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Copyright © Março 2023

Isabella Silveira

Todos os direitos reservados

Capa: Thainá Brandão

Revisão: Mariana Acquaro

Diagramação: Isabella Silveira

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma ou quaisquer meios
eletrônicos, mecânico e processo xerográfico, sem autorização por escrito dos editores.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.
Sumário
SUMÁRIO

PLAYLIST

SINOPSE

NOTAS DA AUTORA

EPÍGRAFE

PRÓLOGO - HADES

CAPÍTULO 1 - HADES

CAPÍTULO 2 - LISA BECKER

CAPÍTULO 3 - HADES

CAPÍTULO 4 - LISA BECKER

CAPÍTULO 5 - HADES
CAPÍTULO 6 - LISA BECKER

CAPÍTULO 7 - HADES

CAPÍTULO 8 - LISA BECKER

CAPÍTULO 9 - HADES

CAPÍTULO 10 - LISA BECKER

CAPÍTULO 11 - HADES

CAPÍTULO 12 - LISA BECKER

CAPÍTULO 13 - HADES

CAPÍTULO 14 - HADES

CAPÍTULO 15 - LISA BECKER

CAPÍTULO 16 - LISA BECKER

CAPÍTULO 17 - HADES

CAPÍTULO 18 - LISA BECKER

CAPÍTULO 19 - HADES

CAPÍTULO 20 - LISA BECKER

CAPÍTULO 21 - HADES

CAPÍTULO 22 - LISA BECKER

CAPÍTULO 23 - HADES

CAPÍTULO 24 - LISA BECKER

CAPÍTULO 25 - HADES

CAPÍTULO 26 - LISA BECKER

CAPÍTULO 27 - HADES

CAPÍTULO 28 - LISA BECKER

CAPÍTULO 29 - HADES

CAPÍTULO 30 - HADES
CAPÍTULO 31 - LISA BECKER

CAPÍTULO 32 - HADES

CAPÍTULO 33 - LISA BECKER-PERRI

EPÍLOGO - HADES

AGRADECIMENTOS

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SOBRE A AUTORA

OUTRAS OBRAS
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4 | Aponte para o código abaixo:
Aproveite!
Hades quer vingança contra o homem que destruiu a sua família. Uma vida
inteira de planejamento que resultou nesse momento: Agora, ele está pronto
para trazer o inferno à Terra e honrar sua mãe de todas as formas. CEO do
ramo do entretenimento, as baladas e cassinos fazem parte de sua rotina,
porém a única coisa que ele não contava era se encantar por uma DJ
misteriosa no caminho.

Lisa Becker tem um passado difícil, mas todas as vezes que coloca seu fone
e sua coroa se esquece de tudo. A música é seu porto seguro. Quando
recebeu um convite para tocar na mais nova boate da cidade, ela não
esperava que fosse se envolver em tantas confusões e, principalmente, que
fosse se apaixonar perdidamente pelo enigmático dono do lugar.
Os dois não tem muita coisa em comum, mas a atração se torna irresistível.
Será que apesar de tudo, Lisa sucumbirá aos encantos do Deus do inferno?
Olá, goxtosa (o),

Obrigada por ter optado pelo livro: Sob o Domínio do CEO


Arrogante. Hades e Lisa vieram para fechar essa série que eu amei tanto
escrever. Eu amo um CEO, é a mais absoluta verdade, e nesse último livro
você vai encontrar uma faceta ainda não vista por aqui. Essa autora não
escreve só mocinhos bonzinhos, e o Deus do Inferno está aqui para provar.
Divirta-se!

Espero que você possa aproveitar esse tempo com esses personagens
incríveis, e que goste desse livro tanto quanto eu. Ah! E se você achar que
eu mereço, avalie o livro, por favor, evitando spoilers. Isso ajuda muito os
autores iniciantes.

PS: Caso você tenha pego essa obra de forma ilegal por qualquer
outro meio que não seja a Amazon/Kindle Unlimited, saiba que esse tipo de
compartilhamento não foi autorizado por mim e dessa forma, atrapalha o
meu trabalho, além de ferir os meus direitos.

Aproveite,

Com amor, Isabella Silveira


"Onde não há você, não existe eu, só vazio."

Emily Brontë
Para as românticas que acreditam em
amor à primeira vista, segunda chances e recomeços.

E, também, para as espevitadas que


gostam de ler uma boa vingança e safadeza.

Esse livro agrada gregos e troianos.


Espero que goste!
Anos antes…

— Daniel, precisamos conversar. — mamãe diz, parecendo cansada,


e do meu quarto, já tenho a resposta na ponta da língua.

Já estou ficando velho demais para receber os sermões de sempre.

"Não quebre as coisas dos vizinhos, não pegue nada que não te
pertence, não bata nos outros, seja uma pessoa boa"... um discurso banal, e
cansativo que eu já decorei de tanto ouvir e sinceramente, não me importo
nem um pouco. Minha mãe sempre tenta ao máximo me mudar, mas o fato
é que ela passa tempo demais fora de casa, trabalhando, e nunca conseguiu
impor sua religiosidade ou suas crenças absolutas pra cima de mim. Não
que eu queira ser o tal garoto problema, ou que sinta prazer em infligir dor
em quem quer que seja. Mas, também não deixo barato se algo me ofende.
E, geralmente, muitas coisas tem me ofendido e minado a minha paciência.

A realidade é que eu gosto de ser temido e respeitado, meus amigos


gostam de estar por perto, meus inimigos se sentem ameaçados pela minha
presença. Na escola, o apelido Hades, rei do inferno, pegou, e agora, todos
me conhecem assim. Eu realmente toquei o terror quando as coisas não
saiam como eu desejava. Mas, agora, o ensino médio acabou, atingi a
maioridade, e as coisas estão ainda mais complicadas. Não tenho destino,
ainda não sei o que fazer, e no bairro de subúrbio onde moro, as pessoas
mais perigosas têm grande interesse em me recrutar.
Talvez isso tenha chegado aos ouvidos da minha mãe, e seja sobre
isso que ela queira conversar. Foi-se o tempo em que Fiorella Perri poderia
exercer algum tipo de poder sobre mim. Amo e respeito minha mãe, mas
isso não acontece mais. Eu cuido de mim mesmo, e às vezes, dela também,
quando alguém resolve falar alguma coisa que a ofenda de alguma forma.

— Me chamou? — pergunto, me sentando na poltrona à sua frente,


e ela confirma com a cabeça, com um olhar apreensivo.

— Chamei, filho, precisamos conversar… tem certas coisas que


você precisa saber. — sua fala me intriga, mas não falo nada, esperando
para que ela continue — Você precisa saber de algumas informações, e eu
espero que, depois de saber de todas elas, não me odeie.

— Eu nunca odiaria a senhora. — digo com sinceridade. Apesar de


não concordarmos com muitos fatores, ela é minha mãe e fez de tudo para
cuidar de mim da melhor forma possível. Sei do seu esforço e de tudo o que
abdicou para me dar o seu melhor. Não há a menor possibilidade de odiá-la,
independentemente do que ela fale.
— Chegou a hora de você saber sobre o seu pai… e sobre o que
aconteceu comigo no passado. — ela parece tensa, mas começa a falar
olhando para baixo, como se sentisse vergonha do seu passado e fosse
confessar algo horrível — Eu trabalhei na casa da família Timberg, desde os
meus dezesseis anos. Eles são lordes ligados à coroa, e o título sempre foi
muito maior do que qualquer caráter para aquela família. Mas, na época,
não tinha essas coisas de que adolescentes e crianças não poderiam
trabalhar, e como eu precisava, fui à luta. Fazia faxina, e como a casa era
grande, acabava dormindo nas dependências de empregada doméstica do
lugar. Nunca tive problema, porque mal via o casal Timberg no dia a dia,
era um serviço pesado e solitário, mas não horrível. Porém, depois de um
tempo, o único filho da família, Gavin, começou a me assediar em todos os
cantos… ele forçou visitas ao meu quarto, e disse que usaria o seu nome e
título para acabar com a minha vida, se eu não cedesse. No fim, o medo e a
inexperiência fizeram com que eu caísse nesse golpe.

Fico tão chocado ao ouvir isso, que soco a mesa lateral, e um vaso
se quebra, fazendo-a tremer.

— Desculpe, continue por favor. — tento engolir a raiva para não


assustar a mulher frágil mais uma vez. Agora, entendo melhor o porquê de
minha mãe nunca ter tido interesse em se envolver com nenhum outro
homem, porque se voltou tanto para a religião e ignorou qualquer
pretendente. Não consigo imaginar o trauma que deve carregar durante a
vida inteira.

— Ele me fazia visitas noturnas eventualmente… você entende. E,


em uma delas, você foi concebido. Fiquei apavorada, com medo, era muito
nova, sem experiência, sem família para me ajudar. — a esse ponto, minha
mãe já está chorando, e eu nunca estive tão furioso em toda a minha vida —
Ele não queria aceitar…, mas como poderia, não é? Era jovem, nem tinha
terminado a faculdade. Ser pai do filho da empregada não estava nos seus
planos. Então, um dia os patrões me chamaram na sala, me obrigaram a
abortar e me deram uma quantia de dinheiro absurda para que eu sumisse
dali e nunca contasse nada a ninguém.

— E você aceitou? Porque, obviamente não fui abortado. —


pergunto, depois de algum tempo.
— Eu não poderia tirar meu filho… eu já te amava. — ela levanta o
rosto pela primeira vez, e mesmo com o rosto banhado de lágrimas, minha
mãe abre o sorriso mais amoroso que eu já recebi, antes de continuar — E,
aceitei o dinheiro. Ele é seu por direito. Aquele nojento é riquíssimo, fez o
que fez comigo, mas você merecia ter a sua parte. Mesmo que pequena,
perto de toda aquela fortuna.

Pisco algumas vezes, meio abobalhado. Muita coisa para processar


em pouco tempo. Fui fruto de um estupro, minha mãe se matou de trabalhar
para dar o mínimo para mim, e agora eu acabo de saber que temos dinheiro?
— Por que não usou esse dinheiro para conseguirmos uma vida
melhor? Trabalhar menos? — minha revolta é contida, mas ela nota em
meu tom de voz.

— Porque eu não preciso dele, e queria te dar um futuro melhor.


Sabia que você quando fosse mais velho iria precisar.

— Então, quer dizer que nós temos dinheiro?

— Isso.
— Quanto?
— Mais ou menos dez milhões de dólares vongherianos… rendeu
um pouco na aplicação.

— Caralho, mãe! — praguejo, completamente chocado.

— Não xingue na minha frente, Daniel Perri! — ela ralha, e eu


reviro os olhos, antes de dizer:

— E o que faremos agora? — questiono, perdido.


— Você vai construir uma vida boa para você e a sua família. Vai
parar com todas essas coisas erradas, me honrar e encontrar um caminho
para ser feliz.

Torço a boca, com raiva, mas não a questiono. Preciso pensar, e


muito, no que fazer com todas essas informações, com esse dinheiro
inesperado e, principalmente, com os sentimentos conflituosos. Minha mãe
não merece nada disso.
— Minha família é a senhora, mãe. Você deveria ter tido uma vida
tão boa quanto a que está desejando que eu tenha. — digo baixo, e ela faz
um carinho em meu rosto, antes de negar com a cabeça.

— Sempre farei tudo por você, Daniel. Mas, eu não ficarei aqui por
muito mais tempo, por isso estou te contando tudo isso, filho. — e agora
sim, eu vejo uma tristeza que nunca vi antes em seu olhar, o que me
preocupa tanto que não consigo expressar o sentimento.
— O quê? Como assim? — temo a sua resposta, sabendo que não
pode ser algo bom.

— Estou com câncer, meu filho. Terminal… estou morrendo,


Daniel. — Acrescenta com um suspiro, como se eu não tivesse entendido
— Não tem muito o que fazer, descobri tarde demais.
— Não! — meu grito é de dor e revolta, mas ela segura minha mão
firmemente, e diz:

— Não quero que você pense em mim, nem que sofra pela minha
partida. Não tenho medo da morte, quero apenas a garantia de que você
ficará bem e que será feliz.

Três dias depois da sua partida, eu ainda não consigo acreditar em


como tudo aconteceu. Apesar de tentarmos tudo o que o dinheiro poderia
pagar, o câncer já havia se espalhado pelo corpo inteiro e não havia nenhum
tipo de tratamento, apenas tratamentos paliativos para amenizar a dor.

Fiorella Peri foi a mulher mais forte que eu conheci em toda a minha
vida, isso é uma verdade absoluta. Me deu amor e uma educação impecável.
Tentou me guiar pelo melhor caminho, apesar de que nem sempre eu fui o
que ela esperava. Agora, sozinho e completamente perdido, preciso juntar
as suas documentações para fazer o inventário.
Dez milhões de dólares vongherianos.

O dinheiro, agora, me parece uma maldição… assim como eu fui em


sua vida.
Como minha mãe sofreu, carregou esse fardo durante tantos anos
sem reclamar nem por um segundo sequer… O tanto que lhe dei de
trabalho, sem saber que já era um peso enorme para ela. Mexo em seus
documentos, sem saber pelo que procurar, nem o que preciso para
regularizar toda essa situação, quando encontro sua primeira carteira de
trabalho. A fúria queima em meu peito, e a vontade de saber quem foi o seu
agressor, e meu progenitor, é maior do que nunca. Folheio até encontrar seu
primeiro trabalho, quando ela provavelmente tinha apenas dezesseis anos,
alguns a menos do que eu hoje, e encontro.

Timberg Company.
Então, são esses infelizes… a família Timberg, carregam o título de
Lordes e pelo que a mídia diz, se acham melhores do que todos por esse
feito. É o sangue dessa gente podre que corre em minhas veias.

Abro o site de pesquisas, determinado a saber mais sobre eles e


saber tudo sobre meu pai. Aparentemente, eles são relevantes o suficiente
para terem algumas páginas de informações em seus nomes, e quando abro
as fotos, vejo o homem tão semelhante, e ao mesmo tempo, tão diferente de
mim.

Gavin Timberg, o rei do entretenimento de Havdiam.

Sinto tanta raiva queimar as minhas veias, que ela passa a me


consumir. A única coisa que penso e o único sentimento que existe dentro
de mim é vingança, por tudo o que aconteceu. Pela minha mãe.

Apesar de seu desejo final, Daniel Perri morreu junto com Fiorella,
agora, dentro de mim, só existe Hades. E, como o deus do inferno, farei
todos eles pagarem.
Os carregamentos de Whisky chegaram nesta manhã, e por mais que
Atlas tenha me alertado de que, possivelmente, não teríamos a quantidade
suficiente para o fornecimento necessário de todos os infernos, ele cumpriu
com maestria a sua função até agora.

Não deveria me preocupar e sei que, com meus sócios, tenho tudo
praticamente perfeito, mas a ansiedade queima a minha alma.

No começo, não confiamos uns nos outros. Todos foram relutantes


em aceitar o meu plano e ninguém acreditou em mim quando propus a
sociedade. Não importa quem era amigo de quem, como nos conhecemos,
ou até muito recentemente, se os irmãos se odiavam e não podiam ficar no
mesmo recinto. Recrutei os melhores, e pessoas de minha confiança, por
mais que eles não tenham acreditado nisso à princípio. Com o tempo,
reuniões, relatórios, noites nos meus infernos, e claro, viagens nos nossos
cruzeiros, O Hell Group, se tornou não apenas um grupo de sócios com o
objetivo de lucrar em comum, mas também, esses homens são o mais
próximos que eu posso considerar de amigos.

Isso é muita coisa, já que eu não confio em ninguém para revelar


nem mesmo o meu próprio nome. E, neles, eu confiei além do meu nome,
bem como a minha situação de bastardo e o meu plano completo.

Anos e anos se passaram, para que esse momento se concretizasse, e


agora, eu estou prestes a realizar o meu maior desejo. Tudo ao meu redor é
um meio para um fim, mas esse meio precisa ser impecável, e isso é o que
faz com que eu não meça esforços e muito menos dinheiro. Eu sou um
homem obstinado, essa é uma das minhas maiores maldições.

Demorou mais do que eu imaginava, precisei fazer coisas das quais


não me orgulho, mas agora estou aqui. Meu passado é manchado por
inúmeras passagens duvidosas e questionáveis, desde quando a dona
Fiorella Peri morreu. O nome Hades foi adotado, e não é atoa que ele causa
temor por onde passo, eu exijo respeito de uma forma ou de outra. Tudo o
que eu vivi até hoje, teve apenas um único objetivo e nada, nem ninguém,
conseguiu me desviar dele. Foi assim que eu tracei o meu plano de
vingança, multipliquei o dinheiro que herdei, fiz inúmeras conexões com as
pessoas certas e, agora, de volta a Vongher, eu estou prestes a conseguir
tudo o que eu sempre quis. A queda da Timberg Company.

Comecei com os cruzeiros em Lanuver, abrindo a franquia com


sócios confiáveis que me apoiaram nessa jornada, apesar das merecidas
ressalvas. Eu entendo que com a minha fama e com o que eu estava
oferecendo, nem mesmo eu confiaria muito em mim. Mas, consegui unir até
o improvável. Não ficando no negativo e tendo dinheiro suficiente para as
novas expansões, eles poderiam dividir entre si todo o lucro do grupo, uma
proposta boa o suficiente para fazer com que inclusive os irmãos, que eram
inimigos mortais, se unissem na época. Fui chamado de louco, maníaco,
maluco, vingativo…, mas a realidade é que tenho muito mais dinheiro do
que um dia eu sequer sonhei em ter, muito mais do que eu preciso, na
realidade, e não tenho ninguém com quem gastá-lo, ou para quem o deixar.
Não sou uma pessoa ambiciosa ou mesquinha, tudo o que eu almejo é fazer
com que ele pague, e isso, eu vou conseguir. Custe o que custar.

Gehenna, inferno em latim, a mais nova boate do grupo, será


inaugurada no fim da semana. O sucesso de marketing foi tão grande que já
está com a lista de espera preenchida até o fim do mês. O que começou
como uma brincadeira, se tornou a minha marca, e até ter usado a palavra
inferno em todos os idiomas, eu não pararei de abrir boates, cassinos e
navios de entretenimento. Eu não viso o lucro, meu maior objetivo, fazendo
um belo trocadilho, é levar o inferno para a vida de Gavin Timberg, o meu
progenitor de merda, que simplesmente acabou com a vida da minha mãe. É
pra isso que eu respiro. E não pararei até conseguir.

A boate esbanja luxo. Tudo em veludo vermelho e preto. Cristais


negros adornam o teto, as gaiolas, que em breve abrigarão dançarinas
sensuais e hipnotizantes, são luxuosas, e o requinte e bom gosto foi o que
exigi para esse local. A decoradora entregou tudo isso com precisão.
Entramos no inferno. Um inferno antigo e perigoso, como o nome sugere,
mas um lugar requintado e cheio de poder.

Gehenna é o início da queda. E será a minha casa, de onde eu


assistirei de camarote ao Gavin sangrar.

É claro que testei outros empreendimentos para começar a fazer o


meu nome em Havdiam, mas ainda não havia aberto nada que realmente
batesse de frente com os negócios da família Timberg, os Lordes de merda,
pelo menos, não diretamente, como estou fazendo agora. Este será o
primeiro negócio em que iremos competir como concorrentes diretos, e
tenho certeza absoluta de que irei ganhar. A Purple Night, localizada há
dois quarteirões daqui, foi inaugurada há alguns anos e reinou como a boate
mais exclusiva até hoje. Mas, agora, já precisa de algumas reformas, e o
gerente se acomodou. Sem concorrência, as coisas ficam fáceis demais,
deixando-os preguiçosos, o que é excelente para mim. Tudo o que eles
oferecem, eu oferecerei mais barato, com melhor qualidade e requinte. Não
vim para perder, e não existe essa palavra em meu vocabulário.

— O senhor parece feliz. — Frederico, meu segurança particular,


comenta com um sorrisinho de escárnio no rosto. Felicidade é algo que eu
raramente aparento, e vindo dele, isso com certeza não foi um elogio.
— Bom, olhe ao redor… Acho que estou satisfeito com o que temos
aqui. Me culpa? — questiono, franzindo a testa em sua direção e ele levanta
os braços em rendição.

— De jeito nenhum. Era o que queria, não? Agora, os jogos


realmente vão começar. Enfer foi brincadeira de criança perto disso aqui. —
ele comenta, se referindo ao cassino que abrimos nos arredores da cidade,
meses atrás, e eu confirmo com a cabeça. Apesar de ter dado muito certo, e
ele atrair cada vez mais público e nos render cada vez mais dinheiro, Enfer
não era ainda o que eu queria, e ele não cumpriu com o objetivo de
amedrontar ou concorrer com a Timberg Company. Foi apenas um recado.

— Enfer foi apenas para dizer à grande sociedade que eu cheguei,


que é bom que elas me conheçam, e que Vongher, agora, é a residência do
rei do inferno. — brinco, e ele ri.
— Acho que essa história está subindo à cabeça, Hades… vai passar
a usar uma coroa agora? — ele diz, e por mais petulante que a sua frase
seja, deixo-o brincar. Nossa relação existe a tempo demais para que não
possamos zoar um com a cara do outro de vez em quando. Frederico é meu
amigo desde antes de eu saber de tudo, e talvez, seja uma das poucas
pessoas que conhece a minha verdadeira identidade, apesar de nunca falar
nada em voz alta, e nem para ninguém.

— Bom, eu não preciso de coroa para impor medo e respeito. Sabe


bem disso…, mas, talvez seja interessante usar uma de vez em quando,
passaria uma impressão e tanto. — entro em sua brincadeira e a sua
expressão é impagável.
— Está falando sério? As pessoas vão te achar completamente
maluco.

— E já não acham? O que mudaria?

— Bom… mais maluco.

— Talvez, assim eu seja mais temido. Uma coroa de ossos. Não,


melhor! Uma coroa de espinhos.
— Ah, pronto! Vai se intitular um mártir também? — ele parece
completamente indignado.
— Não seja um bebê, estou brincando — digo condescendente —
Além do mais, um trono me caberia melhor, se analisarmos bem. —
Frederico fica calado, e eu continuo — Está tudo certo para a inauguração?
Todos os convites confirmados? As atrações pagas? Imprensa?

— Você sabe que eu não sou a sua secretária, que ela se chama
Isabel, e não, Frederico, não é? — ele fala contrariado, mas apenas pisco,
esperando que me responda, com um suspiro cansado, ele o faz — Pelo que
sei, sim. Tudo certo. Aparentemente, até o príncipe está confirmado.
— O príncipe George? — por essa, nem eu esperava.

— Bom… sim. Só temos um, certo? Isabel estava arrancando os


cabelos, porque teve que ligar para Dylan de última hora, pedindo para
aumentar a segurança. — acho graça de como ele sabe tantas informações
sobre a minha secretária, e resolvo alfinetá-lo.

— Dylan já cuida da segurança de George. Com certeza, ele já


estava a par. — respondo, dando de ombros, mas abro um sorriso malicioso
— E como soube tanto sobre Isabel? Já está se engraçando com ela? Espero
que não precise demitir mais uma secretária porque você ferrou com tudo,
mais uma vez.

Fred tem a decência de parecer constrangido com o meu comentário,


porque sabe que da última vez, não foi nada bem, mas me dá uma resposta
malcriada, como eu já esperava que fizesse:

— Passamos muito tempo juntos! E só porque você não transa, não


quer dizer que todo mundo tenha que seguir os seus passos, Da…

— Frederico! — corto sua frase, antes que ele a complete, olhando


para os lados, desconcertado. Não pela acusação explícita, de que não atraio
muitas mulheres para aquecer os meus lençóis, como ele constantemente
faz, e insinua para que eu faça também. Mas sim, pelo fato de quase ter
falado o meu nome real. As paredes têm ouvidos, e assim como todos, eu
tenho fraquezas, meu nome verdadeiro é uma delas.

— Desculpe. — ele parece praticamente em pânico quando percebe


o que quase fez.
— Eu já lhe disse. — ralho, e continuo em um tom bem mais baixo
— Nunca. Nunca, mesmo, fale o meu nome verdadeiro. Principalmente,
nesta cidade! As paredes têm ouvidos e aqui residem os meus maiores
inimigos. Eu não posso lhes dar munição, e nem deixá-los me ver sangrar.
— a intensidade em minha voz é tão grande, que ele engole em seco e
baixa o olhar, envergonhado e provavelmente, com medo da retaliação que
pode vir a qualquer momento. Para a sua sorte, hoje eu estou de bom
humor, então, resolvo deixar essa passar.

— Desculpe, chefe, não irá acontecer novamente. — É bom mesmo


que não. Não falo, mas meu olhar comunica a ele minha ameaça silenciosa.
Seis meses antes…

A revista local estampa mais uma foto minha, usando a minha


habitual coroa de penas. Pelo menos, nessa eu estou em uma pose bonita
com uma mão erguida, animando o público, e a minha roupa não está tão
transparente como da última vez, penso, me lembrando do top cor de rosa
que Rose me garantiu que era um bom figurino e me fez acabar pagando
peitinho na luz néon, em minha estreia como residente, no início do mês, na
Purple Night. Infelizmente, esse tipo de coisa acontece muito mais do que
eu gostaria, e para ser sincera, eu não ligo tanto quanto deveria. Um mamilo
é realmente tão importante assim, para gerar tanta polêmica?
Desde os dezesseis anos comecei a minha carreira como DJ, e hoje,
eu sou, com convicção, a mais famosa e consolidada do país. Já toquei nos
maiores festivais do mundo, sou convidada para as melhores festas da
região, e disputo espaço com artistas famosos nas páginas de
entretenimento das revistas, como esta que está em minhas mãos.

— Eu fiquei bem. — comento com Rose, que dá de ombros,


confirmando com a cabeça.
— Acho que podemos trocar o seu figurino para peças roxas, já que
assinamos o contrato de residente na Purple. Já passei a eles todas as suas
exigências, e como queremos que a festa aconteça, quando você tocar na
sexta-feira. O gerente está em êxtase. Aquele gordo parece que vai ter um
orgasmo toda vez que fala comigo ao telefone.

É, ela é uma figura. Nem aparenta ter o auge dos seus trinta e oito
anos. Talvez, seja por isso que a gente combine tanto.

— Deveria estar. Aquele lugar vai lotar. — olho a paisagem através


da janela do carro, enquanto cruzamos as ruas de Havdiam, com destino à
minha nova casa, ou, pelo menos, meu novo salão de festas.

— Modesta, como sempre. — minha empresária brinca, e eu abro


um sorrisinho, como se estivesse sendo pega fazendo algo errado.

Purple Night é a boate mais famosa da capital, e por que não dizer,
do país? Eu posso me dar ao luxo de me achar um pouquinho com esse
convite. Assinar o contrato milionário foi um acerto. A obrigatoriedade de
tocar vinte e cinco vezes no ano não é nada absurdo, já que eu poderia fazer
semana sim, semana não, se quisesse. E, claro, em todas as semanas
excedentes, eu ganho um extra excelente. Não tenho, além disso, nenhuma
exclusividade com o local, e o meu material de publicidade é
comercializado com uma pequena comissão cobrada por eles, tudo
justíssimo ao meu ver, e ao ver dos meus advogados também, é claro. Rose
foi a primeira a aprovar a negociação, e depois de alguns meses, finalmente
fui anunciada como residente.

Agora, prestes a fazer o meu terceiro show na casa, sinto aquele


familiar frio na barriga, que acontece sempre, antes de qualquer
apresentação. Lisa, uma garota comum, que talvez seja um pouco geniosa,
responsável e a irmã mais velha, que tem feito papel de pai e mãe nos
últimos anos, se torna Lisa Becker. A DJ alada que leva todo mundo à
loucura com os seus remixes, sensualidade e misticidade. Na maleta ao meu
lado, meu fone e a minha coroa me relembram que eu preciso vestir meu
personagem em poucas horas e a ansiedade já começa a dar o ar da graça.
A boate vazia e clara parece totalmente diferente, e até mesmo, um
pouco fantasmagórica, mas quando chego ao camarim, as meninas
responsáveis pelo meu cabelo e maquiagem já estão prontas para fazer a sua
mágica. Conversamos em um tom animado e não me preocupo com mais
nada quando coloco os meus fones de ouvido, deixando a música me
relaxar e o tempo passar.

Quando fico pronta, observo a produção, com a certeza de que


provavelmente terei mais clicks em novas páginas de revistas, porque, dessa
vez, as meninas arrasaram demais na produção. Os cabelos platinados, mais
loiros do que nunca, caem em ondas pelas minhas costas, meus olhos azuis
estão destacados e a boca pintada de rosa escuro. A roupa cheia de
lantejoulas e plumas cor de rosa combina com toda a produção, e quando
coloco as botas de salto alto e encaixo a minha coroa cheia de penas, me
sinto pronta para fazer com que todos sintam o coração vibrar com as
minhas batidas.
Rose avisa ao gerente que estamos prontas, e a introdução começa,
falando todos os meus feitos.

— E agora, com vocês: a número um dos nossos corações, a dj


alada, a rainha das batidas, Lisa Becker! — a música ensurdecedora começa
e eu desço as escadas fazendo caras e bocas, até chegar ao meu palco e
iniciar o som de verdade. Fumaças coordenadas explodem, e canhões de
papel picado também, enquanto isso, a multidão de pessoas grita e se
balança ao som da música impactante.
Sorrio para os vários celulares que me filmam e mando um beijo ou
outro, quando escuto alguém gritar o meu nome mais alto. Esse aqui é o
meu momento, e enquanto danço e liberto minha magia musical, fazendo
todos se mexerem, percebo bem em frente ao meu palco, um par de olhos
azuis que não está nem dançando e nem sorrindo, me deixando
imediatamente intrigada.

Vestindo um terno preto, o homem está de braços cruzados, me


olhando. Eu nunca poderia confundi-lo com um segurança, seja pela sua
imponência, seja pela sua postura, parado, diante da multidão que se
balança ao seu redor, mas não encosta nele, porque, pelo que percebo
depois, os seguranças não deixam isso acontecer. Seu olhar é cheio de
especulação, mas sua expressão não me mostra nada. Nenhum tipo de
emoção, e essa é a primeira vez em que me sinto insegura tocando.
Será que ele não está gostando, por isso que não se move e me olha
dessa forma?

Nem mesmo o mais cético e as pessoas que menos gostam de


música eletrônica, conseguem ficar impassíveis ao som da batida, ao
menos, o pé bate ritmadamente. Jogo o meu corpo um pouco para frente,
tentando observar os pés do homem, para ver se eles estão se movendo, mas
como esperado, os dois sapatos sociais lustrosos estão estancados no chão.
Meu sorriso falha por alguns segundos. Isso não está certo. Mas, antes que
eu possa raciocinar sobre as implicações disso, o homem bonito, sério e
frustrante, vira as costas e vai embora, me deixando confusa e um pouco
decepcionada.

O que acabou de acontecer aqui?

Dias atuais…

A música alta preenche o ambiente, descalça e com os cabelos ainda


molhados, me balanço, cantando a plenos pulmões o novo hit do momento.
Talvez, se eu fosse uma boa cantora, fizesse ainda mais sucesso, mas como
não fui abençoada com esse dom, me contento em fazer parcerias com
artistas de sucesso e prestigiar amigos queridos do meio. Enquanto uma
música remixada de Kyle Donovan toca, Rose entra em meu quarto com um
sorriso de gato da Alice estampado em seu rosto. Sei, nesse momento, que
alguma coisa muito boa aconteceu, porque ela parece extremamente
animada.
— Vista-se, temos visita, Lisa.

— De quem? — pergunto, olhando no relógio de parede. Não são


oito horas da manhã, então, provavelmente deve ser importante.
— Um advogado bonitão que quer lhe fazer uma proposta
irrecusável.

— Não faço programa, Rose. — brinco e ela torce o nariz,


apontando para o closet.
— De trabalho, espertinha. Estamos te esperando.

Visto o primeiro vestido soltinho que encontro, um chinelo e, ainda


penteando o cabelo, caminho até a sala, dando de cara com um espetáculo
de homem. Ele parece sério e carrancudo, e me observa com seus olhos de
águia, enquanto me sento na poltrona à sua frente, sem saber o que esperar.
Odeio suspense. Nem filmes do gênero estou acostumada a assistir, me dão
certa agonia.
— Bom dia, senhorita Becker, eu sou Apolo Sanchez, e estou aqui a
pedido do senhor Hades, para lhe fazer uma proposta. — ele fala sério, mas
não consigo deixar de rir.

— Perdão. Senhor Hades? — ainda rindo, pergunto.

— Sim. Ele se intitula assim e prefere não revelar seu nome de


batismo. — sua voz é prática e impessoal, e continua — Podemos
continuar?

— Claro, quem é esse tal de Hades? E o que ele quer comigo?


— É um empresário influente e que está abrindo algumas unidades
de entretenimento na região. Começou com uma franquia de navios,
cassinos, e agora, vai abrir a Gehenna, uma nova boate que, provavelmente,
você ouviu falar, devido ao marketing que tem sido feito há algumas
semanas. — ele diz e fico imediatamente interessada.

É claro que já ouvi falar da tal Gehenna e fiquei extremamente


curiosa para saber mais sobre a tal boate exclusiva, que ninguém que
conheço sabe muito a respeito ou conseguiu um convite, antes de terem sido
esgotados.
— E qual seria essa proposta? — pergunto, porque a curiosidade é
muito maior do que qualquer outra coisa no momento.
— Bom, o senhor Hades — e ele faz uma careta ao dizer isso. É
quase imperceptível, mas eu noto quando acontece — quer que você toque
na inauguração. Esse seria o contrato e o valor do cachê. — Apolo me
estende alguns papéis e o dinheiro ofertado me faz piscar duas vezes,
chocada e lisonjeada. É quase o dobro do que eu geralmente cobro, e o meu
cachê é um dos mais caros dentre todos os outros DJ's que eu conheço.

— E tem como recusar uma proposta assim? — questiono, com um


sorriso no rosto. O advogado nega com a cabeça, como se soubesse a minha
resposta desde o começo, e me estende um convite vermelho sangue, assim
que assino todos os papéis.

"Gehenna

Bem-vindo ao inferno"

— Apresente esse na porta, que te deixarão passar. — ele diz, se


levantando.

— Acho que não preciso disso, todos me conhecem aqui em


Havdiam. — comento baixo, imitando o seu gesto.

— Se o príncipe precisa, você também vai precisar. — sua fala


contém certo deboche, e sem saber mais o que lhe responder, eu apenas o
observo cruzar a minha sala de estar e deixar o meu apartamento com Rose
em seu encalço.

Hades… inferno… Gehenna… Essa festa promete.


O lado bom de não ser conhecido, e ninguém saber o seu nome, é
que, antes da inauguração e aparição na mídia, eu tenho livre arbítrio para
andar e frequentar todos os lugares, sem que ninguém saiba quem eu sou e
barre a minha visita. Tenho feito excursões a todos os estabelecimentos da
Timberg Company há meses, metrificando todos os pontos interessantes
para saber exatamente como funcionam as coisas por lá, e o que eu preciso
fazer para que nos meus infernos tudo seja ainda melhor. Da música que
toca, até a temperatura do ar-condicionado, tudo é analisado e anotado para
o meu controle e revisão. Não tenho deixado passar nenhum detalhe em
mais de quinze anos arquitetando esse plano de vingança. Não será agora,
que eu vou falhar, me recuso até a pensar nessa ínfima possibilidade. Minha
missão de vida é fazer a Gehenna funcionar, e honrar a memória de minha
mãe. Por isso, dei muito mais dinheiro do que gostaria de admitir, para
Gavin. Gastei em sua boate carro-chefe, experimentando cada drink e
comida, fechando todos os camarotes e, claro, pegando intimidade o
suficiente para entender o que me era oferecido por trás das tabelas reais.

Sempre soube que ele era sujo, mas não imaginei que fosse tanto.
Prostituição e drogas me foram ofertados com uma facilidade tão grande,
que apenas com isso, eu já poderia fazer uma denuncia e interditar o lugar.
Entretanto, eu não concluiria os meus planos e não respingaria no principal
culpado de tudo, afinal, Gavin é esperto o suficiente para não sujar
diretamente as suas mãos nesse negócio nojento, já que toda a negociação
fica com o seu gerente imbecil. Apesar de anotar tudo, e de coletar provas,
obviamente, recusei as prostitutas, comprando uma dosagem mínima de
drogas, que descartei no banheiro na primeira oportunidade. Não poderia
recusar tudo, seria suspeito demais e ficaria visado.

Foi assim que, depois de muitas métricas e tabelas, pensando no


preço de cada drink e comidas, na sofisticação do lugar, perguntando,
eventualmente, para algumas pessoas bêbadas, o que achavam que faltava
na boate, é que fui montando o moodboard da Gehenna. Ela, sim, foi feita
para competir, e ganhar, da principal boate de Gavin. Fechando a Purple
Night por falta de público, com uma competição acirrada, e até mesmo
desleal, que começará um efeito em cadeia que eu estou ansioso demais
para causar e presenciar.

Por mais que eu mande muitos homens e mulheres para esses


trabalhos também, afinal, não posso aparecer com tanta frequência assim,
sem chamar uma atenção indesejada, gosto bastante de aparecer,
especialmente às sextas-feiras. É nesse dia que certa DJ Alada assume o
controle da música e começa a se mover sensualmente, atraindo a atenção
de todos que dançam na pista, hipnotizados pela sua beleza e música. Não
que eu esteja perdendo o foco, ou que isso faça com que, de alguma forma,
eu me desconcentre do meu objetivo. É só interessante observá-la de longe,
sempre coberta de plumas, em roupas transparentes e curtas demais. Lisa
Becker parece em transe todas as vezes em que sobe no palco, e se eu
pudesse colocar a mão no fogo por alguém que gosta do que faz,
possivelmente, colocaria por ela.

Alguém anuncia no microfone que em alguns minutos, Lisa Becker,


a DJ Alada, irá tocar, e sem perceber, aprumo a minha postura, olhando em
direção ao palco, praticamente esperando para que ela se materialize ali.

— Ansioso pelo show? — Alex Zur pergunta, me tirando dos meus


devaneios, sentado ao meu lado em um dos camarotes mais exclusivos da
boate. Um dos meus sócios, e amigo de longa data, apareceu hoje, para
fazer uma das últimas pesquisas de campo comigo. Em suas palavras, a
casa está "cheia demais" e, se continuasse ali, iria acabar discutindo com a
sua esposa, o que, para ele, configura quase um crime estatal.

— Palhaço! Estamos aqui com um objetivo único, e ponto final.


Mais do que ninguém, você deveria saber que eu não dou ponto sem nó, e
que isso aqui é apenas uma pesquisa de campo. Dentre todos, você é o
único que pode entender a minha necessidade de vingança e a importância
da concretização desse objetivo, que eu busco há tantos anos. — respondo,
fechando o semblante, enquanto ele dá de ombros, cruzando os braços de
forma desconfortável.
Apesar de haver entendimento em sua expressão, ele não concorda
comigo em muitos pontos, mas me respeitou o suficiente para entrar
comigo nessa e cedeu o primeiro cruzeiro que deu origem ao Hell Group.

Depois que se casou, posso contar nos dedos as vezes em que


saímos para conversar e tomar um drink. Ele não desgruda da esposa, e
agora, com o nascimento do seu primeiro filho, estou extremamente
surpreso com a sua ligação e convite para vir aqui. Mas não consigo deixar
de entendê-lo.

Por muitos e muitos anos, Zur buscou vingança, assim como eu. E
mesmo com tudo resolvido, a animosidade entre ele e o sogro,
provavelmente, existirá para o resto da vida. É natural querer manter
distância, depois de tudo o que se passou entre eles, quase uma forma de
defesa, afinal, foram anos de rancor e tensão.
— Poderíamos estar em um lugar mais tranquilo. O cassino, com
certeza, seria um ambiente melhor para conversarmos, até mesmo Gehenna.
— ele diz, olhando ao redor.

— Muito pelo contrário. Em um lugar barulhento e lotado, é muito


mais difícil de sermos ouvidos, do que em um tranquilo e vazio. Não tenho
certeza de que confio em todos os funcionários que foram contratados
ainda. Além do mais, logo o show começa e todos descem para a pista, e
aqui esvazia um pouco. Respire. — digo e ele afrouxa a gravata, parecendo
um pouco claustrofóbico.
— Se os pais de Laura não estivessem lá em casa há tantos dias, eu
nunca teria te ligado…, mas, eles simplesmente são…

— Eu sei. — interrompo — Não precisa se explicar. Entendo a sua


situação. Agora, me diz, você viu os dois ambientes. Sabe que a nossa ainda
não estava cheia assim, mas irá ficar, e quando estiver, com certeza
levaremos a melhor. Não?

— Você fez um trabalho bem-feito. — ele aprova com a cabeça e


todas as luzes se apagam, anunciando a entrada de Lisa nos palcos.
Involuntariamente, me levanto e, hipnotizado, olho para o lugar de
onde sei que ela aparecerá, esperando por sua entrada triunfal, e Lisa não
decepciona. Linda, sensual, ela desce as escadas com a sua coroa de penas e
começa a tocar, se remexendo com um sorriso no rosto.

Assisto por alguns segundos, e quando percebo o que estou fazendo,


e principalmente, que estou sendo observado, volto para o meu lugar,
buscando por uma desculpa boa o suficiente para a minha atitude.
— Contratamos essa Dj para o show de abertura. — digo e ele
levanta as sobrancelhas.

— Então, o velho Hades se rendeu aos encantos de alguém… que


interessante! Nunca te vi com uma mulher. — ele diz, e eu reviro os olhos,
bebendo o whisky em meu copo de uma só vez.

— Não me rendi aos encantos de mulher nenhuma, até porque,


nunca troquei meia dúzia de palavras com Lisa Becker. — não sei por que
estou me justificando, mas o sorrisinho condescendente no rosto de Alex
faz com que eu continue falando — Apolo fez toda a tramitação. Só acho
que ela é boa no que faz e anima o público, naturalmente. — aponto para a
plateia — Além de ser um baque grande, saber que a residente da Purple
Night irá tocar na abertura da Gehenna. Eles irão ficar enlouquecidos de
ódio.

— E você, de tesão. Seja honesto, está louco por ela.

— Eu não a conheço, não posso estar louco por alguém que não
conheço, Zur. Não seja ridículo. — reclamo, e ele confirma com a cabeça.

— Você é o homem mais sem escrúpulos que eu conheço, para todo


o resto, mas, surpreendentemente, tem essa mania de bom moço com as
mulheres. Às vezes, precisa transar para relaxar, sabe. Faz bem pro nosso
corpo e mente.

— Disse o homem que foi apaixonado pela mesma mulher pela vida
inteira. — ironizo, e ele dá de ombros.
— Não nego, mas também não agi como um morto, enquanto não
estava com ela.

— Eu não ajo como um morto. Só não trato mulheres como objetos,


— digo, completo mentalmente, como a minha mãe foi tratada — transo
com quem tenho apreço.

— Vou te contar um segredo, e que fique entre nós dois, — ele diz, e
abaixa o tom antes de dizer — às vezes, mulheres só querem transar por
transar, também. Nem todas estão procurando pelo príncipe encantado
naquele momento, elas também sentem necessidades. Se juntar tudo
direitinho, dá certo. — Zur solta uma gargalhada tão alta, que me deixa puto
e um pouco constrangido.

Filho da puta!
Ignoro-o completamente depois dessa palhaçada, e observo Lisa
dançar com as suas plumas cor de rosa, de olhos fechados e com um sorriso
no rosto.

Eu, obviamente, não estou encantado pela loira que se mexe como
se fosse um anjo. Definitivamente, não.
— Eu não acredito que você deixou de fazer o dever de casa de
matemática de novo, Helena. É importante estudar, sabe disso. — digo,
olhando para o recado em sua agenda escolar. Minha irmã, que sempre foi
uma perfeita nerdzinha, abre um sorriso sem vergonha e vem em minha
direção, se sentando ao meu lado.

— Não tive tempo. Eram muitos deveres. Os professores resolveram


passar todos ao mesmo tempo, você também não conseguiria. — ela
responde, e tenta me ludibriar, se aconchegando a mim igual a um gatinho.

— Tem garotos no meio dessa história, não tem? — é óbvio que sim.
No auge dos seus dezesseis anos, é claro que teria. Seu olhar culpado
também é um bom indício de que eu acertei na mosca, mas ela nega com a
cabeça, como eu sabia que faria. Ninguém assinaria a sua sentença de culpa
assim, tão facilmente.
— Juro que não, eu tive dois seminários e prova de francês, no
mesmo dia. Não tive como fazer os testes de matemática, mas prometo
fazer tudo e entrega-los, mesmo que atrasados, para o senhor Giacomo. —
ela diz solenemente e eu estreito os meus olhos em sua direção.

Para ter recebido uma ligação da escola, me informando sobre a sua


ocorrência e falta do dever de casa, isso não deve ter acontecido apenas
uma vez. Mas não sei exatamente o que fazer, já que não posso ser
grosseira, nem carrasca, para não correr o risco de afastá-la de mim, não é
isso o que eu quero. De jeito nenhum. O melhor é tentar conversar e
entender o que está acontecendo, para ajudá-la como puder.
— Espero mesmo que sim, porque sabe que eu trabalho duro para
pagar a sua educação. O mínimo que eu espero é que aprecie a minha
dedicação… pode ter outras atividades, eu não julgo, só peço que, por
favor, não deixe de cumprir com as suas obrigações, Lena… é importante.
— respondo, não conseguindo mais segurar a pose de mãe, que ainda é tão
difícil para mim assumir.

Eu sempre fui a irmã mais velha legal, que emprestava roupas e


maquiagens. Que cobria as suas escapadas…, porém, agora, depois do
acidente, eu simplesmente tive que assumir tudo.

— Eu sei. — ela diz baixo, parecendo sentida também, e nós nos


abraçamos.

Talvez, seja pela grande diferença de idade, ou porque eu nunca fui


uma pessoa ciumenta, mas sim, alguém protetora e amigável, minha relação
com Helena sempre foi ótima. Depois que os nossos pais se acidentaram, o
caos aconteceu em nossas vidas e nós nos tornamos ainda mais unidas. Eu
já tocava como DJ há anos, e era agenciada por Rose, Helena estava
começando a entrar na adolescência e se revoltou um pouco com a situação.
Papai morreu na hora, mas mamãe ainda está internada, em coma. A cada
mês que passa, nossa esperança para que ela acorde e se recupere
totalmente, se torna cada vez menor, mas virou a minha responsabilidade
cuidar da minha irmã e da nossa casa. Já Rose, se sentiu responsável por
cuidar de nós duas, mesmo não tendo nenhuma responsabilidade real. Com
isso, eu parei de viajar tanto para outros países, e assumi muitas
responsabilidades que eu não gostaria de ter no auge dos meus vinte e cinco
anos.

Uma família disfuncional, mas que, com amor e um pouco de


teimosia, passa a funcionar.

— Agora, me conta quem é ele. — digo, depois de alguns segundos,


e vejo suas bochechas ficarem vermelhas.

Helena, ao contrário de mim, sempre foi muito tímida e nunca


gostou muito de atenção. Por isso, saber que alguém chamou a sua atenção,
a ponto de distraí-la dos estudos, é algo diferente, e me deixa bastante
curiosa. Não estou acostumada a ter que lhe dar sermões sobre deveres que
não foram feitos, ou advertências que recebi da escola sobre seu
comportamento.

— Bom, ele se chama Piter, é bem charmoso e inteligente… um ano


mais velho, sabe? — ela começa, então, a me contar sobre o tal paquera que
roubou seu coração e que a faz suspirar a cada cinco minutos. Acho graça,
mas gosto de saber que ela confia em mim o suficiente para me
confidenciar as suas aventuras e paixonites. Isso é importante para mim.

— … e você, Lisa? Quais são as novidades? — ela pergunta, depois


de um tempo, provavelmente, sondando se tenho algum paquera também,
mas abro um sorriso lupino, antes de mudar de assunto:
— Fui convidada para ir pro inferno. — digo em um tom misterioso
e vejo seus olhos se arregalarem, assustados.

— Que grosseria! Quem foi o arrogante que fez isso? — ela


pergunta, e eu dou uma risadinha, achando graça da sua reação.

— É a nova boate que vai ser inaugurada no final de semana. Se


chama, na realidade, Gehenna, e pelo que eu pesquisei, é a tradução de
inferno em Latim. O dono se intitula Hades, e tudo parece muito misterioso,
mas vou ganhar um bom dinheiro e o negócio é bem exclusivo.

— Uau! — Helena parece bastante impressionada — E a sua roupa?


Como vai ser? — é claro que a pequena fashionista iria pensar no que eu
iria vestir.

— Bom, eu não sei… quer me ajudar? — pergunto, sabendo que,


com certeza, isso é algo de que minha irmãzinha não abriria mão por nada.

Nós temos um acordo, que graças aos céus ainda não foi quebrado,
nem questionado. Helena não participa dos meus shows. Ela ainda é menor
de idade, e por mais que, vira e mexe, insinue que gostaria de me ver tocar,
não a deixo participar de boates e festivais ainda.
Sei que em festas de música eletrônica existe muita droga, e mesmo
na Purple Night, já vi mais olhos vidrados do que eu gostaria de presenciar.
Não é ambiente para ela, que ainda não sabe diferenciar direito o que é bom
ou ruim. Mesmo ao meu lado, e sabendo que é hipocrisia, porque comecei a
tocar na sua idade, prefiro preservá-la.

O que posso fazer, se sou protetora com quem eu amo?


O interessante de se ter uma equipe só para cuidar de você, é que,
além de não precisar se preocupar com absolutamente nada, porque eles te
conhecem e sabem de tudo o que você gosta, aquele pessoal se torna a sua
família.
Rose está comigo, sendo a minha empresária, há quase dez anos, e
depois de tudo, eu a considero uma segunda mãe. Já Danielle e Yasmin,
minha maquiadora e penteadista, são amigas, e praticamente parte da
família também, afinal, as vejo com tanta frequência que não poderia ser
diferente. Elas estão comigo a cada show, entrevista, comercial, clipe e
evento, cuidando de mim, me embelezando e fofocando comigo sobre os
maiores babados das celebridades.

— Descobrimos um babado que você não vai acreditar, Lisa! —


Dani diz, como se estivesse me contando os números do próximo jogo de
loteria.

Ela e Yas trocam um sorrisinho cúmplice, e minha curiosidade vai


nas alturas. Não teria como ser diferente, eu sou mulher e, querendo ou não,
um tantinho fofoqueira.

— A Layra, a cantora famosa, se envolveu em outro escândalo com


paparazzis. Pelo que eu sei, tudo foi por água abaixo e ela teve até que
passar a noite na prisão! — Yas conta, como se estivesse realmente chocada
com o que está me dizendo e sinto meus olhos quase saltando das órbitas.
Layra Hale e eu já conversamos diversas vezes a respeito de feats, e
saber que ela está metida em tantas confusões me preocupa. Quando a
conheci pessoalmente, não achei que ela fosse uma menina problema.

— Sério? O que o paparazzi fez? — questiono, porque, com certeza,


tem que haver uma explicação melhor do que essa.
— Aparentemente, ele tirou fotos dela saindo de uma clínica de
reabilitação, mas não foi muito falado… soubemos da informação por uma
colega que faz as unhas dela. — Dani completa, tendo a decência de parecer
constrangida. É claro que a fofoca corre solta nesse meio, mas por essa
rapidez impressionante eu não esperava.

Apesar disso, duvido muito que Layra esteja envolvida com drogas,
ela nunca me pareceu alguém que estivesse imersa nesse meio. Aliás… vai
saber! Não coloco a minha mão no fogo por ninguém.

— Bom, suas diabinhas, eu tenho uma fofoca para vocês também…


— digo, e elas parecem sedentas. Abro minha bolsa e tiro o convite
vermelho-sangue da Gehenna, mostrando para as duas onde irei tocar
amanhã, e como se fossem sincronizadas, ambas dão gritos e pulinhos ao
mesmo tempo, chamando atenção das pessoas que passam do lado de fora
do camarim.

O gerente da Purple, Edgar, nos observa intrigado por alguns


segundos, mas quando começo a ser bombardeada com as mais diversas
perguntas, ele some.
A Gehenna nem abriu e já é um grande sucesso.

Sei disso pela fila que dobra o quarteirão, vinte minutos antes da
porta se abrir. E também, porque os paparazzis não param de disparar
flashes em todas as direções, em busca do convidado mais famoso que, sim,
pasmem, está esperando na fila, como qualquer outro, afinal, hoje, todos
são especiais.

Há certo orgulho em saber que as coisas estão indo tão bem como
deveriam, e que tudo o que eu idealizei correu exatamente como eu pensei.
Apesar de saber que a Gehenna é um caminho para um fim, não tem como
não sorrir ao ver o príncipe ser escoltado para dentro por vários seguranças,
antes de abrirmos as portas. Se Vossa Graça resolveu aparecer, realmente,
eu sou foda o suficiente para ter feito algo muito certo.
Meus sócios também já estão bem localizados no camarote oficial
reservado, com as suas respectivas esposas e namoradas, que, se antes não
se conheciam, parecem estar bastante entrosadas bebendo champagne e
rindo de alguma coisa que a morena atrevida, que domou meu advogado,
falou. Da pista, observo e controlo tudo, sabendo que, apesar de ter tudo sob
controle, é a minha responsabilidade fazer com que tudo saia perfeito. É a
inauguração e não existe espaço nenhum para falha. A primeira impressão é
a que fica, e nesse caso, definitivamente, eu preciso levar isso muito a sério,
já que sairá em todos os jornais de Havdiam, amanhã de manhã.

— Isabel? Como está a temperatura do ar-condicionado? —


pergunto por perguntar, sabendo que deixei instruções muito claras com
todos os funcionários da casa. Eles sabem bem o que devem fazer, e tenho
certeza de que não vão me decepcionar antes mesmo de começarem.

— Dezenove graus até entrar quarenta por cento da lotação máxima,


senhor. Depois, iremos abaixando gradativamente.

— Certo. — confirmo com a cabeça e olho novamente no relógio,


confirmando que faltam apenas cinco minutos para a casa abrir. Olho mais
uma vez para os que tiveram direito de entrar antes do horário marcado, e
então, para o balcão onde todos os funcionários já estão a postos para
começar a servir os primeiros que chegarem com nosso welcome drink.

— Então, É ISSO PESSOAL! — aumento o meu tom de voz para


chamar a atenção de todos, que param de conversar e olham para mim —
Não aceito menos do que perfeição. Quero que essa noite seja lembrada na
história, como a melhor de Havdiam. Gehenna já é um sucesso, e vocês têm
a obrigação de manter a sua boa fama. — olho para cada um dos meus
funcionários, e concluo — Hora de abrir os portões, porque hoje, o inferno
vai subir para a Terra!
Escuto uma salva de palmas de funcionários e sócios, e sem esboçar
sorriso algum, olho para o segundo andar, de onde a loira, sem as suas
habituais roupas sensuais e extravagantes, vestindo um roupão branco, me
observa de braços cruzados, como se não aprovasse meu discurso.

As pessoas começam a entrar, a casa a se encher e uma satisfação


pessoal muito grande toma conta de mim. Circulo por entre os empresários
e celebridades que parecem se divertir e aprovar a noite, ainda sem
conhecer a figura por trás de toda a organização. Meus minutos de
anonimato estão quase acabando, e por isso, preciso aproveitar ao máximo,
porque eles me foram preciosos por tempo demais.

As dançarinas e dançarinos se movimentam sensualmente nas


gaiolas, a música deixa um clima animado, os dois andares conversam entre
si de uma forma interessante, onde parece que ninguém está isolado. O DJ
residente toca, enquanto a atração principal está se arrumando, e todas as
vezes em que Lisa Becker é anunciada, sinto a expectativa e ansiedade do
público. Por hoje, todos são pessoas realmente importantes aqui, o clima
está descontraído e agradável, sem medo de uma foto comprometedora
vazar para alguma imprensa sensacionalista.

Parte do mistério da Gehenna é que, apenas os convidados podem


postar fotos na parte de dentro do estabelecimento, e na lista, não
convidamos ninguém responsável por veículos de imprensa. Todos, até
mesmo os portais de notícias, estão sem saber o que esperar depois de toda
a propaganda, e segundo a minha social mídia, isso gerou mais curiosidade
do que qualquer outra ação que poderíamos ter feito.

Por volta da meia noite, com a lotação quase completa, sou


praticamente sequestrado por Anthony, que me leva para junto deles.
Aparentemente, o meu tempo de trabalhar acabou.
— Você precisa relaxar um pouco. — o Conde diz, em seu jeito
casual de ser. Até pouco tempo atrás, o atual pai de família, pulava de festa
em festa, de balada em balada. Talvez, ele, entre todos, seja o que possa me
dar uma opinião mais verdadeira sobre estarmos indo bem ou não. Não
custa perguntar.

— O que acha? — questiono, e talvez soe um pouco mais agressivo


do que o esperado, porque ele levanta as mãos em rendição, antes de abrir
um sorriso de lado e falar:
— Calma, calma, amigo. Estou apenas tentando fazer o último
solteiro entre nós relaxar um pouco. Você sabe, beber um drink… — reviro
os olhos e ele continua — Eu sei de tudo. Bem, se quer saber, a melhor
balada que eu já fui. E isso não é pouca coisa, já que passei uma grande
temporada em Ibiza. — a última parte ele fala um pouco mais baixo,
olhando para os lados, conferindo se sua namorada não nos escutou. A
loira, sabiamente se recusa a aceitar seu pedido de casamento, e talvez,
ouvir algo assim não seja bom para fazer com que ela aceite.

— Bom. — respondo monossílabo e ele percebe que a luta está


perdida, quando Zur diz:
— Já conversei com ele, recentemente, sobre se divertir um pouco
além do trabalho, mas está irredutível. — ele diz, sem olhar em nossa
direção, ainda observando a esposa conversar com Luana, em uma conversa
animada.

— Não há o que conversar. — digo seco, lhes dando um olhar


mortal — Vocês deveriam apenas estar interessados no lucro que a Gehenna
irá dar para as respectivas contas bancárias.
— Nossa, realmente deveríamos agradecer ao todo poderoso Hades
por ter feito o trabalho dele. — Atlas debocha, ouvindo a conversa e
resolvendo participar do meu sofrimento — Não seja um bebê. Estamos
todos cumprindo com as nossas partes no acordo. Não?

— Não deixa de ser. — confirmo a contragosto, mas somos


interrompidos pelo locutor, que anuncia a atração principal:
— Ela já tocou nos maiores festivais de todo o mundo. Encanta a
todos por onde passa. Sua beleza e sua sensualidade não se equiparam ao
seu talento. Vocês estão preparados para Lisa Becker? — ele grita, e todos
respondem em uníssono.

Me aproximo do parapeito e percebo que o príncipe, há alguns


metros de nós, faz o mesmo, procurando-a. Mas, eu sei de onde ela vai sair
e, focalizando-a com o olhar, aguardo.

A luz bate no topo da escada e, como uma deusa, ela aparece vestida
de vermelho, com uma coroa diferente, dessa vez, com uma plumagem
preta.

— Com vocês, a DJ Alada! — trocamos um olhar por alguns


segundos, antes de ela descer as escadas como geralmente faz, e começar a
tocar uma música diferente da abertura comum dos seus shows. Mais
sensual, digna da Gehenna. Digna do inferno.

Sinto um tapa nas costas e sou tirado do transe instantaneamente.


Dessa vez, é Apolo quem veio me atormentar, como se eu precisasse de
mais pessoas pegando no meu pé.

— O que é? — falo friamente, e ele nem pisca.


— Você está obcecado por ela. — Apolo comenta, tirando a noite
para encher o meu saco.
— Não estou.

— Tirou um dinheiro que não temos para contratá-la. Foi


imprudência. — sua fala é séria, aqui não é o meu amigo, e sim, o advogado
— Não disse para os outros, porque não estou à frente do financeiro, e sei
que se precisar cobrir, você irá. Mas não deixe que ela vire a sua cabeça e te
desvie dos seus planos.
— Até parece que não me conhece, Apolo. Quando isso aconteceu?
Desfoquei do que precisava ser feito?

— Para tudo tem uma primeira vez. Isso é um conselho de


advogado, — ele fala, e depois de alguns segundos, abre um sorriso sacana
e completa — mas como amigo, te indico a investir, porque ela é uma
gostosa.

Fico tão indignado que, antes de dar por mim, parto para cima dele e
acerto um soco no lado direito de seu rosto. Dylan é quem surge para nos
separar. Enquanto ele segura Apolo, é Atlas quem me mantém no lugar.

— Me solta, cara! — tento me desvencilhar.


— Acredite em mim, estou te fazendo um favor. — a voz do irmão
de Apolo, que mantém o olhar indignado em mim, avisa — Eu, mais do que
ninguém, sei o quanto meu irmão é rancoroso, e tenho certeza de que não
vai querer brigar com ele por causa dessa bobagem.

Ainda furioso, não emito nenhuma palavra, sem entender o porquê


dessa reação tão impulsiva. Que merda está acontecendo comigo? Tudo
bem que faça parte do meu modus operandi. Agir, depois pensar. Mas não
com meus amigos. Geralmente, tendo a ser mais racional com eles, ou pelo
menos, tento ser.
— Quase mais interessante do que esse show caríssimo — Zur
declara, de braços cruzados e com seus olhos julgadores correndo entre
Apolo e eu, fazendo todos os outros caírem na gargalhada.

Ainda rindo, Apolo levanta os braços e Dylan o solta, percebendo


que não irá avançar. Todos à nossa volta olham o showzinho particular que
protagonizamos, e chegam mais perto para tentar entender o que aconteceu.
A atenção me sufoca, e quando Apolo fala: "viu, eu te disse que estava
obcecado por ela", viro as costas e saio dali.

Não preciso lidar com isso.

Pelo menos, não hoje.


Se eu soubesse que seria tão burocrático levar a minha equipe
comigo, teria feito mais exigências na hora da assinatura daquele contrato.
Por sorte, chegamos horas antes do horário de abertura, porque, como havia
sido dito, todos só entrariam com o convite. E, se até mesmo o príncipe
estava sujeito a isso, eu, como atração da noite, não poderia me dar ao luxo
de me atrasar porque fiquei presa na fila com outras pessoas.

Após conseguirmos entrar pelas portas dos fundos, antes dos


convidados, mas juntamente com os outros funcionários, depois de bastante
negociação, uma mulher bastante agitada, chamada Isabel, nos enfiou
dentro do camarim e nunca mais deu as caras. Ouvimos dizer, depois de
muita conversa com as dançarinas das gaiolas, que não seria de bom tom
ficarmos circulando muito pelas dependências da boate depois que os
sócios chegassem, porque eram pessoas importantes e que gostavam de
privacidade. Traduzindo, todos riquinhos arrogantes e esnobes. Mas, com o
dinheiro que recebi, não pude reclamar. Aceitamos todas as dicas de bom
grado, cheias de curiosidade e especulações sobre o que nos aguardava, de
dentro do camarim, não contive minha indiscrição e fui explorar. Dani e Yas
estavam quase tendo um mini ataque cardíaco para saber quem era o dono
do lugar, e principalmente, quem eram esses tais sócios importantíssimos.
Mas, Rose manteve todo mundo na linha… pelo menos, pela maior parte do
tempo.

Quem era Hades?

Como era a Gehenna?

Passamos tão rápido pelo salão que eu mal consegui visualizar as


dependências da casa direito. Como não sou a primeira DJ da noite, não
tenho a obrigação de confirmar se tudo está funcionando corretamente, e
nem essa desculpa tenho para dar uma escapada e espionar.

Mas não me orgulho de dizer que, em certo momento, antes da


abertura, fugi. Atraída pela voz imponente, quase hipnotizante, me vi de
roupão na ponta da escada, ouvindo o homem sério, de terno preto bem
ajustado ao corpo, falar com seus funcionários sobre abrir as portas e trazer
o inferno à Terra. Isso, antes dos seus olhos se cravarem nos seus.

Os mesmos olhos que não esboçaram emoção nenhuma, meses


atrás, na Purple Night, e que me intrigaram tanto diante de sua postura séria
e impassível.

Então, aquele era Hades.

Confusa e me sentindo um pouco enganada, fugi e voltei para o


camarim, onde as meninas começaram a me arrumar de verdade para o
show de mais tarde.
Por que ele não falou quem era?

Por que me contratou, se não gostou da minha música?

Por que foi à boate concorrente, antes de abrir a sua própria?


Ok… essa é uma resposta óbvia. Mas, mesmo assim. Não é normal, talvez,
seja um pouco sádico ter me contratado para tocar na Gehenna.

Definitivamente, não posso confiar em uma pessoa que esconde seu


rosto e seu nome, penso, me sentindo confusa e um pouco traída, sem ao
menos conhecê-lo. Talvez seja uma questão de ego por aquele maldito dia.
Se ele não gostou do que ouviu, se ele não dançou, por que me quis aqui?

Termino de vestir a roupa escolhida por Helena para hoje, abrindo


um sorrisinho ao observar o collant, que mais se assemelha a uma lingerie,
com lantejoulas e uma cauda esvoaçante, e a coroa nova que mandei fazer
especialmente para esse momento. Sei que estarei em todas as revistas
amanhã, então, mereço estar em meu melhor estilo. A ocasião pede.

— Está linda, Lisa! — Rose diz, parecendo animada, e eu abro um


sorriso.
— E quando não estou? — brinco e completo, antes que ela me
responda — Não… não diga. Deixe meu ego inflado um pouquinho! —
todas caímos na gargalhada e um staff bate à porta, anunciando a minha
entrada.

Caminho em direção à escadaria, e no caminho, me questiono se


Hades colocou o palco no andar de baixo para que os artistas fizessem a sua
entrada da mesma maneira em que na Purple Night, mas no mesmo
momento, balanço a cabeça em negativa.

"Você está sendo muito paranoica, pelo amor de Deus."


— Com vocês, a DJ Alada! — a luz focaliza em mim, e em minha
tradicional pose, passo um olhar rápido por todo o lugar, até me concentrar
nos olhos tempestuosos de Hades, que me encara intensamente e parece me
queimar por dentro. Tudo, não dura mais do que poucos segundos, mas isso
me deixa completamente fora do eixo.

Começo a descer as escadas e preciso segurar no corrimão para não


escorregar, enquanto a música mais sensual e lenta que escolhi para abrir o
set de hoje, toca, me esperando chegar para explodir a plateia. Mas, assim
que coloco meu fone e dou o primeiro comando, esqueço de tudo.
Esse momento é meu.

Observo o lugar e as pessoas sentindo a energia, e constato que, sem


sombra de dúvidas, Gehenna será um sucesso estrondoso. A energia do
ambiente passa uma aura sensual e envolvente, que não precisa de muita
coisa para transformar a casa no inferninho que promete ser.

Todos curtem o meu show, e sem arriscar um segundo olhar para o


dono do lugar, que me desconcerta e tira o meu foco, procuro por ele apenas
no final do show e, decepcionada, constato que ele não está mais no
camarote com os outros sócios, que parecem animados curtindo a música.

É isso, realmente parece pessoal. Ou ele não gosta do que eu toco, o


que está tudo bem, já que ninguém é obrigado a gostar, mas não justifica ele
ter me contratado para o show de abertura.

Homem confuso!

— Obrigada, Gehenna! Que noite incrível! — agradeço no


microfone, subindo em cima da mesa e dançando ao som da batida. Todos
gritam pedindo mais, e eu aumento ainda mais o volume, antes de abaixá-lo
novamente e falar — Mas ainda tem mais! A noite ainda não acabou!
Teremos muitas outras surpresas. Obrigada! Até mais!

Canhões de fumaça explodem, e quando me viro para subir


novamente as escadas, a portinha atrás do palco se abre, e é para dentro de
onde alguém me puxa pela cintura, me pegando de surpresa.
Esse lugar realmente precisa melhorar a comunicação!

Vou colocar na caixinha de sugestões, penso indignada, ainda no


escuro do que me parece ser um armário de vassouras, de tão apertado.
— Seu show foi impecável, parabéns. — a voz potente e intensa de
mais cedo diz, e seu cheiro amadeirado, misturado com tabaco e suor
invade o meu nariz, e em vez de sentir repulsa, fico um pouco extasiada, e
porque não dizer, excitada.

Preciso de alguns segundos para entender onde estou, o que está


acontecendo, e só quando ele acende a luz e ficamos cara a cara é que pisco
algumas vezes e falo, na voz mais boba de todos os tempos:
— Quem é você? — pergunto, analisando seu rosto simétrico,
olhando em seus profundos olhos cor de chocolate.

— A esse ponto, achei que já tivesse descoberto. — ele brinca, e eu


franzo o cenho.

— Ainda essa história do Deus do inferno? — brinco, e ele não


muda de expressão, ainda parecendo se divertir um pouco com a minha
reação e, principalmente, com a nossa proximidade.

— Bom, eu sou chamado dessa forma. — não há nada além de


contestação em sua fala. Isso parece ser algo tão absoluto para ele, que não
o abalam os meus questionamentos.
— Só Hades? — pergunto, porque não deixa de ser engraçado.

— Apenas Hades, Lisa. — meu nome parece uma música em sua


boca, e aparentemente, ele também apreciou isso.

— Certo. — digo e olho ao nosso redor.

O possível armário de vassouras, na verdade, parece uma passagem


de staff, onde água, casacos, walk talk e outras coisas, estão
milimetricamente organizadas em prateleiras de ambos os lados, entre duas
portas. Ele percebe o que estou observando, e abre a porta oposta pela qual
entrei, antes de dizer:

— Vamos? — confirmo com a cabeça e o sigo pelos bastidores.


Como não digo nada, ele começa a falar — Achei que seria interessante ter
essa saída dramática, e de emergência para artistas famosos, se caso
acontecesse algo. — ele dá de ombros, com as mãos dentro do bolso da
calça do seu terno caríssimo, e eu me questiono, se não sente calor com
tanta roupa. Eu, que estou apenas com o meu collant, estou realmente
encalorada. Mas, talvez, seja a proximidade com esse homem bonito.

— Bem pensado. Poderiam ter me explicado sobre isso. A única


coisa que a tal Isabel me disse foi para ficar dentro do camarim e para não
sair de lá, porque os sócios não queriam ser incomodados. — digo, sem
conseguir disfarçar o incômodo na voz, e ele parece bravo, pela sombra que
passa em seu rosto. Com um só olhar, Hades se comunica com o segurança,
que parece entender o que ele quis dizer.

— Uma falha pela qual peço desculpas. — percebo que ele me


encaminha para a escada dupla que vai me levar de volta para o camarim,
onde as meninas e as minhas coisas estão — Posso me redimir lhe pagando
um drink?
Sua expressão é impassível, mas em seu olhar vejo um resquício de
dúvida? Ansiedade? Não sei dizer… O convite me pega de surpresa, mas,
tentada a saber mais sobre ele, curiosa com todo o mistério, não resisto e
confirmo com a cabeça.

Seria impossível recusar.


— Eu aceito… — digo, abrindo um sorriso, antes de indicar as
escadas com a cabeça — Só que preciso me trocar… vou tentar não
demorar, tudo bem?

— Claro, ouvi dizer que a casa só fecha quando o último sair. O


dono é bastante rigoroso com essa regra. — ele fala sério, mas não consigo
conter a risadinha, antes de lhe dar as costas e subir correndo.
— Perdoe-me se eu estiver errado, mas você acabou de fazer uma
piadinha? — Frederico pergunta, assim que Lisa não consegue mais nos
ouvir.

— Perdoe-me se eu estiver errado, mas não lhe dei autorização para


ouvir as minhas conversas particulares, dei? — pergunto gélido, e ele nega
com a cabeça, abaixando o olhar.

Atrevido!

Mas, não deixa de ter certa razão.


De onde eu tirei essa tal piadinha sem noção?

Que ideia foi essa de espiá-la pela coxia até o show acabar?
E o que foi aquilo quando ela se despediu do público, puxá-la pela
cintura, colando seu corpo ao meu, mesmo que por poucos segundos, antes
de dar uma desculpa esfarrapada para estar ali?

Completamente sem senso! Se não fosse a amizade… com certeza,


demissão… com certeza.

Cogito voltar para o segundo andar, mas se Lisa aparecer por ali,
perto dos idiotas dos meus amigos, eu definitivamente, não terei paz pro
resto da minha vida, por isso, com apenas um olhar um pouco intimidador,
libero uma mesa no primeiro andar e peço para que Fred espere pela moça
na escada e indique a ela o caminho.

Depois de mais de seis meses a observando de longe, acho que


realmente está na hora de tomar alguma providência sobre o assunto. Para o
bem ou para o mal, eles têm razão. Lisa Becker não é uma pessoa que eu
admiro de alguma forma, e não nutro nenhum sentimento. Ela é atraente e
talvez, realmente valha a pena apostar algumas fichas, para ver no que vai
dar. No mínimo, curiosidade, isso eu tenho que admitir para mim mesmo,
existe.

Algumas músicas depois, um homem bêbado demais, que precisei


instruir para que o segurança retirasse do local, e duas mulheres que se
aproximaram de mim com segundas intenções e foram devidamente
ignoradas, Lisa aparece. Usando um microvestido prateado. Ficaria quase
decepcionado ao vê-la sem a coroa alada presa em seus cabelos, se ela não
fosse realmente a visão de um anjo de perto. Linda. Na realidade, linda é
pouco. Belíssima.

Seus cabelos loiros se balançam em sincronia com o seu quadril, e


ela parece descontraída, enquanto cumprimenta duas meninas que a param
no meio do caminho para tirar uma foto. Aguardo, ansioso, mas tento não
esboçar nenhum tipo de expressão, esse não é o momento.

— Obrigada por me esperar. — ela diz, com um sorriso simpático,


antes de se sentar na cadeira à minha frente.
— Não foi incômodo nenhum.

Antes que eu precise fazer qualquer movimento, um garçom se


materializa ao nosso lado, e ela diz o drink elaborado que quer, com uma
voz sedutora, que o deixa animado demais para o meu gosto.
Imediatamente, penso em inúmeras formas de acabar com essa palhaçada,
mas controlo a fera e o ciúmes inexplicável que existe dentro de mim, e
com apenas um olhar, Fred sabe o que tem de fazer.

— E então, Hades, — ela diz meu nome com uma entonação


engraçada, como se tudo fosse uma brincadeira — me conte o porquê de
Gehenna, Hell Group e toda essa história voltada para o inferno.

— Talvez, eu não queira falar sobre isso hoje… — digo, chegando


mais perto, e percebo que ela se arrepia quando me aproximo um pouco
mais, falando em seu ouvido, para que ela me escute sem que eu precise
gritar — Gostaria de saber mais sobre você. O que te levou a ser DJ?

— Também não quero falar sobre mim. — ela responde, abrindo um


sorriso, que julgo ser um pouco vingativo.

Talvez, a curiosidade por trás da minha máscara seja maior do que


ela queira admitir e, negar informações não tenha sido um bom jeito de
começar a nos conhecermos. Se os dois estiverem armados, não vamos
conseguir chegar a lugar nenhum, e definitivamente, não é isso o que eu
quero.
— Então, sobre o que você quer falar? — pergunto casualmente, e
as nossas bebidas chegam, trazidas agora por uma mulher, que parece séria
e profissional. O tipo de atendimento de um funcionário exemplar.

Excelente troca. Apesar de estar atento, até demais, à nossa


conversa, Frederico entende muito do meu modus operandi e sabe o que
precisa ser feito.
— Você parece ser respeitado… — ela comenta, notando a troca de
garçons também, interessada.

— Eu sou. — confirmo com a cabeça — Mas, acho que você já


sabia disso… não é bem uma pergunta. — falo soturno e ela confirma,
dando um gole generoso da sua bebida. Vejo o movimento do seu pescoço e
involuntariamente me aproximo ainda mais, e seu cheiro se torna mais
presente, cítrico e um pouco picante. Sem me dar conta dos meus próprios
movimentos, assim como nunca percebo o que faço quando ela está nos
palcos, passo a língua no lábio inferior, mas assim que volto o olhar para os
seus olhos, percebo que ela me observa atentamente — Já que não vamos
nos aprofundar muito sobre a minha vida, e nem sobre a sua, me conte
alguma coisa.
— Como assim?

— Qualquer coisa. — ela parece confusa, e ao mesmo tempo, acha


graça da imposição em minha voz, mas não desvia o olhar — Qual é o seu
perfume?

— Segredo de estado. — ela brinca, e rebate — O que você mais


gosta de fazer no tempo livre?

— Treinar. — respondo, dando de ombros, e ela levanta as


sobrancelhas surpresa.
— Credo. Eu faço academia por obrigação… não digo que isso seria
um prazer. — ela parece até indignada com a minha resposta, como se não
comprasse a ideia, mas antes de perguntar outra coisa, questiono:

— E você? O que mais gosta de fazer em seu tempo livre? — Lisa


me olha por alguns segundos, e percebo que seus olhos são tão azuis que
não me lembro de ter visto nada parecido antes. Lindos.
— Eu gosto de dançar… é claro, — revira os olhos, como se essa
afirmação fosse algo lógico, e completa: — e também gosto de cozinhar.
Por falar nisso, qual é a sua comida preferida?

— Lasanha italiana. — respondo solenemente e ela gargalha.

— As que fazemos em Vongher não são boas o suficiente para o


Deus do Inferno? — tem tanta ironia em sua voz, que não consigo manter a
expressão impassível e abro um sorriso de lado, um pouco sarcástico, um
pouco saudoso, antes de responder.

— São diferentes. As italianas me lembram da minha mama, por


isso, são minhas preferidas…, mas as de Vongher atendem bem ao
propósito de oferecer uma boa alimentação. — respondo, e ela me estuda
por alguns segundos, antes de compreender o que eu quiser dizer.
— Desculpe… eu não quis… — ela diz, se atrapalhando um pouco
com as palavras, antes de desviar o olhar, e eu seguro em sua mão, antes de
dizer:

— Não se desculpe, eu honro o nome dela todos os dias.


— Eu também… quer dizer… bom, é complicado. — ela responde,
antes de suspirar, e eu mudo de assunto, antes de transformarmos essa noite
de festa em um evento fúnebre.
— E qual é a sua comida preferida? — pergunto, e percebo que ela
não retira a sua mão da minha, pelo contrário, a aperta um pouco, antes de
responder:

— Pizza — ela responde, dando de ombros — de pepperoni. Com


bastante queijo. Inclusive, chegando em casa vou pedir uma. — seu sorriso
é amplo, eu não sei se ela está brincando, ou falando sério. Mas, na dúvida,
resolvo arriscar.
— E o que você acha de irmos comer juntos essa pizza? — ela
parece ter sido pega de surpresa, mas abre um sorriso extremamente
sedutor, e quando eu tenho absoluta certeza de que ganhei essa partida, ela
responde, se colocando de pé:

— Eu acho que você é um homem muito arrogante, senhor Hades.


Não vou te levar para a minha casa. — sua afirmativa é tão firme, que eu
me coloco de pé também. Ao contrário dela, que parece exalar fúria, com
calma, abotoo um botão do meu terno, antes de levantar novamente os
olhos para ela, e dizer:
— Nunca disse que queria ir até a sua casa, Lisa. Perguntei se você
gostaria de jantar comigo, e que comeríamos o que, pelo que acabou de me
dizer, seria a sua comida preferida, pizza. — o tom em minha voz não lhe
deixa nenhuma dúvida.

Eu realmente não ultrapasso esse limite.

Não hoje, nem nunca.

E, principalmente, não com ela.


Tudo precisa ser extremamente consensual, além de, claro, correto e
respeitoso.
Lisa me observa por alguns segundos com os olhos estreitos, e olha
no relógio de pulso delicado, antes de afirmar:

— Perdão, Hades, mas são três e meia da manhã. Em qual lugar


encontraríamos uma pizzaria aberta para jantarmos juntos? Até onde sei,
existem só uns dois deliveries vinte e quatro horas, e eles nem são tão bons
assim. — sua expressão é desconfiada, mas vejo que a tensão em seus
ombros se dissipou, ao menos, um pouco.
— Se você quiser, eu mando trazer um chefe da Itália para preparar
uma pizza agora para você, anjo. Comigo, não existe esse tipo de problema.
— ela tenta bastante segurar o sorriso, percebo, mas no fim não consegue, e
mostrando as covinhas, ela confirma com a cabeça, antes de dizer:

— Só porque eu estou, realmente com fome.

Puxo um ponto do bolso da calça e dou instruções para o chefe da


Gehenna começar a preparar uma pizza de pepperoni com bastante queijo,
selecionar o nosso melhor vinho e montar uma mesa para dois em meu
escritório. Ela observa sem dizer nada, de braços cruzados, e quando volto a
me sentar, indicando para que ela faça o mesmo, sua atitude séria já se
dissipou.

Continuamos no jogo de perguntas e respostas, ignorando o mal-


entendido, até que recebo a confirmação de que o jantar está pronto e que
podemos ir. Indico o local para ela, que anda confiante na minha frente.
Resisto a todo custo à vontade de segurar firme em sua cintura e colar o seu
corpo ao meu, mas quando passamos por um trecho onde há uma
aglomeração maior de pessoas, espalmo a mão em sua barriga, trazendo-a
para perto de mim.
— Frederico vai abrir passagem. — digo em seu ouvido, antes de
assistirmos meu segurança fazer o seu trabalho, e enquanto isso, aprecio o
breve momento de contato com ela.

Entramos em meu escritório, e sei que tem dedo de Isabel na


montagem dessa mesa, quando vejo o castiçal, que eu nem sabia que
existia, em cima de uma mesa quadrada montada para dois.

Se Lisa fica impressionada ou não, ela não demonstra. Apesar de


saber que ela é famosa e já rodou o mundo, tenho certeza de que ninguém
nunca irá tratá-la melhor do que eu, e isso é um bom combustível para
continuar conversando, enquanto, da janela, assistimos ao sol nascer. Duas
garrafas de vinho depois, meia pizza comida e inúmeras histórias, conversas
inúteis, onde nenhum dos dois se abriu muito sobre sua vida pessoal, mas
compartilhamos gostos e manias, que provavelmente, foi muito mais íntimo
do que qualquer outro encontro que já tive em toda a minha vida, ela
começa a falar.

— O papo está ótimo, mas eu realmente preciso ir — Lisa diz, com


um sorriso.

— Bom, apesar de não gostar, uma hora isso teria de acontecer. —


comento, me colocando de pé. Estendo-lhe a mão, e ela se apoia, também se
levantando, e proximidade é mais eletrificante do que imaginamos, porque
quando ficamos cara a cara, meu olhar vai direto para a sua boca, onde ela
massacra o lábio inferior, mordendo-o com tanta força, que é possível que
lhe tire sangue.

— Não faça isso. — digo baixo e seu olhar confuso indica que ela
não entendeu o que eu quis dizer — Não morda seu lábio. Não me seduza.
Não me tente.
O sorriso em seu rosto é safado, e extremamente sedutor, antes de
ela negar com a cabeça e falar:

— Eu não estou tentando o diabo. — assim que termina a frase, ela


dá dois passos em minha direção, encurtando a nossa distância.

— Ah… você está sim. — circulo a sua cintura com um braço,


colando seu corpo no meu, antes de descer minha boca em sua direção, e
lhe dar o beijo mais faminto de toda a minha existência.

Suas mãos vão direto para o meu cabelo, puxando-o com força,
antes de morder meu lábio. Nossas línguas dançam um tango elaborado,
lento e sensual, o que era para ser apenas uma conversa, se torna algo muito
além. Com alguns passos, ainda com as nossas bocas unidas, a prenso
contra a parede, esfregando descaradamente meu membro duro em seu
corpo macio e receptivo. Lisa solta um gemidinho baixo, quando desço a
boca para o seu pescoço, e mordo sua orelha, deixando-a arrepiada.

— Hades… — ela suplica, e eu nem sei exatamente pelo quê.

Continua?
Para?

Na dúvida, minha boca procura novamente pela sua, e ela é tão


receptiva quanto antes. Chupo seu lábio, beijo-a com a vontade que só
alguém que admirou a mesma mulher por meses pode fazer, mas quando sei
que estou quase ultrapassando um limite, subindo minhas mãos pelas suas
coxas macias e grossas, dou um passo para trás, tentando recuperar os
sentidos.

— Te conhecer foi… ótimo, anjo. Mas eu acho melhor pararmos por


aqui. — digo, ela parece confusa e um pouco área. Seu peito sobe e desce,
arfando, seus olhos ainda anuviados de desejo. Lisa confirma duas vezes
com a cabeça, com o cenho franzido, parecendo um pouco nervosa, antes de
dizer:

— Você tem razão.

— Vou pedir para o meu motorista te deixar em casa. — digo, a


puxando pela cintura, para caminharmos lado a lado. Beijo seu ombro, o
topo da sua cabeça, e por fim, a sua mão — Eu não quero precipitar nada…
nós dois bebemos, e se continuássemos ali, talvez você se arrependesse. —
seus olhos azuis parecem grandes demais agora, me observando, e ela
confirma uma vez com a cabeça. Resolvo deixar o clima um pouco mais
leve, antes de sairmos da sala, porque, no fim, não quero que ela carregue
uma impressão ruim da nossa noite — Eu posso ser um demônio, anjo, mas
eu sei ser um cavalheiro também.
Eu ainda não posso acreditar na noite intensa e enlouquecedora que
tive ontem. Quer dizer, tocar na Gehenna foi um ponto alto, não posso
negar. A energia, as pessoas, o ambiente exclusivo, requintado, cheio de
luzes e com uma estrutura incrível, realmente animou todo mundo! A mídia
que aquele lugar recebeu ontem, não se equipara à nenhuma outra boate que
já conheci. Fui bem recebida pelo público, a animação era contagiante e
apenas pelo ambiente e música, já que ficou visível para mi, que ali não
havia nenhum tipo de entorpecente para animar ainda mais as coisas, algo
que respeitei e gostei ainda mais. Rose me mandou uma mensagem hoje de
manhã, me contando que todas as redes sociais estão falando muito bem da
minha performance, mas mesmo antes disso, eu já sabia que
profissionalmente foi um salto grande. Não há como negar, ou do que
reclamar.
Meu show vai ficar marcado ali por alguns dias, na boca do povo, e
se a Gehenna realmente for pra frente, como eu não tenho dúvidas que irá,
as pessoas se lembrarão de que eu fui a atração principal da noite de
abertura. Se eu não tivesse noção do quanto isso realmente é algo bom e
positivo para a minha carreira, Rose resolveu deixar muito claro em todas
as milhares de mensagens que ela mandou em meu celular, desde quando
acordou, o que, ouso dizer, foi pouco depois da hora que fui dormir, já que
assim que acabou o show tomamos rumos diferentes. Ela foi pra casa, e eu
para a pista.

Nada, na realidade, se compara ao que aconteceu depois.


Hades vir até mim foi inesperado e me deixou intrigada.

É claro que eu não iria perder a oportunidade de saber um pouco


mais sobre o homem mais falado e mais misterioso de toda Havdiam. O
interesse dele por mim é que me pegou de surpresa, afinal, sua expressão
fechada ao me olhar na primeira vez em que nos encontramos, não me
passou despercebida. Apesar dos seus olhos serem intensos e sempre
bastante observadores, de perto, no entanto, percebi que ali não havia raiva
nem julgamento, como imaginei anteriormente, quando o vi pela primeira
vez na pista da Purple Night. Hades me parece um homem bastante curioso
e intrigado, talvez, um pouco metódico e arrogante, mas não alguém
desprezível, ou que me despreze, como havia imaginado aquele outro dia.

Nossa conversa foi agradável. Ele, apesar de não me dar muitas


informações sobre sua vida, não me deixou totalmente no escuro, foi gentil
e cavalheiro e me tratou muito bem. Muito mais do que eu poderia esperar
do Deus do Inferno, ou, para ser mais honesta, de alguém que se intitula
assim. Apesar da arrogância, que apenas um homem poderoso como ele
pode ter, ao tentar me prometer mundo inteiro, foi incrivelmente gentil
quando me levou para o seu escritório, em sua versão de um jantar
romântico improvisado. O que, eu não poderia mentir, dizendo que não
achei fofo e um ato corajoso de sua parte. Eu poderia muito bem dizer não.
Seria fácil dispensá-lo, e mesmo assim, ele se colocou como uma pessoa
confiante a ponto de nem cogitar essa opção.

A mente anuviada pelo álcool não me fez esquecer, nem por um


segundo sequer, o sabor daquele beijo diabólico, sensual e delicioso. Nada
no mundo me preparou para o momento em que a sua mão tocou o meu
corpo com avidez, e a sua boca na minha, simplesmente, parecia certo.
Beijos intensos. Momentos enlouquecedores. E então, tão rápido como
começou, Hades parou com as investidas, se portando como um homem do
século passado, e me mandou embora.
Um perfeito cavalheiro. Uma grande piada de mau-gosto.

Ou, talvez, na realidade, essa tenha sido a sua intenção desde o


princípio, em um plano demoníaco, pronto para me matar de desejo.
Distribuir meia dúzia de beijos, me deixar sedenta por mais e aumentar o
seu ego, que já é elevadíssimo, quando nos reencontrarmos. Porque, de uma
coisa eu tenho certeza, nós vamos nos reencontrar.

Bom, se esse foi o seu objetivo, infelizmente para mim, ele tem
razão. Eu quero mais.
Uma semana sem ligações.

Sem contato.

Sem e-mail.

Sem nenhum tipo de convite para tocar novamente na Gehenna.


É isso. Hades é um jogador e, aparentemente, eu fui o seu
brinquedo de última geração.

Até mesmo o príncipe George deu um jeito de conseguir meu


número, me mandar flores e me chamar para sair no dia seguinte, mesmo
não tendo trocado nem uma palavra com ele. Por que Hades, o homem com
quem troquei beijos quase pornográficos, não me chamou e nem se dignou
a me mandar uma mensagem?
Entro, como de costume no Purple Night, uma hora antes da
abertura da boate e vou para o camarim, onde por incrível que pareça, nem
Yasmin, nem Danielle chegaram. Rose, que quase sempre me busca em
casa e me acompanha a todos os shows, disse que comeu algo estragado e
pediu permissão para passar a noite de hoje em casa. É claro que não me
importei, mas agora, pensando bem, gostaria de uma companhia, ficar
sozinha em um camarim me parece um pouco solitário e até mesmo, meio
agourento. Estranho o atraso das meninas depois de meia hora, mas como
sei que de sexta à noite o trânsito nunca é dos melhores, imagino que logo,
logo, elas estarão aqui.

Começo a rolar as redes sociais vendo vídeos engraçados, jogada no


sofazinho em que raramente tenho a oportunidade de me sentar, sabendo
que hoje o show, provavelmente, vai atrasar. Entendo imediatamente o
porque nunca fiz tanta questão de me sentar no móvel, que apesar de escuro
e macio, tem várias manchas bastante suspeitas e também um cheiro
horroroso de Doritos.

Eca!

— Sozinha, senhorita Becker? Que sorte a minha! — uma voz forte


e potente me chama, e eu me viro para a porta, quase rolando para o chão
no processo, tentando ver quem está me chamando.

— Senhor Timberg, que honra! Tudo bem? — pergunto, me


colocando de pé e lhe estendendo a mão.
O dono do grupo ao qual a Purple Night faz parte, é uma figura
importante na sociedade de Havdiam, um Lorde que, apesar de já ter
perdido o prestígio principal com a coroa, com a morte dos pais, ainda gosta
de carregar o nome por aí. Mesmo já o tendo visto em meia dúzia de
eventos, não faço a menor ideia do porquê ele iria querer falar qualquer
coisa comigo. Ele não aperta a mão que eu lhe estendo, mas seu sorriso se
alarga de uma forma muito mais horripilante do que eu gostaria.

— Poderia estar melhor.— ele diz de forma prática — E você, Lisa?


Como está? — me incomodo um pouco com o fato de ele ter me chamado
pelo primeiro nome, mas não tem nada que eu possa fazer sobre isso, então,
confirmo com a cabeça, respondendo um sim fraco e espero para saber o
que ele tem a me dizer. A esse ponto, sei que não está aqui apenas para
jogar conversa fora, com certeza, alguma coisa mais séria o trouxe até aqui
— Bem, eu passei para conversar com você sobre uma situação de interesse
de nós dois.

— O que quer dizer? — questiono.

Sua expressão corporal e seu tom de voz me deixam em alerta. Tudo


me parece um pouco ameaçador, e por estarmos sozinhos, com ele
bloqueando a porta de entrada, começo a me preocupar com a minha
segurança. Tento não demonstrar em minha expressão, mas dou um passo
para trás, colocando uma cadeira entre nós dois.

Isso é ser mulher, infelizmente.


— Soube que se apresentou em nossa mais nova concorrente, na
noite passada. — tira uma sujeira inexistente da manga de seu blazer escuro
— Vim saber tudo sobre isso, e quero os mínimos detalhes. — ele se senta
em minha cadeira de maquiagem, com os braços cruzados sobre a barriga
redonda e eu franzo o cenho, imitando o sua postura.

Então, é sobre isso. Ok, menos mal.

— Não acho ético contar algo sobre o seu concorrente para você.
Assim como não falaria nada da Purple, se fosse o contrário. — digo em
alto e bom som, e ele nem pisca, parecendo já esperar por esse tipo de
resposta.

— Bom, Lisa, eu vou direto ao ponto. Não acho ético você ter
aceitado esse convite, então, não acredito que você esteja sendo muito
sincera sobre essa moralidade toda que alega ter. — ele rebate e eu retruco.
— Em meu contrato não há nenhuma cláusula onde exista
exclusividade com o grupo Timberg, senhor. Inclusive, já toquei em outras
casas nesse período em que estive trabalhando aqui e nunca houve
problema nenhum. — digo, e ele me analisa por alguns segundos, antes de
dizer.

— Você é meio atrevida, né, menina? — estala a língua — Me pego


pensando… Será que sua irmã também é assim? — ele diz coçando o
queixo e sinto os meus olhos quase saltando das órbitas. O que ele está
insinuando? Quando volta a falar, seu tom é de uma inocência fingida,
tentando soar preocupado, mas a ameaça está ali implícita — Às vezes, fico
me questionando sobre a sua situação, Lisa. Duas órfãs sozinhas em um
mundo tão perigoso… Imagine quanta coisa de ruim pode acontecer, não é?
Acidentes terríveis… assaltos relâmpagos que resultam em mortes. Um
passo em falso e tudo pode acabar em segundos… Sabia que a taxa de
criminalidade em Vongher está aumentando? Se eu fosse você, tomaria
cuidado sempre e, é claro, cuidaria da irmãzinha Helena. Ela me parece
muito frágil, voltando sozinha e a pé da escola, todos os dias, mesmo que
sejam poucos quarteirões do seu apartamento. — ele fala e minhas pernas
falham — Seria realmente uma pena se algo acontecesse a alguém tão
jovem, não é?

Se eu não estivesse tão apavorada, poderia facilmente desmaiar.

— Não entendi onde o senhor pretende chegar… O que quer dizer


com isso?

Por que ele está falando de Helena? Atualmente, somos só eu e ela


no mundo, por que esse babaca está falando da minha pequena?

— Não se assuste, Lisa. Só estou querendo dizer que sei muito mais
do que imagina sobre a sua vida, e acho que deveria se preocupar mais com
o que um homem poderoso como eu poderia fazer com alguém que o
contraria e o trai. A deslealdade já custou muito caro a várias pessoas.

— Não tem com o que se preocupar, senhor. — tento manter o meu


tom de voz tranquilo, mas acabo tremendo um pouco, não é fácil manter a
postura nesse tipo de situação — Eu juro que apenas cumpri meu papel e
me apresentei, como sempre fiz. Nada mais, nem menos. Porém, se for um
problema para o senhor, recusarei todos os convites que receber, se eles
existirem.
O sorriso dele se expande, antes de me responder como um predador
treinado:

— Pelo contrário, querida, quero que vá quantas vezes for


convidada e que seja minha informante. Você vai descobrir tudo sobre o tal
Hades, para mim. Afinal, quem melhor do que uma menina bonita e meio
tola, para fazer um homem poderoso falar sem perceber? — ele diz, e sinto
as lágrimas, que lutei tanto para segurar, rolarem pelo meu rosto.

Onde foi que eu me meti?


Nenhuma mulher pode me tirar o foco.

Meu objetivo aqui é único, claro e simples: colocar o meu plano de


vingança em prática e destruir meu progenitor, que acabou com a vida da
minha mãe. Não posso me dar ao luxo de ficar horas do meu dia
imaginando o que a loira do sorriso sedutor e dos beijos deliciosos, está
fazendo durante o seu dia.

Se controle, Hades.

Antes de conhecê-la, eu nunca havia sequer cogitado pensar sobre


isso, e agora, tudo se resume ao que Lisa Becker está fazendo, usando,
assistindo. O que ela faz, quando não está nas baladas? Que tipo de roupa
usa? O que gosta de comer, além de pizza? Como será a relação com a sua
família? E seus amigos?
Patético!

Eu pareço um completo idiota.

E, apesar de ter ciência de que realmente não tenho escolha e sim,


eu pareço mesmo um imbecil, não consigo deixar de pensar na mulher o
tempo inteiro. Parece até mesmo castigo. Mesmo sabendo que o foco é
trabalho e que, apesar de ter trabalho o suficiente para poder, agora, relaxar
e só colher os bons frutos, não consigo parar. Talvez, eu realmente seja
workaholic, e não me importo nem um pouco com isso.

O cassino que iremos inaugurar no mês que vem está quase pronto,
e apesar de saber que a construção é um pouco maior e mais ousada do que
a cidade está acostumada a ver, imagino que depois de Gehenna, é isso que
todos esperam do Hell Group. Ainda não anunciamos a abertura, nem a
compra do Pakao, mas nessa semana a assessoria de marketing começa a
trabalhar nisso, e os últimos detalhes estão sendo organizados nesse
momento, para que não haja nenhum contratempo. Minha cabeça deveria
estar focada nisso, e não em certa mulher que tem grande tendência a me
fazer perder o foco, os sentidos e me enlouquecer.

Caminho no espaço amplo que ainda não recebeu todos os móveis, e


observo toda a decoração que segue o padrão do vermelho carmesim de
todos os outros lugares. Esse cassino irá competir com o segundo maior
estabelecimento da Timberg Company, um cassino tão luxuoso quanto esse,
localizado nessa mesma rua. Viemos em boa hora, já que uma concorrência
direta, que mostrará exatamente quem somos, e principalmente, que não
estamos de brincadeira é o que eu preciso no momento.

Pakao tem uma temática voltada para os anos sessenta, onde tudo
grita elegância, dinheiro e poder. Riqueza em todos os detalhes da
decoração é fundamental para fazer com que as pessoas que estejam ali,
sejam acolhidas e se sintam exclusivas e especiais. Principalmente, porque
a aposta mínima é altíssima, e isso estabelecerá um padrão entre os nossos
clientes. Para esse cassino, eu só quero atender ao melhor do melhor, sem
exceção.

Eu posso estar focado em meu plano de vingança, e posso também


ter alguns desvios de caráter e ser capaz de praticamente tudo para
conseguir o que quero, mas certas coisas são limites rígidos para mim.
Comércio de drogas, prostituição e prejudicar alguém para o benefício de
algum dos meus estabelecimentos, não são coisas que eu quero, e nem vou
fazer. E, essa é a minha maior diferença para com Gavin Timberg. Demorou
para descobrir todos os seus podres relacionados ao cassino, porque ao
contrário das boates, eu não posso pedir um cardápio e esperar ser servido
com o que eles tem de pior para me oferecer. Por isso, precisei pagar
informantes, investigar e fazer o trabalho sujo por debaixo dos panos, até
entender bem pela traição de funcionários ratos, que viraram a casaca em
alguns de seus esquemas.

Com esse trunfo em mãos, antes de anunciar a minha vinda oficial


para Havdiam, implantamos um boato, que não deixa de ser uma verdade:
as roletas são viciadas, e pessoas que fazem grandes apostas, nunca ganham
de verdade por ali. Os grandes apostadores, agora estão observando melhor
todo o esquema que acontece dentro dos cassinos, muito antes de Gavin
assumir o posto dos seus pais, e estão cautelosos. Quem aposta em mesas,
tem baralhos alterados com grande frequência também, apesar de deixarem
ganhar esporadicamente, para não levantarem tantas suspeitas.

Isso bastou para que algumas pessoas deixassem de frequentar o


Lotus Cassinus, e gerar uma grande carência no mercado. Carência essa,
que supri em partes com a abertura de um pequeno porte nas imediações da
cidade, meses atrás, e agora, com o Pakao, irei garantir o sucesso absoluto.

— Acho que podemos ir, Frederico. Peça para Isabel marcar depois
com a publicitária, para começarmos as estratégias de marketing. — digo,
caminhando em direção à saída, e ele tira o celular do bolso para mandar
uma mensagem.
— Achei que, a essa altura, você já teria mandado buscar a mocinha
para tocar novamente pra você. Dessa vez, algo mais particular… — ele
brinca, mas minha expressão, provavelmente, é tão sanguinária que se cala
no mesmo momento.

— Eu não me lembro de ter pedido sua opinião. Mas, já que


mencionou, fale para Isabel mandar uma mensagem para a sua empresária,
marcando uma reunião para hoje a noite. — digo, antes de colocar os óculos
escuros e entrar no carro, deixando-o para trás. Escuto sua risada alta, antes
de bater a porta e sair acelerando como um louco, podendo extravasar,
agora que não tenho mais os olhos de ninguém em cima de mim.
Foda-se a segurança.

Com a descarga de adrenalina que passou pelo meu corpo, apenas


por ouvir essa piadinha sem noção, se alguém vier pra cima de mim, eu
quebro a pessoa no meio.

Já estou com uma pressão completamente absurda em cima de mim,


não precisa de muito para que qualquer um que cruze o meu caminho, se
encontre com a minha pior versão.
Não é normal estar ansioso dessa forma.

Eu não sou um homem ansioso.

Por que eu estou ansioso?


Lisa Becker foi anunciada pela segurança, assim que entrou pelos
portões da

Gehenna, alguns minutos mais cedo, mas ainda não entrou em meu
escritório. Hoje, não há nenhuma mesa preparada para um jantar romântico,
mas as lembranças dos bons beijos que demos, alguns dias atrás, são bem
vívidas em minha memória. Por isso, eu passei a gostar ainda mais do local,
apesar da minha produtividade ter caído consideravelmente quando estou
trabalhando aqui.
Chamá-la, talvez, tenha sido um erro, mas tomo por uma
confirmação velada de que ela também tem certo interesse, mesmo que seja
profissional, em mim, do contrário, não teria se dado ao trabalho de
aparecer.

Eu, Hades, estou inseguro?

O inferno congelou. Só pode!

— Posso entrar? — ela não bate, mas gira a maçaneta, abrindo a


porta até a metade e me olha pra mim de um jeito ousado, como se me
desafiasse a recusar.
— Claro. — respondo, e indico uma cadeira à minha frente.

Hoje, Lisa está com uma saia laranja e uma blusa estampada, e
apesar de não serem roupas noturnas, são bastante alegres e chamativas.
Talvez, realmente seja da sua personalidade ser esse raio de sol ambulante,
que passa distribuindo corações e flores por aí. Será que é isso que me atrai
dessa forma? O fato de sermos tão contrários?
— E então, resolveu me chamar? Depois de dias sem nenhuma
mensagem? Nem um mísero: Oi, chegou bem em casa? Nada! — ela tenta
soar desinteressada, mas percebo que é apenas uma casca, porque seu olhar
faísca em minha direção, com um ódio declarado — Quero saber por que
recebi um recado da minha empresária, que recebeu uma ligação da sua
secretária, marcando esse encontro entre nós dois. — ela diz, batendo as
unhas ritmadamente na mesa.

— Eu sabia que você tinha chegado bem em casa, Lisa. —


respondo, porque é a única forma que vejo de me defender. Pelo menos, um
pouco, de todas as suas afirmações.
— Entendo, quer algo de uma noite só. Já conheci uma porção de
homens assim, e inclusive, eu mesma fui essa pessoa em uma ou outra
ocasião, não estou questionando isso. — ela fala com honestidade, sem se
dar conta do quanto me irrito com a sua afirmação. Nunca fui um homem
de apenas uma noite só, e não gosto de saber que outros já se aproveitaram
dela dessa maneira. Ou que ela tenha se aproveitado deles — O que me
deixou irritada, — seu tom de voz deixa nítido que ela está furiosa — foi o
fato de que você pediu para terceiros marcarem esse reencontro.

— Não sou alguém que se aproveita de uma mulher por uma noite
só e fim. Não é assim que as coisas funcionam comigo, Lisa. Contudo,
confesso que não sei exatamente como agir nessa situação, já que não
estava em meus planos me envolver com alguém neste momento. — digo,
honestamente, e ela estreita os olhos, me observando.

— Então, o que isso quer dizer? — ela questiona, cruzando os


braços.
— Quer dizer que você é uma boa profissional e eu estou te fazendo
uma proposta de trabalho.

A sua expressão passa de confusa para envergonhada.

— Rose disse a palavra encontro. — ela tenta se justificar de


alguma forma, e eu abro um sorriso mínimo, antes de responder:

— Não deixa de ser, não é? — Lisa parece envergonhada, e sinto


que preciso me explicar melhor do que isso. Ela merece saber que eu
queria, sim, ligar, e marcar algo que não estivesse ligado a trabalho, e agora,
sabendo que talvez ela estivesse esperando por esse tipo de contato, me
sinto ainda mais idiota de não ter falado nada com ela antes — Eu tenho
alguns objetivos que não podem ser perdidos de vista, e espero muito que
entenda. Uma mulher, mesmo que seja alguém tão encantadora, sedutora e
especial, como você, realmente não estava em meus planos.

— Você se acha muito ao cogitar a ideia de que eu iria querer ficar


tão perto a ponto de te desviar dos seus planos. — ela brinca, mas sua
postura parece menos arisca agora. Por isso, me levanto e fico de frente
para ela, que espelha o meu movimento, ficando de frente para mim.

— Se você for minha, Lisa. Você será minha, e somente minha. —


imprimo a intensidade necessária, para que ela entenda bem essas palavras
— Eu não sou um homem que divide, e não sou alguém que aceita qualquer
coisa. Pego tudo por completo, gosto das coisas sob o meu domínio, e não
sei se você quer, ou se está pronta para isso. Não vou impor nada a você, e
muito menos, te forçar a nada. Só estou explicando como funciono.

— Isso parece intenso. — ela responde olhando em meus olhos,


com a respiração levemente acelerada.

— Bastante. — respondo categórico.

— Ainda assim, mesmo se sentindo atraído por mim, e sabendo que


eu posso não querer corresponder às suas expectativas, você me quer
tocando na Gehenna? — ela parece bastante surpresa com essa afirmação, e
o sorriso volta para o seu rosto.

— Bom, até onde sei, você é a melhor DJ do país. Se estiver errado,


me corrija. — digo, e ela abre um sorriso amplo, relaxando um pouco a
postura.

Mantenho as mãos dentro dos bolsos da calça e os pés bem


plantados no chão, porque a qualquer momento meu corpo pode me trair e o
autocontrole ir por água abaixo. Tudo o que eu mais quero agora é enroscar
a mão nesse cabelo ridiculamente loiro e puxá-lo em minha direção, até
colar as nossas bocas, como na outra noite, mas dessa vez, me deixaria
afundar em seu corpo macio e delicioso…

— … eu sou.

— Então, pronto. Quero você tocando na Gehenna. — digo, mesmo


tendo plena ciência de que não ouvi nada do que ela falou, já que estava
pensando com a cabeça de baixo.

— Não assinarei um contrato de exclusividade e nem de residência


com a casa. — ela diz categórica, e eu dou de ombros.
— Tudo bem, pagaremos o cachê diário, mas a agenda precisa ser
marcada com antecedência para a montagem e divulgação dos eventos. —
respondo e impulsivamente, dou um passo em sua direção.

A negociação profissional parece um pouco mais pessoal, pelo jeito


que ela me olha, sempre desviando sua atenção para a minha boca. Tenho
quase certeza de que seus pensamentos são tão impuros quanto os meus.

— Eu quero saber um pouco mais sobre como as coisas funcionam


por aqui. Não quero me enfiar em nenhum tipo de furada, — ela diz, e
levanta as mãos em sinal de rendição — sem ofensas. Mas você nem me diz
o seu nome, então, acho bastante justo saber no que eu estou me metendo.

— O que quer saber? — pergunto, um pouco mais cauteloso. Meu


nome já ficou estabelecido que não irei contar, mas perguntas sobre o
negócio não me parecem muito o tipo de coisa que Lisa Becker se
interessaria em saber por si própria.

— Quem são os seus sócios, por exemplo? — levanto uma


sobrancelha, surpreso pela curiosidade e audácia. Isso está estranho. Ela
percebe que soou invasiva demais, por isso, completa, um pouco mais
brincalhona — Quem me garante que não são pessoas perigosas que podem
fazer algo contra mim?

— Eu te garanto. Todos os meus sócios são pessoas honestas e


extremamente corretas, que não lhe farão mal de forma nenhuma. Na
realidade, ninguém lhe fará mal, Lisa. — franzo o cenho, buscando na
memória alguma coisa, mas não consigo me lembrar de nada que possa ter
lhe dado essa impressão — Não entendi o porquê desse receio, em algum
momento eu te dei a impressão errada?
Lisa solta um suspiro e dá um passo para trás, parecendo um pouco
constrangida, antes de responder:

— Não, de forma nenhuma. Muito pelo contrário. Foi uma pergunta


muito infeliz, e eu peço desculpas. Onde eu assino? — ela pergunta,
voltando o olhar para a minha mesa, e volto para a minha posição,
localizando o contrato do próximo show.

Apesar de uma troca de olhares intensa e cheia de desejo acontecer,


eu e Lisa não nos tocamos em momento nenhum. Não garanto que seja
forte o suficiente para me conter, caso isso acontecesse, e depois de tudo
acordado, com a certeza de nos encontrarmos no sábado, ela sai da minha
sala.
Nunca fiquei tão tensa para trabalhar como quando a sexta chegou.

Desde quando Gavin me ameaçou com todas as letras, e o pior,


ameaçou minha irmã, Helena, eu tenho andado em uma corda bamba.
Ansiosa, estressada, paranoica. A coitada tem sofrido com as minhas
cobranças de horário, e eu não posso nem lhe falar o motivo, porque isso
causaria um caos geral em seu sistema nervoso. Com certeza absoluta.

Por isso, resolvi, desde quando saí daquela boate, assim que
terminei aquele show terrível e cheio de pavor, que o melhor a se fazer é
tentar me afastar ao máximo dos dois homens problema. Contudo, se Gavin
continuar me ameaçando, tentarei lhe fornecer alguma informação, porque,
no fim, é isso. Manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Ninguém poderia saber que eu estava sendo ameaçada por ele, e na
realidade, quem iria acreditar? Diriam que, provavelmente, eu estava sendo
tola e teria entendido errado uma brincadeira de provável mau-gosto. Mas
eu não sou tola. Sei bem o que ouvi, e sei bem o que aconteceu ali naquele
camarim. Por isso, quando percebi que fui seguida, quando fui ao mercado
na quinta-feira da semana seguinte, senti um gelo na minha espinha. Gavin
Timberg realmente estava de olho em mim e em minha irmã, controlando os
meus passos e esperando para que eu possa lhe ser útil.

Só que ele não poderia exigir de mim nenhuma informação, se eu


não fosse convidada para tocar novamente na Gahenna, o que aconteceu nas
duas semanas seguintes. Quando estava quase conseguindo respirar
aliviada, Rose me avisou sobre o tal encontro com Hades, em plena quarta-
feira à tarde, e isso gerou reações completamente diferentes dentro de mim.
Ansiedade para vê-lo, depois de tudo o que aconteceu, e medo pelo que,
provavelmente, eu teria que fazer, ou ao menos, tentar. Além, é claro, de
certa raiva.

Depois de tanto tempo, marcar um encontro através da sua


secretária?

Teria como ser pior?

Mas ali, nada foi como eu esperava, porque além de se explicar,


Hades sabe dizer as palavras certas para deixar qualquer garota
completamente caidinha aos seus pés. Duvido que qualquer outra, em meu
lugar, teria outra reação, além de se transformar em uma poça de hormônios
ao ouvir um homem lindo e imponente como aquele dizer: "Se você for
minha, Lisa. Você será minha, e somente minha."

Fala sério, quem seria imune a esse charme?


Então, meti os pés pelas mãos, e fui com sede demais nas
informações que Gavin gostaria de ter. Me embolei, porque não sou muito
boa em manipular e mentir, e ele percebeu que havia algo errado. Sei que
percebeu. A conversa esfriou, terminamos o encontro com toda aquela
tensão ali mesmo, e fui pra casa completamente extasiada de desejo,
enlouquecida de tesão e sem nada na manga para fornecer para o senhor
Timberg hoje.

Um completo fracasso.

No carro, ao lado de Rose, ela tenta novamente extrair o que está


acontecendo comigo, mas como não a respondo, de novo, encerra a
conversa. A mesma coisa acontece no camarim com Dani e Yas, e
percebendo que não estou com humor para conversa, me arrumo calada,
com os fones de ouvido tocando a playlist mais depressiva de todos os
tempos.

O show com o mesmo setlist acontece, sem que eu mude nada,


dando apenas dez por cento da energia que sei que eu posso dar. O público
ali não percebe, no entanto. Seja porque eu as músicas são boas, seja porque
eles já estão tão alterados, que tudo é divertido, quando a droga rola solta e
a bebida não é de boa procedência. Agora, que a máscara por trás do dono
caiu, tudo parece bem mais claro para mim. E, como eu sei que faria, assim
que encerro o show e desço do palco, Gavin está me esperando na ponta das
escadas, com os braços cruzados e uma expressão séria no rosto.
— Me acompanhe até a minha sala, por favor, senhorita Becker. —
sua voz é quase entediada, mas os dois seguranças que o rondam, me dizem
que ele não está "brincando" com a sua ordem, e quer que ela seja atendida.

Entramos no ambiente escuro e que fede a cigarro, muito diferente


da sala do outro CEO, dono da concorrência, e não consigo deixar de
compará-los. Talvez, seja por isso que Gavin se sinta tão ameaçado, mesmo
com tantos anos de experiência no mercado. Hades realmente veio para
desbancá-lo. Não que eu vá falar isso em para ele algum momento.

— E então? Soube que tem novidades. — ele diz, sentando-se em


sua mesa e cruzando os braços por cima da sua barriga protuberante.

— Na verdade, foi uma reunião rápida, apenas para me fazer uma


proposta de alguns novos shows, nada demais. Não ficamos sozinhos, nem
mesmo tivemos uma conversa, onde eu pudesse perguntar qualquer coisa
mais séria para ele. — me defendo e cruzo os braços, tentando me proteger.

— E quando será o próximo show? — sua expressão esboça a sua


falta de paciência e eu falo baixo:

— Amanhã.

— Então, trate de tentar mais. Eu quero saber sobre o que ele está
aprontando, o que pensa em fazer depois dessa tal Gehenna. Quem são os
sócios. Se vira. Me dê alguma informação valiosa. Capiche? — ele fala, e
eu confirmo com a cabeça, sem falar nada. Não confio em minhas palavras
no momento — Agora, volte pro camarim antes que a nossa conversinha
chame atenção, querida. Bom show hoje, mas tente sorrir mais da próxima
vez, tá bom?
— Tudo bem. — respondo, já me virando de costas, e antes de
cruzar o batente, escuto.

— Lembre-se, você é bonitinha. Sabe? Pode usar isso ao seu favor.


Dá um chá no velho idiota, ele nem vai perceber o que lhe atingiu. — sinto
vontade de vomitar ao ouvir isso, mas na hora, percebo que Timberg
realmente não faz nem ideia de quem seja Hades, porque de velho, ele não
tem nada.
Isso é uma carta na manga que eu posso usar a meu favor se essa
loucura for continuar.

É impressionante como o ambiente realmente faz o nosso humor.


A Lisa de ontem não pode ser comparada à Lisa de hoje. Apesar de
saber que, provavelmente, homens do Timberg me seguiram de casa até a
Gehenna, aqui, pelo menos até a boate abrir para o público, eu me sinto
segura. A segurança é pesada, e Hades parece bastante rígido com esse tipo
de coisa. Além de que, pela nossa última conversa, duvido muito que
deixaria algo acontecer comigo dentro do seu território, isso não é bem do
seu feitio.

Hoje, Rose parece menos chateada comigo, e engatadas em uma


conversa banal sobre a roupa que a rainha Leah Elizabeth estava usando no
último baile ao qual apareceu aqui em Vongher, seu reino natal, entramos
no camarim. Ela parece se assustar com a presença do homem imponente
que, de pé, com os braços cruzados sob o terno escuro, me analisa, antes de
nos cumprimentar:
— Boa noite, Rose James e boa noite, Lisa. — sinto minhas
bochechas se esquentarem. Não sei se pela entonação que ele coloca ao
falar o meu nome, ou se é pelo fato de não dizer o meu sobrenome e deixar
implícito para a minha empresária que somos mais íntimos do que ela
imagina — Gostaria de conversar com você, por um minuto.

Seus olhos cor de chocolate focalizam em mim e eu confirmo com a


cabeça, colocando a maleta com a minha coroa em cima da mesa. Rose
parece entender o que isso quer dizer, e nos dá a deixa, murmurando alguma
coisa inaudível. Com dois passos em minha direção, ele se aproxima e
segura a minha mão, beijando-a suavemente.
— Janta comigo?

— Achei que você tinha dito que não iria impor nada, se eu
aceitasse o seu… domínio? — perco a linha de raciocínio e ele solta uma
risada baixa.

Homem confuso!

— Não estou impondo nada, estou te convidando para jantar,


torcendo para que a resposta seja sim. Porque, mesmo que não seja o
melhor momento para um relacionamento em minha vida, — as palavras
não parecem sair com facilidade de sua boca, mas ele se força a continuar
— eu não consigo te tirar dos meus pensamentos.
Hades parece tão brutalmente honesto que eu não sinto uma dúvida
sequer com ele ao meu lado e a atração é inegável quando estamos juntos.
Brutalmente enlouquecedora.

— Espero que não seja um jantar na sua sala novamente. — brinco,


e encurto ainda mais a distância, ficando tão perto que nossos lábios quase
se encostam, quando completo: — Me surpreenda, Hades. — e, dando
alguns passos para trás, para que eu volte a respirar e pensar com clareza
novamente, encerro a conversa, deixando-o, pela primeira vez desde
quando eu o conheci, sem palavras — Agora, se você puder me dar licença,
eu preciso me arrumar, porque tenho um show para fazer. Soube que o
chefe do lugar é meio malvado, o comparam com o diabo…, sabe como é,
né?

Sua expressão é incrédula, mas ele gargalha alto e me dá as costas,


indo em direção à porta.
— Eu adoro um bom desafio, anjo.
Como sempre, com a sua coroa prateada de que simula uma asa,
Lisa leva as pessoas da pista à loucura, enquanto toca os maiores hits da
rádio, de uma forma que apenas ela consegue fazer. Sensual, divertida,
espontânea e totalmente hipnotizante. O combo completo para me tirar
completamente do eixo. Seu corpo se move sem que ela perceba, suas
plumas fazem com que ela pareça ainda mais com o anjo que é. Se não
estivesse decidido a tomá-la antes, agora, depois de vê-la novamente, sentir
seu perfume cítrico e quase beijar seus lábios mais uma vez, eu com
certeza, estaria rendido o suficiente para ir atrás de Lisa e implorar por uma
chance.

Infelizmente, e eu digo isso com toda a fúria que existe dentro de


mim, eu quero essa mulher como nunca quis nenhuma outra.
Me arrependo todos os dias, desde quando pisei naquela sexta-feira
na Purple Night, meses atrás, e a vi no palco, parecendo um anjo loiro,
porque desde então, eu não tive mais paz e nem foco total em fazer o que eu
precisava fazer. Mas, agora que isso aconteceu, eu não posso deixar de
tentar algo a respeito, e por mais que já tenha deixado claro, o quanto não
seria bom para ela estar comigo neste momento, e se eu for honesto comigo
mesmo, em nenhum outro também, não consigo me manter longe. É mais
forte do que eu.

Chegou a hora de cobrar favores e o Conde está mais do que


satisfeito em me ceder a melhor suíte do seu melhor hotel de Vongher,
apesar de sempre estar reservada com meses e meses de antecedência. Nada
que um upgrade, vouchers e outras regalias, não resolvam o problema, com
quem quer que seja. Essa cortesia que ele vai se gabar pelo resto da vida, se
bem conheço aquele filho da mãe, mas sinto que, se as coisas correrem
bem, a ocasião pede o sacrifício. Além do mais, o Sollar Hotels, é o prédio
mais alto do continente, e o restaurante tem a melhor vista do país. No fim
das contas, eu sinto que preciso impressionar certa loirinha atrevida, que
resolveu me fazer perder o juízo.

No camarote, solitário, a noite passa como um borrão. Vira e mexe,


vejo que ela busca por meu olhar, apenas para me lançar um sorriso
atrevido e continuar embalando a pista com sorrisos enormes. Quando Lisa
Becker encerra seu show, viro meu copo de whisky e sinto meu corpo
praticamente formigar, tamanha é a ansiedade. Mesmo assim, não me
levanto e nem deixo Frederico, ou qualquer outra pessoa se aproximar, não
quero conversa agora. Muito menos, pessoas que vão me relembrar o
quanto isso é uma péssima ideia.
Alguns copos depois, linda como um anjo, em um vestido amarelo
brilhante, ela sobe as escadas e caminha em minha direção, provavelmente,
acompanhada por outro segurança que deixei a disposição dela, depois que
percebi as minhas falhas no dia de inauguração. Andar sozinha, podendo ser
abordada por qualquer um, não pode acontecer sob o meu comando.

— Gostou do show? — seu tom de voz é um pouco irônico, mas se


senta ao meu lado, pegando do meu próprio copo, antes de virar o whisky,
abrindo um sorriso amplo.

— Impecável, como sempre. — respondo, e ela solta uma


gargalhada baixa.

— Eu consigo perceber o quão animado você fica. É nítida a sua


empolgação.

— Não entendi. — respondo, porque a esse ponto, estou


completamente perdido. O que ela quer dizer com isso?

— Você é o único que consegue ficar parado, sem expressar


nenhuma emoção, Hades.
— Geralmente, não estou focado na música, Lisa… ela é plano de
fundo, quando você está por perto. — quando compreende o que quero
dizer, suas bochechas ficam levemente vermelhas e ela baixa o olhar,
parecendo envergonhada por alguns segundos. Mas, logo se recupera e diz:

— E então? O que vamos comer?

— Fico feliz que tenha perguntado, — respondo, antes de me


levantar e lhe estender a mão, que ela segura com firmeza, antes de olhar
em meus olhos — pronta?

— Sempre.
— Nunca vim aqui, geralmente, a fila é enorme. Meses e meses de
espera para conseguir uma reserva. — ela comenta, assim que nos sentamos
em uma das mesas mais privilegiadas do restaurante.

Astronomical é um restaurante giratório, com uma vista panorâmica


de toda a cidade, em uma hora, conseguimos observar toda Havdiam do
topo. A vista é bonita, o lugar é altíssimo e a comida é excelente, um combo
perfeito para impressionar.
— Bom, você me desafiou… — brinco, e ela parece sem graça, mas
somos interrompidos pelo garçom, que parece mais do que feliz em coletar
os nossos pedidos.

— Como você ia dizendo… eu te desafiei. Mas só porque me


convidou para jantar, depois de dizer com todas as letras o quanto isso não
seria bom para mim, porque você era perigoso, intenso e tudo o mais, o que,
em outras palavras, significa cilada. — ela brinca e eu nego com a cabeça.
— Não disse isso. Pelo contrário, eu sou o oposto de cilada. Se eu
quero uma mulher, eu realmente a quero pra mim. — explico, porque não
quero que tenha nenhum tipo de dúvida entre nós dois — Não existem
joguinhos, ou outras pessoas, não existe nenhum tipo de insegurança da sua
parte. Sou completamente honesto e comprometido. Respeitoso. Mas,
infelizmente, possessivo, protetor, dominador.
Seus olhos azuis se arregalam e ela parece um pouco chocada com
essa revelação. Lisa abre e fecha a boca algumas vezes, e eu aguardo pelo
que ela tanto está lutando para dizer.

— Tipo o Christian Grey? — ela praticamente sussurra.

— Perdão? Não entendi. — respondo confuso. Quem é esse cara?


Do que ela está falando?

— Sadismo? Christian Grey? Cinquenta Tons de Cinza? Ai, Hades,


me poupe! Todo mundo sabe quem é Christian Grey… só que eu imaginei
que esses acordos, em que o homem vê a menina na rua e acha que ela seria
uma ótima submissa, do nada, só existia em ficção. — ela começa a falar
rápido, e vira a sua taça de vinho de uma vez, só antes de continuar — Até
respeito BDSM, e essa coisa de dominador e submissa, mas não é pra mim.
Não vai rolar…

— Lisa! — interrompo seus pensamentos absurdos, e ela me olha


novamente assustada, como se eu tivesse repreendido uma criança — É
claro que eu não estou falando de algo relacionado a sadismo e BDSM,
você enlouqueceu? Eu não sou o tipo de pessoa que gosta de bater em uma
mulher por prazer. — minha voz é gélida — Quem gosta de fazer isso é
realmente sádico. E, eu definitivamente, não sou assim. Tenho horror a
qualquer tipo de coisa relacionada a esse comportamento.

Meu tom de voz e minha postura, com certeza, deixaram claro o


meu ponto, porque ela apruma a sua postura e confirma com a cabeça.

— Desculpe, mas pelo jeito que falou, pareceu que estava me


propondo isso.

— Eu não estou acostumado a propor nada a ninguém. — respondo


frustrado. Que merda eu estou fazendo? Puta que pariu! — Deveria ser
mais fácil… Lisa, eu gosto de você.

Há muitas coisas implícitas nessa fala, e ela entende cada uma delas.

Todas as outras mulheres com as quais me envolvi anteriormente,


me conheciam. A parte mais feia e a parte quebrada do homem forte e frio
que demonstro ser para todos os outros ao meu redor. Elas sabiam quem era
o Hades e se apaixonaram, tanto pela casca de CEO poderoso, quanto pelo
brutamontes que perde o controle quando está com raiva. Elas gostaram
primeiro, elas fizeram com que eu me apaixonasse depois. Ou, ao menos,
me interessasse o suficiente para que a relação andasse por um tempo
determinado.

Lisa Becker é diferente.

Ela é uma obsessão. Uma paixão desenfreada. Um sentimento que


eu não consigo controlar. O pensamento constante no meu subconsciente.

Eu nunca precisei me explicar antes. Nunca precisei me importar, eu


só precisava aceitar e ser recíproco.
— Você nem me conhece.

— Conheço o suficiente para saber que gostaria de tentar algo com


você, o que já é mais do que eu já quis com qualquer outra mulher. —
respondo honestamente — Mas, isso não está em questionamento. Como
disse, quando eu quero uma pessoa, ela é minha, e eu sou completamente
dela. Quero saber o que você quer. Se é recíproco de alguma forma.
A loira me estuda por alguns segundos, beberica seu vinho,
parecendo se divertir com a situação, mas algo chama a sua atenção e ela,
como se estivesse adotando outra personalidade, abre um sorriso mínimo, e
muda completamente de assunto.
— Para te responder isso, eu preciso antes saber mais sobre você.
Quem você é? Por que veio para Havdiam? Quem são os seus sócios?
Como resolveu montar seus negócios? Por que Hades? Por que os infernos?
— suas perguntas parecem ser um texto pronto exposto em uma tela para
ela ler, e franzo o cenho.

É claro que tem alguma coisa errada, ali. Sua postura está muito
mais tensa, seus olhos vidrados em algo atrás de mim. O garçom chega em
um ótimo momento, interrompendo a nossa conversa, e disfarçadamente,
deixo o guardanapo cair, dando um vislumbre para trás, antes de pegá-lo.
Gavin Timberg está olhando fixamente para a nossa mesa, com um
olhar tão feroz para Lisa, que a vontade que sinto é de pegar a faca de cortar
pão e enfiar em sua jugular. Mas, tento me recompor, e quando volto a mim,
minha postura muda.

— Lisa, eu estou envolvido, isso é nítido. Vejo em seu olhar que


você também está. Sua postura é receptiva quando estamos perto um do
outro. Você se sente atraída por mim, eu não sou burro. — afirmo com tanta
seriedade, que ela não tem coragem de negar, por isso, seguro a sua mão
que está repousando em cima da mesa e beijo a palma, fazendo-a se
arrepiar.

— Não sei se é inteligente da minha parte me envolver com você.


As coisas podem ser intensas e complicadas demais. — sua fala é em um
fio de voz, e eu confirmo com a cabeça.

— Concordo. Também podem ser boas, divertidas, interessantes,


instigantes. — raspo os dentes em seu indicador e dou uma mordida ali,
antes de soltar a sua mão e pegar o garfo para começar a comer — Você me
contou que gosta de cozinhar… então, me fale sobre isso…
O jantar termina entre conversas amenas, depois de uma noite
arruinada pelo meu progenitor, que deixou Lisa tão desestabilizada e
aterrorizada, que esperei estarmos em segurança, dentro do carro, para falar
sobre o assunto.

Ela precisa saber que pode confiar em mim. Eu não sou nada como
ele.

Assim que entramos no banco de trás do carro, mando para a puta


que pariu qualquer tipo de ética do trabalho, ou qualquer coisa do tipo, e
assim que Frederico dá a partida, avanço na loira, lhe dando um beijo tão
afoito que a pega desprevenida. Lisa leva alguns segundos para entender o
que está acontecendo e corresponder, mas quando o faz, parece tão animada
e intensa quanto eu.

Tão rápido como começou, eu encerro o beijo e pergunto o que tem


me atormentado durante o jantar inteiro, desde a hora em que bati os olhos
no filho da puta do Timberg:

— Ele te ofereceu dinheiro, ou está te ameaçando para extrair


informações? — seus olhos duplicam de tamanho, e pelo retrovisor, vejo
que até mesmo Frederico parece surpreso com a minha afirmação. Porque, a
esse ponto, eu tenho certeza de que é um ou o outro. Não tem a menor
possibilidade do meu maior concorrente estar jantando no mesmo lugar, no
mesmo dia e horário que eu, com uma funcionária em comum, e ela parecer
tão tensa e acuada assim que o vê. Simplesmente impossível. Ele a está
seguindo.

— Não sei do que está falando… — Lisa se faz de desentendida, e


percebo que cruza os braços com força, tentando colocar alguma distância
entre nós dois.
Eu não sou burro.

Muito menos, ingênuo.

Não dá para fingir que não há nada acontecendo. Não, depois de ser
honesto sobre os meus pensamentos e finalmente falar tudo o que estou
sentindo para ela, e, exatamente por estar me sentindo traído e humilhado,
exijo que ela olhe em meus olhos e me responda. Seguro seu queixo, talvez
com um pouco mais de força do que deveria, e trago seu rosto para perto do
meu, buscando seus olhos.

— Lisa, eu vou perguntar mais uma vez. Fui completamente honesto


com você desde quando nos conhecemos, você sabe a influência e o
dinheiro que eu tenho, e principalmente, que eu me importo e gosto de
você. — respiro fundo e ela nem tenta se soltar, apenas parece magoada
com a minha forma de tratá-la, e seu olhar me diz que está triste com a
situação — Ele está te pagando, ou te ameaçando para que você tente
extrair informações sobre mim e sobre as minhas empresas? Seja honesta.

— Não. Sei. Do. Que. Você. Está. Falando. — ela pronuncia cada
palavra muito calmamente, mas seus olhos deixam claro que ela está
mentindo. Solto seu rosto, me afasto o máximo possível dela no banco, mas
não deixo de olhá-la por um bom tempo.

Quando percebo que estamos quase chegando em sua casa, começo


a falar novamente. Eu não vou perder para Gavin Timberg, muito menos, se
ele estiver pagando Lisa, ou pior, ameaçando-a de alguma forma. Ela
precisa confiar em mim, e realmente, não vai ser dessa forma que eu vou
provar que sou digno da sua confiança.

— Lisa, — respiro fundo, tentando controlar a raiva que borbulha


dentro de mim — fui sincero em casa palavra. Eu gosto de você, quero
tentar algo e estou envolvido. Se ele te ofereceu dinheiro, eu te pago o
dobro para esquecer essa merda. Trabalha para mim, trazendo informações
sobre aquele imbecil e juntos acabamos com a vida daquele desgraçado. —
ela arregala os olhos e parece até um pouco indignada com a minha oferta,
o que me leva a crer que seja a segunda opção — Mas se ele te ameaçou de
alguma forma, eu te protejo. Já te disse várias vezes que posso fazer isso, e
vou. Ninguém nunca irá encostar em um fio de cabelo seu e sairá vivo para
contar a história. Eu te dou a minha palavra. Mas, para isso, você precisa
confiar em mim.

Lisa me olha por alguns segundos, parecendo não acreditar no que


eu estou dizendo, mas confirma uma vez com a cabeça. O que diabos isso
quer dizer, eu não sei. O carro para, e antes que Frederico possa liberar as
portas para ela sair, digo:

— Você sabe onde me encontrar, sabe tudo o que eu estou lhe


oferecendo. Se escolher ficar do meu lado nessa guerra, eu lhe contarei o
meu lado da história.

Com um aceno de cabeça, deixo Fred liberar as portas, e como um


gatinho acuado, ela sai correndo do carro e entra no prédio de luxo onde
mora, que percebo só agora, ter uma grande falha na segurança. Que merda!
— Não quero falar sobre isso. — digo a ele, que confirma com a
cabeça, sabendo que meu humor, obviamente, não está dos melhores.
Assim que tranco a porta, as lágrimas começam a escorrer pelo meu
rosto. O choro de desespero e desalento me invade, e como uma
protagonista de novela ruim, vou escorregando pela porta, até me sentar no
chão, tarde da noite. Soluços altos sacodem meu corpo, e o estresse de
todos esses dias sob pressão, finalmente despencam em cima de mim.

O acidente dos meus pais foi algo que me obrigou a crescer, ter
responsabilidades e ser durona. Eu aprendi a não precisar de ninguém, a não
querer me relacionar com ninguém, porque um homem na minha vida,
significa mais responsabilidade emocional, mais dedicação e tempo. Hoje,
tudo o que eu faço é voltado para Helena, que ainda é jovem demais para
ter que dividir o tempo da única parente vida com outra pessoa.

Não é justo com ela.


Não é justo comigo também.

Mas, ninguém nunca disse que a vida era justa e que vivíamos em
um jardim encantado, cheio de algodões-doces e vales de arco-íris. O
mundo real é feio e podre. Existem pessoas como Gavin Timberg, que
pegam a sua existência e te relembram de que você não é nada.
Completamente descartável. Que colocam em cheque a vida da única
pessoa que ainda está plenamente viva da sua família e a qual você ama e se
importa.

Como poderia arriscar?

Como poderia ser tão egoísta e não colocar a segurança da pessoa


que eu mais amo no mundo em risco, para ficar com um cara que pode, ou
não, ser um príncipe encantado?

— Lisa? Lisa! O que aconteceu? Você está machucada? Te


assaltaram? Lisa! — Helena grita, correndo em minha direção e me assusto
tanto com a sua voz, que dou um pulo, ficando de pé, assustada.

— Você deveria estar na cama.

— Eu estava na cama. Mas ouvi você chorando e vim ver o que


tinha acontecido. — ela fala brava, mas me puxa para um abraço, e sem
resistência, deixo que ela me console hoje. Juntas, caminhamos para o sofá,
e lá me deito em seu colo, sem saber ao certo o que fazer agora.

Foi um surto.

Explodi com tanta pressão.

Com Hades me perguntando sobre Gavin.

Com Gavin nos seguindo até o restaurante.


Com as propostas do homem intenso por quem estou totalmente
atraída.

Mas eu não posso contar isso para a minha irmã mais nova. Ela não
merece, e nem vai carregar esse fardo ou essa preocupação. Isso é a minha
responsabilidade e eu vou consertar as coisas, afinal, fui eu quem nos
colocou nessa furada.

— Estou com problemas no trabalho… é só isso. — digo, limpando


as lágrimas, quando percebo que já consigo falar sem que a minha voz
trema tanto — Estou no meio de uma guerra fria entre dois concorrentes
que se odeiam, e na realidade, acho que são um tanto perigosos.

— Fizeram algo de ruim com você? — ela pergunta, parecendo


assustada e eu nego com a cabeça várias vezes.

— Não, não. Nada desse tipo, eu só tenho que tomar algumas


decisões difíceis e não sei o que fazer.

— Que tal escolher um lado? — ela sugere, parecendo muito sábia.


Como uma menina de dezesseis anos pode ter crescido tanto assim nos
últimos anos?

— Como assim?

— Bom, pensa com quem você gosta mais de trabalhar. Em qual


ambiente se sente mais confortável, feliz, quem te trata melhor… enfim —
ela responde dando de ombros, e enquanto vai falando, fica claro o lado que
eu escolheria, se esse fosse o caso — Então, você escolhe esse lado e
pronto. Encerra com a outra parte e finaliza esse sofrimento.

Não é tão simples assim. Existe um contrato, ameaças… você


desprotegida no meio. Mas, se fosse fácil, e eu pudesse, com certeza, iria
escolher Hades e a Gehenna. Sem sombra de dúvidas.
— Obrigada, meu amor. — respondo, lhe dando um beijo da
bochecha.

— Sabe, eu não sou mais um bebê. Podemos conversar sobre os


seus problemas também, para variar. — ela brinca, e eu confirmo com a
cabeça, mas me coloco de pé e aponto para o corredor.

— Mas, agora, cama., — sua careta é engraçada, mas não lhe dou
opção para réplica, e juntas caminhamos para os nossos respectivos quartos,
antes de cair na cama, ainda com o vestido brilhante e bonito, e apagar
cheia de sono, dúvidas e medo.

O que uma boa noite de sono e uma conversa com alguém inocente,
não faz, não é mesmo?
Quando acordei, depois de sonhar com beijos, mãos e olhos cor de
chocolate a noite inteira, consegui ver as coisas com uma nova perspectiva.
Talvez, eu tenha exagerado um pouco na paranoia e dramaticidade ontem à
noite, ou talvez, eu esteja analisando tudo de um jeito errado.

Hades é um homem poderoso.

Tão poderoso quanto Gavin. Senão, mais.

Poderoso o suficiente para que as pessoas o temam.


Esse homem poderoso, lindo, sensual, cheiroso, gostoso e intenso,
se diz envolvido e interessado em mim. Inegavelmente, eu também estou
por ele. Apesar de não querer nada sério, no momento, e de não estar em
busca de um compromisso, suas palavras me tentaram. Sua promessa foi tão
intensa que me fez repensar em todas as minhas convicções de antes, e me
lembrar apenas de nós dois e do momento, cogitando aceitar sua proposta
maluca, antes de ver o fantasma de todos os meus pesadelos mais
horripilantes me lembrando do que estava em jogo ali.

Mas, foram as palavras de Helena que me fizeram entender o que ele


mesmo me disse ontem. "Se for dinheiro, eu pago em dobro, se for ameaça,
eu te protejo". Ele tem meios para me proteger, para manter Helena sã e a
salva, tem formas de fazer com que os homens de Gavin não encostem na
gente. Afinal, ele mesmo tem os seus próprios homens, não tem?
Deve ter, se não, não falaria isso. E, também, não seria tão
respeitado e temido pelo CEO da Timberg Company.

O cara se chama de Hades, todos os lugares dele são intitulados


inferno. CEO do Hell Group.
Pelo amor de Deus, Lisa. Se toca. Ele conseguiria te proteger!

Mesmo se não existisse a relação enlouquecedora entre nós dois,


pelo ambiente de trabalho, e é lógico, pelo fato de ninguém da Gehenna ter
me ameaçado, pelo contrário, todos terem me acolhido, eu escolheria esse
lado sem pensar duas vezes.

Depois de um belo banho, ainda de toalha, estirada em minha cama,


relembro do beijo. Que beijo! Nossa! Ninguém beija como Hades, ele
realmente é o pecado em pessoa. Se ele é um beijador profissional, com
todo aquele papo de exclusividade, domínio, possessividade… por
completo, ele deve ser uma loucura. É, com certeza ele não é o único
envolvido nessa história.

Na impulsividade, pego o meu celular e mando uma mensagem,


antes que me arrependa do que estou fazendo e volte atrás em minha
decisão:

Lisa: Podemos conversar?

Hades: Claro. Do que precisa?

Lisa: Pessoalmente.

Hades: Segue o endereço.

Ele me envia o endereço de uma rua no centro-sul da cidade, e antes


mesmo do café da manhã, me arrumo rápido e já estou entrando em um
carro de aplicativo, pronta para ter essa conversa. Não posso me dar ao luxo
de me acovardar e continuar sob as ameaças do velho que, com certeza, vai
continuar tentando em vão, arrancar informações de mim. Agora que Hades
sabe, eu nunca vou conseguir muni-lo com algo substancial para que ele
pare com isso em algum futuro próximo.

Chego ao prédio fechado, que aparentemente acabou de ser finalizado


e paro em sua frente, sem saber o que fazer. Confiro novamente para saber
se o endereço está correto e antes que possa apertar o número para ligar,
noto o segurança de Hades abrir a porta e falar:

— Senhorita Becker, o senhor está te esperando. Seja bem-vinda, e


tenha um bom dia. — seu sorriso é simpático, por isso, retribuo.
Caminhamos lentamente pelo lugar e percebo que esse imóvel
parece se tratar de um novo empreendimento do grupo, porque ainda não
tem todos os móveis, mas pelo pouco que vejo, me parece um cassino
luxuoso.

Olho ao redor, procurando pelo dono de tudo, e o encontro sentado


no lado oposto, em um sofá de veludo vermelho, com o seu tradicional
terno escuro e uma mesa farta de café da manhã montada à sua frente.
— Vejo que pensou rápido e tem uma resposta para me dar. —
Hades diz, mas não esboça nenhum sorriso, ou qualquer tipo de expressão
presunçosa, que pensei que estaria exibindo em seu rosto, assim que notasse
a minha chegada.

— Pensei, — respondo, me sentando na cadeira à sua frente. Apesar


do gesto em que me oferece todo tipo de coisas deliciosas para comer,
recuso com a cabeça e vou direto ao ponto — eu quero saber se posso
confiar em você.

— Naturalmente que sim. Estou lhe mostrando o meu maior segredo


atual. Esse lugar será maior do que a Gehenna, e um golpe ainda mais duro
em Gavin. Se resolver me trair, saberei que foi você, porque tenho completa
confiança em todos que trabalham comigo.

— Como pode ter tanta certeza? — questiono, descrente.

— Tenho meus métodos, meus homens e, não sei se reparou, sou


bastante respeitado. — ele baixa o tom de voz, e se aproxima um pouco
para completar — E temido. Ninguém quer ser meu inimigo.

Arrogante, como sempre.

Apesar de que, provavelmente, esteja certo.

— Escolho ficar do seu lado. Não por temer você, — respondo


firme — mas, sim, por gostar mais de você do que seria aconselhável. Ou
sensato.
— Escolho ficar do seu lado. Não por temer você, — Lisa tenta
parecer séria, mas toda a sua postura corporal indica o quão acuada ela está
se sentindo — mas, sim, por gostar mais de você do que seria aconselhável.
Ou sensato.

Todas as minhas preocupações, meus dilemas e até mesmo as


minhas inseguranças se evaporam quando escuto essas palavras.

"mas, sim, por gostar mais de você do que seria aconselhável. Ou


sensato."
Ela parece ter se decidido, afinal, e na primeira batalha dessa guerra,
que estou disposto a tudo para vencer, aparentemente, eu ganhei. O
engraçado é que não entrei conscientemente nela, talvez, nem Gavin, e
muito menos, Lisa se voluntariou como prêmio. Mesmo assim, meu anjo
resolveu descer ao inferno, e ficar comigo. Fez a sua escolha, e recitando as
suas próprias palavras, ela escolheu ficar ao meu lado.

— Tem certeza disso? — questiono, apenas por precaução. Tudo o


que eu menos preciso é de que daqui há alguns dias ela mude de ideia de
novo, e resolva me dispensar. Não tenho ânimo, e nem senso de humor para
isso.
— Hades, eu sou louca por você. — sua voz sai fraca, mas ela
finalmente admite, e parece surpresa com a sua própria afirmação, pelo que
percebo. Apesar disso, seus olhos ainda parecem temerosos por algum
motivo. Contrariando todos os meus instintos de mandar tudo para a puta
que pariu, pegá-la no colo e como um animal, encontrar o primeiro lugar
privado que exista nesse prédio, para devorá-la. Resolvo entender
exatamente no que eu estou me metendo.

Esqueci, eufórico com a sua decisão, uma parte importante dessa


equação, o acordo, ou sei lá que merda aquele filho da puta fez com ela.
Lisa ainda tem algum vínculo com Timberg, e parece ansiosa e temerosa de
estar aqui, quem dirá de se unir a mim.

— Me conte exatamente o que está acontecendo, para que eu te


ajude, anjo. Eu prometo que farei de tudo, moverei o céu e o inferno para te
proteger e fazer todas as suas vontades. — a esse ponto, não tenho vergonha
nenhuma de admitir o quão rendido estou. Só preciso que ela confie, e
entenda isso, de uma vez por todas.

— Eu… — Lisa olha ao redor, parecendo um pouco em dúvida


sobre contar ou não, mas se levanta em um salto e diz — preciso ir pra um
lugar mais reservado.
Há fogo em seus olhos, seja de malícia, pelo que isso induz, seja
pela força que a minha promessa de proteção impôs a ela, eu não sei. Mas,
me coloco de pé em um salto também, e abro a carteira, olhando para o a
chave em formato de cartão do hotel de ontem, que não usamos. Na pressa,
ainda não tive tempo de mandar devolver e agradecer ao Anthony pelo
trabalho, apesar de não tê-lo usado, mas talvez, a sorte tenha virado a meu
favor.

— Eu tenho o lugar perfeito para uma conversa privada.

— Uau… eu achei que era rica, mas isso é totalmente outro nível de
riqueza. — ela comenta, impressionada com a vista da suíte, e apesar de já
ter me hospedado em vários hotéis ao longo do mundo, esse realmente está
acima da média.

Amplo, arejado, as paredes são de vidro do teto ao chão e a essa


altura, não há por que se importar com a privacidade, já que estamos muito
acima do limite dos outros arranha céus de Havdiam. A antessala tem uma
mesa de jantar e um sofá, e seguindo Lisa, que parece ter esquecido o
motivo da nossa vinda, e está explorando o lugar, entro no quarto que
realmente é impressionante. Moderno, bonito, requintado, enorme. A cama
faz com que o membro em minha calça, dê o ar da graça, e a combinação da
loira cheirosa, nesse ambiente fechado não é uma boa ideia. Por isso, limpo
a garganta e aponto para a sala, de onde eu provavelmente conseguirei
pensar melhor com a cabeça de cima.

— Vamos conversar, então? — pergunto, e ela murmura um "ah",


um pouco envergonhado, antes de me seguir. Nós nos sentamos no sofá, de
frente um para o outro e eu solto um suspiro levemente impaciente. Esse
suspense não é agradável.
— Bem, eu nem sei por onde começar, me sinto um pouco idiota. —
ela diz, torcendo as mãos, e eu as seguro com força, trazendo seu olhar para
junto do meu. A princípio, só queria lhe dar um apoio, mas como nada que
faço é muito delicado, aparentemente, a assustei.

— Anjo… apenas fale. O resto, deixa comigo que eu resolvo.

— Perdi meu pai em um acidente de carro. Ele e minha mãe


estavam voltando de um casamento, era um evento só dos dois e eu e minha
irmã tínhamos ficado em casa… do resto, não lembro bem. — seu olhar
parece perdido, mas ela continua — Acordei com um telefonema do
hospital. Minha mãe segue, até os dias de hoje em coma. Meu pai morreu
na hora.

Não era isso que eu esperava. Definitivamente. E ela nota em minha


expressão, porque faz um afago em minha perna, como se eu quem
precisasse de consolo, antes de dizer:

— Está tudo bem. Visito-a uma vez por semana e está estável,
apesar de não ter nenhum tipo de mudança em seu quadro há muito tempo.
Mas, o problema foi o que aconteceu com quem ficou. Geralmente é assim.
Os bons se vão, e a gente que fica pra lidar com toda a merda — ela
reclama e eu confirmo com a cabeça, me lembrando de minha própria
mama.
O câncer arrancou sua vida de mim rápido demais, e não pudemos
fazer nada a respeito. Talvez, um acidente de carro seja melhor, no fim das
contas. Não precisar assistir à pessoa definhar na sua frente, até partir. Mas,
o coma com certeza é pior, o limiar entre a vida e a morte é uma absoluta
tortura.

— Você está bem? — pergunto e ela confirma com a cabeça.


— Eu estou. Tive que ficar, sou a mais velha. Helena não soube
muito bem como lidar com tantas mudanças, então, me mantive firme por
ela, somos nós duas no mundo agora. — apesar de pequena, nitidamente
assustada e machucada, Lisa é o pilar de quem realmente precisa dela.
Nunca respeitei tanto uma mulher como eu a respeito nesse momento.

Sem pensar em mais nada, a puxo pro meu colo, não conseguindo
deixar mais distância nenhuma entre nós dois. Ela se aconchega em mim,
como se apreciasse muito a minha proteção e cuidado, mas continua
falando:
— Quando aceitei o seu primeiro convite, fui inocente. Já tinha o
contrato de residente na Purple Night e imaginei que não iria ter problema
nenhum, já que havia tocado em outros lugares e festivais ao longo desse
período. Entretanto, na noite seguinte, ele apareceu em meu camarim, falou
de Helena e do quanto ela fica sozinha em casa… como éramos apenas nós
duas e muito suscetíveis a coisas ruins acontecerem. Um monte de merda...
— ela fala, e vejo uma lágrima rolar pela sua bochecha — Perguntei se
queria que eu recusasse algum próximo convite, e ele negou, afirmando que
eu seria sua informante. Eu não pedi por nada disso, não queria me
envolver.

Aquele filho da puta.


Ninguém mexe com ela, com a família dela, e nem em pensamento,
qualquer coisa ruim irá acontecer com Lisa. Não enquanto eu estiver
aqui.

Beijo sua bochecha com delicadeza e carinho, antes de trazer o seu


queixo em minha direção e olhar diretamente em seus olhos:
— Lisa, ninguém fará mal a você, sua irmã, sua mãe… nem mesmo
às plantas que possivelmente existem em seu apartamento. Confie em mim,
eu vou te proteger.
— Posso confiar em você, então? — ela pergunta, buscando por
uma promessa que eu tenho confiança de que nunca irei quebrar.

— Eu prometo te proteger e cuidar de você, anjo. Até quando você


permitir. — digo e dessa vez, é ela quem busca a minha boca com desejo.

O beijo se intensifica com vontade, e antes que eu perceba, minha


mão está segurando firme o seu cabelo, exigindo controle, que ela não
hesita em me dar. Finalmente, Lisa está entregue ao desejo, pelo menos, tão
entregue quanto eu estou. Os gemidos baixos que ela deixa escapar são a
minha perdição, e sem pensar em mais nada, aperto suas coxas gostosas,
subindo as mãos até alcançar sua bunda, e ali, cravo os dedos com mais
força, sentindo a sua carne.
— Eu sabia que seria delicioso, quando finalmente estivéssemos
juntos. — ela sussurra, e antes de responder mordo seu pescoço, marcando-
a como minha. Porque, é isso que Lisa Becker é a partir de agora. Minha.

— Você ainda não viu nada, anjo.

Mando minha prudência para o espaço, quando roço sua entrada em


cima da minha calça, sentindo meu pau ficar cada vez mais duro. O olhar
malicioso em seu rosto, me diz o quanto ela está gostando do nosso
momento, minha tentação diária, com seus olhos azuis e cabelos loiros,
nunca pareceu menos angelical do que agora, com essa expressão maliciosa
e desejosa em seu rosto.

— Nunca quis ninguém como eu te quero, Lisa. — sussurro em seu


ouvido, antes de morder o lóbulo da sua orelha e ela parece satisfeita com a
declaração, vaidosa por ser tão valorizada.
— Eu te garanto que te quero mais. — ela responde, puxando meu
cabelo, antes de indicar exatamente o que quer que eu faça.

Com a boca, passo a língua em seu decote, subindo para o pescoço,


antes de morder levemente seu queixo. Beijá-la, depois de tanto tempo
desejando seu corpo à distância é como consumir ecstasy, e por mais
ansioso que eu esteja para me afundar em seu corpo delicioso e tomá-la por
completo, preciso me controlar. Muito tempo sem estar com uma mulher,
faz isso com o um homem, o deixa descontrolado.

Quando o zíper ameaça estourar, de tanta pressão que meu pau duro
faz contra ele, resolvo tomar uma atitude e me coloco de pé. Com as pernas
ainda agarradas em minha cintura, seguro Lisa pela bunda e a guio pela
suíte bem equipada, jogando-a na cama. O colchão macio faz com que ela
quique algumas vezes, com os seus cabelos loiros esparramados pela cama,
e com o susto, ela dá uma risada melodiosa que aquece o meu peito.

— Minha! — digo baixo e, apesar de não concordar imediatamente,


ela assente com a cabeça depois de alguns segundos, abrindo um sorrisinho
tímido.

— Sua. — Isso era tudo o que eu precisava para avançar sobre ela
novamente.

Tiro rapidamente minha gravata e, sem paciência para abrir as casas


dos botões, estouro todos, fazendo-os cair pelo chão em um barulho
ritmado. Lisa dá uma nova risadinha, mas ela morre rapidamente, quando
seus olhos desejosos veem meu abdômen. As tatuagens, que geralmente são
escondidas pela roupa social, ficam em evidência, e percebo que ela me
deseja com tanta intensidade quanto eu a desejo.

Subo na cama, com uma perna ao lado de cada lateral do seu corpo,
e volto a beijá-la sem cerimônia, mordendo seu lábio com força. Foda-se se
vai ficar inchado ou até mesmo roxo, ela é minha. Seu vestido sensual e
bonito, agora é um empecilho que eu não estou mais disposto a aceitar, por
isso, procuro por seu zíper e em poucos segundos ele vai para o chão, junto
com o resto das minhas roupas.

— Puta que pariu, você é maravilhosa! — exclamo, um pouco


chocado, e sinto sua mão passar pelo meu corpo, antes de ela responder:

— Somos dois, então. Entendo por que as pessoas te chamam de


Deus Grego, afinal. — solto uma risada rouca, algo tão difícil de acontecer,
que até mesmo eu me surpreendo, e desço uma trilha de novos beijos pelo
seu colo, por cima do sutiã rendado e transparente.

Branco combina com o anjo que ela é, afinal.


Mordo seu mamilo por cima do tecido fino e ela me presenteia com
um gemido alto, que faz meu pau latejar ainda mais. Agora, livre da calça,
me coloco novamente entre as suas pernas me esfregando sem pudor algum
ali, aumentando nosso tesão e expectativa cada vez mais.

Lisa morde meu ombro, quando desabotoo sua lingerie e começo a


chupar seus seios com vontade. Minha mão se intercalando com a minha
boca, apertando e torcendo, na intenção de deixá-la louca. Seus olhos
fechados me indicam o quanto ela está envolvida, mas eu quero mais, muito
mais, por isso, beijo a barriga plana até descer e me colocar entre as suas
pernas. Lambo em cima da sua calcinha rendada, e escuto sua risada baixa.
Começo a estimular o clitóris de forma lenta, provocando, até que
ela começa a rebolar em meus dedos, procurando por mais contato. A
safada quer mais, e é exatamente isso que ela vai ter.

— Não a rasgue, por favor. — ela pede, como se previsse meus


próximos movimentos. Por isso, com uma destreza impressionante que só
quem está louco de vontade de chupar essa boceta doce pode ter, eu arranco
sua calcinha às pressas. Deixando-a livre para mim.
Minha língua passa por toda a sua extensão, arrancando gemidos
baixos e gostosos. Chupo seu clitóris com ansiedade, seu gosto doce em
minha boca, me dá grandes indícios de que eu finalmente tenha encontrado
algo pelo qual, finalmente, possa me nomear viciado. Lisa Becker é
simplesmente afrodisíaca.

— Hades… eu… — ela começa a murmurar palavras incoerentes, e


quando percebo o tremor em suas pernas, sei que ela está próxima.

Enfio dois dedos em sua entrada e começo a movimentá-los no


mesmo ritmo da minha língua. Em poucos segundos, sinto Lisa se
contorcer, gemendo baixo, e eu não paro, até que ela puxe meus cabelos
para cima pedindo por isso. Quando seus espasmos diminuem, levanto a
cabeça e vejo que ela tem a boca aberta, enquanto o peito sobe e desce,
como quem necessita de ar, suas têmporas suadas pelo esforço.

Limpo meu queixo, que agora escorre a sua excitação, e seu olhar
anuviado indica que nosso momento juntos foi tão bom para ela, quando foi
pra mim.
Quando me deito na cama para abraçá-la, até que ela se
recomponha, Lisa me surpreende, segurando meu pau com força, antes de
descer a minha cueca sem nenhuma cerimônia e falar de um jeito sensual e
enlouquecedor, que me deixa completamente apaixonado:

— Eu quero mais. — sua boca se aproxima da minha, quando ela


monta em cima de mim, colocando uma perna ao lado de cada lateral do
meu corpo, antes de se posicionar, pronta para engolir meu pau.

— Sou seu. — respondo surpreso, mas com tanta vontade de estocá-


la que me vejo completamente rendido.

Sinto-a descer por toda a extensão do meu membro com uma


destreza impressionante e preciso me concentrar muito para não gozar
como um adolescente ansioso e desajeitado. Assim que entra tudo, ela fecha
os olhos com força, entregue à cada uma das sensações, e alguns espasmos
me apertam com tanta força, que cravo as mão em sua bunda, apertando
forte.

— Puta que pariu! Mulher deliciosa! — digo baixo, como se não


pudesse acreditar em tudo isso, e dou um impulso para frente e para trás,
me movimentando.
Lisa é toda gostosa, macia, uma delícia de mulher, e agora, dentro
dela, sei que não existe mais a menor chance para mim. Estou
completamente rendido.

Ela rebola subindo e descendo, com uma destreza impressionante,


mas quando seguro sua cintura e giro nossos corpos, jogando-a contra o
colchão, seu sorriso se amplia. Os movimentos de vai e vem se
intensificam, e quando ela geme baixo novamente, levo minha mão ao seu
clitóris, tocando-a até fazer com que Lisa perca novamente os sentidos. Eu
estou prestes a explodir, e não aguento mais segurar, por isso, quando sinto
seus espasmos e contorções vou junto, me entregando ao momento.
— Lisa! — grito alto seu nome, como se fosse uma maldição e ela
suspira quando se joga novamente na cama. Puxo-a para mais perto,
aninhando seu rosto em meu peito, e enquanto nossas respirações começam
a voltar ao normal, não consigo pensar em nada, além de como isso foi foda
e delicioso.

— Uau! — ela fala baixo, depois de alguns minutos — Não achei


que seria assim…
— Nem eu. — respondo sem pensar, porque, para ser sincero,
pensei que seria bom, mas nunca imaginei que seria tão gostoso e "certo",
como foi com ela.

— Quando meu corpo voltar ao normal e meus músculos deixarem


de ser gelatina, precisamos voltar a conversar… — ela diz, mas beija meu
peito, antes de fechar os olhos e se aninhar um pouco mais a mim — Mas,
não agora.
— Não temos tanto assim para conversarmos. Você terá tudo o que
quiser, eu sou seu e te protegerei de todas as formas. Só não me traia, Lisa.
Nunca.

Ela não responde imediatamente, mas confirma com a cabeça e


responde depois de algum tempo:
— Eu não vou te trair, mas espero a mesma dedicação de você.
Hades.
Alguns dias depois…

Feliz, realizada e bem comida.

Alguém precisa de mais alguma coisa?


Estar com Hades realmente é intenso. Apesar de não conversarmos
sobre todas as questões, e de saber que ainda existem muitas coisas sobre
ele e seu passado que eu ainda não sei, de uma coisa eu tenho certeza: ele
gosta de mim. Mais cedo ou mais tarde, ele vai se sentir confortável o
suficiente para compartilhar seu nome de verdade e toda a história por trás
do apelido, mas mesmo sabendo que existem muitas camadas que eu ainda
não conheço, não sinto medo. É estranho ter tanta confiança com uma
pessoa, principalmente, nesse sentido que eu tenho com ele, mas eu me
sinto querida e bem cuidada. Sinto que ele se importa e que gosta de mim
de verdade, e para ser honesta, é muito mais do que eu poderia esperar.
Principalmente, para alguém que não estava nem um pouco a fim de
compromisso.

É engraçado como as coisas funcionam, mas depois que me abri e


falei tudo sobre Gavin e suas ameaças, me coloquei vulnerável e ele me
acolheu, um peso enorme saiu das minhas costas. É difícil levar tudo
sozinha e ter, depois de tanto tempo, alguém para cuidar de mim e
realmente resolver as coisas é algo que eu não estou acostumada. Apesar
disso, eu não me sinto fraca, pelo contrário, me colocar nessa posição prova
que eu sou, sim, uma pessoa forte, mais forte do que eu imaginava. Poderia
ter escolhido o caminho mais fácil e cedido às chantagens iniciais, mas não
fiz isso.

Depois de mais algumas sessões de sexo intenso, conversamos e


delimitamos algumas coisas. É claro que eu não posso simplesmente falar
com Gavin sobre minha aliança com Hades, por isso, tentarei ao máximo
fingir que estou do seu lado. Tentarei ganhar sua confiança lhe dando meias
informações, e aos poucos, sei que tudo vai dar certo. O que mais me
preocupava, no entanto, era a segurança de Helena, e não vou mentir, a
minha também, o que foi resolvido com uma ligação. Hades,
aparentemente, é amigo do dono da Ward Security e em poucas horas os
seguranças estavam alocados, tanto para mim, quanto para a minha irmã, de
modo discreto e que não chamasse atenção.

A primeira prova que eu realmente poderia, e posso, confiar nele.


Seu único pedido foi: "não me traia". E, eu não faria isso. Não quando
realmente estou envolvida e me entregando a ele com todo o meu coração.
Sei que foi rápido, mas o homem, simplesmente, é o pacote completo, não
dá para evitar.

Apesar de estarmos juntos, e de ele ter deixado isso muito claro com
a típica frase de macho alfa, da qual eu tanto ri depois: "não sou um
moleque, estamos juntos e você, a partir de agora, é minha. Te avisei antes,
no que estava se metendo, mas agora, não tem mais volta.", escolhemos
não contar para ninguém ainda. Nossos encontros, desde então, têm sido
escondidos e sigilosos. É melhor assim, já que ainda temos algumas pedras
no caminho com as quais lidar.

O contrato com a Purple Night foi revisado pelo advogado de


Hades, e não encontramos brechas para uma quebra que resultaria em uma
multa bilionária. Apesar de ele ter se oferecido para arcar com ela, não seria
justo fazer com que ele gastasse ainda mais dinheiro comigo, por isso, abri
mão de todos os shows extras e estou tocando apenas nos dias fixos, o que
não tem agradado nem um pouco ao dono da casa.

Hoje, mais cedo, quando estávamos nos despedindo, depois de uma


tarde de sexo insano, Hades brincou com o fato de eu parecer a Perséfone,
indo passar o tempo longe do mundo inferior, todas as vezes em que vou
fazer um show na Purple Night. Demos uma risada gostosa naquela hora,
mas não consigo deixar de pensar em como tudo isso é verdade. Eu preciso
me manter firme, porque ainda estou amarrada a esse contrato por alguns
meses.
Assim que entro na Purple, pouquíssimo tempo antes do show,
como tenho feito desde então, sou interceptada por dois seguranças que me
escoltam até o escritório do senhor Timberg. Essa prática tem acontecido já
com alguma frequência, e ele nem se importa em disfarçar dos outros
funcionários, ou até mesmo, da minha equipe. Rose está ficando maluca
sem entender bem o que está acontecendo e como não posso contar a ela
sobre tudo o que está acontecendo, sempre disfarço com alguma desculpa
esfarrapada.

— O que tem para mim hoje? — ele pergunta sem rodeios, e com o
discurso ensaiado que Hades me forneceu, digo com um tom debochado:

— Boa noite, pro senhor também. Hades está finalmente começando


a confiar em mim, e noite passada comentou algo sobre o novo cassino. —
digo, tomando cuidado para olhar para baixo e não nos seus olhos —
Aparentemente, ele está empolgado com o empreendimento, porque espera
atingir um público que ainda não foi explorado.

As sobrancelhas grossas do velho à minha frente se estreitam, e ele


dá um passo em minha direção de forma ameaçadora:

— Como assim?

— Acho, pelo que eu entendi, que ele está focado em atingir classes
que ainda não tem um espaço nos cassinos. Acredito que seja algo popular.
— respondo, dando de ombros.
Sei que o Pakao será totalmente o oposto, mas não tem como Gavin
saber o que foi me dito em uma conversa pós-sexo. Sim, para todos os
efeitos, eu estou dormindo com o velho Hades para conseguir informações.
Aparentemente, Gavin e seu ego gigantesco não se deram ao trabalho de
checar como é o rosto de Hades, e até hoje, ele imagina que meu namorado
seja um homem idoso, gordo e bigodudo… parecido com ele mesmo,
talvez.

— Então, ele está fazendo algo para os pobres? — Timberg gargalha


— E eu achando que teria com que me preocupar.
— Pelo que eu entendi, sim… não pude entrar em muitos outros
detalhes, porque pareceria um interrogatório e não seria bom para a nossa
parceria se ele desconfiar de algo. — falo sugestivamente. É claro que não
existe parceria nenhuma, mas para Gavin, nós nos tornamos uma dupla tipo
Batman e Robin, e eu que não era fã e, muito menos, boa mentirosa, estou
saindo melhor do que a encomenda.

— Soube que ele comprou outros dois lugares. Inclusive, muito


próximos dos meus negócios. — ele soa bastante intimidador novamente e
questiona — Você sabe sobre isso?
— Não, senhor. — digo baixo, e ele avança em minha direção,
ficando cara a cara comigo.

— É bom que não saiba mesmo, porque se eu descobrir que está


jogando comigo, sua irmãzinha vai ter o mesmo destino do seu pai. — ele
grita, e me encolho involuntariamente. É apavorante o jeito como ele se
descontrola, e não posso negar o quanto isso me faz tremer — Se Hades
continuar assim, aos poucos, eu vou precisar abrir falência do grupo.
Preciso acabar com ele, antes disso acontecer, e se eu não tiver a sua ajuda,
eu vou precisar de alguém para punir. Seu rostinho bonito vai servir pro
propósito. Capiche?
— Sim, senhor.

— Ótimo. — ele responde, segurando firme no meu braço — Você


precisa resolver isso, garota. As coisas não podem chegar a esse ponto.
Você vai precisar agir, porque só pra trazer informações você não está
prestando muito bem.

Meus olhos estão gigantescos, e meu corpo treme levemente, mas


mantenho a postura firme. Ele não pode me ver tremer, ou parecer
vulnerável, se não, vai achar que pode mesmo fazer qualquer tipo de coisa
comigo. Eu estou segura. Lá fora, camuflado, existe um segurança pronto
para agir.

— Pode deixar. — respondo, e ele me solta. Imediatamente, solto


um suspiro audível.
Caralho!

Assim que fecho a porta da sala de Gavin, sinto meus dedos ainda
tremerem, e antes mesmo de entrar em meu camarim, já digitei uma
mensagem cheia de pânico e medo, lhe contando tudo o que ele falou.

Hades: Eu vou dar um jeito nisso. Fique tranquila.

Se as coisas continuarem dessa forma, eu realmente espero que sim,


penso, cansada e sem vontade nenhuma de fazer mais um show nesse
hospício. Precisamos mesmo nos livrar dessa chantagem e, de quebra, desse
cara.
Quando falaram que o proibido era mais gostoso, eu não acreditei de
imediato. Mas, só isso explica a minha animação para, em plena terça à
tarde, ir para o shopping trocar de carro, e depois seguir caminho, com o
destino ao encontro secreto com meu namorado. É. Namorado. Estranho
chamá-lo assim, considerando o pouco tempo em que nos conhecemos. Não
que tenha havido um pedido, ou que ele me chame assim, apesar de saber
que me considera, talvez, até mais do que isso. A intensidade com que
Hades me chama de "minha" é algo impressionante. A química entre nós
dois é explosiva, o toque, os beijos, o carinho e o cuidado também, mas
para além disso, eu admiro sua força e gosto de como sou tratada. Hades
realmente é único.

Dentro do carro, o motorista nem olha para mim, e enquanto rolo o


feed da rede social, fantasio com as próximas horas que teremos juntos. O
Pakao está prestes a ser inaugurado, uma parceria entre a rede de hotéis
mais famosa de Vongher e Lanuver, com Hades, e agora, em toda a sua
neurose de deixar tudo perfeito, ele não sai mais do local.

— Obrigada. — digo, assim que o carro estaciona, mas o motorista


tenta me interromper.

— Senhorita, o senhor Hades ainda não autorizou a nossa entrada.


Só mais uns instantes, por favor. — ele fala, ouvindo algo em seu ponto,
mas já desci do carro, tamanha a ansiedade de vê-lo novamente.

Por que eu precisaria ser anunciada e autorizada? Hades sempre


disse que posso andar por ali como se fosse dona do lugar, e já deu ordens
explícitas para todos me tratarem muito bem… com certeza, ele deve estar
enganado.

Mas, assim que entro no salão grande, agora já mobiliado com


móveis vermelhos e lindos, o sorriso morre em meu rosto e sinto meu
estômago revirar. Com a camisa social dobrada até os cotovelos, Hades
aperta alguém pelo pescoço, em uma discussão acalorada. Dois seguranças,
um de cada lado, seguram o indivíduo, enquanto ele bate em suas costelas e
fala em um tom baixo, que à distância, eu não consigo escutar.

A cena inteira me parece surreal.

Como o homem que me trata como uma princesa pode estar fazendo
algo assim com alguém?

O que esse cara fez para merecer apanhar tanto?

— Hades? — minha voz soa estridente e alta, mas assim que me


escuta, vejo sua postura mudar. Ele alinha a coluna, flexiona duas vezes o
pulso, antes de descer os braços e se virar muito lentamente em minha
direção.
Sua expressão é mortal, e essa é a primeira vez em que eu realmente
consigo enxergar o motivo do apelido. Ele realmente parece assustador.

— Some com esse cara da minha frente. Mais tarde eu resolvo isso,
Frederico. — sua ordem é clara, e Fred, que observava a cena de longe, dá
ordens para os outros capachos que fazem o que ele manda.

Nós nos olhamos por alguns segundos, nos estudando. Ele sonda
para entender o que estou sentindo e qual é a minha reação ao presenciar
essa cena brutal e eu busco a mesma coisa. Não sei o que ele fez, não sei se
realmente merece esse tipo de tratamento, mas achei que ficaria mais
assustada ao ver a face malvada do homem ao meu lado. Porém, além disso,
também sinto uma adrenalina correr em minhas veias.

— Lisa. — sua voz é baixa, mas ele apenas estende a mão,


esperando que eu vá até ele. Hesito por alguns segundos, mas a passos
lentos, caminho em sua direção, até ele estar perto o suficiente para me
segurar pela cintura e me puxar para mais perto, beijando o topo da minha
cabeça.

— O que aconteceu aqui? — pergunto baixo, e percebo que há


medo em minha voz. Ele também nota isso, porque quando me responde,
sua voz é muito mais gentil.

— Faz diferença? — sua voz é um pouco cínica, mas quando busca


por meu olhar, percebo que não existe prazer nenhum ali.

— Para mim, faz. — respondo com honestidade. Não o vejo como


um homem cruel, que sente prazer em fazer com que os outros sofram. Se
for algo do tipo, eu realmente ficarei decepcionada.

— É alguém que me traiu. E eu preciso que as pessoas me respeitem


e não me traiam, anjo. Não sinto prazer, mas é necessário. — ele responde e
eu confirmo com a cabeça.

— Hades, afinal. — meu tom é carregado de crítica, mas ele não


parece ofendido quando responde:
— Sim. É exatamente por isso que eu sou chamado de Hades.

O silêncio parece opressor. Pela primeira vez, estou vendo a


segunda face do homem por quem eu tanto me encantei e, nessa,
definitivamente, não há muito pelo que se apaixonar.
— Acho que, talvez, esteja na hora de te contar a outra parte da
história, afinal. — ele fala mais para si mesmo do que pra mim e quando
segura a minha mão, levando-a a boca para um beijo casto, sinto todos os
meus pelinhos do corpo se arrepiarem.

— Tudo bem. — digo baixo, porque não sei mais o que falar nesse
momento, e de mãos dadas, ele me leva para o seu escritório, como tem
feito com certa frequência.
O sofá preto de couro já viu muito mais do que deveria, e o lugar
nem foi inaugurado ainda. Mas, dessa vez, quando nós nos sentamos ali,
não é para mais uma sessão de sexo intenso, e sim, para ter uma conversa
séria. Seu olhar e sua postura me falam isso e não posso fingir que não
estou tensa e curiosa. Não quero forçar a barra, mas sei que esse será um
divisor de águas. Ele finalmente está confiando em mim para compartilhar
mais do seu passado, e principalmente de sua identidade verdadeira, pelo
que deu a entender.

— Vou te contar a minha história, e o porquê de estar fazendo isso


com Gavin. — sua fala é séria, e eu fico quieta, escutando o que ele tem a
dizer — Principalmente, vou te contar quem ele é. Já sabemos que aquele
pedaço de merda é um chantagista sem escrúpulos, mas você precisa
acreditar em mim, quando digo que eu não sou o lobo mal dessa história,
anjo.

Sua voz parece torturada, e eu confirmo com a cabeça, sem pensar


duas vezes. Um homem que parece tão perturbado assim, não pode ser
alguém ruim. Atitudes duvidosas, comportamentos destrutivos, tudo isso
tem que ter uma boa explicação, e pelo seu olhar, eu sei que ela existe.
— Gavin Timberg é meu pai.

— Como? — não era por isso que eu estava esperando.


Definitivamente.

— Aquele pedaço de merda estuprou minha mãe enquanto ela


trabalhava como empregada doméstica na casa dos seus pais, a engravidou
e depois de, obviamente, não assumir o filho, ou os seus erros, a mandou
embora com um dinheiro para o aborto. — a fúria em sua voz, o ódio em
seu olhar, o jeito como as palavras saem da sua boca, me dizem que esse
sentimento o tem consumido por tempo demais.

Revolta. Raiva. Tristeza. Ódio.


Ele foi moldado para sentir isso… sabe-se lá Deus, desde quando.

Minha expressão, provavelmente, é de completo choque, porque seu


sorrisinho amargo e sem graça, me diz que ele já esperava por essa reação.

— Bem… eu não preciso te explicar como o ato é consumado. Mas,


bom, foi isso. Minha mãe foi chutada da casa da família onde trabalhava,
grávida, com um trauma psicológico gigantesco e um cheque de
compensação. Como se o dinheiro fosse resolver todos os problemas do
mundo.
— Eu sinto muito. — digo, porque não tenho mais nada a
acrescentar. Tudo parece surreal demais. Nojento demais.

— Progenitor. Não pai. Usei o termo errado. Gavin nunca será meu
pai. — o escárnio em sua voz, faz com que eu me encolha um pouco no
sofá — Mas, aqui estou eu, depois de anos, finalmente vingando o nome da
minha mãe.
— Então, é isso? Tudo é uma vingança? — pergunto, tentando
entender.

— Na verdade, um acerto de contas. Ele merece tudo o que está


acontecendo. Eu não estou agindo mal, contra um homem que se redimiu e
se tornou alguém melhor. — Hades parece se ofender com a minha
pergunta — Investiguei, coletei informações. Sei de muito mais coisas do
que você imagina, anjo. Ele é alguém ruim, alguém que precisa pagar.
Prostituição, drogas, desvio de dinheiro, sonegação de impostos e, se
formos mais a fundo, com certeza teremos outras mulheres que foram
abusadas por esse imbecil. O mundo estará melhor quando eu terminar.
Mas, não quero matá-lo ou fazer algo que ele faria em meu lugar, não me
leve a mal. Quero acabar com todos os seus recursos, com todo o dinheiro e
com tudo o que para ele é o mais importante, tudo o que fez com que agisse
da forma grotesca que agiu com a minha mãe. Por conta do dinheiro, ela foi
menosprezada, subjugada, estuprada, silenciada. Eles se acharam superiores
por serem empresários, ricos, pessoas de sucesso e prestígio. E se isso é o
mais importante para Gavin, é nesse ponto que eu irei atingi-lo. Vou tirar
cada centavo, até que ele padeça. Essa é a minha missão de vida.

A determinação em sua voz é tão forte que não resta dúvida de que
esse realmente é o plano da sua vida.
— Há quanto tempo você sabe e está lutando por essa vingança? —
pergunto tentando entender.

— Mais de dez anos.


— Nossa! — solto uma exclamação impressionada e vejo em sua
expressão que ele tenta entender se eu estou lhe julgando ou não — Ele é
uma pessoa ruim. — afirmo e Hades confirma com a cabeça.

— Ele é.

— E você? — questiono, me lembrando da cena de mais cedo.

Um silêncio opressor toma conta do lugar novamente, mas ele


abaixa a cabeça e me responde baixo.

— Alguém melhor do que ele.

— E isso é o suficiente?
— Espero que seja. — sua voz soa mais firme agora, como se eu
estivesse desafiando-o. Nossos olhares se encontram e ainda não estou certa
do que pensar ou sentir, com tantas informações. Ele percebe a minha
dúvida, por isso, começa a fazer as suas próprias perguntas — Você
continua do meu lado nessa batalha?

— Sabe que sim. Disse que não te trairia. — respondo de imediato.


Essa é uma resposta fácil pra mim.

Posso não aprovar sua vingança, suas atitudes e nem alguns de seus
métodos, mas estou com ele. Entre Hades e Gavin, não existe nenhuma
dúvida de qual lado meu coração está.

— Obrigado. — há muita sinceridade em sua voz, e pela primeira


vez desde que viemos para essa sala, ele encosta em mim, segurando minha
mão com delicadeza.

— Preciso pensar um pouco sobre tudo isso. — confesso, me


sentindo uma covarde, antes de me levantar. Sua postura é derrotada, mas
ele não me impede, pelo contrário, assente com a cabeça — Não sobre o
lado em estou, mas só preciso assimilar tudo. Achei que você gostava de
competição, por ser um tubarão nos negócios… isso tudo é…

— Asqueroso. — ele responde, se colocando de pé também — Eu te


entendo. Também sinto repulsa. Mas é quem eu sou, Lisa. Espero que me
aceite assim, porque estou te oferecendo todas as faces do diabo.

— E se eu não quiser o diabo, e sim, o homem? — questiono,


desafiando-o.

— Então, só você terá a última parte do Daniel Perri que existe


dentro de mim.
Lisa ter me visto quase perder o controle com aquele imbecil não
estava nos meus planos. Muito menos, contar tudo o que aconteceu comigo
e com a minha mãe para ela desse jeito, sem nenhum planejamento, sem
preparar o terreno.

Nunca me senti tão vulnerável e, isso me deixou queimando de raiva


por dentro. Principalmente, depois que ela deixou a minha sala com um
olhar meio perdido no rosto, de quem não sabe o que pensar, mas tem muita
coisa em mente no momento.

Sei que ela me entendeu. Confio que esteja do meu lado e que não
vá me trair, contando meu segredo para outras pessoas. Porém, apenas o
pensamento de ela sentir medo ou repulsa de mim, de alguma forma, me
deixa perturbado. Isso não pode acontecer. E não vai. Mas, não posso forçá-
la… não seria justo, muito menos, correto.
Como posso pedir por confiança, se não confio que ela vai voltar?

Porém, depois de três dias e meio, as coisas mudam um pouco de


perspectiva e eu já comecei a perder as esperanças. Mensagens frias,
convites recusados, uma crise de ansiedade fodida da minha parte. Como eu
posso ter demorado tanto para encontrar alguém, e depois disso, ela não me
aceitar como eu sou? Talvez, eu realmente deva ter errado muito feito
quando mais novo, porque não parece existir felicidade em meu caminho!
A vingança contra Gavin Timberg é tudo o que eu tive por muito
tempo. Mas Lisa foi a pontinha de esperança que tive, de que quando tudo
isso acabar e as coisas melhorarem, eu finalmente terei paz. Ser feliz. Pelo
visto, isso foi algo completamente equivocado da minha parte.

Assisto às pessoas a se divertirem do camarote na Gehenna, sem


ânimo nenhum para conversar com ninguém. Sozinho, como sempre, no
meio da multidão. Nem mesmo Fred teve coragem de interromper meu
sofrimento e momento de silêncio, para falar comigo nos últimos dias. Ele
sabe que, quando estou assim, no limite, a corda sempre estoura pro lado
mais fraco. E quem esteve por perto e ousou me incomodar, ou fazer
alguma merda perto de mim, pagou caro, algumas vezes, de forma um
pouco exagerada. Não que eu esteja ligando para qualquer coisa, além do
fato de que ela não tem retornado às minhas ligações.

Como se pudesse ouvir os meus pensamentos lamuriosos, o rádio


toca e a voz rouca de Fred anuncia:

— Lisa está aqui. Peço para que ela suba? — ele questiona, e afoito,
quase derrubo o copo de whisky, antes de berrar um sim bem mal-educado
para ele.
Ainda há esperanças, afinal.
Espero por Lisa, que vem, como o anjo que é, em um vestido preto
cheio de recortes, com um sorriso tímido no rosto. A mão que segura o meu
copo, o aperta firme, mas a outra eu escondo dentro do bolso da calça. Ali é
mais seguro, não corro o risco de fazer alguma coisa errada, ou que ela não
queria.

— Você voltou. — é a primeira coisa que digo quando ficamos


próximos o suficiente para que ela me escute.

— Voltei. — ela responde, procurando por meus olhos, como se


precisasse desse contato tanto quanto eu — Precisava de um tempo para
assimilar as coisas, mas agora, tudo está esclarecido.

Solto a respiração que eu nem tinha percebido que estava


prendendo, e confirmo com a cabeça. Ok, ela voltou. E parece que as coisas
estão esclarecidas de alguma forma, não sei qual, mas se para ela isso fez
sentido, não serei eu quem vou questionar.
— Certo. — respondo, e lhe ofereço meu copo de whisky, sem saber
mais o que fazer. Não quero pressioná-la, mas tudo isso parece muito vago,
e eu não sou a pessoa mais paciente do mundo.

Lisa aceita o copo e vira a dose inteira de uma só vez, antes de se


sentar no sofá no qual eu estava sentado a poucos minutos. Imito seu
movimento, ficando mais próximo dela, e seu perfume cítrico invade meus
sentidos. A porra de uma droga para mim.

— E não vai me perguntar o que ficou esclarecido? — o início de


um sorriso aparece em seu rosto, antes tão enigmático, e começo a pensar
que finalmente as coisas parecem estar dando certo. Ela não parece prestes
a terminar tudo comigo, como cogitei.
— Bom, tenho certeza de que você vai me falar, eu perguntando ou
não. — respondo e ela revira os olhos.

— Covarde. — brinca e eu fecho meu semblante — Seus


subordinados sabem que quando você está comigo, se transforma nesse
gatinho inseguro?

— Espero que não. — respondo e ela gargalha. O som da sua risada


faz com que um peso enorme saia dos meus ombros.

Vai ficar tudo bem.


— Bom, ficou esclarecido para mim que não importa o quão
duvidoso o seu caráter é longe de mim, e as coisas que você faz para se
manter no controle. Eu sei que comigo as coisas são diferentes. — ela fala
em tom de afirmação, mas vejo a dúvida em seu olhar, por isso, confirmo
com a cabeça, para que ela saiba que isso é absolutamente verdade — Posso
não concordar com todos os seus meios, mas… acho que já é tarde demais
pra mim.

— Isso quer dizer…? — pergunto, porque ainda não me sinto à


vontade de tocá-la, sem saber se estou ou não cruzando alguma linha.
— Quer dizer que eu te amo, imbecil. Ainda não percebeu? — seu
tom é brincalhão, mas a verdade em sua voz é esmagadora.

Sem pensar em mais nada, avanço em sua direção, puxando-a pelo


cabelo até colar sua boca na minha, sem me preocupar com quem esteja nos
observando no momento. Foda-se.
— Caralho, Lisa. Precisava me fazer sofrer por todo esse tempo? —
pergunto, quando finalmente nos separamos para tomar uma lufada de ar.
Ela ri baixo, e dá de ombros.
— Eu gosto de protagonizar cenas dramáticas. Fazer o quê? — sua
expressão inocente não me engana nem um pouco, por isso, quando subo a
mão pela sua coxa, ela não me reprime.

— Eu gosto de protagonizar cenas proibidas para menores de idade


com você. — falo em seu ouvido, rindo da babaquice que acabei de admitir.
Não sou um homem de muitas risadas e sorrisos, mas depois desses
dias no escuro, tê-la por perto novamente é como voltar a respirar, depois de
longos minutos debaixo d'agua, me afogando. Não posso evitar o bom
humor, é praticamente contagiante.

— Bom, eu gostaria disso. — ela responde, antes de se colocar de


pé novamente e começar a caminhar na minha frente. Sabiamente, eu a sigo
para todos os lugares, como sei que faria até o fim do mundo. Estou
completamente de quatro por essa mulher.

Ela passa por nossos seguranças com um andar decidido, e ao invés


de se encaminhar para a sala, onde temos um sofá confortável e macio, Lisa
vai até a área do banheiro. Confuso, mas excitado demais para fazer
qualquer tipo de questionamento, a observo entrar no banheiro masculino,
abrir um sorrisinho para um magrelo, que treme sob o meu olhar, e entrar
num reservado, me puxando pela lapela do blazer.

— Posso saber o que pensa que está fazendo? — questiono,


tentando manter a minha postura séria, mas a esse ponto, sua mão já
trabalha rapidamente no botão da minha calça. Quando ela segura meu pau
com força, por cima da cueca, não consigo evitar o rosnado baixo —
Caralho.

— Estou fazendo o que eu quero, e pegando o que é meu. Alguma


objeção? — seu sorriso é sacana, e sei que essa é uma forma de me desafiar.
Em hipótese alguma, em outra situação, deixaria que ela se expusesse dessa
forma, mas, hoje não é um desses dias. Por isso, avanço em sua boca com
violência, pressionando seus lábios contra os meus, que se tornam
receptivos em um beijo delicioso em poucos segundos.

Minha mão vai para a sua bunda, pressionando seu corpo magro e
gostoso contra o meu. Ela geme baixo, sem se importar com espectadores,
mas a esse ponto, até eu já taquei o foda-se. Deixem que eles fiquem com
inveja. Ela é minha.
— Quer que eu te coma com força dentro desse banheiro, então? É
isso? — questiono e ela confirma com a cabeça.

— Sim, senhor.

— Caralho! Mulher impossível! — resmungo, antes de subir seu


vestido, tocando-a por cima da calcinha.

Nossas línguas duelam e buscam domínio de forma selvagem, e não


consigo me lembrar de já termos ficado tão descontrolados quanto agora.
Pelo menos, eu nunca estive. Em meu estado normal, não aceitaria algo
assim, mas ela me tira do eixo e me faz perder o juízo.
Pressiono-a contra a parede, enquanto ela geme um pouco mais alto,
contra os meus lábios. A safada quer provar um ponto, e eu estou prestes a
descobrir qual é, muito em breve.

Lisa continua com os movimentos contra meu pau, que a esse ponto,
já luta em vão na cueca apertada, e quando finalmente é liberto está todo
babado com o líquido pré-ejaculatório.
Levo dois dedos meus em sua boca e ela os lambe com vontade,
deixando-os molhados, e quando afasto a sua calcinha para o lado e começo
a movimenta-los ali, em cima do seu ponto mais sensível, seus gritos já
devem ser audíveis até fora do banheiro masculino, e eu não poderia me
importar menos.

Seguro-a pela bunda, antes de pegá-la no colo, pressioná-la contra a


parede e preenchê-la por completo. Dessa vez, nós dois gememos. O vai e
vem começa brutal e forte, e a nossa conexão, o olho no olho, é muito mais
intenso do que em todas as outras vezes. Aos gemidos e grunhidos, nos
movemos um contra o outro, num ritmo frenético e insano, que só piora
quando estamos próximos a nos perder um no outro. Lambo e mordo seu
pescoço, e quando nós dois chegamos ao ápice juntos, colo a minha testa na
sua.

— Se não ficou claro ainda, Lisa, você vai acabar com todo o meu
juízo e autocontrole, porque eu também te amo. — respondo, com os lábios
praticamente colados nos seus, e seus olhos me dizem o quanto isso é
importante pra ela.

— Eu sei.
Tive muito no que pensar.

Hades, ou Daniel, tem um passado terrível, difícil e cruel. Ele não é


um exemplo de homem bom, confiável e que perdoa. Parte dele, e eu não
sei bem o tamanho dessa parte, quer sangue e destruição. Não se importa
com mais nada, além disso, e não medirá esforços para conseguir o que
quer. Mas, no fundo, sei que não tenho outra opção. Eu me apaixonei por
ele. Pelo lado bom e carinhoso, pelo nocivo e sujo, que faz coisas ruins com
pessoas ruins. Apesar disso, não me engano nem por um segundo sequer,
sobre as consequências desse ato, e talvez, isso faça de mim alguém com
um caráter tão duvidoso quanto o dele, porque, no fundo, não me importo
com o que já fez de ruim, apenas me importo por ele estar longe de mim.

Por alguns dias, pensei em desistir e me afastar, mas eu não saberia


conviver com o fato de estar apaixonada por alguém e não lutar por isso.
Estou assustada com a complexidade dessa história? Sim!

Vou me acovardar e fugir? Não!

Sei que, se não quisesse mais me envolver romanticamente com ele,


ainda receberia sua proteção, nunca duvidei disso. Confio em sua palavra e
acredito que ele preze e honre com as suas promessas. Mas não posso julgá-
lo. Seria hipocrisia da minha parte.

Se fosse eu em seu lugar, se o acidente tivesse sido causado por


alguém em específico, e não por uma falha motora, não teria feito o
mesmo? Me mascarado com uma face cruel para vingar meus pais? Como
posso julgá-lo, se no fim, eu o entendo, e talvez fizesse a mesma coisa que
ele?

A única coisa que me fez pensar melhor sobre tudo isso foi Helena.

Ela não merece estar no meio desse furacão, e se eu me envolvi com


pessoas de má índole, seja Gavin, seja Hades, preciso pensar nela em
primeiro lugar.
Contar para ela o porquê da minha neurose e que estamos sendo
protegidas por seguranças à paisana, a assustou. Falar todo o segredo que
estava sendo esmagado em meu peito foi um alívio grande e, apesar de
ocultar partes da história de Hades, eu expliquei um pouco sobre as suas
motivações. Helena ouviu tudo com atenção, até a parte onde expliquei o
que sentia por ele e como era a nossa relação. Depois disso, foi como se
tivesse recebido o seu aval para tomar a minha decisão, já que as suas
palavras foram cirúrgicas: "Se existe alguém que possa fazê-lo ver a luz,
esse alguém é você. Todo mundo tem um lado ruim, e ao que me parece, o
lado bom dele aparece ao seu lado. Não estou dizendo que precisa
consertá-lo, mas que se você realmente gosta e se importa com Hades,
talvez, precise dar esse passo."

Foi como se eu realmente estivesse recebendo um aval para seguir o


meu coração, e assim que pisei na Gehenna naquela noite, foi isso que eu
fiz. Agi como uma menina da minha idade, apaixonada e que mandou tudo
pro inferno pra seguir seu coração. A irmã mais velha, que carregou tudo
nas costas depois do acidente dos seus pais, que me perdoe, mas essa Lisa
está feliz.

— Você deveria convidar Helena para um almoço. Gostaria de


conhecê-la. — Hades diz, deitado na cama, ainda nu, enquanto começo a
me arrumar para o show de mais tarde.

Felizmente, essa semana não tive show na Purple Night, o que me


proporcionou um dia inteiro deitada num quarto de hotel, com todas as
preocupações deixadas para depois. Mas, agora que finalmente caiu a noite,
e que precisamos nos colocar em movimento para trabalhar, tudo parece
mais real.

Hades citar Helena me deixa um pouco chocada. Não esperava que


partisse dele esse próximo passo, e ainda não sei bem como me comportar
com essa nova dinâmica entre nós dois e minha família. Mas, agora que ela
sabe de tudo, não há motivo para adiar o inevitável, e os dois se
conhecerem pode ser bom. Por isso, confirmo com a cabeça, antes de
respondê-lo:

— Bom, vou perguntar quando ela está disponível e te aviso.


Teremos que ser um pouco mais discretos, agora que o Pakao finalmente
inaugurou, mas acredito que não vamos ter problemas. — respondo, e ele
concorda.
— Eu dou um jeito, sabe disso.

Os lençóis brancos da sua cama são macios e convidativos, mas


como hoje não confirmei o show com Dani e Yas, já que não tinha certeza
do que faria da minha vida, preciso me arrumar sozinha. Por isso, desvio o
olhar e volto a me maquiar no espelho.

— Com ou sem maquiagem, você continua linda. — ele fala e se


coloca de pé, vestindo a cueca boxer preta, jogada há tempos no chão.

— Está tentando me seduzir? — pergunto em tom de brincadeira, e


ele vem em minha direção, beijando meu pescoço, antes de responder no
meu ouvido:

— Sempre. Estou conseguindo?

— Está, mas não podemos. Preciso realmente me concentrar nisso,


então, seja bonzinho e me ajude, ok? Vá se vestir para não nos atrasarmos.
Hades solta um suspiro alto, mas não parece incomodado de verdade
quando entra no banheiro, pronto para um banho.

Algumas horas depois, estamos na Gehenna, esperando pelo


momento certo para a minha entrada, quando alguém o chama no andar de
baixo, perto da pista de dança. Ele não parece muito animado, mas pelo
celular, discute com a pessoa, que o vence nos argumentos, porque sua
postura irritada me diz que foi contrariado:

— Sanchez está lá embaixo, e a namorada não quer subir porque


está com algumas amigas na pista de dança. Vamos falar sobre um contrato,
mas gostaria de te apresentar…, — seus olhos me sondam, e ele completa
— se quiser.

— Claro, não posso demorar, por causa do show, mas vamos lá.
Descemos as escadas, nos misturando com o público, e por mais que
estejamos com dois seguranças enormes às nossas costas, algumas pessoas
se aproximam, pedindo uma foto. Como Hades não está acostumado com
nenhum tipo de exposição, e muito menos com pessoas desconhecidas o
procurando, tiro meia dúzia de fotos, antes de segui-lo rapidamente.

— Deveria ter insistido para que Apolo subisse com a namorada. —


ele diz resmungando e eu dou uma cotovelada em sua costela.
— Deixa de ser ranzinza, são só meia dúzia de admiradores. Quando
eu for tocar em algum festival grande, você vai ver como é. — respondo,
abrindo um sorriso enorme, e percebendo seu ciúmes quase palpável.

Antes de obter uma resposta, Apolo, o advogado que me acordou


com o primeiro convite da Gehenna, e uma mulher bonita dos cabelos
negros aparecem. Ela está com um drinque na mão, conversando
animadamente com duas amigas, enquanto o homem sério a observa com
olhos de falcão.
— Elas não quiseram subir. Aparentemente, Fanny e Vall estão com
alguma paquera na pista de dança. — é a primeira coisa que ele diz, como
se isso fosse uma explicação para tudo. O que, de fato, é — Lyanna, essa é
Lisa. — o advogado nos apresenta, e ela parece animada ao perceber quem
eu sou.

— Você é a DJ famosa! Que arraso! — ela abre um sorriso enorme,


antes de completar: — Vamos tirar uma foto pra mandar no grupo da
família do Apolo. Ludovika e Atena não quiseram vir, porque são duas
chatas. Depois, vou encaminhar no grupo das namoradas também. — ela
fala, como se fosse completamente normal, e eu estivesse mais do que
inteirada do assunto, mas não discuto. Abro um sorrisinho meio amarelo e
confirmo com a cabeça.
Me junto ao trio e tiramos a tal foto, enquanto, entre gargalhadas,
drinks e danças, ela me conta tudo sobre as outras namoradas e esposas do
grupo dos sócios. Aparentemente, não se conheciam muito bem antes, mas
depois da inauguração da Gehenna, as coisas ficaram mais íntimas e
criaram esse tal grupo chamado "Eu amo um CEO", no qual fui
acrescentada, sem muita escolha, pela baixinha animada que mandou vários
emojis felizes, me dando boas-vindas online, como se não estivéssemos
lado a lado pessoalmente.

Enquanto Lyanna fala sem parar sobre seu caso sério de amor com o
advogado bonitão, e compara a sua história com a da sua cunhada, que
reconquistou o, segundo ela, carrancudo, chamado Atlas, fico imaginando
onde é que estou me metendo. Apesar de, aparentemente, ela não ser fã
número um do cunhado, a tal Ludovika conquistou seu coração de primeira,
afinal, pelo que soube, elas têm uma inimiga em comum, a ex dos dois
irmãos. Pois é. Toda família tem as suas questões.

Se todas forem legais e animadas como ela, as coisas vão ser


divertidas. No mínimo, interessantes, já que agora, ela começou a me contar
sobre os inúmeros pedidos de casamento recusados do Conde de Lanuver a
uma delas. Esse, eu conheço de vista, então, consigo visualizar melhor
sobre o que ela está falando, e acho um máximo a história do cruzeiro que
fizeram juntos no final do ano passado.

Ao nosso lado, Hades e Apolo conversam sobre o contrato de


compra e venda de um novo empreendimento, mas tento não prestar tanta
atenção. Se ele quiser me contar, ou quando chegar essa hora, estarei pronta
para ouvir tudo… Até lá, preciso saber apenas que confiamos um no outro.

Olho no relógio e percebo que já estou atrasada alguns minutos para


começar o show, por isso, vou até Hades e falo em seu ouvido:
— Preciso ir, já estou atrasada.

— Já? Espere que eu vou com você. — ele diz, ignorando


totalmente Apolo, que nos olha com uma expressão de poucos amigos.
— Besteira, serão cinco minutos e, além disso, você não vai poder
mais ficar ao meu lado, de todo jeito. Continue aqui que do palco eu te
encontro. — digo, fazendo um carinho em seu rosto.

Hades me puxa pela cintura, sem nenhuma cerimônia e me beija


com vontade, esquecendo de todos ao nosso redor. Correspondo na mesma
intensidade, mas quando a música troca e eu tomo consciência de onde
estamos, me afasto envergonhada.

— Até mais. — digo alto para todos, antes de correr para o palco.

O telefone toca e parece que minha cabeça vai explodir.

Eu nem bebi tanto assim, para estar com essa ressaca, então, só pode
ser muito cedo. É isso. Tem que ser.

Abro os olhos, apenas para constatar que não são nem dez horas da
manhã ainda, e o telefone não cansa de tocar, mesmo depois de duas
chamadas recusadas, sem ao menos ver quem estava ligando.

Na hora, penso em Helena e a culpa me corrói. Não dormi em casa


pela segunda noite e, apesar de ter conversado com ela por mensagens,
pode ter acontecido alguma coisa.

Quando vejo o nome de Rose na tela, fico confusa e atendo:

— Alô?

— Alô? É isso que você tem pra me dizer? Alô? Depois de ter
sumido por dois dias, não ter me respondido. Dispensado Dani e Yas, ME
dispensado e feito um show sem nenhuma equipe de background? Isso tudo
é por conta desse cara? Você nunca foi uma cabeça de vento por cara
nenhum!
— Rose! — chamo a sua atenção, cortando-a, antes que ela fale algo
de que se arrependa — Não continue, ou as coisas podem não ter mais
volta. O que acontece na minha vida pessoal diz respeito apenas a mim. O
show de ontem foi decidido de última hora e não teve problema nenhum,
então, gostaria de saber o motivo desse estresse e dessa gritaria. — Hades
acorda, e fica em alerta ao meu lado. Aparentemente, o toque do celular e o
meu tom de voz bravo o despertaram totalmente.

— Problema nenhum? Lisa, você está sendo processada!

Demoro alguns minutos para entender o que ela quis dizer, e pisco
algumas vezes, chocada demais para entender do que se trata.

— Por quê?

— Quebra de contrato e atentado ao pudor. — como não respondo


nada de imediato ela continua, parecendo menos nervosa e mais preocupada
— Recebi hoje a intimação. Gavin, aparentemente, tem um vídeo seu aos
beijos com Hades, dentro de um banheiro, bom, não só aos beijos, né…
como o lugar é público, ele a processou por atentado ao pudor. E não
ajudou muito você sair, hoje, nos principais portais de notícia, aos beijos
com ele novamente, dessa vez, na pista de dança.
— Ele me processou por transar no banheiro da Gehenna? Como é
possível que ele tenha acesso a algo assim, e o lugar nem é dele para entrar
com esse tipo de ação… — digo confusa, tentando entender o que está
acontecendo. Ao ouvir o meu lado da linha, em um pulo, Hades já está no
telefone, tentando descobrir mais sobre essa história, parecendo
completamente furioso.

— Isso não é o pior. Foi apenas para ele quebrar o contrato com a
Purple Night, por conflito de interesses, como se você estivesse manchando
a imagem do lugar, então, foi o motivo perfeito para te colocar como a
culpada da história. A multa é astronômica!

— Meu Deus, Rose! — falo baixo, chocada com tudo isso.

O que a impulsividade não faz?

E o que eu vou fazer agora?

— Eu vou dar um jeito nisso, Lisa. Pago a multa e resolvo tudo.


Acalme a sua empresária, vai ficar tudo bem. — Hades fala alto,
preenchendo o ambiente, antes de voltar a murmurar no telefone, rápido
demais para que eu entenda alguma coisa.

Desligo com Rose, depois de mais um sermão sobre como sou


impulsiva e inconsequente, e observo o homem andar de um lado para o
outro, como um leão enjaulado. Quando, finalmente, ele desliga a ligação e
caminha em minha direção, seus olhos estão preocupados.

— Espero que isso não afete a sua reputação ou qualquer coisa do


tipo. Deveria ter esperado por algo assim, não medi as consequências, peço
perdão. — ele diz, se ajoelhando no chão, do meu lado da cama.

— Foi ideia minha… se a fama de boa moça acabar, que seja. Não
me importo. — digo, dando de ombros, porque não tinha nem começado a
pensar nisso, mas literalmente, foda-se o que pensam de mim, se querem a
Lisa má, posso até usar isso como um Buzz publicitário — Minha maior
preocupação é manter Helena a salvo, e com certeza, nos afastar da fúria de
Gavin, que a esse ponto, deve estar enorme para ter rescindido o contrato.

— Aumentei a sua segurança e Apolo já está trabalhando no seu


contrato. Vamos pagar essa multa e seguir em frente. Vai ser melhor assim.
— ele responde e abaixa a cabeça, parecendo chateado — A culpa é minha.
Fui ambicioso, fechei essa semana a compra de alguns dos cassinos da
Timberg Company que faliram. Ele descobriu tarde demais quem era o
comprador e a corda arrebentou pra cima de você.
Confirmo com a cabeça, tentando assimilar tudo isso, mas solto um
suspiro alto, antes de dizer:

— Há males que vêm para o bem. O que passou, passou, e só de não


precisar pisar novamente na Purple Night, me sinto muito mais aliviada.
Obrigada por me ajudar a pagar a dívida. — respondo, um pouco sem
graça. Sei que ele tem dinheiro, mas é uma multa absurda.

— O que é meu, é seu, anjo. Vou te proteger sempre, lembre-se


disso.
Depois de dois dias em casa, tentando me livrar de paparazzis
irritantes, e cuidando de uma Lisa um pouco abalada pelas críticas, resolvo
que não dá mais para deixar as coisas como estão. Preciso voltar à ativa e
trabalhar. Principalmente, agora que Gavin percebeu que ela está comigo e
não do lado dele, e provavelmente, procurará outra frente para me atacar.

O plano precisa continuar e, de preferência, mais rápido do que


antes.

Foi um plano ambicioso comprar os negócios falidos da Timberg


Company, mas em questão de investimentos, muito inteligente também. É
claro que ele descobriria eventualmente, só não imaginei que seria tão
rápido, mas todos já tem uma estrutura perfeitamente montada e mobiliada.
É uma questão de pequenos reparos e consertos, para colocar para
funcionarem novamente, além de serem pontos excelentes na cidade. Não
poderia passar pela oportunidade e assim que abriu para a venda no
mercado, arrematei tudo em uma só tacada, usando o nome de um laranja.
Talvez, isso tenha me denunciado.

Na dúvida, o homem, que foi muito bem pago para me deixar usar e
gerenciar negócios em seu nome, veio até o meu escritório, e sob a ameaça
de fazer algum mal à sua família, ele confessou ter comentado em uma
mesa de bar sobre a transação. Só mais um imbecil respirando o mesmo ar
que eu. Depois de uma surra bem dada, para ele aprender a não falar mais o
que não deve, pra ninguém, e arrancar uma ou outra unha, me conformei de
que o estrago já estava feito. Irremediável.
Mas como a própria Lisa disse, há males que vêm para o bem.

Agora não preciso mais me preocupar com a sua segurança naquela


boate, já que, por decisão de Gavin, ela não é mais DJ residente dali. A
multa não foi nada perto da satisfação de anunciá-la, no dia seguinte, em
uma coletiva de imprensa, como residente da Gehenna. Impecável, como
sempre, ela adotou uma postura mais sarcástica, em tons de roupa mais
escuros e uma maquiagem mais pesada, como a própria equipe de relações
públicas contratada para a ocasião a instruiu. Agora, ela não era mais a
garota que tocava na balada de sucesso da cidade, agora, era a mulher do
Deus do inferno, e quem comandava a madrugada em sua casa. Mesmo
sendo uma exposição um pouco desnecessária, assumir nosso
relacionamento foi algo necessário e natural, não poderia deixar todos
acharem que foi algo de uma noite só. Estamos juntos afinal, e se ela é uma
figura pública, aparentemente, eu também preciso ser.

A única coisa com a qual eu não contava nessa situação, era a


importunação o tempo inteiro, a todo momento. Não sou mais uma
novidade, para ter um flash estourando na minha cara o tempo todo.
Aproveito a deixa da noite cheia e badalada, e principalmente que
Lisa resolveu ficar em casa com a sua irmã, e resolvo sair para espairecer.
Apesar de gostar de ter Lisa por perto e de tudo estar correndo bem, como
eu esperava e idealizei, às vezes, preciso do meu momento sozinho para
pensar. Nem mesmo Frederico, meu segurança particular, consegue me
acompanhar nesses momentos onde eu só preciso de paz, silêncio e alguma
coisa para chutar, se necessário.

Muita frustração acumulada faz isso com as pessoas.

Pego a chave do único cassino falido que arrematei e que ainda não
visitei, tiro meu carro da garagem e parto para lá, contemplando o silêncio,
imerso em pensamentos. Meu plano está indo bem até agora e o cerco está
se fechando para Gavin e toda a Timberg Company. Mas, é claro que eu
quero mais, muito mais.

Quero a destruição completa do homem.


Ao contrário do que todos pensam e da minha fama, eu não sinto
prazer algum em infligir dor a ninguém e nunca cruzei nenhuma linha tênue
em meus avisos. Sei onde parar e sei bem onde eu não quero chegar.

Não quero ser um assassino.

Não vou ser hipócrita e fingir que a ideia não passou milhares de
vezes pela minha cabeça. Seria muito mais fácil sequestrá-lo e matá-lo na
porrada. Ou, com um tiro. Alvo aberto e uma morte limpa. Mas, Gavin não
merece nada disso. Merece sofrer ao se ver sem nada, como deixou minha
mãe, anos atrás. Merece pensar em desistir, e quando tudo estiver terrível,
se lembrar do meu nome. Ele merece algo pior do que a morte.

Além disso, eu sei bem o que quero e o que não quero. E,


definitivamente, não quero ter sangue de ninguém em minhas mãos. Não
quero cruzar essa linha.

Envolto em milhares de pensamentos, que sempre me atormentam


quando estou sozinho, abro as portas da espelunca que adquiri, pensando
que não fiz um bom negócio. O cheiro de mofo é aparente e, para um lugar
que estava aberto até mês passado, isso me parece um pouco preocupante.

Ando pelo local, observando a decoração piegas e antiga, vendo o


que posso aproveitar, quando escuto um barulho que vem dos fundos. Algo
baixo, quase imperceptível, mas que me deixa em alerta.

Depois de tanta mídia em cima de mim, a ideia de sair sozinho, sem


um segurança, me parece imbecil agora. Resolvo sair do lugar mofado,
fedido e agourento, antes que alguma coisa aconteça, mas quando estou
trancando a porta sinto alguém colocar um saco preto em minha cabeça,
antes de segurarem meu braço com uma força absurda.

É isso, fodeu.

Nesse momento, é melhor tentar manter a calma e entender quem


são esses caras, antes de meter os pés pelas mãos. Além disso, dentro do
meu bolso interno do blazer, tem um rastreador ligado diretamente ao
escritório do Dylan, se eu sumir por muito tempo, com certeza ele irá me
procurar. Não posso me desesperar, se fossem me matar, já teriam feito isso.
— Quieto e ninguém se machuca. — uma voz fala, e outra ri, e
completa:

— Não se machuca muito. — antes que eu possa sequer perguntar


alguma coisa, recebo uma coronhada na cabeça e a minha visão fica turva.
Que merda.
Mais um soco na costela, eu não sei bem quanto tempo mais consigo
aguentar sem falar nada. Minha vontade é de gritar com esse imbecis e
chutá-los, até amassar a cara deles, como aparentemente, é a pretensão
deles fazerem com a minha.
Se eles quisessem, ou tivessem ordens para me matar, isso já teria
acontecido. Sei bem como as coisas funcionam e não estou nem um pouco
impressionado em como esses babacas me pegaram e estão tentando me
interrogar. O que me deixa puto é não poder revidar e nem falar nada,
porque sei que, se fizer qualquer uma das duas coisas, eles irão querer
vingança.

— Conte para gente quais são os seus planos! — outro soco na cara,
e sinto meu nariz escorrer mais um pouco de sangue, a essa altura, se
misturando com o que já estava seco, do primeiro golpe que levei —
Explique por que está querendo ferrar com tudo!

O mais novo e, provavelmente, menos experiente em interrogatórios


e tortura, começa a me bater novamente, sem me dar nem chance para
resposta, e eu cuspo sangue em sua cara, antes de começar a rir.

Bossais.

Se realmente tivessem alguma ideia de que estão batendo no


bastardo de Gavin Timberg, provavelmente, se dedicariam muito mais a
essa função.
— Acham mesmo que eu vou falar o que eu estou fazendo e quais
são os meus planos? Vocês são dois imbecis. A essa altura, minha equipe já
está me procurando, e não sei se fizeram o dever de casa, mas sou protegido
pela Ward Security, a mesma empresa que cuida da segurança da porra da
coroa. Seus merdinhas! — grito com ódio, e vejo a expressão de dúvida e
medo passar pelo rosto deles.

Não tenho certeza de por quanto tempo fiquei apagado, mas estimo
que esteja aqui por mais ou menos umas três horas. Tempo o suficiente para
já terem notado a minha ausência e começarem a procurar por mim. Minha
fala não é um blefe, em pouco tempo, serei localizado e mesmo se não
tivesse a Ward me dando cobertura, não tenho medo desses idiotas, que não
sabem sequer fazer o serviço direto.
— Cala a porra da boca! — o mais velho, e aparentemente, líder do
grupo, grita, antes de mandar uma mensagem no celular para quem quer
que seja e chegar perto o bastante para que eu grave o seu rosto — Está se
achando inteligente? Poderoso? Isso não foi para tirar informações, foi para
dar um aviso, Hades. — ele cospe meu nome com nojo e indiferença, mas
mantenho minha expressão impassível — Acha que sua namoradinha
aguentaria metade do que você aguentou? E a irmã dela? Aquela pirralha…
tenho certeza de que com um simples tapa naquela carinha bonita, ela já
abriria a boca e me contaria tudo o que sabe.

— Você não…
— Eu não? — ele gargalha, e a fúria toma conta de mim — Eu não?
Eu que mando aqui, seu filho da puta. Eu que mando nessa merda. Se eu
quiser pegá-la, eu vou pegá-la. Não importa quantos seguranças existam na
cola das duas. Uma hora, existe uma brecha, não é? Olha só onde você está
agora. — ele fala e sinto meu sangue ferver de ódio — Acho que, quando
Lisa e Helena Becker estiverem sendo espancadas e sei lá o que mais,
poderíamos fazer outras coisas com duas gostosas como elas, imagino que
ambas abririam a boca rapidinho.

Fecho os olhos tentando controlar a minha raiva, mas não consigo.


Inclino meu corpo pra frente e dou uma cabeçada com tudo no infeliz, que
também tem seu nariz quebrado. Só de imaginar Lisa nesse lugar,
apanhando ou passando por algo pior, fico completamente fora de mim.
Talvez, realmente a impulsividade seja o meu pior inimigo.

— Olha só, acho que chegamos ao ponto que queríamos chegar. —


ele ri, segurando o nariz, que agora escorre sangue, assim como o meu —
Para com essa merda de comprar todos os cassinos e boates. Você não pode
e nem vai dominar essa cidade, muito menos, sabe com quem está
mexendo. As coisas podem ficar muito feias para você.
Não respondo, mas meu olhar, provavelmente, indica que não farei
nada isso, porque ele completa:

— Considere isso um aviso amigável. As coisas podem e vão ficar


feias. Não vamos deixar que a nossa merda atinja gente inocente, não é?

— Por que o seu chefe não veio falar isso cara a cara para mim? —
questiono com raiva, sem pensar no que estou fazendo.

— Porque ele, ao contrário de você, é ocupado e não perde tempo


com pessoas menores e assuntos menos importantes. — com um aceno de
cabeça o saco preto é colocado de volta em minha cabeça, e o último
pensamento que tenho, antes de levar uma nova pancada e apagar, é em
Lisa.

Agora que a envolvi em toda essa merda, ela corre mais perigo do
que nunca e preciso protegê-la de qualquer forma.
Se a intenção era tentar me acalmar, eles falharam muito feio.

Quando Frederico ligou para o meu celular, perguntando


despretensiosamente, se eu sabia onde Hades estava, tive um mau-
pressentimento. Como o chefe da sua segurança precisaria perguntar para
mim algo do tipo? Duas horas depois, quando apareci na cobertura onde
Hades mora, no horário em que havíamos combinado para almoçarmos
juntos e não o encontrei, sabia que tinha algo errado. Ele não falha com
compromissos, e principalmente, não deixa de me avisar se acontece algum
imprevisto. Por isso, quando perguntei e seu segurança particular disse que
não sabia onde ele estava, entrei em pânico.
Agora, isso? "Fique tranquila, ele já passou por coisa pior.". Como
alguém pode realmente ficar tranquila, depois de ouvir algo assim…
Eles ainda nem o acharam, para saber pelo que Hades está
passando!

Frederico não sai do telefone com a central da empresa que cuida da


nossa segurança e, aparentemente, eles o estão rastreando nesse mesmo
momento, mas isso não me acalma. Sua expressão ainda é sombria e tensa
demais para que isso possa acontecer.

Eu sabia que, eventualmente, esse plano todo, essa história


misteriosa de Hades e de sair afrontando Gavin Timberg, batendo de frente
com o homem, iria dar errado. Eu sabia! Mas, confiei que ele conseguiria se
safar, afinal, as pessoas tremem ao olhar para ele. Tem que ter muito culhão
para mexer com o homem, afinal. E isso não me acalma nem um pouco. Se
pegaram Hades e o sequestraram de alguma forma, essas pessoas realmente
têm muita coragem para fazer isso.

— Nós o encontramos, Lisa. Vai ficar tudo bem. — Fred fala e


começa a se movimentar em direção à porta. Levanto-me em um salto e
corro em sua direção, pronta para ir com ele, quando sou interceptada —
Você não vai.

— Claro que eu vou. — isso não está em negociação.

— Ele vai ficar furioso quando vir que te levamos para a zona de
perigo. Vai arrancar a minha cabeça. — ele fala sério, antes de quase bater a
porta na minha cara — Você fica.

— Se você acha, que vou ouvir ordens e ficar quieta, não me


conhece. — digo, seguindo-o de perto — Posso ficar dentro do carro, longe
do perigo, mas eu vou! — Fred me olha por alguns segundos, antes de abrir
de novo a porta e me deixar passar, resmungando algo sobre perder o seu
emprego.
O caminho é tenso, apesar de curto, e quando encontramos Hades,
caído em uma viela, todo ensanguentado, não consigo conter o grito de
choque. Tento abrir a porta do carro correndo, mas Frederico é mais rápido
do que eu e me impede, com um olhar intenso.

— Você prometeu ficar dentro do carro, lembra-se? Vou buscá-lo.

Fred e outros dois descem dos carros que nos seguiam e juntos,
olhando para todos os lados, ajudam Hades a se levantar. Apesar de muito
machucado, ele não parece desacordado e o alívio de perceber que nada
pior lhe aconteceu, me invade. O medo de encontrá-lo morto era tão grande,
que só de saber que isso não aconteceu, um peso enorme sai das minhas
costas. As lágrimas que nem tinham dado o ar da graça ainda, devido a
tanta preocupação, ameaçam cair, mas resisto, tentando ser forte.

Preciso ser.

Assim que abrem a porta do carro e o colocam no banco ao meu


lado, avanço em sua direção, abraçando-o com força. Seu gemido de dor,
me diz que eu o machuquei e recuo, com os olhos assustados, sem saber o
que fazer.

— Que merda aconteceu com você? Ficou maluco de sair sem


segurança? — grito, assim que o carro se coloca em movimento novamente.

Ele tenta sorrir, mas parece que tudo dói, e seus olhos me mostram
que ele também parece aliviado em me encontrar.

— Gavin me pegou desprevenido. — ele murmura, cuspindo um


pouco de sangue em suas roupas sujas, no processo.

— Vamos para um hospital, depois, conversamos sobre isso. —


digo, porque não quero saber sobre Gavin e sim, sobre tudo o que podemos
fazer para que ele fique bem. Mas, ao ouvir a palavra hospital, sua agitação
é grande, e me ignorando, ele olha para Frederico e fala:

— Minha cobertura. Chame uma enfermeira particular, sem nenhum


alerta para a mídia. Não quero que isso vaze. — diz, e eu engulo meu
sermão e orgulho ferido por estar sendo ignorada, ficando calada.

Mesmo machucado, ele ainda é capaz de dar ordens como ninguém.

Ficamos em um silêncio desconfortável, até chegarmos em casa,


onde uma equipe já o espera para tratar dos seus ferimentos.
Aparentemente, pelo que todos disseram, os ferimentos parecem muito
piores do que realmente são, o que me acalma um pouco, porque parece
bem ruim.

— Querida, tome esse calmante. Você está bastante abalada. — uma


senhora com ar bondoso entrega um comprimido para mim, que aceito e o
engulo sem água, ainda com os olhos cravados no homem à minha frente,
que continua me ignorando deliberadamente.

Outra mulher termina uma sutura em seu supercílio, enquanto as


escoriações dos socos no abdômen já têm uma cobertura brilhante de
pomada para hematomas. Hades permanece de olhos fechados, sem falar
nada, o ódio transparecendo por todos os poros do seu corpo. Ódio que eu
não sei se é destinado a mim ou não, porque ele não fala nada, o que para
um coração ansioso, é a pior coisa que poderia acontecer.

— Podem ir. — ele diz, assim que termina de receber os cuidados, e


caminha mancando até o sofá, onde se joga sem cerimônia, soltando um
gemido baixo de dor.

— Não vá fugir de novo. — Fred o repreende, mas Hades apenas


lhe lança o dedo do meio, antes de se virar para mim.
Levanto as duas sobrancelhas surpresas, porque não imaginei que
isso me incluiria na equação, mas seu olhar indica que eu também estou
sendo convidada a me retirar. Assim que a última pessoa sai, fico de frente
para ele e questiono:

— Quer que eu também vá embora, ou vai abrir a boca e me falar


que merda aconteceu? — questiono, com as duas mãos na cintura.
Todo mundo pode ter medo do homem, mas nesse momento, eu
estou furiosa e não tenho medo nenhum. Ele é quem deveria ter medo de
mim. Como ousa sair sem segurança, ser espancado, me ignorar e, ainda
por cima, me mandar embora, depois de me deixar apavorada de medo?

— Lisa, eu estou morto de cansaço, podemos conversar depois? —


seu tom de voz é contido, mas é nítido que não quer conversa.

— Não. — uso o mesmo tom distante dele.

— Não? — ele pergunta surpreso — Eu acabei de levar uma surra e


quero descansar, e não, brigar. Por favor, vá embora. — a frieza em sua voz
me deixa completamente sem ação.
— Eu não vou embora, Hades. — digo, e as lágrimas que
ameaçavam cair mais cedo, me traem e rolam pelas minhas bochechas —
Eu te amo! — grito revoltada — Acha o quê? Que eu estou acostumada
com esse tipo de coisa? Que não fiquei apavorada? Que não tive medo de te
perder?

— Lisa. — seu tom é de total repreensão e ele se levanta, para


conversar comigo de igual para igual.
— Hades! — rebato — Eu vou ficar e cuidar de você! Você pode
não acreditar, mas ainda é humano. Ainda sangra e ainda precisa de ajuda e
cuidados. Eu estou aqui pra isso, não apenas pra ser a sua foda da noite. —
o sarcasmo em minha voz é evidente, e por mais que saiba que nunca fui a
sua foda da noite, e tenha falado isso para machucá-lo, da mesma forma que
ele está me machucando agora, sei que ultrapassei um limite.

Seu olhar enfurecido me diz isso, e quando ele grita, a plenos


pulmões, consigo finalmente, entender o que está acontecendo:
— Você acha que eu quero que você vá embora? Que é só uma foda
da noite, Lisa? Eu te amo, caralho! — ele toma fôlego, apertando as
costelas, antes de continuar a gritar, colocando todo o seu ódio para fora.
Ódio esse, que sei não ser destinado a mim, mas mesmo assim escuto,
porque é melhor falar, do que guardar pra si e nos afastarmos por isso —
Enquanto eu estava sozinho, nada me abalava! Sabe quantas vezes isso já
me aconteceu? Perdi as contas! Eu nem me importei em ter apanhado,
quebrado o nariz de novo, o caralho a quatro. Mas quando o desgraçado
falou que a próxima pessoa seria você, e que faria pior, eu perdi o controle,
caralho!

— Ele, o quê? — questiono, surpresa.


— Aparentemente, eu sou burro o bastante para achar que ainda
poderia existir algum tipo de honra nessa história. Porque o filho da puta
nem estava lá, mas mandou seu recado. Então, sim, eu estou puto de raiva e
prefiro ficar sozinho no momento. — vejo a veia na sua testa pulsar e,
quando termina de gritar, seu peito sobe e desce pelo esforço, mas isso não
o impede de deixar os punhos cerrados, expressando toda a sua revolta.

— Não vou te deixar sozinho. — é tudo o que consigo falar.

— Você não entende… — ele fala, um pouco mais controlado agora


— Ele não pode te machucar e não vai. Não vou deixar, Lisa.
— Eu sei. Ele não vai. — digo, indo em sua direção — Eu cuido de
você e você cuida de mim. Que tal? — pergunto, e sua expressão parece
torturada, antes de confirmar com a cabeça, soltando um suspiro cansado.
— Não posso perder mais ninguém por conta desse infeliz. Não vou deixar
isso acontecer. Não vou.
Eu nunca senti tanta raiva em toda a minha vida.
Nunca. Nem mesmo quando descobri tudo sobre Gavin, minha mãe
e o que aconteceu entre os dois. Talvez se equipare, mas não foi maior do
que isso. Definitivamente. Na época, eu não podia fazer nada, já tinha
acontecido e era algo com que eu teria de lidar e me conformar. Mas, agora,
eu realmente precisava fazer alguma coisa, porque o filho da puta ameaçou
não só a mim, mas toda a minha família. Isso não pode ficar assim.

Sim, Lisa e Helena se tornaram minha família. Não apenas de


sangue se fazem os laços familiares, mas também de lealdade e sentimento.
Demorei anos para sentir alguma coisa além de ódio e rancor, e agora,
sabendo que ela foi ameaçada, não posso e nem vou deixar isso passar.
Estamos em guerra!
Mesmo todo fodido e machucado, convoco uma reunião com todos
os funcionários, sem nenhuma exceção, na Gehenna às oito da manhã.
Funcionários da boate, capangas, seguranças, sócios e qualquer um que
esteja na minha folha de pagamento. Se alguém me traiu ou está pensando
em fazê-lo, é bom que mude de ideia ou que se entregue, antes que eu
descubra de outra forma. Porque o tempo de ser um homem moralmente
consciente acabou.

Lisa permanece dormindo, com seus cabelos loiros espalhados do


seu lado da cama, e vê-la tranquila, depois de uma noite de pavor e
preocupação comigo, é o combustível que eu precisava para continuar com
o meu plano.
Assim que abro a porta do quarto, Frederico e Isabel estão à minha
espera, na sala do apartamento, como eu os instruí mais cedo. Mesmo
mancando um pouco e visivelmente detonado pela surra, recuso ajuda e
caminho a passos lentos até me sentar no sofá e falar:

— Marcou a reunião, Isabel?

— Sim. Todos foram convocados e já estão à sua espera, senhor. —


ela fala, em um tom de voz profissional, mas nem pisca com a minha
instrução.

Bom.

— Vamos ver então, quais ratos fugirão hoje, não é? Ansioso para
ver quantos irão tremer, apenas ao saber que estou convocando uma
reunião. Tenho certeza de que a essa altura, já sabem que foram
descobertos.

— Você não acha que seria melhor esperar se recuperar um pouco


mais? — Isabel pergunta, olhando fixamente pro meu rosto, onde o lado
esquerdo está cheio de hematomas e escoriações.

— Não. Estou vivo e de pé, não estou? Pra que esperar?

Percebo que eles trocam um olhar, mas não falam nada. Sabem que
não há nenhuma possibilidade de me fazerem mudar de ideia e não tem por
que discutir. Por isso, mais cedo do que o horário previsto, entro no carro
segurando um copo de café quente para viagem, com Frederico ao meu lado
e mais três seguranças fazendo ronda ao nosso redor.

Assim que entro na Gehenna, todos já estão nos esperando, sem


saber do que se trata a reunião e muito menos, o que esperar, mas quando
subo no palco, de onde geralmente observo Lisa encantar a todos, e me
sento em uma cadeira colocada ali, o silêncio é mortal.

Um trono, afinal. A ironia desse momento não me escapa.

— Tenho certeza de que todos estão se perguntando o motivo pelo


qual foram gentilmente convidados para essa reunião de última hora. —
digo, mas ninguém ousa responder, nem mesmo respirar — Como podem
ver, ontem eu tive um contratempo com o nosso maior concorrente. Não
preciso explicar, muito menos desenhar para que todos saibam de quem eu
estou falando, mas fui covardemente sequestrado e espancado.
O murmurinho é alto e pelo que vejo e ouço, a revolta predomina.
Espero que seja, pelo menos. Revolta pelo chefe ter sido espancado e pela
covardia dos idiotas, que precisaram me vendar e amarrar, para a palhaçada
que fizeram comigo.

— Estou aqui, então, dando a oportunidade de todos vocês fazerem


duas coisas: — uso meu tom de voz mais imponente e todos voltam a se
calar — Reafirmar com quem a lealdade de vocês está e a chance de irem
embora agora, se ela não estiver comigo.
Ninguém ousa sair do salão, como eu imaginei que aconteceria.
Então, um homem ao fundo, com mais culhão do que a maioria entre todos,
levanta a mão. Noto que é um dos gerentes do Pakao, alguém que
conquistou o cargo na época e que me intriga com a sua interrupção, por
isso, lhe dou a palavra.

— O que foi? — pergunto, e ele fala com uma voz firme.


— A Timberg Company veio atrás de você. Quero saber o que
acontece agora.

— Agora, as coisas vão mudar por aqui. A brincadeira de criança


acabou. Estamos em guerra.

O sorriso satisfeito em seu rosto me diz que era exatamente isso o


que ele esperava ouvir, porque com um aceno de cabeça, ele indica estar
comigo, assim como muitos outros homens do salão.

Três horas depois, algumas reuniões com os principais gestores dos


infernos, algumas ligações preocupadas dos sócios e alguns ratos
capturados, que apesar de não serem peças fundamentais no meu jogo, eram
homens de Gavin, entro no Pakao, pronto para ouvir algumas declarações.

O cassino, apesar de ser de luxo e de receber apenas os melhores


apostadores da cidade, no período da manhã fica vazio e um pouco
decadente. Mesmo com o dress code sendo rigoroso, ainda consigo ver uma
ou outra pessoa aposentada usando sandálias ortopédicas e isso, além de
queimar meus olhos, me faz pensar nos outros cassinos espalhados pela
cidade, que vamos inaugurar nos próximos dias. Se aqui é assim, imagino
como as coisas vão ser por lá. Provavelmente, ainda mais decadente,
contudo, se depender de mim e da minha organização, menos do que antes.

Os meus homens infiltrados nos negócios de Gavin estão de


sobreaviso, e agora é o momento de prestarem contas e demonstrarem
lealdade. Preciso entender o que eles estão fazendo e como estão as
investigações. Quero todas as cartas sobre a mesa e principalmente, quero
dar o próximo passo o mais rápido possível.
O ideal é que nenhum deles se encontrem, nem saibam quem são,
mas meu maior objetivo hoje é encontrar o traidor. Porque de uma coisa eu
tenho certeza: aquele jumento não é esperto o suficiente para saber que fui
eu quem comprei todos os seus empreendimentos falidos. Muito menos que
usei nomes de laranjas para fazer isso. Quando eu colocar as mãos nesse
filho da puta, ele vai se arrepender de ter entrado em meu caminho.

Frustrado e ainda mais furioso do que antes, observo enquanto mais


um dos informantes consegue comprovar sua lealdade e deixa a sala. Mas
não, sem antes olhar por sobre o ombro, com um semblante preocupado e
até mesmo temeroso. Eu entendo. A minha aparência não é das melhores
nesse momento e a exaustão começa a cobrar um preço alto do meu corpo,
assim como a raiva que sinto crescer cada vez mais dentro de mim, por não
estar chegando em lugar algum.

Estou perdendo tempo.


Ouço Frederico atender ao telefone e pelo modo como comprime os
lábios, sei que algo acaba de acontecer e que não vou gostar nada. Antes
que ele diga qualquer coisa, Isabel entra com um celular na mão e pelo
olhar que trocam, os dois acabam de ser notificados que alguma merda
aconteceu. Meu pensamento viaja imediatamente na direção da mulher de
cabelos loiros que deixei em casa e meu coração se acelera subitamente.

— Algum dos dois pretende dividir que merda acaba de acontecer,


ao invés de ficarem agindo feito dois idiotas imprestáveis? — apoio as
mãos feridas no encosto da cadeira, apertando-o. Minhas costelas
protestam, mas a dor mantém meu pensamento afiado e minha raiva ativa.
— Hades, um dos funcionários da Gehenna acaba de fugir. — é a
mulher quem fala em um tom baixo e temeroso. Fecho os olhos e puxo o ar,
tentando me manter sob controle.

— Fugir. — repito.

— Aparentemente, após a conversa na boate mais cedo, ele saiu sob


algum pretexto e não retornou. Um dos nossos homens de confiança acabou
indo atrás dele e o viu deixando a cidade. Ele…

— Está morto? — interrompo-a — Porque não o deixariam fugir


assim, não é? Diante dos narizes deles. — sua expressão mortificada me tira
do sério e dou dois passos em sua direção, apenas para vê-la negar —
Porra!

— Hades, — é Frederico quem assume agora — você deveria


descansar. Deixe que eu lide com isso e qualquer informação nova, eu entro
em contato. Você está horrível e não está pensando direito.

— Por que será? Hein? — abro os braços sob seus olhares atentos
— Por que é que vocês não conseguem fazer nada direito? — grito —
Temos a porra de um traidor entre nós e vocês esperam que eu vá
descansar! — um riso irônico estica meus lábios feridos — Não… Eu vou
encontrá-lo e quando o fizer… Ah, ele vai se arrepender. Muito. — sinto o
gosto de sangue em minha boca e ordeno — Tragam mais um rato para
conversar.

— Não. — Frederico responde, se colocando à frente da mulher


como se eu representasse um perigo. Filho da puta atrevido! Eu jamais
faria qualquer coisa contra ela e ele sabe disso — Nos deixe a sós, Isabel.

— Frederico, talvez seja melhor… — ela começa a dizer, mas após


olhar do homem à minha frente, para mim, ela para.

— Deixe-nos a sós. — meu amigo antigo e funcionário leal decreta,


e ela deixa a sala sem dizer uma só palavra, mas deixando claro que não vai
trazer mais ninguém aqui, contrariando minha ordem.

— Ela vai pagar pela desobediência, você sabe. — rosno, fechando


minhas mãos em punho.

— Não, ela não vai. — pela primeira vez em muito tempo, ele me
enfrenta — Você precisa descansar, Hades.

A fúria me sufoca e não consigo me conter ao dar um passo à frente


e acertar um soco em seu rosto, agarrando a camisa social com a mão,
enquanto aperto o colarinho da peça, enforcando-o. Acertando seu abdômen
repetidas vezes.

— Ninguém vai ficar no meu caminho! — grito, sacudindo seu


corpo com violência, enquanto seus olhos não desviam dos meus — Veja o
que fizeram comigo! — mas não é isso que está me fazendo perder a cabeça
e todos eles sabem disso — Estão ameaçando a minha mulher! Aquele
merda ameaçou fazer pior à Lisa!

Nunca senti tanta raiva em minha vida. Estou completamente fora


de mim e nada tem a ver com o fato de eu ter sido atacado. Não. Gavin vai
pagar caro, e muito, por ameaçar meu anjo desse jeito. Aquele covarde, sem
escrúpulos, vai pagar pelo que fez à minha mãe, mas também por todas as
merdas que cogitou fazer à Lisa. Porque ele não vai tocar em um fio de
cabelo loiro e macio dela.
Eu o mataria.

Não sei em que momento a porta se abriu, ou desde quando a pessoa


que se tornou tão importante para mim entrou na sala, mas assim que vejo a
expressão assustada nos olhos azuis, solto a camisa de Frederico, que se
ajeita rapidamente e recua um passo, se mantendo por perto. Não é a
primeira, nem a última vez em que perco a cabeça perto dele, mas a mulher
à minha frente ainda não conhece esse lado terrível e incontrolável da
minha personalidade. Eu a protegeria a qualquer custo, e disso, ela deve ter
certeza.
Hades está completamente obsessivo com a minha segurança depois
do seu sequestro, e ficar presa em sua cobertura enquanto ele vai pra rua
procurar por um culpado, soltando os cachorros em todo mundo, é algo que
tem me deixado maluca. Não é como se eu simplesmente pudesse parar a
minha vida, tirar Helena da escola e proibi-la de sair de casa, como ele
sugeriu que eu fizesse, assim que terminou de investigar todos os seus
funcionários e voltou para casa enlouquecido de ódio. Concordei em
ficarmos em sua cobertura por alguns dias, apenas para cessar com a sua
compulsão por controle, já que sei o quanto essa experiência o abalou. Mas,
agora, as coisas estão ficando cada vez menos saudáveis e também, mais
sufocantes. Pensei que melhoraria, mas isso definitivamente não aconteceu.
Agora que os dois se conheceram e estão convivendo, Hades acredita que a
minha irmã também é sua responsabilidade e a adotou como sua tal,
enlouquecendo a nós duas no processo.

Como dizer para Helena que ela não pode sair de casa, encontrar o
namorado, ou até mesmo ir para a escola, como ele um dia sugeriu? Por
isso, tenho tentado fazer o meio de campo, ser compreensiva com ele, sem
me tornar uma filha da puta com minha irmã. Ela não tem culpa de nada, fui
eu quem a colocou nessa situação e fazer com que ela pare de estudar está
fora de cogitação. Mesmo com a segurança redobrada, tenho me sentido
cada vez mais sufocada.

Tudo parece estar por um fio.

— Descobriram então, quem é o fornecedor? Porque eu não vou


atrás do traficante, isso é básico e substituível. Quero saber quem é que
manda em tudo e está mancomunado com Gavin. Sozinho, aquele idiota
não conseguiria articular um esquema tão inteligente como esse. — escuto-
o dizer, sentada no sofá da sala, enquanto ele tem uma reunião com o
gerente do Pakao, do qual eu não me lembro o nome e nem fui devidamente
apresentada.

As reuniões sobre os assuntos relacionados a Gavin e tudo o que ele


tem nos feito passaram a acontecer em sua casa, afinal, é o lugar que ele
acredita ser o mais confiável e seguro para isso. Acontece que, em geral, eu
não estou presente, ou não escuto nada, já que o apartamento é grande e eu
me abstenho de saber mais do que o necessário sobre esse assunto, hoje,
contudo, as coisas parecem um pouco diferentes. Meu jantar foi
interrompido e eu fiquei curiosa, porque o homem parecia realmente afoito
para passar alguma informação.

Ninguém pode me culpar. No meu lugar, qualquer um faria o mesmo


e estaria de ouvidos bem abertos, tentando saber da fofoca em primeira
mão.

— Não sabemos quem é o fornecedor ainda. — ele enfatiza, com


um sorrisinho sádico no rosto — Mas eu posso apostar que não vai demorar
muito para soltar as informações necessárias. Por isso, vim pedir
autorização para continuarmos com o plano.

— Não gosto do seu plano. — Hades diz, parecendo bastante puto.


Em seu lugar, eu também não iria gostar do plano. Deixar um bandidinho
entrar e começar a vender drogas dentro dos seus estabelecimentos, bem
debaixo do seu nariz, não é uma ideia muito interessante.

— No primeiro descuido, teremos tudo de que precisamos para


acabar de vez com Gavin e a Timberg Company. Eu tenho certeza de que
eles são sócios, só precisamos saber quem é o segundo homem… estou na
noite de Havdiam à muito mais tempo do que você, já ouvi muitos boatos.
Esse cara não dá ponto sem nó, é escorregadio, mas vamos pegá-lo. — o
moreno com ar perigoso diz, e me levanto do sofá, tentando me cobrir um
pouco com o robe, para saber do que ele está falando.

Como assim? Tento entender, mas Hades responde às minhas


perguntas feitas em pensamento.

— Lembre-se de quem está no comando, Conrad. Eu mando aqui.


Não deixe o seu ódio te cegar. — ele fala, e eu reviro os olhos.

Até parece, olha quem fala.

É nesse momento que Hades escolhe olhar em minha direção e me


pega no flagra, murmurando, aparentemente, em um tom de voz mais alto
do que o desejado. Droga, não era esse o objetivo. Principalmente na frente
de estranhos.
— Pode ir embora agora. Eu preciso voltar a jantar e tenho mais
coisas a fazer. — com um aceno de mão ele dispensa o homem, que se
levanta e sai sem olhar para nada, inclusive pra mim. Sábio!

Escuto a porta se fechar e em uma disputa de olhares, eu e Hades


ficamos nos encarando por alguns minutos, uma briga velada de poder.

— Então, agora você vai entrar na sujeira dele para conseguir as tais
provas? — questiono indignada.

— Não disse isso. Se ouviu bem a conversa, foi o contrário.


— Não me pareceu que negou o plano do tal Conrad. — reclamo, e
ele estreita os olhos em minha direção.

— Parece que está querendo me comparar ao homem que ameaçou


sua irmã, Lisa. Estou certo? — seu tom de voz não deixa brechas para
discussão e me indica que ficou ofendido com a suposição, por isso não falo
mais nada.
Há dias estamos nos estranhando e a cada momento que ele passa
tentando me prender e proteger dessa forma exacerbada, paranoica e
sedenta por poder, mais nos afastamos. Depois do seu sequestro as coisas
não foram mais as mesmas e não vejo como poderiam ser, para ser sincera,
mas ao invés de compartilhar suas angústias e aflições, ele simplesmente
me afasta, tentando me manter protegida.

— Onde está Helena? — ele pergunta, depois de alguns minutos,


quando percebe que eu não vou ceder.
— Em casa, com o namorado. — digo baixo, chocada com a sua
pergunta. É sobre isso que ele quer falar? Ouvi toda a sua conversa sobre
deixar ou não drogas serem comercializadas no Hell Group, seu plano
bizarro, estamos há dias agindo de forma estranha um com o outro, e
quando fala comigo, sua dúvida é sobre onde minha irmã está?

Apesar disso, minha resposta parece ser algo que ele não espera,
porque sua expressão é confusa.

— Ninguém me informou de que ela estava com visitas no quarto.


Devo conversar com o indivíduo? — ele questiona, flexionando os dedos,
como se fosse um irmão mais velho protetor, o que confesso que seria
muito fofo, em qualquer outro momento.

— Ela está na nossa casa, com o namorado. Onde eu e ela moramos.


Somos visitas aqui, ela tem a própria vida e sente saudade dela. — tento
manter a calma, mas o jeito que ele se põe de pé e a fúria em seu olhar, me
mostram o quanto ele não pensa da mesma forma que eu. Por isso, concluo
— Tem como julgá-la? Estamos há dias aqui, sem nem ver a luz do sol
direito.

— Lisa, eu já disse que vocês terão tudo o que quiserem, mas vão
ficar aqui. Que inferno! Por que não fui avisado sobre essa decisão? — ele
se aproxima, irado, e eu me levanto, colocando as duas mãos na cintura,
indignada.

— Perdão? — questiono, sem acreditar no que estou ouvindo —


Concordei em estar aqui porque você estava passando por um momento de
fragilidade, mas tenho a minha casa, meu dinheiro e não sou obrigada a
ficar aqui, ou pedir permissão para fazer absolutamente nada. Muito menos
a minha irmã, que não tem nada com você. Helena quer ficar em casa, até
onde sei, temos a mesma empresa que cuida da porra do príncipe cuidando
da gente, e eu não vou proibi-la de nada!
— Lisa… não faça isso. Vocês precisam ficar sob o meu domínio.
Só assim vou conseguir protegê-las. Viu o que aconteceu comigo e eu
também tenho a mesma segurança que o príncipe recebe. Tudo é passível de
falhas. — ele fala em um tom de voz muito baixo e ameaçador.

— Só porque você saiu sozinho, achando que era blindado. —


rebato.
— Não está em discussão. Estamos falando de vocês aqui. — ele
ignora completamente o que eu disse.

— Então, estou sob cárcere? — solto uma risada debochada — Me


poupe! Não acho que valha a pena discutir sobre isso. Se eu quiser voltar
pra minha casa, vou voltar. Se Helena quiser ficar lá, porque se sente mais
confortável, ela vai ficar.

— Que caralho! Estamos por um fio! — ele explode novamente,


mas nem pisco duas vezes com a sua gritaria. Não tenho medo nenhum de
Hades, porque sei que sua raiva não é destinada a mim, e sim, ao que está
acontecendo ao nosso redor. Estamos literalmente no meio do inferno e se
ele quer dar piti, gritar e tacar fogo no mundo, foda-se. Não funciona assim
comigo — O que custa me escutar e obedecer uma vez na vida? — ele
conclui, em um tom de voz mais controlado.

— Eu não tenho que te obedecer. — tento controlar o meu


temperamento também, respirando fundo — Não sou sua filha, nem um
cachorro ou uma propriedade. Sou sua namorada. E, até onde sei, não te
prometi nada disso. Estou aqui por escolha própria e até então, não havia
questionado meu livre arbítrio, mas essa sua obsessão está passando do
limite!
Sua expressão é de desalento. Pela primeira vez, desde quando o
conheço, Hades parece não saber o que dizer.

— Continuo aqui porque sei que é um momento difícil, que a sua


história com ele é complicada e que passou por muita coisa nas últimas
semanas. Não me faça mudar de ideia. Certo? — pergunto, e apesar de ver
o seu corpo inteiro tremer, ele não fala nada, só confirma com a cabeça e
segura meu braço, puxando-me para si.
Ao invés de discutir, ele muda de tática, colando a sua boca na
minha. Há algo em seu olhar que não sei decifrar, ainda tem o mesmo
inferno, o mesmo caos, mas algo com certeza mudou. Agora, está carregado
de luxúria.

— Você não faz ideia de como sou louco por você, Lisa. Moveria
céus e terras para que nada te aconteça. — diz, colando seu corpo ao meu.
— Hades... — até tento argumentar, mas quando sua boca vai para o
meu pescoço, estou completamente rendida — eu sou sua, só não abusa.
Nem tudo você consegue, pode ou vai controlar. Inclusive a mim.

— Parei de escutar no “sou sua”. — ele diz, mas não há humor na


sua voz, e antes que eu possa continuar questionando-o, Hades morde meu
ombro enquanto esfrega seu membro rígido entre minhas pernas.

— Hades! — gemo com as sensações que ele me causa.

As mordidas em meu pescoço aumentam, são leves, mas tem


conexão direta com as minhas partes baixas, suas grandes mãos seguram
meus seios, que as preenchem com perfeição. Esfrego com mais vigor
minha bunda em seu pau, para que ele sinta como meu corpo se incendeia
próximo ao seu. Por cima da roupa sinto sua rigidez e Hades não perde
tempo quando nos encaminha para o quarto. Por debaixo do robe de seda e
renda, estou usando uma camisola longa preta, que o faz me olhar com
tanto desejo, que não consigo reprimir o sorriso.

— Uma maldita provocadora! Foderei com você até que ambos


percamos o sentido. — diz no meu ouvido.

Em poucos segundos, ele tira a camisa e a calça, ficando apenas de


cueca. As escoriações e machucados melhoraram bastante, mas ainda existe
um resquício ali. Ele entende para onde estou olhando e isso parece deixá-lo
ainda mais puto do que minutos atrás.

— Não ache que só porque estou com meia dúzia de hematomas,


serei gentil.
— Nem passou pela minha cabeça. — digo, revirando os olhos, e
recebo um tapa forte na bunda, antes de ele descer as alças da minha
camisola e fazer com que ela caia no chão aos meus pés.

Olhando fixamente para o meu corpo, como se estivesse em um


estado de adoração, mas dessa vez, sem nenhum carinho, ele se senta em
uma poltrona que mais se parece com um trono. Me posicionando em seu
colo, de costas para ele, entendo exatamente o que ele quer, antes de ele
dizer uma só palavra. Há uma brutalidade em seu ato que me deixa
excitada, mas ao mesmo tempo, sei que não é o seu natural. Hades parece
precisar disso, mas não é exatamente o que ele gosta, ou em geral, deseja, já
que sempre foi muito generoso na cama.
— Abra-se para mim. — ele diz sem delicadeza, e se acomoda entre
as minhas pernas.

Faço como ele me pede, logo, sinto-o me penetrando de uma só vez,


quando desce meu corpo por toda a sua extensão. Ele começa com
movimentos lentos de vai e vem, me levando a um nível de prazer
desconhecido e aos poucos, vai aumentando.

Parece errado gostar tanto assim, ao mesmo tempo, não teria como
ser diferente. É apenas mais uma faceta de Hades.

Solto um grito estrangulado, jogando minha cabeça para trás,


quando atinge com força até o fundo, me pegando de surpresa e meu corpo,
por sorte, tem o seu como apoio.

— Feche suas pernas me prendendo entre elas. — ordena,


aumentando seus movimentos. O som animalesco que ele faz me deixa
ainda mais molhada e cheia de tesão. Como se precisasse de mais alguma
coisa para que isso acontecesse.
Seus dedos começam a fazer movimentos circulares nos bicos duros
de meus seios, que estão excitados por toda a situação.

— Porra, estou queimando, Hades! — gemo baixo e ele ri baixo em


meu ouvido.

— Eu também estou, anjo. Goze pra mim. — ele fala, trazendo seus
dedos habilidosos para baixo, alcançando meu ponto mais sensível.

Em poucos segundos, sou apenas uma poça de sentimentos,


pensamentos anuviados e músculos tremendo. Ele, levado pelas convulsões,
goza comigo, me apertando contra si em um abraço muito forte e sufocante.
Ainda de olhos fechados, sentada em seu colo de uma forma estranha, que
começa a ficar um pouco desconfortável, percebo quando ele pega o meu
cabelo, jogando-o para o outro lado do pescoço, antes de dar um beijo
abaixo da minha orelha e falar baixinho:

— Você é minha, Lisa. Está sob meu domínio. Minha


responsabilidade. Esse é um lembrete de que as coisas não são de tudo ruins
quando estamos juntos, e eu te prometo que quando isso acabar, tudo vai ser
ainda melhor.
Sempre fui um homem de palavra e diante da menor possibilidade
de não conseguir proteger Helena e Lisa, me torno alguém irracional e
desesperado. Afinal, fiz uma promessa que pretendo cumprir, custe o que
custar, e não a quebrarei de forma alguma, ainda que, por algumas vezes,
elas me odeiem pelo excesso de cuidados.

Lisa me acusa de ser obsessivo, mas é apenas porque não sabe de


tudo o que sei e, se depender de mim, não saberá. Já basta ter colocado um
alvo em suas costas, apenas por estar comigo, não preciso que ela também
seja tomada pelo medo de que algo aconteça. Ainda mais depois de
descobrir, através de Dylan, que o apartamento das duas — onde sua irmã
está com o namorado idiota — sofreu uma tentativa de invasão, por uma
falha na segurança. Motivo pelo qual me excedi nos gritos e palavrões com
meu amigo pelo telefone.
Elas são minha responsabilidade. Porra nenhuma. Elas são a minha
família. Foi o que eu disse ao dono da Ward Security ao pedir que
redobrasse a segurança delas, enquanto meus planos não se concretizam e
eu possa extinguir de vez o perigo de suas vidas. Talvez, Timberg tenha
dado um tiro no pé ao envolvê-las nisso, já que meu foco agora não é
apenas a vingança, mas sim, puni-lo por cogitar ferir a quem eu amo e jurei
proteger. Lisa parece não entender que é o meu tudo e que eu traria o
inferno até a Terra e destruiria a cidade se necessário, apenas para mantê-las
a salvo. Aquele lixo humano não sairá impune dessa vez.

Entre reuniões, interrogatórios e muito nervosismo por ter perdido o


controle da situação, deixo claro à Frederico e a todos os outros envolvidos,
que precisamos acabar com aquele crápula o mais rápido possível, mesmo
que, para isso, eu precise ultrapassar alguns limites, antes rígidos para mim.
Por elas, eu faria qualquer coisa.
Manter as tentativas de ataque e as ameaças, que continuam me
tirando o sono e me deixando ainda mais furioso, longe do conhecimento de
Lisa e da irmã, era minha prioridade, porém, não consigo deixar de
demonstrar meu descontentamento ao descobrir que elas pretendem sair do
meu apartamento totalmente seguro e voltar para casa. Raivoso e
preocupado ao extremo, não deixo de pensar que a mulher gostosa,
acomodada em meu abraço nesse momento, apesar de todas as nossas
discussões, tem razão. Não posso impor minhas vontades a elas e pedir para
que deixem de viver, por causa de um problema que eu trouxe à vida delas.

Mais remorso a ser somado à enorme pilha de sentimentos


conflituosos e coléricos que se tornam cada vez mais barulhentos dentro de
mim. Só isso me faria permitir que vendessem drogas em meus lugares,
para acelerar meu plano de desmascarar aquele rato maldito e acabar com
ele de uma vez por todas. Quando estava sozinho, eu poderia esperar cinco,
dez, quinze, vinte anos, porém agora, como uma espécie de piada do
destino, me vejo acelerando tudo, para exterminar de uma vez essa sensação
de vulnerabilidade desgraçada que paira sobre mim.

Deixo a mulher linda e nua na cama e me levanto devagar, tomando


cuidado para não a acordar, enquanto deixo meu quarto com a decisão
tomada. A destruição de Gavin Timberg é mais necessária do que nunca e
não hesitarei em passar por cima de tudo e de todos que cruzarem meu
caminho. É com isso em mente, que pego o telefone e toco no contato
rapidamente, ouvindo-o chamar logo em seguida.

— Hades. — Conrad me saúda do outro lado da linha. Filho da


puta.

— Temos um acordo. — afirmo, de forma prática — Até pegarmos


o fornecedor. Nem um dia a mais.
— Considere feito. — desligo o telefone e o jogo sobre a mesa de
madeira do escritório, antes de me servir de um pouco de whisky.

No fim das contas, aquele filho da mãe vai me pagar por isso
também. Penso comigo mesmo, ao me sentar na cadeira diante da mesa
cheia de papéis, enquanto degusto a bebida amarga que queima minha
garganta ao descer. Vai dar certo. Não há outra opção. E eu verei aquele
covarde cair com gosto. Meus capangas são treinados e já fizeram coisas
inimagináveis com quem se atreveu a mexer comigo, não será diferente
com ele. Ele pagará por tudo o que deve, com juros e correções, enquanto
me divertirei vendo-o cair de seu pedestal, como o merda que é. Não sou
conhecido pelo nome do deus do inferno à toa e Gavin Timberg está prestes
a saber disso.
Um pensamento intrusivo, e um tanto persistente, cruza minha
mente: Lisa ainda me amaria, se soubesse o quão longe estou disposto a ir?
Percebo que está preocupada, como se estivesse desconfiada de algo e,
apesar de saber que não me trairia, ainda me lembro do seu olhar assustado
quando me viu perder a cabeça na boate, no outro dia, e o tempo em que
ficou distante, como se fugindo de mim por alguns dias. O que será que ela
pensaria se soubesse dos meus planos?
Depois da tempestade, sempre vem a bonança.

Quem disse isso mentiu.

Tudo bem que Helena ganhou mais três grandalhões em sua cola, e
agora tem mais mobilidade para ir para a escola e encontrar o namorado,
mas ainda tenho que escutar constantes reclamações, o que não era para
menos. Voltar a tocar na Gehenna e deixar de estar presa na torre de marfim
na qual estava, também foi uma boa negociação. Eu amo tocar, amo a
música e amo a noite. O período afastada já estava me deixando ansiosa e
me fazendo sentir falta de tudo o que tinha vivido. É óbvio que a segurança
é importante e o sequestro também me assustou. Não serei hipócrita e
mentir sobre isso, mas a nossa vida não pode parar.
Por isso, quando entro novamente na Gehenna duas horas antes de
abrir, como combinado, para que ninguém me encontre chegando ou saindo,
fico entediada por não ter nada para fazer e resolvo explorar o lugar.

Rose, Dani e Yas só vão chegar mais tarde, e depois dessa repentina
distração e decisão de me unir tão inteiramente a alguém intenso e cheio de
mistérios, elas estão com um pé atrás. A relação está passando por um
momento complicado, podemos dizer.
Não é que elas não me apoiam, mas como não posso contar o que
está acontecendo, ou explicar o motivo de ter sempre vários seguranças ao
meu redor, que é algo difícil de esconder, diga-se de passagem, a impressão
que tenho passado é de que estar com Hades é perigoso para mim. Não que
ele me protege do real perigo, a cobra cujo covil vivemos dentro por meses.
Gavin e todos da Timberg Company nos enganaram direitinho, isso é
inegável. Agora, tudo está ainda mais complicado, porque me "mudar" para
sua casa foi completamente repentino, e então, ele apareceu todo
machucado em uma manchete de jornal e elas queriam uma explicação
plausível, que eu não pude dar.

Hoje vai ser a primeira vez que nos reencontramos depois do


acontecido, e não posso fingir que não estou nervosa. Por isso, perambulo
pelos bastidores com Tristan, meu segurança, andando atrás de mim tão
silencioso quanto uma sombra e vou até o escritório de Hades. Não
conversamos direito mais cedo, e talvez, antes da loucura começar
possamos comer algo juntos e tentar relaxar um pouco. As coisas não estão
particularmente fáceis para nenhum de nós.

Enquanto caminho e rolo pelas mensagens do grupo em que Lyanna


me colocou, naquele dia que nos encontramos na pista da boate, "Eu amo
um CEO", onde Laura compartilhou uma foto de seu bebê de cabelos
pretinhos, quando me atento aos gritos que saem por uma porta na qual eu
nunca havia reparado antes.

— Me solta! Eu nunca vou falar nada para você! Pode cortar minha
língua fora, se quiser, ou me matem logo, já estou praticamente morto
mesmo! — congelo no lugar, assustada com o que ele fala, e troco um olhar
com Tristan, que me repreende fazendo um não com a cabeça.

Abro a porta sem pensar duas vezes e a cena à minha frente me


enoja de um jeito que não consigo explicar. Amarrado pelos pulsos, em um
gancho no teto, um homem ensanguentado parece mais morto do que vivo.
Frederico entra em minha frente e me impede de continuar, mas não é
necessário, porque fico estática no lugar, tentando entender exatamente o
que estou vendo. Hades está com as mangas da blusa preta social dobradas
até o cotovelo, sujas de sangue, segurando uma barra de metal e uma
expressão furiosa no rosto. Ao seu lado, Conrad, o homem que foi aquele
dia em sua cobertura, parece se divertir com a minha interrupção, mas seu
rosto é o espelho da loucura e do sadismo. Ele realmente gosta da dor, da
tristeza e da maldade. Esse homem é uma pessoa ruim, ao contrário do
homem que eu pensei conhecer.

A cena não parece combinar com Hades, que já me disse diversas


vezes o quanto sente repulsa ao causar dor nas pessoas e não tem a intenção
de fazer nada, além de tirar todo o dinheiro de Gavin. Ou, pelo menos, foi o
que me disse, e eu acreditei. Mas, a barra de ferro está em suas mãos e são
elas sujas de sangue, não o contrário.

— Hades? — pergunto baixo, ainda incrédula.

Ele não pode estar fazendo isso. Tinha me dito que não era igual ao
Gavin, que não se equipararia ao monstro. Nunca me iludi achando que ele
fosse um homem bom e exemplo de caráter, mas não pensei que fosse tão
longe. Ele me garantiu que não iria, e em troca, eu lhe prometi que não o
trairia.

Como meu namorado não me responde de primeira, olho novamente


para o homem amarrado. Ele aparenta estar muito pior do que o estado em
que encontrei Hades caído naquele beco sujo. Mais machucado, mais
ferido, mais destruído. Sua perna está quebrada em um ângulo estranho e
toda vez que tosse, sai sangue de forma absurda de sua boca. Fora as
pancadas na cabeça, que definitivamente, devem causar algum dano no
futuro, porque não pode ser normal tudo isso. Se ele sair vivo dessa sala.
Meus olhos parecem ainda não acreditar no que estão vendo. Ao
mesmo tempo, me sinto ingênua demais ao pensar que aconteceria qualquer
outra coisa, além disso.

— Lisa… — sua voz é baixa e um pouco condescendente, como se


eu fosse uma criança e ele precisasse explicar algo particularmente
desagradável.

Hades vem em minha direção, mas ainda permaneço estoica no


lugar, absorvendo toda a situação bizarra. Só quando sua mão, suja de
sangue, toca meu braço é que eu acordo do transe e dou dois passos para
trás.

— Não! — grito, apontando um dedo em sua direção — Não use


esse tom comigo, e não toque em mim. Principalmente, assim. — olho com
repulsa para o sangue em suas mãos. Ele se afasta, mas sua expressão não é
arrependida, ou envergonhada. Parece apenas que eu estou interrompendo
algo muito importante. Um inconveniente — Aparentemente, o fruto não
cai tão longe da árvore. — digo com toda a repulsa que consigo imprimir
em minha voz e lhe dou as costas, correndo em direção ao nada, sem saber
exatamente o que fazer agora.
O único pensamento que passa por minha cabeça é: eu preciso sair
daqui.

Não chorei pelo caminho e não chorei desde quando cheguei em


casa.
Casa não. Esse lugar não é meu, é dele.

Uma prisão de marfim.

Sem saber o que fazer, agindo em piloto automático, vim parar na


cobertura de Hades, involuntariamente. Apesar de Tristan e os outros
estarem comigo o tempo inteiro, nossa relação é apenas como sombra, não
existe conversa, e eu quem tomo todas as decisões. Por isso, não me
orgulho de dizer que sou a única e exclusiva culpada por escolher vir para
cá, o covil de um assassino. O lar de um homem de muitas faces.

Eu deveria saber.

No fundo, sempre soube, e aceitei por um tempo.

Agora, pesou mais do que antes.


Me parece que um limite foi ultrapassado.

O que aquele homem fez para merecer apanhar daquele jeito? Não
vá por esse caminho, Lisa.
Você quer continuar nessa?

É isso o que quer para sua vida?

Sei que terei pouco tempo para pensar, que as coisas não são cheias
de espaço para reflexão e compreensão com ele. Hades é intenso e não tem
como prolongar ou adiar nosso diálogo. Nós somos assim, para ser justa.

Por isso, tento organizar meus pensamentos, antes que Hades


chegue para o confronto. Afinal, de uma coisa eu tenho certeza, vai existir
embate. E ele não será nada bonito. Não, depois disso. Não, depois de tudo
o que eu vi.

Limpo e com a roupa trocada, ele entra, depois de mais de uma hora
na cobertura, com uma expressão ilegível.

— Lisa, precisamos conversar.


— Precisamos. — confirmo com a cabeça e indico a poltrona para
que ele se sente de frente para mim. Não é porque estamos na sua casa, que
é ele quem comandará tudo. Não dessa vez.

— O que você viu foi algo…necessário. Um aviso, um susto, um


interrogatório, escolha a palavra que quiser. Já aconteceu outras vezes e eu
nunca escondi quem eu sou. — sua declaração é firme, como já imaginava
que seria. Seus olhos me sondam e parecem preocupados, mas suas palavras
são outras. Então, é assim que ele quer agir.
Hades realmente nunca me escondeu quem foi e quem é. Ele sempre
deixou tudo preto no branco e me contou sobre seu passado e as coisas que
fez. Se envolveu em brigas, fez coisas terríveis para ser respeitado, deu um
susto ou outro, como ele mesmo disse, em pessoas que o traíram, como eu
vi naquele dia no Pakao, e às vezes, também um corretivo em quem merece.
Mas não tem nada a ver com o que vi. Aquilo passou, e muito, de um limite
humanamente aceitável.

— Sabe que extrapolou qualquer tipo de limite existente, Hades.


Você quase matou um homem hoje. — digo, e pergunto baixo — Aliás,
demorou por quê? Resolveu terminar o serviço com aquela barra de metal,
antes de vir atrás de mim?
Ele nem pisca quando me responde:

— Fui até o seu apartamento, achei que poderia estar lá. Não matei
o homem, se é o que está perguntando. — ele fala, parecendo mais tranquilo
do que eu imaginei que estaria pela situação, e eu sinto alívio.

Pelo menos, isso.

— Sabe que isso não muda nada… — digo, cruzando os braços —


Então, esse é o temível Hades? O que todos tremem quando cruzam o olhar
com você? — ele confirma com a cabeça e eu debocho, antes de lhe dar a
chance de responder: — Devo temer também? Se não me curvar a todas as
suas vontades, posso acabar pendurada em uma sala escura em um de seus
infernos?

— Não seja ridícula, Lisa! — ele desdenha minha fala — Às vezes,


precisamos fazer coisas por caminhos tortuosos, coisas das quais não nos
orgulhamos, mas que no fim, produzem o resultado certo. Sabe que eu não
sou uma pessoa ruim, estou apenas caçando um homem mau, e pra isso,
preciso jogar um jogo de adultos.

— Se é um jogo, podemos escolher se queremos ou não brincar. —


digo, me levantando. Pego a romã que estava ao meu lado no sofá, com
lágrimas nos olhos, por ser obrigada a tomar essa decisão, mas do jeito que
as coisas estão, eu não posso continuar, e lhe entrego. Hades parece não
entender a analogia, mas a recebe, e eu continuo — E se for assim, eu não
quero. Esse tipo de pessoa não é alguém bom. Não é alguém que eu quero
ter por perto, nem comigo.

— Eu nunca disse que era um exemplo de bondade. — ele fala


baixo, com os olhos fixos na fruta.

— Cansei de ficar presa no seu inferno, Daniel. Não sou a


Perséfone, e mesmo se fosse, agora está na minha hora de ir.

Como se finalmente entendesse o que a romã quer dizer, ele amassa


a fruta em sinal de frustração, mas antes que possa argumentar ou fazer
qualquer outra coisa, eu concluo:
— Se realmente sentir algo por mim, vai entender que eu não sou
uma posse. A escolha é minha e eu já me decidi. — agora, as lágrimas que
antes lutei bravamente para conter, rolam pelas minhas bochechas sem
nenhum critério — Adeus.

Sem olhar para trás, deixo o apartamento com um aperto tão grande
no peito que mal consigo respirar. Eu nunca amei tanto alguém como amo
Hades, mas em contrapartida, nunca sofri tanto como estou sofrendo agora,
com essa decisão.
Dois dias desde que a origem do meu tormento me entregou aquela
porcaria de romã, fazendo uma piada de mau gosto com o nome que
assumi. Talvez, em outro momento, eu teria rido disso, ao invés de me
revirar nos lençóis frios da cama vazia. Porra! Será que ela não entende o
que eu faria para manter as garras daquele merda longe dela?

Eu poderia ter contado tudo a ela — as ameaças frequentes, as


inúmeras tentativas frustradas de se aproximarem dela. Será que isso
mudaria sua visão sobre aquela merda de dia? Quando é que eu pensaria
que ela veria aquela cena? Quando Lisa entrou na maldita sala de
“interrogatório”, já estávamos há horas tentando arrancar qualquer
informação importante daquele traste do Valentim Ramirez, o fornecedor de
drogas daquele imundo do Timberg, mas apesar dos nossos esforços, não
conseguimos persuadi-lo a falar nada que entregasse os podres de seu
patrão.

O plano era matá-lo, apesar de saber que isso me encaixa


exatamente na descrição que Lisa fez, antes de me deixar, porém, não tive
tempo de contar à ela que sua intromissão angelical acabou salvando o
maldito, que mandei deixarem-no de presente diante da Purple, antes de ir
correndo até o apartamento da loira, apenas para perceber que ela havia ido
para casa. Para a minha casa. Nossa. Pelo menos, até ela me entregar aquela
porcaria de romã e me dispensar, sem cerimônia, pelo monstro que,
aparentemente, eu me tornei.
Desisto de tentar pegar no sono e saio da cama, indo para o
escritório, na tentativa de encontrar alguma outra solução para resolver essa
merda que se abateu sobre mim, assim que Gavin Timberg se viu em
perigo. Ah, ele não perde por esperar. E agora, não tenho ao meu lado anjo
algum que me faça poupá-lo. Ninguém poderá salvá-lo, Gavin. Rosne o
quanto quiser, mas você cairá.

— Hades. — Frederico entra no cômodo e me observa — Ela


ainda…

— Não. — respondo, engolindo a seco a raiva e as saudades que


sinto de Lisa — Os seguranças…

— Todos atentos, claro. — puxa a cadeira e se senta à minha frente


— Não acha que ela falaria algo que tenha ouvido à alguém, não é? Talvez,
você devesse ligar para Lisa e…

— Não. Ela não me trairia. — tenho certeza disso — Sou um


monstro, Frederico. — um sorriso triste estica minha boca — E, nesse
momento, preciso ser o deus da morte, como todos pensam, ou vão nos
engolir vivos.

Não conto a ele que tentei falar com ela inúmeras vezes e fui
totalmente ignorado. Não falo nada sobre a falta que sinto dela na minha
cama e da preocupação que me corrói a cada vez que penso que algo pode
acontecer a ela por minha causa. Lisa pode pensar que sou alguém horrível,
mas não faz ideia do que eu faria e de quão longe eu iria para que nada de
mau aconteça a ela e à Helena. Ela pode ter ido embora sem olhar para trás,
mas nós dois sabemos que ainda é minha, e assim que meu plano de
vingança se concretizar, ela voltará para mim.

Porque não posso mais pensar em um futuro no qual ela não esteja
ao meu lado. Ao contrário do que pensa, Lisa é, sim, a minha Perséfone. E
logo, voltará para mim. Mas, antes, preciso me livrar de Gavin Timberg e
de suas ameaças.

E já que não tenho mais meu anjo comigo, não há nada mais que me
impeça de seguir em frente, ainda mais impetuoso e direto. Não estava
brincando quando disse, naquela manhã, que estávamos em guerra. Agora,
é tudo ou nada.

Mais uma manhã acordando no sofá da sala, depois de ter dormido


apenas por um par de horas e ainda vestindo as roupas de ontem, vou até a
suíte, ignorando a cama feita que zomba de mim. Tiro a roupa e entro no
banho, preparando meu espírito para mais um dia intenso, esperando que,
finalmente, a sorte volte para o meu lado e tudo ao meu redor pare de ruir.
Apoio as mãos no boxe e tento, a todo custo, não me lembrar de quando
Lisa estava aqui comigo e da falta que sinto dela a cada minuto de cada
maldito dia.

Preciso resolver toda essa merda rápido e reconquistá-la. Sei que só


conseguirei me comprometer a ser o homem que ela precisa e merece,
quando tudo isso acabar. Até lá, eu só posso ser o pior sujeito da Terra e
acabar com o merda que, mais uma vez, está estragando a minha vida. Um
filho da puta do caralho!
Saio do banho e me visto rapidamente, voltando ao escritório onde
alguns documentos das minhas últimas aquisições aguardam por minhas
assinaturas. Gavin ainda não percebeu que, em breve, ele será menos do que
nada.

Ainda estou analisando alguns itens de um contrato que Apolo me


enviou alguns minutos antes, quando Frederico abre a porta da frente e vem
caminhando em minha direção. O olhar em seu rosto é específico para
problemas e, por isso, paro e espero que me conte que diabos aconteceu
agora.
— Analisamos algumas filmagens e, aparentemente, Gavin está
traficando dentro do Pakao.

— Mas que filho da puta! — bato na mesa, me levantando. Pego o


blazer escuro sobre o encosto da cadeira e, juntos, deixamos meu
apartamento, seguindo para o cassino.
Não levamos mais do que quinze minutos até lá e, assim que o
motorista para o carro, abro a porta, mas Frederico não me deixa sair.

— Dylan deu ordens para que não saia sem seguranças. Eles vão
antes de você. — idiotice! Penso, mas não falo. Apenas espero que a
comitiva esteja pronta para me acompanhar.
Observo os corredores luxuosos, alguns idosos destoantes do código
de vestimenta, como de costume, mas no geral, tudo aparenta estar
funcionando na normalidade. Sigo Frederico até as salas da administração e
em pouco tempo, estamos entrando em um cômodo semelhante àquele
daquela maldita noite. Porém, dessa vez, o homem pendurado no gancho
ainda está limpo e não parece ter tomado mais do que alguns socos no rosto.

Por enquanto, é claro.

Estalo as articulações dos dedos, já doloridas pelos impactos contra


o imbecil pendurado à minha frente. Ao contrário do fornecedor, esse idiota
cantou feito um passarinho, após alguns incentivos mais contundentes.

— Hades. — meu homem de confiança estende o telefone que


encontraram com o vermezinho desmaiado.
Atendo à chamada e é impossível não abrir um sorriso vitorioso ao
escutar a voz rançosa da origem de todos os meus infortúnios. Como disse
antes, não é a primeira vez do sujeito em minha propriedade, e o covarde do
outro lado da linha, quer saber o quanto já vendeu e porque ainda não
retornou. Sorrio quando o corpo oscila em um movimento involuntário da
perna do homem dependurado.

— Infelizmente, ele não pode falar agora, — respondo — eu o


deixaria vivo para mandar um recado, mas agora, seu funcionário acaba de
perder sua utilidade para mim. — ouço o homem resmungar, mas ele se
mantém calado — Agora que tenho a sua atenção, Sr. Timberg, —
mantenho meu tom frio e dissimulado — vou dizer como as coisas serão
daqui para frente. Não aceitarei drogas dentro do meu território, sob pena
de morte. No meu inferno, não há espaço para isso. Os culpados e
transgressores da lei, serão punidos. Afinal, eu sou o demônio, não é?

— Você faz promessas demais, meu jovem. — debocha — Mas,


dizem por aí, que é um sujeito decente.

— Com quem merece, claro. — respondo, tentando manter a raiva


sob a superfície fria — Não se preocupe, Gavin, para você guardarei apenas
o lado inescrupuloso e vil. E acredite, a sua punição está a caminho.
Desligo o telefone e o jogo sobre a mesa, estendendo a mão na
direção da barra de metal que deixei recostada na bancada.

— Hades, … — Frederico chama, mas eu o ignoro.

Assim como ignoro tudo ao meu redor, cumprindo minha palavra ao


babaca do outro lado e revelando a parte grotesca, a mais feia e que
possivelmente herdei de sua família. O pensamento apenas aumenta minha
ira, mas eu não paro. Não foi sendo um lorde que consegui chegar até aqui.
Mais uma merda de noite sozinho, sentado nesse sofá, encarando
uma pulseira brilhante esquecida sobre a mesa de centro. Patético. Os dois,
deixados para trás como se não valessem absolutamente nada. Tomo mais
um gole da bebida e observo os nós dos dedos arranhados, por causa do que
aconteceu mais cedo.

Frederico foi embora algum tempo atrás e eu coloquei os seguranças


para fora, já que é triste e decadente demais ser visto me lamentando pela
falta da minha mulher. E ainda estou pensando nisso, quando a tela do meu
celular se acende e o aparelho vibra sobre a mesa.

Infelizmente, não é ela. Lisa.

— Pensei que fosse me ignorar mais uma vez. — a voz grave e


falsamente calma, me saúda.

— Alex, não faça eu me arrepender de ter atendido. — respondo,


fazendo-o rir — O que quer?

— E aí? Como está? — a pergunta de milhões. Furioso, raivoso,


colérico e, sobretudo, triste. Saudoso — Sua falta de resposta, talvez tenha
sido a coisa mais sincera que falou nos últimos dias.

— Vá se foder, Zur. Me ligou para me torrar a paciência? — apelo,


exatamente como ele sabia que eu faria.
— Hades, esse caminho que está tomando, não é inteligente. —
aconselha, ignorando o fato de eu tê-lo xingado agora a pouco — Está
deixando essa merda de plano de vingança te afastar de alguém que você
ama. — ele pausa e um chorinho de criança ecoa próximo dele — Ouça o
que eu digo, cara, eu entendo o bastante de vingança para te garantir que
não vale a pena. Está indo longe demais e talvez, depois não haja retorno.

— Preciso acabar com isso, Alex. — admito — Só assim, Lisa


estará a salvo. E então, eu poderei conquistá-la novamente.

E do fundo do meu coração, eu espero que seja verdade.

— Espero que tenha razão, porque, por experiência própria, acho


que dei muita sorte quando Laura me aceitou de volta. — ele fala, e o choro
se torna mais alto ao fundo — Tenho que ir, mas, se precisar, sabe onde me
encontrar.

Com as suas palavras rondando em minha cabeça, lembro-me do


que fiz mais cedo e a culpa começa a me consumir. Completamente
perdido, uma bagunça ambulante. Talvez, essa deveria ter sido a resposta
para a sua primeira pergunta.
— Ok, se nem Ben e Jerry's está te ajudando, eu não sei mais o que
fazer. — Helena diz, me entregando o pote do meu sorvete preferido, sabor
banana. Sua expressão é realmente bastante preocupada e só porque sei que
essa fossa já passou do limite aceitável e eu é quem deveria cuidar dela, não
o contrário, tento abrir um sorriso, que não convence a ninguém.

Provavelmente, minha expressão deve ser de alguém que está


prestes a ter um AVC, porque seus olhos se alargam ainda mais. Me sinto na
obrigação de reagir, pelo menos, quando estou na sua frente.

— Só preciso de mais um tempinho. Você sabe que é recente… —


digo, sem querer enfatizar, mas sem poder fazer muita coisa também.

Tive que contar para ela que resolvi terminar todo o meu
relacionamento com Hades, e a nossa nova família disfuncional acabou
sendo reduzida a nós duas novamente. É claro que Helena sabia que as
coisas não estavam indo do jeito mais tranquilo do mundo, afinal, o
sequestro foi realmente o estopim para que Hades enlouquecesse. Mas não
tive coragem de contar exatamente o que aconteceu, nem o que eu vi, então,
ela está apenas especulando, sem querer invadir o meu espaço pessoal.
Fungo alto, tentando impedir que a meleca, depois de tanto choro e
depressão, escorra pela minha roupa, e ela ri baixo, me entregando o rolo de
papel higiênico. É, talvez isso seja chegar ao fundo do poço. Mas, quando
me ouve assoar alto, Helena torce o nariz, antes de revirar os olhos como se
achasse tudo isso muito melodramático da minha parte, mas mantém um ar
bondoso em seu rosto, antes de continuar:

— Lisa, você realmente o ama, não ama? — ela se senta ao meu


lado na cama, entrando debaixo do edredom quente, apesar do clima ameno
do lado de fora.
— Você sabe que sim. Mas não é só o amor que faz um casal ficar
junto. Hades fez a sua escolha e eu fiz a minha, preciso aceita-las. Minha
família é você e preciso pensar em nós duas no fim das contas, isso é o mais
importante pra mim. — Helena me abraça e juntas, ficamos assim por
algum tempo, em silêncio.

Sei que em sua cabecinha, provavelmente deve passar mil e uma


possibilidades do que possa realmente ter acontecido entre nós. Sei que lhe
devo uma explicação, mas não vai ser agora. Não nesse momento. Não
consigo explicar para ela que o homem que eu coloquei em nossas vidas,
por quem ela se encantou como se fosse seu irmão mais velho, estava
prestes a matar alguém, antes que eu o interrompesse.

— Eu tenho uma ideia. — ela fala, pegando o controle da televisão


— Nós vamos assistir um filme bem engraçado e cheio de besteirol, vamos
comer esse sorvete, que agora já deve ter derretido, e então, você vai fazer
uma mala e viajar.

— Não seja boba, Lena… não posso viajar e te deixar aqui sozinha.
— ela ri, como se eu tivesse contato a maior piada de todas.
— Sozinha? Você reparou que desde quando voltou para cá temos 4
seguranças na nossa porta, e mais 3 rondando o quarteirão do nosso prédio?
Até os vizinhos estão comentando. Acham que você está metida com os
terroristas que ameaçam a coroa.

— Terroristas? A gente usa a mesma segurança da coroa. — digo,


desdenhando do pessoal fofoqueiro — Que absurdo! Quem te falou isso?

— Seu Viktor, o porteiro da manhã. Ele perguntou, como quem não


quer nada… — ela gargalha alto — aquele mexeriqueiro. Mas acho que
justamente por usarmos os mesmos seguranças do príncipe, a teoria ganhou
força. Quer dizer, ele sempre tem sofrido alguns atentados, de tempos em
tempos, desde a queda do helicóptero, nunca tivemos seguranças, ele te
mandou flores aquele dia, e agora existe uma porção deles. Há de se
pensar…

— Nossa, eu e o príncipe George. Até parece. Esse pessoal viaja na


maionese. — respondo, revirando os olhos, mas ela confirma com a cabeça.

— Mas isso é bom. Estamos tendo bastante visibilidade. Ninguém


faria nada nesse momento, se é o seu medo. Realmente acho que deveria
viajar, ir pra Lanuver, pegar um voucher desses que Hades sempre tem
disponíveis para dar de brinde na Gehenna e espairecer.

— E a bonita vai ficar aqui sozinha? Ou também quer férias fora de


época? — brinco, e vejo suas bochechas ficarem avermelhadas.
— Bom… Piter pode me fazer companhia — meu olhar já diz tudo
o que ela precisa saber, por isso ela completa — e posso chamar Rose
também. É claro.

— Ela não está muito receptiva comigo. — respondo triste.

— Besteira, converso com ela todos os dias para dar notícias suas.
Logo, isso passa. — ela diz e isso me alegra um pouco mais. É bom saber
que Rose ainda se importa comigo e que, em breve, vamos deixar esse
desentendimento no passado.

— Vou pensar sobre o assunto. Agora, como a pessoa triste sou eu,
vamos assistir Casamento Grego.

— De novo? — ela questiona, parecendo arrependida da sua oferta.

— De novo!

No fim das contas, Helena conseguiu me convencer, depois de


muito falar em meus ouvidos, sobre os benefícios de sair dessa loucura e
espairecer em alguma montanha gelada em Lanuver. É claro que precisei
negociar com Rose, que só de ouvir a minha voz acabada e um pouco
fanha, já me perdoou pelo sumiço e voltou a cuidar da gente, como a mãe
postiça que sempre foi. E com tudo combinado, liguei para um dos hotéis
da rede de Anthony, o conde, e resolvi me hospedar em Otheon, a capital do
país. No fim, com a cabeça no lugar, depois de um tempo longe de tudo, as
coisas podem ficar mais claras.

Combino tudo diretamente com a equipe de Dylan, que apesar de


saber que passará as informações para Hades, parece bastante discreta. Um
carro vai nos levar até o aeroporto e seguiremos, eu e Tristan, de avião para
o país vizinho. Em menos de duas horas já entrarei em um dos hotéis de
Anthony.
— São só essas malas? Precisa de mais alguma coisa? — ele
pergunta, apenas confirmo com a cabeça.

— Só isso, já estou descendo. — respondo, e mais por força do


hábito do que por qualquer outra coisa, pego a maleta com a coroa que
costumo usar em apresentações e resolvo levá-la comigo.

Uns carregam ursinhos, outros fotos, eu gosto do poder que ela me


traz e tudo o que representa. A Lisa Becker é forte e não se deixa abater por
qualquer coisa. Atualmente, estou precisando resgatá-la o mais rápido
possível, de dentro de mim.

Seguimos até a garagem e entro no carro, sem mais conversas.


Ainda acho estranha a relação com um segurança particular, e o fato de
Tristan ser lindíssimo, sério e parecer completamente inacessível, faz com
que eu fique sem jeito de puxar um assunto qualquer. Por isso, rolo o meu
feed, enquanto as ruas de Havdiam passam por nós. Cogito fazer um story
contando sobre a viagem, como com certeza faria meses atrás, mas desisto
de última hora, ,quando estou prestes a guardar o aparelho na bolsa e pegar
os fones de ouvido, nosso carro é arremessado no ar. Um barulho
ensurdecedor de explosão é ouvido, e em uma fração de segundos sinto meu
corpo inteiro planar no ar, antes de batermos com tudo no chão.
— Lisa! — Tristan grita ao meu lado, com a mão pressionando a
cabeça, onde um corte feio faz com que sangue escorra pelo seu rosto —
Você está bem? Machucada? Consegue se mexer?

Faço uma checagem rápida e parece que por sorte, alguma coisa
amorteceu a minha queda, porque depois de um acidente feio desse, sair
com apenas poucas escoriações parece quase um milagre.
— Tudo bem. Estou bem. — como se fosse combinado, assim que
termino de falar, as portas são abertas e mesmo no ângulo estranho e
anormal em que nos encontramos, consigo ver armas sendo apontadas para
nós dois. Os gatilhos são puxados, mas não emitem o som, apesar disso,
sinto algo me espetar e o corpo inteiro queimar e arder, antes de ficar
completamente dormente e mole. Tudo começa a girar, e os homens
encapuzados me arrancam do carro. Tento me localizar, mas o mundo
inteiro começa a girar, e quando um saco preto é colocado em minha
cabeça, sinto as minhas pernas falharem.

— Estamos com ela. — é a última coisa que eu registro quando o


mascarado, que me segura sem nenhuma delicadeza, fala com alguém, mas
a esse ponto, escuto sua voz cada vez mais distante.
O mundo gira em câmera lenta, até que caio na mais completa
escuridão.
A caminho do elevador, afrouxo o nó da gravata e tento não pensar
muito em todas as merdas que aconteceram ao longo da noite em meus
estabelecimentos. Apesar de saber que o que realmente tem me deixado
desassossegado, e ainda mais colérico com tudo, é saber que alguns
quilômetros distantes de mim não foram o suficiente para Lisa. Aquele anjo
cruel, que além de me negar sua presença e atenção, aparentemente, precisa
estar o mais longe fisicamente possível de mim.

Droga de vida.

Não reparo em qual segurança abre a porta para mim ou em quem


está circulando pelo meu apartamento na busca rotineira por algum invasor
mais audacioso. Apesar da claridade das primeiras horas da manhã, meus
olhos não conseguem enxergar nada, que não seja a caixa grande e
adornada com um laço grande e vermelho, colocada sobre a mesa de vidro
de meu escritório. Frederico para ao meu lado e parece preocupado ao notar
o embrulho ali.

— Chegou duas horas atrás, endereçado ao Sr. Hades. — um dos


seguranças, que nota nossa postura tensa, responde à pergunta silenciosa em
nossos olhares — O scanner não mostrou nenhuma anormalidade ou perigo.
Parece ser uma peça de decoração. — acrescenta.

— Você não parece estar esperando por algo assim. — o idiota ao


meu lado diz o óbvio e eu teria rido disso, se meu sexto sentido não
estivesse indicando que há algo de errado — Talvez seja um presente de
certa DJ, quem sabe?

Lisa.

Com o coração apertado no peito, dispenso-o com um olhar e sigo


até a mesa, encarando o quadrado rígido de papel, como se ele pudesse
tomar vida e tentar me matar a qualquer momento. Ao meu lado, meu braço
direito parece pensar a mesma coisa, já que se antecipa e, a passos largos,
chega antes de mim e destampa a caixa. Ouço o exato momento em que ele
prende a respiração e o assombro em seus olhos faz a minha pulsação se
acelerar imediatamente.

Não. Por mil demônios, não.

Olho fixamente para o interior da caixa e sinto minha respiração


presa no peito, incapaz de respirar, enquanto meus olhos registram cada
detalhe do que veem. Não é um blefe. Caralho!

Estendo a mão e pego a tal “peça de decoração”, enquanto Frederico


se afasta, gritando ordens a todos, solicitando filmagens e o caralho a
quatro, mas tudo o que consigo fazer é encarar a delicada coroa alada da
minha mulher, manchada de sangue seco, assim como o bilhete anexado à
ela, com um recado muito claro:

É o meu último aviso:

Se retire do jogo ou ela morre.

— Hades, nós vamos resolver isso. — Frederico se aproxima com o


telefone no ouvido, aparentemente, falando com a recepção do hotel onde
Lisa deveria estar há horas — Tudo bem, obrigado. — ele desliga e logo
está com o telefone preso à orelha novamente — Dylan, sou eu. — ele volta
a se afastar, falando rapidamente, mas eu não poderia me importar menos.

Meu anjo.

Minha responsabilidade.

Não sei precisar o momento em que um rugido ferido rompe o ar, ou


mesmo, de onde ele veio. Possivelmente, de mim, se considerar o ardor que
consome a minha garganta. Ainda assim, não consigo me manter quieto ou
pensar. Deposito, com as mãos trêmulas, a coroa alada de volta à caixa, com
um cuidado extremo. Lisa precisará dela em breve. Porque ela vai escapar.
Ela precisa ficar bem.

Ao menor pensamento contrário, em um cenário prospectado pela


ansiedade e medo de não tornar a ver a mulher linda de cabelos loiros e
olhos muito azuis, chuto a cadeira à minha frente, ouvindo o som da
madeira se partir e faço o mesmo com tudo ao meu redor. Frederico nada
diz, apenas segue me vigiando de perto, com o celular em mãos e me assiste
quebrar cada móvel do lugar enquanto extravaso minha ira.
— Hades. — ele chama após um tempo, minhas mãos ardendo pelos
cortes provocados em meu acesso de fúria — Dylan quer falar com você.

Ah, ele quer? O homem que garantiu a porra da proteção à minha


mulher?

— Se algo acontecer a ela… — rosno, sentindo meu coração se


afundar no peito e tento, mais uma vez, engolir o nó que se forma em minha
garganta, mas ele não desce dessa vez, e meus olhos lacrimejam.

— Nós vamos encontrá-la. — a voz firme e calma de Dylan,


responde — Estou a caminho com uma equipe e Anthony já está em contato
com a guarda da Coroa. Mas de nada vai adiantar se descontrolar desse
jeito, Hades. Precisamos manter a calma e a mente afiada.

— Fácil falar. — resmungo e ele bufa do outro lado da linha. Uma


pequena movimentação acontece às minhas costas, mas não consigo me
importar.

— Verdade. Mas eu já passei por… — sua voz falha e quando volta


a falar, conheço o bastante do ódio e do desespero, para saber o que Dylan
sente nesse momento — algo semelhante e, acredite em mim quando digo
que vamos resgatá-la, Hades. Estou a caminho, não faça nenhuma besteira.
— E quem me impedirá? — sorrio de forma louca para o telefone,
desafiando o nada, ainda de costas para a porta, incapaz de olhar na direção
daquela maldita caixa.

— Bem, é para isso que estamos aqui. — a voz calma e debochada


do advogado me responde da porta do escritório, de onde ele e o irmão me
observam.
— Hades, talvez, seja melhor respirar fundo e tomar alguma coisa.
— Atlas sugere, em seu tom prático de sempre — Há muito a ser feito e
Dylan nos deu instruções do que precisamos fazer enquanto está a caminho.

— Tomar alguma… Será que não perceberam que o maldito levou a


MINHA MULHER? — grito, as mãos puxando com força os fios na lateral
da cabeça — Como é que esperam que eu fique parado quando eles
podem… CARALHO! Eu vou matá-lo! — chuto a cadeira em meu
caminho, enquanto tento sair da sala, passando pelo empresário de cabelos
escuros, que mantém o rosto severo.
— Hades, nós viemos ajudar, não…— ele começa a dizer, mas
encaro os olhos escuros de seu irmão à minha frente, que cruza os braços
diante do peito, ameaçador. Ou pelo menos, tentando ser.

— Eu vou até o covil daquele covarde maldito e vou matá-lo. —


aviso em um tom rouco e estranho — Saia da minha frente, Apolo.

— Não. — o advogado responde, se firmando no lugar, os olhos


estreitos em minha direção — Não vamos deixá-lo fazer uma besteira que
pode trazer ainda mais risco à Lisa. Não nos obrigue a usar a força, Hades.

— E quem é que vai me impedir? — a ira sempre tira o pior de mim


e eles já deveriam saber. Aponto para Atlas, que se mantém alerta às minhas
costas — O engomadinho ali atrás? Ou você?
— Acrescente mais um à lista. — a voz grave de Alex Zur anuncia
sua presença, antes que ele apareça. Sempre na hora certa — Pare com isso,
Hades. Nós viemos ajudar.

Ainda cego de ódio, não consigo controlar meu temperamento a


tempo e logo acerto, ou tento acertar, Apolo com um soco na barriga. Mas
meu golpe foi descuidado e então, sinto o punho que me atinge com força
no lado esquerdo do rosto. Em seguida, um par de mãos imobilizam meus
braços em minhas costas, enquanto Zur se aproxima, os olhos claros
transparecendo uma tristeza antiga, mas que também me acusam. Sem dizer
nada, Alex Zur afirma que me avisou. E ele não está mentindo.

Impotente, apesar de ter quebrado todo o meu escritório, inclino o


rosto e, derrotado, me rendo ao desespero que ameaça me sufocar desde o
momento em que vi a maldita coroa ali. Não sei quando o primeiro soluço
irrompe de dentro do meu peito, mas uma vez que ele sai, outros o
acompanham e logo, estou chorando como há muito não fazia. Sinto o
aperto de Atlas afrouxar e meus amigos me guiam até o sofá. Todos, exceto
eu, que não consigo conter as lágrimas, em um silêncio sepulcral, enquanto
aguardamos que os outros cheguem para podermos agir.
Me perdoe, meu anjo. Eu falhei com você.

Um pouco mais calmo, algum tempo depois que Dylan chegou com
uma nova equipe, observo enquanto o cara magrelo e estranho digita
rapidamente em um computador grande, sobre a mesa que meus amigos
colocaram de pé em algum momento. A ideia de hackear os sistemas das
boates de Timberg partiu de Dylan e Apolo, enquanto Anthony segue
conseguindo liberar protocolos que tornem nossa “operação de resgate”
legalizada.

Apesar da minha tentativa de golpeá-lo, Apolo segue ao meu lado e


até mesmo fez piada sobre o hematoma que já começa a se formar perto da
minha boca. Se eu conseguisse pensar em qualquer coisa, senão em Lisa
nas mãos daqueles imbecis sádicos, eu também teria conseguido sorrir.
Alex permanece ali por perto, ajudando no que pode, e vez ou outra, seus
olhos buscam os meus e sei bem que mereço a acusação que vejo ali.

— Encontramos. — Dylan declara baixo e quando o nerd digita


mais algumas coisas rapidamente, ele grita — Encontramos, porra!
Em poucos segundos, estamos todos diante do computador. Meu
coração acelerado, enquanto a imagem ruim e chuviscada mostra a minha
mulher amarrada a uma cadeira, visivelmente ferida, mas viva. O alívio que
me invade poderia me jogar no chão, não fosse o ímpeto que me alcança, de
ir até ela e tirá-la dali, entretanto, a mão pesada sobre o meu ombro, me
mantém no lugar.

— Eu avisei que a vingança cobraria um alto preço, meu amigo. —


Alex diz, finalmente — Vamos agir com calma e de forma planejada para
tirar Lisa de lá, mas espero que tenha aprendido a sua lição e deixe essa
merda de lado.

Não respondo. Infelizmente, só poderei dizer algo com relação a


isso, quando Lisa estiver sã e salva, e longe daquele maldito crápula que
macula a tudo o que toca. Talvez, eu também carregue algo de ruim herdado
dele e não mereça o perdão daquele anjo que está sofrendo agora, por
minha culpa.

Por ela, eu espero. Prendendo a respiração e controlando a ira que


arde dentro de mim, eu aguardo em silêncio, enquanto os planos de resgate
são traçados pelos profissionais, me preparando para o que vem a seguir.
Porque não há ninguém nesse mundo que me impediria de ir até lá resgatá-
la pessoalmente — Uma isca, uma distração. — Dylan definiria, minutos
depois. Mas ele está errado. Um vingador. Um anjo da morte para aquele
maldito que ousou tocar e machucar as pessoas que me são mais preciosas
na vida.

Estou indo te salvar, meu anjo.

Que Gavin se prepare. O deus do inferno está a caminho e ele não


conhece clemência.
O gosto amargo na minha boca é a primeira coisa que sinto. Antes
mesmo de abrir os olhos, sinto o pano, provavelmente sujo, enfiado
porcamente em minha boca, tento cuspi-lo e sinto um alívio grande quando
percebo que consigo. Meus pulsos amarrados aos braços da cadeira, é a
segunda coisa que percebo, sinto a corda ferir meu braço e prender um
pouco a circulação ali. Entretanto, tudo o mais parece intacto, sem nenhum
machucado aparente ou algo sério, além da cabeça, que dói em um ponto
específico, mas nada que me preocupe, se não, teria me dado conta antes de
tudo, obviamente. Ainda me sinto um pouco tonta e percebo que,
provavelmente, fui drogada com algo pesado, porque preciso tentar abrir os
olhos algumas vezes para finalmente conseguir.

Estou em uma espécie de galpão abandonado, aparentemente


sozinha. Talvez seja considerada mínima a chance de escapar, ou de
apresentar algum perigo, porque nem um guarda eles colocaram na minha
cola, e agradeço aos céus por isso. Assim, ganho tempo para pensar e
entender o que está acontecendo, antes de alguém chegar e as coisas
ficarem ainda mais tensas. Amarrada pelos braços e pernas em uma cadeira
de madeira, que não apresenta grande firmeza ou obstáculo para alguém
com alguma destreza, porém, infelizmente para mim, não sou igual aos
personagens fortes de filmes de ação que, com o próprio peso, conseguiriam
quebrar isso aqui com facilidade. Seria arriscado se me arremessasse ao
chão tentando quebrar alguma parte dela, provavelmente, sairia machucada.

Seja inteligente Lisa!


Não preciso ser um gênio para saber que a pessoa por trás disso é
Gavin, e como estava com um segurança, com certeza, a equipe já sabe.
Agora, o que eu preciso é ganhar tempo para que eles me localizem.
Havdiam não é uma cidade tão grande assim, para que isso seja impossível.
Hades, com certeza, está me procurando.

Sinto uma pontada em meu peito ao pensar nele.

Será que está mesmo?

Depois de tudo?

Mesmo depois de eu ir embora?

Tento não me desesperar e respiro fundo. Meu objetivo principal é


sair daqui. Viva.

Olho ao redor, em busca de uma rota de fuga. Os entulhos


espalhados por todos os lados, a maioria, partes de móveis grandes e
pequenos, me fazem questionar se ainda estou ou não na capital, e quando
um rato quase passa por cima do meu pé, suprimo o grito de susto e pavor
no último segundo. Não posso me denunciar, pelo menos, não ainda. Não
até tentar entender o que está acontecendo, onde estou e bolar um plano
para sair daqui. O barulho de passos me apavora e faz com que meu coração
se acelere, indo de zero a cem em um segundo. Instintivamente, baixo a
cabeça e finjo ainda estar apagada, tentando ouvir ao máximo o que é
falado.

—… você não vai ligar? — uma voz rouca e meio fantasmagórica,


pergunta.

— Vou ligar quando eu quiser ligar. Quero que aquele filho da puta
sofra, pensando no que estou fazendo com a vagabundinha dele. — a voz de
Gavin preenche o ambiente, e sinto meus pelinhos se arrepiarem.

— Não vai fazer nada. — a outra diz, mas parece não surtir muito
efeito.

Quando escuto os passos cada vez mais perto, fecho bem os olhos,
ainda considerando se é melhor fingir estar desacordada, ou se seria uma
opção melhor me colocar na defensiva. Quando meu cabelo é puxado para
trás, e ele consegue ver meu rosto, não consigo disfarçar a careta de dor, por
isso, abro os olhos o encarando com fúria.

— Olha, olha, quem é que acordou! — a primeira impressão é


completamente assustadora. Gavin Timberg, o homem que sempre usou os
melhores ternos e teve o cabelo meticulosamente penteado em todos os dias
da sua vida, agora está com uma camiseta regata branca e uma calça jeans,
ambas sujas e esfarrapadas. A barba por fazer lhe dá um ar sujo e um pouco
mais assustador do que ele geralmente é, mas o que me apavora de verdade
é o olhar vidrado que ele exibe.
Definitivamente, esse é o retrato do homem que ele um dia foi.
— Gavin. — é a única coisa que consigo dizer, porque ele ainda
puxa o meu cabelo com uma força descomunal, forçando o meu pescoço o
máximo possível para trás.

— A vagabundinha acordou, então. Olha só que interessante, agora,


as coisas vão começar a ficar mais justas. — ele diz, muito mais para si
mesmo do que para mim, ou para o seu companheiro, que ainda não
consigo ver quem é do meu campo de visão.
Cogito abrir a boca e argumentar de alguma forma, mas pelo jeito
que ele pronuncia as palavras, tenho quase certeza de que o homem está
drogado. Cerro os dentes e respiro fundo, tentando conter o grito de dor e
como pareço desinteressante para ele, o homem resolve me soltar.

— Será que o seu capacho vai te salvar? Será que você é tão valiosa
como ele nos fez pensar? — ele pergunta, com um sorriso que só as pessoas
malucas conseguem colocar no rosto.

O que mais me preocupa é o seu olhar vidrado. Uma pessoa drogada


pode fazer coisas inimagináveis e só se dar conta depois. Trabalhei muitos
anos dentro dos festivais e boates para reconhecer atos do tipo, e justamente
por isso, nunca quis usar nada ilícito.

Um arrepio sobe pela minha coluna quando ele se aproxima ainda


mais, ficando cara a cara comigo. O mal cheiro invade minhas narinas, mas
não recuo. Não posso demonstrar medo.

— Você tinha uma única missão. A porra de um trabalho, e


conseguiu ferrar com tudo. Sabia? — ele fala, olhando para cima e para os
lados — Precisava descobrir quem era esse imbecil, pegar as informações,
me passar e tudo ficaria bem. — ele dá um tapa tão forte na minha cara, que
a cadeira balança e antes que eu possa cair no chão, ele me firma
novamente pelo ombro — Mas, não. O que a vadiazinha tinha que fazer?
Dar pro mais novo e se mancomunar com ele.

— Gavin, não exagera. — a segunda voz diz, e consigo ver agora,


que pertence ao homem que vi pendurado pelos pulsos, dias atrás na
Gehenna. Ainda muito machucado e desfigurado, ele está aqui, de pé, vivo.
Graças a mim.
— Ela merece! Merece! — como uma criança pirracenta, ele quase
bate o pé, brigando com o comparsa — A culpa de tudo isso é dela. Não
percebe? — ele fala, segurando meu rosto com força. Sinto seus dedos
pressionarem a minha pele, mas não me mexo, nem falo nada. É possível
que só piore a situação — Posso até não a matar…, mas vou fazer como
fizeram com você. Deixá-la quase morta, implorando para a sua vida
acabar, bem na porta da baladinha de merda daquele nojento. — os olhos
entorpecidos, de repente me encarando, brilhantes — Talvez, possamos até
acrescentar ainda mais diversão nisso. Quem sabe?

— Por favor… — peço, começando a entrar em pânico. Sua ideia


nunca foi pedir um resgate e sim, acabar comigo. Mais um plano de
vingança em que estou metida e sem a possibilidade de sair dessa inteira.
O sorriso sádico em seu rosto se amplia. Acho que tudo pelo que
estava esperando era me ouvir implorar e a satisfação não é nem disfarçada.
Apesar disso, Gavin se afasta um pouco e começa a andar de um lado para
o outro, parecendo feliz e exultante. Como se estivesse realmente
comemorando alguma coisa extraordinária.

Completamente drogado!

— Ah… agora ela está falando. — ele cantarola, como um lunático


— Olha só, que maravilha! Se juntou à festa! Mas, sabe, Lisa… implorar
não vai ajudar, nem fazer com que eu pare, quando tudo começar.

Para provar o seu ponto, ele tira uma arma escondida do cós da
calça nas suas costas, apenas para mostrar que pode e, se quiser, vai me
matar. Aponta para mim, fecha os olhos, testando a sua mira, antes de soltar
uma gargalhada alta e voltar a caminhar em círculos. Sinto o ar voltar para
os meus pulmões, quando percebo que essa é a sua definição de brincadeira,
e com toda a agitação, o homem nem percebeu que está se afastando
gradativamente de mim.
Estou literalmente nas mãos de um drogado que não sabe o que está
fazendo e acabou de perder tudo.

Eu vou morrer. Com certeza vou.

A percepção disso me atinge forte e aquela baboseira de que quando


estamos à beira da morte, a sua vida inteira passa diante dos seus olhos, me
parece uma piada de mau gosto. Porque as únicas coisas em que consigo
pensar são em Hades e Helena. Helena e Hades. E nenhum dos dois estão
aqui, ou podem me salvar.

— Ah, me parece que percebeu agora que esse é o fim da linha para
você. — ele diz, e sua voz contém tanta alegria que desvio o olhar — Sabe
quando eu descobri que era o meu fim de jogo? Quando seu namoradinho
resolveu acabar com o meu esquema mais lucrativo. Tráfico de drogas em
Havdiam é algo raro e difícil, a coroa não perdoa, e eu era um dos únicos
que conseguia manter um negócio sólido. Ele destruiu essa opção para mim.
Nosso amigo Valentin, aqui, pode lhe falar mais sobre isso. — ele aponta
para o homem machucado, que se nega a dizer alguma coisa e inclusive,
olha em outra direção, como se o que Gavin estivesse fazendo comigo fosse
algo a que ele não gostasse de assistir — Meu esquema mais lucrativo!
— Tenho certeza de que podemos negociar. — murmuro, e recebo
mais um tapa na cara.

— Não está entendendo, não é? Tudo acabou! Tudo ruiu! É questão


de tempo até que a guarda real bata em minha porta e me leve preso, mas eu
não vou deixar isso acontecer. Não, sem lutar! — a cada fala em tom
doentio que sai de sua boca, minha esperança vai minando cada vez mais.
Minha única opção é fazer com que ele continue falando, porque assim, o
homem não resolve fazer nada pior comigo. Um paliativo que pode dar
certo, se alguém estiver me procurando — Então, eu fiquei pensando e
pensando. Como poderia sair dessa? E me lembrei!

Seu sorriso agora é mais amplo ainda e ele bate com a pistola em
sua própria testa.

— Você, sua putinha, talvez seja a minha passagem só de ida para


fora daqui. — Gavin arregala os olhos e o sorriso, de segundos atrás, morre.
Agora, ele está falando sério e isso me deixa ainda mais tensa — Eu
costumava ser o homem do dinheiro, mas agora, o domínio passou para as
mãos de outro. Aquele filho da puta já sabe de todo o meu esquema e, mais
cedo ou mais tarde, a guarda real virá me prender. Preciso me mandar, antes
que ele me denuncie, negociar é algo em que sempre fui bom. — ele volta a
falar consigo mesmo, mas relembra de onde está quando fixa o olhar em
mim novamente — Hades vai me dar quanto dinheiro eu quiser para te
salvar. Sei disso. E assim, vou conseguir me manter em outro lugar.
— Esse me parece um bom plano… — começo a dizer, tentando
como sempre fiz, exaltar homens com a masculinidade frágil, antes de
manipulá-los para fazer o que eu quero — Falta apenas ligar para ele e dizer
o seu preço.
— Vou fazer isso! — ele grita mais alto, voltando a fazer pirraça
como uma criança — Mas não negociarei os termos… você não vai sair
ilesa depois de ter me traído. Tenho certeza de que pra ter conseguido laçar
aquele diabo você deve saber o que fazer, então, preciso experimentar. Nada
mais justo.
Assim que entramos no galpão abandonado na beira da estrada,
torço o meu nariz para o cheiro de mofo. Aqui, um dia funcionou um
cassino, onde aconteciam tantos negócios ilegais que antes mesmo de eu
chegar na cidade, fechou e virou depósito de todos os outros negócios
escusos de Gavin. Provavelmente, até mesmo da estocagem de drogas,
porque, sendo bastante honesto, quem iria se preocupar em vasculhar os
sofás puídos e toda essa tralha cheia de ratos?

A equipe de Dylan entra e começa a se espalhar, mas meu amigo


resolve ficar do lado de fora. A situação estressante e tudo o que está
acontecendo com Lisa, parece deixá-lo engatilhado em muitos níveis, já que
viveu algo parecido com sua mulher, Lindsay, tempos atrás. Espero que
minha jornada tenha sucesso, assim como a sua, porque não sei o que farei
sem meu anjo ao meu lado.
Zur, segue ao meu lado com sua postura inabalável de sempre, mas
seguido de perto por seus próprios seguranças. O homem também tem um
passado difícil, não poderia ser diferente. O único que parece animado com
a possibilidade de uma boa briga é Apolo, que talvez por ter tido uma raiva
enorme reprimida dentro de si por milhares de anos, agora só queira
extravasar.

— Lembre-se, o plano é simples. Estamos aqui apenas para assistir à


equipe trabalhar. Não vamos sujar nossas mãos, nem fazer nada por nossa
própria conta. — Alex avisa, e eu confirmo com a cabeça, revirando os
olhos. Em qual mundo ele vive, se acha que vou ficar quieto e não fazer
nada se vir Lisa machucada, eu não sei. Mas, na dúvida, empunho a arma
que trouxe apesar do seu semblante franzido.

— Ele não vai fazer nada com ela. Quer uma saída e Lisa é a sua
melhor chance. — Apolo diz, como se fosse algo óbvio, mas não fico
tranquilo. Não tem como ficar.

Pelo ponto que recebemos, a equipe de Dylan já está posicionada e


abateu dois seguranças que rondavam a entrada. Caminhamos mais rápido e
preciso ser parado por Zur quando vejo, de longe, Lisa amarrada em uma
cadeira, com o rosto vermelho e olhos assustados.

Graças aos céus ela está viva e aparentemente bem.

O sangue empapado em seus cabelos, pela filmagem da câmera,


parecia muito pior, e isso me alivia de imediato.

Essa é a primeira visão que tenho, mas logo em seguida, percebo o


porquê de seu olhar estar tão assustado, Gavin aponta uma arma em sua
direção, parecendo tentar mirar ao léu. O homem está cambaleando e parece
perdido em seu próprio mundo. De costas para mim, observo-o andar de um
lado para o outro, depois em círculos, antes de soltar uma gargalhada alta e
dou um passo em sua direção, apontando minha própria arma para as suas
costas.

— Fica parado, porra! — Alex diz, me segurando mais firme pelo


peito — Espera o comando, logo Dylan abate esse maníaco e pegamos Lisa.
Se. Controla. — suas palavras são firmes e sei que preciso manter a cabeça
no lugar, mas quando Gavin volta a falar, sou possuído por um ódio
descomunal.

Ele começa um monólogo sobre como eu destruí seus negócios e


daqui, ainda escondido nas sombras, consigo ver Lisa tentar pensar rápido
no que fazer. Não tinha notado antes, preso na loira com rosto de anjo no
meio do galpão, mas quando Gavin aponta para Valentin, mostrando o
quanto eu acabei com ele, sinto um arrependimento grande de ter tido
misericórdia. Talvez, seja isso que tenha nos feito chegar a esse ponto. Um
drogado, sem saída, sequestrando a mulher da minha vida em troca de
dinheiro.

Nesse momento, poderia arrancar seus olhos com as minhas


próprias mãos!

Valentin parece ter visto alguma movimentação, porque não dá


atenção para nenhum dos dois e deixa seu lugar para ver o que está
acontecendo do outro lado. Sinto todos os meus músculos tensos e prendo a
respiração quando acho que ele vai gritar e nos denunciar, mas um dos
seguranças o abate, antes que isso aconteça. Solto a respiração que estava
prendendo e é a voz dela que me chama a razão.

— Tenho certeza de que podemos negociar. — ela diz baixo, acuada


e eu começo a tremer de raiva. Sabiamente, Alex e Apolo me seguram, um
de cada lado, porque quando Gavin bate em sua cara, sinto tanta raiva, que
um rugido do fundo do meu peito sai involuntariamente.

— Se acalma, porra! — Apolo fala, batendo ele próprio em minha


cara. E o olhar furioso que lhe dou, faz com que ele me solte e dê um passo
para trás. Ainda estou segurando a minha arma e não tenho medo de usa-la,
se for para proteger quem eu amo.
Ele continua um discurso de merda, de quem sabe que perdeu, mas
neste momento eu não consigo escutar nada, os olhos fixos na marca
vermelha no rosto da minha mulher. Lisa não derrama uma lágrima, não
fala nada e mantém os olhos fixos nos dele, em sinal de desafio. O que ela
está pretendendo com isso, eu não sei, mas a respeito tanto nesse momento
que se não a amasse antes, a amaria ainda mais agora. Corajosa e linda. E
minha.

Só quando Alex aperta meu braço com ainda mais força, é que me
forço a prestar atenção no que meu progenitor está falando e não há força
física que me faça ficar parado depois dessa ameaça.
— … não negociarei os termos… você não vai sair ilesa depois de
ter me trocado. Tenho certeza de que pra ter conseguido laçar aquele diabo,
você deve saber o que fazer, então, preciso experimentar. Nada mais justo.

E quem seria ele para saber de justiça? Maldito.

Me solto dos meus amigos, tiro o ponto da minha orelha, onde


Dylan grita a plenos pulmões para que eu fique no lugar e, sem perceber ou
ter um plano, entro no campo de visão de Lisa, que parece completamente
apavorada quando me vê, e aponto a arma na nuca de Gavin. Talvez seja a
droga, ou ele realmente seja um pouco lento, mas o fato é que ele não
percebe o que está acontecendo, até sentir o cano gelado contra a sua pele e
a minha voz soar alta no ambiente vazio.

— Acho que você teve a impressão de que poderia fazer o que


quiser e sair impune. — digo baixo, com vontade de puxar o gatilho agora
mesmo, mas a arma que ele aponta para Lisa é a única coisa que me faz
parar.
Começo a rodeá-lo, até ficarmos frente à frente. Minha arma vai
passando da sua nuca, para a sua bochecha, até chegar na sua testa e quando
sinto que estou entre ele e Lisa, dou um passo para trás.

— Então, esse é o todo poderoso Hades. — ele diz, engolindo em


seco.

A expressão “Quem tem cu, tem medo”, nunca foi tão real.

— E você é Gavin Timberg. Confesso que estou um pouco


decepcionado. — digo baixo, dando mais um passo para trás. A minha arma
pode estar colada em sua testa, mas a dele ainda está mirando em algum
lugar atrás de mim e eu não posso deixar que, em um descuido, ele puxe o
gatilho e atinja Lisa.
— Esperei a vida inteira para te conhecer. — começo a improvisar,
dando mais um passo para trás, e ele não tem outra opção, a não ser recuar a
arma e apontá-la para mim — Mas pensei que encontraria um oponente
mais…composto.

Isso, mire em mim.


Seu olhar é vidrado e aparentemente, está tentando entender o que
aconteceu para que eu tenha esperado a vida inteira para conhecê-lo. Como
seu cérebro não consegue juntar as informações e ele realmente não faz a
menor ideia de quem eu sou, continuo a falar.
Agora que estamos frente à frente, não consigo agir de outra forma.
Ele precisa saber de tudo e principalmente, eu preciso falar. Abrir a porta do
inferno e deixar que todos os meus demônios saiam.

— Sabia que era bonito, mas não imaginei ter um fã. — ele debocha
e eu aperto a arma mais forte, respirando fundo para tentar me controlar.
— O nome, Fiorella Perri, te lembra de algo? — pergunto e ele dá
de ombros.

— Nem ideia. — ele sequer pensa mais do que alguns poucos


segundos — Mas tenho a impressão de que vai me contar.

— Minha mãe. — respondo seco.

— Parabéns pra você. Agora é o momento em que vai dizer que eu


devo algo à essa tal Fiorella? — Gavin responde, sem entender aonde eu
quero chegar. O deboche evidente em sua voz, e pelo visto, ele não tem
paciência nenhuma para ouvir qualquer tipo de história. Sabe que está na
merda, que não tem outra saída, e aparentemente, está jogando a toalha e
tacando o foda-se. Ao que parece, aos poucos, ele vai ficando mais
corajoso.
Não me importo nem um pouco com o que ele quer ou não, porque
quando levanto novamente a arma e a aponto em sua cabeça, chamando a
sua atenção e assistindo-o murchar, continuo a falar.

— Ela trabalhou na sua casa, quando você não tinha idade para lavar
seu pinto direito e honrar as suas calças. Você a estuprou, a engravidou e a
largou na rua, como se fosse um lixo. — minhas palavras são cirúrgicas e
noto na hora quando ele se lembra de quem minha mãe foi.
O sorriso que se espalha pelo rosto do imbecil me enoja tanto, que
preciso de cada milímetro de força de vontade que existe dentro do meu
corpo, para não atirar na sua fuça.

— Ah, sim! Ela era gostosa. Falava muito, mas gostosa. — o


imbecil fala, e eu não consigo mais me controlar. Perco a razão quando
atiro, alguns centímetros à sua direita. A bala não pega nele, mas é o
suficiente para assustá-lo.
— Está falando da minha mãe, seu merda! — grito enfurecido — E
isso, infelizmente, faz de você a porra do meu pai.

— Pai? — sua voz é apenas um sussurro. Acho que, talvez, o tiro


tenha sido o suficiente para lhe assustar e ele entender que eu não estou
aqui de brincadeira.

Ele fez o que fez com a minha mãe e ameaçou fazer novamente com
Lisa. Quantas mais não sofreram nas mãos desse maldito asqueroso?

O mundo estaria muito melhor se eu lhe acertasse uma bala na


cabeça e acabasse com isso. Mas, o que me faz voltar a razão e não cometer
esse crime, é o suspiro que Lisa dá atrás de mim. Talvez, uma consciência
tardia do que acabou de acontecer.
Sim, anjo. Estou aqui.

— Pai não, doador de esperma. Progenitor. — me corrijo


imediatamente.

Finalmente, é chegado o momento da minha tão esperada vingança.


— Se está inventando essa história querendo o meu dinheiro, ou
algum direito sobre o meu título, pode esquecer! Eu não reconheço filho
nenhum. — ele grita, parecendo ainda mais fora de si do que antes.

— Como é? — questiono, sem acreditar no que estou ouvindo.

— Isso mesmo! Se acha que pode chegar na cidade, vir atrás da


minha fortuna e do meu sobrenome, com uma história ridícula de
paternidade, pode esquecer. Eu não tenho filho, nem legítimo, nem
bastardo. — Gavin olha para os lados, como se procurasse uma saída,
deixando a mão que segura a arma cair alguns centímetros, completamente
desestabilizado. Aparentemente, esse não era um sonho seu, porque o modo
como recebe a notícia parece assustá-lo mais do que a minha arma apontada
para a sua cabeça — Eu nunca tive um filho! — ele murmura um pouco
mais baixo — É tudo meu. Sempre foi e sempre será. Não vou dividir
merda nenhuma.

Gargalho alto. Gavin Timberg, depois de tantos anos, está na minha


frente e sabe o que vim fazer na capital. Descobriu toda a verdade, e ao
invés de finalmente entender o meu propósito, está preocupado se quero ou
não algo seu. Ou melhor, se ele aceita ou não ser meu pai.

Patético.

A minha risada chama a sua atenção e ele para de murmurar,


olhando para mim com um ar assustado.
— Acha mesmo que eu iria mentir sobre algo assim? E,
principalmente, vir atrás do seu sobrenome e da sua fortuna? Um título de
nobreza ridículo, de uma família falida e desprezada pela coroa? —
enfatizo a palavra com tanto desdém que ele faz uma careta, entendendo
muito bem aonde eu quero chegar — Que fortuna? Até onde sei, esse teatro
todo é para tentar arrancar algum dinheiro meu, para fugir, já que o seu
acabou.

Seu pescoço fica ainda mais vermelho de raiva e o vejo bufar um


par de vezes, tentando encontrar palavras para rebater o que eu acabei de
dizer. Sim, ele está falido. Completamente.

— O dinheiro que era tão importante para vocês, acabou. A família


Timberg foi para o esgoto e junto dela, toda a sua fama, prestígio e a merda
do seu sobrenome, que hoje em dia não vale absolutamente nada. O pedaço
de papel que indica a nobreza da sua família, também não é algo que valha
algo, pelo que sei. — e olhando em seus olhos, eu acrescento — Eu me
certifiquei disso.
— Não fale besteira moleque! Você nunca vai ser um de nós. É isso
que quer, não é? Admita! Por isso entrou no meu ramo. Conseguiu minha
atenção, bastardo. — ele tenta mudar a abordagem, falando de forma mais
mansa — Agora, vamos parar com isso e conversar como adultos. Você
nunca será o meu legado, nunca será um Timberg, nunca será um nobre,
então, é melhor parar enquanto há tempo. Talvez, se devolver tudo o que me
roubou, possamos renegociar. — ele tenta, ainda preso à essa merda de
ideia de que quero algo seu e eu volto a rir.

Gavin ainda não entendeu.

— Eu não vim pela merda do seu sobrenome podre ou por esse


título de merda! Eu vim para destruir você. Acabar com tudo o que você
tinha e tudo o que representa. — meu sorriso se alarga, enquanto a sua
expressão se fecha — Sabe o que é o melhor disso tudo? Eu não faço
questão dos lucros, só quis acabar com você. Tudo o que conquistei foi por
mérito meu e se você falhou, foi por incompetência. — estalo a língua,
meus lábios esticados em um sorriso irônico —Mas, tenho sim que te
agradecer. Comecei o negócio com o dinheiro que deram para minha mãe
me abortar. Não é poético? Agora, esse mesmo dinheiro foi multiplicado e
está sendo usado para enterrá-lo vivo.

— Você não teria coragem. — ironiza — Se tivesse, já teria atirado.


— ele afirma, me peitando.
— Na realidade é uma possibilidade, mas estou saboreando o
momento. — falo, e ele entende o que quero dizer. Já torturou mais homens
do que posso imaginar. Sabe que quando eles param de falar, as coisas
ficam bem piores do que estão no momento.

— Então vai me matar? Esse é o seu plano? Pelo que eu me lembro,


a sua mãe era religiosa… estranho que seu filho seja conhecido como o
próprio diabo…

— Ainda não descartei essa ideia, portanto, sugiro que não me tente,
Gavin. — ele volta a recuar — Tenho certeza de que vai pro inferno de toda
forma, mas posso me aproveitar por um momento, antes de mandá-lo ao
outro demônio. — faço um trocadilho, miro melhor a arma, bem no meio da
sua testa.
— Então, o plano sempre foi vingança? — ele questiona, se dando
conta agora, de que independente de qualquer coisa, o meu objetivo
principal sempre foi destruí-lo. Realmente, o seu raciocínio é lento… ainda
bem que não herdei nada desse imbecil — Bem que achei a implicância
pesada demais para ser algo apenas relacionado ao negócio paralelo.

Sim, continue falando, seu imbecil.

Se ele falar mais e tivermos uma confissão, as coisas podem ficar


ainda mais fáceis para encerrar logo esse capítulo na minha vida. Talvez,
seja a hora de manter a cabeça no lugar e adotar a tal frieza que Zur tanto
insistiu que eu mantivesse.

— Está falando do seu esquema de tráfico de drogas? — pergunto,


como se estivesse desinteressado.
— O que mais seria? — seu deboche volta com tudo — É claro que
era arriscado, mas sempre me dei bem. Muitos e muitos anos, debaixo do
nariz desses idiotas reais. Até você chegar e ferrar com tudo, claro. — o
ódio é palpável em sua voz — Valentin falou para irmos devagar, despistar.
Mas, como, se insistiu em tentar falir todos os meus negócios? Mesmo
sendo arriscado, continuamos. E é por isso que essa vagabunda veio parar
aqui. — afirma relembrando da presença de Lisa às minhas costas.
— Limpe sua boca antes de falar dela. — aviso. A frieza esquecida
momentaneamente.

— Ah, ela é seu ponto fraco, não é? — o sorriso em seu rosto me dá


vontade de partir para cima dele e socar tanto a sua cara. que nem precisaria
de arma, ou qualquer outro instrumento para levá-lo pro IML. Mas, Gavin
continua falando — Você foi burro e pensou só com a cabeça de baixo.
Uma hora dessas, Valentin já deve ter pedido reforços e eu não vejo
ninguém aqui para te ajudar. — a sua confiança é realmente impressionante.
O homem parece que vive em um mundo paralelo dentro da sua própria
mente. Talvez, seja o efeito da droga, já que seus olhos continuam vidrados
e ele treme ligeiramente, sem conseguir ficar parado — Então, acho que
está na hora de negociarmos isso aqui. Quero vinte e cinco milhões de
dólares vongherianos para deixar você e a loirinha vivos.
— Eu disse para não falar dela! Se pensar em Lisa novamente, não
há nada que me impeça de atravessar uma bala bem no meio da sua testa.
— dessa vez a ameaça é real. Lisa é minha família e eu faria de tudo para
protegê-la. Nem que eu tenha que arcar com as consequências disso depois.

— Hades. — a voz de Lisa chama a minha atenção. Por uma fração


de segundos, me deixo levar pela distração e olho para trás. Erro grande
quando temos uma arma apontada para o nosso peito.
O estrondo é a primeira coisa que eu escuto.

Alto.

Ensurdecedor.

Fatal.
Ao contrário de mim, o velho realmente não tem escrúpulo nenhum.
Esse é o meu primeiro pensamento, quando sinto uma dor absurda em meu
ombro direito. O líquido quente e rubro começa a escorrer pela minha
camisa de botões preta e sinto meu joelho falhar.

Porra, levar um tiro dói pra caralho!

Grito alto de dor e antes mesmo de sentir o impacto do meu joelho


no chão, vejo a equipe de Dylan entrar em ação, dominando Gavin
Timberg, que não tenta lutar, apenas exibe um sorriso triunfante no rosto. A
tontura me pega por alguns segundos e quando pisco algumas vezes,
tentando focar, começo a escutar as movimentações.

— Hades! Hades! Hades! Alguém me solta! Hades! Hades! — Lisa


grita a plenos pulmões, desesperada, em algum lugar próximo. Tento
encontrá-la, mas vários vultos pretos estão entre nós dois.

— Lisa. — falo baixo, e sinto mãos firmes me colocarem de pé.

— Precisava ser tão dramático? — é Zur quem fala, com o deboche


usual, porém sua expressão é preocupada.
— Era o meu momento. — digo baixo, tentando rir, porém, sai
como um gemido baixo, devido à dor filha da puta que sinto no ombro —
Apolo?

— Cuidando da prisão daquele maldito. Agora vai ficar tudo bem.


— mas, antes que eu possa respondê-lo, sinto os braços finos abraçarem a
minha cintura e o cheiro cítrico dos cabelos de Lisa invade meu nariz.
Meu anjo.
O sangue me desespera.

Assim que Hades entrou no galpão, com a sua arma e pose


imponente, senti medo, não por mim, mas por ele. Com certeza, Gavin me
liberaria em algum momento, afinal, eu era muito mais valiosa viva do que
morta, até aquele momento. Mas assim que a única pessoa que teria
dinheiro o suficiente para pagar o meu resgate, chegou e o confrontou, notei
que as coisas se complicaram bastante. Um contra o outro, e esse embate
era o fim de todo esse plano de vingança.

Porém, não consigo deixar de pensar que Hades poderia ter morrido
com esse tiro, e a culpa seria minha. Eu tirei a sua atenção. Fui eu quem o
repreendeu de forma imprudente. Fui burra o suficiente para falar quando
não era chamada e acabei encarando o homem que eu amo, ensanguentado
no chão.
As lágrimas banham meu rosto e agora que estou me debatendo
como louca, tentando me desvencilhar das cordas que me prendem à essa
cadeira. Várias pessoas entram e se colocam em ação, Gavin é detido e
arrastado dali, Hades está caído no chão, resmungando, e vários homens
vestidos de preto tentam se aproximar de mim, mas eu me debato tanto que
o trabalho se torna mais árduo:

— Hades! Hades! Hades! Alguém me solta! Hades! Hades! — não


consigo pronunciar mais nada além disso e quando alguém coloca duas
mãos em meus ombros, me forçando a ficar parada, sinto as cordas que me
prendem finalmente sendo cortadas.
Me coloco de pé e, incapaz de me segurar, corro em sua direção,
apesar de estarmos a poucos metros de distância. Com ele já de pé, apoiado
em um de seus amigos, envolvo a sua cintura com as minhas mãos e me
sinto praticamente desmoronar de tanta preocupação.

— Shiii, vai ficar tudo bem. — ele me consola, mas percebo que
estrangula um grito de dor, e eu o solto rapidamente, sabendo que fui eu
quem provoquei isso.

— Um médico! Uma ambulância! Alguém chame uma ambulância!


— grito desesperada e olho para o homem que o apoia com o cenho
franzido — Faça pressão nesse machucado! Nos filmes, sempre nos
mandam fazer isso!

— Lisa, se acalme. — Alex Zur ordena em um tom calmo, que


destoa totalmente do meu nesse momento, mas eu apenas reviro os olhos,
antes de, com as minhas próprias mãos, tentar tampar o burado da frente —
Já avaliei, não perfurou o pulmão, ele vai ficar bem.
Além de empresário, esse cara é médico, agora? Penso, mas não
falo nada, concentrada no homem ferido. Meu homem ferido, uma voz, no
fundo da minha mente, corrige.

— Calma, anjo. Você está bem e isso é tudo o que importa. — assim
que termina de falar, a equipe de socorro chega, o acomodando em uma
maca.

Caminho ao seu lado, tentando entender o que eles falam em seus


termos técnicos, mas não consigo prestar atenção. A preocupação corrói
todo o meu bom senso. Não foi nada inteligente da parte dele resolver vir
até aqui e confrontar aquele lixo humano daquela forma. Sei que foram
anos e anos de mágoas, mas… ele levou a porcaria de um tiro! E precisa
ficar bem. Tem de ficar!

Hades é forte, vai sair dessa.

Ele precisa!

Caminho desnorteada, até entrar na ambulância, e assim que o carro


começa a andar, os enfermeiros prestam os primeiros socorros.
— Pressão estável, a bala perfurou o corpo, mas nenhum órgão
comprometido. Paciente lúcido. — uma senhora um pouco mais velha,
provavelmente, a líder dessa equipe diz e sinto um alívio tão grande, que
me permito olhar novamente para ele sem medo de vê-lo morto.

— Vai ficar tudo bem, querida, você está machucada? — ela


pergunta e eu nego com a cabeça. Na realidade, o susto foi tão grande que
eu não sei dizer se estou ou não machucada, mas definitivamente, estou
menos do que ele, que é a prioridade no momento.

— Ele vai ficar bem? — pergunto baixinho, torcendo as mãos no


colo.
— Seu namorado vai se recuperar, eu garanto. — ela responde, e
sinto Hades colocar a mão em minha perna, antes de falar em seu tom de
voz imponente de sempre:

— Se eu soubesse que bastaria tomar um tiro para que você voltasse


pra mim, teria arranjado isso tempos atrás.

— Não fala besteira. — respondo sem graça, e a enfermeira me dá


um sorriso cúmplice, antes de fingir olhar uma medicação do outro lado —
Espero que você nunca mais passe por nada do tipo de novo.

— Nem eu, anjo… porque dói pra caralho. Você me perdoa?


— Não há o que perdoar, Hades. Eu amo você, mais do que tudo…
você tomou a porcaria de um tiro por mim. Você me salvou.
Algum tempo depois…

Saber que vou me encontrar com Lisa, sem mais nenhum tipo de
tormenta ou desavença entre nós, é um bálsamo para a minha vida.

Agora, finalmente tudo acabou. Aceitar isso é ainda um pouco


surreal, mas tenho feito o possível para aproveitar, finalmente, o lado bom
da vida. A mulher sedutora e sensual, está sentada em uma das mesas do
Helvede, nosso novo cassino em uma cidade litorânea de Vongher. A
parceria com os hotéis de Anthony, no fim, deu muito certo, e agora,
estamos expandindo para todo o país. Lisa tem me acompanhado em
algumas viagens, quando não tem shows externos marcados e nos dias que
quer, tem passe livre para fazer a sua mágica nos palcos da Gehenna ou
qualquer outra boate do Hell Group. A vida tem sido boa, mas o melhor de
tudo é tê-la ao meu lado, agora que as coisas estão mais tranquilas, tenho
seguido sua agenda e a acompanhado em quase todos os momentos. A
mídia parece em polvorosa com as minhas aparições, geralmente segurando
a sua coroa, ou alguns passos atrás, não querendo chamar mais atenção do
que ela. A estrela e quem tem um motivo para realmente brilhar, não sou eu,
e sim ela.

Em um vestido branco tão bonito que chega a ser pecaminoso,


jogando despretensiosamente, em uma mesa para iniciantes, está a razão da
minha sensação de completude. Lisa geralmente não tem o costume de
apostar, mas quando o faz usa da inteligência, sem arriscar grandes
quantias. No fim, ser mulher do dono também ajuda. Pelo menos, é o que
ela diz.

Suas unhas pintadas de preto jogam os dados mais uma vez, e assim
que nota minha aproximação, abre um meio sorriso que tem conexão direta
com o meu pau. Safada. Me posiciono atrás dela e falo em seu ouvido,
sentindo o cheiro cítrico e apimentado do seu perfume.

— Que tal largamos isso e irmos para a suíte? — hoje, sou um


homem em uma missão e tê-la o mais rápido possível sem roupa nos meus
braços é a maior delas.

— Uma ótima ideia! — ela responde, dando um pulinho da


banqueta na qual estava sentada e ficando de pé, antes de abrir um sorriso
para o funcionário que cuida das apostas, e aceitar a mão que lhe ofereço.

Puxo-a para mais perto, colando seu corpo ao meu, enquanto


seguimos para o quarto, tão logo entramos no elevador, incapaz de me
segurar, beijo seu ombro, mirando seus olhos através do espelho. Linda,
forte, decidida, apaixonante.
Minha.

— Eu amo você. — ela diz baixo, e eu abro um sorriso mínimo,


antes de responder:

— Eu te amo mais.

Assim que entramos no corredor da suíte master, pego a chave que a


recepcionista me entregou e espero que esteja tudo como combinado. A
caixinha em meu bolso parece pesar uma tonelada, mas não me acovardo, já
passamos por muita coisa, para resolver dar para trás agora. Eu e Lisa já
estávamos juntos em minha cabeça e em meu coração, antes mesmo de nos
beijarmos pela primeira vez. Nunca teve outra e nunca terá, sem sombra de
dúvidas. Mas, quero oficializar, e espero muito que ela diga sim.

Abro a porta, prendendo a respiração, e no chão, coberto de rosas


vermelhas, está escrito um "casa comigo", do jeito mais tosco possível. No
fim, esse tipo de coisa é bem a nossa cara, não há como negar.

Me ajoelho aos seus pés antes mesmo que ela abra a boca para falar
alguma coisa e quando seus olhos buscam os meus, já cheios de lágrimas,
começo a falar:

— Eu não sabia o que estava perdendo, preso em uma espiral de


angústia, vingança, rancor e medo. Foram anos remoendo um sentimento
que me fez mal, mas que não me arrependo de ter sentido. Senti
intensamente cada um desses sentimentos, mas o maior deles, com certeza,
foi o amor. Amor por você, pelo seu sorriso, pela sua força e pelo seu
companheirismo. Amor por você me apoiar mesmo nos momentos mais
duvidosos e nunca me deixar esquecer de quem eu realmente sou. Amor
pela família que construímos e por tudo o que tenho certeza que ainda
vamos construir. — Lisa coloca a mão tampando a boca, um pouco chocada
com tudo o que estou falando, mas agora que comecei, não consigo parar —
Você me tirou da escuridão e me mostrou que a vida pode ser muito melhor
e mais feliz quando compartilhada. Quero compartilhar todos os próximos
segundos com você ao meu lado.

— Hades… — ela fala baixinho, chorando.

— Aqui está o Daniel. Aquele que só você conhece, inteiramente


vulnerável e pronto para te oferecer o mundo inteiro. Você aceita se casar
comigo?

— É claro que eu aceito. — ela diz, abrindo um sorriso tímido.


Beijo sua mão, antes de deslizar o anel com a pedra vermelha em
seu dedo, e quando me coloco novamente de pé, ela pula em meu colo, me
beijando com vontade. Seguro-a pela bunda e começo a caminhar em
direção a cama, ainda beijando seus lábios com fome e necessidade.

Um homem em uma missão. Fazê-la a mulher mais feliz do mundo.


Assim que chegamos no quarto, jogo-a na cama e tiro a minha
blusa, antes de engatinhar em sua direção.

— Você é a mulher mais linda que eu conheço. — digo, beijando


seu ombro e ela abre um sorriso um pouco tímido.

— Não vale, quando você diz isso todos os dias…

— A mais pura verdade. — respondo e ela abre um sorriso amplo,


ante de me roubar um beijo casto — Sou um homem melhor ao seu lado,
Lisa. E agora, eu vou ser seu pra sempre.
Começo a subir a barra do seu vestido justo com uma lentidão que a
deixa impaciente e quando roço os dedos em sua calcinha, percebo que ela
já está úmida para mim. Deliciosa. Distribuo beijos pelo seu ombro e colo e
subo os lábios pelo seu pescoço. Quando Lisa fecha os olhos e engole em
seco, sei que estou fazendo um bom trabalho. Uno nossas bocas em um
beijo intenso e cheio de significados, amor e tesão.

Passamos a atacar um ao outro, como se tivéssemos perdido


totalmente o controle. Roço meu membro, ainda sob a calça, em sua entrada
e Lisa corresponde mordendo meu lábio com uma força brutal.
— Porra, você é tão gostosa. — falo contra a sua pele, descendo os
beijos pelo pescoço cheiroso, até chegar em seus seios, ainda por cima do
sutiã. Seus mamilos endurecem, prontos para mim e mordo um deles por
cima do sutiã de renda fina, antes de sair de cima dela, apenas pelo tempo
suficiente de me livrar de todas as peças de roupa.

— Daniel, eu preciso de você. — suspira baixo e eu abro um sorriso


de lado, voltando para a posição em que estava antes.

Com uma lentidão exagerada, que sei que faz com que ela se
contorça de expectativa, abro o fecho do seu sutiã e o jogo de lado, com os
olhos fixos nos seios mais lindos que eu já vi. Os mamilos rosados parecem
me cumprimentar e lambo um com prazer, antes de dizer:

— Eu amo os seus seios. — mordo o mamilo direito com uma


demora agonizante. Lisa puxa meu cabelo quando parece perder o fôlego, e
as coxas roçam uma na outra, indicando o seu tesão. Me esfrego ainda mais
contra a sua entrada e a escuto soltar um gemido baixo. Ansiosa. Sedenta.
Minha.

Tento beijá-la novamente, mas Lisa está reduzida a tesão e gemidos,


por isso, passo a beijar seu pescoço com vontade. Seguro seu rosto entre as
minhas mãos e olhando em seus olhos, tento passar o quanto ela é
importante pra mim. O quanto eu a amo, a desejo e a quero em minha vida.
Tomo tudo o que ela tem a me oferecer, sem nenhuma ressalva. Estamos na
mesma frequência, nos rendendo, nos entregando, nos comprometendo.

Lisa puxa meus cabelos com ímpeto, tentando juntar ao máximo


nossos corpos até fundi-los, tornando um só. Volto então a me dedicar a
sugar e castigar seus mamilos, enquanto ela me observa com um sorriso no
rosto, arranhando eventualmente as minhas costas. Desço a mão pela
barriga lisa, até coloca-la dentro da sua calcinha rendada e encontrar seu
ponto mais sensível. Ela geme baixo e revira os olhos, enquanto faço o meu
trabalho, e com um sorriso no rosto, sei o quanto ela está gostando dessa
dedicação. Chupo lentamente seu seio, quando penetro dois dedos em sua
entrada sedenta, antes de ir até o seu pescoço e sussurrar:
— A mulher mais gostosa do mundo. — ela dá uma risadinha, que
morre rápido quando começo a movimentar meus dedos com mais
velocidade e é substituída por um gemido sensual e delicioso.

Resolvo acabar com esse sofrimento, tirando a sua calcinha. Meu


pau, já todo babado e cheio de desejo, clamando por ela em todos os
sentidos. Por isso, quando me posiciono e meto tudo de uma só vez,
gememos juntos, sentido tudo sem nos preocuparmos com mais nada no
mundo, além de nós dois. Preenchê-la por completo, pele com pele e senti-
la se contrair e convulsionar, apenas com o primeiro impulso é delicioso,
mas eu preciso de mais.
Com uma mão cravada em sua bunda, inicio um vai e vem
constante, mas lento e cheio de significados. Volto a beijar seus lábios com
a mesma lentidão esmagadora e é como se os nossos corpos estivessem
perfeitamente conectados. Ela segura minha bunda, me puxando para mais
perto, enquanto giro meu quadril, criando uma fricção única e
enlouquecedora.
Sua respiração acompanha o ritmo dos movimentos, enquanto seus
olhos me dizem o quanto ela gosta de mim, o quanto está feliz por estarmos
juntos. Provavelmente, refletem o meu próprio sentimento exposto para ela
de todas as formas. Sinto quando Lisa começa a convulsionar, ainda
olhando em meus olhos e isso é o bastante para que eu também me liberte,
gemendo alto em seu ouvido. Abraçados, ainda ofegantes, beijo o topo da
sua cabeça, antes de murmurar a verdade mais absoluta de todas:

— Amo você, Anjo.


Distraidamente, eu o observo. Os cabelos escuros, normalmente
penteados, são uma bagunça e sua gravata está completamente torta,
possivelmente, por culpa minha, mas Hades ou Daniel, que é como o chamo
quando estamos sozinhos, não parece se importar nadinha. Aliás, se for
levar em consideração o sorrisinho sacana no rosto bonito, ao notar minha
inspeção, posso apostar que ele até tenha gostado do resultado do que
fizemos, ainda dentro do carro, no caminho para cá.

Não consigo segurar o sorriso quando, discretamente, ele tenta


limpar os lábios sujos com o meu batom vermelho e desiste pouco depois,
ao ouvir os risinhos debochados de seus amigos, agora nossos, em algum
lugar atrás de nós. Ainda não consigo acreditar em tudo o que vivemos até
chegarmos aqui, neste exato momento. O homem, vestindo uma roupa
apertada demais na barriga redonda e grande, coça a garganta e me faz
voltar ao presente.

— Então, Srta. Lisa Becker, — o homem prossegue com a


cerimônia, sem se importar com o fato de que mal consigo olhar em sua
direção. Ninguém pode me culpar por não desviar dos olhos escuros
cravados nos meus — aceita se casar com Hades?

Parados diante do altar exageradamente decorado de um dos


cassinos recém-inaugurados do homem parado diante de mim, segurando
minhas mãos entre as suas, ouvimos o exato momento em que uma risada
feminina e alta irrompe em algum ponto atrás de nós, e logo, um sussurro
bem típico de professora a silencia, mas não contém as risadinhas baixas
que se seguem ao episódio. Desvio os olhos apenas para olhar para o grupo
distinto que nos assiste e para a minha irmã, que tem os olhos brilhantes
enquanto assiste à cerimônia de casamento que escolhemos fazer para
oficializar a nossa relação.

Claro que seria assim! Afinal de contas, o que seria mais a nossa
cara do que um casamento bem animado em um antro de jogatina e
oficializado por um homem vestido à caráter, usando uma peruca ridícula
de Elvis Presley? Absolutamente, nada! Meu noivo, como sempre, veste seu
habitual terno escuro e ajustado ao corpo e, apesar de não estar tão
composto quanto costuma ser, não me importo nada com isso. Para essa
noite, escolhi um vestido curto, com alças inspiradas nas vestes gregas e,
claro, na cabeça, minha coroa alada.
Linda como o pecado. — Hades dissera, assim que me viu pronta
em nossa suíte, no hotel onde esse cassino funciona, com os olhos
inflamados percorrendo cada parte do meu corpo.
Um olhar que não se parece muito com o que ele me lança agora. Na
verdade, nesse momento, ele parece até um pouco preocupado. Ainda mais
se considerarmos a sobrancelha levemente erguida em uma interrogação
muda. Ah, eu ainda não respondi!

Como se a minha resposta fosse algo inesperado.

— Sim! — respondo, fazendo o grupo que nos assiste explodir em


gargalhadas — É claro que sim! Mal posso esperar para ser sua Perséfone,
meu deus do inferno.

Com um menear leve de cabeça, mas sorrindo abertamente, Daniel


ou Hades, como é conhecido pela maioria das pessoas, desliza o aro
dourado, relativamente grosso, em meu anelar, unindo-o ao anel de pedra
vermelha com que me pediu em casamento. Ele ergue minha mão e beija os
nós dos meus dedos e a aliança, antes de me puxar para um beijo intenso
que arranca mais sorrisos e alguns gritos de protesto e aplausos. Um bando
de malucos. Mas não consigo pensar em absolutamente nenhum motivo
para interromper o que estamos fazendo.

— Eu te amo, meu anjo. — declara, algum tempo depois, colando a


testa à minha e sorrindo — Minha esposa.

— Não tanto quanto eu amo você, marido. — volto a beijá-lo, me


perdendo novamente em tudo o que esse homem é e significa para mim.
Termino de tocar uma música aclamada do meu setlist, antes de
ceder meu lugar ao DJ contratado para a noite e estou a caminho da pista de
dança, quando sinto as mãos firmes me agarrarem e me puxarem para um
recuo no palco. Assim como naquela noite, tempos atrás, ali está o homem
lindo e com ar misterioso que faz meu coração saltar no peito. Exceto que
hoje, em seu anelar, uma aliança dourada mostra a todo mundo que ele tem
dona: Eu. E é por isso que jogo meus braços em seus ombros e, nas pontas
dos pés, busco por sua boca e sou recebida sem cerimônia nenhuma.

— Deixem a noite de núpcias para mais tarde! — Lyanna, a maluca


que estava no palco comigo, puxa meu braço, tentando me afastar do
homem que resmunga uma reclamação, mas está rindo — Ai, vocês homens
são muito reclamões!
— Não generalize, eu não fiz nada! — Atlas diz em um tom sério,
as mãos na cintura de uma Ludo sorridente, que me abraça mais uma vez ao
ser puxada pelo furacão Lyanna.

— É, todo mundo sabe disso, minha cunhada tá esperando até hoje.


— Apolo se aproxima, provocando o irmão descaradamente — Wandinha,
deixa os outros e vamos curtir um remember da nossa noite, que tal?
— Primeiro, curtir a noite! Depois, topo qualquer coisa com você!
— a mulher impossível gargalha.

— Ludo merece o casamento dos sonhos. — o noivo da minha


amiga, muito grávida ao meu lado, declara, deixando-a derretida — Nada
menos para a mulher da minha vida. Aprendam, seus babacas. Assim que
nossa garotinha nascer, voltaremos com todos os planejamentos e
agendaremos uma nova data.
— Divida sua sabedoria jedi com o Anthony. — Dylan, que surgiu
do absoluto nada, o que é algo difícil de se fazer, para um sujeito que parece
um viking ou um ator de cinema, diz rindo — O resto de nós, já passou por
isso.

— Vão se foder! — o conde em questão se junta ao grupo,


arrastando um garotinho despenteado pela mão — Além disso, ninguém
sabe o dia de amanhã. Atlas e Ludo estão demorando tanto com esse
casamento, que talvez eu me case antes.
— O que disse, amor? Não entendi direito… — Luana afaga o
cabelo do filho e sorri para o namorado, que segue inconformado com suas
respostas negativas a todos os seus pedidos de casamento. Assim que Zur,
com seu ar sempre grave se aproxima de nós com a ruiva, a escritora a puxa
para o nosso lado — Laurinha, vem logo! Deixe-os se virarem com os
meninos! Lind! Você também!

Logo estamos todas juntas, rindo e dançando, enquanto Anthony e


Alex correm atrás dos meninos, que parecem se divertir em ver o desespero
dos homens de terno que tentam mantê-los sob controle.
— Estão faltando crianças ali... — Laura comenta, ao notar a falta
de Sophie e Eros, que não estão em lugar algum à vista.

— Eu os vi conversando em uma mesa… — Lindsay vai girando o


indicador no ar, até encontrar os dois conversando animadamente e
tomando suco sob a observação de dois seguranças, discretamente
posicionados em um canto.

— Boa sorte para Eros, se quiser ficar sozinho com ela daqui a
alguns anos! Coitado! — Lyanna nos faz gargalhar mais uma vez — Antes
que eu me esqueça: Lind, você arrasou demais nesse vestido! Ficou
perfeito!

— Obrigada, meninas! — tímida, a minha estilista e responsável


pelas roupas mais lindas do mundo, responde — E então, Lisa, feliz?
— É! E aí? Conta para gente como é estar casada com esse CEO! —
Ludo se aproxima, e logo estamos em um círculo, conversando todas ao
mesmo tempo, sobre como nossos respectivos pares nos surpreenderam e
surpreendem o tempo todo.

Um fotógrafo contratado para o evento se aproxima — já que não


autorizamos a presença de nenhum paparazzi, mantendo nossa lista de
convidados reduzida a apenas alguns poucos amigos — e logo, nosso
grupinho de conversas virtuais e presenciais, se vira, para registrarmos o
momento. Logo, minha irmã se aproxima e estamos todas posando felizes
para os inúmeros cliques que a câmera dispara.
— Maravilhoso! Melhor do que jamais sonhei um dia! — respondo
finalmente.

Depois do furacão, com o qual o advogado ao meu lado se casou,


me roubar minha esposa, que agora sorri enquanto conversa com as amigas,
ouço a implicância gratuita entre os dois irmãos, que até bem pouco tempo
atrás eram inimigos mortais. Talvez, o Deus do Inferno não seja tão ruim
assim, se eu tiver ajudado a reuni-los de alguma forma.

— Não se dê tanto crédito. — a voz profunda de Atlas me tira dos


meus devaneios, enquanto observo Lisa dançar com a morena espevitada —
Minha avó te mataria, se soubesse que está tentando roubar o mérito dela.
— Cara, a que ponto chegamos? — Apolo comenta, apontando para
Alex, que se aproxima de nós, afrouxando o nó da gravata, entregando o
filho aos cuidados da equipe de recreação — Correndo atrás de crianças e
falando sobre avós durante uma festa.

— Eu não reclamo. — Zur responde — Sou o cara mais feliz do


mundo. Espere só até você ter seus furacõezinhos.
— Tornados! — o advogado o corrige — É assim que vamos
chamá-los.

— Por falar nisso, é bom deixar o seu Tornado esperto. — Dylan diz
à Atlas, antes de beber um gole de sua bebida e apontar para a mesa onde
Eros e Sophie conversam animadamente — Aquela ali é a minha princesa.
— E ele é um príncipe, vejam só! — provoco, apenas para colocar
mais lenha na fogueira e todos riem, como os idiotas que são — Mas aquele
ali, — aponto para Piter, filho de Anthony, que perante as leis reais ainda é
tão bastardo quanto eu — poderia ser um conde. Um dia.

— Ah, porra. — Anthony resmunga, virando todo o conteúdo do


copo de uma vez na garganta — Luana não precisava ser tão cruel, sabe?
Eu nem sou de todo ruim. Até o Hades, conseguiu se casar!

— Eu nunca fui um cafajeste. — defendo minha honra — Já fiz


muitas coisas moralmente duvidosas, mas não isso.
— Ah, maravilha! — o conde, e dono do hotel onde dormiremos
essa noite, para o garçom e pega um copo cheio — Em algum momento, ela
vai me dizer sim. Vocês verão.

— Quem acredita, sempre alcança! — Apolo, o irmão e Dylan


brindam com o homem, que agora parece menos abatido. Pobre Anthony.

— Feliz? — Alex, que eu não havia notado estar tão perto de mim,
questiona.

— Muito. — sou sincero — Plenamente. Zur, eu…


— Finalmente! Aproveite a vida, meu amigo. — sorri e encara a
mulher ruiva que joga a cabeça para trás e sorri, posando para o fotógrafo
— Faz tudo valer a pena, não é?

— É, faz sim.

Parado ali, observo ao meu redor. Frederico está se agarrando com


Isabel em uma das laterais da pista de dança, desobedecendo claramente
uma ordem direta minha, mas decido deixar passar. E, ali, parado no salão
de festas, reflito sobre a minha trajetória: eu, que sempre estive sozinho,
esquematizando e planejando a minha vida inteira e a minha vingança
contra o homem que arruinara a vida da minha mãe, me vejo parte desse
grupo estranho e complementar a seu modo, e que, no fim das contas, são
os melhores amigos que eu poderia ter.

— Cara, você parece prestes a chorar. — Apolo, o mais irritante


deles, aponta para mim — É agora que vai nos contar que a loirinha gostosa
está esperando um filho seu?

— Você já sofreu as consequências de um comentário desses, não


provoca. — o irmão mais velho alerta, mas eu apenas sorrio, relembrando
aquele soco despropositado na boate. Lisa sempre foi minha.
— Apolo é um nome incrível e eu aceito mais homenagens. — o
idiota faz uma reverência esquisita — O filho do azedo e da ruivinha tem o
meu nome, certo? É o preço de ter uma personalidade marcante.

— Um babaca de primeira, se Laura não tivesse insistido tanto, não


teríamos feito isso. Agora fica ai se achando... — Alex sorri com uma
negativa e todos nós concordamos.

Dylan está prestes a fazer um comentário sobre as idiotices que


saem da boca do advogado implicante, mas é interrompido quando nossas
mulheres — um grupo e tanto de mulheres lindas, incríveis e por quem
faríamos qualquer coisa — se abraçam e sorrindo, exclamam para a câmera
em uníssono.

— “Eu amo um CEO!” — antes de caírem na gargalhada.

Ainda estou rindo junto aos meus companheiros, que também foram
pegos de surpresa, quando meu olhar encontra com o azul intenso e se
perde ali. Desde que ela seja minha, posso ser o que ela quiser. Desde um
CEO até o senhor do inferno.
Alguns anos depois…

Pego a minha pasta de couro e deixo o meu escritório, encerrando


mais um expediente. O dia foi exaustivo e tivemos vários abacaxis para
resolver, mas assim que tranco a porta do lugar e ligo o alarme, me sinto
mais leve. Pelo menos, até que a ansiedade comece a me corroer por dentro,
assim que entro no carro.

— Você parece prestes a ter um troço. — Frederico brinca atrás do


volante — Está chegando o dia, não é?

— A qualquer momento, agora. — tiro meu telefone do bolso e


respiro aliviado ao ver que não há nenhuma ligação ou mensagem nova da
minha esposa, mas a última mensagem enviada ainda foi um vídeo dela
ensinando a Hércules alguma coisa sobre escala musical.

— Ainda é estranho te ver com essas roupas claras, sabia? — brinca


e rimos juntos.
Ah, as voltas que a vida dá.

Após o nosso casamento, seguimos juntos pelas noites, aproveitando


todo e qualquer momento para estarmos juntos. Claro que não demorou
para que Lisa engravidasse e desacelerássemos a nossa rotina insanamente
agitada. Assim que Perseu nasceu, o plano era que a DJ Alada voltasse aos
palcos, mas minha loirinha não conseguia desapegar do pequeno — que
herdou seus fios claros — e em uma decisão difícil, Lisa decidiu se afastar
dos palcos por um tempo.

Logo, a noite também perdeu seu atrativo para mim. Tudo o que eu
desejava era estar em casa com a minha esposa e meus filhos — é, no fim
das contas, acabamos adotando uma garotinha fofa, quando nosso
primogênito tinha apenas três meses. E então, nossa família foi crescendo
exponencialmente ao passar dos anos e, passado o amargor e a gana de
vingança, acabei decidindo a me dedicar ao que eu realmente gostava de
fazer. Foi assim que surgiu a Elysium construtora.

Hoje, trabalhando apenas de dia, enquanto Lisa dedica seu tempo


aos nossos filhos e às aulas de música que passou a lecionar, preciso lidar
com a ansiedade em todos os finais de tarde, apenas porque sei que irei
reencontrá-los.

Um homem de família. Exatamente como minha mãe queria que eu


fosse. No fim das contas, seu sacrifício não foi em vão, apesar de eu não ter
seguido pelo caminho mais fácil ou mais justo.
— Chegamos, Hades. — Frederico anuncia, assim que cruzamos o
portão grande da entrada de nossa casa ampla nos subúrbios de Vongher.
Apenas há alguns quarteirões da casa de Zur e de Apolo — E pelos graves
lá dentro, pode se preparar.

— Obrigado. — respondo e então, me lembro — Mande um abraço


à Isabel e diga a ela que traga Emma novamente. Lorelei quer muito fazer
uma festa do pijama no fim de semana e você sabe como elas são amigas.
No fim das contas, Frederico e Isabel acabaram se casando e moram
perto daqui, ele segue trabalhando comigo, como sempre foi. Apenas não
mais envolvidos com toda aquela agitação e tudo o que envolvia nossas
noites nos mais variados infernos.

Música me envolve tão logo abro a porta e imediatamente sou


recebido pelos gritos e abraços dos meus seis pequenos, que se aglomeram
ao meu redor. Deixo minha pasta no sofá e um a um, cumprimento-os,
sentindo falta de certa garotinha, que possivelmente está agarrada à mãe e à
origem do som eletrônico que toma conta do ambiente. E não me
decepciono ao vê-las tomando conta da pick up de dj que mandamos
colocar na sala de música, balançando os corpos em sintonia com a batida.
Lorelei, com seus cabelos escuros como os meus e os olhos azuis da
mãe, sorri para mim, ainda usando os fones de ouvido rosa-choque,
enquanto me aproximo da mulher loira e linda, que hoje usa um vestido
curto, apesar da barriga proeminente indicando a gestação avançada.

— Meus amores. — cumprimento-as e acaricio o topo da cabeça da


nossa filha, antes de trazer o corpo de Lisa para o meu — Meu anjo.

Apesar de todos os percalços, de toda uma trajetória baseada em


ódio, revolta e vingança, no fim das contas, eu consegui encontrar um
tesouro. Mais que isso, um legado. Uma família.

FIM
Agradeço imensamente a você que deu uma chance para Lisa e
Hades e chegou até aqui. Foi uma história desafiadora e o fim de uma série
de livros que mudou a minha vida e a minha carreira, então, muito
obrigada! Se você amou este livro tanto quanto eu, não deixe de avaliar, por
favor.

Para as minhas leitoras goxtosas deixo aqui todo o meu amor. Como
sempre digo: sem vocês eu não sou nada! Cada vez mais grata pela
cumplicidade, apoio e amizade! Amo nosso grupo, nossas conversas e
nossa família. As interações, indicações e leituras são fundamentais para
mim. Amo vocês com todo o meu coração!
Para a minha outra metade literária, Priscilla Averati. Você é para o
resto da vida. Sem seu apoio não seria a mesma coisa, sem a nossa amizade
e cumplicidade não teríamos o que temos hoje. Esse livro, mais do que
todos os outros saiu porque você não me deixou desistir e me apoiou até o
último minuto. Agradeço de coração por tudo sempre. Te amo muitooooo.
#Prisa

Minhas meninas super venenosas, minhas namoradas, vocês são o


melhor presente de todos. Obrigada pelo apoio surreal que vocês me dão
todos os dias, eu sou muito grata. Eu amo vocês, do fundo do coração.

Para a minha amiga e beta querida, Juju, obrigada por sempre surtar
e amar minhas histórias. Esse foi o encerramento do ciclo de CEOs, e sei
que Hades roubou seu coração.

Vanessa, minha assessora e dona da minha vida. Sem você eu


realmente não sou nadinha. Digo e repito o tempo inteiro. Eu sou grata
demais por tudo o que você tem feito por mim, me ajuda em tudo o que eu
preciso e se preocupa comigo como ninguém mais. Desculpa surtar e te
deixar com prazos malucos, mas é o nosso jeitinho, você já está
acostumada. Grata demais pela sua amizade além de todo apoio com a
assessoria. Te amo.

Por fim, mas não menos importante, para a minha família por todo o
apoio. À Deus por me capacitar e aos meus amigos por aguentarem as
minhas “sumidas” em períodos pré-lançamento. Amo vocês.
QUERO MUITO TE CONHECER MELHOR!
Parece inalcançável a relação autor/leitor, e por isso estou sempre aberta,
tanto nas minhas redes sociais quanto no meu grupo de leitoras para
conversarmos.

Se você gostou do meu trabalho, vem conversar comigo!

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Isabella Silveira é natural de São Paulo, porém cresceu na capital
de Minas Gerais. Publicitária e comunicóloga, desde cedo percebeu que a se
comunicar era algo muito além da fala.
Na literatura descobriu inúmeros novos mundos, e ainda criança
sentia a maior felicidade em ter um livro nas mãos. Ainda nova arriscou
alguns rascunhos que nunca saíram do papel, porém após ler estórias que
não correspondiam às suas expectativas e conversavam com a mulher
decidida que ela sempre quis ser, resolveu colocar as suas ideias no papel, e
posteriormente mostrá-las ao mundo.

Amante da literatura nacional se aventurou na escrita por não se


conformar com o óbvio e ainda hoje tem o objetivo de surpreender seus
leitores com enredos diferentes do usual.
Escritora de mulheres fortes, independentes e donas do seu próprio
destino.
Ainda não conhece as minhas outras obras?

Te convido a ler e depois vir comentar comigo!

Achei você em Paris

Lara é uma aeromoça que sempre sonhou em conhecer a cidade Luz.


Feliz, destemida, dedicada, cheia de garra e com o coração enorme ela
passa por cima de todos os obstáculos para conseguir o seu objetivo, visitar
Paris.

Mesmo com as adversidades, e enfrentando preconceitos pela cor de sua


pele, ela não se abala e passa por cima de todos os percalços para ver a
sonhada Torre Eiffel. Mas, quem diria, que quando ela realmente chegasse
em seu objetivo, o seu coração bateria mais rápido por outro motivo?

Victor ainda está tentando encontrar o seu lugar no mundo. Adotado por
uma família muito bem sucedida, sempre se viu como a ovelha negra.
Arquiteto cheio de talento, o nerd atrapalhado resolve se mudar para o outro
lado do mundo em busca de algo mais. Quem diria que ele encontraria o seu
"mais" atropelando a bela donzela, com a sua mala, correndo para o
embarque em um avião?

Entre Posts e Amores

Laís é uma menina sonhadora.

Quando viu a oportunidade de sair do interior de Minas e conseguir uma


vida melhor para si e para a sua família a agarrou com unhas e dentes. Hoje,
formada em Relações Públicas pela USP se vê mais quebrada do que nunca.
Ela precisa de dinheiro!
Na ânsia de mostrar para todos de sua cidade do interior que conseguiu
“vencer na vida”, ela resolveu anos atrás mostrar todas as suas experiências
da cidade grande pelas redes sociais, e foi assim que sua carreira um
pouquinho mentirosa de blogueira começou.

Apesar disso, sem ainda conseguir ganhar dinheiro efetivamente com a


blogueiragem ela parte com tudo para o seu maior sonho: ser cerimonialista
no mercado de casamentos. Situações extremas pedem medidas
desesperadas, e por isso ela faz de tudo para conseguir o seu emprego dos
sonhos, tentando manter a qualquer custo a pose de boa vida nas redes
sociais.
Ela só não esperava conhecer o homem mais incrível do mundo durante
esse processo, e nem que ele fosse sobrinho da sua futura chefe.

Diego é o verdadeiro príncipe dos contos de fadas! Lindo e muito


simpático, sua meta de vida e ajudar as pessoas, sejam elas próximas ou
não. Depois de 2 anos em uma missão na Indonésia ele volta por um
ultimato: ele precisa entrar para os negócios da família. Mas um esbarrão
em uma linda caipirinha faz com que esse trabalho prometa ficar muito
mais leve e divertido.

Entre trapalhadas, casamentos, amores e mentiras, Laís tenta equilibrar tudo


sem se perder no processo. Mas até quando ela conseguirá sustentar toda a
pose sem acabar se quebrando?

Laís é casamenteira por profissão e blogueira por vocação. Conheçam essa


história e se encantem.

Entre Luzes e Romances

Depois de muitas aventuras, Laís conseguiu enfim o seu "feliz para sempre"
com o seu príncipe ativista Diego.

O que ela não sabe é que depois do tão sonhado SIM, é que as coisas
começariam a ficar interessantes.
Época de natal sempre nos reservam grandes surpresas, e para uma
blogueira gravidíssima isso não poderia ser diferente. Mais apaixonada pelo
seu enfim marido do que nunca, Laís está vivendo seu conto de fadas. Entre
casamentos, vídeos e uma família muito bagunceira passando o natal pela
primeira vez na capital, ela precisará equilibrar tudo e fazer com que seu
bem mais precioso não sofra no processo. Luíza, sua filha
E se eu me apaixonar por você?

Liz é uma médica, cirurgiã obstetra, renomada, dona do seu próprio nariz e
do seu próprio destino. Extremamente independente, ela tem como objetivo
ser feliz e por isso não aceita migalhas de homem nenhum.

Carlos é um tímido professor de música, que sonha em encontrar alguém


que faça o seu coração suspirar, e ser digna o suficiente para recitar as mais
belas canções de sua banda preferida. The Beatles.
Um incêndio cruza o caminho dos dois, e une esse casal improvável. Mas
será que isso é o suficiente para mantê-los unidos?

Venha se aventurar, rir e se apaixonar por Liz e Carlos, ao som da banda


mais famosa de todos os tempos. The Beatles.

Antologia LUNY – Lucy


Seja muito bem-vindo à LUNY!

Conhecida não apenas pelos belos jardins ao redor do campus, mas


principalmente por ser considerada uma das universidades mais renomadas
do mundo, a centenária Liber University of New York é um sonho realizado
para muitos.
Há quem diga que a faculdade é a melhor fase da vida.

Verdade ou não, na LUNY, entre salas de aula, dormitórios, festas, jogos do


Zion — o lendário time de futebol americano —, fraternidades e encontros
no Titans — o bar mais badalado da região —, o amor acontece.

É tempo de descobertas;
De (re)começar;

Errar e aprender;

Se aceitar;

Fazer amigos;
Sair sem hora para voltar;

Roubar um beijo;

Ser beijada ou beijado;

É tempo de se apaixonar.
E você vai ter a oportunidade de desfrutar desses encontros especiais, que
irão te arrancar suspiros, do início ao fim.

Uma Universidade, onze amores.

Que tal passar um tempinho acompanhado dessa coletânea de contos


românticos que se passam na LUNY?

Top Model: A modelo do CEO

Luiza Franco precisa desesperadamente de dinheiro para cuidar da casa e


pagar o tratamento de câncer de seu pai. Por isso, tem passado por inúmeras
entrevistas frustradas, até que, por uma obra do destino, é atropelada por
uma montanha de músculos a caminho do seu emprego dos sonhos.

Pedro Alcoforado tem um único objetivo: trabalhar duro e fazer valer a


pena a vaga de CEO que sua prima lhe ofereceu. Pelo menos até esbarrar
em uma morena linda e desastrada de olhos azuis.
Em um encontro duplamente inesperado, Luiza se vê obrigada a ser
secretária na tão exclusiva Brumpel, e ter como chefe o homem
tempestuoso que mexe com o seu coração.

Mas, uma oportunidade surge e ela começa a trabalhar como modelo,


trazendo consigo o pior lado de Pedro.
Quanto mais ela cresce na carreira, mais possessivo ele se torna.

Será que o amor sobreviverá a tantos percalços?

Cedendo à Tentação
Quatorze anos a separam da menina que teve o seu coração partido para a
mulher que adora pisar no coração dos outros.

Marcos Bessa voltou para o Brasil em busca de redenção.


Há anos ele deixou para trás uma menina confusa e apaixonada em uma
cidadezinha do interior, sabendo que isso seria o melhor para os dois e foi
se aventurar no exterior. Com a sua volta para o Brasil, encontra uma
proposta irrecusável de trabalho na empresa que Clara Machado fundou.

O que ele não esperava era que a menina de olhos claros e sorriso fácil,
depois de tantos anos se tornaria a mulher linda, sensual, ardilosa, com um
humor ácido e nenhuma paciência para as suas cantadas baratas.
O pior? Ele se vê intimado pela mulher que o leva a loucura: em três meses
o adendo em seu contrato acaba e ela poderá demiti-lo como planeja fazer
desde o seu retorno.

Marcos tem um prazo para reconquistar a mulher por quem sempre foi
apaixonado e que ainda guarda mágoa pelo passado, embora não seja
totalmente indiferente às suas investidas.

Será que ela conseguirá resistir?

Um Amor para o Pai Viúvo


Arthur perdeu a sua esposa no parto de Alice, e hoje, depois de dois meses
se vê completamente perdido e sem saber o que fazer. Cuidar de uma
criança recém-nascida é difícil, mas sem ajuda, se torna uma missão quase
impossível.

Letícia está sobrevivendo em sua vida monótona de enfermeira, cuidando


de todos e esquecendo de cuidar de si, tentando superar a perda de sua filha.

Um encontro no corredor de fraldas acontece tarde da noite e os antigos


colegas de escola se reencontram. Arthur desalentado e sem saber o que
comprar. Letícia se compadece, resolve ajudar e se apaixona pela bebê de
cabelos loiros, e, porque não dizer, pelo projeto de lenhador completamente
tatuado, segurando a criança com tanta proteção.

Uma amizade, uma família fora do padrão e um bebê que une um casal
improvável.

Será que eles estão destinados a ficarem juntos?

Amor nas Alturas

Guilherme Alcântara é um piloto sério e tímido que sempre viveu


respeitando as regras. Filho de uma família tradicional gaúcha, que trabalha
no ramo do empreendedorismo, ele lutou bravamente para conquistar a sua
independência e seguir a profissão que sempre sonhou.
Quando, por uma coincidência do destino, ele se esbarra em Loara Castro,
uma morena linda de olhos enlouquecedores no aeroporto, Guilherme
percebe que a vida pode ser muito mais do que ele sempre imaginou.

Um encontro ao acaso, momentos quentes em uma cabine de banheiro, uma


despedida despretensiosa.

O que ele não esperava era que o destino os colocaria frente a frente de
novo, e agora, sob novas regras, que nenhum dos dois está disposto a
cumprir.

Segunda Chance: Um bebê para o Médico

O jovem médico e pai solo, Murilo Mazzini, após ter um filho com sua
melhor amiga ainda adolescente, se dedicou aos estudos e à carreira,
deixando a vida amorosa em segundo plano. Pelo menos, até se encantar
por Lou.

Louise Vieira é uma mulher batalhadora que desistiu de confiar nos homens
quando acabou sendo abandonada grávida pelo ex. Até que encontra em
Murilo um bom amigo e alguém com quem pode contar.

O charmoso milionário se vê apaixonado pela mulher frágil e, disposto a


conquistá-la e evitar a todo custo a friendzone, precisa lidar com a
resistência da moça e suas inseguranças. Murilo está mais do que
determinado a tê-la para si.

Será que Lou vai ser capaz de resistir ao seu charme de bom moço?

Sem Retorno
Matteo Rizzi não sabia bem em que estava se envolvendo quando se rendeu
ao dinheiro fácil oferecido por um parente. Fato é, ele poderia ter saído do
negócio escuro e perigoso enquanto podia, mas o poder e o dinheiro falaram
mais alto. O que o atraente criminoso não esperava, era envolver seu amor
da adolescência na confusão que se tornou sua vida.

Luna Castro sempre foi uma mulher certinha e cercada de cuidados.


Empresária bem sucedida, ela não contava que se envolveria nas confusões
do homem por quem sempre foi apaixonada e para quem se guardou a vida
toda.
Em uma situação extraordinária, eles se veem juntos e obrigados a fugir dos
perigos que perseguem Matteo e que agora, envolvem a doce e inocente
Luna. Em uma jornada perigosa e repleta de ação, o improvável casal tem
que se unir para escapar dos mafiosos que os ameaçam.

Entre tantas emoções e enrascadas, ambos precisam lidar com os


sentimentos que se tornam cada vez mais fortes nesse amor em fuga.

Escolhida para o Príncipe

William Charles Scott Carter, príncipe herdeiro do trono de Lanuver, está


em busca de uma esposa. Impopular, visto como arrogante e hostil, ele
acredita que não merece ser feliz. Para cumprir sua obrigação, aceita um
casamento por conveniência e ascender ao trono. Ele só não contava em ter
que procurar a "escolhida" em terras rivais, aonde o passado voltará para
lhe atormentar, e segredos antigos estarão prestes a serem revelados.

Leah Elizabeth Lancaster Reimond sempre quis uma vida simples. Apesar
de ser princesa de Vongher, ela nunca almejou a coroa, o poder, nem os
deveres que vinham atrelados a ela. O que ela não esperava, era que seu
maior inimigo voltasse para assombrá-la e mudasse a sua vida inteira de
uma hora para outra.

Um casamento arranjado.

Duas pessoas que se odeiam.

Um embate.

Em meio ao caos, o amor surgirá?

O pai é o CEO

Anthony Watson só pensa em uma coisa: trabalho.


Tempo é dinheiro, dinheiro é poder e poder é tudo o que uma pessoa pode
querer. Um dos homens mais ricos de Lanuver, dono de uma rede de hotéis
de luxo e também de um Condado, ele não se envolve com ninguém, tendo
a sua vida milimetricamente calculada.

Pelo menos era assim até conhecer a loirinha viajante que conseguiu para
abalar as suas estruturas.

Luana Albuquerque é uma escritora romântica e certinha.

Após o sucesso do seu último lançamento, ela embarca em uma viagem


sozinha para o país que inspirou suas histórias: Lanuver. Mas, ela não
esperava cruzar o caminho de um homem sério e incrivelmente bonito, que
parece ter como objetivo de vida estar em todos os lugares que ela vai
apenas para roubar o seu juízo.

Um envolvimento, momentos quentes e avassaladores, uma despedida cheia


de mal-entendidos.
Alguns meses depois ele ainda não conseguiu tirá-la de seu sistema, e ela
teve como herança da viagem o seu bem mais precioso: seu filho. Será que
apesar de todas as dificuldades eles conseguirão ficar juntos?

De uma coisa Luana tem certeza: O pai é o CEO.

A obsessão do CEO grego – Um contrato com a virgem

Milionário, ardiloso, cafajeste e poderoso como nunca, Alex Zur está de


volta para reconquistar tudo o que perdeu anos atrás. Acostumado a ter o
mundo a seus pés, sua obsessão por vingança só perde para o desejo insano
de ter de volta a única mulher que amou, Laura Morais.

Laura é uma jovem boa e generosa que ainda precisa lidar com a depressão
ocasionada por traumas do passado. E em uma reviravolta do destino se vê
obrigada a aceitar um contrato de casamento falso, oferecido pelo pior
inimigo do seu pai, e torcer para que assim consiga ajudar a sua família.
Ele passou anos planejando minuciosamente como destruir o seu maior
inimigo e reconquistar a única mulher que amou. Agora, precisa descobrir
como não se perder em uma história de vingança, poder e amor.

Esse Professor vai ser MEU!

Andrew Miller é um professor universitário sério, totalmente focado em sua


vida profissional. Em busca de seu tão sonhado PHD fora de seu país, é
cético sobre o amor, e a última coisa que ele busca é se envolver com
alguém.
Lexie Wood é uma das garotas mais populares da universidade. A
cheerleader está determinada a deixar os idiotas de lado e somente se
envolver quando for alguém que cumpra uma certa lista de requisitos
totalmente contrários aos seus últimos relacionamentos.

Quando seus caminhos se encontram, ela se encanta e decide focar seus


esforços em conquistar o professor, enquanto Andrew a evita de toda forma,
apesar da atração enlouquecedora pela loira que anda bagunçando seu
mundo sempre tão organizado.
Nesse jogo de cão e gato e em meio a provocações mútuas, Lexie e Andrew
irão descobrir que esse caminho perigoso pode ser a melhor coisa que já
lhes aconteceu.

Um Geek para chamar de MEU!

Josh Bergman estava acostumado com a sua vida pacata: Sem festas, sem
agitação, sem emoção. O típico geek virgem que fica com a cara enfiada no
computador vinte e quatro horas por dia. Até que, a sua crush mor, Leslie
Wood, a menina mais popular do campos, se matricula na mesma aula que
ele.

Leslie Wood é a capitã das líderes de torcida. Apesar de toda a


popularidade, ela é uma garota tímida que não está nem aí para todos os
meninos que ficam no seu pé. Seu tipo é específico, e é uma pena que eles
nunca a olhem duas vezes.

Uma amizade improvável surge, e com ela uma atração enlouquecedora.


Mas, é em uma festa que tudo vai mudar.
Entre descobertas, amores, e uma amizade muito colorida, Josh e Lie se
envolverão de uma maneira irreparável. Será que o Geek e a garota popular
ficarão juntos apesar de todas as diferenças?
Hipnotizada pelo CEO

Thomas Brown é o dono de uma joalheria famosa e está realizando um


sonho antigo da família abrindo uma loja em solo brasileiro. Para ele, tudo
sempre foi muito prático, e tinha encontros esporádicos sem nenhum tipo de
envolvimento.

Solteiro convicto, ele não acreditava em nenhuma dessas bobagens de amor


romântico, pelo menos não até cruzar com uma morena curvilínea de língua
afiada.

O CEO foi pego de surpresa quando cruzou o caminho de Lauren Araújo. A


brasileira, além de competente é uma tentação para o executivo, que evita
qualquer relacionamento que não seja casual. E, para piorar, ela é uma peça
importante para que os seus negócios obtenham o sucesso esperado.
Misturar trabalho com prazer sempre foi sinônimo de problemas, mas
quando se entrega ao desejo e se vê rendido pela mulher que consegue tirá-
lo do rumo, Thomas terá decisões a tomar.

Será que o cafajeste ranzinza se renderá ao amor?

Sob a Proteção do CEO Viúvo


Dylan Ward é um CEO de uma empresa especializada em segurança em
Lanuver. Viúvo há quatro anos, ele se tornou recluso, sem contato com
nenhuma outra mulher além de sua filha, Sophie, uma menina alegre e a
única capaz de arrancar sorrisos do homem amargurado.
Lindsay se casou jovem, encantada por um príncipe encantado que logo
descobriu ser um homem sádico e sem escrúpulos. Descobriu nos primeiros
meses as traições, e sempre que questionava alguma coisa, levava uma
surra. Do que adianta morar em um palácio de cristal, se é presa em
cativeiro? Sua única alegria é encontrar a pequena Sophie na praça do
condomínio de luxo onde moram.

Tudo muda quando um homem sério, e protetor surge através da garotinha,


oferecendo a Lindsay escapatória para a situação perigosa em que vive.
Em uma trama de amor e superação, cheia de reviravoltas, Dylan e Lindsay
irão redescobrir o amor.

CEO’S EM ALTO MAR

Eles são poderosos, magnatas, bilionários e CEO 's.

Anthony Watson, Alex Zur e Dylan Ward embarcam em um


cruzeiro com as suas amadas para comemorar as festividades do fim de ano.
Além de todo o clima de romance e aventura, os engravatados são
convidados para uma reunião a portas fechadas. Um negócio secreto entre
um grupo seleto de pessoas é fechado e agora as coisas estão mais tensas do
que nunca.

O que será que eles estão aprontando?


Quem são os outros CEO 's convidados?

Leia CEO's em Alto Mar para saber tudo sobre essa história, e conheça os
próximos protagonistas da série Eu amo um CEO.
Archie - Jogo Perigoso

Archibald Evans está vivendo a sua vida dos sonhos. Forte, bonito,
sedutor, rico, inteligente e claro, imortal. Apesar de ser o vampiro mais
novo do clã, sua má fama se dá principalmente porque ele se envolve em
todo tipo de confusão sem se importar com as consequências.

Leighton Bernardi é uma órfã que vive uma vida pacata. Contadora
autônoma, ela raramente se diverte, tendo o seu gato Félix como seu melhor
amigo. Mas, tudo muda quando em um encontro frustrado, ela se vê em
perigo, e é salva pelo bad boy tatuado.

Um amor impossível, uma atração enlouquecedora, e duas pessoas,


em teoria, incompatíveis. Será que o amor irá sobreviver a todos os
percalços?

A Redenção do CEO Cafajeste


Apolo Sanchez é o CEO da melhor firma de advocacia de Havdiam.
Respeitado por sua competência e sucesso profissional, além de ser famoso
por ser um homem muito bonito, mas difícil de lidar. Exigente e
controlador, sua presença intimida e assusta quem se aproxima, e até
mesmo quem trabalha com ele.

Lyanna Johnson é uma jovem jornalista falida que precisa muito de


um emprego se quiser continuar morando nas terras quentes de Vongher.
Ela, em seu maior desespero financeiro, acaba se candidatando a uma vaga
de secretária pro advogado mais famoso da capital. E é assim que ela acaba
conhecendo o intragável (e lindo) dono do lugar com quem passa a
trabalhar diariamente.
Entre farpas, provocações e discussões, eles se detestam e
se desejam na mesma medida. E quando o tesão fala mais alto, é difícil
negar a química que possuem.

Seria Lyanna a responsável por amolecer o coração endurecido do


CEO intratável?

Reconquistando o CEO

Atlas Sanchez sempre foi um homem sério e comprometido com os


negócios da família. Seu único deslize foi se casar com uma mulher
completamente inadequada e... ex do seu irmão mais novo. Divorciado, ele
está tentando recuperar o tempo perdido, e cuidar sozinho do seu filho
Eros, um garotinho confuso e que sofre com as loucuras da mãe
interesseira.

Ludovika Pavlova depois de ter seu coração quebrado, jurou não se


envolver com nenhum homem até se apaixonar novamente. De volta a sua
cidade natal, ela abriu uma escola infantil que está dando o que falar.
Apesar de todo o sucesso do empreendimento, um menino lindo, porém
revoltado, tem lhe causado muitos problemas. E o sobrenome dele é uma
surpresa inesperada.

Quando Atlas e Ludovika se reencontram, sentimentos do passado


ressurgem e nenhum deles sabe lidar com a situação. Seria o amor
suficiente para superar as decisões do passado e todas as diferenças?

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