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Copyright © 2023 Evilane Oliveira

A FILHA DO COWBOY ARROGANTE

2ª Edição

CAPA: Ellen Ferreira

REVISÃO: Andrea Moreira

DIAGRAMAÇÃO DIGITAL: Evilane Oliveira

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos


que aqui serão descritos são produtos da imaginação da autora.

Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é


mera coincidência. Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da

Língua Portuguesa. É proibido o armazenamento e/ou a reprodução

de qualquer parte desta obra, através de quaisquer meios, sem o


consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é

crime estabelecido pela lei nº. 9.610. /98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.

Todos os direitos reservados.


Edição Digital | Criado no Brasil.
Nota da autora
Dedicatória
Sinopse
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Epílogo
Agradecimentos
Outras obras
Contato
“A filha do Cowboy Arrogante” é uma novela, um tipo de
romance mais curto e objetivo. Ele está sendo relançado com título,
capa e sinopse nova. A história foi reescrita e ganhou cenas extras.
Aproveitem!
Para todos que têm medo. Às vezes, é difícil ser forte. Eu
entendo você.
Hank Ross é dono de um sorriso arrogante e gênio forte que
assusta a todos. A única pessoa capaz de amolecer o coração de
pedra é a pequena Audrey, sua filha.
Pelo menos, até encontrar uma brasileira de curvas perigosas
na estrada de terra que leva à sua fazenda.
Vanessa é impetuosa, língua solta e dona de uma
sagacidade que faz Hank enlouquecer assim que põe os olhos
sobre ela.
Os dois eram como fogo e gasolina, queimando depressa,
numa fumaça de luxúria e paixão. Mas quando ela quer dar um
passo a mais na relação, Hank decide frear.
É então que Vanessa descobre que há um segredo capaz de
transformar o homem grande e temido em uma confusão de medo e
caos.
PASSADO

Sentia os solavancos a cada metro que avançava na estrada

de chão batido. O que não faço por você, hein, Elena? Bufei

novamente quando minha bunda se separou do banco de couro

mais uma vez. Estava quase parando o carro para fazer xixi, porque

não achava que ia conseguir segurar por muito tempo. Dirigi por

mais três metros até ver um enorme buraco, tentei contorná-lo, mas

ficou impossível e eu acabei caindo nele. Acelerei para sair, mas o

carro desligou e morreu bem diante dos meus olhos. Tentei ligá-lo

mais duas vezes, mas não havia sinal de vida no coitado que

aluguei no aeroporto.

Porcaria velha. Certeza de que eles me deram o carro mais

imprestável, imaginando que eu pagaria o conserto. Meu rabo pra

eles.
Saí do carro idiota com meu celular e tentei inutilmente ligar o

aparelho. Estava morto. Eu me sentei no capô enquanto esperava

alguém passar na estrada estúpida. Não que eu estivesse

preocupada de um carro passar sem me dar ajuda. Eu estava no

meio da pista, se alguém quisesse passar teria que me ajudar.

Vir ao Texas foi algo de última hora. Não tive muito tempo

para ponderar ou planejar minha estadia. Porém não imaginei que

começaria com esse caos.

Elena não se metia em problemas, tipo, nunca, então quando

ela me ligou avisando que se casou enquanto estava bêbada, bom,

imaginei uma merda catastrófica.

Escutei um rugido ao longe depois de bastante tempo deitada

em cima do meu carro. Eu me sentei devagar e sorri, vendo um

carro se aproximar diante de mim. Os vidros escuros não me

deixavam ter uma noção do motorista, porém, quando ele parou

bem à minha frente e desceu, eu sabia que o cara estava com raiva.
— Não sei se percebeu, mas aqui não é praia pra você estar

se bronzeando.

Eu senti um latejar entre minhas coxas quando ouvi sua voz.

Ela parecia uma tora de madeira sendo partida ao meio.

Okaay, viajei legal, mas, Deus, que voz mais máscula.

— O...

— Por mais que eu queira muito ficar debatendo meu gosto

por sol e bronzeamento, preciso lhe dizer que meu carro morreu. E

não, eu não quero fazer o sepultamento dele — resmunguei,

enquanto descia do capô. Olhei para o veículo e fiz careta. Sabia

que deveria pegar um mais alto.

O silêncio se prolongou, então me virei para ver se o homem

de jeans e camisa xadrez ainda estava parado. E estava, mas agora

seus braços estavam cruzados e seu olhar era gélido. Aproximei-me

dele devagar e vi seu olhar ir das minhas pernas aos meus seios

disfarçadamente. Cretino!
— Preciso passar — ele murmurou devagar, tirando o chapéu

para coçar a cabeça.

— Eu acabei de dizer que o carro morreu...

— É problema seu. Saia do meu caminho. — Ele recolocou o

adereço, começando a me dar as costas.

— Seu... seu... seu chifrudo! — exclamei irritada a nível

máximo.

Ele franziu as sobrancelhas e se aproximou de mim. Em

apenas dois passos, o Hulk estava quase me dobrando para que eu

pudesse olhar para ele.

— Você... você me xingou em outra língua? Que diabos? —

Suas narinas se dilataram e eu sorri, cruzando meus braços.

— Não! Isso é ultrajante. Nunca falaria algo do tipo. Eu quis

dizer que você é bonito. Chifrudo em português quer dizer que você

é bonito. Lindo mesmo. — Eu sorri quando ele se afastou, com um

olhar confuso no rosto.


— Eu sou chifrudo? Você acha que sou chifrudo? — ele falou

devagar.

Levei minha mão para a minha boca, prendendo o riso.

— Sim, você é muito chifrudo. — Eu explodi em uma

gargalhada enquanto ele se afastava para ver o meu carro.

— Por que está rindo?

— Ficou legal você falando chifrudo. Apenas. — Eu sorri,

dando uma de tímida.

Ele acenou, vendo meu carro.

Passei alguns minutos apenas o encarando e me remexendo

ao vê-lo se inclinar no carro enquanto suas botas de caubói ficavam

atoladas na lama. Seus ombros largos estavam cobertos pela blusa,

porém, gostaria de pedir que ele a tirasse. Claro, não por mim, mas

pelo bem da coitadinha. Imagina se caísse lama nela? Ou pior,

óleo?
— Está uma merda. Vou ter que chamar o reboque. Onde

você vai ficar? Posso te dar uma carona — ele ofereceu, fechando o

capô em um baque barulhento.

— Na fazenda do Kai Ross. Minha irmã é esposa dele.

Seus olhos pareceram escurecer quando falei o nome do

marido de Elena. Talvez eles se conhecessem. Cidade pequena e

tudo mais.

— Eu te levo lá — ele balbuciou e foi para o porta-malas

retirar minha bagagem.

— Eu preciso ir ao banheiro. Você não conhece ninguém que

more nas redondezas? Ainda vai demorar um pouco para chegar à

casa da Elena, de acordo com o gps — expliquei, me sentindo

estúpida. Não conseguia acreditar que estava para mijar na calça na

frente desse homem.

— Moro aqui perto. Podemos ir lá antes de ir para o Kai.

— Obrigada — disse assim que nos sentamos em seu carro.


— Não tem de quê.

Menos de três minutos depois, ele estacionou e me ajudou a

descer do carro. Sua casa era enorme, a varanda que a rodeava

tinha várias redes nela. Gostaria de me deitar em uma delas, pois

estava morta de cansaço. Viajar durante horas em uma poltrona de

avião, e depois pegar aquele maldito carro me desgastou.

— Entre.

Sua voz me fez pular. Entrei na casa depois que subimos os

degraus até a porta grande de madeira. O Hulk me guiou pela sala

enquanto eu tentava não parecer uma bisbilhoteira quando vi um

quadro grande que estava logo acima de uma lareira. Era um bebê.

Desviei os olhos e ele me mostrou onde ficava o banheiro.

— Se quiser, pode tomar banho. Sei que a viagem foi longa

— ele balbuciou perto da porta do banheiro e apontou para as

toalhas, então acenei agradecendo.


— Vou precisar de uma das minhas malas — murmurei,

encarando seu rosto.

Ele mordeu seu lábio e acenou.

— Vou pegar. Fique à vontade.

Depois de fazer xixi e tomar um banho rápido, saí para o

quarto em que ele me colocou. Não sabia de quem era, mas era

impessoal, então apostava que era de hóspedes.

Assim que vi minha mala em cima da cama, tirei um jeans e

uma blusa xadrez de lá. Vesti tudo e coloquei as botas de caubói

que já estava usando. Assim que penteei meu cabelo, a porta se

abriu.

Minha garganta secou ao ver o Hulk entrar com uma bandeja

nas mãos, com várias frutas e pães. Minha barriga roncou e eu sorri,

tentando disfarçar.

— Comida. Sei que está com fome. — Ele colocou a bandeja

sobre a cama e eu senti minhas pernas fraquejarem quando ele me


rodeou.

Meu Deus, o que esse homem tinha? Por que ficava como

uma cadela no cio cada vez que ele abria a boca?

— Obrigada, Hulk — sibilei, lambendo meus lábios.

Ele sorriu de lado e cruzou os braços, se jogando na poltrona

à minha frente e me observando com os olhos escuros e vivos.

Sentei-me sorrindo e comi tudo devagar, encarando-o cada vez que

deslizava um pedaço de fruta pelos lábios.

Seu peito subia e descia devagar, me fazendo perceber que

estava afetando-o. Oh, isso era magnífico.

Comi o último pedaço e lambi meus dedos e lábios, ainda

com minha atenção nele.

— Não vai comer? — questionei, sussurrando. — Não está

com fome? — Minhas palavras fizeram alguma coisa nele se

contorcer, pois ele se remexeu na poltrona.


Seus cotovelos descansaram em seus joelhos enquanto seu

olhar estava preso em mim. Seu lábio gordo foi mordido por seus

dentes retos e perfeitos e eu soltei um gemido baixo.

— Estou. E bastante. — Ele bagunçou o cabelo curto e sorriu

de forma cruel. — Mas não de comida.

Rastejei sobre a cama até estar na beirada, bem à sua frente.

— E do que é? — questionei, ao me inclinar em sua direção.

— De você.

Foi tudo rápido, mas consegui distinguir seus movimentos,

porque nunca fui tocada ou beijada daquela forma. Sua mão

prendeu meu cabelo e ele puxou para que sua boca descesse sobre

a minha. Minha língua foi sugada, mordida e acariciada de maneira

imprópria. Segurei os ombros dele e Hulk veio por cima de mim,

pressionando seu quadril contra o meu jeans acabado.

Choraminguei quando ele se afastou e abriu meu zíper. O

jeans deslizou pelas minhas pernas rapidamente depois que tirou


minhas botas e ele sorriu para mim, se livrando da sua camisa e

jogando-a no canto. Minha calcinha se juntou ao jeans segundos

depois e eu engoli em seco ao sentir suas mãos calejadas e

ásperas separando minhas coxas.

— Esse será meu café da manhã. — Suas palavras me

jogaram em um redemoinho de prazer.

Eu arquejei quando sua língua atingiu minha boceta. Suas

lambidas eram vagarosas e seus gemidos se misturavam aos meus.

Não consegui prestar atenção em nada por muito tempo, pois o Hulk

aumentou seu ritmo, apertando minhas coxas, empurrando para ter

mais espaço.

Minha mente estava uma névoa, minha boceta pulsava,

ansiosa pelo orgasmo iminente, e quando seu dedo calejado

apertou meu clítoris, gozei com tanto prazer que jamais tinha

experimentado.

meu. deus!
Preciso que esse homem me foda. Agora.

Porém alguém bateu à porta. Hank se afastou lambendo os

lábios, com o olhar faminto e a calça apertada marcando o formato

enorme do pênis.

Mate a pessoa que está nessa porta, por favor.

— Vou esperar você lá embaixo.

Então, o furacão caubói saiu em direção à porta, me

deixando nua da cintura para baixo.

As portas do carro se fecharam e ele saiu da sua fazenda em

direção à do marido da minha irmã. Passei o caminho até Lelê

olhando para ele de rabo de olho. Eu o peguei encarando minhas

coxas cobertas pelo jeans algumas vezes. Ele tinha algum tipo de

fixação em coxas, era isso? Ou as texanas não tinham carne nas

pernas?
— Entregue. — Ele não desceu do carro ou fez menção de

pegar minhas coisas, apenas ficou sentado olhando pela janela.

— Não vai descer? Me ajudar com as malas?

— Não quer que eu te leve nos braços lá pra dentro também,

não? — ele resmungou sério.

Fiquei sem fala por alguns segundos. Porém, o que esperar

dele, certo? Revirei os olhos, descendo do carro. Nem parecia que

minutos antes estávamos... bem, estávamos. Talvez os homens

texanos fossem uns idiotas.

Meu sangue ferveu e me afastei, batendo a porta do seu

carro estúpido.

— Seu idiota do caralho. Deus, eu matarei...

— Vanessa! — Ouvi a voz de Elena e me virei, vendo-a numa

varanda no segundo andar da casa. — Estou indo. Espere um

pouco! — ela gritou.

Sorri, colocando as mãos na cintura.


— Não vou a lugar algum, mana. — Pisquei, vendo-a sorrir e

puxar um homem que estava com a boca aberta olhando para o

carro do Hulk. Helena correu e eu me joguei em seus braços.

— Oh, meu Deus! Esse é o seu marido? — Olhei para o

homem tão grande quanto o Hulk e sorri. Ouvi-o sair do veículo e

me virei para ele. Desceu agora, foi? Minha calcinha, coitada,

estava destruída novamente. Um vislumbre do que fizemos na sua

casa minutos atrás me fez querer apertar as pernas uma contra

outra.

Eu me assustei quando Helena me puxou para o seu lado. A

minha carona fez careta para nós e se encostou no carro luxuoso.

— Hank. O que faz aqui? — O marido da Helena perguntou.

Hank.

Hummm... nome parecido com o apelido que dei a ele. Hulk.

Sinceramente, preferia o apelido.


— Ele veio me deixar. O carro que aluguei quebrou na

estrada — expliquei. — Puta que pariu, seu marido é a definição de

caubói gostoso. Desculpe, mana. — Sorri inocentemente para ela,

fazendo-a revirar os olhos.

Soltei-me dela e me aproximei do carro de Hank. Tirei minhas

malas e agradecia a Elena quando ela se aproximou para me

ajudar.

— Como assim ele veio te deixar? — Lelê sussurrou, me

encarando.

— Estou falando, meu carro quebrou e ele passou onde eu

estava. Me deu uma carona. Só isso. Por que está sussurrando e

com esses olhos esbugalhados? — questionei, confusa, deixando

as minhas malas no chão. Não contei que eu o deixei me beijar em

certas partes do meu corpo. Depois conversaríamos.

— Ele apontou uma arma para Kai ontem. Ele, ele... ele é

mau... — ela murmurou as palavras, então me virei para Hank,


completamente surpresa.

— Além de idiota, você também mata pessoas? —

questionei, descansando minhas mãos nos quadris. Gritei quando

Lelê tapou minha boca por trás.

— O que você disse? — Hank perguntou, cruzando os

braços, então me dei conta de que falei em português. Sua testa

franziu e seus lábios formaram uma linha fina.

— Graças a Deus ele não entendeu — resmungou Helena e

me apertou mais contra ela.

— Solte-a. — Hank deu um passo em nossa direção e Kai

puxou Helena para seu lado.

— Não se atreva a tocar na minha mulher. — Meu cunhado

encarou Hank e ele sorriu de lado.

— Que medo, Kai. — Ele riu e se afastou, indo para o carro.

— Tirou todas as suas coisas, Vanessa? — ele perguntou, ficando


sério novamente. Meu nome em seus lábios fez o formigamento

voltar à parte inferior do meu corpo.

— Todas, Hulk. — Sorri maliciosa enquanto me via dividida

entre me aproximar ou não. — Obrigada — disse baixinho e fui até

ele. Eu me coloquei sobre a ponta dos pés e estalei um beijo na

bochecha com pelos aparados. — Espero, e espero mesmo, que

nos vejamos em breve. — Olhei para seus olhos escuros e sorri de

lado. — Um quarto envolvido novamente, o.k.?

Hank franziu as sobrancelhas, mas não esperei por

respostas. Eu o deixei parado e fui em direção à minha irmã. Ouvi

seu carro se distanciar e suspirei ansiosa.

Algo me diz que te verei mais vezes, Hulk.


ATUALMENTE

Sofrer um acidente que tira todas as suas lembranças

recentes faz você se sentir oca. Fazia tempo que tentava me

lembrar de tudo, mas estava cada vez mais difícil. Minha irmã tentou

inserir minhas lembranças devagar, mas o médico pediu que ela não

fizesse isso. Aos poucos, e sozinha, eu lembraria.

Estava no Texas, com Elena, passando alguns dias em sua

casa. Depois de decidir ir embora, sofri um acidente de carro. Então,

estava ali. Deixei o Texas para trás depois de me recuperar um

pouco, mas havia algo em minha mente.

Algo que por mais que eu tentasse, sempre voltava à minha

mente.

Hank Ross.

O homem enorme parado à porta do meu quarto. Fingi não

estar nervosa e voltei a comer a sopa ainda com os olhos presos à


tevê.

Ele veio do Texas até aqui. Por quê?

— Precisamos conversar. — Sua voz era algo que me irritava

de uma maneira que não conseguia nem colocar em palavras. Sabe

por quê? Porque ela fazia a minha calcinha umedecer e meu corpo

tremer.

Hank Ross era o filho da puta que eu não conseguia tirar da

cabeça. Fiz tudo para esquecê-lo depois que voltei para o Brasil,

depois de passar uma temporada na casa do seu irmão – e meu

cunhado – no Texas. Eu não me lembrava de nada daquele lugar,

dos dias que passei lá, mas ele, não esqueci.

Seus olhos, seu corpo, tudo nele era familiar.

E foi sentindo isso que acabei transando com ele no carro, no

caminho para o aeroporto. Eu não sabia que já tinha posto as mãos

nele, mas minha irmã, Elena, me confirmou.


Lelê também era irmã do Hank, descobrimos isso no hospital,

quando Elena tentou doar sangue para mim. Ela investigou e

chegou à verdade. Éramos apenas meias-irmãs. Só

compartilhávamos o pai, enquanto ela compartilhava a mãe com

Hank.

Seu marido, Kai, levou-a para o Texas para que Hank a

conhecesse. Eu tive uma grande e longa dor de cabeça quando

tentei assimilar que Kai também era irmão de Hank.

— Eu estou falando com você, sua encrenqueira — ele

sibilou, se pondo em frente à tevê.

— Eu sei e, sinceramente, não vejo motivo. — Dei de ombros

e levei mais uma colherada aos meus lábios. — Cara, nós

transamos, foi bom, mas é isso aí! Seguir em frente, sabe? —

murmurei, com a boca cheia.

— Só bom? — Seus olhos se fecharam quase por completo,

mas ainda vi suas íris.


— Confesso, foi ótimo. Desculpa ferir seu ego...

— Vanessa, estou falando sério. Quero que me escute, isso

pode te fazer lembrar de algumas coisas...

— Eu lembrei de uma coisa — murmurei, deixando a sopa

deliciosa que minha irmã fez de lado e me sentando de frente para

ele, cruzando as pernas. O rosto de Hank mudou de tenso para

aliviado e eu sorri. — Hulk.

Foi instantâneo. Meu corpo vibrou e seus ombros ficaram

tensos. Lá dentro dos seus olhos claros, eu vi o ânimo. Ele queria

que eu me lembrasse dele. Porém senti medo a cada nova

lembrança. Temia o que esse caubói era para mim. Temia o que eu

podia sentir, mas que apenas não recordava.

Assim que abri meus olhos, outra lembrança chegou. Mais

viva, mais sufocante. Fechei os olhos e pude vê-la com uma clareza

assustadora.
Bebi o líquido e remexi meus quadris ao som da música que

ecoava pelo bar. Estava me divertindo com um cara, mas não sabia

quem ele era. Olhei para onde deixei minha irmã com o marido e

engoli em seco ao vê-la conversando com Hank e uma mulher.

Aproximei-me sem saber por que meus pés queriam que

eu fosse até ela.

Assim que cheguei, palavras e insultos foram ditos,

mas não conseguia me lembrar com exatidão.

— Então, essa é Susan — falei, sorrindo, porém não fazia

ideia de como sabia quem ela era.

O nome dela me fez arquejar. Forcei meus pensamentos para

lembrar algo dela, mas só conseguia pensar na foto do bebê em sua

sala...

— Você é casado! — gritei, me levantando da cama e

parando ao lado da escrivaninha.


Minha garganta secou, vi vermelho enquanto tremi de raiva,

mas não sabia qual o motivo certo. Seria porque ele transou comigo

tendo uma esposa... ou porque ele tinha alguém. A segunda opção

fez algo dentro de mim doer.

Hank arregalou os olhos e eu apertei meus punhos. Não

acreditava que ele tinha sido capaz disso.

— Como ousa? Eu me lembro da foto de um bebê na sua

casa — murmurei, levando a mão aos lábios. — Meu Deus, eu

deixei você me tocar na casa que divide com outra mulher...

— Não! Eu não sou casado...

— Quem é Susan, então, Hank? — questionei, cruzando os

braços.

— É a mãe da minha filha. — Eu pisquei, não acreditando

que me deitei com um homem casado. — Mas não temos nada.

Seu rosto se contorceu e ele se encostou na parede. Eu

voltei a me sentar na cama e abracei minhas pernas. Não sabia se


era alívio, mas minhas pernas ficaram bambas de repente.

— Você pode estar mentindo para mim. Eu não saberia.

Tenho uma mente com defeito. — Dei de ombros e suspirei,

encarando seu rosto. — Não importa. Quero que vá embora — falei,

séria.

— Não vou embora. — Ele me encarou com olhos frios. —

Quero que lembre mais de mim. — Suas palavras enviaram

choques pelo meu corpo. Minha calcinha umedeceu de repente e eu

fiquei revoltada com a minha vagina. Não é hora para isso, sua

pervertida!

— Não tenho nada com Susan. Ela é mãe de Audrey. Só. —

Seu rosto era sincero.

Eu queria acreditar nele.

Audrey. O nome pareceu familiar. Ele encheu meu coração

de carinho. Eu já a peguei em meus braços?


— Eu a conheci? — murmurei, fazendo círculos na minha

coxa sem encarar seus olhos intensos.

— Você soube da Susan no primeiro dia que esteve comigo...

Suas palavras me transportaram para o momento em que eu

soube da existência dela.

— Vou esperar você lá embaixo.

Ele foi até a porta, falou com alguém e depois seu celular

chamou sua atenção. Fiquei parada observando.

— Você...

Minha pergunta foi interrompida por seu celular tocando. Eu

me sentei e procurei minha calcinha para vesti-la enquanto ele se

erguia.

— Como não? — ele rosnou para a pessoa na linha e eu

tremi com pena. Coitada. — Eu vou matar a Susan. Traga-a

arrastada se possível. Quero as duas aqui até o final do dia! —

Ele desligou, jogando o celular na mesa de cabeceira.


Seu grito me fez pular, mas também queria juntar minhas

coisas e correr. Porra, ele era sexy demais. Até gritando com

os outros eu o desejava. Era uma pervertida.

— Hum. Minha irmã está me esperando — eu o lembrei,

me virando, já vestida.

— Claro. — Ele se virou para mim e eu sorri. —

Não acabamos ainda. — Sua voz tinha promessas e eu queria que

ele cumprisse cada uma delas.

— Não, não acabamos.

Quando estávamos descendo a escada,

seu celular voltou a tocar. Eu espiei a tela e vi a foto de uma mulher

com uma bebê no colo. Susan.

— Eu estava me referindo à Audrey — expliquei, ainda

sentindo um carinho enorme ao falar dela.

— Oh. Sim. Você a conheceu no segundo dia na fazenda.

Depois que nos encontramos no bar de um primo meu e fomos para


casa.

Suas palavras desencadearam mais lembranças. Eu me

surpreendi com como estava e da quantidade de recordações que

eu tinha ao conversar com ele.

Ele foi embora com ela.

Eu vi. Eu caminhei para o rapaz que estava dançando e fingi

que ele não estava do outro lado da pista com sua mulher, mas era

claro que eu estava ciente de cada movimento deles.

Era como se ele fosse o ímã, e eu, o metal. Era puxada em

sua direção e nada do que eu fizesse mudava isso. Éramos atraídos

e eu percebi isso agora.

— Vamos lá, gatinha, se solta — Trent falou sorrindo

enquanto segurava minha cintura e descíamos, rebolando.

Ele era um cara legal. Era simpático e gente boa.

Ele parecia conhecer todos ao redor, já que de tempos em tempos

se virava acenando para quem passava.


Não sabia quanto tempo passou enquanto dançávamos, mas

quando meus pés imploraram por descanso, eu chamei Trent para

irmos ao bar. Sentei-me na banqueta alta, gemendo, e

ele ficou ao meu lado, rindo de mim.

— Esses saltos acabaram comigo — resmunguei, rindo.

Parei de rir quando um homem que parecia ser o barman

ficou parado na minha frente. Seus ombros eram largos, ele era alto,

mas não tanto quanto Hank. Nem sabia por que eu os comparei,

mas, pensando bem, os dois se pareciam um pouco.

— Olá, bonitão! Eu quero uma dose de tequila. — Pisquei,

mordendo meu lábio, fazendo-o sorrir.

— Olá, gracinha — ele brincou, enquanto me passava o

copo.

A bebida desceu queimando pela minha garganta quando a

virei de uma vez, mas sorri. Achava que era disso que precisava.
Pedi mais uma e logo gritei, elevando meu copo para o carinha legal

quando ele passou na minha frente.

— Outra!

— Não, Axel. — A voz do diabo soou e eu revirei os olhos.

— Podemos ir embora, Trent? — perguntei, me virando para

o rapaz e ignorando Hank. Ele encarou Hank atrás de mim e revirou

os olhos.

— Nada contra você, Trent, mas vaza. — Hank soou

irritadíssimo. Gostaria de dizer que eu estava bem mais.

— Desculpe, senhor caubói, mas ele estava aqui antes de

você — resmunguei, irritada.

— Axel — Hank murmurou e o barman gostoso suspirou.

— Vamos lá. Os dois, para fora.

— O Trent não fez nada! — gritei para

ele e sua sobrancelha se elevou na direção de Hank.


— Não falei com ele. Falei com você e esse cachorro

louco. Vazem ou vou chamar a segurança.

Suas palavras pareciam ser de outra órbita. Não acreditei

que esse cretino estava me expulsando do seu bar. Avancei para

ele e lhe dei um belo de um empurrão.

— Idiota!

Axel caiu de bunda no chão e eu fui arrastada por Hank

em direção à saída.

— Isso é coisa sua, seu nojento! — gritei assim que saímos

do bar. — Cadê sua mulher? — gritei

descontrolada, andando pela calçada. Tirei meus saltos e joguei

nele quando se aproximou. — Não encoste em mim!

— Porra, mulher, dá para parar? — Ele parecia furioso e

eu gostava disso. Na verdade, eu adorava.

— Não, não dá. Eu ia transar hoje. Ia ser fantástico!

E você acabou com meus planos! — gritei, chamando a atenção das


pessoas, mas pouco me importava.

— Não se preocupe. Se é um pau que você quer, eu te dou o

meu!

Não acreditei no que fiz até sentir meus dedos arderem e o

ver me encarando com incredulidade.

— Não vou ser sua amante, Hank Ross. Nem mesmo se eu

estivesse morta.

Ele deu dois passos e chegou até mim. Seu peito

me encurralou contra a parede do bar e sua boca desceu para

meu ouvido.

— Não sou casado para ter amante — ele murmurou frio e

devagar. — E sim, Vanessa, você vai dormir comigo hoje.

Suas palavras se

transformaram em nada quando seus lábios tocaram os meus. Ele

usou minha boca como fonte de alimento para sobreviver em meio


ao nada. Seus gemidos se misturaram aos meus de maneira

sensual, me fazendo desejar não estar o odiando tanto.

— O que você está fazendo comigo? — ele sibilou contra

minha boca.

Encarei seus olhos e sufoquei uma respiração longa pela

necessidade que estava ali.

— Eu poderia perguntar o mesmo — resmunguei antes de

ele voltar a atacar meus lábios. Sua língua tinha gosto de uísque e

eu soltei gemidos desconexos enquanto ele me elevava e eu

abraçava sua cintura com minhas pernas.

Hank caminhou e só me dei conta de que estávamos em seu

carro quando ele me deitou no banco de trás. Suas mãos subiram

meu vestido curto e tiraram a minha calcinha, depois que ele fechou

as portas do carro escuro. Olhei para o vidro com medo de alguém

nos ver, mas era completamente negro.


— Caramba, você está tão pronta, Vanessa — ele gemeu no

meu ouvido, deslizando seus dedos em minha boceta. Resmunguei

quando ele se afastou, mas no instante seguinte já estava gemendo

novamente, com ele dentro de mim. — Que boceta gostosa!

— Hank... — sussurrei, sentindo nossa pele suar uma contra

a outra.

Seus movimentos eram intensos, e as estocadas, firmes, me

fazendo ir ao limite em pouco tempo.

— Ah meu Deus!

— Isso, encrenqueira, goza.

Sua boca procurou a minha quando eu o senti estremecer e

se libertar junto comigo. Nosso beijo foi lento e calmo, Hank parecia

me adorar com os lábios quando senti lágrimas de êxtase se

formarem em meus olhos.

— Porra, Hulk, qual feitiço você colocou em mim?


Eu senti meu colo esquentar ao me lembrar o que fizemos

naquele carro, mas, claro, minha vagina achou que as lembranças

eram ótimas para fazê-la ficar úmida. Te odeio!

— Ela adora você, além do mais. — Hank sorriu, falando da

filha.

— Eu também gosto dela, mesmo não me lembrando

exatamente — expliquei sorrindo e suspirei.

Ele se aproximou, se sentando na cama em seguida.

— Kai veio buscar a Helena. — Arregalei meus olhos e ele

acenou. — Vamos voltar para o Texas. Venha comigo — ele

chamou.

Senti seus dedos calejados do trabalho pesado na fazenda

deslizarem sobre minha pele. Os pelos da minha perna eriçaram e

ele sorriu de lado.


— Hank... — Engoli em seco, vendo-o se inclinar em minha

direção. Sua respiração colidiu com meu rosto e eu suspirei.

Não entendia muito o que estava fazendo, até que senti seus

lábios contra os meus e suas mãos agarrando minhas coxas, me

levando até seu colo. Hank segurou meus quadris e suspirou em

minha boca.

— Porra, preciso de você — ele anunciou, rouco.

Soltei gemidos, concordando com ele. Segurei seu rosto e

enfiei minha língua por seus lábios, procurando a dele. Parecia

desesperada, eu estava mesmo, esse homem me fazia ficar louca.

Suas mãos se atrapalharam com minha blusa enquanto eu

esfregava meus quadris em seu colo, fazendo Hank apertar minhas

coxas.

Em movimentos desesperados, Hank tirou toda minha roupa,

e eu, a dele. Seus ombros largos me deram segurança para me


erguer e baixar em seu pau grosso. Joguei minha cabeça para trás,

me sentindo tão cheia, tão completa.

O barulho da minha excitação enchia o quarto, era tão bom.

Nossos gemidos eram altos, e quando Hank levou meus mamilos à

boca, gritei quase gozando.

Esse homem ia ser minha penitência. Já fiz muitas coisas

erradas. Menti para meus pais, saí escondido mais vezes do que

podia contar e diversas outras coisas. Deus agora estava me

castigando com Hank Ross.

E como era uma verdadeira pecadora, estava gostando da

minha punição.

DIAS DEPOIS

— Você é um lunático — afirmei séria, quando Hank entrou

no quarto e fechou a porta.


— Você foi a uma festa com outro cara enquanto eu estou na

sua casa. Vanessa, eu não admito isso! — ele gritou, ainda furioso,

enquanto eu tirava meu vestido e pegava uma camisola.

— Ele era um amigo. Além do mais, eu não te devo

satisfação. Entrar nas minhas calças de vez em quando não te dá o

direito de me arrastar de uma festa...

— De vez em quando? Todo dia. — Ele se aproximou e eu

dei passos para trás até estar contra a parede. — Todo dia, desde

que cheguei aqui, você geme meu nome antes de dormir. Não me

trate como um moleque, Vanessa, eu sou um homem.

— Grande merda. Não me julgue por abrir minhas pernas

para você. Qual é? Eu desafio qualquer uma a ficar ao seu lado e

não querer usar seu pau — eu sibilei, furiosa. A mão direita dele

segurou meus braços acima da minha cabeça. — Hank...

— Sério? Que bom! Amanhã cedo sairei à procura de

algumas... — Seus olhos me encararam e eu senti ódio de mim


mesma quando apertei meus dentes.

Doeu imaginá-lo com outra pessoa. Foda-se.

— Não terá dificuldade em achar — resmunguei, mordendo

minha língua em seguida.

Soltei-me dele e peguei um travesseiro e lençóis, levando

para a sala. Joguei no sofá e o vi encarar as coisas e a mim.

— Sério?

— Sim, é muito sério — eu disse, suspirando no mesmo

momento em que Kai apareceu no corredor. Dei as costas para

Hank e passei pelo meu cunhado quase correndo.

Na manhã seguinte, coloquei minhas malas para fora e fingi

que estava bem, quando na verdade, minha chateação com Hank

estava em um nível elevado.

— Bom dia — Lelê me cumprimentou ao entregar um copo

de café.
— Bom dia — devolvi, já virando a bebida quente. Hank

apareceu vindo do corredor, eu sabia que ele estava no banho. Seu

cabelo estava molhado e ele ainda tinha a toalha no ombro. Pelo

menos estava vestido.

— Bom dia — ele resmungou.

Minha irmã o cumprimentou empolgada, enquanto eu apenas

acenei. Lelê arqueou a sobrancelha para mim e eu fiz careta.

— Você precisa dar um jeito na sobrancelha — avisei,

deixando-a de boca aberta. — Sim, está horrível.

Saí da cozinha e fui para meu quarto. Peguei meu casaco e

bolsa em cima da cama e me virei para voltar à sala. Nosso voo

sairia dali a uma hora.

Parei de me mover ao ver Hank de pé, com os braços

cruzados.

— Vai continuar com isso? — Sua voz estava autoritária.


— Pelo tempo que for — murmurei, arrumando a alça da

bolsa no meu ombro. — Você precisa entender que não manda em

mim. Sou adulta, e sua atitude foi estúpida naquele dia.

— Vanessa...

— Só fique quieto — pedi, olhando para seu rosto franzido.

— Não posso. Estou longe da minha filha há dias, só vim aqui

para te ver. Você entendeu? Não tem como viajarmos desse jeito.

— Não pedi que viesse. Foi decisão sua. — Assim que as

palavras saíram, eu soube que não devia tê-las dito. — Desculpa.

Não devia ter falado isso. — Esfreguei meu rosto e me aproximei

dele.

— Tudo bem.

— Só peço um pouco de espaço. Só isso. Quando

chegarmos lá, podemos conversar — expliquei, tentando me

acalmar.

— O.k.
O voo foi calmo e Elena não passou mal em nenhum

momento. Ainda bem. Ela acabou de descobrir a gravidez. Minha

preocupação era tanta, que eu ficava erguendo minha cabeça de

minuto a minuto para conferir se ela estava bem. Acho que só Kai

parecia mais assustado que eu.

No Texas, praguejei enfiando mais uma das minhas malas na

caçamba da camionete de Hank.

— Vou matar o Kai. Idiota! — gritei no meio do

estacionamento do aeroporto. Ele simplesmente me deixou ali com

Hank, sabia muito bem que eu não queria ir com seu irmão

estúpido.

Os carros deles estavam aqui desde que foram para o Brasil.

Eu queria ir para casa do Kai, que era onde ficaria, mas ele foi

embora enquanto Hank me falava meio mundo de idiotices.

— Isso é culpa sua!


— Eu sei e estou orgulhoso de mim mesmo. — Ele sorriu de

lado enquanto entrava na caminhonete.

Eu me sentei no banco do carona e minhas bochechas

esquentaram quando me lembrei de nós dois neste carro, meses

atrás.

— Coloque o cinto, mocinha — ele murmurou, querendo me

irritar.

Revirei os olhos e fiz o que foi dito. Lógico que era porque eu

queria, não porque ele mandou.

— Você não está indo para a casa do Kai — resmunguei

depois de algum tempo na estrada. Ele virou na mesma estrada que

pegou no dia que nos conhecemos.

Para a casa dele.


— Preciso ver Audrey. Vou te deixar em seguida. — Sua

resposta me calou de imediato.

Sabia o quanto ele devia estar com saudade dela. Era sua

filha, isso era lógico. Somente por esse motivo sorri e murmurei:

— Tudo bem.

Assim que estacionou em frente ao casarão, Hank saltou e

abriu a porta para mim. Suas mãos seguraram minha cintura e eu

desci contra seu peito.

— Vanessa. — Ele me colocou no chão e pegou minha mão

enquanto me guiava para a sua casa.

No momento em que pisamos na sala, a mãe de Kai

apareceu com Audrey nos braços. O sorriso da menina ao ver o pai

foi instantâneo. Meu coração aqueceu ao ver Hank se desfazer na

frente da filha.

— Oi, Sunshine. — Ele sorriu, se aproximando e pegando o

bebê dos braços da mulher, que me encarava. — Obrigado, mãe


Cassie. — Ele beijou o cabelo dela enquanto ela o abraçava

também. — Kai voltou e trouxe Lelê — avisou.

O rosto da mulher se acendeu.

— Então estou indo. — Ela beijou o rosto dele, e o mais

incrível foi que ele deixou. — Nos vemos depois, Vanessa. — Ela

sorriu ao passar por mim e eu acenei.

Sorri e me aproximei de Hank e Audrey, depois me sentei na

frente dos dois.

— Ei, Sunshine, lembra da Vanessa? Hum? — ele

questionou sorrindo enquanto sua filha mordia um pedaço de

borracha no formato de sol.

— Audrey — chamei e ela elevou seus olhos para mim. Seu

sorriso sem dentes me fez suspirar. — Você é de tirar o fôlego.

Hank riu, com Audrey o seguindo.

— Ela é completamente adorável... — disse, surpresa.

— Puxou ao pai. — Ele sorriu.


— Claro. — Revirei os olhos, me aproximando mais. — Você

é tão adorável. — Eu me ajoelhei na frente dos dois e peguei

Audrey. — Olá, Sunshine — chamei e ela sorriu em meus braços.

Seus olhos eram escuros como os do pai, e seu cabelo

também. Meu coração cresceu um pouco olhando sua beleza.

— Onde diabos você esteve?

Eu me virei para a porta ao mesmo tempo em que Hank

perdeu o sorriso.

— Susan. — Ele se ergueu, respirando fundo.

Eu permaneci sentada enquanto segurava Audrey. A bebê

continuou sorrindo e mordendo o sol. Suspirei, encantada com ela.

— Onde esteve? Fiquei como uma idiota te procurando e

fazendo perguntas quando é óbvio que eu, sendo sua mulher,

deveria ser a pessoa a saber por onde você andava.

— Fui ao Brasil resolver problemas.


— E trouxe ela na mala? — Ela me olhou diretamente,

erguendo a sobrancelha nojenta. Eu me ergui, sem paciência para

aguentar essa mulher e suas provocações. — Tire as patas de cima

da minha filha! — gritou, se aproximando.

Desviei os olhos dela para Audrey, que estava com os olhos

esbugalhados pelo grito da mãe. Com certeza, isso a assustou.

Quando Susan pegou a menina dos meus braços, sua unha

me arranhou, mas respirei fundo, tentando me acalmar. Não faria

nada na frente da filhinha deles.

— Posso levar seu carro? — questionei a Hank, me

afastando de Susan e Audrey.

— Eu vou te deixar...

— Se sair por essa porta, eu vou visitar meus pais em Nova

Iorque. Você não quer ficar mais dias longe de Audrey, não é

mesmo? — A voz de Susan era carregada de veneno.


Era a primeira vez que eu sentia repulsa por uma pessoa a

ponto de me imaginar socando o rosto dela. Essa mulher devia ter

algum dom de me tirar do sério.

Olhei para Hank e não reconheci o homem à minha frente.

Seus olhos estavam no chão, e seus ombros, curvados. Nada

parecido com o homem que dormiu na minha cama no Brasil. O

ogro cheio de si, sensual e másculo que deixei possuir meu corpo

como nenhum outro homem teve permissão.

— Vou indo. — Peguei as chaves do carro dele em cima da

mesa de centro e saí de sua casa. Não olhei para trás, sabia que ele

não viria atrás de mim.

Eu me encostei ao lado da porta da camionete e respirei

fundo, pressionando minha testa no vidro. Eu não sabia do poder

que Susan tinha sobre Hank até aquele momento.

Ele era dominado por ela.


Eu dirigi com calma, morrendo de medo de que a minha

última viagem até a casa da minha irmã se repetisse. Sofrer outro

acidente não estava nos meus planos.

Procurei Elena pela casa e descobri que ela estava dormindo.

Por isso, depois de tomar banho, me joguei na cama, tentando

inutilmente não pensar em Hank.

Tudo que aquele caubói fez desde que colocou os olhos em

mim foi ser um grosseiro idiota e homem das cavernas. Então, por

que diabos eu não conseguia parar de pensar nele? Por que que

quando fechava meus olhos e pensava em seus beijos, eu

conseguia senti-lo ali, naquele momento?

Encarei o teto do quarto, mas outra imagem surgiu em minha

mente sem que eu precisasse estar fingindo dormir. Uma mais viva.

Mais atual.

Hank sendo adestrado por Susan como um maldito cachorro.


Eu adormeci, prometendo a mim mesma que manteria

distância dele. Não precisava de problemas em minha vida.

Infelizmente, Hank era sinônimo de um saco cheio deles.


Minha irmã finalizou seu discurso de aniversário e eu sorri,

elevando meu copo para ela. Brianna se sentou ao meu lado no

sofá e começou a estalar os dedos. Se tinha algo que aprendi com

ela durante os dias que se passaram, era que Brianna não

conseguia ficar quieta quando queria perguntar algo.

— Você me irrita com esses estalos — resmunguei, bebendo

mais um gole de cerveja.

— Quer ir conosco para o bar? Felicity está sendo uma vadia

sobre isso — ela reclamou da irmã.

Suspirei, me remexendo em meu assento.

— Não. De verdade, eu quero dormir. Passei o dia

organizando essa festa, estou morta.

— Você é tão mentirosa. — Ela riu e eu semicerrei meus

olhos. — Ele vai também. Ouvi Cain falar. — Brianna deu de ombros

e eu tive vontade de arrancar o sorriso idiota dos seus lábios.


Tentei muito não olhar para Hank do outro lado da sala, mas

falhei miseravelmente ao ter minha atenção focada nele. Audrey

estava em seus braços e eu engoli em seco com o sorriso da

menina.

Não sei onde Susan estava. Fazia dias que não falava com

eles ou os via. Na verdade, a última vez que vi Hank foi quando

Helena fez o anúncio da gravidez. Susan não estava por perto, e

naquele dia Cassie me fez cuidar de Audrey por alguns minutos. Foi

maravilhoso, mas eu corri antes que o pai dela pudesse me

encurralar em algum lugar da casa.

— Não estou preocupada com ele...

— É por isso que não fica mais que cinco minutos no mesmo

lugar que ele?

— Brianna, vou arrancar seus ridículos cabelos loiros —

ameacei, mas ela apenas riu.


— Inveja mata, Vanessa. — Ela riu, jogando as madeixas

claras para o lado.

Fiquei grata quando Felicity chegou, interrompendo a

conversa sem sentido.

— Vamos, Brianna. Quero dormir.

— Axel ainda vai estar lá — Brianna resmungou e sua irmã a

fuzilou com os olhos. — Nos seus sonhos, eu quero dizer.

— Não vou entrar em discussão. Estou indo. — Felicity

andou para a porta e Brianna se levantou bufando.

— Pare de atormentá-la — pedi, empurrando seu ombro ao

me levantar também.

Segui as duas para fora, vendo o dedo médio dela se erguer

para mim.

— Cuidado na estrada — adverti, vendo Brianna se sentar na

janela do carro.
— Não saio nunca mais com você! — ela gritou enquanto sua

irmã acelerava com o carro. Vi as duas sumirem de vista e balancei

a cabeça, me virando para voltar para dentro.

— Pode ficar com ela um minuto? — Hank pediu, parado na

escada com a filha nos braços. Eu acenei e peguei Audrey dos seus

braços.

— Oi, Sunshine. — Cheirei seu pescoço e ela sorriu para

mim. — Como está? — perguntei suavemente.

Olhei para seu pai e o peguei nos observando. Ele pareceu

acordar e desceu o resto da escada em direção à sua camionete.

Hank estacionou bem onde eu estava, então abri a porta de

trás para colocar Audrey na cadeirinha. Deixei-a segura e coloquei

sua chupeta. Seus olhinhos se fecharam devagar e ela começou a

cochilar.

— Obrigado — ele disse, se sentando no banco do motorista.


Fechei a porta e comecei a subir os degraus em direção à

entrada da casa. Fiquei à espera de ouvir o carro ir embora, mas

nada aconteceu. Quando me virei, vi Hank me encarando de dentro

do carro.

— Eu...

— Boa noite — eu o interrompi antes que pudesse falar algo

que nos levaria a fazer uma coisa estúpida.

Corri para dentro de casa e fechei a porta rapidamente. Meu

peito subia e descia constantemente enquanto fechava meus olhos,

tentando me acalmar. Respirei fundo e pulei ao dar de cara com

Elena.

— O que anda acontecendo entre você e Hank? —

questionou, cruzando os braços.

— Nada. Quero dizer, não mais. — Eu dei de ombros e minha

irmã me puxou em direção à escada.


Quando chegamos ao meu quarto, eu me sentei na cama e

fiquei à espera das suas palavras.

— Sei que gosta dele. — Ela arqueou a sobrancelha, me

desafiando a contrariá-la.

— E de que isso importa? Eu também gosto do Cain...

— Você não gosta do Cain. Ele só é seu amigo, sei disso.

— Hank também é meu amigo. Quero dizer, um colega. — Eu

me ergui, tirando a calça jeans e as botas. — Além do mais, não é

nada do que quer dizer...

— Não... claro que não! Um homem coloca a cabeça entre

minhas pernas e não é nada. É somente meu colega. — Sua ironia

exacerbada me fez bufar.

— Elena...

— Sou sua irmã. Eu quero saber o que anda acontecendo.

Agora, Vanessa. — Seu tom sério me fez fechar os olhos.


— Olha, quer saber? — Eu me virei, jogando a minha blusa

em cima da cama. — Eu transei com ele no Brasil todos os dias.

Porém, tive uma dose boa do que Susan significa na vida dele, e,

sinceramente? Eu não sou mulher de querer sobras de outra. Então,

Elena, me deixa afastar esse homem da minha cabeça em paz,

o.k.?

Vesti minha camisola e fui em direção ao banheiro tirar minha

maquiagem. Elena cruzou os braços na porta e suspirou.

— O.k. Eu também não iria querer uma louca daquela na

minha vida. — Ela mordeu o lábio quando terminou de falar.

— Concordamos em algo, mana. — Eu ri e ela respirou

fundo, acenando.

— Vou dormir. Boa noite.

— Eu te amo. E olha, feliz aniversário novamente. — Pisquei

e ela sorriu, indo embora.


Eu me joguei em minha cama e adormeci sem muitos

problemas ou pensamentos – pessoas – não requisitados na mente.

DOIS MESES DEPOIS

Deixei de encarar Destiny ao ver Cain sair do estábulo sem

camisa e completamente suado. Deus me perdoasse, mas eu sabia

apreciar um homem quando via um. O primo do Kai era daqueles

que a calcinha umedecia só de olhar. Queria dizer que quando me

apaixonava esquecia o resto da comunidade masculina, mas para

que mentir?

Hank vivia nos meus pensamentos, mas os olhos eram meus,

e a vagina também. Por Deus!

— Você está babando. — Ele riu, vindo até mim.

Eu me afastei da cerca que me separava de Destiny.


— Por todo lugar. — Arqueei a sobrancelha e ri ao ver seu

rosto ficar vermelho. Pobrezinho.

— Você vai me trazer problemas — ele resmungou para si

mesmo, mas eu dei de ombros, me aproximando. — Vanessa. —

Ele ergueu as mãos, rindo de nervoso.

— Cain, vem aqui! — O grito ensurdecedor de Kai poderia

ser escutado a quilômetros de distância.

Eu me virei para fuzilar meu cunhado com os olhos, mas não

o vi primeiro. Hank estava ao lado dele, com os punhos cerrados e

mandíbula tensa. Tentei me afastar de Cain imediatamente, mas ele

já tinha se afastado bem antes.

— Vanessa. — Meu nome foi pronunciado entre dentes por

ele.

Quando vi Kai e seu primo se afastarem, eu me perguntei se

deveria apenas correr para perto deles.


Seus olhos estavam afiados. Sabia que estava com raiva, ou

melhor, estava furioso. Engoli em seco e coloquei minhas mãos nos

bolsos traseiros da saia jeans. A bota estava suja de lama, e eu

sabia porque meus olhos estavam presos nelas.

O barulho de palha seca sendo amassada me fez elevar a

cabeça. Hank andou devagar e enfim chegou à minha frente. Dei

vários passos para trás, entrando no estábulo, e minhas costas

bateram na madeira velha. Observei Hank me encurralando antes

de olhar sobre seu ombro. A porta mais próxima estava atrás dele.

Eu entrei numa enrascada.

— O que quer? — Diferente das minhas pernas, as palavras

que saíram por meus lábios eram firmes.

— Quero saciar seu desejo. Vi o modo como olhou para Cain.

Você quer trepar, Vanessa? Eu me disponibilizo.

O tapa que dei em seu rosto nem mesmo o fez virar a

cabeça.
Seus olhos escuros estavam presos nos meus quando mordi

o lábio para não me abalar.

Como... como ele ousa?

Minha pele arrepiou de ódio e eu mordi a carne da minha

bochecha, sentindo o sangue em minha língua segundos depois.

— Você seria o último homem com quem eu mataria o meu

desejo...

— Sério? — Ele riu, passando o polegar no canto dos lábios.

— Não reclamou enquanto eu te fodia todos os dias em que estive

no Brasil.

Me fodia? Não falei isso em voz alta. Porra, era isso? Eu era

a merda de uma vagabunda que ele fodeu?

— Não quero ferir seu ego. Nós dois sabemos que nesse

tempo aqui no Texas me foderam com muito mais afinco e

dedicação. — Eu me inclinei em sua direção e consegui sorrir. Era


uma mentira. Não fiquei com ninguém depois dele, mas acreditava

que isso precisava mudar.

A mandíbula dele apertou e eu dei um passo para ir embora.

Hank não perdeu tempo, ele me pegou pelo braço e me puxou em

direção a uma porta. O lugar tinha vários blocos de feno prensado, e

foi em um deles que Hank me fez deitar antes de se inclinar sobre

mim. Minha respiração travou e eu tentei encarar seus olhos sem

demonstrar fraqueza.

— Hank, sai agora...

— Suas mentiras mexem com a minha cabeça — ele sibilou,

pegando minhas mãos e colocando-as sobre minha cabeça. —

Passei os dias querendo tocar em você, e quando eu te vejo, você

está olhando para o cuzão do meu primo. — Seus lábios deslizaram

pelo meu pescoço delicadamente, mas suas palavras eram cheias

de tensão e, talvez, sofrimento.


— O que quer de mim, Hank? Quer que eu trepe com você

quando a mãe da sua filha não estiver por perto? — Minha voz saiu

totalmente rendida. — Por favor, me explica — pedi. Não, eu

implorei.

Eu precisava entender esse homem.

— Não ligo para Susan. Não me importo com ninguém além

da minha filha e você.

Engoli em seco enquanto sua frase retumbava diretamente

em meu coração.

— Não quero ninguém pela metade...

— Não estou em pedaços. Estou aqui, inteiro.

— E se ela chegasse agora? — questionei, encarando seu

rosto seriamente.

Nada saiu da sua boca. Seus olhos escuros piscaram e, em

segundos, seus lábios tocaram os meus com fome. Nenhuma das

vezes em que fui beijada consegui sentir que a outra pessoa estaria
com fome e desespero de mim, dos meus lábios. Mas cada vez que

Hank me beijava, eu me sentia mais desejada do que nunca.

Mesmo contra tudo que acreditava, eu deixei gemidos

soarem e comecei a me esfregar contra seu corpo grande. Abracei

sua cintura com minhas pernas e chupei seu lábio inferior, enquanto

sentia Hank libertar minhas mãos e encher a sua direita com meu

cabelo.

Arqueei enquanto sentia seus dedos subirem minha saia e a

deixava amontoada na minha cintura. Minha calcinha sumiu em

segundos, e logo gemidos de nós dois eram abafados por nossos

lábios. Hank me preencheu e eu esqueci que ele não era meu e

nunca seria. Enquanto seu pau entrava em minha boceta, furioso,

esqueci que eu deveria estar nos braços de qualquer um, menos

nos dele.
— Você vai ficar calada? — ele questionou, me observando

pegar minha calcinha e colocá-la no lugar.

— Nós sabemos que isso vai acabar em briga. Eu preciso ir

— disse, arrumando minha blusa amassada.

Hank acenou mordendo o lábio, e se ergueu, bagunçando o

cabelo e recolocando o chapéu em seguida.

— Tudo bem — ele murmurou e saiu do estábulo sem dizer

outra coisa.

Alguns minutos depois, eu me obriguei a respirar fundo e

parei de procrastinar, fazendo o mesmo caminho que ele para fora.

Oprimi meu gemido de desagrado ao ver Brianna e Felicity

pulando da camionete delas. Merda.

— Viemos nos arrumar aqui. — Brianna sorriu e sua irmã

acenou, cruzando os braços. Ela olhou para a varanda da casa e

segui seu olhar. Hank estava descendo os degraus em direção ao

seu carro.
— Felicity. — Ele acenou e ela engoliu em seco, sorrindo um

pouco.

Eles se conheciam? Meu Deus, que pergunta.

— Vamos lá! Não esqueci que disse que iremos arrumar um

homem hoje! — Brianna fez questão de gritar.

Percebi as costas do homem com quem acabei de transar se

enrijecerem. Dei um olhar mortal para ela e a vaca apenas sorriu,

dando de ombros. As duas entraram na casa e eu fechei meus

olhos quando Hank entrou em seu carro e cantou pneu em frente à

casa do irmão.

Merda! Merda! Merda!


Fiz círculos com meu dedo dentro do copo de uísque

enquanto ouvia a música alta ecoar pelo bar. Meu pé batia

repetidamente no carpete e meu quadril se remexia ao som da

batida.

Ter ido ao bar da cidade foi ideia de Brianna, mas eu

confesso que gostava muito dali. O ambiente e, claro, a companhia

das meninas.

Minha mais nova amiga olhou sobre seu ombro à procura de

Felicity, que saiu há algum tempo. Nós duas sabíamos que ela

estava no banheiro tentando evitar alguém desse bar. Não sabia

quem era e não estava tão curiosa a ponto de perguntar.

— Está tudo bem? — questionei, me virando para Marie,

deixando Brianna procurar pela irmã em paz. Eu a convidei para vir

conosco assim que entrei em casa, mais cedo.


— Claro. — Ela virou o copo com cerveja e sorriu, limpando o

canto dos lábios. — Estou aprendendo a gostar — Ela riu, me

mostrando sua bebida. Seu cabelo loiro natural estava liso, e seu

vestido curto e botas a deixavam muito bonita. Tenho que confessar,

as mulheres do Texas são bonitas.

— Ah, querida, eu aprendi cedo. — Gargalhei com ela e

Brianna se ergueu, espalmando as mãos na mesa à frente.

— Não vamos mais esperar aquela nojenta. Felicity tem que

crescer. — Ela segurou a mim e a Marie pelos braços e nos puxou

em direção à pista de dança.

Elevamos nossos copos e rebolamos ao ritmo da música.

Marie sorriu com as bochechas vermelhas, eu sabia que ela estava

superenvergonhada, porém, parecia estar se divertindo. Isso que

importava.

— Eiii! Nem me esperaram! — Felicity gritou, andando até a

gente. Seu sorriso era enorme quando começou a dançar conosco.


Virei o restante da minha bebida e lambi meus lábios.

Deslizei junto de Brianna até o chão e sorri, me balançando. Fechei

os olhos sorrindo. Meus pelos se eriçaram e eu suspirei, encarando

as pessoas.

Podia fingir que estava bem? Eu sabia fingir. Aprendi cedo.

Nunca fui a filha boazinha. Elena fez o papel melhor que eu. Porém,

agora eu só estava cansada de me importar. Ia engolir o meu desejo

e me erguer. Não nasci para ser feita de capacho por homem

nenhum. Não ia ser Hank Ross que mudaria isso.

— Olha quem eu encontrei. — Eu me virei ao escutar uma

voz conhecida.

Sorri encarando Trent. Dei uns beijos nele no meu primeiro

dia no Texas. Estava com tanta raiva por Susan ter me chamado de

gorda e Hank ter apenas ficado quieto, enquanto sua mulher me

destratava. Segundo Elena, claro. Eu ainda não me lembrava

nitidamente de tudo.
— Trent! Como vai? — questionei, sorrindo. Ele se inclinou

na minha direção e eu senti o cheiro de uísque.

— Melhor agora, vendo você. — Ele piscou e eu sorri,

percebendo porque caí na dele. O cara era bonito e charmoso.

— Digo o mesmo. — Elevei meu copo vazio e ele o tirou da

minha mão.

— Me deixe comprar uma bebida para você. — Ele apontou

para o bar com a cabeça e eu mordi o lábio acenando.

Caminhamos para lá, deixando as meninas na pista, então

me sentei em frente ao barman. O homem com chapéu de caubói e

blusa xadrez por cima de uma camisa branca simples arqueou a

sobrancelha para mim e Trent. Lembrei-me que ele me expulsou dali

a mando do Hank. Mais um idiota texano.

— Trent. — O homem acenou e eu sorri, me inclinando.

— Uísque, por favor. Na conta do amigão aqui. — Eu apontei

para Trent, que deu a mão ao homem enorme à minha frente.


— Axel, uísque para as damas! — Ele apontou para as

meninas na pista e para mim em seguida. — Por minha conta.

Axel olhou para as meninas e seus olhos faiscaram. Não via

para quem ele olhou, mas o homem estava com raiva.

— Comprando uísque para Felicity? — Seu olhar seria capaz

de matar Trent em um segundo.

— Ei, cara! Relaxa! Estou com essa belezinha aqui. — Ele

beijou minha bochecha e eu sorri, ainda encarando o barman

irritado.

Uau. Então esse era o homem que fez Felicity se esconder

no banheiro?

— Axel.

Meu sorriso morreu imediatamente. Jesus Cristo. Tinha que

ser brincadeira.

Fingi que não ouvi sua voz ou que não a reconheci. Peguei a

garrafa das mãos de Axel e me servi de mais bebida, engolindo todo


o líquido ao virar o copo em tempo recorde. Trent colocou meu

cabelo atrás da orelha e eu sorri, virando minha cabeça para ele.

— Hank. — Axel suspirou e encheu um copo com mais

bebida, entregando-o por cima da minha cabeça.

— Trent — chamei sua atenção e ele me encarou sorrindo —,

preciso falar com Marie. Volto daqui a pouco — menti

descaradamente e me ergui do banco.

— Claro.

Eu me afastei sem olhar para os lados e voltei para perto das

minhas amigas. Quando vi Marie batendo a bunda com a de

Brianna, eu ri. Acenei para a nossa mesa para Felicity e ela acenou

de volta.

Nós duas saímos na frente, mas logo as outras nos seguiram.

Eu me joguei no sofá de couro e sorri quando um garçom deixou

mais bebidas na nossa mesa, graças a Trent. Agradeci e bebi mais

um pouco.
— Acho que hoje é o dia das solteiras. Olhem para a gente.

— Brianna deu um generoso gole na bebida e completou: — Somos

gostosas e bonitas, mesmo assim estamos sozinhas. Por quê?

A questão fez Felicity rir junto a Marie.

— De verdade? — Felicity começou e eu me virei para poder

ver seu rosto. — Acho que os homens que encontramos não são lá

grande coisa...

— Isso mesmo! Um bando de medrosos. Têm medo de

relacionamentos — Marie resmungou.

— E só querem sexo! — completei, engolindo em seco. Só

isso que Hank queria de mim, não era mesmo?

— Ficamos felizes ao ver que gostam tanto assim do nosso

time.

Nós nos viramos e demos de cara com Hank, Cain, Axel e

Trent. O último foi o que falou, ri com seu jeito descontraído.


Encarei as meninas procurando algo para não olhar para

Hank. Precisava me concentrar. Não podia deixar que ele se

aproximasse. Hoje, eu não ia terminar como a puta que ele pensava

que eu era.

— Nós só dissemos a verdade. Vocês pensam com o pau,

não com o cérebro que Deus lhes deu. — Brianna fez careta e

bebeu mais do seu copo.

Marie estava olhando para a pista sem se importar com os

meninos, e Felicity estava procurando algum sapo dentro do copo.

— Isso é uma calúnia! — Trent novamente riu e eu fiquei

tentada a olhar para ele.

— Ah, por favor! Vocês querem se divertir com todas, e no

final ainda esperam que a gente fique esquentando a cama de

vocês. — Marie fez careta ao terminar de falar. — Vou ao banheiro.

Ela se ergueu e foi embora em segundos. Não olhei para os

meninos, mas pelo canto do olho vi Cain sair da mesa também.


— Vamos, gata! Pedi você até em casamento. Sortudo serei

eu se você estiver na minha cama ao amanhecer. — Trent me

encarou com tanta seriedade, que eu comecei a me perguntar se

ele falava sério.

— Trent. — Hank bateu com a mão aberta no ombro dele e

seu rosto se contorceu em uma careta. — Kai não vai gostar que

você dê em cima da cunhada dele, e, como irmão, hoje estou

fazendo o trabalho dele em proteger Vanessa.

Eu o encarei pela primeira vez e vi o olhar raivoso que ele

deu a Trent.

— Na verdade — eu me ergui e sorri para Trent —, hoje eu

quero dormir ao lado de alguém que se sinta especial por me ter ao

lado. — Sorri, encorajando-o.

— Isso é... incrível.

— A noite acabou pra mim, meninas. Levem Marie para casa,

okay? — pedi, encarando Brianna.


— Não se preocupe. — Ela se ergueu sorrindo. —

Cuidaremos dela. — Minha amiga piscou e eu voltei a olhar para

Trent.

— Vou ao banheiro e iremos. — Sorri e passei por ele. Corri

para o banheiro e mordi meu lábio, vendo a fila enorme. Sabia que

isso foi precipitado e infantil, mas eu não menti. Eu queria alguém

que se sentisse especial só por me ter. Hank não sentia isso. Ele

não sentia nada.

— Que porra você tem na cabeça? — Não precisei olhar para

saber que era ele. — Você acha que eu não me sinto, foda-se lá o

quê, quando durmo com você?

Sua voz me alcançou e fez meu coração latejar. O que eu vi

nesse maldito? Inferno! Ele era um idiota, arrogante e superficial.

Hank só virava gente quando estava com a filha.

— Vai embora — pedi, dando um passo à frente, pois a fila

andou.
— Vanessa, você não vai embora com Trent. Eu estou

falando sério! — Ele pegou meu braço e me fez encará-lo.

— Vamos lá, machuque meu corpo do mesmo jeito que

machuca meu coração. — Olhei para sua mão na minha pele e ele

arquejou, se afastando com velocidade máxima. — Vá embora,

Hank. E, por favor, pare de me procurar...

— Você estava comigo hoje...

— E eu me senti usada assim que entrei em casa! — gritei,

sentindo as lágrimas querendo jorrar. — Você não entende? Eu não

quero mais ser seu segredo imundo! Não quero pedaços de você, e

não, não me diga que você está inteiro, pois não está.

— Eu... não consigo, Vanessa. Eu queria, juro por Audrey

que é uma das coisas, se não a maior, que eu mais quero. Porém se

para ter minha filha eu preciso abrir mão de você... — Ele engoliu

em seco olhando para seus pés e eu solucei, com as lágrimas

derramadas. — Desculpe, eu não penso duas vezes.


Seu corpo grande se afastou e com ele foram as chances de

um romance feliz ao lado do homem por quem me apaixonei. Hank

Ross me arruinou e eu não podia odiá-lo por isso.

Trent me esperava ao lado do carro dele no estacionamento.

Meu rosto inchado de chorar deve tê-lo feito se assustar, pois ele

deu passos largos até mim.

— Ei! O que aconteceu? — Ele me abraçou e eu suspirei,

fechando os olhos.

— Eu... podemos conversar? — Minha voz rouca soou e ele

acenou, me levando para seu carro.

Nós nos sentamos e eu suspirei, limpando meu rosto. Olhei

os fiapos do short jeans que estava usando e arranquei alguns,

tentando me acalmar.

— Eu quero pedir desculpas...


— Mas... por quê? — Ele sorriu e se inclinou, limpando meu

rosto. O gesto foi tão carinhoso, que eu me peguei querendo gostar

pelo menos um pouco dele. Seria tão fácil.

— Sou complicada. E, na verdade, gosto mais do que eu

deveria de outra pessoa. — Seus olhos se arregalaram e eu acenei.

— Sim, e eu não quero dormir com você querendo punir ele e a mim

por não podermos ficar juntos. Você é incrível e eu queria mesmo

que fosse você a me resgatar naquela estrada de terra, seria mais

fácil — eu confessei e fechei meus olhos, descansando a lateral da

minha cabeça na porta do carro.

— Vanessa, sério, você não precisa pedir desculpas. Sei o

que é gostar de outra pessoa, então, relaxa. Se quiser dormir

comigo para esquecer alguém, me avisa, eu faço isso diariamente.

Falei que você seria especial e eu não menti, sua beleza me lembra

a dela, e eu queria mesmo sentir que ela estava em meus braços

novamente...
— Por que não estão juntos? — perguntei, encarando seu

rosto torturado.

— Porque o destino é cruel. — Ele suspirou e deu um sorriso

triste.

— E como.

— Moro aqui perto. Não precisamos dormir juntos, mas se

quiser ir comigo, vai ser um prazer.

Eu acenei, porque não queria dar explicações para as

meninas e por sentir que Trent precisava de companhia tanto

quanto eu. Passei a noite conversando com ele e acabei por

descobrir um amigo alegre e descontraído.

Trent era fácil e eu queria me rodear de pessoas assim.


Na manhã seguinte, depois de dormir no sofá da casa de

Trent, eu pedi carona até em casa. Ele aceitou na hora e eu vi em

seus olhos que ainda não tinha aceitado o fato de eu ter dormido no

sofá. Mesmo depois de ele ter pedido diversas vezes para que eu

dormisse na sua cama, e ele, na sala, eu fui persistente.

Eu me despedi dele com um abraço e saí do seu carro. Subi

os degraus assim que seu carro saiu da fazenda. Olhei para a janela

de Elena e a vi de pé na varanda. Sua barriga já despontava

bastante, estávamos cada vez mais animados com o bebê dela.

Sorri, mas logo parei ao ver seu olhar preocupado.

— Sério? — Elena suspirou assim que cheguei ao seu

quarto. Dei de ombros e me sentei em sua cama. O cansaço venceu

e eu me deitei, abraçando o travesseiro macio. — Você não tem

jeito...

— Trent é um amigo...
— Hank...

— Eu o quero. Ele sabe disso, nós duas sabemos muito bem.

Porém não vai acontecer. — Encarei os olhos dela e respirei fundo.

— E eu entendo. De verdade, mana, eu entendo. Ele está certo em

priorizar a filha. Mas... — Eu me calei e Elena se sentou para que eu

colocasse a cabeça em seu colo.

— Mas o quê?

— Eu só queria que ele se impusesse. Que lutasse. — Soltei

um gemido sôfrego e olhei em seus olhos. — Eu sou uma

incoerência ambulante.

— Ele está aqui. Na verdade, ele dormiu aqui. — As palavras

tímidas dela me fizeram pular da cama.

— Ele... o quê? Onde ele está?

— Ele estava no estábulo com Kai. Os dois viram você

chegando. — Elena subiu os ombros e eu trinquei meus dentes.


— Eu não deveria me importar com o que ele deve estar

pensando. Não temos nada — comentei, tentando me acalmar e

sorrir. — Ele deve estar me odiando. Por que eu me importo? —

resmunguei alto, correndo para a varanda dela.

Meus olhos procuraram o carro dele, que eu não consegui

ver, e entendia o porquê. Ele pegou carona ontem.

— Ele estava completamente bêbado. Axel o trouxe para cá,

Hank não queria ir para casa. — Enquanto Elena me explicava, eu

comecei a acenar mesmo sem perceber.

— O que ele está fazendo conosco? Pelo amor de Deus, a

gente se gosta. Eu sei que ele gosta de mim, eu vejo em seus olhos.

Por que ele simplesmente não joga aquela vadia na rua? Por que

não luta pela guarda compartilhada de Audrey na justiça? Eu não

consigo entender...

— Eu também não. Kai está tentando conversar com ele,

fazê-lo enxergar que tem sim opções. Porém...


Eu me virei quando sua voz se perdeu.

— Porém o quê? — questionei e mordi o lábio ao ouvir a

urgência em minha voz.

— Kai acha que não é só isso. Tem algo mais. — As palavras

ficaram na minha mente.

Algo mais.

— Eu... — Apontei para a porta e segui a passos largos.

— Vai lá — minha irmã me encorajou, então desci as

escadas correndo.

Não queria discutir, só precisava vê-lo. Eu podia querer isso,

não é? Nem mesmo o deixaria me ver.

Mas assim que abri a porta, eu dei de cara com ele montando

um dos cavalos de Kai. Ele estava curvado, falando algo na orelha

do animal, e, devagar, apenas seus olhos se ergueram e me

encontraram. O cavalo também me olhou e eu engoli em seco,

tentada a fechar a porta e me esconder.


Dei um passo para fora, mas antes que eu pudesse chegar

perto, ele fez o cavalo galopar para longe. Olhei para suas costas

musculosas saindo da fazenda e limpei a umidade em minhas

bochechas, que nem mesmo tinha reparado.

— Não sei o que deu em você e não tenho nada a ver com

isso. — A voz do meu cunhado surgiu e eu pisquei, afastando as

lágrimas para me virar para ele. — Mas dormir com outro cara não

vai te aproximar dele. Você não sabe o que ele passa ou passou,

você não tem ideia. Não queira machucar alguém, se isso fará você

mesma sofrer.

— Kai, não dormi com ninguém, e, mesmo assim, isso não

importa. Ele fez uma escolha, eu tenho o direito de fazer as minhas.

— É uma pena que essas escolhas façam vocês dois

sofrerem.

Assim que ele sumiu dentro da casa, eu mordi meu lábio,

descendo a escada e indo para o estábulo. Peguei Hamilton e eu


mesma o preparei para montar. Ele era um dos cavalos da fazenda,

o único que me deixava montar e era um amor.

— Vamos lá, garotão.

Cavalguei até o rio em que Kai pediu Elena em casamento.

Ela me levou lá um dia desses e eu fiquei encantada com o lugar.

Deixei Hamilton um pouco longe, mas coloquei comida e água para

ele, como Kai me ensinou.

Assim que vi o rio, comecei a tirar a minha camisa. As botas

se foram em seguida, e logo após o sutiã e calcinha. Nunca tomei

banho de rio nua, e eu queria usar esse tempo para isso. Ainda era

cedo, e mesmo que não fosse, Kai disse que ali era propriedade

particular e ninguém entrava.

Mergulhei na água um pouco gelada e tremi dos pés à

cabeça. Inclinei a cabeça para trás e deixei meu corpo boiar na

água, enquanto pensava em como minha vida estava maluca.

Deixei meu trabalho, meus amigos e minha vida para vir para o
Texas morar com Elena. Eu queria dizer que vim apenas por querer

cuidar da minha irmã, mas não era tão hipócrita.

Eu vim por ele. Eu queria ficar mais perto dele, queria

acalmar meu coração dolorido de amor.

Mergulhei novamente, mas para que as lágrimas se

misturassem com a água. Para que eu pudesse fingir que não

estava chorando por amar um caubói estúpido que não podia me ter

ao seu lado.

— Que diabos?

Escutei sua voz assim que emergi da água. Merda.

Coloquei as mãos sobre meus seios e me abaixei, ficando

com a água acima deles. Olhei para Hank sem camisa, de calça

jeans e seu chapéu de caubói. Engoli em seco e permaneci calada

apenas o observando.

— Esse lugar é meu. O que está fazendo aqui? — Sua voz

entoava desgosto, mas eu sabia que a rouquidão significava luxúria.


— Me refrescando — disse o óbvio, e engoli meu medo e

vergonha.

Fiz o impensável e sabia que estava certa, pois seus olhos

cresceram quando me ergui e saí do rio. Hank deslizou sua atenção

pelo meu corpo inteiro, e seu pomo de adão subiu e desceu com

dificuldade.

— Já estou indo — murmurei, pegando minha calcinha e

sutiã. Eu os vesti sob seu olhar quente e minhas bochechas

coraram violentamente.

Hank pareceu acordar e começou a tirar a própria roupa.

Minha garganta secou quando a calça deixou seu corpo e sua cueca

preta seguiu o mesmo caminho até o monte que a calça fez no

chão. Caramba!

Estava paralisada. Ele entrou na água completamente nu e

eu mordi meu lábio, me forçando a parar de olhar. Terminei de


prender meu sutiã e vesti a calça. Nem coloquei a blusa, só a joguei

sobre o ombro e calcei minhas botas.

— Não volte aqui — ele cuspiu.

Eu me virei, colocando as mãos nos quadris.

— Ou o quê? — Arqueei a sobrancelha e ele franziu o cenho.

— Vai, fala! O que vai fazer?

— Chamarei a polícia, porque é invasão de propriedade. —

Suas palavras frias me fizeram revirar os olhos.

— Que se dane! Foda-se, Hank Ross! — gritei, mas ele

mergulhou fingindo não me ouvir. — Quero mais do que pode me

dar, ouviu? Trent fez um trabalho maravilhoso!

— Reatei com a minha mulher, então estamos ambos

satisfeitos. Susan pode ser uma cobra, mas ela fode como ninguém.

Suas palavras cruéis me fizeram arder por dentro. Mas por

fora eu apenas sorri e me afastei, indo para casa. Eu atirei primeiro,

era normal que ele apertasse o gatilho depois.


DIAS DEPOIS

Ele sorriu de lado enquanto esticava o braço e tentava me

sujar com sorvete. Bati em sua mão e caminhei para longe da

sorveteria, com ele no meu encalço.

— Ah, você não é divertida, gatinha.

Trent começou a me chamar de gatinha, eu não ligava muito,

até achava fofo, mas ficava envergonhada quando tinha alguém por

perto. Eu sei, uma ironia.

— Você vai me fazer querer dormir na sua cama se não parar

com isso...

— Opa, dormir na minha cama? — Sua língua vermelha e

molhada lambeu os lábios e eu respirei fundo.

— Sim. — Arqueei a sobrancelha.


Ele se aproximou rapidamente. Seu braço enlaçou minha

cintura e eu engoli em seco, encarando seus olhos. Eu podia beijá-

lo, não é? Podia dormir na cama dele. Podia fazer o que quisesse.

E era por isso que eu o deixei se inclinar e tocar meus lábios

com os seus. Foi tão rápido, que eu fiquei me questionando o

motivo de ele já ter se afastado. Abri meus olhos e vi seu olhar.

Triste, melancólico.

— Você não é ela. — Seus cílios longos se moveram quando

ele piscou, com umidade lá.

— Não sou, baby — murmurei, sentindo meu coração ser

apertado.

— Eu queria que fosse.

Eu acenei, pois sabia que ele queria mesmo.

— Vamos pra casa, tá? — Peguei sua mão e o levei para sua

casa, duas quadras depois de onde estávamos.


Assim que fechei a porta, Trent se sentou na poltrona e eu

andei para seu bar improvisado. Peguei dois copos e servi uísque

para nós dois. Entreguei o seu e me sentei no sofá, olhando para

seu rosto inexpressivo.

— Sabe, eu gosto de um cara — comecei, engolindo a

bebida aos poucos. — Às vezes, durante esses dias que a gente se

divertiu juntos, eu desejei que você fosse ele. Desejei que ele fosse

brincalhão, fácil de conviver e que me quisesse... sei que não me

quer como mulher, mas eu... ele não me quer assim. Não quer nem

mesmo ser meu amigo.

— Hank é difícil, sempre foi. Dos meninos Ross, ele é o mais

turrão. — Trent riu e eu mordi meu lábio. Não sabia que ele tinha

ciência do meu envolvimento com Hank.

— Eu o amo — confessei, enquanto meus olhos se enchiam

de lágrimas.
— Eu sei e, de verdade, acho que você deveria dar um tempo

para ele — respondeu, enquanto eu engolia o restante da bebida. —

Hank é teimoso feito uma mula.

— Coitada da mula — brinquei para aliviar a tensão. Ele

sorriu acenando e eu me ergui, indo para seu colo. Abracei seu

pescoço e ele me ninou como se eu fosse seu bebê.

— Eu queria que você fosse a minha Ariel, você é impulsiva

como ela. Bonita. E seus olhos... ah, Vanessa, seus olhos me fazem

lembrar os dela, como se ela nunca tivesse partido.

Lágrimas desceram do seu rosto e eu limpei suas bochechas,

sentindo meu peito sofrer. Tanto por Hank como pela Ariel, que

diferente de Hank, não podia voltar.

— Eu aprendi a amar você, Trent. Sua amizade é muito

importante para mim. — Eu sorri e ele beijou minha testa com

carinho.
Eu adormeci em algum momento em seus braços, e quando

acordei, estávamos na cama. Seus soluços me acordaram e eu

abracei sua cintura, querendo acalmar o coração daquele homem

enorme, mas que sofria como um menino.

Quando acordei novamente, Trent estava longe de ser visto.

Eu saí do seu quarto e encontrei uma nota sobre o balcão da

cozinha.

Tinham dois quadrados, e ao lado deles "SIM" e "NÃO". Fiz

um X no quadro ao lado da resposta positiva e escrevi embaixo.


Saí de sua casa e fui para o meu carro. Assim que fiz o

caminho para o portão de saída do estacionamento, eu procurei

meu celular na bolsa, e por um segundo não prestei atenção na

frente. E só bastou esse segundo para meu carro bater, mesmo que

de leve, em um que ia encostar. Eu me afundei no banco, querendo

morrer.

Apertei meus olhos e respirei fundo.

Saia desse carro e aja como a adulta que você é!

Eu queria muito, mas a vergonha de bater em outro veículo

sem ter nem mesmo saído do estacionamento me fez abrir a porta e

deslizar para o chão. Sim, eu realmente estava fazendo isso.

Engatinhei para longe, querendo voltar para o quarto quentinho de

Trent, mas o rosnado que se seguiu com uma batida forte de porta

me fez ficar completamente em choque.

Qual era a probabilidade de eu bater logo no carro dele? Meu

destino era um grande babaca.


— Se levanta, Vanessa! — Hank rugiu.

Senti a raiva crescer de maneira avassaladora.


O líquido marrom no copo cristalino em cima da mesa parecia

brincar comigo. Instigando-me, me puxando para ele, mas, por mais

que eu quisesse muito, não ia ceder.

Eu me ergui da minha poltrona e vi a lambança que deixei

para trás por causa das minhas botas, que estavam sujas da água

do rio. Carmem ia me matar ao ver a verdadeira imundície que fiz ao

caminhar dentro de casa com elas.

Olhei para a paisagem verde da minha fazenda e respirei

fundo. Por que ela tinha que me fazer sentir isso? Nunca gostei de

ninguém. Sabe essa inquietação insuportável no peito só de pensar

em Vanessa? Nunca senti e isso estava bom para mim, eu não

podia me comprometer com ninguém. Audrey era o meu

comprometimento. E eu não ligava se a vadia da mãe dela vinha no

pacote. Minha filha era meu mundo.


— Hank — Carmem falou da porta e eu encarei seu rosto

enrugado. — O almoço está pronto. Quer que eu chame Susan?

— Já estou aqui, serviçal. — A voz da minha ex-amante

surgiu e, em seguida, suas pernas longas também.

— Respeito, Susan! Carmem é de casa, bem mais que você

— repreendi, querendo matar o sorriso presunçoso dela. — Peça

desculpas.

— Desculpa. — Ela revirou os olhos claros e saiu da minha

sala pisando duro.

— Eu não ligo, Hank. — Carmem sorriu.

Eu me aproximei respirando fundo e beijei sua testa antes de

me afastar.

— Eu ligo. Você é como uma mãe para mim. Susan vai ter

que aprender a respeitá-la.

Saímos do meu escritório e fomos para a sala de jantar.

Susan já estava sentada, então escolhi a cadeira na extremidade


mais longe dela.

— Nunca mais viu a gorda nojenta? — Eu enruguei a testa,

tentando ignorar sua provocação. — A brasileira cheia de celulite,

Hank.

— Não fale assim dela, Susan. — Meu resmungo irritadiço só

a fez sorrir.

— Eu acho patético você se interessar por alguém como ela.

Seu irmão é patético também, claro. Os maiores fazendeiros do

estado interessados por duas pilantras estrangeiras. — Ela levou a

colher aos lábios enquanto eu respirava fundo e não a respondia. —

Como é mesmo o nome dela? Hum... Vanessa! Encontrei peças

íntimas no seu quarto outro dia, eram dela? Um vestido também, se

não me engano.

Seu olhar, ao ver o quão rápido eu ergui o rosto, se tornou

raivoso. Nunca falei abertamente sobre Vanessa com Susan.


Sempre foi o silêncio, até porque não tínhamos nada. Não devia

satisfações a ela.

— Não mexa nas minhas coisas! Não entre na porra do meu

quarto, Susan! — Me ergui, furioso. Foda-se, nem comer em paz eu

podia na presença dessa mulher.

— É dela? — Seu sorriso imundo fez minhas entranhas se

corroerem.

— Sim, porra, é dela, e eu espero que você tenha deixado no

lugar que estava — resmunguei, sentindo minhas veias

esquentarem.

Vanessa esqueceu roupas aqui e, foda-se, eu não estava

interessado em devolver.

— Eu queimei. Não quero nada daquela vadia aqui!

Sua voz gritada me fez jogar a taça na parede. Os cacos de

vidro fizeram barulho ao caírem no chão, enquanto o líquido escuro

escorria pela parede.


Eu me ergui e andei até ela. Seu sorriso sumiu quando eu a

peguei pelo braço e encarei seu rosto coberto de maquiagem.

— Se você tiver queimado, Susan, eu juro que todo o

dinheiro que eu deixo na sua conta vai sumir!

Seu rosto ficou branco e ela se esticou, se afastando de mim.

— O que você sente por ela? Seja sincero! — Seus olhos se

semicerraram e eu voltei a me aproximar dela.

— Você já sabe a resposta para essa pergunta.

— Fale...

— Eu a amo — falei abruptamente e ela se afastou,

respirando fundo. Seus dedos ficaram brancos enquanto apertava a

cadeira ao seu lado.

Nunca disse essas palavras para ninguém. Nem mesmo

Vanessa sabia disso, e olha eu ali, falando para a única pessoa que

me impedia de estar com a mulher que me dominou.


Ela engoliu em seco e desviou os olhos dos meus por um

segundo.

— É uma pena, de verdade. — A mãe da minha filha sorriu

sem mostrar os dentes e deu de ombros. — Você nunca vai ficar

com ela.

Suas palavras ecoaram pela minha cabeça enquanto ela se

afastava. E por mais que eu quisesse que ela estivesse mentindo,

sabia que não estava.

Vanessa era aquele desejo que todas as pessoas tinham,

aquele inalcançável. O que todos os dias você queria que se

realizasse, mas a cada amanhecer ele ficava mais distante e você ia

perdendo a esperança.

DIAS DEPOIS
— Você não pode fazer isso — resmunguei, segurando o

volante. Seu olhar se prendeu ao meu pelo retrovisor e seu lábio

gordinho apareceu. — É feio! Sabia que ela está fedendo até agora?

— questionei e ela parou de me olhar e começou a bater palmas. —

Que isso não se repita.

Sorri escondido ao me lembrar da cara da Marie ao sentir que

Audrey tinha feito cocô em seu colo. Coitada.

— Agora vamos lá... — Minha voz sumiu quando senti uma

batida na lateral do meu carro.

Olhei para Audrey e a vi ainda batendo palmas e rindo. A

pancada não foi forte para assustar minha filha, mas eu queria

esmagar o desgraçado que fez isso. Saí do carro rosnando e

encontrei a mulher abaixada, de quatro no chão, do lado de dentro

do estacionamento. Sua bunda redonda e grande me fez respirar

fundo. Vanessa.
— Se levanta, Vanessa! — gritei, dando passos para o lado

de Audrey. Abri a porta do meu carro e peguei minha filha enquanto

ela se erguia e me encarava parecendo chocada.

— Desculpa. Oh, meu Deus, você está com Audrey! — Seus

olhos triplicaram e ela correu até mim, inspecionando minha bebê.

— Oi, Sunshine, você está bem? — Vanessa sorriu e seus olhos se

encheram de lágrimas enquanto acariciava o rosto de Audrey.

Audrey riu e deu gritinhos enquanto batia palmas e pegava o

cabelo de Vanessa.

— Posso pegá-la? — Sua voz estava suave. Acenei,

entregando minha filha a ela. — Ei! Eu estava com saudades.

Desculpa pela pancada. Ainda continuo desastrada. — Vanessa

brincou, fazendo cócegas na barriga dela.

Audrey riu muito enquanto ficávamos parados na saída do

estacionamento. Um carro parou atrás do veículo de Vanessa e ela

me entregou Audrey dizendo que ia estacionar novamente.


— Espere um pouco! — ela gritou para o homem que

buzinava atrás dela.

Não levou mais que três minutos e logo ela estava de volta.

Ela pegou Audrey novamente e ficou conversando com ela por

vários minutos.

— Tem uma lanchonete ali do outro lado. Estou com fome,

então... — resmunguei as palavras e acenei com a cabeça na

direção da pista.

As duas foram na frente enquanto eu estacionava meu carro

também. Assim que entrei no local com a bolsa de Audrey, eu as

encontrei a uma mesa mais afastada. Eu me sentei na frente de

Vanessa e esperei Ruth se aproximar.

— Hank. — Ela sorriu e eu retribuí o gesto. Conhecia Ruth

desde que éramos moleques. Ela era uma boa amiga.

— O de sempre — pedi e encarei Vanessa. Sua atenção

agora estava focada em mim e Ruth. — Você quer algo?


— Um sanduíche e suco natural de laranja. Por favor — ela

agradeceu e me encarou quando Ruth saiu. — A regra da Susan é

só direcionada a mim? Você pode ficar com outras? — Seu rosto

endureceu e eu continuei olhando para seus olhos sem responder.

— Pelo visto...

— Eu sei onde estava. Sei que Trent mora ali. — Apontei

para o prédio à nossa frente.

— Sim, eu tenho dormido no apartamento dele.

A raiva que essa frase fez surgir me fez ver escuro. Apertei

meus dentes e olhei para minha filha. Seu sorriso me fez

relaxar. Está tudo bem. Vanessa podia dormir com quem quisesse.

Isso não era da minha maldita conta.

Nossos pedidos chegaram e eu agradeci a Ruth com um

sorriso sincero. Comi em silêncio e dei suco para Audrey em

pequenos goles.
— Desculpa, eu não deveria falar sobre isso — resmunguei,

vendo que se eu não falasse nada, ela ia continuar fingindo que não

estava ali.

Vanessa era mestre nisso. Em me ignorar.

— Tudo bem, desculpa também. — Ela esfregou o nariz com

a palma da mão e sorriu, colocando o cabelo loiro-escuro atrás da

orelha. — Enfim, como você está? — Ela mordeu seu sanduíche,

segurando-o com uma mão enquanto segurava Audrey com a outra,

que estava sentada na mesa, brincando com seu mordedor.

— Bem... Vanessa... — comecei, apertando meu punho.

Como podia começar? Não achei que seria tão difícil. — Aquele dia

no lago...

— Está tudo bem...

— Não, não está. Eu menti, não tenho nada com Susan, nem

quero. — Encarei seus olhos arregalados e baguncei meu cabelo

depois de tirar o chapéu e colocá-lo sobre a mesa. — Sei que você


está seguindo em frente e, por mais louco e sem sentido que isso

pode ser, eu preciso admitir que você está certa. Não quero que

espere por mim, não vale a pena. — Minha voz soou tão grave,

como se eu estivesse à beira de um colapso, mas eu sabia que isso

nunca acontecia comigo. Peguei Audrey e me ergui, respirando

fundo.

— Hank...

— Eu preciso ir, estou levando Audrey para casa. — Sorri

para minha filha, sentindo suas mãozinhas em meu rosto. Voltei a

encarar Vanessa e tentei memorizar essa visão. — Espero que ele

te dê tudo que eu queria poder dar. Você merece.

Eu me afastei com a única razão do porquê de eu abrir mão

de Vanessa era o certo em meus braços.

Não consegui chegar ao meu carro. Vanessa me chamou

assim que chegamos ao estacionamento. Eu me virei e a vi de

braços cruzados e sorrindo para mim.


— Não vou tomar seu tempo. — Ela respirou fundo e seus

olhos redondos e escuros brilharam. — Eu amo você. Não sei

quando aconteceu. Não lembro direito, e pra mim não importa. —

Ela mordeu seu lábio e deu de ombros. — Não sei o que Susan

pode ter contra você. Sei que ela usa Audrey e sinto muito por isso,

vocês não merecem isso. Porém sei que você sabe dos seus

direitos como pai. Ela não pode fazer o que bem entender. Só quero

que saiba que eu estou aqui. Não vou dizer que estarei sempre

esperando, pois não sei se vou mesmo, mas eu moro a poucos

quilômetros da sua casa. No dia que quiser lutar pela gente, eu juro,

vou amar você e sua filha como se fossem meus. — Vanessa

limpou as bochechas molhadas enquanto eu engolia com

dificuldade. — Eu moro aqui agora. Não vou fugir. A decisão é sua.

Ela se virou e correu para seu carro. Eu fiquei completamente

parado, sem saber o que fazer. Audrey pareceu sentir meu

desespero, pois passou seus bracinhos pelo meu pescoço e me

abraçou.
Eu fui embora.

Isso. Eu voltei para o Brasil. Não, quero dizer, só estava indo

buscar algumas coisas que deixei lá. Voltarei em breve!

Vanessa

Eu reli o bilhete mil vezes, mas não conseguia me levantar e

partir. Algo estava para acontecer e eu não queria sair do Texas.

Minha mala, ao lado da cama, me dizia que estava tudo pronto. Eu

só precisava me erguer.

Encarei a janela aberta e respirei fundo. Eu queria me

despedir dele. Porém não achei que fosse algo aceitável depois de

semana passada. Expor-me tanto para Hank foi impulsivo e um

tanto desesperado, mas não me arrependia. Eu queria que ele

soubesse que eu o amava. Eu o esperei ontem e todos os outros

dias. Eu o imaginei chegando e gritando o quanto me amava e me


queria. Até sonhei com isso depois de adormecer sem nenhum

vestígio dele.

— Está tudo certo? — Elena perguntou ao entrar.

— Sim. — Acenei, me levantando.

— Kai está te esperando — minha irmã avisou.

Eu sorri, indo abraçá-la. Apertei seu corpo contra o meu e a

segurei por longos segundos.

— Você me perdoa se eu não voltar? — questionei, ao

encarar seus olhos brilhantes.

— Vanessa...

— Só responde — pedi, sentindo meu coração apertar. Sabia

que isso era extremamente egoísta, mas era como se eu fosse

quebrar a qualquer momento. A cada segundo de espera, meu

coração se contorcia de dor.

— Não faria diferente de você... Sempre vou te perdoar. Não

importa. Sei o quanto está sendo difícil para você estar aqui, tão
perto dele...

— Dias atrás a gente conversou. Eu falei claramente que o

amava e que eu só estava esperando-o se erguer e lutar. Passei

todas as noites esperando. Uma idiotice... — Enruguei meu nariz e

revirei os olhos lacrimejantes.

— Tenho certeza de que esse tempo longe fará bem a você,

e talvez faça ele mudar de ideia.

— Pode ser. — Respirei fundo.

Ficamos caladas quando Kai entrou no quarto para pegar

minha mala. Nós o seguimos em silêncio, enquanto ele levava

minha bagagem para o carro.

— Cuide-se! — falamos ao mesmo tempo e sorrimos.

— O plano é voltar daqui a uma semana...

— Se ele mudar, não precisa se preocupar. Estarei sempre

aqui.
Eu acenei para Elena e a abracei antes de me afastar. Kai se

despediu dela e nós seguimos para longe da fazenda.

Meu cunhado batucou seus dedos no painel do carro

diversas vezes e eu revirei os olhos, encarando a paisagem verde.

Passaram-se mais alguns minutos e o barulho chato não cessou.

— Para com isso — pedi, irritada, encarando seu perfil.

— Olha...

— Cala a boca. Seu irmão é um idiota master, e você

também é se pensa que ele vai lutar por mim em algum momento.

Eu cansei de lutar por ele...

— Você lutou? — Ele arqueou a sobrancelha espessa e eu

abri a boca.

— Porque Hank te ama, será que ele não está precisando que você

lute também?

— Sabe de uma coisa, Kai? — resmunguei, começando a me

irritar. — Seu irmão já sabe tudo que eu sinto por ele, sabe que
estou aqui esperando por ele, mas advinha? Ele me quer, mas tem

algo que o impede. Não posso fazê-lo lutar, isso tem que vir dele.

— Eu sei... — sua voz sumiu quando seu celular começou a

tocar. O nome do satanás apareceu e eu fingi que não vi e olhei

para a janela.

— Ei! — Kai colocou no viva-voz e, em segundos, ouvi Hank.

— Preciso que venha à minha casa. — Sua voz estava rouca,

até um pouco fraca.

Engoli em seco, tentando não me preocupar.

— Eu estou indo — ele começou, mas parou quando eu me

virei e coloquei o dedo indicador sobre os lábios, mandando-o ficar

quieto — comprar umas coisas para Helena.

— É... importante, cara.

O modo como ele falou me deixou em alerta. Será que

aconteceu algo? Ele parecia assustado.


Kai se virou para mim com os olhos esbugalhados, sua

expressão me dizia o que eu já desconfiava. Algo aconteceu e era

sério. Acenei dizendo que podíamos ir lá e Kai soltou o ar preso.

— Estou a caminho. — Ele desligou e deu a volta, indo em

direção à casa do irmão. — Ele nunca falou isso para mim, claro, às

vezes ele precisa de mim, mas é algo da fazenda... hoje, o jeito que

ele falou...

— Eu sei. Ele está com problemas.

Assim que chegamos, eu me abaixei e fiquei dentro do carro.

Kai me encarou como se me achasse uma doida, mas não me

importei, abanei minha mão e o mandei seguir.

— Porra, ele está vindo pra cá — ele resmungou antes de

soltar o cinto. Eu voei para o assento de trás e me abaixei, tentando

me esconder.

Consegui ficar entre o banco do passageiro e o de trás com

muita dificuldade. Kai não teve a chance de sair do carro, Hank


entrou rapidamente e bateu a porta, fazendo meu coração trovejar.

— Vamos para o pasto do lado sul — ele disse de forma

simples e Kai não falou nada, apenas começou a dirigir.

Quando o carro parou, eu senti minhas costas doerem como

se estivesse tirando sua virgindade e comecei a rezar, pedindo que

essa conversa fosse rápida. Minha coluna ia mudar de lugar se eu

ficasse naquela posição mais tempo.

— O que está acontecendo? — Kai questionou quando já

estavam parados há bastante tempo.

— Eu escondi isso por muito tempo — Hank começou.

Eu senti que não deveria de jeito nenhum estar ali. Essa

conversa não era para ser compartilhada comigo.

— Do que está falando?

— Vanessa veio falar comigo dias atrás. Ela... eu a quero,

Kai. Aquela diaba chegou de supetão na minha vida e fez uma


bagunça. Eu não durmo por causa dela, fico tramando várias

maneiras de me esgueirar pela sua casa para ir ao quarto dela...

— Cara, você está tão fodido...

— Eu sei! — Hank gemeu e o peso do seu corpo inclinou o

banco por alguns segundos. — Vanessa é tudo que eu nunca quis

na minha vida. Ela é impulsiva, mandona e tão teimosa. Às vezes

quero esganá-la...

Eu apertei os olhos, sentindo uma grande vontade de bater

nele crescer dentro de mim.

Me esganar? Idiota!

— Então, por que não a reivindica?

Meus olhos se fecharam mais com as palavras de Kai.

Reivindica? Que porra era essa?

— Essa é a parte difícil... — A voz dele sumiu e eu prendi a

respiração, temendo que ele descobrisse que eu estava ali. — Se


eu for contra a Susan, algo grande... ela tem uma coisa contra mim.

Um segredo.

— Que segredo, Hank? — Kai pareceu realmente

preocupado.

Mordi minha unha, tentando controlar a ansiedade.

O que poderia ser? O que ela tinha contra ele que o fazia

temer tanto a revelação? Eu não conseguia imaginar nada.

— Não vou contar, Kai. — Ele respirou fundo e eu fechei

meus olhos. — Eu só... às vezes, eu quero que ela conte logo tudo,

mas aí me lembro o quanto isso faria alguém sofrer, e acabo

desistindo. Ontem, eu quase saí de casa e fui até Vanessa, mas

desisti assim que entrei no carro.

Meus olhos se encheram de lágrimas ao ouvir seu lamento.

Sua respiração estava forte e os dois permaneceram calados por

alguns segundos.
— Se seu segredo envolve alguém, acho que essa pessoa

tem que saber, Hank. Não importa se vai machucar. Você viu o que

um segredo fez com meu casamento. Eu quase perdi Elena e...

porra! Eu sofri muito. Não quero que isso aconteça com você

também.

— Eu sei. Às vezes eu quero. Só que não é fácil. Se um dia

eu conseguir, essa pessoa nunca me perdoará. Nunca.

— Mas você ama a Vanessa, não é?

— Claro! Amo aquela demônia e a quero meu lado, mas não

posso.

— Fiquem escondidos por um tempo. Depois vocês

resolvem...

— Ela nunca aceitaria isso. Vanessa é muito orgulhosa,

nunca aceitaria Susan entre a gente. — Hank suspirou, talvez

tentando pensar na possibilidade.


Não contrariei o seu raciocínio. Eu não aceitava ser mais um

dos seus segredos. Queria-o por inteiro. Ele e Audrey. A menina me

enlaçou tanto quanto seu pai. Eu a adorava.

— Não sei, então. Você precisa pensar muito. Não queria te

dizer, mas ela está indo ao Brasil. Vai pegar algumas coisas lá, mas

é um tempo longe. Talvez vocês conversem quando ela voltar...

— Sério? Ela não me avisou nada.

Eu ia avisar em qual momento, seu jumento?

Nem mesmo lembrava que estava a caminho do aeroporto.

Agradeci por meu voo ser à noite, então tinha tempo.

— Enfim, eu aconselho você a deixar Susan falar o que

quiser. Você não teme nada sobre Audrey, não é? Você sabe, seus

direitos e tal.

— Claro que sei. Não sou idiota. Se eu quiser tiro a guarda

de Susan em um piscar de olhos. — Ele parecia até ofendido com a

pergunta de Kai.
Os dois ficaram calados e enfim Hank disse para Kai voltar.

Hank saiu do carro assim que estacionamos. Minha bunda dormente

me fez gemer quando tentei me erguer. Meu Deus! Meus olhos se

arregalaram quando vi que estava presa. Sério?

— Vamos, Vanessa! — Kai resmungou, com um sorriso falso

para Hank.

— Eu não consigo. Minha bunda gorda está presa! — eu

sussurrei, tentando deixar o som o mais baixo possível.

— Meu Deus, você é inacreditável! — Kai deu a ré e eu

comecei a chorar, pensando que ficaria ali o caminho inteiro.

— Kai, eu vou contar para Elena o que está fazendo, seu filho

da puta desgraçado! — gritei sem me importar de falar baixo.

— Estou fugindo, Vanessa... caralho, cala a boca.

— Ei! Espera aí! — Hank gritou do lado de fora e Kai pisou no

freio, fazendo meu rosto colidir contra o assento.


— Puta que pariu! — Meu gemido sumiu quando uma das

portas se abriu e eu caí para fora, aterrissando nos pés de Hank.

Às vezes, eu achava que Deus me odiava. Era cada situação

que ele me colocava. O que eu fiz com o Senhor, hein?!

— Kai, o que diabos a Vanessa está fazendo nos meus pés?

— Eu estou levando-a para o aeroporto. Ela me convenceu a

deixá-la escutando a conversa. Ela é terrível, você sabe.

Eu fiquei de quatro, completamente chocada. Tentei me

erguer, mas Hank segurou minha bunda para baixo com sua bota

sexy demais para ser xingada.

— Vai embora. Essa diaba não sai daqui até eu dizer que

pode.

Eu tentei controlar o que as palavras, a voz e o jeito daquele

homem fizeram em meu corpo, mas era estúpido. Sempre estava

molhada e pronta para ele. Eu era uma idiota.


— Você que manda. — Kai foi embora e Hank me pegou nos

braços, me jogando sobre seu ombro em seguida.

— Hank, me coloca no chão! Eu posso...

— Não faça barulho se não quiser que minha mãe a veja

assim.

Minhas bochechas coraram e eu fechei meus lábios, temendo

que Cassie me visse. Não a vi hoje quando acordei, então dizia

muito sobre ela estar ali com Hank. Ela vinha sempre que podia,

pois adorava cuidar dele – mesmo não sendo sua mãe de sangue –

e da Audrey.

Ele entrou na casa em silêncio e subiu a escada sem fazer

qualquer ruído. Meu colo esquentou ao imaginar alguém nos

pegando.

Contrariando todas as minhas expectativas e ansiedade,

Hank apenas me colocou sobre sua cama ao chegarmos ao quarto.

Ele não me beijou, nem possuiu o meu corpo como sempre fazia.
Não sabia o motivo do seu comportamento ter mudado, mas

sabia que estava surpresa.

— Você ouviu tudo. — Hank passou a mão pelo cabelo ao

mesmo tempo que jogou o chapéu na cômoda ao seu lado.

— Ouvi — respondi, mesmo que sua frase tenha sido uma

afirmação, não uma pergunta. Engoli em seco, tentando acalmar

minha respiração.

— Olha...

— Eu te amo — murmurei sem querer adiar isso mais ainda.

Nós falamos que nos amávamos para todas as pessoas,

menos um para o outro.

Eu estava cansada disso. Cansada de correr, correr e nunca

chegar a nenhum lugar. Cansada de querer adormecer nos braços

desse homem à noite e não poder. Meu coração sempre ia dar um

jeito de estar perto dele. Era inútil fugir disso.


— Quero que saiba disso e eu preciso, Hank, que você fale

para mim — pedi, me erguendo e dando dois passos, chegando à

sua frente. Inclinei minha cabeça e encarei seu olhar intenso.

Eu nunca amei um homem antes. Namorados do colegial?

Paixonite boba. O que Hank fez nascer dentro de mim era

completamente insano, maravilhoso e incrivelmente assustador.


Seus olhos desviaram dos meus e ele respirou

profundamente. Eu já sabia o que vinha a seguir. Rejeição. Estava

tão acostumada que podia prever.

— Eu te amo, Vanessa. — Suas palavras me chocaram.

Meus lábios se abriram e eu tentei formular alguma resposta,

mas nada saiu.

— Hank...

— E eu quero você ao meu lado. Hoje, amanhã e sempre. —

Ele andou até mim e se ajoelhou aos meus pés. — Você quer,

menina atrevida? — Suas mãos se entrelaçaram às minhas e eu

continuei sem fala. — Você precisa responder, diabinha. — Seu

sorriso no final da frase fez meu coração bater freneticamente.

— Você não está brincando, né? Tem alguma câmera? É

pegadinha? — Minha voz retornou e eu desatei a falar. — Não

brinque com isso, por favor...


— Nunca falei eu te amo para nenhuma mulher, Vanessa. —

Seus dedos entremearam no meu cabelo e esfregaram o couro

cabeludo. — Só pra você.

— Mas e o segredo? — perguntei, temendo sua resposta.

Não queria que ele se lembrasse do motivo de não poder ficar

comigo, mas precisava saber.

— Não estou pronto para contar e acho que nunca estarei,

mas — ele olhou para minhas pernas e fechou os olhos por um

segundo — eu preciso de você comigo, encrenqueira. E nem meu

medo de perder quem amo vai me obrigar a te afastar de novo. Não

aguento, Vanessa.

Sua voz rouca me chamando de encrenqueira me

desmontou. Queria saber se Hank tinha noção do quanto me tinha

na mão. Do quanto meu coração, corpo e alma pertenciam a ele.

— Então, eu quero. Quero tudo com você, Hank. Tudo! — Eu

me joguei em seus braços e ele me apertou contra seu peito.


Não me mexi para beijar seus lábios ou procurar seu corpo,

só queria ficar ali, em seus braços. Sentindo-o me embalar e me

proteger.

Nunca fui abraçada de maneira tão necessitada. Com tanta

urgência. E eu amava que fosse Hank Ross, amava que ele

precisasse de mim em sua vida tanto quanto eu precisava dele na

minha.

— Eu te amo, sua demônia — Hank sussurrou em meu

ouvido e se afastou sorrindo.

Pisquei encantada e logo sua boca tomou posse da minha.

Sua língua fez um malabarismo rítmico e suave, me deixando à

beira do êxtase. Segurei sua nuca e o puxei em minha direção.

Seus gemidos ecoaram no quarto e eu abri minhas pernas quando

ele tentou ficar entre elas.

Suas mãos seguraram minha cabeça e eu senti seu pau

contra meu clítoris dolorido. Esfreguei meu peito contra o seu,


sentindo os bicos ficarem rígidos. Senti uma de suas mãos vir para

a frente e segurar meu seio coberto. A ponta dos seus dedos

esfregou a carne e eu soltei gemidos incoerentes.

Hank soltou meus peitos e me segurou pela bunda, nos

levando para a cama. Tirei sua camisa, arrebentando os botões, e

montei em seu corpo quando ele se sentou. Ajudei-o a tirar a calça e

cueca e respirei fundo, vendo-o gloriosamente nu. Observei o

desejo em seus olhos quando deixei seu corpo de lado e comecei a

me despir.

Eu me inclinei já nua, com as mãos espalmadas em seu

peito, enquanto Hank guiava seu pau duro para dentro de mim.

Choraminguei, sentindo o prazer se construir cada vez que subia e

descia. Seus lábios se aproximaram dos meus peitos e eu quase

chorei quando seus dentes fincaram em um.

— Porra, sua boceta é celestial. Caralho, Vanessa.


Hank murmurou coisas incoerentes e eu gritei quando ele me

virou. Com minha mão e joelhos na cama, eu o senti empurrar com

força para dentro de mim. Suas mãos agarram minha bunda e ele

brincou com meu rabo, gemendo.

— Porra, seu rabo está implorando pelo meu pau,

encrenqueira.

Nem fodendo, mas não o respondi. Meus gemidos encheram

o quarto.

— Isso, você me pertence, Vanessa. Minha. Cada centímetro

do seu corpo é meu.

Sua voz ecoou desesperada.

— Me foda mais e fale menos, Hulk. Preciso do seu pau, sua

língua só depois.

Ele riu em meio aos gemidos.

— Minha putinha safada.

Gemi mais alto e minha boceta apertou, gozando.


Sua respiração estava contínua e eu sabia que ele tinha

adormecido. O lençol macio correu pelo meu corpo e eu me sentei,

deixando o tecido sobre ele. Corri para o banheiro e tomei um banho

rápido. Vesti minha roupa e saí do quarto, deixando Hank

adormecido.

— Vanessa? — Eu me virei e vi Cassie.

Seu sorriso cresceu e eu relaxei um pouco.

— Oi, Cassie. Hum... onde Audrey está? — questionei para

não ter que responder eventuais perguntas.

— Estou dando o almoço para ela. Venha. — Ela me guiou

pela casa e eu a segui sem falar nada.

Quando encontrei Audrey, meu sorriso resplandeceu. Seu

rosto vermelhinho estava coberto de comida, então me aproximei


pegando o guardanapo. Sentei-me à sua frente e a limpei.

— Ei, Sunshine! Você tá uma bagunça, hein?! — Ela sorriu

batendo palmas e meu coração apertou, cheio de carinho.

Cassie apareceu ao meu lado e me entregou o prato com a

comida de Audrey. Eu ergui o olhar e encontrei seu sorriso.

— Preciso ir lá em casa, sabe. Maria pode fazer um almoço

dos deuses, mas minhas louças sou eu quem tomo conta. — Ela riu

e eu acenei, tentando parecer calma.

Quando ela saiu, eu me virei para Audrey e respirei fundo.

— Como está? — questionei, pegando sua comida e levando

até seus lábios róseos. — Pode falar. Vou amar saber como foi hoje

no berço e, por favor, não poupe detalhes da hora do cocô...

Seus olhos se enrugaram e eu fiz careta.

— Sei. Imagino que sim — respondi, ainda com o rosto

franzido. — Bebês são lindos, mas seus rabos são outra história,

né? Podres! — resmunguei, tapando meu nariz.


Ela gargalhou, como se entendesse a grande baboseira que

falei.

— Você vai ser uma mãe incrível. — O riso na voz do caubói

de cara amassada na porta me fez pular. Hank riu do meu susto e

se aproximou. Seu corpo estava nu na parte de cima, sua calça

jeans estava baixa e seus pés, descalços. Juro que nunca vi nada

mais sexy na minha vida.

Audrey elevou os braços e seu pai se sentou à sua frente.

Dei a última colherada e ela riu, olhando de mim para Hank. Seus

olhos brilharam e eu beijei sua bochecha, parabenizando-a por

comer tudinho.

— Você é uma princesa mesmo, Audrey? — Hank

questionou, pegando-a nos braços enquanto eu assistia à interação

dele com a filha.

Sabia que amava os dois. Hank Ross era um pacote e

Audrey fazia parte dele. Nunca ia me cansar de ter os dois na minha


vida. Eu os amava.

— Então, como sua boadrastra estava falando sobre cocô

com você, acho que ela te deve um banho, não?

Audrey segurou o dedo indicador do pai enquanto ele

cheirava seu cabelo escuro.

— Eu acho que seu pai é um aproveitador, Sunshine. — Sorri

e me levantei. Coloquei o pratinho e colher na pia e fui na direção

deles. — Mas eu amo tanto você, que posso passar por mais uma

prova. — brinquei e arranquei a doce menina dos braços do pai

rabugento.

Ele riu, seguindo nós duas para o andar de cima. Entrei no

quarto dela e sorri ao ver a decoração impecável. Dei banho em

Audrey rapidinho e logo a coloquei para dormir em meus braços. A

cadeira de balanço era macia e eu fiquei me balançando nela, com

Audrey sobre meu peito sob os olhos calorosos de Hank.


— Ela gosta muito de você — ele comentou enquanto me

erguia e colocava sua filha no berço.

— Eu também gosto dela — sussurrei, acariciando o cabelo e

rosto macio de Audrey. Afastei-me e virei para olhar Hank. — E eu

gosto muito do pai dela. — Dei de ombros e coloquei minhas mãos

nos meus bolsos traseiros.

— Saiba que o pai dela também gosta de você. — Ele beijou

meu pescoço assim que parei à sua frente. — Mais do que é

saudável. — Hank piscou e eu passei meus braços pelos seus

ombros e o beijei.

Lento e cheio de amor.

— Preciso ir — murmurei contra seu peito depois de termos

almoçado.
Hank me levou para a sua varanda, se deitou na poltrona

confortável e me colocou em seu colo há um tempinho.

— Ir pra onde? — Suas palavras eram sussurradas.

— Pegar minha mala e ir para o aeroporto. — Eu me afastei

do seu peito e encarei seu olhar sério.

— O que vai fazer no Brasil? — Sua pergunta me fez sorrir.

— Pegar algumas coisas. — Dei de ombros e cutuquei minha

cutícula sem olhar para ele.

— Você queria se afastar de mim? Era por isso?

— Não... quero dizer, sim. Preciso realmente ir até lá, mas...

— Mordi meu lábio e observei seu rosto. — Era minha fuga. Estava

cansada de esperar você e nunca ser surpreendida. Meu coração

estava em pedaços, Hank. Você o despedaçou.

— E é por isso que ainda vai?

— Eu estou muito feliz por você ter deixado o segredo de

lado e estar comigo agora, mas acho que nós precisamos de


espaço. — Respirei fundo e estalei meus dedos. Hank puxou seu

cabelo e bufou. — Você precisa conversar com a mãe da sua filha.

Resolva isso de uma vez por todas e eu juro, Hank, que nossa vida

vai ser incrível.

Ele balançou a cabeça e olhou para o lado, evitando me

encarar.

— Não sou seu dono, Vanessa. Nunca vou te proibir de ir,

mas quero que saiba que não precisa ir. Estou inteiro aqui. Você tem

meu coração e as rédeas da minha vida...

— Eu amo e prometo cuidar do seu coração, mas não posso

querer as rédeas da sua vida. Você precisa tê-las sob controle e, no

momento, eu sei que não estão. — Deslizei meus dedos por sua

barba e ele fechou os olhos, apreciando o gesto. — Eu te amo,

caubói. Você é dono do meu coração.

— Tudo bem. — Ele respirou fundo e beijou minha palma. —

Vá, cuide das suas coisas e volte. Eu juro que vou dar um jeito
nessa louca da minha ex.

Eu acenei e beijei seus lábios sem pressa alguma. Ergui e

me afastei do seu corpo contra a minha vontade. Hank me seguiu

para me levar até a fazenda do seu irmão. Ficamos em silêncio

durante a viagem e, quando já estava saindo do carro, ele me puxou

pelo jeans que vestia.

— Se não voltar, eu mesmo vou buscar você. E pode ter

certeza, diaba, serei o seu inferno particular. — Suas palavras eram

sérias e eu sabia que ele ia cumprir.

— Eu adoro pegar fogo — respondi com atrevimento.

— Então você vai. — Ele segurou meu cabelo na altura do

pescoço, me fazendo inclinar a cabeça.

Seus lábios grossos eram duros e cheios de autoridade.

Soltei gemidos de dor e prazer enquanto sentia seu aperto em meu

cabelo aumentar e a dureza dos seus lábios amassarem os meus.


Hank se afastou e colocou a cabeça entre meu ombro e

cabeça, lambendo minha pele. Sua boca chupou a pele fina do meu

pescoço e em menos de um minuto estava com um roxo horrível.

— Ligue quando chegar.

Eu me afastei com as pernas bambas e corri para fora do

carro.

Quando cheguei ao Brasil, fui direto para a minha casa. Os

primeiros dias de volta ao meu país passaram depressa. Fiz o que

Hank pediu e liguei no primeiro dia. Ele pareceu satisfeito, e nos

próximos dias ele não esperou que eu ligasse, ele mesmo me

telefonou.

Deixei as malas de lado assim que o telefone tocou, mas

para minha tristeza não era Hank ligando. O número confidencial me

fez franzir a testa. Atendi a chamada quando já estava perto de cair.


— Alô?

— Você não tem noção do que está querendo que seja

revelado. — A voz melódica e raivosa denunciou quem estava me

ligando. — Estou te avisando antes, Vanessa, você não quer que

essa bomba exploda. Hank vai ruir e eu vou estar rindo ao ver você

tentando colar os pedaços do homem.

— Se isso vai te fazer tão bem, por que está me ligando? —

questionei, me encostando no balcão da cozinha.

— Porque — Susan ficou em silêncio e sua respiração ficou

forte — eu o amo e não quero que ele sofra...

— Nós duas sabemos que não o ama, então me poupe,

Susan!

— Você não conhece a gente. Não sabe o que nos une, você

é uma vadia gorda que acha que pode me separar do pai da minha

filha.
— Não só posso como já separei vocês. Não me ligue

novamente.

— Você nos separou, Vanessa? — Sua risada ecoou

barulhenta e eu apertei o celular entre meus dedos. — Não se

separa quem vive na mesma casa. Quem dorme no mesmo quarto...

— Mentirosa! — gritei, descontrolada, depois respirei fundo e

tentei me acalmar. — Susan, por Hank eu posso até pedir. Nos

deixe em paz...

— E por ele, eu te respondo. Nunca. Aquele homem é meu e

eu nunca vou abrir mão dele.

— Então, se prepare, eu serei a pessoa que detonará essa

bomba. — Desliguei e fechei meus olhos, tentando acalmar minha

respiração.

Que segredo demoníaco era esse? Eu já estava

enlouquecendo. O que ele escondia que traria tanto sofrimento?


Depois da ligação de Susan, eu fui para o meu quarto e

terminei de arrumar meus pertences. Olhei para a casa enquanto

segurava uma taça de vinho entre meus dedos.

Vivi momentos únicos ali. Nunca pensei que me mudaria, ou

que fosse deixar essa casa. Respirei fundo e deixei a taça no

balcão. Caminhei para o banheiro e tomei um banho longo, então

vesti minha camisola e fiz pipoca para comer assistindo a alguma

série. Hoje, assinei o contrato de aluguel da casa por uma empresa

de corretoria. Alguém ia viver ali a partir de agora.

Eu me deitei em minha cama e liguei a tevê, minutos depois o

barulho do meu celular fez meu coração perder uma batida. Será

que era Susan? Se fosse, eu ia ter que falar mais duramente. Não ia

deixar Hank, queria que ele lutasse por mim do mesmo jeito que eu

estava disposta a lutar por ele. Ela teria que aceitar isso.
Quando o nome de Hank apareceu, respirei fundo e fingi

calma.

— Ei!

— Oi! Está fazendo o quê? — Ele sempre perguntava isso.

Respondi o que estava fazendo e ele emendou a conversa. —

Posso ligar mais tarde, se quiser. Acabei de voltar do pasto. Estava

uma bagunça e eu estou morto.

— Claro. Só não ligue muito tarde, o.k.? Amanhã vou ter que

sair cedo — expliquei, zanzando pelos seriados na Netflix.

— Aonde vai amanhã? Está tudo certo com seu voo?

— Vou comprar umas coisas para Elena e encontrarei alguns

amigos. Nada de mais — respondi, me virando na cama. Relaxei

contra o travesseiro, ouvindo o silêncio do outro lado da linha.

— Quando eu estava aí, você saiu com aquele cara...

— Hank...
— Você disse que ele era seu amigo. É com ele que vai sair?

— Ouvi seu ciúme a léguas de distância.

— Ele estará entre as pessoas, sim, Hank. Desencana! Ele é

só um amigo mesmo. Já falamos sobre isso e eu não quero mais

um pio sobre ele — respondi, revirando os olhos. — Depois de

amanhã estarei aí. Por favor, não se esqueça de ir me buscar.

— Como eu poderia esquecer?

— E pegue o maldito notebook. Vou fazer chamada de vídeo

mais tarde. Preciso te ver, caubói...

— Eu também preciso te ver. Vou deixá-lo por perto. Tchau,

Vanessa.

— Tchau, querido.

Desliguei o celular e o segurei contra meu peito. Ah, Hank, se

soubesse que não precisava ter ciúme... você me estragou para

qualquer outro.
Lembrei-me de Susan e balancei a cabeça, espantando essa

vaca da minha mente. Mais tarde, podíamos discutir a ligação dela.

Agora eu só precisava acompanhar uma vida que não fosse a

minha. Por isso me concentrei na tevê.

Eu acordei assim que o alarme soou. Peguei meu notebook e

liguei para Hank. Meus olhos estavam pesando, então coloquei meu

celular para me despertar em uma hora.

Assim que Hank atendeu, a primeira imagem que surgiu na

tela foi seu peito exposto que me fez engolir em seco. Seu sorriso

lindo me deu boas-vindas e eu relaxei contra a cabeceira da cama.

— Tem baba na sua bochecha, Vanessa. — Ele riu de lado e

eu esfreguei meu rosto, limpando-o. Caramba!

— Você adora me deixar com vergonha, não é? —

resmunguei chateada e me deitei, colocando o notebook ao meu


lado.

— Que nada... — Sua boca parou com as palavras e seus

olhos se movimentaram. — Seus peitos estão do lado de fora da

camisola, Vanessa. — Sua voz ficou rouca e eu vi que ele estava

certo. Eu me arrumei, tentando enfiar os dois para dentro da minha

roupa, mas não cobriu tanto.

— Desculpe.

— Amor, não se desculpe, você me deu uma imagem para

minhas próximas sessões com minha mão. — Ele riu e eu revirei os

olhos para sua piada besta.

— Como foi seu dia? — Ele arqueou a sobrancelha e eu ri. —

Sério, eu acho que seu dia foi bem mais interessante que o meu. —

Dei de ombros e Hank acenou, coçando a barba.

— Dei comida a Audrey, levei-a para ver os cavalos e depois

a trouxe para dentro. Susan está aqui, então estou tentando não
ficar cara a cara com ela mais do que o necessário. O resto do dia

passei arrumando algumas cercas que arrebentaram. E você?

Ele falou várias coisas, mas a única que pareceu realmente

importante foi que Susan estava na casa dele. Encarei seus olhos e

ele respirou fundo, percebendo meu silêncio.

— E aí? Vai falar algo?

— Você não quer que eu fale. — Eu me sentei e deixei o

computador nas minhas coxas.

— Quero, Vanessa. Se eu não quisesse não tinha

perguntado. — Ele apertou a mandíbula.

Percebi os indícios da briga iminente. Era ridículo ter raiva de

brigar com ele?

— Sua ex está aí? Ela mora na sua casa? É isso mesmo?

Não tem hotel onde ela pode ficar...

— Você está ficando louca... — Hank encarou o teto

respirando fundo.
Eu tremi, começando a me irritar.

— Não, eu não estou louca. E se me chamar disso mais uma

vez, eu vou te socar quando chegar aí! — gritei, sentindo meu

sangue ferver.

— Você está parecendo uma. — Ele fechou os olhos e

apertou os dentes. — Ela fica aqui por causa de Audrey. Ela não

deixaria minha filha aqui se ficasse em um hotel. Ela levaria Audrey

e eu não suporto estar longe da minha filha. Isso está bom para

você, Vanessa?

— Você... Meu Deus, você me faz parecer uma louca mesmo.

Uma idiota, aliás. — Eu esfreguei meu rosto e respirei fundo. — Ela

não tem que deixar ou não. Audrey é sua filha, ela fica com você

quando vocês decidirem que é seu dia ou semana...

— Vanessa, o que deu em você? Você sabe que ela fica aqui,

você já a viu aqui. O que diabos aconteceu? — Ele me encarou

enquanto cruzava os braços, então explodi.


— Ela me ligou! — gritei e deixei o notebook na cama

enquanto me erguia e andava em frente à cama. — Ela me ligou e

disse que dorme com você. O que quer que eu faça, Hank? Quer

que eu ache a ideia de vocês na mesma casa boa? Eu não acho!

— Então, eu te devolvo a pergunta, o que quer que eu faça?

— ele gritou.

Eu parei de andar e fiquei de joelhos no chão do quarto, me

apoiando na cama.

— Eu só não quero ela perto de você.

— Ela é mãe da minha filha. — Seu rosto sério me disse que

ele não ia mudar de ideia.

Eu respirei fundo e acenei, enquanto me sentava na cama

novamente.

— Eu preciso dormir. Já está tarde — murmurei, encarando a

parede.
Que se foda se parecia maluca, mas eles trepavam antes de

mim, eu sabia. Elena deixou escapar. Não a queria sob o mesmo

teto que ele.

— Olha, Vanessa, eu te amo. Nunca amei nenhuma mulher

na minha vida. Susan não é nada para mim. Nem se ela estivesse

nua na minha frente agora eu dormiria com ela, sabe por quê? —

Seus olhos estavam firmes quando olhou para a tela. — Porque ela

não é você. Nunca vai ser, então para com esse ciúme idiota e com

essa briga estúpida. Quero que chegue logo, pois é você, só você

que eu quero na porra dessa cama. — Suas palavras saíram aos

gritos, e mesmo que tivessem aquecido meu coração, ainda me

sentia insegura.

— Faça o que quiser, Hank. Amanhã estou chegando, nos

falamos aí.

— Você não ouviu nada do que acabei de te falar? Caralho,

mulher!
— Ouvi e você sabe que eu te amo. E a sua filha também.

Mas não vou aceitar que Susan tenha acesso à sua casa sempre

que ela quiser. Não vou.

— Vanessa...

— É isso aí! Não sou mulher de esconder o que sinto. Se eu

tivesse um filho e meu ex estivesse na minha casa sempre você não

iria gostar. Dois pesos, duas medidas, Hank.

Eu desliguei o notebook antes que ele gritasse comigo de

novo.

Demorei para dormir, porque fiquei me questionando se

estava sendo dramática. Se, como minha mãe falava, estava

fazendo uma tempestade em um copo d'água. Mas, no fundo, eu

sabia que estava certa. Hank tinha direitos como pai, ele só

precisava brigar por isso.


— Você é louca. Quero dizer, você e Elena. Nunca imaginei

que as duas deixariam suas vidas e morariam em outro país...

— Ah, por favor! Não somos as primeiras a sair do Brasil. —

Rindo, dei um gole no meu vinho. Camila, ex-cunhada de Elena,

balançou a cabeça.

— Vocês são duas doidas. E se eles forem terroristas? Ou

pior, estiverem querendo vender vocês? — Seus olhos se

arregalaram como se a questão fosse verdadeiramente

considerada. — Vanessa, pelo amor de Deus, tem uma escuta em

você?

— Camila, pelo amor de Deus. — Gemi, quase cuspindo o

meu suco.

— Lembra da novela Salve Jorge? Ícaro, fala pra ela que se

ela estiver sendo traficada podemos ajudar! — ela gritou para meu

ex-colega de trabalho e ele tapou a boca dela, se inclinando na

mesa.
Estávamos em um restaurante, almoçando antes de eu ir

para o aeroporto à noite.

— Camila, para com isso, tá? O único problema dos machos

que Elena e essa imbecil arrumaram é o ciúme descabido. — Ele

fez uma careta ao se lembrar do episódio de Hank me arrastando da

boate.

— Eu só quero deixar claro que estou aqui para o que

precisar — afirma Camila.

Eu gargalhei, tapando a boca com uma mão e com a outra

segurando sua palma, acenando freneticamente.

— Mas me fala, quando podemos ir para lá? — Ela ignorou

meu surto e me encarou com ansiedade.

— Você quer ser traficada também?

— Eu sabia! — ela gritou e eu ri, balançando a cabeça.

— Deixe de ser estúpida! Não é nada disso.

— E então? — Ela arqueou a sobrancelha.


— Me deixem arrumar uma casa para morar depois de Elena

ter seu bebê. Com uma casa dá para receber vocês.

Passei algumas horas com eles e então me despedi. Meu

celular na bolsa vibrou mais uma vez, porém me mantive firme e

não atendi ao Hank.

Quando desembarquei no Texas já era de manhã e eu estava

morta. Não consegui dormir no voo e agora empurrava meu carrinho

com minhas malas, tentando me manter acordada.

— A porra do seu celular foi roubado? O que...

Eu nem mesmo respondi à explosão de Hank. Deixei o

carrinho perto dele e abri a porta de trás, me jogando nos assentos

acolchoados. Coloquei meu casaco na cabeça e tentei adormecer.

— Merda — ele murmurou ao longe, mas por incrível que

pudesse parecer, adormeci em seguida.


Acordei quando senti minha calça jeans ser tirada. Apenas

com minha calcinha branca minúscula, eu vi Hank jogar meu jeans

no outro lado do quarto. Virei-me na cama e puxei um lençol para

cobrir meu corpo.

— Vanessa...

— Estou há quase vinte quatro horas sem dormir, Hank —

resmunguei enquanto sentia seu corpo pousar ao meu lado.

— Por que não atendeu o telefone?

— Eu só não queria discutir.

— Tudo bem, olha, você precisa comer algo. — Ele me fez

sentar e o lençol caiu, me deixando nua novamente.

Prendi meu cabelo e esfreguei os olhos. Quando encarei

Hank, sua atenção estava em meus peitos, então me cobri

rapidamente.

— Sei que está cansada, mas estou com saudade. — Seu

olhar de cachorro abandonado me fez suspirar. Eu me inclinei e


beijei seus lábios.

— Eu te amo — murmurei contra seus lábios e ele sorriu.

Hank se afastou e pegou uma bandeja com frutas e pães

para mim. Comi devagar sob seus olhos, e quando terminei, me

deitei ao seu lado, colocando a cabeça sobre seu peito.

— Durma, diabinha. — Ele beijou meu cabelo.

Respirei fundo, sentindo seu cheiro e apertando seus braços.

De madrugada, quando acordei, procurei Hank na cama, mas

não o encontrei. Eu me levantei e saí do quarto vestindo uma

camisa dele. Desci a escada, quando cheguei aos últimos degraus,

ouvi a voz de Susan.

— Ela está aí? Você está brincando, não é? — Ela riu

escandalosamente.

Engoli em seco, me encostando na parede.

— Susan, você está bêbada, é melhor ir dormir...


— Só se vier comigo. Juro que se continuar me fodendo

sempre, nem contarei que...

— Susan, vai para o seu quarto! — A voz do Hank estava

tensa.

Mordi meu lábio, tentando me manter quieta.

— Por favor, Hank, somente hoje. Nossa despedida. Eu juro

que vou embora e deixo Audrey com você.

— Susan, não faça promessas que não pode e não quer

cumprir. — A voz dele suavizou e eu senti meu coração subir para a

boca.

Ele estava mesmo considerando a chantagem dela?

— Juro por Audrey. — Suas palavras saíram firmes, até eu

acreditei nela.

Ouvi passos e corri para cima. Consegui chegar ao quarto de

Hank em silêncio e me escondi atrás da porta. O quarto em que


Susan ficava era do outro lado da casa, mas ela precisava passar

por aqui para ter acesso.

Eu rezei pedindo que Hank entrasse em nosso quarto, mas

as lágrimas que se formaram em meu rosto depois de ouvir os

passos seguirem além da minha porta fizeram meu coração quebrar.

Oh, Hank, você poderia ter me tido por inteira. Era uma pena

que escolheu despedaçar o que tivemos.


HORAS ANTES

Eu me encostei no carro e a esperei aparecer. Já liguei mil

vezes, mas não adiantou, a diaba não me atendeu. Quando a

avistei, seu rosto estava coberto por óculos de sol enormes e, em

sua cabeça, um boné preto. Seu cabelo estava solto e eu admirei

seu corpo coberto por uma calça jeans e casaco grande, tentando

focar na minha irritação e não no jeito como ela me tinha nas mãos.

— A porra do seu celular foi roubado? O que...

Vanessa me ignorou e abriu a porta do carro, se jogando na

merda do assento. Exalando ódio e resmungando maldições, eu

guardei suas malas, que pareciam estar carregadas com pedras e,

por fim, entrei no carro.

O caminho inteiro ela foi dormindo e eu apertei o volante ao

perceber que minha raiva foi embora. Ela estava cansada, não

precisava que eu enchesse seu saco. Por isso eu foquei minha

atenção na rua e a deixei dormir em paz.


Quando cheguei à minha casa, eu a levei nos meus braços

para a cama e a deixei lá enquanto fui buscar comida. Assim que

voltei, tirei sua roupa tentando manter meu pau mole, mas foi em

vão. Pedir para eu não sentir tesão olhando para essa mulher era

quase contra a lei. Respirando fundo, eu a vi acordar e pedi para

que ela comesse.

Dormimos juntos e, mais tarde, acordei com barulho de

portas de carro batendo e gritaria. Deixei Vanessa dormindo e saí do

quarto, sentindo vontade de torcer o pescoço da cobra que

respirava para infernizar meus dias.

Desci a escada e a encontrei cambaleando. Esfreguei meu

rosto e tentei manter a calma.

— Hank... — Ela me viu antes que eu falasse algo. — Aquele

seu amigo me trouxe. Um amor, ele — ela balbuciou, se jogando no

sofá enquanto tirava a roupa e ficava de lingerie. Ela jogou seus

sapatos longe e eu cruzei os braços.


— Tenho certeza de que ele é, se te aguentou bêbada. Vá

para seu quarto e não faça barulho.

— Por quê? — Susan riu e seus olhos brilharam enquanto

colocava os cotovelos nos joelhos. — Não me diga...

— Minha mulher está dormindo, se for isso que está

pensando.

— Ela está aí? Você está brincando, não é? — Susan riu, se

jogando de volta no sofá.

— Susan — apertei meus punhos —, você está bêbada, é

melhor ir dormir. — Tentei manter minha voz calma, mas tudo que

conseguia pensar no momento era em trucidar essa mulher.

— Só se vier comigo. — Semicerrei os olhos, sentindo

repulsa. — Juro que se continuar me fodendo nem contarei que...

— Susan, vai para o seu quarto! — cortei sua fala, tentando

me acalmar. Quando falei para Vanessa que eu não dormiria com


Susan, eu falei sério. Não queria essa mulher em meus lençóis

nunca mais.

— Por favor, Hank, somente hoje. Nossa despedida. — Ela

se levantou e começou a se aproximar. Seu pedido desesperado me

fez rir um pouco. — Eu juro que vou embora e deixo Audrey com

você.

O sorriso se desfez. Eu encarei seu rosto bêbado e senti meu

coração acelerar.

— Susan, não faça promessas que não pode e não quer

cumprir. — Minha voz ecoou bem mais calma, porque, se fosse

verdade, eu consideraria dormir com ela, sim. Ela me daria de

bandeja a minha filha e manteria meu segredo guardado, por que

não?

Porém, era um jogo, infelizmente. Susan usava minha filha

contra mim sempre, hoje não seria diferente.

— Juro por Audrey.


Encarei seus olhos, que agora pareciam sóbrios, e acenei.

Subimos a escada e eu senti meu coração acelerar ao olhar

para a porta de Vanessa. Ela entenderia tudo errado se me pegasse

de madrugada pelos corredores com Susan de lingerie.

Assim que chegamos ao quarto de hóspedes, eu abri a porta

e Susan passou. Ela se deitou na cama e eu respirei aliviado

quando seus olhos começaram a pesar e ela bocejou. Não queria

que ela acordasse Vanessa.

Quando voltei para meu quarto, urgência sobrecarregou meu

corpo. Vanessa não estava nele e suas roupas sumiram. Desci a

escada tentando me acalmar. Ela devia ter ido à cozinha, talvez

beber água. Assim que cheguei à sala, eu a encontrei de pé,

completamente vestida e com a chave do meu carro nas mãos.

— Onde estava? — ela questionou, cruzando os braços.


Não consegui ver seu rosto, pois estava tudo escuro, apenas

a luz da lua, que passava pelo vidro da porta, iluminava da sua

cintura para baixo.

— Fui... beber água — menti, tentando me convencer de que

era para o nosso bem. Vanessa já estava com raiva dessa situação.

— Eu estava pensando — Ela se sentou no sofá e esfregou o

rosto —, fui ao Brasil para arrumar algumas coisas e percebi que lá

é meu lugar. — Suas palavras não tinham emoção alguma.

— O quê? Do que está falando? — Minha voz saiu dura,

confusa até.

— Ícaro, aquele amigo, me fez perceber que eu não deveria

ter vindo para cá. Lá é meu lugar, sabe? — Seu lábio inferior foi

moído pelos seus dentes e ela deu de ombros.

— E como ele te fez perceber essa merda, Vanessa? —

questionei, acendendo as luzes. Seu rosto estava vermelho e seus


olhos inchados. Imaginar que ela estava falando sério me encheu de

apreensão.

— A gente ficou. — Seus olhos fugiram dos meus e eu senti

minha pulsação acelerar.

— Ficou? Porra, você ficou com outro cara? — Eu mantive

minha pergunta baixa e me sentei na mesinha de centro diante dela.

— Fiquei, quase perdi o voo por isso.

— Você me viu com Susan? — Ignorei sua frase e fui direto

ao ponto. Seus olhos cresceram e ela engoliu em seco. — Você

está mentindo para mim, tentando se afastar, porque me viu com

ela.

— Você dormiu com ela, Hank...

— Você está me perguntando ou afirmando? — Encarei seus

olhos cheios de raiva e me surpreendi ao ver tanta mágoa e ódio

quando só desejei ver amor e alegria.


— Eu escutei a conversa de vocês, eu vi você indo para o

quarto dela, você ficou lá por longos minutos...

— Sim, e daí? — gritei, puxando seus joelhos e prendendo-a

entre minhas pernas.

— E daí? Eu estava dormindo na sua cama, seu idiota! Eu

sou completamente apaixonada por você e, do nada, você resolve

que dormir com a vaca da sua ex é algo a ser considerado. E feito!

— Eu não dormi com ela. Susan apagou minutos depois de

entrarmos no quarto.

— E se ela não tivesse dormido, Hank? — Seus olhos se

fixaram nos meus e suas mãos seguraram meu rosto. Sua unha

feriu minha pele enquanto os segundos passavam e eu não

respondia. — Eu preciso dessa resposta.

— Eu não sei, tá legal? — murmurei. Vanessa tirou as mãos

do meu rosto para começar a socar meu peito. — Era minha filha

que ela estava me dando de mão beijada, Vanessa.


— Tem meios de ter sua filha sem essa doente intervir. Você

sabe disso, Hank. Você só está preocupado de o segredo explodir.

O que é, Hank? O que você esconde que tem tanto medo?

Segurei suas mãos contra meu peito enquanto minha

respiração se intensificava. Balancei a cabeça, sem conseguir

formular frase alguma.

— Não quero mais você, Hank Ross.

Suas palavras fizeram meu estômago descer e esfriar, como

se eu estivesse em uma montanha-russa, descendo metros de

altura numa velocidade assustadora.

— Vanessa...

— Me leva para a casa dos nossos irmãos.

Encarei seu rosto e encontrei uma certeza que nunca vi.

Puxei-a para meus braços e abracei seu corpo. Para a minha

surpresa, ela deixou, não sei por que, mas ela relaxou e

correspondeu ao abraço.
— Não posso te deixar ir, amor. — Beijei seu pescoço e

continuei segurando-a.

— Ter seu segredo guardado deve ser mais forte que sua

vontade de me fazer ficar.

Ela se afastou mesmo contra a minha vontade e eu a deixei

se erguer.

— Vem.

Eu me levantei e peguei as chaves da sua mão. Andamos até

o carro e eu me virei, vendo-a descer a escada da minha casa. Suas

lágrimas estavam descendo e eu a puxei novamente para mim

assim que parou no último degrau. Segurei seu queixo e beijei seus

lábios doces devagar. Vanessa não correspondeu, e eu não

esperava mesmo que o fizesse.

Eu me afastei e a ajudei a subir na minha camionete. Dirigi

até a casa do Kai e respirei fundo, tentando abrir mão dela, mas não

consegui. Vanessa era como meu ar, necessitava dela.


— Na primeira hora do dia eu venho aqui — murmurei,

estacionando o carro.

Ela virou o rosto para mim e eu limpei suas bochechas

molhadas.

— Para quê? — Sua pergunta me fez sorrir.

— Provar que você é mais importante que um segredo. —

Afastei minha mão do seu rosto e ela saiu do carro. Peguei suas

malas e levei até a entrada da casa sob o olhar dela. Não a olhei

enquanto entrava no meu carro e ia embora.

— Acorda. — Puxei o lençol que cobria Susan e ela cobriu o

rosto com o travesseiro.

Fiquei esperando o sol raiar sentado na minha varanda,

contando as horas para acordar Susan. Peguei o travesseiro e

joguei no chão, completamente nervoso. Cansei de esperar.


— Hank, seu filho... me deixa dormir, porra! — ela gritou com

raiva.

Joguei uma calça jeans em cima dela com uma blusa.

— Veste. Agora. Sairemos em dois minutos! — gritei de volta

e só saí do seu quarto quando ela se levantou com o rosto

completamente confuso.

Esperei-a no carro, e assim que ela apareceu, vi que seu

rosto estava carregado de ódio. Eu não ligava. Foda-se ela.

Dirigi para a casa do Kai tentando anular a voz de Susan me

perguntando diversas vezes aonde estávamos indo e por que eu

estava com tanta pressa.

Desci do carro e esperei até ela estar ao meu lado para

entrar na casa do meu irmão. A sala estava vazia, mas só por

alguns segundos. Minha segunda mãe entrou com um sorriso

enorme, que enfraqueceu ao ver Susan atrás de mim.


— Hank, bom dia, filho. — Ela sorriu e se aproximou,

passando os braços por meu corpo.

— Bom dia, mãe. — Comecei chamá-la assim há pouco

tempo, e eu via seus olhos brilharem toda vez que pronunciava essa

palavra. — Pode chamar Vanessa para mim? Onde Kai está? —

questionei, vendo-a se afastar.

— Claro. Kai está...

— Aqui, maninho. — Meu irmão pulou do terceiro degrau

para o chão da sala com um sorriso de merda.

— Já falei que não deve pular desse jeito, Kai! — Elena

desceu logo atrás.

Suspirei, sem paciência.

— Onde está a Vanessa, Helena? — questionei a minha

irmã, vendo-a se aproximar e me abraçar. Abracei-a de volta e me

afastei quando ouvi passos. Vanessa desceu com a mesma roupa

que usava quando a deixei, horas atrás.


— Preciso conversar com vocês. — Cruzei meus braços e

senti meu coração subir para a minha boca.

Caralho, eu ia contar. Sério?

Dediquei um longo tempo aceitando as chantagens de Susan

para manter isso em segredo. Agora parecia que estava entre a cruz

e a espada.

Eu me libertaria desse segredo, de Susan e ficava com a

mulher que amava, ou o guardava dentro do meu coração, abrindo

mão da felicidade ao lado de quem desejava, me privando de sofrer

uma perda irreparável.

— O que diabos está fazendo? — Quando Susan pareceu se

dar conta do que viemos fazer, ela me puxou pela blusa.

— Está na hora — murmurei, encarando seu rosto

apavorado.

— Não! Não faça isso, Hank. — Ela veio para a minha frente

e empurrou meu peito. — Vamos para casa, podemos conversar. —


Sua voz baixou.

Sobre sua cabeça, encarei Vanessa de braços cruzados e

nos olhando.

— O que está acontecendo, cara? — Kai se aproximou.

— Guardei um segredo por muito tempo, mas eu sei que não

deveria ter feito...

— Hank, cala a boca! — Susan gritou, com o medo nítido em

seus olhos. — Nós vamos perd...

Esse também era meu medo, mas não podia mais. Eles

mereciam saber da verdade, meu irmão merecia. Kai me olhou

completamente confuso e eu tirei meu chapéu, puxando alguns fios.

Encarei Vanessa, nossa irmã e meu irmão, tentando ordenar

minha cabeça. As batidas do meu coração aceleraram, a minha

palma começou a suar enquanto tremi dos pés à cabeça. Caramba,

Kai ia me matar.
— Kai... — comecei, engolindo em seco. Tentei preencher

meus pulmões de ar, mas parecia que um caroço ficou preso na

minha garganta.

— Hank — Susan tentou tapar meus lábios, mas eu a segurei

contra meu peito e deixei a verdade sair de uma vez.

— Audrey é sua filha.


As palavras ecoaram na sala e eu vi tudo em câmera lenta.

Susan começou a bater no peito de Hank; Kai franziu a testa

enquanto se aproximava do irmão; Elena segurava sua barriga

protetoramente enquanto se sentava na poltrona, com os olhos

desnorteados. Cassie estava branca como uma folha limpa de

papel. E eu não sentia minhas pernas, por isso me sentei no último

degrau da escada, tentando entender o que o homem por quem me

apaixonei tinha acabado de falar.

Hank afastou Susan com cuidado enquanto ela surtava,

tentando acertar o rosto dele. Ele a colocou em cima do sofá e, por

incrível que pudesse parecer, ela permaneceu lá, vendo-o ficar no

meio da sala.

— Hank, que porra é essa? — Kai explodiu, fazendo a

pergunta que todos nós queríamos fazer.

Como assim Audrey era filha do Kai?


— Anos atrás, você foi para a minha casa em uma noite. Eu

não estava lá, Susan estava — Hank começou. Senti necessidade

de tocar seu rosto torturado, mas fiquei distante. — Naquele dia,

Susan e eu tínhamos brigado, ela estava puta, e quando você

chegou bêbado, ela achou que a ideia de dormir com meu irmão era

ótima. — Hank riu, mordendo o lábio, enquanto Susan tapava os

olhos com os dedos longos e ossudos.

— Hank, ela deve estar mentindo. Você a conhece! — A voz

da minha irmã soou tão apavorada enquanto eu a via se levantando.

Eu me aproximei e toquei seu braço, tentando acalmá-la.

— Eu queria que fosse, Elena, mas não é mentira. — Hank

respirou fundo e recomeçou. — Eles dormiram juntos. Eu cheguei e

peguei os dois transando. Kai estava tão bêbado que nem mesmo

lembrava como tinha ido parar na minha casa quando acordou no

outro dia. Dois meses depois, ela apareceu grávida. Eu não achei

que fosse meu, eu não toquei nela durante meses, e foi por isso que

ela me ajudou a juntar dois mais dois e perceber que o bebê era
seu. Susan não queria contar, ela se sentiu envergonhada e disse

que seria mais fácil se fingíssemos que era meu. Eu relutei durante

a gravidez que ela passou longe, mas quando vi Audrey na

maternidade... porra, Kai, eu desejei que ela fosse minha.

— Ela é sua! — Susan gritou enquanto eu ainda encarava

Hank. Seu olhar brilhou e eu sufoquei um soluço pela tristeza crua

que vi em seus olhos. Susan se levantou para puxar Hank pela

camisa, ainda gritando: — Vamos embora! Eu quero minha filha

agora, Hank!

Hank procurou meu rosto e eu notei o medo lá. Nunca sequer

cogitei o que poderia ser seu segredo. Agora percebia o quanto ele

amava a filha, e eu não podia cobrar isso dele. Não mesmo. Essa

dor que eu vi em seus olhos me deu angústia. O que eu fiz?

— Desculpa. Eu sinto muito por manter isso em segredo. —

Ele engoliu em seco, olhando para o irmão.

Dei um passo em sua direção, mas Elena me parou.


— Não, Vanessa. — Ela balançou a cabeça.

Eu engoli em seco, vendo Hank se virar e ir embora com sua

ex-mulher.

Meu coração doído foi com ele.

Eu me sentei no sofá e Elena me seguiu. Kai ainda estava

parado, olhando para a porta enquanto Cassie se erguia para

acalentar o filho.

— Kai...

— Jesus Cristo! O que... que...

— Audrey é sua filha, Kai. — Cassie acariciou o braço do

filho.

Eu tentei me manter parada quando minha vontade era correr

atrás do Hank e pedir desculpas.

Não sabia o motivo, mas parecia tão errado ser eu a pessoa

que o fez contar a verdade.

— Mas como?
— Você transou com ela, não estava ouvindo? — Elena

gritou e eu me assustei, como todos na sala.

— Elena, isso... meu Deus, eu não me lembro de nada disso.

— Ele apertou as têmporas e se aproximou da esposa, então me

ergui e saí de perto deles.

— Não entendo como não lembra. Casamos bêbados, e no

dia seguinte você sabia de tudo. A bebida daqui é mais forte que a

de Las Vegas? É isso, Kai? — Elena riu sem humor, completamente

transtornada. Ver minha irmã assim me matou.

— Eu não sei explicar, Elena.

— Hank não mentiria sobre isso — ela afirmou, séria.

E eu sabia o quanto ela acreditava no irmão.

Um silêncio recaiu e eu tentei organizar meus pensamentos.

Como também sabia que todos na sala faziam o mesmo. Ondas de

dor se espalharam pela minha cabeça enquanto eu tentava

inutilmente encontrar uma saída.


— Kai, o que vai fazer agora? — eu perguntei, de repente,

temendo sua resposta. Senti-me mal por sequer cogitar seu

interesse em Audrey.

— Nada. O que eu deveria fazer? — Sua voz estava distante,

até a minha irmã percebeu. O marido estava em choque. Elena

subiu no colo dele e segurou seu rosto, fazendo-o encará-la.

— Qualquer decisão que tomar eu vou te apoiar, mas quero

que saiba que seu irmão ama aquela garota com todo seu coração.

Não faça nada com a cabeça quente.

— Não vou ter um papel de pai na vida dela. O pai dela é

Hank. Eu sou seu tio. Não quero e não posso querer deixar Hank

sem ela. Não seria justo. — Suas palavras aliviaram meu coração

de uma maneira que não consegui compreender.

O que eu faria no lugar dele? Não pensaria duas vezes, eu

deixaria minha filha com Elena. Claro, eu sempre estaria por perto

sendo sua tia, e isso seria o bastante. O pai de Audrey era quem a
criava, dava afeto e carinho... mas a criança viveria para sempre

uma mentira?

Meu peito sufocou quando imaginei o rosto de Audrey em

meus pensamentos. Isso era justo? Eu não sabia.

— Mas ela é sua, Kai. Sua filha. Seu sangue — Cassie

argumentou e todos nós viramos para olhá-la. — Ele é o pai dela

porque mentiu para você.

— Cassie...

— Eu amo Hank como se fosse meu filho e todos sabem

disso, mas não posso deixar que você tome uma decisão dessa

magnitude sem pensar nos dois lados — a mãe de Kai finalizou e

respirou fundo. — Acalme seu coração, pense e repense quantas

vezes forem necessárias. E depois, meu filho, procure seu irmão.

Vocês precisam conversar.

Cassie nos deu as costas e foi para a cozinha. Eu procurei o

rosto de Kai e, por mais que eu me sentisse traindo Hank, sabia que
Cassie estava certa.

— Vamos para o quarto. — Elena segurou a mão do marido,

que ainda olhava o corredor por onde a mãe passou, e os dois

subiram a escada, me deixando sozinha.

Peguei meu celular no bolso da minha calça jeans e enviei

uma mensagem a Hank.

“Preciso te ver.”

Eu esperei resposta, mas ela não chegou. Eu me sentei na

varanda da casa e ouvi passos atrás de mim. Sabia que era Marie

pela delicadeza com que sua mão pousou em meu ombro.

— É difícil amar? — Ela se sentou ao meu lado na escada e

eu sorri fraco, olhando o mar verde à minha frente.

— Você sabe que sim — respondi, ouvindo seu arquejo de

choque.

— Eu não...
— Não te julgo — respondi rapidamente. — Uma hora ele cai

em si. Eu juro. Hank foi um turrão também, ainda é.

— Mas? — Seu sussurro me fez virar e encarar seu rosto

concentrado em suas mãos.

— Mas sei que me ama. Hoje tive prova suficiente disso. Mas

acho que não temos jeito. Não depois de hoje.

— Sei que foi algo grande. Cassie passou pela cozinha

completamente em choque e lágrimas — ela me informou e eu

acenei.

— Pois é! — Desfiei o jeans na altura do joelho e deixei o

oxigênio encher meu peito. — Enfim, só quero que saiba, vocês

podem tudo.

— Não tenho tanta certeza. — Ela deu de ombros e eu bati

no ombro dela com o meu.

— Tem sim.
Ficamos em silêncio e eu senti meu celular vibrar. Peguei-o

com pressa, mas era apenas uma notificação do Facebook.

— Vou voltar para a casa — decidi, tentando acalmar meu

coração. — Vou ficar um tempo no Brasil, deixar as coisas se

acalmarem por aqui.

— Você acha que ir é a solução?

— Lutei muito por Hank, Marie. Lutei contra seus segredos e,

depois de hoje, acho que essa família vai ter uma rachadura para

sempre, e tudo por minha culpa.

— Rachaduras se curam com amor.

— Sim, na maioria das vezes.

— Sei que sente que é culpada e, talvez, esteja esperando o

momento de Hank lutar por você...

— Ele não vai lutar por mim, sabe por quê? — interrompi sua

fala com uma risada seca e esfreguei meu rosto, tentando me

acalmar.
— Não, eu não sei. — Ela me encarou em silêncio.

Mordi meu lábio antes de suspirar para responder a ela.

— Porque lutas só acontecem quando se têm adversários.

Nada em meu corpo ou alma é contra aquele homem. Se ele

chegasse agora e me pedisse para ir com ele para qualquer lugar

do mundo, eu iria. Hank não precisa lutar por mim. Meu coração,

corpo e alma são dele. Sempre serão.

E essa era a voz da minha alma falando.

Marie sorriu segurando minha mão e, em segundos, ela me

abraçou. Não sabia, mas eu precisava daquele carinho. As lágrimas

molhavam minha camiseta e eu me segurei contra o corpo daquela

menina que sabia, tanto quanto eu, que amar alguém podia ser

incrivelmente doloroso.
“Preciso te ver.”

Eu reli a mensagem, sentado na frente de Susan, que

segurava Audrey nos braços, chorando sem parar. Ela correu assim

que estacionei o carro e pegou nossa filha dos braços de Carmem,

já chorando.

“Nossa filha.”

Ela era minha ainda?

Não estava explanando como Susan, mas temia o momento

em que Kai ia entrar por aquela porta e tirar nossa menina de nós

dois. Eu sabia que meu irmão era um homem bom, mas até que

ponto? Até que ponto o coração bondoso dele ia me perdoar por

tudo? A cada maldito vacilo que eu desse?


— Você estragou tudo — ela murmurou baixo enquanto

Audrey enxugava suas lágrimas com suas pequenas mãos.

— Ele tinha o direito de saber — eu disse, passando os

dedos pelas feridas que suas unhas fizeram no meu braço e as que

Vanessa fez no meu rosto, mais cedo.

— Não faça isso. — Ela mordeu o lábio e seus olhos

injetados me observaram.

— O que, Susan? — Encarei sua fraqueza de frente, me

questionando se eu deveria estar como ela, chorando e gritando.

— Não queira me convencer de que fez isso por Kai. Foi pela

gorda nojenta. Sei que sim. Você queria tê-la, e para isso precisou

contar a verdade para que eu não pudesse... — Sua voz calma

sumiu, como se a verdade fosse ruim demais para ser contada.

— Pudesse me chantagear? Para eu continuar trepando com

você depois que você chegasse de bares já tendo transado com

caras lá? — grunhi, irritado e apertando meus punhos. — Para que


você pudesse me privar de estar com a única mulher que amei na

minha miserável vida? — gritei, deixando-a muda por um momento.

Seus olhos fugiram dos meus e Susan respirou fundo.

— Foi por ela, Hank. Admita para si mesmo e não tente

enganar seu irmão com esse texto ensaiado. Ele não vai cair. — Ela

se ergueu e os bracinhos gordos de Audrey abraçaram o pescoço

dela.

— Me dê ela um instante.

— Não. Eu quero ficar com ela...

— Não aja como se fosse você a que pode perdê-la. Você é

mãe, Susan. Kai não pode te afastar dela. Agora de mim? — Sorri,

sentindo meu coração apertar como se um gigante, dos contos de

fadas que eu lia para Audrey à noite, estivesse com ele entre os

dedos.

— Isso deve te despedaçar, mesmo assim, você fez. Foi lá e

contou. — Ela riu, com os olhos brilhando.


Mordi a carne morna da minha bochecha e o gosto metálico

de sangue banhou minha língua.

— Você me chantageou mais vezes do que posso contar,

Susan. Era o que faria hora ou outra...

— Nunca. Sempre foi da boca pra fora. Eu nunca falaria isso

para Kai. Audrey é nossa, você não entende? De nós dois. Eu não

ligo para sangue, eu ligo para laços, e é isso que nossa filha é. Um

laço.

Susan se aproximou enquanto me mantinha calado. Seu

discurso não fez nada em mim. Estendi meus braços para Audrey e

ela sorriu, vindo para mim rapidamente.

— Vou tomar comprimidos para dor e descansar um pouco.

— O.k. — murmurei, mas não tive resposta, e mesmo se ela

tivesse me dito algo eu não saberia. Minha atenção estava na

pequena criança em meu colo. Meu mundo inteiro sorrindo para

mim.
— Eu te amo! Você ouviu? — murmurei, sentindo minha

garganta fechar.

As lágrimas que segurei por toda sua existência encheram

meus olhos. Não lembrava a última vez que chorei, mas era tão

desolador.

— Sua mãe disse que contei a verdade por Vanessa, e talvez

ela esteja certa. — Pensei alto e os olhos de Audrey piscavam

conforme me escutava. — Mas acho que Vanessa, na verdade, me

deu o empurrão que faltava. Omitir você do Kai pesava em minha

consciência todas as noites. Eu me odiava. Ele não merece, Audrey.

Eu não sou digno de ser irmão dele, nem de... filha, tenho medo do

que vou dizer, mas... ele seria um pai mil vezes melhor do que eu

para você. É inútil pensar o contrário.

Minha filha abraçou meu pescoço como estava fazendo com

a mãe e eu solucei, segurando seu corpo pequeno em meus braços

de forma protetora.
— Estou pronto para qualquer punição do mundo, Audrey,

mas não estou pronto para perder você. Nenhum pai está pronto

para perder seu bem mais precioso.

— Ele não veio aqui — Axel respondeu quando perguntei

sobre meu irmão depois de chegar ao bar.

— Tudo bem. — Assim que pedi uma dose de uísque duplo,

ele me encarou por alguns segundos.

— Vocês estão fodendo com tudo de novo, não é? — Axel

tinha minha altura, era negro e possuía um olhar duro, mas eu o

conhecia, e não era de hoje.

— Ser um Ross não te dá um passe para o clube “vou meter

a porra do nariz na vida do Hank” — resmunguei, apontando para a

bebida. — Me dá essa merda.


— Ser seu primo não dá benefício nenhum, a não ser ter um

monte de gente querendo comprar meu bar. O que eu já falei que

não quero vender.

— Eles perguntam por um negócio em potencial, eu os envio

para cá. Vai que você se prende a uma boceta e quer dar no pé

desse buraco cheio de bebida alcoólica? — Arqueei a sobrancelha e

ele bufou.

— Pode me matar primeiro. — Axel se afastou como eu

presumi que fosse quando toquei no assunto de mulheres.

Em segundos, meu uísque apareceu na minha frente e eu o

tomei num gole só. A bebida mantinha minha cabeça longe de

problemas, e hoje, o pior deles estava bem vivo em meus

pensamentos.

Vanessa. Minha diaba.


Eu acordei desnorteada. Resmunguei, ouvindo ao longe um

zumbido que me perturbava e que eu queria desesperadamente

atirar pela janela. Quando constatei que o barulho irritante vinha do

meu celular, me sentei na cama e o peguei da mesa de cabeceira.

O nome de Felicity apareceu borrado, mas eu já planejava

maneiras de matar aquela vaca.

— Felicity, você pode ter a cara mais linda do Texas, mas eu

vou te arrebentar por ter me acordado...

— Ele está bêbado como um porco no bar. Venha pegá-lo. —

A voz rouca e masculina me fez franzir as sobrancelhas.

— Quem está falando? Onde está Felicity?

— Axel. E respondendo a sua pergunta, ela está em algum

lugar entre meu balcão e o banheiro. — Ele estava impaciente, e eu,

mais ainda. — Vou jogar na calçada se não vier buscá-lo. Juro por

Deus que ele está destruindo o meu bar!


Hank.

O que estava fazendo agora?

Eu me ergui depressa e tirei uma calça jeans da gaveta e um

moletom, então comecei a me vestir, tentando equilibrar o telefone

com o ombro.

— Estou indo — avisei e desliguei o celular, tentando me

vestir.

Minutos depois, estava descendo a escada e com as chaves

do carro que Kai comprou para Elena, mas que eu também usava.

Parei ao dar de cara com meu cunhado sentado no sofá. Seu rosto

estava retorcido e ele me encarava, tentando fingir que não o peguei

zanzando pela casa quase às duas da madrugada.

— Opa... aonde vai? — Ele sorriu fraco.

— Vou buscar Hank no bar. — Engoli em seco. — Ele está...

bêbado... — consegui responder, segurando minha bolsa com um

aperto mortal.
— Vanessa...

— Sei que a situação de vocês não é a melhor e eu já decidi

me afastar por um tempo, porém... — Mordi meu lábio, tentando não

fraquejar. — Eu o amo, Kai, e eu o socorrerei quando ele precisar de

mim. Nada mais importa. — Minha voz soou firme e eu dei passos

até a porta, esperando que ele não tentasse me impedir.

— Eu também, Vanessa. Sempre estive e sempre estarei

correndo para ele. — Sua voz me parou e eu me virei, vendo-o se

erguer e andar até mim. — Vamos lá!

Eu o segui porta afora enquanto ele digitava algo no celular.

Talvez avisando a Elena para onde estávamos indo e por quê. Não

queria pensar no que minha irmã podia achar sobre isso. Hank era

seu irmão também. Querendo ou não, eu sabia o quanto ela estava

preocupada com ele.

Dirigimos em silêncio e eu agradeci por isso, pois estava

pensando em uma maneira de fazer Hank ir para casa sem causar


mais escândalos.

— Onde ele está? — questionou Kai assim que ficamos cara

a cara com Axel.

Senti alguém pegar meu braço, e quando me virei, vi Trent.

Eu sorri tentando ser simpática, mas a preocupação sobrepôs e,

claro, ele percebeu.

— Algo errado? — Seu sorriso fraquejou.

— O de sempre. — Procurei Hank por cima do ombro do meu

amigo e o vi vir em nossa direção. Seu olhar estava preso em Trent

e em mim. — Desculpa. Eu preciso ir, depois te ligo. — Cutuquei Kai

e ele se virou, vendo o irmão. Hank vacilou no passo ao ver meu

cunhado, mas voltou a andar.

— Vamos para a casa. Você já causou uma bagunça enorme

para Axel. — Kai sequer deixou Hank se aproximar de mim. Ele foi

até o homem bêbado por quem eu era louca e passou o braço por

seus ombros, puxando-o em direção à saída.


— Traga ela, Kai. Não a deixa com ele! — Hank gritou,

tentando olhar para mim sobre o ombro do irmão.

— Ela vai conosco. O que acha que ela está fazendo? Axel a

acordou às duas da madrugada por sua causa. Ela está

preocupada, como sempre.

— Vai lá. Depois me liga. — Trent me empurrou suavemente

e eu acenei, me distanciando.

Eu os segui tentando fingir demência e não ouvir o que

falavam, mas era ridiculamente impossível.

— Irmão, olha para mim — Hank murmurou quando saímos

do bar e paramos na calçada. Kai suspirou e o encarou. — Você é

importante pra mim. Tá ouvindo? Eu amo você, porra! Você pode ter

o que quiser. Eu dou qualquer coisa, até a fazenda inteira, eu posso

mudar de estado... só não tira ela de mim, Kai. Eu não vou aguentar.

Meu coração quebrou mais uma vez em vinte e quatro horas,

e não conseguia imaginar em quantos pedaços ele poderia ficar.


— Hank, está tudo bem. Vamos conversar amanhã. Com

calma...

— Fui egoísta. Foda-se, eu sou egoísta. Não pensei em você,

tirei sua filha e fiquei com ela para mim... Eu sou tão fodido, Kai. —

Hank respirou fundo e olhou para o irmão com o rosto torturado. —

Audrey é minha luz, Kai. Ela ilumina a porra da escuridão dentro de

mim. Eu não sei o que farei se eu a perder...

— Hank, está tudo bem. — Encontrei minha voz e me

aproximei, tocando seu braço. Ele me encarou e eu sorri. — Kai não

vai tirar Audrey de você. Não se preocupe com isso.

Seus olhos torturados se encheram de lágrimas, e eu não

conseguia entender como seria capaz de aguentar Hank

emocionalmente instável.

— Eu te magoei também. Isso nunca foi o que eu quis,

encrenqueira. Você me deixa louco e eu quero, na maioria das

vezes, te dar tapas na bunda, mas eu te amo. Eu te amo tanto,


Vanessa. — Seu choro começou a chamar atenção, então eu me

aproximei, tentando levá-lo para o carro.

— Vamos para a casa. Conversaremos lá — sussurrei.

Kai suspirou aliviado quando Hank entrou na parte traseira e

me puxou com ele.

— Nós precisamos dar um jeito nisso, o.k.? — Ele beijou meu

cabelo enquanto passava o braço por meus ombros e me apertava

junto ao seu peito. — Vou consertar tudo, Vanessa. Eu prometo.

— Tudo bem, Hank.

— Não me deixe, Vanessa — ele murmurou, me puxando

mais.

Suspirei e passei meu braço por sua barriga, me

aconchegando em seu peito. Assim que o carro se movimentou,

Hank começou a adormecer. Eu continuei contra seu corpo,

primeiro, porque estava com saudade; segundo, porque eu


precisava urgentemente de carinho e, terceiro, eu não estaria em

nenhum outro lugar se fosse me dada a chance.

— Vanessa, acorda. — Ouvi a voz de Kai e percebi que

estava deitada sobre um corpo na parte de trás do carro. —

Chegamos.

Eu me afastei devagar do peito do Hank e, respirando fundo,

saí do carro. Kai demorou alguns minutos para acordar o irmão, mas

logo o fez.

— Vamos lá. — Hank segurou minha mão e apertou sua

têmpora com o polegar esquerdo.

— Eu preciso ir. Quero dizer, ir para a casa do Kai. — Tentei

explicar de forma coerente, mesmo estando lesada por conta do

sono.

— Não vá. Fique, por favor — ele pediu, com os olhos

desnorteados.
— Acho melhor não, Hank. — Engoli em seco e tirei minha

mão das suas.

— Ei, só quero me desculpar. — Ele suspirou e se

aproximou, juntando nossos peitos. — Precisamos conversar, não

é? Quero explicar...

— Tudo bem. — Acenei aceitando, mesmo sabendo que não

deveria, e me virei para Kai. — Me espera — falei sem emitir som e

ele assentiu, entrando no carro.

Subi a escada com Hank e fomos direto para seu quarto.

Ajudei-o a tirar as roupas e se deitar na cama apenas de cueca.

Tentei não prestar atenção em seu corpo e me deitei ao seu lado

com delicadeza. Hank me puxou para seu peito e eu rezei, pedindo

que conseguisse sair dali sem acordá-lo.

— Eu te amo, Vanessa. Juro por tudo que é mais sagrado em

minha vida. Vamos ser uma família. Logo, logo.


Suas palavras fizeram lágrimas surgirem e descerem por

minhas bochechas, molhando seu peito, porém Hank já tinha

adormecido. Não perceberia que estava chorando nem se eu

estivesse soluçando, o que, no caso, não estava tão longe da

verdade. Passaram-se apenas alguns minutos e eu comecei a tentar

sair da sua cama. Demorei e temi que Kai tivesse ido embora

quando enfim consegui sair do seu domínio.

Eu deveria saber. Eu olhei para você no hospital depois do

meu acidente e senti que você me arruinaria para qualquer outro

cara. Gosto de pensar que era minha mãe me dando um aviso. Eu


deveria ter ido embora correndo naquele momento. Correndo para

longe.

Senti quando transamos no meio da estrada de terra que

você foderia meu corpo e meu mundo de uma maneira irreparável.

E foi o que fez.

Meu coração te ama, meu corpo te anseia e minha alma

clama por você. Tudo que era meu se tornou seu. TUDO. Você se

tornou tudo e eu sabia que isso era perigoso. Droga, Hank, você é

perigoso.

Imoral e perigoso.

Fazer seu segredo explodir me faz pensar que talvez eu

tenha feito algo muito errado. Porém, às vezes, penso que foi o

certo. Mas o que sempre martela é: não deveria ser eu.

Eu não podia ter te empurrado para aquilo. Doeu ver e dói

lembrar seu olhar aquele dia. Como se a luz estivesse sendo tirada

de você e eu não queria ser a culpada.


Se eu pudesse voltar atrás, eu teria deixado isso nas suas

mãos. Porque era isso que o Kai merecia. Você fez algo

imperdoável, e nesse momento eu não poderia somente abrir os

braços e te receber, não quando você escondeu algo tão grande da

pessoa que mais te ama no mundo. Seu irmão, Hank. Kai é seu

irmão.

Ele não merecia isso.

Agora, diante desse papel, eu fico me questionando o porquê

de tudo ao redor ter desmoronado e a gente continuar de pé. Por

que meu amor por você não se abalou com isso? Era pra ter

abalado, não era? Eu sinto que deveria, mas não sei explicar por

que não aconteceu.

Está intacto, Hulk. Meu coração ainda é seu.

Hoje, eu só decidi pegar emprestado.

E eu não sei quando vou devolvê-lo a você.

Sua encrenqueira,
Vanessa

Tinha vontade de amassar o papel, mas contive o impulso.

Naquele pedaço branco estava mais dos seus sentimentos do que

eu pude presenciar. E eu queria colocar em uma redoma.

Sabia o que a carta significava.

Despedida.

Ela estava partindo para o Brasil.

Minha cabeça latejou e eu ergui meus olhos quando ouvi

passos. Minha segunda mãe surgiu na porta e seu sorriso fraco me

fez adoecer mais ainda. Eu a decepcionei. Quantas pessoas eu

magoei com minhas mentiras? Já perdi a conta.

— Mãe, desculpa — pedi, encarando meus dedos. Os calos

já não doíam mais, e se doessem, podia apostar que nunca doeriam

mais que meu coração. Droga, eu nunca senti tanta dor.

— Está tudo bem...

— Não está. Nós sabemos disso...


— Você está certo. — Ela pegou uma cadeira e a arrastou

até mim, se sentando em seguida. Cassie estendeu sua mão para

mim e eu peguei duas aspirinas, jogando-as dentro da minha boca.

Engoli-as com água que ela também me ofereceu.

— Só quero que me perdoem. Sei que entender é impossível.

— Dei de ombros.

Ela segurou meu queixo entre os dedos, fazendo-me encará-

la.

— Amo você, Hank. Vai ser um processo, precisamos de

tempo, mas nossa família é assim. A cada queda, nos levantamos

mais fortes. — Ela sorriu e eu me joguei em seus braços como um

menino bobo.

Cassie sofreu muito com meu nascimento. Eu era o símbolo

da traição do meu pai. Eles estavam casados quando minha mãe

engravidou de mim, Cassie continuou com ele, e minha mãe se

casou anos depois. Porém, eu continuava indo à sua casa, ela me


via constantemente e eu não entendia como ela podia me amar.

Como você ama a consequência de uma traição da pessoa com

quem você escolheu viver para sempre? Eu não sabia.

Ela me segurou por um longo tempo, e quando viu o papel

entre meus dedos, deu um sorriso triste.

— Ela já foi — avisou, passando a mão pelo meu rosto.

— Eu imaginei — murmurei, dobrando a folha e colocando-a

em cima da cama, ao meu lado.

— Ela precisa de espaço, vocês dois precisam. — A voz

suave da minha mãe postiça me fez encarar seu rosto. — Foi tanta

coisa, Hank. Vanessa precisa que você a ame antes de tudo. Nós,

mulheres, esperamos por isso. Merecemos isso.

— Eu sei. Só não consigo entender como vou aguentar...

— Você aguenta. Se a ama tanto quanto diz, como não

aguentaria? Ela correu para você mais vezes do que posso contar.

Vai chegar a sua vez e, Hank, não faça feio. Faça grande. — Sua
voz era firme e eu entendi o que ela queria dizer. Vanessa merecia

mais do que eu estava dando a ela. — Depois que sua vida se

resolver, vá encontrá-la. Ela esperará por isso tanto quanto você.

Eu acenei e beijei seus dedos, enquanto ela me abraçava

novamente.

DIAS DEPOIS

Estava brincando com Audrey quando eles chegaram. Eu me

ergui do chão e Audrey sorriu para Elena, balançando as mãos em

um pedido para ir para seus braços.

— Podemos ir para o escritório e eu chamo Carmem para...

— Não precisa. Fico com ela. — Minha irmã piscou me

olhando.

Eu acenei, engolindo em seco.


— Olha, eu preciso de uma bebida — Kai avisou, andando

para o meu bar. Ele se serviu e colocou outra dose, que eu sabia

que era para mim quando me entregou o copo e se sentou no sofá à

minha frente.

— E aí? — perguntei suavemente, me sentando também.

— Onde está a mãe dela? — Elena perguntou.

Eu apertei minha têmpora, tomando um gole generoso em

seguida.

— Comprando ou alugando uma casa na cidade — respondi

de maneira firme e eles se entreolharam. — Susan fica com Audrey

uma semana, e eu, outra. Esse foi o arranjo que criamos depois

daquele dia.

— Parece bom. — Kai sorriu e eu retribuí. Seus olhos voaram

para Audrey e eu o vi tentando encontrar semelhanças com ela. —

Não quero tomar seu lugar de pai dela, Hank. Pensei muito sobre
isso. Você é o pai dela. Você sempre será e está tudo bem. Sou o

tio... mas...

Eu o esperei terminar de falar, mas ele não continuou. Seus

olhos voaram para Elena e ela deu um sorriso fraco.

— Mas ele quer um exame de dna e, se der positivo, que

contemos a verdade a Audrey quando ela tiver idade suficiente. —

Elena terminou por ele. Eu acenei, bebendo o restante do meu

uísque. — Não quero que ela viva uma mentira como... — Sua voz

se partiu e eu suspirei.

— Você — finalizei.

Ela acenou, mordendo o lábio. Elena soube da pior maneira

que sua mãe não era sua mãe. Que seu pai a tinha roubado da mãe

biológica dela, minha mãe.

— Isso. Amamos você e Audrey também. Nós queremos

reconstruir tudo. Eu sei que podemos. — Elena sorriu para o marido

e Audrey puxou o cabelo dela. — Ei, mocinha!


Nós rimos e eu me aproximei do meu irmão, estendendo a

mão para ele. Para a minha surpresa, Kai me puxou para seus

braços e respirou fundo, assim como eu.

— Doeu cada maldito segundo que escondi isso de você, Kai.

— Eu me afastei e vi o meu irmão piscar e acenar. — Tudo vai se

ajeitar. Eu juro que vai. Não vou foder mais com nada.

Ele suspirou e bateu em minhas costas, acenando

novamente.

— Eu amo você, cabeção.

— Idem.

— Que merda é essa de "idem"? Quem está te ensinando

isso? — Kai tirou sarro e eu deu um empurrão nele, para depois

mostrar meu dedo do meio.

Quando sua risada encheu minha casa, eu sorri muito mais

aliviado. Sabia que sempre haveria dor e decepção ao lembrar que


eu escondi esse segredo dele. Eu só esperava que nossas vidas se

ajeitassem.
SEMANAS DEPOIS
Está tudo bem.

Você está bem.

Não importava que não era o momento, aconteceu. Foda-se

o resto. Eu me afastei da bancada e deixei o plástico por alguns

minutos.

Durante o tempo, que era até curto, roí minhas unhas inteiras

enquanto andava de um lado para o outro. Só podia ser brincadeira,

né? Minha irmã descobriu que estava grávida quando se separou e

foi embora, agora era eu?

Voltei para o banheiro e peguei o bastão plástico. A única

linha vermelha me fez suspirar de alívio, porém, logo em seguida

senti meu coração doer por longos segundos.

Minha menstruação estava atrasada, sentia náusea e

tonturas. Comprei o teste já imaginando que teria que comprar


roupinhas e artigos de bebê em breve. Mas encarar o resultado

negativo me deixou decepcionada.

Mas por quê?

Era irracional. Estava sozinha, não tinha Hank por perto e

estava desempregada. Como eu colocaria um bebê no mundo?

Mordi meu lábio e pisquei, tentando afastar as lágrimas.

Está tudo bem.

Assim que ouvi meu computador apitar, sabia que era uma

chamada via Skype. Eu me sentei no vaso sanitário e respirei fundo,

ainda tentando controlar meu emocional. Não adiantou. As lágrimas

se formaram e desceram por meu rosto.

Eu queria um bebê dele.

Queria uma lembrança.

Eu me ergui e me curvei na pia, molhando meu rosto. Peguei

a toalha ao mesmo tempo que joguei o teste de farmácia dentro do


lixo. Graças a Deus minha casa não tinha sido efetivamente

alugada, então desfiz o contrato e voltei a morar ali.

Encarei meu reflexo e deslizei as mãos pelo meu rosto pálido

e sem maquiagem. O que estava fazendo com minha vida? Sério. O

que eu queria da minha vida? Deixei tudo aqui para trás para viver

com Elena, para ajudar a cuidar do bebê e, se eu fosse sincera

comigo mesma, ficar perto do Hank.

Hoje, eu me encarava e não conseguia entender o que deu

errado.

Não encontrei respostas olhando no espelho, por isso parei

de evitar minha irmã e fui para o quarto. Atendi a sua ligação e sorri

quando ela apareceu.

— Ei! Estava no banheiro — expliquei rindo e penteando meu

cabelo com meus dedos, desembaraçando-o. — Como está o

pequeno?
— Ótimo. Em pouco tempo ele chegará. Estou eufórica. —

Seu sorriso me fez relaxar e esquecer meus problemas. —

Vanessa... o que aconteceu?

— Hum? Está tudo bem...

— Por favor, eu te conheço. — Ela revirou os olhos e segurou

sua barriga enorme.

— Acabei de fazer um teste de gravidez.

— O quê?! — Sua voz se sobrepôs a de outra pessoa e eu

franzi as sobrancelhas ao ver Hank e Kai surgir. Meu Jesus Cristo.

— Elena! — gritei alarmada, sentindo meus olhos triplicarem

ao ver suas bochechas corarem.

— Eles estavam na cozinha. Não os vi voltar...

— Obrigada — ironizei, irritada.

— Você está grávida? — Quando Hank tomou o computador

da minha irmã, eu ouvi o suspiro irritado dela.

— Hank, que falta de educação... me devolve!


Eu encarei os olhos marrons dele e senti a decepção me

sufocar. Será que ele ficaria feliz? Eu não sabia. Eu gostaria que ele

ficasse? Com toda certeza.

— Vanessa, responde — ele murmurou, ainda me encarando

pela tela. Balancei a cabeça e vi seu semblante franzir. — Não, de

não vai me falar, ou não, de não está grávida?

— Você não será pai de um filho meu. É isso que o não

significa — respondi com a voz trêmula.

Ele piscou, olhando para além da tela.

— O.k. — Ele devolveu o computador à minha irmã e eu

segurei meu rosto, ouvindo Kai e Hank se afastarem.

— Eu preciso desligar — murmurei.

Minha irmã suspirou, acenando.

— Sinto muito, mana. — Seu sorriso triste me fez respirar

fundo e enxugar as lágrimas que ainda não tinham caído.

— Eu também.
Cinco noites depois, eu ouvi passos do lado de fora. Fiquei

alarmada, mas depois lembrei que a casa vizinha estava

desocupada, então podia ser alguém se mudando.

Que não seja um vizinho viciado, nem jovens que gostam de

bebedeira nos fins de semana, muito pior, que não seja um vizinho

daqueles gostosos.

Não precisava de homem na minha vida imprestável. Hank

fez estragos demais.

Peguei minha sopa do micro-ondas, depois de esperar alguns

segundos, e me sentei no sofá, colocando uma série para assistir.

Fiz Elena me passar a receita e eu, para espanto de todos, consegui

fazer. Almocei sopa e agora estava jantando sopa.

Ao ouvir o choro de uma criança lá fora, fechei meus olhos.

Jesus, uma criança. Eu me levantei com medo de ela estar perdida,


ou apenas na minha porta fazendo barulho, porém segui meus

instintos e abri apenas uma fresta.

Um menino de não mais que três anos estava de pé,

encarando meu rosto. Suas bochechas estavam molhadas, então

saí e me agachei até ficar na sua altura.

— Ei, menino! — Sorri e me aproximei. — O que aconteceu?

Cadê sua mamãe? — questionei calmamente.

Ele fungou e apontou para a porta da casa desocupada.

A porta se abriu e eu ofeguei ao ver uma mulher sair de lá,

com o rosto apavorado. Seu terninho caro e seu cabelo loiro e liso

me disseram que ela podia ser a corretora.

— Júnior. Não saia, por favor — ela pediu, ao colocá-lo nos

braços. Seus olhos arregalados e suas bochechas vermelhas

indicavam seu medo óbvio. — Olá. Tudo bem? Obrigada por olhar

ele...
— Não foi nada. — Sorri, observando seus olhos se

acalmarem e seu bebê se agarrar ao pescoço dela.

— Até mais. — Ela sorriu e foi em direção à sua casa.

Fiquei observando-os partir e suspirei, me virando para

entrar. Meu movimento cessou quando vi um corpo enorme sob a

luz do corredor. Em um dos braços estava um bebê, em seu ombro,

uma bolsa de criança enorme, e a mão carregava uma mala

também grande.

Meu corpo tremeu e minhas pernas fraquejaram enquanto

tentava respirar. Senti o suor gelado descer pela minha coluna,

enquanto meu coração parecia ser espremido por um punho.

Hank deu um passo em minha direção ao mesmo tempo em

que me encostei à parede, tentando me manter de pé. Eu senti meu

peito se encher de carinho ao ver Audrey sorrindo e balançando os

bracinhos para mim.


— Oi, vizinha. — A voz rouca que fez os pelos do meu corpo

arrepiarem desde o dia que o conheci soou.

Engoli em seco, tentando não dar na cara o quanto estava

confusa com sua frase e presença.

— Vizinha? — murmurei, com os olhos presos nos dele.

Audrey deu um gritinho e eu me aproximei, pegando-a em meus

braços. — Sunshine, o que faz aqui? — Cheirei o pescoço gordinho

dela e paz me rodeou ao ouvir sua gargalhada.

— Me mudei hoje... — Hank apontou para a porta por onde a

mulher acabou de entrar.

— Como assim? — eu o interrompi, sentindo minha língua

engrossar. — E a fazenda? — Minha voz soou completamente

confusa.

O que Hank estava aprontando?

— Tenho funcionários para isso. — Ele deu de ombros. Eu

abri e fechei a boca, sem conseguir formar nenhuma palavra. —


Você pode ficar com ela por um segundo? Estarei naquela porta

resolvendo alguns trâmites com minha corretora. — Ele apontou

para a casa ao lado, por onde a mulher entrou com a criança.

Eu acenei e observei seu corpo se distanciar depois que me

entregou a bolsa de Audrey.

Voltei para minha casa tentando encontrar uma explicação

para isso. Eu me sentei na minha cama e tirei a roupa de Audrey.

Hank não deixaria sua fazenda assim, de repente. E Audrey? Susan

o deixaria trazer a filha para outro país? Não encontrei respostas

para meus questionamentos, por isso balancei a cabeça e me

concentrei em Audrey.

Dei banho e vesti um dos pijamas que estava na bolsa. Sorri

quando ela comeu toda a sopa que dei de colherada em colherada a

ela. Até minha menina gostou. Eu seria uma cozinheira excelente

algum dia.
— O que seu pai está aprontando, Audrey? — sussurrei

quando me deitei com ela em minha cama e abracei seu corpo

quase adormecido.

Olhei meu feed do Instagram trinta vezes, o Facebook umas

quarenta, mas o tempo parecia não querer passar. Deitei-me no

sofá e coloquei minhas pernas esticadas rentes à parede. Encarei a

sala invertida e suspirei.

Estava nervosa e não sabia como me comportar na presença

dele, quando ele aparecesse. Devia estar raivosa, chateada e

brigar? Devia fingir que estava tudo bem? Ou devia aceitá-lo sem

mais nem menos? Eu poderia fazer o último? Achava que não.

Minha porta se abriu e eu girei, tentando me sentar normal,

mas meu tronco acabou deslizando do sofá e eu caí de joelhos, com

a cara no chão e de costas para Hank. Minha vergonha sempre


triplicava, não era possível essas coisas acontecerem tantas vezes

comigo.

— Está tudo bem? — Sua voz suave entoou. Eu me levantei

acenando enquanto esfregava as mãos no meu short. — Audrey

dormiu? — Seus olhos me observaram e eu sorri sem graça.

— Hum, sim. Eu a deixei no meu quarto, rodeei-a com

travesseiros, viu? Não sou estúpida de deixá-la sem proteção

nenhuma... — eu divaguei.

Ele me interrompeu, com os lábios esticados.

— Ei! Calma. Eu sei que não é. — Ele mordeu o lábio,

colocando as mãos nos bolsos. Seu jeans desbotado estava

apertado, pisquei quando o vi batendo a bota. O chapéu de caubói

não estava na cabeça, por isso seu cabelo estava desalinhado. —

Vou... hum... buscá-la. — Ele apontou para o corredor e eu engoli

em seco e acenei.
— Claro! — Fui à sua frente e mordi minha bochecha, sem

saber o que pensar.

Mostrei Audrey a ele e Hank sorriu, se inclinando para a filha.

Ele a beijou suavemente e se virou para mim.

— Obrigado. A viagem foi longa, ela estava cansada — ele

explicou quando me encostei na parede. — Estou morto também.

— Imagino que sim. — Eu dei um sorriso apertado e Hank

respirou fundo, olhando para suas botas.

— Vanessa, a gente precisa conversar. — Seus olhos

castanhos brilharam no escuro do quarto. A luz banhou a filha dele

adormecida na cama e suas longas pernas. Eu cheguei a imaginá-lo

como um anjo. Um anjo negro que caiu do céu. — Eu realmente

quero que você me perdoe pelo que fiz...

— Hank, eu não preciso te perdoar...

— Precisa. Eu feri meu irmão, mas no processo feri mais

gente. Você, nossa irmã, minha mãe e até Audrey. Você acha que
eu não sei o que pensaram? Kai seria muito melhor que eu em ser

pai. Ele é incrível. Eu tirei a chance dela de ter alguém incrível

junto...

— Sim, você feriu, mas Kai é o principal, o resto não importa.

Eu não importo — cortei sua fala, balançando a cabeça.

— Pra mim, importa.

Ignorei-o e engoli em seco.

— E te respondendo, você é incrível como pai. Não

menospreze isso — pedi, ainda presa à parede. Ele se sentou na

cama e puxou o cabelo, dando um sorriso triste.

— Quando vamos poder ficar juntos, Vanessa? — Sua voz

soou amarga, sofrida. — Não, não importa quando, o importante é

se vai acontecer. Vamos ficar juntos no final dessa história fodida?

Peguei o brilho em seu olhar e desviei meus olhos para

minha mesa de cabeceira. Vi minhas fotos com Elena e até com


nossos pais. Um copo com água e a pomada que passei em Audrey.

Encarei tudo no móvel, menos os olhos dele.

— Eu não sei — murmurei com sinceridade.

Eu o amava. Todo mundo sabia disso, mas eu conhecia o

verdadeiro Hank? Eu amava o verdadeiro Hank? Ou só me

apaixonei pelo caubói misterioso e bruto? Pelo perigo que sempre o

rondou?

— Olha, você vai me ver todos os dias nessa cidade. Quando

sair, quando retornar, quando dormir, quando acordar... vou estar na

porta ao lado. Não vou embora sem você, Vanessa. Nem que eu

tenha que morar aqui minha vida inteira. Meus olhos precisam te

encontrar. Nem que seja de longe, e é por isso que estou aqui.

Quero estar perto de você, mesmo que eu não possa te ter. — Ele

respirou fundo e se ergueu. Os batimentos do meu coração

pareciam disputar a batida mais forte, era completamente insano. —

É melhor eu ir. Obrigado por cuidar de Audrey. Novamente.


Hank pegou a filha nos braços e seguiu em minha direção.

Deixei-o passar e entreguei a bolsa dela a ele quando já estávamos

na sala.

A porta se fechou às suas costas e eu deslizei pela parede ao

lado do sofá, que antes era o meu refúgio de um dia ruim. Agora, ele

me parecia o refúgio de uma vida.


Acordei cedo na manhã seguinte, sentindo-me tensa e não

sabia por quê. Mentira, eu sabia sim. Era que a porra do meu ex –

ex o que, Vanessa? Ele nunca foi seu... – estava morando na casa

ao lado.

Eu tapei meu rosto com o travesseiro e respirei fundo. Corri

para o banheiro e escovei os dentes, tentando ordenar meus

pensamentos. Não cheguei a lugar nenhum até estar enxaguando o

tubo de pasta de dentes. Voltei para o quarto e me sentei à procura

do meu celular. Elena não tinha que ter me contado na última troca

de mensagens? Caramba!

“Como assim ele se mudou pra cá e você não me

avisou?”

Demorou apenas alguns segundos para ela responder com

apenas uma palavra e um emoji com a cara de cabeça para baixo.

Surpresa!
“Surpresa é minha bunda! Você não imagina a minha

cara quando o vi em pé na minha frente, com Audrey e de mala

e cuia.”

“Tô imaginando agora e não deve ter sido legal ”

“Não foi! Vou te matar! E por que está brincando? Elena,

eu vim embora para me afastar dele! Isso é o certo...”

“Não tomo decisões por ele, Vanessa. Hank só disse para

o Kai que esperou mais do que conseguia. Que ia morar perto

de você até estar pronta. Kai agora está dando uma olhada na

fazenda dele de vez em quando.”

Quando eu penso que vocês vão me ajudar...

Diga a ele, Vanessa. Diga que não o ama e que quer que

ele volte para o Texas. Talvez ele entenda e vá embora. Mas

lembre-se, só se isso for, de verdade, o que deseja.

P.s.: indo ao médico. Bye!


Eu joguei o celular na cama e apertei minhas têmporas. A

batida à porta não me deixou choramingar minha dúvida em relação

a esse homem. Eu me ergui e fiz um coque bagunçado na cabeça.

Meu pijama era um short curto e uma blusa de alcinhas, que

graças a Deus não era transparente. Andei para a sala e abri a porta

pronta para bocejar, mas prendi quando vi o próprio demônio na

minha frente e, contrariando tudo, com um anjinho em seus braços.

— Bom dia. — Hank sorriu e Audrey pulou para os meus

braços.

Eu a segurei apertado quando ela pousou em meu colo. Por

um momento, pensei que ela cairia.

— Bom dia. Hum, você precisa de algo? — Forcei as

palavras a saírem.

Hank balançou a cabeça. Seu braço se elevou e eu vi uma

sacola com pães. Sério? Hank comprando pães? Meu Deus, o

mundo parecia prestes a ruir.


— Podemos tomar café com você?

Sua pergunta simples me fez ficar parada por vários

segundos. Porém deixei minha tensão de lado e respirei fundo,

abrindo mais a porta.

Depois de comer, ia conversar com ele. Precisava que ele

fosse para casa. Era isso que eu desejava, era verdade. Não queria

Audrey tão longe de casa, não queria que ele deixasse seu trabalho

de lado para estar ali, me esperando. Isso era uma loucura.

Nós nos sentamos depois que peguei frutas e frios na

geladeira. Servi a gente e cortei pedaços de maçã e banana para

Audrey. Eu dei a ela em pequenas garfadas enquanto Hank comia

pão com geleia e ovos. Não comíamos bacon no café da manhã

aqui no Brasil, então eu não comprava. Talvez ele quisesse algumas

fatias... não importava. Não tinha, e pronto.

Seu celular começou a tocar e eu continuei encarando o

rostinho de Audrey. Ela bateu palmas enquanto engolia a fruta e eu


sorria, estimulando-a.

— Hank Ross. — Sua voz soou grave.

Engoli em seco, tentando descobrir quem estava falando com

ele.

— Estou tomando café — ele resmungou impacientemente.

— Sim, já a vi. Na verdade, ela está na minha frente agora. O.k. Vou

verificar. E-mail.

Eu me virei e encarei seus olhos, que me observavam com

um brilho enlouquecedor. Suspirei e me concentrei em terminar a

refeição da Audrey. Ergui-me e limpei a boquinha dela com o

guardanapo quando o pratinho estava limpo. Levei-a para a sala e

deixei seu pai sozinho. Coloquei Audrey sentadinha no sofá e

procurei um desenho animado na Netflix, então me sentei ao seu

lado e peguei meu celular. Assim que o toquei, ele vibrou avisando

que tinha mensagem no WhatsApp.

“Ainda está viva, sua vaca?”


Sorri para a quantidade de carinho que Brianna me dava.

Pulei quando senti uma mão em meu ombro, então me virei e

encontrei Hank. Ele apertou o nariz olhando para meu celular e eu o

deixei no sofá.

— Tudo bem? — questionei. Hank fez positivo com a cabeça

e acenou para Audrey.

— Preciso resolver algumas coisas. Você pode ficar com ela

por umas — ele pausou encarando seu celular para ver a hora —

duas horas?

— Claro. Ah, como se saiu ao comprar pão aqui? —

questionei curiosa enquanto abraçava minhas pernas.

Hank riu de lado e eu tentei voltar a respirar de maneira

natural ao presenciar seu sorriso.

— Horrível. Falei trinta vezes e ninguém me entendia. Peguei

a sacola de uma mulher que estava ao meu lado e mostrei à


vendedora. Só assim ela me entendeu. — Hank franziu o cenho e

eu sorri, imaginando-o fazendo isso.

— Deve ter sido frustrante.

— Frustrante é pouco. — Ele riu e apontou para a porta. —

Vou indo...

— O.k. — Meu celular vibrou novamente e seus olhos

seguiram para ele na minha mão.

— Não vai atender?

— É mensagem — expliquei suavemente e ele acenou,

respirando fundo.

— Até mais.

Ele foi embora depois que beijou a filha. Suspirei

audivelmente quando a porta bateu fechada. Encarei a tela do

celular e voltei a sorrir com Brianna.

“Visualizou e não respondeu? Deve estar fazendo sexo.

Ele tá aí no Brasil, não é?”


“Ele está sim, mas não estávamos transando. Não que

isso seja da sua conta!”

“Sei. Enfim, liguei para avisar que surgiu vaga na

empresa do meu tio. Sei que estava atrás de algo.”

“Moro a alguns milhares de quilômetros agora, Brianna.”

“Sério? Porque sua irmã está a um passo de parir e que

eu saiba você ficou de cuidar dela.”

“Cassie está lá. Nada vai acontecer.”

“Vanessa, deixe de ser idiota. Seu lugar é aqui. Sua irmã

mora aqui, sua única família. Não seja burra. O Brasil é

realmente lindo, mas o Texas é seu lugar agora.”

“Não pense no idiota por quem se apaixonou. Hank é um

babaca, mas não tem apenas um caubói no Texas, sabia?!”

“Brianna...”

“Marquei sua entrevista para a semana que vem. Não

seja estúpida. Compre sua passagem e venha embora.”


Quando joguei o celular na mesa de centro enquanto

resmungava irritada, Audrey virou o rostinho para mim. Sorri e me

inclinei sobre ela.

— Nada me prende realmente aqui. Foi uma fuga que

arrumei. Mas... estou pronta para voltar? — Minha questão ficou

sem resposta, já que Audrey voltou sua atenção para a televisão.

Passei as duas horas seguintes arrumando a casa, pois

Audrey adormeceu assistindo a desenhos. Coloquei roupa na

máquina e corri para tomar banho. Tentei ser o mais rápida possível,

mas antes que eu conseguisse terminar de tirar o condicionador do

cabelo, eu ouvi o choro dela pela porta aberta. Eu me enrolei na

toalha e corri para meu quarto.

Estanquei na porta ao ver Hank deitado ao lado dela. Seu

peito estava nu, a camisa jogada no chão do quarto. Ele a colocou


sobre seu peito, e como em um passe de mágica, Audrey voltou a

dormir. Hank estava de olhos fechados e seu torso subia e descia

constantemente, me dando uma dica de que ele também

adormeceu.

Saí do quarto e voltei para o banheiro. Terminei meu banho e

fui ao quarto na ponta dos pés até meu closet, então me vesti dentro

dele e saí com uma toalha em volta do cabelo. Meu vestido era solto

e florido, estava bom para ficar em casa. Audrey estava sentada

mordendo o celular do pai quando ergui meus olhos.

— Ei, mocinha! — sussurrei e me aproximei para pegar o

celular. Ela riu mais ainda quando estava em cima da cama e elevou

a mão com o celular para logo atingir o rosto do pai dela. Ofeguei

tapando minha boca. Audrey riu batendo palmas e Hank

choramingou por causa da pancada.

— Que porra foi essa? — Sua voz rouca ecoou.

Peguei Audrey nos braços e saí da cama rapidamente.


— Não xingue na frente dela! E respondendo a sua pergunta,

Audrey jogou o celular em você — anunciei e ele levantou o rosto

para mim. Eu tentei prender a risada, mas ela explodiu quando ele

tocou o machucado. — De-desculpa. — Continuei rindo e Audrey

me acompanhou.

— Meu Deus, eu deveria fotografar vocês duas — ele

resmungou baixinho.

Senti meu rosto esquentar, minha risada sumindo aos

poucos. Molhei meus lábios com a ponta da língua e respirei fundo.

Fuga, precisava de uma fuga.

— Vou preparar o almoço. Vocês vão comer aqui? —

questionei, tentando dissipar a tensão dentro de mim. — Se forem...

— Podemos comer fora? Quero provar a comida daqui —

Hank me cortou.

— Eu prefiro que vá sozinho com Audrey...


— Quero que vá comigo. Foi um inferno comprar pão, comida

será minha morte — ele resmungou, pegando a camisa. Seus

braços flexionaram enquanto colocava a camisa e eu mordi meu

lábio. Ele tinha que ser tão bonito?

— No restaurante é mais frequente ter alguém que fale

inglês...

— O que preciso fazer para que vá conosco? — Seus olhos

pegaram os meus e eu encarei o chão. Droga!

— Precisamos conversar...

— Outra hora. Estou com fome — ele me cortou novamente e

eu revirei os olhos, acenando.

— Vou só pegar minha bolsa — avisei e ele pegou Audrey

dos meus braços.

Saímos de casa alguns minutos depois. Arrumei Audrey com

a roupinha que seu pai foi buscar na casa deles e a coloquei na

cadeirinha. Dirigir com Hank ao meu lado não era algo tão tranquilo
assim. Seus olhos ficavam nas minhas pernas a todo momento e

seus dedos pareciam incontroláveis enquanto batia na coxa.

Alívio correu pelo meu corpo quando chegamos ao

restaurante que escolhi. Pedi feijoada e pão de queijo para ele

provar, mesmo eu não sendo tão fã. Hank comeu tudo e repetiu a

feijoada, dizendo que era muito gostosa. Eu queria dizer que a única

coisa gostosa naquela mesa era ele, mas claro, segurei minhas

palavras.

Para sobremesa, pedi pudim de leite e brigadeiro, o que o fez

arregalar os olhos. Sorri comendo também e Audrey se lambuzou

com o chocolate. Quando ela riu lambendo os dedinhos, beijei sua

bochecha.

Na volta para casa, paramos na orla e eu comprei água de

coco enquanto Hank brincava com Audrey na areia. As mulheres

olhavam para ele como se fosse de outro planeta, e eu não as

julgava. Porra! Se fosse eu, fingiria um desmaio para cair no colo


dele – ainda mais que agora sabia o que esse corpo podia fazer

comigo na cama.

— Vem cá! — ele gritou para mim e as mulheres me

encararam pela primeira vez. Caminhei na direção dos dois e

entreguei a ele seu coco.

— Oi. — Sorri e dei um pouco para Audrey no copinho. Ela

fez careta, mas logo quis outro gole.

— Senta aí. — Ele me puxou e nos sentamos na areia. O sol

estava quente, mas Audrey estava de chapéu, então não me

incomodei. — Consigo entender o motivo de sempre voltar pra cá. É

bonito. Parece que estamos em casa.

— Parece, né? É acolhedor — respondi suavemente,

encarando o azul do mar a perder de vista.

— Mas aqui não é sua casa — ele falou. Eu comecei a fazer

desenhos incoerentes na areia, permanecendo calada. — Quero


que volte para mim, amor. Sou doido por você, sabe disso... eu

estou ficando louco, Vanessa...

— Eu acho que você deve ir. — Encontrei as palavras e

encarei seu rosto. — Deixar sua fazenda e tirar Audrey do lar dela,

pode não ser legal...

— Ela é meu amor maior, Vanessa. Se eu vim atrás da porra

do meu coração, ela vem comigo. Me devolva ele e venha comigo.

Vamos para nossa casa, mulher. — Seu olhar estava firme e eu

sabia que ele estava certo. Eu deveria ir para a casa.

— É melhor irmos. — Eu me ergui, então voltamos para o

carro.

Hank não falou nada, e eu também não. Sinceramente? Eu

queria entrar no primeiro voo para casa, mas seria o certo? Não

consegui respostas, por isso deixei minha decisão para depois.

Feliz ou infelizmente, o destino me deu um belo empurrão

dias depois. O celular dele tocou e o meu também, enquanto


estamos assistindo à Minnie na televisão com a Audrey entre nós

dois no sofá.

— Helena está em trabalho de parto.

Era isso que Cassie falava para mim no celular e Kai para

Hank. Nas horas seguintes, nós dois corremos e arrumamos tudo

para a viagem. Nada foi dito, mas nós dois sabíamos que eu não

voltaria mais para o Brasil.


Audrey adormeceu em meus braços horas depois de

estarmos no Texas. Ela estava cansada, por isso decidi deixá-la em

casa e só depois seguir para a maternidade. O taxista sorriu para

mim, talvez, encantado com minha filha. Vanessa decidiu ir direto

ver nossa irmã, e eu não me opus. Elena precisava dela agora.

Deixei Audrey com Carmem e tomei um banho rápido. Horas

depois, estava na maternidade esperando minha vez para entrar no

quarto. Kai apareceu no corredor e eu me levantei para abraçá-lo.

Meu irmão respirou fundo enquanto seus olhos estavam vermelhos

de chorar.

— Porra! Parabéns, cara! — murmurei e ele me soltou.

— Vem. Ele é lindo. Porra, ele é incrível! — Ele me puxou em

direção ao quarto e nós entramos.

A primeira coisa que vi foi Vanessa segurando um pacote

azul nos braços. Seus olhos estavam cheios de lágrimas e ela o


balançava contra seu peito. Tive um vislumbre dela com Audrey e

meu coração se aqueceu.

— Titia te ama, Kian — ela sussurrou e sorriu. Eu me

aproximei e Vanessa me encarou, seu sorriso cresceu e ela se virou

para mostrá-lo para mim. — Olha o seu tio bobão.

Elena riu da cama com Kai ao seu lado e eu peguei Kian dos

braços da Vanessa.

— Ei, campeão! Como foi sua viagem? Esse mundo é uma

merda, mas juramos que vamos tentar fazer dele tragável para

você. — Meu irmão riu e eu cheirei o filho dele. Eu o devolvi para

Vanessa e caminhei para Elena. — Você está linda. — Ela fez

careta, mas aceitou o elogio sem questionar. Eu me inclinei e beijei

sua testa enquanto ela passava os braços por meus ombros. —

Parabéns, seu filho é incrível.

— Obrigada. — Seus olhos encheram de lágrimas e eu beijei

sua bochecha. Vanessa entregou Kian para ela e as duas sorriram.


— Vá comer algo. Você está péssima. — Elena riu,

aconchegando o filho, e Vanessa revirou os olhos.

— Vamos lá, também não comi ainda. — Suspirei e abri a

porta para ela. Vanessa relutou, mas cedeu ao me acompanhar

quando nossa irmã mandou novamente.

Caminhamos em silêncio para o café do outro lado da rua.

Vanessa se distraiu com a bolsa de couro, remexendo na alça. Abri

a porta e ela agradeceu com um sorriso.

— Então... — resmunguei depois que nos sentamos com

nossos cafés. Pedi ovos e bacon à garçonete, e logo ela voltou com

uma porção generosa. Dividi entre nós dois e ela começou a comer.

— Vou a uma entrevista de emprego na empresa da família

da Brianna e Felicity — Vanessa anunciou assim que engoliu os

ovos. Ela virou o copo de café e respirou fundo, olhando para a

porta de vidro que dava vista para o hospital.


— Isso é ótimo. — Eu me forcei a parecer menos feliz do que

estava por dentro. Não queria que ela se sentisse obrigada a me

informar que sua decisão não tinha nada a ver comigo.

Sinceramente? Eu sabia que não tinha. — Elena vai precisar de

você agora.

— Não só por isso. — Ela mexeu a comida com o garfo prata

e deu um sorriso triste. — Brianna me disse que meu lar agora é

aqui. E ela está certa, Hank. Elena é minha única família, não há

nada no Brasil... que me prenda lá. — Seus olhos encontraram os

meus e eu sorri.

— Bem, ela está certa. Fico feliz por você continuar aqui,

Vanessa. — Peguei sua mão por cima da mesa, apertei sua palma

na minha e me inclinei em sua direção. — Se precisar de algo, estou

aqui. Sério, qualquer coisa.

— Bem, não agora, mas daqui a alguns meses quero alugar

um lugar para mim. — Eu me afastei e contemplei seu rosto rosado.


— Não quero ficar na fazenda. Lá é a casa da minha irmã, não a

minha.

Daqui a alguns meses você estará morando comigo.

Não falei isso em voz alta, apenas dei meu melhor sorriso.

— Vou te ajudar — eu disse. — Axel tem algumas

propriedades, ele aluga e etecetera. Posso falar com ele —

murmurei, ainda sorrindo. Vanessa me encarou sem qualquer

vestígio de alegria. — O que foi? — questionei, franzindo as

sobrancelhas.

— Pensei que diria que eu estaria na sua cama daqui a

alguns meses, não que me ajudaria. Quem diabos é você? — Ela

riu, engolindo mais café enquanto tirava mechas do cabelo da frente

dos seus olhos.

— Quem você quiser que eu seja. — Dei de ombros e voltei a

me inclinar. — Me diz o que quer que eu fale agora? E atenção! Eu

não estou perguntando o que você pensa. — Minhas palavras


saíram completamente sérias. Vanessa sorriu de lado e eu peguei o

vislumbre de tristeza nele. — Serei o que quiser, é só me dizer.

— Eu quero que pegue sua carteira e pague nosso café da

manhã. Vou para casa dormir. — Com a cabeça, ela apontou para a

porta e eu apertei meu nariz, tentando me acalmar.

Merda.

— O.k.

Paguei por nosso café e voltamos para o hospital. Ficamos

com Elena mais alguns minutos e logo ela saiu, dizendo ir para casa

descansar. Fiquei por mais tempo, porém também fui embora.

Vanessa voltou com o carro do Kai, apostava que já estava em

casa. Não a segui porque sabia que ela precisava de espaço.

Caralho, isso era algo que eu daria a ela algumas vezes.

Quando estava a alguns quilômetros de casa, eu vi o carro do

Kai parado. Estacionei logo atrás e saí. Dei a volta no carro e

encontrei Vanessa deitada sobre o capô, da mesma forma que a vi


pela primeira vez. Dessa vez, no entanto, ela estava de vestido e

seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo.

— A porcaria do pneu furou — ela resmungou, com o braço

sobre os olhos.

Fiquei à sua frente e tentei controlar a onda de sangue que

corria da minha cabeça para meu pau. Caramba!

— Vamos, vou trocar o pneu.

— Eu sei trocar um pneu, Hank. Não tem estepe. — Ela se

elevou, apoiando os cotovelos no carro. Seus peitos quase pularam

para fora do tecido, me fazendo desviar o olhar.

— Merda. Tudo bem. — Respirei fundo. — Só tira o carro do

meio e o coloca dentro do mato mesmo. Preciso passar e deixar

você em casa. Vou ligar para o reboque. Virão buscar logo —

murmurei.

Rapidamente, ela fez o que pedi.


Abri a porta e a ajudei a sair de dentro do carro. Vanessa

deslizou pelo meu peito e eu me inclinei, cheirando seu pescoço de

modo suave. Não queria assustá-la e fazer nossa distância

aumentar. Ficamos parados, completamente em silêncio, e quando

eu achei que precisava me afastar, Vanessa falou:

— Eu quero que fale que vai me manter em sua cama... para

sempre, Hank. — Sua voz era provocativa, vislumbrei a mesma

menina que me fez tremer de tesão só de vê-la em cima de um

carro, meses atrás.

— Vanessa... — Eu me afastei e encarei seus olhos muito

confusos. Sério isso?

— Você perguntou, estou te respondendo agora. — Ela

lambeu os lábios e se colocou na ponta dos pés. — Estou cansada

de esperar pela felicidade. Decidi me arriscar e é por isso que estou

dizendo isso. Quero que me mantenha para sempre. — Assim que


seus olhos escuros brilharam, eu senti tudo dentro de mim se

encaixar.

Meu coração a escolheu, e mesmo que se passassem

trezentos anos, ele ainda iria escolhê-la.

— Então é isso que vou fazer — sussurrei, tirando mechas do

seu cabelo do seu rosto. — Sempre farei o que você quiser...

Eu a elevei, segurando seus quadris, e Vanessa abraçou

minha cintura com as pernas em seguida. Seus olhos continuaram

presos nos meus e eu me inclinei, descansando minha testa na

dela.

— Eu te amo, encrenqueira — afirmei antes de ela se segurar

em meus ombros.

— Eu te amo muito mais, Hulk.

Sua boca colidiu com a minha no mesmo momento que eu

dei passos para minha a camionete. Entrei no carro com ela no colo,
rindo pelo grau de dificuldade que encontramos. Vanessa desceu o

zíper da minha calça e segurou meu pau entre seus dedos.

Saí com o carro, tentando manter a atenção na estrada, mas

quando Vanessa tirou seus peitos de dentro do vestido, eu fiquei

sem saber para onde olhar. Com uma das mãos, segurei seu bico

enquanto a outra continuava no volante. Encarei a estrada deserta e

quase fechei os olhos quando Vanessa afastou a calcinha e se

sentou no meu colo, levando meu pau duro para dentro dela. Sua

bunda bateu no volante enquanto ela soltava gemidos incoerentes

contra meu pescoço.

Não durei quase merda nenhuma, porém agradeci por ela

gozar antes. Seus braços me apertaram enquanto continuava

dirigindo em meio à áurea do clímax. Porra. Sua cabeça descansou

em meu peito e eu abracei sua cintura com um dos braços.

— Eu sou tão idiota — ela resmungou.


Afastei seu corpo, olhando para seus olhos. Encostei o carro

e arrumei seu vestido.

— Por que você seria? O único idiota aqui sou eu.

— Amo você, entende? Isso me faz ser estúpida.

— Eu concordo com isso. — Sorri e coloquei seu cabelo atrás

da orelha. Hoje eles pareciam incontroláveis, não que eu fosse me

arriscar a falar isso para Vanessa. Encarei seu olhar escuro e beijei

seus lábios. — Não mereço seu corpo, sua alma ou seu coração,

Vanessa, mas eu quero todos eles.

Seus olhos se encheram de lágrimas e eu a abracei.

— Eu sou idiota por não ter te dado valor. Nunca vai existir

homem mais covarde, egoísta e estúpido. Eu peço perdão por isso.

Amo você, Vanessa. E, porra! Eu tentei te esquecer mais vezes do

que posso contar, porém não adianta. É você, encrenqueira, sempre

vai ser você. — Voltei a apoiar minha testa na dela, ouvindo seu

choro baixinho.
— É passado, ouviu? Quero começar de novo, quero viver

esse amor sem reservas, e eu preciso que esteja comigo, no

mesmo barco... — Sua voz soou desesperada.

— No mesmo cavalo — beijei sua bochecha com carinho —,

carro... o que quiser — eu a interrompi e ela sorriu, fechando os

olhos por um segundo.

— Porra, você é bom com as palavras. — Ela riu, envolvendo

meu pescoço, então me inclinei capturando sua boca.

— Desça do meu colo e espere até estarmos em casa para

me montar de novo. É difícil dirigir e transar com você ao mesmo

tempo. — Ela me deu um tapa, porém fez o que pedi.


Quando Hank estacionou, ele não me deu tempo de pensar

em nada, apenas me arrastou escada acima e tirou minha roupa

com uma pressa quase insana. Sua boca beijou todo o meu corpo e,

de repente, ele me preencheu. Segurei seus braços e me apoiei,

mudando de posição. Montei seu corpo e me inclinei, provando seus

lábios.

Estávamos sem camisinha e eu não me importei. A

possibilidade de ter um filho dele me fez flutuar. Queria minha

própria família, isso não era errado.

Adormeci em seus braços logo depois de cairmos exaustos

na cama, e quando acordei já era noite. Saí da cama enrolada em

seu lençol e tropecei em uma caixa enorme no chão. Acendi a luz e

me assustei ao ver várias caixas pelo quarto. Abri uma delas, e por

incrível que pudesse parecer, me surpreendi ao ver minhas roupas

ali.
— Que diabos? — murmurei, rouca do sono e erguendo

minha cabeça ao ouvi o rangido da porta se abrir. Hank apareceu e

eu apontei para a bagunça no quarto. — O que...

— Estou mantendo você na minha casa, não apenas na

minha cama. — Ele cruzou os braços.

— Você é louco... — Tentei murmurar, mas ele arqueou a

sobrancelha.

— Você sabia disso desde o primeiro momento. — Sua voz

convencida me fez sorrir.

Droga, ele estava certo.

Eu me ergui e caminhei até onde ele estava. Seus olhos

estavam brilhantes e eu senti meu corpo tremer. Achava que era

adulta o suficiente – e o amava o suficiente – para aceitar a morar

com ele, mas Hank estava certo disso?

— Tem certeza? — perguntei e engoli o nó que se formou em

minha garganta. — Não tem pressa, irei morar na cidade, a alguns


minutos...

— Vanessa, não complica a minha vida — ele sibilou,

fechando os olhos.

— Não é isso. Sério! Só quero ter certeza de que você está

cem por cento certo do que está fazendo.

— Eu estou cem por cento convicto de que amo a mulher na

minha frente e que não quero dormir uma noite do resto da minha

vida sem ela ao meu lado. Você quer mais certezas? — Ele sorriu

de lado e olhou das caixas para mim. — Eu passei horas tirando

tudo que era seu da casa da nossa irmã, e não duvidei da minha

decisão um minuto sequer. — Eu cheguei à sua frente no exato

momento que ele terminou de falar. Hank pegou as mechas revoltas

do meu cabelo e as colocou atrás do meu ombro. — Eu amo você,

encrenqueira. Você não sai mais daqui.

Eu sorri e acenei, envolvendo sua cintura com meus braços.

Hank me apertou e eu mordi seu peito de brincadeira. Não podia


acreditar. Meus lábios se esticaram e eu pisquei, afastando as

lágrimas.

— Eu amo você, Cowboy! Não quero sair nunca mais daqui.

— Inclinei minha cabeça e encontrei seus olhos. Sua boca selou a

minha algumas vezes e eu suspirei, me aconchegando em seu

peito.

Não pedi para conhecer Hank no meio de uma estrada

deserta, nem que ele me fizesse amá-lo tanto quanto o amava, mas

agradecia por tudo que passei para chegar até ele.

Hank Ross era um idiota, mas ele me completava. E isso era

tudo que importava para mim e meu coração.


Depois de arrumar todas as roupas dela no nosso closet, com

Audrey brincando pelo chão, descemos para dar banho nela e

comer algo.

Carmem nos serviu enquanto Vanessa banhava Audrey.

Assim que me sentei, alguém entrou pela porta principal. Eu me

ergui jogando o guardanapo sobre a mesa e encontrei Susan na

sala segundos depois.

— Você já a arrumou? — ela questionou, segurando uma

bolsa preta e usando um vestido rodado vermelho.

— Vanessa está arrumando-a. Só um momento — murmurei

e fui até a escada. — Vanessa, traga Audrey, por favor. Susan

chegou!

— Estou indo! — ela devolveu o grito e eu me virei para

Susan.
— Deu certo, então. — Ela riu e eu acenei, cruzando meus

braços. — Essa garota mudou você, Hank. Nunca imaginei que

você abriria mão da sua filha por alguém...

— Não abri mão dela, Susan. — Franzi as sobrancelhas,

irritado. — Kai disse que não a tiraria de mim, você sabe disso...

— Ele não é o pai dela. — Susan colocou as mãos nas

têmporas, como se sentisse dor, e engoliu em seco. — Fizemos o

teste de dna e deu negativo. — Ela piscou, tremendo.

Dei um passo para a frente, começando a suar frio. O quê?

— E quem é, Susan? — perguntei e voltei a mim, balançando

a cabeça. — Porque nós não transamos no período que engravidou.

Eu não posso ser... Esquece! Não quero saber. É melhor eu não

saber.

— É vo-você. — Suas palavras saíram tremidas e seus olhos

se desviaram dos meus.


— Você ouviu o que eu disse? Não pode ser. Eu queria que

fosse. Inferno, Susan! É meu sonho, mas não pode ser...

— Pode — ela me interrompeu e elevou seus olhos brilhantes

para mim. — Transei com você bêbado uma vez. Foi depois do Kai.

Você não conseguia me parar, estava fora de si... eu continuei,

Hank, transei com seu pau, porque você estava muito bêbado para

fazer algo.

— Caralho, Susan! Que porra de história é essa? — gritei,

tentando arrancar alguma coisa dessa mulher. Meu coração correu

acelerado e minhas mãos estavam frias. Como ela podia mentir

tanto, inferno?

— Os testes estão aqui. — Ela colocou sobre a mesa um

envelope pardo e limpou as lágrimas do rosto. — Peguei alguns fios

do seu cabelo para fazer também. Enfim, não precisa mais

enlouquecer. Você é pai dela, afinal. — Susan subiu os ombros e eu

cheguei nela em segundos.


— Por que não contou logo? Por que você não falou nada,

mesmo acompanhando de perto meu tormento com Kai? — Segurei

seus ombros e a balancei, completamente furioso. — Que tipo de

ser humano é você, droga?

— Eu estava envergonhada! Qual mulher abusa do homem

que ama enquanto ele está bêbado? Isso é baixo, até mesmo para

mim! — Ela devolveu o grito e se afastou das minhas mãos. — Eu

estava descontrolada, eu estava com saudade de você.

— Meu Deus, você é completamente doida. — Apertei meu

nariz e me virei, vendo Vanessa parada com Audrey nos braços, seu

rosto estava pálido. Respirei fundo quando ela começou a andar em

minha direção.

Peguei Audrey dos seus braços e beijei seu rosto, abraçando

seu corpo. Ela gargalhou, puxando meu cabelo e eu cheirei seu

pescoço.

— Hank...
— Vou buscá-la semana que vem — eu a cortei enquanto

sentia dificuldade de respirar. — Não precisa vir aqui — avisei e

entreguei nossa filha a Susan.

— Desculpa. Por tudo. — Ela abraçou Audrey e, em seguida,

saiu da minha casa.

Meus joelhos cederam e eu despenquei até o chão. Vanessa

correu até mim e eu abracei sua cintura.

— Hank, está tudo bem — ela me tranquilizou, mas agora

nada poderia me acalmar.

— Não, não está. Essa mulher modificou minha vida de

maneiras... porra! Ela transformou minha vida numa bagunça fodida.

— Susan diz que fez tudo isso por amar você, mas isso não é

amor, Hank. Nunca será. Está tudo bem, sim, porque ninguém

poderá tirar sua filha de você. Nunca. Então, levanta e vamos ver

esses papéis. — Sua voz penetrou em minha cabeça e eu acenei

contra sua barriga lisa.


Eu me ergui e peguei os envelopes, então me sentei no sofá

e abri os dois. Suspirei ao ver que ela estava certa. Audrey tinha

meu sangue. Era minha filha biológica. Liguei para Kai e pedi que

ele viesse à minha casa, que ele fez tempos depois.

— Susan fez os exames. Um meu e outro seu — resmunguei,

encarando meu irmão. Ele estava sentado e Vanessa estava de pé,

no canto da sala.

— E aí?

— Audrey não é sua filha — anunciei e vi seu rosto se encher

de alívio. Meu irmão amava a sobrinha, eu sabia, mas tê-la como

filha não era algo que ele desejou.

— E ela é de quem? Você mesmo disse que não fez nada

com Susan na época...

— Eu não lembrava, quero dizer, ainda não lembro, mas

transamos. Eu sou o pai de Audrey. — Kai franziu o cenho enquanto

eu entregava os papéis.
— Como Susan não sabia disso? — Ele apontou para o

exame, confuso.

— Susan sempre soube que eu poderia ser o pai, mas nunca

tocou no assunto porque estava envergonhada de ter transado

comigo quando eu estava tão bêbado que não estava no meu juízo

perfeito.

— O quê?! — ele resmungou, com os olhos arregalados. —

Porra, Hank, essa mulher é desequilibrada. Você confia Audrey a

ela? Ela poderia... — Meu irmão coçou a cabeça me encarando.

— Ela não faria mal à filha. Disso eu tenho certeza. — E por

mais louco que pudesse parecer, eu sentia isso. Susan amava a

filha tanto quanto eu.

Kai foi embora logo depois, dizendo precisar ir ao hospital ver

Elena e Kian. Permaneci na sala até um dos capatazes chegar

dizendo que precisavam de mim no campo.


Hank passou os dias seguintes inquieto e eu sabia que era

por causa da filha. Tentei distraí-lo levando-o para sair com Brianna

e Felicity, mas mesmo dançando comigo na pista, eu via seu olhar

perdido às vezes. Susan elevou o grau de safadeza escondendo

mais uma coisa dele. Transar com ele bêbado? Isso era

inadmissível! Ele foi abusado, e mesmo que para alguns pudesse

parecer estupidez, era a verdade.

Parei meu carro (comprei um, obrigada, de nada) no

estacionamento do café onde Brianna disse que me encontraria.

Entrei no lugar e me sentei à mesa mais afastada. Enquanto

esperava, pedi água e repensei minha entrevista. Brianna disse que


era uma formalidade, mas seria mesmo? Fiquei nervosa demais e a

mulher que estava me fazendo perguntas percebeu. Quem não?

— Atrapalho? — Ela se sentou rindo e eu sorri, balançando a

cabeça. — Como foi lá? — Sua mão se ergueu e ela pediu ao

garçom um café duplo.

— Foi tenso. — Dei de ombros, mas ela balançou a mão em

desdém.

— Relaxa! Vai dar tudo certo.

— Se você está dizendo. Onde está Felicity? — questionei,

bebendo mais da minha água. Pedi ao garçom um cappuccino.

— Boa pergunta. Ela não dormiu em casa, e até eu sair não

tinha chegado. — Brianna sorriu consigo mesma, como se soubesse

de algo e nem fodendo eu perguntaria, mesmo que estivesse

supercuriosa. — Preciso de um vestido. Hoje tem um jantar idiota

que meus pais estão nos obrigando a participar. — Ela revirou os

olhos e o garçom chegou com nossas bebidas.


Conversamos mais alguns minutos e logo fomos

interrompidas.

— Com licença, senhoras. — A voz de Trent chegou a mim e

eu me ergui, sorrindo.

— Ei! Como você está? — perguntei enquanto Brianna se

erguia também.

— Estou bem. Brianna, como vai? — ele a cumprimentou e

minha amiga sorriu, beijando a bochecha dele.

— Ótima. Diga ao meu irmão que preciso dele no jantar hoje.

E que ele não se atrase — ela resmungou e Trent sorriu, acenando.

— Estou indo buscá-lo agora. — Ele encostou a mão na

testa, em uma continência, fazendo-nos ri.

— Ótimo! Vanessa, eu preciso ir. Falo com você mais tarde!

— Ela se afastou e me mandou beijos.

Fiquei encarando a porta sem entender nada.


— Ela tem irmão? — perguntei sem entender. Pensei que

fossem só ela e Felicity.

— Foram criados juntos, não são irmãos de sangue — ele

explicou. Pedi que ele se sentasse. — Estou de saída. Vou buscar

meu amigo, o irmão dela. Ele não mora por aqui, veio passar as

festas de final de ano. — Eu sorri, acenando e o abraçando.

— Até logo!

Quando ele se afastou, vi Hank atravessar o café em nossa

direção. Ele foi buscar Audrey enquanto eu estava com Brianna.

Peguei-a dos seus braços e sorri.

— Oi, Sunshine. Eu estava com tanta saudade — murmurei

contra sua pele.

— Oi, Trent. — Ouvi a voz fria do Hank e acordei da minha

adoração para com Audrey.

— Oi, Hank! — Meu amigo sorriu e me encarou. — Foi bom

ver você. Te vejo por aí.


Ele foi embora e eu peguei minha bolsa, querendo ir para

casa. Hank me seguiu com as coisas de Audrey enquanto

caminhávamos em silêncio.

— Onde Brianna estava? — Ele deu por encerrado o silêncio

ao murmurar no carro.

— Tinha acabado de sair. Foi comprar um vestido para um

jantar com os pais. Você sabia que ela tem irmão? Fiquei surpresa,

achei que eram só ela e Felicity.

— Sean está aqui? É sério que ele está por aqui? — Seu

semblante franziu.

— Foi o que Trent e ela falaram.

— Estranho. Ele passou muito tempo sem voltar aqui.

O assunto morreu e brinquei o resto do caminho com Audrey,

enquanto Hank dirigia.


— Hank! — Saí da água do rio dias depois, procurando-o.

Viemos ficar ali por um tempo, apenas nós, mas ele saiu da água

enquanto eu estava nadando.

Coloquei meu vestido sobre meu corpo nu e procurei minha

calcinha, vestindo-a em seguida. Olhei para os lados e respirei

fundo, começando a me irritar. Não podia acreditar que ele tinha ido

embora. Balancei a cabeça, claro que não. Hank devia ter ido a

algum lugar.

Andei de volta para o lugar onde ele deixou o seu cavalo e

encontrei o animal parado, apenas comendo. Coloquei as mãos nos

quadris e esperei por algum tempo. Passaram-se quase vinte

minutos e nada dele. Será que aconteceu algo? Ele podia estar

ferido...

Cansada de pensar, peguei o cavalo e cavalguei para casa,

temendo estar deixando Hank para trás, mas o que ele estaria

fazendo que demoraria tanto? Era sem sentido!


Quando, ao longe, comecei a ver a fazenda, meu corpo

endureceu. Vi alguém encostado em um carro no meio da entrada, e

por um segundo senti medo, mas ele se desvaneceu quando

percebi que era Hank. Fiz o cavalo galopar mais rápido e, em

segundos, cheguei à sua frente. Segurei as rédeas do animal e

parei aos poucos. Sua cabeça se elevou e, de repente, ele se

colocou de joelhos.

— O que diabos... — Minha voz sumiu, com a dele

sobrepondo a minha.

— Quero que se case comigo. — Ele semicerrou os olhos,

forçado pelo sol escaldante, mesmo com o chapéu sobre seu cabelo

molhado.

Meu coração acelerou em meu peito e eu senti meu

estômago esfriar, igual toda vez que o via. Mas dessa vez mais

surreal e enlouquecedor. Ele estava diferente, meu amor por ele

estava diferente.
Seus lábios se curvaram e ele encarou o pasto ao nosso

lado. O cavalo em que estava montada deu alguns passos, mas

segurei as rédeas firmemente, mantendo-o parado.

— Sou um idiota. Kai disse que eu deveria ser eu mesmo,

falar o que eu sinto, mas não pensei que eu fosse tão idiota.

— Hank...

— Eu te amo. Sério. Nunca pensei que amaria alguém dessa

forma. Sempre duvidei disso, até mesmo de Kai e Elena, mas, baby,

você é meu mundo. — Ele sorriu. — Você fode e conserta minha

cabeça em segundos, e isso me irrita muito. Como você tem esse

poder? Como é segurar meu coração nas mãos e decidir o que

quiser?

— Como é com você? Uh? Porque você também segura meu

coração com suas mãos e, Hank, seus calos não me incomodam.

Sua estupidez ou idiotice, como acabou de chamar, não me ferem.

Eu amo você do jeito que é, e foda-se o mundo, porque me casar


com você é meu sonho. Então, Hulk, me tira daqui, porque você

recebeu um bendito sim! — Eu sorri, vendo-o se erguer e vir na

minha direção.

Hank amarrou as rédeas do seu cavalo na cerca e me puxou

para baixo. Rodeei sua cintura e capturei sua boca com desespero.

Ele segurou minha bunda e me apertou contra seu corpo. Eu

suspirei, esfregando meus mamilos doídos em seu peito.

— Droga, eu vou me casar! — ele gemeu, quase como se

estivesse frustrado.

Eu me afastei, franzindo as sobrancelhas.

— O que...

— Axel e eu fizemos uma aposta. Quem de nós se casaria

primeiro. Caralho, eu vou me foder...

— Vai valer a pena. — Eu pisquei, voltando a esfregar meus

seios em seu peito.


Ele mordeu o lábio inferior antes de o sorriso safado

aparecer.

— Eu tenho certeza de que vai. — Hank subiu sua mão pela

minha coluna e enfiou a mão pelo meu cabelo, puxando para trás

em seguida.

Engoli em seco, e mesmo com a tensão sexual nos

envolvendo, senti lágrimas em meus olhos. Não podia negar o

quanto estava feliz. O quanto amava esse caubói era insano, e

jurava que faria tudo ao meu alcance para tê-lo. Nada poderia me

parar.

FIM
— Mãe, fica quieta, tá bom? Melhor, não entrar. Vou sozinho

mesmo. — Andrew tirou o cabelo escuro do rosto, mal-humorado.

— O quê?! Por quê? — Eu me virei, chocada.

— Da última vez que veio comigo, você fez um escândalo.

Estou começando um ano novo, quero começar com calma...

— Eles estavam exigindo muito de você — contrapus,

lembrando-me que ele ia com mais de três tarefas para casa.

— Não, mãe! Não! Você tem uma picuinha com minha

professora. Já percebi. — Ele balançou a cabeça em descrença, me

fazendo abrir a boca em choque.

— O quê? É claro que não, Andrew!

Encarei-o pelo retrovisor e ouvi Hank rir ao meu lado. Dei um

beliscão nele e o vi esconder o rosto, se virando para a janela. Não

era fã da professora dele, mas também não a odiava.


— Sim, e é culpa do meu pai. Eu não quero que venham

juntos me deixar. Na verdade, não quero que meu pai venha.

— Andrew! — Hank o encarou e nosso filho bufou enquanto

via a paisagem passar voando.

— Mamãe sabe que minha professora gosta de você e ela

tenta a todo custo irritá-la na escola. — Ele parou de falar e encarou

nós dois seriamente. — Vocês estão estragando a minha vida, estou

falando sério — murmurou, colocando a mão na testa

dramaticamente.

— Ei! — resmunguei e me virei para Hank.

— Vocês fazem isso com a Sunshine? Eu acho que não! —

Ele se lembrou da irmã e eu fechei meus olhos, tentando me

acalmar.

— Já conversei diversas vezes com sua mãe. Seu pai é lindo

e rico, as mulheres caem em cima. É normal. — Hank acariciou a

barba por fazer.


— Pai, não faz isso... — Andrew gemeu e eu dei meu melhor

sorriso a Hank.

— E sua mãe é linda, rica e muito gostosa. Sabe quantos

caras entram nas minhas redes sociais para flertar? Ou quantos me

acompanham com os olhos quando passo? — Elevei apenas uma

sobrancelha e vi o rosto dos dois ficarem vermelhos. — É, acho que

não sabem.

— Vocês parecem adolescentes. Nem eu, mãe! Pai, você

sabe que ela está brincando. — Ele se inclinou entre nossos

bancos, encarando o pai com os olhos claros herdados dele.

— Não estou, não! Estou falando sério. E voltando para a sua

professora, ela é uma vaca. Me desculpe por fazer você passar

vergonha, juro que vou tentar ignorá-la daqui para frente — prometi

e segurei a mão do meu bebê.

— Obrigado. — Revirou os olhos e caiu no banco.


Deixamos Andrew na escola – ele não permitiu que eu fosse

com ele – e seguimos para meu trabalho.

— Fico feliz que tenha quem flerte com você na porra das

suas redes sociais. — Hank estacionou e se virou para mim

sorrindo. Seu olhar exalava perigo e eu sabia o que ia falar antes

mesmo que tivesse a chance de dizer. — Quando chegar em casa,

você vai ter uma surpresa. Vá direto para o celeiro. — Ele destravou

as portas.

Senti minhas pernas tremerem enquanto descia do carro. Dei

a volta no carro e me encostei à sua janela, sorrindo sedutoramente

e mordendo meu lábio.

— Flertar é bom — murmurei e me elevei para chegar perto

do seu ouvido. — Transar com você estando puto é melhor ainda.

Vou estar lá. Prometo. — Mordi sua orelha e me virei, indo trabalhar.
— Eu conversei com minha mãe — Sunshine resmungou,

entrando na sala depois que jantamos. Ela subiu para o quarto por

alguns minutos, agora estava explicado o motivo.

— E aí? — perguntei enquanto trançava o cabelo de Isabel,

minha filha mais nova.

— Ela disse que tudo bem eu namorar...

— O quê? — Hank deu um pulo do sofá e andou até a filha.

Audrey revirou os olhos e se jogou no sofá dramaticamente. Já falei

que meus filhos tinham o dom para serem atores? Pois é!

— Pai, eu e a mamãe Vanessa falamos com você sobre o

garoto que conheci na escola, lembra? — Ela o encarou,

completamente séria.

— Audrey, por favor, eu achei que estavam brincando. Você

não tem idade para isso e, olha, sua mãe não tem juízo. E eu me

refiro às duas que tem! — Ele arregalou os olhos em minha direção

ao ver que eu já ia dizer para ele não falar assim da Susan.


Ao longo do tempo, o veneno dela diminuiu, hoje vivemos em

paz. Não éramos amigas, mas também não inimigas. Nós nos

respeitávamos. E era isso.

— Pai, por favor, não faça disso uma novela. Eu o amo...

— Meu Jesus Cristo! Você não pode amar ninguém além da

sua família com dezesseis anos, Audrey. — Ele coçou a cabeça,

parecendo exasperado.

— Mãe, pelo amor de Deus, fala com ele — Audrey gemeu

em desespero e Andrew entrou na sala.

— Pai, ela o beija na frente da escola inteira. Se você não

deixar, ela vai fazer escondido, porque é o que adolescentes fazem.

Eles mentem, desobedecem, causam o caos.

Eu franzi as sobrancelhas para ele. Com apenas dez anos,

meu filho era mais esperto do que imaginei.

— Andrew! Cala a boca — Audrey gritou, horrorizada.


— Onde eu errei? — Hank questionou, pegando Isabel nos

braços. — Você precisa me salvar. Você não vai namorar, Isa, o.k.?

— ele avisou à criança de apenas três anos, e ela riu, concordando

com a cabeça.

— Olha, está tudo bem. Hank, querido, nós podemos ser

adultos e admitir que nossa filha cresceu. Então, Audrey, amanhã

falaremos com mais calma sobre isso. Agora, por favor, vão para o

quarto de vocês e me deixem em paz! — gritei, apontando para a

escada.

Os dois se ergueram bufando e caminharam para a escada.

— Estão esquecendo de algo — avisei.

Audrey suspirou audivelmente e voltou, pegando Isabel dos

braços do seu pai.

— Boa noite, pai e mãe — eles falaram em uníssono e eu

acenei, deixando-os livres.


— Ela cresceu — Hank murmurou para si mesmo e eu o

abracei por trás.

— Sim, caubói, ela cresceu.

Beijei o meio das suas costas e ele se virou, me embalando

em seu peito.

— Vou permitir que ela namore — ele anunciou e eu sorri.

— Você é o melhor! Sabia que encontraria sua razão.

— Mas eu a mudarei de escola. Só vai namorar aqui em casa

— Hank decidiu, por fim.

Vislumbrei o autoritarismo na voz que ouvi pela primeira vez

tantos anos atrás.

— Você não muda. — Gargalhei, batendo em seu peito

devagar.

— Se eu mudasse, você não continuaria apaixonada por

mim. — Ele piscou e eu selei nossos lábios juntos. Sua língua

buscou a minha, enquanto Hank se inclinava em minha direção.


Nossos beijos não mudaram, começavam lentos e apaixonados e,

em segundos, estavam sedentos à procura um do outro.

E ele estava certo. Eu me apaixonei pelo caubói bruto, rude e

incrivelmente insaciável. Mesmo contra todas as probabilidades,

continuava me apaixonando todos os dias, sabendo que ia amá-lo

para sempre.
Neste livro, não irei agradecer a muita gente, apenas a Deus

e as minhas leitoras do Wattpad. Este romance foi escrito motivado

por vocês. Devo A FILHA DO COWBOY ARROGANTE a cada

pessoa que esperava todas as sextas-feiras para se enfurecer com

Hank, rir com Vanessa e se encantar com Audrey.

Obrigada, meninas!

Vocês sempre me incentivam, e tudo que um autor precisa

para lançar livros é isso. Incentivo.

Amo vocês!
Meus olhos estavam presos nos dele. Ele sorriu, beijou minha
mão, e eu, de uma forma estúpida, comecei a relaxar.
Conversamos, trocamos risadas e histórias engraçadas.
Ele parecia tão confiável.
Mas eu estava errada.
Ele não era confiável.
— Tire a roupa — foi o que ele falou quando estávamos
sozinhos, horas depois.
— O quê? — Bêbada, eu sorri. Tomei alguns shots de tequila
induzida por ele, enquanto brincávamos. — Pare, pelo menos me
leve para sair mais vezes — disse, rindo inocentemente.
O tapa veio rápido. Senti minha pele arder e, em seguida, a
ardência se transformou em latejo. Meu ouvido ficou tapado por
alguns segundos e só momentos depois voltei a ouvir o ruído do
beco escuro.
Ele disse que vinha fumar e queria minha companhia. Eu o
segui até aqui. Deus, como fui burra.
— Tire a roupa! — voltou a berrar.
Então percebi que não estava brincando. Seus olhos escuros
me fizeram recuar para a parede mais próxima. Ele deu passos em
minha direção, ainda podia sentir meu rosto doer até que sua mão
agarrou meu cabelo. Sempre tive cabelo loiro, mas eram tão ralos
que perderam a beleza. Ele me tirou do chão, segurando-os. Eu
gritei, mas ele foi rápido ao tapar minha boca.
— Eu faço por você — ele anunciou, encarando meus olhos
de maneira nojenta. Sua língua áspera percorreu meu pescoço e
bochecha, me fazendo soluçar.
A bebida estava fora do meu corpo e o medo criou raízes.
Ouvi um barulho quando um canivete entrou pela minha blusa e ele
a rasgou ao meio. Meu sutiã era de renda e logo se partiu também.
Meus seios ficaram rígidos ao entrarem em contato com o frio da
noite enquanto minhas pernas se remexiam, querendo atingi-lo.
Com meu movimento ao tentar machucá-lo, o objeto cortante
atingiu meu seio e feriu minha pele.
Meus gritos foram abafados pela mão dele e eu comecei a
perceber que não sairia dali viva. O que fui fazer ali? Por que isso
estava acontecendo? Eram essas as questões que rondavam meus
pensamentos.
— Olha só o que me fez fazer. — Sorriu friamente e lambeu
meu sangue da faca pequena. — Te observo há tanto tempo, Marie.
Estava tão louco por você. — Ele se inclinou e lambeu meu sangue
direto do corte latejante.
Queria implorar, pedir que me deixasse ir, mas já estava difícil
respirar. Meu couro cabeludo doía e eu poderia apostar que já
estava saindo sangue.
— Vou trepar com você a noite inteira. Vou marcar seu corpo
todo, sua puta. — Ele mordeu a ferida com uma força absurda,
rasgando mais ainda a carne.
Gritei, conseguindo deixar meus lábios livres por um
momento, e finquei meus dentes na sua mão, sentindo a carne ser
partida. Sua mão no meu cabelo saiu, me dando um alívio
passageiro, mas então meu pescoço foi apertado, fazendo o ar se
esvair dos meus pulmões. Lágrimas encheram meus olhos
enquanto ele chupava o machucado que fiz em sua mão.
— A vagabunda sabe morder também…
— Por favor, me solte. Não vou denunciar… só me deixe ir…
— me forcei a falar, sentindo minha vida deslizar entre meus dedos,
porém, o homem me calou com um soco certeiro em meu olho
esquerdo.
Ainda tonta do golpe, senti minha cabeça colidir contra a
parede diversas vezes. Meus olhos pesaram e a dor tomou conta.
Todo o meu corpo latejava. Virei a cabeça, desnorteada, sabendo
que aquele homem me mataria.
— Vagabunda. — Ele aproximou o rosto do meu.
— Me so-solta. Po-por favor — pedi, gaguejando, sentindo
minha garganta queimar e minha cabeça doer cada vez mais.
Nunca vi tamanha escuridão e maldade em alguém. A vida
que eu encarei enquanto estávamos conversando no bar do Axel
não estava presente, nunca esteve. Ele fingiu.
Ele se aproximou mais, rindo. Foi quando ouvi vozes distantes, mas
uma delas se sobressaiu. Era a dele. Cain.
— Socorro! CAIN! — gritei, mesmo aterrorizada, pelo homem
que eu amava, encarando o psicopata que conheci há algumas
horas, mas que teve tempo suficiente para arruinar minha vida para
sempre. — Socorro! Socorro! — Eu me agarrei à esperança de viver
e continuei gritando.
— Eu volto — ele pronunciou, furioso, e correu para a porta
que dava para o bar do Axel.
Minha visão estava embaçada, mas vi Cain chegar a mim. Ia
guardar para sempre em minha mente seu olhar de puro pânico
naquele dia.
Reli duas vezes a passagem enquanto estava deitada em
meus lençóis. Eram três da manhã, cinco dias depois da noite
fatídica. Eram cento e vinte horas sem dormir, sem conseguir relaxar
meu corpo.
Não conseguia. Juro que tentei. O sono apenas não vinha.
Desde pequena, meu maior lazer era andar a cavalo à noite.
Aquilo me relaxava, fazia meu corpo e alma terem paz, mas agora
não podia olhar para o céu escuro, pois temia entrar em pânico
absoluto. Não falei para ninguém o que aconteceu, não abri a boca
para falar com ninguém sobre aquela noite. Eles me rodearam,
fizeram perguntas, mas eu fiquei calada. Fiquei aterrorizada
somente com a possibilidade de alguém me tirar de casa depois que
o sol se punha.
Eu associei o horário do dia que eu mais amava àquela noite.
Ao meu tormento.
— Posso entrar? — Ouvi a voz de Kai pela porta, depois de
batidas.
Engoli em seco. O que ele estava fazendo acordado a essa
hora? Encarei meu celular, sabendo quão tarde era.
— Claro. Entra — pedi suavemente, logo vi seu rosto.
Kai me abrigou na sua casa quando eu era apenas uma
menina. Minha mãe trabalhou aqui, mas morreu e ficamos apenas
eu e minha irmã, Michelle. Kai nos deu trabalho, uma casa e
comida. Eu o amava como meu irmão mais velho.
Seu rosto cansado denunciou sua preocupação. Eu era um
estorvo para ele. Estava na sua casa durante esses dias, mas
morava numa propriedade onde seus trabalhadores dormiam, a
alguns minutos dali. Antigamente, eu ia a cavalo para casa, depois
do dia de serviço, porém, agora não a lugar nenhum.
— Marie, não consegue dormir? — Ele se aproximou devagar
e se sentou na cadeira ao lado da minha cama, enquanto fechava
meu diário, escondendo-o embaixo das cobertas logo em seguida.
— Já estava quase — menti, forçando um sorriso. Não queria
preocupá-lo mais do que o suficiente. Kai tinha sua família para
cuidar, não precisava de mim lhe dando preocupações.
— Sei que não está conseguindo dormir. Ouço seus suspiros
e vejo sua luz acesa quando passo na porta. — Kai fechou os olhos
e eu senti meu coração começar a doer. — Estou apavorado. — Ele
riu sem humor, me fazendo piscar. — Você é minha irmãzinha,
entende? Quero entender o que aconteceu. Quem fez isso… — Ele
se calou de repente e escondeu o rosto entre as mãos. Quando vi
seus ombros tremerem, me ergui da cama, me colocando de joelhos
à sua frente.
— Não precisa ficar assim, Kai… — eu disse, tentando em
vão, acalmar meu quase irmão.
— Marie, você não sai desse quarto há dias. Estou
preocupado. O que esse homem fez…
— Kai, eu estou bem. Amanhã eu saio, vou dar uma volta
pela fazenda… — Tentei me imaginar saindo do quarto e não
consegui ver como.
— Não, você não está. Vou matar o homem que fez isso com
você, se Cain não o achar primeiro, óbvio. — O nome dele ecoando
fez com que eu me afastasse de Kai, arfando.
— Como assim? Cain… — Meus olhos se arregalaram
enquanto meu sangue esfriou completamente.
— Ele está caçando o homem. Ele viu você com ele, Cain
pode reconhecer o cara — Kai falou de modo calmo.
Tremi, abraçando meu corpo. Se Cain o encontrasse… e se
ele fizesse o homem por quem sou apaixonada sofrer tanto quanto
me fez? Não conseguia imaginar perder aquele homem.
Imaginei que Cain tivesse chegado ao bar no momento em
que me encontrou. Estava errada. Ele me observou sendo uma
idiota a noite toda. Rindo e flertando com um psicopata por causa da
nossa briga. Talvez planejando estapear minha bunda por estar na
presença de outro homem.
Ele era tão ciumento.
— Entendi. — Respirei fundo e me forcei a sorrir, deixando
meu medo de lado. Teria que falar com Cain. Durante essa semana
conversamos, mas ele estava receoso o tempo todo. Talvez,
achando que eu desmoronaria.
Estava a um passo, confesso.
— Kai, vou dormir, podemos conversar ao amanhecer? —
Tentei dizer de forma convincente, então ele se ergueu, se
inclinando até mim.
— Estou aqui, Marie, ele não vai entrar aqui. Nunca deixarei.
— Seus lábios tocaram minha testa, e eu suspirei, constatando que
sim, eu acreditava nele.
Na manhã seguinte, tomei banho demoradamente. Encarei-
me completamente nua em frente ao espelho e mordi meu lábio ao
ver a cicatriz em meu seio. Os médicos tentaram deixar
imperceptível, mas eu conseguia ver. A pele deformada de seis
centímetros me fazia sentir nojo de mim mesma.
— Marie? — A voz suave de Elena soou.
Engoli em seco, vestindo shorts jeans e uma blusa de botões.
Abotoei-a até quase o pescoço, temendo que alguém visse a ferida
quase cicatrizada.
Ia sair do quarto hoje. Precisava aliviar as preocupações dos
meus amigos. Sabia que esperavam isso de mim, principalmente
depois de ontem à noite.
— Só um momento! — gritei para a mulher do Kai, querendo
que ela me esperasse.
Quando saí do banheiro, vi Kian em seus braços, mordendo um
patinho de borracha. Com três meses, o filho de Elena era uma
gostosura. Suas bochechas eram gorduchas e os olhos tinham um
brilho lindo.
— Ei!
— Sinto incomodar. Como está? — Sorriu, sem me deixar
desconfortável pela pergunta, e foi exatamente isso que mais gostei
nela quando Kai a trouxe de uma viagem a Las Vegas.
— Não é incômodo. Estou bem, obrigada.
— Você pode ficar com Kian por um minuto? Kai está no
celeiro, precisando da minha ajuda — ela disse suavemente.
— Claro! Me passe ele. — Acenei, me aproximando.
Elena o entregou a mim, saindo em seguida, então levei Kian
para a minha cama. Deixei-o rodeado de travesseiros enquanto
colocava minhas botas. Assim que sua risada encheu meu quarto,
me sentei ao seu lado. Coloquei-o em meus braços e ele sorriu,
completamente babado.
— Será que sua mãe já te deu café? — perguntei, mas
lembrei que Kian ainda só mamava. Elena queria incrementar sua
alimentação ainda esse mês, se me lembrava bem. — Podemos
ficar aqui, então…
Sorri para suas covinhas e beijei sua barriga, me inclinando
sobre a cama. Sua risada aqueceu meu coração e eu senti lágrimas
encherem meus olhos. Estava sensível, esclareci para mim mesma.
— Com licença. — Meu corpo tensionou quando escutei a
voz seguida de batidas. Fiquei parada, não me permitindo virar. —
Marie? — Sua voz engrossou e eu fechei os olhos, tentando criar
coragem.
— Pode entrar. — Forcei minha garganta e ouvi suas botas
pesadas contra o chão do meu quarto.
— Está tudo bem? — Ele se sentou na cadeira onde Kai
estava ontem, e eu acenei. — Você ainda não falou com ninguém
sobre o que aconteceu. — Não era uma pergunta.
Cain percebeu pelos longos segundos em silêncio que eu não
falaria nada, então mudou de assunto. Eu fiquei grata por isso.
— Kian está grande, não é? — Ouvi o riso em sua fala.
— Sim, ele é lindo — murmurei, beijando o bebê gorducho.
— Imagina o nosso? Consegue? — A voz dele enviou
choques pelo meu corpo. Sua mão apertou meu joelho, e eu travei
quando entendi o que quis dizer.
— Cain…
— Eu imagino. Porra, ele vai ser lindo. Com seus malditos
olhos bonitos e nosso cabelo loiro — ele continuou divagando, então
me virei para encarar seu rosto.
— Não teremos o nosso, Cain. Acabou. Você sabe disso. —
Seu olhar era indecifrável, tentei tirar qualquer coisa dele, mas
quando ele sorriu eu sabia que estava ferido. Cain surtou comigo,
ele não riu do que eu falei. Nunca.
— Você quis terminar, não eu — contrapôs suavemente.
— Você não queria nada sério comigo — eu o lembrei,
sabendo que ele sempre tentou esconder o fato de que dormia na
minha cama.
— O que tínhamos era sério…
— Esquentar seus lençóis à noite depois que entrava
escondido em meu quarto, pela janela, é algo sério para você? —
Eu ri, balançando a cabeça. Segurei Kian contra meu peito
enquanto Cain suspirava.
— Foda-se. — Ele se ergueu e andou até a porta. Não o via,
mas ainda o sentia dentro do quarto. — Arrume suas coisas.
Quando meu turno acabar, venho buscá-la. — Ele bateu a porta.
Me ergui e corri para fora, à sua procura. Encontrei-o já
descendo a escada.
— O que falou? — sussurrei, completamente confusa.
Ele parou de andar ao me escutar.
— Você ouviu. — Seu resmungo irritado me fez engolir em
seco.
— Para onde pensa que vai me levar? — gritei, indo a seu
encontro.
Cain virou o rosto e sorriu de forma perigosa. Quando os
pelos do meu corpo arrepiaram, eu soube que ele planejou algo
para mim.
— Para um lugar de onde nunca mais vai sair. — Minha
barriga gelou e sua língua saiu, lambendo seus lábios. — Minha
casa.
Cain desceu a escada depressa e me deixou parada, sem
saber o que fazer. Meus lábios estavam abertos e Kian enfiou a mão
por eles, quase me engasgando. Segurei sua mão e sorri, ainda
tensa, para o bebê.
— Kian, o que ele está aprontando? — questionei, mas o
bebê apenas riu sem me dar nenhuma chance de entender.
Cada passo, decisão e momentos da minha vida estavam
selados. Eu aceitei meu destino assim que me foi imposto. Fui uma
verdadeira princesa, elegante e maleável. Me casaria com o
consigliere da Cosa Nostra e seria uma rainha.
Ou foi o que achei até que ele entrou em meu caminho e
quebrou minha coroa, antes mesmo dela ser posta sobre minha
cabeça.
Rocco Trevisan a pegou entre os dedos e a despedaçou. Em
seu lugar, fui presenteada com uma gaiola que me manteria presa
para sempre. Ele me escolheu e pela primeira vez eu odiei ser a boa
garota da famiglia.
Eu odiei a elegância e educação me dada.
Eu quis ser diferente. Quis odiá-lo e fugir.
Agora, eu não podia.
Porque ele via dentro de mim. Ele sabia.
Eu amava a escuridão.
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DASHA
Eu nasci no berço da crueldade, mas ela nunca chegou tão
perto de mim quanto no dia em que sou sequestrada por ele . O
homem tão frio quanto a neve que cobre o meu cativeiro me fez
compreender o que era desejar e temer alguém com tamanha força.
YERÍK
Eu não nasci corrompido. Fui moldado por quase uma
década em um clube de luta onde eu era o monstro que eles
queriam exibir. Voltar e ver que toda minha família foi morta por
Kireyev me deu um propósito. Eu o farei pagar, corrompendo sua
herdeira intocada e inocente
Ela queria ser livre.
Ele queria vingança.
Ambos em um cativeiro preenchido de perversidade, onde a
escuridão irá corromper a luz.
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Luca ama a adrenalina, correr é o que o faz sentir-se


completo.
Alícia ama a arte, é nos pincéis sujos com tinta que sempre se
encontra.
Ambos não sabiam que uma fuga inesperada faria o destino
entrelaçar suas vidas de maneira permanente.
Muito se finge por trás de um volante.
Muito se esconde por trás de um cavalete.
Duas almas em busca da felicidade, duas pessoas buscando
a liberdade.
Eles se odeiam, fogem da atração insana que os rodeia. Mas
quando a liberdade que tanto almejam tem gosto do paraíso, eles
vão decidir se perder um no outro ou lutarão como excelentes
inimigos?
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MARIANO
Governar o submundo de Nova Iorque era a minha
prioridade, estar à frente de dezenas de homens era o que eu sabia
fazer melhor, porém, quando minha vida muda e traidores começam
a surgir de onde menos se espera, é no desconhecido que me
encontro.
ADALIND
Meus sonhos me levaram diretamente à cidade do pecado,
onde o diabo está à espreita. A escuridão nos olhos dele me deixa
inerte. A obsessão que surge me amedronta, mas seu toque me
rende. E quando menos espero, no colo da fera é que encontro paz.
Ele é um mafioso marcado.
Ela é uma bailarina na faculdade.
A obsessão de um homem poderoso por uma garota ingênua
nunca foi tão perigosa.
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PARTE 1
Serenity não imaginou chegar ao extremo em tão pouco
tempo. Quase dois anos na faculdade foram suficientes para
perceber que ser independente e lidar com as dívidas do irmão
requer muito dinheiro.
Quando sua melhor amiga a convida para conhecer o seu
trabalho tão secreto, jamais passou pela cabeça de Ren que ela era
uma sugar baby, muito menos que aceitaria fazer o mesmo.
Na sua primeira noite, ela esperou várias coisas, mas nunca
que o seu primeiro sugar daddy a levasse ao jantar de Natal da sua
família.
Devon é mais velho, rude e incrivelmente sedutor, e Ren não
é capaz de resistir, nem se quisesse.
Porém, quando novos encontros surgem, ambos começam a
questionar a importância de um para o outro e a colocar na balança
se vale a pena ficarem juntos.
PARTE 2
Devon Chanse e Serenity Price são um casal pouco comum.
Ele é um milionário de quarenta e seis anos, ela é uma
estudante de vinte e dois.
As pessoas comentam, oprimem e duvidam do amor dos
dois.
Quando o casamento de ambos se aproxima e uma gravidez
não planejada acontece, Ren se pergunta se o amor será suficiente
contra a opinião dos desconhecidos e principalmente da sua família.
O amor tudo suporta, tudo crê, mas... será mesmo?
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Ele era famoso, um dos jogadores de futebol americano mais
premiados dos Estados Unidos.
Ela era uma enfermeira que lutava bravamente contra a
depressão da mãe e o abandono do pai quando ainda era pequena.
Duas pessoas completamente diferentes que o destino uniu
da forma mais dolorosa possível.
A paraplegia mudou a vida dele drasticamente e, a dela, se
modificou por ele.
Um amor capaz de curar as feridas mais profundas pode
fazer duas pessoas ultrapassarem o medo de não serem
suficientes?
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Ele é um CEO cruel.
Ela é uma mãe solo.
Ele quer vingança.
Ela não sabe o que fez.
Ele não entende por que a quer tanto.
Ela guarda segredos que mudariam tudo.
Ele vai fazê-la ruir por suas mentiras.
Ela é sua cunhada.
Ele é irmão do seu falecido marido.
É errado, é cruel, é intenso.
É um erro prestes a acontecer e mudar completamente tudo .

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Depois de um acidente que quase tirou sua vida, Laura
Lancaster sabe de três coisas sobre si mesma.
Ela é solteira, pediatra em um hospital renomado e agora
está grávida de um homem misterioso que ela não entende como e
nem por que se entregou tão facilmente quando se conheceram.
Sua mente esquecida também não faz ideia de que esse
homem intenso e sarcástico é também seu marido.
Henrique D’Ávila sabe de três coisas.
Ele é casado, completamente apaixonado pela esposa e um
CEO bilionário.
Com uma fortuna de dar inveja a muitas pessoas, Henrique a
daria a qualquer pessoa que fizesse Laura se lembrar que os dois
eram casados e que ela pertencia a ele.
Isso nunca aconteceria. Apenas o tempo traria as suas
lembranças de volta.
Laura descobriria em breve que seu marido nunca foi
paciente.
O tempo está correndo e Henrique está disposto a fazer
Laura amá-lo mais uma vez.
Mesmo que para isso tenha que se inserir na vida dela como um
desconhecido.
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Jayden Treton é uma chama brilhante que fascina e te


envolve.
Ele é instável, misterioso e bonito demais para o seu próprio
bem. Eu sabia que era arriscado, mas meu lado impulsivo adorava
brincar com fogo.
Pelo menos até eu começar a queimar.
O amor de Jayden é perigoso. Para meu corpo e coração.
Suas mentiras são belas, mas escorregadias. Às vezes, eu só
desejava a verdade, mesmo que ela fosse me destruir.
Eu sou Avery Wright e essa é a história de como eu tentei
escapar do amor perverso de Jayden, mas eu soube tarde demais
que fugir dele é impossível.
E cair na tentação é mais fácil do que eu imaginava.
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Durante a vida de Enrico Bellucci nada o chocou. Nunca.


Mas quando, numa ida a Las Vegas, ele decide fazer uma visita à
casa de um velho rico que está fodendo com os negócios do chefe,
Enrico sabe que algo está errado. Mas nada poderia ser tão errado
do que encontrar uma garota em estado de decomposição. Ela está
viva, mas tão suja e sem nenhum cuidado... ela parece que não
come há dias.
Enrico é um homem frio, mas quando seus olhos pousam
nela, ele quer matar o velho, arrancar sua pele com sua faca e o
fazer sofrer o tanto que ele fez a menina de olhos surpreendentes.
Ele quer matar por ela.
Giovanna não sabe o que é um lar. O que é uma casa. Ela
perdeu tudo e foi mandada para o inferno. Abusada e quebrada.
Essa era a definição dela.
Agora, aos cuidados de um homem desconhecido, feroz e
inquietante, ela se perguntava se realmente tinha sido salva ou
presa mais uma vez.
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Danton Flynn é o vocalista mulherengo, tatuado e aclamado


da Dark Star. Mas, antes de tudo ele tinha sido dela, da menina de
cabelos pretos e olhos azuis. Daquela que fazia seu coração pulsar
e era a sua inspiração. Daquela que tinha o abandonado quando ele
mais precisou.
Seu coração estava quebrado, mas as mulheres, shows e
bebidas cobriam as rachaduras que ele esconde e transforma em
música. Dan estava bem, pelo menos até ver a menina que fez sua
vida miserável em um dos seus shows.
Poppy MacGregor não estava preparada para que os olhos
azuis e muito brilhantes de Danton pousassem sobre ela em um
show com milhares de pessoas, mas eles pousaram. Ir ao camarim
e assistir sua melhor amiga se derreter por ele era necessário, ou
pelo menos ela dizia isso a si mesma.
Há marcas que o tempo não levou e nem poderia. Ser
magoado uma vez causou um desastre. Será que Dan estava
pronto para a próxima tragédia ou dessa vez quem iria ruir era a
menina que ele sempre amou?
Poppy está pronta para as descobertas ou ela vai quebrar
assim que as peças se encaixarem?
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