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Copyright© 2023 Gabby Santos

Todos os direitos reservados


Criado no Brasil
Capa: Katy Branco

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com datas, locais,


nomes e acontecimentos reais são mera coincidência. É proibido o
armazenamento e/ou reprodução total ou parcial de qualquer parte desta
obra, através de quaisquer meios sem o consentimento por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei Nº 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do código penal.
Sumário
VIBLES
NOTA DA AUTORA
SINOPSE
GLOSÁRIO DE TERMOS
PLAYLIST
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA
Para todos os corações quebrados, que persistiram e continuaram batendo.
VIBLES
O Projeto Literário Visibilidade Lésbica (VIBLES) idealizado pela
escritora Ana S. Vieira, com o objetivo de valorizar e visibilizar a literatura
lésbica independente. A proposta do VIBLES é a realização de um
lançamento coletivo, no qual histórias lésbicas de várias autoras sejam
publicadas na Amazon.

A primeira edição do VIBLES é do ano de 2023. A proposta é que um


lançamento coletivo seja feito anualmente no dia 29 de agosto, Dia Nacional
da Visibilidade Lésbica.

Todas as autoras participantes foram convidadas para o projeto e


aceitaram o desafio.

AUTORAS PARTICIPANTES DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO


VIBLES:

Ana S. Vieira, com o livro Eu e minha alienígena

J. P. Forte, com o livro Tranças e Desejos


Gi Leão, com o livro Lutando por ela

Gabby Santos, com o livro O renascer da fênix

Valéria de Paulo, com o livro Vidas em cena

Lara Azevedo, com o livro Cair em tentação

Juliana Ramos, com o livro Urbana

Strambery Black, com o livro BECA - Lutando por nós

Bia Pruden, com o livro Liebe - Uma chance para amar

Rose Moraes, com o livro Minha Redenção

Mariana Rosa, com o livro Scarlet: O Desejo Sob a Cidade Proibida

Fernanda Thomaz, com o livro Um encontro dos sonhos


NOTA DA AUTORA
Este conto faz parte de um universo de máfia, desta forma traz
elementos que podem causar desconforto em leitores mais sensíveis. Trata-
se de um DARK ROMANCE.
ALERTA DE GATILHOS:
- Violência física e psicológica.
-Tortura.
- Assassinatos.
- Menção a estupro.
SINOPSE
Helena Paraskevas sempre soube qual era o seu lugar por ter nascido
em uma grande família de mafiosos. O lugar dela era onde ela “porra”
quisesse, desde que tivesse força e determinação para isso.
A fênix de sangue da Aderfia, é tão bela quanto temida e respeitada.
Ela sempre se orgulhou disso, fez por merecer a reputação que tem. Então
como se deixou enganar “tão facilmente”?
Aquela mulher entrou em sua vida e a enganou da pior maneira.
Traída por quem mais amava, Helena luta contra seus próprios
demônios ao não conseguir deixá-la para trás.
Quando uma única mentira em meio a milhões de verdades é capaz de
destruir a confiança de alguém, pode Sofia voltar para os braços da mulher
que ama?
Ela mentiu;
Enganou;
Passou informações da máfia para o FBI.
Existe perdão para essa borboleta que voou para longe?
GLOSÁRIO DE TERMOS
ADERFIA: O nome que recebe esse grupo mafioso em específico. É
uma poderosa máfia que controla todo o submundo do estado de Nova
Iorque, e até alguns pontos fora dele.
OBS: Neste livro os mafiosos da Aderfia, em sua grande maioria,
começando pelo cabeça da organização, são gregos. Por conta disso, os
termos usados vão ser em grego ou português para distinguir do mais usado:
italiano.
Nesta máfia os cargos de poder são:
Igétis: Significa líder em grego. Sendo este o termo utilizado para se
referir ao Don (termo mais usado em livros de máfia.)
Conselheiro: Segundo em comando, o homem de confiança do Igétis,
podendo assumir a liderança da máfia na ausência dele.
Chefes: Devido a influência da máfia existem chefes espalhados em
diversas regiões, liderando os soldados e ficando à frente dos negócios, que
são reportados diretamente ao Igétis.
Soldados: São os responsáveis por todo tipo de trabalho sujo, estão na
base da pirâmide. Devem obediência e lealdade aos seus superiores. Podem
desenvolver trabalhos desde a manutenção das residências até assassinatos,
etc.
Executor: O cobrador de dívidas, o carrasco. Uma pessoa fria e
determinada que fica à frente de situações como torturas e interrogatórios.
Este “cargo” em específico não pode ser transferido de um familiar para
outro, ele precisa ser conquistado. Um executor precisa ter as qualidades
necessárias para o trabalho.
Associados: Qualquer aliado que trabalhe junto a máfia, mas não faça
parte dela oficialmente. Eles podem ser políticos, empresários, matadores de
aluguel, etc.
PLAYLIST
- The Story – Sara Ramirez.
- Me enamoré – Shakira.
- Try – P!nk
- Never be me – Miley Cyrus.
- Love Story – Taylor Swift.
- Million Reasons – Lady Gaga.
- Big Girls Don’t Cry – Fergie.
- Let’s Get Loud – Jennifer Lopez.
Para ouvir a Playlist completa, basta apontar a câmera do seu
celular para o código abaixo:
Atravessei todas as linhas e quebrei todas as regras
Mas, querido, eu quebrei todas por sua causa
Porque mesmo quando eu estava despedaçada
Você me fez sentir como um milhão de dólares
Sim, você fez e eu fui feita pra você
-The Story (tradução)
CAPÍTULO 1

Conheci Lupi a cerca de quatro anos antes.


Eu já era uma mulher calejada pela vida, afinal, nasci em uma família
de mafiosos e tive que lidar com inimigos desde o berço, sendo um dos
maiores deles meu próprio pai que só me deu descanso quando morreu e foi
para o inferno.
Fui obrigada a me casar quando não era mais do que uma menina, meu
marido era um velho asqueroso com mais que o dobro da minha idade.
Naquela ocasião eu lutava sozinha e tinha poucas armas. Quando estava
presa e a beira do desespero descobri minha verdadeira força, testei os
limites, tratei de ficar viúva e dar todos os avisos que meu querido pai e seus
homens precisavam ouvir: Eu não sou uma mulher fraca, não serei
manipulada.
Ou pelo menos foi isso que acreditei tão tolamente.
Sei bem o momento em que minha ruína começou, foi no dia em que
meus olhos encontraram os dela. Lupi era a única coisa que conseguia
pensar por semanas enquanto perseguia a jovem médica que conheci por
acaso em um evento de caridade. Descobri seu nome, sua idade, seus gostos,
sabia tudo sobre ela antes de conseguir tê-la em minha cama. E, eu que vivi
por anos de aventuras passageiras cai em sua armadilha bem feita.
Olhando para trás, devo ter ansiado tanto pelo amor que me mostrava,
que fui fácil de enganar.
— Onde você está, Petaloúda?
Ah, as lágrimas de angústia que derramei naqueles dias.
Minha vida estava nos trilhos até Ícaro Kokkinos, um dos chefes da
Aderfia tentar tomar o poder das mãos do nosso Igétis. Meu irmão mais
velho, Stephanos Paraskevas. Foi a partir dali que meu castelo de cartas
começou a desmoronar. Do dia para a noite todas as certezas que eu tinha se
tornaram nada. Meu amor desapareceu sem deixar rastros, Perseu, o homem
que entrou em minha casa como um traidor e se tornado um amigo,
“morreu”.
Me tornei um desastre.
— Você tem que reagir, Helena, seu irmão não está em condições de
lidar com nada no momento! — dizia Zeus, o conselheiro da máfia. O
homem que jamais pensei que se tornaria o apoio do meu irmão mais velho
quando seu passarinho morreu.
— Eu preciso saber o que aconteceu com a minha mulher! — berrava à
beira de uma crise de nervos.
Lupi jamais desapareceria por conta própria no momento em que uma
verdadeira guerra era travada dentro da Aderfia. Minha mulher não faria
isso comigo. Algo havia acontecido com ela, e meu corpo gelava apenas
com as possibilidades terríveis que passavam pela minha mente.
— Erga essa cabeça, aja racionalmente e vá até o fim. Guadalupe está
em algum lugar, você tem os meios para encontrá-la.
— Sim — soltei uma respiração pesada, o peito oprimido. — Vou
encontrar minha Petaloúda!
Eu podia fazer isso, tinha todos os recursos ao meu dispor. Além disso,
Lupi é uma mulher forte, ela ficara bem até que eu a encontre.
Tudo terminara bem!
Tudo tem que terminar bem...
— Não! Isso não pode ser, você tem que ter cometido um erro! —
Meus gritos podiam ser ouvidos por toda a mansão. As palavras do soldado
que encarreguei de conduzir as buscas por Lupi, ainda ressoava em minha
mente, longe demais para que eu aceitasse ser real.
Algo assim não poderia ser real.
Como deveria aceitar que aquele homem estivesse me dizendo que o
meu amor havia morrido?
Me agarrei a gola de sua camisa, berrando de encontro ao seu rosto
assustado ao mesmo tempo em que o sacodia. Talvez seu medo das minhas
ações não desse espaço para perceber que eu implorava para que ele me
dissesse que era mentira. Lupi não podia estar morta!
— O carro da doutora Guadalupe foi encontrado queimado próximo ao
território onde Ícaro Kokkimos estava hospedado em Nova Iorque. O corpo
carbonizado dentro do veículo foi identificado como pertencendo a
Guadalupe Sanchez. Por conta do estado do corpo e do carro a identificação
levou alguns dias, quando foi feita o nosso contato da polícia nos comunicou
imediatamente.
— Não! — Desabei no chão, sem me importar com mais nada.
Sempre presei pela minha imagem. Me fazendo de forte diante dos
olhos que me cercavam ansiosos para me verem cair, mas ali deixei que toda
a dor devastando meu peito aparecesse. Não lembro de já ter gritado de dor
como fiz naquele momento.
Não enxerguei nada ao redor, me encolhi no chão enquanto gritava, o
choro sacodindo meu corpo. Senti braços fortes me envolverem em um
abraço que serviu como porto seguro ao mesmo tempo em que me afogava
em minha dor. Demorou para que eu percebesse que era Stephanos me
abraçando.
Foi a primeira e única vez que meu irmão mais velho me confortou
daquela forma. Ele entendia a dor incapacitante que eu sentia naquele
momento, porque compartilhava algo muito semelhante depois de perder seu
passarinho.
Seria aquilo um castigo pelo que estava fazendo Stephanos passar?
Depois daquele dia tinha absoluta certeza de que nunca, jamais, de
forma alguma, haveria outra coisa para me deixar mais devastada do que
perder de forma tão brutal minha borboleta.
Ah, como eu estava enganada!
CAPÍTULO 2

Quando um respingo forte de sangue acerta meu rosto, abaixo a cabeça


e limpo a pele suja com uma lentidão impressionante dada a situação. O
lenço antes imaculadamente branco agora se encontra manchado de
vermelho.
Vermelho é a minha cor favorita.
— Puta! — o grito estrangulado chega aos meus ouvidos.
Um sorriso divertido é toda a resposta que lhe dou. O verme diante de
mim não merece mais do que isso. Seus insultos são música, assim como os
gritos de dor e agonia.
Fênix de sangue. Esse é meu novo título, engraçado que só o tenha
recebido no último ano sendo que dediquei a minha vida a máfia Aderfia.
O coro de xingamentos continua a medida em que caminho de volta até
minha maleta de trabalho, analisando qual o melhor instrumento para o que
tenho planejado a seguir. Depois de algumas horas onde cada horrífico de
seu corpo foi mutilado e todos os dedos cortados fora, é chegada a hora do
seu “presente” final. Nada do que esse homem tenha a dizer vai poupá-lo da
dor. Uma morte rápida é algo que não lhe será concedido, até porque esse
não é um interrogatório, é um castigo.
Sua figura lamentável me causa ânsia de vômito, o homem tem seus
quase dois metros de altura e músculos proeminentes, um dia foi um soldado
de destaque dentro da Aderfia. Agora é um corpo quase morto,
completamente nu, preso a uma estrutura de madeira em forma de X. Com
as pernas e braços presos, ele está à mercê de uma mulher assim como sua
pobre enteada ficou por longos quatro anos, dos doze aos quinze quando
conseguiu pedir ajuda diante dos abusos que sofria desse lixo humano.
— Cadela maldita! — berrou enlouquecido quando me virei de frente
para ele com um alicate grande em mãos. O medo marcando todo o rosto
que antes era cheio de orgulho, mostra que ele sabe o que o espera e deseja
que apenas o mate logo.
Como se fosse facilitar as coisas para um sujeito que estuprou uma
mulher, uma menina a quem devia cuidar.
— Nós estamos quase acabando — falo, parando diante dele e passando
o alicate frio em sua bochecha ferida. O local estava em diferentes tons de
roxo, amarelo e azul.
— Ela mentiu — gaguejou em palavras trêmulas.
Abro um sorriso gentil, como se acreditasse nele. Esse mesmo sorriso
permanece em meu rosto quando deslizo o alicate para baixo, abrindo-o e
fixando-o em seu testículo direito. Sem dar tempo para que ele se prepare,
fecho o alicate com força, leva vários segundos para quem um corte perfeito
seja feito e a massa de carne caía aos seus pés.
— É claro que acredito em você, Mason — murmuro com a voz doce,
adorando o som de seus gritos quando quase ao mesmo tempo corto fora o
outro testículo.
Sangue jorra entre suas pernas, o homem está a ponto de desmaiar de
dor, não posso permitir tal coisa antes de terminar com nossos assuntos. Que
inconveniente seria ter que acordá-lo para acabarmos com isso.
— Por favor... — implora quando o alicate frio encosta na carne
trêmula de seu pau murcho.
— Ouvir alguém te implorar para parar nunca te deteve antes, não é? —
retruco, apertando o alicate por vários, longos e deliciosos segundos
enquanto ele grita e se contorce. Nada que impeça que o pau imundo caía no
chão fazendo companhia para suas bolas.
— AH!
Sangue e lágrimas mancham seu rosto quando me afasto. Caminho de
volta para a mesa e começo a limpar meu equipamento. Ignoro seu choro,
lamentos e lágrimas. Levo poucos minutos para terminar com tudo e tirar as
luvas que usava. A essa altura, Mason está navegando entre a consciência e a
inconsciência, uma enorme poça de sangue embaixo de seu corpo.
— Espere até amanhã e pode se livrar do corpo — falo para o soldado
que aguardava do lado de fora da sala.
— Sim, senhora.
Satisfeita e sentindo meus ombros mais leves, começo a caminhar para
fora das masmorras da mansão Paraskevas. Por hora meu trabalho foi feito,
então quero minha banheira com água quente, sais de banho e meu jantar.
Tanta atividade me abriu o apetite.
— Terminou?
Perseu é a primeira pessoa que encontro quando saio das masmorras.
Meu cunhado tem uma expressão tão diferente daquele passarinho assustado
que chegou nessa casa cerca de dois anos atrás. O ex-policial encontrou seu
caminho distorcido que é tão comum entre os Paraskevas, só assim para
suportar um ser como Stephanos, meu irmão mais velho e o Igetis da
Aderfia. Em minha humilde opinião, o ser mais bastardo que já pisou nessa
terra.
— Estou faminta — resmungo com um bico nos lábios.
Perseu ri.
— Vou pedir para que levem seu jantar no quarto, ou prefere se juntar a
nós?
Nego na mesma hora, estou de muito bom humor, se tivesse que ficar
na presença dos dois “pombinhos” enquanto eles se comem, juro que
vomitaria.
— Agradeço se meu jantar for levado para o quarto.
— Meia hora?
Assinto e começo a subir as escadas.
— Você está bem?
Paro por conta da pergunta. Perseu se tornou meu único e melhor
amigo, coisa que nenhum de nós dois poderia imaginar tendo em vista o
começo difícil que tivemos. As coisas que eu fui capaz de fazer por ele, e as
coisas que ele fez por mim são a prova de que podemos confiar um no outro.
Esse bastardo aprendeu a ver através das minhas camadas. Ele melhor do
que ninguém sabe quais são os demônios que tem me atormentado nos
últimos dois meses desde que Perseu ressurgiu dos mortos para a alegria do
meu irmão. Junto disso vieram informações que hoje eu penso: “Devia
mesmo ter lido?”
— Ótima! — Forço um sorriso ao encará-lo por cima dos ombros.
Pisco um olho e volto a subir as escadas, ignorando a expressão descrente
em seu rosto.
Por que ele tem que me conhecer tão bem agora?
Entro em meu quarto jogando as roupas pelo chão, quando chego ao
banheiro estou completamente nua e tiro meu tempo para encher a banheira
e colocar os sais de banho. Em seguida coloco uma música para tocar e
diminuo as luzes, deixando o ambiente mais escuro, isso sempre ajuda com a
dor de cabeça.
Ao entrar na água sinto todo o meu corpo relaxado, um suspiro de
prazer deixa meus lábios.
Fecho os olhos e não demora para que fleches incômodos venham a
mente. Como pude ser tão boba por tanto tempo?
Enterrar um caixão vazio foi o pagamento pela traição que cometi
contra meu próprio irmão quando ele também enterrou um caixão vazio.
Mas enquanto Perseu estava vivo e voltou para suas garras, “Guadalupe” a
mulher que amei com todas as minhas forças e por quem sofri por um ano
inteiro, nunca foi quem eu pensei. Até seu nome real só fui descobrir através
das investigações de Perseu.
Sofia Lozada
Quem era Sofia Lozada? Uma pessoa que eu jurava conhecer e que
provou o contrário. Uma agente treinada para entrar em minha vida, minha
casa, dentro da cúpula da Aderfia. Uma traidora que passou informações
para o FBI por anos antes de forjar sua morte e me deixar devastada,
chorando sobre cinzas que não lhe pertencem.
Tudo que pensava ser verdade não passava de mentiras. Se pensava que
sofri ao saber de sua “morte”, é porque não esperava que o amor da minha
vida fosse uma total desconhecida.
— A água esfriou — comento depois de perceber que passei tempo
demais na banheira. Saio molhando o chão, deixo a toalha de lado e cubro
meu corpo com um hobby de cetim preto. O tecido gruda por conta do corpo
molhado, isso não me incomoda.
A essa altura meu jantar havia sido servido e aproveito a refeição
enquanto pego meu tablet onde digitalizei a pasta de documentos que Perseu
me entregou. Dediquei infinitas horas do meu tempo para revisar cada
maldita página nos últimos dois meses. As informações contidas nessa pasta
são um segredo entre meu cunhado e eu, nem mesmo Stephanos sabe a
verdade sobre Lupi, ou Sofia, seja lá qual for o maldito nome dela!
Por hora prefiro que as coisas continuem assim, afinal, a coisa mais
sensata a se fazer é esquecer que isso um dia aconteceu, deixar que aquela
mulher vá para o inferno sozinha. Mas é claro que a estupida aqui não fará
isso.
— Hum... — Me jogo na cama com o tablet em mãos, abro uma pasta
com fotos e informações.
Sofia Lozada
Quarenta anos, formada em medicina, atuou no médicos sem fronteiras
por alguns anos. Sua carreira sendo marcada por atuar nos lugares mais
perigosos do mundo, posteriormente se tornou informante do FBI em zonas
de guerra e quatro anos atras entrou para o DICCO – Divisão de Combate ao
Crime Organizado. Curiosamente seu ingresso como agente do FBI
aconteceu em uma missão onde ela teria que se infiltrar na máfia.
Eu devo ser muito tola para ter caído nas mentiras de uma agente que
acabará de entrar na agência. Se serve de algum consolo, pelo menos posso
dizer que ela foi muito bem treinada em seus anos de informante.
“Ela te enganou, usou você! Vai mesmo fazer isso?”
Minha consciência parece debochar de mim, e com toda razão.
— Preciso fazer isso! — digo para mim mesma.
“Precisa? Ou quer encontrar alguma desculpa patética de que ela te
amou em algum momento?”
— Foda-se!
Atiro o tablet do outro lado do quarto.
— Mentirosa ou não, eu amei aquela mulher com todo o meu coração.
Deixei que ela conhecesse todas as partes de mim. Ela era a minha mulher.
Eu não vou deixar isso quieto, essa não sou eu!
Me ergo da cama e caminho até minha bolsa jogada em uma poltrona
próxima a porta, dela tiro meu celular e volto a abrir os documentos sobre
Sofia.
Abro a pasta de fotos e vejo o sorriso da mulher de longos cabelos
escuros e olhos amendoados. Seu cabelo está diferente, liso, em um tom
mais escuro. Essa é ela de verdade?
A pessoa que conheci como Lupi tinha olhos mais brilhantes, o sorriso
também era diferente. Posso me agarrar a isso para sentir raiva ou posso ser
ainda mais tola por pensar que comigo ela foi diferente.
— O que eu faço, Petaloúda? O que devo fazer quando quero te matar
com minhas próprias mãos na mesma proporção em que anseio ter você de
volta?
CAPÍTULO 3

Me apresentar formalmente para outra missão de campo um ano após


deixar Helena para trás é mais difícil do que sou capaz de admitir. Minhas
mãos estão mais suadas do que no meu primeiro encontro com a executora
da Aderfia. As pernas quase não cooperam.
— Você está vendo o alvo?
O som da voz de Miguel me tira dos meus pensamentos, tropeço nos
saltos estupidamente altos que fui obrigada a usar esta noite. Junto deles está
o vestido preto estilo tubinho, a peça é sensual o suficiente para marcar cada
maldita parte do meu corpo e quase não me deixa respirar.
Fui montada para chamar atenção, e não de qualquer pessoa. Diante dos
meus olhos está Hanna Martiossa, sobrinha de um conhecido gangster que
reina em Los Angeles. Sobre Hanna duas coisas são um fato amplamente
divulgado, primeiro é que ela está soterrada nos assuntos criminosos de sua
família. O segundo fato é que ela tem uma queda por mulheres, em
especifico mulheres baixas, com cabelos escuros e corpos cheios de curvas.
Miguel, um dos agentes trabalhando comigo nesse caso, riu ao dizer
que sou a personificação do tipo ideal que atrai, Hanna Martiossa. É por isso
que me encontro caminhando até ela, decidida a chamar sua atenção, entrar
em sua vida e conseguir informações sobre os crimes de sua família.
Quando foi que cheguei a esse lugar?
Sinto que estou me prostituindo a serviço do meu país.
— Que merda! — xingo baixo.
— Você está ouvindo, Sofia?
— Cala a porra da boca, Miguel! — Tento ser discreta ao xingar com o
ponto eletrônico em minha orelha. — Quer que todos percebam que estou
falando sozinha?
Escuto um resmungo e o som de um bip. Pelo menos o idiota que adora
fazer piadas machistas e homofóbicas vai me deixar em paz. Por mais curto
que seja esse período de descanso, vou aproveitá-lo.
— É de tirar o fôlego — comento ao parar em frente a grande tela cheia
de cores.
Hanna adora arte, nossos agentes tem acompanhado sua rotina por
meses e descobriram que a mulher tem muitas amizades entre os artistas
locais. Até mesmo algumas de suas amantes são pintoras ou fotografas, ela
costuma comprar muitas obras de arte da galeria badalada onde estamos esta
noite.
— De fato, é por isso que o comprei por esse preço estupidamente caro
— ela responde, levando a taça de champanhe aos lábios.
Inclino o corpo para à frente, fingindo não perceber seus olhos
descerem por minhas costas até chegar na bunda em destaque por causa do
vestido justo. Posso odiar os saltos que espremem os pés, mas tenho que
admitir que eles deixam minhas pernas fantásticas.
Pela expressão de Hanna, a mulher concorda comigo.
— Nunca te vi por aqui antes — ela rompe o silêncio quando percebe
que não vou dar continuidade a conversa. Observo sua mão estendida e a
seguro com lentidão, deixando que nossas peles se toquem, acendendo assim
um brilho de desejo nos olhos azuis da loira. — Você conhece a Olivia?
Olivia era a artista em exposição esta noite.
— Não, uma amiga me falou da galeria e quis dar uma olhada. Cheguei
a pouco tempo em Los Angeles e ainda estou conhecendo a cidade. Prazer,
Dafne Hudson.
Um sorriso tímida e um baixar de olhos era sempre instigante para
mulheres como Hanna, verdadeiras lobas alfas em busca da próxima presa.
Dito e feito, ela se aproximou mais de mim, rompendo meu espaço
pessoal e sorrindo com um flerte claro ao tocar as pontas do meu cabelo que
cobriam um dos seios.
— O prazer é meu, sou Hanna Martiossa. E sabe, dizem que sou uma
ótima guia turística.
Solto um riso um pouco mais alto, erguendo os olhos para fixar nos
dela. Sou alguns centímetros mais baixa mesmo estando de salto alto.
— Qual lugar me recomenda conhecer primeiro? — devolvo o flerte
descarado, ela sorri triunfante.
— Meu apartamento fica perto daqui, e o melhor é que tenho muitas
obras de arte estupidamente caras que você pode ver enquanto estiver lá.
Levo alguns segundos para responder, como se precisasse pensar no
assunto.
— A guia deve liderar o caminho.
Com essas palavras eu tinha Hanna nos levando para fora da galeria e
em direção ao seu carro. Ignorei o mal-estar que se formou em minha
barriga, assim como deixei qualquer lembrança de Helena no fundo da
minha mente pelos minutos que levamos até chegarmos ao prédio de
apartamentos de luxo. Hanna tinha uma mão subindo pela minha coxa por
todo o percurso e me atacou logo que entramos no elevador, sua boca só foi
para longe da minha pelo tempo em que a mulher levou para abrir a porta de
seu apartamento.
Após isso caímos emboladas uma na outra por cima do espaçoso sofá.
Lutava para me deixar levar pelo momento quando alguém bateu na porta de
forma insistente. Estávamos no apartamento a pouco mais de um minuto e
Hanna xingou alto quando as batidas não cessaram e ela precisou se levantar
e ir abrir a porta.
Permaneci jogada no sofá, puxando o ar para meus pulmões e afastando
lembranças indesejadas. Tudo isso foi interrompido pelo som surpreso que
deixou os lábios de Hanna antes que o barulho de seu corpo caindo no chão
fosse ouvido. Pulei de pé no mesmo momento, observando a porta em estado
de choque.
— Helena? — a palavra saiu dos meus lábios, e não era mais do que um
sussurro incrédulo.
Aquilo não podia ser possível.
Eu estou morta para ela.
Helena não sabe quem eu sou!
— Filha da puta! — ela gritou com os olhos marcados pela raiva.
Engoli em seco e dei um passo para trás, meu corpo rígido.
Havia visto aquele olhar cheio de ódio incontáveis vezes, mas nenhuma
dessas tinha sido dirigida a mim.
— Surpresa em me ver, amor? — O tom viscoso que escapava de seus
lábios me deixou enojada.
Imaginei que algo assim iria doer, só não sabia o quanto.
É o que mereço por todo o sofrimento que sei que causei.
— Escuta, você precisa me ouvir... — Ergo as mão na frente do corpo.
— Por favor, linda.
A raiva se aprofunda em seu rosto, assim como a dor que não pode ser
escondida em meio ao verde claro de seus olhos.
Ela ergue uma arma apontada para mim. Meus olhos queimam com
lágrimas não derramadas.
Depois de tudo vou morrer aqui? E pelas mãos da única mulher que
amei nessa vida?
— Não repita essa palavra!
— Helena... Ah!
O som alto de um tiro é seguido por uma dor que queima minha perna
direita. Caio no chão sem qualquer controle, bato com força contra o piso
branco e minha visão fica borrada. Enquanto estou caída escuto vozes
gritadas no ponto eletrônico em meu ouvido, ao mesmo tempo em que
sangue quente escorre pelo chão e passos se aproximam de onde estou.
— Espero que esteja feliz em me ver, borboleta.
Fecho os olhos quando Helena para ao meu lado com a arma em mãos.
A inconsciência me leva e não sei dizer se foi um segundo tiro ou a dor do
primeiro.
Borboleta.
Quantas vezes quis ouvir essa palavrinha novamente ao longo do último
ano. Se morrer agora pelo menos terei o consolo de saber que tive minha
linda comigo no final.
Senti um puxar doloroso em minha coxa direita antes de conseguir abrir
os olhos. Tudo parecia não passar de um sonho, caso não fosse pela dor
incomoda na perna e o ambiente estranho onde me encontrava. Puxei os
braços na tentativa de fixá-los no colchão macio abaixo de mim e assim me
levantar, mas tudo que consegui foi gemer de dor, o corpo muito pesado para
se mover livremente.
— O quê?
Puxo na mente os últimos acontecimentos. A missão que me foi
atribuída, o primeiro contato exitoso com Hanna Martiossa.
— Helena! — A dor percorrendo cada mínimo lugar em meu corpo foi
totalmente ignorada quando em um pulo estava sentada na cama. As
lembranças invadindo minha mente com o mesmo impacto de um soco.
Helena apareceu no apartamento de Hanna, nos viu juntas. Ela sabe
sobre mim!
!Por Dios!
Era um pesadelo.
Me apressei a levantar da cama, mesmo com a perna puxando de dor.
Pelo menos era o único lugar onde haviam faixas brancas, logo conclui que
Helena só atirou em mim uma vez. Considerando que conheço bem o gênio
daquela mulher, posso dizer que tive sorte de não acabar com mais buracos
do que uma peneira.
Engoli e dor e caminhei até a porta, jurei que a encontraria fechada,
mas quando girei a maçaneta ela abriu com um clique. Desconfiada coloquei
a cabeça para fora do pequeno corredor. Tinha certeza de que não estava na
mansão Paraskevas, sabia que lugar era aquele. Desconfiei mesmo antes de
ver mais da decoração rustica da cabana, o frio que estava sentindo era a
melhor das pistas.
— Tudo continua igual — resmunguei para mim mesma, sentindo o
peito oprimido com as lembranças de dias maravilhosos que não voltam
mais.
Estou na cabana isolada que Helena mantém nas montanhas cobertas de
neve do Canada. Um lugar que apenas ela conhece, e a única outra alma viva
que teve sua confiança para ser trazida aqui... fui eu.
“Isso, continua lembrando que você é uma filha da puta traidora!”
Por que ela me trouxe aqui?
É para me mostrar tudo que eu tinha e não tenho mais?
Tudo que poderia ter e nunca mais terei?
— Guadalupe Sanchez, você quer se casar comigo?
Engulo em seco ao chegar no final do corredor, tendo uma visão clara
da sala ampla com uma grande lareira, sofás espaçosos e um tapete felpudo
cobrindo boa parte do chão de madeira.
Aos meus ouvidos, como o sussurro de um fantasma do passado, suas
palavras continuam reverberando.
— Guadalupe Sanchez, você quer se casar comigo?
Se fechasse os olhos ainda conseguiria ver a mulher com um sorriso
deslumbrante, ela estava de joelhos na minha frente, nessa mesma sala, me
prometendo um futuro juntas. Algo que eu ansiava com desespero, mas que
sabia que jamais poderia ter.
Aqueles dias felizes onde fui “raptada” por minha namorada, jogada em
um jatinho particular e voado para esse lugar remoto onde apenas nós duas
existíamos, haviam sido os dias mais felizes da minha vida. Porque
conseguimos compartilhar algo único, enquanto ela não era a executora da
Aderfia e eu não era uma agente infiltrada na máfia. Éramos apenas duas
mulheres que se amavam e queriam ficar juntas.
Eu realmente quis acreditar que depois que Stephanos aprovasse a
minha presença na cúpula da Aderfia, nós duas conseguiríamos dar um
passo à frente. Enquanto isso iriamos guardar apenas para nós o fato de
estarmos noivas, então quando as coisas estivessem mais calmas poderíamos
fugir de novo e talvez casar em Las Vegas... Que sonhos bobos, então vieram
Perseu, Ícaro, sua tentativa de tomar o poder de Stephanos e pôr fim a minha
“morte”.
— Em um dia tínhamos tudo, no outro já não havia mais nada —
resmungo para a sala vazia.
Nesse momento, como se esperasse pela minha chegada, a mulher que
ainda faz meu coração quase saltar pela boca apareceu vindo da cozinha que
ficava ao lado da ampla sala. Balancei a cabeça espantando as lembranças
que queriam me dominar, e foquei em seu rosto marcado pela mágoa
profunda.
— Pensei que você fosse me matar. — Curiosamente essa foi a primeira
coisa que eu disse.
— Desde quando facilito as coisas? — retrucou, a voz apenas lembrava
a que eu conhecia.
Durante o ano que passamos separadas evitei ao máximo me aproximar
de qualquer coisa relacionada a Helena, é por isso que não sei ao certo o
caminho que ela percorreu até estar parada tão próxima a mim, com esse
olhar vazio e essa voz fria. Mas de uma coisa tenho certeza, a responsável
por isso sou eu. Se não morri naquele dia, certamente matei a mulher que
amava.
— O que vai fazer agora? — questiono de peito aberto.
Estava preparada para receber outro tiro, para ser jogada na neve e
deixava para morrer. Qualquer atitude agressiva seria o esperado, no entanto,
nenhuma dessas coisas me surpreenderia tanto como a forma calma com que
Helena caminhou em minha direção. Os pés descalços, um conjunto de
moletom folgado pendendo de seu corpo esguio, os cabelos presos em um
rabo de cavalo no alto da cabeça, o rosto lavado e sem um pingo de
maquiagem. Ela estava tão linda e me deixou sem palavras quando envolveu
meus ombros com os braços finos e juntou seus lábios aos meus.
— Eu vou me destruir um pouco mais antes de renascer, mas adianto
que espero que você esteja queimando até o pó nesse momento — sussurrou
rente a minha boca antes de enfiar sua língua e iniciar um beijo que, juro,
tentei resistir, falhando miseravelmente.
CAPÍTULO 4

Me afastei de Sofia, tão rápido quanto me aproximei. Ela estava de


olhos fechados e juro que ouvi um som de lamento quando passei por ela,
caminhando em direção ao corredor dos quartos. Queria colocar um pouco
de distância entre nós, o que é louco se você for pensar em tudo que fiz nas
últimas 72 horas.
Se estivesse no meu eu normal teria feito a coisa mais lógica possível,
colocado uma segunda bala em seu corpo, dessa vez me certificando de
acabar com a vida da mulher que ameaçou tudo que conquistei nessa vida. A
pessoa a quem dei meu próprio coração. Uma traidora maldita.
Mas olha só como são as coisas, não consegui colocar um fim nessa
história e como se fosse pouco a trouxe para esse lugar, me agarrando a cada
mísero segundo de sua presença. Ao final, meu irmão e eu somos dois
loucos feitos do mesmo material
— Como você está? — Ouvir a voz de Perseu me acalmou de alguma
forma.
Agarrei com mais força o telefone entre meus dedos, a coisa robusta
funcionava por satélite já que sinal de telefone é um sonho estando em um
local remoto como esse.
— Surtando, por que você me deixou fazer isso?
Ele ri.
— Eu teria conseguido te impedir ou acabaria levando um tiro
também?
Contorço os lábios, caminhando pelo maldito quarto com uma espaçosa
cama de casal e uma varanda com vista para o pôr do sol. Cada centímetro
desse lugar me traz lembranças tão felizes que parecem repetidos punhais
perfurando meu peito.
Idiota! Minha consciência está sempre zombando de mim.
— O que estou tentando provar, querido?
— Nunca pensei que diria isso para você, senhorita Paraskevas, mas
confio nas suas ações. Mesmo aquelas mais louca acabam tendo seu
propósito. Então tome seu tempo e encontre as respostas que está
procurando, vou manter as coisas por aqui tranquilas.
— Meu irmão?
— Ele não precisa saber com quem você está passando as suas
“férias”.
Dessa vez sou eu quem ri. Perseu sabe manter meu irmão em volta de
seu dedo mindinho. Adoro isso.
— Obrigado por olhar as minhas costas.
— Sempre.
— Eu te ligo se algo acontecer, pretendo ficar por alguns dias, vai ser
suficiente.
Nos despedimos, encerro a ligação e guardo o telefone no cofre
escondido atrás de um quadro. Sofia sabe de sua existência, por isso tive o
cuidado de trocar a combinação antes de guardar minha arma e o telefone.
Um toque na porta me fez saltar de susto antes de colocar o quadro no
lugar, estava distraída em meus pensamentos ou talvez tenha sido a surpresa
de perceber que ela ainda está aqui. Pensei que a essa altura já teria tentado
encontrar uma rota de fuga.
— Vai ficar por quanto tempo trancada nesse quarto?
Sua pergunta me irrita pelo tom conhecedor. Lupi... Sofia é,
infelizmente, a pessoa que melhor me conhece no mundo. Ela sabe que
tendo a evitar situações das quais não tenho controle. Isso quando não
mando tudo pelos ares, algumas vezes de forma literal.
— Você teve todo esse trabalho para me trazer até aqui e minha perna
está doendo pra caralho, então será que você pode sair para conversarmos?
Abro a porta de supetão, ela dá um passo para trás, mas logo se
recupera da surpresa.
— Vamos, estou com fome, só estava esperando que você acordasse.
Não poderia cozinhar nem que minha vida dependesse disso. Sofia
sabia disso e nem questionou quando me seguiu até a cozinha e começou a
abrir os armários. Eu tinha deixado tudo abastecidos para duas semanas,
apesar de querer resolver essa situação o mais rápido possível. Mesmo que
nem saiba qual a resolução que quero.
— Vai mesmo me fazer cozinhar quando estou com um ferimento de
bala na perna? — Apontou para a própria perna.
Dou de ombros, escolhendo um lugar na pequena mesa da cozinha.
— Seu ferimento foi tratado e você não corre nenhum risco. Tem
analgésicos na mesa de cabeceira da cama e material para você trocar as
bandagens. Imagino que possa fazer isso sozinha já que teria sido difícil
fingir ser médica por tanto tempo, se bem que mentir é praticamente uma
arte para você.
Seu rosto inteiro fica rígido, ela não me encara em um primeiro
momento, mas quando o faz sou eu quem desvia o olhar. Não quero me
deixar enganar pela infelicidade que vejo em seus olhos.
— Era o meu trabalho, você se dedica de corpo e alma ao seu trabalho.
Pode mesmo me julgar?
Aperto os dentes tamanha a raiva que sinto.
— Nunca precisei fingir amar alguém para fazer o meu trabalho.
Ela ri com amargura.
— Você faz as suas merdas, me desculpe se faço as minhas.
Soco a mesa com força, ela continua mexendo nos armários.
— Eu não tô nem aí para o seu trabalho, foda-se se você estava a
serviço do seu país. Você entrou em minha vida, me fez te amar, aceitou
quando eu te pedi em casamento e depois fingiu a própria morte me fazendo
chorar sobre cinzas que não eram suas, enquanto você seguia em frente para
seu próximo trabalho. Sua filha da puta!
Colocando uma panela no fogão, ela me encara por cima dos ombros.
— Se serve de alguma coisa, eu não precisava aceitar seu pedido, isso
não fazia parte do meu trabalho. Muita coisa não fazia parte do meu
trabalho, te amar com certeza não estava nos planos da missão.
Me recuso a acreditar.
Prefiro sentir raiva por mais mentiras do que acreditar que teve uma
gota de verdade em tudo que vivemos.
Vai ser mais fácil continuar odiando-a ao final dessa maldita semana,
então vou me certificar de enterrar de vez o nosso passado.
Permanecemos em silêncio pelo tempo que Sofia levou para preparar a
comida. Estava escuro do lado de fora das janelas, apesar de ainda ser quatro
da tarde quando nos sentamos à mesa, isso porque estava nevando forte. A
noite seria fria.
— Você deve descansar já que sua perna está longe de uma recuperação
total — disse ao final da refeição. A comida estava ótima como eu lembrava
de ser quando minha namorada cozinhava para mim em seu pequeno
apartamento no início do nosso relacionamento.
Eu amava aqueles momentos estúpidos. Adorava passar noites e mais
noites naquele cubículo mesmo que uma enorme mansão estivesse
esperando por mim. Algo nessa cabana, nesse jantar simples, me lembra
daqueles tempos, a diferença agora é que eu sei exatamente quem é a mulher
diante de mim.
— Pode deixar que eu limpo — ela disse, se erguendo da mesa quando
me viu caminhar até a pia com o prato em mãos.
Pelo canto do olho notei a careta em seu rosto e como acariciou a perna
ferida antes de conseguir dar alguns passos. Mordi o lábio com força para
não deixar um questionamento preocupado sair.
— Procure um lugar para se sentar, você está caindo em seus pés.
Ela revirou os olhos, chegando por trás de mim e colocando seu prato
na pia. A mínima proximidade de nossos corpos me deixou quente, saudosa.
Amei e odeie essa sensação como tudo que tem relação com essa mulher.
— E de quem é a culpa pelo meu estado? — retrucou.
A empurrei pelo ombro e ela se afastou.
— Lembre-se do que eu faço com traidores e repense se você teve ou
não sorte de acabar com apenas uma bala de raspão na perna.
Com o rosto contorcido de desgosto, Sofia deixou a pequena cozinha,
assim pude suspira de alívio por mais que a frustação dominasse meu corpo
e eu estivesse quase atirando os pratos contra a parede no lugar de lavá-los e
por pra secar.
Levei mais tempo do que era necessário, muito depois de terminar com
a louça suja e tomar uma cerveja foi quando sai da cozinha, passando pela
sala onde Sofia estava cochilando encolhida no sofá. Pelos menos a lareira
estava acessa já que a noite seria bem fria.
Tive ânsia de acordá-la para que fosse para a cama, mas o único quarto
equipado com cama era a suíte. O segundo quarto da cabana estava cheio de
caixas e alguns suprimentos de emergência, afinal, quando comprei esse
lugar esperava ter um refúgio para minha mulher e eu.
— Não desejo compartilhar uma cama com ela — resmungo para mim
mesma, enquanto o crepitar da lenha chegava até os meus ouvidos querendo
desbloquear mais memorias de um passado não tão distante.
Ao seguir para o quarto não pude deixar de pensar se tinha trazido Sofia
para esse lugar justamente porque queria desbloquear nela tantas memórias
como estava acontecendo comigo. Tinha que ter uma razão além desse
martírio auto infligido.

Estar sempre atenta, saber reconhecer até o mínimo barulho, isso pode
salvar a sua vida quando você pertence a um mundo como meu. É por isso
que o resmungos vindos da sala me despertaram no meio da noite. olhei para
o relógio de pulso que tinha deixado sobre a mesa de cabeceira e constatei
que passava das duas da manhã. Afastei os lençóis sem fazer barulho, me
assegurei de pegar minha arma no cofre e só então caminhei furtivamente
em direção a sala.
Estava escuro, a luz fraca vindo da lareira era a única coisa que
iluminava o ambiente, ainda assim fui capaz de identificar a figura encolhida
no sofá. Sofia resmungava de dor, abraçando a si mesma como se congelasse
de frio.
— Porra! — xinguei, guardando a arma no cós da calça de moletom
antes de me abaixar ao seu lado, tocando sua testa úmida para me certificar
de que os tremeres em seu corpo eram resultados de febre alta. — Mas que
droga!
Sofia estava queimando de febre.
Eu devia ter a acordado para que ela seguisse para a cama, a noite está
tão fria e seu ferimento na perna ainda está se recuperando. O que eu estava
pensando ao deixá-la aqui?
— Sofia. — Toquei seu ombro, ela não abriu os olhos. Xinguei
novamente, me erguendo e correndo apressada até o quarto onde peguei dois
cobertores grossos e trouxe para o sofá, cobrindo-a com eles. Seu corpo
tremia e estava coberto de suor, então caminhei até a cozinha em busca de
uma tigela de água e um pano limpo.
Aproveitei para pegar uma jarra de água e um copo, pois lembrei dos
seus remédios na mesa de cabeceira, a próxima coisa que fui buscar.
— Sofia, você precisa acordar para tomar os seus remédios, isso vai te
ajudar com a dor e a febre. — Tentei novamente, sem resposta da parte dela.
Segurei seu rosto entre minhas mãos e acariciei as bochechas vermelhas
por causa da febre.
— Petaloúda, você precisa acordar para que eu possa cuidar de você.
Se seus olhos não estivessem tão desfocados quando encontraram os
meus, poderia jurar que ela fez aquilo de propósito. Mal contive um suspiro
de alívio quando sorri para a mulher e a ajudei com os remédios. Ela
resmungou de dor durante todo o processo, e o estremecimento de seu corpo
me deixou ainda mais angustiada. Pelo menos, Sofia tomou seus remédios
antes de fechar os olhos e repousar a cabeça no encosto do sofá.
Me sentei no chão ao seu lado, molhei o pano limpo na água fresca e
passei a limpar o suor de seu corpo. Ela gemeu de dor, estremeceu e se
contorceu por umas três horas até que a febre cedeu, o suor diminuiu e os
tremores pararam. Sendo assim o som de sua respiração pode ser ouvido por
toda a sala, era calma e em um ritmo normal, o que me encheu de alívio
enquanto reabastecia a lareira e voltava a me sentar ao seu lado.
Nem se quisesse poderia ir embora sabendo que ela poderia precisar de
mim novamente.
Pelo menos em seu sono posso cuidar dela sem medo de que mais dos
meus sentimentos idiotas sejam expostos.
CAPÍTULO 5

Acordei sentindo meu corpo dolorido e não era por conta de uma noite
dormindo no sofá da sala. Memórias vagas me lembravam de tremer de frio,
uma febre forte que deixou meu corpo fraco, cheio de dor e ensopado de
suor. Penso até que tive delírios quando uma lembrança vem à mente:
Helena cuidando de mim a noite toda e me chamando de Petaloúda.
— Hum.
O resmungo me faz ficar estática por alguns segundos antes de fazer
força para me colocar sentada. Se tivesse sido um delírio eu ainda estaria
delirando porque Helena se encontrava sentada no chão, com a cabeça
deitada na beirada do sofá, dormindo ainda com um pano na mão.
Tinha sido real?
Toquei seu ombro e encontrei pele quente e macia. Engoli um suspiro
chocado e respirei fundo antes de balançar seu ombro com mais força até
que ela acordasse aos poucos, com os olhos inchados depois de uma noite
mal dormida. A expressão confusa durou pouco tempo antes que ela me
visse acordada e se levantasse do chão para se juntar a mim no sofá, uma
mão em minha testa para ver se a febre persistia e um suspiro de alívio
deixando seus lábios ao perceber que eu estava bem.
— Sem febre — resmungou, se levantando e seguindo para a cozinha,
consigo levou uma bacia vazia e o pano que usou para limpar minha pele
durante a noite.
Permaneci ali sentada, confusa, tentando conter uma pontada louca de
esperança misturada com felicidade. Helena ainda se preocupa comigo, ela
se preocupa comigo depois de tudo.
Posso até dizer mais, conheço essa mulher o suficiente para saber que
ela não perderia uma única hora de sono por alguém que não amasse. Quem
dirá a noite toda.
Controlando o sorriso que queria tomar conta do meu rosto, me
coloquei de pé e segui até a cozinha onde a encontrei tentando acender o
fogo para fazer café. Me apressei em sua direção antes que Helena colocasse
fogo em si mesma.
Ela viu minha chegada e foi logo me enxotando com a mão.
— Você precisa tomar um banho quente para se limpar, um pano úmido
não fez grande coisa. Se apresse para o banho, eu vou levar café para te
aquecer logo em seguida.
Dessa vez não controlei o riso e ela me encarou com raiva.
— O que tem de divertido?
Ignorei sua pergunta e me coloquei em seu espaço, roçando
propositalmente nossos corpos enquanto tirava o acendedor de suas mãos e
acendia o fogo eu mesma. Escutei o suspiro que ela tentou conter por me ter
tão próxima, e a pequena chama de esperança dentro de mim ficou maior,
queimou mais rápido.
Helena é uma mulher de ações muito mais do que de palavras, todo o
cuidado da noite passada e dessa manhã é o combustível para propagar ainda
mais as chamas dentro de mim.
Pensei que nunca teria essa oportunidade, mas e se estivesse errada? E
se puder, nem que seja a última coisa que faça nessa vida, provar para essa
mulher que a amo e tem sido assim por um longo tempo?
— Deixa que eu faço isso, não quero que você coloque fogo na cabana.
— Mal agradecida — resmungou irritada. Os braços cruzados por cima
dos seios. Desviei o olhar antes de complicar as coisas ainda mais.
“Calma”, disse para mim mesma. “Sinto tanta falta dela, de tocá-la,
beijá-la, amá-la e ser amada por ela.”
— Engano seu, eu estou muito agradecida, linda. Você cuidou de mim
ontem e está fazendo o mesmo agora. Só quero retribuir o favor e evitar que
você acabe colocando fogo em si mesma.
— Há, há!
Emburrada por ter sido pega, ela sai da cozinha e caminha para longe.
Por hora deixo que o faça, não é como se ela pudesse ir muito longe, foi a
própria Helena que nos colocou nessa situação. Somos apenas nós duas por
vários e vários quilômetros. Vou reverter essa situação ao meu favor.
Já errei pra caralho nessa vida, o que é mais um erro? Mesmo que ele
signifique o fim da minha carreira no FBI.
Termino de fazer o café e deixo a cozinha. Helena estava “lendo um
livro” deitada na cama. Entrei sem falar nada, mexi nos armários, peguei
algumas roupas, suspeitosamente novas e do meu tamanho, e entrei no
banheiro. Agradecendo aos céus por ter água quente mesmo que o chuveiro
tivesse que levar alguns minutos para aquecer.
Aproveitei esse tempo para verificar o ferimento em minha perna,
quase tinha esquecido dele após acordar com todo o meu corpo doendo.
Após o banho refiz o curativo notando como a ferida estava cicatrizando
bem, isso era bom, tendo em vista o local em que estamos se pegasse uma
infecção poderia perder a perna.
— O que está fazendo? — berrou Helena quando saí do banheiro e
caminhei direto para a cama, me deitando quase por cima dela. Minha pele
estava fria mesmo após o banho quente e vestir um conjunto quente de calça
e camisa de moletom.
— Estou com frio, pode ser a febre voltando.
Ela revirou os olhos, mas não se afastou, o que teria feito caso não
quisesse meu toque.
— Você acabou de sair do banho.
— Você precisa continuar cuidando de mim, linda.
— Sério? — Um brilho de mágoa apareceu em seus olhos esverdeados,
me encolhi um pouco pensando que tinha ido longe demais. preciso ir
devagar, conquistando aos poucos se quero mostrar que o que senti e sinto é
real, esse deve ser o caminho.
No momento, Helena é como o rio congelado que cerca os arredores
dessa cabana, o gelo pode parecer duro, é até possível caminhar por cima,
mas um mínimo descuido e o gelo se rompe mostrando o quão fino
realmente era. Minha mulher é forte como uma guerreira, no entanto, sua
confiança se encontra em frangalhos.
Até mesmo uma mentira em meio a milhões de verdades pode acabar
com a confiança de alguém.
O que falta em Helena não é amor por mim, é confiança de que não vou
voltar a traí-la.
Como não tinha palavras suficientes para mudar isso por hora, me
limitei a apertar o abraço em volta do seu corpo. Acalmando meu coração,
ela suspirou e voltou a ler seu livro, me deixando roubar um pouco do calor
que escapava de sua pele. Ficamos assim por horas talvez, antes de nos
levantarmos para o café.

Vi os olhos arregalados de Helena antes que qualquer som deixasse sua


boca, o que me chamou atenção para ela em primeiro lugar foi o romper pela
porta de trás da cabana, passando pela cozinha, ela tinha empurrada a porta
com tamanha força que o som de madeira batendo contra a parede pode ser
ouvido vários metros à frente onde eu estava parada próxima ao lago
congelado.
O dia estava amanhecendo rápido, não tinha nevado na noite anterior e
com isso tímidos raios de sol podiam ser vistos ao longe, nada que pudesse
aquecer o ambiente, por isso estava bem agasalhada e com uma xícara de
café fumegante em mãos.
— O que houve? — perguntei, alarmada quando a surpresa de sua
chegada passou.
— O que está fazendo aqui fora? — gritou, se apressando pela neve.
Suas roupas, um conjunto de moletom composto por calça e camisa de
mangas longas, não eram o recomendado para sair com aquele clima.
— Volte para dentro e coloque agasalhos, Helena. Quer acabar com um
forte resfriado? — Caminhei de encontro a ela, o que parece ter aumentado
sua raiva.
— O que porra você está fazendo aqui fora? — gritou de encontro ao
meu rosto.
A ignorei enquanto segurei seu braço e a levei de volta para dentro.
— Se quer sair coloque roupas adequadas — disse, antes de levar em
conta suas palavras anteriores. — Quanto a ter saído, se eu não posso sequer
colocar o pé para fora da cabana, você deveria ter mantido as portas
trancadas.
Bufando irritada, ela se afastou do meu toque em seu braço e foi em
direção a bancada da cozinha, se servindo com uma xícara de café. O tempo
todo evitando meu olhar.
Respirei fundo, buscando entender suas ações e ao compreender voltei
a me aproximar, parando atrás dela, segurando sua cintura com ambas as
mãos e deixando um beijo demorado em seu ombro.
— Não estou tentando fugir, linda.
Ela ri, um riso duro e cheio de mágoa.
— Sei que fiz isso com você. Lo siento, mi amor.
Um estremecimento percorre seu corpo.
— Sabe o que mais dói? — Sua voz está rouca como se fosse difícil
deixar as palavras saírem. — Ouvir suas palavras “doces”, seus toques
“amorosos”, suas “desculpas”. Tudo isso é doloroso pra caramba porque
desejo desesperadamente acreditar em sua sinceridade, sendo esse o motivo
idiota para ter lhe trazido aqui, tentar encontrar a minha Petaloúda em
algum lugar dentro de você. E cada mínima gota de esperança também é
dolorosa porque não sei em que acreditar.
— Muitas das minhas palavras no passado foram mentirosas, então não
peço que acredite nelas por hora, mas se puder acreditar nos meus gestos, em
cada olhar, cada beijo, cada toque. Se conseguir acreditar que todos foram
reais, então as coisas podem ser menos dolorosas. Seu coração pode estar
disposto a acreditar novamente.
— Meu coração é um órgão idiota, você deveria saber disso, usou e
abusou dele como bem quis.
Fecho os olhos, descansando a cabeça em suas costas.
— O dia em que te deixei foi o mais difícil de toda a minha vida.
Ela bufa em descrença.
— Então por que o fez?
— Você sabe a resposta.
— Seu trabalho?
— Não, foda-se isso. Eu temia o que ficar poderia representar para
você. Se eu desobedecesse a ordens diretas dos meus superiores para ficar ao
seu lado tenho certeza de que eles não correriam o risco de manter viva
alguém que sabia tanto de suas operações. Minha identidade seria exposta,
no melhor dos casos você ficaria sabendo da minha traição, no pior deles
seria obrigada a me matar com as suas próprias mãos. Pode ter sido uma
decisão egoísta pra caralho, mas eu queria te poupar do pior, chorar a morte
de alguém amado era melhor do que descobrir que essa pessoa não existia ou
ter que ceifar a vida dela.
Pela primeira vez desde que nossa conversa se iniciou, Helena relaxou
seu corpo em meu abraço. Vi isso como um bom sinal, até porque essa
mulher entende melhor do que ninguém o peso de carregar decisões difíceis
em suas próprias costas.
— Durante o último ano tive que encarar um inferno que eu mesma
criei, e você não estava lá. Sabia que me chamam de fênix de sangue agora?
Perdi o rumo sem você, borboleta.
Suspiro sentindo o peso de todas as decisões que tomei nos últimos
anos oprimindo meu peito. Enquanto Helena encarava tudo de frente após a
minha “morte”, eu guardei a dor no fundo do meu ser e segui em frente, se é
que você poderia chamar de “seguir em frente”.
— Eu entendo, amor. Continuei trabalhando para o FBI depois de tudo,
estava de volta em uma nova missão por mais que odiasse o simples
pensamento disso. No fundo queria me punir de alguma forma, me destruir
aos poucos. Enquanto você tentava renascer das cinzas, eu queria me
converter nelas.
— Existe caminho para nós duas?
Queria ter uma resposta, infelizmente meus desejos mais profundos não
eram uma certeza de nada.
— Se não tiver podemos queimar a porra toda que estiver na frente e
abrir caminho.
O riso que ouvi a seguir me encheu de saudade. Meus olhos ficaram
rasos d’água. Eu lembrava daquele riso feliz, despretensioso, era o riso
direcionado apenas para mim. A mulher em meus braços era a minha linda
Helena Paraskevas.

— Está nevando — ela resmungou, terminando de calçar as botas. —


Você disse para não sair da cabana.
Revirei os olhos, abrindo a porta da frente. Tudo estava branco do lado
de fora, desde o céu até as copas das árvores cobertas de neve.
— Eu disse para você não sair desagasalhada. — Apontei para sua
figura toda coberta por agasalhos grossos, um gorro de lã na cabeça, luvas
nas mãos e protetores de ouvido. — Você parece um boneco de neve, amor.
Tenho certeza de que é seguro sairmos.
Com uma cara de poucos amigos, ela o fez.
— Não sei que graça você vê nisso — continuou resmungando.
Quem vê nem pensa que foi ela quem comprou esse lugar para começo
de conversa. Na primeira vez em que estivemos aqui, Helena estava
empolgada para patinar no lago congelado até que descobrimos não ser
seguro porque o gelo tinha uma camada muito fina. Acabamos ficando
trancadas em um ninho de amor durante o tempo em que permanecemos na
cabana. Dessa vez penso que podemos fazer diferente.
Quero construir novas memórias ao seu lado, entrar de fininho em seu
coração e nunca mais partir.
— Ainda digo para voltarmos e... Ah!
Tinha me abaixado e pegado um punhado de neve, fiz uma bola com
ela e joguei na mulher resmungona. Helena me encarou com incredulidade
enquanto eu ria sem parar e me abaixava para pegar outra bola de neve.
Joguei em seu rosto dessa vez, fazendo-a engasgar com o gelo.
— Ah, que nojo! Sofia filha da puta!
O coração acelerou no peito ao ouvi-la chamar meu novo.
Sim, essa sou eu ¡mi amor!
Continue chamando pelo meu nome e só pelo meu nome.
A sua Sofia.
Joguei uma nova bola de neve em sua direção. Ela guinchou tentando
se esquivar. O que foi um fracasso, acertei em cheio sua bunda.
— Vai ser assim?
Se abaixando, ela entrou na brincadeira. Tentando ao máximo parecer
irritada, e falhando no processo, Helena gritava e ria ao mesmo tempo em
que levava boladas e as acertava em mim.
— Você sabe que sou competitiva, não vou perder essa! — gritava com
duas bolas prontas para me acertar.
Percebendo ou não, um sorriso gigantesco estava em seu rosto. Poucas
vezes eu a tinha visto tão linda quanto naquele momento. E para mim mesma
fiz a promessa de trazer um sorriso novo para cada dia de tristeza que a fiz
passar.
Desejava que depois de tirar as mágoas e palavras não ditas do
caminho, aquele pudesse ser o nosso tímido recomeço.
CAPÍTULO 6

Me sentia extasiada, era a palavra que melhor poderia descrever a


sensação que percorria cada mínima parte do meu corpo, atiçando a pele e
mantendo o enorme e estúpido sorriso que insistia em fazer morada em meus
lábios por toda a tarde e cair da noite.
Ainda existia uma parte no fundo do meu coração que guardava algo
obscuro e doloroso, não era apenas mágoa, tinha uma grande quantidade de
medo também. Temia que essa bolha de “amor” se rompesse logo que
deixássemos esse lugar, por isso nem ao menos mencionei algo a respeito.
Desejava permanecer por mais algum tempo, construir algum tipo de
confiança no que Sofia sente, para não pensar mais que seria abandonada
novamente logo que tirarmos nossos pés da cabana.
No entanto, isso não me impediu de continuar sorrindo feito boba e a
perseguindo por todos os lados. Observando-a cozinhar nosso jantar,
provocando-a a cada nova oportunidade apenas porque posso e adoro fazer
isso.
— O que eu tenho que fazer? — Sua pergunta me tirou dos meus
pensamentos. Estávamos sentadas lado a lado no sofá da sala, em frente a
lareira acessa. Tínhamos aberto uma garrafa de vinho após o jantar e
passamos uma boa hora jogando conversa fora até esvaziar metade da
garrafa.
Talvez tenha sido isso que lhe deu confiança para virar em minha
direção e questionar com tanta determinação:
— O que eu tenho que fazer para reconquistar seu amor, ¿linda?
Minha mente estava leve por causa do vinho, por isso levei meu tempo
observando seu rosto bonito, apesar de estar contorcido por ansiedade. Eu a
tinha amada praticamente desde o começo. Foi intenso como tudo na minha
vida, mas tinha um lado brando que era capaz de acalmar meus demônios
como nenhuma outra pessoa poderia fazer.
Algo assim não morre, mesmo que você deseje que sim.
E eu desejei logo que sou do seu engano terrível. Mas agora...
— Você não precisa reconquistar meu amor, ele permanece aqui. Você é
a pessoa que mais amei na vida até aqui, e continuará sendo até o dia em que
eu morrer.
— O que preciso fazer então? — Ela toca meu rosto, fecho os olhos,
suspirando com seu toque quente.
— Me faça confiar novamente.
— Aos poucos.
— Lentamente.
— Um passo de cada vez, eu prometo.
A primeira vez que fizemos amor foi uma bagunça louca, lembro de ter
batido a perna contra um móvel da sala de seu pequeno apartamento
enquanto nossos corpos buscavam um ao outro com desespero, em meio a
risos alto e movidos a muita cerveja barata. Era a primeira vez que estava me
permitindo, entregando não apenas meu corpo a alguém, mas também o meu
coração.
Depois disso tivemos inúmeras outras vezes, de todas as formas
imagináveis, sempre descobrindo algo novo, adicionando um gosto novo ao
que éramos nós duas.
Os beijos quentes que começaram no sofá da cabana, ao som de nossas
respirações lentamente se tornando escassas e do crepitar da lareira, tinham
gosto de primeira vez. No entanto, a forma como nossos corpos se
encaixavam com facilidade, a forma como me acomodei embaixo dela,
enfiei os dedos por entre seus longos cabelos pretos, impulsionei minha
pelves para cima em busca de mais contato, tudo isso tinha um sabor de
reencontro.
Momentos como aqueles aconteciam com tanta frequência. Podiam ser
o começo de tudo, ou o começo de nada. Terminaríamos em uma foda
gostosa ou apenas trocando beijos doces até adormecermos. O que dava um
rumo definido a esses momentos era algo tão sutil como um:
— ¡Linda! — Sendo sussurrado com uma voz rouca, o sotaque
mexicano pronunciado, os olhos escuros desfocados.
Como se um imã nos puxasse juntas, minhas mãos deslizaram por baixo
de sua camisa de pijama. Encontrei a renda de seu sutiã, Sofia adora peças
de renda, sexy pra caralho. Eu sempre amei isso nela, sendo assim
inconscientemente ou não, acabei colocando algumas peças extras na
bagagem que trouxe para a cabana. Agora me sinto muito satisfeita por essa
decisão acertada.
— Hum — resmunguei descontente, observando seu sorriso brincalhão
quando ela se afastou de mim, segurando meu pulso para fora de sua camisa.
— Sofia...
Ela riu, baixou a cabeça e sugou meu lábio inferir com força suficiente
para que um som dolorido deixasse meus lábios. Antes que eu pudesse enfiar
os dedos entre seus cabelos para puxá-la de volta, Sofia foi mais rápida e se
sentou em meus quadris, puxando a barra da minha camisa. Ergui os braços
e facilitei seu trabalho, sentindo o frio do ambiente tocar a pele nua dos
meus seios.
Odeio sutiã, eles apertam, sufocam.
Sofia nunca demonstra desagrado com esse detalhe, na verdade, ela
sempre adorou ter tão fácil acesso aos meus peitos. De fato, o olhar em
direção a eles contribuiu para que meus mamilos endurecessem e meu corpo
formigasse desejando um pouco mais de contato.
— Por favor — implorei.
Ela desceu mais, saindo de cima de mim para tirar a calça de pijama
que eu vestia. Fiquei exposta diante de seus olhos, apenas uma pequena
calcinha rosa cobria meu corpo.
— O que você quer, ¿mi linda?
Bufei, irritada com o brilho provocador em seus olhos enquanto ela
acariciava a minha barriga plana, ao mesmo tempo em que a outra mão se
encheu com um dos meus seios.
— Qualquer coisa! Porra, qualquer coisa, me come, me beija, qualquer
coisa!
Seu riso espalhou um arrepiou pelo meu corpo, semelhante ao que o
hálito quente em contato com meu umbigo fez.
— Ah — gemi manhosa ao ter a língua quente lambendo a cavidade.
Tinha muitas cócegas na região e por isso meu corpo se contorceu ainda
mais. Satisfeita com isso, Sofia continuou subindo, lambendo, beijando
minha pele. Os olhos castanhos queimavam junto da luz vinda da lareira. —
Se apresse!
Ela sorriu com presunção ao alcançar a altura dos meus peitos,
soprando-os, deixando-os ainda mais intumescidos. Finalmente consegui ter
acesso aos seus cabelos e os segurei, acariciei, deslizei os dedos por entre os
fios e gemi alto. Sua boca tinha chegado aonde eu queria, engolindo um
mamilo, abocanhando um peito e o mamando com gosto.
— Ah! — gritei para o teto, empurrando meu peito mais para dentro de
sua boca, querendo sentir mais daquele calor enlouquecedor. — Hum!
Endureci, minhas pernas se fechando por puro instinto, a suavidade de
sua mão passando por minhas coxas e descendo, alcançando a lateral da
calcinha e entrando sem fazer cerimônia.
— Hum! — gememos juntas.
— Você está tão molhada, amor.
— É porque quero que você me coma — respondi em meio a uma
respiração descompassada e um sorriso travesso.
Sofia riu, passando um dedo pelo meio da minha abertura. Estava tão
quente que arrancou mais um longo gemido dela. Sei que seu caráter
provocador queria que ela continuasse me torturando, mas seu desejo foi
mais alto. Minha mulher arrancou a minúscula peça de roupa quase a
rasgando no processo, segurou ambas as minhas coxas e me puxou em sua
direção.
Suspirei para gritar em seguida quando sua boca quente tocou meu
clitóris, a língua lisa como seda deslizou por minha carne sensível,
espalhando um rastro úmido de excitação ao mesmo tempo que era quente
como fogo. Dessa vez agarrei seu cabelo com força e pressionei seu rosto de
encontro a minha buceta. Sofia se lambuzou do começo ao fim. Chupou com
desespero e maestria, tirando de mim todos os gritos de prazer que quis.
Meu corpo estava nos céus, se contorcendo, buscando mais pelo calor
úmido de sua boca. Meu ventre formigava e quando sua língua me invadiu,
fodendo por dentro, não segurei mais e gozei gostoso. Gemendo e me
desmanchando em seu rosto.
“Pelos deuses, como eu te amo”, quis dizer, mas me contive no último
momento e a trouxe até mim, beijando-a e sentindo meu próprio gosto.
“Como senti falta disso.”
Com seu corpo montando uma de minhas coxas pude sentir o quanto
sua calcinha estava molhada. Quando ela tirou a calça de pijama? Sofia
estava se tocando enquanto me chupava? Apenas pensar nisso fazia minha
boceta pulsar, eu queria ver seu rosto ao gozar gostoso em meus braços.
Minha borboleta estava na mesma página, pois com os lábios ainda colados
nos meus ela começou a se esfregar na pele da minha coxa.
— Você fica tão gostosa assim — dei voz aos meus pensamentos.
Ela riu, um riso sem fôlego quando ergui a perna indo de encontro a sua
abertura quente e molhada.
— Tão bonita — completei, amando ver seu descontrole e a forma
como fechou os olhos e se entregou por completo.
Sofia podia ser pequena em estatura, mas seus peitos tinham facilmente
o dobro do tamanho dos meus. Me deixando hipnotizada pela forma como
subiam e desciam junto de seu corpo montando minha coxa. Lambendo os
lábios, estiquei a mão e deslizei para os lados as alças da peça preta de
renda. Ambos os peitos saltaram para fora, minha mão agarrou um deles e
apertou, arrancando um gemido ainda mais alto da minha mulher, ao mesmo
tempo em que o outro seio continuava em um balanço lindo.
Visão mais linda do que essa foi apenas quando seu rosto se contorceu
em completo prazer, marcado pelas luzes vacilantes vindas da lareira e
poucos segundos depois um gemido baixo escapou por entre os lábios
grossos e eu senti seu gozo quente descendo e se juntando a pele da minha
coxa. Ela desabou de encontro a mim depois disso, e ficamos ali paradas em
meio a uma bagunça de pernas, braços e cabelos cobrindo nossos rostos
suados.
Tinha tanta coisa para dizer quando recuperamos nossas vozes, no
entanto, o que deixou nossos lábios foram risos. Ri como não fazia por mais
de um ano, e desconfio que o mesmo poderia ser dito de Sofia.
Em meio a uma imensidão de risos, beijos e mãos bobas, a ouvi
sussurrar:
— Eu te amo, linda.
Fiquei em silêncio por algum tempo, por um longo tempo até que seus
beijos retornaram me dizendo que eu não precisava responder de volta. Pelo
menos não por hora. O que eu agradeci, não se tratava de dúvidas quanto a
maneira como me sentia, era mais uma ressalva.
Meu amor vinha atrelado a confiança.
Aos poucos.
Lentamente.
Um passo de cada vez.
Nós conseguiríamos. Por hora, estava satisfeita de estar em seus braços
e tê-la nos meus. Por essa noite, no dia e na noite seguinte e por mais alguns
dias muito, muito bons e completamente bobos como tinha sido aquele.
CAPÍTULO 7

Abri os olhos e sabia que o dia ainda não havia amanhecido, estava frio
e a casa silenciosa a não ser pelo barulho que me acordou. Sofia estava
agarrada as minhas costas até poucos segundos atrás, então não poderia ser
ela.
— Me diga que você tem mais de uma arma? — seu sussurro foi baixo
e rente a minha orelha. Eu não tinha ouvido coisas, nós tínhamos companhia.
Saltei da cama o mais silenciosamente que consegui, caminhei até o
cofre e peguei minha arma e a pistola reserva, não hesitei antes de entregá-la
a Sofia. Também peguei o telefone via satélite só por garantia.
— Quem você acha que é? — ela questionou, caminhávamos para fora
do quarto, nenhum outro barulho foi ouvido após o primeiro que nos
despertou.
— Qualquer um — respondo no mesmo tom sussurrado. Entramos no
corredor e não vejo ninguém. Segui na frente e Sofia veio logo atrás me
dando cobertura.
Um novo barulho foi ouvido quando chegamos próximo a sala, fui
rápida em a empurrar para dentro da primeira porta que encontrei, era o
quarto de hospedes que havia transformado em almoxarifado. Dessa vez o
barulho era mais baixo que o primeiro, era como o clique de uma arma e só
pode ser ouvido porque estávamos muito próximas dele.
Poucos segundos depois de entramos no quarto, sons de passos foram
ouvidos. Eram pelo menos três homens e todos eles passaram direto em
direção ao final do corredor onde meu quarto estava localizado.
— Profissionais — sussurrei para Sofia que assentiu.
Eles não apenas haviam descoberto sobre a minha cabana secreta como
também tiveram acesso a planta da casa e sabiam exatamente para onde
seguirem para me emboscar.
Saber disso me deixou mais alerta, mas não ajudava a descobrir os
envolvidos. Tenho uma lista quase infinita de inimigos e muitos deles têm
acesso a pessoal treinado.
Abri uma fresta na porta e vi os três homens no final do corredor
próximo a porta do meu quarto. Todos estavam vestidos em roupas pretas de
combate e com armas de grosso calibre, apesar disso tinha confiança o
suficiente para manter seus rostos descobertos. Na mesma hora reconheci os
três homens.
Por que procurar longe quando os maiores imigos estão bem perto?
Serguei, Leonard e Armande. Três soldados de alta patente dentro da
Aderfia. Seria mais uma tentativa ridícula de tomar o poder? Parece que
temos mais ratos a cada dia.
— Aqueles porcos! — xingou Sofia por cima dos meus ombros ao
reconhecer os homens que tinham acabado de entrar no quarto.
Sorri com sua irritação.
Ambas deixamos nosso esconderijo e caminhamos em direção a porta
aberta. As vozes deles ficaram altas o suficiente para serem ouvidas do
corredor. Xingamentos e questionamentos de onde a “puta Paraskevas”
estava.
Devo dizer que foi divertida a expressão de olhos arregalados que
Armande fez ao nos ver paradas no corredor quando saiu xingando do
quarto. Ele nem ao menos teve tempo de reagir antes de ter um buraco de
bala atravessando sua testa. Sofia foi mais rápida do que eu, até teria a
elogiado se não fosse pelo pandemônio que começou depois.
Os dois homens ainda no quarto começaram a atirar a esmo, tiros esses
atravessando a parede e quase nos acertando. Sofia se jogou para trás e caiu
no chão, tentando procurar um abrigo. Precisei fazer a mesma coisa, ficando
em desvantagem quando Leonard apareceu na porta com sua arma apontada
direto para a minha cabeça. Ele sorriu como se precisasse provar alguma
coisa antes de me matar, foi seu erro porque deu tempo de Sofia atirar,
acertando seu joelho.
— Porra! — ele berrou quando sangue jorrou pela ferida, o homem se
desequilibrou e a arma vacilou. Foi a oportunidade que precisei para dar fim
ao seu sofrimento com uma bala no peito.
Antes de seu corpo cair no chão eu estava correndo pelo corredor, Sofia
seguia na frente e chegamos à sala. O local mais espaçoso da cabana.
— Cozinha! — falei, ela assentiu e correu em direção a cozinha.
Quanto a mim procurei abrigo na própria sala, enquanto ouvi o som dos
passos de Serguei, o último homem respirando.
Estava abaixada atrás do sofá quando ele apareceu na sala. Atirei, mas o
tiro passou rente a sua cabeça e lhe deu chance de desviar e ainda por cima
descobrir minha localização. Xinguei todas as maldições que conhecia
quando me encolhi diante da rajada de tiros que acertou o sofá, espuma
voava por todos os lados, o local estava parcialmente escuro e silencioso.
Serguei sabia a disposição dos quartos, mas torcia para que não tivesse
conhecimento da disposição dos móveis, a única coisa que poderia me dar
vantagem em um momento como aquele.
Afinal, onde estava Sofia e por que ela não apareceu para me ajudar?
Não gostaria de pensar que fui largada para morrer.
Quando os tiros pararam seus passos recomeçaram, ele estava se
aproximando para ver se eu continuava viva. Respirei fundo e estiquei o
braço, puxando o gatilho da arma. O tiro acertou o vaso de vidro no móvel
próximo a passagem do corredor. Serguei saltou para o lado, seus olhos
desviaram do local onde eu estava, os próximos dois tiros acertaram seu
peito. Ele disparou uma última vez antes de cair para trás. O tiro ricocheteou
na lareira e parou na parede próxima a mim.
Minhas mãos estavam tremendo quando fiz a ligação que Perseu
atendeu poucos segundos depois.
— Helena? — O alarme em sua voz confirmava que devia ser tarde em
casa.
— Minha cabana foi comprometida por gente nossa. Serguei, Armande
e Leonard. Todos mortos.
— Estou a caminho, aguente firme.
Ele desligou no mesmo momento em que um barulho na porta da
cozinha me fez virar em alerta, com a arma apontada.
— Desculpa — murmurou Sofia com um filete de sangue escorrendo
por sua testa ao mesmo tempo em que ela tropeçou para dentro do espaço da
sala. Uma arma sendo apontada para sua têmpora.
— Abaixe a arma sua vadia, ou essa aqui morre. Se bem que eu estaria
fazendo um favor para a Aderfia ao estourar os miolos de uma traidora,
quem diria que essa vaca estaria viva. Ela fingiu a própria morte, não foi?
Minha mandíbula apertou com puro ódio, eu tinha dito a Stephanos
que deveríamos limpar toda a “casa” Rochet quando Mason Rochet foi
condenado a morte pelas minhas mãos após comprovarmos que o bastardo
estuprava sua enteada. Se meu irmão tivesse aceitado minha petição eu não
teria que olhar para a cara desse filho da puta, Franco Rochet, o irmão mais
novo de Mason.
— Não faça isso, Helena, você sabe que ele vai matar nós duas — disse
Sofia com uma expressão forte e corajosa. A idiota parecia querer dizer
“estou pronta para morrer, se salve”. Como se eu fosse permitir algo assim.
— Tudo bem. — Abaixei a arma lentamente, colocando-a no chão.
Um amador teria visto isso como uma vitória e baixado a guarda. Se
fosse eu, e tivesse certeza de que estava em desvantagem, não teria hesitado
antes de meter uma bala no meu inimigo. Às vezes um final rápido e
decisivo é a melhor saída. No entanto, assim como esperava, Franco estava
longe de ser um profissional como eu. Ele queria vingança pelo irmão e
nessas horas os sentimentos interferem.
Cada segundo a mais de vida que eu tivesse, era um risco a mais que ele
corria.
— A amarre com isso — ele disse, atirando um rolo de fita para Sofia
antes de a empurrar em minha direção.
Ela caminhou de forma obediente e começou a passar fita nos meus
pulsos.
— Não me faça de idiota! Passe bastante fita.
Assentindo, Sofia continuou sua tarefa de distração. Ao tentar usar
poucas voltas da fita para me prender, ela fez com que Franco
desconsiderasse o fato de que minhas mãos estavam sendo amarradas na
frente do corpo. Talvez, ele não me conheça tão bem quanto a minha
Petaloúda.
— Se afaste — voltou a latir ordens, Sofia o obedeceu. — Passe nas
suas mãos agora.
— Não posso fazer isso.
— Faça! — gritou, a arma apontada para ela.
Um pouco sem jeito, Sofia começou a fazer isso. Quando as duas
estávamos com as mãos amarradas, ele nos disse para sentar no sofá
destruído. Nessa hora uma expressão irritada passou por seu rosto ao
perceber que nossos pés ainda estavam livres.
Que idiota. Ele não sabe agir sozinho. Imagino que se escorava em seus
colegas, deve ser por isso que nunca chegou muito longe na hierarquia da
Aderfia. Lixo, tenho que falar com meu irmão sobre isso, temos que ser
mais rígidos com quem trabalha conosco.
Se não são capazes de nos matar, vão ser capazes de nos defender?
— Quem se mexer primeiro vai ter o prazer de ver a outra morrendo em
sua frente.
Sorri de forma debochada. Os homens odeiam quando as mulheres
fazem isso. Tem algo a ver com seus egos frágeis.
Eles podem suportar o fato de serem lixos que colocam suas mãos sobre
mulheres para as ferir, mas não aguentam um risinho.
— Você anda assistindo muitos filmes, Franco. Deixa-me adivinhar,
James Bond?
Seu maxilar estava travado quando ele se aproximou e bateu em meu
rosto com brutalidade. O cano da arma acertando minha bochecha, gosto de
sangue tomou minha língua ao mesmo tempo em que pontos escuros
turvaram minha visão.
— Seu porco, não encoste nela! — gritou Sofia.
Franco riu.
— Que bonito, você é uma vadia mesmo, traiu seu irmão, a máfia e por
quê? Por essa vaca? — Ele volta a rir, dessa vez usando sua arma para traçar
o contorno do seio direito de Sofia. — Eu devo fodê-la na sua frente antes de
começar com você?
Grunhi com ódio, desejando mais do que tudo colocar minhas mãos
nele e acabar com sua vida.
— Consigo ver o que tanta te atraí, essa vadia é gostosa. Pena que meus
colegas estão mortos ou todos teriam um bom tempo aqui. Aposto que você
gostaria do show. Afinal, eu soube de tudo que você fez com meu irmão e
tenho que retribuir cada mínima coisa.
Franco para diante de mim, se abaixa até ficar na minha altura e aponta
sua arma para o meio das minhas pernas com força suficiente para que eu
tenha que morder um resmungo de dor. O tempo todo seu sorriso satisfeito
me deixava enjoada.
— Devo começar enfiando um cabo de vassoura na sua boceta como
você fez com ele?
Sua arma estava pressionada a minha pele. Eu sabia que deveria esperar
só mais alguns segundos até que fosse seguro, mas quem disse que poderia
depois de ouvir tanta merda desse lixo humano?
Abri um sorriso amplo, assim como abri mais as pernas. Ele me
encarou com estranheza e vi o questionamento em seus olhos. Pena que
Franco não pode emitir uma única palavra antes que minhas mãos em um
bote rápido passassem por cima da sua cabeça. Ele grunhiu e tentou se soltar,
amei isso porque consegui usar as pernas livres para chutar sua mão e fazer a
arma deslizar para longe.
O homem se contorceu, aposto que estava tentando me acertar com
socos, puxei as mãos unidas com fita, adorando o fato de muita fita ter sido
usada criando tanta resistência. Ergui um joelho e pressionei contra a parte
da frente de seu pescoço. Com os olhos ampliados, Franco percebeu que em
breve ficaria sem ar, eu esperava quebrar seu hioide antes disso.
— A diferença entre nós dois é que eu não brinco em serviço, muito
menos em meio a uma vingança. Quando você estiver no inferno junto do
seu irmão, lembre-se de dizer a ele que não pode se vingar porque é um
merdinha que subestimou demais uma mulher.
Ele bateu em meu joelho, grunhiu, se sacudiu, eu não o soltei até ver
seu rosto vermelho e os olhos saltados, sem brilho. O corpo ficando mole
entre meus braços. Eu sabia quando um homem estava morto e por isso o
soltei, ouvindo o baque que fez ao cair de encontro ao chão de madeira.
— Essa merda passou perto — resmunguei, me encostando no sofá
esfarrapado.
Sofia estava tendo sucesso ao se livrar das fitas mal postas em volta das
suas mãos, e logo veio me ajudar com as que me prendiam.
— Você foi muito idiota.
Dispenso com um aceno de mão.
— Tudo friamente calculado.
Ela me puxa para um beijo duro, de supetão. Gemi em sua boca por
causa da dor, meu rosto latejava por causa do golpe que Franco me deu com
o cano da arma, isso não me impediu de beijá-la de volta. Envolver meus
braços em torno de seu corpo, a puxar para o meu colo, sugar sua língua,
apreciar o gosto único que eu tanto amo. Quem se importava que quatro
corpos estivessem espalhados pela casa? Quem ligava que um deles
estivesse aos nossos pés quando eu estava beijando a minha borboleta?
— A vida ao seu lado nunca pode ser calma, nem mesmo quando
estamos escondidas em uma cabana no meio do nada.
Não a contradisse, e também não tentei falar sobre essa “vida ao meu
lado”. Ainda haviam tantas coisas não ditas. Eu só queria aproveitar o
momento.
— Vamos, você precisa de algo para parar esse sangramento na cabeça
e eu preciso de um café enquanto espero meu cunhado vir nos resgatar —
disse, me erguendo do sofá, pagando-a pela mão e levando-a em direção a
cozinha.
Até porque, esperava que ela cuidasse de seu ferimento, fizesse o meu
café e voltasse a me beijar pelo tempo que demorasse até a chegada de
Perseu.
Às vezes consigo ser uma rainha exigente. É raro, mas acontece com
certa frequência.
CAPÍTULO 8

Ela estava comigo, Sofia permaneceu encolhida durante todo o tempo


que Perseu e os homens que trouxe com ele ficaram na cabana limpando
tudo. Ela deixou que o médico com eles a examinasse depois que terminou
comigo e estava ao meu lado quando entramos no helicóptero para ver a
cabana pegando fogo e limpando para sempre os rastros do que havia
acontecido ali.
Sim, eu havia conseguido queimar todo o passado, memórias boas e
ruins agora eram cinzas.
Será que me tornei, de fato, uma fênix?
Dúvidas ainda permeavam a minha cabeça, eu mal consegui falar com
meu cunhado durante o voo. Estava imersa em pensamentos, queria antes de
qualquer coisa conversar com Sofia e colocar palavras nos medos e anseios
que venho sentindo desde que voltamos a ter alguma coisa.
Então, por que não fiz isso? É simples, porque ela desapareceu logo que
pousamos no pequeno aeroporto clandestino onde o jatinho particular da
minha família esperava por nós, pronto para nos levar de volta a Nova
Iorque. Sofia sumiu sem deixar rastros, sem uma palavra sequer.
Como da primeira vez, ela me deixou, a diferença é que agora não
preciso chorar sobre uma pilha de cinzas porque a mulher que amo não
morreu, apenas decidiu que não quer estar ao meu lado. E porra se isso não
dói da mesma forma!

O mês que se seguiu aos acontecimentos na cabana foi de uma mistura


tensa de sentimentos, começou como um borrão de dor e confusão seguido
por uma resiliência e uma pequena chama de esperança. Queria acreditar que
não havia me enganado mais uma vez.
Tentava me agarrar ao que Sofia disse na cabana, para confiar em seus
olhares, seus beijos, seus toques e não nas palavras. Por isso, esperei por ela
como nunca tinha feito antes.
Essa deve ter sido a maior prova de confiança que já dei a alguém.
É claro que no processo meu irmão teve que saber de tudo, e surtar. Ele
queria caçar Sofia e matá-la, precisei contar com uma ajuda extra de Perseu
para o acalmar. Não que isso esteja funcionando tão bem, desconfio que seja
um processo a longo prazer. Por hora vou deixá-lo no escuro quanto ao que
estou fazendo ao manter a verdade sobre “Lupi” em segredo do resto da
Aderfia, só assim poderia trazê-la de volta para a minha vida.
Vivemos em um mundo de mentiras que são contadas tão bem que
acabam sendo tomadas como verdade, então deixe-me criar minha própria
teia de mentiras sobre minha mulher e o porquê de sua volta dos mortos.
— Você é uma idiota por pensar que ela vai voltar! — berrou Stephanos
logo que me ouviu dizer que a estava esperando. Isso porque não falei da
teia de mentiras que estava tecendo para sua volta.
Apenas dei de ombro.
— Diga isso a Perseu. Parece que nossos amores são perturbados o
suficiente para quererem ficar ao nosso lado.
— Helena — tentou advertir.
O deixei falando sozinho. Já haviam dúvidas demais dentro de mim, o
que eu precisava era de resiliência para acreditar que assim como o
passarinho de Stephanos, a minha borboleta estaria de volta.

Dois meses foi o tempo que esperei por ela, contrariando Stephanos e
me agarrando na amizade de Perseu que sempre me dava forças, foi assim
que aguentei dois meses de angústia até a noite do evento beneficente
organizado por uma grande rede de hospitais do país. Tinha sido escolhida
para representar os Paraskevas no evento, já que sou a pessoa mais sociável
em comparação a meu irmão mais velho.
Ele tem deixado a maioria dos eventos por minha conta depois da volta
de Perseu, pois meu cunhado vive nas sombras desde que sua morte foi
forjada por Stephanos.
Entrei no salão de festas em meu imponente vestido vermelho, algo que
tem que ser minha marca registrada, esse em especifico tinha um belo decote
e uma fenda lateral. Me sentia poderosa caminhando, mesmo sozinha, pelo
espaço do evento. Ciente dos olhares sobre mim, sorri a todo momento,
distribuindo gentileza como é característico da elegante e bondosa Helena
Paraskevas.
— É um prazer vê-la esta noite, senhorita. — Ouvi de diversas pessoas.
Engajei em algumas conversas, cumprimentei os convidados. O tempo todo
com um sorriso impressionante no rosto, nem se notava minha frustração e a
forma como olhava discretamente para o relógio de pulso esperando dar uma
hora para poder sair.
Sou uma borboleta social que adoraria enfiar um punhal em algumas
das malditas pessoas presentes no evento. Gente chata.
— Não sei como você consegue enganar alguém se continua suspirando
de irritação a cada minuto.
Todo o meu corpo ficou rígido, eu estava próxima ao palco do evento,
um médico já de idade, que nem vou me preocupar em dizer o nome, estava
fazendo um discurso infinito agradecendo as doações que haviam recebido
esta noite para uma campanha que estão desenvolvendo contra o câncer.
Sorri e ergui a taça em direção ao palco quando o nome da minha família foi
mencionado, quando o foco saiu de mim pude suspirar irritada e nessa hora
uma voz se fez presente.
Eu não havia notado a sua chegada, meu coração martelava no peito ao
girar para encontrá-la. Parada ali com um sorriso amoroso estava a mulher
por quem tanto tenho ansiado.
Sofia vestia um vestido azul escuro que mal alcançava a altura dos
joelhos. Era decotado e chamava atenção para o conjunto de joias enfeitando
seu colo. Até mesmo as pessoas presentes no local que conheciam “Lupi”
teriam que dar uma segunda olhada para a reconhecer como Sofia. Ainda
mais que agora os cabelos pretos e lisos estavam na altura dos ombros.
— S-Sofia — deixei escapar sem fôlego.
Ela sorriu ainda mais, levantando a mão para tocar meu rosto. Suspirei
com o contato.
— ¡Si linda!
— Como?
Ignorando minha pergunta, ela segurou uma das minhas mãos e
começou a me levar para fora do salão de festas. Subimos as escadas em
silêncio, meu coração martelando no peito durante todo o percurso até
alcançarmos um terraço vazio de onde podíamos ver uma Nova Iorque de
tirar o fôlego em toda a sua gloria noturna. Levei um bom minuto antes de
desviar meus olhos da vista e focar em Sofia.
— Fiz tudo que precisava fazer, amor. — Novamente sua mão encontra
a pele da minha bochecha. Fecho os olhos com o contato. Isso é real? Ela
finalmente voltou para mim e por vontade própria?
— Do que está falando?
— Saí do FBI e me desliguei de toda essa parte da minha vida. Sou
apenas eu agora, Sofia Lozada. Sem máscaras, identidades secretas, sem
mentiras. Sou apenas eu e se isso servir de alguma coisa...
A interrompo, puxando-a de encontro a mim. Nossos lábios se chocam
ao mesmo tempo em que suas mãos se firmam em minha cintura e gemidos
deixam nossas bocas. A maciez de sua boca, a doçura do beijo. Eu poderia
chorar.
— Senti sua falta — sussurrei em meio ao beijo que arrancava meu ar.
Ela apertou com força a minha cintura.
— Você sabia o tempo todo que eu voltaria?
— Me esforcei para acreditar em seu amor, eu precisava disso. Preciso
disso para viver, Sofia, mesmo que alguns, como o meu irmão, possam me
taxar de idiota por confiar em você novamente.
— Eu não tenho como mudar o passado — disse ao afastarmos nossas
bocas em busca de ar, sua testa colou na minha ao mesmo tempo em que
nossos olhos se encontraram e não desviaram mais. — Mas quero estar com
você, mesmo que não mereça, mesmo que precise encarar um duro castigo
por tudo que fiz. Eu também preciso de você, linda, necessito da sua
presença como de ar para respirar.
Sorrio, beijando-a novamente.
— Que bom que é assim, porque Perseu e eu nos certificamos de
montar uma certa teia de arranha que vai “apagar” o que você fez no passado
e garantir sua volta dos mortos. Ao mesmo tempo devo dizer que essa teia
vai te prender a mim para sempre, e uma vez que você ficar, Petaloúda,
jamais te deixarei partir novamente. Sou uma filha da puta pior do que
aquela que você conheceu tantos anos antes.
— Deixei tudo pra trás, Helena. Percebe que fiz isso por você? Por nós?
Já não tenho para onde voltar, minha fênix de sangue. Você é o único lar que
essa borboleta conhece nesse momento. Então, por favor, deixe-me ser a
única a te pedir em casamento dessa vez.
O ar saiu dos meus lábios com surpresa.
— Você quis dizer isso?
Ela assente.
— Não faça isso! — Tento pará-la, mas Sofia é mais rápida e fica de
joelhos diante de mim, uma caixinha aberta com um par de alianças dentro.
E por mais que estivesse emocionada com o momento, também estava
preocupada com seus joelhos nus tocando o chão irregular do terraço.
— Dessa vez sou eu, Sofia Lozada, essa mulher que não tem uma
carreia, nem amigos, essa pessoa falha pra caralho, mas que te ama com
loucura. Sou eu quem te pede para passar todos os dias da sua vida comigo,
porque sem você eu sou apenas cinzas.
Deixo que algumas lágrimas escorram por meu rosto.
Soterro qualquer mágoa do passado.
Preciso dela.
A quero para mim.
Ela é a minha borboleta, e essa fênix que renasceu das cinzas pode
muito bem aceitar as falhas que compõem essa mulher. Até porque sou cheia
de falhas também. No final, Sofia é meu equilíbrio, minha outra metade,
meu refúgio e não por ser perfeita, e sim por ser uma desgraçada tão fodida
quanto eu.
Encaixamos perfeitamente, assim como o anel em meu.
— Sim, eu me caso com você, Petaloúda.
Talvez eu tenha conseguido arrastar meu irmão e cunhado para uma
cerimônia nos jardins da mansão Paraskevas alguns meses depois. Outra
coisa que pode ter acontecido é que Sofia e eu tenhamos enfiado aqueles
dois loucos em ternos caros e os feitos dizer seus votos logo depois de nós.
Com um sobrenome falso, no caso de Perseu, e algumas pequenas
mentirinhas que trouxeram Sofia (Lupi) de volta dos mortos, meu irmão e eu
demos a cartada final. Sim, eles eram nossos por toda a vida e depois disso,
e não eram papéis que ditavam isso, nem mesmo as grossas alianças de ouro,
e sim o fato de que Sofia e Perseu eram nossas fodidas almas gêmeas.
FIM
AGRADECIMENTOS
Agradeço a você leitor que deu uma chance a ORDF, meu primeiro
romance lésbico. Espero que tenha conseguido se envolver com a história
das minhas meninas. Obrigada por sua leitura.
Também agradeço a todos que contribuíram para que ORDF nascesse,
as betas, parceiras, meninas da divulgação, minha revisora, designe de
banners e a capista.
Deixo aqui um agradecimento especial para Ana S. Vieira a pessoa que
organizou esse projeto incrível. Obrigada pelo convite. Meu agradecimento
também as meninas participando junto comigo do VIBLES, amei estar com
vocês ao longo dos últimos meses, criando nossas meninas e suas histórias
incríveis.
Se você chegou até aqui, gostou do conto e quer ajudar a autora, não
deixe de avaliar o livro. Coloque uma resenha no site da amazon, é rápido,
fácil e gratuito. E não esquece de compartilhar com os amigos.
Um beijo da Gabby.
SOBRE A AUTORA
Nasceu no agreste Alagoano em 02 de dezembro de 1997, e teve pouco
acesso e incentivo à leitura e à escrita nos primeiros anos de sua vida. Ainda
assim, sempre foi apaixonada por histórias e não demorou muito para
escrever as suas. Foi no wattpad em 2017 que surgiu o pseudônimo Gabby
Santos, e com ele a grande paixão de sua vida, os romances LGBTQIAPN +.
Acompanhe as redes sociais da autora:
✔ Instagram (gabbysantos_autora)
✔ Facebook (Gabby Santos)
Table of Contents
VIBLES
NOTA DA AUTORA
SINOPSE
GLOSÁRIO DE TERMOS
PLAYLIST
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
AGRADECIMENTOS
SOBRE A AUTORA

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