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COPYRIGHT © 2023 Ella Ares

A HERDEIRA QUE O MAGNATA ITALIANO


ENCOMENDOU
Capa: Maya Designer
Revisão: Deborah A. Ratton E Camila Brinck.
Diagramação:@Ericaqueiros_designer
Esta obra foi revisada segundo o Novo Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa, mas contém
marcas próprias da oralidade em respeito ao contexto
retratado. É proibida a reprodução total e parcial
desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio
eletrônico, mecânico, inclusive por meio de
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sem permissão expressa da autora (Lei 9.610 de
19/02/1998). Esta é uma obra de ficção, qualquer
semelhança com a realidade é mera coincidência.
Nenhum dos fatos narrados e personagens citados são
reais. Todos os direitos desta edição reservados à
autora.
Sumário
EPÍGRAFE
DEDICATÓRIA
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS FINAIS
EPÍGRAFE

Olhe nos meus olhos


Você verá
O que você significa para mim
Procure no seu coração
Procure na sua alma
E quando você me encontrar lá
Você não irá mais procurar
(Everything I Do) I Do It For You - Bryan Adams
DEDICATÓRIA

Aos que acreditam em segundas chances.


Aos que tiveram uma paixão impossível no passado, se feriram no
percurso mas não deixaram de acreditar na força do amor.
Para Monaliza, uma amiga leitora muito especial.
Para Deh, você é e continua sendo um anjo em minha vida.
CAPÍTULO 1

Se existe uma coisa na vida que não temos o poder de controlar, é a


morte.
Dois anos atrás, perdi a única garota a quem escolhi entregar o meu
coração e, enquanto seu corpo era velado, jurei que nunca mais voltaria a
me apaixonar por outra pessoa, em memória à sua partida. Melissa foi
vítima de um acidente de trânsito, um desconhecido bateu um caminhão
contra o carro dela e ambos os veículos foram jogados no mar. A explosão
junto do impacto foi tão grande que nem sequer restaram pedaços do seu
rosto angelical, ficou toda desfigurada e quase irreconhecível.
Se eu fechasse os olhos, conseguiria voltar ao dia dois de junho,
quando essa catástrofe abalara a família de ambos de tal forma que nunca
mais iríamos esquecer.
Eu nunca me esqueceria dela, do seu sorriso doce e dos sonhos
impedidos por um acidente fatal. Fiz uma segunda promessa a Melissa
antes que o seu caixão fosse colocado abaixo de sete palmos para sempre e
jurei em silêncio que nunca mais voltaria a colocar um pingo de álcool na
boca, pois sabia o quanto alguns copos de bebida acabavam com a vida de
uma pessoa inocente. A minha noiva havia sido vítima de um erro
ocasionado por alguém que estava sob esse maldito efeito. Se aquele
desgraçado, que também morreu no acidente, tivesse consciência de que ao
dirigir embriagado mataria outra pessoa, pensaria duas vezes antes de pegar
no volante.
Considerava-me um homem apreciador de vinho e outras bebidas,
mas, depois de perdê-la para a morte passei a desprezar, criei um nojo tal
que sequer suportava estar no mesmo ambiente onde outras pessoas se
fartavam de álcool. A triste realidade é que, quando se nasce no berço onde
o seu pai já foi presidente de um país, não há como simplesmente fugir de
eventos que ofertam doses cheias de uísques, drinques da mais fina
qualidade, entre outras coisas.
Não havia escapatória, ainda mais quando o desejo do meu pai era que
eu ocupasse um dia a presidência do nosso país e fosse um terço do que ele
foi para nosso povo.
Cresci acompanhando-o pela televisão, programas, debates e o rosto
da nossa família estampado em todos os tabloides. Francesco Mancini era,
sem sombra de dúvidas, uma das figuras mais importantes do nosso país.
Ele precisou se afastar ao descobrir que estava com um sério problema no
coração, mas mesmo distante ambicionava que o seu primogênito assumisse
aquela cadeira que por tantos anos fora sua. Eu precisei amadurecer cedo,
abandonar a criança que existia em mim para me tornar um adulto
comprometido com a política.
Sentia uma saudade absurda das vezes que a nossa família visitava a
fazenda no sul do país, onde morava minha avó Luzinete e outros parentes
que por ali residiam. Era divertido estar longe dos holofotes, ser só mais
uma pessoa comum e ter a liberdade para correr, interagir com outros sem
medo de ser flagrado ou assediado pela mídia, que estava o tempo todo ao
nosso redor.
Só de pensar sentia o meu coração se apertar…
— Posso confirmar a presença do senhor em algum desses eventos?
Tossi seco, assustando-me de imediato ao ouvir a voz da minha
secretária de gabinete, e percebi que estava com o olhar parado na agenda
que tinha em mãos.
— Está tudo bem? Quer água ou alguma outra coisa, senhor Mancini?
— Obrigado, Camila, mas não há com o que se preocupar. — Forcei
um sorriso de lado. — Voltando ao que estávamos conversando… Bom,
pode confirmar a minha presença em todos. Ficarei pela cidade pelos
próximos dias, então tudo certo.
A minha agenda era sempre cheia, eventos sociais para frequentar,
visitas em associações, comunidades mais pobres e ONGs. Tudo aquilo
fazia parte do pacote, vinha junto com o fato de ser um deputado prestes a
concorrer às eleições para presidente do país.
Meu pai, apesar da idade avançada e do problema de coração que
vinha se agravando e o deixando a cada dia mais vulnerável, explodia de
felicidade ao ver que seu primogênito em breve ocuparia aquela posição,
conforme ele almejava havia tantos anos.
Eu odiava aquilo tudo.
A única coisa que ainda me mantinha fiel ao desejo do meu saudoso
pai era que junto da posição importante vinha poder, influência e rios de
dinheiro. Eu não precisava de mais nada na vida ao passo que estava prestes
a completar quarenta e um anos.
Tinha tudo aos meus pés.
— Chegou o convite de aniversário da sua tia Diana.
Olhei-a de relance, logo um sorriso foi se formando em meu rosto.
— Quando? Por que não me avisou?
— Imaginei que não fosse querer saber, afinal recusou todos os
últimos convites…
— Você não está sendo paga para pensar em nada, Camila — fui um
pouco rude com a minha funcionária. — Confirme a minha presença e
envie um presente em meu nome. — Coloquei a agenda na mesa para
gesticular com o dedo. — Agora.
A garota assentiu com a cabeça, logo em seguida saiu da sala. Ela
sabia exatamente o que enviar, pois estava anos ocupando a vaga em meu
gabinete e era uma das poucas pessoas que sabia exatamente o que fazer em
todas as situações.
— Aniversário da minha tia, porra. — Apertei o punho da mão,
suspirando fundo.
Fazia alguns anos que não visitava a minha família materna, estava
muito ocupado enquanto montava estratégias para derrotar meus
adversários, um verdadeiro arsenal, formando alianças fortificadas para
chegar à presidência. A última vez que tinha viajado para o sul do país para
visitá-los com meus pais, tinha menos de quinze anos e desde então nunca
mais voltara a pisar os pés lá. Meu pai havia proibido viagens para lá ao
descobrir, por um dos seus seguranças, que o seu filho estava fazendo
amizade com a filha da empregada.
Monaliza.
Eu me lembrava do seu rosto delicado, das nossas conversas
divertidas, sempre escondidos atrás da árvore. Ela foi a primeira garota que
beijei e sonhei em ter como esposa, é claro que tudo não passava de coisa
de adolescente com os hormônios à flor da pele. Desde que eu fora embora,
nunca mais havia tido notícias sobre a garota, tampouco procurara saber,
pois logo encontrei Melissa, por quem me apaixonei.
Apaixonei-me desesperadamente.
Procurei meu celular perdido na mesa em meio a tantos papéis
espalhados. Vasculhei com a mão até encontrá-lo e logo procurei na lista de
contatos o número do meu irmão, apertando o botão na esperança de que o
bastardo mais novo atendesse.
Nada.
Liguei três vezes seguidas até que atendeu.
— Onde enfiou a porra desse telefone, Alessandro? — rosnei, furioso.
O idiota deu uma gargalhada rouca antes de responder.
— Estava descartando a camisinha, seu merda. O que manda, futuro
presidente?
Engoli em seco, ajeitando-me na cadeira do escritório.
— Preciso que me acompanhe no aniversário da nossa tia Diana.
— O papai não vai gostar de saber disso, Bernardo. — Soltou uma
lufada de ar. — Vou pedir para a minha secretária te encaixar na agenda.
— Bastardo! Sou a porra do seu irmão. — Contive-me para não o
xingar mais, como estava habituado a fazer. — Dê um jeito, Alessandro,
pouco me importa se tem vaga ou não. Vou mandar a Camila enviar para o
seu e-mail o convite.
— A sua secretária gostosinha? Podemos levá-la junto também?
— O que seu pau pretende fazer não é da minha conta. Adeus.
Encerrei a ligação para voltar a me concentrar em ler um discurso
público que faria.
CAPÍTULO 2

Eu odiava festas de aniversários.


Odiava o fato de que as pessoas paravam tudo naquele dia para
comemorar mais um ano de vida quando, na verdade, poderiam agradecer
diariamente a graça de estarem vivas. Nada disso fazia sentido para mim e
eu nem sequer me considerava religiosa demais, bem longe disso, a grande
verdade é que quase nunca gostava de festejar, nem tampouco de
comparecer a comemorações. Em geral, grande parte dos seres humanos
são egoístas, só pensam em si mesmos, esquecendo-se de que todo dia é útil
para agradecer.
Pela lógica, todo dia é digno de ser celebrado.
Prestes a completar vinte e três anos, nunca assoprei velas de bolo de
aniversário, nem fiz um pedido em silêncio ansiando realizar um desejo;
tampouco cantei parabéns ao lado da minha família e com os melhores
amigos por perto. Meus pais não gostavam de fazer isso, ainda mais que
eram meros empregados que só ganhavam o suficiente para dar uma
mínima qualidade de vida para as duas filhas.
Minha irmã, Carolina, era a única que gostava dessas coisas. Eu fazia
questão de pegar as moedinhas que juntava durante o ano todo para, quando
chegasse o seu aniversário, fôssemos juntas comemorar em algum parque
de diversão sem que os nossos pais soubessem. Ser a mais velha tinha suas
vantagens, pois eu dava um jeito de fazê-la feliz, mesmo não gostando de
comemorar aquela data em especial.
Tudo por ela.
Carolina ficava feliz com pequenas coisas e sua felicidade estava
acima da minha.
Eu não tinha nenhum trauma ou coisa do tipo quando o assunto era
aniversário. Só tinha crescido com muito pouco, tanto que perdi o gosto de
festejar datas assim, portanto não sentia falta alguma. Minha mãe, dona
Margarida, gostava de falar que a personalidade forte que habitava em mim
era a cópia do meu pai inteiro; talvez por quererem tanto um filho homem,
de fato nasci parecendo um, em partes.
Só em partes.
Eu tinha muitos sonhos, como a maioria das garotas da minha idade.
Gostava de sair, paquerar, mas nunca passava disso, pois mantinha o desejo
de entregar-me apenas ao homem certo; este faria o meu coração bater mais
forte, a tal ponto que eu sentiria borboletas no estômago e uma paixão
daquelas que sufocava.
Só que isso nunca aconteceria.
A última vez que tinha me apaixonado por alguém fazia muito tempo
e eu ainda não tinha idade suficiente para compreender as coisas. O filho
dos patrões dos meus pais, Bernardo Mancini, foi meu primeiro amigo e
amor platônico. O garoto vinha todos os anos para passar as férias na casa
da avó, e em uma dessas temporadas nasceu uma amizade, que virou amor,
ao menos para mim. Só que isso não durou por muito tempo; para o bem ou
para o mal, acabaram tomando conhecimento disso e logo impediram que
virasse algo mais. Desde aquele dia em que o vi partir no jatinho particular,
nunca mais tive a chance de vê-lo outra vez.
Além da tela do celular e tabloides.
Conforme crescia, fui matando essa paixão na unha, esmagando-a
pouco a pouco, e passara a criar desprezo por aquela família, especialmente
por Bernardo. O babaca nunca pegou no telefone para ligar pedindo
desculpas pela forma como tudo acabou, ao menos para mantermos uma
amizade a distância sem segundas intenções ou algo do tipo. Os políticos,
no final das contas, eram todos sujos, pois a ausência e rejeição só provou o
quanto tinham preconceito com a classe baixa.
O herdeiro não poderia ter amizade ou se apaixonar pela filha dos
empregados.
Eu passei a odiá-lo.
Ainda que tocasse a vida, ignorasse o fato de que meus pais
continuavam trabalhando para aquela família, eu simplesmente não
conseguia viver em um mundo onde Bernardo Mancini não existia. O
babaca seguira os passos do pai e estava presente nos jornais, nos eventos
mais bem-conceituados, e estampado nas revistas da alta-sociedade. Foi em
uma dessas notícias que descobri que o herdeiro estava noivo e que perdera
a companheira em um trágico acidente de carro.
Quando vi aquela notícia, confesso que fiquei triste pela perda
inesperada, era uma vida, em especial, importante para Bernardo, uma
jovem garota com um futuro brilhante pela frente que foi interrompido, mas
acabei me contendo para não o procurar e me solidarizar com a sua dor. A
única coisa que fiz junto de várias pessoas foi colocar flores no local onde o
acidente aconteceu.
Desde então, só sabia que o futuro presidente, o homem que um dia
fora meu amigo, se mantinha neutro, impassível e focado em dar
seguimento à sua jornada política. Eu sabia que quando chegasse o dia das
eleições provavelmente votaria nele, mesmo que nunca o perdoasse por ter
colocado uma pedra em nossa amizade no passado.
— Vai ficar a festa toda sentada como se não quisesse participar?
Carolina comentou, acomodando-se ao meu lado no sofá.
— Olha como você é esperta, irmã. — Forcei um sorriso largo. — Eu
realmente não queria estar aqui, e sim em casa, bem deitadinha na cama
com meu cachorro.
Minha irmã mais nova fez uma careta, insatisfeita com a resposta.
— Poxa, Liza, quando vai deixar de ser essa pessoa amarga? Faz
quantos meses que não nos vimos desde que foi embora? — Fez um bico
com os lábios, na vã tentativa de demonstrar que estava magoada. — Eu
senti saudades, sabia?
Ri baixinho, negando com a cabeça para o lado.
— Também senti saudades, Carolina. — Puxei-a de lado, abraçando-a
apertado. — As portas do meu apartamento estão abertas caso queira vir me
visitar, irmãzinha.
Fazia menos de nove meses que tinha conseguido um emprego de
carteira assinada na capital como atendente em um consultório médico, e
assim foi preciso alugar um cantinho para ficar enquanto juntava dinheiro
para comprar um. Meus pais ficaram felizes e foram a rede de apoio de que
eu tanto precisava para dar esse passo importante na vida. Eu sentia muita
saudade da minha família, mas precisava dar asas aos meus sonhos e trilhar
o caminho com meus próprios pés, afinal não queria ficar para sempre
limpando casas como a minha mãe. É claro que a profissão dela era tão
digna como todas as outras, mas eu tinha o sonho de um dia ser médica.
Esperava realizá-lo em breve.
— Sabe que papai não me deixará ir até que complete vinte anos. —
Suspirou fundo, afastando-se um pouco para me olhar nos olhos. — Você
bem que poderia convencê-los qualquer dia desses. — Deu de ombros,
sorrindo largo.
— Prometo que vou tentar. — Estendi a mão para fazer carinho em
seus cabelos. — Então… Que tal você me contar as novidades? —
comentei, animada.
— Está tentando fugir, Liza. — Balançou a cabeça negativamente. —
Eu vou contar uma novidade se for comigo lá na Diana, preciso entregar o
meu presente.
Ah, não…
Estava fugindo dessa mulher desde que pisei os pés na propriedade
Mancini. Eu adorava com todo o meu coração a tia de Bernardo, mas estava
fugindo dela como o Diabo foge da cruz, pois sabia que ela tocaria em um
assunto que eu tanto evitava falar.
Diana sabia que um dia eu amara o seu sobrinho e era uma das
pessoas que, apesar dos anos, acreditava que iríamos ficar juntos, como se
fosse obra do destino.
— Pode ir sozinha. Hum… Daqui a pouco vou. — Mordi a ponta do
lábio com força.
— Agora, Liza. — Minha irmã se levantou e estendeu a mão. — Por
favor.
— O que você não me pede sorrindo que não faço chorando? —
Frustrada, levantei-me.
— É por isso que te amo, irmãzinha.
Meu coração se apertou e uma sensação estranha percorreu meu corpo
inteiro.
Algo estava prestes a acontecer.
CAPÍTULO 3

— Já pensou se o todo-poderoso Francesco nos flagra comendo este


pastel? Um segundo. — Fez um barulho na garganta, preparando-se para
imitar a voz do nosso pai.
— Ah, poupe-me desse show, Alessandro. — Estendi um dedo,
impedindo-o de falar. — Não preciso saber o que ele diria, ao menos não
por hoje ou pelas próximas horas.
Estava com uma dor de cabeça irritante, nem os remédios que tomara
ao pisar na propriedade da minha avó haviam sido eficazes para aliviar
tamanha tormenta.
— Escuta só, bastardo. — Deu uma gargalhada rouca. — Filho, filho
meu, largue esse salgado agora ou ficará uma semana sem tocar no seu
precioso carro.
Franzi o cenho, balancei a cabeça em negação sem sentir um pingo de
humor na imitação do meu irmão em referência às falas do nosso pai, que
pegava no nosso pé quando o assunto era comida ou qualquer outra coisa.
Não importava o que fosse, Francesco Mancini nunca dava ponto sem nó e
tudo tinha que ser do seu jeito.
Nos mínimos detalhes.
Eu, algumas vezes, encarava o meu reflexo no espelho e visualizava
um pouco do meu pai em mim, desde como me comportava perante a
sociedade, me vestia ou tratava os nossos negócios com tanta maestria. Ele
havia me criado para ser a sua versão atualizada e nessa missão o velho
tinha obtido sucesso, pois só pensava em vencer as eleições, dar sequência
ao seu legado, que se estendeu por tantos anos.
Apesar de ser leal ao meu superior, precisei omitir que iria dar uma
pausa na agenda eleitoral para comparecer ao aniversário da minha tia
Diana e isso só foi possível graças a dona Giulia, minha mãe. Foi ela quem
ajudou para que essa informação não chegasse aos ouvidos do meu pai, que
se encontrava em repouso. Fazia muito tempo que não visitava minha
família e esse era o momento certo para firmar os laços, pois, com as
eleições chegando, esse apoio seria de grande importância.
Era muito difícil ser uma figura pública, passar despercebido entre as
pessoas e fazer uma viagem sem que se tornasse uma notícia publicada, mas
tinha uma grande equipe, que cuidou desses detalhes e providenciou que
tudo corresse bem. Na sexta-feira, às quatro da tarde, peguei um avião
particular junto do meu irmão e da minha secretária pessoal, partimos rumo
às terras de que eu sentia muita saudade.
Momentos que nunca seria capaz de esquecer.
— Acabou? — Soltei o ar pela boca, desviando o olhar para o lado. —
Cazzo, se fizer isso novamente o mandarei de volta para casa no primeiro
avião.
— Irmãozinho, cazzo, digo eu. — Deu uma gargalhada alta, dando um
soco leve em meu ombro. — Você está precisando foder, comer uma ou
mais de uma ragazza. Vamos aproveitar que estamos bem longe da mídia
para resolver esse problema.
Não era mentira.
Não me lembrava quando tinha tirado um tempo para saciar meu
desejo carnal, pois estava tão focado nos negócios e na disputa da
presidência que havia colocado os meus desejos abaixo de tudo. Desde que
perdera a minha noiva, mantinha apenas encontros secretos com garotas de
luxo, escolhidas a dedo por Camila, que para o público era minha secretária,
mas também cumpria com outros papéis pessoais. Ela separava as melhores
e às vezes conduzia as garotas para um apartamento que eu tinha em nome
do meu irmão, distante da cidade, onde tudo acontecia. Sexo e sexo.
Sempre nessa ordem, nunca o contrário.
O bastardo do Alessandro gostava de afirmar que Camila era mais que
uma funcionária, alegava que já tínhamos ido para a cama, mas isso nunca
aconteceu. Eu julgava que nunca fosse acontecer, pois apesar de tudo
éramos amigos, e ela foi a única pessoa verdadeira que encontrei em meio a
tanta corrupção e bajulação.
— Olha aí, os meus sobrinhos mais lindos do mundo! Titia sentiu
tantas saudades.
Desviei o olhar em direção à mulher de cabelos grisalhos, baixinha,
que se aproximava. Foi impossível não sorrir ao vê-la, bem como lembrar
dos momentos especiais que tivemos no passado, quando ainda era só um
garoto simples e cheio de sonhos. Aproximei-me em passos suaves até ela
para abraçá-la apertado.
— Tia Diana. Mio Dio, quanta saudade. — Dei um beijo no topo da
sua cabeça. — Perdonami per favore — sussurrei, pedindo perdão por ter
passado tanto tempo sem vir visitá-la, assim como ignorei todos os últimos
convites de aniversário.
— Nunca é tarde para recomeçar, meu filho. — Afastou-se do enlace
para tocar meu rosto. — Oh, Dio… Você está cada vez mais lindo.

— São só os seus olhos, Tia Diana. — Sorri sem graça, dando-lhe


outro beijo sereno. — Veja, já tenho alguns fios brancos, não sou mais
aquele garotinho.
— Continua belíssimo, meu querido. E outro menino, oh Dio, vem cá.
— Foi em direção ao meu irmão para abraçá-lo apertado. — É tão bom tê-
los de volta.
— Farei um esforço para não perder mais nenhum aniversário, tia —
prometi, mesmo sabendo que poderia falhar dados os compromissos que
tinha.
— É bom mesmo ou terei que ir buscá-los pessoalmente — brincou,
rindo.
— Faça isso mesmo, tia, pois Bernardo está precisando sair um pouco
daquele gabinete. Ele passa boa parte do dia trancado naquele lugar, isso
quando não está nas empresas — Alessandro alfinetou, colocando mais
fogo na conversa.
— Nunca perdoarei Giulia por fazer um filho a cópia do pai enquanto
o outro saiu sem nenhum defeito. — Balançou a cabeça para o lado,
afastando-se do meu irmão para ficar em nosso meio. — A nonna vai ficar
tão feliz em vê-los. — Pegou em minha mão, apertando-a. — Mas antes
preciso te mostrar uma coisa, meu querido.
— Só a ele, tia Diana? E o seu sobrinho favorito? — Alessandro fez
um bico antes de beber de uma vez a taça de vinho. — Vou começar a ficar
com ciúmes…
— Querido, pode ir encontrando sua avó que está lá na cozinha. —
Estendeu a outra mão para apertar a bochecha dele. — Por favor? Prometo
que será rapidinho.
Meu irmão concordou assim que seus olhos cruzaram com os de
Camila, que passava na sala, seguindo em direção à cozinha. Eu sabia que o
bastardo estava de olho na minha melhor funcionária, ainda que só quisesse
levá-la para cama.
— Vejo vocês daqui a pouco. Adeus…. — despediu-se todo
apressado.
Observei-o caminhar apressado e contive-me para não rir.
— Alessandro está querendo se deitar com a minha secretária — falei
de forma discreta em respeito à minha tia, que era um pouco mais velha.
— Espero que ele encontre o amor assim como você encontrou,
querido.
— Encontrei e o perdi em um passe de mágica. — Engoli em seco,
lembrando-me que nunca trouxe Melissa para conhecer o lugar onde vivi os
melhores momentos.
— Não era o seu amor para a vida, figlio. — Fez um carinho em
minha mão. — O amor que vai durar para a vida inteira está prestes a te
encontrar.
Franzi o cenho, sem entender ao que ela se referia.
— O que…
— Quero te mostrar uma coisa. Querida, venha aqui, por favor —
falou um pouco alto, chamando alguém com o dedo.
Segui o movimento com o olhar e não reconheci de primeira quem se
aproximava.
— Monaliza, minha querida.
Abri a boca em choque.
Então era ela…
CAPÍTULO 4

Então era ele.


Depois de anos, estava finalmente a um passo de Bernardo Mancini, o
garoto por quem me apaixonei perdidamente no passado e que foi embora
sem se despedir.
Eu sabia que não poderia fraquejar, mostrar vulnerabilidade, então
caminhei em passos lentos em sua direção, focando apenas na mulher que
estava ao seu lado, o principal motivo pelo qual estávamos reunidos
naquela casa. Forcei um sorriso amigável, como se estivesse imensamente
feliz por vê-lo, quando uma parte só queria sair correndo e acabar com
aquele maldito teatro de uma vez por todas.
Ele tinha que continuar lindo?
Senão ainda mais lindo do que era…
Se soubesse que aceitar a ideia de Carolina iria me fazer encontrá-lo,
teria me recusado e continuado no meu cantinho, excluída enquanto o
tempo passava. Obra do destino ou não, lá estava ele, e a minha irmã havia
me deixado sozinha.
Quando me via finalmente diante deles, continuei sorrindo e os
cumprimentei com um aceno de cabeça, mas a aniversariante foi ágil em
logo me abraçar bem apertado.
— Como os dois cresceram tão rápido. — Deixou um beijo em meu
rosto. — Mia ragazza, cada vez mais linda e jovem. — Afastou-se devagar
para fazer um carinho nos meus cabelos. — Eu me lembro da última vez,
eles eram um pouco mais claros…
— Obrigada, senhora Mancini. — Dei um passo para trás, ajeitando o
vestido soltinho que usava. — É, hum… Eu os pintei no último verão.
— Ainda assim, continua linda, não é mesmo, Bernardo? —
Aproximou-se do sobrinho trazendo-o para dentro da conversa. — Não me
diga que não se lembra dela.
— Eu nunca me esqueceria dela, nem mesmo se quisesse. — Seu
olhar pairou sobre o meu e Bernardo estendeu a mão para me
cumprimentar. — Liza, tudo bem?
— Monaliza. — Fui rápida em corrigi-lo, afinal não éramos mais
amigos para que me chamasse por aquele apelido que costumava usar anos
atrás. — Estou bem, graças a Deus. E você, como está? Soube que será
candidato a presidente…
Mantive o olhar firme, encarando-o enquanto forçava uma conversa
saudável.
— Vejo que ambos têm muito a conversar — a tia comentou,
deixando-nos sozinhos. — Vou cumprimentar os outros convidados, se não
se importam.
Acenei com a mão em despedida, vendo-a se afastar e me deixar em
uma saia-justa com o seu sobrinho, logo o homem que eu odiava com todo
o meu coração.
Disgrazia!
Não era uma pessoa religiosa, mas naquele exato segundo rezei para
todos os santos que conhecia e implorei que o herdeiro fosse para bem
longe de mim, pois me recusava a passar os próximos minutos encarando
aquele que tanto amei.
Ainda que tivesse sido um amor inocente de menina, para mim foi
como todos os outros e teve um fim sem explicação, deixando um vazio em
meu coração, que, apesar de tantos anos, nunca foi preenchido por nenhum
outro enquanto ele seguia sem mim.
— Monaliza? É sério isso? — Riu seco, parando em minha frente. —
Esqueceu que um dia fomos amigos?
Dio!
— Você disse certo… Um dia fomos. — Dei de ombros, sem dar
importância. — No passado, pois hoje somos meros conhecidos que
seguiram vidas opostas.
— Certo. — Engoliu em seco antes de continuar falando. — Me
perdoe por ter ficado tanto tempo ausente e por não ter dado continuidade à
nossa amizade, mas você também entende que isso era meio impossível,
não é? — Suspirou fundo.
— Claro. Seu pai nunca deixaria que o filho precioso fosse amigo da
filha dos empregados — falei a verdade e abri um sorriso largo.
— Sabe que isso não é verdade, Liza. Nunca me importei com status
ou dinheiro e isso nunca mudou. — Apertou o punho, dando um passo lento
em minha direção. — Cazzo… Você era só uma menina naquela época, não
queria que pensasse que nossa amizade pudesse tomar rumos diferentes, no
fim foi melhor para todos nós o meu afastamento.
Sabia ao que se referia.
Naquela época, tudo era inocente demais, não havia segundas
intenções da parte dele, mas meu coração não sabia disso e foi rompido
quando meu amigo partiu sem olhar para trás, sem se preocupar com meus
sentimentos, sem se despedir. Bernardo era bem mais velho que eu e
entendo que naquela época era impossível haver algo além de amizade entre
nós, mas isso não o eximia da sua frieza e indiferença aos meus
sentimentos. Nada justificava o fato de ter me ignorado por tanto tempo.
Manter-me no escuro só me fez odiá-lo um pouco mais.
— Sim, Liza, não queria que você confundisse as coisas, você era só
uma menina e eu, um homem feito. — Conteve-se, soltando uma lufada de
ar. — Eu só queria te pedir desculpas por tudo e, se ainda estiver aberta a
novas amizades….
Esperei tantas vezes que me ligasse, que pedisse desculpas, mas isso
nunca aconteceu. Bernardo só poderia estar maluco se esperava que eu
fosse perdoá-lo assim, em um único estalar de dedos, isso era meio
impossível dados os dias que passei trancada no quarto escrevendo cartas e
chorando pelos cantos de saudade.
Eu era fiel aos meus sentimentos, à dor que senti quando o vi partir,
então não havia a menor chance de passar uma borracha de uma vez por
todas em nosso passado.
— Entendi. Qual a outra desculpa, Bernardo? Não quero ser sua
amiga. — Cruzei os braços, negando com a cabeça.
— Tudo bem, imaginei que fosse recusar, mas tenho algumas horas
pela frente para tentar provar que posso ser o amigo que um dia fui. — Deu
um sorriso de lado.
— Não perca seu tempo, Bernardo. Nos vemos por aí…
— Não estou acreditando no que estou vendo.
Estava prestes a sair de perto do futuro presidente quando ouvi uma
voz conhecida.
— Liza das bonecas sem roupas. Ragazza, como você cresceu.
Alessandro Mancini, relaxei um pouco ao vê-lo e sorri de lado.
— Pois é, só que joguei todas essas bonecas no lixo. — Aproximei-me
para cumprimentá-lo com um abraço. — Você também cresceu, olha, criou
até barba.
— Criei por todo canto. — Riu, apertando minha bochecha devagar.
— Me diz… Tem algum compromisso depois que sair daqui?
Fiquei tão entretida em olhá-lo que ignorei totalmente o babaca do seu
irmão.
— Só vou para a casa dos meus pais mesmo.
Era verdade. Não queria mais nada além de cama e me desintoxicar de
Bernardo.
— Então pegue sua bolsa e avise aos seus pais que chegará tarde hoje.
— Qual será a nossa rota de fuga? — brinquei, rindo.
— Vamos a um cassino beber todas.
Desviei o olhar do irmão mais novo para encarar Bernardo, que não
parava de nos observar, preso em seu próprio silêncio. Pensei uma e duas
vezes antes de falar…
— Andiamo!
Vamos… Não custa nada quebrar um pouco as regras.
CAPÍTULO 5

Eu estava prestes a quebrar a promessa que fiz a Melissa.


Era impossível estar dentro de um fogo cruzado e não se queimar
passando por ele. Sabia que tinha sido uma péssima ideia aceitar
acompanhar Alessandro e aquela garota a um cassino onde acontecia de
tudo um pouco, pois o dono daquele lugar era ninguém menos que o filho
mais velho da nossa tia Diana. Meu irmão pensara nos mínimos detalhes ao
escolher ir a esse lugar, afinal era ali onde acontecia do pecado à luxúria.
Desde que tínhamos chegado, eu continuava no mesmo lugar, sentado
em uma poltrona, afastado dos perigos noturnos e tentações que podiam
colocar minha reputação em risco, mesmo sabendo que dali era quase
impossível vazar alguma foto minha ou vídeo. De toda forma, sempre
andava acompanhado por uma equipe de segurança que conteria com
diligência os danos caso algo do tipo acontecesse. Então, tudo que eu
precisava fazer era relaxar, respirar fundo e aproveitar sem reservas, mas
parecia que tinha uma corda em minhas mãos que me impedia de dar esse
passo.
E eu sei exatamente o porquê.
A responsável por isso tinha nome, sobrenome e estava se divertindo
perante os meus olhos. Dançando e sorrindo. Reencontrar Monaliza havia
me desestabilizado de uma forma desconhecida, sufocante e eu não
conseguia compreender o verdadeiro motivo por trás disso. Talvez porque
ela me recordava um tempo bom de que eu já havia me esquecido, ou
porque já não fosse a menina de quem eu me recordava. Ela agora era uma
mulher.
Se o meu pai não tivesse intervindo, proibido as minhas idas nas férias
à casa da minha avó, provavelmente hoje eu não tivesse me surpreendido
com a aparência dela, e nem estivesse me sentindo tão atraído. O destino
nos reservara uma surpresa, e, apesar dos caminhos opostos, lá estávamos
outra vez, frente a frente.
A garota estava mais bela, corpo de mulher madura, curvas que a
tornavam atraente, sensual demais para alguém como eu, que me via igual a
um lobo faminto em busca de uma fêmea. Eu não poderia sucumbir ao
desejo carnal, passar a vê-la com outros olhos, naquela altura do
campeonato apenas a respeitava por ser uma figura importante do meu
passado e nada mais.
Só que, enquanto a observava dançar, ficava cada vez mais difícil ser
racional. Estávamos em uma área reservada, privada e com pouco
movimento de pessoas.
Monaliza devorava o terceiro copo de vinho, jogava o corpo para os
lados, rebolava sem se importar com o vestido soltinho que acompanhava
os seus movimentos, revelando as pernas torneadas, a bunda durinha
coberta por um short fino que consegui visualizar em uma levantada
inocente. Eu me sentia embriagado só por vê-la, como se degustasse uma
dose de bebida forte e que me levava ao delírio.
Controle-se, cazzo!
— Vai passar a noite toda babando enquanto ela curte sem você? —
Alessandro veio se jogando ao meu lado, dando um gole na sua bebida.
— Me deixe em paz, caralho — grunhi, tirando o olhar da garota por
um segundo.
— Você não tirou o olhar dela desde que chegamos aqui. — Riu,
dando um soco de leve em meu ombro. — Vai lá aproveitar enquanto temos
tempo, irmãozinho.
— Ela não é uma dessas garotas da noite. — Engoli em seco,
respirando fundo. — E outra, eu nunca seria capaz de tentar algo com
alguém que parece me odiar.
— Cazzo! Isso é conversa fiada, levante-se e vá ao menos tentar —
incentivou-me. — Só assim saberá se valeu a pena ou não a tentativa.
— Virou conselheiro com algumas doses de vinho? — rosnei, dando
uma leve mordida no lábio inferior. — Vá procurar uma ragazza para
aquecer o seu…
O bastardo não me deixou terminar a frase, levantando-se logo em
seguida.
— Depois não diga que não avisei, presidente. — Piscou um olho,
seguindo o rumo de um corredor que levava à área externa, onde havia
mesas de jogos e apostas.
Soltei uma lufada de ar, frustrado, voltando a olhar em direção à
Monaliza, que continuava se divertindo como se não se importasse com
nada. Eu precisava fazer alguma coisa logo, aproximar-me em passos
lentos, puxar conversa, tentar outra vez conquistar o seu perdão antes que
um novo dia chegasse e eu tivesse que partir para a realidade, onde não
havia outra chance de isso acontecer.
Uma das garotas que trabalhava no cassino passou servindo uma
bandeja com drinques e me ofereceu um sorriso amigável. Travei assim que
vi o copo cheio, pois desde a morte de Melissa não tocava em uma gota de
álcool. Para fazer o que tinha em mente, no entanto, precisava de um ato
ousado de coragem e por isso mandei a promessa que fiz para o espaço.
Aceitei a bebida, levando-a em seguida para os lábios, tomando tudo de
uma única vez antes que me arrependesse de ter feito isso.
Disgrazia!
Aproveitei para pegar outra dose, agradecendo à funcionária com um
aceno leve de cabeça. Logo em seguida me levantei e caminhei em direção
à garota que atraía meu olhar, ela ainda não tinha notado a aproximação
repentina. Cheguei perto demais, quase sentindo a fragrância do seu
perfume único, e toquei em seu ombro devagar.
Monaliza se virou rapidamente, piscando os olhos e um pouco
surpresa.
— Uma bebida pelos velhos tempos? — brinquei, oferecendo o
drinque que tinha em mãos.
— Aceito se você também tomar uma dose desta. — Sorriu,
entregando-me o copo que segurava. — Não pode fazer careta. É só engolir
de uma vez e fim.
— O que tem aqui dentro? — Aceitei, balançando a bebida na mão
esquerda.
— Sei lá, só sei que é bom. — Deu de ombros e tratou de devorar o
drinque que ofereci. — Minha nossa! Esta é uma das melhores.
Estava visivelmente embriagada e isso me incomodou um pouco.
— Seja lá o que tiver dentro, irei beber. — Olhei de relance para ela,
que me encarava; tomei logo de uma vez e senti um gosto amargo na boca,
que desceu queimando.
Cazzo!
— Viu? É uma delícia, Bernardinho — disse rindo à toa.
Uma música agitada começou a tocar e de imediato reconheci a letra.
Quiero respirar tu cuello, despacito
Deja que te diga cosas al oído
Para que te acuerdes si no estás conmigo
Despacito
Quiero desnudarte a besos, despacito
Firmar las paredes de tu laberinto
Y hacer de tu cuerpo todo un manuscrito
— Minha nossa! Vem, vamos colocar a cintura para mexer. — Pegou
em minha mão, puxando-me para o centro onde algumas pessoas
dançavam.
Neguei com a cabeça, pois não sabia por onde começar ou o que fazer,
mas ela parecia não ligar nem um pouco para isso, me puxava, balançava
meus braços conforme a melodia da música e acabei entrando no clima.
Acabei me soltando, entrando no embalo, o calor do momento
submergindo pelo meu corpo. Sorri como nunca antes, embriagado com o
jeito sereno e inocente de Monaliza, que me quebrava em dois,
enfeitiçando-me sem que eu tivesse controle. Uma nova letra começou, uma
batida mais sensual, elétrica, e logo estávamos juntos, corpos colados,
dividindo outras doses de bebidas, sua bunda roçando em mim.
Involuntariamente, desci a mão pela cintura da garota, trazendo-a para mais
perto, querendo nos fundir em um só e apagar a chama do fogo que
incendiava em nós.
Perdi o controle, a racionalidade que restava foi para o ralo e a
conduzi até o canto da parede, reivindicando seus lábios, ansiando tomá-la
de uma vez por todas.
Até o final da noite, Monaliza estaria sob meu domínio,
completamente minha.
CAPÍTULO 6

Um caminhão tinha passado por cima de mim?


Essa era a única dúvida que cercava meus pensamentos desde que abri
os olhos e me dei conta de que estava em um quarto de hotel. Como se não
bastasse constatar aquilo, descobri que estava completamente sem roupa e
com o corpo todo dolorido. Eu ainda estava deitada, tentando processar
tantas informações de uma vez só, e tudo indicava que o meu companheiro
de crime era justamente quem eu tanto odiava.
Eu me lembrava com exatidão de algumas coisas da última noite,
principalmente que aceitara o convite de Alessandro e que Bernardo viera
junto como se fosse um segurança. Em algum momento as coisas
desandaram, bebi muito além do normal e ingeri alguma droga pesada por
sinal, pois o resto não passava de um simples borrão.
O que tinha acontecido?
Eu precisava criar coragem, me levantar e procurar o meu telefone.
Mexi-me na cama e vi o outro lado vazio, lençóis embolados junto aos
travesseiros, sinal de que outra pessoa havia passado por ali. O estranho foi
perceber que estava sozinha e que meu parceiro tinha simplesmente
evaporado antes de se despedir. Fechei os olhos, apertando-os para abri-los
logo em seguida e levantar.
O choque veio.
Desci o olhar para as pernas, que estavam grudentas, resquícios de
uma quantidade exagerada de esperma seco. Meus seios, cobertos de
marcas roxas, de chupões e mordidas. Levei as mãos até a boca, sem
acreditar no que estava vendo, e percebi então que tinha perdido a
virgindade. Dei um passo para a frente e senti um leve incômodo no pé da
barriga. Vasculhando meu corpo, visualizei mais marcas pela bunda, até
mesmo perto da coxa, que seguiam até a minha intimidade, a qual estava
sensível.
Então era isso.
Havia tido a minha primeira vez e nem sequer me lembrava de nada.
Fiquei travada no meio do quarto, sem saber o que fazer até que vi, na mesa
de cabeceira, uma folha de caderno. Caminhei em sua direção para pegá-la,
descobrir o que tinha escrito.
“Oi, provavelmente, assim como eu, você acordou confusa. Não
consigo me lembrar com exatidão da noite que tivemos, mas pelo visto foi
intensa para os dois. Liza, perdoe-me por isso e por deixá-la sozinha, mas
tinha um voo para pegar às seis da manhã. Espero reencontrá-la em breve.
Deixarei o meu número pessoal caso queira conversar sobre o que
aconteceu entre nós. Assinado, Bernardo.’’
Terminei de ler e tratei de amassar o papel com força, odiando-o um
pouco mais.
Meus planos de me entregar apenas ao verdadeiro amor caíram por
terra, pois ao decidir ter uma noite inconsequente acabara na cama do pior
dos homens. Bernardo Mancini outra vez havia me deixado, partido como
sempre fazia, enfim levando junto os caquinhos que ainda restavam intactos
do meu coração.
— Disgrazia! Eu te desprezo, Bernardo Mancini! — gritei alto, sem
me importar.
Eu precisava ir para casa e purificar meu corpo das mãos daquele sujo.
— Não consigo acreditar que isso aconteceu, Liza. Me conta mais…
Carolina não parava de me encher de perguntas desde que mandei uma
mensagem avisando que estava voltando depois de passar uma noite fora e
que deixasse a porta aberta, pois estava sem as chaves. Bastou colocar os
pés em casa para que a minha irmã tirasse o resto da paciência que ainda me
restava, falando sem parar até que tive que contar, omitindo alguns detalhes
apenas para que me deixasse em paz.
— Não vou contar mais nada, garota. — Cruzei os braços, balançando
a cabeça para o lado. — Você ainda é muito nova para saber certas coisas.
— Ah, não, Liza. Por favor… me diz, vocês se beijaram muitas vezes?
Ele foi ao menos carinhoso e tinha uma pegada um pouco mais bruta?
Um pouco de cada para ser mais exata, mesmo não lembrando com
exatidão.
As marcas deixadas pelo meu corpo e o líquido viscoso em minha
intimidade só deixaram indícios de que a noite tinha sido para lá de quente.
Eu daria tudo apenas para me lembrar de algumas coisas, afinal foi a minha
primeira vez e nada mais justo que ter uma recordação, ainda que não tenha
sido com quem sonhei, mas não conseguia me recordar de nada, apenas das
primeiras bebidas.
Bebemos juntos, um, dois, três copos e o resto se apagou da minha
mente.
Parecia que o meu cérebro queria me proteger dessas recordações,
mesmo que uma parte de mim soubesse que não havia a menor
possibilidade de me apaixonar novamente pelo homem que me deixara duas
vezes. Ao menos daquela vez o babaca tinha deixado um bilhete se
explicando e ainda colocou o número, para o caso de eu querer fazer
contato.
Eu nunca faria aquilo.
— Desde quando você ficou curiosa assim? A única coisa que precisa
saber é que foi uma noite memorável. — Sorri.
Era verdade. Eu nunca me esqueceria disso.
Bernardo estava impregnado na minha alma, obra do destino que
sempre o trazia de volta. A única certeza que eu tinha dali para a frente era
que precisava seguir a vida, fingir que esse episódio não tinha acontecido,
pois nunca mais voltaríamos a nos ver. Eu tinha plena consciência de que o
babaca tinha largado tudo para vir ao aniversário da tia apenas com o intuito
de encontrar apoio nas eleições que se aproximavam.
Não foi vão.
Tudo tinha um propósito.
A única falha no caminho foi tê-lo encontrado, juntos nos envolvemos
e lá estávamos outra vez, sentenciados a nunca mais termos um momento
como aquele.
— Eu preciso saber para quando chegar a minha vez. — Carolina
suspirou fundo.
— E, quando esse dia chegar, espero que seja único e inesquecível. —
Estendi a mão para segurar a dela. — E que também seja com o homem
mais perfeito que existir na face da Terra.
— Então é assim que você enxerga o Bernardo? — perguntou, rindo.
— Aquele ogro é tudo menos perfeito, irmã. — Neguei, dando de
ombros. — O momento que tivemos foi passageiro e sem importância.
Falar aquilo em voz alta foi como ser golpeada no estômago. A
verdade sempre tinha um sabor amargo.
— Não sei se devo acreditar em você, Liza. — Franziu o cenho,
encarando-me divertida.
Carolina sempre acreditava no outro lado da moeda.
— Descobrirá com o tempo que estou falando a verdade.
Para colocar um ponto-final naquele assunto, precisava passar pela
farmácia e comprar uma pílula do dia seguinte, afinal a noite imprudente
não poderia render surpresas as quais eu não estava preparada para encarar
no auge da minha vida.
CAPÍTULO 7
QUINZE DIAS DEPOIS.

— Pai. Posso entrar?


— Entre.
Empurrei a porta, abrindo-a suavemente sem fazer barulho, dei um
passo e entrei. Logo o avistei sentado na cama, vestido em seu habitual
pijama, o tablet que usava para acompanhar as notícias do nosso país,
economias e outras coisas, em mãos.
— O bastardo do Miguel vendeu as ações para aquela empresa
multinacional. — Largou o aparelho de lado, lançando o seu olhar em
direção ao meu. — Como pode um homem como ele ter sido capaz de fazer
algo assim? Não consigo aceitar isso.
— Ele deve ter tido os seus motivos. — Não sabia a quem se referia,
mas resolvi responder. — Como o senhor se sente esta manhã? — perguntei
de forma gentil.
Lidar com meu pai era como pisar em ovos, saber como e quando usar
as palavras.
— Ainda viverei por muitos anos, meu filho. — Gesticulou com o
dedo para que me sentasse na poltrona ao lado da sua cama. — E você? O
que o traz aqui?
Nem mesmo sabia o porquê, mas acabei indo me sentar, enfim.
— Vim visitá-lo. Senti saudades — era a mais pura e completa
mentira.
Ao completar meus vinte anos, saíra da casa dos meus pais para morar
sozinho em uma propriedade que ficava a milhares de quilômetros longe
deles. Na época em que decidi isso, Francesco Mancini se opôs, mas não
pôde fazer nada senão aceitar minha escolha, pois eu não suportava mais
morar naquela mansão.
Eu nunca sentia saudades dele ou de quem quer que fosse, raras vezes
me lembrava de Melissa e ansiava tê-la ao meu lado, mas isso logo passava.
Desde muito pequeno aprendi a ser desapegado das coisas, e em especial de
pessoas, pois, sempre que criava um laço com alguém ou uma babá, meu
pai tratava de encerrar. Acabei aprendendo que tudo era líquido, passageiro
e tinha seu fim.
As coisas não foram feitas para durar.
Tudo tinha seu prazo de validade.
— Saudades? Esse é um sentimento que homens como você nunca
devem ter. Mas imagino que esse não seja o único motivo para largar os
compromissos importantes na agenda apenas para visitar o seu pobre e
velho pai — disse, sorrindo largo.
Confirmei com a cabeça, sem expressar nenhuma outra reação.
— Conte. Estou ansioso para saber o motivo que te levou a mentir e
fugir para a casa da sua avó. — Estalou os dedos, dando uma risada seca.
— Soube que o aniversário foi bem agitado, não é mesmo?
Cazzo! Ele já sabia de tudo…
— Não tenho mais dez anos para dar explicações sobre aonde vou ou
o que deixo de fazer, pai — falei sem medo de ouvir um de seus muitos
sermões.
— O pior é que ainda tem atitudes infantis de quem tem, sim, dez
anos, Bernardo. O que tinha na cabeça para fazer isso pelas minhas costas?
Cazzo! Não pensou que poderia comprometer a sua campanha? Já imaginou
o que os jornais falariam se vissem as fotos que recebi?
— Pouco me importa, papai, afinal o senhor tem um arsenal para
limpar qualquer merda que o seu precioso filho faz, não é mesmo? —
Contive-me para não explodir e ofendê-lo com palavras erradas.
— Tudo bem, Bernardo. A sua atitude rebelde não me fará colocar a
perder tudo que fiz para chegar tão longe na política. — Tossiu, ajeitando-se
entre as almofadas. — Mandei limpar todos os registros e vestígios dessa
sua viagem com Alessandro. Cuide para que seja a primeira e última vez,
Bernardo, ou tomarei certas providências.
— Devo lhe agradecer isso, papai? — Ri sem emitir som, querendo
encerrar aquele assunto. — O senhor sempre tem uma carta em mãos, essa é
a porra do seu jogo.
— Não deveria ser tão explosivo assim, filho. A noite com aquela
pobretona não foi mais que suficiente? Oh, não me diga que não esperava
que eu fosse saber?
Levantei-me de um salto, querendo sair daquele quarto de uma vez
por todas.
— O senhor sempre sabe de tudo. Tratou de limpar os vestígios disso
também?
— Espero que tenha se cuidado o suficiente, pois me recuso a ser avô
de um neto gerado por aquela alma sebosa — falou com pesar e desprezo.
Eu nem sequer lembrava da noite que tivemos…
A única coisa que recordava eram as bebidas, a dança e o beijo que
trocamos. O momento casual que tivemos se apagou da minha memória,
não conseguia me lembrar de absolutamente nada, apenas que acordei e vi
Monaliza ao meu lado. Foi um choque constatar que havíamos ultrapassado
o sinal, nos envolvido muito além, e para completar não estávamos lúcidos
o suficiente para fazer tal ato.
Eu me senti sujo por tê-la tocado sob efeito de álcool, ainda que tudo
indicasse que havia sido consensual, pois jamais seria capaz de obrigá-la a
ter relações sexuais comigo. Meu pescoço tinha ficado com marcas de
chupões, costas marcadas pelas unhas, o rosto estava puro cheiro feminino,
provavelmente tinha me fartado em suas partes íntimas, a tocado, lambido
de tantas formas.
Daria tudo para lembrar…
Deveria existir algum remédio para converter esse efeito, que fora
ocasionado não só pelo álcool, mas por alguma droga ou o que quer que
houvesse naqueles drinques.
— Papai, respeite-a, por favor. Foi apenas um momento casual e sem
importância.
— Espero que tenha sido, filho, ou você já sabe as consequências que
poderão vir.
— Vejo que está com a saúde perfeita. Acabou com as ameaças e tudo
mais? — Coloquei a mão no bolso da calça, procurando o meu celular.
— Por hoje é só — disse irônico, o sorriso estampado no rosto. —
Volte mais vezes, Bernardo. É sempre bom tê-lo de volta em casa. Espero
que a próxima vez que aparecer seja para anunciar que encontrou uma
esposa.
— Não preciso de uma, pai. — Um nó se formou na garganta quando
me lembrei que estava, anos atrás, a um passo de me casar com Melissa. —
Uma noiva já foi suficiente.
— Cazzo! Morta? Precisamos que ela esteja viva e saudável para gerar
herdeiros.
— O foco é apenas vencer as eleições e manter o nosso país próspero.
— Não tenho dúvidas de que conseguirá isso, mas antes precisa
conquistar cada vez mais poder e influência para vencer de primeira. Uma
família forte é o primeiro passo. Porém, quanto a isso, providenciarei para
que aconteça antes que…
— Já chega, papai! — fui rude, erguendo o dedo. — Adeus.
Caminhei em passos apressados até a porta, saindo dali e daquela
toxicidade dele.
Para completar, precisava encontrar uma esposa antes que meu pai
interviesse.
CAPÍTULO 8

— É por isso que esse país não vai pra frente! Olha só isso, meu Deus!
Estava indignada com uma notícia que passava no jornal das oito da
manhã. Eu sempre parava para assistir e conferir ao que estava acontecendo
no mundo, gostava de ficar por dentro dos assuntos diários e algumas vezes
me deparava com fofocas relacionadas à política, outras envolvendo o nome
de Bernardo Mancini.
Ao passo que se aproximava a disputa presidencial, as aparições em
eventos sociais, visitas importantes se tornavam mais frequentes e viravam
notícias internacionais. Eu sabia lá no fundo que ele era a minha única
opção de voto e que cumpriria com êxito o seu mandato, caso fosse eleito.
Só não esperava que fosse um terço do seu pai, um homem sem escrúpulos
e que nunca olhou para a classe mais pobre do país. Francesco Mancini era
respeitado pela classe alta e poderosa, idolatrado por muitos, mas quem o
conhecia de verdade sabia que não valia nada.
Aquele político nunca teria o meu respeito, pois me recordava das
inúmeras vezes que ele destratara o meu pai, o motorista da sua sogra,
assim como nunca dirigira o olhar ou palavra à minha mãe, que preparava
as melhores refeições para servi-los. Como um homem desses ficava à
frente de uma nação? Por sorte, o seu mandato acabara e atualmente
tínhamos um representante ao nível, que fez toda a diferença.
Bernardo tinha um opositor ao seu nível, apesar de tudo indicar que
seria ele a ganhar.
Bernardo…
Fazia muitos dias que não pensava nele, tampouco na noite calorosa
que tivemos. Ao passo que o tempo passava, o babaca se tornava apenas
uma lembrança distante, mesmo que contra a minha vontade se mantivesse
vivo em meu coração. Foi duro esconder aquelas marcas deixadas por ele e
lidar com o incômodo que durou, lembrando-me que fui uma imprudente
nos braços do futuro presidente.
Graças a todos os santos e à medicina avançada, tomei no dia
seguinte, após a noite casual, a pílula que eliminaria qualquer risco que
aquele erro pudesse causar.
Já pensou? Um filho de Bernardo Mancini?
Isso estava totalmente fora de cogitação.
— O que foi dessa vez, Mona? — James, o médico do consultório,
perguntou curioso.
Estava tão perdida em pensamentos paralelos que mal o vi chegar.
— Meu Deus! Bom dia, doutor. — Fechei a transmissão a que assistia
no celular para cumprimentá-lo. — Me perdoe… Estava distraída vendo
uma reportagem.
— Suponho que seja uma coisa importante — brincou e caminhou em
minha direção. — Dessa vez não me esqueci de trazer o seu café com
donuts.
— O senhor não precisava fazer isso. — Fiquei sem jeito e sorri de
lado.
— Não custa nada comprar um mimo para a melhor atendente da
cidade. — Deu de ombros e entregou-me a sacola. — Espero que isso sirva
para melhorar seu humor. Quer me contar a que estava assistindo?
— Muito obrigada — agradeci soltando um beijo no ar e ri. — Olha,
não é nada importante. Eu só quero esquecer um pouco que moramos neste
país.
— E pretende se mudar para outro lugar, Mona?
— Por enquanto não. Quem sabe um dia? — Abri a sacola, tirando o
café com o doce, e passei a língua nos lábios. — Isto aqui é uma delícia.
Muito obrigada!
— Pare de tantos agradecimentos, garota. Vamos aproveitar que o
primeiro paciente do dia não chegou e devorar juntos esse doce. — Fez um
gesto com o polegar e deu uma risada. — Um pouco de açúcar para
começar bem o dia.
— Ainda bem que você é médico, caso eu passe mal. — Abri a tampa
e bebi um pouco do café.
James, além de ser meu chefe, também havia se tornado um grande
amigo. A clínica era particular e os seus atendimentos sempre começavam
depois das nove, então sempre tomávamos café juntos e conversávamos
sobre coisas paralelas. Ele era um homem muito atraente, engraçado, mas
reservado sobre a sua vida pessoal. Tinha o dobro da minha altura, os
cabelos loiros, olhos azuis, o perfil perfeito daqueles modelos de revistas, e
que saiu da Grécia para vir morar na Itália.
Era a única que sabia sobre ele.
— Onde vai passar o final de semana? — o médico perguntou depois
de dar uma mordida generosa em seu donut.
— Em casa? Lavando roupa? — brinquei, dando outro gole no café.
— As opções são muitas quando se mora sozinha com um cachorro de dois
anos.
— Então… Pensei que poderíamos sair juntos. Os meus amigos vão
junto, além das namoradas. — Fitou-me, encarando-me. — Eu preciso de
uma companhia para não segurar vela.
— E o que te faz pensar que aceitarei? — Deixei o copo de lado para
pegar meu doce na sacola. — Sabe que uma dona de casa não tem tanto
tempo para sair.
— Sábado, às oito e meia da noite. Prometo te trazer antes das onze.
— E eu vou fingir que sou sua namorada ou algo assim? — Franzi o
cenho, confusa.
— Mais ou menos isso — disse, arregalando os olhos logo em
seguida. — Eu não estaria te pedindo isso se não fosse tão importante.
— Sinto que não está me contando a verdade toda. — Apontei um
dedo em sua direção. — James, vamos me contando a outra versão por trás
desse convite.
— Tem certeza de que quer ouvir?
— Absoluta certeza. — Revirei os olhos. — Conta logo, ou não irei
com você.
— É que um dos meus amigos tem uma irmã por quem sempre tive
uma quedinha, mas a ragazza nunca me deu atenção. Esses dias descobri
que ela está saindo com um bastardo que tem idade para ser pai dela. — O
médico soltou uma lufada de ar. — Pensei que seria interessante fazê-la
perceber o que está perdendo ao se envolver com outro.
— E pensou justamente em mim? — Ri, sem acreditar no que tinha
ouvido.
— É, você é a segunda, depois dela, que acho mais linda nesta cidade.
— Continua me elogiando assim que é bem provável, que até o fim do
ano você acabe casado com essa menina. — Terminei de comer o doce e
limpei a boca com o lenço. — Tudo bem. Eu posso te fazer esse grande
favor, James.
— Eu sabia que podia contar com você, Mona.
— É para isso que os amigos existem. — Dei um risinho sem graça.
Uma mão lava a outra.
CAPÍTULO 9

— Tem mais alguma coisa importante para falar, Camila?


— Por enquanto são só esses os seus próximos compromissos. —
Fechou a agenda de eventos, ajeitou-se na cadeira e sorriu meiga.
— Então arrume as suas coisas, vamos sair em alguns minutos. —
Olhei de relance para o meu relógio no pulso. — Eu só preciso fazer uma
ligação antes.
— Como assim? Pensei que depois daqui… — Não terminou de falar.
— É só um jantar e nada mais. Estou um pouco cansado e não queria
pedir no aplicativo alguma coisa para comer quando chegar em casa. —
Suspirei fundo, desviando o olhar para encará-la. — Você poderia me
acompanhar?
— O que as pessoas vão me falar se o virem comigo? Melhor não…
— Não será a primeira nem a última vez que somos vistos juntos. E
outra, preciso tirar da cabeça do meu pai esse assunto de casamento, e você
é a pessoa perfeita para deixá-lo um pouco confuso, caso tenha
conhecimento desse jantar.
— Então pretende me usar? — perguntou seca, levantando-se da
cadeira. — Eu não posso fazer isso, senhor Mancini.
— Camila, é a porra de um jantar entre dois amigos. Eu não estaria te
pedindo se não fosse em último caso. — Apertei o punho com força. —
Pago o dobro do seu salário caso aceite me acompanhar.
Os olhos cristalinos da garota se arregalaram ao ouvir a proposta.
— Ótimo. No caminho te explico mais sobre isso de casamento.
— Certo. — Acenou com a cabeça e logo saiu apressada da sala.
Levei as mãos ao rosto, esfregando a palma com força sobre os olhos,
estava visivelmente cansado e prestes a cair no sono. Não tinha conseguido
dormir bem nas últimas noites, desde a conversa que tive, nem um pouco
civilizada, com meu pai. As suas palavras autoritárias não saíam dos meus
pensamentos, sua voz rouca o tempo inteiro no meu ouvido, servindo de
lembrete de que eu precisava tomar uma decisão antes que o velho usasse
os recursos que tinha para executar um de seus muitos planos sórdidos.
Francesco Mancini não iria perder essa disputa, principalmente quando o
assunto era seu primogênito, o qual ocuparia a cadeira que fora sua.
Nem que fosse para me obrigar a ter uma família.
Uma esposa de conveniência.
Eu sabia que o meu pai poderia facilmente resolver essa pendência em
um único estalar de dedos, levando em consideração as amizades influentes
que tinha, então conseguir uma esposa de fachada era como tirar doce da
boca de uma criança. Só que daquela vez seria diferente, pois me recusava a
compactuar com o seu plano.
Se era para entrar em um relacionamento de mentira a fim de ganhar
alguns pontos na campanha, escolheria a dedo a mulher para me
acompanhar nessa jornada. Não conseguia pensar em mais ninguém senão
em Camila, minha funcionária exemplar. Era a única pessoa em quem eu
confiava de olhos fechados, mas fazer isso com ela seria como travar uma
guerra com meu irmão, pois Alessandro demonstrava interesse na garota,
ainda que fosse apenas sexual.
Eu nunca seria capaz de colocar os meus interesses pessoais acima do
laço que tinha com o meu irmão, mesmo que ele nunca chegasse a se
apaixonar por Camila. Ter conhecimento disso vinha tirando meu sono,
roubando o resquício de sanidade que ainda tinha, afinal não havia outra
mulher para ocupar essa posição temporária.
Se ao menos Monaliza me perdoasse… Ela era a segunda mulher que
rondava meus pensamentos. Monaliza. Eu compreendia os motivos que a
levaram a nutrir uma rejeição por mim, principalmente porque não levei em
conta seus sentimentos no passado antes de sumir da sua vida sem me
despedir.
— Cazzo! — Dei um soco na mesa e grunhi rouco. — Preciso resolver
isso.
Era o momento de agilizar as coisas.

— Você precisa me ajudar a resolver esse caralho, Camila. Estou


ficando sem saída… — Coloquei as mãos sobre a mesa, olhando-a no fundo
dos olhos.
— Tá. — Ela deu uma mordida nos lábios. — E espera que faça isso
usando quais meios? Não acho que seja uma tarefa muito fácil comprar uma
esposa da noite para o dia, apesar de que tem dinheiro suficiente para fazer
isso e muito mais.
— Não é tão simples quanto parece, Camila — lamentei, engolindo
em seco. — Eu preciso que você faça um documento com algumas
cláusulas dentro do contrato que me protejam emocional e financeiramente
da pessoa envolvida.
— Entendi. Esse é o primeiro passo, certo? O segundo seria encontrar
uma garota?
— Exatamente. — Olhei brevemente ao redor, visualizando a pouca
movimentação no restaurante. — Deve existir algum site que tenha garotas
dispostas a se venderem.
— Garotas de luxo? Isso é complicado. Além de que podem exigir
muito dinheiro ou tornar esse assunto público, o que facilmente mancharia
sua reputação.
Peguei a taça de água e aproveitei para beber um pouco.
— Não tinha pensado por esse lado. — Suspirei, sorvendo mais um
gole.
— O ideal seria encontrar alguém que faça parte do seu meio político
— sugeriu.
— Você seria a esposa perfeita se… — Deixei em aberto e mordi a
ponta do lábio.
— Seu pai sofreria um infarto se o escutasse cogitando uma coisa
dessas. — Deu um risinho.
Camila era uma garota jovem de vinte e quatro anos, baixinha, cheia
de curvas, cabelos loiros, olhos azuis, o típico perfil de fazer qualquer
homem beijar os seus pés, lambê-los até, se fosse preciso. Eu entendia por
que o meu irmão estava tão atraído por ela, se eu não estivesse tanto tempo
trabalhando ao seu lado, vendo-a apenas como uma amiga, facilmente me
sentiria também obcecado para tê-la.
Era um pecado até cogitar uma coisa dessas.
— Você seria capaz de me ajudar se fosse o caso? — perguntei, um
pouco curioso.
— Hum. Acredito que… — Parou de falar e respirou fundo. — Sim.
— Então quem seria capaz de sofrer um infarto é o meu irmão. —
Peguei a garrafinha de água e servi uma pequena quantidade. — Ele nunca
me perdoaria.
— O seu irmão? Que conversa é essa? — Arregalou os olhos,
surpresa.
Como se já não tivesse percebido os flertes daquele cafajeste.
— Precisa ser um pouco mais esperta, Camila, ou pode vir um lobo e
te devorar.
Relaxei um pouco na cadeira e acabei rindo da expressão assustada da
garota.
CAPÍTULO 10
DOIS MESES DEPOIS.

— Dá um sorrisinho, namorada.
— Essa é a terceira vez que me pede isso, não se cansa, não? Que
coisa mais chata, doutorzinho. — Empurrei James para o lado e coloquei
uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Estou cansada de ser modelo por
hoje.
— Prometo que será a última vez. Um sorrisinho, vai! — Apontou a
câmera fotográfica e voltou a tirar fotos ignorando o meu pedido.
— Vou começar a cobrar, viu? Você tem dinheiro suficiente para pagar
e não aceito menos que um Pix com vários zeros depois do número dez. —
Dei de ombros e consegui escapar da sua sessão de fotos, caminhando para
o banco da praça.
A ideia de fingir ser namorada do meu chefe estava indo longe
demais.
Fazia mais de um mês saíamos juntos para eventos sociais de que o
médico participava, além de encontros aleatórios com seus amigos, e eu
ainda me perguntava o porquê de continuarmos com uma mentira que não
agregava nada a minha vida ou na dele. Claro que me distraía, conhecia
novas pessoas e ganhava um bônus no salário que era de grande ajuda na
hora de pagar o aluguel do apartamento, além de manter o estoque de
rações de Zoe bem abastecida.
No começo, era apenas para atrair a garota em que James estava
interessado, mas, ao passo que o plano não surtia efeito, esse deixou de ser
o foco principal, Aquela situação havia se tornado algo comum e ainda não
tínhamos colocado um ponto-final nela. Sorte que o médico era respeitoso,
nunca tentara me beijar ou forçar algo só para parecer um namoro de
verdade, pois, assim como eu, ele também estava com o coração fechado.
Blindado com sete chaves.
Só estamos unindo o útil ao agradável.
Era bom estar ao lado dele, sua companhia trazia um colorido novo
aos meus dias, mas bastava chegar em casa para a tristeza voltar com força,
a saudade do meu lar apertava o coração, as lembranças de um passado
distante vindo e voltando, até mesmo de Bernardo Mancini, que não me
deixava em paz uma única vez na vida.
Perguntava-me se aquela noite tinha tido algum significado para o
futuro presidente do país, se ele ao menos sabia que tinha sido a minha
primeira vez, mas as respostas nunca vinham. Eu nem mesmo me dava ao
trabalho de procurá-lo, pois temia ser rejeitada como no passado. No
entanto, acompanhava pelo celular as notícias sobre seu nome,
principalmente as fofocas de um suposto envolvimento com sua secretária.
Confesso que no dia em que li isso senti uma pontada no coração, um ciúme
sem fundamento, pois nunca teríamos nada além daquela noite apagada.
Nunca consegui lembrar como foi ser dele e estar em seus braços.
— Não me diga que já está cansada, Mona. — James veio em minha
direção depois de guardar a câmera na mochila que carregava nas costas.
— Sim. — Ajeitei-me no banco e cruzei os braços. — Estou muito
cansada.
Não era uma mentira.
Nos últimos dias vinha me sentindo indisposta fisicamente, levantava-
me para trabalhar porque precisava caso quisesse realizar meus sonhos e dar
um futuro de qualidade para meus pais, mas a vontade de continuar deitada
era grande. Sem contar que estava sonolenta mais que o normal, comendo
pelos cotovelos como se estivesse passando necessidade, o que nem de
longe era o caso.
O meu corpo parecia dar sinais de que algo estava errado.
Eu só não sabia exatamente o porquê.
— Vou comprar uma água com gás, ok? Quer mais alguma coisa?
— Sem gás. — Fiz careta. — Uma barrinha de cereal, se tiver.
— Uma fruta não seria melhor? Pensa que esqueci que veio o caminho
todo reclamando que estava enjoada? — O médico me encarou,
preocupado.
— Que bom que tenho você para cuidar de mim. — Encostei o rosto
em seu ombro.
— Amigos servem para isso, não é mesmo? — Abraçou-me de lado.
— Eu acho que seria bom dar uma passada no consultório para que te
examine melhor, talvez sua pressão tenha baixado um pouco com esse calor
infernal que está fazendo.
— Não. — Gemi só de pensar em ficar mais alguns minutos no carro.
— Eu só quero ir para casa e descansar… Tenho certeza de que logo ficarei
bem.
— Mona, por favor… Não custa nada cuidar da sua saúde, garota. Vou
aproveitar e solicitar alguns exames de sangue. — Suspirou fundo. — Não
precisa se preocupar com os gastos, isso está dentro do seu plano de saúde,
ok?
— Que sorte a minha ter um namorado médico — brinquei e ele riu
baixinho.
— Quanto a isso… Estou te sufocando com essa mentira, não é
mesmo? Eu sei que não voltamos a falar sobre isso desde aquele dia, mas à
medida que o tempo passa sinto que estamos levando essa brincadeira longe
demais. — Foi sincero.
— E você decidiu que agora é o momento perfeito para discutirmos
nossa relação?
— É agora ou nunca.
Afastei-me um pouco dele para olhar dentro de seus olhos e, quando
estava prestes a abrir os lábios para responder, senti uma vontade imensa de
vomitar. Levei a mão até a boca para tampá-la, mas não consegui conter a
ânsia, ajeitei-me antes que me sujasse e coloquei, logo em seguida, tudo que
tinha comido para fora.
Droga!
Pensei que tinha esvaziado o estômago, mas foi questão de segundos
até vomitar novamente, como se nunca fosse parar.
— Porra, Mona! Era tudo que faltava pra te levar agora mesmo ao
hospital!
— Não… — gemi, finalmente a ânsia diminuiu. — Me leva pra casa.
— Eu sou médico, caralho… Não posso deixá-la assim. Vou cuidar de
você, ok? — Segurou com as duas mãos em meu rosto, sem se importar
com a sujeira. — Não vou deixá-la assim. Se as minhas suspeitas forem
confirmadas…
— Hã? — Choraminguei, fechando os olhos. — Não estou
entendendo…
— Acho que vamos ter um bebê, Mona — disse tão certeiro, como se
tivéssemos ficado sexualmente, mas isso nem em sonhos andou prestes a
acontecer.
Eu e ele? Nunca!
— Ai, quero vomitar de novo — avisei, mas ele não se afastou e me
ajudou, segurando os fios dos meus cabelos que estavam bagunçados. —
Ah…
— Não sei se fico feliz ou triste. — O Médico suspirou fundo.
Fechei os olhos, voltando a colocar para fora do estômago o que não
tinha mais e que queria sair.
Feliz ou triste?
Eu não sabia o que pensar.
CAPÍTULO 11

— Precisa sorrir, filho, ou amanhã as notícias serão sobre sua apatia


com o público.
— A senhora não tem nada de importante para fazer, mamãe? Com
um evento como esses imaginei que teria pouco tempo para importunar o
seu filho que anseia ficar em paz. Ao menos hoje — salientei, deixando
claro meu real desejo.
— Vai ser sempre assim? — Encarou-me perplexa. — É tudo para o
seu bem, filho.
— Não, mamãe. Isso é tudo sobre vocês — fui sincero, suspirando. —
Já pensou que tudo o que eu mais queria neste exato minuto era estar em
casa? Descansando? Eu tive uma semana de merda, reuniões e eventos
como esses para frequentar. Acredite, mamãe querida, a única coisa que
menos quero nesta noite é sorrir.
— Bernardo, filho. — Tentou tocar em meu rosto, mas impedi. — Me
perdoe.
— Nesse jogo de Francesco Mancini, somos apenas peças em seu
tabuleiro. O mais triste é ver que ele conseguiu fazê-la ficar assim, ou pensa
que esqueci que a senhora me traiu, mamãe? — alfinetei-a, balançando a
cabeça para o lado.
— Não ouse me acusar sem provas, Bernardo. — Arregalou os olhos,
perplexa.
— Provas nunca serão suficientes para mostrar o quanto sua lealdade
está com o papai, e não com seus filhos. Como acha que ele ficou sabendo
sobre a viagem? Sei que os meios para descobrir são muitos, mas tem o seu
dedo nisso tudo.
— Estamos tentando te proteger, filho… — Suspirou fundo.
— Que bela forma de proteção, mamãe. Será que devo lhe agradecer
de joelhos?
— As pessoas estão nos observando, vamos conversar no escritório.
— Não quero conversa, dona Giulia. Estou de passagem. —
Aproveitei que um garçom estava passando e peguei uma taça de vinho.
— Filho, você não bebe desde que…
Promessas foram feitas para serem quebradas.
Eu não era mais o mesmo desde a noite em que fui imprudente e
quebrei o voto que fiz à alma de Melissa. Não poderia continuar sendo fiel
àquele juramento, pois quando se prova do fruto proibido é quase
impossível não o desejar um pouco mais.
Era o que eu vinha fazendo com frequência nos últimos dias,
afogando-me em doses de bebidas para conseguir me acalmar, diminuir a
adrenalina do meu corpo, que padecia em meio a tantas responsabilidades,
compromissos que exigiam muito de mim. Se do outro lado Melissa
pudesse me ver, ficaria decepcionada com a escolha errada que eu havia
feito ao quebrar a promessa de, em sua memória, jamais voltar a fazer
aquilo.
Ela nunca me perdoaria.
Ao menos não estava mais viva para me julgar.
— Exatamente, mamãe. Desde que Melissa morreu, não bebo mais,
porém estamos em outros tempos e as pessoas mudam, certo? A senhora
mesmo é a prova viva de que mudanças acontecem da noite para o dia, caso
contrário teria sido fiel em manter em segredo a viagem que fiz para o
aniversário da sua querida irmã.
— Filho… — tentou falar.
— Nunca vou perdoá-la, mamãe. — Bebi um pouco do vinho. —
Mas, sem sombra de dúvidas, foi a melhor noite de toda a minha vida. Sabe
aquela garota que vocês fizeram de tudo para me separar? Então, lá estava
ela vinte anos mais velha. E, bom, como dois mais dois são quatro, passei a
noite entre as pernas dela.
— Bernardo, respeite a sua mãe. — Ergueu um dedo em minha
direção. — Não quero ouvir uma coisa dessas, filho. Pare agora mesmo,
ouviu?
— Pergunte ao papai, que ele irá confirmar tudo isso. — Sorri irônico
com a situação. — Cazzo! Foi a noite mais memorável e anseio repeti-la
milhares de vezes.
— Seu pai nunca irá permitir uma coisa dessas — soltou o seu
veneno.
— Continuem tentando um pouco mais, quem sabe assim obtenham
êxito. Adeus, mamãe.
Logo os olhares estavam voltados sobre a conversa exaltada que
estávamos tendo. Engoli em seco, voltando à posição formal para encerrar
aquilo antes que se tornasse de conhecimento público e virasse manchete
nos sites de fofoca do país. Aproximei-me da matriarca da família para
deixar um beijo em sua testa e me afastar, segui caminho para a saída que
levava até o jardim da nossa mansão.
Finalmente consegui respirar fundo.
Caminhei até o banco próximo das árvores para me sentar um pouco
enquanto terminava de saborear aquela taça de vinho. Não iria continuar
bebendo, afinal precisava dirigir algumas horas para chegar em casa e
esperava me manter lúcido o suficiente para isso. Eu não imaginava que
essa noite iria ter uma discussão desse nível com a minha mãe no meio de
um evento beneficente organizado pela matriarca, ainda mais quando era a
única pessoa que se salvava perto da ganância do meu pai, mas era de se
esperar que a sua lealdade sempre pertenceria a ele.
Deixei a taça de lado, no banco, após finalizá-la, olhei para o céu e
logo vieram as lembranças de quando era pequeno. Eu amava aquele
jardim, era o único lugar em que gostava de brincar com meu irmão, e
muitas vezes também com as babás que ficavam responsáveis pela nossa
criação. Ali eu, junto de Alessandro, me divertia sem hora para acabar,
corríamos entre as árvores, livres, libertos.
Sempre foi assim.
Nosso pai nunca teve tempo suficiente para dar atenção aos filhos,
nossa mãe era jovem demais para estar casada com um homem que tinha o
dobro da sua idade e a fez gerar duas crianças com uma diferença mínima
de idade, então a matriarca não se importara de contratar babás para
desempenhar o papel que era seu como mãe. Eu compreendia que ambos
tinham uma vida agitada, mas filhos eram uma prioridade acima de todas as
coisas. Esperava que um dia, quando fosse pai, cumprisse com tal missão,
nunca deixando de estar presente em cada etapa.
Antes de pregar exemplo ao povo, precisava ser em casa.
Esse era um dos piores defeitos dos meus pais. Os dois pareciam ter a
família dos sonhos de qualquer pessoa, mas a realidade por trás era
totalmente outra. Só que isso nunca foi de conhecimento geral e até que
meu pai continuasse vivo, respirando como nunca, ninguém nunca seria
capaz de descobrir a verdade.
Eu só precisava continuar sobrevivendo como vinha fazendo desde
pequeno.
O meu celular, que estava no bolso da calça, começou a vibrar.
Estendi a mão para pegá-lo e logo notei que era uma mensagem de um
número desconhecido.
“Oi. Monaliza aqui. Podemos conversar?”
Abri um sorriso involuntário assim que li e respondi em seguida.
“Sim. Posso te ligar?’’
Logo a resposta veio, iluminando o meu olhar.
“Pessoalmente. Vou te passar o endereço.”
Enviei um emoji, curioso para descobrir a pauta da conversa.
O que tinha acontecido para que finalmente me procurasse?
Esperava que Monaliza não tivesse lido uma das muitas notícias
envolvendo o meu nome e o de Camila em sites de fofocas, pois tudo aquilo
tinha sido parte de um plano para confundir meu pai enquanto buscávamos
uma esposa de conveniência.
Aquela era a segunda chance que eu tinha de reconquistar a confiança
de Monaliza.
CAPÍTULO 12
DIAS ANTES

— Podemos começar o exame?


— Já posso começar a te odiar? Eu não acredito que vai me fazer passar
por isso.
— Estou aqui com você, pode ficar tranquila, Mona — James tentou me
tranquilizar, iniciando a ultrassom transvaginal.
Fechei os olhos com força, sentindo vontade de me levantar daquela cama
e encerrar o exame, pois a vergonha, nessa altura do campeonato, estava no
nível máximo. É claro que para o médico não era nenhuma novidade, ele fazia
aquilo incontáveis vezes, mas eu me sentia desconfortável de tantas formas que
não conseguiria enumerar.
James estava ali para cumprir com o seu papel como médico ginecologista
e clínico geral, mas saber que poucos dias atrás éramos namorados de mentira
não ajudava em nada. Eu tentei ir em outra médica, mas não encontrei vaga
disponível na agenda, então acabei logo aceitando me consultar com o meu
chefe e melhor amigo.
Era só um exame e nada mais.
— Pode abrir os olhos, garota. Olhe só ali na tela.
Desde o dia em que eu havia passado mal na praça, James colocou na
cabeça que os sintomas que eu vinha sentindo eram de uma gravidez que já
estava bem adiantada. Tentei a todo custo não perder a sanidade, não sair
correndo feito louca. Tinha idade suficiente para assumir as consequências de
um ato imprudente o qual praticara com Bernardo, ainda que não me lembrasse
bem de como tudo decorrera.
Se ali tivesse mesmo um bebê, era de ninguém menos que o futuro
presidente.
Logo após a sequência de vômito, James me levou para sua casa e tratou
de cuidar da minha ânsia com sucos naturais, além de fazer uma sopa quentinha
para forrar meu estômago, que estava vazio. Eu estava muito longe dos meus
pais para ter uma rede de apoio em um momento como esse, então o médico era
tudo de que precisava. Não tinha forças suficientes para me cuidar sozinha
naquele estado frágil em que me encontrava, nem mesmo teria coragem de
recorrer à família.
Eles não precisavam saber disso… Não tão cedo assim.
Naquele dia, acabei dormindo na casa de James, em um dos quartos de
visita, e no dia seguinte fomos juntos fazer um exame de sangue para descobrir
de uma vez a verdade. Consequentemente veio o resultado positivo e lá estava
eu, em cima de uma cama, para saber o tempo da gestação, bem como o estado
de saúde do meu bebê.
Meu bebê. Meu e de Bernardo.
Após a noite passada com ele, eu havia encontrado esperma por todo
canto, e por isso tinha tomado a pílula do dia seguinte para evitar uma gravidez.
Uma vez que comigo o contraceptivo de emergência não surtira efeito algum, a
primeira coisa que questionei foi a sua eficácia. Tive que abrir o jogo, resumir a
história para James, e ele me explicou que provavelmente havia falhado, já que
nenhum método era cem por cento seguro. Dentre tantas possibilidades de sim
ou não, fui presenteada com o inesperado.
— Olha só o que temos por aqui, Mona… Um feto. Olha só. — Indicou
com o olhar em direção ao aparelho de TV, que refletia as imagens do útero. —
Bonitinho, não?
— Meu… Isso é realmente verdade? Não tem a menor chance de ser
mentira?
— Não, Mona. Esse é o nosso bebezinho.
Franzi o cenho e continuei encarando o borrão na tela.
Tão pequenininho… Ou pequenininha?
Eu não sabia descrever como me sentia, nem mesmo me sentia mãe, pois
nunca em toda vida imaginei que seria naquelas condições. Ficar grávida
justamente do homem que seria presidente de um país era tudo que eu não
desejava. E se ele não quisesse o bebê? E se não acreditasse que era seu?
Quantas dúvidas de uma vez.
Bernardo provavelmente me rejeitaria.
— Como você não se lembra da data da sua última menstruação, tudo
indica que esteja entre oito a nove semanas. Em outras palavras, pouco menos
de dois meses — James disse, lançando-me um sorriso de lado. — O bebê está
bem, mas precisamos acompanhar sua gestação de perto e fazer o pré-natal
certinho. Eu estou com você para tudo, ok? Vamos cuidar bem desse garotinho
ou garotinha.
Suspirei fundo ao ouvi-lo.
— James — chamei-o baixinho. — Esta criança não veio parar aqui
sozinha. Ele ou ela tem um pai que precisa saber de sua existência. — O médico
ainda não sabia com quem eu tinha me envolvido.
— O babaca é um homem de sorte e espero que cumpra bem com o papel
de pai, senão estarei aqui para cuidar e proteger, nunca se esqueça disso, Mona.
— Eu não sei como agradecer por tudo que vem fazendo por mim e agora
por nós. — Toquei com a mão na minha barriga, fazendo um carinho suave.
— É só permitir que eu seja seu médico e cuide da sua gestação. — Ele
finalizou o exame e foi higienizando as mãos. — Não aceito menos que isso —
brincou.
— Que triste, então… Eu estava pensando em procurar outra médica,
sabe? — Dei um risinho de lado.
— E perder o melhor médico da cidade? Quanta ousadia, Mona.
Eu sentia lá no fundo que, apesar de não ter percebido antes, James estava
confundindo as coisas entre nós e provavelmente estava interessado por mim,
bem como em assumir uma criança que não tinha o seu sangue. Não tinha
notado isso antes, mas desde o encontro na praça esse fato se evidenciava, como
se uma venda tivesse sido tirada dos meus olhos. O que começara com uma
brincadeira boba tomou rumos desconhecidos e era fato que eu nunca iria
corresponder, pois só o enxergava como um amigo. Eu estava cheia de coisas
para resolver, principalmente com um filho no ventre para cuidar e um pai a
quem precisava revelar isso.
Ai, Deus…
Como contaria uma coisa dessas a Bernardo?
— James… — sussurrei baixinho. — Preciso contar ao pai do bebê.
— Tem o meu total apoio. — O médico sorriu de lado. — E, se nada der
certo, também estarei aqui. Não importa quem seja o pai dessa criança, eu meio
que já a amo desde o positivo do exame de sangue. — Segurou na minha mão.
— Que coisa mais linda, James. — Meus olhos se encheram de lágrimas.
— Estou com você para tudo. Esse é o nosso bebê.
— Amigos?
— Sempre e para sempre — respondeu, sorrindo largo.
E eu sabia, lá no fundo, que ele queria tudo menos amizade…
Será que Bernardo iria querer o bebê tanto quanto James já queria?
CAPÍTULO 13

— Pode estacionar aqui. Ela mora aqui — confirmei com o motorista


e guardei o celular no bolso da calça. — Fiquem atentos caso percebam
alguma movimentação.
— Pode ficar tranquilo, senhor Mancini.
Relaxei o corpo, preparando-me mentalmente para abrir a porta do
carro e sair.
Não era seguro sair no meio do expediente para encontrar uma antiga
amiga, levando em consideração que as câmeras e notícias estavam voltadas
para meu nome, ao passo que faltava pouco tempo para as eleições
acontecerem. Eu sabia de todos os riscos ao aceitar vir ao apartamento de
Monaliza, mas nem mesmo ter conhecimento disso me fez recuar, pois
estava ansioso para ter a chance de reencontrá-la e pedir desculpa pelo
acontecimento daquela noite.
Para completar, Monaliza morava justamente no centro da cidade, em
um dos prédios que eram administrados pela corretora da minha família
paterna, o que me surpreendeu assim que recebi a localização do seu
endereço por mensagem. Era estranho até mesmo pensar que estávamos tão
perto um do outro sem nunca termos a chance de nos encontrarmos como
no dia do aniversário da tia Diana.
Parecia uma peça pregada pelo destino.
Estava ansioso desde que recebi seu recado na última noite, pois não
fazia ideia de qual era a pauta da conversa que ela tanto queria ter
pessoalmente. A minha intuição não costumava falhar e logo compreendi
que era algo de extrema importância, caso contrário a garota nunca teria me
procurado, mesmo que naquele dia eu tenha deixado um bilhete junto do
número que usava para manter contatos pessoais.
Ela nunca me procurou…
Monaliza nunca dava o braço a torcer e desde pequena era assim. Eu
me lembrava das vezes que, quando crianças, entráramos em embates e
quase sempre a garota não cedia no final das contas. Não importava o jogo,
as brincadeiras para lá e para cá, ela se mantinha resistente e, pelo visto,
alguns anos depois, mais velha, continuava igual.
Eu reconhecia que tinha uma parcela de culpa quanto a isso e sabia
que deveria ter procurado manter contato com a garota depois que consegui
independência dos meus pais, mas coloquei uma pedra em cima do assunto
e nunca mais tentei procurá-la. A vida tinha formas estranhas de nos jogar
contra o passado e outra vez eu me via prestes a encará-lo de frente.
Um dia…
Respirei fundo, peguei os óculos escuros e ajeitei na cabeça o boné
que fazia parte do arsenal que eu vestia na tentativa de parecer ser um
homem comum visitando uma conhecida pela manhã. Tinha dois carros um
pouco distantes do meu motorista, para fazer a segurança e impedir que
algum fotógrafo tirasse uma foto, caso algo inesperado acontecesse. Abri a
porta do automóvel e saí de uma vez por todas.
Cumprimentei o porteiro do prédio com um aceno de cabeça e segui
para o elevador que me levaria ao andar onde morava Monaliza. Em poucos
segundos, saí meio incerto, mas segui caminho até a porta que tinha o
número que recebi por mensagem. Mordi a ponta do lábio com força antes
de apertar no botão.
Uma, duas, três.
A porta se abriu e foi impossível não abrir um sorriso ao vê-la.
— Oi, bom dia, Liza — cumprimentei-a. — Posso entrar?
Ela acenou um sim, agradeci sussurrando um obrigado e entrei. Dei
uma breve olhada no pequeno lugar, sala conjugada com cozinha e outro
cômodo que julguei ser o seu quarto. Caminhei até o sofá para me sentar,
mas fui surpreendido por uma bolinha de pelo, tão gordinha, que começou a
pular nos meus pés sem parar.
— Oh! Que gracinha! Qual o nome desse filhotinho? — Abaixei-me
para acariciar os pelos do cachorro, que começou a lamber sem parar minha
mão. — Que adorável.
— O nome dela é Zoe — Monaliza sussurrou baixinho, mas consegui
ouvir. — Princesa, vai se deitar, por favor — pediu, mas o animalzinho não
obedeceu.
— Está tudo bem. — Sentei-me e aproveitei para continuar
interagindo com a cachorra. — Podemos ser amigos, não é mesmo, Zoe? —
Dei um sorriso de lado.
— Hum… Obrigada por vir — murmurou, os braços cruzados em
frente ao vestido soltinho que usava naquela manhã. — Como estão as
coisas? Animado para ser o próximo presidente do país? — Veio devagar se
sentar no outro sofá.
— Acho que nasci preparado para isso ou o meu pai me treinou o
suficiente para esse momento. — Mantive a mão fazendo carinho na
pequena Zoe. — Mas confesso que estou um pouco nervoso. É um desafio e
tanto. Sabe, não é tão fácil quanto parece, carregar essa responsabilidade
nas costas exige muito.
— Imagino que sim. — Deu de ombros. — Desde pequeno levava
jeito para falar, liderar as brincadeiras e sempre tinha uma solução para
tudo. — Suspirou fundo.
— O tempo passou rápido. — Ajeitei-me no sofá e encarei-a nos
olhos. — Fiquei surpreso com a sua mensagem. Depois daquela noite
pensei que nunca mais fosse querer me ver, nem mesmo se fosse pintado de
ouro. — Estalei a língua, brincando.
— É… Eu não sabia se era certo te mandar aquela mensagem, mas fiz
e espero que não me arrependa de ter tomado essa decisão. Eu só não quero
que…
Franzi o cenho, esperando que ela continuasse a falar, mas então nada
aconteceu.
— Quer me falar alguma coisa importante, Liza?
— Sim. — Uniu as duas mãos, apertando os dedos com força. —
Estou grávida.
Fechei os olhos duas vezes para confirmar se tinha escutado direito.
— Não faça essa cara, por favor. Eu vou te mandar o exame de sangue
e a primeira ultrassom que fiz. — Suspirou fundo, sem tirar o olhar do meu.
— Certo. Eu não esperava por uma notícia dessas tão cedo. — Parei
de acariciar a cachorra para colocar as duas mãos no rosto. — Caralho…
Então, se me chamou é porque desconfia que o bebê seja meu filho?
— Eu tenho absoluta certeza de que ele é seu, Bernardo — aumentou
o tom da voz.
Não podia ser… Como aquilo poderia ter acontecido?
Logo as lembranças da nossa noite vieram em peso, mesmo que eu
ainda não me lembrasse de como o ato tinha decorrido, provavelmente fora
imprudente e nem sequer me prevenira.
— Tudo bem. — Tentei manter a compostura e não perder o controle
da situação. — Se diz estar realmente grávida de um filho meu, eu vou
solicitar um exame de DNA para confirmar a paternidade. — Era a coisa
mais correta a ser feita.
E se realmente fosse? Se ela não estivesse mentindo?
Monaliza se levantou apressada e apontou um dedo em minha direção.
— Como ousa dizer uma coisa dessas? Eu nunca te chamaria aqui se
não tivesse tanta certeza de que você é o pai. — Os seus olhos estavam
cheios de lágrimas.
— Eu não me lembro de nada que aconteceu naquela noite… — tentei
encontrar um argumento plausível.
— Estamos quites então, pois também não consigo me lembrar da
minha primeira vez — gritou, revelando um detalhe que me soava
desconhecido. — Se você ao menos lembrasse saberia que até aquela noite
eu era virgem e que perdi a virgindade da pior forma possível —
choramingou, voltando a se sentar no sofá.
— Eu não sabia, Liza… Cazzo! — Vi-me travado, sem conseguir falar
mais nada.
— Agora que já sabe o meu segredo, pode ir embora — pediu em um
murmúrio.
— Como espera que eu vá depois de ouvir uma notícia dessas? —
Levantei-me do sofá. — Estou prestes a dar um salto grande na minha vida
e descubro que vou ser pai. E o pior de tudo é que não consigo me lembrar
de como isso aconteceu.
— Se esse é o principal motivo pelo qual não acredita que seja o pai,
pode ir embora. — Expulsou-me, gesticulando com o dedo. — Eu e essa
criança não precisamos de dúvidas e tampouco de ser submetidas a um
exame para comprovar a verdade que está bem clara. Só vá embora e nunca
mais volte, Bernardo.
— Está errada, Liza. — Olhei-a de relance. — Esse assunto não
acabou. Eu vou apenas deixá-la em paz pelas próximas horas, mas voltarei
em breve para cumprir com as minhas responsabilidades de pai.
— Até minutos atrás, você nem mesmo acreditava nisso.
— Isso foi antes de decidir que você se tornará minha esposa.
CAPÍTULO 14

— Ele te pediu em casamento? Que história é essa, Liza?


— Fala baixo, Carolina, ou a clínica toda vai escutar. — Revirei os
olhos, fazendo um sinal para a minha irmã mais nova diminuir o tom da
voz. — Por favor.
— Desculpa, Liza… É que estou sem acreditar que Bernardo foi capaz
de pedir isso. Não é meio estranho? Aposto que ele pensou com a cabeça
errada.
— É claro que não vou aceitar uma coisa dessas. Estamos no século
vinte e um, irmã. — Rabisquei a folha em branco da agenda. — Eu posso
muito bem ter essa criança sozinha sem ajuda paterna e não tem nenhum
problema. Quantas mulheres por aí não criam seus filhos sem ter apoio
algum do genitor?
— A diferença é que nenhuma delas está grávida do futuro presidente.
— Carolina, fale baixo — pedi pela segunda vez e balancei a cabeça
para o lado.
Eu não deveria ter chamado a minha irmã para passar algumas
semanas no meu apartamento, mas desde o encontro inusitado com o
Bernardo, dois dias atrás, não vi outra saída senão buscar uma rede de
apoio. Não poderia continuar me aproveitando da boa vontade de James,
que parecia estar disposto a tudo para me manter segura, quando o médico
por outro lado tinha, lá no fundo, segundas intenções.
Não dava para colocar mais lenha na fogueira, principalmente depois
de ouvir Bernardo falar sobre casamento logo após duvidar da paternidade.
Ele tinha mudado de opinião drasticamente e me deixou, no fim, ainda mais
irritada com a situação. Eu não conseguia engolir que por um minuto o
babaca bilionário cogitara que o meu filho fosse de outro homem, mas
bastou que ele escutasse a verdade, que tinha sido o meu primeiro, e a ficha
caiu lhe dando um choque de realidade.
Homens…
Entre tantos homens no mundo para quem me entregar, acabei caindo
nos braços do mais arrogante e babaca. Ele nem sequer fora capaz de
reconhecer que, mesmo sem lembranças, aquela noite imprudente poderia
gerar consequências irreversíveis.
— Tá, Liza. É que é muita coisa para processar. Faz pouco tempo que
cheguei aqui e descubro que vou ser tia — comentou, sorrindo. — Eu
pensava até um dia atrás que você era assexuada, pois nunca te vi se
envolvendo amorosamente com ninguém, aí vem com a notícia de que está
grávida.
— E o que te faz pensar uma coisa dessas? — Fiquei curiosa. — É
lógico que me envolvo e já beijei muitas bocas por aí, mas a verdade é que
nunca consegui ir para os finalmentes, entende? Eu só não sabia que isso
me tornava alguém que não sentia atração sexual por ambos os sexos. —
Acabei rindo.
— Desculpa, Liza. A vida no fim tem um jeito louco de resolver as
coisas, né? Eu lembro que você era toda apaixonadinha pelo Bernardo, aí
agora está esperando um filho dele e quem sabe prestes a se casar — disse
toda empolgada.
— Isso não é um conto de fadas, irmã. Eu não o amo e ele tampouco
sente algo por mim. Se formos assumir algum compromisso, será única e
exclusivamente para o bem do bebê.
— E como espera que isso aconteça? Aposto que ele vai querer muito
mais que isso. Se Bernardo tocou em assunto de casamento, é que os planos
vão muito além.
— Como se não o conhecesse de verdade. — Dei de ombros. —
Bernardo só pensa em si mesmo e isso deve ser só papo-furado.
— Ou talvez queira usar isso para promover a campanha?
Eu ainda não tinha pensado nessa possibilidade.
— Então é isso… — Engoli em seco. — Deve ser isso.
— Calma. Não tire conclusões precipitadas, precisa ouvi-lo primeiro.
Quando vão se encontrar de novo?
Bernardo não parava de me enviar mensagens desde que saíra do meu
apartamento. Eu o ignorava e não respondia a nenhuma das perguntas que
fazia. A única coisa que fiz foi enviar o exame de sangue que comprovava a
gravidez e as fotos do registro do ultrassom. O bebê ainda era
pequenininho, um pedaço meu e dele que dentro de alguns meses estaria em
meus braços para ser protegido.
Eu protegeria meu bebê da arrogância do seu pai.
O futuro presidente não era digno de ser o pai do meu bebê. A verdade
é que eu não tinha direito algum de impedi-lo a fazer parte da gestação,
acompanhar nas consultas e dar total apoio financeiro, afinal era também
uma obrigação sua como genitor. Se o desejo de Bernardo fosse realmente
assumir a paternidade, eu não hesitaria em me esforçar para suportá-lo
pelos próximos meses seguintes.
Tudo pelo meu bebê.
— Amanhã vamos sair para jantar — murmurei baixo.
Ele tinha implorado com uma chuva de mensagens, pedindo que
fôssemos nos encontrar para dar continuidade ao assunto que ficou em
aberto no apartamento. Eu tentei ser ao máximo madura e concordei, afinal
tínhamos muito ainda a esclarecer. Queria saber se ainda desejava fazer o
exame de DNA, pois essa resposta seria o gatilho perfeito para eu ir
embora, e ele nunca mais saberia do bebê.
Eu não pensaria duas vezes antes de fazer isso.
— Espero que dê tudo certo no final, irmã.
— Mona, bom dia! Olha só o que temos por aqui. — James chegou à
recepção. — Quem é a garota? Alguma candidata para ocupar o turno da
noite?
— Quem é esse? — Carolina perguntou, desviando o olhar para o
médico.
— James, essa é a minha irmã, Carolina. E, Carol, esse é o meu chefe
— apresentei-os formalmente e percebi de imediato a troca de olhares entre
os dois. — Ela vai passar uma temporada comigo, então se acostume com a
presença dela.
— Seja bem-vinda, bella ragazza. — Ele se aproximou para
cumprimentá-la com um beijo na mão. — Espero que sua estada seja plena
e pacífica.
— Hum… Obrigada. — Carolina ficou sem jeito e se afastou para
trás.
— Se eu soubesse que tinha companhia teria trazido outro café com
donuts — lamentou, sem tirar o olhar da minha irmã.
— Não vejo problema em dividir meu café com ela. — Sorri de lado.
— O doce dessa vez vou recusar, pois estou um pouco enjoada. — Fiz
careta.
— Ah, é verdade. — Ergueu um dedo, como se tivesse se lembrado de
algo. — Eu trouxe algo para esse seu enjoo, mas acabei esquecendo no
carro. Vou pegar.
Deixou as duas sacolas na mesa da recepção e saiu em passos rápidos.
— É impressão minha, ou o bonitão está de olho em você, Liza?
— Acredito que só confundiu as coisas, mas logo perceberá que é
fogo de palha. Quem sabe, com você aqui por perto, ele se dê conta de que
o amor às vezes surge em lugares inesperados — brinquei com Carolina.
Minha irmã arregalou os olhos e fez o sinal da cruz.
CAPÍTULO 15

— Já pensou o que os jornais vão noticiar? Prestes a vencer as


eleições, o futuro presidente descobre que engravidou a filha dos
empregados — Alessandro não perdeu tempo em zombar da minha atual
situação. — Vai ser a matéria do ano.
— Acabou com as piadinhas? Eu não estou vendo um pingo de graça,
seu bastardo. — Encarei meu reflexo em frente ao espelho, ajeitando a
gravata. — Esse é um assunto importante e que deve ser levado a sério,
Alessandro.
— E realmente é, ou você não pensa em rejeitar a criança?
— Não. — Engoli o nó que se formou na garganta e suspirei fundo. —
Eu até cheguei a pensar que essa criança não fosse minha, mas perdi o chão
quando Monaliza disse com todas as letras que ainda era virgem.
— Mio dio! Como isso é possível? Hoje em dia grande parte das
garotas da idade dela já são profissionais do sexo. — Alessandro estava
surpreso com a confissão. — Apesar de que Monaliza nunca foi assim,
desde pequena era retraída, tímida e a única pessoa que a deixava
confortável era você, babaca. Eu lembro muito bem que bastava vê-lo
chegar para que o sorriso nascesse de orelha a orelha.
— Porque ela era apaixonada por mim. — Terminei de arrumar a
gravata e fui fechar os botões do terno. — Me amou tanto no passado para
hoje me odiar.
— Você tirou o cabaço da menina igual a um animal e de quebra a
engravidou, como espera que ela te perdoe? A única coisa que a garota deve
querer é mandá-lo para o inferno.
— Só que isso não é uma opção. Vamos ter um filho juntos. —
Coloquei o relógio de pulso e peguei o meu aparelho celular, colocando-o
no bolso da calça.
Dentro de uma hora encontraria a mãe do meu bebê para colocarmos
um ponto-final no assunto que estava em aberto desde que mencionei o
casamento.
Eu estava realmente disposto a torná-la uma esposa por contrato, ao
menos teria a chance de acompanhar a gestação, o crescimento do meu filho
e de quebra ganharia alguns pontos para alavancar nas eleições. No final
das contas, não foi preciso comprar uma garota para executar esse papel,
pois a vida por si só tratara de resolver as coisas à sua forma natural. É claro
que nunca pensei que teria naquela noite engravidado aquela garota que eu
não via fazia anos, tampouco que ela seria a melhor opção para se casar
comigo. Por obra do destino, estávamos sentenciados a ficar juntos.
Eu não abriria mão do meu herdeiro por nada neste mundo. Nunca
passara pela minha cabeça o desejo de ser pai, mas, agora que tinha a
chance em mãos, iria agarrar com todas as forças e seria o melhor do
mundo. Eu daria ao meu bebê tudo aquilo que não tive chance de ter
quando criança, amor verdadeiro e respeito.
Monaliza poderia me desprezar, odiar com todo o coração, mas eu
ficaria ao seu lado e cuidaria dos dois. Só precisava convencê-la a assinar o
acordo de casamento, selando um vínculo entre nós sem prazo de validade.
A nossa união, uma vez selada, seria apenas de fachada, pois eu não tinha a
menor intenção de envolver sentimentos, além de que as cláusulas iriam
protegê-la física e financeiramente. Se porventura chegássemos a ter
relações sexuais, seria algo que aconteceria naturalmente, afinal éramos de
carne e não havia problema algum, ao menos não da minha parte.
A mãe do meu herdeiro era jovem, atraente e seria um prazer dividir a
cama com ela, desde que fosse a sua vontade, caso contrário iria respeitá-la
sem reservas.
— O papai agora vai partir dessa para melhor. O problema que ele tem
no coração não suportará uma notícia dessas — Alessandro brincou. O
bastardo não escondia o quanto desprezava o nosso pai. — Só que por um
lado seria bom…
— Ele viverá ainda por muitos anos, bastardo. — Encarei uma última
vez meu reflexo no espelho, visualizando os fios de cabelo branco que
começavam a surgir.
— O melhor nisso é que a pista está livre e Camila poderá ser
finalmente minha.
— Nunca passou pela minha cabeça levá-la para a cama, irmão.
— Sei que não, ou eu faria picadinho do seu pequeno mastro. —
Praguejou, rindo.
— Tenha uma péssima noite, Alessandro. — Peguei as chaves e
caminhei até a saída do quarto. — Não esqueça de trancar as portas quando
for embora.

Reservei um restaurante bem distante da cidade, tendo todo e qualquer


cuidado para que aquela saída à noite não viesse a se tornar uma notícia no
dia seguinte. Cheguei ao estabelecimento minutos antes do horário
marcado, estava ansioso demais e, para completar, Monaliza tinha se
atrasado, deixando-me preocupado.
Algo tinha acontecido? Ela teria me avisado…
Dei uma olhada no relógio e mordi a ponta do lábio. A porta principal
foi aberta e a vi entrar, tímida, caminhando em passos lentos até a mesa em
que a aguardava.
— Boa noite, Liza.
— Desculpa a demora… É que James teve um problema no carro e…
— Suponho que esse deve ser o seu namorado? — fui rude na
pergunta.
Um funcionário veio recepcioná-la, puxando a cadeira para que se
sentasse.
— Namorado? — Arregalou os olhos, sentando-se. Agradeceu ao
rapaz, que em seguida nos deixou sozinhos. — Não. Ele é o meu chefe.
Ouvir aquilo trouxe um conforto desconhecido ao meu coração.
— Eu teria ido buscá-la se tivesse me avisado.
— Não. Ele estava vindo para essa direção junto de Carolina, então
peguei carona.
Mal conhecia o homem que citava, mas já não gostava nem um pouco.
— Vocês estão bem? — perguntei preocupado.
— Tirando o sono e os enjoos, estamos bem. — Fitou-me e sorriu de
lado. — James tem feito uns sucos que ajudam a controlar as ânsias de
vômito…
Voltou a mencionar o tal chefe e fiz uma careta.
Não era justo que outro assumisse o papel que cabia a mim exercer.
— Posso fazer isso. Irei levá-la ao melhor médico do país para ver
isso e acompanhar de perto o desenvolvimento do bebê. — Deixei claras as
minhas intenções.
— Isso é uma forma de dizer que não estou cuidando bem do bebê?
Para sua informação, James é um médico e tanto. Se não fosse por ele…
— Se vocês não namoram, o que significa isso? — Fiquei
incomodado.
— Bernardo, vamos conversar civilizadamente, ou vou ter que ir
embora agora mesmo?
— Me desculpe, é que é inaceitável ver outro homem demonstrando
cuidado com o meu filho, disgrazia! — Apertei o punho com força.
— Nem mesmo parece o Bernardo que queria pedir um exame de
DNA — alfinetou-me.
— Isso foi um erro e peço desculpas por ter cogitado uma coisa
dessas. Eu fiquei cego por um minuto, mas logo me dei conta de que
duvidava da pessoa errada. Espero ter a chance de me redimir para estar ao
seu lado em todos os momentos, até mesmo fazer esses sucos que vão
aliviar seus enjoos. — Suspirei fundo.
— E aquele papo todo de casamento?
— Continua de pé. O meu pai quer me obrigar a me casar com uma
desconhecida qualquer, mas desde então venho fugindo desse compromisso
e…
— Agora que estou grávida, pareço então ser a candidata perfeita para
isso?
— Mais ou menos. Eu pensei que… — Me perdi nas palavras. —
Pensei que seria a melhor saída para esse problema. Não seria literalmente
um casamento de verdade, e sim por contrato. A única verdade nisso tudo
será o meu amor por essa criança que cresce em seu ventre — resolvi ser
sincero.
— Não posso aceitar uma coisa dessas.
— Existe uma cláusula no contrato que te protege financeiramente e
poderá dar uma vida melhor aos seus pais, quem sabe realizar um ou dois
sonhos que tenha.
— Acha mesmo que o dinheiro pode comprar tudo? — Negou com a
cabeça, magoada.
— Na maioria das vezes, sim. Eu quero essa criança tanto quanto
quero que aceite se casar comigo. — Empurrei a pasta que tinha na mesa
em sua direção. — Aqui há uma cópia do contrato. Você pode levar para
casa e ler. Se a sua resposta no fim for não, infelizmente terei que usar
outros meios. — Engoli em seco.
— Que seriam? — Olhou dentro dos meus olhos. — Diga de uma vez
por todas.
— Exigir o meu direito como pai.
Foi como se tivesse lhe acertado uma facada.
Seus olhos se encheram de lágrimas e a sua dor sem querer doeu em
mim, pois me sujeitei a falar aquilo, a cartada final, ou ela nunca seria capaz
de aceitar o acordo.
CAPÍTULO 16
DIAS DEPOIS

Eu nunca perdoaria Bernardo Mancini.


De todas as formas que tinha para me obrigar a assinar seu contrato de
casamento, o futuro presidente usou a pior. Bernardo tinha dito com todas
as letras que, se eu não aceitasse me casar com ele, facilmente tiraria o meu
filho de mim, sem mais nem menos. E qual mãe, depois de ouvir uma coisa
dessas, diria não? Não tive alternativa senão aceitar fazer parte do seu plano
sórdido.
Eu me arrependia amargamente por ter contado que estava grávida,
caso contrário isso nunca teria acontecido e de quebra teria protegido o meu
filho do pai. Nunca deveria ter dado voz à mania de fazer as coisas do jeito
certo, pois no fim quebrara a cara mais uma vez. Até quando Bernardo
continuaria rompendo o meu coração?
Se é que ainda existia um depois de ter se partido tantas vezes…
Voltei para casa sem chão, como se tivesse sido empurrada em um
poço profundo. A única saída que me restava era engolir, suportar até que o
meu filho nascesse e tivesse dinheiro suficiente para sumir do país, pois
esse era o meu plano principal dali para a frente. Eu poderia passar o tempo
que fosse ao lado do babaca maldito, mas, na primeira chance que tivesse,
faria as malas e fugiria com o meu bebê.
— Não acredito que vou ficar aqui sozinha — Carolina murmurou
magoada.
— É temporário. — Fechei a mala e caminhei até a minha irmã. — Eu
vou dar um jeito para que vá morar comigo. Só preciso encontrar um meio
para isso.
A essa altura do campeonato, Carolina já tinha conhecimento da
conversa que eu tivera com Bernardo, bem como sabia que eu havia
aceitado me casar com ele por contrato e que de quebra precisava deixá-la
no meu apartamento. Eu tinha que abrir mão da minha vida para morar com
o futuro presidente em sua enorme mansão, a qual conhecera dias atrás. A
única coisa a que não renunciei de forma alguma foi de trabalhar na clínica,
foi como travar uma guerra com o pai do meu filho, mas no fim das contas
aceitou.
Minha irmã ficaria trabalhando no turno da noite na clínica e graças a
todos os santos os meus pais aceitaram a ideia sem se oporem. Para o meu
total alívio, Carolina e James se deram bem, pareciam criar uma amizade
respeitosa ao passo que se aproximavam cada vez mais. Eu não me
importava se porventura ambos começassem a se envolver, afinal torcia
muito pela felicidade do médico que era um romântico incrível e por minha
irmã também.
Não tinha como dar errado.
— Olha, apesar do fato de que vou sentir sua falta… Está tudo bem.
Eu vou conseguir dar conta de morar sozinha. — Carolina suspirou fundo.
— Não tem a menor chance de você deixar Zoe morar comigo? — Fez um
bico com os lábios.
A cachorrinha pequena se apegara a minha irmã mais nova de forma
surpreendente, mas eu esperava levá-la junto da mudança.
— Isso vai te deixar feliz? — perguntei, mordendo o lábio. —
Podemos revezar os dias e venho deixá-la ficar um tempinho com você
durante a semana.
— Pode ser, desde que venha também, Liza. — Abraçou-me de lado.
— Tomara que aquele político se engasgue com a comida e morra.
Foi impossível não rir.
— Pare de desejar o mal dos outros, irmã. Que coisa feia, viu? Sabe
muito bem que isso é pecado, ou já se esqueceu dos ensinamentos de
mamãe? — Apertei-a devagar.
— É que não aceito isso que ele está te fazendo passar, que ódio!
— É tudo culpa minha; se não tivesse contado, nada disso teria
acontecido — lamentei. — Eu nunca mais vou dar vazão ao desejo do meu
coração.
— Não foi justo a forma como ele escolheu te persuadir. A criança
não tem culpa alguma… — Carolina disse com razão. — Ainda quero que
ele morra.
— Cada um colherá o fruto de suas escolhas e espero muito que um
dia Bernardo se arrependa de me fazer passar por isso. — Meu coração se
apertou. — E que esse dia não demore muito, pois estou cansada de ser uma
boneca em suas mãos.
— Esse dia está cada vez mais próximo de chegar, irmã. Nós vamos
encontrar uma saída para essa situação, ouviu? Vamos dar um jeito, Liza.
Engana-se ele se pensa que você está sozinha nessa. — Voltou a me abraçar
apertado, acariciando meus cabelos.
O plano continuava de pé.
Nos próximos dias Bernardo faria um comunicado oficial revelando
aos seus apoiadores sobre o nosso casamento junto da notícia do bebê. A
nossa união estava selada, mas, para não restarem dúvidas ou gerar
burburinhos, iríamos nos casar formalmente em um evento social apenas
para a nossa família. Nesse final de semana, íamos visitar e contar aos meus
pais, logo em seguida visitaríamos os seus.
O pai de Bernardo cairia para trás ao me ver.
Tudo estava sendo planejado pela secretária do futuro presidente; ao
contrário dele, ela era um amor de pessoa e tinha total paciência comigo.
Camila vinha me mandando mensagens, dando-me espaço para escolher as
coisas do casamento e se mostrava ser uma excelente opção para se ter
como amiga. Alessandro, irmão de Bernardo, também entrou em contato e
me deu total apoio. Por um lado, eu me sentia segura por saber que ainda
tinha uma rede de apoio por perto.
Bernardo me queria junto do bebê para alcançar um objetivo, nem
mesmo parecia o garotinho por quem me apaixonara no passado. Essa sua
versão me assustava e só me dava incertezas em relação ao futuro, pois era
óbvio que nunca ficaríamos juntos. Se em algum momento existira a
possibilidade de sermos um casal, isso morreu no segundo em que foi capaz
de ameaçar tirar o meu filho que não tinha culpa.
Isso só provou o monstro que vivia nele por baixo dos ternos
luxuosos.
— Agora que vão morar juntos… Já pensou se ele morre envenenado?
— Pare de desejar a morte do pai da minha filha. — Cruzei os braços,
rindo.
Não seria uma má ideia.
— Filha? Desde quando sabe o sexo do bebê? — Carolina ficou
curiosa.
— Eu não sei, apenas sinto que é uma menina. — Apertei o ventre
com os braços, como se pudesse protegê-la. — A minha pequena Bella.
— Nós vamos proteger a nossa princesinha Bella. — Minha irmã veio
tocar na minha barriga carinhosamente. — Você não está sozinha.
Eu senti que era verdade e aquilo me confortou.
CAPÍTULO 17

— Pode colocar as caixas ali no canto — instruí de forma educada o


rapaz que ficou responsável por trazer a mudança de Monaliza para minha
casa.
— O senhor pode assinar aqui? — Entregou-me um papel junto da
caneta.
— É claro. — Segurei, conferindo antes de rabiscar o nome e devolver
ao homem. Era só um procedimento padrão que tinha como foco certificar
que tudo foi entregue corretamente ao cliente. — Se era apenas isso,
obrigado.
O rapaz acenou com a cabeça e saiu junto da sua equipe logo em
seguida.
Cruzei os braços e dei uma olhada ao redor, visualizando um monte de
caixas organizadas no canto da parede junto de alguns móveis, os quais a
minha esposa por contrato fizera questão de trazer. Eram quadros e objetos
de decoração que pareciam não ter significado algum, mas Monaliza
insistiu em ter em seu quarto.
Eu respeitei seu desejo, não dei nenhum palpite contrário, pois nossa
relação já estava cheia de conflitos internos e não precisávamos de mais um
motivo para somar aos outros. Se aquela era sua vontade, não havia
problema algum em aceitar, mesmo que a minha casa tivesse o suficiente
para nós dois, além de meu dinheiro bastar para redecorar um quarto
segundo a sua vontade.
Só que eu sabia que ela nunca iria aceitar isso nem nada que fosse
relacionado ao meu dinheiro. A única coisa que nos unia era um papel, além
da criança que crescia em seu ventre. Monaliza se sujeitou àquele acordo de
casamento apenas porque usei os meios errados para convencê-la, no final
das contas. Eu nunca me perdoaria por ter usado o nosso filho, de que nada
tinha culpa, dessa forma, mas foi a única saída que encontrei para
convencê-la a assinar.
Nunca me perdoaria.
Foi duro vê-la chorar e isso me quebrou, em especial por ter usado o
seu ponto fraco para atingi-la de forma direta. Ainda que tivesse poucos
meses de vida, nosso bebê era a coisa mais importante que eu tinha e
Monaliza já demonstrava o quanto seria capaz de fazer apenas para protegê-
lo. Ter conhecimento disso me deixou extasiado, feliz por saber que, apesar
das condições em que estávamos e como tudo aconteceu, escolhi a melhor
mulher do mundo para ser a mãe do meu herdeiro.
Não restavam dúvidas.
Ainda que não fosse um homem que não demonstrava sentimentos
com frequência, sentia lá no fundo o quanto aquela vida era importante e
julgava já estar rendido ao ponto de também ser capaz de tudo para protegê-
lo. Aquela criança era o meu tudo, meu começo, meio e fim. Eu esperava
provar em atitudes que não estava mentindo em relação a isso e de quebra
iria reconquistar a confiança da pequena Monaliza.
Ansiava que o nosso casamento não fosse só mais um compromisso
por obrigação e que o ódio não fizesse morada em nosso lar. Eu desejava
que pudéssemos nos respeitar acima de tudo e ter uma relação verdadeira
em prol do nosso bebê. Só que não seria uma tarefa fácil, dado que a essa
altura Monaliza me odiava um pouco mais, afinal, que pai era esse que
ameaçava tirar o filho da mãe?
Eu nunca seria capaz de fazer isso, mas ainda assim deixei em
evidência a vontade.
— Tá, Carolina… Isso. Depois conversamos melhor, beijo. Também
te amo, chata.
Olhei de relance, observando Monaliza descer as escadas e guardar o
celular no bolso da calça. Estávamos oficialmente morando juntos,
dividindo o mesmo teto ao passo que o nosso casamento oficial estava se
aproximando. No último final de semana fomos visitar seus pais, contar a
novidade e convidá-los para o casamento. Por sorte, não tiveram dúvidas
quanto ao compromisso selado ou desconfiaram que fosse uma mentira,
apenas nos deram o apoio de que precisávamos. Eu sabia que essa aceitação
se dava pelo fato de que nos envolvemos quando pequenos, isso contribuiu
para que acreditassem que estávamos apaixonados e esperando um bebê.
— Oi — cumprimentei-a. — As suas coisas acabaram de chegar. Irei
pedir a dona Alice que as coloque em seu quarto. Suponho que já a tenha
visto pela casa. — Observei-a caminhar em minha direção. — Ela trabalha
comigo desde que vim morar aqui e agora estará à sua disposição para o
que precisar, Liza.
— Tenho dois braços e duas pernas. Eu sei muito bem me cuidar
sozinha, senhor Mancini. — Deu um sorriso forçado, cruzando os braços.
— Imagino que vá sentir alguma dor ou algo do tipo, afinal está
grávida e…
— Provavelmente, mas ainda assim continuo viva. Uma gravidez não
me torna inválida para fazer isso. — Foi se sentar no sofá, soltando uma
lufada de ar.
— Tudo bem, Liza. Não vou forçá-la a nada. — Suspirei fundo. — A
casa é sua, sinta-se à vontade para fazer o que quiser, caso queira mudar
alguma coisa.
— Posso começar pedindo que me deixe sozinha ou vá embora? —
Deu um risinho irônico. — E que o meu quarto possa ficar a alguns metros
de distância do seu? O que tinha na cabeça ao me colocar ao lado do seu?
— Pensei que fosse precisar… — tentei me explicar de forma
educada. — Você vive sentindo enjoos e então pensei que seria conveniente
ficar por perto.
— E vai conseguir conter minhas crises de vômito? Ah, não,
Bernardo, você não é assim. — Deu de ombros, pouco se importando com
meus argumentos. — Não precisa se dar ao trabalho de provar que se
importa comigo ou essa criança.
— Vocês são a minha prioridade, Liza — fui sincero.
Sem sombra de dúvidas, eles eram.
— Tem certeza disso? Se realmente fôssemos, teria me dado o direito
de escolher não me casar com você, pois era exatamente isso que queria. —
Começou a se posicionar sem piedade. — Eu teria escolhido estar bem
longe de você…
— O que significa essa revolta toda, Liza? Disgrazia! Eu pensei que
estivéssemos nos acertado quanto a isso, afinal você já assinou a porra do
contrato. O que está te fazendo mudar de ideia? — praguejei, controlando-
me para não perder o controle.
— Essa revolta é a única que terá de mim nessa droga de casamento.
— Gesticulou com os dedos. — Não espere de mim felicidade quando por
dentro me sinto infeliz. E, bom, você está certo, infelizmente assinei e tudo
que me resta é te suportar pelo tempo que essa farsa durar. — Fitou-me com
olhar de desprezo.
— Posso lidar com isso desde que não transpareça esse ódio na mídia.
Dentro dessas paredes é o único lugar onde pode ser livre para desejar até a
minha morte, se essa for uma de suas vontades — revelei, exaltando o tom
da voz.
— Mais alguma coisa, Sr. presidente? — soou com ironia ao
mencionar meu pretenso cargo político.
— Vá pegar sua bolsa, vamos sair para comprar algumas roupas para
você — avisei, enquanto não tirava o olhar do seu. — Temos um jantar na
casa dos meus pais.
Sua expressão se fechou e percebi de imediato o quanto aquilo a
afetou.
CAPÍTULO 18

Se tivesse o poder de prever que algumas doses de bebidas batizadas


por alguma droga fossem me fazer mudar o rumo da minha vida em um
giro de cento e oitenta graus, jamais teria aceitado aquele convite, que
consequentemente me trouxe uma sentença desgraçada. Ou eu era uma
pessoa azarada demais para isso ou o destino queria me pregar uma peça
daquelas de teatro sem um pingo de graça.
Poucos meses atrás os meus planos e sonhos eram outros. Eu queria
trabalhar para pagar os aluguéis do apartamento e de quebra juntar dinheiro
para ingressar na faculdade, mas isso mudou quando o passado resolveu
trazer um assunto inacabado e, para fechar com chave de ouro, fiquei
grávida. Bernardo foi um erro tempos atrás e agora no presente continuava
sendo, pois nada me faria voltar a vê-lo com outros olhos, em especial por
ter me obrigado a ser sua esposa.
Sua por obrigação, pois nunca teria o meu amor.
Nunca passou pela minha cabeça que seria capaz de me casar sem
amor e que estava prestes a me tornar oficialmente a mulher do homem
mais poderoso do país. A Monaliza do passado provavelmente ficaria muito
feliz com isso, pois era apaixonada pelo babaca, mas essa mesma garota
não vivia mais em mim. Não mais. Eu não sentia um pingo de orgulho por
levar seu sobrenome, que eu tanto desprezava, nem mesmo porque o meu
filho tinha o seu sangue, afinal só estava presa a esse elo pelo medo de
perder o bebê inocente que crescia em meu ventre.
Tornou-se uma oração pedir todas as noites perdão ao meu filho por
fazê-lo passar por isso, ainda que não tivesse conhecimento da situação, e
prometi que ele nunca saberia que um dia seu pai ameaçara tirá-lo de mim
apenas para se promover. Um casamento, uma esposa perfeita e um
herdeiro a caminho eram os ingredientes que faltavam para Bernardo
ganhar mais alguns pontos a fim de manter-se implacável.
Poderoso.
O todo soberano.
O meu rosto estava estampado nos sites de fofocas e jornais do país.
Nessa altura dos acontecimentos, era de conhecimento geral que estávamos
juntos, apaixonados e com um pacotinho no forno para completar. As
matérias mostravam que vivíamos um caso secreto às escondidas antes de o
casamento se tornar público, gerando comentários positivos de apoiadores
bajuladores do futuro presidente e outros, negativos, de pessoas que não
acreditavam nessa história. Eu fazia parte do time das que não acreditavam
nisso, afinal ainda que tivessem arquitetado um plano perfeito, fotos
espalhadas por todos os cantos, nada indicava que éramos um casal feliz.
A verdade é que no meio político os casamentos assim aconteciam
com mais frequência que o normal, ainda mais em um país como o nosso.
Eu era aquela minoria que tinha a triste sorte de se casar com um político. O
que mais causou atrito nas redes sociais foi a revelação de que eu era
funcionária de uma clínica médica, filha de pais empregados e vindo de
classe baixa. Só que, por outro lado, isso gerou pontos positivos. Fazia
muito tempo que uma futura primeira-dama não vinha de tão baixo assim, o
que dava um pouco de esperança para uma nação.
Mal sabiam que eu queria distância daquilo tudo.
— Liza? — a voz potente e rouca de Bernardo chamou minha
atenção.
— Hum? — Desviei o olhar para ele, que estava ao meu lado no
banco do carro.
— Estou falando com você faz menos de um minuto. — Mordeu a
ponta do lábio, ajeitando-se no assento. — Está tudo bem? Quer parar e
beber alguma coisa?
A casa dos pais de Bernardo ficava algumas horas longe da sua,
tornando o percurso até lá longo e cansativo, principalmente por estar tão
próximo de mim.
— Estou bem assim — tranquilizei, sorrindo de lado. — Dá para
suportar…
— Por Deus! Estou a todo custo tentando ser respeitoso, manter as
coisas mais razoáveis possível, porém fica difícil, ao passo que se mantém
irredutível.
— Bernardo, eu… — tentei argumentar.
O futuro presidente ergueu um dedo, impedindo-me de falar.
— Já entendi que não me suporta e que me odeia. Eu sei que esse
casamento é difícil de engolir e que tudo que quer é ir embora para o mais
longe possível — disse rude, mas logo tentou suavizar. — Será que ao
menos hoje podemos relevar isso?
Dei de ombros, sem entender.
— Em troca de quê?
— Qual seu preço, Liza? — Seu olhar pairou sobre o meu.
— Eu quero que Carolina venha morar comigo.
— Não posso aceitar uma coisa dessas, Liza — grunhiu rouco. —
Outra coisa.
— Uma conta bancária com dinheiro, a que você não tenha acesso —
fui clara.
Aquilo fazia parte do meu plano de fugir com o bebê.
Nada mais justo que ir embora com o dinheiro daquele que me
obrigara.
— Vou providenciar isso o quanto antes. — Eu o vi engolir em seco.
— Tudo que te peço em troca é um pouco de trégua ao menos pelas
próximas horas. Enfrentar esse jantar com os meus pais não será uma tarefa
fácil e preciso da minha esposa ao meu lado para me dar apoio. — Pela
primeira vez vi sinceridade em seu olhar.
Eu não tinha conhecimento de como era a relação do babaca com os
pais atualmente, mas me lembrava com perfeição de como aquele casal
tinha um ar arrogante. Eles se achavam donos do mundo, então saber disso
era mais que suficiente por ora.
— Uma troca justa então. — Selei o acordo com um aperto de mãos.
— Obrigado, Liza. — Bernardo soltou uma lufada de ar e relaxou no
banco.

Vinte e cinco minutos depois estávamos a um passo de entrar na


mansão Mancini.
— Sua mão está gelada demais, Liza. Tente relaxar um pouco, por
favor.
— É difícil. — Contei até dois e respirei fundo. — Eu estou
tentando…
— Continue tentando mais um pouco. Não queremos terminar essa
noite em um hospital, não é mesmo? — demonstrou preocupação. — Eu sei
que eles parecem ser as piores pessoas do mundo, mas estou aqui do seu
lado e vai ficar tudo bem.
— Não me conforta nada ouvir isso, sabe? — Dei um risinho, sem
graça.
A porta principal foi aberta e entramos em sintonia, o futuro
presidente segurando firmemente em minha mão, como se aquele ato fosse
me dar coragem para seguir.
— Sejam bem-vindos! Bernardo e Monaliza.
Fazia muito tempo que não a via pessoalmente, exceto pelas vezes que
o seu rosto era estampado em revistas e sites ao lado do filho primogênito.
Giulia Mancini, apesar da idade e dos cabelos brancos em evidência,
continuava exuberante, banhada no luxo e glamour. Observei em silêncio a
matriarca da família caminhar em nossa direção e nos recepcionar com o
seu melhor sorriso de orelha a orelha.
Que o show começasse.
Algo me dizia que aquela noite não tinha como terminar bem.
CAPÍTULO 19

A noite estava começando e algo me dizia que terminaria mal.


— Sejam bem-vindos! Bernardo e Monaliza.
— Mamãe — cumprimentei-a com um sorriso e apertei devagar a mão
de Monaliza.
— É um prazer revê-lo. Espero que dessa vez possamos ter uma
conversa civilizada — dona Giulia disse séria, mas logo sorriu. — Águas
passadas. É um prazer para nós recebê-los em nossa casa. Entrem logo, por
favor.
Mantive o aperto na mão de Monaliza e entramos em passos lentos.
— Obrigado, mamãe. Onde está o papai? — perguntei, procurando-o
com o olhar.
— Oh. Ele não vai demorar muito para descer. — A matriarca nos
conduziu até a sala em um convite silencioso para que nos sentássemos no
sofá. — Você sabe muito bem como seu pai é um homem imprevisível.
Fiquem à vontade.
— Parabéns pela casa. É muito bonita por sinal. — Minha esposa
finalmente abriu a boca para falar.
Eu estava um pouco nervoso, preocupado com o que aconteceria dali
em diante, pois tudo dependia do comportamento temperamental de
Monaliza, que se mostrava resistente ao nosso compromisso por contrato.
Meus pais não tinham conhecimento de que tudo não passava de uma farsa
e eu tampouco pensava em contar. As únicas pessoas que sabiam daquilo
tudo eram Camila e o meu irmão.
A ideia inicial do meu pai era justamente essa, me colocar em um
casamento por obrigação com alguma desconhecida que fosse perfeita para
assumir o cargo de esposa. Francesco Mancini só não contava que o seu
plano fosse falhar, e iria ver com os próprios olhos que a mulher escolhida
por mim andava longe de ser o que ele desejava para estar ao meu lado.
Desde que o ex-presidente teve conhecimento dessa notícia, tentou entrar
em contato e enviou pessoalmente o seu assessor para comprovar que não
passava de uma mentira, mas tratei de mostrar a verdade.
Nosso casamento não seria de mentira. Ao menos no papel, seríamos
oficialmente marido e mulher.
A posição contrária do meu pai não seria suficiente para me fazer
voltar atrás e anular o acordo. Eu estava mais que certo de que Monaliza
seria a primeira-dama perfeita e a melhor mãe que o meu filho teria, ao
contrário da minha que se ocupou em colocar babás para assumir o seu
papel. Apesar da resistência, o jantar em família não poderia ser adiado,
pois aquilo se tornaria uma notícia publicada em segundos e o ex-presidente
odiaria.
Fui ágil em levar a público esse jantar formal em família, afinal fazia
parte do teatro apresentar Monaliza ao mundo, que a desconhecia. Aos
poucos, fotos nossas eram espalhadas na mídia, apoiadores celebravam a
união e em alguns dias aconteceria o evento de casamento cujos convidados
seriam apenas nossos familiares próximos.
Tudo estava sendo planejado nos mínimos detalhes.
— É mesmo, não é? — minha mãe foi irônica. — A casa de Bernardo
é mil vezes maior, bem diferente daquela casa pequena em que vivia com
seus pais, não?
— Tamanho nunca foi importante, nem no passado, e agora é que não
será. — Monaliza deu de ombros, forçando um sorriso. — Se quer saber,
nunca parei para analisar o tamanho da casa dele. Isso é a coisa menos
importante para mim.
— Querida, se vão ter um filho juntos… A única coisa que importa é
o tamanho. Já pensou, um garotinho ou garotinha, correndo por aqueles
enormes corredores? Dio! As suas pernas vão secar pouco a pouco. —
Começou a gesticular com os dedos. — Bernardo, meu filho, precisa dar
mais atenção à sua esposa, não vê que está magra demais para alguém que
espera o herdeiro Mancini?
Precisei respirar fundo antes de responder de forma sucinta.
— Mamãe, podemos mudar o assunto? Monaliza está perfeitamente
bem. O nosso filho está forte e saudável, não há com o que se preocupar,
dona Giulia.
— Como não? Precisamos ver um dos melhores médicos da nossa
família — não parava de falar. — Diga-me, querida, de quantos meses está
grávida?
Monaliza lançou-me um olhar furioso antes de encarar minha mãe.
— Não preciso de mais médicos, senhora. Recomendo que você
procure, estou notando que está mais cheinha que o normal, isso se deve a
algum problema, não é?
Tive que prender o lábio no dente ou acabaria rindo da resposta da
minha esposa.
— Andei lendo que a senhora está com indícios de diabetes, não é
verdade? Li também que começar a praticar exercícios é uma excelente
forma de se manter saudável, só assim não terá tempo suficiente para se
preocupar com o peso alheio.
Se não estivesse em uma situação complicada, iria aplaudi-la de pé.
Era a primeira vez em muito tempo que alguém deixava minha mãe
sem palavras.
— Olha o que você trouxe para nossa casa, Bernardo Mancini! Essa
criatura é desprovida de educação — Giulia soltou o seu veneno, dando um
passo para trás, e colocou a mão no coração. — Onde já se viu isso? Dio!
Eu nunca permitiria que uma notícia dessas fosse publicada.
— Mamãe — tentei intervir, vendo-me em uma saia-justa.
— Melissa nunca deveria ter morrido, ao menos não teríamos o
desprazer de ver você casado com uma aberração como essa — sua voz
soou com pesar.
Foi o cúmulo. Eu me levantei junto de Monaliza, que logo tomou a
frente.
— Olha aqui, senhora das desgraças. — Ergueu um dedo em sua
direção. — Lave sua boca com bastante sabão antes de desferir seu veneno
contra mim. Eu não preciso me submeter a uma humilhação como essa!
— Liza… Nós vamos embora agora mesmo. — Toquei em seu ombro
devagar, tentando reconfortá-la. — Foi uma péssima ideia aceitar vir a esse
jantar. Me perdoe por isso, Monaliza. Eu nunca imaginei que a minha mãe,
a única mulher que parecia ser diferente em meio a tanta sujeira, iria se
sujeitar a fazer isso. — Balancei a cabeça em negação para a minha mãe. —
Isso que aconteceu foi o cúmulo.
— Bernardo, foi ela que começou… — tentou sair como inocente.
— Isso não é verdade — minha esposa se defendeu.
Não havia a menor possibilidade de ficar contra Monaliza, que foi a
única pessoa nessa história a ser ofendida cruelmente pela mulher que foi
apenas a minha genitora.
— Giulia, recomponha-se agora mesmo. — Francesco apareceu no
topo da escada. — Cazzo! Não permitirei que uma discussão como essas
aconteça em minha casa. — Veio descendo as escadas devagar. — Respeite
a mulher do seu filho, que está esperando o meu neto, ou há alguma chance
de essa criança não ser sua, filho?
Era tudo que faltava para eu segurar na mão de Monaliza e tirá-la de
vez dali. Virei-a de frente, não pensei duas vezes antes de deixar um beijo
em seus lábios e sussurrar:
— Perdonami. — Beijei-a outra vez. — Vamos embora. Não suporto
ficar um minuto sequer respirando o mesmo ar que os meus pais. Eu nunca
mais voltarei a pisar os pés nesta casa — decretei, selando uma promessa.
— Adeus.
Prometi em silêncio que ninguém voltaria a fazê-la chorar, nem
mesmo eu.
Monaliza nunca mais voltaria a passar por uma situação como essa.
Eu cuidaria da minha família.
CAPÍTULO 20

— Calma… Não estou acreditando nisso.


— É verdade, Liza. E sabe o mais interessante nisso tudo? É a
acessibilidade em que posso estudar pela manhã sem me preocupar com o
trabalho à noite — Carolina contou, compartilhando a notícia de que passara em
uma faculdade EAD.
— Estou tão feliz por você, irmã. — Puxei-a para um abraço apertado. —
Já contou aos nossos pais essa novidade? Seu Jorge não vai acreditar que sua
filha mais nova em breve será uma enfermeira de respeito — comentei toda
orgulhosa.
— Eu deixei isso para o fim de semana. Vou aproveitar que James vai me
dar uma carona de carro até lá — disse empolgada e aquilo me deixou curiosa.
— Como assim o doutor vai te levar até a casa dos nossos pais? —
perguntei, franzindo o cenho. — Me conta essa história direito, senhorita.
— E qual o problema nisso, Liza? — Afastou-se dos meus braços e logo
estranhei. — Se não sabe, os pais de James moram por aquela região.
— Ele nunca comentou sobre isso, nem mesmo quando estávamos
fingindo ser namorados para atrair uma garota por quem estava meio
apaixonado.
— É… James comentou sobre isso de namoro de mentira. — Engoliu em
seco. — Só não sabia dessa conversa de garota. — Carolina nem mesmo
conseguia esconder o quanto estava visivelmente atraída pelo médico bilionário.
— Ele, a essa altura, já deve ter perdido o interesse por essa mulher. — De
repente me vi preocupada com minha irmã. — Aposto que o coração do doutor
está aberto para conhecer novas pessoas.
— Uma garantia em meio à possibilidade de estar apaixonado por outra. Se
quer saber, aposto que ele tem mesmo é uma quedinha por você, Liza — foi
certeira, pegando-me desprevenida. — Eu vejo a forma como te olha e sorri
feito um bobo.
— Eu nunca seria capaz de corresponder a ele. — Suspirei fundo. — Estou
esperando um filho de outro e em poucos dias irei oficializar a minha união com
Bernardo.
— Essa sim, é a notícia do ano, Liza, mas nem mesmo ter conhecimento
disso o faz recuar pelo visto. Infelizmente, o seu doutor ficará com o coração
quebrado em mil pedacinhos em alguns dias — sussurrou divertida, enquanto
me olhava.
— O tempo mostrará que não fomos feitos para ficar juntos. — Balancei a
cabeça para os lados e coloquei a mão na barriga. — E tenho certeza de que
muito em breve irá se apaixonar novamente, mas dessa vez por alguém que o
corresponda.
Por sorte, James estava bastante ocupado para ouvir o que tanto
conversávamos na recepção. O movimento naquela manhã estava agitado, uma
consulta atrás da outra, e em uma dessas entradas minha irmã surgira a fim de
me fazer companhia enquanto não dava o horário do almoço para sairmos
juntas.
O trabalho estava sendo de grande ajuda para espairecer a cabeça e não ter
uma crise de pânico, tendo em vista os acontecimentos inesperados em minha
vida. Eu ainda sentia ansiedade só de lembrar do jantar fracassado na casa dos
pais de Bernardo. Foi um verdadeiro fiasco, marcado por conflitos, e ainda, para
completar, fui humilhada pelo maldito casal.
A mãe do futuro presidente do país me desprezou e o seu marido teve a
ousadia de duvidar que o bebê em meu ventre poderia ser filho de Bernardo. Eu
já previa que aquele jantar não acabaria bem, mas, em todos os meus anos de
vida, nunca havia passado por algo assim, e nem nos meus piores pesadelos me
imaginava em uma situação tão humilhante e devastadora.
Foi necessário ouvir aquela última afronta do seu pai para irmos embora de
uma vez por todas e, assim que passei por aquelas enormes portas, desabei em
lágrimas. Chorei feito uma criança que foi abandonada ou como alguém que
acabou de perder um ente querido. A dor me sufocou, roubou meu fôlego e me
encontrei sem chão.
Bernardo foi como uma âncora no momento em que mais precisei, eu tinha
que admitir, ainda que nunca fosse dizer isso em voz alta. O herdeiro me levou
até o carro e não me deixou sozinha nem por um minuto sequer. Foi ele que
limpou minhas lágrimas, abraçou-me apertado durante o trajeto todo, tentando
aliviar aquela dor que me dividia em duas. Ao chegarmos em casa, continuou
com os seus cuidados e atenção redobrados. O interessante em meio a tudo foi
vê-lo preparar o melhor jantar que alguém poderia oferecer a mim, fazendo meu
pobre coração acelerar.
Eu não poderia ceder.
Bernardo Mancini, no final das contas, fez apenas o que era necessário
mediante o caos, pois a situação em que me vi foi causada meramente por culpa
sua. Se ele não tivesse me obrigado a um casamento de fachada, eu nunca
precisaria passar por uma humilhação como aquela. Reconheci em silêncio que
suas ações tiveram as melhores intenções, mas nada, no fim, apagava o que de
fato tinha acontecido.
A nossa convivência sofrera um abalo desde o incidente na casa dos seus
pais e a aproximação que tivemos virou um verdadeiro fiasco. Bernardo chegava
tarde em casa e saía antes das cinco da manhã. Os nossos horários nunca se
encontravam, mas por um lado comemorei, pois não precisava ter que encará-lo
com frequência.
O que nos unia era apenas o bebê.
Suspirei fundo.
— Liza. Olha quem acabou de chegar… — Carolina sussurrou e quase não
entendi.
— Hum? — Estava distraída, perdida em pensamentos enquanto
organizava o prontuário dos próximos pacientes. — Quem acabou de chegar?
— Veja com seus próprios olhos.
Desviei o olhar para a porta principal e logo abri a boca, sem acreditar.
O que Bernardo realmente estava fazendo ali?
Pedi licença baixinho para ir até ele, que me aguardava ao lado de dois
seguranças. O futuro presidente usava um terno luxuoso preto e óculos escuros,
trazendo em mãos um buquê de rosas vermelhas. Bernardo era incrivelmente
belo, os cabelos bem alinhados, quase o dobro da minha altura e a expressão
fechada.
— Decidiu marcar uma consulta de última hora? — brinquei, parando em
sua frente.
— O problema com o qual lido não há remédio do mundo que cure —
rebateu a pergunta e entregou-me as flores. — As mais belas para a senhora
Mancini.
Fiquei sem jeito e jurava que estava com o rosto ruborizado.
— Hã… São lindas, Sr. Mancini. — Segurei-as, e dei um sorriso de lado.
— Obrigada.
— Agradeça aceitando sair para almoçar comigo. Desmarquei alguns
compromissos apenas para passar um tempo com vocês — disse se referindo ao
bebê. — Reconheço que estou um pouco ausente nesses últimos dias, mas nunca
é tarde para começar a fazer as coisas do modo certo.
— Eu marquei com Carolina… — Mordi a ponta do lábio.
— Podemos levá-la junto. Não vejo problema algum, Liza. — Tirou os
óculos e encarou os meus olhos, tão misterioso e sedutor como sempre fora.
— Sim — respondi rápido antes que me arrependesse.
— Sim? — a voz rouca soou e quase desfaleci.
— Aceito almoçar com você.
Seu sorriso contido, discreto demais, iluminou o ambiente e despertou o
olhar das pessoas curiosas que ali estavam e aguardavam para serem atendidas.
CAPÍTULO 21

— Eu me lembro muito daquela vez que você caiu da árvore, bateu só


a cabeça e chorou igual a um bebezinho de um mês.
— E eu lembro que você ficou rindo da minha desgraça — dei
continuidade à conversa e fechei a porta com as chaves depois de vê-la se
sentar no sofá.
— Queria que fizesse o quê? Foi uma cena muito engraçada, sabe? —
Monaliza riu, focada em tirar os sapatos dos pés. — Acho que os seus
eleitores deveriam saber dessa parte do seu passado, aposto que iriam
idolatrá-lo um pouco mais.
— Só por ter batido a cabeça e chorado por menos de um minuto? —
Caminhei em sua direção para me sentar ao seu lado no sofá. — Isso
acabaria com minha campanha.
— Aposto que não. As pessoas iriam apenas ter conhecimento de que
você é uma pessoa comum como tantas outras que tiveram a chance de ter
uma infância feliz.
— A mídia já me conhece o suficiente. — Encostei a cabeça no
estofado, relaxando o corpo. — Acredito que isso não seria um fato que me
ajudaria na campanha.
— Aí é que você se engana, vossa excelência — Monaliza ironizou e
se virou de lado para me encarar. — Grande parte da população só conhece
o lado que sua equipe se preocupa em expor na mídia. A outra parte não
sabe daquele garoto que cresceu se divertindo no meio do mato, que corria,
brincava e chorava. Todos estão acostumados apenas com esse Bernardo aí,
que é implacável e inabalável.
— Desde quando ser uma pessoa vulnerável é necessário para se
ganhar?
— Isso te torna um pouco mais humano, Bernardo.
Suas palavras me acertaram em cheio e levantei-me apressado.
— Hum… Vou preparar uma bebida. Aceita um suco para
acompanhar?
— Pode ser — sussurrou baixo.
Deixei-a sozinha e caminhei apressado até a cozinha em busca de
alguma coisa para beber. Para alguém que pouco tempo atrás não ingeria
nada de álcool, a minha atual versão precisava de uma dose por dia para
conseguir encarar a realidade paralela em que me encontrava. Estava
cansado demais, sobrecarregado e dividido tentando ser uma pessoa comum
e ao mesmo tempo implacável.
Monaliza não estava errada em nada ao afirmar que as pessoas
conheciam apenas uma versão minha. A verdade é que grande parte só
admirava o político renomado, poderoso e que vinha de uma das famílias
mais bem-conceituadas do país, sem saber que o verdadeiro Bernardo, nem
de longe, era aquilo tudo. Às vezes eu me perguntava o que teria acontecido
se tivesse seguido outros passos, feito uma faculdade para administrar
empresas e negócios pelo mundo inteiro. A minha vida provavelmente teria
sido outra, quem sabe eu fosse um pouco mais feliz.
Realizado era a palavra.
Existiam lacunas em mim que nunca seriam preenchidas. O preço a
ser pago pelas escolhas erradas que fazemos ao longo da vida, muitas vezes,
é caro. Em outros casos, os juros cobrados são o dobro do que podemos
suportar. Eu tinha uma grande parcela de culpa por ter me permitido ser
uma marionete do meu pai, pois, ao passo que ficava mais velho, ganhava
muito poder e me tornava a imagem dele.
Parecer com Francesco Mancini não era um bom sinal. Meu pai, junto
de sua esposa, foi capaz de fazer de um jantar um completo pesadelo. Eu
previa que aquela fosse ser uma noite difícil, mas os dois humilharam a
futura primeira-dama do país de tantas formas que me vi sem reação. Em
partes sabia que ambos não iriam aceitar essa união, mas esperava que
fossem ao menos respeitar em prol do bebê, o que não aconteceu.
Foi o cúmulo.
Eu nunca os perdoaria por terem feito aquele show de horrores
desprezando a mulher que carregava o meu herdeiro, afinal, mesmo que eu
nunca a amasse de verdade, Monaliza merecia ser tratada com muito
respeito. Ela era uma figura importante em minha vida, tanto por fazer parte
do meu passado quanto pelo presente em que se encontrava grávida do meu
filho. Eu não poderia, sob hipótese alguma, compactuar com meus pais e
dar espaço para que continuassem agindo de má-fé com a garota, que era
inocente na história. Foi necessário cortar os laços e romper todos os
vínculos que tínhamos, ainda que esse fato não viesse a público, evitando
prejudicar a campanha.
A única relação que eu manteria com meus pais, até as eleições
passarem, seria formal, apenas para manter as aparências na mídia de uma
família perfeita. Desde então, meu pai vinha tentando entrar em contato por
ligação, buscando meios para reverter a situação, mas não retornei e
tampouco queria uma solução por ora. Meu foco estava em tentar resolver
as coisas com Monaliza, promover seu bem-estar e apagar os resquícios
daquele episódio que a deixara fragilizada em meus braços.
Doera vê-la se acabar em lágrimas, o que fez o meu coração
adormecido bater mais forte, procurando meios para tentar acalmá-la e fazê-
la voltar a sorrir. Em silêncio fiz um juramento de que ninguém nunca mais
a humilharia, Monaliza seria a primeira-dama de um país e todos deveriam
beijar os seus pés.
Começando por mim…
Preparei uma dose rápida de uísque com gelo, fechei o frigobar e fui
pegar o copo de suco de laranja que tinha separado na geladeira para a mãe
do meu filho. Logo finalizei e caminhei em passos lentos de volta até a sala.
Monaliza continuava sentada, agora, com o corpo relaxado no sofá,
enquanto me aguardava quieta.
— Uma pena que não possa beber pelos próximos meses — lamentou
e entreguei o copo à garota, que o recebeu com um sorriso contido. — Uma
bebida saudável para uma grávida. — Fui me sentar ao seu lado.
— Eu não gosto de beber nada que tenha álcool — foi sincera. —
Aquela noite foi a única vez que perdi o controle e fui imprudente.
A noite de que ambos não se lembravam de nada.
— E consequentemente te engravidei no processo. — Dei um gole no
uísque. — Eu não me importaria de gastar todo o meu dinheiro se com isso
pudesse me lembrar de cada segundo que passei com você — disse,
olhando-a de relance. — Seria capaz de gastar tudo apenas para ter o
gostinho de sentir um terço do que vivemos — confessei sem me importar
com o peso que a revelação tinha.
— Bernardo… Isso não seria possível. — Bebeu um pouco do suco
para disfarçar o rubor no rosto.
— Uma pena, querida. Eu não hesitaria se fosse o caso — deixei
claro. — Eu me pergunto se fui carinhoso ao tomar sua virgindade e se
gozou gostoso em meus dedos, boca… — Contive-me para não soltar um
grunhido rouco.
— Ai, meu Deus… — Monaliza ficou sem jeito e se engasgou com o
suco.
— Respire um pouco — pedi e toquei com a mão em sua perna. — Eu
estou sendo sincero quanto aos meus desejos, Liza. Sabe quantas vezes
perco o sono pensando nisso? Pensando em como foi tê-la e tomá-la como
mulher? — Não era uma mentira. Monaliza dominava meus pensamentos e
muitas vezes a fantasiava sexualmente, em meus braços, por cima de mim.
— Tantas vezes…
— Nunca vamos saber o que de fato aconteceu. — Colocou o copo na
mesinha ao lado.
— O que é uma grande pena. Eu pagaria milhões e milhões apenas
para lembrar. — Passei a língua nos lábios e coloquei minha bebida ao lado
do seu copo. — Pagaria outros bilhões para viver de novo. — Aproximei-
me devagar, tocando com a palma da mão em seu rosto. — De novo e de
novo. E você, Liza?
— Hã… Eu… — Engoliu em seco duas vezes, perdida no meu olhar.
— Aposto que sim. — Acariciei seus lábios com a ponta dos dedos.
— Posso beijá-la? Eu preciso sentir, nem que seja pela última vez, o sabor
do seu beijo.
Monaliza fechou os olhos e relaxou, dando-me a permissão
silenciosamente.
Foi o meu fim.
Reivindiquei seus lábios e foi como encontrar o paraíso. O seu sabor
foi muito além da minha imaginação, o gosto natural mesclado com o suco
que havia tomado me deixou ainda mais faminto, desejando-a um pouco
mais. Abracei-a pela cintura, trazendo o seu corpo ao encontro do meu
rosto, ao passo que ela retribuía o beijo.
Monaliza envolveu os braços em torno do meu pescoço, acariciou
meus cabelos de forma atrapalhada, raspou os dedos em volta da minha
nuca como se quisesse me marcar e gemi rouco em sua boca. Prolongando
o beijo um pouco mais, suguei sua língua, mordiscando-a devagar e ficando
embriagado com o seu sabor doce, tão único que nem mesmo se comparava
a todos que já provei ao longo da vida.
Minha perdição.
O inferno em pessoa.
Em um lampejo, Monaliza encerrou o beijo e me deixou faminto em
busca de mais.
— O que…
Não consegui terminar de falar, pois a garota saiu correndo como um
animal ferido.
— Disgrazia! — Coloquei as mãos no rosto, processando o que tinha
acontecido.
CAPÍTULO 22

Bernardo me beijou e vi estrelinhas no céu, as santas borboletas no


estômago.
O que ele tinha na cabeça quando resolveu fazer isso? Como se não
bastasse, acabei dando ao babaca livre e total acesso para me beijar. E como
correspondi… Eu não podia negar o quanto me vi envolvida, enfeitiçada
pelos seus lábios, seu toque lascivo, predador, quente e o sabor que
emanava dele, que nunca senti antes.
O balde de água gelada veio logo em seguida e encerrei de uma vez o
beijo, correndo feito um animal em extinção. Eu não consegui dar
continuidade, prolongar um pouco mais, tampouco encará-lo, tamanha a
vergonha que senti e o misto de confusão que passava pela minha cabeça
naquele momento. A única coisa que fiz foi me trancar dentro do quarto
com uma vontade imensa de nunca mais sair de lá.
Eu senti como se aquela garotinha que um dia o amou no passado
tivesse saído de uma caixa, dando vida a sentimentos que julguei não sentir
mais por ele. No entanto, a atração, o desejo, o frio na barriga, até mesmo
as borboletas no estômago estavam ali presentes quando nos beijamos,
provando que era o momento certo de colocar um ponto-final antes que
tudo voltasse com intensidade.
Não poderia voltar a me apaixonar por Bernardo.
Nunca mais.
Era visível o quanto o futuro presidente me desejava como mulher,
ansiava me tocar e dar fim às roupas que nos impediam de nos tornarmos
um só. A atração era mútua, palpável e eu sabia que, dali para a frente, seria
impossível conter os danos daquele único beijo, como uma chama de fogo
que se alastrava em nosso corpo.
Era bem provável que em algum momento sucumbíssemos e
caíssemos na tentação. Eu tinha idade suficiente para saber que tudo aquilo
não passava de desejo por sexo casual e que não podia ser visto como um
problema caso acontecesse, pois saberíamos lidar como adultos. Só não
poderia esquecer que Bernardo fora um erro no passado e que continuaria
sendo no futuro, caso contrário quebraria meu coração.
Outra vez…
Fazia alguns minutos que tinha despertado, levantei para tomar banho
e fazer a higiene pessoal antes de descer em busca de alimento para o meu
bebê. Naquela manhã em especial não estava sentindo enjoo algum, o que
de fato era um alívio. A cerimônia de casamento estava a um passo de
acontecer e eu precisaria estar bem o suficiente para atuar perante a família
de ambos e também diante da mídia.
Fechei a porta do banheiro e fui até o closet procurar uma roupa
confortável para o dia. Optei por um conjunto simples de moletom e vesti
apressada, pois estava ansiosa para falar com minha irmã e me atualizar
sobre Zoe, que, infelizmente, não havia se adaptado fora do apartamento. A
pequena bolinha de pelos brancos fazia muita falta, mas resolvi deixá-la
com Carolina, que cuidaria muito bem dela.
Peguei meu celular que estava largado entre as cobertas, desbloqueei e
estranhei que a primeira mensagem que tinha nada mais era de Bernardo
Mancini.
“Bom dia. Preparei o café da manhã.
Embaixo do recado havia uma imagem, uma mesa recheada de frutas,
pãezinhos e o café com leite que não poderia faltar. Passei a língua nos
lábios e sorri de lado.
— O babaca sabe mesmo como fisgar uma mulher pela barriga. O seu
pai joga muito duro, viu, bebê? — Com a outra mão livre, toquei a barriga.
“Que bela forma de atiçar a fome de uma grávida.”
Respondi em seguida e guardei o celular para terminar de me arrumar.
Tinha que escovar os cabelos e fazer uma maquiagem no rosto para ficar
agradável. Eu não tinha o hábito de me arrumar para tomar café da manhã,
mas, desde que fora morar com o pai do meu bebê, isso se tornara algo
comum, talvez pelo fato de ter agora uma variedade de coisas e uma
infinidade de produtos.
Essa era uma das poucas vantagens de estar presa em um casamento
com o homem que era quase o dono do mundo. Bernardo Mancini cheirava
a dinheiro.

Encontrei Bernardo com o corpo todo relaxado na cadeira enquanto


estava com o olhar atento ao celular. A mesa de café da manhã estava posta,
uma variedade de opções. Minha boca se encheu de água e ansiei devorar
um por um.
— Aposto que hoje vai chover. — Assobiei, indo em sua direção para
me sentar na cadeira que tinha em sua frente. — Bom dia ou boa tarde? —
brinquei.
Já passava das dez horas da manhã. Eu costumava acordar um pouco
mais cedo que esse horário por causa do trabalho na clínica, mas no final de
semana me dava ao luxo de dormir um pouco mais para repor o sono
acumulado.
— Como se sente esta manhã? — devolveu a pergunta, colocando o
celular em cima da mesa. Era estranho vê-lo sem os ternos e tudo que o
tornava superior.
Essa manhã em especial, usava uma roupa um pouco mais simples,
uma camiseta de tom verde-escuro que revelava os braços musculosos,
fortes, e para completar um short de moletom que exibia suas pernas
torneadas. Para alguém que estava na casa dos quarenta e poucos anos,
Bernardo tinha um corpo em forma, e uma aparência jovial demais.
— Se continuar olhando assim, teremos um grande problema, Sra.
Mancini.
Mal tinha notado que estava quase babando ao vê-lo vestido daquela
forma.
— Não pode me julgar por hoje te achar um pouco mais humano —
tentei me defender. — Eu só te vejo usando ternos e essas roupas mais
sociais. É um evento histórico vê-lo usando algo tão simples. — Sentei-me
e tratei logo de me servir com café.
— Ainda que não pareça, Liza…, eu sou humano. Acostume-se a me
ver usando isto e, outras vezes, nada — disse certeiro enquanto não tirava o
olhar de mim.
— O quê? Não venha me dizer que você é desses que dormem sem
roupa?
— Se não tivesse fugido ontem, teria descoberto a resposta a essa
pergunta. — Pegou sua xícara de café e tomou um gole. — Estou na
privacidade da minha casa e não vejo problema algum em dormir do jeito
que vim ao mundo.
Sua sinceridade me deixou perplexa.
— Que bom que tenho um sono pesado e não tenho o hábito de bater
no quarto de estranhos que dormem sem roupa, caso contrário seria um
grande problema.
— Muito pelo contrário, querida. Aposto que deve se morder para
descobrir como a sua pequena boceta aguentou um pau com um…
Arregalei os olhos.
— Ai, não… Por favor. Poupe-me desse detalhe. — Ergui um dedo
em sua direção. — Não seria antiético saber o tamanho do pau do futuro
presidente?
— Não quando ele é o seu marido. — Deu uma piscada no olho.
Desconhecia o homem que estava sentado em minha frente.
O que tinha mudado? Talvez isso se devesse ao beijo da noite anterior.
— Perdoe-me por isso. Estou tentando descontrair com você, Liza. —
Recobrou a expressão fechada e centrada. — Vou tentar manter a boca
fechada e deixá-la comer em paz, afinal temos um passeio pra fazer —
contou sem desdém.
— Hum… E para onde vamos? — Beberiquei um pouco de café.
— Se eu contar, deixará de ser uma surpresa. E outra, quero que seja
memorável.
— Surpreenda-me, vossa excelência. — Dei de ombros.
Eu tinha inúmeros motivos para não confiar outra vez em Bernardo,
mas resolvi lhe dar um voto de confiança e deixar os impasses de lado por
enquanto.
Por enquanto…
CAPÍTULO 23

Larguei tudo para ir em uma viagem com Monaliza.


Foi uma ideia um pouco precipitada, mas era a coisa mais certa a
fazer. Eu não consegui pregar o olho durante a madrugada toda, o seu beijo
não saía dos meus pensamentos e algo me dizia que precisávamos de um
pouco mais de espaço para que as peças perdidas encontrassem o seu
devido lugar. E foi assim que liguei para pedir à Camila reservar um dos
meus aviões particulares, pois iria passar o final de semana com a minha
esposa de contrato em Capri, uma das ilhas mais lindas e badaladas.
Durante a madrugada tudo foi providenciado para que ocorresse
dentro do planejado. Ser um político e concorrer ao cargo mais poderoso do
país tinha lá suas vantagens, pois bastava estalar os dedos, que tudo
acontecia segundo o meu desejo. Camila cuidou de tudo e iria acompanhar,
em outro avião, para me assessorar junto de Alessandro, que assim que
soube encontrou um meio para ir.
Era questão de tempo até que viesse a notícia de que os dois estavam
juntos.
Meu irmão estava ocupado com os seus negócios, mas quase todos os
dias conversamos por mensagens e em uma dessas ele comentou que tinha
dado um passo com minha funcionária. Os dois tinham saído para jantar
juntos e foi o máximo que o bastardo conseguiu da loira que não queria
papo além disso, mas eu sabia que tudo isso era medo de se envolver e
quebrar o coração no percurso. Eu conhecia Camila havia bastante tempo
para saber o medo que tinha de se envolver amorosamente e o meu irmão
não era uma das melhores pessoas do mundo para quem se entregar.
Alessandro não tinha nada de príncipe encantado.
No entanto, eu torcia para que os dois encontrassem a sua parte
perdida, fosse no amor ou no sexo casual, que muitas vezes era mais que
suficiente, quando não se buscava uma história daquelas com finais felizes.
A verdade é que eu não os julgava, pois não me sentia aberto para me
apaixonar outra vez e tampouco ansiava por isso.
Isso morreu junto da minha falecida noiva.
Meu corpo poderia estar atraído por Monaliza, mas não passava disso.
Meu coração era o único lugar que o contrato não conseguia alcançar por
nada neste mundo. Eu não negava o quanto a desejava sexualmente, na
mesma proporção que a respeitava, ao passo que ansiava tê-la muito além.
Queria que pudéssemos enfim nos acertar, deixar os conflitos de lado e
fazer dar certo. Pelo nosso filho, que crescia, e pelo casamento que
estávamos sujeitos a viver.
A nossa relação poderia se tornar próspera se viéssemos a nos
envolver além do papel, afinal tínhamos idade suficiente para encarar esse
detalhe de frente. Eu sabia que Monaliza se sentia atraída por mim, ansiava
desesperadamente me ter, mas havia um empecilho que a fazia recuar dois
passos longe dos meus braços. Era o momento certo de conquistá-la, ganhar
sua confiança e fazer isso dar certo.
O nosso casamento.
Eu não tinha a mínima intenção de desistir desse plano e manter um
caso extraconjugal quando senti em um único beijo que poderíamos ir
muito além juntos.
A viagem até a ilha foi tranquila e graças aos céus Monaliza não
enjoou.
— Este lugar é a coisa mais linda do Universo! — Monaliza
comentou, admirando o mar em sua frente. — É tudo tão lindo. O ar puro e
as flores… Ah! — Suspirou.
— Que bom que gostou. — Coloquei as mãos nos bolsos da calça
social. — Havia muito tempo que não fazia algo assim. — Engoli em seco.
— Largar uma agenda de compromissos para fazer uma viagem.
— Que bom que se casou comigo. — Gargalhou, abaixando-se para
tirar a sandália dos pés. — Eu quero dar um mergulho. Será que podemos
fazer isso?
— Você pode tudo que quiser, Liza. Isso aqui é tudo nosso. Reservei
este local em especial para passarmos o final de semana juntos — contei a
verdade e sorri de lado. — Veja como uma prévia da nossa lua de mel.
Havia um hotel ao nosso dispor, uma suíte luxuosa e passeios
garantidos. Um pacote completo para renovar as nossas energias ao passo
que em poucos dias iríamos nos casar perante a sociedade. A minha equipe
estava por perto, mas longe o suficiente para não atrapalhar o nosso
momento, assim como tive todo cuidado para que nenhum fotógrafo ou a
mídia soubesse sobre essa viagem com minha esposa.
— Ainda bem que coloquei um biquíni por baixo do vestido. —
Ergueu os braços, tirando a peça de roupa que vestia. — Obrigada por isso,
Bê.
— Imaginei que fosse querer mergulhar, por isso sugeri que viesse
com um. — Não consegui tirar o olhar do seu corpo. Monaliza ainda não
apresentava a barriga de quem estava grávida, mas os seios já estavam um
pouco volumosos, o que me fez salivar feito um cachorrinho. — Aceita um
pouco de companhia?
— Você não precisa pedir, vossa excelência, é o dono do mundo. —
Deixou a roupa de lado junto com a sandália e saiu correndo em direção ao
mar.
Balancei a cabeça para os lados, rindo. Por sorte também vim vestido
em uma cueca de banho, pois previ que assim que chegássemos na ilha o
mar seria a nossa primeira parada. Provando mais uma vez que estava certo,
tratei logo de me despir e acompanhá-la. Deixei as roupas ao lado das dela e
corri em seguida.
Monaliza se divertia, aproveitando as águas frescas, mergulhava e
sorria ao vento. Foi uma cena e tanto. Tentei alcançá-la, mas por muito
pouco quase não consegui.
— Te peguei. — Agarrei-a pela cintura, meus braços envolvendo-a.
— Nunca mais vou te soltar.
— Eu vou começar a gritar, Bernardo — disse tentando se soltar.
— Se não percebeu ainda…, estamos sozinhos em uma ilha. — Deixei
um beijo demorado em seu ombro. — Apenas nós três. — Aproveitei para
acariciar sua barriga. Era a primeira vez que fazia isso e logo me vi abalado
com o contato. — Esta aqui é a casa do nosso filho. Continuo ansiando
saber como o coloquei aqui… Aposto que foi a noite mais sensacional da
minha vida. Eu quase não acreditei quando vi as marcas de sua boca e
unhas pelo meu corpo — sussurrei rouco.
— E eu… — Ela se perdeu nas palavras. — Não acreditei quando vi
que estava cheia...
— Cheia de porra, Liza? — Soltei um grunhido rouco, mordiscando
sua pele. — Tão cheia que nem sequer foi capaz de conseguir andar no
outro dia, tão cheia e marcada por mim. Estou certo?
— Aham… — murmurou baixinho. — Sim.
— E é exatamente o que pretendo fazer aqui e agora. Enchê-la de
porra, marcá-la outra vez e fazê-la mulher. — Em um rompante, virei-a para
mim. — Eu quero que tenha a sua primeira vez comigo. Sei que não se
lembra da última, assim como eu, mas quero lhe dar novas lembranças e
uma experiência completa. Você aceita?
Monaliza fitou meus olhos antes de assinar a minha sentença.
— Faça-me sua.
E seria. Completamente minha.
CAPÍTULO 24

— Faça-me sua.
E seria. Completamente minha.
Monaliza não fazia a menor ideia de que tinha acabado de assinar a
sua sentença. Foi uma das coisas mais difíceis que fiz, recuar e desistir de
tomá-la ali mesmo, na ilha, mas eu jamais a exporia daquela maneira, afinal
não estávamos sozinhos. Havia uma equipe de segurança pelas redondezas,
que cuidava da nossa proteção o tempo todo. Com um único desvio,
poderiam ter total acesso ao que eu pretendia fazer assim que a tivesse
completamente nua em meus braços.
— Você sempre foi minha, Farfalla — rosnei, colocando a mão em
seu rosto, tomando seus lábios em um beijo esfomeado, cheio de desejo e
paixão.
A garota, em um impulso, passou as pernas em volta da minha cintura
e tratei de segurá-la com força, mantendo-a grudada para que sentisse o
quanto o meu pau estava rígido contra a sua barriga, pulsando para senti-la
de uma vez por todas, pele contra pele. Mordisquei seus lábios, suguei, me
fartei do seu sabor que me deixava insano, descontrolado e possesso.
Monaliza tinha um jeito delicado, inocente, que despertava o animal
predador adormecido que vivia em mim e ansiava por fodê-la de todas as
formas possíveis até que a exaustão nos consumisse.
E era exatamente o que faria.
Prolonguei o beijo por mais alguns segundos, deixando que ela me
tocasse. Seus dedos percorriam os fios do meu cabelo, a unha raspando na
nuca, o que me deixava ainda mais excitado, o pau duro feito pedra
querendo se libertar da cueca. Eu precisava continuar com a consciência sã
ou cometeria um grande erro ao tomá-la feito um animal no cio, ali, onde
qualquer pessoa poderia facilmente assistir.
— Cazzo! Por mais que quisesse continuar devorando essa boca
deliciosa, precisamos parar ou seremos flagrados por olhos curiosos que nos
cercam — disse, selando seus lábios antes de olhar em seus olhos. —
Vamos para o nosso quarto, esposa. — Mantive-a agarrada a mim, pois
pretendia levá-la à suíte assim.
— Por um minuto quase esqueci que vossa excelência é um homem
importante e não anda sem os seus súditos — brincou, deixando uma
mordida no meu ombro. — Nunca pensei que aquele garotinho magrelo
fosse criar tantos músculos assim.
— Então você precisa ver o que também cresceu, duro, grande e
com…
— Você não vai parar de tentar me falar o tamanho do seu pau?
— Vou lhe mostrar em tempo real e fazê-la sentir, centímetro por
centímetro — soprei as palavras rouco, mordendo o seu lábio inferior. —
Só que precisamos sair daqui o quanto antes, ou vou entrar em erupção…
— Estou sentindo o tamanho da potência… Se continuar roçando
assim em mim, teremos um grande problema até chegarmos no quarto. —
Rebolou a cintura para me provocar.
Agarrei-a com um pouco de força para que ficasse quieta no meu colo.
— Vou tirá-la da água para deixá-la molhada de outra forma, esposa.
Dei a sentença, beijei seus lábios antes de nadar com ela de volta para
a superfície.
— Eu posso tomar banho antes? Sabe, meu corpo está cheio de
areia…
Tranquei logo a porta do nosso quarto e tirei as chaves. Virei-me para
encarar Monaliza, que se encontrava meio aérea, perdida, como se estivesse
com vergonha.
— Não vejo problema algum. No entanto, esposa… — Caminhei em
passos rápidos em sua direção, meu olhar percorrendo o seu corpo inteiro.
— O que pretendo fazer com você inclui deixá-la suja e marcada. Só que
essa sujeira será deliciosa, quente e a deixará ansiosa por mais, querendo
muito mais. — Fiz com que ela se deitasse na cama, aproveitei para ir logo
por cima, igual a um animal prendendo sua fêmea.
— Bernardo… — sussurrou quase em um gemido manhoso.
— Aqui nesta cama sou a porra do seu marido. — Beijei o vale dos
seus seios, vendo-a se arrepiar automaticamente. — Você é perfeita… Linda
— elogiei sem me conter, afinal de contas era a mais pura verdade.
Monaliza tinha uma beleza natural invejável, que poucas tinham, um
corpo que me atraía e fazia meu lado primitivo gritar querendo marcá-la
como minha. Eu me sentia possessivo demais, como se fosse um virgem
tendo a sua primeira vez, e mal sabia por onde começar. Os seios, em um
convite silencioso, atraíram toda a atenção, então tratei de desamarrar o
biquíni sem aviso prévio, sendo logo presenteado com a visão dos bicos
intumescidos, durinhos e que caberiam com perfeição na minha boca.
— Delizia! — Passei a língua entre um e outro, atacando-os com
sugadas fortes, mordendo enquanto com uma mão livre acariciava, apertava
com força.
— Nossa... hum! Bernardo! — Monaliza cedeu ao ataque, gemendo
baixinho.
— Preciso dos seus gemidos, Farfalla. — Revezei entre um seio e
outro, mamando desesperadamente ao passo que os deixava vermelhos e
marcados.
Desci com a outra mão em direção à calcinha, desfazendo-me logo da
última peça de biquíni que restava no caminho, e corri com o dedo em
direção a sua intimidade. Eu sabia que precisava ir com mais calma, aquela
era como se fosse a primeira vez de Monaliza, pois o nosso último
momento fora apagado da nossa cabeça. Prometi que iria reconstruir novas
memórias, mas era impossível manter o controle quando tudo que eu queria
era ir com muita sede ao pote e me fartar de uma vez.
Afastei a boca dos seios para descer com beijos pelo seu rosto, parei
na barriga e dei uma atenção carinhosa, distribuindo carícias em volta do lar
do nosso bebê. Logo me afastei para focar em dar prazer à minha esposa,
fazê-la sentir em tempo real o poder que o orgasmo causava. Monaliza logo
tentou recuar, tímida demais, e então esperei um pouco antes de descer com
o olhar para a sua pequena boceta.
— Só relaxe, Liza… Eu sou o seu marido. Não há mais ninguém aqui
neste quarto além de nós — falei carinhosamente, tentando passar
confiança. — Aqui podemos tudo e não precisa ter vergonha. Seu corpo é
perfeito, pretendo saboreá-lo pedacinho por pedacinho, com as mãos e a
boca — murmurei rouco.
— Tudo bem… Tudo bem. — Cobriu os olhos com a mão.
— Nada disso. Quero você com os olhos bem abertos para ver o que
farei, assim como pretendo mostrar o quanto meu corpo anseia pelo seu. —
Continuei a descer com os beijos até sua intimidade e sorri ao ver o quanto
era ainda mais perfeita do que sonhei. — Delizioso. Um verdadeiro manjar
ao meu dispor.
Monaliza estava completamente depilada, tão delicada e pequena, uma
joia que seria idolatrada por mim pelas próximas horas, pois não havia a
menor possibilidade de sair de dentro daquela boceta pelo tempo que
ficaríamos na ilha. Toquei em sua perna para que abrisse e eu pudesse dar
início ao meu plano de fazê-la ter prazer em minha boca. Fui agraciado pelo
Universo e caí logo com a boca em sua intimidade, passando a língua pelo
rastro de lubrificação que escorria.
Deixei suas pernas em volta do meu pescoço para ter mais controle e
conseguir me fartar da boceta suculenta que tinha em meu rosto. Cheirei-a
sem pudor e me embriaguei um pouco mais pela garota que rondava meus
pensamentos. Passei a língua em seu clitóris, rodopiei em volta do seu
monte e a vi soltar um gemido alto.
— Os seus gemidos são como melodia para os meus ouvidos —
rosnei, voltando a chupá-la, sugando o máximo que conseguia, raspei os
pelos ralos da barba.
— Ah… Por favor. — Esfregou-se sem-vergonha em meu rosto,
rebolou em busca de mais, querendo encontrar o prazer que se formava ao
passo que a tocava.
Molhei dois dedos na boca antes de penetrá-la com cuidado. Monaliza
era incrivelmente apertada e encontrei um pouco de resistência no caminho,
mas persisti até que eles deslizaram com facilidade, vindo e voltando.
Mamei em sua boceta, saboreando cada pedacinho dos lábios, dando
atenção ao clitóris e ao ponto de prazer que a fazia ficar mais excitada e
rebolar com mais precisão.
Estoquei com força os dedos em sua boceta delicada, minha esposa
por contrato gemia alto, banhava a minha boca com lubrificação ao passo
que estava prestes a alcançar o ápice. Não dei trégua na chupada, lambendo
com intensidade até que ela gritou, prendendo o meu rosto com as pernas ao
atingir o seu primeiro orgasmo.
— Bernardo. Ai, meu D… — Não conseguiu terminar de falar.
— Não, querida. A porra do seu marido. — Prolonguei o seu prazer,
sem querer sair da boceta que me prendera pelas bolas. — Que perfezione,
Liza… Tão minha.
CAPÍTULO 25

O problema dos erros é nos fazer pecar sem medir as consequências.


Eu sabia que tinha assinado uma sentença quando aceitei me entregar
de uma vez por todas a Bernardo, sem levar em consideração os motivos
que me faziam odiá-lo. Segui o instinto do meu corpo traidor que chamava
por ele silenciosamente, desesperada para senti-lo outra vez e ter novas
memórias para colecionar.
Mandei para o espaço toda a raiva junto dos inúmeros motivos que me
impediam de entregar-me sem reservas ao futuro presidente do país, mesmo
sabendo que o arrependimento logo viria. Eu apenas me deixei levar pelo
calor do momento, movida pelas sensações proporcionadas por ele, e nunca
imaginei que fosse sentir tamanho prazer assim. Bernardo sabia como me
tocar, como se tivesse mapeado cada parte do meu corpo, pois bastava um
toque para que entrasse em erupção.
Uma explosão imediata.
Não tinha como fugir do inevitável que estava prestes a acontecer.
Eu soube que era tarde demais quando tive um orgasmo esplêndido e
o vi em seguida engatinhar em minha direção para tomar meus lábios em
um beijo intenso. Senti o meu sabor em sua boca e isso só me deixou ainda
mais ansiosa pelo que viria a seguir. Bernardo me agarrou pela cintura,
varreu tudo pelo caminho e me fez descer com as mãos pelo seu corpo, o
seu pau tão duro roçando em meu ventre.
Foi o meu fim.
— Preciso tomá-la… Estou por um fio — rosnou, separando a boca da
minha a duras penas. — Estou com meus exames em dia e quero fodê-la
sem barreiras.
Abri os olhos para encará-lo e passei a língua nos lábios.
— Nunca tive outro além de você — achei necessário comentar esse
detalhe. — Fiz exames de rotina recentemente, quando descobri a gravidez,
e está tudo certo.
— O único que terá daqui para a frente, Farfalla — selei uma
promessa e sorri.
— Por que… Por que me chama assim? — disse em um sussurro
baixo.
— No geral, as borboletas são consideradas como um símbolo de
transformação. E você veio para a minha vida com esse propósito. Em você
encontro mudança e recomeço. Assim como sei que, sempre que olhar nos
seus olhos, encontrarei a paz que preciso para continuar seguindo em frente
— declarou sem reservas.
Meu coração bateu mais forte e me vi sem palavras.
— Bernardo. — Toquei com a palma da mão em seu rosto. — Que
lindo…
— Uma pausa no Romantismo, esposa, pois preciso tomar o que me
pertence. — Afastou-se um pouco para dar fim a sua cueca de banho,
jogando-a em qualquer canto do quarto, seu pau pulou para fora e me
surpreendi com o tamanho exuberante.
Arregalei os olhos de imediato ao imaginar como aquilo tudo coubera
dentro de mim.
Bernardo tentou duas vezes falar sobre o tamanho do seu mastro, mas
não dei atenção, pois julguei que fosse uma brincadeira com conotação
sexual. Só que no final das contas nada me preparou para ter o vislumbre do
seu membro grande, robusto, cheio de veias e que provavelmente me
deixaria incomodada por dias. Não havia a menor possibilidade de aguentar
aquilo tudo sem sentir dor, essa era a hora de correr, mas não tinha ido
longe demais com o babaca para desistir assim.
— É todo seu, esposa. Todinho seu. — Ele agarrou seu pau com a
mão, masturbando-o lentamente. — Abra as pernas para mim e deixe-me
ver a minha boceta — disse com propriedade, possessivo como era dentro e
fora da cama.
Não tinha como negar um pedido desses.
— Perfetto! — Sorriu lascivo, vindo por cima do meu corpo sem
colocar peso. — Essa é a nossa primeira vez… Se sentir algum incômodo
pode falar, me morder e fazer o que quiser, pois aqui dentro dessas paredes
eu sou inteiramente seu. O seu prazer vem em primeiro lugar, Liza. —
Acomodou-se entre minhas pernas, o membro roçando a entrada da boceta,
ganhando espaço pouco a pouco.
— Sim… Siga em frente. Por favor. — Esforcei-me para não fechar os
olhos.
Bernardo foi paciente em me penetrar devagar. Eu não era mais
virgem desde a noite imprudente que tivemos juntos, mas ainda assim senti
um leve incômodo, mesmo que estivesse completamente molhada para
recebê-lo. Mordi o lábio com força ao senti-lo inteiro dentro de mim,
ganhando espaço e rasgando-me toda.
Tentei relaxar a musculatura, aceitar a invasão desconhecida e aos
poucos fui sentindo uma nova sensação de pertencimento e preenchimento.
Foi tudo que ele precisava para começar a se mover com afinco, investindo
na minha boceta, vindo, voltando rápido, rebolando o seu pau em um ponto
que me deixava molhada e fogosa. Comecei a gemer sôfrega perto de sua
boca, que logo desceu pelo meu pescoço deixando chupões, mordidas fortes
que ficariam marcadas.
— Caralho… Este é o encaixe mais perfeito do mundo. — Agarrou
minha cintura, os corpos se chocando conforme me fodia com brutalidade,
tirando tudo para voltar em seguida. — Geme a porra do meu nome, esposa.
— Sim, é… — Desci com as unhas pelas suas costas, arranhando-o
com força. — Bernardo — gemi manhosa ao pé do seu ouvido, pois sabia
que o deixaria descontrolado.
O herdeiro Mancini não teve dó ou piedade ao me penetrar, socando
fundo, tomando tudo pelo caminho, marcando-me um pouco mais como
sua. Em algum momento as bocas se encontraram em um beijo faminto,
apaixonado, corpos suados envolvidos entre si, grudados, como se
pudéssemos eternizar aquele momento.
Nada mais importava.
Só existíamos nós dois ali.
Dois amantes.
Em um rompante, Bernardo encerrou o beijo para mudar a posição,
colocou-me de quatro na cama e voltou feito um animal para me tomar, seu
pau entrando de uma vez, dando início a uma sequência de estocadas
precisas, brutas demais. Eu precisei me apoiar na cama, agarrei com as
mãos a cabeceira, rebolei a bunda em sua direção para provocá-lo e recebi
uma palmada forte.
— Mia moglie.
Ouvi-lo me chamar de “minha mulher’’ foi o estímulo que precisava
para ver estrelinhas ao gozar sem precisar do seu toque na boceta. Quase caí
na cama, mas ele me segurou, beijando meu pescoço, enquanto me fodia
desesperado demais.
— Ah, caralho… Eu vou enchê-la tanto, esposa. Vou gozar na sua
bocetinha e deixá-la cheia da minha porra. A porra do seu homem —
rosnou, dando uma última estocada antes de se derramar dentro de mim,
cumprindo com a promessa.
E, sem querer, Bernardo tinha marcado a minha alma.
CAPÍTULO 26

— O senhor tem uma reunião em uma hora. Os parlamentares…


Não consegui prestar atenção em uma palavra sequer que minha
secretária falava. Meu celular estava focado na mensagem que tinha
recebido de Monaliza poucos minutos atrás, era uma foto aleatória sua e em
seguida o lembrete da consulta que teria às nove e meia da manhã. Antes de
sair de casa, prometi à garota que iria fazer de tudo para acompanhá-la, mas
bastou chegar ao gabinete para os planos mudarem.
Monaliza iria me odiar.
O nosso casamento iria acontecer no final de semana, no jardim da
nossa casa. Seria uma celebração restrita e reservada apenas aos nossos
familiares. Poucos dias atrás eu havia conversado com meu pai por telefone
e selamos um acordo para que respeitassem a mãe do meu bebê, caso
contrário eu iria desistir das eleições. O ex-presidente não queria que isso
acontecesse, então jurou que faria o impossível para manter as coisas mais
formais possível em prol de uma causa maior.
Foi o único meio que encontrei para fazê-lo recuar.
Perante a sociedade religiosa, Monaliza se tornaria oficialmente minha
esposa quando na verdade já era na promessa de um papel, como também
entre quatro paredes. Desde que voltamos do passeio na ilha, nossa relação
teve um avanço inesperado. Todas as noites dormimos juntos depois de
termos alcançado enfim a exaustão. A garota se tornou meu vício, eu me
encontrava dependente, adorava fodê-la pele contra pele, tomá-la em várias
posições e aos poucos a via desabrochar, perder a timidez.
Monaliza correspondia, deixava-me afoito e querendo cada vez mais.
Na última noite juntos, gozei em sua boca e em seus seios, que eram a
minha maior perdição. Parecíamos dois adolescentes com os hormônios à
flor da pele, descobrindo o prazer pela primeira vez, como se nunca fosse o
suficiente, o bastante.
Nunca seria.
Constatei isso quando acordei, fui logo procurá-la com beijos
apaixonados, esperando que acordasse e me desse um pouco mais do seu
sabor viciante antes de ir para o trabalho. Desde que pisei os pés no
escritório, não conseguia parar de pensar nela, ansioso que o dia passasse
rápido só para encontrá-la o quanto antes.
— Desmarque todos os meus compromissos — falei de uma vez e
coloquei o celular no bolso da calça. — É exatamente isso que ouviu,
Camila.
— Mas… Sr. Mancini, tem certeza dessa decisão?
— Absoluta certeza, Camila. — Levantei-me em um rompante da
cadeira. — A minha esposa tem uma consulta e não posso perdê-la por nada
neste mundo.
— Tudo bem. Irei marcá-las para o horário da tarde — disse sucinta.
— Volto assim que souber que o meu herdeiro está se desenvolvendo
perfeitamente bem. — Ajeitei o terno e percorri o cabelo com os dedos.
— Estimo que tudo ocorra bem e muita felicidade. — Deu um
sorrisinho de lado.
Acenei com a cabeça despedindo-me da garota e saí de uma vez da
sala. Cumprimentei algumas pessoas que encontrei pelo caminho e segui
em direção à garagem do prédio. O meu motorista, junto dos seguranças,
estava ao meu dispor.
Precisava encontrar a minha família.
Monaliza e o bebê.

Foi difícil convencê-la a iniciar o pré-natal em outra clínica, mas com


um pouco de pressão fiz Monaliza concordar, afinal era tudo em prol do
melhor para o bebê.
— Não acredito que vossa excelência desmarcou um compromisso
importante para acompanhar a esposa em uma consulta — comentou.
— Eu prometi e não costumo quebrar uma promessa. E outra, não há
nada mais importante que o nosso filho. — Engoli em seco. — É a primeira
vez que irei vê-lo. Me diz, como poderia perder um momento como esse?
— Beijei sua testa.
Surpreendi minha esposa por contrato ao passar em seu trabalho para
levá-la na consulta. O sorriso que recebi dela foi como ver estrelas no céu,
uma sensação estranha que aqueceu meu coração e senti que foi a melhor
coisa a ser feita. Eu sabia que teria alguns problemas por ter desmarcado
reuniões importantes, mas lidaria com isso em outro horário, pois a
prioridade era estar com a Monaliza.
E o nosso filho.
— Que bom então. — Aproximou-se, aconchegando-se em meus
braços.
Tratei de abraçá-la apertado.
— Quando podemos descobrir o sexo do bebê? Confesso que estou
ansioso.
— Hoje em dia um exame de sangue nos revela se é menino ou
menina. — Fungou o meu pescoço e beijou estalado minha bochecha. —
Eu pensei em esperar um pouco mais para descobrir ou fazer logo para
revelar na festa de casamento.
— Seria um presente e tanto — disse orgulhoso, acariciando seus
cabelos. — Se esse for o seu desejo, tem o meu total apoio, Liza.
— É estranho vê-lo me chamar pelo apelido que dizia quando
pequeno — era a primeira vez que comentava sobre isso.
— O mais estranho é que não me chama também pelo apelido que
usava. — Coloquei um fio do seu cabelo atrás da orelha. — O que te faz
recuar?
— Você? O seu contrato e o medo de perder o meu filho? — sussurrou
baixinho.
Fui acertado em cheio pela sua resposta.
— Eu não sou um monstro, Liza. Sei que dei vários motivos para me
odiar e perder um pouco da fé em mim, mas ainda continuo querendo o seu
melhor sobre todas as coisas. Vocês são a minha prioridade, hoje e sempre
— lembrei-a.
— Até quando, Bê? — Soltou uma lufada de ar.
Sua insegurança me deixou sem resposta.
— O que temos não é real. É só um contrato com prazo de validade —
continuou falando sem tirar o olhar do meu.
Não era verdade.
Eu sentia lá no fundo que não.
— Isto aqui. — Dei um beijo em seus lábios para calar sua voz. — É
real. Não há mentira quando te beijo, te abraço apertado ou te toco assim.
Essa criança em sua barriga é a prova viva de que o que temos é mais que
real, Liza.
— Não posso me apaixonar por você de novo — foi sincera e isso me
abalou.
— Amor é a única coisa que não fará parte do nosso casamento. Eu
não tenho a menor pretensão de me apaixonar outra vez. — Foi a minha vez
de engolir em seco. — Já provei desse tal amor e não terminou muito bem.
Automaticamente me lembrei de Melissa.
— Suponho que esteja falando da sua falecida noiva. — Vi a pálpebra
do seu olho tremer. — Ela foi a única mulher que amou em toda sua vida?
Eu não tinha resposta para essa pergunta, mas movido pela razão
respondi:
— Sim. Eu nunca vou voltar a amar outra pessoa como a amei.
Monaliza me encarou sem exibir nenhuma emoção.
— Sr. e Sra. Mancini — a recepcionista nos chamou para entrar na
sala.
E eu ainda não conseguia tirar da cabeça o olhar abalado da mãe do
meu filho.
CAPÍTULO 27
ALGUNS DIAS DEPOIS.

— Quer dizer que estou de frente para a futura primeira-dama do país?


— James brincou. — Esta é a minha hora de pedir um autógrafo e uma foto.
— Não é pra tanto. — Olhei para a mão esquerda e vi o anel brilhante
de casamento. — Para isso acontecer, você precisa torcer para o Bernardo.
— Estou com os dedos cruzados desde que vi a notícia de que minha
ex-namorada é oficialmente a mulher do futuro presidente. Confesso que
quase caí para trás, quem diria que o bonitão seria mais esperto em tomá-la
de mim? — Riu.
— Não fala assim ou as pessoas vão começar a acreditar nisso. —
Engoli em seco, um pouco incomodada com suas palavras. — Eu nunca fui
sua namorada ou ex. Aquilo foi só uma brincadeira, que pelo visto foi longe
demais.
— Mona, poxa… Estou brincando com você, tá ok? — o doutor
tentou se redimir. — Eu sei que ficou meio evidente que tive algum
interesse em você, mas a verdade é outra. Sempre te vi como uma grande
amiga e nada mais.
— Não foi o que pareceu. — Peguei a agenda e comecei a organizar
as consultas.
— Então me perdoe por não deixar clara uma coisa dessas. — Soltou
uma lufada de ar. — Sei que tenho esse jeito brincalhão e atirado, mas é só
isso e nada mais. Desde que te contratei para trabalhar comigo, venho te
respeitando acima de tudo. E que fique claro: isso é o mínimo que merece.
Eu nunca seria capaz de tentar algo que não seria recíproco — falou sério,
sem tirar o olhar do meu.
— Tudo bem, James. Eu só comentei porque Carolina andou falando
sobre isso.
— Vou provar em ações que ela está completamente errada em sua
teoria.
— Não brinque com a minha irmã, ou posso usar a influência de
Bernardo para mandar matá-lo — ameacei e me contive para não rir da sua
cara assustada.
— Caraca, Mona. Agora vou ter que andar protegido o tempo todo. —
Colocou a mão no coração como se estivesse ofendido. — Mas é a
verdade… Bom. Eu não vou brincar com ela ou algo do tipo. Tenho muito
respeito pelas duas e no momento temos apenas uma amizade saudável sem
segundas intenções.
— Estou um pouco mais tranquila depois de ouvir isso. — Sorri de
lado.
— Que tal me mostrar as fotos do casamento? Ainda acho que foi uma
injustiça não chamar o seu melhor amigo e padrinho do seu bebê para esse
evento glamoroso.
— Foi reservado apenas aos familiares e, pelo que sei, não te chamei
para ser padrinho do meu filho, não. — Franzi o cenho e peguei o celular na
gaveta da mesa.
— Eu e Carolina não aceitamos menos que isso.
— Tenho poucas fotos do evento, mas… Olha aqui. — Desbloqueei o
celular e coloquei na galeria onde havia o álbum com as fotos do casamento
religioso.
Foi um evento daqueles dignos de filme, apesar de ter sido reservado
apenas aos nossos familiares e amigos mais próximos. Foi uma experiência
estranha, pois nunca pensei que iria me casar com meu primeiro amor, um
amor unilateral de menina, ainda que fosse por contrato e movido por uma
mentira. Bernardo fez o possível e o impossível para que a cerimônia
ocorresse segundo o meu desejo. Eu participei de toda a decoração, desde a
escolha do cardápio que seria servido até o terno que ele usaria.
Fiquei muito emocionada quando reencontrei os meus pais e outros
parentes que vieram de tão longe para participar da cerimônia, além da
Diana, tia de Bernardo, que ficou imensamente feliz ao nos ver juntos,
como se já tivesse previsto esse acontecimento. O que deixou a noite com
um clima pesado foi ver o ex-presidente e sua esposa, que tornaram o nosso
último encontro em um show de horror. O pai do meu filho, contudo,
garantiu que esse episódio não voltaria a acontecer, pois selaram um acordo
para me respeitarem acima de tudo. Por sorte, Alessandro estava por perto
acompanhado de Camila, quebrando o gelo e fazendo tudo ficar ainda mais
belo.
O novo casal, que não era assumido, e nossos padrinhos programaram
a melhor noite de todas. Muita fartura em comida e um show particular de
uma banda que compôs o evento. Fomos presenteados com uma lua de mel
na Grécia, a qual ficou marcada para o final do mês, assim que Bernardo
conseguisse férias da campanha.
Vez ou outra me pegava lembrando-me das palavras ditas pelo
herdeiro. Foi duro ouvi-lo falar com todas as letras que a única mulher que
amou foi sua ex-noiva. Isso só confirmou a minha inocência naquela época,
quando era só uma menina e acreditara significar algo mais que uma
amizade passageira para ele. Tentei não ficar pensando muito nisso, pois
não tinha a menor pretensão de me apaixonar outra vez por Bernardo,
mesmo que sentisse lá no fundo que já estava e não tinha como negar. A
nossa relação dera um salto e de certa forma me trouxe confusão.
Não sabia o que realmente era mentira ou verdade.
— Parabéns, Mona. Desejo toda felicidade do mundo. — O doutor me
entregou o celular. — Posso te dar um abraço agora que sou amigo da
mulher mais poderosa?
— Para com isso, seu bobo. — Fiz careta e me levantei da cadeira
para ir abraçá-lo. — Também te desejo muita felicidade e um pouquinho de
juízo. — Ri baixo.
— Ainda bem que tenho você para puxar a minha orelha — brincou,
apertou-me devagar e, quando foi beijar minha bochecha, nossos olhos se
encontraram.
— James. — Tentei falar, mas ele foi rápido em beijar o canto da
minha boca.
O que tinha acabado de acontecer? Me vi parada e entrei em pânico,
assustada.
— O que caralho significa isso? Solta a minha esposa, seu médico
desgraçado!
— Bernardo? — Virei-me para a porta do consultório, arregalando os
olhos. — Você… Eu não sabia que viria me buscar hoje.
— Essa é a sua desculpa, Monaliza? Saia agora mesmo, seu bastardo,
ou mandarei tirá-lo à força desta clínica. — Foi rude e James vacilou, mas
acabou obedecendo.
Afinal, o futuro presidente andava sempre acompanhado de
seguranças armados.
— Bernardo. — Engoli em seco e me aproximei devagar. — Não
estava esperando por você… Pensei que mandaria um carro me buscar
como sempre faz.
As mãos não paravam de suar e tremer sem parar.
— E perder o que acabei de ver com meus próprios olhos? Então é
isso que acontece todos os dias? — Gesticulou com os dedos. — Você vai
para os braços de outro quando viro as costas? É isso, porra? — Não tirava
o olhar do meu.
— Não. Não. Não é nada disso que está pensando, Bernardo — tentei
me explicar, a voz trêmula. — Eu não sei o que deu em James para me
abraçar e…
— Quase te beijar? Eu vi tudo, porra! — berrou, exaltando-se. —
Então é isso? Vocês estão vivendo um caso? Como fui burro em pensar
que… Caralho. Não me diga que essa criança não é minha, e sim desse
médico bastardo.
Abri a boca duas vezes e fechei, sem acreditar no que estava ouvindo.
— Como ousa dizer uma coisa dessas? Me acusando dessa forma,
Bernardo? Esta criança aqui é sua e sabe muito bem disso, pois nunca seria
capaz de mentir… — As lágrimas escorreram pelos meus olhos.
— Quem garante que isso é realmente verdade, Monaliza? Eu nem
mesmo me lembro daquela noite, para ser mais exato, não tenho certeza se
aconteceu ou não. Pelo seu histórico, faz muito tempo que trabalha nesta
clínica com ele. Tempo suficiente para se conhecerem a ponto de viverem
um caso — foi duro ao acusar, sem tirar o olhar do meu.
— Andou pesquisando sobre a minha vida — murmurei entre
lágrimas. — As suas acusações não procedem, vossa excelência. Eu não
seria capaz de empurrar uma gravidez se não tivesse absoluta certeza de que
você é o pai.
— Vamos resolver isso da melhor forma possível. Eu quero um exame
de DNA — sentenciou. — Ou espera que continue acreditando que esse
filho é meu?
— Ele é seu… — Um soluço escapou e coloquei a mão no ventre.
Senti uma pontada no pé da barriga.
— Tem certeza disso, Monaliza? Porra! Eu acreditei em você quando
veio me procurar e confiei com todo meu coração. Caralho! — Colocou as
mãos no rosto, nervoso. — Coloquei uma aliança e te dei o meu sobrenome.
Nunca pensei que…
— Não pode se basear em… — A dor continuou com mais força. —
Não é verdade… Eu nunca seria capaz de trair sua confiança assim. Ai, meu
Deus! — Precisei me apoiar na parede, perdendo a força nas pernas.
— Monaliza! — Bernardo gritou alto. — Você está sangrando.
Olhei de relance para a calça branca que usava e vi uma mancha
vermelha.
— O meu bebê. Eu perdi o meu bebê…
CAPÍTULO 28

Eu matei o nosso bebê.


Monaliza perdeu o nosso filho…
Eu não me lembrava da última vez que tinha chorado tanto assim.
Meu coração estava dilacerado, quebrado em mil pedacinhos desde o
minuto em que a vi sangrar, agonizar de dor em minha frente sem que eu
nada pudesse fazer. Naquele momento o dinheiro do mundo todo não era
suficiente para salvar uma vida tão inocente.
Ela nunca me perdoaria.
Nunca pensei que uma ida ao seu trabalho resultaria em uma tragédia.
Eu tinha acabado de sair de uma reunião e pensei em fazer uma surpresa à
minha esposa, bem como levá-la para almoçar em um dos seus restaurantes
favoritos da cidade.
Isso não aconteceu.
Estava com a cabeça a mil por hora quando entrei na maldita clínica e
flagrei uma cena que me deixou enciumado, possesso a ponto de ser rude o
suficiente para fazê-la perder o nosso filho. Nosso filho. Eu sabia que era
meu, nosso bebê, mas ainda assim tive uma atitude grosseira, ficara cego
por uma fração de minutos. Perdi o controle e falei coisas das quais me
arrependeria pelo resto da vida, por simplesmente ter me fechado para a
verdade que estava bem diante de mim.
Monaliza nunca seria capaz de me trair e ter um caso com aquele
médico bastardo, mas descobri isso tarde demais, afinal nada no mundo
seria capaz de trazer de volta aquela gravidez que foi interrompida. Eu
nunca me perdoaria pelo grande erro que fiz e pela forma como feri seus
sentimentos com acusações sem provas. Acabei quebrando o seu coração no
caminho e o elo que nos unia além de um contrato.
Disgrazia!
— Irmão… Precisa se acalmar — Alessandro tentou me confortar.
— Eu nunca vou me perdoar pelo que fiz. Eu matei o meu filho… —
As lágrimas rolavam pelos meus olhos sem que tivesse controle algum. —
Eu o perdi…
— Precisa ser forte para cuidar da sua esposa. — Meu irmão apertou
meu ombro. — Não consigo mensurar o tamanho da sua dor, mas ela
precisa de você…
— Monaliza vai me odiar pelo resto da vida assim como me odiarei
junto. O que fiz não tem perdão, irmão. Vou pagar um preço alto por ter
ficado cego para a verdade.
— Realmente não há perdão para o que fez… — Suspirou fundo. —
Sinto muito.
Monaliza estava internada na clínica em que trabalhava. Assim que
vimos o sangramento de sua calça, o médico e seu chefe veio socorrê-la o
mais rápido possível. Ela foi levada para uma sala e recebeu todo
atendimento necessário, mas já era tarde demais para tentar impedir o
inevitável. Uma hora depois o tal James veio conversar comigo, explicar
que estava tudo sob controle, mas iria deixá-la sob observação e foi ali que
aproveitei para tirar satisfações com o bastardo.
O doutor disse com todas as letras que não estava interessado nela e
que tudo fora um mal-entendido. Eu acreditava que realmente fosse, pois
não era da índole de Monaliza se envolver com dois homens ao mesmo
tempo; o que não descia era a conversa desse bastardo que parecia, sim, ter
outras intenções com a minha esposa.
Eu deveria ter respirado fundo antes de tomar uma posição errada no
momento em que os vi abraçados. Foi um erro desmedido e que me fez
perder em dose dupla. Monaliza não iria me perdoar e o meu filho estava
morto. Nada justificava o meu ato imprudente, tampouco era digno de
receber o perdão deles e de Deus.
Nunca imaginei que o medo de a perder, o egoísmo que cega as
pessoas, tivesse como consequência a perda da coisa mais preciosa que eu
tinha em minha vida. Meu filho. Chorei por pensar que nunca teria a chance
de vê-lo crescer, acompanhar seus primeiros passos, os choros na
madrugada e todas as primeiras palavras.
Eu era um monstro.
Tornei-me a imagem do meu pai.
— Eu mereço isso, irmão — sussurro rouco. — Fui capaz de acusá-la
de traição e ainda disse com toda convicção que o nosso filho não era meu.
— Como teve coragem de fazer uma coisa dessas, seu bastardo?!
— Fiquei com ciúmes ao vê-la nos braços de outro. Eu deduzi tudo
errado e acabei dizendo coisas pelas quais nunca me perdoarei. — Passei a
mão no rosto.
— Isso é porque jura que não está apaixonado por ela…
— Alessandro, poupe-me… Ao menos hoje — pedi, engolindo em
seco.
Se estivesse realmente apaixonado, nunca teria sido capaz de destruí-
la. O amor é para ser puro e leve, mas eu acabara fazendo o oposto com a
Monaliza e nosso filho.
Nunca me perdoaria…
— Sr. Mancini. Ela acordou. — A enfermeira surgiu na recepção.
Agradeci com um aceno e deixei meu irmão de canto para
acompanhá-la.
O que diria ao vê-la?
A profissional me levou até a sala onde minha esposa estava
internada, entrei sozinho e fechei a porta em seguida. Tentei me manter
forte, não desabar em lágrimas ao vê-la deitada na cama, frágil e tomando
alguma medicação na veia.
— Liza… Deus. — Não consegui formular uma frase.
— Meu… Filho… — Seus olhos estavam cheios de lágrimas. —
Perdi.
Precisei me segurar na parede ou iria desfalecer.
— Imaginei que sim… Me perdoe por tudo, Liza. Me perdoe. —
Tentei me aproximar, mas ela ergueu um dedo impedindo. — Me perdoe
pelas coisas que disse e por não ter acreditado em você. Eu fui um monstro
por ter feito o que fiz.
— Não posso perdoá-lo, Bernardo, por isso. Nunca serei capaz de
perdoá-lo. Era o nosso filho. Uma criança que você não acreditou que fosse
sua só por me ver abraçada ao homem que vejo com um amigo e nada mais.
— Está certa. — Suspirei fundo. — O que fiz não tem perdão. Deixe-
me apenas tentar daqui para a frente consertar as coisas…
— Não há mais nada que nos una além de um casamento de mentira.
— Darei sua liberdade para que se reconstrua bem longe de mim —
foi duro falar isso em voz alta, mas era a coisa certa a fazer. — Irei
providenciar passagens para o lugar que quiser ir e uma conta bancária para
que use na estada. Farei isso em sigilo para não interferir nas eleições…
— Quero o divórcio, Bernardo. — Vi um misto de ódio e desprezo em
seu olhar.
— Um ano. Esse é o prazo — deixei claro. — Depois disso, se verá
livre de mim.
— Espero que cumpra com isso.
— Monaliza? — chamei-a. — Eu errei com você do começo ao fim,
mas… eu amei o nosso filho. Deus sabe o quanto eu desejei segurá-lo em
meus braços e ser o pai que nunca tive em toda a minha vida. Fiz um
milhão de planos, mas por um erro imperdoável e uma atitude movida pelo
ódio perdi vocês dois para sempre. Desejo que consiga encontrar a força
que precisa para lidar com tudo que aconteceu e que possa se reconstruir.
Você merece ser feliz e encontrar a verdadeira paz.
— Bernardo…
— Adeus, Monaliza.
CAPÍTULO 29
MESES DEPOIS

— Filha, os pés da mamãe estão inchados demais. Uma mãozinha


para fazer uma massagem seria de grande ajuda, sabe? Era tudo que mais
queria.
Fiz carinho com a ponta dos dedos no barrigão e abri um sorriso largo
ao pensar que em pouco tempo teria uma companhia para alegrar os meus
dias. A pequena Bella crescia saudável, chutava o tempo inteiro quando
ouvia minha voz, quando eu cantava alguma canção ou conversava sem
parar sobre assuntos aleatórios a que assistia na televisão. No começo da
gestação parecia que não tinha um bebê em meu ventre, mas ao passo que
os meses passavam notei indícios de que realmente tinha.
Ainda que por um momento tudo indicasse que não.
Senti um imenso medo ao me lembrar do pânico que passei por quase
perder a minha filha em decorrência de um episódio que marcou a minha
vida. Eu me recordava com exatidão das palavras desprezíveis vindas de
Bernardo e do susto que levei ao ver o sangramento, que por sorte foi
ocasionado por um deslocamento da placenta.
James foi um anjo por cuidar de mim e garantir que a minha filha
ficaria bem.
No auge do desespero, decidi que o melhor seria esconder de
Bernardo que estava tudo bem com o bebê, pois nunca iria conseguir
perdoá-lo pelas coisas que dissera e a forma egoísta como me ofendera sem
um pingo de piedade. Era a escolha mais sensata e, com a ajuda de James,
forjei um atestado de aborto espontâneo para que não restasse dúvida
alguma quanto à perda do bebê.
Eu não poderia continuar casada com um homem que pensava apenas
em si mesmo e que foi capaz de usar uma criança inocente para me
persuadir a assinar o seu contrato bilionário, além de ter duvidado de que o
bebê era seu. Bernardo não merecia o meu perdão, tampouco ter a chance
de fazer parte da vida de Bella.
Ao conseguir, em partes, a liberdade, fui embora do país sem deixar
registros de meu destino, para que não fosse encontrada pelo pai da minha
filha ou por quem quer que fosse. Eu precisava de espaço, tempo e uma
vida tranquila para que a gravidez continuasse se desenvolvendo
perfeitamente bem.
O que seria impossível perto de Bernardo.
Assim que cheguei a Paris, aluguei um hostel para morar e dar
continuidade ao repouso que era necessário tendo em vista o sangramento
que tive. Um lugar tranquilo e ninguém tinha conhecimento de que ele
recebia a esposa de um presidente. A adaptação foi tranquila, em especial
porque eu tinha dinheiro suficiente para pagar a estada pelo tempo que
quisesse. Bernardo colocou um valor absurdo em uma conta, em meu nome,
para que eu não precisasse me preocupar com trabalho.
Ao pensar nele, eu me lembrei automaticamente de que, agora,
Bernardo era oficialmente o presidente. O herdeiro Mancini conseguira
alcançar seu maior objetivo: ser o maior do mundo.
Acompanhei tudo pela internet, afinal só se falava nisso em todos os
lugares. Bernardo foi hábil por tirar a nossa separação do meio de fofocas,
pois não havia registros desse detalhe ou do motivo do meu sumiço no auge
da campanha. Muitos se perguntavam onde estava a esposa e o filho
prometido, mas as respostas nunca vinham e provavelmente o babaca se
esforçava para deixar em oculto.
— Seu pai é um babaca, sabia? — sussurrei baixo. — Vamos ligar
para sua tia, Bella? — Senti um leve chute e sorri de lado. — Também
estou com saudades dela e de Zoe. — Suspirei fundo.
Desde que tinha ido embora, só mantinha contato com Carolina e
James. Meus pais não tinham conhecimento do que havia acontecido,
apesar de tentarem me ligar incontáveis vezes para ter notícias; eu recusava
todas as tentativas. Não me sentia preparada para contar o que fizera para
proteger a minha filha. Sabia que muitos iriam me julgar por ter tirado o
direito de Bernardo como pai, mas ninguém sabia o que eu tinha passado e
as coisas que fora obrigada a ouvir.
Uma mãe faz tudo pelo filho.
Eu protegeria Bella da arrogância do pai presidente.
Peguei meu celular na mesa de cabeceira e disquei logo o número de
Carolina.
— Foi mais rápido dessa vez, graças a Deus! — falei assim que minha
irmã atendeu a ligação.
— A que devo a honra da vossa ligação tão cedo, Liza? — brincou. —
Ah, tô morrendo de saudades, sabia?
— A recíproca é verdadeira, irmã. — Continuei fazendo carinho na
barriga. — Arrume as suas malas, pois agora falta muito pouco para sua
sobrinha nascer.
Foi uma alegria imensurável descobrir que teria uma menina. A
verdade é que, antes mesmo de ter conhecimento disso, já sentia que
realmente era uma princesa.
A minha princesinha.
— É só me dizer quando, que arrumo as malas. Estou ansiosa demais
para segurar a nossa bebezinha nos braços.
— Tão simples assim? E vai deixar seu doutor sozinho?
Finalmente os dois tinham se envolvido amorosamente. Fazia dois
meses que James estava determinado a conquistar o coração da minha irmã
depois de provar a todo custo que não sentia nada por mim. Aquele abraço e
o quase beijo naquele dia em que aconteceu o caos fora movido pelo calor
do momento, sem importância. Eu o perdoei por ter feito isso, mesmo que
nunca vá entender de fato como tudo aconteceu.
O doutor estava realmente apaixonado pela minha irmã mais nova e se
esforçava ao máximo para provar isso em ações. Carolina era quem se
mantinha fechada por temer se machucar, mas finalmente tinha aceitado o
pedido de namoro dois meses atrás. Eu torcia muito pela felicidade do
casal, que eram os padrinhos da minha filha.
— Será que posso levá-lo?
— Os dois são bem-vindos. — Ajeitei-me no sofá. — Desde que
façam massagens nos meus pés. Quase não consigo andar direito por causa
do inchaço.
Era muito difícil morar sozinha e ficar limitada a algumas atividades,
mas onde estava morando havia serviço de quarto e alimentação diária. Por
causa da gravidez e do problema que tive, precisei baixar a guarda caso não
quisesse perdê-la. A maior prioridade era ter minha bebê em segurança e,
assim que a tivesse em meus braços, daria continuidade aos meus sonhos,
que estavam então em pausa.
— Tadinha. Liza. Posso te contar uma coisa?
— Claro. Aconteceu alguma coisa? — Logo fiquei preocupada.
— Os pais de Bernardo morreram em um acidente de carro.
Meu coração ficou acelerado e deixei o celular cair no chão.
CAPÍTULO 30

A vida tinha formas estranhas de encerrar ciclos usando a morte como


desculpa.
Fazia pouco tempo que os meus pais morreram drasticamente e a ficha
ainda não tinha caído. Eu me sentia indiferente, estranho, por dentro e por
fora, como se quisesse chorar, gritar, mas nada acontecia. Havia um vazio
instalado em meu peito que não era preenchido por nada no mundo. Como
se não bastasse ter enterrado Melissa, logo eu havia sepultado o meu filho e,
por fim, meu pai com a minha mãe. Fui quebrado, golpeado e não restava
quase nada de um homem que queria seguir os passos do seu líder.
Ao menos ele viveu o suficiente para me ver realizando o seu maior
sonho.
Eu era oficialmente o presidente do país, título este de que não me
orgulhava mais, e estava a um passo de abdicar, pois não me sentia o
mesmo de meses atrás. Uma parte de mim morrera ao perder meu filho e a
outra que ainda restava vinha padecendo desde o acidente de carro que
matara os meus pais.
Eu tinha muitos conflitos pessoais com meu pai e com minha mãe,
mas ainda assim os amava acima de tudo e perdê-los foi como me perder
junto, pois senti que estava dessa vez sozinho. A base que me mantinha de
pé ruíra e não havia nada mais no mundo que me fizesse continuar vivendo.
Eu só sobrevivia…
Continuava exercendo o meu papel, liderando uma nação, cumprindo
com os compromissos, reuniões e tudo que compunha o cargo de
presidente, mas bastava chegar em casa para desfalecer em solidão. Era
como se cada cômodo trouxesse a recordação de Monaliza e dos poucos
momentos que tivemos juntos ali, pois não conseguia tirá-la da cabeça por
um minuto sequer. Afinal, pensar nela me mantinha são, esperançoso de um
dia poder encontrá-la e ter a chance de me confessar.
Confessar que havia me apaixonado.
Pensar em Monaliza me mantinha forte. Seu sorriso na tela do meu
celular era como uma luz que iluminava a minha tormenta. Recordar seus
beijos, seus abraços, nossos momentos dentro e fora da cama me alimentava
todas as noites.
Eu sobrevivia de pequenas fagulhas.
Fazia muito tempo que a minha garota tinha partido para longe dos
meus braços e não voltou mais, e eu nem sequer tinha conhecimento de por
onde andava ou como estava. Tinha recursos e meios para procurá-la, e me
contive para respeitar o seu tempo, mas estava começando a ficar
desesperado, por isso iniciei uma busca atrás dela.
Eu precisava encontrá-la e pedir perdão mais uma vez.
E dizer que a amava…
Tive conhecimento desse sentimento quando a vi partir e nada pude
fazer. Percebi tarde demais e no percurso só perdi coisas as quais nunca
poderia recuperar. Eu me apaixonei por uma garota do meu passado, a
mulher que anos depois veio iluminar meus dias e lutar bravamente pela
coisa mais preciosa que tinha em seu ventre.
O nosso filho.
E que perdi.
— Vossa excelência.
A voz de Camila trouxe-me de volta à realidade.
— Sim? — Mal percebi que estava tempo demais encarando a tela do
meu celular, que exibia a foto do meu casamento. Bloqueei o aparelho e
guardei.
— Desculpa atrapalhar, é que… — Fechou a porta da sala e veio logo
se sentar.
— Fale de uma vez, Camila. E, por favor, não precisa mais dessas
formalidades todas. Não quando agora é finalmente a minha cunhada. —
Forcei um sorriso.
A minha funcionária tinha finalmente aceitado o pedido de namoro de
Alessandro. Fazia pouco tempo que ambos estavam juntos, mas, à medida
que o tempo passava, tudo indicava que esse envolvimento iria parar no
altar. Eu fiquei muito feliz pelo casal, em especial pelo meu irmão, que
tinha sentido muito a morte dos meus pais. O futuro governador se abalara
com a notícia e se fechara em seu mundo, mas, quando ele emergiu, foi com
a notícia de que iria entrar de uma vez por todas na política.
Eu sabia que isso era em memória de nossos pais. Os dois nunca
tiveram uma relação pacífica, pois Alessandro se mostrava irredutível
quando o assunto era ter algum cargo na política, mas, com a morte de
Francesco Mancini, isso mudou.
Eu estava disposto a apoiá-lo e fazer o impossível para que
conseguisse tal posição.
— Estou tentando me acostumar com isso. — Deu um risinho de lado.
— O que tem de importante para me falar? — perguntei, ajeitando-me
na cadeira.
— Finalmente tenho as respostas que tanto procura. Mandei tudo para
o seu e-mail.
— Não brinca com um assunto desses, Camila. — Engoli em seco.
— Você vai ficar ainda mais surpreso quando descobrir o que há no
arquivo.
Desviei o olhar da garota, o computador estava ligado e facilitou o
processo. Abri meu e-mail pessoal e, em seguida, o documento enviado
pela mulher do meu irmão. Cliquei em cima e várias fotos foram surgindo,
uma por uma. A terceira, em especial, chamou a minha atenção ao ver que
era de uma bebê enrolada em uma manta.
Minha filha.
Continuei olhando a sequência de fotos, em outras Monaliza a
carregava no colo, beijava o seu rostinho enquanto passeava em uma praça
ao lado da irmã e com o médico. O que significava aquilo? Mio Dio! Abri
outro registro, o do nascimento da criança, li o nome da bebê e todas as
informações sobre o seu nascimento.
— Camila… Que porra é essa? Monaliza teve… Ela não perdeu o
bebê.
— Pelo visto apenas escondeu… — comentou baixinho.
— Para protegê-la de mim — falar isso em voz alta foi como ser
golpeado. — A minha esposa teve a nossa filha em segredo por não me
achar digno de saber.
Meu coração bateu acelerado, eu me senti de repente sufocado.
— Mande uma intimação para o endereço onde ela está morando com
a bebê.
— Qual a pauta deste documento? — Camila perguntou, curiosa.
— O nosso divórcio. Esse é o único motivo que trará Monaliza de
volta.
— Tem certeza de que vai fazer isso?
Nos últimos meses, eu havia escondido da mídia que estávamos
separados e não fiz nenhuma declaração pública para explicar onde ela
estava com o nosso filho. Respeitara sua decisão de partir e vinha
colaborando para que vivesse em paz, mas isso acabou no minuto em que
descobri a existência da criança que julguei estar morta.
— Tenho absoluta certeza — falei convicto da decisão.
CAPÍTULO 31

Eu nunca imaginei que voltaria a pisar em solo italiano depois de


passar uma temporada em Paris, lugar esse onde ansiava construir uma vida
com minha filha. Só que havia um assunto pendente e em algum momento
precisava encará-lo, então cá estava prestes a entrar em uma audiência de
divórcio com o presidente.
Foi uma surpresa receber uma intimação uma semana atrás enviada
pela assessoria de Bernardo. O documento não dizia muita coisa além da
necessidade de comparecer pessoalmente, o que estranhei, pois atualmente
algumas coisas da Justiça podiam facilmente ser resolvidas por uma
conferência on-line. Eu não poderia faltar e não tinha alternativa senão ir
encontrá-lo depois de tantos meses.
O divórcio.
Confesso que meu coração deu uma leve acelerada ao ter
conhecimento de que esse evento que tanto desejara estava a um passo de
acontecer. Eu sempre sonhei com o dia em que ficaria finalmente livre de
Bernardo, em especial para poder criar minha filha bem longe da sua
arrogância e prepotência, mas não me preparei o suficiente para enfim
assinar os papéis que dariam início ao caos. A nossa união começara pelos
motivos errados e tudo indicava que não terminaria bem, nem mesmo o
envolvimento sexual fora capaz de amenizar o impacto que veio
consequentemente.
O caos completo.
Eu tinha tentado procurá-lo para me solidarizar com a perda dos seus
pais ao ficar sabendo, por uma ligação, mas isso não foi possível, pois
comecei a ter problemas na gravidez. Finalizei o tempo que faltava de
gestação internada em um hospital particular com o apoio da minha irmã e
seu namorado. Graças a Deus e todos os santos do Universo, consegui
ganhar enfim a bebê, que nasceu cheia de saúde, dando um novo
significado e propósito para a minha vida.
Bella.
A pequena era tão linda, minúscula, tinha os olhos do pai, até mesmo
a cor dos seus cabelos, denunciando o quanto seria uma cópia perfeita de
Bernardo Mancini. Quando a segurei pela primeira vez, a culpa me acertou
em cheio por ter escondido dele o nascimento da sua herdeira e ter tirado o
seu direito de fazer parte de tudo. Eu sabia lá no fundo que não tinha sido
uma escolha sábia, mas tudo foi em prol de protegê-la, uma vez que o
presidente chegou a afirmar que não era sua, além de no começo ter
deixado claro que seria capaz de tomar a guarda da minha bebê.
Bernardo só tinha me dado motivos para odiá-lo com tudo que havia
em mim, ainda que meu coração traiçoeiro insistisse em dizer com todas as
letras que eu o amava.
Talvez…
Sempre que pensava no presidente, eu me sentia dividida entre a
emoção e a razão. Uma parte de mim queria ficar o mais longe possível dele
enquanto a outra se pegava obcecada pelos momentos que tivemos como
um casal de verdade. Em algum momento senti que o babaca tinha se
arrependido pelas coisas que disse e que quase me fizeram perder a pequena
Bella, mas não poderia ficar para perdoá-lo.
E se ele errasse de novo? E se tudo se repetisse?
A instabilidade no comportamento de Bernardo era o que me fazia
recuar. Só que, vivendo em um mundo onde o babaca liderava uma nação
inteira, não me restava opção senão enfim encará-lo e bater de frente depois
de tantos meses distantes. Com a ajuda de Carolina e James, arrumei
minhas coisas e a de Bella para voltarmos à Itália. Eu iria passar uma
temporada com o casal assim que tudo se acertasse para enfim retomar a
Paris, onde pretendia criar a minha filha.
Se o presidente não descobrisse o que tanto tinha cuidado para
esconder.
— Tem certeza de que não quer companhia? — Carolina perguntou
preocupada.
— Não. Eu preciso fazer isso sozinha. — Dei uma última olhada no
espelho e suspirei fundo. — Você precisa cuidar de Bella, qualquer coisa
me liga.
Eu não me sentia mais aquela Monaliza que partiu do país fragilizada,
afinal quando um filho nasce, consequentemente nasce uma mãe capaz de
tudo para protegê-lo.
Meus cabelos estavam abaixo dos ombros e escolhi uma roupa um
pouco formal para o encontro com o meu marido por contrato, só temia que
em algum momento os meus seios vazassem, pois se encontravam cheios
demais, mesmo tirando para alimentar a pequena que sugava todas as vezes
de forma bem desesperada.
Idêntica ao pai…
— Estarei com o celular em volume máximo. Por favor, não hesite em
me avisar caso aconteça alguma coisa ou ela… — Olhei para a bebê
enrolada em uma manta no colo de Carolina, que a balançava devagar nos
braços.
— Pode deixar, mamãe leoa. Nós vamos ficar bem até que volte.
Meu celular vibrou avisando que o carro de aplicativo tinha chegado.
— Eu amo vocês. Cuide bem de Bella. — Fui me despedir das duas.

Cheguei ao escritório do advogado de Bernardo para a reunião em


menos de trinta minutos, um caminho que fiz em silêncio e apreensiva com
o que aconteceria. Assim que entrei, encontrei Camila, que me recebeu com
um abraço apertado; conversamos brevemente antes que eu fosse conduzida
para a sala onde ele aguardava.
Bernardo…
Estava a um passo de reencontrá-lo, engoli em seco assim que a porta
foi aberta.
— Seja bem-vinda de volta, Sra. Mancini.
O presidente me esperava sentado em uma poltrona, com um sorriso
no rosto.
— Licença. — Entrei em passos vacilantes e fui logo me sentar. —
Tudo bem?
Ajeitei-me na cadeira à sua frente e o cumprimentei de forma educada.
Estranhei ver que ele se encontrava ali sozinho sem a presença do seu
advogado.
— Sobrevivendo. — Engoliu em seco, sem tirar o olhar do meu. —
Um dia de cada vez.
— Ah… Sinto muito pela sua perda. — Cruzei as mãos na perna,
nervosa. — Eu pensei em ligar para me solidarizar, mas acabei não fazendo
isso, pois…
Ele ergueu um dedo, tomando a frente para falar.
— Não tem problema. Eu nunca esqueci o que fizeram com você
naquele jantar.
— É passado. — Dei de ombros. — Eu já os perdoei a muito tempo.
— E você? Como está? — perguntou, seu olhar me alisava dos pés à
cabeça. — Nem mesmo parece aquela Monaliza de antes. Cortou os cabelos
e suponho que ganhou um pouco de peso, a cintura acentuada e o rosto tem
um brilho novo.
— Estou bem. Obrigada por perguntar. — Fiquei sem jeito. A blusa e
a calça social não tiveram sucesso em disfarçar a mudança pela qual meu
corpo passara após o nascimento da bebê. — As pessoas mudam, não é
mesmo? Veja, pouco tempo atrás você era apenas um simples candidato,
hoje é o presidente do nosso país.
— Uma conquista e tanto. Me senti um pouco realizado.
— Deveria sentir o dobro de felicidade por conseguir o que sempre
sonhou.
— Do que adianta ter uma posição como essa se todas as noites me
vejo sozinho? Se o dinheiro que tenho não é capaz de comprar a verdadeira
felicidade que consiste em ter ao nosso lado quem amamos? — foi direto e
sucinto.
— Sinto muito. — Desviei o olhar para o lado, sem saber o que
responder.
— O preço que estou pagando é muito alto. — Batucou com os dedos
na mesa, de repente meio nervoso. — Só que não preciso da sua pena ou
misericórdia, Monaliza. Afinal essa não é a pauta da nossa reunião, não é
mesmo? Eu não te faria enfrentar um voo de Paris até a Itália para
compartilhar o quanto a minha vida está uma merda desde que você foi
embora.
— É… Onde preciso assinar? — Encarei seus olhos e respirei fundo.
— Eu não sabia se precisava trazer algum advogado ou…
— É só a primeira reunião de muitas outras que ainda teremos pela
frente, ou pensa que irei passar os próximos anos longe da minha filha,
Monaliza?
Suas palavras me acertaram em cheio e arregalei os olhos, petrificada.
— Pensou que eu nunca descobriria o que fez? Que escondeu a nossa
filha?
— Bernardo… — Não sabia o que falar.
Ele tinha enfim descoberto o meu segredo.
— Ficou todo esse tempo longe para proteger a nossa filha. Você foi
capaz de escondê-la de mim, mesmo depois de me ver desabar em sua
frente e implorar pelo seu perdão. — Vi em seus olhos um rastro de dor e
culpa.
— Você nunca a quis, Bernardo. Lembra-se das coisas horríveis que
me disse naquele dia? Foi capaz de jogar na minha cara que a filha não
podia ser sua e que queria um exame para comprovar a paternidade. —
Levantei-me, alterando o tom da voz.
— Eu fiquei cego, cazzo! — Deu um soco na mesa. — A raiva me
consumiu quando vi aquele bastardo te abraçando e a um passo de encostar
em seus lábios. Não pensei em medir as palavras quando disse aquelas
coisas das quais irei me arrepender por toda a minha vida — confessou. —
Não há perdão pelo que fiz, Monaliza, mas o que você fez foi pior ainda.
Escondeu a minha filha, porra!
— Isso não chega perto do medo que senti quando me persuadiu a
assinar aquele contrato, afinal era isso ou iria tomar a guarda da minha
filha. — Apontei um dedo em sua direção. — Se existe um culpado nessa
história, é você, Sr. Presidente.
— Então foi um maldito jogo? Estamos de igual para igual?
— Fique longe de mim e da minha filha.
— Isso está fora de cogitação, Monaliza. Eu quero vê-la. — Levantou-
se imediatamente, vindo logo em minha direção. — Preciso ver a minha
filha. É um direito seu continuar me odiando, mas não me deixe ficar um
minuto sequer longe da criança que julguei estar morta. — Vi seus olhos se
encherem de lágrimas. — A dor de perder meus pais não chegou nem perto
da que senti ao ver aquele sangue escorrendo pela sua roupa. Eu me culpei
todo esse tempo por ter matado nosso filho.
— Bernardo. — Vacilei, não aguentando vê-lo chorar.
— Saber que ela está viva me fez renascer das cinzas. Por favor. Eu
preciso vê-la.
Fiquei parada olhando para ele, sem saber formular uma resposta
final.
CAPÍTULO 32

A minha filha estava viva.


Desde que recebi o documento de investigação que tinha muitas fotos
de Monaliza com a nossa filha, não consegui pregar o olho, ansiando pelo
dia em que teria a chance de reencontrá-la e saber dos motivos que a
levaram a escondê-la de mim. Eu não era um santo, mas merecia saber da
criança que carregava o meu sangue e que seria a única herdeira que eu
teria. Depois do divórcio, não pensava em me casar novamente e tampouco
me envolver amorosamente com outra mulher.
A verdade é que meu coração seria sempre delas.
Monaliza foi habilidosa em mudar as cartas do jogo e conseguiu forjar
um aborto para me tirar da reta, o respeito a sua dor foi o único motivo pelo
qual a deixei partir de minha vida. A liberdade que tanto queria foi
concedida e assim conseguiu ter a nossa filha sem o meu conhecimento,
pois acreditei todos esses meses que tinha sido morta no dia do
sangramento. Felizmente a pequena estava viva, saudável e entre nós.
Ao mesmo tempo, longe dos meus braços.
A reunião para tratar do assunto do nosso divórcio foi nada menos que
uma desculpa que encontrei para trazê-la de volta à cidade e ter a chance de
jogá-la contra a parede. Monaliza não esperava que o jogo virasse e eu
acabasse descobrindo a filha que ela tanto se esforçou para manter
escondida de mim. Eu não iria deixar esse assunto de lado e respeitá-la
como fizera durante todo esse tempo que pareceu uma eternidade, agora
existia uma criança que merecia conhecer o pai.
Estava ansioso para vê-la pela primeira vez e segurá-la.
Minha esposa não tinha conhecimento do inferno que eu passara,
longe delas, remoendo a culpa por acreditar ter acabado com a vida de um
anjo inocente. Eu vivi uma tormenta, sem um pingo de sanidade, e a única
coisa que me fazia despertar todos os dias era o compromisso que tinha com
uma nação que contava comigo.
Ser um presidente ia muito além de carregar um simples título perante
o país e eu estava empenhado em ser o melhor de todos, cumprindo com os
compromissos, promovendo projetos, inclusão e tudo que estivesse ao meu
alcance realizar, mesmo que por dentro não existisse nada de bom em mim.
Eu me sentia perdido, sobrevivendo no piloto automático ao passar por
tantas perdas, uma atrás da outra.
Uma por uma.
Descobrir que a minha filha estava viva em algum lugar do mundo
renovou as minhas esperanças, como se tivesse encontrado uma luz no fim
do túnel. Bella. A pequena me fez renascer das cinzas e agora era o
principal motivo pelo qual eu iria levantar todos os dias para fazê-la
incansavelmente feliz. Eu sabia que as chances de sermos uma família eram
mínimas, pois Monaliza me odiava, mas não iria desistir de ao menos tentar
ser um pai na vida da criança que iria carregar meu sobrenome.
— Pode estacionar aqui — eu disse ao motorista antes de sair do
carro.
Monaliza estava hospedada no apartamento onde a irmã morava com
o médico. Foi uma surpresa descobrir que o bastardo tinha seguido a vida e
se apaixonado por Carolina, a irmã mais nova da minha esposa. Ele ainda
era um assunto que incomodava, pois graças a esse babaca tudo ruíra
provocando uma maldita explosão.
Não podia pensar nisso. Reprimi esse pensamento e fechei a porta do
automóvel.
Preparei-me para entrar no prédio e seguir caminho a fim de encontrar
a minha filha. Monaliza finalmente tinha cedido ao meu pedido e permitiu
que isso viesse a acontecer, pois se deu conta de que não tinha como fugir
de mim, ainda mais agora que estava determinado a recuperar o tempo que
perdi longe da pequena Bella.
Os meus seguranças ficaram me aguardando com o motorista.
Naquela manhã em especial, tentei usar uma roupa menos formal e um boné
para disfarçar. Era muito difícil ser uma pessoa pública e sair sem ser
reconhecido por alguém na rua.
Entrei no apartamento, cumprimentei o porteiro com um aceno de
cabeça e segui rumo ao elevador. Em poucos segundos estava de frente para
a porta da casa, soltei o ar e toquei a campainha, as mãos já trêmulas e o
corpo vacilando de ansiedade.
— Bernardo… Oi. — Monaliza me recepcionou com um sorriso sem
graça.
Ela deu espaço na porta em um convite silencioso para entrar.
— Obrigado por me receber a esta hora — falei, entrando devagar no
cômodo. — Pensei em ligar e perguntar se você precisava de algo… Eu
poderia trazer...
— Está tudo bem, Bernardo. Temos tudo de que precisamos no
momento. — Fechou a porta em seguida. — Pode ficar à vontade.
Dei uma breve analisada no apartamento, até o meu olhar se voltar
para o pequeno berço no canto da sala, e então caminhei em passos rápidos
até lá.
Então era isso.
A minha filha estava ali.
Dio mio!
— Teve sorte de encontrá-la acordada. — Monaliza surgiu do meu
lado e logo tratou de afastar o mosquiteiro da cor rosa para que visse enfim
a pequena bebê.
— Dio… Ela é tão linda — comentei emocionado assim que meus
olhos cruzaram com os da minha filha, que por sinal eram idênticos aos
meus. — Tão perfeita. — Toquei com os dedos em seu rosto. — Eu sou o
seu papai, princesinha.
— Bella. Esse é o papai Bernardo — sua voz saiu entrecortada.
A criança me olhava encantada, movendo os lábios como se
procurasse o peito da mãe, e me vi paralisado quando tocou em meu dedo,
agarrando-se a ele. Foi o meu fim, as lágrimas escorreram pelos olhos sem
que tivesse controle algum. Uma emoção sem medida, inexplicável, e que
nunca imaginei estar vivo para experimentar.
— Demoramos um pouco para nos encontrar, não é, pequena? O papai
ficou um tempo longe, mas já está de volta e prometo nunca mais soltar a
sua mãozinha — sussurrei baixinho e a vi choramingar. — Oh,
princesinha… Não chora, não.
— É fome — Monaliza comentou. — Essa pequena é um bezerrinho.
Vou pegá-la para amamentar. Se importa em esperar um pouco? — disse
indo tirar a bebê do berço.
— Não precisa me notificar nada, Liza. A casa é sua. Sinta-se livre —
murmurei, afastando-me para ir sentar no sofá. — E, bom, tenho todo o
tempo do mundo.
— Só uns minutinhos e vocês voltam a se conhecer melhor, né, Bella?
— sussurrou baixinho, caminhou até uma poltrona e se preparou para
amamentar nossa filha. — Bebê da mamãe que parece um bezerrinho.
A interação das duas era a coisa mais linda de se observar. Uma
conexão inexplicável. Lembrei-me do que tinha comprado quando soube da
existência da bebê e que estava no bolso do moletom. Aproveitei que a
Bella estava entretida no peito da mãe, que tinha o olhar voltado para a
nossa filha, e tirei logo para fora o presente.
— Já ia me esquecendo… — Levantei-me e fui até as duas.
— Oi? Não entendi. — Monaliza parecia meio aérea.
— Ela ainda é muito pequenina, mas assim que tiver idade suficiente
mandarei fazer outra. — Mostrei a coroa que tinha em mãos, era banhada
por diamantes rosa.
Uma peça avaliada em milhões que eu comprara especialmente para a
bebê.
— Meu Deus! Bernardo… Isso é um diamante. — Abriu os lábios, em
choque. — Deve ter sido tão caro. É de verdade? Digo, vindo de você só
pode ser mesmo.
— Sim. É uma peça original e custou um valor alto, mas pouco me
importa. — Coloquei devagar na cabeça da nossa filha. — O papai promete
que, daqui a uns anos, comprará outra maior. — A peça não era pesada e
não causaria incômodo algum.
Só que a intenção não era que usasse o tempo todo, apenas o
suficiente para gravar a imagem na cabeça e nunca mais esquecer desse
momento especial.
— Tão pequena e meio que já é bilionária.
— Tudo que tenho é dela, e para ela — fui claro e me ajoelhei em
frente às duas. — O papai está muito ansioso para incluí-la na vida dele.
— Ainda é muito cedo para expô-la na mídia, Bernardo… —
demonstrou preocupação.
— Farei o que desejar, Liza. O meu objetivo de vida agora, que as
tenho por perto, é cumprir o que falei meses atrás. Vocês são a minha
prioridade e continuarão sendo. — Fiz um carinho no rosto da nossa filha,
que sugava o seio da mãe. — Eu sei que feri seu coração no passado e lhe
dei inúmeros motivos para me odiar, mas isso acaba agora. Tudo que quero
é provar que mudei e farei o melhor por Bella.
— Não precisa fazer isso por mim. Faça apenas pela nossa filha.
— A nossa história começou da maneira mais errada e quero agora ter
a chance de consertar as coisas. Em primeiro lugar, continuarei deixando-a
livre com a nossa filha. Eu não irei obrigá-la a ficar ao meu lado e ser a
esposa perfeita para a mídia como tanto preguei. E, em segundo, irei dar os
últimos passos no nosso divórcio.
Foi uma decisão tomada a duras penas, mesmo que não quisesse isso.
Eu não tinha a menor pretensão de me separar dela formalmente, mas, para
conseguir dar outros passos em busca do seu perdão, teria que seguir pelo
caminho certo.
Um degrau de cada vez.
— Você está falando a verdade? Jura que não vai voltar atrás na
palavra?
— Sim. Em nome do amor que tenho pelas duas.
Monaliza demonstrou espanto com a minha resposta.
— É, pode não parecer verdade, mas eu me apaixonei por você, Liza.
Julgo que estou apaixonado desde o dia em que fomos para aquela boate e
tudo aconteceu. Eu menti para mim mesmo quando disse que nunca seria
capaz de amar outra, mas isso morreu no instante em que me dei conta de
que, no passado, você foi meu grande amor e que continuará sendo para
sempre, ainda que nunca me perdoe pelo que fiz.
— Eu... não sei o que dizer.
— Não espero que me ame de volta, pois não dei razões para me amar.
Assim como nunca mais serei capaz de ofendê-la ou acusá-la de algo,
tampouco irei obrigá-la a se manter em um casamento que só lhe trouxe
dores. Acabou, Liza. Irei rasgar aquele contrato e não existirá mais nada
que nos una além de Bella.
Levantei-me, sentindo um amargo na boca após expor meus
sentimentos.
No entanto, ainda faltava algo para finalizar.
— Antes de ir preciso dizer que… eu amo a Bella desde o ventre e
amei por todos esses meses em que pensei que ela estava morta, assim
como eu te amo, Monaliza. Te amei até mesmo quando era só uma menina,
no passado, embora não da forma como passei a te amar depois do nosso
reencontro; eu te amei ainda mais como esposa, como mulher — declarei-
me, enfim.
CAPÍTULO 33

“[…] te amei ainda mais como esposa, como mulher.’’


A declaração de Bernardo me pegou totalmente desprevenida e me
surpreendeu de uma forma que não conseguia tirar da cabeça o som suave
da sua voz, afinal, desde que ele tinha quebrado meu coração anos atrás,
nem nos meus melhores sonhos imaginei que um dia se apaixonaria por
mim. A Monaliza do passado sempre desejou isso, mas aprendera muito
rápido que era impossível, tendo em vista nossa diferença de idade e nossas
origens.
No entanto, o presidente parecia certo em cada palavra sussurrada e
deixou claro todas as suas intenções dali para a frente. Não consegui dizer
nada após ouvi-lo se declarar, mesmo que o meu coração bobo estivesse
aquecido, pois pela primeira vez senti que estava sendo sincero como nunca
tinha sido antes. Consegui enxergar a verdade em seu olhar, ele estava
sendo fiel ao que realmente sentia.
Bernardo podia ter muitos defeitos, mas não seria capaz de mentir
quando o assunto era estar apaixonado por alguém. Eu o conhecia tempo o
suficiente para conseguir reconhecer caso estivesse mentindo quanto aos
seus sentimentos e daquela vez estava sendo sincero, usando o seu coração
com sabedoria. Isso me quebrou logo em seguida, pois eu não saberia lidar
com aquela sua nova versão.
O que diria? O que esperava de mim?
Eu não podia negar que sentia o mesmo pelo babaca presidente, que o
meu estômago se enchia de borboletas todas as vezes que sentia o seu
perfume tão próximo e ouvia a sua voz como era no passado. De certa
forma nada tinha mudado, mesmo que tivesse negado o inegável por todo
esse tempo, pois a verdade é que sempre o amei e continuaria o amando
enquanto tivesse vida.
Para sempre
— Ainda não sabe que roupa vai usar? — Carolina perguntou
enquanto não tirava o olhar da babá eletrônica, observando a pequena Bella
dormir.
— Estou na dúvida entre esses dois vestidos. — Mostrei as peças à
minha irmã. — Eu ainda acho que foi uma péssima ideia aceitar sair com
Bernardo.
— Eu ainda acho que não será um problema tentar ser amiga do pai da
sua filha.
Algumas semanas se passaram desde que selamos um acordo de paz.
Bernardo vinha quase todos os dias ver a nossa bebê, assim como
encontrava uma folga na agenda para vê-la, outras vezes me fazia levá-la a
sua casa para passar um tempo. Assim criamos uma rotina em prol da
pequena, que se apegava pouco a pouco ao pai, até mesmo já reconhecia os
braços do presidente, pois se acalmava facilmente depois do choro quando
ele a pegava no colo. Era nítido o quanto o babaca se esforçava para se
fazer presente na vida de Bella, ele a colocava para dormir, não se
importava em trocá-la ou aprender a banhá-la com minha ajuda.
O presidente vinha cumprindo com êxito seu papel de pai todo
protetor, ainda mais quando em um desses nossos encontros fomos
fotografados e veio a público a notícia de que fomos vistos juntos com uma
criança pequena. Foi questão de minutos até que novas fofocas e teorias
fossem surgindo uma atrás da outra. Bernardo tratou logo de publicar uma
declaração pública afirmando que estávamos em processo de separação,
salientando que continuávamos amigos e que queríamos o melhor para a
nossa filha.
E foi assim que decidi que ficaria de vez na Itália, não voltaria para a
França. Eu iria comprar uma casa para morar com Bella o mais rápido
possível, pois estava na hora de dar largada nos sonhos que foram parados.
Foi uma decisão que tomei baseada no desejo de Bernardo em continuar
perto da nossa pequena sendo um pai presente. Não podia mais tirar o
direito dele de fazer parte da vida dela, era uma escolha que cabia
exclusivamente à minha filha quando tivesse idade suficiente.
Tempo ao tempo.
— Vou usar esse mesmo.
Escolhi o vestido preto, amarrado sem encosto no pescoço de
cabresto. Tinha comprado em um site e ainda não tinha usado.
— Vai ficar perfeito.
— Isso até os meus seios começarem a vazar leite. — Fiz careta. —
Tem certeza de que vai dar conta de cuidar de Bella sozinha?
— Pode ir tranquila, irmã. Nós duas vamos ficar muito bem aqui —
garantiu.
Eu sabia que sim e não restava dúvidas. Carolina tinha sido a minha
rede de apoio, cuidava da bebê como se fosse sua filha e cumpria com o seu
papel de tia coruja.
— Vou me vestir então. — Sorri de lado.

Eu não sabia se tinha sido uma boa ideia aceitar ir a um jantar com
Bernardo, mas acabei aceitando em especial por ser o seu aniversário; ele
queria comemorar comigo, uma vez que seu irmão estava viajando com a
namorada pelas ilhas gregas. O convite veio de forma inesperada pelo
celular e acabei concordando em ir com ele.
Que mal tinha?
O presidente passou em casa para me buscar e o percurso foi
silencioso.
— Aceita uma taça de vinho? — Bernardo perguntou sem delongas.
Estava sentado ao meu lado, o corpo relaxado enquanto bebericava a
sua bebida.
— Estou amamentando Bella. Vou ficar só com um suco. — Escolhi
no cardápio e entreguei ao garçom, que em seguida foi embora com os
nossos pedidos.
O restaurante era luxuoso, bem decorado, um clima agradável e havia
um músico tocando no piano uma canção suave que eu desconhecia.
— Como foi a gestação? Conte-me um pouco mais. — Deixou a taça
de lado na mesa.
— Limitada. Eu tive problema na placenta e então me vi obrigada a
me cuidar mais, bem como manter repouso total para que conseguisse
chegar bem aos nove meses. — Soltei um suspiro ao recordar. — Graças a
Deus tudo correu bem.
— Foi tudo culpa minha. Se eu não tivesse dito aquelas coisas…
Involuntariamente, toquei em sua mão que estava na mesa.
— Em partes, sim, mas não é totalmente culpado — tentei explicar. —
Eu iria descobrir logo mais que estava com descolamento na placenta, era
só questão de tempo. A médica que cuidou da minha gestação explicou que
isso acontece com três a seis mulheres entre mil grávidas. O que aconteceu
foi só um gatilho.
— Ainda assim fui culpado pela desgraça. — Colocou a outra mão
por cima da minha. — Falei coisas das quais me envergonho, pois fui cego
naquele dia e deixei que o ciúme me consumisse. A verdade é que nunca
senti isso por ninguém, Liza. Só de pensar que outro poderia tomar o que é
meu e ser pai de Bella… Fui um monstro.
— Eu nunca pensei que fosse capaz de fazer aquilo, quando deixei
bem claro que era virgem até aquela noite no cassino.
— Eu acreditei. Nunca duvidei disso, entende? — Não tirou o olhar
do meu. —Um sentimento me dominou quando vi aquele bastardo quase te
beijar e não suportei pensar na possibilidade de que poderia ser o pai da
minha filha. Não sei como isso veio aos meus pensamentos, mas foi o que
me fez agir errado.
— E sem querer partiu meu coração, que já estava quebrado.
— O meu se quebrou junto, Liza. Não vivi mais desde que a vi partir.
Aqui. — Pegou minha mão, levando-a ao coração. — Só continuou batendo
por você, mesmo que estivesse tão longe dos meus braços. Eu estou
pagando caro por ter feito o que fiz, mas irei viver em função de conquistar
ao menos dez por cento do seu perdão.
— Se é tudo de que precisa, então lhe darei quinze por cento. — Dei
um sorrisinho de lado. — Não ouse me machucar assim outra vez, ou irei
pegar Bella e sumir do mapa. Sei que nunca irei perdoá-lo completamente,
mas irei me esforçar para dar um voto de confiança me baseando em seu
comportamento daqui em diante.
— Isso é tudo de que preciso, Liza. Uma única e pequena chance.
— É tudo que terá de mim. — Afastei minha mão. — Passei por um
inferno e demorei muito para me reconstruir. Eu nunca mais irei me sujeitar
a passar por outro momento de fragilidade, isso sob hipótese alguma.
— Eu morro antes mesmo que isso aconteça, Liza. Estou dando a
minha palavra — selou uma promessa. — O amor é paciente e bondoso.
Não se vangloria e não se orgulha… — Citou o texto da bíblia completa e
finalizou. — O amor jamais acaba. — Estendeu a mão para pegar na
cadeira um papel que eu não tinha visto antes.
Franzi logo o cenho, confusa.
— Aqui está o nosso divórcio. É finalmente uma mulher livre, Liza.
— Entregou-me. — A mentira acabou.
— Não estava esperando por isso… — Segurei o documento com as
mãos trêmulas.
— Eu prometi e estou cumprindo com cada palavra. Apesar de que
isso não quer dizer que irei deixar de tentar reconquistá-la. Esse é apenas o
primeiro passo que estou dando em busca de tê-la de volta em minha vida,
mas desta vez pelos motivos certos. Ainda quero me casar com você, mas
será um degrau de cada vez, Liza.
Fiquei encarando os papéis sem reação. Então o acordo tinha acabado.
— Monaliza. Promete… — Engoliu em seco antes de falar. —
Promete que vai pensar se em algum momento vou ter uma segunda chance
com você?
— É tudo que quer? — Olhei-o dentro dos olhos. — Sem mais
acordos?
— Sem acordos e sem mentiras. Apenas uma faísca de uma chance.
— Uma faísca de chance — sussurrei, deixando o documento de lado.
Talvez fosse tudo de que precisávamos dali em diante. Uma segunda
chance.
CAPÍTULO 34

— Só podem estar de brincadeira. — Neguei com a cabeça em


reprovação ao ler uma, dentre várias notícias, que saíra envolvendo meu
nome.
Não só o meu como o da minha ex-esposa. Desde que coloquei uma
declaração pública em uma das redes sociais e confirmei a nossa separação,
não se falava em outra coisa senão isso. As pessoas ainda não acreditavam,
pois, desde que Monaliza voltara para a Itália, não parávamos de nos
encontrar. Muitos, inclusive, apontavam uma possível reconciliação, o que
para ser mais exato era o meu maior desejo. Eu fazia parte daquele grupo
que tinha esperança de que isso acontecesse.
Muito em breve.
Só questão de tempo.
Vinha me esforçando ao extremo para estar presente na vida da minha
filha. Sempre que encontrava tempo livre ou uma pausa entre um
compromisso e outro, seguia caminho para a casa onde as duas estavam
hospedadas. Não importava o cansaço, a adrenalina pela ansiedade de
chegar o mais rápido possível, pois bastava ver a Bella para me sentir
renovado e carregado de energia. A pequena se mostrava apegada a mim,
gostava de ficar em meu colo, ser ninada, receber carinho, e sorria ao me
ver.
Eu me derretia inteiro.
Por meses ficara adormecido, mergulhado em uma escuridão que
parecia nunca ter fim, mas descobrir que era pai me trouxe um novo
propósito de vida, como se tivesse renascido apenas para amá-las. Eu só
tinha que continuar seguindo a linha direta, provando em atitudes que não
era mais o mesmo e que faria o possível e o impossível para vê-las felizes,
tanto Monaliza quanto a Bella.
Minhas meninas.
No último jantar em prol do meu aniversário, Monaliza garantira que
iria me dar uma faísca de chance para que pudéssemos escrever enfim uma
nova história. Um capítulo se iniciava com o pé direito, visando a um futuro
próspero em que Bella iria crescer sem conflitos, apenas paz e rico de muito
amor. Ouvi-la falar que me daria um voto de confiança era tudo de que eu
precisava para continuar em busca do seu perdão. Sabia que tinha um longo
caminho pela frente, mas não iria desistir facilmente.
Fechei a matéria que estava lendo, enviada por Camila, que sempre
me atualizava diariamente das notícias que envolviam o meu nome, bem
como cuidava dos meus assuntos pessoais ou políticos. Eu tinha muita sorte
por tê-la ao meu lado, em especial por agora sermos finalmente uma
família. Ela estava prestes a ficar noiva do meu irmão, Alessandro, que dali
a uns anos seria candidato a governador.
O tempo realmente cuidava de tudo.
Procurei a babá eletrônica no celular e fui logo conferir como Bella
estava. A pequena continuava adormecida depois de sugar sem parar o seio
da mãe. Monaliza, assim que colocou nossa filha para dormir, foi tomar o
seu banho e aproveitei para fazer o pedido do nosso jantar, uma rodada de
pizzas.
As duas estavam passando o final de semana em minha casa e eu
esperava ter a chance de convencê-la a ficar morando comigo, sem exercer
pressão alguma. A intenção por trás do convite nada mais era que pensar na
segurança das duas, além de garantir conforto, um pouco de paz longe da
cidade e qualidade de vida. A minha mansão ficava em uma área
privilegiada, segura e tinha espaço de sobra para nós três vivermos juntos
pelo tempo que quiséssemos. Eu não tinha a menor pretensão de pressioná-
la ou coagi-la outra vez e, caso ela escolhesse continuar morando com a
irmã, eu iria respeitar a sua decisão, assim como continuaria garantindo sua
proteção.
— Demorei muito? — a voz suave de Monaliza acalentou a minha
alma.
— Tempo suficiente para ler algumas matérias chatas e admirar a
pequena dormir. — Ajeitei-me no sofá enquanto a observava descer as
escadas.
— Hoje ela está um pouco manhosa. Sinto como se um caminhão
tivesse passado por cima de mim. — Fez careta, vindo se sentar ao meu
lado.
— Essa noite cuidarei dela sozinho. É só deixar as mamadeiras bem
abastecidas de leite que não teremos problema algum — prometi e guardei
o celular no bolso do jeans, caso a pequena acordasse seríamos avisados. —
Tudo bem?
— Nossa… Dormir uma noite inteira é um luxo que não posso aceitar.
Está tudo bem, Bernardo. Eu consigo dar conta dessa rotina de madrugada e
mamadas.
— Você não está mais sozinha, entendeu? É a sua vez de descansar
enquanto o papai ficará com a princesinha. — Sorri de lado, observando-a.
— Esqueceu que tem compromissos importantes no dia seguinte? Eu
sei muito bem como é a sua agenda, as coisas que precisa resolver e das
quais precisa participar todos os dias.
— Não será um problema, Liza. Essa noite cuido dela e você dorme,
assim vamos revezando um dia ou outro. — Contive-me para segurar em
sua mão.
— Na segunda voltamos para casa, esse era o combinado — lembrou-
me.
— Eu quero muito passar um tempo com a Bella, Liza. Assim como
desejo tê-la aqui e fazer parte disso tudo — resolvi tocar no assunto
pendente. — Não se sinta pressionada com o que irei falar, mas quero que
as duas fiquem comigo.
— Bernardo… Morar com você outra vez? — Franziu o cenho, meio
aérea.
— Dessa vez como amigos, e nada mais. — Mordi a ponta do lábio.
— Começamos no passado com o pé esquerdo, mas agora quero fazer as
coisas da forma certa. Eu sei que é meio precipitado trazê-las para morar
aqui, no entanto é a melhor coisa a ser feita, pois só assim irei conseguir ser
cada vez mais presente na vida de Bella. Quero ficar a madrugada inteira
com a pequena, fazê-la dormir e trocar quantas fraldas for possível. — Dei
um risinho de lado. — E cantar músicas de ninar.
— É nítido o tanto que vem se esforçando para ser o melhor pai para
ela.
— Ainda é o mínimo, pois tenho um longo caminho a percorrer até ser
tudo que a pequena merece. Me deixe ser a sua rede de apoio quando
precisar, um pai para nossa filha e o seu melhor amigo de todas as horas. —
Não tirei o olhar do seu. — Você será livre para voltar a trabalhar, ou cuidar
de algum desses projetos humanitários que venho desenvolvendo.
— Sério? Eu sempre quis algo assim… — Seus olhos piscaram, sem
acreditar.
— Tudo que você quiser, Liza. Estou aqui para realizar todos os seus
sonhos, bem como respeitá-la caso escolha ir embora de novo ou só voltar a
morar com sua irmã.
— Eu… Eu aceito sua proposta, Bernardo — disse apressada,
pegando-me desprevenido ao me abraçar apertado. — Obrigada por
respeitar e levar em consideração a minha decisão final. O Bernardo do
passado não faria isso sob hipótese alguma, mas vejo que essa versão
evoluiu e amadureceu para melhor.
Envolvi meus braços em torno da sua cintura e fechei os olhos. Dio!
Como era bom.
— Você é a minha prioridade e sempre irei respeitá-la. Eu paguei um
preço muito alto quando decidi fazer o oposto e não quero nunca mais
passar por isso. — Esfreguei o nariz em seus cabelos molhados do banho,
embriagado pela fragrância no xampu. — Quase morri sem este abraço,
sem o seu cheiro e sem você toda.
— Por mais difícil que seja admitir isso em voz alta… Também senti
sua falta.
— Por favor, não me deixe nunca mais. Tudo que tenho agora é você e
Bella. — Precisei me afastar para segurar em seu rosto e olhar em seus
olhos. — Tudo para mim. Eu descobri que preciso do seu sorriso para
continuar respirando. Sempre acreditei estar certo sobre a definição do
amor, mas falhei miseravelmente, Liza. O amor é paciente e coloca o
interesse do outro acima dos seus, coisa que não fiz no passado, mas farei
até o meu coração parar de bater. Reconheço que errei muito e paguei
arduamente por cada lágrima que derramei dos seus lindos olhos.
— Bernardo… Não sei o que dizer.
— Não precisa dizer. Eu te amo e isso é tudo que basta.
Monaliza me surpreendeu ao fechar os olhos e encostar seus lábios
nos meus. Senti como se estivesse morrendo tamanha emoção que senti ao
beijá-la lentamente, capturando o sabor que nunca seria capaz de esquecer.
Ela passou as pernas ao redor da minha cintura, os braços em volta do meu
pescoço, e isso era tudo de que eu precisava para avançar com tudo.
Reivindiquei sua boca com fome, paixão mesclada com muita saudade e um
desejo descomunal de possuí-la.
Dio! Como sentira falta. Mordisquei a ponta do seu lábio com força,
brinquei com sua língua, embriagado por tê-la finalmente em meus braços,
e me controlei ao máximo para não avançar o sinal, colocando freio no meu
lado possessivo, que queria tirar a sua roupa de uma vez por todas. Eu sabia
que deveria continuar indo devagar, saboreando cada pedacinho da boca
gostosa, deliciosa e que sempre seria minha. Passei a mão pela sua coluna,
acariciei seus cabelos, prolongando mais o beijo.
Tive que encerrar a duras custas o contato ao sentir meu celular vibrar.
— Deliciosa. Te amo. — Selei seus lábios e sorri de lado. — Temos
uma noite inteira pela frente para matar a saudade, mas antes precisamos
ver uma princesinha.
— Não me diga que já acordou. — Fez um bico, colocando o rosto em
meu pescoço.
— Pode ficar aqui, que irei pegá-la. — Ajeitei-a no sofá antes de me
levantar. — Enquanto isso fique aqui, e receba o nosso pedido caso a
pizzaria entregue.
Monaliza concordou com um aceno de cabeça e segui caminho para o
quarto onde a nossa filha estava. Assim que cheguei, abri a porta e corri
para vê-la no berço. A bonequinha acordada logo notou a minha presença e
começou a choramingar.
— Princesa do papai. Não precisa chorar… — Estendi as mãos para
pegá-la com cuidado, sorri apaixonado quando a segurei e comecei a ninar
lentamente. — Eu te amo tanto, filha. Preciso que pare aos poucos de
chorar e me ajude a conquistar a sua mamãe, tá? — sussurrei baixo. — Não
custa nada ajudar o seu pai, viu?
A pequena foi aos poucos parando de chorar e fiquei aliviado.
— O papai vai lutar, seremos uma família de verdade e quem sabe
daqui um ano tenha um irmãozinho para te fazer companhia, que tal? —
Sorri largo e todo bobo.
CAPÍTULO 35

— Podem colocar essas flores ali — expliquei à mulher que estava


cuidando da decoração do evento beneficente que aconteceria dentro de
duas horas.
— Está ficando tudo muito lindo, Monaliza. Parabéns! — Camila veio
me cumprimentar com um abraço. — E claro, muito obrigada por me
convidar para fazer parte disso tudo. É um momento muito especial para
todos nós.
— Me diz como te deixar fora disso tudo? — Sorri largo. — Sem a
sua ajuda, esse sonho não teria saído do papel. É uma honra tê-la como
madrinha desse projeto.
— É uma honra, Monaliza. Sabe que sempre pode contar comigo.
— Eu preciso te mostrar uma coisa. — Peguei em sua mão para levá-
la até uma sala que tinha sido montada para receber uma parte das crianças.
— Oh… Vamos lá. — A noiva do meu cunhado acompanhou-me
gentilmente.
Eu me sentia realizada.
Bernardo me deu carta-branca para participar de um de seus projetos
humanitários pelo país e aproveitei então para ter a ousadia de criar um do
zero. A ideia de criar uma ONG voltada para as crianças abandonadas ou
que moravam na rua surgiu de um desejo que tinha desde pequena em
ajudar famílias carentes e que não tinha condições de dar um futuro de
qualidade aos filhos. Não foi uma missão muito fácil dado todo o processo
burocrático, mas no fim deu tudo certo e nos últimos dois meses vínhamos
organizando tudo para que fosse finalmente inaugurado.
O prédio ficava localizado em uma área carente da cidade, iria receber
grande parte das crianças que foram cadastradas e famílias de classe baixa.
O projeto fornecia atividades escolares, educação infantil, alfabetização,
além de refeições diárias, atendimento médico e psicológico quando
necessário. Uma equipe que foi montada exclusivamente para atender e
entregar o melhor possível, sem deixar de mencionar que isso só foi viável
graças ao apoio financeiro do presidente.
O pai da minha filha. A nossa relação tinha dado saltos desde que nos
beijamos.
Eu fui definitivamente morar com Bernardo e sem sombras de dúvidas
foi uma escolha sensata e perigosa na mesma proporção, pois um beijo nos
levou para outro patamar. Acabei cedendo à tentação e enfim paramos em
sua cama, lugar onde passei a dormir, bem como iniciamos uma vida sexual
ativa sem cobranças.
Bernardo foi paciente, cuidadoso ao extremo em não querer avançar o
sinal da nossa reconciliação, mas apertei o botão do descontrole e
entreguei-me de corpo e alma ao homem que eu tanto amava. Não tinha
coragem o suficiente de declarar esse sentimento que me sufocava, mas
esperava que no momento certo colocasse para fora e enfim me declarasse
como o presidente fazia todos os dias sem pesar.
Eu sentia o amor em seu cuidado diário e em atitudes que valiam
muito mais.
Estava sendo uma experiência nova dividir o teto com ele dessa vez,
pois tudo cheirava a recomeço e segundas chances. A nossa filha vinha
crescendo saudável, apegada ao pai de uma forma que me assustava na
mesma proporção que eu amava vê-los juntos, interagindo e se divertindo
como se fossem almas gêmeas.
Feitas uma para a outra.
O presidente não voltou a se pronunciar sobre a nossa volta, tampouco
quis rotular o que estávamos tendo, mostrando que vinha respeitando o meu
espaço e o meu tempo. Eu até achava melhor assim, pois ainda estava
processando as mudanças que vinham acontecendo, além de incluir o
perdão em nossa vida.
Eu sentia uma dificuldade quando o assunto era perdoá-lo, esquecer
tudo que tinha acontecido, mesmo sabendo lá no fundo que esse processo
estava prestes a ser real. Tudo isso só foi possível por causa de uma
conversa que tive com meus pais: minha mãe contou uma parábola bíblica e
esta tocou meu coração, que se encontrava bloqueado.
Era o momento de virar essa página dolorosa que me marcara. Todo
episódio difícil que passamos, no final das contas, nos prepara para
amadurecer e nos tornar pessoas melhores. Passei pelo vale da dor e chorei
como nunca antes, mas sobrevivi das cinzas, renascendo outra vez. Uma
nova versão ainda mais forte. Eu sabia que para viver finalmente em paz
precisava liberar o perdão de vez ao homem que amara quando ainda era
criança e que estava amando outra vez no presente.
— Está tudo muito perfeito, Monaliza! — Camila vibrou, feliz.
— Sim. Agora é só ir em casa dar um cheiro na minha bebê e correr
para cá.
— Eu te dou uma carona. Aceita? — Sorriu.
— Aceito.
Terminei de mostrar as coisas para a loira e me despedi dos
funcionários para seguir o caminho de casa, pois estava com os seios cheios
para a pequena sugar, mesmo depois de ter enchido várias mamadeiras
antes de deixá-la com Carolina.

— Sejam todos bem-vindos! É um prazer recebê-los nesta noite que


marca o começo de um ciclo o qual mudará a vida de muitas crianças e
famílias…
Encontrava-me nervosa, mas mantive a compostura e continuei com o
discurso para todas as pessoas que estavam ali a fim de celebrar a
inauguração da ONG. O presidente se via ao meu lado, dando-me força e
coragem, como sempre fazia. A minha família veio especialmente para
fazer parte desse momento e conhecer a neta pessoalmente depois de tantos
meses vendo-a apenas pela tela do celular.
Uma noite e tanto.
— Muito obrigada! — finalizei o discurso e Bernardo veio logo me
cumprimentar.
— Estou emocionado. Você foi perfeita, farfalla. — Deixou um beijo
em minha testa. — Estou orgulhoso demais por vê-la realizando um de seus
sonhos.
— É uma felicidade tão grande que não cabe no coração.
— Esse é apenas o começo de um dos muitos que iremos realizar
juntos — prometeu, acariciando meu rosto com a ponta dos dedos.
— Bernardo. Obrigada por fazer parte disso tudo. Sem o seu apoio
esse desejo não teria saído tão facilmente do papel — murmurei
emocionada. — Você fez toda a diferença nesse projeto.
— Tudo por esse sorriso. Esqueceu que vivo em função disso? —
Olhou dentro dos meus olhos, sorridente. — A sua felicidade é a minha
acima de todas as coisas. E irei mover montanhas para realizar muitos
outros sonhos, se possível.
— Não sei como agradecer por tanto. — Fiquei na ponta dos pés e
beijei seus lábios. — Quem sabe mais tarde possa agradecer de uma outra
forma…
— Estou ansioso para que este evento acabe logo então. — Mordeu a
ponta dos lábios. — Não atice a fera ou serei capaz de perder a cabeça antes
do tempo.
— Se controle, vossa excelência. — Pisquei um olho, rindo.
— Você fica uma delícia falando desse jeito. Espero que me chame
muito assim quando estiver sentando em cima do meu…
Não deixei que terminasse de falar ao beijá-lo rapidamente.
— Bernardo, por favor. — Neguei com a cabeça. — Se controle.
— Aí estão vocês… Olha quem está com saudade dos papais. —
Carolina veio trazer a pequena Bella, que estava usando um vestido rosa de
princesa e a sua coroa, nos cabelos loiros, de bilhões.
— Vem aqui, minha princesinha. — Peguei-a da minha irmã —
Obrigada por trazê-la e cuidar tão bem da nossa filha.
— Faço das palavras de Monaliza as minhas, Carolina. Obrigado por
tudo. — O presidente a cumprimentou com um sorriso.
— Eu amo essa pequena e irei ser sua protetora pelo resto da vida.
Vou deixá-los sozinhos um pouco, pois preciso encontrar o meu namorado
— disse saindo logo em seguida.
Dei um beijinho no rosto da minha filha e ajeitei a pequena coroa em
sua cabeça. Sorri apaixonada. Bernardo fazia questão de que a bebê usasse
sempre, pois a enaltecia como se fosse uma princesa real, o que ele sentia
que era mesmo. Fiquei tão entretida com a garotinha que não vi o exato
momento em que ele nos deixou sozinhas; vasculhei pelo olhar a sua
procura até encontrá-lo em frente ao microfone.
Estranhei. Bernardo também iria fazer um pronunciamento?
— Boa noite. Desculpem por isso, mas vou atrapalhar um pouco o
evento para fazer uma declaração para a mulher da minha vida — falou
firme e virou-se para mim. — Monaliza. Sem dúvidas, Bella também é a
segunda mais importante — brincou, rindo. — Eu tenho tanto para falar,
mas vou resumir em uma única frase. Eu te amo.
— Meu Deus… — Fiquei sem jeito, travada.
— Se aproxime, por favor — pediu e assim fiz, em passos vacilantes.
— Obrigado — voltou a falar. — O intuito desta noite é a coisa mais
preciosa que já presenciei nesses anos de vida e tudo só foi possível graças
ao coração dessa mulher, o qual é do tamanho do mundo. Eu, desde
pequeno, te admirava por ser uma garota pé no chão, determinada e que
nunca baixava a cabeça para ninguém. A prova disso está aqui para quem
quiser ver, pois foi através disso que conseguiu fundar essa ONG. A sua
força e empatia, o amor ao próximo sem medir esforço algum são a coisa
mais linda e tenho certeza de que, daqui a um tempo, nossa filha se sentirá
orgulhosa.
Ninei a pequena no colo, os meus olhos se encheram de lágrimas.
— Eu te amo, Monaliza. Perdoe-me por tudo que fiz e dê-me apenas
uma chance para fazê-la feliz, tê-la como a minha esposa. Eu quero me
casar com você e construir um lar repleto de amor para a nossa filha —
sussurrou emocionado. — Estou aqui diante de todos para dizer que… Você
aceita se casar comigo?
O meu coração ficou acelerado e criei coragem para responder:
— Sim — quase gritei, mas me segurei para não assustar a bebê.
Bernardo largou o microfone e veio correndo em minha direção. Uma
salva de aplausos preencheu todo o ambiente, junto de gritinhos de
comemoração e flores rosa que caíam do telhado, logo mais uma música
começou a tocar no fundo.
Você irá encontrar
Não há nada lá para esconder
Aceite-me como eu sou
Pegue a minha vida
Eu daria tudo
Eu sacrificaria
(Everything I Do) Do It For You
Bryan Adams
— Tudo que eu faço. Eu faço por você — Bernardo cantou
emocionado. — Eu te amo, Monaliza.
— Eu te amo, Bernardo. Não tinha dito antes isso, pois precisava
enfim aceitar esse sentimento que tanto me sufocara e reconhecer que
finalmente o perdoei. — As lágrimas não paravam de rolar pelos meus
olhos. — Te amo hoje e sempre.
— Obrigado por me dar uma segunda chance e por aceitar esse amor.
— Veio me abraçar tendo todo cuidado com a bebê que assistia a tudo meio
sonolenta. — Eu amo a nossa família e irei lutar pela nossa felicidade todos
os dias.
Senti que era real e que o nosso amor iria se fortalecer dali em diante.
Somente o poder do amor era capaz de permitir segundas chances e
fazer corações quebrados encontrarem o seu encaixe perfeito. A nossa
história foi marcada por altos e baixos, mas finalmente encontrou o seu
final feliz.
Amar é isso. Amar é simplesmente entender que muitas vezes vamos
errar tentando acertar. Amar é simplesmente aceitar que não existe
perfeição quando se ama alguém imperfeito. Amar é simplesmente deixar ir
quando tudo que mais quer é mantê-lo ali ao seu lado. Amar é
simplesmente isso, colocar a necessidade do outro acima da sua, respeitar as
imperfeições e liberar o perdão, que não nasce da noite para o dia. Amar é
simplesmente amar, afinal o amor nunca acaba e nunca morrerá.
Amar é amar.
EPÍLOGO
ANOS DEPOIS

— Conta mais, papai. — Bella deu pulinhos agarrada à sua boneca. —


Por favor.
— Tudo bem. — Sorri bobo para a minha primogênita, em outras
palavras, um pedaço de mim, afinal herdou todos os meus traços
fisicamente quando por outro lado a sua personalidade era completamente
idêntica à da mãe. — Certo dia o príncipe solitário do castelo velho
reencontrou a sua amiga do passado e decidiu que iria pedi-la em
casamento, mesmo que fosse pelos motivos errados.
— E o que mais? — Piscou os dois olhinhos, curiosa.
— Eles não foram felizes no começo e tiveram que enfrentar muitos
obstáculos. Até que um dia a princesa foi para longe, escondendo do
príncipe que estava grávida.
— Poxa, papai. E ela não voltou, não? — Fez um bico com os lábios,
demonstrando tristeza com a história que escrevi pouco tempo atrás, em
especial para a pequena.
— Calma, filha. Vem aqui — chamei-a para se sentar ao meu lado e
ela veio devagar. Aproveitei para abraçá-la de lado e beijar o topo da sua
cabeça. — O príncipe solitário ficou muito triste sem a sua princesa, mas
lutou bravamente para tê-la de volta. E, quando ela finalmente voltou,
ambos fizeram o possível e o impossível para viverem felizes para sempre
no castelo que não era mais triste.
— Obaaaa! E tiveram muitos bebês, papai? Igual a Luna, Dante e
Giovanni? — Lembrou-se dos irmãos mais novos, que tinham pouca
diferença de idade.
— Sim. Como foram um dia e você teve a oportunidade de
acompanhar a barriga da mamãe crescer — lembrei, sentindo um aperto no
coração. — Assim como o príncipe triste teve o seu final feliz, o papai e a
mamãe também tiveram o seu.
— Pode contar essa história, papai? — perguntou curiosa.
— Só quando os seus irmãos estiverem reunidos aqui. Que tal chamá-
los?
— Tá. Eu não demoro não, tá? — Levantou-se apressada e deixou um
beijo demorado em meu rosto antes de sair correndo, esquecendo-se da
boneca largada no chão.
Balancei a cabeça para, rindo.
Os meus filhos eram a segunda coisa mais preciosa que ei tinha na
vida, pois a primeira tinha nome e o sorriso que, mesmo depois de anos,
ainda continuava iluminando a minha vida todos os dias. Monaliza
representava o meu começo, meio e fim. Ela foi a responsável por me tornar
uma pessoa melhor, um ser humano que reconhece as suas fraquezas,
demonstra vulnerabilidade e tem empatia pelo outro.
Aprendi com a minha adorável esposa a ser um homem de verdade,
uma versão da qual tanto me orgulho e que era capaz de tudo para fazê-la
feliz a cada novo amanhecer. Eu consegui vencer o medo, deixei de lado a
ambição, arrogância e todos os comportamentos errados que me fizeram
perdê-la no passado.
Amar exige sacrifícios, renúncias e abrir mão de coisas em prol do
outro. Nos últimos anos, fiz o impossível acontecer para que o nosso amor
se mantivesse forte e inabalável sobre todas as coisas. Eu me orgulhava de
olhar para trás e ver como juntos sobrevivemos às dificuldades, impasses
que nos quebraram no caminho.
Nada foi vão.
Tudo que enfrentamos nos preparou para viver um futuro lindo e
repleto de amor. Nos casamos poucos meses após o pedido que fiz perante o
mundo que assistia à inauguração da sua ONG; esta fora um sucesso e
continuava próspera. A nossa cerimônia aconteceu na cidade onde os pais
de Monaliza moravam e eram devotos de uma pequena igreja. Foi um dos
momentos mais lindos e marcou o começo de uma vida que iríamos viver, a
largada em busca do felizes para sempre.
E que se concretizou.
A nossa lua de mel passamos nas ilhas gregas e ali encomendamos
sem querer a nossa segunda princesinha, Luna, foi uma surpresa inesperada
que acolhemos cheios de amor. Eu amei acompanhar a gestação inteira,
fazer parte de cada momento até chegar o nascimento. Naquele dia descobri
a forma linda que o amor tinha de se multiplicar e enraizar em nós,
inexplicavelmente. Em menos de um ano, minha esposa ficou grávida de
gêmeos e decidimos de uma vez encerrar a fábrica.
O meu amor por Monaliza era sem medidas e eu não me continha ao
querer engravidá-la, por sorte partilhamos do mesmo sentimento, então tudo
sempre aconteceu segundo a sua vontade, nunca o contrário. Então, quando
veio falar sobre o seu desejo de fazer uma pausa na temporada de bebês,
concordei automaticamente.
Amar era colocar o desejo do outro acima dos nossos.
Monaliza sempre foi guerreira, determinada e, mesmo grávida, com
um filho pequeno, não parava de correr atrás dos seus sonhos. Ao longo do
tempo, muitas ONGs foram criadas, abrigando novas causas e classes
baixas por todo o país. A minha esposa pegou gosto pela prática social e
sempre que podia participava de decisões políticas. Eu tinha a melhor
primeira-dama ao meu lado, tanto fora como dentro da cama.
O nosso quarto era palco de sexo duro, ardente, suado, como se cada
rodada nunca fosse o suficiente, o bastante para aplacar o nosso desejo
sexual. Eu a amava demais, de todas as formas, idolatrava seu corpo e se
pudesse parava o tempo apenas para congelar esses momentos tão únicos de
entrega de corpo e alma.
Só que, sem sombra de dúvidas, os melhores momentos passávamos
com nossos filhos.
Com a nossa primogênita Bella, acabei descobrindo uma nova forma
de amar e que se multiplicava cada vez mais, se estendendo aos filhos que
vieram pouco tempo depois. Eu amava aproveitar com as crianças, brincar,
contar histórias e educá-las ao lado de Monaliza. Era um prazer
imensurável e que me enchia de orgulho.
A minha rotina na política continuava a mesma apesar de que estava
prestes a encerrar a minha carreira e me aposentar de uma vez por todas,
afinal tinha dinheiro suficiente para garantir um futuro seguro aos meus
pequenos herdeiros. O que me deixava ainda mais feliz por encerrar esse
ciclo era ver que meu irmão, Alessandro, seguia os meus passos, em breve
também iria concorrer à presidência, o bastardo encontrara o seu lugar e o
seu final feliz com a loira, que agora trabalhava apenas com o marido.
— Bê.
Observei minha esposa entrar no quarto e vir em minha direção.
— Por que Bella está a dois minutos tentando convencer os irmãos a
ouvir a nossa história? — Balançou a cabeça em negação e riu. — Você
sabe muito bem que aqueles três quase nunca gostam de nada que envolva
leitura.
— A nossa princesa pediu para ouvir e deixei claro que só contaria se
trouxesse o resto dos nossos filhos. — Chamei-a para se sentar na minha
perna e veio devagar. — Você sabe que, dentre milhares de histórias, a
nossa é a mais linda de todas elas.
— Diz isso porque me ama incansavelmente. — Deixou um beijo em
meus lábios. — E eu amo você na mesma proporção.
— Eu amo você, Liza. — Abracei-a pela cintura. — Eu amo como o
nosso amor venceu todos os obstáculos e continua se fortalecendo cada vez
mais. — Sorri.
— O amor jamais acaba.
— Tudo crê, tudo espera, tudo suporta — sussurrei emocionado.
— PAPAI!
— PAPAI!
— PESIDENTE BENADO!
— PAI!
Olhamos em direção à porta, e os nossos quatro filhos entraram
correndo. Sorri, sentindo meu peito se inflar tamanha emoção por vê-los,
um pedaço do nosso amor ali.
— Obrigado por me dar o melhor presente do mundo, Liza. Eu te
amo.
— Obrigada por nos amar. Eu te amo, vossa excelência. — Monaliza
me abraçou apertado.
O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se
vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses,
não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a
injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta. (1 Coríntios 13:4-7)
AGRADECIMENTOS FINAIS

Primeiramente, muito obrigada, Jeová Deus, por me abençoar durante


essa árdua jornada de autora e tardes de escrita. Obrigada pela saúde, por
me proteger e por fazer de cada lançamento o mais lindo do mundo. Tudo
graças a Ti, meu pai.
Obrigada, você leitor, que chegou até aqui. Obrigada por abraçar este
livro e por se permitir viver esta história de amor improvável. A minha
gratidão e amor por vocês, que me permitem continuar acreditando em
mim. Gratidão para todo o sempre.
Meu marido e melhor amigo. Eu te amo incansavelmente e nunca vou
deixar de agradecer por tudo que fazes por mim. O seu apoio é o que me faz
continuar forte.
Mãe e irmã. Eu faço tudo por vocês e cada livro escrito sem dúvidas é
pensando no futuro que quero dar para as duas. Deus sabe todas as coisas
que passamos, mas tenho absoluta certeza de que um futuro lindo está
chegando para nós.
Priscilla Lima, uma amiga que é como um anjo. Obrigada pelas
conversas diárias e por me dar tanta força quando muitas vezes entro em
crise de ansiedade total.
Camila Brinck, revisora e agora um anjo em minha vida. Obrigada por
aceitar revisar e cuidar dos meus livros. Obrigada pela paciência e tanta
disponibilidade.
Deh, você, mesmo longe, continua viva em meu coração. A minha
gratidão por ti é eterna, uma amiga e mãe de todos os meus livros. Te amo,
sua maravilhosa.
Laia também...

Bento Fontana é um bilionário arrogante, herdeiro de um império que acumula milhões todos os dias.
Ele só tinha um único objetivo que era continuar se mantendo implacável, expandindo os negócios
pelo mundo inteiro. Até se ver devastado pela morte do seu pai e descobrir que um testamento o
levaria para as terras onde abandonou anos atrás...
Ele só tinha que dar um fim a um ciclo e seguir sua vida. Isso até cruzar no meio do caminho com a
misteriosa garota das flores.
Flora Azevedo é uma jovem garota destemida que acabou de completar seus dezoito anos e não quer
nada além de continuar trabalhando com seu pai como auxiliar de veterinária. Flora tem uma mania
de enxergar o lado doce da vida, acredita quem em tudo sempre há dois lados e foi dado a isso que se
viu intrigada na teia de mentiras com o herdeiro Fontana.
Ele estava só de passagem e ela era só um meio para ajudá-lo a conquistar seu objetivo, nem que para
isso fosse preciso fingir um namoro de mentira. Uma paixão avassaladora e intensa.
Ele partiu prometendo voltar;
Ela descobriu toda a verdade;
Ele iria reconquistá-la isso até...
Um acidente trágico muda todo o cenário.
Flora não esperava descobrir que o homem por quem se apaixonou e ficou grávida era uma farsa e
nada a preparou para reencontrá-lo com uma noiva.
Ela protegeria sua filha do pai...
Ele não se lembrava dela e tampouco do bebê.
O que acontecerá quando a verdade vier à tona? E as peças perdidas encontrarem seu lugar?
E se você acordasse na cama do homem que mais odeia na vida?

Natália Brown só tinha um único objetivo: pagar as parcelas do seu apartamento e se tornar uma
advogada de sucesso, mas com o trabalho de garçonete em uma boate esse sonho estava cada vez
mais longe de se realizar. Mas uma coisa é certa; ela odiava com todas as forças seu chefe tatuado.

Isso até acordar na cama dele.


Não!
Ser levada em uma viagem secreta.

Miguel Sanchez vivia nas alturas, navegando entre dois mundos, aproveitando a vida enquanto
quebrava algumas regras pelo caminho. O bilionário tatuado não se prendia a ninguém e com um
passado traumático que o tornou um homem quebrado, isso estava fora de cogitação. Até ela chegar.

Um plano sórdido;
Um acordo de prazer;
Dois inimigos declarados; e
Um bebê inesperado e rejeitado.
Atormentado e preso em sua própria escuridão, Apolo Makris não acreditava mais em redenção
desde que perdeu sua esposa com o fruto desse amor no ventre. O CEO de uma das maiores redes de
hotelaria da Grécia se afundou em culpa e amargura. Ele jamais se perdoaria por ter sido o
responsável pelo trágico acidente, carregando a solidão no peito e tornando-se cheio de amarras que o
prendiam de continuar seguindo sua vida.

Um episódio marcante fez com que o comando das suas empresas fosse tirado de suas mãos sem que
pudesse fazer nada para contê-los e impedi-los.

Ele perdeu tudo.


Não havia salvação até ela chegar.

Lidiane Galini, é uma garota jovem, garçonete e que lutava para proteger a sua irmãzinha que ficou
sob sua proteção desde que foi abandonada. Ela não queria nada além do sorriso no rosto da pequena
Anne Galini, por quem era capaz de tudo. Inclusive, aceitar e assinar um contrato.

Ela precisava de proteção.


Ele queria uma esposa para gerar seu herdeiro.
Ela apaixonou-se desde o dia que o viu e o salvou em seus braços.
Ele nunca seria capaz de amá-la.
Ela amou todas as suas imperfeições.
Uma gravidez que fazia parte de um plano.

Uma linha foi cruzada sem volta.


Só o amor era capaz de curar e libertar.

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