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1ª Edição

Protegida pelo Tigre Branco


©Copyright, 2024
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e ações civis.
Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações reais deve ser
considerado mera coincidência.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei 9.610 de 19/02/1998.
Ficha Técnica
1ª - Edição - 2024
Revisão: Lidiane Mastello
Designer de Capa: Mari Designer
Diagramação Digital: Assessoria Terra do Nunca/Ana Cortezi e Hayden Design
Betagem: Juliana Castiglioni
Ilustração Personagens: Branco Art/ Lili
Ilustração Mapa: Ilustradora desenha arte/ Ursula
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Bônus
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Bônus
Epílogo
Sinopse
Há quase 28 anos, a verdade sobre o Leste foi aberta, a verdade sobre a mistura de raças
shifters que acontecia por dentro da reserva foi exposta, e uma guerra começou. E o Leste e
todos aqueles que viviam lá se tornaram renegados.
Ela foi banida do seu bando, por ter nascido humana, por não conseguir se transformar numa
leoa. Adotada por um homem, um humano, que cuidou e deu a ela uma vida fora do mundo dos
shifters, mesmo que nunca tenha conseguido tirar o desejo de ter um bando dentro dela.
Ele prometeu nunca a deixar sozinha e mesmo após sua morte ele cumprira sua promessa,
deixando para ela um futuro na reserva de Belle Chase no lado Leste onde os renegados vivem,
onde Wyatt Moore vive.
Ele é um alfa, que está preso ao seu próprio território pela guerra que dura há anos do Leste
contra o Sul, Oeste e o Norte, uma guerra entre shifters puro sangue e os renegados.
Os dois são considerados renegados. Ela por ter nascido humana, ele por ser um mestiço, tendo o
sangue de uma tigresa e de um leão dentro dele.
Ele é um tigre quebrado, que carrega culpa, o peso de todo um bando em seus ombros e o medo
de si mesmo.
Ela é uma humana, que carrega o luto e ainda a dor do abandono do seu bando, mas que
aprendeu que o sangue de leoa dentro de si é capaz de suportar tudo.
Eles já se encontraram uma vez, mas estavam machucados demais para notarem além das
cicatrizes físicas e mentais que os dois tinham.
Anos se passaram, e ela mudara, enquanto ele continuou atormentado com medo de quem é,
felizmente, ela tem tudo que ele precisa e sabe como perturbá-lo, como perturbar seu tigre até
que a única escolha seja ele ceder, e deixar sua fera sair para reivindicar a fêmea que ele sabe que
lhe pertence.
Playlist – Spotify
“Tudo o que é silenciado clamará para ser ouvido ainda que silenciosamente.”
— O conto da AIA
Dedicatória

Esse livro é para aqueles que acreditam que vale a


pena lutar pelos sonhos e pelo amor mesmo quando
todos ao seu redor pensam ao contrário.
Está descendo o rio
Estou caindo como um meteoro
Você sabe quando isso bate em você
Quando o amor está em cena
Você poderia ser o sonhador
Você poderia ser o lutador
Mas nunca seja um estranho
Quando o amor está em cena
Veja rastejando, em vermelho e dourado
É nas sombras onde suas lágrimas desnudam sua alma
Então você vai me encontrar lá fora nesse campo
Então, em um jardim repleto de todos vocês
E eu disse, oh
Quando eu olhar além da fronteira eu vou respirar você
Oh, até você sentir que talvez você não esteja sozinho
Está chegando rio abaixo
Estou caindo como um meteoro
Você sabe quando isso bate em você
Quando o amor está em cena
Você poderia ser o sonhador
Você poderia ser o lutador
Mas nunca seja um estranho
Quando o amor está em cena

Love Is In the Picture – Jamie Cullum


Mapa da Reserva dos Shifters
Prólogo
Passado, 10 anos antes
Lado Sul (Lago Little Lake) Manilla, Nova Orleans
Encosto-me na escada aguçando o máximo que consigo minha audição, enquanto me escondo
contra as barras de madeira do corrimão e ouço abertamente falarem sobre... mim e sobre o que
farão comigo.
— Não podemos mais lidar com ela, todos estão desconfiando. Ela já tem quase 10 anos e nunca
a viram se transformar nenhuma vez, e todos sabemos que isso já deveria ter acontecido há anos
e agora com isso... — Papai levanta a folha de papel com os reSultados do meu teste de genes
que minha avó havia finalmente trazido. — Só há 10% dos genes felinos correndo no sangue
dela — ele fala de forma desolada, sinto as lágrimas se acumularem em meus olhos enquanto
observo os rostos na sala parecendo cada vez mais perdidos, há um homem sentado em uma
poltrona, ele me nota, mas não diz nada, apenas me observa e noto a dor em seus olhos em minha
direção. Vovó o havia trazido, o papai e a mamãe haviam odiado isso, mas quando ela falou que
ele seria a solução do meu problema, eles apaziguaram e os olhos felinos desapareceram de seus
rostos. Humanos aqui não eram permitidos. Nunca.
— Você não disse que tinha uma solução? — inquire mamãe para vovó.
— Vocês irão matá-la? — A pergunta da vovó, arrepia cada pelinho em meu braço e preciso
tampar minha boca para não soltar o pavor que surgiu dentro de mim.
— É uma opção. Mas espero que não seja a única — fala mamãe tranquilamente, como se eu não
fosse filha dela, noto-a se aproximando de minha irmã, sentando-se ao seu lado. Seria eu ali, se
agora minha irmã não tivesse tomado meu lugar como primogênita, não que isso tivesse a
satisfeito, porque mesmo sendo mais nova do que eu, ela sabia o peso que carregaria em meu
lugar. Um casamento arranjado e filhotes puro sangue. E ao perceber o que iria acontecer, ela se
afastou e se tornou a única notada na família, enquanto eu era escondida pelos cômodos da casa
como uma pária.
— Eu irei cuidar dela e nunca mais ela pisará os pés aqui novamente. A levarei para cidade, onde
ela viverá como ela é. Uma humana, mas farei isso apenas com uma condição, mas isso deixarei
a cargo de Grace tratar com vocês — explica o homem pela primeira vez desde que chegou, se
levantando. Ele dá uma breve olhada em direção à minha avó e caminha em minha direção, mas
papai o para, tocando seu ombro e o noto abrir a boca para dizer algo, porém minha mãe o
impede.
— Diremos a todos que ela estava muito doente e que ela se foi. Você não precisará mais se
preocupar que nos tornamos impuros, Oscar, continuaremos nossa geração da forma que tem que
ser e não precisaremos matá-la — diz, noto meu pai olhando para ela e em seguida para minha
avó, o olhar que os dois trocam é triste, porém ambos assentem, concordando que é a melhor
opção. Meu pai retira a mão do ombro do homem ainda sem nome, deixando-o caminhar em
minha direção.
Eu sabia que hoje meu destino seria decidido, algo que havia sido adiado pelos últimos oito anos
desde que a transformação de leoa não aconteceu, e não sei se essa decisão que tomaram por
mim foi melhor que a morte que minha mãe me daria. Encaro o desconhecido alto, com cabelos
castanho-escuros, olhos da cor do mel, barba grossa, longa e preta com alguns traços de pelos
brancos surgindo, ele está vestindo uma camiseta e calça social preta, os sapatos mais lustrosos
que eu já vi, suas mãos possuem anéis de ouros em quase todos os dedos, e em uma das mãos
segura um chapéu cinza. Ele não se veste como os machos leões, ele não deve trabalhar com as
mãos, ou com a terra como todos que vivem aqui. Volto meu olhar para seu rosto, notando de
canto de olho meu pai ser afastado pela minha mãe, para perto da minha avó, consigo ouvir
apenas uma palavra: Leste, antes de toda a conversa se tornar cada vez mais distante, e sei que
essa foi a última vez que ouvi a voz... da minha família. Foco minha atenção no homem parado à
minha frente.
— Você deve ser a pequena menina que levarei para casa — ele diz e em seguida levanta a mão
em um cumprimento. — Me chamo Thomas Gray, qual é o seu nome? — Aceito sua mão.
— Lyra Mckinley — me apresento, levantando-me e respiro fundo. — Lyra Gray — falo,
tentando sorrir da forma mais verdadeira que consigo, enquanto minhas lágrimas saem da prisão
que as deixei, mesmo sabendo que chorar não é permitido nessa casa, nem para nós... quer dizer,
para eles, porque agora eu não sou mais um deles, na verdade, eu parei de ser quando completei
2 anos, apenas preciso aprender a aceitar o que realmente sou, talvez agora finalmente consiga
viver com um humano.
— Tudo bem você chorar, Lyra, as lágrimas ajudam a levar a dor embora. — Olho para Thomas,
enquanto sinto o choro aumentar dentro do peito, ponho a mão na boca, algo que aprendi a fazer
para tampar meus sons. — Suba e arrume suas coisas, Lyra, apenas o básico, o resto
compraremos para você. — Assinto, me virando para as escadas e sinto a mão de Thomas em
meu ombro. — Prometo que darei um bom lar a você, Lyra, e que nunca mais terá motivos para
chorar e nunca mais será abandonada.
Capítulo 1
Lyra Gray
17 anos depois...
Saint Andrew, Nova Orleans
“Prometo que darei um bom lar a você, Lyra, e que nunca mais terá motivo para chorar e nunca
mais será abandonada.”
Essas foram as palavras de Thomas Gray para mim quando nos conhecemos pela primeira vez, e
essas também foram suas últimas palavras quando partiu cinco meses atrás, em nossa última
conversa, nas últimas palavras que levaram toda sua força.
Thomas, meu pai era um homem de palavra e mesmo depois de partir, ele quis manter sua
promessa, apenas por isso que nesse exato momento estou prestes a pegar a estrada com três
cachorros, dois gatos, um papagaio e um macaco em uma van.
Olho para Dodô, meu belo papagaio que aparentemente estava se juntando com Sirius, meu
pequeno macaquinho afrontoso, para mostrar toda sua revolta contra nossa mudança, enquanto
pulava incessantemente em cima de uma das caixas, e Sirius batia uma colher contra uma das
panelas, deixando meus ouvidos em um caos.
— Sabe, é por isso que temos que nos mudar para o meio de uma reserva. Vocês são muito
barulhentos para a cidade — falo, apontando para os dois enquanto pego a caixa que Dodô pula
junto com ele, a colocando para fora, pego as duas caixas de transporte com Sissy e Teddy, meus
felinos calmos, e assobio para Hércules, Sinatra e Apolo para se levantarem e caminharem para
fora, meus três guardas de quatro patas, e por fim pego Sirius que finalmente larga a colher e a
panela pela banana que dou a ele. Fecho a porta atrás de mim e olho uma última vez para a casa
que morei nos últimos anos mais felizes da minha vida e onde agora um belo casal com seus
filhos morará. Espero que eles sejam tão felizes e tenham tanto amor quanto eu tive.
Caminho para a van, segurando as últimas duas caixas com Sirius em minhas costas e em
seguida pego Sissy e Teddy, os prendendo com segurança perto de Hércules, meu belo e velho
Rottweiler, em seguida, prendo Sinatra, um São Bernado velho, mas com a energia de uma
criança, e prendo Apolo ao seu lado, meu belo mestiço de Husky com labrador, que irá uivar
pelas próximas duas horas até Belle Chase, porque ele odeia andar de carro. Provavelmente, o
único cachorro na terra que odeia pôr a cabeça para fora, olho Dodô em cima de uma das caixas,
eu nunca o colocava na gaiola, mesmo que a tivesse, ele não voa, mesmo que nós dois saibamos
que ele poderia, se tentasse, suas asas já não estavam quebradas há muito tempo, mas eu o
compreendia. Suas asas não estavam mais quebradas, e nem havia mais dor física..., mas isso não
quer dizer que ele havia esquecido ela.
Coloco alguns grãos de girassol para ele que guardei no bolso e faço um leve carinho em sua
cabeça verde.
— Você ficará bem, Dodô, eu prometo — aviso, e em seguida coloco Sirius em sua cadeirinha
de segurança, o prendendo. Ele parecia satisfeito com a banana e não se importava de ficar preso
se eu o liberasse em alguns minutos na nossa primeira parada. Finalmente subo na van, a ligando
e ouvindo o barulho feroz da minha bebê. — Espero que estejam todos preparados, porque essa
será uma longa viagem e com um destino promissor — falo, esperando que minhas palavras
tenham mais verdade nelas do que na apreensão e no medo dentro de mim.
Ir para o Leste para Belle Chase, onde todo o território é dominado por Wyatt Moore, um tigre,
não era o que eu imaginava para mim, mesmo que no fundo já imaginasse que esse dia chegaria,
pois meu pai era um grande amigo de Ward Moore, um grande leão, um alfa que acreditava em
mais do que o sangue, e também o causador do grande caos que agora reinava entre Leste e Sul e
com todos os seus apoiadores do Oeste e do Norte, motivo desse caos foi sua escolha em
mostrar seu único filho, um belo tigre, uma mistura de raças óbvia, houve um embate entre eles
por muito tempo, que levou à morte da sua companheira Railey Moore, pouco antes de mim... do
acordo que Thomas fez por Ward, seu grande amigo.
Papai nunca me contou como eles se conheceram, mas imaginava que tinha a ver com a cicatriz
de garras enormes que ele tinha em seu peito, assim como a mordida que ele tinha em seu ombro,
que eu ligava diretamente à minha avó Grace. Era uma marca de possessão, um costume que as
fêmeas tinham em marcar seus companheiros. Ele também nunca me contou qual era a
verdadeira relação entre os dois, mas percebi através dos livros que ele trazia para mim sobre
shifters, sobre cuidados médicos que pertenciam à minha avó, sua herança deixada para a neta
que seguiria os mesmos caminhos que ela, como a única médica e parteira que poderia cuidar
deles, que a ligação entre os dois era forte, mesmo que nunca realmente tivessem se tornado
companheiro e companheira, eu sabia que a ligação deles, no fundo, havia se transformado em
algo... ou melhor em alguém e isso explicaria o porquê eu só possuía 10% dos genes de leões em
mim.
A ligação de companheiro e companheira na espécie de Shifters leões não costuma ocorrer já que
os machos são dominantes e as fêmeas também, o que faz com que sejam os únicos a acasalar
com mais de um parceiro, a não ser que a junção seja feita através da rara ligação que um shifters
pode ter pelo outro, ou quando é um casamento arranjado.
É por isso que o Sul, Norte e Oeste odiavam o Leste. Ao longo dos anos, no pouco que eu
aprendi com Thomas, consegui ter uma percepção que o ódio ia além do sangue, o ódio era
semeado pela inveja. O Leste possuía uma das maiores chances da combinação perfeita entre
shifters, do encontro perfeito de uma companheira ou um companheiro, o fato de serem de
espécies diferentes permitiam que a diferença entre eles completasse um ao outro, formando um
encaixe perfeito.
A verdade é que no fundo todos procuram achar a parte perfeita que completará aquilo que falta
dentro de você.
Respiro fundo, sentindo as lágrimas descerem, chorar se tornou algo positivo desde que deixei o
lado Sul, Thomas dizia que era a melhor forma de levar a dor embora, e com o tempo aprendi
que ele estava certo, assim como dizia ao tentar me convencer a aprender tocar piano de que cada
vez que meus dedos tocassem uma das teclas, minhas emoções seriam expostas, seriam gritadas
em um belo som, e que eu já não precisaria manter nada dentro de mim, ele sempre tinha razão
em tudo.
Olho para o mapa que Thomas deixou para mim de Belle Chase, eu vi Wyatt apenas uma vez,
nós dois éramos jovens, eu estava me acostumando ao fato de que já não pertencia a um lado, e
ele ao fato de que já não possuía uma mãe, nós dois não conversamos, contudo, seu olhar
turbulento, preso ainda no seu animal enquanto uma cicatriz passava por metade do seu rosto
esquerdo, mostrava o quão quebrado ele estava.
Ver com meus próprios olhos o que a minha família havia feito com ele, apenas pelo sangue me
perturbou mais do que eu já estava, mas também me deu a certeza de que o homem ao meu lado,
Thomas, havia me salvado porque eu jamais seria como eles, mesmo que eu fosse uma leoa,
assim como também tive certeza de que se um dia eu escolhesse um lado, seria ao lado dos
renegados. Porque é o que eu sou também e depois de tantos anos longe desde a única visita
havia chegado a hora de retornar dessa vez para sempre e por mais de um motivo, na verdade,
um específico que atraía meu instinto protetor para Belle Chase, e se resumia a Kaira, uma
shifter águia grávida de quase 6 meses a qual eu seria a única a poder ajudar, já que mais
ninguém da região iria até o Leste, nem uma parteira entraria lá, sem autorização do Sul, ainda
mais agora que a divisão do Rio Mississipi fazia entre os dois lados parecia tão fraca após a
morte do único que ainda mantinha o acordo de pé, e a segurança de todos que viviam sob as
ordens de Wyatt Moore.
Capítulo 2
Lyra Gray
Algumas horas depois...
Lado Leste (Lago Lery) Belle Chase, Nova Orleans
Estaciono a van, agradecendo por ter conseguido enfrentar a falta de asfalto e a estrada de terra
que de estrada não tinha nada. Wyatt não me avisou sobre isso, na verdade, ele não falou mais do
que duas palavras quando liguei para ele no meio do caminho. Ele não parece ser um homem de
muitas palavras, e agora eu estava me preparando para encontrá-lo assim como os outros shifters.
Há muito tempo eu não lido com eles, no entanto, isso não me fará correr, só havia uma coisa
que me fará e isso por céus Sissy e Teddy resolviam como belos caçadores que eram. Então não
havia nada que me fará fugir do que no fundo eu sempre soube que seria o meu verdadeiro lugar,
já que nem mesmo com os humanos eu consegui me encaixar.
Desço da van, fecho a porta e abro a porta de correr, solto um por um do meu pequeno bando,
colocando Dodô e Sirius cada um em um dos meus ombros, e nas mãos seguro as duas caixas de
transportes.
— Fiquem perto de mim — aviso aos meus três cães. Eu não sei exatamente que tipo de shifters
há aqui, além de Kaira, que por estar grávida não pode se transformar pela segurança do bebê, e
como eles são com outros animais. Caminho em direção à casa de madeira que pertencia a
Thomas quando ele morou aqui há muito tempo, assim como o mapa que me guiou até ao local
com desenhos que marcavam não só a região do Leste mais as outras também, e marcas na
árvore, que segundo ele, Ward havia feito para que ele não se perdesse na floresta, as marcas
estavam fracas, mas ainda fáceis de enxergar, facilitando-me chegar aqui sem ajuda alguma.
Abro a porta com a chave que tem uma foto no chaveiro com todos nós reunidos, Thomas
segurando Apolo, com Dodô em seu ombro enquanto bicava sem parar seus cabelos repletos de
dreads, a nova moda que ele começou a seguir nos últimos 5 anos ao qual se recusou a pintar os
fios brancos que haviam tomado conta de seu cabelo escuro. Tinha sido uma foto caótica, mas
que havia saído perfeita após percebemos que tínhamos que segurar Sissy e Teddy para
conseguirmos o feito da fotografia. Era uma boa e triste lembrança.
Encosto a porta apenas o suficiente para quem nem Sissy e nem Teddy saiam e finalmente os
solto, adentro pela casa escura e caminho para as persianas das duas janelas que têm na sala, as
abrindo e finalmente deixando o restante do sol da tarde entrar, iluminando a bela casa de
madeira e sua bela sala rodeada de flores completamente novas, respiro o cheiro delas no ar
admirada.
— Esse é nosso novo lar — falo sem conseguir controlar o sorriso ao sentir o cutucão de Dodô
em minha orelha, pedindo para descer, o retiro do meu ombro e o coloco no chão. — Aqui tem
muitas árvores, Dodô, talvez isso incentive você a voar — comento, sentindo a mesma sensação
de sempre ao vê-lo sair caminhando, que eu não passava a proteção suficiente para ele se sentir
protegido e forte para voar. Sinto o carinho nada carinhoso da cabeçada de Hércules e de Sinatra.
— Vocês vão me derrubar — digo, rindo, enquanto faço carinho nos dois, e escuto um miado
alto e longo, me afasto e observo Apolo brincando com Sissy enquanto Teddy tenta pegar Dodô
que o provoca bicando-o. — Eu fico muito feliz de tê-los velhinhos ao meu lado e não só
adolescentes — declaro ao passar por cima de Apolo que é atacado ferozmente por Sissy,
enquanto caminho em direção à cozinha, acompanhada por Hércules e Sinatra que assim como
eu examinam nosso novo lar extremamente organizado e limpo, o oposto do que eu esperava.
Meu pai não vinha aqui desde que Ward se foi, isso quer dizer que há 5 anos a casa está
abandonada ou pelo menos foi o que eu pensei. Olho para as panelas no escorredor de pratos,
como se tivessem sido utilizadas há pouco tempo. Alguém havia morado aqui além do meu pai, e
morou há pouco tempo. Toco a madeira lustrosa, recém-envernizada.
— Interessante. — Saio da pequena cozinha e subo a curta escada para o segundo andar, observo
as madeiras do corrimão completamente desenhadas representando animais, tigres, leões, ursos e
dragões. Uma bela obra de arte, de um carpinteiro com um belo dom.
Paro em frente ao primeiro quarto, onde tem uma cama de casal com cabeceira também
detalhada de madeira com desenhos de flores marcadas em toda a extremidade. Entro no quarto,
observando as belas rosas em cima da mesa de cabeceira. E olho em volta, além da cama há um
guarda-roupa, também de madeira, e uma pequena cômoda ao lado, a única janela está
descoberta, deixando a luz ser levada diretamente para a cama. Não há lençóis na cama e o
quarto em si está vazio sem nenhuma marca de um morador, a não ser pelas flores, saio do
quarto que decido que será meu e caminho para o outro que Sinatra já está examinando e
experimentando ao subir na cama e se deitar em cima dela.
— Esse pode ser o seu quarto, Sinatra — falo, notando que nesse quarto também há um vaso de
rosas, dessa vez da cor branca. Esse quarto é menor do que o outro, e mesmo com a flor sinto o
cheiro de pó e mofo. Esse quarto não foi cuidado como o resto da casa. — Vem, Sinatra, esse
quarto precisa ser limpo antes de você tomar conta e soltar todos seus pelos por aqui. — Meu
enorme São Bernardo não era fã de dividir a cama comigo e se recusava a dormir na própria
caminha no chão, então ele se achava no direito de tomar qualquer espaço que ele encontrasse
grande o suficiente para caber dois dele, como sua propriedade. Então o sofá e essa cama seriam
totalmente da propriedade dele, pelo menos se eu não descobrir quem era o morador daqui antes
de mim, eu jamais aceitaria ter tirado uma casa tão confortável de alguém, ainda mais essa casa
possuindo dois quartos. Eu não teria problema em dividir, até porque já a dividia com 7 criaturas
bem espaçosas, o que seria dividir com mais alguém? Sempre vivi em bando, mesmo quando não
era aceita, felizmente, não aprendi a viver diferente.
Desço as escadas para começar a retirar as caixas da van, antes de começar a relembrar
novamente, dessa vez memórias não tão boas.
Saio acompanhada de Hércules enquanto Sinatra se joga na frente, se esparramando cansado,
completamente diferente do seu irmão que me segue como sempre desde que eu o adotei após
escutar seu choro ao ir para a faculdade de enfermagem, ele estava escondido perto do lixo
chorando, e no meio de todas aquelas pessoas eu fui a única ao ouvi-lo. Meu pai dizia que havia
sido o destino que colocara Hércules no meu caminho, porque eu estava no último ano dos 2
anos de enfermagem, pronta para prestar o Nclex – RN para tirar minha licença quando aquela
pequena bolota preta me fez mudar completamente de ideia e finalmente largar o que restava da
origem da minha família. Ao trocar enfermagem para veterinária tudo pareceu mais certo,
mesmo que anos depois, os 2 anos que passei me matando para aprender a cuidar de humanos
não tenha sido em vão como pensei quando meu pai adoeceu, e agora novamente quando em
breve ajudaria a um filhote vir ao mundo, não que já não tenha feito isso algumas vezes, mas
dessa vez seria só um, e não uma ninhada de seis.
— Sabe que aqui é um bom lugar para você viver seus últimos anos, não acha? Talvez se
aposentar de ficar me seguindo por todos os lugares? — inquiro, ele me ignora enquanto
caminha ao meu lado de volta para a casa com duas caixas na mão. Coloco as caixas no chão e
volto com ele ao meu encalço até que ele passa à minha frente e para, fazendo sua pose de defesa
na minha frente, latindo e batendo as patas da frente no chão se empoderando, mostrando
agressividade o suficiente para afastar qualquer homem, mas não um shifter. Olho para as
árvores ao meu redor já sem a luz para clareá-las, sentindo Sinatra e Apolo se aproximarem,
ficando cada em um de um lado meu, latindo sem parar.
— Calma... — ordeno, sabendo que se for um shifter, eles poderão sair mais feridos do que
ferirão o agressor. Tento enxergar, acompanhando o olhar do Hércules.
— Sou eu. — Reconheço a voz por cima dos latidos, pelas poucas palavras trocadas pelo celular.
— Wyatt. Calma, meninos, ele é amigo — falo, ao segurar Hércules com meu braço direito, o
trazendo para debaixo das minhas pernas, ele é o alfa dos três, então os outros só atacarão se ele
atacar, e Hércules só irá fazer isso se eu ordenar, era o que dizia no treinamento, no entanto,
nunca funcionou, mas nada que o segurar com muita força não resolva. Aparentemente meu
pequeno filhote, se tornou num enorme protetor que acha de forma explícita que deve me
proteger acima de qualquer coisa, o treinador dele nunca entendeu, mas sempre me dizia
indiretamente que a culpa era minha por dar tanta liberdade a ele. O que eu podia fazer? Sou
cuidadora e protetora, não uma alfa líder.
— Pode aparecer devagar — digo, e lentamente noto Wyatt surgir da árvore que Hércules
encarava, sem camisa, deixando seu peito sendo a primeira coisa que minha visão nota, antes de
descer para o jeans azul de cintura baixa, rasgado, perfeitamente encaixado em seu quadril e em
suas pernas. Depois de anos sem encontrá-lo, com certeza não era o primeiro encontro que
esperava que tivéssemos. Subo meu olho até parar em seu rosto, trazendo instantaneamente o
flashback que havia me acompanhado por toda a viagem ao tentar controlar a ansiedade até o
lado Leste.
A imagem de Wyatt Moore. O seu rosto amadureceu, não é mais apenas um menino. Seu queixo
quadrado agora ainda mais proeminente carrega um rosto duro, a cicatriz que quase nenhum
shifter possui por conta da sua cura rápida, ainda está em seu rosto, porque não foi feita nele,
mas sim em seu animal. A marca ainda era forte em seu lado esquerdo, marcando profundamente
sua pele, e deixando o belo azul suave da cor do céu do seu olhar sombrio, mas diferente de anos
atrás, não vejo o seu animal, aqui na frente só há Wyatt, seu cabelo loiro está molhado grudado
em sua testa o que parece perturbá-lo já que ele o joga para trás, levantando seu braço e expondo
seu bíceps, desvio o olhar tão rápido quanto consigo quando ele para a poucos centímetros de
mim.
— Eles precisam cheirar você — falo, focando meu olhar em Hércules.
— Tudo bem.
Aproximo Hércules dele, enquanto acaricio sua cabeça.
— Devagar — digo de forma calma, tentando passar o máximo de segurança possível, Hércules
o cheira, e conforme noto-o se acalmar o solto, e chamo os outros que se aproximam, e então
observo enquanto Wyatt simplesmente abaixa ficando da altura deles, mostrando igualdade, e
passando segurança. Uma atitude como essa é muito rara em um alfa, nunca vi Oscar mostrar
nada além de superioridade diante dos outros do bando. — Me desculpa por não ter avisado
sobre eles — peço, mordendo o lábio. Wyatt se levanta e me encara. Seus olhos refletindo-me
como um espelho. Eu não sentia uma verdadeira culpa sobre a falta do meu aviso, até porque ele
não tinha feito nenhuma pergunta, apenas me ouvido e dito nada além de duas palavras. Wyatt, e
Adeus. Uma quando atendeu e outra quando desligou, enquanto eu debulhava a falar.
— Por que eu sinto cheiro de outros animais além deles? — inquire Wyatt, desviando o olhar de
mim para atrás, para minha nova casa.
— Sobre isso... — começo.
— Você tem um zoológico? — pergunta, e não consigo segurar o riso a não ser ao ver que o
questionamento é sério quando seus olhos focam novamente nos meus.
— Não exatamente. Dois gatos ao qual com certeza você se dará bem... Um macaco e um
papagaio — explico, dando o meu melhor sorriso, um que eu dava sempre que trazia um animal
novo para dentro de casa e que sempre fazia meu pai ceder. Lembro-me de ele suspirar, balançar
a cabeça e sempre repetir: Onde como 1, comem dois, onde comem três comem quatro. Eu tenho
certeza de que ele repetia o lema para dar forças a ele, enquanto nossa casa se tornava em um
minizoológico.
— Ótimo — Wyatt fala de forma irônica, enquanto se vira para onde minha van está, ele pega
duas caixas em minha van e passa por mim parando ao meu lado. — Preciso ter cuidado com
algum deles? — indaga, o que é um questionamento engraçado já que ele pode se transformar
em um tigre.
— Dodô é meio tímido, e ele demorou um pouco para se acostumar com os gatos. Acho que ele
tem receio em ser comido, então vá devagar, Sirius, o meu macaquinho, é muito simpático ele
gosta de subir nas pessoas, e meus dois gatos vão superar o fato de não ter o status de únicos
felinos mais existentes — falo, e observo Wyatt apenas balançar a cabeça e bufar ao subir os
degraus da entrada. — Meninos o que vocês acabaram de ver é um estado crítico de negação de
que ele acabou de trazer uma maluca com um zoológico para o território dele. — Acaricio a
cabeça dos meus cães e sigo para a van para pegar mais caixas, enquanto suspiro. — Que belo
começo! — resmungo, mas fecho a boca quando sinto Wyatt atrás de mim o que me causa um
arrepio na nuca. Não tem como as coisas ficarem melhor.
Capítulo 3
Lyra Gray
Só faz algumas horas desde que cheguei a Belle Chase, ao lado Leste da reserva. O céu está
escuro, e não ouço nada além dos barulhos das folhas batendo umas contra as outras, e dos
farfalhar dos galhos. Talvez seja o silêncio que me incomoda ou todas as lembranças que essa
mudança me trouxe, das boas as ruins, mas isso não explicaria o porquê meus cães estão tão
agitados, encosto-me contra o corrimão das escadas, observando os três em posição de guarda
perto da porta, Sissy e Teddy subiram se escondendo, e comigo estão apenas Sirius e Dodô que
de forma estranha parecem estar com medo de algo que de alguma forma mesmo através das
paredes e da porta e janelas fechadas faziam os temer e vê-los assim me fez pegar algo que meu
pai me dera de presente quando fiz 18 anos.
Olho para o cano da pistola 9mm preta que seguro em minhas mãos, ainda me relembrando de
forma mecânica como usá-la caso necessário. Escuto o latido de Hércules e me levanto pensando
nas duas coisas que eu aprendi. A primeira é nunca desconfiar do instinto que um animal pode
ter, e dois é que mesmo possuindo apenas 10% dos genes de leão em meu sangue, isso não
significava que ele era fraco. Aponto para a escada acima para Sirius subir, que me obedece
prontamente, sendo o único a realizar esse feito. Olho para Dodô que mesmo com medo continua
fixo ao meu lado no corrimão. Quando adotei Dodô após ele ir parar na minha clínica
machucado, ninguém conseguia tocá-lo, ele bicava todos que sequer se aproximavam dele, e
estava óbvio que ele havia sofrido muito maus-tratos, e mesmo que eu não quisesse o tratamento
fez com que ele criasse outros traumas, ele não gostava de ser tocado e precisava tocá-lo para
cuidar dele, passamos longos meses juntos um com o outro, ele me odiando e me bicando
quando tinha chance, enquanto eu sofria internamente ao vê-lo com tanta dor, quando decidi
adotá-lo sabia que eu estava mais perto de ser aceita por ele do que um completo desconhecido,
até porque as bicadas dele já tinham se tornado rotina assim como nossos altos papos, ele
gostava de me ouvir, dava para perceber quando ele virava a cabecinha de lado como se me
compreendesse, provavelmente foi isso que fez com que aos poucos ele e eu nos tornássemos
unidos pelo medo, pelo abandono e pela dor, tentando superar e abandonar todos que nos
machucaram e o que nos trouxe até aqui.
Pego o celular ao ouvir o som dos latidos aumentarem e aponto a arma para a porta, eu sabia que
não era Wyatt e nenhum shifter do bando dele, porque ele havia me dito antes de sair que eu
conheceria todos amanhã, quando ele me levasse até Kaira. E uma ordem de alfa é uma ordem.
Quem quer que estivesse lá fora não era do Leste, não pertencia aqui.
— Wyatt. — Ouço a voz grossa dele, me perguntando por que ela conseguiria me tranquilizar
mesmo sabendo que ele não está nem um pouco perto daqui. Se eu me lembrava bem no mapa
dizia que ele morava perto do lago a uns 30 minutos daqui, talvez mais. Longe o suficiente para
quem estivesse atrás da porta tivesse tempo para fazer o que quisesse. — O que está
acontecendo? — Ouço algo cair do outro lado do celular. — Lyra. — É a primeira vez que ele
diz meu nome. Desço meu olhar para a maçaneta da porta.
—Tem alguém aqui, ele vai entrar — aviso, descendo as escadas para tirar Hércules, Sinatra e
Apolo de perto. A maçaneta é forçada de forma forte.
— Eu estou a caminho — ele fala ao mesmo tempo que a maçaneta é quebrada e a porta é aberta.
Há dois homens, altos como Wyatt, seus cabelos são escuros e eles são parecidos. Irmãos. Seus
olhos de um tom dourado vivo, deixa claro o que eles são. Leões. Reconheceria em qualquer
lugar esses olhos quentes e assassinos. — Lyra, corra. — Ouço a ordem de Wyatt, mas é tarde
demais para isso, porque eu não posso sair daqui, não sem Hércules e ele não vai me obedecer,
assim como nenhum dos outros. Aponto a arma em direção ao que está na frente.
— Hércules... — chamo, trazendo seu olhar para mim rapidamente antes de voltar a olhar para
frente e atacar.
Wyatt Moore
Desligo o celular quando escuto o tiro, sabendo exatamente de onde ele veio, corro por toda a
floresta sabendo que se eu me transformasse chegaria mais rápido a ela, mas sabia que as ações
que poderiam surgir do animal que seguro em mim poderiam ao em vez de salvá-la... matá-la.
Após anos controlando a fera, o tigre que existe dentro de mim não seria tão difícil perder o
controle. Desde que ouvira a voz dela no celular semanas atrás e hoje, e quando senti sua
presença na estrada e depois quando cheguei tão perto a ponto de sentir seu cheiro, o calor da sua
pele tão próximo do meu, do seu olhar, aquele que eu carrego comigo há anos na memória, ela
fazia todo controle que eu construí se tornar fraco, e se as fêmeas do meu convívio diário que
deveriam me considerar como companheiro me temiam, Lyra jamais me aceitaria. E nem eu nem
meu animal jamais deveríamos pensar nela dessa forma porque ela já está em perigo o suficiente.
Lyra Gray
Sinto as lágrimas de dor pelo ferimento que arde em meu braço se misturarem com a dor de
observar Hércules ferido e não poder ir até ele, seu choro se mistura com o meu. Estava a poucos
centímetros de mim, mas eu não conseguia me mover, não com esse leão em cima de mim.
Nego-me a olhar quando sinto o peso diminuir apenas levemente, e ele volta a se transformar em
homem. Ele segura meu rosto, me fazendo encará-lo.
— Por que você tem um cheiro diferente das outras humanas? — pergunta, e engulo em seco. Eu
sabia desse cheiro, Oscar falava sobre ele, dizia para mim que eu não cheirava como um felino,
meu aroma era diferente e apenas um shifter com um poderoso olfato poderia sentir, mas por
minha sorte, o leão em cima de mim não sabia quem eu realmente era, e ele estava atrás de outra
coisa, algo que só uma fêmea poderia dar para um macho. Eu li sobre isso nos cadernos de minha
avó, sobre a loucura dos leões que acontecia quando seu animal é estimulado de uma forma tão
excessiva que pode causar uma leve ruptura de poder entre o homem e o leão, fazendo com que
ele entre em uma euforia de caça e reivindicação por uma fêmea, mas ler é totalmente diferente
de se tornar alvo. — Seu cheiro é delicioso — diz, tocando meu cabelo, ele o puxa mantendo
minha cabeça parada e desce sua outra mão pelo meu pijama. Engulo o nojo de sentir seus dedos
ásperos em minha pele.
— Por que não está no Sul? — pergunto. Oscar jamais permitiria que um dos seus machos
perdessem o controle desse jeito, o reinado dele sempre foi e sempre será feito de subjugação e
isso que está acontecendo seria uma afronta a tudo que ele presa.
— Não sou do Sul, nunca pertenci a eles. Sou do Leste desde pequeno — fala o homem, seus
olhos de leão reaparecendo e tomando conta das suas íris, pretas.
— Você não pode ser daqui...
— Filho de um leão e de uma leoa, mas os dois eram moradores daqui — explica, com um
sorriso diabólico. — Eu pertenço a aqui, e você pertence a mim...
— Ela não pertence a ninguém, Stephen, e você não pertence mais a aqui desde que o expulsei
junto com seu irmão — diz Wyatt indo em direção ao outro homem que ainda estava
completamente transformado, mantendo Sinatra e Apolo encurralados, Wyatt se aproxima
parecendo notar o sangue escorrendo dele, dos dois tiros que eu havia acertado em seu braço
esquerdo. — Se transforme, Ducan. — A ordem é clara de Wyatt assim como o poder que ela
tem. Apenas um alfa tem esse poder sobre outro shifter. Observo Ducan se transformar de forma
dolorosa, com gemidos de dor. — Eu não o expulsei, mas mesmo assim quis seguir seu irmão,
vai arcar com as consequências junto com ele, saia — manda Wyatt antes de vir em minha
direção, ele olha para mim antes de dirigir seu olhar para onde mantenho o meu. Hércules.
— Se a quer tanto, Stephen, lute comigo. Se me vencer pode ficar com ela. É assim que funciona
— diz Wyatt, suas palavras um desafio imposto que não deveria me tranquilizar, mas o faz,
porque sei que Stephen não tem nenhuma chance contra ele, eu posso nunca ter visto o animal de
Wyatt, porém, aquela cicatriz em seu rosto dizia muito e a sensação de tranquilidade em meu
peito que sua voz no celular e sua presença ali me trazia também. — Você perdeu quando lutou
comigo pelas outras fêmeas, talvez dessa vez tenha uma chance — continua Wyatt, suas palavras
fazem Stephen se levantar, e me puxar com ele pelo cabelo, fazendo-me gemer de dor, e desvio o
olhar de Hércules para Wyatt e o rugido forte que sai de seu peito, seus olhos agora são aqueles
que eu vi tanto anos atrás. Lindos olhos felinos brilhantes, azuis e intensos. Stephen me empurra
e se transforma em um leão com uma longa juba dourada que vai para cima de Wyatt que em
instantes se transforma em um lindo e enorme tigre branco, sua presença, seus rugidos que
retumbam pela sala quase me mantêm presa a ele, e sei que se o choro de Hércules não se
sobressai-se contra o rugido e contra a dor do meu braço nada me impediria de ficar presa na
rede de Wyatt e o animal agora completamente fora dele.
Já é madrugada, a luta acabou há horas com um Wyatt vencedor, é claro, mas o tremor nas
minhas mãos continua, assim como a dor no meu braço e em minha cabeça, encaro Hércules
deitado em minha cama, rodeado pelo seu cobertor branco, ele tomou duas bolsas de soro, e uma
de sangue doada por Sinatra. Ele ficará de cama pelos próximos dias, e todo cuidado será pouco,
o ferimento por sorte por mais profundo que pareça por conta da perda de sangue, não havia
acertado nenhum nervo, nem nenhum órgão, apenas gordura já que meu pequeno Hércules é um
pouco acima do peso. Nunca mais faço dieta nele. O fato dele comer como se fosse dois
Rottweilers o haviam salvado.
— Ele ficará bem? — pergunta Wyatt na porta, encaro seu rosto e seu corpo, ele está limpo, sem
nenhum sangue em suas roupas, ele havia aparecido apenas para dizer que tudo estava resolvido,
eu não tinha prestado muita atenção já que ela estava voltada completamente para Hércules.
— Sim, mas foi por muito pouco. Nunca pensei que meu pai teria razão até nisso — falo,
notando a pequena confusão explícita no rosto de Wyatt. — Eu ia para clínica de manhã e
deixava Hércules alimentado, e ele só deveria comer a noite novamente, mas meu pai o
alimentava pelo menos mais duas vezes durante esse tempo em que eu não estava, dava frango,
carne, cereal tudo que você puder imaginar, segundo ele, fazendo Hércules criar uma imunidade.
Ele pesa pelos menos seis quilos a mais do que deveria, por conta dessa imunidade que meu pai
deu a ele — conto, sem conseguir conter o sorriso e a tristeza. — Foi isso que o salvou hoje, as
garras afundaram na gordura dele e o músculo criado em volta — explico por fim, Wyatt desvia
o olhar para Hércules.
— Ele te defendeu, todos te defenderam — diz, voltando seu olhar para mim.
— É o que um bando faz. Defende uns aos outros mesmo que isso custe alto — comento,
caminhando para pegar Dodô, os tiros o haviam assustado profundamente e agora estava arisco
com qualquer aproximação, há muito tempo não o via agir dessa forma, os tiros haviam liberado
seu estresse do passado. Ofereço minha mão para ele subir, mas ele não o faz.
— Seu braço está sangrando — fala Wyatt, se aproximando até que uma de suas mãos tocam
meu ombro, desviando minha atenção de Dodô que foge para o parapeito da janela, sua mão
esquenta minha pele e a faz se arrepiar imediatamente. — Ele está assustado, mas isso irá passar.
Precisa cuidar desse ferimento.
— Eu vou — afirmo sem conseguir encará-lo, sentindo meu coração se acalmar com sua
aproximação pela primeira vez desde que a noite se tornou um caos.
— Eu ajudo. — Suas palavras fazem meu olhar se voltar para ele. — Vamos descer. — Sua mão
em meu ombro desce para minhas costas até a minha cintura, me guiando para fora do quarto.
Wyatt Moore
Pego a caixa de primeiros socorros que ela deixou na cozinha enquanto tento compreender o que
estou fazendo. Eu deveria me afastar, meu animal ainda está na superfície pronto para sair com o
mínimo de estímulo, e mesmo assim eu não consigo ir embora, nós dois não queremos ir. O
sangue escorrendo do seu braço, mostrava o quanto ela não parecia nem um pouco preocupada
com si mesma, suas mãos tremendo mostravam o quanto ela ainda estava com medo e isso está
me destruindo por dentro. Caminho até onde ela está sentada no sofá, acariciando um dos
cachorros, eles parecem mais calmos, mas ainda sinto o cheiro de medo vindo deles. A casa
inteira cheira a medo e a sangue. E assim como eu eles devem sentir isso, o que apenas piora o
que eles sentem dentro de si. Me sento à sua frente na mesa de centro me deixando na altura
certa de Lyra, me aproximo do seu braço, e retiro o esparadrapo que ela havia passado no
ferimento de forma rápida e descuidada.
— Eu posso fazer isso — fala, voltando seus belos olhos dourados para mim, ela até não poderia
ser uma leoa, mas tinha todas as características de uma. Sua coragem, seu lado protetor e
cuidador e seus belos olhos que mesmo sem se transformar transmitiam força.
— Eu sei — é tudo que consigo dizer. Enquanto foco minha atenção para limpar o sangue e o
corte da forma mais profunda que consigo, seus gemidos de dor, mesmo que baixos, me fazem
sentir meu tigre querer surgir, sei como meus olhos estão agora e por isso os abaixo para que ela
não os veja. — Eu estacionei meu trailer ao lado da cabana, dormirei aqui até você se sentir
segura de novo — aviso, tentando tranquilizá-la junto com a fera que habita em mim que reprisa
a morte de Stephan constantemente, assim como repensar a libertação de Duncan com nada mais
do que uma enorme marca em seu torso.
— Você mora em um trailer? — inquire, me fazendo sorrir levemente pela sua surpresa e isso
faz com que meu tigre volte para seu esconderijo, volto meu olhar para ela.
— Minha casa está sendo usada para Kaira e as outras fêmeas desde que começamos a receber
ataques. É a casa mais distante da reserva e a mais escondida — explico, mesmo sabendo que há
uma casa que poderia ser ainda mais segura para as fêmeas, Lyra apenas assente com um olhar
admirado em minha direção, mas isso não me faz sentir como deveria. Kaira, Rebecca, Briana e
Alina não deviam ter que se esconder, elas vieram aqui para poderem fugir, viver da forma que
queriam e agora precisam se esconder no que devia ser um lugar seguro para elas.
— Você não está feliz com isso — afirma Lyra. Ela acaba de me ler completamente.
— Elas não deviam ter que se esconder. O lado Leste devia ser um oásis para aqueles que não
são aceitos, que foram machucados, que estão perdidos, mas isso já não está mais acontecendo
— falo, desviando o olhar do seu rosto, temendo que ela visse a culpa, e a falta de confiança que
um alfa jamais deveria ter em meu rosto. — Stephan era da equipe Moore, eles cresceram
comigo, com os outros, com algumas das fêmeas, fazia parte daqui até que ele começou a rodear
as fêmeas. Eu não quis que mais um dos meus poderia fazer mal a elas, nós lutamos pelo Leste,
mas só continuamos mantendo nossas forças por conta delas, elas precisam que nós lutamos, elas
são fortes...
— Mas não o suficiente — completa Lyra.
— Nem uma delas tem um companheiro, as mantenho longe dos outros desde que diminuímos
em números. Só há duas leoas que ficaram aqui, depois que meu pai morreu, Rebecca é humana
e veio a mando de Knight para nos ajudar com o reflorestamento, ela é ambientalista e Kaira que
chegou há pouco tempo em busca de abrigo após fugir do Oeste. Éramos 9 machos no auge
quando meu pai morreu — comento, sem querer pensar no que aconteceu tempos depois.
— Eles surtaram como Stephan?
— Eles queriam acasalar, reproduzir com Briana e Alina. As únicas fêmeas que havia, ao ver
nossos números diminuírem isso os assustou profundamente e os fez enlouquecerem.
— Vocês os expulsaram? — pergunta, balanço a cabeça.
— Briana e Alina foram criadas com Bryson e Byron, elas são como irmãs para eles, quando elas
foram atacadas, eles mataram os machos — explico, pensando que eles tinham feito uma grande
escolha, eu deveria ter feito o mesmo com Stephan. — E então dois machos foram mortos, e tudo
que sobrou foram eu, Bryson, Byron, Art e Warren vindos do Norte e Duncan e Stephan.
— Você estava pensando nos números. Quanto menos você tiver ao seu lado menos proteção as
fêmeas terão — fala Lyra, da forma exata no que eu pensei ao me conter ao expulsar Stephan
enquanto tentava em vão manter Duncan.
— Eu afastei as fêmeas, Art e Warren nunca viram Briana e Alina. Elas trabalham no mesmo
setor dos irmãos. E Rebecca e Kaira nunca foram vistas por nenhum dos machos além de mim —
digo, com um certo pesar. Éramos um bando, e estávamos divididos como um. Enfaixo o braço
de Lyra, tentando ignorar o peso que parece ter aumentado profundamente em minhas costas nas
últimas horas. Tudo parecia completamente fora do meu controle.
— Um alfa precisa fazer escolhas difíceis, Wyatt, não se culpe por às vezes errar. — Suas
palavras atingem meu peito, e traz um certo conforto mesmo que leve, porém, suas palavras não
apaziguam minha preocupação com todos eles, inclusive ela. Me levanto, finalizando meu
trabalho e sentindo meu tigre na superfície de tal forma que eu não conseguiria controlar por
mais do que meros segundos.
— Tente dormir, Lyra. Amanhã será um longo dia. — E assim eu me despeço dela, sem sequer
olhar uma última vez em seus belos olhos, encosto a porta atrás de mim e em seguida deixo meu
animal tomar conta, me perdendo completamente na nossa raiva, na nossa dor e no nosso desejo.
Capítulo 4
Wyatt Moore
Observo a janela agora com o sol iluminando-a onde por toda a noite ela passou encostada
observando o horizonte, ela não conseguiu dormir, mesmo comigo no meu trailer estacionado ao
lado de sua casa. Eu não consegui fazê-la se sentir segura, mesmo depois de tê-la defendido dos
machos que a atacaram, mesmo depois de ter cuidado dela.
Toco minha cabeça confusa, eu devia prover segurança para todos, mas o que realmente estou
fazendo? Estou apenas segurando uma barreira que está vazando para todos os lados e deixando
mais uma humana entrar nessa barreira que está prestes a se romper, ligando o Sul com o Leste
só pode ser uma das piores decisões que tomei. Não que eu realmente tivesse outra escolha. Lyra
sempre teve um lugar aqui, ela tinha sido a garantia de termos ficado seguros por tanto tempo,
mas agora ela não nos protegia mais, o acordo se partiu quando Thomas se foi e agora ela estava
aqui depois de anos sem eu vê-la, aquela menina que vi tantos anos atrás estava aqui, perto
demais do caos, perto demais de mim e agora era uma linda mulher que parece mexer
diretamente com a parte do meu animal mais primitivo, a que contive por tanto tempo, a parte
que ansiava por uma companheira.
Desvio o olhar da sua janela para o horário em meu relógio, em breve terei que ir até ela, eu
preciso levá-la até Kaira, que era mais um motivo para me deixar sem escolha além de aceitar
mais uma fêmea em meu território. Kaira não conseguiria ter o bebê sozinha, prometi a ela que
traria alguém que pudesse ajudá-la, acompanhá-la durante os próximos meses e como se o
destino tivesse preparado Lyra para esse exato momento e mesmo se eu quisesse nada poderia
fazer para impedi-la de ficar.
Ouço a porta de madeira ranger, eu teria que consertá-la, talvez isso a fizesse sentir menos medo.
Levanto-me da cadeira, dando um último gole no meu café preto, e abro a porta de metal do meu
trailer velho, observo-a soltar os dois cachorros, e olhar para trás para a porta aberta.
— Vocês podem sair se quiserem — ela fala, mas não há movimento. Noto seu olhar triste se
voltar para os cães que parecem estar aproveitando o tanto de árvores que eles têm para
exploração e para a marcação de seu território. Eu terei que me acostumar com o cheiro deles.
Aproximo-me devagar para não a assustar e paro ao seu lado.
— Como você está? — pergunto mesmo tendo a observado desde que o sol começou a despontar
no céu.
— Estou bem — responde, sem me olhar. Talvez porque saiba que veria a mentira em seus
olhos, mas se ela me olhasse também saberia que ela não precisava mentir para mim.
— Hércules? — questiono, finalmente trazendo seu olhar para mim, ela me observa e um
pequeno sorriso surge em seus lábios, contrastando contra a tristeza e o cansaço dos seus olhos.
— Ele está bem, ele comeu alguns pedaços de maçã e se irritou com Sissy e Teddy deitados em
cima dele. É um bom sinal — responde, dessa vez fazendo o sorriso alcançar seus olhos. — Ele
não gosta de felinos — explica, me fazendo sorrir em sua direção.
— Espero que ele saiba conviver em paz com felinos — falo, brincando e a vejo rir.
— É só não o abraçar, e em hipótese nenhuma lamber ele. E tudo ficará bem — diz desviando o
olhar do meu rosto para frente e com um sorriso ainda presente nos lábios ela assobia chamando
os outros cães. — Venham, Apolo e Sinatra, eu preciso sair — fala para eles que passam
correndo entre nós dois para dentro da casa. — Eu precisarei de ajuda para carregar o ultrassom
— fala enquanto sobe os degraus, a acompanho.
— Eu carrego o que você precisar levar — digo, ela assente levemente.
— Irei colocar comida para eles, e água para Hércules e poderemos ir — me informa, enquanto
caminha para a cozinha, olho para a sala que ontem cheirava a sangue e a medo, agora havia
voltado a cheirar a flores, tudo estava da forma que eu havia deixado para ela, era como se nada
tivesse acontecido, Lyra havia arrumado tudo depois que eu a deixei. Sinto olhares em mim, e
movo minha atenção para a escada. Os dois gatos me observam no último degrau, assim como
Dodô e o macaco, eles não descem. Estão com medo. De mim. Abaixo meu olhar para Apolo e
Sinatra que comem a ração que Lyra coloca para eles.
— Eles não estão com medo de mim — comento, Lyra se levanta, acariciando as orelhas dos
dois, e dirige seu olhar para a escada onde agora nenhum deles estão.
— Hércules, Sinatra e Apolo foram treinados para serem cães de guarda. Papai queria que eles
me protegessem, eu saía muito tarde da clínica, e ele não conseguia me buscar porque estava
tocando em algum bar. Assim que Hércules cresceu o suficiente, começou a ser treinado, Sinatra
eu adotei após ele ser abandonado na escola onde era treinado também para ser cão de guarda, o
único que não foi completamente treinado foi Apolo, mas isso não o impede de seguir o que os
outros fazem — explica Lyra. — Dodô tem um passado traumático, assim como Sissy e Teddy.
E Sirius não está acostumado com violência, ele é um bebê ainda, ontem o assustou muito, mas
nada que algumas distrações não resolvam com ele. Os outros precisarão de tempo para se
acostumarem com você e não ter medo da sua presença aqui.
— E você? — pergunto, mesmo que levemente eu ainda sinta o cheiro de medo nela, agora que
estávamos tão perto, Lyra se aproxima e toca meu peito por cima da camisa listrada que eu uso.
— Não tenho medo de você, Wyatt, não acho que um dia seria capaz de sentir medo de você ou
do seu tigre. — Suas palavras me fazem engolir em seco. Eu havia me esquecido que ela tinha
me visto ontem, visto meu tigre. Nenhuma mulher além da minha mãe o havia visto
completamente.
— Como você pode ter certeza disso? — indago, sentindo-o na superfície. Ela sorri se afastando.
— Eu só sei, Wyatt. Assim como sabia que você ganharia ontem. Talvez seja meu instinto felino
— diz, se afastando, ela pega os potes de comida que deixou na bancada da cozinha e sobe as
escadas, me deixando sozinho enquanto sinto seu toque ainda em meu peito, fazendo meu
coração bater como se estivesse prestes a pular para fora, sinto meu tigre pronto para sair, um
rugido em minha garganta. O que ela está fazendo comigo?
Lyra Gray
Caminhamos pela floresta em silêncio, enquanto eu me fazia a mesma pergunta desde que o
havia deixado na sala, após de forma espontânea ter tocado seu peito daquela forma. O que tinha
me dado na cabeça? A única explicação era a falta de sono e todo o estresse que eu passei desde
que cheguei aqui.
Eu não me arrependia do que tinha dito, porque era pura verdade cada palavra. Só me
arrependia... do toque. E agora nada eu poderia fazer sobre minha ação.
Olho de esguelha para o homem ao meu lado, 20 cm mais alto do que eu, andando
tranquilamente por entre as folhas, terra, e lama no chão. Ele caminhava como se estivéssemos
numa rua pavimentada, enquanto carregava minha mochila, com o ultrassom. Seria a primeira
vez que Kaira veria seu filhote e como ele realmente estava em sua barriga.
— Estamos chegando — avisa Wyatt, ele diminui o passo observando em volta, sigo o exemplo
e faço o mesmo, sentindo a tensão de Wyatt ser transferida diretamente para mim.
— Tem algo de errado? — pergunto, me aproximando dele. Seu olhar sai das árvores ao nosso
redor para mim, noto seus olhos azuis felinos aparecerem e em seguida ele os fecha.
— Não, é só Bryson, ele faz algumas rondas por aqui duas vezes ao dia. Ele não costuma ficar
tão perto, mas pedi para ele se aproximar para verificar, por isso o cheiro dele está tão forte —
fala, abrindo os olhos, seu azul tomado pelas pupilas dilatadas. Ele retira a mochila, e me
entrega. — Kaira está esperando você. Deixarei vocês a sós, e daqui uma hora volto para levá-la
de volta — diz, se afastando, olho para a bela cabana à minha frente, com o dobro do tamanho da
minha, caminho para a escada mais a voz de Wyatt me para no meio do caminho. — Lyra — me
chama, olho para trás para seus belos olhos azuis intensos. — Não vá embora sem mim. — Uma
ordem. E então ele desaparece por entre as árvores assim como eu o vi fazer ontem à noite, se
tornando parte da floresta.

Espalho o gel com o ultrassom, e configuro a tela do notebook, fazendo o olhar verde-escuro de
Kaira cair sobre a tela, assim como o das outras três fêmeas presentes. Rebecca, Briana e Alina.
Agora que eu já havia anotado tudo que Kaira tinha me contado sobre seus últimos meses, e toda
sua reclamação de carregar um pequeno filhote selvagem, como ela dizia dentro de si, finalmente
estávamos prontos para vê-lo.
— Finalmente vamos saber se nós ganhamos a aposta, ou os machos ganharam — comenta
Alina.
— Vocês apostaram? — pergunto, terminando a configuração, aumento o som para
conseguirmos ouvir os batimentos.
— Sim — responde Kaira. E em seguida noto as lágrimas caírem em seu rosto. — São os
batimentos?
— Sim, batimentos muito fortes. Isso é bom — falo, e em seguida aponto para a tela, para o
pequeno bebê quase todo formado na tela. — E esse é seu bebê, Kaira. E aqui... — Movo o
ultrassom, ficando feliz ao vê-lo com as perninhas abertas se exibindo. — Temos um menino —
digo, esperando a comemoração, mas quando retiro o olhar da tela, noto que não há felicidade
em volta. — Vocês perderam a aposta? — inquiro, porém nenhuma delas me responde, olho para
Kaira, há ainda mais lágrimas em seu rosto. Retiro o ultrassom e entrego a ela um pano para
limpar o gel. Ela se senta.
— Não ache que não estou feliz, Lyra — fala Kaira, Rebecca se senta ao lado dela, enquanto
Briana e Alina saem.
— O que está acontecendo? — pergunto.
— Se fosse uma fêmea, seria mais fácil mantê-la comigo. Uma fêmea não significaria nada para
o meu pai até que ela tivesse maturidade para se casar. Mas um macho... — explica Kaira,
tocando a barriga com pesar.
— Ele não é filho de um renegado? — indago, começando a entender o que significa a tristeza
de Kaira. E toda a proteção e cuidado de Wyatt por ela.
— Não. Eu fui obrigada a me casar, um casamento arranjado e consumado sem minha
permissão. Algo comum no Oeste. Mas eu fugi e agora estou aqui arriscando a vida de um bando
que não é meu — fala, abaixo o olhar, sentindo a dor de suas palavras, mesmo que elas não me
surpreendam, os casamentos arranjados eram e sempre serão comuns em regiões como o Oeste e
o Sul, mas a diferença é que com os leões não havia a falta de consentimento, e nem a fidelidade,
leoas não são submissas, a não ser que seu animal aceite seu macho como dominante, o que
raramente acontecia e que levava ao fato de as fêmeas terem mais de um companheiro assim
como os machos.
— Eu sinto muito, Kaira — declaro mesmo sabendo que minhas palavras nunca a ajudarão a
superar o que ela passou, ela sorri fraco e pega minha mão.
— Diga a Wyatt que partirei assim que o bebê nascer, antes que meu pai descubra sobre o filhote
que carrego — fala Kaira, encaro seu rosto, seus cabelos presos formam cachos em volta da sua
pele parda.
— Wyatt não vai deixar você ir embora — falo, sabendo que agora ela fazia parte do bando,
mesmo que ainda não se sentisse assim.
— Ele já tem problemas demais, e eu só trarei morte a ele e aos outros machos que restaram. —
Ela limpa as lágrimas e puxa a blusa para baixo. — Eu preciso descansar um pouco — diz,
fazendo eu e Rebecca nos levantarmos da cama, recolho o ultrassom e deixo as vitaminas que
havia conseguido para ela, deixo junto com a receita em cima da mesa de cabeceira e me retiro
do quarto parando na porta.
— Se precisar de algo, é só me chamar, venho ver você semana que vem — aviso, antes de sair.
Rebeca fecha a porta atrás de mim, e então caminhamos para a sala, onde Briana e Alina estão
com Wyatt.
— É mesmo um macho? — pergunta, assinto confirmando.
— Eu não achei que vocês ganhariam a aposta — fala Briana, tentando aliviar o clima. Me
fazendo finalmente entender o porquê da aposta ter sido feita. Eles queriam que Kaira aceitasse a
ideia de que ela estaria carregando dentro de si um macho, um filhote que atrairia a atenção do
Oeste.
— Por que não a junta com um dos machos, Wyatt? — Deixo sair a pergunta, fazendo todos
olharem em minha direção. — O Oeste não sabe que ela está grávida, se ela tiver um
companheiro aqui vão supor que esse bebê pertence a ele.
— Depois de tudo que ela passou, juntar ela a um macho? — inquire Rebecca.
— Ela não precisa se juntar a ele completamente. Não é isso que estou dizendo.
— Só precisa parecer — fala Alina. Ela caminha em minha direção sorrindo. — Finalmente
alguém com boas ideias.
— Não vou deixar os machos se aproximarem dela — nega Wyatt. Noto os olhares que Briana e
Alina trocam entre si. Rebecca se aproxima de Wyatt.
— Coloque Art ou Warren aqui. Eles são ursos pardos, são calmos e não passam pela loucura da
reivindicação — pede Alina. Wyatt continua negando.
— Então coloque Bryson. Ele é seu braço direito, Wyatt, você confia nele o suficiente, ou não
teria colocado ele para vigiar a casa — fala Briana. — Você sabe, todos nós sabemos que essa é
a única opção que resta aqui, você se negou a fazer isso quando Kaira chegou, mais não pode
continuar o fazendo. Bryson é a melhor opção. Você sabe tão bem quanto eu, que ele e Byron
jamais fariam mal, não depois do que eu e Alina passamos.
— Ela precisa de um macho que fique 24 horas com ela, ainda mais nos próximos meses. Ela
não pode ficar aqui sozinha como tem sido feito. Em breve ela não vai poder se locomover
muito. Ela precisará de ajuda — explica Alina, Wyatt olha para fora pela janela e em seguida
caminha para a porta.
— Venha, Lyra. — Olho para as fêmeas uma última vez e saio acompanhando Wyatt que
caminha a passos rápidos na minha frente, consigo sentir a raiva que se espalha por todo seu
corpo, então simplesmente coloco a mochila nas costas e o sigo em silêncio novamente, sabendo
que dessa vez talvez eu tenha cometido o erro de falar, quando na verdade deveria ter guardado
para mim a ideia, mesmo que o rosto triste de Kaira ainda apareça sobre mim. Uma mulher
grávida, sendo shifter ou não jamais deveria ficar triste por ter um menino ou uma menina dentro
de si, descobrir o sexo era um momento de alegria, ao ouvir e ver o seu filhote era para ser um
momento de felicidade não de pesar como havia sido para Kaira.
— Wyatt — o chamo, mas ele não olha para trás, continua seguindo em frente. — Kaira merece
se sentir segura. Ela merece sentir que seu bebê está seguro.
— E como a possibilidade de um macho que deveria protegê-la atacá-la poderia ajudar nisso? —
pergunta, parando de caminhar e se virando em minha direção. Seus olhos estão completamente
transformados. A pupila nada mais que um ponto do intenso azul dos olhos do seu tigre.
— Eu me sinto protegida com você — falo, ele sorri e noto os seus caninos avantajados. Seu
tigre empurrando contra seu corpo humano.
— Eu posso atacá-la — afirma, descendo seu olhar pelo meu corpo, um arrepio sobe pela minha
nuca.
— Mas não vai — digo firme. Ele mantém o sorriso, mas dessa vez como um predador ele
começa a me rodear, seu nariz toca meu pescoço, me cheirando.
— Tem certeza disso? — pergunta, parando atrás de mim, sua presa roçando na pele sensível do
meu pescoço. Mordo o lábio. Não sinto medo. Ele sabe disso, porque consegue sentir o medo
como um bom predador a distância.
— Me diga você, Wyatt. Você é que tem um belo olfato, diga o que sente em mim — provoco, e
ele se afasta.
— Não sabe do que sou capaz — garante, me viro para ele.
— Na cama? Realmente eu não sei — continuo provocando e vejo-o se afastar ainda mais. — Há
quanto tempo não dorme com uma fêmea, Wyatt? — pergunto, ao mesmo tempo que meu
subconsciente inquire: Você enlouqueceu, Lyra Gray?
— As fêmeas não gostam de mim — fala e noto uma certa mágoa em sua voz, diminuindo o
fervor do meu avanço. — Sou muito agressivo, não consigo separar o tigre de mim quando estou
excitado.
— Isso não deveria ser um problema para fêmeas como Briana e Alina — comento, elas eram
leoas, a brutalidade era normal no sexo entre felinos.
— Mas é. E era antes também quando havia muitas fêmeas — diz, desviando o olhar do meu,
noto seu tigre perdendo a força ao mostrar sua vulnerabilidade.
Me aproximo dessa vez sem vê-lo se afastar e toco seu rosto levemente antes de vê-lo fugir.
— Vamos, eu quero apresentá-la para os outros machos — fala, enquanto a tristeza pelo seu
afastamento me abate, mas o sentimento é dividido com a surpresa.
— Você não me esconderá como as outras fêmeas? — inquiro.
— Porque eu esconderia algo que está sob minha supervisão 24 horas por dia? — pergunta,
olhando fixamente para a frente, apresso o passo e mantendo minha ousadia anterior, retiro a
mochila das costas e empurro para ele.
— Eu não sou como as outras fêmeas, não tenho medo de você, Wyatt, posso não ter certeza de
todas as sensações que você me causa, mas tenha certeza de que nenhuma delas me pedem para
ficar longe de você, na verdade, me pedem exatamente o contrário. — São as últimas palavras
que eu falo antes de me virar e focar no caminho à minha frente.
Capítulo 5
Lyra Gray
Sento-me no enorme banco de madeira e me encosto na mesa, observando Wyatt acenar para
quatro homens encostados em um caminhão cheio de troncos de árvores.
— Por que tantos troncos? Achei que vocês faziam a plantação e o reflorestamento da reserva —
falo, analisando parcialmente os homens que caminham em minha direção completamente sérios.
— Tivemos uma infestação de besouros em algumas áreas, não temos ideia ainda do porquê.
Rebecca está estudando sobre isso, mas ainda sem reSultados. Knight pediu para que em vez de
esperar para tentar tratá-las, seria melhor retirá-las para a infestação não se espalhar — explica
Wyatt, assinto tentando compreender o máximo do assunto, ao notar a forma que Wyatt fala do
trabalho de forma cuidadosa, sorrio levemente o encarando uma última vez antes de voltar a
minha atenção para os homens parados agora à minha frente.
— Bryson, Byron, Art e Warren — apresenta Wyatt, encaro o primeiro. Bryson seus cabelos
com um corte estilo militar, sua barba loira grossa e curta, combinam perfeitamente com sua pele
dourada, provavelmente por trabalhar no sol, seus olhos têm um tom dourado ouro como os
meus, muito comum nos genes de leões. Bryson me cumprimenta com um leve aceno de cabeça
sem nem mesmo me olhar diretamente nos olhos, respeito sabendo que ele agia assim por medo
de se aproximar, assim como Byron ao seu lado. Encaro o homem tão sério ao lado de Bryson,
seus cabelos são de um loiro mais escuro e comprido, uma barba por fazer, pelo menos 10 cm
abaixo do seu irmão, e seus olhos de um tom azul completamente diferente de Bryson. Ele me
olha e me cumprimenta com um curto mais breve sorriso antes de voltar para sua seriedade. Seu
olhar vai para Wyatt ao meu lado.
— Preciso retirar os troncos — avisa, e Wyatt o libera com um breve aceno, Byron some de vista
indo em direção ao caminho, que logo começa se mover para cada vez mais longe.
— Ele precisa levar as madeiras para outra área ou ficaremos atrasados — explica Wyatt, assinto
e sigo o olhar para os últimos dois homens, diferente dos dois leões, recebo enormes sorrisos em
minha direção. Art com lindos olhos verdes brilhantes, com um leve tom de castanhos neles,
parece satisfeito em olhar algo que não seja machos ao seu redor. Ele é tão alto quanto Wyatt e
Bryson, seu cabelo comprido dá a ele um ar rústico e típico de lenhador. Ele não me olha com
medo ou receio, e isso me faz gostar dele imediatamente.
— Lyra. — Art me cumprimenta, levantando a mão a qual aceito tranquilamente.
— Art — falo de forma brincalhona pelas nossas apresentações sérias, o fazendo sorrir mais
largamente. Solto sua mão e olho para Warren que assim como Bryson possui um corte militar,
mas seu rosto sério apenas é uma fachada para o brilho divertido em seus olhos castanhos
escuros enquanto aceita minha mão.
— Warren, querendo continuar vivo — diz, fazendo-me desviar meu olhar para Wyatt
completamente sério ao meu lado, o que me faz soltar uma risada.
— Não se preocupe, eu o mantenho na linha — digo, piscando um dos olhos para o tigre
desconfortável ao meu lado.
— Voltem a trabalhar — Wyatt manda, fazendo os dois rirem enquanto se despedem de mim e
seguem para dentro da floresta. — Bryson. — Wyatt impede de sair, e observo o leão assentir
parecendo já saber do que se trata.
— Alina e Briana já falaram comigo, Wyatt — fala Bryson, vejo Wyatt suspirar em reprovação.
— Fêmeas — ele resmunga, e contenho a risada.
— Eu sei que está preocupado, mas elas estão certas. Kaira precisa de uma proteção que consiga
ficar com ela 24 horas por dia ainda mais nos próximos meses. — Bryson não parece feliz com
isso tanto quanto Wyatt. — Eu estacionarei meu trailer ao lado da casa dela, assim como você
está fazendo com Lyra.
— Todos vocês moram em um trailer? — pergunto, fazendo os dois olharem em minha direção.
— Todos os machos moram em um trailer, derrubamos todas as casas que havia. É mais seguro
se conseguirmos nos locomover para qualquer lugar da floresta — explica Bryson, sua voz é
séria e forte. Seu rosto parece nunca ter sorrido antes, e seus olhos parecem carregar apenas dor,
não há brilho nem emoção neles, e isso por mais triste que pareça é mais comum do que deveria
ser em shifters leões.
— Você terá que ficar muito perto dela, Bryson — fala Wyatt de forma pesarosa. Como se
previsse o que aconteceria.
— Eu jamais machucaria uma fêmea, não depois do que minhas irmãs passaram e depois de tudo
que passamos por elas, Wyatt — afirma Bryson, Wyatt assente, parecendo finalmente aceitar que
essa é a melhor e a única decisão que resta.
— Se mude hoje após o trabalho. Estarei lá para apresentar você a ela. — Com isso Bryson
assente e sai nos deixando a sós. Me viro para Wyatt. — Eu não sei como isso poderá dar certo
— ele comenta, sem me olhar nos olhos.
— Não seja cético. Confie no seu bando, Wyatt — falo, fazendo-o voltar seu olhar para mim, ele
se aproxima lentamente, querendo me fazer recuar como uma presa faria, mas eu não o faço, não
dou nenhum passo, o afrontando.
— Você não vai me fazer andar pela floresta toda de novo, não é? Porque eu vi a estrada de terra
para os carros — comento, vendo um sorriso e um brilho cruel crescer em seu rosto.
— É melhor conseguir me acompanhar, Lyra, ou vai se perder na floresta — fala antes de se
afastar e começar a caminhar. É isso que dá confrontá-lo. Comenta meu subconsciente de forma
sarcástica. Enquanto um sorriso cresce em meus lábios, eu gostava de sentir a adrenalina, o
arrepio em meu pescoço e as sensações que meu corpo sentia ao vê-lo se aproximar, ao ver o
tigre despertar em seus olhos. É instigante e excitante mexer com a fera dentro dele.

Wyatt Moore
Observo da porta onde estou encostado Kaira analisar Bryson de cima a baixo e então se virar
para mim.
— Eu falei para Lyra dizer que eu vou embora depois que o bebê nascer — comenta Kaira. —
Eu não preciso de um gato para me defender.
— Eu não sou um gato, sou um leão — Bryson a corrige, o que faz Alina e Briana rirem,
enquanto Rebecca balança a cabeça indignada, ela tinha dado informações úteis sobre Kaira e os
hormônios dela a tarde inteira para ele, após eu finalmente decidir correr o risco de apresentá-los,
preenchendo a todos com informações que nós machos realmente não gostaríamos de saber sobre
uma fêmea.
— Eu sei o que você é, foi um comentário sarcástico — fala Kaira, dirigindo seu olhar para mim
e apontando para Bryson, enquanto se senta indignada no sofá. Me afasto da porta e vou até ela
sentando-me ao seu lado.
— Você não vai embora quando esse bebê nascer, Kaira, aqui é o único lugar onde você pode
criá-lo de forma segura. Você faz parte do meu bando agora, assim como seu bebê, e Bryson é
necessário para sua proteção. Ele é um dos machos que eu mais confio para defender você, ele é
um grande guerreiro tão bom quanto eu, e se algum shifter do Oeste vir até você, ele o matará
sem problema algum — explico e noto Kaira respirar fundo enquanto tenta segurar as lágrimas
sem sucesso.
— Eu não quero ser um peso para nenhum de vocês — diz Kaira, deixando as lágrimas
escorrerem junto com um choro aberto, olho para Rebecca que entende o recado e vem para
confortá-la, toco sua mão levemente e me levanto, saindo junto com Bryson, deixando as fêmeas
cuidarem dela.
Escoro-me na porta entreaberta, dirigindo meu olhar para a luz ao longe, a luz que ilumina a
cabana de Lyra, ela ainda estava acordada mesmo depois de ter passado toda a noite de ontem
em claro. Ela devia estar descansando. Sinto a preocupação pela fêmea teimosa e provocadora
crescer dentro de mim, foco meu olhar em Bryson que está completamente quieto, e noto seu
olhar e seu corpo completamente vidrado em Kaira escondida por baixo dos braços de Rebecca,
Alina e Briana.
— Ela é pequena e frágil, por que um macho a machucaria? — pergunta Bryson, voltando seu
olhar para mim, fazendo-me notar o leão na superfície em seus olhos dourados.
— Para ter o que ela não queria dar a ele — respondo. Noto um vislumbre no rosto de Bryson,
nos seus olhos. Um que jamais achei que veria nele.
Eu sempre soube que machos leões tinham mais dificuldades em encontrar uma companheira por
conta dos seus genes de reprodução, ainda mais Bryson um sangue puro. Raramente acontece o
que estou presenciando, um leão sentindo o laço de companheirismo com um único contato com
sua companheira, seu animal se conectando instantaneamente com ela... e com o filhote.
Meu pai contara sobre isso, ele tinha visto acontecer com uma leoa e um dragão, mas eu nunca
testemunharei isso até hoje, e muito menos pensei que veria acontecer com um macho como
Bryson, no leão na superfície de seu olhar. Um leão que Bryson controla com toda sua força
desde a morte dos machos que atacaram Briana e Alina.
— Bryson. Controle seu leão — mando, vendo-o balançar a cabeça retornando o controle. Ele
me olha preocupado, mas pela primeira vez eu não sinto o temor que deveria por colocar um dos
meus perto de uma fêmea. — Cuide dela — ordeno, noto-o abrir a boca para dizer algo, mas o
olho sério. — Cuide dela.
Deixo-o ali e caminho para dentro da floresta, sentindo que talvez eu tenha cometido um grande
erro por todo esse tempo ao separar meu bando dessa forma. E se eu em vez de mantê-los seguro
esteja impedindo-os de serem felizes? E se eu estiver mantendo possíveis companheiros longe
um dos outros? Eu conheço muito bem Bryson, o suficiente para saber que ele tinha percebido o
que eu percebi, e por isso o medo parecia tão explícito em seu olhar, talvez tão explícito quanto o
meu.
Sou absorvido pela floresta escura ao meu redor. Pensando em quantos erros eu havia cometido
desde que assumi o poder do meu pai, e como eu poderia corrigi-los?
Bryson teria Kaira agora, mas e os outros? Deveria fazê-los se encontrarem? Valia o risco?
Talvez com Art e Warren, mas... com Byron eu não sei. Ele é instável. Diferente de Bryson que
aprendeu a manter seu leão dentro de si, Byron precisava se transformar todas as noites, para
libertar seu leão que lutava pela superfície constantemente mesmo essa não sendo sua verdadeira
vontade. Eu não posso me arriscar a perder mais nenhum macho, ou não terei forças para
defender as fêmeas. Seria no fim arriscar demais, pelo menos por enquanto. Talvez quando tudo
finalmente terminasse, eu poderia finalmente aproximá-los. Só espero que não seja tarde demais,
nem para eles... nem para elas.
Porque assim como eu, eles haviam caído na falta de esperança de um dia encontrar uma
companheira e no medo do que poderia acontecer ao encontrá-la, como o meu medo em relação a
Lyra, sua provocação, a verdade das minhas palavras ditas a ela, ainda rodeavam minha mente.
Meu sangue e tudo dentro de mim fervia só pela lembrança. Eu preciso me afastar dela, mas ao
mesmo tempo que eu quero isso, sinto a necessidade de me manter perto o suficiente para tocá-
la, para sentir seu cheiro e meus dois desejos se debatem como o tigre dentro de mim para sair.
Capítulo 6
Wyatt Moore
Observo as luzes acesas da cabana e encaro o relógio em meu pulso. São duas da manhã quando
finalmente chego à cabana, tive que soltar a fera de dentro de mim para apaziguar o temor do que
ela poderia fazer, do que nós dois poderíamos fazer ao chegar perto de Lyra.
Passo por Apolo e Sinatra que correm pelas árvores atrás da bola que Lyra joga distraidamente,
não me parece que eles estão indo dormir, assim como ela que está sentada com uma xícara de
café, que consigo sentir pelo cheiro o quão forte está, seu olhar se encontra fixo em um caderno
antigo em sua mão.
Seu olhar só levanta para me encontrar quando piso no primeiro degrau da cabana que range sob
o meu peso. Ela acompanha cada passo que dou até o último degrau que fica a menos de um
metro de distância dela. Eu deveria correr para longe, para a segurança do meu trailer ou da
floresta, porém a preocupação com ela me consome, me corroendo por dentro de forma dolorosa
e intensa, enquanto observo as olheiras escuras debaixo dos seus belos olhos dourados sempre
desafiadores e brincalhões quando se dirigem a mim.
— O que faz acordada tão tarde, Lyra? — pergunto, me encostando contra o corrimão de
madeira da entrada, sentindo seu olhar avaliativo descer pelo meu peito descoberto, noto seu
olhar se tornar apreciativo e desejoso. Eu queria poder fazer o mesmo que ela. De olhar e
apreciar seu corpo sem perder o controle de mim mesmo.
Lyra Gray
Fecho um dos cadernos de anotações de vovó, e encaro Wyatt descendo meu olhar pelo seu peito
descoberto, por que eu sempre tinha que encontrá-lo dessa forma? Sinto os pelos de minha nuca
se arrepiarem, e borboletas no meu estômago baterem asas, mordo os lábios e foco minha
atenção em sua pergunta. Uma que poderia ter uma simples resposta, mas que comigo tinha uma
complexa e dolorosa lembrança por trás como todo meu passado.
— Eu tenho problemas para dormir. E todos já estão acostumados com isso — falo, olhando para
Sinatra e Apolo que ainda procuravam a bolinha que eu tinha jogado entre as árvores. Enquanto
Dodô e Sirius assistem o planeta animal no Tablet, junto com Sissy e Teddy no quarto, enquanto
o único que realmente dormia estava aconchegado em cobertas dormindo. Hércules em breve
estaria me acompanhando em minhas noites de insônia correndo pela floresta.
— É por causa do que aconteceu? — inquire Wyatt. Nego com a cabeça. O que aconteceu ontem
foi apenas mais uma fagulha para tudo que aconteceu no passado. Encaro seu olhar coberto de
preocupação e culpa que atinge diretamente meu coração e decido contar algo que apenas
Thomas sabia.
— Quando eu era mais nova, logo que me mudei para Nova Orleans nós vivíamos em um bairro
que parecia muito bom, com escolas boas, era o bairro perfeito escolhido a dedo por Thomas
para nós vivermos, para ele me criar, mas então após nos mudarmos, uns 2 anos depois, as coisas
mudaram. Thomas fazia shows de Jazz no centro, ele tocava piano e era muito requisitado.
Chamavam ele de Beethoven do Jazz, então ele me buscava na escola, me alimentava e me
deixava sozinha, era um bairro seguro, muitos pais músicos que moravam ao redor faziam o
mesmo. Eu já tinha uns 13 anos, sabia o que era certo e o que era errado.
“Então quando ele saia eu trancava a porta, assistia um pouco de TV, fazia a lição de casa e ia
para cama. Mas em uma noite aconteceu algo diferente. Enquanto eu ia para cama, escutei um
barulho na porta dos fundos...”
— Machucaram você? — pergunta Wyatt me interrompendo, noto a tensão em sua mandíbula
assim como um dos seus belos olhos azuis se tornarem felino.
— Não, eu consegui correr e me esconder no porão durante todo o assalto, mesmo quando eu
percebi que eles haviam ido embora, não consegui sair. Thomas teve que me retirar de lá, eu
estava em estado de choque. Acho que depois de tanto tempo realmente percebi que não estava
mais protegida por grandes e temidos leões, por um bando e que na verdade eu estava
completamente sozinha e desprotegida — falo com um certo pesar. — Nós nos mudamos e
Thomas comprou uma arma, ele não me deixava mais ficar sozinha após a escola, me levava
com ele para os shows. E foi assim até ele ficar doente — conto, com um pequeno sorriso nos
lábios. — Ele insistiu que colocássemos os três para o treinamento de guarda, mas nós dois
sabíamos que isso não apaziguaria o medo que ainda tínhamos do que havia acontecido tantos
anos atrás. Faz seis meses que não tenho uma boa noite de sono. Eu durmo e acordo, e depois de
ontem nem isso consigo fazer — digo, e então volto a encará-lo. — Eu vou precisar de um tempo
para me acostumar que estou sozinha com eles, talvez em alguns meses aqui me acostume
finalmente que Thomas se foi, e que não tenho mais ninguém para me proteger, para apaziguar
meu medo da solidão — comento, sentindo a tristeza do luto e do medo me abater novamente.
Wyatt desvia o olhar do meu para encarar a porta atrás de mim, e em seguida encarar seu trailer,
e quando volta a me encarar, sinto a força que ele faz quando suas palavras saem me
surpreendendo e imediatamente me tranquilizando.
— E se eu dormir na cabana, você se sentirá mais segura? — indaga.
Wyatt Moore
— Eu posso dormir no quarto de hóspedes. Se você não se importar — continuo, sabendo que
depois das palavras que ela me disse, a única coisa que apaziguaria a fera dentro de mim, seria
confortá-la da única forma que eu poderia. Dando a ela proteção.
Vejo a tristeza sair de seu rosto, um pequeno sorriso envergonhado e uma cor vermelha surgir
em suas faces. Completamente diferente da mulher que me provocou com tanta intensidade no
meio da mata, ela parece frágil, e eu sinto mesmo que leve o cheiro de medo vindo dela.
— O quarto de hóspedes está inutilizável — fala, se levantando. Ela coloca o café na mesinha de
madeira, e olha para longe de mim para a floresta.
— Eu sei, foi o único cômodo que eu não limpei — digo, e vejo a surpresa tomar sua expressão.
— Era você que morava aqui, então? — pergunta, desviando seu olhar para o trailer. — Sinto
muito por tirar você do conforto.
— Meu trailer é confortável, meio velho, mas eu só durmo nele, então... — Olho para ela sem
jeito. — Eu posso limpar o quarto — digo, ela nega com a cabeça.
— Eu já o limpei, esse não é o problema de ele estar inutilizável — comenta sem jeito. — Acho
melhor você ver... ou melhor sentir — diz, e caminha para dentro da cabana, a sigo enquanto
Apolo e Sinatra correm por entre nós dois escada acima, enquanto a sigo, sinto seu cheiro de
menta e de frutas subir em meu olfato, desço meu olhar pelo seu pijama que consiste em uma
camisola e um pequeno roupão fino por cima que não esconde suas belas curvas. Ela abre mais a
porta do quarto de hóspedes e para na entrada me fazendo parar a poucos centímetros atrás dela.
Meu olhar cai diretamente na cama, onde Sinatra se espreguiça.
— Eu posso tirar ele dali — falo, tranquilamente passando na sua frente e então entendo o que
ela diz. O cheiro.
— Eu não tenho o seu olfato, mas se eu consigo sentir...
— Por que está fedendo desse jeito? — falo, tampando o nariz, o que a faz rir.
— Sinatra tem um problema salival. Eu cuido mais isso não quer dizer que diminua a baba dele,
nem o fato dele gostar de rolar na terra molhada, talvez por isso eu aprecie tanto ele ser espaçoso
e querer um espaço só dele. Você até pode dormir aqui, só que depois de uma intensa limpeza e
talvez jogar o colchão fora — explica, caminhando para fora do quarto, a acompanho e encosto a
porta.
— Ele precisa de um banho, e esse quarto de ser queimado — comento, fazendo-a rir, o que é
um alívio. O sorriso dela é incrível, e sua risada é contagiante. — Eu vou dormir no sofá da sala,
aquela área parece ser a única a não feder a cão molhado. — Sua risada aumenta, e ela assente,
concordando comigo.
— Hércules está dormindo comigo, então você terá o único cômodo que cheira a flores — fala,
descendo as escadas. — Você parece sortudo para mim — diz, me fazendo sorrir.
— Eles sempre dormiram com você?
— Não, todos dormiam na sala, regras da casa de papai, mas depois que ele morreu, eu não
queria ficar sozinha então dormimos juntos, só Sissy e Teddy na cama. Os outros nas caminhas
que eles possuem, e Sinatra continuou dormindo no sofá como sempre. Assim que Hércules
estiver melhor pretendo deixá-los todos dormindo juntos aqui embaixo, usarei o quarto em cima
para criar um escritório — explica, me observando enquanto ajeito as almofadas do sofá. —
Você quer que eu pegue cobertores? Eu tenho alguns ainda dentro das caixas...
— Não, eu tenho alguns no meu trailer. Pode ir para cama, Lyra, você precisa descansar, eu
apago as luzes e tranco a porta — falo, ela assente sem me olhar nos olhos enquanto volta pelas
escadas, ela para no meio dela.
— Obrigada por ficar aqui comigo — agradece, ficando parada um tempo e um silêncio
preenche o ar.
— Nada chegará a você sem passar por mim primeiro — digo, ela assente desta vez focando seus
belos olhos em mim rapidamente antes de sumir de vista escada acima, me deixando sozinho
perto demais do meu objeto de desejo e de descontrole. Eu a protegerei de todos... até mesmo de
mim se necessário.
Capítulo 7
Lyra Gray
Alguns dias depois...
Olho para Wyatt ao longe cortando lenha para os nossos marshmallow. Nós dois criamos uma
rotina juntos, que consistia em tomarmos café, cuidarmos de Hércules que finalmente agora já
andava por toda a casa sem precisar de ajuda e em seguida caminhávamos até Kaira para eu
poder fazer companhia a ela e depois até a clareira onde as árvores eram descartadas, ficava lá o
esperando até o horário do almoço quando ele me levava de volta para a cabana, onde meu dia
era rodeado pelas brincadeiras e cuidados com o meu pequeno bando até o cair da noite quando
finalmente Wyatt voltava para jantarmos.
Eu não achei que depois dos dois dias intensos que passamos juntos que ele fosse aceitar ficar
tão perto de mim dessa forma, mas não houve resistência. Nem quando eu me sentei ao seu lado
na nossa primeira manhã juntos, e coloquei à sua frente seu café da manhã. Na verdade, ao
contrário disso, ele parecia determinado e tranquilo com a escolha que tinha feito.
Wyatt me informou sobre as regras que as fêmeas seguiam aqui no Leste para mantê-las seguras.
Que consistia em: Nenhuma fêmea deveria andar sozinha pela floresta. Obviamente com
exceções claras. Como Alina e Briana que trabalhavam juntamente com Bryson e Byron.
Rebecca que sempre estava com Wyatt quando precisava trabalhar pela floresta, o que acontecia
poucas vezes, já que metade do tempo ela trabalhava diretamente com Knight e Wyatt ou no
trailer de pesquisa. Kaira passava metade do tempo com Rebecca, ou sozinha na casa ainda mais
quando seus pés pareciam não aguentar mais. Felizmente, agora ela tinha Bryson para distraí-la
ou irritá-la como ela tinha reclamado para mim hoje sobre o quanto o macho era mandão. O que
me fez rir, sabendo exatamente o que estava acontecendo entre os dois.
Eu pensei muito sobre o que Wyatt impôs as fêmeas, e percebi por que nenhuma delas se
importava e porque eu não me importei mesmo sabendo que isso me prenderia à cabana e ao
redor dela, eu assim como as outras sabia do que os outro shifters poderiam ser capazes, do que
os leões do Sul poderiam ser capazes. O Leste estava em guerra não só com eles, mas com o
Oeste e o Norte. Mesmo que nenhum dos dois viessem a atacar sem a ordem direta do Sul, Wyatt
precisava se prevenir, ainda mais por Kaira que tinha ligação direta com o Oeste. A verdade era
que tudo que poderíamos aceitar era o temor de Wyatt e dos outros machos nos mantendo
obedientes e quietas, mesmo quando era entediante, provavelmente mais para mim do que para
as outras que tinham suas funções para manter suas mentes ativas, enquanto eu todos os dias
tentava conter a vontade incessante de explorar, e provocar Wyatt e o tigre que ele escondia
dentro de si, que aparentemente tinha apaziguado sua própria força ao me ter onde queria.
Obediente e sob sua supervisão constante que no fundo também havia tido um efeito em mim.
Ter Wyatt, seus olhos e seu corpo tão perto, protegendo-me tinha apaziguado a sensação de
provocá-lo, de ver seu tigre. Ele parecia calmo, até mesmo feliz pela tranquilidade que parecia
ter nos rodeado, e rodeado a todos, mesmo quando sabíamos que não duraria muito. Porque aqui
no Leste a paz nunca durava... era o que minha avó dizia em todos os diários. Eu os lia agora
com uma nova perspectiva. Diferente de quando os li anos atrás, suas palavras pareciam ser
sentidas profundamente em meu coração, ainda mais quando ela falava de tudo que ela tinha
vivido enquanto estava aqui, antes da revelação de Wyatt. Ela dizia que o Leste era diferente de
todos os outros lados, era vivo e a fazia se sentir assim também, mesmo sabendo o que a
esperava quando voltasse ao Sul e o que em breve aconteceria ao Leste.
Vovó havia ajudado Railey, mãe de Wyatt a tê-lo. Ela sabia o que ela era. Porque a vovó
guardava a gerações livros que continham todos os shifters existentes dessa região, e seus
bandos. Livros esses que eram passados de geração em geração para a escolhida de manter esse
segredo. Vovó não era uma contadora de histórias, mas um cofre das mais puras verdades, talvez
por isso ela tenha guardado tudo para si após voltar ao Sul para se casar com Conrad e
finalmente parado de se aprofundar em todas as origens ao redor do Leste, até porque ela
também tinha tido um filho do Leste que crescia no Sul para ser o futuro alfa. Ela não tinha
falado nada sobre isso é claro, mas estava claro em cada palavra ao acompanhar o final da
gravidez de Railey. Sua compreensão pelo que havia acontecido com ela, e a escolha que ela
havia feito a anos atrás. Minha avó citava levemente Thomas em seus diários, sem nunca deixar
claro a conexão que os dois tinham, contudo, para mim sempre esteve claro, e agora parece ainda
mais claro, porque eu tenho a compreensão dos sentimentos confusos que surgiam nas palavras
da minha avó, porque eu sinto o mesmo.
— Tudo bem, Lyra? — pergunta Wyatt, me puxando para fora das chamas e da confusão dos
meus pensamentos. Assinto, sabendo que a preocupação do caos que em breve poderia tomar a
floresta em volta de nós, era tão forte quanto o caos que poderia me tomar se eu continuasse a
adentrar mais nas palavras de vovó, seu romance proibido e o caos que havia tomado o Leste na
mesma época em que um filhote vinha ao mundo enquanto outro já vivia nele.
— Estou bem — respondo, abrindo espaço para Wyatt passar pela porta com os pedaços de toras
cortadas, ele as empilha dentro da lareira, enquanto pego os marshmallows e alguns pedaços de
queijos, deixando apoiados na mesa de centro. Me sento na cadeira em frente à lareira me
aquecendo e tentando ignorar o olhar fixo que Wyatt mantém em mim.
— Você está assim desde que começou a adentrar aqueles cadernos velhos — comenta Wyatt,
me observando. Encaro seus olhos e o vejo se aproximar até sentar-se ao meu lado na cadeira
que eu tinha separado para ele, tão perto e tão longe ao mesmo tempo de mim.
— São meio que diários da minha avó — falo, sabendo que mesmo que eu já não fizesse parte do
Sul, minha avó havia me dado o seu cofre, e eu o tinha o tornado o meu, assim como as suas
palavras se tornaram as minhas que seriam guardá-las e utilizá-las para salvar e cuidar das
fêmeas e de seus filhotes até que um dia eu o passasse para a próxima geração ou decidisse
dividir elas com alguém.
— Sua avó fala sobre minha mãe? — indaga Wyatt. Assinto e uma pergunta me vem à mente.
— Você se lembra dela? — Ele assente, parecendo não querer adentrar no assunto tanto quanto
eu, eu sabia que era uma marca que ele não só carrega na alma, mas na pele toda vez que se olha
no espelho e vê sua cicatriz.
— Minha avó conta em algumas páginas a forma em que Railey falava com você na barriga dela,
e fazia seu pai fazer o mesmo enquanto ele resmungava, dizendo que era ridículo — comento
com um pequeno sorriso. Encaro Wyatt e o vejo sorrir levemente, ele ainda sofria pela perda
dela, talvez mais do que com a perda de seu pai.
— Sua avó fala sobre o que aconteceu? — pergunta, agora desviando o olhar para as chamas que
começam a arder contra a madeira.
— Sim, pouco, mas fala. Ela comenta sobre como todos começaram a temê-lo pela sua cicatriz.
Pela forma que um tigre, mesmo adolescente, pequeno em comparação a um Leão adulto
conseguiu vencer, e se vingar — falo, vendo-o fechar os olhos.
— Ela entrou na frente para me defender, para me proteger e enquanto ele a atacava, eu o
ataquei. Ela se sacrificou por mim. Quando eu deveria ter feito isso — conta Wyatt com pesar,
noto a dor em seus olhos quando ele os abre focados em mim.
— Uma mãe sempre vai proteger seus filhotes mesmo que isso custe a vida dela, Wyatt —
pontuo, firme sentindo as lágrimas me tomarem. — Pelo menos as mães que amam
verdadeiramente seus filhotes. — A dor em minha voz é tão palpável quanto a dor nos olhos do
homem à minha frente, e em seu tigre de repente tão nítido quanto nossas lembranças.
— Minha mãe deu demais por mim, enquanto a sua não deu nada — fala, sorrio triste e toco seu
rosto no lado onde a cicatriz domina.
— Não deveria se culpar pelo que ela fez, Wyatt, ela não gostaria que o fizesse. Todos nós
fazemos uma escolha, e sabemos o que vem com ela — declaro, o fazendo sorrir de lado, um
tímido sorriso, acaricio sua cicatriz, seguindo a linha branca em todo o lado direito do seu rosto,
enquanto ouço um ronronar gostoso sair do seu peito, me fazendo abrir um enorme sorriso
surpreso e apreciativo. Wyatt está ronronando com um simples toque meu e mais do que isso...
ele está vermelho. Ele se afasta da minha mão. Constrangido. E isso me faz soltar uma risada
enquanto me curvo em sua direção, me aproximando cada vez mais, acabando com a distância
corporal que havíamos criado durante a semana.
— Não, Lyra — Wyatt fala sério, contendo minha mão que tenta novamente tocar em seu rosto.
— Eu fiz seu tigre ronronar — falo, me sentindo extremamente orgulhosa pelo meu pequeno
feito. Wyatt me solta e começa a se afastar, porém, em uma atitude impulsiva eu me levanto, e
passo minhas pernas ao redor do seu quadril, sentando-me em seu colo. Toco seu peito por cima
da camisa preta, sentindo o ronronar aumentar conforme acaricio seu peito, suas mãos vão para
minha cintura, mas não se movem. Encaro seus olhos, agora totalmente entregues ao tigre que
me olha de forma feroz, enquanto analiso seus dentes caninos completamente proeminentes
saírem pelos seus lábios fechados.
— Lyra... — Sua voz sai grossa, como um rugido contido.
— Por que se contém? Não sinto medo de você, nem do que eu vejo — falo firme, passando
minha outra mão pelos seus cabelos loiros.
— Você causa em mim o que nenhuma outra fêmea já causou. Eu conseguia me controlar com
elas, mesmo que por poucos segundos, mas com você... — fala, agora apertando com força
minha cintura. — E eu sei o que isso significa, sei o que significa para a fera dentro de mim. Eu
quero que você seja minha, quero marcar você. E você sabe o que isso significa, Lyra?
— Que eu pertencerei a você para sempre. Que jamais poderei ir embora, ou me afastar de você.
Ou você enlouquecerá?
— Você faz meu tigre ficar na superfície. Isso é perigoso para nós dois — fala Wyatt, ouço o
medo em sua voz. — Posso machucá-la, Lyra, não sou um macho feito para ser companheiro de
uma fêmea tão delicada como você... — Ele fecha os olhos, enquanto eu observo a força que faz
para retrair os caninos, fazendo-os voltar a forma normal.
— Seu tigre não vai me machucar, Wyatt... você precisa deixá-lo sair — incentivo, sabendo que
para sermos companheiro seu tigre precisa se libertar e me marcar.
— Você não sabe o que quer.
— Eu sei — afirmo, subindo minha mão em seu peito para seu rosto. Seguro-o entre minhas
palmas e me aproximo. — Eu sei muito bem o que eu quero, Wyatt. — Fecho os olhos e desço
meus lábios contra os seus, levemente tocando seus lábios macios e rígidos, sentindo todos os
meus sentidos e sentimentos focados nessa pequena conexão de nossos lábios juntos.
Wyatt Moore
De olhos abertos e fixos em Lyra, tento me manter firme enquanto sua boca desce contra a
minha, sinto o cheiro doce que vem de seus lábios enquanto tocam nos meus e pedem passagem.
Fecho os olhos, cedendo e abrindo meus lábios para ela, puxo sua cintura mais contra mim e
sinto o ronronar se aprofundar entre nós dois quando sua língua toca a minha e então todo o meu
foco é jogado para o grito que ouço. Abro os olhos e me afasto de Lyra, a colocando de pé e em
segundos me transformando em um grande tigre branco.
Lyra Gray
Observo enquanto Wyatt sai pela porta de forma rápida sem olhar para trás, e sei que tudo que
parecia calmo, acaba de desmoronar e que eu tinha perdido Wyatt e seu tigre para o seu desejo de
sangue, para o desejo da batalha e para sua eterna cicatriz que o lembrava todos os dias mesmo
que fosse mentira que ele jamais deveria cometer o erro novamente de ser protegido, em vez de
proteger.
Bônus
Kaira
Acaricio minha barriga e belisco o segundo pedaço da torta de ameixa que Rebecca trouxe para
mim da cidade, enquanto sinto o olhar firme de Bryson em cima de mim. Ele está sentado na
poltrona, ou mais para esparramado na poltrona de couro marrom a qual aparentemente virou o
seu lugar favorito para se sentar, dormir, comer, para tudo. Com os pés descalços, uma camisa
xadrez vermelha de mangas compridas, que ele sempre usa como se fosse a única peça existente
em seu guarda-roupa, e qual de forma explícita ele se recusa a desdobrar as mangas deixando
seus braços fortes e definidos, repletos de veias completamente à mostra. Um ato que eu tenho
absoluta certeza de que ele faz de propósito após ter me pegado o observando. Seu corpo todo
mesmo coberto parece uma obra de arte shifter com sua calça jeans justa demais em suas pernas
grossas. Ele parece um conjunto perfeito de um lenhador. Bryson é enorme. E parece tão temível
quanto Wyatt. Mas diferente do alfa, Bryson mexe com todos meus hormônios, os deixando em
ebulição e se ele tem ideia sobre o quanto os hormônios de uma grávida poderia mexer com ela,
com certeza não demonstrava, porque só há duas opções: a primeira é que ele não sabe e por isso
anda vestido assim ou a segunda é que ele sabe muito bem o que me causa e faz de propósito ao
me provocar a cada segundo, deixando-me pronta para atacá-lo.
Eu nunca senti desejo por nenhum homem em minha vida e depois do que me aconteceu eu achei
que havia de alguma forma cortado qualquer chance de sentir, mas aqui estou eu sentindo algo
por um homem... um leão, imaginando suas mãos desenhadas com veias em minha pele, seu
corpo contra o meu, imaginando como seria querer ter um homem dentro de mim, e mesmo com
as lembranças ainda forte da cerimônia e do meu medo de toque... eu às vezes me pego
pensando, me toco pensando nas mãos de Bryson, eu não consigo temê-lo. Não consigo ter
medo. Pelo menos não ao imaginar o leão que faz todos meus nervos ficarem à flor da pele, no
bom e no mau sentido ao me irritar com seu jeito fechado, autoritário... e supercuidadoso.
Ele me trata como se a qualquer momento eu fosse quebrar sob seu olhar. Desde que me pegara
chorando em sua segunda noite de vigia, ele tinha decidido que ficaria aqui dentro e diferente do
que imaginei, Wyatt havia aceitado, eu não entendi o porquê já que o alfa parecia sempre deixar
todos os machos fora do alcance das fêmeas, até que percebi que Bryson tem medo de mim.
Eram pequenos gestos que mostravam isso, quase imperceptíveis. Eu não entendia o que eu
poderia fazer a ele, conhecia a história dos outros machos do Leste, pelo que Alina e Briana me
contaram, mas quando vi Bryson pela primeira vez poucos dias atrás eu notei que havia algo a
mais, notei isso em Wyatt também, mas ele com certeza escondia bem melhor do Bryson. Eu só
me pergunto se ele tem medo do que eu posso causar a ele, ou do que ele pode causar a mim.
Largo a torta me sentindo enjoada e bufo frustrada, esse macho começou a ocupar metade dos
meus pensamentos desde que apareceu e parecia querer ocupar o restante cada dia a mais.
— Você não tem mais nada para fazer além de ficar me olhando? — pergunto, ficando irritada,
buscando descontar minha frustração no culpado de me deixar assim. O problema é que havia
reparado que nada que eu o fizesse parecia fazê-lo demonstrar nada. Seu rosto continuava sério,
nada de provocações de retorno, nenhuma reação, a não ser quando eu choro, que seu rosto se
transforma em preocupação instantânea.
— Sua barriga está se mexendo — avisa. Eu odiava quando ele fazia isso. Fugia de qualquer
pergunta minha com qualquer outra coisa. — É o filhote, ele está bem? — pergunta, com um tom
preocupado, ali estava em seus olhos a única reação que eu recebia dele. Minha barriga agora
mexe diariamente, mais do que antes, provavelmente porque estou fervendo por dentro e meu
pequeno passarinho sente. Porém, é a primeira vez que Bryson vê. E sua preocupação como
sempre que a vejo faz meu coração bater mais rápido ao mesmo tempo que me deixa irritada, eu
gostaria de poder causar outra reação nele além da preocupação.
— Está. Ele só está brincando dentro de mim — explico, Bryce assente, mas com o olhar ainda
focado no movimento do chute do meu bebê dentro de mim, que faz minha barriga se mexer.
— Não dói? — indaga.
— Às vezes. Mas Lyra me falou que piora mais para frente quando o espaço começa a ficar
pequeno, então tenho que aproveitar agora que está tranquilo — digo, vendo-o assentir e desviar
o olhar de onde meu filhote continua chutando. Não consigo conter o sorriso pequeno que cresce
em meu rosto. — Você quer tocar? — pergunto, me arrependendo no momento seguinte da
minha oferta, percebendo que minha mente fica confusa entre o que eu imaginei e o que já vivi, e
o que já senti.
— Não quero machucá-la — fala, voltando seu olhar para mim, ele analisa meu rosto, e volta a
se recostar na poltrona. — Olhar é o suficiente. — Não consigo pensar em nada para dizer a ele,
e não tenho tempo de agradecer o seu gesto que aparentemente fez o borbulhar de provocação
em sua direção diminuir, para uma emoção que me faz querer chorar. Observo Bryson se
levantar atento, olhando para a porta e faço o mesmo, nossa audição sendo levada para o bater de
asas se aproximando na floresta, fecho os olhos, sentindo o medo subir por todo meu corpo se
aproximando cada vez mais de nós, minha águia em alerta depois de meses em silêncio dentro de
mim.
Bryson vai até a porta, mas antes dele chegar até ela ouvimos o barulho das folhas das árvores
farfalhar.
— Abra a porta, Kaira, e assim que eu sair feche-a. E não a abra mais — avisa Bryson. Assinto e
passo por ele, segurando a tranca da porta, enquanto observo aturdida Bryson se transformar em
um enorme leão com uma juba dourada com preto que parece o deixar com o triplo do tamanho,
seus olhos agora sem nenhum traço humano em um tom completamente dourado, mas que
mesmo assim ao olhar para mim me passa o mesmo sentimento de preocupação e cuidado que
me deixa aliviada e irritada ao mesmo tempo. Me perco em seu olhar e em seu leão antes dele se
virar para a bela e enorme águia real que está a poucos passos da varanda, seus olhos fixos em
mim. Eu o reconheço imediatamente. Porque crescemos juntos, porque somos irmãos. E assim
como eu, ele tem várias manchas pretas em seu peito. Uma marca de nascença que em nossas
aves se expandia, nos tornando únicos, reconhecíveis. As marcas que havíamos puxado de nossa
mãe. Kobe, o primogênito. O protegido dos Vaughn.
Seguro a maçaneta com mais força enquanto Bryson caminha para frente até estar na varanda.
Kobe até poderia voar, mas Bryson possui algo que ele não tem agora. Um bando. Porque ele
sempre saía sozinho, desprotegido para caçar.
Assim que chego à porta de madeira, olhando para Kobe eu grito, o mais alto que consigo, um
canto de uma águia real, e a última coisa que minha ave conseguirá fazer pelos próximos meses
até o nascimento do meu pequeno passarinho, o chamado é alto o suficiente para ser ouvido por
toda a floresta, continuo gritando enquanto fecho a porta e me escondo atrás dela, finalmente me
calando e apenas ouvindo os sons de fora, de Kobe e de Bryson se afastando cada vez mais.
Capítulo 8
Lyra Gray
Eu não ouço nada, há um silêncio sepulcral na floresta. Encostada na janela, olho novamente
para o relógio, já faz mais de uma hora que Wyatt saiu. Mais de uma hora que ele me deixou.
Olho para a escuridão das árvores à procura de um sinal de sua presença, como tenho feito pela
última hora e finalmente encontro um movimento, mas quando finalmente a sombra alcança a luz
que ilumina a entrada, não é Wyatt que aparece e sim Byron. Caminho apressada para a porta, a
escancarando preocupada com o motivo dele vir até mim.
— O que aconteceu? — inquiro, me abraçando pelo vento gelado que bate contra meus braços
nus.
— Bryson, precisa da sua ajuda, ele está muito ferido — fala Byron, há um tom preocupado em
sua voz, angustiado.
— Tudo bem. — É tudo que eu digo antes de voltar para dentro e pegar meu kit de primeiros
socorros, fecho a porta atrás de mim. — Me leve até ele.

Assim que chegamos perto da casa onde Kaira está, começo a entender o que havia acontecido.
Observo as árvores em volta, todas com galhos quebrados e muito sangue. Engulo em seco. Subo
os degraus da casa, e abro a porta encontrando Wyatt na sala, ele tem sangue em sua roupa,
muito sangue. Wyatt guia o caminho até um dos quartos, e assim que abro a porta compreendo o
porquê de tanto sangue, Bryson possui uma fratura exposta da perna esquerda e diversas feridas
em seu peito de garras. Quando Byron bateu à minha porta, o choque apenas me fez aceitar o seu
pedido, mas conforme caminhávamos pela mata de forma rápida me perguntei por que um shifter
que possui uma cura extremamente rápida precisaria da minha ajuda. Agora eu finalmente
entendi. Bryson se curará, mas apenas se a sua fratura for colocada no lugar.
Aproximo-me, vendo o osso da sua perna esquerda virada em uma direção completamente
oposta a que deveria estar.
— Onde está Kaira? — pergunto, me sentando ao lado de um Bryson praticamente apagado.
— Ela está bem, está com as outras fêmeas em seu quarto. Ela ficou muito nervosa quando viu o
estado de Bryson — explica Wyatt, encaro seu rosto e observo seu olhar preocupado em direção
a mim e em seguida a Bryson. — O que devemos fazer? O processo de cura não deveria ter
começado?
— Não vai começar até colocarmos a fratura no lugar — respondo, sabendo que isso vai ser uma
dor indescritível já que não poderei receitar nada para Bryson de anestésico. Teria que ser natural
sua cura. Seu corpo irá se regenerar, só precisará de um empurrão doloroso para isso.
— Isso irá machucá-lo mais — afirma Byron.
— Eu sei. — Olho para Wyatt pedindo permissão para começar. E noto-o assentir. Sua confiança
em mim é tranquilizadora. Tudo que sei sobre shifters é pelo livro de minha avó. E o fato de
apenas agora estar usando tudo que eu aprendi me faz perder um pouco da confiança que uma
enfermeira deveria ter, mas agora não tem para onde correr. Não quando há uma vida
dependendo de mim. — Preciso que segurem ele — peço para Byron e Wyatt. Byron segura
firmemente o peito de Bryson enquanto Wyatt segura a parte inferior. — No 3 — aviso. —
1...2...3. — Bryson ruge, alto, sua dor se expandindo pelo quarto e por toda a casa e a floresta.
Mas o seu osso está finalmente no lugar. — Como isso aconteceu? — pergunto para o Wyatt
quando ele se afasta assim que percebe que Bryson desmaiou, noto que Byron se afasta até se
encostar na janela no canto do quarto, se mantendo distante de mim.
— Ele decidiu pegar uma carona com uma águia real. Foi isso que aconteceu — fala, Kaira na
porta, desvio meu olhar para ela que se aproxima tomando o lugar de Wyatt, ela se senta e toca a
testa de Bryson repleta de suor e sangue. — Ele está quente — afirma preocupada, seus olhos
estão vermelhos. Ela estava chorando.
— Sim, é o corpo dele que está começando a se curar. Eu tentarei adiantar o processo fechando
os ferimentos e os limpando — digo, olhando para Kaira. Ela acaricia a bochecha dele, com
pesar.
— Eu posso ajudar? — indaga.
— Você está bem?
— Estou, Lyra.
— Então pode — falo, entregando a ela alguns gazes, e uma garrafinha de água oxigenada.
— Eu o feri. — Desvio o meu olhar de Kaira, para o rosto de Bryson. — Feri uma das asas dele
— diz baixinho, Wyatt se aproxima e toca o ombro de Bryson.
— Cuidaremos disso agora — Wyatt fala firme, se voltando para Byron. — Vá com Art, e
Warren sigam o rastro dele, com sorte ele ainda não atravessou para o Sul. — Byron sai
rapidamente, nos deixando sozinhos. Olho para Wyatt. — Em que eu posso ajudar? — ele
questiona.
— Água gelada e um pano seco — peço, ele assente deixando-me com Kaira cuidando do leão
que mesmo ferido parece não se conter ao forçar os olhos para verificar a fêmea pelo qual lutou
para defender.
***
Olho para a mão fixa de Kaira na de Bryson, enquanto a outra enxuga o rosto suado pela febre.
Ele estava praticamente quase todo enfaixado e remendado. Pelo que Kaira havia ouvido Wyatt
dizer, o leão havia caído de uma altura muito alta. Mas por sorte tinha conseguido se segurar
com as garras em algumas árvores, isso o tinha poupado da morte. Ele tinha ferido as duas
pernas, porém quebrado apenas uma, e seu quadril tinha levado todo o impacto, mas ele ficaria
bem, levaria um, talvez dois dias para ele estar novinho em folha, sem dor apenas com leves
cicatrizes em sua pele.
— Kaira — a chamo, trazendo seu olhar para mim. Seus olhos estão agora ainda mais
vermelhos, desde que Bryson apagou novamente ela tem chorado em silêncio.
— Ele fica preocupado quando me vê chorar — fala, apertando mais firme a mão de Bryson. —
Por que eles têm que ser assim tão protetores? — pergunta, fecho minha mala e olho para a porta
entreaberta onde sei que Wyatt me espera.
— Porque essa é a essência deles, Kaira. Eles nasceram com ela e vão morrer com ela para
proteger aquilo em que eles acreditam pertencer a eles — respondo, levando o meu olhar de
volta para a fêmea. — Tome um banho e descanse. Ele vai ficar bem — falo, saindo do quarto e
encontrando, como eu esperava, Wyatt. Sei que ele ouviu tudo que eu acabei de dizer, sorrio
fraco em sua direção com meu coração cortado pelo seu rosto repleto de culpa e preocupação.
Limpo o pouco sangue que ainda há em seu rosto, feliz em não ver mais o sangue em sua roupa.
— Vamos para casa? — pergunto, ele assente não antes de eu notar o breve olhar que ele dá para
a camisola rosa que estou usando agora com um pouco de sangue e terra, o que me faz sorrir
levemente mesmo depois de tudo, ali estava ele e seu tigre me olhando, se contendo. Contendo o
que sente por mim, enquanto eu fiz o mesmo ao não correr para seus braços quando vi que ele
estava bem mesmo que apenas fisicamente, precisamos lidar com isso, lidar em dividir o que
sentimos, lidar em dividir o peso que ele carrega. Wyatt precisa entender que ele não está
sozinho... não mais e mais do que isso precisa entender que seu bando é muito mais forte do que
parece, e que nós fêmeas somos capazes de tudo por nossos machos, nossos filhotes e por nós
mesmas.
Capítulo 9
Lyra Gray
Caminhamos em silêncio pela floresta e percebo que estamos indo por um caminho diferente do
que costumamos fazer, o qual eu já praticamente decorei, olho para as flores que rodeiam as
árvores, rosas de todas as cores, estão pelas árvores e pelos canteiros no chão através da mata
alta. Paro em frente a uma árvore cheia de rosas vermelhas enrolada em seu tronco e toco
delicadamente em suas pétalas, elas são como as que estão no meu quarto, e pela casa toda...
então é daqui que elas vêm. É daqui que Wyatt as tiras.
— Você as cultiva? — pergunto para Wyatt, encostado em uma das árvores com rosas amarelas.
— Minha mãe as cultivava, meu pai continuou e quando ele partiu, eu... não as cultivo, só cuido
delas para elas não morrerem — explica, olhando em direção à floresta pela qual caminhamos.
— Por que me trouxe aqui? — inquiro, me virando completamente para ele. Tentando enxergar
algo em seu rosto obscurecido pela noite, mas apenas consigo ver seus belos olhos azuis que
brilham contra a escuridão.
— Esse é outro caminho que pode levar você à cabana, é bom para despistar. O cheiro das rosas
é forte o suficiente para confundir até mesmo um bom rastreador — fala, voltando seu olhar em
minha direção.
— Wyatt... — falo, me aproximando e o vendo ficar estatístico enquanto chego cada vez mais
perto. — Por que está assim?
— Eu a deixei sem segurança quando sai — responde, deixando claro o tom culpado em sua voz
e em seu olhar.
— Eu não sou tão indefesa quanto imagina — digo, tocando seu rosto, isso o faz sorrir
levemente de lado.
— Eu sei, mas eu não sei como conseguirei balancear minha proteção com você, com minha
proteção com os outros... eu estou falhando com eles... estou falhando com você...
— Wyatt... — Tento pará-lo.
— Eu não deveria ter deixado Ducan ir... ele deve ter ido até o Sul... e contado sobre Kaira e por
isso a encontraram. Nunca havíamos recebido um ataque do Oeste, até hoje.
— Se Ducan foi até o Sul, ele está morto — falo tranquilamente, sabendo muito bem como
funcionam as regras do alfa líder do Sul. — Oscar tem uma regra básica. Um traidor é um
traidor. Não importa de que lado ele venha. Não importa o bando. Um traidor que trai aqueles
que lhe deram abrigo, lhe deram proteção, mesmo que traga informações continua sendo um
traidor. Oscar o matou. Eu não tenho dúvidas — afirmo firme. Eu o conhecia mesmo que já o
não considerasse como meu pai há muito tempo, eu talvez o conhecesse mais agora através dos
diários, do que achei conhecê-lo quando era apenas uma garota.
— Eu não sabia sobre isso — diz Wyatt, demonstrando curiosidade em minha direção.
— E não acho que o Sul tenha passado a informação para o Oeste sobre Kaira.
— Por que você acha isso? — pergunta Wyatt confuso.
— Porque o Sul e Oeste não se dão bem. Eles mantêm a aparência para todos, mas desde que
Oscar assumiu o posto de alfa o entrosamento entre eles foi mínimo. Quando ele assumiu há
anos, como parte da coroação é comum que cada alfa visite as outras regiões, e quando Oscar
chegou para visitar o Oeste, estava acontecendo um casamento. E os casamentos do Oeste grande
parte deles é arranjado, sendo assim, os machos quebram as asas das fêmeas para mostrar
dominância sobre elas.
— Ele viu tudo — conclui Wyatt.
— Segundo minha avó, ela nunca havia visto o olhar felino aparecer sem que ele se
transformasse. Mas naquele dia, pela primeira vez em muito tempo ela o viu descontrolado.
Segundo ela, Oscar não ficou por mais de 5 minutos, antes de sair — conto, sentindo dor por
saber que se ele quisesse poderia ter acabado com tudo aquilo, mas decidiu apenas abaixar a
cabeça como todos os outros. Da mesma forma que fez comigo. Desvio o olhar do rosto de
Wyatt e encaro as belas rosas brancas mais à frente, controlando as emoções que ainda sinto por
aqueles que deviam ser meu bando, emoções que agora se resumem em pura vergonha. — Se
não foi o Sul que passou a informação para o Oeste, há duas opções, a primeira é que Ducan no
caminho para o Sul tenha contado para outro shifter, ou que o Sul tem um traidor — falo,
voltando meu olhar para o belo alfa à minha frente, que passa as mãos em seu cabelo nervoso. —
Isso pode ser bom — afirmo de forma convicta.
— Como?
— Se for a segunda opção, Wyatt, isso quer dizer que eles podem estar com problemas. Além
disso, assim que o ataque de hoje chegar aos ouvidos de Oscar, ele fará questão que isso não
aconteça novamente, um ataque sem ordem, é uma insubordinação contra as regras impostas
entre as regiões. E isso pode nos dar tempo — explico, pensando em Kaira. Em três meses seu
bebê nasceria. E ela não estaria tão frágil como agora.
— Por que precisaríamos de mais tempo? — pergunta Wyatt, observando meu rosto.
— Para Kaira e seu bebê. Se seu bebê nascer, ela poderá lutar. Você precisa das fêmeas na frente
da batalha ao lado dos machos. Você tem duas leoas fortes, e terá uma águia real grande o
suficiente para fazer um estrago em alguns leões se necessário.
— Não vou deixar as fêmeas lutarem, Lyra.
— Uma coisa que eu aprendi quando era pequena, é que não há força maior do que a das fêmeas
em um bando protegendo um filhote ou os seus machos — falo, fechando os olhos ao lembrar
das palavras da minha avó sobre minha mãe. Sobre o seu sacrifício antes de mim e de minha
irmã nascerem.
Vi Nelly lutar contra os dois enormes machos, com toda sua força assim como eu para defender
os filhotes que estavam conosco, sob nossa proteção, mas era tarde demais quando percebemos
que havia mais deles, tarde demais quando Oscar apareceu com os outros.
Me agachei ao lado de Nelly, e toquei seu ombro, sentindo minhas próprias lágrimas descerem
enquanto olhávamos para o pequeno bebê em seu colo. Um belo menino. Seu primeiro filho, meu
primeiro neto. O futuro do Sul coberto de sangue. Eu a abracei enquanto desviava o olhar para
as outras duas fêmeas que estavam conosco. Elas estavam tão feridas fisicamente quanto eu e
Nelly, mas apenas nós havíamos perdido algo.
Uma disputa de território poderia ser cruel, mas quando vinha do seu próprio bando, era pior
ainda. Porque diferente de um leão de fora, era que o do seu próprio saberia seu ponto fraco.
Saberia onde atacar para te destruir.
Nelly tinha defendido com toda sua força seu filhote e perdido. Eu não a julgava por ter me
sacrificado e ficado com o filhote mais forte, que valeria as suas velhas e talvez novas cicatrizes.
— Somos um bando, Wyatt, e você precisa aprender a nos tratar como um de verdade. Você não
vai conseguir lutar sozinho apenas com os machos. Mas se os juntar com as fêmeas pode
conseguir afastá-los — falo, levando minha mente para algo que os últimos diários de vovó
focam. Ou mais especificamente em quem eles focam. O dono de toda a terra, a qual Sul, Oeste,
Leste e Norte vivem. O último da espécie dele, o mais poderoso de todos os shifters.
— O que mais você anda pensando, Lyra? — Wyatt pergunta, tocando meu rosto, trazendo
minha atenção para ele.
— Knight — falo, vendo Wyatt se retrair imediatamente e se afastar.
— Ele odeia o que ele é. E ele só mantém as terras porque mesmo que ele ignore o que ele é,
nada pode impedir a fera de fazê-lo senti-la. E essas terras são como o seu tesouro. Mas apenas
isso — explica Wyatt, e isso me entristece imediatamente. — Está tudo nas minhas mãos, Lyra.
— Wyatt vira de costas e caminha em direção às rosas brancas, caminho atrás dele e toco suas
costas, o fazendo parar. Noto a tensão delas através dos meus dedos. Desço minhas mãos por
debaixo de sua camisa, sentindo sua pele firme e quente contra a palma da minha mão. — Lyra.
— Está tudo nas nossas mãos, Wyatt — o corrijo. — Precisa parar de carregar o mundo em suas
costas. Precisa respirar, precisa sentir — falo, retirando minhas mãos quando ele se vira em
minha direção. Observo o tigre em seus olhos, e levo minhas duas mãos para seu rosto. — Deixe
que eu carregue um pouco do peso para você. Deixe que eu cuide de você. Deixe o que você
deseja sair, Wyatt... a não ser que o que eu sou o impeça. — Deixo sair com um fio de voz o meu
maior medo, o que me fez deixar meu belo alfa se afastar nos últimos dias, quando já devia tê-lo
tido para mim. — Eu não sei se serei capaz de dar um filhote há você, um filhote como você.
— Não me importo com isso, Lyra. Se um dia tivermos um filhote e ele nascer como você, será
tão amado quanto se fosse um grande tigre. Para mim só a possibilidade de que um dia poderei
ser pai é o suficiente. Você é o suficiente, Lyra. Para mim e para a fera dentro de mim. — As
palavras de Wyatt fazem meu medo desaparecer e um sorriso crescer em meu rosto.
— Então você me quer? — pergunto, ele sorri e encosta sua testa na minha.
— Eu a quero, Lyra. Mas preciso avisá-la, eu não sei se conseguirei me conter hoje, não depois
de tudo. — Há medo em sua voz.
— Não quero que se contenha, Wyatt. Quero tudo de você. Se serei sua companheira, não
aceitarei nada menos do que você todo. Meu alfa. Meu tigre. — Passo minhas mãos pelo seu
pescoço, subindo pelo seu cabelo loiro, enquanto suas mãos descem da minha cintura para minha
bunda e com um impulso minhas pernas enroscam em seu quadril, fazendo com que minha
camisola rosa suba, se enrolando em minhas pernas, perto demais da minha calcinha, seu rugido
é profundo enquanto suas mãos apertam com mais força minha bunda, conforme ele começa a
caminhar apressadamente por entre o canteiro de rosas.
— Você nunca mais vai sair com essas camisolas — ele afirma, sorrio e beijo seu pescoço. Eu o
obedecerei. Porque ele nem tinha visto ainda os meus vestidos, nem meus shorts jeans. Minhas
camisolas seriam o menor dos problemas dele.
Ouço meus cachorros ao longe e sei que estamos perto da cabana, mas Wyatt não segue para a
entrada, ele vai para seu trailer, abre a porta e entra trazendo o cheiro de rosas novamente ao ar.
Ele fecha a porta e me encosta nela, fazendo-me descer pelo seu corpo, sentindo o seu abdômen
duro contra os meus seios e sua ereção contra a minha cintura, através da sua calça jeans.
Desço minhas mãos até a barra da sua camisa verde-escura e a levanto sentindo, seu abdômen
duro e perfeito que eu vi tantas vezes mais que nunca tinha tocado antes, ele corta a mínima
distância que há entre nós, enquanto respira fundo ao subir suas mãos pelo meu corpo até meus
cabelos soltos, ele os segura e inclina minha cabeça contra a porta, seu rosto se aproxima do
meu, nossos narizes se tocam, enquanto eu sinto seu peito acelerar fortemente contra o meu. —
Daqui em diante não há mais volta, Lyra. Você será minha.
— Eu sei — afirmo, fechando os olhos aceitando a escolha que nunca esteve realmente em
nossas mãos. Seus lábios tocam os meus levemente primeiro, em um selinho longo. Antes de sua
boca pedir passagem, sua língua me invade, e nossas línguas se encontram, fazendo com que um
rugido grave saia de sua garganta e um gemido saia da minha se misturando com o nosso beijo.
Sinto que os seus caninos crescem durante o beijo, ele tenta se afastar, mas minhas mãos em seu
cabelo o mantém preso a mim, o forçando a ceder ao que nós dois queremos. Gemo contra seus
lábios, sentindo meus seios pesados contra o tecido leve da camisola e apenas por isso me afasto.
Respiro com dificuldade olhando para o homem completamente perdido à minha frente, toco as
alças da minha camisola, empurrando primeiro a esquerda depois a direita até que o tecido desça
pelos meus seios e minha cintura, me deixando apenas de calcinha. Meus seios ficam
completamente expostos para meu alfa.
— Eu nunca fiquei nua na frente de nenhum homem, Wyatt, na verdade... — Respiro fundo,
encarando seus belos olhos azuis, eu digo: — Você é o primeiro homem e o único que eu terei.
— Engulo em seco, tocando minha calcinha de algodão uma péssima escolha para a ocasião, mas
que eu duvido muito pela forma que Wyatt aperta as mãos em punho, que ele se importe.
Desço minha calcinha pelas minhas pernas, ficando nua. Passo por Wyatt e caminho até a cama
sem prestar muita atenção no trailer, mas notando que cada parte dele é rústico como o meu
companheiro e que as flores assim como eu são o contraste e a combinação perfeita para ele.
Engatinho pela cama até o meio dela e então me sento. Olho para o homem ainda parado me
observando.
— Venha me marcar como sua, Wyatt — chamo, notando-o soltar as mãos em punho, noto as
suas garras completamente afiadas se encolherem para dentro. Sorrio. A cada passo noto a luta
dele, até ele chegar perto o suficiente para sentir o cheiro que deve ultrapassar o cheiro das rosas.
O cheiro da minha excitação. Wyatt puxa a camiseta para fora do seu corpo de forma rápida o
que me faz rir, em seguida, ele retira os sapatos, puxa a calça e a cueca. Olho seu corpo nu,
completamente ali para mim. Ele é um monumento. Perfeito. Subo o olhar pelas suas pernas
delineadas, seu membro rosa e completamente duro, pelo V esculpido em sua cintura, seu
abdômen, seu peito, seu pescoço e seu rosto. Noto um sorriso leve em seus lábios, seu nariz bem
definido, sua mandíbula e seus olhos azuis. Seu tigre. Ele sobe na cama acaricia minhas pernas
até que seu corpo fique completamente em cima de mim, seu membro toca minha intimidade,
roçando, me fazendo sentir uma sensação que nunca senti. Wyatt acaricia meu rosto, parecendo
decorar com os dedos cada traço dele, passo minhas mãos por suas costas, notando a tensão
ainda mais forte nelas. Ele está se contendo mesmo com meu cheiro. Subo meu quadril, roçando
mais em seu pau.
— Wyatt. Por que ainda tenta se controlar? — pergunto. — Não deixei claro o suficiente o que
eu quero?
— É sua primeira vez, Lyra — fala entre dentes. Essa informação mexeu com ele. Seu dedo
passa novamente sobre meu lábio, mas dessa vez não o deixo retirar, o puxo para minha boca, o
chupando e o mordendo. — Lyra... pare de me provocar.
— Isso nunca vai acontecer, Wyatt. — Deixo seu dedo e lambo meus lábios, encarando seus
olhos. — Eu quero tudo, Wyatt. Quero que seja a primeira vez para nós dois. A primeira vez que
tenho você inteiro e a primeira vez em que você estará inteiro. Você e a sua fera — digo firme.
Ele fecha os olhos, mas não o deixo ir, puxo seu cabelo e trago sua boca para mim, o beijo de
forma esfomeada, nossas línguas se debatem e nós dois gememos um contra o outro, nossos
corpos se esfregam, pele com pele. Me afasto e beijo sua mandíbula, desço minha mão para seu
membro, o masturbando levemente. Ouvindo seu ronronar de prazer em meu pescoço.
— Lyra... — Wyatt geme, fazendo minha excitação aumentar, sinto minha entrada molhada e
não resisto ao guiar o pau de Wyatt para ela. — Lyra...
Wyatt Moore
Não resisto mais, pego a mão de Lyra que segura meu pau, a afastando, levando-a para cima de
sua cabeça, prendendo suas mãos unidas. Em seguida desço minha língua pelo seu pescoço o
mordiscando, deixando com que minhas presas raspem por ele, desço pelos seus belos seios,
mordendo-os sem conseguir me controlar, mesmo quando sinto o gosto leve de sangue quando
minhas presas arranham a pele sensível, continuo chupando seus seios rosados com força, o
cheiro da sua excitação impregna em meu olfato, deixando-me cego, com puro desejo em todo o
meu corpo.
— Wyatt... — Lyra geme. — Por favor... — Seu clamor me faz rugir contra seu seio, subo
beijando seu pescoço, sentindo sua pele macia contra meus lábios. Paro em sua boca, lhe
beijando forte sem me importar mais com nada, largo suas mãos quando sinto minhas garras
crescerem, afundo uma das minhas mãos no colchão ao lado da sua cabeça e a outra em sua
cintura, enquanto nossas línguas se entrelaçam mais uma vez e meu pau encontra sua entrada
molhada e quente. Mordo seu lábio inferior e me afasto, sentindo outro rugido crescer dentro de
mim, lambo seu pescoço, tentando buscar o homem dentro de mim, tentando controlar a fera que
quer tomá-la, mas pela primeira vez sinto que não estou no controle... e nem meu tigre.
Só há alguém aqui que está no controle. E esse alguém é a fêmea embaixo de mim, exigente e
provocativa. E esse pensamento faz minhas presas crescerem cada vez mais. Sinto Lyra subir seu
quadril e suas pernas me rodearem, me puxando para dentro dela com força, me deixando
completamente à mercê da fera, e sem forças, tomado pelas sensações mordo seu ombro com
força, a marcando como minha para sempre.
Lyra Gray
Grito e em seguida solto um gemido de dor. Ao senti-lo em mim completamente, me alargando,
e me marcando como sua com suas presas. Desço minhas mãos pelas suas costas, o puxando
contra mim, mesmo com a dor remexo o quadril contra Wyatt. Finalmente trazendo sua atenção
de volta a mim, seus dentes largam meu ombro, lambendo a ferida e em seguida o deixando com
um latejar dolorido enquanto sua testa encosta na minha e ele mexe seu quadril contra o meu, me
preenchendo, causando um desconforto prazeroso. Seu olhar está fixo em mim enquanto ele
entra e sai em um ritmo lento e preciso, me preenchendo até o fim, seus olhos se dividindo entre
o homem e o tigre a cada movimento.
— Minha Lyra — ele geme, fechando os olhos e aprofundando seu membro dentro de mim com
força, aumentando o ritmo, minhas pernas tremem, o prazer tomando conta do desconforto.
— Wyatt... — gemo, sentindo meu corpo vibrar, enquanto levanto meu quadril contra as
investidas forte de Wyatt, me abrindo mais para ele que vem contra mim cada vez mais forte e
mais rápido. — Wyatt! — grito, sem conseguir me conter quando finalmente perco totalmente o
controle do meu corpo e da minha mente, e me perco no prazer.
Capítulo 10
Lyra Gray
A primeira coisa que noto quando acordo, é a dor que sobe por todos os meus membros, por todo
o meu corpo, e em seguida o calor intenso que há em cima de mim.
Desço meu olhar para o braço de Wyatt em cima do meu quadril e sua perna em cima das
minhas. Estou presa em seu abraço quente. E meu corpo mesmo dolorido não se importa, meus
dois ombros latejam, minha cintura, meus seios doem e minha boceta também. Um tigre passou
por cima, por trás e por todos os lados e por toda a noite em mim, até cairmos no sono de
exaustão. Procuro um relógio, mas não o vejo, então apenas observo a janela onde o sol forte
ultrapassa a cortina e ilumina boa parte do trailer. Me aconchego novamente nos braços do meu
macho, mas quando começo a fechar os olhos, ouço latidos, e em seguida ouço o raspar de patas
na porta. Hércules sem dúvida alguma.
— O que eles querem? — resmunga Wyatt ainda sonolento em meu pescoço.
— Comida — respondo, como se fosse óbvio. E Wyatt grunhe antes de retirar seu braço de cima
de mim, ele beija meu ombro exatamente em cima da mordida, fazendo-me retrair contra ele, e
isso o faz imediatamente se afastar de mim. Ele senta e seus olhos me avaliam de cima a baixo.
— Está sensível, Wyatt, apenas isso — falo, me sentando e observando seu rosto ainda fixo no
meu ombro e não olhando para baixo, para meus seios, meu corpo nu e marcado por ele. Toco
seu rosto e beijo seus lábios de forma singela. — Não me importo com as marcas em meu corpo,
Wyatt. Nenhuma delas — digo, dando outro beijo em seus lábios, espero seus olhos se
tranquilizarem, mas não acontece. Eu não sou um shifter, não irei curar as marcas tão rápido.
Wyatt precisará aprender a lidar com elas. — Não sou uma shifter, Wyatt, as marcas ficarão por
mais tempo em minha pele — falo, trazendo sua atenção para mim. — Você está arrependido?
— inquiro, seus olhos focando em mim negam, e isso me acalma, mas quando eles voltam a
olhar para baixo, para meu corpo marcado, sei o que ele deve estar sentido imediatamente.
Culpa.
— Nunca me arrependerei de tê-la tomado como minha, Lyra, apenas queria ter me controlado
para não a machucar tanto... eu nunca deixei tantas marcas assim antes... — fala, me fazendo
respirar fundo. Eu sabia que ele já havia tido outras fêmeas, e isso não me incomoda porque
nenhuma foi especial, porém, eu não queria que ele tentasse ser comigo como foi com elas.
— Escute bem o que vou dizer, Wyatt — começo firme, e isso traz a atenção dele de volta para
mim. — Nunca se controle comigo, sou sua companheira, não quero que você me trate como
tratava as outras fêmeas, não quero que finja ser o que não é. Sou sua fêmea, não vou correr de
você. — Assim que termino vejo um pequeno sorriso surgir no seu rosto sério, ele vem para
cima de mim, me empurrando contra a cama, enquanto seu sorriso cresce conforme acaricia meu
corpo.
— Você é uma fêmea muito mandona, Lyra — fala, descendo seus lábios contra os meus em um
selinho rápido. — Nunca achei que isso poderia ser excitante. — Sinto o membro de Wyatt
contra minha cintura.
— Posso ser obediente também — digo, sabendo que eu tinha um instinto submisso dentro de
mim, perante a um alfa como se o shifter que não conseguiu sair de mim, o sentisse.
— Eu sei, e espero que seja, mas fique sabendo que gosto da minha fêmea mandona, e acho que
posso ser obediente às vezes também, mas apenas para ela — fala, roçando seu pau em mim.
Agarro seu pescoço e enrolo minhas pernas em sua cintura, e então ouvimos batidas à porta, rio e
Wyatt faz o mesmo se levantando. Ele pega a primeira roupa que vê, sendo essa uma cueca
branca. — Vou alimentá-los e você não levante dessa cama — manda, noto seu olhar sério então
simplesmente me aconchego na cama e puxo o lençol sobre mim, sentindo meu corpo agradecer.
— Sim, meu companheiro — respondo, quando ele se vira ouço seu rugido baixo, antes dele
abrir a porta e sair me deixando sozinha em seu trailer.
Observo em volta, notando que a cama tomava metade do espaço do trailer, havia uma geladeira,
um balcão com fogão, uma mesa com bancos estofados, um armário e uma caixa que imagino ser
onde ele guarda a roupa já que há um pequeno monte bagunçado sobre ela. É um espaço pequeno
para um homem tão grande.
Ele agora viverá comigo na cabana que um dia foi dele, que foi minha e que agora é nossa.
Sorrio com o pensamento e me aconchego agarrando seu travesseiro com seu cheiro, com nosso
cheiro.
Fecho os olhos e relaxo meu corpo dolorido pela nossa noite, a noite em que me tornei dele. E
que ele se tornou meu companheiro, assim se tornando também meu.
Wyatt Moore
Coloco a comida de cada um nos potes, exatamente como observei Lyra fazer todas as manhãs,
observo por alguns segundos todos os sete comerem de forma tranquila, saio da cabana deixando
a porta entreaberta e me viro para voltar para o trailer quando sinto o cheiro de Byron.
Procuro-o pelas árvores e o encontro a 2 metros. Ele caminha em minha direção desviando seu
olhar de mim para o trailer. Eu tinha pedido para ele fazer rondas durante a noite e manhã por
toda a floresta antes de voltar para seu trailer. Ele tem uma boa visão noturna, e seu olfato e
audição são tão bons quanto os meus. E eu sei que caminhar o ajuda com a sua insônia e com o
seu animal, o mantendo calmo.
— Bom dia, Byron. — cumprimento, descendo as escadas. — Art e Warren não conseguiram
achá-lo, não é? — pergunto mesmo já sabendo a resposta.
— Não, nós os rastreamos até o rio. Ele está no Sul — responde, assinto. Sabendo que isso pode
ser bom para nós, se Lyra estivesse certa e essa rixa do Oeste e do Sul ainda se mantém intacta
mesmo depois de tantos anos.
— Eu escutei sons ontem à noite, enquanto passava por aqui — fala sem desviar o olhar do meu.
— Eu mantive a distância que você me mandou, mesmo assim eu consegui ouvir.
— Então é por isso que está aqui? — indago, observando o macho à minha frente mais
profundamente. Ele tinha vindo verificar se Lyra estava bem. — Não forcei Lyra a nada — falo
firme, ao mesmo tempo que me sinto mal por ele. Imaginar que ele não acreditava ser possível
que algo de bom poderia acontecer entre uma fêmea e um macho depois de tudo que ele viu, que
nós passamos é comum, mais de mim e Bryce. Byron parece ter sido o que mais ficou marcado.
— Lyra é minha... Minha companheira.
— Eu sei, Wyatt. Eu ouvi o suficiente para acreditar que ela não estava pedindo ajuda. Ou eu
teria impedido — diz, me fazendo ter orgulho por ele, por sua força.
— E mesmo assim você quer vê-la — afirmo, notando que isso o faz dar alguns passos para trás,
provavelmente pelo meu olhar, mas apenas me viro e caminho até o trailer. Abro a porta e o sinto
me acompanhar, entrando comigo no trailer. E assim como eu, para a centímetros da cama para
observar uma Lyra dormindo. — Ela está bem, Byron.
— Eu vejo. Me desculpe, Wyatt — pede Byron, caminhando para fora.
— Byron — o chamo, ele se vira obedecendo —, você é um bom macho, um dia encontrará uma
companheira para proteger e para amar você — afirmo convicto, vendo o macho apenas se
afastar e sair. Fecho a porta atrás de mim e caminho para a cama, para Lyra. Assim como Byron,
eu nunca acreditei que um dia encontraria alguém que me quisesse, que quisesse a fera dentro de
mim, mas aqui estava a linda fêmea em minha cama, uma fêmea que não só me quer, como quer
a fera dentro de mim, me mostrando que tudo pode ser possível, mesmo quando não acreditamos
mais.
Capítulo 11
Lyra Gray
Encaro o lado agora vazio em minha cama, com o cheiro de Wyatt ainda presente ao meu redor,
sinto um sorriso crescer em meus lábios pela lembrança dos seus beijos em cada parte marcada
por ele em meu corpo, da forma mais gentil que ele conseguiu enquanto se continha e continha
meus desejos, mantendo-nos apenas em carícias eternas. A lembrança recente faz cada parte do
meu corpo esquentar, e tudo que tenho a fazer é me tocar para matar a frustração que Wyatt me
deixou ao fugir para um banho gelado com um enorme sorriso vencedor no rosto. Suspiro
resignada sabendo que para fazê-lo ceder ao meu corpo ainda marcado e dolorido pela nossa
primeira vez terei que esperar, pego meu celular que vibra novamente.
Olho para as duas mensagens de Carter.
Estou esperando você para a inauguração Lyra. Começa as 8 p.m
Eu havia me esquecido que seria hoje a inauguração, tanta coisa aconteceu desde que coloquei
meus pés em Belle Chase que o meu luto se apaziguou e foi tomado por outras emoções. Ouço
Wyatt me chamar, e me levanto da cama completamente nua com o celular na mão, ainda
perdida quando dou de cara com Wyatt apenas de toalha e com uma cara irritada, que eu imagino
ser por causa do pequeno macaco em cima da sua cabeça.
— Você pode me ajudar? — inquire, sorrio e caminho até o meu belo macho molhado, ofereço
minha mão para Sirius que pula tranquilamente me escalando até ficar pendurado em meu
pescoço.
— Assim ele não vai querer morar conosco, Sirius — falo, acariciando a cabeça do meu pequeno
macaquinho.
— Isso seria impossível, mesmo com a perseguição clara que estou sofrendo — diz, apontando
para Sissy e Teddy que estão deitados na porta do banheiro. Wyatt me puxa pela cintura contra
seu torso ainda molhado e encosta sua testa na minha, suas mãos descem para a minha bunda
nua, me aproximando da sua ereção, mas qualquer que fosse seu próximo passo para me deixar
quente novamente Sirius atrapalha, aproveitando a aproximação para pular novamente em cima
de Wyatt. Rio e me afasto, deixando Wyatt com Sirius enquanto vou em busca de cobrir meu
corpo e decidir o que irei fazer em relação à inauguração do Forever Jazz, uma homenagem ao
homem que me criou, ao amante do Jazz que mesmo depois que partiu conseguiu cumprir sua
promessa que jamais ficaria sozinha novamente ao me guiar em direção aos braços do meu
companheiro.
Wyatt Moore
Observo Lyra distraidamente sentada olhando para o entardecer que começa a escurecer
lentamente cobrindo toda a floresta em completa escuridão.
Passamos o dia juntos, nossos corpos entrelaçados se aquecendo em minha cama, e depois na
sua, me fazendo perceber que eu finalmente achei o que meu pai e minha mãe tinham, e que
depois de tanto tempo já não estou mais sozinho e agora tenho mais um motivo para lutar.
Sento-me ao seu lado, e foco meu olhar no celular em sua mão, há uma foto de Thomas e ela
juntos, sentados em um piano. Sorrindo.
— Tem algo incomodando você, Lyra? — pergunto, tocando seus cabelos loiros, seu rosto se
vira para focar em mim.
— Desde que cheguei no Leste, não senti tanto o vazio que Thomas deixou, e a dor que ficou no
lugar dele que eu revivi constantemente nesses últimos meses desde que ele se foi. — As
palavras de Lyra mostram uma dor que nunca vi nela. — Nos últimos anos, tínhamos planejado
vir para cá, então Thomas se juntou com seu amigo e sua banda de Jazz para construírem um bar
em Woodmere onde ele poderia cantar, onde eu poderia ir após um dia cheio de trabalho como
sempre fiz e tocar ao seu lado no piano. O bar se chama Forever Jazz, e vai ser inaugurado hoje.
Eu sou uma das sócias majoritárias agora, faz parte de tudo que Thomas deixou para mim,
ignorei nos últimos meses o que isso significava, mas agora não posso mais, pelo menos não hoje
— conta, seus olhos se enchendo de lágrimas, a puxo para os meus braços. — Eu preciso ir.
— Tudo bem, Lyra — concordo, a tranquilizando, sentindo suas lágrimas molharem minha
camisa, sua dor levando minhas forças a cada lágrima.
— Eu não quero deixá-lo. — Afasto-a e levanto seu rosto para encarar seus lindos olhos
dourados.
— Eu vou esperar por você bem aqui, Lyra — falo, me mantendo firme e controlando o desejo
que tenho de ir com ela, mesmo sabendo o quanto ela precisa, eu não posso deixar meu território.
Seu olhar triste me faz fechar os olhos. — Eu sinto muito por não poder ir com você.
— Eu sei. Está tudo bem — garante ao aproximar seus lábios dos meus levemente, em um
selinho singelo, coberto de carinho e compreensão. Me afasto dela, e acaricio seu rosto limpando
suas lágrimas. Encaro seus olhos e com um sorriso a puxo para cima abraçando sua cintura.
— É melhor ir se trocar, ou não chegará a tempo — digo, sabendo que quanto mais rápido ela for
mais rápido ela voltará e mais difícil será ceder ao meu desejo de ir com ela. — Eu vou pedir
para Byron trazer minha caminhonete, para você ir com ela. Nessas estradas a noite é melhor um
carro prático.
— Minha van é prática.
— Lyra. — Minha voz séria faz ela se aproximar, ela acaricia meu rosto e noto em seus olhos
uma tristeza diferente, dolorida não é a de luto, ela está triste por mim. — Eu vou ficar bem,
contanto que você prometa, que voltará para meus braços.
— Eu jamais o deixarei, Wyatt — Lyra fala firme sua boca encosta na minha dessa vez em um
beijo profundo e intenso, sua língua se enrosca contra a minha e a puxo fortemente contra meu
corpo que reage de forma instantânea ao seu cheiro adocicado de sua excitação.
— Lyra... — resmungo, me afastando de seus lábios, mas a mantendo presa contra mim. — Não
me tente dessa forma — falo sério, ela assente com um pequeno sorriso e eu a deixo ir mesmo
que doa profundamente dentro de mim.

Sento-me ao lado de Bryson, ele ainda está de cama, só que bem melhor, suas cicatrizes do peito
haviam sumido e ele já não está todo enfaixado, sua cura shifter agindo de forma rápida como
Lyra havia garantido que aconteceria após fechar seus cortes.
— Como você se sente? — pergunto, vendo-o resmungar ao retirar um dos diversos travesseiros
que suas irmãs haviam trazido para deixá-lo mais confortável.
— Continuarei péssimo enquanto continuar nessa cama sendo tratado como um bebê — reclama,
tacando o travesseiro do outro lado do quarto. Rio feliz pela distração enquanto o meu tigre ruge
a cada instante por Lyra.
— Não é bom ser cuidado por um monte de fêmeas, Bryson? — provoco, ele me olha zangado e
volta a resmungar.
— Elas me deram banho de esponja — fala, revoltado.
— Você está zangado assim porque não foi Kaira que deu o banho de esponja, não é? — inquiro,
o provocando, isso o faz parar de resmungar, e focar seu olhar em mim tirando sua atenção dos
travesseiros.
— Não me irrite, Wyatt — fala sério, e em seguida sorri. — Porque eu sei de algo que as fêmeas
lá embaixo ainda não sabem. — Continua levantando as duas sobrancelhas de forma
provocativa.
— Byron contou a você não foi? — pergunto, Bryson assente. — E eu achando que as fêmeas
eram fofoqueiras.
— Ele estava preocupado de manhã quando veio me ver, ficou calado o tempo todo, mas quando
voltou hoje à tarde parecia...
— Triste? — pergunto, eu havia observado o macho quando fui verificar o trabalho enquanto
Lyra tomava banho, foi uma boa forma de não ceder aos seus impulsos provocativos. Ele estava
usando um machado para cortar a árvore em vez da serra elétrica, e ele só fazia isso quando suas
emoções estavam muito à flor da pele.
— Acho que de todos nós ele parece o único a não ter nenhuma esperança de encontrar uma
fêmea para ele — comenta Bryson, seu olhar focado em mim. — Todos nós perdemos as
esperanças, mas diferente de Byron, temos um controle que ele nunca teve sobre seu próprio
animal, suas emoções e seu medo do que seria capaz de fazer caso sentisse a conexão com uma
companheira.
— O Leste se tornou um lugar sem esperança e de medo do que realmente somos — falo com
pesar, sabendo que eu levarei um bom tempo para aceitar as palavras fortes de Lyra de que eu
jamais a machucarei e que cada marca deixada em seu corpo é uma prova de que ela é minha,
que seu prazer é meu, me acostumar com o fato de que sempre eu a machucarei, irá me torturar
por um longo tempo.
— O medo nos fez mais forte, e nos trouxe até aqui onde temos um dos nossos, nosso alfa com
uma companheira, e seu braço direito ligado a um filhote e sua mãe irritante. — O comentário de
Bryson me faz sorrir.
— Kaira tem mexido com você? — pergunto já sabendo a resposta.
— Ela não saiu do meu lado ontem à noite, e mais do que isso, ela dormiu aqui sem soltar a mão
da minha — responde Bryson tocando a própria mão, recordando-se do toque de Kaira. — Ela
me contou muito sobre o que sente por mim ontem, provavelmente porque achou que eu estava
dormindo.
— Bryson.
— Ela só diz que eu irrito quando estou acordado, o que aparentemente muda quando estou em
sono profundo — fala, rindo. Ver o enorme macho rir, me faz sorrir. Sorrisos não são nosso
forte, mas aparentemente encontramos duas fêmeas capazes de fazer isso sem nenhuma força. —
Eu não quero reivindicá-la, Wyatt, mas quero cuidar dela e do bebê como se fossem meus. Meu
Leão quer isso, ele precisa disso. — Encaro meu melhor amigo com pesar, ele tinha o mesmo
medo que eu tenho com Lyra, de machucá-la. A diferença de Lyra para Kaira é que Lyra não
conviveu com machos como Kaira havia convivido, não foi machucada e submetida a um
macho. Bryson mesmo que não quisesse, mesmo que conseguisse se controlar, ele poderia
machucá-la, poderia trazer memórias que provavelmente causariam mal a Kaira e pior, poderia
fazê-lo enlouquecer mesmo que no fundo eu achasse que é completamente impossível seu leão
dominar o macho forte que o controla mesmo se a loucura o tomasse.
— Eu farei a cerimônia se ela aceitar, Bryson — falo, Bryson assente agradecido.
— Onde está Lyra? — pergunta, deixando claro o término do assunto.
— Ela foi para a cidade. Woodmoore — respondo, sentindo a vontade quase incontrolável de ir
atrás dela, mesmo sabendo que só faz uma hora apenas que ela partiu.
— Você a deixou ir?
— Não posso prendê-la aqui, mesmo que eu quisesse, Bryson, ainda mais hoje, um dia tão
importante para ela — falo, lembrando das suas lágrimas, sua dor. — Além do mais, ninguém
sabe quem ela é, ou onde ela está. Lyra está mais segura fora do Leste — acrescento, sentindo o
pesar em minhas palavras.
— Você está se controlando para não ir até ela — afirma Bryson, me fazendo sorrir triste.
— Sim. Tudo que eu mais queria era estar ao seu lado, é o que um companheiro deveria fazer.
Mas minhas responsabilidades aqui vêm em primeiro lugar. — As palavras que saem da minha
boca têm um gosto amargo.
— Um dia você poderá ir até a cidade com ela sem se preocupar com o Leste, Wyatt.
Acompanhar sua companheira a todos os lugares a que ela quiser ir — declara Bryson.
— Esbarrar com a morte fez você se tornar mais esperançoso, Bryson? — pergunto, fazendo o
enorme macho rir.
— Só estou evitando que você chore, eu perderia o meu respeito por você e não quero que isso
aconteça. — Nós dois sorrimos um para o outro, e ficamos em silêncio ao ouvir as vozes e
risadas das mulheres no quarto ao lado.
— Kaira está preocupada que não tenha roupa para o bebê, nem berço — comenta Bryson. —
Você acha que Lyra iria à cidade para comprar algumas roupas seu eu pedisse a ela? — pergunta,
assinto, concordando. — Eu pensei em pedir a Rebecca, mas ela parece não gostar de ir à cidade,
segundo Alina.
— Rebecca tem problemas na cidade, eu não sei exatamente com quem ou quê. Mas ela tem
medo, e só vai quando é extremamente necessário — digo, eu não sei a história toda dela, e
Knight parece também não saber, mas parece ter se importado o suficiente para arrumar um bom
trailer a ela, garantindo estadia dela aqui no Leste. — Ela se sente segura aqui, mesmo que não
goste de nos ver em nossa forma animal.
— Ela tem medo, Alina me contou. Você prometeu a ela que não se transformaria perto dela, que
nenhum de nós faria isso.
— Foi fácil prometer sendo eu o único macho perto dela realmente. E as fêmeas só precisam se
transformar uma única vez por mês, e elas parecem entender o medo de Rebecca e não se sentem
ofendida de fazer isso mais adiante na floresta — falo, dando de ombros. — O que pretende
fazer em relação ao berço? — pergunto ao Bryson.
— Eu comecei a separar algumas madeiras atrás do trailer, mas vou precisar de ajuda, não sou
muito bom em construir algo do zero dessa forma — responde, me olhando de forma inquisitiva.
— Eu posso ajudá-lo.
— Obrigado, Wyatt. É estranho pensar que um dia amamos tanto isso aqui, que só em pensar em
deixar nosso pequeno paraíso, era aterrorizante e agora depois de anos presos aqui tudo que
queremos é ter a liberdade de poder ir para onde quisermos sem sermos destruídos. — A dor e a
verdade em suas palavras faz o peso de ser o alfa se aprofundar em minhas costas.
— Teremos nossa liberdade de ir para onde quisermos de volta, Bryson — digo, buscando a
esperança que Lyra havia trazido de volta para mim, na superfície. Um dia derrubaremos as
barreiras colocadas em nós e seremos livres novamente como quando éramos crianças.
Lyra Gray
Chego bem na hora da abertura, faltando poucos minutos para as oito, passo as pessoas na fila e
encontro Carter, um homem negro, alto com um terno fino de cores pretas recepcionando todos
na entrada. Paro em sua frente, fazendo-o sorrir quando me puxa para um abraço, o abraço de
volta, sentindo as emoções aflorarem em mim, passei grande parte da minha vida ao redor de
grandes músicos, e grandes homens como Carter que davam tudo de si dentro e fora do palco.
— Eu pensei que você não viria — afirma Carter, me puxando para dentro do seu belo bar,
inspirado em bares antigos dos anos 80, com tons amadeirados, vermelhos e muita luz dourada
por todo o local. — Eu sei o quanto é difícil fazer isso sem ele — continua Carter, mantenho
meu olhar ao redor para que ele não veja minha dor.
— Eu jamais faltaria a essa grande inauguração — falo, contendo a emoção que sei que fica
óbvia em minha voz. Caminho em direção ao palco, me afastando dele, toco o belo local preto e
observo o enorme piano marrom. Carter possui mais dois bares além desse, e dois ficam no
centro de Nova Orleans e ele nunca havia pensado em abrir um nessa área até Thomas dar a
ideia, garantindo que seria um enorme sucesso, como um bom apreciador de Jazz e um
conhecedor de todas as reservas que contêm nessa área ele sabia muito bem o que atrairia o
público. Boa música e boa comida, foi assim que o Forever Jazz nasceu aqui em Woodmere onde
a cidade é governada por um fantasma, onde os shifters vivem seguros, ainda se mantendo
escondidos ao redor das florestas e de suas próprias leis.
— Fico feliz em ouvir isso, Lyra — Carter fala atrás de mim, e assim como eu admira o piano,
que antes continha manchas de mordidas, de copos, patas e arranhões que roubaram seu brilho ao
mesmo tempo que o enchia de memórias e de fases. Agora ele tinha novamente chegado ao seu
auge, impecável, como se o tempo não tivesse passado, como se nada tivesse mudado desde o
primeiro dia que eu o vi pela primeira vez tanto tempo atrás.
— Você o deixou perfeito — elogio.
— Ele só precisou de alguns cuidados para voltar a ser o que sempre foi, pronto para ser tocado e
criar novas lembranças e revivê-las pela sua antiga dona — fala, olho para Carter. O piano
pertenceu a Thomas por toda sua vida desde que se mudou de Nova York, para Nova Orleans,
foi onde ele me ensinou a me expressar, a sentir.
— Sempre foi Thomas o dono dele.
— E sempre vai ser, mas ele só merece ser tocado por aqueles que o conhecem, por aqueles que
o entendem. — Sorrio triste, era o que meu pai sempre dizia a mim, um instrumento reconhece
aqueles que tocam com o coração, e aqueles que o tocam por tocar, sem entender o que
realmente devem passar. Aceito a mão que Carter me oferece ao meu ajudar subir no palco. Olho
para as mesas que começam a ser ocupadas, as luzes diminuem para ser focadas no palco, em
mim. Sento-me no banco preto estofado do piano, e passo minhas mãos por suas teclas, me
recordando da primeira vez que as toquei, meus dedos eram pequenos e as teclas pareciam duras,
sorrio ao lembrar de reclamar.
— Elas são duras, não vou conseguir tocar — falei, bufando querendo ir para meu quarto.
— Elas não são duras, Lyra, elas apenas precisam ser amolecidas pelo seu toque, pelos seus
sentimentos. Sua dor vai amolecê-las.
Eu achava uma baboseira suas palavras delicadas e cuidadosas. Mas foram elas que me
ensinaram a sentir, a falar e não conter nada dentro de mim, que as emoções são importantes, que
os sentimentos são importantes e que não precisamos guardá-las, começo as estrofes levemente
com timidez antes de deixar baixinho minha voz sair.
— Are you gonna swim the sea[1]
Against the tide
Can you see these arms
They're flung open wide
It brings me to my knees all this in my dream
So will you be the vine that climbs
The walls to me...
And I said, oh
Let it pull you from the depths of the ocean
Oh, until you feel that maybe you're not alone...

Ouço Carter tocar, sua voz me remetendo a Thomas, a forma como ele sorria e se mexia a cada
toque nas teclas do piano, como se a música fluísse por todo seu corpo, mantendo todos os
olhares fixos nele e na sua música. Bato palmas, sentindo meus olhos marejados, enquanto
Carter agradece e desce do palco, deixando outra banda subir, ele caminha até mim com um
sorriso triste. Eu o compreendo. Ele me abraça forte, e eu agradeço o seu carinho.
— Imagino que precise ir — fala Carter, se afastando, e assinto.
— Sim... Carter, sobre o bar... — começo, Carter nega com a cabeça.
— Eu cuidarei de tudo, Lyra, e estaremos aqui quando você precisar, o palco sempre será seu. —
Suas palavras fazem as lágrimas descerem pelo meu rosto, borrando a pouca a maquiagem que
ousei passar.
— Obrigada, Carter — agradeço e o abraço uma última vez antes de caminhar para fora do bar.
Eu não sei quando irei voltar, mas um dia eu voltarei e tocarei aqui novamente, dessa vez sem
sentir a dor imensa que arde em meu coração. Eu preciso voltar para o único que pode fazê-la
desaparecer, o único que pode me fazer esquecer a minha perda. Eu preciso voltar para os braços
do meu companheiro, do meu alfa, de Wyatt Moore.
Capítulo 12
Lyra Gray
Estaciono a caminhonete, e desço do carro retirando meus saltos para não afundarem na terra e
caminho para dentro, vendo as luzes da sala completamente acesas. Deixo os saltos fora e abro a
porta, encontrando Wyatt acordado com Sissy em seu colo e Hércules ao seu lado enquanto os
outros estão jogados pela sala ao seu redor. Meu alfa acaricia a cabeça de Sissy que parece
apreciar seu toque, assim como Hércules. Caminho até ele, passando por cima da animação de
Apolo em minhas pernas. Acaricio sua cabeça e a de Sinatra.
— Eu também senti saudades, meninos — cumprimento-os baixinho, observando que Sirius
dorme em sua caminha junto com Dodô. Todos completamente à vontade ao redor de um Wyatt
com aparência cansada. Paro em sua frente e toco seu rosto. — Deveria estar dormindo.
— Não consegui dormir. — Meu coração dói, sabendo o que mesmo a curta distância de nós
separados pode causar a ele.
— Estou aqui agora — digo, me inclinando sobre ele e beijando seus lábios gentilmente, antes
de Wyatt enrolar suas mãos no meu cabelo e seus lábios tomarem os meus de forma bruta,
recebo sua dor, suas emoções furiosas devolvendo da mesma forma.
— Lyra... — ele geme contra minha boca quando se levanta me puxando para seu colo, causando
gemidos de irritação em Sissy e Hércules, Wyatt aperta firme minha cintura contra o seu quadril
e sua ereção por cima da calça de moletom. Enrolo minhas mãos em seu cabelo curto, enquanto
sou levada escada acima, e colocada deitada em minha cama com Wyatt em cima de mim.
Wyatt Moore
Fecho os olhos apreciando o cafuné que Lyra faz em minha cabeça, e deito em seu peito por
cima do belo vestido vermelho e macio que deixa sua pele branca irresistível.
— Melhor? — pergunta Lyra, não preciso olhá-la para saber que ela está sorrindo ao sentir o
meu ronronar alto contra seu peito. — Eu também senti sua falta, Wyatt — confessa.
— Eu sei.
— Há meses não sinto a felicidade que você me traz. Você coloriu meu futuro de novo — diz,
parando a carícia. Sinto-a respirar fundo.
— Doeu tocar sem ele? — pergunto, vendo-a se retesar debaixo de mim.
— Sim, mais do que pensei que poderia ser capaz de doer. Eu espero que a dor diminua um dia
— fala, voltando a acariciar meus cabelos. Abraço-a forte embaixo de mim, pensando em minha
própria dor. Ela havia diminuído.... mas fora substituída pela culpa que um dia com ajuda de
Lyra espero que diminua também.
— Um dia talvez tudo que guardamos de ruim dentro de nós diminua, Lyra.

Lyra Gray
— Quando Thomas te ensinou a tocar? — pergunta Wyatt, observando o álbum de foto que
Thomas havia insistido que fizéssemos desde que pisei a primeira vez em sua casa e me tornei
sua filha.
— Assim que eu cheguei, toda manhã antes de ir para escola ele me dava uma hora de aula, e a
mesma coisa antes de dormir. Ele dizia que era a nossa tradição familiar, a qual um dia eu
passaria para meus filhos, e meus filhos para os filhos dele e assim por diante — explico,
observando a foto da minha primeira apresentação de piano em uma das diversas festas que
Thomas dava em nossa casa. Ele nunca a deixava parecer vazia, mesmo quando estávamos
apenas nós dois, estava repleta de vozes do Jazz no som, ele tentava preencher o vazio que eu
tinha de um bando.
— Você também canta? — indaga, olho para seu rosto coberto de curiosidade.
— Sim, mas não tão bem — respondo, notando o olhar pidão do meu belo companheiro. — Nem
vem com esse olhar de gato de botas para cima de mim, não caio nessa. Tenho dois gatos. Estou
vacinada.
— Gato de botas? — pergunta Wyatt, ele larga o álbum colocando-o ao seu lado e vem para
cima de mim, de forma voraz me derrubando contra a cama. — Eu sou um tigre, Lyra, e não um
gatinho. Se eu quero algo, eu consigo por bem ou por mal — fala sério, rugindo em meu
pescoço, me causando arrepios.
— Se vai começar e não terminar, Wyatt, é melhor parar agora — digo séria, Wyatt para em
cima de mim observando-me, levanto meu vestido vermelho, retirando-o do meu corpo, ficando
de sutiã e calcinha. — Deixe-me controlar, Wyatt — peço, sentando-me e tocando seu peito nu.
— Deixe-me ficar por cima — falo, sentindo coragem e desejo correr pelas minhas veias. Seria
cedo demais para pedir isso a ele? Espero uma resposta do meu macho, contudo, a recebo de
uma forma diferente, sem palavras, Wyatt se deita e me puxa para cima dele. Suas mãos se fixam
na madeira entalhada da cabeceira da cama com força enquanto noto os seus olhos se
transformarem, seu tigre presente, mas submisso. Desço meus lábios pelo seu pescoço, pelas
veias que pulsam forte até seu peito, seu abdômen forte e para seu V profundo onde lentamente
puxo sua calça de moletom, libertando seu pau, rosado e coberto de veias, acaricio a ponta com
os dedos espalhando o líquido transparente que sai e em seguida desço minha boca com cuidado,
sentindo sua pele e seu gosto contra a minha língua, escuto o rugido forte de Wyatt atraindo meu
olhar em sua direção, enquanto chupo seu pau com mais força, sentindo-me cada vez mais
molhada por ver o prazer explícito no rosto do meu companheiro.
Wyatt Moore
Mordo os lábios, sentindo o gosto de sangue que minhas presas tiram deles, ao mesmo tempo
que sinto a madeira gemer pelos puxões que dou ao segurá-la cada vez mais forte. Abro os olhos,
sentindo a boca quente de Lyra me deixar e voltar a subir pelo meu corpo, beijando e chupando
até ela estar sentada em cima de mim, observo de forma sedenta ela afastar a calcinha para o lado
e simplesmente descer sua entrada molhada pela cabeça do meu pau, ela geme baixinho e se
apoia em meu abdômen, me tomando por completo dentro dela.
Lyra Gray
Rebolo com Wyatt dentro de mim, sentindo-o tocar em um pontinho gostoso de prazer, me
alargando com seu tamanho, e em seguida retiro um pouco e desço novamente em seu pau
devagar, Wyatt é bem melhor nisso do que eu, sorrio, encarando seu rosto, seus lábios têm
sangue. Ele está se contendo muito mais do que ontem. Toco seus lábios, os libertando da prisão
de seus dentes, e desço novamente contra seu pau, e em seguida rebolo.
— Está bom? — pergunto, sentindo-me ficar mais molhada contra ele, rebolo novamente, e em
seguida desço novamente em seu pau, subo e desço e rebolo. Crio uma sequência lenta que faz
todo meu corpo tremer de prazer, gemo mais alto conforme sinto o calor subir pelos meus pés,
minhas pernas, minha buceta, gemo me esfregando em Wyatt, cedendo o controle para o prazer
quando sou derrubada na cama, sendo arrematada com força pelo pau de Wyatt e seus dentes em
minha pele.
— Wyatt! — grito seu nome enquanto o orgasmo é prolongado pelo seu dentro de mim.
Wyatt Moore
Puxo Lyra novamente para cima de mim, sentindo-a se contrair com meu pau dentro dela ainda.
— Precisamos treinar sua submissão, Wyatt — sussurra ofegante em meu ouvido, sorrio.
— E arrumar uma cabeceira mais forte — falo, observando o buraco que agora continha na
cabeceira de madeira. Lyra também faz o mesmo e escuto seu risinho que me faz sorrir.
— Eu gostava dessa cabeceira.
— Eu também, mas eu faço outra sem problema algum.
Ficamos em silêncio, sua mão acariciando meu peito e a minha as suas costas.
— Você está bem, Lyra? — pergunto, olhando para seu rosto sonolento, e passando o olhar
levemente para seu ombro ferido. Eu a mordi de novo.
— Estou, Wyatt — fala, levando sua mão em meu peito para meu rosto. — Faz meses que não
me sinto tão bem, e tão feliz como estou me sentindo agora. — Beijo sua mão e a abraço mais
apertado contra mim.
— Eu também estou feliz como há muito tempo não estive. Estou feliz por você ter vindo até
mim, Lyra Gray.
Capítulo 13
Wyatt Moore
Observo Lyra se sujar com a omelete de queijo que eu preparei. Ela está faminta e parece
apreciar o belo café da manhã. Como o último pedaço da minha omelete, me dando por satisfeito
e jogo a última salsicha para Apolo deitado aos meus pés, espreitando, esperando ansiosamente
que Lyra deixe cair algo. Me levanto recolhendo meu prato, mas paro quando escuto um
movimento já conhecido vindo do armário, encaro a porta aberta.
— Desçam já dessa mesa. — A voz autoritária de Lyra me tira a atenção para Sissy e Teddy em
cima da mesa do café com os olhos focados no armário, junto com Apolo. — O que eles estão
olhando? — pergunta Lyra.
— Um rato — falo tranquilamente, tentando não rir quando Lyra sobe na cadeira.
— Mate-o — ela manda, e sinto o cheiro de medo vindo dela.
— Agora entendi por que você tem dois gatos — falo, caminhando até o armário de forma
tranquila, abro as portas e observo o pequeno ser encurralado que assim que Lyra vê grita alto o
suficiente para todos os shifters aqui do Leste terem ouvido. — Vem cá — chamo o pequeno
rato, observando de esguelha Sissy e Teddy no balcão embaixo do armário, agora à espera. Pego
pelo rabo comprido e o retiro, deixando-o alto o suficiente para evitar sua morte. Me viro para
Lyra que agora está do outro lado da cozinha.
— Você não vai matá-lo? — pergunta, sorrio levemente.
— Vou soltá-lo, o coitadinho já sofreu demais você quase o matou do coração — respondo, e
vejo-a me olhar zangada, o que acho bem sexy. Tento me aproximar dela.
— Não ouse — diz apontando um dedo para mim, me afasto e caminho para a sala, sendo
acompanhado por Sissy e Teddy.
— Não vou deixar vocês o comerem — falo, abrindo a porta e a trancando atrás de mim, desço
os degraus e caminho para a floresta, coloco o rato no chão. — Amiguinho, é melhor não
aparecer aqui novamente ou você será morto — aviso, vendo-o correr pela floresta. Ouço Byron
se aproximar, ele olha para mim e depois para casa.
— Eu ouvi um grito — fala, me observando.
— Um rato.
— Um rato?
— Coisa de mulher, eu acho — digo, sem conseguir controlar o sorriso que sobe nos meus
lábios. — Está tarde para sua ronda, não? — pergunto. Já haviam passado das seis horas da
manhã, ele deveria já estar na clareira com Art e Warren.
— Bryson me mandou até aqui. Kaira está sentindo dores — fala, seu tom preocupado me
surpreende e me preocupa. Kaira passou por muito estresse nos últimos dias, isso pode ser
perigoso para ela e para o bebê.
— Vou buscar Lyra. Vá na frente.

Lyra Gray
Afiro a pressão de Kaira, a ouvindo resmungar e olhar para Bryson com raiva, tento conter o
sorriso, mas não consigo.
— Dessa forma sua pressão vai explodir meu medidor — comento, olhando de esguelha para
Wyatt que também sorri.
— É culpa dele. Ele acha que eu vou quebrar a qualquer momento. Eu estou grávida, não estou
carregando um Alien e sim um filhote que às vezes me causa um leve desconforto, só isso —
fala Kaira olhando ainda raivosa em direção a Bryson que não parece nem um pouco preocupado
com as acusações e a raiva que Kaira manda em sua direção.
— O que ela tem, Lyra? — pergunta Bryson, Kaira está deitada onde ele deveria estar e sua
preocupação é nítida.
— Foram apenas contrações de Braxton-Hicks — respondo, retirando o medidor do braço de
Kaira e anotando em sua ficha, dou uma olhada, notando que sua pressão continua elevada.
— Não é cedo para eu ter essas contrações? — indaga ela.
— Sim. Mas você passou por muito estresse nos últimos dias, Kaira.
— Tem certeza de que não há nada de errado com o bebê? — pergunta, noto o nervosismo em
sua voz. Retiro o olhar do caderno, e toco sua mão com o melhor sorriso reconfortante que eu
consigo.
— Pelos meus exames, não há nada de errado, Kaira...
— Mas?
— Preciso ter certeza, então irei precisar fazer um exame um pouco mais invasivo em você —
falo, Kaira toca a barriga com pesar.
— Tudo bem. Agora? — ela pergunta, dirigindo seu olhar para Bryson, vejo o pedido de
desculpas em seu olhar em direção a ele. Aparentemente, de certa forma o macho tinha razão
para me chamar.
— Eu preciso ir à cidade antes, não tenho esse tipo de material comigo — informo, me
levantando. — Preciso que você descanse. — Kaira assente. — Eu volto em breve.
Saio do quarto com Wyatt e Bryson em meu encalço.
— Você disse que não tinha nada errado. Disse que está tudo bem, mas não acho que esteja —
fala Bryson, desço as escadas em silêncio até a saída e só então me viro para eles.
— Kaira está bem, Bryson, sua pressão continua elevada como na última vez que a vi, mas
acredito ser pelo estresse que ela passou nos últimos dias. Shifters são diferentes de humanos, o
corpo de vocês é diferente, a resposta a certas emoções e doenças são diferentes, mais intensas
ou menos intensas. Kaira tem vivido um turbilhão de emoções desde o começo e alguma hora a
afetaria de alguma forma — explico, Bryson parece entender o que estou dizendo e vejo seu
rosto ficar ainda mais perturbado, triste.
— Por isso precisa desse exame?
— Sim, ele vai me garantir que está tudo bem fisicamente com ela — respondo, tocando o
ombro do enorme macho. — Ela e o bebê ficarão bem, Bryson. — Ele me olha assentindo,
parecendo aceitar minha resposta.
— Eu não posso fazer nada para ajudá-la.
— Na verdade, você pode — fala Wyatt. Olho em sua direção. — Poderá acabar com uma das
preocupações dela, Bryson. Você queria que Lyra comprasse roupas de bebês para o filhote,
certo? — pergunta, olhando em sua direção, sorrindo. — Acho que isso a faria feliz, você disse
que ela estava preocupada em não ter roupas para ele.
— Você as compraria para mim? — indaga Bryson, seu olhar focado em mim.
— Claro, irei à cidade agora, posso passar em algumas lojas por lá. — Bryson assente, e passa
por mim em direção ao seu trailer, estacionado ao lado da casa. Wyatt espera que ele se afaste e
vem até mim, ele retira um maço de dinheiro do bolso e me entrega.
— São para comprar algumas coisas para Kaira, todos ajudamos depois de ouvi-lo falar sobre
isso ontem comigo, tive a ideia — conta Wyatt, sorrio orgulhosa de finalmente estar em um
bando digno, repleto de amor e companheirismo. — Você acha que é o suficiente para comprar o
enxoval e roupas de grávida para ela? — pergunta Wyatt, me entregando o dinheiro que coloco
no bolso antes que Bryson volte. Passo meus braços em volta do pescoço de Wyatt e beijo seu
lábio inferior, o puxando contra meus dentes, suas mãos vão para minha cintura.
— Você é um alfa incrível, Wyatt Moore, e sou uma mulher sortuda por ter você como meu
companheiro. — Os olhos de Wyatt se dividem entre seu tigre e o homem dentro dele. Ele aperta
minha bunda com uma das mãos e seus lábios vem ao meu encontro quando somos
interrompidos.
— Mas o que está acontecendo aqui? — É a voz de Alina. Me afasto de Wyatt, percebendo que
ele não está constrangido, mas sim resignado como se já soubesse o que está prestes a acontecer.
Bryson chega na hora, com um pequeno maço de notas, ele me entrega e olha de Alina, Rebecca
e Briana para Wyatt.
— Eu acho que é melhor eu ir. — Enfio a mão no bolso de Wyatt, pegando a chave do carro e
deixo um beijo em sua bochecha antes de sair correndo em direção à picape. Dou um tchauzinho
na direção de todos e piso fundo esperando que o interrogatório que elas farão a Wyatt sejam o
suficiente para matar a curiosidade das fêmeas.
Wyatt Moore
Observo o carro sumir de vista, me deixando sozinho com elas, olho para Bryson que sorri
negando com a cabeça, enquanto caminha para dentro da casa deixando a porta aberta.
— Você... — Alina e Briana se aproximam, eu não as via desde que tornei Lyra minha
companheira, elas eram as únicas que ainda não sentiram o cheiro adocicado de Lyra agora em
mim, todos os machos já sabiam e Kaira desconfiava. — Você e Lyra estão juntos. — É uma
afirmação de Alina, seus olhos brilham e ela tem um sorriso no rosto. — Isso é incrível.
— Eu sabia — afirma Rebecca. — Vi a forma que vocês se olhavam.
— Você conseguiu se controlar com ela? — pergunta Briana.
— Melhor continuarmos esse interrogatório lá dentro. — Volto para dentro da casa com as
fêmeas e me sento no sofá sendo rodeado por elas. E só então respondo à pergunta de Briana: —
Não, mas Lyra não se importa... nem mesmo com as marcas que eu deixo nela. — Penso em seu
ombro hoje de manhã, estava roxo e a nova mordida avermelhada. Assim como todos os outros.
As marcas pareciam não querer desaparecer, se juntando com as novas.
— Ela é humana, é normal que demore mais para curar — afirma Rebecca, dando de ombros. —
Se ela não se importa, você não deve se sentir mal com isso. Homens humanos às vezes também
deixam marcas. — Olho para Rebecca que assim como eu recebe os olhares de todos em sua
direção. — São marcas de prazer, há uma linha bem grande de diferença de uma agressão física,
de um hematoma por dor, para um de prazer.
— Não sabia que fêmeas humanas apreciavam sexo selvagem — comenta Bryson.
— Algumas de nós não gosta de ser tratada como um bibelô. Não vamos quebrar. Imagino que
seja o mesmo com as fêmeas shifters — fala Rebecca, olhando para Alina e Briana que se
mantêm quietas. Rebecca provavelmente não sabia o que as duas haviam passado com machos
da mesma espécie.
— Há fêmeas e fêmeas — diz Alina, olhando para a irmã que assente concordando. Elas se
viram para mim. — Ficamos felizes que tenha encontrado alguém que aceite você como é,
Wyatt. — Sorrio, agradecendo.
— Eu estou aprendendo a ser carinhoso — falo, pensando que havia passado a manhã toda
beijando seu corpo, e o apreciando sem despertar meu instinto animal e até havia me submetido
ao desejo de Lyra por alguns minutos que mais pareceram hora quando ela montou em mim.
— Está na sua cara o que você está pensando, Wyatt — Alina comenta rindo, fecho a cara na
hora e me levanto.
— Se eu já respondi todas as perguntas, eu preciso ir trabalhar — falo, mas quando caminho para
a porta, Briana me para com mais uma pergunta.
— Você só terá Lyra, Wyatt? — É uma pergunta válida, diante da origem do meu animal, se não
fosse o fato de que eu havia encontrado, a minha metade, a fêmea que completa o meu animal.
— Lyra será minha única companheira, ela é a única que terei ao meu lado para sempre.
Capítulo 14
Lyra Grey
Algumas horas depois...
Coloco as últimas sacolas com doces, e com o bolo dentro da caminhonete e fecho a porta, dando
meu dia na cidade como finalizado, finalmente consegui concluir a ideia que me assolou durante
todo o caminho de Belle Chase até aqui, e por todas as lojas até encontrar a bela padaria Gomery.
A ideia tentadora de fazer um belo chá de bebê para Kaira, se concluiu quando vi aquele belo
bolo azul tentador na vitrine. Kaira terá um momento mesmo que pequeno para comemorar sua
maternidade e seu filhote a caminho, e que melhor forma para isso do que uma festa com doces e
bolo.
Dou a volta para o banco do motorista e olho uma última vez em volta conferindo mentalmente a
lista que eu fiz.
● Loja de aparelhos hospitalares;
● Loja de bebês;
● Padaria.
Meu olhar vagueia fazendo um check-in mental e repassando a verificação que fiz no aparelho de
ultrassom endovaginal, nas diversas roupinhas, e roupas para mães que eu comprei, e por último
na padaria, mas assim que paro na minha última checagem recontando os diversos brigadeiros
que comprei, meu olhar se volta para a padaria onde eu achei o bolo perfeito, focando na mulher
que está parada em frente à porta, seu olhar está no horizonte assim como o meu estava até ser
atraído para ela, e ela para mim. O reconhecimento que temos uma da outra é imediato. Seus
cabelos loiros e compridos são como os meus só que mais claros, sua pele bronzeada, seus olhos
dourados deixam claro de onde viemos, do que somos ou pelo menos do que deveríamos ser,
Ayla e eu sempre fomos muita parecidas, a única diferença agora entre nós é o tom da minha
pele que tinha se tornado pálido, ao viver constantemente dentro de um conSultório, enquanto
minha irmã possui uma pele dourada digna de alguém que trabalha constantemente debaixo do
sol. Nossos olhos se focam um no outro, passando muitas emoções inconstantes ao mesmo
tempo. Choque, raiva, culpa e por último tristeza quase palpável de tão nítida. Sinto meus pés
caminharem em sua direção, e noto-a fazer o mesmo, mas para quando Nelly se aproxima... sua
mãe a chama, e seu olhar desvia do meu. Vejo-a sorrir na direção dela, e assentir caminhando
para dentro da padaria. Acompanho-a até seu corpo sair da minha vista e só então entro no carro
sem conseguir esquecer seu olhar, ou o que quase fizemos ao caminharmos em direção uma à
outra.

Paro o carro em frente à casa de Kaira, sorrindo ao ver Wyatt sentado no degrau da escada com
Hércules ao seu lado, finalmente estou de volta para meu alfa.
Desço do carro, sentindo toda a dor ao ver Ayla voltar. Caminho em direção ao Wyatt que sorri
se levantando a tempo de me pegar em seus braços quando me jogo em cima dele. O abraço
forte, sentindo o calor do seu corpo aquecer o frio que me tomara desde Woodmere até aqui.
— Lyra, o que aconteceu? — pergunta sem me largar. Penso no que dizer a ele, mas as palavras
param em minha garganta. Ver Ayla me fez pensar em algo que há muitos anos não perturbava
minha mente. O destino da minha irmã. O destino que havia sido empurrada a ela após eu ser
mandada embora, destino esse o qual ela jamais teria nenhuma escolha a não ser aceitar.
— Eu vi Ayla, minha irmã, na cidade — falo, sentindo minha voz embargar ao me afastar de
Wyatt para encarar seu rosto. — Ela está crescida, pronta para seguir o que planejaram para ela
— comento, deixando claro o que realmente havia me perturbado em nosso encontro. — Ela
tinha tanta tristeza no olhar, Wyatt. Nós caminhamos uma para outra, como se um ímã nos
puxasse.
— Vocês conversaram? — indaga, nego com a cabeça, tocando seu peito por cima da camisa,
sentindo seu coração bater forte e calmo contra minha palma, como uma fortaleza diante do meu
caos.
— Nelly apareceu — falo com pesar. — Ela não me viu, mas tirou a única oportunidade que tive
em anos de conversar com Ayla. Éramos tão pequenas, mas tão espertas e cientes do que estava
predisposto para nós que isso nos afastou.
— Sinto muito, Lyra. — Wyatt toca meu rosto com carinho e com cuidado.
— Eu não pensava em Ayla há anos, exatamente para não pensar em seu dever, no dever de filha
primogênita que foi atribuído a ela após minha partida. — Devolvo o carinho de Wyatt, tocando
seu rosto da mesma forma que ele faz comigo.
— O casamento — diz, assinto. — Talvez ainda não tenha acontecido, Lyra.
— Mais vai acontecer sem amor, sem esse laço que nós temos — falo, Wyatt sorri triste em
minha direção, sua testa encosta na minha.
— Quem sabe ela não tenha sorte de encontrar o que nós encontramos.
— A esperança de um apaixonado.
— Não. Apenas um macho que sente a dor de sua companheira mais forte do que ela mesma e
apenas tenta achar nas palavras o conforto que não pode ser dado de outra forma. — As palavras
dele me fazem sorrir em sua direção e aproximar meus lábios dos seus lentamente, fazendo um
rugido baixo surgir de Wyatt, o que atrai imediatamente Hércules que late. Me afasto dele e olho
para o rottweiler ciumento. — Vá para dentro, Hércules. — É uma ordem clara de Wyatt a qual
vejo meu cachorro obedecer prontamente, como vinha acontecendo desde a mudança do meu
alfa para nossa casa, aparentemente Hércules finalmente aceitou sua aposentadoria de
superprotetor desde que percebera que há outro macho para me defender, seu ritmo diminuiu, e
em vez de me seguir 24 horas por dia, ele agora aproveitava para apreciar os lambeijos que Sissy
dá nele, e as brincadeiras de seus outros irmãos.
— Ele nunca me obedeceu. — Olho para Wyatt que sem vergonha alguma mostra sua
superioridade com um belo sorriso arrogante em minha direção.
— Ele sabe que eu a protejo, que posso protegê-la. A missão da vida dele era essa, e agora ele
pode dividir ela comigo — fala Wyatt, sinto as lágrimas encherem meus olhos. — Lyra, se as
coisas não fossem como são...
— Eu sei, Wyatt. Eu sei. Há certas coisas que não podem ser mudadas, apenas temos que
aprender a lidar com elas. — Me afasto dos seus braços e do seu carinho quente e olho para
dentro da casa por onde Hércules acabara de passar. Estava silencioso.
— Kaira está descansando? — pergunto.
— Sim, dormindo desde que você saiu. Você fará o exame nela agora? — indaga, volto a olhar
em seu rosto notando a preocupação clara dele por mim e por Kaira.
— Sim, e enquanto eu o faço quero que você decore a sala e... — Puxo sua mão em direção à
caminhonete, ao banco de trás, onde todas as sacolas estão. — Pensei em fazermos um chá de
bebê, então comprei algumas coisas que eu achei de decoração de última hora junto com um
bolo, alguns salgados e doces — falo, mostrando as diversas sacolas.
— Conseguiu comprar tudo isso? — pergunta Wyatt surpreso. Assinto.
— Eu comprei alguns cobertores, e decorações para o quarto do bebê e o berço também. Tentei
comprar tudo que me veio na cabeça que ela pode precisar nos próximos meses. O exame não vai
demorar muito, mas irei tentar segurá-la por uma hora mais ou menos para você conseguir
arrumar tudo — explico, enquanto Wyatt apenas me observa com um pequeno sorriso em seu
rosto. Ele me abraça por trás e beija meu pescoço, me causando um arrepio instantâneo.
— Vou chamar as fêmeas para ajudar — é a última coisa que ele me diz antes de se afastar, com
um olhar que eu reconheço e que eu apelidei como muito perto do limite. Quando seu tigre se
divide entre o homem.
Wyatt Moore
Observo Kaira abrir mais uma sacola, com um enorme sorriso no rosto que faz seus olhos
brilharem enquanto olha para mais um dos pequenos macacõezinhos branco e vermelho. Ela já
abriu metade das sacolas e ainda falta o restante, e ela não retirou o sorriso do rosto desde o
momento que viu o que havíamos preparado para ela. Bryson está sentado ao seu lado e seu colo
está cheio de roupinhas que Kaira dobra e coloca em cima dele, tentando inutilmente incomodá-
lo, enquanto fica no meio de vários suspiros de todas as fêmeas ao seu redor ao verem as
pequenas roupinhas de diversas cores para o filhote.
Saio de onde estou encostado e vou até Lyra, me sento no braço da poltrona ao seu lado e me
inclino sobre ela, matando a vontade de ter seu cheiro e seu corpo apenas para mim. Mexo em
seus cabelos loiros, enquanto Kaira pega as únicas sacolas de roupas com cores pretas.
— São mais roupinhas? — pergunta para Lyra.
— Abra — fala, olho para minha fêmea que desvia o olhar para piscar em minha direção,
deixando claro que está aprontando algo.
— Lyra... — É tarde demais, volto meu olhar para Kaira quando ouço Bryson se engasgar com a
cerveja que tomava tranquilamente. Seu olhar fixo na camisola de renda vermelha comprida que
Kaira retira da sacola.
— Lyra. — Kaira olha em nossa direção vermelha, mas ainda com um sorriso no rosto. — É
muito bonita.
— Você precisa se sentir bonita, Kaira. Seu corpo está em constante mudança, mas ainda é seu.
Há outras mais para o dia a dia para você usar agora e depois, mas outras são sensuais apenas
para quando você precisar se admirar — diz Lyra com carinho. — Toda mulher às vezes sente
que não é bonita o suficiente, e às vezes só precisa de algo que possa fazer esse pensamento
ilusório se apagar.
— Obrigada, Lyra.
Kaira continua admirando a camisola enquanto mostra às outras fêmeas, contudo, meu olhar se
foca num Bryson que limpa a cerveja que caiu em sua camisa, e olha para todos os lados menos
para a camisola e Kaira. Ele está nervoso, e não sabe o que fazer. Beijo os cabelos de Lyra e me
levanto.
— Quer mais uma cerveja, Bryson? — pergunto, ele foca seu olhar turvo no meu largando a
cerveja ainda cheia ao lado, para poder retirar as diversas roupinhas de bebê em seu colo no sofá.
Ele se levanta e caminha apressadamente para a cozinha, o sigo.
— Aproveite e traga o bolo, Bryson, estou faminta — pede Kaira, Bryson não se vira para
assentir, olho para ela e o olhar que ela me dá deixa claro que ela sabe que mexeu com ele. Com
o Leão dentro dele. O que acontece com essas fêmeas, afinal? Balanço a cabeça sem entender e
caminho em direção ao meu amigo, fechando a porta da cozinha atrás de mim. Ele está
respirando fundo enquanto segura a bancada de madeira com força.
— Bryson — o chamo, seu olhar dourado completamente transtornado se vira para mim.
— O que ela quer de mim afinal? — pergunta, encosto-me à porta fechada.
— Eu não sei. Nossa situação não é parecida, não acho que Kaira queira ver o seu leão, a sua
fera como Lyra queria ver a minha — falo, pensando que o trauma que Kaira teve com os
machos, com o seu antigo companheiro provavelmente a bloqueará. Há batidas à porta, então me
afasto e abro encontrando uma Lyra curiosa, ela passa pela porta, a fechando atrás de mim.
— O bolo — fala, com os olhos fixos em Bryson. — O que está havendo aqui?
— Essa é uma grande pergunta — Bryson responde ríspido.
— A camisola mexeu com você — afirma Lyra, fazendo tanto eu quanto Bryson a olhar. — Por
que machos são tão devagar para entender as coisas, quando estão tão óbvias quanto a água é
transparente — comenta, caminhando até a geladeira e retirando o belo bolo azul de dentro.
— Então é isso que ela queria? Uma reação? Minha? — inquire Bryson.
— Você não reage a nada que ela fala ou faz. É difícil compreender alguém que parece uma
estátua — fala Lyra como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Ela não devia mexer dessa forma comigo.
— E você não devia mexer com ela, mas você mexe, a diferença é que ela não consegue
esconder as reações que causa nela — diz Lyra, abrindo a tampa do bolo. — Um sorriso de vez
em quando e uma resposta clara e objetiva não seria tão difícil, Bryson — comenta antes de
caminhar para a porta, abro-a para ela passar recebendo um sorriso de agradecimento.
— O que mais ela falou para você? — pergunta o macho que agora parece ter finalmente se
acalmado ao soltar a bancada, deixando uma marca clara dos seus dedos no local.
— Não muito. Ela está confusa, mas você causa emoções nela o suficiente para fazê-la sorrir
mesmo depois de tudo que ela passou, acredito que isso já deva dizer o suficiente para você e
para ela.
— Eu pretendo tê-la para mim, mas não da forma que o alfa a teve — fala Bryson o mais baixo
que consegue, seu olhar se volta para a sala, onde as fêmeas estão focadas e conversando alto o
suficiente para não nos ouvirem. Lyra retorna alguns passos e eu fecho a porta atrás dela
novamente. Ela olha de mim para Bryson.
— Eu não entendo.
— Quero protegê-la, cuidar dela e do filhote — fala Bryson devagar, noto o retesar em
mandíbula. — Eu a quero para mim. E quero o filhote que há dentro dela mais do que tudo, mas
não quero mais nada além disso.
— Você está dizendo... — Lyra olha para mim confusa. — Que não a reivindicará? Isso não é
possível, não com a reação que você teve em só ver a camisola dela. Seu Leão depois de tanto
tempo sem uma fêmea, não resistirá ainda mais se você a tomá-la como companheira, ele não vai
resistir em não a marcar, não vai conseguir controlar o seu instinto... e ainda há Kaira...
— Kaira tem um trauma, ela não gosta que machos a toquem, mesmo que ela tenha o feito
quando me aproximo mesmo que seja apenas para pegar algo que ela não alcança, noto ela se
afastar. O medo dela retrai meu Leão instintivamente. E apenas por isso sei que o que eu quero
com Kaira é perfeito — diz Bryson. Percebo o olhar triste que Lyra esconde ao trazer seu rosto
para mim. Ela pode não conhecer ele há muito tempo, mas sente o mesmo que eu ao ouvir a
felicidade de Bryson em sua voz ao saber que não há nenhuma chance de ele machucá-la, não
enquanto houver medo em Kaira direcionado a ele, ao toque dele e esse seria o seu grande
problema. Nenhum medo durava para sempre. Nenhum trauma fica para sempre no presente e
ele estava esquecendo de algo muito importante. Ele não conhecia ainda a águia de Kaira, e o
animal dentro poderia mudar tudo, inclusive seu medo pelo toque, por ele.
— Esperará até o bebê nascer? — pergunta Lyra.
— Sim.
— É melhor irmos, antes que Kaira reclame da demora — fala Bryson, encerrando o assunto e
pegando o bolo das mãos de Lyra, abro a porta para a passagem dele, abraço Lyra por trás, a
puxando contra meu corpo.
— As coisas não vão ser fáceis para ele — diz Lyra com pesar.
— Não, mas isso é uma coisa que ele vai ter que enxergar sozinho, Lyra, junto com Kaira que eu
tenho certeza de que assim como você, vai fazer de tudo para Bryson enxergar que ele precisa
aceitar o animal dentro dele — falo, sabendo pela minha própria experiência que fêmeas podem
ser bem mais forte do que nós machos achamos que elas são, mesmo que seja difícil aceitarmos
isso.
Capítulo 15
Lyra Gray
Absorvo a floresta em volta, entrando cada vez mais profundamente dentro dela conforme Wyatt
passa pelas estradas de terra com a caminhonete que parece estar acostumada com o caminho de
troncos, terra e floresta pesada que precisa passar para chegar à casa de Knight que
surpreendentemente mora aqui no lado Leste, nas terras em que Wyatt domina. No lado dos
renegados.
Knight é o único shifter que poderia morar em qualquer terra, tanto no Sul, Oeste ou Norte, todos
o aceitariam sem nada a dizer, assim como ele poderia morar na cidade, já que ela também o
pertencia, onde ele estaria longe do que ele mais abomina. Seu dragão, e o que ele representava
assim como os outros shifters.
— Você não falou nada desde que saímos de casa — comenta Wyatt, abaixando o volume da
música country que tocava avidamente no rádio desde que ele me convidou para ir visitar
Knight.
— Eu não esperava que ele morasse aqui — falo, nos diários tudo parecia tão abstrato sobre
Knight e sua família que eles até mesmo pareciam um sonho que minha avó descrevia em
pouquíssimas páginas sobre o que ela sabia e o pouco contato que havia tido com eles, que era
difícil compreender a essência, as regras que os shifters dragões seguiam, com o último deles
morando no lado Leste as coisas deveriam ser fáceis de se resolverem, não complicadas como
está há anos. A ideia que eu havia dado a Wyatt no canteiro das rosas parecia ainda mais correta
agora.
— Lyra. — Me viro para Wyatt, o seu tom sério tirando meu olhar da janela e dos meus
pensamentos. — Não toque no assunto do que acontece entre o Leste e o Sul.
— Ele não sabe, não é? — Avalio o rosto de Wyatt, vendo-o respirar fundo e voltar seu rosto
para a frente, faço o mesmo observando a enorme casa que começa a se mostrar à nossa frente.
— Ele não sabe — concluo, Knight vive no final do Rio Mississipi, a única coisa que divide o
Sul e o Leste.
— Knight vive isolado, longe o suficiente para nada chegar até ele desde que se mudou para cá
anos atrás — comenta Wyatt, estacionando o carro depois de quase uma hora dirigindo, ele se
vira em minha direção e pousa sua mão em minha perna e a outra em meu rosto. — Eu sei o que
estou fazendo ao manter Knight longe de tudo isso. — Encaro o rosto do meu companheiro,
confiando completamente em suas palavras, ao ver a dor que transparece nelas, e no seu olhar
sério em minha direção.
Há algo que eu ainda não sei sobre o homem que vive nessa enorme casa, algo que talvez minha
avó nunca tenha descoberto ou guardou para si, mas que Wyatt sabe, e aparentemente isso o faz
proteger Knight da verdade que rodeia suas próprias terras.
— É melhor irmos — fala dando um selinho em meus lábios antes de se afastar, ele desce do
carro e dá a volta para abrir a minha porta, me ajudando a descer na terra lamacenta com meus
belos all star. Me apoio em Wyatt e admiro a casa antiga, que parece estranhamente abandonada,
pelos musgos que rodeiam suas paredes e os galhos das árvores que caem por cima de seu
telhado. — A casa era do pai dele, uma das primeiras desde que houve a separação. É muito
antiga e nunca foi reformada como as duas restantes, a de Kaira e a sua... ou melhor nossa —
explica Wyatt, sorrio pela mudança, de sua para nossa em suas palavras e aperto sua mão mais
forte com um sorriso de pura felicidade em rosto.
Caminhamos de mãos dadas em direção à casa e para o homem com barba que aparece diante da
porta de madeira antiga, ele caminha para fora das sombras das árvores em volta da entrada
finalmente trazendo a luz para enxergar seu rosto, deixando claro sua pele branca como
porcelana, e seus olhos profundos em tom violeta, seus olhos são intensos, então desvio e o
avalio, ele está vestido com calça e camisa social, e descalço. Seus cabelos estão penteados para
trás e a única coisa que contrasta com o homem que eu vejo é sua barba que o faz parecer um
homem imponente e não doente como eu vejo. Seu corpo é magro e aparentemente ele está em
sua pior forma, sua camisa está folgada e sua calça se arrasta no chão conforme ele vem até nós
com um discreto sorriso, se aproximando primeiro de Wyatt, o cumprimentando com um abraço
de amigos.
— Como você está? — pergunta Wyatt, ao se afastar do amigo. Vejo a breve avaliação que
Wyatt faz em Knight e sua careta no final. — Parece que você emagreceu desde a última vez que
eu te vi.
— Não se preocupe, estou comendo o suficiente — fala sério, em seguida se vira para mim. —
Você deve ser a Lyra. — Assinto, estendendo minha mão, ele a pega sorrindo e dá uma piscada
em minha direção ao levar minha mão até sua boca, dando um leve beijo como um verdadeiro
cavalheiro.
— A poupe dos seus galanteios, Knight — resmunga Wyatt, fazendo tanto eu quanto o homem
que ainda segura minha mão rir.
— Não seja mal-humorado, Wyatt — Knight reclama de forma brincalhona, enquanto coloca
minha mão em seu antebraço. — Venha doce, Lyra, a levarei para conhecer o meu velho palácio.
— Olho para Wyatt que apenas balança a cabeça como se estivesse resignado e se inclina
beijando minha bochecha.
— Tome conta dela, Knight. — O tom de voz de Wyatt é tranquilo e seu rosto não há nenhum
resquício de seu tigre. Não há nenhum resquício do que eu vejo quando estou perto de outro
macho além de Bryson.
Knight me guia para dentro da casa, e logo de início percebo a enorme diferença da casa que
Kaira está e a do homem ao meu lado. Sua casa é fria, tons escuros em tudo ao meu redor, logo
na entrada há luzes em tons laranja nos abajures iluminando a sala, as janelas estão encobertas
por cortinas pretas pesadas, há pouquíssimos móveis, noto um sofá pequeno, um armário antigo
e uma mesa de jantar no canto, mas há muitas antiguidades ao redor, vários vasos com rosas
espalhados pela sala, pela escada, nas paredes há muitos quadros, me aproximo de um deixando
Knight ao notar o desenho claro de um tigre branco ao lado de seu filhote, uma mini cópia
perfeita do mais velho.
— É Wyatt e sua mãe. Eu pinto minhas memórias — explica Knight, parando ao meu lado.
— Você e Wyatt são muitos próximos — deduzo.
— Boa parte da minha infância passei com Wyatt e sua família. Meu pai viajava muito e um
dragão jovem, um bebê como eu para ser criado na cidade chamaria muita atenção. Então
passava boa parte aqui, às vezes com meu pai, às vezes sozinho — conta, me oferecendo
novamente seu braço, para seguirmos adiante. Ele me mostra rapidamente a cozinha que parece
ser o único lugar onde entra a luz natural, mas que assim como vi até agora, não há nada além de
um fogão, armários nas paredes e uma geladeira. Em seguida ele me guia pelos quartos no total
são quatro, três de hóspedes e uma suíte, todos os quartos são extremamente parecidos e de uma
forma estranha parece que nenhum foi utilizado na última década. Há espadas, armaduras pelo
corredor dos quartos, quadros espalhados na parede e no chão. Não parece uma casa que alguém
vive ou viveu nos últimos anos.
— Não passo muito tempo aqui — fala Knight quando descemos as escadas novamente para a
sala. — Viajo muito a trabalho, tenho negócios por toda a Europa, mas sempre volto para cá.
Não consigo desapegar da minha casa, mesmo sabendo que agora sou capaz de viver em
qualquer lugar, ainda não consigo abandonar meu tesouro — diz com pesar, ele me dá um sorriso
breve. — Vou te mostrar o meu lugar predileto da casa. O meu estúdio.
Wyatt Moore
Observo o belo quadro que Knight deu a Lyra, uma pintura perfeita do canteiro de rosas. O cubro
e o coloco no banco de trás.
— Obrigada pelo quadro, Knight — ela agradece, o abraçando. Meu velho amigo surpreso olha
para mim em pânico enquanto apenas dou de ombros. Tirando Bryson, Knight é o único que não
faz meu instinto de posse sobre Lyra vir à superfície. Eu os considero como meus irmãos. E
confiaria a vida da minha companheira sem pensar duas vezes a eles.
Lyra se afasta de Knight e entra no carro. Me aproximo do meu velho amigo e toco seu ombro.
— Está tudo pronto para você no galpão — falo, sem conseguir conter a tristeza e a raiva em
minha voz.
— Você é um bom amigo, Wyatt. — Assinto e dou a volta ligando o carro, pelo retrovisor dou
uma última olhada em Knight, torcendo para que um dia eu não precise sentir o medo que sinto
ao deixá-lo sozinho aqui.
Lyra Gray
— O que há com Knight? — pergunto assim que estamos longe o suficiente de Knight e da sua
casa sombria e coberta de arte. Seu estúdio havia sido a única parte que realmente parecia
utilizável na casa, era claro como a luz que ele vivia nele, havia quadros e quadros por todos os
lugares. Quadros repletos de shifters de várias espécies, com tons vivos, mas também havia
quadros sombrios, escuros como aquela casa. Knight havia me mostrado os seus dois lados. O
seu passado que era coberto de luz e felicidade, e o seu presente, coberto de escuridão e tristeza.
Espero a resposta de Wyatt, mas ela não vem, em vez disso ele para o carro e fica em completo
silêncio. Me aproximo subindo em seu colo e acaricio seu rosto atormentado.
— Ele aprendeu a odiar o que é, não como eu, Bryson e Byron, que temos medo do que podemos
fazer. Knight odeia seu dragão. A palidez, a magreza é seu animal o machucando de dentro para
fora, pedindo para ser libertado.
— Ele não se transforma? — inquiro, sabendo o que isso pode causar em um shifter. Nos diários
de minha avó ela falava sobre a doença da transformação, e o quanto ela poderia ser perigosa.
Não aceitar o que você é, pode matar um shifter.
— Knight mantém seu animal preso até o limite em que seu corpo e seu controle aguentam.
Normalmente um shifter precisa se transformar pelo menos uma vez ao mês, mas isso é mais
comum para as fêmeas, para nós machos às vezes necessitamos nos transformar toda semana, às
vezes todos os dias. É uma necessidade fisiológica, Lyra, mas que Knight consegue controlar por
até três meses. — A dor pelo amigo fica clara em Wyatt, acaricio seus ombros tensos. — Ele me
liga, e eu venho preparar o galpão para sua transformação.
— Por que ele faz isso com ele mesmo? É uma tortura.
— Ele foi criado pela minha família até completar 10 anos e então o seu pai o mandou para
Europa. Estudar foi o que ele disse na época para nós.
— Onde estava a mãe dele? — Era uma pergunta lógica, só havia quadros da mãe de Wyatt, e
não da sua, e pela forma que meu companheiro conta aparentemente é como se ela nunca tivesse
existido.
— Ela era uma leoa, Lyra — responde Wyatt, olho para ele surpresa, então Wyatt não era o
primeiro mestiço do Leste, e sim Knight. — Uma leoa do Sul, por isso esse território foi entregue
ao meu pai. Era um território que pertencia apenas aos dragões — fala, ele aponta para o porta-
luvas, me incentivando a abrir. Há um único papel velho dobrado lá dentro, retiro e o abro. Um
mapa. As separações claras de cada zona: Sul, Leste, Oeste e Norte marcados por seus líderes em
cada um deles. E o Leste marcado como o território dos dragões. — Meu pai era muito amigo de
Federico, o pai de Knight. Quando ele descobriu que sua companheira pertencente ao Sul estava
grávida, ele decidiu ceder a dominância das terras para um leão que poderia ser alfa e que ele
sabia que guardaria seu segredo e protegeria sua fêmea.
— Mas ele era um dragão, por que teria medo do que os outros achavam?
— Federico era o último da espécie desse lado do país, e ele via o que Sul, Oeste e Norte haviam
se tornado, o preconceito, as regras, as culturas de cada um. Ele sabia o que poderia acontecer se
soubessem que ele havia reivindicado uma companheira de uma espécie diferente da dele. Ele
ganharia, mas ele quebraria a linha que havia sido criada em cada zona, ele ficou com medo do
caos que isso poderia causar na reserva — explica Wyatt, noto o tom irônico em sua voz, porque
Federico evitou que isso acontecesse anos atrás, mas acabou esquecendo que ele não era único
que poderia acabar se enfiando na mesma situação. — Na época já havia entrada de nômades no
lado Leste, por ser um território grande, Federico dava abrigo, e emprego para todos pelo tempo
que eles quisessem ficar, e meu pai apoiava sua decisão diferente dos outros, e obviamente ele
não esperava que sua situação poderia se repetir com o alfa que ele havia selecionado para
proteger sua própria companheira e seu filhote mestiço.
— Todos aceitaram Ward como alfa?
— Pelo que meu pai me contou, ninguém quis perguntar o motivo para Federico, ele não era um
homem o qual você deveria questionar, e a lealdade e amizade que ele mostrava ao meu pai, era
clara e inquestionável desde que eles eram muito novos os dois passavam o rio para brincarem
juntos, eram como irmãos — fala Wyatt, me pergunto como era antes das divisões, olho para o
mapa, ele fora feito 50 anos atrás quando a reserva foi restaurada e começara a ser ambientada
por shifters que já viviam em New Orleans.
— Deveria ser bem diferente aqui, sem todas essas divisões — comento, pensando que mesmo
nos diários minha avó jamais comentara sobre o porquê de a divisão ter sido criada entre a
reserva, como se fosse um assunto proibido, intocável.
— Quando meu pai raramente contava histórias sobre seu passado, ele fazia parecer diferente a
vida aqui sem a divisão de territórios, mas não conseguia esconder a parte sombria em seu olhar
perdido quando se aprofundava demais no passado, eu sempre me perguntei por que, mas
desistia de questioná-lo sempre que o via ficar daquela forma — fala Wyatt, sinto sua dor pela
lembrança que me contar sobre seu pai traz a ele, se misturando com a minha perda também.
— Então Knight foi o primeiro mestiço a nascer. Ele sabe sobre isso? — pergunto mudando de
assunto, Wyatt nega parecendo se tranquilizar ao retornar o controle da dor, ele segura minha
cintura.
— Não. A mãe dele morreu no parto, e Federico, segundo meu pai, se transformou em um
macho irreconhecível do que era antes com sua companheira, começou a viajar muito e a deixar
o filhote com minha mãe, ele praticamente não ficava no Leste, por isso nunca percebeu a guerra
que começou a acontecer aqui, e se notou decidiu não se envolver, ele era só um caco de homem,
meu pai o respeitou e decidiu também não o envolver. — Eu não estou surpresa em ouvir isso, a
perda de companheira de um laço como o meu e do Wyatt, pode ser fatal para o macho e para a
fêmea também, a saudade pode ir matando o animal aos poucos por dentro até não sobrar nada e
mesmo a ligação de um filhote pode não conseguir manter a sanidade do pai ou da mãe por um
longo período. Penso no que Wyatt contara sobre o Federico ter mandado Knight para longe,
mantendo o filhote longe deve ter tornado o único laço que mantinha seu dragão vivo frágil o
suficiente para ser quebrado.
— Não era uma escola para onde Knight foi mandado, era?
— Não. Knight nunca me contou em detalhes o que aconteceu lá, apenas me disse que tudo que
o pai falou para ele era mentira. Não acho que um dia saberei o que ele realmente passou, não
acho que meu pai algum dia soube também, e duvido que um dia Knight seja capaz de me dizer.
Tudo que eu sei é que ele precisa de paz e não de mais cicatrizes, mais dor. — Encosto minha
testa na do Wyatt, nossas respirações se envolvendo, enquanto nossos corações batem forte e
nossas mãos se acariciam, tentando afastar a dor que Knight trouxe para nós.
— Seu pai lhe contou tudo isso para você poder proteger Knight — confirmo, e Wyatt assente.
— Ele sempre o tratou como o filho, assim como minha mãe o tratava.
— É muito peso para você carregar, Wyatt.
— Eu sei, mas dividir ele com você faz tudo parecer melhor. — Sorrio, beijando a ponta do seu
nariz. — Parece que você acertou outra vez.
— Estou acertando todas, Wyatt Moore — falo, escondendo o pesar de saber que eu errei com
Knight, ele nunca seria uma opção para afastar o Sul, para proteger o Leste. Estávamos sozinhos.
Sozinhos contra todos.
Capítulo 16
Wyatt Moore
Alguns dias depois...
Observo Lyra pela janela, ela sempre faz isso quando eu saio a noite para me transformar para
apaziguar o tigre dentro de mim. Ultimamente esses momentos que antes precisavam acontecer
todos os dias, agora só precisavam ocorrer uma vez na semana, Lyra ocupava-me
completamente. Minha mente e meu corpo, saciando a selvageria do meu tigre.
Encosto-me perto da árvore onde as sombras da noite não conseguem me esconder, onde a luz da
nossa casa me ilumina para que ela possa ver o animal que há em mim, o pelo branco que corre
pelo meu corpo de quatro patas, coberto por listras pretas, o rabo longo, a curta juba com pelos
que cobre meu rosto, as orelhas enormes, meu bigode branco e longo, meu focinho rosado e
minhas presas.
Sigo-a com o olhar, como uma presa enquanto ela se afasta da janela, ouço seus passos em
direção à porta, que ela abre e a fecha em seguida saindo completamente descalça, com uma
simples e curta camisola vermelha, ela desce as escadas lentamente e se senta no último degrau.
Eu nunca me aproximei dessa forma antes de ninguém, pelo menos não desde que eu era criança.
Respiro o ar quente e abafado da noite e a passos pesados me aproximo dela.
Lyra Gray
Sinto o frio na barriga se conectar com minha ansiedade. Eu nunca toquei em Wyatt na sua
forma animal. Seu tigre é enorme, e completamente encantador, seus olhos são frios mesmo que
eu ainda consiga enxergar o homem atrás deles. Não há nada de Wyatt além disso. Ele para na
minha frente, e eu levanto minha mão para tocá-lo, seus pelos são macios, é a primeira coisa que
sinto, ao tocar na enorme mancha preta entre seus olhos, subo minha mão por sua cabeça. Sorrio.
— Você é macio — comento, notando que ele parece não gostar do meu comentário, ao balançar
a cabeça. — Vamos ver se você tem um ponto fraco como todos os felinos — falo ao descer
minha mão para atrás da orelha, passando meus dedos até seu queixo. Mordo o lábio controlando
o riso, quando Wyatt levanta a cabeça para que eu tenha mais acesso ao seu pescoço. Escuto o
ronronar forte que sai de seu peito, enquanto intensifico mais o carinho, noto o rabo de Wyatt
mexer alegre, sentindo meu coração se aquecer por dentro. Eu o tinha completamente. Todo ele.
Wyatt e seu tigre.
Wyatt Moore
Não tenho controle sobre meu tigre. É a primeira coisa que noto quando de forma ridícula meu
corpo vira até eu estar de barriga para cima, enquanto Lyra ri e começa a acariciar minha barriga.
Observo a felicidade em seu rosto e a alegria, me controlo por mais alguns segundos antes de me
transformar de volta.
Estou deitado no chão e as mãos de Lyra ainda estão na minha barriga, seu sorriso agora é outro
que reconheço muito bem, me levanto e vou para cima dela.
— Wyatt! — ela grita quando a empurro contra a escada. — Eu estava me divertindo.
— É claro que estava, você derrubou meu tigre como uma domadora — falo, descendo minha
boca para lamber seu pescoço. Ela geme, enquanto desce a mão pelo meu abdômen.
— Acho que você está mais para um gatinho Wyatt — comenta provocadora.
— Vou te mostrar que tipo de gatinho eu sou Lyra. Vai se arrepender de me provocar dessa
forma. — Pego-a no colo e em seguida a jogo sobre o meu ombro. Ouvindo seu riso, enquanto
aperta minha bunda, eu tento controlar o sorriso tímido que surgiu no meu rosto. Lyra Gray
acabara de reivindicar meu tigre, de uma forma que eu jamais esperaria que pudesse acontecer,
ela o derrubou e domou a fera o transformando em um simples gatinho que ronrona com carinho
na barriga.
Capítulo 17
Lyra Gray
3 meses depois...
Acordo sentindo a mão quente de Wyatt descer pela minha barriga nua, indo em direção à minha
vulva parando em meu clitóris que ele toca delicadamente enquanto sua boca morde minha
orelha e chupa o lóbulo arrepiando-me.
Nos últimos meses aprendemos muito um sobre o outro, e um dos aprendizados de Wyatt foi que
se ele acordasse e colocasse comida de manhã para meu pequeno zoológico eles não viriam nos
acordar, deixando-me livre para seu bel-prazer por toda a manhã ou até ele ter que se levantar
para ir trabalhar às 7 a.m.
— Bom dia — fala em meu ouvido enquanto seus dedos aceleram o movimento em meu clitóris,
fazendo com que a única resposta que eu consiga dar para ele, seja um gemido, enquanto desço
minha mão na sua, incentivando a descer seus dedos para dentro de mim. — Minha fêmea é tão
apressada. — Sinto o seu sorriso em meu pescoço e sua ereção pressionando contra minha
bunda, provocando-me enquanto meu orgasmo se aproxima cada vez mais rápido.
— Wyatt! — grito ao sentir os tremores do orgasmo tomando meu corpo, ao mesmo tempo que
as mãos do meu companheiro somem, e finalmente sou preenchida pelo seu pau, ele levanta
minha perna esquerda, se afundando ainda mais contra minha carne que se contrai contra ele,
fazendo-o soltar um rosnado contra minha pele do pescoço.
— Tão quente e apertada — diz entre gemidos, contraio-me contra seu pau que vem cada vez
mais forte contra mim, uma de suas mãos mantém meu pescoço à mostra, puxando meu cabelo
para trás enquanto a outra segura minha cintura, me mantendo contra suas estocadas ferozes que
me fazem sentir o tigre e o homem se misturando em um só.
Wyatt Moore
Me mantendo dentro dela enquanto beijo seu ombro direito, agora onde a marca da minha posse
se mantém já completamente cicatrizada, meus caninos definidos profundamente em sua pele.
Ouço o suspiro de apreço de Lyra debaixo de mim, sentindo sua entrada apertada contra meu
pau.
— Você é insaciável, fêmea — falo, retirando-me de dentro dela.
— Você me deixa assim, meu tigre. — O ronronar que surge em meu peito pelo seu apelido é
espontâneo e incontrolável e só piora quando ela acaricia meu cabelo em um cafuné que Lyra
aprendeu nos últimos meses que é um dos meus pontos fracos, enquanto eu explicitamente a
deixava tocar meu tigre, algo que eu nunca havia deixado ninguém fazer até ela.
— Esse é um golpe baixo, Lyra — a repreendo sem conseguir conter-me ao virá-la e me deitar
em seu peito, sinto sua risada.
— Meu tigre manhoso.
Mordo a pele de sua barriga de brincadeira, fazendo-a rir mais ainda. Enquanto suas mãos se
aprofundam em meu cabelo comprido, eu não o raspava mais como fazia antes de Lyra, agora ela
mesmo cuida dele, o aparando como uma profissional com uma tesoura e uma lâmina, eu a tinha
deixado fazer nos outros machos também, mas comigo em cima acompanhando tudo, pronto
para atacar qualquer macho que a tocasse de forma errada.
Nesses meses que passei com Lyra, nós aprendemos muito sobre nós, mas tenho certeza de que
de nós dois foi eu que mais aprendi sobre mim mesmo. Me viro encostando meu queixo no vão
dos seios dela, seu olhar curioso em minha direção. Eu aprendi que não preciso ter medo de mim
mesmo com ela, na forma que eu e meu tigre precisamos tê-la para nos satisfazer, e aprendi que
há um outro lado meu, que eu achei que não existia desde a morte de minha mãe. O lado que não
precisa se controlar, um lado calmo, carinhoso e doce. Ou como Lyra apelidou. O lado manhoso
do meu tigre. O que ama seu carinho, e o que ama tê-la gemendo debaixo de si lentamente, sem
pressa, sem força, nós dois submissos ao tesão, e a nossa ligação de companheiros.
Sou tirado do meu transe pelo despertar do meu celular, gemo frustrado enfiando minha cara nos
seios de Lyra. Me afastar dela também se tornou uma tortura, mesmo que eu tenha criado uma
forma de continuar sentindo seu cheiro durante o dia todo, ainda é difícil tê-la tão perto e ao
mesmo tempo tão longe.
— Chegará atrasado na reunião com Knight e os outros — fala Lyra, puxando meu cabelo.
Resmungo e me aproximo até nossas testas estarem unidas, toco seus lábios com minha língua,
moldando o formato da sua boca, antes de beijá-la, e aos poucos vou deixando o beijo mais
profundo, fazendo todo meu corpo acordar novamente para ela. Como um viciado. — Wyatt...
Afasto-me sem conseguir controlar o grunhido de raiva ao me levantar da cama, deixando minha
bela companheira nua, e com o cheiro de sua excitação no ar e da minha semente em seu corpo.
Lyra se cobre e se aconchega abraçando meu travesseiro.
Viro-me para a roupa que Lyra separou para eu vestir durante a reunião de hoje. Uma camisa
social branca, uma cueca e uma calça jeans preta, junto com uma bota de couro que ela me deu
de presente na última vez que foi à cidade. Era o único presente, segundo ela, que poderia me
dar, já que diferente de mim ela não tinha nenhum talento para fazer algo como o belo anel de
madeira que eu fiz para ela, que de forma orgulhosa ela o mantinha no dedo. Era um anel
simples, a primeira peça de artesanato que fiz para alguém, e a primeira vez que revivi as
memórias dos meus pais juntos depois de anos tentando simplesmente abandonar a lembrança
deles unidos, meu pai fez algo para mim mãe como presente de casamento, uma pulseira de
madeira com um único diamante branco preso a ela. Algo que era passado de geração em
geração. Eu nunca achei que usaria o diamante, mas pensei em algo que combinaria melhor com
Lyra, e um anel pareceu perfeito, o diamante tinha encaixado perfeitamente com sua delicadeza,
com sua força.
Visto-me rapidamente mantendo o cheiro de Lyra em mim, e me aproximo de seu corpo, ela
sorri e abre os olhos sonolentos em minha direção. Pego sua mão com o anel e a beijo.
— Eu volto para levá-la até Kaira — aviso, vendo-a assentir obediente.
— Estarei aqui o esperando como sempre, Wyatt.

Sento-me à mesa ao lado de Knight, enquanto os outros alfas fazem o mesmo. Oscar do Sul, se
sentando ao lado esquerdo de Knight, ao seu lado Mayve, o alfa dos ursos pardos, e Tevin alfa
dos ursos pretos, os dois dividiam o território de forma tranquila contanto que nenhum dos seus
ultrapasse a linha, como o pai de Art e Warren fizeram anos atrás ao se envolverem com uma
leoa do Leste, e carregando os filhotes para o lado de Mayve, que assim que descobriu expulsou
os dois filhotes, que foram muito bem aceitos no Leste, de onde eles jamais deveriam ter saído. E
ao lado dos dois está Bexley o alfa do Oeste.
Estamos reunidos parecendo calmos, apenas porque Knight está aqui ou eles já teriam tentado
me matar. Os homens à minha frente não têm ideia de que Knight nem sonha da nossa guerra no
interior de suas terras, para eles Knight apenas não se importa o que não seria verdade se ele
soubesse a verdade, Knight já teria colocado um fim por minha causa, e esses homens à minha
frente provavelmente estariam perdidos.
Volto a prestar atenção em Knight, ele está mostrando através de uma apresentação muito bem-
feita as áreas afetadas pela praga.
— Precisamos acelerar o processo, quando a temporada acabar quero minha floresta limpa, e
nova para uma nova plantação. Eu me pergunto por que o Leste é o único que está perto de
finalizar, sendo que eles têm a menor quantidade de trabalhadores — comenta Knight sério.
Deixando os outros apreensivos. Meu grande amigo sabe colocar mesmo que doa nele, seu
dragão para fora quando precisa. Seus olhos em tons violetas agora em formato de réptil, tão
claros quanto a luz do dia, assim como a fumaça que sai de suas narinas. Seria assustador para
qualquer um que não o conhecesse como eu. Me encosto na cadeira contendo o sorriso superior
para os outros machos.
— Iremos conseguir terminar a tempo, Knight, tem a nossa palavra — fala Oscar, tomando a
frente pelos outros machos, como sempre faz. Seu olhar foca em mim, e de forma provocativa
sorrio em sua direção. Tem realmente algo de errado no Sul, está claro pelo hematoma em seu
pescoço ainda em processo de cura. Retiro meu olhar de Oscar, me dando por satisfeito, e olho o
outro macho ao seu lado. Bexley. O único além de Oscar por quem tenho total desprezo. Ele me
olha com uma raiva clara, sem se conter.
— Bom, eu espero que cumpra isso, Oscar, não vou aceitar mais atrasos e vistoriarei
pessoalmente todas as áreas a partir de agora. — Isso me surpreende, trazendo meu olhar de
volta a Knight. Ele nunca fez isso antes.
— Todas as áreas? — pergunta Bexley. Dá para ver o medo por trás do seu rosto sério.
— Sim, algum problema com isso, Bexley? — inquire Knight. — As terras me pertencem e com
esse atraso acho que estão sendo malcuidadas. Quero ter certeza de que serão entregues no prazo
para mim.
— Você nunca fez isso antes — comenta Mayve.
— Sempre tem uma primeira vez. E com isso espero que não tenham nenhum problema com
minhas visitas futuras — fala, desligando a apresentação e voltando a se sentar em sua cadeira.
— Com isso eu encerro a reunião. Peço que todos, menos você Wyatt, saiam. — Todos se
levantam rapidamente dirigindo os olhares em minha direção. Ficamos em silêncio até ouvir os
carros se moverem para fora. Olho para Knight, esperando o que ele tem a dizer.
— Sua companheira tem me visitado — solta, olho para ele surpreso e sentindo meu tigre
despertar, depois de dias calmo. Knight se encosta de forma mais tranquila na cadeira, enquanto
eu me levanto furioso. Lyra mentira para mim. Não. Eu supusera que ela ficava em casa o dia
todo.
— Por que ela o tem visitado?
— Ela me leva comida e conversamos por algumas horas sobre quando eu era menor. Sobre você
e o Leste. Sabe, conversando com ela eu tive uma vontade repentina de visitar os outros lados —
fala Knight, encaro seu rosto, a desconfiança nele dirigido a mim. O que Lyra tem dito a ele? O
observo melhor, eu não o vejo desde que os apresentei a primeira vez meses atrás. Ele não parece
mais tão apático. Ele tem sido cuidado. Pela minha companheira. — Ela sabe como despertar a
curiosidade de alguém e como cuidar de alguém de forma insistentemente chata e mandona —
diz, se levantando, ele se aproxima de mim, se sentando à mesa à minha frente. — Não consegui
mandá-la embora. Mesmo que quisesse ao começar desconfiar que ela não lhe contava das
visitas. Então comecei a me perguntar por que ela mentiria para você. Ela só faria isso se você
quisesse mantê-la longe de mim, o que você só faria se quisesse esconder algo de mim.
— Acho que Lyra não está fazendo um bom trabalho ao tentar cuidar de você. Sua doença está
subindo para a cabeça — falo, vejo-o sorrir amargamente.
— É, talvez eu seja um doente, mas não sou cego, Wyatt, nunca fui. Sei que tenta me proteger,
como um alfa deve fazer com seu bando, mas eu sou bem grandinho para saber onde devo me
meter ou não — diz Knight, se levantando da mesa, caminhando em direção à janela do seu
escritório. Ele o mantinha no centro de Nova Orleans longe das suas áreas de terra. Dando um
lugar neutro para a reunião entre todos os alfas.
— Por que só está me contando agora sobre Lyra? — pergunto.
— Porque é perigoso para ela continuar andando na floresta sozinha, Wyatt.
— Só agora é perigoso? — indago, vejo-o sorrir de lado como se soubesse de algo mais que eu
não sei.
— Sim, só agora se tornou perigoso. Pode ir agora — Knight me dispensa, sem mais respostas,
me fazendo respirar fundo e sair de sua sala com minha raiva escapando pelos dedos, soco a
parede ao lado de sua porta.
O que Lyra está fazendo? E o que ela e Knight estão escondendo de mim?
Capítulo 18
Lyra Gray
3 dias antes...
Vomito o que me resta do sanduíche que dividi com Knight enquanto o ouço bater à porta do
banheiro uma segunda vez.
— É melhor eu chamar o Wyatt — fala contra a porta, o pavor claro em sua voz.
— Eu estou bem — afirmo, me levantando e abrindo a porta e em seguida voltando para lavar
minha boca na pia. Enjoo matinal. Uma mentira. Eu sei o que eu tenho, mas quero ter certeza
antes de falar para o Wyatt ou para qualquer um. Ter certeza de que esses filhotes sobreviverão.
Uma gravidez shifter em uma humana é difícil de acontecer, ainda mais assim tão rápido, e
poderia acontecer um aborto. Minha avó fala disso nos diários. Eu preciso ter cuidado, ainda
mais sendo gêmeos. Algo que nunca aconteceu antes.
Desvio meu olhar do espelho e do meu rosto apático, para Knight e seu rosto agora repleto de
cor. Ele parecia bem melhor desde que comecei a visitá-lo umas três semanas atrás, a insistir em
passar os curtos momentos que ele está aqui o acompanhando, abrindo as janelas escuras, e o
fazendo comer e passear nas redondezas em vez de só ficar preso em seu estúdio. No começo foi
difícil fazê-lo aceitar, mas conforme comecei a empurrá-lo para falar, comentando sobre como
fora minha vida ao redor de um cantor de Jazz, ele começou a me ouvir e a me aceitar, e assim
todos os dias quando Wyatt sai para trabalhar eu venho para cá.
Eu não contei ao meu companheiro sobre isso, porque ele mandaria eu não o fazer, a questão é
que assim que eu comecei a desconfiar da minha gravidez, o pânico tomou conta de mim, não
tínhamos sofrido nenhum ataque há semanas, algo grande está prestes a vir e eu não vou suportar
se eu o perder, se o Leste for tomado, tudo acabou para mim e para esses filhotes, para Kaira e
seu filhote e para as outras fêmeas.
Em pânico eu corri para cá, para Knight. Eu não contei nada a ele, mas plantei o suficiente para
ele desconfiar de que há algo errado. Talvez o suficiente para fazê-lo ir ao galpão se transformar,
porque não tinha sido minha comida nem minhas conversas que haviam feito a cor e seu corpo
magro começar a se tornar forte e repleto de músculos como um shifter deve ser.
— O que você tem, Lyra? Já é a segunda vez que você passa mal. Estou preocupado com você
— fala, se aproximando, vejo seus olhos violetas e meigos em formato de réptil. Sua
preocupação por mim faz seu dragão surgir. — Devíamos ligar para Wyatt...
— Não quero deixá-lo preocupado — digo, me afastando da pia e passando por ele, para seu
estúdio. Me sento no sofá que ele havia trazido para eu poder acompanhá-lo em suas pinturas
enquanto leio os diários da minha avó em sua companhia.
— Com o quê? Com o fato de você estar me visitando sem ele saber ou com o fato de você estar
doente? — inquire de forma arrogante. Sorrio. Eu gosto desse Knight. Poderoso. Diferente do
homem que eu conheci.
— Não estou doente. E contarei ao Wyatt sobre as visitas em breve. Ele anda muito ocupado —
falo, uma mentira clara. Knight revira os olhos.
— Eu vou contar então — avisa, cruzando os braços de forma decidida.
— Eu conto para você o que eu tenho se você ficar de boca fechada — digo, completamente
contra a parede. Ele me olha pensativo e em seguida suspira, sentando-se ao meu lado.
— O que você tem? — Sorrio, e olhando em seus olhos digo pela primeira vez as palavras que
me assustam e que ainda estão incertas.
— Eu estou grávida.
Dias atuais…
Caminho em direção à casa de Knight, após o aviso em cima da hora de Wyatt dizendo que não
poderá vir almoçar. É uma pena, porque fizera o prato predileto dele. Frango frito, purê e pão de
milho, com feijão vermelho. Eu fritarei mais tarde um pouco para ele, para o jantar. Então estou
trazendo um pouco para Knight. Com Hércules ao meu lado, sigo o caminho através do Rio
Mississipi, distante o suficiente da beira, mas não para evitar a brisa do rio que corre
tranquilamente sem a época de chuva, deixando-o raso o suficiente para ver os pequenos peixes
na água cristalina. É uma visão linda.
— Então, Hércules, você poderá brincar com aquela bola antiga de basquete que Knight tem. É
um bom exercício para você — comento sorrindo, enquanto finalmente começo a enxergar a
casa de Knight. Eu descobri depois de longas caminhadas até aqui que há como cortar caminho
pela floresta em vez de seguir a estrada de carro. E isso faz com que diminua em trinta minutos a
caminhada, em vez de uma hora. E em breve eu precisarei achar outra forma de vir, ou quem
sabe convencer Knight a vir até mim, hoje eu terei que descansar aqui pelo resto da tarde até
voltar para casa, e ir visitar Kaira, ela está com uma semana de atraso em seu parto. O que a está
deixando louca, e pensar que eu havia achado que o bebê nasceria antes, quando na verdade ele
nascerá atrasado. — Finalmente chegamos — falo, retirando a bolsa com a marmita e colocando
em Hércules. — Leve para dentro, vou ver se Knight está no galpão — digo para Hércules,
notando que a porta está aberta, mas as janelas estão fechadas. Ele costumava abrir antes de eu
chegar.
— Ele não está no galpão, Lyra. — Ouço a voz de Wyatt bem atrás de mim. Seu corpo a
milímetros do meu. Engulo em seco. — Você era a última pessoa que eu pensei que precisaria
seguir, Lyra — comenta Wyatt tocando minha cintura. — Mentindo para mim, companheira? —
pergunta, afastando meu cabelo para o lado. Seu hálito quente esquentando meu pescoço. Suas
garras passando pela minha pele. O tigre dele completamente à superfície. Sinto seus caninos em
minha pele. — Por quê?
— Eu posso explicar — respondo, me virando para encará-lo. Seus dois olhos com a pupila em
um mero ponto negro, seus olhos de tigre completamente expostos. Ele me puxa fortemente
contra ele.
— Knight já me contou — grunhe, fecho os olhos.
— Eu vou matá-lo, me prometeu que ia manter a boca fechada — resmungo, voltando a encarar
meu macho muito irritado.
— Devia ter avisado você que dragões não são bons em cumprir promessas — fala, pegando um
fio do meu cabelo, entre os dedos. — Você plantou ideias em Knight — diz, me olhando sério.
— Me desobedeceu, Lyra.
— Eu não disse nada a ele.
— Pode até não ter dito diretamente, mas o pouco que disse foi o suficiente para deixá-lo alerta.
Ele vai visitar as outras zonas a partir de agora — comenta Wyatt, ele me observa esperando uma
reação minha, mas me mantenho firme mesmo que meu coração esteja batendo dentro do peito.
Isso deixará os outros quietos, os manterão longe daqui.
— Isso não é bom? — pergunto, isso faz Wyatt rugir, suas mãos se fixam um em cada lado da
minha cabeça, fazendo a casca da pobre árvore ser destruída pela força.
— Não quero envolvê-lo nessa merda.
— Para mim ele não parece nem um pouco envolvido.
— Não me provoque, Lyra, não estou para brincadeiras com você e sua desobediência — fala de
forma raivosa, mas sem se afastar. A evolução que eu vejo me faz sorrir, meses atrás ele teria se
afastado. Toco seu rosto com carinho. Ele fecha os olhos.
— Você não viu como ele está mais saudável, Wyatt? — pergunto, fazendo-o abrir os olhos de
novo. Noto-o respirar fundo.
— Não é seu trabalho cuidar dele.
— Não é seu trabalho protegê-lo e mesmo assim você o faz.
— Eu o considero meu irmão.
— Eu estou cuidando dele, por sua causa, Wyatt. Porque sei o quanto ele é importante para você
— digo, sorrindo levemente. — E sendo assim ele se torna importante para mim. Tudo que é
importante para você, é importante para mim.
— Você é importante para mim, Lyra.
— Eu sei — afirmo, vendo que seu tigre não se acalmou ainda. E a sua mão continua adentrando
contra a árvore. Sei muito bem como acalmá-lo, subo meu vestido verde e desço minha calcinha
até tirá-la, deixando-a debaixo dos meus sapatos. Passo uma das minhas pernas pela cintura de
Wyatt enquanto ele apenas observa minha mão descer pelo seu jeans, abrir o botão, descer o
zíper e em seguida empurrar sua calça e cueca para baixo, seus olhos continuam fixos no
movimento que minha mão começa a fazer em seu pau, enquanto fico molhada ouvindo os
rugidos que saem de seu peito. Ele afasta a minha mão e as prende, segurando acima da minha
cabeça enquanto com a outra guia seu pau para dentro de mim.
— Você é capaz de deixar qualquer macho louco — fala assim que se enterra inteiro em mim de
uma única vez. Um grito sai da minha boca, antes dele a tomar, seus caninos ferem meus lábios,
mas eu não ligo para o gosto de sangue que se mistura com nossas línguas, tudo que eu me
importo é com a sensação arrebatadora que surge dentro de mim com seu corpo me fodendo
selvagemente, o suficiente para controlar a vontade louca de contar a ele, o que mais eu
mantenho em segredo, e o que Knight segurou dentro de sua boca grande.

Wyatt Moore
Lyra mantém seu olhar em mim enquanto como o almoço que ela havia trazido para Knight.
Aquele mentiroso. Mordo o último pedaço do frango, me dando por satisfeito. E só então encaro
minha companheira. Há algo ainda que eu não descobri e pretendo acabar com isso agora.
— Sabe por que Knight me contou sobre você vir até aqui? — pergunto, ela me analisa antes de
responder e em seguida nega. — Ele está preocupado com você andando pela floresta.
— Você também fica preocupado com isso — diz, dando de ombros.
— Eu tenho motivos para ficar preocupado, Knight não. Não faz sentido algum ele não ter se
importado desde que você começou a vir vê-lo para depois de tanto tempo começar a se
importar. Não acha?
— Bom, vai ver que consegui plantar dúvidas o suficiente nele para isso. Para ele temer eu vir
sozinha para esse lado da reserva. — Suas palavras não me convencem, levanto-me e caminho
até ela, parando em sua frente, ela sorri em minha direção e abre as pernas me deixando no meio
delas, se aconchega no sofá e desce as alças do vestido, deixando seus seios à vista. Sem sutiã.
— Está tentando me distrair da verdade, Lyra? — questiono, observando-a negar.
— Não estou escondendo nada de você, Wyatt. Pare de se preocupar, por favor — pede, seus
olhos carinhosos e cheios de paixão me fazem ceder.
— Tudo bem, mas me prometa que não virá mais aqui sozinha — peço. — Se você quer tanto a
companhia daquele dragão, eu a trago aqui antes de ir trabalhar ou peço para Bryson a
acompanhar.
— Eu prometo — afirma tranquilamente, respiro fundo, ainda não me dando por satisfeito e toco
seus seios com minhas mãos.
— Você sabe meus pontos fracos, Lyra, e espero que saiba usar essa sabedoria — completo ao
me ajoelhar para ficar da altura do seu corpo em frente aos seus seios, desistindo das dúvidas que
ainda me restam, cedendo aos encantos da minha fêmea.
Capítulo 19
Lyra Gray
Caminho pela floresta com o braço de Wyatt em meu ombro, ele assobia distraidamente,
deixando claro que o sexo fez muito bem para ele e seu tigre, o acalmando e satisfazendo todo o
meu próprio estresse de continuar carregando um segredo, como o que estou escondendo dele.
Minhas pernas ainda estão moles pelos orgasmos, assim como o meu corpo está todo sensível, e
cansado pronto para dar o dia por finalizado, mesmo sendo apenas duas horas da tarde.
Hércules caminha ao meu lado, parecendo feliz com a bola de basquete que pegara de Knight a
qual ele segura firmemente enquanto caminhamos em direção à casa de Kaira. Agora eu a visito
todos os dias, e às vezes mais de uma vez. Todos nós estamos nervosos com sua gravidez
atrasada. Mais ansiosos a cada dia, não só com o nascimento do bebê, mas com o silêncio ao
redor das reservas e isso faz todos ficarem temerosos, e ainda mais Wyatt. Essa tranquilidade,
acompanhada de seu assobio era raro de se ver, mesmo quando estávamos sozinhos, ele tentava
de tudo para manter a tranquilidade perto de mim e dos outros, mas está claro durante seus sonos
inquietos que a preocupação está no auge do seu tigre. Seu território, seu bando, correndo perigo,
um perigo que ele não vê, mas sabe que está a caminho.
Assim que chegamos à casa de Kaira, meu companheiro demonstra uma das suas manias que
parecem cada vez mais fortes conforme sua preocupação aumenta e os dias se passam em
silêncio. Ele coloca Hércules para dentro, o impedindo de brincar lá fora, uma das regras que ele
havia exigido que eu seguisse, meu pequeno zoológico já não sai mais para fora sem a
supervisão de Wyatt ou dos outros machos, eu entendia sua preocupação mesmo que a tivesse
quebrado durante dias ao caminhar até Knight, mas assim como ele, eu possuo sua mesma
preocupação só que direcionada para uma solução que não o leve a morte, entro pela porta aberta
e em seguida ouço-a ser trancada e novamente com as mãos em meu ombro caminhamos para o
quarto de Kaira, onde ouvimos o primeiro sinal de que finalmente está acontecendo o que tanto
esperamos nesses últimos dias.
Olho para o rosto dolorido, mas satisfeito de Kaira pelas contrações cada vez mais fortes que ela
sofre, e me sento em frente às suas pernas estendidas, jogo um lençol em cima do seu corpo e
olho para os dois machos pedindo para eles se afastem. Kaira levanta as pernas e me olha
ansiosa, enquanto coloco as luvas para medir sua dilatação.
— Como estão as contrações?
— Devagar ainda — fala Kaira, meço com o dedo confirmando minhas suspeitas. Ela está no
início. 5 cm apenas.
— Irão aumentar — afirmo, vendo-a sorrir alegre assim que a sua contração passa.
— Finalmente — diz alegre, olho de esguelha para Bryson que diferente de Kaira parece estar
morrendo. Ele olha dela para a barriga, e começa a andar pelo quarto. Parece que ele está tendo o
bebê e não Kaira. — Como está minha dilatação? — pergunta ansiosa.
— Cinco centímetros. Vai demorar um pouco ainda, mas acontecerá hoje. — Olho para Wyatt,
retirando as luvas. — Preciso da mala que preparei para ela — aviso, me levantando, passando
por um Bryson pronto para parir e vou até Wyatt. — Eu preciso de algumas coisas que não
deixei aqui, por precaução — falo, ele assente entendendo.
— Eu vou buscar. Ela vai ficar bem? — pergunta, sorrio.
— Ela eu tenho certeza de que sim, mas acho que Bryson não vai se recuperar — comento, sem
conseguir controlar o sorriso que cresce em meu rosto.
— Eu o entendo, eu não sei o que seria se fosse eu vendo minha fêmea sofrer com dor sem poder
fazer nada. — Wyatt olha incisivamente para mim.
— Melhor ir logo — falo, tocando seu rosto, ele assente, e eu volto para o quarto para dar um
jeito no macho nervoso, enquanto tento controlar meus próprios nervos ao ouvir as palavras do
meu tigre. — Bryson, irei precisar de algumas toalhas e água morna — peço, ele para de andar e
assente passando por mim como um furacão.
— Graças a Deus, eu estava prestes a me levantar e estrangulá-lo, ele estava me dando nos
nervos — resmunga Kaira, finalmente deixando sua cara de dor transparecer.
— Eu estava começando a me perguntar se você não estava sentindo nada — comento, me
sentando ao seu lado.
— Ele já está em pânico o suficiente, tentei melhorar as coisas, mas se as dores piorarem não vou
conseguir manter minha cara de pôquer — fala com um pequeno sorriso. — Não quero que isso
seja traumático para ele.
— Ele não vai lembrar dos momentos antes do parto quando ver o bebê pela primeira vez, Kaira
— digo, vendo-a sorrir antes de outra contração tomar seu rosto. — Respire fundo. —
Acompanho-a e então começamos o processo para trazer o primeiro filhote do Leste ao mundo.

Confiro o relógio já são três horas da tarde, volto a olhar para Bryson, agora sou eu quem estou
nervosa, já faz mais de meia hora que Wyatt saiu, e não voltou.
— Eu vou atrás dele — fala Byron na porta. Fico pensando sobre isso e olho para Kaira. Wyatt
já devia ter vindo, algo aconteceu. Não houve chamado pelos outros. Mas eu sei que há algo de
errado, sinto em meu coração. Respiro fundo e olho para os dois machos na porta.
— Traga Rebecca para cá, Bryson, e você Byron vá chamar os outros machos. Avise Alina e
Briana para se preparem — peço, me levantando, olho para Kaira, sua dilatação está em sete
centímetros. Falta pouco para que suas contrações fiquem cada vez mais fortes assim como sua
dor.
— Não houve chamado — fala Bryson, olhando para Kaira.
— Algo aconteceu. Eu tenho certeza. Eu sinto. Se preparem — digo, os dois machos se
entreolham e saem me obedecendo, me volto para Kaira, há lágrimas em seus olhos.
— Isso não deveria estar acontecendo agora.
— Eu sei, mas não há como voltar. Você terá seu bebê agora, e ele ficará sã e salvo aqui dentro
com você — falo firme, ela assente. — Se concentre no aqui. E no que você está prestes a
realizar. — Ela acena e volta a fazer a respiração que eu ensinei a ela. Seguro sua mão e pego o
meu celular. Ligo para o número que Knight me deu. Ele atende no terceiro toque.
— Lyra, me desculpe por ter contado a...
O interrompo:
— Precisa vir para cá Knight, agora — aviso, ele fica quieto do outro da linha.
— O que houve? Estou no outro lado da cidade, no Norte.
— Estão nos atacando, Knight. Atacando o Leste.
— Como assim, Lyra?
— Você precisa intervir, ou três bebês nascerão sem pais. — Desligo o celular e olho para Kaira
seu olhar agora desce para minha barriga surpresa.
— Gêmeos? — pergunta, sorrio assentindo. — Isso é único.
— Eu sei. Agora vamos focar em você — falo, vendo-a entrar em outra contração. Faço a última
medição, me dando por satisfeita. Chegou a hora. — Na próxima contração você empurra, Kaira,
com toda sua força.
Wyatt Moore
Estou rodeado, e muito ferido. Tento manter com toda minha força meu tigre, mas a dor é
alucinógena. Penso em Lyra...em Kaira e nas outras fêmeas. Se eu chamar os outros eles a
deixarão expostas e isso é a última coisa que elas precisam. Olho para Oscar, o reconhecendo
pela sua juba enorme em tom completamente marrom, enquanto observo a fêmea ao seu lado, ela
tinha sido a única a não me atacar, havia algo de errado com ela. Ela me rodeava, assim como os
outros, mas se mantinha distante e não tinha passado despercebido a forma que Oscar a olhava.
Não era sua esposa. Ele não a trazia à batalha. Ela era sua filha. Jovem. Sem cicatrizes. Ayla.
Penso no cheiro de Lyra em mim. Será isso que a impede? Que está fazendo Oscar manter seus
subordinados me manter preso quando já poderiam ter me matado? Ele ainda será capaz de
reconhecer o cheiro da filha mesmo depois de tantos anos? Ou talvez seja Ayla o impedindo?
Ouço algo vindo em uma velocidade rápida atrás de mim e sinto antes de ver o cheiro de Art e
Warren. Seus ursos pulam em cima dos dois leões ao meu lado, e com as garras os fere
profundamente no rosto, espalhando o sangue pelos próprios pelos marrons de seus ursos e os
afastando de mim.
Olho para os dois, me perguntando como eles sabiam que eu estava aqui, eles estavam na clareira
trabalhando longe demais para sentir o cheiro ou ouvir os sons, mas isso não importa agora. Há
10 leões machos nos espreitando. Mesmo com Art e Warren aqui, matá-los será difícil. E tudo irá
se complicar quando as aves descerem, olho para o alto, vendo-as em cima do telhado esperando
o sinal de Oscar para nos atacar, são no total 15 shifters contra apenas três.
No entanto, isso não nos impedirá de proteger as fêmeas e o território.
Dou um passo à frente, sabendo que essa pode ser a última vez que eu luto, mas se for para
morrer, morrerei lutando e defendendo o que eu acredito.
Foco meu olhar em Oscar, se eu o derrubar os leões se afastarão, seus ferimentos são claros e
curam devagar pela sua idade, ele é o mais frágil, além da leoa que está ao seu lado, olho para
Art e Warren avisando que eles não devem chegar perto dela, eles assentem começando a
caminhar ao meu lado, lentamente quando paramos no lugar, estáticos com o som que chega até
nós.
Um grito, e em seguida um choro. O bebê de Kaira nasceu. Volto meu olhar rapidamente para
frente e aproveito a distração de todos e corro em direção a Oscar, jogando minhas garras em sua
juba.
Lyra Gray
Entrego o bebê a Bryson, assim que consigo acalmá-lo, seguindo a ordem de uma Kaira cansada
na cama. Vejo o medo em seus olhos ao ter o pequeno bebê em seus braços.
— Eu preciso ir — ele fala, olhando do filhote para Kaira.
— Eu sei. É por isso que antes de ir você precisa decidir o nome dele. — As palavras de Kaira
surpreendem todos que estão no quarto, menos Bryson. Ele olha para Kaira sorrindo. O primeiro
sorriso que ele dá a ela.
— Asher — ele fala, beijando a cabeça do pequeno filhote quieto em seus braços, antes de
entregá-lo a Kaira.
— Lembre-se dele quando estiver lá fora. Lembre-se que tem por quem voltar. Precisa voltar por
Asher e por mim. — Bryson limpa as lágrimas que começam a escorrer dos olhos de Kaira,
enquanto tento controlar as minhas, ele se afasta. E caminha para fora junto com Byron.
— Bryson — o chamo, limpando minhas lágrimas e olhando firme em sua direção. — Knight
está a caminho. — Ele me observa surpreso, mas assente e sai nos deixando sozinhas. Alina
tranca a porta e se encosta nela junto com Briana. Rebecca se aproxima de Kaira e se senta ao
seu lado, enquanto eu caminho para a janela.
— Vai tudo ficar bem — falo mais para mim mesma do que para elas, sentindo mesmo sem
querer minha voz tremer com a possibilidade de que meu Wyatt não veja nossos filhotes
nascerem.
Capítulo 20
Wyatt Moore
Há sangue, penas e pele por toda parte. Ouço os cachorros de Lyra latirem com força para saírem
da casa, e sinto a tranquilidade por ter trancado a porta antes de todo esse caos ter começado.
Minha visão está turva, quando Bryson me puxa para seu lado, me mantendo apoiado em seu
corpo. Agora não sou só eu encurralado, somos todos nós. E estamos todos feridos demais. Vivo
mais por um triz, enquanto as cicatrizes curam e outras são abertas por cima. Precisamos
respirar.
Olho para Byron, ele está na frente, tomado pelo seu animal, é o único sem nenhum controle,
mesmo ferido o animal dele ruge descontrolado sedento por sangue. Vou para o seu lado, e
Bryson faz o mesmo me ajudando, Oscar está ferido e sua filha o mantém por um triz, noto de
esguelha os outros leões o olharem de forma diferente, assim como Bexley. Seria uma ótima
hora de roubar seu trono. E seria bom para nós. Respiro fundo pronto para recomeçar quando
Bryson se transforma. Seu leão some e seu corpo toma sua forma original. Olho para ele sem
entender.
— Ele chegou — fala, olho para trás ouvindo um carro se aproximar, o reconhecendo
imediatamente, deixo meu tigre partir ao reconhecer o carro de Knight. Me levanto com o resto
das minhas forças. Lyra. Olho para Bryson. — Lyra me contou que ele viria.
— Ela não tem jeito — falo, vendo Knight descer do carro, ele olha de mim para os outros
cobertos de sangue e agora em sua forma humana, olha para Oscar e seus olhos reptilianos
focados nele e em seguida em Bexley. Ele vem até mim, abaixa sua cabeça e se ajoelha aos meus
pés, um cumprimento antigo, usados para os antigos alfas. Noto os suspiros surpresos de todos.
Inclusive o meu. — Knight.
— Eu resolverei isso, se me permitir — diz sério, noto o controle que ele faz para controlar seu
dragão tão na superfície.
— Já está resolvido. — Oscar dá um passo à frente e isso atrai o olhar de Knight para ele, seu
nariz solta fumaça. Isso faz o velho alfa voltar atrás assim como todos, menos sua filha, que
parece encantada com o dragão ajoelhado.
— Tem certeza disso, Oscar? — pergunto, me virando em sua direção. — Levante-se, Knight.
Você é muito mais forte que eu, é uma ofensa ao seu dragão você se ajoelhar — peço, usando o
que resta das minhas forças para dar um breve sorriso em sua direção.
Vejo seu olhar sério dirigido a mim. Teremos que resolver o fato de eu ter mentido para ele. Mas
veremos isso depois.
— Porque eu acho que essa situação só tem uma forma de terminar — afirmo, vejo o Bexley se
aproximar de Oscar.
— Como pretender resolver isso? Eles são impuros. Mestiços — fala Bexley. — E estão
mantendo minha filha.
— Sua filha escolheu o Leste para ser protegida, para viver livre de você e do companheiro que
você escolheu e que abusou dela. — Bryson dá um passo à frente. — Um macho que eu gostaria
muito de dar uma olhada — fala Bryson, Byron se põem ao seu lado. Mas com um levantar de
mão, Bexley mantém quem quer que seja o macho escondido.
— Kaira pertence ao Oeste.
— Kaira pertence a mim. — Bryson dá mais um passo à frente e faço o mesmo, assim como
Knight. — Ela ficará aqui, comigo. Ela é minha companheira. E apenas minha — Bryson deixa
isso claro ao deixar seu leão mesmo machucado aparecer através do seu olhar. Bexley respira
fundo. E vejo que ele está pronto para recomeçar, quando Bryson o interrompe: — Ela tem um
bebê e esse bebê é meu.
— Um bebê? — A surpresa de Bexley passa ao relembrar do choro que ouvimos, do grito da
fêmea. — Ele nasceu hoje.
— Sim, faça as contas você mesmo. Sabe como é difícil uma fêmea shifter engravidar ainda mais
sob coação e tendo sido tomada apenas uma vez — fala Bryson, ele estava certo, Kaira tinha sido
um milagre que apenas nós do Leste sabíamos a verdade, sendo assim, as palavras de Bryson
parecem convencer o velho alfa que assente com o rosto coberto de raiva.
— Ela não é mais minha filha — diz, voltando-se para trás, para seu bando, que rapidamente se
transforma em águias reais enormes, foco meu olhar no último a se transformar, o olhar que ele
dá em direção a Bryson, é claro como o vento. Seguro Bryson, sabendo que assim como eu
percebi o olhar enciumado e raivoso em sua direção que isso não acabou ainda para aquele
macho, ele não aceitará facilmente a perda de Kaira. Ele a considera dele. Ele é o companheiro
dela.
— Acabou — garanto, ele assente me obedecendo. Olho para o Oscar.
— Eu duvido muito. — Sua voz é cheia de ironia. — Nada acaba assim no Oeste.
— Então como acaba? — pergunto sarcástico, sabendo que ele está certo. O Oeste tem suas
próprias regras e por mais que os leões dominem todas as zonas, eles não são os piores.
— Com um laço de sangue, essa é a única forma de deixar claro para todos que o Leste está
sendo aceito novamente, que vocês não são mais renegados e que a lei de sangue está
oficialmente quebrada e que nossos territórios voltarão a fazer parte um do outro — fala Ayla
tomando a frente de seu pai. Ela é parecida com Lyra. Mas seu rosto é mais duro como o de uma
leoa que viveu muito, mesmo ela sendo mais jovem que Lyra. — Me casarei com um dos seus,
um filhote nascido de mim com um renegado fará com que todos aceitem as novas regras, e
aceitem vocês.
— Ayla! — Oscar toma a frente, segurando seu braço, mas ela apenas dirige um olhar sério para
o rosto dele, que o faz soltá-la imediatamente, e em seguida seu olhar vai para um dos machos ao
lado do seu pai, ao qual ela sorri vitoriosa. Não é difícil deduzir, pelo olhar indignado do macho
forte, que ele deveria ser seu futuro companheiro e o futuro alfa do Sul. Respiro fundo e desvio
minha atenção para o meu próprio bando. Art e Warren me observam sabendo que eles seriam a
única escolha possível para Ayla. Sendo eles mais calmos e mais suscetíveis às fêmeas. Byron
está fora de condição. Me viro para Ayla pronto para dar as opções a ela, mas seu olhar não está
focado em mim e sim ao meu lado. Em Knight.
— Knight, devo me casar com ele, é a única forma de garantir a segurança de todos. Um filhote
nosso dará longevidade a esse acordo — fala, sem desviar o olhar do seu escolhido, encaro
Knight que também tem seu olhar focado na leoa.
— Ela está certa — diz, noto que ele respira fundo. — Eu me casarei com ela. — Ele desvia o
olhar para me encarar. Afirmando que está certo sobre sua decisão.
— A cerimônia e o casamento precisam acontecer o mais rápido possível. — Oscar toma a frente
olhando rapidamente para trás para dispensar os outros leões insatisfeitos.
— Eu preciso de três meses. Tenho negócios para resolver na Europa, que não podem ser
adiados.
— Quando você voltar, realizaremos a cerimônia — afirmo, dando o assunto como encerrado,
mas Oscar não parece satisfeito.
— É muito tempo. Ayla estava destinada a se casar com o próximo alfa do Sul, um dos meus
protegidos, esse casamento dela com você não é bem-visto por todos e me causará uma grande
dor de cabeça.
— Esse não é um problema nosso, Oscar, acredito que o problema que há no Sul, está vindo
muito antes desse casamento — falo, o provocando, vendo seu Leão ficar na superfície.
— Ayla se mudará para minha casa o mais rápido possível, não quero ela no Sul, no meio dos
problemas que você criou, Oscar — avisa Knight sério, seu olhar focado no alfa que parece ainda
não entender que não há escolhas para ele.
— Não — é a resposta que Oscar dá a ele, e que está claro pelos olhos de dragão de Knight que
não será aceita. — Por que a quer aqui?
— Porque ela pertence a mim agora, e precisa se acostumar com seu novo lar, seu novo bando e
seu novo alfa, o Wyatt. Ayla não obedece mais a você, Oscar — explica Knight de forma clara e
tranquila, ele caminha até Ayla. Pega sua mão e em seguida com todos os olhares em cima deles,
desce seus lábios nos de Ayla e a beija levemente. — Minha casa agora é sua, a torne o seu lar, e
quando voltar a tornaremos nosso lar. Nos casaremos em três meses, Ayla. — Ele se afasta e
volta seu olhar para Oscar. — Não sei como isso começou e realmente não acho que seja
importante saber, mas sei que acabou. Hoje. — Knight se volta para mim. — É melhor irmos,
Lyra e Kaira não podem ficar passando estresse dessa forma. — Ele me olha preocupado. E sua
preocupação começa a me tomar.
— Por que Lyra não pode passar estresse, Knight? — pergunto. Entendendo sua preocupação por
Kaira, mas não pela minha fêmea.
— Lyra? — Oscar pergunta, mas o ignoro mantendo meu olhar firme em Knight.
— Minha irmã está aqui? — indaga Ayla, se aproximando ainda mais, ela para em frente a mim.
— Posso vê-la?
— Ayla — o pai dela a chama, ela se vira e com um olhar ele silencia.
— Diga a ela que eu virei vê-la, em breve — fala se afastando, mas Knight segura seu braço.
— Se tiver algum problema...
— Eu o procurarei, nos veremos em breve.
— É melhor irmos — falo, olhando incisivamente para Knight e depois para os outros.
— Não pode me exigir nada, Wyatt, você omitiu primeiro. — Bufo frustrado, o que Knight sabe
da minha fêmea que eu não sei?
Lyra Gray
Vomito mais uma vez, vendo que não há mais nada além de água saindo. Sinto a ânsia e me
encosto na parede do banheiro. O nervosismo pelo silêncio lá fora causa um rebuliço dentro de
mim, até que o ouço. Ignoro a tontura, limpo minha boca rapidamente com papel e caminho até a
porta do banheiro, a abrindo ao ouvir a voz do meu companheiro.
— Onde ela está? — Ouço a voz de Wyatt antes dele me ver e correr em minha direção, suas
roupas estão cobertas de sangue, e há cicatrizes por toda a sua pele. Abraço-o, sentindo alívio ao
sentir seus braços me rodearem, e seu aperto forte contra meu corpo. Sinto as lágrimas descerem
em meu rosto, enquanto tento abraçá-lo mais forte. — Você está bem? — pergunta, me fazendo
sorrir.
— Eu que deveria fazer essa pergunta, Wyatt. É você que está coberto de sangue. — Wyatt me
afasta e segura firme meu rosto, seu olhar sério, sua preocupação clara.
— Por favor, Lyra... — Retiro uma das suas mãos do meu rosto e a guio até minha barriga por
debaixo da blusa.
— Eu não queria contar dessa forma para você — falo, notando a surpresa tomar seu rosto.
— Você...
— Estou grávida, Wyatt — interrompo, respirando fundo, ainda sentindo o medo correr em
minhas veias e um nervosismo, noto toda a felicidade que vejo nos olhos de Wyatt se tornar
tristeza.
— Você não me parece feliz — afirma ao analisar meu rosto.
— Eu estou feliz, só estou com medo de que essa felicidade não dure. — Deixo meu medo sair,
não há por que esconder dele agora a verdade.
— Eu não entendo. — Parece confuso.
— Preciso cuidar dos seus ferimentos. — Deixo claro a mudança de assunto, e ele assente
aceitando no momento. Ele está cansado, dá para ver em seu rosto. Pego em sua mão e o guio
para a sala onde todos menos Bryson e Kaira estão reunidos.
— Art, Warren e Byron é melhor vocês irem descansar — manda Wyatt, os três machos estão
feridos e parecem extasiados enquanto olham para as três fêmeas reunidas à distância na sala.
Eles nunca haviam se encontrado antes.
— Como as coisas ficarão agora, Wyatt? — pergunta Art. Noto a força que ele faz para focar no
alfa e desviar o olhar das fêmeas.
— Elas mudarão. Mas terão que acontecer devagar, Art. — O macho assente concordando e
junto com seu irmão saem, apenas Byron fica. — Byron — Wyatt o chama, repreendendo
claramente o macho que parece descontrolado, seu leão completamente exposto em seus olhos.
— É melhor ficar fora dessa área da reserva por enquanto — manda Wyatt, o macho obedece
saindo rapidamente pela porta, sinto a forma tensa que meu companheiro me abraça. E por fim
ele olha para Knight, os dois trocam um olhar firme, que termina em um leve sorriso. Knight se
aproxima e beija minha testa.
— Você tem uma grande companheira, Wyatt.
— E você uma nova irmã — fala Wyatt, me fazendo sorrir enquanto olho entre os dois.
— Viajará hoje? — pergunta, Knight nega.
— Esperarei Ayla se mudar primeiro.
— Ayla? — indago, encarando Wyatt.
— É melhor vocês irem, há muito o que conversar — Knight fala, antes de se aproximar e
baixinho sussurrar em meu ouvido: — Parabéns, Lyra, tenho certeza de que seus filhotes
nascerão fortes como a mãe deles.
Wyatt Moore
Mergulho na água gelada da banheira, sentindo-a finalmente retirar todo o sangue que está sobre
minha pele sob o olhar de Lyra, ela está sentada ao meu lado com uma esponja a qual passa
delicadamente sobre minha pele. Estamos em silêncio, enquanto provavelmente nós dois
ponderamos o que nós ouvimos. Ela sobre sua irmã e eu sobre os filhotes que Knight citara.
— Há algo com nosso filhote, Lyra? Por isso você está com medo? — pergunto, desistindo de
tentar adivinhar, retiro a sua esponja e seguro sua mão. — Seja o que for, eu vou estar aqui. —
Noto seus olhos se encherem de lágrimas.
— Até onde eu verifiquei nós três estamos saudáveis, Wyatt — fala, com um olhar incisivo sobre
mim. Três?
— Lyra...
— São gêmeos. São dois filhotes dentro de mim — explica, tocando meu rosto. — Escondi de
você porque estou com medo de que essa gravidez não vá até o final. Não há nada nos diários da
minha avó sobre gravidez de gêmeos de um shifter.
— Gêmeos? Teremos dois filhotes? — pergunto sem conseguir acreditar, me controlo para não a
puxar para dentro da banheira comigo. E apenas acaricio seu rosto, limpando suas lágrimas. —
Tudo vai ficar bem, Lyra. Esses filhotes são o início do nosso recomeço, do nosso futuro.
— E se algo acontecer?
— Eu vou garantir que nada irá acontecer — falo firme, um sorriso cresce nos lábios dela.
— E como pretende fazer isso?
— Eu vou cuidar de você, ficarei ao seu lado e quando não puder deixarei alguém aqui.
Tomaremos todos os cuidados possíveis, Lyra.
— E se mesmo assim...
— Não há nenhuma outra opção além da que teremos esses filhotes, Lyra. — Beijo-a,
observando-a relaxar e um sorriso pequeno nascer em seus lábios contra os meus.
— Teremos filhotes, Wyatt.
— Sim, teremos — afirmo, me afastando com um enorme sorriso. Devolvo a esponja para ela,
fecho os olhos e sinto meu coração bater forte contra o peito. Eu serei pai.
Lyra Gray
Recomeço a passar a esponja pelo peitoral de Wyatt, enquanto observo o enorme sorriso que se
abre em seu rosto. Ele está feliz, e finalmente sinto a felicidade pela minha gravidez. Pelos meus
filhotes. Respiro fundo, sabendo que ainda não terminamos todos os assuntos.
— Sua vez, Wyatt — falo, chamando sua atenção. — Por que Ayla se mudará para cá? —
pergunto, fazendo-o abrir os olhos. Ele me observa enquanto seu sorriso vai diminuindo.
— Apenas Knight tomando a frente apaziguaria os outros, mas não colocaria um ponto final,
Lyra. Precisamos fechar um novo acordo, um que durasse para o resto de nossas vidas e das
próximas gerações. — Assinto, compreendendo. — Um acordo que trouxesse benefícios para os
dois lados que tomaram a frente nessa guerra há anos.
— O Sul e o Leste.
— Isso. A única forma de fecharmos um acordo seria os dois lados oferecer algo que pode nos
dar um benefício vitalício. — Noto a forma que Wyatt parece ficar tenso conforme ele se
aproxima do final. — Um filhote, uma mistura do Sul com o Leste seria o acordo de sangue
perfeito, porque quebraria a lei imposta de todas as zonas.
— Um casamento. Esse foi o acordo fechado — concluo rapidamente. Em seguida penso em
Knight, nas suas palavras. — Ayla e Knight.
— Sim. — Sinto uma dor me tomar por ela e desvio o olhar de Wyatt que rapidamente me traz
de volta. — Não há por que ficar dessa forma por sua irmã. Lyra, se tivesse visto o que eu vi
quando ela pôs os olhos em Knight pela primeira vez ficaria feliz por ela.
— Você acha que ela... — Não termino a frase, enquanto observo Wyatt assentir. Sua certeza me
tranquiliza novamente. — E Knight?
— Ele é como os quadros dele, Lyra. Ayla precisará entrar nele como você fez. Ou ele irá
dominá-la e afastá-la como eu deixei que ele fizesse comigo por anos — fala, seu rosto tomado
por um pequeno sorriso. — Infelizmente, eu sempre achei que deixá-lo viver da forma que
queria era o melhor para ele, mas você me mostrou que eu estava errado, você o ajudou mais
nessas últimas semanas do que eu nos últimos anos. Você é uma alfa melhor do que eu, Lyra
Gray — diz, fazendo todos os meus pelos se arrepiarem pelo seu elogio. — Eu estava resistindo
para não fazer isso. Mas você torna tudo muito difícil — comenta antes de me puxar para dentro
da banheira junto com ele, a água gelada molha minhas roupas e minha pele, mas o corpo quente
de Wyatt mantém a temperatura morna. Toco seu rosto.
— Tudo bem para você eu ser uma alfa? — inquiro com um sorriso arrogante no rosto, algo que
eu aprendi com o enorme macho embaixo de mim.
— Sim, estou gostando de aprender com essa alfa forte e muito irresistível, espero continuar
aprendendo até o final da minha vida, para poder me tornar o alfa perfeito para ela.
— Você já é perfeito para mim, Wyatt Moore, só precisa de uns ajustes — falo, sem conseguir
controlar o riso, quando ele me coloca deitada na banheira agora praticamente vazia ficando em
cima de mim.
— Posso aceitar os ajustes, se eu ganhar algo em troca.
— Como o quê? — pergunto, levantando meu quadril para encontrar sua ereção erguida.
— Eu vou pensar em algumas coisas — responde antes de seus lábios tocarem os meus,
roubando qualquer pensamento e qualquer dúvida sobre o futuro porque somos lutadores e
sempre lutaremos para conquistar aquilo que desejamos, mesmo que para isso precisássemos
derramar sangue.
Bônus
Bryson
Sento-me perto de Kaira, observando-a amamentar o filhote com uma mamadeira. Eu consigo
notar a tristeza em seu olhar, por isso mesmo que não veja seus incríveis olhos verdes me
encarando.
— O estresse fez com que meu leite secasse — explica, fazendo-me me aproximar dela, sento-
me de frente para ela. — Lyra falou que talvez com alguns estímulos, colocando-o no seio para
sugar eu volte a produzir leite.
— Não acho que ele se importe com isso — falo, observando o filhote sugar o bico da
mamadeira com força. Meu comentário faz Kaira sorrir. — Talvez não devesse se preocupar com
isso, Kaira.
— Eu quero ser uma boa mãe.
— E onde não conseguir o amamentar te tornaria uma mãe ruim? — pergunto.
— Não devia ficar aqui me ouvindo, Bryson, estou um turbilhão de sentimentos confusos nesse
momento — fala retirando a mamadeira do filhote esfomeado, ela o coloca em pé.
— O que está fazendo? — indago curioso.
— Colocando para arrotar. Tem que fazer isso com ele sempre que o amamentar ou ele pode se
engasgar — explica, no momento que o filhote solta um pequeno arroto, me fazendo sorrir de
lado.
— Não é um som ruim.
— Não é, mas apenas porque ele é pequeno — fala Kaira rindo, encaro seu rosto sabendo que eu
não posso mais continuar ignorando o que aconteceu no meio de todos aqueles shifters. A posse
que tomei sobre Kaira na frente de Brexley precisa ser confirmada com uma cerimônia o mais
rápido possível, antes daquele macho voltar. Porque eu sei, e todos os machos do Leste sabem
que ele virá atrás de Kaira e desse filhote, mas quando ele vier eu estarei pronto, para acabar com
isso de uma vez por todas. — O que aconteceu lá, Bryson? — pergunta Kaira, olho para baixo
para a cicatriz em meu braço quase curada. Eu tomei banho antes de vir até ela, me troquei
garantindo que ela não visse o sangue em minhas roupas, mas a cura ainda está ocorrendo pelo
meu corpo, pelas diversas cicatrizes que infelizmente não sumirão, ficarão para sempre marcadas
em minha pele assim como as outras, quase invisíveis.
— Foi feito um novo acordo.
— Como o outro?
— Não... esse é vitalício — respondo, pensando que só se tornará assim se Ayla tiver um filhote
de Knight, mas o casamento dos dois já deixará todos seguros e o Leste finalmente livre.
— Uma cerimônia? — questiona Kaira, noto a tristeza em seu rosto, provavelmente lembrando
do seu próprio.
— Sim, entre Ayla, a primogênita de Oscar, e Knight. — A surpresa nos olhos de Kaira, quando
o nome de Knight é dito.
— Eu achei que Wyatt escolheria Art ou Warren — fala, desviando o olhar para o filhote que
segura seu dedo, ela limpa a baba que escorre de sua boca e me olha de esguelha.
— Não foi Wyatt que escolheu. Foi a Ayla. — Estava claro que a fêmea tinha ficado encantada
com o dragão. Não era de menos, Knight poderia parecer muito dócil, ainda mais com a forma
que ele cedeu qualquer poder ao ajoelhar diante de Wyatt, o aceitando como seu alfa, algo que eu
nunca vira acontecer, ainda mais com um animal como o que Knight carrega dentro de si, me
parecia errado... ou pelo menos estranho. Eu não sei muito sobre dragões, mas sei que eles não
cedem poder, eles são o poder e o fato de Knight conseguir fazer isso, demonstrar submissão
mostra algo que só poderia ocorrer em um sangue mestiço.
— Ela fez uma boa escolha? — pergunta Kaira, respiro fundo, levando minha atenção
novamente para Kaira. Eu não sou mais tão próximo do Knight como antes, mas Wyatt pareceu
aceitar a escolha dela de forma tranquila, com certeza diferente do que ele faria se ela tivesse
escolhido Byron.
— Sim. Acredito que sim — confirmo, vendo o rosto de Kaira se tranquilizar.
— Houve algo mais? — questiona, me observando. Ela parece saber que algo mais aconteceu.
Nesses últimos meses tentei ser um macho diferente para ela, um que respondesse às suas
perguntas, que tentasse compreender seus desejos, e suas vontades de fêmea grávida, tentei criar
um laço com ela de companheirismo para que nossa junção pudesse dar certo para nós e o
filhote.
— Seu pai.
— Eu ouvi as asas, eu imaginei que ele estivesse aqui — fala Kaira com pesar. — E sei que
Knight não conseguiria impedi-lo sem matá-lo de vir até mim. Então outra coisa o impediu. Ou
outro alguém. — Kaira coloca o bebê ao seu lado na cama, dormindo em um sono profundo
mesmo com nossas vozes. — O que você fez, Bryson?
— Eu a tomei para mim, Kaira, não só você... mas seu filhote — falo, sentindo certo receio. Já
tinham tomado escolhas suficientes por ela, eu não queria que fosse mais um a fazer isso. — Eu
sei que não conversamos sobre isso, eu estava esperando até o filhote nascer, mas tudo aconteceu
muito rápido. — Acompanho buscando uma repreensão que eu aceitaria tranquilamente vindo
dela, mas há um pequeno olhar de dúvida em seu rosto apenas isso.
— O que quer dizer com ter me tomado para você, Bryson?
— Disse ao seu pai e a todos presentes que você é minha companheira, e que seu filhote pertence
a mim. Que ele é meu filhote — explico, ela assente levemente, desviando o olhar para o filhote
deitado ao seu lado.
— E você queria conversar comigo sobre?
— Sobre você se tornar minha companheira.
— Você quer me reivindicar como sua? — pergunta, sem me olhar.
— Não — falo sério e repleto de determinação. Seus olhos verdes me olham confusos e com um
pequeno sorriso.
— Eu não estou entendendo. Me quer como sua companheira, quer meu filhote como seu, mas
não quer me reivindicar?
— Não posso reivindicar você, Kaira — respondo, tentando a fazer entender sem precisar entrar
em meus traumas e nos dela.
— E se eu quiser ser reivindicada, Bryson? — pergunta, olho para ela surpreso.
— Então não posso ser o seu companheiro. — A dor que sai em minha voz deixa claro o que eu
sinto por ela, o que meu leão sente. Ele a considera dele. Assim como o filhote. Ele precisa dela.
Ou entrará em um espiral de destruição.
— E você sobreviveria se eu não aceitasse o que está me propondo, Bryson? — indaga, observo
seus olhos de águia surgirem, é a primeira vez que vejo seu animal, ela ainda parece fraca, seus
olhos indo e voltando, mas mostrando o suficiente para eu saber que ela também sente o que eu
sinto. Sua águia me quer, mesmo com sua dor.
— Não sobreviveria, e você também não. Somos o encaixe um do outro. E esse filhote é tão meu
quanto seu, Kaira — respondo, observando seus olhos se encherem de lágrimas.
— Você nunca irá me reivindicar? — insiste. Não sei se por medo de que eu mude de ideia ou
tristeza por eu não o fazer. É difícil saber.
— Nunca. Não posso machucá-la, o medo em seus olhos é tudo que me controla e o que sempre
vai me controlar. Mas prometo que serei o melhor companheiro, e o melhor pai que puder.
Estarei sempre ao lado de vocês dois e os protegerei com a minha vida — garanto, vendo as
lágrimas caírem em seu rosto, enquanto ela assente, mesmo que ainda pareça em dúvida, e
sinto... não eu sei que é sua águia que está confusa, mas isso irá se ajustar com o tempo. Precisa
se ajustar.
— Serei sua companheira. Me entregarei a você, assim como já entreguei meu filhote para ser
seu. — Me aproximo com cuidado e beijo seus cabelos bagunçados e lisos, uma demonstração
de carinho que não a incomoda e assim me afasto, levantando-me.
— Avisarei Wyatt para prepararmos a cerimônia — aviso-a, ela sorri levemente assentindo e
finalmente a deixo, fechando a porta atrás de mim. Ela e o filhote são meus. Ela aceitou. Tudo
ficará bem. Eu a manterei a salvo de todos e nunca a machucarei como os outros machos
fizeram, nunca serei como eles. Porque nunca a reivindicarei como minha fêmea, não com o
risco da loucura da reivindicação dos leões me possuir para sempre.
Epílogo
Lyra Gray
Alguns dias depois...
Observo ao longe acompanhada por Ayla os machos trabalharem na minha nova casa, eu não
queria que Wyatt tivesse todo esse trabalho, mas segundo ele, filhotes precisam de espaço, e o
nosso era pequeno com nossos 7 moradores então ele tinha tido a grande ideia de fazer uma
reforma na antiga casa do meu pai e deixá-la maior como a de Kaira, e enquanto isso acontecia
eu aproveitava nossa vivência em seu trailer. Observo Dodô pendurado no ombro de Wyatt
enquanto ele desce as escadas, saindo do telhado e em seguida vejo meu pequeno pássaro abrir
as asas, um curto caminho dos ombros de Wyatt para o chão, mas um enorme passo para um dia
vê-lo voando. Dou mais um pedaço de amendoim para Sirius e me viro para Ayla. Ela está lendo
um dos diários de vovó, um onde fala sobre os shifters dragões, sobre a família de Knight. Não
há muito nele, porém toda informação parece encantá-la. Eu ainda não perguntei a ela sobre o
que Wyatt havia visto, mas estava na hora de ter certeza através das suas palavras sobre o que ela
havia sentido por Knight.
— Ayla — chamo-a, tirando sua atenção das páginas antigas, enquanto volto meu olhar para os
machos que caminham para dentro da casa.
— Finalmente vai perguntar aquilo que está incomodando você desde que me mudei? — inquire
com um sorriso travesso. Ela estava diferente e isso porque só faz alguns dias desde que ela
chegou, mas está óbvio que a pressão colocada no Sul está aos poucos sumindo das suas costas,
deixando apenas a pequena Ayla à vista.
— O que sentiu quando viu Knight a primeira vez? — pergunto, e vejo-a suspirar e desviar o
olhar.
— Eu senti todas as emoções que uma fêmea deveria sentir pelo seu macho. O encanto de só vê-
lo, as borboletas no estômago, o descontrole da leoa dentro de mim querendo sair para encontrá-
lo, para tocá-lo, o desejo. Eu senti o que uma fêmea deve sentir pelo seu companheiro, a sua
metade, a metade que completa sua leoa. — Ayla se encosta contra mim, sua cabeça em meu
ombro. — Quando ele me beijou, seus lábios tocando levemente os meus, todos meus
pensamentos sumiram, era como se ele tivesse capturado toda minha razão. E foi apenas um
selinho... o que acontecerá quando ele me beijar de verdade? Quando ele me reivindicar?
— Está com medo?
— Estou ansiosa. Não com medo — responde, nós duas rimos como adolescentes. — Foi assim
com você e Wyatt?
— Foi intenso, difícil. Ele não queria aceitar o fato de que eu o queria inteiro, inclusive seu tigre,
a fera forte dentro dele — conto, sabendo que agora estamos muito além disso. Tínhamos nos
encontrado completamente, encontrado nossa sintonia perfeita e aceitado nós como somos
individualmente e juntos.
— Ele não parece ter mais problemas com o tigre dele — afirma Ayla, levantando a cabeça do
meu ombro para tocar meu pescoço onde tinha uma mordida recente de Wyatt.
— Nenhum problema — comento rindo —, mas precisa seriamente aprender a controlar seu
ciúme. Eu estou grávida de gêmeos, nenhum macho vai me querer dessa forma, menos ainda
machos humanos — falo com um sorriso, tínhamos ido até Forever Jazz ontem, e o fato de eu ter
atraído olhares após descer do palco, deixou meu companheiro um pouco fora da linha, e
resmungão.
— Você sabe controlá-lo bem — diz Ayla admirada.
— Você também vai saber como controlar Knight assim que descobrir os pontos fracos dele —
afirmo, Ayla volta seu olhar para os machos à frente.
— Não sei se nasci para ter poder sobre nenhum macho, Lyra. Não acho que muitas fêmeas têm
esses dons ainda mais com machos tão fortes como Knight me mostrou ser — fala, ela observa
Wyatt sair da casa e se levanta, sorri em minha direção. — Essa é minha deixa, vou ver o que os
outros já fizeram para ver se posso começar o meu trabalho — diz, caminhando para dentro da
casa. Ayla está trabalhando na reforma, ela é tão boa em construir quanto Wyatt, e os dois
revezam entre si para manter seus olhos fixos em mim mesmo que não precise dessa atenção
toda, eu aceito feliz por ter minha irmã ao meu lado para fortalecemos o laço que foi quebrado.
Wyatt se senta ao meu lado e passa seu braço sobre meu ombro.
— Cansado? — pergunto, encostando-me contra seu peito nu. Toco seu abdômen sentindo
minha entrada se apertar só pela sensação da sua pele dura e quente contra minha palma.
— Nem um pouco, se continuarmos nesse ritmo, terminaremos a reforma antes de você
completar cinco meses — afirma convicto. — Vamos trabalhar pelo menos três horas todos os
dias e no final de semana o dia todo.
— Bryson precisa de tempo com Kaira e o bebê.
— Eu sei, tentei impedi-lo de ajudar, mas aparentemente depois do que aconteceu, da batalha
todos nós precisamos de uma distração para as feras dentro de nós, alguns mais do que outros —
fala Wyatt, olhando para Byron, focado em cortar as madeiras ao seu redor. — Após a cerimônia
darei para Bryson alguns dias, ele não trabalhará aqui no final de semana como os outros, não
gostaria de ficar afastado do meu filhote mais do que o necessário. — Olho para seu rosto,
vendo-o sorrir levemente. — Já não consigo ficar afastado de você, imagina dos meus pequenos
filhotes. — Sorrio, acariciando seu rosto e beijo seus lábios.
— Meu tigre manhoso — falo, antes de morder levemente seu lábio inferior.
— Minha fêmea mandona. — Wyatt enfia suas mãos em meus fios soltos, e aprofunda nosso
beijo, sua língua dominando a minha, fazendo-me gemer contra sua boca, enquanto nossas
línguas duelavam apreciando o gosto um do outro.
— Vão para um quarto — resmunga Alina. Me afasto de Wyatt, sorrindo e olho para a fêmea me
levantando para abraçá-la enquanto meu macho resmunga por ter sido interrompido. — Eu
trouxe o almoço para os machos, Kaira que fizera — fala, ela olha de mim para a casa e
respirando fundo, ela me dá um olhar corajoso e segue para dentro. Wyatt vem para atrás de
mim, seus braços rodeando minha cintura, o vejo suspirar com um certo pesar. Eu podia não ter
seu olfato, mas estava claro por debaixo do olhar corajoso de Alina seu medo, mas também a
coragem que ela tentava encontrar em si.
— As coisas irão mudar, Wyatt, será um processo longo e talvez doloroso, mas o Leste vai se
reerguer, e superará o medo.
— Eu sei.
— Só precisamos esperar, assim como esperamos para nos encontrar, eles também se
encontrarão.

Continua em Aninhada pelo Leão o romance de Kaira e Bryson...


Biografia
Nascida em Guarabira Paraíba, Nordestina de Sangue, Italiana de Coração, mas vivendo
nessa grande cidade que é São Paulo. É apaixonada por livros, e acredita que eles sejam a nossa
oportunidade para fugir da realidade que nos cerca, e nos apaixonarmos por novos lugares, e
sermos felizes.
E foi uma dessas paixões que à fizeram escrever, e criar suas próprias histórias. A escrita lhe deu
coragem para tentar algo diferente. Lhe fazer crescer.
Instagram: @sh.scrittore
TikTok: @scrittore.sh
X: @scrittoresh
Site: mydarklittleworld8.wordpress.com

[1]
Você vai nadar no mar
Contra a maré
Você pode ver esses braços
Eles estão bem abertos
Isso me deixa de joelhos tudo isso no meu sonho
Então você será a videira que sobe
As paredes para mim
E eu disse, oh
Deixe-o puxá-lo das profundezas do oceano
Oh, até você sentir que talvez você não esteja sozinho
(Love is in the picture - O amor está em alta)

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