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Copyright © 2023 Vitória Constance

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos, são produtos de
imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Capa: HB Desing Editorial


Diagramação: Layce Design
Revisão: Lidiane Mastello

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer
meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido pela lei nº. 9.610./98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital | Criado no Brasil.


SINOPSE
NOTA DA AUTORA
PLAYLIST
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
BÔNUS
PRÓXIMO LANÇAMENTO
NOTA DA AUTORA
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
OUTRAS OBRAS
CONTATO
Daya Ayamed é convidada a participar de uma comunidade que tem
como objetivo oferecer garotas pobres do subúrbio a grandes milionários da
Elite, chamados de SUGAR CEO, Durante 30 dias ela terá de ser
propriedade de um homem desconhecido.
Luca Lancaster é um homem viúvo e tem seu coração assombrado
por um fantasma do passado, de ter perdido todas as pessoas que ama.
Quando conhece Daya, está disposto a ajudá-la sem querer nada em troca.
Uma relação de amizade e confiança começa a ser construída, e com o
passar do tempo algo além começa a nascer.
Luca não acredita que pode amar alguém novamente, Daya deseja
nunca amar alguém, os dois são de mundos opostos, mas os opostos
também se atraem.
Contudo, isso não é um conto de fadas, em uma cidade dominada
pelo poder, amar alguém tão diferente do seu mundo é perigoso...
Olá leitores, aos novos que estão chegando e também aos antigos.
Esse livro marca um novo ciclo em minha carreira, e em cada página tem
um pouco de minha alma. Recentemente perdi um grande amor, e toda essa
dor do luto me inspirou a deixar o meu lado emotivo aflorar e me permitir a
criar histórias de amor. Confesso que achei que não fosse conseguir
terminar esse livro, na verdade, eu achei que nunca mais fosse conseguir
escrever. Nesse livro contarei a história de Daya e Luca, dois opostos que se
atraíram, dois personagens machucados e fortes, que se enxergaram além
das aparências. Esse foi o livro que mais tive prazer em escrever, amei cada
página e sou apaixonada por casais que tem tudo para não ficarem juntos,
mas no fim, o amor sempre vence. A história contém alguns gatilhos de
racismo, violência física e psicológica, mas essas cenas são bem
passageiras. O intuito do livro é mostrar o amor de Daya e Luca.
Espero que vocês se apaixonem por esses personagens
maravilhosos, que são tão sensíveis como a autora aqui que só parece bruta.
Hahaha

Beijos, Vic.
Preparei uma Playlist com muito amor desse livro, pensando em cada ceninha dos nossos queridos
personagens, espero que gostem.

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Eu estou obcecado
Com o jeito que sua cabeça está repousada em meu peito
Como você ama as coisas que odeio em mim mesmo
E ninguém sabe, mas com você, eu vejo esperança novamente

Eu sou uma bagunça


Quando penso demais nas pequenas coisas na minha cabeça
Você parece sempre me ajudar a recuperar o fôlego
Mas então eu o perco de novo quando olho para você...

I GUESS I’M IN LOVE - Clinton Kane


OBSERVEI A NOITE PELA JANELA, havia uma pequena neblina
que cobria as ruas, era dezembro o mês de Natal. Mais um ano estava se
encerrando, e com isso minha esperança também estava se esvaindo. A rua
estava movimentada, havia pessoas indo de um lado para o outro, famílias
brigando, delinquentes espiando a próxima vítima, e eu cada vez mais longe
da vida digna que acho que merecia ter. Às vezes nem acreditava que
morava em Greville[1], a tão aclamada e luxuosa cidade das luzes. A cidade
foi dividida em duas partes. A primeira era Greville, elitizada por ricos e
milionários, que viviam em mansões e consumiam tudo do bom e do
melhor, esbanjavam suas mulheres, dinheiro, casas chiques e carros
importados. Já do outro lado da cidade, era a Greville onde eu nasci e fui
criada, o subúrbio, lar daqueles com poucas condições. Pessoas pobres,
assalariadas, refém do sistema do governo moravam aqui. Existia um muro
restrito com uma alta segurança que nos separava. O lado bom do ruim, o
lado negro e o lado branco.
Era revoltante saber que as pessoas do outro lado, tinha muito mais
do que precisavam e não se importavam com as condições precárias do
subúrbio, as pessoas estavam morrendo de fome, estavam ficando doentes.
E ninguém se importa. Sentia uma raiva no fundo do meu amago, gostaria
que todo esse cenário fosse diferente, e às vezes fechava os olhos e me
imaginava em outra realidade.
Meu nome é Daya Ayamed, tinha dezoitos anos, pele negra, assim
como minha mãe e todos os nossos familiares, meus cabelos eram
encaracolados e bem armados, a única coisa que tinha do meu pai eram seus
olhos azuis intensos que realçavam bastante devido à minha cor de pele. Eu
não conheço meu pai. Tudo que sabia era que ele era um cretino, que se
aproveitou da minha mãe e depois sumiu. Jamais iria assumi-la, e muito
menos a mim. Tudo o que sabia era que ele fazia parte da elite de Greville,
o lado rico. Mas minha mãe nunca revelou seu nome, ela disse que era
perigoso, e que eu nunca poderia saber sobre sua identidade. Isso fazia eu
sentir mais raiva ainda daquele local.
Eu trabalhava desde os dez anos, minha mãe Mariah inicialmente
me ajudava com as despesas, porém, depois se envolveu com outro
cafajeste a acabou engravidando, e mais uma vez ela foi abandonada. Dessa
vez era um bêbado aproveitador, que assim que soube da gravidez de
gêmeos foi embora de nossas vidas. Eu agradeci fortemente por isso. Eu
odiava o meu padrasto, não tivemos bons momentos. Nunca me esqueceria
do dia que ele tentou abusar de mim, sorte que eu consegui fugir a tempo.
Ainda me magoava o fato da minha mãe não ter acreditado muito na
história, mas tudo bem, ela já era uma mulher machucada demais.
Depois que ela teve meus irmãos, precisou largar o trabalho para
cuidar deles. E então a responsabilidade passou a ser minha. Não era nada
fácil. Basicamente tudo que eu ganhava era para poder manter a casa, a
pouca comida, e para termos um pequeno conforto. As coisas pioraram
muito no último ano, minha mãe ficou doente, estava com câncer e ele já
estava em um nível bastante avançado. A coisa ficava ainda pior porque
devido ao atendimento médico do subúrbio ser bem concorrido, ainda tinha
o custo com os remédios. Lágrimas escorreram do meu rosto enquanto eu
observava o movimento na avenida, eu estava ficando cada vez mais sem
saída. Era a época natalina e meus irmãos estavam tristes, pois mal
tínhamos o que comer, quem dirá poder comprar presentes. O gasto maior
estava sendo com os remédios de minha mãe, estava trabalhando dia e noite
na fábrica de tecidos da cidade para poder ganhar um extra, contudo, algo
terrível aconteceu essa tarde. Minha mão estava suando e eu buscava
palavras e uma forma de contar para minha mãe o ocorrido. Eu havia sido
demitida. Portanto, agora éramos oficialmente falidos.
— Daya? — minha mãe me chamou com a voz baixa, estava
enrolada em um dos cobertores com os dedos magros sobre o tecido.
— Oi, mãe. — Apressei-me e limpei as lágrimas. — Precisa de
algo?
— No que está pensando, minha filha? O que te aflige?
A nossa vida, mãe. Impressionante como as mães parecem ter um
superpoder de saber quando não estávamos bem, ou quando algo nos
incomodava.
— Só estou chateada, gostaria de poder comprar um presente de
Natal para Olivia e Mylo, mas não vai dar, eles estão tristes — respondi
cabisbaixa.
— Ora, deixa disso — minha mãe resmungou. — Seus irmãos
sabem que somos pobres, eles precisam entender que a prioridade é a nossa
comida. Mas, você vai receber um valor a mais pelos serviços prestados
esse final de ano, né? Pode separar uns trocados e comprar uma
lembrancinha para eles...
Não tem mais trabalho, mãe. Acabou tudo! Respirei fundo antes de
continuar falando, isso ia ser mais difícil do que eu imaginava. Minha mãe
havia se tornado uma mulher amarga e ranzinza, nem sempre era fácil falar
com ela.
— Mãe... — Limpei a garganta. — Não sei como vou te dizer isso,
mas, fui mandada embora essa tarde. Eu prometo que vou atrás de alguma
coisa o mais rápido possível, mas não podia esconder isso de você.
Minha mãe arregalou os olhos, estava com uma cara de quem havia
comido algo bem amargo, sua feição mudou completamente, e em seguida
ela colocou a mão no peito. Assustei-me e corri para ver se estava tudo
bem.
— Mãe? — Apertei sua mão. — Está tudo bem? Ah, meu Deus.
— Se está tudo bem? Agora estamos oficialmente na miséria, Daya.
Meu Deus — disse ofegante. — Eu não estou passando bem, o que será de
nós agora? Eu mal consigo me levantar dessa cama, agora para você
conseguir outro emprego será um custo...
— Mãe, eu vou dar um jeito! Eu prometo.
— COMO DAYA? — Ela tossiu. — Estamos ferrados, nem ao
banco consigo mais pedir um empréstimo.
Franzi as sobrancelhas, e senti um aperto no coração, engoli o choro
e qualquer tipo de emoção, eu não podia me deixar abalar, não ali e não na
frente dela. Era horrível vê-la desesperada daquele jeito, eu precisava fazer
alguma coisa. Ergui-me, e afastei-me do seu corpo, ela já estava medicada,
então eu poderia sair para ir atrás de tomar alguma providência.
— Eu vou resolver isso — avisei caminhando até a porta.
— Aonde você vai?
— Eu vou procurar um emprego, aonde mais eu iria? — questionei.
— Daya... Já é noite, minha filha, perdoe as minhas palavras só
estou preocupada com o nosso futuro. Eu não tenho muito tempo, você
sabe. O câncer está me corroendo cada vez mais, só me desesperei pelos
seus irmãos que são tão jovens.
— Eu sei. — Engoli em seco. — Darei um jeito nisso, mãe. Até
logo!
— DAYA... — minha mãe gritou.
MAS EU NÃO QUERIA ouvir mais nada, já tinha ouvido o
suficiente. Bati a porta ao sair e desci as escadas depressa, os degraus eram
sujos e velhos, morávamos em um apartamento pequeno e bem simples que
havíamos conseguido financiar, não era o melhor lugar do mundo, mas pelo
menos tínhamos uma casa. Independentemente de ser deprimente e caindo
aos pedaços. Ainda era o meu lar. Ao sair na rua, coloquei as mãos no bolso
do meu casaco preto, estava com calça jeans e tênis, os cabelos amarrados
no alto da cabeça, as lágrimas finas escorriam pelo meu rosto, mas eu não
podia fraquejar agora. Minha mãe estava certa, ela tinha pouco tempo. E eu
teria que assumir a responsabilidade, Mylo e Olivia tinham apenas seis
anos, depois que minha mãe partisse, teria que me manter firme para poder
dar uma vida melhor para eles.
Comecei a caminhar sem direção, estava olhando nas paredes e de
olho nos comércios que ainda estavam abertos. Época de final de ano, tudo
fechava mais tarde para tentar ter um pouco mais de faturamento. A cada
parede que eu olhava, o desânimo batia em meu coração. Nenhuma placa de
emprego, apenas enormes cartazes dizendo “não temos vagas, não insista!”
Estavam todos desesperados, e eu havia me tornado mais uma na fila.
Como eu iria voltar para casa sem alguma esperança? Parei em frente à
praça, e de longe avistei as luzes do outro lado de Greville, o lado que
possivelmente nunca iríamos acessar. Como seria as festas por lá?
Perguntei-me, imaginei algo bem farto e extravagante. Sorri ao pensar, não
era para ser assim, todos nós deveríamos ter acesso a isso, era lamentável.
Quando eu ia virar meu corpo para dar meia-volta, e perambular por
outras esquinas, senti uma mão em meu ombro. Era uma mulher, de pele
clara, cabelos negros e ondulados, olhos esverdeados e parecia ter trinta
anos. Muito bonita, e elegante. As vestes eram impecáveis e limpas, parecia
até uma celebridade. Quem é ela? Com certeza não é daqui.
— É lindo, não é? — Ela olhou em direção às luzes. — Você não
tem vontade de conhecer o outro lado? O lado bom de Greville.
Sua voz era doce e bem simpática, era bom ouvi-la. Eu não sabia
bem o que fazer, por que aquela mulher estava falando comigo? Questionei-
me. Mas mesmo assim, decidi responder:
— Quem é você? Realmente é lindo, mas do que adianta tanta
beleza se não podemos acessar? Você não é daqui, certamente... — Eu a
encarei da cabeça aos pés.
— Que ousada! — Ela riu. — Desculpe não ter me apresentado, me
chamo Ana Collen, muito prazer. — Ela estendeu sua mão. — E você é?
Quando Ana estendeu a mão, fiquei ainda mais surpresa, geralmente
as pessoas do outro lado costumavam ter nojo de nós. Eu era desconfiada,
aprendi a ser. Toda boa intenção costumava vir com um preço.
— Daya Ayamed — respondi e apertei sua mão. — Por que está
falando comigo? Quer algo?
— Você não faz o tipo menina bobinha da cidade pobre, né? — Ana
riu. — Então, vou ser mais direta com você. Tenho uma proposta para te
fazer. De fato, não sou daqui, sou do outro lado de Greville e estou aqui em
busca de beleza. E eu encontrei você, quero te fazer um convite para
participar de uma comunidade, é uma chance de mudar de vida. Você tem
olhos ambiciosos, não quer ficar aqui a vida inteira, quer?
Ana ainda não me parecia ser nada confiável, nos ensinaram que as
pessoas do outro lado eram sujas e corruptas, e tudo que eles oferecessem
para nós, haveria um preço alto a pagar. Essa era a hora que eu deveria dar
meia-volta, procurar um emprego decente e focar nisso. Contudo, lembrei-
me de que não havia encontrado nada anteriormente. Lembrei-me das
últimas palavras de minha mãe. Ao menos queria ouvir do que se tratava.
— Do que se trata essa comunidade? — Indaguei curiosa.
— Estamos buscando garotas jovens e bonitas para participar da
nossa comunidade, de garotas de luxo[2], que vai dar a oportunidade para
vocês de terem a vida que sempre sonharam. Já se imaginou morando do
outro lado? Não faz ideia de como é a vida lá, as mansões, os carros
luxuosos, você vai ter tudo que você quiser, uma verdadeira vida princesa.
— Ana se aproximou e me encarou fixamente. — Você é uma moça bonita,
Daya. Mesmo vivendo no meio da pobreza, não perdeu a beleza. Está
maltratada, mas posso dar um jeito nisso.
Tudo tem um preço, Daya. Lembre-se disso.
— Vocês vão me dar tudo isso, mas não vai sair de graça
obviamente. — Eu ri ironicamente. — O que eu vou precisar fazer? Posso
ser pobre, mas não subestime minha inteligência, Ana.
— Apenas assinar um contrato de devoção. — Ana estalou os dedos
e sorriu.
— Um contrato de devoção com quem?
— Conosco, é claro, e com seu futuro Sugar CEO[3].
COMO ASSIM? Arregalei os olhos e fiquei boquiaberta, ainda
estava processando o que aquilo queria dizer. Tratava-se de um contrato de
compra? Eu seria vendida?
— Estão vendendo mulheres? — perguntei pasma, dando alguns
passos para trás. — Não acredito nisso, então é para isso que vocês vêm
para cá? Abordam moças jovens e bonitas do lado pobre da cidade para
vendê-las para homens milionários?
— Não é bem assim... — Ana disse séria. — Você está entendendo
tudo de uma forma tão sádica e triste. Responderei essas e outras perguntas,
se você aceitar visitar a nossa comunidade. Sem compromisso, apenas para
você ver que se trata de uma grande oportunidade para você.
— Não, obrigada — disse friamente. — Dispenso.
— DAYA! — Ana exclamou em tom de voz mais alto. — Ao menos
fique com o meu cartão, tem o meu número. Se quiser conhecer mais sobre,
é só me ligar e venho buscá-la amanhã mesmo. Garanto que não vai se
arrepender, e espero te ver em breve! — Ela sorriu.
Fiquei em silêncio, e pensei em apenas ir embora e ignorar Ana.
Mas, decidi aceitar o cartão, guardei no bolso e assim que chegasse em casa
iria me desfazer dele.
— Adeus, Ana.
— Até breve, Daya! Eu sei que você vai me ligar... — disse
esperançosa, enquanto observava eu me afastar.
DECIDI NÃO ESTENDER mais aquele diálogo, e confesso que
depois daquilo eu só queria voltar para casa, deitar em minha cama e me
recompor para o dia seguinte. Amanhã seria um novo dia de luta, iria andar
por todo o subúrbio e aceitar qualquer emprego. Até mesmo fazer faxina,
limpar as ruas. Era tudo ou nada. Fiquei pensando na proposta de Ana e
nos benefícios da comunidade, será que eles davam algum tipo de dinheiro
para as participantes? Seria possível ajudar não só quem estava dentro da
comunidade, mas também sua família? Como funcionava esse contrato? Eu
seria realmente vendida? Esses milionários eram muito velhos? Eu seria
uma espécie de escrava sexual? A cada segundo eu ficava perturbada com
esses pensamentos, e também com a curiosidade de saber mais sobre.
Resolvi ignorar, e continuei seguindo para casa. Já não havia mais o
que fazer nas ruas, subi as escadas depressa e abri a porta, quando entrei
tive uma surpresa. Meus irmãos estavam ajoelhados em frente à cama de
minha mãe, choravam muito e ela estava desacordada com o rosto em uma
tonalidade pálida acinzentada, parecia até mesmo. Morta. Meu coração
acelerou, e senti um frio na minha espinha. Não, não, isso não pode
acontecer. Ela precisa de mais tempo. Corri junto a eles e me ajoelhei
segurando em suas mãos. O corpo ainda estava quente, isso era um bom
sinal.
— MÃE? — eu gritei remexendo o seu corpo. — Por favor, acorda!
— A mamãe morreu, Daya? — perguntou Olivia.
— Não, a mamãe não morreu, meu amor. Mylo leve Olivia para o
quarto. Eu vou cuidar da mamãe, Ok?
— Ok...
Meu irmãozinho levantou-se do chão e puxou Olivia para junto do
seu corpo. Olivia era bem emocional e tudo aquilo mexia muito com ela.
Mylo era mais corajoso, apesar de tão novo já tinha aquela pose de se sentir
o homem da família. Os dois correram para o quarto que dividíamos,
melhor assim, não queria que eles continuassem vendo aquela cena.
— Mãe? Fala comigo, por favor — chamei, tentando segurar as
lágrimas.
Minha mãe entreabriu os olhos, a cor começou a voltar ao normal.
Mas ela não estava nada bem, sua respiração estava lenta e ela visivelmente
bem fraca. O câncer estava acabando com ela, e como não tínhamos
condições de conseguir um tratamento digno, ficava mais difícil.
— Filha, por favor me perdoe pelo que eu te disse, fiquei me
sentindo tão culpada depois que você saiu. Estou cada vez mais fraca, você
precisa ser forte e cuidar dos seus irmãos.
— Não se desculpe, mãe, eu vou dar um jeito nisso.
— Apenas seja forte e cuide deles, está bem? Acredito que talvez eu
tenha só 1 mês de vida, ou semanas... não sei. — Ela tossiu e puxou o ar. —
Tenho fé que você vai conseguir um emprego em breve.
As palavras dela estavam sendo como espinhos na minha pele, me
rasgava e me fazia sangrar. Abaixei a cabeça e me lembrei do cartão de
Ana, da sua proposta, de suas palavras tentadoras. Era minha única saída.
Eu não podia esperar, estava correndo contra o tempo.
— Eu vou dar um jeito nisso, confia em mim? — Apertei a mão de
minha mãe.
— Sempre. — Ela sorriu. — Agora preciso repousar um pouco.
— Vou te observar, vai ficar tudo bem mãe. Eu prometo! — garanti.
DEIXEI MINHA MÃE DESCANSAR, e fiquei observando-a
enquanto pegava no sono, ela estava cada vez pior, o câncer era uma doença
que não só matava a vítima aos poucos, mas também sua família. Era um
sofrimento tão grande vê-la dessa forma, que era uma luta para eu também
me manter sã e firme. Afastei-me dali, e imediatamente tirei o cartão que
Ana havia me dado, aqui tínhamos apenas um pequeno telefone que
usávamos para fazer poucas ligações no mês, geralmente só usávamos em
casos de emergência para evitar contas altas. Mas isso era uma emergência.
Disquei o número, e estava torcendo para que ela me atendesse.
— Daya? Você ligou muito mais cedo do que eu imaginava, sabia
que ia se interessar pela proposta — disse Ana com a voz cheia de
entusiasmo.
— Eu liguei para aceitar sua proposta, mas também tenho uma
condição. Eu preciso de ajuda, minha mãe está com câncer, tenho dois
irmãos pequenos... — Minha voz ficou aguda. — Por favor, Ana! Eu faço
tudo que vocês quiserem, só ajude minha família.
— Ajudaremos sua família... — Ana concordou —, mas, você terá
que entrar para nossa comunidade, é pegar ou largar.
— Eu aceito! Mas por favor, minha mãe precisa de ajuda
imediatamente, não posso esperar muito tempo, ela não vai aguentar...
— Calma, Daya. Eu vou dar um jeito nisso, mas eu tenho sua
palavra?
— Você tem tudo de mim, se ajudá-la...
— Estou enviando um médico agora mesmo ao subúrbio, já tenho
seu endereço, em instantes ele chegará, amanhã meu motorista passará aí
para buscá-la.
— Espera... — pedi desconfiada. — Como sabe meu endereço?
— Eu sei tudo sobre você. Agora você é uma das minhas garotas de
luxo, querida... — Ana soltou um riso.
E a ligação foi encerrada.
Apertei o celular nas mãos, e confesso que não estava muito segura
do que havia feito. No entanto, agora não havia mais volta, eu acabei de
tomar a decisão mais difícil da minha vida. Iria abrir mão do meu livre
arbítrio, dos meus planos, de tudo. Eu seria capaz de qualquer coisa para
salvar minha mãe, e ajudar minha família. Até mesmo de me vender... que
assim seja.
O DIA HAVIA AMANHECIDO ensolarado e calmo, o clima das
festividades estava contagiando a cidade. Foi-se o tempo que eu gostava do
Natal, eu amava essa época, mas depois da morte de Elisa, eu
definitivamente detestava. Estava buscando me manter focado no trabalho
para não ter que lidar com as expectativas natalinas das pessoas que me
cercavam. Todos diziam que eu precisava sair mais, me divertir, mas tudo
perdeu o sentido para mim, pouco a pouco eu me tornava apenas um corpo
sem alma. Chamava-me Luca Lancaster, era alto e bem forte devido aos
exercícios de alta intensidade que fazia, era o que sempre dizia: Um corpo
em forma, gera uma mente sã e equilibrada. Meus cabelos eram escuros e
tinha olhos azuis claros. Era um dos homens mais ricos do lado bom de
Greville, tinha trinta e um anos e era herdeiro de um patrimônio milionário
que minha família deixou. Nunca me faltou nada todos esses anos, mas hoje
me faltava algo que eu já não sabia mais o que era. Amor.
Costumava dizer que minha vida foi separada em três partes. A
primeira, eu vislumbrava um Luca completamente festeiro e garanhão, eu
era jovem e só queria gastar dinheiro e ter as mais belas mulheres ao meu
lado. Pensava apenas em sexo e ostentação, mas quando meu pai ficou
doente, veio o peso de uma grande responsabilidade. Eu teria que assumir a
sua empresa, minha mãe morreu quando eu era garoto. Eu era o
primogênito, foi aí que veio a segunda parte, onde passei a me tornar um
homem e ter responsabilidade. Foi então que conheci minha esposa Elisa.
Eu nunca tive sentimentos sinceros por alguém, até ela aparecer. Quando
ficamos pela primeira vez, eu sabia que não era só sexo, havia um
magnetismo diferente naquela mulher. Além de sua beleza espetacular, os
cabelos ruivos compridos no meio da cintura, as curvas generosas e
grandes, os seios fartos. Ah, Elisa. Tudo nela me deixava louco.
Vivemos cinco deliciosos anos maravilhosos, até que um dia o pior
aconteceu, estávamos prestes a nos casar e já planejávamos até ter filhos.
Até que um acidente de carro tirou sua vida, eu nunca me perdoaria por
aquilo. Eu deveria estar em seu lugar, isso não era para ter acontecido.
Todos os dias eu revivia aquele momento, e sentia como se estivesse
acontecendo no agora. Depois de sua morte, tudo perdeu a graça, eu apenas
trabalhava para manter o meu império. Afinal, preservar o legado do meu
pai era uma questão de honra, e não nego, o dinheiro era bem importante
para mim. Era tudo que havia me restado. Dinheiro de fato não comprava
felicidade, porque meu coração vivia amargo. Contudo, me comprava
muitas coisas, e pequenos prazeres momentâneos.
Eu estava em meu escritório no terraço de um dos prédios mais altos
de Greville, era a sede da Lancaster Enterprise[4]. Sentado à minha mesa,
olhava o dia lá fora pela enorme janela de vidro que cobria a parede. Era
um ritual, sentar aqui todas as manhãs e pensar sempre na mesma coisa. Eu
nunca vou me perdoar. NUNCA.
Fui surpreendido por um telefonema, o barulho era alto e um tanto
irritante. Eu o apanhei de imediato, era Debby, minha secretária.
— Bom dia, senhor Lancaster. Paige está aqui, está ansiosa para vê-
lo.
— Paige Conner? Céus... O que essa mulher está fazendo aqui?
— Ela disse que tem uma proposta para você irrecusável, disse que
é sobre negócios dessa vez. E, senhor, ela disse que não vai embora
enquanto não conseguir sua atenção.
— Pode mandá-la entrar, melhor eu mesmo dar um fim nisso —
resmunguei.
Paige Conner estava me tirando do sério, essa mulher não desistia?
No passado, tivemos um pequeno caso, foi apenas uma noite de sexo hard,
e desde então, ela me perseguia. Entretanto, eu acabaria com isso hoje,
quando ela iria entender que não havia mais espaço para mulher nenhuma?
Elisa seria a única. Paige entrou em minha sala, estava vestindo uma saia
lápis preta, com uma camisa branca apertada que marcava bem seus seios.
Os cabelos eram loiros e estavam amarrados em um coque. Estava bonita.
Confesso que a ver assim me despertava uma certa excitação, mas era uma
dor de cabeça que não valia a pena. Permaneci sentado enquanto ela se
aproximava, observei a quantidade de pastas que havia em minha mesa,
tinha muito trabalho a fazer, essa conversa teria que ser rápida.
— Luca Lancaster. — Ela abriu um enorme sorriso. — Por que o
tempo sempre parece estar a seu favor? Você é realmente como o vinho,
quanto mais velho, melhor...
Lá vem ela...
— Paige Conner. — Abri um sorriso forçado. — Digo o mesmo de
você. Então, seja direta. O que está fazendo aqui? Sentiu saudades? Já disse
que não estou interessado.
Paige me encarou completamente desconcertada, pela primeira vez
ela me olhou com um certo desprezo. Sentou-se na cadeira em frente à
minha mesa e me encarou desentendida.
— E já vi que continua convencido. — Ela riu ironicamente. —
Acha que estou aqui porque quero algo com você? Francamente, Luca. Eu
superei você! Por mais que não acredite. Você foi uma paixonite para mim
que já passou, agora sou uma mulher crescida e madura, vim falar de
negócios. Somente disso.
Ok, estou surpreso e também muito aliviado. Encarei Paige com
mais respeito dessa vez, embora não acreditasse muito em suas palavras.
Mas estava curioso para saber do que se tratavam esses negócios.
— Pois então, diga...
— Bom, você sabe que sou representante da comunidade de garotas
de luxo. E estou convidando você a ser um dos meus Sugars CEOs nesse
fim de ano. Você está tão solitário, Luca... não acha que vai ser bom ter uma
companhia? Podemos escolher uma garota perfeita para você, nossas
meninas são selecionadas.
FRANCAMENTE. Olhei desacreditado para Paige e cocei a barba,
ela não estava alugando meu tempo para isso, não era possível.
— Não tenho interesse em participar do seu prostíbulo disfarçado de
comunidade. Acha que preciso disso para conseguir uma mulher? — Soltei
um riso. — Estou abismado que tenha perdido o seu tempo e feito eu perder
O MEU tempo com isso.
— Não seja arrogante, Luca. Veja o depoimento dos seus
amiguinhos CEOs, todos que aceitaram a minha proposta tiveram bons
resultados, alguns até encontraram o amor e se casaram com as nossas
garotas. Não acha que é uma oportunidade de se dar uma chance de ser feliz
de novo? Se não quer fazer por você, pensa em uma dessas garotas... São
mulheres pobres do outro lado de Greville, você só pensa no seu dinheiro,
nunca pensou em compartilhá-lo com mais alguém? Alguém que realmente
precise?
Alguém que realmente precise. As palavras soaram bem intensas em
minha mente. De fato, meu dinheiro era precioso e em todos esses anos, eu
só gastei comigo, com minha empresa, e com quem realmente eu amava
que era minha mulher. Nunca havia feito um gesto caridoso, na verdade,
essa palavra não tinha mais significado para mim. Um dia já teve, quando
eu era garoto sonhava em ajudar os pobres, mas a vida adulta me mostrou
que o mundo era egoísta.
— Quanto tempo essa garota terá que ficar comigo? — perguntei
um tanto irritado.
— O contrato é de um mês e pode ser renovado. Mas fica a seu
critério, no final dele, se assim desejar, pode solicitar outra garota ou
perpetuar com a que esteja ao seu lado.
— Ok... E o que eu preciso fazer para entrar na sua comunidade?
Abre aspas prostíbulo que vende garotas?
Paige me encarou com os olhos enfurecidos, ela parecia incomodada
com o que eu tinha acabado de falar, mas no fundo ela sabia que eu tinha
razão. Tudo era muito mascarado, e colocado de uma forma sutil. Mas era
de fato um prostíbulo.
— Você precisa investir uma pequena quantia em dinheiro, e em
breve terá sua garota... — Paige sorriu animada. — Garanto que não vai se
arrepender, Luca. Isso vai mudar sua vida.
— Vai mudar minha vida? — Eu gargalhei. — Agora você foi longe
demais, Paige. Só estou fazendo isso porque nunca fiz um gesto de caridade
para alguém antes, e esse vai ser o meu primeiro ato e nada mais. Depois de
um mês, encerramos isso.
— No fundo você está fazendo isso por você, Luca. Porque está
carente, e está cansado de ser um viúvo sozinho na mansão. Bom, vou
deixar o contrato com você, leia com atenção, depois assine e me envie.
Paige me entregou uma pasta com o contrato, e apanhei. Confesso
que toda aquela proposta no fundo estava prendendo bastante minha
atenção.
— Certo... Ainda não estou tão certo disso, mas vou analisar esse
contrato — disse, fingindo desinteresse.
— Eu sei que você quer isso, Luca. — Paige se levantou. — Melhor
se apressar, quanto mais rápido for, mais rápido a garota virá até você.
— Tchau, Paige — despedi-me acenando. — Tenha um bom dia
você também.
ESPEREI PAIGE SAIR do meu escritório, e senti um grande alívio.
De fato, por essa eu não esperava, havia uma agenda cheia e extensa de
compromissos hoje. Porém, tudo iria esperar, minha curiosidade para ler o
contrato falou mais alto.
Era hora de entender como essa brincadeira ia funcionar...
HOJE O DIA AMANHECEU MELHOR, mais feliz e com
esperança. Depois da noite de tormenta de ontem, tudo parecia estar
conspirando a meu favor como nunca antes, eu sei que tudo isso teria um
preço, talvez caro demais, mas minha família não precisava saber disso.
Ana fez mais do que eu imaginava, depois da nossa ligação, ela enviou um
médico que ajudou minha mãe, e deu a ela um tratamento que nunca havia
recebido. Os remédios da mais alta qualidade, algo que nunca havíamos
tido acesso antes. E pela primeira vez depois de muito tempo, minha mãe
teve uma ótima noite de sono.
Já acordei com uma ligação de Ana, meu coração acelerou, atendi
com as mãos trêmulas e até um pouco emocionada.
— Ana, tudo foi um sucesso! — disse entusiasmada. — Minha mãe
está melhor, dormiu como um anjo essa noite.
— Não havia como ser diferente, Daya. Nossos médicos são
poderosos, eles possuem tudo da mais alta qualidade. Sua mãe ganhou mais
alguns meses de vida, e isso pode se estender a anos, quem sabe...
— Como assim?
— Podemos continuar o tratamento com ela, enviaremos um médico
particular para dar toda assistência para sua mãe, ela vai ganhar mais tempo
e quem sabe vai poder ver seus irmãos crescer? Imagina que maravilhoso...
— Seria incrível! — Eu sorri com os olhos brilhando. — É tudo que
eu mais quero, e que ela mais quer também...
— E ainda vou completar com a cereja do bolo, posso enviar um
dinheiro para conseguirem viver melhor. Estamos perto do Natal, sua
família merece uma noite de muita fartura, presente para as crianças...
— Ana, eu não tenho palavras para agradecer.
— Palavras com certeza não. Mas você já sabe o que tem que fazer,
Daya. Você é esperta, sabe que tudo isso tem um preço. Sua família terá
uma oportunidade, e dar isso a eles está em suas mãos. Vou enviar um carro
para te buscar agora, não precisa trazer nada, esses trapos não vão te servir
aqui, apenas se despeça dos seus familiares e diga que arrumou um trabalho
que vai ajudá-los.
Senti um choque no meu corpo, olhei para trás e observei meus
irmãos brincando na sala. Então, por um instante imaginei todos felizes
comendo uma deliciosa ceia de Natal, com presentes, com uma condição de
vida melhor. Era tudo o que eu mais queria.
— E se eu recusar?
— Se você recusar, infelizmente, não posso fazer nada para ajudá-la.
Apenas lhe desejar sorte e talvez até meus pêsames, porque sem tratamento
com o estágio do câncer da sua mãe, o tempo de vida dela pode ser
reduzido a semanas... lamento, querida!
Não. Isso não.
— EU ACEITO! — exclamei. — Irei me despedir deles, temos um
acordo.
— Não, meu bem... — Ana riu. — Vamos ter um contrato. — Diga
adeus à sua família, é o tempo de o carro chegar e buscá-la, ok? Nos vemos
em breve.

Assim que desliguei o telefone, senti algo que fazia tempo que não
sentia. Medo. Medo do que iria acontecer nos próximos dias, de como seria
minha vida agora, medo de absolutamente todo esse cenário novo e
desconhecido em minha vida. Minha mãe havia acordado, fiquei pasma ao
vê-la caminhando na sala, estava alegre e cheia de energia hoje. Estava
bonita e cheia de vida. Era completamente chocante e milagroso ver sua
recuperação de um dia para o outro. O câncer ainda estava ali, mas ver a
imagem dela daquela forma, era como se nunca tivesse existido. Ela correu
para me abraçar.
— Ah, Daya! Estou me sentindo CURADA — disse, me apertando
em seu abraço. — Me sinto tão bem, tão feliz, forte como um touro. Ligue
para seu chefe e agradeça por ter mandado esse médico. Aquele médico não
parecia ser daqui tudo era tão fino e avançado. Todo aquele equipamento, os
medicamentos fizeram um efeito em mim que não imaginei que seria
possível.
Senti um aperto no coração. Eu tive que mentir para minha mãe,
disse que havia pedido ajuda para o meu ex-chefe, e como ele havia me
mandado embora e sabia da situação crítica de minha mãe, enviou um
médico para ajudá-la para não me deixar completamente na mão, já que fui
uma ótima funcionária. Eu tive que mentir. Ela jamais poderia saber a
verdade.
— Não importa de onde o médico é, mãe, o senhor Fênix disse que
faria o melhor para me ajudar, e ele fez. Olha como você está,
completamente radiante e maravilhosa. — Segurei o rosto dela e dei um
beijo em sua testa. — Mas, mãe, precisamos conversar...
— O que houve, Daya? — perguntou preocupada.
— Crianças, por favor venham... — chamei Mylo e Olivia. —
Preciso falar com vocês três juntos não tenho muito tempo.
— O que aconteceu, minha filha? São más notícias?
Talvez.
— Eu consegui um emprego, o senhor Fênix tem um ótimo contato
e me arranjou um emprego em outra fábrica, porém fica bem longe daqui,
sabe? Vou ter que fazer uma viagem um pouco longa. Mas não vou
desamparar vocês. Você vai continuar recebendo o atendimento médico, e
eles vão me dar um dinheiro adiantado para ajudar vocês, crianças esse ano
terão presentes de Natal e uma deliciosa ceia.
Mylo e Olivia comemoraram, e vieram correndo me abraçar, aquela
felicidade em seus olhos valia ouro para mim. Minha mãe que não parecia
muito feliz, as crianças eram inocentes e para elas estava tudo bem. Mas
minha mãe parecia sentir que se tratava de uma viagem sem volta.
— Filha... mas você vai voltar para ficar com sua família, certo? É
só por um tempo isso? Para onde vão te levar? Não entendo...
— Não precisa entender, mãe — disse um pouco alterada, largando
as crianças. — Eu disse que iria dar um jeito, não ia? Não faça muitas
perguntas, por favor. O importante é que a senhora tenha saúde para cuidar
das crianças, e o resto eu resolvo.
— Tudo bem... — falou cabisbaixa. — Ao menos vamos
comemorar hoje, vou preparar um almoço delicioso, faz tanto tempo que
não cozinho, que saudade da minha cozinha.
— Viva! Mamãe vai cozinhar — comemorou Mylo.
— Hmmmm, estou morrendo de fome. — Olivia colocou a mão na
barriga.
— Já para o banho, crianças, se lavem bem que hoje o almoço será
especial — disse minha mãe, com um sorriso de orelha a orelha.
Fiquei paralisada vendo aquela cena, e como seria maravilhoso fazer
parte de tudo isso. Por um segundo senti uma felicidade imensa dentro de
mim, minha família feliz estava de volta. Ver minha mãe tão bem era
maravilhoso e recompensador, mas em seguida ouvi o barulho da buzina
anunciando que o carro havia chegado. O carro que Ana avisou que
mandaria e o fim de um ciclo, e a sentença do meu novo destino.
— Não vou poder ficar para o almoço — avisei com os olhos
marejados. — Preciso ir agora, estão me esperando.
— Como assim precisa ir? Agora? Mas, filha... eu mal me recuperei
e você já vai? Avise para eles que hoje não pode, é só um dia eles vão
liberar.
Se ela soubesse do que se tratava, eu não tinha mais um dia. Não
tinha mais nada para falar a verdade. Da noite para o dia eu havia me
tornado uma mercadoria, e uma mercadoria só obedece.
— Não posso, mãe. Eu preciso ir agora! — declarei, colocando a
mão em seu ombro. — Cuide das crianças, dê um beijo nelas, eu não gosto
de despedidas, sabe? Prometo que assim que der, eu venho visitar vocês.
— Daya... Está tudo certo mesmo? É seguro? Você não vai levar
suas roupas? Filha, desculpe minhas palavras duras ontem, você se sentiu
pressionada, né? Estou com uma sensação estranha no peito agora,
geralmente quando me sinto assim é porque algo vai acontecer.
Você tem razão, mãe. Algo realmente vai acontecer, mas disso você
não precisa saber.
— Para onde eu vou, não irei precisar das minhas roupas velhas.
Sempre fiz as coisas certas, mãe, e sempre por vocês, lembre-se disso. Não
precisa se preocupar. Prometo que assim que puder, venho visitar vocês.
Agora tenho que ir.
— Daya...
Corri depressa até a porta, ao ouvir a voz melancólica da minha mãe
nos últimos segundos. Eu não queria mais ficar ali, não queria mais ter que
olhar nos olhos dela carregando esse peso da minha decisão. Minha mãe
jamais se orgulharia se soubesse a verdade, muito pelo contrário, o desgosto
poderia até matá-la. Desci as escadas com lágrimas nos olhos, e sentindo
uma enorme angústia dentro de mim. Abri a porta do prédio, e lá estava o
carro me aguardando. Era tão belo, porém discreto. Tinha um formato
redondo e era preto com os vidros filmados, eu não conseguia ver quem
estava lá dentro. Fiquei um pouco insegura e receosa, notei alguns olhares
curiosos, os vizinhos me observavam da janela sem entender bem o que
estava acontecendo. Notei alguns cochichos, mas nada disso importava.
Ninguém precisava saber da minha vida de agora em diante.
A porta se abriu sozinha, como um convite dizendo: “Entre logo”,
notei que o banco de trás estava vazio, havia apenas um homem que parecia
ser o motorista no banco da frente. Não tenho escolha, agora minha vida
pertence ao outro lado. E então entrei, sentei-me no banco e a porta se
fechou, o carro deu partida e acelerou. Respirei fundo e comecei a observar
pela janela o lado feio de Greville se distanciar, toda aquela miséria, o clima
pacato e deprimente agora seria somente uma lembrança na minha cabeça.
— Está me levando até a Ana? — perguntei aflita para o motorista.
— Estou te levando para o paraíso, não sei como aguentou viver
tantos anos nesse lugar. Vai gostar do outro lado de Greville... — disse o
motorista.
— Eu não tive escolha — falei quase em um sussurro.
O motorista careca e de óculos escuros, apenas me encarou pelo
retrovisor e não disse mais nada. Porque no fundo ele sabia que era a
verdade, as pessoas do lado pobre da cidade não tiveram escolhas. Depois
que a elite decidiu dividir a cidade e privatizar, perdemos recursos e capital,
e então nos restaram apenas os restos. Contudo, agora, eu tinha a chance de
ter um futuro melhor, de ajudar minha família, só de saber que minha mãe
seria cuidada por um excelente médico, e as crianças teriam até uma babá
particular, isso acalmava profundamente meu coração.

Após alguns minutos, estávamos chegando perto do enorme muro


que separava a cidade. A segurança era reforçada, se alguém do lado pobre
de Greville tentasse passar para o outro lado, seria preso ou até mesmo
morto. A segurança era máxima, e somente as pessoas autorizadas podiam
transitar entre os dois lados. Todos que tentaram invadir o espaço da elite de
Greville não voltaram para contar história. Era impossível. Meu coração
acelerou quando o motorista estava mostrando o seu cartão com
identificação, eu iria entrar. Iria acessar o outro lado de Greville. Eu
mesma, Daya Ayamed uma garota pobre e negra do subúrbio, estava dando
os meus primeiros passos na elite que nunca teve piedade por nós. Esse
momento era épico, e nem nos meus maiores sonhos me imaginei aqui.
Após o acesso ser liberado, meus olhos se arregalaram com o que eu
estava vendo, uma passagem se abriu e atravessamos o muro. Notei que era
apenas uma ilusão, não existia um muro de verdade, feito de tijolos e
concreto. Era apenas um truque para enganar o outro lado e nos despertar
um sentimento de medo e impotência. Ele nunca esteve ali. Era tão perfeito,
com certeza foi feito por um equipamento muito bem projetado, e uma
tecnologia superior a qualquer uma que já havia visto antes. Meu coração
acelerou e minha vontade era de espalhar essa notícia para as pessoas do
subúrbio. Mas lembrei-me de que não havia mais volta, eu nunca ia voltar,
não tinha mais saída.
O carro estava andando mais devagar agora, parecia estar
procurando algo. Olhei pela janela e meus olhos brilharam, era a coisa mais
linda que eu estava presenciando. A Greville desse lado era repleta de
prédios enormes, finos e espelhados, as ruas eram limpas e parecia tudo tão
artificial, como se eu estivesse vendo um desenho. As casas eram
impecáveis, possuíam jardins com uma grama tão verde capaz de ser notada
de longe. As pessoas eram belas, pareciam artistas de cinema, e tudo era tão
moderno e perfeito. Meu Deus... nunca pensei que fosse possível existir
algum lugar assim, era melhor do eu imaginava. A cada virada nas ruas
estreitas, eu me deparava com mais maravilhas. Carros luxuosos, piscinas
enormes e com água cristalina, pessoas felizes e radiantes. Era até
emocionante presenciar tamanha beleza, meu momento de encantamento foi
interrompido quando o motorista parou o carro em frente a um prédio em
tom de rosa-claro e bem feminino, reconheci imediatamente a mulher que
me aguardava ali na frente. Era Ana.
— Está entregue, chefe — disse o motorista, abrindo um pequeno
sorriso
— Obrigada por trazê-la em segurança, Marcus. Te darei uma
cortesia pelos seus serviços.
— Muito grato, chefe.
A porta se abriu, e saí do carro. Depois ele partiu para longe. Para
onde Marcus iria agora? Será que buscaria outra garota? Fiquei me
perguntando. Ana parecia muito contente em me ver, estava com um sorriso
de orelha a orelha.
— Ah, Daya, como é bom te ver! Venha, vamos entrar. Vou te
apresentar o local, e já vamos falar sobre o que interessa, o seu contrato.
— Eu já vou assinar ele hoje? — indaguei assustada.
— Mas é claro, querida. Não está mais no subúrbio, aqui não
perdemos tempo. — Ana colocou uma das mãos em meu ombro. — Vamos,
entre!
Senti um gelo no corpo todo e fiquei sem resposta. Eu não sabia
nem como me portar diante daquela situação. Eu estava com medo agora,
confesso. A parte que mais me deixava receosa, era que não importava o
que teria naquele contrato, eu teria que aceitar. E essa era a pior parte.
Entramos no prédio, e era tudo ainda mais bonito na parte de dentro.
Surpreendi-me, era bem grande por dentro e notei que havia mulheres de
um lado para o outro, algumas uniformizadas. O uniforme era padrão rosa,
uma saia na altura do joelho, blazer bem apertado e um chapeuzinho na
cabeça. Eram tão bonitas, tudo combinando. Enquanto cruzávamos o salão,
Ana começou a me explicar:
— Aqui é a sede da nossa comunidade de garotas de luxo As
mulheres que estão de rosa, fazem parte da organização da nossa
comunidade. São superiores a vocês, então tenha todo respeito e gentileza
com elas.
— Ok, entendido. E aquelas outras? Também são como eu? —
perguntei, referindo-me às meninas que visivelmente eram mais novas, e
estavam sendo orientadas pelas moças com uniforme.
— Sim. Elas são como você. Estão sendo orientadas, e preparadas
para o fechamento de contrato.
Observei as garotas mais novas que estavam sendo orientadas,
pareciam também ser do subúrbio, no entanto, eu não as conhecia, ou não
me lembrava de seus rostos. Estávamos chegando perto do elevador, e
fomos abordadas por uma garota muito bonita. Tinha longos cabelos
negros, um corpo magro e bem desenhado, estava com um vestido curto e
bem maquiada. Ela me olhou com bastante alegria e cumprimentou Ana
como se fossem melhores amigas.
— Ana! Como é bom te ver, você está como sempre linda.
— Assim como você, Tiffany. Fiquei sabendo que você se deu bem
no fim do seu contrato, Rick te pediu em casamento, né?
— Você já está sabendo? — Tiffany perguntou surpresa. — As
notícias correm, e sim, estou tão feliz, mal acredito que vou me casar com
Rick. Que experiência maravilhosa!
Em meio àquele diálogo, me senti deslocada. Quem era Rick? E
Tiffany? Ela era como eu? Parece que as coisas acabaram muito bem para
ela.
— Eu sei de tudo. — Ana riu ironicamente. — A propósito, Tiffany
essa é a Daya. Ela é nova e está começando esse ano.
— Seja bem-vinda. — Tiffany me cumprimentou. — Vai ser a
melhor experiência da sua vida, espero que tenha a mesma sorte que eu —
completou piscando.
— Ela vai! — Ana disse brevemente. — Agora se nos dê licença,
Daya tem muita coisa para fazer.
— Ah, claro, foi um prazer Daya. — Tiffany acenou e se retirou.
Eu tinha muitas perguntas para fazer, Tiffany deixou um rastro de
curiosidade em minha mente. Vendo sua reação, toda essa história não
parecia ser tão ruim assim. Ou ela que era muito sortuda. Quando entramos
no elevador, não perdi tempo e perguntei:
— Como vai funcionar isso? Eu vou ter que me casar com meu
Sugar CEO? Tiffany parece tão feliz, ela era do subúrbio também?
Ana me encarou seriamente, ela não parecia ter gostado dos meus
questionamentos. Apenas fez um sinal com a mão, que indicava silêncio, e
as portas do elevador foram abertas no mesmo momento.
— Aqui não. Vamos conversar sobre tudo isso na minha sala. Eu
vou esclarecer suas dúvidas...
Eu senti um arrepio em meu corpo quando Ana terminou de falar,
ela disse em um tom tão ríspido que nem parecia a mesma mulher que havia
me recebido com tanto entusiasmo. Ela parecia ter duas faces. Quando
saímos do elevador, estávamos no décimo andar. O corredor desse andar era
pequeno, e tinha apenas uma porta para uma sala. Ana parecia estar bem
familiarizada com o andar, passou seu cartão de acesso e a porta foi aberta.
Ao chegarmos lá, ela indicou que eu entrasse. A sala era enorme, e havia
uma mesa grande no centro. Não estávamos sozinhas, dei mais alguns
passos para frente e pude ver uma mulher loira e muito elegante sentada na
cadeira. Passei os olhos sobre a mesa e vi uma placa que indicava seu
nome.

Paige Conner.
O DIA ESTAVA SE ARRASTANDO de uma forma diferente,
estava tentando me concentrar e focar no trabalho, havia tantas burocracias
para ser resolvidas, mas eu não estava conseguindo fazer nada. Confesso
que a visita de Paige e sua proposta me deixou muito intrigado, eu não
parava de pensar nisso. Parei de fazer o relatório que estava fazendo, e
olhei o retrato que estava em cima de minha mesa, o rosto de Elisa estava
tão vivo naquela fotografia, ela estava sorrindo e feliz. Lembrava-me bem,
foi naquela noite que a pedi em casamento. Senti um nó no peito, uma
angústia que não havia fim, a ausência dela estava presente em todo lugar.
Eu juro que já tentei esquecer, me distrair com outras coisas, mas nada
conseguia preencher esse vazio que havia se formado em mim.
Passei os dedos em seu rosto na fotografia, fechei os olhos e por um
segundo me senti revivendo os momentos ao seu lado de novo. Isso não era
justo. Por que duas pessoas que se amam não podem ficar juntas? Por que
a vida a tirou de mim dessa forma? Não havia um dia sequer que eu não me
perguntava sobre isso, confesso que depois de tamanha tragédia me tornei
um homem cético. Que Deus é esse que parece se divertir com nosso
sofrimento? Depois da angústia, vinha a raiva, eu começava a ficar com
aquela sensação de que fui injustiçado, e isso só me deixava cada vez mais
amargurado. Coloquei o retrato na mesa novamente, e decidi que iria
retomar minhas atividades, ficar nesse lamento não iria trazê-la de volta, e
eu tinha um império para comandar.
Quando ia voltar ao relatório, meu calcanhar esbarrou na pasta que
Paige havia deixado comigo, era o contrato, algumas folhas haviam saído
para fora, e despertou ainda mais minha curiosidade. Meu lado racional me
dizia para esquecer, até mesmo jogar no lixo aquele monte de merda, mas
meu lado emocional e carnal queria ver mais sobre. Então, imediatamente
abri a pasta e comecei a analisar o contrato.
Não era um contrato detalhado, ele era simples e objetivo, havia
algumas cláusulas importantes que ressaltei com meu marcador.
É obrigatório que o Sugar CEO arque com todos os gastos de sua
‘”Garota de luxo’’. Isso inclui moradia, alimentação, viagens, passeios,
roupas, maquiagem, cabelo, higiene pessoal, e saúde física.
Garota de luxo: Palavra usada para se referir a garota que foi
escolhida para o Sugar CEO.
O Sugar CEO não terá o direito de escolher a garota que deseja,
para evitar duplicidade ou interesse de mais de um Sugar CEO na mesma
garota. Além de um contrato, se trata de uma experiência. Mas algumas
exigências podem ser feitas, por exemplo: Possuo interesse por garotas
morenas. Possuo interesse por garotas magras.
Soltei um riso nessa parte do contrato, e Paige ainda teve a cara de
pau de me dizer que não se tratava de um prostíbulo. Mas, ok, seguimos...
É proibido que a selecionada engravide durante o período de
contrato, somente após o final dele e mediante a fidelização é permitido.
Caso essa parte do contrato seja infringida, o contrato é desfeito e ela
sofrerá punição.
Santo Deus... essa parte me deixou um pouco chocado, confesso.
Parei para pensar e analisar, essas garotas não podiam engravidar durante o
contrato, porque depois teriam que ser usadas de novo.
O Sugar CEO pode romper o contrato caso não se adapte à
selecionada no tempo estipulado, mediante a uma multa milionária. Por
isso, é importante que esteja ciente de suas responsabilidades.
Era um tópico mais absurdo que o outro, ao final dele havia um
espaço que deveria conter minha assinatura. Confesso que estava um pouco
pasmo ao final da leitura, mas então as palavras de Paige vieram à minha
cabeça, sobre eu nunca ter feito algum tipo de caridade. E era verdade, me
tornei um homem amargo e egoísta, na verdade, minha vida depois da
morte de Elisa girava em torno exclusivamente de mim. Iria encarar essa
situação como uma experiência, onde eu poderia ajudar alguém que
realmente precisava. Eu queria ser útil de alguma forma, e além do mais,
era só durante 1 mês, depois disso, meu ato de abnegação estaria pago.
Estava decidido. Senti meu coração acelerado e assinei o contrato.
Em seguida, peguei meu telefone e liguei para Paige para dar a grande
notícia.
— Ora, ora! Se não é meu milionário favorito. Me ligou cedo, hein?
Aposto que ficou interessado — disse Paige, com o tom de voz eufórico.
— É, você conseguiu me convencer. Já estou enviando o dinheiro
para sua conta, e o contrato já está assinado. Quando a garota chega?
— Você se empolgou mesmo, hein? — Paige riu. — Posso mandá-la
hoje mesmo para você. Vamos agilizar o processo, me envie o contrato por
e-mail, está bem? E fique atento, hoje você irá conhecê-la.
— Ok... sem gracinhas, Paige. Eu a aguardarei ansiosamente.

QUANDO DESLIGUEI o telefone, impressionei-me com minha


rapidez e agilidade para enviar o contrato por e-mail, resolvi tudo em um
instante, o dinheiro já estava pago. E confesso que eu ainda não estava
acreditando que eu estava participando daquilo, por um lado eu me sentia
um canalha por estar participando de uma comunidade que no fim das
contas, explorava mulheres. Contudo, eu queria dar uma experiência
diferente para essa moça, não tinha interesse algum em usá-la. Não coloquei
nenhuma exigência, deixei totalmente em branco. O meu gosto pessoal em
relação à mulher não importava. Até porque, eu amava Elisa e nenhuma
mulher iria substituí-la, jamais iria me casar de novo e muito menos me
apaixonar. Era tudo por caridade. Mesmo sendo somente por isso, eu não
podia negar que estava ansioso para conhecê-la.

Quem será essa garota?


EU ESTAVA SENTADA na cadeira, em frente à mesa da moça loira
que se chamava Paige Conner, assim que entrei, ela pediu licença e se
retirou, pois disse que precisava atender a uma ligação, fiquei aguardando e
nesse meio tempo uma outra garota entrou. Ela parecia ter minha idade, e
pelas vestes e aparência, também era do subúrbio. Era uma jovem muito
bonita, tinha olhos verdes, cabelos ruivos e encaracolados, era um pouco
mais alta que eu e bem magra. Nós nos entreolhamos rapidamente, e ela
parecia também estar bem perdida. Ana se distraiu por um segundo com seu
celular, e essa era a deixa que eu precisava para puxar papo com ela.
— Oi... Qual é seu nome? Você também veio do subúrbio, né?
— Me chamo Tess. — A garota sorriu de canto. — Sim, sou do
subúrbio, você se chama Daya, né?
Uau. Como ela sabe meu nome? Tentei me recordar do rosto de
Tess, mas não conseguia.
— Como você sabe? Desculpe, não me recordo de termos
conversado — respondi meio sem graça.
— Relaxa. — Ela riu. — Já trabalhamos na mesma fábrica de
tecidos, mas eu trabalhava no setor da administração, por isso reconheci seu
rosto. Mas nós nunca interagimos, quem passava os recados para o seu setor
era outra pessoa.
Agora está explicado.
— Ufa, menos mal. Não queria parecer sem educação. Mas se você
está aqui... então você foi mandada embora?
Ok, eu estava bem curiosa...
— Sim, infelizmente fui. A situação está precária na minha casa,
mal tínhamos o que comer e os trabalhos também estão escassos, então Ana
me ofereceu essa oportunidade, tive que agarrar.
— E você se sente bem com isso? — Respirei fundo. — Se
pararmos para pensar friamente, é um esquema de prostituição, de tráfico de
mulheres talvez? É muito horrível...
— Concordo. Mas que outra opção temos? Se você tiver alguma,
por favor me fale. Porque participar da comunidade é a única coisa que me
resta.
Tess conseguiu me deixar sem palavras, não havia mais argumentos
e nem saídas. Ela tinha razão. Não tínhamos saída, o mundo é um campo de
batalha e para sobrevivermos às vezes precisamos fazer vários sacrifícios,
éticos e morais. Isso é muito horrível, porém real. Gostaria de estender
aquele diálogo com Tess, mas Paige logo retornou e parecia bem animada.
Sua feição mudou ao olhar para Tess, era como se elas já se conhecessem.
— Uau! Você parece alguém que eu conheci.
— E isso é bom? — Tess perguntou insegura.
— Talvez. É um tanto assombroso, mas enfim. Bem-vinda meninas,
vocês devem estar cheias de perguntas para me fazer e também curiosas
para saber como será daqui para frente.
Até que enfim.
— É exatamente isso — afirmei rapidamente.
— Hum... — Paige disse, analisando-me. — Você deve ser Daya,
certo? Ana comentou sobre você, o quanto é audaciosa e esperta.
— É... Para viver no subúrbio temos que aprender alguns truques.
Paige me encarou impressionada, eu tinha que controlar esse meu
lado impulsivo que me fazia dar respostas espontâneas, confesso que nunca
tive muito filtro, mas no fundo era uma forma de me defender.
— É bom saber, pode ser que você precise de algum deles. — Paige
avisou. — Meninas, prometo que serei breve na minha explicação e tentarei
ser o mais clara possível. Cada uma de vocês será encaminhada para casa
de um de nossos Sugar CEO. É isso mesmo, cada um desses colaboradores
pagará por vocês. Existe um contrato que tem o período de um mês, e
durante esse tempo vocês vão viver no mais puro luxo. Esses homens que
foram selecionados a dedo, são os mais ricos desse lado de Greville, eles
possuem um patrimônio inesgotável e vocês vão experimentar uma vida tão
glamourosa, que acho que nem em seus sonhos imaginaram que poderia ser
real.
Um verdadeiro conto de fadas. Só que não. Eu pensei, e me
controlei para não a interromper, Paige falava com tanto orgulho e
felicidade, que chegava a ser assustador. Ela realmente acreditava nessa
comunidade, e todo aquele esquema era bem normal para ela, e acredito que
para todo esse lado da sociedade.
— E o que vamos ter que fazer? Ser uma espécie de esposa postiça?
— Tess indagou.
— É quase isso. Geralmente esses homens são viúvos ou solitários,
alguns são solteiros e garanhões, varia de perfil para perfil. Mas vocês,
minhas meninas de luxo, são exclusividades deles. Vocês terão que fazer
tudo, absolutamente tudo. Qualquer ordem deve ser obedecida. Mas fiquem
tranquilas, a adaptação é rápida. O estilo de vida é tão tentador que não tem
como não se acostumar.
— É bizarro... — a interrompi. — Então, seremos vendidas para
eles e possivelmente escravas sexuais a troco de mimos luxuosos? E depois
desse contrato de um mês ser encerrado, o que acontece?
Paige cerrou os olhos e parecia ter ficado irritada comigo.
— Sabe o que é bizarro, senhorita Ayamed? Viver naquela
imundície, sem perspectiva de vida, sem chance alguma de ser alguém.
Respondendo à sua pergunta, depois que o contrato acabar o Sugar CEO
tem a opção de fidelizar o contrato, e então pode sair até um possível
casamento, onde vocês podem se tornar oficialmente deles. Ou encerrar o
contrato e a garota irá ser transferida para outro Sugar CEO.
Meu Deus.
— Então... — Eu respirei fundo. — Não tem fim? Vamos ficar para
sempre nesse ciclo? Eu nunca mais vou voltar a ver minha família? Não
vou ser livre?
— Daya... — Tess segurou forte nos meus braços e cravou as unhas.
— Não, Tess... — Levantei-me. — É sério que você está achando
isso o máximo?
Tess parecia querer falar algo, mas Paige lhe lançou um olhar
diabólico como se dissesse por pensamento para ela não dizer uma palavra.
O silêncio tomou conta do lugar, e Ana que estava atrás de nós apenas
escutando o discurso, agora se manifestou. Ela era intimidadora.
— Daya, Daya... será que preciso refrescar sua memória? Lembrar
que você tem uma mãe doente, dois irmãos pequenos que precisam de
ajuda, dos cuidados médicos que estão sendo oferecidos para sua família,
do dinheiro... se quiser ir embora agora, pode ir. Mas aí, teremos que cortar
todos esses benefícios, e você vai ter que dar duro para achar um emprego.
Suas chances são bem pequenas, mas estou te dando o livre arbítrio de sair
por aquela porta e voltar para sua vida, aproveite que estou generosa hoje.
Geralmente não faço isso com ninguém.
Golpe baixo. Muito baixo. Ao terminar de ouvir as palavras de Ana,
um soco doeria menos. Senti uma angústia transbordar no meu corpo e uma
sensação de impotência. Veio-me um flashback de como era a minha
realidade, a situação da minha família e que eu era a única esperança de eles
terem uma vida digna. Sair daqui, e voltar para casa agora seria muito pior.
Minha mãe iria morrer em pouco tempo, eu teria que assumir duas crianças
e morreria na miséria. Não, eu não posso. Uma pequena lágrima escorreu
em meu rosto, quase imperceptível. E me calei, mudei minha postura e
nunca me senti tão oprimida, era hora de baixar a bola.
— Me desculpe, Paige... — respondi com dificuldade. — Ana, eu
não vou embora. Irei permanecer.
— Sabia que você ia pensar melhor, é para o bem da sua família,
Daya. Lembre-se sempre disso — Ana disse, colocando as mãos em meus
ombros.
Permaneci sentada, e agora ficaria o mais calada possível. Ana
conseguiu pegar na minha ferida, no meu maior ponto fraco, por minha
família eu estava disposta a tudo, inclusive me sujeitar a essa situação.
Paige parecia mais aliviada agora, e continuou o seu discurso apelativo:
— Bom, já que agora se acalmou... tenho uma boa notícia para você,
Daya. Vai conhecer o seu Sugar CEO hoje mesmo.
COMO ASSIM? HOJE? TÃO RÁPIDO ASSIM? Controle-se, Daya...
— Mas já? — Eu engoli em seco. — Eu posso saber o nome dele?
— Claro. — Paige sorriu animada. — O nome dele é Luca
Lancaster, ele é um dos homens mais ricos daqui e tem um enorme coração.
No fundo, ele tem...
— Como assim, no fundo ele tem? — indaguei assustada.
— É que nem sempre ele está de bom humor, sabe? Mas acho que
ele vai ser bonzinho com você. — Paige riu ironicamente.
Eu fiquei sem entender a situação, e o que ela estava querendo dizer
com aquilo. Ana ao ouvir o nome de Luca interrompeu a conversa.
— Paige... Não acha melhor mandar a Tess? Não acho que Daya faz
muito o tipo de Luca, podemos ter problemas.
Tess ao ouvir seu nome demonstrou estar mais desentendida do que
eu. Comecei a pensar, era realmente uma espécie de comércio. Então eles
conseguiam escolher até o nosso “tipo’’. Um absurdo total.
— Luca não exigiu um tipo específico de mulher. Portanto, Daya vai
ser mandada para ele. Não se meta nisso, Ana! Dessa parte eu que cuido de
tudo, você sabe.
— Ok! Depois não diga que eu avisei... — Ana revirou os olhos
preocupada.
— Que seja. Agora faça o seu trabalho e leve Daya para fazer o
cabelo, maquiagem e arrumarmos uma roupa bem sensual para uma noite
especial.
— Venha, Daya... agora é a melhor parte — me convidou Ana.
A estranha conversa na sala de Paige foi encerrada, depois dali, saí
da sala junto com Ana e mal consegui me despedir de Tess. Quem seria o
seu Sugar CEO? Ela ficaria bem? Senti uma pequena pontada de
preocupação, Tess parecia ser uma garota legal, um pouco apática e
submissa, mas estávamos juntas nesse barco, ambas estávamos fazendo esse
sacrifício por nossa família, não tínhamos saída então era compreensível o
rápido consentimento.
Ana me levou até outro andar, havia um enorme saguão bem
decorado e equipado com muitas araras cheias de roupas sensuais e bem
femininas. Vestido de todas as cores com tecidos de renda, cetim, seda, um
mais lindo que o outro. Havia sandálias de salto de todos os tamanhos, e
também muitos espelhos, escova de cabelo, secadores. Outras meninas
estavam ali, sendo produzidas por outras mulheres. Pareciam animadas.
Confesso que estava gostando daquele clima, eu nunca vi tanta coisa linda
em um só lugar, sempre tive vontade de me arrumar mais, me sentir mais
mulher e mais feminina. Durante minha vida toda, eu vestia sempre as
mesmas roupas, calça jeans, camisa e tênis. Não tinha dinheiro para luxos, a
maquiagem então sempre passou bem longe do meu rosto. Seria bom me
sentir diferente, uma nova Daya. Eu precisava tentar absorver algo bom
dessa experiência.
Rapidamente meus pensamentos mudaram, a sensação boa e de
recomeço passou e eu lembrei da minha dura realidade novamente.
Comecei a pensar em Luca, que até então era um homem completamente
sem rosto. Como ele é? Seria muito velho? Muito grosso? Pela forma que
Ana falou, era um homem bem intolerante. Meu Deus. Eu juro que se ele
tentasse fazer algo comigo, eu ia me defender. Mas aí pensei, ele pode fazer
o que quiser comigo, está no contrato. Senti uma ansiedade, meus
pensamentos estavam a mil, e por um segundo me desliguei, mas Ana me
trouxe de volta para a realidade.
— Daya? Está no mundo da lua, garota? Te chamei duas vezes...
— Desculpe... meus pensamentos foram longe agora.
— Eu percebi — Ana disse irritada. — Venha cá, Florence está te
aguardando, vai fazer seu cabelo e maquiagem, já sei exatamente o vestido
perfeito para você. Está preparada?
Se estou preparada? Mas é claro que não.
— Na verdade... tenho algumas dúvidas.
— Hum... E quais são?
Minha bochecha queimou, era bem constrangedor ter que falar sobre
aquilo com Ana, esse tipo de conversa eu deveria ter com alguém que eu
confiasse.
— Nunca tive um relacionamento antes, Ana. Nunca. Eu só beijei
um garoto na minha vida, e só foi isso. Se é que me entende.
Ana arregalou os olhos, mas não parecia estar tão espantada.
Acredito que aquilo era mais comum do que eu imaginava.
— Querida... — Ana acariciou meu rosto. — Acredite, sua
virgindade vai ser um trunfo ainda maior, os Sugars CEOs adoram garotas
assim. — Ela soltou uma risadinha. — Quando acontecer, não pense no ato
em si... pense na sua família, esse é o melhor conselho que posso te dar.
Dessa vez, foram os meus olhos que se arregalaram, eu estava
pasma com a resposta de Ana, com o tamanho da sua frieza. Não consegui
responder mais nada depois dali, apenas me sentei na cadeira e deixei que a
cabeleireira fizesse o seu trabalho.
FOI UMA TARDE LONGA de preparativos, fizeram meu cabelo,
maquiagem, unhas, eu realmente estava sendo transformada, a garota do
subúrbio não existia mais, agora eu era uma garota de luxo, ou melhor,
uma garota de programa. Ao finalizar tudo, eu ainda não havia me visto,
não deixaram para criar um clima de suspense e surpresa. Então, quando
finalmente consegui me olhar no espelho e me deparei com o meu reflexo.
Era melhor do que eu imaginava. Eu estava completamente linda e
irreconhecível.
Minha pele negra estava brilhante e reluzente, tão hidratada e bem
cuidada. Meus cabelos estavam armados em um coque trançado, com
alguns cachos caídos sobre a maçã do rosto. Meus olhos azuis estavam bem
destacados, o rosto esculpido e bem desenhado com a maquiagem. Deslizei
as mãos no tecido do vestido, ele era branco de cetim, tão macio e colado ao
corpo que dava uma impressão de que eu tinha curvas mais avantajadas. As
sandálias que eu estava usando, eram pequenas e delicadas e tinha
pedrinhas brilhantes sobre as tiras. Fiquei deslumbrada, eu não tinha noção
do quanto era bonita, me analisei no espelho como uma miragem, e abri um
enorme sorriso. Gostaria que minha mãe pudesse me ver assim, ela ficaria
emocionada. Meu irmão enciumado e minha irmãzinha iria querer se vestir
igual. Que saudade deles.
Senti um misto de emoção, queria poder me fotografar. Respirei
fundo, e ouvi o barulho da porta abrindo, era Ana, me olhou com admiração
e bateu palmas.
— Você está perfeita! Uma verdadeira miragem. Acho que Luca vai
gostar de você.
— Quem não gostaria de mim assim? — brinquei. — Desse jeito eu
digo... estou maravilhosa.
— Ainda bem que você sabe. — Ana sorriu. — Mas agora vamos,
já está na hora... Luca já está à sua espera.
Despedi-me daquela imagem no espelho, e senti um frio na barriga.
Agora era hora, não havia mais espaço para arrependimentos ou
inseguranças.
Eu seria entregue a Luca, e pelos próximos 30 dias seria sua
exclusividade. Lembre-se, Daya, é tudo pela família. Repeti para mim
mesma como um mantra.

Era hora de ir...


A NOITE CHEGOU, e pelas minhas contas a garota já estava
prestes a chegar. Eu estava arrumado, coloquei um terno cinza, que
normalmente usava no dia a dia, a casa estava impecável e pedi para os
empregados mudarem algumas coisas na decoração para não ficar algo tão
fúnebre. A mansão depois da morte de Elisa realmente ficou bem sombria,
na verdade, eu já tinha me acostumado com todo esse clima, mas queria que
essa moça não ficasse traumatizada com essa experiência, que para ela já
deveria estar sendo bem difícil. Senti algo estranho, desde quando me tornei
empático? Normalmente, eu não tinha esses sentimentos de generosidade.
Que seja, dei uma última checada em tudo e olhei em minha estante, lá
estava outro retrato de minha falecida mulher, como era linda e graciosa.
Nenhuma mulher chegaria aos seus pés, eu iria amá-la até o meu último dia
nessa vida. Peguei o retrato, e encarei a fotografia, como eu sentia saudades
dela. Sussurrei baixo como se estivesse conversando com ela e avisei:
— Meu amor, fique tranquila, essa moça não está vindo para roubar
o seu lugar. Estou fazendo isso apenas para ajudá-la. Você entende, né?
Sempre queria que eu fizesse caridade, pois aqui estou realizando o seu
desejo.
Dei um beijo na foto, e fui interrompido pelo barulho da campainha.
Levei um susto e imediatamente coloquei o retrato na estante, precisava
recuperar minha pose de homem sério, esse tipo de fragilidade não
combinava comigo. Era algo tão pessoal, que ninguém nunca me viu em um
momento tão íntimo. Ajeitei minha gravata, e caminhei a passos rápidos até
a porta, quando abri, meu coração acelerou. Ok, eu estava um pouco
nervoso com toda essa situação, e lá estava ela. Uma moça estava de costas
e notei que parecia estar tremendo. Acho que não era só eu o nervoso aqui.
— Boa noite? — eu perguntei.
— Boa... — gaguejou e se virou. — Boa noite, senhor Luca.
Quando ela se virou, fiquei impressionado. Que garota diferente.
Sua pele era negra e reluzente, os cabelos cacheados estavam armados em
coque trançado tão belo, alguns cachos caíam em seu rosto, e não pude
deixar de olhar os seus olhos puxados e azuis. Nunca vi uma moça com essa
estética por aqui, fiquei surpreso, não imaginei que ela fosse dessa forma.
Minha preferência era por loiras e ruivas, mas ela era uma garota muito
bonita, embora não fizesse o meu tipo. Porém, isso não importava. Ela não
estava aqui para me servir sexualmente, então sua aparência não importava.
Não pude deixar de dar risada ao ouvir ela dizer senhor, ela parecia muito
nervosa e um tanto constrangida.
— Senhor? — Arqueei uma sobrancelha. — Ora, não sou tão velho
assim, moça. Pode me chamar de Luca. Só Luca.
— Me desculpa — pediu, desajeitada. — Eu não queria te ofender,
Luca.
— Sem problemas, não fiquei ofendido — falei um pouco mais
sério. — Por favor, entre. Aqui será sua casa durante 1 mês.
— Espero ser uma boa hóspede. — Ela abriu um sorriso de canto.
— A propósito me chamo Daya Ayamed. — Estendeu a mão.
— Um prazer conhecê-la, Daya. — Estendi minha mão de volta, e
nos cumprimentamos.
Depois dos cumprimentos, Daya parecia um pouco mais tranquila e
entrou na mansão. Aquilo era muito estranho para mim também, eu não
estava completamente confortável em ter uma outra mulher aqui, mas iria
me acostumar. Quando entramos, Daya olhou tudo em volta bem
maravilhada, ela tentava não demonstrar o deslumbre, mas eu conseguia ler
bem sua expressão.
— Sua casa é... Surreal de linda — elogiou maravilhada.
— Ela já foi mais linda e alegre, de uns tempos para cá o clima não
é agradável.
— Por quê? — indagou curiosa.
— Não vem ao caso dizer. A mansão é muito grande, posso pedir
para algum empregado apresentar para você amanhã. Use todos os
cômodos, mas existem alguns restritos. Nunca entre no meu escritório,
quando eu estiver trabalhando em casa, gosto de trabalhar sozinho e sem ser
perturbado. Em hipótese alguma entre no quarto com o número 06/03. Eu
vou ficar muito furioso se você entrar lá, e vai perder qualquer rastro de
confiança que eu possa ter em você.
Daya arregalou os olhos e parecia um pouco assustada, ficou imóvel
me observando.
— Ok... guardarei essas orientações, Luca.
— Por favor, assim não teremos problemas — reforcei. — E bom,
agora vamos para a parte que você deve estar pensando desde o momento
que entrou aqui...
Eu parei de falar, e me aproximei de Daya, no mesmo instante ela se
afastou, deu para ver que foi automático. Ela estava com medo. Medo de
que eu fizesse algo, que eu a tocasse. Céus...
— Daya, não precisa ter medo de mim. Eu não quero você, e não
tenho interesse em você. Sou um Sugar CEO diferente, acredite. Só estou
participando disso para te ajudar, por caridade.
— É mesmo? Então quer dizer que não vou precisar ser sua escrava
sexual e fazer todas as suas vontades?
— Mas é claro que não — respondi abismado. — Eu acho todo esse
esquema um verdadeiro terror, é um prostíbulo como costumo dizer. Esse
ano, Paige me convidou para participar, e eu aceitei somente com essa
finalidade. Aproveite os próximos 30 dias, tentarei te dar o máximo de
conforto possível e fazer você desfrutar o lado bom de Greville.
— É tão bom que parece ser mentira... — Daya suspirou aliviada.
— Meu Deus, então não precisamos ser nada? Luca, você não tem ideia do
quanto isso me deixou...
— Aliviada? Em paz? — Eu ri. — Posso imaginar. Vamos manter
uma situação de amizade e respeito, não invada o meu espaço e eu não
invado o seu, é uma regra básica de convivência.
Daya imediatamente abriu um enorme sorriso e se aproximou de
mim, e teve uma atitude inesperada, ela me abraçou, seus pequenos braços
envolveram os meus ombros, era tão pequena perto de mim. Fiquei em
choque com aquilo, e não consegui retribuir da mesma forma. Ela percebeu,
e se afastou sem graça.
— Desculpe... foi automático. Eu só queria te agradecer de alguma
forma.
— Mais uma regra sobre nossa convivência, Daya. Sem abraços, ou
qualquer tipo de insinuação ou toque. Já disse, não tenho interesse algum
em você, e de forma alguma quero que misture as coisas, ok?
— Você é engraçado, Luca... em alguns momentos parece tão
amigável, e em outros tão rígido. Parece que tem duas personalidades. Bom,
tudo bem. Manterei distância de você.
— Não queira me entender, Daya. Ninguém consegue.
Daya me encarou com os olhos cheios de curiosidades, mas sabia
que não seria inteligente querer estender aquele diálogo. Então, agora mais
a vontade de saber que não iríamos precisar ter contato, ela começou a
caminhar pela sala, observando os móveis e a decoração. E então, chegou
perto da estante e olhou a foto de Elisa. Merda. Eu deveria ter tirado, se ela
ousar tocar no retrato isso não vai acabar bem.
— Quem é ela?
Estava demorando.
— O grande e único amor da minha vida. Sim, ela morreu. Não, não
quero falar sobre isso e muito menos que me olhe com pena ou piedade. Se
puder, é melhor fingir que não viu essa foto.
Daya me encarou sem graça, e parecia estar pensando no que iria
responder.
— Ok, me desculpe... sem perguntas.
— Obrigado — respondi curto e grosso. — Bom, Daya, agora que já
conversamos, não precisamos encenar algo, é noite e estou um pouco
cansado. Vou levá-la para o seu quarto, mandei preparar um dos quartos de
hóspedes para você. Venha comigo...
Daya não respondeu mais nada, parecia estar contendo as palavras e
seria melhor assim. E então, eu a conduzi até o quarto, subimos as escadas
em silêncio, decidi fazer eu mesmo a recepção dela ao invés de mandar
algum empregado. Espero ser um bom anfitrião, ao chegarmos em frente à
porta do quarto, decidi que não iria entrar, gostaria de deixá-la à vontade
sem minha presença.
— Bom, é aqui que eu fico. Seu quarto está totalmente equipado
para sua estadia. Se sentir fome, tem um telefone perto da sua cama, pode
ligar e pedir para um dos meus empregados trazer o jantar para você. Estou
cansado, então vou me recolher. Te vejo amanhã!
— LUCA... — Daya disse em um tom mais alto. — Obrigada!
Obrigada por tudo. Você é meio sério, mas sei que tem um bom coração,
para estar fazendo isso por uma desconhecida só sendo uma pessoa boa e
piedosa mesmo.
Senti um arrepio com suas palavras, e algo dentro de mim estava
verdadeiramente tocado com aquilo. Sorri de canto e respondi:
— Não há de quê. Boa noite, Daya!
— Boa noite, Luca!
E assim, virei-me de costas e deixei o corredor do seu quarto,
virando para o outro corredor que era o caminho do meu. Comecei a pensar
que não iria ser tão ruim assim ter a presença de uma nova visitante na
mansão. Se tudo desse certo, nos próximos 30 dias, Daya ganharia mais do
que um Sugar CEO e sim um amigo...

Era a única coisa que eu queria dela.


EU ESTAVA DENTRO do quarto, após Luca se retirar, não perdi
tempo e entrei, meu Deus, era magnífico eu nunca tinha visto algo tão
bonito, jamais imaginei que um dia iria ter um lugar assim para ficar. O
quarto era enorme em tons terrosos, tinha uma grande sacada com uma
cortina de cor creme. Havia um closet cobrindo a parede e tinha uma cama
gigante que cabia quatro pessoas, fiquei imaginando que eu e minha família
conseguiríamos dormir facilmente em uma dessa. Na cama, tinha uma
camisola branca que possivelmente Luca mandou comprar e deixar para eu
dormir. Muito gentil da parte dele. Havia uma mesinha de cabeceira com
um abajur ao lado da cama, e também uma enorme TV suspendida na
parede.
Quem iria querer assistir à televisão com uma mansão desse
tamanho à disposição? Não pude deixar de sorrir, tirei meus sapatos e
caminhei pelo quarto, eu estava feliz, muito feliz. Mas não pelo quarto ou
pela mansão, mas por não ter que ser apenas uma prostituta para Luca.
Vamos as minhas impressões sobre ele, comecei a me lembrar do
momento em que abriu a porta. Ok, ele era um homem muito bonito,
naquele instante senti uma sensação estranha que parecia esmagar meu
peito, e um leve arrepio pelo corpo. Luca era diferente de qualquer homem
do lado ruim de Greville, o primeiro garoto que eu beijei era literalmente
um garoto, não tinha nem barba e era magricelo. Luca era um homem bem
maduro, fiquei impressionada com seus músculos e seu tamanho, ele
parecia um soldado. Contudo, notei uma tristeza profunda em seus olhos
desde o primeiro instante, porém agora tudo fazia sentido, ele perdeu a
esposa e com certeza isso deixou marcas profundas em sua alma, a dor
realmente mudava as pessoas. E pelo que eu percebi ele a amava ainda. Eu
nunca amei ninguém, e espero não amar tão cedo. O amor às vezes parece
ser uma maldição ao invés de um privilégio.
De qualquer forma, apesar de ele ser meio frio e arisco a
sentimentos, era um cara legal. Qual a outra chance de um homem ter feito
isso que ele fez? Não querer nada, apenas me deixar desfrutar de tudo
durante os 30 dias, sem exigir ligações carnais mínimas? Fiquei pensando
nas outras garotas, em Tess, e pensar que poderia ser ela no meu lugar.
Poderiam ter a chance de ter a mesma chance que eu? Existiam outros
homens bondosos na Greville Elitizada? Gostaria que a resposta fosse sim,
mas acredito que não.
Aproximei-me da enorme sacada e afastei a cortina, a noite estava
maravilhosa, o céu bem limpo e estrelado, senti a brisa bater em meu rosto
e agradeci por aquele momento. Senti um misto de felicidade e euforia
percorrer meu corpo, e essa noite foi muito melhor do que eu imaginava.
Estava ansiosa para os próximos dias, comecei a pensar, que ao invés de
apenas ficar usufruindo dos luxos que essa vida de princesa poderia me
oferecer, eu deveria usar os próximos dias de forma inteligente. Entender
mais sobre essa comunidade e como isso começou, Paige se colocava como
a representante legal, mas por que sentia que isso fazia parte de um poder
muito maior? E nesse jogo de xadrez ela era apenas mais um peão. Até
quando garotas pobres do outro lado da cidade serão exploradas? Era o
meu povo, eram garotas sem perspectiva de vida e desesperadas. Eram
garotas como eu.
Calma, Daya. Eram muitos pensamentos para uma noite, e por ora a
melhor coisa a se fazer era dormir. Amanhã era um novo dia no lado bom
de Greville, e agora eu faço parte disso.

ACORDEI COM O barulho da porta, me assustei, mas rapidamente


dei um salto da cama e corri para a porta para ver quem era. Seria Luca?
Não, com certeza não era ele. Quando abri a porta, havia uma mulher que
parecia ter cinquenta e poucos anos, e estava usando um uniforme cinza,
nas mãos segurava uma sacola, tinha cabelos castanhos claros, olhos
grandes e um sorriso muito amigável.
— Bom dia, senhorita Daya! Eu sou Lisa, sou a governanta da
mansão e o senhor Luca já me sinalizou que você vai ser nossa hóspede por
30 dias. Seja bem-vinda, qualquer coisa que precisar você pode me chamar.
O senhor Luca já foi trabalhar mas mandou deixar isso com você e disse
para estar pronta às 11h que ele virá buscá-la.
Arregalei os olhos quando ela estendeu a sacola, havia um logotipo
de uma loja. O que será que tinha ali? Peguei a sacola e abri um sorriso.
— Muito obrigada, Lisa. Mas enquanto Luca não chega, o que eu
faço?
— Você pode fazer o que quiser, desde que não entre nos lugares
restritos que ele informou. Mas fora isso, sinta-se em casa.
— Muito obrigada — agradeci e sorri.
Após isso, Lisa se retirou e voltei para dentro do quarto, ela foi bem
receptiva comigo. Olhei no relógio e ainda eram 08h da manhã, me
restavam algumas horas antes de Luca chegar. Então, decidi que iria ficar
pronta e depois desceria para conhecer mais a mansão. Fui até o banheiro,
tirei a camisola e passei pelo boxe, havia uma banheira também, tudo muito
maravilhoso. Ao ligar o chuveiro, senti a água quentinha cair no meu corpo,
a água do outro lado de Greville era quase gelada, por um lado me sentia
mal, eu aqui com todo esse conforto, e, minha família, embora estivesse
sendo amparada continuavam lá. Mas eu vou dar um jeito nisso, eu juro que
vou.
Tentei afastar os pensamentos e relaxar no banho, depois de alguns
minutos saí, coloquei a toalha enrolada no meu corpo e vi meu rosto ao
natural agora, mais jovial e os olhos bem nítidos. Luca iria gostar de mim
assim? Pensei. E logo me senti uma boba por estar pensando nisso. Afinal,
eu não estava interessada nele e muito menos ele por mim, por que diabos
eu precisava da validação dele? Fiquei irritada comigo mesma, e saí do
banheiro com a toalha enrolada no corpo, abri a sacola que Lisa havia me
entregado, dentro dela havia um conjunto de peças íntimas na cor vermelha,
e um vestido curto com fenda da mesma cor. Olhei pasma para aquilo, e
senti um pouco de vergonha, Luca teria escolhido os itens? Meu Deus...
Então, puxei um cartãozinho que estava junto do pacote e havia algo
escrito, comecei a ler:
Daya, providenciei essa roupa para você porque sei que veio
apenas com a do corpo. Por favor, espero que não fique
constrangida com a lingerie, e que não me interprete de uma
forma errada. Quero que se sinta bem e bonita. Te vejo às
11h.

L. Lancaster

Soltei uma risada ao ler o bilhete. Achei gentil da parte dele, fiquei
me perguntando até que ponto iria essa gentileza, Luca era legal, mas sei
que tinha um lado sombrio, e eu sinceramente espero não o conhecer.
Guardei o bilhete e coloquei a lingerie, depois o vestido e me olhei no
espelho, eu não sabia bem o que fazer com o meu cabelo estava bem
armado e um pouco úmido, então decidi deixá-lo assim mesmo até que
secasse.
Saí do quarto e comecei o meu tour pela mansão do viúvo
possivelmente mais cobiçado da cidade, andei pelos corredores e me
deparei com algumas portas trancadas. Eu era curiosa, mas iria ser discreta
dessa vez. Desci as escadas para ir até a cozinha e a área de lazer, e passei
pela sala, onde pude notar que havia um piano ali. Luca tocava? Ou seria
de sua falecida esposa? Aproximei-me do piano, e comecei a observar, Lisa
apareceu novamente e me viu ali, levei um susto e me afastei do piano.
Bom, de qualquer forma ele não havia falado nada sobre o piano, então eu
não estava fazendo nada de errado.
— Se assustou? — Lisa riu. — Calma, você sabe tocar piano?
— Não, mas adoraria. Ele toca? — indaguei.
— Como um verdadeiro lorde, é magnífico de ver, mas depois da
morte de Elisa, raramente ele toca. Normalmente ele tocava para ela, me
lembro de vê-la sentada no sofá, os dois se amavam tanto, aquela mulher
trouxe luz ao Luca, mas, infelizmente, alguns romances não são feitos para
ser.
— Me desculpa perguntar, não sei nem se tenho o direito de saber,
mas do que ela morreu? Era tão jovem...
— Foi um acidente... — Lisa disse breve. — Mas não diga ao Luca
que te falei sobre isso, ele não gosta de mencionar sobre a morte da esposa
e os detalhes. Ele nunca mais foi o mesmo, só trabalha agora, no fim das
contas vai ser bom tê-la aqui, espero que consiga entretê-lo...
Vai ser difícil.
— Eu também espero... farei o possível para que isso aconteça, ele
já está me ajudando tanto, só irei retribuir.
— Muito nobre da sua parte pensar assim. — Lisa sorriu. — Mas
bom, não quer conhecer as outras partes da casa?
— Claro! Vou continuar o meu tour pela mansão Lancaster.

DEPOIS DISSO, Lisa se retirou e voltou aos seus afazeres, e eu


continuei o meu tour para conhecer melhor a casa. Passei pela cozinha e era
surreal de linda e grande, havia uma mesa enorme com muitas cadeiras.
Fiquei me perguntando, para que tudo isso? Luca agora morava sozinho
aqui, qual era a necessidade de ter tanta coisa a seu dispor? Não seria
melhor ir para outro lugar? Algo menor? Me questionei, mas que seja, não
era minha conta. A cozinha era em tons escuros e tinha um design bem
clean e aconchegante, os móveis eram da mais alta qualidade, estavam
encerados e brilhavam como um vinil. Continuei caminhando e logo após a
cozinha, havia uma porta grande de correr, quando eu a abri me deparei
com uma enorme piscina e um jardim repleto de flores lilás.
E eu achei que o meu quarto era a coisa mais linda que eu iria ver,
mas não, aquilo superava minhas expectativas. A piscina estava com a água
bem clarinha e as flores estavam vivas, a grama bem aparada e tão verde
que qualquer vizinho ficaria com inveja. Lembrei-me dos meus pequenos
irmãos, como iriam adorar brincar em todo esse ambiente, eu gostaria de
fotografar isso para guardar de recordação e quando nos encontrássemos, se
é que isso iria acontecer de novo, eu contaria sobre todas essas coisas lindas
para eles.
O TEMPO PASSOU DEPRESSA, depois do tour na mansão fiquei
aguardando Luca, não sabia mais o que fazer. Então às 11h escutei o
barulho de buzina. Era ele. Lisa havia me sinalizado que ele havia chegado
e estava me esperando na frente da casa, então saí pela porta meio
desajeitada, e quando olhei lá estava ele, arregalei meus olhos e engoli em
seco. ELE ESTAVA LINDO, MUITO LINDO. Luca estava com um visual
menos formal, usava uma camiseta de mangas curtas na cor preta, que
realçavam seus músculos definidos, uma calça jeans e tênis, e também
estava de óculos escuros. Fiquei em choque quando o vi, ele sorriu
brevemente e se aproximou de mim.
— O vestido ficou bem em você, adotou um visual natural hoje? —
Ele riu.
Eu deveria levar como um elogio ou uma ofensa?
— É, aqui na mansão não achei cabeleireiros e maquiadores que me
deixassem uma princesa como ontem. — Arqueei uma sobrancelha. —
Espero não ter te assustado.
— E por que me assustaria? — indagou sério.
Ok, agora me deixou sem resposta. Por que ele se assustaria, Daya?
— Deixa para lá... posso saber para onde vai me levar? Ou perguntar
também é proibido?
— Iremos para um local que as mulheres costumam gostar. E depois
vou te levar para um dos lugares mais belos desse lado de Greville, você
merece e deve conhecer na sua estadia.
— Vamos nessa!
Luca e eu entramos em seu belíssimo carro preto, não fazia ideia de
que marca era aquela, mas com certeza custava quase o valor da mansão.
Seria um dia de aventura...
HOJE ERA UM DIA atípico para mim, a essa hora era para eu estar
trabalhando, no entanto, precisava fazer as honras para minha nova
hóspede, Daya precisava de roupas e sapatos para os próximos 30 dias, e eu
gostaria que ela escolhesse algo do seu agrado. Eu estava buscando ser o
mais gentil e caridoso possível, tentando dar a ela um conforto que
visivelmente nunca teve. Não vou mentir, estava começando a gostar um
pouco dessa experiência, mas ela não precisava saber disso. Eu era um
homem que apreciava muito minha solitude, ter alguém novo em meus dias
estava sendo diferente, porém ajudando a abrir minha mente para novos
horizontes.
Daya foi o caminho inteiro com a cabeça para fora da janela, ela
estava sorrindo e parecia contente. Estava bonita. Ela ficou mais bonita sem
maquiagem, deixava-a com uma aparência mais angelical e jovem. Percebi
que ela não puxou assunto comigo durante o trajeto, possivelmente, devido
às minhas exigências, ela estava buscando manter distância, isso era bom,
ela era esperta e entendeu a mensagem. Entretanto, confesso que senti um
pequeno incômodo, e ainda não tinha entendido o porquê.

O trajeto foi rápido devido à velocidade do carro, havia chegado à


loja Lapiê Boutique[5]. Sem dúvidas a melhor loja de vestuário feminino da
Greville, ok confesso que já comprei alguns vestidos para algumas
mulheres então meu nome era bem conhecido nessa loja. A fachada era
dourada com alguns detalhes cor de rosa, a loja era um verdadeiro
espetáculo.
Ao descermos do carro, Daya saiu meio desajeitada e tropeçando
nas sandálias. Soltei uma risadinha, não pude deixar de notar.
— Que foi? — Ela me encarou. — Em minha defesa eu usei tênis a
vida inteira, então não me olhe com essa cara.
— Que cara? — retruquei. — Em minha defesa eu nem estava
olhando para você.
Daya bufou e começou a subir os degraus indo em direção à entrada
da loja, eu fiz o mesmo e entramos. O cheiro desse ambiente era delicioso,
com aromas de lavanda. Assim que entramos, a dona do estabelecimento,
Lívia Pontí, nos recebeu com um enorme sorriso no rosto. Lívia era uma
mulher deslumbrante, era madura talvez uns cinco anos mais velha do que
eu, tinha cabelos loiros e olhos cor de mel, seu corpo era todo malhado e
tinha curvas belíssimas e generosas.
— Luca Lancaster, que prazer te receber aqui!
— O prazer é sempre meu, Lívia. — Eu abri um sorriso de canto.
Lívia me encarou atentamente e apertou os dentes nos lábios, ela
parecia bem animada ao me ver, na verdade, sempre tive a sensação de que
ela tinha um interesse por mim, mas tentava reprimir isso. Ao ver Daya ao
meu lado, ela a encarou da cabeça aos pés e parecia bem surpresa.
— Ora, ora. E vejo que trouxe uma convidada, você nunca trouxe
uma mulher para a loja.
Ok, aquilo estava começando a ficar constrangedor. Daya colocou a
mão na boca e se segurou para não dar risada, e então era hora de encerrar
aquele diálogo.
— Essa é Daya, Lívia, decidi participar da comunidade e ser um
Sugar CEO, fazendo caridade nesse período e irei ajudar essa jovem com
algumas coisas. Embora não seja da conta de ninguém quem eu trago nesta
loja, não é mesmo?
Lívia arregalou os olhos, e agora quem parecia constrangida era ela.
— Peço desculpas, senhor Lancaster, posso ajudá-los em alguma
coisa?
— Imagina, Lívia. Eu mesmo a levo — respondi friamente.
Após o fim da conversa, eu e Daya saímos dali, agora estávamos no
saguão da loja que tinha três andares gloriosos. Daya parecia estar se
divertindo com a situação, ela não parava de dar risada e aquilo estava
começando a me irritar.
— Mas o que foi? Por que está rindo?
— Por que eu estou rindo? — Daya disse boquiaberta. — Ela é
muito a fim de você, não percebeu?
— Lívia? Ah sim... — Respirei fundo. — Eu não estou interessado.
— E por que não? — indagou curiosa. — Ela é muito bonita, um
pouco mais velha, mas você não é tão novo então... seriam um belo casal.
Acho que ela ficou incomodada com minha presença...
Seriam um belo casal. Daya poderia dar aulas de como me irritar,
qual a parte ela ainda não havia entendido que eu não tinha interesse em
nenhuma mulher?
— Daya... Está me testando? Não estou entendendo onde você quer
chegar.
— Em lugar algum, calma. — Ela cessou a risada. — Bom, só foi
uma sugestão. Depois de Elisa você não saiu com nenhuma outra mulher?
Ela estava passando dos limites... fiquei em silêncio por alguns
instantes, e me veio um flashback da noite em que recebi a notícia que Elisa
havia morrido, de como me senti, e de como foram os meses após aquilo, o
quanto me fechei e me mantive naquele estado por anos. Não nego, fiquei
com algumas mulheres após Elisa morrer, mas foi apenas sexo, só para
satisfazer meus desejos e nada mais. Nenhum rastro de sentimento.
— Só relações sem sentimento, e assim irá permanecer. Eu nunca
vou esquecê-la. Quando amar alguém de verdade, vai entender o que estou
dizendo.
— É por isso... — Daya desviou o olhar e agora parecia triste. —
Que eu não quero amar ninguém. O amor destrói as coisas e as pessoas.
Minha mãe amou muito um homem, o meu pai, e ele a abandonou grávida...
ela foi abandonada grávida por dois homens que amou, no fim das contas
esse sentimento só a levou à ruína.
Senti a angústia nas palavras de Daya, eu não sabia bem o que
responder mas pelo visto, sua história era realmente muito sofrida. Agora
mais ainda eu gostaria de dar a ela nesses próximos dias boas experiências.
— Eu sinto muito, Daya, mas não estamos aqui para nos
lamentarmos de nossas histórias trágicas, sinta-se livre para escolher o que
quiser. Aproveite a loja!
Daya mudou de semblante e começou a caminhar pela loja,
namorando e contemplando cada vitrine exposta, não demorou muito para
ela começar a escolher as roupas que mais lhe agradavam e também os
sapatos. Depois de reunir um bolo de roupas na sacola, fomos até o
provador. Fiquei aguardando do lado de fora, e quando me dei conta, estava
vivendo algo que nem mesmo com Elisa havia me proposto a fazer. Nunca
fizemos compras juntos, geralmente eu a presenteava com muitos vestidos,
mas nunca cheguei a ir junto com ela em seu dia de compras.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho do meu
celular, olhei na tela e era Paige. O que ela queria? Pensei em não atender,
mas talvez, fosse importante.
— Paige Conner. Me ligando tão cedo, a que devo a honra?
— Ora, Luca. Eu vim parabenizar você. Afinal, agora somos quase
sócios. — Ela riu. — Quero saber como está Daya, gostou dela? E também
quero saber como foi a primeira noite, ela se comportou?
— Paige, Paige... — respondi em tom sarcástico. — Você sabe que
só estou nisso para ajudar essa moça, Daya foi bem tranquila e estamos
virando quase amigos.
— Amigos? — Paige gargalhou. — Você não tem amigos, Luca.
Faça-me o favor... agora, já que com essa garotinha não vai ter nada que
possa satisfazer um homem, acho que podemos relembrar os velhos tempos.
O que acha?
— Nem pensar...
— Ah, Luca... — Paige mudou o tom de voz. — Eu sei que você
quer amor, nós temos uma química deliciosa, você adorou minha selvageria.
A voz de Paige estava bem sedutora, quase como um gemido, aquilo
despertava os meus pensamentos mais sujos. Ao ouvi-la falar, lembrei-me
da nossa noite quente. Realmente, foi bom demais. Paige era um espetáculo
na cama, e sabia dar muito prazer a um homem, senti uma leve excitação,
mas eu sabia que no fundo com ela não era só sexo, Paige sentia algo a mais
por mim, e eu não podia oferecer isso a ela.
— Deixa para a próxima, Paige. Preciso desligar agora, tenha um
ótimo dia!
E a ligação foi encerrada.
Não dei nem tempo de Paige me responder, porque ela poderia
argumentar algo que eu não encontraria forças para resistir. Estava de
costas, guardei o celular no bolso e escutei em seguida a voz de Daya
dizendo:
— Ei... olha esse vestido, achei ele tão incrível que você deveria ver.
Quando me virei para ver, Daya havia saído do provador, fiquei
completamente paralisado. Ela estava com um vestido rosé de fenda, com
um corte delicado nas costas e um leve decote. Ela me olhou e abriu um
sorriso sincero, colocou as pequenas mãos na cintura e deu um leve giro.
Analisei aquela cena tão milimetricamente que conseguiria até escrever
sobre ela, todo aquele momento me fez até esquecer os pensamentos
sacanas que eu havia tido anteriormente. Daya percebeu que fiquei sem
reação e começou a ficar sem graça. Ela olhou para o espelho, e depois para
o vestido e disse.
— Luca? Achou ele feio? Você está até pálido...
E então interrompi aquele transe e abri um sorriso.
— É maravilhoso, ficou muito bem em você.
— Mesmo? — Daya duvidou. — Foi o meu favorito, com certeza
eu vou levar.
— Se quiser... — Eu cocei a nuca — ... já pode ir vestida com ele.
— Perfeito! Vou terminar minha troca de roupas e podemos ir, acho
que já peguei tudo que queria.
Uma mulher rápida e prática.
— Te espero aqui.
Daya voltou para o provador, e eu estava bem desconcertado com
tudo aquilo. Mas que diabos aconteceu comigo? Por que fiquei desse jeito e
por que tive essa reação tão idiota? Estava me sentindo meio bobo e
estúpido, e isso era um sentimento novo para mim.

Mas eu não queria sentir isso...


DEPOIS DAS COMPRAS, Luca disse que iria me levar para um
lugar incrível da boa Greville, que eu não poderia deixar de conhecer em
minha estadia aqui, eu confesso que estava bem ansiosa para isso. As
compras seriam entregues diretamente na mansão, e eu estava achando tudo
aquilo muito chique e fora da minha realidade. Quem diria, Daya. Quem
diria. Sendo levada para fazer compras. Ao chegarmos ao tal local,
realmente a propaganda fez jus a TUDO. Era um lindo restaurante de frente
para o mar. Sim, Greville possuía uma praia, porém o nosso lado não tinha
mais acesso, somente a Elite, eles de fato privatizaram tudo, nem mesmo o
mar se safou.
Olhei ao redor e havia mesas e cadeiras sofisticadas espalhadas por
toda a parte, arranjos de flores selecionadas, uma decoração moderna,
porém alguns traços remetiam à algo mais Vintage, havia uma banda ao
vivo que estava tocando uma música mais calma e com batidas tranquilas.
A brisa fresca bateu em meu rosto, até o ar daqui era diferente.
— É lindo demais... Você realmente não estava brincando — eu
disse, ao olhar para Luca.
— É um dos melhores lugares de Greville, adoro vim aqui para
almoçar. Aliás, vamos para a mesa?
Luca sinalizou para que eu fosse na frente, era um gesto cavalheiro
da parte dele. Confesso que havia gostado daquilo. Ele estava sendo tão
legal comigo, que por alguns momentos esquecia do seu pico de ignorância.
Fomos para uma mesa que ficava um pouco mais afastada, mas que nos
dava uma visão ampla e sublime da maresia. Havia mais pessoas ali
também, porém não estava lotado. Olhei cada rosto e não havia sinal de
pobreza e escassez. As pessoas eram belas, felizes e agiam naturalmente,
mesmo sabendo que do outro lado, as pessoas estavam morrendo de fome.
Busquei controlar minha raiva, não queria estragar o momento, mas era
difícil encenar que eu achava tudo o máximo, quando o resto do povo
estava em ruínas.
Eu e Luca nos sentamos, um de frente para o outro, e logo em
seguida veio um garçom nos entregar um cardápio. Até ele parecia estar
muito feliz.
— Senhor Lancaster, é sempre um prazer tê-lo aqui. E senhorita...
— Ele me encarou, buscando saber meu nome.
— Senhorita Ayamed — respondi.
— Senhorita Ayamed. Muito prazer! Irei servi-los essa tarde. Aqui
está o cardápio, podem escolher e em breve o pedido será entregue.
— Muito obrigado! — Luca agradeceu.
O garçom deixou em nossa mesa dois cardápios digitais, tudo seria
escolhido por ali e eles iriam receber o nosso pedido e mandar entregar na
mesa. Que modernidade. Eu pensei. Luca parecia animado escolhendo seu
prato, e eu estava faminta, mas aproveitei o momento para tirar uma dúvida
sobre algo que ficou em minha mente.
— Então como funciona aqui... — Respirei fundo para não me
exaltar. — O lance das classes, de onde saiu esse garçom, ele é um de
vocês?
— Está falando de nós como se fôssemos uma espécie diferente,
Daya. — Luca riu. — Ele era do outro lado da Greville, o subúrbio. Não
existe só a comunidade que você está participando, existem outros
programas para trazer as pessoas de lá para cá, as famosas “mão de obra”,
me desculpe o termo. Faça o seu pedido, por favor, eu já fiz o meu...
QUÊ? Meus olhos se arregalaram, e tive que aguardar alguns
minutos para responder, me distraí olhando no cardápio da tela. Eram
diversas opções, muito alimento e imaginei o volume de comida que era
desperdiçada, fiz o meu pedido e taquei com força o cardápio digital na
mesa.
— Ah, claro... vocês precisam da gente para manter todo esse luxo,
né? Para manter a elite funcionando. Então quer dizer que existem outras
comunidades? Ou seja, eu não precisava estar participando dessa e me
tornando uma prostituta?
— Calma, Daya! — Luca disse, me encarando. — Não é tão simples
quanto você imagina, para cada comunidade existe um representante, e
você precisa ser escolhido por um dos agentes dessa comunidade, não pode
simplesmente se candidatar...
E a coisa estava ficando cada vez pior. Busquei me conter, e agir
mais calmamente, Luca estava me revelando informações preciosas, e eu
precisava aproveitar esse momento.
— Então quer dizer que o garçom possivelmente foi recrutado por
um agente que era da comunidade de garçons, é isso? E assim
consecutivamente...
— É basicamente isso.
— Mas como essa seleção funciona, eles simplesmente escolhem
pessoas aleatoriamente? Por que eu fui escolhida?
Luca mudou a expressão, agora ele estava mais sério e parecia estar
irritado.
— Eu não tenho todas as respostas, Daya — falou em tom alto. —
Sei que vocês são observados, essa que você entrou, por exemplo, vai
mandando espiões para achar as garotas jovens e bonitas. Existem vários
tipos de setores, garçons, empregados, faxineiros, pedreiros, é muito
variável. Olha se te deixar aliviada, não concordo muito com esse sistema,
não é à toa que decidi participar esse ano da comunidade para ajudar, e você
acabou dando a sorte de ser escolhida para mim.
Acabou dando a sorte. Eu não tive escolha, Luca. Ou é isso, ou
minha mãe morreria. Mas você não precisa saber.
— É muito injusto, isso não está certo... como consegue ficar bem
sabendo de tudo isso? Você tem tanto dinheiro... poderia ajudar mais
pessoas.
— A vida é injusta, Daya. Isso faz parte, existe sempre alguém
ganhando e alguém perdendo. Todos os dias pessoas são injustiçadas e tem
algo tirado de si. Não estrague o momento, gostaria de poder ajudar a todos,
mas no momento eu posso ajudar você, isso não basta?
Não. Não basta. Respirei fundo, nossos pratos chegaram e o garçom
silenciosamente colocou a refeição na nossa mesa. Ele parecia feliz, me
olhou com um sorriso no rosto, mas eu só conseguia sentir tristeza. Assim
como eu, possivelmente, estava aqui por mera sobrevivência.
— Acho que me exaltei... — eu disse. — Desculpe, você não tem
culpa de toda essa merda.
— Sem problemas. — Luca esboçou um sorriso. — Ao menos você
não me fez perguntas pessoais.
— Ah, mas não seja por isso, Luca Lancaster. Quer quebrar todo
esse gelo do momento? Me fale pelo menos um pouco sobre você, estou
almoçando com um milionário muito conhecido na cidade pelo que percebi,
mas não sei quase nada sobre ele. Como de fato é sua vida? O que você faz
nas horas vagas?
Eu fazia perguntas pessoais ao Luca para provocá-lo mesmo, ele era
fechado, mas sentia que só precisava de um estímulo para se abrir. Porém,
era intimidador, poucas pessoas tinham coragem de fazer isso com ele. E
eu? Não tinha nada a perder mesmo. Comecei a comer meu delicioso ravióli
enquanto aguardava ansiosamente que ele me respondesse, Luca parecia
bem pensativo, possivelmente estava vendo se respondia ou não. Mas no
final, não resistiu.
— Não tenho muito o que dizer sobre minha vida, ela não é muito
agitada. Meus pais faleceram, e tive que assumir o comando da empresa.
Como sabe, sou viúvo e hoje vivo pelo legado Lancaster.
Luca é órfão. As crianças órfãs do subúrbio costumavam ter esse
mesmo olhar de tristeza que ele tinha.
— E você não sai? Não tem amigos? — insisti.
— Estou aqui com você agora, não estou? — ele brincou. — Eu
tenho um amigo chamado Max, somos amigos desde a infância, porém Max
é um mulherengo, e ele não muda, os anos passam e ele só quer saber de
mulher e farra. Confesso que já o acompanhei nessa vida por um tempo,
mas depois de Elisa não faço mais isso. Então, fica meio complicado,
porque nossos propósitos não batem.
Por um instante tentei imaginar o Luca mulherengo, saindo por aí,
ficando com várias mulheres e vivendo a vida embriagado. Era bem difícil
imaginá-lo nessa situação, as respostas de Luca me deixaram meio
encurralada, confesso que alguns minutos atrás, eu senti raiva só de olhar
para ele, porque fiquei imaginando que era um homem que teve uma vida
de privilégios e não sabia o que era sofrer de verdade. No entanto, toda essa
riqueza não comprava uma coisa, alegria e felicidade. E Luca, era
visivelmente um homem triste, e talvez até vazio.
— Tem coisas que o dinheiro não compra, né? Eu sinto sua
tristeza... — Encarei-o.
— Eu não sou triste. Só sou um homem fechado. Mas chega de
perguntas, Daya, eu quero comer meu almoço sem ser incomodado agora,
por gentileza.
— Ok, ok. — Eu sorri. — Iremos comer em silêncio.
Quando eu ia me preparar para dar mais uma garfada, fomos
surpreendidos pelo garçom, parou em frente à nossa mesa, eu e Luca
olhamos para ele com um olhar de desentendido. O que estava
acontecendo?
— Senhores, desculpe interromper o almoço de vocês, mas tenho
um recado para senhorita...
O garçom me encarou, e Luca agora parecia ter ficado ainda mais
chocado com a situação, ele arqueou uma sobrancelha e largou o garfo na
mesa.
— Desculpe, mas não estou entendendo. Você não percebeu que
estamos almoçando? Peço que se retire por favor.
— DEIXE-O FALAR... — eu disse em voz alta. — Qual recado
seria?
— Um gentil cavalheiro gostaria de lhe enviar um mimo, ele achou
você muito bonita e diferente.
Arregalei meus olhos e estava desacreditada com aquilo, quem seria
esse homem? Será que o garçom estava na mesa certa mesmo? Digo, tantas
mulheres lindas ao redor e ele gostou de mim? Luca bateu a mão na mesa e
seu rosto ficou vermelho, ele não parecia nada contente, e antes mesmo que
eu pudesse responder, ele falou com a voz bem grossa e bem irritado:
— Agora você está sendo desrespeitoso. Não está vendo que ela está
acompanhada? Você vem à minha mesa, dar um recado de outro homem
para uma mulher que está comigo? É uma tremenda petulância!
O garçom permaneceu parado em nossa frente, e firme em seu
posicionamento.
— Me desculpa, senhor, é que o homem que me pediu para dar esse
recado é um dos donos do restaurante então... eu sou apenas um empregado,
não podia negar um pedido dele. Acredite, está sendo bem constrangedor
para mim ter que fazer isso.
Antes que Luca falasse mais alguma grosseria, eu me intrometi. O
pobre do garçom não tinha culpa. Lembrei-me dos tempos em que eu
trabalhava na fábrica, e quantos sapos tive que engolir do meu chefe.
— Agradeça-o por favor, mas eu recuso o mimo. Acho que já tenho
mimos demais à minha disposição. — Encarei Luca — Não é, Luca?
— É claro — Luca resmungou.
— Bom, peço desculpas mais uma vez. Com licença senhorita e
senhor Luca, não irei mais incomodá-los.
— ASSIM ESPERO — Luca retorquiu com os olhos cerrados.
Depois que o garçom se retirou, eu estava bem brava com o
comportamento de Luca, ele foi muito grosso com o homem, e eu não
gostava disso. E fiquei me perguntando, por que ele ficou tão irritado? Eu
não era nada dele.
— Você foi muito grosseiro, ele não tinha culpa, só estava
trabalhando. Nem todos são herdeiros como você, Luca. E além do mais...
eu não sou sua namorada.
Luca engoliu em seco, seu ego estava muito ferido. Eu sabia.
Confesso que fiquei com vontade de dar uma risada, eu não sei por que,
mas achava hilário vê-lo irritado, acho que é porque sua pose de homem
sério se esvaía em segundos.
— Não é sobre isso, Daya... você não entenderia, é como um código
masculino, sabe? Uma questão de respeito que nós homens procuramos ter,
se estou acompanhado por uma mulher. Seja ela quem for, isso não dá o
direito de um homem chegar em você.
— E quem disse que não? Não sou sua propriedade...
Agora quem estava irritada sou eu, com todo esse papo machista e
de ego masculino.
— Tecnicamente... — Luca soltou uma risada debochada. — Você é
sim. — E logo corrigiu: — ESTOU BRINCANDO! Ok, isso foi uma
brincadeira. Não fique zangada. Eu quis dizer que o achei desrespeitoso, e
se você fosse minha namorada? Ele se acha no direito de fazer isso por ser o
dono, sabe o que eu vou fazer? Eu vou comprar esse lugar, e ele nunca mais
fará isso com mulher nenhuma.
Ok, agora ele foi bem extremista. Fiquei analisando a reação de
Luca, e por um breve segundo imaginei que ele pudesse ter sentido uma
pontada de ciúmes. Mas, aí voltei à realidade, por que ele sentiria ciúmes
de mim? Não tínhamos nada. Ele não tinha motivos para isso. Talvez,
realmente fosse da personalidade dele. Parecia ser um homem controlador e
egocêntrico, pessoas com o ego inflado nunca gostavam de se sentir
humilhadas ou por baixo em uma situação.
— Bom, que seja... para massagear seu ego, eu não aceitei o mimo
então está tudo certo. Você não precisa se sentir tão humilhado.
— Ah, mas isso não acabou. — Luca desviou o olhar. — Ele está
olhando para você, ele não se enxerga? Ele é muito velho para você.
— ESTÁ? Onde?
— É aquele cara de terno branco, o garçom está falando com ele, ele
não para de olhar para cá, aposto que vai tentar mais alguma coisa, isso não
vai ficar assim.
Acompanhei o olhar de Luca e comecei a olhar na direção que ele
estava olhando, avistei o tal dono do restaurante que estava interessado em
mim. Ainda não era grisalho, mas parecia ter quarenta e poucos anos e ser
um homem bem maduro. Muito mais do que Luca, que ficava bem jovem
ao lado dele. Era elegante e tinha cabelos escuros bem penteados e uma
barba bem-feita, seus olhos eram castanhos e ele tinha feições rudes e
parecia ser um cara muito ousado e malicioso. Definitivamente não ficaria
com ele. Na verdade, acho que nunca parei para pensar se eu tinha um tipo
de homem, afinal, não tive quase nenhuma experiência, mas se eu tivesse,
com certeza não seria ele.
— Hum... esquece sem chance. — Eu dei uma risada. — Ele é
estranho.
— Concordo plenamente com você, estranho e merece uma lição...
— Luca agarrou minhas mãos e me levantou da mesa. — Venha comigo!
— O que está fazendo? — perguntei surpreendida.
Luca agarrou minhas mãos com delicadeza e me tirou da mesa, em
poucos instantes estávamos na pista de dança do restaurante que não ficava
muito longe das mesas. A banda que estava tocando música ao vivo mudou
o reportório, outra música de fundo começou a tocar que remetia notas de
teclado e violão, muito bonito e romântico, parecia uma trilha sonora de um
belo filme. Eu permanecia sem entender toda aquela situação, mas Luca já
tinha muito bem planejado em sua mente.
— Dance comigo essa música?
— E eu tenho outra opção? Tecnicamente sou sua por contrato —
brinquei. — Eu não sei dançar, Luca.
— É só seguir meus passos, vou te levando.
Minhas bochechas começaram a queimar, e eu fiquei um pouco
envergonhada. Luca colocou minhas mãos em seus ombros largos, e apoiou
as dele em minha cintura. Senti o calor dos nossos corpos, mas gostei
daquela sensação. Eu não sabia bem se olhava para ele, ou se desviava para
outro lugar, era algo novo e eu não sabia bem como reagir. Luca ficou me
encarando com um sorrisinho de lado, seus olhos eram tão bonitos e
estavam brilhando.
— Agora descobri mais uma coisa sobre você, também sabe
dançar...
— Como assim, também? — disse Luca, e em seguida rodopiou
meu corpo com leveza.
— Você também toca piano, e um certo alguém me disse que toca
lindamente.
— Isso é passado, eu não toco mais. Quer dizer, nunca mais toquei.
Percebi que aquele assunto o incomodava, mas ao mesmo tempo
senti que precisava pressioná-lo mais um pouco, ele iria se abrir.
Continuamos em passos lentos, eu seguia seus passos, mas no fim das
contas ele estava me guiando completamente. Eu não era muito boa na
dança, mas ele parecia estar tão familiarizado com aquilo, como se já
tivesse feito várias vezes. Será que ele e Elisa dançavam muito?
— Por quê? Sei que é um homem marcado pela dor, mas não deve se
privar de alguns prazeres. Você ainda pode e merece ser feliz, Luca. Se
gosta tanto de tocar, deve voltar a tocar não com a sensação de que vai ter
más lembranças, mas porque sua alma pede um pouco de música. Você está
dançando agora, há quanto tempo não faz isso?
Luca escutou bem minhas palavras, e por um momento aquilo
parecia ter lhe tocado, mas não demorou muito para que ele se fechasse
novamente.
— Ah, Daya... Eu só te chamei para dançar com um único
propósito, mostrar para ele, que não pode ter tudo. Ele se acha competitivo,
mas eu sou mais.

Senti um balde de água fria, e olhei para trás, ele realmente estava
olhando para nós com uma cara de desapontado. Luca só estava marcando
território. Que babaca!
— Está satisfeito então? Como você foi infantil agora, nem parece
um homem de trinta e um anos. — perguntei zangada e me afastei. — A
comida já esfriou, e eu não gostaria mais de ficar aqui, você poderia me
levar para casa? Não quero fazer parte de uma guerrinha masculina para
marcar território, não me trate como uma mercadoria, você disse que não
iria fazer isso. Se quer me ajudar, comece me tratando como uma mulher e
me respeite.
— Daya, eu... — Luca engoliu em seco. — Estou perplexo! O que
deu em você?
— Nada que você precisa saber, podemos ir embora?
— Claro, vou pagar a conta e podemos ir.
— Ótimo — concordei por último e cruzei os braços.
Por um segundo achei que Luca e eu estávamos tendo um momento
tranquilo, e que ele estava se abrindo comigo e mostrando um pouco de
confiança. Se iríamos ser bons amigos durante os próximos 30 dias, isso
seria bem importante. Afinal, só teríamos um ao outro.
Mas Luca estava vazio demais para isso. E se ele fosse um caso sem
solução?
JÁ ERA NOITE, e eu estava sozinho em meu escritório sentado na
cadeira, girando de um lado para o outro, enquanto pensava em muitas
coisas. Daya ainda estava muito brava, ela não quis conversar comigo o
resto da tarde depois que chegamos, eu não insisti, decidi dar a ela o tempo
que precisava. Essa tarde foi diferente e estranha, em minha cabeça passava
muitas informações, Daya era mais nova que eu, mas parecia ter uma
sabedoria que nos meus trinta e um anos eu não havia conquistado. Por
incrível que pareça conversar com ela me fez bem, comecei a refletir em
alguns pontos. Eu havia me tornado um homem triste e solitário. Sim, era
difícil admitir.
Depois da morte de Elisa, eu acabei desistindo um pouco da vida, só
ficava trabalhando e não fazia mais nada para mim, para me sentir vivo, era
uma monotonia cansativa que eu acabei nem percebendo que havia se
tornado um hábito. Comecei a lembrar dos tempos que saía com Max,
apesar da loucura, nós nos divertíamos demais, e às vezes era bom chegar
trocando as pernas em casa. Lembrei-me do piano, de como era bom tocar e
eu fazia isso antes mesmo de conhecer Elisa, meu pai me ensinou desde
pequeno. Lembrei também, como eu era mais leve antes, mais feliz e me
entreguei de corpo e alma ao luto e não conseguia mais sair disso.
Fiquei me sentindo mal ao ter que assumir isso, eu era orgulhoso e
para um homem assim era quase uma tortura. Fiquei pensando também, eu
não transo há meses. A última mulher que estive foi Paige, e depois acabei
me fechando de novo. Realmente, a situação estava crítica para mim, todo
meu dinheiro e conforto não comprava as coisas básicas. A profunda
alegria de viver. Pensei mais um pouco e cheguei à conclusão de que eu
devia um pedido de desculpas sincero para Daya, eu não queria tê-la feito
se sentir uma mercadoria ou parte de um jogo de ego. Ela me ajudou muito
essa tarde, e eu queria retribuir de alguma forma.
Deixei os devaneios de lado, e saí do escritório em direção ao quarto
dela, eram 21h possivelmente ainda estava acordada. Eu espero que sim.
Fiquei na torcida, e ao chegar em frente, respirei fundo e guardei meu
orgulho no bolso e bati a primeira vez. Ninguém me atendeu, depois bati a
segunda. E então, ela apareceu. Estava usando um roupão branco e os
cabelos estavam presos em um coque. Ela parecia zangada.
— Você? Ah, não... eu não quero conversar.
Daya estava prestes a bater a porta na minha cara, mas eu segurei e
impedi.
— ESPERA! Não faça isso, vim em missão de paz, me escuta,
Daya...
Senti-me ridículo fazendo isso, eu estava na minha casa, e me
sujeitando a uma situação daquela.
— O que você quer? — perguntou com os braços cruzados e
semblante sério.
— Eu vim pedir desculpas para você, acho que fui um pouco
babaca.
— Um pouco? — Daya riu ironicamente. — Você foi MUITO
babaca.
— Sim, eu sei. Não queria ter feito você se sentir daquela forma, eu
não quis te tratar como um objeto, sei que está magoada, mas também quero
te agradecer pelas palavras, você me ajudou a refletir sobre muitas coisas,
sobre a minha vida, e eu vi o quanto eu preciso mudar, estou me
afundando...
Foi bem difícil dizer aquelas palavras, e eu estava dando quase
meia-volta. Mas, quando vi que Daya abriu um pequeno sorriso e parecia
menos armada para ter uma conversa, fiquei esperançoso.
— Eu realmente não esperava por isso, principalmente vindo de
você. Mas não sou rancorosa, Luca. Você está desculpado, acho que seu ego
pode dormir feliz agora.
Ela ainda não acreditava completamente nas minhas palavras.
— E gostaria de te fazer um convite... você me inspirou a tocar de
novo, e quero que assista.
— Isso é sério? — questionou com os olhos arregalados.
— Seríssimo! Vem comigo?
— Claro!
Daya e eu fomos até a sala, e aquele momento seria inédito para
mim, desde o dia em que soube da morte de Elisa, eu nem sequer toquei no
piano. Em certos dias eu vinha aqui e observava, contudo, não tinha
coragem e nem prazer de tocar. Mas hoje me senti inspirado e com um
desejo forte de tocar. Ao chegarmos à sala, Daya ainda me olhava um pouco
desconfiada, mas estava mais tranquila agora, cheguei perto do piano e me
sentei no banco, milhares de lembranças vieram à minha mente, era
inevitável não lembrar.
— Como se sente? — Daya perguntou.
— Nostálgico — respondi tocando em algumas teclas, ecoando um
som. — Você quer se sentar ao meu lado?
— Eu posso? — Ela riu. Ela tinha um sorriso tão bonito, deveria
sorrir sempre.
— Deve. Ou se quiser ficar em pé assistindo, fique à vontade
também. Gosta de música clássica?
— Luca... — Daya respirou fundo. — Esqueceu que sou uma garota
do subúrbio? Não temos acesso a muitas coisas. Eu mal conseguia comer,
quem dirá ouvir músicas clássicas e refinadas.
Que bola fora a minha, como sempre.
— Desculpe...
— Relaxa... O que você vai tocar?
— A minha música favorita, eu que fiz. Foi a primeira música, eu
ainda era um garoto, mas nunca esqueci dela.
— Estou prontinha para ouvir. — Ela sorriu animada.
Depois disso, ajeitei minha postura no banco e meus dedos tocavam
as teclas do piano com maestria, achei que estava enferrujado, mas eu ainda
conseguia tocar modestamente muito bem. Concentrei-me e a música que
eu havia feito quando era criança estava fluindo em minha mente, e sendo
reproduzida em cada nota, eu não conseguia ver muito bem o rosto de
Daya, mas sabia que ela estava sorrindo e gostando do som. Ficamos ali
naquele momento, e eu me sentia à vontade com ela. Eu deixava poucas
pessoas se aproximarem de mim, da minha vida e intimidade, mas Daya era
diferente, ela conseguia fazer eu me sentir à vontade.
Era o começo de uma grande amizade...
MAIS UM DIA NA MANSÃO Lancaster, e eu estava começando a
me acostumar com o ambiente e com aquela experiência. Era manhã, e eu
estava na mesa tomando um delicioso café que tinham preparado. Muita
fartura, pãezinhos, frutas, geleias e sucos deliciosos estavam ao meu dispor.
Eu iria acabar engordando durante esse tempo, porque estava comendo tudo
que nunca tive chance de comer no subúrbio. Meus pensamentos estavam
bem distantes hoje, comecei a lembrar de ontem, da ida inesperada de Luca
ao meu quarto. Quando o vi parado na minha porta, não acreditei, e ainda
mais me pedindo desculpa. Eu não queria admitir, mas fiquei feliz por ter
conseguido ajudá-lo de alguma forma, eu senti, ele só precisava se sentir
confortável e se abrir um pouco, ele guardava muitas coisas e sofria
sozinho. Fiquei pasma, nos conhecíamos há alguns dias e já consegui fazer
uma leitura completa dele.
Lembrei-me da música que ele tocou no piano, como era linda e
sublime, parecia um som dos anjos, tão sensível e intenso. Fiquei com
aquela música em minha cabeça, e me lembrei de sua postura e
concentração, fiquei hipnotizada ao vê-lo ali, tocando lindamente. Eu não
deveria pensar nele assim, com tanto apreço e até um certo desejo. Mas eu
estava pensando. Merda.
— Eu o escutei tocar ontem... — Lisa disse, entrando na cozinha e
se aproximando da mesa do café. — Bom dia, Daya.
Quase engasguei com o suco, Lisa apareceu de surpresa e parecia
que ela estava espiando meus pensamentos, como se soubesse exatamente o
que estava passando pela minha cabeça.
— Ele estava inspirado. — Sorri. — Ainda bem, né? Realmente
você tinha razão, ele toca como um lorde.
— E aposto que você tem influência nisso, estou muito feliz. Eu vi
hoje no semblante dele que está mais alegre com sua chegada, está mudado.
E ele gosta de você, eu só o vi assim com uma mulher... Elisa.
Não brinca.
— Estamos buscando ser amigos, Lisa. E nada mais. Eu e Luca
somos muito diferentes, e eu nem sou o tipo de mulher que ele gosta, e ele
disse que não tinha interesse em mim, desde o primeiro dia. Olhe para
Elisa, e olhe para mim, acha que estou à altura?
Lisa se aproximou de mim, e em seu olhar vi um traço de
maternidade e sabedoria, ela me encarou e com o tom de voz bem calmo
disse:
— Nunca mais diga isso, Daya. Você é linda e preciosa, o amor de
verdade não escolhe cor nem traços, ele é um sentimento puro e verdadeiro
que é ligado pelas energias. Você e Luca se conectam de uma forma tão
bonita, que nem percebem. — Lisa riu.
— Ah, Lisa, você é um amor. Obrigada pelas palavras, mas somos
apenas bons amigos. Eu nem o vejo com outros olhos. Mas agora mudando
de assunto, você tem um telefone para me emprestar? Gostaria de fazer uma
ligação...
— Isso é o que vamos ver. — Lisa soltou uma risadinha. — Claro,
pode pegar o meu, vou sair para te dar privacidade, até mais, Daya!
— Até — disse sorrindo.
Lisa se retirou, e eu estava sozinha novamente. Ainda bem. O
celular dela era bem simples, e pelo que percebi era feito somente para
ligações. Eu tinha o telefone de casa memorizado, e eu iria ligar para lá.
Queria notícia da minha mãe e dos meus irmãos, estava com saudades
deles. Disquei o número e aguardei.
— Alô!
Era a voz da minha mãe. Meus olhos se encheram de lágrimas e eu
senti um aperto no coração.
— Mãe?
— DAYA? — respondeu minha mãe emocionada. — Daya, minha
filha, é você mesmo? Você não mandou mais notícias, penso em vocês
todos os dias como você está? Como é o seu novo trabalho?
— Como eu estou não importa. Quero saber de você, como vai?
Vocês estão sendo bem cuidados?
— Mas é claro que sim. Estou cada dia mais saudável, seus irmãos
ganharam presentes e estamos vivendo uma vida no subúrbio como nunca
antes. Obrigada, minha filha, sem os seus esforços isso não seria possível.
Esse telefone é seu? Posso te ligar todos os dias?
Quando eu ia responder, ocorreu uma interferência na ligação como
se alguém estivesse falando algo com minha mãe de fundo, eu não consegui
entender muito bem o que estava acontecendo. Contudo, logo em seguida,
outra pessoa entrou na ligação, não reconheci a voz, mas não era minha
mãe.
— Daya?
Era uma voz feminina. Mas eu não conhecia.
— Sim? Cadê minha mãe?
— Eu sou a babá das crianças, Daya, me chamo Melissa, como vai?
Percebi que sua mãe estava falando com você, e preciso pedir com gentileza
que não faça isso de novo. Sua mãe não pode passar fortes emoções e ficar
conversando com você a deixa ansiosa, sabe? E sem contar, que prejudica
também as crianças, eles perguntam sempre de você, sofrem e sentem
saudades, são tão pequenos, não quer que seus irmãos desenvolvam uma
depressão logo cedo, né?
— É claro que não... eu só estava com saudades, e queria saber
como eles estavam.
— Eu sei, eu entendo. Esse processo de ficar longe de quem
amamos é difícil mesmo, mas peço sua compreensão, vou ter que reportar a
Ana e ela dará as instruções para você, por favor, não ligue de novo.
Eu gelei na hora, quando ela tocou o nome de Ana, pensei que isso
poderia ser algo bem negativo para mim, Ana estava com a faca e o queijo
na mão se ela quisesse me cortar da comunidade, minha família toda
perderia os benefícios que estavam recebendo. E eu voltaria à ruína.
— Melissa, por favor, não conte nada a Ana. Eu não vou ligar
novamente, você tem minha palavra, só não conte para ela.
— Tudo bem, Daya. Temos um acordo então? Se acontecer de novo,
vou ser obrigada a contar.
— Temos um acordo. — Eu engoli em seco.
— Então está certo. Fique bem, Daya! E boa sorte.
E a ligação foi encerrada.
Lágrimas escorreram do meu rosto, e eu me senti profundamente
triste após aquela ligação. Era para eu me sentir melhor e aliviada, mas só
me trouxe dor. Agora as coisas iriam ficar ainda mais complicadas, eu não
podia mais ter nenhum contato com minha família, e, possivelmente, nunca
mais iria saber deles. Pensei em Luca, e se deveria contar algo para ele,
pedir ajuda, mas talvez fosse melhor não, ainda não confiava
completamente nele, na verdade, não conseguia confiar em ninguém do
lado da Elite de Greville.
Por ora, a melhor opção era sofrer em silêncio...
APÓS ALGUNS DIAS, Daya estava muito quieta e introspectiva, e
trocou poucas palavras comigo. Resolvi dar esse espaço para ela, afinal, não
gostava que invadissem meu espaço, e também não queria invadir o dela.
Em compensação, eu estava muito bem ultimamente, me sentindo muito
renovado e cheio de vida, estava de bom humor, o que era difícil acontecer,
todos na empresa perceberam, principalmente, minha secretária. Sentia-me
tão bem que decidi fazer algo que não fazia há tempos, chamei o meu velho
melhor amigo para almoçar. Max Thepell, Max e eu sempre trocávamos
algumas mensagens ao decorrer dos dias, mas fazia tempo que não nos
encontrávamos pessoalmente. Max era um cara de bom porte, tínhamos a
mesma altura, porém ele era mais magro. Tinha cabelos loiros espetados,
um estilo meio deslocado não tão formal e nem tão simples. Sua barba era
da mesma cor que o cabelo, e os olhos eram verdes claros. As mulheres o
achavam bonito. Fomos até um restaurante tranquilo, que ficava próximo
ao prédio da minha empresa. E estava sentado à mesa, em uma tarde
ensolarada tomando um delicioso vinho branco, e comendo alguns canapés
para começar.
— Ah, Luca. Confesso que ainda estou surpreso com seu convite, o
que aconteceu, hein? Você está bem diferente.
— Não posso chamar o meu velho amigo para almoçar? Qual é,
Max. Lembra dos nossos velhos tempos? A época da bebedeira, das
mulheres...
— É claro que lembro. — Max gargalhou. — Éramos dois soldados
fortes em combate, mas aí você foi arrebatado pela deusa ruiva da Elisa.
ELE TINHA QUE FALAR DELA. O sorriso e animação no meu rosto
se foi, era um péssimo momento para tocar no nome dela.
— Deixa a Elisa fora disso, acredite, eu não me arrependo de ter
saído dessa vida vazia que você leva para viver com a única mulher que eu
amei, foi a melhor decisão que fiz.
— Ok, ok, Romeu — Max disse ironicamente, mas logo se
arrependeu. — Desculpe tocar no nome dela, você sabe eu sou meio idiota.
Mas agora falando sério, por que me chamou? A gente não se vê há anos, a
última vez que te vi foi na capa de uma revista sobre o império Lancaster.
Era difícil ter que confessar para Max o real motivo de ter lhe
chamado, sentia falta da sua amizade. No fim das contas, Max era o único
amigo que eu tinha. E eu estava cansado da minha rotina monótona.
— Digamos que eu cansei um pouco de estar do jeito que estou, e
estava querendo me divertir.
Max olhou para minha cara e começou a gargalhar.
— Cara, você está transando? Porque parece que você envelheceu
uns dez anos, até o jeito que você está falando meio engessado, cadê o
garanhão de Greville? A propósito, fiquei sabendo que esse ano você está
participando da comunidade que a maluca da Paige representa. — Max
parou e bateu a língua no céu da boca para falar. — Vai me dizer agora que
você é um Sugar CEO?
— Sim... estou participando esse ano para ajudar.
— AJUDAR? — Max riu novamente. — Cara, você tem uma
prostitua particular, mas pelo jeito ela não está dando conta de você.
Senti uma pontada de irritação dentro de mim quando Max disse
prostituta particular, aquilo não me agradou, fiquei imaginando Daya neste
exato momento ouvindo essa colocação, e se sentindo um lixo. E no fim das
contas, ela não era uma prostituta.
— Max... Você não consegue ser menos idiota? Eu não sei como as
mulheres conseguem gostar de você. Não é nada disso que está pensando,
decidi que esse ano faria um gesto de caridade, essa moça que está comigo
eu e ela não temos nada. Absolutamente nada.
Max arregalou os olhos, e eu nunca o vi tão surpreso em minha vida.
Tudo na vida dele girava em torno da sexualidade, então, era de se entender
o espanto.
— Quer dizer que você está com uma novinha gostosa dentro de
casa e não pode fazer nada com ela? Tipo nada? Nem um beijo? E que
história é essa de caridade, Luca? Você nunca foi caridoso...
— É exatamente isso. Eu e ela somos apenas amigos, não acontece
nada. Estou ajudando essa moça, tem noção de como as pessoas no
subúrbio vivem, ela é uma garota sofrida que merece pelo menos uma vez
na vida ser cuidada.
— E você é o Sugar Daddy dela, né? Ou melhor, o Sugar CEO? —
Max debochou. — Olha, eu estou pasmo, Luca! Essa é a história mais louca
que eu estou ouvindo. Realmente você está mudado. Mudado até demais...
você ainda gosta de mulheres?
Agora ele estava me ofendendo.
— Me dê um motivo para não socar sua cara agora, desgraçado... —
eu disse fechando o punho.
— CALMA, CALMA... — Max levantou as mãos. — Eu estou
brincando, Luca. Não quero apanhar de um cara do seu tamanho.
Brincadeiras à parte, acho que já entendi onde você quer chegar, está
desesperado por sexo porque sua garota de luxo é na verdade intocável. E
por isso você me chamou, você quer uma noitada de diversão, igual nos
velhos tempos... já te saquei.
Não era bem isso. Mas era. Eu não teria colocado com essas
palavras, mas Max estava certo, eu realmente queria tudo isso.
— É exatamente isso — concordei.
— Era isso que eu queria ouvir, tem noção de quanto tempo esperei
por isso? Luquinha, Luquinha, prepare-se, essa noite vamos curtir muito.
Comecei a pensar se seria realmente uma boa ideia sair com Max,
mas foda-se eu queria um pouco de liberdade, e ele era a pessoa certa.
Que a diversão comece...

JÁ ERA NOITE, depois do almoço com Max voltei à empresa para


deixar as coisas em dia, e comprei uma roupa para usar. Afinal, eu não
podia ir tão formal para balada. Estava com uma calça preta e camisa cinza,
coloquei tênis hoje, deixei o cabelo meio bagunçado e fiz a barba. Ao me
olhar no espelho, eu parecia bem mais jovem, algo havia mudado até no
meu semblante. Antes de ir para a noite dos garotos, decidi passar em casa e
deixar algo com Daya, e também propor algo a ela. É claro que eu não iria
chamá-la para ir comigo, mas também não era justo deixá-la aqui sozinha
na mansão. Em minhas mãos segurava uma sacola com o logotipo de uma
loja de eletroeletrônicos, tinha um presente para ela que seria muito útil.
Assim que cheguei, abri a porta e lá estava ela perambulando pela
sala, quando ela me viu, notei que parecia surpreendida e até deslumbrada.
Não era de se estranhar, eu estava diferente. Até eu não estava me
reconhecendo.
— Nossa... Quem é você e o que fez com Luca Lancaster? —
perguntou brincando.
— Vou encarar essa brincadeira como um elogio. Não vou estender
muito nosso diálogo, eu estou de saída, na verdade, não volto hoje.
Daya parecia sem expressão, senti que ela queria perguntar algo,
mas estava meio intimidada, então eu mesmo decidi falar. Embora não fosse
da conta dela minha vida pessoal.
— Eu vou sair com Max, Daya. Sei que está curiosa para saber,
decidi ouvir seu conselho sobre sair um pouco, me divertir, você está se
saindo melhor que minha psicóloga.
— Que legal, Luca! — Daya sorriu. — Então, te desejo uma ótima
noite, divirta-se.
Ela não parecia muito feliz hoje. Notei os olhos de Daya e pareciam
tristes, e também bem distantes.
— Aconteceu algo?
— Não aconteceu nada, Luca. Está tudo bem, acho melhor você ir, a
noite é uma criança.
— É... — Respirei fundo. — Realmente. Mas antes, quero te dizer
que se sentir vontade, você também pode sair essa noite. Se divirta um
pouco também, conheça os bares da cidade, vou deixar um presente com
você, esse vai ser bem útil — falei, entregando a sacola em suas mãos. —
Dentro dessa sacola tem um celular, e ele já está configurado e já coloquei
meu número, se precisar de alguma coisa pode me ligar, ok?
Daya apanhou a sacola, e ainda parecia estar sem muitas expressões.
Ela não estava feliz, alguma coisa tinha acontecido. Mas eu não ia
pressioná-la para descobrir, quando ela se sentisse à vontade, algo me dizia
que ia me contar.
— Muito obrigada! Vai ser bem útil mesmo.
— Então é isso, acho que agora vou indo mesmo, e saia um pouco,
Daya, os bares da cidade são maravilhosos. Meu motorista Joseph estará à
sua disposição para te levar aonde deseja.
— Se eu me animar, com certeza irei. Agora tchau, Luca. Acho que
já deu sua hora — disse brincalhona.

Ao nos despedirmos, saí da mansão e entrei no meu carro estava me


sentindo um adolescente de novo, indo pela primeira vez à balada. Antes de
acelerar o carro, senti uma sensação estranha no peito, era como se algo não
estivesse certo. Então, me dei conta que Daya poderia sair sozinha essa
noite. E se ela saísse, iria ficar bem? Lembrei-me do dono do restaurante
dando em cima dela, e lembrei que outros caras poderiam fazer o mesmo. E
dessa vez ela estaria sozinha. Eu não sabia direito definir aquele sentimento,
mas decidi ignorá-lo. Eu não queria pensar nisso.

Que comece a noite dos garotos, hoje eu desejo não lembrar nem do
meu nome...
LUCA SE FOI, RUMO ao seu destino da noite com Max, que eu
não sabia bem onde seria e também não era da minha conta. Comecei a
pensar, será mesmo que eu era uma boa conselheira? Fiquei imaginando
Luca bêbado pelas ruas de Greville, ou talvez dando algum vexame, para
um homem como ele isso não era nada bom. Mas ele estava absurdamente
lindo essa noite, sem dúvidas hoje eu vi uma outra face dele, quando entrou
aqui quase fiquei sem ar. Ele estava tão jovem e parecia feliz, diferente da
primeira vez que o vi. Com certeza arrumaria alguma mulher hoje, e
quando eu digo que ele estava lindo hoje, era algo além do externo, era de
dentro para fora.
Dei um sorrisinho ao lembrar, e me senti uma boba, eu estava
conseguindo ajudá-lo de alguma forma e isso me deixava feliz. Pelo menos
minha estadia aqui deixaria alguma marca nele, e eu estava torcendo para
que ele permanecesse assim, mesmo depois que eu partisse. Os dias
estavam passando tão depressa, que sabia que em breve daria o fim dos 30
dias do nosso contrato. Com certeza não seria fidelizado, afinal, Luca e eu
não tínhamos nem contato físico quem dirá um casamento sair disso. E
então após isso, eu seria mandada para outro Sugar CEO. Meu Deus. Essa
era a parte que eu não queria lembrar, com certeza não seria tão “bonzinho”
quanto Luca e aí sim eu teria que virar uma prostituta.
Pensar nisso me deixava mal, eu já não estava muito bem hoje
depois do ocorrido dessa tarde. Estava disposta a contar para o Luca, mas
ele chegou tão animado que eu não queria estragar sua felicidade com os
meus problemas. E ele não tinha nada a ver com isso também. Apanhei o
celular da sacola, era muito bonito, tinha um design fino e prateado, era
bem moderno e parecia ter muitas funcionalidades. Pensei em ser rebelde e
ligar para minha mãe novamente, tentar contato mesmo sabendo que eu
estava proibida, mas eu não ia fazer isso. Não ia brincar com a sorte, porque
isso não se tratava só de mim, era a vida da minha mãe e meus irmãos que
estavam em jogo, se as coisas começassem a se complicar para mim, eles
também sairiam perdendo, e era isso que queria evitar.
Guardei o celular e resolvi deixar para lá. Não me restavam muitas
opções, eu poderia ir dormir, ou ficar aqui na mansão andando de um lado
para o outro. No entanto, eu não estava cansada, e nem com sono, então
decidi que iria sair mesmo. Eu estava completamente livre essa noite.
Lembrei que Luca também estava se divertindo, e ele não seria o único a se
divertir, ficar aqui só encheria minha cabeça de paranoias. Então corri para
o quarto e tomei um banho rapidamente, revirei o guarda-roupa e eram
tantas roupas lindas que eu tinha a meu dispor, que mal sabia o que colocar.
Optei para essa noite, por um vestido vermelho maravilhoso bem colado no
corpo e com um decote sensual. Calcei as sandálias pretas, e deixei o cabelo
solto. Eu não era uma mega profissional em maquiagem, mas sabia fazer
algumas coisas básicas. Passei uma maquiagem leve com um batom da
mesma cor do vestido, olhei-me no espelho e me senti maravilhosa. Eu
estava pronta!
Fiquei deslumbrante com aquele visual e estava pronta para ter uma
noite como uma jovem normal, na cidade de Greville aproveitando um
pouco de tudo que a Elite havia tirado do povo do subúrbio. Solicitei que
Joseph me levasse até o centro da cidade, em instantes eu já estava fora da
mansão.

No caminho, olhei as luzes da cidade, era ainda mais bela de noite e


parecia ser bem badalada, havia pessoas de um lado para o outro com suas
roupas e sapatos chiques, garrafas de bebida e muita ostentação.
Um universo completamente diferente do meu, as noites no
subúrbio também eram agitadas, mas para o lado negativo, como tudo era
escasso, o número de roubos também aumentava de noite. Havia algumas
pessoas que não tinham nem o que comer, e nem onde dormir, elas
perambulavam os becos e ficavam esperando as vítimas distraídas para
roubá-las. Comecei a pensar, e acho que aqui não tinha isso, ou será que os
ricos também roubavam dos ricos? Meus pensamentos foram interrompidos
por Joseph me sinalizado que havíamos chegado. Eu não conhecia nada por
aqui, não sabia quais eram os melhores locais para entrar, onde era seguro,
ao descer do carro senti-me meio perdida, olhei para cima e toda aquela
energia da cidade movimentada, fazia eu me sentir iluminada.
Olhei ao redor e notei que várias pessoas que estavam andando pelas
ruas começaram a me olhar, principalmente os homens. Vi os olhares de
desejos, alguns cochichos, e aquilo me deixou meio desnorteada. Olhei os
letreiros e fachadas, eram muitas opções, como um cardápio delicioso cheio
de prazeres desconhecidos. Onde eu entraria? Notei que um grupo com
duas mulheres e um homem estavam entrando em um local que parecia ser
bem interessante, a fachada era um pouco discreta, mas tinha algumas luzes
neon. Tinha o nome de Bar DanceVille[6]. Resolvi entrar, e na porta eles não
pediram identidade ou nada do tipo, era uma espécie de bar e danceteria.
Observei o local, e parecia agradável. As pessoas estavam conversando
calorosamente, e bebendo seus drinks coloridos. O local era dividido em
duas partes, um bar e uma danceteria. Segui um grupo de pessoas que
estavam passando por uma enorme porta, em direção a um barulho distante
de uma batida que indicava que alguma música estava tocando. Ao segui-
las, passei pela porta e agora a sonoridade da música aumentou, era uma
batida muito animada e contagiante.
Eu estava na pista. As luzes refletiram em meu rosto, fazendo meus
olhos arderem, olhei ao redor e muitas pessoas estavam dançando, homens
e mulheres se esfregavam uns nos outros, de um lado alguns estavam até se
beijando. Fiquei observando toda aquela situação fervorosa e não sabia bem
como agir, nunca me imaginei em um lugar assim antes, nunca fui a uma
festa de verdade. Só em festa de aniversário dos vizinhos quando criança.
Mas nada parecido com isso. Um homem passou por mim rapidamente e
falou bem perto do meu pescoço quase encostando seu corpo no meu, não
consegui ver seu rosto, mas ele era mais velho:
— Está sozinha, boneca?
Eu me assustei com sua presença e me afastei. Nem valia a pena dar
uma resposta, comecei a me sentir mal diante de toda aquela loucura e
resolvi sair da multidão de pessoas. Voltei ao bar que era um ambiente mais
calmo e agradável, as pessoas estavam animadas aqui também, mas de uma
forma mais cautelosa. Sentei-me em um dos bancos próximo ao balcão, e
apanhei o celular da bolsa, vi o número de Luca, era o único número que eu
tinha. Eu deveria ligar para ele? Ou mandar uma mensagem? Claro que
não! Eu não queria estragar sua noite, agora que ele finalmente decidiu sair
da toca, não poderia estragar esse momento.
Não era um dia bom hoje, eu realmente não deveria ter saído da
mansão. Comecei a lembrar de algumas coisas que não deveria, e quanto
mais buscava afastar os pensamentos, pior era. Coloquei as mãos no rosto,
e comecei a respirar fundo. Não demorou muito para que o meu momento a
sós comigo mesma, fosse interrompido por uma voz rouca e masculina.
Alguém havia se sentado ao meu lado.
— Olá... está tudo bem?
Levantei o rosto e era um homem alto, com cabelos castanhos
médios, olhos escuros e uma barba bem-feita. Ele era magro, e estava muito
elegante. Seu nariz era bem pontudo e tinha um queixo comprido. Ele era
normal, não o achei nem bonito nem feio.
— Só estava pensando — respondi friamente.
— Uau, você tem olhos lindos. Estou te incomodando? Eu posso me
retirar se quiser, é que te vi sozinha aqui achei que estava passando mal.
Pensei em dizer para ele sair, mas eu estava sozinha aqui mesmo,
talvez fosse bom ter alguém para conversar. Mesmo que fosse um cara
aleatório e estranho.
— Tudo bem, pode ficar.
— Posso te pagar uma bebida? — indagou e abriu um sorriso.
Nunca aceite bebida de estranhos, Daya. A voz da minha mãe veio
à minha cabeça me dizendo essa frase, e eu não era boba, ele poderia tentar
colocar algo e me dopar, então com certeza não era uma boa ideia.
— Estou bem assim.
— Certo, sem problemas. Qual é seu nome? Me chamo Dreico. E
gostaria muito de saber o que você está fazendo sozinha aqui, na verdade,
acho que nunca te vi na cidade e olha que costumo conhecer todas as
pessoas.
Gelei quando ele terminou de falar, e comecei a pensar: será que
devia falar que era uma garota de luxo? Ou simplesmente fingir que era
parte de um membro da elite de Greville?
— Me chamo Daya. E uma mulher não pode sair sozinha? —
questionei curiosa. — É, digamos que eu não sou muito de sair de casa,
talvez por isso não tenha me visto.
— Hum... uma mulher misteriosa então. — Ele riu, como se
soubesse que estava mentindo. — Bom, talvez você passe tempo demais em
casa e tenha se esquecido que aqui em Greville as mulheres costumam sair
acompanhadas com os homens, dificilmente elas saem sozinha, e quando
saem sozinha geralmente elas estão procurando algo ou alguém, se é que
me entende. — Ele sorriu maliciosamente.
Ele sabia que eu estava mentindo. Um flashback me veio à cabeça,
as duas mulheres entrando acompanhadas com um homem, e me lembrei do
rápido momento na pista as mulheres estavam todas acompanhadas.
— É, talvez eu tenha me esquecido disso — disse, engolindo em
seco.
O olhar de Dreico mudou rapidamente, seus olhos pareciam mais
escuros e sua feição mudou, estava mais sério e um pouco assustador. Ele se
levantou do banco ao meu lado, e de repente estava mais perto de mim, seu
corpo quase colado no meu enquanto eu estava sentada. Notei que ele olhou
para as minhas pernas à mostra, e para o decote que deixava meus seios
desenhados. Ele não estava bem-intencionado. Desde o momento que me
viu, ele já estava planejando alguma coisa.
— Você não é daqui... — ele começou a falar, e seus dedos tocaram
o meu rosto. — Sabe, Daya, meninas de cor não costumam ser de Greville,
conheço poucas mulheres da cidade que são, e eu as conheço. Você não é
daqui, é uma prostituta?
Ao terminar de falar, Dreico deslizou a mão para minha coxa,
apertou com força e no instante que fez isso, segurei o seu punho e o
empurrei, levantando-me do banco, senti uma descarga de adrenalina
percorrer o meu corpo e dei um chute no meio das pernas dele, foi tudo tão
rápido que ele não conseguiu desviar ou reagir.
— FIQUE LONGE DE MIM, SEU PERVERTIDO RACISTA E
NOJENTO! — gritei.
Dreico soltou um gemido melodramático, e colocou a mão no meio
das pernas, toda aquela postura de homem dominador foi embora, era
vergonhoso, mas eu sei que ele estava morrendo de dor, e era para doer
mesmo. Ele merecia. Mas a situação não ia ficar assim, por conta disso, nos
tornamos o centro das atenções do bar, todas as pessoas estavam olhando
para nós, e isso chamou a atenção dos seguranças também. Dreico me olhou
enfurecido, e quando os seguranças chegaram ele gritou:
— PRENDAM ELA! ESSA MOÇA ME AGREDIU E TENTOU
ME ROUBAR, É UMA LADRA DO SUBÚRBIO.
O quê? Não.
— Você está louco? Eu não te roubei! — exclamei, defendendo-me e
dando alguns passos para trás. — Seu desgraçado, você me tocou, eu só
reagi.
— PRENDAM ELA AGORA! VOCÊS SABEM QUEM EU SOU?
SE NÃO QUISEREM PERDER SEUS EMPREGOS, É MELHOR
LEVAREM ESSA MULHER DAQUI.
Eu não fazia ideia de quem era Dreico, mas possivelmente era um
homem importante e de poder. Os seguranças perderam a postura, e
rapidamente já estavam segurando os meus braços, eles eram mais fortes e
eu não tinha para onde ir. Um deles me olhou, não parecia muito contente
de estar fazendo aquilo, mas ele sabia que precisava.
— Vamos ter que reportar a polícia, e você será presa por agressão.
Sinto muito!
Meus olhos se encheram de lágrimas, eu seria presa injustamente,
estava sozinha e mobilizada por dois seguranças. ISSO NÃO É JUSTO!
Era o fim de tudo para mim agora, de garota pobre do subúrbio a
presidiária.
MAX E EU ESTÁVAMOS em uma boate luxuosa que
movimentava muito a cidade, normalmente, só pessoas importantes
conseguiam entrar e frequentar esse local. Eu ainda estava me sentindo
meio deslocado, fazia tempo que eu não frequentava lugares assim, acho
que estava ficando mesmo velho para isso. Max, pelo contrário, já estava
em seu quarto copo de Whisky e parecia bem alterado. Eu ainda não havia
bebido nada alcoólico, algo me dizia para não beber nada essa noite.
Quando estava a caminho, estava bem-disposto a beber e deixar meu carro
em um estacionamento e dormir em um hotel muito bem acompanhado,
mas ao chegar aqui toda essa euforia se foi e eu desejava mesmo era voltar
para casa.
Max percebeu que não estávamos na mesma sintonia, ele deu duas
batidinhas no meu ombro e falou tão alto que acho que nem percebeu. Ele
realmente estava bêbado.
— Você veio para ficar com essa cara? Luca, olha para esse lugar,
olha essas mulheres, você vai beber. — Max me entregou seu copo
— Para ficar parecendo um idiota igual você? Dispenso! — disse
rindo e entreguei o copo de volta para Max.
— Então já que não quer beber, sei de uma coisa que não vai negar.
— Max sorriu maliciosamente e olhou ao nosso redor. — Mulheres...
estamos tão bem servidos, vamos escolher uma para você.
Max começou a encarar todas as mulheres que estavam à nossa
volta, algumas começaram a olhar para ele com um certo desprezo. Porém,
percebi que uma estava me olhando com bastante interesse. Era muito
bonita, tinha cabelos loiros compridos, seios fartos e bem redondos, o corpo
era cheio de curvas e seus lábios eram enormes. Ao vê-la, alguns
pensamentos pervertidos passaram pela minha cabeça, não nego. Mas algo
estava diferente.
— AQUELA LOIRA... — Max gritou. — Ela está olhando para
você, vou chamá-la aqui. E você vai transar muito com ela essa noite.
— Max, não faça isso... se eu quiser realmente sair com uma
mulher, eu mesmo chegarei nela. Não preciso de nenhum porta voz para
fazer isso para mim. Você age como se fosse um adolescente — respondi
ríspido.
— AH, EU NÃO QUERO SABER... — Max continuou a falar
quase cuspindo. — Eu vou falar com ela, e vou trazê-la aqui para você.
Fiquei olhando aquela cena ridícula, Max saiu de perto de mim e
realmente estava indo em direção à loira bonita, ele já estava trocando os
pés e era patético. Eu soltei uma risada, porque desde a hora que cheguei
aqui essa estava sendo a coisa mais engraçada que vi. O momento foi
interrompido pelo barulho do meu celular, a música aqui não estava tão alta
então dava para conversar e ouvir outros barulhos. Pensei em não atender,
mas poderia ser importante. Quando apanhei o celular, vi que na tela estava
o nome de Daya. Meu coração disparou, alguma coisa tinha acontecido.
Afastei-me um pouco do ambiente e atendi a ligação.
— Daya? Estou surpreso! Está tudo bem?
— Não! Aconteceu uma coisa, Luca... — Daya respondeu com a
voz estranha, parecia ter chorado. — Eu estou presa, você pode vir me
buscar? Me desculpa estar te ligando, sei que deve estar se divertindo com
Max, não queria atrapalhar, mas você disse que eu poderia ligar se
precisasse.
Estou super me divertindo.
— E que bom que você me ligou. Mas por que diabos está presa?
Céus... estou muito curioso para saber essa parte. O que aconteceu?
— Luca... Não faça perguntas — disse aflita. — Apenas venha para
cá, e quando chegar eu te conto.
— Tudo bem, desculpe... eu chego aí em alguns minutos.
Quando a ligação foi encerrada, meus batimentos cardíacos estavam
acelerados e minha mão suando, eu estava muito nervoso com tudo isso. Se
eu pudesse me teletransportava para lá nesse momento, quando me virei
para buscar a saída, Max estava na minha frente ao lado da mulher loira que
estava trocando olhares comigo. Tudo o que eu não precisava agora.
— Isabelle, meu amor, esse é meu grande amigo, Luca, que está
louco para te conhecer melhor, ele é todo seu.
— MAX... — chamei exaltado. — Agora não é uma boa hora.
— Ah, é sim, meu amigo, não fique acanhado. — Max apertou meu
braço e me puxou para o lado, deixando Isabelle esperando. — Luca, essa
mulher é um verdadeiro monumento e está louca por você, o que está
fazendo da sua vida? Como não é uma boa hora?
— Eu vou embora, Max, surgiu uma emergência, eu preciso ir.
— COMO ASSIM? O QUE É MAIS IMPORTANTE DO QUE
ISSO? Ah não... você realmente não está bem.
Eu não deveria nem falar disso com Max, porém precisava de uma
razão bem plausível para deixá-lo aqui, e encerrar a nossa noite.
— A garota que está comigo, a Daya, está com problemas, preciso
ajudá-la.
Max ficou ainda mais pasmo, seus olhos se arregalaram e pareciam
que iam saltar para fora do rosto, ele apertou meu braço como se quisesse
socar minha cara agora mesmo.
— Vai deixar a Isabelle por uma prostituta? Francamente Luca, você
é melhor que isso.
Agora ele passou dos limites. Eu já estava em um pico de estresse, e
neste instante empurrei Max e eu queria dar um soco naquela cara de
babaca dele, fiquei me perguntando como aguentei ser amigo de um cara
assim durante tanto tempo. Olhei para Isabelle, e de fato ela era uma mulher
exuberante, mas não era para mim. Minha fase de ser um cafajeste garanhão
morreu e não voltaria nunca mais.
— Primeiramente, ela não é uma prostituta, segundo, não somos
mais amigos. Adeus, Max! Tenha uma ótima noite, Isabelle!
Max ficou me olhando sair de cena, e xingou alguma coisa que não
consegui escutar. Eu não queria mais ver nada além de Daya hoje.

Corri para o meu carro, e dei partida em direção à delegacia, no


caminho eu estava ainda mais aflito com a respiração acelerada, criando
milhares de teorias de como ela foi parar lá. Estava preocupado, MUITO
PREOCUPADO. Fazia tempo que não me sentia assim, fiquei com medo de
ela estar machucada, alguém teria feito algo com ela? Eu não sabia bem o
que iria encontrar quando chegasse, poderia ser bem pior que tudo isso que
estava imaginando.
Quase bati o carro de tão acelerado que estava, mas cada segundo
era precioso. Lembrei-me da sua voz no telefone, estava tão aflita e parecia
magoada. Pouco tempo depois, cheguei à maldita delegacia, era a única de
Greville então eu já sabia o endereço. Derrapei o carro, cantando pneu e
estacionei em qualquer lugar, saí do veículo e agradeci por não ter bebido
nada, fiz bem em confiar no meu sexto sentido. Quando cheguei, entrei na
delegacia e o delegado Oliver Miller estava ali, eu o conhecia bem, éramos
colegas e simpatizávamos muito um com o outro. Ele me viu e abriu um
sorriso, se preparando para me cumprimentar.
— Luca Lancaster, que honra tê-lo aqui, mas... O que faz em minha
delegacia?
— Estou procurando uma pessoa. O nome dela é Daya, ela está
presa aqui e preciso falar com ela. Será que pode me levar até ela? —
indaguei aflito.
— A garota? — Oliver perguntou desentendido. — Ela está com
você?
— Sim, ela é minha — respirei fundo — amiga. Desejo vê-la!
Oliver ainda parecia meio pasmo com toda a situação, mas eu sabia
que ele não ia negar um pedido meu. Então, sem dizer muita coisa, ele
apenas me guiou pelos corredores da delegacia, e paramos em frente a uma
porta cinza.
— Ela está aqui dentro, podem conversar... mas digo que sua amiga
está encrencada.
— Isso é o que veremos...
Abri a porta com uma certa brutalidade, e fechei no mesmo instante
para que Daya e eu tivéssemos privacidade. Assim que ela me viu, correu
para os meus braços e eu que havia pedido para ela para não ter esse tipo de
atitude comigo, estava pouco me fodendo para isso agora. Agarrei seus
pequenos braços, e apertei contra o meu peito. Vê-la bem me deu um
grande alívio, não estava machucada o que me deixava mais tranquilo.
— Que bom que você está aqui... — disse com o rosto apoiado em
meu peito. — Eu achei que não viria, achei que ia me deixar sozinha aqui.
— Daya... — Eu levantei seu rosto e olhei em seus olhos. — Por
que pensou isso? Eu jamais deixaria você aqui sozinha, quando disse para
você que pode contar comigo, não estou brincando, ouviu?
— Sim! — exclamou com os olhos marejados. — Muito obrigada!
Mas não sei se vai conseguir me tirar daqui eles disseram que eu serei
presa. Isso é uma injustiça, eu só me defendi e faria tudo de novo.
— Calma... — Eu respirei fundo. — Será que pode me contar o que
aconteceu? Eu preciso entender para poder ajudá-la.
Daya se afastou do meu corpo, e limpou as lágrimas que começaram
a se formar em seus olhos, toda aquela melancolia agora foi substituída por
uma fúria intensa. Eu conhecia bem aquele olhar. Ela estava com muita
raiva.
— Bom, como percebeu eu acabei saindo da mansão, também
queria me divertir um pouco e estava com a cabeça cheia. Fui para o centro
de Greville, e entrei em um bar que me chamou atenção, e quando fui me
sentar no bar um homem se sentou ao meu lado e puxou assunto...
Já era de se esperar. Daya estava linda essa noite, ela parecia ainda
mais bonita. Eu acho que nunca havia reparado tanto nela como agora.
Aquele vestido vermelho ficou perfeito em seu corpo, seu batom ainda
estava na boca e dava um contraste perfeito com sua pele, e os seus olhos
tão azuis como uma aquarela. Era uma mulher muito linda. Qualquer
homem ficaria louco com ela, agora imaginar Daya vestida assim, sendo
admirada por tantos homens, me deixou um pouco incomodado. Mas eu
ainda queria saber o restante da história, busquei manter a postura e
continuei a ouvir atentamente.
— Hum, continue...
— Inicialmente ele parecia simpático, começamos a conversar e
logo ele notou que eu não era daqui. Disse que tinham poucas mulheres de
cor na cidade, e então em seguida ele começou a se aproximar de mim,
perguntou se eu era prostituta e me tocou.
ELE O QUÊ?
— COMO É QUE É? — eu perguntei exaltado. — Ele te tocou?
COMO? ONDE? EU VOU MATÁ-LO! QUERO NOMES AGORA.
— Luca, calma...
— NÃO! EU VOU MATÁ-LO! QUEM ELE PENSA QUE É?
— Gostaria de saber também, Luca, acredite eu quero matar ele
mais do que você.
Respirei fundo, e estava tentando voltar ao meu estado normal,
aquela situação tinha me deixado muito irritado, eu estava puto da vida, só
de imaginá-lo tocando a Daya me deixava furioso e eu não sabia o porquê,
não era para eu estar tão bravo assim. Procurei me acalmar, afinal eu não
iria conseguir resolver nada com os nervos à flor da pele.
— Eu quero saber o nome dele, isso já vai ajudar muito...
— É Dreico. Eu só não sei o sobrenome, mas os seguranças não
pensaram duas vezes quando ele disse que se eu não fosse presa, ele ia fazer
eles perderem o emprego. — Daya bufou. — Que raiva, só de me lembrar...
Ao escutar o nome Dreico, me veio um maldito rosto na mente, eu
só conhecia um Dreico em Greville e ele era um verdadeiro canalha
aproveitador de mulheres. Uma vez no passado, ele já tentou assediar Elisa
pelas minhas costas, os anos se passaram e ele não mudou nada. Isso só
aumentou ainda minha fúria.
— Esse desgraçado. — Fechei a mão. — Conheço bem quem ele é,
Dreico Mcgold. Esse maldito se aproveita de mulheres, ele é um sádico. Ele
que deveria estar aqui, não você.
— E eu concordo com você. Mas existe algo nessa vida que seja
justo? Acho que não. Agora estou ferrada, serei presa, minha família vai ser
prejudicada e não sei o que será de mim... — Daya disse magoada. — Tudo
por causa desse ordinário, isso não vai ficar assim.
E não vai mesmo.
Aproximei-me de Daya novamente, e coloquei a mão em seu
ombro, ela estava tão nervosa quanto eu, mas queria que ela se sentisse
segura, ela não ia passar mais um minuto nesse lugar.
— Você não vai ser presa — avisei. — Vou tirar você daqui, vamos
embora.
— Ah é, Luca? Como? Eu agredi esse maldito, querendo ou não
infringi uma lei.
— Daya... Nesse jogo vence quem tem mais poder, ele não quis
passar por cima de você? Pois agora, eu vou passar por cima dele e vou
esmagar esse monte de merda. — Cerrei os dentes. — Me aguarde aqui, irei
resolver isso.
Daya estava muito fragilizada com a situação, e com razão. Ela se
sentiu impotente, e de fato estava, mas isso não iria ficar assim. Agora se
tornou pessoal. Saí da sala em que estávamos, e fui diretamente para a sala
do delegado Oliver. Ao chegar lá, bati e ele imediatamente me atendeu.
— Conseguiu falar com a moça, Luca? Eu sinto muito pelo
ocorrido, casos de agressões são complicados aqui.
Controle-se, Luca, controle-se.
— Consegui falar com ela sim, e inclusive vim até sua sala para
saber qual o valor da fiança para retirá-la, Daya não vai passar mais
nenhum minuto nesse local.
— Luca... — O delegado soltou uma risada irônica. — Gosto muito
de você, mas não está na sua empresa. Aqui eu que mando, essa moça
agrediu um rapaz e ela vai ter que responder por isso. É a lei, e você não
pode passar por cima disso.
Não perca a paciência Luca, mantenha-se diplomata.
— Delegado Oliver, não estou querendo de forma alguma passar por
cima de sua autoridade. Mas, vocês nem ouviram a versão de Daya, Dreico
a assediou, a tocou sem seu consentimento. Embora vocês não levem muito
a sério, abuso também é considerado um crime. E tudo bem, se quiser
deixá-la aqui, irei recorrer e buscar todas as provas que tenho contra Dreico,
inclusive, ele tentou assediar minha esposa alguns anos atrás. E digo mais,
eu sou um dos investidores da delegacia, se não sabe, a partir de amanhã
irei tirar minhas ações desse local, afinal, o sistema de vocês é bem
negligente e irei entrar com um processo contra você. Querem incriminar
uma inocente, mas ela não está sozinha e nem vulnerável. A escolha é sua...
Um soco doeria menos. Ao fim das minhas palavras, o delegado
Oliver parecia completamente petrificado e sem reação, ele engoliu em seco
e sei que no fundo ele queria voar no meu pescoço. Mas, eu não ia abrir
mão dos meus argumentos, que estavam corretos e Daya sairia daqui por
bem ou por mal.
— Bom, sendo assim... — Ele abriu um sorriso forçado e coçou o
bigode. — Não vamos arrumar uma confusão desnecessária, senhor Luca,
você pode pagar a fiança e levar a moça.
— Ótimo! Irei assinar o cheque. — Eu sorri satisfeito.
O delegado Oliver tentou puxar meu saco depois disso, tentando se
redimir, ele estava com medo de que eu retirasse as ações, mas eu não faria
isso. Só falei para colocar medo nele, e ele entender que eu não ia permitir
essa injustiça. Após eu pagar a fiança, consegui retirar Daya, fomos embora
rapidamente e eu busquei dirigir com cuidado, mas o mais rápido possível
para que ela pudesse voltar logo para mansão, onde se sentisse segura
novamente. No caminho, fomos em silêncio, eu não disse uma palavra e ela
também não.
Percebi que algumas lágrimas escorreram do seu rosto, e ela parecia
bem pensativa. Foi um desastre essa noite, nada saiu muito bem para nós
dois. E eu me arrependi um pouco de ter saído com Max, só queria chegar
em casa e repousar.

CHEGAMOS À MANSÃO, e estávamos na sala, Daya estava meio


para baixo, um pouco perdida, ela se sentou no sofá e ficou parada olhando
a lareira, as chamas estavam dançando no ar e ela parecia hipnotizada com
o fogo. Eu não ia conseguir dormir se não dissesse mais alguma coisa,
queria saber se ela estava se sentindo melhor. Então, me sentei ao seu lado e
decidi perguntar.
— Daya... Como você está?
— Chocada ainda com tudo que aconteceu. Mas aliviada, eu não
estou presa e tudo isso graças a você. Muito obrigada, Luca! — Daya abriu
um pequeno sorriso.
— Eu disse que pode contar comigo, e não estou brincando.
— Você é muito leal, e aprecio isso. Obrigada mesmo, de verdade.
Você salvou minha vida, e talvez eu nunca tenha como agradecer. Por um
segundo achei que estava tudo perdido e que nunca mais ia sair dali.
— Eu sei — contraí o lábio —, mas eu não ia deixar que isso
acontecesse. Eu me importo com você...
— Eu sei que sim. Mas, aliás eu estraguei sua noite? Como foi com
Max? — indagou curiosa.
— Hum... — Comecei a rir ao lembrar. — Foi um verdadeiro
desastre, Daya. Na verdade, você disse que eu te salvei, mas acho que você
também me salvou. Max bebeu demais, não estávamos no mesmo clima e
no fim das contas acho que estou velho demais para badalar. Mas bom, que
seja, eu tentei.
Daya começou a gargalhar, ao menos eu estava tirando um riso dela
e ela parecia mais tranquila agora.
— Não acredito! Eu jurava que estava se divertindo. Não diga isso,
Luca. Você só precisa achar um lugar e alguém que se sinta à vontade, aí
sim vai se divertir de verdade.
— É, talvez... — Passei os dedos na barba pensativo.
— Mas bom... — Ela suspirou. — Você pelo menos ficou com
alguém para valer a noite?
— Não — respondi de imediato. — Nem um beijo na boca. — E ri.
— Para você ver que a coisa foi desastrosa mesmo.
Eu não sei por que, mas aquilo parecia tê-la deixado contente de
alguma forma. E aí eu pensei, talvez eu pudesse fazer a mesma pergunta.
Afinal, antes de Daya cruzar com Dreico, ela poderia ter conhecido alguém
na pista, flertado ou até mesmo beijado, sei lá, eram tantas possibilidades.
— E você? — perguntei.
— Eu? Eu nada, Luca... não fiquei com ninguém, nem de longe um
homem me interessou, na verdade, saí para me distrair um pouco e acabou
dando em toda essa confusão, agora estamos aqui nós dois sentados no sofá
falando sobre nossas noites desastrosas, muito bom.
— Talvez não precise terminar tão desastrosa assim... — eu disse e a
encarei.
— Como assim? — inquiriu com os olhos arregalados.
Alguma coisa em toda aquela tensão do momento, me despertou um
desejo ardente de beijá-la. Eu não sei se seria correspondido, e talvez ela
desse um tapa na minha cara. Não queria ser desrespeitoso, mas algo me
dizia que ela também queria isso. E queria muito, busquei me aproximar
com cuidado, e coloquei a mão no seu rosto, nossos rostos estavam bem
próximos e pude sentir sua respiração, ela me encarava com os olhos quase
entreabertos. Mas não revidou.
— Luca... O que está fazendo? — perguntou quase em um sussurro.
— O que eu estava com vontade de fazer desde que te vi nesse
vestido...
E sem pensar muito, puxei seu rosto e selei nossos lábios. Comecei
a beijá-la de uma forma calma e delicada, nossas línguas se entrelaçaram e
pouco a pouco fui deslizando minhas mãos para a lateral do seu corpo, até a
cintura, depois no quadril, pressionei seu corpo contra o meu e parecia que
ia esmagá-la, era tão pequena perto de mim. Em algum momento do beijo,
nos encaramos como se falássemos. O que estamos fazendo? Mas foda-se.
Eu a queria, e queria agora.
Aumentamos o ritmo do beijo, e agora ele estava mais intenso e
malicioso, mordi seus lábios e deslizei minha boca para o seu pescoço,
dando algumas sugadas na região, minhas mãos percorreram suas coxas, e
depois os seus seios, até senti-los em minha mão por cima do vestido, dei
uma leve apertada. Eles cabiam perfeitamente na minha mão, eram
pequenos e bem redondos. Aquilo estava me deixando bem excitado, senti
meu pau remexer por dentro da calça, empurrei o corpo dela contra o sofá, e
queria arrancar aquele vestido com a boca. Respirei fundo entre o beijo, e
minha mão parou em seu pescoço, dei uma leve apertada, mas nada que
fosse sufocá-la, eu era um pouco selvagem confesso. E naquele momento,
Daya parou o beijo e colocou a mão em meu peitoral, afastando-me. Eu
entendi o sinal, e saí de cima dela.
— Desculpe... acho que passei dos limites — falei meio ofegante.
— Passamos. — Daya se levantou, tentando ajeitar o vestido
amassado. — Estou sem ar.
— Isso não deveria ter acontecido — eu disse, sentindo-me meio
perdido. — Não deveria...
— Concordo com você. — Daya engoliu em seco. — É melhor eu
subir.
— E eu também irei com você... — Parei. — Quer dizer, eu vou
para o meu quarto, e você vai para o seu.
— Isso. — Daya me olhou rapidamente e parecia querer dizer tantas
coisas. — Boa noite, Luca!
— Boa noite, Daya!
Esperei-a subir primeiro, até que não a visse mais na escada. Eu
estava suando frio e com o corpo quente, ainda estava processando tudo que
tinha acontecido essa noite e agora com esse desfecho, nada daquilo foi
programado, apenas aconteceu de forma natural. Eu não sabia bem como
lidar com aquelas emoções.
O que Daya estava fazendo comigo? Eu não conseguia parar de
pensar nela...
ALGUNS DIAS SE PASSARAM, e havia completado uma semana
morando na mansão. Agora restavam apenas três semanas para completar
um mês. Eu não sabia dizer ao certo o que eu estava sentindo, era um misto
de emoções. Depois da noite do beijo com Luca, as coisas ficaram estranhas
entre nós, ele estava me evitando e falava pouco comigo. Na verdade, ele
estava evitando voltar para mansão, nos últimos dias mal o vi. E isso estava
me deixando frustrada, eu sentia falta de Luca. Sentia falta do meu amigo.
Às vezes eu sentia raiva, porque ele que começou o beijo. E claro,
retribuí, mas de qualquer forma não era motivo para ele se afastar. O pior de
tudo era que eu não parava de pensar nisso, nele em si, naquela noite, nos
seus lábios e nas suas mãos fortes em meu corpo, eu repassava aquela cena
em minha mente tantas vezes no dia que estava enlouquecendo. Eu só havia
beijado um homem na vida, e não foi nada parecido com aquilo. Luca
parecia saber exatamente o que estava fazendo, ele conduziu tudo de uma
forma mágica que me deixou completamente envolvida, senti um calor no
corpo ao lembrar-me. Isso era normal?
Eu estava decidida a quebrar aquele silêncio, por bem ou por mal.
Luca e eu iríamos conversar e resolver isso. Lisa veio me avisar que hoje
era aniversário dele, 10 de dezembro. Mas ela também disse que Luca
odiava aniversários, então possivelmente não ia querer fazer nada. Ele
estava sendo bem esperto, e estava ficando até tarde no trabalho, chegando
aqui em um horário onde eu não estivesse acordada para não ter que me
encarar.
No entanto, ele estava mexendo com a mulher errada, eu não tinha
medo de ser ousada e se eu tivesse que tomar as rédeas para termos uma
conversa novamente. Então assim eu faria.
Arrumei-me e fui até a sua empresa, não tinha para onde correr,
mesmo que a secretária dissesse que ele não estava lá. Eu sabia que era
mentira. Quando cheguei à recepção do prédio, sua secretária já estava lá
com um enorme sorriso no rosto, não sei se ela sabia quem eu era. Porém,
eu não sairia daqui sem falar com ele.
— Bom dia! Gostaria de falar com Luca Lancaster.
— Bom dia! Qual é seu nome, por favor? E sobre o que seria? —
ela perguntou.
— Eu sou a Daya, eu moro com ele — respondi séria. — E diga
para ele que se não me deixar subir, eu não sairei daqui.
A secretária arqueou uma sobrancelha e ficou espantada. Ela com
certeza não sabia quem eu era. Justo, não parecia ser muito o perfil de Luca
falar sobre a vida pessoal com os funcionários. Ela apanhou o telefone, e
pediu para eu esperar um momento. E assim fiz. Segundos depois, ela me
olhou novamente.
— Senhorita Daya, pode subir. Ele autorizou, é no último andar.
— Muito obrigada! — agradeci sorrindo.
YES! DEU CERTO.
Dei alguns pulinhos discretamente e comemorei a minha vitória,
Luca sabia que não iria adiantar mentir para mim, e realmente não iria
embora se ele não atendesse. Ele estava sendo imaturo se afastando de mim
dessa forma, sem mais nem menos, eu não era um brinquedo que podia usar
e jogar fora. Aguardei o elevador e estava subindo rumo ao último andar.
O elevador era todo de vidro, conseguia ver tudo lá fora. Os outros
prédios, o céu, os carros passando nas ruas e até os movimentos das pessoas
que estavam minúsculas daqui de cima. Chegando ao vigésimo andar, a
porta do elevador abriu e só havia uma sala aqui que era de Luca. A porta
era enorme e tinha um tapete dourado no chão. O local era bem restrito,
evidenciava o posto de chefe. Notei que a porta já estava entreaberta, ótimo,
não teria que me dar ao luxo de bater e correr o risco dele não me atender.
Empurrei a porta e segundos depois, estava dentro da sala.
Era enorme, e lindo. A sala de Luca era bem iluminada e com um
cheiro delicioso, tudo bem arejado e os móveis limpos e bem-posicionados
em cada partezinha daqui. Sua mesa ficava bem no centro, e lá estava ele,
sentado todo majestoso. Atrás dele, havia uma enorme janela de vidro, que
dava uma visão panorâmica de toda a cidade. Era perfeito.
— Uau! Que vista privilegiada — falei, começando a caminhar pela
sala, olhando em direção à janela.
— É bem bonito mesmo. Mas você não veio admirar minha janela.
O que faz aqui, Daya? No meu trabalho... — Ele me olhou e estava bem
sério. — Estou bem surpreso com isso, e já aviso que não gostei, isso não
faz parte do nosso acordo.
— Lá vem você com essa história... quando vai admitir que esse
acordo já foi quebrado? Você não fala comigo há dias desde aquela noite,
então decidi vir até você. Sei que está me evitando, mas quero saber o
porquê?
— Não estou te evitando. Apenas estou trabalhando demais, tenho
muitas coisas para fazer. Inclusive, tenho uma reunião daqui alguns minutos
e você vai precisar ir embora...
— Não me evite, Luca. — Comecei a me aproximar. — Por que está
distante de mim? Foi pelo beijo? Você se arrependeu?
— Daya... — Luca entreabriu os olhos. — Não começa com isso.
— Não, você vai me ouvir. Não foge de mim, Luca. — Eu o encarei
fixamente. — Sinto sua falta, sinto falta do meu amigo. Do Luca que
conversava comigo, eu não sei o que aconteceu com você depois daquela
noite, mas algo mudou. Eu só tenho você aqui, e estou me sentindo
sozinha...
Luca parecia tocado com minhas palavras, ele estava se esforçando
muito para não demonstrar nenhuma emoção. Permaneceu sentado, estralou
os dedos e sabia que aquilo demonstrava o seu nervosismo. E eu permaneci
firme, uma parte de mim estava aliviada por expor o que eu realmente
estava sentindo. Sem máscaras.
— Me desculpe... Ok, você tem razão, eu realmente me afastei,
aquela noite me deixou confuso e precisei de um tempo para pensar. Sou
um viúvo, Daya, e me senti traindo Elisa de alguma forma, é isso. Essa
situação fez eu me sentir mal, e queria ficar longe para não descontar em
você.
As palavras de Luca não me pareciam totalmente sinceras, ou talvez
eu que não queria acreditar nisso. Uma parte de mim achou que Luca havia
se afastado pelo beijo ter mexido com ele, mas no final das contas só era
um sentimento de culpa. Eu estava sentindo tudo sozinha.
— Entendi... — Suspirei. — Fica tranquilo, não precisa se culpar.
Foi um beijo sem sentimento e importância. Eu só quero meu amigo de
volta.
— E eu estou aqui — Luca disse, levantando-se e se aproximando
de mim. — Eu sempre estarei aqui para você, Daya. Estamos bem?
Eu gostava tanto quando ele ficava dessa forma.
— Vamos ficar, com uma condição. — Eu o encarei e sorri.
— Céus... O que está pensando? Que condição seria essa? — Luca
perguntou, arqueando uma sobrancelha e cruzando os braços.
— Hoje é o seu aniversário, Luca. E vamos fazer algo, vá para casa
hoje e podemos sair. Como bons amigos, o que acha?
Eu não tinha nada planejado. Essa era a verdade, mas no instante
que conseguimos conversar e aparentemente estávamos resolvidos, eu tive a
ideia de fazer uma pequena surpresa para ele, não ia deixar esse dia passar
em branco. Em 3 semanas tudo iria acabar, e possivelmente eu nunca mais
iria ver Luca. E tudo que eu queria agora, era colecionar bons momentos.
— Daya, eu não gosto de aniversários. Aliás, quem te contou que é
meu aniversário? Com certeza foi, Lisa... — Luca disse irritado. — Eu não
quero fazer nada hoje, gostaria que respeitasse isso.
Eu deveria. Mas não iria.
— Eu te espero em casa hoje, Luca! E não aceito não como
resposta. — Soltei um riso.
— O aniversário é meu, eu que deveria escolher se quero ou não
fazer alguma coisa. Não acha? — Luca riu junto.
Por um instante ficamos nos encarando fixamente, seu sorriso era
tão bonito e galanteador, combinava com todo o seu rosto, seu maxilar
perfeito e os olhos misteriosos harmonizavam perfeitamente com aquele
sorriso. Eu queria beijá-lo de novo, mas não iria fazer isso. Um silêncio
tomou conta do local, mas de repente ouvi o barulho da porta. Assustei-me,
e Luca parecia tenso e um pouco surpreso com quem estava ali presente.
Era a Paige. Um flashback me veio à cabeça no dia em que entrei para
comunidade, ela que comandava toda essa sujeira. Eu não gostava dessa
mulher, ela tinha uma cara tão cínica que me dava nos nervos. Mas o que
ela estava fazendo aqui?
— Atrapalho? — Ela abriu um sorriso falso e me olhou. — Daya?
Você por aqui?
Luca ficou um pouco desconcertado com a situação, se afastou de
mim, mas parecia tão surpreso quanto eu com a presença de Paige.
— O que está fazendo aqui, Paige? Minha secretária não me avisou
que você estava aqui, não pode entrar na minha sala desse jeito — Luca
disse ríspido, e eu gostei da sua atitude.
— Como se eu não fosse de casa, né, Luca? Conheço bem cada
parte dessa sala, por que está falando assim comigo? Vim conversar com
você, hoje é seu aniversário, acha que eu esqueci? — Paige falou, indo em
direção a Luca, e ignorando o fato de eu estar ali.
Eles se conhecem intimamente. Senti uma pontada forte dentro de
mim, como se tivesse levado um soco no estômago. Era uma tensão
diferente, que nunca havia sentido. Paige estar aqui estava me incomodando
demais, ela falava com Luca como se já o conhecesse há anos. Algo
aconteceu entre eles, mas quando? Antes ou depois de Elisa?
— Aqui é meu local de trabalho, você precisa respeitar. Mas sinto
que você não veio aqui só para me dar parabéns. O que quer? — indagou
Luca com as feições rudes e séria.
Paige virou o rosto e agora me encarou fixamente, seu sorriso
sumiu. E ela não parecia nada feliz em ver.
— Como você está, Daya? Já está bem íntima de Luca, não esperava
te encontrar na sala dele, querida, acho que estão aproveitando bem o tempo
juntos.
Cretina. Pensei em ficar quieta, mas ela merecia uma resposta.
— Mas não é essa a intenção da sua comunidade? — perguntei
ironicamente. — Passar 30 dias com milionários com muito sexo e
diversão? Não deveria se espantar por eu estar aqui, vim visitar o meu
querido Sugar CEO.
Paige arregalou os olhos, e eu conhecia bem aquele olhar, ela estava
furiosa por dentro. Ela olhou para Luca esperando que ele dissesse algo,
como se fosse defendê-la ou que desmentisse, mas ele não fez. Permaneceu
calado, apenas observando toda a cena.
— Fico feliz que está fazendo bom proveito disso, querida.
Aproveite bem! Não deve estar sentindo falta de nada do subúrbio, né?
— GAROTAS... — Luca interrompeu a nossa conversa. — O dia
está cheio hoje, eu preciso trabalhar, então se querem continuar essa troca
de farpas, por favor, saiam da minha sala.
— Não será necessário — declarei rapidamente. — Já estou de
saída. Bom trabalho, Luca. E para você também, Paige!
Não esperei que respondessem, apenas caminhei em direção à saída
da sala, quando estava no elevador descendo para o térreo confesso que me
senti desconfortável, eu não parava de pensar em Luca e no que poderia
estar acontecendo naquela sala. Paige ficou, os dois pareciam se conhecer
muito bem. Eles poderiam ficar. Imaginei várias cenas, mas eu não podia
fazer nada. Luca não era meu, e eu também não era dele. Lembre-se, Daya,
vocês são apenas bons amigos.
VOLTEI PARA A MANSÃO e estava junto com Lisa, a governanta
que era tão calma e parecia ter muita experiência. Ela estava se tornando
uma amiga para mim. Algo em suas palavras me trazia tanta paz e conforto,
era muito bom tê-la em meus dias. Eu havia falado para Luca voltar para
casa, e disse que iríamos fazer alguma coisa, mas ele não sabia bem do que
se tratava. Minha intenção não era fazer nada fora, e sim dentro da mansão.
Aqui tudo era lindo e espaçoso, era um desperdício não aproveitar cada
parte desse lugar.
Já era quase fim de tarde, e em breve a noite ia cair, havia um jogo
de cores bonito no céu em tons azuis e alaranjados. Era uma noite linda.
Céu estrelado, a lua estava cheia e o clima quente. Passei a tarde pensando
nos preparativos, iria preparar uma espécie de piquenique no jardim perto
da piscina. Tudo foi feito pelas minhas mãos, o bolo e alguns docinhos. Lisa
queria encomendar algo, mas eu decidi cozinhar.
Eu era muito boa cozinheira, ao longo da minha juventude tive que
aprender a me virar. Afinal, minha mãe tinha muitas limitações e meus
irmãos tão novinhos não conseguiam ajudar com quase nada. Estava quase
tudo pronto, e eu estava muito feliz na preparação de tudo, mas ao mesmo
tempo apreensiva. Eu não disse para Luca que iria fazer uma surpresa para
ele, afinal, se não, não seria surpresa. Ele poderia voltar para casa ou não.
Contudo, eu iria correr esse risco.
— Que cheiro delicioso! Tenho certeza de que ele vai amar esse
bolo. — Lisa sorriu e admirou o bolo no forno.
— É, eu espero que sim. Mas ele só vai poder amar, se voltar para
casa.
— Ele volta, Daya. Está voltando todas as noites, por que não
voltaria justamente no dia do seu aniversário que ele tanto odeia? Ele deve
estar louco para voltar para mansão e se enfiar no quarto, sempre foi assim.
Paige me veio à cabeça, talvez esse fosse o motivo para ele não
voltar. Mas não queria ficar pensando muito nisso.
— Lisa, por que ele não gosta de aniversários? — indaguei curiosa.
Lisa me olhou meio desconfiada, ela sabia que não deveria falar,
possivelmente, era algo bem pessoal da vida de Luca, que ele não gostaria
de expor para mais ninguém.
— Olha aqui, você tem que me prometer que não vai contar... eu já
te revelo coisas demais que nem deveria, mas isso é mais delicado que a
morte de Elisa.
— Eu juro que não vou contar — disse, beijando os dedos. — Pode
confiar em mim.
— Certo... — Lisa concordou, parecendo convencida. — A data de
aniversário de Luca é a mesma do aniversário de morte da mãe dele. Ela
morreu no dia do seu aniversário, então até hoje é bem traumático isso para
ele. Todo ano nessa data ele fica se sentindo mal, e entra em um estado
introspectivo mais do que o normal.
MEU DEUS. Senti uma angústia, aí me lembrei da história de Luca,
o homem rico e que tinha tudo ao seu dispor, mas que já havia perdido
todos que amava. O pai, a mãe, a esposa. O dinheiro não comprava o vazio
da alma. Olhei para o bolo no forno, e comecei a pensar se realmente era
uma boa ideia fazer algo para ele, se minha mãe tivesse morrido no dia do
meu aniversário, não sei se teria forças para comemorar nunca.
— Lisa... — chamei cabisbaixa. — Meu Deus, está explicado
porque ele se sente tão mal. Acha que fazer essa surpresa é uma boa ideia?
— Mas é claro que sim, Daya. — Ela se aproximou e pegou em
minhas mãos. — Você está sendo um anjo para ele. Não sabemos qual será
a reação dele, mas não desista. O Luca merece cuidado, merece ser amado
de novo.
Merece ser amado de novo. Engoli em seco ao ouvir essa frase, Lisa
estava indo longe demais com toda essa fantasia, mal sabia ela que nunca
iria passar disso. Estava bem claro que Luca nunca me olharia com outros
olhos, e era melhor eu começar a parar de enxergar além da realidade.
— Melhor eu continuar os trabalhos... Ele pode chegar em breve. —
Eu sorri carinhosamente e voltei para perto do forno. — Obrigada, Lisa. Por
tudo, você tem sido muito legal comigo.
— Conte comigo sempre, menina Daya. Eu gosto de você, gosto
muito.
E eu também gostava muito dela. Lisa saiu da cozinha e voltou aos
seus afazeres, e eu fiquei com uma centena de pensamentos acelerados em
minha cabeça. E todos me levavam ao mesmo homem, Luca Lancaster.

ALGUMAS HORAS DEPOIS, eu já estava pronta essa noite,


coloquei um vestido marsala simples com mangas curtas e um pouco abaixo
do joelho, estava descalça, porque se iríamos ficar no jardim, então eu não
precisava usar salto. Estava com pouca maquiagem hoje, bem natural e
fiquei na sala, andando de um lado para o outro, aguardando-o. Estava
começando a suar e a ficar com medo. Talvez Luca não viesse para casa, e
tudo que eu havia feito seria em vão, já estava ficando um pouco tarde e ele
ainda não voltou.
Senti um frio na barriga, e de repente me senti com quinze anos de
novo, no dia que dei o meu primeiro beijo. Droga. Eu odiava me sentir
assim. Fechei os olhos, e busquei respirar fundo, se ele não voltasse eu iria
comer todo aquele bolo de nervoso. Comecei a rir sozinha, e me dei conta
do quanto estava sendo boba e idiota. Quando estava no auge da minha
ansiedade, ouvi o barulho da porta abrir, e lá estava ele. Luca chegou.
— Daya... — Ele sorriu de canto. — Você não desistiu da ideia de
sair hoje, não é?
— Não. Não desisti — respondi, tentando conter minha ansiedade.
— Daya, eu realmente não gosto de aniversários, aconteceu algo
traumático comigo nessa data, não quero ser arrogante com você. Mas por
favor, podemos sair outro dia?
Eu sei, Luca, sei exatamente o que aconteceu. Mas eu não podia
falar, apenas me aproximei dele e estendi minha mão.
— E quem disse que vamos sair? Venha comigo, por favor...
— Daya... — Luca segurou minha mão desconfiado. — O que você
aprontou?
— Feche os olhos, eu vou te guiar. Se não gostar, você pode rejeitar
e voltar para o seu quarto. Mas ao menos quero que veja.
Comecei a caminhar guiando Luca até a saída que dava para o
jardim, deixei tudo preparado. Eu havia montado uma espécie de
piquenique à luz de velas, com o bolo e os docinhos e alguns arranjos de
flores lilases, as mais belas que já havia visto, que colhi do próprio jardim.
Estava tudo simples, porém foi de coração. Agora mais do que nunca eu
não queria que aquela data passasse em branco, queria que ele tivesse uma
nova boa lembrança.
Parei em frente à decoração e apertei forte a mão de Luca, estava
com um pouco de medo da reação dele. Mas, que assim seja.
— Pode abrir! Feliz aniversário, Luca.
Luca abriu os olhos e ficou sem reação, ainda permanecia sério sem
expressão nenhuma, eu não sabia se ele havia gostado ou detestado. Mas
dane-se, não iria me arrepender disso. Na verdade, eu não me arrependia de
nada desses últimos 7 dias.

Viver isso estava sendo a melhor coisa que me aconteceu.


EU FIQUEI EM CHOQUE ao abrir os olhos, de todas as coisas que
poderia esperar que Daya fizesse, aquela com certeza era a última delas.
Não sabia bem como reagir, mas no fundo estava emocionado e não queria
demonstrar isso. Eu detestava aniversários, era a data que me lembrava do
dia em que minha mãe morreu, e revivia intensamente todo o ocorrido,
como se tivesse acontecido ontem. Era uma verdadeira tortura. Fazia anos
que não recebia alguma surpresa, na verdade, nem mesmo Elisa fez algo
assim para mim, normalmente nos presentávamos com jantares caros,
presentes, ou uma noite de sexo em lugares deslumbrantes. Mas nunca nada
assim.
— Estou sem palavras — comentei, foi a primeira coisa que
consegui falar. — Eu não esperava por isso.
Daya parecia tensa, com certeza não era aquela reação que ela
esperava. Observei suas mãos e pernas tremendo, ela realmente estava
muito nervosa.
— Está tudo maravilhoso! — tornei a falar. — É por isso que estou
sem palavras, porque é bom demais para ser verdade.
— Você gostou mesmo? — Ela sorriu e respirou fundo. — É tudo
simples, mas pode ter certeza de que é de coração.
— É o melhor presente que eu poderia receber. Você fez tudo isso?
— Eu encarei o bolo e os docinhos que estavam expostos na toalha forrada
no chão gramado. — Agora estou mais impressionado ainda.
— Sim, fui eu. Eu sei que não gosta de aniversários, mas eu queria
fazer algo por você. Está fazendo tanto por mim...
E também é de coração. Tudo aquilo havia me pegado
despreparado, mas eu estava gostando demais. Eu não conseguia tirar os
meus olhos de Daya, e se antes ela já tinha um brilho próprio encantador,
agora triplicou. Algo em mim dizia que aquilo estava indo longe demais.
Como foi que as coisas ficaram dessa forma? Quando foi que comecei a vê-
la com outros olhos? O dia do nosso beijo me veio à cabeça, mas então me
lembrei do momento em que abri a porta, e a vi parada vestida de branco,
completamente nervosa e receosa do que iria acontecer. Acho que aquele
foi o momento em que me dei conta, que ela não seria apenas uma garota
aleatória que passaria em minha vida.
— Você não precisa me agradecer, Daya. Você merece tudo e mais
um pouco, você... — Eu comecei a me aproximar. — Merece o mundo,
garota.
Daya ficou sem graça, e abriu um sorriso tímido.
— Você ainda quer ficar sozinho? Eu preparei tudo isso, mas se
quiser subir irei entender...
— Não... — Eu segurei sua mão. — Fica, eu preciso te falar uma
coisa.
Era agora. Todo aquele momento estava sendo precioso, eu estava
envolvido e não aguentava mais guardar isso dentro do meu peito. Eu
segurei por dias, e estava disposto a não colocar para fora, mas estava sendo
mais forte do que eu. E algo me dizia, que eu não estava sentindo isso
sozinho.
— Aconteceu alguma coisa? — Daya me encarou preocupada.
— Aconteceu sim. E eu estou cansado de querer inventar uma
desculpa e mentir para mim mesmo. Hoje quando você foi ao meu
escritório, eu disse que o motivo de eu ter me afastado foi por causa de
Elisa, mas eu menti. Não foi por ela, Daya.
— Então foi pelo quê? Fala, Luca... — Daya indagou nervosa, agora
sua mão estava tremendo mais ainda.
— O real motivo de eu ter me afastado, é porque eu fiquei com
medo. Sim, isso mesmo. Eu, um homem trinta e dois anos com medo de um
sentimento. Eu não parei de pensar em você, no nosso beijo, eu não sou
muito bom em expressar minhas emoções, mas é isso. Acho que falei
demais. — Eu parei de falar e cocei a nuca. — Sei lá, talvez eu esteja louco
e confundindo as coisas.
— NÃO! — Daya disse em voz alta. — Não pare, por favor fala. Eu
quero ouvir isso e muito mais, era exatamente isso que eu queria ouvir
quando fui ao seu escritório, Luca. Queria algum sinal, o mínimo que fosse
de que eu não estava sentindo isso sozinha. Eu também não paro de pensar
em você, no nosso beijo, inclusive, estou pensando nisso agora te vendo
assim...
E ela nem precisou falar duas vezes, entendi perfeitamente o recado.
Com facilidade, deslizei minhas duas mãos para a cintura de Daya e a puxei
contra meu corpo, com força que senti nossa pele ir uma conta a outra
deixando meu corpo mais quente. À medida que íamos nos beijando, eu a
apertava com força em mim, seu vestido foi subindo e minha vontade era de
transar com ela aqui mesmo. As mãos de Daya desciam pelos meus ombros,
seguindo pelas costas e ela passou delicadamente as unhas, nossos lábios
deslizando um no outro e eu queria ela toda. Mas tinha que me controlar.
Parei o beijo, e ela me olhou com aqueles olhos que clamavam por mais, só
que mais para mim era algo que para ela talvez ainda fosse desconhecido.
Percebi o volume na minha calça, meu pau estava endurecendo, comecei a
ficar realmente excitado, então era melhor pararmos.
— Seu beijo é delicioso, mas... — disse olhando para o bolo. — O
seu bolo está me chamando, e acho que não irei resistir.
— Vamos comer! — Daya exclamou animada. — Espero que você
goste.
Não tinha como não gostar. Eu provavelmente iria gostar de tudo
que ela fizesse, nós nos sentamos em cima da toalha e começamos a comer
as delícias que ali estavam. O bolo estava fantástico, era de chocolate e por
dentro havia um recheio de coco. Os docinhos estavam melhores ainda,
melhor do que qualquer doce chique que já comi em festas corporativas.
Daya estava de parabéns, era uma cozinheira de mão cheia. Comi mais do
que deveria, mas me permiti, pois hoje era o meu aniversário. Daya estava
terminando de morder o seu segundo pedaço de bolo, e então me olhou com
cara de preocupada.
— E então... como vai ser agora?
— Como assim? Acho que não entendi, seja mais clara...
— Tudo isso que está acontecendo entre nós, não podemos negar
que é alguma coisa. Existe algo.
E existe mesmo. Entretanto, eu ainda não sabia definir o que era, e
não queria acelerar as coisas. Estava bom assim, do jeitinho natural.
— Não tenha pressa, Daya. Eu não sei como vai ser, mas quero
descobrir. Por hoje, vamos apenas viver o momento.
— Tudo bem... — Ela sorriu. — Então vamos apenas viver o
momento.
Daya não parecia muito contente com isso, e eu também não estava,
mas não podia colocar tantas expectativas em algo que eu ainda não sabia
definir. Eu só sabia sentir, eu gostava dela, da presença, do jeito, do beijo,
de tudo que estava acontecendo, mas ainda era muito cedo para me
precipitar. Ainda amava muito Elisa, mesmo ela sendo apenas uma
lembrança em minha mente. Um amor que me marcou, mas que nunca mais
voltaria.

DEPOIS DA COMILANÇA, já estava um pouco tarde e


precisávamos nos deitar, Daya e eu subimos juntos para o andar de cima,
onde ficavam os quartos, no corredor, estávamos andando de mãos dadas e
o clima de tensão sexual estava grande. Eu estava me esforçando para não
pensar em tantas besteiras, mas era difícil, em minha mente eu a imaginava
por cima de mim, completamente nua. Merda. Eu queria arrancar esse
vestido, olhar para o seu corpo perfeito e beijar, chupar cada parte dele. Ela
estava me deixando louco, merda. E quando olhava para ela, via uma
pureza em seus olhos, a pureza de uma menina que tinha apenas dezoito
anos e zero experiência. Isso não ia acabar bem. Será que ela era virgem?
Com certeza, sim. Era perceptível, toda vez que eu a tocava, sentia sua
entrega, mas também, um certo medo de darmos alguns passos. Porra, eu
nunca fiquei com uma garota virgem, sempre preferi mulheres experientes.
Como ia ser isso?
Paramos em frente à porta do seu quarto, Daya virou-se para mim e
colocou a mão no meu queixo, ela mordeu o lábio e estava tentando fazer
algo ousado. Aquilo estava mexendo ainda mais com minha cabeça, ela
colocou a outra mão na maçaneta e abriu a porta, senti meu coração
disparar.
— Você quer entrar?
É claro que eu quero. É o que eu mais quero. Olhei para o fundo do
quarto dela, estava escuro e imaginei nós dois transando loucamente, que
meu tesão por ela nesse momento faria tremer a casa toda. Rolando nos
lençóis, a noite não poderia acabar de maneira melhor. Porém, algo me dizia
para não fazer aquilo. Havia algo em Daya que não demonstrava segurança
para se entregar para mim. Era uma grande responsabilidade ser o primeiro
homem de uma mulher.
— Quando você estiver pronta... — Eu sorri. — Aí sim isso pode
acontecer. Mas eu sinto que não está.
— Eu... — Daya gaguejou. — Eu estou sim, ou então não faria o
convite.
— Daya... — Eu soltei um riso. — Não teime comigo. Boa noite,
pequena! — Dei um beijo em sua testa.
— Boa noite, Luca.
Afastei-me do seu corpo, e última coisa que vi foi seu sorriso meigo
vendo eu dar de costas rumo ao meu quarto. O Luca do passado jamais
deixaria algo assim acontecer, eu iria querer ficar com ela,
independentemente de qualquer coisa, seria apenas mais uma transa
qualquer. Mas algo havia mudado, ela havia me mudado. Teria que ser
especial, porque ela era uma garota especial.
Hoje é o meu aniversário, e ela estava sendo meu presente.
A MANHÃ DE HOJE estava mais radiante, tudo parecia com mais
cor e mais vida, acordei me sentindo tão bem como nunca antes. A noite de
ontem foi melhor do que eu imaginava, aquele mar de dúvidas que antes
tomava conta de mim agora eram certezas. Luca também sentia algo.
Levantei-me da cama e fui até a sacada, espreguicei-me e senti a brisa bater
em meus cabelos, o frescor do dia e os raios de sol em minha pele. Ao
fechar os olhos, lembrei-me de cada cena de ontem, da cara de surpreso
dele ao ver tudo que eu havia preparado, de como ficou feliz, do momento
que ele expressou os seus sentimentos. E dos nossos beijos.
Era bom demais beijá-lo, ele tinha uma firmeza quando me puxava
para perto do seu corpo que me deixava completamente entregue. Eu queria
ter acordado ao seu lado, mas ele estava certo, iria ser pelo calor do
momento, porque talvez eu realmente não estivesse pronta para ter relações
tão íntimas com alguém. No subúrbio não tínhamos muita educação sexual,
minha mãe não costumava comentar sobre nada disso comigo, então tive
que colher as informações sozinha. Luca era realmente um homem de
respeito, qualquer um no lugar dele ontem teria entrado no quarto sem
pensar nas consequências. E aquela atitude, me fez gostar ainda mais dele.
Comecei a rir sozinha, estava me sentindo meio boba por pensar
nele, eu nunca pensei que isso aconteceria comigo e que um dia eu ia gostar
de alguém de verdade. Sempre fui um pouco cética e fria em relação aos
meus sentimentos, as experiências da minha mãe me traumatizaram, e isso
acabou refletindo com o modo que eu enxergava as relações. Mas eu estava
começando a ver que nem tudo precisava ser tão horrível, e que nem todas
as pessoas brincariam com nossos sentimentos. Meu momento foi
interrompido pelo toque do meu celular. Luca ligando tão cedo? Aconteceu
algo? Foi a primeira coisa que pensei, afinal, só ele tinha o meu telefone,
mas me surpreendi quando peguei o aparelho e vi que o chamador era
desconhecido.
— Alô! — atendi com a voz tensa.
Quem era?
— Daya? — disse a voz que era idêntica à de Ana.
Como ela conseguiu meu número?
— Ana? É você?
— Sim, sou eu. — Ela riu. — Desculpe te ligar a esse horário, entrei
em contato com Luca para solicitar sua presença na sede, e ele me disse que
você agora tinha celular. Parabéns! E eu pedi seu contato para ele para
conversar com você.
Mais uma forma que ela vai ter agora de me espiar. Droga!
— Ah, sim, aconteceu algo?
— Precisamos ter uma conversa. Preciso que venha até a sede hoje
mesmo, já estou mandando um carro para buscá-la, ele chega em alguns
minutos então melhor se apressar.
Eu gelei naquele momento, meus batimentos cardíacos estavam
mais acelerados. Então me lembrei do que eu havia feito, liguei para minha
mãe aquele dia, mas Melissa havia me dito que manteria em sigilo, caso eu
não tentasse de novo. Ela quebrou o nosso acordo?
— Bom, tudo bem. Estarei aí em breve! — respondi, buscando
parecer tranquila.
— Ótimo! Te aguardarei.
A chamada encerrou, e eu estava com o coração na boca. Não sabia
bem o que Ana queria falar comigo, mas possivelmente era algo sério para
me convocar até lá. Afinal, se fosse algo simples ela poderia falar por
telefone mesmo. Contudo, não tinha saída, teria que ir até lá e descobrir
com meus próprios olhos.

DEPOIS DA LIGAÇÃO, me arrumei depressa e coloquei o


primeiro vestido que achei no guarda-roupa, o carro realmente chegou bem
rápido e era o mesmo veículo que foi me buscar no subúrbio. Fui estralando
os dedos no caminho, e bem aflita com a situação, aproveitei o trajeto e
resolvi mandar uma mensagem para Luca por segurança.

Eu: Bom dia, Luca! Espero que esteja bem, e já sei que está
atarefado. Estou indo para a sede. Te vejo mais tarde?
Sorri ao mandar aquela mensagem, eu não esperava que ele
respondesse, afinal nunca trocamos mensagens, mas de qualquer forma não
importava. Se algo acontecesse, ele sabia onde me procurar. Surpreendi-me
ao ouvir a notificação na tela, era uma mensagem de Luca. Que rápido.

Luca: Bom dia, Daya! Quero dizer que estou comendo agora
um pedaço do seu bolo, você me deixou viciado não só nele
como no seu beijo. Ana entrou em contato comigo solicitando
o seu número, espero que eu não tenha feito mal em mandar.
Obrigado por me avisar sobre sua localização, gosto disso...
RS

UAU! EU REALMENTE NÃO ESPERAVA POR ISSO. Aquela


mensagem me fez abrir um enorme sorriso e soltar uma risadinha, o
motorista me encarou pelo retrovisor e busquei me conter. Pensei em não
responder, mas não queria deixá-lo sem resposta.

Eu: Fico feliz que tenha gostado do meu bolo, posso fazer
mais se quiser. Gosto do seu beijo também, e posso te dar
muitos outros hoje à noite. Estou quase chegando à sede e
me perguntando o que Ana quer falar comigo, fiquei meio
preocupada.

Observei as ruas, e já estávamos quase chegando à sede, eu


lembrava bem do caminho até o local, minha memória era muito boa.
Decidi expor minha preocupação para Luca, porque além disso que estava
rolando entre nós, permanecíamos amigos. Ele era a única pessoa que eu
tinha para desabafar.

Luca: Vou cobrar esses beijos, mas hoje à noite temos um


evento para ir. É uma festa importante, e você será minha
convidada. Irei enviar um vestido para você, esteja pronta às
20h, ok? E sobre Ana, ela disse que era só protocolo, fique
tranquila, não vai ser nada demais. Vou trabalhar. Até mais
tarde, pequena!

Pequena. Esse era o meu novo apelido, e eu confesso que estava


amando. Ainda não tinha pensado em como chamar Luca. Parecia que nada
no diminutivo combinava com ele. Guardei o celular após aquela última
mensagem, e já havíamos chegado, pensei rapidamente nessa festa de hoje à
noite e me bateu uma leve curiosidade porque ela era tão importante. No
entanto, isso eu ia descobrir depois.
Saí do carro e não havia ninguém me aguardando aqui dessa vez,
entrei na sede e estava bem movimentado, ainda mais do que aquele dia.
Mulheres de um lado para o outro e uma grande agitação. Falei com a
recepcionista e ela me direcionou para subir, disse que Ana já estava à
minha espera. Achei estranho porque o caminho era o mesmo que levava à
sala de Paige Conner. Será que Ana dividia a sala com ela? Ao chegar lá, a
porta estava entreaberta, e eu me convidei a entrar sem bater.
— Daya, querida! — Ana me saudou com um sorriso. — Estava te
esperando.
É Ana, eu sei.
— E aqui estou — declarei. — Aconteceu algo? O que você quer
falar comigo?
Busquei agir naturalmente, como se não tivesse acontecido nada que
pudesse me complicar. Talvez ela não soubesse de nada, e fosse apenas uma
paranoia da minha cabeça.
— Por favor, querida, sente-se! — Ana indicou a cadeira em frente à
mesa. — Vamos conversar.
Reparei na mesa e havia o nome de Paige, tudo era igualzinho como
naquele dia. Pelo jeito elas realmente dividiam a sala, porque Paige não
estava aqui. Ana se sentou no lugar dela, e eu me sentei na cadeira em
frente à mesa. Como aquele dia. Ela estava sendo bem simpática comigo, se
estivesse brava ou desapontada o tratamento não seria esse.
— Prontinho! — Eu abri um sorriso falso.
— Eu te chamei aqui para conversarmos, quero saber como está
sendo sua experiência com Luca, ele está te tratando bem?
— Está — respondi desconfiada. — Não está sendo uma
experiência tão ruim quanto eu imaginava.
— Eu falei para você que iria gostar, nossa comunidade só tem o
objetivo de ajudar vocês garotas do subúrbio a ter uma vida melhor, Daya.
Essa oportunidade que está recebendo é para o seu bem.
— Mas não se trata só dessa comunidade, não é, Ana? — eu
relembrei. — Existem outras comunidades, outras oportunidades de
trabalho, quando você falou comigo, fez eu acreditar que aqui era minha
única alternativa.
Ana torceu o pescoço e contraiu os lábios, ela parecia estar
pensando no que me responder, por essa ela não esperava. Eu nem sei se foi
muito inteligente mencionar sobre isso, mas eu não podia deixar de
perguntar. As outras garotas sabiam da existência de outras comunidades
também?
— Ah, pelo jeito você andou se informando — disse, dando uma
risadinha. — Ah, querida, existem sim outras comunidades, que recrutam
pessoas do subúrbio para outras tarefas aqui, afinal precisamos de mão de
obra se não a cidade não funciona. Mas você preferiria estar fazendo faxina,
Daya? Ou de repente virando uma garçonete? Porque se assim for sua
vontade..., mas te aviso que em nenhuma dessas comunidades você teria a
oportunidade que estamos te dando, estamos cuidando de você e da sua
família.
Estamos cuidando de você e da sua família. A feição de Ana
mudou, e agora seu olhar me dava medo, as sobrancelhas estavam
arqueadas, e eu nunca havia visto me olhar de uma forma tão medonha. Ela
sabia bem como quebrar os meus questionamentos, usando a minha família.
No fim das contas isso não passava de uma ameaça. Um bom sábio sabe
quando se calar. Eu pensei, e teria que guardar minha indignação só para
mim.
— Você tem razão, sou grata a essa comunidade — comentei,
engolindo em seco.
— Eu sempre tenho! Que bom que está gostando da experiência,
Daya. Tem outra pessoa que gostaria de falar com você também, na
verdade, ela quer falar com você muito mais do que eu.
QUEM? E não demorou muito para uma figura loira aparecer atrás
de mim, era Paige Conner. Quando foi que ela entrou nessa sala que eu não
percebi? Ou ela estava ouvindo esse tempo todo escondida atrás da porta?
Assim que ela chegou, Ana se levantou de sua cadeira e as duas se
cumprimentaram.
— Eu finalizei por aqui! Vou deixá-las sozinhas — disse Ana. —
Até mais, Daya!
— Até...
Ana saiu da sala, e agora estávamos apenas eu e Paige sozinhas
aqui, nosso contato ontem na sala de Luca não foi muito bom, algo nessa
mulher não me cheirava nada bem, eu ficava irritada só de olhar para cara
dela, e isso ia além de Luca. Eu odiava o que ela representava, odiava a
forma como ela queria pintar a comunidade como um paraíso. Nunca foi, e
nunca será. Estavam explorando mulheres. Paige se sentou em sua cadeira,
e ficou com a postura ereta me encarando com desdém, ela também não
gostava de mim.
— Olá, Daya! Que bom te ver de novo. Aquele dia não tivemos um
encontro muito bom, não é mesmo?
— É... Digamos que eu não estava em um bom dia — menti.
— Eu percebi, você parecia bem irritada. Luca está te tratando bem?
Ele tem sido legal com você? Eu espero que sim, porque esse é o intuito da
nossa comunidade.
Havia malícia em suas palavras, ela não estava preocupada comigo e
sim na minha relação com Luca. Nunca foi sobre mim, mas sim sobre ele.
— Luca está sendo incrível comigo, eu não poderia ter tido mais
sorte. — Sorri cinicamente.
— Tenho certeza de que sim. Mas, Daya querida... eu vim falar com
você, não só como a LÍDER da comunidade — ela enfatizou a palavra —,
mas sim como sua amiga, que só quer o seu bem, tenha cuidado com Luca...
É um jogo, Daya. Não caia nisso.
— Ah, é mesmo? Por que deveria tomar cuidado com ele? —
indaguei, demonstrando curiosidade.
— Sabe, Daya, Luca parece ser um cavalheiro e eu acredito que ele
realmente te trate bem. Mas não caia nesse papinho dele, é tudo conversa.
Luca é um cafajeste de primeira, falo isso por experiência própria, eu não
sei o que ele tem te falado. Mas acredite, eu também ouvi essas palavras...
— O que está querendo dizer?
— Estou querendo dizer que eu e Luca já tivemos um romance. Ele
me tratava tão bem, me fez juras de amor, e até disse que eu fui a mulher
que ele sentiu algo depois de Elisa. Ele me iludiu, Daya, pois é — disse,
lamentando-se. — Ele começa meio frio, distante, mas depois vai se
revelando um homem doce e todo aquele tratamento vai deixando a gente
cada vez mais envolvida...
Era um jogo baixo esse que ela estava fazendo, e eu não estava
gostando nada daquilo. Estava tentando ser firme e não cair nas palavras
dela, mas comecei a pensar que talvez minhas suspeitas estivessem
realmente certas. Eu senti que ela e Luca já tinham tido algo, devido à
liberdade que ela parecia ter com ele, a forma íntima como falou da sala, e a
confirmação disso começou a mexer com minha cabeça.
— Eu não estou apaixonada por ele, Paige. Não sei por que está se
preocupando com isso. Luca é meu Sugar CEO, apenas isso. Depois que o
contrato acabar, nunca mais irei saber dele — menti novamente.
— Ah, meu bem... eu não estou falando isso para o seu mal, eu
realmente te chamei aqui para te alertar, aquele dia tive a impressão de estar
acontecendo algo entre vocês, e bom — ela abaixou os óculos —, depois
que você foi embora nós transamos na mesa dele, e achei que você deveria
saber, não quero que nenhum Sugar CEO iluda as minhas garotas.
Meu coração apertou naquele momento, por um segundo foi como
se meus ouvidos estivessem sendo tampados e eu não conseguisse ouvir
mais nenhuma palavra de Paige. Senti-me mal com tudo aquilo, lembrei-me
do momento que saí da sala de Luca a sensação que tive de que algo iria
acontecer entre eles, até onde isso era verdade? Paige estava mentindo ou
Luca que estava mentindo esse tempo inteiro? Em quem eu deveria
acreditar? Fiquei perdida, completamente perdida, e tudo que eu desejava
agora era sair dessa sala.
— Obrigada por sua preocupação, Paige. Tem mais alguma coisa
para me dizer? Porque eu quero ir embora — falei, me levantando.
— Era só isso mesmo. — Ela sorriu satisfeita. — Daya, espero que
não tenha ficado chateada comigo, eu só falei para o seu bem é tudo que eu
mais quero.
Como ela consegue ser tão podre? Tão cínica? Ela me trouxe aqui
para tentar me humilhar, fez tudo calculado.
— Não fico chateada facilmente, Paige. Ainda mais por tanta
besteira. E você deveria se valorizar mais, se Luca é um cafajeste como
você está me dizendo, por que ainda insiste em alguém que nunca vai
querer nada com você? — Eu sorri. — Espero que não fique chateada com
minhas palavras, somos amigas, não somos? E amigas fazem isso. Agora,
com licença, estou indo embora.

DEI AS COSTAS e saí da sala sem olhar para trás, eu sabia que
Paige estava muito irritada depois disso. Mas eu era uma garota do
subúrbio, e se ela achava que ia pisar em mim e não receber nada em troca,
estava muito enganada. Eu não ia deixar ninguém da Elite me humilhar,
eles tiraram tudo do meu povo, mas não iam tirar minha dignidade.
Eu não sabia até que ponto era verdade o que Paige havia falado,
mas na dúvida eu iria perguntar direto para fonte, eu queria saber da boca
de Luca sobre isso, entre confiar nela e nele, com certeza eu iria confiar
nele. Que era meu amigo, e estava me ajudando até agora. Senti uma
sensação estranha, eu estava com um pouco de ciúmes, confesso, só de
imaginar os dois juntos, mas tinha consciência de que Luca não me devia
fidelidade. Porém, eu precisava saber quem era Luca Lancaster de verdade,
era o homem maravilhoso que eu estava conhecendo e me apaixonado? Ou
era de fato um cafajeste que só queria brincar com meus sentimentos? Não
sei, mas iria descobrir.

QUANDO EU ESTAVA prestes a sair do prédio fui surpreendida


por Tess. A garota que eu havia conhecido, no dia que iniciamos na
comunidade. Ela estava muito mais bonita, bem arrumada e com os cabelos
hidratados. Ficou deslumbrante depois da transformação. Mas seu olhar
estava meio perdido, parecia triste e assustada. Assim que a vi, abri um
sorriso, mas não fui recebida da mesma forma, Tess apanhou meu braço e
me segurou com força, me puxando para o canto de uma parede, onde não
estávamos completamente à vista.
— DAYA... Foi Deus que te colocou no meu caminho hoje, ainda
bem.
— Está tudo bem, Tess? — perguntei preocupada. — O que houve?
— Não tenho muito tempo, preciso ser breve. É muito maior do que
imaginávamos...
— Como assim, Tess? Do que você está falando?
— Eu descobri muitas coisas na última semana, não é a Paige que
controla essa comunidade, ela é só um peão nesse jogo de xadrez. — Tess
tremeu. — Tem um homem mau por trás disso, e eu estou com ele.
COMO ASSIM? Tess apertou os dedos no meu braço, e ela começou
a me pressionar contra a parede, parecia estar com muita raiva.
— Calma, Tess... quem é esse homem? Como eu posso ajudar?
— Era para ser você no meu lugar — Tess disse entre as lágrimas.
— Você deveria estar vivendo isso, VOCÊ! — Ela cravou as unhas na
minha pele.
Engoli um grito de dor ao sentir suas unhas, Tess não estava no seu
estado normal, não parecia nem de longe a garota doce e simpática que eu
havia conhecido.
— ME SOLTA! — gritei enfurecida. — Não sou culpada.
Droga. Aquele grito chamou a atenção de uma das funcionárias da
sede, e imediatamente ela veio em nossa direção, eu não deveria ter feito
isso, mas Tess conseguiu me deixar furiosa.
— Garotas... ALGUM PROBLEMA? — questionou a mulher loira
uniformizada.
— Nenhum, já estou de saída. — Tess me encarou rangendo os
dentes. — Pense no que eu te falei, você me deve isso.
Tess se retirou e seguiu rumo ao elevador, a funcionária perguntou
se estava tudo bem comigo, e disse que sim, saí do prédio logo em seguida.
Olhei o meu braço e estava marcado pelas unhas de Tess, com algumas
gotinhas de sangue escorrendo. Meu Deus. Ela estava com muita raiva de
mim, mas suas palavras não saíam da minha cabeça.

Quem estava por trás disso tudo?


O DIA FOI LONGO e bem produtivo, tive muitas burocracias para
resolver na empresa que decidi me arrumar por lá mesmo, providenciei um
smoking e sapatos adequados para a ocasião, era uma festa luxuosa e eu
tinha que estar bem apresentável. Já estava chegando à mansão, e estava
torcendo para que Daya estivesse pronta. Enviei um vestido especial para
ela usar essa noite, e também pedi que alguém fizesse a maquiagem e o
cabelo dela. Era bem estranho isso para mim, a última mulher que havia me
acompanhado nessa festa foi Elisa, depois dela nunca mais convidei
ninguém para me acompanhar.
As coisas estavam indo rápido demais, e cada vez menos eu tinha
controle dos meus sentimentos. Eu estava completamente envolvido. Daya
não saía dos meus pensamentos. Quando entrei na mansão, parei na sala e
me deparei com ela descendo as escadas lentamente de uma forma elegante
e única. Fiquei paralisado ao vê-la linda assim, caminhando em minha
direção. O vestido havia ficado magnífico em seu corpo, ele era branco,
tomara que caia e bem justo na cintura, porém comprido. Junto a ele, ela
também estava usando uma echarpe de pelo que dava um ar de fineza e foi
a cereja do bolo. Daya parou em minha frente e abriu um sorriso, eu não
tinha nem palavras para descrever sua beleza essa noite. Os olhos estavam
bem destacados com a maquiagem. Céus vê-la assim só me deixava ainda
mais encantado.
— Você está maravilhosa... — Respirei fundo. — Uma verdadeira
deusa.
— Não exagere — comentou séria. — Só estou com o cabelo
arrumado e de maquiagem, mas ainda sou a mesma de sempre.
Fiquei em alerta com o jeito que Daya falou, algo tinha acontecido,
ela foi bem arrogante, e eu era observador, toda vez que ela falava com esse
tom de voz e com um jeito mais fechado, era porque estava brava com
alguma coisa. O que eu fiz agora?
— Ei! — Eu me aproximei e acariciei seu queixo. — O que foi,
Daya? Você está brava?
— Talvez eu esteja...
EU SABIA. Eu realmente era um bom observador, dificilmente algo
passava por mim. Seja lá o que fosse, era melhor esclarecermos aqui, eu
não queria ir para a festa e correr o risco de ter alguma briga por lá. Ainda
mais com tantas pessoas, a imprensa, todo mundo reunido esperando alguns
deslizes dos empresários.
— Então vamos conversar — pedi, cruzando os braços —, pois
bem, comece a falar, o que eu te fiz? O que aconteceu? E não me venha
esconder ou eu irei descobrir.
— Paige conversou comigo hoje sobre uma coisa que me deixou
bem intrigada, sabe? — Daya mordeu o lábio de nervoso. — Ela falou
sobre vocês.
— COMO ASSIM? — perguntei exaltado. — Ela falou o que sobre
nós?
— Ela disse que vocês já tiveram um caso, Luca. E que vocês
transaram ontem na sua mesa, depois que fui embora. Isso é verdade?
MAS QUE CALÚNIA. Quando Daya terminou de falar eu fiquei
completamente perplexo com suas palavras, eu não acredito que Paige
inventou uma mentira desse tamanho. Ela estava louca, eu achei que ela já
tinha superado o nosso caso, mas pelo jeito não.
— É sério que a Paige te chamou na sede só para falar sobre isso?
Que merda ela tem na cabeça? Estou PUTO com isso.
— Olha, também não foi nada confortável estar nessa situação com
ela. Achei baixo e uma mulher da idade dela deveria ter vergonha de fazer
essas coisas. Mas eu quero saber de você, Luca... essa história é verdade?
— Daya insistiu.
Em partes sim. Paige e eu de fato tivemos um caso no passado,
porém foi só sexo. Para falar a verdade, Paige era obcecada por mim antes
mesmo de ficarmos, ela sempre me desejou de uma forma obsessiva, até
mesmo antes de Elisa aparecer. Mal sabia ela que eu odiava esse tipo de
atitude, tamanho desespero só fez eu me afastar. Mas Daya entenderia isso?
Se eu afirmasse, o que passaria na cabeça dela? Mas agora essa história de
termos ficado ontem, era uma verdadeira calúnia, e Paige teria que me
esclarecer por que inventou essa mentira para Daya, ela não podia sair por
aí inventando algo ao meu respeito e ficar impune. Eu não sabia como Daya
iria reagir, mas ela merecia saber a verdade.
— Eu não vou mentir para você, Daya... — disse fixando os meus
olhos no dela. — Sim, eu e Paige já tivemos algo, porém foi apenas sexo,
não chegou a ser um namoro nem nada do tipo. Eu não me apaixonei por
ela, mas ela se apaixonou por mim e depois disso suspeito que seja até hoje.
Ela nunca aceitou o fato de eu a ter rejeitado, um tempo atrás ela me
perseguiu, mas depois parou e parecia estar bem. Agora eu JURO ontem
não aconteceu nada, absolutamente nada. Ela se insinuou para mim, mas
nós não ficamos. Eu não quero ela, eu quero você...
Daya ficou em silêncio, e apenas nos olhávamos fixamente. Ela
estava um pouco chateada, mas sabia que eu estava falando a verdade, não
tinha motivos para mentir.
— Ela é muito baixa... — disse relembrando. — Muito mesmo. Ela
quer me colocar contra você.
— Mas você não vai cair nesse jogo não, é? — sorri. — Aliás, você
não caiu. Veio aqui me perguntar, confiou em mim e admiro isso. Admiro
muito! Isso só me faz gostar mais ainda de você, pequena...
— Em você eu confio, agora nela... — Daya resmungou.
— Vem cá, vem... — chamei, abraçando-a.
— É difícil estar com um cara que é desejado por todas as mulheres.
Sei que não é a primeira vez que isso vai acontecer — Daya disse,
colocando os braços em volta do meu pescoço. Ela era tão pequena perto
de mim.
— E acha que eu não terei esse mesmo problema? Olha as dores de
cabeça que você já me deu — comentei rindo. — Primeiro, o dono do
restaurante queria te dar um mimo. Depois o cara no bar te assediou, e o
próximo... — Eu a apertei contra o meu corpo. — Já aviso que não terei
tanta paciência.
— Ah, francamente, Luca. — Ela riu. — Eu nem me lembrava mais
disso.
— É, mas eu não esqueço, Daya. Somos bem requisitados, mas o
que importa é que estou gostando de viver esse momento com você, e de
estar com você. E agora você é definitivamente minha.
— E que assim permaneça... — Daya sorriu e me olhou com os
olhos brilhando.
Quando Daya e eu íamos nos beijar, fomos interrompidos pela
presença de Lisa, eu não sabia bem se gostaria que ela tivesse visto, mas ela
era minha governanta há muitos anos e já sabia que estava rolando algo.
Então, que seja.
— Desculpa por atrapalhar o momento — Ela encenou uma tosse.
— Mas é que Joseph já está esperando vocês.
— Obrigado, Lisa! Já estamos indo — agradeci, acenando para ela.
Lisa se retirou, e eu percebi que ela estava sorrindo ao nos ver. Algo
me dizia que ela gostava muito de Daya, o jeito que ela nos olhou era como
uma mãe vendo a felicidade de um filho. Fiquei feliz, mas não disse nada.
Pelo horário, já havia passado da hora de sairmos, entrelacei minhas mãos
com a de Daya e avisei:
— Vamos, pequena! Estamos atrasados e eu só quero que essa noite
passe logo para ficarmos mais tempo juntos.
Daya concordou e selou seus lábios com o meu rapidamente, e
assim saímos rumo à grande festa.

AO CHEGARMOS AO LOCAL, fiz as honras de sair primeiro do


carro e abrir a porta para Daya, ela abriu um sorriso tímido, e fiz questão de
segurar em sua mão conduzindo-a junto comigo para a entrada da
cerimônia. Seria no palácio de Greville, um lugar que só era usado para
cerimônias da mais alta sociedade, somente em noites como essa era
permitido usar o palácio.
Logo na entrada, a imprensa estava em peso aqui, fotógrafos e
alguns jornalistas. Nos fotografaram, e eu apressei o passo para que nenhum
jornalista curioso viesse me interrogar. Estávamos subindo as escadas, e
Daya estava olhando de um lado para o outro, parecendo um pouco perdida
com todo aquele glamour.
— Afinal de contas qual é a finalidade dessa festa? — ela indagou,
quebrando o silêncio.
— Todo ano ela acontece. Funciona como um leilão.
— Um leilão? E o que eles estão leiloando? — Ela me olhou
confusa.
— O que todo homem quer ter nas mãos. Poder!
Daya arregalou os olhos e não disse mais nada, ela estava
começando a entender o porquê de todo esse circo montado, era uma noite
camuflada com muito luxo, mas não passava de um banquete para ganância.

AO ENTRARMOS NO SALÃO PRINCIPAL, tudo estava muito


bonito e bem montado, os lustres brilhavam no teto como cristais da mais
alta qualidade, havia garçons com bandejas repletas de champanhe para os
convidados, as paredes estavam preenchidas por quadros artísticos e havia
muitas pessoas bem-vestidas e forçando sorrisos falsos. Estava tentando
entrar no personagem, mas no fundo odiava aquela festa.
— Você não parece estar muito feliz aqui. — Daya riu. — Por que
viemos?
— Nem tudo que eu faço tenho prazer em fazer. Essa festa é
importante para os negócios, esse é o único motivo para eu estar aqui —
respondi em tom baixo.
— Ainda estou perdida — Daya disse olhando tudo em volta. — O
que eles vão leiloar?
— Trata-se de um leilão por terras, terrenos... — expliquei da forma
mais simples que consegui. — Quem tem mais isso em mãos, mais controle
tem de tudo, entende? Quanto mais terras, mais poder sobre os lugares,
sobre a cidade em si... E todo mundo quer uma fatia de Greville.
— E afinal de contas, quem governa tudo? No subúrbio, você já
sabe que é uma zona... vivemos com as migalhas que vocês dão para nós, e
digamos que somos escravizados com essas comunidades que só tem a
intenção de nos explorar. Mas quem é a pessoa aqui que realmente tem a
faca e o queijo na mão? Tipo um presidente...
Toda vez que Daya falava sobre o subúrbio, eu não sabia bem o que
responder para não ser um babaca. A vida realmente era muito difícil e
triste do outro lado, e eu não me sentia nem no direito de entrar em uma
discussão com ela por isso.
— Existe uma pessoa por trás disso tudo, mas não sabemos quem é.
Somente os membros das comunidades sabem, Paige é uma delas. Depois
da guerra[7] entre o subúrbio e a elite, houve a divisão da cidade como você
já sabe e agora esse lado domina tudo, nós fizemos nossas próprias leis e
todos respeitam. Todos aqui sabem os seus lugares e vivemos em uma
democracia...
— Democracia? — Daya riu ironicamente. — Isso se chama
escravidão. A Elite só consegue fazer a cidade girar, por conta de nós
pessoas do subúrbio, sem nós, vocês não funcionam...
E ela estava certa. Depois da divisão da cidade, as comunidades
foram criadas com o intuito de selecionar a mão de obra, mas nem todo
mundo estava dentro dos requisitos para isso, eles observavam e
selecionavam as pessoas do subúrbio. Era uma seleção de pessoas.
Normalmente os mais velhos, ou pessoas com alguma deficiência não
tinham nem chance. Por isso, era impossível se candidatar, eles precisavam
escolher quem estava dentro do que a cidade esperava. Eu não concordava
nada com aquilo, não era à toa que mantive Lisa em minha casa, mesmo
sabendo que pela idade ela poderia ser descartada e substituída por outra.
Eu não concordava com aquele sistema.
— Eu sei o quanto isso é horrível, Daya. Já te disse que não
concordo, mas é o mundo em que vivemos. Infelizmente, quem tem mais
poder, vence essa briga!
Daya ficou muito emburrada, e eu sabia que todo esse assunto
mexia com ela e com razão. Éramos muito diferentes, de mundos diferentes.
Porém, nosso diálogo foi interrompido por uma voz familiar.
— Eu ouvi falar em briga?
Quando me virei para ter certeza de quem era, eu não queria
acreditar que eu estava certo. O que esse canalha estava fazendo aqui?
Agredi-lo aqui não seria uma boa alternativa, busquei controlar minha
raiva, mas seria difícil. Tínhamos mais ou menos a mesma altura, mas eu
era mais forte. Os cabelos dele eram escuros, as feições rudes e os olhos
eram verdes escuros. Havia um vazio e uma grande maldade no olhar desse
inútil. Era um homem repleto de sombras e demônios.
— Jeremiah. — Eu engoli em seco. — O que você está fazendo
aqui?
— O mesmo que você, Luca Lancaster. — Ele sorriu
maliciosamente. — Achou mesmo que eu não estaria nessa celebração
renomada? E aliás, quem é essa bela moça? Nunca a vi na cidade, que
pecado...
Jeremiah começou a se aproximar de Daya, e me coloquei à frente.
Dessa vez não, ele não ia encostar em um fio de cabelo dela. Eu não queria
nem que ele respirasse perto dela.
— Sai daqui, e sai de perto dela! Faça-me o favor, Jeremiah, e fique
longe de nós.
Segurei a mão de Daya e a puxei para longe dali, só de olhar para o
rosto desse homem eu ficava completamente nervoso, fora do eixo. Daya
percebeu que estava um pouco descontrolado, e colocou as pequenas mãos
em meu rosto na tentativa de me acalmar.
— Ei! Está tudo bem? Quem era ele? Por que ficou tão nervoso?
— Aquele era... — Tomei fôlego. — Jeremiah Costello. Um
verdadeiro canalha que deveria estar atrás das grades.
— Hum... eu posso saber o que ele fez?
— Ele é o ex-namorado de Elisa, ele abusou dela no passado, é um
homem sádico, Daya, e ele quer tudo o que é meu. Agora ele vai querer ir
atrás de você também.
— Mas eu não sou a Elisa, e eu não o quero ele — Daya disse com
firmeza. — Que tal tomarmos um pouco de champanhe, comer esses
petiscos caros e depois de toda essa chatice irmos para casa? — Ela selou
nossos lábios rapidamente. — Eu vou tentar não me estressar com a política
de Greville, e você tenta não se estressar com Jeremiah, pode ser?
Era impossível resistir a esse jeitinho.
— Combinado! Mas só porque você pediu. — Eu sorri.

Daya conseguiu me acalmar e me deixar melhor, mas sabia que essa


situação não ia sair tão cedo da minha cabeça. Jeremiah era um homem
estrategista e ele nunca fazia nada à toa, ele não veio conversar comigo e
elogiar Daya por acaso, havia alguma intenção por trás disso.

Mas a história não ia se repetir, não dessa vez...


A FESTA ESTAVA bem cheia e muito chata, era a típica festa de
pessoas ricas e arrogantes que no final das contas só estavam aqui para
negócios. Ninguém realmente queria se divertir de verdade. Já haviam
passado mais ou menos duas horas, e nada mudou. Eu já estava começando
a ficar entediada, mas seria paciente por conta de Luca, ele também não
estava muito contente, mas ao menos estava fazendo bons negócios. Decidi
me afastar quando ele começou a falar com outro grupo de empresários, não
estava entendendo absolutamente nada daquela conversa. E então, avisei a
ele que iria ao banheiro, o que era mentira. Eu só queria sair dali um pouco,
tomar ar fresco, respirar alguma coisa que não fosse dinheiro e poder.
Estava reflexiva com tantas informações que obtive essa noite, Luca
havia me falado que Greville era comandada por uma pessoa que ninguém
sabia exatamente quem era, somente os membros da comunidade que eram
responsáveis por recrutar pessoas do subúrbio. Eles viviam em uma cidade
com democracia, porque todos aqui falavam a mesma língua, a língua do
dinheiro, era um paraíso perfeito que foi construído através do caos. A
Greville elitizada foi criada para separar as classes sociais. Para eles, manter
as pessoas do subúrbio sob o controle, era uma forma de evitar uma nova
guerra.
Lembrei-me de outra coisa, que Tess havia me falado essa manhã,
sua frase alarmava em minha cabeça: não é a Paige que controla essa
comunidade, ela é só um peão nesse jogo de xadrez. Tem um homem mau
por trás disso, e eu estou com ele. Quem seria esse homem mau que estava
com Tess? Seria ele o presidente misterioso, cujo todos de certa forma
respeitavam mesmo sem saber o seu rosto? Essas questões martelavam em
minha cabeça, e eu estava cada vez mais tentada a desvendar coisas, que
com certeza me colocaria em risco saber. Meus devaneios foram
interrompidos por uma figura que eu já havia visto essa noite. Jeremiah
Costello. O homem cujo Luca odiava muito, ele se aproximou de mim, e
dali eu sabia que isso não ia acabar bem.
— Ah, a acompanhante de Luca, estou fascinando na sua beleza e
em você. Como eu não te achei antes?
— Eu não sou um objeto para ser achado — disse ironicamente
— E ainda por cima é atrevida. — Ele soltou uma risadinha. —
Calma, linda moça, isso foi um elogio, não quis me referir a você como um
objeto, você poderia só agradecer.
Agora estava começando a entender porque Luca não gostava dele,
era um babaca mesmo.
— Obrigada. E acho melhor você não chegar muito perto, Luca não
vai gostar nada disso... — avisei.
— E você acha que eu tenho medo dele? — Jeremiah retrucou. —
Ah, moça... estou pasmo que alguém como você está com ele, fico me
perguntando o que as mulheres enxergam nele.
Com certeza algo que você nunca vai ter. Jeremiah estava se
aproximando cada vez mais, e eu não estava gostando nada daquilo. Eu não
deveria ter respondido a uma palavra que ele disse.
— Você não vai ofendê-lo na minha frente. Com licença... — disse,
virando as costas.
— ESPERA! — Jeremiah gritou.
Rapidamente ele segurou meu braço com força me imobilizando, no
mesmo instante Luca surgiu atrás de mim, possivelmente ele nos observou
de longe e imediatamente ele bateu no braço de Jeremiah e o fez me soltar.
Luca estava vermelho e nunca o vi dessa forma, seus olhos estavam cheios
de raiva e ele olhava Jeremiah como um falcão prestes a atacar sua presa.
— SOLTE-A! — Luca gritou. — Eu só não quebro a sua cara agora
porque estamos aqui dentro, você vai pagar caro por isso, Jeremiah, eu te
avisei!
Jeremiah parecia estar se divertindo com a situação, ele tinha feito
de propósito, sabia que aquilo deixaria Luca fora de si. Comecei a observar
ao redor e percebi que estávamos chamando atenção das pessoas. Isso não
era nada bom.
— Luca, vamos embora, por favor — pedi, tentando agarrá-lo com
meus braços. — AGORA! POR FAVOR.
— Ele merece uma lição, ele te tocou, Daya, isso não vai ficar
assim.
— Vem para cima, Luca! Você não é o machão? Então, vem quebrar
minha cara. Eu vou roubar sua garota. — Jeremiah gargalhou.
Ele era muito babaca. Um homem infantil. Coloquei-me na frente
de Luca, antes que acabasse em mais briga e uma possível tragédia.
— VAI EMBORA, JEREMIAH! Você é imbecil! Nunca chegará
aos pés de Luca, olha a situação que você está se sujeitando — eu debochei.
— É atenção que você quer? Conseguiu!
Antes que Jeremiah pudesse dizer mais alguma besteira, puxei Luca
pelo braço para sairmos daquela confusão, o show havia acabado.
— Vamos embora... — sussurrei perto do rosto dele. — Eu já não
aguentava mais ficar nessa festa chata.
— E posso ser sincero? Nem eu! — Luca concordou.
— Então vamos, chega de aturar essas pessoas.

QUE ALÍVIO. Eu estava querendo dar pulo de alegrias, me


apavorava o fato de ter que ficar mais uma hora nessa festa. No fim das
contas, a briga com Jeremiah foi boa, agora eu e Luca poderíamos voltar
para mansão, e eu iria tirar esse salto que estava acabando com meus pés.
Luca chamou seu motorista para vir nos buscar, e quando entramos no carro
respirei aliviada.
— Você não gostou da festa, né? — perguntou e parecia
desapontado.
— Quer a verdade? Não, mas, o importante é que agora estamos
indo embora. Você está bem?
— Acho que sim. — Luca sorriu de canto. — Você me acalma, e
confesso que achei bem sexy quando gritou com Jeremiah, mostrou quem
manda, você é baixinha, mas não leva desaforo para casa, né?
Ufa, ele está bem. Luca estava rindo, era tão bom vê-lo rir ainda
mais com uma noite desastrosa como essa. E sim, ele estava certíssimo,
nunca levei desaforo para casa e Jeremiah merecia uma lição. Quem ele
pensa que era?
— Jamais — afirmei. — Bom, agora vamos para casa, é isso que
importa. Longe de toda essa gente e longe do seu grande amigo Jeremiah.
— Eu tenho uma ideia melhor do que ir para casa — Luca disse,
colocando a mão no ombro do motorista. — Joseph mude a direção, nos
leve até minha propriedade na praia.
— Sim, senhor — Joseph concordou respeitosamente.
— Propriedade na praia? Como assim? — perguntei.
— É uma de minhas casas, inclusive, a comprei no leilão do ano
passado. Sempre costumava ir até lá quando precisava relaxar ou pensar, e
quero que você a conheça, é o meu lugar favorito.
— Estou bem animada para isso.
Senti um misto de ansiedade com euforia, eu nunca tive o privilégio
de ir à praia, queria sentir a emoção que era pisar os pés na areia pela
primeira vez e ser banhada pelas águas salgadas. Sem dúvidas, eu preferia
ficar na casa de praia de Luca, do que naquela festa com pessoas chatas e
esnobes.

O percurso foi rápido, alguns minutos depois o carro estacionou em


frente à casa e nós descemos. Luca agradeceu a Joseph e lhe deu uma boa
gorjeta. Daqui eu já ouvia o barulho das ondas, a sensação da brisa do mar
em meus cabelos, fechei os olhos por um momento e agradeci. A casa
estava toda fechada, mas era deslumbrante. Era toda de vidro, e tinha alguns
detalhes de madeira que a deixava ainda mais sofisticada. Não consegui ver
muito por dentro, pois estava tampado pelas cortinas, mas tinha certeza de
que era ainda mais belo. Luca tinha um bom gosto para tudo,
impressionante. Passamos por um caminho de madeira que contornava os
arredores da casa, viramos à direta e estávamos agora na parte da frente da
casa. O mar era visível, a vista era simplesmente a mais bonita que eu já
havia visto. Não havia ninguém naquele deserto noturno e paradisíaco,
éramos só nós, a lua no céu e as estrelas que era o detalhe em meio à
imensidão do mar escuro.
— Acho que nunca vi nada tão perfeito... — falei emocionada.
— Sabia que você ia gostar. — Luca sorriu. — É perfeito, né?
— É um verdadeiro espetáculo. Por que não entramos no mar? Só
um pouquinho... — eu sugeri.
— Agora? — Luca arregalou os olhos. — Alguém não te disse que
entrar no mar à noite é perigoso?
— É simples... — Eu me aproximei dele e agarrei nos seus ombros.
— Se alguma onda tentar me derrubar, você me segura... — E selei nossos
lábios.
— Sempre... — Luca sorriu —, mas, estou sem traje de banho e
você também como resolvemos isso?
Era uma boa pergunta. Olhei para baixo e notei que meu vestido era
longo demais para caminhar na areia, e ainda mais para nadar no mar. Luca
então, estava de smoking. Senti uma descarga de energia percorrer o meu
corpo, e nem eu mesma esperava por aquela atitude. No entanto, eu estava
muito à vontade com Luca, cada vez mais segura. Afastei-me do seu corpo,
e comecei a abaixar o vestido, não havia nada cobrindo os meus seios,
terminei de abaixá-lo e fiquei somente de calcinha, Luca ficou me olhando
como se nunca tivesse visto uma mulher daquela forma, e eu estava
começando a ficar sem graça.
— Que foi? — Passei os braços pela lateral do meu corpo. — Desse
jeito eu vou acabar colocando o vestido de novo.
— NÃO! — gritou imediatamente. — De jeito nenhum, eu estou
pasmo porque não esperava por isso. Mas — Luca riu maliciosamente —
isso me dá o direito de também tirar a minha roupa, você não quer que eu
entre de smoking, né?
— De jeito nenhum. — Eu dei uma risadinha. — Que comece o
strip-tease.
Meus olhos ficaram vidrados em Luca, já tinha mais ou menos uma
noção de como era seu corpo. Não era difícil imaginar, ele era tão alto e
forte parecia um super-herói, eu me sentia minúscula perto dele, realmente
fazia jus ao apelido, pequena. Ele foi tirando peça por peça, até ficar
somente de cueca, fiquei ainda mais maravilhada com seu corpo. Ele era
realmente forte. Seus músculos eram esculpidos e bem definidos, as pernas
eram bem torneadas e a panturrilha então, dava duas da minha,
provavelmente. Seu abdômen era bem definido e trincado, e com certeza
Luca era um dos favoritos de Deus, completamente esculpido e
maravilhoso. E claro, não pude deixar de notar, ele era BEM DOTADO. O
volume na sua cueca era absurdo, era um homem grande. Meus
pensamentos foram longe agora.
Eu não conseguia parar de olhar para ele, e agora quem parecia estar
ficando sem graça era ele.
— O que foi? — Luca perguntou, coçando a nuca. — Agora quem
vai ficar sem jeito vai ser eu, e olha que é difícil isso acontecer.
— Você é... — Eu o olhei da cabeça aos pés. — Perfeito!
— Não... — Luca começou a se aproximar e olhou bem dentro dos
meus olhos, tirando as mãos em torno do meu corpo. — Você que é
perfeita, agora vamos para o mar.
E lá fomos nós, entrelaçamos nossas mãos e corremos pela areia de
mãos dadas, quase nus na praia. Eu estava muito feliz, verdadeiramente
feliz. De todos os dias aqui, essa noite estava sendo a melhor. Senti a areia
em meus pés, era tão macia e deliciosa. E logo estávamos na beira da praia,
senti o úmido da areia molhada nos meus dedos, e paramos ali. Abri um
enorme sorriso ao ver o mar de perto, era ainda mais bonito, mesmo com a
escuridão da noite. Luca envolveu um braço em torno da minha cintura, e
me puxou para mais perto de si.
— Estou feliz por você estar aqui comigo.
— Eu também, Luca. Estou feliz como nunca estive... — Eu sorri.
— AGORA VAMOS ENTRAR!
Eu não tive nem tempo de reagir, Luca me agarrou pela cintura com
facilidade e me pegou no colo, saiu correndo em direção ao mar e nós
entramos. Senti as ondas do mar batendo em meu corpo, ele continuou a me
segurar contra o seu peitoral conforme íamos cada vez mais nas águas
profundas. Cada onda que passava eu tomava um susto, e Luca estava
morrendo de rir das minhas reações. Era minha primeira vez entrando no
mar, de noite e com Luca. Definitivamente, um contexto que nunca
imaginei que fosse possível.
Agarrei-me em seus braços fortes, e demos alguns beijos molhados
e até um pouco desajeitado, ele estava feliz também, eu sentia isso. Sentia
quando olhava o brilho em seus olhos e as batidas do seu coração. Quem
diria que ele era o mesmo cara que me disse no primeiro dia, que não queria
ser nem tocado. Era impressionante a mudança, eu era diferente na vida
dele e ele também era na minha. Dois opostos que se atraíram.
POUCO TEMPO DEPOIS, saímos do mar, estávamos ensopados e
corremos na areia em direção à casa, entramos na casa com os pés sujos e
os pingos de água escorrendo pelo corpo. A luz estava apagada, e somente a
luz da lua refletia na casa. Luca não acendeu, tocou em minha mão e eu
senti meu corpo esquentar.
— Bom... Você quer ir tomar banho?
Senti meu coração disparar, eu queria sim ir tomar banho, mas não
queria ir sozinha.
— Quero sim, mas quero que venha junto comigo...
— Daya... — Luca deu um sorrisinho. — Daya, não faça isso, já
conversamos sobre. Sou bem tranquilo, mas ainda sou homem. E você
desse jeitinho, me falando isso, fica difícil resistir.
Ele não estava me levando a sério. Às vezes tinha a sensação de que
Luca me via como uma menininha, mas isso ia ter que acabar essa noite.
Segurei sua mão, e fiquei em frente ao seu corpo, olhei-o de cima, minha
cabeça encostava no seu peitoral de tão alto que ele era perto de mim.
Coloquei suas mãos nos meus seios, depois deslizei ela por minha cintura,
até chegar ao meu quadril. Fiquei na ponta dos pés e sussurrei bem próximo
ao seu ouvido:
— Você precisa parar de me enxergar como uma menina, eu sou
uma mulher, Luca, e quero ser sua essa noite... — Suspirei. — Eu estou
pronta!
Notei que os pelos de Luca ficaram arrepiados, o seu sorriso meigo
agora foi substituído por um sorriso malicioso, ele entendeu bem do que eu
estava falando.
— Prometo que será inesquecível. Vem comigo!
E era exatamente o que eu queria ouvir, senti uma adrenalina pelo
meu corpo. Era hoje, a minha primeira vez. Eu estava um pouco nervosa,
confesso, mas estava pronta. Não tinha mais porque esperar, e nem a quem
esperar. Eu queria que fosse com Luca, tinha que ser ele. Ele tornou a
entrelaçar suas mãos na minha, e caminhamos até o banheiro, Luca abriu a
porta devagar e entramos, a iluminação noturna do banheiro dava um clima
de meia-luz, e eu adorei aquilo, Luca resolveu deixar daquela forma mesmo
e nos aproximamos do boxe, até o banheiro era aconchegante cabíamos
perfeitamente na cabine. Terminamos de tirar nossas roupas, e quando
entramos, ele parecia bem calmo e paciente, ligou o chuveiro e a todo
tempo me olhava atentamente e sorria.
A água começou a cair sobre os nossos corpos, tirando todo resíduo
de água salgada de nossas peles. Respirei fundo, e estava começando a ficar
nervosa, eu já tinha uma ideia do que tinha que fazer, mas Luca era um
homem tão experiente que com certeza já tinha experimentado de tudo. Ele
me abraçou durante o banho, um abraço carinhoso e apertado, e beijou
minha testa.
— Está com medo? — perguntou preocupado.
— Não... — menti. — Quer dizer, você vai ser o meu primeiro. Só
estou, bom, não sei dizer como estou. — E comecei a rir.
— Só quero que relaxe, pequena... E você precisa me parar se
estiver desconfortável, está bem? Eu tenho uma tendência a ser um pouco
bruto, mas vou pegar leve com você.
Meu Deus.
— Para de falar, Luca... me beija!
E Luca não disse mais nada, sua mão envolveu meus cabelos
molhados e ele puxou devagar, senti a outra deslizando para minha bunda,
apertando com tanta força que fez meu corpo grudar no dele. Começamos a
nos beijar intensamente, dessa vez o beijo estava mais rápido e mais safado.
Meu corpo esquentou imediatamente, eu o sentia todo em mim e aquilo era
muito gostoso e excitante. Era uma sensação nova que eu estava sentindo,
uma vontade louca de fazer tudo e mais um pouco com esse homem.
Procurei relaxar, e apenas me entregar ao momento. Luca me
empurrou contra o boxe, e tudo aqui já estava bem abafado e os vidros
embaçados. Ele começou a deslizar os lábios pelo meu pescoço, dando
alguns beijinhos, e depois algumas sugadas fortes, arrepiei-me toda. Senti
sua língua percorrer o meu colo, até chegar aos meus seios, ele segurou os
dois com suas mãos fortes e pesadas e apertou com uma certa brutalidade.
Começou a chupar um seguido do outro, e estava se deliciando com as
minhas reações. Soltei uma respiração ofegante, eu queria mais, muito
mais. Ele me olhou de cima, e novamente seus lábios tornaram a descer
pela minha barriga, e eu já sabia onde isso acabaria.
— Você precisa sentir isso... — Luca disse ofegante.
E eu preciso mesmo.
Deixei que ele continuasse, então ele colocou minhas duas pernas
em seus ombros musculosos e suspendeu meu corpo de uma vez só. Dei um
gritinho de susto, não esperava por aquilo, mas depois só consegui gemer
mais e mais. Luca estava com o rosto bem no meio das minhas pernas, sua
língua deslizava pelos meus grandes lábios, sentia-o sugar meu clitóris
várias e várias vezes, fazendo meu corpo estremecer de prazer. Coloquei
minhas mãos nos seus cabelos curtos e apertava com força a cada sugada,
eu pressionava sua cabeça, para que intensificasse cada movimento com a
boca.
Toda minha vergonha e tensão haviam ido embora, era bom demais
sentir tanto prazer. Como nunca fiz isso antes? Luca apertou as mãos nas
minhas coxas, e senti sua língua deslizar para cima e para baixo. A língua
dele era deliciosa demais, entrava e saía da minha entrada com rapidez, ele
me chupava como se eu fosse a coisa mais deliciosa do mundo. Comecei a
escorrer, como mel em sua boca. Soltei um gemido mais alto. Ah caramba,
ele ia me fazer gozar desse jeito. Eu estava enlouquecida e ofegante com o
corpo prensado no boxe, minhas pernas tremiam e era a sensação mais
deliciosa que eu havia sentido na vida.
Quando estava no auge do frenesi, Luca me abaixou novamente
colocando meus pés no chão. CRETINO! Como ele me chupa assim e
simplesmente para? Minhas pernas estavam bambas, e eu só conseguia
pensar no quanto eu queria esse homem, queria sua boca, seu corpo, ele
todo dentro de mim. Nossos corpos estavam grudados um no outro e eu
senti sua ereção bem avantajada. Olhei para baixo e me assustei com o
tamanho absurdo, mas eu iria aguentar firme. Dei uma risadinha e levantei
meu rosto para cima. Luca encostou sua testa na minha, e voltou a me beijar
e eu senti todo meu gosto em seus lábios. Depois ele parou e me puxou para
fora do boxe.
— Isso é só o começo...
Saímos do banheiro, nus e com os corpos encharcados e voltamos
para onde estávamos antes, na área central da casa, havia uma grande cama
com lençóis brancos e ela ficava bem de frente para o mar. A luz
permaneceu desligada, somente com a iluminação da Lua. Luca não perdeu
tempo, estava mais agitado, e eu sentia que ele estava pulsando por dentro.
Antes de começarmos, ele pegou um preservativo dentro da gaveta e em
seguida jogou meu corpo na cama e colocou minhas duas mãos para cima
da cabeça, eu fiquei paradinha bem curiosa para saber o que vinha a seguir.
E então ele se posicionou no meio das minhas pernas, deixando-as bem
abertas, eu já estava bem molhada, a brincadeira no banheiro me rendeu
muito tesão.
Luca me encarou com os olhos azuis penetrantes, que
transbordavam malícia, erotismo e disse:
— Quero que você me pare se estiver doendo, ok?
— Ok... — respondi rapidamente, desejando que ele começasse
logo.
Luca abriu ainda mais minhas pernas, e começou a beijar cada parte
da minha coxa, deslizando os lábios e a ponta da língua na minha pele. Eu
estava gostando muito disso. Mordi o lábio, e fiquei observando cada
movimento que estava fazendo.
— Está gostando disso, é?
— Muito... — respondi quase em um sussurro.
Eu queria ele. Queria Luca Lancaster com todas as minhas forças.
Queria tudo com ele, queria isso e mais um pouco. Mesmo estando escuro,
eu conseguia ver bem o desenho do seu corpo, ele estava na minha frente,
todo molhado, as gotinhas de água escorriam no seu abdômen, e só de olhar
para ele eu sentia meu corpo arder, Luca rasgou a embalagem do
preservativo e em seguida segurou em seu pau para colocar, e começou a
masturbá-lo, foi rápido, mas o suficiente para me deixar ainda mais
molhada. E louca para senti-lo dentro de mim, e também em minha boca.
— Sua bocetinha é linda, Daya. Tão pequena, apertada. — Lambeu
os lábios ao me olhar com as pernas abertas. — Eu vou adorar ser o seu
primeiro homem, eu estou louco para te sentir...
Minhas bochechas queimaram, não sabia o que responder, e nem
precisei. Luca segurou sua ereção e começou a passar a cabeça levemente
nos meus grandes lábios, eu sentia a massagem deliciosa no meu clitóris,
seguida de uma pressão que ficava cada vez maior.
— Relaxa, pequena... Só relaxa.
— Aham.
Depois disso, senti uma pressão maior, dessa vez mais dolorosa, ele
me penetrou de uma vez só. Era deliciosamente grande. Arregalei os olhos,
eles lacrimejaram, eu estava sentindo uma dor gostosa, Luca percebeu, mas
não queria que ele parasse.
— Vai passar, baby. Só relaxa, vai ficar bem gostosinho agora...
— Continue, não pare... — pedi entre um gemido e outro.
Senti uma socada, seguida de outra, e quanto mais ele metia mais eu
me agarrava aos lençóis, e gemia cada vez mais alto. Eu era inexperiente,
mas não era difícil de imaginar, que os homens amavam gemidos, Luca
estava enlouquecido de prazer. A cada metida, ele parava para me olhar, seu
pau escapou para fora algumas vezes, e o corpo estava todo suado, ele
estava se controlando muito para não gozar, queria que eu sentisse prazer, e
eu estava sedenta por mais.
Abri ainda mais minhas pernas, e o senti entrar com mais força em
mim, sua mão deslizou para minha bunda, e ele apertou a minha pele com
força, eu estava quase gozando, mas então ele ergueu meu corpo, e se
sentou na cama, me colocando em seu colo. Estávamos suados e ofegantes,
corpos quentes e entregues um para o outro. Respirei ofegante, ele tinha que
parar de fazer isso, sempre na melhor parte ele parava só para me deixar
louca por mais.
— Luca... — disse ofegante.
— Shhh... Não fala nada, eu vou te dar o que você quer, baby.
Ele me beijou e sugou meu lábio inferior, depois deslizou as mãos
para minha bunda, deu uma leve palmada e me ergueu rapidamente, senti
seu pau dentro de mim novamente. Que delícia, meu Deus. E então,
começamos novamente.
Já estava com tanto tesão, que os meus hormônios estavam à flor da
pele, comecei a quicar no seu colo sentia o barulho da nossa pele uma
contra a outra, sentei com força nele, ele não queria me deixar louca? Então
agora era minha vez. A cada rebolada eu sentia o pau dele crescer dentro de
mim, continuei, até minhas pernas latejarem e eu ficar sem fôlego, olhei
para baixo e a camisinha estava chegando no extremo limite, percebi que
Luca havia gozado, estava segurando ao máximo, para me dar o prazer que
eu merecia. Senti meu corpo esquentar, uma sensação deliciosa me
preencheu. Gemi, quase como um grito. E em segundos, estava encharcada.
Ele parou e me olhou com aquele sorrisinho que eu amava. Um sorrisinho
que só Luca tinha.
Luca se inclinou no meu corpo, e senti seu peso em mim. Sua
respiração estava bem perto da minha, e ele apanhou minha mão e colocou
no seu peitoral. Estávamos olhando fixamente um para outro, eu o sentia de
corpo e alma em mim, a nossa conexão era muito além do físico.
— Está sentindo isso?
— Seu coração? — Eu sorri ao sentir seus batimentos.
— É todo seu, Daya. Eu sou todo seu, menina... E você é minha.
— Eu sou sua. Completamente sua!
Não dava para fugir, negar ou querer mentir para mim mesma. Eu
estava completamente apaixonada por Luca Lancaster por cada parte dele,
da mais misteriosa à mais engraçada, do jeito marrento ao jeito brincalhão.
Das crises de ciúmes, as crises de raiva, do jeito protetor até o mais
introspectivo. Eu estava apaixonada por todas as suas faces e contrastes.
E se apaixonar era perigoso demais, mas queria esquecer disso essa
noite...
ERA COMO ACORDAR de um sonho bom, os raios de sol
clareavam o ambiente, anunciando a chegada da manhã. Eu acordei
primeiro que Daya, e decidi não fazer muito barulho para não a acordar.
Estava linda dormindo, nua sobre a cama com os cabelos cobrindo o rosto,
a pele contrastava nos lençóis e era lindo o desenho do seu corpo na cama.
Fiquei admirando aquela cena por alguns minutos, e não nego o meu sorriso
bobo. Decidi ver o sol nascer, fiquei sentado na escada em frente à casa,
observando o dia nascer calmo, assim como as ondas do mar. A calmaria
era só na praia, porque dentro da minha cabeça estava um turbilhão de
pensamentos.
Que noite incrível foi essa? Era para ser inesquecível para ela, e
espero que tenha sido, contudo, acabou sendo inesquecível para mim
também e isso me deixava bem preocupado. Comecei a lembrar de cada
toque, cada movimento, Daya era uma jovem inexperiente, mas nunca havia
me sentido assim com mulher nenhuma, nem mesmo com a minha amada
Elisa. Havia algo mais em nosso sexo, algo que me deixava cada vez mais
preso e rendido aos seus encantos. Nunca pensei que fosse me sentir assim,
ainda mais por uma menina tão nova. É o que dizem, as novinhas são as
piores. No bom sentido, é claro. Lembrei-me de todos os seus movimentos,
os seus gemidos deliciosos e as reações de uma menina mulher que deixaria
qualquer homem sedento por mais. Eu estava louco por ela. Essa era a
mais pura verdade. Mas entre nós, não eram só belezas, havia um abismo
de incertezas que eu não podia deixar de negar.
Ontem à noite de fato foi mágica, e com certeza eu ia querer repetir
a dose, mas comecei a me dar conta da realidade dos fatos. Daya era minha
por contrato, eu só tive o privilégio de conhecê-la porque decidi participar
esse ano dessa loucura, e me tornar um Sugar CEO, ela tinha um prazo de
validade comigo, que por sinal estava expirando. Lembrei-me das cláusulas
do contrato, e no final dos 30 dias o Sugar CEO poderia fidelizar o contrato,
mas não havia muitas informações sobre, Paige deixou isso em aberto.
Comecei a pensar se estava preparado para isso, e eu ainda não tinha
a resposta. Mas me imaginar sem Daya daqui algumas semanas, e ter que
vê-la ir embora para as mãos de outro, era algo fora de cogitação. Eu não ia
deixar isso acontecer. Senti suas mãos delicadas tocar o meu ombro era ela.
Havia acordado, e estava bem atrás de mim, senti seus lábios em meu
pescoço e um arrepio em todo meu corpo, sorri imediatamente.
— A bela adormecida acordou...
— Estava cansada. — Ela riu. — Nos movimentamos muito ontem
à noite.
Que delícia lembrar disso.
— Inclusive... eu queria mais, mas preciso ir trabalhar.
Daya deu a volta, e se sentou no meu colo acariciando meu rosto
com os dedos. A vontade mesmo era de ficar aqui com ela, mas eu tinha
algo bem sério para resolver que envolvia o seu futuro. Ou melhor o nosso
futuro.
— Você tem que ir mesmo? — indagou manhosa. — Queria que
ficasse hoje comigo...
— Preciso ir, um homem de negócios nunca para. Mas você pode
ficar nesse paraíso, aproveitar um pouco a praia, e quando quiser Joseph
vem te buscar... quero você hoje na mansão, gostaria de te mostrar algo.
— Hum, é mesmo? Já estou curiosa. — Daya selou nossos lábios.
— Então guarde essa curiosidade para mais tarde, pequena. E
aproveite o dia!

EU REALMENTE NÃO queria ir embora, vê-la assim toda


manhosa e à vontade me dava vontade de ficar, mas não podia deixar essa
situação para depois. Tomei um banho rapidamente e me vesti, eu sempre
deixava uma roupa do trabalho, para em casos de emergência como esse.
Como estava sem meu carro, Joseph veio me buscar e iria me levar ao meu
destino. Antes de ir para empresa, eu precisava ter uma conversa com Paige
Conner, fomos a caminho da sede ou melhor, daquele prostíbulo
disfarçado. No percurso, eu mandei uma mensagem para Paige, avisando
que eu estava indo lá, e se ela podia me receber, e ela ficou bem animada.
Ainda não havia engolido a história que ela inventou para tentar envenenar
Daya. Mas resolveria uma coisa de cada vez.
Quando cheguei, passei pela recepção e me liberaram, e alguns
minutos depois eu já estava na porta da sala dela, que por sinal estava
aberta. Assim que entrei, a fechei e ela já estava sentada me esperando. A
sala estava perfumada e ela havia passado batom vermelho e colocado o
decote mais extravagante possível. Queria chamar minha atenção. Mas
agora, depois de tudo o que ocorreu, eu não sentia mais desejo nenhum por
ela.
— Luca Lancaster — cumprimentou, abrindo um enorme sorriso. —
Que prazer te receber, fiquei surpresa quando me mandou aquela
mensagem. Você quer alguma coisa? — Ela arqueou a sobrancelha. — Será
que está com saudades de mim?
Sempre com esses joguinhos desnecessários.
— Nada disso — respondi sério. — Posso me sentar?
— Mas é claro! — exclamou, indicando a cadeira. — Fique à
vontade, está tão sério...
— É que eu vim falar de algo sério mesmo. Não vim aqui para ver
você, vim para falar sobre negócios.
— Uau! — Paige me olhou desapontada. — Você consegue estragar
o clima de qualquer coisa, Luca. Pois bem, diga... O que aconteceu?
Problemas com a jovem Daya? Eu já imaginava que ela ia dar trabalho.
— Problema nenhum, muito pelo contrário eu vim tirar algumas
dúvidas sobre o contrato. Primeiramente, gostaria de saber se é possível ele
ser estendido para mais do que esses 30 dias, e se não, como funciona esse
modo de fidelização?
Foi um erro meu. Eu li o contrato atentamente, mas acabei não
tirando minhas dúvidas. Na verdade, eu não estava levando nem muito a
sério, porque inicialmente era somente um ato de caridade, mas agora havia
se tornado algo muito maior.
— Eu estou pasma! — Paige disse boquiaberta. — Não era você que
estava fazendo somente por caridade? Que história é essa, Luca? Não estou
acreditando...
— Paige... — Respirei fundo irritado. — Eu sou seu cliente, não
estou entendendo esse comportamento. Quero que me esclareça isso.
— Me desculpe. — Ela engoliu em seco. — Bom, vamos então às
suas dúvidas. É impossível estender o contrato para mais de 30 dias, ELAS
ME PERTENCEM. São minhas garotas exclusivas. E segundo, o contrato
só pode ser fidelizado mediante a um casamento, e esse casamento precisa
ser de papel passado. — Paige sorriu. — Você quer casar com Daya, Luca?
MAS O QUÊ?
— CASAMENTO? — eu gritei. — Mas que loucura é essa de
fidelização mediante a casamento? Você está louca?
— Minha comunidade, minhas regras — Paige respondeu de forma
fria e cínica.
Eu precisaria de um tempo para digerir o que havia acabado de
ouvir, era bem pior do que eu imaginava. Eu queria ficar com Daya, mas
casamento era algo fora de cogitação, eu só me casei uma vez, não
pretendia me casar de novo e jurei no túmulo de Elisa que ela seria minha
única esposa. O que eu iria fazer agora? Se não me casasse com Daya, ela
teria que sair da minha vida em semanas. Tentei me recompor, para não
parecer tão louco na frente de uma mulher que não teria compaixão pela
situação e resolvi propor.
— Quanto você quer? Me fala o seu preço, e eu faço um cheque
para você hoje.
Paige gargalhou, e havia muita raiva em seus olhos.
— Isso não é negociável, Luca. Eu não quero seu dinheiro, mas tem
outra coisa que podemos negociar.
— Do que está falando?
Paige então se levantou e deu a volta ao redor da mesa, agora ela
estava à minha frente, sorrindo maliciosamente e tentando me seduzir. Ela
levantou um pouco a saia, e desabotoou os botões da blusa deixando seu
decote ainda mais à mostra. Agora sim eu sabia bem exatamente o que ela
queria negociar.
— Você, Luca. Eu quero você! E isso pode ser negociável.
Não me excitou nada a ver daquela forma, levantei-me de imediato
e me afastei de Paige, dando alguns passos para trás. Se antes ela já estava
com muita raiva, agora piorou. Uma mulher rejeitada era capaz de mover
céus e terras para se vingar. Depois de hoje, eu sabia que havia começado
uma guerra.
— Eu não estou à venda. Vou embora, e saiba que vou dar um jeito
nisso.
— VOCÊ VAI SE ARREPENDER POR ISSO, LUCA
LANCASTER! — Paige gritou.
E EU NÃO QUERIA OUVIR mais nada, saí completamente
desnorteado da sala dela, e sem saber ao certo o que fazer. Eu não queria me
casar de novo, mas também não queria perder Daya.

Eu que sempre tive muitas opções a meu dispor, dessa vez estava me
vendo sem escolha.
DEPOIS QUE LUCA foi para o trabalho, fique sozinha na
maravilhosa casa na praia, eu estava me sentindo tão bem e tão feliz,
acordei diferente me sentia mais madura e mais mulher, até mais feminina.
Olhei os lençóis bagunçados, e soltei uma risadinha ao lembrar da noite de
ontem. Foi melhor do que eu imaginava. Sempre que pensei na minha
primeira vez, imaginei algo traumático e que eu só iria querer esquecer, mas
foi incrível.
Luca se controlou bastante, e eu sabia que ele queria ter feito muito
mais coisas, mas foi calmo e devagar e até bem romântico. Ele não queria
me assustar, respeitou meu tempo. E essa atitude fez eu me apaixonar mais
ainda por ele. Meu sentimento estava cada vez mais forte, logo eu que
nunca acreditei em relações amorosas, que nunca coloquei fé em romances,
estava completamente entregue a Luca, e se ele quisesse, ia ter o que
quisesse de mim. Senti um leve medo e frio na barriga, essa situação toda
estava me deixando um pouco fora da realidade, nem tudo era flores, muito
pelo contrário, havia espinhos ao nosso redor, e a qualquer momento eu
poderia sair machucada.
Comecei a pensar sobre o contrato, os 30 dias estavam expirando e
tudo passou tão rápido e estava sendo tão intenso. O que iria acontecer
conosco agora? Estávamos envolvidos, mas eu pertencia a uma comunidade
que no final disso, iria me entregar a outro homem. Queria saber o que Luca
estava pensando sobre isso, estava com medo de me perder? Ou isso para
ele também era incerto? Eu sentia que ele era meu, mas não por completo.
Ainda estava muito preso à memória de Elisa, e isso era um problema. Será
que ele realmente estava nisso tanto quanto eu?
Eram muitas perguntas sem respostas, e todo esse enredo ao nosso
redor fazia eu ficar bem insegura. Tomei um banho, e eu estava sem roupa
aqui, não iria colocar o vestido luxuoso para dar uma volta na praia, então
remexi em uma gaveta de Luca, e achei algumas camisas guardadas, estava
com o seu cheiro e ao sentir era como se ele estivesse perto de mim.
Coloquei sua camisa, e era quase um vestido para mim. E decidi que ia
caminhar um pouco na praia antes de voltar para mansão, queria ter uma
lembrança dela agora na luz do dia.
Sorri ao ver o sol e o céu azul, estava um dia magnífico hoje, todo o
ambiente parecia uma pintura. A praia não estava muito cheia, vi apenas
algumas pessoas andando à beira-mar, outras deitadas em suas cangas
tomando sol, era tudo bem tranquilo. E lá fui eu caminhando com os pés na
areia em direção ao mar, fechei os olhos e comecei a andar para aliviar os
pensamentos conturbados. Sentindo a brisa e a maresia, e torcendo para que
tudo ficasse bem, para que não acabasse de uma forma traumática.
Toda vez que tentava me imaginar longe de Luca, me dava uma dor
no coração, sentia um aperto muito forte e era como se não houvesse um
depois sem ele. Eu não queria outro homem, queria Luca. Continuei a
caminhar, e parei para observar o mar, as ondas estavam agitadas, assim
como esse fardo que carregava em meu coração. Respirei fundo, e fechei os
olhos. Quando abri, percebi que não estava mais sozinha. Levei um susto ao
ver quem estava ao meu lado. Não é possível, o que ele está fazendo aqui?
Era Jeremiah Costello, ao vivo e a cores.
— Eu te reconheci de longe — disse com a voz calma. — Olá!
É muita falta de vergonha na cara. Era nessas horas que via que a
paz, era só um momento, e um momento tão passageiro que sempre vinha
alguém para atrapalhar. Dei alguns passos para trás, e olhei em volta, eu não
estava sozinha ali, se ele tentasse alguma coisa eu iria para cima dele, ou
começaria a gritar desesperadamente. Ser mulher em um mundo tão
machista e cruel é isso, você tem que pensar sempre em como se defender.
— O que você está fazendo aqui? Está me seguindo? — indaguei
irritada.
— Calma, Daya. Não precisa agir dessa forma, estou calminho hoje.
Ele sabe o meu nome. Recordei-me de ontem, e Luca não havia
falado meu nome para ele, e muito menos eu. Então como ele sabia?
— E como você sabe meu nome?
— Eu sei algumas coisas sobre você. — Ele sorriu. — Eu te disse
que fiquei fascinando, quase um amor à primeira vista. Mas não, eu não
estava te seguindo, estava passeando e vi você por aqui, não pude deixar de
te cumprimentar. Está sozinha? Não é possível que Luca tenha deixado
você sozinha aqui, que absurdo.
— O que andou pesquisando sobre mim? — inquiri irritada. — Isso
é assédio e perseguição, saiba que se me tocar de novo eu vou te bater. E se
Luca souber que está procurando coisas sobre mim, ele vai ficar muito
irritado. Vai acabar com você — ameacei.
— E você acha que eu tenho medo dele? — Jeremiah riu
ironicamente. — Luca é um covarde, Daya. Você merece um homem
melhor, alguém que te proteja...
— Eu não preciso da sua proteção, e nem da proteção de ninguém.
Fique longe de mim, Jeremiah.
Jeremiah ficou parado, e eu virei de costas me afastando dele,
caminhando de volta para casa de Luca, ele não me seguiu, apenas ficou
olhando eu me afastar como um lobo prestes a devorar sua presa. Senti um
frio na espinha, Jeremiah tinha uma energia horrível, e só de tê-lo por perto
eu me sentia mal. Algo me dizia para eu tomar cuidado, ele não era
confiável e possivelmente tentaria outros contatos.
Agora eu tinha mais uma coisa para pensar, o que deveria fazer?
Contar para Luca? Ele iria surtar, iria querer ir atrás de Jeremiah e os dois
poderiam brigar de novo, ou com certeza aconteceria coisa pior. Então
talvez, era melhor eu guardar essa informação comigo, há certos segredos
que não precisam ser revelados.

DEPOIS DO ENCONTRO inesperado na praia, perdi toda a


vontade de ficar lá e com um certo receio de que Jeremiah entrasse na casa
e tentasse fazer algo comigo. Pedi para Joseph me buscar, e passei a tarde
inteira na mansão, perdida em meus pensamentos. A noite caiu, e pelas
minhas contas Luca já estava prestes a chegar, resolvi colocar calça e regata
hoje. Comprei essa calça no dia das compras, era bem justa e me deixava
com uma bunda incrível, a regata marcava minha cintura, Luca ainda não
havia me visto assim, normalmente eu costumava andar dessa forma no
subúrbio, mas que seja, eu já não me importava mais, na verdade, acho que
nunca me importei.
Luca teria que gostar de mim como eu era, com todos os meus
defeitos e qualidades. Se alguém não consegue gostar de você como você é,
então essa pessoa não te merece. Essa deveria ser uma lei entre as pessoas,
e, principalmente, entre as mulheres. Lembrei-me de minha mãe, ela se
sujeitou a tantas humilhações por migalhas de um falso amor, eu com
certeza não queria esse mesmo destino.
Fiquei esperando-o chegar, sentada na sala, a lareira estava ligada e
as chamas do fogo aquecia o ambiente. Alguns minutos depois, a porta
abriu, como eu havia calculado, ele chegou. A nossa rotina me fez ter uma
noção dos seus horários de saída e chegada. Percebi que estava meio
estranho, não parecia muito feliz, os ombros caídos e o olhar distante.
Assim que ele me viu, abriu um sorriso de canto e me encarou da cabeça
aos pés.
— Uau! Que diferente...
— Gostou? — Eu dei uma volta. — Luca Lancaster, é assim que as
garotas do subúrbio se vestem, nada de vestidos chiques e salto alto, só
simplicidade. — Eu sorri.
Luca ficou parado me olhando, e parecia estar me analisando. Mas
não demorou muito para que ele se aproximasse do meu corpo, e
envolvesse os seus braços em minha cintura, me dando um beijinho rápido.
— Você está maravilhosa, tudo fica bem em você. Gostei desse
estilo. — Ele sorriu.
— Fico feliz. Fiquei te esperando e estou curiosa para saber o que
quer me mostrar.
Neste momento Luca desviou o olhar, e estava claro que algo o
estava incomodando. Algo também estava me incomodando, mas eu não
queria falar, não nesse momento.
— Sobre isso... — Ele suspirou. — Sinto que no momento que eu te
mostrar, vou deixar algo para trás, e ainda não tenho certeza se quero.
Estava afobado hoje de manhã, mas estou tentando me manter mais
racional. Por ora, só quero ficar com você. Fica comigo essa noite?
Isso não era bom. Notei a insegurança em sua voz, ambos
estávamos com tantas coisas guardadas, e assim permaneceria.
— Eu já estou com você, bobinho — respondi meiga.
— Não... você não entendeu. — Luca me olhou com cara de safado.
— Dorme comigo essa noite, no meu quarto, quero ficar com você e
esquecer os problemas.
— É tudo o que eu mais quero.

Luca e eu saímos da sala sem pressa, subimos as escadas, e


caminhamos em direção ao seu quarto. Algo bem inédito estava
acontecendo, nunca imaginei que ele ia querer que eu dormisse com ele.
Quem diria que o homem intocável estava me dando o prazer de conhecer
cada parte dele. Eu estava me sentindo mais confiante hoje, não havia o
mesmo nervosismo de ontem, agora eu sentia meu corpo quente, mas era
por outro motivo.
Entramos no quarto de Luca, e era tão grande e um pouco escuro, as
cores eram neutras e tinha uma decoração básica com poucos móveis,
apenas o necessário. Era tudo tão organizado e limpo. Assim que entramos,
ele fechou a porta e deixou a iluminação bem baixa quase em um tom de
vermelho. Eu gostei. Deixava um clima mais propício para o que iríamos
fazer. Luca foi tirando os sapatos, seguido da sua camisa social, mordi os
lábios ao ver os músculos desenhados em suas costas. Ele foi largando tudo
no chão, ficando bem à vontade. Muito mais do que estava na casa de praia.
— Você consegue ser lindo até de costas... — disse admirada.
Luca virou-se para mim, e abriu um sorrisinho, eu amava quando ele
fazia isso. Caminhou em câmera lenta em minha direção. Suas mãos bobas
apalpavam minha bunda e ele apertou com força me tirando do chão.
— E você ficou sexy demais com essa calça, sério, Daya... que
pecado!
— Você gostou, é? — perguntei quase em um sussurro.
— Eu gostei muito, mas vou gostar mais ainda de você sem ela —
Luca disse e mordeu meu lábio com força.
— Então por que você não tira?
Eu amava os nossos flertes. Para mim, nossa relação começava a
partir dali, com todo aquele clima gostoso de conquista. Luca gostou muito
do que eu falei, e suspendeu meu corpo no seu, ele era tão forte que fez isso
quase com uma mão. Minhas pernas estavam presas na lateral do seu corpo,
e ele foi me conduzindo até a cama. Ele se sentou, e me deixou sentada em
seu colo, nossas testas se encostaram e eu estava louca para beijá-lo sem ter
hora para parar.
— Eu quero muito você, Daya... gosto muito de você e não quero te
perder.
— Eu também gosto muito de você, Luca. Não vai me perder, só se
você quiser...
— E eu não quero — Luca disse seguro —, mas no momento, sabe
uma coisa que eu quero? Beijar você, vem cá pequena.
Nosso beijo era tão gostoso, sentia os lábios dele devorar minha
boca, ele me beijava com muita vontade em um ritmo calmo, porém
intenso. Suas mãos envolviam todo meu corpo com muito desejo, que
nunca imaginei que algum homem fosse me desejar dessa forma. Luca
segurou meu corpo e me derrubou sobre a cama, deitou meu corpo, e
começou a subir minha blusa dando alguns beijos na minha barriga, até
chegar ao pescoço, depois no meu queixo e parando na boca de novo.
Aquilo me deixou muito arrepiada, e eu adorava o jeito que ele era calmo e
paciente.
— Daya... — Luca me olhou. — Eu gosto de algo um pouco mais
selvagem, mas com você sinto uma conexão mais profunda. — Ele riu. —
Merda, me sinto um bobo falando isso, mas é diferente, nunca senti isso...
Eu sei o que é. Agarrei-o pela nuca e olhei bem no fundo dos seus
olhos.
— Você não quer só me foder, quer fazer amor comigo... — eu
disse. — Não sou experiente, mas o sexo não precisa ser violento e animal.
Faça amor comigo, Luca, experimente isso...
Luca arregalou os olhos e parecia um pouco chocado, eu que era a
inexperiente aqui, mas parecia ter as palavras certas a serem ditas. Eu tinha
uma visão diferente sobre o sexo, mesmo antes dessa experiência para mim,
ele tinha que ser algo sobre conexão de corpo e a alma, e não só troca de
fluidos, tapas na cara e gritos, sabia que Luca estava acostumado com isso,
mas ele parecia bem aberto para ter uma experiência diferente. Eu queria
ser diferente e única para ele, em todos os sentidos.
Luca começou a tirar minha roupa, peça por peça, e eu via em seus
olhos muito desejo, ele estava louco de tesão, admirava meu corpo com
água na boca, eu adorava sentir isso, toda essa sede dele por mim. Depois
de tirar minha roupa, eu tirei a dele também, que homem. Que corpo
gostoso e maravilhoso. Ele era quase um deus grego de tão lindo. Eu não
cansava de admirar os seus detalhes, do seu corpo perfeito e do seu sorriso
safado. Eu estava muito apaixonada.
Nós dois estávamos nus deitados na cama, Luca veio para cima do
meu corpo e senti sua pele quente, seu pau já estava ereto, que delícia. Não
via a hora de senti-lo. Começamos a nos beijar, ele colocou a mão em
minha coxa, e a ergueu fazendo os meus pés deslizarem em suas costas, vi
seus pelos arrepiados e sabia que ele estava louco para começarmos. O
beijo ficou mais intenso, a cada sugada na sua língua, eu só o desejava
ainda mais. Que beijo gostoso, a boca de Luca era tão deliciosa. Já estava
prestes a abrir as pernas, a ereção dele estava bem rígida no meio delas,
prontinho para entrar dentro de mim. Mas Luca parou o beijo e deu uma
risadinha bem sacana, era um homem maduro mas estava com uma cara de
garotão sapeca. Logo após, ele mudou as posições, me ergueu com
facilidade e agora ele estava deitado, e eu fiquei por cima dele.
Meus cabelos estavam bagunçados e eu o enxerguei de cima, o seu
peitoral e o suor escorrendo, suas pernas fortes me segurando e sua ereção
avantajada, Luca estava completamente louco por mim. Ele segurou minhas
duas mãos e as beijou gentilmente, e depois colocou-as em seu peitoral para
eu me apoiar.
— Você está no controle agora — falou — É só... — Luca deslizou
as duas mãos para o meu quadril e me fez ir para cima e para baixo —
rebolar... — E sorriu maliciosamente.
Luca estava sendo a combinação perfeita para me deixar loucamente
apaixonada, romântico, porém safado, eu não conseguia resistir. Não
respondi mais nada, apenas fechei os olhos e pressionei minhas mãos em
seu peitoral, pouco a pouco comecei a rebolar, sentindo seu pau dentro de
mim pulsando e cada vez mais ereto, comecei em movimentos lentos, e
depois fui intensificando, sua mão em meu quadril me segurava para que eu
não caísse. Meus seios estavam pulando e meu corpo todo em movimento,
abri os olhos para vê-lo e o vi me olhando fixamente com o olhar mais
sacana que já vi em um homem, senti meu corpo ser preenchido por um
prazer extremo, que nunca havia sentido.
Comecei a gemer, já não tinha mais controle de nada e aquela
sensação deliciosa transbordava o meu corpo. Inclinei-me para baixo,
pausando os movimentos por um momento, e beijei seus lábios, ele estava
ofegante e muito quente.
— Você me transborda, Luca. — Eu soltei um riso. — Em todos os
sentidos.
— E você me deixa louco, menina — Luca afirmou sem ar. —
Quero cada vez mais e mais de você, vem aqui vem.
Luca voltou a me beijar, nossos lábios deslizavam um no outro, e eu
sentia sua língua entrelaçar na minha. Ele segurou meu cabelo, com uma
certa força dessa vez, mas deixei, estava envolvida e com tesão demais para
dizer qualquer coisa. Ele levantou o seu tronco, e ainda sentada no seu colo,
ele me virou de costas, soltei uma risadinha e senti seus lábios na minha
nuca. Ele agarrou ainda mais meus cabelos, e disse bem perto da minha
orelha:
— Quero que faça o mesmo movimento agora, só que dessa vez vou
te assistir de costas...
Luca deitou novamente, e eu já havia entendido o que ele queria.
Ele dobrou os braços e colocou por baixo da cabeça. Dei uma viradinha
para trás, e ele estava mordendo a boca e me olhando com aqueles olhos
vorazes e cheios de desejo. Eu amava isso. Amava muito. Toda essa
necessidade, essa vontade.
Empinei-me um pouco, e voltei a cavalgar, senti seu pau encharcado
me invadir, estava bem inchado e me fez sentir novamente uma dorzinha
gostosa, ainda estava pegando o jeito da coisa. Meus olhos reviraram, era
uma sensação muito gostosa e eu corria risco de ficar viciada nesse homem.
Mas ele era todo meu, e eu toda sua. Fazer sexo com alguém que gosta, era
bom demais. Aumentei o ritmo, e minha bunda estava quicando em cima
dele, com força, ouvi o barulho da pele em sua coxa, o som ecoava, parecia
uma palmada seguida de outra. Os barulhos deixavam tudo ainda mais
picante. Luca permanecia imóvel, mas eu sabia que por dentro, ele queria
acabar comigo, me foder como se não houvesse amanhã. Mas dessa vez, ele
iria sentir como era fazer um amorzinho gostoso. Ouvi sua respiração
ofegante, em seguida alguns grunhidos, e eles se misturavam perfeitamente
com os meus gemidos.
Ele me deixou no controle. Então eu ia tomar as rédeas do que
queria agora, queria surpreendê-lo e me satisfazer de outra forma, quero
chupar ele. Parei os movimentos e levantei meu quadril, seu pau estava
todo lambuzado, inchado e ereto, eu o vi pulsar, mas agora queria sentir
tudo isso na minha boca. Abaixei-me sobre seu corpo, e dei um espaço para
que conseguisse abocanhá-lo.
Segurei com as minhas mãos, e senti o peso, Luca era realmente
muito bem-dotado. Comecei a masturbá-lo, meus dedos deslizavam com
rapidez, eu não sabia bem como fazer isso, mas iria tentar. Chupei a cabeça,
e passei a pontinha da língua, seu gosto era delicioso. Senti-lo assim,
encharcado, só me fazia querer mais. Com a ajuda da minha mão, fui
empurrando-o para dentro da minha boca, tirei e coloquei várias vezes,
quase me engasguei com a grossura e o tamanho, mas queria experimentar
todas as sensações daquele momento. Sentir seu sabor, e vê-lo ainda mais
louco por mim. Continuei chupando, o pau dele era uma delícia, não parei
mesmo vendo seu corpo estremecer e suas pernas remexerem. Luca estava
quase lá, eu sentia. Ele ia gozar na minha boca.
Voltei a masturbá-lo, e coloquei só a cabecinha na minha boca.
Acho que para uma garota inexperiente, eu estava me saindo muito bem.
Ele deu outro grunhido, dessa vez mais alto. E gozou na minha boca, senti
seu gostinho escorrer na minha língua. E em seguida se levantou, puxando-
me com força contra a cama de novo, meus lábios estavam molhados, e eu
louquinha por mais.
— Novinha, novinha... — Luca colocou o indicador na minha boca,
e deslizou até os meus seios. — Você me enlouquece.
— Eu estou só começando, Luca... você ainda não viu nada. — Eu
ri.
— Achei que eu era o experiente aqui, mas você é bem espertinha.
Para uma garota dezoito anos.
Ah. Não me subestime.
— Eu era virgem, Luca. Não burra...
— Sabe o que você é? — Luca segurou meu rosto. — Minha.
E voltamos a nos beijar, essa noite não ia acabar tão cedo. O desejo
de um pelo outro falava mais alto, os nossos corpos falavam por si.
E sim, Luca. Eu sou completamente sua...
MAIS UMA SEMANA SE PASSOU, eu estava cada vez mais
envolvido e apaixonado por Daya. Eu nunca estive tão feliz, toda a tristeza
e vazio que eu sentia estava sendo substituído por um sentimento novo que
não me imaginei sentir tão cedo. Mas ainda havia uma barreira, era confuso,
eu gostava de Daya, gostava muito mesmo. Porém, a memória de Elisa
ainda me puxava para ela, mesmo ela sendo apenas um fantasma na minha
mente. Essa noite tive um sonho com ela, e foi bem ruim, ela não estava
feliz com a situação, disse que eu a estava esquecendo, e isso me abalou um
pouco.
Saí da mansão um pouco atordoado, eu e Daya agora estávamos
dormindo juntos, transávamos quase todas as noites, e estava sendo um
verdadeiro parque de diversões. Daya estava descobrindo sua sexualidade
comigo, e não estávamos mais usando camisinha, ela começou a tomar
pílulas. Porque nosso fogo era grande. E eu me lembro bem dos meus
dezoito anos, eu queria transar toda hora e a qualquer momento, não havia
tempo ruim. E apesar de já ter transado muito nessa vida, para mim estava
sendo novidade, Daya era a mulher mais nova que eu havia ficado, mas
puta merda, que tesão que era uma novinha. Todo esse desejo, essa energia
que ela tinha. Porra, me deixava louco. Quando acordei e a vi ao meu lado,
senti uma angústia absurda e me senti um verdadeiro cretino. Eu estava
ficando louco, sonhando com minha falecida mulher, perdido pelos meus
sentimentos por Daya, isso não estava certo. Decidi que hoje seria um dia
importante, eu iria conversar com Daya sobre o que estava acontecendo, iria
falar sobre os meus sentimentos, sobre a minha conversa com Paige e as
condições para fidelização do contrato, eu tinha que jogar limpo, e também
estava curioso para saber o que ela pensava sobre isso.
Não dava mais para deixar esse assunto para depois, cada vez mais
estávamos vivendo uma aventura amorosa, porém, havia tantos empecilhos
ao nosso redor. Peguei meu celular e decidi que iria mandar uma mensagem
para ela, até para que se preparasse para nossa conversa.

Luca: Daya, precisamos conversar! Tenho algumas coisas


para te falar e não pode passar dessa noite. Conversamos
mais tarde, ok? Irei passar o dia ausente. Se cuide,
pequena!

Desliguei meu celular em seguida, e decidi que ficaria ausente hoje.


Queria pensar um pouco mais, refletir, para não tomar nenhuma atitude
precipitada. Fui surpreendido hoje por uma visita inesperada. Era Max.
Depois do ocorrido, achei que tinha ficado bem claro para ele que não
queria mais sua amizade. Mas ele insistiu e disse que queria conversar, e eu
decidi que iria recebê-lo em meu escritório. Para falar a verdade, eu
precisava mesmo conversar com alguém, eu precisava conversar com um
amigo.
Max entrou na minha sala e estava bem diferente. Estava vestido
com uma roupa formal, sua barba estava feita e os cabelos cortados.
Parecia um homem de negócios. Quem é esse, e o que fez com Max? Ainda
estava meio pasmo, mas decidi perguntar.
— Que diferença... O que fizeram com você?
— Não seja irônico — Max declarou fazendo careta. — Eu mudei.
Aconteceu muitas coisas na minha vida nas últimas semanas, e estou
mudado, Luca. Agora trabalho seriamente, tomei as rédeas do meu negócio
e também conheci uma garota...
Não pude deixar de rir, aquilo soou bem hilário e cômico. Max só
poderia estar brincando, ele nunca levou a sério seu negócio, sempre
deixava na mão do seu pai resolver tudo. E se apaixonar então, era algo
mais distante ainda. Max sempre foi um homem de muitas mulheres.
— Max, você veio aqui para zoar comigo? Porque estou com
bastante coisa para pensar hoje, e não estou a fim de gracinhas.
— Luca, eu nunca estive falando tão sério em toda minha vida. —
Max me encarou. — Vim aqui para pedir desculpas para você, toda essa
transformação na minha vida me deixou mais sensível. Eu me arrependi do
que fiz naquela noite, e para falar a verdade sinto falta da sua amizade,
tantos anos jogados fora por besteira, eu queria que me desculpasse, mas se
não for capaz disso, eu também entendo, você é durão e sei que o perdão
não é contigo.
Ele estava falando a verdade. Depois de anos de amizade, comecei
a conhecer mais os trejeitos de Max, eu sabia quando ele estava mentindo e
também quando estava falando a verdade. E dessa vez era sério, eu
realmente não era um cara que perdoava fácil, mas não foi só a vida dele
que mudou nas últimas semanas. A minha também, eu era um novo homem,
e esse novo Luca era capaz de aceitar suas desculpas. Quando Max ia
virando as costas para sair da sala, eu o impedi.
— MAX! — gritei. — Espera, fique. Sente-se!
Max me olhou meio desconfiado, mas deu meia-volta e se sentou na
cadeira em frente à minha mesa.
— Você não está puto?
— Não! De fato, você foi um tremendo babaca naquela noite, mas
assim como está dizendo que mudou, eu também mudei. E essa minha nova
versão é capaz de te desculpar. No fim das contas você é meu único amigo.
— Ah, cara... — Max se levantou. — Desse jeito você vai me fazer
chorar, venha cá me dar um abraço.
Max e eu nos abraçamos, um abraço meio desajeitado típico dos
abraços masculinos com uma certa distância e sem muita emoção. E ele não
se conteve, começou a falar de tudo que havia acontecido nas últimas
semanas, e seu discurso era extenso. Mas fiquei bem surpreso ao saber
quem era a sua musa inspiradora no momento. Isabelle. A moça que ele
queria me apresentar, acabou virando sua namorada. Depois do fora que eu
dei nela, Max a consolou e acabou que os dois descobriram que tinham
bastante química.
Ele não parava de falar nela, no quanto era maravilhosa e perfeita e
estava dizendo, que era a mulher da sua vida. Realmente, ele estava
mudado. Max nunca ficou assim por mulher nenhuma. Aproveitei o
momento de revelação e contei o que estava acontecendo comigo também,
que eu e Daya estávamos nos envolvendo e que se tornou mais do que um
contrato. Contei para ele também sobre minha conversa com Paige, as
condições da fidelização do contrato e o quanto aquilo me deixava confuso
e impotente.
— EU SABIA! — Max gritou, vangloriando-se. — Cara, no
momento que você saiu da boate aquela noite só por causa dela, eu já sabia
que tinha algo a mais... É, Luquinha, você está muito ferrado. E sem muitas
opções.
— É eu sei. Você não precisa me lembrar disso. Eu estou perdido,
cara. Completamente perdido. Eu gosto de Daya, eu sou louco por ela, mas
não quero me casar com mais nenhuma mulher.
— Mas você sabe que se não fizer isso, ao fim do contrato ela vai
ter que ir para casa de outro. E aí? Você vai conseguir lidar com isso?
Não, com certeza não.
— NÃO! — berrei e bati a mão na mesa. — Ela é minha, só minha.
Nenhum outro homem vai tocar nela.
— Ah, vai sim... — Max arqueou uma sobrancelha. — Se você não
casar com ela, meu amigo. Ela vai ter que ir para a mão de outro. A Paige
não vai mudar o contrato só para você viver sua história de amor com sua
princesinha do subúrbio, esquece.
— É por isso que preciso falar com ela, Daya ainda não sabe desse
termo. E precisamos conversar sobre nós, as coisas estão avançando tão
depressa.
— É melhor fazer isso mesmo, seu tempo está passando. Agora só
restam mais duas semanas.
E Max tinha razão, o tempo não estava sendo meu amigo nisso. Os
dias estavam passando, e eu precisava tomar uma decisão. E estava
decidido, hoje à noite eu conversaria com Daya, e iríamos alinhar tudo de
uma vez por todas.
A NOITE CAIU e eu esperei muito por esse momento, a conversa
com Max me aliviou um pouco, mas só o que me faria bem mesmo era ser
claro com Daya sobre o que eu sentia. Quando estava chegando em frente à
mansão, me deparei com luzes serelepes e o carro da viatura da polícia lá.
Meu coração disparou. O que a polícia estava fazendo na minha mansão?
Parei o carro, e desci imediatamente, antes de abrir a porta um
flashback me veio à cabeça, a noite em que Elisa morreu a mesma cena se
passando. A viatura da polícia, a notícia sendo dada para Lisa e ela
arrumando forças para me contar. Um verdadeiro terror, senti a sensação
como se eu estivesse voltando para aquela noite. Em meus pensamentos, só
me veio Daya na cabeça, se algo acontecesse com ela, eu não ia suportar.
Eu só queria abraçá-la, e ter certeza absoluta de que estava tudo bem.
Quando entrei em minha casa, quase quebrei a porta, E LÁ ESTAVA ELA,
DAYA MINHA DAYA. Ela correu para os meus braços e me abraçou com
força. Senti sua aflição, seus batimentos acelerados, eu a apertei em meu
corpo e não vi mais nada ao redor. Minha maior preocupação era ela.
— Pequena... Céus — Respirei fundo. — O que aconteceu? Você
está bem?
— Eu te mandei muitas mensagens, mas você não respondeu. Eu
estou bem, Luca. Por sorte eu estou bem, mas aconteceu uma coisa aqui.
Eu desliguei a merda do celular, e justo hoje acontece algo. Daya e
eu nos separamos, e notei que Lisa estava com uma feição assustada
conversando com dois policiais. A casa estava intacta, ninguém machucado
aparentemente. Então o que tinha acontecido?
— Senhor Luca Lancaster, alguém entrou na sua casa e tentou
sequestrar Daya. Foi tudo muito rápido, mas ela conseguiu se defender e
gritar por ajuda antes que o pior acontecesse — avisou o policial de bigode
loiro.
O QUÊ? COMO ASSIM?
— Sequestro? Como assim sequestro? Cadê os seguranças dessa
casa? Isso nunca aconteceu em Greville.
— Suspeitamos que seja alguém que a está espionando. Alguém que
sabe da rotina de vocês, dos seus passos...
Virei-me novamente, indo até Daya de novo, segurei em seu rosto e
voltei a abraçá-la, só de pensar que poderia tê-la perdido hoje. Eu sentia um
misto de ódio com pavor.
— Daya... Tem que me contar o que aconteceu, e como aconteceu,
preciso entender. Vou mandar reforçar a segurança, você vai ter um
segurança 24 horas ao seu lado.
— Luca, não precisa... — Daya disse cabisbaixa, ela estava
abalada. — Eu vou ficar bem.
— PRECISA SIM! CLARO QUE PRECISA — afirmei aflito.
— Bom, senhores, se me dão licença já revistamos a casa e não há
mais ninguém aqui. Vamos abrir as investigações, e esperamos encontrar o
culpado. Mas por ora, vamos ficar atentos.
— Eu levo vocês até a porta — Lisa disse solícita.
— Obrigado, Lisa — agradeci. — Daya e eu vamos subir, ela vai ter
que me contar detalhadamente como isso aconteceu.
Disparei um olhar autoritário para Daya, ela estava estranha e eu
estava com muita adrenalina em minhas veias. Toda essa sequência de fatos
me deixou com a mesma sensação de que tínhamos ao sofrer um trauma.
Fomos para o meu quarto, queria ter mais privacidade para conversarmos
sem que alguém ouvisse. Afinal, essa mansão não era mais segura. Pelas
observações dos policiais, a pessoa que fez isso conhecia bem nossos
passos e rotina. Poderia ser facilmente alguém da mansão. Fiquei
desconfiado de tudo e todos. Ao entrarmos no quarto, fechei a porta e
respirei fundo para tentar me acalmar um pouco, mas no fundo eu sabia que
não ia conseguir ficar calmo tão cedo.
— Eu quero saber tudo o que aconteceu, você conseguiu ver quem
foi? Ele te tocou? Daya, estou preocupadíssimo.
— Eu sei, Luca. Fique calmo! O pior já passou — Daya ponderou as
palavras parecia mais tranquila agora. — Foi muito rápido, eu estava em
meu quarto e alguém apareceu pela janela, invadiu e tentou me apagar. Mas
eu fui mais rápida, pelo tamanho e força era um homem, eu o mordi com
muita força e ele acabou se atrapalhando. Foi o tempo que eu tive de correr
e pedir ajuda.
— Céus... — disse, colocando as mãos na cabeça. — Pela sua
janela? De fato, era alguém que estava te observando. Estou pensando aqui,
isso pode ter algo a ver com o Dreico, ele com certeza não engoliu o fato de
você ter sido solta, ele é um homem competitivo e com certeza isso
provocou muito irá nele.
Esse desgraçado vai me pagar, agora ele estava na minha lista
número 1 de suspeitos.
— Luca... Talvez não, tem outra pessoa que pode estar envolvida. Eu
não queria te contar isso, mas diante aos fatos vou precisar contar.
— Do que está falando? — indaguei preocupado.
Eu odiava mentiras, se Daya estivesse escondendo algo de mim
abalaria minha confiança nela.
— Jeremiah pode estar envolvido nisso. No dia que eu estava na sua
casa de praia, quando você foi embora, ele me encontrou na praia e parecia
um pouco obcecado por mim. Eu não queria te contar para não causar mais
briga, mas ele pode estar envolvido nisso. Me desculpa... — ela terminou de
falar e abaixou a cabeça.
— POR QUE ME ESCONDEU ISSO? Agora sabendo disso, com
certeza ele está envolvido, é a cara dele fazer algo assim. Você não podia ter
escondido isso de mim, Daya! Achei que confiasse em mim...
— NÃO MISTURE AS COISAS LUCA! — Daya disse irritada,
afastando-se. — Não é bem assim, você é meio explosivo às vezes, queria
que eu te contasse para você ir atrás dele e dar mais brigas? E outra, estou
dizendo que pode ser ele, mas não temos certeza. Dreico também é um
suspeito. Pode ser qualquer pessoa, qualquer pessoa que não goste de mim
ou de você. Ou até mesmo de nós juntos.
Ou até mesmo de nós juntos. As palavras de Daya ecoaram em
minha cabeça, e me lembrei de uma outra pessoa que também poderia estar
envolvida nisso. Paige Conner. Nossa última conversa não foi nada boa, e
ela deixou bem claro que isso não iria ficar assim. Estava se sentindo
humilhada, e com certeza poderia se vingar.
— Desculpe... eu me exaltei! Mas, estou nervoso. Você poderia não
estar aqui agora.
— Mas eu estou. — Daya me encarou com os olhos marejados. —
Vamos aproveitar o momento para você me dizer o que gostaria de
conversar comigo, me mandou aquela mensagem e sumiu o dia todo. Pois
bem, agora fale!
Eu queria mesmo falar, vim o caminho inteiro memorizando as
minhas palavras. Mas talvez, não fosse um bom momento. Nossas emoções
estavam à flor da pele.
— Não é um bom momento, você precisa repousar e se acalmar, e
eu também. Podemos conversar sobre isso outro dia.
— NÃO, LUCA! — Daya gritou autoritária. — Vamos falar disso
agora, não tem depois. O depois não existe, eu poderia não estar aqui depois
do que ocorreu, e posso não estar aqui amanhã.
Eu tenho que concordar.
— Você tem razão, bom, eu não queria falar sobre isso agora, mas já
que você insiste. Eu fui conversar com Paige sobre o contrato, as semanas
estão passando e em breve os 30 dias chegará. Fui conversar com ela sobre
a possibilidade de ser estendido por mais um tempo. Ela me disse que não é
possível, então perguntei o que é preciso fazer para fidelizar para que você
não tenha que ir embora...
— E?
— E ela disse que para isso acontecer, eu preciso me casar com você
de papel passado. Não existe outra possibilidade de fidelizar sem o
casamento.
Notei mais lágrimas escorrendo no rosto de Daya, era um choro
silencioso sem muitas expressões. No entanto, ela estava profundamente
triste.
— Não precisa dizer mais nada. Eu já sei sua resposta, sei que
jamais se casaria comigo.
— Não... — Eu respirei fundo. — Nada está decidido ainda, estou
tentando resolver essa situação da melhor forma para nós dois. Eu não vou
te perder, Daya.
— Essa situação é sobre nós, é sobre o meu futuro, não trate isso
como se fosse um mero negócio. Eu quero ficar sozinha, Luca...
Merda, eu estraguei tudo. Imediatamente me aproximei de Daya, e
tentei puxá-la para perto do meu corpo, mas ela revidou e se afastou de
mim.
— Não! Não quero que você me impeça. Eu quero ficar sozinha! E
ponto final.
— Tudo bem... — Eu dei alguns passos para trás. — Me desculpe,
Daya. Só me desculpe.
— Não quero suas desculpas. Só quero ficar sozinha essa noite. Boa
noite, Luca!
E ela saiu batendo a porta, e eu fiquei sozinho em meu quarto,
completamente dilacerado e puto comigo mesmo por ter me enrolado com
as palavras. Não era bem assim que imaginei nossa conversa, eu tinha em
mente tudo que ia falar, e da forma para não a machucar. Mas saiu tudo
errado, essa noite foi um verdadeiro desastre.

E eu me senti completamente inútil e vazio, e sem ela em meus


braços...
ACORDEI COM A SENSAÇÃO de que nem tinha dormido, foi
uma péssima noite e eu demorei muito para dormir perdida em meus
pensamentos, lembrando das palavras de Luca. Chorei bastante, em
silêncio, não queria que ele me visse chorar, nenhum homem merecia isso.
Acordei algumas vezes durante a noite com alguns sonhos com minha
família, que estávamos felizes e juntos. Como eu sentia falta deles. Depois
daquele dia, não tentei mais contato, eu não poderia colocar em risco a
saúde da minha mãe, mais uma tentativa e tudo estaria perdido. Mas não
estava aguentando mais de saudades, doía o meu peito me lembrar dos
meus irmãozinhos. Mesmo diante de todo esse luxo ao meu dispor, estava
sentindo saudades da minha antiga vida.
Isso me dava uma lição de que o dinheiro de fato não compra
felicidade, você pode estar no melhor lugar do mundo, mas se o seu
coração não estiver em paz de nada vale. Recordei-me também das
palavras de Luca, das condições para fidelização do contrato, um
casamento, um maldito casamento. Me doeu ver a indecisão dele, mas para
falar a verdade eu não tirava sua razão. Casamento era algo sério, era um
comprometimento para a vida toda, eu nunca pensei em me casar, queria
viver muitas coisas antes, e se isso um dia acontecesse gostaria que fosse de
forma natural, não nessas condições.
Mas em contrapartida, comecei a pensar que se esse casamento não
acontecesse, no final do contrato eu teria que ir embora da vida de Luca
para sempre. Iria conhecer outro homem, que não seria tão paciente e
amoroso comigo. E mesmo se fosse, ele não era o homem por quem eu
estava perdidamente apaixonada. Por quem eu estava quebrando várias
barreiras impostas por mim mesma, e abrindo uma exceção para um
sentimento que jamais achei que fosse capaz de sentir. Remexi-me na cama,
minhas pálpebras estavam pesadas e meu olho com certeza estava inchado.
Mas eu não estava nem aí, só queria uma forma de resolver essa situação
sem me machucar ou colocar em risco minha família. Queria que tudo
ficasse bem, mas algo me dizia que não ia ficar.
Escutei o barulho de alguém bater à porta, e imaginei que
possivelmente seria Lisa me chamando para o café, levantei-me arrastando
um pouco meu corpo até lá, e quando abri, tive uma grande surpresa. Era
Luca. O que ele estava fazendo aqui? Essa hora ele deveria estar
trabalhando. Mas não, estava parado em minha frente segurando uma
bandeja de café da manhã, com direito a uma belíssima flor lilás do jardim
que eu tanto amava, se ele acha que bancar o romântico agora iria me fazer
esquecer tudo que aconteceu, estava bem enganado.
— O que você está fazendo aqui? Não deveria estar trabalhando? —
perguntei com um tom de voz bem irônico.
— Eu não vou trabalhar hoje. Vou cuidar de você, da sua segurança,
e trouxe um café da manhã especial, sei que está brava comigo, mas... —
Luca estendeu a bandeja. — Vai negar comida?
Isso é chantagem. Eu amava comer, e a bandeja estava tão farta e
cheia de coisas deliciosas, isso era jogo sujo.
— Não preciso de proteção, já disse. Eu consegui me defender duas
vezes, de dois homens... ainda acha que preciso de proteção?
— Isso é uma das coisas que fez eu me apaixonar ainda mais por
você. Você é uma mulher forte e ao mesmo tempo delicada, sei que não é
uma donzela em perigo, Daya, mas por favor me deixe entrar, vamos
conversar — Luca insistiu.
Quando olhei para cara dele, parecia um pouco abatido também.
Ainda continuava lindo de morrer, mas estava meio pálido e com uma cara
de quem também não tinha dormido direito. Eu não queria ser orgulhosa,
então decidi deixá-lo entrar.
— Tudo bem, entre...
Luca entrou no meu quarto e encostou a porta, ele deixou a bandeja
na cama e nos sentamos sobre ela. Estávamos um pouco distantes um do
outro, ele não tentou me agarrar, o que era muito bom. Cruzei os braços, e
estava pronta para ouvir o que ele tinha a dizer.
— Pronto! Pode falar...
— Primeiramente, quero me desculpar por ontem. Eu sou um
imbecil, otário, mereço o seu desprezo e entendo que esteja chateada. Eu
ensaiei como te falar aquilo, mas tudo aconteceu tão rápido e acabou que
você interpretou da pior forma. Entendo que não queira falar mais comigo,
mas quero que saiba que estou deixando todo meu orgulho e ego para trás
para vim tentar me redimir com você. Me perdoe, Daya...
Foi muito difícil para Luca falar aquilo, para um homem admitir que
estava errado era algo bem doloroso. Sempre queriam estar certos, e o ego
inflado masculino os consumia de ver a verdade. Contudo, nós mulheres
também tínhamos isso, uma parte de mim queria que ele continuasse ali se
lamentando, mas me recordei de que eu também não fui sincera com ele,
escondi a história de Jeremiah e mesmo Luca sendo um homem que odiava
mentiras, pelo jeito foi capaz de me perdoar. Então, eu iria fazer o mesmo.
— Tudo bem, esquece isso, Luca. Foi uma noite ruim, mas não
quero ficar remoendo isso. Só quero ficar bem! — Abri um pequeno
sorriso.
— Então eu estou perdoado?
— Sim, você está.
Luca não perdeu tempo, veio correndo até a mim, me agarrou pela
cintura e me beijou. Um beijo rápido, porém, cheio de paixão. Eu gostei
muito. No fim das contas não conseguia ficar longe dele. Sorrimos entre o
beijo, e senti de novo toda aquela nossa energia boa.
— Eu prometo que isso não vai acontecer de novo, ainda
precisamos conversar sobre isso, sobre essa questão do contrato. Mas não
vai ser agora, quero te levar para um lugar hoje, que vai te ajudar na sua
segurança.
Lá vem ele de novo. Luca disse que sabia que não era uma donzela
em perigo, mas acho que no fundo me via assim.
— Se começar com isso de novo, vamos brigar... — avisei.
— Calma! — Luca disse, agarrando-me com mais força. — Não
vou mentir, reforcei a segurança da casa e se alguém tentar entrar de novo,
vai sofrer as consequências, instalei algumas câmeras. Porém, quero ter
certeza de que pode se defender sozinha também, para isso irei te levar
nesse lugar.
Uau. Agora sim ele estava falando minha língua.
— E posso saber onde é? — indaguei curiosa.
— É surpresa!
Fiquei muito animada para saber do que se tratava, depois do café
da manhã e a reconciliação, demos uma rapidinha básica, eu estava ficando
um pouco viciada em sexo, e adorava transar de manhã. E depois, Luca e eu
nos arrumamos, ele pediu para que eu colocasse calça jeans e regata, ele
também se arrumou de forma mais simples hoje. Nada de smokings caros,
apenas uma calça rasgada e camiseta preta. Eu amei esse visual meio
radical e rebelde. Essa rebeldia o deixava mais jovem. E eu adorava isso.
Partimos em direção ao local, e a partir das nossas vestimentas eu sabia que
não se tratava de um restaurante chique, ou loja de grife. Para onde
estávamos indo?

AO CHEGARMOS AO LOCAL, fiquei surpresa e nem de longe


imaginei que ele me traria a um lugar assim. Era um enorme galpão com
cores escuras, frio, e com vários alvos grudados na parede, também tinha
alguns manequins borrachudos que simulavam pessoas. Olhei o ambiente
ao redor, e se tratava de um campo de treinamento. Havia alguns obstáculos
montados, pilastras, como um verdadeiro labirinto feito para um teste
avançado de audácia.
— Uau! — exclamei olhando tudo em volta. — Estou bem curiosa
para saber o que vamos fazer aqui, deixa eu adivinhar, vai me ensinar a
lutar?
Luca remexeu em dos pequenos armários montados no canto da
parede, e estava segurando uma enorme caixa preta que parecia pesar
bastante. Ele a largou no chão, e puxou a tranca para abri-la.
— Não... — Luca riu. — A luta requer um pouco mais de tempo, e
não temos tempo. O inimigo está solto, e você precisa aprender algo que vai
ser mais rápido. Estou falando de atirar.
Arregalei os olhos quando a tampa se abriu, havia uma fileira de
armas dentro da grande caixa preta. De diversos tamanhos e comprimentos,
mas todas bem perigosas. Eu nunca havia atirado antes, na verdade, nem me
imaginei nessa posição. Senti um arrepio, por que Luca era portador de
tantas armas? Do que ele tinha medo?
— Vai me ensinar a atirar? Por um acaso você está me escondendo
algo? — perguntei muito desconfiada.
— Não seja ingênua, Daya. — Luca apanhou uma arma de cano
bem grosso e checou as balas. — Sou um dos homens mais ricos de
Greville, tenho um grande poder de influência. E sou o último herdeiro da
Lancaster, acha que não tenho inimigos? Precisei aprender a me defender,
não posso contar com a sorte. A qualquer momento posso ser assassinado,
ou coisa pior. E agora que você está comigo, também se tornou um alvo.
Faz sentido. Se os homens da Greville elitizada eram movidos por
poder, então em algum momento eles poderiam querer eliminar a si mesmos
para se apossar mais disso.
— Entendi... — Respirei fundo. — Você também ensinou isso para
Elisa?
— Não — Luca respondeu rapidamente. — Ela nem sonhava com
isso.
— Então por que está me mostrando tudo isso? — insisti.
— Porque você é você, Daya. Maravilhosa. Forte. Determinada.
Única e corajosa. Confio em você para saber disso tudo, e quero que
aprenda a se defender ainda mais do que você já sabe e sozinha... agora
vamos começar?
Meu coração disparou, e não pude deixar de sorrir. Aquela
declaração inesperada me deixou muito contente, era tão difícil competir
com a memória de Elisa, saber que eu era a única mulher que ele estava
confiando apresentar o seu universo obscuro, me deixava mais segura sobre
os seus sentimentos.
Luca pegou em minha mão e começou a me apresentar o galpão
primeiramente, a função de cada coisa, e alguns truques. E depois,
colocamos alguns equipamentos para iniciar a aula. Um colete, óculos e
luvas. Ele começou, me deu uma demonstração de como deveria fazer. E
em seguida, tentei reproduzir. De primeira não deu muito certo, da segunda
também não. E na terceira, parecia ter saído pior do que todas as outras.
Bufei irritada, a cada estalar da bala me sentia desconfortável, talvez não
fosse para mim.
— Chega... — eu disse irritada. — Não vai funcionar. Eu nunca
achei que iria precisar aprender a usar isso, Luca.
— Mas você vai — falou autoritário. — Só precisa de um estímulo
talvez, precisa de emoção, de medo e um pouco de ação.
— E como vai fazer isso?
— Eu quero que faça uma coisa agora, quero que feche os olhos e
imagine você em seu quarto... — Luca começou a narrar.
— Isso não vai funcionar!
— TENTE, DAYA! TENTE! — Luca gritou.
Ok. Eu não ia contrariá-lo. Decidi fechar os olhos, e imaginar. Eu
me vi no quarto da mansão, sozinha e com um sentimento de
vulnerabilidade.
— Ok, estou me imaginando lá...
— Agora quero que você veja que tem alguém no quarto com você,
um homem que vai te matar, essa é a intenção dele, não tem conversa. Você
vai precisar agir friamente, e atirar contra ele. Não pense muito, apenas
atire! Se você pensar demais, ele vai matar você...
Escutei a voz de Luca, eu estava sendo embalada por ela e entrando
em uma espécie de transe. Consegui visualizar todas as cenas, e senti um
frio na barriga. Eu imaginei o homem que tentou me sequestrar, ele estava
mascarado e com roupa preta, mas consegui voltar para o exato momento
daquela noite. Mas o medo que eu senti, não foi o suficiente para me
paralisar, era como se eu soubesse que iria conseguir escapar.
— Estou vendo ele... — comecei calma. — Bem na minha frente,
querendo me atacar.
— Agora quero que abra os olhos e ATIRE DAYA! ATIRE NELE.
Ou ele vai atirar em você.
E então, eu abri os olhos calmamente, mirei a arma no alvo e estava
bem segura do que estava fazendo. Apertei o gatilho, e ouvi o disparo da
bala. Mas ela acertou bem longe do alvo. Bem longe mesmo. Era inútil, isso
não era para mim, mesmo com essa alucinação psíquica que Luca queria
promover não ia funcionar comigo. Olhei para ele desapontada e disse:
— Viu? Não adianta. Não consigo... me desculpe!
Luca não parecia desapontado, e ele não ia desistir fácil disso.
Permaneceu ereto na sua posição e prosseguiu:
— Vamos de novo, dessa vez, vou tentar algo diferente... se não
consegue se defender por você mesma, então vamos envolver outras
pessoas na cena.
Olhei para Luca um pouco entediada, e minha vontade era de largar
a arma e desistir. Mas eu ia tentar, não por ele, mas por mim. Porque queria
mostrar para mim mesma o quanto eu podia ser capaz de fazer isso, e
voltamos ao mesmo processo.
— Quero que se imagine neste mesmo quarto, nessa mesma situação
e com o mesmo homem te ameaçando, mas dessa vez você não está
sozinha...
E assim fiz, fechei os olhos novamente e me imaginei exatamente
como antes, com os mesmos detalhes na cena. E não pude deixar de
zombar.
— E quem está na cena comigo? Você?
— Nem pensar. É a sua família, Daya. Sua família está com você. E
agora esse homem perigoso vai matá-los primeiro, na sua frente, e você vai
vê-los mortos e sangrando com os corpos derrubados no chão. VOCÊ
PRECISA SER RÁPIDA! É a sua família que está em jogo...
— NÃO! — gritei, apertando os olhos. — Eles não vão morrer.
— E só depende de você salvar a vida deles — Luca continuou a
falar mais duro com as palavras. — Ou você reage, ou eles vão morrer. Vai
conseguir viver com isso? Vai conseguir viver com essa culpa?
Eu queria dar um soco em algum lugar nesse exato momento, queria
que ele calasse a boca e parasse de falar aquelas palavras tão ordinárias e
fúnebres que despertaram o pior lado dentro de mim. Um lado animal, um
lado vingativo e um lado que era como um lobo defendendo sua matilha.
Abri os olhos furiosa, e senti a descarga de adrenalina em meu corpo, então
mirei a arma no alvo, apertei o gatilho e disparei. Uma, duas, três, quatro.
A bala dessa vez foi direto no alvo. Luca me olhou orgulhoso e pegou a
arma da minha mão. Porém, eu desejava mais, eu queria mais aquela
sensação.
— Viu... eu disse, você só precisava de um estímulo forte.
— Não foi legal colocar a minha família nisso, eu estou bem
nervosa... —avisei, lembrando-me da cena imaginária.
— Sem isso, você não conseguiria. O medo e o desejo de proteger
fez com que você agisse. Se algo acontecer, e você estiver sozinha, preciso
que me prometa que vai pensar neles. Porque já vi que você não pensa
muito em você...
E Luca tinha razão. Todas as minhas ações ao longo da vida, foram
pensando no bem da minha família.
— Eu prometo! Mas agora podemos praticar de novo?
— Sabia que ia pedir por mais. — Ele sorriu maliciosamente.
E lá vamos nós novamente, que os jogos recomecem.

MAIS TARDE, depois do longo dia de tiros ao alvo, eu estava me


sentindo cansada, porém revigorada. Eu gostei daquilo, e era bem
preocupante. Afinal, armas eram objetos bem perigosos. Luca me presentou
com a que eu usei hoje, e me fez jurar que eu só iria usar em caso de
extrema urgência. Porém, me disse que eu precisava praticar mais vezes
para aprender mais sobre o manuseio. Eu concordei, e estava torcendo para
não ter que usá-la nunca. Eu não queria matar ninguém.
Estávamos na sala e Luca resolveu abrir um vinho para brindarmos
o dia de hoje, ao meu desempenho e como fui uma excelente aluna.
Brindamos nossas taças e bebericamos alguns goles.
— Estou muito feliz com seu desempenho, agora sim posso ficar
mais tranquilo. Os guardas vão ficar de olho, e a polícia está indo atrás de
respostas. Mas saber que agora você sabe usar uma arma, me deixa muito
tranquilo.
— Me deixa tranquila também, mas espero não ter que usá-la tão
cedo.
— Não vai. — Luca sorriu e me envolveu em seus braços. — Vai
ficar tudo bem. E essa noite, quero te mostrar uma coisa.
— E eu posso saber o que é? — indaguei muito curiosa.
— Vamos subir, eu preciso te mostrar, era algo que eu não tinha
certeza se deveria fazer, mas agora eu tenho.
Deixamos nossas taças na mesa, e Luca segurou em minha mão me
guiando até as escadas. Comecei a pensar no que ele me mostraria, eu já
conhecia o seu quarto, então, qual era a novidade? Seguimos no corredor e
viramos à direita, nesse corredor tinha o quarto que desde o primeiro dia
que pisei meus pés na mansão ele me disse para nunca entrar. O misterioso
quarto 06/03. Paramos em frente à porta, e eu nunca ousei tentar entrar, pois
não queria invadir a privacidade de Luca, mas me surpreendeu muito ele me
trazer aqui.
— O quarto que estava nas suas regras... — Eu o encarei. — Nós
vamos entrar?
— Sim. Vamos! — Luca disse, tirando uma chave do bolso. —
Quero que você veja o que tem aqui, e porque eu não queria que você
entrasse.
— Tudo bem. — Concordei com a cabeça.
Quando Luca abriu a porta, meu queixo caiu e meus olhos ficaram
paralisados no que eu estava vendo. Era um quarto médio, com muitas
fotos, roupas, objetos pessoais femininos e um grande quadro na parede de
uma belíssima mulher de cabelos ruivos que eu já sabia quem era. Elisa.
Luca tinha feito um santuário com sua memória, era por isso que ele não
queria que eu entrasse aqui, eu não sabia bem como reagir a isso. Fiquei em
choque.
— 06/03 — Luca começou a falar nostálgico — é o dia da nossa
data de aniversário de namoro, e também a de noivado. Eu nunca me
esqueci dessa data, quando Elisa morreu eu queria deixá-la viva de alguma
forma, além de dentro de mim é claro, não consegui me desfazer de nada
dela, e todos os dias eu vinha aqui me torturar, até a sua chegada... depois
que você entrou na minha vida, eu comecei a vim cada vez menos nesse
lugar.
Luca estava com os olhos marejados, eu nunca o vi dessa forma tão
desarmado e sensível. Tinha medo de dizer algo inapropriado, então o
deixei continuar.
— Continue...
— Nessas últimas semanas, muita coisa mudou dentro de mim,
Daya. Você me mudou, me tornou um homem melhor e mais forte. Mais
feliz e mais vivo. Antes de você, eu achei que nunca fosse capaz de me
apaixonar de novo, talvez, até de amar outra pessoa... — Ele parou e
lágrimas escorreram dos seus olhos. — Elisa nunca será esquecida, mas
acho que estou pronto para me livrar disso, dessas memórias, estou pronto
para me despedir dela e ser todo seu.
Meu coração acelerou, todo seu. Corri para abraçá-lo, e lágrimas
escorreram dos meus olhos também. Eu não queria soltá-lo nunca mais,
sorri, aquele momento e suas palavras iriam ficar para sempre em minha
memória.
— Ah, Luca... — Eu sorri. — Não sabe como me deixa feliz saber
disso, ver você se abrindo, eu sempre senti que tinha algo incompleto ainda,
que você se sentia meio inseguro, mas, meu amor, quero que saiba que eu
vou cuidar de você. Não sou a Elisa, porém sou uma mulher que sabe o que
quer. E eu quero você, quero nós... quero tudo!
Luca limpou as lágrimas e segurou meu rosto, e sorrimos um para o
outro. Eu sentia um misto de emoção com vontade de gritar para o mundo
inteiro o quanto eu estava louca por ele.
— E tem mais... — Ele selou nossos lábios. — Eu caso com você,
Daya. Se a condição para ficarmos juntos é fidelizar esse contrato através
de um casamento, eu caso com você. Agora! Amanhã. Quando você
quiser...
ELE SÓ PODE ESTAR BRINCANDO. Meu coração disparou mais
uma vez, senti um choque no meu corpo.
— Luca... — Eu o encarei desconfiada. — Está falando sério? Com
essas coisas não se brinca. Você sabe...
— E quem disse que eu estou brincando? — Luca me agarrou pela
cintura, e girou meu corpo no ar. — Eu quero me casar com você, Daya.
Não quero que você vá embora para outro homem no final desse contrato.
Você é minha, e eu sou seu. Eu quero ser feliz com você sem uma data para
acabar...
— Então se isso foi um pedido — eu disse brincalhona e em voz
alta — EU ACEITO LUCA LANCASTER! ACEITO ME CASAR COM
VOCÊ.
— Você já é minha esposa! Então vamos sair daqui e começar nossa
lua de mel.
Esse é o meu Luca. Ele me tirou do quarto às pressas, não queríamos
fazer nada ali. No entanto, essa noite era especial, a melhor noite da minha
vida.
E merecíamos uma deliciosa comemoração, meu corpo estava
sedento por ele...
EU ESTAVA ME SENTINDO livre, agora definitivamente eu era
um homem livre para viver completamente essa história com Daya, fiquei
muito confuso com tudo que aconteceu nos últimos dias, e ainda me vinha à
cabeça as lembranças de Elisa que não me fazia pensar com clareza. Mas
depois da noite em que Daya quase foi sequestrada, foi o ponto final que eu
precisava para ver que ela era muito mais importante do que eu imaginava.
Fiquei com medo de perdê-la para sempre, e eu não iria deixar isso
acontecer.
Daya agora era o meu presente e meu futuro, o meu passado eu
deixei hoje para trás, iria guardá-lo sempre em meu coração. Entretanto, eu
precisava e queria seguir com minha felicidade que era ao lado dessa
mulher que chegou assim de mansinho, e me conquistou. Eu não sabia se
tinha muito para dar, emocionalmente falando, mas tudo que eu tinha era
dela. Saímos do quarto 06/03 que amanhã mesmo eu iria mandar alguém
retirar as coisas e dar uma nova cara a ele. E agora estávamos aos beijos no
corredor, estava louco para senti-la, para fazermos o que ela me ensinou a
fazer. Amor.
Aos beijos no corredor, eu fui conduzindo-a em direção ao meu
quarto. Queria arrancar essa sua roupa, e a minha também. Estava louco de
tesão. Mas Daya parou por um breve momento e disse:
— Não! Hoje não vamos dormir no seu quarto, vamos dormir no
meu. — Ela sorriu maliciosamente.
— Você quem manda!
Daya me puxou pela camisa e foi conduzindo meu corpo até o seu
quarto, estava gostando daquele clima de sensualidade, me deixava ainda
mais excitado e imaginando tantas coisas. Entramos em seu quarto, e me
lembrei do dia que ela pediu para eu dormir com ela, que eu recusei. Eu
queria muito ter ficado aquela noite, mas sabia que não era o certo. Ao
entrarmos, Daya me empurrou contra a porta, e fiquei bem surpreso. Ela
nunca fez isso com tanta ousadia. Suas mãos encostaram em meu peitoral, e
em segundos ela abriu minha camisa arrancando os botões. Arqueei uma
sobrancelha e mordi o lábio.
— Daya, Daya... — Respirei fundo. — Aonde quer chegar com isso
garota?
— Hum... — Daya começou a passar as unhas em meu peitoral. —
Hoje vamos fazer algo diferente, você vai conduzir, te deixarei no comando,
me mostre como você realmente é.
Senti um arrepio forte com suas unhas em minha pele. A sua voz
estava baixa e bem sedutora, cada palavra dela me deixava ainda mais
louco. Mas eu não era bobo, entendi o recado e aonde ela queria chegar
com aquilo.
— Você tem certeza disso?
— Absoluta — afirmou segura.
Ah, Daya. Você não sabe o quanto esperei por isso. Puxei os seus
cabelos e comecei a beijá-la, um beijo intenso e gostoso, eu estava quase
devorando os seus lábios, desejando não só beijar ele, mas todo seu corpo.
E sua bocetinha deliciosa, queria senti-la na minha boca. Eu amava chupá-
la. Nosso beijo era cheio de sentimento, mas também cheio de malícia.
Arranquei seu vestido em segundos, ela estava usando uma lingerie branca
bem pequenininha, sexy demais, que a deixava ainda mais gostosa. Mas, ela
não ia ficar mais nenhum segundo usando. Abri o feixe do sutiã, e seus
seios pularam para fora do tecido, inclinei-me e chupei os mamilos,
passando a ponta da língua ao redor. Daya soltou um gemidinho gostoso, eu
amava ouvi-la gemer. Em seguida, me abaixei e tirei sua calcinha com a
boca. Levantei o rosto para observá-la, linda demais. Como eu amava o
corpo dela, as curvas lindas e o contraste das nossas peles uma na outra.
Levantei-me e tirei minha roupa rapidamente, eu já estava de pau duro, só
de vê-la já ficava louco de tesão. Estávamos nus, sob a iluminação meia-luz
do quarto, a brisa da noite invadia o cômodo e fazia as cortinas dançarem.
Segurei em sua cintura, e a conduzi até a cama, com pressa, eu estava com
sede dessa mulher, joguei-a na cama de costas, ela caiu na posição que eu
mais amava. De quatro, bem empinada. Com essa bunda gostosa para
cima.
Se essa noite eu que iria conduzir o nosso amor, ela ia entrar no
ritmo da minha dança. Um pouco mais frenético, mas não ia deixar de tratá-
la como merecia. Ela ficou ainda mais empinada para mim, sabia que eu
gostava disso. Conseguia vê-la lindamente dessa forma, o desenho da
cintura e o quadril mais largo, a bocetinha pequena bem aberta, coloquei a
mão nas suas costas, e a outra segurei no meu pau, dei uma massageada
nele, mas nem precisava, já estava duro demais e louco para fodê-la. Mas
calma, Luca, vá devagar. Daya era tão apertadinha, que tinha medo de
machucá-la com minha brutalidade. Ela soltou mais um gemidinho, o que
me deixou ainda mais louco, e então eu coloquei um dedo na sua boceta,
passando pelos grandes lábios e penetrei. Estava toda molhadinha, do jeito
que eu queria. Ela gemeu de novo. Era gostoso demais ouvir.
— Quero que fique quietinha... — falei, penetrando outro em
seguida. — Vou te foder gostosinho.
— Aham — murmurou com a voz bem manhosa.
Comecei a meter os dois dedos, um entra e sai delicioso que me
dava água na boca, e a deixou ainda mais encharcada. Mas agora era hora
de algo bem grandão entrar aqui. Tirei os dedos, e coloquei as mãos em
seus cabelos novamente, comecei a segurá-los sem muita delicadeza. Passei
a cabecinha do pau na entrada dela, e ele ficou todo melado. Delícia,
prontinha para receber. Penetrei devagar, e a senti se abrindo para mim, fiz
alguns movimentos leves de vai e vem com o quadril, essa posição a
deixava ainda mais apertada. Ah, caralho, que tesão da porra, quanto mais
apertada, melhor. Vê-la assim me deixou louco, comecei a dar uma socada
atrás da outra, de uma forma bem bruta, queria foder essa boceta até ela não
aguentar mais, até pedir para parar. Eu socava bem fundo, sentia meu pau
entrar todinho nela, e Daya gemia de prazer, seu quadril impulsionava os
movimentos, ela quicava com força, estava cada mais rígido dentro dela,
em ritmos frenéticos e descontrolados. Eu estava me controlando muito
para não gozar. Puta merda, que tesão. Queria foder não só a boceta, mas o
ânus também. Mas calma, Luca. Vai devagar para não assustar a garota
com tanta informação.

— Você é uma delícia, menina... — disse ofegante. — É minha, toda


minha.
— Eu sou sua, Luca — Daya confirmou entre suspiros. — Toda sua!
GOSTOSA. Eu adorava quando ela falava que era minha, e ela era
mesmo. Eu era o primeiro e único homem que iria fazer amor com ela,
foder loucamente que seja. Puxei ainda mais forte seu cabelo, e deixei
escapar uma mão para sua bunda gostosa, minhas mãos eram bem grandes e
pesadas, dei uma palmada sem dó, para doer mesmo, seguida de outra, e
outra, continuei a meter freneticamente, comecei a pingar de suor, estava
segurando muito para não gozar agora. Penetrei bem fundo e dei uma
parada, Daya soltou um grito. Ah, caralho. E voltei a socar bem gostoso,
não consegui me conter. Gozei dentro dela. Porém, eu não ia parar, estava
louco por mais. Homens costumavam gozar, e depois não aguentavam outro
round, mas eu tinha muita disposição.
Ao finalizar, Daya estava bem ofegante suada também, com as
pernas bambas, não perdi tempo, virei o corpo dela contra a cama, e segurei
em seu rosto beijando-a novamente, suguei sua língua, chupei e mordi
aqueles lábios carnudos gostosos. Ela parou o beijo muito ofegante, e me
olhou.
— Uau! — exclamou e em seguida soltou uma risada. — Foi
gostoso demais.
— E quem disse que eu terminei? — perguntei, transbordando
malícia.
Ela apenas me olhou com aquela carinha de menina novinha safada,
eu amava essa carinha de sapeca que ela fazia. Então me virei e coloquei o
corpo dela em minha frente, ela ficou de ladinho, outra posição que eu
gostava, dava para meter bem forte na boceta. Ela tinha que experimentar
isso. Coloquei uma mão em seu pescoço, e a outra desci para sua coxa, eu
subi ela até deixar suas pernas bem abertas. Queria ela bem arreganhada. E
sem muitas delongas, comecei a socar o pau novamente, sem parar. Vez ou
outra ele saía para fora, ela estava muito molhada a boceta transbordando,
sentia ele deslizar em seus pequenos lábios. Segurei seu pescoço e virei seu
rosto, para que nos beijássemos. Ela gemia entre o beijo e eu segurava seu
corpo contra o meu para que ela não perdesse o equilíbrio.
— Está gostoso? — indaguei, acelerando as socadas.
— Mui... — Daya respondeu, gaguejando e virando os olhos. —
Muito, não pare...
E eu não ia parar mesmo.
Segurei com força sua coxa e deixei-a ainda mais arreganhada,
queria entrar todo de novo nessa boceta gostosa. Como uma mulher
conseguia me deixar tão louco? Tomei fôlego e continuei a meter, meu pau
pulsava dentro dela e senti que estava prestes a gozar de novo. Puta merda.
Ia segurar mais dessa vez, queria que ela gozasse, que enlouquecesse de
prazer e saber que era por mim, deixava tudo mais gostoso. Daya estava
quase sem forças, senti seus batimentos cardíacos acelerados, e eu senti sua
bocetinha se contrair toda e depois seu líquido escorrer. Ela gozou. Em
seguida empurrou meu corpo para trás, não revidei apenas deixei. E em
segundos, ela estava por cima de mim, o corpo suado, mal conseguindo
respirar e parar quieta. Ela me beijou delicadamente, e notei que seu rosto
estava molhado, mas não parecia ser de suor. Eram lágrimas.
— Luca... Eu...
— Você?
— Eu te amo... eu te amo mesmo.
Fiquei congelado com sua declaração, mas há quem eu queria
enganar? Eu também a amava, cada dia mais.
— Eu também te amo, Daya. — Abri um sorriso.
E nos beijamos novamente, as palavras e olhar falavam tudo. Eu não
precisava mais de mais nada para ser feliz. Um homem sem amor, é um
homem infeliz. E agora eu tinha amor de sobra. Só conseguia olhar para
essa mulher e pensar, a vida foi muito generosa comigo. Daya foi escolhida
para ser minha.
MUITA COISA aconteceu, nas últimas semanas, ou melhor, quase
no último mês. E eu não poderia estar mais feliz e agradecida, depois do
pedido de casamento de Luca, ele imediatamente foi falar com a maldita da
Paige que ficou completamente chocada quando ele contou que iria se casar
comigo, e que eu não seria mais uma de suas garotas de luxo. Ela teve que
engolir em seco, o seu plano de separar a gente não deu certo, para
infelicidade dela. Mas o contrato ainda não havia sido encerrado, os 30 dias
se passaram, e até mais do que isso, mas Luca e eu nos casamos no civil às
pressas, porém houve um atraso na nossa certidão de casamento, o que era
muito estranho, Luca estava tentando recorrer, pois só com essa bendita
certidão oficial, conseguiríamos encerrar o contrato formalmente.
Na teoria, eu ainda tinha vínculo com a comunidade de Paige, ainda
era uma garota de luxo. Mas na prática, eu era toda de Luca, e queria ser
dele para o resto da vida. Como ainda havia vínculo com a comunidade,
eles ainda continuavam ajudando minha família, consegui um contato breve
com eles no Natal, minha mãe estava bem e feliz e meus irmãozinhos então,
cheios de presentes e com muita fartura. Tudo que eu sempre quis.
No entanto, isso não ia ficar assim, assim que tudo fosse
oficializado, eu iria trazê-los para cá, iriam morar na mansão e teriam uma
vida de muito conforto. Luca e eu já havíamos combinado, ele ia cuidar do
tratamento da minha mãe, contratar o melhor médico para ajudá-la, e meus
irmãozinhos teriam tudo do bom e do melhor. Estava contando os dias para
isso, queria logo resolver essa situação e ter minha família aqui comigo.
Todos unidos e felizes.
Estávamos no final de janeiro, e estava sendo dias maravilhosos e
felizes, eu e Luca estávamos vivendo nosso melhor momento. Meu
sentimento por ele só crescia, e era tão bom amar. Um amor leve, sem
mentiras, com respeito e confiança. Esse amor eu queria viver.
Luca disse que eu o mudei, mas ele também me mudou. Me fez ver
um outro lado do amor que eu não conhecia, fez eu ter vontade de me
arriscar, me apresentou coisas novas e me deu uma nova perspectiva de
vida. Com ele, conheci um lado bom da vida, um lado que eu achei que
nunca fosse conhecer. Era tarde e eu estava finalizando uma decoração na
sala com Lisa, gostava muito de design de interiores, estava pensando
seriamente em trabalhar com isso. Luca me deu carta branca para mexer na
mansão, deixá-la com uma nova cara, e eu já estava preparando tudo para a
minha família, quando eles viessem morar aqui, queríamos colocar mais
cores e deixar tudo alegre e iluminado.
Lisa estava muito feliz, ela sempre torceu para que eu e Luca
ficássemos juntos. E não é que ela tinha razão? Ela torceu por um casal que
tinha tudo para dar errado por sermos de mundos diferentes, mas no final
deu tudo certo.
— Não sabe como estou feliz em ver vocês dois juntos. Eu sabia
desde que você entrou nessa casa que seria especial, que iria ajudá-lo. Vocês
merecem ser felizes...
— Ah, Lisa. — Eu sorri com ternura. — Você sempre foi um amor
comigo, só tenho a te agradecer por tudo. Estou muito feliz por nós, mal
vejo a hora de nos casarmos e eu quero trazer minha família para cá. —
Olhei para a árvore. — Meus irmãozinhos iriam amar estar aqui, fico
pensando o que eles estão fazendo agora.
— A propósito, você conseguiu mais contato com eles?
— Não, depois daquele dia não tive mais notícia nenhuma —
respondi cabisbaixa. — Sinto muita saudade deles, agora que irei morar
aqui, preciso contar para Luca sobre a minha história, que tenho uma mãe
doente e por isso topei participar disso.
— Ele ainda não sabe? — Lisa se aproximou de mim e segurou
minha mão. — Independente, ele te ama e vai abraçar sua família também.
Não vejo a hora de termos crianças nessa casa. Seus irmãozinhos, sua
mãezinha querida. E futuramente, os seus filhos com Luca, hein?
Nada de filhos. Não agora. É claro que um dia eu queria ter filhos
com Luca, mas definitivamente agora não era o momento. Eu precisava
cuidar dos meus irmãos, vê-los crescidos, e ainda queria aproveitar minha
juventude com Luca. Sempre tive tantas responsabilidades, que pela
primeira vez desejava viver com mais liberdade.
— Nada de filhos tão cedo, Lisa. — Eu ri. — Não quero nem pensar
nisso.
— Ah, eu só brinquei. Vou me contentar brincando com seus
irmãos. — Ela riu.
Eles com certeza iriam amar Lisa, ela era uma mulher adorável e
muito maternal. Parei um momento, e decidi que iria conversar com Luca
hoje sobre isso. Eu precisava contar para ele sobre a minha vida no
subúrbio. E eu faria isso hoje. Abaixei-me para pegar um quadro no chão, e
senti uma sensação estranha, uma tontura que nunca havia sentido em
minha vida. Quase caí, e Lisa me segurou, mas eu não estava bem. Havia
algo de errado comigo.
— Daya? Está tudo bem? Você está estranha...
— Lisa eu... — disse, forçando as vistas — Eu acho que vou
desmaiar.
E não deu tempo de ver mais nada, foi a minha última palavra e de
repente tudo apagou.

ACORDEI DEITADA em uma maca de hospital, entreabri os olhos


lentamente e voltei a enxergar as cores de novo, notei que eu estava em um
consultório médico. Uma mulher de cabelos castanhos claros e olhos azuis,
estava à minha frente. Ela parecia ser médica, usava um jaleco com o nome
bordado de Doutora Emily. Sorriu ao me ver acordar, e parecia simpática.
Ajudou-me a me levantar aos poucos, e fiquei sentada agora tentando me
recordar do que tinha acontecido, e me perguntando: Como vim parar aqui?
— Que bom que acordou, Daya. Eu sou a doutora Emily Morgan. E
você deu um susto na Lisa. E tem uma pessoa lá fora que está bem ansioso
para te ver.
— O que aconteceu? — Eu coloquei a mão na cabeça. — Só me
lembro de me sentir tonta e desmaiar.
— Sim... você desmaiou, Lisa te trouxe às pressas para cá e seu
namorado Luca está bem ansioso para ver você. Mas fica tranquila, você
está ótima! Saudável e pronta para dar uma linda notícia para ele.
— Como assim? Eu não estou entendendo.
— Não é à toa que sentiu essa tontura, Daya, em breve vai começar
a sentir enjoos, mas digo que é normal. Parabéns, você vai ser mamãe. Não
é uma dádiva? Vou chamar seu namorado para entrar, e aí você já pode dar
a notícia para ele.
Não. Não. Não é possível.
— NÃO! — eu disse em tom alto. — Por favor, não quero que ele
entre ainda. Você não contou nada para ele, né?
— Calma, Daya. — Emily se aproximou de mim e colocou a mão
em meu ombro. — Não é o fim do mundo ser mãe, inicialmente muitas
mulheres ficam assustadas, mas com o tempo você vai ver que foi a melhor
coisa que te aconteceu.
Senti um frio na barriga e engoli em seco, eu não estava preparada
para aquela notícia, e não sabia como iria contar isso para Luca. Como ele
iria reagir? Nós vacilamos demais, eu vivia de pílulas e mais pílulas, e
agora algumas injeções. Mas nas últimas semanas, acabei me desleixando,
devido à minha ansiedade com essa certidão que não chegava, o desejo de
ter minha família perto de mim, acabei ficando um pouco desatenta. Com
certeza não estava preparado também. Tentei processar o que estava
acontecendo, e eu só queria minha mãe agora. Queria falar com ela, queria
ouvir sua voz, queria que ela me dissesse que ia ficar tudo bem. Senti meu
estômago revirar, e era sinal de um maldito enjoo chegando.
— Eu preciso ir ao banheiro — pedi, colocando a mão na boca,
segurando o vômito.
— É por aqui... — Emily me guiou.
Por sorte, havia um banheiro no consultório, eu não teria que sair da
sala ainda e encarar Luca, e dizer para ele que iríamos ter um filho. Um
filho que não foi planejado, um filho que eu queria ter sim. Mas não agora,
não dessa maneira. Empurrei meu corpo contra a porta, e entrei no banheiro
fechando a porta. Comecei a vomitar e ao mesmo tempo lágrimas
escorreram no meu rosto, eu estava chorando e dessa vez não era um choro
de felicidade. E sim, de preocupação.
O que eu ia fazer agora? Como seriam as coisas? Fiquei me
perguntando. Era desesperador pensar em tudo isso. Sentei-me no chão do
banheiro, e escutei Emily perguntar se estava tudo bem, eu respondi que
sim. Contudo, não estava nada bem, eu queria correr, fugir para longe e não
ter que pensar em mais nada. Notei que meu celular ainda estava no bolso
da calça, e eu estava pouco me lixando para o que eu ia fazer agora, era
errado. Mas eu precisava falar com minha mãe, precisava ouvir a voz dela e
pedir amparo e colo. Eu que sempre resolvi tudo sozinha, agora estava
diante de algo que eu não sabia como resolver. Peguei o celular, e liguei
para o número de casa.
— Alo!
Não era a voz da minha mãe e nem da babá. Era uma voz feminina
que nunca havia ouvido antes. Meu coração acelerou.
— Mãe? Eu gostaria de falar com minha mãe. Ela não está aí?
— Ah, quem é você? Deve estar falando de Mariah e as crianças,
lamento, mas eles não moram mais aqui.
COMO ASSIM NÃO MORAM MAIS AÍ?
— Do que está falando? Eles sempre moraram aí. Não pode ser... —
Conferi o número na tela para ver se o número estava correto. — Com
quem eu estou falando?
— Eu sou a nova dona da casa, me chamo Garmet. Você deve ser a
filha dela, né? Lamento, mas sua mãe e seus irmãos saíram daqui em um
carro e não vi mais eles. A casa foi vendida a preço de banana e eu
comprei. Sinto muito!
— Não... — Comecei a chorar. — Eu não estou acreditando nisso, é
uma brincadeira?
— Estou falando a verdade — Garmet resmungou. — Agora faça o
favor e não ligue mais, procure sua família de outra forma.
E a ligação foi encerrada.
Meu coração estava dilacerado, me senti mal, muito mal a ponto de
sentir que tudo em mim iria desmoronar, cada parte do meu ser iria se
desfazer ali naquele chão. Engoli meu choro, todo o meu sonho havia se
tornado um pesadelo. Eu estava grávida de Luca, e agora essa notícia de
que minha família estava desaparecida. Como isso foi acontecer? A minha
raiva, era maior que minha dor, isso não estava no contrato, Ana me disse
que enquanto eu estivesse na comunidade minha família iria receber ajuda.
A desgraçada da Paige não aceitava perder, ela fez isso de propósito, eu
tinha certeza, para se vingar de mim. Não conseguiu destruir eu e Luca, e
agora ela queria ir contra à minha família. Ela mentiu, toda essa máfia
enfeitada de comunidade mentiu.
Havia algo muito ruim acontecendo, mas isso não podia ficar assim.
Eu teria que deixar a notícia do bebê para depois, agora não seria um bom
momento. Saí do banheiro, e em seguida saí do consultório sem me
despedir de Emily. Luca estava me esperando lá fora, aflito, assim que me
viu me agarrou com seus braços. Era disso que eu precisava mesmo, um
abraço dele. Mas isso não seria capaz de acalmar a minha revolta.
Nesse tempo que passamos juntos, Luca já sabia da minha história,
porque eu aceitei virar uma garota de luxo, porque eu estava disposta a me
vender, foi tudo por eles. Ele estava ansioso para conhecê-los, o tanto que
eu falava da minha mãe e meus irmãos, só o deixava ainda mais curioso.
Meu Deus, eles precisavam estar bem, eu vou encontrá-los custe o que
custar.
— Pequena... O que aconteceu, estava chorando? Eu vim assim que
Lisa me avisou. Você está bem?
— Luca... — disse nervosa. — Eu preciso que me leve ao subúrbio.
E precisa ser agora, precisamos ir para lá.
— Como assim? — Luca perguntou desentendido. — O que
aconteceu, Daya? Está me assustando.
— É sobre a minha família. Algo muito ruim aconteceu e eu preciso
ver com meus próprios olhos — lamentei, segurando o choro.
— SANTO DEUS! COMO ASSIM? Daya, não é tão simples assim,
precisamos de uma autorização para ir ao subúrbio. Eu posso conseguir,
mas pode demorar alguns dias...
Ele não estava entendendo a gravidade das coisas. Apertei os dedos
nos seus braços, e o encarei séria.
— Luca... Ou vamos hoje, ou eu juro que vou destruir aquele muro
de merda, que nem sequer existe, é uma porra de uma projeção criada para
afastar o meu povo do seu povo. É a minha família!
Luca arregalou os olhos, e ele nunca havia me visto assim.
— Vou dar um jeito de nos colocar lá. A sua família, é a minha
família também. Farei o possível e impossível para que isso aconteça, mas
você vai ter que me explicar essa história.
De uma forma inesperada e completamente fora do que idealizei, a
história havia dado uma reviravolta. Onde estava minha família? O que
fizeram com eles?
Eu fui enganada, e quem fez isso iria pagar caro.... Ninguém mexe
com a minha família.
EU NUNCA A VI DAQUELA forma, depois que Daya saiu daquele
consultório, ela parecia outra pessoa, estava abatida e parecia ter um abismo
em sua alma. E eu não suportava vê-la assim, eu faria de tudo para ajudá-la,
porque o amor trata-se disso também. Juntos na alegria e na tristeza.
Devido aos meus contatos, consegui subornar um dos guardas que cuidava
do entra e sai das pessoas de Greville até o subúrbio.
O muro nunca foi real, usaram isso para criar um certo medo no
povo do subúrbio, era apenas uma ilusão que na verdade não se passava de
um programa de computador feito para enganar as pessoas. E o mais triste,
é que eles nem sabiam disso. As pessoas que descobriram essa informação
eram os escolhidos da comunidade, e ninguém nunca voltou para o
subúrbio ou tentou desafiar esse sistema. Daya, seria a primeira a fazer isso,
ela fazia parte de uma das comunidades e iria voltar hoje para o subúrbio
com informações preciosas demais.
Éramos de mundos completamente diferentes, na verdade, antes de
conhecê-la eu estava cego, e tinha deixado para trás alguns valores que eu
tive somente quando era um garoto. Eu voltei a pensar com tanto cuidado
na vida das pessoas do outro lado. O quanto a partilha era injusta e só
beneficiava a nós. O poder e ganância nos cegou, a ponto de esquecermos
que éramos todos humanos. E fazíamos parte de um todo. Eu e Daya
estávamos na garagem de casa, o plano estava todo montado e iria dar certo.
Eu precisava repassar as orientações para ela, porém, estava aflita demais e
preocupada, com medo de que algo houvesse acontecido com eles, confesso
que também estava, eu não os conhecia, mas era como se fossem meus
familiares também. Essa mulher era tudo para mim, e tudo que envolvia a
vida dela agora também era minha responsabilidade.
Se antes eu já a amava, agora eu a amava ainda mais. Nunca conheci
uma mulher com tanta coragem, sua pouca idade não era nada perto da
maturidade e sacrifícios que teve que criar e fazer. O último contato com
eles foi no Natal, depois disso nenhuma notícia, eu não via a hora de tê-los
sob a minha proteção, de toda essa merda se desenrolar e finalmente
ficarmos em paz. Para ter a família dela aqui conosco, teríamos que estar
oficialmente casados para eles terem acesso à Elite. Mas todo esse atraso na
certidão, estava me deixando louco. E agora para variar isso, Daya disse
que hoje, ela sentiu saudades da mãe e não aguentou, tentou um contato
novamente, mas recebeu a temida notícia... de que eles não estavam mais lá.
Temi por isso, Paige era uma canalha e estava com raiva, ela pode ter feito
isso para se vingar de Daya, ela era uma mulher que não aceitava perder de
forma alguma, e eu sabia que ela iria reagir. No entanto, não esperava que
fosse ser tão cruel a esse ponto. Eu queria ter as palavras certas para falar
para Daya, mas eu não tinha. A única coisa que podia fazer era segurar a
sua mão, e ajudá-la a recuperar sua família e sua dignidade.
— Eu estou com você, pequena — disse, envolvendo-a em meus
braços. — Não vou soltar sua mão, ok? Vamos conseguir resgatá-los.
— É o que eu mais quero, Luca — Daya falou quase chorando. —
Eu só quero minha família de volta, e Paige e Ana vão pagar por isso.
— Com certeza vão. Sinto que Paige está por trás disso, ela está
com raiva de mim porque eu a rejeitei...
— Essa desgraçada. — Daya cerrou os punhos enfurecida.
— Mas agora, precisamos ser fortes e manter a calma. Eu tenho um
plano, consegui uma autorização para ir ao subúrbio, mas você vai precisar
se esconder, não podem saber que eu não estou sozinho. Entra no carro, se
esconde, e vamos descobrir o restante lá, ok?
— Ok... — Daya me deu um beijinho. — Eu te amo, obrigada por
isso.
— Me agradeça depois que encontrarmos nossa família — disse
determinado.

O plano estava em ação. Peguei meu carro e ele era todo filmado,
não dava para ver quem estava no banco de trás. Pedi para Daya se
esconder até atravessarmos o muro. E assim ela fez, saímos depressa e ao
chegar à revista para adentrar no subúrbio, o rapaz que eu subornei estava
lá, ele me viu, e apenas deu uma conferida rápida no carro para ver se eu
estava sozinho mesmo. E me deixou passar, mais fácil do que eu imaginei.
Atravessamos a passagem, e agora estávamos no subúrbio. Eu me
lembro de ter vindo aqui quando era pequeno junto com meu pai, me senti
nostálgico e tive um flashback.
22 anos atrás...

Eu tinha 10 anos de idade, e costumava ser um garotinho muito


alegre e inocente. Sempre tive o desejo de fazer algo importante no mundo,
de ser a diferença, e sonhava um dia poder ajudar o povo. Queria ser o
líder de uma nação. Ajudar a melhorar a vida de todos, e comandar com
respeito e igualdade. Mas eu era uma criança, e todos esses meus desejos
foram ceifados pelo meu pai. August Lancaster. Essa tarde, ele me levou
para um passeio e disse que seria muito especial, iríamos até o subúrbio de
Greville, ele disse que eu iria aprender uma valiosa lição, que teria que
levar para a vida toda.
Quando cruzamos o muro da cidade, me deparei com um lugar
muito feio e com pessoas tristes e tudo aqui parecia tão cinza e obscuro.
Não parecia ser um lugar bom para se viver. Vi um garotinho assim como
eu, parecíamos ter a mesma idade. Eu o olhei pela janela, e ele tinha um
olhar assustado, mas acenou para mim. Queria ir brincar com ele, não
importava se éramos de mundos diferentes. Eu só queria um amigo para
brincar. As crianças do outro lado eram chatas, e só gostavam de ficar em
seus celulares e jogos eletrônicos. Meu pai percebeu minha alegria ao ver o
menino, e deu um tapa no meu braço.
— É por isso que eu te trouxe aqui, Luca. Você precisa parar de ver
o mundo de uma forma tão abnegada, a vida não funciona assim, meu
filho...
Abaixei a cabeça, meu pai era um homem muito severo e radical.
Eu tinha medo dele.
— Sim, senhor.
Chegamos perto de uma praça, e meu pai parou em frente a ela.
Saímos do carro, e o cenário era ainda pior vendo de perto. Parecia uma
cidade destruída, se perdendo em ruínas.
— Veja, meu filho... olhe toda essa pobreza, não é triste? As pessoas
que moram aqui são condenadas, mas é necessário... O mundo funciona
assim, precisa ter os que estão em cima, e os que estão embaixo. É assim
que funciona a pirâmide do mundo.
— Mas não deveria ser igual para todos? — perguntei confuso. —
Todos deveriam ter direito a uma vida boa, não é?
— Se for igual para todos, então não existe mão de obra. Em um
mundo onde todos são ricos, quem iria trabalhar? Ninguém. Como uma
empresa funcionaria sem a mão de obra? Não funciona.
Aquelas palavras soaram confusas para mim, o discurso do meu pai
não parecia correto.
— Ouça, meu filho... não somos ruins — disse, segurando meu
rosto. — Fornecemos mão de obra para essas pessoas, as comunidades
servem para isso. Nós oferecemos um emprego, e pagamos com um pouco
do que é nosso, eles não vão ficar desamparados, você precisa entender
que a divisão da cidade é necessária. Sem divisão, tudo seria um caos,
ninguém saberia o seu lugar.
Abaixei a cabeça novamente, e aquilo não parecia certo para mim.
Eu era apenas uma criança, e meus sonhos a partir daquele dia
começariam a morrer. Todo o meu desejo de generosidade e preocupação
com a vida alheia, iria morrer. Eu iria me tornar um espelho do meu pai.
Um homem egoísta.
— Sim, papai — afirmei cabisbaixo.
— Você precisa se lembrar disso, é o meu herdeiro e vai assumir a
nossa empresa quando eu for embora. O poder não é um lugar para os
fracos, Luca. Se continuar com esse pensamento de querer salvar a pátria,
vai se tornar um fracassado, e você é meu primogênito, eu não estou te
criando para ser um fracassado, ouviu?
Apenas ouvi e absorvi aquele ensinamento que foi enraizado na
minha mente tão cedo, depois daquele dia, meu pai nunca mais me levou ao
subúrbio, ele dedicou sua vida em me tornar como ele. Alguém que só
pensava em si mesmo e no próprio império...

Pisquei e voltei à realidade, eu jamais iria me esquecer desse dia.


Lembrava-me de como era o subúrbio, mas vi que ficou ainda pior com o
decorrer dos anos. Estava um cenário caótico e deprimente. Era tudo tão
cinza e escuro, mal havia gramas ou plantações. As casas e prédios estavam
caindo aos pedaços. Era trágico. Imaginei Daya vivendo todos esses anos
aqui, em meio a todo esse sofrimento. Agradeci por tê-la encontrado, e
agora mais do que nunca estava disposto a dar uma vida digna não só a ela,
mas para toda sua família que passaria a ser a minha também.
— Meu Deus! — Daya se movimentou e se ajeitou no banco de trás.
— Parece estar ainda pior do que eu lembrava, uma vasta miséria...
— Sim. Chega a ser chocante — concordei observando as ruas pela
janela.
— Continue seguindo reto e vire à direita, minha casa é logo ali
naquele prédio acinzentado e pichado. Bem-vindo ao meu mundo, Luca.
Segui as orientações de Daya, e poucos minutos depois estávamos
na frente do seu prédio, percebi uma movimentação quando chegamos,
alguns vizinhos olharam pela janela curiosos para saberem de quem era
aquele carro. Saímos dele, e subimos as pequenas escadas que
serpenteavam os prédios simples. Eu estava um pouco sem graça ali, era
como se eu também fosse culpado por aquelas pessoas estarem do jeito que
estavam. E de certa forma, era. Todos em Greville eram culpados, fomos
coniventes com esse sofrimento. Enquanto esbanjávamos nossa vida de
glamour e sucesso, as pessoas aqui lutavam para sobreviver.
Daya bateu à porta, mas ninguém atendeu. Ela gritou, tentou de
novo, mas ninguém deu sinal de vida. Suspeitava que havia pessoas lá, mas
não iriam atendê-la de forma alguma. Era inútil. Descemos novamente, e
voltamos para a frente do carro, de volta à estaca zero. Daya bufou e estava
prestes a começar a chorar de novo, mas se controlou.
— Eu sei que eles estão aí, aquela mulher que me atendeu com
certeza ela sabe de mais alguma coisa. Eu não vou embora! Vamos ficar
aqui a noite inteira, dias e dias, eu preciso de mais informações.
— Não podemos ficar muito tempo — avisei. — Todo dia eles
fazem uma ronda aqui.
— Eu não vou embora, Luca! Não vou — Daya insistiu.
E antes que eu pudesse responder, uma senhora de cabelos
emaranhados e pele negra e enrugada pela idade apareceu, o olhar
denunciava a vida de desgaste e sofrimento. Ela saiu de uma das casas, e
veio até nós. Quem era?
— Daya... — disse ela, olhando para Daya da cabeça aos pés.
— Senhora Meire? Olá...
Daya a conhecia. Fiquei parado, apenas observando o diálogo.
— Como você está bonita, está diferente, nem parece mais uma
garota do subúrbio. Onde você estava? E quem é esse? — Ela direcionou o
olhar para mim. — Que rapaz bonito...
— Eu sou Luca Lancaster. — Estendi a mão para cumprimentá-la.
— Você quer tocar minhas mãos? — perguntou emocionada. —
Você com certeza não é do subúrbio, ninguém do outro lado nos
cumprimenta, eles têm nojo de nós.
Fiquei estático, e sem resposta. Por sorte, Daya interferiu novamente
e mudou o assunto.
— Luca é um homem bom, senhora Meire. Por favor, você tem
notícias da minha mãe? Que história é essa de que a minha casa foi vendida
e eles sumiram?
— Ah, era sobre isso que eu ia falar com você, minha filha. Estou
vendo o desespero em seus olhos. Eu não sei o que você fez, ou onde
estava, mas já vi que passou muito bem esses tempos. Estava vindo
algumas pessoas na sua casa, sua mãe estava bem, os pequeninos ganharam
brinquedos e roupas novas, uma verdadeira maravilha. Ela até compartilhou
muitas coisas conosco, sua mãe sempre tão caridosa... — ela sorriu —, mas
depois de um tempo pararam de fornecer isso, e depois um carro apareceu
aqui, levou todos eles embora. Ninguém sabe para onde, mas o que sei é
que eles estão do outro lado, do lado da elite.
Bem debaixo do nosso nariz.
— Meu Deus... — Daya lamentou. — O que será que fizeram com
eles? Se pararam com o tratamento da minha mãe, ela pode estar muito mal.
— Infelizmente, sim, ao decorrer dos dias ela ficou bem abatida e
sentia muitas saudades de você. Ela não tinha mais notícias suas, nem uma
forma de se comunicar, não teve como te informar do que estava
acontecendo.
— Esses desgraçados... — Daya bradou. — Eu vou acabar com eles,
aquela falsa da Ana, como ela teve coragem de fazer isso comigo?
— Quem, minha filha? — Meire perguntou curiosa. — De quem
está falando? Sabe quem fez isso?
Essa era minha hora, eu não queria mais ficar aqui, não tínhamos
mais o que fazer no subúrbio. A família de Daya estava do outro lado, do
lado Elitizado. E eu sentia que Paige estava por trás disso tudo. Ela ia pagar
por isso, iria pagar por todo o sofrimento que estava causando a Daya.
— Obrigado pela informação senhora Meire. Eu e Daya vamos
embora, acredite, você nos ajudou muito. — Apanhei a carteira do bolso e
tirei todas as notas de dinheiro. — Fique com tudo!
Quando a senhora Meire olhou aquelas notas de dinheiro, seus olhos
se encheram de lágrimas, ela agarrou minhas mãos e deu um beijo em cada
uma delas.
— Muito obrigada! Você é um homem bom. Um homem muito
bom. Daya, menina. Você tem sorte de estar com ele.
Daya assentiu com a cabeça, e eu retribuí com um sorriso à senhora
que estava chorando de felicidade. Nós nos despedimos e entramos no
carro, iríamos voltar e acabar de uma vez por todas com tudo isso.
— Precisamos encontrar Paige, ela não vai se safar disso.
— É o que eu mais quero. Vamos buscar minha família.

Acelerei o carro e só queria uma coisa. Justiça.


MINHA VONTADE era ir agora mesmo na sede, e acabar com
Paige e Ana, e todas essas pessoas maldosas que estavam por trás disso.
Mas Luca me lembrou que precisávamos ser racionais, agir por meio da
emoção iria nos deixar ainda mais longe de achar minha família. Era um
mar confuso sem respostas, a única pista que eu tinha era que foi um carro
que os levou dali, não sabia quem ou o dia exato. Mesmo se eu encurralasse
Paige, ela jamais diria que estava envolvida nisso, iria negar. Precisávamos
arquitetar um bom plano, mas eu estava quase sem forças, só conseguia
pensar que minha família a essa hora poderia não estar nem viva. E minha
mãe? Meu Deus, sem remédios, sem tratamento, ela não iria sobreviver.
Estava tentando ser forte, mas no meio de tudo isso ainda tinha uma
vida se formando em meu ventre, e eu estava sem coragem de contar para
Luca, no meio de toda essa agitação não íamos conseguir parar. Coloquei a
mão na barriga rapidamente, e senti uma angústia. Como gostaria de ter
esse bebê em outro momento, outro ano, longe desse caos. Precisava ser
forte, teria que me recompor e vestir a armadura que usei todos esses anos,
para enfrentar mais esse desafio.
Chegamos à mansão, e não íamos ficar muito tempo aqui,
precisávamos planejar o que iríamos fazer, e depois entrar em ação. Cada
segundo era precioso e importava. Eu só rezava para que tivéssemos tempo.
Quando entramos, nos deparamos com uma cena inacreditável. Lisa estava
aflita na sala, juntamente com Ana e a doutora Emily que me atendeu mais
cedo, havia mais alguns homens que pareciam seguranças atrás dela. Eu
gelei. Havia criado um filme esse exato instante na minha cabeça, mas eu
torcia para que ele não fosse real.
— Me desculpe... eu tentei mandá-los embora, mas não consegui.
Eles disseram que era algo importante, algo que envolvia a lei.
Ana me encarou com os olhos ferozes, ela sabia. Sabia da minha
gravidez, vi em seus olhos desprezo e raiva, ela estava fechada com Paige
então honraria sua vingança.
— EU VOU CHAMAR A POLÍCIA! — Luca gritou. — Vocês não
podem ficar na minha casa assim... Francamente, a segurança não está
valendo de nada, as pessoas entram e saem a hora que querem daqui. Eu
quero que todos vocês se retirem. AGORA!
— Não culpe seus seguranças, senhor Lancaster — Ana disse
irônica. — Eles não iam ter o que fazer, e se chamar a polícia eles também
não vão poder fazer nada. Regras são regras, e você, senhorita Ayamed,
quebrou o contrato!
— Como assim? Do que você está falando? — Luca perguntou
confuso.
Não. Não. Era agora a hora que eu iria destruir ainda mais minha
vida.
— Hum... — Ana expressou uma reação pensativa. — Então quer
dizer que você não está sabendo da novidade?
— QUE NOVIDADE? — Luca indagou confuso. — Daya, do que
ela está falando?
Eu queria chorar. Queria muito chorar. Mas nem isso conseguia,
permaneci fria e intacta. O sonho virou um terrível pesadelo.
— Por favor, Ana... — pedi quase sem voz.
— Ah, Daya. Não me venha com essa, você assinou um contrato e
estava ciente das regras. A principal regra que não podia ser quebrada era
uma gravidez. E você está grávida, você e Luca ainda não estão
oficialmente casados, lembra? Sem certidão, sem contrato desfeito. Você
ainda nos pertence, e quebrou a regra principal que não poderia ser
quebrada. Agora terá que arcar com as consequências disso.
— Grávida? Que história maluca é essa que vocês inventaram? A
Daya não está grávida! — Luca respondeu perdido.
Eu deveria ter contado. Agora ele ia descobrir da pior forma, no
instante que eu falar, Emily se intrometeu na conversa. Essa maldita doutora
estava fechada com eles também, com certeza quando soube da minha
gravidez já foi correndo contar.
— Por isso ela passou mal, Luca. Foram os primeiros sintomas da
gravidez, eu mesma a examinei hoje e está confirmadíssimo, Daya está
grávida.
Luca desviou o olhar, e agora ele estava me olhando, não parecia
bravo e sim assustado. Eu nunca o vi me olhar desse jeito, Luca parecia ser
tão corajoso, mas pela primeira vez o vi com uma sensação de impotência.
— Isso é verdade?
— Sim, Luca... é verdade. Eu ia te contar, mas diante de tudo que
aconteceu, bom você já sabe...
Luca caminhou para perto de mim novamente, ele colocou a mão no
meu rosto e me abraçou.
— Não precisa se explicar, pequena. Eu estou do seu lado.
Eu não queria soltá-lo mais. Luca era meu lar, meu porto seguro.
Apenas assenti com a cabeça, não sabia o que dizer, eu queria muito ter
dado essa notícia para ele de outra forma, mas de repente tudo desmoronou.
— Me poupem desse drama de casal. Daya, você vem conosco,
quebrou as regras, meu amor, não tem para onde ir. Se você se recusar, a
polícia vem te buscar e será bem pior — Ana ameaçou.
Vagabunda. Ordinária. Mentirosa.
— NÃO! — Luca gritou, colocando-se em minha frente. —
Ninguém vai tirar Daya daqui, ela só sai por cima do meu cadáver. Se eu
tiver que ir para cima de todos vocês, eu irei. Ninguém a tira daqui. Cadê a
Paige, Ana? Ela precisa te usar como capacho? Por que ela não vem me
enfrentar?
Ana ficou irritada com a provocação de Luca, ela cerrou os punhos e
ficou ainda mais furiosa.
— Pode fazer o que quiser, Luca. Mas não vai funcionar, você sabe
que não. Se ela não vier conosco, a coisa vai ficar ainda pior, e agora ela
tem uma vida dentro dela, quer colocar isso em jogo?
Minha cabeça estava explodindo de tantas informações, Ana estava
certa, eu não tinha saída. Eu assinei esse maldito contrato, e estava ciente
das regras. Eu não tinha tempo para deixar as emoções me dominar,
precisava pensar de forma lógica. Eu iria me entregar, não tinha para onde ir
nem onde me esconder. Eles me caçariam por onde quer que eu fosse, e
além do mais, talvez me entregar fosse a única forma de conseguir uma
pista sobre o paradeiro de minha família. BINGO! A MINHA FAMÍLIA.
Segurei a mão de Luca, e me coloquei em sua frente.
— Você está certa, Ana! Eu quebrei o contrato, mas você também
não honrou com sua palavra... cadê minha mãe e meus irmãos? Eu já sei
que eles não estão mais no subúrbio, vocês venderam minha casa, pararam
com o tratamento da minha mãe e o dinheiro. Você me enganou! Eu só
topei participar disso para ajudar minha família.
Ana ficou paralisada e com os olhos arregalados, ela sabia de muita
coisa. Parecia estar pensando no que falar, mas contra fatos não há
argumentos.
— Paige sabe sobre eles — Ana engoliu em seco —, mas só vai
saber essa informação se vier conosco, você não tem saída, Daya...
Jogo baixo. Muito baixo. No entanto, como eu imaginei, eu não
tinha saída mesmo. Lutar contra isso agora, poderia ser fatal, eu teria que
me entregar.
— Eu vou com vocês, mas quero um minuto com ele, quero me
despedir, eu tenho direito disso.
— Um minuto e nada mais, te esperaremos lá fora. E nem pense em
fugir, Daya. Se tentar fazer isso, eu juro que não respondo por mim.
— Um minuto, Ana. É só isso que eu preciso — afirmei.
Ana concordou com a cabeça, e saiu da mansão junto com a doutora
traidora e os seus seguranças. Eu não tinha nem como mensurar o tamanho
da minha raiva de vê-los. Lisa também saiu da sala, estava triste e parecia
querer me abraçar também, mas decidiu sair para nos dar privacidade.
Afinal, tínhamos pouco tempo. Era os últimos 60 segundos, e talvez, fosse
para sempre.
— VOCÊ NÃO VAI! — Luca gritou. — Eu não vou deixar, eu vou
matar todos eles, Daya. Um por um. Ninguém vai tirar você de mim...
NINGUÉM.
— Ouça, Luca — chamei a sua atenção calma e segurei seus braços.
— Lembra do que você me falou? Para sermos racionais, não podemos agir
com a emoção. Eu vou ficar bem, e vou voltar para você confia nisso,
confia em mim... lembra que eu sou uma garota do subúrbio e sei me
defender?
Os olhos de Luca estavam marejados, nunca vi sua feição tão
deprimida, os ombros caídos denunciavam ainda mais seu desespero. Me
partia ainda mais o coração vê-lo assim. Luca em desespero, segurou meu
rosto e selou nossos lábios, agora lágrimas começaram a cair do seu rosto.
— Como é que vou ser racional agora? Sabendo que você vai
embora com eles, só Deus sabe o que irão fazer, Daya, com você e com
nosso... — Luca engoliu o choro. — Com nosso filho. Puta merda. EU
NÃO VOU DEIXAR.
Nosso filho.
— Eu não tenho escolha, Luca. Eles sabem onde está minha família,
eu não posso simplesmente fechar os olhos e fugir. É a minha mãe e meus
irmãos, eu sou capaz de dar minha vida por eles.
— MAS VOCÊ É MINHA VIDA AGORA.... Eu não vou conseguir
ficar sem você, em um mundo onde você não exista, por favor, não me
deixe passar por isso de novo...
E eu queria poder olhar dentro dos olhos de Luca e dizer que não ia
acontecer, mas a verdade era que eu não tinha certeza de mais nada. Eu não
sabia qual seria o meu destino, o que iam fazer comigo. Mas de uma coisa
tinha certeza, dificilmente eu sairia viva disso. Luca teria que ser forte.
— Não torne isso mais difícil do que é.
— VOCÊS SÓ TEM MAIS VINTE SEGUNDOS — Ana gritou e
bateu na porta.
Luca ficou em silêncio durante alguns segundos, parecia estar
pensando em alguma coisa. E depois, ele tirou do bolso uma pequena
bolinha. O que era aquilo?
— Engole isso... — ele sussurrou perto do meu rosto. — Engole
agora!
Abri a boca de imediato, e engoli a bolinha. Mesmo sem saber do
que se tratava, eu confiava nele o suficiente, e sabia que era algo que
poderia ajudar.
— Isso é um rastreador, pequena... eu sempre tenho um reserva no
bolso, lembra que eu te falei sobre inimigos? A qualquer momento posso
sofrer um sequestro, e preciso ter certeza de que posso ser localizado. Eu
vou atrás de você até no inferno, Daya Ayamed.
— LUCA... — Meus olhos brilharam. — Você é... — E o abracei
com força.
— Eu sei. — Luca sorriu.
— O TEMPO ESTÁ ESGOTADO! — Ana gritou novamente.
— Vamos ser racionais, está bom? — Eu dei um último beijo rápido
em Luca. — Isso não é uma despedida...
— De jeito nenhum. Até logo, pequena!

Nem tudo estava perdido. Era só no que conseguia pensar, talvez


com o rastreador eu poderia ter uma chance. Mas, não tinha como saber, o
meu futuro agora nunca foi tão incerto.
Saí da mansão, e no momento em que saí, um dos seguranças de
Ana algemou minha mão sem nenhuma delicadeza, ela estava sorrindo
satisfeita e começou a me guiar até um carro cinza que estava estacionado.
Olhei para trás, e vi o rosto de Luca pela uma última vez, consegui sorrir
para ele. Um sorriso doce e cheio de esperança, de que ele iria me
encontrar, que iríamos ficar bem e esse pesadelo iria acabar.
Ana me colocou no carro, como se eu fosse um trapo, olhei pela
janela e vi pela última vez a mansão antes de começar a me afastar daquela
paisagem, com Luca longe de mim. Um filme passou pela minha cabeça,
quando cheguei à mansão e conheci Luca, eu não fazia ideia de que tudo
isso iria acontecer. Nossa relação não foi amor à primeira vista.
Construímos outros valores antes. Amizade e respeito. Talvez, o amor que
sempre temi seja sobre isso, uma construção cheia de detalhes, e é cada
pedacinho disso que se forma algo bom e duradouro. Fechei os olhos e
rezei, rezei por mim, pela minha família e pelo meu futuro com Luca. Deus,
que eu tenha mais uma chance, só mais uma chance.

DURANTE O CAMINHO meus olhos foram tampados com uma


venda, possivelmente para eu não memorizar o trajeto para onde estavam
me levando. Foi feita uma revista também quando saímos do carro, queriam
ver se eu estava armada ou com algum rastreador. Mal sabiam eles que o
rastreador estava dentro de mim. Eu conseguia ouvir alguns cochichos, e
alguém estava me guiando durante o percurso. Notei que subimos algumas
escadas, e o ambiente era frio e cheirava a coisas velhas. Que lugar seria
esse?
Pensei em Luca, no que ele poderia estar fazendo agora, se já tinha
consciência de que eu estava nesse local, e imaginei ele a qualquer
momento invadindo tudo e me resgatando. Mas, não seria tão fácil assim.
Eu imaginei o que Paige faria comigo? Ia me bater? Me matar? Ou me
prender? Fiquei pensando em todas as coisas que ela poderia fazer comigo.
Escutei o barulho de uma porta abrindo, e então dei mais alguns passos
junto à pessoa que estava me guiando, e fui colocada sentada em uma
cadeira. Arrancaram minha venda, e eu consegui olhar onde estava. Era
uma sala grande e escura, havia apenas uma mesa à minha frente, e atrás
dela estava Paige. Maldita Paige.
— Ana já me informou a notícia, eu ainda custo a acreditar, Daya.
Como... — Paige puxou o ar — ... Isso foi acontecer? Como Luca foi se
apaixonar por você?
Em seus olhos havia desprezo e inveja, me punir agora virou uma
perseguição pessoal para ela.
— Isso não é da sua conta. Faça logo o que tem que fazer, vai me
punir? Então que comece a tortura. Você deve ser incapaz de entender o que
sentimos. CADÊ MINHA FAMÍLIA, PAIGE? O QUE VOCÊ FEZ COM
ELES?
— CALA A BOCA! — Paige bateu na mesa. — Será que você
ainda não entendeu o que está acontecendo aqui? Você não está no
controle! O Luca é meu e sempre vai ser, e não sei como ele se apaixonou
por você, mas vocês não vão viver isso. Quem você acha que fez a certidão
de casamento de vocês atrasar? ADIVINHA, DAYA!? — Paige riu. — Eu
tinha um plano diferente na minha cabeça, mas quando soube da notícia que
você estava grávida, foi como um milagre de Deus ou do diabo para que eu
agisse e acabasse com essa história de uma vez por todas.
MALDITA! FOI ELA. Controle-se, Daya, controle-se. Lembra que
ela está com sua família.
— FOI VOCÊ! Não acredito que foi tão baixa a esse ponto, usar
essa situação para me punir, para punir minha família, como tem coragem
de fazer isso? Você é um monstro incapaz de saber o que é amar, eu juro
que quando eu sair daqui vou acabar com você...
Cada palavra que saiu da minha boca foi como um soco em Paige,
eu a estava ferindo de uma forma que nem uma surra seria capaz. Ela era
apaixonada por Luca. A dor e a desilusão escorriam em seus olhos.
— Eu mandei você para ele, porque nunca imaginei que ele fosse
querer alguém como você... — Paige lamentou indignada. — ELE TINHA
A MIM! OLHA PARA MIM DAYA, OLHA COMO EU SOU... OLHA
PARA MINHA PELE. Como ele pode me trocar por uma...
— Por uma o que, Paige? — confrontei — Por uma negra? É isso
que você quer falar? Fala sua racista de merda...
Paige se inclinou na mesa e deu um tapa na minha cara. Respirei
fundo, e senti minha bochecha arder.
— É isso que você vai fazer? Me bater? — Soltei uma risada
maliciosa. — Pode começar então, mas saiba que isso não vai apagar o que
Luca sente por mim. Ele me ama, ah, Paige, ele me ama muito. E sabe de
uma coisa? Luca tem nojo de você, e agora ele vai te odiar ainda mais. Você
é baixa e vazia. Você não tem nada além do seu mundinho.
Paige levantou a mão para me bater de novo, ela poderia me ferir
fisicamente, mas eu a destruiria com as palavras. Ninguém iria me
humilhar. Eu podia morrer, mas iria morrer lutando pela minha dignidade.
Notei que ela respirou fundo, e abaixou sua mão. Ela desistiu?
— Ah, Daya... — Paige sorriu ironicamente. — Sabe o que mais me
conforta? É que Luca nunca mais vai te ver, vocês não vão viver essa
maldita história de amor, você agora pertence a outra pessoa...
Como assim? Do que ela estava falando? Meu coração acelerou, eu
estava confusa com o que ela havia dito.
— Não entendi... O que você quer dizer com isso?
— É, Daya, você se acha bem valentona mas saiba que eu cansei de
você. Está fora da minha comunidade, e para me livrar completamente de
você eu fiz uma coisinha, eu te vendi...
— VOCÊ O QUÊ? — gritei. — Você me vendeu? Você não pode
fazer isso!
— EU POSSO TUDO, GAROTA! — Paige me confrontou. — E
agora, você pertencerá a outro homem. Essa certidão de casamento nunca
vai chegar, NUNCA. Dessa vez, será uma garota de luxo ou melhor uma
escrava sexual perpétua. Não está ansiosa para conhecê-lo? O único homem
que você vai ter que aprender a amar agora.
Não. Não. Isso não pode estar acontecendo. É muito pior do que eu
imaginava.
— Eu vou te matar, Paige! — berrei. — Eu juro que vou te matar.
— Você pode tentar, Daya. Mas ninguém consegue. — Ela riu. —
Agora quero que conheça o seu futuro e único marido, pode entrar...
E a porta se abriu novamente, senti um arrepio dos pés à cabeça.
Ouvi passos pesados, e uma presença negativa. E quando virei a cabeça,
não demorou muito para um rosto aparecer, era o maior inimigo de Luca.
Era o homem que estava fascinado por mim... Jeremiah Costello.

Era o começo do meu inferno...


AINDA ESTAVA TENTANDO processar todos esses
acontecimentos, Daya foi arrancada de mim da pior forma, sem qualquer
tipo de defesa. Eu estava tentando ser racional, honrar minha própria
palavra, mas não conseguia parar de pensar nela, em como ela estava agora,
o que iriam fazer com ela. Eu precisava agir, e o tempo estava passando
depressa, agora era tudo ou nada. Pensei no meu trauma com Elisa, e só de
me imaginar revivendo todo aquele pesadelo de novo. Eu não ia aguentar
sem Daya, ela era tudo para mim, a razão de eu estar aguentando firme.
Era a mãe do meu filho. Eu recordei, do momento que recebi a
notícia, queria poder abraçar Daya agora e dizer para ela o quanto queria
essa criança, sempre sonhei em ser pai, mas depois da morte de Elisa esse
desejo havia morrido dentro de mim. Contudo, agora renasceu. E eu
precisava salvá-los.
Nesse meio tempo, eu já tinha a localização de Daya, ela estava em
um pequeno prédio em um local afastado de Greville. Muito bem pensado.
Levá-la para um lugar que ninguém iria pensar. Me acalmava saber que o
rastreador ainda estava funcionando, então isso quer dizer que ela estava
viva. O rastreador foi a carta na manga que eu precisava, mas só isso não
seria o suficiente. A brilhante ideia de desenvolver essas belezinhas foi de
Max, ele era um babaca, porém era um dos homens mais inteligentes e
criativos que eu já conheci, a empresa que ele e seu pai eram donos era do
segmento da tecnologia. E era disso que eu precisava agora.
Entrei em contato com Max e contei para ele toda a situação, ele por
sinal estava deprimido pelo término com Isabelle, disse que sua vida estava
sem sentido, e que ele precisava de um novo propósito. E ele teria.
Convoquei Max para vir até a mansão, disse para ele que eu precisava da
sua ajuda para resgatar Daya, mas na verdade não. Eu tinha outros planos,
um plano que eu havia acabado de criar em minha cabeça, e que para ser
sincero, tinha tudo para dar errado e para virar um caos. Seria o fim da
Greville elitizada. Ou o fim de toda Greville.
Daya realmente havia me mudado, era um novo homem e todo esse
convívio com ela, e essa injustiça que estava acontecendo, me fez abrir os
olhos para muitas coisas. O meu breve passeio até o subúrbio, me fez ver o
quanto éramos egoístas, havia pessoas morrendo de fome, vivendo em uma
condição miserável, enquanto estávamos aqui vivendo com muito mais do
que precisamos. Mais mulheres como Daya teriam que reviver esse terror,
se sujeitar a essas comunidades, tornando-se escravas sexuais em busca de
misericórdia para família ou para si mesmas.
Lembrei-me do meu desejo quando era menino, de fazer alguma
diferença no mundo, de ajudar as pessoas. Todos esses anos fui consumido
pela ambição que meu pai fez eu acreditar que era a base de tudo. Conhecer
Daya, fez eu enxergar que não. Que existiam outros valores, que esse
pensamento mesquinho e egoísta só me levaria a um vazio existencial que o
dinheiro nunca seria capaz de comprar.
Lembrei-me também das outras comunidades, estávamos
escravizando pessoas, e isso nunca ia ter fim. A revolta consumia cada parte
do meu ser, toda minha fortuna não faria sentido se eu não tivesse Daya e
meu filho comigo. Era um entulho material cheio de valor, mas também
cheio de nada.
Max havia chegado à mansão, estava aflito e parecia querer me
consolar a qualquer custo, mas não ia resolver, nada do que ele falasse iria
me tranquilizar.
— Cara, eu sinto muito... — Max lamentou. — Mas eu estou do seu
lado, o que precisamos fazer? Matar alguém? Explodir um prédio? Estou
fechado contigo.
Era tudo que eu precisava saber.
— Eu preciso que faça algo, que vai mudar o rumo da nossa história,
que vai mudar tudo que conhecemos, que vai ser o dia da liberdade de
muitos, mas também da queda de outros...
— Do que você está falando? — perguntou confuso. — Olha, a
parte de matar alguém eu estava brincando, não entendi.
— Você precisa Hackear o sistema da cidade, o grande sistema que
controla aquele muro que você sabe que não é um muro de verdade.
Max me olhou assustado e arqueou as duas sobrancelhas, ele soltou
uma risada sarcástica, era típico do Max achar que coisas sérias eram
brincadeira.
— Cara... do que você está falando? Por que eu faria isso? Espera aí,
estamos falando sobre salvar Daya ou sobre destruir o muro da cidade? Não
entendi...
— Max... amigo — disse calmamente. — Eu vou atrás da Daya, e
você vai ficar com essa missão. No fim, tudo está conectado. Foi por ela e
com ela que aprendi a ter uma nova consciência. Eu fui ao subúrbio, Max.
A situação de lá é de extrema pobreza e miséria, as pessoas não têm o que
comer, mulheres quase garotas de dezoito anos estão sendo seduzidas a
participar desse esquema de prostituição, tem noção do que estamos
fazendo aqui? Eu, você, e toda a Elite de Greville. Nós consumimos tudo,
pegamos tudo e fechamos os olhos para aquelas pessoas, fechamos os olhos
para o nosso lado humano. Tudo por mais e mais dinheiro, poder, eu não
quero mais compactuar com isso.
— LUCA LANCASTER, a Daya te transformou em um justiceiro...
eu estou pasmo, velho. Completamente pasmo. Não sei se posso te ajudar
nisso, é muita loucura, Luca, estamos mexendo com gente da pesada, sabe?
Aliás, ninguém sabe quem é o poderoso chefão, quem realmente manda na
cidade e quem causou tudo isso...
Decepcionante. Mas eu não esperava menos, não podia julgar Max,
porque eu também já fui como ele. Eu sempre soube que as situações no
subúrbio eram precárias, mas estava pouco me fodendo para isso, desde que
minha vida não fosse abalada, para mim era um tanto faz. Mas agora era
diferente.
— Max... — Coloquei a mão em seu ombro. — Olha para sua vida,
você acha que alguma coisa faz sentido? Temos tudo do bom e do melhor,
mas você é realmente feliz? Isabelle te deixou e agora você vai fazer o quê?
Cair na balada e na bebida de novo e voltar ao mesmo círculo vicioso? Essa
é sua chance de fazer algo bom, algo impactante, você é o cara mais
inteligente que eu conheci, não acha que está na hora de usar isso para algo
que vale a pena de verdade?
Max me olhou pensativo, e eu estava apelando mesmo para o lado
emocional, precisava esgotar todas as minhas alternativas. Eu era muito
bom com uma arma e também lutando, mas eu não era um Nerd engenhoso,
não dominava a tecnologia, jamais seria capaz de fazer isso sem a ajuda
dele. Era tudo ou nada.
— Você me deve uma garrafa de Whisky importado, da mais alta
qualidade, e também quero o seu carro. Eu tenho certeza de que vou me
arrepender disso, mas eu disse que estou fechado contigo, e eu não
abandono os meus amigos, Luca justiceiro Lancaster.
No fundo eu sabia. Max tinha um bom coração, ele só precisava se
lembrar disso, e ganhar um novo propósito. Assim como Daya fez comigo.
— Eu te dou até a mansão se quiser. Mas agora, mãos à obra,
amigo! — exclamei determinado.
— Vou precisar usar seu computador, mas já aviso que isso vai
demorar um pouco. E não garanto nada, os códigos do sistema do muro
devem ser bem-feitos e detalhados, vou precisar de um tempo, pode levar
horas... talvez, até mais que isso, espero que não. Preciso ver primeiro para
saber com o que estou lidando.
— Você pode usar meu computador, a mansão, o que precisar, mas
eu não vou poder ficar para te acompanhar, tenho que ir.
— Vá, meu amigo, vá salvar sua garota, e eu cuido do resto.
— É tudo que eu mais quero, Max...

Não esperei mais nenhum um segundo e saí da mansão, deixando


Max com a missão que iria destruir toda civilização que construímos. Em
meio à escassez, sofrimento, dor, e divisão de pessoas. Eu ainda não
acreditava que um homem como eu, conseguiu ter uma atitude tão altruísta,
mas era o mínimo que eu poderia fazer pelo povo do subúrbio. A conta iria
chegar para cada um de nós, cidadãos da Elite de Greville, e eu iria adorar
ver isso.
Fui até o galpão, e troquei de roupa. Eu sempre quis colocar essa
roupa, nada de ternos chiques ou um visual formal. Apenas calça jeans,
jaqueta de couro e botas de soldado. Estava me sentindo bem e livre.
Finalmente livre. Recarreguei minhas armas, e estava pronto para o grande
desafio que vinha por aí. Escutei o barulho do meu celular, era uma
notificação do rastreador que havia mudado de posição, imediatamente
verifiquei e notei que Daya não estava mais no prédio de antes, ela foi para
outro lugar. Meu coração quase parou com o que eu estava vendo, ela
estava na mansão do filho da puta, desgraçado Jeremiah Costello.

Ele estava por trás disso também, agora era questão de honra fazê-
lo pagar com sua vida...
LEVARAM-ME PARA OUTRO LUGAR, depois de ver o rosto de
Jeremiah, me vendaram novamente, eu não vi e nem ouvi mais nada. Fui
levada novamente às cegas a um lugar desconhecido, agora me encontrava
em um quarto luxuoso do que parecia ser uma casa. Lembrava-me muito o
meu quarto na mansão, fui jogada aqui e trancaram a porta. Era incerto o
meu destino, tudo podia acontecer, e no fim das contas meu sacrifício não
serviu de nada.
Não aguentei mais segurar o choro, e desabei, sentada no chão do
quarto comecei a chorar sem parar, todo o choro que guardei estava
escorrendo pelos meus olhos. Senti medo, angústia e raiva. Eu não consegui
descobrir o paradeiro da minha família, senti que estavam todos mortos
agora. Eu só queria protegê-los e no fim, foi tudo por eles.
A minha última gota de esperança era Luca, ele tinha minha
localização e iria me encontrar, mas eu precisava reagir. Eu que sempre me
senti forte, agora me sentia fraca, impotente e nas mãos de Jeremiah
Costello. Comecei a lembrar do que Luca havia me falado, Jeremiah era um
homem competitivo e queria tudo que era de Luca, não era sobre mim, era
sobre sua obsessão pela vida de Luca e por tirar tudo que ele amava. Foi
assim com a Elisa, e estava sendo assim comigo.
No meio da minha choradeira, ouvi um barulho na porta, tremi e
quase me faltou o ar por um minuto. Era ele? E quando a porta abriu, uma
garota ruiva que eu conhecia bem apareceu. Era Tess. Eu não sei se deveria
ficar feliz ou triste, porque aquele dia ela foi agressiva comigo, me culpou
pelo que estava acontecendo com ela, e ela também poderia querer se
vingar de alguma forma. Tess fechou a porta do quarto, e parecia apreensiva
e nervosa. Ela me viu no chão com o rosto repleto de lágrimas e se abaixou
para falar comigo.
— Não tenho muito tempo, mas, a notícia que você estava aqui
chegou aos meus ouvidos, precisamos fugir daqui, Daya, você está na casa
do homem mau.
— De quem? — indaguei confusa. — Aqui não é a casa de
Jeremiah?
— Sim. — Tess apertou os olhos. — E do pai dele também, Adolf
Costello.
— Espera aí... — falei pensativa. — Então Adolf que comanda a
cidade? Ele que é o misterioso governante?
— Sim — Tess respondeu magoada. — É ele. E eu o odeio com
toda as minhas forças, ele é um monstro, me comprou, e agora sou sua
refém, Daya. Fiquei com raiva de você, porque imaginei que se eu estivesse
com Luca não teria um destino tão cruel quanto esse, mas vejo que somos
iguais, você não é minha inimiga, eles são.
Aquilo acalmou meu coração, Tess não estava mais com raiva de
mim e reconheceu que éramos vítimas de toda essa história. Agora eu tinha
uma aliada a meu favor.
— Tess... Eu fui vendida também para Jeremiah e estou grávida.
Tess arregalou os olhos e parecia querer chorar também, mas
aguentou firme.
— Calma, Daya! Vamos ficar bem, vamos bolar um plano para fugir
daqui.
Eu pensei em contar para ela que Luca tinha minha localização, e
que ele iria nos ajudar. Contudo, não confiava plenamente nela, e não podia
arriscar.
— Vamos... eu preciso de uma ajuda sua, Tess. Se você conseguir,
preciso saber onde está minha família. Paige sabe o paradeiro deles, mas
suspeito que Jeremiah ou o pai dele podem saber também. É só o que
importa agora.
— Farei de tudo para conseguir essa informação para você. — Tess
segurou minha mão.
Sorri ao ouvi-la dizer isso, e quando eu ia responder outra pessoa
entrou no quarto. Um rosto nada amigável e que eu não gostaria de ver
agora. Era Jeremiah. Ele segurava uma sacola na mão, e olhou para Tess
com desaprovação.
— O que você está fazendo aqui? Eu não quero ninguém
conversando com a Daya sem a minha permissão. Você deveria estar com
meu pai.
Tess se levantou imediatamente, ficou bem nervosa, mas manteve a
postura e estava tentando agir como se nada tivesse acontecido.
— Ela estava gritando, fiquei assustada... E vim ver como ela
estava, só isso, senhor Jeremiah. Somente isso. — Tess abaixou a cabeça.
— Hum... — Jeremiah a encarou desconfiado. — Espero que seja só
isso mesmo. AGORA SAIA DAQUI!
— Com licença...
Tess correu até a porta e saiu do quarto, quando ela se foi meu
coração apertou, era tudo que eu menos queria agora ficar sozinha com
Jeremiah, mas que opção eu tinha? Olhei ao redor, e tentei localizar algum
objeto para eu me defender, avistei a janela do quarto, mas era muito alta, se
eu me jogasse iria morrer. Eu estava sem saída. Jeremiah me olhou
encolhida no chão, e começou a falar.
— Ah, Daya... quanta tristeza. Não quero que fique assim, vai se
acostumar com a vida aqui. Eu sou melhor que Luca, mais rico, e modéstia
à parte mais bonito também... vai me dizer que é tão ruim assim isso?
Qualquer garota no seu lugar ficaria honrada.
Com certeza sim. Honrada de ter sido vendida para um sádico. Eu
não poderia estar mais feliz. Eu queria mandá-lo à merda nesse momento,
mas permaneci em silêncio apenas escutando suas palavras imundas.
— Não vai falar comigo? — Jeremiah perguntou, aproximando-se.
— Não torne as coisas mais difíceis do que elas são, se você for boazinha
comigo, eu serei com você também, e posso te levar para ver sua família...
Minha família. Meus olhos se arregalaram, e senti uma adrenalina
em meu corpo.
— Você sabe onde eles estão?
— Mas é claro que sei. A Paige os deixou comigo. E já te disse,
Daya. Se você cooperar, te levo para vê-los, hoje mesmo. Sua mamãezinha
e os irmãozinhos estão morrendo de saudade, sabia?
— Por favor, me leve até eles... — implorei. — Eu faço tudo que
você quiser, só me deixe vê-los.
— Ah, Daya... — Jeremiah sorriu maliciosamente. — Não é assim
que vai funcionar. Primeiro, você vai jantar comigo essa noite, e eu quero
que vista isso. — Jeremiah colocou a sacola na cama. — Aí dentro tem um
lindo vestido, quero te ver vestida nele essa noite, depois te levo para vê-los
e se quiser que isso aconteça de novo, vai ter que dormir comigo essa noite.
Não. Não. Não. Não.
— Jeremiah, por favor...
— Você não disse que ia fazer o que eu quisesse? Então... é pegar ou
largar, menina.
Eu não conseguia imaginar esse homem me tocando, e ele não ia me
tocar. De jeito nenhum eu ia permitir que isso acontecesse. Mas lembre-se
Daya, seja racional. Eu precisava entrar nesse jogo sujo dele.
— Está bem. — Engoli em seco. — Eu aceito!
— Sabia que você era uma garota esperta. Lembre-se, Daya, eu
tenho tudo e quem eu quero. Eu quis você desde o primeiro dia que te vi, e
eu sabia que ia ser minha.
Um flashback cruzou minha memória, a noite que encontrei
Jeremiah na festa, e depois encontrei-o na praia. Ele sempre trazia esse ar
ameaçador consigo, e então me lembrei do quase sequestro na mansão. Era
ele, tenho certeza. Jeremiah estava por trás disso.
— Foi você, né? — eu o acusei. — Foi você que tentou me
sequestrar, não adianta mentir...
— Eu? Eu não, eu nunca sujo minhas mãos. Mas digamos que
mandei alguém fazer o servicinho, você é muito selvagem, hein? Mordeu
um dos meus homens com força, que maldade, Daya!
Eu sabia. Sabia que era ele por trás disso. A obsessão de Jeremiah
não tinha fim.
— Por que odeia tanto o Luca? O que ele te fez? Você mesmo falou
que tem mais dinheiro que ele, então o que você quer? É por Elisa? Ela já
morreu, será que nem assim fica feliz?
A expressão de Jeremiah mudou, havia muita frustração e tristeza
em seu rosto. Ter falado isso despertou algo muito ruim nele. Algo que ele
não queria lembrar.
— Elisa foi o grande amor da minha vida, Daya. Ela era tudo para
mim, até ele aparecer. Ela me deixou para ficar com ele, e eu jurei que
depois desse dia eu iria destruir a vida dele enquanto eu respirasse. Luca
nunca vai ser feliz. NUNCA! — Jeremiah gritou.
— Você não enxerga que está se matando com isso? Você está cego
por seu desejo de vingança, que esqueceu de olhar para si mesmo, Jeremiah,
você nunca vai ser feliz desse jeito.
— EU VOU SIM... — Jeremiah sorriu. — Eu tenho você agora, e
ele não vai te tirar de mim. Isso ele não vai conseguir.
— Eu não sou um troféu para vocês dois, não sou um prêmio da
briga de vocês. Me deixa fora disso.
Jeremiah me olhou furioso e puxou meu braço com força, eu estava
sentada e rapidamente fiquei de pé. Ele me puxou contra seu corpo e rangeu
os dentes.
— Você é minha agora, Daya. Melhor se acostumar com isso.
Eu nunca vou ser sua. A cada minuto que passava eu sentia mais
nojo e indignação desse homem, que deixou ser consumido pela inveja e
vingança. O amor pode ser um obsessor que te cega.
— Agora... — disse, virando-se de costas. — Se me der licença,
tenho coisas para fazer, te espero à noite, minha amada.
Não consegui responder mais nada, Jeremiah virou de costas e saiu
do quarto. Era um homem asqueroso e cruel, se eu tivesse uma arma juro
que atiraria nele agora sem qualquer rastro de remorso. Eu estava trancada
nesse quarto, sem direito à fuga, onde estaria Luca? Ele iria me encontrar?
Algo teria acontecido? Decidi que não poderia contar com isso. Afinal, eu
não era uma donzela em perigo, e garotas fortes contam consigo mesmas.
Era hora de me recompor e unir forças para o que viria.

Que o jogo comece...


ESTAVA TUDO PRONTO PARA minha fuga, minhas armas
estavam recarregadas e estava pronto para a verdadeira guerra que seria. Eu
seria capaz de morrer para salvá-la, e era a única coisa que importava agora.
Recebi uma mensagem de Max, e nela dizia:

Max: Consegui acessar o código, meu amigo. As coisas vão


esquentar nessa cidade. Hahahahaha

Abri um sorriso malicioso e observei a Greville ao meu redor,


depois de hoje nada mais seria o mesmo, seria a grande transformação. Era
uma boa notícia, mas ela só seria completa após o resgate de Daya.
Imaginei o quanto ela ficaria feliz em saber disso, mas com tudo se
encaminhando eu daria essa notícia pessoalmente. Entrei no carro, e quando
ia dar partida, senti um objeto estranho em minha cabeça, que eu conhecia
bem. Era o cano de uma arma.
Olhei pelo retrovisor, e vi a figura de uma mulher loira de óculos.
Eu a conhecia bem também, era Paige. Estava sentada no banco de trás,
com uma arma na minha cabeça. Puta merda.
— Se você reagir, eu te mato agora... — ela ameaçou. — E eu não
estou brincando, Luca. Já fiz isso algumas vezes, posso fazer de novo.
Fiquei imóvel, tentando pensar em como eu iria fazer para reagir.
Ninguém iria me parar hoje. Ninguém.
— Paige... — comecei a falar calmamente. — Vamos conversar,
você não está bem, não está pensando direito.
— Eu estou ótima! — Ela gargalhou. — E como eu sei que você é
bem esperto, preciso me garantir. Bons sonhos, baby...
Antes que eu pudesse ter qualquer tipo de reação, Paige apertou um
spray que impregnou o carro. Era tóxico e muito forte, o cheiro embriagante
adentrou em minhas narinas. Tudo começou a ficar turvo e depois
escurecer, fui perdendo a força dos meus movimentos, e só me lembro de
ver o rosto dessa maldita mulher me ajustando no banco, e então tudo
apagou.

ACORDEI AMARRADO em uma cadeira, mãos e pés, e até mesmo


amordaçado. Eu não sabia que lugar era esse, nem quantas horas haviam se
passado, só conseguia pensar em Daya, nesse meio tempo muitas coisas já
podiam ter acontecido, ela estava nas mãos de um homem perigoso. Senti-
me impotente, mas eu não ia ficar aqui muito tempo. O lugar era escuro e
sombrio, parecia um cativeiro.
Paige surgiu em meio à escuridão, mas acredito que ela tenha saído
através de uma porta, e me viu despertar, tirando a mordaça da minha boca.
Se tinha uma coisa que eu me arrependia nessa vida era de um dia ter me
envolvido com essa mulher. Se arrependimento matasse com certeza eu
estaria morto.
— Acordou, belo adormecido... achei que não ia acordar nunca.
Como você está, amor?
— Você é louca! — bradei. — Muito louca, a mulher mais louca
que eu conheci na minha vida. Que merda você pensa que está fazendo,
Paige? O que deu na sua cabeça?
— Só estou cuidando do que é meu... — Paige se aproximou e
sorriu. — No caso, você. Estava indo atrás daquela garota, não é? Não tente
bancar o herói, Luca. Isso não combina com você. Nunca combinou.
Tentei me mexer, mas as amarras eram bem fortes e potentes. Paige
não era boba, ela sabia que eu era um homem forte e pouca coisa iria me
prender.
— Eu não sou seu. Nunca fui, achei que esse teatro que você criou
sobre nós já tinha passado, mas vejo que não. Onde você acha que vai
chegar com isso? O que você fez com Daya?
Eu tinha que me fazer de desentendido, ela não podia saber que eu
sabia que Jeremiah estava com ela.
— ESQUEÇA DAYA, LUCA! — ela gritou. — Ela não é mais sua,
agora ela pertence a Jeremiah Costello. Eu a vendi, e você nunca mais vai
poder resgatá-la.
— VOCÊ O QUÊ? COMO TEVE CORAGEM DE FAZER ISSO?
— Você me fez fazer isso, seu desgraçado, você. É tudo culpa sua!
— Paige começou a chorar. — Você fez eu me apaixonar por você, já te
perdi uma vez para aquela maldita Elisa, eu não vou te perder de novo por
aquela menina imunda do subúrbio...
A fantasia de Paige tinha ido longe demais, sabia que ela gostava de
mim, mas não tinha noção do quanto esse sentimento era doentio. Paige
precisava de tratamento psicológico, a situação fugiu completamente do
controle.
— Eu nunca menti para você, Paige. Sempre deixei bem claro os
meus sentimentos. Desculpa se te magoei, mas eu a amo. Amo de verdade.
E foi você que a trouxe até a mim, você que me apoiou a participar da
comunidade, você que escolheu Daya para ser minha, não estou te
entendendo...
— Eu nunca imaginei que você fosse se interessar por ela, havia
outra garota nesse dia, Tess. Ela era tão parecida com Elisa, o mesmo
cabelo, a mesma cara de sonsa, assim que a vi sabia que não podia mandá-
la para você, porque corria o risco de você se apaixonar ou confundir as
coisas. Então, mandei Daya uma garota que foge completamente do tipo de
mulher que você gosta, como foi se apaixonar por ela? Meu objetivo era
fazer você participar da comunidade, e depois te mostrar que a mulher certa
para você sou eu, posso te fazer feliz meu amor...
Louca. Você é muito louca. Os olhos de Paige estavam desnorteados
de delírio, a cada palavra que saía de sua boca seu rosto se expressava de
uma forma tão medonha e teatral, que eu senti pena. Ela realmente
acreditou que seu plano daria certo, que em algum momento eu iria correr
para ela e querer algo. Eu nunca a vi dessa forma, nunca senti uma gota de
sentimento por ela. Sempre foi só sexo, e até disso eu me arrependia.
— Ouça, Paige... — tentei falar com calma. — Você não pode mais
se iludir com essa história, eu nunca gostei de você. Independente de Daya,
eu nunca me apaixonaria por você. Tivemos um lance, uma noite, e para
mim foi só. Eu achei que você tinha entendido.
— Eu não acredito que você está me dizendo isso... — Lágrimas
começaram a escorrer dos seus olhos.
— Eu estou te falando a verdade, Paige. Quer que eu minta para
você?
— Já que você não vai ser meu por bem, então será por mal. Eu vou
ter que sujar minhas mãos novamente, e tirar mais uma do seu caminho...
— Paige voltou a rir. — Eu lamento ter que fazer isso, mas não tenho outra
escolha.
— O que está querendo dizer com isso? Se tocar em um fio de
cabelo de Daya, eu juro que eu te mato.
— Luca... Luca... você é mesmo patético, eu vou agir tão friamente
que nem vai parecer que fui eu que fiz. Assim como fiz com a Elisa, todos
esses anos e ninguém nunca descobriu a verdade...
Do que essa Maluca estava falando?
— Que história é essa? O que Elisa tem a ver com isso?
— Tudo, Luca. Você é tão bobo que nunca desconfiou. O acidente
de Elisa não foi uma obra do destino, foi manipulado. Não era para ela ter
morrido naquela noite, eu manipulei tudo.
— Foi você? O QUE VOCÊ FEZ? — indaguei revoltado.
— Eu cortei os freios do carro, sabia que seria fatal, Luca. Ela não
iria sobreviver, e depois subornei a polícia com meus truques para que
nunca fosse revelado que o acidente foi armado, saiu tudo tão
matematicamente perfeito que em todos esses anos, você acreditou
fielmente que a Doce Elisa morreu em um acidente de carro por injustiça de
Deus, mas não, Luca, eu que fiz isso e eu faria tudo por você. Eu te amo, e
você tem que aceitar isso de uma vez por todas.
Fiquei imóvel, completamente sem reação. Eu queria estrangular o
pescoço de Paige, queria torturá-la e queria que ela sentisse dor, e nunca
seria suficiente para pagar tudo o que ela fez. Ela assassinou Elisa
friamente. E por minha causa, por essa obsessão doentia que ela tinha por
mim. Tudo poderia ter sito evitado, céus. Era muito pior do que eu
imaginava.
Paige me viu sofrer por tanto tempo, o meu isolamento, a minha
falta de vontade de viver, que amor é esse que é capaz de destruir a outra
pessoa? De vê-la sofrendo por quase uma eternidade e simplesmente
parecer se divertir com isso? Olhei para Paige com os olhos frios, era tanta
raiva que não cabia dentro de mim.
— Você não me ama. Você não ama ninguém. Alguém como você é
incapaz de amar alguém...
Paige engoliu as minhas palavras, e parecia atingida. Mas nem
mesmo a minha indiferença seria capaz de pará-la.
— Pode falar o que quiser, Luca... não importa para mim. Eu te amo
mesmo com isso. Agora, eu preciso ir e estou me certificando de que você
não vai sair daqui, ninguém vai me parar. Eu vou matar Daya essa noite, e a
história de vocês acaba aqui.
— SUA VACA DESGRAÇADA! — gritei. — ME TIRA DAQUI!
Paige virou as costas e me deixou aqui sozinho, completamente
impotente. Ela iria atrás de Daya e iria matá-la. Assim como fez com Elisa,
ela iria destruir a minha única felicidade.

Era o fim da linha, e a história se repetiria mais uma vez...


A NOITE CHEGOU e era hora do jantar, me arrumei contra minha
vontade e coloquei o vestido preto que Jeremiah solicitou, estava sendo
uma tortura ter que fazer tudo isso, me submeter aos caprichos dele. Mas eu
tinha que pensar na minha família, e também na minha sobrevivência. Era
tudo por isso. Não tinha como não pensar em Luca. Meu coração estava
apertado, sentia que algo tinha acontecido com ele. E se ele estivesse
morto?
Meu Deus, não. De jeito nenhum, eu nunca iria me perdoar. Ele só
entrou nesse caos, por minha causa. Ninguém poderia morrer essa noite.
Desci as escadas pausadamente, e Jeremiah já me esperava ao final dela.
Seus olhos brilharam ao ver, ele me encarava com muito desejo e eu odiei
isso, não quero nem pensar o que estava passando em sua cabeça. Quando
parei no último degrau, ele agarrou minha mão e deu um beijo. Tentei
reprimir minha cara de nojo.
— Você está maravilhosa, Daya! — Ele sorriu e me olhou da cabeça
aos pés. — Sabia que esse vestido ia ficar lindo em você, mas vou adorar te
ver pelada...
NOJENTO.
Não respondi à sua provocação, tentei aguentar firme e não tomar
nenhuma atitude precipitada. Jeremiah me conduziu até a sala de jantar,
uma mesa farta nos esperava, um verdadeiro banquete com muitas comidas
e bebidas. O jantar não era só para nós. Notei que Tess estava sentada à
mesa, completamente infeliz e com os ombros caídos. Meu Deus. Fiquei
imaginando os horrores que passou nessa casa, não conhecia Adolf, mas já
imaginava que deveria ser um homem tão cruel quanto Jeremiah. E pensar
que era para ser eu aqui, mas olha só onde eu estou.
Sentei-me em um dos lugares, Jeremiah se sentou do meu lado e
apertou minha mão com força sussurrando:
— Não fale ou faça alguma besteira, nosso convidado de honra está
vindo. E hoje irei te apresentar para ele, então seja uma boa menina.
— Quem é o convidado de honra?
— Meu pai, Adolf Costello...
Alguém passou pela porta, olhei para o rosto de Tess no mesmo
instante e ela ficou pálida e assustada. Um homem surgia, era mais velho,
alto, tinha os ombros largos e um bigode grisalho. Estava bem elegante,
usando um terno escuro. Ainda estava em forma, mas os cabelos e as
feições denunciavam sua idade. Os olhos eram azuis tão claros, quase
brancos e penetrantes. Porém seu olhar era de um homem maldoso. Ele
olhou para a mesa, e parecia satisfeito com toda a fartura. Em seguida,
olhou para cada um de nós, começando por Tess, depois para mim e
Jeremiah. Arqueou uma sobrancelha ao me ver, mas não disse nada.
— Meu pai! — Jeremiah saudou. — Como é bom te ver, achei que
não viria para o jantar.
— E por que eu não viria, Jeremiah? Com tamanha fartura, não
poderia recusar.
Frio e calculista. Suas palavras não demonstravam nenhum tipo de
emoção, nem mesmo pelo próprio filho. Ele deu a volta, e sentou ao lado de
Tess, notei que a presença dele a deixava amedrontada. Então era ele. O
homem que estava por trás do comando da cidade, que criou as
comunidades. Um homem que só tinha um rosto para aqueles que acredito
ser digno de sua confiança. Um homem que tinha poder em suas mãos, no
entanto, era um covarde incapaz de se mostrar para o seu próprio povo.
Começamos a comer, e eu estava me esforçando para isso, quase
não descia nada na minha garganta. O jantar estava silencioso, e aquilo
estava me incomodando. Até Jeremiah estava sem coragem de dizer uma
palavra, o único que parecia calmo e tranquilo aqui era o próprio Adolf. Ele
deu mais uma garfada, e limpou a boca com o guardanapo, parecia
satisfeito. Seu olhar encontrou o meu, e ele me dirigiu a palavra:
— Qual é seu nome?
Jeremiah arregalou os olhos, e largou o garfo com tudo na mesa
respondendo de imediato.
— Essa é Daya, meu pai.
— Eu não perguntei para você, Jeremiah — ele respondeu irritado.
— Desculpe...
Jeremiah abaixou a cabeça, e no fundo eu tinha gostado daquilo. Era
tão bom vê-lo diminuído.
— Meu nome é Daya Ayamed — disse com segurança.
— Você é filha de Mariah Ayamed do subúrbio?
Como ele sabe o nome da minha mãe? Senti uma pontada dentro do
meu coração, só de ouvir o nome dela meu coração se enchia de ternura.
— Sim...
Adolf largou seus talheres e parou de me olhar. Voltou a olhar para
Jeremiah novamente. Era um olhar de desaprovação, como se Jeremiah
tivesse feito algo muito errado.
— Onde achou Daya, Jeremiah? Por que ela está aqui conosco?
Isso não vai acabar bem. Era a única coisa que passava em minha
cabeça. Aproveitei a distração e nervosismo de Jeremiah, e deixei uma faca
cair no meu colo, escondi-a entre as pernas. A qualquer momento eu
poderia ser atacada, e precisava de alguma arma para me defender.
— Agora ela me pertence, pai. Daya estava participando da
comunidade das garotas de luxo, mas fiz um acordo com Paige e de agora
em diante ela fará parte dessa casa, será minha mulher — Jeremiah disse
orgulhoso.
— Você vai precisar desfazer isso, quero ela fora da minha casa
agora — Adolf avisou tranquilamente.
Por que ele estava tão calmo? Em nenhum momento parecia
nervoso, era apático e sem emoção nenhuma. Jeremiah por sinal, estava
furioso. Ele bateu a mão na mesa e cerrou os dentes.
— Não vou fazer isso. Por que faria isso? Você sempre disse que eu
precisava arrumar uma mulher, agora eu tenho uma.
— Jeremiah. — Adolf respirou fundo. — Isso não é um pedido, é
uma ordem. Eu quero essa jovem fora da minha casa... AGORA! — bradou.
— MAS POR QUÊ? — Jeremiah gritou nervoso. — POR QUE
ELA TEM QUE IR EMBORA? ELA NÃO VAI, DAYA FICA.
Olhando aquela situação, já imaginei do que poderia se tratar. Adolf
seria um homem racista? E por isso não queria que eu me misturasse com o
seu filho, e vivesse em sua casa? Ou porque ele queria uma mulher da Elite
para viver com seu filho, não queria misturar a Elite com o subúrbio.
— Porque ela é sua irmã, Jeremiah. Daya é sua irmã! — Adolf
disse, cerrando os punhos.
O quê? Como assim?
— Do que você está falando? — inquiri, levantando-me da mesa. —
Eu e Jeremiah irmãos? Isso não...
— Não pode ser... — Jeremiah disse perturbado. — O que você
bebeu, pai?
— É uma história que iria levar comigo para o túmulo, quando eu
era mais jovem me apaixonei por uma mulher do subúrbio, ela se chama
Mariah Ayamed. Sua mãe, Daya, nós vivemos uma paixão intensa e louca,
mas não podíamos ficar juntos. Tive que deixá-la grávida e sozinha. Mas
olha só para você, é uma adulta agora, conseguiu sobreviver...
Tudo estava em câmera lenta, minha cabeça estava pesada e por um
momento achei que fosse desmaiar. Uma memória passou pela minha
cabeça, minha mãe sempre falava sobre um homem que ela amou muito,
que era do lado da Elite, porém nunca revelou quem ele era. Ela disse que
teria que levar esse nome junto ao túmulo. Adolf Costello. Agora estava
explicando, ele não era um homem comum de Greville, ele era o homem
que comandava tudo. O meu pai era o misterioso governante.
— Você sabia da minha existência todo esse tempo, e nunca me
procurou? Nunca se preocupou em saber se eu estava bem? Você
engravidou minha mãe e a deixou sozinha no subúrbio passando os anos
mais difíceis de toda nossa vida. Como tem coragem?
— Eu cometi um erro — Adolf relembrou. — Eu não deveria ter me
envolvido com Mariah, deixei as coisas irem longe demais... eu não queria
esse destino cruel para você, Daya. Mas se você tirar o poder de um
homem, não lhe resta mais nada. E eu nunca iria abrir mão disso, meu pai
me fez escolher o lado. Ou eu deixava Mariah e você, ou eu continuava o
seu legado...
Sempre o dinheiro e poder. O mundo girava em torno disso, Adolf
não expressava nenhuma gota de arrependimento.
— E DEIXOU EU E MINHA MÃE PARA MORRER NO
SUBÚRBIO! — gritei. — Tudo que acontece nessa cidade é por sua causa,
você está por trás disso tudo. VOCÊ NÃO É MEU PAI, NUNCA VAI SER!
— JÁ CHEGA! — Jeremiah bradou e puxou meu braço. — Toda
essa baboseira de pai e filha bastarda já deu para mim. Agora que já estão
apresentados, eu cansei desse jantar, cansei de tudo isso. E você vem
comigo, Daya.
— Não vou para lugar nenhum com você!
Jeremiah me puxou pelo braço com força, e me fez levantar, mas fui
mais rápida o ataquei com a faca, imobilizando o seu movimento, a faca
pegou no seu braço e ele soltou um grito.
— VAI PAGAR POR ISSO, SUA VACA! — ameaçou e me agarrou
com os dois braços.
Jeremiah apertou meu corpo contra o seu, e eu estava ficando sem
ar. Tentei me soltar, mas era impossível. Tess se levantou e foi para cima de
Adolf, mas foi atingida com um soco no nariz. Um verdadeiro caos.
Jeremiah foi segurando meu corpo e estava me levando para um lugar que
eu não sabia onde era. Eu não conseguia me soltar. Era a hora perfeita
para Luca aparecer.
JEREMIAH ME LEVOU ATÉ um lugar que parecia ser um porão,
descemos uma escada de madeira derrapante, ele segurava meu braço com
tanta força que nem sentia mais minha circulação. Ao descermos, havia
uma luz fraca iluminando o ambiente. Mas eu conseguia ver bem, e também
ouvir. Escutei o barulho de um choro baixo, seguido de alguns gemidos de
dor. E quando olhei para o chão. LÁ ESTAVAM ELES. MINHA MÃE,
OLIVIA E MYLO. MINHA FAMÍLIA. Eu quase desabei quando vi minha
mãe deitada no chão, com a pele negra acinzentada que indicava uma
palidez, a boca estava seca e os olhos caídos. Estava mais magra do que da
última vez que a vi, parecia desnutrida. Ela piorou muito. Mylo e Olivia
estavam um de cada lado segurando a mão dela, e completamente
desesperados.
Não. Não. Eu não acredito...
Jeremiah me empurrou para a frente, e eu caí no piso, arrastando
meu corpo até eles. Quando meus irmãozinhos viram que era eu, gritaram.
— DAYA, DAYA! VOCÊ VOLTOU — disse Olivia, chorando de
emoção.
— Mana, a mamãe está — Mylo falou em lágrimas. — Morrendo...
Ela está muito mal.
Segurei o rosto da minha mãe, e vi que ela estava quase desfalecida.
Mal estava respirando e as palavras não saíam de sua boca. O choro que eu
costumava engolir, não deu mais. As lágrimas escorreram e eu custava a
acreditar que isso estava acontecendo, minha mãe estava morrendo na
minha frente, na frente dos meus irmãos, todo esse esforço para salvá-la, foi
em vão. Por que tanta injustiça em uma vida só? Eu só queria sumir, queria
dormir e não acordar nunca mais.
Jeremiah se movimentou e tirou uma arma do bolso, imediatamente
me coloquei na frente deles, abrindo os meus braços na tentativa de formar
um escudo para protegê-los.
— É, meu amor... achei que nossa aventura seria mais longa — ele
riu —, mas eu não posso mais ficar com você, não sou tão sujo a ponto de
querer minha irmãzinha. Mas também, não posso deixar nenhum de vocês
vivos. — Ele apontou a arma.
— JEREMIAH, NÃO FAÇA ISSO! — implorei. — Tenha
piedade...
— Essa é uma palavra que nunca existiu no meu vocabulário —
falou apontando a arma.
Mylo e Olivia começaram a gritar, estavam assustados e minha mãe
tentava esboçar um último sopro de vida. Ela ainda estava ali, mas era
como se não estivesse. Fechei meus olhos, e me recordei do dia que Luca
me ensinou a atirar, do momento em que ele me fez imaginar uma cena
onde eu teria que matar alguém para salvar a minha família. Eu só queria
ter uma arma em minha mão agora, eu só queria poder salvá-los. Mas
agora é tarde demais.
Já estava preparada para sentir a bala entrando em minha pele, e
ouvi um disparo. Quando abri os olhos, me surpreendi que não estávamos
feridos, todos vivos e ilesos. Mas Jeremiah sim. O corpo dele caiu no chão,
estava ensanguentado. Olhei para cima, e lá estava ele, Luca. O meu Luca.
Segurava uma arma na mão, parecia exausto, os punhos marcados e
vermelhos, algo tinha acontecido. Mas ele me encontrou. Luca se abaixou e
correu, me agarrou com seus braços, senti seu abraço e o seu corpo quente,
e eu o amava tanto. Tudo isso que aconteceu só fez eu ter mais certeza
disso.
— Me desculpa a demora... — Luca lamentou. — Eu não acredito
que quase te perdi, só me perdoa, Daya.
— Não precisa se desculpar... aconteceu tanta coisa, Luca. Tanta
coisa. Eu fiquei com tanto medo de perder você, de perder minha família...
— Ei! — Luca segurou meu rosto. — Eu estou aqui...
E de repente, senti uma mão segurar a minha. Não era a mão de
Luca, era uma mão fria e pequena, me virei para trás imediatamente. E era
minha mãe, ela estava fraca mas fez muita força para falar.
— Daya... — disse com a voz falha. — É você, minha filha?
Eu agarrei a mão dela, e a outra coloquei em sua bochecha,
acariciando. Minha mãezinha. Como eu senti saudades.
— Mãe, eu estou aqui — falei emocionada. — Eu estou aqui, mãe,
vou te tirar daqui e você vai ficar bem.
— Filha... Eu não tenho mais tempo, o câncer já me matou, mas
Deus é tão misericordioso que permite nos dar um último momento para
nos despedirmos de quem amamos, não é uma dádiva?
— Não, mãe, você vai viver. Eu vou te tirar daqui você vai receber
tratamento não é sua hora ainda... por favor, mãe, não me deixe!
— Daya. — Ela tossiu e tentou apertar minha mão. — Filha, não dá
mais tempo, mas eu quero te dizer que sempre tive orgulho de você.
Obrigada por ter cuidado de mim, dos seus irmãos, obrigada por todo
sacrifício que fez por nós, você se tornou uma grande mulher...
Senti uma pontada no peito, e o soluço do choro saiu da minha boca,
Luca colocou a mão em minhas costas, minha mãe iria morrer nesse chão
frio, injustiçada e consumida por um câncer que não matou só ela, mas a
nossa família toda. A dor transbordava a minha alma, morrer deveria ser
somente uma passagem, mas era uma dura lição que nos mostrava que a
vida era um sopro, e que aqueles que amamos são apenas passageiros de
uma viagem que um dia todos nós vamos desembarcar.
Eu queria dar à minha mãe uma linda lembrança, eu queria mostrar
para ela que iríamos ficar bem, que ela podia ir feliz e em paz, e eu iria
cuidar de tudo. Puxei Luca para mais perto, até que ele ficasse visível aos
seus olhos. Notei que ela tentou sorrir ao vê-lo, sempre imaginei esse
encontro, mas não dessa forma.
— Mãe, esse é Luca... Mylo e Olivia esse é o tio Luca, nós estamos
juntos, e eu o amo mãe, ele é um homem bom me ensinou a amar, cuidou de
mim e do meu coração, e o nosso amor agora só vai aumentar... —
Coloquei a mão na barriga. — Eu estou grávida. mãe, você vai ser vó...
— Ah, Daya... — falou minha mãe quase sem ar. — Minha filha...
minha linda menina, eu...
— Não se esforça, por favor. Pode ir embora, mãe, eu te amo para
sempre. Obrigada por tudo.
E em um último suspiro de vida, ela sorriu e o brilho em seus olhos
se foi. Por que tinha que ser tão difícil? Por que perder alguém que
amamos tinha que ser um processo tão doloroso?
Queria poder trocar de lugar com ela, ir embora primeiro e me livrar
desse fardo de ter que viver o resto da minha vida sem ela. No entanto, não
era assim que a coisa funcionava, no fim todos nós estávamos em uma fila
onde não sabíamos nossas posições. Você pode estar à frente ou atrás de
quem ama.

Viver era tão incerto quanto a morte...


EU JÁ ESTAVA ACOSTUMADO com isso, a dor da perda, o luto
ou a morte. Perdi meus pais, e depois Elisa, é uma dor que dilacera a alma e
te transforma em outra pessoa, ou você vai se afundar nisso ou vai renascer
das cinzas com um novo propósito. Eu gostaria muito de ter conhecido a
mãe de Daya, de ter pedido a mão dela formalmente em casamento, de ter
recebido sua benção, mas infelizmente a estava conhecendo na pior das
circunstâncias.
Enquanto Daya chorava em meus braços juntos aos irmãos, muitas
coisas passavam em minha cabeça. Hoje eu nunca senti tanto medo, medo
de não dar tempo, medo de não conseguir salvá-la. Tive uma ajuda de Max
para me libertar do cativeiro, definitivamente, eu retirava tudo que eu disse
sobre ele, era o meu amigo de verdade e foi um verdadeiro herói hoje. A
essa hora tudo já estava desmoronando na cidade, a Elite já deveria ter sido
invadida pelo subúrbio e a guerra começou, mas eu só pensava em uma
coisa. Precisava tirar todos dali, precisávamos ir embora.
Afaguei os cabelos de Daya, e segurei o seu rosto molhado pelas
lágrimas.
— Pequena... E crianças. — Olhei para os irmãos de Daya. —
Precisamos ir, e Daya tem uma coisa que eu preciso te contar, sei que o
momento não é apropriado, mas eu fiz uma coisa que vai mudar o destino
de Greville.
Daya no mesmo instante arregalou os olhos, as lágrimas cessaram e
ela me encarou curiosa.
— O que você fez, Luca?
— Digamos que eu tive a ideia e Max executou o plano. Não existe
mais muro que separa os lados, acabou, Daya... acabou a divisão de
Greville. Eu sempre quis ser altruísta e bondoso, sempre quis fazer algo de
bom no mundo e agora eu fiz...
— Luca... — disse boquiaberta. — Quando eu acho que já vi você
fazendo de tudo... — E me beijou.
— Eu aceito todos os elogios do mundo, mas temos que ir agora,
precisamos sair daqui, vamos embora!
— Mas e ela? — Daya olhou para o corpo de sua mãe. — Eu não
vou deixar o corpo dela aqui...
— Pequena, não tem outro jeito...
— Tudo bem... — ela lamentou. — Vamos embora!
Antes de ir, Daya deu um beijo na testa da mãe e fechou os seus
olhos. Pegou na mão dos irmãozinhos, e então saímos do porão. Dois
corpos. Olhei para trás e vi Jeremiah desfalecido no chão, e se eu dissesse
que estava arrependido do que fiz, estaria mentindo. Eu disse que iria até o
inferno para salvá-la e não estava brincando.
Corremos pelo corredor, e à direita teríamos a escada, e logo depois
à saída dessa casa. Mas estava bom demais para ser verdade, a guerra aqui
ainda não tinha acabado. Ao virarmos, me deparei com a figura diabólica e
vingativa.

Paige Conner. Ela estava de volta!


QUANDO ISSO IA ACABAR? Eu pensei ao ver Paige Conner à
nossa frente, com as vestes com sangue e com os cabelos emaranhados. A
maquiagem estava toda borrada, e ao vê-la Luca se colocou em nossa
frente, tentando proteger não só a mim, mas também meus irmãos. Paige
começou a se aproximar, estava cerrando os dentes como um cão raivoso.
Ela estava com muita raiva.
— ACHARAM QUE IAM SE LIVRAR DE MIM? — ela gritou. —
Eu te disse, Luca! Eu te avisei, o seu destino é comigo. Eu sou a mulher que
vai te fazer feliz. Você precisa entender de uma vez por todas isso.
— ABAIXA ESSA ARMA, PAIGE! — Luca berrou. — Essa sua
obsessão maluca não vai te levar a lugar nenhum, deixa a gente embora,
tem crianças aqui...
Mylo e Olivia estavam assustados, tremiam os seus pequenos corpos
e se abraçavam. Era demais para eles, já tinham perdido nossa mãe, e agora
estavam tendo que viver essa situação.
— Eu não vou parar, Luca, só vou parar quando eu a matar. E agora
eu vou matar você também. — Paige apontou a arma na direção de Luca.
— Vou matar todos vocês... — E gargalhou. — Até as criancinhas...
Maldita.
— Daya, eu estou com medo... — disse Olivia tremendo.
Meus batimentos cardíacos estavam acelerados, senti uma descarga
de adrenalina percorrer meu corpo, se eu não agisse rápido iríamos todos
morrer, pela mão de uma mulher que arruinou minha vida. Que compactuou
com as comunidades, que criou um prostíbulo de luxo, enganando garotas
do subúrbio. Havia uma arma no bolso de Luca, puxei-a rapidamente e não
havia tempo de pensar em nada. Era o confronto entre mim e ela, Paige
estava com sangue nos olhos por uma paixão que não foi correspondida.
Contudo, eu estava com sangue nos olhos por tudo, por anos, pela minha
mãe, e por todas as vidas roubadas.
Impulsionei meu corpo para frente, e me coloquei na frente de Luca,
mirei a arma nela e puxei o gatilho. O tiro disparou e pegou na cabeça de
Paige, o corpo dela caiu na hora. Estava morta! E eu? Estava livre. Livre do
contrato, livre da comunidade, livre para viver uma vida com Luca sem
tempo determinado. Não consegui largar a arma, ainda sentia a adrenalina
do momento. Luca me olhou e estava segurando a mão dos meus
irmãozinhos. Ele sorriu.
— Você é minha heroína. E eu queria muito te beijar agora. Mas
temos que ir. Acho que agora acabou...
— Ninguém mexe com a minha família. Vamos embora, agora
vamos mesmo.
Eu ainda estava em choque com todos os acontecimentos, a
sensação era de que alguém havia aplicado uma dose de morfina em minhas
veias. Eu estava com dor, mas não conseguia mais sentir nada. Corremos
para a saída da casa, e no caminho olhei o corpo desfalecido de Paige,
queria sentir remorso ou culpa, porém, eu não sentia absolutamente nada.
Era pecado sentir alívio? Não sei, mas agora nada disso importava.

QUANDO SAÍMOS DA CASA, havia outro cenário


completamente novo e talvez mais perigoso do que imaginávamos. Luca
segurou Olivia no colo, ela estava com muito medo e ele queria protegê-la
de alguma forma, eu gostei disso. Gostava do jeito que ele lidava com
crianças. Enquanto eu, segurava a mãozinha de Mylo. Caminhamos pela rua
de Greville, mas não era mais a Greville que conhecíamos, o muro
imaginário havia sido desfeito e o subúrbio finalmente iria saber o que tinha
desse lado.
Havia propriedades sendo invadidas, comércios sendo depredados e
muita confusão. Mais armas sendo apontadas, pessoas caídas, todos agora
estávamos misturados. O subúrbio e a Elite, todos fazíamos parte de uma
cidade agora, que nunca deveria ter sido dividida.
O poder cega os homens, por poder lutaram e por poder irão
sucumbir. Às vezes é preciso caos para reiniciar as coisas, e Greville não
tinha mais como fugir disso. O subúrbio se calou e viveu sob uma opressão
durante todos esses anos, mas agora ninguém mais iria aguentar nenhuma
injustiça.
Luca e eu conseguimos sair da multidão, e nos aproximamos da
praça, onde havia um palco para discursos, mas estava completamente
destruído, havia um aglomerado de pessoas, a grande maioria eram pessoas
do subúrbio. Segurando armas, e pedaços de barra de ferro e pedra. Eu,
Luca e as crianças nos camuflamos em meio à multidão para ver e ouvir o
que estava acontecendo. Uma mulher de pele morena e cabelos
encaracolados visivelmente do subúrbio segurava o pescoço de Ana, e outro
homem alto, com a pele clara, mas queimada de sol, e cabelos espetados,
apontava uma arma para a cabeça de Adolf Costello.
Alguém deve ter revelado o segredo dele, eu o olhava de longe e
não conseguia sentir um pingo de afeição, Adolf nunca seria meu pai. A
mulher que estava segurando o pescoço de Ana, apertou ainda mais forte os
dedos em sua pele. Ana tentava gritar, mas estava sufocada demais para
isso.
— Essa mulher... seduziu minha filha, e a trouxe para cá,
transformou minha filha em uma prostituta, ela merece morrer.
A multidão gritou, era um grito de guerra do julgamento. Em
seguida, o homem que segurava Adolf encenou que iria apertar o gatilho.
— Foi tudo culpa desse homem, povo do subúrbio! Ele continuou o
legado da divisão da cidade, é por ele que passamos por tudo isso esses
anos. FOI ELE! ELE MERECE MORRER.
E mais um grito de guerra ecoou, olhei para aquela situação e eu
deveria me sentir aliviada e também feliz pela justiça finalmente estar sendo
feita. Eu também era do subúrbio, também passei todos os anos de minha
vida vivendo na miséria e mal tendo o que comer, não nasci privilegiada,
mas por que eu tinha a sensação dentro de mim que não era assim que as
coisas se resolveriam? A guerra ser paga com guerra só traria mais
destruição e dor. Luca começou esse movimento, mas eu precisava
terminar. Eu iria tomar agora uma das atitudes mais loucas da minha vida.
Esbarrei com os corpos na multidão, e fiz sinal para que Luca não me
impedisse, caminhei entre aquelas pessoas e cheguei em frente ao palco.
— BASTA! — gritei.
Todos ficaram em silêncio, havia muitos rostos conhecidos aqui,
quase todos no subúrbio se conheciam, e vi que alguns pareciam me
reconhecer. Inclusive, a mulher que segurava Ana.
— Daya? O que está fazendo? Junte-se a nós, vamos nos vingar,
esse povo tirou tudo de nós, deixou a gente na miséria, é a nossa chance...
— Já falei para começarmos por esse aqui — disse o homem ao
lado, apertando a arma contra a cabeça de Adolf.
— Esse homem aí... — Respirei fundo. — Foi ele quem engravidou
minha mãe, renegou sua filha do subúrbio durante uma vida toda. Separou a
nossa cidade, e nos classificou pelo nosso poder aquisitivo. Eu sei que
vocês estão com raiva — virei-me para olhar a multidão —, eu também
estou. Perdi minha mãe hoje, minhas mãos estão sujas de sangue. Mas será
que não perceberam? Começar uma guerra só vai trazer ainda mais dor.
— E O QUE VOCÊ SUGERE? — gritou alguém na multidão. —
Que agora que finalmente conseguimos vir para esse lado, e desfrutar das
belezuras desse lugar, voltemos para o subúrbio? Nem pensar, o muro nem
sequer existia, mentiram para nós.
Reparei que mais pessoas estavam se aproximando da multidão,
havia um misto de roupas e peles. Um misto de Greville. Um misto de
pessoas da Elite do subúrbio, mais e mais pessoas se juntavam e formavam
um grande grupo.
— Mentiram para nós sim! Mas destruir Greville agora não é a
saída, nós temos que unir os dois lados, temos que partilhar. A Elite tem
recursos suficientes para todos nós, e não vamos mais aceitar viver de
migalhas. Se nos unirmos, podemos criar uma nova democracia.
— ISSO NUNCA VAI DAR CERTO! — gritou um rapaz. — Não
vão querer se misturar com pessoas como nós, eles têm nojo da gente...
E então, Luca começou a sair junto com meus irmãos do meio da
multidão, todos ficaram sem entender muito bem, e eles se juntaram a mim
perto do palco. Nós éramos a prova viva de que os dois lados se misturam.
— Eu quero que saibam de uma coisa, foi esse homem que teve a
ideia de derrubar o muro hoje, junto com seu amigo que o ajudou. Dois
homens da elite, dois homens privilegiados. Se não fosse por isso, nenhum
de vocês estaria aqui agora. Eu e Luca estamos apaixonados, eu o amo e
somos de mundos diferentes, estamos todos de um lado só...
Houve um silêncio grande, a multidão que estava agitada agora
parou, olharam à sua volta o rastro de destruição que estava ao nosso redor,
a cidade se destruindo, e então, largaram suas armas. Uma senhora do
subúrbio, muito velhinha, saiu quase mancando sendo ajudada pelas outras
pessoas da multidão com mãos protetoras e perguntou:
— E agora? O que fazemos?
Era uma boa pergunta, mas eu não tinha todas as respostas, mas a
única que conseguia ter agora era um sinal de esperança.
— Vamos fazer o que sempre fazemos. Recomeçamos...
Era o fim da divisão da cidade, era o fim de uma luta incansável
pelo poder.

Era o fim da velha Greville, mas nós iríamos renascer...


Meses depois...

MUITA COISA ACONTECEU depois da grande rebelião, mas é


como eu sempre digo, às vezes é preciso o caos para reconstruirmos as
coisas, e eu tinha certeza de que todos iríamos sair fortalecidos depois de
tudo que aconteceu. Não existiam mais lados divididos na nova Greville, o
subúrbio e a Elite eram uma coisa só, partilhávamos de um mesmo
propósito, manter nossa cidade funcionando, com respeito e dignidade. As
comunidades foram desfeitas, e Ana e Adolf foram presos, e todos os outros
que fizeram parte como representantes também seriam responsabilizados.
Vez ou outra eu visitava Adolf, mesmo com tudo que ele fez, estava
tentando perdoá-lo, nunca seríamos pai e filha, mas eu estava tentando
perdoá-lo aos poucos, pelo bem da minha própria alma. Ele parecia estar
mudando, pela primeira vez eu via em seus olhos um pouco de
arrependimento. E torcia para que continuasse assim, um novo homem.
Com a divisão da cidade desfeita, a Elite partilhou metade dos seus
bens com o povo do subúrbio, construímos novas casas e estabelecimentos
para que todos tivessem direito de ter uma vida boa. Roupas, objetos,
alimentação foram doados. E eu tinha um novo trabalho, vez ou outra
ajudava Luca em sua empresa, mas tinha outra missão. Eu estava
responsável pela engenharia, iria cuidar da construção das casas, e também
do design de interiores de cada uma delas e estava verificando pessoalmente
se as pessoas do subúrbio estavam bem e recebendo o que era necessário
para viverem como todos os outros.
No final de tudo, o resultado foi melhor do que eu esperava.
Vivemos momentos sombrios e difíceis, mas por ora a paz reinava em
Greville. E que assim continue.

ERA UMA TARDE DE SÁBADO e estávamos reunidos na


mansão, o dia estava ensolarado e estávamos na piscina, Luca estava
brincando com as crianças na água, Mylo e Olivia o amavam com todo seu
coração, depois da morte da minha mãe, eles precisavam de muita atenção e
carinho, buscávamos enchê-los de amor. E estava sendo bom demais esse
convívio entre nós, as crianças amavam a mansão, brincavam o tempo todo
e tinham muitos brinquedos, estavam felizes, e eu estava mais feliz ainda
por conseguir dar a eles agora uma infância que eu nunca tive.
Abri um enorme sorriso ao ver aquela cena, Luca estava segurando
Olivia e fazendo aviãozinho com ela, enquanto Mylo estava tentando dar as
primeiras braçadas para nadar. Max estava grelhando um churrasco, e Tess
estava ao meu lado, sorriu ao observá-los e me olhou.
— No final tudo ficou bem, né? E sabe o que eu estou pensando
aqui? Era para ser você e Luca, fico imaginando se eu tivesse sido escolhida
no seu lugar, nada disso teria acontecido. No fim das contas, vocês
precisavam se encontrar...
— Você tem razão. — Eu sorri. — Acho que o que é nosso sempre
arruma uma forma de chegar até nós, mesmo que demore...
— Não sei se acredito mais nisso, Daya. No fundo, eu quero viver
uma história de amor tão linda quanto a sua e do Luca, mas não sei se isso
vai acontecer comigo, vocês são privilegiados... — Tess riu.
— Ah, não fale isso, Tess. Você ainda vai viver uma história linda
de amor, e talvez ela esteja mais próxima do que você imagina, não acha?
— Eu desviei meu olhar e observei Max. — O que acha do Max?
— MAX? Nem pensar! — Tess piscou os olhos. — Nem pensar
mesmo, ele é um cafajeste, ficar com ele seria pedir para me magoar.
— Olha que você pode pagar com a língua, Tess Walker... —
brinquei. — Ainda sinto que vocês dois, não sei não...
— Não crie essa fanfic na sua cabeça, Daya — Tess afirmou. — Ela
não vai acontecer.
Em meio ao nosso diálogo, senti uma contração na barriga, estava
enorme e bem redonda, já tinha completado nove meses e tudo indicava que
meu bebê nasceria por esses dias. Senti mais uma contração, seguida de
uma dor muito forte, e depois havia muita água escorrendo em minhas
pernas. MEU DEUS.
— TESS! — gritei. — Eu acho que a minha bolsa estourou...
— MEU DEUS! — Tess olhou a poça de água no chão. — Vai
nascer! Meu Deus, que alegria, temos que ir para o hospital. Vou chamar os
meninos.
Tess imediatamente chamou Luca e Max, Luca quase deu uma
cambalhota para sair da piscina, ele estava encharcado, e veio correndo em
minha direção. Senti suas mãos me envolverem, e ele me pegou no colo
com agilidade.
— Como você está se sentindo? Meu Deus... — perguntou aflito. —
Meu amor, eu vou te levar para o hospital, aguenta as pontas...
— Eu estou bem, com dor, mas bem — brinquei. — Chegou a hora,
Luca. Nossa menina vai nascer...
Luca abriu um enorme sorriso, e estava segurando a emoção para
ser o mais prático e ágil possível. Estava com muita dor, as contrações eram
terríveis, mas o amor também era muito grande. Chegou o grande
momento, o momento do nascimento da nossa filha, uma criança que iria
nascer em um mundo melhor, e seria muito amada pelos seus pais.

Era o momento do nascimento dela, mas também do meu


renascimento...
CHEGAMOS ÀS PRESSAS ao hospital, Daya foi atendida com
emergência, e estava sendo levada para a sala de parto. Eu estava
terminando de me preparar para entrar na sala, queria acompanhar de perto,
queria segurar na mão dela e dizer: Eu estou aqui, e não vou sair do seu
lado nesse momento. Queria que ela e nossa filha sentisse todo amor que eu
sentia por elas, o cuidado e o respeito que tinha. Enquanto me preparava,
comecei a lembrar de toda a nossa história, desde o dia que Daya entrou em
minha casa, até esse exato momento. Nunca imaginei que fôssemos ir tão
longe, nunca imaginei que me abriria para o amor novamente, e que poderia
construir uma família e ser feliz.
Eu sempre quis ser pai, mas depois que perdi um amor, eu achei que
isso havia morrido dentro de mim. E com Daya esse desejo voltou a ter
vida, durante esses 9 meses estive muito presente, acompanhei Daya em
todos os momentos, nas suas reclamações, nos seus desabafos, na
transformação do seu corpo e também nas suas inseguranças. Eu queria ser
um bom pai, queria dar à minha linda menininha muito amor e que ela
tivesse uma vida cheia de luz e que fosse livre para viver sua vida da
melhor forma, queria ensinar lições valiosas para ela, lições que os meus
pais não me ensinaram, lições sobre amor ao próximo e compaixão. Queria
mostrar um mundo de maravilhas, para que ela fosse livre para ser quem
quisesse.
Era muita emoção para um homem só, eu não tinha nem como
calcular o tamanho da minha felicidade. Havia chegado o grande momento,
Daya estava pronta para dar à luz à nossa pequena. Eu fiquei ao seu lado e
segurei em sua mão, lágrimas escorreram em seus olhos, ela estava aflita,
mas muito emocionada com aquele momento.
— Minha pequena, eu estou aqui com você... — disse calmo. —
Aguente firme, viu?
— Dói tanto, Luca... — Daya gemeu. — Tanto. Não solta da minha
mão, por favor.
— E alguma vez eu já fiz isso? — brinquei. — Estarei com você do
início ao fim.
Dei um beijo na testa dela, e segurei em sua mão, os médicos
começaram o trabalho de parto, cada movimento que Daya fazia, ela
apertava em minha mão, era uma tortura vê-la gritar de dor e me olhar com
aqueles olhinhos de misericórdia. Mas a cada reação dela, eu via o quanto
estava sendo importante aquele momento, para mim como homem. O
sacrifício que uma mãe faz para colocar um filho no mundo, todo processo
e responsabilidade que é gerar uma vida, vê-la dando tudo de si nesse
momento para trazer nossa menina ao mundo, só me fazia amá-la ainda
mais, só me fazia querer ser melhor a cada dia por nossa família, só me
despertava o desejo de me desdobrar e aprender mais e mais para ser um
homem melhor. Para ser um pai maravilhoso e cuidadoso.
O momento de tensão durou mais alguns minutos, mas logo após
isso escutei um choro, e a médica segurava nas mãos o nosso pequeno
milagre. O choro ecoou em toda a sala, o choro de vida da minha filha. Em
seguida, ela foi entregue nos meus braços, ficou tão pequena em minhas
mãos, não contive minha emoção, as lágrimas escorreram quando olhei para
cada detalhe perfeito de minha filhinha, me inclinei e coloquei-a junto à
Daya, que também estava chorando de emoção.
— Nossa menininha — disse emocionado. — Nossa linda menina
como você...
— Ela é perfeita! — Daya falou ofegante. — E eu já tenho um nome
para ela, espero que você goste.
— Qual?
— Vai se chamar Mariah Elisa. Mariah em homenagem à minha
mãe, que foi uma mulher forte e lutou até o último segundo de sua vida. E
Elisa em homenagem a uma mulher que nunca será esquecida em sua vida,
que morreu injustamente nas mãos de uma mulher que não sabia amar.
— Daya, eu...
— Não precisa dizer nada. — Ela sorriu entre as lágrimas. — Só
vamos amá-la incondicionalmente.

E nessa história, o nosso amor venceu, se multiplicou, e agora


Mariah Elisa fazia parte disso, o nosso milagre, a nossa esperança de que
só o amor cura todas as feridas...
Eu estava na praia e via o pôr do sol deslumbrante, ele se despedia
de mais um dia tão calmamente, era um espetáculo maravilhoso. A praia
estava vazia, as ondas calmas e nunca me senti tão bem, e tão em paz. Senti
um perfume que reconhecia bem de quem era, uma lembrança cruzou
minha memória... não pode ser. Olhei para o lado e vi uma mulher de
cabelos ruivos, vestida de branco, parecia bem e leve, parecia feliz. Eu
conhecia essa mulher, era Elisa. Mas como isso é possível? Ela se foi há
anos. Eu estava louco? Assim que nossos olhares se cruzaram, ela
imediatamente sorriu ao me ver e disse:
— Achou mesmo que eu não viria te ver? — Ela soltou uma risada.
— Amanhã é o seu casamento...
— Mas o que... — brinquei. — Como isso é possível?
— Você está sonhando, Luca Lancaster, você ainda continua cético?
Existe uma vida além do que nossos olhos podem ver, existe um depois após
a morte.
— Como você está? Não me diga que está brava... — Eu abri um
sorriso de canto. — Digo, por eu estar me casando novamente...
— Luca... — Ela se aproximou e colocou a mão em meu rosto. —
Meu grande Luca, eu estou morta, mas você está vivo e seguiu sua vida
como tinha que ser. Onde eu estou, não existe raiva. Eu vim para te dar
minha benção.
Senti seu toque em meu rosto, era tão real, tão vivo, como se
estivéssemos vivendo aquele momento de verdade.
— Elisa... — Senti uma lágrima escorrer. — Obrigado!
E em seguida, senti duas mãos em meus ombros, outras pessoas que
eu conhecia bem, estavam ao meu lado. Era meu pai e minha mãe.
— Mamãe? Papai? — Olhei para os dois. — Vocês também estão
aqui?
— É, nós nunca saímos do seu lado, Luca. Eu sempre vou estar ao
seu lado, meu filho. — Minha mãe sorriu.
— E eu também, filho. Me perdoe por tudo que te fiz, estou
orgulhoso da sua transformação, você sempre foi tão bondoso.
— E sensível. Seja feliz, meu filho, você tem a nossa benção também
— minha mãe disse, segurando minha mão.
E como uma brisa, eles se uniram como um só. Minha mãe, meu
pai, e Elisa. Senti um alívio, uma paz, uma sensação de plenitude incrível.
Talvez, realmente existisse um lugar para onde todos nós íamos, talvez o
fim fosse apenas uma separação temporária. E aqueles que amamos
sempre estariam presentes.
Vislumbrei uma luz muito forte, e acordei...
— Papai, papai! — Mariah pulou em meu colo e me acordou. —
Acorda, a mamãe já saiu, hoje é o casamento.
Minha linda menininha. Mariah Elisa já estava com 5 anos de idade,
tinha os olhos lindos como o da mãe, os cabelos cacheados e castanhos, a
pele era bronzeada uma mistura minha com Daya. Eu não tinha palavras
para descrever os últimos anos, o quanto me transformei, aprendi a ser pai,
aprendi a ser um homem melhor e cada dia ao lado de minha filha era uma
nova descoberta. Ela era uma criança tão feliz e espiritualizada, que no fim
das contas eu acabava aprendendo muito com ela.
— Meu amor, eu tive um sonho maravilhoso... — eu disse,
apertando-a em um abraço. — Sonhei com o vovô e a vovó e tia Elisa. E
eles estavam muito feliz com o casamento.
— Sério, papai? — Mariah Elisa sorriu. — Eles aparecem em meus
sonhos também, e eu sei que sempre vão estar com a gente. Então eu sei
que quando você e a mamãe se forem, sempre estarão comigo.
Meus olhos se encheram de lágrimas, eu ficava bobo com a
sabedoria de minha filha. Era uma criança tão avançada.
— O papai e a mamãe nunca iremos te abandonar, minha pequena.
Eu te amo!
— Te amo, papai...
Abracei minha pequena menina, e estava pronto para selar a união
com a outra mulher da minha vida. Daya Ayamed.

NADA NESSA HISTÓRIA foi muito tradicional, Daya e eu nos


conhecemos através de um contrato, era para ser ela. Ela foi escolhida para
ser minha. No altar ao meu lado, estava o meu grande amigo Max. E
iríamos casar no mesmo dia, ideia das meninas. Já estávamos no altar,
aguardando Daya e Tess, a cerimônia estava linda repleta de flores lilás,
eram as favoritas do meu amor, nossos convidados estavam felizes, e eu
estava muito nervoso e ansioso. Hoje era o dia de assinar um novo contrato,
mas dessa vez seria um contrato sem data de validade. Max me olhou e
parecia mais nervoso do que eu, seu terno era azul escuro e o meu era preto.
Estávamos bonitões para nossas garotas.
— Quem diria, meu amigo. — Max riu. — Que nós dois iríamos nos
render ao amor, olha só onde estamos, das baladas para o altar...
— Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer — eu ri —, mas,
sabe o que eu sinto agora?
— O quê?
— Aqui é o lugar exato onde eu quero estar. — Abri um sorriso.
E era mesmo. Lugar, dia, hora, tudo em extrema sincronia. Tudo da
forma que tinha que ser e acontecer. Era o dia mais feliz da minha vida.
Depois do dia do nascimento da minha menina.
De repente ecoou a música que anunciava a entrada de nossas
noivas. Mas antes as crianças entraram, primeiro Mylo e Olivia que ao
decorrer dos anos, passei a amá-los incondicionalmente. Era como se
fossem meus filhos também. Estavam lindos, Olivia parecia uma princesa
de vestidinho azul e Mylo um verdadeiro lorde. Depois deles, era hora da
minha outra princesinha entrar, Mariah Elisa segurava nossas alianças e
caminhava pausadamente até o altar. Estava linda, com um vestidinho rosa
e um enorme sorriso no rosto. As lágrimas começaram a escorrer dos meus
olhos, era um momento muito emocionante.
Toda minha masculinidade frágil, nem existia mais. Eu era um
homem que se emocionava fácil, ainda mais quando se tratava de minha
família. E logo em seguida, chegou o grande momento. Meu coração
acelerou, e Max estava sentindo a mesma coisa que eu. Nós nos
entreolhamos, e quando olhamos para frente, lá estavam elas.
Imediatamente meu olhar encontrou o olhar de Daya, ela caminhava em
minha direção. Era perfeita. Estava parecendo uma pintura, o vestido longo
e branco contrastava em sua pele. Ela era minha rainha, meu amor, minha
mulher e agora oficialmente minha esposa.

Era o dia do meu casamento, era o dia de eternizar nossa história...

Enquanto caminhava até o altar, senti a emoção tomar conta do meu


corpo. Os olhos de Luca brilhavam, ele já estava chorando e confesso que
eu também. Não estava mais me importando em borrar a maquiagem. Era o
dia do meu casamento, o dia que nunca imaginei que fosse acontecer, um
flashback veio à minha cabeça, os últimos 5 anos foram inesquecíveis, vivi
coisas maravilhosas e aprendi muito. Aprendi a ser melhor, e estava me
desenvolvendo em uma nova missão. A missão de ser mãe. Mariah Elisa já
estava com cinco anos, e era a coisa mais linda do mundo. Eu ficava boba
vendo-a, era uma mistura minha e de Luca. Sua pele era bronzeada, e ela
tinha os meus olhos e os meus cabelos. Mas o nariz e a boca de Luca. Tão
linda. Toda vez que olhava para ela fazia questão de dizer isso, e estava
ensinando que ela deveria se sentir assim sempre, e quando fosse mais
velha não poderia exigir menos do que um homem ou uma mulher que
fosse amá-la na mesma intensidade que os seus pais babões a amavam.
Mylo e Olivia já estavam um pouco mais crescidos, e amavam a
convivência com Mariah Elisa, eles queriam ensinar tantas coisas para ela,
era lindo de ver essa confraternização. Hoje era um dia especial, um dia que
eu, Luca e as crianças iríamos partir para uma nova jornada, quando
descobri minha gravidez, senti medo e desespero, eu não sabia bem como
iria ser, estava com medo de ter que abrir mão de anos da minha vida que eu
ainda nem havia aproveitado, mas aprendi a amar a maternidade, e depois
que Mariah Elisa cresceu um pouco, Luca e eu estávamos prontos para
oficializar a nossa união que já era estável, no entanto, queríamos um
casamento com direito a tudo, nós merecíamos esse momento. E cada ano
fez eu amar mais ainda Luca. Não só amar, mas respeitá-lo, e querer ser a
melhor pessoa para estar ao seu lado.
E hoje todos nós estávamos reunidos neste grande momento, minha
querida amiga Tess estava ao meu lado e juntas iríamos realizar o nosso
sonho de unir os dois casamentos. Foi tão bom planejar cada pedacinho
dele, em cada convidado especial que se tornaram nossos amigos ao longo
dos anos, na decoração, no meu vestido, ficou tudo melhor do que eu
imaginava. Quando chegamos ao altar, Tess encontrou Max, e eu fui ao
encontro de Luca, iríamos ser os primeiros a casar. Subi ao altar, e fiquei em
frente a ele. Estava tão lindo. Como pode ser tão lindo? Eu não cansava de
me perguntar isso todos os dias.
Luca segurou em minhas mãos e disse quase em um sussurro:
— Você está linda, muito linda...
Eu sorri imediatamente e estava tentando controlar minhas lágrimas.
— Você que está lindo! Meu amor...
E a cerimônia iria começar, o senhor Gregory que realizava os
casamentos já estava pronto para iniciar.
— Estamos reunidos aqui hoje, nesta cerimônia linda e abençoada
para selar os matrimônios desses jovens casais. Daya e Luca, dois opostos
que se atraíram, duas almas de mundos tão diferentes, mas quando se trata
de amor, essas diferenças se tornam pequenas. O amor tão nem cor, não tem
sexo, ele é fonte plena e perpétua da vida, que aquece os nossos corações.
Luca, você aceita essa linda mulher como sua esposa?
Mariah Elisa correu até o altar, e entregou as alianças para nós dois.
Minha menina linda. Fiquei emocionada com aquele momento. E então,
Luca colocou a aliança em meu dedo.
— Eu aceito Daya Ayamed e agora... Lancaster. — Ele riu. —
Como minha esposa. Me lembro do momento exato que eu te conheci, do
dia que nos encontramos, quando abri a porta eu sabia que você era
diferente. Dizem que reconhecemos quem vamos amar pelos olhos. E
quando olhei para os seus, eu sabia que você não seria passageira. Você me
salvou, me ensinou a ser um homem melhor e me tirou da escuridão. Com
você aprendi a amar além da aparência, aprendi a amar a alma primeiro e
depois o corpo, aprendi a ser paciente, gentil e companheiro. Eu aceito me
casar com você, e quero que me dê a honra de ser o seu marido para toda a
vida. Quero envelhecer com você, quero fazer piadas para te fazer rir
quando estiver bem velhinha, quero ser o seu cobertor nos dias frios, e
dançar sobre as estrelas mesmo que nossas peles estejam enrugadas. Quero
ser o seu homem, o seu amor.
A cada palavra que Luca falava, eu transbordava de felicidade.
Todos dias ele fazia questão de me mostrar o seu amor, mas dessa vez ele
havia me levado aos céus.
— Eu aceito, meu amor, é claro que eu aceito — falei entre
lágrimas. — Você é perfeito, foi a coisa mais linda que já me disse...
Ele queria me beijar, mas estava se segurando. Olhei ao redor
rapidamente, e todos os nossos convidados estavam emocionados. E agora
era a minha vez.
— Lindo, lindo! — disse o senhor Gregory emocionado. — Agora é
sua vez, Daya. Você aceita esse homem apaixonado como seu legítimo
esposo?
— EU ACEITO — afirmei em voz alta. — Mil vezes eu aceito.
Luca Lancaster, você sempre lembra do dia que nos conhecemos, mas sabe
que esse dia também ficou marcado em minha memória. Quando eu o vi, vi
muito além do que homem forte por fora, eu vi você por dentro. Senti sua
dor, sua ferida que estava aberta, você estava sangrando e como dois
opostos temíamos o amor. Você me ensinou a amar pela primeira vez, e me
mostrou que o amor quando é recíproco ele é lindo, e é a melhor coisa a ser
sentida. E eu te mostrei que você poderia amar de novo, que mesmo eu
sendo tão pequena posso cuidar de você, do seu coração, e é isso que eu
quero fazer para o resto da minha vida. Estar ao seu lado, até o último dia.
Até nossa última música, obrigada por me encontrar e por me dar a honra
de ser sua esposa. Quero ser sua mulher para sempre...
Coloquei a aliança no dedo de Luca, e as lágrimas escorriam em seu
rosto. Ele me olhou emocionado, estava sorrindo e transbordando de
felicidade. Como deveria ser, como eu amava vê-lo feliz e sorrindo.
— Sendo assim, os declaro CASADOS! Luca, pode beijar a noiva.
— Você não sabe como eu estava ansioso para você dizer isso... —
Luca brincou.
Luca me agarrou pela cintura e nos beijamos. Intensamente e
perdidamente apaixonados, anos se passaram, mas nada mudava. É por
amor que começamos essa história, e por amor que ela termina.

FIM...
ALGUMAS SEMANAS se passaram, depois da minha noite com
Max, eu não acredito que me rendi aos encantos dele, ainda estava puta
comigo por ter sido tão ingênua, como eu pude acreditar que ele iria querer
algo a mais comigo? Que iria querer algo sério? Max era o cafajeste oficial
de Greville, diziam que ele tinha uma lista de todas as mulheres que já
pegou, e agora eu fazia parte disso. Eu ainda estava magoada com tudo que
havia acontecido, com a sua frieza quando expus os meus sentimentos, mas
estava determinada a tirá-lo definitivamente dos meus pensamentos. Eu já
era uma mulher machucada demais, e não precisava de mais uma ferida.
No entanto, algo estranho estava acontecendo, minha menstruação
estava atrasada e eu tinha enjoos e desejos estranhos diariamente. Não pode
ser. Eu não queria acreditar que era verdade, mas na noite que eu e Max
transamos estávamos tão loucos e bêbados que não nos protegemos, é claro
que isso ia acabar mal. Como eu pude vacilar assim? Não perdi tempo, fiz
um teste de gravidez, seguido de um de sangue para ter certeza, e como eu
imaginei.
Positivo, positivo e mil vezes positivo.
Eu queria tirar Max Thempell da minha cabeça, mas como iria fazer
isso? Em meu ventre eu carregava uma parte sua, uma parte nossa. Porém,
eu não ia deixar isso acontecer, eu iria ter esse bebê e seria sozinha, seria
mãe solo, porque MEU filho não merecia um pai galinha e irresponsável.
Minha vida virou de ponta cabeça...
De mulher independente e solteira, a mãe do filho do cafajeste...
Querido leitor, se você chegou até aqui só tenho a agradecer pela
confiança de conhecer o meu trabalho, espero que tenha se apaixonado pela
história de amor de Daya e Luca, fique à vontade para me dar o seu
feedback sobre a história, positivo ou negativo, sou bem aberta a críticas
construtivas, e espero ter você comigo no próximo lançamento, iremos
embarcar na história de amor de Tess e Max, dois opostos também, mas que
não tem jeito, né? Se atraíram pelas forças do destino, que quando quer
juntar duas pessoas não tem jeito. Peço também que deixe sua avaliação ao
finalizar essa obra, ajuda muito a autora, e também o livro a ganhar
relevância e alcançar mais pessoas. Chegamos ao final dessa jornada, mas
em breve teremos muito mais.

Beijos, e até a próxima, meus amores!


Eu não tenho nem palavras para descrever o último mês, muita coisa
aconteceu em torno desse lançamento, eu senti a sensação como se nunca
tivesse publicado um livro na vida. Muito medo e insegurança tomou conta
do meu coração, mas me mantive firme em meu propósito. Agradeço à
espiritualidade por me dar forças e insights para não desistir, obrigada por
falarem comigo de tantas formas e me mostrar que a jornada de um herói
também envolve desafios e turbulências, mas no fim, vem a Vitória. E
mesmo que ela não venha, eu aprendi a curtir o processo. Agradeço ao meu
pai que não está mais aqui entre nós, espero que você esteja orgulhoso,
obrigada por nunca ter duvidado de mim. E também, ao meu amor que
perdi recentemente, eu te amo demais e sei que onde quer que você esteja,
está feliz e vendo sua escritora brilhando. Agradeço também, a minha
querida revisora Lidiane, que está comigo desde o início dessa longa
jornada, só tenho a agradecê-la pelo seu trabalho maravilhoso, sensibilidade
e amizade com as autoras. Você é um ser humano incrível, obrigada por
tudo.
Vitória Constance é uma autora Brasileira de 25 anos, começou sua
carreira em 2021 e seu primeiro livro publicado foi “A Eleita” começou
escrevendo distopias, mas no ano de 2023 iniciou um novo projeto no
maravilhoso universo de livros de Romance. Escolhida para o Milionário é
o seu primeiro projeto.
A paixão pela leitura e escrita de Vitória começou quando tinha 8
anos de idade, sua televisão queimou e ela perdeu o último capítulo da sua
novela favorita. “RBD” E então, como não tinha como assistir, ela decidiu
criar um roteiro para a novela de como gostaria que fosse o final. Depois
dali, não parou mais. O amor pela escrita só aumentou, e o sonhou de se
tornar uma escritora se tornou realidade.
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futuros leitores. Obrigada!
[1]
Cidade fictícia criada para essa obra.
[2]
Comunidade fictícia criada para a história, se trata de um esquema de prostituição e venda de
garotas do subúrbio para milionários da Elite de Greville.
[3]
Sugar CEO é nome dado para os milionários empresários da elite da cidade, que estão dispostos a
pagar para bancar garotas jovens e bonitas em troca de sexo e companhia durante um contrato de 30
dias.
[4]
Lancaster Enterprise é uma empresa fictícia criada para essa obra, atua no ramo do mercado
financeiro
[5]
Nome de loja fictícia criado para a obra.

[6]
Nome do bar fictício, criado para a obra.

[7]
A guerra em Greville foi criada por uma organização de muito poder que reuniu as pessoas mais
ricas e poderosas para a privatização da cidade. Fazendo as divisões das classes, com o intuito de
separar o joio do trigo. O subúrbio só servia para mão de obra, e a Elite controlava tudo.

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