com a expressão séria e pensativa.
— Por quê? Saudade antecipada? — O tom dele é bem-humorado, a
sua sobrancelha arqueada o deixa mais sexy.
— Depois eu que sou a convencida, sendo que ele é o metido —
murmuro e noto que acabo pensando alto demais.
Levo a mão à boca ao mirar o meu cliente, que está com os olhos
brilhando em diversão. Repuxo os lábios e ele solta uma risadinha
provocante, mas não diz nada.
Gabriel está pronto para sair, então levanto-me e vou até ele, que me
examina daquele jeito tentador, como se quisesse arrancar a lingerie cor
vinho que uso. O sorriso curvado em seus lábios carnudos me causa
tremedeira nos joelhos.
— E então, podemos nos ver?— Ergo a mão direita e toco em seu
rosto de formato oval, em seguida, raspo meus dedos em sua barba por fazer
quase loira que cobre seu rosto bonito, sentindo os pelos finos pinicarem
minha pele.
— Talvez mais tarde.— Ele inclina o seu corpo e encosta a boca perto
do meu ouvido. — Você quer me ver mais tarde? — O hálito morno sobre a
minha pele faz com que ela formigue e meu coração salte desgovernado.
— É claro que sim, basta dizer que me quer e eu serei toda sua —
digo, estalando a língua ao vê-lo se afastar e passar a mão por seu cabelo
castanho, arrumando-o.
— Essa noite fico por aqui, mas quero que vá para o hotel onde estou
hospedado — diz, me pegando de surpresa com a sua decisão. E minha
expressão não nega isso, tanto que ele acrescenta. — Já conversei com a sra.
Silva para te liberar para mim.
Ele quer repetir a dose. Devo ficar animada? Lógico que sim, será
muito agradável passar mais tempo em sua companhia, ele paga melhor do
que todos os outros. Esse homem é a oportunidade que eu esperava para uma
renda extra.
— O.k., só me passar o endereço que estarei lá no horário que desejar.
— Comemoro por dentro, mantendo o semblante suave.
— Estou no Copacabana Palace — fala naturalmente, enquanto eu
quase salivo com a revelação, mas consigo me controlar a tempo.
Caramba, é o melhor hotel daqui, além de ser muito luxuoso, é só
para quem realmente tem dinheiro. As diárias daquele lugar são
absurdamente caras. Já fui lá uma única vez, mas não cheguei a entrar em
qualquer um dos quartos, já que o cliente havia desmarcado na última hora e
eu tive que ir embora.
Mordo os lábios, contendo o sorriso de satisfação quando ele me
passa o número da suíte que está, antes de se despedir de mim de uma forma
inesperada – um beijo demorado na boca com direito a língua. Gabriel sai do
quarto, mas a sua presença permanece junto das lembranças da noite anterior.
Tranco a porta do quarto e pego o meu celular na mesa de cabeceira
antes de me sentar na cama. Tiro o aparelho do silencioso e desbloqueio a
tela, encontrando algumas ligações da minha mãe. Ligo para ela, que me
atende no primeiro toque, provavelmente estava esperando que eu retornasse.
— Oi, mãe... acabei de ver as suas ligações, não pude atender porque
estava sobrecarregada no serviço — digo, colocando uma mecha do meu
cabelo atrás da orelha.
— Boa tarde, filha, imaginei que fosse isso. Só liguei para saber como
está, temos nos falado muito pouco — diz, suspirando do outro lado da linha.
— Cansada por causa dos dois trabalhos, mas estou bem! E como
estão vocês aí? — pergunto, tamborilando os dedos na minha coxa e mirando
na parede cor pastel.
— Estamos bem, Mandy. — Sinto que sua voz está murcha.
— Estão mesmo ou está falando isso para que eu não fique
preocupada? Aconteceu algo por aí? — insisto para ver se ela me fala algo.
— Só um probleminha no colégio da Beatriz, mas já resolvi, não se
preocupe, Amanda — diz, com firmeza.
— E o que houve, mamãe? — indago, preocupada.
— Duas coleguinhas da sala da Bia estavam praticando bullying com
ela, só descobri porque sua irmã chegou semana passada aos prantos, dizendo
que haviam puxado tanto o cabelo dela que ficou com dor de cabeça... E não
foi só isso, a apelidaram de Estranha. — Seu tom é tristonho.
Ela me conta que as coleguinhas de classe da Beatriz estavam
mexendo com ela há um tempo, mas que Bia jamais reclamou até que chegou
ao limite e acabou contando o que estava se passando no colégio. Eu acho um
absurdo que algo assim aconteça dentro de uma sala e nenhum professor ou a
direção fique sabendo. Pergunto-me se era necessário mesmo chegar a esse
ponto para que isso viesse à tona tão tardiamente.
— E o que se resolveu, mãe?
Passo a mão na testa e levanto-me, nervosa com a situação. Não gosto
de imaginar que minha irmãzinha esteja passando por isso na escola, um
lugar que deveria ser seguro e acolhedor para ela, e não um local opressor.
Odeio pensar que estejam fazendo bullying com ela que, além de ser algo
muito sério, é crime e pode trazer grandes traumas para Bia. Além disso, não
é só Beatriz que sofreria caso isso se agravasse mais, mamãe e eu também.
— A coordenadora chamou os pais das alunas ontem, eles
prometeram conversar com as filhas, e a escola vai preparar uma palestra
sobre bullying para evitar casos futuros com outros alunos de outras turmas.
— Suspira do outro lado.
— Espero que realmente resolvam. E como está a Bia? — Só consigo
pensar em como está a cabeça da minha irmãzinha.
— Hoje não quis ir para o colégio, disse que não quer mais estudar lá.
Meu peito fica apertado quando ela fala isso.
— E o que a senhora acha disso? — Umedeço os lábios.
— Amanda, a Beatriz sempre foi uma menina tranquila, nunca foi de
brigar com ninguém, para ela chegar a esse ponto de querer sair do colégio é
porque realmente não está se sentindo bem lá. Mas ao mesmo tempo, onde
vou conseguir vaga em outro colégio?
— Quando não nos sentimos bem em um lugar não tem quem nos
faça ficar, não é?! — Ela concorda comigo. — É o seguinte, mãe, eu vou
cuidar disso. Talvez... seja melhor para Bia estudar em um colégio particular.
— Mandy, filha, não precisa! Por Deus, como você vai arcar com
mais esse gasto? Não, não, não... Vamos dar um jeito e...
— Mãe, eu não estaria dando essa solução se eu não soubesse que
posso dar conta — digo. — Procure por um bom colégio nas redondezas e me
avise que eu mando o dinheiro da matrícula.
— Filha... — Mamãe ainda está resistente.
— Escuta, mãe — endireito o copo —, não faço isso só porque Bia
não se sente bem naquela escola e vai ser difícil encontrarmos uma vaga a
essa altura em outra escola pública. Faço porque ela vai ter melhor
oportunidade em uma instituição particular. Sabe como são as escolas
públicas, não sabe? Eu posso dar conta, acredite em mim.
Mamãe suspira do outro lado da linha.
— Tudo bem.
— Quando tiver uma escola em vista, me avise.
Eu não deveria me comprometer com mais esse gasto, mas uma
escola deve zelar pela segurança e integridade física e mental dos estudantes
a partir do momento que pisam no ambiente escolar. Se minha irmã não tem
essa segurança na escola onde está, e se eu tiver que me matar mais um
pouco no trabalho para conseguir lhe dar uma educação digna, então que
assim seja.
— Aviso, sim, querida. Aliás, já tem uma previsão de quando vem
nos ver? — pergunta, e eu mordo os lábios.
— Muito em breve, mamãe, estou tentando conseguir uma folga mais
estendida para ver vocês. — Respiro profundamente.
— Tudo bem, ficaremos te esperando — diz, contente.
— O.k., mãe, manda um beijo para a Bia e diz a ela que a amo muito.
Ouço batidas na minha porta e logo em seguida a voz do Iago, o cão
fiel da Judite.
— Milena, a Judite está te chamando na sala dela.
Meu coração gela no mesmo instante.
— M-mãe... Preciso desligar, estão me chamando e uma colega de
trabalho também — gaguejo, olhando para a porta que o homem continua
batendo por não ter uma resposta minha.
— Tá certo, filha, bom trabalho para vocês — deseja na inocência,
sem saber que eu sou a Milena.
— Obrigada, beijos... te amo — digo, indo na direção da porta, mas
recuo ao lembrar que estou só de lingerie, então vou até o closet e visto um
roupão.
— Também te amo, até logo. — Encerro a ligação, deposito o celular
no aparador e me visto.
— Milena, eu sei que está aí, vi o seu cliente indo embora há alguns
minutos.
— Já vou, Iago! — exclamo, irritada por ele não parar de bater na
madeira.
Droga!
Abro a porta e me deparo com Iago me avaliando com o semblante
fechado. Eu o ignoro e cruzo os braços.
— A chefe te quer na sala dela, não demore — informa de novo, com
a expressão azeda.
— O.k., diga a ela que só vou tomar um banho — aviso.
O mal-educado me dá as costas e sai, então fecho a porta e sigo para o
banheiro.

∞∞

Bem perfumada e arrumada, entro no escritório de Judite, que está


toda sorridente encarando a tela do computador. Ao notar a minha presença,
ela ergue os olhos e faz um gesto para que me sente na cadeira à sua frente.
Deve ser algo bem satisfatório para ela estar com bom humor e sorrindo à
toa. Estranho o seu comportamento tão receptivo, uma vez que demorei
bastante para vir até a sua sala. A cafetina que conheço estaria neste exato
momento chamando a minha atenção por não a ter atendido imediatamente.
— Você chegou na hora certa, minha querida! — Seus olhos negros
brilham na minha direção e eu arqueio a sobrancelha.
— Hum, aconteceu alguma coisa boa para você está tão sorridente
assim? — pergunto, desconfiada, recostando-me na cadeira e cruzando
minhas pernas.
— Você já vai saber, só um instante. — Ela olha para o monitor.
— Estou bem curiosa para saber o motivo dessa felicidade. — Faço
uma careta ao examiná-la.
— Achei! — Judite abre um sorriso e me encara. — Aquele cliente, o
amigo do Franco, me ligou mais cedo. Ele quer que você seja exclusiva dele
por quinze dias.
Gabriel Vilela. Repito o nome na mente, mordendo os lábios,
tentando conter a explosão que sinto dentro de mim. Ele não me disse nada
sobre me querer por mais tempo, apenas que me queria hoje no hotel onde
está hospedado, talvez quisesse me fazer uma surpresa.
Arrumo minha postura e dou um sorriso amarelo para ela, não muito
animada com isso. Quero dizer, será ótimo passar duas semanas com ele,
desde que seja financeiramente vantajoso.
— Mas claro que eu disse a ele que primeiro falaria com você, afinal,
somos praticamente sócias. — Pisca para mim.
Agora somos sócias? Vaca safada!
— De quanto estamos falando? — sondo-a, curiosa.
— Se te chamei é porque quero que entremos em um acordo, e é claro
que isso inclui não desfalcar a sua agenda e seus ganhos, Milena. — Sua voz
sai séria. — O cliente vai pagar trezentos mil, fora os gastos da viagem. Será
tudo por conta dele se aceitar ser a acompanhante nessas duas semanas,
querida. — A cafetina só falta soltar fogos de artifício.
Eu diria que ela está orgulhosa?
— Para que lugar iremos e o sexo está incluso? — Deslizo a ponta da
língua nos meus lábios.
— Arraial do Cabo, e é claro que ele vai querer sexo. Acha que o
homem pediu exclusividade por causa dos seus lindos olhos verdes, cabelo
loiro natural e companhia agradável?! Ele quer é ficar mais tempo com você
porque gostou da sua boceta, então tire proveito disso — diz, vibrante.
Sim, Judite é bem escrota quando quer, mas ela tem razão. Enquanto
Gabriel estiver interessado em me ter com ele, é lucro para mim. Será um
prazer ser desse homem por alguns dias. Ele me agrada, por que recusaria a
proposta? Além do mais, pagará bem pelo meu serviço, o dinheiro vai me
ajudar com as mensalidades da Bia e poderei guardar o dinheiro na poupança
para comprar a casa da minha família.
— É claro que vou tirar. Aceito viajar com o sr. Vilela — digo.
Judite bate palmas, satisfeita com minha decisão.
— É a melhor decisão que está tomando, Amanda, será muito
beneficiada — chama por meu nome verdadeiro e eu assinto.
Lógico que serei.
— Ele não me disse em qual o horário devo estar no Copacabana
Palace. — Lembro-me que me disse que só nos veríamos mais tarde.
— Vá às dezessete, esse é o horário que me pediu para te enviar —
orienta, visualizando novamente o monitor.
— O.k., já estou indo embora. Vou passar antes no meu apartamento
para ajeitar algumas coisas e me preparar. — Arrasto a cadeira para trás e
levanto-me.
— Milena, ainda temos que conversar sobre esses seus dias sendo
exclusiva dele. Sente-se novamente — pede.
Eu concordo, observando-a com atenção.
Passo bons minutos conversando sobre todos os detalhes da viagem
para Arraial do Cabo com o sr. Vilela, até que chega o momento em que
minha agenciadora me dá algumas recomendações de como devo me
comportar diante de um cliente tão refinado como Gabriel. Como se eu não
soubesse como devo agir para conquistar e agradar um cliente.
Capítulo 06

Na sala de estar da suíte penthouse, com um copo de Johnnie Walker


na mão, recosto-me no sofá e levo os meus pensamentos até o encontro que
tive mais cedo com a cafetina de Milena. Assim que saí do quarto da loira, fui
procurar Judite em seu escritório e tivemos uma conversa sobre o valor que
seria cobrado para ter exclusividade da sua garota. Quando ela me mostrou a
quantia que estava pedindo, aceitei sem hesitar e ainda me dispus a custear
todos os outros gastos da viagem. Achei um valor justo e não vi problema em
pagar, pois sei que vai valer o investimento.
— Vou ter que voltar para São Paulo mais cedo, meu amigo — diz
Franco, atraindo a minha atenção Levo meus olhos ao meu sócio, que sai da
varanda que é de frente para o mar e vem na minha direção, segurando o
celular na mão direita.
Estamos há algum tempo falando sobre nossa ida a Búzios e eu já
disse a ele que pretendo levar Milena comigo. Tinha planos de viajarmos
sozinhos, porém, mudei de ideia. Quero a mulher perto de mim para poder
desfrutar o máximo que posso. Quando ela chegar, já vou notificá-la sobre
essa breve viagem que faremos antes de partimos para Arraial do Cabo.
— Algum problema? — inquiro, tenso.
— A Rafaela se acidentou — conta, mencionando sua filha caçula. —
No final de semana, foi para a fazenda do tio no interior e acabou caindo do
cavalo — fala, aflito, sentando-se no outro sofá e passando a mão por seu
cabelo grisalho.
Desde que estávamos no spa, horas atrás, meu amigo estava com um
pressentimento, e talvez tenha sido isso. Ele sentiu que algo aconteceria, só
não sabia o que era. A garota é a sua filha mais nova, tem dezenove anos, é o
seu xodó, imagino como deve estar a sua cabeça ao ter essa notícia.
— Quando soube? É grave? — averiguo, em seguida, beberico o
Johnnie Walker.
— Agora há pouco, me ligaram para avisar. Ela deslocou o ombro,
vai ser necessário um procedimento cirúrgico. — Ele comprime os lábios.
Porra, o negócio é sério.
— Não é necessário que fique por aqui. Pode voltar hoje para casa, eu
dou conta. Vá ficar com a sua família — digo, solidário, notando a sua
expressão perturbada.
— Tem certeza, Gabriel? — A voz dele falha, seus olhos vão para o
seu celular.
Coloco o copo na mesa de centro à minha frente e vou até ele, então
sento-me ao seu lado e toco no seu ombro. Meu sócio me encara e solta um
suspiro.
— É claro que tenho, amigo. A sua filha precisa de você. Assim como
mais cedo você se disponibilizou a assumir um compromisso que era meu
também porque perdi o horário, amanhã posso fazer o mesmo. E será por
uma questão de saúde, então trate de pegar o avião hoje mesmo para dar
apoio à sua família, estão precisando de você. — Minhas palavras fazem seus
olhos ficarem inundados. Quando ele assente, fico satisfeito por ter
conseguido convencê-lo.
— Farei isso, obrigado — agradece, gentilmente.
— Não agradeça. Mande melhoras para a Rafaela e tente colocar juízo
na cabeça dela — digo.
Ele ri e concorda.
— Ela está precisando mesmo, essa menina me apronta cada uma. —
Bufa, irritado, mas sei que está com o coração partido pelo acidente da filha.
— Só de pensar em como filhos podem dar trabalho adio a
paternidade. — A minha careta faz meu sócio gargalhar.
— Quando for pai, vai ver que não é tão ruim assim, apesar dos
pesares. — Sorri para mim.
— Por enquanto, crianças estão em segundo plano, ainda não
encontrei a pessoa certa para ser mãe dos meus herdeiros. — Levanto-me
para pegar meu copo de bebida.
— Só não demore muito, trinta e um anos... já era para estar casado e
a casa cheia — brinca ele.
Jogo a cabeça para trás e gargalho.
— Você está falando igual ao meu pai. — Passo a mão na minha
barba por fazer. — Meus filhos virão de uma mulher boa, igual a minha mãe,
e você sabe que na situação que me encontro não posso nem sonhar em ser
pai. Primeiro, quero ter a minha liberdade.
— Tem razão — ele concorda, por saber do que estou falando —, que
cabeça a minha. — Bate na testa. — Mas falta pouco para você se livrar da...
— Ele se cala ao ouvirmos meu celular tocar no sofá atrás de mim.
— Não vou atender, já sei quem é. — Nem preciso olhar para saber o
nome da pessoa que brilha na tela.
Desde cedo, tenho recebido ligações do mesmo número, e eu não
quero que nada acabe com a minha paz tão cedo, sei que se atender esse
telefonema ela irá embora. Assim que a pessoa para de ligar, tomo de uma
vez o resto da bebida e deposito o copo no móvel ali perto, depois pego o
celular e o desligo, para não ser ter perturbado pelas próximas horas.
Soltando um suspiro de alívio, eu me acomodo no outro sofá e fecho
os olhos, mas não fico muito tempo ali, pontadas na minha cabeça começam
a incomodar.
— Gabriel, vou arrumar minha mala para partir. Vou te dando
notícias e você me dê também sobre o contrato. — Ele se levanta e passa por
mim.
— Pode deixar que dou sim. Tenha uma boa viagem — desejo, e ele
agradece.
— Você também. Aproveite a companhia da garota do OpenSea para
relaxar antes de voltar para o inferno — recomenda, com o tom sério.
Depois que meu amigo vai embora, saio à procura de um analgésico e
decido me deitar na cama de barriga para cima, esperando que a dor alivie.
Viro-me de lado e puxo um travesseiro para baixo da minha cabeça, e
instintivamente miro nas sacolas na poltrona. No caminho para o hotel, fiz
uma parada em um Sex Shop. Comprei algumas coisinhas para usar com a
loira, só de imaginar que mais uma vez vou entrar em sua bocetinha gulosa,
usando alguns brinquedos, fico de pau duro.

∞∞

Dormi que nem percebi. Acordei sem dor na cabeça e com mais
disposição. Desfrutei da banheira por alguns minutos, depois fui tomar um
banho completo. O telefone no quarto começa a tocar insistentemente, sinal
de que Milena já está aqui, pois eu pedi para a recepção me ligar quando ela
estivesse subindo. Ao terminar de escovar os dentes, confiro as horas no
relógio em meu pulso e vejo que ela é pontual, chegou no horário combinado.
Saio do banheiro e vou atender o telefone.
— Boa tarde, sr. Vilela, a sua acompanhante acaba de subir — diz a
recepcionista do outro lado da linha.
— Boa tarde. O.k., obrigado — agradeço, desligando em seguida.
Passo os dedos por meu cabelo, arrumando os fios bagunçados, em
seguida, dirijo-me até a sala e ouço as batidas na porta conforme vou na
direção dela. Dobro as mangas da minha camisa preta, deixando metade do
meu braço à mostra, depois umedeço os lábios antes de receber minha
convidada.
Milena está exuberante diante de mim.
Atencioso, eu a observo com mais cautela e só confirmo o que já
sabia – ela é muito linda. Uma beleza extraordinária. Eu me pergunto como
alguém que me parece ser tão inteligente foi parar no mundo da prostituição.
Lentamente, passeio meus olhos por ela. O seu rosto bonito está com
uma leve maquiagem, nada exagerado, apenas um gloss labial clarinho nos
seus lábios grossos, e sombra um pouco escura, dando destaque a sua pele
alva. E eu gosto disso.
Ao notar que estou a examinando demais, ela arqueia a sobrancelha
clara e põe a mão na cintura. Só então noto a bolsa que segura na mão direita.
— Se perdeu na minha beleza, sr. Vilela? — Estala a língua, ousada, e
dá uma voltinha.
Aproveito o seu momento de glamour para secar suas costas nuas, que
tem duas alças finas trançadas de cada lado, e a sua bunda deliciosamente
empinada que está coberta por um vestido preto comprido com uma abertura
na perna esquerda. Notei que ela adora roupas com fendas, e eu aprovo
porque o que é bonito deve ser apreciado.
— Talvez eu esteja — retruco, voltando a explorar a sua beleza.
Dessa vez vasculho seus seios, que estão firmes no decote simples, mas que
se torna ligeiramente atraente por eu saber o que tem por baixo daquele
tecido.
— Pois me deixe entrar, assim pode passar mais tempo fazendo isso.
— Ela se aproxima de mim, empurrando-me pelo ombro e entrando na suíte.
— Você está linda — elogio-a.
— Me arrumei para você. — Pisca para mim, em seguida, avalia ao
nosso redor. — Dessa vez estou vestida de um jeito bem elegante para
combinar com o luxo desse hotel — diz, erguendo o rosto e sorrindo
maliciosamente.
Milena tem traços delicados e contornos perfeitos, como se tivessem
sido feitos à mão. Eu diria que ela se parece com um anjo, mas com a malícia
do diabo.
— Devo me sentir privilegiado? — Arqueio a sobrancelha, bem-
humorado, e me perco novamente em suas curvas tentadoras.
— Oh, pois se sinta! — Passa por mim e segue para a sala. Com a
porra de um sorriso idiota, sigo seus passos. — Uau, essa é a famosa suíte
presidencial, não é? — Ela me olha por cima dos ombros, com os olhos
esverdeados brilhando.
Ela está deslumbrada.
— É sim — afirmo, parando atrás dela e colocando a mão na sua
cintura. Para me provocar, a safada empina mais a bunda e roça no meu pau.
Gostando da putaria, passo o braço esquerdo ao seu redor e a faço bater as
costas no meu abdômen. — Você gostou, loirinha? — pergunto, ao levar a
mão ao seu pescoço e fechar meus dedos ali, puxando-o o suficiente para que
possa ter seus olhos quentes em mim.
— Eu amei, você tem um bom gosto. — Lambe os lábios
sensualmente, convidando-me para descobrir qual o sabor do seu gloss.
— É claro que tenho. — Exibo-me, virando-a para mim. A maneira
como a girei fez com que um pouco de cabelo grudasse na sua boca. Com
uma careta, ela tira os fios, mas ri de um jeito contagiante, me conduzindo a
fazer o mesmo.
Ela é tão menina ainda.
— Hum, o que acha de me mostrar os outros cômodos, sr. Vilela? —
Recompõe-se da risada e traz a Milena sedutora de volta.
— É uma ótima ideia. O que quer conhecer primeiro? — inquiro,
gentilmente.
Ela se afasta de mim assim que a solto, vai até o sofá e coloca a sua
bolsa lá, então faz um gesto com a mão para que eu vá ao seu encontro. E eu
vou.
— Neste momento, tenho preferência em descobrir a qualidade do
colchão. — Joga o cabelo longo para trás.
Eu já disse que essa ninfa vai me enlouquecer com essas palavras de
duplo sentido? Já tive outras mulheres, mas nenhuma como Milena
Albuquerque. Sempre achei que fosse impossível ter tantas qualidades em
uma pessoa só, mas me enganei.
— Isso é um convite para que eu foda a sua boceta, minha putinha?
— Dou passos na sua direção, parando na sua frente.
Audaciosa, ela rodeia os braços em meu pescoço.
— Aham. Eu vim pronta para dar ela a você, sr. Boca porca. —
Inclina o rosto para perto do meu e roça nossos lábios. A sua altura é quase
compatível com a minha por causa dos saltos altos que usa.
— Boca porca? — Deslizo uma mão nas suas costas e a outra em sua
bunda.
— Esse será o seu apelido agora. — Sua mão abre os botões da minha
camisa.
— Carrasco, boca porca... Qual o próximo? — brinco, apertando a
sua bunda com força, fazendo-a gemer manhosa.
— Ainda não faço ideia... — diz, tentando descer a minha camisa por
meus ombros.
— Essa pressa toda é por que está louca para me dar? — provoco,
vendo-a mirar em mim.
— Não é sempre que um cliente sabe foder bem, então tenho que
aproveitar o máximo.
Quase me engasgo com a sua sinceridade.
— Uau, isso sim que é um elogio de qualidade — digo. Ela ri
baixinho e volta a se concentrar na minha camisa. — Vou te ajudar a se livrar
das minhas roupas, porque sei que é isso que você quer, me ver nu. —
Afasto-me dela e tiro a peça. Milena sorri de lado e se senta no sofá,
cruzando as pernas e fazendo um gesto com a mão para que eu desça a calça.
— Preciso de mais, sr. Vilela. — Seus olhos claros estão escurecidos,
a malícia em sua voz faz meu pau engrossar e ficar apertado na cueca.
— E do que precisa? É só pedir que eu dou, loirinha. — Meu tom sai
baixo, mas suficiente para que ela ouça.
— Tire o resto da sua roupa e depois venha até mim, e eu te mostro
do que precisamos — me inclui, mirando no volume em minha calça.
A primeira peça que tiro é o cinto, e jogo no colo dela, que sorri e o
põe em volta do seu pescoço. Depois, abro o botão da calça, desço-a com a
cueca, que cai nos meus tornozelos, então chuto tudo para o lado, ficando
completamente nu. Em passos lentos, paro bem perto dela. Meu membro
duro aponta na sua direção e Milena lambe os lábios como se estivesse
saboreando algo muito gostoso, antes de erguer o rosto para mim.
— Eu ainda não chupei o seu pau, por isso, vamos começar por ele —
diz, determinada a me tirar de uma vez a sanidade.
Ela leva o seu corpo mais para a frente e toca nas minhas coxas,
afundando as unhas ali. Em resposta à sua provocação, empurro o quadril
para a frente e meu pau, que pulsa descontroladamente por ela, bate no seu
queixo.
— Podemos fazer isso agora mesmo, ele é todo seu. — Minha
excitação suja a sua pele branquinha e macia.
— Gosto da ideia de ele ser todo meu. — Uma mão massageia minha
coxa esquerda junto a unhas afiadas e vai subindo ao encontro da minha
virilha. Minha respiração já não é a mesma com o seu toque nada
despretensioso. — Como você gosta de ser chupado, Gabriel? — Sua mão
envolve meu pau.
Não me recordo de ela ter alguma vez me chamado pelo primeiro
nome, mas a porra sai tão excitante dos seus lábios safados que preciso soltar
um gemido quando começo a ser masturbado com maestria.
— Me mostre como você gosta de chupar... — murmuro, ofegante
com sua mão fechada ao meu redor.
— Com prazer. — Ela bate a punheta em mim com velocidade, e é
necessário que firme meus pés no chão para aguentar o caralho da
intensidade que coloca.
Sem que eu espere, Milena abocanha meu pau, suga-o apetitosa, e eu
solto um gemido alto e rouco ao jogar a cabeça para trás por alguns segundos.
Agarro o seu cabelo pela nuca e movo meu quadril, fodendo a sua boca com
rapidez. Ela quase se engasga, então reduzo os movimentos ao sentir que
estou quase lá.
Milena eleva os olhos até os meus e me chupa, dessa vez usa a língua
e passa por toda extensão, antes de voltar a me abocanhar com fome.
— Ahh, que boca... Eu vou gozar, loirinha. — Gemendo e com a
respiração acelerada, sinto um formigamento forte da cabeça aos pés.
Mesmo com meu aviso, a mulher continua sugando meu pau. Sinto
minhas entranhas apertarem com fisgadas e um gemido animalesco sai da
minha garganta. Gozo forte e duro na boca dela, a libertação é deliciosa, mas
não mais que vê-la engolir cada gotinha do meu sêmen sem reclamar.
— Estou aprovada no boquete? — pergunta, batendo os cílios longos
e limpando os cantos dos lábios depois de me dar o melhor boquete da minha
vida.
— Mais do que isso. — Inclino-me, pegando meu cinto que ainda está
no seu pescoço e o fechando ali, transformando em uma coleira.
— Agora vai me pedir para andar de joelhos, sr. Gabriel? — Encara a
ponta do cinto que seguro.
— Loirinha, de joelhos você só fica se for para me chupar. O que
pretendo fazer com você é muito diferente do que imagina. — Mordo os
lábios, puxando-a com a coleira improvisada para cima. Nossas testas se
grudam e ela geme manhosa.
— Eu sou uma pessoa que tem a cabeça muito fértil, adoro imaginar,
mas dou preferência à realidade, então me mostre o que vai fazer comigo. —
Põe a língua para fora e lambe minha boca.
— Gosta de brinquedos? Comprei alguns para judiar da sua
bocetinha.
Ela ofega com a minha fala e sua respiração quente bate no meu rosto.
— Eu amo... Tanto que tenho um pênis de borracha e me masturbo
quando estou em casa. É uma delícia.
Meu corpo inteiro fica quente.
— E se eu disser que quero ver como você faz para gozar sozinha? —
Afasto-me dela e olho em seus olhos.
— É só me pedir... — Então agarra meu pau e o massageia.
— Eu quero que você se masturbe na minha frente, Milena, e goze
para mim — peço, baixo e rouco, quando ela para de me tocar.
— Com os dedos ou...?
— Com um dos brinquedinhos que comprei — eu a interrompo,
tirando o cinto do seu pescoço e o jogando no sofá.
— E o que você comprou? — pergunta, curiosa.
— Está lá no quarto, me acompanhe que eu te mostro. — Afasto-me
dela, pronto para conduzi-la até o quarto.
— Só um instante.
Seu tom é tão sensual que preciso olhá-la por cima do ombro. Sou
surpreendido por ela quando tira o vestido do seu corpo, ficando apenas de
calcinha vermelha e rendada, e com os mamilos à mostra.
Ousada e quente. Essa é a definição que tenho para ela.
— Assim é bem melhor — concordo, sorrindo cínico.
Ela vem na minha direção, rebolando o quadril. Direciono-me para o
quarto e ela me segue. Entro no quarto primeiro, com ela vibrando logo atrás.
— Você realmente tem um bom gosto, esse lugar é o paraíso de tão
lindo.
Ouço seus passos se aproximarem. Ela me abraça por trás e morde
minhas costas, então desce as mãos por minha barriga e segura meu pau.
Ela está deslumbrada com a decoração padrão do hotel – clássica e
luxuosa.
— Ainda vamos ter muito tempo para falar do quanto você achou
aqui lindo, mas neste momento meu único desejo é outra coisa. — Tiro sua
mão de mim e viro-me para ela. — Eu quero que você tire a calcinha e se
deite ali, de barriga para cima — digo, apontando para a cama king-size com
lençóis brancos.
O peito de Milena sobe e desce com a minha orientação. Ela assente e
leva as mãos à única peça que resta em seu corpo e desliza para baixo, me
dando a visão da sua boceta depilada. A loira passa a calcinha por uma perna
e depois pela outra. Com o pedaço de pano na mão, ela tem a petulância de
jogar no meu rosto, em seguida, passa por mim e se deita na cama. Pego o
tecido e levo para perto do meu nariz, inspirando a essência de chocolate.
É uma delícia.
— Estou te esperando, Gabriel — diz, soando inocente. Então viro-
me, tendo a visão da mulher esbelta deitada de barriga para cima no colchão.
— Não vai me mostrar os brinquedos que comprou? — Ela junta os dedos
indicador e o médio, levando-os à boca e os chupando sem tirar os olhos de
mim; depois, abre as pernas, me revelando a sua vagina.
O líquido escorre por suas dobras e eu preciso ser muito forte para
reprimir o gemido ao vê-la levar os dedos que molhou até seus lábios
vaginais e começar a movimentar ali, se masturbando. Ela joga a cabeça para
trás, arqueando as costas e se arreganhando mais ao enfiar os dedos dentro da
boceta. Estou quase caindo na tentação em bater uma assistindo à cena,
porém, uso o pingo de autocontrole que me resta.
Sem querer que a loira goze do jeito que está se tocando, vou até o
móvel ao lado da cama e pego as sacolas do Sex Shop. De lá tiro um vibrador
embutido a um sugador de clitóris, uma algema e um pênis de borracha.
— Pare de se tocar, loirinha, tenho algo melhor para você — digo,
mirando a mulher que geme manhosa ao encarar-me com os olhos brilhando.
— Qual você prefere? — Ergo os objetos.
— Esse... — Aponta para o cor de rosa, o que tem o sugador.
Sabia que ela iria escolher esse.
Com o pau ereto e latejando, assinto e guardo somente o pênis de
borracha.
— Esse brinquedinho aqui vai ficar enfiado em você, mas enquanto
isso, vou chupar os seus peitos e beijar a sua boca, está me ouvindo? —
inquiro.
Ela balança a cabeça e encara o meu membro que está babando por
ela.
— Aham... E o que vai fazer com essas algemas? — pergunta, sua
respiração falha e eu noto.
— Vou prender os seus pulsos enquanto o vibrador te come, você
quer? — questiono.
Milena concorda, então entrego o objeto rosa para ela. Abro as
algemas e guardo as chaves na mesa de cabeceira para libertá-la depois.
Por livre e espontânea vontade, ela junta os pulsos para que eu os
prenda. Subo na cama e fico entre suas pernas. Assim que a prendo, jogo seus
braços para o alto da sua cabeça, e ouço o seu ofego ao me ver pegar o
vibrador.
— Abra mais as pernas, quero você toda arreganhada — falo e ligo o
objeto, conduzindo-o até a sua boceta molhada. Vagarosamente, eu a penetro
com o vibrador, que é engolido por seu buraquinho encharcado e guloso.
— Ai... Ai... Q-que g-gostoso... — geme, rebolando ao sentir o objeto
ser enfiado até o final para dentro dela. Depois encaixo o sugador de clitóris e
a mágica acontece, arrancando gemidos altos da sua boca.
Deito-me por cima do seu corpo e apoio meu peso nos meus
cotovelos, depois, inclino meu rosto para perto do seu e beijo a sua boca,
engolindo os seus gemidinhos de prazer que sente ao ser fodida pelo
vibrador.
Um beijo que iniciamos lento se torna em poucos segundos
avassalador. Eu sugo a sua língua e ela a minha, dou lambidas, chupo, mordo
seus lábios e sou retribuído na mesma intensidade.
— E-eu... V-vou g-gozar... — ameaça Milena, contra minha boca,
enquanto meu pau cutuca a sua barriga.
Pois não vai, se for para gozar, vai ser no meu pau. Afasto-me dela,
que se contorce por inteira, e tiro o vibrador da sua boceta, jogando-o no
canto. Mesmo que resmungue, não permito que um objeto tire o que por
direito é meu – seu gozo.
— Fique de quatro para mim e empine bem a bunda — mando, saindo
de cima dela. Inclino-me para o lado e pego as chaves das algemas para soltá-
la, e assim que a libero, eu a vejo se posicionar como havia pedido.
Levanto-me da cama, vou até as sacolas novamente e vasculho até
encontrar o plug anal de silicone e o lubrificante. Antes de retornar para ela,
procuro o preservativo na gaveta e só depois me ponho atrás da mulher que
está toda empinada para mim, com o rosto apoiado no travesseiro.
— Já usaram um plug anal no seu cuzinho, Milena? — questiono,
abrindo o frasco de lubrificante sabor de mel e embebendo o plug.
— N-n-nuca... Já fiz anal, só que nunca foi prazeroso, sempre feito
com brutalidade — diz, baixinho, envergonhada.
Limpo a garganta, quase incomodado com a resposta.
— Hoje não vou comer o seu cu, mas vou colocar o plug nele
enquanto fodo a sua boceta, o.k.? — aviso, notando que ela relaxa mais.
— Uhum... O.k. — responde.
Com uma mão, massageio um lado da sua bunda levemente para que
se sinta segura ao meu toque, enquanto com a outra introduzo um dedo
molhado com um pouco de lubrificante no buraquinho, abrindo-o. Notando
que está com a musculatura apertada, peço que relaxe porque não vou
machucá-la. Milena me atende e eu aproveito para posicionar o brinquedo no
seu ânus.
— Ahh... — geme.
— Doeu? — indago, gentilmente, mas no fundo estou louco para que
peça logo para enfiar o meu pau nela.
— N-não... É bom, agora vem e me fode. — Move o rabo gostoso
para mim.
Decido molhar mais a sua boceta, derramando um pouco do
lubrificante na palma da mão e passando por todo seu sexo. Inclino-me e
encosto meu rosto na sua vagina escorregadia com cheiro de mel e lambo
suas dobras, enfiando a língua lá dentro. Quando ela se contrai, abocanho o
seu clitóris e sugo avidamente.
Milena empurra a sua bunda no meu rosto e rebola, me deixando
submerso em toda aquela baba, mas eu continuo chupando e sentindo meu
pênis inchar ainda mais. Lambo-a apetitosamente, enquanto a loira geme e
fica arrepiada com a minha barba arranhando a sua pele.
— Ahhh... — grita a mulher.
Noto que sua mão se direciona até a sua bocetinha, que escorre a
excitação pelas pernas. Ela tenta se masturbar, mas afasto sua mão para longe
e volto a me pôr atrás dela, pegando o envelope do preservativo e o abrindo.
— Nada disso, loirinha, você só vai gozar no meu pau, eu estava
apenas te aquecendo — digo, salivando, quase fora de controle.
— Pois não demore, estou me sentindo como uma cadela no cio,
maluca para te dar — comunica, se empinando mais e me olhando por cima
do ombro enquanto visto a camisinha.
Levo uma mão ao seu quadril e a outra seguro firme meu pau,
esfregando-o na sua entrada, me lambuzando com os seus fluidos que
gotejam pelos lábios rosados. Empurro devagarinho só a cabeça e ela chia,
abrindo as pernas como se estivesse me pedindo por mais, então me afundo
nela, dando estocadas duras em sequência.
— Ah, caralho... — urro, com meu pau latejando dentro da sua
bocetinha.
Eu soco fundo, ouvindo seus gemidos altos com a respiração já
ofegante.
— Isso, assim, assim... Ahhh — grita, escandalosa.
Fecho mais a minha mão em seu quadril, enquanto ela agarra o
travesseiro e esconde o rosto nele para abafar o gemido. Eu me curvo sobre
seu corpo, agarrando o seu cabelo em um punhado e a trazendo para mim,
deixando-a de joelhos também. Sem parar de fodê-la, deslizo a mão livre no
seu mamilo e o aperto, em seguida, beijo o seu pescoço suado e Milena
treme, rebolando no meu cacete, adorando a minha pegada forte. Mesmo com
os meus joelhos já doendo, continuo na posição, comendo a sua bocetinha
apertada.
— E-eu... Q-quero g-gozar olhando em seus olhos. — O seu pedido é
inusitado, mas estou disposto a ceder porque também quero ver a expressão
do seu rosto quando eu estiver lhe dando um orgasmo.
Saio de dentro dela com muita dificuldade. Ela solta um grunhido
quando tiro o seu plug anal e o jogo no móvel ao lado, então me arrasto até a
cabeceira da cama, apoiando minhas costas ali. A loira engatinha na minha
direção com os cabelos desgrenhado e as bochechas coradas, noto que as
pupilas estão dilatadas e a cor verde dos seus olhos se encontra em um tom
mais escuro. A mulher lambe os lábios ao apoiar as mãos nas minhas coxas e
mirar no meu pau duro. Certamente, se ele não estivesse coberto por um
preservativo, ela o abocanharia com vontade.
— Eu o chuparia nesse momento... — Ergue os olhos até os meus e
eu toco o seu rosto.
— Não, neste momento te quero por cima de mim, me esfolando com
essa boceta — murmuro, deslizando o dedo indicador em seus lábios. Ela os
abre, chupando-o lentamente. — Venha se sentar no pau e gozar nele, minha
putinha deliciosa. Eu te quero de frente para mim, batendo seus peitos na
minha cara enquanto fodemos. — Um calor sobe por meu corpo, minha
pulsação aumenta a cada segundo que ponho os olhos nessa mulher.
— Como quiser, sr. Boca porca... — Milena vem e acomoda uma
perna de cada lado no meu quadril, então se apoia nos meus ombros e me
arranha de leve. Deslizo as mãos por sua bunda, dando-lhe um tapa e a loira
sorri safada. — Ai... sr. Vilela — geme, ao receber outro tapa.
— Calada e faça o seu trabalho. — Meu tom grosso a excita, ela
ofega e lambe os lábios.
— Qual é o meu trabalho? — pergunta, manhosa, descendo os olhos
até meu membro.
— Me dar essa boceta até ela ficar inchada e dolorida — murmuro,
segurando o seu pescoço com uma mão e trazendo seu rosto para mim.
Quando roço nossas bocas, Milena se derrete.
— Ah, eu quero muito fazer o meu trabalho agora. — Pega no meu
pênis e ergue o quadril, logo está esfregando o seu sexo no meu, me
provocando. Correspondendo aos meus anseios e os dela, eu a puxo para
baixo e a penetro. E assim nos tornamos um só.
Abraço as costas da loira com uma mão e a outra agarro a sua bunda.
Enquanto ela sobe e desce em mim, começo a chupar seus mamilos
alternadamente. Sinto meu corpo vibrar com leves choques, proporcionando-
me sensações únicas.
Quanto mais chupo seus peitos, mais ela se arreganha e cavalga em
mim. Nossos corpos, em resposta ao nosso exercício, começam a dar sinais
de um vasto orgasmo. Os pingos de suor descem por suas costas e molham
meus dedos. Começo a me movimentar junto a Milena em um vaivém
delicioso, e a cada estocada sinto que vou entrar em erupção. Meu coração
bate acelerado e um gemido estrangulado fica preso na minha garganta.
— Aiii... Ser fodida por você é bom... Muito... Ahhh — diz ela, em
um estado de deleite violento.
Por mais que Milena seja paga para fazer sexo, sinto verdade em suas
palavras. Em nenhum momento, quando esteve comigo, fingiu prazer, ela
realmente encontrou em mim o que jamais teve com outros. Eu sei quando
uma mulher está fingindo, e a loirinha não está.
Notando que ela vai gozar, esfrego dois dedos em seu clitóris e a
mulher deita o seu corpo no meu. Eu começo a beijar o seu pescoço molhado
e sua orelha, dando uma mordidinha na sua pele antes de ela rebolar
sofregamente.
— Você disse que queria gozar me olhando nos olhos, então olhe para
mim — peço, rouco, quase explodindo em um orgasmo vigoroso.
Ela atende ao meu pedido e nossos olhares se encontram em meio a
bolha ardente entre nós. Milena morde os lábios carnudos e chama por meu
nome sem quebrar o nosso contato visual. Animalesco e sentindo-me
possessivo com a cena, seguro em seu pescoço e trago o seu rosto para perto
do meu, tomando a sua boca para um beijo.
Nossas línguas se movimentam uma contra a outra de uma maneira
desordenada, então sugamos os lábios do outro com ferocidade, intercalando
com gemidos e soluços de prazer. Quando o clímax vem, não sei quem goza
primeiro, porque ambos estamos trêmulos, arfantes e bebendo, através de um
beijo lento, cada gota do êxtase alcançado.
Capítulo 07

Não sei exatamente quantas horas levamos para explorar cada canto
dessa suíte, mas Gabriel e eu conseguimos aproveitar bem dos móveis às
paredes brancas de decoração clássica. Transamos como dois loucos, só
paramos quando nos sentimos saciados. A fome que estávamos pelo outro era
intensa a ponto de nos tornarmos dois coelhos por algumas horas.
Nossa aventura termina às dez da noite. Durante a pausa que fazemos,
ele pede o jantar no quarto e ainda temos direito a um mordomo para nos
servir. Comemos e bebemos algumas taças de vinho – nada que possa nos
embriagar — e logo retornamos para cama, mas não duramos muito, porque
somos pegos pelo cansaço.
Um tempo depois, Gabriel me convida para me juntar a ele na
banheira e eu aceito na hora, lógico que não perderia a oportunidade de
aproveitar cada segundo nesse hotel luxuoso e de ficar mais um pouco em
seus braços.
— Você está tão calada, estou estranhando. — Escuto a risadinha
baixa dele no pé do meu ouvido e fico arrepiada.
Estamos sentados na banheira – ele está atrás de mim, e eu com as
costas apoiada em seu peitoral. Enquanto Gabriel lava meus braços com a
espuma, eu observo o mar, as ondas indo e voltando, através da janela de
vidro ao nosso lado.
— Estou apreciando a vista... — respondo, olhando dessa vez para as
lindas estrelas que brilham no céu.
— Com uma vista maravilhosa dessas atrás de você? — diz,
brincalhão, me fazendo rir.
— Adoro a sua autoestima, sr. Vilela. — Mordo os lábios e o olho por
cima do ombro.
— Tenho de sobra — responde, ostensivo.
— Hum, exibido... — digo, bem-humorada, arrancando uma
gargalhada dele.
— Só um pouco — retruca, divertido.
Ele lava meus ombros, depois a minha barriga, então vai subindo até
chegar ao meus peitos, e com os dedos acaricia meus biquinhos que
enrijecem com o seu toque.
— Ama me provocar com esses toques inocentes, não é?
Em resposta, ele beija meu pescoço, enquanto seu pau está cutucando
minhas costas.
— Não tenho culpa se você é tão gostosa a ponto de não me permitir
ficar longe por muito tempo. — Arfo com as suas palavras e com a sua mão
boba deslizando para o meio das minhas pernas.
De repente, um acontecimento de dias atrás explode em meus
pensamentos. Talvez pareça bobagem, mas vê-lo soar tão convicto do que diz
sobre gostar de estar comigo – mesmo que não use essas palavras – me faz
querer questionar o motivo de ter me rejeitado naquela noite.
— P-p-osso t-te fazer uma pergunta? — Meu tom deveria sair sério,
mas é impossível com ele dedilhando a minha boceta.
— Faça — diz, perto da minha orelha, me causando arrepios com o
seu hálito morno.
— Na noite em que nos conhecemos, você realmente não gostou de
mim e por isso pediu outra? — inquiro, gemendo baixinho.
— Por que a pergunta? — Sua voz sai em uma calmaria
surpreendente.
Viro-me para ele e o encaro. Seus olhos azul-claros estão mais
escuros e sua boca está curvada em um sorrisinho irritante. De joelhos na
banheira, apoio-me em suas coxas e inclino-me sobre seu corpo,
aproximando nossos rostos.
— Me senti profundamente ofendida com a sua desfeita, e quando
soube o “motivo”, foi pior ainda — acrescento, e ele ergue a sobrancelha.
— Não imaginei que ficaria tão afetada. — Gabriel olha diretamente
para a minha boca e umedece seus lábios.
Lógico que eu fiquei abalada, mas não pela razão que ele deve estar
imaginando – seja lá o que for. É o meu trabalho, levo muito a sério minha
profissão, e ser desprezada daquele jeito foi uma merda. Mas a parte pior foi
ter minha cafetina me acusando de ter feito um serviço meia-boca e deixado o
cliente insatisfeito a ponto de ter pedido outra garota que supostamente
conseguiu suprir as necessidades dele.
— Só fiquei irritada por quase ter saído no prejuízo. Naquela noite,
tinha acabado de fechar a minha agenda e... — Mordo a língua e me afasto
dele ao perceber que estou falando demais. Os clientes não podem saber dos
assuntos particulares das garotas do clube, desde o início ficamos cientes de
sermos discretas em qualquer questão.
— E o quê? — Vasculha meu rosto com os olhos semicerrados.
— Só fiquei chateada pelo fato de que você fugiu de mim e eu só
perdi minha noite — desconverso e encolho os ombros, em seguida, levanto-
me na banheira e Gabriel me observa atento. — Será que já podemos sair da
água? Estou ficando com frio. — Abraço meu corpo e miro a janela extensa
de vidro.
— Claro.
Fico grata por ele concordar, pois poderia me dar outra resposta.
Sou a primeira a deixar a banheira. Encontro a toalha dentro da gaveta
de um dos armários. Gabriel faz o mesmo, então seguimos para o quarto.
Assim que me sento na cama, pego a minha bolsa que deixei mais cedo ali.
Eu trouxe três peças de roupas e conjunto de biquíni. Sempre que os clientes
me pedem serviço fora do clube, costumo levar alguma peça por precaução.
Mexendo na bolsa procurando pela camisola, vejo Gabriel se pôr na
minha frente. Subo os olhos lentamente e noto o volume do seu pau na toalha
branca que está enrolada no seu quadril.
— Se está procurando por roupa, pode parar, você não vai precisar
delas quando estiver em um quarto comigo — diz, ficando muito próximo de
mim, mais um passo vai esfregar o seu abdômen malhado no meu rosto.
Antes que eu responda, ele se inclina e com uma mão toca em meu
queixo, erguendo-o.
— Loirinha, nesses dias que estaremos juntos, roupa será a menor das
suas preocupações. Só vai precisar usá-las quando estiver na rua, fora isso, te
quero sempre nua para mim. — Aproxima o rosto do meu e roça nossos
lábios, então uma quentura sobe por meu corpo. — E eu odeio dormir
vestido, recomendo que você faça o mesmo, porque quando eu for te
procurar, já vai estar pronta para receber o meu pau na sua bocetinha — diz,
contra a minha boca, que formiga com o contato macio dos seus lábios.
Gabriel está prestes a me beijar, mas viro o rosto com a menção do
seu pedido de exclusividade. Eu não beijo em meu trabalho, quem me
contrata sabe disso, mas ele está sendo a minha exceção. Porém, por mais que
adore nossos momentos, é perigoso demais quebrar uma regra que criei,
então, de agora em diante, será válida para o sr. Vilela também, afinal, regras
são regras e servem para todos.
— Precisamos esclarecer uma coisa. — Toco no ombro dele e o
afasto.
— Fale — pede, sério.
— Eu não quero que você me beije mais. Lembra que eu disse na
primeira vez que era algo muito íntimo? — Gabriel assente, alternando os
olhares entre minha boca e meus olhos. — Você é o primeiro cliente que eu
permito que me beije, Gabriel, mas isso vai terminar hoje. Vamos parar por
aqui antes que isso vá longe demais — digo, determinada.
Ele fecha o rosto e bufa irritado, parecendo não acreditar nas minhas
palavras. Gabriel passa mão na barba, em seguida, me encara com a
expressão de puro escárnio. Sem entender, remexo-me no colchão tentando
controlar o frio que bate no meu estômago.
— Só porque eu gosto de beijar não quer dizer que estou querendo me
envolver emocionalmente com você. Conhecemos os nossos limites,
principalmente eu — retruca, com grosseria. — E eu posso saber por que isso
agora? Já nos beijamos tanto que nem dá mais para contar nos dedos. —
Demonstra indignação.
— Eu já te disse a razão! Não quero me envolver. Você é meu cliente,
tem a sua vida fora dessa bolha que estamos vivendo e eu tenho a minha
também... E beijos não estão inclusos no nosso acordo — argumento.
— Eu pago por seus beijos, me fale o valor e eu faço agora mesmo a
transferência para a sua conta. Dinheiro não é um problema.
Esbugalho os olhos com o seu tom imperativo.
Ele quer pagar para me beijar? Estou ouvindo mesmo isso? Limpo a
garganta e fito-o, completamente perplexa.
— Meus beijos não estão à venda, sr. Vilela — falo, decidida.
— A sua boca não está à venda, mas a sua boceta está? Se eu quisesse
trepar sem emoção, compraria uma boneca inflável — resmunga, grosseiro.
— Sim, isso mesmo. — Empino o nariz, mesmo com o coração
batendo acelerado só pelo fato de o homem ter ficado enraivecido por eu ter
negado beijá-lo.
— O.k., sem beijos, Milena. — Assente, quase em um rosnado, e vai
para a sala de estar em passos duros.
Levanto-me e tiro a toalha do meu corpo antes de ir atrás do Gabriel.
Eu o encontro sentado no sofá, com o celular nas mãos, tão concentrado no
que está fazendo que nem ergue o rosto. Sua expressão é dura e o seu maxilar
está cerrado. Ele digita algumas coisas raivosamente e solta alguns
resmungos, depois joga o celular no canto e passa a mão por seu cabelo
asperamente.
— Está tudo bem? — ouso perguntar, dando passos na sua direção.
Só assim ele me nota, e ao me ver nua não expressa nenhuma emoção.
— Sim. — A resposta é curta e severa.
— Você parece tenso — murmuro, ficando na sua frente.
— Impressão sua. — Respira longamente e coça a barba.
— O.k. — Dou-me por vencida, mas ao invés de deixá-lo sozinho
com o seu mau humor, sento-me em seu colo e ficamos de frente um para o
outro. — Quer uma massagem para relaxar? — Toco em seus ombros e o
massageio.
Ele, por sua vez, fecha os olhos e suspira como se estivesse cansado.
— O que eu quero você não vai me dar e nem vender — fala, como se
fosse um garotinho malcriado, deslizando as mãos quentes até o meu quadril.
— Céus, você está se comportando como uma criança birrenta por
causa de um beijo! Qual a sua idade, bebezinho?! — Rio baixinho, fazendo
uma pressão leve e consistente em seus músculos.
— Sou oito anos mais velho, a única bebezinha aqui é você. — Pisca
para mim.
Faço cálculos da diferença entre nós. Chego à conclusão de que quase
acertei sua idade. Arrisquei trinta, mas ele tem trinta e um.
— Devo encarar isso como um elogio? — Arqueio a sobrancelha,
mas logo um gemido involuntário sai da minha boca quando ele desliza uma
mão para a minha virilha e faz caminho até minha boceta.
— Deve.
Um suspiro sai trêmulo de mim quando ele massageia o clitóris com o
polegar, enquanto me penetra com outros dois dedos.
Choramingando baixinho, movo-me em seu colo, com a sensação de
estar encharcada. Seu pau logo endurece por baixo do tecido da toalha. Os
seus dedos me penetram fundo e rápido, e eu curvo minha coluna, oferecendo
meus peitos para que chupe. Gabriel me mama, alternando entre eles,
esfomeado, enquanto vai fazendo vaivém na minha vagina.
— Ahh.... — Ensopada de tanto tesão, libero meus gemidos de prazer
e rebolo me esfregando nele. Instintivamente, eu o abraço pelos ombros,
escondo meu rosto na curva do seu pescoço e afundo meus dentes na sua
pele, deixando ali uma mordida.
De olhos fechados, aos poucos vou reduzindo os movimentos do meu
quadril ao sentir leves choques por meu corpo, em questão de segundos, caio
em espasmos.
Alguns minutos se passam e nós continuamos na mesma posição. Eu
me remexo no seu colo e percebo que ainda tem uma ereção, então afasto-me
dele pronta para dizer que posso aliviar o seu tesão, porém, o seu celular
começa a tocar ao lado.
— Vá dormir, já é tarde. Amanhã iremos acordar cedo, temos uma
viagem para fazer até Búzios. — Meu coração erra a batida com a menção ao
lugar que a minha família mora.
Como assim iremos para lá? Era Arraial do Cabo. A cor foge do meu
rosto, e, em choque, saio do colo de Gabriel, que está neste momento vidrado
em seu celular que não para de tocar.
— Como assim? Eu não estou sabendo dessa...
— Tenho a sua exclusividade, Milena. Se eu precisar que atravesse o
oceano comigo, você tem que vir. Agora preciso atender a esse telefonema,
vá para o quarto — me interrompe, com o humor já azedo.
— Mas eu não trouxe roupa adequada para uma viagem — digo, sem
conseguir controlar o desespero na minha voz.
E se minha mãe me vir? O que vou dizer a ela? Com os joelhos quase
falhando e os olhos ardendo, tento controlar o sufoco que preenche meu
peito.
— Será algo rápido. Vou a negócios e quero a sua companhia,
acredito que a roupa que veio mais cedo sirva ou alguma peça que você
trouxe — fala, levantando-se.
— P-pela manhã, posso buscar algo mais apropriado na minha casa
— sugiro, gaguejando.
Até trouxe duas peças de roupas elegantes caso ele me chamasse para
jantar em um dos restaurantes do hotel, mas, na realidade, o que quero
mesmo é encontrar uma forma de fugir dessa viagem.
— Você vai com o que trouxe, sem discussão. Agora me dê licença.
Em vez de eu sair, quem sai é ele, com toda a sua atenção depositada
no telefone, seguindo até a varanda e fechando a porta de vidro.
Céus. O que vou fazer? Praticamente uma bomba foi jogada em meu
colo sem que eu estivesse preparada.

∞∞

Passo quase que o restante da noite em claro, uma vez que meus
pensamentos se encontram atribulados pela notícia da viagem. Quando
consigo dormir, o sol está nascendo, e ao acordar por volta das oito, não
encontro Gabriel na cama, apenas um bilhete ao meu lado dizendo que ele
saiu para falar com o piloto.
Sem ter o que fazer, peço café no quarto e me acomodo no sofá,
procurando um livro para ler no aplicativo do Kindle. Às vezes, quando tenho
tempo e estou em casa, leio alguns e-books para me distrair, e é o que estou
fazendo agora por estar me sentindo entediada.
Com o celular em uma mão, começo o capítulo seguinte e as
primeiras linhas me deixam boquiaberta. A mocinha descobriu que o cliente
gostosão com quem ela tinha dormido anos atrás e a engravidou é o pai da
melhor amiga.
As batidas na porta me tiram a concentração da leitura. Soltando um
resmungo, levanto-me e deixo o celular no sofá. Quem será? Será que
Gabriel está esperando por alguém?
Antes de dirigir-me até a porta, avalio minha roupa e agradeço por ter
vestido algo adequado. A cada passo que dou, as batidas se tornam
constantes. Com os olhos semicerrados, toco na fechadura e, assim que abro,
deparo-me cinco pessoas superelegantes, só faltando estar escrito “luxo” na
testa deles. Acho que bateram na porta errada. Prestes a desfazer o mal-
entendido, uma mulher alta, negra e muito bonita sorri abertamente para mim.
— Milena Albuquerque? — pergunta a desconhecida, analisando-me
dos pés à cabeça, enquanto faço o mesmo ao notar que todos eles têm várias
malas nas mãos.
— Depende... Quem são vocês? — indago, desconfiada.
— O sr. Vilela nos enviou. Eu me chamo Vanessa, e essas pessoas
aqui são a minha equipe — diz a mesma mulher que sorriu para mim. —
Danilo, Maria, Joana e Denise. — Ela aponta para cada um, que acena para
mim.
Se o sobrenome do Gabriel não tivesse sido mencionado, com certeza
estaria ainda paranoica, porque nunca vi essas pessoas em minha vida.
— Bom dia, é um prazer — digo, gentilmente, fitando-os, curiosa por
eles carregarem tantas malas. — Por que ele enviou vocês? — Mordo os
lábios, encostando-me no umbral da porta.
— Viemos te auxiliar em algumas coisas a pedido dele — diz
Vanessa, animada. Em seguida, a sua equipe se afasta e ela também.
— Com o quê? — Enrugo a testa e fico sem entender por alguns
segundos, até que vejo duas pessoas arrastarem uma arara de roupas e
pararem perto da porta.
— Nos deixe entrar que vou nos apresentar direito a você — pede
Vanessa.
Mesmo receosa, dou espaço para que entrem com a arara de roupas.
Como Gabriel pode ter me enviado essas pessoas sem avisar? Mas
como avisaria, se nem temos o número do outro? Quer dizer, normalmente
quando estou exclusiva de algum cliente, ele me dá algum contato para que
possamos nos falar, só que Gabriel não me deu nenhum número.
Meio atordoada com esses desconhecidos, eu os observo. Vanessa se
aproxima de mim e se põe ao meu lado, enquanto as pessoas que ela me
apresentou formam uma fileira, cada um com suas malas em uma postura
elegante. O jeito como estão me faz lembrar aquelas cenas de filmes em que
os ricos têm muitos empregados, e quando precisam dar alguma ordem, ficam
assim.
— Pela sua expressão, imagino que esteja um pouco assustada com a
nossa chegada. Mas não se preocupe, porque somos profissionais, os
melhores da nossa área — fala a mulher, que pelo visto é a chefe.— O Danilo
é o nosso cabeleireiro, a Maria, a manicure, Joana, a maquiadora, eu, a
personal stylist. E a Denise é a minha assistente. Estamos aqui para te dar um
dia de princesa, como fora solicitado pelo sr. Vilela.
Arregalo os olhos quando a ouço terminar de falar.
Mas ele me disse ontem...
Meu celular começa a tocar no sofá, então peço licença a todos e vou
pegá-lo. Na tela, brilha um número desconhecido, e para ter mais
privacidade, sigo para a varanda e atendo a ligação.
— Quem é? — pergunto, olhando o mar e as pessoas que passeiam
pela praia, mesmo com o sol escaldante.
— Sou eu, o Gabriel.
Meu coração erra a batida ao reconhecer a sua voz, e seu tom rouco
faz meus joelhos estremecerem.
— Como conseguiu meu número? — Limpo a garganta, controlando-
me para não gaguejar.
— Bastaram algumas ligações — se vangloria, e eu quase reviro os
olhos. — Enviei algumas pessoas para você, já chegaram aí? — pergunta, já
sério.
— Uhum, sim. — Passo a mão por meu cabelo, jogando-o para trás
quando o vento bate sobre ele e o bagunça.
— O.k., você está em boas mãos — assegura-me.
Eu viro-me na direção da sala de estar e vejo que os profissionais
estão se mobilizando, tirando algumas coisas das malas.
— Mas não íamos sair cedo? Mudou de ideia? — Arrisco-me a
perguntar.
Será que ele desistiu de viajar para Búzios? Espero que sim... Lá é o
lugar que eu menos gostaria de ir com um cliente.
— Ainda vamos para Búzios, Milena.
— E precisava de tanta gente assim para me ajudar com algo que eu
poderia fazer se me deixasse ir até a minha casa pegar minhas coisas? — Sei
que estou dificultando as coisas, mas quero entender qual a sua intenção.
— Você é minha por alguns dias, é minha responsabilidade agora.
Não vejo necessidade de você se deslocar para a sua casa, sendo que posso
trazer profissionais até você — retruca, como se estivesse impaciente. —
Pedi a Vanessa que trouxesse algumas joias para você escolher a que
desejar. Se cada uma delas for do seu agrado, fique com tudo, assim como as
roupas e sapatos. Não se preocupe com valores, tudo será pago por mim,
nada sairá do seu bolso — fala com uma naturalidade absurda. Lógico que
ele não vai se importar com valores, ele é um magnata.
— T-tudo bem — gaguejo.
— Daqui a algumas horas eu retorno, mas qualquer coisa que
precisar, é só ligar para a recepção e pedir. — Gabriel nem me espera
responder antes de encerrar a ligação.
Afasto o celular da orelha e encaro a tela, tentada a fazer algo que
jamais achei necessário – pesquisar sobre a vida dos meus clientes. Ligo
meus dados móveis e dou um Google no nome “Gabriel Vilela”. Sem
demora, aparece algumas fotos dele, não muitas. Acho que o mandachuva
não saí muito na mídia, deve ser daqueles empresários reservados.
Só encontro a sua data de nascimento e não há nada falando sobre a
sua família. Porém há algumas informações sobre o seu negócio: ele tem uma
rede de restaurantes chamada Lissol. Já ouvi falar dessa empresa, só não me
recordo se foi em uma revista ou em algum jornal.
Pelo visto, Judite tem razão. O homem é o magnata de uma rede
alimentícia. Seu negócio está no topo, já ganhou muitos prêmios e a cada ano
está se destacando ainda mais para conseguir implantar seus restaurantes em
resorts, hotéis e etc. Chego ao fim da informação que encontrei, que foi bem
básica, mas que me serviu.
Quando eu disse que Gabriel Vilela era misterioso não estava
enganada. É estranho um homem poderoso como ele não ter a sua vida
exposta na internet já que hoje em dia, com a tecnologia avançada, as pessoas
conseguem encontrar o que querem – ou não, já que ele tem influência para
permitir que só saibam o que acha que é necessário.
Retorno para a sala depois de alguns minutos com o rosto queimando
de vergonha por ter vários pares de olhos em mim. Sorrindo, aproximo-me
deles.
— Acho que podemos começar — digo, ouvindo-os comemorar.
— Vamos começar pelas unhas e o cabelo — diz Vanessa, e o
cabeleireiro e a manicure se mobilizam com os seus materiais. — Querida,
sente-se ali. Enquanto estão ocupados, vou te mostrar algumas peças
exclusivas da Gucci, Dolce & Gabbana e a Chanel. — Me indica a poltrona.
Mesmo em choque com as referências das marcas, concordo e logo
eles começam a magia.
Capítulo 08

Ontem à noite, meu pai me ligou para me lembrar dos meus


compromissos em São Paulo, como se eu pudesse esquecer. Pela primeira
vez, ele estava se envolvendo na minha vida pessoal. Chegou a me pedir
desculpas e entendo o seu ponto de vista. Se eu, que estou em outro estado,
me sinto pressionado, imagina ele que está perto do meu maior problema.
Porém ainda não posso retornar até resolver o negócio que tenho pendente.
— Sr. Vilela, qual o endereço? — pergunta o motorista, colocando o
carro em movimento. André trabalha para mim, sempre que preciso viajar
para outros lugares ele vem comigo.
— Copacabana Palace, André — digo, e vejo, através do retrovisor,
ele assentir.
— Sim, senhor.
Estamos saindo da pista privativa. Vim cedo falar com o meu piloto
para saber se a manutenção do jatinho está em dia e se está tudo certo com
nosso itinerário para Búzios. Já havia lhe comunicado essa viagem, mas
sempre, antes de voar para algum lugar, gosto de verificar pessoalmente
como as coisas estão.
Meu celular toca dentro da maleta ao meu lado. Confiro rapidamente
quem está me ligando, e ao notar o nome na tela, deixo tocar até a pessoa se
cansar. Porra! Nem saindo para outro estado essa criatura me deixa em paz.
Puxo o ar para os pulmões e viro o rosto, encarando as ruas da cidade
maravilhosa através da janela. Não sou um homem que foge das obrigações,
mas às vezes, para ter um pouco de sossego, é necessário que algumas coisas
sejam evitadas. Sei o que o meu problema não vai se resolver assim, contudo,
é o que posso fazer por enquanto.
Mais uma vez o celular toca, e dessa vez é o nome do meu pai que
brilha na tela. Aliviado – nem tanto –, eu o atendo rapidamente. Ele não liga à
toa, provavelmente é importante.
— Bom dia, pai — eu o cumprimento, gentilmente.
— Hoje não é um bom dia, filho. Precisamos conversar. — Seu tom é
aflito.
Remexo-me no banco do passageiro ao notar que há algo de errado
com ele.
— É o mesmo assunto de ontem? — pergunto, com um bolo se
formando na garganta.
— Está relacionado. — Suspira, cansado.
— Seja direto, por favor, pai, o senhor não é de fazer rodeios —
murmuro, umedecendo os lábios.
— Soube que está saindo com uma mulher da vida — fala, quase
inaudível.
— Acompanhante de luxo, esse é o nome certo — corrijo-o.
— São só boatos ou é verdade? — inquire, preocupado.
Limpo a garganta.
— As informações chegam rápido.
— Então é verdade? — Tenta saber.
— Como soube? — Minha resposta sai em forma de pergunta.
— Somos pessoas influentes, Gabriel. Você quer o quê? Ontem, um
conhecido me ligou para dizer que viu meu filho em um tal clube de sexo
com o Franco, eu nem soube onde enfiar minha cara! — diz, irritado.
— Pois o senhor deveria dizer para esse colega seu que sou um
homem adulto de trinta e um anos, dono do meu nariz! — resmungo,
revoltado.
— Estou ciente, filho, mas esse não é o problema. Imagina se a
imprensa solta essa bomba? Quer que o nosso sobrenome vá parar na lama
por causa do seu envolvimento com uma prostituta? Eu e a sua mãe não te
educamos para isso. — A voz dele fica ainda mais séria.
Tudo ia bem, até minha mãe ser mencionada. Com os dentes cerrados,
aperto o celular nos meus dedos. Semicerro os olhos ao perceber que meu pai
entendeu que tocou na minha ferida.
— A alta sociedade é muito hipócrita, pai. Eu já saí com muitas
mulheres que não eram acompanhantes, e ainda assim tinha que pagá-las, não
com dinheiro, mas com joias, roupas, algum mimo. Então, te pergunto. Que
diferença faz? Porque elas vêm de famílias importantes? E eu não pago a
porra da imprensa em vão, eles devem abafar qualquer informação que eu
ache necessária sobre a nossa vida, o senhor sabe muito bem disso — retruco
depois de um tempo.
— Não te liguei para discutirmos sobre sua vida pessoal, Gabriel, mas
se me envolvo, é porque me preocupo. E você sabe por qual razão — diz,
chateado.
Trincando os dentes, respiro profundamente para não descontar a
minha frustração nele.
— Pai, está tudo sob controle, acredite — tranquilizo-o.
— Não está, filho. A Isabel tem vindo aqui tirar meus dias de sossego
atrás de você. Hoje já esteve aqui e fez um escândalo na frente de um dos
nossos clientes.
Puta que pariu.
Caralho de mulher infernal.
— Como essa louca ousa ir à sua casa? Eu disse a ela que era para
ficar longe daí! Nós dois não temos nada, nunca teremos. Temos somente
uma merda de um negócio que logo será encerrado! — resmungo, revoltado.
— Você a conhece muito bem, sabe o gênio dela, e mesmo que
sempre deixe claro que é só um acordo, ela não vai deixar de te perseguir,
afinal, tem uma certa obsessão por você. — Lembra-me o que já sei.
— É claro que sei, mas isso vai acabar em breve. — Fecho o punho.
— Gabriel, só peço que se cuide, tente ser mais reservado com essas
suas saídas com a acompanhante de luxo. Temos um sobrenome a zelar —
alerta.
— O.k., pai — digo, para não estender o assunto.
— Outra coisa, não vá se apaixonar por uma garota de programa. Se
algum dia você decidir construir uma família com uma mulher, ela ao menos
tem que ser de boa família, ter uma boa índole.
Respiro fundo, sem conseguir manter minha paciência pelas
expressões preconceituosas do meu pai.
— Senhor Emanoel Vilela, primeiro, não tenho pretensão de me
apaixonar por ninguém no momento, e segundo, se algum dia eu decidir amar
uma pessoa, não vou me importar com o passado dela. Para mim, o que vai
valer é o nosso presente. — Milena vem em meus pensamentos. Ainda não
sei a razão de ela ter escolhido essa profissão, mas de repente fico curioso
para descobrir. — E eu não vejo motivo para se envergonhar da profissão,
cada um vive como pode ou como é obrigado. Sou a prova disso. O senhor
me ensinou desde criança que não devemos agir como juízes, então não
temos o direito de julgar os outros. Sinto que nesse momento está indo contra
todos os ensinamentos que me passou. — Do outro lado da linha, escuto o
seu suspiro.
— Me perdoe, filho, realmente estou agindo errado. Você é adulto,
sabe o que está fazendo. — Limpa a garganta.
— Sei, sim — afirmo, mexendo no botão do meu blazer.
— Vou desligar, nos falamos depois — diz, num tom murcho.
— Até. — Nós nos despedimos e ele é quem encerra a ligação.
Aproveito que estou com o celular nas mãos para enviar uma
mensagem para Vanessa, a personal stylist, perguntando como estão as coisas
com Milena. Ela não demora para responder, dizendo que em poucas horas
conseguiram um excelente resultado e que a beleza da mulher contribuiu para
que a transformação ficasse mais do que perfeita.
Logo em seguida, recebo uma foto dela e fico boquiaberto. Apesar de
ter pedido que fizessem apenas o necessário em Milena, estou surpreso com
sua transformação. O trabalho deles é impecável, e a loira está uma
verdadeira deusa. Guardo o celular, preferindo apreciar sua beleza
pessoalmente.
Com um sorriso, volto a observar a cidade através da janela do carro.

∞∞

Depois de me deixar no Copacabana Palace, peço ao André para que


fique por perto para nos buscar e nos deixar no aeroporto quando estivermos
prontos.
Caminhando pelo vasto e iluminado corredor do hotel, vejo Vanessa e
a sua equipe vindo na minha direção com algumas malas, parecendo já estar
de saída. Quando a mulher me vê, abre um sorriso enorme e acena para mim.
— Senhor Vilela — diz, assim que ficamos próximos.
— Vanessa — digo e a cumprimento com um aperto de mão,
enquanto seguro a maleta com a outra. Depois, cumprimento o restante com
um aceno de cabeça.
— Espero que fique tão satisfeito com o nosso trabalho quanto a
Milena ficou! — exclama a mulher, piscando para mim.
— Com certeza foram excelentes, confio no trabalho de vocês. —
Passeio meus olhos por todos ali, que sorriem felizes com o elogio. — Me
passe por e-mail os valores, te faço a transferência ainda hoje — digo, vendo-
a assentir.
— Fico lisonjeada em saber que me valoriza como profissional. Pode
deixar que envio a planilha com o valor total — diz e seus olhos brilham. —
Deixei algumas coisas com a Milena. Roupas, acessórios, mas ela escolheu
apenas um colar — avisa.
Instintivamente, olho para a porta fechada da minha suíte. Estou
surpreso com a notícia. Normalmente, outra no lugar de Milena se
aproveitaria da carta branca que dei para que escolhesse o que quisesse. Ela é
uma acompanhante de luxo e deve ser acostumada a receber mimos como
joias... Ou não, afinal, não sei como funciona para ela, já que ainda somos
dois estranhos e não sabemos quase nada um do outro.
— O.k. — Balanço a cabeça.
— Bom, já que terminamos por aqui, estamos indo. Mais uma vez,
obrigada por confiar na gente — agradece, sorridente.
— Eu que agradeço a sua disponibilidade em vir em cima da hora.
Vanessa e eu damos um último aperto de mão, antes de ela ir embora
com a sua equipe.
Assim que se vão, bato à porta, que logo é aberta. Milena não usa
mais o vestido preto que vi na foto. Milena está descalça, veste apenas um
robe preto curto e o seu cabelo está solto e arrumado como antes, o seu rosto
bonito continua maquiado.
— Tenho uma leve impressão de que você adora me admirar.
Cuidado para não olhar demais e se apaixonar. — Milena sorri de lado e dá
alguns passos para trás.
— Cuidado você, eu não me apaixono tão rápido. — Pisco, charmoso,
e ela ri baixinho.
Entro na suíte, e com a mão livre fecho a porta. Depois, volto minha
atenção para a loirinha, já desfazendo o laço do robe, que desliza por seus
ombros e cai no chão, me dando uma visão deliciosa do seu corpo coberto
pela lingerie cor vermelho-sangue.
— Tem certeza, sr. Vilela? — Arqueia a sobrancelha e morde os
lábios pintados com um batom vinho.
Maldita... me provoca com a sua boca gostosa, mas me beijar não
quer!
— Tenho. — Passo por ela e coloco a maleta no sofá antes de parar
na sua frente.
— Olha que posso ser a sua exceção — insiste, dando uma risadinha.
— Ou eu posso ser a sua. — Avalio o seu corpo magro, com algumas
curvas generosas.
— Acho que estamos no mesmo barco, porque eu também não me
apaixono. — Nossos olhares se encontram e sorrimos juntos, como dois
bobos.
— Por isso nos damos tão bem. — Toco em seu queixo, depois em
seus lábios carnudos e massageio com meu polegar.
— Exatamente. — Dá um passo para a frente, agora estamos muito
próximos, podendo sentir a respiração um do outro.
— Eu gostei da sua lingerie, principalmente da cor... — Toco na sua
cintura e escorrego a mão mais para baixo, até chegar à sua bunda e a
apalpar. — O vermelho destaca a sua pele branquinha e cheirosa. — Com a
outra mão, fecho meus dedos em torno do seu pescoço, em seguida, trago seu
rosto para perto do meu e roço nossos lábios. Milena arregala os olhos e noto
a sua respiração tranquila se tornar ofegante.
— Sem beijos... — murmura, arfante, tentando se afastar.
— E quem disse que vou te beijar? — Uso um tom de voz baixo,
ainda com os lábios roçando nos dela.
— Não precisa dizer, a sua ação já diz por si. — Geme quando
mordisco seu lábio.
— Poderíamos fazer um novo acordo, incluindo os seus beijos, o que
acha? Posso ser bem generoso. É só me dizer o seu valor. — Testo-a, dessa
vez afastando nossos rostos e mirando suas pupilas dilatadas.
— Iremos manter o acordado desde o início, sr. Vilela. Estou achando
que você é um verdadeiro beijoqueiro para querer tanto beijar, mas sinto em
lhe dizer que não gosto de alguns tipos de generosidade. Só quero receber o
que é meu por direito, não vou mudar de ideia. — Sua expressão endurece e
ela fica levemente vermelha. A loira é teimosa, só não mais do que eu.
— O.k., então vá vestir a sua roupa e arrumar o que tiver para levar,
sairemos em meia hora.
— Pensei que íamos...
— Não. Se arrume, meu tempo é curto — eu a interrompo, saindo de
perto dela e me sentando no sofá.
— Não demoro — fala, com uma falsa mansidão, e sai da sala de
estar.
Sei ser perseverante com pessoas assim, não é por acaso que sou o
presidente de uma empresa renomada como a Lissol. Foi por ser um homem
implacável nos negócios que cheguei ao topo e ainda continuo.
Mais cedo ou mais tarde, eu voltarei a provar os seus doces lábios, e
não vai ser porque eu implorei. Será ela a querer que eu a beije. Cheguei ao
ponto – em tão pouco tempo – que ter só a sua boceta molhada fodendo o
meu pau não é o suficiente, quero mais e isso inclui a sua boca na minha.
Só de pensar nela por cima de mim, enquanto a fodo duro e engulo
seus gemidos através dos nossos beijos, meu membro pulsa. Jogo a cabeça
para trás e solto um gemido de frustração, em seguida, arrumo meu pau que
está com uma puta ereção.
Caralho, essa mulher é uma atrevida, e saber disso me estimula muito
mais, o meu tesão por ela só aumenta. Eu poderia ter tudo o que quero dela
com outra, pagando ou não, mas, além de desejar isso apenas com Milena, sei
que ela é como uma incógnita que eu pretendo desvendar.

∞∞

Estamos a poucos minutos do aeroporto. Milena está com um


semblante de quem está preocupada desde que entramos no carro. Por mais
que tente disfarçar, percebi que está meio pálida e nervosa. Talvez tenha
medo de voar, não sei, mas que ela está estranha, está.
— Você tem medo de voar? — questiono, quebrando o silêncio por
vê-la mexer as mãos sem parar e, uma vez ou outra, engolir em seco.
— Um pouco — revela, sem desviar os olhos da janela de vidro.
— É por isso que está nervosa ou tem algo mais? — indago, curioso.
— Não tem, sr. Vilela — afirma, alisando o tecido do seu vestido
preto.
— Há algo que não esteja te agradando?
Ela se remexe no banco com a minha pergunta.
— Estou com calor. — Limpa a garganta e me encara dessa vez. —
Pode pedir ao motorista para baixar o meu vidro, por favor? — pede,
desviando o olhar.
Eu poderia dizer que o ar-condicionado está no máximo, mas para não
prolongar o assunto, peço ao André que faça o que ela deseja, e assim nosso
diálogo se dá por encerrado. Em silêncio, eu a observo fechar os olhos e
puxar o ar para os pulmões, então ela massageia os ombros, depois o
pescoço.
Tem algo de errado com ela, e eu não sou nenhum burro para não
perceber que Milena esteve resistente com essa viagem a Búzios desde o
começo. O que tem lá para ela ficar tão nervosa? Existe algo naquele lugar
que está lhe causando essa ansiedade?
Com os dedos trêmulos, ela toca na joia de rubi em seu pescoço, em
seguida, abaixa a cabeça e descansa a mão que estava na peça em seu colo.
Instintivamente, coloco minha mão por cima da sua e sinto o quão gelada se
encontra a mulher.
Eu pediria a André para dar uma parada em algum lugar, mas já
estamos na pista do aeroporto, a poucos metros de distância do jatinho.
— Milena, olhe para mim. — Meu pedido sai mais como uma ordem.
Ela me olha e noto que está quase chorando. — O que de fato você tem? Sua
mão está gelada, você está estranha. É somente o medo por voar mesmo? Não
minta para mim — peço, entrelaçando meus dedos nos dela.
— É sim, Gabriel — me chama pelo nome com seriedade.
— Se quiser, posso te enviar de volta para o hotel e eu viajo sozinho
— sugiro e ela fica ereta.
— Nã-não, eu já viajei algumas vezes, não vai ser agora que vou
deixar um cliente na mão. É o meu trabalho, independentemente de eu ter
medo ou não. — O timbre dela é firme.
— O.k., só peço que me fale se eu puder ser útil em algo — falo. Seus
olhos automaticamente vão para nossas mãos juntas. — Estou aqui para
ajudar também.
— Obrigada... — gagueja.
— Sr. Vilela, chegamos — o motorista nos interrompe, e só então
noto que o carro está desligado.
— Obrigado, André — agradeço-o, mirando os meus outros
funcionários – os dois pilotos e a aeromoça do lado de fora nos aguardando.
O motorista abre a porta para Milena, e em seguida para mim.
Cumprimento os pilotos e a aeromoça, e gentilmente minha
acompanhante faz o mesmo antes de entrarmos no jatinho.
Capítulo 09

O percurso do Rio de Janeiro a Búzios leva poucos minutos. Em


toda a viagem, passo observando a paisagem através da janela do jato só para
não encarar o Gabriel e dar razão ao que ele dissera sobre eu ter ficado
estranha com a nossa vinda para cá.
Obviamente, ele não está mentindo, porque eu realmente fiquei a
ponto de infartar de tanto nervoso por ter que viajar com ele para o lugar
onde a minha família mora e que eu vivi por muitos anos.
Quer saber qual é o meu maior ponto fraco? Minha família. Sei que
tenho que manter a minha postura profissional, não deixar algo que é um
particular afetar o meu trabalho, mas nunca passei por algo parecido como
agora. O meu medo em ser descoberta por minha mãe é assustador. Ela odeia
mentiras, mamãe me ensinou que independentemente de qualquer coisa, eu
sempre devo falar a verdade.
Tive oportunidades para me abrir com ela, dizer que Judite Silva
nunca foi um amor de pessoa como ela pensa, que, na verdade, é minha
cafetina e que me levou para o Rio de Janeiro para que eu me tornasse uma
das suas prostitutas. Lógico que foi uma escolha minha estar nessa vida, só
que na época era minha única opção para nos tirar da miséria.
Enquanto Gabriel está lá fora conversando com os pilotos, estou aqui
dentro, esperando um copo de água e o analgésico que pedi para a aeromoça.
Assim que aterrizamos, ele foi o primeiro a sair e me pediu que esperasse
dentro do jato. Aproveito a ausência dele para enviar uma mensagem para
mamãe e perguntar como ela está. E assim que recebo o seu retorno, fico
aliviada por saber que estão bem e em casa.
— Senhora, aqui está a sua água — a aeromoça diz.
Ergo meu rosto e encaro a mulher ruiva, com uma bandeja nas mãos e
nela uma taça elegante.
— Obrigada — falo, ao pegar a taça com água e o comprimido.
Tomo o remédio e a aeromoça só vai embora quando termino. Assim
que ela se afasta, volto minha atenção para o celular, que começa a notificar
uma mensagem seguida da outra. É a Judite. Abro o chat dela para ver o que
quer comigo. Ela avisa que está fazendo a transferência para a minha conta
do valor que o sr. Vilela pagou pelos meus serviços. Para não deixar minha
chefe no vácuo, dou um “Ok”, depois olho para a janela ao lado e fixo no
homem elegante conversando com os dois pilotos. Ele tem o semblante sério,
mas ao mesmo tempo sexy.
De repente, um pensamento bobo surge. Será que ele olharia para
mim se eu não fosse uma acompanhante de luxo? Digo, se eu fosse uma
garota comum e o conhecesse em algum evento. É lógico que não, mas se
fosse para reparar em mim, seria apenas para ter uma aventura, porque é isso
que homens ricos sabem fazer – querem diversão com mulheres que têm
classe social diferente da deles. Casamento, namoro, essas coisas, só com
pessoas do mesmo nível que eles.
Afastando os meus devaneios, suspiro longamente, até que sou pega
no flagra. Ele se vira para mim como se notasse que está sendo observado e
sorri, uma sobrancelha arqueada em modo de desafio. Sem ter a chance de
controlar o frio que se apossa no meu estômago, desvio o olhar como uma
garotinha tímida – o que não sou –, depois volto a olhá-lo e já não o encontro
mais ali.
Descruzo minhas pernas, em seguida, passo a mão pelo meu cabelo.
Estou pronta para me levantar da poltrona e respirar o ar fresco lá fora, mas
sou impedida por uma voz grave e rouca.
— Como você está? — Miro-o, que vem na minha direção em passos
lentos e desabotoando alguns botões da sua camisa social branca.
— Bem melhor. — Dou um sorriso para ele, que para na minha frente
e se se inclina para tocar o meu rosto.
— Ao menos não está gelada como antes. — Seu olhar vagueia por
todo meu rosto cuidadosamente, enquanto faço o mesmo em seu peitoral que
está um pouco à mostra.
— Era o medo de voar — digo, mesmo sabendo que é mentira.
— Agora que está em terra firme, não precisa mais ficar apavorada.
Apesar que você estava muito tranquila durante a viagem, só ficou calada, o
que não acho normal. — Lambe os lábios.
Sem querer, reparo no movimento que a sua língua faz.
— Está me chamando de tagarela?! — Rio, batendo na sua mão que
antes estava em meu rosto e agora está apoiada no braço da poltrona.
— Talvez esteja. — Ri baixinho, provocante.
— Não tem graça! — Bufo, ouvindo-o gargalhar.
— Você foi a primeira a achar — defende-se, ainda rindo.
— Eu posso, você não — retruco, querendo rir junto.
— O.k. — Levanta as mãos. Ele ia fazer mais alguma gracinha, mas
olha para a janela. Sigo seu olhar e vejo um carro preto se aproximando do
jato. — A carruagem chegou, loirinha, vamos, é o nosso motorista. —
Estende a mão para mim e eu a pego.
Eu deveria corrigi-lo e dizer que é dele, mas gosto da ideia de ser
nosso.
— Iremos direto para o hotel? — indago, curiosa, ao me levantar.
— Primeiro, iremos passar em um lugar — diz, e meu coração salta
fortemente.
— Em qual? — Meus joelhos tremem.
— No Pérola Beach.
— O.k. — O alívio me toma por saber que o resort é bem longe da
minha casa, espero que o hotel que ele nos hospedou também seja.

∞∞

Em questão de alguns minutos, o motorista nos deixa dentro do resort


moderno e luxuoso, que fica localizado em frente à praia de Tucuns. Antes de
descermos do carro, pensei que Gabriel me deixaria esperando-o do lado de
fora, mas me enganei, porque ele pede que eu saia e o acompanhe até lá
dentro.
Há um gerente do local a nossa espera no hall de entrada. Assim que
Gabriel se apresenta para ele, somos conduzidos para a área da
administração. No meio do caminho, meu cliente faz algo inesperado – ele
entrelaça nossas mãos –, e sinto que o seu ato é espontâneo. Não o questiono
sobre isso, porque no fundo adoro a sensação de ter a sua mão na minha.
Enquanto Gabriel está no escritório com o dono do resort, fico na
recepção o aguardando, pelo menos é melhor do que ficar dentro do carro, ao
menos o sofá aqui é confortável.
— Senhora, se quiser alguma coisa para beber ou comer, basta me
dizer que peço a uma das estagiárias para te trazer, o.k.?!
Saio dos devaneios ao ouvir a voz da mulher do outro lado da mesa,
me encarando toda sorridente.
— Estou bem, obrigada — agradeço gentilmente à secretária.
— Meu nome é Maria, estou à sua disposição para o que precisar —
diz.
— Obrigada novamente, Maria.
O que mamãe deve estar fazendo uma hora dessas? Já é quase noite,
provavelmente está colocando a Beatriz para tomar banho e ajeitando o jantar
ao mesmo tempo. Só de pensar na minha família, um sorriso surge e meu
coração fica quentinho. Eu poderia ligar, mas deixei meu celular no carro, e
se eu for buscá-lo e essa reunião acaba, então Gabriel sai para me procurar.
Isso não vai ser bom. Prefiro não correr o risco de ser pega falando com a
minha mãe. É melhor encontrar outra maneira de falar com a minha mãe mais
tarde.
Mordendo os lábios, miro o relógio da parede. Sentindo dor nas costas
por ficar na mesma posição por muito tempo, eu me levanto e pergunto à
secretária onde fica o restaurante deles porque vou espairecer. Maria me
indica outros lugares do resort que posso conhecer e eu a agradeço, depois
saio dali me sentindo menos entediada.
Chego ao restaurante movimentado e me sento a uma mesa vazia.
Fico observando algumas pessoas e famílias reunidas, elas sorriem sem
preocupação algumas e aproveitam a presença um do outro. Como eu
gostaria de estar assim com a minha família agora... Um dia vamos poder
vivenciar isso.
Vagueio os olhos por alguns minutos em algumas mesas, achando um
clima gostoso, sem muito barulho, só alguns falatórios, mas nada que
incomode. Miro em uma mesa específica, é um casal de jovens, com eles há
um bebê, talvez tenha seus oito meses de idade. A menina faz os pais
gargalharem ao enfiar os dedinhos no pedaço de pudim. Vendo a cena, eu
acabo rindo baixinho. Acho que passo alguns minutos admirando os três e
achando lindo, até desejando daqui a alguns anos poder ter a oportunidade de
viver um amor verdadeiro e, quem sabe, ser mãe.
— Hum-hum. — Escuto um pigarreio, ergo meu rosto e encontro um
homem jovem bonito, alto e musculoso, olhos grandes e negros, cabelo preto,
usando roupas casuais de grife. — O que uma bela dama como você faz
sozinha no meio desse restaurante? Pelo que vejo, ninguém veio te atender,
preciso falar com o gerente sobre o péssimo atendimento — diz, e eu sorrio
ao perceber que está jogando charme.
— Agradeço por sua preocupação, mas não é necessário que se
incomode, sei me virar — falo, vendo-o passear os olhos por meu rosto,
depois por meu colo. — E não estou sozinha, meu acompanhante já está
chegando — acrescento, arqueando a sobrancelha ao vê-lo arrastar uma
cadeira vazia e se sentar.
— Enquanto esse sortudo não chega, posso te fazer companhia... O
que acha? — sugere, me olhando bem nos olhos.
— Não sei se é certo. — Passo a mão no meu pescoço e olho ao nosso
redor. Talvez Gabriel não goste de me ver com outro homem, vai que ele
pense que mesmo sendo exclusiva dele, estou marcando com outro cliente.
Evitar confusão é melhor, muito melhor.
— Mas eu não mordo, estamos em público, não vejo problema nisso
— fala, em seguida, faz um gesto com a mão chamando o garçom que passa
pela gente. — Meu amigo, me traga um Dry Martini e uma Margarita para a
moça — pede, sem nem ao menos me perguntar se desejo alguma bebida.
— Muito obrigada, mas não bebo — minto, com um sorriso falso.
— Sim, sr. Mesquita, não demoro. — O garçom parece que nem me
ouve, só se afasta em passos largos.
Mesquita... Esse sobrenome não me é estranho. Escutei em algum
lugar, não lembro em qual.
— Me diga, moça misteriosa, qual o seu nome? Chegou agora à
Pérola Beach? — Enche-me de perguntas e eu me remexo na cadeira,
incomodada.
— Por quê? O que quer saber? Por acaso é o fiscal do local? —
indago, fazendo-me de boba.
Em resposta, o homem começa a rir e não entendo o motivo da graça.
— Quase isso. Sou o filho do dono, o Samuel! Prazer, Eduardo
Mesquita, mas pode me chamar de Dudu. — Lambe os lábios e sorri de lado.
Caramba... Filho do dono. Faz sentido. Gabriel havia mencionado um
tal Samuel Mesquita na estrada quando estava em ligação com o sr. Franco.
Como não sei qual o tipo de negócio meu cliente tem com o pai desse
abusado, não posso ser mal-educada com ele, então o jeito é ser gentil e
paciente.
— Senhor, aqui estão as bebidas. — Sou salva pelo gongo, quero
dizer, pelo garçom, que deposita as taças na mesa. O seu chefe não parece
gostar muito por ele ter chegado tão cedo, porque fecha a expressão, mas ao
perceber que notei, começa a sorrir.
— Pode se retirar — diz Eduardo, batendo de leve no braço do
funcionário, que sai em disparada para longe da gente. — E você não vai
mesmo me dizer o seu nome, bela dama? Vou acabar te chamando de
loirinha. — Pega a sua bebida e leva até a boca.
Penso em corrigi-lo, no entanto, um perfume delicioso e masculino
que conheço e estou bem viciada impregna no meu nariz. Antes que eu me
vire para confirmar que é ele, escuto a sua voz.
— Assim fico com ciúmes, ouvindo outro homem chamar a minha
garota de loirinha. Eu que dei esse apelido a ela, então acabo me sentindo
possessivo em relação a isso. — Seu tom é imperial e não evito olhá-lo por
cima do ombro.
Os olhos de Gabriel estão faiscando de raiva, não deve ser ciúme,
deve estar tendo um pensamento errado de mim. Por que eu deveria me
preocupar com a sua opinião? É claro que eu lhe devo respeito por nosso
acordo, mas ter esse sentimento estranho em querer me explicar já é demais,
posso fazer isso quando estivermos a sós.
— Me desculpe, sr. Vilela, não imaginei que ela fosse a sra. Vilela. —
Eduardo está pálido, ele fica tão nervoso que se levanta quase derrubando a
mesa.
— Vocês já se conhecem? — Sei que é uma pergunta boba, mesmo
assim a faço, tentando quebrar a tensão que se forma ao notar que Gabriel
ignora o rapaz.
— Sim, tive o prazer de conhecer o filho do meu provável sócio
minutos atrás, no escritório dele — responde Gabriel, que se aproxima de
mim e toca em meus ombros.
Faz sentido... Quando ele entrou na sala de Samuel Mesquita, não vi o
rosto do homem, de nenhum dos dois, então ainda eram duas pessoas
desconhecidas para mim.
— Se me der licença, preciso me retirar, foi um prazer conhecer vocês
— se manifesta Eduardo, murcho com a presença do homem que está atrás de
mim e com as mãos massageando meus ombros.
— Homens não aguentam ver uma mulher linda sozinha que já cai em
cima, não é? Uma pena para ele que você está muito bem acompanhada e já é
minha. — Estremeço com a sua voz quente no meu ouvido, em seguida, os
seus lábios deslizam pelo meu pescoço.
— Co-conseguiu resolver alguma coisa? — gaguejo, afetada, quando
se afasta.
— Não, mas amanhã pretendo finalizar esse negócio, ou não me
chamo Gabriel Vilela. — Usa um tom frio, sentando-se no lugar que Eduardo
estava e me encarando completamente determinado. — Essa noite não vamos
para o hotel, somos os convidados do dono para ficar em sua melhor suíte.
Ele quer que eu conheça o lugar antes de qualquer coisa. — Bufa, irritado.
Estou prestes a perguntar se ele pretende abrir um restaurante no
resort, mas mordo a língua para não me envolver em um assunto que não é da
minha conta. Devo me manter no meu limite, tenho que saber apenas o
necessário e o que me diz respeito.
— Se é assim, ficaremos, aqui é um lugar muito bonito — elogio.
— É o jeito — resmunga, contrariado.
— Desmancha essa carinha emburrada, não combina com você —
falo.
Ele fica sério a princípio, mas acaba sorrindo e balança a cabeça antes
de chamar o garçom.
— Você quer jantar? — pergunta, mais relaxado.
— Adoraria. — Então pego a taça de Margarita e beberico a bebida,
observando Gabriel conversar com o garçom sobre o cardápio.

∞∞

Já estamos acomodados na suíte, que é bem luxuosa, mas não tanto


quanto a do Copacabana Palace. Depois do jantar, Gabriel e eu fomos
conhecer a área de lazer, na sala de jogos brincamos na mesa de pebolim e de
sinuca. Ele não aceitou perder para mim, ficou com o semblante bravo, mas
bastou que eu dissesse que não sabia perder que me tirou do chão e me
colocou em seu ombro e me levou para fora da sala. Cheguei a ficar
envergonhada com as pessoas nos olhando como se fôssemos malucos.
Nossa aventura se estendeu até o spa, onde recebi uma massagem tão
boa, que todos os meus músculos ficaram relaxados. Em algumas horas,
exploramos alguns pontos do local e pude notar que o meu cliente estava tão
tranquilo que nem parecia o de mais cedo, que só pensava em negócios.
— Pensei em conhecermos a praia — diz Gabriel, saindo do banheiro
com uma toalha ao redor do seu quadril.
— Nesse frio e uma hora dessas? — Faço uma careta e passo o pente
pelo meu cabelo, que molhei no banho.
— São onze da noite, não é tão tarde — retruca, com a voz divertida.
— Ah, não é, sr. Vilela? — Torço a boca.
— Gosto mais quando me chama de Gabriel — declara, e vem na
minha direção e se senta na cama. — E respondendo a sua pergunta, esse
horário é bom que ninguém vai nos ver.
Meu estômago se contorce com a minha imaginação fértil. A vista da
suíte onde estamos hospedados é de frente para o mar, basta descermos e
caminhar um pouquinho que estaremos na areia.
— Então será uma ida à praia às escondidas? — Meus olhos brilham.
— Quase isso. — Pisca para mim.
— Adoro coisas proibidas, então topo! — brinco, e ele gargalha.
— Você trouxe biquíni? — questiona, avaliando vagarosamente a
camisola que visto.
— Sim. — Balanço a cabeça.
— Pois o coloque, vou me trocar e já descemos.
Ele vai se vestir e eu me troco rapidinho, já que não estava usando
roupas íntimas por baixo da camisola. Quando ele retorna do banheiro já
usando roupas casuais, me encontra tentando dar um laço na peça de cima e
me ajuda, é claro que não perde a oportunidade de me provocar ao beijar as
minhas costas e acariciar meus peitos.
— Hum... Poderíamos ficar aqui ao invés de tomar esse vento todo lá
fora — digo, manhosa.
— Mas quem disse que lá você vai sentir frio? — Beija meus ombros
e eu encaro o mar iluminado pela claridade da lua.
— E o que você vai fazer para me aquecer? — ouso perguntar e gemo
ao sentir sua mão escorregar para dentro da minha calcinha.
— Muitas coisas. Uma delas é te foder dentro da água gelada e sentir
o biquinho dos seus peitos ficarem durinhos contra meu peito. — Ele começa
a acariciar meu grelinho molhado com os dedos e eu empino a bunda,
roçando em seu pau.
— Então vamos logo, porque estou prestes a te dar aqui mesmo. —
Solto leves suspiros.

∞∞

Atravessamos um cercadinho que divide a praia do resort, e Gabriel


me conduz até a areia segurando a minha mão. Abraço meu próprio corpo ao
sentir meus pelos eriçarem com o vento forte que bate. Estamos parecendo
dois adolescentes prestes a cometer uma loucura, e mesmo que soe uma ideia
abobalhada, estou amando viver isso ao lado dele, embora saiba que daqui a
alguns dias cada um vai para o seu canto.
— Não acha que aqui está bom? — pergunto a ele, ao perceber que
estamos bem afastados do resort.
— Quer correr o risco de alguém nos ver pelados? — indaga,
agarrando-me por trás e me fazendo soltar um gritinho de surpresa.
— E vamos ficar? — Vibro por dentro, sendo impossível ocultar a
safada que habita em mim.
— Acha que eu te trouxe aqui para ficarmos vendo as estrelas e a lua?
— diz no meu ouvido, dando uma risadinha. Não é com a sua voz que
estremeço, é sentir o seu pau cutucar minhas costas.
— É claro que não... — respondo ao levar uma mão ao bolso da sua
bermuda e sentir os pacotinhos ali. — Te vi pegando as camisinhas, com
certeza não pensei que fosse para transformá-las em balões.
— Boa garota... — Lambe meu pescoço enquanto miro as ondas por
alguns segundos, que quebram na praia e molham a areia.
— Lógico que sou. — Viro-me para ele e ponho meus braços ao redor
do seu pescoço.
— Enquanto descíamos, fiquei dividido entre duas opções. —
Escorrega as mãos na minha bunda e me puxa mais para ele, batendo meus
peitos em seu tórax.
— Pois me fale, posso ser útil, e quem sabe não tenho uma solução...
— Encosto meu rosto no seu e sinto sua respiração pesada.
— Não sei se como a sua boceta no mar ou aqui na areia — confessa,
massageando minha bunda.
— Você pode me foder em qualquer lugar que quiser, minha
bocetinha é sua, Gabriel. — Não me contenho e roço meus lábios nos dele.
Ele tenta me beijar, mas não deixo.
— Ah, porra... loirinha, assim você não colabora. Meu pau já está
todo lambuzado na sunga. — Geme, febril, e me aperta contra seu corpo.
— O que acha de me deixar te cavalgar ao ar livre? Ninguém vai nos
ver, mas se alguém vir não vai poder tocar, comer... Só você vai — digo,
mordiscando seu lábio inferior.
— Então me fode com essa boceta gulosa, Milena — pede, com uma
mão desfazendo o laço do biquíni de cima.
— Tire suas roupas e se sente de frente para mim. — Afasto-me dele,
que começa a arrancar as roupas do seu corpo enquanto tiro a canga que
visto, estirando-a na areia.
Gabriel agora só veste a sunga branca que marca o seu membro
enrijecido, e eu apenas a peça de baixo, já que a de cima joguei no seu rosto.
Ele sorri malicioso e faz um gesto com os dedos, chamando-me. Olhando
para todos os lados, não vejo ninguém e, no fundo, fico aliviada.
— É assim que você imagina? — Jogo minhas sandálias perto das
dele e me ajoelho entre suas pernas em seguida.
— Assim e mais um pouco, loirinha. — Inclina o rosto e abocanha
um mamilo meu, o que me faz gemer e jogar a cabeça para trás.
— Céus... — Movo-me no seu colo e o seu pau pulsa embaixo de
mim loucamente. Gabriel, mesmo me mamando, desliza suas mãos para o
biquíni, coloca a peça para o lado e me penetra com dedos.
— Rebola mais minha putinha, me dê mais. — Gabriel bate na minha
bunda com a mão livre, e minha vagina fica mais ensopada.
— Não quero gozar assim — resmungo, arfante e rebolando.
— E você quer como? Me diga. — Segura meu pescoço e me fode
com a mão em uma velocidade que eu preciso revirar os olhos de tanto tesão.
— Quero me sentar no seu pau... Prefiro gozar nele. — Arquejo.
— Eu sei que você prefere que ele te arrombe, minha vadiazinha
deliciosa. — Para de me masturbar e pega o preservativo no bolso da
bermuda. Ainda em seu colo, eu o observo abrir o envelope com os dedos. —
Coloque para mim. — Me estende a camisinha e eu a pego.
Tiro o seu pau ereto para fora da sunga e lambuzo meus dedos com o
seu líquido pré-ejaculatório. Gabriel geme ao me sentir fazer movimentos
leves nele, mas para que não goze em minha mão, visto a camisinha nele.
— A sua putinha está pronta para cavalgar em você — murmuro,
olhando em seus olhos, que estão sendo iluminados pela claridade da lua.
— Então se senta nele bem gostoso. — Ele me ergue pelo quadril e eu
coloco a minha calcinha novamente de lado, permitindo que o seu pau me
penetre.
Na primeira rebolada, eu e Gabriel gememos juntos. Ele leva uma
mão à minha coluna, em seguida, abocanha meu mamilo, contorna a auréola
com a língua e morde o biquinho, alternando com chupões fortes.
— Ahh... que delícia... — Suspiro ao ser preenchida com facilidade
por estar bastante excitada.
Com movimentos firmes e rápidos, cavalgo nele. O seu pau me fode
com tanta intensidade que é preciso que eu agarre seu cabelo e o ombro.
Segundos depois, Gabriel nos muda de posição, ficando por cima, me
deitando de barriga para cima na canga e volta a me comer, bombeando em
mim cada vez mais forte. Jogo a cabeça para trás e seguro em meu cabelo
sujo pela areia ao sentir que logo vou gozar.
— Loirinha, essa visão aqui é bem melhor, olhe esse paraíso.
Ergo a cabeça e vejo o seu pau grande e grosso entrar e sair de dentro
de mim. Mordo os lábios enlouquecida e rebolo o quadril.
— Caralho, comer você é tão bom...
Passo minhas pernas ao seu redor e o puxo para mim. Ele me soca
fundo, e gememos tão alto que possivelmente nos ouviram.
— Vo-você me come tão bem, Gabriel. — Ele soca com avidez no
meu interior. Agarro seu pescoço e trago seu rosto para perto do meu,
roçando nossos lábios, mas não beijando.
Meu corpo ferve como brasa, nem mesmo o vento que bate na gente é
capaz de apagar as chamas que nos incendeiam. Começo a contrair o corpo
junto ao de Gabriel, os espasmos violentos batem e é impossível nos
controlarmos. Sou a primeira a gozar, depois ele, que encosta a testa na
minha e mete lentamente dentro de mim.
Com o coração acelerado, vejo Gabriel sair de cima de mim e se
deitar ao meu lado. Cansada, deito meu rosto em seu peito e o abraço, mesmo
suja de areia. Assim como estou com os batimentos rápidos, ele também está.
Em silêncio, ele acaricia minhas costas e eu fecho os olhos.
— Você é a minha maior loucura, sabia? Acho que a primeira —
confessa.
Depois de um tempo, sou obrigada a levantar o rosto para encará-lo.
— Não me diga que a sua vida de riquinho na adolescência foi
entediante — murmuro, sorrindo, e ele faz o mesmo, meio pensativo.
— Não tive muitas aventuras na vida, sempre passei a maior parte do
tempo estudando para dar orgulho aos meus pais e me tornar o homem que
sou hoje — diz, como se os seus pensamentos estivessem longe.
A maneira carinhosa que menciona os pais me faz lembrar dos meus,
e meus olhos acabam cheios de lágrimas. De repente, me vem uma ideia
maluca, mas que pode dar certo. Se estou aqui em Búzios, posso facilmente
visitar mamãe e Beatriz, e Gabriel nem vai perceber. Eu só preciso arrumar
uma desculpa para dar uma saída enquanto ele estiver ocupado com Samuel
Mesquita amanhã. Sei que estou aqui a trabalho, contudo, estou cheia de
saudades, não posso suportar a ideia de estar na cidade e não poder vê-las.
Ele percebe que estou quase chorando e franze o cenho.
— O que foi? — pergunta, curioso, estudando meu rosto.
— Nada... Só lembrei de uma velha amiga que mora aqui. — Limpo a
garganta, permitindo que uma lágrima teimosa caia por minha bochecha.
Sem querer demonstrar vulnerabilidade, sento-me e encaro o mar sem
ter coragem de olhar para Gabriel.
— Ela ainda é viva? — averigua.
Meus joelhos chegam a tremer com a possibilidade de ele saber da
minha vida pessoal.
— É sim... — respondo, disfarçando o tremor na voz. Eu poderia
dizer que não é, mas só assim vou poder visitar minha família. — E eu queria
te pedir um favor. — Olho bem em seus olhos.
— O que é? — Vasculha meu rosto, com seriedade.
— Sei que estou em serviço... e que isso não estava em nosso acordo,
mas posso visitá-la amanhã? Prometo não demorar, vou no horário em que
você estiver em reunião com o sr. Mesquita. — Minha voz quase treme.
— Você pode ir, mas com uma condição.
Estremeço por dentro ao ouvi-lo falar. Que não peça para conhecer a
minha velha amiga. Claro que não vai, ele não tem por que se interessar pela
minha vida pessoal.
— Qual? — Minha pergunta quase não sai.
— O motorista vai te levar até lá. Não quero você andando por aí
sozinha, não confio no franguinho do filho do Samuel. — Umedece os lábios.
Não é um problema, posso enrolar o motorista para ele me deixar em
um local distante da casa de mamãe. Sem conter o sorriso, toco no ombro de
Gabriel e ele segue meus movimentos.
— Tudo bem, obrigada.
— Não agradeça. Vamos para o mar tirar um pouco dessa areia do
nosso corpo. — Estende a mão para mim e nos levantamos. Antes de
caminhar até a água, pego a peça de cima do biquíni e visto com a ajuda dele.
Quando voltarmos para a suíte, vou enviar uma mensagem avisando a
mamãe que amanhã vou visitá-la, sei que ficará feliz com a ideia. Vou avisar
antecipadamente para que não reclame, afinal, sempre que vou vê-la, gosta de
preparar alguma das suas receitas para me mimar.
Até que vir a Búzios não foi tão ruim como estava pensando. Gabriel
vai ficar bem longe da minha vida pessoal, nem ele e nem a minha família
vão se conhecer e tudo vai continuar como está.
Capítulo 10

— Você precisa de dinheiro? — Gelo com a pergunta de Gabriel.


Tem algumas horas que acordamos, pedimos café no quarto e
comemos juntos. Depois da nossa aventura na praia ontem à noite, voltamos
para a suíte por volta de meia-noite e tomamos banho, então fomos dormir.
— Dinheiro? — Uno as sobrancelhas em confusão.
— Sim, vai que você queira comprar algum presente para a sua amiga
no caminho — fala, com tranquilidade, enquanto fecha os botões da camisa
azul-marinho. Um dos funcionários do resort bateu à porta minutos atrás para
avisar que Samuel está esperando Gabriel no escritório, então ele está se
arrumando para essa reunião.
— Gabriel, não precisa. Você ter me liberado para visitá-la já é o
suficiente — digo, terminando de fechar minha sandália rasteirinha.
— Milena, eu disse à sua agenciadora que iria bancar tudo enquanto
você fosse minha. — O modo como ele fala “minha” me faz sentir um
friozinho no estômago.
— Mas não preciso de dinheiro, é sério. — Levanto-me da poltrona e
vou até ele, que tenta fazer o nó na gravata preta.
— Já tem muito tempo que você não vê essa amiga? — inquire e o
meu coração acelera.
Será que ele está desconfiado de alguma coisa?
— Faz sim. — Tomo a gravata da sua mão e começo a fazer o nó.
— E não vai levar nenhum presente para ela? É deselegante. — Toca
no meu quadril com uma mão.
— Na próxima vez, eu compro uma lembrancinha — digo, afastando-
me dele depois de arrumar a gravata.
— O.k., você que sabe. — Ele se dá por vencido ao notar que não vou
ceder.
— Talvez eu fique para o almoço... Tem algum problema? — Espero
que diga não. Estou torcendo por isso.
— Nenhum. Não sei que horas termina a minha reunião com o
Samuel, então não se preocupe. — Vejo-o seguir para o armário e de lá tirar a
sua maleta.
— Certo. — Animo-me por ele não negar o meu pedido.
— Pedi ao André que ficasse por lá caso você precise dele. — Refere-
se ao motorista.
Engulo o bolo na garganta e disfarço minha expressão de desespero.
Não posso deixar que mamãe me veja chegar em um carro de rico, com um
motorista uniformizado, isso pode levantar suspeitas.
— Não precisa, você pode precisar mais dele do que eu. Vou pegar
um Uber. — Minhas mãos começam a suar de nervoso.
— Não vou sair daqui até as próximas horas — afirma.
— Tudo bem — aceito para que não levante suspeitas.
— Se precisar de alguma coisa, não hesite em me ligar — avisa,
passando por mim e seguindo até a porta.
— O.k., obrigada! — agradeço-o.
Ele me olha por cima do ombro, mas não diz nada, apenas sai do
quarto.
Espero alguns minutos se passarem para que dê tempo de o Gabriel se
distanciar, então corro até minha bolsa para pegar meu celular. Vou enviar
uma mensagem para a minha mãe, porque ontem não consegui avisá-la que
estou indo vê-la. Envio uma mensagem dizendo que recebi uma folga e estou
perto de casa.
Ela demora para responder, mas quando tenho a sua resposta, sorrio
alegre por saber que vai me esperar para almoçarmos juntas.
Guardo o celular e, antes de deixar a suíte, vou até o banheiro e me
olho no espelho para conferir meu rosto. Não estou usando muita maquiagem
essa manhã, apenas um brilho labial incolor e uma sombra nude bem
fraquinha. Notei que Gabriel gosta mais quando não uso produtos pesados,
prefere algo mais natural.
Por que diabos estou pensando no que um cliente gosta uma hora
dessas?

∞∞

Há exatos três minutos que chegamos ao bairro que minha mãe mora
e eu sequer saí do carro. Assim que entramos na rua, pedi ao André que
estacionasse um pouco distante. Minha intenção não é chamar atenção, e esse
carrão com certeza não tem cara de um Uber ou táxi.
Não sei por que, mas estou com um pressentimento ruim desde a
nossa saída do Pérola Beach. Meu peito está tão apertado que parece que a
qualquer momento vou sufocar. Acho que o verdadeiro motivo é porque a
minha cota de mentiras está fazendo com que eu me sinta péssima nessa vida
dupla que levo. Estou arriscando muito vir até aqui. Se Judite sonhar com
essa escapada, ela vai querer me estrangular.
— Senhora, é esse mesmo o endereço? — pergunta o motorista,
olhando-me pelo retrovisor.
— É sim. — Remexo-me no banco.
— Desculpe a pergunta, é porque faz tempo que chegamos e a
senhora não desceu — diz, envergonhado.
— Não peça desculpas, sei que é o seu trabalho. — Encaro a rua com
algumas crianças brincando de bola na maior gritaria.
— A senhora precisa de algo? Se quiser posso parar mais lá na frente
— sugere, num tom preocupado.
— Não, eu estou bem, obrigada. — apresso-me a dizer, com o
coração batendo fortemente.
— O.k.
— André, não precisa abrir a porta para mim, eu posso fazer isso,
tudo bem? — Puxo a minha bolsa do banco e ponho no meu ombro.
— Sim, sra. Milena — concorda.
Abro a porta do carro, pronta para sair, mas ao olhar para a casa do
meio cor salmão, meu corpo inteiro congela. Rapidamente, fecho a porta e
escorrego meu corpo pelo banco. Beatriz passa pelo portão alto de madeira
com uma vasilha nas mãos, e segue para a casa da vizinha.
— Está tudo bem, senhora?
Arregalo os olhos com a pergunta do motorista e, como se minha irmã
pudesse o ouvir, instintivamente peço que se cale, fazendo um gesto com o
dedo.
Não olhe para cá, Bia. Mas é o mesmo que pedir que olhe. Beatriz
ergue a cabeça para espiar na direção do carro e franze o cenho,
aparentemente curiosa, antes de entrar na casa da vizinha. Agradeço por ela
não insistir em sua curiosidade. Quase taquicardíaca, ajeito-me no banco
depois do meu papel ridículo e noto, através do retrovisor, que André está
com o semblante preocupado.
— André, vou descer e você não precisa ficar me esperando, pode
voltar para o resort. — Passo as mãos por meu vestido branco e azul floral.
— Sinto muito, mas o sr. Vilela me deu ordens expressas para ficar e
te esperar — diz ele, desviando o olhar.
— Acontece que eu não necessito de você aqui, pode retornar. Com o
seu patrão, eu me resolvo depois — falo, com determinação, e o homem fica
meio pálido.
— Senhora...
— Sem senhora. Você pode voltar, com o Gabriel me viro mais tarde.
— Mantenho meu tom firme e abro a porta do carro. Preciso sair antes que
Beatriz volte e me veja.
— O.k. — gagueja ele, nervoso.
— Não se preocupe, você não vai sair prejudicado, dou a minha
palavra. Agora pode ir embora — peço, saindo do carro. Antes de bater a
porta, vejo-o assentir e engolir em seco.
Ajeito a bolsa no meu ombro e caminho até a calçada da casa que tem
um pequeno jardim. Nem me atrevo a olhar para trás, daqui posso ouvir o
som do motor do carro. Eu daria pulinhos e bateria palmas por meu plano ter
dado certo e o André ter cedido rápido demais, mas controlo a criança em
meu interior e continuo andando.
Empurro o portão e entro. Aquela sensação ruim vai embora quando
piso na pequena trilha de pedrinhas. O vento bate na árvore à minha esquerda
e faz com que algumas folhas caiam em mim. Rindo, espano meus ombros e
jogo meus cabelos para trás.
Ao erguer o rosto, deparo-me com mamãe saindo de casa com um
homem jovem, talvez da minha idade, ambos sorridentes. E o seu sorriso se
amplia quando nota a minha presença. Ela pede licença a ele e corre para
mim, com os braços abertos.
— Filha! — Me abraça forte.
— Mãe, apesar de estar quase sufocada com esse abraço de urso, eu
gosto dele — falo, e ela ri alto.
— Você sabe o que significa sentir saudade, Amanda? — fala,
fingindo estar emburrada, e rimos juntas.
— Lógico que sim, dona Lara! Só de morar em outra cidade sem
vocês duas fico com o coração apertado — murmuro, afastando-me dela e
olhando em seus olhos lacrimejados.
— Eu sei disso! Estava brincando! — Então aperta minha bochecha
como se eu ainda fosse uma criança. Fico com o rosto ligeiramente vermelho
ao perceber que esquecemos do rapaz.
— Mamãe, cadê a Bia, e quem é ele? — questiono, levando meus
olhos até o desconhecido que está a poucos metros da gente, coçando a
cabeça.
— A sua irmã foi à casa da nossa vizinha levar um pedaço de torta. —
Ela se põe ao meu lado e toca em meu braço. — Mandy, este é o João Pedro,
filho da nossa vizinha. Chegou semana passada do interior da Bahia —
explica, gentilmente, apontando para o vizinho.
— Ah sim. É um prazer, João. — Sorrio educadamente.
— João Pedro, esta é a minha filha mais velha, Amanda, ela mora em
Engenho Novo, mas sempre que pode vem nos visitar. — Mamãe me
apresenta, mas não gosto do olhar do vizinho sobre mim, não que ele esteja
sendo malicioso, só parece desconfiado.
Ele me analisa dos pés à cabeça, não sei o que está pensando, só que
repara demais na pulseira de ouro que comprei há dois anos por dois mil reais
e que para a minha mãe é apenas uma imitação barata. Notando que estou
desconfortável, ele volta sua atenção para dona Lara, que está saltitante de
alegria.
— Com todo respeito, mas a senhora tem uma filha muito linda. —
Ele sorri, estendendo a mão para mim. — É um prazer te conhecer também,
Amanda. — Aceito o seu aperto de mão.
— Minha nossa, esqueci o fogo ligado! — exclama minha mãe,
batendo de leve na testa. — João, meu querido, muito obrigada por arrumar o
cano da pia. Não esperava que aquele meu improviso daria tão ruim assim, se
não fosse por você não sei o que faria! — agradece-o, gentilmente.
— Que isso, dona Lara, precisando é só falar comigo — profere ele,
sorridente.
— Ah, meu filho, muito obrigada mesmo. Hoje em dia é difícil achar
pessoas dispostas a ajudar ao próximo — afirma mamãe, e eu concordo com
ela. — Filha, leve o rapaz até a saída, vou ter que desligar o fogo antes que o
doce de abóbora queime! — Em passos apressados, ela se vai.
— Muito obrigada por ajudar a minha mãe — agradeço, mesmo que
ela já tenha feito isso.
— Não precisa agradecer, sou uma pessoa que, podendo ajudar, eu
ajudo — garante.
Caminhamos na direção da saída. Novamente o vento bate na árvore e
suas folhas caem, dessa vez não sou a única premiada, o João também.
Nós nos limpamos, e quando chegamos ao portão, ele abre e fica do
lado de fora, enquanto eu permaneço para dentro do portão. Cada um sabe
das suas necessidades, e como não os vi mencionar nada sobre pagamento,
começo a abrir minha bolsa para pegar a minha carteira.
— O que está fazendo? — pergunta ele, quase ofendido.
Paro na hora de mexer em minha bolsa para encará-lo.
— Quanto ficou o serviço? — inquiro, e ele franze o cenho.
— Não é necessário pagar, Amanda. Obrigado. — Sua expressão é
séria. Ele me avalia tão estranhamente, que sinto uma imensa vontade de
perguntar o motivo. — O.k., me desculpe, não quis te ofender. — Fecho
minha bolsa. — Posso te fazer uma pergunta? Por que me olha tanto como se
me conhecesse de algum lugar? — Vasculho o seu rosto magro e seus olhos
castanho-claros.
— Mas eu conheço, não pessoalmente — declara, com suavidade.
Minhas pernas tremem com medo da sua resposta.
— De onde? — indago, com a voz baixa e as mãos suando.
— Tenho um amigo que mora no Rio de Janeiro. Uma vez ele me
mostrou uma foto sua em um clube de prostituição — revela.
Eu quase caio para trás, mas ele me segura pela cintura.
— Meu Deus... Você deve ter me confundido. — Meus lábios tremem
e eu seguro o choro.
— Ei, se acalme, você está tremendo e pálida. — Toca no meu rosto e
eu deixo as lágrimas caírem.
Ele vai contar para a minha mãe o que eu sou? Será que vai me
chantagear? E agora? Imagina se a minha família descobre que sou uma
prostituta através de terceiros? Eu serei eternamente odiada.
— Poderia me soltar, por favor? — peço, observando ao nosso redor,
e congelo ao ver o carro do motorista de Gabriel ainda ali, parado a alguns
metros. André está nos encarando, e a maneira como o vizinho está me
segurando pode dar a entender várias besteiras para quem está de fora.
— Você está quase passando mal, Amanda. Foi só revelar o que sei
que ficou assim, então não acho que seja uma mentira, nem mesmo a foto que
ele me enviou quando esteve ano passado naquele clube. — Ele me solta.
— Quanto você quer para não falar nada à minha mãe? — Soluço,
sem conseguir olhar para ele. Estou focada em André, que arrasta o carro
para longe.
O quanto devo estar fodida? De um lado minha família, do outro um
cliente importante que pode perder a confiança em mim e chutar a minha
bunda.
— Quando a sua mãe nos apresentou fiquei surpreso, e notei que ela
não deve saber da sua vida em Engenho Novo. — Soa ácido e meu peito arde
como fogo.
— Me diga quanto quer e dê o fora daqui! — Fecho os punhos e
machuco a palma da minha mão com as unhas.
— Não quero nada, garota, só não acho certo mentir para a sua mãe,
que parece ser uma pessoa de bem. — O semblante dele está endurecido. —
Você deve falar a verdade para ela antes que seja tarde demais. Nunca vi
alguém elogiar tanto uma pessoa como ela faz com você. — Bufa,
desdenhoso.
— E quem você pensa que é para me exigir algo assim? — Cuspo as
palavras, raivosamente.
— Apenas alguém que teve a família destruída por causa de uma puta
como você. — Tenta tocar no meu ombro, mas eu recuo.
— Você não me conhece, não sabe nada da minha vida Suma da
minha frente e nunca mais coloque os pés aqui — ordeno, apontando para a
rua.
— Seja esperta e não decepcione a sua mãe por alguns trocados,
vendendo o corpo — provoca-me e eu me controlo para não o esmurrar.
Quem esse filho da puta pensa que é para falar assim comigo? Ele é
louco.
— E o que você ganha se envolvendo na minha vida? — Trinco os
dentes, com os olhos ardendo.
— Nadinha, Amanda, mas pense mais em sua família. Eles não
merecem viver com uma mentirosa. Conheço mulheres do seu tipo, fode com
homens casados por dinheiro e destrói lares sem se importar com os filhos
deles. — Estala a língua.
— Dê o fora daqui! — Encorajada, eu o pego pelo braço e o empurro
para a calçada.
— Vá até a minha casa e veja como a minha mãe é hoje por causa de
gente como você, que entrou na vida do miserável do meu genitor e destruiu
a felicidade dela. — Ele tenta me segurar, mas me afasto.
— Mandy, Mandy! — Escuto a voz infantil de Beatriz, que corre na
minha direção. Rapidamente me recomponho e o maluco também, que age
como se fosse outra pessoa.
Ela me abraça apertado na cintura, então agacho-me e beijo a sua
cabeça. Tremendo, encaro o vizinho descontrolado, que sai a passos largos
para longe da gente e vai para a sua casa. Nervosa, puxo Beatriz para dentro e
fecho o portão.
— Você está chorando, o que foi, maninha? — Minha irmã segura a
minha mão.
— Nada, Bia, está tudo bem. Só fiquei emocionada em ter vindo ver
vocês hoje — minto, piscando para ela.
— O João te incomodou?
Salivo com a pergunta inesperada.
— Como assim, Beatriz? Claro que não! — digo, enquanto seguimos
pela trilha de pedrinhas.
— Eu não gosto dele, sabia? Dias atrás, ele quebrou umas coisas
dentro da sua casa e a mãe dele veio aqui esperar que ele se acalmasse. Não
ouvi mais nada da conversa delas, porque era coisa de adulto e a mamãe me
mandou ir para o quarto — confessa, baixinho, para que só eu possa ouvir.
Céus, minha família pode estar correndo perigo?
— Humm, vamos deixar isso para lá? Esse assunto não é coisa de
criança mesmo, e você não pode se envolver. — Toco na sua cabeça e ela
assente quando entramos em casa.
— Tá, mas eu não gosto dele, só da dona Vera, ela é uma senhora
muito boa — diz, mas logo se cala quando mamãe surge na sala.
— Bia, como está a Vera? — Nossa mãe vem até nós.
— Parecia triste, mãe, mas ela está sempre assim. — Crianças tendem
a sempre ser sinceras.
— O.k., você pode ir ao seu quarto enquanto converso com a sua
irmã? É assunto para adultos, querida — pede mamãe.
Beatriz me dá outro abraço e sai da sala correndo.
Cruzo os braços sobre o peito e fixo os olhos em dona Lara.
— Mãe, eu não gostei daquele João Pedro, ele parece problemático. E
a Beatriz me disse algumas coisas que não me agradaram. — Solto uma
respiração pesada.
— Vamos nos sentar, filha. — Aponta o sofá para mim e eu deposito
minha bolsa no aparador ao lado antes de me sentar.
— Eu sei que ele foi gentil te ajudando em casa, mas quando precisar
de algum serviço que não consiga fazer, me ligue e eu envio dinheiro para
pagar um profissional. — Meus pensamentos vão para a discussão que tive
com o vizinho. — Não é bom colocar estranhos dentro de casa, e aquele
rapaz tem um olhar estranho. — Engulo em seco.
— A Vera não é uma estranha, todos no bairro a conhecem, menos o
seu filho que chegou por esses dias e realmente não tem agradado alguns
vizinhos, mas é um bom rapaz. — Olha-me com pena. — Ela me contou que
na infância, ele era muito problemático... vez ou outra que fica atacado.
Arregalo os olhos com a informação.
— E por que ele tem esse temperamento difícil? — pesquiso,
amedrontada com o que posso ouvir.
— A Vera não teve um bom casamento com o pai dele, na época que
ele era criança, o pai se envolveu com uma garota de programa e ela acabou
com o casamento deles — diz, quase baixo, com o rosto vermelho. — O
esposo da Vera os abandonou e foi embora para o interior da Bahia viver com
essa mulher. Deixou-os com quase nada, só com essa casa que vinham aos
finais de semana. Com isso, o rapaz foi crescendo muito revoltado por causa
do abandono paternal — conta e eu levo a mão à boca.
— Mas ele ainda procura problemas? Digo, a senhora me disse que
ele não tem agradado algumas pessoas do bairro. — Meus lábios chegam a
tremer.
— Ele é só valentão uma vez ou outra, mas nada que devamos nos
preocupar. É a primeira vez que o João Pedro entra aqui, e sempre deixo o
portão fechado e o muro da nossa casa não tem como pular, já que temos a
cerca elétrica. — Me tranquiliza nessa parte.
— Mãe, estou preocupada com essa sua amizade com a Vera. Ficar
perto dela significa ficar perto dele. A senhora nunca foi de amizade, a última
vez que estive aqui não me disse nada dessa mulher. — Uma saliva grossa
parece rasgar a minha garganta.
— E por acaso vou te incomodar com besteiras, Amanda? — Faz
careta.
Ela vem até mim e se senta ao meu lado, então encosta a boca perto
do meu ouvido.
— Filha, ele não tem muitos dias aqui, ele só veio mesmo para visitar
a mãe.
— Tudo bem, talvez eu esteja exagerando um pouco. — Respiro
aliviada. — Mas quero te pedir um favor, não deixe a Beatriz ficar indo à
casa deles.
— Pode deixar, querida, eu sou uma pessoa com o coração bom, mas
não sou inocente. O João só entrou aqui em casa porque o rapaz que arruma
minhas coisas teve um imprevisto e eu não tinha as ferramentas certas para
ajeitar a pia. — Me abraça pelos ombros.
— Pois vamos providenciar outro profissional para ser a sua segunda
opção — digo, encostando a minha cabeça na dela.
— O.k., agora vamos na cozinha preparar o seu prato de comida,
testei um novo tempero — avisa.
— Hum, vamos, vamos! — Levanto-me com ela.
— Além do doce de abóbora fiz pé de moleque, a quantidade que
preparei vai dar para você levar um pouco para casa — diz, animada, indo
para a cozinha.
Mãe sendo mãe, e é algo que a minha nunca deixará de ser.
Capítulo 11

— Você não quer mais um pouco do doce, filha?


Ergo o rosto para encarar mamãe, que me estende a vasilha com o
doce de abóbora.
— Estou cheia já. — Bato de leve na barriga e ela assente, risonha.
Depois do almoço, viemos para a área dos fundos e nos sentamos à
mesa para conversar e comer a sobremesa. Na ponta da mesa, Beatriz está se
fartando com um potinho de doce, enquanto nossa mãe está de frente para
mim.
— O.k. — Balança a cabeça. — Filha, tenho uma novidade para você,
preferi deixar para te falar pessoalmente. — Mamãe pisca para mim.
— O que é? — Sorrio com a sua animação.
— Consegui a vaga no colégio para a Beatriz, no período da manhã
— diz. Porém não sinto mais o seu entusiasmo de antes.
— É por aqui? — questiono, olhando para a minha irmã, que nos
observa calada.
— É no bairro, mas é um pouquinho longe. A diretora recomendou
um transporte escolar, mas achei um pouco caro, e juntando ao valor da
mensalidade então… — Soa tristonha.
— Quanto ficaria o gasto mensal? — Deposito minha tigela na mesa.
— É quatrocentos reais do motorista, a ida e a volta, e o colégio,
seiscentos reais, com a bolsa que consegui — revela, um tanto preocupada.
— O.k. Amanhã a senhora vai matricular a Beatriz e contratar o
transporte escolar — determino.
Minha mãe arregala os olhos e Bia comemora, vindo até mim e me
abraçando pelos ombros.
— Obrigada, irmãzinha. Eu não quero mais estudar naquela escola
mesmo. — Ela se refere a que está atualmente.
— Eu só mereço um abraço, Beatriz? — Faço biquinho e ela ri
baixinho, então pede para se sentar em meu colo e me abraça mais forte,
beijando minha bochecha em seguida.
— Você é a melhor irmã do mundo! — fala a garotinha, sorridente.
Do outro lado da mesa, nossa mãe nos observa orgulhosa e com os
olhos cheios de lágrimas.
Será que a senhora ainda sentiria orgulho de mim se soubesse o que
faço, mamãe? Eu ainda seria a sua menina?
Meus pensamentos se tornam tão dolorosos, que acabo me lembrando
das palavras do vizinho desequilibrado, praticamente me ameaçando.
— Eu sei que sou. — Gabo-me, dessa vez beijando suas bochechas e
a fazendo gargalhar.
— Minhas meninas, vou lavar as louças do almoço, fiquem aí ou vão
para a sala — dona Lara se manifesta, chamando a nossa atenção.
— Podemos fazer melhor, mãe. A senhora fica aqui com a Bia e eu
lavo. — Tiro minha irmã do meu colo e levanto-me.
— Negativo, Mandy. Suas unhas estão recém-feitas, não vou deixar
que as estrague, ainda mais que trabalha em um lugar público e esse povo
repara em tudo. — Mamãe faz uma careta na maior inocência.
Sentida, ergo minhas mãos e olho para minhas unhas. Eu poderia não
ligar para isso, todavia, estou em Búzios a trabalho e não posso aparecer na
frente do Gabriel com os esmaltes desgastados.
— A senhora tem razão — murmuro, respirando fundo.
— Acho que você pode fazer outra coisa para não ficar com essa
carinha triste, filha. — Pisca para mim.
— Enquanto eu lavo, você enxuga e a Beatriz guarda no armário. O
que acha? — sugere mamãe.
Minha irmã adora a ideia, porque corre para dentro de casa dizendo
que vai procurar o pano de prato.
— Acho uma ótima ideia. — Vou até ela e a abraço.
— Mandy, acha que pode mesmo lidar com mais uma conta? Eu sei
que mil reais não é pouca coisa, posso tentar arrumar outra escola mais em
conta, ou uma pú…
— Mãe, apenas confie em mim. Recebi um bônus do meu novo
emprego, vai dar para fazer algumas coisas e um pouquinho mais, então
relaxe, a sua filha sabe o que está fazendo — interrompo, apertando-a contra
meu abraço.
— Amanda, além disso tudo, tem o uniforme e a lista de material.
Afasto-me dela e toco em seus ombros.
— Mantenha essa cabeça fria, mamãe, eu sempre dou o meu jeito. —
Olho bem em seus olhos.
— Sim, eu sei, mas você não pode ficar assumindo uma
responsabilidade que não é sua. A Beatriz é a sua irmã, não sua filha. Você é
tão nova e ainda não viveu a sua juventude porque fica se dedicando a nós, a
nos dar sempre o melhor. Algumas vezes se esquece que a prioridade deve
ser você. Eu que sou a mãe, entende? Acabo me sentindo uma inútil, um
fardo. — Fica cabisbaixa.
— Olhe para mim. — Toco em seu queixo e ergo o seu rosto. —
Você e minha irmã nunca serão fardos para mim, são a minha família. Se
vocês são a minha prioridade é porque eu quero, o.k.? Eu amo você e nada do
que eu faça é um peso.
Ela assente e suspira.
— Obrigada, minha filha, somos abençoadas por você cuidar de nós
— Ela se emociona.
— Vocês são a minha motivação, sabe disso, mas vamos lavar
aquelas louças e conversar mais um pouquinho porque ainda estou com
saudade — digo e rimos juntas ao seguir para dentro de casa.

∞∞

Já é noite e eu ainda estou na casa da minha mãe. Meu plano era


voltar para o resort à tarde, mas não pude resistir ao pedido da minha família
em ficar por mais algumas horas. Mesmo sabendo que tenho outro
compromisso, fiquei por elas e percebi que me deixei levar pelo coração e
não pela razão. Gabriel não ligou ou enviou mensagem para saber de mim.
Mais cedo, antes das cinco, eu o avisei por mensagem que ainda estava com a
minha amiga, ele sequer me respondeu.
— Mandy, quando você vem morar com a gente? — pergunta Beatriz,
penteando o cabelo da boneca dela.
Estamos em seu quarto brincando com suas bonecas. Depois de ela ter
tomado banho, sugeriu que fôssemos assistir a um desenho, lógico que não
fiz desfeita, mesmo cochilando em algumas cenas e ela me acordando toda
emburrada. Após nosso momento na sala, veio a ideia de brincar com as suas
bonecas. Embora eu não tenha mais idade para esse tipo de coisa, decidi abrir
uma exceção para a minha pirralha, e ela está fascinada por eu ter aceitado o
seu pedido.
— Em breve — digo, colocando em seu colo a boneca que acabo de
vestir.
— Você sempre diz isso, mas nunca vem. — Soa tristonha,
encarando-me.
— É complicado, Bia, você é uma criança ainda, não entenderia —
falo, tocando no seu rosto e acariciando suas bochechas.
— Por que você não arruma um trabalho perto de casa? Assim vamos
poder morar juntas, como uma família de verdade. — Seus olhos enchem de
lágrimas.
Como dizer para a minha irmã que o emprego é diferente? Não tem
como.
— Consegui o meu trabalho com muito esforço, irmãzinha, por
enquanto não posso vir para cá definitivamente. E quem disse que a distância
não faz de nós uma família de verdade? — Limpo as lágrimas que caem por
sua bochecha.
— Eu sei, mas a mamãe e eu sentimos muito a sua falta, você demora
muito para nos visitar. — Soluça e eu sinto meu peito apertar.
— Não precisa chorar, logo vamos poder viver juntas. Vai me ver
todos os dias, tanto que vai ficar enjoada — falo, controlando a voz
embargada e pegando em sua mão. — Agora vem aqui para eu te contar um
segredinho. — Bato de leve na minha perna e ela vem se sentar no meu colo.
— O que quer me contar? — Dá uma risadinha quando faço cócegas
em sua barriga.
— Vou comprar uma casa pra gente, ela será maior do que essa —
confesso, arrumando o seu cabelo atrás da orelha e encostando a boca na sua
orelha. — Mas esse vai ser nosso segredo, tá bom? A nossa mãe ainda não
sabe, vai ser uma surpresa.
— Você jura, Mandy?! — Sai do meu colo e me olha com os olhos
esbugalhados.
— Sim, mocinha! — Pisco para ela, que bate palmas e sorri.
— Oba! E quando você vai comprar? — Seus olhos brilham.
— Quando eu tiver…
Eu me calo ao ouvir passos se aproximando e, com um gesto de mão,
peço a Bia que fique em silêncio. Ela assente, colocando as mãos na boca
para abafar a risada. Minha irmã ficou animada com a ideia de termos nossa
casa própria, e eu por vê-la parar de chorar e ficar feliz com a novidade.
— Amanda, tem um homem lá fora querendo falar com você. —
Nossa mãe surge na porta com o semblante sério.
Quem pode ser? Não estou esperando ninguém, isso está muito
estranho. Ninguém além de mim e a minha cafetina sabe o meu endereço.
— Como assim? — gaguejo, levanto-me da cama de Beatriz, por
pouco não caio ao tropeçar em uma das suas bonecas.
— Pois tem um homem com uma pinta de ricaço procurando por
você. Ele disse que você o conhece, que ele é amigo da Judite. Só confiei
nele porque disse o nome da sua patroa — explica-se, um pouco desconfiada.
Esse ricaço seria o… Não, não, ele não faria isso. Ou faria?
— Mãe, por que a senhora confia em todo mundo assim?! —
exclamo, nervosa, passando por ela.
— Não confio, só não ia deixar aquele homem na calçada todo bem-
vestido, com aquelas roupas chiques podendo ser assaltado uma hora dessas
— defende-se.
— Pelo menos ele disse o nome? — Meus joelhos tremem
intensamente.
— Por que você está tão nervosa, Amanda? Quem é esse homem para
você? — questiona-me, ignorando a minha pergunta, ainda atrás de mim.
— Mãe, ele é… — Perco até a voz com o que vejo.
Gabriel Vilela. Trombo em mamãe ao recuar quando observo meu
cliente sentado no sofá, com as pernas cruzadas e avaliando cada detalhe da
sala como se estivesse com vontade de fugir dali. Ao notar a nossa presença,
ele vira o rosto para a nossa direção, preciso segurar no pulso da minha mãe
para conseguir me manter de pé.
Gabriel têm fogo nos olhos, e por mais que ele tente disfarçar, é
visível o seu maxilar travado e os lábios comprimidos ao examinar a roupa
diferente que uso. Mais cedo, tomei banho e substitui o vestido que vim para
cá por algo mais leve que já tinha aqui em casa, pois só voltaria usá-lo
quando fosse voltar para o Pérola Beach.
— Amanda, filha? — chama-me mamãe, percebendo que fico gelada.
Ao me ouvir ser chamada de “filha“, Gabriel suaviza a expressão, mas
não deixa de demonstrar irritação.
— A… a senhora pode me deixar falar com esse senhor sozinha, por
favor? — peço, virando-me para ela, provavelmente estou pálida.
— Mandy, você conhece mesmo esse homem? — Minha mãe olha
para o homem que permanece sentado no sofá, com uma postura inabalável.
Mamãe está séria, alternando o olhar entre mim e o meu cliente.
— Sim… E-ele é meu… meu novo chefe! — Minha resposta quase
não sai, e quando consigo falar só pioro mais as coisas.
Meu chefe? Céus! Ao invés de melhorar, só piora.
— Chefe? E o que esse senhor veio fazer aqui em casa, uma hora
dessas? — Mamãe franze o cenho, sinto que ela não está engolindo essa
mentira.
— Sim, mãe. Eu não sei, por isso estou tão nervosa — falo baixinho
para que só ela me escute.
— Você não está mentindo para mim, não é? — Olha bem em meus
olhos.
Antes de responder a ela, encaro Gabriel por cima dos ombros e noto
que está alheio a nossa conversa.
— Claro que não, estou dizendo a verdade. — Firmo a voz, mesmo
com o coração batendo disparado.
— O.k. Por um momento, pensei que era algum cara se passando por
ricaço que estava querendo te enganar. Você sabe, têm muitos homens
safados por aí que gostam de iludir garotas na sua idade. — Respira aliviada,
enquanto fico com vontade de chorar.
— Então a senhora pode me deixar falar com ele a sós, por favor? —
Meus olhos ardem.
— Claro. Vou ficar no quarto com a sua irmã, qualquer coisa me
chame — diz, tocando no meu braço.
— Pode deixar. — Engulo em seco.
— Será que ele não quer um copo de água, um suco ou algum
biscoito? — inquire, tentando visualizar o homem no sofá.
— Não, mamãe, ele não vai querer nada, pode acreditar — murmuro,
dando uma risadinha.
Ela pede licença e sai da sala. Gabriel se levanta e anda de um lado ao
outro, passando a mão por seu cabelo que antes estava arrumado para trás,
mas que agora está bagunçado.
— Desde quando sou o seu chefe? — ralha, sem me encarar.
— Shhh, por favor, sr. Vilela! Posso explicar! — peço, tenebrosa,
aproximando-me dele.
— Acho bom mesmo. Que palhaçada é essa? Então o seu nome é
Amanda, e não Milena? — Ele para de andar de um lado para o outro e cruza
os braços sobre o peito.
— Acha mesmo que eu usaria meu nome verdadeiro no meu
trabalho?! — digo, morrendo de medo de ser ouvida por minha mãe.
— E como eu poderia pensar o contrário? Não sou nenhum bobo, mas
nunca me envolvi com mulheres do seu tipo, não sei como funcionam direito
as regras. — O timbre dele é acusador e ofensivo.
— Apenas me escute, é tudo o que te peço — falo, com o meu
estômago se contorcendo.
— Você mentiu para mim, porra! O André me disse que você estava
nessa casa com um homem, e agora sou recebido por essa senhora que acabo
de descobrir que é a sua mãe! Por acaso está atendendo algum cliente aqui?
Por isso está toda nervosinha? — grunhe, raivoso, com o dedo em riste.
— Você pode falar baixo, por favor? Eu posso explicar, mas
mantenha a calma — praticamente imploro, pegando-o pelo braço e tentando
arrastá-lo para fora da casa.
— Não vou a lugar algum. Me fale agora o que está acontecendo —
ordena, friamente, tirando minha mão do seu braço.
— Em primeiro lugar, nem era para você estar aqui. — Puxo o ar para
os pulmões. — Eu errei, se isso está acontecendo é por minha culpa, não fui
profissional ao ter deixado o meu trabalho de lado para visitar a minha
família. — Minhas mãos tremem e ele percebe isso, dado ao modo como os
seus olhos escurecidos pela raiva estão sobre mim.
— Então aquela senhora é mesmo a sua mãe? — pergunta. Assinto,
sentindo o gosto amargo na boca. — E o homem que o André viu com você é
o seu marido ou namorado? — Fecha um punho.
— Nenhum dos dois, ele é um vizinho enxerido — digo, passando
minhas mãos no vestido.
— Um caralho que é. O meu motorista viu o homem com as mãos em
você, e agora quer me tratar como idiota, garota? — Cospe as palavras,
revoltado. — Eu te trago para uma viagem, te trato bem, pago um dinheirão
pelos seus serviços, e você me retribui vindo trepar com outro? — Ele se
aproxima e me segura pelos ombros.
— Cale a boca, não fale o que não sabe! Minha família pode te ouvir.
A minha mãe não sabe com o que eu trabalho, e o escândalo que você está
fazendo vai acabar me prejudicando! — Trinco os dentes, me soltando dele.
— Então explique, porque estou confuso! Tem certeza de que ela não
sabe sobre você? — Ri baixinho e provocante.
— Ela não sabe! — insisto em dizer, mas Gabriel bufa.
— Eu te chamei de Milena e a sua mãe não me corrigiu.
Perco as forças das minhas pernas e ele é obrigado a me amparar.
Ouço um barulho de algo caindo atrás da gente, mas deve ter sido coisa da
minha cabeça, já que estou perturbada com a sua presença.
— Vo-você está sendo escroto. A minha mãe não sabe de nada, não
minta para que eu me sinta mais culpada — peço, deixando as lágrimas
caírem por minhas bochechas.
— Não tenho motivos para mentir. Perguntei por Milena e ela ficou
confusa de início, disse até que eu estava batendo na porta errada, então
pensei em mencionar a Judite e ela me deixou entrar. Você acha que a sua
mãe me deixaria entrar na casa de vocês tão fácil assim se não soubesse toda
a verdade?
Faz sentindo tudo o que ele fala e dói na minha alma perceber que não
está mentindo.
Como minha mãe sabe sobre mim? Ela não iria esconder essa
informação por muito tempo, iria me confrontar. Tem algo errado, muito
errado.
— Você tem noção do problema que está me causando vindo até
aqui? — Puxo meu cabelo para trás, soltando um soluço.
— Eu só vim atrás do que eu paguei para ter! Pensei que você estava
com outro e me fazendo de otário, afinal, paguei por exclusividade! —
informa, severamente.
Um grande filho da puta ele está sendo, mas não posso julgá-lo, eu
reconheço que estou colhendo o que plantei com a minha vida dupla.
— Eu jamais quebraria um acordo, Gabriel! Eu seria muito burra se
fizesse isso com você, ou com qualquer outro cliente — digo, chorando.
Odeio a ideia de estar mostrando minha fraqueza na frente dele, mas estou
desesperada.
— Independentemente da sua família saber ou não do seu trabalho, te
quero ainda hoje no resort. Você está aqui porque eu te trouxe, e vai
continuar comigo até o nosso prazo acabar, Milena.
A sua frieza me abala de uma maneira que não deveria.
— Eu posso ao menos me despedir da minha mãe? — pergunto, com
a voz trêmula.
— Vou te esperar no carro, não demore. Tive um dia exaustivo,
preciso descansar. — Suspira, cansado.
— Não posso prometer que não demoro, Gabriel — murmuro,
limpando meu rosto molhado.
— Seja breve, Amanda, vou ficar chateado se precisar fazer
reclamações à sua cafetina. — É ácido a ponto de me partir em mil pedaços.
Ele está sendo tão babaca, tenho vontade de estapeá-lo, mas estaria
agindo errado.
— O.k. — Respiro fundo.
Gabriel me dá as costas e sai da casa em passos largos. Nervosa, me
sento no sofá, levo as mãos ao rosto e começo a chorar como nunca fiz.
Mesmo correndo o risco de ser ouvida, eu choro porque é a minha única
saída. A vida quer porque quer me foder hoje. Não bastou o vizinho maluco
que odeia prostitutas, agora o meu cliente furioso não compreende minha
situação.
Minha mãe vai sentir nojo de mim em vez de orgulho quando souber
que me vendo para ganhar dinheiro? E minha irmã ainda vai dizer que sou a
melhor irmã do mundo? Eu não sei e é difícil para mim tentar saber.
Cabisbaixa, limpo meu rosto, mas em poucos segundos estou
chorando novamente. Sinto-me tão fraca neste momento, estou destruída por
dentro e por fora. O meu medo em ser rejeitada pelas duas pessoas que amo
mais do que tudo me faz sentir como se tivesse um buraco enorme no peito.
— Amanda, precisamos conversar. — É a voz da mamãe, e parece
que chorou.
Ergo o rosto e encontro dona Lara, com algumas notas de dinheiro
amassadas nas mãos e os olhos avermelhados. Engulo o nó que se forma na
minha garganta, incapaz de me levantar e ir até ela.
— Mãe… — Meus lábios tremem e os meus olhos ardem.
— Calada. Agora você vai me escutar! — exclama, jogando no chão,
perto de mim, as notas que amassou. — Eu já desconfiava que por trás desse
seu emprego com aquela mulher tinha algo mais. Uma vez, liguei para ela
perguntando por você e ela disse “a Milena está bem”, mas depois se
corrigiu. Dois anos atrás! Fui muito inocente para associar uma coisa com
outra, pensei que ela havia se confundido, então, dias atrás quando estávamos
em uma ligação, alguém te chamou pelo nome Milena e você ficou nervosa
dizendo que era uma colega do seu trabalho!
— Mamãe, me deixe…
Minha mãe se aproxima tão rápido de mim que me assusto. Ela me
segura pelos ombros e me sacode.
— Eu disse que você vai me ouvir! — Seus olhos estão arregalados e
a sua expressão é de puro horror. — Passamos por muitas dificuldades, eu
compreendo que naquela época tínhamos que escolher não morrer de fome ou
dormir em algum lugar para não passar frio na rua. E os trocados que eu
ganhava nas faxinas não davam para pagar um lugar para colocarmos a nossa
cabeça, mas eu tentei, você sabe que dei o meu melhor… Lutei bastante,
passamos fome, ficamos sem teto, então conheci o maldito do Cláudio e ele
me deu a oportunidade de recomeçar a vida, eu acreditei nele porque estava
carente. Depois, o desgraçado fez o que fez, então voltamos novamente a
passar por coisas difíceis, porque eu não soube ser sábia! Não tive boas
oportunidades na vida e nem um bom estudo para dar a vocês um futuro
melhor, mas jamais pensei em me prostituir como você está fazendo! — Ela
começa a chorar e eu também.
— E-eu… f-fiz… tudo por nós, por vocês! Estava cansada de tudo,
mãe! Iríamos morrer de fome, ninguém queria nos ajudar, e quando
ajudavam, queriam algo em troca! — defendo-me, aos prantos, enquanto ela
balança a cabeça, negando.
Meu primeiro emprego foi em um mercadinho, como empacotadora,
comecei a trabalhar quando completei catorze anos. O emprego durou três
anos e me vi sem opção ao ser demitida depois que o filho do chefe tentou
me agarrar à força e eu quebrei uma garrafa de cerveja na cabeça dele. Em
seguida, corri para casa, e no outro dia soube que não tinha mais emprego.
A minha atitude em me defender me trouxe muitas consequências,
muitas coisas desandaram e eu me vi em um inferno que nem mesmo com
orações eu conseguiria escapar.
— Q-quando você começou? — Ela não para de chorar.
— Com dezoito. A Beatriz tinha ficado com bronquite, lembra? O
remédio era muito caro, não tínhamos como comprar, e se ela não tivesse
aqueles remédios… — Soluço, sem conseguir falar.
— Eu lembro, você me disse que tinham emprestado a você, mas
naquela noite chegou chorando muito e eu não entendia o motivo. Achei que
era por alívio em ter conseguido o dinheiro. Como eu fui muito burra! —
Mamãe se afasta de mim e leva as mãos à cabeça.
— Eu estava chorando porque tinha conseguido os remédios da Bia e
por ter tido a minha alma corrompida, me deitei com um velho nojento
para… — Tapo a boca, com nojo de mim mesma, e abaixo a cabeça.
— Meu Deus. — Ela chora de um lado, e eu de outro.
Mesmo com o corpo inteiro tremendo, decido continuar falando.
— Continuei me prostituindo até que conheci a Judite e ela me
ofereceu um emprego no Rio de Janeiro… — conto a ela como foi a proposta
da Judite. Mamãe xinga a minha cafetina por ter sido enganada por ela todos
esses anos, se fazendo de amiga.
— É por isso que você não pode nos ver? Sai com esses homens ricos
e consegue todo esse dinheiro? — indaga, com a mão na testa.
— Sim — confirmo, envergonhada.
— Você nunca teve um emprego em uma loja, não é? — Balanço a
cabeça dizendo não. — E você mora mesmo em Engenho Novo, Amanda? O
que mais da sua vida é uma mentira?
— Eu moro em um apartamento alugado perto de Copacabana —
digo, com a voz embargada.
— Como você pôde mentir para mim, minha filha? Tantos anos
mentindo enquanto eu gritava aos quatro ventos o quanto sentia orgulho de
você. — Ela me quebra de várias formas e não percebe.
— E não sente mais? Agora que sabe a verdade, eu não significo mais
nada para a senhora? — pergunto, levantando-me. Tento me aproximar dela,
mas em vez de me acolher, ela avança em mim e estapeia meu rosto. Mesmo
sentindo dor e ardência, deixo que me bata e então, só depois de um tempo
que ela me puxa para um abraço.
— A culpa é minha. Me perdoe, minha filha. Fui fraca… Se eu não
fosse tão fracassada, você não teria precisado se tornar uma prostituta.
Eu me preocupo por ela não parar de chorar e a abraço de volta,
mesmo sentindo o gosto de sangue na minha boca.
— Nunca foi fácil, mãe. Foi doloroso todos esses anos ter que me
deitar com homens nojentos de todos os tipos para conseguir dinheiro —
confesso, chorando e a apertando em meus braços. — Alguns dias, eu ficava
horas e mais horas dentro do banheiro, esfregando o meu corpo para arrancar
a sujeira, não que hoje isso tenha mudado, mas tive que me acostumar. Foi a
única maneira que encontrei para nos sustentar, e para isso tive que sacrificar
a minha liberdade, renunciar a muitas coisas. — Minha cabeça parece que vai
explodir de tanta dor.
— Esse homem que está te esperando lá... ele é um cliente? É casado?
— Sua voz transmite dor, muitos sentimentos que não sei explicar.
— É sim. E eu não sei se ele é casado, no clube não sabemos quase
nada da vida dos clientes. Eu e o sr. Vilela temos um acordo de
exclusividade. Ele veio a Búzios fazer negócios, e eu aproveitei para visitar
vocês, mas não imaginei que você iria descobrir a verdade. — Afasto-me
dela e tento tocar em seu rosto, mas mamãe rejeita meu toque dessa vez.
— Você nunca iria me contar que é uma garota de programa,
Amanda? — acusa, decepcionada.
— Algum dia, eu iria — murmuro, passando a mão em meu nariz.
— Eu queria poder dizer que te entendo e que está tudo bem, mas não
está, filha. Embora tenhamos passado por dias difíceis na sua infância e na
vida adulta, eu não consigo aceitar que seja uma prostituta e saia com homens
casados por dinheiro. — Perco o chão quando ela me dá as costas para não
me olhar. — Estou sendo egoísta. Sei que você que teve que se sacrificar,
mas para mim, que sou a sua mãe, é complicado entender esse seu trabalho.
Eu desconfiava, eu sentia, mas nunca tive coragem de perguntar se realmente
o seu dinheiro era de horas extras como gerente na tal loja da Judite. E esse
foi meu erro, fechar os olhos para o que estava diante de mim!
— Algum dia a senhora vai conseguir me perdoar? Posso voltar aqui
outro dia? — pergunto, temendo por sua resposta.
— Apenas vá embora, Amanda, preciso ficar sozinha para pensar —
pede, me dando a resposta que eu não queria ouvir.
— Mãe... por favor — imploro, indo até ela.
— Vou pegar as suas coisas no quarto, já volto. — Ela me ignora
friamente.
Por que será que adiei por tantos anos contar a verdade para ela? Está
aí a razão. Ela está enojada e nem quer olhar em meus olhos.
Não demora muito para mamãe voltar, os olhos estão vermelhos e o
seu rosto também. É evidente o desprezo dela por mim. O olhar abatido não
passa despercebido. Ela vem na minha direção e me entrega minhas coisas.
Tento tocá-la, mas não me deixa, se afasta e cruza os braços.
— Pode dizer a Bia que mandei um beijo para ela? — peço, murcha.
Ela assente, mesmo que seja contra a sua vontade. — Espero que mesmo
sabendo o que sou, um dia possa me entender e perceber que nunca quis te
decepcionar. Sempre quis te dar orgulho, mesmo que não fosse do jeito que
você esperava — confesso, deixando o soluço escapar e seguindo para fora
da casa.
Do lado de fora, olho por cima do ombro para a casa com as luzes
acesas por alguns segundos e vejo minha mãe me observando da janela com a
mão na boca. Ela está chorando e estou aqui, com uma imensa vontade de
voltar lá para abraçá-la e pedir perdão, mesmo que o que eu tenha feito
durante todos esses anos foi pensando nelas.
Passo pelo portão e encontro o carro parado no meio-fio. André é o
primeiro a me avistar. O seu patrão, somente depois, quando é avisado.
Aposto que estou um caco, porque Gabriel sai do carro e vem ao meu
encontro com o semblante preocupado.
— O que aconteceu? — Toca no meu rosto com as duas mãos e me
avalia.
— Apenas me leve embora. — Lambo os lábios, sentindo o gosto do
sangue. De repente, minha visão começa a ficar turva.
— Ela te bateu? — investiga, parecendo não gostar do que pode
ouvir.
— Me leve daqui agora, por favor — peço, ignorando-o e tentando
passar por ele.
— O.k. — concorda, pegando minha bolsa e passando o braço por
minha cintura.
Eu só espero que a minha mãe não deixe a raiva que está sentindo de
mim falar mais alto a ponto de devolver a transferência que fiz para sua conta
para pagar os gastos do novo colégio da Beatriz.
Capítulo 12

Horas atrás fiz o checkout no hotel onde ficaria com Milena, porque
decidi passar meus dias no resort, agora que Samuel e eu fechamos uma
parceria. Dei oportunidade para ele que me apresentasse a sua proposta e fui
surpreendido por um pedido de empréstimo. Não é segredo para ninguém que
o resort está à beira da falência, apesar de ainda ser bem frequentado. Mas
realmente não esperava que o homem viesse me fazer um pedido tão
inesperado.
Pude ver na expressão dele o quanto estava envergonhado em me
fazer o pedido depois que fizemos um tour pelo resort e voltamos para o seu
escritório. De fato, ontem, quando tivemos uma reunião, notei que estava
querendo me dizer algo, no entanto, parecia receoso demais para me falar o
que era do seu interesse.
Para se reerguer por completo, ele precisa de alguns milhões. Como
garantia de que vamos fazer um bom negócio, serei o sócio majoritário, vou
ter a maior fatia nas ações. Ele vai ter o investimento e eu vou implantar
meus restaurantes no Pérola Beach.
Na realidade, estou cedendo dinheiro ao Samuel não por ele ter
aceitado o que propus de imediato. Mesmo que meses atrás eu já tenha tido
todas as informações de como o resort havia sido fundado, ouvir da boca dele
com tanta paixão, em como os seus avós construíram com muito esforço o
lugar que antigamente era apenas uma pequena pousada à beira mar, me
estimulou para que abrisse uma exceção pela primeira vez nos meus
negócios. Costumo ser implacável, em hipótese alguma deixo o coração agir
em uma situação como essa, todavia, eu me identifiquei com o progresso do
Pérola Beach e quebrei uma das minhas principais regras. E por mais que
tenha feito isso, não me arrependo, sei que futuramente me trará bons frutos.
O meu humor estava ótimo até André chegar e me dizer que viu
Milena conversando com um homem na casa em que foi deixada,
supostamente de sua amiga. Em minha cabeça, ela estava com outro homem.
No início, fiquei com o sangue fervendo pela possibilidade de ela
estar me enganando, fazendo um trabalho por fora do nosso acordo. E eu não
iria tolerar que me fizesse de idiota, mas por mais que eu estivesse
enraivecido, controlei meu impulso e permaneci no Pérola Beach, esperando
que retornasse para que me desse uma bela explicação. A única coisa que
recebi dela mais cedo foi uma mensagem que sequer me dei ao trabalho de
responder, estava puto demais para ter que lidar com ela naquela hora.
As horas foram passando e a minha desconfiança em estar sendo
passado para trás foi aumentando, e logo me vi pedindo ao meu motorista que
me levasse ao endereço onde deixou Milena. Ao chegar ao local, fui recebido
por uma senhora que parecia ser uma versão mais velha da garota que
conseguiu em tão pouco tempo me tirar do sério. Naquele momento, não
consegui associar o nível de parentesco entre elas até ser convidado para
entrar na casa e descobrir que eu estava na casa da família dela ao ver
algumas fotos espalhadas pela sala.
E, porra, isso não era para estar acontecendo. Esse acordo não deveria
envolver familiares, já que uma das regras do clube é manter sigilo das
identidades. E aqui estou eu, depois de uma discussão com Milena, que
descobri que se chama Amanda, levando-a embora da casa da mãe, que
provavelmente descobriu a sua vida na prostituição por minha causa. Por essa
razão, sinto-me culpado em ter deixado o resort e ter vindo atrás dela. O.k.,
não sou inteiramente culpado, se ela não tivesse mentido para mim, não
estaria passando por isso agora.
Certamente, o Gabriel de semanas atrás nem teria tentado tirar
satisfação ao pensar que ela tinha se encontrado com outro homem, bastaria
fazer uma ligação para a cafetina dela para dispensá-la.
E se eu... São tantos e “e se” na minha cabeça que estou com ela
quase estourando. Se eu não tivesse entrado naquela casa e esperado a garota
chegar ao resort, talvez nada disso teria acontecido, mas caralho, pensei que
estava sendo feito de idiota e não aceito que brinquem comigo. Como eu
poderia adivinhar que a mãe dela não sabia que era uma acompanhante?
Existem tantas pessoas trambiqueiras por aí, que achei que ela estaria
mentindo para mim.
— Milena, o que aconteceu lá dentro? A sua mãe descobriu como
você ganha a vida? — pergunto pela terceira desde que entramos no carro.
Ela não responde, não quer dizer nada, só fica encolhida e com a
cabeça abaixada, chorando baixinho. O cabelo dela está desgrenhado e o seu
lábio machucado. Ela não está bem, estou vendo com meus próprios olhos
que Milena não está nada bem.
Vê-la neste momento vulnerável, em lágrimas e tremendo, faz com
que meu coração fique apertado.
— André, vá mais rápido.
O motorista me olha pelo retrovisor e assente ao dizer um “sim,
senhor”.
Percebendo que a loira está passando as mãos nos braços como se
estivesse com frio, peço ao motorista que diminua o ar-condicionado, em
seguida, tiro meu blazer e ponho em seus ombros, fico mais aliviado por ela
não recusar o meu gesto cavalheiresco. Por saber que Milena não está em
condições de desabafar, deixo-a em seu canto e viro meu rosto para a janela
ao meu lado.

∞∞

Assim que chegamos ao resort, dispenso os serviços de André pelas


próximas horas e sigo para dentro com Milena, que continua disposta a se
manter em silêncio. No caminho para cá, quando parou de chorar, prendeu o
cabelo em um coque meio bagunçado, então pude ver direito que o seu rosto
tem uma marca de dedos. Confesso que ver aquilo me deixou com raiva, mas
preferi ficar com o sentimento de revolta só para mim.
Acredito que seja melhor assim, já estou sabendo demais da sua vida
para me intrometer em algo que não me diz respeito. Meu único interesse é
em seus serviços, não no que acontece ou deixa de acontecer com a sua
família. Muito menos se o seu nome verdadeiro é Amanda.
Amanda, e não Milena. Como dois nomes podem combinar tanto com
alguém? Ambos são fortes, mas... cacete, o nome verdadeiro é lindo, combina
perfeitamente com ela, principalmente por sua personalidade forte.
Porra, estou uma verdadeira confusão. Nem sei mais o que eu quero.
Uma hora penso que é melhor não saber nada da vida dela para não me
envolver demais, depois tenho curiosidade em saber cada detalhe sobre ela.
Mas não posso me culpar. Milena é a primeira garota de programa com quem
eu saio. É normal que eu fique assim, já que ela é a minha primeira
experiência.
Entramos na suíte e a minha acompanhante senta-se na poltrona, o
meu blazer ainda continua em seus ombros. Os seus olhos esverdeados estão
preenchidos por uma profunda tristeza. Milena abaixa a cabeça, puxa o ar
para os pulmões e só um tempo depois que me encara com uma expressão
sorridente, obviamente forçada, como se quisesse me passar que está tudo
bem. Se eu não estivesse presenciado como ela estava minutos atrás,
acreditaria na personagem forte que está tentando incorporar neste momento
para mim.
— Sr. Vilela, me perdoe por hoje, foi algo que saiu do meu controle.
Prometo que não irá se repetir. — Ela pode estar sorrindo, mas seus olhos
estão abatidos, sei que a garota não está bem.
Ao me lembrar que fui grosseiro com ela na casa da sua mãe, fico
envergonhado. Eu agi por impulso e descontei nela a minha ira sem antes
saber o que de fato estava acontecendo. E quando erro, não vejo problema
algum em reconhecer que errei e pedir desculpas. Vou até Milena, agacho-me
na sua frente e toco em seus joelhos, fazendo-a se remexer. Ergo o rosto e
nossos olhares se encontram.
— Eu fui muito arrogante com você, talvez tenha sido culpado pelo
que quer que tenha acontecido.
Ela fica ligeiramente pálida e nega com um meneio de cabeça.
— Por favor, sr. Vilela, não se desculpe, a única culpada fui eu. Não
deveria ter ido ver a minha família! Não fui profissional, deixei que o
sentimento da saudade falasse mais alto — diz, de um modo doloroso, quase
chorando.
— Você quer conversar? — indago, tocando na sua mão e olhando
em seus olhos.
— Senhor... — Milena treme ao meu toque.
— Eu gosto quando você me chama pelo meu nome — digo.
Ela assente, com o rosto levemente avermelhado.
— Gabriel — ela umedece os lábios —, não posso conversar com
você sobre isso. Não somos nada além de cliente e uma prostituta. — Desvia
o olhar do meu.
— Por que fala de você assim com tanto desprezo agora? O que
aconteceu na sua casa? A sua mãe te bateu mesmo, não é? — Ignoro o que
ela disse anteriormente e toco no seu rosto, virando-o para mim.
— Gabriel, não torne as coisas mais difíceis, por favor. — Sua voz
fica embargada.
— O.k., não vou te forçar a nada, só quero que saiba que se quiser
desabafar, estou aqui para te ouvir. Sou um bom ouvinte — falo, pronto para
me levantar, mas ela segura a minha mão.
— Você acha que fui cruel demais em ter mentido para a minha mãe
durante todos esses anos? Eu sei que não deveria ter mentido para ela, mas
queria poupá-la de muitas coisas. E ainda tem a minha irmãzinha... Eu não
queria que ela passasse o mesmo que eu na infância: fome, frio, humilhações.
— Milena nem percebe que já está se abrindo aos poucos comigo, enquanto
eu a escuto atenciosamente.
— E por que você seria cruel? Costumo dizer que cada um vive como
pode ou é obrigado.
Ela fica pensativa por alguns segundos, até que suspira longamente
como se estivesse cansada.
— Eu nunca tive ninguém para conversar, nunca tive ninguém que
pudesse confiar cem por cento para me abrir. A única pessoa que tenho como
amiga é a minha mãe, mas eu não poderia dizer a ela que o nosso sustento
vinha dos programas que faço. — Morde os lábios, mesmo machucados, e
deixa as lágrimas caírem por suas bochechas.
Trato de limpá-las, mas a mulher chora como se quisesse liberar um
peso dos seus ombros.
— O que acha de me deixar cuidar desse machucado na sua boca e
depois você e eu conversamos? — inquiro, vendo-a balançar a cabeça.
— Estou com um pouco de dor de cabeça. Eu posso tomar um banho
antes? — sonda-me, massageando as têmporas.
— Claro que sim. — Afasto-me dela, que se levanta e começa a tirar
as roupas.
Quando já não veste mais nada, recolhe as peças no chão e as põe em
um canto. Preocupado, sigo-a e a observo entrar no boxe. Vê-la nua não me
causa nenhum efeito, uma vez que ela não está em um dos melhores
momentos de sua vida e precisa de atenção, não de sexo.
Com os braços cruzados, recosto-me no umbral da porta e vejo
Milena ligar o chuveiro – de costas para mim, deixando a água cair em sua
cabeça. A loira passa as mãos por seu cabelo, por um tempo fica repetindo o
mesmo gesto, até que se vira e me encara através do vidro.
— Você não quer entrar? — pergunta ela, abrindo a porta do boxe. O
seu rosto está vermelho, assim como os seus olhos.
— Não, estou bem aqui. Enquanto você toma banho, vou pedir algo
para jantarmos — digo, em um tom sério.
— O.k. — assente, convencida, e volta a fechar o boxe.
Saio do banheiro e vou diretamente ao telefone da suíte para pedir o
jantar. Após fazer o pedido, me sento na cama e espero por Milena. Fico
tamborilando meus dedos no aparador ao lado. Alguns minutos se passam e
nada dela, então vou para a varanda e fico observando o mar.
Eu estaria sendo intrometido demais se perguntasse como ela entrou
nessa vida? É claro que pelo pouco que me disse, deu a entender que foi por
dificuldades financeiras, afinal, a maioria entra na prostituição por causa
disso.
No meu bolso, meu celular começa a tocar, assim que o pego vejo que
é Franco. Fiquei de ligar para ele para falarmos do novo contrato que será
redigido para que Samuel assine, mas acabei me esquecendo. A última vez
que nos falamos foi pela manhã, quando ele estava terminando de sair de uma
reunião e liguei para informar que havia fechado negócio com o dono do
resort. Meu amigo ficou feliz com a notícia.
— Boa noite, Gabriel, você não me ligou, então decidi te ligar — diz
ele, assim que o atendo.
— Boa noite, Franco, tive alguns imprevistos e acabei me esquecendo
— falo, passando a mão por meu cabelo e penteando alguns fios para trás.
— É algo que eu possa ajudar? — Parece preocupado.
— Não, mas obrigado — agradeço-o.
— O.k. O contrato foi redigido e já falei com o Renato, amanhã ele
estará pegando um avião para o Rio de Janeiro. Eu passei as informações da
conta do Samuel para o departamento financeiro para que façam a
transferência assim que o contrato for assinado e reconhecido. — Renato é
advogado e nosso representante legal, Samuel vai tratar com ele de agora em
diante.
— O.k., ótimo.
— Na próxima semana, o arquiteto vai até o resort para começar a
elaborar a planta dos restaurantes. A construtora parceira está avisada do
nosso novo projeto e precisa nos priorizar — fala, e não me surpreendo por
sua iniciativa. Ele está sempre me ajudando, mesmo que fora de suas funções.
— Estou quase te contratando como meu assistente pessoal, você está
sendo mais útil do que eu.
Franco ri do outro lado quando falo isso.
— Estou muito velho para isso, mas agradeço o reconhecimento. —
Rio ao ouvi-lo dizer. — Quando você vai para Arraial do Cabo? Acho que
com tudo já resolvido, você pode curtir mais alguns dias longe de São Paulo,
na sua casa de praia.
— Não exagere. Ainda não sei quando vou, algumas coisas mudaram
o meu cronograma — digo, em seguida escuto uma voz feminina no fundo e
Franco dizendo que já está indo.
— Gabriel, preciso ir, a Rafaela está me chamando. Como eu te disse
mais cedo, ela deixou o apartamento dela e veio ficar aqui em casa até se
recuperar da cirurgia, agora está agindo como se tivesse dez anos, foi tanto
mimo que dei — fala, mas não sinto indignação, ele é amoroso.
— Boa recuperação para ela — desejo.
— Obrigado, meu amigo. — Ele encerra a ligação.
Saio da varanda e entro no quarto. Encontro Milena sentada na cama,
vestida com uma camisola. Ela está cabisbaixa, enxugando o cabelo com uma
toalha, mas a sua atenção está no celular sobre a perna.
— Hum-hum. — Limpo a garganta. Ela ergue o rosto e vejo que seus
olhos estão inchados e o seu nariz avermelhado. — Como você está? —
pergunto, indo até ela e sentando-me na cama.
— Bem. — Sorri fraco, tirando o celular da sua perna e bloqueando a
tela em seguida.
— Ainda quer conversar?
— Não acho que seja certo. É melhor você esquecer esse episódio
horrível, devemos continuar apenas sendo cliente e...
— E se eu quiser que sejamos Gabriel e Amanda esta noite? — eu a
interrompo. Ela arregala os olhos quando menciono o seu nome verdadeiro.
— Quebraremos uma regra do clube. É proibido uma acompanhante
se envolver emocionalmente com um cliente, por isso devemos estabelecer
um limite. — Seu tom é firme, mas os seus olhos parecem estar tão perdidos,
quase como pedindo por socorro. Daqui posso ouvir que o seu coração bate
acelerado.
— Amanda, não estamos no clube e eu não me importo em te ouvir.
— Toco na sua mão e noto que ela fica gelada.
— Me chame de Milena, por favor, não posso correr o risco de você
se acostumar em me chamar de Amanda — murmura, com a voz embargada,
e olhando minha mão entrelaçada na dela.
— Você não está bem, por isso insisto. Não existe nenhuma
possibilidade de sermos amigos? — Acaricio a sua mão.
Milena ri baixinho e balança a cabeça, enquanto arqueio a
sobrancelha, não entendendo o motivo do seu riso.
— Quem gostaria de ser amigo de uma prostituta? E por que eu
acreditaria que você ia querer, sendo que é um homem poderoso, cheio das
grana? Por favor, Gabriel, não precisa ter pena de mim ou fingir que se
solidariza porque me viu chorando. Eu estou bem, já disse. — Ela coloca a
armadura de durona, notei que age assim quando quer se proteger.
Respiro profundamente por saber que vou ter muito trabalho em
desfazer essa muralha que ela construiu ao seu redor.
— Sabe, percebi em você uma coisa desde que nos conhecemos? —
Ignoro o que falou e levo a mão ao seu rosto, acariciando a sua pele macia.
— Você só fala em dinheiro, como se ele fosse a coisa mais importante desse
mundo. Mas não é.
— É fácil para você dizer que o dinheiro não é tudo, já que tem muito,
então não sente falta. Para mim, é sim a coisa mais importante desse mundo,
porque sem ele não somos nada na sociedade. Nossas realidades são
diferentes, sr. Magnata, então não venha me dizer que quer ser o meu amigo,
sendo que está pagando para me comer, e eu te dando a minha boceta para
receber e conseguir pagar as minhas contas — retruca, virando o rosto para
que eu não a toque.
Amanda exala raiva e mágoa. Eu posso descobrir tudo sobre ela em
questão de poucas horas, basta fazer uma ligação para um amigo que é
detetive particular, porém, quero ouvir da boca dela e não da de terceiros.
Pacientemente, toco no seu queixo e viro o seu rosto para que me
encare.
— Quem te magoou tanto assim, loirinha? — Olho bem em seus
olhos.
— Gabriel, não faça isso... Eu estou tentando, mas você não colabora.
— Seus lábios tremem.
— Tentando fugir das minhas perguntas? Eu sei, você está sendo uma
cretina arrogante — falo num tom brincalhão, e funciona, porque ela sorri por
alguns segundos.
— Tem ideia de que se eu me abrir, vamos ficar estranhos? Você vai
saber demais de mim. Como vou poder agir normalmente depois? — Deixa
as lágrimas caírem.
— Só ficaremos estranhos se quiser, porque vou agir normalmente —
murmuro.
Ela encolhe os ombros, umedece os lábios e faz uma careta por causa
do machucado no canto da boca. É apenas um corte superficial, mas deve
arder pela expressão que fez.
— Entendi que não quer me falar sobre você, e eu não vou te forçar a
conversar comigo, uma vez que não se sente à vontade para isso, mas deixo
claro que se quiser, posso ser o seu ombro amigo. E tire da sua cabecinha que
somos diferentes, porque não somos. Se parar para pensar, somos mais
parecidos do que opostos, e eu não falo isso para que possa confiar em mim e
me conte a sua vida. — A dedicação dela com a família lembra a mim no
passado. Se hoje minha mãe ainda fosse viva, certamente continuaria sendo a
mesma pessoa.
— O.k., obrigada — concorda, aliviada por saber que não vou mais
insistir.
— Vou tomar um banho. Daqui a pouco vão entregar o nosso jantar,
pode receber, por favor? — pergunto. Milena balança a cabeça dizendo que
sim. — Espero que possa ficar bem e que todas as suas feridas sejam curadas.
— Aponto para o seu peito e ela abaixa a cabeça.
— O-obrigada. — Soluça.
Sem pensar muito, inclino meu corpo e deposito um beijo na sua
testa.
— Não agradeça. — Afasto-me dela, me levanto e sigo para o
banheiro.

∞∞

Quando saio do banho, encontro a loira dormindo na cama, com o


celular na mão esquerda. Ao perceber que o nosso jantar ainda não chegou e
que minha acompanhante não vai acordar tão cedo, faço uma ligação rápida
dispensando a comida por não sentir mais fome. Ela o segura como se fosse a
coisa mais preciosa do mundo. Ao perceber que a tela dele acende, aproximo-
me e vejo o nome “mamãe”. A mãe dela está ligando, deve ter se arrependido
de seja lá o que tenha feito com a filha. Milena só não acordou porque o
celular está no silencioso.
Observo por um tempo o rosto sereno da menina-mulher que está
adormecida, com as pálpebras um pouco inchadas de tanto chorar. Tiro o
celular da sua mão cuidadosamente para que não acorde e o coloco no
aparador ao lado da cama. Ela se remexe, mas não acorda, e eu nem tenho
pretensão que acorde, dormir por algumas horas vai ser bom para que
recupere a energia.
Notando que ela não está coberta e mais tarde pode sentir frio, meu
instinto protetor nasce dentro de mim, e antes de me afastar para me vestir, eu
a cubro com o lençol, tiro o cabelo do seu rosto, depois me inclino e beijo a
sua bochecha.
O que essa garota está fazendo comigo? Por que ela me desperta tanta
curiosidade a ponto de querer me fazer cuidar dela, mesmo que ainda sejamos
dois estranhos um para o outro?
Depois de hoje, percebi duas coisas – Amanda é do tipo que finge ser
forte, mas por dentro está quebrada, e a única forma de manter o personagem
é ocultar as suas dores. Ela só precisa de alguém que segure a sua mão e a
ame como merece. Todavia, não posso ser essa pessoa.
Capítulo 13

Acordo pela manhã sozinha na cama e não encontro o Gabriel, mas


ele deixou um bilhete avisando que foi correr na praia e que logo volta.
Então, aproveito a sua ausência para cuidar da minha aparência, que não está
das melhores. Acordei com o rosto inchado e com um corte superficial ao
lado na boca também. Vou cobrir o machucado com um batom mais forte.
Ontem, no calor do momento, quase me abri com o Gabriel. Me
encontrava no limite da vulnerabilidade, e vê-lo ali tão disposto a me ouvir
foi uma tentação. Eu estive a ponto de cometer uma loucura ao contar meus
assuntos particulares para ele. Jamais cheguei a ter esse grau de intimidade
com meus clientes.
Enquanto ele estava no banheiro tomando banho, peguei meu celular
para tentar ligar para a minha mãe, mas não tive coragem, porque sabia que
naquele momento ela não iria querer falar comigo. Nós duas sairíamos mais
machucadas se tivéssemos uma conversa de cabeça quente. Ela me falaria
coisas que eu não iria gostar de ouvir e, certamente, sairia profundamente
magoada. A única coisa que me serviu de consolo foi ficar olhando para as
fotos dela e de Beatriz que tenho na minha galeria. De tanto ficar sofrendo
com as palavras duras que ouvi de mamãe, acabei adormecendo.
Dizem que o tempo é capaz de curar tudo, até as mais profundas
feridas, mas será que eu posso confiar que as minhas em algum momento
serão curadas? Estou tão incerta do meu futuro que eu nem sei mais o que
será de mim daqui para a frente. Me sinto como se estivesse à beira de um
precipício, com uma corda em volta do pescoço e pronta para pular.
Embora esteja soando dramática demais, é assim que me sinto em
relação ao acontecimento de ontem. Nunca vi a minha mãe tão alterada, ela
sempre foi calma e, de repente, se tornou um caos que me destruiu por dentro
e por fora.
Só de fechar os olhos e me lembrar do olhar de decepção da minha
mãe em saber da minha profissão sinto vontade de chorar, porque eu nunca
pensei que quando a verdade viesse à tona seria tão desprezada pela pessoa
que mais amo nesse mundo. No instante que soube que me tornei uma
prostituta para conseguir o sustento para casa, ela sentiu repulsa, eu pude
perceber em suas ações, nas suas palavras, contudo, não posso mudar o que já
está feito, e dolorosamente, digo que se pudesse não voltaria atrás. Sim, a
vida é feita de escolhas e eu fiz as minhas. Agora estou vivendo as
consequências. Dói muito a rejeição da minha mãe, mas por ela e Bia eu faria
novamente, só para vê-las como estão hoje, estabilizadas e sem passar por
dificuldades.
Pode ser que mamãe me odeie por meses ou anos, mas eu continuarei
esperando por ela e por seu perdão. O perdão que espero não é por eu ter me
tornado uma acompanhante de luxo, é por ter passado todo esse tempo
mentindo para ela. A mentira e a decepção andam de mãos dadas, pois uma é
consequência da outra, e ontem eu fui a prova que isso é verdade.
Em frente ao espelho do banheiro, passo um batom à prova d’água
vinho, arrumo meu cabelo em um coque firme e, depois, passo um delineador
que destaca ainda mais a cor dos meus olhos.
Vendo que estou ótima, sorrio, pronta para manter minha personagem
de mulher inabalável. Logo Gabriel estará aqui e não quero que sinta pena de
mim. Ele me contratou foi para satisfazê-lo, não para ouvir a minha triste
história de vida. Desabar na frente dele não vai somar em nada, em breve ele
vai embora e eu vou continuar onde estou, batalhando por um futuro melhor
porque não nasci rica e nem sou herdeira, então preciso trabalhar para
conseguir alcançar os meus ideais.
Ontem, Gabriel me disse que queria ser o meu amigo. Quem me dera
que fosse verdade, provavelmente ficou com dó em me ver naquele estado e
falou apenas para me confortar. Se aquele homem quisesse ser alguma coisa
minha, o que menos eu desejaria era que fôssemos somente amigos.
Ele é delicioso demais para termos uma amizade. Claro, se eu pudesse
escolher, e fosse verdade, poderíamos ser colegas coloridos. Adoraria ter a
sua amizade e o seu pau para mim... E quem sabe, o seu coração também.
Hoje, quando acordei e vi que ele me cobriu, eu me senti zelada e
achei o seu gesto muito bonito.
Quanta bobagem, Amanda. Gabriel Vilela é de uma realidade muito
diferente da sua. Meu subconsciente me julga como um grande filho da puta.
Perplexa com meus pensamentos, balanço a cabeça e saio do banheiro
ao ouvir um toque diferente de celular. Se não é o meu, é o de Gabriel. O
aparelho toca em cima da poltrona. A passos largos, alcanço-o e o pego, na
tela aparece um número sem nome, mas sei que o código de área é de São
Paulo. Por não ter liberdade e nem permissão para atender ao telefonema,
baixo o volume dele e deixo no mesmo lugar. Quando ele chegar, aviso que
seu telefone tocou.
Então acabo lembrando-me que ainda não mexi no meu celular hoje e
preciso tirá-lo do silencioso. Vou até o aparador onde o meu celular está, e
assim que ligo a tela, vejo as notificações de mensagens e ligações, que são
muitas.
Com uma mão na boca, reparo que há muitas ligações e mensagens da
mamãe.
Não sei se choro ou se dou risada. A primeira coisa que abro são as
seis mensagens que ela me enviou. Ligações, são dez. Preocupada, leio uma
por uma das mensagens, e em todas elas minha mãe pede que eu ligue de
volta porque quer falar comigo.
Ela quer falar comigo.
Meus olhos enchem de lágrimas e um sorriso nasce em meus lábios.
Com os joelhos tremendo e o coração batendo descompassado, sigo
para a varanda. Mesmo com as mãos trêmulas, ligo para ela e espero que me
atenda – o que acontece no terceiro toque.
— Não consegui dormir pensando em você, filha, no que eu fiz. — É
a primeira coisa que me diz, com a voz embargada.
— Mãe… — tento falar, mas estou quase me afogando nas palavras,
nada sai.
— Você já foi embora para o Rio de Janeiro? — pergunta, chorosa.
— E-eu ainda estou aqui — confesso, visualizando algumas pessoas
caminhando na praia e outras na área da piscina. Daqui tenho uma boa visão.
— A senhora está precisando de alguma coisa? — pergunto ao notar que ela
fica em silêncio quando falo que ainda não fui embora.
— Você me perdoa, filha? Eu nunca levantei a mão para você, nunca
precisei partir para a violência, o que fiz ontem foi desespero, agi errado, não
deveria ter sido tão agressiva. Eu não queria te machucar, sinto muito. — Ela
chora em vez de responder a minha pergunta.
— Mamãe, não precisa chorar — digo, mas até eu fico aos prantos, as
lágrimas rolam por minhas bochechas sem que eu tenha controle.
— Você está com raiva de mim pelo que fiz? — Soluça do outro lado
da linha.
— Por que ficaria? Eu te amo, você é muito importante para mim para
que eu sinta raiva. Você é a minha mãe, sangue do meu sangue, nunca vou te
odiar. Se alguém tem que pedir perdão aqui sou eu, por ter mentido para a
senhora. — Passo uma mão por meu rosto, tentando limpar as lágrimas.
— Me sinto tão envergonhada pela minha atitude, ainda estou
tentando assimilar tudo isso, mas o que eu não quero é que você fique longe
da gente, Mandy — diz, com o tom mais firme.
— Isso quer dizer que me perdoa por eu ter mentido? — Meus
batimentos cardíacos aumentam quando vejo Gabriel vindo na direção da
suíte, vestido apenas com uma sunga e usando um boné preto que o deixa
maravilhosamente atraente. Ele parece verificar algo no relógio em seu pulso,
está tão distraído que nem me vê o observando.
— Você não me deve perdão de nada, filha. Depois que foi embora,
percebi o meu erro em não ter sido uma boa mãe pela primeira vez, eu nem
sei se em algum momento fui — diz, tristonha.
— Você sempre foi uma ótima mãe, nada do que tenha acontecido
ontem vai mudar a minha admiração por você. Mamãe, nada me fez sentir
mais dor que as suas palavras, nem o tapa que recebi doeu tanto, porque eu
sei que não foi intencional me machucar fisicamente e, talvez, verbalmente
— confesso, ouvindo-a ofegar.
— Amanda, eu não vou dizer que o seu trabalho me agrada. Sim, eu
sei que com ele você nos trouxe o sustento, mas que tipo de mãe, que tipo de
pessoa eu seria se te apoiasse a vender o seu corpo, minha filha? Acha
mesmo que se eu soubesse desde o início te deixaria fazer isso? Você é tão
novinha, é uma menina ainda, e está nessa vida que só você sabe os maus
bocados que deve passar, os homens nojentos com quem tem que dormir para
conseguir dinheiro. — Conforme ela fala, eu choro, porque não tiro a sua
razão.
Olho rapidinho por cima do ombro ao ouvir um barulho na porta, é
Gabriel entrando.
— Eu jamais compactuaria com isso, Mandy. Não sou um monstro
em permitir que a minha filha que tanto amo tenha que se prostituir para me
dar as coisas enquanto eu fico dentro de casa!
Um soluço escapa da minha boca.
— Agora sabendo de tudo o que passou, do seu sacrifício por nós, eu
sinto raiva, e não é de você, é de mim por ter sido tão cega, ter desconfiado,
mas não ter seguido a minha intuição de que tinha algo de errado com aquela
Judite, no seu emprego longe de casa e tanto dinheiro para quem era uma
simples gerente de loja.
Nervosa, esfrego a mão em meu pescoço e ando de um lado ao outro.
— Eu poderia ter descoberto, mas não quis, me negava a acreditar que
Milena era a sua colega de trabalho, e não você. Quando liguei para Judite
para saber de você, ela te chamou de Milena, mas depois se corrigiu, anos
atrás, e depois, dias atrás, você me disse que estavam chamando a sua amiga.
— Mãe, sinto muito por tudo isso. Não quero que se sinta culpada, eu
fiz as minhas escolhas, escolhi isso, e por mais que tenha sido a Judite a me
levar para essa vida, ela não me obrigou, só me abriu as portas. Eu vi que era
uma oportunidade, mesmo nojenta, de ter uma vida melhor e nos tirar
daquela situação difícil que nos encontrávamos — falo depois de um tempo,
puxando o ar para os pulmões e controlando meu choro.
Ela fica em silêncio, mas logo se manifesta: — Filha, você está se
cuidando? Você se cuida quando tem relações?
Viro-me e encontro Gabriel em silêncio, seguindo para o banheiro,
deve ter me visto no celular, mas não quis interromper.
— Eu me cuido, sim. — Uso um tom mais baixo. — Faço exames de
três em três meses, e nunca deixo de usar preservativos, não importa o quanto
o cliente seja importante e peça exceção — digo, envergonhada, e me lembro
que quebrei duas regras com Gabriel.
Ele é o primeiro cliente que deixo me beijar e fiz boquete sem
camisinha. Jamais, em hipótese alguma, faço oral em meus clientes sem
preservativo, nunca se sabe o risco que se corre, agora percebo que fui
descuidada.
— Certo.
— Mãe, posso te ligar mais tarde? A senhora sabe... Estou com um
cliente e... — gaguejo, meu rosto arde de vergonha, nem consigo dar uma
explicação para ela.
— Claro, filha, mas você pode vir mais tarde nos ver? Venha passar o
dia novamente com a gente, assim poderemos conversar melhor — pede, e
meu peito fica apertado.
Não sei se vou poder ir, ontem eu dei a minha palavra ao Gabriel que
não iria misturar vida pessoal com o meu trabalho enquanto estivéssemos
juntos, porém me sinto tentada.
— Eu vou ver, tá bom? Mais tarde ligo para a senhora e aviso se
poderei ir. — Saio da varanda e entro no quarto.
— O.k., vou esperar ansiosa — diz, um pouco mais animada.
— Preciso desligar. Te amo. — Meus olhos enchem de lágrimas.
— Eu também, Mandy. Se cuida. — Sua voz falha.
Encerro a ligação e coloco o celular na cama antes de seguir para o
banheiro. Gabriel está de frente para o boxe, completamente nu, enquanto a
água forte cai sobre o seu corpo. Ele está de olhos fechados, mas parece
sentir ser observado, porque os abre e dá um sorriso bonito ao me ver, então
desliga o chuveiro e abre o boxe.
— Como você está essa manhã?
E o meu coração traidor dispara com a sua pergunta.
Nenhum cliente que tive me perguntou como estou. Definitivamente,
Gabriel Vilela é a minha exceção.
— Renovada — respondo, com inveja das gotículas de água que
deslizam por seu corpo.
— Que bom. — O seu sorriso é tão sincero que fico derretida.
— O seu celular estava tocando mais cedo — aviso, aproximando-me
dele, que fica levemente pálido. — Mas eu não atendi. — Sua expressão logo
suaviza.
— O.k. — Ele limpa a garganta e assente.
— Você tem algum plano para hoje? Quando voltamos para o Rio de
Janeiro? — indago, curiosamente.
— Por quê? — Franze a sobrancelha.
— É-é... Minha mãe ligou... quando você entrou, eu estava com ela ao
celular. — Minha voz quase não sai. — Eu sei que te disse que não falaria
mais da minha vida pessoal, que manteria o meu lado profissional, mas...
— Ontem, quando você estava dormindo, ela ligou, mas não quis te
acordar. Você não me parecia bem, mas te falaria assim que voltasse da
minha corrida. Você quer vê-la, não é?
Com o rosto vermelho, assinto.
— Pensei em não ir, mas preciso conversar com a minha mãe sobre a
mudança da escola da Beatriz, minha irmãzinha. Estou colocando-a em um
novo colégio e preciso dar o dinheiro para pagar algumas coisas. — Acabo
falando muito, só depois me dou conta disso.
— Você pode ir, ainda ficaremos mais três dias por aqui, tenho que
resolver algumas questões com o meu novo parceiro — me interrompe. Eu o
beijaria nesse momento por permitir tão rápido que eu vá ver a minha família.
— Mas com duas condições.
— Quais são? — Murcho e um frio se apossa do meu estômago
violentamente.
— Me deixe comprar alguns presentes para a sua irmãzinha, e traga a
sua família para o resort amanhã, passe o dia com elas. Do outro lado, há a
área das crianças, a sua irmã vai gostar — sugere e eu arregalo os olhos.
— Não é preciso. — Eu me apresso a dizer.
— Eu disse que custearia tudo, Amanda. — Ele sai do boxe e pega a
toalha.
— A viagem. A minha família não está inclusa. — Estou perplexa
com a atitude desse homem.
— Agora está. Se a sua mãe aceitar, traga ela e a sua irmã para cá.
Vou pedir ao Samuel que reserve toda a área infantil para a Beatriz, para que
possa ter privacidade.
O exagero dele quase me dá água na boca, estou espantada.
— Céus, Gabriel! Está exagerando, a Bia não precisa que feche o
espaço infantil só para ela... Não estamos acostumadas com esse luxo todo,
não tem necessidade de fazer isso, sério mesmo — digo, esquecendo-me que
ele é um homem cheio de dinheiro, obviamente poderia comprar até a praia
se estivesse à venda.
— O.k. — concorda, e eu respiro aliviada. — Isso quer dizer que vai
aceitar o que estou propondo? — Vasculha meu rosto.
— Vou ver se a minha mãe aceita, ainda é tudo novo para ela —
murmuro, pensativa. Seria uma boa se mamãe e Bia tivessem um pouco de
lazer, minha irmã iria adorar vir a esse lugar. — Gabriel, já que elas virão
para cá, não precisa comprar presentes. — Passo a mão no meu pescoço
quando ele fica perto de mim e coloca os braços ao meu redor.
— Eu disse que eu tinha duas condições, é aceitar ou largar. — Dá
um sorriso de canto.
— Jogo sujo, sabia? — Sorrio também, analisando o seu rosto bonito.
— Passei a manhã pensando em ontem, em você. Sei que você não
quer se envolver, eu também não, mas quando disse que quero ser o seu
amigo enquanto estivermos juntos, não estava mentindo. — Toca no meu
rosto e o acaricia. — Eu vejo o quanto você ama a sua família, não preciso
saber de muito para saber que elas são as suas prioridades.
Fecho os olhos quando ele desliza o polegar para meus lábios.
— Sim, eu amo a minha família, mais do que tudo nessa vida, mas eu
não sei se a minha mãe vai aceitar que você dê coisas a elas. — Suspiro ao
sentir a sua respiração ficar mais próxima do meu rosto.
— Ela não precisa saber de nada. Caso pergunte, fale que ganhou um
bônus. — Ri baixinho.
— Mas eu não quero mentir, não mais. — Abro os olhos e só consigo
enxergar fogo nos dele.
— E quem disse que será uma mentira? Considere como um bônus
tudo que farei. Me diga do que precisa e dou, sem exceção. — Roça os lábios
nos meus.
Será mesmo que ele me daria tudo o que eu pedisse? Até o seu...
Céus, esse meu pensamento soaria tão romântico.
— Cuidado que posso pedir o seu coração, e eu sei que você não quer
o comprometer em nossa aventura — respondo, bem-humorada, e ele sorri.
— Para ele não abro essa exceção — diz, brincalhão.
— Gabriel, obrigada por tudo. — Afasto meu rosto do dele e o encaro
com seriedade. — Você está sendo muito bom para mim, sei que estou
abusando da sua boa vontade.
— Você não está fazendo nada, Milena, eu sou do tipo de pessoa que
preza pela família e te entendo perfeitamente. Vá ver a sua família e não
pense em mim.
A sinceridade dele enche meu peito de alegria.
— Eu realmente posso trazê-las para cá amanhã, se a minha mãe
aceitar o convite? — Meus olhos brilham com a ideia.
— Pode sim. Vou pedir que liberem o que vocês desejarem, serão
minhas convidadas vips. — Pisca para mim charmoso.
— Será que existe alguma cópia sua na Shopee para que eu possa
comprar? — Mesmo parecendo confuso com o que falo, ele gargalha.
— O que é isso? — inquire ao se recuperar de uma gargalhada.
— É uma plataforma de comércio eletrônico com alguns produtos
bem baratos, mas esquece isso, só pensei alto demais — revelo e Gabriel me
encara divertido.
— Hum, entendi. — Encolhe os ombros.
— Eu posso ir agora, pela manhã? — Toco em seus ombros e os
massageio.
— Antes, tome ao menos o café comigo — pede, e eu não posso
negar isso a ele.
— Claro que sim. — Mordo os lábios e Gabriel fica satisfeito com
minha resposta.
— Você prefere dar o dinheiro ou comprar algo para a sua irmã? —
De início, fico perdida com a pergunta, mas lembro-me que disse que queria
comprar alguns presentes.
— Gabriel... — repreendo-o.
— Você não disse que ela vai mudar de colégio? — Assinto. —
Então, me diga de quanto precisa. Sei que tem uniforme, materiais, lanches...
— Lista tudo com uma tranquilidade.
— Nem sei o que te dizer. — Arregalo os olhos quando ele me solta e
sai do banheiro. Sem entender, eu o sigo e o vejo tirar sua maleta do armário.
— Vamos fazer assim. Vou te dar o meu cartão de crédito e você
decide o que fazer com ele, pode usar sem moderação.
Levo a mão à boca ao assimilar suas palavras.
Senhor, esse homem é louco!
Paralisada com a atitude de Gabriel, eu o observo guardar suas coisas
e vir até mim, com um cartão black. Ele o estende para mim e eu nem sei
como reagir à sua generosidade.
— Pegue — pede, não há sequer uma sombra de incerteza em sua
voz.
— E-eu... — gaguejo.
— Não aceito devolução — fala, antes que eu me manifeste.
— Você disse que eram só alguns presentes, não imaginei que fosse
me dar o seu cartão e ainda me dizer que é para usar como eu bem quiser. —
Arqueio a sobrancelha.
— Milena, eu não me importo com valores, então aceite porque sei
que vai fazer um bom uso dele. E antes que me pergunte, não vai fazer falta.
— Encara-me, sério.
— Tem certeza disso? — Não vai fazer nem cócegas na sua conta
bancária, porém, sinto na obrigação de confirmar.
— Nunca faço algo sem ter certeza. — A convicção dele é surreal.
— Obrigada — agradeço-o, com uma imensa vontade de abraçá-lo,
mas me seguro.
— Milena, mais uma coisa. — Passa a mão na barba.
— Sim? — Não contenho o sorriso de felicidade.
— Você pode ficar esses três dias na companhia da sua família,
contanto que no final da noite o André te busque para que venha dormir
comigo.
Nem pensei que seria diferente disso. Só em me dar liberdade para ter
minha mãe e a Beatriz por perto, meu coração se enche de gratidão por ele.
— Não se preocupe com isso. — Sem conseguir resistir a emoção que
sinto, vou até ele e o abraço fortemente. O coitado de início fica sem ação,
mas logo retribui. — Obrigada mesmo. Quando você se casar, a esposa é toda
sua.
O corpo de Gabriel fica de repente tenso.
Deus, será que ele entendeu algo errado?
— Hum-hum, vou me vestir para irmos tomar café no restaurante. —
Sai do meu abraço.
— Tudo bem. — Observo-o se afastar sem me olhar no rosto.
Ele é tão alérgico assim a casamentos para ter ficado estranho? Deve
ser do tipo que não quer se casar nunca.
∞∞

Eu pensei que quando encontrasse o cliente ideal para ser o meu pote
de ouro, como costuma dizer minha agenciadora, conseguiria tirar proveito
dele para me beneficiar em minhas ambições. Que não são muitas – apenas
três, e todas envolvem a minha família. Mas acho que mirei no homem
errado, porque neste momento estou com a cabeça fervilhando e o coração
apertado por ter aceitado o cartão de crédito de Gabriel para comprar as
coisas para Beatriz.
Eu sei que a quantia que for usada não vai fazer diferença para um
homem milionário, porém, estou incomodada, dentro de mim é como se eu
estivesse lesando-o. Ele me dar dinheiro por fora não estava incluso no
acordado, e de alguma maneira isso está me afligindo.
A ajuda veio em uma boa hora? Sim. Só que não estou bem com essa
situação. Não estou me fazendo de boa moça, mas o Gabriel demonstrou ser
uma pessoa tão pura no quesito de querer me ajudar, que isso está martelando
na minha cabeça.
— Milena, você está bem? — Sinto o toque dele nas minhas costas.
Meio perdida em meus pensamentos, eu o encaro com a testa franzida.
Saímos do restaurante onde tomamos o café da manhã e agora
estamos voltando para a suíte.
— Humrum, estou sim. — Dou um sorriso para ele.
— Você está tão pensativa — fala, avaliando-me cuidadosamente.
— Gabriel, preciso te dizer algo. — Comprimo os lábios e paro de
andar.
— O que é? — indaga.
— Eu não posso aceitar o seu cartão. — Fico de frente para ele, com
os ombros caídos.
— Por que não? Você quer dinheiro vivo? Pode dizer quanto é, eu
providencio...
— Não é isso, por favor — interrompo-o, com os olhos ampliados. —
Será que podemos caminhar um pouco na praia para conversarmos? —
pergunto ao ver que o resort está bem movimentado.
— O.k. — concorda, então seguimos na direção da praia.
Com os olhos fixos no mar, paramos na areia depois de passar pelo
cercadinho. Gabriel para ao meu lado e cruza os braços, enquanto abraço meu
corpo e suspiro longamente. Na parte que estamos, há somente eu e ele, então
teremos um pouco mais de privacidade, e essa é a minha intenção.
— Eu sei que para você, me ceder o seu cartão não é nada, mas para
mim é, ainda mais se tratando de uma coisa que não acordamos. Você está
me dando apenas porque quer. — Passo a língua em meus lábios e viro o
rosto para encarar o meu cliente, que está com a expressão séria.
— Ter feito isso te ofendeu? — Acho superfofo o seu jeito
preocupado de perguntar.
— Não, claro que não... É que não estou acostumada com gentileza,
sabe? A minha vida toda apanhei muito para conquistar tudo o que tenho
hoje, jamais recebi algo de graça, aí vem você com essa consideração, sendo
que não fiz nada para merecer, pelo contrário, te dei uma grande dor de
cabeça. Mesmo assim, me deu o seu cartão. — Até me emociono, afinal,
nenhum homem fez isso por mim, nem mesmo o primeiro e único namorado
que tive, aos meus dezoito anos.
— Eu jamais te julgaria por ter mentido para se encontrar com a sua
família, Amanda. — Ele usa meu nome verdadeiro e meu coração dispara.
Sem se corrigir, Gabriel se põe na minha frente e toca no meu rosto. — Pois
saiba que não é pecado alguém ter uma família, amá-la e fazer de tudo por
ela. E você não deve falar com tanto desprezo de si mesma. Nunca em
hipótese alguma se desvalorize, loirinha. Nesse pouco tempo que estamos
juntos, pude perceber que a sua maior beleza não está por fora, ela está em
seu interior. — Aponta para o meu coração e os meus olhos ardem.
Lindas palavras. Eu quero me jogar nos braços dele e dizer que ele
sabe como conquistar uma mulher sem precisar de muito.
Querendo chorar, aperto a boca e desvio meu olhar do dele, que toca
em meu queixo e me faz encará-lo fixamente.
— Você é preciosa, menina. O homem que terá o seu coração será um
sortudo.
Eu me derreto com o seu elogio, e ao mesmo tempo deixo minhas
lágrimas caírem.
Eu posso perguntar se ele poderia ser esse homem? Estou tão sensível
que acabo pensando asneiras.
— Talvez, se existir outra vida, eu possa encontrar um homem que
tenha coragem de me assumir e me amar, porque nessa, tenho pouca chance
de encontrar alguém que queira me dar amor e ter uma família comigo.
Quem assumiria uma prostituta? Não quero generalizar, mas
dificilmente um homem passaria por cima do preconceito para assumir uma
mulher que foi garota de programa.
— Quando eu falo de homem, Milena, não incluo moleque, porque
homem de verdade não se importa com o passado da sua mulher.
— E você? — Arqueio a sobrancelha.
— E eu o quê? — Umedece os lábios.
— Se se apaixonasse por uma mulher que já foi, ou é uma garota de
programa, teria coragem de assumi-la, sendo alguém tão importante na
sociedade? — Por que diabos fiz essa pergunta?
Envergonhada, eu fecho os olhos com medo da resposta. É um ato
infantil, me arrependo por ter agido no impulso da curiosidade.
— Pode abrir os olhos? — pede, rindo baixinho. Sinto meu rosto
esquentar. Abro um olho e depois o outro, Gabriel gargalha, achando graça
enquanto eu queimo de vergonha. — Se eu me...
— O sol está esquentando, né? Vamos voltar — eu o interrompo,
fugindo da sua resposta, e tento passar por ele, mas Gabriel segura meu pulso
e me puxa para seus braços, por pouco não rolamos na areia.
— Me pergunta e depois quer fugir? — Seus olhos brilham em
divertimento.
— É... é... Esquece o que eu te perguntei — gaguejo, me odiando por
isso e espalmando a mão em seu peito para afastá-lo de mim.
— Caso eu me apaixonasse por você, quer saber se eu teria coragem
de enfrentar o mundo pelo nosso amor? — O filho da mãe pronuncia palavras
que não foram ditas por mim, mas não o corrijo, porque sei que no fundo era
isso mesmo que queria ouvir. — Sim, loirinha, é lógico que eu sentiria ciúme
de todos os homens que tiveram o seu corpo, mas isso não me impediria de
agir como um homem de verdade, deixar o seu passado para trás e focar no
nosso presente. — Ele põe a mão em meu rosto e acaricia minha bochecha.
Ofegante, miro-o, completamente hipnotizada.
— Ter maturidade não quer dizer que sou um bobo. No mundo
machista que vivemos hoje, os homens podem fazer de tudo, e as mulheres
não, porque é errado, mas a educação que recebi dos meus pais me ensinou
que não devo ser um juiz. — Sorri de canto e eu me derreto.
— Então, nunca te julgaria por ter sido uma garota de programa ou
deixaria que os outros te olhassem torto, porque quem ama cuida, e se você
fosse minha, eu cuidaria de você, te amaria independentemente de qualquer
coisa. Porque o amor de verdade não machuca, e eu nunca seria capaz de te
machucar pelo que você foi. E não ache que estou falando apenas palavras
bonitas, estou sendo sincero. Esse sou eu, meus pensamentos são verdadeiros.
— Ele não mente, posso ver em seus olhos.
Uau... Estou boquiaberta.
Minha respiração fica pesada, mas o que me faz arfar é sentir os
dedos de Gabriel massagear o meu pescoço e ele aproximar o rosto do meu,
estamos tão perto que sou capaz de sentir sua respiração se misturando com a
minha.
— Gabriel... — Suspiro pesadamente ao ter seus lábios encostados
aos meus.
Lindo. Gostoso. Milionário. Intenso. Fode bem. Sabe como
enlouquecer uma mulher com pequenos gestos. Ah, droga, esse homem está
sendo meu maior desafio. Como manter meu coração protegido dele? Não
sou de ferro, impossível manter minha pose de inabalável com um
monumento desses me deixando fascinada.
Ele não pode se envolver.
Eu também não.
— Preciso ir — digo, afastando-me dele como se tivesse levado um
choque.
— O.k. — Assente, como se também estivesse atordoado.
Não posso me apaixonar por Gabriel Vilela e ter o meu coração
partido depois que ele for embora. Por que só de pensar que em breve cada
um vai seguir seu caminho dói profundamente?
Só temos mais alguns dias juntos, seria loucura deixar uma paixão me
dominar e colocar o meu futuro em jogo por alguém que para mim ainda é
um sentimento incerto. Uma coisa de momento. Espero que ele seja
passageiro.
Capítulo 14

Na calçada, em frente ao portão de casa, tiro a bolsa do meu ombro e


vasculho-a procurando a chave para poder entrar. Depois da conversa com
Gabriel na praia, fugi como uma garotinha amedrontada e o evitei o máximo
até deixar o resort. Mas o meu medo não era das palavras bonitas dele, foi a
maneira como cada uma delas me afetaram a ponto de me fazer lembrá-las a
cada segundo e sorrir como uma boba.
O caminho inteiro vim pensando nele, em nós. Por que quando penso
em nós como se fôssemos um casal soa tão bem? Não, não importa. Esses
meus pensamentos têm sido errados. O modo como estou me envolvendo tão
naturalmente com Gabriel me assusta. Mas é algo que não posso controlar,
quando perceber, a coisa já está feita. E depois, eu me sinto culpada porque
sei que estamos indo longe demais, só que essa culpa não dura por muito
tempo, e esse é o problema.
Assim que encontro a chave do portão, respiro aliviada, mas ao olhar
para o lado arrependo-me de imediato, pois o vizinho maluco está saindo da
casa dele. Ao me ver, para na calçada e fecha o semblante. Ele me encara
como se eu fosse a pior espécie da face da Terra. Para não demonstrar que
fico intimidada com a sua presença, eu o ignoro e entro. Antes de seguir para
a casa, confiro se o portão está bem trancado. Todo cuidado é pouco quando
se tem alguém de índole duvidosa por perto.
— Mãe, Beatriz! — chamo minha família ao andar em passos largos.
Em questão de segundos, elas surgem na porta. Minha irmã passa por nossa
mãe e me abraça pela cintura.
— Mandy! — diz Bia, animada, com o rosto encostado na minha
barriga.
— Oi, minha princesa! — Agacho-me para ficar na sua altura e beijo
sua testa.
— Beatriz, vá terminar a lição, depois você fala com a sua irmã —
pede mamãe, aproximando-se e tocando no ombro de Bia.
— Tá, mamãe. Depois te vejo, Mandy! — Beatriz a olha por cima do
ombro, depois beija minha bochecha e se afasta, entrando em casa.
Levanto-me e ajeito a bolsa no ombro, nervosa. Limpo a garganta e
encaro minha mãe que está séria, mas ao mesmo tempo com um semblante
tristonho. Seus olhos passeiam por meu rosto procurando por algum
hematoma, só que ela não vai encontrar, já que estou usando um batom que o
esconde muito bem.
Sem esperar que ela se manifeste, vou ao seu encontro e a puxo para
um abraço. Encosto a cabeça em seu ombro e fecho os olhos, mamãe me
aperta contra o seu corpo fortemente e eu sinto um bolo se formar na minha
garganta, mas não choro.
— Você me perdoa por ontem, filha? De verdade? — pergunta ela,
afagando meu cabelo.
— É claro que sim, mãe. — Suspiro, com os olhos ardendo.
— Eu agi por impulso, estava nervosa, jamais queria te machucar —
diz, com a voz embargada.
— Eu sei disso, mamãe, não se preocupe — murmuro, afastando-me
dela e tocando em seu rosto. — Lembra que a senhora sempre me dizia que
são com os erros que aprendemos?
Ela assente, já chorando.
— Sim, Mandy, mas por mais que eu tenha me sentido mal ao
descobrir com o que você trabalha, não deveria ter sido tão agressiva. — Seus
lábios tremem.
— Mãe, pare com isso, agora! Eu já disse que está tudo bem. —
Limpo o seu rosto molhado. — E não digo isso por amar você e a minha irmã
incondicionalmente, é porque também soube me colocar em seu lugar e
entendo todo o seu sentimento de revolta. A senhora acha que o tapa que
recebi doeu mais do que a sua rejeição? É lógico que não, as suas palavras
doeram muito mais, só que não levei nada para o coração, porque entendi o
seu lado. Você é mãe, me ama e eu menti todos esses anos para a senhora,
tenho consciência de que errei. Esse foi meu maior erro, mentir para a
senhora. — Puxo o ar para os pulmões ao terminar de falar.
— Filha, eu me senti tão suja ao saber que você tem que se deitar com
homens para nos dar uma vida boa, enquanto fico em casa sem fazer nada.
Ontem, eu me odiei, porque, para mim, ao não ter um trabalho, não conseguir
te ajudar no nosso sustento, era como compactuar com sua vida de
prostituição, correndo o risco de ser agredida por algum homem violento, ser
alvo de alguma esposa, pegar alguma doença... Pensei em tantas coisas que
nem preguei os olhos. — Insiste em se diminuir, como mais cedo.
— Dona Lara, posso te pedir um favor? — pergunto, e mamãe
balança a cabeça dizendo sim. — Vamos esquecer esse episódio horroroso de
ontem, já conversamos mais cedo e agora também, eu não quero mais ficar
com esse sentimento ruim em meu peito, nem que a senhora sinta remorso.
Desejo encerrar esse ciclo, assim nenhuma de nós sairá magoada. Vamos
falar só de coisas boas, o que acha? E eu vim hoje para ser bem mimada, amo
ser mimada quando estou aqui! — Pisco para ela.
— Tudo bem, mas antes teremos uma última conversa, o.k.? — diz, e
eu concordo, suspirando.
— Sim, senhora. — Sorrio. — Agora vamos para dentro. Lá teremos
mais privacidade — digo, olhando ao nosso redor, por mais que o terreno seja
murado, as paredes têm ouvidos.
— Eu fiz mousse de maracujá — revela, e eu sorrio ainda mais.
— Eu amo, amo, amo! — falo, e ela gargalha.
Abraço mamãe pela cintura, encosto a cabeça em seu ombro e, em
passos lentos, caminhamos para dentro.

∞∞

— Odeio cortar cebolas, sempre choro! Faz tanto tempo que não
cozinho, que parece até que perdi o jeito — resmungo com os olhos
lacrimejados, ouvindo minha mãe rir.
— Eu disse que era para você colocar a cebola um pouco de molho na
água gelada — diz ela, risonha.
— Pois eu deveria ter te ouvido. — Semicerro os olhos por causa do
ardor.
Enquanto Beatriz está na sala assistindo à televisão, estamos
preparando o almoço. Eu pico os temperos e mamãe desfia o peito do frango
para o recheio da lasanha. É tão delicioso compartilhar esse momento junto a
ela. Faz anos que não tenho tempo para chegar em casa e preparar uma
comida com mamãe, mas agradeço ao Gabriel por ter me permitido vir para
cá e ainda ter três dias com a minha família. Farei desses poucos dias os
melhores de nossas vidas.
— Filha — chama-me e eu a olho por cima do ombro.
— Sim? — Arqueio a sobrancelha.
— Esse homem que está com você, realmente não sabe se ele é
casado? — inquire, preocupada.
— Mamãe, é como expliquei para a senhora ontem. No clube, não
temos acesso à vida pessoal dos clientes, mas acredito que não seja. Acho que
se fosse, não iria querer ficar saindo comigo para cima e para baixo — falo,
envergonhada, porque sei que é tudo muito novo para ela.
— Ele parece gostar de você — diz, e eu arregalo os olhos.
— Por que fala isso? — Largo a faca e a cebola na tábua e viro-me
para ela.
— Acho que se ele não gostasse, não te deixaria vir ver a gente, nem
se importaria.
Sinto um reboliço dentro de mim.
— Hum, será? — Mordo os lábios e reprimo o sorriso que quer surgir.
— Acho que sim, Mandy. — Encolhe os ombros.
Ainda não falei com ela sobre o convite do Gabriel. Seria uma ótima
oportunidade dizer agora? Acho que vou esperar mais um pouquinho, talvez
depois do almoço eu diga.
— A senhora o achou uma boa pessoa? Tipo... Sei lá, não sei explicar
— sondo, curiosa.
— Apesar de parecer um pouco arrogante, ontem ele não foi mal-
educado, me tratou muito bem ao perguntar de você. E quando o convidei
para entrar, parecia envergonhado, mesmo assim agradeceu e aceitou o meu
convite. O melhor foi ver que ele não olhou para a casa como se fosse algum
E.T. — Ao ver que ela sorri, vibro por dentro, mas gargalho com o “E.T.”.
— Quando nos conhecemos eu o achava muito prepotente —
confesso, puxando a boca para o lado.
— Por quê? Ele te maltratou? — Ela parece ter receio da minha
resposta.
— Não. É que o Gabriel nunca esteve com uma garota de programa,
então tinha aquele comportamento grosseirão, sabe? Mas nada que eu não
pudesse lidar. Ele nunca chegou a me agredir fisicamente nem nada, não é da
sua personalidade — revelo e mamãe fica boquiaberta.
— Ah, entendi. — Ela fica aliviada.
— Mãe... a senhora acha que se o Gabriel fosse casado, noivo ou
tivesse uma namorada, ele me contaria? — Meu estômago congela.
Por que estou me importando com isso agora? Gabriel não tem
obrigação alguma de me dizer sobre a sua vida amorosa, mas em meu
interior, sinto uma imensa curiosidade de saber se em São Paulo existe
alguma felizarda o esperando quando ele for embora.
— Filha, você está apaixonada por esse homem?
Meus joelhos tremem com os olhos avaliativos de mamãe em cima de
mim.
— Eu pareço estar? — Preocupo-me de imediato.
Minha mãe balança a cabeça e meu coração bate descompassado.
— Os seus olhos brilham ao falar dele, Amanda. — A sua seriedade
me faz engolir em seco.
— N-não acho que seja isso. Se a senhora disser que esse meu
sentimento por ele é paixão, posso até acreditar — murmuro, com a
respiração ofegante.
— E como você se sente quando estão juntos? — questiona,
avaliando-me.
— Me sinto viva, acho que ele também. É um sentimento avassalador,
provocador, impulsivo, desesperado e inquieto. Estar nos braços dele é muito
diferente de tudo o que já vivi, mãe. Quando ele me toca é como se eu
esquecesse de tudo ao meu redor. Acho que vou sentir falta dele assim que
cada um for para o seu canto, mas eu não quero correr o risco de deixar esse
sentimento de saudade se apossar de mim, porque Gabriel tem a sua vida em
outra cidade, e eu tenho a minha aqui. — Meu peito fica apertado.
— Minha menina... — Mamãe limpa as mãos com o pano de prato e
vem até mim.
— Ele me trata tão bem, sabe? Hoje me disse tantas coisas bonitas,
fiquei boba, por um instante quis ser uma pessoa normal. — Sorrio, nervosa.
Ela toca em meu rosto com as duas mãos e nossos olhares se
encontram.
— E desde quando você é anormal, Amanda? — Faz uma careta.
— Falo sobre ele ser um homem muito importante e eu, uma
acompanhante de luxo. — Respiro fundo.
— Quem disse que isso impede vocês de terem sentimentos maiores
um pelo outro? — Acaricia meu rosto.
— Eu sei que não. — Lambo os lábios. — Cheguei a perguntar para
ele se teria coragem de enfrentar a sociedade caso se apaixonasse por uma
garota de programa... Sabe o que me disse? Que sim, e depois me falou tantas
coisas lindas que fiquei derretida, mas então fugi porque nem eu suportei a
ideia de me apaixonar por um cliente.
— Pois se você não quer se apaixonar por esse homem — ela toca no
meu peito com uma mão e a outra continua em meu rosto —, trate de cuidar
desse coração, Mandy. Você está tão envolvida, filha. Ainda não se deu conta
disso, e quando acontecer, será tarde demais. E eu não quero que se
machuque. O amor é bom, mas também pode machucar muito. — Suspira.
— Ele convidou a senhora e a Beatriz para passarem a tarde de
amanhã no resort. — Solto num impulso.
Ela se afasta de mim e passa a mão na testa como se estivesse
preocupada.
— Filha, esse homem não está querendo brincar com os seus
sentimentos, não? Alguma vez algum cliente já fez isso? — pergunta, pálida.
Ah, se ela soubesse que ele me deu o cartão dele para comprar coisas
para a Beatriz.
— Não, mãe, mas acho que não é por maldade que ele fez isso. —
Passo a mão em meu pescoço.
— Essa gentileza toda vai te confundir — diz, soando aflita.
— Mamãe, não sou boba, sei me cuidar. O Gabriel só quis ser gentil.
Desde o início, deixamos claro que não queremos nos envolver, não existe a
possibilidade de termos algo a mais — tento explicar, mas no fundo sinto que
as coisas estão fugindo do meu controle, e do dele também.
— Mandy, você é maior de idade, sabe o que faz. Mas vou ter que
recusar o convite desse senhor, porque eu e Beatriz não vamos para esse
resort. Não estou sendo orgulhosa, só não acho certo eu e a sua irmã nos
envolvermos tanto. E o seu trabalho ainda é novo para mim, estou tentando
me adaptar — fala, decidida, e eu abaixo a cabeça.
— O.k., mãe, imaginei que não fosse aceitar mesmo. Mas isso não é
um problema, porque eu tenho ainda três dias para ficar com vocês — digo,
sorridente, e vou até ela e a abraço por alguns segundos.
— Você me entende, não é?
— É um direito seu, é claro que sim, jamais te obrigaria a ir a um
lugar que não vai se sentir bem só para me agradar — murmuro, afastando-
me dela.
— Obrigada, filha.
Ouvimos alguns passos, e ao olharmos para a porta, nós nos
deparamos com Beatriz passando a mão na barriga e dizendo que está
faminta. Rimos e voltamos aos nossos afazeres.

∞∞

Hoje é o meu segundo dia com elas e eu não poderia estar mais feliz.
Sentada na calçada, observo Beatriz andar de bicicleta com duas
meninas – uma mora na quarta casa ao nosso lado, e a outra do outro lado da
rua. Quando Bia e eu saímos minutos atrás, nós já as encontramos por aqui e
as garotas a convidaram para brincar. Mesmo que suas mães estejam de olho
nelas, decidi ficar para cuidar da minha irmã. Em se tratando de crianças,
todo cuidado é pouco, e vez ou outra passa um carro na rua.
Sinto o celular vibrar em meu colo. Desde que deixei o resort pela
manhã, esqueci de tirar o modo vibrar. Ontem à noite, o André me buscou
como o combinado, e quando cheguei na suíte, encontrei um jantar à luz de
velas. Gabriel me pegou tanto de surpresa que fiquei emocionada. Mesmo
que ele não tenha insinuado nada em ser um jantar romântico, eu me senti em
um daqueles filmes que o homem faz algo bonito para a mocinha.
Após comermos e descansarmos, dois funcionários foram tirar a mesa
e depois fui convidada para caminhar na praia, o que resultou em mais uma
de nossas loucuras. Gabriel e eu entramos no mar e transamos, por pouco não
fomos flagrados por um casal que passava ali por perto. Quando eu ia gozar,
tive que grudar minha boca no ombro dele para que não ouvissem os meus
gemidos.
Só de pensar na adrenalina que senti ontem meu corpo formiga.
— Amanhã, com certeza, vai ficar uma marca. Me desculpe. —
Encaro-o, mordendo os lábios enquanto ele sorri de lado.
— Era isso ou saberiam que estávamos fodendo dentro da água —
diz, tranquilo, e massageia a minha bunda.
— Acho que ainda estamos, não é? — Rebolo no seu pau que está
dentro de mim e solto um gemidinho. Ele geme junto, apertando a minha
carne.
— Você gosta do perigo, né, loirinha? — Ele me agarra pela nuca e
volta a me comer.
— Uhum, sr. Vilela... Então me fode gostoso, vai... — Roço nossas
bocas, mas não o beijo.
— Me segure mais forte, Amanda. — Meu nome verdadeiro escapa
dos seus lábios e não faço questão de corrigi-lo, ao invés de cortar o clima, o
meu tesão só aumenta.
— Repete — peço, com ele se afundando em mim e me arrancando
gemidos.
— Amanda. Esse é o seu nome, não é? — Soca forte e minhas pernas
tremem.
— Ohh... sim, sim! — Rolo os olhos e arranho seus ombros.
O celular volta a vibrar, me tirando dos meus pensamentos.
Suspirando, olho para a tela e vejo o nome de Gabriel. Antes de atendê-lo,
levanto-me da calçada e passo a mão na minha bunda para limpar a sujeira.
— Vi que ainda não usou o cartão — é a primeira coisa que ele diz.
Eu saí do resort dizendo que hoje iria comprar as coisas da Bia, mas
ainda não tive tempo. Ajudei mamãe com umas roupas que estavam sujas e
depois saí com Beatriz para a rua.
— Eu vou usar, não precisa se preocupar, Gabriel. Espera um
instante, por favor — falo, levando meus olhos à minha irmã, que sobe na
calçada do outro lado com a bicicleta e por pouco não cai. Afasto o celular da
orelha e tapo-o com uma mão. — Beatriz, tenha mais cuidado ou vai entrar,
está me ouvindo?! — repreendo-a.
— Tá, Mandy! — responde a garotinha que tem o cabelo castanho
preso em uma maria-chiquinha.
— Me desculpe, estava falando com a minha irmã, ela quase teve uma
queda feia — digo, envergonhada.
— Entendo — diz, então ficamos em silêncio.
— Ligou somente para falar do cartão? — Ao ouvir a sua risadinha,
juro visualizar o seu sorriso depois disso.
— Não. — Limpa a garganta.
— E o que foi? Ser tímido não faz o seu tipo, Gabriel — provoco-o,
estalando a língua, e ele gargalha.
— E quem disse que estou envergonhado. — Bufa.
Então é a minha vez que gargalhar, mas ao notar que as vizinhas do
outro lado me encaram, sinto meu rosto arder.
— Hum, o.k., né. O que tem para me dizer, senhor não-tímido? —
Passo a mão no meu cabelo.
— Arrumei uma pessoa da minha inteira confiança para buscar o
restante das minhas coisas no Copacabana Palace. O meu funcionário vai
trazer até aqui, quer dizer que não iremos precisar retornar ao Rio de Janeiro,
vamos para Arraial do Cabo daqui mesmo — revela, com naturalidade.
Ter muito dinheiro é outro nível. O homem está fora do estado que
mora e ainda assim têm funcionários que podem se deslocar de lá para cá
somente para atender o patrão.
— O.k. — digo, olhando para um lado e para outro antes de
atravessar a rua.
— Você precisa que eu compre algo para você levar para Arraial do
Cabo? — inquire.
— Não, já tenho tudo — falo, o que não é mentira.
— Tudo bem. Até à noite, então — diz, depois encerra a ligação sem
que eu possa falar qualquer coisa.
Guardo o celular no bolso traseiro, em seguida aproximo-me de
Beatriz, que está agachada arrumando a corrente da bicicleta que soltou.
— Por Deus, Bia, olha essa bagunça! — resmungo ao vê-la erguer o
rosto e constatar que não só sujou as mãos, como a testa também.
— Ah, Mandy, foi sem querer! — defende-se, emburrada.
— Por hoje chega de brincadeira, vamos entrar e você vai direto para
o banho, mocinha — falo, olhando para as duas meninas que estão um pouco
distantes de nós, com suas bicicletas.
— Mas ainda é cedo, Mandy! — diz, tristonha, me olhando com
aqueles olhos pidões.
— Daqui a pouco o sol esquenta e você fica com dor de cabeça, então
vamos entrar, amanhã você brinca de novo. — Em questão de segundos, eu a
convenço.
— Taaaá! — Sorri, depois me pede para ajudá-la com a bicicleta.
Arrumo um modo de não me sujar e consigo nos atravessar com segurança.
Já em nossa calçada, ouço um som de portão ser aberto com
brutalidade e uma voz feminina cansada. É a vizinha da mamãe, a sra. Vera.
Ela é a primeira a passar pelo portão preto, depois o filho encrenqueiro com o
rosto transtornado. Quem me vê primeiro é a mãe dele, que acena para mim
de um jeito triste e tímido. Eu me pergunto o que leva uma pessoa que me
parece ser tão bondosa a ter um traste desses como filho.
— Bom dia, senhora, está tudo bem? — pergunto.
— Bom dia, menina, está sim — assegura, mas não acredito. O filho
dela, por outro lado, mostra descontentamento ao me ver dialogar com a mãe,
tanto que bufa como um touro bravo. — Você é a filha mais velha da Lara,
né? — pergunta, sorridente.
— Sou sim. — Sorrio, gentilmente, sem tirar os olhos do babaca que
me encara com desdém.
— Bem que ela me disse que você é muito bonita e educada — elogia
a senhora de cabelo grisalho e com olheiras profundas.
— Ela esqueceu de dizer para você que a filha dela é uma puta que
vende o corpo no Rio de Janeiro — se intromete o desgraçado, sem respeitar
Bia, que é apenas uma criança inocente.
— Mandy, por que ele está falando assim de você? — pergunta minha
irmã sem que eu tenha tempo para impedi-la que presencie o que o merda
fala.
— Ele está brincando, Bia, agora entre e leve a sua bicicleta. Daqui a
pouco eu entro — peço carinhosamente e ela me obedece, mas antes mostra a
língua para João Pedro.
— João, respeite a moça! Quem você pensa que é para a tratar assim?
— repreende a mãe dele, aborrecida com o filho.
— Por que eu respeitaria uma prostituta, Vera? Essa aí é da mesma
laia que a piranha que acabou com o seu casamento e você ainda a defende
— retruca o maldito raivosamente.
— Me respeite, seu babaca de merda! Nem nos conhecemos para
você agir como um maluco. Se ficar me agredindo verbalmente todas as
vezes que eu vier ver a minha família, você vai se entender com a justiça,
porque darei uma queixa de você! — ameaço, com o dedo em riste.
Ele me encara friamente e sorri.
— Ficou ofendida, putinha? Me diga quanto cobra para dar essa
boceta podre para mim? Ah, aliás — cospe no chão, enojado —, quem te
comer deve estar desesperado, aposto que deve ter DST!— provoca-me,
massageando o rosto.
— Já chega, João! — exclama dona Vera, envergonhada, puxando o
filho pela camisa.
— Fica aí com essa vagabunda barata que eu vou dar o fora daqui.
Não me espere, porque não volto mais hoje! — Ele cospe novamente e faz
uma careta, em seguida se afasta da gente.
Tremendo de raiva, abraço meu corpo e respiro fundo.
— Oh, filha, me desculpa. Esse menino tem um gênio ruim mesmo.
— A voz dela está embargada.
— Não se desculpe pelo filho mau caráter que tem, já sei da índole
dele, senhora, tive o desprazer de conhecê-lo através da minha mãe —
confesso, controlando minha vontade de ir atrás do imbecil e enchê-lo de
porrada, mesmo que eu não vá aguentar enfrentá-lo fisicamente.
— Sinto muito mesmo, Amanda. — Desvia os olhos dos meus.
— Não sinta. Se a senhora me der licença, preciso entrar. — Passo a
mão no meu bolso traseiro e tiro meu celular de lá.
— Vá lá, filha — diz dona Vera.
Dou as costas para ela e sigo para a casa. No meio do caminho,
desbloqueio o celular e envio uma mensagem para o Gabriel falando sobre
João Pedro, explico que o idiota vem me incomodando desde a primeira vez
que nos conhecemos. Ao falar do acontecimento de agora pouco, meu cliente
ameaça vir até a minha casa. Peço que não se exalte e pergunto se pode me
ajudar a encontrar alguma coisa que faça o imbecil se manter distante de mim
e da minha família, de preferência que não seja nada ilegal. Em nossa última
mensagem, ele me garante que vai tomar providências e que devo ligar para
ele se precisar de qualquer coisa. Gabriel me pede para não lidar sozinha com
um homem que evidentemente é descontrolado.
Capítulo 15

Os três dias passaram rapidamente. Amanda teve o seu tempo com a


família, e apesar da sua mãe ter recusado o meu convite para ir até o resort,
entendi que a senhora Lara só estava tentando não misturar as coisas.
Ela aproveitou o máximo que pôde, e à noite, quando vinha dormir
comigo, passávamos algumas horas conversando. Aos poucos, a loirinha se
sentia confortável para se abrir comigo sem que eu a forçasse a nada. Estou
ganhando a confiança dela e gosto disso. Principalmente o fato de ela ter
confiado em mim para contar que um filho da mãe estava importunando-a
quando ia visitar a família.
Amanhã, sairemos bem cedo para Arraial do Cabo, e eu permiti que
ela viesse se despedir da mãe e da irmã com mais tempo. Deveríamos estar lá
desde ontem, mas com o imprevisto do vizinho maluco da família da Mandy,
acabei adiando a nossa viagem.
João Pedro Fogaça de Queiroz.
Esse é o nome completo do moleque de vinte e quatro anos, porque,
para mim, um adulto que age como um adolescente revoltadinho não é um
homem, jamais será. Quando ela me enviou a mensagem, percebi o quanto
estava preocupada com a segurança da mãe e da irmã. Não esperei por tempo
ruim, liguei para um conhecido que é detetive e pedi que puxasse a ficha do
garotinho rebelde, e em menos de vinte e quatro horas consegui saber da vida
do delinquente. Sim, ele é um delinquente, saiu do interior da Bahia e não foi
para ver a mãe, ele veio foragido. O moleque era envolvido com tráfico de
drogas e armas. Essa não é a primeira vez que o cara consegue fugir da
situação. Os seus familiares não devem saber disso, ou se sabem, estão o
ajudando a se esconder aqui.
Vim buscar a loira na casa da mãe. Mais cedo, meu motorista a levou
a alguns lugares para comprar coisas para a irmã e foi pagar a matrícula e
adiantar algumas mensalidades no colégio novo da menina, porém, ele teve
um problema familiar e eu o dispensei para que fosse resolver.
Notando que a rua está deserta, mas algumas casas com a luzes
ligadas, envio uma mensagem para Amanda avisando que estou com o carro
parado na rua da casa dela. Em questão de segundos ela diz que já está
saindo. Tamborilando os dedos no volante, observo a casa ao lado – onde o
surtado mora. Muito em breve alguém da minha confiança fará uma visita a
ele, não vai demorar tanto para que ele se borre nas calças e dê o fora do país.
Meu celular começa a tocar, ainda bem que vejo quem é antes de
atender. Isabel me liga no mesmo instante em que Amanda aparece na
calçada e acena para mim. Coloco o celular em modo avião e o jogo dentro
do porta-luvas, em seguida baixo o vidro da minha janela.
— Está tudo bem? — indaga ao se aproximar do carro e avaliar-me
cuidadosamente.
— Sim, está — afirmo.
— Você está com o semblante de alguém bem irritado. — Ela encosta
o corpo na porta do motorista e toca no meu queixo.
— Impressão sua. Entre. — Toco em seu ombro.
— O.k. — assente, após rodeia o carro e entra nele, sentando-se no
banco passageiro.
— Tenho algo para você — digo, abrindo o porta-luvas e pegando o
documento com as informações sobre João Pedro que pedi para a secretária
de Samuel imprimir para mim. — Pegue — Estendo para ela o envelope.
— O que é? — indaga com curiosidade, olhando para o envelope
cinza.
— Algumas coisinhas que descobri do vizinho da sua mãe — falo,
guiando o carro para longe dali assim que ela põe o cinto de segurança.
Com a respiração pesada, ela abre o envelope, mas não diz nada.
Concentrado na estrada, vez ou outra eu a observo e a loira se remexe no
banco, parecendo incomodada.
— Parece que ele gosta do perigo, mas nunca é punido — ela diz num
tom de raiva. — Gabriel, você acha que a minha família pode estar em
perigo? Esse cara é perigoso... Vai que tente... — Fica nervosa e eu a encaro
de relance.
— Tenho um conhecido da polícia daqui, amanhã ele vai dar uma
passadinha na casa do moleque para colocá-lo no lugar dele. Tenho certeza
de que o João Pedro vai esquecer até o caminho da casa da sua mãe —
revelo.
— Gabriel, mas isso não é contra a lei? O que você mandou esse seu
conhecido fazer? A sra. Vera não me parece ser uma pessoa ruim e não quero
prejudicá-la, mesmo que o filho seja um merda. Nunca fui a favor de
violência. — Ela fica preocupada.
Dirijo com uma mão e levo a outra à coxa de Amanda, reduzindo a
velocidade do carro e a encarando.
— Não é se ninguém souber. A conversa que o Alexandre vai ter com
o João Pedro não será levada para o lado da violência. A mãe dele não vai
perceber nada, meu amigo só vai dar um susto nele para que entenda que não
deve mexer com você ou com a sua família. — Massageio sua pele por cima
do tecido do vestido.
— O.k., mas não quero que você se prejudique por minha causa. —
Seu tom é quase inaudível.
— Amanda, eu poderia mandar fazer coisa pior com ele e ninguém
descobriria. Esse cara é só um bostinha. — É óbvio que não sou nenhum
assassino para mandar dar fim no imbecil, mas dar um susto usando as
próprias cagadas dele para que ande na linha não é nada de mais.
— Isso soou bem sombrio agora — murmura.
— Eu já dei a minha palavra de que não vou fazer nada de errado,
tudo vai estar sob controle — asseguro-a, que por fim se dá por convencida.
— Tudo bem, obrigada. — Suspira, tocando a minha mão que está em
sua coxa.
— Não agradeça.

∞∞

Por fim, meu tão sonhado descanso começa depois de uma semana
cheia de agitações.
Ontem à noite, Amanda quase não pregou os olhos por conta do que
descobriu do vizinho, mas eu garanti que tudo será resolvido e que ninguém
sairá machucado. Bastou que eu dissesse isso – pela milésima vez –, para ela
descansar o coração e ir dormir. Eu não dormi direito, mas foi por outro
motivo. Isabel não para de me ligar para infernizar meus únicos dias de paz.
Acho que vou pôr um ponto final em tudo isso e seguir sozinho, curtindo a
vida com companhias agradáveis apenas.
Pela manhã, liguei para Alexandre para confirmar o combinado, e ele
me assegurou que será bem cauteloso e que vai me manter informado.
— O que acha desse vestido? — pergunta, atraindo a minha atenção.
— Quer saber o que eu acho? — Lambo os lábios quando ela dá uma
voltinha para mim, em seguida, vem e se senta em meu colo.
— Sim. — Toca em meus ombros e os massageia de leve.
— Você está gostosa, muito. — Deslizo as mãos por suas coxas e vou
subindo o tecido cor nude até o alto da sua barriga lisinha.
— Eu falo do vestido e não de mim. — Sorri.
— Mas sem você, ele não seria nadinha. — Seguro em seu quadril.
— Assim você infla o meu ego. — Bate os cílios e eu gargalho.
— E você adora que eu sei. — Pisco para ela.
— Claro que sim. Que horas o André vai nos levar para Arraial do
Cabo? — Se move em meu colo e eu solto um gemido baixinho.
— Ele foi colocar combustível no carro e já vem nos buscar — digo,
colocando a sua calcinha para o lado e a dedilhando lentamente.
— Hum, o.k. — Ela geme e rebola.
A poltrona que estamos se torna pequena para nós. Passo o braço ao
redor dela e me levanto, levando-a comigo. Quase aos tropeços, alcanço a
cama e a deito no colchão. Seu cabelo se espalha nos lençóis, e quando ela
abre um sorriso bonito para mim, meu coração fica acelerado.
Para disfarçar o quanto fico mexido com apenas um sorriso que ela
me dá, começo a beijar suas pernas e Amanda facilita as coisas ao erguer o
quadril e subir o vestido. Vou trilhando beijos por sua pele até chegar no
meio das suas pernas e ali me debruço. Com a ajuda dela, tiro a sua calcinha.
O cheiro da sua bocetinha molhada misturado ao sabonete impregnado em
minhas narinas me enlouquece.
— Abre mais as pernas para mim, loirinha, vou te foder com a minha
língua — peço, e ela obedece e fica toda arreganhada.
Fico de pau duro, excitado pra caralho com a porra da visão que tenho
da sua boceta lambuzada. Sem ter muito o que esperar, enfio meu rosto entre
suas pernas e Amanda geme alto, o seu corpo estremece quando passeio
minha língua por suas dobras e sugo o seu clitóris em seguida. Fodo-a com a
língua por um tempo, e ao vê-la se esfregar com força em mim, eu a penetro
com três dedos e vou alternando as estocadas dentro dela.
— Ahh... Ahh.... Gabriel. — Arfa, rebolando e sujando meu rosto
com sua excitação.
Nosso clima é cortado ao ouvirmos o meu celular tocar
estridentemente. Ainda assim, continuo foder a minha mulher, mas é
impossível ignorar a ligação de quem quer que seja, porque a pessoa não
desiste. Frustrado, saio da cama e pego o meu celular. Na tela, brilha o nome
do André.
— Sr. Gabriel, estou aqui fora esperando por vocês — diz o homem,
mas minha atenção está completamente na mulher que tem a respiração
ofegante e as pernas abertas.
— O.k., André. Daqui a cinco minutos estamos saindo — falo,
passando o polegar nos lábios e chupando o resquício do líquido viscoso.
— Certo, senhor — fala, e encerro a ligação.
— A nossa diversão vai ficar para Arraial do Cabo, loirinha, o André
já chegou.
Amanda faz uma careta, mas assente, então se levanta da cama já
ajeitando a sua roupa.

∞∞

Seguimos de carro até a minha mansão em Arraial do Cabo. Ao


chegarmos ao nosso destino, somos bem recebidos por Angelina, a
cozinheira, a auxiliar dela na cozinha, e o jardineiro, que é o seu filho. Peço
que meus funcionários preparem algumas coisas para comermos, porque a
casa já está organizada. Depois, digo a eles então para folgarem o restante do
dia, até o motorista dispenso. Quero ficar a sós com minha loirinha, quero
poder desfrutar de tudo ao lado dela, nesse paraíso. Esse lugar é a calmaria
que estou precisando.
— Você tem um bom gosto, Gabriel, a casa é um palácio! — Amanda
retira os óculos de sol, olhando para a casa branca de três andares, com
janelas e portas de vidro.
— Sim, eu sei — respondo com um sorriso. — Venha, entre. — Pego
na mão dela e a puxo para dentro.
Mostro à minha acompanhante alguns cômodos da mansão. Ela não
consegue disfarçar o encanto por tudo e diz que estou de parabéns pela
excelente decoração. Sorrio e agradeço, chamando-a para mostrar a suíte
onde ficaremos. Amanda morde os lábios adentrando o local, e me olha de
um jeito safado. Não resisto e vou até ela quando me chama com o dedo.
Sedento por sua boca deliciosa, agarro-a pela cintura e tento lhe roubar um
beijo, mas ela nega. Faço uma cara de bravo e a loira pisca para mim
provocante.
— Até quando vai ficar fazendo jogo duro? — pergunto, beijando o
pescoço dela e apertando a sua bunda.
— Hum, talvez mais tarde eu te dê um beijo para te recompensar —
diz, agarrando meu rosto e me dando um selinho rápido.
— Não me provoque, Amanda... — Mordisco seu lábio e ela geme,
manhosa.
— Me chame de Mandy, gosto mais. — Arranha meu braço com suas
unhas afiadas.
— Vou te mostrar como é que se provoca direito, Mandy. — Eu a tiro
do chão e ela passa as pernas ao meu redor.
Quando estamos prestes a cair na cama, meu celular toca no bolso.
Frustrado, atendo sem ver quem me liga. Arrependo-me quando ouço a voz
da minha perseguidora. Na mesma hora, eu broxo.
Peço licença à Mandy e desço para o escritório para poder conversar
com Isabel, que me xinga de tudo quanto é nome. Furioso com seu cinismo,
encerro a ligação e vou fazer a única coisa que consegue aliviar meu estresse
– o trabalho, como sempre. Reviso alguns contratos no computador e acabo
deixando a minha garota sozinha.

∞∞

As horas passaram rapidamente. Já é quase noite, passei a tarde toda


trancado no escritório, sem sequer dar um pouco de atenção a Amanda.
Assim que largo o trabalho, vou para o quarto tomar um banho e percebo que
ela não está ali. Sigo para a varanda e não a encontro, mas ao me aproximar
da sacada, deparo-me com Mandy lá embaixo, sentada na beira da piscina em
uma espreguiçadeira tomando um drinque, que acredito ser Sex on the Beach,
pela coloração. Ela está toda produzida com roupa de banho e uma saída de
praia linda.
Saio do quarto e desço para fazer companhia a ela. Aproximo-me
dela, que nem sequer olha para trás por saber que sou eu, e sinto o aroma
delicioso que vem do seu cabelo. É um aroma de frutas com uma mistura
interessante de flores. Não sei explicar, sei apenas que a fragrância é uma
delícia.
— Então foi aqui que você se escondeu? — sussurro no seu ouvido e
finalizo com um beijo em seu pescoço.
— E o senhor estava se escondendo de mim a tarde inteira, por quê?
— Ela se vira, sorrindo.
— Não estava me escondendo, estava trabalhando. — Acaricio o
braço dela.
— Você disse que viria para cá descansar, e não trabalhar. — Pisca
para mim. Gargalho com a sua audácia.
— Mudança de planos. Acontece. — Pego em uma das suas mãos e
trago-a até meus lábios, depositando um beijo.
— Você demorou demais. Já estava cansada de ficar aqui, aguardando
a sua chegada... Demorou tanto, que meus planos até já se foram com o sol
lindo que estava fazendo. — Ela finge chateação.
— E quem disse que precisa ter sol para você realizar os seus desejos?
— Arqueio a sobrancelha quando a vejo mordiscar os lábios, provocativa.
— E por acaso sabe o que eu pretendia fazer, sr. Vilela?
— Posso imaginar... — Finjo estar imaginando e logo sinto um tapa
em meu braço.
— Me diga uma das coisas que acha que eu pretendia fazer. — Me
lança um olhar de desafio.
— Só me dê a mão e deixe-me te guiar, Amanda. — Dou ênfase ao
nome dela, passeando os olhos pelo corpo curvilíneo.
Deliciosa.
Ousada.
Ah, como você me desperta pensamentos insanos, loira!
— Adoro um homem misterioso. Me surpreenda. — Sorri, deixando-
me guiá-la para dentro da casa.
— Essa é a minha missão. — Pisco para ela, que joga a cabeça para
trás e gargalha.
Paro no meio da sala e pego-a no colo. Ela solta um gritinho surpreso
e me pergunta para onde vou levá-la. Deixo-a sem resposta enquanto subo a
escada em direção aos quartos. Entre risos, a loirinha fala que sou louco e
confessa que sou o primeiro cliente que a faz se sentir tão bem em tão pouco
tempo.
Entro no quarto com ela ainda em meus braços. Mesmo que tenha me
pedido para descê-la, não obedeci.
— O que pretende? — questiona, arfante, quando a deito na cama e
me afasto para pegar a camisinha e o óleo massageador.
— Te fazer gozar muito. — Dou as costas para ela e vou até a mesa
de cabeceira.
— Gosto da ideia. — Seu tom é manhoso.
— Eu também. — Viro-me, já com o óleo de massagem nas mãos e o
preservativo no bolso. — Deite-se, por favor, de barriga para baixo —
oriento, sentando-me na borda da cama.
Por alguns segundos, penso em desistir da maldita massagem, mas me
mantenho firme quando a loira solta uma risadinha e se deita como peço.
— Boa menina. — Sigo até onde ela está.
Derramo uma boa quantidade de óleo sobre suas coxas e as acaricio
com a intenção de espalhar o líquido. A safada empina a bunda, fazendo-me
latejar. Dou um tapa em sua bunda, fazendo-a gemer e sorrir.
— Você é muito travessa... Se comporte, a intenção é massagear seu
corpo, mas preciso que colabore. — Remexendo-se, ela diz que sim.
Que porra de mulher sexy.
Lambuzo toda sua bunda, fazendo movimentos circulares. Passo a
mão por dentro de seu fio dental, acaricio-a e me deleito na perfeição que é
seu corpo. Subo um pouco mais até a altura do sutiã e solto o laço. Ela
protesta.
— Não era só massagem, Gabriel? — Seu tom sacana me deixa mais
excitado.
— Nada mudou. — Deixo escapar uma palavra mais carinhosa e vejo
que ela retrai o corpo diante da minha fala. — Relaxe, já estou acabando.
— Humm, você tem boas mãos...
Finalizo a parte de trás e peço que se vire para mim. Umedeço os
lábios quando tenho a visão dos seios empinados e dos mamilos rosados.
Maravilhosos.
Fico admirando-a por alguns minutos e engulo em seco quando noto
um olhar confuso. Lanço meu melhor sorriso para ela, aproximando-me de
seu rosto. Tento beijá-la, mas sou rejeitado quando vira o rosto para o lado.
— Sem beijos, por favor.
— De novo isso? Acha mesmo que um beijo vai nos impedir de sentir
o que já estamos sentindo? — Arqueio a sobrancelha.
Ela abre a boca e fecha, mas não diz nada.
— Gabriel — repreende-me, com o corpo rígido, os olhos brilhando.
— Não fique tensa. Vou fazer desses dias os melhores que você já
teve. Quero que se sinta desejada, amada, incrível... e única. — As palavras
intensas saem da minha boca sem que eu tenha controle sobre elas.
Toco em seu rosto pálido.
— Por que está fazendo isso? A forma como está agindo agora me
deixa muito confusa. Eu sei que já fez muito por mim, sou grata, mas não
jogue comigo ao pedir que me sinta amada, sendo que o que existe entre nós
é só sexo e você sabe disso muito bem — demanda, irritada, afastando minha
mão do seu rosto.
— Sim, eu sei. Só quero que continue se sentindo bem ao meu lado
durante os dias que passaremos juntos. É pedir muito? — Olho bem em seus
olhos enfurecidos.
— Me desculpe pelo meu comportamento. Só não estou acostumada
com a forma como me trata, vou acabar misturando as coisas e não quero sair
machucada depois disso tudo — fala, quase inaudível.
— Apenas quero que relaxe e se entregue para mim. Só me deixe
cuidar de você. — Passo o polegar em seus lábios rosados.
Num súbito, ela suspira longamente e abre um sorriso lindo.
— Por favor, preciso de uma boa massagem nas pernas, estão
doloridas — fala de repente, mudando a postura, já relaxada.
— A senhorita que manda. — Aproveito o ar descontraído que
criamos para analisar melhor a mulher na minha cama.
Ela está disposta a ser amada, consigo ver e sentir que sim, mas não
sabe como é isso e tem medo de saber – pude constatar na nossa última
conversa na praia. Não consegue aceitar um simples elogio e nem um toque
amoroso que já entra na defensiva.
— Você tem mãos maravilhosas. Por acaso a sua verdadeira profissão
é massagista e eu não sei? — brinca, fechando os olhos e soltando um
gemido rouco.
Apenas gargalho, divertido.
Após derramar óleo sobre suas pernas, massageio com bastante
atenção. Noto que ela sente prazer ao meu toque. Decido subir um pouco
mais e toco na sua virilha. Mordo o lábio e deslizo a mão por cima da
calcinha, percebendo sua excitação molhar o tecido. Meu pau lateja e a única
vontade que tenho é de meter a mão nela. Não hesito. Passo carinhosamente
os dedos em seus lábios vaginais por cima do tecido, que se contrai com o
toque inesperado.
Continuo minha massagem e novamente toco na umidade no meio das
pernas, dando mais atenção ao clitóris. Passo o dedo sobre ele, que está
rígido. Ela está completamente pronta para mim.
Ouço um gemido baixo e vejo a perna ser encolhida na tentativa de
inibir o prazer, que está palpável. Solto o laço da calcinha do biquíni e
derramo óleo sobre sua boceta, acariciando-a em movimentos leves e
sentindo os batimentos dela em minhas mãos. A adrenalina é tão alta que
todo o corpo dela irradia as batidas do seu coração.
Penetro-a levemente e sinto a umidade espessa em minhas mãos. Não
resisto à ideia de lamber o néctar dessa deliciosa mulher, que agora geme
com meu dedo penetrando-a.
— Você é toda deliciosa, Mandy — concluo.
Ela geme baixo, segurando firme os lençóis.
Para a frustração da mulher, afasto-me e arranco minhas roupas,
jogando-as no chão, como um louco desesperado para ter o seu corpo
encaixado no meu. Antes de voltar para perto dela, visto o preservativo em
meu pau, depois começo a fazer uma trilha de beijos por seu pescoço. Desço
até chegar no espaço entre seus seios, passando a língua. Faço um caminho
lento até chegar a sua barriga lisinha.
— Ahhh... Não tem como não me perder em você. — Sua voz sai
arrastada e cheia de luxúria.
Percebendo que ela já está entregue, subo minhas mãos até seus seios,
dando atenção especial aos mamilos rígidos. Acaricio-os e dou pequenos
apertos em cada um. Vejo-a delirar e encurvar as costas. Satisfeito, acabo
sorrindo.
Beijo seus lábios e a puxo levemente pelo braço até que fique sentada.
Sento-me atrás dela, abro bem suas pernas para ter fácil acesso à sua boceta e
meto o dedo levemente. Ela reclama e pede mais. Seguro um de seus seios e
massageio com afinco, sem deixar de dar atenção à umidade que ela libera na
outra mão.
Ela geme feito louca, e eu intensifico a penetração com os dedos.
— Mais um pouco, por favor... Preciso de você... Aaaaaah, que
delícia — fala e geme ao mesmo tempo.
Essa tensão me faz ter mais prazer ainda. Afasto seu corpo, pegando-a
no colo com os lençóis. Traço um caminho com a loira em meus braços até o
banheiro da suíte. Deposito seu corpo dentro da banheira, ligo a água morna,
entro e me sento à sua frente, puxando-a para cima do meu pau ereto.
— O que pretende com toda essa tortura? Quero você dentro de mim,
bem fundo, Gabriel — fala, decidida. O brilho de despudor em seus olhos faz
com que eu lhe dê um sorriso torto ao ouvir meu nome sair de uma maneira
tão sexy dos seus lábios gostosos.
— Seu desejo é uma ordem, loira. — Penetro-a de uma vez e ela
geme alto, jogando a cabeça para trás e mordendo os lábios.
Enfio uma mão em seu cabelo e, com a outra, seguro seu quadril.
Cacete, a mulher rebola deliciosamente e chama por meu nome.
— Escute, sua gostosa... — Solto seu cabelo e trago seu rosto para
perto do meu. Com os olhos fixos nos meus, ela lambe os lábios e deixa a
boca entreaberta, como se estivesse buscando por fôlego.
— Oh... ficar assim é gostoso... — ronrona para mim.
— Vou te foder forte e duro. Quero te ouvir gemer bem gostoso e
rebolar muito no meu pau.
Ela assente e eu travo seus quadris nos meus. Iniciamos um vaivém
sem limites.
Amanda grita e me aperta os braços. Apalpo sua bunda, empurrando
duramente, e ela pede mais e mais. Ficamos por minutos no vaivém.
— Por... favor... Me dê o que prometeu — balbucia, exaurida, com o
seu rosto corado.
— Eu dou sim — falo, apertando seu quadril e arrancando uma
lamúria deliciosa da boca dela.
A agitação que fazemos também me deixa exausto, mas não o
suficiente, então, intensifico os movimentos. Sinto a sua boceta espremer
meu pau e não controlo a pressão deleitosa que ela faz sobre mim, até que
gozamos juntos entre gemidos e gritos.
O esgotamento é nítido em nós, mas me permito apoiá-la de forma
mais confortável. Ficamos imersos na banheira, que transborda água por toda
parte.
— Precisamos fechar a torneira — sussurra em meu ouvido, ainda
sentada em meu colo. Estico meu pé e travo a alavanca da torneira, que para
de jorrar.
— Pronto, agora podemos relaxar de verdade — falo, dando um beijo
em seu pescoço.

∞∞

Acordo cedo e deixo Milena dormindo. Deixei-a bem cansada ontem


à noite e fomos dormir de madrugada. Desço até meu escritório para fazer
algumas ligações para a matriz da minha empresa para saber sobre o contrato
com Samuel, e após me confirmarem o que eu quero, desligo.
Telefono para o meu pai, mas ele não me atende no celular, então
tenho a brilhante ideia de telefonar para casa, e, infelizmente, quem me
atende é Isabel. Ao ouvir a voz dela, encerro a ligação.
Em questão de minutos, meu celular toca ao meu lado
insistentemente. Bufando, jogo meu corpo para trás e fecho os olhos. Assim
que ela para de ligar, retorno a ligação. Com uma mão massageando minha
nuca, escuto a voz raivosa da mulher do outro lado da linha.
— Decidiu me atender, Gabriel? Lembrou que eu existo? —
desdenha.
— O que você quer, Isabel? — ignoro sua pergunta, impaciente, já
arrependido de ter ligado para ela.
— Estou há dias te ligando e você me trata como se eu fosse uma
qualquer! Você acha que sou alguma idiota, Gabriel Vilela? — ralha,
irritante.
— Idiota você não é, muito menos algo na minha vida para que eu
aceite as suas ligações sempre que se sentir entediada e decidir tirar a minha
paz! — digo, grosseiramente, para que se ponha no seu lugar.
— E quem disse que não sou algo? Ter o seu sobrenome não significa
nada? — berra do outro lado. Preciso afastar o celular para não ser afetado
por seu grito.
— Isabel, é o seguinte — respiro fundo —, estou a negócios no Rio
de Janeiro, não que seja da sua conta, e não sei quando retorno para São
Paulo, então, recomendo que você continue se divertindo com os seus
amantes e esqueça da minha existência!
— Tudo o que você fizer é da minha conta, meu amor, somos
casados, você me deve satisfação! Por acaso está com ciúme dos meus
namorados? Não era você que disse que não temos nada? — provoca-me, e
eu xingo baixinho.
— Que porra você quer? Diga logo, não tenho tempo para os seus
chiliques, sou um homem muito ocupado. Ao contrário de você, preciso
trabalhar e não posso ficar esperando o meu pai me dar as coisas — retruco,
ouvindo-a gargalhar.
— Precisamos conversar seriamente — diz, sem aquele ar de
debochada.
— Fale de uma vez, Isabel. — Coço minha barba.
— Estou grávida. — Solta a bomba como se fosse responsabilidade
minha.
— Meus parabéns, mas o que eu tenho a ver com a sua gravidez? —
Estou com o coração tranquilo, porque não tenho motivos para me preocupar.
— Você é meu marido, seu imbecil! — diz, nervosa.
— No papel, sim, mas você e eu nunca fomos para a cama. Durante
todos esses anos de casados, sequer nos beijamos, quanto mais fazermos um
filho. Esse compromisso que temos é apenas um contrato, que muito em
breve irá acabar, então, se pensa que vai me fazer de otário jogando essa
paternidade nas minhas costas, está enganada, Isabel. Procure o verdadeiro
pai do seu filho! — Travo o maxilar.
Essa mulher me tira do sério. Pensei que viajando para longe dela
ficaria em paz e finalmente essa louca me daria o divórcio. Estamos casados
há seis anos. Infelizmente, tive que me casar com ela por causa dos negócios
da família. O seu pai, Gonçalo, melhor amigo do meu, para emprestar uma
quantia boa para o meu pai, sugeriu que eu me casasse com a filha
problemática dele. Assim, eu poderia salvar a nossa rede de restaurantes.
O homem, sendo amigo do meu pai, poderia somente emprestar o
valor que precisávamos, mas pessoas como Gonçalo nunca oferecem ajuda
sem querer algo em troca. Ele pediu que me cassasse com a filha dele, mas
que fosse em comunhão universal de bens porque em caso de divórcio Isabel
teria a metade da fortuna.
Aceitei o meu destino em me unir por alguns anos com Isabel por
contrato, para que meus pais não perdessem o império que tinham construído
com muito esforço. Mas não era só por causa da falência da empresa que
aceitei me casar com ela, precisávamos de dinheiro para pagar o tratamento
da minha mãe quando o câncer voltou. E para ter os melhores médicos,
tínhamos que ter muito dinheiro.
— Me surpreende o tamanho da sua frieza, Gabriel Vilela. Quando a
sua família precisou da minha, nós fomos solidários. Agora, só porque se
reergueram, você pisa em mim — Isabel debocha e eu ignoro o que ela fala.
Tenho vontade de falar das humilhações que me fez passar durante
esses anos de casamento. Sofri nas mãos dela, principalmente quando insistia
em dizer para as suas amigas que eu era o bichinho de estimação que o pai
dela a presenteou.
Quanto mais me humilhava, mais eu a ignorava e trabalhava
arduamente para reerguer os negócios da família e devolver centavo por
centavo que Gonçalo Correia tinha dado em troca da maldita união com a
louca da filha dele.
— Eu não devo mais nada ao seu pai, Isabel, tudo o que ele nos
emprestou foi devolvido. Infelizmente, a única coisa que ainda não consegui
me livrar de uma vez foi você. — Se ela quer que eu seja duro, eu serei.
— Acha que me falando essas coisas vai me fazer te dar o divórcio,
meu bem? Disse que estou grávida, e para todos os efeitos, você é o pai desse
filho — diz, maldosa.
— Querida, tenho dó de você por pensar que vou assumir um filho
que não é meu. Aquele Gabriel que você manipulava não existe mais há anos.
Trate de assinar de uma vez o divórcio e procure quem te engravidou — digo,
amargo.
— Mas não quero que outro seja pai do meu filho. Se estou te falando
da minha gravidez é porque desejo que me ajude com isso e dê o seu
sobrenome a essa criança quando ela nascer.
Preciso gargalhar com o que acabo de ouvir.
— Esqueça essa loucura, Isabel, os papéis do divórcio estão na matriz
da Lissol, com a minha secretária. Assine, vai ser melhor para nós dois.
— Vai mesmo permitir que eu arme um escândalo na imprensa
justamente agora que a marca da sua empresa está no auge, esposo? O que as
pessoas vão dizer quando souber que você é um corno e a sua esposa fez filho
fora do casamento? Acha que empresários de renome irão querer ter o nome
deles vinculado com o seu? Quer mesmo perder tudo o que conquistou esses
anos por algo que você pode resolver sem precisar que nos tornemos
inimigos?
O seu tom ameaçador me faz cerrar os punhos.
— Isabel, vá para o inferno. Eu não irei ceder aos seus caprichos,
você engravidou porque quis! Não sei qual o seu plano maléfico para ter
engravidado a essa altura do campeonato, mas não conte comigo para
assumir uma responsabilidade que é somente sua. — Esmurro a madeira da
mesa.
— Você tem a obrigação de me apoiar, eu te tirei da lama! — Começa
a chorar.
— O dinheiro era do seu pai, nunca foi seu, e eu não devo mais nada a
ele. Se quiser um pai para o seu filho, procure o verdadeiro!
Ela acha que chorando vai me comover, como costuma fazer com o
pai.
— Você me paga, Gabriel! — promete, aos prantos.
— Não te devo nada, Isabel, você sabe disso. E não me ligue mais,
não temos mais nada para conversar. — Encerro a ligação antes que ela
comece os seus xingamentos.
Sentindo a minha cabeça latejar, largo o celular na mesa e vou até o
bar embutido na parede, pego uma bebida e tomo um copo de uísque de uma
vez, depois mais outro. Ainda é cedo para uma bebida, mas depois de falar
com essa mulher, estou com os pensamentos fervilhando.
Isabel grávida e querendo que eu assuma o filho dela como se fosse
meu. Isso é uma piada.
Quando o celular começa a tocar, penso em ignorar por imaginar que
seja ela me ligando, embora, se atendesse, estaria pronto para mandá-la para
o quinto dos infernos. Mas vejo que é o nome da empresa de Antônio Braga,
meu sócio no restaurante que implantei dentro do resort dele. Ao atender, a
secretária dele informa que o chefe soube que estou no Rio de Janeiro e está
me convidando para um pequeno evento amanhã. Digo que estou em Arraial
do Cabo e aceito o convite, mas que vou levar uma pessoa comigo. Dou o
nome de Milena, e não Amanda, e em seguida a mulher encerra a ligação.
Antes de sair do escritório para ver se minha loirinha já acordou,
recebo uma mensagem de Alexandre dizendo que João Pedro não é mais um
problema, que o moleque não vai demorar muito para sumir do mapa depois
do susto que deu nele ao mostrar as provas em sua ficha. Satisfeito com a
informação do meu amigo, eu o agradeço pelo serviço rápido e aviso que
mais tarde farei uma transferência para a conta dele. Pelo menos, estou
recebendo uma notícia boa depois do caos infernal chamado Isabel Correia.
Capítulo 16

Há alguns minutos, tomei banho e aproveitei para lavar e hidratar


meu cabelo. Nua, olhando-me em frente ao espelho, não consigo me
reconhecer. Pergunto-me o que está acontecendo comigo e por que estou me
deixando levar por um homem que tem o mundo aos seus pés e que pode me
descartar a qualquer momento. Repreendo-me por estar deixando que seus
sorrisos, carícias e o bom sexo me façam deixá-lo derrubar as barreiras que
criei em meu coração.
Não posso deixar que Gabriel Vilela se aposse ainda mais dos meus
sentimentos. Ao lembrar-me da conversa que tive com mamãe, meu peito se
aperta, porque, no fundo, ela tem razão, até demais. Esse homem, com ou
sem pretensão, já me conquistou e eu estou tentando colocar uma venda em
meus olhos para não enxergar o que está bem na minha frente.
Anteontem, quando estávamos transando, vi nos olhos de Gabriel o
quanto me deseja e me quer. Ele também sabe que estou me rendendo aos
poucos, e quando me pediu para que eu me permitisse ser amada, por pouco
não falei bobagem, porque se me desse mais espaço, certamente estaria
confessando que tenho sentido meu coração bater forte por ele.
Não seria errado Amanda se apaixonar por alguém tão... lindo,
maravilhoso, cavalheiro. Mas Milena, sim. Ela não pode se envolver, porque
Gabriel tem que ser apenas um trabalho para ela pelos próximos dias.
E quando isso tudo terminar, será que eu e ele...? Argh, Mandy, foco!
Apenas pense no seu futuro e no da sua família que tudo vai correr bem.
Clientes vão e voltam, e esse é só mais um.
Balanço a cabeça e mordo os lábios ao notar o brilho em meus olhos.
Tenho poucos dias ao lado do homem que conseguiu fazer com que eu me
rendesse a paixão que estive lutando para não me vencer. Frustrada com
meus pensamentos, afasto-me do enorme espelho, vou até a cama e me deito
de barriga para baixo.
Pego meu celular e ligo para a minha mãe. Ontem, estávamos
conversando por mensagem, e ela me contou que o primeiro dia de aula de
Beatriz foi tão bom que minha irmã já fez três amizades. Mesmo sendo
novata, uma das mães de suas coleguinhas a convidou para o aniversário da
filha, que será no próximo fim de semana. Mamãe disse que quase não
aceitou, e quando me falou que não quis fazer desfeita, achei bom, assim até
ela pode espairecer um pouco e, quem sabe, fazer amigos também.
Em três toques, sou atendida.
— Oi, filha, bom dia! Como está você? — A voz de dona Lara sai
animada.
— Bom dia, mãe. Estou bem e vocês aí? — Sorrio, passando a mão
em meu rosto.
— Estamos bem. Lembra que te disse que a Bia vai para um
aniversário no próximo sábado? Então, aquele dinheiro que me deu, usei para
comprar um presente para a sua irmã não chegar lá de mãos vazias.
— Está certa, mãe. Fez muito bem — digo, sentando-me na cama. A
toalha cai em meu colo, deixando meus peitos à mostra.
— Mandy, tenho algo para te contar. Estou surpresa até agora, porque
a Vera veio aqui em casa para conversar comigo. — Quando a vizinha é
mencionada, fico nervosa ao me lembrar do traste do filho dela.
— O que houve? — Limpo a garganta, puxando a toalha para cima e
cobrindo novamente meus seios.
— Parece que o João Pedro foi embora de vez. Segundo a Vera,
ontem, o filho recebeu uma visita de um amigo, depois disso, falou que tinha
arrumado emprego em outro estado e que iria embora, mas que ligaria para
ela para dizer se chegou bem. Achei estranha essa decisão repentina, talvez
esse tal emprego seja bom mesmo, né?! Mas pelo menos agora a pobre da
Vera vai ter sossego — revela mamãe.
Levo a mão à boca, percebendo que seja lá o que Gabriel tenha feito,
deu certo. E foi como prometeu, sem violência. Ontem, ele me disse que João
Pedro não seria mais um problema para mim, mas não entrou em detalhes, e
eu nem quis saber, só o agradeci.
— Hum, entendi. — Mordo os lábios.
— Mandy, preciso desligar agora, deixei uma panela no fogo — fala.
Ao fundo, ouço a voz de Beatriz mandando um beijo para mim.
Fico atenta quando ouço algumas batidas à porta e meu nome sendo
chamado.
— Mãe, também preciso desligar. Depois eu ligo para a senhora, tá?
Manda beijos pra Bia.
Encerro a ligação ao receber um “Sim e fique com Deus” dela. Jogo o
celular na cama e salto até o closet para pegar um robe.
— Milena, posso entrar? — pergunta Gabriel, do outro lado da porta.
— Pode sim! — Alcanço o robe cor nude e me visto.
— Está tudo bem por aqui? — Ele me encara dos pés à cabeça. Seu
olhar é tão profundo, parece que é capaz de enxergar através da minha alma.
— Aham, está, sim. Estava em ligação com a minha mãe, por isso
demorei para te responder — murmuro, terminando de fechar o robe.
— O.k. — Aproxima-se de mim.
Não deixo de notar o quanto é elegante vestido até com roupas
casuais. Na verdade, ele fica mais bonito sem aqueles ternos.
— Minha mãe me contou que o João Pedro foi embora — informo,
tocando em seu abdômen.
— Eu disse que daria um jeito nele. — Ele toca em meu pescoço e me
acaricia.
— Sim, obrigada. — Sorrio para ele.
Gabriel olha para a minha boca, depois sobe lentamente por meu
rosto. O seu olhar é tão terno que acabo suspirando. Ele percebe e é a sua vez
de sorrir, um sorriso convencido. Um frio percorre por minha coluna quando
seus braços fortes rodeiam minha cintura. Seguro-me para não soltar outro
suspiro de tão derretida que fico no momento.
— Daria tudo para saber quem está tomando conta dos seus
pensamentos. — Aproxima o seu rosto do meu, me fazendo sentir a sua
respiração.
— Até mesmo os seus milhões? — brinco. Ele joga a cabeça para
trás, gargalhando.
Porra, que homem de sorriso lindo. Dentes brancos, perfeitos,
alinhados. Deus grego! Acho que Gabriel Vilela saiu de algum livro de
romance, só pode.
— Até meus milhões. — Ele beija meu rosto.
— Humm... Tem certeza, Gabriel? — Ele raspa o nariz por meu
pescoço como se estivesse inalando meu perfume, que ainda não passei.
— Você cheira tão bem, que delícia... Esse cheiro de morango...
Solto um gemido quando minha pele arde ao sentir seus dentes se
fecharem ali. Cachorro, me mordeu!
— Gosto quando me chama de Gabriel. É sexy. Eu já te disse isso? —
Assopra as palavras em meu ouvido.
— Bom saber, Gabriel. — Afundo meus dedos em sua nuca e puxo de
leve, arrancando um gemido gostoso dele.
— Mais tarde, temos um evento para ir — avisa, já com as mãos
apalpando minha bunda por cima do tecido de seda.
— Como assim você me avisa em cima da hora? Não tenho uma fada
madrinha como a Cinderela, meu caro! — Afasto-me dele e finjo chateação.
— Ficará bela com qualquer coisa que vestir, Mandy. — Pisca para
mim charmoso.
— Você é um conquistador barato, isso sim. — Jogo meu cabelo
molhado para trás.
— Daqui a algumas horas, tenho um presente para você, loira. —
Seus olhos brilham em minha direção.
Sento-me na cama e cruzo as pernas, encarando-o fixamente.
— Poderia me antecipar o que é? — pergunto, quase saltitando.
— Saberá em breve.
— Sério isso? Não vai me dar nenhuma pista? — Bato os cílios.
— Para que não fique tão curiosa, iremos a um restaurante, será algo
simples. Agora, vou até o escritório responder alguns e-mails. Até à noite. —
Gabriel, antes de sair do quarto, vem até mim e deposita um beijo em minha
testa.
Animada e curiosa, eu me deito na cama. Passo as mãos no rosto e
mordo os lábios, repreendendo o sorriso abobalhado que dou assim que o
homem fecha a porta, deixando-me sozinha.

∞∞
Na hora de me arrumar para sair com Gabriel, opto por um macacão
esporte fino, na cor champanhe, com busto todo bordado com renda e pedras,
e um cinto combinando com a cor do busto, que é um tom mais escuro de
champanhe. Na frente, há dois detalhes que se encontram sem se tocar, em
formato de folha, decorado com pedrarias. O macacão tem cortes laterais nos
bolsos, que dão um charme e não deixam marcar demais o quadril. O decote
em U dá um ar bem sexy, sem tirar a elegância do look.
Saio do quarto pronta para o evento, com uma sandália simples na cor
prata, e encontro duas caixas douradas em cima do aparador e um bilhete.
Abro o envelope da caixa maior, e leio: Espero que goste do mimo.
G.V.
Ansiosa, abro a primeira caixa, encontrando uma linda sandália
branca com pedrarias. Não penso duas vezes e troco as minhas pelas que
acabo de ganhar. Ajeito-me e vejo como ficou perfeita em meus pés.
Na outra caixa, um envelope pequeno diz: Toda mulher merece
diamantes.
G.V.
P.S. Te aguardo no hall da casa.
Abro a pequena caixa e vejo um conjunto de colar e brincos. Fico sem
palavras. É bem simples, porém charmoso. O colar é bem fininho, com uma
pequena pedra de diamante. No brinco, uma simples gota da mesma pedra.
— Esse homem é louco — falo, encantada com o que ganhei.
Olho-me no espelho que tem acima do aparador e coloco o colar e os
brincos. Realmente, ele sabe como escolher um presente.
Desço a escada, indo ao encontro de Gabriel, que me aguarda logo
abaixo. Para a minha surpresa, ele está mais bonito que o normal, vestido
com um terno azul-marinho feito sob medida, o cabelo castanho penteado
para trás. Não é a forma como está vestido que me encanta, é o sorriso
singelo. Esse homem é intenso demais.
Termino de descer cuidadosamente a escada, fazendo questão de
mostrar bem a belezura em meus pés, que reluz. Ele sorri ao me ver exibir as
sandálias. Sorrio em resposta.
— Inacreditável como você consegue ficar ainda mais linda vestida
tão formal — elogia, coçando a barba por fazer. Por alguns instantes, perco-
me em seu par de olhos azuis.
— Veja só se não é o meu par muitíssimo promissor — brinco,
chegando ao fim das escadas e aproximando-me dele. — Juro que se você
não estivesse comigo hoje, eu te conquistaria a qualquer custo. — Toco em
seu braço.
— Quanta pretensão. — Ri baixinho.
— O que posso fazer se gosto de ser sincera? — Empino o nariz.
O seu sorriso aumenta quando termino de falar.
— Você parece ainda mais linda próxima aos meus olhos, e esse
perfume é de enlouquecer qualquer pessoa. Sorte a minha tê-la como minha
companhia hoje. Acredito que terei trabalho em afastar os velhos safados que
estarão no evento — finaliza ele, com pesar disfarçado.
— Só terei olhos para você, meu bem, fique tranquilo. E espero que
cuide bem de mim, não sou adepta à geriatria — digo, bem-humorada.
Gabriel me conduz até a saída, onde encontramos André nos
aguardando, que nos cumprimenta e logo dá partida no carro. Espero não me
sentir deslocada, nem ser largada na mesa como todos os outros clientes
cansam de fazer. Sei lidar com isso, mas espero que hoje seja diferente.

∞∞

Poucos minutos se passam até que chegamos. Acho que nem estou
vestida adequadamente para o evento, que agora tenho certeza de que não é
apenas um “jantarzinho”, como Gabriel havia dito.
— Uau, que lugar lindo — falo, com olhos vidrados na entrada do
restaurante.
— É sim.
— Você acha que estou adequada para o jantar? — pergunto, tímida,
esperando uma resposta pesada dele. Agora, estou até com medo de
envergonhá-lo diante dos seus clientes.
— Você está incrível, sua escolha foi perfeita. Não se preocupe com
seu visual, você é naturalmente linda, até mesmo as roupas mais caras não
poderiam competir com você. — Pega em minha mão e eu estremeço com as
palavras. Sem ter resposta para ele, viro meu rosto para o outro lado da
janela. — André, fique por perto caso eu precise de você — pede ao
motorista.
— Sim, chefe.
— Vamos? — pergunta-me Gabriel, atraindo a minha atenção.
Saímos do carro e Gabriel me dá a mão. Meu coração erra uma batida,
porque não imaginava que ele iria querer que entrássemos de mãos dadas.
Meio receosa, aceito que entrelace nossos dedos. Ele nota que estou um
pouco gelada, mas não diz nada, apenas nos conduz até o hall do restaurante
do resort.
— Boa noite. Os seus nomes, por favor? — pergunta cordialmente a
hostess assim que nos aproximamos dela.
— Gabriel Vilela e Milena Albuquerque — ele informa. Gostaria que
usasse meu nome verdadeiro, mas eu o entendo. Está agindo corretamente ao
não misturar as coisas, embora ter a sua mão grudada na minha seja mais
comprometedor do que não me chamar pelo meu pseudônimo.
— Ótimo. O sr. Braga os aguarda, ele está na zona leste. Fiquem à
vontade para desfrutar de nossas dependências. — Consigo ver a cobiça nos
olhos da morena em direção ao meu acompanhante, que parece não ter
notado.
— Obrigado, tenha uma boa noite! — Gabriel se despede da moça.
A cada passo, um novo deslumbre, pois é um lugar extremamente
bonito. Já estive em Arraial do Cabo antes, mas nunca vi esse lugar. Quase
não tenho tempo livre para me divertir.
Entramos no restaurante, que por sinal se estende até a piscina,
superbacana, com um bar todo iluminado onde algumas pessoas desfrutam.
Nada muito extraordinário, porém confortável e elegante, tal como todo o
restante do local. Tudo em tons de azul-claro, imitando o céu, e azul-escuro
nos pequenos detalhes.
Estou me sentindo feliz demais. Só tenho a agradecer por ser tratada
tão bem durante essa semana.
Percebo que o celular de Gabriel toca e ele ignora a ligação.
— Aquele ali é Antônio Braga, ao lado é a Virgínia, esposa dele —
fala perto do meu ouvido.
— Certo. — Olho para o casal elegante que está a poucos metros de
distância de nós. O sr. Braga é um coroa bem charmoso, cabelo grisalho em
um belo corte. A mulher dele também é elegante, bem-vestida. Exalam puro
luxo.
— Eles estão vindo para cá — Gabriel avisa, e eu respiro fundo.
— Algum pedido especial? — cochicho, meio nervosa. Não sei por
que esse nervosismo, se já estou acostumada com esse tipo de coisa.
— Apenas seja você mesma — pede, abrindo um sorriso acolhedor
para o casal que está à nossa frente.
— Boa noite, senhores. Sejam bem-vindos! — sr. e sra. Braga nos
cumprimentam.
— Boa noite, Antônio — Gabriel fala, desviando os olhos para mim.
— Deixe-me apresentar a minha acompanhante. Milena.
Somente o homem pega em minha mão, a mulher dele, não.
— É um prazer, querida — diz Antônio Braga, gentilmente.
— Pensei que estivesse vindo com a sua... — diz a sra. Braga.
— Quando pedi para a minha secretária te fazer o convite, não
imaginei que fosse aceitar tão rápido, já que vive com a agenda cheia. Mas
fico feliz que tenha vindo para o meu aniversário, a presença do meu sócio é
muito importante para mim. — A forma como o esposo dela a interrompe me
deixa desconfiada. Olho para o meu acompanhante e ele está meio tenso.
— É seu aniversário hoje? Não fui informado, apenas soube que era
um pequeno evento. Meus parabéns, meu amigo! — Ele tira a mão das
minhas costas e dá um breve abraço no sr. Braga.
— Às vezes, a Eva é muito desatenta, só não a demito porque são
muitos anos trabalhando comigo e é praticamente da família — diz o sócio de
Gabriel, nos fazendo rir.
— Sr. Vilela, se nos der licença. Um amigo acaba de chegar com a
sua esposa, vamos cumprimentá-los. — Virgínia só se direciona ao meu
cliente como se eu não existisse.
Respiro profundamente e dou um sorriso falso para ela, que retribui.
O casal se afasta de nós e Gabriel pergunta em meu ouvido se estou bem.
Apenas digo que sim, mesmo que não esteja. Um garçom passa oferecendo
champanhe e eu aceito. Beber um pouco vai aliviar a tensão que estou
sentindo.
De vez em quando, Virgínia me lança um olhar curioso e depois
parece querer falar algo, porém disfarça com um sorriso. Sem entender o
motivo, dou de ombros e mantenho minha pose.
∞∞

Acomodamo-nos. Tudo correu bem até aqui. Fomos convidados para


dividir a mesa com o sr. Braga e a esposa dele, que por fim parou de me olhar
estranho. Jantamos e o papo está bem leve e descontraído. Eu e a esposa do
sr. Braga conversamos bastante sobre amenidades, enquanto o meu cliente e
o marido dela foram conversar com alguns empresários em uma mesa mais
afastada da nossa e até agora não voltaram. A minha única preocupação é o
celular que Gabriel esqueceu na mesa e eu tive que ficar de olho com medo
de que alguém levasse.
— Não quero ser intrometida, Milena, mas o Gabriel e você estão
namorando?
Meu sorriso congela com a pergunta inusitada de Virgínia.
— Por que a pergunta, sra. Braga? — Quase engasgo-me.
— É só curiosidade — esclarece, passando os dedos no seu colar de
diamantes.
— Eu e o Gabriel não temos nada, apenas sou a acompanhante dele
essa noite — digo, até que ergo os olhos e vejo um homem que já esteve no
clube algumas vezes acompanhado por Bruna e Grazi, as minhas colegas de
trabalho.
Puta merda. Que não me vejam, que não me vejam...
Viro-me de lado, tentando esconder meu rosto, e não sou notada por
elas. Mesmo sem entender o que estou fazendo, Virgínia franze a testa, mas
não me questiona. O novo grupo se forma em uma mesa afastada e eu
descanso o meu coração.
— Querida, vou ter que te deixar um pouco sozinha. Avistei uma
amiga da minha época de faculdade, vou falar com ela — diz a mulher
educadamente, em seguida se levanta.
— Não se preocupe comigo. — Sorrio para ela, que assente e segue
na direção de uma mulher elegante que acena toda animada para a esposa do
aniversariante.
Remexo-me na cadeira ao me sentir como um peixe fora da água e
procuro por Gabriel no meio de tantas pessoas, porém não o encontro.
Puxando o ar para os pulmões, arrumo a minha postura e entrelaço minhas
mãos por baixo da mesa. Fico contanto os minutos mentalmente até que um
garçom passa e me oferece uma taça de champanhe. Só que recuso, uma taça
já foi o suficiente.
O celular de Gabriel toca. Na tela, brilha um número desconhecido.
Penso em não atender, contudo, a insistência me incomoda, e somente por
isso aceito a chamada. Sei que poderia deixar tocando ou esperar que
desligassem, mas foi mais forte do que eu.
— Quem é? — pergunto, educadamente.
— Quem é pergunto eu! Quem está falando? — Do outro lado, a voz
da mulher me assusta devido ao grito que ela dá.
— Sou Mandy, a assistente do sr. Vilela. Posso ajudar? — Tento soar
profissional e não vacilar na voz.
— Você é assistente dele há quanto tempo? Pois até onde eu sei, a
assistente do meu marido está aqui em São Paulo e se chama Camila. Passe já
para o meu esposo! — Seu tom é zombeteiro e ameaçador, só que eu não
consigo retrucar nada ao que ela me diz.
Meu marido. Meu esposo. Gabriel é casado. Tem uma mulher neste
momento em casa o esperando. Um nó se forma na minha garganta, aperto o
telefone em meus dedos e sinto meus olhos arderem. Com a visão embaçada
e o corpo trêmulo, escuto a mulher que ainda nem sei o nome gritar do outro
lado da linha, pedindo para que eu passe a ligação para o homem dela e eu
ainda sou chamada de biscate.
Óbvio que ele tem alguém. O status de vida amorosa dele não deveria
me afetar, não quando sou uma acompanhante de luxo. Já estive com outros
homens casados e nada disso importava, porque era o meu trabalho. Gabriel
também é um cliente, só que neste momento, nada disso é suficiente para que
eu ative o modo “foda-se” e mantenha uma postura profissional. Porque dói
saber que o homem que me faz tão bem e de quem estou gostando é
comprometido. Essa notícia é tão dolorosa que deixo as lágrimas caírem, mas
apressadamente eu as limpo.
Postura. Tenha postura. Mas como conseguir ser fria em uma situação
como essa? O homem que estou apaixonada – agora, eu enxergo que nunca
foi uma mera atração, uma paixão que acabaria em poucos dias – é casado,
tem alguém. Ele é só outro homem que acha que deve procurar na rua o que
não encontra em casa. Quando isso tudo entre nós terminar, é para ela que ele
vai voltar e eu cairei no esquecimento.
Poderia desligar na cara dela? Sim, mas agora é tarde demais para
isso.
— Senhora, ela não pôde vir na viagem. Com tudo isso, o sr. Gabriel
me requisitou. Estou auxiliando nas negociações que ele tem a fazer aqui no
Rio de Janeiro, como a de hoje. Peço desculpas pelo barulho do local, mas
assim que ele chegar aqui na mesa, passo seu recado. — Controlo minha voz
embargada e fico orgulhosa por não chorar.
O que a minha boca não é capaz de expressar, meu corpo é. Estou
com os joelhos tremendo, a cabeça doendo, peito ardendo de dor e com o
choro entalado na garganta.
— Mas ele não me disse nada sobre uma nova funcionária. Mas o.k.
Faz o favor de não esquecer. Avise a ele que a mulher dele, Isabel, está
chegando em Arraial do Cabo em dois dias. Obrigada! — fala, cheia de si.
Arrogante, ela encerra a ligação, fazendo-me entender que é
realmente a esposa do meu par. Se eu disser que o que ela me disse não me
deixa desconfortável, estou mentindo. Largo o celular na mesa e quase o
deixo cair pelo nervosismo. Depois de algum tempo meditando, fico receosa
com a possibilidade de Gabriel não aprovar o que eu acabei de fazer, atender
seu telefone, algo pessoal.
Agora entendo os olhares acusatórios de Virgínia Braga, ela tem os
seus motivos.
Bastante tempo se passa até que o vejo se aproximar de mim, sozinho,
o semblante suave, sorridente, mas ao inspecionar meu rosto – que
provavelmente está vermelho, assim como meus olhos –, franze a
sobrancelha.
— Desculpe a demora, acabaram me segurando com assuntos de
negócios. — Beijando-me no pescoço, ele se senta ao meu lado e põe a mão
sobre minha perna, dando um leve aperto. — Por acaso você esteve
chorando? O que aconteceu? — Toca no meu queixo, obrigando-me a olhá-lo
nos olhos.
— Sem problemas. Você o deixou na mesa. — Tento me desviar da
sua pergunta ao estender o celular para ele.
— Obrigado. — Ele o guarda no bolso.
— Já podemos ir? — indago.
— Seus olhos estão vermelhos, e o seu corpo, retraído. O que
aconteceu? Virgínia disse algo que te magoou? — Comprime os lábios e eu
nego com um meneio de cabeça.
— Ela não fez nada, Gabriel, será que podemos ir embora? A Bruna e
outra colega de trabalho estão aqui, não quero que me vejam — digo,
desviando meu olhar do dele para não chorar na sua frente. Aperto os olhos e
meus lábios tremem.
Por que eu fui me apaixonar tão rápido e pela pessoa errada? Já estive
com outros homens e nunca senti um terço do que sinto por esse homem à
minha frente.
— O.k., vamos embora — por fim, concorda.
— Obrigada — agradeço-o, limpando a garganta.
Gabriel se levanta e estende a mão para mim. Demoro para aceitar e
ele semicerra os olhos, desconfiado. Quando ele nos direciona para a saída do
resort, um vento forte bate em meu corpo e eu sinto frio. Ao me encolher,
Gabriel larga a minha mão e me acolhe em seus braços como se quisesse me
aquecer.
— Você está bem mesmo? — pergunta baixo, olhando-me com uma
certa preocupação.
— Estou sim. — Só preciso tomar coragem para falar da ligação que
ele recebeu.
— Tem certeza? O que realmente aconteceu? Estou te achando tensa.
— Ele para de andar e toca em meu rosto com as duas mãos. Quase
fraquejando, desvio meus olhos para outro lugar que não sejam os olhos dele.
— Amanda, olhe para mim, por favor. — Acaricia minha pele
carinhosamente.
— A sua esposa ligou. — Gabriel arregala os olhos assim que
menciono a mulher. — Ela me fez milhares de perguntas, eu me apresentei
como sua assistente e disse que me chamo Mandy. — Em outra ocasião, me
sentiria o máximo por conseguir manter meu tom forte, mas o que eu quero
mesmo é o colo da minha mãe para chorar.
De canto de olho, vejo que o espanto transforma o seu rosto. O
homem pragueja baixinho, enquanto continuo sem querer olhá-lo.
— A sua esposa perguntou por sua assistente, e ficou histérica por eu
não ser a Camila, mas expliquei que ela não pôde vir na viagem com você e
que sou temporária, apenas para esse período de negociações — finalizo e
olho para frente, para não o encarar por muito tempo.
— Caralho... Como eu pude esquecer meu celular — rosna.
Eu o olho assustada ao notar que a cor foge do seu rosto.
O quanto ele ama a esposa?
Gabriel passa a mão no rosto. Encara-me, e percebo que um músculo
na sua mandíbula contrai.
— Peço desculpas por ter atendido seu celular, não foi profissional da
minha parte. — Massageio minhas têmporas. Sou ignorada por completo.
— O que Isabel disse a você? — indaga em um tom mais calmo.
— Ela pediu que avisasse da sua chegada aqui em dois dias. — Minha
voz sai trêmula, não consigo evitar.
Gabriel ri baixinho, nota-se o seu nervosismo. Mas o que não entendo
é que ele começa a gargalhar tanto que precisa colocar a mão na barriga.
— Me espere aqui, não demoro. — De repente, fica sério e sua
expressão endurece.
— O.k. — digo, mesmo sabendo que provavelmente ele nem me
escutou, porque sai em passos largos para o outro lado da rua, retirando o
celular do bolso.
Abraçando meu corpo por causa do frio, observo Gabriel passar a
mão por seu cabelo e andar de um lado a outro.
Batendo com os pés no chão, mordo os lábios e o vejo esfregar o rosto
várias vezes. Já não fala mais no celular, e quando olha na minha direção, eu
arregalo os olhos por ser pega no flagra.
Gabriel balança a cabeça em descontentamento com algo e para de me
encarar, depois volta a mexer no celular antes de o guardar no bolso
novamente, em seguida, atravessa a rua e vem na minha direção. É neste
momento que André surge no carro.
— Vamos embora — diz ele, parando a alguns metros de distância de
mim, como se não quisesse se aproximar.
Em silêncio, passo por ele com o nariz empinado e entro no carro.
Permaneço calada até o motorista sair dali, e pretendo ficar assim até achar
necessário. E se a sra. Vilela realmente aparecer, dolorosamente terei que
tirar meu time de campo e dar adeus ao Gabriel. Mesmo que ela não venha,
não posso mais seguir com isso, porque se tornou algo pessoal. Já fiz isso
muitas vezes, mas agora é diferente, nunca houve sentimento envolvido. E
dessa vez há.
Capítulo 17

Amanda está nitidamente brava por ter descoberto que sou casado,
mas se soubesse de toda a verdade, tenho certeza de que pularia em meus
braços e ainda me beijaria por saber que Isabel não significa nada para mim e
nunca vai significar.
Se minha esposinha acha que vai sair de São Paulo para vir atrás de
mim tentar reivindicar o que nunca foi dela, está enganada. Fora do resort,
liguei para ela e a questionei como sabia que estou em Arraial do Cabo,
Isabel me disse que não sou somente eu que tenho os meus contatos. O que
deu a entender que alguém que estava no aniversário de Antônio passou essa
informação para a mulher. Mesmo com suas ameaças em vir para cá, deixei
claro que não deve vir me procurar, porque pode se arrepender amargamente.
Ela desdenhou de mim, mas ao perguntar se seu pai sabia que as
escapadas dela tinham rendido uma gravidez, a mulher baixou a guarda.
Antes de encerrar a ligação, jurou que não posso fugir dela o tempo todo, que
uma hora vamos ter que nos encontrar. Isso é verdade, mas, por enquanto, eu
a quero bem distante de mim.
Em todos esses anos, jamais tive relações sexuais com ela ou troca de
beijos. Ou melhor, houve uma única vez que nos beijamos e, ainda assim,
aconteceu apenas para que a imprensa não saísse especulando no dia do
nosso casamento. E aquilo nem era um beijo de verdade, mal encostamos os
nossos lábios.
São anos de casamento, mas em nenhuma circunstância nos
envolvemos. Primeiro, porque eu não a quero e nem sinto nada por Isabel.
Ela nunca foi uma mulher para encher os meus olhos. Embora seja bonita,
nunca me encantou. O seu nível de toxidade é muito elevado para que alguém
como eu, que não compactua com as suas atitudes, se interesse por ela ou
pense em um futuro juntos.
Desde o nosso noivado, deixamos claro que seria um contrato e só
ficaríamos unidos por alguns anos. Eu precisava de dinheiro para salvar a
minha família. O pai dela, não ela, precisava de um marido para a filha que
quase toda semana saía na mídia por escândalos envolvendo brigas em festas,
uso excessivo de álcool e, às vezes, orgias. Gonçalo tentava abafar
comprando os jornalistas, mas sempre tinha um disposto a receber mais para
soltar notícias sobre a herdeira do banqueiro.
E quando veio a fase em que minha família estava passando por
problemas financeiros, o homem quis unir o “útil ao agradável”, que de
agradável não tinha nada em me casar com a filha problemática dele. Antes
de assinar qualquer documento que me unisse a Isabel, fui homem ao
esclarecer ao meu sogro que eu e a filha dele poderíamos até nos casarmos,
mas que ali não existia e nem poderia existir qualquer tipo de sentimentos,
não da minha parte, que só aceitei a farsa por necessidade, nem da parte dela,
que também nunca se mostrou interessada em mim.
Jurava que Gonçalo Correia queria que a filha encontrasse um amor,
mas ele só queria dar a ela algo que a prendesse e limpasse a sua imagem
diante da sociedade. Bastou que Isabel e eu nos casássemos e ela saísse da
casa do pai para que voltasse aos seus costumes. Voltava para casa
embriagada, às vezes, machucada por brigar, e eu que tinha que ter a
responsabilidade de correr atrás da mídia para não sair nenhuma fofoca sobre
ela. Por ter muitos contatos, eu sempre conseguia esconder as escapadas da
mulher, que com o passar dos anos, se adaptou a aprontar e ter o seu nome
longe dos sites de fofocas.
Até hoje, Isabel faz uso do meu sobrenome para jogar debaixo do
tapete as suas sujeiras. Nesses seis anos, ser casado com ela me trouxe um
único benefício – ter cuidado da minha mãe até onde eu pude, conseguindo
bancar os seus tratamentos médicos. Para a minha querida esposa, foi como
ter ganhado na loteria. Vive em farras, usa e abusa do meu dinheiro como se
fosse dela, sai para viagens ao redor do mundo e ainda tem os seus amantes
que nem dá para contar nos dedos.
Não me importo que ela tenha outros homens, afinal, acordamos em
viver nossas vidas normalmente sem a interferência um do outro, mas com a
condição era que fôssemos discretos.
Há algumas pessoas que desconfiam dessa união, porém, jamais
tiveram a prova ou ousaram nos questionar, e nem poderão. Daqui a seis
meses, esse contrato termina, e eu estarei livre para poder finalmente viver a
minha vida como sempre quis – longe dos Correia.
Quero cortar de uma vez por todas o vínculo com eles. Não vejo a
hora de vê-la parar de usar o meu sobrenome e ser reconhecida como minha
esposa. Ela nunca deveria carregar esse título.
Assim que chegamos, Amanda sai do carro e vai para a casa sem
olhar para trás. Dispenso André e a sigo.
A passos largos, vou para a sala e não a encontro, então olho na
direção da cozinha ao ouvir um barulho de algo quebrando. Preocupado,
corro até lá e encontro a loira agachada no chão, tentando catar os cacos de
vidro. Ao notar a minha presença, fica ainda mais nervosa e acaba cortando o
dedo. Ela solta um gemido, que é acompanhado por um soluço.
— Amanda, se levante agora. — Uso um tom autoritário, mas ela me
ignora. O seu sangue se mistura ao vidro e eu preciso ir até ela e tocar em seu
queixo para que me encare.
Seus olhos esverdeados estão mais claros, seus lábios tremem e o seu
rosto está vermelho.
Ela está chorando e tenta não demonstrar evitando olhar para mim.
Desde a ligação de Isabel, Mandy ficou estranha, mexida ao saber que
minha esposa infernal está vindo para Arraial do Cabo. Eu preciso
tranquilizá-la em relação a isso, só que ela não quer me dar espaço.
— Pode me dizer o que está acontecendo? Por que está fugindo de
mim?
— Você ainda pergunta? Quer mesmo que eu te diga o que está na
cara, Gabriel? — Abre um sorriso irônico.
— Eu só preciso confirmar as minhas suspeitas, loirinha. Mas antes
vou cuidar desse corte. — Pego a sua mão machucada e dou uma olhada,
depois a encaro com ternura.
Ela gosta de mim, e não é por eu ser um cliente generoso, da mesma
forma que eu gosto dela, mas não por ser uma mulher que consegue me
satisfazer. Amanda se tornou alguém muito especial para mim em tão pouco
tempo que nem sei descrever.
— É melhor esquecer isso, Gabriel. — Suspira, como se estivesse
cansada. — Me deixe limpar a bagunça que fiz, por favor. — Encolhe os
ombros e, ao se levantar e se afastar de mim, o sangue pinga no chão.
Tentando ignorar a minha presença, Amanda segue para a pia e lava as mãos.
— O corte é profundo? — indago, pondo-me atrás dela e segurando
em sua cintura.
— Não, apesar de todo o sangue — responde-me, com o corpo tenso
quando beijo seu ombro por cima do tecido da sua roupa, depois cheiro o seu
pescoço e ela se arrepia.
— Me deixe ver — eu peço.
Ela é vencida pelo cansaço e se vira para mim.
— Com quem aprendeu a ser tão insistente assim? — Ela quase sorri,
mesmo com a expressão de dura.
— Da mesma forma que você é teimosa, sou insistente — digo,
focado no pequeno corte em seu dedo indicador. De fato é superficial, mas
sangrou que é uma beleza. Depois de lavado, estancou. — Precisamos fazer
um curativo nisso. — Toco no local e ouço o seu gemido.
— Foi apenas um arranhão, não precisa — diz.
Ergo o rosto e arqueio a sobrancelha.
— Não está sendo orgulhosa, não é? — inquiro.
Ela fecha a expressão, negando.
— Já perdi meu orgulho há muito tempo. De qualquer maneira,
obrigada por se preocupar — murmura, afastando a mão do meu toque. — Se
eu puder me recolher mais cedo, vou agradecer, estou ficando com
enxaqueca. — Massageia as laterais da cabeça.
— Se está pensando que vai fugir da nossa conversa está enganada,
Amanda.
Ela entorta a boca com a minha fala.
— Gabriel, é o seguinte, vou ser curta e grossa. Assim como você não
gosta de enrolação, eu também não. — Fecha os olhos por um momento,
depois me encara com eles cheios de lágrimas. — Eu não deveria sentir essas
coisas, mas estou sentindo, sabe? Quando te vejo, o meu coração fica
acelerado, de repente fico boba, meus joelhos tremem... É um misto de
sentimentos que nem eu sei descrever direito. — Umedece os lábios e as
lágrimas caem por suas bochechas. Não sou capaz de pedi-la para parar de
chorar, porque estou focado em suas palavras.
Se ela ainda não percebeu, está se declarando para mim. Novamente
vou até ela e a abraço, e sou surpreendido por seu abraço tímido.
— Eu sei que tem poucos dias que estamos juntos, mas parece que
são anos, sabe? Você é um homem incrível, apesar da primeira vez ter sido
um babaca — fala, aos risos, e eu a acompanho. — Mas esses dias
convivendo com você me fizeram enxergar algumas coisas de outra maneira.
Com você, eu aprendi que posso sim ser amada por um homem, não que eu
esteja dizendo que você vai ser esse homem, falo sobre futuramente, quando
eu não estiver mais nessa vida.
Ela sai do meu abraço, e eu toco em seu rosto. Mandy fecha os olhos
suavemente, soltando um suspiro.
— Eu acredito agora que tudo depende da entrega. Se você tiver um
parceiro e os dois se entregarem de corpo e alma, se houver respeito e amor,
não importa o passado daquela pessoa, somente o presente com ela. —
Mandy me encara, seus olhos estão brilhando com lágrimas. — Talvez você
esteja confuso com o que quero dizer, mas eu chego lá.
— Por favor. — Sorrio, nervoso, ao perceber que ela começa a falar
como se estivéssemos em uma despedida.
— Eu não queria, nem tinha pretensão. — Desvia o olhar, mas eu
seguro em seu queixo e o trago de volta para mim. — Não nos apaixonamos,
lembra? — diz, e eu balanço a cabeça, rindo baixinho.
— Mas você se apaixonou por mim. — Dou um sorrisinho para ela,
que respira profundamente e tira minha mão do seu rosto — É o seguinte...
sei que temos só mais alguns dias juntos, mas quero encerrá-los agora. Eu
criei sentimentos por você, e é muito forte para ser deixado de lado. Eu não
quero estar aqui quando ela chegar, não é justo que ela se magoe e nem eu.
— Ela me olha séria e eu fico paralisado com a sua decisão.
Em choque, afasto-me dela e passo a mão por minha barba. Ela está
confundindo tudo e quer ir embora.
— Amanda... — calo-me ao vê-la pedir silêncio com um gesto de
mão.
Meu coração nunca bateu tão forte no peito quanto agora. A mulher
começa a tirar o colar do seu pescoço, depois os brincos, em seguida, com
eles na palma da sua mão, se aproxima e os estende para mim. Eu os pego e
os coloco na ilha, às minhas costas.
— Isso aqui é seu. E a questão do dinheiro que me pagou pelas duas
semanas de serviço contratado, podemos calcular e eu de devolvo a diferença.
— Seus lábios tremem, sua voz vacila.
— Não estou te pedindo nada de volta e não quero que vá embora.
Não aceito devolução, muito menos que quebre o nosso acordo. — Irrito-me,
sentindo o músculo da minha mandíbula latejar.
— Sei que não, mas não é da minha índole, Gabriel. Mesmo que eu
seja uma acompanhante de luxo, para tudo tem um limite, e eu cheguei no
meu — defende-se, engolindo em seco. — Eu misturei as coisas, comecei a
te enxergar com outros olhos e acabei me ferrando, dei espaço para que o
meu coração agisse e olha só o que aconteceu!
Sinto uma queimação em minha garganta.
— Se me ouvisse, saberia que não é nada disso que está pensando.
Os olhos dela brilham de raiva.
— Você é casado, a sua esposa está vindo para cá e eu vou sobrar,
não quero ficar entre vocês. Jamais ficaria! Trabalhar, agir como uma
profissional da minha área é uma coisa, mas gostar de você é outra, então eu,
Amanda, não vou permitir que no final eu seja a mais machucada. — Aponta
para si com determinação. — Se não aceita devolução, o.k. Obrigada, mas
estou indo embora.
— Você não vai a lugar algum. — Dou um passo para a frente e
ficamos cara a cara.
— Não pode me impedir, mesmo que tenha me pagado muito, eu que
determino quando acaba. — Empina o nariz, que está vermelho pelo choro.
Ela fica linda até quando chora.
— Pois estamos empatados, porque penso o mesmo que você. — O
canto da minha boca se curva para cima e a loirinha fica mais vermelha. Ela
está com raiva.
— O que você quer de mim? Ficou todo estranho quando a sua esposa
te ligou e eu atendi, me ignorou, e agora está querendo me obrigar a ficar?
Vou ficar em cárcere privado? — Arqueia a sobrancelha, e, em resposta,
passo um braço ao seu redor e a puxo de encontro ao meu peito. Ela ofega e
põe a mão em meu ombro.
— Você está aí falando, falando, mas nem me permite que eu me
defenda, loirinha? Não quer ouvir a minha versão? Você está muito agitada,
precisa descansar esse coração. — Aproximo meu rosto do dela, nossas bocas
estão quase se tocando. A respiração de Amanda se torna pesada, o seu peito
sobe e desce rápido.
Ela não abre a boca, mas o seu corpo estremece com o meu toque
quando deslizo a outra em seu cóccix.
— Eu sou casado e não sou.
Mandy franze o cenho, confusa.
— Como assim? — Agora tenho a sua atenção e quase sorrio.
— Está vendo alguma aliança em meu dedo, ou marca de que já teve
alguma? — inquiro.
Ela nega, aquele brilho de mais cedo quando estávamos saindo para o
resort volta.
No primeiro ano, usamos alianças, mas nos seguintes, inventamos
para pessoas próximas que não precisávamos de alianças para demonstrar o
quanto nos amávamos e blá-blá-blá, e assim seguimos sem elas até hoje.
— Não, mas...
— Shhh, me escute e depois você decide se vai partir ou não — peço,
interrompendo-a.
— O.k.
— Sim, eu sou casado, mas só no papel. Isabel e eu nunca tivemos
nada, a única coisa que nos prende é um maldito contrato que em breve vai
terminar — explico detalhadamente um segredo que só sete pessoas sabem,
agora oito.
Sou um homem muito desconfiado, e neste momento, acabo de contar
algo que se a mídia souber, vai transformar a minha vida em um inferno, mas
essa confiança que deposito em Amanda me impressiona.
— Não sabia que essas coisas realmente aconteciam, casamentos por
conveniência... E meus sentimentos por sua mãe — diz, perplexa e
melancólica.
— Acontece muito em nosso meio. Eu fiz mais por minha mãe, ela
era a mulher mais importante da minha vida — digo, sentindo-me aliviado
por ela saber da verdade.
Poderia deixar que Mandy continuasse pensando que sou casado de
verdade? Sim, mas não vi necessidade de mentir para ela e nem a machucar
com um casamento que jamais foi e será consumado. Eu não amo Isabel, ela
não me ama. Por que eu estragaria o que estou vivendo com Amanda por um
relacionamento que nem existe? Não sou idiota.
Está na hora de pensar em mim, pelo menos uma vez na vida.
— Ah... E vocês moram na mesma casa e dormem no mesmo quarto?
— Morde os lábios em uma timidez que me faz rir baixinho, porque sei que
ela não é tímida.
— Tenho uma cobertura em um condomínio e ela fica na minha
mansão. Encontrei uma forma de despistar os curiosos usando o meu trabalho
como desculpa para não voltar para casa — falo, acariciando suas costas.
— Mesmo que tenha me contado a verdade, ainda estou brava com
você. — Faz biquinho e eu rio contido.
— Por quê? — Ergo as sobrancelhas, unindo-as.
— Me fez chorar e ficar com ciúme. — Estreita os olhos.
Gargalho, alegre, mas recebo um tapa no braço esquerdo.
— Não precisa ser agressiva, loirinha. — Ela sorri para mim.
— Como ficamos? — indaga, tocando em meu rosto e raspando os
dedos em minha barba.
— Do mesmo jeito, nada mudou e nem vai mudar. — Beijo o seu
dedo quando ela o encosta perto da minha boca.
— E a sua esposa? E se ela vier? — Comprime os lábios.
— Ela não vem — garanto, olhando bem em seus olhos, que se
iluminam.
— Então você é todo meu? — Abre um sorriso largo quando me vê
anuir.
— E você é toda minha esses dias, não vou te deixar fugir de mim —
digo.
Ela ri baixinho e concorda.
— Eu acho que você merece um beijo agora — diz, tocando em meu
rosto com as duas mãos.
— Só agora? E depois? — Finjo estar chateado.
— Sim, e talvez depois você ganhe mais e mais, vai depender do meu
humor — fala, brincalhona.
— Vou me certificar de que ele fique ótimo durante esses dias, assim
terei muitos beijos seu. — Avalio os seus lábios, louco para devorá-los.
— E como pretende fazer isso? — desafia-me.
— Te fazendo gozar com a minha boca, com meu pau e com meus
dedos. — Tiro o cinto dela e o jogo no chão, depois, abro o único botão atrás
do seu macacão. — Podemos começar a missão agora e aqui mesmo. — Ergo
o rosto e a vejo com os lábios entreabertos.
— Gabriel... Alguém pode nos ver — repreende-me.
— Ninguém vai nos ver. Angelina e o filho foram embora antes de
sairmos, a casa é todinha nossa — falo, mencionando a senhora que cuida da
casa na minha ausência, e o seu filho, que cuida da jardinagem.
— O.k. — Geme quando apalpo a sua bunda com força.
Estou prestes a descer as alças da sua roupa quando o meu celular
começa a tocar. Frustrado, aperto os olhos e solto um palavrão baixinho por
não ter desligado essa merda no meio do caminho.
— Vou ver quem é, um instante — peço.
Amanda diz que sim com um meneio de cabeça e eu me afasto dela,
já tirando meu celular do bolso. Verifico a tela e não dá outra, é Isabel. Por
que diabos ela não esquece da minha existência? Agora que está em apuros,
decidiu acabar com a minha sanidade.
Em um suspiro longo, passo a mão na nunca antes de olhar para
Mandy por cima do ombro e a ver encarar-me com curiosidade.
— É a Isabel — digo, e seus olhos arregalam. — Mas não vou
atender.
A expressão dela suaviza, então olho para o celular novamente.
— Se quiser que eu suba para que possa ter privacidade...
— Não precisa, Amanda, não vou atendê-la. — Viro-me para Mandy,
que está meio pensativa, então vou até ela, mas antes coloco o celular no
silencioso e o ponho no bolso. — Ainda não entramos na piscina, o que acha
de aproveitarmos um pouquinho? Podemos ver se tem alguns petiscos na
geladeira e levar bebidas, quem sabe assim não relaxamos — sugiro, vendo-a
sorrir com a ideia.
— Entrar na piscina uma hora dessas? — Sei que fica tentada, porque
seus olhos se iluminam.
— Por que não? É uma ótima ideia, mas acho que a gatinha não gosta
muito de água, pois está sempre fugindo — falo num tom brincalhão e ela ri
baixinho.
— Oh, que mentiroso! — Me dá um beliscão e eu arregalo os olhos.
— Você está mesmo me agredindo, loirinha? Pois agora vou te dar o
troco. — Vasculho o seu rosto, depois, eu a pego desprevenida e a coloco
sobre meu ombro.
— Ei, o que vai fazer?! — exclama, enquanto saio da cozinha.
— Te levando para colocar um biquíni, loirinha — falo, caminhando
para o quarto.
— Você está agindo como um homem das cavernas me carregando
assim! — Se diverte e eu dou um tapa em sua bunda.
— Estou sendo um cavalheiro, isso é muito diferente. — Dou risada.
— Cavalheirismo, sr. Vilela? — zomba, e rimos juntos.
Capítulo 18

Sentado na espreguiçadeira, espero Amanda voltar da cozinha.


Quando ela viu diversas cachaças em um dos armários ao virmos para a
piscina, cismou que faria uma caipirinha. Sugeri que bebêssemos algo que
não desse trabalho de preparar, mas ela insistiu que faria a melhor bebida.
Como não quis contrariar a loirinha, segui para cá e estou esperando-a há
alguns minutos, observando a piscina.
— Gabriel! — Ao escutar a voz de Amanda, viro-me e a vejo no
batente da porta a alguns metros de distância, com a mão na cintura. Ela usa
um biquíni preto que destaca a sua pele branquinha. O que mais gostei nele é
que na parte de cima a abertura é frontal, basta desfazer o laço para que os
seus seios fiquem à mostra. — Pode me ajudar a pegar umas coisinhas aqui?
Fiquei um pouquinho animada com um gole que dei na caipirinha. — Ela ri.
Levanto-me e sigo na sua direção.
— Bebeu somente um pouquinho mesmo? — pergunto, avaliando
assim que paro em sua frente ao notá-la bem risonha.
— Um copinho e meio. — Faz um gesto com o polegar e o indicador.
— Você tem o organismo fraco para bebidas, Mandy? — inquiro ao
tocar em sua cintura.
— Mais ou menos. Mas não estou bêbada, pode acreditar. — Ergue o
rosto e faz biquinho. — Estou bem lúcida, olha. — Afasta-se de mim e faz
um número quatro com as pernas, acabo rindo da sua demonstração de estar
sóbria.
— O.k. — Balanço a cabeça. — Para que quer a minha ajuda? —
pergunto. Assim que ela me dá as costas e vai para a cozinha, eu a sigo.
— Estava preparando as nossas bebidas e fiquei animada para
preparar duas tábuas de frios para a gente — diz, apontando para a ilha, que
tem duas tábuas com uma variedade de petisco; na primeira, embutidos; na
segunda, queijos acompanhados de palmito, mel e azeitonas. — Você leva os
aperitivos para a mesa e eu levo a jarra de caipirinha e os cubos de gelo.
Ela fez uma jarra. Tudo indica que iremos ficar bêbados esta noite.
— O.k. — concordo, indo pegar o que me pediu.
Mandy pega as coisas na geladeira os põe em uma bandeja, então
segue na frente, e eu, atrás. Na área da piscina, ela deposita a bandeja na
mesa, depois faço o mesmo sem tirar os olhos da mulher que alonga o corpo
de um modo que a sua bunda fica empinada.
— Hum, adoro ouvir o som do mar e sentir essa brisa deliciosa — diz,
com as mãos atrás do pescoço.
Vou até ela e envolvo os braços ao seu redor. Amanda encosta a
cabeça em meu peito, depois ergue o rosto e me encara em silêncio; no que
ela pensa, não sei, mas gosto do seu olhar, que é sincero e cheio de ternura.
— Por que me olha tanto? — Acabo sendo curioso.
— No quanto você é lindo. O seu nome faz jus a sua beleza. Você
parece um anjo, e às vezes, tem atitudes de um. — Para de me encarar, mas
põe as mãos por cima das minhas e passa as unhas levemente por minha pele.
— Você também é linda, mas já não posso dizer que você se parece
com um anjo, pois me tenta demais e me faz pensar em coisas que um anjo
jamais faria — confesso, fazendo-a rir.
— Céus, quanta calúnia! E vamos logo tomar essa caipirinha, antes
que o gelo derreta. — Sai dos meus braços e vai até a mesa se servir.
Acomodo-me na espreguiçadeira. Pouco tempo depois, estamos
tomando a caipirinha e comendo alguns aperitivos. Amanda toma três copos
seguidos e eu peço que modere para que não se sinta mal mais tarde. Ela
assente e sai da espreguiçadeira que estava e vem para minha, sentando-se na
minha frente e encostando as costas em meu peito. O banho de piscina vai
ficar para outro dia.

∞∞

— Eu nunca bebi com meus clientes, sabia? Quero dizer, como bebi
com você agora. Claro que tomo um golezinho ali e aqui para enganar o
cliente, mas em hipótese alguma fico embriagada, porque sempre tem um
babaca que tenta se aproveitar da gente achando que só porque está pagando,
temos que fazer tudo o que eles querem — confessa, com os olhos fixos em
mim.
Só em pensar que algum filho da puta já foi agressivo com ela, meu
sangue ferve.
— Algum cliente já chegou a te machucar? — pergunto, espalmando
as mãos em suas coxas. Ela está sentada em meu colo, de frente para mim e
com os braços envolvendo o meu pescoço.
Após alguns copos de caipirinha, deixamos a jarra quase pela metade,
mas quem mais tomou foi Mandy. Eu tomei moderadamente, porque caso ela
ficasse bêbada, alguém teria que cuidar dela. Não considero que esteja
bêbeda neste momento, mas um pouco alterada, mais leve.
— Eu tinha um cliente bem frequente, ele sempre quis me beijar, mas
nunca permiti que ele e nem ninguém fizesse isso. Então, em uma noite, o
imbecil estava tão bêbado que tentou me beijar, quase machucou a minha
boca — confessa, com um olhar triste, e instintivamente fecho os punhos.
— Mas além disso, ele não tentou mais nada à força não, né? —
Passeio os olhos por seu rosto.
— Isso não — afirma, me deixando aliviado.
— Então quer dizer que realmente sou a sua exceção? Posso me
considerar um sortudo por ter sido o único cliente a ter os seus beijos? —
inquiro, lembrando-me que ela jamais beijou outros clientes além de mim.
— Você é a minha exceção em muitas coisas, Gabriel Vilela. —
Morde os lábios e depois me dá um sorriso ao massagear meus ombros.
— Estou curioso para saber mais.— Seguro-a pelo quadril.
— Você é o primeiro a saber da minha família e ter contato com ela.
— Seus olhos se enchem de lágrimas. — O primeiro a saber do meu nome,
um pouco da minha história de vida — acrescenta, lambendo os lábios. Um
vento bate e o cabelo dela é jogado para a frente, escondendo o seu rosto de
mim.
— Eu fico feliz em ter a oportunidade de te conhecer melhor. Se me
permitir, quero muito mais, Mandy. — Toco em seu rosto com uma mão,
afastando o seu cabelo.
— Não quero te entediar com a minha história triste, Gabriel —
murmura, suspirando.
— Todo mundo tem uma história triste a ser contada — incentivo-a.
— Não gosto de falar sobre a minha vida. As pessoas podem pensar
que eu quero que fiquem com pena de mim. Então, prefiro guardar meus
momentos ruins para mim. — Sua voz quase vacila.
— Eu jamais pensaria isso de você, seria um idiota. — Deslizo o
polegar por sua bochecha. — Se quiser desabafar e precisar de um ombro
amigo, pode contar comigo, Mandy. O que existe entre nós não se resume a
sexo, embora pareça, mas não é. Eu sou um bom ouvinte.
Ela me olha por alguns segundos, até que sai do meu colo. Penso que
vai me ignorar, mas em vez disso, senta-se de lado na espreguiçadeira – acho
que não quer me encarar enquanto fala.
Amanda fica cabisbaixa e o seu cabelo cai por seu rosto, então ela o
prende com um coque desajeitado. A loira apoia os cotovelos nas mãos e
volta a ficar como estava. Apesar de querer muito ouvi-la, deixo que tenha o
seu tempo e se sinta à vontade.
— “O que você vai querer ser quando crescer?” Eu costumava ouvir
muito isso quando era criança, e sempre respondia a mesma coisa. “Quando
crescer, quero ser médica para cuidar da mamãe e do papai.” — A voz dela é
quase inaudível. — Até meus nove anos, vivi em um lar cheio de amor.
Mesmo sendo humilde, tinha tudo o que uma criança poderia desejar – uma
família maravilhosa e muito amor.
Meu peito fica apertado ao ouvir um soluço vindo dela.
— Mas meu mundo ruiu quando completei dez anos... — Aqui, ela
me conta sobre a morte do pai dela, que vinha do trabalho. — Após o trágico
acidente, minha mãe e eu ficamos desamparadas. A empresa não indenizou as
famílias dos funcionários. Meses se passaram até descobrirmos que a fábrica
estava falida e que tinham demitido meu pai dois dias antes. — Amanda
começa a chorar, instintivamente, vou até ela e a abraço.
A dor que expressa em seu choro é de partir o coração de qualquer
um.
— Ele não havia nos contado e, por azar, pegou carona na van para
chegar mais rápido à nossa casa. — Funga, encostando a cabeça em meu
ombro. — Soubemos por um colega dele que, naquela manhã, ele estava
procurando emprego e que só nos contaria que já não estava mais trabalhando
lá quando encontrasse outro trabalho.
Às vezes, alguns têm muitos e outros quase nada. Na minha infância,
fui uma criança muito privilegiada, nunca me faltou nada, mas porque meus
pais tinham condições de me criar rodeado de luxo.
— Nós nunca tivemos casa, sabe? A vida toda moramos de aluguel.
Ter uma casa própria sempre foi um sonho distante para uma família humilde
como a minha. — Em um ato protetor, beijo a sua cabeça. — Morávamos em
uma casinha muito simples dentro da favela, nem reboco tinha, ainda assim,
era nosso lar, mas depois que meu pai morreu, ficamos sem condições de
pagar o aluguel.
Mandy soluça e treme. Preciso sussurrar em seu ouvido que se acalme
um pouco, e se não estiver mais confortável que pare de falar, mas ela nega
dizendo que está bem.
— O dono nem teve consideração por nós, nos colocou para fora
dizendo que não ia poder ficar esperando que um milagre acontecesse em
nossas vidas para quitar os alugueis atrasados. — Dá uma risada amarga. —
Minha mãe e eu fomos procurar emprego em uma das pousadas da região.
Mesmo tendo pouca idade, sentia na pele o desespero da mulher que me
trouxe ao mundo.
— E vocês conseguiram algo? — pergunto, sentindo uma ardência na
garganta.
— Que nada. Por vezes, eu a vi de joelhos no chão, aos prantos,
perguntando a Deus por que aquilo estava acontecendo conosco. Sentia um
aperto enorme no peito, porque sabia que nós não tínhamos parentes a quem
podíamos pedir socorro e nem mesmo um lugar para dormir... — Em
seguida, Mandy narra que passaram um ano dormindo de favor na casa das
pessoas onde a mãe fazia faxina, e que nenhuma delas confiava o suficiente
para ceder seus quartos, por isso, elas ficavam em garagens ou varandas.
— Passamos por tanto tipo de humilhações, que não desejo nem para
o meu pior inimigo. — Seu tom é tristonho. — Somos sobreviventes.
Vivemos na miséria, só tínhamos nossos documentos e a nossa roupa do
corpo. Até as roupas que usávamos eram dadas pelas donas das casas onde
minha mãe fazia as diárias.
Um nó se forma em minha garganta e meus olhos ardem com a sua
confissão.
— E não é só isso. — Ri, amarga. — Um ano e cinco meses depois,
nossa vida mudou, ou pelo menos achávamos que sim. Mamãe conheceu o
Cláudio. Ele era gerente em um mercadinho onde ela trabalhava duas vezes
na semana. A dona do mercado nos dava alimento em troca do serviço.
Mamãe engatou um namoro com o homem por alguns meses e decidiram
morar juntos algum tempo depois.
Amanda puxa o ar para os pulmões, em seguida se afasta de mim e
me encara. Seus olhos estão mais claros, e a parte branca, completamente
vermelha por causa do choro.
— Meu padrasto se mostrou um bom homem no começo, alugou uma
casa e nos colocou dentro. Comprou móveis, roupas para a gente, e até deu
dinheiro para que eu voltasse para a escola. — Ela limpa o rosto molhado. —
Também fez uma compra maravilhosa. Estávamos encantadas com a sua
bondade. Um ano depois morando com o Cláudio, minha mãe descobriu que
estava grávida, eu, que já estava com meus treze anos, fiquei fascinada por
saber que teria um irmãozinho ou irmãzinha, mas ele não ficou animado com
a ideia, se tornou agressivo e bateu nela, quase a matou.
Fecho os punhos.
— Por sorte, o vizinho deu uma surra em meu padrasto e chamou a
polícia, só que não conseguiram prender o desgraçado. Ele fugiu e nunca
mais tivemos notícias dele. Espero que esteja queimando no inferno. — E
mesmo que ela tente controlar a sua tristeza, as lágrimas insistem em cair por
suas bochechas.
— E não termina aí. — Morde o lábio com tanta força que quase o
machuca.
Quando revela que trabalhou em um mercadinho como empacotadora
dos quatorze até os dezoito, mas teve que sair porque o filho dos patrões
tentou estuprá-la, fico com a alma dilacerada.
— Você ao menos denunciou? — Toco em uma mão, que está gelada.
— Não tinha como. Para me livrar do verme, quebrei uma garrafa de
cerveja na cabeça dele e fomos ameaçadas para não prestar queixa. — Seus
dedos apertam os meus com força.
— Desgraçados — rosno, revoltado.
— Ainda aos dezoito, conheci um rapaz, meu primeiro amor, mas ele
não soube me dar valor. — Dessa vez Mandy está com a voz fria. — Nosso
namoro não durou nem um ano, pois descobri que ele era garoto de
programa. Saía com homens e mulheres, e eu era careta. Estava apaixonada,
mas de uma forma abrupta percebi que o rapaz que eu gostava jamais ficaria
comigo, porque tínhamos ideais diferentes. — Desvia os olhos dos meus.
Como alguém pôde ter uma joia dessas nas mãos e não valorizar?
Diante de mim está uma mulher sensacional, compará-la com uma guerreira
ainda é pouco. Não tenho nem palavras para definir Amanda.
— Foi então que Beatriz adoeceu. Descobrimos que ela estava com
bronquite aguda e não tínhamos dinheiro para comprar os remédios, já que
estávamos desempregadas. Em um momento difícil, Bia pegou essa maldita
doença. — Seus ombros caem. — Eu só tinha dezoito quando fiz o meu
primeiro programa. Na inocência, fui pedir ajuda ao meu ex, chorei em seus
braços e pedi que me ajudasse, sabe o que o desgraçado fez? Ao invés de me
socorrer, me levou para o mundo da prostituição. Desesperada para salvar a
vida da minha irmãzinha, transei com um velho gringo asqueroso. Foi assim
que consegui o valor que precisava para os remédios. — Sua expressão é de
nojo, ela abraça o próprio corpo e volta a chorar.
Por Deus, ela já foi tão machucada.
Levanto-me e estendo as mãos para Mandy, que está aos prantos.
— Olhe para mim, Amanda. — Ela ergue o rosto e me encara.
Eu quero tanto protegê-la e curar as suas feridas. Quem a vê
sorridente e cheia de autoestima, não diz que essa menina-mulher já sofreu
tanto na vida e ainda assim se mantém de pé. Em momento algum eu a ouvi
falar dela, tudo para ela gira em torno da sua família.
— A partir de hoje, não quero mais que se sinta sozinha. — Umedeço
os lábios, com as mãos estendidas para ela. — Porque você não está mais. —
Sem dizer uma palavra sequer, Amanda vem e me abraça forte, quase caio
para trás, mas firmo os pés no chão.
— Não fala isso por pena, não é? — indaga, rouca por conta do choro.
— Não. Ter orgulho é muito diferente de pena. — Afasto-me dela e
toco em seu rosto, erguendo-o para mim. — Mesmo antes de saber do seu
passado, já te admirava, loirinha, mas agora te admiro muito mais. — Limpo
o seu rosto molhado.
— Obrigada. — Sorri, depois respira fundo.
— Depois da nossa conversa, imagino que esteja exausta. O que acha
de me deixar te preparar um banho na hidro, com sais aromáticos? — sugiro,
vendo-a me olhar com admiração.
— Faria isso? — Seus olhos brilham.
— Mais do que isso — digo, com sinceridade.
— Eu aceito. — Suspira, como se estivesse exausta.
A minha nova missão é não permitir que mais ninguém apague o
brilho dela. Estou disposto a ser o homem que ela precisa. Achava que não,
mas eu sou, sim, essa pessoa. Se já a queria antes, agora a quero muito mais.
Amanda não é digna de pena, é digna de amor. Ela só precisa ser
amada e ter um homem de verdade em sua vida. E eu sou homem suficiente
para enfrentar uma porra de sociedade preconceituosa por essa mulher.
Ela será a minha mulher. Ela já é. Desde a primeira vez que a possuí,
ela é minha.
Capítulo 19

Passaram-se três dias desde a nossa conversa. E está sendo como ele
prometeu – nada mudou entre nós. Tudo está indo bem, melhor do que eu
esperava. A esposa de Gabriel não apareceu, como havia ameaçado. Não sei
se fico feliz ou assustada com essa calmaria.
Quando uma mulher está quieta demais, algo de errado tem, ainda
mais Isabel, que não me pareceu ser nada boba. No fundo, sei que ela não
engoliu o que falei ao telefone. Bom, não importa se ela acreditou ou não.
Gabriel me assegurou que eles só estão unidos por um contrato, então vou
tranquilizar o meu coração e aproveitar a companhia e o carinho que estou
recebendo dele.
Faltam poucos dias para a minha exclusividade com ele terminar, mas
tenho certeza de que vai estender os nossos dias para aproveitar mais desse
nosso clima gostoso.
Ontem pela manhã, liguei para minha mãe por chamada de vídeo e
quem atendeu foi Bia. Minha irmã me contou sobre suas notas e que está
muito feliz no novo colégio. Conversamos por alguns minutos. Consegui
matar um pouco da saudade que estava sentindo dela e não demorou muito
para dona Lara surgir vestida com um avental e uma touca na cabeça. Antes
de entregar o celular para nossa mãe, Bia se despediu e disse que ia brincar
um pouco no quarto. Após isso, ficamos por quase uma hora nos falando, até
que me despedi e disse que em breve ligaria.
— Esse vinho é delicioso — elogio, degustando a bebida cara que
Gabriel trouxe para nós da adega que tem na casa.
— É sim. — O homem fecha os olhos ao tomar um gole da sua
bebida.
Estamos na varanda da suíte, jantamos aqui mais cedo.
Só tenho elogios para fazer a Angelina, que é uma cozinheira
excepcional. Seu tempero é tão delicioso que me faz lembrar dos da minha
mãe.
Confesso que dessa vez fui pega pelo estômago. Esbaldei-me no prato
principal – Lagosta ao thermidor, feita com creme de leite, cenoura, cebola,
conhaque e queijo acompanhado de arroz branco. Estava maravilhoso. Nunca
tinha comido antes, mas adorei experimentar e achei muito chique.
— Uma pena que a Angelina já tenha ido, iria agradecê-la pela
comida, ela tem mãos abençoadas! — falo, colocando a taça na mesa.
— Outro dia você pode fazer isso — diz, e eu assinto. A mão dele
alcança meu rosto e seus dedos deslizam por minha pele, que queima com
seu toque gentil.
Juro que se continuar com essas carícias, vou dormir. Seu toque é leve
e gostoso.
— Hum... Você tem umas mãos boas.
Ele ri baixinho e balança a cabeça.
— Eu acho que mereço um beijo por isso, não é? — Passa a ponta da
língua nos lábios avermelhados por causa do vinho.
— Merece? — Levanto-me e vou até ele, que empurra a sua cadeira
para trás.
— Muito. Agora venha aqui. — Aponta para o seu colo.
Sento-me de frente para ele e logo o seu pau me cutuca entre as
pernas. Rapidamente fico úmida, porque estou sem calcinha e mais sensível
ao seu toque. Gabriel espalma as mãos em minhas coxas e vai subindo o meu
vestido. Ao me ver sem a peça íntima, fica surpreso, porque não sabia e nem
notou quando viemos para cá. Tivemos um jantar tranquilo e sem segundas
intenções.
— Caralho, você quer mesmo me enlouquecer. — Geme, ao subir o
tecido mais para cima, deixando minha boceta à mostra.
— Talvez sim, talvez não. — Pego a sua mão e trago até a minha
boca, junto dois dedos dele e os chupo. Em resposta à minha provocação, o
pau dele pulsa embaixo de mim.
— Cacete, Mandy... Você quer mesmo que eu te foda em cima dessa
mesa, não é?
Levo sua mão para o meio das minhas pernas, e ele faz o restante do
trabalho ao esfregar os dedos em meus lábios vaginais e me penetrar em
seguida.
Gemendo, seguro em seus ombros e me abro. Ele me fode, jogo a
cabeça para trás e rebolo de leve.
— M-mais rápido, p-por favor — peço, aos gemidos, e mordendo os
lábios.
O som do mar. A brisa. Nós. Definição perfeita.
— Sempre que estou te fodendo, não importa se é com meu pau ou
meus dedos, gosto que os seus olhos estejam em mim, então me olhe,
Amanda. — Seu tom é autoritário. Fico excitada e o encaro com a expressão
de safada enquanto ele enfia mais um dedo em mim.
— V-você gosta dos meus olhos, é? — inquiro, aproximando meu
rosto do dele e soltando um ar pesado pela boca quando seus dedos entram e
saem de dentro de mim com velocidade.
— Também, mas gosto mais de ver a suas expressões quando goza
para mim, loirinha — confessa e continua me fodendo.
— Podemos terminar isso na cama, o que acha? — sugiro, ofegante e
movimentando o quadril. Estou morrendo de medo da cadeira quebrar.
— É uma boa ideia. — Então para de me penetrar antes que eu goze e
me carrega para dentro do quarto.

∞∞

Acordo tão bem hoje. Aliás, tenho acordado bem todos os dias. Nunca
me senti tão feliz como agora. Estou tão animada que chega a me assustar.
Percebo que mais uma vez o fujão não está ao meu lado. Provavelmente, já
deve estar trancado no escritório.
Pego meu celular para visualizar algumas mensagens no WhatsApp
que uso para o trabalho e vejo que tenho algumas propostas. Desinteressada,
ignoro quase todas, mas uma chama a minha atenção. É uma mensagem de
voz de Judite de quase um minuto. O que essa bruxa quer?
Suspirando, ajeito-me na cama e puxo o lençol mais para cima para
cobrir meu corpo nu, em seguida, aperto no chat da minha cafetina e
reproduzo o áudio dela.
“Milena, minha menina de ouro, o que você tem feito para enfeitiçar
esse homem? Na madrugada, recebi uma mensagem dele avisando que
estenderia os dias com você e exigiu que eu te tirasse do nosso catálogo.”
Pauso o áudio e sorrio. Ele me quer e não mediu esforços para isso.
“Minha querida, não sei o que tem feito, mas continue assim. Você
merece meus parabéns por ter conseguido conquistar esse magnata em tão
pouco tempo. Só não caia na loucura de se apaixonar por ele. Gabriel Vilela é
lindo, jovem, milionário, um homem desses jamais teria a coragem de te
assumir, então se mantenha profissional até o fim desse acordo. Não se
esqueça que você é uma das minhas acompanhantes que me traz mais lucros,
eu odiaria te perder para uma paixonite!”
Ela nunca deixa de destilar o seu veneno. Com um aperto no coração,
sinto-me assombrada pela realidade. No fundo, a megera tem razão. Quer
dizer, eu não sei como o pai dele reagiria se soubesse que o filho está
gostando de uma garota de programa. Nesse momento, tantos medos me
rodeiam que minha bile sobe e um gosto amargo toma a minha boca.
Tenebrosa com um futuro que para mim ainda é incerto, levanto-me
da cama, largo o celular ali sem dar resposta à minha cafetina e sigo para o
banheiro. Vou tomar um banho, esquecer todas as coisas ruins e focar nas
coisas boas, que é ter um homem maravilhoso ao meu lado.

∞∞

Estou cheirosa e usando um vestido confortável. Desço a escada para


ir ao escritório de Gabriel e tirá-lo de lá à força, mas antes vou até a estante
de bebidas e pego um copo de uísque para levar para ele. Uma bebida sempre
relaxa.
Mordisco o lábio inferior, dando duas batidas na porta. Entro quando
ele permite.
— Trouxe uma bebida para o sr. Fujão. — Abro um sorriso, vendo-o
dar a volta na mesa, pegar o copo e tomar numa golada só. — Uau, parece
que alguém estava com sede. — Arqueio a sobrancelha, divertida.
Ele não me responde. Surpreende-me ao me pegar pela cintura e
inclinar o rosto para perto do meu. Gabriel roça nossos lábios e depois sorri,
sexy, vendo que fico com a respiração pesada.
— Vai me beijar ou não? — pergunto, ao mordiscar seu lábio.
— E eu perderia essa oportunidade? — Ele une nossas bocas.
Arfante, enfio as mãos em seu cabelo. Sugamos os lábios um do
outro, gememos juntos. Gabriel me pega no colo e eu enlaço as pernas ao seu
redor. Ele nos leva até a mesa e me põe sentada nela sem parar o nosso beijo.
Afundo a língua em sua boca e meus mamilos enrijecem quando ele desce a
mão para a minha coxa e a aperta com firmeza.
Estou prestes a tocar em sua bermuda quando ouvimos o som da
campainha. Não damos importância, porque Angelina está na casa e não
estamos esperando ninguém, então deslizo a mão por dentro da sua camisa e
massageio o seu abdômen definido.
Depois de alguns minutos devorando a boca um do outro, nós nos
encaramos, confusos, quando ouvimos baterem à porta com força e uma voz
que do outro lado chama por Gabriel e diz que está o esperando na sala. No
mesmo instante reconheço a voz, é Isabel, a esposa dele.
— É a sua... — Nem consigo falar direito, estou em choque.
— Porra, eu não acredito nisso! — pragueja ele.
Juntos, saímos do escritório. Ao não encontrar ninguém do lado de
fora, vamos para a sala e congelo ao me deparar com um senhor de cabelo
grisalho muito elegante. Ao seu lado está uma linda mulher ruiva, de olhos
claros - verdes ou azuis, não consigo decifrar de onde estou -, vestindo um
tubinho vermelho-sangue, com sandália de meia pata e uma pequena bolsa de
grife. Os desconhecidos nos encaram como se esperassem por uma
explicação A esposa muito mais, o seu rosto está vermelho e ela tem um
punho fechado.
— Pai, Isabel, o que fazem aqui? Quem deixou vocês entrarem? — O
tom de Gabriel é de puro espanto.
Lanço um olhar confuso em direção ao homem, que tem os olhos
fixos na ruiva furiosa. Engulo em seco ao sentir meu coração bater
descompassado assim que ela fala: — Posso saber por que você não atende a
porra do telefone? E quem é essa mulher que estava trancada com você em
seu escritório? O que ela faz na nossa casa, Gabriel? E é claro que a
empregada nos deixaria entrar, sou a dona desse lugar! — A ruiva está
exaltada.
— Emanoel, o que está fazendo aqui? O que está acontecendo? —
Gabriel ignora a esposa.
— Filho, a Isabel jurou que faria um escândalo na mídia caso eu não
viesse junto. — O senhor parece envergonhado ao se explicar.
— Agora virou pau-mandado dessa cobra? — rosna Gabriel, raivoso.
— Querer proteger a nossa imagem de um escândalo não é ser pau-
mandado — retruca o patriarca dele, encarando-me com um olhar ameaçador.
Pelo visto, ele sabe quem sou.
— Não adianta tentar me ignorar, maridinho, eu quero saber quem é
essazinha e o que ela faz na nossa casa. Ela parece bem à vontade para ser
uma funcionária! — Isabel vem na minha direção. — Você é a tal Mandy? —
Avalia-me como se eu fosse uma presa fácil. Eu balanço a cabeça,
confirmando.
— Não é da sua conta, Isabel! — interrompe Gabriel, com uma veia
saltando em seu pescoço.
Nervosa, passo a mão no cabelo e tento me manter firme. Não
esperava por essa, muito menos pelo pai dele. Nem sei onde pôr minha cara
de tanta vergonha.
— Gabriel, não tenho mais idade para ficar presenciando as brigas de
vocês, se resolvam. Vou te esperar no escritório, precisamos conversar
seriamente — o homem de cabelo grisalho interfere, e sem esperar pela
resposta do filho, sai da sala.
— Vou me retirar para que possam ter privacidade — manifesto-me.
— Você não me respondeu, garota! Quem é você? — A esposa de
mentira de Gabriel para na minha frente e me olha com uma expressão de
ódio.
— Isabel, saia da minha casa agora mesmo e pare de fazer perguntas
que não te dizem respeito. — A fúria do homem é nítida.
Quis tanto evitar um momento como esse, mas agora é tarde. Estou
completamente envolvida nessa situação delicada.
— Você não sabe se defender, meu bem? Precisa que o meu marido
faça isso? — Ela ri, provocante.
A minha língua coça para dizer que eles não são nada um do outro.
— Senhora, não preciso de nenhum defensor. O meu nome é Amanda
Garcia — apresento-me, encorajada.
Se eles de fato tivessem um casamento de verdade, eu até recuaria,
jamais a enfrentaria. Apenas sairia de fininho.
— A amante do meu marido, vulgo, a suposta assistente. — Torce a
boca.
— Isabel, não me faça te tirar desta casa à força! — ameaça Gabriel,
se pondo ao meu lado.
A ruiva começa a gargalhar, mas logo fica séria.
— Nossa casa, não é? Tudo que é seu, é meu, querido! Então, se você
estiver com a intenção de aplicar o golpe nele, pode desistir. — Ela tenta
tocar em meu braço, mas recuo.
— Vou te dar um minuto para sair daqui. — Gelo quando Gabriel
passa o braço em minha cintura e me puxa para ele. — Você pode ser a
minha esposa por causa do maldito contrato que temos, mas daqui a seis
meses isso vai acabar, eu vou estar livre das suas perseguições.
— Não vou a lugar algum. — A mulher bate os pés no chão como se
fosse uma criança birrenta. — Como ousa tratar assim a mãe do seu filho?
Prendo a respiração ao ouvi-la dizer.
Oh céus, ela está grávida. Vai ter um bebê. Perplexa, tiro a mão de
Gabriel da minha cintura. Não é possível que ele seja pai dessa criança, digo,
ele garantiu que nunca tiveram nada.
— Não seja louca, Isabel, esse filho não é meu! Nunca fomos para a
cama — rosna ele.
— E daí que não? Somos casados, então você tem a obrigação de ser
o pai dele.
Arregalo os olhos com a falta de sanidade da mulher, principalmente
quando acaricia a barriga que não dá sinal algum de gravidez.
Como alguém pode dizer com tanta naturalidade uma coisa dessas?
Ela é bem abusada.
— Só na sua cabeça que eu tenho obrigação com alguma coisa!
Agora, saia da minha casa antes que eu faça uma ligação para o seu pai e
conte que a filhinha dele está grávida de outro homem e ainda tem a audácia
de querer me empurrar uma paternidade que não é minha. — Gabriel parece
tocar na ferida da ruiva, que fica pálida. — Se acha que vindo até aqui com o
meu pai vai me fazer mudar de ideia, está enganada. Eu nunca te amei, você
nunca me amou, não significamos nada um para o outro, então não venha
com esse seu comportamento estranho querendo que eu sacrifique a minha
liberdade por algo que você procurou. — Ele aponta para a barriga dela.
— Eu sou uma dama, Gabriel Vilela, não vou me estressar por causa
de um casinho seu. Estamos casados há anos, não vai ser essa menina que vai
nos separar. Te espero em casa. — Isabel de repente suaviza o semblante e
nos dá as costas. — Não é por que nunca tivemos nada que vou permitir que
saia da minha vida, e só vou embora porque quero, não porque está
mandando — fala, antes de abrir a porta e sair.
Em choque, vou até o sofá e me sento.
O que acabou de acontecer?
— Amanda. — Escuto-o me chamar.
— Você disse que ela não viria. — Sai no automático.
— Não sei o que aconteceu, isso não deveria ter chegado a esse ponto,
me desculpe — diz.
Ergo os olhos e o observo passar a mão por seu cabelo de um modo
nervoso.
— E-eu... nem sei o que te dizer. — Estou sem reação.
— Vou falar com o meu pai, depois conversamos direito, pode ser?
— pergunta, e eu balanço a cabeça dizendo que sim.
— Enquanto isso, vou à cozinha procurar algo para tomar café —
murmuro, com os pensamentos distantes.
— Pedi a Angelina que preparasse algo para você comer achando que
acordaria mais tarde — confessa, gentilmente.
— Vá conversar com o seu pai, não se preocupe comigo — incentivo-
o.
Ele assente, em seguida, me pede licença e sai da sala. Com a cabeça
fervilhando, levo as mãos ao rosto e abaixo a cabeça.
Isabel não quer o amor dele, ela quer o status de um homem
importante. Ela fez questão de deixar claro que o dinheiro não é só dele.
Como já sei da versão de Gabriel sobre o casamento por conveniência, tenho
absoluta certeza de que a mulher só é uma ambiciosa, mas cobra comigo não
se cria.
Com o estômago roncando, sigo para a cozinha.

∞∞

Angelina me contou como foi a chegada do pai e da esposa de Gabriel


na casa enquanto eu terminava de tomar café. A pobre disse que ficou
assustada com a mulher, que quase a derrubou ao passar pela porta, nem ao
menos desejou um bom dia, já foi logo a mandando voltar aos seus afazeres.
Então a minha suspeita foi confirmada depois de passar alguns
minutos na cozinha, conversando com a funcionária do meu cliente.
Sentada à ilha, observo a senhora encher um copo de água e outro de
suco para levar para o sr. Emanoel. Ele e o filho estão trancados no escritório
faz algum tempo. E eu estou aqui, aflita.
Preciso saber o que está acontecendo, não quero prejudicar o Gabriel.
— Angelina — chamo a mulher de cabelo grisalho. — Posso levar a
bandeja para você, sei que está ocupada com o almoço. — Mordo os lábios.
A senhora arregala os olhos com a minha sugestão.
— Dona Amanda, o sr. Vilela pode não gostar de ver a senhora
fazendo isso — diz, receosa.
Saio da bancada e vou até ela.
— Bobagem. — Sorrio. — O Gabriel tem aquela cara de malvado,
mas é muito tranquilo, não vai chamar a sua atenção, eu garanto.
— Tem certeza? Trabalho há tanto tempo com o sr. Vilela, não quero
que ele fique decepcionado comigo.
— Ele não vai, mulher, relaxa. — Rio baixinho.
— Tá bom, menina, mas qualquer coisa digo que você insistiu muito!
— fala, e eu gargalho.
— O.k. — concordo, pegando a bandeja.
— Ah, leva também esse potinho de biscoito. — Ela vai até o
armário, pega um pote de vidro com os biscoitos e o coloca na bandeja que
seguro.
Saio da cozinha e sigo para o escritório.
Será que o pai do Gabriel está com raiva de mim? Não sei dizer ao
certo, mas ele não pareceu gostar da minha presença. Só que ao mesmo
tempo, não tenho como saber o que esse senhor acha do meu envolvimento
com o filho dele. Obviamente, pelo seu olhar na sala, ele sabe quem sou,
muito mais do que a Isabel. Aposto que se ela soubesse, teria tentado me
diminuir para ficar por cima.
Ao me aproximar da porta fechada, ponho a bandeja no aparador
perto, ajeito meu vestido e me preparo para encarar o pai do homem por
quem estou apaixonada.
Mordendo os lábios, fecho o punho, mas uma voz fria, que conheço
muito bem, fala do outro lado.
— Eu não sou nenhum adolescente para o senhor se achar no direito
de vir até Arraial do Cabo com aquela mulher para tentar me impedir de viver
a minha vida! — Gabriel está alterado, e o meu coração acelerado.
Ofegante, uno minhas mãos e escuto mais da conversa: — Vim
mesmo, e não foi por causa da Isabel. Sei muito bem da índole daquela
mulher e não vejo a hora de você ficar livre dela! Se estou aqui é por você,
filho, e mesmo achando ruim minha decisão, não me arrependo! Se ao menos
atendesse as minhas ligações, ou as dela, saberia que estávamos a caminho e
teria evitado esse caos!
Meus joelhos tremem com a voz do Emanoel.
— Pai, eu sei o que estou fazendo! Não preciso que o senhor venha
me dar sermão a essa altura do campeonato! Tenho trinta e um anos de idade,
nunca na minha vida te decepcionei ou decepcionei a minha mãe, sempre fui
um filho exemplar, mas agora que decidi viver para mim, o senhor quer se
intrometer? Cadê aquele homem que nunca foi de fazer julgamentos e que me
ensinou a ser quem sou hoje?! Não estou te reconhecendo! — A revolta de
Gabriel é nítida.
Meus olhos ardem e minha visão fica embaçada. Eles estão brigando
por minha causa.
— Sabe mesmo o que está fazendo, filho? Você tem noção de que a
vinda de Isabel para cá foi por causa da esposa de Antônio Braga? Se você
não está informado, as duas vivem em contato. Virgínia contou à sua esposa
que você estava no aniversário do marido dela com uma mulher e que achou
uma falta de respeito manchar o sobrenome de vocês, levando uma amante
para um ambiente de respeito!
Levo as mãos à boca para abafar o soluço. Eu deveria bater à porta ou
sair daqui, mas não consigo.
— Acha que ligo para o que a esposa do meu sócio ou Isabel
conversam? Apesar dessa merda de casamento falso, sou um homem livre
para amar, me apaixonar por quem eu quiser!
— O problema é que você é uma pessoa pública, Gabriel! O nosso
sobrenome está por aí, você não pode viver como se fosse uma pessoa
normal, desfilando com uma garota de programa de mãos dadas!
Não suporto ouvir o pai dele dizer isso e choro em silêncio, as
lágrimas caem por meu rosto sem que eu tenha controle.
Já imaginava a rejeição desse senhor, mas ouvir e confirmar de perto
é um sentimento completamente diferente. Acho que, no fundo, eu tinha
esperança de ser aprovada.
— O seu maior erro foi ter se envolvido com essa acompanhante de
luxo e se apaixonado. Olha como você está com essa expressão de ódio só
por eu estar dizendo a verdade! Você não pode manchar a memória da sua
mãe, que foi a fundadora da Lissol, vinculando o seu nome ao de uma
prostituta.
Minhas pernas tremem tanto que preciso me apoiar na parede para
não cair.
Não escuto mais Gabriel, só algo se quebrando lá dentro.
Nunca pensei que ser chamada de prostituta algum dia doeria tanto.
Mas dói, muito, o suficiente para que eu derrame minhas lágrimas e o meu
coração fique apertado.
— Você não pode confundir os seus sentimentos por causa de uma
aventura de dias! Quer mesmo destruir o nosso império de sucesso por uma
desconhecida? Vai mesmo deixar que ela acabe com a sua carreira e a sua
imagem? O que nossos clientes, sócios e amigos vão pensar?
Aos prantos, afasto-me da porta com as mãos na boca e quase me
engasgo por tentar engolir o meu choro.
— E quando estiver com ela em algum evento, acha que vão te
respeitar ou te levar a sério? Pela informação que tive, essa garota é
acompanhante de luxo em um clube de Copacabana, imagine quantos
empresários do nosso meio já dormiram com ela? Você quer se tornar uma
piada? E se ela já esteve com o Franco, o que vai dizer sobre isso? — diz o
sr. Emanoel e é o bastante para que eu entenda que ele tem razão.
Quem vai respeitar o Gabriel? Quem vai levá-lo a sério? O único
ponto que não concordo é falar sobre o sr. Franco. Ele nunca teve olhos para
mim, jamais estivemos juntos, aquele senhor sempre me achou muito nova.
Anos atrás, disse que eu tinha a idade de uma das filhas dele.
— Você acha que eu me importo com essa sociedade hipócrita, pai?
Eu só quero fazer o que muitos por aí não têm coragem por medo de ser
julgado! Decidi que quero ficar com a Amanda e ponto final. Ela não é a
minha aventura como pensa que é...
Antes de ouvir o Gabriel terminar de falar, pego a bandeja e volto
para o lugar de onde não deveria ter saído. Queria saber como estava a
situação dele e acabei ouvindo demais.
Não posso ser egoísta, não vou permitir que Gabriel se sacrifique por
um sentimento que está sendo avassalador agora, mas que com um tempo
pode passar. Ele tem uma vida promissora, é um homem de sucesso, não
serei eu a tirar isso dele por gostar dele e desejar ficar ao seu lado.
Nunca precisei desistir do amor antes, porque jamais tive um, mas
hoje sei como é a dor de se desfazer de algo que poderia ser tão bonito e
inspirador.
Vai doer? Vai me fazer chorar por dias de saudade? Vai sim, contudo,
tenho que deixá-lo partir. Tenho que mandá-lo embora da minha vida. Se
algum dia nós nos reencontrarmos em algum lugar, quem sabe não possamos
tentar reviver o que não podemos viver agora.
Estou perdidamente apaixonada por Gabriel Vilela, mas, às vezes, a
partida é necessária. Ambos iremos sofrer com esse rompimento, mas muitos
dizem que amar é também deixar ir.
O pior disso tudo é que vou deixá-lo partir contra a vontade dele,
porque sei que se eu o mandar amigavelmente, ele não vai soltar minhas
mãos.
E eu, mesmo não estando pronta, vou deixar Gabriel ir, porque é
assim que deve ser.
Capítulo 20

Com a cabeça latejando, encaro meu pai, que está cabisbaixo e


sentado em uma cadeira à minha frente. Nós ficamos em silêncio após uma
conversa difícil que tivemos. Ele não consegue me entender e nem quer, acha
que poderá me convencer a desistir da mulher que estou a fim por causa do
maldito preconceito que pode nos prejudicar no mercado, caso meu nome
esteja vinculado com o da Amanda. Quanta tolice esses pensamentos dele.
Imagina se soubesse que pedi à agenciadora de Mandy para tirá-la do
catálogo para que nenhum outro cliente possa contratá-la, apenas eu posso ter
acesso a ela. Muito em breve será mais do que isso.
O que mais me magoa nisso tudo é meu pai mencionar a minha mãe
para fazer chantagem emocional e insinuar que Franco tenha dormido com
Amanda. O meu amigo nunca esteve com a minha mulher, e nunca vai estar,
porque vou tirá-la dessa vida. Darei a ela e à sua família um futuro lindo,
porque a partir do momento em que Mandy me aceitar em sua vida, cuidarei
não só dela, como também das duas pessoas que mais ama.
— Pai, é o seguinte, eu te admiro, te respeito, você e a minha mãe
sempre foram as minhas inspirações para ser quem sou hoje, mas dessa vez
vou ter que te decepcionar. — Levanto-me da cadeira e miro no jarro de
flores que arremessei no chão quando ele ofendeu Amanda e tocou no meu
maior ponto fraco, a minha mãe. — Eu quero mais do que uma transa com a
Amanda. Ela é uma pessoa incrível, e se der uma oportunidade para conhecê-
la, vai entender o motivo da minha fascinação por essa garota.
Não quero contar para ele a história de vida dela, porque é um assunto
particular. Mandy confiou em mim ao me confidenciar e não posso expô-la
para meu pai. Ele tem que gostar dela pelo que ela é, e não pelo seu passado
triste.
— O.k., Gabriel. E acha que a Isabel vai te deixar em paz sabendo
que você está apaixonado por outra? — indaga ele, suspirando.
— Sr. Emanoel, olhe bem em meus olhos e me diga. Qual a diferença
entre a mulher com quem quero construir um relacionamento e a que estou
casado? O que elas têm de diferente? — Rio baixinho ao vê-lo ficar confuso.
— Não entendo — diz.
— A Mandy está sendo apedrejada pelo senhor por ser uma
acompanhante de luxo, você tem medo de que eu me torne uma piada no
nosso meio. — Lambo os lábios e passo a mão por meu cabelo. Estou
nervoso e puto com essa situação. — E a Isabel? Ela só se torna especial
porque é uma herdeira de um banqueiro? Não, sr. Vilela, eu já tenho a
resposta pronta para você. A minha querida esposa faz coisas piores e, ainda
assim, não é tão julgada quanto a garota por quem estou apaixonado.
O homem à minha frente arregala os olhos com a minha voracidade
em defender a loirinha.
— Filho... — Tenta falar, mas faço um gesto com a mão para que
pare.
— Se não sabe, a filha do Gonçalo está grávida e quer que eu assuma
uma paternidade que não é minha. Acha mesmo que sou tão otário para
aceitar um filho que não é meu só por que Isabel quer? — Começo a
gargalhar. — Sabe qual a gravidade disso se sair na mídia? E o senhor aí, se
preocupando com quem deixo ou não me envolver! Não sou nenhum santo,
mas nunca cheguei ao nível da sua digníssima nora. Essa mulher é o
demônio! — Fecho os punhos.
— Não sabia que ela está grávida. — A voz dele sai quase inaudível.
— Pois agora sabe. E se ela veio para cá, não é porque tem medo de
que eu me apaixone por outra. É porque engravidou e sabe que o pai dela é
muito rigoroso. Todos esses anos, Isabel viveu com regalias, nunca se
importou em fazer uma faculdade, ter um emprego, a única função dela é ser
herdeira — digo, o que não é mentira. Ela nunca pensou no futuro, porque
sempre contou com sua herança.
— E o que você vai fazer? — Ele parece preocupado.
— Continuar com a minha vida longe dela. Vou esperar o divórcio
sair daqui a alguns meses, e assim que estiver oficialmente divorciado,
poderei ter um relacionamento formal com Amanda. Não quero que a
imprensa vincule a minha separação com Isabel a Mandy, afinal, ela não tem
nada a ver. Não vou permitir que seja massacrada por algo que não tem culpa
— revelo ao meu pai, que me observa, pensativo.
— Você deveria informar ao Gonçalo da gravidez da filha dele para
que não pense...
— Não vou dizer nada àquele homem, pai, existe teste de DNA para
quê? E mesmo assim, não me submeteria a uma palhaçada dessas, ele sabe
muito bem que nunca toquei na Isabel. — Cuspo as palavras.
— Gabriel, não estou te reconhecendo. Você está transtornado! —
fala, com uma certa decepção.
— Eu abri meus olhos, pai. Não posso deixar que os anos passem e eu
não aproveite a vida por medo de ser julgado. De qualquer maneira, sempre
vai ter alguém disposto a me julgar, eu agindo certo ou não. — Abro os
braços.
— Filho, não quero mais discutir com você. É inútil prolongar esse
assunto, já vi que não vai mudar de ideia em querer ter um romance com essa
menina. — Ele se refere a Amanda. — Você é adulto, dono do seu destino,
sabe o que faz. O que eu tinha para fazer aqui, já fiz. — Levanta-se da
cadeira e me dá as costas.
— Um dia, vai se arrepender de suas palavras direcionadas a Mandy,
e não vai ser tarde demais para que se arrependa, porque ela é um ser humano
tão sensacional que vai te perdoar e o senhor vai entender a razão de ela ser a
minha escolha. — Puxo o ar para os pulmões.
Meu pai fica parado, cabisbaixo.
— Amanda é uma mulher incrível, mas o senhor nunca vai entender
porque não está disposto a isso. Pai, não é sobre sexo, se fosse assim, eu
estaria com uma mulher qualquer. Dessa vez é diferente — confesso, então
ele se vira para mim.
— Isso é muito novo para mim, mas espero que a sua decisão não te
prejudique futuramente.
Engulo em seco com o seu olhar firme em minha direção.
— Não vai — afirmo.
— Espero que não.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas olhando um para o
outro.
— O senhor volta ainda hoje para São Paulo? — Quebro o gelo.
— Sim. Só vou arrumar um carro para me deixar em Cabo Frio, de lá
pego um voo de volta. Eu não tinha pretensão de ficar, só quis tentar conter
Isabel, o que foi inútil.
— O.k. — Meneio com a cabeça. — Mas não precisa arrumar um
carro, vou pedir ao meu motorista que te deixe lá. — Pego meu celular na
mesa e digito uma mensagem para André solicitando que ele deixe meu pai
em Cabo Frio. Meu motorista é rápido na resposta e diz que pode levá-lo a
hora que ele desejar.
— Obrigado — agradece meu pai.
— Qualquer coisa me ligue — falo, vendo-o me dar as costas e sair
do escritório. Apesar do clima pesado, eu o sigo.
Já na sala, meu pai para de caminhar, se vira para mim e me olha por
um tempo, até que vem na minha direção e me dá um abraço. Sem esperar
por essa atitude, fecho os braços ao seu redor.
— Sempre desejei que encontrasse uma mulher que te fizesse bem, e
se essa te faz, não sou eu que vou te impedir de ficar com ela. Filho, está em
suas mãos, o que você decidir, vou te apoiar — avisa, e o meu coração fica
acelerado. — Reconheço que estou agindo de modo preconceituoso, como
nunca fiz antes, mas saiba que em momento algum quis te magoar, Gabriel.
Às vezes, quando somos pais, fazemos algumas besteiras pensando no bem
dos nossos filhos. Só nos damos conta disso quando é tarde demais. — Toca
no meu ombro.
— Obrigado — agradeço-o, vendo o seu esforço em querer que
fiquemos bem.
— Ainda não me sinto pronto para conhecer a mulher que te
conquistou, quem sabe em outra oportunidade.
— Tudo bem, pai, tenha uma boa viagem. O André está lá fora o
esperando — murmuro.
Ele assente, se afasta de mim e eu o acompanho.
São dezessete minutos daqui até Cabo Frio de carro, ou menos,
dependendo do trânsito, então vou acompanhá-lo e retorno com André.

∞∞
Ao adentrar em casa, vou direto para a cozinha e procuro por Mandy.
Angelina me informa que faz um tempo que ela esteve na ali aos prantos, mas
que não disse nada. Minha funcionária estranhou sua tristeza, porque ela
estava bem quando foi levar um copo de água e suco para o meu pai. Basta
essa informação para que eu entenda o motivo do choro de Amanda.
Caralho! Ela ouviu a minha conversa com o meu pai e, obviamente,
se magoou. Se eu fiquei ofendido com a atitude dele, ela deve ter ficado
arrasada. Espero que tenha me ouvido defendê-la, porque não suportaria que
achasse que a deixei ser humilhada.
A passos largos, vou para o andar de cima e, ao alcançar a porta
fechada, tento abri-la, mas noto que está trancada. Bato na madeira, só que
não obtenho resposta.
Com o peito batendo acelerado e respiração ofegante, encosto a testa
na porta.
— Amanda, podemos conversar? — pergunto, pacientemente. — Eu
sei que ouviu a minha conversa com meu pai, mas me deixe esclarecer as
coisas, por favor.
Ela não responde, mas sei que está me ouvindo. Giro a maçaneta de
novo e fecho os olhos.
— Não faça isso com a gente, loirinha. — Minha voz está arrasada
como nunca a ouvi antes. — Abre a porta para mim, prometo que vai valer a
pena me ouvir. — Respiro fundo.
— Tudo bem. — Escuto a sua voz embargada do outro lado.
Arrumo a minha postura e seguro o sorriso de vitória, em seguida, a
porta é aberta.
No mesmo instante, a minha felicidade morre quando meus olhos
caem na mulher miúda, com o rosto inchando e vermelho, os lábios trêmulos
e as bochechas molhadas. Os seus olhos estão tão avermelhados, que chego a
me preocupar.
— Me perdoe por ter permitido que você escutasse a minha...
— Você não tem culpa, não tinha como saber que eu estava atrás da
porta. Tenho uma parcela de culpa nisso, porque não deveria ter ido levar
aquela bendita bandeja a lugar algum — diz, me interrompendo e limpando o
rosto.
Tento me aproximar dela, mas Mandy recua e vai se sentar na cama.
Depois de passar a mão por seu cabelo solto, abraça os próprios ombros e me
encara.
— Tomei uma decisão e preciso que saiba disso. — Seu tom é
controlado.
— Gostaria que me ouvisse antes de qualquer coisa. Nos permita ter
uma conversa sincera. — Vou até a cama e me sento de frente para Amanda.
— Estou te ouvindo.
— Independentemente do que ouviu o meu pai falar, peço que não dê
credibilidade. Sou um homem adulto, ele não pode se meter na minha vida.
Decidi que te quero comigo e vou lutar por isso, doa a quem doer. — Seguro
nas mãos dela. — E peço perdão pelas ofensas dele, nada do que Emanoel
disse me importa. O importante para mim é ter você. Se tivesse escutado a
conversa inteira, teria me ouvido te defender. Jamais permitirei que alguém
tente te desvalorizar. — Olho bem em seus olhos, que estão carregados de
tristeza.
— Gabriel, o que ele falou me deixou magoada. Sei que não deveria
sentir isso, até porque já estou acostumada a lidar com esse tipo de
preconceito. — Respira fundo. — O que vou te dizer agora não é
consequência do que ouvi, mas sim por achar que é o certo a se fazer. Acho
que precisamos de um tempo.
— Por que isso, Mandy? Nada nos impede de ficarmos juntos. Acha que
estamos indo rápido demais? Podemos ter um primeiro encontro, ir nos
conhecendo aos poucos — sugiro.
— Não, Gabriel, me escute bem, por favor. — Ela se aproxima mais e toca
em meu rosto com as duas mãos. — Neste momento, estou com medo desse
futuro incerto, sabe? Estamos apaixonados agora, mas e daqui a uma semana?
Um mês? Não sabemos como será. — Acaricia minha barba com seus dedos.
— Mas isso podemos construir juntos, teremos todo o tempo do mundo
para...
— O momento está muito complicado para nós dois, até porque você
tem um contrato com Isabel, e mesmo que não sejam um casal de verdade,
acho melhor darmos um tempo para que você possa resolver tudo com ela. —
Tento falar, mas ela faz um gesto com o dedo para que eu a escute. — As
coisas entre nós aconteceram muito rápido, esse tempo vai ser bom para
assimilarmos se realmente nos gostamos ou é uma atração. Arriscarmos os
nossos trabalhos por algo que pode ser passageiro é loucura. — Os olhos dela
brilham, mas não é de alegria, ela está quase chorando.
— É isso mesmo que você quer, Amanda? — Engulo em seco e sinto meu
peito doer fortemente.
Ela demora para responder, mas com um balançar de cabeça, entendo
que não vai mudar de ideia.
— Se esse é o seu desejo, vou respeitar, não posso te obrigar a ficar
comigo — falo, mesmo a contragosto. — Vou te dar o seu tempo, enquanto
isso, organizo a minha vida. E se futuramente você quiser tentar algo de
verdade, me procure.
Ela meneia a cabeça.
— Posso te dar um abraço? — pergunta, trêmula.
— Um abraço para uma despedida tão dolorosa não é muito pouco,
não? — indago, com um sorriso fraco, sentindo um nó se formar em minha
garganta.
— Acho que se formos longe demais, não vou ser capaz de manter a
minha palavra, e eu não quero isso — confessa e toca em meu braço.
Eu quero que você vá longe e quebre esse maldito muro que
constituiu ao nosso redor, penso.
— Vamos lá, Gabriel — pede, se levantando e abrindo os braços.
Atendendo ao seu pedido, eu a abraço. Ela me aperta com força e eu
não sou muito diferente dela. Ficamos ali por longos minutos em silêncio, até
que me afasto e toco em seu queixo, erguendo o seu rosto para que me
encare.
— Acho que merecemos algo mais memorável. — Deslizo o polegar
em seus lábios e ela ofega.
— Gabriel... não faça isso, vai ser mais difícil para nós — repreende-
me, fechando os olhos e suspirando quando a puxo para mim.
— Me deixe adorar o seu corpo pela última vez, Mandy. Amanhã
prometo que te envio de volta para casa e seguiremos com o acordado, cada
um para o seu canto — praticamente imploro ao encostar minha testa na sua.
— Sabemos que não será assim quando estivermos na cama, nos
perdendo um no outro.
Ela tem razão, mas não vou assumir em voz alta.
— Amanhã termina o acordo de exclusividade comigo, mas a Judite
me disse que você pediu para me tirar do catálogo e estendeu nossos dias
juntos — revela, me deixando puto pelo fato de a cafetina ter corrido para dar
a notícia antes de mim, sendo que pedi para eu contar a novidade.
— Sim. Eu ia te falar mais tarde — confirmo.
— Cancele, por favor — pede.
Uma dor aguda se apossa do meu peito, que me quebra por dentro.
— Mesmo que não fiquemos juntos, não quero que você trabalhe
mais naquele lugar, Amanda. Independentemente de estar comigo ou não,
vou te tirar do clube. Você não vai mais ser uma garota de programa — digo,
olhando em seus olhos. — Se quiser, posso te dar um emprego com um bom
cargo no restaurante do resort de Búzios. — Dou a sugestão, mas se recusa,
destruindo todas as minhas expectativas.
— Gabriel, antes de você aparecer na minha vida, eu já tinha
pretensão de sair de lá, e se for para conseguir um trabalho, quero que seja
por mérito meu — confessa. — Não estou querendo ser orgulhosa, mas seria
hipocrisia da minha parte aceitar o seu emprego e permitir que o que temos
acabe, entende? Eu vou procurar uma oportunidade sem ter a necessidade de
você usar a sua influência.
— O.k., Amanda. — concordo, por saber que não vou convencê-la do
contrário. — Mas promete que se precisar de qualquer coisa vai me ligar?
— Obrigada por tudo. Você foi a melhor coisa que aconteceu em
todos esses anos nesse ramo. Nunca encontrei alguém tão maravilhoso —
agradece-me. — Saiba que você sempre vai estar em meu coração — garante,
pegando em minhas mãos.
— E você vai estar em meu coração e nos meus pensamentos,
loirinha. — Ergo suas mãos e as beijo.
— Acho que isso é um adeus, não é? — Seus olhos enchem de
lágrimas.
— Adeus é uma palavra muito forte. — Meus olhos queimam a ponto
de fazê-los encher de água.
— Um até breve, então? — Sorri, fraco.
— Assim soa melhor. — Sorrio de lado, mesmo com o coração em
pedaços. — Arrume as suas coisas, amanhã cedo peço ao André para te
deixar em Búzios, na casa da sua mãe.
— Ele poderia me deixar na rodoviária de Cabo Frio? Vou direto para
o Rio, preciso me resolver com Judite — diz, mordendo os lábios, nervosa.
— Amanhã pretendo voltar para São Paulo, acho que não tem
problema se dividirmos o Jato até o Rio de Janeiro, não é? — inquiro.
— Não tem. — Sua voz vacila ao me ouvir dizer que estou voltando
para o meu estado.
— O.k., prepare as suas coisas, amanhã cedo partiremos — aviso,
antes de dar as costas para ela e sair do quarto.

**

No outro dia, acordo mal-humorado pela péssima noite de sono.


Desde a conversa que Amanda e eu tivemos, nós ficamos afastados. Ela
dormiu na suíte, e eu, no quarto de hóspedes. Embora estivesse louco para a
ter em meus braços novamente, respeitei o nosso acordo e me controlei o
máximo que pude. Mas esse autocontrole me custou bastante, não consegui
dormir, passei a madrugada pensando nela, em nós, nos nossos momentos
juntos.
Com a mente bagunçada, esmurro a porta do closet. Estou frustrado
demais com tudo que está acontecendo. Fechando os olhos, recordo-me de
quando nos conhecemos. No instante em que vi a faísca de fúria tomar conta
dos seus lindos olhos quando nos provocamos, eu soube que seríamos como o
fogo e a gasolina, e eu estava certo, porque, quando estamos na cama,
incendiamos.
Seus olhares intensos, sorrisos e história de vida foram me
conquistando aos poucos, e quando percebi já estava apaixonado pela loira
atrevida que em todas as vezes se entregava para mim sem reservas. Só de
pensar em seus gemidos, seus olhos carregados de intensidade e a maneira
como seu corpo reagia ao meu toque, já sinto falta. Saber que talvez nunca
mais possa vivenciar isso outra vez, faz um vazio tomar conta de mim.
Ouço batidas leves na porta, em seguida, uma voz.
— Sr. Vilela, o André está te esperando com a srta. Amanda — diz
Angelina.
— O.k., já estou indo. Obrigado. — Encaro a minha mala pronta em
cima da cama.
Por mais que esteja sendo difícil aceitar, Mandy tem razão. Um tempo
distante um do outro vai servir para absorvermos nossos sentimentos, e se for
para ficarmos juntos em algum momento, ficaremos, senão, seguiremos os
nossos destinos.
Com a minha bagagem, desço ao encontro do meu motorista e
Amanda. Eu os vejo conversando, André de pé e Mandy sentada no sofá,
com a sua mala ao lado. Ela está com o rosto abatido, parece que passou a
noite chorando, mas não dá o braço a torcer, porque quando percebe que
estou avaliando-a, assume uma postura de “estou bem” e sorri para mim.
Queria poder retribuir, mas não consigo.
— Bom dia, André. Acho que já podemos partir, não é? — indago ao
meu funcionário.
— Bom dia, chefe. Podemos, sim.
Assinto, então ele pega as nossas bagagens e sai da casa.
— Como passou a noite? — Escuto-a perguntar ao se levantar e vir
até onde estou.
Péssimo. Com saudade do seu corpo colado ao meu e do cheiro
delicioso do seu cabelo se impregnando em meu nariz ao te abraçar por trás
na hora de dormir.
Freio meus pensamentos para não os dizer em voz alta.
— Tive insônia — digo, notando as olheiras dela, que agora não usa
qualquer tipo de maquiagem, mesmo assim, continua bonita. Gosto mais
quando está natural, valoriza mais a sua beleza.
— Eu também. — Uma lágrima escapa do seu olho, mas ela limpa tão
rápido que por pouco não noto que está prestes a chorar.
Dou passos para a frente, prestes a tocar em seu rosto quando
escutamos a voz de Angelina, um pouco envergonhada: — Desculpem
interrompê-los, mas queria me despedir da srta. Amanda.
— Que isso, Angelina. — Mandy vai até a minha cozinheira e a
abraça. — Vou sentir saudade do seu tempero, mas muito mais de você. — A
voz dela fica embargada, em seguida, ouço o seu soluço.
As duas mulheres se despedem, depois, Angelina retorna para a
cozinha e Amanda fica me observando por alguns segundos.
— Vamos? — Limpo a garganta.
Em resposta, ela passa por mim e eu a sigo.
Desde a morte da minha mãe, nunca soube lidar muito bem com
despedidas, e agora entendo o porquê. Elas doem demais.
Capítulo 21

Jamais pensei que passar algumas horas ao lado de Gabriel poderia


ser tão torturante. No jatinho, acabei dormindo um pouco, porque tive uma
noite horrível e não preguei os olhos pensando nele, em nossa despedida.
Hoje, o dia amanheceu fechado e acho que vai chover. Observando o
céu nublado através da janela do carro, sinto um toque em minha coxa. Ao
engolir em seco, viro o rosto e olho para Gabriel.
— Está tudo bem? — pergunta.
— Uhum, está sim. — Queria dizer que não está.
— Chegamos ao seu endereço e você nem percebeu — avisa.
Eu o encaro confusa por alguns instantes, até que olho pela janela dele
e vejo o prédio cor salmão onde moro.
Estou tão perdida em pensamentos que nem me dei conta. No
caminho, pedi que fosse deixada em meu apartamento, em vez do clube.
Antes de lidar com a onça da Judite, quero descansar.
— Verdade. — Sorrio, sem graça.
— Vou te deixar na portaria — diz ele, tirando a mão da minha coxa.
— André, tire a bagagem de Amanda do porta-malas, por favor — pede
Gabriel.
Ao sairmos do veículo, o motorista passa minha mala para o chefe.
Tento dizer que dou conta de carregá-la sozinha, mas ele me ignora.
Despeço-me de André e vou atrás do teimoso que segue até a portaria do meu
prédio.
O porteiro me cumprimenta, e quando ele vai liberar a minha
passagem, peço que espere um pouco. Gabriel e eu ficamos de frente um para
o outro por alguns minutos, em silêncio. As palavras que eu gostaria de falar
para ele fogem da minha boca. Por dentro, sinto-me destruída e estou com
uma louca vontade de chorar quando ele olha em meus olhos. No fundo,
tenho medo de que o nosso “até breve” seja um “até nunca mais”.
Mas precisamos de um tempo, porque longe um do outro saberemos
se de fato nossos sentimentos são reais. Se forem mesmo, podem se passar
anos, que eles continuarão firmes e assim teremos a prova de que não foi
apenas um desejo carnal.
— Faça uma boa viagem, e muito obrigada por tudo — desejo sem
querer olhar em seus olhos. — Jadson, abra para mim, por favor — peço ao
porteiro, e não demora para que o portão seja aberto.
Estendo a mão para que Gabriel me dê a minha mala, mas ele não me
dá.
— Vou te levar até seu andar — fala ele, decidido.
— Não precisa. — Dou um passo para a frente e pego a minha mala,
mesmo contra a sua vontade.
— Teimosa — resmunga.
Passo pelo portão e Gabriel, mesmo sem ser convidado, me segue
para dentro do prédio na maior cara de pau. Entro no elevador com ele me
seguindo.
— Por que está me seguindo? — pergunto, encarando-o através do
espelho na parede.
— Estou sendo um cavalheiro te deixando na porta do seu
apartamento — fala ao me dar um sorrisinho.
Semicerro os olhos quando noto que Gabriel aproxima seu corpo do
meu. Ele toca em meu braço, mas recuo ao seu toque.
É melhor assim. Não dê atenção a ele, vocês só vão se machucar
mais.
Quando chego ao meu andar, agradeço mentalmente e apresso meus
passos até a minha porta.
— Eu sei que está fugindo de mim desde ontem — retruca,
aparentemente chateado.
— Impressão sua — respondo, pegando minha chave no bolso da
frente da mala e abrindo a porta. — Já me deixou em casa, obrigada. Agora
pode ir. — Me corta o coração dizer isso.
— Não vai me convidar para conhecer a sua casa? — indaga,
encostando-se no umbral.
— Gabriel, eu sei o que está tentando fazer. Pare já! — Solto um
grunhido.
— Estou com sede, pode ao menos me dar um copo de água? — Faz
uma carinha de cachorro abandonado.
Esse homem me vence pelo cansaço. Mentira, estou adorando a
presença dele. Sou uma bela mentirosa.
— Venha, entre — digo, encolhendo os ombros e entrando no
apartamento, deixando minha mala no chão.
— Bela casa — diz, fazendo uma inspeção nas paredes pintadas de
rosa-bebê, e na decoração, principalmente por meus móveis.
Passo a mão no meu cabelo, arqueio a sobrancelha e o encaro.
— Obrigada. Vou pegar a sua água — digo, mas ele balança a cabeça
dizendo não e fecha a porta atrás dele.
— A sede passou, mas agora estou com fome. — Sorri.
Que filho da mãe!
— Não tenho nada pronto, Gabriel, e ainda não fiz as compras do mês
— falo, sabendo que a fome dele tem duplo sentido.
— Por acaso você sabe que tipo de comida quero comer? — Dá
passos na minha direção e, ao parar na minha frente, toca em minha cintura e
me puxa para ele.
— Não sei, mas acho que ela não tem por aqui. — Faço-me de
desentendida, mas sinto o fogo no meio das pernas quando o safado acaricia
minhas costas e desliza as mãos até a minha bunda. — Vou tomar um banho,
a viagem foi muito cansativa e estou morta de sono! — exclamo, afastando-
me dele.
— Você deveria ser menos má e me dar o que quero, loirinha. Sei que
neste momento a sua boceta está latejando e a sua excitação está molhando a
sua calcinha. — Inclina o rosto e roça os lábios nos meus.
— Você é muito convencido, sr. Vilela. — Ofego ao sentir um tapa
em minha bunda.
— Seja minha uma última vez e vou embora. — Chupa meu lábio
inferior, depois o superior.
— Promete? — Ele assente, sério, posso ver um brilho diferente em
seus olhos, mas não sei o decifrar. — Me siga — peço, pegando em suas
mãos.
— Esse lugar combina com você.
Escuto-o dizer assim que entramos no quarto. Ele me abraça por trás e
beija o meu pescoço.
Não combina mais do que você comigo. Penso em dizer, mas fico
com essa frase só para mim.
— Se importa se formos para a banheira? — inquiro, virando-me para
ele.
— Não — diz e eu o guio até o banheiro.
Abro a água para encher a banheira, volto ao quarto, e ligo meu home
theater à TV, colocando a minha lista de reprodução favorita para tocar. Volto
para o banheiro e encontro Gabriel parado, com os braços cruzados e me
observando. Sorrio para ele e vou ver se a água está com uma temperatura
aceitável. Então sigo até ele e seguro na barra da sua camisa.
— Acho que estamos com muita roupa ainda — murmuro, passando a
língua em meus lábios.
— Isso pode ser resolvido em menos de dois segundos. — Pisca para
mim, depois sobe o meu vestido e o arranca do meu corpo.
Conseguimos nos livrar das nossas roupas em questão de segundos.
Sou a primeira a entrar na banheira, e ainda recebo uma palmada na bunda e
um “gostosa”, que me deixa toda arrepiada.
— Você não vem? — Mordo os lábios ao afundar meu corpo na água
e descer meus olhos para o seu pau semiereto.
Sem me dar uma resposta, Gabriel se ajoelha ao meu lado, toca em
meu rosto e me acaricia. Eu suspiro com o carinho que me faz. Como não se
derreter por esse homem lindo, maravilhoso e gostoso? E ainda por cima,
gentil.
— Você é linda tanto por dentro quanto por fora, sabia? — elogia-me.
Olho em seus olhos, em seguida, encosto minha boca na dele e o
beijo. Arfamos juntos e eu afundo meus dedos em seu cabelo macio. Ele me
segura pelo cabelo e lambe meus lábios, morde e suga-os com intensidade.
Querendo mais dele, peço que entre na banheira.
Sentado de frente para mim, arrasto meu corpo até o seu e me
acomodo em suas coxas, mas ele me puxa para cima e nossos sexos se tocam.
Sensível, solto um gemido.
— Você tem camisinha? — Gabriel encaixa-me em seus quadris,
usando o tom de voz mais manso possível, sussurrando em meu ouvido.
— Droga. Eu tenho que ir ao closet pegar — resmungo, gemendo
com o pau dele roçando em meus lábios vaginais.
Nunca trouxe ninguém ao meu apartamento, nem sei se os
preservativos que tenho estão na validade. As únicas relações que eu tive
foram através do meu trabalho. Gostaria de dizer a ele que tomo
anticoncepcional há anos e que me cuido também, mas não sei qual será a sua
reação.
— Quer tentar sem? Eu estou limpo.
Nunca imaginei que ouvir um homem me dizer que quer transar
comigo sem camisinha fosse me animar tanto.
— Não me importo. Também me cuido e tomo contraceptivo. — Eu o
tranquilizo sobre uma possível gravidez inesperada.
— Então me dê logo essa bocetinha, Mandy.
Mordo os lábios sedutoramente e depois encaro o seu pau.
— Ela é toda sua, pode pegar para você. — Passo os braços ao redor
da sua nuca.
Segurando-me pela cintura, ele marca a minha pele com seus dedos e
posiciona seu pênis em minha boceta, enquanto a outra mão vai para a minha
bunda. Gemendo manhosa, eu aproximo o meu rosto do dele, roçando nossos
lábios conforme desço no seu membro vagarosamente. Ele joga a cabeça para
trás e geme.
Cravo as unhas nos seus ombros e o beijo. Nossas carnes batem,
fazendo um barulho alto com o impacto por causa da água. Nós nos beijamos
cheios de paixão por um longo tempo, resfolegando. Esse beijo quente me
deixa mais escorregadia e pulsante.
— Me fode, Gabriel. Come essa boceta com força, ela é sua —
imploro, cavalgando bem gostoso nele.
— Sim, porra, a sua bocetinha é minha, só minha! — diz, possessivo,
em seguida abocanha um dos meus mamilos.
— Ahh... mete mais e chupa os meus peitinhos, são seus também. —
Desço e subo em seu pau com velocidade, empurrando meus peitos em seu
rosto. Ele dá atenção a eles com a sua boca maravilhosa.
Cavalgo com maestria, aumentando a velocidade dos meus
movimentos e sentindo a água da banheira respingar em minhas costas.
Gabriel segura na minha bunda e estoca cada vez mais forte, logo estamos
alternando movimentos rápidos com lentos.
Pequenas ondas de eletricidade percorrem meu corpo trêmulo, então
agarro o rosto de Gabriel e beijo seus lábios desesperadamente, sentindo um
calor voraz se espalhar por meu ventre. Fecho os olhos, choramingo e movo o
quadril sem parar. Mesmo com meus joelhos doendo pela posição, só paro
quando gozamos e sinto o seu esperma jorrar dentro de mim.
Ele acaricia minhas costas carinhosamente, enquanto encosto minha
testa na dele.
— Você me enlouquece, loirinha. Eu poderia fazer isso o dia inteiro e,
ainda assim, iria querer mais. Estou completamente viciado em você —
confessa, depois de longos minutos de silêncio.
— Fica — peço, dessa vez o encarando.
— Está me pedindo para ficar? — Seus olhos brilham.
— Sim. Fique essa noite comigo, amanhã você vai embora — corrijo-
me para que ele não pense que é para ficar definitivamente.
— Eu fico — diz, deslizando as mãos por minha barriga. Em seguida,
sobe e trilha um caminho lento até chegar aos meus seios e os apertar. —
Amo seus peitos. São pequenos e lindos, cabem perfeitamente em minhas
mãos.
Meu coração dispara com o seu elogio. Derretida com o seu toque, rio
baixinho, em seguida, movo-me em seu colo e ele geme por ainda estarmos
conectados.
— Preciso dispensar o André. — Gabriel se lembra do pobre homem
que está mofando lá embaixo de tanto esperar.
— Só agora você se lembra dele? — Faço uma careta, mas acabo
sorrindo e erguendo meu quadril para que ele saia de dentro de mim.
— Impossível me lembrar do mundo lá fora quando estou com você.
Por Deus, que homem. Ele consegue me desarmar de tantas formas.
— Acho que vou preparar alguma coisa para comermos, estou com
fome — digo, prestes a me levantar.
— Você me disse que não tem nada. — Semicerra os olhos e eu
gargalho.
— E não tenho. Se eu tiver algo, no máximo alguns congelados. Só
vou pôr no micro-ondas e pronto. — Dou de ombros e logo recebo um tapa
na bunda.
— Safada! — Dá uma risadinha.
— Me respeite, sou uma dama. — Faço biquinho.
— Me perdoe, dama. — Ri baixinho e dou um tapa em seu ombro.
— Vá logo dispensar o André, Gabriel! — Faço um muxoxo ao me
levantar e sair da banheira.
— Não demoro. E não precisa descongelar nada, vou pedir comida
para nós. — Antes de deixar o banheiro, ele me agarra pela cintura e me
beija, quase me deixando sem fôlego.

∞∞

A noite chegou e não conseguimos desgrudar um do outro, a única


pausa que demos foi para nos alimentar, e isso foi à tarde. A boca de Gabriel,
que minutos atrás estava em minha barriga, neste momento se encontra entre
as minhas pernas, me chupando. Com uma mão, seguro em um dos meus
mamilos enquanto a outra está puxando o cabelo do safado que suga e lambe
meu clitóris.
— Ahhh... V-vou g-gozar. — Solto um gemido alto ao sentir os seus
dedos me penetrarem com a sua língua.
Esfrego minha boceta melada em seu rosto.
— G-gabriel! — chamo-o, jogando a cabeça para trás.
Ele para de me chupar e eu fico brava.
— Eu quero derramar a minha porra em sua boceta, Amanda, então
não vou te deixar gozar agora — diz. Seu tom é tão autoritário que fico
arrepiada, meus mamilos endurecem na mesma hora.
— Pois me coma logo! — digo, me abrindo para que ele suba o seu
corpo no meu.
— Adoro essa sua flexibilidade quando está me dando a boceta. —
Morde os lábios e me encara intensamente.
— Esse é o elogio mais safado que já tive — murmuro, brincalhona.
— Tenho mais, quer ouvir? — inquire, roçando o pau em meu
clitóris.
— Hum, deixa para mais tarde... Agora me fode, meu magnata.
Ele parece gostar do novo apelido, porque se afunda em mim com
força.
— Diz de novo — pede, agarrando a minha coxa e estocando fundo
em minha boceta.
— Meu magnata, me come, vai — falo aos gemidos. Meus peitos
sobem e descem com a velocidade com que sou fodida.
— Assim está bom, loirinha? — Move o quadril devagar, depois
rápido.
Minha boceta está inchada, molhada e arde de excitação.
— Não me provoque. — Ameaço-o, rebolando com ele.
— Podemos fazer lentamente ou rápido. Você decide, loira —
provoca, perto do meu ouvido, e eu entro em delírio.
— Não me torture. — Mordo os lábios, reprimindo o gemido quando
ele dá uma mordida de leve em meu pescoço.
— Você é incrível, Mandy.
Somos, Gabriel Vilela. Juntos, somos incríveis.
Estamos nos movimentando em uma sintonia perfeita. Nossos
gemidos e toques são tão intensos que tornam esse momento único e
inesquecível. Dou uma última rebolada e o agarro pelos ombros. Ele esconde
o rosto na curva do meu pescoço e beija a minha pele suada. Em questão de
segundos, gozamos em um delicioso deleite.
— Acho que agora precisamos de um descanso — digo, passeando a
mão por suas costas pegajosas por conta do suor.
— Sim — murmura, saindo de dentro de mim e se deitando ao meu
lado.
— Podemos dormir um pouquinho — sugiro, bocejando.
Em resposta, ele me puxa para perto e ficamos de conchinha.
Descanso minha cabeça em seu braço e fecho os olhos lentamente. Aos
poucos, o cansaço me toma e eu juro que o ouvi dizer que irá sentir saudade.

∞∞

Ao acordar, pela manhã, procuro por Gabriel na cama e não o


encontro. Meu peito fica apertado e me lembro que combinamos que ele
partiria cedo. Puxo o lençol para fora do meu corpo, me levantando nua e o
procurando por cada canto do apartamento. Mas nada dele, dando-me a
confirmação de que já foi embora.
Com os olhos ardendo, retorno para meu quarto em busca de algo de
Gabriel e encontro um bilhete debaixo de um livro, na mesa de cabeceira.
Mesmo com as mãos trêmulas, começo a ler em voz alta.
“Toda garota merece mais que uma noite de prazer. Nos
encontraremos em breve, loirinha.
Com carinho,
Gabriel Vilela.”
As lágrimas caem por minhas bochechas sem que eu tenha como
controlá-las. Apesar de eu ter permitido a sua partida, sinto doer a sua
ausência. Sua ausência que pode durar meses ou anos, mas se esse homem for
para ser meu, será. Aos prantos, volto a me deitar na cama, com o bilhete na
mão.
Ele disse que nos encontraremos em breve e vou acreditar em sua
promessa.
Meu celular começa a tocar, e mesmo a contragosto, pego-o na mesa
de cabeceira e o atendo sem olhar para a tela.
— Finalmente me atendeu, bonita. — É a minha cafetina.
— O que foi, Judite? — pergunto, deixando um soluço escapar.
— Quem faz essa pergunta sou eu, Amanda! Gabriel Vilela me ligou
minutos atrás te dispensando. O que você aprontou? Não me diga que se
apaixonou e ele chutou a sua bunda?! — Ela está irritada, e eu, chorando por
ouvir o nome dele ser mencionado.
— O nosso prazo de exclusividade terminou, Judite, não entendo o
motivo de ficar com raiva! Já fiz a minha parte, agora pare de procurar coisas
onde não existem! — retruco, controlando minha voz embargada.
— Nunca pensei que fosse tão burra, Amanda! Estou nesse ramo há
anos, conheço cada uma de vocês como a palma da minha mão. É óbvio que
você está apaixonada pelo homem e ele fugiu de você! — Insiste em tocar em
minha ferida.
Sem querer ouvir mais das suas provocações, encero a ligação, mas
não demora para que ela me envie uma mensagem de voz.
“Hoje é o seu dia de folga, mas te quero aqui amanhã bem cedo, não
se atrase. E faça o favor de parar com esse drama, amores vão e vem. Você é
uma profissional, não tem tempo para se apaixonar, muito menos por um
cliente casado. A vida continua, querida!”
Ela fala como se eu pudesse voltar a fazer o que fazia antes depois de
viver os melhores dias da minha vida com o homem por quem estou
apaixonada. Meu corpo nunca mais será tocado por outro que não seja ele.
Estou disposta a conversar com Judite, porque ela não pode passar por cima
da minha decisão.
Mexendo no celular, vou na agenda e encontro o contato dele, então
salvo. Meu dedo quase esbarra na opção de ligar. Com o coração
despedaçado, bloqueio a tela e puxo o travesseiro que ele estava usando, e ao
sentir seu cheiro, volto a chorar.
Capítulo 22

Duas malditas semanas se passaram, mas parece que é uma


eternidade. Se antes achava que vivia um inferno, agora é pior. Os meus dias
têm sido estressantes, fico irritado com qualquer coisa, e o meu humor está
uma porcaria.
Eu não consigo parar de pensar nela, e por mais que tente focar em
meu trabalho, não rola. Como agora, que deixei a matriz da Lissol mais cedo
por não conseguir participar de uma reunião. Pedi à minha secretária para
remarcar para a próxima semana.
— Sr. Gabriel, chegamos — diz meu motorista, olhando-me pelo
retrovisor.
Ao deixar a empresa, pedi ao motorista, Hélio, que me deixasse na
minha mansão, no condomínio em Pinheiros, a mesma onde Isabel mora.
Vim conversar com ela pela milésima vez. Dias atrás, tentei convencê-la a me
dar o divórcio antes do contrato terminar, mas ela me disse que não tem
pretensão em ceder a minha liberdade antes do fim do acordo, me provocou
ao falar que eu deveria ser mais paciente e esperar que os meses passassem.
— Obrigado, Hélio. Me espere aqui, não demoro — peço, e ele
assente.
Antes de sair do carro, noto que na garagem há um automóvel
diferente, mas tenho a impressão de que já o vi em algum lugar, só não me
recordo onde.
Ao parar em frente à porta, pego minha cópia da chave e a abro. Na
sala, a empregada de confiança de Isabel surge, e quando me vê fica pálida e
arregala os olhos.
— Sr. Vilela? — A pobre parece ver um fantasma.
— Em carne e osso — digo, arqueando a sobrancelha. Não entendo o
seu espanto. Vejo-a olhar para trás, como se estivesse procurando por algo.
— V-veio ver a sra. Isabel? — Encara-me, nervosa.
— Sim, Carla.
— A patroa não está, senhor, saiu cedo e ainda não voltou! — A
funcionária mente na caradura. Seja lá de quem for esse carro na garagem,
deve estar fazendo uma visita demorada à minha esposinha.
— Carla, sei que Isabel está aqui. E eu não preciso de permissão para
entrar na minha casa, com licença — peço, a mulher assente e sai da minha
frente.
A passos largos, subo para o andar de cima, e no corredor, ouço vozes
alteradas e vidro sendo quebrado. A coisa está feia.
— Você acha que sou idiota? Ontem, você estava naquela festa se
esfregando na Gabriela e fingindo que eu nem existia! — grita Isabel, com a
voz embargada.
A porta do quarto está aberta, e no chão do corredor tem roupas
espalhadas e cacos de vidro.
— Cresça e amadureça, Isa! Você não pode me exigir nada, já que
está casada com outro!
A voz do homem faz o meu sangue congelar.
É o Allan Bernardi, irmão da melhor amiga dela, a Ayla. Mas o que
ele faz aqui? Será possível que ele seja o pai do filho dela? Nunca soube que
eles tinham um caso, ela odeia esse cara. Se eles têm algo, souberam
esconder bem.
Nunca fui próximo desses amigos dela, mas sei que Allan tem
algumas empresas imobiliárias espalhadas pelos estados do Brasil.
— Não me chame assim, seu babaca! Eu te odeio! Saia da minha casa
antes que eu jogue esse vaso em você!
Ouço algo se quebrar.
— Você é louca, por isso ninguém te aguenta!
— E você é um escroto. Nem mesmo a sua noiva te quis, te deu um
par de chifres e foi embora com outro!
Fico boquiaberto com a coragem dela.
— Isabel, controle essa sua boca.
— Agora doeu, Allan? Como você acha que me sinto quando me
chama de louca? Me diminui para aumentar o seu maldito ego.
— Basta! Não quero ouvir os seus dramas! Eu vim aqui por outra
razão, você sabe qual é.
— Eu não vou fazer o que me pediu. Agora dê o fora da minha casa e
nunca mais apareça na minha frente, seu desgraçado.
— Esse filho também é meu, você não pode tomar decisões sozinha!
Já te disse que não quero ser pai, nada vai me fazer mudar de ideia. — O
homem está alterado.
Fico tão surpreso pelo rumo que a discussão toma, que decido mostrar
que estou presente. Paro em frente à porta do quarto, e o casal, quando me
nota, fica assustado. Isabel está usando apenas lingerie, enquanto o homem
está com uma calça social e o seu abdômen está todo arranhado.
— G-Gabriel? — A ruiva parece ter visto um fantasma. Em vez de ela
se cobrir, Allan pega o blazer que ele segura na mão esquerda e cobre o corpo
dela, me olhando com a expressão fechada.
— Precisamos conversar — falo, sério, sem olhar para ela.
— Ela precisa se vestir, você pode esperar lá embaixo — diz o
homem, como se a casa fosse dele. Não faço questão dela, se Isabel a quiser
na partilha de bens, que faça bom proveito.
— Não demore, meu tempo é curto — aviso, dando as costas para
eles.

∞∞

Quinze minutos de atraso. Conto os minutos em meu Rolex. Desde


que desci para esperar Isabel, ela não deu sinal de vida, nem mesmo Allan
deu as caras. A única que vem vez ou outra me oferecer alguma coisa é Carla.
Impaciente com a demora, levanto-me e ando de um lado ao outro.
Ao ouvir a voz do homem, ergo o rosto e o vejo descer a escada, atrás dele
vem Isabel cabisbaixa, nem parece a mesma mulher que me persegue.
— Carla — chama Isabel. A empregada entra na sala como um raio.
— Acompanhe o sr. Bernardi até a porta. — Seu tom é amargo.
— Sim, senhora.
— Eu já disse que ainda vamos conversar, não tente me enrolar. —
Ele se aproxima dela e tenta tocar em seu braço, mas Isabel se afasta.
Ela aparentemente está magoada com ele. Por que as atitudes de
Isabel só estão fazendo sentido agora? Não foi em vão ela querer me
empurrar a paternidade do filho dela, o babaca não quer se responsabilizar.
— Vocês podem conversar uma outra hora, agora ela e eu temos algo
importante a tratar — intrometo-me.
— Isso mesmo. Pode sair da minha casa, Allan. — A ruiva sorri
cínica, e o homem rosna inconformado.
— E o que você quer com ela? Posso saber? — Allan Bernardi avalia-
me desafiadoramente.
Coitado, ele acha mesmo que sou uma concorrência? Tenho vontade
de rir.
— Claro, é do seu interesse, eu acho. — Eu me sento novamente e
encaro o casal à minha frente.
— Allan, eu já disse para sair da minha casa! Eu e o Gabriel temos
que conversar a sós, isso é uma conversa de marido e mulher! — Juro ver o
sorriso de Isabel quando o cara fica vermelho.
— Um caralho que são! Acha que pode me fazer de idiota, Isabel? Eu
sei que está tentando me fazer ciúme, mas não vou cair em seus joguinhos. —
Ele bufa, passando por ela e seguindo em direção à saída.
— Se aparecer de novo na minha casa, chamo a polícia! — ela o
ameaça.
— Só essa semana você disse isso cinco vezes, e em todas elas,
acabamos na cama — responde.
E eu vivi para ver Isabel Correia corando.
— Nossa Senhora! — Escuto Carla falar alto.
Rio baixinho do show da minha querida esposa e o casinho dela. Ele,
com ciúme de mim, e ela adorando saber que eu o afeto com a minha
presença. Talvez Isabel já saiba disso há tempos e esteja usando nosso
casamento para fazê-lo tomar alguma decisão importante na relação deles.
— Gabriel, vamos ao meu escritório, esse troglodita já está de saída.
— Ela passa a mão em sua roupa de grife e empina o nariz. A desgraçada é
bonita, mas não vale nada, não para mim.
— Não estou, não — diz Allan, impaciente.
Passo a mão em meu rosto e quem deixa a casa sou eu.
Volto amanhã, porque estou sem paciência para lidar com a discussão
que eles começaram na minha frente sobre ele ser um escroto e ela uma
bruxa. Os dois discutem como dois adolescentes indecisos.

∞∞

Já é noite e novamente sou preenchido por um vazio em meu peito.


Estou em meu quarto, olhando a foto que tirei do rosto de Mandy enquanto
ela dormia semanas atrás, antes de deixar o seu apartamento, quando o
número de Franco brilha na tela. O que ele deve estar querendo? Pela manhã,
eu o vi na empresa e não me disse nada. Estranhando a sua ligação às dez
horas da noite, eu o atendo.
— Boa noite, meu amigo — ele me cumprimenta.
— Minhas noites não têm sido boas — confesso, passando a mão por
meu cabelo.
— Imagino que quem deve estar te deixando nesse estado é uma certa
jovem lá do Rio de Janeiro — diz ele.
— É tão óbvio assim? — murmuro.
— Sim.
— Por que me ligou mesmo? — pergunto, para que vá direto ao
assunto.
— Para acabar com esse seu sofrimento — revela, animado.
— O que é? — indago, curioso, ajeitando o travesseiro em minha
cabeça.
— Amanhã vou ao Rio de Janeiro, se quiser me acompanhar... Acho
que você precisa de um empurrãozinho.
Meu coração acelera no mesmo instante.
— Não posso, Franco, amanhã tenho que encontrar com a Isabel.
— Uma pena. Ela ainda não quer um divórcio amigável? Que diabos
essa mulher quer de você, já que não te ama? Está te prendendo nesse
casamento só por prazer? — Meu amigo se revolta.
— Descobri quem é o pai do filho dela, e tenho certeza de que sei o
que a impede de me dar o divórcio — confesso.
— Me diz quem é o sortudo, talvez eu tenha alguma informação útil.
— Allan Bernardi, conhece?
— Não acredito, é claro que sim! Estou fazendo negócios com o pai
dele desde o ano passado — revela.
— Eu acho que a Isabel está apaixonada por ele, mas não quer me dar
o divórcio antes do fim do contrato porque está me usando. Acabei ouvindo a
conversa deles e o cara não quer ser pai — confidencio ao meu amigo.
— Pule fora dessa armadilha, Gabriel! Essa mulher é ardilosa — diz
o que já sei.
— Vou oferecer cinco milhões a ela para assinar o divórcio antes,
faltam cinco meses ainda, não vou suportar mais um dia. — Massageio meu
pescoço ao me sentar na cama.
— Muito dinheiro para algo que você pode ter de graça! — Franco
se revolta.
— Minha paz não tem preço, amigo. — Suspiro.
— Você que sabe, Gabriel, só acho que está se precipitando. Se ela
estiver realmente apaixonada por esse homem, vai te dar a sua liberdade
rápido, sem que precise dar o seu dinheiro em troca — aconselha.
— Você acha? Porque, sinceramente, não tenho muita certeza disso.
— Meu tom sai desanimado.
— Óbvio que sim! Sou mais velho do que você, mais vivido, sei o que
estou falando — garante.
A campainha da minha cobertura começa a tocar. Com o cenho
franzido, estranho a portaria não ter me interfonado, mesmo assim levanto-
me da cama.
— Franco, preciso desligar. Obrigado pelo convite, faça uma boa
viagem! — desejo ao encerrar a ligação e guardar o celular.
Saio do quarto e vou até a sala, e quando abro a porta, deparo-me com
Isabel aos prantos. Agora entendo o motivo de não terem me avisado que
tinha alguém subindo, provavelmente pediu que eu não fosse informado. Sem
que eu tenha a oportunidade de perguntar o que está fazendo a essa hora da
noite em minha casa, a mulher se joga em meus braços.
— Me ajuda, por favor!
Fico sem reação com o seu pedido.
— Isabel, o que está acontecendo? — Afasto-a do meu corpo e a
seguro pelos ombros.
Os olhos da mulher estão vermelhos e a sua expressão é de horror.
— Allan e eu brigamos de novo, aquele babaca não quer assumir o
filho, descobri o motivo e quero esganá-lo! — A ruiva chora. Nunca a vi tão
vulnerável.
— Você não tem amigas para falar dessas coisas? Desde quando
somos amigos? — Deixo escapar.
— Acha que alguém como eu tem amizades de verdade, Gabriel? —
Soluça, e sem pedir permissão, passa por mim e se senta em meu sofá.
— E por que eu? Cadê aquela garota chamada Ayla?
— A minha única opção é você, além do mais, é homem, vai saber me
aconselhar. E a Ayla não quer saber de mim depois que descobriu que
engravidei do irmão dela — diz, tranquila.
— Eu deveria ficar lisonjeado com a sua escolha? — Fecho a porta e
me sento no outro sofá.
Isabel revira os olhos como uma garota mimada.
— Gabriel, se uma mulher aparecesse grávida e dizendo que o filho é
seu, o que você faria? Rejeitaria o seu filho e ainda sugeriria para a mãe dele
que abortasse? — Os olhos dela enchem de lágrimas.
— Esse tipo de atitude é coisa de moleque, Isabel, nunca faria isso.
Uma mulher não deve violar o seu corpo por causa de um homem. Se não
quer seguir com a gravidez, não siga. Mas se quer ter o bebê, tenha, quem vai
esperá-lo por nove meses é você, e não o Allan. — Dou o conselho que ela
tanto quer, sei disso.
Boquiaberta, a ruiva me encara.
— Você depende dele para alguma coisa? — Ela nega, então
prossigo. — Assim como ele tem dinheiro, você também tem, pode criar o
seu bebê muito bem sozinha. Às vezes, uma criança não precisa ter duas
pessoas em sua vida, uma só é suficiente. E eu sei que você conseguirá suprir
a ausência de uma figura paterna na vida do seu filho. — Até eu me
surpreendo com o que falo.
— E-eu... — Isabel está desconcertada.
— Muitas vezes, o amor requer sacrifício, mas alguns não valem a
pena. Não faça nada que vá se arrepender no futuro por causa de um homem.
A mulher assente, voltando a chorar e, pela primeira vez, sinto pena
dela.
— Descobri que a ex-noiva do Allan está voltando para o Brasil.
Parece que terminou com o homem por quem ela trocou Allan no dia do
casamento deles, então está vindo sozinha. — Soluça e limpa as lágrimas.—
Agora, o idiota está diferente comigo ao saber disso. Se ele acha que vou
interromper a minha gravidez está enganado, agora, mais do que nunca,
quero esse filho. Pelo menos, vou ter alguém para me fazer companhia. —
Funga.
— Isabel, quer um conselho sincero? — Ela balança a cabeça. —
Comece o pré-natal o quanto antes. Nesses poucos minutos conversando com
você, percebi que está com o psicológico abalado e isso pode ser ruim para o
seu bebê. Conheço uma ótima profissional, dra. Babi Lacerda, ela pode te
orientar. Ou, se preferir, procure alguém de sua confiança.
— Gabriel, você me perdoa?
— O que disse? — Estou perplexo.
— Eu nunca quis me casar com você, nenhum dos dois queria esse
casamento, isso é óbvio. Mas você teve que se sacrificar pela sua família, e
eu fui obrigada por meu pai, não tive muitas escolhas, afinal, me tornei uma
garota fútil, carente de atenção desde a morte da minha mãe — confessa,
triste. — Gonçalo sempre foi um pai ausente, para ele, me dar dinheiro e me
rodear de luxo eram o suficiente. Mas conforme eu crescia, ia me tornando o
que sou hoje, uma mulher vazia, sem amor, sem pessoas que me levem a
sério por causa das minhas atitudes ridículas.
Em silêncio, eu a escuto desabafar.
— Durante todos esses anos, quis chamar atenção dele para ver se me
enxergava, mas o que fez, foi me colocar em um casamento para se livrar de
mim, então jogou a responsabilidade dele nas suas costas. E eu só te odiava
por ser certinho, ser um homem bom, que tão jovem já era renomado. Eu
tinha inveja da sua boa relação com a sua família. Seus pais sempre te
amaram, já o meu, me tratava como se eu fosse um nada. — Nervosa, ela
passa a mão por seu cabelo preso. — Não me arrependo das coisas que fiz,
porque são com os erros que aprendemos, mas há uma única coisa que se eu
pudesse consertar, eu o faria – o meu comportamento com você. Fui muito
escrota todos esses anos. Uma mulher de vinte e seis anos de idade agindo
como uma adolescente só para tirar os seus dias de paz, porque, para mim, na
minha cabeça, se eu não fosse feliz, você também não seria. — Abaixa a
cabeça, envergonhada.
— Eu não te amo, Gabriel, infelizmente amo outro homem — diz o
que já sabemos, e isso me alivia. — Confesso que queria te usar para assumir
meu filho, que me comportava como uma louca só para tirar a paz dos seus
dias, mas me sinto envergonhada, tanto que vou te dar o que tanto quer. Vou
assinar os papéis do divórcio consensual.
Meu coração explode de alegria.
— Está dizendo a verdade? — Um peso parece sair dos meus ombros.
— Sim, precisamos da nossa liberdade. Quero mudar a minha vida,
vou voltar a estudar, ainda sou jovem, tenho muitos sonhos que precisam ser
realizados — comenta.
Fico feliz pela nova mulher que está querendo se tornar.
— É o certo a se fazer. — Não contenho o meu sorriso.
— Amanhã, o meu advogado entra em contato com o seu — fala ela.
— O.k.
— Bom, é isso. Mais uma vez, obrigada por não ter me expulsado da
sua casa. Se fosse eu no seu lugar, teria feito o contrário, me surpreendeu
muito. — Olha-me nos olhos.
— Não sou tão ruim assim, está vendo?
Ela ri baixinho e balança a cabeça.
— Você nunca foi um homem ruim, as minhas atitudes que o tiravam
do sério.
— Ainda bem que você reconhece.
Isabel se despede de mim e vai embora, me deixando com a esperança
de que em menos de quatro meses estaremos divorciados.
Capítulo 23

Em três meses, muitas coisas mudaram em minha vida, e apesar de eu


não ter conseguido ficar com o homem que me fez encontrar o amor,
considero-me uma sortuda por tê-lo conhecido. Não tive mais notícias de
Gabriel e nem do amigo dele. A última vez que vi o sr. Franco foi há dois
meses, e rapidamente, ele nem mesmo me viu. Eu o evitei, para que não nos
trombássemos e o meu sofrimento aumentasse mais, porque acabaria
perguntando pelo homem por quem ainda sou apaixonada. No fundo, estou
grata por não ter notícias dele, mas ao mesmo tempo continuo morrendo de
saudade e fico esperando receber uma mensagem ou uma ligação dele.
Há cerca de dois meses, consegui comprar uma casa grande e
aconchegante para a minha mãe, aqui no Rio de Janeiro, no bairro
Laranjeiras. Dei uma boa entrada e estou pagando a diferença em parcelas
mensais. Só é um valor maior do que o aluguel de Búzios, mas nada melhor
do que estarmos vivendo em nossa própria casa. Mesmo que sejam salgadas
as parcelas, enfim consegui realizar um sonho meu e de minha família –
estarmos juntas todos os dias. Pedi a transferência de Beatriz para a unidade
do seu colégio daqui.
Não faço mais programas, mas continuo trabalhando com Judite.
Embora no início tenha sido resistente em permanecer no OpenSea e ter saído
em busca de empregos em outros lugares, ninguém me contratava por não ter
experiência ou recomendação. Passei quase dois meses em uma exausta
jornada tentando ser contratada por alguém.
Foi então que depois de dois meses longe do OpenSea, retornei para
trabalhar. Judite, sabendo que eu não iria mais dormir com os clientes, me
escalou para serviços que não necessitam fazer programas. Estou há um mês
fazendo a mesma coisa, e acompanhando a mesma pessoa, um senhor de
sessenta anos. Ele é viúvo há quinze anos, não tem família e vem todas as
noites ao clube para conversarmos. Eu lhe faço companhia em alguns
eventos, em algumas viagens, mas não passa disso, ele nunca me tocou,
sempre me tratou com respeito. O sr. Leonardo é um amigo, que além de me
falar sobre ele e sua amada esposa que não conseguiu esquecer, também
conversamos sobre o Gabriel.
Em breve teremos que nos despedir. No último mês, ele me
comunicou que pretende se mudar para Europa e não sabe se volta ao Brasil,
confesso que vou sentir falta das nossas conversas e dos seus conselhos.
Leonardo me disse que se realmente for embora, irá me comunicar ainda essa
semana.
Mesmo que essa minha nova função no OpenSea não ganhe tanto
quanto na outra, não me faz falta, me sinto aliviada e feliz por não ter que me
deitar mais com vários homens e ter meu corpo tocado por estranhos. O bom
é que venho conseguindo pagar as minhas contas e ajudar mamãe em casa.
— Filha, venha comer, a lasanha vai esfriar.
Escuto dona Lara me chamar da cozinha.
— Já vou! — falo alto para que me escute.
Saio do meu quarto e encontro Beatriz sentada no tapete, com um
prato de lasanha na mesinha de centro. Enquanto come, assiste a um desenho.
Vou até ela e deposito um beijo em sua cabeça, em seguida sigo para a
cozinha.
— Hoje você vai sair, não é? — pergunta mamãe assim que me vê.
— Não, é o meu dia de folga — digo e a vejo sorrir.
Dona Lara sabe que não faço mais programas. Antes de aceitar a
proposta de Judite, tive uma conversa franca com mamãe e nós nos
resolvemos, sem que nenhuma das duas tenha sido magoada. Ela entendeu o
meu lado e respeitou a minha decisão.
— Que bom, assim vamos assistir àquela série mexicana na Netflix!
Rio baixinho. Ela está viciada em uma série que o ator Sebastián Rulli
é o personagem principal. Ela acha o ator um gatão, e de fato é.
— O.k. — Balanço a cabeça assim que ela me entrega um prato com
uma fatia de lasanha de frango, que é a minha paixão.
— Filha, tenho te achado desanimada esses dias — diz, encarando-
me.
— Só estou um pouquinho cansada, mas logo passa. — Mexo na
massa da lasanha com o garfo e solto um suspiro.
— Ainda pensa nele, não é? — pergunta, avaliando-me.
— Muito. Não tem um dia sequer que Gabriel não venha aos meus
pensamentos. — Minha voz embarga.
Até hoje, tenho o seu bilhete guardado, e todas as noites, antes de
dormir, eu o leio em voz alta.
— E por que não liga para ele e diz o que sente? Uma ligação poderia
mudar tudo — aconselha, mas eu nego.
— Acho que ele e a Isabel devem ter decidido ter um relacionamento
de verdade, por isso não me procurou mais, então, não vou procurá-lo para
que não tenha problemas em seu casamento. — Essa possibilidade me
machuca tanto.
— Mas ele não é um homem conhecido? Acho que já teria saído na
mídia.
— Ele é um homem reservado e não saiu nada em sites, tenho feito
algumas pesquisas — murmuro, com os ombros caídos.
— E por que não liga ao invés de desligar e não falar com ele? —
mamãe me lembra da ligação que fiz para Gabriel no mês passado. Quando
ele atendeu e perguntou quem era, fiquei completamente balançada, louca
para dizer que era eu, mas caí na bobagem de desligar. Depois desse dia,
nunca mais tentei contato. Pensei até que Gabriel retornaria, mas nem isso ele
fez.
— Será? — Mordo o lábio.
— Claro, Mandy. Antes almoce, depois você pensa no seu amor. —
Ela me cutuca no braço e eu sorrio.
— O.k., obrigada, mãe, te amo! — Beijo sua testa, em seguida, me
sento na mesa e começo a comer.

∞∞

A ligação vai direto para a caixa postal. Essa é a terceira vez que ligo
e não consigo contato. Desisto de outra tentativa, saio do meu quarto e
encontro mamãe sentada no sofá, assistindo à série que havíamos combinado
de ver juntas. Beatriz foi para casa de uma amiguinha brincar. Antes de tentar
fazer a ligação para Gabriel, eu a deixei lá.
— Conseguiu? — pergunta, olhando-me por cima do ombro e eu
nego.
— Só cai na caixa postal. — Respiro profundamente e me sento ao
lado dela.
— Tenta mais tarde — incentiva.
— A senhora está se saindo um ótimo cupido, dona Lara! — Rio
baixinho.
— Lógico. Nesses três meses, partiu meu coração te ver sofrer por
causa do Gabriel — confessa.
Eu apoio a cabeça em sua coxa e ela começa a pentear meu cabelo
com os dedos.
— Se sofri foi porque quis, mamãe, tenho consciência disso —
murmuro, com os olhos enchendo de lágrimas. — Ele me pediu tanto para
ficar, mas queria ter certeza de que o que sentíamos não era apenas desejo.
Agora sei que não era, ao menos da minha parte, e é tarde demais. Se
passaram três meses e o meu coração continua sendo dele.
— Não se martirize tanto, Amanda, se o Gabriel sente o mesmo por
você, ele vai voltar. — Acaricia meu rosto.
— Espero que sim, estou morrendo de saudade — confesso, fechando
os olhos e me lembrando da nossa despedida que jamais saiu da minha
memória.
— Agora vamos assistir, porque já passaram várias cenas e nem vi!
— Ela tenta me animar.
O interfone toca, então peço a mamãe que fique aqui enquanto vou
atender. Do outro lado, um homem diz que tem uma entrega para mim.
Estranho, porque não estou esperando nada. Mesmo sem saber do que se
trata, decido receber a encomenda.
— Amanda Garcia? — pergunta o entregador com um buquê de rosas
na mão e uma caixa vermelha de veludo.
— Sou eu, sim — digo, olhando para um lado e para o outro na rua.
— O.k. — Ele me entrega minha encomenda.
— Quem é o remetente? — indago, avaliando a caixa bem lacrada e
com um design muito chique.
— Senhora, não sei, mas tem um bilhete dentro do buquê — avisa,
então olho para as rosas vermelhas e confiro que realmente tem um bilhete
pequeno entre elas. — Pode assinar aqui, por favor? — pede, mostrando um
papel. Ponho a caixa e o buquê no degrau da escada e assino.
— Obrigada.
Entro na casa e mamãe franze o cenho. Ela está estranhando esses
presentes tanto quanto eu. Não tenho nenhum admirador secreto, não que eu
saiba. Sento-me na poltrona e tiro o bilhete de dentro do buquê.
— Quem será? — Arqueio a sobrancelha.
O sr. Leonardo não foi, ele não faz esse tipo de coisa, a nossa relação
é só de amizade. E se fosse para me dar algum presente, ele me falaria antes.
Abro o bilhete e meu coração dispara ao notar que a caligrafia é idêntica à de
Gabriel.
“Não tivemos um primeiro encontro, nem um segundo, muito
menos um terceiro, mas espero que, em breve, possamos ter vários. Guarde
esse colar com você, ele é especial.”
Até breve, loirinha, Gabriel Vilela.
Ao virar o papel, vibro ao ler o nome dele. Não estou sonhando, é ele.
Céus! O meu amor voltou para mim. Notando meu olhar emocionado, mamãe
se levanta e vem ao meu encontro.
— É ele, não é? — pergunta, animada.
— Tudo indica que sim. — As lágrimas caem por meu rosto e eu
sorrio. — Olha que lindo o que ele escreveu. — Entrego para ela o bilhete e
abro a caixa. Dentro tem um colar com pedrinhas de esmeralda personalizado
com as letras A.G.M.
Vou tentar ligar para ele novamente.
Deixo tudo na poltrona e pego meu celular no sofá, e neste momento,
ele toca. Verifico o nome de quem está ligando. Judite.
O que ela quer comigo em meu dia de folga?
— Boa tarde, Judite. Precisa de algo? — Já vou logo perguntando,
porque sei que quando me liga quer algo de mim.
Do outro lado, ouço seu suspiro longo.
— Boa tarde, minha querida. Como você está?
— Bem. Por que está me ligando hoje? — indago, encarando minha
mãe antes de ela sair da sala.
Semicerro os olhos ao ouvir sua risada forçada.
— De bom humor como sempre.
— Do que precisa? Você só me liga quando quer algo. — Passo a
mão por meu pescoço.
— Você está certa. Preciso que saia com um cliente amanhã. Ele é
um amigo, é muito especial — fala, com a voz melosa.
Judite só pode estar louca. Não posso sair com outro cliente porque já
tenho um fixo, e esse nunca me faltou com respeito.
— Arrume outra garota. Você sabe que não posso. — Volto a me
sentar e passo a mão em meu cabelo.
— Por favor, Amanda! Você é minha melhor garota, não vai me fazer
passar essa vergonha! Ele disse que paga o valor que você quiser, mas quer
te conhecer. — Judite parece estar tão nervosa, a voz dela a entrega.
— Esse serviço está incluso o sexo, né? Pelo seu modo de falar, sei
disso. Pode dispensar, não trabalho mais fazendo programas, o nosso
combinado é sem sexo — lembro-a, irritada.
— Se me ouvir, vai saber que não é como pensa! O cliente não quer
sexo, disse que só precisa desabafar com alguém, então eu te indiquei,
porque você é a minha melhor garota. Aproveite essa oportunidade para
ganhar um extra, sei que depois da compra da casa você ficou apertada
financeiramente.
— Você me promete que esse homem não vai tentar nada? —
pergunto, depois de um tempo.
— Você só vai transar com ele se quiser, Amanda. Alguma vez já
prometi algo que não cumpri? — Ela se chateia e dessa vez com razão.
— Não, Jud, me perdoe. — Limpo a garganta. — Diga ao seu amigo
que vou ao encontro dele. — Mordo o lábio inferior, nervosa.
Minha agenciadora solta um gritinho de vitória e quase reviro os
olhos.
— Te adoro, garota! Você vai amar conhecer o meu amigo! — diz,
saltitante de felicidade.
— Como é o nome desse seu amigo?
Judite parece hesitar ao me responder: — O sobrenome dele é
Campos, é tudo o que precisa saber por enquanto. Você não o conhece, ele
nunca esteve no clube. É um homem muito importante e quer te conhecer,
minha querida. Mais um detalhe, ele quer te encontrar fora do clube.
De repente, Gabriel vem em minha mente. Óbvio que não deve ser
ele, o sobrenome dele é Vilela, e se quisesse me ver já estaria batendo à
minha porta.
— O.k., mais tarde me passe o endereço do local por WhatsApp. —
Encerro a ligação.
Pensativa, busco pelo contato de Gabriel e ligo para ele. Meus joelhos
tremem quando sou atendida. Com a respiração travada e o coração
parecendo saltar pela boca, escuto sua voz baixa e rouca: — Senti saudade,
loirinha, esperei ansiosamente por essa ligação.
Emocionada, controlo a vontade de chorar.
— Gabriel? —Seu nome sai quase em um sussurro.
— Sou eu sim, você recebeu o meu presente, Mandy? — Meu apelido
soa tão carinhoso.
— Recebi, sim. Você está aqui no Rio de Janeiro? — pergunto,
esperançosa.
— Estou sim.
Tenho tantas perguntas para fazer a ele.
— E... E... — Nem consigo falar direito.
— Quero te encontrar. Amanhã você está disponível? — A pergunta
dele me deixa nervosa.
Com as mãos trêmulas, engulo em seco.
— Que horas? — Um calafrio bate na minha barriga.
— À noite — diz, e o meu coração estremece.
— N-não sei se sabe, mas continuo trabalhando com a Judite, amanhã
à noite tenho um encontro e...
— Eu sei absolutamente tudo sobre você, cada detalhe — ele me
interrompe.
Isso explica como ele sabe meu novo endereço. Claro que descobriria,
tem muitos contatos.
— Posso cancelar — digo, rápido.
— Não se preocupe comigo, vou ser o seu último encontro, isso que
importa para mim, loirinha. Teremos todo o tempo do mundo para ficarmos
juntos. Até breve.
Por um instante, fico desconfiada com o seu tom tão sutil. Em choque,
me sento no sofá e encaro a tela do celular. Gabriel está de volta e quer me
ver, quer dizer que ele já deve ter conseguido se divorciar.
Recebo uma notificação de mensagem. Ao ver que é ele, abro um
sorriso.
“Gostou do colar? Espero que quando nos reencontrarmos, você
esteja o usando. Logo você vai entender o meu pedido.”
Observo a caixa vermelha aveludada na poltrona, em seguida, digito
para Gabriel.
“É muito bonito, mas estou curiosa com o significado daquelas
letras. Arrisquei ser Amanda, Gabriel e Mandy, mas não faz sentido.”
Envio a mensagem, mordendo os lábios. Ele parece já estar preparado
para a resposta porque ela não demora.
“Eu queria dizer pessoalmente, mas por que esperar tanto se já
passamos meses longe um do outro? Já perdemos tempo demais.”
Com o peito explodindo de alegria, começo a ler a mensagem
seguinte.
“A.G.M não são as siglas dos nossos nomes, significa ‘A garota do
Magnata’, porque você, Amanda Garcia, é a minha garota.”
Céus, como eu continuo louca por esse homem. Se ele estivesse agora
na minha frente, eu me jogaria em seus braços e o encheria de beijos.
“E eu escolhi esmeraldas porque elas me lembram a cor dos seus
olhos.”
E eu acabo de confirmar que escolhi o homem certo para entregar o
meu coração.
Capítulo 24

Ontem, dormi pensando em Gabriel e acordei do mesmo jeito.


Depois de mexer com o meu emocional com aquela linda mensagem, passei a
noite em claro, tentada a ligar para Judite e cancelar esse encontro com o tal
amigo dela, mas não o fiz porque algo dentro de mim me diz que eu conheço
muito bem esse novo cliente, porém, ao mesmo tempo estou incerta. Minha
chefe nunca teve um grau de intimidade com Gabriel, quanto mais uma
amizade. Só que nada é impossível, preciso ver por mim mesma e confirmar
se estou certa ou se é coisa da minha cabeça.
Já é noite e estou indo me encontrar com o cliente. Na recepção, sou
informada que o sr. Campos está me aguardando na penthouse.
Mais cedo, Leonardo me enviou uma mensagem dizendo que está
organizando a mudança dele para Amsterdam, e que provavelmente não
vamos poder nos ver, mas que quando puder vai me ligar para contar como
foi a viagem. Ele me agradeceu pela amizade e desejou que eu reencontre
logo o amor da minha vida e seja feliz. Quase chorei de emoção em saber que
nos piores meses que passei sem o Gabriel, eu tive pessoas maravilhosas
comigo para me apoiar.
O cliente se hospedou no Copacabana Palace. Quando Judite me
enviou o endereço, eu ainda estava em casa. Fiquei perplexa com a
coincidência em ser justamente o hotel que Gabriel esteve comigo meses
atrás, mas não disse nada a ela, deixei essa suspeita só para mim.
Sem entender o meu nervosismo, bato com o punho na porta e ela
abre sozinha, já que estava só encostada. Entro e, de repente, sinto meu
coração ficar apertado. Não sei o motivo para essa sensação, então logo trato
de afastar os pensamentos ruins. Será que fiz bem em vir? Esse silêncio todo
está estranho e me incomoda, principalmente o fato de que o local está com
pouca iluminação e ninguém veio me receber.
A porta da varanda está aberta, certamente o sr. Campos está lá. A
passos lentos e sentindo um frio na barriga, vou até ele. Na penumbra da
noite, está o homem, desfrutando da bela paisagem que a minha cidade tem.
— Sr. Campos? — chamo-o, mas ele não responde.
A noite está linda, com uma belíssima lua. Aproximo-me mais e a
silhueta do homem me faz lembrar do...
Ele se vira e eu fico estática. Por um instante, perco o fôlego. Recuo e
meus olhos ardem. Sinto minhas pernas ficarem moles iguais a geleia.
— Estava contando as horas para te ver, Amanda — fala, virando-se
para mim.
Gabriel.
Ele se aproxima, e eu estou congelada. Não consigo sair do lugar,
muito menos respondê-lo. Até que ele me toca e o cheiro e o calor das suas
mãos me causam uma emoção enorme. Não tem como controlar.
— Céus... Como... Por que não me disse que era você? — Solto um
soluço e fecho os olhos.
— Olhe para mim, minha loirinha. — A voz é intensa. Meu corpo
todo vibra.
Abro os olhos e umedeço os lábios.
Ele está diferente. O rosto dele está um pouco abatido, o seu corte de
cabelo é mais baixo, mas permanece lindo. Não consigo resistir a esse
momento. Pulo em seu colo, ele me pega e me beija.
Quando nossos lábios se tocam, eu arfo e deixo as lágrimas caírem
sobre minhas bochechas. Nosso beijo tem um gosto salgado por causa do
meu choro, mas nem assim nós nos separamos. Chupo seus lábios, sua língua
enquanto sua mão espalma em minhas costas e eu deslizo os dedos por seu
cabelo macio.
Nunca imaginei algo assim, um reencontro desses. O homem da
minha vida aqui, comigo. Ele é o cliente especial da Judite. O tempo todo
estive certa.
— É você mesmo? — Acaricio seu rosto, sentindo meu coração
disparar.
É logico que é ele. Só estou em choque.
— Posso te dar mais um beijo para que possa confirmar — diz, bem-
humorado. Os seus olhos estão brilhando, assim como os meus devem estar
também.
Emocionada, aproximo meu rosto do dele e o abraço apertado.
— Por que Campos, e não Vilela? — pergunto quando me coloca no
chão.
— E quem disse que esse também não é o meu sobrenome? — Passa
o braço ao redor da minha cintura e me puxa mais para ele. — Minha mãe se
chamava Sol Campos, mas uso mais o Vilela. — Com um sorriso, ele explica
e limpa meu rosto molhado.
— Eu não sabia.
— Sei que não, mas agora teremos tempo para saber mais um do
outro. — Beija a ponta do meu nariz.
— Estou ansiosa por isso. — Encaro-o.
— Ele ficou lindo em você.
Por um momento, fico confusa até ele tocar no colar que me deu. Sim,
eu vim com ele, porque tinha esperança de que fosse o Gabriel.
— Eu adorei.
— No fundo já desconfiava que era eu, não é? — O seu sorriso lindo
me derrete.
— Algo em meu coração dizia que sim, mas precisava confirmar. —
Ele ri baixinho. — Por isso estava tranquilo em saber que eu sairia com um
cliente, não é? — Arqueio a sobrancelha.
— Me pegou, culpado!
Dou um tapa em seu braço e, em resposta, ele beija meus lábios.
— Safado! — resmungo, mas logo sorrio. — Desde quando você e
Judite são amigos? Confesso que estou estranhando ela ter te ajudado a me
reencontrar — indago, curiosa.
— Nos últimos dois meses, eu e ela conversamos bastante — revela, e
eu arregalo os olhos. — Não pense mal de mim, só ligava para ela para saber
de você, mas nunca interferi em nada na sua vida. Respeitei o nosso tempo,
só que estava quase enlouquecendo sem ter notícias suas e a sua chefe foi a
minha única solução. — Acaricia o meu pescoço.
— Hum, isso explica o bom humor da Judite nesses meses, por isso
ela tem sido tão boazinha comigo. — Reviro os olhos e Gabriel gargalha.
— Ela não é tão ruim assim, se propôs até ser a nossa cupido.
— Eu sei que aquela quenga-mor é uma boa pessoa, ela só é um
pouco irritante às vezes, mas gosto muito de Judite — digo, olhando em seus
olhos. Senti tanta falta de tê-lo me observando com ternura e atenção.
Não posso ser ingrata, apesar da minha caminhada no OpenSea não
ter sido um mar de rosas, agradeço a ela por ter me acolhido, senão, estaria
até hoje nas ruas de Búzios, e talvez nem teria chegado aos meus vinte anos.
— Mas não vamos mais falar disso, preciso saber de você. — Toco
em seu rosto. — Ainda está casado? O que aconteceu com a Isabel? —
pergunto, mesmo com medo da sua resposta.
— Não mais. Venha comigo, porque preciso te contar tudo o que
aconteceu. — Ele acaricia minhas costas por cima do tecido do vestido.
Entramos na sala de estar e nos sentamos no sofá.
Céus, vou desmaiar de ansiedade.
— Me fale o que tem para dizer. Confesso que estou curiosa.
Gabriel traz sua mão ao meu rosto e o acaricia com delicadeza. Seu
toque é suave e acolhedor.
— Isabel e eu nos divorciamos semana passada, quero dizer, ele saiu
anteontem, foi um divórcio amigável.
Fico boquiaberta com a informação, tanto que nem consigo absorver
direito.
— Acho que não ouvi direito. — Sorrio, nervosa.
— Já estou divorciado, a Isabel foi até a minha casa oferecer o
divórcio. Assim como eu, ela não quis mais viver um casamento cheio de
farsas.
Ele narra os acontecimentos dos últimos meses, o que me espanta é
ouvi-lo dizer que a ex-esposa pediu perdão por tudo. Em um momento, tenho
pena dela ao descobrir que o pai do filho dela não quis assumir a criança e ela
está sofrendo com isso porque o ama mesmo sendo um filho da puta –
palavras do Gabriel. Ela se tornou uma mulher diferente, espero que Allan
reveja os seus conceitos e a apoie. Isabel já não tem ninguém por ela, imagine
agora que Gonçalo descobriu que a filha está grávida de outro homem e não
quer mais vê-la na frente dele.
— Pobre coitada. Você deu algum suporte a ela? — Entristeço-me,
nenhuma mulher merece passar por situações como essas. Só desejo que ela
dê a volta por cima.
— Sim. A parte que cabia a ela no divórcio deu a estabilidade que
precisava. Ela não quis ficar com toda a parte dela, cinquenta por cento, disse
que não achava justo depois do que fez durante o nosso casamento. Eu até
insisti, mas ela realmente abriu mão de boa parte, só aceitou a quantia
necessária para se estabilizar. — Gabriel une nossas mãos.
— Você tem um bom coração, foi por isso que me apaixonei por
você. — Observo-o com admiração.
— Porra, senti tanta saudade, Mandy. Passei malditos dias sem você
comigo.
Inclino meu rosto e beijo a sua boca, depois encosto nossas testas.
— Eu também vivi dias de cão. Esse tempo todo sofri imaginando que
você tinha desistido da gente e decidido consumar o seu casamento. Achei
que tinha me esquecido — revelo, suspirando.
— Pois não deveria ter se martirizado por algo que era impossível, eu
jamais poderia esquecer a minha mulher. — Derreto-me quando ele diz que
sou a sua mulher. — Esses meses longe só fez com que eu tivesse mais
certeza dos meus sentimentos por você. — Roça os lábios nos meus.
— Eu também. — Eu o abraço pelos ombros.
— Tenho uma surpresa para você — diz depois de um tempo.
— Mais uma? — Só em tê-lo aqui já é uma surpresa.
— Sim. Está lá no quarto. — Ele me encara com um sorrisinho.
— O que é? — pergunto, mesmo sabendo que não vai me dizer.
— Vamos até o quarto e saberá.
No mesmo instante, saio do seu colo.
— Uau, o que você andou aprontando? — Cruzo os braços e o vejo
com uma expressão divertida.
— Logo vai saber. Agora feche os olhos, vou te conduzir até lá — diz
e eu faço o que me pede.
— E se eu tropeçar em algum lugar? — resmungo, mas logo sinto um
toque em minhas costas.
— Não se preocupe com isso, sempre que tropeçar vou estar lá para
segurar as suas mãos e não te deixar cair. — A sua promessa não é só sobre
agora, está relacionada ao nosso futuro.
— Confio em você. — Meus joelhos tremem e meu coração bate
descompassado quando sinto um beijo em meu pescoço.
— Sei que sim. — Então me guia.
Promessa feita e cumprida, não trombei em nada no meio do caminho.
— Pode abrir os olhos. — Sua voz está rouca.
A cama está com pétalas de rosas espalhadas, e no centro dela tem
uma caixa. Sem entender o contexto, olho Gabriel por cima do ombro.
— Lembra que eu te disse que ainda teríamos muitos encontros? —
Assinto ao senti-lo me abraçar por trás. — Eu pensei muito antes de tomar
qualquer atitude, e sei que essa decisão é a certa.
— E o que você vai fazer? — Entrelaço nossos dedos.
— Vai descobrir ao abrir a caixa. Prefere abri-la agora ou após o
nosso jantar? — pergunta ao beijar meu rosto.
— Vou abrir a caixa primeiro, me ajuda? — Afasto-me dele, que me
segue para o quarto, então me sento na cama já com a caixa nas mãos.
A caixa é vermelha e em camadas. Cada camada tem algo escrito.
Confusa, olho para Gabriel e ele faz um sinal para que eu prossiga.
— Apenas continue, amor.
Ele me chamou de amor. Céus.
A caixa começa com a palavra QUER. Estou sem maturidade para abrir
o restante. Minhas mãos tremem, meu coração está quase saindo pela boca. A
julgar pelos olhos dele, vidrados em mim e na minha reação, a próxima
palavra revela tudo. Estou com medo, muito mesmo.
Abro a segunda parte da caixa e leio SER. Olho fixamente para Gabriel,
que me retribui com um sorriso e indica para que eu avance para a próxima
etapa. Meus olhos enchem d'água, já quero chorar.
As próximas partes dizem: MINHA. NAMORADA?
Quer ser minha namorada?
— Gabriel... Isso é sério? — Minha voz sai embargada.
Gabriel se levanta e se ajoelha à minha frente. Trêmula, olho para ele,
que toca em meus joelhos.
— É sim, Mandy. Quero poder te levar para sair e ter o prazer de
dizer que você é a minha namorada aos quatro ventos. — Deixa-me sem
palavras. — E para que não diga que estou sendo rápido demais, podemos
considerar que esse é o nosso primeiro encontro, o primeiro de muitos.
— E-eu... — Nada sai da minha boca, só tenho vontade de agarrar
esse homem e não soltar nunca mais.
Por que ele tem que ser tão incrível? Gabriel Vilela é o meu sonho
que se tornou realidade.
— Amanda Garcia, quero que seja a minha namorada, melhor amiga,
confidente e a mulher da minha vida. Então, o que me diz? Aceita o meu
pedido, loirinha? — diz, decidido.
Lágrimas enchem nossos olhos.
— Tenho que responder agora mesmo? — Testo-o, mesmo dizendo
vários “sim” mentalmente. Espanto toma conta do seu rosto.
— Amanda…
Não o deixo terminar, porque jogo tudo para o lado e pulo em cima
dele. Caímos no chão e, entre risos, ficamos por algum tempo trocando
olhares intensos. Até que o beijo apaixonadamente.
Espalmo a mão em seu peito, ele leva a mão à minha bunda e
aprofunda o nosso beijo. Monto nele ainda o beijando e sugo a sua língua.
Gememos juntos quando nossos sexos se roçam.
Gabriel nos muda de posição, ficando por cima e entre as minhas
pernas. Paro o nosso beijo e lhe dou alguns selinhos.
— Eu quero sim ficar ao seu lado, Gabriel, quero poder ter muitos
encontros. Desejo que possamos saber lidar com as nossas diferenças e nos
conhecermos melhor… O que mais quero é lutar pelo nosso amor. Estou
perdidamente apaixonada por você para te dizer não, dessa vez não vou
permitir que vá embora — sussurro, tocando em seu rosto e meus olhos
inundam. — Tenho certeza de que juntos vamos construir lindos laços. Hoje,
iniciamos uma nova etapa como namorados, mas daqui a algum tempo,
espero que seja como marido e mulher.
— E mãe dos meus filhos — acrescenta, secando minhas lágrimas
com seus beijos com um sorriso emocionado. — Faça amor comigo. Quero
que se entregue para mim agora como minha mulher, a mulher da minha
vida.
Ofego com seu pedido. Estremeço quando Gabriel me pega no colo e
me coloca na cama com cuidado. Ao tirar suas roupas, ele se posiciona entre
minhas pernas.
Meu coração bate mais rapidamente. De repente, minha garganta fica
seca quando noto seu olhar de adoração sobre mim. Viro-me de costas para
que ele tenha acesso ao zíper do meu vestido. Deslizando a peça para fora do
meu corpo, Gabriel não deixa de beijar as minhas costas.
— Vou adorar cada parte desse corpo, assim como adoro a dona dele.
Meu organismo entra em chamas com essas poucas palavras. Fecho
os olhos e solto um gemido baixo.
— Gabriel…
— Me diz, Amanda, o quanto sentiu saudade do seu homem? — Toca
em minha boceta.
— Bastante — confesso, empurrando a minha bunda em seu pau
endurecido.
— A bocetinha está intocável há quanto tempo? — pergunta,
afundando os dedos nela e os lambuzando com minha excitação.
— Desde que você foi embora. — Solto um gemido ao ser
masturbada.
— Não se tocou nenhuma vez pensando em mim? — Ele me fode
lentamente, depois aumenta o ritmo. Preciso jogar a cabeça para trás e rebolar
o quadril.
— Usei o meu vibrador, e quando gozei, chamei por seu nome,
imaginei o seu pau me invadindo e me dando um orgasmo delicioso… —
Mordo minha boca ao receber um tapa nos lábios da minha boceta.
— E em qual posição você estava enquanto o vibrador te comia? —
Ele para de me tocar, curva o meu corpo na cama e eu fico com a bunda para
cima.
— Estava deitada de costas, com as pernas arreganhadas, deslizando o
vibrador no meu clitóris… — Nem completo a fala, porque Gabriel esfrega a
glande em meu feixe de nervos em um movimento para cima e para baixo.
Sensível, ofereço-me para ele, que ri baixinho com a minha
impaciência.
— Você me disse que iriamos fazer amor, mas isso parece tortura —
resmungo aos gemidos.
Ele segura em meu quadril e se enterra em mim.
— Caralho, o tanto que senti saudade dessa boceta quente e molhada.
— Estoca fundo.
— Oh, sim... E eu senti saudade do seu pau, amor. — Movo o quadril,
chocando o traseiro contra a sua barriga.
As estocadas estão se tornando cada vez mais duras e prazerosas, e
meus seios balançam conforme nos movimentamos. Gabriel curva o seu
corpo no meu e me penetra. Agarro o lençol e solto um grito, com a cabeça
virada para o lado e a boca entreaberta.
— Goza pra mim, Mandy — ele pede, em meu ouvido.
Com o corpo trêmulo e mole, rebolo lentamente.
— Eu v-vou… Ahh…
Sou a primeira a gozar, segundos depois, é ele. O seu gozo inunda o
meu interior e escorre por minha perna. Gabriel sai de dentro de mim e se
joga na cama, me puxando para ele. Eu o abraço, apoio minha cabeça em seu
peito e escuto os seus batimentos cardíacos.
Ele acaricia o meu braço e eu beijo a sua pele suada.
— Acho que vou te sequestrar para mim essa noite. Hoje será
somente minha, por favor, avise a minha sogra para que ela não se preocupe.
— O modo como chama mamãe de sogra me deixa abobalhada.
— Gostei da ideia — falo, risonha.
Gabriel volta a ficar por cima de mim e beija meus seios
carinhosamente antes de fazer o mesmo com o colar.
— Quando encomendei essa joia, tinha certeza de que ficaria perfeita
em você. — Olha-me nos olhos, seus dedos deslizando pelas pedrinhas de
esmeralda.
— Você sempre teve um ótimo gosto — elogio, vendo-o ficar todo
convencido.
— É óbvio que tenho, a minha garota é a prova disso. — Pisca,
completamente sensual.
— Ah, é? E quem é essa sortuda? — brinco.
Ele ri baixinho e roça os lábios nos meus.
— A minha garota é uma loirinha muito bonita e inteligente, acho que
você a conhece bem. — Entra na brincadeira.
Sim, eu sou a garota de Gabriel. A garota do Magnata.
Epílogo

Três anos depois


— Amor, nunca imaginei que Emanoel pudesse ser um avô tão
coruja — fala minha mulher, ao ver que meu pai está com um dos gêmeos no
colo e a minha sogra com o outro. Eles estão na sala, e eu e ela, encostados
no umbral da porta da cozinha os bisbilhotando paparicar nossos filhos.
Eles tomaram banho e mamaram há meia hora, mas daqui a pouco ela
terá de amamentá-los de novo. Sempre antes de uma soneca, Amanda os
alimenta para dormirem de barriguinha cheia.
— Nunca duvidei que ele seria, o sonho dele era ter netos — digo,
sorrindo ao ver meu pai cheirar a cabeça do Ravi e brincar com o neto.
Mandy e eu nos casamos no início do ano passado. Um dia antes do
meu casamento, meu pai veio ao Rio de Janeiro nos visitar e pedir perdão por
ter sido tão duro comigo em não me apoiar no meu relacionamento com a
minha mulher. Quis relembrar do meu passado com Isabel dizendo que eu
tinha me sacrificado pela nossa família, mas pedi a ele que deixasse isso para
trás e que só queria focar no presente.
Conversamos, e no final, nos reconciliamos e ele levou Amanda até o
altar com a dona Lara, foi uma cena linda e emocionante. No outro dia, as
fotos do casamento estouraram na mídia e o assunto mais comentado não era
o vestido da noiva ou a festa de milhões de reais com quinhentos convidados,
foi o colar da minha esposa. Ficaram por uma semana tentando adivinhar o
significado das letras, e quando descobriram, foi um alvoroço.
A atual mulher do magnata da rede de restaurantes Lissol foi
presenteada pelo marido com um belíssimo colar com as letras A.G.M, que
significam “A garota do Magnata”.
Passamos dias nos divertindo com as milhares de especulações da
mídia, mas como não gosto de viver nos holofotes, não cedi nenhuma
entrevista a nenhum colunista, apesar dos vários convites. Isso tudo por causa
do bendito colar. Franco, meu melhor amigo e padrinho do meu casamento e
dos meus filhos, passou uma semana me lembrando disso, e é claro que eu
levava na esportiva, porque o conheço e sei que é muito brincalhão.
— E a minha mãe não fica atrás, olha como ela fica boba com a Ana
Laura. — Aponta para a mãe beijando a barriguinha da nossa menina, que dá
altas gargalhadas com a avó.
Os gêmeos estão com dez meses e são a alegria da casa. Já pedi outro
a Amanda, mas combinamos de ser daqui a cinco anos. As crianças estarão
maiores e ela formada na faculdade. Minha mulher voltou aos estudos na
semana passada, está cursando psicologia. Quando decidiu que seguiria nessa
profissão, eu lhe dei o maior apoio.
— Mandy, eu posso ir à casa da Daniela? Ela me convidou para tomar
banho de piscina com os primos dela. — Escutamos a voz de Beatriz atrás de
nós.
Estamos na casa da minha sogra, no Leblon, o almoço hoje foi aqui.
Há dois anos, comprei para ela e Beatriz uma casa em um condomínio
luxuoso. De início, minha esposa e dona Lara recusaram, porque eu já tinha
quitado a de Laranjeiras, mas as convenci de que era bobagem não aceitarem
que eu as ajudasse, já que eram da família. Por fim, nós nos resolvemos e
Lara não só tem uma casa, como duas. A outra, ela aluga.
Meses depois, fiz mais uma compra. A nossa casa, que fica ao lado da
dela. Estou morando há três anos no Rio de Janeiro, e agora o meu trabalho é
em home office.
Meu pai continua morando em São Paulo, apesar de eu o ter
convidado muitas vezes para vir morar perto de nós. Segundo ele, sua vida é
lá, então respeitei a sua decisão, porque sei que não conseguiria deixar o lar
que viveu por anos com a minha mãe, mas não o abandonei. Duas vezes no
mês, nós vamos para ficar com ele, e quando isso não acontece, ele vem para
cá. A distância nunca foi um problema para nós.
— Beatriz, por mim você pode ir, mas tem que pedir à mamãe. Fale
com ela — diz Mandy, apontando para a mãe, que nesse momento pega o
Ravi, e meu pai, a Ana Laura.
— Tá bom — fala minha cunhada, indo até Lara.
Beatriz é uma pré-adolescente, está cheia de amizades pelo
condomínio, mas a melhor amiga dela é a nossa vizinha, a filha do dono de
uma rede de farmácias. As duas não se desgrudam. Semana passada, estavam
fazendo planos de irem para faculdade juntas, e olha que nem saíram do
colégio ainda.
— Vocês vão ficar aí até que horas nos bisbilhotando? — pergunta
minha sogra.
— E nós estamos fazendo isso?! — minha esposa se faz de
desentendida e eu gargalho com meu pai.
— Hum, sei. — Lara semicerra os olhos.
— Mãe, a senhora e o meu sogro podem ficar com as crianças por
alguns minutos, enquanto Gabriel e eu vamos à minha casa? — inquire
Mandy, mordendo os lábios.
Ela não entra muito em detalhes, porque sabemos muito bem que é
dessa forma que conseguimos dar uma escapadinha algumas vezes, mas a
minha sogra não se importa.
— Claro que não, filha, sabe que somos dois avós babões, podem ir
— diz, sorridente, beijando a testa do neto.
— Isso mesmo — meu pai se manifesta, rindo quando Ana agarra a
sua orelha.
— O.k., obrigada.
Deposito um beijo no pescocinho gordo de Ana Laura, ela puxa meu
cabelo e ri. Mandy enche o Ravi de beijos na barriga, e quando estamos
prestes a dar a nossa escapadinha, eles nos olham com aqueles olhinhos
curiosos e começam a chorar. E é assim que deixamos os nossos planos para
mais tarde.

∞∞

Faz algumas horas que deixamos a casa da minha sogra, mas não tem
quem faça Ravi e Ana Laura dormirem. Após o banho da noite e terem
mamado, parece que ficaram ligados no 220, quanta energia.
— Eu te disse que hoje eles não iam dormir tão cedo — diz Amanda,
se curvando no berço das crianças e tirando a mão de Ravi da boca. Ele está
todo babado, e a irmã dele está de pé, se apoiando na madeira chamando
“mamã e papá”.
— Precisamos descobrir qual o segredo desse leite do seu peito. —
Uso um tom brincalhão.
— Gabe! — repreende-me, me chamando pelo apelido que ela me
deu dois anos atrás.
— Só estou dizendo a verdade. E acho que nossos planos mudaram,
amor. — Rio baixinho, indo até a minha miniatura e a pegando no colo.
— Papá, papá — diz Ana Laura, e eu fico bobo.
Mesmo que tenha o cabelo loirinho por causa da mãe e com meus
olhos, os gêmeos se parecem mais comigo. Mandy insiste em dizer que se
parecem com os dois, e no fundo, sei que é verdade, mas gosto de vê-la brava
para depois enchê-la de beijos.
— Ravi, meu amorzinho, chama “mamã”, já que a sua irmã só gosta
de chamar “papá”.
Escuto Amanda falar e eu a olho, divertido.
— Ele vai chamar papá — provoco-a.
Ela o pega para limpar o seu rostinho e suas mãos com a fralda de
pano. Ravi começa a bater palmas e faz uns sons nos ignorando, depois põe a
mão na boca novamente.
— Filho, não faz isso com a mamãe! — Amanda consegue a atenção
do nosso pequeno ao cutucá-lo na barriga. Ele ri e agarra o rosto dela com as
mãos sujas. Mandy faz uma careta, mas logo está sorrindo.
— Papá, papá, mamã, mamã! — ele repete as palavras e, para a nossa
alegria, chama por nós dois.
— Esse não era o combinado, mas me contento. — Minha loirinha
finge um resmungo, mas está toda derretida.
— Já que eles não vão dormir agora, podemos ver um filme — sugiro,
ajeitando Ana em meus braços.
— Eu escolho dessa vez o que iremos ver — ela diz rapidamente,
porque da última vez, eu que escolhi e acabamos não gostando do filme. Era
de terror e não foi como esperávamos, achei fraco.
— Já tem algo em mente? — pergunto ao sairmos do quarto das
crianças.
— Como Ravi e Ana estão acordados, vamos ver algo mais leve —
decide, assim que chegamos à sala e nos acomodamos no sofá-cama.
— Vou pegar alguns brinquedos para eles e algo para comermos —
falo, deitando a Ana Laura. Mandy faz o mesmo com Ravi e eu aproveito
para beijar a testa dos dois.
— Amor, traz uma barra de chocolate para mim, por favor — pede,
manhosa.
Eu assinto ao me inclinar em sua direção e beijar seus lábios macios.
Jamais pensei que ser pai seria tão bom até me tornar um. Quando
soube que Amanda estava grávida, foi uma explosão de sentimentos. E ao
descobrir que eram gêmeos, quase surtei em dose dupla, mas fiquei feliz,
porque sabia que quem estava me dando uma família era a mulher da minha
vida. A que escolhi para ser a mãe dos meus filhos.
Primeiramente, sempre agradeço a Deus em todos os livros que lanço,
porque sem Ele nada é possível. Obrigada, Senhor, por me ser o meu escudo
em todos os meus momentos ruins e nunca me deixar desistir dos meus
sonhos, esses que foram dados por Você.
Obrigada, Mandy, minha amiga, que mesmo com nossas diferenças,
você continua ao meu lado me apoiando, puxando a minha orelha. Se hoje
este livro chegou até aqui é por ter me ajudado com a betagem, ter se
colocado a minha disposição para me ajudar foi essencial, e eu nunca vou me
esquecer disso. Gratidão, Mandy, são em momentos como esses que nós
descobrimos quem é nosso amigo de verdade.
Obrigada a você, Andrea, minha revisora, que está sempre comigo. Te
admiro muito, você é uma excelente profissional.
Meus agradecimentos vão também para as minhas parcerias do
Instagram. Obrigada pelo apoio, meninas! Em especial, para minha assessora
Vanessa. Muito obrigada por me apoiar sempre nos meus lançamentos, você
é o máximo! Quero agradecer também a você que chegou até aqui e leu a
história de Amanda e Gabriel. Eles são especiais para mim, todos os meus
personagens são, mas gostaria de deixar registrado.
Escrever A Garota do Magnata não foi muito diferente dos outros –
chorei, surtei, quase morri de ansiedade, mas, no final das contas deu tudo
certo, e agradeço isso a todas as pessoas que me apoiaram. E saber que você
se deu a oportunidade para ler este livro me torna uma pessoa muito grata e
feliz.
Jessica Santos nasceu em 22 fevereiro de 2001, na Bahia. Em 2014, surgiu
o gosto pela leitura, e em 2015 para 2016 ela decidiu que escreveria o seu
primeiro romance e não quis mais largar a escrita. Já tem lançado alguns
livros na Amazon, entre contos e novelas, e atualmente está trabalhando na
série Herdeiros da Máfia, um de seus maiores sucessos que vem
conquistando os leitores nas plataformas on-line.
Minha página no Facebook:
https://www.facebook.com/JessicaSantosAutor/
Meu e-mail - autorajessicasantos@gmail.com
Instagram (me sigam lá para saber das novidades de primeira mão!):
https://www.instagram.com/autorajessicadsantos/
ACASO PERFEITO: (LIVRO ÚNICO) Compre aqui:
https://amzn.to/35xifIy
Safira nunca imaginou que tomar umas doses com um cliente bonitão
teria alguma consequência. Mas teve. Uma gravidez.
A jovem se viu encrencada quando as duas linhas no teste de gravidez
apareceram. Ela jamais imaginou que anos depois o reencontraria. Muito
menos que ele era o pai da sua melhor amiga.
Ele continuava o mesmo homem que a seduziu naquela noite. Agora,
ela estava em apuros, guardando o segredo a sete chaves com o mesmo
tremor inquietante que Victor Guterres tem o dom de causar nela.
Victor faria Safira se render, e no processo tentaria não acabar na
cama com ela.
Mais uma vez.
Dois desconhecidos entrelaçados em um acaso perfeito que o destino
fez questão de uni-los. Mas será que o amor será capaz de superar as
mentiras, intrigas e perseguições?

O BEBÊ DO BAD BOY


Para muitos, ele é um bad boy, um filhinho de papai que tem tudo de
mão beijada. Mas por trás de toda a postura rebelde, existe um homem
quebrado que precisa se reinventar todo dia.

Para Alina Martins, uma menina humilde, ele é só mais um garoto rico que
quer brincar com a empregada. Tudo na sua vida ia bem e era feliz, apesar de
não ter o emprego dos sonhos.
Em um dia qualquer, seus destinos se entrelaçam e tudo muda. Então Alina e
Andreo veem todas as suas convicções destruídas.

Ela é certinha e trabalha na casa dele.


Ele é problemático, tatuado, boca suja, safado e filho do homem mais
importante da cidade.
O inesperado poderá unir duas pessoas de mundos completamente diferentes?

KILLZ (Herdeiros da máfia Livro 1) Tudo que um verdadeiro


herdeiro da máfia precisa ter, Killz James Knight tem.
O mais velho de cinco irmãos, Killz é o chefe da máfia londrina, mas
seu maior interesse pelo cargo mais importante nos negócios ilícitos da sua
família não é o poder, e sim um avassalador desejo de vingança. Um lobo em
pele de cordeiro.
É assim que as pessoas que o conhecem o definem. Superficialmente
calmo e apreciador da prática da boa vizinhança. Intimamente. um verdadeiro
monstro autoritário, possessivo e sedento por violência. Para o azar do rival
acusado de matar seus pais e alvo do novo líder dos Knight, pois Killz tem
um plano arquitetado para destruir o temido mafioso e pretende usar sua
filha, a doce e inocente Aubrey, para conseguir o que quer. Custe o que
custar.
De um lado, um homem em busca de vingança. Do outro, uma mulher
alheia às maldades que cercam sua vida. Entre eles, um sentimento
desconhecido para ambos que pode mudar completamente o rumo dessa
história. Em um perigoso jogo de sedução, mentiras e sexo, a máfia inglesa
nunca foi tão excitante.

Acesse meus ebooks na loja: https://amzn.to/3sOXeyR


Table of Contents
Sinopse
Nota da autora
Playlist
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras obras

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