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Copyright© 2022 Laurih Dias

Mansão Eros 02
UM CEO INESQUECÍVEL
1ª Edição
Equipe Editorial:
Capa:
HB Designe Editorial
Diagramação:
Laurih Dias
Revisão Ortográfica:
Luhana Andreoli

°°°

Revisado de acordo com a Nova Ortografia da Língua Portuguesa.


Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Todos os direitos reservados.

É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de


quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. Criado no
Brasil.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.
Índice
SINOPSE
PRÓLOGO
- 01 -
- 02 -
- 03 -
- 04 -
- 05 -
- 06 -
- 07 -
- 08 -
- 09 -
- 10 -
- 11 -
- 12 -
- 13 -
- 14 -
- 15 -
- 16 -
- 17 -
- 18 -
- 19 -
- 20 -
- 21-
- 22 -
- 23 -
- 24 -
- 25 -
- 26 -
- 27 -
- 28 -
- 29 -
- 30 -
- EPÍLOGO -
AGRADECIMENTOS
PRÓXIMO LANÇAMENTO:
UM CASAMENTO PARA O BILIONÁRIO
OUTROS LIVROS DA AUTORA
UM HERDEIRO PARA O MAGNATA
Série Felizes para Sempre
Desvenda-me
Um CEO em meu Destino
SINOPSE

Um CEO amargurado...
Uma mulher magoada...
E uma menininha fofa que pode curar dois corações feridos...

Heitor Augusto Pigozzi é um CEO poderoso. Apesar de vir de uma


família rica, construiu sua própria fortuna. No passado, teve um caso com
Letícia Xavier, a única mulher que conseguiu mexer com ele de maneira
marcante. No entanto, ao descobrir que ela era, na verdade, filha de um
inimigo de sua família e que o estava usando, Heitor não pensou duas
vezes, expulsou-a de sua vida.
Letícia Xavier é uma mulher doce. Devido a uma ameaça e um
coração partido, decidiu ir embora do país, escondendo do homem que
amava que estava grávida. Agora, ela está de volta, e precisa lutar para criar
a filha sozinha. Desesperada, termina por aceitar trabalhar na Mansão Eros,
pois o dinheiro pago é muito bom, e assim ela terá tempo de procurar um
trabalho mais convencional.
Ela só não esperava reencontrar o pai de sua filha, um dos
frequentadores das festas secretas da Mansão, e muito menos sentir seu
mundo desmoronar apenas por imaginá-lo em tais festas.
Será que Letícia conseguirá resistir a um amor antigo e esquecer
todas as humilhações sofridas no passado?
E Heitor, o que fará, agora que descobriu que tem uma filha?
Uma menininha doce e sapeca poderá amolecer seu coração?
Descubra em Um CEO inesquecível e embarque nessa aventura...
“ Todos erram um dia: por descuido, inocência ou maldade.”
William Shakespeare
Prólogo

Heitor Hoje é um dia para esquecer. Ou melhor, eu gostaria


de banir da minha mente o dia em que a conheci. Se eu pudesse, apagaria da

memória tudo o que me faz lembrar aquela mulher. Eu gostaria que os

momentos em que estive com ela em meus braços não fossem tão

memoráveis. Parar isso, estou mais uma vez na Mansão Eros.

Eu quero expurgar todos os seus vestígios. Sou um homem


determinado, sei que vou conseguir. Basta procurar uma, ou até duas
mulheres para foder, e assim tirá-la do meu sistema de uma vez.
Logo que adentro o salão oponente, identifico Caio, um dos meus
melhores amigos, e sorrio, pois mesmo com nossas máscaras, podemos nos
reconhecer.
Ele observa ao redor enquanto bebe seu champanhe. Eu me
aproximo.
— Encontrou a diversão da noite? — pergunto, parando ao seu lado.
Ele então me olha e balança a cabeça, com um sorriso afiado.
— Heitor, eu não curto homens, se pensa em me fazer uma proposta
— responde.
Solto uma gargalhada, jogando a cabeça para trás. Só mesmo o Caio
para me fazer rir.
Eu volto a olhar para ele, que também ri.
— Cara, você perde o amigo, mas não perde a piada — comento,
ainda rindo.
Caio balança os ombros.
— Eu não perderia a oportunidade de sacanear você — diz e volta a
observar as pessoas ao nosso redor.
Estão todos bem-vestidos e usando máscaras, para esconder suas
faces, na ilusão de que não podem ser reconhecidos.
— Você viu o Alexander? — questiono sobre o nosso amigo e dono
do lugar.
Caio acena.
— Acabei de encontrá-lo. Está ali, conversando com o William. —
Eu olho na direção em que ele aponta e posso enxergar nossos outros dois
amigos numa conversa descontraída. Caio sorri. — Vamos até lá dizer um
oi.
Na realidade, eu não estou muito no clima para conversas, quero
mesmo é encontrar uma mulher disposta e transar até perder os sentidos. No
entanto, resolvo seguir o Caio. Um pouco de conversa fiada até que cai
bem.
Nós nos aproximamos, e eu posso ouvir a voz de Alexander.
— A máscara é apenas para dar a ideia de algo secreto — diz para
William, que ri enquanto balança a cabeça.
— Só ideia mesmo, porque eu já reconheci mais de uma dúzia de
pessoas — Caio responde, e os dois olham em nossa direção. — Isso sem
contar que eu reconheci dois deputados — continua, falando baixo, para
que somente nós três possamos ouvir.
— E eu juro ter visto a sogra do meu primo — declaro, entrando na
brincadeira.
Nós rimos. Em seguida, Alexander estende sua taça.
— Aos mosqueteiros e ao sucesso de mais uma festa! — manifesta,
animado.
— Que o Alexander possa sempre nos presentear com suas putarias!
— retribui Caio, com um sorriso.
Alexander o olha como se estivesse ultrajado.
— Meu caro, minhas festas não são putarias, são apenas uma
maneira de fugir da dura realidade. Na verdade, eu só faço uma boa ação —
exprime.
Eu seguro o riso.
— Um brinde ao bom samaritano! — responde William, levantando
sua taça.
Voltamos a rir, então Alexander olha para William.
— Você disse que não vinha, o que o fez mudar de ideia?
Balançando os ombros, William olha em volta.
— Eu não sei. Resolvi vir de última hora. Amanhã viajo para a Índia
para encontrar minha mãe. Eu queria estar com meus amigos antes de ir —
diz.
Eu bato em seu ombro.
— Ver os amigos mesmo... ou participar de algumas das orgias? —
indago com malícia.
— Confesso que eu também não pretendia vir, mas depois do meu
dia hoje, apenas foder uma mulher, sem restrições, pode me aliviar — diz
Caio.
Mal sabe ele que usou minhas palavras, pois meu dia também foi
uma merda.
— Então, meus amigos, o que seria de vocês se não fossem as
minhas festas? — brinca Alexander.
Percebo um homem todo de preto e usando um casaco com capuz,
além da máscara, parar ao lado de Alexander e cochichar em seu ouvido.
Em seguida, o homem se afasta, e noto Alexander com uma cara
amarrada.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, preocupado.
— Um dos convidados ultrapassou os limites. Vocês sabem como a
casa funciona: tudo é permitido, porém, com a autorização do outro. Não é
não! E eu levo isso muito a sério — responde, e percebo como está
contrariado. — Preciso resolver isso, então os deixarei. Espero que curtam a
noite — ressalta, pede licença e se afasta.
Nós três o observamos passar por entre os convidados. Alexander
nem precisa falar nada, as pessoas abrem caminho para ele como mágica.
— Deve ter sido algo sério — comenta William.
— Até mesmo o mais poderoso dos homens tem seus problemas —
comento e bebo um gole do meu champanhe.
Nós três desviamos quando Alexander some das nossas vistas.
— É verdade que aquele seu amigo emburrado se casou? — Caio
pergunta para William, que dá um sorriso.
— Sim, já faz um tempo. Sua esposa, inclusive, terá um bebê a
qualquer momento — conta.
Escondo o mal que suas palavras me causam, pois eu poderia ser
pai, caso fosse verdade a gravidez de Letícia. É melhor mesmo ela nunca ter
engravidado.
Finjo um estremecimento.
— Coitado — falo e avisto uma loira sozinha. Eu já a vi aqui
algumas vezes, mas nunca a levei para um dos quartos. Talvez hoje seja um
bom momento.
— Terminou o projeto do carro novo? — Caio pergunta para
William, mas meus olhos estão na loira.
— O carro? Falta projetar o motor. — Escuto William responder.
Bebo mais champanhe. A loira finalmente olha em minha direção e
sorri. Sua máscara é vermelha, como seu vestido, e ela usa uma aliança de
casamento, porém, não está com a pulseira vermelha, o que me diz que está
disponível para qualquer coisa. Se está aqui, é para se divertir. E, hoje,
depois de encontrar aquela fotografia, que acabou com o meu dia, eu
necessito de uma mulher gostosa e disposta.
Bastou uma foto para me fazer voltar ao passado e lembrar que a
mulher por quem um dia eu pensei sentir alguma coisa era, na verdade, a
filha do meu maior inimigo, a mesma que me enganou. Pois seu pai a usou
para chegar até mim.
E, por isso, eu não vou permitir que ela estrague o meu dia. Ou até
mesmo a minha vida. Eu aprendi uma lição. Nunca confiar em ninguém.
Hoje, sou um solteiro convicto, e estou mais do que feliz com a vida
que levo.
Peço licença aos meus amigos e sigo em direção à loira, que sorri,
olhando-me dos pés à cabeça. Eu me aproximo dela, elevo uma mão e toco
no bico de seu seio através do tecido do vestido. Percebo sua excitação.
— Quero muito foder esta noite — falo de maneira direta, e ela
passa a língua entre os lábios.
— Então encontrou a mulher certa — responde com voz melosa.
Eu sorrio.
— Veio sozinha ou acompanhada?
Ela ri, então passa o dedo pelos botões da minha camisa.
— Meu marido foi se divertir com um velho conhecido, mas eu não
quis participar desta vez, preferi ficar aqui e ver se algo interessante surgiria
— conta.
— Então, encontrou algo do seu interesse? — pergunto e aperto seu
seio.
Ela morde o lábio de maneira sedutora.
— Está bem aqui, na minha frente — diz, a voz abafada.
Dou um sorriso de lado, desço minha outra mão, deslizo os dedos
por sua coxa e subo até tocar sua boceta, então percebo que ela está
totalmente despida.
— Não vamos esperar mais, vem comigo! — comando e a conduzo
para uma das suítes da Mansão.
Três horas depois, deixo a Mansão Eros. Eu fiz sexo como um
alucinado com a loira. Outra mulher se juntou a nós em seguida. Eu fodi
aquelas duas até deixá-las exaustas. Eram boas e topavam de tudo, posso
afirmar que a noite foi bastante promissora.
Aperto o volante e tiro a máscara quando estou passando pelos
portões da Mansão, então pego a via que leva até minha casa.
Quem estou tentando enganar?
Afinal, nem mesmo ter duas mulheres à minha disposição me fez
esquecer aquela infeliz. E isso me faz odiá-la ainda mais.
Ainda bem que eu nunca mais irei vê-la.
- 01 -
Um ano depois.

Heitor Leio um relatório, quando Edna, minha assistente,

entra em minha sala.

— Senhor, sua mãe está na recepção.


Ela atravessa a sala e deposita um envelope lacrado em cima da
minha mesa. Arrasto a cadeira para trás e me levanto, fazendo um
alongamento. Sinto minhas costas doerem, por estar há muito tempo na
mesma posição.
— Peça à minha mãe que entre — demando e olho para o envelope,
franzindo a testa. — O que é isso?
Edna me olha.
— Um mensageiro o entregou, disse que o senhor estava no aguardo
desse documento — informa.
Balanço a cabeça, lembrando-me do que se trata. Deve ser a
documentação da lancha que pretendo comprar.
Pego o envelope e leio o nome do remetente, confirmando que estou
certo.
— Tudo bem, eu leio em casa — comento, colocando o documento
em minha maleta. — Por favor, Edna, não deixe minha mãe esperando.
Minha assistente se retira, e logo observo minha mãe entrar,
elegante como sempre. Eu a recebo no meio da sala com um sorriso.
Ela me abraça.
— Estou atrapalhando? — pergunta.
— A senhora nunca atrapalha — digo e a conduzo até o sofisticado
sofá preto que tenho na lateral da sala. — Mas estou surpreso, o que faz
aqui?
Ela se senta, e percebo seu semblante entristecido. Eu tenho meu
palpite, mas deixo que ela fale.
Minha mãe tem as mãos trêmulas e olha para baixo.
— Seu pai... — começa, então se põe a chorar.
Eu já desconfiava. Sento-me ao seu lado e a abraço.
— Mãe, por que a senhora não o deixa de uma vez? Venha morar
comigo — insisto.
Ela funga, então se afasta e tenta sorrir. Mas seus olhos estão tristes.
— Seu pai é nervoso, é perfeccionista, tem lá seus momentos... E ele
anda muito preocupado com os negócios, parece que a empresa vem
passando por dificuldades, e seu irmão não tem o mesmo tino para os
negócios que você.
Eu me levanto do sofá e olho para minha mãe com revolta.
— Pare de defendê-lo, mãe! A senhora não precisa passar por essa
humilhação. Entenda que o papai não irá mudar — assevero.
Seus ombros caem e ela olha para as próprias mãos, que apertam sua
bolsa.
— E se você voltasse para a empresa? Não para ficar, afinal, você já
tem o seu próprio negócio...
Eu nem permito que ela continue a falar, logo nego com a cabeça.
— Não, isso está fora de cogitação. A senhora sabe que o papai e eu
divergimos em tudo. E ele não aceita uma opinião diferente da dele —
afirmo.
Porém, esse não é o único problema. Acontece que meu pai não é o
melhor dos homens. Ele é capaz de algumas maldades para conseguir o que
quer, eu senti isso na pele, quando ele deixou que eu me envolvesse com
uma pilantra apenas para provar um ponto. Além de tudo, ele gosta de
dominar todos à sua volta, e eu não estou aqui para ser mais um de seus
fantoches.
Eu me agacho em frente à minha mãe e seguro suas mãos. Sinto
pena dela, pois atura muita coisa, e me dói ver como meu pai a trata. Seu
olhar melancólico se prende ao meu.
— Mãe, por que a senhora insiste em ficar ao lado desse homem? —
Eu não consigo entender essa devoção.
— Esse homem é o pai dos meus filhos — murmura.
Balanço a cabeça.
— E só por isso tem que viver nesse inferno? Tirando o Pedro
Henrique, que é o único que vive sob o mesmo teto que vocês, mesmo
sendo um homem adulto... — aponto, referindo-me ao meu irmão do meio,
que, infelizmente, herdou o temperamento do papai e pouco se importa com
a nossa mãe. — Seus filhos já estão encaminhados. A Amanda é bem-
casada e mora fora do país, e eu trilhei meu próprio caminho.
Minha mãe dá um sorriso entristecido e passa a mão em meu rosto
carinhosamente.
— Eu me casei com ele e o amo. Você deveria estar feliz —
comenta.
— Feliz? Com a senhora sendo tratada desse jeito? — pergunto,
soltando um assobio. — Desculpe-me, mamãe, mas eu não posso estar feliz
com isso.
Eu me levanto, e ela faz o mesmo, então me abraça pela cintura.
— Não tenha raiva dele, meu filho — pede, e eu seguro seus ombros
com carinho. — Esqueça o que falei sobre voltar, foi uma ideia boba.
Eu suspiro e beijo sua cabeça. Não adianta conversar com a minha
mãe. Embora eu me revolte com a situação, devo aceitar. É ela quem
precisa querer sair desse casamento.
Dou um passo para trás e esfrego seus braços, então sorrio.
— A senhora quer um café? — pergunto.
Ela nega e coloca a bolsa no ombro.
— Não, eu só passei aqui para te ver. Eu não quero mais tomar o seu
tempo — diz e me olha novamente. Sinto como se quisesse falar algo mais.
Porém, ela apenas dá um sorriso e volta a me abraçar. — Eu te amo, meu
filho. — Minha mãe se afasta e, quando chega à porta, olha para trás. —
Esperamos por você no almoço de domingo — lembra, só então se retira.
Solto um bufo e volto para a minha mesa. Ainda tem isso. Preciso
cumprir a promessa que fiz a ela e ir almoçar ao menos uma vez a cada dois
meses com a família. Eu só faço esse esforço por ela.
Antes de voltar a me concentrar no trabalho, envio uma mensagem
para Alexander confirmando a minha presença na festa da Mansão. Pensei
em declinar o convite, pois o vazio que sinto após sair dessas festas vem me
consumindo. Eu não vou negar que a liberdade de poder extravasar é
atrativa. E todas as vezes que vou aos eventos da Mansão Eros, eu me
divirto muito, aproveito tudo o que me é oferecido. O grande problema é
quando tudo termina.
Eu sempre volto para casa como se tivesse cometido um grande
erro. Chego a me sentir culpado, quando sei que não fiz nada de errado. Eu
sou um homem livre, e nunca forcei nenhuma das mulheres que estiveram
comigo a fazer nada.
Levanto-me da cadeira, atravesso a sala até o carrinho de bebidas e
me sirvo de uma dose de uísque. Eu não costumo beber enquanto estou na
empresa, mas hoje preciso de algo forte, pois estou com uma sensação
estranha que não me deixa relaxar.
Bebo o líquido forte de uma só vez. O amargor desce por minha
garganta causando um tremor em meu corpo. Coloco o copo de volta à
bandeja e solto uma risada. Olho para o lado de fora do edifício através da
parede envidraçada.
Droga! Por que estou me sentindo assim, tão melancólico? Eu não
tenho motivos para estar com esta sensação de desprazer.
Levo uma das mãos até a nuca e a aperto, a fim de aliviar a tensão.
Então, sacudindo a cabeça, volto ao meu lugar e abro o e-mail com um
relatório enviado pelo departamento financeiro. O que eu preciso é ocupar
minha mente, assim, provavelmente, este desconforto passará.
E isso não tem nada a ver com a visita repentina de minha mãe, pois
eu venho me sentindo desta maneira já faz algumas semanas. Talvez possa
ser o fato de Alexander ter revelado sobre um possível inimigo estar
querendo prejudicá-lo, podendo querer afetar seus amigos mais próximos. E
eu sou um desses amigos.
Somos quatro, na verdade. Caio, William, Alexander e eu. Nós nos
intitulamos de os quatro mosqueteiros. Somos mais que irmãos, não
escondemos nada um do outro, e ao descobrir que alguém se infiltrou na
Mansão e adulterou os preservativos com o intuito de lesar os negócios de
Alexander, fiquei preocupado, eu não vou negar. Ainda mais que William
foi o maior, talvez o único, afetado por esse agravo, pois engravidou uma
desconhecida na festa da Mansão.
Dou uma risada seca ao me lembrar de William. Em seu lugar, eu
estaria soltando fumaça e querendo descobrir o filho da puta que fez essa
maldade. Porém, meu amigo, ao que tudo indica, está feliz com a
paternidade. E embora não tenha falado nada, eu sei que está caidinho pela
dama que carrega seu rebento.
Eu só espero que ele saiba o que está fazendo e não esteja cego de
amor. Amor... Essa palavra me dá arrepios. Eis aí um sentimento em que eu
não acredito. Até quando comecei a me envolver com a Letícia, há alguns
anos, eu não acreditava muito em sentimentalismo. E depois que eu
descobri a salafrária que ela é, essa certeza só se reforçou.
Fecho os olhos e sacudo a cabeça com força, então tento prestar
atenção ao e-mail, pois todas as vezes que penso nela, meu humor muda
para pior. Esta é uma coisa que lamento: não poder esquecê-la de uma vez.
São três anos sem vê-la. Três anos em que mergulhei no trabalho e me
dediquei aos negócios, tornando-me um dos homens mais ricos do país.
Três anos saindo com mulheres aleatórias, participando de todas as festas da
Mansão. E apesar de todo o meu esforço, eu não sou capaz de tirá-la da
minha mente.
A porta da sala se abre. Ergo o olhar para a minha assistente, que
entra no escritório carregando alguns documentos.
— O que é isso? — pergunto, mal-humorado.
Ela, já acostumada com as minhas mudanças de humor, sorri
pacificamente e coloca os papéis sobre a minha mesa.
— São os últimos cálculos enviados pelo senhor Dionísio —
informa, referindo-se ao meu gerente do departamento de compras.
Pego o maço e leio superficialmente, então o jogo de volta à mesa
sem o menor cuidado.
— Acho que ele perdeu o último memorando sobre evitar
impressões desnecessárias — reclamo, voltando a olhar para o meu
notebook. — Isso vale para a senhora também.
— Pois não, senhor — responde Edna, contida. Volto a olhar para
ela, que tem a expressão serena. — Deseja mais alguma coisa, senhor
Pigozzi?
Respiro fundo e desvio o olhar. Edna consegue me deixar
desconcertado. Ela trabalha para mim desde que eu adquiri esta empresa,
que estava indo à falência. Edna já trabalhava aqui, com o antigo dono, que,
pelo que dizem, era uma pessoa difícil. No início, eu pensei em dispensá-la
e contratar uma assistente mais jovem e com mais experiência em relações
exteriores. Porém, com o tempo, notei que sua eficiência e experiência me
seriam mais úteis. Eu não sei se outra assistente suportaria o meu
temperamento.
— Obrigado, Edna, eu não preciso de mais nada — respondo.
Ela se retira, e eu tenho vontade de socar alguma coisa. Então,
desisto de ler o maldito e-mail e verifico meu telefone, querendo saber se
Alexander leu a minha mensagem. Vejo um ok dele e sorrio.
Quem sabe assim, depois de um pouco de devassidão, eu consiga
relaxar?
Minha cabeça anda tão perturbada que, enquanto eu converso com
Caio, antes de entrar no salão principal da Mansão, uma funcionária me
chama atenção. Eu não pude vê-la de frente, pois só a vi correndo até o
banheiro, mas o modo como se moveu e a cor de seus cabelos me fizeram
lembrar a Letícia, e isso foi o suficiente para estragar minha noite.
Caio bate em meu ombro, chamando minha atenção, e eu volto a
olhar para ele. Percebo que meu amigo me olha com curiosidade, nem a
máscara esconde sua fisionomia irônica.
— Viu alguém conhecido? — pergunta.
Sacudo a cabeça.
— Estamos disfarçados, não tem como reconhecer ninguém — digo,
rindo, pois sabemos que a maioria aqui não se preocupa em se esconder.
Ele ri, jogando a cabeça para trás.
— Claro, como eu poderia esquecer... Eu nem sei como o reconheci
— brinca.
Olho novamente para a porta do banheiro e vejo quando uma ruiva
entra, após sorrir para o homem que a acompanha. Franzo a testa.
— Aquele é o William? — pergunto.
Caio então olha para onde aponto e sorri.
— Sim. Fiquei sabendo que ele viria com a tal ruiva misteriosa.
Entretanto, nenhum dos dois vai participar de nada. Acho que vieram só
para olhar — responde, animado, e os convidados começam a se mover
para a entrada do grande salão.
Eu aceno.
— Ele deu sorte. E eu que pensei que ele não viria mais — comento.
— Pois é. Mas nós não temos restrições, então vamos aproveitar —
fala batendo em meu ombro e some no meio dos convidados.
Eu vou direto para o bar. Olhando em volta, percebo as mudanças.
Alexander se superou. Estou me sentindo num castelo medieval. Um tanto
sombrio, mas o lugar é muito ostentoso.
Sento-me no banco, e duas mulheres se aproximam. Olho para
ambas e sorrio.
— Procurando diversão? — Uma delas pergunta enquanto alisa
minha perna, bem perto do meu pau.
Olho dela para a amiga, então me lembro de ter fodido as duas em
uma festa anterior.
Sorrio e pego uma taça de champanhe. Eu odeio champanhe, gosto
de bebidas mais fortes. Mas Alexander segue a tradição de servir apenas
champanhe no início das festas. Só libera outras bebidas algumas horas
depois.
— O que vocês sugerem? — pergunto, dando um gole na minha
bebida. Com a outra mão, deslizo pelas pernas da mulher à minha esquerda
e levo meus dedos até a barra de sua calcinha. Ela rebola, e sua amiga dá
um leve aperto no meu pênis.
— Que tal irmos a uma das suítes e eu te mostro o que podemos
fazer? — responde a mulher com a mão no meu pau. Noto que ela é a mais
atrevida.
Eu sorrio, coloco a taça de champanhe em cima do balcão e me
levanto. Então, olho para a entrada do salão e vejo novamente a tal
funcionária. Ela cochicha com um dos seguranças. Ele acena, então ela se
retira, sumindo da minha visão.
Alguma coisa dentro de mim esfria.
— Então, vamos? — pergunta a mulher.
Olho para as duas e não tenho a mínima vontade de seguir em
frente. Já faz um tempo que eu me sinto assim. E nada é capaz de me tirar
desse descontentamento. Nem mesmo um ménage me atrai, pois de nada
adianta. Eu tenho que aceitar que transar sem sentido não pode expulsar
meus demônios. O prazer é passageiro, e o que vem depois é uma sensação
de insatisfação e tortura.
Dou um passo para trás.
— Acredito que hoje eu não seja o parceiro ideal — respondo e saio
apressado do salão.
No hall, olho para todos os lados, em busca da funcionária. Eu sei
que não é a Letícia. Ela jamais estaria num lugar como este. Ela sequer
precisa trabalhar, pois tem tudo de mãos beijadas daquele infeliz do pai
dela.
Solto um xingamento e afrouxo minha gravata. Sinto-me sufocado.
Com passos largos, saio da Mansão e desço as escadarias que levam ao
estacionamento. Entro em meu carro e ligo o motor imediatamente. Com
rapidez, dou partida e arranco minha máscara.
Eu pensei que esta noite seria prazerosa, que meu humor pudesse
melhorar, mas estou com mais raiva do que já estive.
Será que essa mulher, mesmo distante, sempre perturbará o meu
juízo? E por que, sempre que penso nela, sinto este aperto no coração? É
como se eu fosse o culpado de alguma coisa, quando, na verdade, foi ela
quem me enganou.
São três anos de agonia, que nunca parece passar.
- 02 -

Letícia
Minha cabeça dói. Enquanto o automóvel se desloca, eu fecho os
olhos, uma tentava de aliviar a dor.
— Chegamos, senhora — informa o motorista da van, responsável
por levar alguns dos funcionários para casa após as festas.
Eu abro os olhos e reconheço o prédio do meu irmão. Sorrio e olho
para o motorista.
— Obrigada. — Saio da van e entro no prédio.
O porteiro me cumprimenta, e eu aceno em resposta. Entro no
elevador e aperto o botão, então me encosto ao espelho, jogando a cabeça
para trás, e fecho os olhos enquanto o elevador sobe. Meu coração parece
sangrar dentro do peito, é como se minha alma estivesse adoecida. Eu
queria arrancar de dentro de mim toda a tristeza e dor que sinto, pois não
posso me dar ao luxo de ficar me lamentando.
Eu preciso focar em ofertar à minha filha, a razão da minha vida,
tudo aquilo que ela necessita. Dou um sorriso triste ao me lembrar da minha
pequena Geovanna. Ela é a minha luz. Eu sei que tudo é muito mais difícil
quando se tem uma criança que depende totalmente de você, mas ela me dá
forças para seguir em frente. E, devo admitir, muitas vezes eu pareço
precisar mais dela do que ela de mim.
O elevador apita e eu saio, tirando a chave da bolsa. Abro a porta do
apartamento bem devagar, pois certamente todos estão dormindo. Olho pela
sala, o dia praticamente amanhece. Tiro os sapatos, tranco a porta e vou
para a cozinha beber um copo d’água.
— Bom dia, minha querida! — Escuto a voz de Leandro, meu
irmão. Olho para ele, que tem cara de sono. Ele estreita o olhar. — Jesus,
Letícia! Você parece péssima. Aconteceu alguma coisa no trabalho?
Bebo minha água, coloco o copo dentro da pia e cruzo os braços,
encostando-me à bancada.
— Estou com dor de cabeça — respondo em voz baixa e olho para
meus pés. — Eu o vi — sussurro.
— O quê? Não entendi — diz, confuso.
Eu suspiro e olho para o meu irmão.
— Eu vi o... o pai da Geovanna — revelo num fio de voz.
Leandro arregala os olhos, agora parece totalmente acordado. Ele
coloca uma mão no coração.
— E como foi isso? Vocês se falaram?
Sacudo a cabeça em negativa.
— Não. Ele nem me viu. Tratei de ficar longe dele — conto, os
ombros caídos.
Meu irmão dá um sorriso triste e se aproxima, então acaricia meu
rosto.
— Ele era um dos convidados da Mansão? — Eu aceno e, apesar do
meu esforço, sinto uma lágrima passar pelo meu rosto. Leandro me abraça,
e eu encosto a cabeça em seu peito. — Minha querida, eu odeio te ver sofrer
dessa maneira. Tenho vontade de socar a cara dele por ser tão cabeça-dura
com você.
Eu tento rir. Chega a ser engraçada a imagem do Leandro socando a
cara do Heitor. No mínimo, ele teria que providenciar uma escada para
conseguir chegar tão perto.
— Eu não imaginei que vê-lo seria tão doloroso, ainda mais sabendo
o que faria naquela festa — confesso.
Deixo que Leandro me console. Foram tantas as vezes que meu
irmão me consolou que eu já perdi as contas.
— O que houve? Alguém morreu? — Aluísio, o marido de meu
irmão, entra na cozinha. Apesar de eu não estar o enxergando, posso
imaginar sua fisionomia melodramática.
Leandro, ainda me mantendo em seus braços, vira-se para ele. Então
vejo Aluísio, preocupado e com a mão no coração, observando a nós dois.
— Pior do que isso, Alu — diz Leandro, usando o apelido carinhoso
pelo qual trata seu amado. — Nossa Letícia viu o sujeito — conta, e como
Aluísio não entende, ele explica.
Eu me afasto do meu irmão e respiro fundo.
— Chega! Eu não posso ficar assim. Algo do tipo poderia acontecer
a qualquer momento. Ainda bem que eu não frequento os mesmos lugares
que ele, e com certeza não o encontrarei novamente — declaro.
Os dois me olham.
— Querida, se ele frequenta as festas da Mansão, isso pode
acontecer de novo, afinal, você trabalha lá — aponta Aluísio.
— Pensei exatamente isso — completa Leandro.
Dou um sorriso sem vontade e coloco as mãos na cintura, olhando
de um para o outro.
— Eu não trabalho no salão principal, e sim na cozinha, onde são
preparados os aperitivos. Eu só o vi hoje porque saí do meu posto, mas isso
não vai acontecer de novo — asseguro, porque eu não quero encontrá-lo de
modo algum. — E, como já disse antes, eu não vou trabalhar na Mansão por
muito tempo, estou à procura de outro emprego.
Leandro acena.
— Mas lá paga bem, e você tem como ficar com a Geovanna, já que
só precisa trabalhar uma vez no mês e comparecer às reuniões que o
mafioso, dono do puteiro, faz questão de ter com os funcionários — conclui
Aluísio.
Eu começo a rir.
— Ele não é mafioso, eu só disse que ele se parece com um. E eu
não trabalho num puteiro — digo e dou um tapa em seu braço.
— Para mim, aquilo não passa de puteiro de grã-fino — contesta
Leandro.
Eu sei que os dois estão apenas tentando me fazer rir, e conseguem.
Balanço a cabeça e olho para eles.
— Obrigada por me acolherem e tornarem minha vida menos tensa
— declaro, ficando séria, e ambos têm os olhos brilhantes. Pego a mão de
Leandro e faço o mesmo com Aluísio. — Se não fossem vocês, eu não sei
como seria a minha vida com Geovanna. E eu tenho ciência do quanto nós
duas afetamos a rotina de vocês.
— Pare de falar bobagens, vocês só nos trazem alegria! — Leandro
fala com voz quase embargada.
— Vocês são parte de nós, minha querida — Aluísio diz e beija
minha testa.
Eu arranho a garganta.
— Vamos parar com esta conversa emotiva — sugiro, dando um
passo para trás. — Agora, me digam, a Geovanna deu muito trabalho depois
que eu saí? — questiono, pois minha filha estava elétrica na noite passada.
Aluísio ri, é nítido como ele adora a minha pequena, e isso me dá
um grande alívio.
— Nós brincamos por uma hora e logo ela dormiu, te falamos
quando ligou ontem à noite — Leandro aponta.
— E você, por que não aproveita para descansar? Ela deve dormir
por mais umas horinhas — recomenda meu cunhado.
— Sim, vou tomar um banho e tentar descansar — respondo.
Sorrio para os dois e vou para o quarto que divido com Geovanna.
Percebo que um dos meninos passou a noite aqui, pois minha cama está
remexida. Olho para a minha pequena princesa, vou até sua cama e me
abaixo para dar um leve beijo em sua testa. Inspiro seu cheiro tão delicioso
com os olhos fechados.
— Mamãe te ama! — sussurro e me afasto.
Pego uma roupa e, depois de tomar meu banho, volto para o quarto e
me deito. Eu não sou capaz de dormir de imediato, pois não consigo
esquecer Heitor. Após vê-lo, as lembranças voltaram, e eu revivo o
momento em que todos os meus sonhos se desfizeram.

Três anos antes...


Olho para o teste de gravidez em minha mão e, entre lágrimas,
sorrio. Eu não tinha planos de engravidar, Heitor e eu começamos a nos
relacionar há poucos meses e sempre nos prevenimos. Menos no dia em que
ele chegou de uma longa viagem e sequer esperou chegarmos ao seu
apartamento. Eu me lembro com divertimento desse dia, pois estávamos tão
sedentos um pelo outro que terminamos por fazer amor dentro do carro.
Aliso minha barriga e sorrio. Com certeza foi nesse dia que esta
criança foi concebida. Subo o olhar até o espelho e vejo meu reflexo. Estou
em êxtase, pois espero um filho do único homem que já amei. Porém,
Heitor e eu nunca conversamos sobre o futuro, muito menos sobre filhos.
Como será que ele vai reagir? Respiro fundo, tenho certeza de que tudo
ficará bem. Heitor vai ficar feliz com a notícia. Acredito que sente por mim
o mesmo que sinto por ele.
Alguém bate forte à porta e eu dou um pulo, assustada.
— Letícia, preciso falar com você! — Meu coração se aperta. É meu
pai.
Ele não pode saber sobre a gravidez, não por enquanto.
— Já vou, pai — respondo e olho de um lado para o outro. Preciso
esconder essas coisas, antes que ele veja.
Meu pai praticamente esmurra a porta, e a sacola da farmácia cai
da minha mão. Merda! O que acontece com ele?
— Eu não tenho o dia todo, porra! — xinga.
Meu coração bate forte. Boa coisa não vem por aí. Ele vinha me
ignorando, como sempre, o que estava ótimo, pois meu pai não é uma das
melhores pessoas do mundo, mas do nada pareceu perceber que eu existo.
Abro o armário e enfio tudo dentro dele, no meio das toalhas.
Meu pai espanca a porta mais uma vez. Para disfarçar, dou
descarga, então abro a porta e o encaro.
— Desculpe-me, eu estava usando o...
— Não me interessa, venha até a sala — diz, cortando-me, e se vira.
Eu respiro fundo e o sigo.
Na sala, ele vai direto até a mesa, pega um envelope pardo e tira
algumas coisas de dentro. Eu paro, distante dele, e cruzo os braços. Tento
esconder minha aflição.
— O senhor quer falar comigo? — pergunto em voz baixa.
Meu pai balança a cabeça e me olha com raiva.
— Quantas vezes você já me ouviu dizer o quanto odeio a Família
Pigozzi? Que eles, todos eles, foram os responsáveis pela desgraça que me
acometeu? — questiona, cheio de ódio, e eu não sei aonde ele quer chegar.
Balanço os ombros. Eu nunca soube de fato o que aconteceu entre
meu pai e essa família, só sei que eles se odeiam.
— Muitas vezes, pai — respondo.
Ele dá uma gargalhada sinistra, então para e volta a me olhar.
— Hoje eu estive com Félix Pigozzi. Ele fez questão de me procurar
e rir da minha cara, dizendo que minha filha é uma puta, assim como a mãe
— expressa. Engulo a seco. Eu não consigo acompanhar meu pai.
Será que ele fala da Lia? Coitada da minha irmã mais velha se deu o
azar de se envolver com aquela família.
Lembro-me da minha pobre mãe dizendo que não sabia quem era
mais cruel, meu pai ou eles.
— A Lia está longe, pai. Esse homem deve estar inventando coisas
— concluo.
Ele ri novamente e dá um passo em minha direção, segurando
papéis que retirou do tal envelope.
Meu pai para. Eu estremeço. Ele está com raiva, e eu sou a única
pessoa à sua frente. Penso no meu bebê e oro para que ele não faça nada.
Eu deveria ter ficado calada.
— Sua idiota! Ele não está inventando nada! Esfregou estas fotos
na minha cara, sua vadia! — esbraveja, jogando em cima de mim o maço
de papel.
Eu olho para as fotografias e tremo ao ver minha própria imagem
com Heitor. Na verdade, são várias situações diferentes. Algumas até bem
íntimas. Levo uma mão à boca.
— Como? — pergunto, sem entender.
Será que Heitor mentiu ao dizer seu nome?
— Eu nunca imaginei que pudesse ver isso... Minha filha sendo puta
de um Pigozzi...
Eu quero chorar, mas me seguro.
— Esse homem... eu conheci na faculdade. Ele se chama Heitor, não
Félix. — Eu já não consigo raciocinar direito, pois sempre imaginei o tal
inimigo do meu pai como um homem mais velho.
— Sim, Heitor Pigozzi, um homem tão imundo quanto o pai! —
exprime, enojado.
Olho para uma imagem em particular. Como esta foto foi tirada? Eu
estou sentada no colo de Heitor, em sua sala de estar, usando uma de suas
camisas. Será que ele sabe disso? Ou algum funcionário tirou esta foto às
escondidas? Eu não posso acreditar que o Heitor está por trás disso, ele não
pode ser tão baixo.
Eu nego, gesticulando a cabeça.
— Deve haver algum engano, o Heitor...
— Cale essa boca, sua imbecil! É nítido que esse homem a usou e
riu de você —ruge. Noto que ele aperta a mão em punho e solta um
xingamento. Então, com o dedo em riste, chega ainda mais perto. — Você
não vai mais ver esse filho da puta! Se eu souber que você voltou a
encontrá-lo, sabe o que vai acontecer.
Sinto meu corpo tremer e busco por ar.
— O-o que o senhor...?
Seu olhar destila ódio. E o sorriso que dá é ainda pior, é diabólico.
— Eu não tenho mais nada a perder, uma morte a mais nas minhas
costas... não fará diferença — murmura. Seus olhos viajam pelo meu corpo
de cima a baixo e ele cospe no meu rosto. — Eu tenho nojo de você!
Meu pai se afasta, então eu solto o ar que prendia nos pulmões.
Elevo a mão, seco meu rosto e deixo as lágrimas descerem. Eu sei que meu
pai é perigoso, meu irmão e minha irmã desconfiam de que ele seja o
grande culpado pela morte de nossa mãe, embora ele diga que ela morreu
por causa do Félix.
Volto a olhar para a imagem, Heitor está com a mão no meu cabelo
e me olha com admiração. Eu não acredito que ele seja como o pai.
Respiro fundo e decido procurá-lo. Eu confio nele, contarei a
verdade, Heitor dará um jeito. Eu sei que não vive com os pais, ele nunca
me contou detalhes, porém, entre um comentário e outro, deixou escapar
que não se dava bem com o pai, pois tinham pensamentos diferentes.
Quando me contou, eu não quis perguntar muito, afinal, eu mesma não
queria falar sobre o meu próprio pai.
Mas agora é diferente. Nossas famílias têm uma ligação, e tem a ver
com a minha mãe, que foi a grande vítima dessa briga entre os nossos pais.
Eu não sei de toda a história, pois minha mãe não falava do assunto,
enquanto meu pai só amaldiçoava e nunca revelou nada. Mas nós não
podemos deixar que isso nos afete.
Eu suspiro e olho através da janela. O que sentimos é mais forte do
que qualquer desavença. E ainda temos um bebê, o fruto do amor que
sentimos, pois eu tenho certeza de que Heitor me ama. Ele não me
abandonará.
Confiante, caminho até o quarto que eu dividia com Leandro antes
de ele ser expulso de casa pelo nosso pai, depois de descobrir sua
orientação sexual. Olho para a cama onde ele costumava dormir e dou um
sorriso triste. Eu queria meu irmão aqui, comigo. Em nossa última
conversa, eu soube que Leandro está prestes a alugar um apartamento, e
garantiu que logo me levará com ele.
Sacudo a cabeça e me sento em minha cama. Pego o telefone e
envio uma mensagem para Heitor. Digo que preciso conversar com ele
ainda hoje. Então, deixo o celular de lado e me deito, aguardando a
resposta do homem que se tornou o dono do meu coração...

Ouço um barulho e me viro, só para ver minha filha virar de bruços


na cama. Eu sorrio, então bocejo, voltando a ficar triste. Naquele dia, que
começou perfeito, com a notícia de que eu teria um filho do homem que
amava, o homem que eu confiava de olhos fechados, foi o dia em que todos
os meus sonhos foram destruídos. Foi o dia em que eu descobri que esse
mesmo homem me odiava. Ele preferia a morte a ficar ao meu lado. E eu
ainda precisei abrir mão de tudo, precisei mentir. Porque, apesar de tudo, eu
só queria o melhor para ele. Eu não podia deixar que outra tragédia
acontecesse em minha vida.
Eu já havia perdido a minha mãe de maneira desastrosa, não podia
arriscar a vida do Heitor. Não valeria a pena, afinal, ele nem mesmo
acreditaria em mim.
Fecho os olhos e durmo, ainda com as lembranças em minha mente.
Eu desejava não sentir esta dor no peito todas as vezes que penso nele. Eu
queria ser forte e poder seguir em frente como se não faltasse um pedaço de
mim. Queria pensar no Heitor apenas como um caso passageiro que nada
significou. No entanto, eu não consigo. Nem mesmo a distância, a fim de
esquecê-lo, ajudou. E olhar todos os dias para a Geovanna não ajuda, já que
a menina é muito parecida com o pai.
Respiro forte e rogo para não voltar a vê-lo. Meu coração não
aguentaria esse baque.
- 03 -

Heitor
Passaram-se alguns meses desde que minha mãe esteve na empresa.
Eu cheguei a vê-la duas vezes depois daquele dia, ambas no teatro de
almoço em família. Porém, da última vez, o referido almoço, que mamãe
vinha fazendo questão de se tornar uma tradição, não terminou bem, já que
meu pai não sossegou enquanto não estragou tudo.
Eu apenas saí de lá e, pedindo desculpas à minha mãe, disse que não
voltaria mais àquela casa.
Mamãe, depois disso, tentou me convencer a mudar de ideia, mas eu
não voltei atrás. Assim, todo mês ela tira um dia para almoçar comigo.
Agora mesmo terminamos nossa refeição e estamos apenas aguardando a
conta. Ela me olha e segura minha mão por cima da mesa.
— Você parece cansado, filho — comenta e me lança um sorriso
doce.
Respiro fundo e também seguro sua mão.
— Estamos trabalhando no desenvolvimento de um novo aplicativo,
e os testes costumam nos deixar tensos — respondo.
Minha mãe dá um sorriso melancólico.
— Desde o instante em que descobriu a verdade sobre aquela
garota, você mudou — diz e me observa com cuidado.
Retiro minha mão da sua e vejo o garçom se aproximar. Pago a
conta e ele se afasta, então olho para minha mãe.
— A senhora sabe que eu não gosto de falar sobre isso. É passado.
Ela balança a cabeça, negando, e tem o olhar atento.
— Será que é passado mesmo, Heitor? — indaga.
Eu me levanto e estendo a mão. Sinto-me sufocar, mas procuro agir
como se falar dela não me afetasse.
— Sim, é passado. Vamos, mamãe! Preciso voltar para a empresa.
Saímos do restaurante e paramos na calçada. Minha mãe me olha e
dá um sorriso.
— Que bom que você a superou, meu filho. Aquela família só nos
trouxe desgraça — murmura com tristeza.
Até hoje eu não sei qual é o motivo de toda essa discórdia. Mas é
alguma coisa séria, que tem a ver com o pai de Letícia e o meu pai. No
entanto, o cara também se tornou meu inimigo, é do meu conhecimento que
ele tentou muitas vezes me prejudicar, com o intuito de atingir meu pai. Mal
sabe ele que meu pai pouco se lixa para o que pode acontecer comigo.
Beijo a testa de minha mãe.
— Adorei o almoço, mamãe — pronuncio, sem dar a ela a chance
de prolongar o assunto.
Minha mãe acena, e eu a conduzo até o motorista, que a aguarda.
Deixo que se acomode no banco de trás, então ela me olha com carinho.
— Não se mate de trabalhar, meu filho — pede.
Balanço a cabeça e fecho a porta. Espero na calçada até que o carro
se afaste e respiro fundo. Verifico o relógio e lembro que devo voltar logo
para a empresa, para conseguir sair mais cedo, pois hoje é o jantar na casa
do William, em comemoração ao seu casamento com a Emilly.
Como a empresa fica a apenas alguns quarteirões, decido caminhar
um pouco, assim consigo colocar as ideias em ordem. Eu não menti para a
minha mãe quando disse que estou trabalhando bastante no
desenvolvimento de um novo aplicativo. No entanto, é um tipo de trabalho
que me dá certo prazer. Por ser um produto ainda em desenvolvimento, não
foi oferecido ao mercado, o que me dá folga para fazer tudo com muita
perfeição.
De fato, minha mãe tocou num ponto bastante relevante ao comentar
sobre o passado. Afinal, um dos motivos pelo qual eu sou tão focado no
trabalho é Letícia. Ou melhor, a decepção que eu sofri com aquela mulher.
Chego à empresa e sigo direto para o escritório. Passo por Edna, que
está digitando em sua mesa, e pergunto se está tudo sob controle. Diante de
sua afirmativa, caminho até a mesa onde trabalho e passo mais uma tarde
ocupado em meu projeto.

Do terraço da cobertura de William, eu o observo. Ele parece


enfeitiçado enquanto olha para sua esposa sem que ela perceba. Sorrio
comigo mesmo e bebo meu uísque. Meu amigo está realmente muito
apaixonado e feliz. Emilly é uma mulher radiante, e sua barriga, muito
grande, por sinal, não esconde sua beleza, pelo contrário.
Ando até onde William está, ele nem percebe minha presença.
— Ela é muito bonita, você é um cara de sorte — comento, e ele
sorri.
Seus olhos ainda a admiram.
— Ela não é apenas bonita. Minha mulher é perfeita! — diz, e então
se vira para mim.
Solto uma gargalhada.
— Eu nunca pensei que fosse te ver apaixonado um dia. Embora, de
nós quatro, você seja o mais compassivo — aponto, e ambos olhamos para
Alexander, que se aproxima com expressão de tédio. — Algum problema?
— questiono assim que ele para ao lado de William e de frente para mim.
Alexander passeia o olhar astuto pela sala.
— Preciso falar com você sem que os outros escutem — fala em voz
baixa para William, que me olha, confuso.
Balanço os ombros. Eu não tenho ideia do que possa estar
acontecendo. Mas, seja o que for, parece sério, pois Alexander não faria
alarde à toa.
Com um gesto de cabeça, eu aponto para a direção de onde vim.
— O terraço, não tem ninguém lá agora — informo.
William suspira e aceita minha sugestão. Alexander, antes de segui-
lo, revira os olhos. Solto uma risada e balanço a cabeça. Eu só espero que
não seja nada referente às ameaças que Alexander recebeu, pois, segundo
ele, o sujeito pode estar em nosso encalço.
Eu não vou dizer que não me preocupo, afinal, não se tem ideia de
quem está querendo afetar Alexander, e essa pessoa pode ser muito
perigosa. Por outro lado, ainda temos todo o mistério envolvendo
Alexander. Nós somos amigos, mas ele nunca nos contou de onde veio ou
sobre sua fortuna. Sem citar a influência que tem com todo tipo de gente.
Tenho certeza de que Alexander é um homem honrado, posso
confiar minha vida a ele, porém, tudo indica que esconde algo.
Não demora muito, os dois retornam. William segue na frente, e vai
até sua esposa. Eu noto seu incômodo.
Alexander se aproxima de mim, e eu olho para ele.
— O que aconteceu? — pergunto.
— Depois explico melhor, mas aquela garota das redes sociais que
trabalhava para o William tem o seguido faz alguns dias. Ela está lá
embaixo agora mesmo — segreda e sorri, para não levantar suspeitas.
— Porra, eu sempre desconfiei que ela tinha uma queda pelo
William! — comento balançando a cabeça. Ergo uma sobrancelha. — E o
que vocês vão fazer?
Alexander, com as mãos nos bolsos da calça, balança os ombros,
despreocupado.
— Vamos apenas fazer com que ela não volte a perturbar a vida do
William. — Eu o encaro, perplexo, e Alexander ri da minha cara. — Calma,
não vamos fazer nada contra a lei — comenta, com cara de riso. Então, fica
sério. — Ainda! — completa, e sei que está apenas curtindo comigo.
Eu dou uma risada.
— Às vezes você me assusta — comento, e William se aproxima.
— Pronto, vamos logo. Eu não posso ficar longe por muito tempo.
Vendo sua aflição, eu aperto seus ombros.
— Eu vou ficar, para não levantar suspeitas. Com certeza tudo
acabará bem — digo, e ele tenta sorrir.
Em seguida, eles se afastam. Sou servido de mais uísque, e a mãe de
William se aproxima, puxando assunto. Ingrid é uma mulher incomum. Sei
de sua história e de como cuidou sozinha do filho, e nem por isso se tornou
uma pessoa amarga. Ao contrário, lembro-me dela em um almoço em sua
casa dizendo o quanto tinha sorte.
Penso em minha mãe, que a vida toda dependeu emocionalmente do
meu pai. Eu gostaria que ela tivesse metade da força que tem a mãe de
William. Assim, talvez, ela pudesse ser mais feliz.
William retorna segurando um grande embrulho, e atrás dele vem
Alexander. Vejo Emilly indo em direção a eles, e Ingrid me pede licença
para ir até o filho. Alexander me olha e acena, num gesto claro de que tudo
foi resolvido.
Eu fico aliviado, pois William não merece que sua comemoração de
casamento seja interrompida.
O restante da noite transcorre bem. Alexander me conta o que
aconteceu, e eu quase não acredito que a tal mulher foi presa.
— E ela vai ficar na cadeia? — pergunto, curioso.
— Só vai passar duas ou três noites lá. Eles vão dificultar um pouco
a vida dela — conta como se isso fosse comum em sua vida.
Eu balanço a cabeça.
— Como você consegue essas coisas? É inacreditável o que você
faz! — comento, surpreso com o que Alexander é capaz de fazer.
Ele me dá um sorriso um tanto sinistro.
— Não é nada de mais. É apenas uma troca de favor — confidencia
e se afasta, pegando o celular, que toca em seu bolso.
— É melhor que eu não saiba de nada, isso sim — murmuro e vejo
que já é tarde. Então, procuro por William, que está com sua esposa no sofá.
— Meu amigo, vou embora. Parabéns pelo casamento — digo, e ele sorri.
Então, olho para Emilly, que me encara com um sorriso suave. — O jantar
foi perfeito, e espero que meu amigo cuide bem de você.
Emilly abre um sorriso luminoso e olha para William com ar de
apaixonada. Meu coração trava uma batida, pois um dia alguém me olhou
dessa maneira, mas era tudo teatro.
— Ele cuida de mim melhor do que eu poderia esperar — sussurra e
volta a me olhar. — Obrigada por ter vindo. Pena que o outro amigo de
vocês não veio, eu queria conhecê-lo.
Eu sorrio.
— Sim, o Caio fez falta. Ele é o palhaço do grupo — aponto, e ela
ri.
Alexander também chega para se despedir. Assim, alguns minutos
depois, já estamos do lado de fora do prédio. Ele questiona o motivo de eu
não ter ido às duas últimas festas da Mansão, e eu digo que ando muito
ocupado com o desenvolvimento do novo aplicativo para empresas de
segurança. Ele me observa com um olhar afiado, e sei que não acredita em
mim.
— É isso mesmo? Ou as festas já não te satisfazem mais? —
pergunta.
Solto uma gargalhada.
— Você sabe o quanto eu amo as festas da Mansão Eros, meu
amigo. Na próxima, estarei lá, acredite — afirmo.
Ele acena, mas tem um sorriso debochado.
— Pensei que essa nova vida do William tivesse mexido com você.
— Cara, estou feliz pelo William, mas isso... — digo e aponto para
o prédio. — Não é para mim. Estou satisfeito com a minha liberdade! E
nem penso em crianças fazendo parte da minha vida, não sou do tipo
paternal — declaro.
O carro de Alexander chega e o motorista sai para abrir a porta
traseira para ele, então meu amigo me olha.
— Penso o mesmo. Viva à nossa liberdade!
Quando Alexander entra no automóvel, o motorista, muito sisudo,
fecha a porta e olha para todos os lados, como se estivesse verificando
alguma coisa. Então, dá a volta e entra no carro, dando partida.
Logo, o meu chega. Mas, diferente de Alexander, eu não preciso que
o motorista abra a porta para mim. Entro no carro e cumprimento Tião. Ele
é motorista da minha empresa, mas sempre que eu saio à noite e sei que vou
ingerir bebida alcoólica, eu o chamo para um extra.
— Direto para casa, senhor Pigozzi?
— Sim, Tião. Estou cansado.
Enquanto o carro atravessa a cidade, eu penso na nova vida de
William. Ele era um solteiro convicto, mas nunca descartou a possibilidade
de ter um relacionamento. Tanto que, de nós quatro, ele era o único que vez
ou outra aparecia com uma namorada.
Ver de perto o quanto ele está feliz me fez refletir. Não que eu queira
ter a vida que ele tem. Sei que isso não é para mim. Porém, é notável que
William e Emilly têm uma cumplicidade. Vê-se que um nasceu para o
outro, e eu torço para que sejam felizes. Mas o que é bom para um, não é
necessariamente bom para o outro. E esse tipo de intimidade... eu não
gostaria de ter.
Tião me deixa em casa, e eu vou direto para a suíte. Olho para a
minha cama king size, que é só minha, e sorrio. A parte boa da minha vida:
tenho uma cama imensa só para mim. Rio, porém, assim que me deito, a
melancolia toma conta do meu peito. Como em todas as minhas noites
solitárias.

Alguns dias se passam, e meu humor, por razões desconhecidas, não


é dos melhores. Então, para me distrair um pouco, eu resolvo sair mais cedo
da empresa e fazer uma visita ao Alexander. Sei que ele está na Mansão, e é
para lá que eu sigo.
Entro pelo portão principal, e não me passa despercebido o
movimento. Desligo o motor do carro, pego o celular no bolso do terno e
ligo para William. Eu havia ligado mais cedo, e como ele não atendeu,
imaginei que estivesse ocupado, provavelmente curtindo o filho, que nasceu
nesta tarde.
— Heitor, meu amigo! Vi que me ligou mais cedo, mas eu não pude
atender. — Sua voz soa do outro lado da linha.
Observo o estacionamento da Mansão e reparo em algumas pessoas
entrando pelos fundos.
— Sim, eu gostaria de parabenizá-lo pelo nascimento do Théo —
saúdo enquanto assisto à movimentação.
Será que é dia de reunião com os funcionários? Se eu soubesse, não
teria vindo, penso.
— Obrigado. Ele chegou algumas semanas antes do previsto, mas
nasceu com saúde e grandão — conta, e noto o orgulho em sua voz.
— E a Emilly, ela está bem? — pergunto.
Ouço sua respiração profunda.
— Sim. Ela precisou passar por uma cesariana, mas está bem. Neste
momento, está dormindo, com Théo ao seu lado — responde.
Olho para frente e vejo uma mulher de cabelos castanhos presos
num rabo de cavalo. Com a mão livre, aperto o volante, pois ela é muito
parecida com alguém que eu gostaria de esquecer. Então, quando ela se vira
em minha direção, meu coração parece parar uma batida.
Eu nunca fui capaz de esquecê-la. E que porra ela faz na Mansão?
William fala alguma coisa do outro lado da linha, e eu só concordo, pois
não consigo deixar de olhá-la.
Outra mulher se aproxima dela, com uma criança no colo. Ela sorri,
pega a garotinha e beija seu rosto carinhosamente. A pequena abraça seu
pescoço e deita a cabecinha em seu ombro, com o os olhos voltados para
mim.
Sei que não me vê, pois o carro tem o vidro escuro, mas eu posso
vê-la perfeitamente. Ela tem os mesmos olhos azuis que eu vejo todos os
dias no espelho.
— Merda! — esbravejo e sinto minhas mãos tremerem.
— O que aconteceu? Heitor? Está tudo bem? — pergunta William.
Abro a porta do carro e saio, desorientado. Aperto o celular com
tanta força que não sei como não o quebro.
Respiro profundamente. Raiva, angústia e outro sentimento que sou
incapaz de denominar tomam conta de mim.
— O mundo acaba de cair sobre a minha cabeça! — pronuncio num
rosnado e desligo.
Sem pensar duas vezes, vou a passos largos em sua direção. Ela é a
última pessoa que eu gostaria de ver. Porém, ela me deve explicações.
Letícia, que eu pensei ter desaparecido para sempre da minha vida.
A mulher que, pelo visto, decidiu me castigar escondendo de mim um
segredo. A mulher que irá pagar por ter mentido e ocultado de mim a
verdade.
E eu só posso odiá-la por isso!
- 04 -

Letícia

Geovanna brinca no tapete com sua boneca, enquanto eu a observo


do sofá. A porta da sala se abre, e vejo Leandro entrar carregando várias
sacolas do mercado.
— Olá para vocês! — cumprimenta, indo para a cozinha. — Preciso
correr, tenho um cliente para atender em Copacabana, chamada de última
hora — grita de lá.
Eu olho para minha filha, que conversa com a boneca, distraída,
então me levanto e vou até a porta da cozinha.
— Pior que hoje tem reunião na Mansão — pronuncio, esfregando a
testa com a ponta dos dedos. — Eu não posso levar a Geovanna comigo.
Meu irmão lava as frutas na pia, então se vira e bate na testa,
apertando os olhos.
— Ai, eu me esqueci disso — murmura, dando um sorriso sem
graça quando me encara. — Vou ligar para o cliente e avisar que não
poderei hoje...
Antes de ele terminar de falar, eu sacudo a cabeça em negativa.
— Nem pensar! Você vai atendê-lo, sim! Por mais que tenha uma
carteira de clientes extensa, você não pode se dar ao luxo de dispensá-los.
Eu levo a Geovanna, lá decido o que fazer. Eu não posso faltar a essa
reunião — complemento.
Leandro olha para o lado e entorta a boca.
— Acho que podemos dar um jeito... — Eu o observo, então ele
abre um sorriso. — Você a leva para a Mansão, e eu vou ao seu encontro e a
pego lá, antes do início da sua reunião — sugere.
— Será que vai dar tempo? — pergunto, indecisa.
Ele se vira para a pia e volta a lavar as frutas.
— Sim. Eu vou sair daqui a vinte minutos. Devo demorar umas duas
horas entre preparar tudo e o processo de acupuntura, que leva 30 minutos.
Sua reunião começa depois disso, então, para não se atrasar, eu pego a
minha princesa lá.
Analiso sua ideia e não consigo pensar em nada melhor, pois não
tenho com quem deixar Geovanna, então, é uma saída. Eu posso me
encontrar com Leandro do lado de fora da Mansão, já que, com toda
certeza, sua entrada não será permitida.
— Se não for te atrapalhar muito... — respondo e olho para a minha
filha, que faz comidinha em sua cozinha de brinquedo.
— Não vai, minha querida! Além do mais, será uma ótima desculpa
para eu conhecer o cabaré — declara, dando risada.
Eu reviro os olhos, sacudindo a cabeça.
— Então você só está me ajudando por interesse, seu cretino! —
brinco. Ele vira a cabeça e dá um sorriso enquanto pisca várias vezes de
modo charmoso.
— Quando o Alu souber, vai morrer de inveja — completa.
— Mamãe?! Mamãe?! Café tá ponto! — grita minha filha.
— Oba, eu quero café — digo, indo em sua direção.
Ela usa um vestido da Branca de Neve e me estende uma xícara de
brinquedo.
— Cuidado, mamãe! Tá quente.
Eu me sento ao seu lado no tapete e finjo tomar o café.
— Hum! Que gostoso! Quero mais — peço. Ela dá um sorriso doce,
e eu não resisto em agarrá-la e beijar sua covinha. — É muita fofura,
mamãe não aguenta.
Ela solta uma gargalhada.
— Mamãe, o café...
Eu ainda fico brincando um pouquinho com Geovanna. Leandro vai
se trocar, então retorna à sala segurando seu jaleco e uma maleta. Ele nos
olha e sorri.
— Eu recebi uma mensagem da Lia agorinha — conta.
Eu me espanto, pois fazia tempo que não tínhamos notícias da nossa
irmã mais velha.
— Caramba! E como ela está? — pergunto.
Leandro parece animado.
— Chega amanhã, passará uns dias aqui conosco — conta.
Eu dou um sorriso satisfeito.
— Poxa vida, que bom, a Lia! — exprimo, empolgada.
Leandro se aproxima e acaricia o cabelinho da minha filha.
— Será bom ter a Lia aqui. Ela faz falta — diz e me olha. —
Poderemos matar as saudades da época em que vivíamos todos juntos.
— Sim, será perfeito. Estou muito feliz, faz tanto tempo que eu não
a vejo... Ela se distanciou muito de nós, ainda mais depois do acidente da
mamãe — comento, sentindo-me triste ao me lembrar da nossa mãe.
Leandro muda sua expressão para tristeza e olha para o lado de fora
da janela, pensando por um tempo.
— Sim. Ela sentiu bastante, pois era muito agarrada à mamãe. Todos
nós sentimos, na verdade. Mas ela com certeza sofreu mais — conclui,
então sacode a cabeça. — Mas vamos nos alegrar, nada de tristeza.
— Você está certo — concordo.
Meu irmão caminha até a porta e pega a chave do carro em cima da
mesa.
— Eu te ligo quando estiver saindo do cliente, aí você me passa a
localização e eu passo para pegar a nossa princesa — diz, jogando um beijo
para mim e outro para Geovanna, então sai.
Minha filha coloca a mão na barriguinha.
— Xixi, mamãe, xixi... — Eu me levanto correndo e a levo ao
banheiro. Ela aprendeu bem rápido a pedir para ir ao banheiro, mas às vezes
fica tão entretida na brincadeira que esquece.
Aproveito e dou um banho nela, pois preciso me apressar, não posso
chegar tarde à Mansão Eros. Já faz um tempo que venho procurando um
novo emprego, mas está muito difícil, eu não tenho experiência em nada.
Devido à minha gravidez e ao modo como as coisas aconteceram, eu
precisei largar a faculdade e ir para a Espanha, passar um tempo com a
minha tia. Eu não podia ficar perto do meu pai, muito menos do Heitor. Eles
não queriam saber de mim, muito menos da criança que eu carregava em
meu ventre.
Assim, eu fugi dos dois, deixando para trás o sonho de me formar
em psicologia. Porém, eu não me arrependo de nada. Sempre que eu olho
para Geovanna, qualquer incerteza ou angústia desaparece. Ela é mais
importante que qualquer coisa.
Arrumo minha filha pensando no meu trabalho. Não fosse o risco de
encontrar o pai dela, que frequenta o lugar, não seria um emprego ruim.
Paga muito bem e me disponibiliza muitas horas livres. Eu poderia voltar à
faculdade assim que a Geovanna entrasse na escolinha.
Mas eu não gosto nem de pensar no Heitor no mesmo lugar que eu.
Desde a única vez que eu o vi, há alguns meses, sempre que tem evento, eu
me sinto angustiada. E eu odeio pensar nele nas festas; por mais que eu me
esforce, não sou capaz de parar de imaginar o que ele pode estar fazendo e
com quem, ou com quantas, está transando.
Respiro fundo e, depois de arrumar Geovanna, eu a coloco
sentadinha no sofá. Ligo a televisão e sintonizo em um canal de desenho
para ela assistir enquanto eu troco de roupa.
Alguns minutos depois, nós descemos, e eu peço um carro pelo
aplicativo. Seguimos para a Mansão, e quando estou passando pelo portão,
recebo uma mensagem do Leandro avisando que já terminou com seu
cliente. Envio o endereço da Mansão para ele e digo que irei esperá-lo perto
do chafariz que tem em frente à entrada principal.
Descemos do veículo e eu logo vejo Bianca, uma das meninas que
trabalha comigo na cozinha. Ela olha para Geovanna e sorri.
— Você é muito linda! — elogia.
Minha filha dá um sorriso tímido e segura minha perna.
— Ela está envergonhada, mas isso costuma acontecer só no início
— falo, passando a mão pelo cabelo de Geovanna.
Bianca dá uma risada.
— Você sabe que o senhor Ball pode encrencar com ela aqui, não
sabe? — cochicha, sem jeito.
Eu sorrio.
— Ela não vai ficar. Meu irmão teve um cliente de última hora, mas
já está vindo buscá-la — informo e verifico a hora no celular. — A reunião
começa em vinte minutos, ele chega antes disso.
— Mas, se não der tempo, você pode deixá-la na cozinha, com a
dona Marlene — aponta, olhando para Geovanna e sorrindo.
Encaro Bianca e franzo a testa.
— Quem é essa? Eu não me lembro de nenhuma Marlene
trabalhando na cozinha.
— É que ela não trabalha em dia de festa. A dona Marlene serve o
senhor Ball em dias normais — revela.
Olho em volta e vejo alguns rostos conhecidos. A maioria aqui não
tem “amigos de trabalho”. Durante os eventos, todos nós, assim como os
frequentadores, usamos máscaras. Nos dias de reunião, por exigência do
senhor Ball, nós não conversamos sobre nada do que acontece do lado de
dentro da Mansão. O homem com certeza paga muito bem, mas eu nunca
ouvi falar de alguém tão excêntrico e tão exigente.
— Sobre o que será essa reunião? — pergunto e pego Geovanna no
colo. Sinto que minha filha está com sono.
Ouço a respiração forte de Bianca.
— Não faço ideia... Será que burlaram novamente a segurança para
entrarem em uma das festas? — pergunta, e eu dou de ombros.
Alguns meses atrás, parece que houve não uma, mas duas invasões
em uma das festas secretas. Nós nunca soubemos o que aconteceu, somente
que uma moça que trabalhava na recepção foi demitida sem piedade e que o
chefe ficou possesso. Há quem diga que ele parecia estar possuído.
Por sorte, sua explosão foi com os seguranças, e nós, da cozinha,
não tivemos nenhum problema. Apenas sentimos um pouco da tensão após
o tal incidente.
— Mamãe, xixi — Geovanna cochicha em meu ouvido.
Eu a aperto em meus braços.
— Meu amor, a mamãe tem que ficar esperando o tio Leandro, você
pode ir com a tia Bianca? Ela é muito legal! — afirmo.
Olho para Bianca e pisco um olho para ela, pedindo sua ajuda.
Ela se aproxima e alisa as costas de Geovanna.
— Vamos lá com a titia? Eu aproveito e mostro a foto da minha
filha, ela é um pouco maior que você... — Bianca fala com voz suave,
tentando convencê-la.
Geovanna afasta a cabeça do meu ombro e olha de Bianca para
mim. Dou um sorriso e beijo sua bochecha. Eu sou um pouco desconfiada
com as pessoas, mas sei que Bianca foi professora do Maternal há algum
tempo, e hoje só trabalha aqui por causa do dinheiro, que é muito bom. Ela
também tem uma filha, mais velha que Geovanna, e sempre que nos
encontramos, Bianca me aconselha e me dá muitas dicas.
— Pode ir com ela. Eu vou ficar aqui esperando o tio Leandro, que
deve estar chegando.
Geovanna acena com um sorriso doce e vai para o colo de Bianca.
Quando se afastam, eu volto a verificar o telefone. Espero que meu
irmão não demore muito. Olho em direção ao portão e noto um carro
luxuoso entrando, mas não presto muita atenção, deve ser de um dos
seguranças do senhor Ball. O carro passa e segue para perto da porta de
entrada da cozinha.
Bianca retorna com Geovanna, que se joga em meus braços. Eu
acaricio suas costas, e ela deita a cabecinha em meu ombro.
Olho para Bianca e sorrio.
— Obrigada — digo e olho para frente, notando o carro de Leandro
se aproximar. — Aí está o meu irmão.
— Letícia...? — Todo o meu corpo se arrepia ao ouvir a voz de tom
grave chamar o meu nome.
Eu só posso estar ouvindo coisas... Eu só posso estar enganada...
Eu me viro devagar e aperto Geovanna nos braços.
Para o meu desespero, eu não me enganei. Eu nunca esqueci a sua
voz, essa é a mais cruel verdade.
Ele está parado na minha frente. Seus olhos, com um brilho de raiva,
assim como da última vez em que nos vimos. Sinto meu coração bater forte
no peito e minha boca ficar seca.
— Heitor?! — sopro.
Sua respiração está tensa, e uma veia parece saltar de seu pescoço.
Eu engulo o caroço que se forma em minha garganta, então Geovanna tira a
cabeça do meu ombro e olha diretamente para ele, que desvia os olhos para
o rosto da minha filha.
— O que você tem a dizer sobre isso? — pergunta olhando para
Geovanna.
Respiro fundo, minhas mãos começam a suar, e eu aperto minha
filha junto ao meu corpo. Esqueço completamente tudo ao meu redor, é
como se somente nós três existíssemos.
— Eu não tenho nada para falar com você! — É como se farpas
surgissem em minha garganta.
— Letícia, cheguei a tempo, que bom. — Escuto a voz de Leandro e
me viro para ele.
O sorriso que meu irmão tem nos lábios morre, pois ele nota que eu
estou com algum problema.
— Vamos... — começo.
— Você não vai a lugar nenhum! Não pense que me fará de palhaço
de novo! — Heitor me corta, a voz alterada, e eu percebo que todos nos
observam.
Geovanna aperta meu pescoço, eu fecho os olhos. Eu não posso
ignorar minha filha, então, com muito custo, olho para Heitor.
— Por favor, não assuste a criança, ela não tem culpa de nada —
imploro num sussurro.
Ele olha para mim e se volta para Geovanna. Sinto Leandro tocar
meu braço, mas eu só posso prestar atenção no próximo passo de Heitor.
Ele estende a mão para Geovanna e passa a ponta dos dedos em seu rosto,
sorrindo de uma maneira que eu nunca o vi sorrir.
— Pequena! Não se assuste! — pede com voz mansa e sorriso doce,
então volta a me encarar e fica sério. — Eu não saio daqui sem falar com
você — diz entredentes.
— Heitor?! Você pode me explicar o que está acontecendo aqui? —
Viro-me e vejo o senhor Ball com cara amarrada, então ele olha para
Geovanna. — E o que essa criança faz aqui? Quem é ela? — pergunta em
tom rude.
Droga! Era só o que me faltava.
Eu tento sorrir, mas não consigo.
— Ela é minha filha, e meu irmão veio buscá-la para que eu possa
participar da reunião, senhor. — Passo a língua entre os lábios e olho para
Leandro, que observa tudo, intrigado. — Você a leva? — indago, e ele
estica os braços para pegar Geovanna.
— Você não vai sumir com ela! — Heitor solta, então olha para o
meu chefe. — Você sabia disso?
O senhor Ball solta um xingamento, e eu percebo sua impaciência,
pois sua irritação é nítida.
— Sei do que, Heitor? A única coisa que eu sei é que você está
causando uma algazarra perante os meus funcionários, e isso me deixa
muito pu... — Ele olha para Geovanna, que ainda está no meu colo e
observa tudo com curiosidade. Meu chefe respira fundo e balança a cabeça.
— Esta palhaçada acaba agora!
— Mamãe?! — Geovanna me chama, e eu olho para ela com um
sorriso.
— Oi, meu amorzinho?
Ela então se vira para Heitor com olhar tímido e esboça um
sorrisinho. Ele, por sua vez, encara minha filha, e vejo em seu olhar um
brilho de emoção. Meu coração parece prestes a saltar do peito. Eu não
quero me enganar e pensar que ele pode estar emocionado ao ver
Geovanna.
— Vamos com o titio, princesa? Eu trouxe uma coisa para você, está
lá no carro — Leandro chama sua atenção, então me olha com carinho. —
É melhor você resolver suas coisas longe dela, meu bem.
Eu aceno, beijo a bochecha de Geovanna e a entrego para o meu
irmão. Ele sabe como cuidar dela.
Heitor, sem dizer nada, aproxima-se de Geovanna e segura seu rosto
entre as mãos, que eu noto estarem trêmulas. Ele dá outro sorriso para ela e
acaricia sua face com a ponta dos dedos.
— Nós nos veremos em breve, minha pequena — sussurra e beija
sua testa.
Leandro e eu nos encaramos, surpresos com sua ação. Então, meu
irmão se afasta e faz sinal para que eu ligue depois.
— Vamos entrar para a reunião, eu não tenho a tarde toda —
demanda o senhor Ball, ainda mal-humorado, e todos começam a se mover
para dentro da Mansão.
Eu me viro para entrar, mas Heitor segura o meu braço.
— Você vem comigo, agora! — esbraveja.
— Heitor, ela é minha funcionária, e eu não admito, sendo você meu
amigo ou não, que a trate com desrespeito — vocifera meu chefe.
Heitor o encara com raiva.
— Eu vou conversar com ela, e não será você a me impedir!
Eu puxo meu braço.
— Eu não vou com você a lugar nenhum, eu não te devo nada! —
exclamo.
Ele se aproxima, vejo seus olhos inflamados.
— Sim, você deve, e como deve. E não me tente, Letícia. Não pense
que o Alexander vai salvar você — diz.
— Eu acho que você está muito nervoso, Heitor. Sugiro que se
acalme e depois converse com a moça.
— Eu não quero conversar com ele — declaro, cruzando os braços.
Heitor me olha com muita seriedade.
— Se você se negar a falar comigo agora mesmo, eu juro que ainda
hoje apareço onde você esconde a minha filha e levo a polícia comigo, aí
você saberá o significado da palavra inferno — aponta pausadamente e dá
um sorriso maldoso. — Eu uso todo o poder que tenho para acabar com a
sua tranquilidade!
Eu o encaro com um misto de raiva e mágoa. Sei dos meus direitos,
eu não sou tão idiota assim. Porém, eu não quero nenhum escândalo na
porta do meu irmão, ele não merece isso. Assim como minha filha não
merece passar por esse constrangimento.
Fecho os olhos e volto a abri-los.
— Okay! Mas só uma conversa! Depois disso, eu não quero mais
vê-lo.
— Isso... nós veremos — responde, e sei que se sente vitorioso.
Então, olha para o seu amigo, que assiste a tudo com impaciência. — Eu
não queria causar nenhum contratempo, mas ela não vai participar dessa
reunião — fala e pega minha mão.
Heitor praticamente me arrasta. Eu tento sair do seu aperto, mas não
consigo. Eu sei que ele não é violento, e só por isso eu o acompanho. O
problema é que ele estar tão perto de mim me deixa nervosa, e por mais que
eu o odeie, sinto minha pele formigar.
Eu só espero me livrar dele de uma vez por todas. Depois dessa
conversa, eu não quero vê-lo nunca mais.
- 05 -

Três anos atrás.

Heitor

Leio a mensagem de Letícia e sinto como se alguma coisa estivesse


errada. Penso em ligar para ela, mas prefiro deixar para mais tarde, pois
alguma coisa aconteceu com a minha mãe e estou indo até a minha antiga
casa para saber o motivo de sua histeria ao falar comigo há alguns minutos
pelo telefone. Assim, envio uma mensagem de volta para Letícia pedindo
que vá para a minha casa e explicando que eu a encontrei lá após resolver
alguns problemas.
Chego à residência de meus pais. Ao ver o carro de meu pai parado
na garagem, eu já me arrependo de ter vindo. Eu só espero que ele não
tenha feito nada com a minha mãe.
Olho para a porta da frente e decido entrar pela porta lateral, da
varanda, que leva à sala de estar. Passei minha infância nesta casa, e,
sempre que retorno, sinto um pouco de nostalgia. Eu não tive bons
momentos aqui. Lembro-me do quanto meu pai desprezava minha mãe,
enquanto ela fazia de tudo para agradá-lo.
Meus dois irmãos, no entanto, pareciam viver em outro mundo,
como se não percebessem nada de errado em nossa família. Na primeira
oportunidade, minha irmã se casou e foi embora; não só de casa, mas do
país. Já meu irmão do meio... é outra história. Ele sempre se mostrou uma
pessoa gananciosa, pensando apenas na fortuna da família e em como se
dar bem. Quando eu decidi seguir meu caminho, abrindo mão de toda a
regalia da família, vi o brilho de vitória em seu olhar, pois agora ele era o
único a ter o controle de tudo.
Abro a porta lateral e olho para dentro da casa. Eu não ouço
barulho nenhum, então deduzo que mamãe possa estar em seu quarto após
tomar outro de seus calmantes. Entro e volto a fechar a porta, deparando-
me com uma das empregadas carregando uma bandeja. Ela para ao me ver
e, depois de me reconhecer, acena.
— Senhor! — cumprimenta.
— Boa tarde. Você sabe onde está minha mãe? — pergunto, sem
procurar me lembrar de seu nome, afinal, não adiantaria. Além de eu não
viver mais aqui, nesta casa os empregados vêm e vão, é como chuva
passageira.
— Seus pais estão no escritório, senhor — responde ela, e eu
balanço a cabeça.
Então os dois estão juntos. Eu ainda avalio se devo ir embora, mas,
já que estou aqui, é melhor buscar saber o que anda acontecendo. Para
mamãe me ligar daquela maneira, meu pai deve ter feito algo. Espero a
funcionária se afastar e sigo para o escritório. A porta se encontra aberta,
e noto meu pai sentado à mesa, a expressão zangada, enquanto minha mãe
está na cadeira em frente a ele, olhando através da janela, como se
estivesse longe.
Arranho a garganta, para chamar atenção, e ambos me olham ao
mesmo tempo. Mamãe se levanta, olha para meu pai rapidamente e vem ao
meu encontro.
— Oh! Meu filho! — exclama, chorosa, e se joga em meus braços.
Eu olho para o meu pai. Ele passa a mão no rosto, demonstrando
impaciência.
Seguro o rosto de minha mãe e a encaro.
— O que ele aprontou com a senhora desta vez? — questiono em
voz baixa.
Ela nega com a cabeça.
— Não é nada disso...
— Claro! Tudo o que acontece é culpa minha! Sua mãe não pode
dar um espirro que você já acha que eu a deixei doente — articula meu pai,
com raiva.
E não poderia ser de outra maneira, eu nunca o vi dar um sorriso
sequer, meu pai é uma pessoa amargurada e parece odiar o mundo.
Volto a olhar para minha mãe.
— Por que me ligou daquele jeito? Fiquei preocupado — digo.
Ela respira fundo e pega meu pulso, então me leva até o sofá.
— Meu filho, eu não queria ser a portadora disso, mas...
Noto meu pai se levantando e vindo em nossa direção. Ele me olha
com uma fisionomia agressiva, mas eu o encaro sem medo.
— Mas... o que a sua mãe quer dizer... é que você foi feito de idiota
pela mulher que vem saindo. Por mim, eu o deixaria se ferrar. No entanto,
sua mãe insiste em te contar a verdade — cospe, volta à mesa e pega seu
notebook.
Aperto as mãos, pois não gosto do modo como ele fala. Sei que é a
respeito de Letícia, pois é a única mulher com quem tenho saído nos
últimos meses. Eu só não sei como ele pode saber disso, pois eu não contei
sobre ela para ninguém.
— O que o senhor quer dizer? — pergunto e olho para minha mãe,
intrigado. Ela tem lágrimas não derramadas nos olhos. — Pode me contar
o que está acontecendo?
Mamãe acaricia meu rosto, enquanto meu pai se aproxima e vira a
tela do notebook para mim. Eu abaixo o olhar para saber o que ele tem
para me mostrar e vejo um e-mail. Reconheço o nome do Ricardo Xavier e
passo a mão pelos cabelos, pois esse homem vem me importunando,
tentando me prejudicar nos negócios. Sua rixa é com a família Pigozzi, ele
e meu pai são inimigos mortais. Os dois se odeiam, e esse ódio só tem
trazido transtornos para as nossas vidas.
— Esse e-mail foi enviado por aquele imundo faz um mês — revela.
Noto não uma, mas várias mensagens, todas recebidas no mesmo
dia, há exatamente um mês. Porém, eu não consigo entender aonde meu pai
quer chegar. Olho para ele.
— O senhor pode ser mais específico, por favor? — peço.
Ele olha para minha mãe com raiva, então respira fundo.
— Vou te mostrar.
Mamãe segura minha mão, chamando minha atenção, e eu me viro
para ela.
— Você tem conhecimento de que a Família Xavier só nos causa
problemas. O Ricardo é um homem incompetente. Em determinado
momento da vida, perdeu tudo o que tinha. E, na cabeça dele, nós somos os
culpados pelo seu infortúnio. Com isso, jurou vingança.
Eu solto um bufo, cansado de escutar sempre a mesma história. Mas
eu nunca pensei que havia apenas isso. Um ódio dessa proporção não pode
ser somente por dinheiro. Minha mãe sabe de tudo, e eu acho que, no
fundo, ela quer proteger meu pai, por isso nunca responde quando eu
pergunto detalhes dessa desavença.
— Olha, mãe, eu já sei disso. Agora quero saber o que eu tenho a
ver com toda essa história. Por que esses e-mails são tão importantes? —
pergunto, nervoso com todo esse mistério. — E por que meu pai citou a
garota com quem venho saindo?
Ela entorta a boca e me olha com piedade.
— Olhe, você vai entender. — Ouço meu pai, que me entrega o
notebook.
Meu coração dá um salto quando eu vejo a imagem de Letícia em
minha casa. Lembro-me bem desse dia. Ela me ligou dizendo que um dos
professores havia faltado e que teria a tarde livre. Eu não pensei duas
vezes, larguei tudo o que fazia e fui buscá-la na faculdade.
Eu mal cheguei ao meu quarto e a despi, pois sentia um desejo
imensurável por ela. Era assombroso como meu corpo reagia somente em
pensar naquela mulher.
É difícil acreditar, mas vejo diversas imagens nossas em meu
apartamento. Eu praticamente jogo o computador no sofá e olho para meus
pais.
— Que porra é essa? — desfiro, cheio de raiva.
Meu pai dá um sorriso simulado.
— Isso, meu amado filho, é o nosso inimigo dando um bote e usando
você para golpear a nossa família — manifesta.
Eu olho dele para minha mãe e fecho as mãos em punho, pois ainda
não consigo entender o que a Letícia tem a ver com tudo isso.
— Usando? Como? O que eu vi aí foi um monte de imagens minhas
com a mulher com quem tenho saído, e isso só me deixa muito puto, pois
claramente algum funcionário meu tirou essas fotos às escondidas! —
esbravejo.
Meu pai me observa e sacode a cabeça.
— Essa moça é filha daquele canalha. Com a ajuda do pai, ela
armou para se infiltrar na sua casa e, assim, descobrir os nossos passos.
Eu não consigo acreditar que Letícia, a minha doce Letícia, seja tão
vil. Ando de um lado para o outro. Minha mãe tenta me segurar, mas eu
não quero ser tocado por ninguém. Puxo na memória o dia em que a
conheci, e sei que foi por acaso. Volto a olhar para meu pai.
— Isso não tem lógica. Eu conheci a Letícia no dia em que dava
uma palestra em sua faculdade. Foi por acaso, nós nos trombamos no
corredor e eu derrubei o celular dela. Não tinha como ela planejar isso —
conto.
Meu pai olha para minha mãe e balança a cabeça. Ele pega seu
notebook largado no sofá e clica algumas vezes.
— Pois tudo foi minuciosamente planejado. O Ricardo só me avisou
porque viu que a filha não conseguiu descobrir nada, então, para não
deixar barato, procurou esfregar na minha cara o que ele e sua filha
fizeram. Sem que você desconfiasse de nada...
Sinto a aproximação de minha mãe. Ela toca meu braço. Desta vez,
eu não a afasto, só a observo. Seus olhos estão tristes, mas ela dá um
sorriso fraco.
— Filho, a família dessa moça não presta, e com certeza ela é como
o pai dela — diz com voz suave. — Ela te contou sobre a família dela?
— Não. Nós estamos nos encontrando há alguns meses, mas não
temos vínculo algum — confesso e sinto meu coração se despedaçar, afinal,
eu pensava em propor algo mais sério à Letícia.
Ela é muito jovem ainda, está no início da faculdade, pelo menos foi
o que me contou, pois já não tenho certeza de nada. Eu não consigo
acreditar que ela mentiu para mim todo esse tempo. Letícia sempre pareceu
tão doce e ingênua. E todas as vezes que ficávamos juntos, eu sentia a sua
entrega. Seus olhos, sempre tão brilhantes, deixavam-me hipnotizados com
sua intensidade.
— Eu não consigo acreditar nisso — murmuro.
— Quem você acha que entregou essas imagens para o Ricardo? —
questiona meu pai. Ele volta para a sua mesa e se senta, então me olha,
dando um sorriso insolente. — Ele detalhou como os dois riam de você
quando ela chegava em casa após encontrá-lo. Inclusive, ele contou que
você a convidou para uma viagem no feriado e ela perguntou se nós
iríamos, não é verdade?
Não teria como alguém saber disso. Eu estava com Letícia na
varanda do meu apartamento, e depois que minha funcionária nos serviu o
jantar, eu fiz o convite para o feriado. Eu me sinto destruído, pois foi
exatamente o que Letícia perguntou.
— Há quanto tempo o senhor sabe disso?
Meu pai mexe os ombros.
— Por volta de um mês, você viu a data no e-mail.
Eu o encaro com ódio. Minha mãe parece perceber meu estado e
segura meu braço.
— Filho, por favor...
— E por que o senhor não me contou logo que soube? Por que me
deixou continuar saindo com ela? — protesto, as mãos em punho.
— Para te mostrar que você não é tão esperto quanto pensa, para
ver que pode ser feito de idiota e sentir na pele o quanto ser enganado nos
destrói. — Meu pai fala com mágoa na voz. Ele olha para minha mãe,
então volta-se para mim. — E ela pode estar grávida. Eu só não sei se isso
é verdade ou uma mentira do Ricardo, afinal, o homem adora me confundir.
— Grávida? — pergunto, com o coração pulando em meu peito.
— Meu filho, não acredite em suas mentiras. Ela tem o sangue ruim
correndo nas veias, isso provavelmente é uma armação deles para tirar
dinheiro de você, já que estão falidos.
Dou um passo para trás e olho para minha mãe.
— Falem a verdade para mim... — peço e olho dela para meu pai.
— Vocês fizeram alguma coisa contra esse homem, para que ele tenha tanto
ódio de todos nós?
Meu pai me olha com seriedade e aperta os lábios, então respira
fundo.
— Essa rixa é antiga... Nós nos conhecemos desde jovens, e o
Ricardo sempre me invejou. Nossos pais eram amigos e faziam negócios
juntos, mas depois que meu pai se aposentou, eu assumi tudo. Na mesma
época, eles perderam sua fortuna, mas eu não tive nada a ver com isso —
conta, mas eu acredito que tem algo mais por trás dessa história.
— Desde então, eles nos perseguem, só nos trazendo
aborrecimentos. E agora isso... — mamãe completa.
— Isso é tão desagradável! — digo e sinto meu celular vibrar no
bolso. Pego o aparelho e vejo o nome de Letícia no visor. Ignoro a
chamada. — Preciso ir embora.
Ando até a porta, mas minha mãe me chama. Eu paro, de costas para
ela.
— Heitor, tire essa mulher da sua vida quanto antes. Agora você
sabe quem ela é e do que é capaz — avisa.
Eu olho para trás. Meu pai me observa de sua mesa.
— Agora eu sei... E se não fosse o seu egoísmo, eu poderia ter
ficado sabendo disso muito antes. Mas o senhor preferiu que eu fosse
enganado, apenas para mostrar minha fraqueza. Parabéns, papai! O
senhor conseguiu o que queria! — exclamo e saio sem dizer mais nada.
Entro em meu carro, jogo a cabeça para trás e fecho os olhos.
Inspiro o ar com força.
Todo esse tempo sendo enganado! Como eu pude ser tão idiota? Eu
não sei se consigo olhar na cara da Letícia agora. Mas e se ela estiver
esperando um filho meu? Eu não gosto nem de pensar nessa possibilidade.
Entretanto, se isso se confirmar, eu serei obrigado a ter uma boa
convivência com ela.
Meu celular volta a vibrar, desta vez é uma mensagem. Leio
rapidamente, e minha vontade é jogar o aparelho longe, pois Letícia avisa
que chegou ao meu apartamento e me espera. A decepção que sinto é tão
grande que eu quero gritar. Não fosse por minha mãe, que é a pessoa em
quem eu mais confio no mundo, eu poderia duvidar dessa história. Por
mais que ela seja manipulada pelo meu pai e o proteja, minha mãe não me
faltaria com a verdade.
Ligo o carro e dirijo com a cabeça borbulhando. Se a Letícia pensa
que eu vou cair em suas conversas, está muito enganada. Será que ela sabe
que seu pai contou tudo sobre a armação deles? É bem provável que não,
pois ela está sempre muito segura em suas atitudes quando está comigo.
Bato com a mão no volante ao me lembrar de meu pai. Como ele
pôde ser tão cruel? Começo a crer que, na verdade, Ricardo, Letícia e ele
são farinhas do mesmo saco. E meu pai só me contou tudo hoje porque
minha mãe, de alguma maneira, encontrou o tal e-mail. Não fosse isso, eu
seria feito de palhaço por muito mais tempo.
Chego ao meu apartamento e, assim que abro a porta, posso sentir
o cheiro dela. Fecho os olhos e respiro fundo. Largo as chaves no aparador
e vou direto para a varanda. Vejo Letícia de costas para mim.
Ela olha para o horizonte, parece ter os pensamentos longe. Se eu
não soubesse quem é de verdade, correria para pegá-la em meus braços.
Mas agora tudo mudou.
— Letícia?! — chamo seu nome, e ela se vira.
No instante em que nossos olhos se cruzam, sinto que algo está
diferente. Ricardo deve ter revelado sobre o e-mail que passou para o meu
pai contando tudo.
Ela tenta sorrir e aperta a alça de sua bolsa.
— Desculpe-me não ter esperado até a noite para vir — fala com
voz arfante.
— Vamos acabar com o teatro, Letícia — demando, então cruzo os
braços e a encaro de maneira dura. — Eu já sei de quem você é filha, e
tudo me leva a crer que você e seu pai andaram conversando.
Letícia tem a expressão desolada. Eu dou uma risada, pois ela está
enganada se acha que vou acreditar em suas mentiras.
— Sim, meu pai e eu conversamos hoje de manhã, e depois disso
muita coisa aconteceu. Porém, eu quero saber o que você pensa de tudo
isso.
Eu continuo olhando para ela com os braços cruzados.
— Você não tem que exigir nada de mim, Letícia. Eu não tenho nada
para te responder. Mas acho justo você saber que o que aconteceu entre nós
não significou nada para mim. Você foi apenas mais uma que eu trouxe
para o meu apartamento para um sexo satisfatório — declaro com amargor
e vejo sua boca se abrir com espanto. Eu sorrio. — E quero saber se essa
história de gravidez é verdade ou apenas uma armação sua com o Ricardo.
Ela arregala os olhos.
— Grávida? Como você...? — Letícia sacode a cabeça e morde o
lábio com força. Eu a odeio com todas as minhas forças, mas tenho vontade
de beijá-la, o que me deixa com ainda mais raiva. Ela volta a me encarar.
— Você, em algum momento, foi verdadeiro comigo, Heitor? Vejo que está
me acusando, mas acredito que você, sim, mentiu para mim.
Eu bato palmas para ela e começo a rir, debochando.
— Bravo! Você é uma excelente atriz, Letícia! — aponto e noto sua
raiva. — Isso é muito comum nos mentirosos. Eles costumam condoer-se e
acusar os outros para se livrar dos seus pecados.
Letícia dá um passo para frente.
— Pare com isso, Heitor. Eu vim para conversar e ouvir o seu lado
da história. Eu quero acreditar que você não tem nada a ver com isso. E
você precisa confiar em mim, pois só com confiança um no outro
poderemos resolver esta situação. — Sua voz sai baixa e rouca.
— Confiança? Você realmente acha que eu vou cair nessa sua
conversa? — pergunto franzindo a testa. — Eu sei de toda a verdade sobre
você e essa sua família. Então, querida, eu só quero distância de você. Ou
melhor, de todos vocês!
— Então você não tem nada mais a dizer? — questiona. Seus olhos
mostram decepção. Deve ser por eu não acreditar em sua cena.
Eu aceno.
— Quero saber sobre essa história de gravidez. Você está grávida?
Ou será outro golpe?
Ela me encara por alguns segundos, e eu a imagino grávida e em
como seria um filho nosso. Meu coração se comprime, seus olhos refletem
uma emoção que eu não consigo decifrar.
— E se eu estiver, o que vai achar disso? O que vai fazer? —
pergunta.
Eu dou de ombros e coloco as mãos nos bolsos, pois me sinto tremer
com a possibilidade de ser pai. É apavorante e motivador. Bem no fundo do
meu coração, eu gostaria que Letícia estivesse grávida. Mas eu não
confessaria isso nem sob tortura.
Letícia tem os olhos grudados em mim. Eu tento parecer
imperturbável.
— Se você estiver grávida, eu vou exigir um exame de DNA, com
toda certeza. E depois eu vejo o que faço. Mas do fundo do meu coração...
— falo e fixo meus olhos nos seus. — Eu prefiro a morte a ter um filho com
uma mulher mentirosa. Porque, Letícia, eu não suporto estar com você, e
um filho contigo me obrigaria a aturá-la. — Minha voz sai fria e dura.
Neste exato momento, sinto que tudo se quebra entre nós. Eu não sei
se o que me leva a desferir tais palavras é a mágoa e a raiva, e cada
palavra que sai de minha boca me deixa um gosto amargo. Eu disse tudo a
fim de feri-la, mas eu é que estou dilacerado por dentro.
Letícia empina o queixo e dá um passo para trás.
— Você não será obrigado a me aturar, Heitor, eu não estou grávida
— assegura e dá um sorriso que não chega aos olhos. — Vamos ficar com
as suas verdades, assim ninguém se machuca. É o melhor para todos.
Ela ainda me olha com expectativa, então passa por mim como um
foguete, deixando um rastro de seu perfume. Escuto a porta da sala bater
com força, o som é um grande estrondo, como se fosse a porta do meu
coração, que se tranca para sempre.
- 06 -

Heitor

Eu dirijo pela avenida. Com muito esforço, controlo a vontade de


gritar com Letícia. Ela não me encara, tem o rosto virado e olha para fora da
janela. Nós não trocamos nenhuma palavra desde que eu a arrastei da
Mansão Eros. Eu fui obrigado a ameaçá-la, pois se recusava a me
acompanhar.
A tensão dentro do carro é incontestável; também, não é para
menos. Eu não tenho certeza sobre o que levou Letícia a esconder de mim
que temos uma filha. E não adianta ela negar, pois eu sei que aquela menina
é minha, e eu só não esbravejei mais por sua causa, pois notei que se
assustou quando confrontei sua mãe.
Conduzo o carro sem saber ao certo para onde ir. Então, ao passar
pela Orla do Recreio, reparo no pouco movimento. Assim, paro o carro ao
longo da via, numa vaga bem em frente ao mar agitado.
Letícia permanece calada. Tê-la tão perto de mim está me deixando
atordoado. É óbvio que eu sinto raiva, entretanto, para minha agonia, essa
mulher consegue mexer com as minhas emoções mais escondidas.
Eu olho para ela, que ainda tem o rosto virado para a janela, e noto
sua respiração oscilante. Ela sabe que eu estou olhando em sua direção.
Letícia suspira e cruza os braços, ainda sem me encarar.
— O que você quer de mim? — indaga, soando contrariada.
Respirando fundo, eu aperto o volante, para me impedir de tocá-la,
pois tudo nela me atrai, e essa percepção me faz ficar com muita raiva.
Olho para frente, tentando me acalmar com as ondas do mar.
— Eu quero a verdade, Letícia. Se isso for possível para você —
aponto.
Finalmente Letícia se vira, então eu olho para ela. Seus olhos
castanhos inflamados expõem o quanto está abalada.
— Eu não tenho nada para falar com você — exprime secamente.
— Sim, você tem. E não vamos sair daqui enquanto você não se
explicar para mim — ameaço, prendendo seus olhos aos meus.
Fitá-la num ambiente tão limitado como este me deixa sufocado.
Letícia parece ainda mais bonita do que há três anos. E, diferente do que eu
poderia imaginar, sinto um desejo imenso de beijar sua boca.
Ela move a cabeça com leveza, seu olhar é de rancor.
— Eu não te devo explicação nenhuma, e exijo que abra a porcaria
da porta deste carro para eu ir embora, pois não suporto estar no mesmo
lugar que você — solta, e eu me surpreendo com a sua maneira rude de
falar, pois Letícia sempre se mostrou muito delicada.
Solto uma risada balançando a cabeça.
— No pouco tempo em que esteve comigo, deve ter percebido que
eu não sou de desistir fácil, Letícia — aponto e percebo um tremor passar
pelo seu corpo quando digo seu nome. — Então, vamos poupar o nosso
tempo, me conte de uma vez por que você escondeu minha filha de mim.
Ela respira fundo e aperta os lábios.
— Eu não escondi nada de você — responde de maneira mecânica,
o que me deixa ainda mais irado.
— Você, no passado, me fez de idiota por um determinado tempo.
Não brinque comigo, pensando que pode me enganar. Eu não sou cego,
Letícia, aquela menina é minha filha! — declaro.
Ela continua me olhando, séria. Finalmente descruza os braços. Vejo
que leva as mãos até a bolsa, e só então percebo que seu telefone toca.
Letícia pega o aparelho, recusa a chamada, passa uma mensagem rápida e
guarda o telefone na bolsa novamente. Então, volta a me olhar.
— Ela é minha filha, só minha! E se a sua preocupação é que algum
dia eu o procure para perturbar a sua vida tão bem estruturada, fique
tranquilo, pois eu não tenho a mínima intenção de ter qualquer tipo de
contato com você — explica e faz um gesto com a mão, apontando para a
porta. — Agora, abra essa porta, eu quero ir embora.
Fico consternado com o quanto ela está sendo fria comigo.
— Eu não sou nenhum cretino, o que pensa de mim?
Letícia dá um sorriso falso e mexe em seu rabo de cavalo.
— Você quer que eu enumere? É melhor não, porque é um
vocabulário extenso — diz, volta a cruzar os braços e me olha, empinando o
queixo. — Vamos parar com a palhaçada e me deixe sair daqui.
Juro que eu não reconheço essa mulher. Eu a trouxe para cá
pensando que ela iria chorar ou qualquer outra coisa. No entanto, Letícia
reage como se tivesse razão e eu não fosse o homem que ela decidiu
enganar.
— Eu não sei se isso faz parte do seu jogo, como foi há três anos,
mas saiba que eu não caio mais em suas armadilhas, e até agora eu fui
muito tolerante com tudo isso. — Sinto minhas mãos tremerem de nervoso,
percebo não ter sido uma boa ideia querer conversar dentro do carro.
Porém, se eu abrir a porta, ela pode ir embora sem se explicar. Volto a
respirar fundo. Letícia me observa com atenção. — Estou pedindo que me
conte a razão de ter feito isso.
Letícia olha para frente, morde o lábio e volta a me fitar.
— Feito o quê? Eu não te fiz nada, foi você quem me arrastou até
aqui como um louco. E que fique claro: eu só te acompanhei para não
causar um transtorno maior com a sua cena.
Ela consegue me deixar mais irritado.
— Você me enganou uma vez, e eu deixei que partisse, sem
represália, mas agora isso não vai acontecer — digo entredentes.
Desta vez, é ela a dar uma risada.
— Nossa! Você é muito altruísta! Devo ser grata? — debocha.
— Porra, Letícia! Qual é o seu problema? — questiono, impaciente.
— O meu? Eu não sei. Mas o seu com certeza é falta de memória.
Por acaso sofreu algum acidente e bateu a cabeça?
Dou um soco no volante e solto um bufo.
— Você não faz nenhum sentido — exprimo, olhando para fora, e
me viro para ela novamente. — É alguma nova estratégia para tentar me
confundir? — pergunto, e Letícia aperta os olhos. — Eu quero esclarecer as
coisas, então não venha com os seus joguinhos.
Letícia chega levemente para frente. Sinto-a mais perto, e seu cheiro
me deixa um pouco inebriado.
— Você quer esclarecer as coisas, Heitor? — sussurra. — Da
mesma maneira que eu quis esclarecer as coisas com você três anos atrás e
você foi incapaz de me deixar falar? Agora você quer me ouvir, depois de
ter me escorraçado e me tratado de maneira vil? Pois saiba que o seu tempo
passou. Agora, abra a droga da porta, ou juro que eu quebro a porra deste
carro! — adverte, e por alguns segundos eu fico sem reação.
Suas palavras, tão cheias de mágoa, são como flechas perfurando o
meu peito. A Letícia que está à minha frente é muito diferente da Letícia
que eu conheci. É diferente da garota que me conquistou com a sua
delicadeza. É claro que tudo não passou de uma grande armação sua com o
seu pai, porém, ela possuía certa brandura que encantava.
Por outro lado, não há como negar. Esse temperamento um tanto
agressivo a deixa muito sexy e só me faz querer domá-la. Passo a mão pelos
cabelos ao perceber por onde meus pensamentos vagueiam. Eu não deveria
desejá-la, mas é mais forte do que eu.
— Isso foi por vingança? Você a escondeu de mim por que eu fui
indelicado? — indago.
Letícia me encara como se pensasse no que vai dizer, então desvia o
olhar para frente.
— Vamos fingir que nada disso aconteceu. Eu vou embora e
seguimos com as nossas vidas, cada um para o seu lado — sugere.
— Como eu vou seguir com a minha vida sabendo que tenho uma
filha? E não adianta negar, nós sabemos que ela é minha! E se você insistir
em escondê-la, eu posso exigir os meus direitos na justiça.
Seus ombros, antes tensos, caem.
— Esqueça isso, Heitor. Nós dois sabemos que a última coisa que
você quer é um filho — murmura, ainda olhando para frente.
— Você não sabe nada sobre mim.
Letícia me olha novamente.
— E não sei mesmo, mas sei muito bem que você prefere a morte a
ter um filho. Não é mesmo, Heitor?
Outra flechada em meu peito. Se eu pensava que iria impor as
minhas exigências e ameaças, posso afirmar com exatidão que me enganei,
pois Letícia faz questão de jogar na minha cara todas as palavras que eu
cuspi num momento de raiva e muita mágoa. Agora, eu tenho certeza de
que preciso elaborar uma estratégia se eu quiser ter algum convívio com a
minha filha.
Eu aceno.
— Eu posso ter sido duro com você, reconheço. Mas você não acha
que a nossa filha tem o direito de saber quem é o pai dela?
— A minha filha tem o direito de ser amada e querida. Eu não vou
permitir que ela seja rejeitada, nunca. E quando estiver maior, do meu jeito,
eu conto a verdade para ela. Se está preocupado por seu amigo tê-la visto,
pode ficar bem tranquilo, eu nunca tive, e não tenho, a intenção de exigir
nada de você. Se quiser, eu até assino algum documento — manifesta,
dando de ombros.
Esfrego a testa com a ponta dos dedos e volto a segurar o volante.
— Letícia, eu não quero que assine porra de documento nenhum.
Por mim, você pode exigir que eu assuma a minha filha, será que não
entendeu? — falo, exasperado.
— O que eu entendi, Heitor, é que três anos atrás você não queria ter
nada comigo, muito menos um filho. Você deixou isso bem claro. Então, é
você que não tem o direito de exigir nada.
— Mas eu te perguntei, e você negou que estava grávida — digo,
também jogando em sua cara a mentira que contou.
— Neguei! E negaria mil vezes depois de ser humilhada! Você pode
pensar o pior de mim, mas eu jamais deixaria que se aproximasse da minha
filha para ficar ressentido ou falar merdas na frente dela.
Eu serro os dentes. Puta que pariu, ela não facilita! Fecho e abro os
olhos.
— Letícia, eu quero fazer parte da vida da minha filha — confesso
em um tom mais ameno, olhando para ela. — Não me negue isso. Ou
melhor, não negue a ela a convivência com o pai — completo com mais
humildade.
Letícia me encara, e sei que está pensando.
— Eu prefiro que você nunca apareça. Ela é minha filha e está bem
sem você por perto.
Eu tento sorrir.
— Ela é nossa filha. Nós temos esse direito, Letícia.
Ela deixa escapar um protesto.
— Vou pensar. Agora, deixe-me ir — pede, virando-se para frente.
— Não vai pensar, não. Se você se negar, eu procuro um advogado
hoje mesmo e peço que dê entrada na guarda compartilhada — advirto,
embora eu não tenha certeza de como isso funciona ou qual procedimento.
Lembro-me somente de ter ouvido essa expressão em algum lugar. — E
você sabe que, com dinheiro, muitas portas se abrem.
Letícia permanece olhando para frente. Então, uma coisa me ocorre.
Minha mãe contou que Ricardo estava falido. Depois de tirar Letícia da
minha vida, eu não quis saber nada sobre eles. No entanto, o homem ainda
tentou me prejudicar algumas vezes; inclusive, conseguiu se associar a um
dos meus concorrentes, um homem com má-fama no mercado tecnológico,
como se isso fosse me afetar de alguma maneira. A questão é: por que
Letícia trabalha na Mansão Eros, se o pai, até onde sei, é o cara de
confiança desse empresário?
Logo após eu descobrir a verdade sobre Letícia, chegou até mim a
informação de que ela e o pai eram muito unidos, os dois tramavam juntos
seus golpes. E o pouco que sei sobre Ricardo é que seu orgulho o impede de
aceitar trabalhos que, de acordo com ele, são para os medíocres. Então, é no
mínimo estranho que, com a sua natureza esnobe, permita que a filha
trabalhe como uma simples funcionária da Mansão.
Tento buscar alguma referência na memória, porém, a verdade é que
eu nunca procurei me inteirar sobre Ricardo, muito menos sobre Letícia. Se
ao menos eu tivesse desconfiado de sua gravidez, com certeza teria ido em
busca de saber seus passos.
— Você só pode estar agindo por impulso — comenta Letícia, de
repente quebrando o silêncio.
Estou tão absorto em meus pensamentos que, por alguns instantes,
esqueço-me do nosso assunto.
Eu olho para ela, que continua com o olhar fixo à sua frente.
— O que você quer dizer com isso?
Letícia me olha.
— Você não está pensando direito. Quando chegar em casa, vai ver
que essa sua exigência não tem sentido nenhum — retruca.
Dou uma risada.
— Eu fico sabendo que tenho uma filha, uma criança que é parte
minha, e que você escondeu esse fato de mim, o maior interessado. E agora
você diz que estou agindo por impulso? — Balanço a cabeça, sem acreditar
no que ela diz. — Você só pode estar zombando de mim...
— Não. Quem zomba de mim é você, Heitor. E eu não vou esquecer
suas palavras, só por isso agi da maneira que agi — declara, e sua voz soa
mais baixa, porém, ainda em tom de ressentimento, o que faz meu coração
sangrar. — Coloque-se por um minuto no meu lugar. Imagine se fosse eu a
te dizer aquelas palavras tão ofensivas. Você não me permitiu falar, só me
acusou, e ainda declarou que eu fui apenas um sexo satisfatório. — Ela
deixa escapar um riso melancólico. — E, para fechar com chave de ouro,
disse preferir a morte a ter um filho comigo. Para mim, não restou
alternativa, Heitor. Mesmo que eu contasse tudo, você já estava
envenenado; qualquer coisa que eu falasse, a sua verdade seria absoluta. Por
isso, naquele dia eu decidi que o meu bebê seria só meu. Eu não queria que
ele carregasse o peso de ter um pai insatisfeito — desabafa, e eu posso
sentir em minha alma a dor de Letícia.
Fico calado, olhando para ela. Sou invadido por um sentimento de
culpa e raiva. E desta vez a raiva é de mim mesmo, pois agora eu sei o
quanto fui duro com ela. E a Letícia está certa, quando ela quis falar, eu,
sentindo-me usado e não querendo me passar por idiota, ofendi a sua
integridade, sem me importar com possíveis consequências.
Letícia desvia o olhar, enquanto eu continuo a fitando. A minha
vontade é acabar com a distância entre nós e tocar sua pele, mas eu sei que
isso está fora de cogitação.
Eu inspiro forte e exalo o ar dos pulmões.
— Você pode estar certa, mas isso não justifica ter escondido minha
filha de mim. E quanto ao que disse, eu não estou agindo por impulso ou
por raiva. Se há uma coisa que eu tenho certeza, é de que quero conhecer
minha filha e conviver com ela. E eu não vou desistir disso, Letícia.
Ela acena de maneira sutil, e tenho a sensação de que finalmente
entende a minha intenção.
— Okay... se você tem certeza disso, eu não vou impedir que a
conheça — pronuncia, não muito satisfeita. — Eu só vou te fazer um
pedido — diz e se vira para mim.
— O quê?
— A Geovanna é apenas uma criança de dois anos e meio, ela não
tem nada a ver com os conflitos que existem entre as nossas famílias, ela é
inocente. Então, nunca pense em lançar sua raiva sobre ela — pronuncia.
— Eu não sei o que você pensa de mim, Letícia, mas de maneira
alguma eu machucaria a minha filha.
Ela solta um resmungo e se ajeita, olhando para frente.
— É melhor não saber o que penso de você — murmura. — Agora,
se não for pedir muito, deixe-me ir embora. Depois combinamos uma
maneira de você vê-la.
Eu tenho vontade de rir, mas me contenho. Então, ligo o carro.
— Vou te levar para a sua casa, assim, posso saber onde encontrá-la
— informo, notando que ela não gosta muito da ideia. — Eu não vou te
perder de vista ou ficar esperando que entre em contato. E, em consideração
à nossa filha, eu não vou exigir nada de você hoje, mas amanhã eu quero
estar com ela. — Saio da vaga e pego a pista.
Sinto que Letícia me olha.
— Para quem preferia morrer, você está muito exigente — ironiza.
Eu sacudo a cabeça.
— Você não vai esquecer isso, não é? — pergunto, sentindo-me um
idiota pelo que eu disse no passado.
— Nunca! E caso você esqueça, eu estarei aqui para lembrá-lo —
adverte. Por mais que ela me irrite, eu acho graça de sua atitude.
Olho para Letícia rapidamente e volto a observar a direção.
— Passe o seu endereço de uma vez. Ou, se preferir, eu ligo para o
Alexander e consigo agora mesmo — falo com tranquilidade.
Com certeza Alexander não me passaria o endereço de Letícia. Ele é
meu amigo, mas não mistura os assuntos. Se eu pedisse algo do tipo, ele
diria para eu dar o meu jeito. Depois de me xingar, é claro. Porém, Letícia
não precisa saber disso.
Ela fica em silêncio, como se estivesse me desafiando, e eu dirijo
sem destino. O sol começa a se pôr, e o céu alaranjado está magnífico.
Finalmente, depois de protelar, Letícia me passa um endereço,
contando que mora com o irmão. Ela não diz mais nada, e só responde às
minhas perguntas de modo monossilábico, o que me deixa muito zangado.
Porém, eu não comento nada, pois não quero afastá-la.
Chegamos ao seu bairro, e eu estaciono no meio-fio, bem em frente
ao prédio onde ela mora. Observo ao redor, parece ser uma rua tranquila.
— Eu poderia agradecer a carona, mas não há razão para isso, já que
foi você que criou toda essa confusão — fala e coloca a mão na maçaneta.
— Pode liberar minha saída agora? — pergunta, lançando-me um sorriso
falso.
Eu permaneço como se estivesse tranquilo e arqueio as
sobrancelhas.
— Por que a pressa?
— Tenho mais o que fazer.
— As reuniões do Alexander costumam demorar, você ainda não
teria chegado em casa.
Ela sopra, impaciente.
— O que me faz lembrar que eu posso ficar sem emprego, e isso me
faz ficar com mais raiva de você, então, é melhor você me deixar sair de
uma vez, antes que me arrependa de estar aqui — declara, exasperada.
Letícia está certa, eu devo deixá-la e ir embora, mas, no fundo, eu
não quero que ela vá. Eu quero mesmo é matar a saudade e experimentar o
gosto de sua boca para saber se ainda é tão deliciosa.
Sorrio, pois devo estar com algum problema, afinal, eu tenho que
odiá-la, não desejá-la.
— Amanhã, eu estarei aqui. Não pense em fugir ou fazer alguma
gracinha, ou vai se arrepender — ameaço e destravo a porta.
Letícia não responde nada, e, antes de sair, eu seguro seu pulso.
Sinto um choque passar pelo meu corpo e percebo sua pele se arrepiar. Ela
olha para onde minha mão está e sua respiração contrai.
— O que é agora? — indaga, ofegante.
Merda! Como eu quero essa mulher, como anseio por ela...
Letícia sobe os olhos até os meus e nós nos encaramos. A tensão
sexual é tão forte que parece palpável. Meu corpo queima, eu sinto minha
ereção empurrar com energia dentro da calça, enquanto meu coração
explode no peito. Eu não esperava sentir algo tão forte e dominador. E sei
que ela sente o mesmo.
— Eu... — Minha garganta seca não permite que minha voz saia tão
clara, então provoco uma tosse. — Mande um beijo para a minha filha, por
favor — peço, e Letícia acena.
Finalmente eu a solto. Ela sai do carro e fecha a porta com força.
Passa correndo pela calçada e entra no prédio. Quando some das minhas
vistas, eu volto a respirar normalmente. Olho para onde ela estava sentada e
algo se corrói dentro de mim.
Penso nela com a pequena Geovanna, em como deve ser lindo ver as
duas juntas, e me sinto miserável, pois perdi alguns anos fundamentais da
vida da minha filha, e tudo por causa de uma briga familiar que eu nem sei
como começou.
Não é justo que minha filha pague por isso. Volto a olhar para o
prédio e ligo o carro. A angústia que me assola me faz querer chorar. E a
única vez que eu me senti assim foi quando descobri sobre Letícia. Foi na
tarde em que eu não a deixei falar nada. Pois, como ela mesma disse, eu já
estava envenenado.
Agora, eu me pergunto: e se eu a tivesse escutado? E se o que
tivesse a falar fosse verdade?
E se Letícia não for o que eu pensei durante todos esses anos, eu
nunca me perdoarei, pois esse fato me deixou longe da minha filha e da
única mulher por quem eu fui capaz de sentir alguma coisa.
- 07 -

Letícia

Eu não esperava que meu dia terminasse dessa maneira. Reencontrar


Heitor não estava nos meus planos, ao menos não por enquanto. Eu
pretendia contar para Geovanna sobre seu pai, mas pensava em fazer isso
quando ela tivesse idade suficiente para entender certas adversidades da
vida.
Entro no apartamento de meu irmão e o vejo deitado no tapete da
sala assistindo ao desenho da Barbie. Eu rio de sua concentração, pois
minha filha brinca com blocos de montar ao seu lado, nem olha em direção
à TV. Leandro pensa que seu marido e eu não sabemos que é ele quem gosta
de assistir aos desenhos da Barbie e usa a sobrinha para isso.
— Boa noite. — Coloco minha bolsa sobre a mesa e olho para
Leandro.
Ele se senta com rapidez e me analisa com expressão preocupada.
Geovanna larga seus brinquedos e corre para os meus braços.
— Mamãe chegou, oba! — Ela se agita, e eu me abaixo para pegá-la
no colo, abraçando-a e beijando seu rosto.
— Oi, meu amorzinho! Eu estava com saudades, e você?
Ela olha para mim e dá um sorriso. Seus olhos azuis, como os do
pai, fitam-me com entusiasmado.
— Você trouxe meu bolo? — pergunta, e eu entorto a boca, pois
havia prometido mais cedo que traria seu bolo favorito quando retornasse.
— Mamãe não passou na padaria, meu bem, desculpe-me —
respondo.
— Minha linda, deixe a mamãe tomar um banho, ela está cansada.
Titio comprou uva para você. — Leandro se aproxima e me salva.
No mesmo instante, Geovanna sai dos meus braços e começa a
pular, batendo palma.
— Uva! Uva! Quero uva! — repete.
Eu me levanto. Leandro e eu nos encaramos e rimos. Toda vez que
queremos distrair Geovanna de qualquer coisa, oferecemos uva ou
melancia, as duas frutas que ela mais ama comer.
— Vejo que está cansada, vá tomar um banho. Depois... eu quero
saber tudo — sugere meu irmão. E, antes que eu fale alguma coisa,
Geovanna puxa sua mão, pedindo por suas uvas.
Vou para o quarto, pego minha roupa e sigo para o banho. Embaixo
do chuveiro, fecho os olhos e deixo a água deslizar por meu corpo. Se eu
disser que nunca fantasiei esse encontro, estarei mentindo. Foram muitas as
vezes que imaginei, porém, eu não estava preparada. Heitor me magoou
muito. Ele foi o único homem que eu tive na vida, o único que amei e
confiei.
Mesmo depois de meu pai falar barbaridades sobre ele, eu não
permiti que me enchesse com o seu veneno, e em nenhum momento eu
deixei de acreditar que Heitor realmente sentia algo por mim. Mas eu me
enganei, e todas as coisas que ele disse ficaram cravadas em minha
memória.
O fato de eu ter sentido tanto o que ele fez foi por estar muito
apaixonada. Eu o amava tanto que me entreguei a ele por completo, deixei
de lado todos os conselhos que minha mãe me dera, sobre o amor ser
traiçoeiro. E eu me esqueci da minha promessa de não me deixar ser
dominada nem pelo desejo, nem pelo coração.
Termino o banho e, depois de vestida, volto para o quarto e me sento
na cama. Posso ouvir Geovanna conversando com o tio. Apesar de tudo que
passei por causa do romance que vivi com Heitor, eu sou grata, pois minha
filha me traz muitas alegrias.
Agora, aconteceu o inesperado. Em nenhum dos meus devaneios eu
idealizei que Heitor fosse querer ter contato com a Geovanna, afinal, tinha
deixado claro a sua repulsa sobre ter um filho comigo. O meu medo é que
ele, em algum momento, venha a ficar arrependido e perceba que realmente
não tem aptidão para ser pai. Não que isso faria diferença para mim, mas
devo pensar apenas no bem-estar da minha filha.
Para ser sincera comigo mesma, eu tenho medo do futuro. O meu
grande receio é em relação à família dele e ao meu pai. Eu venho me
mantendo afastada do meu pai; a última vez que soube dele, eu ainda estava
na Espanha. Leandro também não tem contato, e sabe tanto quanto eu: que
ele é sócio de um empresário que presta serviços para grandes empresas.
Meu pai sempre foi muito rancoroso e nunca aceitou o fato de ter
feito um mau negócio e perdido tudo, além de ter um convívio tóxico com a
minha mãe. Ele a maltratava, e eu cresci o ouvindo dizer que ela era resto
de outro homem e que se casou com ela por pena. Minha mãe sofreu muito,
mas aguentou muita coisa pelos filhos. No meio de tudo isso, vem a Família
Pigozzi. Eles odeiam a minha família.
A rixa entre eles é de muito tempo, e eu tenho certeza de que minha
mãe sabia o motivo. Porém, tudo sempre foi muito nebuloso. O que
ninguém sabe é que, no dia em que eu descobri estar grávida do Heitor, ao
sair de casa, um homem estava à minha espera, e sua ameaça estará
marcada para sempre em minha lembrança.
“Veja bem o que vai fazer... Muita gente pode sair machucada, não
pense que vai se dar bem, sua vadia. Pois, se for necessário e você insistir
nessa relação, ele morre”, ameaçou quando me parou na calçada, bem em
frente à minha casa.
O homem era elegante, usava óculos escuros e cheirava a gente rica.
E quando eu afirmei que não entendia o que falava, ele deu um sorriso,
olhou ao redor e voltou a me olhar. Então, segurou meu pulso, assustando-
me.
“Sua amada mãe já morreu, você não vai querer o mesmo destino
para o seu amante”, segredou, e seu hálito tocando minha face me causou
horror. “Não se meta conosco, garota! E se abrir o bico sobre isto, vão
você e ele para o buraco! Cuidado, nós somos capazes de qualquer coisa,
assim como o nojento do seu pai. Mas nós, para nos livrarmos de vocês,
somos capazes até de sumir com sangue do nosso sangue” completou,
apertando meu pulso com força.
O homem saiu ajeitando o terno feito sob medida. Olhou de um lado
para o outro e caminhou como se estivesse passeando.
Antes, eu já havia sofrido a ameaça de meu pai, de matar o Heitor.
Em seguida, esse homem, que não tinha cara de bandido, era jovem e
bonito, mas tinha uma voz fria e cortante. E mesmo com todas as
intimidações, eu havia decidido ser franca com o Heitor. Na minha cabeça,
o que sentíamos era mais forte do que essa rixa familiar.
Eu tive medo, afinal, o Heitor corria risco dos dois lados, assim
como eu. Na minha inocência, eu acreditei que se contasse sobre o homem
e o que disse, Heitor descobriria quem era e resolveria tudo. Mas nada saiu
como eu esperava, e quando Heitor me dirigiu aquelas ofensas, eu percebi
que o seguro era me manter afastada, não valeria a pena correr o risco se ele
não quisesse ficar comigo. E parte de eu ter escondido a minha gravidez foi
para preservá-lo. Assim, eu tinha certeza de que ele ficaria bem.
Mas agora Heitor descobriu sobre a Geovanna, e eu não faço ideia
de como sua família poderá reagir. Será que ainda sustentam tanto ódio?
Respiro fundo e percebo meu irmão entrar no quarto.
Ele está de bermuda rosa e uma camisa com vários flamingos
estampados, bem do seu estilo.
Eu o encaro e sorrio.
— Cadê a Geovanna? — pergunto.
— Está assistindo, pela terceira vez hoje, ao filme A Grande
Jornada. Ela não quer mais ver a Barbie — responde e faz beicinho, eu rio.
Leandro cruza os braços e me observa com preocupação. — Como foi a
conversa com o nervosinho?
Passo os dedos pelos cabelos e sinto meus ombros tensos.
— Não foi o que eu esperava. Ele quer conhecer a Geovanna. E
ainda afirmou que quer manter um convívio com ela — conto, desanimada.
Leandro parece pensar por alguns segundos, então solta o ar pela
boca.
— Ele tem esse direito, por mais que você não queira — indica,
olhando-me com afeto. — Mas eu entendo suas incertezas, minha irmã.
Abaixo a cabeça e olho para os meus dedos sobre os joelhos.
— Não é só por ele, Leandro — falo em voz baixa e volto a olhá-lo.
— Tem aquela família dele, o nosso pai e, o mais importante de tudo, a
Geovanna.
Ele acena.
— Devemos nos preocupar com a Geovanna. O nosso pai é um
imbecil que sequer tem capacidade para ser ruim de verdade. Quanto àquela
família... você não está sozinha! Se vierem com ameaças, nós não vamos
deixar barato, e isso inclui o nervosinho — diz, e eu até solto uma risada
para o apelido que arrumou para o Heitor.
— Aquela família é poderosa...
— Pode ser, mas o Heitor não sabe da ameaça que te fizeram —
lembra.
Balanço a cabeça.
— De repente, sabe. Ou, se não sabe, não adiantaria eu contar —
concluo, com o coração apertado.
Leandro estica o braço e toca meu ombro.
— A maneira como olhou para Geovanna... foi tocante. Ele ficou
mexido com a filha. Se o que vi em seu olhar for verdadeiro, o nervosinho
não vai permitir que aquela família do inferno faça mal a ela — aponta,
cheio de certeza.
— Eu gostaria que isso fosse verdade, mas sei que não é possível.
Você sabe sobre as palavras do Heitor no passado.
— Sim, eu sei. E até acho que ele foi um filho da puta e merece
sofrer, mas acredito que vocês dois foram vítimas de uma armação e que o
nosso pai está envolvido nela — comenta.
— Tio...? Tio...? — Geovanna chama da sala, e Leandro sai
correndo.
Meu irmão sempre defendeu nessa hipótese. Eu até acredito que
tenham maquinado para nos separar, mas isso não justifica o Heitor ter me
tratado tão mal.
Eu me levanto e vou ver minha filha. Quando chego à sala, levo um
susto. Ela ficou alguns minutos sozinha, mas parece ter passado um
furacão. Tem farelo de biscoito por todos os lados e cascas de uva em cima
do sofá. Sem contar os brinquedos espalhados.
Leandro olha para mim e sacode os ombros. Geovanna está em cima
do sofá, com a boca suja, e me olha com um sorriso safado. É a coisa mais
linda do mundo. Mas como pode uma coisinha dessas fazer tanta
algazarra? Eu não entendo.

Na manhã seguinte, após uma noite mal dormida, eu me levanto,


pois escuto uma conversa na sala. Vou ao banheiro e, depois de lavar o
rosto, sigo para a sala. Vejo Leandro sentado no sofá, virado de costas para
mim. Na poltrona, perto da janela, está Aluísio, que sorri. Ele é o primeiro a
me ver, e alarga ainda mais o sorriso.
— Olha quem acordou — diz.
Leandro se vira, então percebo alguém sentado ao seu lado, e encho-
me de alegria ao reconhecer Lia, que agora tem o cabelo pintado de azul.
Ela se levanta e corre até mim, dando-me um abraço apertado.
— Que saudades de você! Eu nem acredito que estou aqui, com
todos vocês — murmura, emocionada.
Eu a abraço de volta.
— Lia... que felicidade! — exclamo.
Nós continuamos abraçadas por um tempo. Ela se afasta e me olha,
então volta a me abraçar. Sendo mais alta que eu, minha cabeça toca seu
ombro.
Aluísio deixa a sala para ir preparar o café. Ficamos os três irmãos,
e são tantos assuntos para conversar que não conseguimos concluir nenhum.
Quando Geovanna acorda, Lia se emociona, pois não conhecia a sobrinha.
Passamos a manhã toda grudados. Apesar de nosso pai ter sido uma
pessoa mal-intencionada e ter tentado colocar um irmão contra o outro, nós
somos muito unidos. Mesmo com a partida de Lia, logo após a morte de
nossa mãe, sentíamos a conexão que nos unia e não escondíamos nada um
do outro.
Meu telefone toca em cima da mesa, e quando vejo que é um
número desconhecido, eu não atendo, pois, na verdade, sei quem é.
— Não vai atender? — Leandro pergunta, e eu nego com a cabeça,
ainda olhando para o telefone. — É ele?
Eu aceno.
— Não vai poder fugir a vida toda — diz Lia. Uma das primeiras
coisas que contamos a ela foi sobre Heitor, e eu fiz um resumo de suas
exigências.
Leandro e ela me olham. Ambos sentados no chão, em meio aos
brinquedos de Geovanna, que nem faz ideia do que está acontecendo.
— Eu tive esperança de que ele fosse desistir — confesso.
— Depois do que você contou? Duvido! — Lia articula e olha para
a sobrinha, que agora rabisca um papel. — E não tem como resistir a uma
coisinha dessas — diz com sorriso amoroso.
É impressionante como ela se parece com a nossa mãe. Sinto meus
olhos lacrimejarem, pois é como se fosse mamãe ali sentada.
— O que foi? — indaga Leandro, e Lia volta a me olhar.
Dou um sorriso e me aproximo deles, então também me sento no
chão.
— Eu me lembrei da nossa mãe — conto.
— Não tem como não lembrar, ainda mais com a Lia aqui —
Leandro responde, melancólico.
Lia fica com o olhar triste. Saudoso, na verdade.
— Ela deve estar feliz por nos ver juntos aqui. Sempre pediu para
nos mantermos unidos, independente daquele lá — declara.
Nós não gostamos de falar muito sobre a nossa mãe, pois sua morte
foi muito bruta, um acidente terrível. Disseram que um adolescente sem
carteira de motorista causou toda a tragédia. Porém, quando Leandro e Lia,
por serem os mais velhos, foram em busca de informações, algumas
semanas após o acidente, não havia muito a ser averiguado. Até o carro em
que mamãe estava, segundo o policial, foi rebocado para perícia, e
simplesmente desapareceu. Assim como o referido adolescente, que até
hoje não sabemos quem é.
Geovanna se levanta e começa a dançar de repente, do seu jeito
desalinhado e muito engraçado, tirando a todos dessa nuvem de tristeza e
lembranças ruins.
— Essa menina é uma graça, puxou ao tio — diz Leandro.
Meu telefone volta a tocar e todos me olham, então algo
surpreendente acontece. Minha filha pega o celular da minha mão e me
mostra, bem perto do meu rosto. Ela dá um sorrisinho lindo e vira a cabeça
de lado.
— Mamãe, atende logo! Fala alô...
Meus irmãos e eu nos olhamos. Leandro acena e olha para o celular
tocando na mãozinha de Geovanna, enquanto Lia sussurra para eu fazer o
que a sobrinha pede.
Pego o aparelho e me levanto. Peço para olharem minha filha e vou
para o quarto.
— Alô? — Atendo de uma vez.
— Pensei que não fosse atender. — Sua voz baixa e rouca faz
minha pele arrepiar.
— Estava ocupada. Além do mais, eu tinha esperança de que
desistisse dessa loucura — confesso.
Escuto sua risada e penso na época em que eu amava fazê-lo rir.
— Letícia, até parece que não me conhece.
— E não conheço mesmo — respondo, irritada por ele ainda mexer
tanto comigo. — O que você quer?
— Você sabe o que eu quero, Letícia. Mas vou fingir que talvez não
tenha entendido — fala, e sinto sua voz séria. — Eu quero ver a minha
filha. Ainda hoje!
Ando de um lado para o outro, nervosa.
— Hoje não dá.
— E posso saber o motivo, Letícia? Porque eu fui privado de vê-la
desde o nascimento, e nada é mais importante do que um filho conhecer o
pai.
— É mesmo? Eu não sabia que você entendia tanto sobre o que
importa para a minha filha — esbravejo.
Heitor solta um xingamento.
— Nossa filha! A Geovanna é tão sua quanto minha. E, sim, ter um
pai por perto é muito importante para qualquer criança.
Se for um pai parecido com o meu, é melhor ficar sem pai!, penso.
— Amanhã... amanhã, eu darei um jeito. Mas, hoje, eu não posso.
Minha irmã chegou essa madrugada do exterior, e nós não nos vimos por
quase cinco anos — conto a verdade.
Ele fica em silêncio.
— A sua irmã... a Lia? Ela só voltou agora? — pergunta, e eu
enrugo a testa.
— Como você sabe da Lia? — questiono, intrigada.
Heitor ri.
— Você não me contou muita coisa quando nos conhecemos, mas
tocava muito no nome dos seus irmãos. Quando eu a levei ao meu
apartamento pela primeira vez, você viu uma foto minha na Grécia e
contou sobre sua irmã, disse que ela havia partido fazia dois anos e viajava
pelo mundo. Lembro-me do quanto parecia triste e com saudades dela. —
Fico surpresa por ele se lembrar dessa conversa, e com tantos detalhes. Eu
não imaginava que Heitor fosse capaz de algo assim.
Respiro fundo.
— Sim, é a Lia — respondo simplesmente.
Heitor também suspira.
— Tudo bem. Mas, amanhã, você não tem desculpas — diz, e outra
vez eu me surpreendo, pois pensei que ele fosse criar problemas ou dizer
que estou mentindo. — Agora, me diz: como está Geovanna? Você falou de
mim para ela?
Ele não sabe nada sobre crianças, isso é fato.
— Ela tem dois anos e meio, não entenderia nada que eu dissesse.
— É, tem razão. Então, o melhor é que eu entre na vida dela logo.
Quero que minha filha cresça sabendo que tem o pai ao seu lado —
declara, e sua voz soa contrariada.
— Okay, você é quem sabe. Eu só espero que não brinque com os
sentimentos dela, Heitor, pois crescer sem o pai por perto é melhor do que
crescer com um pai ressentido e vingativo — expresso com voz firme.
Posso imaginar as engrenagens em sua cabeça e escuto sua
respiração forte.
— Eu não vou fazer nada que possa prejudicar minha filha, te
garanto — promete com segurança.
Dou uma risada.
— O problema é que eu não confio em você — revelo.
— Bom, eu não posso fazer nada quanto a isso, Letícia. Mas o
tempo te mostrará a verdade. — Desta vez, ele soa com suavidade.
Fecho os olhos apertados.
— Preciso desligar, amanhã nos falamos.
— Dê um beijo na Geovanna por mim — pede.
Eu não respondo, só desligo. Jogo o telefone em cima da cama e
sinto raiva por querer que ele se importe comigo. Mas isso não vai
acontecer. Eu sou uma idiota por ainda pensar em Heitor e ficar imaginando
como ele pode estar agora.
Volto para a sala, Aluísio agora arruma a mesa para o nosso almoço.
Ele dá um sorriso e volta para a cozinha para terminar a refeição. Caminho
até meus irmãos, sento-me no chão, pego Geovanna e a abraço forte. Ela
chia, então eu a solto.
Lia toca meu braço e me observa com carinho.
— Está tudo bem? — pergunta.
Balanço os ombros e vejo minha filha brincar. Ela está distraída com
suas bonecas.
— Eu não sei dizer — confidencio num sussurro.
— Ele exigiu ver a Geovanna hoje? — questiona Leandro, e eu nego
com um gesto. — Então, por que parece tão aflita, minha irmã?
Respiro fundo e abraço os joelhos.
— Eu o odeio tanto e ao mesmo tempo... — As palavras morrem em
minha boca.
Leandro me abraça e beija minha cabeça.
— Não fique assim, minha linda — sussurra.
Geovanna para de falar com sua boneca e me olha, cheia de amor.
— O que foi, mamãe? Tá dodói? — pergunta com sua voz doce, e
eu sorrio.
— Mamãe está bem, meu amor — minto e jogo um beijinho para
ela.
Geovanna volta a brincar, e eu conto para os meus irmãos sobre a
breve conversa que tive com Heitor.
— Foi você quem deu seu número para ele? — Lia pergunta.
Eu aceno.
— Sim, ele teria conseguido de qualquer jeito. Conheço o Heitor.
Quando empaca, ninguém consegue tirá-lo do lugar.
— Pois é... e o nervosinho se esqueceu de que foi ele a insistir para
sair contigo no passado — comenta Leandro, aborrecido.
— Talvez ele pense que eu o hipnotizei — digo, rindo.
— Agora ele não pode mais te acusar de nada, Letícia. E depois que
eu vi a reação dele ontem com a minha sobrinha, percebi que está sendo
sincero. O Heitor se apaixonou por essa menina. A maneira como a olhou
quando eu estava indo embora foi comovente — declara Leandro.
Heitor se mostrou muito impactado ao ver Geovanna, mas eu ainda
tenho minhas dúvidas. Porém, é como ele disse: o tempo mostrará se fala a
verdade.
Aluísio aparece na sala e nos chama para o almoço. Meu cunhado é
perfeito na cozinha, mas não gosta que ninguém o importune enquanto
cozinha. Leandro vive dizendo que foi pego pelo estômago e só depois se
apaixonou de verdade por Aluísio.
Primeiro, eu arrumo a comida de Geovanna e a coloco em sua
cadeirinha. Como está ficando ranzinza, eu sei que está com fome.
O almoço é descontraído, com Lia contando sobre suas viagens e
aventuras. Seu trabalho num famoso site de viagens é perfeito, pois ela
pode conhecer o mundo e muitas culturas.
Depois do almoço, Geovanna tira seu cochilo, e eu volto para a sala.
Eu ainda tenho algumas questões práticas para resolver. Principalmente,
sobre o trabalho na Mansão. Eu não tive coragem de ligar para lá. Conheço
a fama do senhor Ball, acredito que ele não deixará que eu volte a trabalhar.
Sem contar que Heitor é seu amigo, e eu não sei o que, ou se, eles
conversaram.
Logo agora que eu estava arrumando uma escolinha para a
Geovanna...
De qualquer maneira, eu não tenho como fugir, preciso ver o que o
Heitor pretende. Se o que falou for verdade, eu ainda precisarei ver as
questões legais, afinal, minha filha está registrada apenas no meu nome, e
eu não sei se ele vai querer registrá-la.
São tantas pendências e preocupações que eu nem sei o que pensar.
A única coisa que sei é que eu não posso deixar Heitor entrar em meu
coração novamente. Seria um desastre para mim!
- 08 -

Heitor

Deixo o carro estacionado numa rua próxima à praça onde Letícia


combinou de levar Geovanna para que eu as encontre. Estou adiantado, mas
preferi vir mais cedo. Enquanto caminho, sinto minhas mãos suarem e
fricciono as palmas contra a calça. Estou muito nervoso com a perspectiva
de encontrar minha filha. Será que ela vai gostar de mim? E se ela chorar, o
que eu devo fazer?
Ainda tem o fato de eu me encontrar com Letícia. Desde o episódio
no carro, eu não sou capaz de esquecer suas palavras e a maneira como agiu
comigo. Saber que ela teve uma filha minha, deixou-me revoltado, a
princípio. No entanto, depois que eu a deixei em sua casa e fui para a
minha, um sentimento de culpa tomou conta de minha alma.
Em quase 48 horas, eu passei por vários estágios de emoção. Mas a
culpa foi a que mais se destacou, e eu sigo me sentindo do mesmo modo.
Eu sequer tive coragem de atender a ligação de Alexander, pois não quero
falar com ninguém. Além do mais, eu não sei o que devo dizer.
Eu também não conversei com meus pais, já que estou com muita
raiva e não quero descontá-la neles, principalmente em minha mãe. Sei que
ela é vítima das ações de meu pai; embora não perceba, minha mãe é
sugestionada pelo marido.
Acredito que Letícia tem sua parcela de culpa, afinal, ela sabia da
rixa entre as nossas famílias. Aceitou ser usada pelo pai para me atingir e
foi dissimulada. Entretanto, eu não deveria ter agido daquela maneira, pois
Letícia era apenas uma menina e fazia o que pai mandava. Eu poderia ter
sido mais relevante.
Errei, eu sei. Deixei a raiva e a mágoa falarem por mim, e com isso
eu não pude ver minha filha nascer, algo do que me ressentirei para sempre.
A praça está cheia, e algumas crianças brincam no parquinho. Passo
os olhos em volta e não vejo nem sinal de Letícia. Verifico o relógio e
confirmo que ainda é cedo.
Eu não queria me encontrar com elas aqui, cheguei a sugerir pegar
as duas e levá-las para a minha casa, mas Letícia se negou, propondo que
nos víssemos aqui. Tentei argumentar, mas ela foi firme. Uma coisa é certa,
essa mulher não é mais a mesma doce Letícia de três anos atrás.
Sem ter o que fazer, além de esperar, observo as crianças brincando
e correndo de um lado para o outro. Elas fazem muita algazarra, é divertido
assisti-las.
Como se algo me atraísse, levanto a cabeça e olho para o outro lado
da rua. Meu coração dá um baque ao ver Letícia de mãos dadas com a
minha filha. Ela usa uma saia jeans com alguns brilhos, blusa rosa e tênis,
também na cor rosa, muito estilosos. Seu cabelo está preso no alto da
cabeça, onde tem um laço.
Eu dou um sorriso e subo os olhos, observando Letícia. Ela está tão
linda que eu chego a prender a respiração. Dentro de mim, um sentimento
de saudade, de desejo. Recordo os momentos em que a tive em minha
cama. Eu me sentia completo, algo que não aconteceu com nenhuma outra
mulher.
Fico paralisado olhando para as duas. Vejo Letícia se abaixar e
pegar minha filha no colo antes de atravessar a rua. Ela sorri e cochicha
alguma coisa no ouvido da menina, que dá um sorriso e aperta o pescoço da
mãe. Ver as duas juntas me deixa sensibilizado, e quando Letícia olha para
frente e percebe minha presença, é como se uma corda invisível a puxasse
até mim.
Ela anda devagar, e, ao se aproximar, seu nervosismo é perceptível.
— Você chegou cedo — expressa, séria.
Dou um sorriso vago.
— Eu não queria correr o risco de me atrasar — respondo e olho
para a minha filha, ainda em seu colo. Eu não tenho como definir o que
sinto, é uma enxurrada de sentimentos, mas a felicidade plena de ver essa
menina invade meu coração. Ela me olha com curiosidade, eu alargo o
sorriso. — Olá! — cumprimento.
— Fala oi, meu amor! — Letícia pede com voz carinhosa.
Geovanna sorri, tímida.
— Oi...
— Você é muito linda. Como você se chama?
Ela fica calada, encarando-me.
— Diz assim: “eu sou a Geovanna” — Letícia orienta.
— Ovanna é meu nome — responde, e sua voz infantil é doce.
Observo seu rosto, e é assustador como ela se parece comigo, só que
muito mais linda e fofa. Fico sem saber o que fazer ou o que falar. Eu não
sei como interagir como uma criança. Sinto-me perdido, então olho para
Letícia, que me observa com atenção.
Nossa, é impressionante a vontade que tenho de beijar essa mulher!
— Vamos nos sentar no banco — sugere.
Vejo que carrega uma bolsa grande. Como segura Geovanna, eu
toco seu ombro e percebo um tremor passar por seu corpo.
— Eu posso carregar essa bolsa — ofereço.
Penso que ela negará, mas, por fim, acena levemente e permite que
eu pegue a bolsa. Surpreendo-me com o peso, e Letícia balança os ombros.
— Sempre que eu saio com a Geovanna, preciso carregar suas
coisas.
Caminhamos lado a lado e nos sentamos no banquinho.
— Mamãe, mamãe, pode ir no balanço? — pergunta a menina,
empolgada.
— Sim, mas espere um pouco — fala Letícia, então me olha. —
Você quer esperar aqui, enquanto eu a deixo brincar um pouco? Porque, se
eu não deixar, ela vai ficar agitada e chorosa.
— Eu posso ir junto — respondo.
Letícia dá de ombros e se levanta. Eu acompanho as duas. Geovanna
anda apressada até o balanço para crianças menores. Então Letícia a coloca
sentada no brinquedo e empurra. A menina dá um grito de felicidade, e sua
risada gostosa me contagia.
Eu fico ao lado de Letícia.
— Ela é uma menina esperta, eu não pensava que pudesse falar tão
corretamente com a pouca idade — comento.
Letícia continua empurrando Geovanna.
— O marido do meu irmão é fonoaudiólogo, com certeza ele foi
fundamental para o desenvolvimento da fala da Geovanna — conta,
prestando atenção na filha. — Ele diz que a Geovanna é muito inteligente, e
como começou a falar muito cedo, sua dicção foi desenvolvida com
facilidade.
Cruzo os braços e observo Geovanna se divertindo no balanço.
Sinto-me orgulhoso de minha filha.
— Você pode me mandar algumas fotos dela quando bebê? —
pergunto e volto a olhar para Letícia.
Ela acena.
— Sim. Eu te envio mais tarde — afirma.
Passo a mão pelo cabelo, estou me sentindo um estranho, entretanto,
este é o lugar em que devo estar. Eu quero fazer parte disso. Quero ter com
a minha filha o mesmo entrosamento que Letícia tem com ela.
— Eu não quero ser um estranho para ela, Letícia — declaro de
repente.
— Se o que você diz é verdade, com o tempo não será mais um
estranho. A Geovanna está com dois anos e meio, ela é uma criança muito
acolhedora, logo se acostuma com a sua presença.
— Eu não quero apenas que ela se acostume, eu quero mais que
isso...
— Tudo no seu tempo, Heitor — Letícia me corta, então, sem deixar
de empurrar Geovanna, olha para mim. — Quando voltamos da Espanha,
há quase um ano, eu pensei que ela fosse estranhar tudo. No entanto, minha
filha me surpreendeu com a facilidade que teve de se adaptar a uma
mudança tão bruta.
Eu estreito o olhar.
— Então... vocês viviam na Espanha — atesto.
Letícia se vira para frente.
— A Geovanna nasceu lá — conta, um tanto desgostosa.
São tantas informações que eu nem sei se gostaria de saber. Mas
Letícia não parece que me contará tudo com facilidade, eu preciso ter
paciência, algo que não faz parte do meu perfil.
Escuto a gritaria das crianças e olho ao redor. Vejo um casal
brincando com um menininho, eles se divertem juntos, um correndo atrás
do outro. Eles têm uma conexão invejável. O homem pega a mulher no
colo, e o menino corre em sua direção, rindo e pedindo para o papai soltar a
mamãe.
Eu sou um homem com tudo ao alcance, cresci numa família
abastada, nunca faltou nada na minha vida, e até bem pouco tempo atrás eu
me considerava um privilegiado, mas, agora, nesta praça, assistindo a essas
crianças e suas famílias brincarem, algo simples em suas vidas, percebo que
eu não tenho nada.
Volto a apreciar as duas. Eu não tenho ideia do que fazer para
conquistar o amor da minha filha, mas farei o que for necessário para
receber dela o olhar confiante que oferece à mãe toda vez que a olha.
— Letícia...? — chamo, e ela me olha. — Nós precisamos
conversar. Sem ressentimentos ou desconfianças.
Ela acena em concordância e entorta a boca.
Jesus, vai ser muito difícil lutar contra essa atração!
— Eu sei — murmura, derrotada.
Geovanna chama sua atenção, pedindo para ir ao banheiro. Letícia
pede que eu aguarde e corre com a menina até um trailer. Aproveito para
admirar Letícia. Ela continua com o corpo delgado, com suaves curvas e a
bunda empinadinha. Será que permanece tão apetitosa nua como no
passado? Com certeza sim, pois todo o meu corpo fica em brasa com a sua
proximidade. Nem a presença de nossa filha contribui para que eu não
fantasie sobre Letícia.
Noto algo bater em meu pé e olho para baixo. Vejo uma bola e me
abaixo para pegá-la.
— Oi, moço. Essa bola é minha. — Ouço a voz de uma criança, um
garotinho por volta dos quatro anos.
— Rodrigo, não incomode o rapaz. — Uma mulher loira e com uma
blusa muito decotada para a ocasião para perto do menino. Seus olhos
viajam pelo meu corpo. — Este é meu irmãozinho, espero que ele não o
tenha incomodado — diz, empinando os peitos.
Eu balanço os ombros e olho para o menino, entregando sua bola.
— Aqui está — ofereço, e ele faz uma careta.
O garoto olha para a irmã.
— Agora eu posso voltar a brincar com meus amigos? — pergunta.
Eu olho para a mulher, erguendo as sobrancelhas. Ela me olha e
sorri, sem jeito.
— Pare de bobagens e não volte a perturbar as pessoas! —
demanda. O menino sacode a cabeça e sai correndo. Ela volta a me olhar e
dá um sorriso jocoso. Até que é bonitinha, mas irritante. — Vi que chegou
sozinho e em seguida se encontrou com sua filhinha.
Coloco as mãos nos bolsos e a encaro, sério.
— E como pode ter tanta certeza disso?
Ela sorri, balançando os ombros.
— Esse tipo de cena é comum aqui no parquinho. Homens que
aparecem e brincam com seus filhos, trocam, ou não, ideia com suas ex, e
depois cada um vai para o seu lado — comenta.
— Muito observadora. E embora não seja um assunto da sua conta,
você está errada.
Ela vacila o sorriso e morde o lábio.
— Então você não é o pai da menina e aquela não é sua ex?
Essa mulher é muito confiada.
— Sou o pai. Quanto àquela moça ser minha ex... não vem ao caso.
— Voltamos. — Letícia para ao meu lado e olha com desconfiança
da loira para mim. Ela não gosta de ver a mulher aqui, mas não diz nada.
Eu sorrio e passo os braços pelos ombros de Letícia, pegando-a de
surpresa.
— Perfeito. Vamos brincar mais um pouco com a nossa filha —
expresso e conduzo as duas até o meio do parquinho.
Letícia se afasta do meu toque com a desculpa de pegar Geovanna
no colo.
— Quer voltar ao balanço, meu amor? — pergunta.
Geovanna bate palminhas e pula.
— Quero!
Ela volta a colocar a menina no balanço, e eu paro novamente ao
seu lado.
— Eu não conheço aquela mulher, ela só se aproximou para se
desculpar, pois seu irmão jogou a bola na minha direção — explico, incerto
sobre o porquê de fazer isso.
— Você não me deve explicações, Heitor. Se quis flertar, o
problema é seu.
— Mas eu não estava flertando — insisto.
Ela dá de ombros.
— Que seja.
De repente, Geovanna pede para parar de balançar, e Letícia a tira
do brinquedo. A menina olha em volta e fica com o dedinho no canto da
boca, como se estivesse decidindo o que fazer. Ela é apaixonante, além de
muito comportada.
— Escorrega, vamos? — Então olha para a mãe.
Letícia estreita o olhar e acena para a filha, depois me olha.
— Que tal você levá-la? Vou ficar no banco aguardando vocês.
Eu não acredito que ela deixará que eu brinque com Geovanna.
Sinto um receio em seu olhar, sei que se esforça para acreditar que eu
cuidarei da menina, e eu prometo a mim mesmo que não a decepcionarei.
— Adorei sua ideia, mas será que ela vai? — questiono, inseguro.
Balançando a cabeça imperceptivelmente, Letícia se abaixa e fica
cara a cara com a nossa filha, que a fita com atenção.
As duas juntas são lindas!
— Olha, a mamãe vai sentar um pouco, pois está cansada. O Heitor
vai com você no escorrega, e você vai prometer se comportar, tudo bem?
Geovanna olha para mim com desconfiança, parece incerta, e meu
coração dói ao pensar que minha filha não quer ficar comigo. Mas devo
entender, é a segunda vez que ela me vê, e na primeira vez eu não estava
com meu melhor humor.
Letícia e eu ficamos aguardando sua resposta, e eu já sei que ela não
vai querer.
— Tá bom, mamãe. Descansa, tá? — declara, e eu solto o ar,
aliviado.
— Mas, antes, beber água, para hidratar — diz Letícia. Então,
levanta-se e abre a bolsa que eu carrego no ombro. Pega uma garrafinha e
entrega para Geovanna. — Não podemos esquecer a água — completa e
pega a bolsa.
Geovanna termina de beber sua água e entrega a garrafa para a mãe,
então faz algo me deixa radiante: pega minha mão! Eu sinto como se
estivesse sendo tocado por um anjo. Meu coração bate forte, exaltado de
felicidade.
Ela me olha e dá um sorriso, o mais lindo do mundo.
— Você me leva no escorrega? — pergunta.
Eu sorrio para a minha filha.
— Sim, meu bem! Eu te levo aonde quiser — respondo.
Olho para Letícia, que nos observa, emocionada. Então, ela se
afasta, e eu a vejo se sentar no banco, observando de longe.
Eu estava preocupado em como poderia agradar Geovanna. Cheguei
aqui cheio de medos. Mas estar com ela é tão simples. E ela é uma menina
de ouro. E muito falante. Emenda um assunto no outro, e na maioria das
vezes eu não acompanho o que diz, mas percebo que basta perguntar, então
ela repete tudo. Perco a noção do tempo. Vez ou outra, olho para Letícia,
ainda sentada no banco. Ela tem o olhar distraído e nos assiste de longe.
Deve pensar o mesmo que eu. Como seria se eu estivesse presente em sua
vida desde o início?
Geovanna sobe e desce no escorrega tantas vezes que eu perco a
conta. A menina tem muita energia, parece não se cansar nunca. Em
determinado momento, ela pede água, então eu a pego no colo para levá-la
até Letícia. E quando aperta meu pescoço com o bracinho, mais uma vez eu
fico emocionado de segurá-la em meu colo.
Sento-me com ela ao lado de Letícia, que entrega sua água e
aproveita para pegar um recipiente com desenhos de joaninha. Ela trouxe
uvas para Geovanna. Coloco minha filha sentada no banco, entre nós, e ela
devora a fruta. Assim, Letícia me conta sobre suas frutas favoritas.
— Nós precisamos ir, está quase na hora do almoço da Geovanna, e
ela costuma dormir um pouco na parte da tarde — aponta Letícia alguns
momentos depois.
Eu olho para ela e aceno. Odeio precisar deixá-las, mas Geovanna
tem sua rotina, e eu não quero atrapalhar. Isso me faz pensar que eu preciso
conversar com Letícia quanto antes.
— Sei que você está reticente sobre eu estar com a Geovanna, e até
entendo, mas não podemos adiar a nossa conversa, Letícia.
Ela observa Geovanna brincando com um bichinho de pelúcia,
sentada sobre uma toalha que forra o chão à nossa frente.
— Não podemos ter essa conversa agora, pois Geovanna vai nos
cortar. Ela não é de ficar quieta por muito tempo — pronuncia, e eu rio.
— Percebi — comento, e Letícia se vira para mim. — Vamos nos
encontrar hoje à noite. Tem como o seu irmão ficar com a Geovanna?
— Vou falar com ele. Eu não sei se planejou alguma coisa com a Lia
e o Aluísio — responde e desvia o olhar. — Mas eu te aviso.
— Okay.
Ficamos um pouco mais no parquinho, e eu brinco com Geovanna.
Sinto que ela não sabe como se dirigir a mim, e até tenho vontade de pedir
para me chamar de pai, porém, eu não quero ultrapassar os limites, devo
falar com Letícia a respeito.
Eu me despeço de Geovanna e prometo que a levarei para passear
muitas vezes. Letícia não fala nada, apenas nos observa, séria. Quando
entrego nossa filha para ela, ofereço novamente para levá-las para casa, mas
Letícia diz que não precisa, pois mora na outra rua e meu carro não possui a
cadeirinha adequada para levar Geovanna. Eu não insisto, só vejo as duas
partirem.
Geovanna, do colo da mãe, olha para mim e sorri, então joga vários
beijos, deixando-me envaidecido, pois tenho certeza de que gosta de mim.
No caminho para casa, eu faço vários planos em relação à
Geovanna, já que uma coisa é certa: eu quero essa menina na minha vida!
Ela terá o pai ao seu lado em todos os momentos, eu não perco mais nada
no que se referir à minha filha. E, por mais que eu negue, eu me sinto da
mesma maneira com relação à Letícia. Quando ela saiu com minha filha nos
braços, eu quis as duas comigo. Mas ter esse sentimento pela Letícia me
deixa perturbado.
À noite, eu retorno ao bairro de Letícia. Ela tentou se esquivar do
nosso encontro, mas eu fui irredutível, adverti que se ela não me
encontrasse, eu iria à casa de seu irmão e de algum modo resolveríamos as
nossas pendências. Eu não me importaria se tivesse ou não alguém em casa.
E não adiantaria ela usar Geovanna como desculpa, pois eu sei que a
menina dorme cedo.
Por fim, Letícia concordou, e agora eu a espero aqui na calçada,
ansioso por vê-la, e mais ainda para definir o futuro de Geovanna. Estou
encrencado, pois não tenho a mínima ideia de qual atitude tomar. Sei o que
quero, e mesmo que Letícia não acredite ou concorde, eu preciso deixar
claro e convencê-la de uma vez por todas que Geovanna é tão minha filha
quanto dela. Eu não vou me contentar com visitas esporádicas em pracinhas
ou outro lugar qualquer.
Eu vou frisar o que quero e fazer uma proposta. Só não sei como ela
vai reagir. Mas, seja como for, vou insistir até que aceite. Eu não aceitarei
um não como resposta. Uma vez ela partiu levando consigo uma parte
minha, e isso nunca mais voltará a acontecer, pois penso em jamais deixá-la
escapar novamente.
- 09 -

Letícia
Acabo de tomar banho e escolho uma roupa para vestir. Eu não
quero parecer arrumada demais, mas também não quero passar vergonha.
Não se trata de um encontro, é somente uma reunião para tratar os
interesses de Geovanna.
Leandro e Aluísio entram no quarto. Eu olho para eles rapidamente
e volto a procurar uma roupa adequada no armário. Vejo uma calça jeans e a
pego.
— O que é isso? — pergunta Aluísio, pegando a calça da minha
mão e fazendo cara de espanto.
Dou risada.
— Uma calça jeans. Não reconhece?
Ele olha para Leandro, que revira os olhos e pega a calça das mãos
dele.
— Eu te falei, ela só não vai com um saco de batatas porque não
tem um — expressa meu irmão.
Eu franzo a testa e arrumo a toalha enrolada em meu corpo.
— Vocês vieram aqui para fiscalizar o que eu vou vestir? — indago,
cruzando os braços e olhando de um para o outro.
— É claro! Nós não podemos te deixar sair vestida com qualquer
trapo — aponta Aluísio, empurrando-me com os ombros, e eu quase me
desequilibro. Ele para em frente ao meu armário e espia lá dentro. —
Vejamos se tem algo que preste aqui.
Meu irmão me segura pelos ombros e praticamente me joga para
trás. Eu fico indignada com esses dois. Coloco as mãos na cintura e faço
uma careta. Um cochicha com o outro, mas eu só posso ver suas costas.
— Olhem aqui: eu não estou indo a um encontro amigável ou
amoroso. Não pretendo me emperiquitar para aquele lá ficar pensando que
eu me arrumei para ele — especifico, porém, eles parecem não me ouvir. —
Ei, vocês dois?!
— Calma aí, irmãzinha. Eu não vou deixar que saia como uma
adolescente desleixada.
— Eu não ia me vestir assim — defendo-me, contrariada.
— Querida, você ia vestir uma calça jeans que já sabe até o caminho
da padaria, de tanto que a usa. E eu nem quero imaginar a blusa.
Provavelmente colocaria aquela camiseta preta de Madri — responde
Aluísio, sem me olhar, ainda mexendo no armário. — Aqui está! — diz,
animado, e se vira para mim segurando meu vestido azul-bebê.
Eu não digo nada, apenas nego com a cabeça.
— Sim, esse é perfeito! — grita Leandro, batendo palmas.
— Eu não vou com esse vestido. Vou me sentir inibida! E, como já
disse, eu não quero ficar arrumada demais — declaro olhando para o
vestido.
Leandro, balançando a cabeça, estica os braços e aperta meus
ombros com suavidade.
— Querida, esse vestido não é demais. Porém, você vai arrumada
sim! Vai passar aquele perfume maravilhoso e deixar seus cabelos soltos,
sem aquele rabo de cavalo medonho. E nada de inibição! — recita, os olhos
fixos nos meus.
Aluísio também para na minha frente.
— Letícia, mostre ao Heitor o que ele está perdendo. Mostre que
você é poderosa, linda e que continua gostosa. — Ele sorri, e eu mordo o
lábio enquanto avalio o vestido. — Olha, não dê a ele o gostinho de te ver
desajeitada.
— Isso, minha irmã. E faça o nervosinho sofrer, não deixe que ele te
seduza com aqueles olhos azuis de príncipe do deserto — previne meu
irmão.
Eu dou outra risada.
— Esse risco... eu não corro. Nós não queremos nada um com o
outro — afirmo.
Aluísio e Leandro se encaram e dão uma risadinha.
— Eles estão na fase da negação — aponta Leandro.
— Do que estão falando? — questiono.
Os dois se viram para mim.
— Nada. Agora, vá se arrumar. E eu vou passar esse vestido
rapidinho. Pegue sua sandália trançadinha, afinal, nós não queremos que
fique muito aprumada, e sim chique e casual. — Leandro sai do quarto,
deixando-me de boca aberta.
Aluísio beija minha bochecha e vai atrás dele. Em seguida, Lia entra
no quarto, com Geovanna no colo. Minha irmã tem cara de riso.
— Eles não iriam sossegar enquanto não viessem aqui — conta e
senta-se na minha cama, colocando Geovanna sentada em seu joelho.
Minha filha se distrai mexendo numa caixinha de música. — E eu acho que
eles têm razão. Você não precisa ir ao encontro dele malvestida.
Solto um bufo.
— Eu não ia malvestida, só não pretendia perder tempo me
arrumando toda — revelo.
— Dá no mesmo. E os dois doidos acertaram no que disseram, o
Heitor precisa te ver ainda mais linda e se dar conta do que perdeu. Dê uma
lição nele!
— Quando vocês vão entender que eu não quero que ele perceba
nada? Por mim, ele nem chegaria perto — declaro e me viro para pegar
minha sandália.
— Continue mentindo, assim, quem sabe você possa acreditar... —
Lia responde, e eu fico calada. Ela resmunga alguma coisa e sai com
Geovanna.
Quando eu me vejo sozinha, dou um suspiro e sinto meu estômago
se agitar. Encontrar-me com Heitor me deixa muito abalada. Vê-lo interagir
com Geovanna hoje foi impressionante. Ele e minha filha se deram muito
bem, a conexão dos dois é incrível. E é só por ela que eu aceitei me
encontrar com ele. Percebi que será gratificante para a minha filha ter o pai
por perto, mesmo que, para mim, seja uma tortura. Afinal, o Heitor ainda
consegue me afetar.
Algumas horas depois, desço de elevador, muito nervosa. Passo a
palma das mãos pelo vestido, mexo no cabelo, na bolsa, e nada me acalma.
Quando o elevador para e abre as portas, eu sinto meu coração bater na
garganta. Então, fecho os olhos rapidamente e respiro fundo. Em seguida,
caminho para fora do prédio.
Logo vejo Heitor, vestido com elegância, como de costume. Ele está
encostado no carro, com as mãos nos bolsos e as pernas cruzadas.
Conforme caminho até ele, noto seu olhar viajar pelo meu corpo e sinto
toda a minha pele se arrepiar. À medida que eu me aproximo e nossos
olhares se cruzam, meu corpo reage e meu coração falha uma batida.
Paro à sua frente e espero que diga alguma coisa. Ele analisa meu
rosto, e eu sinto seu olhar intenso queimar minha pele.
— Você está muito bonita — murmura, sua voz sai rouca e baixa.
Eu me remexo.
— Obrigada. Podemos ir? Eu não quero demorar a voltar para casa
— exponho e me esforço para não ficar estremecida com seu elogio.
Heitor se desencosta do carro e abre a porta para eu entrar. Seu
perfume me envolve, trazendo-me lembranças que eu gostaria de esquecer.
Depois de fechar a porta, ele dá a volta, e quando entra no veículo, liga o
motor. Calado, põe o carro em movimento, e ficamos em total silêncio até o
nosso destino. Eu não sei o que se passa em sua cabeça, mas a minha está
uma bagunça total. Meus sentimentos conflitantes estão me deixando louca.
Eu preciso ser forte, o que senti por ele no passado deve ficar bem
onde deixei, escondido, para nunca mais se mostrar.
Heitor para o carro no meio-fio, e eu não consigo identificar onde
estamos. Quando ele abre a porta e sai, eu aproveito para dar uma olhada
enquanto destravo o cinto de segurança, então noto que estamos em frente a
um restaurante.
Ele abre a minha porta, e, sem perceber, eu aceito sua ajuda para
descer do carro. A minha reação é instantânea quando nossas mãos se
tocam. Assim que eu desço, puxo minha mão e seguro a alça da bolsa,
observando ao redor, a fim de não olhar diretamente para Heitor.
— Vamos? — diz em voz baixa, e eu tenho vontade de sair
correndo, fugir para longe, pois estar tão perto dele se prova ser uma
tortura.
Dou um passo para frente, acenando.
— Claro — respondo.
Heitor caminha ao meu lado até a entrada do restaurante, e logo
somos recebidos e conduzidos a uma mesa mais reservada. O maître, depois
de nos ajudar e verificar nossos pedidos, afasta-se, deixando-nos as sós, um
de frente para o outro.
— Eu não pensei que fôssemos jantar, você poderia ter me avisado
— comento, olhando para o lado.
— Se eu avisasse, você teria aceitado? — indaga.
— Não sei — respondo. Finalmente tomo coragem e olho para ele.
Heitor me observa, e eu só penso nas palavras do meu irmão: “Não se deixe
seduzir por aqueles olhos azuis”. Coloco uma mecha de cabelo atrás da
orelha e percebo que Heitor me acompanha com o olhar aquecido. — A
nossa conversa poderia acontecer na frente do prédio mesmo, não precisava
disso.
É quase imperceptível o movimento de sua cabeça.
— Eu não vou ter uma conversa séria na calçada, onde pessoas vêm
e vão. Aqui, teremos privacidade — responde e dá um sorriso suave. — Se
preferir, podemos ir para a minha casa.
Ele mal termina de falar e eu gesticulo.
— Não. Aqui está ótimo — digo rapidamente.
Estar aqui já está sendo difícil, eu nem quero imaginar como seria
ficar a sós com ele em sua casa.
Heitor dá uma risada.
— Foi o que eu imaginei — comenta e olha para o garçom, que se
aproxima e serve um suco para mim e água para ele. Em seguida, voltamos
a ficar sozinhos, assim, Heitor volta a me olhar. — Então... você me conta
mais sobre a Geovanna? Mas, primeiro, eu quero saber sobre o registro
dela. Por acaso o meu nome consta na certidão?
Bebo meu suco e coloco o copo de volta à mesa, observando o
líquido avermelhado.
— Não. Eu a registrei apenas no meu nome — respondo, com um
aperto no coração.
Escuto sua respiração enérgica.
— Letícia, você nunca pensou em me procurar para contar sobre
ela? — questiona. Mas, por incrível que pareça, ele não pergunta com
ressentimento.
Mexo os ombros e subo o olhar. Heitor me encara com intensidade.
— Isso passou pela minha cabeça algumas vezes, mas eu logo
procurava afastar essa ideia. Bastava eu me lembrar das suas palavras... tão
duras... — declaro. Eu sei que deixo transparecer a dor que sinto todas as
vezes que penso em tudo o que ele me disse no passado.
Heitor fixa o olhar nos meus olhos, e percebo o quanto minhas
palavras o afetaram. Ele passa a mão pelo cabelo, sua tensão é nítida.
— Eu sei que errei, Letícia. Fui duro com você, mas tente me
entender. O que queria que eu fizesse depois de descobrir a verdade sobre
você e aquele seu pai? Porra, ele a manipulou para chegar até mim!
Ouço o que diz e estreito o olhar.
— Só vou falar isto uma vez, pois eu pouco me importo com o que
você pensa de mim: eu é quem deveria desconfiar de você, afinal, você foi
atrás de mim na faculdade e insistiu em me encontrar. Eu nunca, em
nenhum momento, procurei por você. E acredito que você é homem
suficiente para não inventar desculpas esfarrapadas para se livrar de uma
mulher, pois é isso o que penso sobre você — desabafo, sustentando seu
olhar.
Ele fica atônito.
— O quê? — pergunta, chegando o corpo para frente. — Eu não
entendo o que quer dizer.
Eu dou um sorriso sínico.
— Que você queria terminar comigo e se aproveitou desse conflito
entre as nossas famílias para jogar a culpa em mim — confesso o que
estava guardado dentro de mim há muito tempo.
Heitor dá uma risada.
— Você está falando um absurdo! — comenta.
— Não estou, e você sabe bem disso — aponto e bebo mais suco,
pois minha garganta está seca. Em seguida, volto a olhar para ele. — Mas
não estamos aqui para falar de nós. Para mim, este assunto morreu.
— Mas para mim não morreu, Letícia — declara Heitor, ofegante.
Dou de ombros.
— Isso é problema seu, não meu. Vamos falar da Geovanna.
Estamos aqui para isso, não estamos? — Ele me olha, irritado. Eu suspiro e
tento me manter calma, algo que muito me custa. — Heitor, para que mexer
nisso agora? Você não acredita em mim, eu não acredito em você. Quando
eu quis falar com você, há três anos, você não quis me ouvir, e agora estou
esgotada. Eu enterrei isso.
Heitor estreita o olhar.
— Enterrou mesmo, Letícia? — questiona enquanto me encara. Eu
me sinto afetada pela maneira como me olha. — Pois, para mim, você tem
este assunto muito vivo aí dentro.
Desvio o olhar. Esforço-me para me recompor, pois ele está certo.
No fundo, eu nunca deixei que esse assunto morresse. Até hoje eu sofro as
consequências, só não digo nada por causa da minha filha. É devido ao
Heitor, suas palavras me marcaram, e eu não sei se serei capaz esquecê-las
algum dia.
Jogo meu cabelo para trás.
— Vamos falar da Geovanna, ou eu vou embora — advirto.
O garçom volta; junto a ele, o maître. Eles servem o nosso jantar, e
devem sentir o clima tenso entre nós, pois logo vão embora. Eu não estou
com apetite, apesar do cheiro da massa ser apetitoso.
— Tudo bem, Letícia, vamos falar da nossa filha hoje. Mas, um dia,
eu voltarei a esse assunto, não irei desistir — murmura.
— Só vai perder seu tempo — respondo em voz baixa.
Heitor sugere que comecemos a comer, enquanto está quente, e
mesmo sem nenhuma fome, eu consigo, pois o prato é magnífico. Iniciamos
uma conversa sobre a Geovanna. Eu conto sobre colocá-la na escolinha, e
ele diz que irá me acompanhar, já que pretende ver de perto todos os passos
da filha.
Em seguida, Heitor anuncia que amanhã se informará sobre o
registro de Geovanna, pois quer seu nome na certidão. Eu fico apavorada,
não consigo esquecer a ameaça que recebi três anos atrás. Preciso contar
isso a ele, mas então seria o mesmo que retornar ao assunto do qual eu me
neguei a falar.
Heitor continua com seus planos, e eu me sinto perdida. Pelo que
entendi, ele quer ver Geovanna todos os dias, e diz que vai assumir todas as
despesas da filha. A minha cabeça dá um nó. Peço para ele não se empolgar
e ir com calma, pois eu jamais pensei em exigir nada dele.
Eu não vou negar que sua ajuda facilitará minha vida, ainda mais
agora, que eu não trabalho mais na Mansão Eros. O dinheiro deixado pela
minha mãe está quase no fim, e eu não posso permitir que meu irmão me
sustente. Com Heitor ajudando com as despesas de Geovanna, eu poderei
respirar com mais tranquilidade e economizar, arrumar um trabalho decente
e procurar um lugar para morar com a minha filha.
Ao fim do jantar, nós ainda não chegamos a um acordo sobre suas
visitas diárias, mas Heitor reitera que não abre mão disso, eu goste ou não.
Cansada de discutir, peço para ir embora. Heitor paga a conta, e quando
estamos caminhando, já do lado de fora, eu olho para a rua e vejo alguns
táxis.
— Você não precisa me levar, eu posso ir de táxi — exprimo.
— Nem pensar. Você esqueceu os perigos desta cidade?
— E por acaso andar no seu carro vai impedir algum perigo? —
pergunto olhando para ele.
Heitor sorri, e meu coração acelera.
— Pelo menos meu carro é blindado, e eu não sou um desconhecido
— aponta, orgulhoso.
Sacudo a cabeça. Heitor continua o mesmo metido de sempre. Ele
abre a porta do carro para mim, e, sem discutir, eu entro. Alguns minutos a
mais ou a menos não me afetarão mais do que já estou afetada.
O nosso retorno é bem tranquilo, e Heitor decide ligar o rádio.
Como se não bastassem as lembranças dos meus momentos com ele, a
música que uma vez cantarolou em meu ouvido começa a tocar. Eu me
seguro para não chorar. Finjo que a música não me diz nada.
Escuto sua risada e olho para ele.
— O que foi? — pergunto.
— Esta música... Todas as vezes que eu a ouço, penso em você —
confessa com voz rouca.
Observo seu perfil e noto seu sorriso nostálgico. Uma das mãos ao
volante e a outra na perna. Os dedos em movimento, como se tocassem um
instrumento. E toda a tortura que eu sofri esta noite não se compara a este
momento, pois ele começa a cantar com o cantor, Zeca Baleiro. Como da
primeira vez, em seu apartamento.
“ De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho?
Será um atalho?
Ou um desvio?
Um rio raso?
Um passo em falso?
Um prato fundo?
Pra toda fome
Que há no mundo Noite alta que revele
Um passeio pela pele
Dia claro madrugada
De nós dois não sei mais nada De você sei quase nada
Pra onde vai ou porque veio
Nem mesmo sei
Qual é a parte da tua estrada
No meu caminho?
Será um atalho?
Ou um desvio?
Um rio raso?
Um passo em falso?
Um prato fundo
Pra toda fome
Que há no mundo Se tudo passa como se explica
O amor que fica nessa parada
Amor que chega sem dar aviso
Não é preciso saber mais nada De você sei quase nada... ”
Droga... droga! Por que ele está fazendo isso comigo? Heitor não
tem esse direito. Provavelmente esta música não diz nada a ele, mas, para
mim, diz muito. É sobre nós, o nosso momento. Foi o instante em que eu
percebi estar apaixonada e que jamais amaria alguém com tanta
intensidade. E tudo para quê? Para ele destruir o meu mundo.
Heitor para o carro em frente ao prédio. Ambos ficamos parados.
Agora, ele está com as duas mãos ao volante e olha para frente.
Eu inspiro com dificuldade e destravo o cinto de segurança.
— Vou subir, amanhã nos falamos — comunico e coloco a mão na
maçaneta da porta.
Heitor segura meu braço. Eu fecho os olhos apertados. Estou
angustiada.
— Espere! — pede, seu tom é aflito.
— O que você quer, Heitor? — pergunto sem olhar para ele, pois eu
não suportaria encará-lo.
— Eu... Caralho, como isso é difícil! — xinga, sem largar meu
braço. Sinto seu toque em toda a minha alma, e a sensação é de que meu
coração explodirá em questão de segundos. — Eu quero me desculpar pelas
coisas que disse no passado. E mesmo que você não queira, mesmo sendo
tarde para isso, eu vou investigar o que realmente aconteceu.
Abro os olhos. Eu não posso afirmar que fico feliz, pois não sei o
que pode acontecer e tenho medo, pela minha filha e por ele. Eu me viro
para Heitor, ele tem o olhar agoniado.
— Deixe isso para lá. Como você disse, é tarde demais para isso.
Heitor nega com um gesto.
— Não vou deixar — sussurra, então olha para a minha boca e volta
a me encarar. Escuto o barulho da porta destravando. — Agora vá, Letícia,
ou posso cometer uma loucura.
Eu não penso duas vezes, saio do carro. Bato a porta e corro para
dentro do prédio. O porteiro me vê e fala comigo, mas estou tão
desorientada que entro no elevador sem responder. Assim que as portas se
fecham, eu levo as mãos ao rosto e deixo as lágrimas jorrarem.
Por que ele teve que cantar aquela música? E por que eu não
consigo arrancar esse homem do meu coração, da minha vida? Eu tenho
que odiá-lo! E não vou deixar que me engane novamente. Nunca mais!
Nunca mais!
Eu preciso ser forte. Se não fosse a minha filha, eu sumiria. Mas
preciso pensar nela. E mesmo que me doa cada instante que Heitor estiver
ao meu lado, eu vou suportar, por ela. E não deixarei que esse homem me
machuque novamente.
- 10 -

Heitor
O dia amanhece e eu permaneço acordado, deitado em minha cama
e olhando para o teto. Assim que eu cheguei em casa, tomei uma dose de
uísque, no intuito de diminuir a tensão. Porém, de nada adiantou. Passei a
madrugada pensando em Letícia, em nosso jantar e em tudo o que nos
aconteceu no passado.
Eu busco em minha mente cada detalhe da tarde em que minha mãe
ligou para mim. Recordo as palavras de meu pai e o e-mail que havia
recebido do Ricardo Xavier. Tudo indicava que Letícia estava me
enganando. Não tinha como o Ricardo saber de algumas conversas que eu
tive com sua filha, só poderia ser ela a contar tudo para ele.
Ainda havia as fotos tiradas de nós dois no meu antigo apartamento.
Eu sabia que não tinha sido ela a tirar tais fotos, afinal, ela aparecia nas
imagens. Entretanto, assim que Letícia saiu do apartamento naquele dia, eu
interroguei dois dos meus funcionários, e um deles confessou que Letícia
havia o abordado e dado dinheiro a ele para tirar algumas fotos nossas.
Ali eu tive a certeza de que ela realmente estava me fazendo de
idiota. Logo, eu demiti todos os meus colabores, pois não conseguia mais
confiar em ninguém. No dia seguinte, eu fiz uma viagem e passei um mês
fora. Quando retornei, eu não suportava mais ficar no meu apartamento.
Assim, passei a viver num apart e comprei esta casa. E hoje todos os meus
empregados domésticos são contratados por meio de uma empresa
especializada.
Eu desisto de tentar dormir e me levanto. Ainda é cedo para ir à
empresa, nenhum dos empregados chegaram. Vou para a cozinha e preparo
um café forte. Enquanto bebo o líquido quente, que desce queimando pela
minha garganta, eu pego o telefone e vejo novamente as imagens de minha
filha, enviadas por Letícia.
Há imagens dela desde o seu nascimento, e não tem como eu não
me sentir desolado, pois perdi os primeiros passos de minha filha. Eu não
acompanhei suas primeiras palavras e gracinhas. E me dar conta disso
acaba comigo. Observo as imagens com um sorriso bobo. Geovanna é uma
menina linda.
Depois de tomar um banho longo, eu me preparo para o dia. Tenho
uma conferência agendada com um engenheiro de qualidade de software.
Em seguida, uma reunião com meu advogado, para tratar das questões
legais referentes à minha filha. Além de tudo isso, eu preciso ver com
minha assistente uma empresa que faça instalação de playgrounds. Eu tenho
um espaço extenso no meu quintal, onde pensava em construir uma área de
jogos.
Mas desde que eu voltei do encontro com Geovanna, a ideia de um
parquinho aqui em casa não me sai da cabeça. Eu já posso visualizar minha
filha se divertindo, enquanto Letícia e eu a observamos e brincamos com
ela.
É cedo quando chego ao escritório, e apenas o pessoal da limpeza
faz seu serviço. Aproveito para adiantar alguns e-mails e ler relatórios.
Ocupo minha mente, e mesmo assim penso em Letícia e no esforço que fiz
para não beijá-la no carro. Ela estava maravilhosa, e eu passei parte do
nosso jantar excitado, mesmo com a nossa conversa tão sobrecarregada.
Eu queria muito que ela contasse tudo para mim, quero ouvir sua
versão. Sei que mereço sua relutância, visto que eu não quis escutá-la no
passado. Não há desculpas para mim, e se ela for inocente, eu vou me sentir
ainda pior. Eu me odiarei e carregarei pelo resto da vida as consequências
dos meus atos.
— Senhor Pigozzi, aconteceu algo? — Olho para frente e vejo Edna
parada na porta do escritório. Intrigada, ela me observa.
Eu estava tão distraído que nem percebi sua chegada.
— Não. Tenho alguns assuntos pessoais para resolver e decidi
adiantar tudo por aqui — respondo.
Edna maneia a cabeça.
— O senhor precisa de alguma coisa? Já estou com meu computador
aberto.
Eu sorrio.
— Enviei um e-mail para você e quero urgência no assunto. Mas
também preciso de um café, por favor — peço.
— Providenciarei agora mesmo, senhor.
Ela se retira, e eu recomeço a ler meu relatório. Desta vez, eu me
esforço com mais afinco para não pensar em Letícia.
A manhã corre bem rápido, e meu advogado me passa todas as
orientações para que eu efetue o registro de Geovanna. Ele mesmo vai
providenciar tudo, só precisa estar de posse do atual registro da minha filha,
e afirma que antes do fim de semana eu já terei a nova certidão em mãos.
À tarde, Edna me entrega uma relação de empresas que realiza
instalações de área de diversão para crianças em condomínios. Todas são
especializadas e têm certificações. Após averiguar a lista, opto pela que
oferece maior diversidade nos brinquedos e mando Edna cuidar de tudo
para a montagem; inclusive, se houver necessidade de pequenas obras. Peço
a ela para acompanhar de perto e dou carta branca para contratação de
pessoal.
Assim que Edna sai de minha sala com suas anotações, pego o
celular e digito o número de Letícia. Enquanto chama, eu me levanto da
cadeira e ando até a janela. Olho para baixo e observo os carros passando na
avenida.
— Alô! — atende.
Fecho os olhos e encosto a testa no vidro da grande janela.
— Olá, Letícia. Como você está? — pergunto, a garganta seca.
— Estou bem — responde. Sua voz parece arfante.
Escuto um gritinho, seguido de uma risada, e sorrio com o som.
— Ela parece animada — comento, abrindo os olhos, e sinto uma
vontade imensa de estar com as duas.
Letícia dá uma risada, e meu coração golpeia com força dentro do
peito.
— A Geovanna está com muita energia hoje — diz, parecendo
cansada.
— Vocês estão sozinhas?
— Meu irmão foi atender um cliente, meu cunhado está de plantão,
e a Lia foi visitar uma amiga — informa, e eu escuto o barulho de alguma
coisa caindo. Fico assustado, mas logo o susto passa, pois Letícia começa a
rir. — Geovanna! Olha o que fez! — exclama, e eu imagino as duas juntas.
— Então, por que está ligando? — indaga.
Ando de volta até minha mesa e me sento novamente.
— Conversei com o advogado, eu preciso da certidão da Geovanna
para mandar confeccionar uma nova — explico.
— Okay. Vou separar e te entrego — pronuncia, então, fala alguma
coisa com Geovanna. A menina dá um gritinho. — É só isso? — Sua frieza
está de volta.
Aperto o celular com força.
— Vou passar aí hoje, pego a certidão e aproveito para ver minha
filha — declaro com voz de comando.
Ouço o suspiro alto e claro do outro lado da linha.
— Tudo bem — diz a contragosto.
— Preciso resolver algumas coisas aqui na empresa, em seguida,
vou direto para aí.
— Okay... — Tenho a impressão de que ela vai dizer mais alguma
coisa, mas, no fim, desliga sem se despedir.
Até quando vamos ficar nesse impasse? Será que um dia a Letícia
voltará a ser a mesma comigo?
Eu participo de mais uma reunião. Desta vez, com empresários
chineses que querem adquirir meu produto para suas empresas. A reunião
não chega a ser tensa, mas é bastante cansativa. Assim que termina e os
empresários vão embora, eu deixo com Edna a incumbência de preparar
uma ata para enviar a todos os que estavam presentes.
Na minha sala, desligo o notebook e afrouxo a gravata. Vejo o
grande embrulho que chegou nesta tarde e abro um sorriso, empolgado e ao
mesmo tempo ansioso, pois é meu primeiro presente para Geovanna e não
sei se ela vai gostar.
Pego o pacote, que é quase do tamanho da minha filha, passo por
Edna e noto seu olhar um tanto curioso, porém discreto.
— Até manhã, Edna. Se ficar muito tarde, deixe para terminar de
digitar a ata amanhã — comunico, sem olhar para ela e caminhando rumo
ao elevador.
— Sim, senhor. — Ouço sua resposta e pego o elevador.
Olho para o pacote mais uma vez e anseio que o presente agrade
minha filha.
Chegando ao prédio onde Letícia mora, a minha entrada é liberada
depois de o porteiro falar com ela. No elevador, conforme vai subindo, eu
fico mais nervoso, sentindo-me um adolescente que está indo visitar pela
primeira vez a garota que gosta.
Desço no andar de Letícia e, ao olhar para o lado, vejo-a parada
numa das portas do corredor, com Geovanna no colo. A menina tem a
cabeça deitada no ombro da mãe.
Aproximo-me devagar, com um sorriso incerto.
— Olá — cumprimento. Letícia olha para o pacote que carrego e
franze a testa.
Geovanna levanta a cabeça e me olha. Ela parece estar com sono,
mas, como a mãe, é atraída pelo pacote.
— Que isso? — pergunta, sonolenta.
— Geovanna?!
Eu dou uma risada e estendo o presente.
— Isso é para você, minha querida — declaro. Ela arregala os olhos
e abre a boca, pegando o pacote.
Letícia revira os olhos e ajuda a filha.
— Entre. A Geovanna não dormiu durante o dia, então eu precisei
mantê-la acordada para você poder vê-la — conta, dando passagem para eu
entrar.
Depois que fecha a porta, eu olho para ela.
— Obrigado — falo, e ela acena. Volto a olhar para Geovanna, nem
seu sono a impede de tentar abrir o embrulho.
Letícia sugere que eu me sente e coloca Geovanna sentada ao meu
lado.
— Vou pegar o que veio buscar. Aproveite e fique um pouco com
ela — propõe e se retira.
Eu ajudo Geovanna a abrir seu presente. Para o meu alívio, ela ama
o grande urso de pelúcia.
— Ele é muito bonito! — exclama e abraça seu novo amigo.
O sorriso que se desenha em seu rosto é gratificante, e eu respiro
aliviado. Sei que um simples urso não é lá grande coisa, mas pelo menos ela
se lembrará de mim quando o vir todos os dias.
Geovanna tagarela com o urso e comigo, então me surpreende ao se
ajoelhar no sofá e me dar um beijo. Aqui, eu me apaixono de vez por essa
garotinha. A minha garotinha. Em seguida, ela volta a sentar, abraçada ao
urso, e sustenta seu pequeno corpo em meu braço. Não demora nem um
minuto e seus olhos se fecham. Com um sorriso bobo, eu admiro seu
rostinho e passo a mão por sua pele.
— Ela finalmente dormiu — sussurra Letícia, chegando à sala. Em
sua mão, um envelope pardo.
Presto atenção nela e observo sua camiseta branca um pouco
amassada, mas que fica muito sexy em seu corpo. Ela nem percebe que eu a
como com os olhos, pois coloca o envelope sobre a mesa de jantar e se
aproxima para pegar nossa filha.
Antes que Letícia se abaixe, eu pego Geovanna com cuidado. Ela
abraça o urso com força, e eu sorrio.
— Fale onde eu posso deixá-la.
Letícia hesita, mas, não tendo saída, vira-se e me pede para segui-la.
Entro num quarto muito pequeno e reparo em duas camas, uma de
madeira branca, de solteiro, e outra infantil, onde deduzo ser a cama de
Geovanna, pois tem alguns bichinhos e bonecas.
Eu beijo sua testa e a acomodo, então Letícia a cobre e acende o
abajur. Dou uma última olhada no ambiente e não acho justo minha
garotinha e sua mãe dormirem num cômodo tão pequeno. É visível que uma
adaptação foi feita para acomodar as duas. Não é um quarto feio, ao
contrário, é até bonito e aconchegante, além de cheirar bem. Mas não é
adequado para elas.
Já na sala, Letícia pega o envelope e me entrega.
— Aqui está a certidão dela, como me pediu — informa.
— Letícia, eu não quero ser grosseiro, mas acho que você e minha
filha poderiam morar em outro lugar. Eu posso arranjar isso para vocês.
Letícia cruza os braços, parece zangada. E, porra, ela está linda!
— Sim, você está sendo grosseiro. E estamos muito bem aqui,
obrigada — responde, mal-humorada.
Coloco o envelope de volta à mesa e passo a mão pelo cabelo.
— Poxa, Letícia, não é justo com a minha filha viver em um lugar
tão apertado quando eu posso proporcionar o melhor para ela — aponto.
Letícia fecha os olhos e inclina a cabeça para trás. Eu olho para o
seu pescoço e só penso em passar minha língua em sua garganta.
Ela volta a abrir os olhos.
— Heitor, eu nunca deixei nada faltar para a minha filha, e nesta
casa ela tem muito amor. Ela ama os tios, e agora a Lia...
— E onde a Lia está dormindo? Lá no quarto, com vocês? —
pergunto, pois reparei em duas malas no quarto, além de um colchonete.
Ela me olha como se de seus olhos saíssem farpas, sua face está
rosada. Eu sei que sua vontade é de me esbofetear. E eu não tiro sua razão,
pois sou um filho da puta que merece toda a sua raiva, mas sei que tenho
meu ponto, não há necessidade de Geovanna viver num espaço tão limitado.
Letícia passa por mim e abre a porta.
— Não temos mais nada para falar. Pegue a certidão e saia. Eu tenho
mais o que fazer do que ficar aqui ouvindo seus insultos — diz, irada.
Eu me aproximo, então fecho a porta com força, e ela me fita com
olhos estreitos. Porra, ela é tão linda! E com essa expressão zangada,
consegue ficar ainda mais sexy. Eu não resisto e inclino a cabeça, quase
tocando meu nariz no seu. Sinto sua respiração tocar minha pele e meu
sangue ferve, pois eu me encontro no ápice do meu desejo por essa mulher.
— Eu não tive a intenção de insultá-la — sussurro olhando para sua
boca.
Letícia dá um passo para trás e, sem notar, encosta-se à parede.
Sua respiração está agitada, e sua boca de lábios carnudos me deixa
totalmente descontrolado.
— Pois, para mim, parece um insulto — responde num fio de voz.
Elevo minhas mãos e ponho as palmas na parede, cercando-a, então
meus olhos viajam até os seus e eu noto o quanto está abalada com a minha
proximidade.
— Letícia... — sopro, com a voz rouca e o coração pulando em meu
peito.
Seus olhos castanhos parecem derreter, e eu não consigo mais
controlar a vontade de beijá-la. A dura verdade é que eu não quero mais me
controlar.
Sem pedir licença, eu tomo sua boca. Sugo seus lábios com fome e
esmago seu corpo entre mim e a parede. Letícia deixa escapar um suspiro,
entregando-se ao beijo, e eu a devoro. O calor toma conta do meu corpo e
sinto como se eu finalmente voltasse a viver.
Nunca um beijo foi tão estimulante e tão cheio de desejo. Desço
uma das mãos e aperto sua cintura. Letícia geme. Sinto meu pau empurrar
dentro das calças e fricciono em sua barriga.
Eu não tinha ideia do quanto sentia saudade do seu cheiro, do seu
gosto, da sua proximidade. Posso sentir todas as partes do meu corpo se
aquecerem. Aprofundo o beijo, e suas mãos seguram meus ombros.
Jesus! Eu quero ter essa mulher novamente. Eu necessito dela. Eu
tenho ânsia por ela.
De repente, Letícia morde minha boca e me empurra, então vai para
o meio da sala, totalmente descontrolada.
— Vá embora, Heitor, e nunca mais me toque. Eu odeio você! —
sopra, a voz trêmula.
Eu a observo e passo a ponta do dedo onde ela mordeu. Caminho até
a mesa e pego o envelope. Aproximo-me de Letícia, que me olha com
receio. Percebo sua respiração acelerada, sua bochecha está vermelha e seus
olhos têm um brilho de desejo.
— Por muito tempo eu acreditei que odiava você, Letícia. Mas a
dura verdade é que eu me ressentia por não ser capaz de te odiar, e esse
beijo só provou que você também não me odeia — aponto, e ela me encara,
abalada.
— Você não sabe o que sinto, Heitor. Você não faz ideia de nada —
retruca, enrouquecida.
Dou um sorriso entristecido.
— Você pode estar certa, eu não sei. Mas tenho certeza de uma
coisa: não nos odiamos. E ainda sentimos o mesmo desejo que sentíamos no
passado, ou até mais.
Ela me dá as costas.
— Desejo? Confesso que há três anos eu fui dominada pelos meus
hormônios, e olha no que deu, eu fui tratada como um trapo. E isso não se
esquece facilmente, Heitor. Você continuou com sua vida, como o solteiro
rico, e não se importou nem um pouco com os meus sentimentos. Você foi
cruel, pois eu confiava em você. Eu não vou mais cair em seu jogo de
sedução. Então, não perca seu tempo, vá embora. O único assunto que
temos se chama Geovanna — desabafa, e sei que evita me olhar.
Dou um passo para frente. Eu não toco em seu corpo, mas posso
sentir seu calor. Então, inclino a cabeça e beijo sua cabeça, inspirando seu
aroma delicioso.
— Estou perdido quanto ao que aconteceu, Letícia. Mas, desta vez,
eu não vou recuar. Vou a fundo nessa história, e prometo que concertarei as
coisas — afirmo.
Eu me afasto, pego o envelope e caminho para a porta. Antes de
sair, olho para trás. Letícia continua na mesma posição, de costas para mim,
e sei, pela tensão em seus ombros, que está chorando. Dói em meu coração
vê-la assim, eu me encho de culpa. Mas não posso fazer nada agora.
Primeiro, eu preciso ir atrás da verdade.
Saio do apartamento e caminho até o elevador, que está chegando ao
andar. Quando a porta se abre, sai um rapaz empurrando uma mala de
rodinhas. Nós nos encaramos, e eu o reconheço do dia em que encontrei
Letícia com minha filha na Mansão Eros.
Ele franze a testa, com certeza também me reconhece. Eu aceno.
— Você é o irmão da Letícia — afirmo.
Ele gesticula e sai de vez do elevador.
— Sim, eu sou. E você é o pai da Geovanna — aponta, muito sério.
Acho que eu não sou muito bem-vindo por aqui. Ele olha para a porta de
seu apartamento e se volta para mim. — Minha irmã jamais faria mal a
quem quer que fosse. Ela é uma pessoa boa, preferiria a morte a se sujeitar a
qualquer coisa que o nosso pai tramasse.
A princípio, eu fico sem ação, então, sacudo a cabeça.
— Você está dizendo...?
Ele começa a andar.
— Nada, eu já falei demais — resmunga. Abre a porta e entra no
apartamento, sem sequer olhar para trás.
A porta do elevador começa a se fechar, então eu entro com rapidez.
Olho para cima e quero gritar, pois alguma coisa martela na minha cabeça
dizendo que eu fiz uma merda colossal, mas eu não tenho ideia de como
concertar isso.
- 11 -

Letícia Assim que Heitor vai embora, eu me jogo sentada no


sofá e olho para o teto. Meu coração salta com tanta força que o sinto bater

na minha cabeça. Ele não tinha o direito de me beijar. Foi tão repentino que

não tive defesa, eu não fui capaz de resistir. Meu desejo era me agarrar a ele

e deixar todo esse desejo velado dentro de mim escapar.

Sinto-me em brasas, nem sei como consegui me afastar, pois foi


doloroso me manter longe quando cada partícula do meu corpo gritava pelo
seu toque e seus beijos.
Escuto o barulho da porta se abrindo e me viro, assustada. Respiro
aliviada ao ver meu irmão. Ele me olha com curiosidade e tranca a porta.
— Encontrei o nervosinho na porta do elevador, ele também estava
perturbado — comenta e coloca sua mala no chão e me encara, com
desconfiança. — Onde está Geovanna?
— Dormindo — digo me levantando e tentando controlar meu
nervosismo.
— Aconteceu alguma coisa entre vocês?
Cruzo os braços e volto a descruzá-los.
— Claro que não. Ele só veio buscar a certidão da Geovanna, e ela
estava acordada quando chegou com um presente. Um urso. Ela adorou,
inclusive...
Leandro ri.
— Você quando começa a dar muitas explicações é porque algo
aconteceu e não quer contar — fala e volta a pegar sua mala, se aproxima
de mim e beija minha testa. — Quando estiver pronta, quero ouvir tudo.
Vou tomar um banho.
Meu irmão marcha até seu quarto e eu solto o ar. Ele me conhece tão
bem.
Leandro volta para sala algumas horas depois, já de banho tomado,
ele me olha com um sorriso cínico e pergunta se o acompanho no jantar. Eu
recuso, pois estou sem apetite. Peço que fique de olho na Geovanna
enquanto tomo banho e sigo para o banheiro.
Debaixo do chuveiro, eu fecho os olhos e deixo a água molhar meu
corpo febril. Penso no beijo de Heitor e no que senti quando seu corpo se
colou ao meu. Sua ereção friccionando minha barriga me levou a loucura.
Dei-me conta do quanto ainda o desejo e de como sou sensível ao seu
toque. Ele ainda tem o poder de me seduzir. E agora será ainda mais
agonizante estar em sua presença, tão marcante.
Eu me troco, então aviso ao Leandro que vou dormir, pois Geovanna
hoje conseguiu me cansar. Não é somente por isso que me encontro
esgotada, na realidade meu esgotamento é mais emocional por conta do pai
da minha filha.
No dia seguinte acordo cedo e vou preparar o café, estou na cozinha
e escuto a porta da sala se abrir e sinto alguém se aproximar. Olho para trás
e vejo Aluísio que acaba de chegar do seu Platão. Ele inspira, sorrindo.
— O cheiro do café está lá no corredor — comenta e coloca o
pacote de pão em cima da mesa.
Eu sorrio para ele e me viro para terminar de passar café.
— Como você consegue parecer tão bem, após um plantão de 24
horas? — pergunto, pois meu cunhado parece ter tido uma bela noite de
sono.
Aluísio ajuda a arrumar a mesa do café.
— Eu sou uma pessoa noturna, além disso, foi tudo muito tranquilo
no hospital.
— Pensei que você fosse largar a enfermagem, agora que conseguiu
se estabilizar como fonoaudiólogo — comento.
Escuto o som dele arrumando a mesa.
— Será difícil. Apesar de adorar ser fonoaudiólogo, tenho uma
grande paixão pela enfermagem — responde com alegria.
— E ainda cozinha como um chef. — Meu irmão fala entrando na
cozinha. — Bom dia, meu amor! — saúda e dá um beijinho em Aluísio.
Termino o café e levo a garrafa até a mesa, que está posta na
cozinha. Aluísio pergunta por Lia, e Leandro responde que ela está na casa
de uma amiga. Tomamos o café com tranquilidade e antes de eu acabar
ouço Geovanna me gritando.
— E agora começa o meu dia — digo com um sorriso e vou ver
minha filha.
Pela manhã levo a Geovanna para o parquinho da praça e brinco um
tempo com ela. Faço alguns planos e lembro-me da proposta do Heitor. Era
só o que me faltava, eu ser sustentada por ele.
Eu sei que tenho que dar um jeito na minha vida. Quando voltei para
o Brasil, deixei claro para o Leandro e o Aluísio que ficaria por alguns
meses. Planejava arrumar um emprego, e depois alugaria um apartamento
para mim e minha filha. Guardaria o dinheiro que minha mãe deixou, o que
não foi muito, para Geovanna. Quando consegui o trabalho na Mansão Eros
me animei, mas depois que vi Heitor na festa já não conseguia ser tão
otimista.
As coisas não saíram como o planejado. A vida aqui no país é muito
difícil. E para piorar eu não tenho experiência, e nem profissão, se ao
menos tivesse terminado a faculdade de psicologia, hoje eu poderia estar
trabalhando.
Tão logo Heitor tocou no assunto sobre viver com meu irmão e
apontar que Geovanna poderia estar melhor, eu me revoltei. Nem tanto por
sua proposta, mas por ele tocar num assunto que muito me incomoda. Meu
irmão e Aluísio são maravilhosos, nunca me senti um estorvo para eles, no
entanto, sei que eles devem ter privacidade, afinal, praticamente estão
começando suas vidas agora. Compraram o apartamento tem apenas dois
anos. Não é justo que eu e Geovanna estejamos com eles.
E nós temos que ter nosso espaço também. Se meu pai não tivesse
sido um canalha, eu poderia morar no apartamento que era de mamãe, meus
irmãos não se oporiam, no entanto quando fomos verificar os bens da nossa
mãe, o apartamento não estava relacionado, e papai contou que ela havia
vendido há muito tempo. E realmente, o apartamento estava no nome de
outra pessoa. Coincidentemente, descobriu-se que era um dos amigos do
papai.
Volto com Geovanna para casa e Lia chega junto conosco, ela tem
cara de ressaca e deve ter passado a noite bebendo com seus amigos. Minha
irmã sempre teve muitos amigos, ela é muito amigável e divertida.
O apartamento está silencioso quando entramos, então deixo
Geovanna com ela e vou preparar o almoço. Em alguns instantes retorno a
sala e minha filha está agarrada ao urso que Heitor deu de presente.
Lia percebe minha chegada e me olha.
— Ela contou que o moço deu o urso para ela — diz Lia com sorriso
curioso. — Quem deu?
— O Heitor esteve aqui ontem e deu a ela — revelo.
Lia olha para Geovanna, então se levanta do sofá e vem para perto
de mim.
— Você poderia incentivá-la a chamá-lo de pai. Fica estranho ela se
referir a ele como moço — aconselha.
— Será que é uma boa ideia? Temo que ele não fique por muito
tempo, Lia. E ainda não sabemos sobre a família dele, a ameaça... bem você
sabe de toda a história — declaro, com angustia.
Lia me segura pelos ombros, me olha com sensatez.
— Letícia, conta a verdade para o Heitor. Ele precisa saber o que
aconteceu e principalmente sobre o rapaz que te abordou — sugere.
Eu a fito, incerta.
— Acredito que isso não servirá de nada. Heitor não vai acreditar
em mim, ele pensa que sou como o nosso pai — conto, ressentida.
— Mas você disse que ele perguntou sobre o passado, se perguntou
é porque está disposto a acreditar e descobrir a verdade.
Com as pontas dos dedos eu massageio a minha testa e faço uma
careta.
— Lia, não vale a pena. E mesmo que ele acredite, agora não valerá
de nada para mim — murmuro.
Ela olha para Geovanna que brinca com o urso, enquanto assiste a
um filme de cachorro. Lia volta a me encarar.
— Pela sua filha, faça isso por ela. E faça por você, minha irmã. E
tanto você quanto o Heitor devem saber a verdade. Não é justo que vivam
uma vida de desconfianças quando têm uma filha linda que merece vocês
por inteiro — atesta, cheia de convicção.
Eu balanço a cabeça, concordando. Lia tem razão, eu preciso contar
ao Heitor. Se ele acreditar, ou não será um problema dele, mas realmente
não é justo que eu guarde isso só para mim, e em todo caso, agora que ele
quer participar da vida da Geovanna, é bom que saiba, afinal não sabemos
se essa ameaça persistirá.
Aluísio acorda a tempo de almoçar conosco, porém Leandro não
está em casa. Fico a maior parte do tempo calada e pensando em Heitor e
nos conselhos da Lia. Minha irmã, percebendo meu estado se oferece para
ficar com a sobrinha. Eu rio, pois Geovanna começa a abrir a boca,
sonolenta.
Ponho a louça para lavar e recebo uma mensagem do Heitor, diz que
virá no fim da tarde para ver Geovanna. Olho para sua mensagem
fixamente, e aperto o celular entre os dedos. Respiro fundo e digito.

Quando estiver chegando me avisa. Vou descer, pois preciso falar


com você. Depois poderá ver a Geovanna.
Aperto enviar, e meu coração bate com energia. Logo vem sua
resposta simples.

Okay.

Tenho algumas horas para tomar coragem, é sempre doloroso para


mim ter que relembrar tudo naquela época.
Geovanna tira seu cochilo. Para me distrair pego o notebook e faço
buscas de algum trabalho. Não encontro nada. Penso em ligar para Mansão,
mas não sei o que poderia dizer.
Minha filha acorda e dou um banho nela, e depois preparo seu
lanche. Leandro chega em casa, trazendo um bolo para lancharmos e meu
celular apita com a mensagem do Heitor.

Acabei de estacionar.

Prendo o ar, e o solto devagar.


Peço que olhem Geovanna por algum momento e desço. Não há
razão para fazê-lo esperar.
Do lado de fora do prédio visualizo o carro do Heitor do outro lado
da rua e ando com passos determinados. Ele sai do carro e quando me vê, o
percebo intrigado.
— Letícia? O que houve? — indaga com preocupação.
Cruzo os braços.
— Podemos conversar dentro do carro?
Ele acena e abre a porta do passageiro para mim, eu entro. Enquanto
ele dá a volta eu respiro fundo e aperto as mãos em punhos. Meu coração
parece que vai sair pela boca.
Heitor entra no carro e se vira para mim.
— Pode falar, o que é.
Meus olhos se fixam em minhas mãos que estão sobre minhas
pernas.
— Você ainda quer saber o que aconteceu há três anos? —
questiono, num fio de voz.
Ele suspira alto.
— Eu quero saber sim Letícia, é o que mais quero — confessa e eu
afirmo com a cabeça. Noto que ele se mexe no banco. — Eu deveria tê-la
ouvido naquela época, no entanto fui um idiota.
Eu fecho os olhos, bem apertados. Então volto a abri-los e encaro
Heitor.
— Para começar, eu nunca me uni ao meu pai para nada, muito
menos para prejudicar outra pessoa. Quando nos conhecemos eu não fazia a
mínima ideia de quem você era, e só descobri que era filho do inimigo dele
naquele mesmo dia, em que tentei falar com você — esclareço.
— Engraçado, foi o mesmo dia que descobri quem você era —
comenta e franze a testa. — Quando você me passou uma mensagem que
precisava falar comigo, era isso que iria contar.
Eu nego com um gesto.
— Essa mensagem enviei quando descobri que estava grávida —
confesso, dando uma risada ressentida. — Porém meu pai, nessa mesma
manhã me contou sobre você e afirmou que você e seu pai estavam jogando
comigo.
Conto para Heitor tudo o que ouvi do meu pai, e não deixo de fora
como ele sempre tratou todos os filhos com desprezo. Heitor diz o que eu já
sabia, que ele também não se aliou ao pai para nada.
Ele joga a cabeça no encosto da poltrona, tem a expressão aflita.
— Nossos pais, esses dois sim jogaram com a gente — sopra. Ele
vira a cabeça e fixa os olhos nos meus. — Eu fui duro com você, e eu
entendo por ter saído daquele jeito, sem me contar da gravidez.
Eu prendo seus olhos nos meus e noto sua angustia.
— Heitor, naquele dia eu saí de casa sem duvidar de você. Eu, na
minha ignorância, acreditava que iríamos resolver tudo. Nunca acreditei em
nada do que meu pai contou, eu sei o quanto aquele homem pode ser cruel.
Heitor me encara inquieto.
— Você foi mais sábia do que eu, Letícia. Você confiou em mim
quando eu já havia te condenado — murmura, rouco e percebo sua mágoa.
Balanço os ombros.
— Ao menos nisso eu concordo com você. Mas teve outro
agravante — começo e ele franze a testa. — Na hora que saí de casa, para ir
ao seu apartamento fui abordada por um homem.
Sua expressão é de pura ansiedade.
— Abordada? Por quem?
— Não sei, quem é ele. Até aquele dia nunca o tinha visto — afirmo
e conto sobre a ameaça. Pois claramente o homem disse que mataria o
Heitor se eu insistisse em ficar com ele.
— Porra, Letícia! Isso é muito grave. E se esse homem tivesse feito
alguma coisa contra você? — Ele passa a mão pelo cabelo, muito alterado.
— Não quero nem pensar nisso, Jesus!
Mexo no meu rabo de cavalo, respirando com força.
— Ele ameaçou contra a sua vida primeiro, Heitor. Essa é uma das
razões por ter aceitado seus insultos sem reagir — atesto.
Heitor está nitidamente nervoso. Ele se joga para trás e aperta o
volante com força. Fica um tempo em silêncio. Depois volta a me olhar, o
azul dos seus olhos estão tempestuosos e ele está atormentado. Eu o
observo com seriedade, pareço calma, mas por dentro estou em frangalhos.
— Será que um dia você irá me perdoar, Letícia?
Eu desvio o olhar.
— Isso ficou para trás, Heitor.
— Eu não acho isso — assume em tom rouco.
— Heitor, perdoar não é fácil e mais difícil ainda é esquecer —
confesso, com tristeza.
Escuto sua respiração forte.
— Eu te entendo, e para ser sincero acho que eu não vou me perdoar
nunca.
Ele bate a mão no volante e solta um xingamento.
— Não se martirize, Não vale a pena.
Ele segura minha mão, minha pele parece levar um choque. Eu subo
o olhar até o seu.
— Letícia... eu fui um filho da puta com você, eu te afastei e por
causa da minha burrice não vi minha filha nascer. Não posso nem imaginar
como foi difícil para você, eu deveria estar ao seu lado, mas eu tornei isso
impossível.
O que ele diz toca fundo em meu peito, noto como ele sofre, mas é
pouco diante do que passei.
— Heitor, a parte mais difícil foi ouvir você dizendo que eu era
apenas um sexo satisfatório, mais uma em sua cama. Ali, você acabou com
meus sonhos. Você sabe que foi o primeiro homem que me entreguei. Nós
nunca falamos disso, mas você percebeu. Eu nunca pensei em exigir nada
de você por causa desse fato. Mas esperava o mínimo de respeito da sua
parte. E isso não aconteceu — desabafo com lágrimas nos olhos e ele me
olha atentamente. — Não estou te dizendo tudo isso para que se sinta pior,
mas para que perceba o quanto me afetou emocionalmente. E por isso não
sei se um dia poderei te perdoar ou confiar em você, porém você é o pai da
minha filha e não vou impedir que a acompanhe em seus passos, como
deseja, mas não a decepcione.
Heitor ainda segura minha mão, eu sinto o seu toque em todo o meu
corpo. Seus olhos são como chamas escaldantes em minha direção. Nunca
antes senti como se alguém pudesse ver minha alma.
— Eu nunca saberei a dimensão das suas dificuldades por causa da
minha burrice, mas nem que me leve a vida toda, eu vou reconquistar sua
confiança e mesmo eu não merecendo, farei de tudo para ter o seu perdão
Letícia. Eu não quero acompanhar apenas os passos da Geovanna, eu quero
estar ao lado dela em tudo, mas principalmente... eu quero a mãe dela. E eu
vou ter. Isso eu prometo — assegura com tanta intensidade que os pelos da
minha nuca arrepiam e meu coração falha uma batida.
De repente o calor dentro do carro é intenso, e nem o ar
condicionado dá conta. Retiro minha mão devagar do seu agarre. Passo a
mão pelo meu rosto.
— Melhor nós subirmos, se preferir eu trago a Geovanna, pois meus
irmãos e cunhado estão em casa — digo, não querendo comentar o que ele
acabou de declarar.
Ele dá uma risada.
— Eu vou subir, mesmo sabendo que seu irmão não vai com a
minha cara — retruca, e mesmo com nossa conversa tensa consegue
brincar. — Mas tenho que ter sabedoria.
Arqueio a sobrancelha.
— Sabedoria? Como assim? — pergunto curiosa com sua linha de
raciocínio.
Heitor olha para o meu rosto com provocação.
— Preciso provar que ele pode confiar em mim, assim, quem sabe
eu consiga amolecer seu coração — murmura com voz rouca.
— Heitor... Pare com isso. Mesmo que eu venha um dia a te perdoar,
não quer dizer que vou para a sua cama — afirmo.
Ele olha minha boca com ardor, ergue seu braço, então passa a ponta
do polegar em meus lábios, fazendo com que minha respiração fique
suspensa.
— Não a terei em minha cama somente, e sim em todos os lugares
que convier.
Meu estomago se contorce e fico trêmula.
— Não vai acontecer — sussurro sem nenhuma confiança.
Sua risada rouca faz minhas partes mais íntimas se aquecerem.
— Vai sim, Letícia — reitera.
Eu faço um grande esforço para sair dessa bolha de sedução. Como
viemos parar aqui tão rápido? Há poucos minutos o clima estava tenso
devido à conversa pesada. E de repente esse homem vem com esse papo,
para acabar com o pouco que me resta de sanidade.
Eu me afasto dele, colo o corpo na porta do carro, e me sinto
ofegante.
— Vamos subir, a... a Geovanna... ela tem que jantar — cito a
primeira coisa que me vem a cabeça.
Heitor segura meu olhar, com sorriso malicioso. Aí, como ele é
lindo! E continua o mesmo sedutor.
Ele acena.
— Tudo bem.
Não sei se fico feliz ou decepcionada por ele atender meu pedido.
Saímos do carro e seguimos juntos até o elevador. Enquanto subimos Heitor
me chama e olho para ele, agora sério.
— Sobre a nossa conversa, eu vou descobrir quem ameaçou você.
Vou a fundo nesta história, Letícia. E vou descobrir, custe o que custar o
verdadeiro desgraçado que nos separou. Se foi seu pai ou o meu, ou os dois.
Eu devo isso a nós dois — assegura com seriedade.
Eu não tenho o que dizer, pois no fundo também quero descobrir,
não que eu vá fazer nada, mas preciso saber quem foi o responsável por
destruir nossas vidas.
Quem sabe assim eu possa um dia entender e perdoar o Heitor. Pois
em meu coração eu desejo muito perdoá-lo.
- 12 -

Heitor
Letícia entra no apartamento e eu a acompanho. Estou muito
perturbado com o que ela me contou. Agora tenho o sentimento de
impotência, além de culpa. Porém de todos os sentimentos o que mais me
abala é o arrependimento, este sim, está acabando com minhas forças.
— Olá pessoal! — Escuto ela dizer e olho por cima da sua cabeça.
Seu irmão está sentado no sofá, ao seu lado vejo outro rapaz e
acredito ser o seu companheiro. Sentadas no chão, está minha filha e uma
moça que brinca com ela. Todos me olham, curiosos, e Geovanna dá um
sorriso lindo. Só mesmo ela para trazer um pouco de paz para o meu
coração.
Vou para o lado da Letícia, ponho as mãos nos bolsos, dou um
sorriso, amigável.
— Boa noite, espero não estar atrapalhando — expresso. Letícia
anda até Geovanna, abaixa-se e abraça a nossa filha.
Sinto uma dor no coração, por não poder fazer o mesmo, não apenas
com Geovanna, mas com sua mãe também.
— Fique a vontade — diz o rapaz ao lado do irmão da Letícia. — A
propósito eu sou o Aluísio, cunhado da Letícia.
Ele se levanta e se aproxima, eu noto Letícia cochichando com
Geovanna e reparo que a moça com minha filha, dá um sorriso ao observar
os duas.
Desvio o olhar para o cunhado da Letícia, que me estende a mão e
me encara com riso no olhar.
— Desculpe-me, eu sou o Heitor — apresento-me apertando sua
mão.
— Sim eu te conheço por nome, você é o pai da princesa Geovanna
— diz e puxa uma das cadeiras da mesa de jantar. — Sente-se, você está
com cara de quem acabou de se perder no deserto, e lembrou-se de que
esqueceu a garrafinha de água no acampamento.
Dou uma risada, afinal o que acaba de dizer faz todo o sentido. Eu
faço como ele sugere e me sento, fico um pouco deslocado, pois pelo que
entendi eles são unidos e sabem de tudo o que houve entre nós. É como se
eu estivesse sendo julgado, apesar de nenhum deles terem falado nada, mas
o olhar diz mais que mil palavras.
Aluísio me oferece um café, é o mais acolhedor, porém recuso.
Letícia volta para perto de mim segurando a mãozinha da Geovanna,
que me olha com um sorriso fofo. Ela é muito lindinha.
— Fala com ele, filha — incentiva Letícia e a menina apenas me
olha.
Reparo que o irmão da Letícia se aproxima, a moça que estava
sentada com Geovanna também caminha até nós e me dou conta de que ela
é a irmã da Letícia que vivia no exterior. Todos observam em expectativa,
eu fico desconfiado com a maneira que me olham.
Geovanna dá um passinho para frente, sem tirar os olhos de mim,
parece um pouco tímida. Eu sorrio para ela.
— Oi, papai! — Nada na vida me preparou para o turbilhão de
emoção que enche meu peito.
Minha garganta se fecha, me sinto enaltecido. Eu seguro sua
pequena mãozinha e não resisto, caio de joelho na sua frente e a encaro.
— Oi, minha filha! — Minha voz sai arrastada, pois a forte emoção
me deixa instável.
Eu subo o olhar, direto em direção a Letícia, ela nos assiste, noto em
seus olhos que também está emocionada. Ela tem um sorriso delicado
enquanto morde o lábio inferior.
Meu coração se estreita, pois como pude ser tão idiota de perder
essa mulher? Como em algum momento eu pude desconfiar de seu caráter?
Passei todo esse tempo com raiva dessa mulher, pensando o pior dela. E
agora a olhando, vejo que eu não a mereço. Mas sou um egoísta filho da
puta e não só a quero, mas farei tudo para tê-la de volta.
— Papai... papai, vem comigo — Geovanna, nem tem noção do que
se passa a sua volta e me puxa.
Eu me levanto, a fim de segui-la e reparo que a conexão que tive
com Letícia não passou despercebido.
— Acho que sou a única que você não conhece, sou a Lia —
exprime a moça com o cabelo azul e piercing no nariz. Ela é bonita, e seu
sorriso caloroso, mostra que talvez nem todas estejam contra mim.
Eu aperto sua mão.
— Prazer em te conhecer, Lia.
Ela me olha com atenção, com olhar especulador. Então abre o
sorriso.
A Geovanna me puxa, e nós todos rimos.
— Ela é um pouco ansiosa — conta Lia, dou uma risada.
Vou com Geovanna para o meio da sala e ela pede que eu sente, pois
vai fazer café para mim. Eu brinco com ela, e me distraio.
Letícia nos deixa a vontade, e fica de longe nos observando. Ela está
sentada na cadeira em que eu ocupava, e seu cunhado está de frente para
ela. Os dois conversam. Já a Lia e o Leandro estão cada um em um sofá e
Geovanna serve os dois também. Ela é uma criança muito dinâmica e
envolve a todos nós.
As horas passam e me perco ali, brincando com minha pequena. E
cada vez que ela se refere a mim como papai fico exultante e tenho certeza
que nunca me cansarei disso. A noite é agradável, a única coisa que me
incomoda é a Letícia se manter afastada. É como se ela estivesse me
evitando.
Quando vou embora Lia me surpreende, dizendo que adorou me
conhecer. Eu também me simpatizo muito com ela, e em alguns momentos
tenho a impressão de que já a conhecia, porém é impossível. Quanto a
Letícia... ela me leva até a porta e segura Geovanna no colo.
Deixá-las faz com que um vazio se forme dentro de mim.
Alguns dias se passam, e eu não consigo progredir com Letícia. Ela
está me deixando louco. E todos os dias quando vou ver a Geovanna ela
inventa alguma coisa e vai para o quarto. Eu gostaria de estar com ela a sós,
para poder conversarmos sobre nós. Entretanto ela me evita todos os dias.
Nunca na minha vida tive tanto trabalho com uma mulher.
Quanto ao Leandro, aos poucos ele vai se soltando mais, e sinto que
ele, nas vezes em que está presente nas visitas à minha filha, me observa e
presta atenção em todos os meus atos. Já a Lia é outra história. Ela faz
questão de conversar comigo e uma vez em que ficamos apenas eu, ela e a
Geovanna na sala, ela confessou que torce para Letícia e eu nos
entendermos.
Vi ali que tenho uma aliada.
Minha mãe aparece na empresa, me pegando de surpresa, pois todo
mês almoçamos juntos, e o nosso próximo encontro será dali a uma semana.
Edna a deixa na minha sala e assim que se retira eu abraço minha mãe, com
carinho.
— Meu filho, não vou demorar. Só dei uma passada para te dar um
beijo — revela com um sorriso doce.
Ela é uma mulher que passa por tantas coisas em seu casamento, e
mesmo assim consegue ser gentil.
— Eu gosto das suas visitas, mamãe. Mas é bom sempre dar uma
ligada antes, pois acontece de eu viajar, às vezes — conto e a conduzo até a
poltrona no canto da sala.
Depois de se acomodar, faço o mesmo me sentando a sua frente. Ela
sorri.
— Antes de subir eu perguntei. Estava aqui perto. Vou ao shopping
comprar o presente de aniversário do seu pai — menciona. Eu faço uma
careta. Minha mãe fica séria. — Você vai no jantar de aniversário dele, não
vai? Eu te enviei o convite.
Se mamãe soubesse como estou com mais raiva ainda do papai, nem
tocaria em seu nome.
— A senhora sabe que não faço o tipo de fingir que está tudo bem,
só pelas aparências.
Ela fica triste com minhas palavras. Eu não gosto de deixar minha
mãe assim.
— Você poderia ir, meu filho. Se não por seu pai, por mim — pede.
Ainda não estou preparado para encará-lo. Ele foi o culpado por eu
não ter conhecimento da minha filha. E ele mandou ameaçar Letícia. Ainda
não o confrontei porque preciso ter provas. E é só por isso que escondo da
minha mãe que ela tem uma neta.
Se eu soubesse que ela manteria segredo, eu contaria. Mas preciso
de um tempo para averiguar as coisas, mamãe tem que entender que o seu
marido, o meu pai, é um crápula que manipula e é cruel. E depois quem
sabe, minha mãe conhecendo a Geovanna fique tão feliz que esqueça tudo o
que sofreu em suas mãos.
Peço a ela que não conte com minha presença, e se ela quiser, me
manterei recolhido, assim ela pode dizer que fiz uma viagem a trabalho e
não cheguei a tempo. Mamãe sorri com minha ideia, mas não diz nada. Ela
se levanta e me olha com atenção, analisa meu rosto.
— O que foi? — questiono.
— Tem alguma coisa diferente em você — comenta.
Eu rio com discrição.
— Tem nada de diferente.
Ela balança a cabeça.
— Tem sim. Hoje você não foi tão agressivo quando se referiu ao
seu pai — declara e dá um sorriso esperançoso. — Será que finalmente irão
se entender?
Sem dizer nada eu a abraço. Depois do que descobri, essa chance é
nula. E apesar dele se dizer inimigo do Ricardo, acredito que os dois
combinaram de separar eu e Letícia. Afinal as mentiras contadas por ambos
ocorreram no mesmo dia, é lógico que um sabia que o outro agiria.
Minha mãe vai embora. Eu volto ao trabalho, olho a hora e percebo
que falta muito para ver minha filha e Letícia. Pego o celular e abro as
imagens da Geovanna, fico olhando, um sorriso bobo nos lábios, como se
não tivesse nada para fazer.
Enquanto vejo a foto o aparelho toca com o nome do William. Eu
fiquei tão envolvido em meus problemas que não conversei com nenhum
dos meus amigos. Eu cheguei a identificar algumas chamadas do
Alexander, mas não retornei nenhuma.
— Fala, meu camarada — atendo.
— Finalmente! — exalta, fazendo chacota. — Você sabia que o
Alexander me ligou? Ele quer falar com você — avisa e tenho certeza de
que meu amigo contou o ocorrido na Mansão.
Inspiro com força e exalo o ar dos pulmões.
— Ele contou o que aconteceu? — inquiro.
William se mantém em silêncio por alguns instantes.
— É verdade? Sobre a criança? — pergunta.
— Sim, eu tenho uma filha. Ela tem quase três anos, e é a garotinha
mais linda que já vi — confesso com orgulho.
— Puta merda! Então é verdade — comenta parecendo
surpreendido. — E você está bem com isso? E a mãe da menina? Alexander
contou que você saiu com a moça da Mansão e estava muito nervoso.
Eu coço a cabeça.
— É uma longa história. Mas posso afirmar que não estou bem. Eu
estou radiante... porra cara, a Geovanna é minha cópia, só que muito mais
linda... minha filha é perfeita — finalizo.
— Nossa! Nem sei o que dizer — declara.
— Nós vamos conversar pessoalmente e te conto tudo — prometo,
pois estou louco para mostrar a minha filha ao mundo. Quero que todos
saibam dela. E só não fiz isso ainda, por conta dessa situação tão
complicada. — Mas me diz, como está o Théo? E a Emilly? Recuperou-se
bem?
William está feliz, isso é certo. Ele fala do filho e da esposa com
muito carinho. A Emilly fez muito bem ao meu amigo. Eles tiveram um
começo meio fora do comum, mas deu certo no final. Pensar no meu amigo,
tão feliz com a sua mulher e filho, faz eu me lembrar da Letícia. Será que
um dia teremos a chance de ter uma vida em comum? E será que ela vai me
perdoar? São perguntas que me faço todos os dias. E fico impotente, pois
tenho medo de que ela nunca possa me desculpar.
Depois de conversar com William, passo uma mensagem para
Alexander, aviso que preciso falar com ele, e pergunto quando estará livre.
Sua resposta não demora a chegar e ele informa que posso ir à Mansão Eros
em dois dias, que ele estará lá, pois hoje está fora, numa viagem a negócios.
Jogo o telefone em cima da mesa, então ele apita com outra
mensagem, é um número desconhecido, então vejo do que se trata.

Olá Heitor, Lia aqui. Se por acaso quiser encontrar a Letícia, ela
estará sozinha nesta tarde, pois todos estarão fora e eu estou saindo agora
com a pequena Geovanna para passear no shopping.

Eu abro um sorriso, e preciso agradecer a Lia. Ela está agindo como


o nosso cupido. Eu me levanto e envio uma resposta rápida a ela.

Obrigado. Você é a melhor cunhada do mundo.

Fecho tudo e passo por Edna como um furacão.


— Preciso sair e não retorno. Se tiver algum compromisso agendado
cancele — digo com passos largos até o elevador.
Não escuto sua resposta, pois só penso em Letícia, sozinha em casa.
Quase quarenta minutos depois estou tocando a campainha do
apartamento. Como venho todos os dias ver a minha filha, os porteiros já
me conhecem e não preciso mais ser anunciado.
Escuto os passos vindos de dentro do apartamento e a porta sendo
aberta. Assim que Letícia vê quem é, ela abre a boca, surpresa, afinal
costumo vir no final do dia.
— Heitor? O que faz aqui? — pergunta.
Eu sorrio de lado.
— O que venho fazer aqui todos os dias?
Ela lambe os lábios e olha para o lado, desviando o olhar. Aproveito
e deslumbro a pele do seu pescoço. Seu cabelo está preso no alto da cabeça
e uma caneta prende os fios. Meus olhos descem e fico doido ao notar seu
vestido curto.
— A Geovanna saiu com Lia, ainda está cedo. Não esperava por
você agora — responde e depois de um suspiro se volta para mim.
— Poxa que pena — digo, fingindo inocência. — Mas eu posso
esperar.
Ela morde o lábio e aperta a maçaneta, visivelmente nervosa.
— Elas saíram tem pouco tempo, acho que vão demorar.
Alargo o sorriso.
— Sem problemas, eu aguardo. Você pode me dar um copo d’água.
Estou com muita sede — minto dando uma desculpa para entrar.
Letícia hesita, então finalmente me dá passagem. Eu entro na sala
silenciosa. É bem estranho ver o apartamento tão quieto e sem a Geovanna.
Letícia vai até a cozinha e deslizo os olhos por suas coxas.
Ela retorna trazendo a água, eu bebo de uma só vez e devolvo o
copo vazio, colocando-o sobre a mesa.
— Olha, elas realmente irão demorar — começa a falar esfregando
uma mão na outra. — Mas se quiser esperar, é contigo.
— Então isso é bom, assim podemos conversar — declaro com os
olhos cravados nela.
— Nós já conversamos tudo, Heitor. Não temos mais nada para falar
— expressa.
Eu ergo a mão e toco seu rosto com carinho. Letícia se estremece e
tenta não demonstrar que fica afetada por meu toque.
— Nós temos muitas coisas para resolver, Letícia — murmuro
massageando seu rosto com a ponta dos dedos.
Ela fecha os olhos e respira com dificuldade.
— Heitor, não faça isso...
Desço minha mão até sua nuca e dou um aperto suave.
— Todas às vezes que dizia meu nome dessa maneira eu ficava
louco, sabia? — confidencio aproximando minha boca no seu pescoço.
— Acho que você deve sair e voltar quando Geovanna chegar. —
Sua voz sai vacilante e sem perceber ela segura meu pulso.
Meu corpo se aproxima do seu, minha outra mão segura a sua
cintura e eu toco seu pescoço com minha boca e sinto sua pele arrepiar.
— E eu acho que devo te beijar agora mesmo. Há dias venho
desejando te beijar e tocar seu corpo. Eu não durmo direito pensando em
você — sopro.
Letícia desfere um gemido.
— Heitor, nós não podemos.
— Sim, nós podemos e devemos — retruco.
Eu subo minha boca do seu pescoço para o seu rosto e tomo seus
lábios. Beijando-a com entusiasmo. Letícia não resiste e abre a boca
permitindo que eu a invada.
Sinto todo o meu corpo dominado pelo desejo, meu pau duro, como
ferro, empurra dentro das minhas calças. Eu me movo e pego Letícia pelas
coxas e faço com que suas pernas envolvam a minha cintura.
Com alguns passos me movo para o lado, e colo suas costas à
parede. Então esfrego minha ereção com força em seu centro, ela dá outro
gemido em minha boca. Deslizo minha mão por suas coxas até o meio das
suas pernas. Toco seu sexo por cima da calcinha, Letícia está quente e
muito molhada.
Minha língua instiga a sua e nosso beijo é simplesmente ansioso,
faminto. Sem parar de beijar sua boca, chego sua calcinha para o lado e
introduzo um dedo em sua boceta apertada. Letícia se contorce e aperta
meus ombros com força enquanto nossas bocas se devoram.
Meu dedo desliza em seu sexo, e senti-la dessa maneira faz meu
pênis pulsar com mais força.
Eu afasto minha boca da sua, e ela joga a cabeça para trás e mantém
os olhos fechados. Eu movo meus dedos em seu interior a incitando para
gozar. Eu olho seu rosto e me dou conta do quanto senti saudade de vê-la
tão entregue a mim.
— Da próxima vez, eu vou chupar sua boceta, Letícia. Quero ver se
continua tão gostosa como antes — arfo com a voz rouca.
Ela aperta os olhos e morde os lábios. Sinto que sua boceta suga
meus dedos os deixando mais e mais melados com os fluídos do seu prazer.
— Heitor... — geme, sussurrante.
— Amo ouvir você dizer meu nome enquanto goza. Você é tão
linda... — expresso e salpico beijos por seu rosto. — Tão linda... — repito
diversas vezes sem cansar. Até que Letícia se desfaz entre meus dedos.
Sua boceta apertada espreme meus dedos enquanto com o polegar
esfrego seu clitóris. Deixando-a alucinada de desejo.
Aos poucos Letícia relaxa, eu retiro meus dedos de dentro do seu
sexo. Ela abre os olhos e eu prendo seu olhar no meu, então levo meus
dedos até minha boca e sugo seu gozo passando a língua por entre meus
dedos. Seus olhos refletem o desejo, e com certeza é o reflexo do meu
próprio desejo.
Letícia ainda se mantém com as pernas agarradas em minha cintura.
Ela joga a cabeça para frente e sua testa descansa em meu ombro.
— Isso não era para acontecer — murmura.
Eu aperto sua cintura.
— Isso era para acontecer sim, não assim, não aqui. Mas tinha que
acontecer — falo baixo em seu ouvido.
Meu pau continua intumescido e vai continuar. Pois hoje, eu quero
apenas o prazer dela.
Ajudo Letícia a descer, e seus cabelos antes presos estão soltos e
bagunçados, seus lábios avermelhados devido a intensidade do nosso beijo.
Ela é a imagem da tentação.
Letícia se sente um pouco tímida e olha para os lados.
— Isso não vai se repetir — fala tão baixo que por pouco não a
ouço.
Eu toco seu queixo e faço com que me encare.
— Não vamos mentir, Letícia. Isso vai se repetir pelo simples fato
de não conseguirmos resistir um ao outro. Sempre foi assim conosco. E
agora esse desejo está mais forte e é inevitável — declaro e beijo a ponta do
seu nariz.
Ela não responde, apenas revira os olhos e diz que precisa ir ao
quarto.
Eu respiro fundo, e a acompanho com o olhar. Depois sigo para o
sofá e me sento, olho para baixo e meu pau permanece duro, eu rio com a
minha situação. Nunca fiquei tanto tempo sem uma mulher. Eu poderia
agora mesmo arrumar uma para foder. Mas nenhuma é a Letícia. Eu não
consigo nem pensar em tocar outra. Pois para mim, apenas a minha Letícia
pode me satisfazer. Não por uma noite, ou por algum tempo.
Eu a desejo por uma vida inteira.
- 13 -

Letícia Fujo para o quarto, estou fora de controle, preciso

sair de perto do Heitor por um momento, ou está arriscado eu voar para

cima dele e arrancar suas roupas. Eu me encosto à parede e fecho os olhos,

puxo ar para os meus pulmões. Cada partícula do meu corpo está sensível.

Será que um dia eu vou deixar de me sentir dessa maneira, só por


ele estar por perto? Tudo em mim deseja o Heitor e nem a mágoa que sinto
por ele é capaz de apagar essa vontade incontrolável de me submeter as
suas carícias.
Todas às vezes que ele está por perto eu quero tocá-lo, beijá-lo e
sentir sua boca passar por minha pele. Eu sei que não devo pensar nele
desta maneira, mas é muito mais forte do que eu. Heitor conseguiu deixar
sua marca, e agora vivo numa luta constante para não me deixar levar por
meus sentimentos. Devo me lembrar do que ele fez, e não permitir que suas
provocações me deixem fraquejar como aconteceu há alguns instantes.
Eu abro os olhos e olho para o teto, preciso de um banho urgente,
mas não posso deixá-lo na sala sozinho por muito tempo, ou vai perceber
que estou fugindo. Respiro fundo, e tomo coragem. Desta vez não vou
permitir que meus hormônio me dominem.
Retorno para a sala com passos lentos e o vejo sentado no sofá, com
os braços esticados acima do encosto e pensativo, olhando para cima.
Acredito que para resistir a esse homem só sendo uma santa. Porque ele é
muito atraente. Agora mesmo, está muito elegante com seu terno feito sob
medida, sem sua gravata e com os primeiros botões da blusa abertos,
expondo parte da sua pele.
— Você vai ficar aí me observando até quando, Letícia? — pergunta
e se vira para mim, seu olhar sedutor me deixa sem ar, ele dá um sorriso. —
Senta aqui, comigo.
Eu quero correr para cima dele, quero que volte a me tocar e me
beije como se eu fosse a única mulher existente no mundo. Meu desejo
cresce e sinto um formigamento em minha vagina. É preciso muito
autocontrole.
— Vou beber um pouco de água — digo e vou para a cozinha. Abro
a geladeira e pego a garrafa de água.
— Por que você está fugindo, Letícia? — Sinto sua presença na
cozinha e aperto a garrafa entre os dedos. Estou de costas para ele e tento
manter o controle.
Mordo o lábio com força e coloco água no copo.
— Não estou fugindo — minto.
Ouço sua risada rouca à medida que se aproxima ainda mais. Prendo
a respiração e fecho os olhos.
Heitor tem o corpo quase grudado ao meu, posso sentir seu calor.
— Eu sei por que está tentando me manter afastado — murmura,
rouco e seu hálito toca meu pescoço, deixando-me arrepiada. — Você tem
medo Letícia, pois sabe que, como eu, não consegue negar a atração que
sente.
Respiro com dificuldade, abro os olhos e ponho o copo em cima da
pia, então me viro para ele, e ao fitar seus olhos, num azul tão intenso, já
me arrependo de ter virado, pois seu olhar me deixa enfraquecida.
— Não é nada disso — falo em tom suave. — Eu tenho medo sim,
Heitor, mas não da atração. Mas eu não posso esquecer suas palavras no
passado. Eu tenho medo de acreditar e a primeira oportunidade você se
virar contra mim novamente — declaro com meus olhos fixos aos seus, ele
me encara e noto uma ponta de tristeza em seu olhar. — Nós sabemos que
nossa família não vai gostar nada de nos ver juntos. Meu pai está distante,
mas assim que descobrir nossa aproximação vai fazer de tudo para nos
separar, e o mesmo acontecerá com o seu pai.
Heitor traz suas mãos até meus braços e segura com delicadeza.
— Não podemos permitir que esses dois comandem nossas vidas,
Letícia — exprime de maneira atormentada.
Eu dou um sorriso, triste.
— Eles vão fazer o mesmo jogo sujo de antes. Com certeza o seu
pai vai fazer de tudo para convencê-lo da minha culpa, que eu sou a filha do
Ricardo, portanto devo estar te enganando, e agora será ainda pior, pois tem
a Geovanna na equação, em algum momento vai duvidar de mim e não
quero mais passar pela mesma humilhação — desabafo.
— Eu já me dei conta do quanto fui cruel, Letícia. Eu me arrependo
por isso, e eu não vou mais duvidar de você, eu só preciso de uma chance
para provar isso. — Heitor se expressa com intensidade e toca meu rosto
com uma das suas mãos de forma carinhosa, deixando meu coração agitado.
Eu olho para baixo, fixo o olhar em seu botão aberto.
— Eu gostaria muito de acreditar em você, mas não consigo —
sussurro com melancolia.
Esse homem é minha Kriptonita, ele é o único capaz de me magoar
com profundidade, e nesse momento, o medo de dar uma chance é muito
grande.
Ele levanta meu queixo com a ponta do dedo, assim volto a encará-
lo. Sinto na alma o quanto ele está aflito.
— Eu não vou desistir de você, Letícia. Não me importo com meu
pai ou o seu. Eles estragaram a minha vida uma vez, e não vou deixar que
isso aconteça novamente.
— Heitor, você quer apenas dar o troco a eles? Por brincarem
conosco? — questiono, pois essa dúvida me ocorreu desde que Heitor
começou a insistir comigo.
Heitor estreita os lábios e sacode a cabeça.
— Confesso que eles merecem levar o troco. Mas se está pensando
que quero você apenas para atingi-los, está enganada. Quando estou com
você, aqueles dois nem passam pela minha cabeça — revela.
Eu acredito que ele fale a verdade, porém não sei se o Heitor merece
essa chance.
— Eu acho que ainda é cedo. Ainda tem a possibilidade de você está
empolgado com a Geovanna, e apenas me pede uma chance para ficar mais
tempo com a nossa filha — comento.
Heitor se encosta e mim, me espreme entre ele e a pia. Sua ereção
encosta na minha barriga, com uma mão segura a minha cintura e com a
outra o meu rosto.
— Isso nunca, eu sei que posso ver a Geovanna quando eu quiser.
Não vou mentir e dizer que estou satisfeito com essas visitas, eu quero estar
com minha filha sem marcar hora. Mas te desejar e querer uma nova chance
para nós não tem nada a ver com isso. — Heitor tira a mão do meu rosto e
pega a minha mão, então leva até seu peito, em direção ao seu coração que
bate forte. — Sinta, todas às vezes que estou perto de você, Letícia, meu
coração parece que vai sair do peito, eu me sinto eufórico — sopra, e
desliza minha mão por seu tórax, passando por estômago e barriga, até que
eu toco seu pênis através das calças. — É assim que fico todos os dias.
Basta pensar em você, ou imaginar várias situações, e eu fico duro como
pedra.
Heitor e eu temos nossos olhos cravados um no outro, minha mão
sente seu pênis intumescido, e a sensação de desejo me invade.
— Heitor... — sussurro e minhas pernas tremem. — Você precisa
parar de fazer isso comigo.
Ele me aperta, inclina a cabeça e toca meu pescoço com seus lábios.
Eu fecho os olhos e sinto sua língua deslizando em meu pescoço.
— Eu não vou parar, Letícia. Eu não vou parar nunca, porque você é
tudo o quero. E além de você ter me dado o melhor presente desse mundo,
que é a nossa filha, você e ela são tudo o que me importa — declara para
então arrastar sua boca até a minha e me beijar.
Minha mão permanece em seu membro, ele me induz a aperta-lo
com força. Heitor solta um grunhido em minha boca, nosso beijo, cheio de
tesão, se mostra mais intenso e faz meu corpo se derreter.
Suas mãos deslizam pelos meus braços, costas e cabeça. Ele me
abraça apertado e roça seu corpo no meu. Elevo as mãos, envolvo seu
pescoço com meus braços e permito que o beijo entre nós fique mais e mais
selvagem.
— Por que é tão difícil me opor a você? — lamento, em seus lábios,
com o corpo em chamas.
Seu hálito quente me acaricia.
— Porque você me quer com a mesma intensidade que eu a quero
— sopra com seus lábios explorando a pele do meu rosto e pescoço. — Eu
sinto sua falta, eu desejo possuir seu corpo e mente, quero levá-la a gozar
tantas vezes forem preciso. Quero beijar sua bocetinha, para depois enterrar
meu pau nela repetidas vezes, até saciar essa fome que me consome... que
nos consome — sopra com a voz rouca e grossa.
Meu coração, meu corpo e tudo em mim ficam envolvidos nessa
nuvem de sedução e ansiando para que ele cumpra o diz.
— Heitor, por favor — murmuro já sem ar.
— Você é a única, Letícia, que tem a capacidade de me deixar louco
de desejo — declama baixinho em meu ouvido.
Ele volta a devorar a minha boca, suas mãos continuam a viajar pela
minha pele, promovendo ondas de prazer por todo o meu corpo.
Heitor sobe as duas mãos até os meus cabelos e crava os dedos entre
meus fios, então aparta sua boca da minha e nos encaramos, nossa
respiração encontra-se instável, seus olhos encapuzados de desejo me
fascinam, e meu coração pulsa forte, pois ele sempre teve a capacidade de
me encantar.
Eu me sinto desesperada, porque o poder que ele tem sob mim é
assustador. Eu passo a língua pelos meus lábios.
— Tenho medo do que você pode fazer comigo, Heitor — confesso,
arfante.
Heitor move-se e arqueia levemente os joelhos e sua ereção se
esfrega em mim, bem onde estou mais necessitada. Minha vagina
comprime. E eu arfo, com meus olhos fixos em seu rosto.
Ele faz um movimento de vai e vem, roçando seu membro inchado
entre minhas pernas.
— A única coisa que pretendo fazer é te deixar perdida de prazer,
além de cuidar de você... como não fiz antes — articula e continua a se
mover, como se estivéssemos fazendo sexo.
Calor líquido cresce no âmago do meu ser e me seguro em seus
ombros largos e fecho os olhos. Outra vez sinto como se fosse explodir.
— Heitor... — gemo e mordo meu lábio com força.
— Eu sei como se sente, Letícia... deixe vir, goze e deixe sua
calcinha ainda mais molhada, e mais tarde quando estiver deitada, antes de
dormir, quero que se lembre disso, porque com certeza estarei pensando em
você e em como é perfeita quando goza. — Sua voz enrouquecida é o
complemento perfeito para me fazer gozar.
Jogo a minha cabeça para frente e aperto forte seus ombros. Ele
desce um das suas mãos e espreme meu seio fazendo com que eu me
contorça e me esfregue com mais afinco junto com ele.
— Ah! — ofego e me deixo ser levada pelo prazer que só ele pode
me proporcionar.
Nós dois permanecemos abraçados e ele começa a rir, eu olho para
ele, intrigada.
— Caralho, isso nunca me aconteceu antes — comenta e eu franzo a
testa, então ele para de rir e me olha com admiração e passa a ponta do dedo
em meu rosto, carinhosamente. — Preciso confessar que gozei em minhas
calças.
Eu abro a boca e me sinto constrangida.
— Hum... E agora? — indago quase sem voz.
Ele sorri, continua a me olhar e a tocar meu rosto.
— Por mim eu arrancaria sua roupa e me enterraria em você agora
mesmo, mas... Isto está fora de cogitação por motivos óbvios.
— Que são...?
Heitor coloca uma mexa do meu cabelo atrás da orelha.
— A qualquer momento pode chegar alguém, nossa pequena
Geovanna, inclusive. E quando eu tiver você novamente não vou querer ser
rápido. Serei lento e vou explorar todo o seu corpo com minha língua para
depois sim me enterra nessa boceta deliciosa — fala rouco.
— Você fala como se fosse certo eu voltar para você — comento,
então expiro pela boca. — Heitor, só porque me deixei levar agora não quer
dizer que eu e você teremos alguma coisa.
Ele sorri e segura meu queixo.
— É questão de tempo, e estou disposto a esperar até que você me
aceite.
Eu me afasto dele e cruzo os braços.
— Claro, e até lá você pode muito bem se aliviar nas festas da
Mansão, não é mesmo? — pergunto e o encaro com desagrado.
Heitor desmancha o sorriso, fica intrigado.
— Você me viu lá alguma vez?
Eu aceno.
— Uma vez, faz um tempo. Eu te vi porque saí da cozinha para
fazer alguma coisa, você conversava com um homem, mas eu sei o que
acontece na Mansão, Heitor, e você não estava lá para uma visita ou
participar de uma festa comum.
Ele fica sem jeito, passa a mão pelo seu cabelo e faz uma careta.
— Letícia, não vou negar que participei de muitas festas da Mansão
Eros, não fui nenhum santo e sei que não é desculpa, mas todas as festas
que fui era na intenção de esquecer você.
Eu reviro os olhos.
— Não é desculpa mesmo — respondo, se eu fosse fazer sexo com
qualquer um para esquecê-lo, hoje certamente eu seria uma especialista em
transar. — De qualquer forma não é problema meu. Nem sei por que toquei
nesse assunto.
Heitor se aproxima e segura meu rosto entre as suas mãos.
— Se tocou é porque te incomoda, eu não quero que deixe de falar
nada, Letícia. Uma coisa eu tenho certeza agora, não devemos deixar de
expressar o que sentimos. E eu fui fraco, guardei dentro de mim tanto
rancor e mágoa que achava que poderia curar isso com sacanagem, no
entanto só me sentia cada vez pior. Se lá atrás eu tivesse permitido que você
falasse e eu também tivesse exposto o que sentia, tudo seria diferente —
desabafa e me pega de surpresa com a maneira como se mostra pesaroso.
Dou um sorriso sem vontade.
— Possivelmente sim.
Ele balança a cabeça, devagar sem deixar de me segurar.
— Mas voltando a questão das festas, eu não vou voltar a frequentar
as festas, exceto se você estiver lá comigo — comunica.
Desta vez faço uma careta.
— Eu? Não estarei lá por duas razões: naquele lugar só tem
convidados ilustres, gente de poder. E por outro lado, não me vejo fazendo
sexo com desconhecidos enquanto os outros assistem ou participam — digo
e finjo um estremecimento. — Não tenho nada contra quem faz, cada um
sabe de sim, mas isso não é para mim.
Heitor abre um sorriso.
— Para mim isso é perfeito, mesmo porque não suportaria ver
nenhum outro homem, ou até mesmo mulher tocando em você — declara
com firmeza. — Quanto aos convidados, você iria comigo e usaria a
pulseira vermelha, e eu também.
A pulseira vermelha, lembro-me de uma das meninas explicando
que quem usava uma pulseira vermelha era porque não participavam de
trocas de casais. Geralmente essas pulseiras são de casais que só vão à
Mansão por curiosidade ou desfrutar do lugar mesmo, que por sinal é lindo
e ostentoso.
— Não, obrigada, nem penso em ir nessas festas, quero estar na
Mansão apenas a trabalho, se ainda for possível — completo e uma parte
minha fica curiosa em saber como seria fazer parte de um dos convidados.
Heitor balança os ombros.
— Por mim, tudo bem. Mas se mudar de ideia não se abstenha em
falar — aponta, então dá um beijo na minha testa. — Eu vou em casa e
retorno mais tarde para ver a Geovanna, não posso ver minha filha desse
jeito.
— tudo bem — respondo.
Heitor me observa.
— Não pense que vai escapar de mim, Letícia. Eu ainda não acabei
com você — afirma.
Antes de sair me rouba um beijo apaixonado e depois se retira, me
deixando aérea.
Passo a tarde toda fora do eixo e não me concentro em nada.
Quando Lia chega com Geovanna eu respondo as coisas no automático e só
penso no Heitor e no que ele fez comigo no dia de hoje. Nem o banho que
tomei depois que ele saiu serviu para aplacar o meu desejo por ele.
— Você está estranha. Aconteceu alguma coisa? — pergunta Lia,
desconfiada.
Eu nego com gesto.
— Não aconteceu nada — digo e abraço a almofada no sofá.
Olhando para Geovanna e dou um sorriso sonhador.
Sinto que Lia me encara, mas não falo nada.
— Conta, o que aconteceu?
Suspiro e olho para ela.
— O pai da Geovanna esteve aqui. Veio mais cedo para vê-la —
segredo.
— E...?
— Mais nada, ele veio aqui, bebeu um copo d´água, quando viu que
vocês iriam demorar foi embora, e disse que retonará no horário de sempre
— explico, sem contar as coisas que ele me fez sentir.
Lia deixa escapar uma risada.
— Não parece que foi só isso — comenta e se levanta do sofá. —
Vou tomar um banho, é o melhor que eu faço.
Fico sozinha com Geovanna e a assisto brincar. Meu coração ainda
bate com força, enquanto todo meu corpo continua sensível. Sinto-me
confusa com tudo o que Heitor falou. Ele se mostrou tão determinado e
verdadeiro.
Eu só queria a certeza de que as coisas entre nós dariam certas. Mas
algo me impede de acreditar nele.
Leandro e Aluísio chegam, e contam da visita que fizeram juntos a
um amigo em comum. Eles falam e falam e eu não presto atenção em nada.
De repente a campainha toca e meu coração pula em meu peito. Sei que é o
Heitor.
Aluísio vai abrir a porta para ele, e imediatamente nosso olhar se
cruza. Ele entra e cumprimenta a todos. Noto que usa uma roupa mais
descontraída, também elegante. A blusa polo azul combina, e muito, com
seus olhos. E a calça jeans se ajusta perfeitamente à suas coxas grossas.
Fico logo sem ar, quando me lembro do que aconteceu entre nós.
Heitor se aproxima e tem um sorriso agradável e seu olhar faz com
que eu me sinta despida. Eu me remexo no sofá e para disfarçar pego o meu
celular.
— Pai, você senta aqui? — Geovanna pede e ele senta-se ao lado da
filha.
— Claro minha querida, mas e meu beijo? — pergunta sorrindo e
Geovanna se ajoelha e beija sua bochecha. Ele então me olha. — Tudo bem
com você Letícia?
— Sim, claro, e com você? — Forço um sorriso amigável.
— Estou muito bem. Tive uma tarde maravilhosa, então estou de
ótimo humor — responde e eu sinto a bochecha vermelha.
Lia se junta a nós, e é perceptível como ela gosta do Heitor. Uma
vez chegou a comentar comigo que eu deveria perdoá-lo, pois com certeza é
um bom pai, além de gostar muito de mim. Perguntei como ela poderia
saber disso. Então ela disse que a maneira como ele me olha não deixa
dúvidas de que Heitor me quer ao seu lado.
Até a minha irmã ele conseguiu conquistar, Heitor tem essa
habilidade, ele sabe como cativar as pessoas. Entretanto, não posso
esquecer que ele também sabe como afastá-las.
Desta vez não fujo para o meu quarto, permaneço na sala com eles.
Leandro e Aluísio saem novamente, vão a uma peça de teatro. Lia fica
conosco, mas vai para o quarto, então ficamos eu, Heitor e Geovanna. Nós
brincamos com nossa pequena e em alguns momentos Heitor me olha
distraído, como se estivesse com o pensamento longe.
Nós sorrimos e voltamos a brincar com nossa filha.
A noite se apresenta perfeita, é como se fossemos uma família
normal. A esposa, o marido e a filha. Tudo o que sonhava assim que me
descobri grávida, mas nada aconteceu como eu gostaria. E agora aqui,
vivendo uma parte disso, meu coração se enche de alegria e esperança.
Não sei o que vai ser do futuro, se um dia vou acreditar no Heitor.
Mas se eu pudesse escolher, escolheria ter mais dias assim com ele e minha
filha. Era assim que eu idealizava nós dois juntos.
Eu ainda desejo que seja assim, mas para isso tenho que curar a
mágoa em meu coração, e acima de tudo: Heitor tem que querer o mesmo
que eu, além de estar verdadeiramente arrependido do que fez.
Por mais que fale, ainda não estou certa de que ele é verdadeiro, só
sei que do fundo do meu coração, eu torço para que o que ele declarou hoje
seja verdade, que seu arrependimento venha do seu coração e
principalmente que ele possa ser leal com os nossos sentimentos.
- 14 -

Heitor O motorista me deixa em frente ao bar, onde

habitualmente encontro meus três amigos. Já tem um tempo que esse

encontro não acontece por conta dos nossos compromissos ou ainda, algum

contratempo.

Assim que chego, José, o garçom que sempre nos atende vem me
receber sorridente.
— Apenas o Alexander chegou, já está tomando sua bebida, vou
providenciar um copo para você — avisa.
— Então vou logo para a mesa, antes de começar a reclamar, sabe
como ele é carente — brinco, e José ri.
Alexander bebe a cerveja e sua cara de poucos amigos, me dá
vontade de cair na gargalhada. Ele, usualmente carrega essa expressão, de
estar com raiva. Paro em sua frente, isto posto, seu olhar se ergue e quando
me reconhece dá um sorriso, cínico.
— O papai do ano chegou — dispara, ao beber sua cerveja.
Eu me sento e o encaro.
— Pensei que o papai do ano fosse o William — acentuo.
José traz meu copo e se retira, me sirvo de cerveja e brindo com
Alexander.
— Então... aos dois papais do ano — caçoa.
Dou um bom gole na minha cerveja e coloco o copo sobre a mesa.
— Quem diria, eu pai — comento e sacudo a cabeça.
Alexander presta atenção em mim.
— Espero que você tenha conseguido resolver as coisas com a
moça, percebi que você estava muito enfurecido, cheguei a ficar com medo
por ela — ressalta.
Ergo as sobrancelhas.
— Eu fui pego de surpresa e não soube lidar com a situação, mas
nós conversamos e esclarecemos tudo — conto de maneira muito resumida.
Alexander me analisa com a sombra de um sorriso.
— Você, por um acaso, a proibiu de trabalhar ma Mansão? —
inquire, com olhar especulativo.
Eu o encaro, confuso.
— Claro que não, você me conhece bem, e sabe que prezo pela
liberdade feminina, embora... — começo e não termino, olhando para meu
copo em cima da mesa.
— Embora...? — Quer saber Alexander.
Deixo que um bufo, forte, escape da minha garganta.
— Por mim ela não voltaria a trabalhar na Mansão Eros, não há
necessidade disso, mas Letícia é tinhosa.
Alexander dá uma gargalhada.
— Você está mudado, muito mudado. Porém andei pensado, desde
que liguei para William e pedi que te desse um recado. — Ele bebe o
restante da cerveja em seu copo, depois pega uma das garrafas do balde e
volta a enchê-lo, para em seguida completar o meu copo. Eu espero,
pacientemente, até que volte a falar. Então põe a garrafa no balde e me olha.
— É de conhecimento de vocês que existem muitas normas na Mansão, e
muitas dessas se refere aos funcionários.
— Sim, sei como você adora uma regra — chio, balançando a
cabeça.
Ele ri.
— Assim, uma das regras é que nenhum dos colaboradores podem
se relacionar entre si, e menos ainda com qualquer convidado.
Eu o encaro, perplexo.
— Alexander, você está contradizendo um pormenor que vem no
contrato que recebemos todas as vezes que a festa da Mansão acontece —
lembro-o.
Meu amigo faz um pequeno gesto afirmativo com a cabeça.
— Sei do que fala, mas os homens e as mulheres que servem no
salão estão aptos aos jogos. Inclusive, esses colaboradores não são
funcionários comuns, eles são pessoas ricas e que servem os outros
convidados, por puro fetiche, inclusive eles me pagam bem para fazerem
isso — conta e pisca um olho.
Passo a mão pela cabeça.
— É, você uma vez comentou sobre isso, esse é o motivo das
máscaras deles cobrirem todo o rosto.
— Sim, para que não pensem que aqui fora eles são subalternos.
Como disse: é um fetiche — complementa, sorridente.
Eu olho Alexander e fico pensativo. Pelo que entendi, a Letícia não
poderá mais trabalhar na Mansão.
— Assim, com essa norma, a Letícia está fora?
— Sim, e mesmo que vocês não tenham mais nada, existe a menina.
Além do mais ela causou um reboliço na última reunião. Ficou discutindo
na frente do meu pessoal, eu não vou querer uma encrenqueira trabalhando
para mim.
Fico sério, e fecho as mãos em punhos. Alexander observa o meu
gesto com um sorriso, debochado.
— A Letícia não causou nada daquilo, eu sou o responsável por
aquele reboliço, eu fui para cima dela já a acusando, em nenhum momento,
ela sequer alterou a voz para mim, muito pelo contrário — defendo, afinal
Letícia não é culpada de nada. — Se tiver que castigar alguém, esse alguém
tem que ser eu.
Ele revira os olhos.
— Você é meu amigo e não meu funcionário. E você sempre
frequentou a Mansão sem causar confusão alguma.
Fico indignado com suas palavras.
— Não é meu desejo que a Letícia volte a trabalhar na Mansão, só
pelo fato dela não precisar mais, pois estou disposto a assumir todas as
despesas dela, porém é injusto que a julgue de forma errada, para isso basta
eu, que fui um idiota no passado e a afastei por deduções ridículas —
desabafo e bebo minha cerveja.
Alexander tem seus olhos cravados em mim, e sua testa franzida.
— Ela é o motivo por você ser tão melancólico em alguns
momentos — aponta e eu não respondo, mesmo porque não é uma
pergunta.
— Vocês já acabaram com duas garrafas? — Caio chega, sem que
tenhamos percebido e ao seu lado está William.
— As duas mocinhas estão atrasadas, o que foi? O batom não
combinava com a roupa? — Alexander caçoa e nós rimos.
Os dois se sentam e ficamos zoando um ao outro, José traz o copo
deles e mais cerveja para abastecer nosso balde. Caio conta da sua última
viagem e de como fodeu a comissária de bordo em pleno voo. Ele é de
longe, o mais libertino, e suas aventuras sexuais é de deixar um santo
pagando penitência, só de ouvi-lo falar.
— O papo sobre a vida sexual do Caio, muito ativa por sinal, está
ótimo, porém gostaria de saber de você, Heitor: Sua pele está boa? Ou tem
coçado muito? — pergunta William e eu olho para ele intrigado.
Eu solto uma risada.
— Que porra você está falando? — questiono e olho para os outros
dois, que têm uma expressão de riso.
— Sua alergia a crianças, como está sendo isso? Depois de ter
contato com a sua filha — diverte-se William.
Claro, eles não perderiam a oportunidade de fazerem chacota.
— Vocês são uns filhos da puta — resmungo.
— Cara, pena não ter gravado esse seu discurso — aponta
Alexander.
— Mas eu tenho uma ótima memória, lembro a maneira como
falava sobre ser pai, ou melhor: a maneira em que dizia que nunca seria pai
— William exprime, gesticulando com a mão.
— E agora ta aí. Todo derretido pela filha, você era meu ídolo, cara
— declara Caio, também querendo rir.
— E acho que tá derretido pela mãe da garotinha, também! — Desta
vez é Alexander que acentua e me olha com atenção.
— Vocês parecem um bando de fofoqueiros — resmungo, bebendo
a cerveja.
Os três caem na gargalhada e continuam zombando comigo, sei que
não fazem por mal, eu no lugar deles faria o mesmo, tanto que quando
William engravidou uma mulher, hoje a sua esposa, e se mostrou todo
apaixonado, eu não perdia a oportunidade de lembra-lo de como ele vivia se
vangloriando por ser solteiro e livre.
Hoje eu o entendo perfeitamente. No coração e no destino nós não
mandamos, tudo acontece do jeito que deve acontecer. E tirando o fato da
Letícia, ainda, não ter me perdoado e se rendido, eu estou muito feliz com a
descoberta da minha filha, assim como pela segunda oportunidade que a
vida está me dando para poder consertar as burradas que fiz no passado.
Somos os últimos a sair, porém como clientes fieis e muito
generosos nenhum dos funcionários reclamam.
Já do lado de fora, cada um aguarda por seu motorista. Então
Alexander toca em meu ombro.
— Não tive oportunidade de falar, mas a sua filha é uma graça.
Parabéns! — saúda meu amigo e dou um sorriso, orgulhoso.
— E eu quero conhecê-la — William dispara.
— Sim, será ótimo. Podemos marcar alguma coisa na minha casa.
Mandei fazer um mini playground na parte dos fundos da casa. E quando
Théo tiver maior vai se divertir bastante lá.
— Eu não estou ouvindo isso. Você o que? — Caio se mete na
conversa.
— Deixe ele, Caio. Não tá vendo que assim como o William, Heitor
é um homem transformado? — caçoa Alexander.
— Nem vou responder... — Olho para Alexander e mudo de
assunto. — Você conseguiu descobrir alguma coisa sobre aquela ameaça?
Há alguns meses Alexander recebeu uma ameaça, e pelo visto a
pessoa sabia dos seus passos, pois conseguiu se infiltrar até mesmo na
Mansão.
Alexander solta um grunhido, e seu olhar é letal, percebo que
William e Caio ficam sério a fim de ouvir o que ele tem a dizer.
— Nada desse filho da puta dos infernos. Mas eu sei que ele está por
perto, posso sentir isso em meus poros. E ele vai pagar, pois não tenho
piedade dos meus inimigos — assevera com a voz fria.
Eu tenho é pena de seja lá quem for que mexeu com meu amigo.
Alexander tem um ar de perigo que o envolve, ele é um homem justo, não
admite erros. Além de ser muito controlador. Sua lealdade, como amigo,
não se discute, entretanto seu outro lado, o que desconhecemos, é
assustador.
Os nossos carros chegam praticamente juntos.
— Mas com certeza você não vai ficar parado, a espera que ele dê o
próximo passo — William chega a comentar.
Alexander dá um riso sinistro.
— Deixe que pense que estou vulnerável — expõe com ar de
vitória. Ele arruma a lapela da sua camisa social preta, e nos encara. —
Próxima festa daqui um mês. Enviarei o convite aos três.
William coça a nunca e franze a testa.
— Vou passar essa, Théo está muito novinho. Nem eu e muito
menos Emilly o deixaremos. Teremos outras oportunidades — responde.
Alexander me olha, com seu sorriso cínico, com uma pergunta
silenciosa.
— Não sei. Minha vida está uma confusão e preciso resolver tudo
com Letícia. — E só vou se ela for, penso comigo mesmo.
Caio ri.
— Puta que pariu! Vocês são patéticos — diz. Eu e William olhamos
para ele, que mexe os ombros. — Porém, como bom amigo eu desejo que
vocês sejam felizes nessa vida de prisioneiro que escolheram.
— Vou deixar vocês, tenho coisas a resolver — declara Alexander e
se afasta a medida que seu motorista sai do carro e abre a porta traseira para
ele entrar. Não passa despercebido como o homem olha desconfiado para
todos os lados, antes de voltar ao volante.
— Resolver coisas a essa hora? E o que seria? — pergunto curioso.
Afinal passa da meia-noite.
Caio aperta meu ombro.
— Melhor não sabermos amigo. É o Alexander — cochicha e
William concorda ao acenar com a cabeça.
Eu mexo os ombros.
— Amigos, foi muito bom vê-los. Mas estou cansado pra caralho.
— E olha que sua filha nem mora com você — fala William com
uma risada.
Eu dou um sorriso.
— Ainda... Estou trabalhando para mudar isso.
Aperto a mão do Caio e simulo um soco em seu ombro.
— Vê se não some, seu imbecil. Você é um cretino, mas gostamos
de você — brinco e ele dá uma gargalhada.
De repente fica sério, e como fiz, finge um soco em meu ombro.
— Olha, eu falo essas bobagens para sacanear vocês, mas no fundo
fico muito satisfeito que estejam felizes — comenta e olha de William para
mim. — Embora para você as coisas não funcionam como o que espera,
mas tenho certeza que logo vai resolver essa pendência. Afinal somos os
quatro mosqueteiros e tudo o que queremos, nós conseguimos — completa.
William e eu rimos.
— Sim, você está certo. Eu sou a prova disso — William aponta.
Eu vejo meu amigo tão apaixonado e feliz. E quando conheci a
Emilly eu percebi como eles fazem bem um para o outro. Eles dois têm uma
conectividade incrível. Eu quero ter isso com a Letícia, mas a mulher é
difícil.
Despeço-me dos meus amigos com a promessa de levá-los a um
passeio na nova lancha que adquiri e entro no meu carro, no banco do
carona.
— Direto para casa, senhor? — pergunta Tião, o motorista.
— Sim, meu caro. Preciso dormir um pouco — respondo.
Depois me deixar na garagem, entro na minha casa, tão grande e
silencioso que me sinto melancólico. Onde Letícia mora com minha filha, é
um apartamento muito pequeno, mas lá tem vida. Coisa que falta na minha
casa. Penso se ela vai aceitar passar o final de semana aqui. Pois agora que
o pequeno play está pronto, e preparei um quarto para Geovanna, não vejo a
hora de recebê-las.
Quero as duas aqui. Basta, agora ver o que Letícia vai dizer disso.

Depois de um dia tenso de trabalho, sigo para ver minha filha e


Letícia. Essas visitas viraram uma agradável rotina em minha vida e é a
hora mais aguardada do meu dia.
Assim que chego ao apartamento, Geovanna, vestida com roupa de
bailarina corre para os meus braços, eu a pego no colo, enchendo seu rosto
de beijos, enquanto ela dá umas risadas deliciosas.
Meus olhos cruzam com os da Letícia e ela sorri com delicadeza.
Lia se encontra na casa e mexe em seu laptop, quando me vê dá um sorriso.
Primeiro dou atenção a minha filha e depois peço um minuto para
falar com sua mãe. Letícia me olha intrigada, mas concorda sem pestanejar.
Lia diz para ficarmos a vontade que brincará com Geovanna. Então vamos
para a cozinha.
— O que foi? — pergunta e cruza os braços quando vê que estamos
longe.
Eu me sinto nervoso e passo a mão pelos meus cabelos, pois sei que
vai ser uma guerra. Ela vai se impor e dá muitas desculpas.
— Bom, é o seguinte... Nem sei como vou começar.
Letícia ergue uma sobrancelha.
— É só falar Heitor — frisa, um pouco insegura.
Solto um suspiro.
— Eu gostaria de levar você e Geovanna para passar o final de
semana comigo em minha casa. Quero que ela conheça onde moro, e quem
sabe, sua futura casa — anuncio, já me preparando para a recusa.
Ela respira fundo e muda de posição.
— Seus pais costumam te visitar? — indaga.
— Não, eu falo com meu pai apenas o necessário, e até isso é muito
raro. Quanto a minha mãe. Ela jamais vai deixar meu pai, num final de
semana para me visitar, pois sabe que ele pode aprontar — comento a vida
patética que leva minha mãe.
Letícia olha para o lado e entorta a boca, já sei que vai começar a
argumentar com outros motivos.
Ela volta a me encarar.
— Tudo bem — responde com simplicidade.
Eu abro e fecho a boca. Não acredito que ela aceitou assim. Tão
fácil.
Eu abro um sorriso.
— Vai ser um final de semana maravilhoso. Eu garanto. Tenho
muitos planos para nós três...
Letícia dá um passo à frente e estreita os olhos.
— Mas que fique claro. Não dormirei com você — afirma.
Eu acaricio seu rosto, com um sorriso de lado.
— Isso nem passou pela minha cabeça — minto, descaradamente.
E ela dá um sorriso, cínico.
— Vou fingir que acredito — murmura e sacode a cabeça. — É
sério, Heitor. Eu não vou dormir com você.
Faço cara de santo e ponho as palmas das mãos para cima.
— Eu não falei nada — declaro, então sorrio. — Prepare suas coisas
e as da Geovanna. Eu espero vocês na sala.
Ela arregala os olhos.
— Mas já? Pensei que fossemos amanhã.
— O final de semana começa hoje. Agora vai. Quero contar a
novidade para Geovanna.
Letícia balança a cabeça e me deixa sozinho na cozinha, eu sorrio
tão feliz. Pois é a primeira vez que passarei um tempo substancial com
minha filha. Sem dizer o tempo que passarei com Letícia. Estarei no meu
território, e por que não aproveitar a oportunidade?
Eu desejo essa mulher de volta e não vou medir esforços para
reconquistá-la. Nem que me leve a vida toda, eu a terei novamente e dessa
vez não cometerei o erro de deixá-la. Isso nunca mais!
- 15 -

Letícia Heitor dirige para sua casa e eu estou no banco de

trás, ao lado da Geovanna, que está bem segura em sua cadeirinha. Não

posso dizer que ele não está se esforçando, pois, como um pai responsável

tratou logo de providenciar para que a filha viajasse em seu carro com total

segurança e comodidade.

Ele conduz o carro e finjo não notar como me olha pelo retrovisor.
Não vou mentir e dizer que estou tranquila em passar um final de semana
em sua casa, pois não estou. Pensei em não aceitar o convite. Mas não seria
justo nem com ele, nem com Geovanna. Ambos precisam desse tempo
juntos.
Minha filha carrega o urso que ganhou do pai e noto sua felicidade.
Eu sei que essa felicidade é por causa dele, é como se ela soubesse da
importância do Heitor em sua vida. Eu me sinto muito feliz por eles estarem
se dando bem. Foi como Lia comentou, a maneira que Heitor olha para
Geovanna e o carinho e paciência que tem com ela mostra como ama a
filha.
Noto que ele passa por lugares diferentes, até que sobe uma rua
arborizada e bem iluminada. Heitor para o carro num portão imenso e o
mesmo se abre. Ele deve ter se mudado, lembro que ele comentou comigo,
algumas vezes, sobre morar em uma casa, ele tinha esse projeto em mente,
pois não gostava muito de viver confinado. Como se o seu apartamento
fosse minúsculo.
Depois de parar o carro na garagem coberta ele se vira para trás e
sorri.
— Chegamos — comunica.
Geovanna tenta se soltar do cinto de segurança, eu olho para ela e
sorrio.
— Calma, filha! Nós já vamos tirá-la daí — falo e tento soltar o seu
cinto.
Heitor sai do carro, dá a volta com passos rápidos e abre a porta
traseira, ao lado da nossa filha.
Ele acaricia seu cabelo, com fisionomia de felicidade e com
habilidade solta o seu cinto e a pega no colo. Então me olha, com olhos
brilhantes.
— Espere só pouquinho — pede, pisca um olho para mim e fecha a
porta.
Não entendo o porquê de ficar esperando aqui dentro, mas cato
alguns brinquedos que Geovanna trouxe e coloco na sacola, e minha porta
se abre. Eu olho, e Heitor com nossa pequena no colo me estende a mão.
Disso eu não posso falar dele. Heitor sempre foi muito cavalheiro. No
passado quando estávamos juntos, ele sempre fazia questão de ser gentil
comigo.
Dou um sorriso sem graça e seguro sua mão estendida. O calor da
sua pele aquece todo o meu corpo.
— Não precisava se preocupar, você sabe que me viro sozinha —
comento enquanto saio. Então olho a casa, magnífica, por sinal. — Então
você realizou seu sonho — comento.
Ele também olha para casa, pensativo.
— Não chega ser um sonho, mas nada impede que chegue a ser —
analisa contemplativo.
— É sua casa? — Geovanna pergunta, e o tira de sua reflexão.
Ele olha, com carinho para nossa filha.
— É sua também, filha — diz e se vira para mim, com olhar intenso.
— Ela é nossa, na verdade — completa e sinto um arrepio permear minha
pele.
Noto uma senhora sair da casa, ela usa um uniforme, e deve ser sua
governanta.
Heitor nos apresenta, e ela é muito gentil. Então olha Geovanna e dá
um sorriso, sincero.
— Mas essa menininha é muito linda! — exclama.
Geovanna fica tímida e dá um sorrisinho suave.
Heitor dá um cheiro em seus cabelos e tem uma expressão
orgulhosa.
— Essa é a minha filha, dona Sueli — diz com um sorriso.
Depois das apresentações iniciais, nós entramos e o bom gosto é
indiscutível. É tudo muito limpo e luxuoso, e me bate uma ansiedade.
Então quando a dona Sueli se afasta, eu olho Heitor, com
preocupação.
— Heitor, a Geovanna não é uma criança muito levada, costuma ser
obediente, porém, nem sempre consigo controlar essa menina.
Ele me encara, ainda com ela em seu colo e se mostra confuso.
— O que você quer dizer?
Olho a sala, as plantas ornamentais, o sofá branco e o tapete
felpudo. Mostro o lugar para ele com a mão.
— Tenho medo que ela possa sujar suas coisas. Aqui é tudo tão
perfeito — aponto.
Ele dá uma risada.
— Você está enganada, Letícia. Essa casa está longe de ser perfeita,
e ela pode fazer o que bem entender. Não me importo com nada disso.
Quero minha filha à vontade, assim como você. Portanto, deixe essa
preocupação de lado — declara com franqueza e sorri. — Venha comigo.
Vou levá-la até o quarto dela, e enquanto vai se adaptando, volto para
buscar as coisas de vocês no carro e verificar se o jantar está pronto.
Eu aceno e o sigo. Heitor começa a falar com Geovanna, conta que
tem uma surpresa para ela, mas que só no dia seguinte poderá mostrar, pois
já é noite. Lógico, a menina ainda não tem três anos e não entende o que ele
diz, mas fica o tempo todo perguntando “cadê a surpresa”.
Sua casa é muito grande, e conforme o sigo noto quatro portas, bem
espaçadas no corredor, e na parede de frente uma porta dupla a qual deduzo
ser a sua suíte. Ele abre uma das portas e acende a luz. Eu estou atrás dele e
não posso ver nada, mas minha filha se mexe querendo descer e ele rir
enquanto a põe no chão.
Então sou capaz de ver o belíssimo quarto que ele montou. É um
sonho! Pintado num tom rosa muito clarinho, e alguns desenhos de ursinhos
em uma das paredes. A caminha dela é montessoriana em forma de casa e
tem luzes de led em volta.
Minha filha corre até um grande urso e se joga nele.
— Olha, mamãe. Ele é muito grande! — exclama, toda empolgada,
de tanta felicidade.
Eu sorrio para ela.
— Gostou? — Heitor sopra, ao meu lado.
Olho para ele, que me observa com cautela.
— É lindo? Quando você fez esse quarto? — questiono, curiosa.
Ele coça a nuca, se vira para Geovanna que agora brinca em uma
mesinha para desenhar. Heitor parece sem jeito e vê-lo assim, dá vontade de
beijar sua boca e esquecer o passado.
Ele volta a me olhar.
— Logo depois que soube dela, eu entrei nesse quarto, e imaginei-a
aqui. Então providenciei para que montassem tudo com urgência —
confessa.
Eu sorrio e olho Geovanna. Sinto meu coração bater forte. Não há
nada mais gratificante do que ver seu filho feliz.
— Obrigada. Ela adorou, isso é certo — acentuo.
Sinto que Heitor me olha e finjo que isso não me atinge, então
permaneço com os olhos voltados para Geovanna.
— Vou buscar as coisas de vocês e verificar o jantar, qualquer coisa,
aquela porta com ursinhos de toalha é o banheiro dela — avisa e sai do
quarto.
Eu solto um suspiro de alívio, pois não estava conseguindo me
conter com ele tão perto. Já vi que esse final de semana será uma grande
prova onde testarei o quanto sou resistente.
Fico brincando com Geovanna. Ela quer pegar vários brinquedos ao
mesmo tempo, então pede para ir ao banheiro. E até ali fica feliz com o
tanto de desenho que tem pela parede. Até banho quer tomar para usar o
sabonete e brincar com o baldinho no Box.
Heitor retorna e sua satisfação em ver a filha tão encantada, é
evidente. A animação da Geovanna é contagiante. Assim deixamos que ela
tome um banho morno e fique um pouco na banheira fazendo espuma. Eu
me sento no chão e observo minha filha. Ele faz o mesmo e fica de frente
para mim. Enquanto conversamos amenidades.
Heitor pergunta se eu tenho notícias do meu pai e se ele conheceu a
Geovanna, então conto que não tenho nem certeza se ele sabe que fiquei
grávida, pois logo que tudo foi pelos ares comigo, com a ajuda do meu
irmão, eu fui para a Espanha, viver com a tia da minha mãe, mas depois da
sua morte retornei ao Brasil. Não tinha como viver mais lá, pois seus filhos
eram bem diferentes da tia Josefa.
Heitor, com certeza, fica deprimido, vejo em seu olhar o sentimento
de culpa.
Eu toco em sua mão, e dou um sorriso, triste.
— Você não é culpado disso, Heitor — garanto.
Ele com um gesto de cabeça, nega e olha para nossa filha, que
brinca e nem percebe nada a sua volta.
— Não acho. Se eu não tivesse sido um canalha com você. Tudo
seria diferente — assinala e sua voz sai grave.
Também observo Geovanna e respiro com pesar.
— Não adianta ficar martelando sobre isso agora — murmuro.
Heitor me olha, eu me viro para ele.
— Um dia, será que você vai me perdoar, Letícia? — pergunta com
olhar inquieto.
— Provavelmente eu vou, Heitor, mas não agora. É muito difícil me
libertar das lembranças daquela tarde. E eu confesso que tenho pavor que
você me decepcione mais uma vez, pois eu não suportaria — confidencio
com a garganta apertada.
Ele estende o braço e acaricia meu rosto, seu olhar focado em mim.
— Eu entendo, Letícia. — Seus olhos estão brilhantes e vislumbra
meu rosto com afeto, deixando meu coração aquecido. — E de verdade,
aqui diante da nossa filha eu te peço perdão, eu não posso prometer que
você não vá mais sofrer, pois isso não tem como garantir. Mas da minha
parte eu prometo que não a decepcionarei mais. Por favor, eu preciso que
acredite em mim — pede com naturalidade, porém com emoção na voz.
Eu desvio o olhar para Geovanna, fico sem saber o que falar e meu
coração comprime em meu peito. Minha filha dá um bocejo, eu esboço um
sorriso.
— Ela está com sono — comento, ele exala com força e percebo
que se vira para Geovanna. — Acho melhor tirá-la daqui. Depois podemos
dar o jantar dela, isso se ela não dormir antes.
Heitor se levante e estende a mão para me ajudar. Antes de pegar
Geovanna, nós nos encaramos. Minha respiração oscila, pois quero muito
tocá-lo.
Ele sorri.
— Coloque o pijama nela. Vou pedir a Sueli para arrumar o jantar
para ela — informa, então beija minha testa e sai do banheiro, me deixando
a sós com Geovanna.
Olho para minha filha e sorrio, enquanto pego sua toalha.
— Ah, minha filha, vai ser difícil para a mamãe resistir ao papai —
murmuro. Geovanna olha para cima e sorri.
Ela bate palmas, rindo.
— Viva o papai... viva a mamãe!
Eu começo a rir e a tiro da banheira.
Algumas horas depois, logo após o jantar, Geovanna está caindo de
sono. Eu a ajudo comer sua fruta, mas seus olhinhos quase fecham. Então
digo ao Heitor que vou levá-la para o quarto e que depois dela dormir eu
volto. Porém, ele se levanta da cadeira.
— Eu vou com vocês. Eu quero colocá-la para dormir — explica.
— Ás vezes ela demora, mesmo estando com muito sono. Se quiser
pode jantar...
Ele coloca o dedo indicador em meus lábios.
— De jeito nenhum. Todas às vezes que eu estiver por perto, eu vou
participar de tudo, e dividir tudo com você. Você não fará mais nada
sozinha, Letícia — enfoca, e eu aceno.
Voltamos juntos para o quarto da Geovanna, enquanto preparo sua
cama ele a leva para escovar os dentes, e ela começa a tagarelar com ele.
Procuro deixar Heitor à vontade com ela e permito que a coloque na
cama. Eu fico emocionada quando o vejo sentar-se ao chão e acariciar seus
cabelos. Geovanna deita-se de lado, com as mãos unidas abaixo da
bochecha e olha para ele com admiração e confiança. Eu me sento na
poltrona e observo.
O dois junto é de deixar qualquer um emocionado. O carinho, a
conexão e familiaridade deles são comoventes. E quando ele começa a
contar uma historinha para ela, com voz baixa e serena eu sinto meus olhos
se encherem de lágrimas.
Geovanna dorme, Heitor então liga a babá eletrônica e se levanta.
Eu faço o mesmo e saímos em silêncio do quarto. Enquanto caminhamos
até a sala de jantar ele me olha, e sorri.
— Será que ela vai estranhar?
Eu balanço a cabeça.
— Acredito que não. Geovanna costuma dormir bem em qualquer
lugar — acentuo.
Ele me ajuda a sentar no meu lugar e pede licença para falar com
Sueli, bebo um gole de água e logo ele retorna. Sueli o acompanha e nos
serve. Nós jantamos num clima tenso. Não por estarmos aborrecidos. Ao
contrário. Estar com ele nesta noite tem sido uma grata surpresa.
Quando Sueli volta e pega nosso prato, eu a acompanho com os
olhos, então volto-me para Heitor que tem os olhos cravados mim.
— Além de mudar de casa trocou os empregados, posso saber o
motivo? — indago, embora tenha uma ideia do por que ele fez isso.
Heitor acena.
— Os empregados eu dispensei todos, pois claramente um deles
tirou fotos nossas — confirma o que eu já sabia. — Esses novos são de uma
empresa especializada, e eu mesmo escolhi.
— Entendo, depois que meu pai mostrou uma foto nossa, eu deduzi
que foi um dos empregados que tirou — comento.
Ele faz uma careta.
— Sim, só podia ser. Tanto que questionei. Então uma delas mentiu,
e disse que foi você que pagou para que fizesse isso. — Ele respira forte. —
Naquela época eu acreditei naquela infeliz, é claro que ela foi orientada. E é
exatamente por isso que decidi descobrir onde ela vive. Estou disposto a
descobrir quem é a pessoa que a contratou.
— Não é melhor deixar isso para lá? Sabemos que foi o meu pai, ou
o seu — exponho.
— Ou os dois juntos, embora digam ser inimigos, de repente se
uniram, apenas para nos separar — deduz, Heitor.
Sacudo os ombros.
— Tanto faz, seja quem for conseguiu fazer um estrago.
Sueli retorna e termina de pegar a louça. Heitor diz que o motorista
a espera para levá-la para casa e que basta pôr a louça na máquina que ela
pode ir embora.
Ela meneia a cabeça e nos cumprimenta, então se retira.
Heitor se levanta e segura minha mão a fim de me ajudar. Então me
leva para fora da casa. Ele mostra seu jardim, iluminado, e com algumas
flores muito bem cuidadas circulando o gramado.
A lua brilha no céu e ele olha para cima.
— Eu, assim que você saiu do apartamento naquele dia, e conversei
com os empregados, não suportava ficar ali. Então arrumei uma mala e
viajei. Fiquei um mês fora e ao retornar para o apartamento percebi como
tudo ali me lembrava de você. Nunca me senti tão amargurado. — Ele ainda
olha para o céu e observa a lua. — Não consegui ficar. No mesmo pé que
entrei saí e fiquei num apart até comprar essa casa.
— Você me odiava tanto que não podia ficar no seu antigo
apartamento — declaro com tristeza.
Então ele me olha, se vira de frente para mim e de repente agarra
minha cintura, colando meu corpo ao dele. Seu olhar é desesperado.
— Não era ódio de você. É que você me fazia tanta falta, que sentia
uma dor imensa no peito. Cheguei até pensar em chutar o balde e me
humilhar para ter você novamente. Pois eu queria você de qualquer
maneira, Letícia. Mesmo que fosse culpada, mesmo que tivesse me
enganado. Eu queria você. Isso sim me dava raiva — desabafa.
Eu encaro Heitor e minha mão toca seu peito através da camisa.
— Eu posso entender como se sentia... — sussurro.
— Talvez possa. E agora eu carrego mais esse arrependimento. De
não ter engolido meu orgulho e te procurado. Se eu fizesse isso, eu veria
minha filha nascer — finaliza e demonstra tristeza.
— Você a verá crescer. Não é tarde para isso — comento.
Heitor passa a mão pelas minhas costas, enquanto a outra aperta a
minha cintura. Seus olhos vislumbram meu rosto.
— Você é a melhor pessoa que já conheci na vida — confessa.
Sua declaração mexe comigo. E minha cabeça apita em alerta. Se eu
deixar que ele fale mais alguma coisa, não terei escapatória.
Eu sorrio, sem vontade. Olho para a sua boca, sensual.
— Acho melhor eu dormir, está tarde — friso.
Ele solta uma risada.
— Vamos entrar — diz e se afasta. Fico um pouco decepcionada.
Pensava que ele fosse insistir.
— Se quiser, pode deixar o receptor da babá comigo — digo
enquanto o sigo.
Heitor entra e tranca a porta, depois liga o alarme. Logo se vira para
mim com olhar de predador, e meu coração pula, enquanto o sangue corre
em minhas veias com maior velocidade.
Ele segura meu rosto entre suas mãos, seu olhar de fome me deixa
hipnotizada.
— Você tem razão numa coisa: está tarde, pois deveria ter te beijado
mais cedo — rosna, colando sua boca na minha.
Sinto todo o corpo entrar em erupção, e quando sua ereção se
fricciona em mim, o calor em meu baixo ventre é estarrecedor.
Seu beijo devora tudo de mim. Não há como controlar o desejo.
Estou num beco sem saída e lutar se torna impossível, pois cada parte de
mim anseia por esse homem. Eu o desejo com todas as minhas forças.
Não vou, e nem quero lutar contra isso.
- 16 -

Heitor Seus lábios se separam quando minha língua toca a

sua boca. Eu não me contenho e agarro Letícia com toda força entre meus

braços. O seu gemido de desespero incendeia meu corpo e meu pau se agita

dentro das minhas calças. O beijo se torna faminto... ganancioso. E eu quero

passar minha língua por toda a sua pele.

Letícia se agarra em mim e seus dedos torcem minha camisa. Ela


também não consegue mais suportar esse desejo que nos consome. Minhas
mãos deslizam pelas suas costas, e eu cravo meus dedos em sua bunda e
puxo para seu corpo ficar totalmente colado ao meu. A arrasto para o meio
da sala. Eu me sento no sofá, e a trago para o meu colo, com suas pernas
abertas. Onde sua boceta esfrega-se no meu pau.
É uma agonia ela estar tão vestida, mas preciso que ela esteja na
mesma sintonia, não quero que Letícia se arrependa depois. Assim afasto
meus lábios dos dela e meus olhos vagueiam em suas feições, pois quero
memorizar cada detalhe desta noite.
Ela ofega e seus lábios úmidos fazem com que eu queira largar tudo
para os ares e tomá-la de uma vez. Eu aperto os olhos fechados e sinto suas
mãos pousarem em meu peito. Volto a abrir os olhos e Letícia me observa
com olhar cálido.
— Minha linda... eu desejo você mais que tudo nessa vida. É mais
do que isso, eu necessito de você — confesso, com a voz áspera. Eu
acaricio seu rosto e admiro sua beleza. — No entanto, preciso que você me
diga para ir em frente, pois não quero forçá-la a nada. Eu desejo você,
muito, mas... — Deixo o restante da frase no ar.
Letícia está focada em mim, e seus olhos refletem o seu desejo. Ela
morde o lábio inferior e suspira.
— Eu também desejo você, Heitor. Vamos viver esse momento,
depois descobriremos o que fazer — declara e baixa o olhar até onde estão
suas mãos. — Por favor, não pare.
Ela mal termina de falar, eu volto a beijar sua boca com ânsia. Ao
mesmo tempo movo minhas mãos até sua blusa, ela levanta os braços e tiro
o tecido do seu corpo. Assim, eu toco seus seios através do sutiã e seus
mamilos duros me deixam alucinados.
Eu tiro Letícia de cima do colo, a coloco sentada no sofá e me
ajoelho no chão, entre suas pernas. Retiros seus shorts e calcinha e os jogo
para o lado. Levo meus dedos até seu clitóris e olho para ela, que morde seu
lábio e tem os olhos estreitos. Pressiono meu dedo com mais energia e ela
geme e joga a cabeça para trás, fincando os dedos no tecido do sofá.
Desço meus olhos até o meio de suas coxas e passo os lábios por
minha boca.
— Louco para chupar essa boceta e constatar se continua tão
gostosa — murmuro e inclino a cabeça. Esfrego a ponta do meu nariz em
seu clitóris e Letícia se contorce, puxando ar para os pulmões.
Vagarosamente passo minha língua por suas dobras. — Está ainda mais
gostosa — sopro com a boca colada na sua boceta.
Letícia mexe os quadris, se esfrega em minha boca e eu me deleito
com sua essência. Uma das minhas mãos desliza por sua perna, enquanto a
outra mão finca em sua coxa esquerda.
Ela rebola em meu rosto à medida que minha língua explora sua
bocetinha.
— Ah! Heitor! — arfa com a respiração entrecortada.
Ouvi-la clamar meu nome deixa meu coração pleno de satisfação,
enquanto meu corpo se enaltece, querendo me enterrar nela.
É certo que ela está perto de chegar ao clímax, sinto que sua
respiração fica acelerada e suas pernas me prendem com força. Assim,
circulo minha língua no seu clitóris e percebo que goza, pois seu corpo
estremece ao passo que geme meu nome.
Letícia relaxa aos poucos e deixo um beijo suave em sua boceta. Ela
ainda respira com dificuldade e tem os olhos fechados, mas carrega um
sorriso suave, de satisfação e prazer.
Eu me levanto e a pego em meu colo, e ela dá um gritinho,
assustado. Eu beijo sua testa e caminho com ela em meus braços.
— Eu preciso ter você, Letícia — declaro.
Ela contorna seus braços em meu pescoço, e tem um olhar lânguido.
— E por que está me carregando?
Eu sorrio.
— Preciso de você na minha cama, minha linda — confesso já
chegando a minha suíte.
Eu a coloco no meio do meu colchão e me afasto, sem parar de
encará-la, então tiro minha camisa e sapatos os jogando de lado. Antes de
tirar as calças e cueca, pego no bolso o pequeno monitor da babá eletrônica
e posso ver que minha filha respira serenamente e continua na mesma
posição, eu sorrio ao vê-la e viro o monitor para Letícia.
Ela observa e esboça um sorriso.
— Eu falei que ela dorme bem — comenta.
Coloco o monitor na mesa de cabeceira, e me viro para Letícia. Tiro
minha calça e em seguida minha cueca boxer branca. Meu pau intumescido
se ergue e eu o envolvo entre minhas mãos. Rodeio a cama e paro bem de
frente para Letícia que tem os olhos pregados em mim.
— Eu quero tanto você, minha linda. Tenho a impressão de que não
vou durar muito — suponho e subo na cama em meus joelhos. Fico entre
suas coxas e olho sua boceta ainda mais molhada. Eu aperto meu pau. —
Caralho, Letícia... como você consegue ser ainda mais maravilhosa?
Ela sorri, sem jeito.
— Você, como sempre um homem gentil — atesta, com olhar de
fascínio.
Sinto meu coração disparar, ao fixar meus olhos em sua face. O ar
me falta e eu estendo a mão e acaricio seu rosto.
— Nem sempre fui gentil com você, mas irei consertar isso —
sussurro e seus lábios se separam.
Aproveito para beijá-la e ao mesmo tempo tirar a única peça que a
veste, seu sutiã. Empurro seu corpo, bem devagar, no colchão. E sentir sua
pele macia, contra a minha, deixa-me extasiado. Eu nunca me senti assim
com mais ninguém. Apenas a Letícia tem essa capacidade. Com ela tudo
parece certo.
Eu deslizo a boca para baixo e beijo seu pescoço para descer um
pouco mais até tomar um dos seus seios em minha boca e lamber seu
mamilo. Passo para o outro seio e faço o mesmo, enquanto Letícia sussurra
palavras desconexas.
Escorrego minha mão pela sua pele, até chegar em seu sexo, então
introduzo dois dedos em sua boceta apertada, ela crava as unhas em minha
pele. Com a outra mão eu agarro o seu seio e chupo com força.
Meu pau lateja enquanto a como meus dedos, então subo meus
lábios e tomo sua boca e retiro minha mão de entre suas coxas, em seguida,
pego seus braços e os estendo ao lado do seu corpo. Meu pau fricciona sua
barriga e eu respiro forte. Separo minha boca da sua e nossa respiração
acelerada se mistura.
— Puta merda! Preciso que pegue a camisinha, não sei se eu
consigo — rosno, agoniado.
Mostro onde estar o preservativo, Letícia se estica de lado e o pega
na outra mesinha. Ela rapidamente me ajuda a colocar, e seu toque quase
me faz gozar.
Letícia suspira e volta a se deitar como antes, eu pego sua perna
direita e a trago até meu ombro. Sem tirar meus olhos dos dela levo meu
pau até sua entrada. Eu paro e aprecio seus olhos castanhos, cor de uísque.
Esses olhos que me embebedam.
Suas bochechas estão coradas e seus olhos irradiam desejo. Vê-la
excitada é uma das coisas mais lindas que já vi. Eu empurro devagar em seu
interior e no momento que seu calor vai envolvendo meu pau, nós arfamos
ao mesmo tempo. Lentamente me enterro em sua bocetinha, até chegar ao
fundo. Eu fecho os olhos apertados e mordo meu lábio. Volto a abrir os
olhos, e quando nossos olhares se cruzam meu coração se aperta em meu
peito devido à maneira que ela se entrega.
Puxo meu pau para fora, apenas para voltar a deslizar para dentro,
repito os mesmos movimentos, e acelero à medida que o desejo parece
explodir das minhas entranhas. Eu puxo e bato de volta, mais... e mais... e
mais...
Noto quando seus olhos escurecem e sua respiração acelera. Movo
minha mão entre nós e circulo seu clitóris. Sua boceta começa a se contrair
em meu torno, me apertando com energia. Eu estoco com mais força, e
mesmo com o ar condicionado ligado nossa pele sua, em razão da
intensidade do ato. Em uma estocada mais forte, eu me finco dentro dela e
busco por sua boca.
Nós dois chegamos ao orgasmo juntos, gememos um na boca do
outro. E sinto como se tudo em mim, finalmente vivesse. Pois é assim que
me sinto com Letícia. Um homem vivo, além de um homem muito melhor.
Eu beijo sua boca com mais suavidade e jogo meu corpo para o
lado, puxo seu corpo para se colar em mim e beijo seus cabelos, inspirando
seu aroma.
Letícia passa a ponta dos dedos em meu tórax e sinto seu hálito
quente tocar minha pele.
— Você continua o mesmo sedutor de sempre — comenta com riso
na voz.
Eu aperto meu abraço, e sorrio.
— Letícia, eu não consigo me controlar quando o assunto é você —
elucido, me dando conta de que ela é a única pela qual sou tão insistente.
Ela acaricia minha pele.
— E eu não consigo resistir a você — confidencia com nota de
aborrecimento.
Eu rio e encho sua cabeça de beijos.
— Eu não quero que resista a mim, nunca — declaro e olho para o
monitor, a fim de verificar a Geovanna. Eu suspiro. — Nossa filha é tão
linda, acho que nunca serei grato o suficiente por ela ter chegado a minha
vida.
— Sim, a Geovanna tem essa habilidade. É muito fácil se apaixonar
por ela — diz orgulhosa.
— Ela tem muito de você, Letícia.
Letícia deixa escapar um riso.
— Ela é a sua cara, Heitor — aponta, achando graça.
Eu sacudo a cabeça.
— Em aparência Geovanna se parece comigo, disso não temos
dúvidas. No entanto em personalidade, não há o que questionar. Ela é
generosa, amável além de muito esperta — enumero.
Letícia ergue a cabeça para me olhar, com o cotovelo fixo no
colchão e uma das mãos apoiando a cabeça, ela estreita o olhar.
— O ser esperta não é de mim, eu me considero um pouco lenta
para perceber as coisas — enfatiza divertida.
Eu olho seus cabelos que caem pelos seus ombros e levo uma mecha
para trás da sua orelha.
— No passado foi mais esperta do que eu. Entendeu que poderia
haver uma armadilha para nos separar — aludo com dor no coração, pelo
fato de ter caído como patinho no que fizeram para nós.
Letícia fica séria.
— Por alguns momentos eu também pensei que você tivesse me
usado — assume.
Solto um grunhido.
— Vamos deixar esse assunto de lado, ao menos por hora. — Eu me
levanto e pego Letícia no colo. — Eu quero aproveitar esse final de semana
ao máximo com você e nossa filha.
Marcho até o banheiro, a coloco no chão e ligo o chuveiro. Beijo sua
testa e volto para o quarto.
— Aonde você vai? — grita.
Eu pego o monitor e levo para o banheiro, quando ela vê o aparelho
na minha mão, sorri.
— Sei que você disse que ela costuma dormir bem, porém é tudo
muito novo, tenho medo que ela acorde e estranhe o lugar e pense que está
sozinha — confesso, colocando o monitor em cima do balcão.
Letícia sorri, e passa a mão em meu peito, deixando minha pele
eriçada.
— Você está certo — murmura.
— Agora vamos tomar um banho juntos — sopro beijando seus
lábios e pescoço.
Meu pênis fica logo duro.
Empurro Letícia para o Box, agarro sua cintura e a beijo na boca
com meu desejo renovado. Sua pele é suave e deliciosa para ser explorada
com as mãos. A água desliza por nosso corpo e minha mão desce para
segurar sua bunda. Conduzo-a até a parede lateral e a viro de costas para
mim. Então mordo seu ombro e ela arqueia as costas.
Eu roço meu pau em sua bunda empinada. Letícia encosta a cabeça
virada para mim, em meu ombro eu enfio minha língua em sua boca. Com
meu peito esfregando-se em suas costas eu conduzo meu pau até sua
entrada, já encharcada esperando por mim. Eu estoco com força e ela dá um
gritinho abafado.
Meto mais forte e todo o seu corpo balança com o ímpeto dos meus
movimentos. Com uma mão agarro seu quadril, com a outra eu seguro seus
cabelos, então afasto minha boca e olho para baixo.
Vejo meu pau inchado e lambuzado com seu prazer, então mordo o
lábio com tanta força que chego sentir o gosto de sangue. Eu entro e saio da
sua boceta, e agarro seus cabelos com mais afinco. Tudo sem tirar os olhos
do meu pau enquanto se enterra nela.
Faço movimentos circules com o quadril batendo com mais
velocidade e força até que Letícia explode num orgasmo estarrecedor.
Deixo que ela relaxe. Então largo seus cabelos e tiro meu pau da sua
bocetinha, e gozo em suas costas e bunda. Deixo-a toda lambuzada com a
minha porra, me sinto o homem mais realizado do universo.
Viro Letícia de frente para mim e volto a beijá-la. Caralho! Como
pude deixar essa mulher escapar de mim? Acredito que não sou mais capaz
de ficar sem ela por muito tempo. Preciso que ela me perdoe logo, ou
ficarei louco.

Na manhã seguinte, vejo Sueli e sua ajudante na cozinha, eu


cumprimento as duas, assobiando. Preparo o leite da minha filha, satisfeito
e feliz.
Sueli me pergunta o que quero para o almoço e eu digo que verei
com Letícia, o que prefere, ela acena e eu saio da cozinha. Geovanna está
com a mãe no quarto se aprontando para o dia. Ela está falante e bem
animada. Entrego sua caneca com seu leite e ela sorri.
— Obrigada, papai!
Eu e Letícia nos encaramos e ela fica corada. Deve estar lembrando-
se da noite que passamos juntos. Ela olha para Geovanna e começa a falar
com nossa filha, eu a observo e devo estar parecendo um idiota apaixonado,
pois não consigo controlar essa vontade louca de tocá-la. Meu coração bate
feliz, como nunca bateu antes. E eu sei que não é apenas por Geovanna. É
por Letícia. Essa mulher que tem grande poder sob mim.
Quando Geovanna vê o pequeno parquinho que mandei construir
para ela, a menina fica eufórica. Letícia abre a boca, surpresa.
— Você mandou construir isso aqui, ou já tinha na casa? —
pergunta e me olha.
Eu sorrio orgulhoso, pois claramente as duas gostaram.
— Eu mandei que montassem. Minha assistente encontrou uma
empresa especializada em reformas e montagens de playground e eles
fizeram em poucas semanas — conto.
Geovanna corre e pede para ir ao balanço. Letícia põe a mão na
cintura e balança a cabeça.
— Essa menina não vai querer saí daqui nunca mais — destaca,
rindo.
Eu olho Letícia com seriedade.
— E eu não quero que ela e nem a mãe dela saiam daqui —
murmuro e ela me encara com olhar sereno.
Sinto dentro do peito uma ponta de esperança, pois Letícia já não
tem em seu olhar aquela angustia ou o dissabor que lhe causei.
Ela suspira e olha Geovanna pulando ao redor do balanço.
— Vou empurrá-la, ou não vai parar de pular.
Quando vai dar o primeiro passo eu toco seu ombro, impedindo que
continue, então me olha, curiosa.
Eu sorrio, e passo a mão por seus cabelos.
— Nada disso. Hoje eu fico com ela, tenho uma surpresa para você
— digo e Letícia enruga a testa. — Lembra que esta manhã eu te mostrei a
área da piscina coberta? — Ela acena e continua a me olhar. — Então, tem
um spa ao lado da piscina, e uma massagista, entre outros profissionais da
beleza, estão te aguardando nesse momento.
Ela arregala os olhos, surpresa.
— Heitor, você não precisava se incomodar comigo — expõe, mas
sei que ela está emocionada.
Eu sorrio e a encaro com afeto.
— Preciso. E além do mais, você merece esse agrado, na verdade
merece muito mais que isso, Letícia. E o que eu puder fazer por você, eu
farei, pois por mais de dois anos cuidou da nossa Geovanna sem minha
ajuda. Hora de retribuir, ao menos um pouquinho, minha linda — declaro e
seus olhos brilham de emoção.
Letícia sorri.
— Obrigada, se é assim, eu aceito esse presente — sussurra.
Eu beijo seus lábios com suavidade e ela não me impede.
— Agora vá. Estão a sua espera. Não se preocupe com nada, a
Geovanna ficará bem, eu prometo — assinalo e ela corre até nossa filha e
beija sua cabeça.
Eu caminho até Geovanna e quando Letícia se encontra comigo ela
para e me abraça pela cintura.
— Você é demais — diz e se afasta.
Eu olho para ela correndo até a área da piscina com um sorriso bobo
na minha face. Meu coração transborda só com o fato de vê-la feliz. E eu
quero isso: fazê-la feliz todos os dias, vê-la sorrir.
E quem sabe assim um dia eu possa me perdoar por tê-la feito
sofrer.
- 17 -

Letícia Passo a manhã no Spa da casa. Os profissionais são


muitos gentis, e sou tratada como uma princesa. Recebo massagens nas

costas, e quase adormeço de tão relaxada que me sinto. Em seguida,

enquanto outro profissional cuida dos meus cabelos, recebo massagens nos

pés.

É tudo tão maravilhoso, e me dou conta de que é a primeira vez que


sou mimada desta maneira. E desde que me descobri grávida da Geovanna,
não houve um dia que eu pudesse descontrair. No decorrer destes três anos,
eu tive alguns apoios que foram fundamentais para a minha sanidade
emocional. Durante a gravidez e no primeiro ano da Geovanna, tia Josefa
me ajudou, porém ela já era muito idosa, não podia fazer muito, e, além
disso, eu não ficava confortável quando ela fazia algum esforço.
Assim que ela adoeceu, continuei com ela e passei a cuidar da sua
saúde, e mesmo com uma filha pequena, fiz o máximo que pude por ela, eu
era muito grata à tia Josefa, pois me recebeu de braços abertos e nunca
questionou nada da minha vida ou sobre o pai da Geovanna. Lembro-me
que seus quatro filhos, dificilmente a visitavam, e ela se entristecia por isso.
Porém, bastou ela morrer, para os quatro entrarem em sua casa e não
perderem tempo de me lembrar de que eu não tinha direito a nada, e vivia
ali de favor. Apenas Dora, a filha mais nova, foi um pouco mais simpática e
convenceu os outros irmãos a me deixar um pouco mais, pois não poderiam
me expulsar de uma hora para outra com uma criança de quase dois anos.
Foi humilhante o que passei, e como já pensava em voltar para o
Brasil, pois sentia falta do meu país, contatei meu irmão e seu marido, que
me acolheram de braços abertos. Por mais que eles sejam bondosos, não
gosto de pedir que cuidem da Geovanna, e só mesmo quando precisava
trabalhar na Mansão, eu deixava minha filha.
Eu sei que posso contar com eles, e até a Lia, que chegou agora e se
mostra muito generosa, sempre se oferece para ficar com a sobrinha, para
que eu descanse ou faça alguma coisa por mim mesma. No entanto, sinto-
me como se estivesse explorando, pois sei como uma criança pode nos
tomar energia. Assim, nunca relaxei realmente. E quando estava na Mansão
ficava preocupada, pensava na minha filha e em como Leandro e Aluísio,
que têm muitos amigos e adoram sair, tiveram suas vidas alteradas, por
nossa causa.
E agora, eu estou aqui, pela primeira vez sendo cuidada e sabendo
que Geovanna neste momento está com Heitor, seu pai. Que se preocupou
em me fazer um agrado, ele teve a sensibilidade de captar que eu precisava
de um dia para mim.
Eu sorrio com olhos fechados, recordo nossa noite juntos. Da nossa
entrega. Não vou me enganar e dizer que está tudo bem entre nós. Ainda
existe a mágoa, e dentro de mim, suas palavras estão vivas. Ele está se
esforçando, eu vejo isso. A maneira como trata nossa filha, não deixa
dúvidas do quanto gosta da Geovanna. Mas não posso me iludir. Preciso ter
os pés no chão.
Heitor é um homem sedutor, e meus hormônios ficam agitados só
em pensar nele. Um toque seu, é só o que precisa, para eu me desfazer. Não
vou mais brigar contra o desejo que sinto por ele. Pois será uma guerra
perdida. Mas vou preservar o meu coração. Ainda não o perdoei e é preciso
mais do que um sexo magnífico, para que eu volte a acreditar nele.
O cabeleireiro faz uma escova em meus cabelos enquanto temos
uma conversa divertida, onde a manicure conta seus casos que sempre dão
errados, todas as histórias engraçadas. Uma mulher uniformizada entra no
ambiente e carrega uma bandeja com uma taça, um balde com champanhe,
e ao lado, um papel dobrado.
Ela me serve e quando sai pego o papel.
— Aposto todo o dinheiro que tenho que é recadinho do boy — diz
Marcelo. O rapaz que faz meu cabelo.
Dou um sorriso, sem graça.
— Deixe a moça, Marcelo. Nem a conhece e fica se metendo! —
Dalva, a manicure chama sua atenção.
Eu rio, pois os dois só fazem implicar um com outro, e quando
Marcelo responde, eu abro o papel.

Minha querida, Espero que esteja gostando da cortesia.


Aproveite. Espero por você, para almoçar.
PS.: Geovanna está bem e estamos nos divertindo muito,
mas com saudades de você!
Heitor.

Meu coração bate forte e sorrio, depois guardo o bilhete dentro da


blusa, olho Marcelo pelo espelho e ele pisca, então continua cuidando do
meu cabelo.
Uma hora depois, estou pronta e bem-disposta. Despeço-me do
pessoal que cuidou de mim, e os deixo terminar de arrumar suas coisas, vou
à busca de Heitor e Geovanna. Não os vejo na área de brinquedos, então
sigo para a sala, e nada deles.
Encontro com Sueli, ela acena e dá um sorriso gentil.
— A senhora procura pelo senhor Pigozzi e sua filha? — pergunta e
eu aceno, sorrindo para ela. — Eles estão assistindo filme, na sala de vídeo.
— Okay, obrigada! Para que lado fica?
Sueli meneia a cabeça.
— Eu a levo até lá — diz e eu agradeço enquanto a sigo.
Sueli mostra a porta entreaberta e se retira. Devagar, entro no espaço
e vejo os dois deitados no chão de frente para a enorme tela. Ambos estão
distraídos, enquanto veem o filme do cachorro que se perde em busca de
cães selvagens na floresta. Geovanna adora esse filme e já perdi as contas
dos números de vezes que o assistiu.
Eu arranho a garganta. Heitor olha para o lado e assim que me vê,
desliza os olhos pelo meu corpo, com olhar ardente, me deixando com o
corpo em chamas.
Quando nossos olhos se cruzam, ele dá um sorriso sexy, e senta-se.
— Você está linda — elogia e eu fico sem graça.
Geovanna olha para a porta e ri.
— Mamãe... o papai tá vendo o “cachoo” comigo — expressa-se
muito empolgada.
Eu ando até eles e me abaixo ao seu lado.
— Que bom, minha filha. E você está se divertindo com o papai? —
questiono e Heitor não tira seus olhos de mim.
Eu finjo não notar, embora meu corpo todo esteja ligado.
Geovanna acena rápido e volta a olhar o filme.
— Sim... eu gosto do “escoega” — diz.
Eu olho para Heitor.
— Ela deu muito trabalho?
Ele riu.
— Nenhum, ela é uma menina maravilhosa. Mas confesso que tive
dificuldades quando ela pediu para fazer xixi. Precisei pedir a ajuda da
Sueli, e como ela tem algumas netas tirou tudo de letra — conta e sinto seu
constrangimento.
Eu dou uma risada.
— Não fique assim, Leandro e Aluísio passam por qualquer
situação. Mas quando ela pede para ir ao banheiro os dois se sentem
inibidos — confesso.
Heitor me olha com carinho.
— Você gostou do tratamento?
Eu suspiro.
— Estou me sentindo outra pessoa. Foi tudo maravilhoso, obrigada
— agradeço com sinceridade, então dou um sorriso fraco. — Só não bebi
todo o champanhe, apesar de maravilhoso, ou poderia ficar um pouco tonta.
Ele ri e olha para Geovanna e depois para mim.
— Ela já almoçou e comeu muito bem — afirma.
Eu observo minha filha, e já sei que vai cair no sono. Ela costuma
tirar um cochilo toda tarde.
— Ela vai dormir daqui a pouco — falo para ele, mas ainda olho
para Geovanna, ela boceja e pisca.
— Vamos esperar. Depois nós vamos almoçar — fala baixo.
Eu sento no chão e olho para a tela a minha frente. Heitor estica o
braço e alcança meus cabelos, eu olho para ele. Se não fosse Geovanna
entre nós, com certeza estaríamos nos beijando. Ele sorri para mim, com
seu olhar intenso. Então se volta para frente, sem tirar sua mão dos meus
cabelos.
Eu suspiro, satisfeita por estar aqui.
Quinze minutos depois estamos colocando Geovanna deitada em
sua cama, ele liga a babá eletrônica e saímos de fininho. No corredor,
Heitor não perde tempo e encosta meu corpo na parede, para então me
agarrar e me beijar. Eu envolvo seu pescoço e o beijo de volta, enquanto
meu coração parece uma bateria de escola de samba.
Ao sentir sua ereção tocar meu ventre, noto minha vagina umedecer
e apertar. Nossa respiração acelera e suas mãos ficam fora de controle e
passeiam por toda parte que podem alcançar.
— Heitor — gemo em sua boca.
— Estava louco para fazer isso desde cedo — confessa,
mordiscando meus lábios.
Eu fico ser ar.
— Algum dos funcionários pode vir aqui e nós ver — murmuro.
Heitor me puxa e me arrasta para sua suíte, e mal fecha a porta,
arranca meu short e calcinha, eu abro o zíper da sua calça jeans e pego seu
pênis muito duro entre meus dedos, ele toca meu sexo e trocamos carícias
quentes em meio a gemidos de prazer.
— Eu preciso te comer — rosna com a boca colada em meu
pescoço.
— Não espere mais, por favor, eu preciso de você — imploro em
desespero, quase explodindo de tanta fome por esse homem.
Ele se afasta, com rapidez pega em seu bolso um preservativo e
rasga o envelope, assisto quando reveste sua ereção, e eu passo a língua
pelos lábios, pois seu membro é grosso e grande, além de ostensivo. Minha
vagina aperta e molha à medida que meu desejo cresce.
Heitor pega minha perna esquerda e dobra meu joelho em seu braço,
inclina o corpo, então empurra em um único golpe e se enterra dentro de
mim. Eu arfo, jogando a cabeça para trás e seguro seus ombros. Fico presa
entre a porta fechada e o seu corpo. Ele encosta a testa na minha. E nossos
olhos fixam-se um no outro. Heitor se movimenta, entrando e saindo de
dentro de mim com força, com movimentos ágeis.
Uma de suas mãos desce até minha bunda, e ele põe a ponta do seu
dedo em meu ânus. Eu arregalo os olhos e mordo os lábios. Ele solta um
grunhido e penetra em meu sexo com mais profundidade e energia. Desde a
minha nuca descendo pela coluna, sinto um formigamento e eu aperto com
força seus ombros.
— Puta que pariu, Letícia — ofega, sem ar. — Nunca vou me cansar
de você.
— Heitor... Heitor... Ah...
— Caralho, goza... Porque eu estou no limite — rosna.
Ele enfia e circula o quadril, todo enterrado em mim, eu aperto os
olhos bem fechados e meu clímax viaja por todo o meu corpo, deixando
minha pele arrepiada e as pernas enfraquecidas.
Heitor busca por minha boca e me dá um beijo violento, sinto seu
pênis pulsar dentro de mim. Seu aperto em mim alivia, nosso beijo fica
mais sereno e o calor em nosso corpo faz com que estejamos suados.
Quando finalmente, voltamos do nosso êxtase, ele beija minha
bochecha e inspira forte.
— Caramba! O que foi isso? — questiono, ainda espantada com o
desejo que nos dominou.
Ele ri, com delicadeza.
— Eu nunca consegui me controlar com você, Letícia. Sempre foi
assim com nós dois — aponta e retira seu membro do meu sexo. Eu abaixo
minha perna que ele segurava, ele me olha, e percebo que ainda carrega
uma chama de desejo. — Só você é capaz de me deixar tão enlouquecido.
Eu respiro fundo, quero acreditar em suas palavras, porém é
complicado, ainda mais sabendo o lugar que ele frequentava.
— Será que sou mesmo? A única? — indago, com um sorriso
desconfiado.
Heitor volta a se aproximar. Segura meu queixo e me olha. Seus
olhos, mais azuis que o normal, me encaram cheios de intensidade, ele fica
sério e me sinto cativa.
— Não vou negar que fui um filho da puta, que tive outras mulheres
depois que você partiu, mulheres que nem sei o nome. Mulheres que nunca,
nunca mesmo, sequer chegaram ao portão da minha casa. Nenhuma delas
teve importância ou foram capazes de preencher esse vazio que sentia em
meu peito — desabafa com a voz grave. — Nenhuma delas me fez perder a
cabeça por qualquer coisa, ou me fez perder os sentidos. Nenhuma mulher
que fodi, antes ou depois de você, foi capaz de me fazer sentir vivo. Isso, só
você é capaz — completa e eu fico absorta em seu olhar e em suas palavras.
Meus olhos se enchem de lágrimas.
— Você me deixa sem palavras, Heitor! — declaro.
Ele sorri e seus olhos, cheios de desejo, admiram meu rosto.
— Você é linda, Letícia. Eu tenho ciência que não mereço você.
Deus sabe que você merece um homem muito melhor que eu. Porém, sou
egoísta. E como você é a única que pode me fazer feliz... Não vou medir
esforços para te reconquistar. Mas, uma coisa eu garanto: não vou mentir
nunca para você. Eu prometo.
— Não mentir é um grande começo — sussurro e dou um sorriso de
lado. — E adorei esse papo de ser única, mas de você agora eu quero
apenas uma coisa — exprimo.
Ele me olha em expectativa, e com cara de safado.
— O quê? Você pode pedir qualquer coisa?
Eu olho para cima.
— Eu estou morrendo de fome. Preciso que me alimente — saliento.
Ele cai na gargalhada.
— Você me deixa tão louco que me esqueci do almoço — revela e
continua rindo.
Nós tomamos um banho rápido e vamos para a sala de jantar. Sueli e
a outra funcionária nos servem. Heitor, durante o almoço, pergunta o que
achei da massagem.
— Estou tão leve, não imaginei que uma massagem fosse tão
relaxante — confesso. Aproveito e conto sobre meu irmão trabalhar com
acupuntura, mas devido a nossa correria nunca pude ter uma seção com ele.
Heitor me ouve com atenção e sinto que me observa com olhar
afetuoso. Tento não me apegar a isso. Ainda tenho minhas dúvidas com ele.
— E a Lia? Ela tem alguma profissão? Ou só viaja pelo mundo? —
pergunta com curiosidade, Eu sorrio ao me lembrar do jeito aventureiro da
minha irmã mais velha.
— Ela trabalha em parceria com um blog famoso que fala sobre
lugares exóticos e viagens pelo mundo. Uma das razões por não parar em
canto nenhum — conto.
— Então ela não vai ficar?
Eu balanço os ombros.
— Não sei, a Lia não se abre muito sobre a vida dela. Ama a
liberdade, mas às vezes eu sinto que esconde alguma coisa — confesso,
pensativa.
Heitor me encara e balança a cabeça.
— Ela é tão espontânea. Não parece o tipo de pessoa que esconderia
alguma coisa — argumenta.
Eu coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.
— Sim, eu posso estar errada. Mas desde que mamãe morreu, ela
parecia muito receosa. E logo depois que arquivaram o caso, sobre o
acidente. Minha irmã arrumou as malas e foi embora. Não planejou nada,
simplesmente nos deixou. — Por mais que não queira demonstrar, eu me
ressenti na época.
Heitor segura minha mão, por cima da mesa e dá um sorriso.
— Vai ver ela estava sofrendo tanto que não conseguiu ficar. Muitas
pessoas agem por impulso, quando estão sofrendo — frisa, com voz
carinhosa.
Eu aceno.
— Sim. E a Lia era muito chegada a nossa mãe. Acredito até que
mamãe se abria muito com minha irmã, pois minha mãe a teve muito cedo e
só por isso ela e papai se casaram tão rápido — ilustro e lembro-me do
quanto Lia se ressentia disso. Eu dou um sorriso triste. — Uma de nossas
últimas conversa, onde minha mãe ainda era viva, Lia desabafou durante o
almoço que se sentia culpada, pois se não fosse por ela, mamãe não teria se
casado com papai, um homem que só a maltratava. Recordo da minha mãe,
ela olhou para minha irmã com tristeza, e disse para Lia parar de pensar
bobagens, pois ela fez o que deveria ser feito, e nunca havia se arrependido,
e que um dia contara a Lia toda a história.
Eu olho para Heitor e esboço um sorriso.
— Talvez ela tenha conversado com a Lia depois disso, talvez não.
Mas como saberemos, não é mesmo?
— Só se a Lia um dia resolver contar.
Escutamos um som de choro, e Heitor se levanta da mesa,
assustado, e pega o monitor em seu bolso.
— Geovanna está acordando — informa. Ele beija minha testa. —
Termine de comer a sobremesa. Eu cuido dela.
Ele nem espera que eu responda e sai como um louco. Eu rio,
sozinha.
— Se cada vez que Geovanna resmungar ele sair como alucinado
vai ter uma crise cardíaca — falo sozinha.
— A senhora falou comigo? — Viro-me e vejo Sueli.
— Não, pensava alto, só isso — respondo sem graça. A mulher vai
pensar que sou louca.
Ela se retira e eu volto a comer minha sobremesa. Heitor retorna
alguns instantes depois e traz Geovanna. Ela está um pouco mal humorada.
Todas às vezes que dorme a tarde ela acorda assim. Ela fica o tempo todo
no colo do Heitor, e aos poucos melhora humor.
Heitor pergunta o que ela quer fazer, e ela pede para ir ao escorrega.
Nós três ficamos com ela e brincamos o tempo todo. Ela se diverte. Assim
como eu e seu pai.
Passamos uma tarde maravilhosa, e é a primeira vez que não chego
ao final do dia muito cansada. Afinal além da ajuda do Heitor, tive um
momento apenas para mim nessa manhã.
À noite, nós assistimos a um desenho de animais e comemos pipoca.
Geovanna está muito feliz, isso é certo. E só em ver minha filha satisfeita
também fico em êxtase. Minha mente chega a viajar. Imagino como seria se
fosse sempre assim. Se eu e Heitor vivêssemos juntos, como seria
cuidarmos da Geovanna? Será que isso é possível?
Eu não quero sonhar, mas não consigo impedir minha mente de
vagar. De desejar que o que estamos vivendo nesse fim de semana se torne
constante. Mas há questões a serem resolvidas. E ainda é muito cedo para
pensar num futuro juntos. Além de que, Heitor não falou nada sobre o
futuro.
Estamos apenas vivendo o presente, aproveitando o momento. É
isso que vou fazer, Não quero me preocupar com o passado ou futuro, um
dia, eu sei que não terei como escapar, mas agora quero viver esses
pequenos momentos, e aconteça o que acontecer, esses momentos serão
eternos em minha mente.
- 18 -

Heitor A visão da Letícia deitada em minha cama, com seus


cabelos castanhos espalhados sobre o lençol, faz com que eu não consiga

parar de admirá-la. Ela dorme serenamente, e imagino como seria tê-la aqui

comigo, todos os dias. O fim de semana que passamos juntos foi perfeito. E

Geovanna, não sei como, fez com que eu me apaixonasse mais por ela.

Eu sorrio e acaricio os cabelos de Letícia, ela suspira em seu sono e


sua boca faz um biquinho. Minha vontade é acordá-la e poder beijar seus
lábios. Ela é tão linda, tão maravilhosa... suspiro, me sentindo um pouco
desesperado. Porque eu sei que a Letícia não me perdoou pelo que fiz a ela
no passado.
Todas as vezes que se entregou a mim, nesse fim de semana, eu
senti que ela se entregava por completo, a forma como me olhava e me
tocava, mostrou que Letícia, me queria de verdade.
Mas não sou tão idiota assim. Eu percebi como, emocionalmente,
ela se mantém afastada. A mais dura realidade é que Letícia não confia em
mim. Eu não tiro sua razão, no passado eu fui duro demais com ela. E
sempre que penso nisso, sinto uma grande raiva de mim mesmo. Ela não
merecia ouvir aquelas palavras cruéis. E eu, agora sinto um medo imenso
que ela não seja capaz de me perdoar.
Eu me viro de lado, vislumbro deu rosto. Amanhã ela não estará
aqui comigo, pois prometi levá-la para casa antes de ir para a empresa.
Tentei persuadi-la a estender os dias e ficar. Mas Letícia se negou. Disse
que o melhor seria voltar para casa com Geovanna.
Com toda a certeza ela está com receio que alguém apareça aqui, e é
por isso que tomo a decisão de resolver logo essa questão. Eu e ela não
temos culpa das brigas entre nossos pais. Não é justo, principalmente com
Geovanna, que vivamos nessa dúvida.
E por isso, essa semana, vou pedir a mamãe que marque um horário.
Pois irei conversar com ela e com o meu pai. E se ele vier com suas
grosserias e ameaças, eu vou deixar claro para que não se meta na minha
vida e nem pense em importunar Letícia e minha filha, pois ele irá se
arrepender.
Eu deveria ter feito isso há três anos, mas não. Naquela época
acreditei em suas mentiras e armações. E se preciso for, vou procurar
Ricardo, e dar o mesmo recado. Desta vez não vou deixar que nenhum
desses dois destruam nossas vidas.
Se eles se odeiam... Que se matem longe de nós.

No dia seguinte, acordo antes da Letícia. Tomo um banho, em


seguida vou para o closet e visto meu terno. Escolho uma gravata cinza e
volto para o quarto. Letícia desperta e se espreguiça, então senta-se na
cama. Seus cabelos estão bagunçados e seu sorriso sexy me faz desejá-la
como meu café da manhã.
— Bom dia, minha linda! — Eu me inclino e beijo seus olhos.
— Bom dia — responde com voz rouca de sono e me observa dos
pés a cabeça, com olhar ardente. — Você poderia ter me acordado.
Eu sorrio.
— Não se preocupe, temos muito tempo. Quis apenas me adiantar
para que você se arrume com calma, enquanto eu fico um pouco com a
Geovanna — respondo e passo os dedos por seu rosto. — Você tem certeza
que não quer ficar? — insisto.
Ela entorta o pescoço e deposita um beijo em minha mão.
— Tenho. Vamos devagar Heitor... É o melhor — sussurra.
Eu aceno, sem vontade.
— Eu já perdi tanto tempo longe de vocês, e agora “o devagar”, não
faz parte do meu vocabulário, ao menos nesta situação — replico e ela ri. E
juro que se não fosse a minha filha, que vai despertar, a qualquer momento,
eu tomaria Letícia agora mesmo.
— Não seja tão dramático, Heitor — diz e se levanta.
Eu olho para ela, que está vestida com uma das minhas camisas de
malha e meu pau, já desperto, se agita em minhas calças.
Eu agarro Letícia pela cintura e encosto-me a ela, que ofega. Eu
beijo seu pescoço.
— Sinta como você me deixa, minha linda! — sopro em sua pele.
Letícia envolve seus braços em minha cintura e enfia o rosto em
meu peito, inspirando com força.
— Garanto que me sinto muito quente, Por sua causa — confessa.
Ouvimos o resmungo vindo do monitor, e rimos.
— Vou lá, se arrume com calma — falo, e depois de beijar sua
cabeça me afasto.
Entro no quarto da Geovanna e ela está sentada na cama, olhando de
um lado para o outro. Assim que me vê ela levanta os bracinhos.
— Papai! — queixa-se.
Eu a pego em meu colo e na mesma hora ela deita a cabecinha no
meu ombro. Sinto meu coração cheio de alegria. Eu fecho os olhos e beijo
sua cabecinha.
— Papai está aqui, meu tesouro — digo baixinho e ela aperta os
bracinhos em meu pescoço. — Eu te amo, sabia? Eu sempre estarei aqui
para você. Sempre!
Minha filha desperta. Assim eu cuido dela e quando Letícia chega,
já de banho tomado e pronta, Geovanna se encontra arrumada. Sinto uma
tristeza, por saber que elas não vão ficar. Mas isso será por pouco tempo.
Enquanto essas duas não estiverem de uma vez morando nesta casa,
comigo, eu não sossego.

Deixo as duas em casa e meu coração se parte quando vejo


Geovanna chorar, porque vou embora. Eu abraço minha filha e prometo que
retorno para vê-la mais tarde. Letícia, também conversa com ela, que deixa
de chorar, mas me olha com os olhinhos azuis cheios de lágrimas.
Aquele olhar, triste me acompanha até eu chegar à empresa. Assim
começo meu dia e tento ocupar a minha mente, embora seja difícil esquecer
as duas. Quando tenho uma pausa, ligo para minha mãe. Ela demora a
atender e estou quase desistindo quando finalmente ouço sua voz.
— Meu querido! Que surpresa — diz, de forma carinhosa.
— Oi, mãe! Como a senhora está? — pergunto.
Ouço seu suspiro.
— Indo, meu filho! Ficaria melhor se você aparecesse mais...
Eu dou uma risada, minha mãe não perde a oportunidade.
— É por isso que estou ligando — começo, com tranquilidade. —
Gostaria de visitá-los, ainda essa semana.
Ela solta um ruído de satisfação.
— Oh, meu filho! Que notícia maravilhosa. Que tal hoje? Um
jantar?
Sacudo a cabeça.
— Hoje não, pode ser amanhã — respondo, pois prometi à minha
filha que jantaria com ela.
— Está ótimo. Oito horas então? — questiona.
— Sim, está ótimo.
— Filho... estou muito feliz que você venha nos ver — declara,
emocionada.
Pena que depois de eu contar a verdade, ela talvez não fique tão
feliz, não por minha causa, mas por conta do papai, certamente ele não vai
gostar nada do que tenho a dizer.
— Amanhã nos falamos, mãe. Mas... não se empolgue muito, okay?
— aviso.
Eu desligo o telefone e volto a ocupar minha mente.
O dia passa rápido e antes de sair deixo algumas anotações para
Edna e sigo para ver minhas duas meninas.
Chego ao apartamento da Letícia, quem abre a porta para mim é Lia.
Geovanna corre para os meus braços quando me vê. Eu pego minha filha e
jogo para cima. Ela solta gritinhos animados e ri.
Olho em volta da sala e não vejo Letícia.
— Ela está no banho — conta Lia, ao perceber que eu buscava por
sua irmã.
Alguns minutos se passam e finalmente Letícia aparece. Ela dá um
sorriso tímido quando me vê. Nossos olhos se cruzam e sinto em seu olhar
que está feliz em me ver.
Geovanna chama a minha atenção, e com dificuldade desvio o olhar
de sua mãe.
Leandro chega, carregando sua mala de trabalho.
— Boa noite a todos vocês! — cumprimenta, e se joga na cadeira.
— Estou morto — reclama e olha para Letícia. — Tudo bem querida? Vejo
que está com a pele linda.
Olho para Letícia, sentada de frente para seu irmão. Ela põe a ponta
dos dedos no rosto e noto como fica ruborizada. Eu dou um sorriso, pois ela
parece ainda mais linda ao se sentir tímida.
— Impressão sua — responde e pega o seu telefone para disfarçar.
— Você saiu bem cedo hoje, por que não vai tomar um banho antes de
jantar?
Leandro olha para mim, com um sorriso cínico. Eu o encaro,
esperando que fale alguma coisa, porém se volta para Letícia, enquanto se
levanta.
— O Danilo esteve aqui, a sua procura — diz e pega sua mala.
Eu enrugo a testa. Quem é esse Danilo? Geovanna fala alguma
coisa, mas fico de olho na conversa dos dois irmãos.
— Danilo? — questiona Letícia, olhando para cima.
Seu irmão ri.
— Sim, o nosso vizinho gato, que tem aquele cachorro grande —
aponta e sinto meu coração bater forte, de raiva.
Letícia ri.
— E por que ele viria me procurar? — pergunta, intrigada.
Seu irmão revira os olhos e caminha até o pequeno corredor
puxando a mala.
— Porque ele não viria? Afinal vocês costumam passear juntos no
parque — comenta.
— Leandro, encontrei com ele algumas vezes, quando levei
Geovanna no parquinho, não costumo passear com ele — Letícia responde
com voz alta, para que seu irmão ouça.
Eu presto atenção à conversa e já não gosto do tal vizinho.
Escuto a gargalhada do Leandro.
— Mas acho que ele queria falar algo com você, provavelmente vai
aparecer novamente e então você poderá saber o que ele quer. — A porta
bate e deve ter entrado em seu quarto.
Vejo que Letícia olha para Lia, que está sentada, mexendo em seu
celular com cara de riso.
— Você viu esse vizinho vindo aqui? — pergunta e já acho que ela
está muito interessada.
Lia levanta o olhar, e olha para ela.
— Sim, ele não falou nada, mas acredito que queria sua companhia
para ir ao parque, já que ele estava com seu cachorro — responde
balançando os ombros e volta a olhar o celular.
Letícia balança a cabeça.
— É estranho, mas pode ser... — comenta, pensativa.
O que esse cara quer com a Letícia? O que ele pensa? Que ela agora
é sua companhia de passeio.
— Imbecil! — resmungo.
— Falou alguma coisa, Heitor? — Lia pergunta olhando para mim.
Eu gesticulo com a cabeça, prefiro não falar nada. E volto a brincar
com Geovanna. Mas esse cara que não pense em se engraçar para o lado da
Letícia.
Na hora de ir embora, Letícia me leva até o elevador. Eu olhos para
os dois lados e seguro seu rosto, seus olhos se fixam nos meus.
— Amanhã eu não venho, pois decidi abrir o jogo com meus pais —
revelo com a voz baixa.
Letícia morde os lábios e sinto que prende a respiração.
— É uma boa ideia? — indaga, soando preocupada.
— Qual sua real preocupação, Letícia? — pergunto sem tirar meus
olhos dos dela.
Ela olha para baixo e respira com energia.
— E se o seu pai ficar irritado? E se ele der um jeito de falar com
meu pai? — Ela então me olha, com medo. — E se alguma coisa acontecer,
Heitor? Não esqueço aquela ameaça. Aquele homem foi decidido em suas
palavras. Ele deixou claro que um relacionamento entre nós, acabaria em
tragédia.
Letícia levanta a mão e acaricia meu rosto.
Eu esboço um sorriso, na tentativa de acalmá-la.
— Minha linda, ninguém vai fazer nada contra você, eu prometo
que irei te proteger. Estou disposto a tudo para ficar ao seu lado e também
da nossa filha. Se preciso for, pedirei ajuda — afirmo, pois se eu perceber
que Letícia ou minha filha corre algum risco, eu peço ajuda ao Alexander.
Certamente ele saberá o que fazer.
Letícia me olha, não muito convencida.
— Mas a ameaça foi contra você. E tenho medo por Geovanna
também, eu não sei até que ponto o que aquele homem disse era verdade ou
ameaça vazia, eu fico apavorada, só em pensar que você...
Coloco um dedo em seus lábios.
— Confie em mim, Letícia. Tudo vai dar certo. Eu deveria ter
enfrentado meu pai no dia em que ele me mostrou aquele e-mail e contou
absurdos sobre você. Se naquele dia eu o tivesse confrontado, hoje não
estaríamos nessa situação. Você e Geovanna estariam comigo — acentuo.
— Seu pai não vai gostar de saber que temos uma filha — sussurra.
— Problema dele, meu pai não vai conseguir me manipular
novamente — garanto, alisando o seu cabelo.
Ela me olha, séria.
— Ele vai falar horrores de mim, como da outra vez. E certamente
depois vai dar um jeito de me acusar e criar provas contra mim.
Encosto minha testa na sua, prendo o seu olhar.
— Qualquer coisa que ele faça não adiantará de nada, Letícia. Eu
acredito totalmente em você. Pode ser um pouco tarde para isso, mas eu
prometo que vou fazer certo desta vez, porque só assim haverá uma
possibilidade de eu perdoar a mim mesmo — desabafo e beijo seus lábios
com brandura.
Respiro fundo e me afasto. Letícia sorri. Mas vejo em seu semblante
sua angustia.
— Você me liga depois que sair de lá? — pede.
Eu dou um sorriso.
— Claro que sim, minha linda.
Aperto o botão do elevador e nos encaramos. Então ela me abraça e
inspira forte.
— Se cuida!
O elevador chega, eu beijo sua testa antes de ir.
— Eu me cuido sim, e você faça o mesmo e pare de se preocupar.
Só vou contar de uma vez aos meus pais para que não haja dúvidas de sua
parte, sobre o que quero, e sobre o que sinto — declaro e entro no elevador.
A porta se fecha com ela olhando para mim, com seus olhos cheios
de lágrimas não derramadas.
Sigo para minha casa pensando no dia de amanhã. Eu não tenho
necessidade de contar nada aos meus pais. Eu tenho a minha vida
totalmente separada das deles, nem da herança da família eu preciso, pois
eu construí minha própria fortuna.
E se estou me dignificando de conversar com eles, não é para dar
satisfações da minha vida, mas é para adverti-los, principalmente ao meu
pai, que não se metam em minhas decisões. Eles precisam acabar com essa
guerra e não nos meter em suas brigas.
Não quero saber de ameaça, e espero que minha mãe, como a
mulher boa que é. Entenda que a minha felicidade depende que eu e Letícia
nos entendamos. Que eu preciso estar com minha filha e a sua mãe. Pois
elas são tudo para mim.
Agora eu tenho essa certeza: Apenas Letícia me completa. Apenas
ela me faz sentir pleno.
- 19 -

Heitor Um pouco antes da hora marcada, chego a casa onde


foi meu lar, um dia. Eu toco a campainha e uma jovem, uniformizada, abre

a porta para mim. Ela se afasta para que eu entre.

— Boa noite senhor — saúda.


Do hall da casa olho em direção a sala de estar e vejo minha mãe,
sentada na cadeira com pernas cruzadas, muito elegante, e folheando uma
revista.
— Boa noite — respondo à moça e ando até a sala.
Mamãe percebe minha presença e levanta a cabeça, então dá um
sorriso e se levanta, deixando a revista de lado. Ela vem até mim com
braços abertos.
— Meu filho! Como estou feliz por aparecer, finalmente — festeja
ao me abraçar.
Olho para onde fica o bar da casa e noto meu pai, ele nos observa e
balança a cabeça, desaprovando a maneira com a qual nos
cumprimentamos.
Deposito um beijo no rosto da minha mãe e dou um passo para trás.
— E eu fico feliz em vê-la — digo e desvio o olhar para o meu pai.
— Boa noite, pai.
Ele me olha, com a mesma expressão de frustração. Acho que nunca
vi meu pai satisfeito com alguma coisa, não me lembro dele nunca dando
um sorriso, e não tendo esse olhar de amargura e raiva.
Para dizer a verdade, em um momento da minha infância, tenho
registrado na memória uma vez que ele parecia feliz, isso tem mais de 30
anos, mas não tenho certeza se é alguma confusão da minha mente. Afinal
quando somos crianças, temos a tendência a criar algumas situações.
Meu pai bebe o uísque em um só gole e bate o copo no balcão. Ele
dá um sorriso falso.
— Boa noite! — responde um tempo depois e cruza os braços. —
Não acreditei quando Donana me informou que viria para o jantar. Por
acaso ela disse que eu, como o mostro cruel que sou, andou aprontando e te
pediu socorro?
Olho para minha mãe, e vejo seu ar de pesar.
— Não diga uma barbaridade dessas, Félix — pede com a voz
suave.
Meu pai resmunga alguma coisa.
— Na verdade, eu liguei para a minha mãe, e dei a ideia de vir aqui
— conto, para evitar que ele despeje seu rancor na minha mãe.
Meu pai ri de maneira debochada.
— Ah, vejo que meu irmãzinho chegou, para o jantar ilustre em
família. — viro-me e vejo Pedro Henrique, parado com sorriso jocoso.
— Olá Pedro! Tudo bem com você? — pergunto e tento ser
educado.
Porém é muito difícil com meu pai e irmão juntos no mesmo espaço.
Não entendo como minha mãe suporta passar por isso.
Meu irmão sacode os ombros e anda como se fosse o dono do lugar
e se joga no sofá.
— Estou ótimo, e pretendo continuar — diz e me olha dos pés a
cabeça. — Estou curioso para saber o que faz aqui.
Minha mãe olha para ele.
— Veja seus modos, Pedro — chama sua atenção, Pedro se ajeita no
sofá, e respira forte. — O Heitor também faz parte desta família, ele pode
vir a hora que quiser.
— Não precisa me defender, mãe — murmuro ao seu lado e aperto
de leve o seu ombro.
Ela me olha e sorri, com carinho.
— Eu só falei isso, porque ele evita a todo custo estar conosco —
completa Pedro Henrique.
— Queria eu poder fazer o mesmo — rosna meu pai e todos nós
olhamos em sua direção.
Ele percebe que pensou alto, sacode a cabeça e volta a encher seu
copo.
— Querido, não beba tanto antes do jantar — pede mamãe.
Ele então a encara, destilando ódio.
— Não comece seu teatro, nesta sala todos sabem como eu...
— Não fale besteiras, é por isso que Heitor não vem, pois todas às
vezes acabamos discutindo — aponta e anda em sua direção. Então pega
seu copo e o coloca de lado.
Pedro Henrique gargalha.
— Esses dois se merecem, essa é a verdade — enfatiza.
Observo os três, e não sei como eles podem viver nesse inferno. Pior
é minha mãe, ela é a grande herdeira aqui. Nasceu numa família que sempre
ostentava riqueza e poder. Como ela pode se deixar ser dominada pelo meu
pai? Ele também vem de família rica, mas não tanto como a da minha mãe.
O homem claramente a usou para ter mais prestígio na vida.
Eu passo as mãos pela cabeça. Não vou suportar esperar até o jantar.
Fico enojado com a maneira como meu pai despreza mamãe e em como ela
aceita de maneira tão submissa.
— Vocês estão se perguntando por que decidi aparecer, e para ser
sincero devo admitir que há um motivo para a minha visita.
— Eu sabia, aposto que quer rever sua parte da herança — reclama
Pedro com expressão contrariada.
Minha mãe dá um sorriso.
— É isso, meu filho? Se for, não há problema.
Meu pai me encara sério. Eu olho para os três.
— Eu tenho uma filha — solto de uma vez.
Minha mãe põe a mão no peito e senta-se no sofá, com a boca
aberta.
— O que?
— Puta merda... — diz meu irmão.
Meu pai dá um sorriso, não consigo captar o que ele pensa, pois
mesmo com o olhar fixo em mim, ele não deixa transparecer nada.
— Só me diz quem é a mãe dessa menina — indaga, sua voz sai
grossa.
Eu não tenho medo do meu pai, então eu não desvio o olhar.
— Letícia Xavier, a filha do seu inimigo — anuncio.
Espero por sua explosão que não vem, pois a explosão parte de outra
pessoa.
— O que você está dizendo? — Vejo minha mãe, em minha frente,
completamente desnorteada. — Como pode fazer isso conosco? Então você
voltou a se encontrar com ela? E pelo jeito tem um tempo, já que tem uma
filha...
— Deixe que ele fale, porra — grita meu pai, assustando a todos
nós. Mamãe para de falar e olha para ele, apertando os olhos.
— Agora sim, uma briga de verdade — comenta meu irmão,
gostando da confusão.
Eu respiro fundo. Olho para minha mãe, ela está mais serena, então
encaro meu pai.
— A Letícia estava grávida quando nos separamos há mais de três
anos.
Meu pai encosta-se ao balcão.
— Ela procurou por você?
Eu nego com a cabeça.
— Não, nos encontramos por acaso e ela estava com a nossa filha.
Minha mãe dá uma risada.
— Ela é bem mais esperta do que pensamos — acusa, indignada.
Olho para minha mãe, e sua conduta exagerada me deixa confuso.
— Por que a senhora diz isso, mãe? Por que está agindo assim? Tão
agressiva.
Ela olha para meu pai, ele também a encara e balança a cabeça, com
um gesto de negação.
Então ele volta a me olhar, com seus braços e pernas cruzados.
— O pai dessa moça sabe sobre a neta?
Eu sacudo os ombros.
— Não temos certeza, pois logo que nos separamos, Letícia foi
embora para Espanha, viver com uma tia de sua mãe.
Meu pai dá uma risada.
— Por isso ela não foi encontrada em nenhum lugar — comenta e
essa informação me deixa desconfiado.
Eu me aproximo do meu pai.
— O senhor a procurou. Para quê?
Meu pai me olha, sinto que quer falar alguma coisa, mas desiste e se
vira de costas para mim.
— Nada, queria verificar se ela não o procuraria a pedido do
Ricardo.
Sinto o toque da minha mãe em meu ombro. Ela dá um sorriso doce.
— Meu filho, essa família não vai trazer nada de bom para nós. Essa
moça pode estar te enganando, essa menina nem deve ser tua — alerta com
voz de pesar.
Eu dou uma risada, seca.
— Mãe, se há uma coisa que tenho certeza nesse mundo, é que
aquela menina é minha filha — assinalo e ela acena, desanimada.
Meu pai volta a se virar.
— Por que você decidiu nos contar?
Desta vez, até meu irmão se aproxima. Com certeza para ter certeza
de que não vou reivindicar meus direitos em prol da minha filha, pois é só
nisso que ele pensa.
Minha mãe me olha em expectativa, assim como meu pai.
— Eu já assumi a minha filha, legalmente. E vou fazer de tudo para
ter sua mãe comigo — adianto e olho de um para o outro. — O senhor, pai e
o Ricardo vivem em guerra e nos meteu nisso, sem que nós pedíssemos, e
isso só nos prejudicou. Eu não vi minha filha nascer, mas vocês não vão me
impedir de vê-la crescer.
— Mas filho...
— Calma mãe! Ainda não terminei — corto-a, e ela baixa o olhar.
Não gosto de falar dessa maneira com minha mãe, mas é preciso. — Eu
quero deixar uma coisa clara: não vou permitir que ninguém estrague
nossas vidas. Ou que façam ameaças a Letícia, como fizeram no passado.
Eu fui covarde naquela época, mas desta vez não deixarei barato se
qualquer pessoa tentar nos separar — aviso, olhando bem para o meu pai,
afinal ele é o maior culpado da minha separação com Letícia.
— Quanto ao pai dela? Temo que ele tente alguma coisa contra
você, meu filho. Aquele homem é vingativo — acentua minha mãe, com
preocupação.
Vejo minha mãe abalada e esfregando uma mão na outra, eu sorrio
para tranquilizá-la.
— Pretendo ter uma conversa com ele — informo.
Minha mãe balança a cabeça, em desespero.
— Não faça isso. Ele pode te fazer alguma coisa, por favor, não se
aproxime do Ricardo — implora.
Eu franzo a testa.
— Mãe!? O que aconteceu de tão grave no passado? Não é possível
que só porque ele perdeu dinheiro, tenha tanta raiva de toda a família —
comento e olho meu pai, que continua muito calmo para a situação. — Eu
sei que já fiz essa pergunta, mas preciso ter certeza. Foi isso mesmo? Ele
acredita que perdeu dinheiro por sua causa e quer vingança? Ou tem mais
nessa história?
Meu pai não responde, ele se move para trás do balcão e se serve de
mais uísque.
— Não tem mais nada — responde e leva o copo até a boca e engole
todo o líquido âmbar de uma vez.
Minha mãe ainda chora e eu me volto para ela.
— O Ricardo não vai fazer nada mãe, e se o problema dele for
somente dinheiro... eu posso resolver — falo apenas na tentativa de deixá-la
mais tranquila.
Minha mãe põe a mão no coração e respira acelerada.
— Não faça isso, não o procure. Eu o proíbo de ficar perto daquele
homem — demanda e sei que está nervosa.
Eu abraço minha mãe. Penso em falar que tenho mais medo do meu
pai do que do Ricardo, mas resolvo ficar calado quanto a isso.
— Tudo bem, mãe. Não se estresse. — Eu beijo sua cabeça. E olho
por cima da sua cabeça e noto Pedro Henrique pensativo, olhando para
ninguém.
Meu pai sai detrás do balcão.
— Eu não estou com clima para jantar, vou me recolher —
resmunga e sai da sala.
Sua tranquilidade me deixa muito preocupado, ele está planejando
alguma coisa, posso sentir isso.
Temo por Letícia e também por Geovanna. Eu preciso ficar de olho
naquelas duas, arrumar uma maneira de protegê-la. Quanto a isso, apenas
uma pessoa pode me ajudar.
Eu me distancio da minha mãe e passo a mão por seu cabelo curto.
— Tudo vai dar certo, mas também estou sem clima para o jantar.
Por favor, me perdoe por ter contado sobre a Letícia antes do nosso jantar.
— Ela tenta dar um sorriso, mas é em vão. — Quando a senhora se acalmar,
me procure, quero contar sobre a sua neta, ela é a criança mais linda desse
mundo — declaro e volto a abraçá-la e sinto minha mãe tensa.
Só espero que meu pai não desconte sua ira nela.
Eu saio da casa apressado, e nem perco o meu tempo em falar com
Pedro Henrique. Do lado de fora entro no meu carro e pego o telefone,
procuro na agenda e disco. Já ligando o motor.
— O que você quer, porra? — Alexander atende com voz de sono.
— Preciso falar com você, urgente — exprimo e me dirijo para fora
do terreno dos meus pais. — Você está na Mansão Eros?
— O que aconteceu? Você parece nervoso — diz já desperto.
— Ainda não aconteceu nada... na verdade nem sei se algo vai
acontecer — acentuo, um pouco perdido. — Onde podemos nos encontrar?
— questiono.
— Estou em casa, mas podemos nos encontrar na Mansão Eros
dentro de vinte minutos — avisa.
— Okay — respondo e desligo.
Dirijo pela avenida, devagar, pois ainda tenho tempo até chegar a
Mansão. Será que é exagero meu? Eu não confio no pai. E eu imaginei que
fosse explodir, xingar e até ameaçar. Mas sua quietude conseguiu me deixar
mais desconfiado. Por outro lado, quando contei sobre a minha filha, e que
Letícia já se encontrava grávida, na época que nos separamos, ele não
demonstrou surpresa, porém, algo me chamou a atenção, ele ter afirmado
que procurou por Letícia. Será que foi ele a ameaça-la? Eu sacudo a
cabeça. Ele deve ter enviado alguém, meu pai é esperto, não correria o risco
de ser descoberto.
Ainda tem outro agravante: o Ricardo Xavier. Até que ponto esses
dois são realmente inimigos, pois eles agiram juntos no passado, isso é
certo. O que eles escondem? E onde entra minha mãe nessa equação? Ela
apenas tenta defender o meu pai, ou ela sabe de algo? Pois, ao contrário do
meu pai ela ficou muito abalada.
Passo pelo portão principal da Mansão e estaciono no lugar de
sempre. Como chego mais cedo, aproveito e ligo para Letícia, ela atende tão
rápido que tenho a impressão de que já esperava a minha ligação com o
telefone na mão.
— Olá, minha querida! — exclamo, e jogo a cabeça para trás.
— Já conversou com seu pai? — pergunta com a voz aflita.
Olho para o lado de fora e noto o jardim pouco iluminado, muito
diferente dos dias que tem festa.
— Sim. Ele não agiu como eu esperava. E não sei o que pensar
sobre isso — confesso e solto uma risada.
— E como ele agiu?
Vou para o lado de fora e encosto-me ao carro. Então conto de forma
resumida a reação do meu pai, e também da minha mãe. Letícia também
acha estranho. E exponho minhas desconfianças e de como não confio no
meu pai.
— Você se lembra como era o homem que te abordou? — pergunto.
Ela fica em silêncio, por alguns instantes.
— Ele era jovem, entre 25 e 30 anos, acredito — conta.
Com certeza não era meu pai. O que indica que eu estou certo.
— Ele deve ter mandado alguém atrás de você — concluo.
— Pode não ser o seu pai, Heitor. Esqueceu que meu pai não é uma
das melhores pessoas do mundo? — comenta, apreensiva.
Eu não seguro a minha gargalhada.
— Querida, em matéria de pai, somos dois fracassados — brinco,
embora o assunto seja sério.
Ela também ri.
— Pois é, estamos bem, nesse quesito — comenta.
Percebo um carro se aproximar e parar ao lado meu. Outro carro
para mais distante e desliga o farol. Alexander sai do veículo ao meu lado, e
vestido todo de preto, se parece com um mafioso.
Ele me olha e não diz nada, apenas ergue as sobrancelhas.
— Preciso desligar agora, pois tenho algo para resolver com o
Alexander.
— O senhor Ball? — pergunta, intrigada.
Eu dou uma risada.
— Sim, o senhor Ball — respondo e olho para Alexander que tem
expressão de tédio. — Depois nos falamos. Dê um beijo em Geovanna por
mim e outro para você.
Escuto sua respiração, então ela se despede e desliga.
— Vejo que estamos progredindo — Alexander diz de má vontade.
— Vamos para o escritório. Lá podemos conversar com calma.
Caminho ao seu lado e olho para trás, onde o carro que o seguia
permanece parado.
— Você conhece a pessoa daquele carro? — pergunto, curioso.
Ele olha na mesma direção que eu, e acena.
— Segurança — responde sem explicar mais nada.
Em seu escritório, conto para Alexander tudo o que aconteceu, sobre
a briga de família, a vingança e de como eles jogaram comigo e Letícia. Ele
me escuta, sem me interromper, e parece analisar cada detalhe. Por fim
confesso o medo que sinto do meu pai fazer alguma coisa, ou até mesmo o
pai da Letícia.
Alexander tem o olhar distante. Ele acende seu charuto e a fumaça
permeia o lugar.
— Tenho muitas teorias, mas antes preciso te dizer uma coisa, meu
amigo: Você foi um babaca com essa moça, eu no lugar dela não te daria
outra chance — declara e me deixa estarrecido.
— Você é meu amigo, ou não?
Ele acena.
— Sou, mas isso não muda o fato de você ter sido um tremendo
filho da puta, o que você está fazendo hoje, deveria ter feito há três anos.
Eu coço a cabeça e me levanto da cadeira. Ando de um lado para o
outro.
— Você pode estar certo, mas meu pai me apresentou provas, aquele
e-mail, com fotos nossa. Até detalhes de uma conversa que tive com Letícia
ele sabia, e só ela poderia ter contado.
Alexander ri.
— Você é muito idiota Heitor. Pensei que fosse mais inteligente.
Logo se vê que algum empregado, se não todos, estavam ali espionando —
comenta.
Eu paro em sua frente, e o encaro com raiva.
— Depois eu pensei nessa possibilidade, eu chamei os empregados,
pois a foto, com certeza foi tirada por um deles. Eu perguntei, e uma das
funcionárias contou que a Letícia ofereceu um bom dinheiro a ela. A moça
me pediu desculpas, pois pesava que as fotos fossem para fazer uma
surpresa para mim — conto, me sentindo mal, por ter acreditado naquela
mulher.
— E você, preferiu acreditar numa estranha, no que na mulher que
nunca deu motivos para que desconfiasse dela? — pergunta e me olha com
desdém. — Você é muito idiota, cara. Mas enfim, agora passou. E tomara
que a moça consiga te desculpar, eu não te perdoaria e ainda mandava te dar
uma surra — resmunga.
— Mas você é um homem sem coração — defino e ele ri.
Alexander então dá uma baforada no charuto e o coloca no cinzeiro.
— Quanto ao assunto dessa briga, tenho certeza que não é só por
dinheiro, e te digo mais... tem a ver com alguma mulher, só basta saber
quem.
Eu volto a me sentar na cadeira, embasbacado.
— Será que minha mãe teve algum caso com o Ricardo?
Alexander passa a mão no queixo, com olhar especulativo e acena.
— Pode ser... — murmura e volta a me olhar. — Mas o que você
quer de mim?
— Preciso que me ajude, e me indique um pessoal discreto para
fazer a segurança da Letícia e da minha filha, além de alguém, um detetive
talvez, para descobrir sobre a briga entre o Ricardo e meu pai.
Ele dá um sorriso. Malicioso. Alexander abre a gaveta, pega um
bloco de notas e uma caneta e passa para mim por cima da mesa.
— Anota o nome de todos aí. Seu pai, o pai da Letícia, e de todo
mundo que você acha relevante — pede, e eu o encaro, desconfiado. — O
meu pessoal vai trabalhar nisso, e o melhor é que fique fora disso, vai por
mim.
Eu olho o bloco e a caneta em minhas mãos.
— Eu tenho que pagar esse pessoal, a empresa de segurança...
— Faça como eu mando, Heitor. Deixe comigo e tenho certeza que
em breve descobriremos tudo. Pode apostar — finaliza.
Eu respiro fundo e faço como ele pede, ou melhor, manda.
Alexander conhece todo mundo, ele sabe de tudo. Todo tipo de gente tem
algum negócio com ele, e se meu amigo diz que vai resolver, eu acredito.
Faço isso pela Letícia e por minha filha, a segurança das duas é
imprescindível para mim, assim como descobrir a verdade é necessário para
que possamos seguir com nossas vidas.
Não podemos ter o fantasma dessa guerra nos rondando. Só assim
poderei provar para Letícia que não sou o imbecil de três anos atrás.
- 20 -

Letícia Assim que a ligação chega ao fim, coloco o meu

celular sobre a mesa, e mesmo depois da nossa conversa, me sinto

angustiada. Eu cresci ouvindo do meu pai, como o Félix era um canalha,

um homem frio, que não admitia perder. Segundo o meu pai, esse homem

era capaz de passar por cima de qualquer um para conseguir o que queria.

Com o tempo, conforme fui entendo melhor sobre a vida, percebi


que o meu pai não era nenhum santo. Ele nunca tratou bem nenhum dos
filhos, sempre nos desprezou. Tratava a minha mãe como cachorro, pois se
apegava ao fato de ela não ter ninguém por perto para ampará-la.
O meu pai é um homem ruim, e Heitor diz o mesmo do seu pai.
Esses dois carregam tanto ódio que não se importam com mais ninguém.
Um quer apenas atingir o outro, e se tiverem que ferir os próprios filhos,
que seja.
Por isso estou tão alarmada. Tenho medo que um dos dois possa
fazer algo para prejudicar a mim ou ao Heitor, isso sem contar a Geovanna.
Eu temo por ela. Será que algum dia nós teremos paz?
— Você está com algum problema? — Lia pergunta ao sentar-se em
minha frente.
— O Heitor conversou com os pais, contou sobre a Geovanna —
falo, com um aperto no peito. Eu olho para Lia. — Ele está muito
desconfiado, pois seu pai agiu com muita tranquilidade.
Lia sorri.
— Isso não é bom?
Eu nego, com um gesto.
— Não. Nós sabemos como o pai do Heitor pode ser maquiavélico
— indico.
Lia solta um suspiro, e chega para frente, com as mãos unidas em
cima da mesa.
— Informação dada pelo papai. E nós sabemos como o nosso pai
pode inventar coisas, apenas para justificar suas maldades — aponta Lia,
com voz calma.
Eu a encaro.
— Lia, nossa mãe falava o mesmo.
Ela dá uma risada.
— Nossa mãe falava sobre algumas pessoas da família Pigozzi,
nunca citou qualquer nome — declara minha irmã, me deixando confusa.
Eu balanço a perna, de nervoso.
— Segundo o Heitor, seu pai mentiu para ele no passado. Foi o
Félix que me acusou, ao dizer que eu estava unida ao nosso pai, para
enganar Heitor e vingar sua falência.
Lia move a cabeça, com o olhar interrogativo.
— Sim, temos esse fato contra ele, sendo assim, provavelmente ele
tem sua parcela de culpa — supõe e volta a me olhar. — Não fique
pensando muito. Eu não acho que o pai dele vá fazer qualquer coisa contra
você ou ao Heitor, muito menos a Geovanna.
Ela se levanta e vem até mim, então se inclina e beija minha cabeça.
Depois se afasta me deixando com meus pensamentos.
Olho a hora, e ainda é cedo. Porém Geovanna já adormece e Heitor
está com o seu amigo, o meu ex-patrão. É provável que retorne tarde para a
sua casa, e como já ligou, conforme havia prometido, não voltará a ligar.
Leandro e Aluísio estão no quarto deles, assistindo uma série. Lia,
pretende dormir cedo e eu farei o mesmo, ou vou tentar. Já que minha
cabeça está fervilhando. Sem contar a falta que sinto do Heitor. Hoje eu não
o vi, e pelo jeito eu me acostumei a vê-lo todos os dias.
Deito em minha cama e abraço um travesseiro. Meu coração bate
ansioso, queria estar com Heitor, em seus braços, chego a ter uma ponta de
arrependimento por não ter aceitado o seu convite e ficado em sua casa. Ao
menos eu o teria comigo todas as noites.
Viro-me de lado e me lembro do nosso fim de semana. Em como me
senti exultante ao seu lado. Seus beijos, seu toque... tudo nele despertou
meu corpo, alma e coração para a vida. Eu não queria me sentir assim,
afinal Heitor foi implacável comigo, no passado. Ainda carrego certa
mágoa por ele, e não tenho certeza se devo confiar em suas palavras.
Entretanto, meu corpo reage de outro modo. Ele não obedece minha
mente, e é muito forte o desejo que sinto.
Pego no sono muito tempo depois, e tenho sonhos conturbados de
que estou sendo perseguida pelo homem que me ameaçou há três anos.
Acordo exausta, com Geovanna me chamando, ela me pede para ir ao
banheiro, então me levanto, ainda com muito sono. Começo o meu dia, e
aos poucos fico desperta.
Leandro toma o seu café comigo e logo Lia se junta a nós.
Geovanna senta-se em sua cadeirinha ao meu lado e dou sua fruta.
— Conte para nós, você e o Heitor dormiram juntos, no último final
de semana? — questiona meu irmão, mexendo as sobrancelhas.
Lia ri.
— Está na cara que eles ficaram juntos — responde minha irmã.
Eu sinto a minha bochecha esquentar.
— Vocês são muito intrometidos — murmuro e dou um sorriso, sem
olhar para eles.
— Eu sabia, você não poderia resistir, ainda mais agora que o
nervosinho anda mais calminho — comenta Leandro.
— Então você o perdoou de uma vez? — indaga a Lia.
Eu olho para a minha xícara de café, e fico séria.
— Ainda é cedo para dizer isso — confesso e respiro fundo. Olho
para Geovanna e dou um pedaço de melancia para ela. — Estou apavorada
de me deixar enganar, novamente.
Meu irmão aperta a minha mão, que está sobre a mesa.
— Querida, eu, sinceramente acredito que o Heitor aprendeu a lição
— acentua.
Olho para Lia, ela acena com veemência.
— Concordo com o Leandro. Aquele homem está de quatro por
você — afirma com um sorrisinho.
Eu balanço a cabeça e volto a prestar atenção em minha filha.
— Não tenho tanta certeza, não é fácil esquecer suas palavras —
argumento, um pouco desanimada.
— Logo vocês se acertam de vez, disso tenho certeza — completa
Lia.
Terminamos o café e Lia tem um compromisso. Ela conta que vai se
estabelecer e parar de viajar tanto. Eu e Leandro comemoramos, e sei que
ela também se sente feliz por voltar a ficar perto de nós.
Depois que fico a sós com Geovanna, procuro na internet por
creches e escolas para a sua idade. Eu e Heitor chegamos a conversar, e ele
garantiu que assumirá todas as despesas da filha, pois é o mínimo que pode
fazer, conversei com ele e expus minha opinião, deixei claro que não
pretendia cobrar nada dele. Afinal se ele, até o momento, não fez nada por
Geovanna, não foi por sua culpa.
Evidente que ele discordou, e no fim terminou por me convencer de
que queria fazer por nossa filha, não apenas por obrigação, mas porque se
sentiria feliz, e que nossa filha merecia o melhor.
Destaco as creches que mais me agradam, a fim de falar com Heitor,
que além de assumir as despesas quer ver de perto e averiguar onde nossa
filha vai passar as horas do dia.
A noite cai e fico ansiosa para vê-lo. Todos já estão em casa quando
Heitor chega, e meu coração bate feliz em vê-lo. Nossos olhares são
incapazes de esconder o que sentimos, o desejo que temos. Porém, agimos
como se nosso corpo não fosse explodir de desejo a qualquer momento.
Geovanna brinca com seus brinquedos, e aproveito para me sentar
ao seu lado no sofá e conversar sobre o que andei pesquisando. Ele me olha
com um sorriso.
— Por que não vamos para a minha casa, e amanhã eu tiro uma
folga para visitarmos algumas dessas creches? — sugere.
Eu o encaro, querendo gritar que sim, porém me seguro.
— Mas assim, tão de repente? Não vai te atrapalhar? — indago.
Ele olha para os meus lábios, com olhar ardente e sorri.
— Você nunca me atrapalha, Letícia — murmura.
Sinto meu coração dando um grande salto, pois eu quero muito estar
com ele.
Eu gesticulo com a cabeça.
— Espere um pouco, vou arrumar nossas roupas — informo e me
levanto.
Vou ao quarto do Leandro e aviso que irei para a casa do Heitor,
pois sairemos no dia seguinte para ver a escola da Geovanna, ele dá uma
risada sínica. Eu não comento, pois com certeza está pensando maldades.
Arrumo minha bolsa e da Geovanna, depois pego minha filha e
troco suas roupas. Heitor, assim que nos ver prontas abre um sorriso
satisfeito. Então nos despedimos do meu irmão e da Lia, e seguimos para a
sua casa. No caminho ele para e compra pizza, ele me surpreende, pois
compra o sabor marguerita, a minha pizza favorita.
Quando chegamos, Geovanna está quase dormindo, e precisamos
correr, para ela tomar seu leite, antes que caia no sono. Depois coloco seu
pijama e enquanto Heitor toma banho eu a coloco para dormir.
Assim que nossa filha dorme, a porta do seu quarto se abre, Heitor
aparece de banho tomado, usa uma calça de moletom cinza e uma blusa de
malha da cor branca.
— Ela dormiu rápido — comenta.
— Já passou a hora dela dormir — respondo e ele ajuda a me
levantar.
Heitor liga a babá eletrônica, depois pegar minha mão e saímos do
quarto.
— Vou colocar a pizza para aquecer, enquanto isso você pode tomar
um banho e colocar uma roupa mais confortável para dormir — diz,
passando a ponta dos dedos por meus cabelos.
Eu o olho, encantada.
— Claro. Não vou demorar — asseguro e ele acena.
— Então espero por você lá na sala de vídeo. Tudo bem? — Eu
balanço a cabeça e ele inclina a cabeça e beija o canto da minha boca.
Eu respiro fundo e sinto o seu cheiro de sabonete.
Antes que faça alguma bobagem, vou para a sua suíte. Pego o meu
pijama na minha bolsa e sigo para o banheiro. Tomo um banho bem rápido,
e depois de seca, prendo os cabelos no alto da cabeça e vou ao seu encontro.
Heitor está sentado no sofá, a pizza e o refrigerante numa mesa
improvisada e ele está com o controle na mão, em busca de algo para ver.
Sento ao seu lado e ele me olha, então seus olhos passam pelo meu
corpo e fico arrepiada. Ele larga o controle de lado e nos serve de pizza, que
está maravilhosa.
— Que delícia, eu amo pizza — digo, passando a língua por minha
boca.
— Delícia é você — sussurra com a voz rouca.
Eu olho para ele, que me encara com olhos flamejantes de desejo e
sinto meu núcleo se apertar.
— Heitor...
Ele vem para cima de mim e nem sei onde a fatia de pizza vai parar,
pois só penso em tocá-lo e ser tocada por ele.
Heitor tira a parte de cima do meu pijama e me beija com ânsia.
— Você é tão maravilhosa, Letícia! Caralho! Como eu te desejo...
— ruge entre meus lábios.
Ele se distancia, e tira sua calça de moletom, seu pênis duro aponta
para cima e bate em seu umbigo. Então Heitor se vira para o lado e estica o
braço, vejo que pega um preservativo. Com agilidade põe a camisinha e se
masturba, me olhando e com os lábios levemente separados.
Eu olho para sua ereção e lambo os lábios. Tiro a parte de baixo do
meu pijama e fico só de calcinha. Heitor me puxa pela cintura e me coloca
sentada em seu colo, com minhas pernas abertas. Sinto minha calcinha
umedecer.
Meus olhos se fecham e seguro seus ombros.
— Heitor, estou a ponto de gozar — sopro com a voz arfante.
Nós nos beijamos com necessidade, passo meus braços por seu
pescoço e agarro seu cabelo enquanto ele invade minha boca e esfrega sua
ereção em mim, sinto-me quente e molhada e minha pele fica toda
arrepiada, da cabeça aos pés. Gememos juntos. Um na boca do outro. Nossa
língua duela e eu aperto minhas pernas em sua cintura, Heitor move o
quadril, como se estivesse fazendo sexo comigo.
Seus lábios e língua descem até o meu pescoço, ao mesmo tempo
suas mãos deslizam até a minha calcinha e a arranca do meu corpo, só ouço
o som do tecido se rasgando. Heitor volta a subir sua boca e me beija,
enquanto uma das suas mãos sobe e aperta o meu seio. Eu permaneço com
olhos fechados e jogo a cabeça para trás. Heitor, sem aviso, enfia um dedo
dentro mim. Eu arfo com seu toque.
Seu beijo se torna feroz, e seus dedos movem em meu sexo com
habilidade.
— Não tem como eu esperar — murmura com a boca colada na
minha. — Prometo que da próxima vez eu serei mais calmo, mas estou com
muito tesão em você. — Sua voz sai rouca e arfante.
— Não importa. Também quero você, agora mesmo — sopro com a
respiração acelerada.
Heitor agarra os meus quadris, e sinto que me olha, então abro os
olhos e vejo o brilho de fome refletido em seu olhar.
— Você é minha, Letícia! Só minha — rosna.
Então em um único golpe se enterra em minha vagina. Eu arquejo
enquanto me sinto preenchida por ele, é uma sensação maravilhosa, algo
que sou capaz de sentir apenas com Heitor. Não sei se seria assim com
outro homem, mas acredito que não, pois só ele, consegue despertar meu
corpo para o prazer.
Em nenhum momento deixamos de nos olhar. Heitor me segura e
faz com que eu me movimente, sinto seu pênis grosso, e subo e desço com
mais rapidez. Ele também aumenta a velocidade de seus movimentos.
Aperto seus ombros com força e o desejo toma conta de todo o meu corpo.
Sinto um formigamento permeando minha pele e fecho os olhos.
Heitor aperta o meu quadril com força.
— Não feche os olhos. Quero seus olhos em mim, enquanto goza —
rosna e morde o lábio.
Deixo meus olhos aberto, fixos nos seus. Ele é tão sexy, seu rosto
está contorcido, sei que está a ponto de explodir, mas não o faz, pois espera
por mim, noto a intensidade em seu olhar, em como ele está ligado a mim.
O que temos é tão intenso que podemos sentir ao nosso redor. Eu sei que
isso não é apenas um tesão passageiro. É inexplicável.
Heitor gira o seu quadril e me toca em algum ponto que me leva a
ver estrelas, não aguento mais me segurar e deixo o clímax vir com força.
Minha boca se abre e o ar fica preso em meus pulmões. Heitor percebe que
estou em êxtase e sinto o momento que começa a gozar, seu membro pulsa
dentro de mim, não sei onde encontro forças, mais aperto ainda mais
minhas coxas, então ele me beija com ardor, enquanto chegamos juntos ao
ápice do prazer.
Eu relaxo meu corpo, e nosso beijo torna-se suave. Alguns
momentos se passam, e permanecemos na mesma posição. Aos poucos
nossa respiração se normaliza, deito minha cabeça em seu ombro e sinto
seus lábios tocando minha têmpora. Eu respiro fundo e me sinto feliz, aqui
em seus braços. Heitor permanece dentro de mim e sinto uma grande paz.
De repente ele se mexe, então traz meu rosto para ficar a sua frente e
seus olhos se prendem aos meus. Heitor vislumbra o meu rosto e me sinto
especial, pois seu olhar é de pura admiração.
Ele sorri, um sorriso lindo e sincero. Suas mãos envolvem minha
face. Então ele suspira.
— Não quero que diga nada, você não precisa dizer nada, mas eu
preciso... na verdade eu necessito falar — dispara com seu olhar tão cheio
de intensidade que me hipnotiza.
Eu esboço um sorriso.
— Então fala... — Minha voz sai tão baixa que não sei se ele é
capaz de ouvir.
Heitor exala.
— Eu amo você, Letícia. Sempre amei. Até quando eu pensava que
te odiava, eu te amava, e mesmo que você não seja capaz de me perdoar, ou
até mesmo me amar de volta... eu seguirei te amando, porque você é a
mulher, a única mulher da minha vida — declara e meu coração bate tão
forte que tenho a sensação de que vai sair do peito.
Eu fico sem palavras, pois nem nos meus sonhos mais impossíveis
eu imaginava que Heitor pudesse me amar.
Esse homem acaba comigo. Uma declaração dessas é para deixar
qualquer mulher sem ação.
Foi a coisa mais linda que já ouvi na vida. E eu não sei o que fazer.
- 21-

Heitor Tenho Letícia deitada em meus braços aqui no sofá,


eu sinto como se tivesse tirado um grande peso de dentro de mim, eu não

pretendia abrir meu coração desta forma, ao menos não agora. Mas já perdi

tanto tempo, a afastei de mim há três anos, tudo por conta do meu orgulho

ferido.

O que ganhei com isso? Nada, eu só perdi. Hoje já não me importo


em expor o que sinto, isso não fará de mim menos, ou mais, homem.
Porque uma coisa eu aprendi: o tempo não volta atrás, mas podemos
reconhecer nossos erros e tentar um novo começo. E é isso que eu quero
com a Letícia. Por isso, desta vez farei tudo diferente. Pois, nada e nem
ninguém poderá nos prejudicar.
Eu a abraço, e ela se aconchega ainda mais.
— Acho que a pizza esfriou — comenta com riso na voz.
Olho para a pequena mesa à frente e sorrio, falta um pedaço de
pizza, que não sei onde pode estar.
— Isso é por sua causa — acuso, inspirando o aroma dos seus
cabelos. — Quem manda ser tão maravilhosa? Não consigo me controlar —
complemento.
Ela ri e beija meu peito, bem em cima onde meu coração bate.
— Não sou assim, tão irresistível — atesta.
— Para mim é. E tenho certeza que para muitos, também — digo,
então olho para a pizza. — Vou aquecer a pizza novamente. Já volto. —
beijo seu rosto e saio do sofá.
Letícia, já vestida em seu pijama, põe as pernas para cima e abraça
os próprios joelhos. Ela me olha, com expressão sonhadora.
— Heitor...? — sua voz sai doce e oscilante.
Eu a encaro, fico arrebatado por seu olhar tão expressivo.
— Diga, minha linda!
Letícia desvia o olhar e morde seu lábio, eu espero, com paciência,
então ela deixa escapar um suspiro.
— É verdade? — pergunta e a observo, não sei sobre o que fala.
Letícia volta a me olhar, desta vez noto certa insegurança. — Que você me
ama?
Eu sorrio, então me agacho, a sua frente. Coloco minhas mãos em
seus joelhos. Fito seus olhos.
— De todas as coisas que já falei na vida, essa é a mais pura das
verdades, Letícia. Eu te amo! E esse sentimento é tão intenso que sinto o
meu coração transbordar de emoção. Desde que a conheci, tudo com você é
maior e mais forte, porque eu amo tudo em você — admito e ela me olha
com atenção.
Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Eu não poderia imaginar, pois você, jamais demonstrou algum
interesse, nunca falou muito sobre você e sempre que nos encontrávamos
era em seu apartamento, nunca em lugares públicos — aborda e então uma
lágrima solitária desliza por seu rosto. — Por isso foi fácil acreditar quando
disse que não signifiquei nada, e era apenas mais uma na sua cama.
Eu fecho os olhos, me sinto tão canalha. Meu coração se contrai,
pois a tristeza, o arrependimento e a culpa se infiltram dentro de mim.
Volto a abrir meus olhos. Letícia ainda me observa. Ergo uma das
minhas mãos e afago sua bochecha.
— Eu fui um idiota covarde, Letícia. Eu errei de tantas formas com
você, que só o fato de você olhar na minha cara, já é um milagre. Eu já falei
o quanto me arrependo, mas vou fazer o meu melhor para te mostrar que
não minto quando digo que te amo. Você e a Geovanna, são meu tudo e te
dou minha palavra que agora vai ser diferente, pois todos os dias, até o fim
da minha vida, eu mostrarei meu amor por você — desabafo com a voz
rouca.
Ela dá um sorriso doce e acena, devagar.
— Eu só preciso que você tenha paciência, pois para mim ainda é
complicado. Eu tenho medo de expor o que sinto, de nos dá uma chance
para depois... — Ela para de falar, e sinto seu desconforto.
Eu dou um sorriso, tranquilizador e sincero.
— Meu amor, eu tenho certeza que um dia você voltará a confiar em
mim, eu juro que tudo ficará bem — prometo e me inclino para beijar seus
lábios. É um beijo suave, mas cheio de promessas.
Letícia me abraça e encho seu rosto de beijos. Depois me levanto
para colocar a pizza para aquecer, e enquanto está no forno vou ao quarto da
Geovanna, eu sorrio ao perceber que ela dorme profundamente e nem se
moveu desde que saímos do quarto. Tenho vontade de me aproximar e
beijar seu rosto. Mas não quero atrapalhar seu sono. Assim dou uma última
olhada e saio.
No dia seguinte, passamos a manhã visitando algumas creches da
redondeza, e tanto eu quanto Letícia, gostamos de uma em particular, onde
podemos monitorar todo o tempo as áreas comuns da instituição.
Principalmente onde as crianças fazem atividades. Eles são muitos
transparentes em tudo, e percebemos que é uma creche que preza muito
pela segurança das crianças.
Além disso, Geovanna se encantou pelo lugar, e enquanto
conversávamos com a diretora, uma funcionária, que é a psicóloga infantil
do lugar, a levou para conhecer outras crianças e o espaço; e assim nos
informar, mesmo que superficialmente, como será a adaptação da minha
filha.
Isso sem contar que a creche é próxima a minha casa, assim posso
convencer Letícia a se mudar de uma vez. Ela pode até voltar a fazer sua
faculdade, pois sei que é seu sonho, e no que depender de mim, ela realizará
todos os seus desejos. Além disso, quero essas duas comigo o quanto antes.
Depois que Geovanna dorme e terminamos o jantar, a noite está
agradável e vou com Letícia para a varanda em frente ao jardim e nos
acomodamos no grande Chaise, e podemos ver as estrelas de onde estamos
já que a cobertura da varanda é de vidro.
Letícia deita em meu peito, uma das mãos fazem círculos aleatórios
em meu tórax, coberto pela camisa de malha. Eu acaricio sua pele.
— Eu andei pensando — começo.
Escuto sua risada.
— Sabia, você estava muito calado durante o jantar — comenta,
com graça.
Também rio.
— Para ver como você me conhece — respondo e a aperto em meus
braços, para depois afrouxar. — Enfim, como estava dizendo, isso já passou
pela minha cabeça algumas vezes, e agora, que decidimos qual a creche
Geovanna ficará, acho que vocês poderiam vir morar aqui.
Letícia senta-se de lado, saindo do meu abraço e me encara.
— Morar aqui? Com você?
Acho lindo, a maneira confusa com que me olha.
— Sim, afinal a creche é aqui perto, e você pode fazer a sua
faculdade nas proximidades — sugiro.
Ela entorta a boca e estreita os olhos.
— Vendo por esse lado, da creche é uma boa ideia, mas... — Ela
suspira e balança os ombros. — Não sei, Heitor. Afinal não existe nada
definido entre nós.
Eu a puxo e a viro deitada com meu corpo sobre o seu, fixo meus
olhos nos seus.
— Eu sei dos seus medos e dúvidas, e respeito isso. Porém, para
mim está mais do que definido, Letícia. Eu quero você e minha filha
comigo, e eu garanto que meus sentimentos por ti, não são temporários. Eu
te amo, quero você todos os dias ao meu lado, o lugar que nunca deveria ter
saído — declaro e minha boca quase toca a sua. E eu sorrio. — E há outra
vantagem em vir morar aqui — murmuro.
Ela tem respiração suspensa e me olha com desejo.
— Qual? — pergunta, arfante.
Beijo o canto da sua boca. Ela fecha os olhos e seus cílios tremem.
— Poderei todos os dias te beijar, além de foder sempre que
tivermos vontade — sopro e tomo sua boca.
Letícia circula seus braços ao meu redor, enquanto uma das suas
pernas sobe e envolve a minha cintura. Esfrego meu pau nela que solta um
gemido.
Procuro o preservativo no meu bolso e rasgo o envelope. Afasto-me
e fico de joelho na sua frente e consigo tirar minha calça. Letícia ergue o
corpo e apoia um dos cotovelos na espuma, estica o outro braço e pega meu
pau.
Eu chio, fechando os olhos e jogo a cabeça para trás. Sinto sua mão
macia se mover até a cabeça e meu pênis lateja.
Letícia sai do Chaise e se ajoelha no chão, então me olha e passa a
língua entre seus lábios.
— Eu quero você na minha boca — sussurra.
Na mesma hora eu me sento, pondo os pés no chão. Pego o envelope
do preservativo que estava entre o meus dentes e o coloco de lado, Letícia
se acomoda entre minhas pernas, volta a segurar meu pau e dá um sorriso
travesso.
Quando sua boca desce até meu membro eu agarro seus cabelos.
— Caralho, Letícia... que boca maravilhosa — vibro e ela passa a
língua em toda a minha extensão até a cabeça, e volta a me abocanhar.
Forço sua cabeça até a ponta do meu pau bater quase em sua garganta, e sua
saliva escorre até as minhas bolas. Então Letícia fecha a boca e me chupa
com vontade. Meu pau impulsiona e sinto que posso gozar. — Porra, isso
está maravilhoso, mas não quero gozar na sua boca, não hoje.
Assim, afasto a boca dela, e só penso em meter em sua boceta, sem
pensar direito deito Letícia numas almofadas que estão jogadas no chão.
Tiro sua calcinha, e levanto sua saia. Olho para sua boceta molhada e passo
o polegar em seus lábios vaginais.
Ela arqueia as costas e inspira com força.
— Heitor — sopra.
Pego o preservativo e tiro do envelope que já está aberto e visto no
meu pau, rapidamente. Desço meu corpo sobre o seu, tomando cuidado para
não machucá-la e com a mão levo a ponta do meu membro até a sua
entrada. Letícia ofega e morde o lábio.
Eu enfio devagar em sua boceta apertada, quente e molhada. Eu
fecho os olhos e sinto como se ela me sugasse. Volto a abrir meus olhos,
com uma das minhas mãos eu pego sua perna e elevo até minha cintura.
Meto em seu núcleo até o fundo, então retiro-me vagarosamente e enfio
com força. Letícia dá um gritinho, eu sorrio.
— Gostosa... você é muito gostosa, e é minha — rujo e invisto com
mais força em seu sexo. — Você é toda minha, Letícia.
Ela solta um gemido e aperta meus braços.
—S-sim... eu sou — arfa com as unhas cravadas em minha pele.
Eu inclino a cabeça, minha testa colada a sua. Nossa respiração se
confunde. Movo meu quadril com mais energia e ela fecha os olhos
apertados e volta a abri-los.
— Eu te amo — sussurro com a voz enrouquecida. — Eu te amo... e
quero você ao meu lado.
Letícia tem os olhos nublados, ela esfrega sua perna que está na
minha cintura em minha pele e me aperta.
— Heitor... eu...
Sinto que ela vai gozar, assim como eu. Então capturo seus lábios e
a beijo com avidez.
Bato mais e mais forte. Sua boceta me prende e giro o quadril
enquanto estou totalmente enterrado em sua vagina, esfregando-me com
fervor em seu clitóris.
Letícia começa a convulsionar e me agarra, me prende, e eu não sou
capaz de segurar meu próprio prazer, então eu gozo com tanta força, que
fico sem ar e sem forças, mas mesmo assim não me afasto e continua
beijando seus lábios. Permaneço grudado em seu calor. Eu não sei como, ou
o que vou fazer, mas uma coisa é certa: Letícia não vai mais embora desta
casa.
- 22 -

Letícia Eu acordo antes de Heitor e me levanto devagar.

Olho para ele que dorme profundamente. O lençol o cobre da cintura para

baixo, então observo seu corpo e admiro seu torso, nu e firme. Meu coração

bate descontrolado, pois me sinto dividida.

Não sei o que pensar, se acredito ou não em suas palavras. Heitor


me parece muito sincero, e percebo uma grande transformação nele. Suas
atitudes são bastante diferentes agora, nem parece aquele homem que
conheci há mais três anos. Mas, ainda assim, tenho minhas dúvidas.
A minha relutância, não é somente em relação ao Heitor, mas,
principalmente a todas as questões que nos rodeiam. No fundo eu tenho
muito medo que possam fazer alguma coisa contra nós. E se algo acontecer
a minha filha, e até mesmo a ele, não me perdoarei nunca.
Eu o deixo deitado e vou até o quarto da Geovanna, ela ainda dorme
e eu me aproximo e me sento no chão. Observo a minha filha dormir, e
como sempre meu coração se enche de amor. Penso no quanto ela está feliz,
e em como sua relação com Heitor foi natural. Em pouco tempo ela se
apaixonou por ele. Eu sorrio, nisso somos iguais. Pois também me
apaixonei por ele de imediato.
Gostaria que as coisas fossem mais fáceis, e não existisse em nossas
vidas essa nuvem negra. Por isso não sei o que fazer quanto a sua proposta.
Minha filha se vira de lado e resmunga. Eu abraço meus joelhos e
olho para ela, querendo encontrar uma resposta para o que devo fazer. Não
posso pensar apenas em mim, Geovanna e o seu bem estar é o que mais
importa. Também preciso tomar um rumo em minha vida. O dinheiro que
tenho guardado não vai durar para sempre. A proposta do Heitor é atraente.
Não apenas pela questão financeira, mas também pelo que sinto por ele.
Sinto a porta do quarto se abrindo e olho para trás. Sorrio ao ver
Heitor, com os cabelos desalinhados, usando apenas uma calça preta de
moletom.
Ele caminha devagar, até mim e senta-se ao meu lado, então passa
os braços pelos meus ombros.
— Acordei e não te vi e imaginei que estivesse aqui, então olhei o
visor da babá eletrônica — comenta, baixinho em meu ouvido.
— Eu perdi o sono, e sei que ela vai acordar a qualquer momento —
respondo.
Heitor olha para Geovanna e reparo em sua expressão de
contentamento. Vejo a sombra de um sorriso se desenhar em seu rosto.
— A nossa filha é tão linda, tem horas que nem acredito na minha
sorte e preciso pegar uma imagem dela e ficar admirando — confessa e sua
voz sai suave, ele me olha. — Eu te admiro, Letícia. Mesmo com todas as
dificuldades, conseguiu cuidar da Geovanna com tanto amor e dedicação.
Seu elogio me deixa radiante.
— Cuidar, e amar a Geovanna é muito fácil. Ela sempre, desde que
estava dentro da minha barriga, me transmitiu muita paz e alegria — conto,
cheia de orgulho da minha pequena.
Heitor me encara com intensidade e toca meu queixo com a ponta
dos dedos.
— Por isso eu falo: ela tem muito de você, Letícia. Pois é muito
fácil te amar — sussurra.
Nós nos encaramos e ele aproxima sua boca, mas somos
interrompidos antes que me beije.
— Mãe... pai... — Geovanna desperta e senta-se na cama e esfrega
os olhos. Ela olha para nós dois dá um sorriso lindo. — Oi!
Eu e Heitor nos olhamos e começamos a rir. Então pegamos
Geovanna e a enchemos de beijos. Ela ri tanto, que esquecemos que é uma
criança em desenvolvimento, por sorte ela começa falar que está apertada, e
corremos com ela para o banheiro.
Depois disso Heitor vai se arrumar, pois precisa ir à empresa. Ele
pede que eu permaneça na casa, pois virá mais cedo para darmos
prosseguimento a matricula da Geovanna na creche. Eu não me oponho e
faço planos para brincar com ela no seu parquinho particular.
Termino de dar um suco para ela e Heitor se aproxima, já pronto
para o seu dia. Ele está um charme com seu terno escuro, e fico só
imaginando como deve chamar a atenção das funcionárias.
— Eu volto para o almoço, mas se precisar falar comigo não se
abstenha em ligar — avisa e dá um beijo na ponta do meu nariz.
Inspiro seu perfume e tenho vontade de agarrá-lo.
— Tudo bem — falo sem fôlego e bebo um gole de café.
Ele pisca para mim e se vira para Geovanna.
— E você, minha princesa, aproveite a sua manhã com a mamãe,
mas não a canse tanto — diz e beija sua bochecha carinhosamente.
— Papai vai saí — diz Geovanna com boca cheia de biscoito.
Heitor ri e se volta para mim, ficando sério.
— Pense com carinho no que te pedi — insiste e aproxima seu rosto
do meu. Eu prendo a respiração. — Eu te amo, e o seu lugar é ao meu lado,
junto com a nossa filha — sussurra. Beija meus lábios com delicadeza e se
afasta.
Solto o ar que estava preso nos meus pulmões. E olho para
Geovanna.
— O que eu faço, filha?
Geovanna me olha e começa a bater palmas, eu tenho que rir, ela
ajudou muito.
Passo a manhã com Geovanna nos brinquedos e quando ela cansa,
pede para brincar de boneca em seu quarto. Enquanto estou com ela recebo
a ligação da minha irmã. Ela conta que conseguiu um loft, e que se muda
em algumas semanas. Fico super feliz, afinal minha irmã estará por perto.
Aproveito e conto sobre a proposta de Heitor e minhas dúvidas, pergunto o
que ela acha.
Lia fica um tempo calada e eu roo a minha unha.
— Fale a verdade para mim: Você ama o Heitor? — questiona.
Geovanna conversa com sua boneca e eu a observo, eu sei o que
sinto por Heitor, mas expor em palavras é muito difícil.
— Eu... — Respiro fundo e fecho os olhos. — Sim, mas a questão
não essa — alerto.
— Qual a questão, Letícia? — pergunta, impaciente.
— Você sabe a história.
Ela ri.
— Porra, vocês vivem como se nossa família fosse um bando de
mafiosos, e inimigos. Vocês não podem viver dessa maneira, coloque esses
imbecis no lugar deles, chame a polícia se preciso for. Mas não caia nessa
de ficar cada um para um lado só porque nosso pai e a família do Heitor
criaram essa guerra. Chega de mais corações partidos — completa.
Eu franzo a testa.
— E já teve corações partidos nessa guerra entre eles? — pergunto,
pois nunca soube desse fato. O que foi dito é que essa briga é por dinheiro.
— Não... foi modo de falar — Lia responde e respira fundo. —
Letícia, você ama o Heitor, ele te ama. Vocês são lindos juntos e pensa no
quanto será bom para Geovanna conviver com o pai, um pai que a adora e
claramente a quer por perto. Não seja boba. Quanto ao passado, o tempo
vai curar o seu coração, e o perdão virá, naturalmente.
Minha irmã está certa, e não posso negar que quero estar com
Heitor, e poder acordar todos os dias ao seu lado.
— Eu vou pensar e tentar chegar a uma solução — falo.
Escuto Lia respirar fundo.
— Não há o que pensar. Tenho certeza que o Leandro pensa o
mesmo que eu — aponta com a voz firme. — Letícia, se eu, ou o Leandro
tivéssemos qualquer dúvida sobre os sentimentos do Heitor, jamais
falaríamos para ir em frente. Você sofreu muito no passado, não estou
eximindo o Heitor do que ele fez, mas ele está claramente arrependido.
Ele está dando todas as provas de que se arrependeu. Meu coração
diz para perdoá-lo de uma vez por todas e lutar ao seu lado para sermos
felizes. Meu corpo implora por cada toque seu. Eu só tenho que vencer o
medo de sofrer mais uma vez.
Eu me levanto e vou até a janela e observo o jardineiro podar as
flores. Sei que Lia está do outro lado da linha, esperando que eu diga
alguma coisa. Eu passo a mão por meu cabelo.
— Obrigada, por ser uma irmã maravilhosa, Lia — agradeço e ela
ri.
— Para isso servem as irmãs mais velhas, para abrir os olhos das
caçulas inseguras — caçoa me fazendo rir. — Seja feliz com seu homem,
em breve, tenho certeza que tudo será esclarecido.
Algumas coisas que Lia diz eu não entendo, mas minha irmã tem
andado um tanto misteriosa nos últimos dias. Eu me despeço dela e volto a
me sentar com Geovanna, que me serve uma sopa de bolinha de papel.
Heitor, como havia prometido, retorna antes do almoço. Depois da
nossa refeição seguimos para a creche para preencher alguns formulários.
Enquanto nos reunimos, a mesma funcionária fica com Geovanna. Nós
acertamos tudo, a diretora nos passa uma chave de acesso às câmeras da
creche e explica o funcionamento da instituição.
Algumas horas depois Heitor nos surpreende e nos leva em uma
sorveteria. Ele leva Geovanna para brincar em uma piscina de bolinhas e eu
os observo de longe, com o coração repleto de prazer. Ele se mostra um pai
maravilhoso e paciente. Em alguns meses se alguém me dissesse sobre o
Heitor fazendo parte da minha vida e da vida da nossa filha, eu certamente,
duvidaria.
Saímos do shopping já é quase noite e seguimos para a casa do
Heitor. Geovanna se mostra muito cansada, pois não teve a oportunidade de
tirar seu cochilo da tarde, e quando isso acontece, ela fica enjoada, afinal
não consegue controlar o sono.
E tudo piora, pois a mantenho acordada, pois ela se sujou de sorvete
e precisa de um banho, antes de dormir. Ela chora e debate, Heitor ri da
irritação dela, pois acaba de descobrir o lado dramático da Geovanna.
Debaixo do chuveiro ela chora, as lágrimas escorrendo pelo seu
rosto.
— Não... o banho tá ruim... eu quero café — pede o que nunca
experimentou.
Heitor me olha, todo molhado, pois Geovanna em seu drama
termina por jogar água nele. Ele está risonho.
— Minha filha é esperta, já até sabe que café é bom para despertar
— caçoa em tom alto, pois a menina não para de chorar.
Eu fecho o chuveiro e ele pega a toalha para pegá-la.
— Você precisa ver quando ela lamenta, pois não pode tomar banho
com o fogão de brinquedo, ou a cama. Isso quando não quer levar a TV
para lavar.
Ele a coloca na cama e a enxuga, então eu coloco seu pijama e a
levo para a cama. Não demora dois minutos, ela fecha os olhos e dorme.
Eu solto um suspiro de alívio.
— Coitada, ela está muito cansada — comenta, fitando-a com
carinho.
— Se eu fizesse esse escândalo todas as vezes que estivesse
cansada, estaria presa por perturbação alheia — digo, enquanto saímos do
quarto e ele ri.
Nós vamos para a sua suíte e tomamos um banho muito demorado,
juntos. Fico tão relaxada que me deito na cama e fecho os olhos. Também
estou cansada e quero só descansar um pouco. Sinto Heitor beijar e
acariciar meus cabelos, então eu esboço um sorriso e adormeço.
Desperto e noto que o dia já raiou e me encontro sozinha na cama.
Depois de tomar um rápido banho, coloco um vestido soltinho e vou ao
quarto da Geovanna, me surpreendo ao ver sua cama vazia. Sigo para a
cozinha e a encontro. Sentada no joelho do Heitor, comendo melão.
Sueli está no fogão e faz café. Ninguém me vê e observo a conversa
dos dois.
— Você gosta de uva? Papai também adora uva. — A voz rouca de
Heitor faz minha pele ficar arrepiada.
Geovanna balança a cabeça.
— Eu amo uva, maçã, “moango”!
Heitor olha para ela como se o que ela dissesse fosse de grande
importância. Ele até faz expressão de quem está surpreso.
— Morango? Sabe quem ama morangos? — pergunta e Geovanna
olha para ele, com a boca suja de melão. — Sua mãe. Ela adora morangos,
sabia?
Sinto o sorriso se desenhando em meu rosto. Ele se lembra da
minha fruta favorita.
— Bom dia! — cumprimento e os dois me olham.
— Mamãe! Vem aqui... tô comendo oh...
Eu me aproximo deles, e não me passa despercebido a maneira em
que os olhos de Heitor viajam pelo meu corpo.
Sento-me e olho para Sueli, ela se vira e dá um sorriso.
— Bom dia Sueli! — Ela responde com educação e eu olho para
Heitor.
Ele tem um sorriso sexy e sem pedir rouba um beijo meu.
— Papai beijou a mamãe, também vou beija... — Geovanna se joga
para mim e me dá um beijo babado, porém muito fofo.
— Você dormiu bem? — pergunta.
Eu aceno.
— Como uma pedra — respondo e reparo em sua roupa casual. —
Não vai a empresa?
— Tenho apenas uma reunião a tarde, que será por vídeo
conferência, então farei daqui de casa.
— Que bom — respondo e Sueli coloca a jarra de café sobre a mesa.
Depois ela se retira discretamente.
Pego a xícara e coloco café para ele, sei que Heitor odeia açúcar e
eu não entendo como ele pode gostar de café amargo, ele pega a xícara e
toma um gole, cheio de cuidados, pois Geovanna está em seu colo.
— Nada como um café forte — comenta. Eu olho para ele e faço
uma careta, enquanto coloco açúcar na minha xícara. Ele ri. — Açúcar
estraga o café.
Ele sempre tenta me convencer, mas, nunca consegue.
Geovanna depois de terminar o melão fica agitada, e Heitor a distrai
para eu terminar o meu café.
— Eu quero conversar com você — falo de repente, e ele me olha.
— Mas de preferência quando a Geovanna adormecer.
Ele gesticula com a cabeça.
— Okay — murmura.
Depois disso o nosso dia é agitado, pois ele precisa resolver algum
problema de contrato, mas também consegue resolver de casa. Geovanna
brinca, corre, desenha, depois volta a correr. Ainda bem que na próxima
semana ela começa na creche, e lá terá muitas atividades para que ela gaste
energia.
Heitor não consegue nos acompanhar no almoço, passa parte da
manhã e a tarde resolvendo problemas da empresa. Geovanna finalmente
tira um cochilo a tarde, e enquanto isso, busco por faculdades na redondeza
e averiguo sobre o curso de psicologia, que é o meu grande sonho.
Encontro duas faculdades mais próximas, e envio e-mail as duas
para obter informações sobre o curso e tirar algumas dúvidas. Agora é só
aguardar.
Heitor chega à sala e me encontra concentrada, ele senta-se ao meu
lado e me abraça, parece exausto.
— Conseguiu resolver tudo? — pergunto.
Ele beija meu pescoço.
— Sim, tudo okay — responde.
— Você não almoçou — lembro.
— Eu comi um sanduiche, não vou comer agora. — Heitor me puxa
para o seu colo e observa meu rosto. — Geovanna deu muito trabalho para
dormir?
Eu sorrio e nego com um gesto.
— Foi tranquilo, ela fica chata só quando está muito cansada e passa
da hora de dormir — conto.
Heitor pega uma mecha do meu cabelo e coloca atrás da orelha.
— O que você tem para falar comigo? — indaga.
Eu tiro uma poeira inexistente de seu ombro, então olho para ele.
— Eu pensei sobre a sua proposta.
— E...?
Dou um sorriso, hesitante.
— Eu aceito, mas tem uma condição.
Ele me agarra, e vejo como fica feliz.
— Qualquer coisa, eu aceito qualquer condição — responde e me
enche de beijos pelo rosto Eu começo a rir.
— Você nem sabe do que se trata e já tá dizendo que aceita —
aponto.
Ele para de me beijar e me olha, com carinho.
— Então diga, minha linda. Qual a sua condição?
Eu deixo meus ombros caírem.
— Heitor, para ficarmos juntos e essencial que haja confiança. Não
quero nenhuma dúvida pairando em nossas cabeças. Então preciso que me
fale a verdade: Você acredita em mim? Que eu jamais seria capaz de te
enganar, mesmo que fosse uma ordem, ou pedido do meu pai? — pergunto,
olhando em seus olhos, pois preciso da certeza de que Heitor confia em
mim.
Não posso viver com um homem, por mais que eu o ame, que não
acredita em minha palavra, ele até agora não teve provas de nada, e não
quero correr o risco de seu pai vir com mais mentiras e ele ficar indeciso.
Heitor me encara, então segura o meu rosto.
— Eu juro, Letícia. Eu acredito em você. Não me importa se vão ou
não falar de você. Nem que me mostrem qualquer coisa contra você, eu vou
sempre acreditar na sua palavra. Eu estou três anos atrasado quanto a isso,
eu sei, mas eu confio e acredito na sua integridade.
Toco o seu rosto, a passo a mão em sua barba bem feita.
— Se é assim, eu venho morar aqui na sua casa — revelo.
Ele balança a cabeça, bem devagar.
— A partir de agora é nossa casa, Letícia. Essa casa é sua e da
Geovanna. Aqui será nosso lar e eu sei que viveremos muito felizes aqui, e
depois que finalmente descobrirmos toda a verdade sobre nossas famílias,
tudo vai melhorar ainda mais.
Eu inclino a cabeça e selo seus lábios com um beijo suave, mas
Heitor segura meu rosto e aprofunda o beijo, é tão quente que sinto meu
sexo contrair, e noto seu pênis endurecer. Porém não podemos esquecer que
os empregados estão na casa.
Por fim somos salvos pela vozinha da Geovanna vindo da babá
eletrônica, ela acorda chamando por mamãe e papai, e seguimos os dois
para pegar nossa filha.
Sinto que fiz o certo em aceitar morar aqui. Acredito que estamos
tendo uma chance de fazer um novo começo. E desta vez, acredito que vai
dar certo, pois agora estamos mais fortes. E juntos, podemos enfrentar
qualquer adversidade.
- 23 -

Heitor Após Letícia aceitar morar comigo, me sinto aliviado


e muito satisfeito. Eu sei que ela ainda tem dificuldades em acreditar em

meus sentimentos, porém, tenho certeza que com o tempo serei capaz de

mostrar que ela e minha filha são prioridades em minha vida. E ainda, perto

de mim poderá perceber o quanto me arrependo pelas atrocidades que falei

no passado.

Tem algumas semanas que as duas estão vivendo comigo, Geovanna


iniciou na creche e teve uma ótima adaptação. Letícia sim, sofreu bastante,
pois nos primeiros dias ficava toda preocupada. Mas felizmente, ela
percebeu que interagir com outras crianças da mesma idade estava fazendo
muito bem para Geovanna.
Aqui na empresa, tudo continua fluindo bem. Participo de uma
reunião com alguns funcionários, a fim de verificar resultados e o
andamento do nosso mais novo empreendimento tecnológico. Costumo me
reunir com meus colaboradores ao menos umas quatro vezes ao ano, pois
gosto de me manter informado sobre todos os aspectos.
Terminada a reunião vou para a minha sala me preparar para o
almoço que terei com minha mãe. Acho muito estranho o fato dela não
procurar saber sobre a neta, e nem ligar perguntando nada. Meu pai é o que
mais me preocupa, no entanto, pois não tenho certeza se ele planeja alguma
coisa, e de alguma forma pretendo especular com minha mãe, embora ela o
proteja.
Hoje, antes de ir para casa, encontrarei com Alexander, acredito que
ele tenha conseguido alguma informação, já que me ligou cedo e pediu que
fosse a Mansão Eros. Espero que ele possa me dizer algo.
Entretanto, enquanto não obtenho nenhum esclarecimento, tentarei
que minha mãe abra a boca. Peço a Edna que anote os recados e em caso de
urgência me ligue, e que retornarei em duas horas.
Encontro minha mãe na porta do restaurante, e caminhamos juntos
até a mesa que nos foi reservada. Assim que anota nossos pedidos, o
garçom se retira, nos deixando as sós.
— Como a senhora está, mamãe? Vejo que está um pouco pálida,
sente alguma coisa? — questiono, pois sua fisionomia não me agrada.
Ela dá um sorriso, tímido.
— Estou bem, meu filho. Mas depois de muito esforço, seu pai criou
um grande problema e tivemos que cancelar sua festa de aniversário —
conta, com tristeza.
Eu sei o quanto ela se dedica por esse casamento, meu pai não lhe
dá o valor devido. A trata com frieza, não demonstra nenhuma generosidade
ou empatia pela esposa.
Eu seguro sua mão fria por cima da mesa.
— Vamos pensar pelo lado bom, ao menos a senhora não precisará
ficar preocupada, caso o Pedro Henrique beba além da conta, ou o papai
faça alguma piada de mau gosto — comento.
A última festa, a qual compareci, foi um fiasco, pois meu irmão
ficou de pileque, enquanto papai fazia questão de ser grosseiro com a minha
mãe. Eu não suportei ver aquilo. Estava ali, para todos verem que Félix e
Donana viviam um casamento de aparências. E minha mãe, com todo o seu
requinte, agiu com desenvoltura, sorria e tratava a todos os convidados com
graça.
Ela ri, sem vontade.
— Seu pai anda muito estressado — aponta.
— É por causa do que contei da última vez que estive com vocês?
— indago e presto atenção a sua reação.
Minha mãe aperta os lábios, depois me olha.
— Ele ficou abalado sim, não posso negar.
Eu retiro minha mão da sua, e encosto-me ao respaldar da cadeira.
— Mãe! Eu sei que a senhora não aceita a verdade sobre o meu pai,
mas eu sei que ele foi o grande pivô da minha separação com a Letícia, foi
tudo uma armação dele, e para piorar a situação teve a ajuda do Ricardo, eu
tenho certeza disso — revelo de uma vez.
Minha mãe tem os olhos cheios de lágrimas.
— Meu filho, eu não queria que fosse assim. Eu desejo a sua
felicidade, mas acredito que o Ricardo não vá permitir. Ele detesta o seu pai
e por consequência, a todos nós — acentua com pesar. — Seu pai, é uma
pessoa difícil, eu sei, mas certamente ele agiu pensando em seu bem estar.
Dou uma risada.
— Inacreditável mãe, mas a senhora agir desta maneira, escondendo
o fato do meu pai ser um homem sórdido, a torna tão culpada quanto ele.
Ela balança a cabeça e me olha com melancolia.
— Essa moça voltou para a sua vida tem pouco tempo e você já fica
até mesmo contra a sua mãe — comenta e baixa o olhar.
— Não a culpe, mãe. Letícia nem toca no nome de vocês.
Minha mãe volta a me olhar e dá um sorriso.
— Você tem estado com ela?
— Claro, todos os dias, estamos juntos — respondo.
Então nossa refeição chega, e quando o garçom se distancia, minha
mãe me olha.
— Você sabe que não precisa ficar com ela, só por causa da menina
— comenta e pega seu talher.
Eu continuo olhando, muito sério, para minha mãe.
— A senhora está certa. Eu não preciso. No entanto eu estou com a
Letícia por outro motivo.
Ela levanta o olhar, curiosa.
— Qual motivo?
Eu dou uma risada.
— A Letícia é a mulher da minha vida. Eu amo aquela mulher. Fui
muito injusto com ela no passado, mas agora será diferente — desabafo e
ela continua me olhando. — Eu até entendo que o egoísta do meu pai não
aceite esse fato, mas a senhora? Eu não consigo entender sua relutância.
Minha mãe olha para o seu prato e em seguida volta a me olhar.
— Acho que ver o Ricardo infernizando nossas vidas, me faz ficar
com medo dele. Não confio naquele homem, Heitor. Ele é perigoso e minha
relutância é porque tenho pavor que ele faça alguma coisa contra você, meu
filho — diz com olhar aflito.
— Eu sei me cuidar, mãe — garanto.
Ela começa a sua refeição e depois, com expressão mais calma me
olha.
— Eu quero conhecer a sua filha, como ela se chama? — pergunta.
Eu abro um sorriso, pois eu adoro falar da minha filha.
— Geovanna! Ela é a menina mais linda e doce que conheço —
digo e pego o celular. Mostro a imagem da minha filha sorrindo, enquanto
agarra seu ursinho.
Minha mãe pega o aparelho e observa a imagem, então sorri.
— Ela é linda e se parece muito com você, meu filho. Você tinha
razão. Não há como negar que essa menininha é sua — avalia e me devolve
o celular, então me encara. — Vou fazer de tudo para que vocês sejam
felizes, e não vou deixar que seu pai se meta em suas vidas, eu juro —
promete.
— Não precisa se indispor com meu pai, eu me entendo com ele —
acentuo.
Ela acena e depois pergunta como é Geovanna, e eu, como pai
orgulhoso, conto como minha filha é inteligente.
O almoço flui bem, e apesar da minha mãe apoiar minha decisão,
sinto que algo a incomoda. Penso em perguntar, mas deixo passar, pois ela
não vai contar.
Volto à empresa e após retornar algumas ligações, desço até o
departamento de desenvolvimento tecnológico. Todos os funcionários e
estagiários estão com seus celulares na mão e parecem concentrados,
apenas Allan, o engenheiro de software, olha o notebook com atenção e faz
anotações em outro computador.
Olho mais uma vez para o meu pessoal e sorrio enquanto me
aproximo do Allan, em outra empresa, se o chefe pega todos mexendo em
seus celulares na hora do expediente, com certeza aconteceria uma
demissão em massa, porém esse departamento é justamente para isso, aqui é
onde fazemos testes dos nossos aplicativos, ou ainda das alterações que
sofre conforme as necessidades de evolução.
— Tudo certo, por aqui? Como estão os testes finais? — questiono e
Allan me olha rapidamente e volta a ver o gráfico que oscila conforme
alguém mexe no aplicativo.
— Até o momento funciona sem nenhuma avaria — responde e
digita ao mesmo tempo. — Amanhã teremos um teste com um número
maior de pessoas mexendo no aplicativo, acredito que esteja perfeito para o
mercado, porém, não queremos surpresas desagradáveis.
Eu bato em suas costas e discutimos por alguns minutos sobre a
função e a facilidade desse novo aplicativo que será oferecido e vendido às
instituições financeiras, inclusive aos bancos.
Depois retorno para a minha sala, vejo que a hora passou muito
rápido e me preparo para ir embora, hoje não vou direto para casa, afinal
marquei de encontrar Alexander na Mansão, como já avisei a Letícia e
instruí o motorista que a levasse a creche para buscar Geovanna, não
preciso me preocupar.
Chego a Mansão Eros um pouco atrasado devido ao trânsito,
Alexander já se encontra em seu escritório e fala ao telefone, parece
nervoso e grita com a pessoa do outro lado da linha.
— Não interessa, porra! Ela não pode sumir da vista de vocês como
mágica — desfere e gesticula com a mão. Nunca vi meu amigo tão nervoso.
— Se em cinco minutos não tiver notícias dela, eu coloco todos no olho da
rua e vou garantir para que nunca mais arrumem trabalho. O máximo que
irão conseguir é ser segurança de porta de puteiro de quinta categoria —
esbraveja e desliga o celular.
Ele solta um grunhido e passa a mão na cabeça, está desorientado.
— Alexander, se quiser eu volto em outro momento — aludo me
mantendo afastado, pois ele está visivelmente chateado. — Eu posso ajudar
em alguma coisa?
Ele finalmente parece perceber minha presença, então suspira com
energia e senta-se em sua cadeira oponente.
— Não! — responde seco e abre a sua gaveta. Então me olha, mal
humorado. — O que foi? Vai ficar aí parado e me olhando como se eu fosse
um alienígena até quando?
Franzindo o cenho eu me aproximo e me sento na cadeira. Sorte que
sua mesa é grande e ele não pode me alcançar, ou poderia descontar sua ira
em mim. Tenho pena da pessoa que falava com ele do outro lado da linha.
— Nunca o vi tão fora de controle — comento.
Alexander resmunga e tira uma pasta da sua gaveta. Seu celular
volta a tocar e ele atende de imediato.
— Fala logo — ordena, e noto sua expressão mais desoprimida
enquanto ouve o que a pessoa do outro lado da linha fala. — Que isso não
se repita, vocês são muito bem pagos para não haver falhas.
Ele desliga e joga o aparelho na mesa, balança a cabeça num gesto
negativo.
— Vejo que resolveram o assunto — constato.
— Nem perto disso — resmunga e me passa a pasta por cima da
mesa, eu a pego e volto a olhar em sua direção. — Algumas informações
que o meu pessoal colheu, você pode ler com calma, mas posso resumir
alguma coisa para você.
Abro a pasta e reparo num relatório com umas dez páginas.
Precisarei de tempo e calma para ler.
— O que descobriram?
Alexander respira fundo, eu olho para ele, que me encara e passa os
dedos por seus cabelos. Ele ainda está chateado, seja lá o que aconteceu
anteriormente.
— Os três funcionários, que trabalhavam em sua casa na época,
foram localizados e interrogados. Acontece que, uma moça e um rapaz,
foram pagos por um homem, segundo eles, jovem, para vigiar seus passos e
passar informações.
Aperto as mãos em punhos, indignado.
— Eles não sabem o nome da pessoa?
Alexander me olha de maneira cínica e ergue as sobrancelhas.
— E você acha que ele iria se apresentar?
Deixo escapar um riso.
— Claro que não...
— Eu acredito que seja o mesmo homem que abordou a Letícia, e
não foi seu pai.
— Ele pode ter mandado alguém, ele não faria o trabalho sujo —
resmungo.
Alexander dá uma risada.
— Há uma investigação sobre o Ricardo Xavier e seu pai. Eles
moraram no mesmo condomínio na Zona Sul do Rio, estudaram na mesma
escola e faculdade. Já foram sócios e a sociedade se desfez em três anos, na
época em que seu pai e sua mãe se casaram, as datas conferem. Está tudo
explicito no relatório.
Olho a pasta, surpreso.
— Nunca soube que eles chegaram a ser sócios — friso, sem
entender porque nunca falaram sobre isso.
— Tem mais, eles tinham um terceiro sócio, que era o avô da Letícia
— informa.
Eu aceno.
— Minha mãe chegou a me contar que os pais do Ricardo e do meu
pai eram amigos, provavelmente o avô da Letícia quis ajudar...
— Não era o pai do Ricardo, mas o pai da mãe da Letícia, e
encontramos vestígios de que Adriana, a mãe dela, trabalhou na empresa.
— Então a mãe da Letícia conheceu meu pai? — Cada vez fica tudo
mais confuso.
Alexander balança os ombros.
— A sociedade foi desfeita quando o seu avô, o pai da sua mãe,
comprou boa parte da empresa, e o seu pai se tornou o CEO da D&Fan
Holding. — Essa é a empresa da minha família que administra um grupo
empresarial.
Ponho a mão na minha nuca e faço uma careta.
— Então assim que houve essa negociação meus pais se casaram?
Será por isso que Ricardo se sentiu injustiçado? — Tento encontrar
respostas que justifiquem essa inimizade.
— Isso não sabemos, mas eu ainda acredito que tem mais nessa
história. E a sua mãe pode saber o que é — assegura Alexander e eu
concordo com ele. — Tem tudo aí no relatório, você pode, junto com a
Letícia, encontrar respostas.
Eu aceno, inspirando com força.
— Sim, vou fazer isso — atesto e olho Alexander, que volta a mexer
em seu celular, franzindo o cenho. — Quanto ao outro assunto, o da
segurança...
Ele me olha.
— Está tudo arranjado. Vocês três estão seguros e até o momento
não foi observado nada de estranho — comenta e dá um sorriso. — Você
sabe que depois da ameaça que recebi procurei deixar meus amigos em
segurança, já que essa ameaça se estendeu a vocês.
Eu soube no dia do casamento do William, que Alexander havia
posto seguranças em nosso encalço. Eu achei exagerado da parte dele, mas
não adianta discutir com Alexander que é um cabeça dura. Por outro lado,
nunca percebi estar sendo vigiado, o que prova que seu pessoal é de
primeira qualidade.
Eu me levanto e pego a pasta.
— Nada ainda, da pessoa que te ameaçou? — questiono.
— Está quieto, deve saber que estou de olho, mas uma hora ele vai
dar as caras — aposta. Seu celular volta a vibrar, ele atende — O que foi
dessa vez? — pergunta e espera a resposta, e sei que não gosta do que ouve,
pois solta um grunhido forte. — Caralho! Será que essa moça não tem um
pingo de juízo?
Alexander me surpreende tacando o telefone longe.
Eu arregalo os olhos e olho o aparelho jogado no chão, e viro para o
meu amigo, seja quem for a moça, o está tirando do sério, de verdade.
— Vejo que você tem seus próprios problemas para resolver —
alego e dou um passo para trás. — Alexander, eu posso ajudar em alguma
coisa? Sabe que pode contar comigo, não esqueça que somos como irmãos
— destaco, o encarando.
Meu amigo está muito puto, ele passa a mão por seu cabelo o
deixando bagunçado, anda até o seu telefone e o pega, então me olha.
— Eu agradeço, mas apenas eu posso resolver isso — rosna.
Alexander volta até a sua cadeira e põe o seu paletó. Pega a chave
do seu carro, depois tranca a gaveta, de onde retirou a pasta. Olha em volta
e bate nos bolsos, como se procurasse alguma coisa.
— Você vai embora? — indago.
— Sim — responde, seco e vem em minha direção. — Se eu souber
de algo te mantenho informado — diz.
Saímos juntos do seu escritório e ele mal se despede de mim, entra
no seu carro e sai cantando pneu.
Fico assombrado com seu comportamento. Nós sabemos que
Alexander é um homem arisco e muito controlador, mas não sai do sério
com facilidade. Sempre trata os seus assuntos com a máxima frieza. Por
isso, estou tão perplexo.
Saio da Mansão e o tráfego está mais leve, chego logo em casa.
Abro a porta e diferente dos dias em que vivia sozinho, a sala tem alguns
brinquedos jogados no sofá e tem um cheiro diferente. Eu sorrio, feliz. Pois
agora tem vida neste lar.
Encontro Letícia saindo do quarto da Geovanna, ela me vê e abre
um sorriso.
— Olá! Você chegou — diz e para na minha frente.
Eu seguro sua cintura e beijo seus lábios.
— Sim... — Olho a porta do quanto da minha filha. — Que pena,
não deu tempo de dar um beijo de boa noite na minha pequena.
Letícia mexe na minha gravata, com um sorriso.
— Ela perguntou por você, amanhã é bom que ela te veja assim que
acordar — informa.
Eu beijo sua testa, passo a mão em seus cabelos úmidos. Aperto sua
cintura.
— Senti sua falta — sopro e beijo seu pescoço. Letícia joga a
cabeça para trás. Eu inspiro forte. — Nem me esperou para o banho.
Ela ri.
— Fui dar um banho na Geovanna e ela me molhou toda. Precisei
esperar que ela pegasse no sono, então corri e tomei meu banho. Agora
voltei ao seu quarto apenas para cobri-la — conta.
Sinto-me culpado por deixá-la sozinha, então me afasto e a encaro.
— Eu precisava dar uma passada no Alexander — levanto a pasta
que seguro na outra mão. — Por causa disso.
Ela olha a pasta e ergue a sobrancelha.
— O que é isso?
— Algumas respostas do passado, sobre nossa família — respondo.
Letícia abre a boca, vendo a pasta com olhar assustado.
— Será que tem o motivo da briga?
Eu balanço os ombros.
— Já fiquei ciente de algumas coisas, que Alexander contou, mas
vamos ver esse relatório juntos, quem sabe você possa se lembrar de algo.
Ela acena, devagar.
— Pode ser, mas acho difícil, pois até onde sei essa guerra entre eles
se iniciou muito antes do meu nascimento — declara.
Eu beijo sua cabeça.
— Vou tomar um banho e podemos ver isso após o jantar, enquanto
isso posso contar o que já sei, e que está aí — sugiro e vamos juntos até a
suíte, então entrego a pasta para Letícia.
Ela abre, e como fiz, passa os olhos por algumas das folhas.
— Eu até tenho medo de descobrir — confessa fechando a pasta.
Eu tiro meus sapatos e me dispo ficando apenas com a calça. Olho
para ela que está sentada na beira da cama e olha para a pasta fechada.
— Você sabia que a sua mãe chegou a trabalhar na empresa em que
seu pai era sócio do meu? — pergunto.
Ela me olha, com olhos estreitos.
— Nem sabia que eles foram sócios.
Eu dou uma risada.
— Imaginei, e com certeza não sabe que seu avô, por parte de mãe,
chegou a ser sócio dessa mesma empresa.
Letícia parece assombrada.
— Eu não conheci o meu avô por parte de mãe, eu soube que ele
morreu antes dos meus pais se casarem, minha mãe não comentava muito
sobre o assunto... — fala pensativa.
Eu me aproximo de Letícia e me abaixo, apoio minhas mãos em
seus joelhos, ela me observa.
— Então vamos ver se tem essa informação no relatório, vamos
juntos tentar desvendar esse mistério.
Ela sorri e acaricia meu rosto.
— Sim, nós vamos conseguir. E quem sabe podemos seguir em
frente.
Esse sorriso, tão doce me lembra da Letícia que conheci. Uma moça
meiga e generosa. A mesma que me apaixonei há alguns anos. Mas essa
nova Letícia, que se apresenta arisca em alguns momentos, também é
encantadora. Eu percebo que amo todas as suas nuances.
Eu ergo meu corpo e a beijo, a pegando desprevenida. Seu corpo cai
no colchão e eu aproveito e fico em cima dela. Tomo sua boca com ânsia.
— Eu te amo Letícia, e tenho certeza que vamos seguir em frente —
acentuo em seus lábios.
Letícia passa as unhas por minhas costas e eu esfrego meu pau em
seu centro. Ela solta um gemido abafado.
Minhas mãos deslizam por sua pele, lhe causando arrepios. Não
tenho como esperar, eu preciso dela o quanto antes. Agindo com rapidez
consigo tirar minhas calças, pego o preservativo, então tiro sua calcinha e
de uma só vez entro em sua boceta molhada.
— Oh! — arfa virando a cabeça de um lado para o outro.
Desço uma das minhas mãos e toco seu clitóris. Meu polegar
pressiona e gira, a deixando alucinada. Muito rápido ela chega ao clímax e
eu vou junto. Tomo sua boca e gozo derramando meu prazer em seu sexo.
Caralho! Essa mulher sempre faz isso comigo. Eu nunca consigo
esperar. É só ela me dá um sorriso, que sou um homem perdido. Eu deveria
ter medo disso. Mas na verdade, eu amo.
Eu amo tudo em Letícia!
- 24 -

Letícia Após o jantar, eu e Heitor nos sentamos na sala lado


a lado, lemos juntos o relatório. Descobrimos sobre a sociedade dos nossos

pais e que meu avô, por parte de mãe, obtinha vinte por cento das ações da

empresa. Essa sociedade perdurou por três anos. Entendemos que o negócio

seguia bem e começava a dar lucro, foi quando Santiago Nóbrega Araújo,

avô materno do Heitor, comprou a parte do meu pai e do meu avô.

Minha mãe foi uma das funcionárias e era o braço direito do meu
avô e após a sociedade ser desfeita, ainda trabalhou na empresa por alguns
meses, até que se casou com meu pai. Quanto ao pai do Heitor, ele e sua
mãe casaram-se um pouco antes, no dia seguinte em que a companhia
passava a ser do senhor Santiago.
Depois disso, o relatório que temos em mãos, aponta, de forma
resumida, a trajetória do meu pai, que fez investimentos que deram errados,
porém em alguns momentos, ele conseguia dinheiro de fonte desconhecida.
Acontece que desde o fim da sociedade, meu pai não conseguiu se manter.
Seguindo uma linha do tempo, mostra que Lia nasceu alguns meses
após o casamento.
Eu olho para Heitor, confusa.
— Então minha mãe casou-se grávida do meu pai — comento.
— Com certeza — responde, pensativo.
— Deve ser por isso que ele dizia algumas coisas desagradáveis a
ela — abordo, lembrando-me de como meu pai costumava jogar na cara da
minha mãe como ela foi um mulher fácil.
Heitor balança a cabeça.
— Seu pai então não é muito diferente do meu — diz.
Voltamos a ler tudo, quanto ao pai do Heitor não diz muito coisa.
Afinal ele permaneceu trabalhando como CEO, onde está até hoje. Temos
muito sobre a nossa família.
Meu avô morreu, deixando minha mãe sozinha, algumas semanas
após o desfecho do contrato. Sua morte foi devido a um infarto. Só imagino
como minha mãe sofreu, deve ser por isso que se deixou levar pela
conversa do meu pai.
Quando terminamos de ler, Heitor fecha a pasta e me olha.
— O que você achou de tudo isso? — indaga com olhar moderado.
Vejo a pasta fechada e mordo o lábio, então volto a olhar Heitor.
— Tenho uma teoria — arrisco, e ele me observa com atenção. — O
meu pai vivia dizendo que perdeu dinheiro por causa do Félix, e o meu pai
é um homem ganancioso e materialista, ele se sentiu lesado e deve ter
começado aí a briga dos dois e sua sede de vingança.
Heitor anui e estreita o olhar de maneira pensativa. Ele parece
analisar a minha suposição.
— Você não acha esse motivo muito irrisório, para uma pessoa
perder o tempo todo tentando prejudicar a outra?
Eu balanço a cabeça, negando.
— Para o meu pai, não. Ele é muito ganancioso. Sempre falava do
Félix com muita raiva. Hoje eu percebo que todo esse ódio é inveja. Pois
seu pai progrediu, enquanto o meu...
Heitor dá uma risada.
— Meu pai progrediu por conta da fortuna da minha mãe, Letícia. E
esse relatório deixa isso bem claro — comenta, azedo.
Eu olho para Heitor e passo a mão por seus braços.
— Seja o que for, nesse dossiê mostra que tudo começou por conta
de uma sociedade desfeita, onde meu pai se sentiu injustiçado.
Heitor me encara.
— Pode ser que eu esteja enganado, mas há mais. É alguma coisa
que não está explicitada aqui — fala e aponta para a pasta. — E agora eu
tenho certeza que minha mãe sabe o que é. Mas esconde isso.
Eu deixo escapar um bocejo.
— O que sei é que ler isso me deixou exausta, e a você também. —
Eu me preparo para levantar e pego a mão do Heitor. — Vamos descansar,
quem sabe assim nossa mente fique mais clara.
Ele se levanta do sofá, junto comigo.
— Você está certa — concorda e traz a pasta consigo. — Vou deixar
na gaveta do closet, em outro momento vou ler mais detalhadamente e
quem sabe assim encontrar outra resposta.
Eu sorrio.
— Sim, é melhor.
Antes de irmos para a suíte paramos no quarto da Geovanna e ela
dorme serenamente. Heitor ainda se aproxima dela, inclina o corpo e beija
de leve a sua cabecinha.
Eu observo o seu gesto com o coração radiante, pois eu tenho
certeza que minha filha tem o amor do seu pai.
Na cama eu me aconchego em Heitor, ele me abraça e beija o topo
da minha cabeça. Eu fecho os olhos e suspiro feliz. Apesar de nossas
famílias, estamos tentando estabelecer nossas vidas. E devo admitir, Heitor
tem se mostrado muito transparente, aos poucos minhas duvidas em relação
a ele vão se esvaindo.
Alguns dias se passam, sem que conseguíssemos mais informações,
Heitor pensa em procurar sua mãe, a fim de contar o que descobriu, assim,
quem sabe, ela possa se abrir com ele de uma vez. No entanto, eu sugiro a
ele que aguarde um pouco mais, pois não sabemos de que lado ela está.
Ele concorda e confessa que anda decepcionado com sua mãe, afinal
não é possível que ela se sujeite a tanta coisa e ainda encubra as maldades
do pai, apenas para manter o casamento.
— Minha mãe não tem amor próprio, é isso? — questiona,
contrariado.
Nós estamos no jardim, sentados numa toalha, enquanto observamos
a Geovanna brincar.
— Ela é muito apaixonada por seu pai, Heitor. Você mesmo já falou
isso.
Ele ri.
— Mas ele não é. Está na cara que meu pai a despreza, Letícia.
Nenhuma mulher, com o mínimo de amor próprio, ficaria ao lado de um
homem que a trata mal, se fosse uma mulher mal instruída, eu até
compreenderia, mas não é o caso da minha mãe.
— Eu nunca a vi, você diz que ela é muito bonita — comento,
curiosa em vê-la.
Ele pega o seu telefone e procura por algo, então depois me mostra a
tela.
— Aqui, essa foto foi tirada numa festa beneficente — conta.
Olho com atenção. Sua mãe é uma mulher linda, uma loira muito
elegante e nem de longe parece ser submetida a um casamento fadado ao
fracasso. Ao seu lado tem um homem, que ao contraria dela, que sorri, tem
uma expressão dura.
— Ela é linda — comento e aponto para a imagem ao lado. — Esse
é o seu pai?
Ele acena.
— Repara como ele está, essa fisionomia mal humorada faz parte
dele — reforça o que eu penso.
Heitor passar mais algumas imagens dos seus pais e vejo que ele
tem razão, enquanto sua mãe sorri e parece feliz, seu pai parece estar
passando por uma provação.
Eu olho Geovanna e vejo que está bem enquanto brinca em uma
casinha de bonecas, volto a olhar o telefone do Heitor e eu paraliso diante a
imagem.
— Heitor... — Sinto a garganta secar. Eu seguro seu pulso e não
deixo que passe para a próxima imagem.
Nós nos olhamos e ele percebe meu espanto.
— O que foi Letícia? — questiona, preocupado.
Volto a olhar a imagem no celular e aponto para o homem ao lado de
sua mãe, que sorri de maneira charmosa.
— Quem é esse homem ao lado da sua mãe? — pergunto, hesitante.
Heitor me olha muito sério, pois sabe que algo está errado.
— Esse é o meu irmão, o Pedro Henrique — responde, sem tirar os
olhos de mim. — Você já o viu em algum lugar, o conhece?
Eu aceno, e me sinto nervosa.
— Heitor, esse foi o homem que me ameaçou há três anos —
murmuro.
É explicito como a expressão de Heitor se transforma para ódio.
— Filho da puta! — esbraveja entredentes.
Passo a mão pelo cabelo e olho para Geovanna, tão distraída em sua
brincadeira, ela nem tem noção da nossa tensão.
— Como pode? Ele ameaçou acabar com você Heitor. Não acredito
que faria uma coisa dessas, provavelmente falou para me assustar —
balbucio.
Sinto que Heitor se segura para não explodir.
— Eu vou acabar com ele. Aquele infeliz — fulmina e eu passo a
mão em seu braço.
— Você não vai fazer nada, Heitor, chega de brigas. Por favor, pense
na nossa filha. Se tentar alguma coisa contra o seu irmão, será pior.
Heitor me olha, desnorteado.
— Esse filho da puta ameaçou você, Letícia. Aproveitou que estava
sozinha na rua para intimidá-la. Ele é um covarde.
Tento acalmá-lo.
— Concordo. Mas para que mexer nisso agora? Não vale a pena.
Heitor respira fundo.
— Aposto que foi meu pai. Meu irmão é um asno, não é o tipo que
faz as coisas por vontade própria — supõe.
Geovanna se aproxima e se senta entre nós. Então Heitor controla
sua raiva, pois Geovanna começa a conversar com ele.
Mais tarde voltamos ao assunto e ele diz que não vai fazer nada,
mas que vai deixar o irmão ciente de que sabe de tudo, e ameaçá-lo, caso
ele volte a se aproximar da sua família. Heitor conta que o Pedro Henrique
é mimado e como tem a personalidade fraca é usado pelo pai, assim como
por sua mãe também.
Ele tenta demonstrar que está tudo bem, mas eu vejo o quanto saber
que o irmão foi o homem que me ameaçou no passado, o deixou muito
abalado, pois Heitor se sente decepcionado. Ele sabe que o Pedro Henrique
é simulado. Porém não esperava que ele fosse capaz de descer tão baixo,
tudo por conta da sua ganância.
Heitor tem as mãos cruzadas por detrás da nuca e olha para o teto,
deitado em nossa cama. Eu acaricio seu tórax.
— Não fique assim, se você mesmo disse que seu irmão é uma
pessoa falsa, não poderia esperar que fosse agir com lealdade — aponto.
— Eu sei, mas eu ando decepcionado com todos daquela família,
por incrível que pareça, o meu pai parece o mais sincero. Ao menos ele não
nega ser um homem perverso — desabafa, muito revoltado. Heitor me olha.
— Eu tenho certeza que foi ele o homem que ofereceu dinheiro aos meus
funcionários para me vigiarem.
Recordo o que estava escrito no relatório, e a descrição dada pelos
ex-funcionários do Heitor bate com a aparência de seu irmão.
— Acho que você está certo. — Olho para ele e sorrio. Heitor me
olha com carinho e acaricia meu rosto. — Vamos esquecer o seu irmão ou
qualquer um que nos faça mal.
Ele dá um sorriso.
— Impossível esquecer os culpados que me mantiveram longe de
você. Eu deveria ter sido mais inteligente e percebido a armação. Eu falo do
meu irmão, mas também me deixei ser manipulado, não pelos mesmos
motivos dele, mas por ser um idiota — declara com pesar.
Eu me levanto e me sento em seu quadril, com uma perna de cada
lado do seu corpo. Heitor segura minhas coxas com delicadeza e eu aliso
seu peito.
— Heitor, quanto tempo estivemos juntos, naquela época? Você
lembra?
— Três meses, uma semana e dois dias, só não sei as horas, mas
posso calcular, se quiser — responde sem titubear e me surpreendo com sua
segurança.
Eu sorrio.
— Não imaginei que você soubesse com tanta exatidão — comento
e me sinto exultante.
Heitor me olha com um brilho em seus olhos, é um olhar de afeto; e
posso sentir em minha alma a força do seu sentimento.
— Letícia, eu lembro cada detalhe. Até a roupa que usava no dia
que nos esbarramos. Lembro-me do seu sorriso para mim, e como ficou
tímida quando fui atrás de você e pedi seu telefone. Em nenhum momento
eu pude te esquecer, e olha que tentei bravamente, mas foi impossível —
sussurra e eu fico emocionada.
— Eu já nem sei o que queria falar — confesso e ele ri. Então eu me
inclino, deito-me em seu peito e toco sua boca com a minha, suas mãos
quentes deslizam por minhas costas. — Agora também não interessa, eu só
sei que quero você — sopro e beijo sua boca.
Na mesma hora sinto sua ereção crescer, suas mãos viajam pelo meu
corpo e eu tiro minha calcinha. Passamos horas adorando o corpo um do
outro de todas as formas, e quando finalmente chegamos ao clímax
voltamos a nos beijar e adormecemos um nos braços do outro.
Eu durmo satisfeita e posso sentir meu sorriso.

Dias depois recebo uma mensagem de Lia dizendo que virá me ver a
noite. Acho muito estranho o fato de ela querer aparecer depois de
escurecer, pois com certeza Geovanna estará dormindo e ela não poderá ver
a sobrinha, a não ser que ela durma.
Heitor chega com Geovanna, pois ele foi buscá-la na escola direto
do trabalho, logo conto sobre Lia.
— Ela falou se é alguma coisa importante, ou só vem para uma
visita? — pergunta.
Eu balanço os ombros.
— Ela não falou nada, só enviou a mensagem e disse a hora. Melhor
preparar um quarto para ela? — indago.
Ele deposita um beijo em minha testa.
— Melhor, meu amor. Você sabe como é sua irmã — comenta.
Eu pego Geovanna no colo e a encho de beijos.
— E você garotinha, não sentiu falta da mamãe?
Ela me olha, um pouco sonolenta.
— Não — responde e Heitor cai na gargalhada.
Eu também rio.
— Não podemos dizer que nossa filha é mentirosa — caçoo.
Eu dou um banho nela, enquanto Heitor resolve algum problema do
trabalho em seu escritório. Depois ele retorna e a coloca para dormir
enquanto vou me arrumar para esperar Lia.
Instantes depois, Heitor entra na suíte e tira roupa para tomar banho.
— Falou com Sueli para pôr mais um prato na mesa? — grita do
banheiro.
— Sim, embora a Lia não tenha respondido se nos acompanhará no
jantar.
Escuto o jato de água e olho para o meu telefone. Pela hora Lia
deve estar quase chegando. Assim, aviso Heitor que vou para sala para
receber minha irmã quando chegar.
Antes, passo no quarto da Geovanna, ao ver que ela está bem,
marcho para a sala. Fico olhando o telefone para passar o tempo e a
campainha toca. Eu me levanto do sofá e noto Sueli vindo atender. Então
sorrio, e digo que ela pode deixar que eu atendo.
Ela acena e se afasta.
Eu abro a porta com um sorriso e vejo Lia, então tudo paralisa
quando vejo quem está ao seu lado. O que minha irmã faz com esse homem
aqui na porta de casa?
Sinto como se minha língua ficasse dormente.
— Letícia... — Escuto Lia falar.
Porém tudo fica preto e só sinto meu corpo caindo ao chão. Nada
mais faz sentido.
- 25 -

Heitor Quase tenho um ataque do coração quando vejo

Letícia caída no chão e sua irmã ao seu lado, tentando reanimá-la.

É então que vejo quem também está ali, em minha casa. Fico na
dúvida, entre expulsá-lo ou atender Letícia, que está inconsciente. Meu
coração se aperta em meu peito devido o medo crescente ao vê-la caída.
Assim, eu o ignoro e a pego em meu colo.
Sinto que sou seguido, mas estou tão preocupado e nervoso que não
consigo raciocinar com clareza.
Deito Letícia no sofá e passo a mão em seu rosto pálido.
— Letícia... Você está me assustando — sussurro, olho Lia ao meu
lado, muito preocupada, ela passa mão pela testa e olha a irmã. Então o vejo
atrás dela, parecendo apreensivo. — O que você falou para que ela
desmaiasse? — pergunto com raiva.
— Calma, Heitor! Ele não falou nada — responde Lia.
Meu pai se aproxima, devagar.
— Eu não esperava por isso, eu juro! — Sua voz sai tensa.
Então volto a olhar Letícia, ela começa a se mover e suas pálpebras
tremem.
Seguro seu rosto e o acaricio.
— Letícia, meu amor! Por favor, me responda.
— Heitor... eu — geme e abre os olhos lentamente. Ela olha para
mim e sorri, um pouco de alívio toma meu coração. Então ela olha Lia e vê
meu pai. — Lia? — Como eu, Letícia está confusa.
Sua irmã se abaixa ao meu lado, e segura sua mão.
— Letícia, eu não queria assustá-la dessa maneira — murmura,
sentindo-se aflita. — Perdoe-me, se soubesse teria alertado que não viria
sozinha.
Eu olho para Lia, muito confuso. Então ela veio junto com meu pai?
Viro-me para trás e vejo meu pai com expressão ainda mais aflita que Lia.
— Vocês podem explicar o que está acontecendo? — questiono,
olhando de meu pai para Lia.
Eles dois se olham, Lia baixa o olhar para sua irmã, deitada no sofá,
também desvio para a Letícia, ela tem a testa enrugada e tem o olhar
perdido. Eu passo a ponta dos dedos em sua face.
— Você está bem, minha querida? — indago com a voz macia.
Ela me olha e acena, então se levanta devagar com minha ajuda e a
de sua irmã. Sinto que Letícia está abalada em ver Lia e meu pai juntos.
Pois assim como eu, certamente não sabia que eles se conheciam.
— Eu não queria causar nenhum transtorno e só aceitei vir porque a
Lia insistiu. — Ouço meu pai falar.
Letícia respira fundo, olho para ela, que encara a irmã.
— Lia, você pode explicar o que está acontecendo? Porque você
veio até aqui com ele? — pergunta e não me passa despercebido que Letícia
evita olhar para o meu pai, e sinto que ela está com medo.
Eu dou um aperto em sua mão, e ela me olha. Eu dou um sorriso
fraco.
— Não precisa ficar preocupada, ele não vai fazer nada contra nós
— acentuo em tom de ameaça e miro meu pai.
Ele suspira alto, passa a mão por seus cabelos grisalhos e volta a me
olhar.
— Você pode não acreditar, mas eu nunca fiz nada para prejudicar
você ou a Letícia... não intencionalmente — complementa.
Acomodo-me ao lado da Letícia e dou uma risada, debochada.
— Conta outra pai. Mas confesso que estou curioso para saber o que
pretende, porque se veio aqui para tentar nos separar, fique sabendo que
perdeu seu tempo — esclareço, mantendo Letícia junto de mim.
Lia se afasta e se senta no outro sofá.
— Não é nada disso, ele diz a verdade, ao menos em parte — aponta
Lia.
Letícia observa a irmã com atenção.
— Comece a explicar Lia, porque eu e Heitor estamos perdidos aqui
— pede e finalmente olha em direção ao meu pai. — O que o senhor
pretende usando a minha irmã?
Viro-me para o meu pai, ele dá um sorriso melancólico.
— Eu não estou usando a sua irmã, Letícia.
— Vocês querem a verdade, estamos aqui para esclarecer tudo, e
mesmo que eu esteja correndo perigo, não vou mais ficar calada, deixando
que vocês sofram ou vivam com medo de que alguma coisa vá acontecer a
qualquer momento — expressa-se e vejo meu pai sentando ao seu lado e
acariciando sua mão.
Meu pai olha para mim e para Letícia.
— A verdade é que a Lia é minha filha, e tudo o que fiz até hoje foi
no intuito de protegê-la, inclusive deixar que outro homem a criasse em
meu lugar — confessa.
— O que? — pergunta Letícia.
— A Lia é minha irmã? — questiono, assombrado com o que ele
acaba dizer.
— Sim, Lia é sua irmã e também da Letícia — conta.
Olho para Letícia ao meu lado e ela olha os dois de boca aberta.
— Lia? Você sempre soube disso? — pergunta Letícia.
Lia sorri sem vontade e acena.
— Soube alguns meses antes da nossa mãe morrer, ela decidiu
contar a verdade, pois sentia que algo poderia acontecer — fala e seus olhos
se enchem de lágrimas. — Nossa mãe sofreu muito por conta disso, ela
contou que até tentou ter uma vida normal com o papai, ou melhor, com o
Ricardo, mas que foi impossível.
Minha cabeça dá voltas e surgem muitas perguntas. São tantas
questões que não sei por onde começar.
— Por isso a briga entre o Félix e o meu pai? E ele sabe que você
não é sua filha?
Meu pai olha de mim para Letícia, com tristeza.
— Vou contar tudo para vocês, assim poderão entender — diz.
— E a minha mãe? Ela sabe? — inquiro, me sentindo muito
confuso.
Lia então me olha, com pesar.
— Sinto informar, Heitor, mas a Donana é a verdadeira peste dessa
história — assinala Lia com rancor.
Sinto meu coração bater na garganta, porém noto que Letícia segura
a minha mão com força, é como se ela soubesse o que estar por vir.
— Então contem de uma vez — peço com a garganta seca.
Meu pai acena.
— Eu e Ricardo já fomos grandes amigos, morávamos no mesmo
condomínio, nossos pais se davam muito bem, mesmo o Ricardo sendo
muito ambicioso eu via esse lado dele como muito promissor — começa a
contar meu pai com o olhar perdido, como se visse diante de si as imagens
do seu passado. — Nós iniciamos um negócio, bastante lucrativo, porém
não tínhamos muita experiência, assim um amigo do meu pai quis investir
na empresa e entrou com parte da sociedade, foi muito bom.
Eu e Letícia nos olhamos, pois o que conta bate exatamente com o
que descobrimos no relatório do detetive.
— Esse homem que os ajudou era o pai da mamãe — completa Lia
confirmando o que já suspeitávamos.
— Foi então que conheci Adriana. — Meu pai diz seu nome e sorri,
me dou conta de que nunca o vi desta maneira. — Ela era a mulher mais
linda que conheci, me apaixonei por ela a primeira vista. No entanto, o
Ricardo viu nela uma forma de se dar melhor na vida. Ele fez da nossa vida
um inferno, ele armou para nos separar e quando fui tomar satisfação, afinal
era meu amigo, ele contou que Adriana estava jogando com nós dois.
— Minha mãe não faria isso — sussurra Letícia ao meu lado.
Meu pai a encara, então dá outro sorriso.
— Jamais, depois eu percebi que Adriana nunca faria isso.
— E minha mãe? Onde entra nessa história? — pergunto, pois estou
incomodado com o que Lia disse.
— O Ricardo queria me tirar da sociedade, eu não sabia desse fato.
Então, um dia ele disse que pensava em abrir outro tipo de negócio e
gostaria de vender a parte dele, foi então que apareceu em nossas vidas o
grande empresário Santiago Nóbrega Araújo.
— O pai da minha mãe — balbucio.
Meu pai balança a cabeça.
— Ele veio como rolo compressor e confesso que me senti atraído
por tudo o que nos oferecia, ele era um tubarão nos negócios e tinha o dom
de convencer qualquer um, não é a toa que ficou tão rico — conta, e parece
envergonhado. — Eu me envaideci, afinal ele dizia que como não tinha
nenhum filho homem, via em mim um vencedor, o único que poderia levar
adiante o seu negócio. Isso deixou Ricardo muito revoltado, e nós já não
tínhamos a mesma amizade de antes.
— Meu avô o induziu a casar-se com a mamãe? — questiono.
Ele nega, num gesto de cabeça.
— Donana começou a aparecer na empresa, ela era a filhinha do
papai, tudo, exatamente tudo o que ela queria ela conseguia, sempre muito
mimada e má, não se importava com nada ou ninguém. Tinha cara de anjo,
mas... — Ele respira fundo e passa os dedos entre os seus cabelos. — Ela é
capaz de tudo para ter seu mundo perfeito, tudo mesmo. — Sua voz sai
baixa.
— Inclusive matar, pois nada me tira da cabeça que foi ela... — Lia
começa e meu pai toca a sua mão, para que ela pare. Ela olha para ele, com
raiva. — Você vai a proteger? Pare com esse medo, por isso ela faz o que
faz, e manipula a todos a sua volta. Essa mulher tem que parar.
Eu me levanto nervoso, Letícia tenta segurar minha mão, mas não
consegue.
— Minha mãe não mataria uma mosca, ela é totalmente dominada
por esse homem — esbravejo apontando o dedo para o meu pai.
Lia se levanta e coloca a mão na cintura.
— Vê se enxerga, Heitor! Ela sim o domina. A Donana é uma
psicopata. Sei que ela é sua mãe e te enganou todo esse tempo se fazendo
de coitada, mas foi por causa dela que a minha mãe sofreu a vida toda nas
mãos daquele infeliz — declara com voz alterada.
Eu sacudo a cabeça e passo a mão na testa, sinto Letícia ao meu
lado. Ela toca em meu braço.
— Calma, Heitor. Por favor! — pede com a voz suave.
Eu olho para ela, e vejo seus olhos apavorados. Então respiro fundo
e balanço a cabeça.
Eu volto a me sentar junto com Letícia. E deixo que meu pai
continue.
— Donana sempre foi uma mulher linda, confesso que cheguei a me
interessar, mas eu era apaixonado por Adriana e começávamos a nos
entender novamente. A sociedade ainda não estava finalizada e pensava em
vender a minha parte também, para casar com Adriana. Foi aí que começou
o meu inferno — lamenta com voz angustiada. — Meu pai foi parar no
hospital, necessitava de uma cirurgia urgente, nós tínhamos dinheiro, mas
não tanto para arcar com uma despesa tão grande, assim Santiago se
aproximou e ofereceu arcar com tudo, disse que eu poderia pagar depois, e
eu, acreditando nele, assinei umas promissórias, as quais ele alegou que
nem usaria, pois seria apenas para apresentar ao seu contador.
Meu pai conta tudo e parece cansado, agora percebo um lado seu
que nunca havia prestado atenção, porém é muito difícil acreditar que a
minha mãe tenha alguma culpa em toda essa história.
Letícia afaga meu braço e olho para ela.
— Você quer que eu peça a Sueli para trazer água? — pergunta
baixinho.
— Não, eu quero que ele chegue ao fim — falo e volto a olhar para
frente.
Lia agora está um pouco distante do meu pai, ela olha para baixo, e
sua fisionomia é tensa.
Meu pai ainda está absorto nas recordações, então peço que
continue.
— Algum tempo depois, Santiago veio com a bomba, eu o devia
uma fortuna, e ele disse que sua filha gostava muito de mim e pediu que
não fizesse nada contra mim, pois estava apaixonada, e mentiu, ao dizer que
estávamos nos encontrando às escondidas. Santiago me ameaçou, exigiu
que eu casasse com Donana, mas eu me neguei.
— Mas o senhor casou com ela, no final das contas — comento.
Ele dá uma risada.
— Donana veio falar comigo, e ela revelou que Ricardo havia
contado a ela sobre mim e Adriana, e perguntou se era por isso que eu
recusei a proposta feita por seu pai. Eu falei a verdade e declarei que amava
Adriana e que sim, ela era uma das razões. — Meu pai me olha, hesitante,
ele inspira e solta o ar pela boca. — Depois disso, Santiago me mandou um
aviso: Ou eu aceitava casar com Donana, ou Adriana e seu pai sofreriam as
consequências. No dia seguinte, perto da casa onde morava Adriana e o seu
pai, um homem, um inocente, apareceu morto. Um tiro. Não foi assalto.
— O que isso quer dizer? — Desta vez é Letícia que pergunta, num
fio de voz.
Meu pai a encara.
— Donana, apareceu na minha sala, sentou-se na cadeira com
elegância e me olhou com um sorriso, então falou, que o vizinho foi um
aviso do que poderia acontecer com Adriana. Depois disso, saiu da minha
sala, como se nada tivesse acontecido.
Meu coração se aperta pareço estar sufocado.
— A minha mãe... ela...
Ele acena.
— Não para por aí, ela começou a perseguir Adriana que sofreu
vários sustos. Ameacei ir à polícia, mas eles eram poderosos. Chantagearam
o pai da Adriana, armaram contra ele. Então por fim aceitei casar com sua
mãe. Eles perceberam que Adriana era meu ponto fraco.
Lia, então deixa escapar um riso.
— Porém, mesmo assim no dia do casamento ele e minha não
resistiram, foi então que fui concebida — conta.
— Finalmente eles compraram a parte do Ricardo e o João Costa,
pai da Adriana vendeu sua parte também. Um dia após assinatura de tudo,
eu me casei com Donana. Mas ela era tão ruim, que manteve Adriana por
alguns meses na empresa, ou poderia multar seu pai.
Agora faz sentido o que havia no relatório, tudo o que meu pai conta
bate com as informações e as lacunas em branco são preenchidas.
— Então mamãe se casou com Ricardo grávida do senhor... —
Letícia diz, reflexiva.
— Sim, mas eu soube disso alguns anos depois. No entanto, Donana
sabia, ela induziu o Ricardo a casar com Adriana e assumir a Lia. Ou
melhor, deu um bom dinheiro a ele, que foi esperto, e se aproveitou da
morte do João Costa e se aproximou.
Olho Letícia e vejo as lágrimas escorrerem por seus olhos, me bate
um medo, afinal minha mãe foi o pivô da infelicidade de sua mãe.
Eu toco os seus cabelos, ela me olha e tenta sorrir.
— Tudo bem? — pergunto e ela acena devagar.
— Ainda tem mais — Lia acentua e nós olhamos para ela. —
Mamãe havia tomado coragem de se separar do Ricardo, afinal estávamos
crescidos. Ela planejou tudo, mas ele descobriu e no dia que iria ver uma
casa em outra cidade aconteceu o acidente, e eu tenho certeza que tanto
Donana, como Ricardo têm culpa.
— Mas nada foi provado, eu até tentei ajudar sem levantar suspeitas,
porém não encontrei nada — completa meu pai.
Letícia se levanta e põe as mãos na cintura.
— E eu e Heitor? O que temos a ver com tudo isso?
Faço como Letícia e me levanto, ficando ao seu lado.
— O senhor me mostrou o e-mail, o senhor sempre falou mal do
Ricardo, o quanto o odiava. Enquanto a minha mãe só lamentava e ficava te
defendendo.
Meu pai me encara,
— A Donana me obrigou, eu perdi o rumo da minha vida quando
essa mulher apareceu. Depois que soube da morte da Adriana eu surtei, pois
eu sabia que ela tinha alguma coisa com isso. Então ela ameaçou matar a
Lia, a minha filha. Uma parte minha e da Adriana. Eu vivi um inferno por
mais de 30 anos, e você tinha razão quando dizia que eu parecia não gostar
da sua mãe. É porque é verdade, eu odeio aquela mulher. E a única coisa de
bom que saiu do nosso casamento foi você, porque a Amanda e o Pedro não
são meus — desabafa.
Eu dou um passo para trás.
— Vai dizer que eles são do Ricardo? — pergunto, assombrado.
Meu pai ri.
— Não, não são. É de um amante que ela teve no passado; eu torcia
para que o homem aparecesse e a levasse, mas ele desapareceu — lamenta e
se joga no sofá. — Eu sou fraco, ainda bem que você não é como eu. Eu
deveria ter lutado mais, feito alguma coisa, mas eu não fiz. A verdade é,
depois que soube que Adriana havia casado com Ricardo, senti que minha
vida era uma merda. Eu não reagi. Simples assim.
Ficamos todos em silêncio com a sua declaração e agora entendo
sua melancolia de sempre.
— O senhor não tinha muito o que fazer, sabemos que a família da
Donana é poderosa — Lia comenta.
Meu pai volta a olhar para mim e para Letícia.
— A Donana odeia saber que vocês estão juntos, ela não aceita o
fato do filho ter se apaixonado pela filha da Adriana. Ela tem uma fixação
pela Adriana que só pode ser doença. Em sua cabeça a Adriana queria tudo
o que era dela, ela se ressente, eu nunca escondi dela os meus sentimentos.
Acho que terminei por alimentar o ódio dela pela família — alerta.
— Por isso eu quis contar a verdade, pois tenho quase certeza de
que ela e Ricardo estão tramando, pois eu o vi perto da casa do Leandro. E
desta vez não podemos deixar que ela vença — Lia adverte.
Eu não sei o que pensar. A mulher que eu confiei a vida toda, que eu
tinha pena, afinal a via como uma mulher sofredora e generosa, é na
verdade uma mulher vil. Sinto meu coração despedaçar. Pois é uma grande
decepção.
Eu respiro fundo e aperto as mãos em punhos.
— De uma coisa tenho certeza, eles não vão nos separar...
Letícia me abraça e meu corpo, antes tenso se acalma com sua
proximidade, pois nem saber tudo o que minha mãe fez a afasta de mim.
— Isso mesmo. Desta vez estamos mais fortes — complementa.
Lia sorri e até meu pai esboça um sorriso.
— Vocês podem contar conosco. Eles não sabem que nós sabemos a
verdade, então é melhor continuar assim.
Meu pai se levanta.
— Eu vou tentar, mais uma vez, encontrar alguma prova, mas
Donana é esperta — comenta.
— Ela não sabe que vocês se falam? — Letícia pergunta.
Lia sorri.
— Não — responde balançando os ombros. — E temos nos falado
desde a morte da mamãe. Foi ele que me orientou a viajar, até que Donana
me esquecesse por um tempo.
— Nem sei o que pensar de tudo isso — resmunga Letícia.
— Na verdade ainda estou processando tudo — declaro.
Meu pai se aproxima, eu tenho minhas reservas, mesmo sabendo a
verdade, não posso dizer que confio nele, afinal por todo esse tempo ele
preferiu se esconder a contar a verdade.
Ele percebe minha relutância e fica sem graça.
— Eu agi muito errado com você, meu filho. Doía muito toda vez
que me olhava com mágoa e raiva. Afinal sempre pensou que eu era um
cretino, mas eu fiz o que fiz para proteger a minha filha, tinha muito medo
do que Donana pudesse fazer.
Olho para Lia, ela me observa com braços cruzados, então me volto
para o meu pai, ou melhor, o nosso pai.
— Eu não vou mentir e dizer que está tudo bem. Pois o senhor
protegeu um filho em prol da infelicidade do outro. Vai ser muito difícil
esquecer, porque sua escolha, de alguma maneira interferiu para que eu não
conhecesse a minha filha antes e ficasse longe da mulher que amo.
Ele baixa o olhar e noto a aproximação da Lia.
— Quando eu fui embora, você não existia na vida da Letícia, a
verdade é que soube tem muito pouco tempo que você era o homem que a
fez sofrer e tudo o que existia por detrás dessa história — começa e olha
para Letícia, emocionada. — O Félix, quer dizer, o meu pai, não contou
nada para mim nas poucas vezes que nos falávamos quando eu estava fora.
— Se eu contasse, eu sabia que daria um jeito de voltar, como fez
assim que descobriu — argumenta.
Letícia olha para Lia.
— Então, por isso você voltou?
Ela acena e sorri.
— Sim, eu precisava que vocês soubessem a verdade.
Eu sacudo a cabeça.
— Se fosse pelo senhor, pai. Tudo ficaria na mesma — declaro com
mágoa.
— Eu pretendia contar tudo, mas precisava da certeza de que
ninguém sairia ferido, até mesmo você, ou pior a minha neta — alega.
— A mãe do Heitor faria algo contra o próprio filho? Ou a neta? —
Letícia indaga, assustada.
Meu pai olha para ela e depois para mim.
— Eu prefiro não arriscar, pois acredito que Donana, provocou a
morte do próprio pai, só porque ele concordou comigo, quando disse que
queria me separar dela — conta.
Jesus! Se o que meu pai diz é verdade, a Lia está certa, minha mãe é
uma psicopata doente.
— Ela não ama o nosso pai, Heitor. Essa mulher tem obsessão por
ele — finaliza Lia.
Meu pai conta o inferno que viveu. De como o Pedro Henrique é
comandado por ela para vigiar seus passos. Diz que minha mãe não se
conforma com minha atitude, e agora culpa a Letícia por separar a sua
família perfeita. Fico estarrecido ao descobrir que meu irmão sabe da
verdade, de que não é filho do meu pai, e nem se importa. Quanto a
Amanda, ela nunca foi uma pessoa apegada, e por isso decidiu ir para
longe.
Minha mãe, na realidade quer mostrar que tem uma família de capa
de revista, porém o que enxergo é exatamente o contrário. Em seu
casamento não há amor, companheirismo e muito menos lealdade. E eu não
sei como alguém suporta viver assim.
Isso é muito triste.
E eu, apesar de tudo o que aconteceu, tenho sorte, afinal estou
corrigindo meus erros do passado, e diferente do meu pai, lutarei para ficar
ao lado da mulher que eu amo e escolhi para mim.
- 26 -

Letícia
Faz algumas horas que Lia e Félix partiram. Já é tarde da noite e
ainda estou assombrada com as revelações. Todo esse tempo nós estávamos
enganados. Pensamos que o Félix era um grande trapaceiro, quando na
verdade Donana, a mãe que Heitor tanto defendia estava por trás de tudo de
ruim que aconteceu em nossas famílias. Ela é uma mulher ardilosa.
Heitor, não diz nada, mas sei que está sofrendo, pois acreditava que
sua mãe sofria nas mãos do seu pai. Eu não entendo como alguém consegue
enganar a todos, por tanto tempo e com tanta facilidade. Até eu, que nunca
a vi, ou conheci, sentia pena dela, pois imaginava que era como a minha
mãe, uma mulher que teve ao seu lado um homem que não a valorizava e a
maltratava.
Eu saio do banho e não vejo Heitor no quarto, pego o pequeno
monitor da babá eletrônica e saio à sua procura. Passo no quarto da
Geovanna, minha filha dorme serenamente, volto a fechar sua porta e
atravesso o corredor até a sala, que está vazia, porém noto a porta de vidro
que dá para o jardim aberta.
Com passos lentos caminho até a varanda e vejo Heitor sentado na
cadeira, ele olha para frente e seus braços estão cruzados. Ele está tão
absorto que nem sente minha presença.
Penso em deixá-lo sozinho, porém não posso. Eu sei que ele precisa
de mim.
Eu me aproximo e paro ao seu lado, finalmente percebe que estou
ali e olha para cima. Sua expressão de tristeza faz meu coração se apertar.
Eu coloco o monitor em cima da mesa e me ajoelho ao seu lado, pondo
minhas mãos em sua coxa.
— Heitor! Não fique assim... — sussurro.
Ele não se move e continua com o olhar perdido.
— Como não ficar Letícia? Essa mulher é calculista, fria e me
enganou por uma vida inteira. E eu babaca, a defendia — explode e dá uma
risada seca, cheia de mágoa. — Eu cheguei a chamá-la para morar comigo,
sempre a julguei uma mulher injustiçada, e agora descubro suas armações,
falcatruas... Eu sou muito idiota, essa é a verdade.
Eu ergo a minha mão e passo em seu rosto.
— Não diga isso, Heitor. Você não é idiota, qualquer filho tem
confiança cega em sua mãe — acentuo e ele me olha. Vê o seu sofrimento
me deixa incomodada. Eu dou um sorriso. — Eu sei que a decepção dói,
mas ao menos temos a verdade.
Ele apoia os cotovelos em seus joelhos e entrelaça os dedos por
detrás da sua nuca. Aproveito e passo minha mão por seus cabelos.
— O que me dói é que ela viu como fiquei quando afastei você. A
minha mãe, era a pessoa que mais confiava, e por sua causa eu tomei a
decisão de arrancar você da minha vida, Letícia. Eu sou um fraco, assim
como o meu pai — murmura.
Eu me movo e fico em sua frente.
— Heitor, por favor, olhe para mim — peço. Ele levanta a cabeça,
então pego suas mãos e seguro com força, seus olhos aflitos se encontram
com os meus. — Você não é fraco, e nem de perto é como seu pai.
Ele me encara e admira meu rosto.
— Ao primeiro obstáculo eu terminei tudo com você, fui egoísta,
pensei somente em mim e no meu orgulho ferido. Em nenhum momento te
dei a chance de falar. Eu não vi você grávida, não vi minha filha nascer e
tudo porque fui cego e idiota — exprime, sua voz soa estremecida. — Eu
permiti que ela me enganasse, Letícia. Eu deveria ter sido mais esperto.
Eu respiro fundo e olho para ele com pesar.
— Não tinha como você saber, e além disso, nós nos conhecíamos
havia pouco tempo, como poderia ter certeza de que eu era confiável?
Ainda mais sendo filha do Ricardo — complemento e forço um sorriso.
Heitor tem os olhos fixos nos meus, enxergo o quanto está
angustiado. Então ele ergue a mão e toca a minha bochecha com carinho, eu
viro a cabeça e deposito em beijo em sua palma.
— Você deveria está com ódio de mim, ainda mais agora, ao
descobrir que minha mãe pode ser a culpada pela morte da sua, e também
por ter sido ela a grande responsável por nossa separação — declara e dá
um sorriso triste. — Minha mãe fez o que fez, porém ela nunca conseguiu
que te esquecesse, e embora eu não soubesse, eu sempre amei você, Letícia.
Então ela não foi vitoriosa em tudo.
Eu sorrio.
— Na verdade ela não foi vitoriosa em nada, Heitor. Donana
conseguiu que ficássemos separados por um longo tempo. No entanto, ela
não é capaz de controlar o destino, afinal estamos juntos novamente e
acredito que mais fortes — confesso, sentindo meu coração bater com
força. — Quanto a ela ser culpada pelo acidente que matou a minha mãe...
bem, isso também não é culpa sua, assim como não sou culpada pelas
maldades do meu pai.
Ele se levanta da cadeira me puxando junto ao seu corpo, ficamos de
pé, um em frente ao outro, então ele me abraça e sinto o seu calor se refletir
em minha pele.
Heitor beija minha cabeça e acaricia meus cabelos.
— Eu não mereço você, Letícia... — sussurra me apertando em seus
braços. — Mas eu te amo tanto... e mesmo não te merecendo, eu vou fazer
de tudo para tê-la, porque só você e a Geovanna são capazes de me trazer
felicidade. Eu sei que já falei isso, e volto a repetir: eu me arrependo de
tudo o que falei no passado, e te peço perdão por ter sido cruel e imbecil.
Por favor, me perdoe! — pede com a voz abafada, pois seus lábios estão
colados perto da minha orelha.
Eu sinto um arrepio permear meu corpo, meu coração, exultante,
bate com força devido à emoção. Eu posso perceber a tensão do Heitor,
noto o seu sofrimento e sei que está sendo sincero. Para mim não resta
nenhuma dúvida. Eu posso confiar nele.
Assim, me afasto e nos encaramos, minhas mãos pousam em seu
peito, e sinto que meus olhos se enchem de lágrimas.
— Quando eu partir do seu apartamento naquela tarde, eu jurei para
mim mesma que iria esquecê-lo, foi uma promessa em vão — confesso
dando uma risada em meio ao choro. — Depois jurei que jamais o
perdoaria, por muito tempo alimentei uma grande mágoa de você, mas
todas às vezes que eu olhava Geovanna, de alguma maneira eu me sentia
feliz, e mesmo sem saber, você havia me dado o melhor presente de todos.
Heitor passa o dedo em meu rosto, tentando secar minhas lágrimas.
Ele dá um sorriso lindo.
— Geovanna é o nosso milagre — emenda.
Eu fungo e aceno.
— Sim, ela é — respondo, então dou um suspiro. — Acontece que
eu nunca fui capaz de te esquecer, e mesmo que quisesse, havia Geovanna
para me lembrar. Confesso que pensava em você todos os dias, pois o amor
que nutria por você, mesmo com tudo o que aconteceu, não se findou. E
agora, sinto que te amo ainda mais Heitor, e em meu coração eu já te
perdoei há muito tempo — finalizo.
Ele envolve meu rosto em suas mãos e inclina a cabeça, encosta sua
testa na minha e inspira com energia.
— Eu te amo, Letícia — sussurra e sinto o seu hálito quente tocar
minha face. — Eu serei o homem digno de você, e o pai que a Geovanna
merece. Não tem como voltar ao passado, mas temos como fazer um novo
começo, e eu vou fazer valer a pena o seu perdão.
Uma das suas mãos desce até a minha cintura, enquanto a outra me
segura pela nuca, então Heitor toma meu lábios e me beija, não é um beijo
faminto, mas um beijo suave, porém intenso e envolvente.
Ele me pega em seu colo e afasta os lábios, ainda noto uma ponta de
tristeza em seu olhar, porém também vejo refletido o seu amor. Ele dá um
beijo carinhoso em minha testa, então se inclina um pouco e percebo que
pega o monitor da babá eletrônica, eu sorrio, pois nada faz com que se
esqueça do cuidado que tem com a nossa filha.
Heitor caminha devagar para dentro de casa e eu me seguro em seu
pescoço.
— Aonde vamos? — pergunto e beijo seu pescoço.
Sinto seu aperto e noto seus pelos eriçarem.
— Só tem uma coisa que pode curar essa angustia que sinto no peito
— murmura caminhando comigo em seus braços. — Você...
Ele entra na suíte, fecha a porta e me leva até a cama. Devagar me
põe no chão e tira o meu vestido, me deixando apenas de calcinha.
Heitor se ajoelha em minha frente e me abraça, então encosta a
cabeça no meu estomago. Eu acaricio seus cabelos, olho para baixo e sorrio.
— Ah, Heitor... se você soubesse como eu te amo! — comento com
a voz baixa.
Ele olha para cima com olhos radiantes.
— O seu amor, é com toda certeza a melhor coisa que já me
aconteceu na vida, assim como ser o pai da Geovanna — confessa.
Suas mãos seguram o elástico da minha calcinha, e ele desliza a
mesma por minhas pernas. Heitor olha para o meu sexo, e sorri, então me
segura nas nádegas e passa a língua em minha intimidade.
Eu seguro seus cabelos e cravo as unhas em seu coro cabeludo.
— Ah, Heitor! — murmuro quase sem ar.
Ele me empurra levemente e me sento na beirada do colchão, abre
minhas pernas me deixando completamente exposta, então aproxima a boca
e sua língua desliza por meus lábios vaginais. Eu solto um grito abafado,
pois sua língua e boca atiçam minha excitação.
Heitor lambe e chupa meu sexo, o prazer de sentir suas carícias
íntimas faz minha pele toda ficar arrepiada, e onde sua boca toca sinto um
formigamento inebriante. Sua língua brinca em meu clitóris, então ele move
uma das mãos e enfia um dedo em meu canal. Eu enlouqueço e aperto
minhas coxas ao seu redor me esfregando ainda mais nele.
Sua boca me devora, sua língua me extasia e seu dedo entrando e
saindo da minha vagina faz com que eu perca noção de tudo ao redor.
Minha respiração acelera, e meu coração bate de maneira frenética. É
quando Heitor pressiona meu clitóris com a língua e não consigo segurar o
prazer que explode e eu gozo em sua boca.
Meu corpo fica dormente e eu caio de costas no colchão. Ele tira seu
dedo de dentro de mim, beija minha coxa e se levanta.
Eu abro os olhos e o vejo tirando sua roupa, com os olhos grudados
em mim. Eu me arrasto para o meio da cama. Ele coloca a camisinha e sobe
no colchão, ficando entre minhas pernas. Sua mão envolve seu pênis duro e
seus olhos estreitos de desejo me olham com fome.
Heitor deita o seu corpo sobre o meu. Eu dobro os joelhos e finco os
pés no colchão, ele desce sua boca e toma meu seio entre seus lábios,
enquanto eu cravo os dedos no lençol que forra a cama.
Sua língua brinca com o bico do meu seio para depois abocanhá-lo,
ele sobe os lábios e beija minha boca, então sinto sua invasão. Heitor
empurra sua ereção em meu sexo e me toma em um só golpe.
Ele morde meus lábios e sinto sua respiração oscilar.
— Eu te amo... E amo estar dentro dessa boceta — rosna, se
movendo em meu núcleo. — Isso que sinto... ninguém pode me tirar,
porque o meu amor por você é mais forte que tudo — sopra, quase sem ar.
Elevo meus braços e os envolvo em sua volta.
— Eu também te amo, Heitor! Nunca deixei de amar — declaro,
ofegante.
Ele volta a me beijar com violência e move o quadril com força,
empurrando com energia em movimentos curtos e rápidos, sinto que mais
uma vez vou chegar ao clímax, assim eu envolvo minhas pernas em sua
cintura. Heitor mete com mais veemência. Ele arfa em minha boca e seu
pênis pulsa dentro de mim e eu gozo com intensidade.
Ainda ofegante ele sai de cima de mim e ambos estamos quase sem
ar. Aos poucos meu corpo relaxa e dou um suspiro. Heitor me puxa de
modo que fico grudada ao seu corpo. Ele se inclina e beija meus lábios com
leveza.
— Eu te amo, Letícia. E é esse amor que me mantém equilibrado —
confessa com a voz rouca e baixa.
Eu fecho os olhos e sorrio.
— Eu também te amo... — sussurro.
Eu adormeço com a certeza de que tudo, aos poucos vai se encaixar.

Alguns dias se passam e Heitor fica mais conformado, porém não


esconde a sua decepção. Ele diz que sua mãe ainda não sabe de nada, pois
seu pai, no dia que nos contou tudo, sugeriu que ele, ao menos por
enquanto, não revelasse nada.
Evidente que estamos tensos, não temos certeza se ela planeja algo,
afinal foi confirmado pelo Félix que Donana não aceita de forma alguma a
minha relação com Heitor.
Termino de arrumar Geovanna para levá-la para creche e sigo com
ela para a cozinha, Heitor já toma seu café, pois precisa participar de uma
reunião logo cedo.
— Bom dia! — exclama assim que vê Geovanna.
— Oi, papai! Tô “rumada” — diz Geovanna para ele, que ri.
— E está muito linda, com esse uniforme — elogia.
Nós tomamos nosso café e Heitor diz que deixará Geovanna, assim
posso me aprontar com mais calma, pois irei levar alguns documentos na
faculdade agora pela manhã, afinal pretendo retomar meu curso de onde
parei.
Vou com eles até o carro e ajudo a arrumar Geovanna na cadeirinha.
Dou um beijo em seu rosto e fecho a porta. Então olho para Heitor, muito
bem vestido usando um terno preto e gravata azul.
— Que dê tudo certo na reunião — falo e mexo em sua gravata.
Ele aperta minha cintura e dá um leve beijo em minha boca.
— Sorte na faculdade, se eles encrencarem com alguma coisa me
fale — pede e antes de sair me beija mais uma vez.
Vejo o seu carro se afastar com um sorriso satisfeito. Volto para
dentro de casa e Sueli pergunta sobre o jantar. Desde que estou morando
aqui ela se reporta a mim, no início me senti retraída, mas tanto Sueli, assim
como as outras funcionárias, me aceitaram bem e não encontrei resistência
por parte delas.
Decido junto com ela o cardápio da noite e vou para a suíte me
aprontar. Hoje será um grande dia para mim.

Resolvo tudo na faculdade com grande alívio, pois não criaram


nenhuma resistência, terei apenas que fazer uma prova para garantir minha
vaga, mas segundo o coordenador do curso, não é nada difícil, e tem certeza
que vou me sair bem.
Antes de sair do prédio, eu ligo o meu celular, pois o mantive
desligado para não ser interrompida em minha reunião com o coordenador
do curso de psicologia. Volto a guardar o celular e caminho até a saída.
No hall, percebo alguns estudantes conversando, eu sorrio com a
perspectiva do que me aguarda no futuro.
Passo pela porta de saída e devido o mau tempo não há muitas
pessoas na rua. Começo a descer as escadas e penso em chamar um táxi
quando escuto meu nome, a voz me dá arrepios. Eu me viro e aperto a alça
da minha bolsa. Faz mais de três anos que não o vejo, e estar diante dele
ainda me causa medo.
— Letícia... Você é uma pessoa difícil de encontrar. — A voz do
meu pai é macia, porém alarmante.
— O que o senhor faz aqui? Como me encontrou? — pergunto,
intrigada. Será que fui seguida?
Ele dá um sorriso.
— Assim que trata seu próprio pai? Depois de todo esse tempo? —
pergunta debochado e põe a mão no coração. — Assim fico ofendido.
Eu respiro fundo.
— O que o senhor quer?
Ele se aproxima e dou um passo para trás.
— Quero apenas conversar com você.
— Não temos nada para conversar, e eu preciso ir embora — friso e
tento me afastar.
Meu pai segura meu pulso, com força. Sinto um medo terrível, pois
ele é o tipo de homem rancoroso, e não gosta de ser contrariado.
— Vai correr para aquele desgraçado? Você não tem vergonha na
cara? Ele está usando você novamente e com certeza pretende tirar a
menina de você, sua idiota — despeja seu veneno e eu tento puxar meu
braço. — Você quer o mesmo destino que a sua mãe? Acha que o Félix vai
aceitar que o filho fique com você?
Meu coração bate forte, olho para os lados e não vejo ninguém por
perto. Parece que todo mundo sumiu.
— Larga o meu braço, o senhor está me machucando — reclamo,
mas ele força o seu aperto.
— Você vai largar aquele homem hoje, e vai sumir de vista, assim
como fez há três anos, mas desta vez não vai voltar mais. Estarei no seu
encalço.
Eu o encaro, com raiva.
— Eu não vou a lugar nenhum, e se ficar nos ameaçando, juro que
vou à polícia — aviso.
Meu pai dá uma risada sinistra.
— A que ponto você chegou. Isso é por causa da boa vida que
aquele desgraçado te dá? Porque se for, isso vai acabar logo. Ele vai te
chutar como fez antes.
Meu telefone toca em minha bolsa, sei que é o Heitor.
— Por favor, o que o senhor quer afinal de contas? — pergunto.
— Quero que suma de uma vez por todas. Não quero você perto
daquela família — esbraveja.
Meu telefone volta a tocar, sei que o Heitor ficará preocupado, mas
não posso atender, pois meu pai ainda segura meu braço.
— O senhor não manda em mim — retruco e seu olhar de raiva me
deixa preocupada.
— Você vai se arrepender por me desacatar, eu vou...
— Senhor! Largue agora mesmo a moça, se não quiser sofrer as
consequências.
Dois homens estão próximos a nós e não sei de onde vieram. Eles
são fortes, e um deles põe a mão no terno e mostra sua arma. Eu fico
apavorada, pois não tenho ideia de quem sejam. Será segurança da
faculdade?
— Essa moça é minha filha...
— Não perguntei nada, eu mandei que a largasse agora! — Sua voz
de comando faz meu pai estremecer.
Ele larga meu braço e olha para todos os lados.
— Quem são vocês? — questiona e noto seu tom de preocupação.
— Não interessa, mas estamos aqui para garantir a segurança da
moça.
Meu pai passa a mão pelo cabelo.
— Não acredito nisso — resmunga.
Eu olho dele para os seguranças, minhas mãos tremem e fico sem
reação. Não sei quem são esses homens, mas eles parecem perigosos. Meu
pai, por outro lado, está atordoado, certamente não esperava por isso.
Um veículo cantando pneu para no meio fio e eu olho. Então
reconheço o carro do Heitor. Ele salta do carro e corre em minha direção.
Assim que chega perto, me abraça, sinto seu coração bater forte.
Ele segura meu rosto e me olha, muito preocupado.
— Você está bem, meu amor? — pergunta e eu apenas aceno,
assustada. Heitor volta a me abraçar apertado. — Jesus! Quando soube que
estava sendo seguida por ele, quase tive um ataque do coração.
Eu abraço o Heitor, nervosa.
— O que está acontecendo aqui? Você sabe quem são esses
homens? — pergunto.
— Depois te explico, meu amor. — Sua voz sai abafada. Então sinto
seu movimento. — O que pretende com isso?
Sei que fala com meu pai.
— Eu queria somente falar com a minha filha — mente.
Eu olho para ele.
— Você veio me ameaçar — aponto.
Heitor solta um grunhido.
— Se pensa que vai se safar está enganado, você é um idiota que
está sendo usado para fazer o serviço sujo. Só que agora é diferente, isso vai
ser resolvido na polícia, temos provas de que vem tentando me prejudicar,
além de suas falcatruas. Acabou para você, Ricardo.
Meu pai arregala os olhos e me lembro do que Leandro costuma
dizer sobre ele ser um covarde, que só late, mas que não tem coragem para
nada.
— Eu não sei do que você fala — alude, mas sua voz sai insegura.
Heitor me olha e deve perceber o quanto estou pálida, então se volta
para os dois homens.
— Podem levá-lo daqui, vocês sabem o que fazer — demanda.
Meu pai dá um passo para trás.
— O que vocês vão fazer? Eu não fiz nada, apenas queria...
— Vamos, senhor. Explique-se com a polícia. — O grandão pega
em seu braço e puxa.
— Polícia? — Pergunta, desta vez o vejo apavorado.
Eu deveria ter pena, mas lembro-me do que esse homem fez a minha
mãe passar. A maneira como escorraçou Leandro de casa; como tratava a
Lia, sempre com ódio. E às vezes que me batia, apenas para mostrar sua
força. Tudo o que ele passar será pouco, e eu não tenho pena dele.
De repente sinto como se fosse perder o ar, minha boca fica seca e
olho para Heitor.
— Vamos sair daqui, por favor...
Heitor no mesmo instante me abraça e me leva até o carro. Com
esforço eu caminho, mas ele me ampara.
— Letícia!? Você está passando mal?
Eu entro no carro e meu coração bate forte, minhas mãos suam e
meus olhos querem fechar.
— Heitor, eu...
— Letícia!
Mais uma vez perco os sentidos, tudo some e deixo meu corpo
relaxar.
- 27 -

Heitor
Antes de entrar para a minha reunião, envio uma mensagem para
Letícia e peço que me mantenha informado sobre a faculdade. Tenho
certeza de que tudo dará certo. Edna se aproxima e me entrega uma planilha
a qual olho superficialmente, enquanto entro na sala de reunião.
Alguns dos meus colaboradores já estão ali e eu os cumprimento.
Sento-me no meu lugar e folheio a planilha, enquanto Edna prepara o
projetor. Meu celular começa a tocar; eu costumava deixá-lo em minha sala
todas às vezes que entrava para uma reunião, porém, por conta da
Geovanna, mantenho o aparelho sempre comigo. Quem tem filho deve ficar
o tempo todo comunicável.
Vejo o nome do Alexander na tela e penso em recusar a chamada, no
entanto, para ele estar me ligando a essa hora, com certeza é um assunto
importante.
Levanto-me da cadeira e saio para o corredor.
— Fala, meu amigo.
— Heitor, acabei de receber a informação de que a Letícia está
sendo seguida pelo pai — indica indo direto ao ponto.
Sinto como se o meu coração falhasse uma batida.
— Porra! O que esse verme, pretende? — indago e faço sinal para
que Edna se aproxime.
— Não sabemos, mas meus homens estão no encalço dele, nesse
momento ele a aguarda do lado de fora de uma faculdade — informa.
Edna se aproxima e eu digo que preciso ir, ela percebe meu
nervosismo e diz que cuidará de tudo, para ficar tranquilo. Ando até o
elevador e aperto o botão com insistência.
— Vou agora mesmo para lá, por favor, não o perca de vista. Esse
homem não tem um pingo de escrúpulos — peço.
O elevador chega.
— Não deixaremos que nada aconteça com ela, e o homem está
ferrado. Se apresentarmos as provas que temos a polícia, ele não vai se dar
nada bem — conta com um sorriso na voz.
Nessas horas eu agradeço por Alexander ser tão poderoso e ter
muitas conexões.
— Esse infeliz tem tentado prejudicar meus negócios, eu deixei
passar, mas se ele fizer alguma coisa com a Letícia, eu juro que o mato —
sentencio e sinto minha mão tremer.
— Não vai precisar sujar suas mãos. Confie em mim. Ele está
acabado. Meu pessoal sabe o que deve fazer, e você mantenha a calma.
Quando chegar lá não faça nada, eu já mexi os pauzinhos aqui — revela,
dando uma risada. Eu aqui me matando de preocupação e ele todo calmo.
— Já orientei os rapazes, sua mulher está protegida.
Uma eternidade depois chego a garagem.
— Qualquer coisa me avise, vou entrar agora no carro — falo e
desligo. Vejo o Tião lendo um jornal e o chamo, pois não sei se conseguirei
conduzir o veículo.
Ele se aproxima e com certeza percebe meu estado, então explico
onde deve me levar.
Pegamos alguns sinais fechados, e isso me irrita, ligo para Letícia e
ela não atende. Ainda bem que chamei o Tião, ou causaria um acidente no
caminho. Tião corre quando pode e sei que em breve receberei algumas
multas, mas não me importo. Chegamos a rua da faculdade e Tião para tão
abruptamente que o meu corpo é jogado para frente, ainda bem que uso o
cinto.
Eu saio do carro e vejo Letícia nos degraus da faculdade, seu pai e
dois homens, que mais parecem um armário, estão parados perto dela. Eu
subo as escadas correndo e quando estou perto dela a tomo em meus braços
e sinto como ela está tensa.
— Você está bem, meu amor? — questiono e ela balança a cabeça.
— Jesus! Quando soube que estava sendo seguida por ele, quase tive um
ataque do coração.
Letícia passa os braços pela minha cintura.
— O que está acontecendo aqui? Você sabe quem são esses
homens? — Ela está confusa e com medo.
— Depois te explico, meu amor — sussurro, então finalmente olho
para Ricardo, ele, embora tente esconder, está aflito. — O que pretende com
isso?
Ele me olha e dá um sorriso, cínico.
— Eu queria somente falar com a minha filha — diz com voz
jocosa.
Letícia se vira para ele.
— Você veio me ameaçar — declara e sua voz está trêmula.
Tenho vontade de esganar esse homem.
— Se pensa que vai se safar está enganado, você é um idiota que
está sendo usado para fazer o serviço sujo — aponto, pois sei que minha
mãe está por detrás disso, mas não posso deixá-lo saber que sei a verdade.
— Só que agora é diferente, isso vai ser resolvido na polícia, temos provas
de que vem tentando me prejudicar, além de suas falcatruas. Acabou para
você, Ricardo.
Ricardo tem uma expressão assustada, ele sabe que está encrencado.
— Eu não sei do que você fala. — Ele olha para os lados e está
visivelmente preocupado.
Olho para Letícia e noto que não está bem, pois parece que vai
desmaiar a qualquer momento. Não vou ficar aqui discutindo com esse filho
da puta. Letícia é minha prioridade.
— Podem levá-lo daqui, vocês sabem o que fazer — digo para os
dois homens, que acenam.
Ricardo vacila e dá um passo para trás, por pouco não cai da escada.
— O que vocês vão fazer? Eu não fiz nada, apenas queria... — tenta
argumentar.
Um dos homens do Alexander pega em seu pulso.
— Vamos, senhor. Explique-se com a polícia — avisa com a voz
grossa.
— Polícia? — indaga num fio de voz e com olhos arregalados.
Letícia puxa o ar pela boca.
— Vamos sair daqui, por favor — pede.
Ela encosta sua cabeça em meu peito, eu a abraço e caminho com
ela.
Tião abre a porta traseira.
— Letícia!? Você está passando mal? — pergunto tocando em sua
testa fria.
Eu a coloco sentada no banco. Letícia joga a cabeça para trás e
fecha os olhos — Heitor, eu...
— Letícia! — chamo e ela não responde. É a segunda vez em menos
de duas semanas que ela desmaia.
Tião fecha a porta e vai correndo para trás do volante.
— Para onde, senhor?
— Leve-nos para o hospital mais próximo, tem um no final desta
rua — indico e abraço Letícia.
Eu nem consigo pensar direito e me sinto angustiado em vê-la
assim. Meu coração parece que vai sair pela boca. Meu celular toca, mas
não tenho como atender, pois seguro Letícia.
Tião para na frente do hospital e sem que eu fale nada corre até a
recepção, em seguida noto a porta do carro se abrir e um homem e uma
moça pegam Letícia e a colocam numa maca. Eu os sigo, apavorado, pois
ela está inconsciente.
Eles entram com ela e pedem que eu aguarde. Eu ando de um lado
para o outro e passo a mão pela testa. Será que ela está doente? Ou é
somente o estresse? Afinal as últimas semanas foram bastante tensas.
Algum tempo depois, a moça que a levou na maca aparece e me
chama. Ela dá um sorriso, o que me tranquiliza um pouco.
— Letícia acordou, se quiser pode me acompanhar e ficar com ela
— informa e eu só consigo acenar e a acompanho. — Depois preciso que
preencha um formulário com os dados dela, pois ela se encontra sem seus
documentos.
— Sim, a sua bolsa está no carro, vou pedir para o motorista trazer
para mim — ressalto.
Entramos num quarto, e vejo Letícia deitada. Ela olha para mim e dá
um sorriso.
— Eu desmaiei de novo — comenta com a voz baixa.
Eu beijo sua testa e fico aliviado em vê-la acordada. Ainda está um
pouco pálida, mas parece bem.
— Como se sente? — indago.
Ela fecha os olhos e respira fundo.
— Estou um pouco sonolenta, fora isso, me sinto bem.
— Sua pressão estava muito baixa quando chegou aqui, porém
agora já está controlada. Colhemos o sangue para alguns exames rápidos e a
médica acredita que logo estará liberada para ir embora — diz a enfermeira
com simpatia.
— Eu tenho tendência a ter pressão baixa — comenta Letícia e ela
me olha, então dá um sorriso. — Eu te assustei.
Eu acaricio sua bochecha.
— Muito, da outra vez que desmaiou voltou logo a si, porém hoje
demorou um pouco mais — avalio.
Outra moça, vestida de branco entra com uma pasta na mão.
— Preciso dos seus dados meu bem — diz para Letícia.
Eu pego o celular.
— Vou pedir para Tião trazer sua bolsa — falo.
Ainda ficamos um tempo por ali e aos poucos Letícia recupera a cor,
e sua fisionomia parece saudável.
A enfermeira nos conduz até a pequena mesa e nos sentamos, então
ela sai e diz que a médica virá falar conosco a fim de nos liberar. Mal ela sai
a doutora chega e noto que segura alguns papeis, aos quais acredito ser o
exame da Letícia.
Ela senta-se de frente para nós e dá um sorriso, então olha para
Letícia.
— Está se sentindo bem? — pergunta.
Letícia acena e sorri.
— Sim, foi um mal estar passageiro. Nesse momento estou ótima —
responde e eu seguro a sua mão.
A médica acena e olha de Letícia para mim, então balança a cabeça.
— Eu tenho alguns resultados aqui comigo. Você não tem nada
grave, pedi que fizesse um exame para investigar se está com anemia, e
tudo está perfeito, os valores da hemoglobina estão normais.
Letícia acena e solta ar pela boca.
— Que bom — diz, sorridente.
— Você é saudável, Letícia. Você nos contou que tem uma filhinha,
não é isso? — pergunta e olha para mim.
— Sim, nossa filha; ela tem quase três anos — respondo em seu
lugar.
A médica sorri.
— Qual o nome dela?
— Geovanna! — eu e Letícia respondemos ao mesmo tempo.
A doutora passa o resultado do exame para Letícia.
— Então parabéns, a família vai crescer — informa.
— O que? — sussurra Letícia.
Meu coração dá um salto em meu peito.
— A Letícia está...?
Ela dá uma risada.
— Sim, ela terá um bebê — diz com tranquilidade.
Eu alargo um sorriso, não poderia receber melhor notícia. Letícia me
dará outro filho, e agora eu tenho a chance de acompanhar tudo desde o
início. A felicidade me invade, e olho para Letícia.
Ela está com a boca aberta, sua expressão de surpresa é nítida.
Finalmente ela me olha, um pouco hesitante. Eu seguro seu rosto e esqueço
que a médica está ali, sendo testemunha das minhas ações.
— Meu amor! Você faz ideia do quanto estou feliz? — Letícia me
observa, emocionada. Eu deposito um beijo em seus lábios. Encosto a
minha testa na sua e inspiro, fechando os olhos. Não consigo controlar o
sorriso. — Eu estou muito feliz e tenho vontade de sair gritando, de tanta
felicidade.
Letícia segura meus pulsos.
— Então você está bem em ter outro filho? — Sinto a insegurança
em sua voz.
— Eu estou radiante, e nada nesse mundo me faria mais feliz do que
ter outro filho com você. Eu sou um homem de muita sorte mesmo —
declaro e beijo seus lábios com delicadeza.
A doutora força uma torce e nós olhamos para ela.
— Vejo que está tudo bem. Vou assinar a sua liberação e procure um
obstetra o mais rápido que puder — aconselha enquanto assina e carimba
um papel. Ela levanta a cabeça e me olha. — Parabéns!
Então se levanta e estende a mão nos dispensando.
Chegamos ao carro e Tião logo abre a porta. Eu sustento um sorriso
bobo, já Letícia está inerte, como se não acreditasse.
Eu seguro sua mão, então ela me olha.
— Como isso foi acontecer? — balbucia.
Eu não seguro a gargalhada.
— Você quer que eu explique em detalhes? — questiono e acaricio
seu rosto.
Ela revira os olhos e suspira.
— Não é isso, mas sempre nos protegemos.
Eu aceno, e não paro de sorri. Quem diria que depois do susto dessa
manhã, eu agora estivesse aqui, assim tão eufórico.
— Em algum momento não nos protegemos. E eu não poderia estar
mais feliz por isso.
Letícia joga a cabeça para trás.
— Deus! Preciso ter muito cuidado com você, ou daqui a dez anos
teremos um time de futebol em casa — adverte, pensativa.
Mais uma vez caio na gargalhada e a ideia me parece bastante
interessante.
Eu olho para Letícia e sorrio.
— Eu te amo e desta vez estarei ao seu lado a todo instante —
declaro e coloco uma mão em sua barriga. — E nós formaremos uma linda
família.
Eu a beijo nos lábios e sinto que Letícia está emocionada.
Eu também estou; e agora, mais do nunca eu tenho certeza que
estamos tendo uma nova chance de fazer um novo começo.
E desta vez nada vai nos separar.
- 28 -

Heitor Letícia se mostra muito feliz com a gravidez e desta


vez tem certeza de que será diferente. Nós contamos para Geovanna que ela

terá um irmãozinho, ou irmãzinha e ela pergunta se vai poder fazer

comidinha para o bebê.

Nossa felicidade é evidente, porém há algumas questões que ainda


precisam ser definidas. Uma delas é a respeito a minha mãe. Ela não me
procurou, nem mesmo depois que Ricardo foi preso. Meu pai chegou a me
ligar e contou que ela andava muito revoltada por Ricardo ser tão idiota e
ter sido pego.
A sua prisão não se deu por conta de sua ameaça a mim ou a Letícia,
mas sim por estar envolvido num esquema de corrupção, onde ele deixou
muitas brechas e não teve como se safar. Tudo explodiu de uma só vez e até
no meio empresarial foi falado sobre o homem o qual ele trabalhava, pois o
mesmo ficou rico dando golpes no mercado.
Muitos já desconfiavam desse empresário, mas era apenas uma
alusão, pois ninguém tinha certeza de nada. Agora com Ricardo fora do
nosso caminho, me sinto mais tranquilo, mas não totalmente e é por isso
que decido falar de uma vez com a minha mãe.
Hoje é o dia do nosso almoço, e fingindo não saber a verdade eu
combino um horário com ela, porém peço que suba ao meu escritório, pois
preciso finalizar um contrato antes de sairmos.
Aviso a Edna que não quero ser interrompido e que não me passe
nenhuma ligação enquanto minha mãe estiver no escritório. Assim eu a
aguardo ansioso, pois preciso virar essa página em minha vida.
Mamãe chega na hora marcada, e com grande esforço permito que
ela me abrace.
— Meu filho, pensei em te procurar, para conhecer minha neta, mas
infelizmente o seu pai anda muito nervoso, e eu não quero mentir para ele.
— Sua voz é tão macia, quem vê não percebe a verdade por detrás da sua
suavidade.
Eu forço um sorriso.
— Mamãe, porque a senhora não o deixa de uma vez? A senhora
nem precisa do dinheiro dele — comento, sem tirar os olhos dela.
Ela olha para baixo demonstrando tristeza.
— Você sabe que eu amo o seu pai, Heitor. Ele é o homem da minha
vida. E embora haja com frieza comigo, eu sei que no fundo ele gosta de
mim, ou ele mesmo teria me deixado — declara.
Eu sacudo a cabeça e peço que ela se sente. Dou a volta em minha
mesa e tomo meu lugar na cadeira. Respiro fundo e finjo olhar alguma coisa
na tela de computador.
— A senhora soube que o Ricardo foi preso? — pergunto e a
encaro.
Percebo um leve aperto em seus lábios.
— Seu pai falou e estava muito satisfeito — diz.
— E a senhora? O que acha?
Ela balança os ombros.
— Não desejo o mal a ele, meu filho. Mas se fez alguma coisa tem
que pagar — argumenta e é incrível como ela é dissimulada.
Como não enxerguei isso antes?
— Eu pedi um advogado que providencie para que eu o veja —
conto.
Minha mãe arregala os olhos, e sei que fica aflita.
— Não faça isso. O que poderia querer falar com esse homem? Você
já não está bem e feliz com a filha dele?
Eu rio.
— Muito feliz, mas quero saber a verdade, e soube que o Ricardo
está disposto a contar tudo, inclusive me apresentar provas da verdade —
invento.
Minha mãe se levanta, nitidamente fora de si.
— Você não vai falar com esse homem, eu o proíbo — desfere.
Eu a olho, aparentando calma.
— O que foi mãe? Do que a senhora tem medo?
Ela me olha e esfrega uma mão na outra.
— Ele vai inventar coisas, com certeza.
Eu rio.
— Sente-se mãe. O Ricardo está ferrado, não tem motivos para
esconder nada, e se tem provas contundentes, não há porque mentir. Além
do mais quero descobri a verdade sobre essa briga de família, e sei que tem
coisa séria atrás disso e tenho certeza absoluta que Ricardo não é o único
culpado.
Minha mãe dá um passo para frente. Coloca as mãos sobre a minha
mesa. Ela me olha, revoltada e nunca a vi desta maneira. Está dando certo.
Era isso que eu queria, que ela mostrasse sua verdadeira face.
— Por que você não é como o Pedro Henrique, e faz exatamente o
que deve ser feito? — questiona.
Eu jogo o corpo para trás e dou de ombros.
— Porque eu, diferente dele, tenho meus valores e próprias
opiniões.
— Você não vai falar com o Ricardo.
Eu entrelaço os meus dedos por cima da mesa e inclino o corpo para
frente, eu encaro minha mãe com expressividade.
— Do que a senhora tem medo, mamãe? Que eu descubra alguma
coisa que não deve ser descoberto?
Ela me encara, então aperta os lábios e dá uma gargalhada.
— Eu sabia que alguma coisa havia acontecido. O Félix anda muito
estranho — comenta e solta o ar pela boca.
— Não sei do que está falando. — Faço-me de inocente.
Ela ri, então me olha com rancor.
— Você é patético, igual ao seu pai. Eu tentei de tudo para pôr um
pouco de juízo em sua cabeça. Mas de nada adiantou. Nem mesmo eu
implorar e me fazer de fraca serviu para nada, você foi dominado pela
paixão, eu desisto de você.
Eu permaneço em meu lugar e assisto minha mãe deixar de lado o
seu fingimento.
— Então é verdade, você está por detrás de tudo... — Balanço a
cabeça, sem acreditar. — Por que, mãe? Por que tanta maldade?
Ela me encara.
— Não é maldade, é a luta de uma mulher para manter a família
unida, qual mãe e esposa não deseja isso?
— Mas a senhora manipulou todo mundo. E não é só para manter a
família. O que eu e a Letícia tínhamos com isso?
Ao ouvir o nome da mulher que amo, minha mãe faz cara de nojo.
— Você quer a verdade? — ela chega o corpo para frente e me olha
com raiva. — Eu odeio a Letícia, assim como odiava sua mãe e odeio toda
aquela família. Por mim todos eles iriam para os quinto dos infernos —
assevera com a voz cheia de raiva.
Eu me levanto, com meus olhos presos aos seus. Eu já estava
decepcionado, mas ver quem é minha mãe de verdade dói em minha alma,
pois eu sempre a via como uma mulher generosa e boa, e agora vejo que
tudo não passou de um grande teatro.
— Só que isso não vai acontecer. A senhora estragou minha vida
uma vez, mas não vou mais permitir que isso aconteça, pois eu amo a
Letícia e vou passar o resto da minha vida com ela, querendo a senhora ou
não — asseguro com firmeza.
Minha mãe me olha de cima a baixo.
— Você me decepciona, se juntar a uma ralé quando pode ter as
mulheres mais lindas e sofisticadas da sociedade.
— Não existe mulher melhor que a Letícia, e olha que tentei
encontrar, mas mesmo com o seu veneno, eu nunca a esqueci — revelo.
Ela sacode a cabeça em negativa.
— Sempre desconfiei, mas não pensava que aquela idiota fosse
aparecer, e ainda com uma criança a tiracolo — critica exasperada.
Sinto uma raiva crescente em como fala da Letícia e da minha filha.
— A senhora não tem o direito de falar de nenhuma das duas —
reajo com a voz grave.
Minha mãe estreita o olhar.
— Falou como o seu pai, agora. Ele também defendia aquela puta
que se deitou com ele no dia do nosso casamento. Você me decepciona —
acentua.
— Seu problema, mamãe é que não conseguiu me separar da
Letícia. Você alimenta um ódio, pois sabe que o meu pai só amou uma
mulher, que foi a Adriana. Ele até pode ter ficado com você, mas nunca te
amou — ataco e vejo o ódio em seus olhos.
Ela sabe que eu falo a verdade.
— Seu pai é o que é hoje graças a mim.
Eu rio.
— O que? Um infeliz? Que vive amargurado? — pergunto,
debochado. — A senhora está certa, se ele é um homem deprimido e fraco é
graças a você.
— Você não sabe de nada...
— Sei o suficiente para entender que a senhora é vil, é má, e uma
mulher infeliz que vive de aparência. E se a senhora diz que eu te
decepciono... decepção quem sente sou eu, por ter uma mãe como você.
Minha mãe não demonstra nenhum tipo de arrependimento, ela age
como se estivesse certa e isso chega ser assustador.
Ela dá um sorriso sarcástico.
— Não posso fazer nada por você. Só digo que não me arrependo de
nada, só poderia ter agido com mais firmeza com essa sua mulherzinha.
Confesso que a subestimei — confessa com a maior tranquilidade. — Não
me resta outra coisa, a não ser abrir mão de você. Pensei que fosse mais
inteligente, mais me enganei.
Ela se vira para sair.
— Espere, eu tenho algo muito importante a dizer.
Minha mãe para e se vira. Eu saio detrás da minha mesa.
— O que é?
— Eu sei que eu sou o único filho do meu pai. Que a senhora tinha
um amante e que tanto o Pedro Henrique, quanto a Amanda são filhos desse
homem, o que a senhora diz sobre isso? — questiono e preciso que ela fale.
Ela dá uma risada.
— Você não tem nada a ver com isso, mas seu pai sempre foi um
merda de homem, a única vez que teve comigo foi para me chamar pelo
nome daquela mulher, foi quando engravidei de você. Eu tinha minhas
necessidades, então arrumei um homem muito melhor que ele, ao menos
esse me deu um filho que prestasse, embora a outra e nada seja a mesma
coisa — despeja se referindo à Amanda e me olhando com desprezo.
Eu sorrio, então tiro do bolso o meu celular e olho para ele.
— Perfeito — digo e me viro para caminhar até a minha mesa. —
Pode sair.
— Heitor...?
Eu olho para ela, desta vez carrego um sorriso vitorioso.
— O que mamãe? — Minha voz sai macia.
Ela ameaça dar um passo para frente, mas decide ficar no seu lugar.
— O que você fez?
Um suspiro alto escapa da minha boca.
— Fiz nada mamãe, apenas aprendi com a melhor a ser dissimulado
— revelo e ela me olha, intrigada. Eu sorrio. — Calma, eu apenas fiz com
que a senhora falasse tudo o que eu queria, e gravei tudo.
Ela respira com força e aperta as mãos.
— O que você pretende?
— Nada. Mas se a senhora tentar alguma coisa contra qualquer um
da minha família, e eu digo todos os membros — complemento a olhando
com intensidade. — Eu juro que explano essa gravação, para todos saberem
quem é a verdadeira socialite Donana Nóbrega Pigozzi, além, é claro, de
alertar a polícia. — Ela arregala os olhos. Eu alargo meu sorriso. — E não
pense que desta vez você escapará, pois você não tem tanta influencia como
tinha há alguns anos, mamãe!
— Você não faria isso...
— Tente, e verá se não faço. Na verdade ainda estou pensando se já
não devo acabar logo com a sua farsa — saliento deixando que ela perceba
o quão sério eu falo. — Agora, por favor, se retire e dê o mesmo aviso ao
Pedro Henrique, se ele tentar se aproximar da Letícia ele terá problemas,
pois farei com que fique na miséria. Eu acabo com ele — advirto.
Sinto que ela quer falar algo e aguardo.
— Eu sou sua mãe, como tem coragem de me tratar como uma
qualquer?
Eu respiro fundo.
— Da mesma forma que preferiu me ver sofrer, a ficar com a
mulher que amo. Tudo porque você se corrói de ciúmes do amor que meu
pai alimentava pela mãe dela. — Minha mãe acena. — E se a senhora não
entendeu, vou falar para que fique claro: não se aproxime da Lia e dê o seu
jeito de libertar o meu pai.
— É, você realmente já sabe de tudo.
— Outra coisa, nem tente armar para que me roubem o celular, não
sou tão burro e a sua gravação já está num lugar onde posso recuperar a
hora que eu quiser.
Com certeza ela pensava em fazer tal coisa, pois aperta os lábios
com força.
— Adeus, Heitor! Espero nunca mais te ver — diz e empina o
queixo.
— Também espero o mesmo — resmungo e volto a me sentar.
Ela sai da sala e solto o ar com força. Sinto um peso saindo dos
meus ombros.
Minha mãe dá muito valor às aparências, e sei que vai pensar bem,
antes de fazer qualquer maldade, porém, por um tempo ficarei de olho nela.
Pois não tenho certeza do tamanho do seu ódio.
Olho o telefone e penso em ligar para Letícia. Porém o que preciso é
estar com ela. Porque apenas a Letícia é capaz de me dá a paz que eu tanto
preciso nesse momento. Se não fosse por ela eu enlouqueceria.
Levanto-me da cadeira e desligo o computador. Respiro fundo me
sentindo menos tenso. Agora é hora de viver a vida que sempre quis. Ao
lado da mulher que eu amo e da minha filha. E, ainda, desfrutar essa nova
fase. Que para coroar nossa felicidade, a gravidez da Letícia, que só nos
trouxe alegria.
- 29 -

Letícia Faz dois meses que Heitor confrontou a sua mãe, e a


última notícia que tivemos sobre ela é que está em Paris cuidando de alguns

negócios da família. Seu filho, o Pedro Henrique foi junto com ela e pelo

visto tem causado alguns problemas. Meu pai se encontra preso, e com o

número de acusações e as provas existentes contra ele, certamente será

condenado a muitos anos. Ele teve o fim que mereceu.

Quanto ao Félix, infelizmente ele não está bem, emocionalmente.


Mesmo conseguindo a sua tão sonhada liberdade de um casamento tóxico,
ele se apresentou muito depressivo. Então Lia, junto com Heitor
conseguiram que ele se internasse para cuidar da saúde mental.
É triste o que aconteceu com ele por toda a vida, mas Heitor acredita
que ele vai se recuperar com o tempo. Ele ainda é um homem jovem, com
52 anos e tem uma aparência invejável. Merece ser feliz. Ele errou no
passado, nós sabemos e ele também tem ciência disso, porém não soube
lidar com as ameaças de Donana.
Lia e Heitor conversaram bastante sobre o pai, e eles chegaram a
conclusão de que Félix realmente se entregou, e permitiu que sua vida fosse
totalmente guiada pela esposa. Ela sabia seu ponto fraco. E eles acreditam
que o pai se conformou com o seu destino imposto.
Félix vivia em um relacionamento abusivo. O psiquiatra que o
atendeu, dialogou com Heitor e com a Lia. Ele explicou que o pai deles,
simplesmente perdeu o comando da própria vida. A violência emocional e
psicológica, podem fazer muito mais estragos do que a violência física.
Ele se sente um homem fraco e sem propósito. Contou que carrega
muita culpa, e isso só com o tempo ele pode melhorar, e mesmo assim não
estará completamente curado.
Heitor, no dia que chegou da clínica estava devastado, mas Lia e eu
falamos que ele não poderia ter feito nada. Infelizmente sua mãe foi muito
esperta e não deixou que ninguém percebesse o que ela fazia. Mas ao
menos, agora poderiam ajudar. E Lia lembrou que mesmo sendo
manipulado por Donana, conseguiu, ao seu jeito, cuidar para que a filha não
sofresse nenhuma represália por parte da esposa.
— Letícia, você está pronta? — Heitor me chama do outro lado da
porta.
Termino de pentear o cabelo e como está um dia quente, o prendo no
alto da cabeça.
Saio do banheiro e ele me olha com um sorriso.
— Estou pronta, já chegou alguém?
Ele acena.
— William e Emilly estão lá no jardim — diz e se aproxima, então
coloca a mão na minha barriga e acaricia. Heitor beija a ponta do meu nariz.
— Vamos, você precisa ver o Théo, ele é uma graça de menino.
— Sim, vamos estou louca para conhecer seus amigos — informo e
pego sua mão. — E Geovanna? Onde está?
Ele ri.
— Admirando o Théo, acho que está treinando para quando sua
irmãzinha nascer — comenta com animação.
Descobrimos por um exame de sangue que teremos outra menina,
Heitor ficou radiante, pois, segundo ele, será o rei da casa.
No jardim, algumas mesas estão espalhadas, pois teremos um
churrasco de comemoração. Não sei o que vamos comemorar, mas Heitor
insistiu em fazer essa reunião.
Noto uma ruiva sentada e em sua frente um homem tatuado, e muito
bonito segurando um bebê. Ao nos aproximar o tatuado é o primeiro a nos
ver e abre um sorriso.
— Heitor, pensei que não voltaria mais — comenta e Heitor ri
segurando a minha cintura.
— Letícia quis me agarrar no quarto, mas eu disse que seria falta de
educação deixar os convidados a nossa espera — caçoa e eu olho para ele
de boca aberta.
Dou um tapa em seu braço.
— Que mentiroso! — exclamo e ele ri.
— Eu sei que é mentira dele — fala o homem. Então ajeita o bebê
em seu colo e me estende a mão. — A propósito eu sou o William, o amigo
mais bonito e esta é a minha esposa a Emilly.
Eu seguro em sua mão e sorrio, então me viro para a ruiva e tenho
certeza de que a vi em algum lugar.
Ela é muito bonita e tem um sorriso suave, então se levanta e me
abraça.
— Você é a moça que chorava no banheiro — segreda em meu
ouvido.
Assim me lembro dela, foi a mulher simpática que estava na festa da
Mansão Eros no dia que vi Heitor.
Eu aceno e dou uma risada.
— Prazer em te conhecer — digo.
Emilly é uma mulher muito simpática. Ela e William formam um
lindo casal e o filho deles é muito fofo. Eu não resito em segurá-lo e
conversar com ele, que me olha com curiosidade e faz um biquinho lindo.
— Em alguns meses será você passando por isso novamente — diz
Emilly passando a mão pela testa do seu filho e o olhando de maneira
sonhadora.
— Sim, e essa fase passa tão rápido.
Ela dá um sorriso e acena.
— Por sinal a Geovanna é linda. E que doce de menina, até tive
vontade de ter uma menininha — confessa.
William ouve e passa a mão por seu ombro.
— Podemos providenciar hoje mesmo, querida — brinca e Emilly
revira os olhos.
— Olha quem chegou — aponta e nós três nos viramos.
Outro homem bonito. Caramba esses homens todos juntos é de
deixar qualquer mulher louca. Porém com certeza o Heitor é o mais bonito!
Penso. E ainda falta chegar o senhor Ball, ou melhor, o Alexander, já que
Heitor disse que ele não é mais o meu chefe e devo tratá-lo como amigo.
Mas vai ser difícil lembrar-me disso, afinal ele tem uma aura de poder e
comando que será difícil chamá-lo pelo nome.
— Caio... Você andou sumido rapaz — comenta William, quando o
homem de pele bronzeada e cabelo crescido chega perto de nós.
Sou apresentada a ele, que beija minha mão com galanteio e pisca
para mim.
— Nem vem, Caio! A Letícia já é minha — Heitor acentua
passando os braços pelos meus ombros.
O pequeno Théo começa a se mexer em meu colo e antes que chore
passo para Emilly.
Os rapazes começam a conversar e como Emilly tem que
amamentar, a chamo para a varanda, a fim de ficar mais a vontade.
Leandro, Lia e Aluísio chegam juntos e vou recebê-los. Trocamos
algumas ideias e vejo de longe o Alexander chegar. Ele está sério e olha em
volta como se procurasse por algo. Heitor me contou que ele foi de grande
ajuda, e fico imaginando como deve ser ter tanta influência. Porque é
visível que esse homem é poderoso.
Vejo que se aproxima dos amigos e fala com eles. De todos é o mais
sério.
— Mãe!? Eu posso pegar o neném? — pergunta Geovanna depois
que Lia a põe no chão.
Eu sorrio para ela.
— Meu amor, você é muito pequenininha.
— Não sou. O neném que é “pequininho”. — choraminga e eu dou
uma risada.
— Deixa ela, Letícia. — Ouço a voz da Emilly e olho para ela. —
Vem aqui Geovanna, vou te ajudar.
Geovanna abre um sorriso e vai até a Emilly, que com toda a
paciência ajuda a minha filha a segura o Théo. O menino olha para minha
filha e dá um sorriso banguela, que é muito fofo.
Converso um tempo com a Emilly, e ela conta como engravidou.
— Então foi você que foi a penetra? Ou melhor, uma das...
Ela ri.
— Sim, e eu causei — cochicha e para de rir. — Teve outra penetra
na Mansão?
Eu olho para ver se ninguém está por perto.
— Dizem que sim, mas ninguém soube mais nada da moça, apenas
que o senhor... quer dizer, o Alexander resolveu o assunto.
Emilly acena, pensativa.
— Interessante...
Lia se aproxima e engajamos uma conversa, então ela conta que está
saindo com o vizinho gato do Leandro.
Eu caio na gargalhada.
— O rapaz que tem o cachorro? Eu cheguei a conversar com ele.
— O que tem esse cara? Por acaso mandou outro recado? — Heitor
pergunta e nem havia percebido que estava ao meu lado.
Lia segura a risada e noto Leandro se aproximando com Aluísio.
— Por que ele me mandaria um recado? — pergunto sem entender
nada.
— Porque ele é a fim de você — comenta sério.
Eu começo a rir.
— Claro que não. Você enlouqueceu? Eu só estive com ele algumas
vezes na praça, enquanto brincava com a Geovanna e ele passeava com o
seu cachorro.
— Aí vocês estão falando do vizinho gato? Jesus aquele homem é
tudo...
— Você quer morrer, Leandro? — questiona Aluísio, mas com cara
de riso.
Leandro balança os ombros.
— Você também acha que ele é gato, eu sei — acusa balançando os
ombros.
Lia ri.
— Ele é gato, mas o meu gato. Ao menos por enquanto — atesta.
Heitor olha para ela.
— Até você?
Nós caímos na gargalhada e Heitor me chama para ver alguma coisa
na cozinha.
Eu o sigo e eles assobiam e jogam piada.
— O que você quer? — pergunto.
Ele me puxa até a dispensa e me dá um beijo de derreter calcinha.
— Isso é só para você lembrar que o único gato da sua vida sou eu
— sussurra e passa a mão em meu seio.
Eu sorrio e me esfrego nele.
— Eu nunca me esqueço disso — sopro e deixo que volte a me
beijar.
— Estou louco para te comer — murmura entre o beijo.
— Mas vão sentir nossa falta — esclareço e quando sua mão desce
até o meu sexo eu me tremo toda. — Você quer me deixar louca, não é?
Ele ri.
— Sim, da mesma maneira que você me deixa.
— Letícia... Heitor? Vocês estão aí? — Ouvimos a voz da Lia.
— Essa sua irmã... — ele diz.
Eu seguro o riso.
— Ela é sua irmã também, não se esqueça disso — lembro.
Como Heitor se animou demais, não pode sair daqui, então peço que
espere até sua ereção acalmar. Beijo sua boca e saio da despensa segurando
um saco de feijão.
Lia me vê e me observa, com curiosidade.
— O que vai fazer com esse feijão?
Olho para a minha mão e entorto a boca.
— Feijão — respondo e ela sacode a cabeça. — Você me chamou?
— Leandro quer saber se pode dar chocolate para Geovanna.
Eu aceno.
— Ela já almoçou mais cedo, então pode.
Lia ainda me olha antes de sair e ri, resmungando alguma coisa.
Heitor sai da despensa e olha para o feijão na minha mão.
— Não tinha outra desculpa? — questiona com cara de riso.
— Não enche, Heitor — murmuro e entrego o saco de feijão para
ele. — Me deixe dar atenção aos meus convidados.
Saio da cozinha com um sorriso maroto. Na verdade estou fugindo
dele, pois o que quero mesmo é ficar nua e deixar que ele usufrua do meu
corpo sedento.
Eu sou uma perdição mesmo. Ah! E como eu amo tudo o que faz
comigo! Eu amo esse homem e hoje já não consigo imaginar minha vida
sem ele.
Saio da cozinha e olho o jardim, Geovanna brinca com Lia e
Leandro. Os amigos do Heitor estão numa conversa descontraída. Emilly
está com o bebê no carrinho e conversa com Aluísio. Sinto Heitor se
aproximar e segurar minha cintura. Ele deposita um beijo em minha cabeça.
Eu me viro para ele, dou um sorriso.
— Eu te amo, sabia? — confesso com a voz baixa.
Ele me olha com um brilho no olhar e passa o dedo em minha face.
— Eu te amo, Letícia. E amo a família que estamos formando!
Agora só falta uma coisa.
Eu franzo a testa.
— O que?
Ele mexe em seu bolso, depois levanta a mão segurando uma
caixinha preta.
— Você aceita casar comigo? — pergunta.
Eu me esqueço por completo das pessoas no jardim, até o barulho da
conversa some. Sinto meus olhos se encherem de lágrimas.
Olho para Heitor e sorrio.
— Sim, eu ficarei feliz em ser sua esposa.
Ele beija meus lábios e coloca a aliança em meu dedo da mão
direita. Ouço os aplausos e os assobios. Não tenho como controlar a
emoção.
— Eu te amo, meu amor! — sussurra, então me abraça.
Passamos por tanta coisa, mas no fim o amor venceu.
Ninguém pode separar duas almas que estão predestinadas a estar
juntas.
- 30 -

Heitor Eu e Letícia nos casamos no cível exatamente um

mês depois do meu pedido de casamento. Foi uma cerimônia simples, com

poucos convidados, no jardim da nossa casa.

Quando a vi vestida com um vestido branco de renda, segurando a


mão da Geovanna quase não me contive, me segurei para não agarrá-la ali
mesmo, antes do juiz de paz iniciar nossa união.
Agora, eu a observo conversar com a Lia e Emilly. Sua barriga, já
está mais saliente e Letícia está ainda mais linda com a gravidez. É possível
se apaixonar ainda mais pela mesma mulher? Porque é assim que me sinto.
— Olha cara, você precisa ver a sua cara. — Olho para o lado e vejo
Caio.
— O que tem a minha cara?
Ele ri.
— Parece um cachorrinho carente do carinho da dona — caçoa e
bebe seu drink.
Finjo um soco em seu braço.
— Cuidado, um dia pode ser você a ter esse olhar — atesto e ele
finge estremecimento.
Caio então faz uma careta e eu o olho com curiosidade.
— Eu estou fodido — chia e parece aborrecido.
— O que houve?
Ele solta um suspiro.
— O meu pai... você acredita que ele vai se aposentar e me
informou que não me dará o controle da empresa?
Fico surpreso, afinal Caio sempre esteve ao lado do pai. Se há
alguém que entende sobre o negócio é o Caio. Tudo que fez na vida foi para
assumir o lugar do pai. Ele ama aquela empresa.
— Mas por quê? Ele tem outra pessoa em mente? O seu tio? —
questiono, sei que o irmão de seu pai, segundo Caio, é um idiota
interesseiro que vive na aba do irmão.
— Meu pai disse que não pode entregar a empresa nas mãos de um
Playboy.
— Que merda! — exclamo.
— Para piorar a situação falou que a empresa é minha se eu me
casar. Cara, eu estou muito puto com isso — desabafa, contrariado.
— E o que você vai fazer?
Ele olha em volta e noto a aproximação de William e Alexander.
— Caio, você não parece bem, meu amigo — diz William ao se
aproximar.
Alexander ri e sacode a cabeça.
— Ainda bem que minha família é de muito longe e não dependo
deles para nada — vibra e já sei que ele sabe da situação do Caio.
William faz uma careta.
— Você já contou para o Heitor? — questiona.
— Contou, só não sei o que ele vai fazer — respondo.
Caio mexe os ombros.
— O que faria qualquer um em meu lugar. Vou casar por contrato...
— Você é louco — solta Alexander.
William ri.
— Isso não vai dar certo — balbucia.
Também dou uma risada.
— Quero até ver qual a doida que vai aceitar casar com você —
murmuro.
Ele aponta todos os benefícios de um casamento por contrato, nós
argumentamos, mas Caio está irredutível. Eu só posso desejar que ele tenha
sorte em sua jornada.

Após a recepção do nosso casamento, levo Letícia para o hangar,


onde fica a minha lancha. Leandro e Aluísio ficarão com Geovanna no final
de semana, para que possamos ter uma pequena lua de mel. Não poderemos
fazer uma viagem, pois Letícia começou na faculdade. E agora que está
grávida, não pode perder as aulas, já que em alguns meses precisará tirar
uma licença.
Chegamos ao final da tarde e quando nos aproximamos da lancha eu
tampo seus olhos com a minha mão.
— Por que está fazendo isso? — pergunta com um sorriso.
Eu paro atrás dela e beijo o seu pescoço.
— Tenho uma surpresa para você — sopro em seu ouvido.
— Hum... estou curiosa.
Eu a ajudo a dar um passo à frente e tiro a mão dos seus olhos.
Letícia então vê a minha lancha e espero até que perceba. Então ela coloca a
mão na boca.
— Letícia... Você deu meu nome à sua lancha.
Eu envolvo a sua cintura.
— Eu amo velejar. É algo que me faz ficar mais leve, e me traz
muita paz, felicidade. Nos últimos meses, porém, não tive oportunidade de
passear pelo mar, no entanto, com você eu me senti exatamente assim. Você
trouxe leveza e felicidade para a minha vida, Letícia. Você me faz sentir
vivo.
Ela se vira para mim e me abraça.
— Eu te amo demais Heitor! Obrigada pela homenagem — sopra.
Eu a pego em meu colo e a carrego. Caminho devagar para dentro
da lancha, a coloco em cima da cama, então retiro suas sandálias e beijo seu
pé e depois o outro.
Lentamente, eu me dispo e depois tiro seu vestido e a deixo apenas
de calcinha e sutiã.
Olho sua barriga e sorrio, então me inclino e roço meus lábios, bem
onde está a nossa bebê. Eu puxo Letícia e ela fica sentada. Movo meu corpo
e fico atrás dela e beijo seu ombro. Onde eu a toco a pele arrepia e ela solta
um gemido.
Abro o seu sutiã e seguro seus seios em minhas mãos. Letícia ofega
e eu levo minha boca até a sua orelha, passo a língua em seu pescoço,
enquanto dou leves mordidas em sua pele.
— Eu estou cheio de tesão, louco para comer essa boceta deliciosa
— murmuro dando mordidas em seu pescoço.
Com delicadeza empurro seu corpo, até que ela fica de quatro. Eu
consigo tirar sua calcinha branca e vislumbro sua boceta molhada, não
consigo resistir, então abaixo a cabeço e passo a língua em seus lábios
vaginais e sinto o gosto da sua excitação.
Letícia empina a bunda.
— Oh, Heitor... — brada, cheia de tesão.
Eu me acomodo atrás dela. Deslizo uma das mãos pela pele da sua
coluna. A outra mão segura o meu pau e me masturbo dando leves apertos
em sua bunda. Assim, seguro seu quadril entre os meus dedos e levo minha
ereção até a sua entrada encharcada.
Eu fecho os olhos com a sensação maravilhosa de invadir o seu
corpo.
— Caralho! Que boceta gostosa!
Eu me enterro em seu núcleo e sua bunda se cola em meu corpo. Eu
arfo, pois sinto como se estivesse no paraíso.
Letícia se remexe, arqueando as costas e sinto que está perto de
gozar.
— Heitor... eu... oh! — geme.
Levo minha mão entre suas coxas e estimulo seu clitóris. Letícia
deixa escapar um grito de prazer e eu pressiono meu dedo com mais força.
Sua boceta aperta meu pau que empurra num vai e vem cada vez mais
acelerado.
— Goza no pau do seu marido, vai — ordeno com a voz arfante e
me movo com energia em seu sexo. Sinto Letícia gozar e sugar meu pau. Eu
me inclino para frente e mordo seu ombro enquanto meu esperma a enche e
se mistura com o seu gozo.
Eu viro Letícia e aponho deitada de barriga para cima. Deito-me ao
seu lado, pois não quero fazer peso em seu corpo por conta da barriga. Eu
beijo sua boca e declaro o quanto a amo.
Ela me abraça e beija o meu pescoço. Então respira fundo.
— Não tem risco de ninguém entrar aqui? — pergunta com a voz
contida.
Eu acaricio sua barriga e dou vários beijos em seu rosto.
— Não.
Ela se encolhe, virando-se de lado, e encosta o nariz em meu peito.
Sinto o calor da sua respiração.
— Eu te amo! — sussurra e percebo que pega no sono.
Eu sorrio.
Eu, há algum tempo, jamais pensaria que pudesse ser tão feliz. Eu
vivia de mau humor, e tentava encontrar algum alívio no sexo casual. Mas
esse alívio, essa paz nunca chegava. Pois o que buscava somente uma
pessoa podia me dar. Eu a expulsei uma vez da minha vida e me arrependo
até hoje pelo meu erro. Porém tive outra chance, mas desta vez eu não perdi
a oportunidade.
Agarrei a felicidade com unhas e dentes. Me redimi, e agora posso
afirmar que sou um homem realizado. Tenho a mulher que amo ao meu
lado. Uma filha linda que só me traz alegria e mais uma que vai nascer em
alguns meses.
Hoje sou um homem completo e isso só é possível porque eu dei a
chance a única coisa que pode nos tornar inteiro: O amor.
E eu tenho certeza que nada mais poderá nos separar. Eu manterei
Letícia ao meu lado pelo resto da minha vida.
- Epílogo -

Letícia Um ano depois

Chego em casa da faculdade e sigo direto para o quarta da Maitê,


minha pequena de apenas sete meses. Abro a porta e não há ninguém por
ali. Sigo para o quarto da Geovanna e também está vazio. Sigo para a suíte
e deixo minha bolsa e meus livros em cima da cama.
Caminho até a varanda dos fundos e ouço os gritinhos da Geovanna
e a voz do Heitor. Sem fazer barulho ando até eles que estão brincando no
escorrega. Eu cruzo os braços e sorrio.
Heitor segura Maitê e a ajuda a escorregar, enquanto Geovanna
aguarda na parte de baixo para pegar a irmã, que quando chega ao chão bate
palminhas e solta gritinhos de alegria.
— Eeee.... Maitê conseguiu — berra Geovanna.
Os três se divertem e aproveito para tirar uma foto.
Todas às vezes que vejo Heitor com as meninas sinto um orgulho
imenso. Ele se tornou um pai perfeito e não tem como não lembrar os seus
amigos que não perdem uma oportunidade de zombar de suas palavras,
sobre ser alérgico a crianças.
Meu marido adora todas as crianças e todas são loucas por ele.
Quem diria...
Eu me aproximo deles.
— Vejo que estão fazendo uma farra grande — digo com um
sorriso.
Heitor me olha e se levanta do chão, ele pega Maitê no colo e chega
perto de mim. Então dá um beijo em minha boca.
— Você demorou — fala e Maitê estica os bracinhos para que eu a
pegue no colo. Heitor ri. — Acho que não sou somente eu que sinto sua
falta.
Eu rio e sinto Geovanna abraçar minhas pernas, enquanto pego
Maitê.
— Mamãe, brinca com a gente? — pergunta minha filha.
Eu me abaixo, segurando Maitê e beijo o rosto da Geovanna.
— Claro meu amor, vou só trocar de roupa — acentuo e ela sorri.
Heitor ajuda a me levantar e passa a mão pelo meu cabelo.
— Foi bem na prova? — questiona me olhando com carinho.
Eu balanço os ombros.
— Acho que sim — respiro fundo, me sentindo aliviada. — Vou me
trocar e ficar um pouco com elas para você descansar.
Heitor volta a pegar Maitê.
— Eu não estou nem um pouco cansado. Na verdade estou me
divertindo com elas — indica e dá um beijo no canto da minha boca. —
Para falar a verdade estou cheio de energia — sussurra.
Eu rio, sacudindo a cabeça.
— Você tem energia demais — brinco.
— Com você, não tem como ser diferente.
Peço que Geovanna me espere, beijo Maitê e em seguida dou um
selinho em Heitor. Retorno para dentro de casa, afinal preciso de um banho
e também comer alguma coisa, pois estou faminta.
Bem mais tarde, depois que as meninas dormiram, Heitor e eu
tomamos uma taça de vinho na varanda.
— Você soube do seu pai? — pergunto.
Ele me olha com um sorriso.
— Ele me ligou hoje. Viu um pequeno sítio no interior de Minas
Gerais, e notei que sua voz estava bastante animada.
— Que bom, Heitor! Tomara que ele consiga retomar a sua vida —
ressalto.
Heitor segura a minha mão.
— Ele vai, claro que meu pai ainda me preocupa muito, mas hoje
tive esperança, ao ouvir sua voz — diz e bebe um gole de vinho, então volta
a me olhar. — Eu vou ajudá-lo, Letícia. Pois minha mãe o deixou na
miséria. Pretendo comprar esse sítio para ele, além de cooperar para que
consiga se reerguer.
Eu aceno.
— Eu não poderia esperar nada diferente. Acredito que a vida no
campo vá fazer muito bem a ele.
Heitor me olha com carinho, coloca sua taça em cima da mesa e me
puxa para o seu colo, onde me aconchego e aproveito para cheirar o seu
pescoço.
— Letícia, eu ainda não entendo como um dia eu pude pensar
aquelas coisas ruins de você — lamenta.
Eu ergo a cabeça e o encaro, acaricio sua barba bem feita.
— Heitor, isso ficou no passado. O importante é que estamos aqui.
Felizes e com uma família linda — sopro e beijo seus lábios. — E o mais
importante: sabemos que nosso amor é verdadeiro e resistente.
Heitor segura meu rosto, vejo em seu olhar todo o amor que sente
por mim. Eu sorrio feliz.
Eu sempre fui dele. De corpo, alma e coração.
Heitor.
Dois anos depois...

Conduzo o carro e olho para Letícia. Ela morde o lábio, nervosa,


pois essa é a primeira vez que vai à Mansão Eros como uma das
convidadas. Eu seguro sua mão e vejo o bracelete vermelho, indicação de
que ela não pode ser abordada por ninguém na festa. E assim como ela,
também uso o meu bracelete.
Eu dou uma risada, enquanto paro no sinal.
— Meu amor! Não precisa ficar tão nervosa. Pense que está indo
numa festa normal — aponto.
Ela olha para mim e estreita o olhar.
— Heitor! De normal as festas da Mansão não tem nada. Eu já
trabalhei lá, e embora ficasse na cozinha eu sabia o que acontecia lá —
afirma.
— Qual a sua preocupação?
Letícia deixa escapa um suspiro.
— Tenho medo de...
Ela desvia o olhar e sinto um tremor passar em seus braços.
Eu decido parar o carro na beira da rua. Então peço que Letícia volte
a me olhar.
Ela se vira e sinto sua insegurança.
— Fala a verdade, se não quiser ir, nós não vamos. Eu não faço
questão de ir a essa comemoração. Eu só estou aqui porque você deu a
ideia, minha linda. Mas se quiser desistir, não tem problema algum —
declaro.
Letícia esboça um sorriso.
— É insegurança minha. Não me sai da cabeça que você por muito
tempo frequentou as festas da Mansão... e se alguma mulher que esteve com
você quiser...?
— Nem pense uma bobagem dessas, meu amor. Ninguém vai se
aproximar, de nenhum de nós dois. As regras da Mansão são explicita. Você
leu o contrato e viu como o Alexander é lunático — comento dando uma
risada.
Ela também ri.
— Eu sei, mas antes você tinha a liberdade de fazer o que bem
entendia. Hoje, quando ver os outros tendo essa liberdade, pode fazer com
que sinta falta daquele tempo.
Eu balanço a cabeça.
— Letícia, meu amor. Entenda de uma vez por todas: Tudo ali é
momentâneo, eu nunca fui livre de fato, pois minha mente sempre estava
presa a você. E Eu garanto que, hoje, com você ao meu lado me sentirei
mais livre, pois poderei ser eu, e estarei exatamente com quero estar: Você.
Ela se inclina para frente e me olha com desejo.
— Mas nós poderemos fazer alguma coisa? Eu e você, somente.
Dou um sorriso safado.
— Com certeza, teremos uma suíte privada para nós dois, e com
certeza vou te foder com força até que perca os sentidos — digo rouco e
vejo o brilho em seu olhar.
Ela sorri e volta a se ajeitar em seu lugar.
— Então vamos, pois estou sem calcinha e molhada... esperando por
você — provoca.
— Caralho!
Eu volto a dirigir e quando passamos pelos portões da Mansão,
colocamos nossa máscara. Letícia fica muito sensual com sua máscara
dourada. E seu vestido longo da cor lilás com uma fenda na perna direita a
deixa apetitosa até demais.
Ela estava preocupada comigo, que alguma mulher pudesse chegar
até mim. Mal sabe ela como me sinto. Pois nem posso pensar em algum
idiota a desejando.
Faz muito tempo que não frequento a Mansão Eros. A sensação que
tenho é de que está mais luxuosa, e os frequentadores também parecem
diferentes, pois as máscaras já não mostram tanto como antes. Por isso
Alexander deve ter enviado nossas máscaras, hoje cedo.
O interior do salão principal está mais sombrio e esfumaçado, é
como se estivéssemos num castelo Medieval. A música clássica com fundo
sacro também foi muito bem escolhida.
Não vejo nenhum dos meus amigos, e acredito que todos estejam
presentes, afinal é a comemoração de sete anos da Mansão Eros. E segundo
o Alexander, só estão aqui hoje o alto escalão da sociedade.
Não tenho como ver a reação da Letícia, pois sua máscara permite
que eu veja apenas seus lábios carnudos, mas com certeza ela está
deslumbrada.
Nós somos servidos de champanhe e minha mulher se encosta em
mim. Então me lembro de que ela está sem calcinha.
Olho para a minha esquerda e encontro a escada que nos leva para
as suítes privadas. Alguns dos convidados do grande salão já interagem e
vejo alguns grupos caminharem para as salas onde tudo pode acontecer. Eu
não tenho a mínima vontade de ir para esse lado.
Então puxo Letícia e passo pelas pessoas em direção às escadas.
Subo rápido com ela, e percebo que a primeira suíte já está ocupada, pois
está com a luz da porta apagada e a mesma se encontra trancada.
— Onde estamos indo? — pergunta Letícia rindo.
— Ninguém mandou me falar que está sem calcinha — rosno e
entro na terceira suíte. Bato a porta com força e encosto Letícia na parede.
Então deslizo minha mão por sua perna direita até a sua boceta e dou um
sorriso. — Então você falou a verdade, sua safadinha!
Ela envolve meu pescoço e cheira meu pescoço.
— Eu nunca minto para você, meu amor — sussurra.
Estamos mascarados, mas vejo seus olhos carregados de desejo.
Meu coração bate com força então sorrio para ela.
— Eu te amo, nunca duvide disso. Você e as nossas filhas são as
coisas mais importantes da minha vida — declaro com a voz enrouquecida.
Letícia fica séria.
— Eu sei. Eu não duvido disso — sussurra e dá um sorriso suave.
— Você é o amor da minha vida, Heitor... sempre!
Eu selo nossos lábios com um beijo sensual. Então, sem esperar, ali
mesmo eu tomo seu corpo. E como sempre acontece, me sinto abençoado e
com o coração repleto de felicidade. Afinal Letícia é meu amor. É a mulher
que me completa. Sem ela não sou nada. Mas com ela... sou tudo!

Fim!
Agradecimentos

Agradeço a todas as pessoas que me incentivaram a continuar


escrevendo, em especial meu esposo, João Luiz, que enquanto eu escrevia
cuidava da nossa pequena sapeca Ana Lívia.
Aos meus leitores fiéis, em especial aos leitores do Wattpad, que me
estimulam a cada capítulo postado. Vocês são especiais para mim.
A todos os autores parceiros e divulgadores. Em especial à
assessoria Jéssica Lindoso, que me cobra, incentiva, puxa a minha orelha e
surta junto comigo a cada lançamento. Enfim, às pessoas que trabalham nos
bastidores e sempre ajudam quando mais preciso, a cada livro lançado.
Minha gratidão a todos vocês.
Próximo Lançamento:
Um Casamento para o Bilionário
Livro 3 da série Mansão Eros.
Caio & Lara

— Senhor Conti, o jato já está preparado para decolar —


informa João.
— Okay. Meu pai já chegou? — pergunto, pois temos uma
reunião em São Paulo e ele faz questão de participar.
João balança a cabeça e diz que não, então eu digo que vou
aguardar na sala vip.
Desde que meu pai declarou que vai se aposentar, tem
participado de todas as reuniões pessoalmente. Segundo ele, precisa
escolher quem irá assumir o cargo de CEO da empresa.
Eu não ando nada satisfeito com isso. Desde muito jovem tenho
ficado ao seu lado, eu sou o que melhor conhece nossa companhia. Não
acho justo que meu pai, agora queira deixar outra pessoa responsável por
tudo. Trabalhei tão duro por nada?
Segundo ele, temos um nome a zelar, e não pode permitir que
um playboy, fique a frente de tudo, por mais que eu seja o mais preparado
para assumir o cargo.
Agora meu pai impôs que, caso eu queira de verdade assumir a
empresa, eu preciso dar um rumo a minha vida e arrumar uma esposa,
além de construir uma família.
Claro que isso não me agradou em nada, eu prezo muito a minha
liberdade e nunca passou por minha cabeça me casar. Afinal, para quê me
contentar com uma única mulher, quando posso me divertir com várias?
Porém não vou abrir mão do que sempre almejei na vida. Assim, tomei a
decisão de me casar, mas será um casamento por contrato. Assim,
poderei, discretamente, continuar me divertindo.
Preciso, agora encontrar essa mulher e fazer uma proposta
irrecusável. Terá que ser uma mulher que saiba o que quer, e não nos
envolveremos de forma alguma. E tem que ser um plano perfeito, pois
meu pai é um homem esperto e não pode de forma alguma desconfiar dos
meus planos.
Eu dou um sorriso. É a saída perfeita. No final serei o CEO da
Conti Aviações, e depois de um ano o casamento será desfeito.
O que poderia dar errado?
Outros Livros da Autora
Um Herdeiro para o Magnata
Livro 1 da série Mansão Eros.
William & Emilly

Um homem marcante e experiente...


Uma virgem com vontade de viver...
William Romanov é um magnata da engenharia automotiva. Um
milionário aventureiro que adora sexo. Mas as festas da Mansão Eros já não
despertam tanto o seu interesse, até que um dia, numa dessas festas ele se
depara com uma ruiva misteriosa e tem com ela o melhor sexo da sua vida.
Porém, ele acorda sozinho, apenas com o aroma da dama misteriosa
entre os lençóis, uma calcinha rasgada e uma camisinha furada.
Emilly é uma jovem mulher que cresceu superprotegida por seus
pais, que a tratam como uma garota frágil e doente. Ela já não suporta mais
viver em sua bolha de cristal, sendo submetida de tempo em tempo a
sujeitar-se a um médico que lhe causa verdadeiro pavor.
Então quando tem a oportunidade de ser ousada, não perde tempo e
sai às escondidas. Com ajuda de uma amiga, consegue entrar numa das
festas mais exclusivas e secretas do país. Lá, Emilly se vê atraída pelo
mascarado tatuado de olhos verdes e tem sua primeira noite nos braços
desse homem inesquecível.
Ela só não esperava que uma única noite a deixaria ligada por toda a
sua vida a esse estranho.
Série Felizes para Sempre

Uma série que pode ser lida de forma independente e conta a saga
de quatro amigas, onde cada uma conhece o amor de suas vidas, que são
homens dominantes, generosos e apaixonantes...
Desvenda-me

Ele é movido pela razão.


Ela é toda emoção.
Benjamin, o CEO de uma das maiores empresas petrolífera do
Brasil, dedica-se totalmente ao seu trabalho, é um homem sistemático e
controlador. Carrega uma aura de austeridade e mistério. Ele já tem sua vida
toda planejada, até o dia que em um acidente de trânsito se depara com Eva,
uma garota totalmente diferente dele. Cheia de vida, sonhos e bastante
desastrada, Eva é capaz de destruir a ordem perfeita de sua vida.
A atração entre os dois é inevitável e Benjamin sente que deve
evitá-la, mas não consegue controlar seus sentimentos, ainda mais quando a
moça começa a dar sinais de que também está rendida.
Porém, nem todos ficam felizes com o casal, e alguém decide se
interferir na relação deles. O que pode tanto unir seus destinos para sempre
quanto afastá-los de uma vez por todas.
Um CEO em meu Destino

Noah Gerard é um CEO poderoso, mas também um homem frio que


carrega consigo grande amargura desde que ficou viúvo. Ele não confia em
ninguém, e tudo piora quando sua mãe se intromete mais uma vez em sua
vida. Um grande mistério ronda o seu passado, e ele quer se vingar das
pessoas que o lesaram.
Aurora é uma órfã criada pelos tios, que só ficaram com sua guarda
por causa de sua herança e nunca a amaram como merecia.
O caminho dos dois se cruza, e Noah pensa em usar tudo o que
estiver ao seu alcance para atingir seus objetivos, inclusive Aurora.
Será que ao conviver com ela seus objetivos poderão mudar?
Conseguirá o amor curar a mágoa de um homem?
Descubra em Um CEO em meu destino.

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