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Davi

a redenção de um homem

Parte 1

Aline Pádua
Copyright 2018 © Aline Pádua

1° edição – abril 2018

Todo o enredo é de total domínio da autora, sendo todos os

direitos reservados. Proibida qualquer forma de reprodução total


ou parcial da obra, sem autorização prévia e expressa da autora.

Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

Revisão: Gabi Ferraz

Diagramação: Aline Pádua

Ilustração: Queen Designer


Sumário
Sumário

Sinopse

Playlist

Prólogo

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

12

13

14

15

Parte 2
Contatos da autora
Dedicado a Manuele Cruz, por ser a amiga, parceira e

inspiração...
Sinopse

Davi Rivera tinha tudo calculado em sua vida, e aquilo incluía realizar
sua maior ambição, ser o presidente da empresa da família. Porém, o que ele
não contava, era que uma mulher intrigante apareceria novamente em seu
caminho, ou melhor, nunca tinha saído do mesmo. Manuele o intrigava, e o
fazia sentir como um jovem adolescente. Para um homem que sempre pensou
no futuro, sem ter tempo para o presente, uma noite fora do planejado, era
arriscado demais. Porém, ele o fizera. E naquela noite, a tornaria apenas sua.

Manuele Cardoso apenas tinha em mente uma coisa: o tempo não para.
Ela seria praticamente sozinha no mundo, se não fosse a ajuda e carinho de
seus patrões, que sempre a trataram como da família. Porém, ela sempre lutou
suas próprias batalhas, e na espera de que um dia, teria alguém para chamar
de seu, e quem sabe, passar o resto da sua vida om essa pessoa. O que não
imaginou era que o homem o qual sempre lhe despertou os desejos mais
profundos, a olharia. Era para ser apenas uma noite, porém, mal sabia, que
tudo mudaria a partir dali.

Davi era determinado...

Manuele era apaixonada...

Uma mistura de sentimentos que gerou um fruto...

Um casamento que de repente tornou-se um caos...

Um segredo capaz de mudar tudo...


Afinal, qual será a redenção desse homem?
Playlist

A noite – Tiê

Delicate – Taylor Swift

Downtown – Anitta part. J. Balvin

Dusk Till Dawn – Zayn feat. Sia

Good for you – Selena Gomez

Heaven – Julia Michaels

Here without you – 3 Doors Down

I don’t wanna live forever – Taylor Swift feat. Zayn

Love on the brain – Rihanna

Love the way you lie (part. 2) – Rihanna feat Eminem

Make me (cry) – Noah Cyrus feat. Labirinth

Malibu – Miley Cyrus

Mercy – Shawn Mendes

Never be the same – Camila Cabello

Perfect – Ed Sheeran

Piece of my heart – Janis Joplin

Say my name –Beyonce

Skinny Love – Birdy


Stone cold – Demi Lovato

Tell me you love me – Demi Lovato


“Se era amor? Não era. Era outra coisa. Restou uma dor profunda, mas
poética. Estou cega, ou quase isso: tenho uma visão embaraçada do que
aconteceu. É algo que estimula minha autocomiseração. Uma inexistência que
machucava, mas ninguém morreu. É um velório sem defunto. Eu era daquele
homem, ele era meu, e não era amor, então era o que? (...) eu tenho certeza
que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era
uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era sacanagem.
Não era amor, eram dois travessos. Não era amor, eram dois celulares
desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era
amor, era sem medo. Não era amor, era melhor.”

Martha Medeiros
Prólogo

“Gave you up 'bout 21 times

Felt those lips tell me 21 lies

You'll be the death of me

Sage advice

Loving you could make Jesus cry.”[1]

As palavras ainda ressoavam em minha mente, marcando-

me como a grande idiota do século. Eu sabia! Ou melhor, eu tinha

que ter desconfiado.

Tudo que aconteceu entre nós, o que se sucedeu após


aquele dia juntos... Era bom demais para ser verdade.
Levei as mãos à cabeça, o choro entalado em minha

garganta, porém, a dor era tamanha que não conseguia me


expressar. Era como se meu coração estivesse sendo dilacerado,

e meus pensamentos revivessem e me marcassem com toda sua

sufocante confissão. Davi Rivera era um mentiroso profissional, e

pela primeira vez, após meses juntos, descobrira aquilo.

Olhei para o anel em meu dedo e sorri sem vontade,

sentindo a dor em meu peito aumentar. Não tinha lágrimas

naquele instante, enquanto todo o amor que sentia se tornava


minha maior fraqueza. Olhei de relance para a porta entreaberta,

e cogitei por um segundo entrar pela mesma. Porém, escutei meu

instinto, que gritava para ficar ali, e depois, dar as costas, sem

olhar para trás.

A conversa entre eles se desenrolava, e me aproximei,

olhando novamente pela brecha da porta. Guilherme gargalhou

de algo que Davi disse muito baixo, e queria ser uma mosquinha
para poder ouvir. As verdades eram necessárias, ao menos sem

ser notada, eu as estava conhecendo.

— Como pode fingir que não se importa, Davi?

— Porque eu não me importo, porra!


Meu coração sangrava.

— Irmão, você precisa enxergar que ela vai sofrer, porra!

— Guilherme levantou os braços e mudou seu olhar de direção, e

infelizmente, seus olhos encontraram os meus.

Fiz sinal negativo com a cabeça, implorando internamente,

que o mesmo cunhado que conheci há alguns meses, mesmo não

tendo sequer alguma intimidade, não me entregasse ali.

Ele mudou seu foco, olhando para o irmão, e suspirei


aliviada, vendo que Davi andava de um lado para o outro.

— Então está casado com uma morena gostosa daquela e

não a ama? — meu cunhado perguntou debochado, limpando o


sangue da boca. Naquele momento entendi por completo suas

palavras, ele praticamente dispersou o foco para que o irmão, não


me visse. E sequer me delatou. — Eu a amaria no primeiro

momento que colocasse a boca no meu...

— Cala a porra da boca, Guilherme! — Davi bradou, e ri de

mim mesma, por vê-lo daquela forma.

Ele não queria que o irmão falasse de mim?

Claro! Pois apenas ele podia ser a causa de toda minha


humilhação, e da dor que me assolava.
— Não vai sequer pensar em falar disso a alguém. — as
palavras de Davi estavam me destruindo, ouvi-lo fazia com que
sentisse pena de mim mesma, por ter sido tão ingênua. — Isso é

algo entre eu e a minha mulher.

Sua mulher...

O quão irônico era ouvi-lo me chamar daquela forma?

Ri desconsolada, em meio aquele caos.

— Não sei como descobriu, mas não pode dizer isso a


ninguém. Isso me faria perder tudo!

Decidi a não ser ainda mais masoquista, saí de perto da

porta, indo em direção a saída da casa.

Vi o carro parado, e Júlio estava ao seu lado, esperando-


me.

— As chaves do carro, por favor. — pedi, num só fôlego e o

mesmo me encarou um pouco sem jeito.

— Não posso faze-lo, senhora Rivera.

— Por favor, Júlio. — praticamente implorei, e vi seu olhar

se apiedar. — Sei que vão me seguir, mas eu preciso desse


momento sozinha.
Ele então disfarçou um pouco e deu-me as chaves, e
sabia, ele estava quebrando uma série de regras que Davi os
passou. Mas aquilo não importa, muito menos Davi. Naquele

instante, eu só precisava sair dali.

— Obrigada.

Entrei no carro, e tranquei as portas de imediato, sentindo


o peso do mundo em minhas costas. Passei as mãos de leve por

minha barriga, tentando buscar forças em meu filho. Dei a partida,


e soube naquele instante, que logo saberia ou pelo irmão ou pela
segurança que eu estive lá.

Definitivamente, eu era tão tola, que sequer conseguia


chorar durante o caminho até o apartamento. Quando finalmente

estacionei, agradeci por já estar no estacionamento do prédio,


pois já não tinha mais forças, meu corpo parecia querer ceder a
toda dor e pensamentos destrutivos. Fui até o elevador privativo,

e encostei-me contra o metal gelado, tentando não desabar ali.


Eu estava no momento de negação.

Cheguei ao apartamento, e olhei ao redor sem vontade,

passo a passo até o quarto, lembrando de casa mísero dia


juntos... sabendo naquele instante, que nada foi real.
Assim que adentrei nosso quarto, toquei de relance a
aliança em meu dedo anelar esquerdo e a tirei, finalmente tudo

fazendo sentido em minha mente. Entrei no banheiro, tranquei a


porta, e deixei o grande e esplendoroso anel sobre a pia, sem
conseguir encará-lo. Ver aquele pequeno círculo fazia-me lembrar

de seu real significado. Que “nós” era para ser infinito...


contínuo... Tocar era como ter a certeza de que era real... porém,

nunca fora.

Liguei a ducha, e deixei meu corpo ainda com roupas


escorregar com cuidado pela parede até o chão. Ali, sufocada em

meus maiores medos, receios e tristezas, desabei. Sabendo que


sequer o “eu te amo” que saiu da boca do homem que amava, foi
real.

Eu estava quebrada.
01

“Love's my religion but he was my faith

Something so sacred so hard to replace

Fallin' for him was like fallin' from grace

All wrapped in one he was so many sins

Would have done anything everything for him

And if you ask me I would do it again.”[2]

Meses antes...

A festa estava linda. Mais uma vez meus patrões tinham

acertado em cheio na decoração do ambiente de toda mansão.


Aquela também era minha casa, mesmo que não fosse realmente

parte da família, e eu estava mais do que feliz de passar mais


uma virada de ano próxima das pessoas que tanto me fizeram
bem.

Meus cabelos castanhos estavam para o alto num coque

meio solto, uma maquiagem leve marcava meus olhos de mesma


cor, enquanto os lábios estavam cobertos por um tom vinho.
Vestida em um simples vestido negro e sapatos que foram

presenteados pela filha deles, e minha amiga, Luíza, não me senti


tão deslocada ali. Eu não tinha requinte e muito menos classe da
maioria das pessoas que circulavam pela grande sala, o pouco

que aprendi foi com os Monteiro. As várias festas que eles me


levaram, simplesmente por me considerar da família, me

ensinaram o básico.

Sorrir e acenar! Era meu lema em todas as festas. Porque

por mais que eles me considerassem mais do que sua


empregada, a maioria não o entendia, pois, o sobrenome Cardoso
não tinha muita importância ali.

— Pode me servir uma taça de champanhe? — uma voz


rouca a qual conhecia muito bem praticamente soprou em meu

ouvido. Era ele.

Virei-me para encontrar o homem que abalou


completamente meu mundo, desde a primeira vez que meus
olhos recaíram nos seus há cerca de um ano. Deus, ele era lindo!
Era impossível não o inspecionar. Os olhos castanhos

combinavam perfeitamente com os cabelos negros que roçavam o


colarinho dos ternos que sempre usava. Ele tinha um ar austero,
que parecia tão simples como respirar.

— Senhor Rivera, hoje não estou a trabalho.

— Não me diga, então a empregada se torna convidada de

repente.

Não entendi o porquê de seu ataque, já que ele havia me

visto em vários outros jantares e festas... Talvez não, eu o via. Eu


nunca consegui passar por ele e o ignorar, mas era claro agora
que não era recíproco.

O que eu estava esperando? Um homem como Davi


Rivera, um dos milionários mais cobiçados do país interessado
em mim? Jamais.

— Bom, geralmente meus patrões me convidam e...

— Deveria negar! — seu tom foi rude, fazendo-me enrijecer


no mesmo instante. — Não passa de uma dessas empregadinhas
que vão as festas com decotes extravagantes para caçar maridos

ou no mínimo uma barriga.


Eu estava chocada. Quem ele pensava que era? Ou
melhor, quem ele pensava que eu era?

Sem sequer parar para pensar, joguei todo o conteúdo da


minha taça em seu rosto. O seu olhar de espanto me encontrou e

sem me importar saí dali no mesmo instante. Pela minha rápida


conferida ao redor, ninguém tinha percebido minha ceninha.
Todos estavam conversando ou se distraindo com algo. Droga!

Por que fiz aquilo?

Saí rapidamente da casa principal e fui em direção ao

estábulo. Outro lado maravilhoso de trabalhar naquele lugar, era


por ser uma enorme fazenda. Eu era completamente apaixonada

por cavalos. Desde que comecei a trabalhar como empregada na


casa dos Monteiro, cavalgar era o que mais amava fazer em
minhas folgas, pois me proporcionava momentos inesquecíveis.

Fazia com que minha mente se desligasse de tudo.

Ainda mais em uma noite como aquela... Era quase ano


novo! Tudo me remetia ao passado, em como foi difícil encarar a

perda de meus pais, e não ter sequer alguém a recorrer, a não ser
um emprego onde tivesse moradia. Tudo que tinha, era meu
emprego, e ainda sem pretensão de estudo com meus vinte e

cinco anos. Os Monteiro tentaram me convencer que pagariam


qualquer faculdade que quisesse, até mesmo me ajudariam caso

pretendesse uma federal. Mas estudar não era meu forte, terminei
o ensino médio praticamente empurrando com a barriga. Odiava
aquela dinâmica. O que amava mesmo era desenhar, o que não

fazia questão de contar. Era um sonho bobo, e sabia daquilo.

Passei as mãos pela crina de Thor, que deu um baixo

relincho, como se aprovasse o carinho. Minha vontade era subir


nele e cavalgar para longe, tentando espantar tal nostalgia que
tocava meu coração. Entretanto, não seria nada conveniente

cavalgar naquele momento. Era uma festa de réveillon e ainda


por cima eu estava de vestido. Vontade não me faltava, mas sabia
que seria uma enorme falta de educação.

Perdi-me em pensamentos ainda acariciando o pelo de

Thor, que era um dos alazões favoritos do senhor Luiz. Thor


então se mexeu assustado, dando um pulo, quase me levando
junto pelo susto. Foi então que percebi que a queima de fogos

costumeira já havia sido iniciada, ou seja, era de fato um novo


ano.

— Feliz ano novo! — a mesma voz que me fez surtar a

poucos minutos, agora parecia menos confiante.


— Feliz ano novo, senhor Rivera! — exclamei e tentei sair
dali.

Algo me alertava que ele era perigo.

— Onde vai com tanta pressa?

Seu corpo impediu minha saída e o encarei incrédula. O


que ele estava fazendo?

— Vou ver os fogos e...

— Não, não vai!

— Como? — perguntei incrédula e ele sorriu de lado.

— Sinto muito pelo que disse lá dentro. Sei que não é


assim. — deu um suspiro profundo, e meus olhos não

conseguiam se desconectar dos seus. — Eu já a vi em outras


festas... quer dizer... — se enrolou com as próprias palavras e
fiquei ainda mais sem reação.

Se tem uma coisa que tinha certeza sobre Davi Rivera, era
como ele costumava ser decidido e firme em suas decisões.

Sempre observei de longe a forma como ele decidia algo. Já que


muitas vezes ajudava Luíza em sua casa, que fica na mesma
fazenda, porém numa casa vizinha. Coincidentemente,

encontrava Davi lá, já que ele era um dos melhores amigos de


Marcelo, o marido dela, e assim como Luíza, eram seus
advogados. Sabia o quanto ele era implacável. Minhas pesquisas

a respeito do mesmo na internet, apenas me confirmavam aquilo.

O que estava havendo ali?

— Está tudo bem, senhor! — falei um pouco sem graça e


tentei passar por ele, que novamente me impediu.

— Não, não está! Eu estou pirando Manuele, preciso...

Sem que eu pudesse fazer algo, apenas senti seus lábios


nos meus. Eu já tinha estado com outros homens, mas o simples

toque dos lábios daquele me fizeram ferver. O correspondi com a


vontade reprimida que sempre senti e o beijo se tornou cada vez
mais selvagem. Quando percebi, já estava praticamente colocada

sobre ele, sentindo cada parte de seu corpo.

— Uau, isso foi... — tentei dizer algo quando separei

nossas bocas por busca de ar, porém fui interrompida:

— Um erro... Isso não passou de um erro. Esqueça! —

exclamou friamente e saiu dali sem mais nem menos.

Aquele homem era louco?

Claro que me senti triste após aquilo, mas não seria o fim

do mundo. Saí do estábulo com a cabeça erguida e fui em direção


ao lago. A queima de fogos já havia cessado, mas o local era

lindo de se ver. Meus pensamentos ainda compenetrados no beijo


de segundos atrás. Eu sempre soube que tinha algo naquele
homem. E aquele beijo apenas comprovou o quão certa estava.

Senti um corpo envolver o meu por trás e praticamente dei


um salto. Não era preciso olhar para saber, mas o fiz,
encontrando o olhar perdido de Davi. Será que ele tinha algum

problema?

—Você é louco? — perguntei já nervosa.

— Acho que fiquei! — afirmou sereno e eu bufei.

— O que quer comigo?

— Não sei.

Ok, minha cota de loucuras já havia se encerrado por


aquela noite. Virei-me, e apenas o ignorei, indo em direção a
minha casa, que era menor, e ficava a alguns metros da principal.

— Espera! — escutei seu grito, e mesmo a contragosto me


virei.

— O que é? — perguntei com raiva. — Olha, estou

considerando que seja bipolar! Uma hora me insulta, na outra me


beija, em seguida é um erro, e na outra me abraça...
Sem me deixar continuar, uma de suas mãos me puxou

pelo pescoço, e sem sequer me dar atenção, atacou meus lábios


vorazmente.

Tinha que admitir, aquele homem sabia beijar.

— Acho que estou enlouquecendo. — falou ao seu afastar,

e depositar beijos no meu pescoço e rosto.

— Com certeza está! — provoquei e pela primeira vez, vi


uma expressão de diversão em seu rosto.

— Vamos sair daqui? — perguntou de repente, deixando-


me em alerta.

Seu olhar não mentia sobre o que queria. Eu era o seu


desejo naquela noite, e bom, ele era o meu. Era o dono da
maioria dos meus sonhos há muito tempo, uma noite não seria o

fim do mundo.

—Vamos!
02

“No need to imagine

'Cause I know it's true

They say "all good boys go to heaven"

But bad boys bring heaven to you” [3]

Não pensei que conseguiria me sentir tão estranha como


naquele instante. Os olhos de Davi estavam presos nos meus,
enquanto o mesmo esperava o sinal abrir. Sua mão direita sobre
minha coxa exposta por conta do vestido, o que me fazia sentir

nua diante dele. Eu estava mesmo prestes a fazer aquilo?

Prestes a ir para a cama com um dos homens mais sexys


que vi na vida? Aquilo parecia completamente insano. Não só por
ele ter se interessado por mim, mas ainda mais por demonstrar
aquilo facilmente. Acho que no fim, eu era complicada demais. E
ele simplesmente queria uma noite. Infelizmente, em minha mente

tola, já planejava estar de branco caminhando até ele no altar. A


quem queria enganar? Imaginei aquilo desde a primeira vez que
meus olhos recaíram nos seus.

Eu era a perfeita protagonista de livro de romance,


infelizmente, aquela não era minha realidade. Muito menos a de
Davi.

— O que tanto pensa? — perguntou, quebrando o silêncio


insuportável, assim que o sinal abriu.

— Que está muito quieto. — acabei sendo sincera, e vi


uma de suas sobrancelhas se arquearem.

Ele então tirou a mão rapidamente de minha coxa, para


mexer em algo no painel do carro, e em seguida, colocou-a
novamente no lugar.

— Não sou bom com palavras. — falou simplesmente, e


abriu um leve sorriso.

Se eu o achava bonito antes, após aquele sorriso, tive a


certeza de que ele me tinha por completo nas mãos. Era incrível a
facilidade com que uma expressão sua, fazia-me sentir
completamente entregue.

O silêncio se foi, no mesmo instante que uma música


começou a tocar, e senti meu coração acelerar. Pois eu conhecia
bem a letra, ainda mais por se tratar de uma música que adorava

ouvir enquanto desenhava algo mais ousado. Segurei-me a todo


custo para não o olhar.

“Você não percebe o poder que eles têm

Até eles te deixarem e você querer eles de volta

Nada no mundo te prepara para isso

Eu não sou uma pecadora

Ele não era o cara certo

Não tinha ideia do que iríamos nos tornar

Não há arrependimentos

Eu só pensei que fosse ser divertido

Não preciso imaginar

Porque eu sei que é verdade


Eles dizem: Todos os garotos bons vão para o céu)

Mas os garotos maus levam o céu até você

É automático

É simplesmente o que eles fazem

Eles dizem: Todos os garotos bons vão para o céu

(Mas os garotos maus levam o céu até você

Eu ainda me lembro do momento em que nos conhecemos

O toque que ele plantou

O jardim que ele deixou

Eu acho que a chuva foi só metade daquele efeito.”[4]

O toque em minha coxa aumentou, e foi impossível não o


encarar. De repente o carro pareceu pequeno demais para
ambos. Apenas consegui pensar que aquela noite com toda

certeza, ficaria marcada em minha vida.

Assim que ele estacionou o carro, em minha mente, já


reconsiderava todos os motivos para simplesmente pedir um táxi
e voltar para a fazenda. Mas quando ele abriu minha porta, e sua
mão tocou a minha, percebi que era tarde demais. Eu teria aquele
homem, e nem que fosse por um instante, tentaria não envolver
meu coração.

Pensei que tudo ia bem, enquanto caminhei ao seu lado,


até o elevador privativo. O que eu esperava? Aquele homem com
toda certeza tinha uma cobertura naquele prédio. Isso se o prédio
não fosse dele. Sua mão tocou a base de minha coluna, e arfei
baixinho, disfarçando com um falso espirro. O que estava

acontecendo comigo?

Nunca, nenhum dos homens com os quais me envolvi em


encontros, geralmente marcados por Luíza ou depois de alguma
balada, fizeram-me sentir de tal forma. Algo em mim parecia
despertar apenas por tê-lo por perto.

Assisti atentamente a forma como ele digitava alguns


números numa tela no painel ao lado do elevador, e de repente o
mesmo se abriu. A pose de homem sério, e completamente alheio
a tudo ao seu redor, desapareceu no instante em que entramos e
as portas se fecharam. Davi me atacou ali mesmo.

Minhas costas bateram com força contra a parede gelada e


não consegui segurar um gemido. O desespero de nosso beijo
era insano, assim como suas mãos que me levantaram
rapidamente para seu colo, fazendo com que nossos corpos se
reconhecessem. Se aquilo fosse um sonho, eu não queria
acordar. Jamais.

— Finalmente. — sua voz estava mais rouca do que o


normal, assim que se afastou, apenas para nos tirar de dentro do

elevador, e abrir a porta de seu apartamento.

Não tive tempo de sequer olhar ao redor, já que Davi me


cercou, puxando-me para seu colo, levando-me até o que pensei
ser o quarto. Senti a maciez da cama em minhas costas, e as

mãos de Davi pareciam afoitas, deixando-me nua em segundos.


Seu olhar queimou minha pele, e senti-me ainda mais exposta
daquela forma, já que ele continuava completamente vestido.
Ajoelhei-me na cama e o puxei pela gravata, sabendo que seus
olhos acompanhavam cada movimento meu.

Livrei-o primeiramente da gravata e deixei um leve beijo no

pescoço, jogando o paletó longe, e em seguida concentrei-me em


abrir os botões de sua camisa. Seus músculos retesavam a cada
toque mínimo, e ali, tive a certeza de que a atração que sentia era
totalmente recíproca. Roupas fora, e suspirei fundo, vendo que se
ele aparentava ser lindo com os ternos... sem eles, era o próprio
pecado.

— Chega. — falou de repente, prendendo minhas mãos


em minhas costas, deixando-me a sua mercê. — Apenas me diz o

que quer, cariño[5].

O apelido saiu livremente por sua boca, o que fez-me sentir


única, ao menos naquele instante. Forcei suas mãos a me
soltarem, e fui liberta, tocando com adoração seu rosto, vendo o

maxilar cerrado e os olhos dilatados pelo desejo. Eu tinha poder


sobre aquele homem, e estava adorando cada segundo.

Inclinei-me sobre se rosto, ficando com a boca próxima a


sua orelha. Seus pelos se eriçaram e uma de suas mãos fez com
que meu centro se encontrasse diretamente com a ereção

evidente sob sua calça. Ele sabia jogar... E eu queria tudo.

— Você.... Quero tudo, Davi!

Pela primeira vez falei seu nome, e a forma como saiu de


meus lábios, fez-me gostar ainda mais daquele momento. Ele
apenas virou o rosto, encarando-me profundamente, com a pose
séria e desejosa, tendo-me entregue.

— Você me tem, cariño!


Seus lábios então encontraram os meus. E aquela noite foi
regada a sentimentos antes desconhecidos por mim. Diante dele,
eu soube, nenhum outro homem teria tamanho poder. Com ele,
soube de fato o significado de uma noite inesquecível. Davi

Rivera ficaria marcado em minha pele... e em minha vida.


03

“Do the girls back home touch you like I do?

Long night, with your hands up in my hair

Echoes of your footsteps on the stairs

Stay here, honey, I don't wanna share.”[6]

— Respira fundo! — falei para meu reflexo no espelho. —


Você consegue sair lá e encarar Davi, e dizer: obrigada pela noite!

Segurei-me contra a pia, e ri de mim mesma. Quem eu


queria enganar? Tinha tido o melhor sexo e noite de minha vida. A

esperança em meu peito de que tivesse significado mais que


apenas uma noite, ainda rondava minha mente. Mas era uma
ilusão que não podia alimentar. O melhor talvez fosse sair pela
porta sem dizer nada.

Abri a porta do banheiro e encarei de relance o homem que

dormia gostosamente sobre a cama. Aproximei-me dele com


cuidado, e olhei mais uma vez de perto cada pedacinho daquele
rosto lindo. Os olhos escuros estavam fechados, os cabelos
pretos bagunçados sobre o travesseiro de cor branca, enquanto a
boca estava entreaberta, e ele respirava de forma lenta. Queria

eu, jogar-me ao seu lado na cama e fazer o mesmo.

O problema consistia em não saber o que esperar dele.


Não depois daquela noite. Os outros homens com que estive,
estavam dispostos a um relacionamento, e mesmo não tendo
dado certo, eu já sabia. Já ele, era uma completa incógnita. Não

queria pagar para ver.

Deveria? Talvez!

Resolvi então conhecer seu apartamento, sem sequer ter a


permissão para aquilo. Uma espiadinha não faria mal, ao menos
esperava que não.

Cheguei a sala e olhei ao redor, encantada com cada


detalhe lindo. Era num formato industrial, que com toda certeza
estava na moda entre os decoradores. Eu adorava assistir vídeos
e séries a respeito. Um dos quadros pendurados na parede me
chamou atenção, e fiquei encantada por imaginar que ele gostava
de arte como eu. Ao menos, se aquilo tudo não fosse decorado
por alguém que o mesmo contratou.

De relance vi um caderno de desenhos jogado numa


mesinha escondida atrás do sofá, e pela curiosidade, acabei me
ajoelhando e agradeci por ser pequena e conseguir caber naquele
pequeno espaço. Assim que toquei a revista, um barulho vindo do
quarto, fez-me dar um pulo e bater a cabeça direto na mesinha.
Levei a mão a cabeça, para ouvir um grito irado de Davi, que

parecia ter batido em alguma coisa.

Assim que consegui me levantar, ainda massageando


minha cabeça, encontrei-o parado a frente da porta de saída,
abrindo-a.

— É...

Nem precisei dizer mais nada, seu olhar encontrou o meu,


e sua expressão suavizou no mesmo instante. Ele então bateu a
porta, veio até mim, tocando-me com afinco, como se conferindo
que estava realmente ali. Ok, aquilo estava estranho!
— O que foi? — perguntei sem entender nada.

— Pensei que tivesse ido. — falou sério, e o encarei ainda


mais confusa.

— Você quer que eu vá? — indaguei desafiadora e ele


sorriu de lado, ficando ainda mais sedutor se possível.

— Não estaria saindo de cueca para rua se não te

quisesse aqui, cariño. — tocou meu rosto com cuidado, fazendo-


me incrédula a sua frente. — Que tal aproveitarmos que é feriado
e passarmos o resto do dia na minha cama?

Encarei-o boquiaberta, mas eu sabia que suas intenções


eram aquelas. A noite tinha sido quente e satisfatória para ambos.

Aproveitar um pouco mais não seria problema. Isso se eu fosse


uma mulher esperta o bastante para não me envolver em tão
pouco tempo. Mas era perigoso e eu sabia... Há tempos que me
sinto completamente seduzida pelo homem a minha frente.

Tê-lo novamente, não seria nenhum sacrifício. Pelo


contrário, teria mais lembranças de momentos incríveis.

Sem saber como responder, fiquei na ponta dos pés e o


beijei, que logo retribuiu. Tê-lo ali foi diferente, pois não tinha a
mesma urgência de nossos primeiros beijos. Era como algo que
poderia durar para sempre... Ou ao menos, seria eterno enquanto
durasse.

Uma semana depois...

— Qual é, Manu? — Luíza insistia pela milésima vez,

enquanto estava atenta a tirar pó da grande mesa do escritório. —


Eu já te disse mil vezes para deixar de ser empregada e trabalhar
na empresa comigo.

— Não posso aceitar, e você sabe disso. — parei para


olhá-la. — Sabe o quanto agradeço pelo que seus pais fazem, e

pelo que você e Marcelo também me ajudam... Além de tudo, me


pagam um salário bem mais alto que a maioria das empregadas
desse país sonha em receber. — seu rosto ficou vermelho no
mesmo instante e segurei a risada. — Além de ter uma casa aqui,
vocês serem como uma parte de mim... Não tenho porque querer

mais nada.

— Você podia escolher uma faculdade e...


— Sem chance! — cortei-a no mesmo instante, a qual
sorriu largamente. — Não sou boa com estudos, e você sabe
disso!

— Mas eu vi quando pesquisou sobre um curso de


desenho e...

— Onde? — perguntei atônita.

— Você deixou o computador aberto num dos dias que fui


te visitar, e estava aberto na página de um curso. — explicou
dando de ombros. — É algo que gosta, não é?

— Não. — menti descaradamente, e ela olhou-me com

deboche.

— Você trabalha aqui desde os dezoito anos, e nos


tornamos amigas de cara. Acha mesmo que consegue me
enganar? — provocou, e acabei cedendo, encarando-a com
pesar.

— Eu gosto de desenhar, mas é apenas um hobby.

Ela então dedilhou sobre a mesa, olhando para a grande


estante de livros, como se pensasse em algo além.

— Você já pensou que pode ser mais do que empregada

em nossas casas? — perguntou suavemente, encarando-me com


carinho. — Digo, temos outros empregados também, mas a
maioria já planeja o futuro fora daqui, ou amam o campo, e por

isso decidiram ficar trabalhando com a terra ou os animais. —


encosta-se contra a cadeira, olhando-me determinada. — O
trabalho que faz é digno como qualquer outro, mas eu sei que tem
muito mais a oferecer para o mundo... Para você mesma!

— Onde quer chegar?

— Tem alguns desenhos prontos? — perguntou parecendo


desinteressada, e tentei fugir de seu olhar. — Manu...

— Uma pasta. — respondi com vergonha, sem saber onde


me esconder. — Não são bons e...

— Por que não traz para mim, eu levo até algumas galerias

que conheço e vemos no que dá? — encarei-a atônita. — Não me


olhe assim! O máximo que pode acontecer é de ninguém gostar.

— Mas galeria apenas expõe quadros e...

— Há vários tipos diferentes de arte, e desenhar, é uma

delas. Além do que, tenho certeza de que sabe disso!

— Mas...

— “Mas” nada! — falou decidida, e sorriu.

Levantando-se veio até mim e segurou-me pelos ombros.


— Se não trouxer a pasta, eu invado sua casa e a roubo.
— falou séria, e eu sabia, Luíza era capaz de tudo para fazer algo
do qual estava certa.

— Ok. — concordei, revirando os olhos.

— Agora me diz. — soltou-me, e sorriu levemente. — Onde


passou o réveillon?

O sorrisinho provocativo da mesma era evidente.

— Em casa. — dei de ombros, e ela apenas continuou me

encarando. — Ok, como sabe que não estava em casa?

— Fui te chamar para o almoço e a senhorita simplesmente


não apareceu. — acusou-me e tive que rir de sua expressão
curiosa.

A porta do escritório se abriu de repente, e meus olhos


foram direto para o homem que falava ao telefone, ao mesmo
tempo que encarei de relance o marido de Luíza. Marcelo ficou
em silêncio e depositou um leve beijo nos lábios da esposa.

— Oi, Manu.

Sorri para ele, porém meu foco era no homem alto,

imponente e cheio de si, que continuava falando de forma rude


com alguém do outro lado do telefone. Ele tinha minha total
atenção, e tive que piscar algumas vezes para voltar a realidade.

— Volto para terminar aqui mais tarde. — falei, e Luísa


bufou, enquanto Marcelo riu da esposa.

Nenhum deles concordava com o fato de eu ainda ser

empregada, por me tratarem como da família. Entretanto, era


minha realidade.

Assim que minha voz saiu, os olhos de Davi recaíram nos


meus, e antes de passar por ele, tive a certeza de ouvir seu
suspiro.

— Senhor Rivera. — falei baixinho, em forma educada,


sem querer pensar nos momentos em que seu corpo esteve sobre
o meu.

Deus, eu tinha que parar com aquilo!

Andei até o lado de fora da casa, e resolvi respirar. O ar do


campo trazia paz ao meu coração, mas quem dera eu tivesse
sossego. Desde que saí do apartamento de Davi no fim do dia
primeiro, meu coração e mente pareciam num pacto eterno de
lembrar-me de cada momento com ele, a cada maldito segundo.
Queria esquecer, e fingir que nunca estive com o homem que
mais desejava.

Davi era meu inferno pessoal!

— Interessante. — sua voz chegou a meu ouvido, e


segurei-me contra o pequeno muro que separava a casa principal
do verde gramado. — Como pode uma mulher que me chamou
pelo primeiro nome tantas vezes, simplesmente fingir que não me

conhece?

— Eu o cumprimentei. — virei-me, e aquele foi meu erro.


Olhá-lo era como escolher afundar no oceano com uma pedra
amarrada no pescoço. Eu estava ferrada! — Não deve ter ouvido.
— forcei um sorriso.

Ele se aproximou, fazendo com que seu cheiro tomasse


conta de tudo ao meu redor.

— Para você é Davi, carinõ. — falou baixo, e senti minhas


bochechas corarem, enquanto o mesmo passou as mãos de leve
por meu braço esquerdo. — Não tem porque mudar isso.

— Foi apenas naquele dia, senhor. — resolvi me


posicionar. Por mais que quisesse algo mais, eu sabia bem como
o jogo dele funcionava. Amar não era uma opção. — Não vai se
repetir.

— Vai. — falou decidido, e encarei-o sem entender. — Um


dia pode se tornar dois, sem problema algum... Basta querer.

— Basta não confundirmos as coisas. — fui franca, e tentei


proteger meu coração. Mal sabia ele que já tinha derrubado
qualquer barreira idiota que tinha. — Não sou o tipo de mulher
que procura. Eu quero mais, e sei que não pode me dar.

Sua expressão se transformou no mesmo instante, como

se seus pensamentos voassem para longe.

— Eu preciso voltar para o trabalho. — afastei-me de seu


toque, e o mesmo me encarou com afinco.

— Aqui. — segurou meu pulso levemente, e tirou um


cartão de seu bolso traseiro, colocando-o em minha mão. — Caso

mude de ideia, me procure.

Eu queria ceder, além do que podia, além do meu próprio


bem. Mas sairia machucada, era uma certeza absoluta.

— Até mais, senhor Rivera.

Virei-me de costas e me afastei, porém não o suficiente, já


que consegui ouvi-lo se despedir.
— Até mais, cariño.

Aquele homem era perigo. Eu precisava apenas esquecer.


04

“Palavras não bastam, não dá pra entender

E esse medo que cresce não para

É uma história que se complicou

Eu sei bem o porquê.”[7]

Um mês depois...

Olhei para o envelope em minhas mãos e tentei não me


preocupar. Com toda certeza aquilo era apenas uma paranoia da

minha mente. Não estava acontecendo... Bem, não poderia estar.


Ou poderia?
Suspirei fundo e joguei o envelope dentro da bolsa, sem
querer pensar a respeito. Andei rapidamente até onde Rogério
estava encostado no carro, e lhe dei um breve sorriso, tentando
não transparecer meu nervosismo. Ele era o médico veterinário
responsável pelo bem-estar da maioria dos animais da fazenda, e

tinha me oferecido uma carona, já que viria ao seu apartamento


próximo ao centro da cidade buscar algum documento.

Não podia negar, ele era um homem de tirar o fôlego, e


com toda certeza perfeito para se apaixonar. Rogério era um
romântico que sempre deixou claro que buscava a mulher da sua
vida. Certa vez, acabamos saindo e até mesmo tentamos um

beijo... Porém a falta de química entre nós era tamanha, que


paramos ali mesmo. Mesmo sendo um homem alto, musculoso,
olhos claros e os cabelos loiros perfeitamente alinhados, com um
sorriso cafajeste no rosto, não despertara em mim nem um por
cento de que um certo moreno havia feito. Lá estava eu,

pensando sobre Davi... O que não devia.

— Tudo certo? — Rogério perguntou cauteloso e assenti.


— Exames de rotina são um porre, mas infelizmente são
necessários.
Forcei um sorriso, e como um bom cavalheiro, ele abriu a
porta do carona para mim.

— Madame. — brincou, e pela primeira vez em semanas,


eu finalmente abri um sorriso sincero. Aquela incerteza estava me
matando.

Assim que ele entrou no carro, e colocou o cinto de

segurança, seus olhos procuraram os meus, como se estivesse


curioso.

— O que foi? — perguntei, finalmente encontrando minha


voz.

— Está com algum problema, Manu. — olhou-me

desconfiado. — Pode achar que disfarça bem, mas você é


péssima nisso.

Bufei, revirando os olhos. O pior de tudo era que ele tinha


toda a razão. Eu sequer sabia mentir, nem mesmo de brincadeira.

— Sou tão transparente assim? — o mesmo assentiu,


ligando o carro. — Com certeza não nasci para ser atriz.

— Bom, talvez precise de umas aulinhas. — brincou, e o


encarei estupefata.
— Como assim? — encarei-o curiosa, afastando-me dos
pensamentos que me consumiam. — Você atua?

— Atuava. — falou com desdém. — Não é algo que quis


levar para a vida.

— Se bem que você tem perfil de ator. — ele parou no sinal


vermelho, e me encarou com desgosto aparente. — Digo, você é
bonito, Rô! — ele abriu um sorriso convencido. — E sabe disso!
— complementei em deboche.

— Sei bem como a senhorita aprecia minha beleza. —


provocou, e finalmente o sinal ficou verde. — Já que sequer me
deu a chance de lhe mostrar o meu apartamento.

— Que horror! — bati de leve em seu braço, e o mesmo


gargalhou. — Onde está o homem romântico que busca a mulher

certa?

— Digamos que já a encontrei. — deu de ombros. — Só


falta ela me enxergar.

— Ela deve ser muito cega.

Não prestei mais atenção ao redor, assim que encostei a


cabeça na janela e vi uma mãe passeando com um carrinho de
bebê. Fora um segundo, porém, o suficiente para me fazer
lembrar do que tanto me atormentava. Os minutos pareceram
infinitos dentro do carro, e quando estávamos próximos a
fazenda, uma música começou a tocar, fazendo-me viajar para os
olhos castanhos de Davi, que ainda pareciam marcados em mim.

“No aguanta, se adapta

(Se não aguenta, se adapte)

Me dice: No quiero que termines (no)

(Me diga: Não quero que termine (não))

Es un misterio pero no de cine (no de cine)

(Você é um mistério, mas não de cinema (não de cinema))

En las noches soy yo la que define

(Nas noites sou eu quem define)

Todo lo que va passar

(Tudo o que vai acontecer)

A mi no me tienes que mandar

(Você não tem que mandar em mim)

A mí me gusta cuando baja downtown


(Eu gosto quando você vai lá embaixo)

Le pido que se quede allí enviciao’

(Te peço que se vicie em ficar aí)

Me dice: Baby, sueno interesao’

(Diga para mim: Garota, estou interessado)

Si quieres ven y quédate otro round

(Se você quiser, venha e fique pra mais uma vez).”[8]

— Não pensei que gostasse de reggaeton. — Rogério


falou, enquanto atravessávamos a grande entrada da fazenda, e
lhe dei um sorriso. — Você é mesmo um mistério.

— Acredite, não tenho nada demais. — debochei de mim


mesma. — Se tem uma coisa que não sou é um mistério, você
mesmo sabe disso.

— Sobre seus sentimentos sim, mas o resto... É difícil


saber. — sorriu, e fiquei um pouco intrigada com suas palavras.

Assim que ele estacionou, suspirei fundo, sabendo que era


hora de encarar a verdade.
— Obrigada mais uma vez por me levar. — tirei meu cinto e
lhe dei um leve beijo no rosto.

— Sempre as ordens, madame. — brincou, e sorri,


descendo de seu carro.

Antes mesmo de olhar ao redor, praticamente corri até


minha casa e tranquei-me lá dentro. Fui até meu quarto e encarei

os dez testes de gravidez positivos sobre uma sacola que deixei


jogada ali. Aquilo poderia estar errado, poderia acontecer. De
alguma forma eu tentava não encarar aquilo como minha
realidade.

Peguei o envelope dentro da bolsa e soltei uma longa

respiração. Abri-o de uma vez e tentei não pirar ao começar a ler


o resultado. Quando desci meu olhar para o final do papel, minha
boca secou e senti minha visão falhar. Lágrimas encheram meus
olhos, e até respirar tornou-se difícil.

Positivo!
05

“I tell my love to wreck it all

Cut out all the ropes and let me fall

My, my, my, my, my, my, my, my

Right in the moment this order's tall.”[9]

Segurei com força o cartão em minhas mãos enquanto


ainda estava parada diante do imponente prédio. Aquele era um
dia o qual não conseguia acreditar que de fato existia. Não tão
cedo.

O prédio se destacava entre os demais, com o sobrenome


Rivera estampado em grandes letras pratas. Eu não queria estar
ali, e sequer imaginava que tipo de recepção teria. Mas ainda
assim, era como uma obrigação contar-lhe a verdade.

Adentrei pela grande porta de vidro, e olhei ao redor um


pouco incomodada, apertando a bolsa contra meu corpo. Assim
que cheguei à frente da recepção, uma jovem sorridente me

encarou, olhando-me com toda atenção. Ao menos, não me senti


tão deslocada diante da animação dela. Ou amava muito o
emprego ou simplesmente estava tendo um bom dia.

— Oi, bom dia. — falei um pouco sem jeito, enquanto a


mesma me encarava.

— Olá, senhora. — respondeu cordial. — Em que posso


ajuda-la?

— Bom, eu estou procurando Davi Rivera. — engoli em


seco, vendo sua expressão impassível.

— Tem algum horário? — neguei com a cabeça. — Certo,

eu vou entrar em contato com a secretária dele. — sorriu sem


dentes. — Qual o seu nome, senhora?

— Manuele... Manuele Cardoso. — respirei fundo, tentando


controlar minha ansiedade.
Aguardei por alguns segundos e ouvi todo o desenrolar do
telefonema da recepcionista com a tal secretária dele. Meu maior
medo era simplesmente ser jogada para fora do prédio. De certa
forma, tudo o que conseguia pensar era que nada daria certo.
Não como tinha planejado em minha vida.

A recepcionista colocou o telefone no gancho e me


encarou.

— Bom, vou direciona-la até o elevador privativo. — ela


deu a volta no enorme balcão branco, com certeza de alguma
pedra caríssima, e veio até mim. — Por aqui, senhora.

A segui um pouco sem graça até o outro lado do saguão,


onde sequer sabia que tinha um elevador. A mesma digitou uma

senha no painel e as portas se abriram. Dando-me espaço para


entrar, ela simplesmente deu um leve aceno, e as portas se
fecharam em seguida. Presa dentro do grande retângulo de
metal, comecei a repassar cada palavra que decorei para dizer a
Davi durante a última noite insone. Eu tinha passado o resto dia
encarando o teto do quarto, em meio a lágrimas e sorrisos pela
mudança que minha vida dera. E agora, teria que encarar parte
dela.
Assim que o elevador parou, notei por meu reflexo no
grande espelho, que estava com a cara obviamente preocupada.
Mas não tinha como mudar a expressão, tudo era muito novo. As
portas se abriram, e arregalei os olhos ao encarar o andar de cor

cinza clara, amplo e muito bem decorado. A parte que me deixou


completamente embasbacada, foi quando notei uma grande
parede de vidro do chão ao teto, que mostrava o quão alto estava,
e como o Rio de Janeiro era lindo dali.

— Senhora Cardoso. — virei-me, e uma mulher ruiva


sorriu, indicando com as mãos na direção de uma grande porta de

cor negra. — O senhor Rivera a aguarda.

— Ah, ok. — falei sem jeito, seguindo sua indicação.

A mesma abriu a porta e entrou antes de mim, e senti-me


num filme, sabendo que ela com certeza estava me anunciando.

— A senhora Cardoso está aqui. — a ouvi dizer, e continuei


apenas parada, sem saber como dar três passos e estar no
mesmo ambiente que ele.

— Peça para que ela entre.

Aquela voz...
Respirei fundo, ao ver a ruiva vir em minha direção e
praticamente repetir a fala.

— Obrigada. — exclamei, dando passos incertos para


frente, e adentrando a sala.

Não consegui levantar meu olhar de imediato, aquilo seria


mais difícil do que imaginava.

— Manuele. — sua voz me saudou, no mesmo instante em


que a porta atrás de mim foi fechada.

Levantei o olhar, ficando ainda mais chocada com o


ambiente com todas as paredes praticamente de vidro, com

certeza era uma vista e tanto, ainda mais para quem trabalhava
no alto, distante de tantas pessoas. Porém, ao focar meu olhar
para o lado e encontrar o seu, prendi uma respiração.

Dei passos até sua mesa, parando um pouco perdida a


frente da mesma, sem saber ao menos onde começar. Ao
contrário de minha situação, Davi parecia muito confortável em

sua própria pele, e se levantou da grande cadeira marrom, dando


a volta na mesa, e parando a minha frente, encostando na
mesma.
— Não pensei que a veria tão cedo. — falou com o olhar
sério. — Mas fico feliz em saber que reconsiderou minha
proposta.

— Eu...

— Não precisa ficar assim, cariño. — tocou de leve meu


braço e puxou-me para perto. Tinha que me afastar, mas meu
corpo parecia não querer obedecer. — Somos livres,

desimpedidos e perfeitos na cama... Por que pensar tanto?

— Davi... — comecei a dizer, e procurei as palavras certas,


que pareceram correr de meu cérebro.

— O que, cariño? — forçou-me a encará-lo, como se lesse


minha alma. — Não parece que queria estar aqui.

— Não queria. — suspirei fundo. — Mas preciso te contar,


antes que enlouqueça.

— O que foi? — ele pareceu genuinamente preocupado, e


tentei me concentrar naquilo, caso sua reação fosse a pior.

— Estou grávida. — soltei de uma vez, e seus olhos


piscaram fortemente, como se não conseguisse acreditar.

Afastei-me de seu corpo, e abracei a mim mesma, tentando


de alguma forma me preparar para sua reação.
— Olha, eu sei que... Droga, eu tomo anticoncepcional,
você usou camisinha, mas... Eu simplesmente não sei como
aconteceu, eu...

De repente, eu estava em lágrimas, enquanto Davi


permanecia apenas encarando o chão. Fechei os olhos
rapidamente e tentei me recompor, contando rapidamente até 10
como num mantra secreto para me acalmar. Porém, era
impossível.

Eu sonhava em ter uma família... Mas nunca pensei que


aconteceria sem querer e ainda mais com alguém que não era
estável em minha vida. Muito menos que meu filho seria gerado
sem amor. Aquilo era patético, mas era a alma de uma romântica
incurável se manifestando.

— Ei! — senti o toque de suas mãos nas minhas, e tentei


me afastar novamente, porém, ele me puxou para seus braços,
abraçando-me.

Não consegui evitar, apeguei-me aquele gesto carinhoso.


Simplesmente desabei, por todos os medos e receios que tinha.

— Vai ficar tudo bem, cariño. — sussurro em meu ouvido.


— Podemos fazer isso dar certo.
— O que? — perguntei de relance, afastando-me o

necessário para encará-lo. — Como assim?

— Eu, você e mais essa pessoinha a caminho. — colocou


a mão de leve em minha barriga. — Vamos fazer dar certo.

— Mas como, Davi? — eu estava perdida. — Não


planejamos nada disso, mal nos conhecemos e tudo o que
tivemos foi um dia regado a sexo. — fiquei exasperada, e ele
segurou meu rosto com as mãos, forçando-me a encará-lo.

— Case-se comigo.
06

“I want you to come on, come on, come on, come on and take it

Take it!

Take another little piece of my heart now, baby!

Oh, oh, break it!”[10]

— O que? — minha voz quase não sai, e tentei fechar a


boca diante de suas palavras.

— Case-se comigo. — repetiu, e passei as mãos pelos


cabelos, tentando não levar a sério tal proposta.

— Davi, você... — dei alguns passos para trás, tentando


não me sentir ainda mais surpresa. — Você está falando sério?
Encarou-me impassível, os olhos com um brilho diferente,
como se de certa forma aquela fosse uma notícia e tanto.

— Sim. — abriu um leve sorriso, deixando embasbacada.


— Me dê um segundo.

Apenas fiquei paralisada, tentando absorver o que tinha


acontecido. De tudo que imaginei que poderia acontecer, uma
proposta de casamento sequer passou pela minha cabeça.
Naquele momento sim, me senti novamente como uma mocinha
de romance, e ao analisar cada passo dele a minha frente,
falando algo ao telefone, senti-me ainda mais imersa naquele
universo aleatório.

Casar?

— Vamos! — falou, e o olhei sem entender. — Vou te


mostrar uma coisa e daí conversamos.

Estendeu-me a mão e sem pensar muito, lhe entreguei a


minha. Mal sabia dizer, mas ao mesmo tempo parecia ter
colocado meu coração e confiança ali. Senti medo da ilusão, de
que a qualquer momento alguma reviravolta do destino nos
atingisse, e mudasse todo o contexto. Porém, Davi apenas
entrelaçou nossos dedos, e andou comigo para fora da sala.
— Valéria, remarque meus compromissos para amanhã. —
falou firme.

A ruiva olhou para nossas mãos discretamente e sorriu,


acenando afirmativamente para ele, sem sequer piscar.

Entramos no elevador, e assim que as portas se fecharam,


senti o olhar de Davi queimar por meu corpo. Olhei-o pelo reflexo
do espelho e soltei um suspiro alto, levando minha mão livre até
minha barriga ainda plana. De certa forma, pela primeira vez,
busquei forças no pequeno ser dentro de mim. Minha sementinha.

Como se entendesse o que fazia, Davi puxou levemente


meu rosto, e abriu um sorriso sem dentes.

— Vai ficar tudo bem. — naquele instante, suas palavras


me acalmaram de uma forma, que sequer saberia explicar como
ele o fizera.

As portas do elevador se abriram, e tentei me afastar do


mesmo, forçando sua mão a soltar da minha. Porém, ele me
prendeu ainda mais ao seu corpo, e foi impossível o fazer sair.

Senti todos os olhares da recepção sobre nós, e de relance o


encarei, o mesmo estava impassível, como se praticamente me
arrastar junto a si dentro da sua empresa, não fosse nada demais.
Aquilo estava me matando!

Assim que colocamos os pés para fora do imponente


prédio, o vi fazer o sinal para alguém atrás de nós, que sequer

tinha percebido. Seria um segurança? Olhei de relance e vi um


homem alto e bem musculoso, dentro de um terno, caminhando a
poucos passos de nós, e mais à direita, outro, praticamente no
mesmo padrão.

— São meus seguranças particulares. — explicou o óbvio,

e apenas assenti.

Em poucos segundos um carro parou a nossa frente, e


Davi me puxou pela mão, fazendo-me entrar junto a ele no banco
do carona.

— Onde estamos indo? — perguntei, finalmente


encontrando minha voz.

— Conversar, cariño. — tocou meu rosto com ternura. —


Fica calma, sei que deve estar assustada com a notícia, e ainda
mais com minha proposta.

Seus olhos castanho escuros eram como um bálsamo, e


senti-me completamente perdida neles. Desde quando ele tinha
me marcado daquela forma? Parecia que o conhecia desde
sempre, sendo que antes de termos algo, o via esporadicamente
e a distância na casa de Luíza. O sentimento que atormentava
meu coração era tão diferente, a ao mesmo tempo tão perigoso,
que não tinha como ser imune.

— Aqui... — lembrei-me do exame, e comecei a procurá-lo


dentro da bolsa. — O exame que confirma minha gravidez. —
expliquei ao pegar o envelope e estendê-lo a Davi, o mesmo
arqueou a sobrancelha, se negando a pegar. — Por que? —
perguntei sem entender absolutamente nada.

— Confio em você.

— Mal nos conhecemos, Davi. — fui sincera e ele sorriu de


lado, deixando-me sem fôlego.

— Conheço o suficiente.

Seu olhar era tão honesto que não tive como retrucar.

— Ok. — encostei-me contra o estofado do banco, e


respirei fundo algumas vezes, tentando controlar as batidas de
meu coração.

Aquilo não parecia real!

Alguns minutos depois, e após ver as paisagens do Rio se


modificando, finalmente o carro parou, e notei que estávamos a
frente da praia de Copacabana. Olhei de relance para Davi, que
permanecia com a mão entrelaçada na minha. Ele me olhou,

levando minha mão até os lábios e depositando um leve beijo.

— Vamos? — assenti e ele abriu a porta, nos tirando do


carro.

A brisa tocou meu rosto e por um instante sorri, tentando


acreditar que em algum momento nada mais me preocuparia.
Tudo daria certo... Tinha que dar.

Davi enlaçou minha cintura, e fomos até o calçadão, o


mesmo apenas andou por alguns segundos, enquanto outras
pessoas passavam por nós, seja correndo ou andando. Ninguém
realmente se importava com nada além da praia, não ali. Parei de
repente, e encarei Davi, que parecia perdido em pensamentos.

— Não íamos conversar? — indaguei, e o mesmo sorriu.

— Não sei como começar isso, sem que te assuste. —


baixou os ombros, encarando-me com afinco. — Esse é um dos
lugares que mais amo no mundo, e por isso te trouxe aqui. —

franzi o cenho, sem entender. — Aqui me faz bem... A praia, as


ondas... Não nos conhecemos bem, e tem toda razão. Te
trazendo aqui, é como te mostrar uma parte minha...
— Davi...

— Olha, não planejamos ser pais... Ao menos, não agora,


certo? — concordei com a cabeça, pois desde sempre quis ser
mãe, mas não o imaginei naquele momento. — Eu sempre quis

ter um filho... Ter uma família, Manuele. Pode parecer uma


proposta irracional, mas eu quero ser um pai presente para essa
criança e dar-lhe uma família a qual possa se apoiar.

— Não precisamos casar para isso. — rebati, e o mesmo

me encarou um pouco contrariado. — Davi, e se ficarmos juntos e


ser um desastre? Isso pode prejudicar o bebê.

— A questão é que podemos dar certo. — segurou meu


rosto, e notei mais uma vez que sempre fazia questão de me
encarar daquela forma. — E se dermos certo e formos felizes,
qual o problema, cariño?

— O problema é que pode não acontecer. — olhei para os


lados, sentindo-me nervosa. — Eu apenas o imaginei falando que
ia assumir o bebe, não isso. Não sei nem o que pensar.

— Sei que é muito para digerir, mas pense... Somos bons


juntos, temos essa atração palpável desde que nos vimos pela
primeira vez. — mordi o lábio, perguntando-me se ele realmente
sentiu aquilo antes. — Não me olhe assim, sempre foi recíproco.
— assenti sem graça, e o mesmo continuou: — E na cama nos
damos muito bem... Mais do que bem. — suspirou fundo,
aproximando seu rosto do meu. — Vou te dar um tempo para
pensar, mas saiba que quero muito nosso bebê, e... Você!

— Davi...

— Não me peça pra parar. — encostou o nariz em meu


pescoço, fazendo me arfar. — Senti sua falta, cariño!

Antes que eu pudesse dizer algo, seus lábios cobriram os


meus, e não consegui mais raciocinar. Estar em seus braços era a

perfeição, e constatei aquilo naquele instante. Eu o queria,


loucamente. Pois de alguma forma, mesmo que torta, tinha me
apaixonado. Me casar com ele seria mesmo algo ruim? Poderia
dar certo, não é? Era algo que sempre quis... Uma família. Davi
estava disposto. O que eu faria, afinal?

Eram muitas perguntas, sem perspectiva alguma de

resposta.

Ele então se afastou, dando um leve selinho em meus


lábios.
— Apenas pense o quanto somos bons juntos. — seu olhar
parecia ler minha alma. — Passe essa semana comigo.

— O que?

— Vamos tentar... Nos conhecer e após essa semana, terei


sua resposta. Que tal assim? — encarei-o surpresa.

— Tem certeza disso?

— Sim, completamente. — fez um leve carinho em meus


cabelos. — Agora, apenas preciso que você tenha.

Suspirei fundo, olhando para o céu por alguns instantes.


Porém, era como se ele me puxasse, e logo meus olhos estavam
nos seus novamente. Eu estava apaixonada... O que uma
semana ao lado dele traria de ruim?

Arrisque!

— Tudo bem... — toquei de leve em seu terno. — Uma


semana.

— Não vai se arrepender, cariño. No fim dessa semana, vai


apenas ter a certeza de que sou o cara certo para você e que
podemos sim, ser uma família.

O pior, era a quase certeza, que ele tinha toda razão.


07

“I found a love for me

Darling, just dive right in and follow my lead

Well, I found a girl, beautiful and sweet

Oh, I never knew you were the someone waiting for me.”[11]

Encarei meus dedos nervosa e logo em seguida, meu olhar

encontro o de Luíza, e sua mãe, Olívia, que sorriam surpresas.

— Uma semana... de férias? — Luíza perguntou, e engoli


em seco, assentindo. — Porque sinto que tem algo
acontecendo... Não acha, mamãe?

— Desculpe, querida, mas... Em anos você não pede


férias, e temos que praticamente te empurrar goela baixo. — dona
Olívia se manifestou. — Está precisando de algo ou algo
aconteceu? — seu tom era preocupado.

— Eu... preciso resolver alguns problemas pessoais e


tomar uma decisão. — falei sem jeito, e aquela era mesmo minha
realidade, só um pouco maquiada. — Prometo que quando voltar
contarei tudo a vocês.

— Você sabe que as férias são suas, o quanto quiser... Na


realidade, não era pra estar trabalhado aqui ainda, Manu. —
Luíza ralhou. — Te falei que obtive respostas com as galerias e
você simplesmente me ignorou.

— Eu sinto muito. — levei as mãos as têmporas,

massageando. — Estou com a cabeça tão cheia que...

— Ok. — levantou-se do sofá e veio até mim. — Vamos dar


uma volta na fazenda, que tal?

— Tudo bem. — sorri levemente, e encarei sua mãe. —


Dona Olívia... sobre as férias...

— A minha resposta é a mesma que Luíza. — veio até


mim, dando-me um leve abraço. — Fale comigo quando quiser,
caso precise. Certo?
Concordei e a vi sair, em direção as escadas da mansão.
Luíza me encarou de relance, e saiu pela porta da frente. A segui,
já sabendo que ela iria querer saber de tudo.

Assim que começamos a caminhar, a vi dar passos em


direção ao lago, e lembranças me invadiram no mesmo instante.
Meu beijo com Davi... Sua indecisão... A forma como descobri que
éramos bons juntos. Tudo aquilo era uma grande bagunça em
minha mente.

— Desembucha. — falou, ao parar a frente de um pequeno


píer, que dava a visão ainda mais linda do lago.

— Estou tão confusa, Lu. — confessei, encostando-me


contra a beirada de madeira. — Estou grávida.

Sua boca se abriu, assim como seus olhos se arregalaram.

Ela parecia incrédula, como se sequer pudesse imaginar. Porém,


em poucos segundos sua expressão se modificou e ela sorriu
amplamente.

— Não está feliz? — indagou, encarando-me atentamente.


— Sempre sonhou em construir uma família. Lembro que me

falava sobre isso, na época que rechacei com todas as forças


Marcelo e seus sonhos românticos.
— Agora é diferente. — ainda mais por ser com um cara
que nunca imaginei. — Não foi planejado, sequer imaginamos
que acabaríamos na cama e quando descobri... O teste deu
positivo.

— Ei. — tocou meus ombros com carinho. — Por que sinto

que tem muito mais que a própria gravidez te deixando assim?

— Meus sentimentos por Davi e a proposta que ele me fez,


tem me confundido ainda mais. — aí sim sua expressão pareceu
surpresa. — O que foi?

— Davi? Rivera? — assenti, e ela levou as mãos a boca,


parecendo chocada. — Eu pensei... Nossa!

— O que? — perguntei sem entender.

— Nada. — disfarçou, mas sequer tentei interroga-la. —


Mas me conta, desde quando você e Davi tem algo, e por que
parece que está caidinha por ele?

Respirei fundo e contei tudo, nos mínimos detalhes das


palavras dele e ainda mais evidenciando sua proposta. Luíza era
uma das únicas pessoas que me conhecia por completo, e com
toda certeza, poderia me dar uma visão de fora sobre isso.
— Então, você contou da gravidez hoje e ele te propôs
casamento. — ela bateu os dedos sobre a madeira, e parecia
estar com os pensamentos longe dali. — E agora, vão passar
essa semana juntos para que possa dizer ao fim “sim” ou “não”.

Ela mais que confirmava para si mesma o que tinha


acabado de ouvir, e assisti a cena um pouco temerosa. Luíza
conhecia Davi há mais tempo, por ele ser amigo de Marcelo, e
poderia estar ligando pontos que sequer sabia que existiam.

— Pelo que sei através de Marcelo, Davi sempre foi e


ainda é um homem muito fechado. Ele quase não sorri e muito
menos deixa o trabalho de lado. — encarei-a com atenção. — Se
ele te propôs isso, Manu, com certeza ele realmente o quer. Caso
contrário, teria resolvido de forma prática, assim como na maioria
das coisas que faz. Ele é muito mais razão, que coração. Diria
que 90% é de racionalidade.

— Esse é meu medo. — levei as mãos à cabeça, ainda


confusa. — Sempre o vi de longe, quieto e completamente
centrado. Não sonho com um conto de fadas, mas também não
quero viver ao lado de um homem que é uma pedra de gelo.

— Ele não parece ser assim com você. — acusou, sorrindo


de lado. — Ele não te chama de “cariño”? — provocou, e eu bufei,
assentindo.

— Não sei, talvez fosse apenas para me levar pra cama


e...

— Está querendo complicar as coisas. — fiz uma careta,


um pouco incerta. — Se não quer se casar com ele, tudo bem,
não é obrigada a isso. Sabe, não é? Não é e nunca será obrigada
a tal coisa. — assenti. — Porém, vejo no seu olhar que sente
algo por ele no mesmo instante que toco em seu nome... Algo que
não entende direito. Essa semana ao lado dele não vai te
arrancar pedaço. O que custa tentar?

Refleti sobre suas palavras, que de certa forma já pairavam


em minha mente. Não me custava aquilo, ao menos, se não
contasse meu psicológico e coração. Meu medo, era que aquilo
custasse ainda mais do que ele tinha conseguido. Que por fim,
custasse o que ainda restara de meu coração.


Peguei a mala empoeirada no canto do armário, e coloquei
sobre a cama. Olhei para a mensagem em meu celular e tentei
evitar um sorriso. Aquilo mesmo sendo tão inesperado poderia ser
algo completamente novo em minha vida, do jeito que eu tanto
sonhava, viver um romance, me casar, ter um filho... Talvez as
coisas dessem certo.

Eu era forte para aguentar... Tinha suportado tanta coisa


antes. Caso aquilo que sentia não fosse para frente, algum dia, eu
sabia, alguém despertaria meu coração novamente. Que no
momento, batia afoito por conta de uma mensagem de Davi.

Remetente: Desconhecido

Passarei aí por volta das oito da noite. Já que me rechaçou e não


aceitou que a levasse, ao menos, vou busca-la. Isso não é um
pedido.

Até daqui a pouco, cariño.

Salvei seu número em meu celular, e lembrei-me porque


antes de me deixar num táxi, ele pegou meu celular e ligou para si
mesmo. O beijo que me deu em seguida, ainda em contragosto
por não concordar que me trouxesse para a fazenda, deixou-me
tão desnorteada que sequer lembrei de salvar seu contato.

Destinatário: Davi Rivera

Tudo bem, estarei pronta.

Outra mensagem não chegou, então apenas deixei o


celular de lado, e foquei em colocar algumas roupas na mala.
Davi tinha sido específico que passaríamos cada dia daquela
semana na praia, e conversando... O que eu tinha certeza,

renderia algo mais. Porém, tratei de separar todos meus biquínis,


shorts, saídas de praia e blusas fresquinhas. Como boa
virginiana, coloquei dois casacos mais fechados, e duas calças
jeans, além de meias, já que nunca se sabe quando o tempo
pode virar.

Íamos para sua casa de praia em Búzios, um lugar que

nunca tinha conhecido, mas que pelo que pesquisei na internet, e


pelo que Luísa me contara, era uma cidade linda. Aquelas seriam
minhas férias não obrigatórias dentre muitos anos, já que os
demais, sempre foram uma briga com a família Monteiro, para
que pudesse continuar a trabalhar, o que eles, de forma alguma,
aceitavam. Bom, valia a tentativa!

Olhei para meu quarto, assim que coloquei uma última


sandália na mala, e só assim me dei conta de que mal sabia o
que aconteceria caso aceitasse me casar com Davi. Ele tinha
dinheiro, poder, um sobrenome... Eu? Eu sequer entendia porque
tudo aquilo importava tanto para as pessoas.

Escutei batidas na porta de casa, e fechei a mala


rapidamente, indo em direção a sala. Assim que abri a porta, sorri
ao ver Marcelo e Luíza a minha frente, o mesmo parecia um
pouco sem graça, e não entendi muito bem o porquê. Desde que
ele e Luíza finalmente se acertaram, acabamos nos tornando
amigos, até porque fui uma das pessoas que ajudou a mulher a
dele a enxergar o óbvio – ela tinha se apaixonado.

Notei sua postura um pouco rígida e o encarei já


suspeitando do que se tratava. Marcelo Carvalho era uma das
pessoas mais leves que já conheci, e algo com certeza o
incomodava. Algo que já tinha uma grande suspeita do que era.

— Fala, homem. — Luíza soltou, revirando os olhos, e ele


a encarou um pouco desconfortável.
— É sobre Davi, não é? — perguntei na lata, e ele ficou

completamente vermelho.

Ver um homem de um metro e oitenta, corando de


vergonha, era algo completamente embaraçoso, mas muito
engraçado.

— Posso entrar? — assenti, e abri a porta para que o


fizesse.

Assim que entrou na casa, Marcelo olhou rapidamente ao


redor, e em seguida me encarou.

— Manu, sabe o quanto te considero importante para mim.

— sorri, agradecida, pois me sentia da mesma forma para com


ele. — Não quero bancar o amigo chato e protetor, mas eu
conheço Davi, somos amigos desde os meus dezessete anos...
Contando que hoje já tenho trinta e cinco, é um tempo razoável.
Enfim, eu sei que ele não é uma pessoa fácil de lidar, e tem faces
dele que quase ninguém conhece. Pelo que minha boneca
contou, ele te trata diferente... Mas quero que saiba que mesmo
que não dê certo, e caso ele seja um babaca, pode contar
comigo. — aproximou-se e me olhou como se pedisse permissão,
tocando de leve minha barriga. — Estamos todos aqui para você!
— sorri, uma lágrima descendo por meu rosto, agradecida por
tanto carinho.

— Obrigada. — limpei rapidamente a lágrima, e ele se

afastou. — Vou pensar muito bem sobre minha decisão, mas seja
qual for, já saibam que serão os padrinhos do meu filho.

— O que? — minha amiga finalmente se mostrou presente,


num grito que me fez gargalhar.

Ela então me puxou para um abraço animado, como se


não acreditasse naquilo. Quem ela pensou que eu chamaria?

— Ah meu Deus! — tocou minha barriga, fazendo um leve


carinho. — Ei, bebê, é a madrinha Lu! Vem logo!

— Boneca. — Marcelo falou, sorrindo da esposa que

parecia em êxtase. — Acho que nos preocupamos tanto com seu


bem-estar, que esquecemos de te dar parabéns pelo bebê, não
é?

Assenti, e Luíza ficou praticamente branca, olhando-me


assustada.

— Eu sou uma péssima amiga. — passou as mãos pelos


cabelos, para em seguida me abraçar novamente. — Parabéns!
Mil vezes parabéns! Vamos ter uma mini Manu ou um mini Davi
correndo por aqui! — gargalhou, se afastando.

— Pode ser menino e ter o gênio dela, boneca.

— Pior que é verdade. — encarou-me sorrindo. — Você vai


ser uma mãe incrível, Manu.

Levei a mão a barriga, ainda sorrindo da cena dos dois.

— É o que pretendo.

Coloquei um kimono florido, combinando com o short jeans


e a blusinha branca e puxei a mala até a sala. Sentei-me no sofá
e ali fiquei, esperando a qualquer momento Davi bater a minha
porta. Aquela sensação era estranha, e sequer sabia como seria
passar todos aqueles dias com ele. Meu medo, que fosse bom

demais e eu não soubesse sequer o caminho de volta para casa.

O celular apitou, mostrando que eram oito horas, e


desliguei rapidamente o alarme. Era meu jeito de ser organizada,
e não perder o tempo caso dormisse ou algo do tipo, isso

acontecia as vezes, infelizmente. Levantei-me, respirando fundo,


e dando passos até a porta. Toquei a maçaneta e fiz uma
promessa a mim mesma, a qual eu cumpriria dando aquela
semana certo ou errado.

Abri a porta, e o homem parado a minha frente tirou


completamente meu fôlego. Os olhos castanho escuros me

analisaram profundamente, e fiquei estática, diante de suas


roupas despojadas. Jeans gasto, uma camisa preta básica e um
tênis. Porém, Davi não precisava de nada mais para ficar lindo, e
instigar todo meu ser. Bastava me olhar.

Naquele instante, uma questão se levantou em minha


mente. Talvez, Davi Rivera se tornasse meu lar.
08

“It's you, babe

And I'm a sucker for the way that you move, babe

And I could try to run, but it would be useless

You're to blame

Just one hit of you, I knew I'll never ever, ever be the same.”[12]

— Uau! — soltei no instante em que coloquei meus pés na

areia, e olhei ao redor.

Tinha uma casa linda de cor alaranjada, com o envolto de


madeira, que deduzi ser a de Davi, e a frente tínhamos o mar,
como se fosse um simples quintal. Ouvi o som das ondas contra a
areia, contra as rochas... A calmaria daquilo me surpreendia.
— Acertei? — o encarei, e abri um sorriso. — Parece que
sim, cariño.

— Por que me chama assim? — tomei a coragem de


perguntar.

— Vem da minha primeira língua, já que nasci no Brasil,


mas morei um longo período na Espanha, já que quase toda
minha família é de lá. Antes de voltar para o Brasil, estava em
Nova Iorque. — deu de ombros. — Especificamente sobre
cariño...porque não tem como olhar pra você e não imaginar que
é carinhosa. — sorriu de lado, e senti-me encantada.

Vi de longe seus seguranças levarem nossas malas para


dentro, e o encarei.

— Davi, a gente poderia muito bem ter pego tudo e levado


pra dentro. — ele deu de ombros. — Por que trouxe seus
seguranças?

— É necessário. — tocou meu rosto, fazendo um leve


carinho. — Meu sobrenome traz alguns bens, mas também traz
males... E por isso, todo cuidado é necessário.

— Entendo.

Não, eu não entendia.


— Cansada?

— Não sei. — virei-me de frente para a praia. — Olhando


isso aqui, não consigo sequer pensar em cansaço.

— A viagem foi tranquila. — senti seus braços ao redor do


meu corpo, e suspirei fundo, sentindo seu cheiro. — Pensei em
várias coisas para fazermos enquanto estávamos no carro.

— Sério? — senti um arrepio percorrer todo meu corpo.

— Que incluem você nua, e eu podendo beijar todo esse


corpo perfeito. — sua voz estava rouca, e foi impossível segurar o
suspiro e quase gemido de minha boca.

— Davi...

— O que? — perguntou baixinho, e fez-me virar pra ele.

— Não íamos conversar? — indaguei, porém, eu sabia


bem que o queria naquele instante.

Depois de passar mais de duas horas num carro com ele,


sentindo toda aquela tensão sobre nós, e ainda mais por saber o
como seu toque me acendia... Eu só conseguia pensar em tê-lo.
Palavras não eram necessárias.

— Podemos conversar amanhã. — enlacei seu pescoço, e


raspei minhas unhas de leve em seu pescoço, vendo o desejo
estampado em sua face. — No pôr do sol, pois não pretendo sair
de cima ou debaixo de você até o sol raiar, cariño.

— Isso é uma promessa? — provoquei.

No mesmo instante, sem saber como, ele apenas me


segurou pela cintura, e me levantou em seu colo. Senti sua
dureza e arfei, já sem ter qualquer controle sobre meu corpo.

Desci meus lábios para os seus, e ele correspondeu o beijo


também afoito. Caminhou comigo no colo, e logo estávamos
jogados em algo macio no que pensei ser a sala da casa.

— Davi... — chamei-o, em meio a sedução que nos


envolvia, tentando recobrar a sanidade.

— O que? — sussurrou, prendendo o lóbulo de minha


orelha, fazendo-me arfar.

— Os seguranças.

Minha voz saiu fraca, mas seu olhar parou no meu, o que
deixava claro que tinha escutado.

— Estamos apenas nós nessa casa, cariño. — beijou meus


lábios levemente. — Vou fazer amor com você a noite inteira.

Alguma objeção?
Engoli em seco, encarando o homem lindo sobre meu
corpo. Eu sequer poderia dizer o que realmente queria, porque
meu coração gritava por algo que ainda mal compreendia. Eu
estava realmente entregue.

Apenas neguei com a cabeça, e foi o suficiente. Seus


lábios voltaram para os meus, e eu estava no paraíso.

Apoiada na entrada da casa, assisti Davi correr até a praia


e se jogar no mar. Eram por volta das cinco da manhã, e ainda
nem tínhamos dormido, e após fazermos amor até nos
esgotarmos e conversarmos amenidades na cama, ele me
chamou para um banho de mar, mas tudo o que queria era
mesmo observá-lo.

Olhei ao redor, e me senti dentro de um filme. A realidade


tinha como ser tão bonita assim?
Dei uma última olhada para Davi que estava de costas para
o mar, e logo despareceu na água. Entrei na casa e resolvi

vasculhar, já que sequer tinha tido tempo de raciocinar com o


toque dele sobre meu corpo.

Reparei nos diversos quadros espalhados pela parede, de


pessoas que não conhecia, mas tinham traços muito parecidos
com os de Davi. Talvez aquela fosse a casa de praia de sua
família. Ou uma das.

Sentei-me no sofá e fiquei curiosa sobre um livro em cima


da mesa de centro. Peguei-o e ignorei tudo ao redor. O título não
me era estranho, e sorri, por saber que tinha o colocado na minha
lista de leituras há muito tempo, mas nunca de fato comprei.

Sabendo que Davi ainda poderia estar no mar, resolvi ao menos


aproveitar um tempo para espairecer meus pensamentos.

— É, minha sementinha. — toquei minha barriga com


carinho, e olhei de relance para o livro. — A mamãe vai ler alto
hoje, para que escute sua primeira história, que tal?

A resposta foi o silêncio, mas de certa forma, era como se


fosse abraçada apenas por falar com o pequeno ser em meu
ventre. Tão pequenino, mas que já tinha todo meu coração. Sorri
ao me lembrar de como meus pais faziam comigo, toda noite,
antes de dormir. Um livro estava aberto nos braços de um deles, e
histórias mirabolantes ou românticas, até mesmo a fusão das
duas, eram contadas. Papai e mamãe davam um valor absurdo
para os livros, sempre me dizendo que ler era como permitir-se
voar para longe, em devaneios de alguém desconhecido.

Naquele instante, perguntei-me, como eles se sentiriam se


pudessem saber do neto... Se ainda estivessem aqui.

— Tenho certeza, sementinha. — sorri, com uma lágrima


descendo. — Que seus avós iriam querer ler a primeira história

pra você. Mas como não estão aqui, vai ter que aguentar a
mamãe, ok?

Ainda com as mãos em minha barriga, abri o livro e sorri ao


ler o título “Querido John”. Uma leitura de Nicholas Sparks me
levaria para a longe, e com toda certeza, faria-me enxergar com

mais clareza o que sentia. A primeira frase pegou-me


desprevenida, e suspirei fundo, lendo alto.

— “O que significa amar verdadeiramente uma pessoa? —


eu realmente não tinha tal resposta, e por fim continuei, deixando
com que o narrador ainda desconhecido, me contasse sua
experiência. — “Houve um tempo em que eu achava saber a

resposta: significa que eu iria pensar em Savannah mais do que


em mim mesmo, e passaríamos o resto de nossas vidas juntos.
Não seria difícil. Ela me disse certa vez que a chave para a
felicidade é ter sonhos realizáveis, e os dela não eram nada fora
do comum. Casamento, família... o básico. Isso significa que eu
teria um emprego estável, uma casa com cerca branca e uma
minivan ou SUV grande o suficiente para levar nossos filhos à
escola, ao dentista, ao treino de futebol ou aos recitais de piano.

Dois ou três filhos – ela nunca foi clara a respeito, mas meu
palpite é que quando chegasse a hora, ela deixaria a natureza
seguir seu curso e Deus tomar a decisão. Ela era assim –
religiosa, quero dizer – e suponho que esse tenha sido um dos
motivos pelos quais me apaixonei por ela. Independentemente do
que acontecesse em nossas vidas, eu me imaginava ao fim do dia
deitado na cama ao lado dela, nós dois abraçados enquanto
conversávamos e ríamos, perdidos nos braços um do outro.”

Senti meus olhos pesados e aos poucos o peso do livro de


minhas mãos pareceu inexistente, ainda sim, forcei-me a querer
continuar a leitura. Entretanto, em poucos segundos, apenas sorri
em meio a uma bela visão, onde Davi repetia cada palavra que
acabara de ler.
09

“A hundred days have made me older

Since the last time that I saw your pretty face

A thousand lies have made me colder

And I don't think I can look at this the same”[13]

Passei as mãos pelos cabelos molhados e saí do mar,


alongando os braços em seguida. A calmaria daquele lugar me
atordoava, fazendo-me lembrar de momentos não muito felizes.
Ao mesmo tempo em que aquele foi meu lugar favorito de
infância, longe de saber como o futuro seria.

Dário, um dos seguranças se aproximou, e o olhei sem


muita vontade. Não podia cogitar a possibilidade de algo estar
dando errado, e eu tendo que sair dali.

— Senhor, está tudo sob controle. — respirei aliviado. — A


senhora Cardoso entrou há cerca de meia hora e não saiu
novamente.

— Ok, obrigado.

Ele se afastou e como sempre, camuflado assim como os


demais seguranças. Eles o faziam antes para que as demais
pessoas não percebessem, mas ali, era mais para que Manuele
não se sentisse incomodada. Claro que dentro da casa, ninguém
nos olharia, e fora, bastava um comando meu pelo celular, que
eles estariam estrategicamente longe o bastante para que eu

pudesse tê-la no mar, quando eu quisesse.

Entrei na casa e lembrei-me de que há muitos anos não


pisava ali, a dor me assolou por muito tempo, e estar ali, era o
mesmo que sofrer pela perda de Branca, minha irmã. Peguei uma
toalha colocada junto a várias bem ao lado da porta e enxuguei-
me de qualquer forma, deixando-a envolta de meu pescoço.

Assim que meus olhos recaíram na sala, estaquei no lugar,


surpreso com a cena que me aguardava. Manuele estava
esparramada da pior forma possível no sofá, com um livro caído
ao seu lado, e uma das mãos sobre a barriga. Ela tinha gostado
da notícia de ser mãe? Nem isso me dei o trabalho de perguntar.

Peguei o livro em mãos, porém, foquei meu olhar na


mulher a minha frente. Ela era linda, de um jeito que deixou-me
tentado desde o momento que coloquei meus olhos sobre ela.
Justamente, depois de cinco anos fora do país, recluso apenas
resolvendo pendencias em um escritório praticamente isolado de
tudo e todos, quando piso em solo brasileiro, resolvi ver um velho
amigo, porém, a primeira coisa que vi fora ela.

— Não quero saber onde diabos se enfiou com a sua


mulher! — falei irritado, desligando o celular, e retirando o terno
em seguida, colocando sobre meu braço.

Estava um calor infernal, e não sei porque tinha dado


ouvidos a um dos meus melhores amigos, que no momento se
tornou a pessoa que quero simplesmente quebrar a cara. Voltar
ao Brasil não tinha sido fácil, não depois de tudo, mas ali estava
eu, e a única pessoa a qual tinha deixado para trás aqui foram
meus amigos, os quais muitos, simplesmente não tive mais
contato. Marcelo, era uma das exceções, porque era um

verdadeiro pé no saco.
Escorei-me contra a parede, e olhei para a bela fazenda,
enquanto aguardava meu amigo chegar na própria casa. Marcelo
era a pior pessoa para se marcar compromissos, pois nunca
estava no local e horário combinados. Olhei ao redor e resolvi
respirar fundo, lembrando-me de que realmente amava aquela
cidade, ainda mais, quando estava fora do centro. A natureza não
era meu forte, mas não podia negar, era linda.

Ouvi passos e tirei os óculos escuros, e ao ouvir uma


risada, olhei em direção ao som. Então meus olhos recaíram para
uma bela mulher, que me deixou vergonhosamente excitado no
instante em que meus olhos varreram seu corpo. Ela tinha os
cabelos castanhos claros assim como os olhos, e ostentava um
sorriso em direção a alguém que sequer me importei, enquanto
andava em direção ao estábulo. Ela passou pela frente da casa e
sequer me viu, porém, apenas continuei analisando-a. O corpo
era o verdadeiro pecado, e senti-me um maldito tarado por querer
ir até ela e fazê-la me notar para passar o resto da noite em cima

daquele corpo.

— Porra, Davi! — xinguei-me e coloquei o óculos


novamente, tentando não pensar mais naquilo.
Porém, quando ela deixou algo cair no chão e se virou para
pegar, seus olhos encontraram os meus, e por um instante a vi
retesar um movimento. Rapidamente ela se recompôs, recolheu
seja lá o que fosse, e continuou seu caminho. Talvez ela tenha
tido a mesma reação que a minha.

Toquei com cuidado seus cabelos, e ela se remexeu


levemente, buscando mais espaço para se esticar, mas o que era
impossível naquele sofá de dois lugares. Coloquei o livro no braço
do sofá e só assim reparei no título, e senti aquela pequena dor
em meu peito, mas sorri ao olhar para Manuele, sabendo que de
certa forma ela fez-me lembrar de algo que Branca tanto amava,
não a tristeza. Aquele livro era uma delas.

Foquei então na mulher a minha frente, e com cuidado a


peguei em meu colo. Em menos de um segundo ela se ajeitou em
meu peito, e algo dentro de mim alertou-me que aquilo era uma
grande merda. Não tinha o que fazer, estava tudo certo e não
podia voltar atrás. Subi as escadas com a ela em meus braços, e
assim que a depositei sobre os lençóis da grande cama de casal,

não consegui simplesmente sair e ir para o banheiro. Afinal, que


diabos estava acontecendo?
Irritado, saí dali sem olhar para trás, e fui para o banheiro.
Tirei minhas roupas de qualquer jeito e abri a ducha fria, já
entrando na mesma no mesmo instante, tirando todo o sal do
corpo e ainda mais, convencendo a mim mesmo a sequer pensar

em abrir minha maldita boca. Não podia!

Porém, tudo o que conseguia pensar era que estava


apostando alto demais com tudo aquilo. E que no final, poderia
apenas magoar uma mulher que não merecia. Suspirei fundo,
sentindo-me um grande canalha. Porém, nada fora da realidade,
apenas o que realmente era.
10

“I never came to the beach

Or stood by the ocean

I never sat by the shore

Under the sun with my feet in the sand

But you brought me here

And I'm happy that you did.”[14]

— Meus pais vivem na Espanha há alguns anos, assim


como meu irmão mais novo. — olhei-o interessada. — Eu tinha
uma irmã também, a caçula, mas ela faleceu.

— Sinto muito. — falei com carinho, inclinando-me para


afagar seus cabelos. — Sei como se sente, dói muito perder
quem amamos.

— Sim. — forçou um sorriso, e respeitei seu momento. Eu,

melhor do que ninguém, o entendia.

Precisava então mudar o foco daquela conversa...

— Isso vai parecer estranho, mas... — ele me encarou


curioso. — Qual sua idade? — sua postura mudou, e ele relaxou,
sorrindo levemente.

— Tenho trinta e cinco. — assenti e foi a vez dele me


encarar curioso.

— O que? — fiz-me de desentendida, encarando a bandeja


maravilhosa a minha frente.

— Vai me fazer ser indelicado e perguntar? — brincou e


tive que sorrir.

— Tenho vinte e cinco. — dei de ombros. — E antes que


me pergunte se tenho problema com esse lance de idade, saiba
que não. Meus pais tinham uns doze anos de diferença, e eram
loucos um pelo outro. — pisquei, provocando-o, e o mesmo sorriu.

— Por que não me fala sobre eles? — incentivou e eu


assenti, comendo mais um pedaço da torrada.
Eu estava enrolada em um lençol, sobre o centro da cama,
apenas com uma camisola fina, enquanto Davi, estava sentado à
beira da cama, tomando um grande copo de café. Sorri,
lembrando-me dele me contando que dormi feito pedra no sofá e
teve que me trazer em seu colo para o quarto. Aquele cuidado,

remetia-me a algo que fazia meu coração disparar.

— Perdi meus pais aos dezoito anos. — expliquei, com


aquela dor no peito, que mesmo que tenha diminuído com o
tempo, nunca iria embora. — Me restou procurar um emprego
onde conseguisse uma casa e me sustentar com o pouco que

sabia fazer. — dei de ombros. — Foi quando uma vizinha, me


recomendou ir falar com Luiz Monteiro. Honestamente? Não achei
que conseguiria, mas quando cheguei a fazenda, gastando meus
últimos reais, encontrei meu novo lar.

— Eles te adoram. — Davi falou com carinho, e assenti.

— Eles são como uma família pra mim.

— Por que não deixou de ser empregada deles, então?

— Todos tem tentando me convencer de estudar desde


que tivemos certa intimidade, Luíza principalmente, mas tenho
isso de conseguir o que posso por mim mesma, além de nunca ter
gostado de estudar. — ele me encarou divertido. — Não me olhe

assim, com certeza deve ter mestrado ou algo do tipo.

— Doutorado pra ser mais exato, em economia. — arqueei


a sobrancelha, mas fiquei feliz em ver que o mesmo não era
arrogante por tal coisa.

— Gosta disso? — perguntei, tomando um pouco de suco,


que estava na grande badeja que ele trouxe mais cedo. — Digo,
de ser o “ceo”... — fiz aspas com os dedos. — da empresa da
família?

— Bom, ainda não sou. — sorriu. — Ceo é uma boa


colocação, mas prefiro que seja chamado de presidente quando o
for de fato.

— Não entendi. — fui sincera. — Pensei que ao chegar no


último andar e te encontrar sentado naquela cadeira enorme...
Aquela não é a cadeira de quem manda em tudo?

Ele gargalhou, e foi impossível não sorrir também. Davi

Rivera sendo leve com alguém, era algo impressionante. Marcelo


e Luíza tinham que avisado sobre ele, mas não esse lado tão
bonito, e não penso, fisicamente.
— Bom, aquela cadeira é de quem é o filho do dono. —
explicou. — Além de que há uma hierarquia, temos sedes no
Estados Unidos e principalmente espalhadas pela Europa. Meu

pai é quem comanda esse império, eu continuo apenas como


intermédio entre ele e outras empresas.

— Mas será o presidente? — assentiu um pouco incerto.

— É o que pretendo. — tomou mais um pouco de seu


copo. — Ao que espero, em alguns meses meu pai me nomeará,
ao menos, foi o que disse há alguns dias.

— Parabéns! — falei animada, e ele sorriu, agradecendo.


— Mas de fato, sou muito ignorante a respeito do que fazem... Sei
que são negócios, ações e blá blá blá... Mas o que a sua empresa
mexe de fato?

Ele sorriu, parecendo absorver minhas palavras.

— Além do blá blá blá. — brincou, e acabei sorrindo


também. — Somos uma das maiores empresas de
telecomunicações. — abri a boca admirada. — O que me vê em
reuniões com Marcelo e Luíza, é porque são um dos poucos

advogados nos quais confio. Quando se envolve dinheiro, as


pessoas sempre querem mais, e fazem de tudo para ter, sem
pensar duas vezes.

— Realmente, nunca sonhei com nada disso. — fui


sincera, e ele me olhou divertido.

— E com o que sonha? — indagou, e parei com o copo de


suco no meio do caminho.

— É complicado. — depositei o copo no lugar, e estiquei


meus braços. — É algo que faço desde sempre, meus pais
sabiam, alguns amigos que nunca mais vi... Hoje, Luíza sabe
mas...

— Ei! — chamou minha atenção, tocando minha perna com


a mão livre. — Tudo bem se não quiser contar. Eu só queria te
conhecer melhor, já que estamos tentando... — fez uma linha
imaginária entre nós. — isso.

— Desenhar. — soltei um suspiro. — É o que mais amo e

que sempre gostei.

Ele me encarou surpreso, mas felizmente parecia satisfeito,


até mesmo impressionado.

— Parece que somos o casal clichê, dividido entre


humanas e exatas. — brincou, e por Deus, ele ficava ainda mais
lindo quando era tão solto. — Mas o que pretende fazer com esse
sonho?

— Nada. — respondi de relance. — Na verdade, Luíza


insistiu tanto que lhe entreguei a pasta com todos meus desenhos
e ela levou a algumas galerias. Ela teve respostas, mas estava
tão abalada com tudo que sequer dei atenção.

— Bom, poderia desenhar algo pra mim. — arregalei os


olhos. — É verdade, eu adoro arte, e ficaria muito feliz em ver
seus desenhos.

— São amadores. — tentei justificar. — Não acredito que


vá se surpreender.

— Tenho me surpreendido com você desde o momento


que aceitou entrar no carro comigo, no ano novo.

— Como assim? — perguntei sem entender.

— Pensei que me bateria caso tentasse algo, isso sim. —


falou relaxado, e eu sorri.

— Eu queria você. — senti meu rosto queimar no mesmo


instante. — Nunca pensei que fosse recíproco.

— É tão recíproco, que... — ele então deixou o copo no


chão, e tirou a bandeja de minha frente, puxando-me para seu
colo. — Que espero construir uma família com você. Na realidade,
já estamos. — tocou minha barriga, e aquele foi o primeiro
momento dele como pai, o qual pude assistir.

Me emocionei, pois nunca imaginei que ele aceitaria tão


bem o fato de ser pai... De termos algo além do sexo.

— Tem certeza de que realmente quer isso, Davi? —


perguntei insegura, e o mesmo assentiu.

— É o que sempre quis, e mais desejei na vida. — olhou-


me seriamente, e foi impossível não tocar seu rosto e sentir a
aspereza de sua barba por fazer. — Só quero que me aceite.

— Podemos fazer dar certo, não é?

— Podemos. — deu-me um leve beijo. — Serei todo seu,


cariño. Basta me aceitar.

Suspirei fundo, e pensei sobre a quantidade de vezes em


que permiti arriscar algo. Tudo em minha vida tinha sido feito com
medo, logo após me sentir sozinha. O medo me fazia resguardar
quem era, esconder meu sonho, não acreditar que era capaz.
Mas a forma como olhei pra Davi, e como minha mão se uniu a
sua sobre minha barriga, deu-me a resposta muito antes do que
esperei. Eu queria.
Eu aceitaria ser sua esposa.

Aquilo me faria cair de um longo penhasco... Ainda assim,


estando nos braços dele, e sem medo do futuro, da forma como
encarava a vida, eu tinha certeza. Dando certo ou errado, eu
tentaria.

— Eu aceito. — falei baixinho, olhando-o profundamente.

Davi abriu um amplo sorriso e pisco algumas vezes, como


se absorvesse minha fala. Então tocou meu rosto com cuidado,
como se quisesse guardar aquele momento para sempre. Ao
menos eu, guardaria.

Ele então saiu comigo em seu colo da cama, e colocou-me


no chão.

— O que foi? — perguntei sem entender, enquanto o


mesmo tinha um sorriso de lado, e puxou-me pela mão até as
escadas.

Ele não disse nada, até que nossos pés tocaram a areia, e
notei que já era quase noite, com pôr do sol em nosso plano de
fundo. Davi estava um passo à frente, assistindo a mesma cena
que eu.
Ele logo pegou uma das grandes cangas que estavam
jogadas ao lado de uma mesa de praia, e foi para perto de onde o
mar calmamente encontrava a areia, estendendo-a no chão.

— Ei!

— Shiiii. — virou-se pra mim, e tirou a única peça que


vestia, fazendo-me engolir em seco.

— Davi...

— Agora, não precisa de nenhuma dessas roupas. —


encarei-o atordoada, pois mesmo sabendo que a casa era num
local praticamente privativo, ainda sim, sentia-me insegura de
ficar nua ali. — Porque eu vou fazer amor com você. — chegou
até mim, e mordiscou meu pescoço, fazendo-me arfar, e tirou a
fina camisola branca que vestia, deixando-me nua. — Perfeita!

Ele então me pegou no colo e colocou-me em seguida


sobre a canga, pairando sobre meu corpo. Meus pés sentiam a
água do mar molhá-los de leve, e fiquei extasiada, por como
aquele momento estava perfeito. Sem desespero algum, ele tocou
meu rosto, e fiz o mesmo, reconhecendo cada parte do mesmo. O
céu aos poucos ficou escuro por completo, e a única luz que
chegava até nós, era da casa e a lua.
— Diz de novo pra mim. — praticamente exigiu, dando-me
em seguida um beijo avassalador. — Diz que me aceita.

Seu corpo queimava o meu, com toques que não sabia


explicar. A excitação do momento, de que poderíamos ser pegos,
ou até mesmo o simples fato de estarmos prestes a fazer amor
tão livremente. Aquilo me inebriava.

— Sim, eu te aceito. — falei, puxando seu lábio inferior


com os dentes, e ele rugiu.

Senti a ponta de seu membro em minha entrada, e arfei, na


expectativa por mais. Antes de me tornar sua, ele apenas me
encarou com devoção, os olhos negros pelo desejo e as mãos
seguraram meus pulsos para cima, deixando-me a sua mercê.

— Agora, eu vou fazer amor com a minha futura esposa,


não é?

Eu assenti, e ele se afastou um pouco, fazendo-me quase


implorar pelo seu toque.

— Diga!

Eu não entendia sua necessidade de querer me ouvir


confirmar tantas vezes, mas também, não me importava. Naquele
instante, seria capaz de tudo apenas para que me tomasse de

vez.

— Sim.
11

“Cause I wanna touch you, baby

and I wanna feel you too

I wanna see the sun rise on your sins,

just me and you

Light it up, on the run, let's make love tonight

Make it up, fall in love. Try.”[15]

Era estranho olhar para a minha casa e saber que ali não
seria mais meu lar. Olhei de relance para as cinco malas já
fechadas, e permiti que uma lágrima descesse. Mudanças eram
daquela forma, eu sabia. Porém, me sentia tão perdida ao sair

dali, quanto no dia em que me mudei da minha antiga casa para


cá. A diferença é que eu estava animada com a decisão que
tomei, no agora, o problema era não ter ideia do que viria pela
frente. Luíza me encarava com um sorriso, enquanto falava sem
parar.

— As galerias adoraram, Manu! — minha amiga falou feliz,


enquanto eu terminava de colocar alguns sapatos na mala, e
deixava roupas suficientes para usar durante três dias já
separadas estrategicamente. — Seria maravilhoso, ainda mais
agora que está mudando por completo de vida, que se dedique a

algo que ama. Além disso podemos fazer um instagram[16] só


disso e... Andei pesquisando, faz muito sucesso nas redes
sociais.

— Acha mesmo que daria certo? — perguntei sem graça, e


olhei de relance para a pasta de meus desenhos. — Eles querem
os desenhos em tamanhos maiores, e vão mesmo expor?

— Pelo que me disseram, é assim que funciona. — deu de


ombros. — Posso te acompanhar, como sua advogada e claro,

amiga. — piscou, e assenti.

— Obrigada pela força, Lu! — fui sincera — Vai ser


estranho começar essa vida.

— Mas está feliz, não é?


— Animada seria a palavra certa. — fechei a mala, e me
sentei ao lado dela na cama. — Davi e eu somos novos nisso.
Pelo que sei dele teve poucos relacionamentos, que duraram
alguns meses... o próprio que me contou. E eu? Bom, casos
esporádicos desastrosos, não são bem uma referência de casal.

— Está com medo da convivência?

— Da rotina, de nós, da vida... Ainda mais porque não


seremos apenas nós, ao menos, não daqui alguns meses. —
passei a mão de leve na barriga. — Não quero que minha
sementinha sofra.

— Isso é tão fofo. — sorriu sonhadora. — A forma como


chama meu afilhado.

— Pode ser menina, Lu.

— Eu sinto que é um menino. — tocou minha barriga com


cuidado. — E sempre acerto.

— Como assim? — perguntei sem entender. — Não tem


amigas que já engravidaram.

— Bom, eu acertei no fato de que Davi te olhava como um


predador. — arregalei os olhos assustada. — Ei, não me olhe
assim! Nunca pensei que daria bola pra ele, e apenas comentei
isso com Marcelo, que riu da minha cara. Sério, pensei que você
gostava de....

— Realmente, vou precisar reforçar a sua segurança.

Levei as mãos ao peito, assustada com sua voz e notei seu


sorriso de lado.

— Por Deus, Davi! — reclamei, batendo em seu peito.

Ele se aproveitou do movimento para me dar um leve

selinho.

— Oi, cariño. — sorri, pois aquele apelido me derretia por


completo.

— O que faz aqui? — indaguei, já que não tínhamos


marcado nada, e minha mudança seria dali três dias.

— Tive uma ideia, e acho que vai gostar. — enlaçou minha


cintura. — Na realidade, pode adorar.

— Como assim?

— Eu vou sair, antes que me causem diabetes. — Luíza se


manifestou, saindo de fininho, mas não sem antes alfinetar Davi.
— Cuide bem da minha amiga, Davi!

Ele por outro lado, apenas sorriu para mim, e começou a


falar.
— Pensei em decorar um local específico da casa, na
realidade, dois. — falou animado.

— Quais?

— Vamos até meu apartamento e te mostro. — sugeriu e


assenti.

— Veio até aqui para isso? — perguntei, ao sair de dentro


de casa, e ele fez um aceno com a cabeça. — Não trabalha mais?
— provoquei, e ele parou, virando-se para me encarar.

— Está por um acaso dizendo que tenho faltado muito na


empresa, cariño? — seu olhar era feroz, e tive vontade de rir. — É
muito atrevida quando quer.

Dei de ombros.

— Você adora isso.

Ele balançou a cabeça de lado, como se pensasse em algo


para me mostrar que de fato o fazia.

— Daqui a pouco vou te mostrar o quanto.

Minutos depois estávamos entrando em seu apartamento,


que logo mais seria meu lar. Nossas conversas durante os dias
em Búzios renderam muito mais que apenas meu “sim” logo no
primeiro dia. Conheci partes de Davi e lhe dei muito do que tinha
a oferecer, ninguém nunca, chegou tão perto do meu coração

quanto ele. E quando parava para pensar, já sabia, ele o tinha


levado.

— Como foi a conversa com Olívia e Luiz? — perguntou


atencioso, indo até a cozinha.

— Bem... Eles entenderam, e incrivelmente, ficaram muito


felizes por saber de nós. — Davi me encarou carrancudo.

— Por que não ficariam?

— Digamos que pelo que Marcelo me diz, e eu mesma


percebi durante o tempo em que sequer me notava, você não é a
pessoa mais comunicativa e amigável do mundo. — sentei-me
numa banqueta, e apoiei-me sobre a grande bancada de
mármore, enquanto o mesmo bebia água.

— Sou prático. — falou simplesmente, e colocou a garrafa


de volta na geladeira. — Não sou de distribuir sorrisos.

— Então temos um impasse. — falei divertida. — Eu adoro


sorrir.

— Por isso que estou me casando com você o mais rápido


possível, cariño. — veio até mim, e abraçou-me por trás. — Se
fosse igual a mim, não teria graça alguma.

— Está me saindo um homem romântico, senhor Rivera.

Ele então me virou para si e sorriu, prendendo-me contra a


pedra.

— Sou um homem de muitas faces. O que posso fazer? —


debochou, e bati em seu ombro, dando-lhe um leve selinho.

— Me diz, o que sua família falou sobre o casamento?

Sua expressão mudou de repente, e ele se afastou um


pouco, parecendo chateado.

— Estarão aqui. — deu de ombros. — Mas duvido que irão


ao cartório. Eles acreditam que o casamento deve ser celebrado
muito além que um papel.

— Mas lhes explicou a situação? É uma escolha minha, se


quiser, posso falar com eles e...

— Não é necessário. — tocou meu rosto com carinho. —


Quando os conhecer, verá o porquê são assim. Mas não tem
importância o que eles pensam ou deixam de pensar. O que

importa somos nós, e... nossa pequena... Como era mesmo o


nome?
— Sementinha. — falei, e senti meu rosto corar. — Por que
todo mundo invocou com a forma que chamo o bebê?

— Digamos, que é um tanto peculiar. — brincou.

— Um comediante, Davi! Hahá! — ele deu de ombros, e


fez-me sair da banqueta. — O que?

— Vou te mostrar o que aprontei!

O apartamento era enorme, por isso, sequer cogitamos ter


uma casa ou mudanças. Até porque eu não poderia naquele
momento ajuda-lo financeiramente. Mas as palavras de Davi me
convenceram, quando lhe disse que ainda não teria como ajudar
de forma alguma nessa parte, já que minha nova carreira como
desenhista estava apenas engatinhando.

— O sobrenome Rivera traz muitas coisas, e dentre delas,


o dinheiro... Se aceitou se casar comigo, tem que saber conviver
que é uma mulher rica agora, e não é algo como “meu dinheiro”
ou “seu dinheiro”. É nosso!

Tudo bem que eu não aceitava a parte do “nosso” dinheiro,


mas apenas o deixei entender o que o tinha feito. Aceitei a parte
de que não teria como ir contra o fato dele ser rico e até mesmo
milionário. Era uma parte dele, e não poderia mudar. Era como se
ele decidisse mudar meu vício por Taylor Swift. Aquilo era
irrefutável.

Ele então parou a frente de uma porta e abriu, dando-me


espaço para passar. Olhei ao redor do grande quarto e notei o
vazio. Davi logo apareceu a minha frente e abriu os braços.

— Então... Acabei tirando de Luíza que teve respostas das


galerias e... Acho que para engatinhar com seu trabalho, e logo
estar correndo, precisa de um espaço. — arregalei os olhos
incrédula, e ele me olhou com admiração. — Deixei tudo vazio,
para que pudesse montar como quiser, comprar o que é preciso e
até mesmo, reformar. — levei as mãos a boca, sem conseguir
acreditar. — Calma, que ainda tem mais! — sorriu divertido. —
Aqui. — bateu numa porta que ficava no meio da parede
esquerda, e a abriu, indicando com a cabeça. — Pensei em ser o
quarto da nossa sementinha.

Olhei para o grande quarto branco, sem sequer um móvel,


apenas com uma ampla janela de vidro como o anterior, e sorri.

— Ali, do outro lado tem outra porta, como pode ver. —


indicou com a mão e assenti. — É meu escritório em casa. Pedi
para que fizessem essas duas portas interligando nossos home-
office por conta do bebê, por ser mais prático e...
Não quis mais ouvi-lo, pois, a surpresa foi tamanha, assim
como minha felicidade, que simplesmente me joguei em seus
braços, abraçando-o com carinho. Davi retribuiu, um pouco
atordoado, acho que pelo o abraço repentino.

— Obrigada. — sorri amplamente. — Por pensar em mim...


— toquei minha barriga. — Em nós.

— Aqui é a casa de vocês agora. — explicou com leveza.


— Quero que se sintam assim.

Mal sabia ele, mas naquele instante, seus braços,


tornaram-se meu lar.
12

“Oh, tell me you love me

I need someone on days like this, I do

On days like this

Oh, can you hear my heart say

Ooh, ooh, ooh, ooh.” [17]

— Manuele Cruz Cardoso, você aceita esse homem como


seu esposo?

Meus olhos não conseguiam fugir dos seus, e sorri, ao


dizer em alto e bom som:

— Sim!
Davi sorriu amplamente, e foi sua vez de responder à
pergunta. Não prestei mais atenção em nada, apenas foquei no
movimento de seus lábios, que me tornaram sua esposa naquele

instante.

— Eu vos declaro marido e mulher.

Apenas dei um passo à frente, e Davi depositou um leve


beijo em seus lábios. Ouvi o grito de Luíza e sorri, em meio a
beijo, logo me afastando do agora, meu marido. Um dos braços
de Davi circularam minha cintura, e sorri para o mesmo, logo
sendo tirada dele, e praticamente agarrada por minha amiga, que
tinha lágrima em seus olhos.

— Ei, calma! — falei em meio a um sorriso, enquanto ela


me sufocava. — Eu já não tô mais respirando, mulher.

— Desculpa. — afastou-se, e limpou algumas lágrimas que


desciam. — Nem acredito que está se casando, estou tão feliz por
você... Por vocês dois. Ainda mais pelo bebê.

Sorri levando uma mão para meu ventre tinha apenas um


leve e quase não perceptível arredondado. Tinha feito minha

primeira consulta a cerca de uma semana, e foi incrível. Davi


esteve ao meu lado e tiramos todas as dúvidas possíveis. Eu já
amava mais do que tudo minha pequena sementinha.

Estávamos em um cartório, em uma sessão privativa de


casamento, tendo se passado menos de um mês que o aceitei em
minha vida. Ali estavam apenas nossas testemunhas, no caso
Marcelo e Luíza, e meus patrões, que fizeram questão de estar
presentes. Segundo eles, pois precisavam ficar de olho em Davi,
caso magoasse meu coração.

Naquele instante, nem se quisesse, alguém conseguiria

estragar minha felicidade. Tivemos uma semana incrível em


Búzios, e logo após passamos a semana praticamente juntos,
pensando em como faríamos o casamento, e no que cada um
preferia. Meu sonho, era um casamento tradicional, com direito a
véu e grinalda. Mas de toda forma, como ainda íamos tentar dar
certo, deixei aquilo como segundo plano. Assim, quando tivesse a
real certeza de que nosso casamento iria para frente,
concordamos em ter uma cerimônia religiosa e até mesmo uma
grande festa.

Davi me contara de como a maldade escorria pela boca de


várias pessoas do círculo em que o mesmo participava, por isso,
o casamento antecipado. Ele não queria ninguém especulando
sobre nós, e sabendo da gravidez antes de tudo, para que fosse
considerada uma golpista. Aquilo acontecera com sua mãe no
passado, pelo que me contou brevemente, e ela sofreu
amargamente na mão de todos os urubus antes de ter ciência de
que poderia muito bem colocar cada um em seu devido lugar.

Eu não tinha pressa para me casar, porém, assim como ele


concordou que aquele casamento ainda era um teste para
darmos certo, acabei cedendo para que fosse logo. E ali
estávamos nós. Olhei para a aliança em meu dedo anelar
esquerdo e sorri, sem ao menos saber quando ele teve tempo
para comprar, e como coube perfeitamente em meu dedo.

— Isso que eu chamo de esquecer da família, em?

Olhei para o lado, e notei Davi tenso, diante de um homem


da sua altura, que aparentava uns trinta anos, e com olhos verdes
claríssimos.

— Quase conseguiu esconder de nós, hermano[18]. —


arregalei os olhos, e finalmente reconheci seu irmão mais novo.

Davi era muito reservado sobre sua família, e segurava-me


ao máximo para não pesquisar sobre, já que tive a ideia de
simplesmente conhece-lo através do que ele me entregava, e por
isso, sequer sabia o nome de seu irmão. Como fazia pouco tempo
que nos conhecíamos ainda era válido não saber daquilo.

— Essa deve ser a grande mulher. — franzi o cenho, e abri


um leve sorriso para o belo homem a minha frente. — Guilherme
Rivera, é um prazer, senhorita...

Estendi a mão para ele, mas no mesmo instante, Davi


entrou na frente e nos afastou.

— Senhora Rivera, irmão. — Davi soou debochado, e


fiquei um pouco incerta com sua atitude.

Ele então se virou para mim e olhou-me com cautela.

— Podemos ir? — assenti, sem ao menos entender sua


repentina mudança. — Teremos tempo para conversar depois,
Guilherme. Agora, mantenha-se longe!

As poucas pessoas ali presentes, pareciam tão surpresas


como eu na relação dos irmãos, apenas Marcelo que parecia
estar completamente acostumado com aquilo. Seria algo de
irmão?

— Ok, ok! — Guilherme levantou as mãos em sinal de

rendição. — Mamá[19] e papá[20] estão na velha casa, só não

vieram pois querem conhecer sua esposa lá.


— Eu entro em contato com eles. — o mais novo assentiu,
e sorriu novamente pra mim. — Vamos, cariño!

Dei um beijo no rosto de cada um ali presente, assim que


abracei dona Olívia, a mesma passou as mãos por meus cabelos
e sussurrou baixinho: Seja você!

Sorri, e seguei as lágrimas e me afastei. Senhor Luiz me


deu um leve beijo na testa, e olhou-me com carinho. Eles podiam
não saber, mas pareciam falar com o olhar. E ali, imaginei meus
pais da mesma forma. De algum lugar, Fabiana e Eduardo
Cardoso olhavam por mim, e eu esperava, que com orgulho.

Fui até onde Davi me esperava, e o vi falar baixinho com o


irmão que ainda sustentava um sorrio largo que considerei um
pouco exagerado. Eles pareciam completamente opostos.

— Vamos? — perguntei, e Davi assentiu, enlaçando minha


cintura. Olhei de relance para meu cunhado, e resolvi não ser
uma megera, já que sequer o conhecia. Família tinha problemas,
ao menos, era o que sempre via. — Foi um prazer!

Ele então sorriu, e vi verdade em sua expressão. Os Rivera


tinham algo marcante, e tive a certeza, quando notei o olhar
determinado de Guilherme.
Não tive tempo para pensar a respeito, já que Davi me
puxou para fora do cartório, e logo estava de encontro a seu
corpo, e o mesmo deu-me um beijo cinematográfico de frente ao
cartório.

— Mas... — tentei dizer quando se afastou, com um


sorriso. — Davi!

— Precisamos consumar isso de verdade, cariño. — falou,


e fomos até o carro em silêncio.

Aquela era a maneira de Davi fugir, e eu estava


conhecendo-o. Em vez de falar sobre a família, que ele até então
disse que não era próximo, acabou por disfarçar tudo marcando-
me como sua, para que me desestabilizasse. Ele conseguia, mas

ainda restavam muitas perguntas em minha mente.

Quando entramos no carro, que só então notei ser uma


limusine, Davi praticamente me atacou. O vestido branco simples
e de seda que usava foi levantado até meus quadris, e eu estava
em seu colo, sendo completamente devorada. Não tive tempo
para perguntas, nem mesmo suposições. Um toque, e o fogo se
alastrou entre nós. Por um momento, aquilo bastava. Era apenas
o começo de uma nova vida.
13

“On the first page of our story

The future seemed so bright

Then this thing turned out so evil

I don't know why I'm still surprised

Even angels have their wicked schemes

And you take that to new extremes. ”[21]

Alguns meses depois...

Mandei mensagens para Luíza e Marcelo perguntando a


respeito de Davi, e não obtive respostas. Eu estava chateada,
com toda razão, já que ele tinha perdido uma consulta do bebê,
naquele momento, a mais importante. Tinha, finalmente, com
quatro meses descoberto o sexo da nossa sementinha.

Meu celular tocou e atendi sem sequer olhar para o visor,


pensando ser ele.

— Alô. — só assim reconheci a voz de mulher. Era Giulia


uma das donas da galeria que em breve eu teria uma exposição.

As coisas iam bem, e conversei com ela a respeito dos


quadros já prontos, e marcamos um dia para que os visse, e
analisasse como tudo seria. Era minha carreira começando, e
estava mais do que satisfeita. Assim que desliguei o celular, olhei
afoita para as mensagens e não tinha uma resposta sequer. Tanto
de Davi, quanto de meu casal de amigos.

Com mais imagens salvas em um pen drive, onde tinha


todo o desenvolvimento até ali do nosso bebê, entrei no carro
com o segurança, que sorriu levemente, que felizmente, tinha se
acostumado a não ser carrancudo comigo. Ainda mexia em meu
celular, tentando falar com alguém.

— Olá, Júlio! — ele assentiu, e fechei a porta. — Sabe me


dizer onde seu patrão se enfiou?

— Ele foi visitar o irmão, senhora Rivera.


Bufei diante da forma que me chamou, mas já tinha
desistido de pedir para que me chamasse pelo nome. Aquilo não
conseguiria mudar de jeito algum.

— Até a casa de Guilherme então, por favor.

Ele assentiu e saiu com o carro.

As coisas iam de bem para melhor. Sentia a cada dia


minha relação com Davi melhorar e se fortalecer, e ainda mais,
após a última noite de amor que tivemos, o “eu te amo” que
correu livre por meus lábios, teve uma resposta que sequer eu
esperava.

— Eu sei que é cedo mas... — suspirei fundo, olhando


seus olhos, e tocando sua pele ainda um pouco suada. — Eu me
apaixonei por você, Davi. Eu te amo.

Seus olhos pareciam sorrir com minhas palavras, e fui


puxada para um leve beijo. Não esperava palavras dele, não a
respeito disso. Era cedo, fazia pouco tempo. Mas por experiência
de vida, e até mesmo medo, eu escolhi confessar. Pois de alguma
forma, sentia que o amaria para sempre.

Amava o jeito como ele se moldava com homem


imponente.
Amava a forma como chegava em casa após um dia
exaustivo de trabalho e ainda dava atenção aos desenhos que eu
fazia.

Amava que desde que comecei a me preparar para minha


primeira exposição, ele foi uma das pessoas que mais me apoiou.

Amava o fato de estar com ele, fazia-me sentir em casa.

Amava tê-lo encontrado.

Não era necessário, naquele momento, que ele me amasse


também... Seu carinho era o que me cercava e fazia-me feliz.

— E eu a você, cariño. — passou as mãos por meus


cabelos. — Eu também te amo.

Aquele momento parecia intacto em minha mente, e só


podia esperar por mais. Davi era um homem fechado para o
mundo, porém, completamente aberto para mim. Eu adorava o
fato de ser a única a conhece-lo daquela forma. Pois ele
realmente era especial.

Assim que o segurança parou o carro em frente a


imponente casa dos Rivera, não foram mais precisas

apresentações. Mesmo que não fosse próxima a eles, de certa


forma, eles me aceitavam. Por mais que Davi tenha imposto uma
distância clara entre eles a respeito de mim. Algo que eu ainda
tentava entender, mas que em alguns momentos apenas
relacionava a morte de sua irmã mais nova, Branca, e criava mil
teorias. Porém, Davi disse que me contaria tudo, e eu esperava o
seu momento. Tinha certeza que era algo muito difícil para ele,
então, o melhor, era não insistir.

Seus pais não insistiram em me conhecer, mas eu notei

durante um almoço que compartilhamos, o olhar preocupado que


me lançavam. Porém, sem dizer muito, apenas voltaram para a
Espanha no dia seguinte a isso. O único que permaneceu no
Brasil foi Guilherme, e mesmo assim, não tínhamos contato. E ali
estava eu, sem me aguentar, para poder conter a Davi que nossa
sementinha, finalmente tinha mostrado o que era.

Entrei na imponente mansão e estranhei o completo


silêncio, mas talvez fosse daquela forma ali. Pensei em gritar
Davi, mas quando olhei a esquerda e vi uma porta entreaberta e
vozes baixas, acabei apenas indo até lá. Coloquei minha mão na
maçaneta, e fui abri-la, porém, a voz de Guilherme me paralisou.

— Eu sabia que tinha algo mais nesse casamento às


pressas. E não foi só por causa da gravidez. — meu cunhado
acusou, e dei um passo atrás, sentindo que não ia gostar do que
vinha em seguida. — Sério que iludiu uma mulher inocente
apenas para conseguir a presidência, irmão?

O que?

— O que diabos pensa que está fazendo para investigar a


minha vida? — Davi praticamente gritou, e fiquei estática. — O
que eu fiz ou deixei de fazer pela presidência é um problema
meu.

— Tem que superar o fato de que não pode controlar tudo!


— o outro revidou, e tentei me preparar pra que o vinha a seguir.
— Diga, irmão! — debochou. — O que pensa que está fazendo
brincando de casamento e bom marido para Manuele? Acha que
por quanto tempo vai conseguir manter a farsa de homem
romântico e interessado em tudo a respeito dela?

— O que tempo que vou levar, o que finjo ou não... Isso


não te interessa, Guilherme! — senti uma pontada no peito, com
ainda mais medo do que ouviria. — Eu não vou ficar justificando
meus atos e decisões para você. Logo para você, Guilherme!

— Então me diga, seja honesto irmão! Você ama Manuele?

O silêncio que tomou conta da sala, fez meu corpo gelar.


Em minha mente tinha uma grande torcida para que o mesmo
Davi que tinha se declarado, abrisse a boca e confessasse que
tudo foi real. Que ele me amava.

— Isso não te interessa!

— Responda, porra! — Guilherme insistiu.

— Não, não a amo! — a primeira facada em meu coração.


— O que quer vasculhando a minha vida?

— Quero que pare, e veja que vai acabar destruindo essa


mulher, Davi! — mal sabia Guilherme, que naquele instante, Davi
o fazia. — Ela claramente tem sentimentos por você, e ainda
mais, espera um filho...

— Eu tenho meus motivos!

— Conte a verdade a ela. Que precisava de um casamento


e um filho para que um contrato imbecil fosse cumprido e se

tornasse rapidamente presidente. — meus olhos se arregalaram e


tive que me segurar na parede ao lado pra não cair. — Se ela é
importante pra você, conte a ela.

— Não. — Davi negou veemente, sem sequer se mexer. —


Não vai mais tocar nesse assunto!

— Isso é um erro e você sabe, Davi! Você jogou sujo com


ela. — Guilherme pegou uma pasta e jogou sobre a mesa. — Sei
muito bem que esse plano arquitetado não era para ocorrer com
ela.

— Isso não te diz respeito, Guilherme!

— Diz sim, no momento em que vejo uma mulher prestes a


sofrer o quanto Branca sofreu pela rejeição.

Num movimento Davi acertou em cheio o rosto do irmão

mais novo, que pela primeira vez estava completamente sério.

— Pode me bater o quanto quiser, mas essa é a realidade!


— falou enfurecido. — Manuele merece a verdade, não essa
parte sua que sequer existe, Davi! O que ela vai pensar quando
descobrir que tudo, cada momento entre vocês, foi calculado?

A ânsia veio com força e me segurei... Aquelas palavras


estavam a me destruir.

Calculado? Plano?

Olhei pela fresta e praticamente rezei, para que Davi


negasse e dissesse que nada foi uma mentira. Que éramos real.

— Ela não vai pensar nada. — falou friamente. — Porque


nunca vai descobrir.

As palavras ainda ressoavam em minha mente, marcando-


me como a grande idiota do século. Eu sabia! Ou melhor, eu tinha
que ter desconfiado.

Tudo que aconteceu entre nós, o que se sucedeu após


aquele dia juntos... Era bom demais para ser verdade.

Levei as mãos à cabeça, o choro entalado em minha


garganta, porém, a dor era tamanha que não conseguia me
expressar. Era como se meu coração estivesse sendo dilacerado,
e meus pensamentos revivessem e me marcassem com toda sua
sufocante confissão. Davi Rivera era um mentiroso profissional, e

pela primeira vez, após meses juntos, descobrira aquilo.

Olhei para o anel em meu dedo e sorri sem vontade,


sentindo a dor em meu peito aumentar. Não tinha lágrimas
naquele instante, enquanto todo o amor que sentia se tornava
minha maior fraqueza. Olhei de relance para a porta entreaberta,
e cogitei por um segundo entrar pela mesma. Porém, escutei meu
instinto, que gritava para ficar ali, e depois, dar as costas, sem
olhar para trás.

A conversa entre eles se desenrolava, e me aproximei,


olhando novamente pela brecha da porta. Guilherme gargalhou
de algo que Davi disse muito baixo, e queria ser uma mosquinha

para poder ouvir. As verdades eram necessárias, ao menos sem


ser notada, eu as estava conhecendo.
— Como pode fingir que não se importa, Davi?

— Porque eu não me importo, porra!

Meu coração sangrava.

— Irmão, você precisa enxergar que ela vai sofrer, porra!


— Guilherme levantou os braços e mudou seu olhar de direção, e
infelizmente, seus olhos encontraram os meus.

Fiz sinal negativo com a cabeça, implorando internamente,


que o mesmo cunhado que conheci há alguns meses, mesmo não
tendo sequer alguma intimidade, não me entregasse ali.

Ele mudou seu foco, olhando para o irmão, e suspirei

aliviada, vendo que Davi andava de um lado para o outro.

— Então está casado com uma morena gostosa daquela e


não a ama? — meu cunhado perguntou debochado, limpando o
sangue da boca. Naquele momento entendi por completo suas
palavras, ele praticamente dispersou o foco para que o irmão, não
me visse. E sequer me delatou. — Eu a amaria no primeiro
momento que colocasse a boca no meu...

— Cala a porra da boca, Guilherme! — Davi bradou, e ri de


mim mesma, por vê-lo daquela forma.

Ele não queria que o irmão falasse de mim?


Claro! Pois apenas ele podia ser a causa de toda minha
humilhação, e da dor que me assolava.

— Não vai sequer pensar em falar disso a alguém. — as


palavras de Davi estavam me destruindo, ouvi-lo fazia com que
sentisse pena de mim mesma, por ter sido tão ingênua. — Isso é
algo entre eu e a minha mulher.

Sua mulher...

O quão irônico era ouvi-lo me chamar daquela forma?

Ri desconsolada, em meio aquele caos.

— Não sei como descobriu, mas não pode dizer isso a


ninguém. Isso me faria perder tudo!

Decidi a não ser ainda mais masoquista, saí de perto da


porta, indo em direção a saída da casa.

Vi o carro parado, e Júlio estava ao seu lado, esperando-


me.

— As chaves do carro, por favor. — pedi, num só fôlego e o


mesmo me encarou um pouco sem jeito.

— Não posso faze-lo, senhora Rivera.

— Por favor, Júlio. — praticamente implorei, e vi seu olhar


se apiedar. — Sei que vão me seguir, mas eu preciso desse
momento sozinha.

Ele então disfarçou um pouco e deu-me as chaves, e


sabia, ele estava quebrando uma série de regras que Davi os
passou. Mas aquilo não importa, muito menos Davi. Naquele

instante, eu só precisava sair dali.

— Obrigada.

Entrei no carro, e tranquei as portas de imediato, sentindo


o peso do mundo em minhas costas. Passei as mãos de leve por
minha barriga, tentando buscar forças em meu filho. Dei a partida,
e soube naquele instante, que logo saberia ou pelo irmão ou pela
segurança que eu estive lá.

Definitivamente, eu era tão tola, que sequer conseguia


chorar durante o caminho até o apartamento. Quando finalmente
estacionei, agradeci por já estar no estacionamento do prédio,
pois já não tinha mais forças, meu corpo parecia querer ceder a
toda dor e pensamentos destrutivos. Fui até o elevador privativo,
e encostei-me contra o metal gelado, tentando não desabar ali.
Eu estava no momento de negação.

Cheguei ao apartamento, e olhei ao redor sem vontade,


passo a passo até o quarto, lembrando de cada mísero dia
juntos... sabendo naquele instante, que nada foi real.

Assim que adentrei nosso quarto, toquei de relance a


aliança em meu dedo anelar esquerdo e a tirei, finalmente tudo
fazendo sentido em minha mente. Entrei no banheiro, tranquei a
porta, e deixei o grande e esplendoroso anel sobre a pia, sem
conseguir encará-lo. Ver aquele pequeno círculo fazia-me lembrar
de seu real significado. Que “nós” era para ser infinito...
contínuo... Tocar era como ter a certeza de que era real... porém,
nunca fora.

Liguei a ducha, e deixei meu corpo ainda com roupas


escorregar com cuidado pela parede até o chão. Ali, sufocada em
meus maiores medos, receios e tristezas, desabei. Sabendo que
sequer o “eu te amo” que saiu da boca do homem que amava, foi
real.

Eu estava quebrada. Senti então um pequeno movimento


em minha barriga, e em meio as lágrimas abri um sorriso. Meu
pequeno estava ali, cuidando de mim.

— Vai ficar tudo bem, meu amor. — falei, acho que


tentando convencer a mim mesma. — Meu pequeno Samuel.
14

“Been sitting, eyes wide open

Behind these four walls, hoping you'd call

It's just a cruel existence

Like there's no point hoping at all.”[22]

— Melhor correr, hermano. — olhei para Guilherme sem


entender, já exausto de toda aquela conversa.

— Eu tenho mais o que fazer do que ficar aqui ouvindo


suas sandices. — falei nervoso.

Virei de costas e peguei o celular em mãos, vendo cerca de


cinco chamadas perdidas de Manuele, além de mensagens.
Assim que li a última, meu coração deu um sobressalto e fiquei
paralisado.
Remetente: Manuele

O segurança me avisou que está na casa do seu irmão. Estou


indo pra aí.

ps: te amo.

Disquei o número de seu segurança e o mesmo me


atendeu em poucos segundos.

— Onde ela está? — perguntei num só fôlego.

— Acabou de sair do apartamento, e está seguindo para


uma farmácia, senhor Rivera.

— Ok. — desliguei, e olhei para o teto, pensando no que


fazer.

— Eu a vi. — Guilherme passou a minha frente. — Ela


estava do outro lado da porta, ouvindo cada palavra sua,
hermano.

— O que? — minha voz quase não saiu, e me segurei para


não ataca-lo.
— O olhar dela estava como imaginei, de pura decepção.
— revelou, e senti meu corpo se remoer. — Ela praticamente me
implorou com a cabeça para ouvir a conversa e não contar a você
que ela estava aqui.

— Por que a deixou ouvir, porra? — gritei, incrédulo ao


perceber o que aconteceu.

Tudo desmoronava.

— Isso ia acontecer, mais cedo ou mais tarde. — falou,


dando de ombros.

— O mais tarde podia não existir! — levei as mãos aos


cabelos e tentei pensar no que fazer para consertar aquilo. — E
eu estaria como presidente, e ela jamais descobriria.

— Ia levar esse casamento a diante depois de conseguir a


presidência? — perguntou debochado, e não tinha resposta para
sua pergunta, na verdade, não tinha como dizer. — Papá já
assinou os papéis, irmão. Você já é o presidente!

— O que?

— Ele só não contou antes pois pediu para que tivesse


uma conversa com você. — esclareceu. — Não fui eu quem
investigou sua vida, foi nosso pai.
— Por que ele faria isso?

— Porque ele tinha medo de que você na realidade só


quisesse a empresa e não uma família. — riu em desgosto. — Ele
estava certo. Já que mesmo não seguindo o plano de casar com
sua ex namorada, acabou se envolvendo com uma mulher
inocente e a enganando.

— Ele não tem direito algum de me julgar. — soltei em


raiva. — Nenhum de vocês tem, já que mentiram por anos! —
acusei-os.

— Omitimos. — fechei os olhos com força para não fazer


alguma besteira. — Mesmo assim, aprendemos que foi o pior
caminho.

— O caminho que fez minha irmã morrer. — gritei, e

Guilherme tentou refutar, mas a dor em seus olhos era evidente.


— Eu não vou discutir isso mais uma vez, isso foi enterrado junto
a Branca há cinco anos.

Virei de costas e saí da casa, entrando no carro em


seguida e mandando mensagens para a segurança de Manuele.
Logo soube para onde ela iria, o que não me surpreendeu. Dirigi
feito um louco até a fazenda, e quando finalmente cheguei, notei
que seu carro não estava ainda ali. Nem me dei ao trabalho de
bater na porta da casa de Marcelo e entrei de uma vez.

Assim que escutei vozes alteradas, caminhei até o


escritório dele, e assustei-me ao ver Marcelo ao lado de um vaso
quebrado, enquanto Luíza chorava copiosamente. Os olhares de

ambos recaíram em mim, e o pedido de socorro de Luíza era


claro, e o ódio estampado na face de meu amigo mostrou-me
tudo.

— Não! — levantei a mão, já sabendo o que ele faria. —


Não vamos brigar por conta disso.

— Então já sabe o que está acontecendo aqui? — Marcelo


estava fora de si. — Ligou pra ele? — perguntou com a voz ácida,
e Luíza parecia destruída. — Feito uma vadia resolveu já ligar pra
sua ex foda e traze-lo a minha casa? — ela se encolhia, e
naquele instante, apenas consegui pensar como minha mulher

estaria. — Responda, porra!

O grito dele me despertou, e Luíza pareceu querer correr,


ao mesmo tempo que parecia querer ataca-lo. Ela não era o tipo
de mulher que aceitava ser subestimada, muito menos aguentava
algo calada, sabia disso pelo quanto Marcelo sofreu para
conseguir com que a mesma notasse o que sentia.
— Não grite com ela, Marcelo. — intervi. — Você não é
assim, amigo.

— Amigo? — perguntou com desdém. — Tem a coragem


de me chamar assim depois que fodeu com a minha esposa? —
praticamente rugiu, e fiquei em alerta, sabendo que a qualquer
momento ele poderia extravasar, e o saco de pancadas, seria eu.

— A gente fodeu. — olhei para Luíza que parecia se


recompor. — Sim, e sequer sabíamos nossos nomes! — falei
friamente, pois era a verdade. — Não teve importância alguma,
para ambos. Ou acha que fomos capazes de nos envolvermos
depois que ficaram juntos? — o enfrentei, e o mesmo riu gélido.

— Eu não acho mais nada. — ele estava sendo sincero, e


aquilo parecia quebrar ainda mais Luíza. — Só sei que descobri
que a mulher que me casei, depois de foder comigo, fodeu com
meu melhor amigo uma semana depois, e ainda teve a coragem
de voltar pra mim... E nunca contar! Nenhum dos dois teve!

— E isso faria diferença? — enfrentei-o. — Eu era seu


padrinho de casamento, foi o dia em que realmente a reconheci.
Ambos demoramos alguns segundos para perceber que sim, a
gente fodeu em um hotel em Nova Iorque, mas nunca nem
tocamos no assunto.
— Faria diferença se eu tivesse fodido Manuele e nunca te
contado? — gritou, e senti meu corpo tenso no mesmo instante.

Não conseguia imaginá-la com outro...

— Não, isso não faria diferença pra ele. — a voz de


Manuele preencheu o ambiente, e todos os olhares voltaram pra
ela. — Sabe por que, Marcelo? Porque tudo o que importa para
Davi é a presidência da empresa. Uma vez, me disseram que
quando se envolve dinheiro, as pessoas sempre querem mais, e
fazem de tudo para ter, sem pensar duas vezes. — seu tom era
debochado, e sequer a reconheci. — Irônico, não?

Ela usava minhas próprias palavras contra mim.

— Manu...

— Não. — cortou minha fala, e encarou-me decidida. —


Aqui não.

Ela então se aproximou de Luíza e passou a mão pelo


rosto da amiga, que estava vermelho e repleto de lágrimas.

— Vou levá-la daqui. — falou, e encarou Marcelo com


afinco. — Dê um jeito de recobrar a sanidade! Quebre o escritório,
faça um estrago... Ou melhor, quebre a cara de Davi. Mas não
venha atrás dela agora. Não agora, Marcelo!
Por incrível que pareça, Marcelo apenas ficou em silêncio e
não a enfrentou.

— E você. — olhou-me com tamanho desprezo, que fiquei


sem reação. — Te encontro em seu apartamento.

— Cariño...

— Não ouse me chamar assim. — bradou, e ainda com a


amiga nos braços, continuou a me encarar. — Não mais.

Ela então saiu pela porta, e sem ter o que pensar, ou como
explicar. Joguei-me contra uma das poltronas do escritório. No
olhar dela estava claro... Era o fim.
15

“And you got me like, oh

What you want from me?

(What you want from me?)

And I tried to buy your pretty heart

But the price is too high.”[23]

— Manu, eu...

— Não, não precisa se explicar. — falei, assim que


entramos na casa de seus pais, e ela caminhou lentamente até
seu antigo quarto. — Quer me contar o que houve? Eu ouvi por
cima quando cheguei... Mas sei que precisa de uma amiga, e aqui
estou.
— Lembra quando transei com Marcelo pela primeira vez?
— assenti, e a mesma suspirou fundo, sentando-se na cama. —
Eu tinha tantas dúvidas, ele mexeu tanto comigo que... Eu não
quis acreditar que estava gostando de alguém. Não depois de
tudo. Aí, quando viajei para Nova Iorque, encontrei um cara e
acabei me envolvendo com ele. Foi no automático, querendo tirar
Marcelo do meu sistema... Mas, não consegui.

— O cara era Davi. — ela assentiu sem jeito, e fiquei


apenas a observando.

Como eu a julgaria? Ela não tinha que me contar aquilo, já


que não tinha importância alguma, e foi bem antes, de eu sequer
pensar em conhecer Davi.

— Eu fui sincera com Marcelo de que tinha estado com


outro cara, mas sequer sabia o nome... Quando reconheci Davi
no nosso casamento, eu não consegui falar. — confessou com
pesar. — Eu tive medo da reação de Marcelo, pois ele não
merecia. E já tinha errado demais com ele.

— Ele só está nervoso. — sentei-me ao seu lado. — Logo


vai recobrar a consciência e perceber que não tem importância.
— Você não tem raiva de mim? De não ter te contado
que...

— Foi bem antes de mim, antes de sequer Davi saber da


minha existência e eu da dele. — dei de ombros. — Se tivesse me
contado, tudo bem... Senão, não tenho problemas com isso. O
passado é passado, Lu.

— Marcelo não vai me perdoar. — as lágrimas voltaram a


descer por seu rosto. — Ele me disse coisas horríveis, Manu.

— Mas como ele descobriu? — perguntei interessada. —


Já que nem você ou Davi contaram?

— Jéssica. — fiz uma careta diante do nome. — Ela até


hoje tenta, mesmo ele estando casado, fazer com que ele a note
e me deixe. Não sei como, mas ela acabou descobrindo sobre
isso e... Não consegui negar para Marcelo.

— E fez bem. — forcei um sorriso. — A melhor saída vai


ser conversar com ele. Vocês se amam, vai dar tudo certo.

— Eu espero, Manu... — suspirou levando uma das mãos à


cabeça. — Só quero dormir e esquecer que esse dia existe.

— Faça isso.
Ela então se deitou e fiquei ali, apenas a observando. Eu
sabia que seu olhar estava perdido para a grande janela que dava
vista ao lago, mas acabei fingindo acreditar que ela dormia, e saí
com cuidado do quarto. Luíza precisava de um tempo sozinha,
para refletir tudo aquilo.

Eu a entendia, pela parte que a dor em meu peito, a cada


momento próximo de falar com Davi, parecia oscilar entre
devastadora e incompreensível. Porém, o ápice da dor parecia
aquele em que sequer conseguia sentir algo.

Desci as escadas e saí da casa. Como sabia que os pais


de Luíza estavam viajando para o nordeste, assim que avistei um
de meus seguranças, pedi que ficasse de olho na casa, em
questões de não deixar Marcelo entrar. Uma conversa naquele
momento, depois do estado que vi minha amiga, apenas pioraria
tudo.

O outro segurança se ofereceu para me levar e concordei,


entrando no carro. Os minutos até o apartamento de Davi
parecerem intermináveis, e quando finalmente abri a porta do
mesmo, deixei minha mão direita sobre a barriga arredondada,
buscando forças em Samuel que sequer tinha noção do que
acontecia, mas que me presenteou com um chute.
Davi estava de pé a frente da porta quando entrei, e passei
por ele, desviando, e fui em rumo do sofá, sentando-me.

— Primeiro, preciso que saiba que tudo que ouviu meu


irmão falando, é mentira. — falou rapidamente, e parou a minha
frente, olhando-me profundamente.

— Olha pra mim e diz por que se casou comigo, Davi. —


exigi determinada, segurando a dor que meu coração sentia, e
todo meu corpo parecia sofrer. — Diz!

Ele então se afastou um pouco, e passou as mãos pelos

cabelos, sem me encarar. Encostei-me contra o apoio do sofá e


busquei seus olhos, que não me encontraram. Davi estava longe,
talvez procurando algo para usar.

— Para ter uma família. — sua resposta veio, e o encarei


em desgosto.

— A verdade, Davi. — insisti, suspirando fundo.

— Estou lhe dando toda a verdade.

— Não! — fechei os olhos com força. — Eu sei o que ouvi,


e sei que essa não é a verdade!

— O que quer de mim, Manuele? — perguntou, parecendo


transtornado.
— Quero a verdade. — olhei-o profundamente. — Quero

que diga pra mim se tudo o que vivemos foi uma mentira ou não.
E por que, por que me escolheu para prestar esse papel. Então
diz, por que se casou comigo?

Ele então pareceu ponderar minhas palavras, mas ficou em


silêncio, como se buscasse a resposta certa.

— Se não me der a verdade, eu saio por aquela porta e


nunca mais vai me ver. — ameacei, e ele finalmente me encarou,
sentando-se na poltrona a minha frente.

— Eu precisava me casar... Tinha um prazo para cumprir


um contrato antigo da família, o qual, admite que se for um
homem casado, automaticamente, meu pai precisa me passar a
presidência. Claro, tem outros pré-requisitos. — suspirou fundo.
— Era pra ser só aquele dia... Entre nós. — esclareceu, e senti
meu coração afundar. — Eu me sentia atraído por você, e como
sabia que logo teria que me casar, era minha última chance de ter
em minha cama.

— Como assim?

— Eu já tinha um plano arquitetado. — prendi uma


respiração. — Tinha uma mulher em mente que aceitaria
facilmente minha proposta de casamento e não teria danos
algum. Tudo correria bem. Era um plano sem falhas. — falou
rapidamente. — Mas daí nos envolvemos e...

— Então por que, Davi? — levei as mãos à cabeça,


incrédula. — Por que me usou para isso?

Eu sabia a resposta, mas ainda assim, queria ouvir de sua


boca.

— Porque ficou grávida.

— Isso não justifica! — praticamente gritei. — Poderia ter


se casado com a outra mulher, e apenas ser um pai para nosso
filho!

— Manu...

— Você escolheu isso! — falei incrédula. — Decidiu me


iludir com todo o papo de “podemos dar certo”, “sermos família” ...
Até mesmo me apoiou na nova carreira... — levantei-me,
sentindo-me ainda mais exausta. — Você disse que amava! —
acusei-o, já levantando o tom de voz. — A horas atrás, na cama,
disse que me amava. Como pode? — gritei. — Como pode fingir
que esse era um casamento real e que queria algo comigo?

— Cariño...
— Como ainda ousa me chamar assim? — senti minha
boca seca. —Simplesmente não consigo acreditar, que caí feito
um patinho na sua conversa. — ri sem vontade de mim mesma.
— Deve ter sido maravilhoso, não é? Brincar com a idiota aqui, e
de brinde, ganhar a presidência da sua empresa e todo resto...
Me usar dessa forma, Davi. Isso foi cruel!

— Não, eu não... — tentou falar, mas as palavras morreram


em sua boca.

— O que foi real, Davi? — perguntei já angustiada,


agarrada a última esperança, de que ele não era aquele homem
frio e calculista. — O que foi real?

Seu silêncio se tornou ensurdecedor, e eu sabia, tinha que


sair dali. O mais rápido possível, me reencontrar em outro lugar.

— Só me diz, quanto tempo para conseguir a presidência?


— perguntei em desgosto, e ele me encarou surpreso.

— Soube hoje que já a tenho.

— Ótimo. — dei passos para longe dele, e fui em direção a


porta.

Senti sua presença atrás de mim, e apenas me virei, para

dar um adeus que infelizmente não seria para sempre. Tínhamos


uma ligação eterna, a qual, eu não podia simplesmente evitar.

— Onde vai? — perguntou baixo, e acabei ignorando sua


pergunta.

— Parabéns pela presidência, espero que esteja feliz. —


as palavras saíram ácidas de minha garganta, e segurei-me ao
máximo para não desabar. — Tenho outra novidade... Não tão
grandiosa quanto essa, mas... — o sarcasmo era evidente em
minha voz. — Vamos ter um menino.

— Um menino. — repetiu.

Ele pareceu refletir sobre o que falei, e aproveitei para abrir


a porta. Senti então sua mão em meu pulso, e afastei-me no

mesmo instante. Seu toque, fazia com que sentisse apenas pena
de mim mesma. De ter me casado com alguém que nunca de fato
cheguei a conhecer, e que naquele momento, repudiava de todas
as formas.

— Tenho que ir. — falei baixo, e saí do apartamento.

— Manuele, por favor, eu...

— Apenas assine o divórcio, Davi. — olhei-o determinada,


e o mesmo pareceu assustado com minhas palavras. — Se tiver o
mínimo de consideração por mim... Ou até mesmo, pelo nosso
filho. Me dê o divórcio.

— Eu posso tentar.. Posso ser o homem que você quer. —


insistiu, fazendo-me rir de sua falha tentativa de ainda demonstrar

humanidade.

— Não, não pode.

Entrei no elevador, e a última imagem em meu campo de


visão, era Davi me encarando angustiado a frente do
apartamento. As portas se fecharam, e tentei por um instante
esquecer tudo, porém, por todo o caminho até a garagem, permiti-
me desabar. A dor corroendo cada parte do meu ser, ainda me
perguntando: por que fui tão usada? Por que não era o suficiente?
Perguntas que ninguém deveria ter que um dia fazer.

Eu as fazia, e as respostas, me massacravam.

Antes de chegar a garagem, acabei trocando o andar e


parando no andar de entrada do prédio. Saí dali, sem olhar para
trás, esquecendo-me dos seguranças e do sobrenome Rivera.
Meu dedo anelar esquerdo estava livre de qualquer aliança, assim
como meu coração que já não sabia o que fazer com a dor. Assim
que pisei na calçada, senti que todo o meu sonho de construir
algo com Davi ficava para trás. Tudo aquilo que sonhei, e fantasiei
por todos aqueles meses. Tudo uma grande mentira.

Ouvi meu nome sendo chamado, e parei, a contragosto,


olhando para trás. Vi uma pessoa caminhar para mais perto, e
fiquei estática. Aquele era praticamente meu reflexo, se não fosse
um homem alto e imponente a minha frente.

— Quem é você? — perguntei de relance, sem saber o que


pensar.

— Sou Hugo. — ele falou sem jeito, e não sabia como


disfarçar. Ele era parecido demais com meu pai e.... — Sou seu

irmão.

— O que?

Fiquei muda após a pergunta, e ele parecia na expectativa


de mais, como se esperasse alguma reação. Eu não sabia o que
dizer, nem o que fazer. Mas quando ouvi uma risada feminina, e
uma mulher loira se aproximar do tal Hugo, abraçando sua
cintura, toda minha vida deu um giro de 360 graus.

— Desculpe por Hugo. — ela falou docemente, encarando-


me com carinho. — Ele passou os últimos tempos procurando
pela irmã e chegamos até você... Algumas fotos em redes sociais
do seu marido ajudaram. — deu de ombros. — Sei que é
estranho, mas podemos ir até um café e conversar, que tal? Tem

dias que tentamos nos aproximar, mas a segurança é tanta que


sequer conseguimos. Tivemos a sorte de conseguir hoje.

— Eu...

— A propósito, sou Daniela. — apresentou-se, estendendo


sua mão.

Os cabelos loiros estavam curtos, com certeza o tempo


passou, mas as suas características eram marcantes, assim como
na foto que Davi tinha pendurada na sala de estar, onde ela
sorria, e mostrava claramente suas sardas e duas pintas no alto
da testa do lado direito. Eu só podia ter perdido minha mente.

Aquela era Branca... Branca Rivera.

Continua...
Parte 2

Até onde a ambição pode nos levar?

Davi Rivera tinha tudo o que tanto almejou, e ao mesmo tempo, sentia
não ter nada. Algo dentro dele tinha mudado, e ele ainda não sabia ao certo,
mas toda a vez que fechava os olhos, ou até mesmo seus pensamentos, eram
povoados por uma certa morena de olhos castanhos, que tinha lhe mostrado
uma vida completamente diferente. Ela era sua esposa... Mas queria o divórcio.
Davi não sabia o que ponderar, nem o que pensar. Só tinha a certeza de que
seria pai, e que de alguma forma, Manuele nunca seria apenas a mãe do seu
filho. Os sentimentos ainda não eram claros, todavia, ele sabia que ainda a
queria para si.
Manuele Cardoso ainda processava toda a carga emocional de
descobrir o que de fato fez Davi se tornar o homem dos sonhos. Ele não o
era... Jamais seria. Então por que ela não conseguia tirar o atual marido de
seus pensamentos? Por que fazer o pedido de divórcio doeu tanto em seu
coração? Ela acreditava que o sentimento passaria, que longe o suficiente para
pensar, Davi não seria mais o causador de suas lágrimas. O problema consistia
em que além do filho deles estar a caminho, ela tinha descoberto algo que
sequer os próprios Rivera desconfiavam, e ainda por cima, descobrira que não
era sozinha no mundo – ela tinha um irmão. A única coisa que conseguia
pensar era que de algum jeito o destino sempre a colocava de frente com o
homem que apenas lhe entregou partes, além de tudo, falsas. Porém, daquela
vez, ela não queria partes. Ela queria tudo. Tudo o que Davi Rivera não
representava.

Um embate de sentimentos confusos...

Descobertas que mudarão a vida de ambos para sempre...

Um homem em busca de redenção...

Uma mulher em busca da felicidade...

Entre a linha tênue entre a redenção e felicidade, ambos conseguiriam


se encontrar?

Afinal, qual será a redenção desse homem?

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Meus outros livros: aqui.
[1] “Desisti de você umas 21 vezes

Senti aqueles lábios me contarem 21 mentiras

Você vai ser a minha morte

Sábio conselho

Amar você poderia fazer Jesus chorar”

Make me (cry) – Noah Cyrus feat. Labirinth

[2] “O amor é minha religião mas ele era a minha fé

Algo tão sagrado, tão difícil de substituir

Apaixonar-me por ele era como cair em desgraça

Tudo envolvido em um, ele tinha tantos pecados

Teria feito tudo, qualquer coisa por ele

E se você me perguntar, eu faria novamente.”

Heaven – Julia Michaels

[3] “Não preciso imaginar

Porque sei que é verdade

Eles dizem "todos os bons garotos vão para o céu"

Mas os garotos maus trazem o céu até você.”


Heaven – Julia Michaels

[4] Trecho da canção Heaven – Julia Michaels (álbum Fifty Shades Freed
Original Motion Picture Soundtrack - 2018)

[5] Carinho em espanhol.

[6] “As garotas de onde você mora te tocam como eu toco?

Noite longa, com suas mãos no meu cabelo

Ecos de seus passos na escada

Fique aqui, querido, não quero te compartilhar.”

Delicate – Taylor Swift

[7] Trecho da canção A noite – Tiê (2014)

[8] Trecho da canção Downtown – Anitta feat J. Balvin (2017)

[9] “Eu digo ao meu amor para destruir tudo

Corte todas as cordas e deixar-me cair

Meu, meu, meu, meu, meu, meu

Bem no momento em que esse desejo é alto.”

Skinny love – Birdy

[10] “Eu quero que você venha, venha, venha, venha e leve-o

Leve-o!

Leve outro pedacinho do meu coração agora, baby!

Oh, oh, quebre-o!”


Piece of my heart – Janis Joplin

[11] “Eu encontrei um amor para mim

Querida, entre de cabeça e me siga

Bem, eu encontrei uma garota, linda e doce

Oh, eu nunca soube que era você quem estava esperando por mim.”

Perfect – Ed Sheeran

[12] “É você, amor

E eu sou uma idiota apaixonada pelo jeito que você se move, amor

E eu poderia tentar fugir, mas seria inútil

Você é culpado

Apenas uma dose de você e eu soube que eu nunca, nunca mais seria a
mesma.”

Never be the same – Camila Cabello

[13] “Centenas de dias me fizeram mais velho

Desde a última vez que vi seu lindo rosto

Milhares de mentiras me fizeram mais frio

E eu não acho que possa olhar para isso da mesma maneira.”

Here without you – 3 Doors Down

[14] “Eu nunca tinha vindo à praia

Nem ficado perto do oceano

Eu nunca tinha sentado na orla


Sob o sol, com meus pés na areia

Mas você me trouxe aqui

E eu estou feliz que você tenha feito isso.”

Malibu – Miley Cyrus

[15] “Porque eu quero te tocar, amor


E quero te sentir também
Eu quero ver o Sol nascer sobre seus pecados,
Só eu e você
Esquente as coisas, estamos em fuga, vamos fazer amor esta noite
Nos aproximar, nos apaixonar. Tentar.”

Dusk Till Dawn – Zayn feat. Sia

[16]

[17] “Oh, diga que me ama

Eu preciso de alguém em dias assim, eu preciso

Em dias assim

Oh, você pode ouvir meu coração dizer

Ooh, ooh, ooh, ooh”

Tell me you love me – Demi Lovato

[18]
Irmão em espanhol.

[19] Mamãe em espanhol.

[20] Papai em espanhol.


[21] “Na primeira página da nossa história

O futuro parecia tão brilhante

Então essa coisa se tornou tão mal

Eu não sei porque eu ainda estou surpresa

Até os anjos têm seus planos perversos

E você leva isso para novos extremos.”

Love the way you lie (parte 2) – Rihanna feat. Eminem

[22] “Estou sentado, com os olhos bem abertos

Dentro destas quatro paredes, esperando que você ligue

É um jeito muito cruel de viver

Como se não houvesse sentido nenhum ter esperança. ”

I don’t wanna live forever – Taylor Swift feat. Zayn

[23] “E você me pegou tipo, oh

O que você quer de mim?

(O que você quer de mim?)

E eu tentei comprar o seu coração bonito

Mas o preço é muito alto.”

Love on the brain – Rihanna

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