Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
autorização da autora.
CAPA: Y3Y ASSESSORIA LITERÁRIA
REVISÃO: INDEPENDENTE
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Epílogo
Conheça outros trabalhos da autora
Sinopse
Um CEO viúvo que descobre que tem um bebê perdido pelo mundo.
a morte da irmã.
pela manhã, levando minha carteira e meu celular. Um ano depois, recebi um
telefonema dela, contando que havia ficado grávida naquela noite. Eu não
teria acreditado nisso, se não fosse uma foto de um bebê com uma marca de
filha.
Desde esse dia, encontrar o meu bebê tem sido a maior missão da
minha vida.
primeiro momento, foi o fato de ela ter uma bebê, que, depois de um tempo
marca igual à da minha filha perdida, o que me fez entrar em uma busca pela
ausência total de ânimo. Viúvo já há mais de dois anos, todos os dias, pela
que não tinha sido culpa minha, mas ainda me parecia errado que minha
publicidade que eu tinha criado há oito anos, junto com um amigo, quando
não era herdeiro de porra nenhuma, mas, modéstia à parte, era esforçado e
muito bom na minha área. Já Fernando, meu amigo, não era tão bom assim,
passava nas provas colando de mim e pedindo para eu colocar seu nome nos
trabalhos que eu fazia. Mas, em compensação, o cara era podre de rico. O
pai dele tinha medo de investir em um negócio para o filho, sabendo da sua
Ainda era meio estranho perceber que havia toda uma vida acontecendo lá
alguma outra mulher. Sempre por insistência do Fernando, que parecia ter
como missão de vida ‘me tirar da lama’.
realidade não poderia ser considerada nem mesmo uma conhecida, já que ele
havia sido apresentado a ela naquela mesma noite, apenas uma ou duas horas
antes que eu chegasse ao tal bar onde marcamos. A mulher era bonita,
Não que o sexo tivesse sido ruim. Eu mal me recordava dele, para
falar a verdade. Mas provavelmente não tinha sido bom o suficiente para
embora do hotel levando minha carteira e meu celular. Acordei pela manhã
sozinho, com uma ressaca monstruosa e puto da vida por ter feito papel de
otário.
Ela tinha deixado seu número de telefone com meu amigo Fernando, e
tudo o que consegui fazer foi enviar algumas mensagens desaforadas para o
além de um primeiro nome que eu nem sabia se era real, e num número de
que aquilo tinha sido deixado para trás e que eu nunca mais teria qualquer
pessoal.
— É a Ana.
Eu não precisava de outra dica para saber quem era aquela mulher.
Tinha sido apenas uma trepada... ou talvez algumas... com alguém que eu
lembrar. Porém, era bem difícil esquecer de alguém que tinha roubado sua
realmente o de menos para mim. O pior era a sensação de ter sido feito de
idiota.
tanto tempo.
— Saber o quê?
— O que você quer, afinal? Está planejando algum golpe com isso?
camisinha.
Assim como também não tinha nem um mísero motivo para acreditar
nas palavras daquela mulher.
— Eu não pretendo nada. Apenas acho que você merecia saber que é
realmente mentira. Sequer existia criança alguma, muito menos um filho meu.
Contudo, logo veio um novo pensamento: e se existisse, mas ela não tivesse
a real intenção de permitir a minha proximidade?
Oras, aquilo não fazia nenhum sentido. A mulher era uma ladra. Um
filho com um milionário era a melhor oportunidade de se dar bem que ela
poderia sequer sonhar em ter. Se essa criança de fato existisse, ela não
manteria minha paternidade em segredo.
— Acho que te ligar foi uma péssima ideia... — Percebi que o tom
de voz dela tinha mudado. Parecia um pouco ofegante, como se não estivesse
se sentindo bem. — Eu apenas achei que seria justo se você soubesse, mas...
não se atreva a tentar levar o meu bebê. ...Eu preciso desligar, adeus.
o meu privativo da empresa, para acessar seu WhatsApp. Não havia nenhum
nome registrado ali. Mas havia uma foto.
em uma manta branca. Abri a foto para ampliá-la. Uma das mãozinhas estava
para fora da manta, segurando um dedo de alguém adulto, talvez a própria
algo que fez com que eu sentisse como se tudo ao meu redor girasse em alta
velocidade, tirando-me todo o equilíbrio e noção de realidade.
ilusão de ótica.
Olhei com mais atenção. Não tinha dúvidas, era exatamente aquilo.
nascença.
-----***-----
Capítulo 1
— Como uma coisinha tão linda e perfeita como você pode ter sido
fruto de uma noitada entre dois bêbados que mal se conheciam, hein?
— Tudo bem, eu não devia fazer esse tipo de comentário com você.
Talvez ela fizesse muita coisa errada, mas... No fundo, ela era uma boa irmã
e eu a amava muito. Acho que, de alguma forma, ela teria sido uma boa mãe
também.
era a data em que completava cinco meses desde a morte de Nicole, minha
irmã.
diversos. Há apenas três semanas eu tinha criado coragem para mexer nas
que pudesse ser doado, muito menos coisas que eu gostaria de guardar como
(pouco) dinheiro guardado, Nicole tinha torrado todo o dinheiro que roubou
— Sua mãe fazia muita coisa feia, Manu. Mas ela sempre cuidou de
tinha se casado com o meu pai, quando eu tinha quatro e ela seis anos. Acho
que não dava para considerar nossos pais como duas pessoas muito legais. A
mãe dela nunca teve qualquer interesse em ser uma figura materna para mim,
nem o meu pai em ser uma figura paterna para ela. Eles eram bem parecidos
na forma meio indiferente de criar seus filhos, de modo com que nem era de
se esperar que fossem super carinhosos com as enteadas. Mas a Nick era
uma irmã para mim. Mesmo com uma diferença de idades tão pequena, ela
desprovida de juízo da face da Terra. Ela tinha vários nomes bonitos para
tentar descrever seu trabalho, que na verdade eu sabia muito bem como
Até que ela ficou grávida. E logo no início da gravidez descobriu uma
doença. E eu fui morar na casa dela, para ajudar a cuidar dela e do bebê. Foi
uma gravidez difícil. E Nicole morreu três meses depois de dar à luz a
Manuela.
Minha sobrinha tinha apenas oito meses de vida. Cinco destes vividos
sem a mãe.
O outro motivo de eu estar tão emotiva era que aquele seria o meu
se agravou subitamente. Sabia que era de formas ilícitas, mas minha irmã
tinha algum dinheiro guardado, o que foi o suficiente para que eu pudesse
ficar algum tempo sem trabalhar fora, dedicada inteiramente em cuidar dela
procurar por um emprego e, logo que consegui, contratar uma babá para
para atender ao portão. Logo que abri, deparei-me com Jéssica, nossa
há pouco mais de um ano, já a considerava uma grande amiga. Afinal, foi ela
adorava.
Usava um conjunto de calça social e blazer, com uma blusa azul marinho, e
pouco a calça, ela vestia um número a mais que eu. Mas nos pés ela calçava
Ainda era estranho falar da minha irmã no passado. Ela tinha me dado
aquelas roupas quando ainda estava grávida, reclamando que não voltariam
a caber nela. Ela sabia que eu não tinha muitas peças de roupas mais formais
— Você está linda, Manda. Vai causar uma ótima primeira impressão.
Ela tinha razão, mas confesso que no fundo estava tentando enrolar
para não ter que me afastar da Manu. Desde que ela nascera que eu
Jéssica riu e me garantiu que tudo ficaria bem comigo, já que sem
dúvidas, para a Manu, estava tudo indo bem demais. Ela adorava a nossa
vizinha, afinal.
trabalho.
uma vida relativamente estável, com casa própria, carro e grana para duas
ou três viagens por ano. Confesso que eu não me sentia bem ficando naquela
casa, mas sabia que era o melhor para Manu. Antes de ir para lá, eu dividia
entrar.
Levantei o rosto para responder ao bom dia murmurado por ele, e...
Pelo amor de Deus, aquela imagem diante de mim só poderia ser sinal de um
recuperar daquela imagem diante de mim antes mesmo das nove da manhã.
Eu iria para o décimo sexto andar, que era também o último do prédio.
A D&F ocupava os andares catorze, quinze e dezesseis. Pensei que era uma
pena que o bonitão ali não fosse ser meu colega de trabalho.
— Como você pode estar tão calmo com isso? — rebati, ainda sem
olhá-lo, continuando a apertar os botões do painel.
— Ter, tem. Mas eu não contaria com ele. É velho e está sempre dando
problema.
painel, com os olhos fixos nos botões, torcendo internamente para que eles
se acendessem. — Eu apenas vou me atrasar para o meu trabalho.
Eu enfim o olhei, e isso me fez relembrar o tanto que era bonito e isso
No dia que vim fazer a entrevista com a responsável pelo RH, ouvi um grupo
de funcionários se referindo a ele como um tirano sem coração.
posso acabar sendo demitida sem sequer iniciar o meu primeiro dia, por
conta do capricho impiedoso de um milionário idiota.
idiota. — Ele abriu um meio sorriso e isso fez com que eu sentisse um ranço
enorme por ele.
Sorrindo, mesmo que de forma tão sutil, era mais lindo ainda.
Mas era, também, outro idiota por achar graça de uma situação com
aquela.
com ela. Para cuidar dela, como ela tinha cuidado de mim quando éramos
crianças e tínhamos os pais mais ausentes do mundo. E aí veio o nascimento
muito mais pena deles do que de mim, já que eles choraram muito – a mãe de
Nicole, inclusive, de forma absurdamente escandalosa – enquanto eu não
ela.
— Eu não posso perder esse emprego... — murmurei, sem nem me
dar conta de que tinha falado e não apenas pensado aquilo.
— Parece ser uma vaga que você quer muito — o homem ao meu
lado disse, com certo pouco caso.
Ele não disse nada e eu voltei meu rosto em sua direção. Percebi que
ele parecia distraído, vagando os olhos pelo nada, como se algo do que eu
tivesse dito provocasse alguma emoção nele. Pensei que, talvez, ele tivesse
filhos.
já no décimo sexto andar, e eu saí. Como ainda tinha alguns minutos, corri
para o banheiro, para jogar uma água no rosto e tentar me recompor de toda
aquela situação.
Torcia para encontrá-lo mais vezes. Ele era uma visão e tanto.
-----***-----
Capítulo 2
logo que chegava para garantir um copo duplo de expresso bem forte. A
cafeína me ajudava a me manter atento pela manhã, especialmente porque
trabalhando.
era possível porque contávamos com um time muito seletivo, composto por
ótimos profissionais.
Embora eles, aparentemente, não se mostrassem muito felizes com o
seu chefe...
Sabia que eu não era o mais sociável dos líderes de empresa, mas
também não era um tirano...
Ou era?
— Amanda Santos.
— Perfeito. Ela ficará na sala anexa à minha e todas as minhas
ligações deverão ser passadas antes para ela. A senhorita já pode retornar às
contratação.
Eu esperava que o alívio dela fosse pelo trabalho ter se tornado mais
Afinal, ao que tudo indicava, minha fama entre meus funcionários não
Abri a porta do meu escritório e entrei. Não posso dizer que fui
— O que faz aqui? — ela perguntou, com um tom de voz baixo, quase
como se quisesse me informar que eu havia cometido um erro e entrado na
sala errada.
pelos meus funcionários. Porém, aquela já era a segunda vez nos últimos
café e meu paletó. Por baixo dele, estava a minha gravata, que comecei a
prender ao redor do pescoço, dando à minha imagem um ar mais formal
frequento o local. A ideia não me parece ruim, já que o café deles é ótimo,
Como se fosse possível, ela arregalou ainda mais os olhos e seu rosto fico
completamente vermelho.
— Ai, meu Deus... — Ela cambaleou e apoiou uma mão sobre a mesa,
reparar que minha mão ainda estava estendida em sua direção, ela a apertou,
você não fez nada de errado para merecer isso. Apesar do que dizem, eu não
Apanhei meu paletó e o vesti, dando a volta pela mesa para me sentar
Eu estava apenas passando, mal vi os rostos deles, é sério... Acho que até
pessoa...
Aquela mulher estava mesmo trazendo leveza para o meu dia. Que
droga, lá estava eu novamente, me controlando para não rir.
assunto como encerrado. Você ficará na sala ao lado — apontei para a porta
tudo. Você também ficará responsável hoje por atender todos os telefonemas
o tempo.
para a porta de ligação, mas não deu sequer um passo, parecendo meio
homem chamado Marcos Sampaio ligar, repasse para mim na mesma hora,
tivesse sido uma gravidez com o tempo ‘padrão’ de nove meses, meu filho –
se ele ou ela de fato existisse – teria agora sete meses. Talvez oito,
-----***-----
Aquele primeiro dia com minha nova secretária se passou como se ela
não estivesse ali. Passei todo aquele tempo ocupado demais com todos os
compromissos do dia, e como tinha deixado muito claro a ela que não queria
Mas, de qualquer forma, por mais que fosse minha assistente pessoal,
nós fatalmente não passaríamos tanto tempo juntos. A sala anexa à minha era
justamente para ela poder estar perto sem estar necessariamente no mesmo
ambiente do que eu. Meus funcionários tinham razão em me considerarem um
sujeito não muito sociável. Tinha a consciência de não ser uma boa
companhia para ninguém.
ele.
que significava que ele ainda demoraria alguns minutos para chegar ali na
cobertura.
Eu não era um homem de puxar assuntos, mas o silêncio entre nós dois
errado.
— Como?
— Ah... É a Manu, minha bebê. Ela tem oito meses, e... Ah, desculpa,
não acredito que o senhor realmente queira ouvir sobre isso.
— Sério?
Eu não poderia condená-la por aquela dúvida, já que aquela era uma
frase que, há até alguns meses, eu jamais me imaginaria dizendo com tanta
naturalidade.
mundo – que, caso realmente existisse, deveria ter o mesmo tempo de vida
da filhinha dela – fazia com que eu realmente passasse a ver crianças de um
modo diferente.
pai não era algo que eu imaginasse tão cedo para a minha vida, ao menos não
antes de uns trinta e cinco anos, no mínimo. Mas quis o destino que, aos vinte
Mas a foto daquele bebê tinha me deixado intrigado demais. Poderia ser uma
montagem, mas ela não teria como saber de um detalhe como a mancha de
nascença que eu tinha no braço. Ou melhor, que eu tivera, já que agora ela
não era mais visível, sendo camuflada pela cicatriz de pontos que ganhei no
meu braço esquerdo por conta do acidente de carro que tirou a vida da minha
esposa.
Porém, como conseguiria, se tudo o que eu tinha era um primeiro nome tão
comum como Ana, que talvez nem fosse o nome verdadeiro dela?
estou podendo voltar. Na verdade, acho que nunca passei tantas horas longe
dela como hoje. Eu não deveria dizer isso ao meu patrão, mas... Estou
o meu filho. Ao menos não além de uma foto pequena exibida em um perfil
de WhatsApp. Mas pensei que, se estivesse comigo, se estivesse na minha
casa, esperando por mim, eu talvez sentisse a mesma motivação de voltar
ficamos os dois lá dentro, lado a lado. Percebi que era a minha vez de dizer
algo, já que tinha puxado assunto.
-----***-----
Capítulo 3
parecida. Desta forma, tinha conseguido chegar ainda um pouco mais cedo
do que no dia anterior e, com isso, aproveitei para passar o tempo tentando
Meu patrão tinha pegado leve comigo no dia anterior. Porém, percebi
que tinha sido um dia em que ele estava completamente envolvido com
reuniões e videoconferências. Eu não poderia apostar muito que meu
compreender melhor como tudo funcionava para poder dar o meu melhor.
unicamente de você.
Ouvi a porta da sala anexa sendo aberta, o que me alertou que meu
Ali com ele, eu constatei que seu humor havia decaído bastante desde
o dia anterior. Estava mais seco, mais sério, mais parecido com a descrição
— Tenho uma reunião agora, que não deve terminar antes do horário
que tinha aberto sobre a mesa. Sequer tinha olhado para mim, nem ao menos
para responder ao meu bom dia, coisa que fez de forma seca. — Novamente,
anote todos os recados. Abra o seu e-mail e verifique tudo o que chegou do
— Sim, senhor.
— Farei isso.
Ele digitava algo no laptop e fez uma pausa, olhando-me por cima da
tela, como se me analisasse. Perguntei-me se ele teria dúvidas de que eu
pudesse dar conta das obrigações para aquele dia. Tive a impressão, até
atentamente. Movimentei a cabeça para concordar com cada uma delas, mas
alguns meses, ainda de uma pessoa doente. Acho que ele se surpreenderia se
‘por enquanto’.
para aquele dia. Ouvi que ele saía da sua sala, certamente indo para a sua
reunião, e não se passou nem cinco minutos até que a porta principal da
minha sala fosse aberta. O rosto de Luana, secretária do setor, surgiu por
uma fresta.
isso, eu a aluguei por quase uma hora, fazendo inúmeras perguntas. E ela foi
— Sei que o trabalho parece difícil no começo, mas você vai pegando
publicidade. Mas confesso que, em dois dias, já estou achando uma área bem
interessante.
— Ah, e você vai gostar muito da empresa também. O clima por aqui é
nosso CEO. O que tem de lindo, tem de antipático. Você pode dar sempre o
Aquela não era a primeira vez que eu ouvia aquilo. Mas ainda não
conseguia ter uma opinião formada sobre o nosso patrão. Ele tinha sido até
simpático comigo no dia anterior. Ou qualquer coisa perto disso. Bem, ele
contida. Mas, realmente, o que predominava nele era aquele jeito mais sério
— Ah, o povo exagera muito. Não é como se ele fosse daqueles chefes
que fazem assédio moral com os funcionários ou que está sempre demitindo
alguém. Mas digamos que ele não seja a mais agradável das companhias.
Passei alguns dias ocupando a sua função e, pelo amor de Deus, não parei de
torcer o tempo inteiro para que o RH mandasse logo uma nova funcionária.
Repito: a visão daquele homem lindo é ótima. Nem é o meu caso porque
tenho zero interesse em homens, mas, é uma imagem e tanto, né? Ele parece
um ator de cinema. Mas ele sabe ser bem desagradável com o jeitão
arrogante dele.
— Não sei se você sabe, mas antes ele não era assim.
— Antes do quê?
carro, há, sei lá... uns três anos, acho. Ele quase morreu, ficou semanas em
tempo. Eu a conheci, ela era linda e muito simpática, ele era diferente
também quando estava com ela. Chegava sempre sorrindo, cumprimentava
todo mundo. Depois do que aconteceu, parece que se tornou outra pessoa.
amava muito e... nossa, não havia nada que pudesse descrever aquela
sensação.
Porém, eu tive a Manu para ser a minha força e me ajudar a superar
aquilo.
— É, tem razão. — Ela revirou os olhos e nós rimos. — Mas não fique
com medo. Como disse, ele não é o tipo de chefe que humilha funcionários,
comete assédios ou manda embora por qualquer coisa. Mas alerto que ele é
pouco paciente com novatos enrolados, então, se tiver qualquer dúvida, é só
me chamar.
A imagem sisuda do chefão não era, de fato, das melhores por ali. E eu
me perguntava, a todo momento, se, ao contrário do que Luana tinha me dito,
Retornei para a minha sala e segui nos meus afazeres. Algumas coisas
eram tão novas para mim que tive realmente o receio de que naquele dia
ficaria bem além do meu horário. Contudo, faltavam cinco minutos para as
pendências.
Até que o telefone em minha mesa tocou. Atendi, acreditando que fosse
— Amanda, poderia vir até aqui, por favor? — sua voz, como sempre
séria, dessa vez soava em um tom amedrontador.
não havia percebido com tanta força no dia anterior por ainda não ter ouvido
tantos rumores assim a seu respeito.
Eu teria feito algo errado? Levaria uma bronca, enfim tendo a maior
das amostras da tirania do meu patrão? Ou ele iria meramente me mandar
Sabia que seria garantido a mim o pagamento das horas extras, e que seria
um dinheiro muito bem-vindo. E que Jéssica também não se importaria em
segurança em ficar longe da minha bebê. Não tinha dúvidas de que ela estava
sendo muito bem cuidada, mas... talvez fosse a famosa neurose da mãe de
primeira viagem.
receberia?
— Pode ir. Não vai deixar sua filha te esperando — ele falou.
comentado que já fazia uns três anos. Já teria dado tempo de ele tentar
reiniciar a vida.
parecia que nunca iria passar e, talvez, realmente nunca passasse. Mas que
era confortada e amenizada por outros amores. No meu caso, minha sobrinha
— Devo ficar até bem tarde hoje. Muita coisa para resolver.
Ele fez um breve movimento de cabeça, e logo percebi que aquela era
a única resposta que eu obteria.
-----***-----
Capítulo 4
Parecia mentira que já tinha se passado mais de uma semana desde que
eu tinha começado a trabalhar ali. Na verdade, aquele era o meu oitavo dia
dele. Em um dos dias, acompanhei meu chefe até um set de filmagem onde
Carina, do RH.
Todos eles ficaram muito surpresos pela opinião sobre Thiago Ferri
Levaram até um susto por eu dizer que já o tinha visto sorrir – embora
poucas vezes– e que tinha ganhado um ‘elogio’ dele.
nunca. Tinha falado ainda bem menos que o normal e parecia até um tanto
distraído. Acho que compreendia por que as pessoas viam aquele jeitão dele
como arrogância, mas eu distinguia outra coisa forte ali: a tristeza. E, neste
expediente, fui até a sala dele perguntar se precisava de mais alguma coisa.
Encontrei-o muito diferente dos outros dias. Não estava, como de costume,
retratos sobre a mesa – que eu até o momento nunca tinha visto ali. Estava
sem o paletó e com a gravata afrouxada. Se, antes, eu dizia que conseguia
ver alguma tristeza em suas feições, desta vez isso seria nítido a qualquer
— Senhor Ferri?
— Já são dezoito horas. O senhor vai precisar que eu faça mais alguma
coisa?
ninguém triste. Talvez isso pudesse ser considerado uma qualidade, não
Mesmo ali, diante do homem que pagava o meu salário, eu não resisti
tinha me ouvido. Tanto que ainda levou uns três segundos para dizer algo:
curiosa.
comigo. Bem, não que o senhor vá precisar da sua secretária para conversar
— Receio que você não possa fazer nada por mim, Amanda. Mas eu
— Como assim?
amigo mais próximo que eu tenho costuma lidar com meus momentos ruins
me convidando para beber. É o único meio que ele conhece para resolver
quando eu tinha quinze anos, estava muito triste por o meu pai ter brigado
comigo. Ela decidiu que eu ficaria melhor se ela me arrastasse para uma
boate. Tivemos que entrar escondidas por sermos menores de idade, mas
bateu uma fiscalização, fomos levadas para a delegacia e nossos pais foram
mais a situação. Mas, no fundo, era reconfortante ver que ela se importava,
sabe? Mesmo que, como eu falei, ela lidasse com as tristezas das pessoas de
absolutamente todo mundo estava muito enganado com relação ao mau humor
do chefe, ou eu era uma criatura muito mais palhaça do que eu imaginava ser.
que você realmente não tenha como me ajudar. Estou apenas em um dia ruim.
— Eu entendo.
entender.
— O meu primeiro dia de trabalho aqui... Foi exatamente no dia em
que marcava cinco meses da morte da minha irmã. Eu juro para o senhor que
não sou de dar surtos em elevadores como fiz quando estávamos subindo,
mas... Mais do que o fato de ser meu primeiro dia no emprego, estou certa de
que o peso da data teve um impacto muito forte naquela minha reação
desproporcional.
— Bem, então você de fato entende. Presumo que tenha algo para me
golpista. — ...pessoas que amamos acabam indo embora cedo demais, e para
a gente que sente as suas faltas, é uma droga.
— ... “Mas...?”
fingir que não está acontecendo nada enchendo a cara ou... indo para boates.
— Porque é injusto.
entenderia.
— Sei que é. Mas sempre penso que minha irmã ia querer que eu
encontrasse. E estou certa de que sua esposa também. E, sobre os outros
problemas... Outra coisa que faço é me perguntar que conselhos minha irmã
— Acho que... a forma como entrei nesses problemas não seria algo
— Nem um pouco.
Eu adoraria que aquilo fosse uma piada, mas era extremamente real.
Ainda assim, fez com que Thiago novamente risse. Dessa vez, de forma um
pouco menos sutil do que nas anteriores, embora ainda se mostrasse muito
discreto nisso e estivesse longe de ser algo como uma gargalhada. Mas eu
também sorri, feliz por ter ajudado a melhorar ao menos um pouco o humor
dele.
— Vejo que tem razão quando diz que lida com pessoas tristes falando
sem parar. Mas isso realmente não é algo ruim.
não é da minha conta. Mas a verdade é que eu apenas não gosto de ver as
pessoas tristes. É um defeito meu.
— Não acho que seja um defeito. Nem que você tenha parecido uma
intrometida. Na verdade, eu diria que conversar com você fez com que eu me
sentisse melhor.
melhor, mas eu não via como a minha tagarelice até mesmo um tanto
pessimista poderia ter ajudado nisso.
— Sério. E não se preocupe, não vou precisar dos seus trabalhos por
chamou.
— Amanda?
— Sim?
— Obrigado.
Sorri.
------***-----
Capítulo 5
Já fazia mais de dez dias desde o último telefonema recebido por mim
pelo Marcos, o detetive que eu tinha contratado para encontrar Ana e o meu
suposto filho. A única pista que ele tinha para seguir eram imagens delas,
que eu a conheci. Eram tais imagens que permitiam que ele cruzasse
um nome diferente. Marcos encontrou pelo menos uns vinte. Nenhum deles
era ‘Ana’. E, provavelmente, este também não era o nome real dela.
Mas esta ainda era a única pista que ele tinha para seguir. Porque, de
resto, a mulher não tinha deixado qualquer rastro. Ela repassou o meu celular
adiante em uma rapidez absurda – ele foi encontrado apenas algumas horas
vizinha. Além disso, tinha feito apenas compras presenciais com o meu
cartão, de modo com que eu não tive sequer um endereço cadastrado online
afinal, não fazia sentido que ela dissesse aquilo e depois simplesmente
Sem contar que existia também a foto do bebê. Com uma marca de
nascença idêntica à minha. Ana – ou seja lá qual fosse o nome dela – não
tinha como saber daquele detalhe a meu respeito, já que tal marca não era
mais perceptível em meu braço por causa da cicatriz que ganhei com o
lugar daquele mundo, sendo criado por uma criminosa, sem ter o apoio e o
amor que eu estava disposto a dar a ele como pai – e que era um direito dele
aquela criança e requerer a sua guarda – não podia permitir que continuasse
Levantei o rosto, olhando para ela, que, como todos os dias, no final
— Vou levá-la amanhã à pracinha. É algo simples e bobo, mas que ela
mente como Amanda era diferente dos demais funcionários dali. Todos
tinham por mim um respeito meio exagerado – que eu agora sabia que
fazia com que fosse praticamente inédito que algum deles me contasse
E a naturalidade com que aquela mulher fazia isso era ao mesmo tempo
curiosa e encantadora. Era incrível como ela me fazia ter vontade de sorrir
ser algo difícil a ser respondido, afinal. Era algo até mesmo corriqueiro.
dizia:
impressão de que aquela era uma dúvida que já deveria rondar a mente dela.
Eu não sabia. Mas aquilo definitivamente não era algo que eu teria
como responder.
virando-se e saindo.
A sala pareceu muito mais vazia quando ela se foi. E era estranho
daquela mulher.
Voltei a tentar me focar no trabalho, até que meu celular tocou. Ao ver
quem era, fui seco e direto ao atender:
drink.
— Não existe nada que você tenha para fazer que não possa ficar para
sair um pouco naquele dia. Beber um pouco, conversar com um amigo, ver
meu apartamento. Fazia muito tempo que eu não sentia aquela vontade.
Meu questionamento trouxe surpresa a ele, mas imagino que ele tenha
preferido nem comentar nada a respeito, por receio de que eu mudasse de
ideia.
resolver.
trabalhoso.
— Somos os donos, deveria ser tudo mais fácil. Mas parece que
ninguém sabe resolver porra nenhuma naquela produtora sem me encherem
de perguntas a respeito.
adolescente irresponsável. Por isso que, por muitos anos, eu havia assumido
sozinho o controle da D&F. Porém, com a expansão dos negócios e abertura
— Achei que ser CEO de empresa fosse mais fácil. Não vejo a hora de
ter um filho para passar essa função para ele e curtir minha aposentadoria.
nele. Era meio chato ser sempre tratado cheio de dedos por todo mundo ao
meu redor.
— Nada de concreto.
acabado de se conhecer.
— Mas eu tinha conversado por umas duas horas com ela antes de
você chegar. Poxa, tinha achado ela super gente boa. Ela até falou que torcia
para o mesmo time que eu, ficamos um tempão batendo papo sobre o
campeonato brasileiro.
aleatórias.
— Essa semana fez três anos. Eu sei que pareço um babaca que não se
importa com nada, mas eu lembrei e fiquei preocupado com você.
Ele estava tomando um gole do seu chopp, mas quase se engasgou com
o que ouviu.
incrivelmente, sabe sempre o que dizer. Em uma conversa rápida ela já fez
com que em me sentisse bem melhor.
disse, ela é minha secretária. E sabe que não confundo trabalho com vida
pessoal.
falei.
Ela não tinha dado nenhum, para falar a verdade. E eu tinha gostado
disso. Estava cansado de conselhos vazios do tipo 'você tem que superar
isso' ou 'você precisa recomeçar a sua vida'. Amanda tinha apenas me
entendido. Por ter perdido alguém que amava, ela compreendia a minha dor
e não tentou amenizá-la com discursos sobre a vida continuar, sobre pessoas
que morrem supostamente estarem agora em 'um lugar melhor' ou sobre como
elas iriam querer que estivéssemos felizes. Amanda apenas sabia que aquilo
era uma merda... que era insuportavelmente doloroso, e que o únicos consolo
era saber que, conforme o tempo passava, a dor ficava mais suportável.
Como eu imaginei, meu amigo fez uma cara que dizia que aquilo não
fazia qualquer sentido, mas não se prendeu a isso e logo voltou o assunto
para o foco que aparentemente, na cabeça dele, era mais importante no
momento.
ou de pernas.
mesmo sabia que chamá-la de 'bonita' era muito pouco perto do que aquela
mulher era. Seria hipócrita em negar para mim mesmo que ela mexia comigo
estranho se o pai da criança fizesse parte da vida dela, sendo seu marido ou
E esta foi outra ideia que me trouxe uma onda de incômodo. Pensar que
Amanda saía da empresa e havia um homem esperando-a em casa... Um
homem que a beijava, a tocava, dormia e acordava com ela todas as noites...
-----***-----
Capítulo 6
tenta entender aquelas perguntas que sua tia paranoica repetia todas as
meses.
— A titia fará de tudo por isso. Fico me referindo a ela para as pessoas no
trabalho como minha filha, acho que isso está mexendo com a minha cabeça.
— Mas eu não sou a mãe dela. Não seria justo com a minha irmã.
chateada por isso. Na verdade, acho que ela ficaria muito feliz pela Manu ter
uma mãe. Aquela cachorra tinha um monte de defeitos, mas ela amava muito
— Mas quero que a Manu saiba sobre a mãe dela. As partes boas, pelo
menos... Minha irmã era toda errada, mas você tem razão em uma coisa: ela
amou muito essa bebê.
— E a Manu vai saber. Você vai contar sempre para ela. Amor nunca é
demais, e sei que Manu terá o suficiente para você e para a mãe biológica
que ela nem conheceu. Aliás, existe mais de uma forma de ser mãe, Manda.
Você não pariu a Manu, mas é inegavelmente a mãe dela. Assim como você e
culpada por estar dizendo a todos no trabalho que tenho uma filha. Mas
preciso que todos acreditem nisso. Nicole e eu não éramos legalmente irmãs.
— Sabe que esta é uma situação que você vai ter que encarar em algum
la ao pediatra ou para tomar as vacinas, mas até quando vai conseguir fazer
isso sem ter problemas? O que vai fazer quando ela chegar na idade escolar?
decidir que é melhor que ela vá para outra família? A pessoa que teria
direito garantido à guarda é a avó dela, mas sabe que aquela mulher nunca se
— Sei que tem medo, Manda... Mas não vai conseguir manter essa
— Não vai trazer problema, porque ninguém tem como saber. Só quem
sabe disso é você, além do meu pai e da minha madrasta, mas eles estão
pouco ligando para isso.
guarda dela. Mas já parou para pensar que a Manu tem um pai?
não fizesse a menor ideia de quem fosse esse homem. Nick só se referia a
ele como ‘um ricaço gostoso e bom de cama’. No dia em que ela foi
internada, ela me contou que tinha ligado para ele e contado que tinha ficado
grávida, mas que não deu a ele qualquer outra informação, porque tinha
entrar em contato com ele, mas eu não fazia ideia de como fazer isso. Talvez
ela tivesse o número dele salvo em seu celular, mas aquela louca tinha
ele.
homem. E no fundo achava que era bem melhor que fosse assim.
de mim.
para o trabalho.
— Vá que seu chefe lindão está te esperando.
sido eu mesma que, logo que voltei do primeiro dia de trabalho, contei à
minha amiga sobre meu patrão ser um homem lindo de morrer. Mas agora,
por qualquer razão estúpida, eu achava que era meio injusto considerá-lo
roubada.
— Caramba, Jess, não é nada disso. Ele só é legal, tipo... Não sei se
afinal. Mas acho que, em qualquer outra situação, ele certamente seria
alguém com quem eu teria uma amizade. Ele parece ser sincero, leal, e... sei
lá, acho que me identifico com ele nessa coisa de ter perdido alguém que
mais a fundo.
— Nem sei por que estou dando assunto para você, Jess. Tchau,
estou indo para o trabalho.
Ela riu e eu, vencida, acabei rindo também. Dei um beijo no rosto
-----***-----
na minha sala. A porta de ligação com a sala do chefe estava aberta e fui até
diante do computador.
— Senhor Ferri, bom dia... — eu o cumprimentei, surpresa com o fato
tive a impressão de que seu olhar sobre mim durou mais tempo do que o que
seria necessário, além de também ter tido uma intensidade maior do que
seria recomendável. Senti meu coração bater um pouco mais acelerado, mas
logo meu corpo lutou para reagir a isso quando ele enfim disse algo.
vir para empresa dar uma olhada em um projeto. Minha equipe ainda está
trabalhando nele, mas... Não acho que estejam indo por um bom caminho.
nomes de marcas de fraldas, cada uma marcada por um número ao seu lado.
— Certo. E o que me diz das marcas dois, quatro, seis, sete e oito?
— A quatro eu já quis testar, mas são muito caras. A seis, sete e oito
— E quanto à dois?
— Vejo sempre ela à venda e tem um preço bom, mas nunca tive
vontade de testar.
não apoiou nenhum dos projetos novos até agora. Decidi pegá-los para dar
uma olhada, mas não consigo entender onde estão errando. Esta é a última
— Este não é mais o meu trabalho. Mas... confesso que sinto falta
disso. Sabe, de lidar com algo mais operacional dentro da empresa. Mas só
temos mais dez dias até o final do prazo, eu não terei tempo para isso.
— Tem muito tempo que não faço isso, acho que meus publicitários
fariam melhor.
— Desculpe a sinceridade, senhor Ferri, mas eles não têm feito isso
muito bem nas últimas tentativas. E acho que passar alguns dias trabalhando
nisso poderia ser bom para o senhor.
afinidade e facilidade com esse trabalho. Talvez ser CEO pudesse ser um
sonho já naquela época, mas acabou sendo uma consequência e não o
planejamento inicial.
— Então, sempre nos faz bem retornar às nossas origens, não acha?
palavras.
demais. Não seria a primeira vez, aliás. Às vezes eu parecia até mesmo me
esquecer de que aquele homem era meu patrão pela forma com que eu falava
meus defeitos. Segundo ela, as pessoas dizem que gostam de quem é sincero,
mas, na realidade, querem apenas ouvir o que faz bem aos seus egos.
cabeça:
— Eu estou demitida?
meu próprio patrão. Especialmente se for algo tipo 'esqueça que você é o
chefe e volte a fazer o trabalho dos seus funcionários'.
E a reação dele às minhas palavras foi a menos esperada por mim. Ele
riu.
Riu. Não apenas sorriu discretamente como tinha feito outras vezes.
Mas riu. Não foi nada tipo uma gargalhada, foi breve e discreto. Mas, ainda
assim, era a primeira vez que eu ouvia o som do seu riso.
momento, Amanda. Já te disse que eu não sou um tirano sem coração. O que
eu ia dizer é que você tem toda a razão. Meu lado perfeccionista me diz que,
se eu quero algo bem-feito, eu mesmo tenho que fazer. E meu lado
Analisar as ideias que eles já têm com relação a esta campanha e com isso
escolher alguém para fazer o projeto junto com o senhor.
-----***-----
Capítulo 7
minha equipe.
Era estranho perceber aquilo, já que a D&F era uma agência com
inúmeras premiações por suas campanhas de publicidade simplesmente
A empresa contratante tinha deixado claro que queria algo que fosse
do produto...
que estava sentada ao meu lado, com um tablet em mãos, para o qual olhava
apenas dois deles - um homem e uma mulher - disseram que tinham, mas
ambos contaram morarem longe e não estarem presente no dia a dia das
— Eu?
dormindo tranquilamente...
diferentes de família...
— Não é essa a questão... — Amanda voltou a falar. — É claro que
diversidade é muito importante, mas não é isso o que altera o fato de que...
'perfeitas' são inspiradoras. Mas não é a totalidade das pessoas que têm
filhos... Não é a realidade de nenhuma delas o tempo todo, aliás. Nem todo
mundo pode contar com uma rede de apoio. Eu posso, graças a Deus, mas
muitas são as crianças criadas só por suas mães... ou mesmo só por avós ou
tias... — ela fez uma pausa, antes de continuar. — bem... algumas também
apenas por pais. Mas até mesmo as que têm famílias mais numerosas, em
geral seus responsáveis trabalham, seja fora ou dentro de casa. Não sei se
— Que nos dias atuais, com as vidas corridas que levamos, muitas
— Isso! — ela sorriu, como se feliz por ter sido entendida. Então
simplesmente estar com ela o máximo de tempo possível até que ela durma...
E, sim, quero que ela durma tranquila como os bebês dos comerciais,
inclusive porque apenas assim eu também consigo dormir bem. Mas eu quero
ouvir as risadas dela. Quero brincar com ela, contar como foi o meu dia e
perguntar como foi o dela, mesmo que ela ainda não saiba falar para me
responder. Quero poder preparar algo gostoso para ela comer, dar banho
sem pressa, brincando com ela na banheira. Gosto de niná-la, de cantar para
ela dormir... E quero saber que ela está usando uma frauda confortável, que
não vá vazar e fazer com que eu tenha que interromper nosso momento juntas
para limpar um sofá ou um tapete molhado, porque nosso tempo é precioso
demais.
Amanda prosseguiu:
— Logo ela vai deixar de ser um bebê. Até outro dia ela era uma
engatinha... Logo estará falando e andando, e logo, também, nem vai mais
uma de suas fases. Porque elas são únicas e especiais. Eu quero ver a minha
adolescente, uma jovem... E uma mulher adulta feliz, que nunca vai esperar
de ninguém menos do que ela merece, porque terá a consciência de ter sido
Meu filho ou filha já tinha passado de sua fase de ser uma coisinha
que eram grandes as chances de eu não o ver dar seus primeiros passos... De
não ouvir suas primeiras palavras... Nem ao menos suas primeiras frases. De
adulto.
Será que meu filho se tornaria um adulto feliz? Será que estava sendo
suficientemente amado e bem cuidado agora, para que isso fosse possível?
ela, vamos tocar não apenas na emoção dos que têm filhos pequenos... Mas
experiências. E até mesmo nos que ainda não têm seus próprios filhos, mas
vão se emocionar pensando em suas vivências com seus pais... Vamos criar
apoio da família para quando forem levar seus presentes em chás de bebês...
E para que se lembrem dela quando tiverem seus próprios filhos. Vamos
trabalhar não apenas em um, mas em uma série de comerciais para todos os
tipos de mídia e refazer toda a identidade visual da marca. É isso. Quero que
trabalhem com ideias em torno disso, e tragam todas amanhã, em uma nova
— Besteiras? Acho que você salvou a campanha, isso sim. Você nos
deu exatamente o que nos faltava: escutar alguém que faz parte do público-
alvo da campanha.
que eu era um péssimo pai, que deixava toda a criação de seu filho por conta
de babás. Porém, seria melhor que pensasse assim, já que a verdade era algo
— Não... Sem problema. Acho melhor voltar para a minha sala, tenho
alguns telefonemas importantes para fazer. Com licença.
Uma parte de mim estava feliz por ela ter declarado que não tinha
talvez significasse que ainda sentia algo pelo pai de sua filha.
-----***-----
Capítulo 8
Porque, sendo bem sincera, era exatamente o que eu era. Afinal, minha
situação com Manuela era completamente ilegal. Eu não tinha a guarda legal
Eu precisei usá-los naquele dia pela manhã mesmo, já que Manu teve
um pouco de febre durante a noite. Foi apenas uma consulta em uma clínica
particular e pequena, próxima à minha casa, e eu sabia que eles lá mal
olhavam os documentos, contanto que a consulta fosse paga, mas ainda assim
foi uma tensão. De qualquer maneira, a pediatra medicou a Manu e ela logo
melhorou, então a deixei em casa e segui para o trabalho. Cheguei meia hora
surto. A resposta que eu tinha dado a ele, no entanto, fora cem por cento
verdadeira. Eu realmente era solteira, e Manu realmente não tinha um pai.
Sem contar que eu não via qualquer motivo para que ele me fizesse tal
meramente sobre o meu estado civil era algo completamente descartado pela
minha mente.
como consumidora, vi como muito mais atraentes. A partir daí, como Thiago
tinha dito que faria, ele assumiu o comando da campanha e, desde então,
vinha trabalhando até bem tarde no escritório, todos os dias, para isso, já
serviço meu. Eu sabia que, como sua secretária pessoal, ele poderia solicitar
tanto trabalho quanto aquela. Mas ele nunca pedia isso. E, nas vezes em que
eu perguntava se ele não queria que eu ficasse, ele sempre me respondia da
mesma forma: que eu deveria ir para casa, para aproveitar o tempo com a
minha filha.
Sorri, pensando que aquilo representava uma coisa muito boa, afinal.
O tempo passa bem mais rápido quando se faz algo que gosta, e era assim
ofereci.
para ir para casa e ver a Manu, uma parte de mim parecia torcer para que ele
trancar.
cuidar de Nicole. Mas isso era algo que eu não poderia contar.
pela revisão final dos projetos, são formados em Letras. Você já mostrou que
tem uma sensibilidade excepcional, o que é um grande diferencial para
— Mas, enquanto esse dia não chega, gostaria de ter sua ajuda
depois de amanhã. A entrega do projeto aos clientes será em três dias, então
de finalização.
Ele balançou a cabeça, mas não disse nada, e houve um silêncio entre
mas ali não representava nada disso. A forma como ele me olhava era
Talvez... sensual?
a minha alma através dos meus olhos. E eu sentia o mesmo com relação a
ele, e simplesmente não conseguia desviar meus olhos dos dele, como se
transe.
— Antes de ir, eu preciso de alguns arquivos impressos. Estão em
uma pasta azul-marinho, dentro do meu armário. Pode pegar para mim, por
favor?
como uma tentativa explícita de cortar aquele contato visual tão intenso que
Ele estava certo em fazer isso. Mas alguma parte dentro de mim
pasta azul-marinho.
Estava quebrada, fora substituída por outra e agora apenas aguardava que
alguém do setor de facilities fosse até lá para recolhê-la. Quando vi Amanda
Achei que ela fosse simplesmente obedecer, mas parecia estar tão
focada em apanhar aquela pasta, que ela simplesmente apoiou um dos pés na
Não tive tempo para dizer mais nada, apenas agi. Apressei-me em
correr até ela, chegando no exato momento em que o assento da cadeira - que
estava apenas encaixada, tendo uma falsa aparência de estar inteira - tombou
meu.
fechados com força, com uma expressão de quem ainda esperava por uma
queda.
Talvez eu devesse colocá-la no chão para que ela compreendesse
que estava a salvo, mas simplesmente não consegui fazer isso. Era como se
algo mantivesse meus braços presos ao redor dela. Como se sentir aquele
contato se tornasse algo vital para mim. Algo que eu não admitia perder
naquele momento.
Até que ela enfim abriu os olhos, e... puta que pariu. Esta foi a minha
dela faziam.
— Senhor Ferri... — ela sussurrou, de uma forma que fez cada célula
do meu corpo reagir.
momento que a vi, juntamente com seu jeito sincero e levemente estabanado.
Eu a desejava, ali, com tanta força, que foi preciso reunir todo o meu
autocontrole.
O que, definitivamente, se tornou mais difícil quando ela aproximou
o caminho livre para minha língua se juntar com a sua de forma intensa e
urgente. E ela não apenas correspondeu àquilo, como também mostrou estar
Sem afastar meus lábios dos dela, eu desci as mãos pelas coxas
visíveis pela saia que usava neste dia e dei alguns passos, até que as costas
dela encontrassem com uma parede, de forma com que pudesse prensar meu
corpo com mais força sobre o dela. Na posição em que estava – com as
pernas ao redor da minha cintura, ela não tinha como sentir a rigidez sob
minhas calças, mas deixei evidente naquele beijo o quanto estava excitado.
Eu não sabia aonde aquilo nos levaria, mas também não queria
olhos, até focá-los em sua bolsa deixada sobre o sofá, indo até ela.
— Ela está com febre. Eu sei que não deve ser nada demais, mas... É
dirigir.
da sala, como um furacão. Eu sabia que estava nervosa com a saúde de sua
filha, mas também era óbvio que não era este o único motivo de sua aflição.
Porque ali, naquela sala, tinha acontecido algo que não poderia, de
mente.
para consulta a um pediatra sempre foi algo assustador para mim, mas que eu
documentos.
rede pública.
A angústia desse conflito mental me atormentou até que eu chegasse
Minha amiga fez um gesto com os lábios de quem pede silêncio e falou, com
a voz baixa.
de preocupação, a não ser que persista. Mas ela me orientou a dar um banho
feito caso fosse algo realmente grave, mas você sabe que poderia ter
alguns instantes, antes de, com cuidado, colocá-la no berço. Ela estava
delicadamente a mão pela manchinha que ela tinha em seu braço esquerdo.
um formato mais ou menos parecido. Dizia que era uma marquinha do amor,
minha vida. Sorri ao pensar nisso, olhando para o seu rostinho adormecido.
No entanto, percebi que não era a lembrança da minha irmã que me remetia a
essa familiaridade.
Porém, não pensei nisso por muito tempo e logo me virei, olhando
para Jéssica, que havia se sentado em uma poltrona ao lado do berço. Ela
parecia esgotada.
contar.
Senti a aflição voltando a me dominar e fiz o que ela sugeriu,
pais, que já eram idosos, e cuidava de tudo em sua casa. Era um dos motivos
por muito tempo. Cuidar da Manu era um trabalho perfeito para ela, ainda
que eu não pudesse pagar um salário tão bom assim, porque ela podia ir em
casa sempre que precisava, tinha dias que passava a tarde inteira lá. Os pais
dela amavam a Manu, aliás. — Então, voltei logo depois que te liguei,
— Não sei, não o conheço. Mas ele estava revoltado, disse que sabia
resposta.
ou um dos problemas, o menor deles, na verdade... é que ele não pareceu ter
acreditado. Disse que não se importa se ela está viva ou morta, mas que
coisa. Ele foi embora, mas disse que volta em quinze dias e que quer o
dinheiro dele.
— Eu não tenho onde arrumar todo esse dinheiro em quinze dias.
Nicole deixou algumas joias... Mas não deve chegar nem perto da metade
desse valor.
diferentes. Eu tinha sido beijada pelo meu patrão, no escritório dele, o que
deveria ter beijado o meu patrão, onde diabos eu estava com a cabeça? Mas,
arrepender.
Beijar aquele homem foi... Por Deus, foi a experiência mais incrível
da minha vida.
Eu tive poucos ficantes na adolescência. Meu pai era absurdamente
senti segura o suficiente para assumir algum namoro sério. Depois que saí de
relacionamentos que não duraram muito, porque eu estava focada demais nos
meus estudos. Eu podia, então, contar nos dedos os garotos que eu tinha
Thiago Ferri.
por um homem.
pegada forte de suas mãos segurando minhas coxas, o jeito com que ele me
prensou contra a parede, como se quisesse transformar nossos corpos em um
só...
Apenas pensar em tudo isso fez com que cada célula do meu corpo
voltasse a se arrepiar.
— Ei, Amanda? — ouvi Jéssica me chamar. E, pelo seu tom de voz,
deduzi que aquela não era a primeira vez. Pisquei algumas vezes, forçando-
romântica?
— Tá brincando comigo?
que o beijei. Nós dois nos beijamos. Rolou um clima, e... aconteceu. E agora
eu não sei o que fazer. Não sei com que cara chegarei para trabalhar amanhã.
— Foi ótimo que tenha sido assim. Dessa forma pude ir embora sem
precisarmos ficar naquele clima chato sem saber o que dizer. E eu tenho a
esperança de a partir de amanhã conseguir agir como se nada tivesse
acontecido.
— Acha que vai conseguir fazer isso? Você mesma disse que o homem
— Que eu conheço você o suficiente para saber que você é boa nisso
— E...?
ele é o meu patrão. E ele pode ter qualquer mulher que queira aos pés dele
em um estalar de dedos.
— E se a mulher que ele quer for justamente você? Se você também
— Você é que ainda não entendeu, Manda. Não entendeu que você é
conversa.
quando eu a chamei:
— Ei, Jess... Você não fica me xingando dos piores nomes possíveis
quando chega em casa, não é?
debrucei, olhando para Manu. Vê-la dormir sempre me trazia uma sensação
de paz.
A começar pelo fato de que meu desejo por ela não era algo que
havia surgido apenas naquele momento. Eu me senti atraído por ela desde a
primeira vez que a vi, embora tenha sido de forma absolutamente
controlável. Eu a achei muito bonita, e tive também uma simpatia quase que
como eu também tinha, embora o meu estivesse perdido em algum lugar pelo
mundo.
deixar que aquilo fosse adiante. Primeiro, porque eu não tinha qualquer
conta, percebi que minha atração por Amanda só tinha crescido com o passar
dos dias.
daquele escritório.
Mas ela era mãe, a filha dela estava doente, e... que inferno, que
merda eu tinha na cabeça? Eu não podia fazer sexo com a minha secretária!
mulher.
Porém, ao chegar ao escritório, decidi que a carga de trabalho que eu
tinha para aquele dia era tão grande, que seria fácil manter minha mente
da manhã, ela abriu a porta de ligação entre as nossas salas, para anunciar
E como poderia ser diferente, depois daquele beijo tão intenso que
— Ah, não... Graças a Deus, a febre logo passou. Hoje ela acordou
muito bem, aliás.
comum em crianças.
E antes que mais qualquer coisa pudesse ser dita, ela se apressou em
-----***-----
Foi pouco depois do almoço que ela retornou à minha sala. Por mais
que o meu senso de prudência me alertasse que o melhor a ser feito era me
manter o mais longe possível dela, uma parte de mim ficou feliz com a
presença dela.
Gostava de ouvir sua voz, suas opiniões, gostava do sorriso dela, do jeito de
falar ou de passar a mão pelos cabelos quando estava sem graça, como fez
porém, por qualquer razão, quando me dei conta já a chamava para pedir sua
opinião.
fraldas?
atingir.
minha cadeira para olhar a tela do computador. Percebi que ela ficou a
Fiz o que ela pediu, retornando a esta parte. Como era, ainda, apenas
procurando por algo. Até que me entregou o aparelho. — Tipo isso aqui...
Era uma menininha, que usava uma calça comprida branca e uma
camiseta da mesma cor, com uma estampa de algum personagem infantil que
encontro ao tapete. E isso a fez rir ainda mais e girar o corpo, dando uma
volta completa, antes de reiniciar sua aventura de tentar engatinhar.
Senti um calor nos meus olhos e, quando percebi, uma primeira
lágrima começava a descer pelo meu rosto.
minha esposa. Quando descobri sobre meu filho, senti raiva, tristeza,
revolta... mas mesmo em meio a tudo isso eu não tinha conseguido derramar
uma lágrima sequer. Sentia como se meus olhos já tivessem secado, como se
estivesse agora incapacitado de colocar as minhas emoções para fora.
preocupação.
conta.
mais que a filha de Amanda. Porém, poderia ter nascido algumas semanas
antes dos nove meses padrão, então decidi que aquela era a resposta mais
— Ah, então ele também está nesta mesma fase de engatinhar, não é?
os dias.
— Eu não moro com o meu filho — declarei aquilo que era verdade,
porém sem dar maiores detalhes. — A mãe dele decidiu que queria criá-lo
Sabia que, contando dessa forma, a coisa parecia ainda mais leve do
que a verdade. Amanda não precisava saber que a mulher em questão era
praticamente uma desconhecida por mim, que eu encontrara em um bar,
passara a noite com ela, e que a filha da puta ainda tinha me roubado ao
desaparecer pela manhã. Eu não tinha sequer por onde começar a procurá-la,
mas, ainda assim, fiz isso logo que descobri sobre o bebê.
se era uma menina, qual era o seu nome, nem mesmo se estava bem. Mas
explicar tudo aquilo era complicado demais. E doloroso demais também.
— Eu sinto muito por isso, senhor Ferri. Não pode tentar entrar com
um pedido de... Reconhecimento de paternidade, é isso?
aquilo. Era o que eu pretendia realmente fazer logo que encontrasse meu
filho.
— Dessa vez você não vai usar sua técnica de falar sem parar?
olhos. Perguntei-me se ela teria algum conflito com o pai da menina com
relação à guarda. Esperava que não fosse o caso. Amanda era, sem dúvidas,
— Vou usar sua ideia no projeto. E, com isso, acho que finalizei a
parte do esboço.
reunião com ele será depois de amanhã, tenho apenas mais um dia para
finalizar tudo.
— Vai dar certo. O senhor tem muito talento para isso, senhor Ferri.
— Claro.
Thiago?
O rosto dela ficou levemente corado.
respeito disso.
comigo. Não era assim no início, e não quero mais que seja.
Ela sorriu e eu fui tomado por uma sensação boa ao ouvi-la me chamar
daquela forma, apenas pelo meu primeiro nome.
-----***-----
Capítulo 11
usado, achei que fosse demorar muito para obter alguma resposta de alguém
interessado. Mas, para a minha grata surpresa, isso aconteceu bem mais
rápido do que eu poderia imaginar. Por isso, deixei o carro em casa neste
tempo disponível para isso no meio da tarde, e fui de ônibus para a empresa.
Esta seria minha rotina dali em diante, já que provavelmente nem tão
com a venda do carro e com as joias que Nicole tinha deixado, ainda faltaria
muito do dinheiro que ela devia ao agiota. Em alguns dias ele voltaria para
receber o seu pagamento, e eu precisaria usar de todo o meu poder de
no horário certo. E meu dia, ao que tudo indicava, seria bem movimentado
por lá
fôssemos amigos, e agora essa sensação estava mais forte do que nunca. Ele
Esta, aliás, foi uma das partes mais divertidas, porque todo mundo
momento durante o almoço. Eu apenas ri. — Não importa, gosto muito mais
de energia.
saindo da sala.
Como secretária, eu é que deveria fazer aquilo. Mas ele se adiantou,
que ocorria.
— Ei, Lu! — chamei por Luana, que passava por mim no momento.
— É sério que esse prédio não tem um gerador? — Afinal, eu trabalhava ali
há pouco mais de um mês e aquela já era a segunda vez que via o local ficar
sem luz.
Espero que ninguém tenha ficado preso no elevador. O pessoal está tentando
falar com o zelador para descobrir o que aconteceu, mas deve ter sido só
vai levar horas para ser resolvido. A previsão é de que retorne apenas à
noite.
Thiago fez um sinal pedindo por silêncio, e logo que todos voltaram
— Não vamos ter como fazer nada por aqui hoje. A única solução é
todos irem para casa, para continuar em home office. Luana, pode informar a
— O mesmo que sugeri aos outros. Vamos para a minha casa. Não se
preocupe, fica bem perto daqui. — Enquanto falava, ele organizava as coisas
que precisaria levar.
carro.
terminar tudo antes mesmo das seis, então eu te levo até a sua casa.
vou mandar uma mensagem para avisar à minha amiga, que cuida da Manu,
— Não, nenhum. Ela é minha vizinha. Passa boa parte do tempo com
a Manu na casa dela, aliás. Só preciso avisar para que ela não fique
preocupada.
— A D&F tem convênio com uma creche aqui do lado e auxílio para
os funcionários que têm filhos. Não achou interessante colocar a Manu lá?
Eu não tinha direito a tal auxílio, já que Manu não era legalmente
------***-----
O apartamento de Thiago era algo surreal para os meus padrões. Ele
tinha comentado em determinado momento da viagem até lá que, antes,
morava em uma casa muito maior, mas desde que ficou viúvo decidiu ir para
um lugar menor, já que seria agora apenas ele.
Apenas a sala de estar do tal 'lugar menor' era maior do que toda a
minha casa. O local tinha dois andares, e havia uma grande escada levando
para o segundo andar da cobertura. E subimos por lá, indo até um escritório
que tinha um tamanho similar à sala dele na empresa.
modo com que, por volta das três da tarde, já estava tudo encerrado. Thiago,
então, me pediu para fazer uma revisão prévia dos textos usados, para que
— Acho que isso deve ser meio chato para você. Tudo bem se quiser
você preferir.
Eu não apenas concordava com ele, como achava isso muito evidente
na melhora visível do humor dele naqueles últimos dias, desde que começou
a se dedicar ao projeto. E ele também pareceu pensar a respeito disso, já
— Eu não teria conseguido sem você. Não teria sequer tido a ideia
de tentar.
era importante para ele. Porque, afinal, a dele também era para mim. Tanto
que eu percebi que fazia o meu trabalho da forma mais lenta possível, para
especialmente porque não havia muito o que ser corrigido nos textos dele.
Sendo assim, eu logo finalizei.
dizer qualquer coisa para quebrar aquele clima antes que, novamente, algo
acabasse acontecendo entre nós. Contudo, fui surpreendida quando ele
Ele tinha razão: aquilo era errado. Era completamente errado. E eu,
como funcionária, era o lado mais frágil, quem mais tinha a perder naquele
Só que eu, também, não conseguia mais resistir. Por isso, quando me
dei conta, já deixava que meus lábios e minha voz traíssem completamente a
minha razão, ao simplesmente responder:
— Então, me beije...
toque de um celular.
para a tela, percebi pelas suas feições que deveria ser algo muito importante.
entreaberta, de modo com que, mesmo sem ter a intenção, eu pudesse ouvir
sua voz alterada. Não estava exatamente nervoso, parecia muito mais...
apreensivo, talvez?
Passei as mãos sobre os lábios, sentindo ainda o calor dos dele ali.
Meu coração acelerou ainda mais enquanto eu refletia sobre aquele
caminho que nós dois estávamos seguindo.
------***-----
Capítulo 12
Nada além de uma coisa. Uma única coisa. Existia apenas uma única
animadora. Porém, eu sabia que ele não me telefonava a não ser que tivesse
me forçava a não ter tantas esperanças assim, já que, assim como nas outras
vezes, poderia ser apenas uma pista vazia. Foi por isso que levei um baque
hackeamento.
como você preferir – não resolva. Os valores foram altos, aliás. Vou te
fotos. Claro, depois do momento que obtivemos as imagens dela pela câmera
estéticos. Mas acredito que, ainda assim, se a ficha dela estiver dentre as
centenas que tenho aqui, vou conseguir identificá-la. Vou antes fazer uma
filtragem por mulheres com idade entre vinte e trinta anos, já que o senhor
me disse que acredita que ela tenha algo entre vinte e dois e vinte e oito. Isso
vai facilitar um pouco mais as coisas.
Algumas horas...
para chegar.
Sampaio, no entanto, me advertiu:
— Não é algo certo, senhor Ferri. Pode ser que eu não encontre nada.
A mulher pode ter dado à luz em outro município, outro estado, até outro
país. Pode não ter sido em um hospital, mas em casa. Ou, o senhor sabe, essa
— Ela existe — confirmei. Eu não tinha motivo algo para acreditar nas
palavras daquela mulher, mas ver aquela foto daquele bebê trouxe uma
certeza em meu coração, de que ele ou ela existia, e que era meu filho.
citei. Vou começar agora a trabalhar no reconhecimento das fotos das fichas.
É muito possível que ainda hoje eu traga uma resposta. Mas reforço que a
novamente chorando.
-----***-----
retornou, percebi que ele estava com os olhos vermelhos. Tinha chorado?
sorriu. — Eram notícias sobre o meu filho. Notícias ótimas, que indicam que
E agora estou à espera de outra notícia, que muito provavelmente será ainda
melhor. Eu não vou medir esforços até ter o meu filho comigo!
Sem pensar muito sobre minhas atitudes, segurei a mão dele com a
alguém. Eu sei que isso pode parecer muito inapropriado pelo fato de você
ser minha secretária, mas... Eu me sinto muito bem quando estou com você.
decepcionante ser comparada a uma amiga, como se isso fosse algo menor
do que ser vista como uma mulher. Mas a minha sensação diante daquelas
Thiago dessa forma, como uma pessoa próxima a mim, como alguém em
somavam àquilo. Ele provocava reações no meu corpo que, até então, eram
quando há poucos minutos, naquele mesmo sofá, deixara isso muito claro.
calor ao meu coração, junto a algo que parecia cócegas no meu estômago.
Algo tão bom de sentir... Mas que eu não podia saber se ele também
sentia.
Lembrei-me, neste momento, de uma conversa que tive uma vez com
minha irmã. Na ocasião, eu tinha quinze e ela dezessete anos. Porém, mesmo
a pouca diferença parecia significar um mundo de experiência a mais. Eu
tinha acabado de dar o meu primeiro beijo, e minha irmã já tinha uma lista
de garotos que tinha levado para a cama. Eu mal saía de casa, reprimida
pelo meu pai, enquanto ela, totalmente negligenciada pela mãe, frequentava
O que eu achava mais maravilhoso na minha irmã é que ela era vista
por todos como uma garota legal. E ela me tratava, também, desta mesma
maneira. Eu podia conversar com ela sobre absolutamente qualquer coisa, e
ela sempre me ouvia com paciência e atenção. Por mais que minhas questões
meu estômago.
mas enfatizou que, se eu sentisse apenas isso, não queria dizer que eu estava
apaixonada, apenas que eu queria dar para o cara. Para ser paixão, era
preciso ter as duas coisas: o calor e as borboletas.
— Essa história sobre o meu filho não é algo que eu conte para
muitas pessoas — ele voltou a falar.
E foi parecendo ler a minha mente que ele fez um comentário que
remeteu a isso.
— Isso me fez lembrar uma coisa. Vou ver amanhã com o RH para
aumentarem o valor do seu auxílio-creche. Você não utiliza a creche
conveniada com a empresa, mas provavelmente tem um gasto alto com uma
babá em tempo integral.
— Claro que precisa. Especialmente porque terão dias que você vai
precisar passar mais tempo na empresa, e é justo que sua amiga, que cuida
Ali eu percebi que não teria mais como esconder aquilo. Ao menos,
não de Thiago.
Ela parecia com medo da revelação que fez, mas eu não conseguia
compreender o propósito daquilo. Não fazia diferença se ela biologicamente
não fosse mãe da Manuela. Se a criança estava sob tutela dela, ela teria
todos os direitos trabalhistas com relação a isso. E foi o que tentei explicar.
— Não acredito que tenha aberto mão do seguro creche por isso,
morar juntos, nós crescemos juntas e nos amamos como irmãs, mas
legalmente não temos nenhum parentesco. Quem tem direito à guarda da
Manu é a minha madrasta, mãe da Nick. Mas ela não se importa a mínima
para a neta... não ligava nem mesmo para a filha. Tenho certeza de que ela
referia à irmã deixava claro que esta era uma boa pessoa, não uma criminosa
como Ana. Sem contar que eu me recordava de em determinado momento da
conversa que tive com Ana, antes de irmos para a cama, que ela mencionou
sobre ser completamente órfã, tanto de pai quanto de mãe. Sei que poderia
ser uma mentira, como as tantas outras que ela contou, mas tinha me chamado
tirasse sua filha dela. Aquele era realmente um medo que pairava sobre sua
cabeça.
dor que eu sentia por ser privado de conhecer o meu filho já era algo
insuportável, eu podia imaginar o tamanho do medo dela de vir a perder a
apenas dois anos mais velha que eu, então até o momento ninguém
desconfiou.
um hospital maior, como achou que precisaria quando ela estava com febre?
Segurei o rosto dela com as duas mãos, fazendo com que ela me
— Não diga mais isso, Amanda. Você não é covarde. O que está me
contando agora só prova que é a pessoa mais corajosa que já conheci na
vida.
Ela não disse nada, apenas sustentou o meu olhar. E, quando me dei
conta, eu novamente unia meus lábios aos dela em mais um beijo.
Ela foi inclinando aos poucos o corpo para trás, até deitar
completamente as costas no sofá. Ali, pude explorar melhor sua boca,
deixando-a em alguns momentos para beijar seu pescoço, descendo até seus
ombros e subindo novamente até voltar a encontrar seus lábios. As pernas
Nenhum de nós tinha planejado aquilo, mas parecia natural que fosse
acontecer. O que soava como um absurdo, já que não tínhamos qualquer
relacionamento um com o outro, além de uma relação de patrão e
funcionária.
mais.
Sabia que era um caminho sem volta. Que nada seria capaz de me
fazer parar.
Ou, ao menos, eu achava isso. Porque houve uma coisa que fez com
que eu parasse. Desta vez, não foi o toque do telefone, mas a voz dela,
tímida, sussurrada próxima ao meu ouvido em um momento em que deixei
-----***-----
Capítulo 13
reação.
primeira vez, porque tinha sido com um cara meio idiota, que não deu
Bem, ali, com Amanda, acho que eu é que estava sendo o idiota da
vez. Talvez isso fosse ainda acentuado pelo fato de eu ser o patrão dela.
cobertos por um sutiã branco de renda à mostra, e aquela era uma imagem
no rosto.
Ela pegou sua bolsa que estava sobre uma cadeira, apanhando o
— Não. Digo, terminamos, mas você não tem que ir embora agora,
mão, ela fez o que eu pedi, mas era evidente o tanto que estava chateada. —
Ouça, já pedi para não me chamar de senhor Ferri. Depois de tudo o que
planejando me demitir.
funcionária, mas é meio evidente que nós dois passamos um pouco dos
— Se preferir fingir que nada disso aconteceu, está ótimo para mim.
— Não está para mim. E, para ser bem sincero, eu duvido muito que
esteja para você. Porque muita coisa aconteceu. E eu não me refiro apenas à
parte física da coisa, mas... Amanda, eu sinto por você algo que acho que
não imaginei que fosse voltar a sentir por qualquer pessoa. Achei que tudo
tinha acabado para mim, mas a verdade é que... eu estou apaixonado por
você.
reprimir isso. Envolvi meus braços ao redor das costas dela, trazendo seu
Ela retribuiu e eu não sabia que precisava tanto daquele abraço até
recebê-lo.
sei que ela podia sentir a minha ereção contra o seu ventre.
— Disse que não podia fazer isso. Acha que eu vou te exigir algo, é
isso? Eu também... eu também estou apaixonada. Nunca me senti assim com
ninguém antes. Mas eu entenderia se, para você, isso fosse apenas uma transa
sem compromisso.
quero tanto que minha primeira vez seja com você... eu desejo tanto isso,
com tanta força... Eu não sou uma boneca de porcelana que vai se quebrar.
Não sou uma romântica sonhadora que vai entrar em depressão por sua
primeira vez não ser com alguém para a vida inteira... Eu posso superar isso,
irmã falava sobre esse tal calor no meio das pernas e, pelo amor de Deus, eu
Amanda entrava em seu modo de falar sem parar, especialmente pela sua
dizer com tudo isso. Poderia traduzir de uma maneira mais clara e direta?
Ela fez uma breve pausa, como se em dúvida sobre se deveria ser tão
Ali eu tive ainda mais certeza de que estava apaixonado por aquela
mulher.
Amanda, você nem faz ideia do quanto desejo estar dentro de você, e... —
ser virgem muda muita coisa. É a sua primeira vez. Quero que seja especial.
E, principalmente, que você tenha certeza disso.
seu rosto.
— Eu disse que estou certa de que quero... dar este passo a mais com
você. Talvez eu tenha dito isso de uma forma um pouco mais chula, com
aquilo de calor entre as pernas, mas... Já que não estamos no escritório, isso
não pode ser considerado vocabulário inadequado no ambiente de trabalho,
não é?
— Não sei se você percebeu, mas... Nada até aqui foi muito
adequado. Acho que podemos contar o dia de hoje como algo fora do
expediente.
estou certa de que vou superar tão bem assim caso seja apenas uma transa
sem compromisso. Sei que disse que está apaixonado, e eu também estou,
mas... Acho que o meu bom senso pede para que a gente espere um pouco
mais e veja até onde isso vai nos levar.
incomodar.
Ela não precisaria pedir novamente. Segurei o rosto dela com ambas
as mãos e a beijei.
muitos beijos. Não apenas em sua boca, pescoço e ombros como antes, mas
logo a camisa dela estava novamente aberta, e distribuí toques, beijos e
lambidas em sua barriga e no que estava amostra de seus seios cobertos pelo
sutiã, que me esforcei para manter no lugar. Deliciei-me com cada suspiro
dela, com a forma como ela arfava a cada toque mais intenso.
Também disse coisas em seu ouvido... sobre como ela era linda,
deliciosa, e do quanto a desejava.
Toda essa brincadeira durou mais de uma hora, até chegar o momento
em que precisei me forçar a parar, ou nenhum de nós conseguiria manter
autocontrole.
mencionar. Porém, ela tinha razão. Seria melhor eu levá-la para casa.
Confesso que me senti meio frustrado com o fato de ela não morar
tão longe assim, já que a viagem durou pouco menos de vinte minutos. No
Eu ficava a cada dia mais encantado com tudo o que ouvia a respeito
daquele bebê.
— Quando você estiver com a guarda do seu filho, ele e a Manu vão
poder brincar juntos — ela sugeriu. E eu achei a ideia simplesmente
Ela me indicou qual era a sua casa e eu parei com o carro em frente à
calçada. Ela tirou o cinto de segurança e eu quase pedi para que ela não
saísse daquele carro. Que ficasse um pouco mais ali comigo. Mas antes que
eu dissesse qualquer coisa, ela comentou:
Ela havia confiado em mim para contar o seu segredo, sobre não ser
mãe biológica da Manu e não ter legalmente sua guarda. Sabia que aquilo era
algo que poderia trazer complicações gigantescas à sua vida, mas ela tinha
meu filho. E cheguei a tomar fôlego para isso, mas nesse momento o meu
celular apitou, anunciando a chegada de uma mensagem.
escritas ali.
seu bebê.
Li e reli aquilo uma dúzia de vezes em um espaço de segundos. Foi o
Aliás, as informações na ficha dela no hospital indicam que ela teve uma
menina.
Uma menina...
janela.
sala. Pequena, mas também muito bem-organizada, ainda que tivesse alguns
brinquedos no chão, sobre um tapete.
O lugar parecia um lar. Algo que meu apartamento, com todo o seu
— Claro...
O que, por consequência, fazia com que fossem muito parecidos com
os meus.
nisso, mas... que se foda a razão, a lógica ou as chances de algo assim estar
realmente acontecendo na minha vida. Com a mão trêmula, eu peguei o
bracinho esquerdo dela e, devagar, levantei a manga da blusa que ela usava.
-----***-----
Capítulo 14
Minha mente parecia dar mil voltas por segundo, tentando processar todas
Porém, algo dentro de mim precisava ter mais certeza daquilo, afastar a
— O quê?
Meu tom aflito de voz fez com que ela não fizesse mais perguntas e
apenas atendesse ao meu pedido. Deixou o copo de água sobre a mesa de
centro e foi até o outro sofá, onde tinha deixado sua bolsa, pegando seu
aparelho.
dúvida.
Amanda estava ali, em uma selfie, abraçada com outra mulher cujo
rosto ainda assolava os meus pesadelos onde ela sempre fugia, levando meu
— Se eu sabia do quê?
Ela tomou fôlego para dizer alguma coisa, mas deteve-se por um
uma conclusão.
voltou a me olhar.
— O filho que você buscava a guarda... — ela sussurrou. — Não...
Talvez ela não soubesse... Talvez não fosse uma golpista como a irmã.
tempo. Não sabia se era em respeito à criança ou para não soar tão ofensivo
com a memória da irmã de Amanda. Mas que inferno, eu sentia tanto ódio
daquela mulher, que mal conseguia me controlar. — Ela foi embora enquanto
eu dormia e me roubou. Fiquei furioso, mas não me prendi a isso, sequer fiz
questão de localizá-la para que ela pagasse pelo crime. Mas um ano depois
ela me ligou, disse que ficou grávida naquela noite, e não falou mais nada.
aliás, por inúmeros telefones diferentes. Ela nunca me respondeu, nem nunca
mais apareceu online. Mas a foto de perfil dela tinha um bebê, com uma
no meu antebraço inteiro, causada pelo acidente de carro três anos antes. Ali
já não era mais possível visualizar a marca de nascença, mas era quase
cicatriz. Aquela mulher não tinha como saber desse meu sinal, não teria
como forjar algo assim para me enganar. Desde então, o maior objetivo da
minha vida é encontrar esse bebê, e... — Voltei a olhar para Manuela — Eu
agora tive a confirmação de que não era nada disso. O desespero nos olhos
adiantaria de nada.
Não era daquela forma que eu planejava meu primeiro encontro com
o meu bebê. Eu queria poder abraçá-la e dizer, mesmo que ela não fosse
ainda capaz de compreender, o quanto que procurei por ela e o tanto que eu a
amava.
E eu sentia esse desejo. Sentia esse amor. Mas, ao mesmo tempo, eu
também sentia um ódio sufocante por aquela mulher. Ana, Nicole, seja lá
qual nome tivesse. Por ter afastado nós dois daquele jeito. Sentia um ódio
imagem tão bonita que ela pintava da irmã. Por não ter me contado desde o
início que a menina não era realmente sua filha. Quem sabe, se fizesse isso,
começou a chorar, de uma forma que destruiu por completo o meu coração.
Quando entrei no meu carro, soquei o volante com força. Uma, duas,
três vezes... tentando descontar um pouco do ódio que me corroía por dentro.
Então, quando me dei conta, sentia novamente lágrimas descendo
pelo meu rosto.
-----***-----
meu celular e mandei uma mensagem para Jéssica. Sabia que ela talvez
demorasse um pouco para ver, já que naquele horário deveria estar
mais complexas.
Não sabia como – já que agora nem um carro eu tinha mais. Não
sabia para onde, porque sequer tinha um familiar a quem pudesse recorrer.
Mas nós não poderíamos continuar ali.
Foi assim, sem pensar direito em minhas atitudes, que abri uma mala
no chão, começando a jogar dentro dela algumas roupas minhas e de Manu.
— Vou colocar, logo que estiver bem longe daqui, com a Manu.
mundo, acha que um homem como Thiago Ferri não conseguiria te encontrar,
caso quisesse? Só vai piorar as coisas se fizer isso.
Ela tinha razão. Era horrível admitir aquilo, mas, nem mesmo se
quisesse, eu seria capaz de fugir de Thiago Ferri. O homem era um
choro.
obviamente, não teria como fazer aquilo, já que apenas conseguira assustá-la
ainda mais com o meu choro.
— Ele disse que vai fazer isso? — Jéssica perguntou, com a voz
filho e que a mãe da criança tinha afastado os dois. E que não mediria
esforços para ter a guarda do bebê. Como eu podia imaginar algo assim,
Jess? Achei que tinha sido uma ex-namorada, achava até que ele conhecia o
filho.
— Não dava mesmo para saber, Manda. O que a Nick nos contou
sobre o pai da Manu? Que tinha sido um cara qualquer com quem ela
transou.
fosse mentira dela, e que ela começou a se sentir mal e então desligou. —
Jéssica não sabia ainda dessa história. Da segunda parte que contei a seguir,
ela já tinha conhecimento. — Isso minutos antes de ela dar a louca e jogar o
celular dela no rio. Eu nem tive como ir atrás do cara. Quando Thiago me
contou sobre ter um filho... deduzi de cara que fosse um menino. E quando
Nick falou que contou a ele sobre a Manu, deduzi que tivesse dito que era
uma menina. É por isso que essas duas informações nunca se cruzaram na
minha mente para eu sequer desconfiar que esses homens pudessem ser a
mesma pessoa.
dois.
Já eu... não tinha nada a meu favor. Absolutamente nada. Eu era irmã
de criação da mãe dela, um parentesco que nunca foi oficializado, porque
nossos pais sequer casados legalmente eram. Tudo o que eu tinha por aquela
garotinha era um amor maior do que qualquer coisa que eu já tivesse sentido
na vida. Isso deveria ser o suficiente para qualquer juiz. Mas eu sabia que
eu ser apenas uma secretária. Juiz algum sequer pensaria antes de dar a
guarda para ele.
— Você não entende, Jess? Eu sei que fugir não adianta, mas... O que
eu posso fazer? Ele vai tirar a Manu de mim.
— Se fugir com ela, você vai estar cometendo um crime. E não vai
ser atrás das grades de uma cadeia que você vai conseguir lugar pela sua
filha. Além do mais, você não sabe se ele vai mesmo fazer isso.
— Ele disse que queria o bebê dele. Que iria tirá-lo da mãe.
— Isso foi antes de ele saber que você é a atual mãe. Vamos
combinar, Manda... a gente amava a Nick. Mas tente se lembrar dela sem
— Mudou. Mas aquele homem não tem como saber disso. Para ele,
ela é apenas uma louca drogada com quem ele passou um a noite.
— Então... era meio óbvio que ele quisesse tirar a criança de uma
mãe assim. Mas não de você, Amanda. Você é um mãe incrível, e tenho
certeza de que ele já percebeu isso.
— Eu não sei. Nem você sabe. Talvez, nesse momento, com a cabeça
quente e todo esse caos de revelações, nem ele próprio saiba o que vai fazer.
O jeito é esperar até amanhã e conversar com ele.
Esperar...
Mas não tive outra saída. E a noite foi ainda muito mais longa do que
eu poderia imaginar.
-----***-----
Capítulo 15
contato com ela já desde o dia anterior, depois que cheguei em casa, tomei
um longo banho e passei ainda algumas horas repassando toda aquela
expulsou de sua casa, sabia que ela não iria querer me atender. Decidi,
então, falar com a advogada e ela me deu muitas orientações.
Neste dia, ainda pela manhã, ela me repassou mais algumas. Já havia
passado do horário do início do expediente, e eu sempre chegava com
antecedência. Desta vez, decidi fazer uso dos meus privilégios enquanto
patrão.
Primeiramente, lógico, pela sua beleza, mas acredito que apenas isso
não teria sido o suficiente para me fazer sair dali com os meus pensamentos
focados nela. Foi o jeito dela que me encantou desde o início. A forma
sincera e estabanada como falava a respeito do seu chefe, sem sequer fazer
dela.
Nem nos meus mais loucos sonhos eu poderia fazer ideia de que o
bebê ao qual ela se referia era justamente o meu bebê. A minha filha.
deparei com Amanda. Ao contrário dos demais dias, ela não usava roupas
Pela expressão cansada em seu rosto, ela também não havia dormido
porta. Tinha medo de que ela dissesse isso, mas não poderia dizer que não
linda.
— É, precisamos...
sinal para que eu parasse. Fiz isso, temendo que ela estivesse passando mal.
— Antes que você conte sobre o que seus advogados caríssimos vão
de começar o que logo entendi que seria mais uma de suas sessões de
discursos sinceros.
— Tudo o que eu sabia a seu respeito era que você era um 'ricaço
bonitão' que minha irmã conheceu em um bar e que passou a noite com ela.
Achava que era mais um louco irresponsável como ela, porque... Com
que, se tivesse o seu número de telefone, teria te ligado depois que a Nicole
morreu para te contar que você teve uma filha, porque era um direito seu
saber disso. Mas a verdade é que, mesmo se tivesse o seu número, talvez eu
com toda a razão. Até porque, não era fácil para ela admitir que sua falecida
irmã era uma pessoa com caráter muito contestável. Ela estava certa em
que teria todo o respaldo da lei caso decidisse ficar com a filha.
do previsto e muito pequena, mas com saúde... aquilo foi uma explosão de
felicidade em meio a tanto caos. A Nicole sabia que ia morrer e sua luta foi
toda em prol de conseguir levar a gestação até o final. Ela conseguiu, a Manu
esperança. Mas ela só conseguiu ver a filha chegar aos três meses, e antes de
Ela fez uma pausa e fechou os olhos por um momento. Era visível
toda a dor que sentia naquele momento e o quanto relembrar tudo aquilo era
agora toda a família que eu tenho. Ela foi a minha força para superar a morte
da minha irmã. Ela é tudo, absolutamente tudo para mim. Quando eu cheguei
aqui dizendo que ela era minha filha, não era apenas para enganar as pessoas
Mas porque é isso o que ela é para mim. Ela não tem o meu sangue, mas ela
tem todo o meu coração. Eu faria tudo por ela. Eu fiz, faço e farei tudo por
ela. E se isso não faz de mim uma mãe, eu sinceramente não sei qual o real
sentido dessa palavra. Nicole e eu fomos criadas pelo meu pai biológico e
pela mãe biológica dela, e nenhum deles nunca foi pai ou mãe de verdade
para nós. Você não pode chegar agora e achar que seu sangue pode superar
tudo o que Manu e eu temos uma com a outra. E é por isso que não vim te
pedir nada, Thiago. Eu vim afirmar que você não pode tirá-la de mim. Não
importa o que as leis digam, eu sou a mãe dela.
— De acordo.
— Eu disse que não vou admitir que você tente tirar a Manu de mim.
aquele momento, começaram a descer pelo seu rosto. Aquilo me fez sentir
vontade de sorrir.
furiosa.
com a Nicole. Fotos de vocês crianças, vídeos... tudo o que mostre que
foram criadas como irmãs. Também quero fotos suas com a Manu. Acha que
sua amiga poderia testemunhar para comprovar que você cuidou da Manu
desde que ela nasceu? Isso também ajudaria.
Brinquei, dessa vez sem conseguir conter o sorriso. — Eu vou, sim, entrar
com um pedido de guarda da Manu. Mas eu não vou tirá-la de você. Vamos
entrar também com um pedido de adoção para que você se torne mãe dela
perante a lei... e assim você vai poder parar de usar documentos de outra
pessoa para levá-la ao médico. E então, nós vamos pedir uma guarda
compartilhada. Ela será minha filha e sua filha.
próprio choro. Então precisou respirar algumas vezes, antes que conseguisse
pronunciar algo.
filha a você. Ela perdeu a mãe aos três meses de vida. Poderia ter ido parar
em um abrigo, ter ficado completamente desamparada. Mas você cuidou
dela. Você a alimentou, a protegeu do frio... Você deu amor a ela. Quando
você me mostrou aquele vídeo dela, eu sequer fazia ideia de que ela poderia
ser a minha filha, mas eu disse a mim mesmo que ela era a criança mais linda
— Ah... Então quer dizer que nisso o meu sangue é importante, não
é?
Mas será que você consegue imaginar tudo o que eu vivi nesses últimos
meses? Coloquei um investigador particular para tentar encontrar esse bebê,
mas eu sequer sabia o nome verdadeiro da sua irmã.
— Agora você a encontrou. Mas... nem conseguiu conhecê-la direito
ontem. Vai ver que ela não apenas é linda, mas também é a bebê mais
simpática, cativante e doce do mundo.
— Foi você que a criou, como ela poderia ser diferente? Você
consegue ser simpática, cativante e doce até mesmo quando está irritada. E
eu quero muito conhecê-la melhor. Quero poder conviver com ela. Mas para
isso eu preciso que você confie em mim. Que, ao contrário do medo que
você tinha, eu vou ser um bom pai. E eu nunca vou afastar vocês duas.
Nunca.
Tê-la tão perto de mim fez com que eu não resistisse em tomar os
A cada vez que nos beijávamos, era como se subíssemos uma nova
etapa. Começando por aquele primeiro beijo, que era movido por puro
desejo carnal. Depois, novos sentimentos foram se somando cada vez mais.
-----***-----
Capítulo 16
próprio Thiago pediu para que eu fosse para casa, para descansar depois da
noite em claro e de todo aquele tumultuo de emoções.
realmente tentar tirar a Manu de mim. Então, era óbvio que não haveria
qualquer condição de eu continuar trabalhando para ele. Porém, agora,
mesmo com tudo já esclarecido, eu ainda pensava em se deveria pegar o meu
cargo de volta.
Eu não estava certa de que seria capaz de trabalhar ao lado dele sem
Bem... que fizesse tudo o que o meu corpo sentia que precisava ser
feito, mas que eu não saberia descrever exatamente. Obviamente, sabia como
tudo funcionava em teoria, mas na prática sabia que existiam várias formas
diferentes.
minha casa, para passar o dia comigo e com a Manu. Eu não sabia se estava
preparada para toda a emoção que aquele encontro dos dois iria me causar.
pronta.
Ele chegou cedo, conforme prometido, pouco antes das oito da
neste dia ela decidiu que queria dormir um pouco mais. E eu logo soube que
era bem melhor que tenha sido assim. Manu costumava ficar assustada se
Ficamos assim por algum tempo, até que ele enfim conseguisse dizer
alguma coisa.
— Eu não consigo lidar com o tanto que ela é linda. É tão perfeita.
— Ela é.
quatro horas... Mas que já a amo com tanta força, que chega a doer o meu
peito?
— ...Mas... eu tenho certeza de que ela logo vai entender que você
— Thiago, ela não tem nem um ano de vida. Acho que ainda não
Percebi que era a primeira vez que ele falava sobre sua família.
— Ele morreu?
— Não. Está bem vivo. Mas tem outra família. É até hoje casado
com a amante com a qual traiu a minha mãe quando eu tinha... sei lá, uns
doze anos.
éramos emocionalmente próximos. Ela se fechou muito depois que meu pai
foi embora.
— Eu realmente sinto muito. Mas, se servir de consolo... Eu nem me
lembro da minha mãe, ela morreu quando eu era muito pequena. Meu pai foi
e ainda é um péssimo pai, e se casou novamente com uma mulher tão megera
quanto ele, que nunca teve nenhum papel maternal na minha vida. Ainda
assim, mesmo não tendo tido as melhores referências de pais... acho que
Percebendo que ele poderia interpretar mal o que eu tinha dito, apressei-me
chance de poder criar o meu bebê. Mas agora vejo que essa possibilidade
não faria de mim o homem mais feliz. O que me faz é o que tenho agora: a
chance de criar o meu bebê junto com a mãe e mulher mais maravilhosa que
já conheci.
teria feito isso, se, nesse momento, Manu não tivesse se mexido dentro do
berço, chamando nossas atenções para ela. Seus olhinhos se abriram devagar
baixinho:
— Oi... Bom dia, Manu. Nós já nos vimos antes, mas eu ainda não
aprender a falar. — Ele olhou para mim, confuso. — Ela já sabe falar
alguma coisa?
Eu ri.
— Não. Ela apenas balbucia algumas sílabas. Mas tem apenas nove
levando-a para a cama. Aquele quarto era de Nicole, e ela o decorou todo
para receber o bebê logo que descobriu a gravidez. Como a casa tinha
apenas dois quartos, eu fiquei com o outro, mas dormi ali com ela por muitas
noites, especialmente nos seus últimos meses, para conseguir cuidar dela e
da Manu.
Depois que ela morreu, eu ainda segui dormindo ali por muitas
aflito.
— Não acredito muito que Thiago Ferri saiba trocar uma fralda.
sai com isso na prática. — Afastei-me, deixando-a com ele, enquanto ia até
o armário do quarto, apanhar as fraldas, pomada e lenços umedecidos. —
— Eu?
— Bem, você trabalhou como uma. É justo que receba por isso.
— Sobre isso, eu tomei uma decisão. Não vou mesmo voltar para a
empresa.
— Como assim?
que aconteceu entre nós. Todo mundo por lá já me olha de um jeito maldoso
desde que comecei a chamá-lo pelo primeiro nome, e já ouvi algumas
insinuações sobre você estar com um humor muito melhor desde que cheguei
na empresa. Logo saberão também sobre termos uma filha.
— Amanda, não tem que se preocupar com o que outras pessoas vão
falar. Você é uma ótima profissional. É a melhor secretária que já passou
pela D&F.
— Estou certa de que meu patrão vai me dar uma boa carta de
recomendação para me ajudar a conseguir outro.
mostrar que sei trocar a fralda dessa garotinha aqui. E vou fingir que não vi
que você compra a marca concorrente.
aconteceu ainda entre nós. Nada perto de tudo o que ainda quero fazer com
você.
Como ele podia dizer algo como aquilo e, como se não fosse nada
demais, simplesmente voltar a sua atenção para Manu, conversando e
Será que ele fazia alguma ideia de o que palavras como aquelas
provocavam em mim?
das contas.
qual era a sua rotina e seus hábitos, quais os seus brinquedos favoritos...
Além das perguntas, ele também conversava com ela. O tempo todo.
Manu era uma criança simpática e que não costumava ter problemas para
gostar das pessoas, mas a conexão dela com Thiago pareceu extrapolar tudo
que eu tinha visto até então. Ela sorria o tempo todo. Às vezes balbuciava
algo, interagindo com as coisas que ele falava. Em um momento, ela levou
gostava de levar Manu à pracinha do bairro. Então, foi decidido que iríamos
para lá depois do almoço.
Thiago se ofereceu para me ajudar com a comida, mas pedi para que
ele apenas cuidasse de Manu enquanto eu preparava algo especial para nós.
Ainda que fosse meio errado me sentir assim. Afinal, nós dois
éramos a família da Manu, mas não dava para dizer que éramos um para o
outro. Tínhamos trocado uns beijos, uns amassos, algumas declarações e
insinuações, mas nada além disso. Não tínhamos dado um título à nossa
relação. Éramos um chefe e uma secretária tendo um caso? Amigos que se
pegavam sem compromisso? Toda aquela falta de definição me deixava
levemente angustiada.
até que ela começasse a dar os primeiros sinais de sono. Thiago quis colocá-
la para dormir, e eu o vi, novamente, se emocionar quando fez isso.
Logo que a colocou no berço, ele se virou de frente para mim, que o
— Pelo quê?
— Por tanta coisa. Por cuidar tão bem da Manu, por amá-la tanto... e
por me permitir fazer parte da vida dela. Confesso que tive medo de que
você fugisse com ela, temendo que eu a tirasse de você.
cabeça.
silêncio por alguns instantes, em uma troca de olhares, até que ele enfim
disse algo. — Já é tarde, eu preciso ir.
— Não precisa ir. Amanhã é domingo. Por que não dorme aqui?
Ele fez uma expressão provocativa, que causou um arrepio por todo
o meu corpo.
daquela forma. — Mas acho que vai ficar para outra ocasião. Depois de um
dia inteiro rolando na grama da praça com a Manu, acho que eu precisaria de
amigo... para passar a noite com ela. Alguns acabavam sempre deixando
alguma coisa por aqui. Tem uma gaveta inteira apenas com peças de roupas
masculinas esquecidas. Preciso tirar um dia para separá-las e doá-las,
acredito que ninguém volte depois de tanto tempo para pedir a devolução.
Porém, aquilo tinha que servir. Eu não teria nada mais sexy, no fim
das contas.
-----***-----
Capítulo 17
A roupa que Amanda tinha arrumado para mim não me cabia tão bem
assim. Eram peças de dormir, feitas com o propósito de ficarem largas no
corpo, mas para mim pareciam sob justa medida, especialmente a camisa, de
Por sorte, não estava tão frio assim, então decidi que poderia dormir
com uma foto em que estava ela, a Manu, e mais uma mulher que demorei a
lembrança da irmã daquele jeito, mas que certamente Amanda queria ter ali
lembraram bem desse detalhe. Ela aparentemente gostava da visão que tinha.
incrivelmente sexy.
Subi os olhos de volta até o rosto dela, ao mesmo tempo em que ela
envolvi minha mão em sua nuca, trazendo seus lábios para junto dos meus em
um beijo possessivo. Foi dessa forma que eu a trouxe para dentro do quarto
Subi a mão por baixo da blusa, encontrando seus seios. Ela arfou
com o contato e eu, ansiando por ouvir mais daquele som, precisei deixar
seus lábios por alguns instantes e descer minha boca de encontro a um dos
para mim.
— Talvez doa um pouco, mas eu prometo que será bom. Farei com
passando por seus seios, barriga... até chegar ao cós do short, o qual agarrei,
abaixando-o devagar. Amanda levantou os quadris do colchão para me
ajudar a livrá-la daquela peça de roupa. Ali embaixo surgiu uma calcinha
distribuindo beijos em sua pele, até começar a prová-la com a minha língua.
O gemido que ela soltou desta vez foi mais alto, embora um tanto contido e
claramente tímido.
deslizar minhas mãos e língua pelo restante de seu corpo, ajudando a excitá-
la ainda mais e, dessa forma, deixando-a mais solta e menos inibida para se
deixar de olhá-la, fui até a poltrona no canto do quarto, onde tinha deixado
vista o tempo em que o tinha colocado ali. Nicole tinha sido minha única
tentativa de voltar a ter uma vida sexual depois que fiquei viúvo e, depois da
decepção de ter sido feito de idiota por ela, os preservativos na carteira não
retorno a uma vida sexual. Eu tinha voltado a sentir algo por alguém.
Amanda era especial e eu queria que sua primeira vez fosse inesquecível.
que vai.
também encontrou facilidade, de tanto que ela estava molhada. Fiz isso sem
deixar de olhá-la, aumentando a velocidade das estocadas ao notar que ela
estava gostando e, assim como fiz quando ela mesma se tocava, parei
subitamente no momento em que percebi que ela estava quase alcançando o
clímax.
comecei a penetrá-la.
ela jogou a cabeça para trás, soltando mais um gemido. Desta vez, era de
dor.
foi aos poucos se dissipando e logo eu a senti novamente relaxada sob mim.
Ainda lento, comecei a me mover dentro dela, sentindo que o tom de dor em
seus gemidos aos poucos foi dando lugar ao prazer.
Um mês depois...
foi o tempo que demorou para que Thiago contratasse outra pessoa.
Em uma semana, acho que tínhamos feito sexo em todos os cantos tanto
da sala dele quanto da minha, e até mesmo nos banheiros de ambas. Não
havia mais volta para uma relação estritamente profissional entre nós dois.
optando por outra em que, de certa forma, Thiago ainda seria meu patrão.
Mas, dessa vez, fisicamente bem mais distante. Ele e seu sócio Fernando
Fui muito elogiada naquele dia. Tanto, que fiquei até mesmo sem
graça.
— Ouviu o que eles disseram, não é? Nossa empresa não pode deixar
— Não vai ter muito tempo para sentir a minha falta. Deixamos
acumular trabalho demais neste último mês, você estará bem ocupado.
levantei.
— Preciso ir. Tenho que fazer umas compras antes de ir para casa.
da sua filha.
é?
uma guarda temporária. Nosso acordo até tudo estar devidamente legalizado,
era que Manu continuaria comigo durante a semana – já que ela já estava
habituada com a Jéssica e não queríamos ter que contratar uma nova babá
alternados entre nós. Mas, na prática, o que se alternava era apenas a casa.
Em um final de semana, Thiago ia para a minha e, no seguinte, Manu e eu é
— Claro que vou. Mas você não acha que vou esperar até sexta para
mesma época em que ele ficou sabendo que eu estava sem carro, ele passava
— Não faz mais sentido você fazer isso, Thiago. Não vamos mais
— O que não faz sentido e eu ter que esperar uma semana inteira para
para beijá-lo mais uma vez. Era para ter sido apenas um selinho, mas Thiago
Sabendo que aquilo poderia nos levar a algo a mais, desta vez na sala
Em pensar que, quando cheguei ali, disseram-me que meu chefe seria
um tirano antipático...
-----****------
iria para a minha casa neste dia, o combinado era que eu levaria Manu à
casa dela.
Manu no colo, indo com ela abrir o portão, imaginando que só poderia ser
Thiago, indo mais cedo para poder brincar um pouco com a Manu antes de
Quando eu abri o portão, no entanto, não foi Thiago que encontrei, mas
um homem que eu nunca tinha visto antes. Tomei fôlego para perguntar o que
ele desejava, mas ele discretamente levantou a barra camisa, mostrando uma
Sentindo o meu sangue gelar, agi por impulso e dei um passo para trás.
— Pode fechar o portão, moça, não vamos querer plateia para a nossa
conversa.
Apesar do tom tranquilo na voz, era evidente que aquilo era uma
dinheiro para mim. Avisei à moça aqui do lado que eu ia voltar para buscar.
irmã dela, não é isso? E a coisinha bonitinha aí é filha dela, né? Acho que é
justo vocês duas arcarem com a dívida. Eu não vou ficar com esse prejuízo.
Ele tinha um jeito muito calmo de falar, que, ao mesmo tempo, era
apenas pedi que ele aguardasse ali e entrei em casa, indo até o meu quarto e
pegando embaixo da cama uma sacola com bolos de notas do que eu havia
conseguido juntar com a venda do carro, de algumas joias e outros objetos
da casa, além de todo o dinheiro que eu tinha conseguido guardar – o que
levemente irritado.
— Eu tenho cara de idiota, dona? Aqui tem quarenta e cinco mil. Sua
irmã me devia oitenta. E eu ainda estou sendo muito legal de nem ao menos
contar os juros destas últimas semanas.
nem sabia da existência dela até você aparecer aqui outro dia cobrando.
— Já dei prazo demais. Acha que sou algum idiota? Eu não vou ser
feito de otário, dona. Ou você me paga o que deve, ou as coisas não vão
terminar bem por aqui.
que havia algo errado e que aquela não era uma simples visita.
quando eu me lembrei que Tony estava armado. Ele olhava para Thiago de
forma desconfiada e eu tive medo de que simplesmente sacasse o revólver e
atirasse.
Porém, ele logo voltou a olhar para mim e um estendeu um cartão que
só agora vi que estava em sua mão. Peguei-o com a mão trêmula.
— Volto outro dia, moça. Me ligue ainda hoje para combinar dia e
horário, senão vou aparecer de surpresa, e isso pode não ser nada bom. E é
Ele enfiou a sacola com o dinheiro em uma mochila que trazia em suas
costas e começou a caminhar em direção ao portão. Parou diante de Thiago,
lugar.
seguem meio pendentes. Volto em outra ocasião. Boa dia para vocês.
Dito isso, ele saiu. Thiago o seguiu com os olhos, desconfiado, logo
voltando a me olhar.
mim e pegou Manu do meu colo, guiando-me até o degrau onde aquele
homem estivera há até alguns instantes, onde me sentei, com ele se sentando
ao meu lado.
— Não, ele não chegou a fazer nada. Mas, sim, estava armado e fez
-----***-----
Capítulo 19
produtora há pouco mais de meia hora, e de lá seguiria para o lugar onde ele
tinha combinado de encontrar o agiota para lhe entregar o restante do
dinheiro.
trabalho.
Sabia que as horas iriam se arrastar até que ele entrasse em contato
comigo contando que tudo tinha sido resolvido e que ele estava bem.
— Algum problema, Amanda? — a voz de Fernando, meu novo chefe,
ser algo que evidentemente torna a opinião dele um tanto quanto imparcial,
ele contou sobre suas ideias para a campanha. Nós vamos filmá-la essa
de voz. Por mais que tentasse, não conseguia deixar de pensar em Thiago se
investigador para procurar pela filha... e ela estava há tanto tempo tão
descobrimos a verdade.
— Você faz muito bem ao Thiago. Eu não o via sorrir assim há anos.
— Ah, não sou eu. Foi encontrar a filha que devolveu a felicidade a
ele.
uma reunião daqui a pouco, e preciso parar de atrapalhar o seu trabalho, não
família para Manu. Afinal, a gente se dava muito bem, éramos amigos, o
sexo era incrível e eu sabia que ele gostava muito de mim, mas... Ele nunca
trabalho.
E foi o que eu tentava fazer, quando meu celular tocou. Era Jéssica.
Atendi achando que fosse algo corriqueiro, como ela me pedindo para
Mas, para o meu horror, não era nada nem parecido com isso.
— Levaram a Manu.
-----***-----
No horário marcado, eu estava lá, levando uma bolsa contendo os
criminoso não me era nada agradável, mas era algo que eu precisava fazer
abrigado uma empresa há uns trinta anos e que, desde então, era apenas um
utilizavam como motel para encontros sexuais ou, mais raramente, alguém
(lembro de ter lido notícias disso ter ocorrido umas duas vezes no decorrer
da minha vida).
também era o point perfeito para outros tipos de encontros ilegais, como
pagamentos a agiotas.
quando cheguei ali e não havia ninguém. Fiquei por cerca de vinte minutos
dando voltas pelo local, incomodado com aquele atraso. Quando fui conferir
deixava ainda mais nítido o tanto que aquele lugar era afastado da parte
habitada da cidade. E o quanto que deixava vulnerável uma pessoa que fosse
Mas eu não tinha medo daquele sujeito. O fato de ele andar armado,
poderia não ter me contado nada e acabar, em algum momento, ela própria
Já estava desistindo, achando que ele não iria, quando ouvi passos
O filho da puta não estava sozinho. Segurava minha filha com um dos
alguns metros de distância de mim, deixando claro que não tinha planos de
Eu não sabia como ele sabia sobre eu ser um milionário, mas pelo seu
comentário entendi que não sabia sobre Manuela ser minha filha.
Provavelmente, em seus questionamentos aos vizinhos de Amanda, tinha
descoberto que ela era tia de Manuela e deduzido que, por frequentar muito a
dela, junto a Amanda, mas eu tinha planos de, até lá, pedir a mão de Amanda
em casamento para que elas fossem, as duas, morar comigo, onde estariam
sempre seguras.
se sentiria ainda mais forte com aquilo se fizesse ideia de que ela era minha
filha.
— Eu disse que seu rosto era familiar. Voltando para casa, olhei meu
histórico da internet para descobrir onde eu tinha visto você antes. Foi em
uma matéria de um jornal local, que falava sobre empresas da cidade que
vêm gerando muitos empregos nos últimos anos ou qualquer bobagem desse
mil reais? Você pode melhorar isso, amigo. Você me ajuda e eu te ajudo. Não
vai querer machucar a garotinha aqui, né? A tia dela vai ficar chateada com
— Não tem nem sinal de celular aqui, não tenho como fazer qualquer
— Eu imagino que não. E é por isso que vou te dar o prazo de três
horas para ir até o seu banco, sacar o dinheiro, e trazer para mim. Acho que
não vai caber nessa sua bolsa aí, por isso trouxe algo maior para te ajudar.
Ele tirou uma mochila das costas, que aparentemente estava vazia, e a
jogou em minha direção. Ela caiu no chão a poucos passos de mim.
Aquele ainda não era um pedido fácil. Não pelo dinheiro, porque eu
pagaria qualquer valor, daria absolutamente tudo o que eu tinha para livrar a
minha filha daquele risco. Mas pela situação que expus a seguir:
— O que você vai fazer para levantar esse dinheiro realmente não me
criancinhas.
claro que ele não tinha a intenção de deixar aquilo ocorrer tão facilmente.
— Então é isso, você tem três horas para conseguir o dinheiro e voltar.
Vou ficar aqui esperando por você, junto com a garotinha.
Virei o rosto para lá, torcendo para que eu estivesse ouvindo coisas,
ou que tivesse me enganado e confundido aquela voz com a de Amanda.
Mas não havia engano algum. Era ela quem estava ali, ofegante,
visivelmente tensa, mas olhando de forma determinada para Tony.
— Já que você decidiu se juntar a nós, tudo fica ainda mais perfeito.
— Ele apontou a arma para ela. — Ande, chegue mais perto. Agora tenho
ainda apontando a arma para ela. — Venha logo. Segure essa coisa e faça
com que pare de chorar.
— Já disse para fazer essa coisa calar a boca! — Tony falou, agora
mais alto, mostrando um descontrole emocional que eu não tinha visto nele
até então.
— Ela está assustada, não vai parar. E deve estar com fome também —
Amanda informou, abraçada fortemente à filha. — Por favor, deixe Thiago
levá-la com ele. Eu fico como sua refém. Três horas de espera serão muito
longas ouvindo uma criança chorar o tempo todo.
dele, então volte para perto de mim. Se qualquer um dos dois tentar qualquer
gracinha, eu atiro, sem me importar com em quem eu vou acertar.
ouvido algo como 'vai ficar tudo bem, meu amor'. Então, fez o que aquele
homem ordenou, caminhando devagar em minha direção e deixando-a
se afastar dela, voltando para perto daquele homem que a ameaçava o tempo
inteiro com um arma.
Apenas quando ele autorizou foi que pude correr até a minha filha e
pegá-la no colo. Ela se agarrou a mim, mas manteve seus olhos na mãe e
continuou a chorar.
ela.
O desgraçado riu.
— Para você ficar tão furioso assim, é porque ela deve mesmo valer a
-----***-----
Capítulo 20
Ter que sair de lá e deixar Amanda sozinha com aquele homem foi a
pior coisa que já tive que fazer na vida. E Manu parecia se sentir da mesma
forma, porque logo que saímos do galpão, o choro dela se tornou mais
primeira palavra:
— Mama... Mama...
ódio. Era a primeira palavra da minha filha. Era um momento que Amanda e
Não tinha tempo a perder. Por isso, dei partida no veículo e saí de lá.
-----***-----
estrada, consegui ligar para Fernando e pedi para que conseguisse tirar tudo
o que fosse possível em dinheiro vivo das empresas. Explicando
gerentes dos bancos onde eu tinha conta. Também passei em casa e peguei
ele levaria uma mala com todo o valor que conseguira. Juntando tudo, eu
havia conseguido o que aquele desgraçado exigira.
estava indo para lá, mas ela certamente estava ali há horas à espera de
notícias de Manuela. Quando saí do carro e tirei Manu junto comigo, ela
correu até mim, pegando a bebê em meu colo e abraçando-a de forma aflita.
— Graças a Deus, Manu. Meu amor, graças a Deus que está bem. —
enquanto isso?
Olhei para a rua e vi, ainda um pouco distante, um carro vindo em uma
— Pelo amor de Deus, Thiago, onde a minha amiga está? Ela está
ferida?
— No galpão abandonado daquela empresa de embalagens que faliu.
deserto.
sentindo-me esgotado. Sabia que Jéssica não estava me fazendo aquele tipo
voz alta, para que eu próprio acreditasse. — Eu não tinha o que fazer. Ele
estava armado, estava ameaçando as duas. Eu não podia arriscar tentar
— Porra, não! Eu não podia ter deixado a mulher que eu amo sozinha
com aquele desgraçado.
— Estou certa de que tudo o que Amanda mais queria era que você
entregar, ele me deu um abraço e perguntou se queria que ele fosse comigo.
Sabia que Fernando era medroso demais para se dispor a enfrentar
alguém armado. Contudo, também sabia que, mesmo com medo, ele seria
família dela, por favor. Cuide para que fiquem em segurança até que tudo
— O papai te ama muito, meu amor. Eu amo muito você e a sua mãe.
Depois de dizer isso, fui também abraçado pela Jéssica, que, para
-----***-----
Eu tinha a nítida sensação de que já tinha se passado um dia e uma
noite inteira desde que fiquei sozinha com aquele homem. Porém, eu sabia
Confesso que tive muito medo de que, ao contrário do que ele disse
que faria, não esperasse pelo término do prazo para tentar algo contra mim.
Porém, para a minha sorte ele parecia aflito demais para isso. Nitidamente
tinha muita pressa, e volta e meia resmungava um 'tem que dar tempo' ou um
lógica a que cheguei era a de que ele estava querendo fugir. Da cidade, do
estado, ou até mesmo do país. Estaria sendo procurado pela polícia?
— Faltam vinte minutos... Não imaginei que ele fosse fazer isso, pela
forma com que olha para você. Mas parece que o ricaço acha que sua vida
Vinte minutos...
para ser conseguido dessa forma, existia toda uma burocracia bancária para
saques assim.
Eu estava sentada no chão, de costas para Tony. Pela luz do sol que
entrava pela porta aberta do galpão, eu podia ver a sombra dele no chão
diante de mim e vi quando ele apontou o revólver em direção à minha
cabeça.
Mas o som que ouvi a seguir não foi a de um disparo, mas a de passos
Abri devagar os olhos, ainda temendo que aquilo tivesse sido algum
Sentindo-me enfim segura para aquilo, eu virei o rosto para trás, tendo
a visão que confirmava minha certeza: era Thiago.
sua fuga, ainda que os trinta e cinco mil trazidos antes por Thiago já
estivessem com ele.
— Não tenho tempo para isso. Vou confiar em você. Olha, você me
te entrego a sua mulher. Mas venha devagar, sem tentar qualquer gracinha.
Qualquer movimento brusco ou se eu sequer desconfiar que está armado ou
Thiago voltou a pegar a mala com uma das mãos e a mochila com a
-----***-----
Capítulo 21
Quando mais perto ele chegava, mas forte eu sentia a esperança de que
tudo ficaria bem. Especialmente porque não era apenas segurança que os
olhos de Thiago me transmitiam, mas também amor. Ali eu soube que ele
também me amava.
Ele parou bem à minha frente e estendeu a mão que segurava a mochila
para Tony, que a segurou. Na outra mão, no entanto, aquele monstro seguia a
comigo.
Tony obedeceu, mas sabia que não fazia aquilo para honrar sua
palavra, mas porque aparentemente estava mesmo com pressa de ir embora
dali. Logo que o cano da arma se afastou da minha cabeça, eu segurei a mão
homem.
Dei o primeiro passo para me juntar a ele. E foi então que algo
inesperado aconteceu. Por aquele lugar ser bem deserto, qualquer carro que
passava pela estrada à frente podia ser ouvido. Dessa vez, não foi apenas
para trás dele. Tony tinha baixado a arma para fazer aquele movimento e isso
abriu uma brecha para que Thiago pudesse avançar sobre ele, agarrando sua
mão e conseguindo arrancar seu revólver, que acabou caindo no chão. Tony
Voltei a olhar para a luta que se seguia à minha frente. Thiago acabou
saber se eu estava bem, e com isso abriu a guarda para que fosse novamente
levantei a mão. Mas logo entendi que eles tinham ido até ali com um alvo
Eles falaram alguma coisa sobre terem recebido uma denúncia de que
procurado.
Enquanto os policiais o levavam para a viatura e outros averiguavam o
local, eu corri até Thiago, jogando-me em seus braços, nos quais fui
— Você está bem? Ele fez alguma coisa contra você? Se ele encostou
— Achei que não fosse conseguir sacar todo esse dinheiro assim, tão
fácil.
pelo meu rosto. No entanto, minha atenção logo foi desviada para o
Ok, nós tínhamos acabado de passar por uma situação extrema em que
Percebi, então, que não tinha dito isso a ele. Apesar de ele ter acabado
ouvir.
Ainda com meu rosto entre suas mãos, ele se aproximou, depositando
um beijo em meus lábios. Foi uma pena que não tenha durado muito, pois um
policial se aproximou, tossindo alto para chamar nossa atenção para ele.
sabe. Esse sujeito está foragido há um bom tempo, tem nos dado um bom
sair do país.
Thiago comentou:
— Eu deixei a Manu com ela, e acho que acabei falando onde você
estava. Estava tão desesperado que nem passou pela minha cabeça que ela
poderia chamar a polícia, senão teria dito para ela não fazer isso, porque
seria arriscado. Mas de qualquer maneira, estou feliz que tenha feito. Esse
galpão. Thiago e eu fomos caminhando atrás, de mãos dadas. Até que ele
‘mamãe’.
— Está falando sério? Pelo amor de Deus, Thiago, você filmou para
eu ver, não filmou?
— Isso foi quando nós saímos daqui, logo que entrei com ela no carro.
— E daí?
— A minha filha falou 'mamãe', eu não estava perto para ouvir, e você
Percebendo que meu lado mãe neurótica estava sufocando toda a minha
racionalidade no momento, Thiago fez algo que me desarmaria em qualquer
o fôlego.
-----***-----
com o fato de eu ter perdido a primeira vez que meu bebê tinha falado.
delegacia e, logo que fomos liberados, seguimos para a minha casa. Jéssica
estava cuidando de Manu e confirmou que tinha ligado para o amigo policial
buscando por ajuda. Eu sabia que aquilo poderia ter acabado mal, mas era
muito grata à minha amiga pela sua tentativa de ajuda. Que, no final das
contas, acabou ajudando muito. Tony agora passaria um longo período atrás
das grades.
Fernando também estava com ela, a pedido de Thiago, que teve medo
de que, após pegar o dinheiro, Tony pudesse fazer algo conosco e voltar até
lá para fazer algo contra Manu. Foi interessante perceber que ele e Jéssica
do esperado, ele não parecia estar dando em cima dela nem nada parecido.
Por passarem aquelas horas juntos, preocupados conosco, eles
Ainda assim, era o homem mais lindo que eu já tinha visto na vida.
— Estou sendo bem literal no que digo, Amanda. Quero que vocês
continuem aqui, mas não apenas na minha vida. Mas aqui na minha casa.
— Nós vamos ficar aqui por alguns dias, não foi este o combinado?
Ele fez uma pausa, parecendo pensar no que tinha a falar. — Que droga, não
era para eu estar te pedindo isso agora, nem assim. Eu ia esperar sair a
— Ei... Quem tem a mania de falar sem parar sou eu e não você. Pare
— Sim.
Ele sorriu. Aquele sorriso que, quando o conheci, todo mundo dizia
que era meio raro, mas que eu vi se tornando tão comum com o passar dos
dias.
— Mama!
Thiago nos abraçou e eu tive ainda mais certeza de que ali, nos braços
dele, ambos envolvendo a nossa garotinha, eu estava exatamente onde eu
deveria estar.
-----***-----
Capítulo 22
outras três crianças que deviam ter todas entre um e três anos.
terceira...
— Ela já fala 'tia' para a Jéssica, mas você precisa entender que a
Manu convive com ela desde que nasceu. E antes, eu também me referia a
mim com ela como 'tia', ela foi muito estimulada com essa palavra.
— Eu entendo o 'tia'. Mas depois disso ela já disse outras coisas como
'au-au'.
— E ela com certeza vai aprender a falar o nome dele antes de falar
papai.
não me achavam mais um tirano. Eu tinha até mesmo mudado meu status para
o de um chefe legal.
O processo da Manu ainda estava em andamento. Entretanto, tudo
agora seria mais simples já que Amanda e eu iríamos nos casar em um mês.
Manu.
vinham ficando. Nada muito sério, segundo ambos diziam, mas eu não podia
deixar de reparar que meu amigo falava a respeito dela mais do que já falara
sobre qualquer outra mulher com quem tenha tido seus casos sem
compromisso. Eles vieram até nós, indo diretamente falar com Manu,
enchendo-a de beijos. Manu sempre adorou Jéssica, mas agora também
minutos, até que reparei que Jéssica puxava Amanda para afastá-la de nós.
que eles conheciam. Ficando a sós com minha noiva, percebi que ela parecia
um pouco apreensiva.
está perfeito.
Ela suspirou.
comentei ontem com ela, e... Ela decidiu hoje passar em uma farmácia e me
outros motivos.
iludir com isso. Não é como se a gente estivesse tentando ter outro filho.
— Seria. Sabe, eu sei que a Nicole cometeu muitos erros. Mas ter uma
irmã fez uma diferença incrível na minha vida. Ela era louca, tinha ideias
absurdamente erradas, mas, ainda assim, ela sempre cuidou de mim e sempre
foi a minha melhor amiga. Eu queria muito que a Manu tivesse irmãos para
com que Amanda se emocionasse. Eu tinha muitos motivos para odiar a irmã
mesmo que jamais faria qualquer comentário negativo a ser respeito com
Amanda ou com Manu, que cresceria sabendo sobre ter tido duas mães, e
— Eu não tive irmãos e não conheci esse amor. Mas quero muito que a
Manu conheça.
— Nós nunca nem ao menos conversamos sobre mais filhos. Você não
nós não o planejamos que ele não será muito desejado e muito amado.
— Ou amada.
leve princípio de surto. Mas acho que não apenas sobreviveria a isso, como
— Bem, sendo ou não agora... a ideia de ter outros filhos com você me
uma tarde divertida, embora eu não visse a hora de irmos para casa para que
Amanda fizesse logo aquele teste. Agora, eu não conseguia pensar em mais
— Papá!
gesto de carinho.
Senti meu peito transbordar, repleto do mais puro amor que eu poderia
imaginar sentir na minha vida.
Depois da festa, quando enfim voltamos para casa, Amanda fez o teste.
O resultado positivo me fez descobrir que, por mais incrível que isso
pudesse parecer, aquele amor tão arrebatador era capaz de aumentar ainda
mais.
de Manu.
amigas.
-----***-----
Epílogo
Quando abri a porta, fui recebida pelos gritos, latidos e miados que
mostravam que aquele era o quarto de duas garotinhas muito felizes, junto a
pulando, cada uma sobre sua cama. Manu, abraçada ao seu gatinho, enquanto
adoção, a ideia era voltar com um bichinho para a família. Mas cada uma
Não que, para mim, isso fosse também uma tarefa simples.
lado, fazendo uma expressão de bom garoto igualzinho ao que sua pequena
humana fazia.
sentar.
Como duas boas irmãs de cinco e três anos, tendo personalidades tão
Fomos até elas, cada um de nós se deitando com uma delas. Neste dia,
pela nossa caçula, que era ligeiramente mais carente e dengosa que a irmã.
livrinho ainda estava sobre a mesinha que ficava no meio das duas camas.
Precisamos comprar mais, já lemos todos que temos, mais de uma vez.
verdade.
— De verdade mesmo? — Thiago falou, pensativo. Quando o olhei, vi
que ele sorria. — Bem, vamos lá então. Era uma vez, um nobre cavalheiro,
história.
em seu caminho. Até que, em suas buscas, ele acabou encontrando uma
princesa.
Manu gostava mais das que tivessem lutas e dragões. Thiago sabia bem
uma filhinha. Um bebê que tinha sido entregue de presente para ela, e que ela
amava de todo o seu coração. Até que um dia, o cavalheiro descobriu aquele
outro, mas logo se entenderam, porque, no fim das contas, eles já tinham se
bracinhos.
— Claro que não, Nick! — Manu rebateu. — Antes tem que ter uma
grande aventura.
conseguiu salvá-la, mas com isso ela é que foi presa por ele.
— Sim, ele foi. E não foi nada fácil, viu? Ele percorreu um longo
caminho para isso e, quando chegou lá, lutou bravamente contra o monstro.
Até conseguir vencer e salvar a princesa. E aí eles puderam voltar para casa
e reencontrar sua bebezinha. Mas não foi apenas isso. Algum tempo depois,
eles ganharam outra bebezinha de presente. Duas princesinhas lindas. E com
algum tempo com elas no quarto, com as duas tagarelando sem parar sobre a
trama. Manu falou sobre como achava que o cavalheiro tinha lutado,
inclusive gesticulando para mostrar como imaginava que ele batalhou com
uma espada, enquanto Nick contou sobre como deveria ter sido o vestido que
juntos.
FIM
Conheça outros trabalhos da autora
Sinopse: Era para ser só uma noite de bebedeira, mas eu acabei na cama
com meu chefe – e noiva dele.
Miguel Marino era o típico homem que poderia ter a mulher que quisesse:
entregar a sexo casual. Pelo contrário, eu era virgem. Isso até acordar de
ressaca, depois de uma festa, nua ao lado do meu chefe, com uma vaga
O que eu não sabia sobre Miguel era que ele tinha uma bebezinha e que
estava lutando pela guarda dela. O fato de termos sido filmados juntos,
bêbados e indo para um quarto de hotel, poderia arruinar sua causa e dar a
Tudo o que ele precisava fazer para ganhar a ação era sustentar a imagem de
um homem sério e responsável. Por isso, me fez uma proposta: fingir ser sua
noiva por um tempo, até que as coisas se resolvessem.
Era para ser uma mentirinha de nada, algo inofensivo, mas não contávamos
que o destino daria suas cartas e que o amor entraria em jogo, pronto para
Mas a sorte parecia estar sorrindo para mim, porque meu vizinho milionário
bom pai ele era, além de ser um homem completamente diferente de todos os
que eu conhecia. E eu também precisava provar para ele que não era a
mulher sem coração que por acaso tinha o mesmo nome que eu.
Será que o segredo que eu escondia poderia nos levar a um coração partido
ou o amor que fomos desenvolvendo um pelo outro seria capaz de passar por
cima de tudo?
Corações em Jogo
Link: https://www.amazon.com.br/dp/B08HR5XWWY/
Sinopse: Tudo ia muito bem na minha vida. Era o bem-sucedido CEO de uma
grande rede de lojas e, apesar de ser um homem bem centrado nos negócios,
também sabia como curtir a vida: festas, noitadas, amigos e mulheres. Todas
eu quisesse ter.
E eu queria todas... até ela aparecer.
Foi por uma aposta que a conheci. Uma briga de egos com meu irmão, que
me provocou dizendo que eu só conquistava garotas por causa do meu
dinheiro.
Eu teria duas semanas para seduzi-la, mas ela não poderia saber quem eu
era; não poderia saber que era rico, muito menos que era seu chefe.
O problema era que eu não esperava que Luíza fosse tão especial e que eu
acabasse me apaixonando por ela e por sua filhinha, Sofia, com quem
precisei fazer um pacto muito engenhoso quando descobriu minha identidade
antes da mãe.
O que era para ser apenas uma aposta, acabou tomando rumos diferentes.
Agora, não era apenas uma conquista que estava em jogo... mas também o
meu coração.
Um Encontro do Destino
Link: https://www.amazon.com.br/dp/B08QBM1YNV/
Sinopse: Uma viagem longa de ônibus não era algo que estivesse nos meus
planos. Mas surgiu um compromisso muito importante em outra cidade
distante. Eu poderia ir de avião, mas simplesmente me recusava a entrar em
um.
Sim, era um CEO bem-sucedido, com grana suficiente para ter o meu próprio
jatinho, mas tinha medo de entrar em um avião. Ir de carro seria uma opção,
mas era uma viagem longa e cansativa e, de última hora, não consegui um
motorista disposto a aceitar o trabalho bem nessa época do ano.
Eu não me importava que esse compromisso fosse no dia 26 de dezembro e
essa viagem significasse que eu passaria o Natal sozinho. Esse já era o meu
padrão. Desde garoto, sempre fui um solitário durante todos os dias do ano,
uma data no calendário não tornava as coisas diferentes.
Contudo, tal viagem trouxe algumas surpresas. Umas ruins, como um
imprevisto na estrada que acabou atrasando tudo ainda mais. Outras, muito
melhores do que eu poderia imaginar, como a jovem Laura e seu bebê
Daniel, que foram minhas companhias no assento ao lado.
Talvez aquele Natal fosse diferente de tudo o que eu já tinha vivido até
então.
Siga o Instagram da autora: @autoralunasoares