Você está na página 1de 323

My Love

Forgive My Love #1

ANNA ANTONIA
My Love
LANÇAMENTO

PRÓXIMOS
As lágrimas de Risa derramaram. Caíram em cascata por suas
bochechas lisas. O desejo de capturá-las com meu dedo se manifestou.

A escuridão agitou-se dentro da minha alma. Eu deveria ter ficado


preocupado ao ver as trilhas prateadas. Deveria ter pedido seu perdão.

Eu não iria.

As lágrimas de Risa eram prova da sua devoção por mim.

O romance turbulento de Risa Kelly com Damian Black no trabalho


começou com rejeição, rapidamente evoluiu para um intenso jogo de
paixão e poder.

Presa nos extremos viciantes da personalidade de Damian, Risa se


apaixonou por ele, mesmo odiando sua recusa em mostrar suas emoções
fora do quarto.

Finalmente convencida de que ele nunca a amaria da mesma forma


que ela o amava, entra em pânico e decide terminar o relacionamento.

Damian, no entanto, não está nem perto de pronto para deixá-la ir.

Como um homem que foi forçado a viver uma mentira desde o


momento em que nasceu, sabe que finalmente encontrou a única mulher
no mundo que pode amar com seu verdadeiro eu.

E, mesmo que ele ainda não tenha dito a ela seu nome verdadeiro,
patrimônio líquido, ou que a empresa onde ela trabalha é apenas uma
entre muitas de seu conglomerado, a reação de Damian à partida de Risa
é levá-la para sua mansão.

Agora precisa convencê-la de que pertence a ele. E Damian lutará


para manter sua mulher da melhor maneira que ele sabe, cruelmente e sem
misericórdia.

Nota: este não é um romance independente. O romance sombrio de


Damian e Risa continuará em “My Love Break”.
“Tu te tornas eternamente responsável
por aquilo que cativas...”

– Antoine de Saint-Exupéry
AVISO
A tradução em tela foi efetivada pelo grupo Pegasus
Lançamentos de forma a propiciar ao leitor o acesso à obra,
incentivando-o a aquisição integral da obra literária física ou
em formato E-book.
O grupo tem como meta a seleção, tradução e
disponibilização apenas de livros sem previsão de publicação
no Brasil, ausentes de qualquer forma de obtenção de lucro,
direta ou indiretamente.
No intuito de preservar os direitos autorais e contratuais de
autores e editoras, o grupo, sem aviso prévio e quando julgar
necessário poderá cancelar o acesso e retirar o link de download
dos livros cuja publicação for vinculada por editoras brasileiras.
O leitor e usuário ficam cientes de que o download da
presente obra se destina tão somente ao uso pessoal e privado,
e que deverá abster-se da postagem ou hospedagem do mesmo
em qualquer rede social, e bem como abster-se de tornar
público ou noticiar o trabalho de tradução do grupo, sem a
prévia e expressa autorização do mesmo.
O leitor e usuário, ao acessar a obra disponibilizada,
também responde individualmente pela correta e lícita
utilização da mesma, eximindo o grupo citado no começo de
qualquer parceria, coautoria e coparticipação em eventual
delito cometido por aquele, que por ato ou omissão, tentar ou
concretamente utilizar da presente obra literária para obtenção
de lucro, direto ou indiretamente, responderão nos termos do
art. 184 do código penal e lei 9.610/1998.
POR FAVOR, NÃO PUBLIQUE NOSSOS

ARQUIVOS EM REDES COMO BLOGS

E FACEBOOK

Se você viu algum arquivo do PL em algum lugar sem


a nossa autorização, converse com a moderação.

Se você gosta dos livros do PL ajude!!

Quem gosta, respeita nosso grupo!

Não publique diretamente no Face, blogs e afins, não


exponha o grupo de forma desnecessária.

NÃO ACEITAMOS RECLAMAÇÕES

SOBRE AS TRADUÇÕES DO GRUPO!

Se não gostou, leia o livro no idioma original!

EQUIPE
PEGASUS LANÇAMENTOS
Capítulo 1
Risa
Eu não deveria ser tão imprudente. Ou tão estúpida.

Eu me apaixonei por um homem que me mostrou quem ele


era em pequenas partes, porém, não tive o discernimento de
organizá-las na ordem correta. Simplesmente as embaralhei para
criar uma imagem que me agradasse.

Sua distância emocional era uma parede imponente para


escalar.

Suas raras migalhas de amor eram algo para me alimentar,


enquanto trabalhava arduamente para encorajá-lo a me dar cada
vez mais.

Sua luxúria, entretanto, era algo completamente diferente.

Ele me deu tudo o que eu queria de seu corpo e muito mais.

Vulgar, profano, terno e intenso, nunca me senti mais viva do


que quando estava sob seu controle total. Terminações nervosas se
tornando extremamente sensíveis com cada beijo de seus lábios e
golpe de sua mão.

8
Caí fulminada por seu feitiço.

Pensei que tudo o que queria na vida era ele, tanto que chorei
com a ideia de perdê-lo. Pensei que o entendia. Que sabia o tipo de
homem que ele era, tudo o que era capaz de ser, estava errada.

Agora pagaria o preço por acreditar que o leão poderia se


deitar com o cordeiro sem devorá-lo inteiro.

Não havia maneira de escapar dele, nem de convencê-lo a me


deixar ir.

O belo captor que me abraçou, aquele pelo qual me apaixonei


profundamente, obsessivamente, estava determinado a me
quebrar, a me fazer aceitar as novas circunstâncias de nossa vida.

Pessoas como nós deveriam estar a salvo, sãs e todo o resto,


certo?

Não.

Nem mesmo perto.

9
Capítulo 2
Damian
Eu fiz algo a ela que não pode ser desfeito. A tranquei em uma
gaiola escolhida por mim, independentemente do quanto ela
chorou para ser libertada.

Eu não modificaria nada, mesmo que pudesse.

Sou implacável mesmo em meus melhores dias, então,


quando surgiu uma ameaça para perturbar meu lugar no mundo,
eu me tornei uma fera com a qual não se pode argumentar.

Não poderia ser domado.

Eliminei todos os obstáculos com a eficiência brutal de meus


ancestrais, até possuir o controle total novamente. Só então prendi
a besta, fazendo-a dormir até que precisasse despertá-la
novamente.

Essa era a minha vida. Uma face para o mundo moral e legal
aceitável e outra para o mundo real e sombrio que existe por baixo.

Muito foi sacrificado em meu nome para que pudesse manter


a ilusão de ser um membro confiável e produtivo da sociedade. E

10
não importa o quanto possa ter forçado minhas algemas, em
particular, as mantive publicamente deixando meus parentes de
sangue orgulhosos. Eu era tudo o que eles nunca poderiam ser.

Respeitável. Reconhecido. Poderoso, sem ameaças de prisão e


assassinato.

Em um momento gênio enlouquecido, quase trinta anos atrás,


fui exilado de minha terra natal e trazido para este país. Tudo o
que eu realmente era foi sistematicamente apagado para que
pudesse me misturar à minha terra de adoção.

Nenhuma tatuagem para estragar minha pele perfeita,


nenhum sotaque para modificar meus -ws- para -vs-, além de uma
educação na Ivy League para assegurar minha entrada no mundo
dos negócios. Eu era um homem honesto e decente. Porém, o
sangue nunca se esqueceu e nem eu.

Eu não era apenas o cavalheiro legal que aparentava ser.

Acumulei um império no século XXI digno de um novo


aristocrata deste século. Tenho a imaculada reputação neste país
de um homem que trabalhou honestamente, que visitou
regularmente suas inúmeras empresas e trabalhava disfarçado sob
um título menos glamoroso para conseguir uma visão honesta de
cada empresa.

Meus arquivos corporativos sempre limpos. Meu trabalho de


caridade irrepreensível. Minhas empresas poderiam resistir a um
escrutínio intenso sem nunca descobrirem um centavo de dinheiro
sujo.

11
Estava vivendo uma verdade e uma mentira ao mesmo tempo.

Embora não fosse permitido arriscar minha vida limpa, ajudei


os que cruzavam o oceano sempre que podia. Desenvolvi sistemas
confidenciais para fazer muitas coisas legalmente cujo principal
objetivo secreto era enviar dinheiro através de transferências
eletrônicas legítimas sem nunca deixar marcas digitais. Desenvolvi
rastreadores descartáveis que asseguravam que as remessas
nunca fossem “desviadas” ou, “perdidas” nas mãos de outras que
buscavam usurpar o poder crescente da minha família.

Os Konstantinov. Eles eram minha família e nunca poderia


reivindicá-los como tal.

O mundo sabia que Grigor Konstantinov tinha apenas um


filho, meu irmão mais novo, Leon Konstantinov. Ninguém fora da
família imediata sabia sobre Damian e permaneceria assim.

O exílio foi o maior presente que meu pai poderia ter me dado
em respeito à memória de minha mãe, a inocente garota americana
que se apaixonou por um mafioso e foi assassinada por uma facção
rival quando estava grávida de nove meses de mim.

Ganhei a vida em um banho de sangue de uma mulher que


eu nunca conheceria, mas, sempre amaria. Em meio a mortes
como retaliação, um casal perfeito de “células adormecidas” com
ligações secretas com os Konstantinov foi encontrado para cuidar
de mim. Dois dias depois da minha pobre mãe ser enterrada, eu
estava em um avião com destino a um orfanato em Moscou, dando
início ao meu passado forjado.

12
Nunca poderia ser revelado que eu não era um órfão russo
comum, adotado por uma família abastada dos Estados Unidos,
esforços meticulosos eram feitos para que nossas raras reuniões
passassem despercebidas. Quanto mais velho e mais rico me
tornasse, mais fácil seria esquecer da minha verdadeira posição em
relação aos Konstantinov. Algo que acreditava ser esperado.

Nunca esqueci, nem jamais esqueceria em pensamento ou


instinto.

Mesmo assim, tem sido difícil manter o equilíbrio entre dois


mundos, claro e escuro, algo que faço desde pequeno. Continuaria
fazendo até meu último suspiro.

Nisso, eu era inflexível. Faria o que fosse preciso, justo e


injusto, legal e ilegal, para manter o que consegui, família,
dinheiro, poder e especialmente amor.

Risa Kelly não tinha noção de quem eu realmente era, do


dinheiro, da minha posição, ou de minha origem, ela aprenderia,
pois eu nunca desistiria dela.

Ela era minha e eu mantinha o que era meu.

Custe o que custar.

A fatídica noite em que Damian mostrou a Risa seu outro lado


e partiu seu coração no processo…

13
Capítulo 3
Risa
Eu adorava os olhos dele, um cinza prateado e o outro ouro
âmbar. Adorava o raro sorriso que me mostrava quando o agradava
de alguma forma. Adorava a armação prateada dos óculos que
usava para ler, sentindo que davam ao seu rosto já belo uma
camada adicional de sofisticação. Adorava a elegância simples de
suas roupas e o cuidado meticuloso em tudo que ele fazia.

Adorava até o seu nome.

Damian Black. Era um bom nome. Uma mistura estranha e


adorável de beleza incomum e mediocridade comum.

O nome se encaixava muito bem na minha boca, estimulava


a língua, a garganta e os dentes. Muito parecido com a sensação
de seu eixo quando empurrava mais fundo, sempre mais
profundamente do que pensava que poderia suportar.

— Você pode fazer melhor, Risa.

Sua voz reservada, distante, apesar de gentil em sua


repreensão, também me estimulava. Tomava o lugar de mil

14
interações e reações normais e impensadas entre amantes.
Abraços, beijos, leves tapinhas no joelho, tudo excluído pela voz
suave de Damian, que sussurrava em minha boca, peito ou coxa.

De uma maneira distorcida, nossas trocas dependiam de


mim. Seu grau de satisfação ou descontentamento comigo
dependia do quanto era honesta ou desonesta com ele.

Esse meu amor era, sem dúvida, bem estranho, no entanto,


não mudaria nada.

Bem, não mudaria muitas coisas. Algumas, com certeza.


Aquelas nas quais não suportava pensar no momento, não a menos
que quisesse me afundar na melancolia.

As pontas dos dedos de Damian roçaram minha bochecha,


atraindo minha atenção de volta para ele. Não duvido que tenha
sentido que meus pensamentos estavam à deriva. Damian sempre
foi muito sintonizado comigo. Nada que faço parece escapar da sua
atenção. Se eu fosse tão observadora quanto ele, seria o melhor
executivo de contas da terra.

Forcei minha garganta a abrir, para aceitá-lo, mesmo


enquanto lágrimas involuntárias escorriam por meu cabelo escuro.
Engasguei, um terrível som de náusea que desmentia a natureza
sublime da minha posição. Pernas dobradas debaixo de mim, mãos
sobre as coxas, costas arqueadas e cabeça inclinada para trás,
parecia... bem, tinha certeza que parecia muito como se tivesse
engasgado.

Muito doloroso.

15
Porém, como na maioria das vezes, a maneira como as coisas
pareciam não tinham nada a ver com a realidade.

Estava além de apaixonada por Damian e tudo que ele fazia


comigo. Amava seu jeito de falar suavemente comigo, a
profundidade dos pensamentos contidos em cada sílaba
cuidadosamente enunciada. Amava o jeito que ele tocava meus
lábios com um dedo quando queria que ficasse quieta. Amava a
sensação de suas coxas contra o meu estômago quando me
colocava sobre elas como punição por alguma transgressão
cometida por mim.

Na verdade, talvez seja o que gosto mais.

Meu olhar subiu do fluxo e refluxo natural de seu eixo espesso


quando empurrou com cadência suave em minha boca esticada.
Minha atenção saltou de seu estômago musculoso, passando pela
carne lisa de seu peito, pelos lábios carnudos, parando em seus
olhos.

Fiquei sem fôlego. O meu coração sofreu um choque de agonia


ao permitir que a emoção dos meus sentimentos por ele me
dominasse.

Damian ... Damian ... eu te amo muito.

Perdida na ousadia da minha emoção, sorri em torno dele.


Como poderia imaginar, o quanto minha vida estava prestes a
mudar quando ouvi seu nome pela primeira vez?

16
Capítulo 4
Um mês antes
Risa
— Então, Risa, você viu o novo diretor da TI?

— Hmm? Não, creio que não.

— Bem, ele é simplesmente seu tipo. Muito fofo e, obviamente,


muito, muito inteligente.

Os arquivos na minha mão perderam toda a importância.


Voltei minha atenção totalmente para Julie, da Contabilidade. —
Sério?

— Sim. Ele começou na segunda-feira.

— Como você sabe?

Julie ergueu as sobrancelhas em resposta.

— Folha de pagamento. Duh.

17
— Dei uma boa olhada nele quando entregou os seus W-4s1.
Adivinha o que o item três diz?

— Casado, mas segurado em uma taxa de solteiro mais alta?

— Não, boneca. Ele colocou um “X” grande bem ali no solteiro.


Até confirmei com ele para me certificar. Você sabe o que ele falou?

— O quê? — Tentei controlar a vibração de excitação no meu


estômago. Nós não tínhamos muitas novas contratações, muito
menos uma que Julie compartilhasse sua existência comigo.

Por favor que seja fofo.

— Foi o que eu marquei.

— O quê?

— Exatamente. Ele falou como se não pudesse entender por


que estava perguntando.

— Oh, ele é arrogante! — Declarei com um lamento triste,


fantasias em frangalhos como as do mês passado.

— Bem, na verdade não. Quero dizer, ele não falou com


arrogância ou qualquer coisa. Falou com naturalidade. Fiz soar
pior do que parece. Sério. Foi meio fofo agora que penso nisso. —
Julie olhou para a porta aberta da sala de arquivos para ver se

1 Formulário que os funcionários preenchem quando começam no trabalho, é um formulário de


imposto do Internal Revenue Service (IRS) preenchido por um empregado nos Estados Unidos para
indicar sua situação fiscal (isenções, status, etc.) para o empregador.

18
alguém estava ao alcance da voz. Satisfeita, ela compartilhou: —
Bem, aqui está, ele é muito alto também.

Ok, entendi o motivo de Julie me falar sobre o novo cara. Eu


amava, amava, amava homens altos. Quanto mais alto melhor.

— Mesmo?

— Mmmm hmm. Realmente, muito alto. Tipo 1,95 cm de


altura.

— É bem específico. Como sabe? Você não perguntou, não é?

— Perguntei.

Os ditados populares dizem que todos queremos o que não


somos ou não podemos ter. Era definitivamente verdade no meu
caso. Com saltos de quase oito centímetros conseguia apenas 1,58
cm de altura, então possuía alguns fetiches. Homens altos era um
deles. Quanto mais alto melhor. Existia algo tão reconfortante em
estar com alguém que poderia te jogar por cima do ombro sempre
que quisesse. Embora, para ser honesta, ninguém tenha feito
comigo, ainda, a esperança era uma coisa boa de se ter.

Segure-se, Risa.

Eu limpei minha garganta.

— Como você perguntou a ele sobre sua altura?

Julie se encostou no arquivo e sorriu.

19
— Eu simplesmente perguntei. Além disso, contabilidade e TI
têm esta vantagem. Nós somos os nerds que precisam se unir
porque vocês, gestores de contas, falam muito sobre nós.

— Sim, eu sei. É por isso que amo muito vocês.

Eu me ergui e dei à garota muito mais alta um aperto ao redor


da cintura.

— Você é tão fofa com seus números, correções e orçamentos


que dá nos nervos de todos...

— Além de garantir que você seja paga a tempo e que seus


computadores funcionem e que você ainda tenha um prédio para
trabalhar...

— Eu sei! Eu sei! Você sabe o que te torna ainda mais legal?

— O quê?

— Que tenha me contado sobre o novo contratado. Estou


empolgada.

— Imaginei que você estaria. Se eu não fosse casada... — Julie


suspirou com um pouquinho de arrependimento. — Ele é tão
atraente e espere até ver seus olhos! Honestamente, nunca vi nada
igual. Ele também tem todo aquele estilo de cientista malvado
frio/quente. É muito, muito sexy.

— Julie, você tem que parar! Caso contrário, irei direto para a
toca da TI, baterei na porta e farei com que eles me deixem entrar

20
para vê-lo por mim mesma. — Abanei-me com os arquivos
esquecidos.

Sim, definitivamente tenho alguns fetiches. Homens altos.


Homens tímidos. Homens lindos e nerds. Cientistas altos e quentes
com cérebros grandes e pacotes ainda maiores.

Não que tenha tecnicamente conhecido um na vida real,


porém, uma garota pode ter esperança.

— Ok, senhorita Risa. Quando você fará os movimentos para


ver o lindo exemplar de masculinidade?

— Em breve. Amanhã é sexta-feira. Farei antes do final do dia.

— Só não deixe que se transforme em um grande problema de


RH, — ela advertiu com uma sobrancelha erguida e um sorriso
provocante.

— Ei! Eu nunca me envolvi com alguém do trabalho. Bebidas,


jantar e um pouco de flerte. É tudo. — Estiquei minha cabeça para
ver se ainda tínhamos privacidade. — Então, qual é o nome dele?

— Damian Black.

21
Capítulo 5
Risa
Ele está prestes a gozar.

O pau de Damian inchou. A cabeça mal cabia no círculo


apertado dos meus lábios. Sua respiração ficou mais forte, uma
inspiração profunda seguida de uma breve expiração. Aquele que
rapidamente se tornou um dos meus sons favoritos no mundo.

Meu corpo vibrou em triunfo. Eu vivia pelos momentos em


que o fazia perder o controle.

Damian, joelhos dobrados profundamente para acomodar


nossa extrema diferença de altura, manteve seu olhar fixo no meu.
Costas curvadas e braços flexionados, agarrando meu cabelo com
muita força, sem vacilar.

Perdendo-me em prata e ouro, me perguntei o que ele pensava


de mim nestes momentos. Será que Damian passava seus dias
pensando nas noites em que o prazer eliminava todos os fardos e
preocupações da sua mente como acontecia com a minha?

Esperava que sim. Odiaria ser a única com fixação amorosa.

22
Como se ele espiasse em minha mente, estreitou o olhar e
acelerou o ritmo. Meus gemidos cresceram com fome, sem
vergonha e implorando. Minhas coxas ficaram tensas, lutando
contra a queimadura de tanto ficar ajoelhada enquanto minhas
unhas cravaram profundamente em minhas palmas como um
lembrete do significado de tudo.

Amor? Rendição? Entrega? Para sempre?

Damian ofegou, um sinal furtivo para o orgasmo fenomenal


que criei. Seus dedos se enterraram mais no meu cabelo, fazendo-
me estremecer em uma dor deliciosa.

Ainda assim, o engoli. Sons molhados e barulhentos, cheios


de suspiros satisfeitos, criaram música para meu deleite pessoal.
De olhos bem abertos, fixos nos dele, me perdi no delicioso
momento em que seu rosto elegante se transformava em vulgar.

Ansiava por esses momentos com uma fixação doentia. Vivia


pelos raros minutos em que Damian desistia do controle e se
tornava impotentemente, humano.

Sujo, instável e belo em sua perda de intelecto superior e


controle emocional, era absolutamente lindo em sua natureza
bestial. Nunca me cansei de ver este seu lado, preferindo pensar
nele, com seu rosto secreto que só eu fui abençoada o suficiente
para testemunhar.

Chupei a cabeça larga várias vezes antes de lamber seu longo


comprimento. Esperei que recuasse antes de liberá-lo da minha
boca.

23
— Você não engoliu tudo, Risa.

Toquei meu queixo, uma bagunça escorregadia de saliva e


fluido branco aparentemente leitoso. A excitação acompanhada
pelo medo fez meus membros travarem. As coisas estavam prestes
a ficar muito interessantes.

— Você prometeu que engoliria tudo se eu fodesse sua boca.


Não manteve sua palavra.

Limpei meu rosto com as costas da minha mão. Abaixei a


cabeça com pesar. No anseio masoquista pelos jogos, jogávamos
sob o nome de disciplina e prazer.

— Agora, ficarei com o meu. Deite-se na cama Risa. Seja uma


boa garota! — Sua mão grande desceu por uma coxa e depois pela
outra antes de pousar em minha bunda redonda. Desejo e medo
me tornaram uma viciada indefesa, Damian era minha droga de
escolha.

24
Capítulo 6
Um mês antes
Risa
— Você está tendo um problema com seu e-mail.

Desviei o olhar do monitor, surpresa por ser pega


desprevenida. Um olhar e sabia que era ele. O unicórnio glorioso e
fenomenal que persegui toda a minha vida estava a menos de um
metro e meio de distância. Perplexa, minha respiração saiu
ofegante.

Oh... uau. Ele é mais do que fofo. É maravilhoso.

Olhei em seus olhos e senti meu corpo inteiro formigar em


deslumbramento. Inclinei a cabeça um pouco para o lado,
querendo penetrar no olhar de cílios espessos fixado em mim tão
uniformemente. Sarah não estava exagerando quando mencionou
seus olhos. Eram incomuns e exóticos. Um de um cinza tão claro

25
que quase parecia prateado. O outro um tom incomum de âmbar,
tão brilhante que quase parecia ouro.

Seus olhos são tão lindos. Eu poderia olhá-los para sempre.

— Sou Damian Black. Senhorita Kelly?

— Humm, sim. — Eu fiz uma careta e balancei a cabeça um


pouco. Já parecia confusa e fora de controle. Limpei a garganta e
tentei novamente. — Acabei de chamar o TI. Obrigada por vir tão
rápido.

Seu cabelo é tão escuro quanto o meu. Tudo nele é lindo. Se


tivesse que usar apenas olhares superficiais, diria que acabei de
encontrar meu marido. Sério. Não creio que nenhum homem do
planeta poderia superar este.

Ele aceitou meu elogio com um impessoal — é o meu trabalho.

Sem me intimidar por sua brevidade, endireitei meus ombros


e sorri.

— Você não é o novo diretor?

— Sim.

— Então por que está aqui?

— Esta empresa não é tão grande para que eu não possa estar
disponível para suporte técnico.

Seu tom prático me surpreendeu.

26
— Oh! Acontece que o antigo diretor nunca respondeu a este
tipo de ligação.

— É o motivo de ele não estar mais trabalhando aqui. —


Damian mudou de assunto. — O que há de errado com o seu e-
mail?

— Eu não consigo enviar nenhum.

— Ainda está recebendo?

— Uh, sim. — Minhas bochechas esquentaram. Estava


acostumada a ser aquela que fazia os homens parecerem
inseguros. O fato de ele fazer o mesmo comigo, me fez querer fugir
e começar tudo de novo. Talvez fosse porque não estava me
perguntando como as coisas estavam, estava me dizendo com uma
confiança tranquila.

O que me fascinou tanto quanto me desestabilizou.

Eu estava acostumada com os rapazes da TI mudando de um


pé para o outro sempre que estavam no labirinto de cubículos. Não
necessariamente intimidados, apenas desconfortáveis por estar
fora da sua preciosa caverna, onde pizzas eram entregues
diariamente e refrigerantes entravam pela porta da frente com elas.

Maldição, não poderia culpá-los. O trabalho parecia muito


mais divertido quando você podia ficar em uma sala trancada com
uma câmera de vídeo acima da porta conectada ao monitor interno.
Impedindo que fossem flagrados pelo chefe enquanto assistiam a

27
DVDs, jogavam videogames ou qualquer outra coisa que façam
naquela sala de acesso seguro e monitorado.

Meu pai era o DBA2 em sua empresa e, de todas as histórias


que ele me contou, sempre me perguntei se seria diversão o
expediente todo, todos os dias, se tivesse me formado em
computação em vez de em negócios. Ver o homem na minha frente
definitivamente fez com que eu me arrependesse.

— Você reiniciou o computador?

O tom suave de Damian de repente fez coisas maravilhosas


com a minha imaginação fértil. Eu poderia facilmente trocar sua
pergunta para, “você se masturbou hoje como uma boa menina”?

— Não. — Foi bem difícil manter meu olhar no dele, consegui,


por muito pouco. Foi penoso, especialmente porque meu eu
imaginário acabou levando as coisas para um nível mais sujo.
Limpei a garganta e falei: — Eu gosto de seguir as regras, Damian
e a diretriz em vigor é de não tentar solucionar os problemas nos
computadores, quando temos um setor especializado. Pensei que
seria melhor esperar por alguém… você… vir antes de fazer
qualquer coisa.

Um sorriso fraco surgiu em seu rosto. Eu me perguntei o que


teria dito que o divertiu.

2 Profissional responsável por gerenciar, instalar, configurar, atualizar e monitorar um banco de dados
ou sistemas de bancos de dados. Database administrator (Administrador de bases de dados). É a Pessoa
responsável pela concepção e gestão de uma ou mais bases de dados e pela avaliação, seleção e
implementação de sistemas de gestão de bases de dados.

28
— Por favor, reinicie.

— Agora?

Ele simplesmente assentiu. Odiava como o movimento


econômico me fez sentir inepta. A fantasia agradável dentro da
minha cabeça escureceu antes de se agitar. Damian Black parecia
completamente controlado para permitir que a paixão ditasse suas
ações.

Ah, mais uma vez a realidade supera a fantasia. Ainda assim,


posso me deixar levar só um pouco mais. O que eu quero que você
faça, Damian?

Sorri para disfarçar as imagens proibidas saltando pela minha


mente. Sim, eu era uma pervertida luxuriosa da ordem discreta. E
sim, estava apreciando os pensamentos de Damian nu se divertindo
comigo.

E não, eu não compartilharia exatamente o que estaríamos


fazendo em breve.

— Ok, apenas me dê um minuto para salvar tudo antes de


desligar.

— Reiniciar.

— Como?

— Você não desligará. Apenas reiniciará.

— Oh eu sei. Foi apenas a escolha errada de palavras. — A


imagem mental de mim ajoelhada diante dele desapareceu em uma

29
nuvem negra de ressentimento. Resisti ao instinto infantil de
atacar Damian por causa do seu comentário.

Caramba! Você sabe o que eu quis dizer.

Em vez disso, colei um sorriso brilhante e complacente.

— Você gostaria de se sentar enquanto espera?

— Não ficarei por muito tempo.

— Ok. Como quiser. — Eu me assegurei de que meu sorriso


não fosse muito largo, apenas um esboço. Meus dedos tocaram
rapidamente no teclado antes de pegar o mouse.

— CTRL-S.

— O quê?

— CTRL-S é o atalho para salvar um documento. Os atalhos


impedem que você dependa apenas do mouse.

Minhas bochechas ficaram vermelhas. Eu não gostava de ter


o óbvio apontado para mim. Embora não fosse uma doutora em
tecnologia, também não era ignorante.

— Estou ciente dos atalhos. Apenas gosto do meu mouse.

Damian me deu outro assentimento mesquinho. — Claro.

— Sério. É verdade. Conheço os atalhos. Uso às vezes.

Risa, cale a boca! Você não precisa se explicar para ele.

30
Ele manteve seu olhar distante. Os pensamentos de Damian
eram completamente imperceptíveis para mim, todavia, o
julgamento, de algum modo, escapou dos seus olhos cinza e bronze

Meus dedos se curvaram para longe do mouse. Eles estalaram


as duas teclas em questão com autoridade suprema. Falhei ao
tentar manter a carranca fora do meu rosto. Mordendo meus lábios
vermelhos e franzindo a testa.

Eu odeio perder o controle. Odeio, odeio, odeio! O que só prova


que tenho muita atitude para realmente ser submissa de qualquer
um. Obrigada por arruinar meu momento feliz. Idiota.

— Você não deveria fazer isso.

Mordi de volta a única palavra de quatro letras que parecia


querer continuar respondendo a ele. Tentei variar um pouco e
perguntei levemente: — Parar o quê? — Apenas para estremecer
quando a palavra “o quê” saiu de qualquer maneira.

— Desenvolverá rugas prematuras com o jeito que franze a


testa.

— Arruinaria meu lindo rosto? — Provoquei, esperando


conseguir um sorriso amigável. Qualquer coisa, na verdade, além
da expressão impassível que conheci até agora.

Damian inclinou a cabeça para o lado. — Arruinará seu rosto.

Respirei com mais força do que o habitual. Eu não tinha


certeza se suas habilidades sociais estavam embotadas, mesmo
assim, nunca fugi de um desafio. Retome o controle.

31
— Você começou esta semana, certo?

— Sim.

Seu pequeno sorriso me encorajou. Confiança me invadiu.


Balancei na minha cadeira.

— Você gostaria de sair para jantar comigo amanhã?

— Não.

E continuou como se eu nunca tivesse perguntado.

32
Capítulo 7
Risa
Eu arqueei em uma tentativa de escapar. Descontente,
Damian espancou minha bunda com mais força. Eu soluçava seu
nome em súplica, incapaz de me impedir de desobedecer porque
gostava de ter sua atenção em todas as suas formas.

Quão demente parece? Estava com medo de descobrir.

Damian apertou ainda mais os pulsos cruzados nas minhas


costas.

— Fique quieta. Você sabe que resistir só prolongará as


coisas.

Parei meu desesperado contorcer e pressionei meu rosto nos


lençóis amarrotados. Só então ele continuou, mais forte do que
antes. Sua mão caiu repetidas vezes, implacável em sua punição.
Eu chutei minhas pernas quando um gemido baixo escapou por
meus lábios comprimidos.

— Dói muito.

33
— É para doer, Risa, caso contrário, não seria um castigo.
Pare de choramingar e se concentre.

Sua rejeição fria inflamou meu repentino desespero, liberando


uma parte de mim que estava ficando mais forte a cada vez que
Damian rejeitava meus sentimentos. Imprudente, me virei para
sua coxa. Meus dentes afundaram profundamente antes que ele
me empurrasse de suas pernas com força. Embora não tenha
rasgado a pele, seu gemido baixo prometia uma retribuição
adequada.

Olho por olho. Ele sempre me cobrou com juros.

Embora fosse tarde demais para me salvar, saí do chão


acarpetado e corri para a porta sem me importar com o fato de não
usar roupas. Meu corpo colidiu com o dele quando bateu contra
minhas costas. Sua respiração combinava com a minha.

Apavorada e áspera.

— Por que, Risa? — A pergunta suave me acusava de traição.

Fechei os olhos e respondi de mau humor: — Porque você me


bateu com muita força.

— Disciplinei — ele corrigiu suavemente.

A rebelião cutucou para eu desobedecer, mas tentei ser uma


boa garota. Desta vez.

— Disciplinou. Você me disciplinou muito. Não estava


aguentando.

34
Damian ficou em minhas costas silenciosamente antes de
respirar, — mentirosa!

Eu olhei para o chão. — Sinto muito, Damian.

Seu braço musculoso se prendeu em volta da minha cintura.


Ele me levantou alto.

— Por que está se desculpando?

— Por te machucar.

Damian acariciou a pele sensível do meu pescoço. Senti seus


dentes arranharem duas vezes e ficarem tensos.

— Por que você me mordeu? Hmm? Por que você foi tão
safada, garotinha? Não estávamos nos divertindo?

Normalmente, teria dito algo irreverente ou talvez me


desculpado docemente com a voz meiga que Damian gostava. Em
vez disso, deixo a verdade se libertar.

— Porque você não se importou em me machucar. — Meu


sussurro trêmulo me envergonhou, fazendo eu me sentir fraca.

Damian não perdeu o ritmo. Ele murmurou baixinho no meu


ouvido: — Morder assim não é permitido entre nós.

Tentei me afastar, Damian me segurou com mais força.


Imaginei que, se conseguisse criar espaço entre nós, poderia
tornar-me tão falsa quanto as partículas de compensado prensado,
que imitavam uma porta de madeira.

35
Sólida, embora, oca.

— Eu sei.

— Por que você pensa que não me importo com você, Risa?
Eu me preocupo muito com tudo que tem a ver com você. Grande
ou pequeno.

Eu deveria ter aceitado suas palavras sem distorcê-las para


terem um significado maior. Realmente estraguei tudo. Eu poderia
ter dito um milhão de outras coisas, entretanto, escolhi fazer a
pergunta que mais temia ouvir a resposta errada.

— Você me ama, Damian?

Por favor diga sim. Se você disser, sei que tudo ficará bem com
a gente. Eu não terei que sentir medo por nunca saber o que está
escondido atrás da máscara que você usa.

Seus dedos pressionaram meu quadril com força. Foi a única


indicação de que ele me ouviu.

— Eu não posso deixar passar. Você entende?

Minhas esperanças caíram por terra. Não havia dúvidas.


Damian ignorou propositalmente minha pergunta. Pior, optou por
não responder.

Só pode significar uma coisa. Ele não me ama. Nunca amou.

Meu coração disparou apesar da dor contundente.

— Não importa. Faça o que tem que fazer.

36
— Eu posso fazer, garotinha.

O termo carinhoso não fez nada por mim, o tom por trás de
suas palavras sim. Damian pode nunca ter me prometido amor,
mas eu lhe prometi obediência. Então, apesar do quão devastada
estava, a decepção do meu amante me cortou profundamente.

Eu o amava demais e odiava decepcioná-lo. Além do mais,


como poderia ficar brava com Damian se ele nunca me prometeu
amor?

— Eu preciso de um pouco de espaço, Damian.

— Absolutamente não.

Minha miséria se espalhou com um pequeno gemido.

— Estou me perdendo dentro de você, Damian.

— Vou te encontrar. Sempre. Ele pressionou seus lábios


suavemente em meu lóbulo. Seus dentes fortes arranharam a
superfície sensível. — É minha promessa para você, Risa. E não
quebro as minhas promessas. Você sabe muito bem.

— Eu sei, só não quero desaparecer. Ser como todas as outras


que você deixou... — O beijo no meu ouvido se afastou como um
fantasma. Minha voz falhou enquanto meus olhos pinicaram com
lágrimas. Elas ameaçavam me afogar em desgraça.

Damian virou-nos para longe da parede em direção à cama.


Seus dedos ágeis me costuraram a ele, enfiando-se firmemente no
meu cabelo despenteado.

37
— Errado. Você pertence a mim. Você foi minha desde o
começo.

Eu me lancei para a frente e beijei-o com tudo o que possuía.

38
Capítulo 8
Um mês antes
Risa
A correção do e-mail começou e terminou com uma simples
reinicialização, feita apenas alguns minutos depois de ele dizer. —
Não. Eu me senti tola em mais de um aspecto, especialmente
quando ele me deixou como uma estátua muda, rígida com
bochechas rosadas sem me dirigir outra palavra.

O resto do dia seguiu comigo focada no trabalho até Julie vir


lamentar, com uma palavra.

— Gay. Ele tem que ser para te recusar.

— Talvez, mas duvido.

— Se não for gay é cego.

Pensei no olhar penetrante de Damian, lembrando como eles


aparentemente não perdiam nada.

39
— Não, não é cego.

Julie deve ter visto a decepção que tanto tentei evitar. Sua voz
suavizou com simpatia.

— Não se preocupe, Risa. Ele não vale a irritação.

— Verdade. — Eu consegui dar um sorriso e uma piscadela.


— Vejo você na segunda-feira?

— Só se não ganhar na loteria.

Nossas costumeiras despedidas fizeram muito pouco para


acalmar a verdadeira dor da rejeição que experimentei. Então,
achei que seria muito mais fácil fingir que a tarde com Damian
Black, realmente nunca aconteceu.

Balançava a cabeça sempre que passava por ele no salão


principal, os olhos treinados vários centímetros à direita do seu
rosto. Sempre que telefonava para o departamento de informática,
solicitava o Malcolm, já que, ele é muito familiarizado com a minha
máquina. Nas poucas vezes em que o Damian veio, me distraí
explicando meu problema antes de sair com uma desculpa tipo,
tenho um compromisso, deixe uma nota com instruções se precisar
voltar para colocá-la em funcionamento. O que ele nunca fez
porque sempre foi consertado da primeira vez.

Finalmente, deixei minha rejeição humilhante se arrastar de


volta para o canto escondido da minha mente, onde as coisas,
quase esquecidas, ficam armazenadas. Alguns encontros com um

40
candidato a doutorado seguidos de bom sexo, fizeram maravilhas
pelo meu orgulho ferido.

Na manhã seguinte passei por Damian como fazia todos os


dias. Se olhasse para o meu relógio, saberia que seriam 8:47. Nossa
rotina nunca mudou. Vindo de extremidades opostas do corredor
estreito, dei uma dúzia de passos para chegar ao ponto de
reconhecimento impessoal. Surpreendi-me olhando-o nos olhos
enquanto assentia com um sorriso brilhante.

O murmúrio de Damian parou meus passos alegres.

Ele não disse o que penso que acabou de dizer. De jeito


nenhum.

Eu me virei, notando a rigidez de suas costas gloriosamente


largas.

— Desculpe. Eu não te ouvi. O que você falou?

Ele soltou a respiração alta antes de se virar para mim.

— Está tão cheia de porra que não pode nem ouvir direito?

Caralho não, ele não acabou de dizer isso!

Eu não poderia ter ouvido direito, ainda assim, o que achava


que ouvi era escandaloso demais para assimilar. Por causa disso,
me perguntei vagamente se sua camisa combinava com as
manchas vermelhas que certamente estampavam minhas
bochechas, orelhas e pescoço. Eu resisti em acariciar meu rosto
para testar a temperatura da minha pele.

41
Endireitando meus ombros, olhei para cima e perguntei em
voz alta: — Com licença? O que você acabou de dizer para mim?

Nenhuma vergonha ou remorso cintilou em suas feições


aristocráticas.

— Pelo visto você ouviu muito bem. — Bom!

Damian percorreu a distância entre nós com dois passos. Seu


sorriso predatório arrancou minha indignação. Ele se abaixou com
cuidado, para sussurrar em meu ouvido: — Eu disse também que
você me desapontou.

42
Capítulo 9
Risa
Meu beijo acendeu o fogo sempre latente logo abaixo da
superfície de nossas interações. Como sempre, nosso sexo era cru
com um toque violento. Não existiam carícias doces ou promessas
sussurradas de amor ou adoração.

O que me assustou. Não porque tivesse medo de Damian,


nunca, por causa do quanto me perdia com a dominação carnal
que ele exercia toda vez que eu entrava em sua esfera sexual.

Agora, abrigada em seu quarto escuro, os altos e súbitos sons


seguidos por longos movimentos de sua língua tornaram-se uma
sinfonia do meu arrependimento masoquista. Montei o rosto do
Damian, incapaz de ver suas expressões por causa da venda.
Mudei de posição sentindo-me desequilibrada até que Damian
segurou meus pulsos firmemente dentro das suas grandes mãos.

— Estou segurando você, Risa. Você não vai a lugar nenhum.

As coisas eram diferentes novamente, embora não estranhas.


No momento estava sendo recompensada, uma transação pela qual

43
paguei caro. Disciplina e distância emocional sempre vinham
primeiro e só então ele sussurrava as palavras que eu desejava.

Ele era incrivelmente doce. Prazer se derramou sobre mim,


espesso e entorpecente. Meus gritos suaves de prazer aumentaram
junto com a sucção de sua boca.

— Sua boceta é tão gostosa. Eu não posso esperar para vê-la


esticada ao redor do meu pau.

Sua conversa suja me chocou a primeira vez que ouvi. Os


maneirismos exigentes de Damian excluíam o conceito de
impropriedade. As palavras grosseiras tornavam sua fachada
metódica uma mentira e me fascinava ainda mais.

— Foda meu rosto. Mova seus quadris. Sim, assim mesmo!

Obedeci, como sempre fazia, por desejo e uma terrível


necessidade de agradá-lo. Embora a melancolia me dominasse com
suas garras destrutivas. Ultimamente, estava ficando mais difícil
abafá-la.

Estou tentando, Damian. Estou realmente tentando ser o que


você quer que eu seja. Ser tão desapegada quanto você e deixar
apenas meu corpo precisar do seu.

A língua de Damian moveu de um lado para o outro. Ele


mordiscou um lábio antes de amorosamente ir para o outro. Seus
gemidos perfuraram meus suspiros, silenciando-os enquanto me
fixava nele.

— Você está prestes a gozar?

44
Minha respiração falhou. Balancei a cabeça, sabendo que
seus olhos nunca deixaram os meus, apesar da fita de seda que os
escondia.

— Diga-me como é bom, baby.

Minha boca se tornou uma extensão de seus desejos. — É tão


bom… sim! Por favor…

— Diga-me o quanto você me quer.

— Eu quero você, Damian! Eu te quero tanto! — Meu tremor


me fez balançar para frente. Ele me trouxe de volta com um puxão.

— Não esconda seu rosto de mim!

Damian mordeu o alto da minha boceta depilada. Não foi tão


forte quanto eu o mordi, doeu mesmo assim. Engoli um grito de
choque.

Você sempre me cobra, não é? Será sempre assim? Olho por


olho deixou de ser divertido. Não, quando não sei se é um problema
sentir o que sinto por você.

— Aonde você foi, Risa? Está tentando se perder? Você não


deveria... — Damian deu pequenos beijos em meu clitóris após
cada palavra sussurrada.

Minha garganta prendeu seu nome. A dor disparou ao longo


das minhas terminações nervosas. Perversa, do jeito que ele me
faz, balancei meus quadris mais rápido e persegui os prelúdios
pulsantes do êxtase.

45
— Você está tentando fugir de mim? Você está tentando se
perder, para que eu não possa encontrá-la? — Damian levantou a
cabeça interrompendo o contato avassalador. Eu senti seu sorriso
selvagem. Tenho certeza que ficaria assustada se pudesse ver.

— Eu preciso te dizer uma coisa, Damian.

Seu beijo carnal diminuiu. O calor permeava cada palavra


sussurrada.

— O que é? Você pode me dizer qualquer coisa.

— Não é mais tão divertido.

Imediatamente torci meus pulsos para tentar bater minhas


mãos na minha boca traiçoeira.

Damian simplesmente apertou-os brutalmente até que parei.

— Beijar você assim não é mais divertido, Risa? Ok. Eu não


farei de novo.

— Não! Não foi o que eu quis dizer!

— É melhor que seja o que você quis dizer porque senão eu


ficarei muito irritado com você, Risa. Muito. Muito. Irritado.

— Damian... eu... eu... — Minha voz me traiu, caindo no


silêncio e deixando-me com apenas meus pensamentos para
continuar.

Damian, eu só quero que você me ame. Eu posso e farei


qualquer coisa por você, se você simplesmente me amar.

46
Ele cortou minha gagueira.

— Você não gosta do meu controle em você porque está


começando a se sentir envergonhada. Você pensa que, se eu te
amasse, o que fazemos estaria certo. Caso contrário, não é. Resumi
seus sentimentos de maneira satisfatória?

Damian estava tão frio. Muito, muito frio.

Eu o perderei, dizendo a verdade. Damian não precisará mais


de mim. Ele me substituirá por outra mulher, alguém que não
desejará o seu amor.

Alguém que não sou eu.

Lágrimas escorriam debaixo da venda de cetim. O pânico


consumiu meu autocontrole. A ideia de Damian me jogando fora
porque falhei... era insuportável.

Eu te amo mais do que posso entender.

Quando ele me incitou novamente, fiz a única coisa que sabia


fazer. Eu me entreguei.

— Por favor, me castigue por ter sido tão desrespeitosa,


Damian.

47
Capítulo 10
Um mês antes
Risa
O restaurante era uma das mil estruturas, modernas e
esquecíveis. A música alta, pequenas mesas e preços exorbitantes
eram considerados uma experiência gastronômica típica na cidade.
No entanto, as garçonetes que passavam de camiseta preta com
saias combinando e meias pretas na altura das coxas me deram
um caso de inveja feminina.

Trabalhar aqui valeria totalmente a pena apenas pelo


uniforme. Eu poderia arrasar totalmente, especialmente com
tranças!

Minha fixação nas meninas não pareceu escapar da atenção


dele.

— É o que você prefere?

48
— Garotas? Ah não! Não. — Gaguejei e hesitei antes de
explicar gesticulando com as mãos. — Só gostei de suas roupas.

Depois de me chocar no corredor esta manhã, Damian me


convidou para sair e, enquanto eu tentava parecer indiferente
pensando sobre o convite, nós dois sabíamos que eu estava
morrendo para dizer sim.

Eu não podia nem começar a explicar por que estava tão


encantada com esse homem. Ultrapassou minha lógica e se
estabeleceu profundamente em um nível celular. Eu só sabia que
me sentia desequilibrada e incrivelmente viva sempre que estava
perto de Damian Black.

Então definitivamente não queria estragar o encontro.

Damian me olhou com um olhar distante. O olhar clínico me


deixou nervosa. Repeti minha resposta, ainda assim, não consegui
encontrar nada muito estranho no que disse. Incapaz de manter o
silêncio por mais tempo, soltei: — O quê?

— Não foi o que perguntei.

Meu estômago agitou-se. — Não? O que você perguntou


então?

Por que toda vez que estou com ele me torno uma cabeça de
vento? Me distraio e nunca o ouço.

— Antes de você se distrair com as meninas, perguntei se você


preferiria a honestidade ou se preferiria continuar com o ritual de
acasalamento entre homens e mulheres?

49
Eu pisquei, sem saber aonde Damian estava indo. —
Honestidade, claro.

— Claro? Você respondeu tão rapidamente. Tem certeza de


que pensou antes?

Damian sorriu muito como o despótico lobo deve ter sorrido


ao encontrar a chapeuzinho vermelho. Eu me aproximei, mais uma
vez atraída por ele, sem pensamento consciente.

— Não existe nada para pensar. A honestidade é o único


caminho a percorrer. Caso contrário, por que se incomodar?

— Bom. Eu também gostaria.

— Ok! Sou toda por honestidade, Damian. Com o que


devemos começar? Oh! Que tal começarmos com você sabe de onde
vem meu nome?

Ele balançou a cabeça, um pequeno sorriso afixado nos lábios


sensuais.

— Sério? Na verdade, é de Star Trek e... — parei quando


Damian colocou a mão sobre a minha. Uma vibração de excitação
invadiu minhas veias.

— Nunca assisti Star Trek nem tenho qualquer intenção de


assistir.

Ah não! Ele está entendendo mal o que eu quis dizer. Eu não


quis insinuar nada de ruim a respeito dele.

50
Poderia ter me desculpado imediatamente se não me sentisse
tão incapaz. Eu era uma gestora de contas que deveria ter
habilidades exemplares com pessoas, então por que não conseguia
dizer a coisa certa para ele?

— Oh, tudo bem. Desculpe. — Afobada, tomei um grande gole


de algo frio que desceu por minha garganta em uma corrida sem
gosto.

Eu apenas o ofendi e não era minha intenção. Estou muito


orgulhosa do meu nome porque meu pai amava Star Trek e ainda
ama. Passei minha infância assistindo com ele e indo a inúmeras
convenções com a uma família. Eu amo Star Trek.

— Só porque trabalho em TI não significa que sou um nerd


que mora no porão de sua mãe, joga videogames e assiste Star
Trek. Nem as pessoas que trabalham para mim.

Minha mão se contraiu sob a dele. Os dedos de Damian


apertaram levemente.

— Sinto muito por fazer parecer que pensei algo assim. Eu


não pensei, você sabe.

Meu peito se expandiu com uma profunda inspiração. Fiquei


surpresa e mais do que animada quando Damian me convidou
para sair, apesar de seus comentários ultrajantes apenas alguns
minutos antes. Agora, estava bem aparente que foi um erro.

Nós obviamente não formávamos um bom par.

51
Senti uma onda de decepção queimar meus olhos. De alguma
forma consegui piscar e ostentar um sorriso descontraído.

— Ouça, Damian, obviamente meti os pés pelas mãos com


você. Mais de uma vez. Vamos deixar para lá. Sem ressentimentos,
ok?

Sem esperar por sua resposta, me levantei então Damian


ordenou: — Sente-se! — Chocada, reflexivamente caí novamente
na cadeira.

— Já posso ver que fugir será uma constante com você, Risa.

— Não estou fugindo!

— Então, do que você chamaria o que acabou de tentar fazer?

Franzi meus lábios. Retirando-me estrategicamente antes de


fazer um papel de idiota ainda maior.

— Você se importa tanto com o que eu penso? — Saindo da


boca de qualquer outro homem, teria soado presunçoso. O tom
prático de Damian impedia tal emoção.

— Eu me importaria com os pensamentos de alguém se o


tivesse ofendido inadvertidamente.

Damian assentiu e outro sorriso furtivo mexeu no canto dos


seus lábios.

— Obrigado.

— De nada.

52
— Agora espero que você goste do que direi a seguir. Eu não
jogarei os mesmos jogos que está acostumada, Risa. Não correrei
atrás de você, pedirei desculpas, alisarei suas penas eriçadas ou
manterei conversas que não contenham nenhuma substância. Se
é o que você deseja, pode sair agora.

Pisquei rapidamente mais uma vez. A humilhação de me


mostrar mal na frente de Damian me deixava doente. Reprimi o
desejo totalmente novo de chorar.

— Por que você é tão mau comigo?

Ele me olhou fixamente sem piscar.

— Eu não sou. Apenas prefiro a verdade. É tudo.

— Então, em seus olhos, a verdade é igual à crueldade.

— Às vezes.

— Eu não concordo. Em absoluto.

— Mentir é sua própria forma de crueldade, Risa. Sempre


causa desentendimentos desnecessários e dor. — Minha expressão
rebelde parece ter inspirado um breve sorriso. — Por que você
concordou em vir aqui comigo?

Eu fiz uma careta, desejando me afastar, porém incapaz de


dar a alguém tanto poder sobre mim. — Eu não sei.

— Sim, você sabe. Não se esconda atrás desta resposta pouco


inteligente. E sem franzir a testa.

53
Agora não existia absolutamente nenhuma dúvida. Damian
Black era um idiota. Um idiota gigante, cruel, rude e mandão.
Fisgada por sua resposta arrogante, franzi a testa furiosamente e
o desafiei com: — Você não gosta de mim. Eu quero saber o motivo.

— E?

— E o quê? Não há mais nada.

Damian balançou a cabeça impaciente.

— Vocês, gestores de contas, mentem muito para conseguir o


que querem, nem creio ser possível que você saiba o que é
honestidade.

Agora, o maldito foi longe demais!

Raiva acendeu um pavio dentro de mim, explodindo minha


charmosa conexão boca-cérebro.

— Não é verdade! Eu administro meu negócio com


honestidade, Damian, é melhor você ter cuidado com o que diz
quando se trata de mim. Eu não uso táticas sujas e, com certeza,
não minto para alcançar meu objetivo.

Ele me mediu por vários momentos espinhosos antes de


admitir.

— Você está certa. Peço desculpas por estereotipá-la, como


você fez comigo.

Que idiota cruel, rude e vingativo! Eu não posso acreditar que


ele jogou de volta na minha cara!

54
Estreitei meus olhos, imaginando o que aconteceria se eu
jogasse minha bebida em seu rosto bonito. Damian me espelhou,
como se ouvisse meus pensamentos. Ele esperou, atento ao que eu
faria. Finalmente, balancei a cabeça e ri. Não era o que sempre
quis? Um homem que não tivesse nenhum problema em me
enfrentar?

O ponto vai para Damian.

— Eu ainda digo que tem uma maldade em você, Damian, no


entanto vejo o seu ponto. Não era minha intenção ofendê-lo, ainda
sim, eu o fiz. Sinto muito.

— Desculpas não aceitas.

— O quê?

— Não existia nada para você se desculpar, Risa. Não fiquei


ofendido com o que você falou. Apenas vi a necessidade de
esclarecer minha posição.

Oh meu Deus. Nós passamos por toda esta merda por nada?

— Você não cede graciosamente, não é, Sr. Black?

Damian respondeu minha risada triste com uma de suas


próprias.

— Não, não faço. Não tão graciosamente quanto você. — Ele


se debruçou sobre a mesa e perguntou novamente: — Por que
aceitou meu convite? Especialmente depois do que falei esta
manhã.

55
Sentindo-me muito segura e um pouco ousada, respondi
debruçando-me sobre a mesa e sussurrando em seu ouvido: —
Você gosta de honestidade, certo?

— Sempre.

— Bem então. Estou muito atraída por você. Eu queria saber


se você se sente da mesma maneira.

— Eu me sinto. Caso contrário, não teria convidado para


jantar.

56
Capítulo 11
Risa
— Implore!

— Sinto muito! Eu sinto muuuito, Damian! — Ele apertou


meu pescoço um pouco mais forte, não o bastante para me
assustar, mas o suficiente para fazer meus dedos se curvarem de
prazer.

— Você não parece muito arrependida, Risa.

— Oh Deus, Damian! Por favor! — Minhas pernas subiram


mais alto em torno das suas costas. Seu pau continuou a
mergulhar dentro e fora de mim num ritmo deliciosamente
punitivo.

— Por favor, o que, sua vadia safada? — Ele soltou meu


pescoço cavando seus dedos em meu rosto. — Abra-se mais… mais
amplamente… mais. Humm, assim. — Damian enfiou a língua na
minha boca. Agressivo, dominador a ponto de sufocar, arrebatou
minha boca enquanto eu choramingava em seus lábios rígidos.

Sim, sim, sim!

57
Esses momentos sádicos eram aqueles pelos quais eu ansiava
com uma fixação doentia. Adorava ser o centro de seu mundo e o
fato de ele não se comportar como um cavalheiro comigo. Quanto
mais forte ele estocava em mim, mais excitada ficava.

— Você está tão molhada, Risa. Tão molhada para mim!

Eu arqueei minhas costas enquanto pegava um punhado do


seu cabelo escuro.

— Não pare! Nunca pare.

Ele bateu em minha mão rosnando: — Diga como se estivesse


realmente sendo sincera!

Sua crueldade emocionou o âmago de quem eu realmente era.


Era assumidamente masoquista em minha necessidade de ser
amada por este homem em particular, ser considerada digna de ser
mais do que uma simples companheira de brincadeiras.

Precisar de mim como eu precisava dele, apesar dos seus


muitos, inúmeros defeitos.

Damian era frio e distante com um núcleo emocional sombrio


e gelado. No entanto, muitas vezes senti o fogo crepitando embaixo
e desfrutei de seu calor, aprovação e sim, seu carinho. Vivia para
aqueles momentos em que o gelo derretia por tempo suficiente para
me deixar sentir o homem sob as camadas de controle rígido e
inflexível.

Talvez eu estivesse trilhando um caminho amargo de


arrependimento ao enxergar apenas o que queria, se fosse assim,

58
estava andando cada vez mais rápido para perseguir este belo
espécime masculino.

Perigosamente apaixonada, eu gemi:

— Eu amo ter você em mim. Por favor, Damian, não pare...


nunca pare de me foder... por favor...

Ele soltou um gemido gutural do fundo de sua garganta.

— Eu cobrarei o que está me pedindo, aguarde-me.

Deveria ser considerado como um aviso, para mim foi a


promessa mais doce para os meus ouvidos. Alcançando-o beijei
sua garganta, queixo e boca avidamente. Ele aceitou minhas
carícias por muito tempo antes de reafirmar o domínio.

Damian se retirou ficando ao lado da cama. Ele me agarrou


pelos tornozelos e me puxou para ele. O que se seguiu foi um
emaranhado de membros violentamente belo enquanto lutávamos
um com o outro pela promessa de felicidade momentânea.

E quanta felicidade! Até que tudo terminasse.

Seus dedos me massagearam suavemente, fazendo estalar


meus quadris. Peguei seu olhar derretido debaixo dos cílios
espessos, a venda desapareceu, Damian a arrancou quando abriu
mais minhas pernas. Algo desesperado e terrível em seu olhar. Algo
muito parecido com ódio.

Eu senti frio. Não conseguia conciliar a feiura que vi com a


correção de seu toque.

59
É a mim que você odeia? É o motivo de você não se permitir me
amar além do meu corpo?

Eu sempre soube que representava muitas coisas que ele não


gostava, mesmo assim, nunca me permiti pensar que era ódio.
Agora o pensamento não iria embora.

— Goze!

Um comando que ouvi inúmeras vezes, desta vez não consegui


obedecer.

— Eu disse goze!

— Eu não posso! — Choraminguei. Quando sua expressão


endureceu, recuei pela primeira vez com ele. O choque percorreu
seu rosto antes que uma careta de desagrado surgisse.

— Sim você pode. Você simplesmente não quer. — Damian me


agarrou pela cintura e levantou. A forte sucção de sua boca violou
minha incapacidade de me submeter a ele. Agarrei os lençóis
enrugados acima de minha cabeça e me afastei enquanto ele
continuava a me provar.

Gritos de prazer saíram livres. Damian me virou, apertou


minhas coxas trêmulas e afundou profundamente. Seus quadris
martelaram para longe, a força brutal deixando meu traseiro já
sensível, ainda mais, ainda assim, sua boca acariciou meu ombro
em fervorosa adoração.

Era tarde demais.

60
Tudo mudou com apenas um olhar em seus olhos prateados
e dourados.

61
Capítulo12
Três semanas antes
Risa
Era a terceira vez que Damian me levava para jantar.

A segunda vez em seu apartamento.

A primeira vez que vi alguém esperando por ele.

Parei no meio da tagarelice quando avistei a ruiva


deslumbrante encostada na porta. A curiosidade se transformou
em medo quando Damian educadamente me pediu para esperar.
Me senti impotente para dizer qualquer coisa, além de — claro!

Ele seguiu pela passarela de concreto sem olhar para trás.

Embora fosse impossível não ouvi-los fiz uma vaga tentativa


de admirar o revestimento do edifício.

— Me desculpe tive que vir!

62
Eu me pergunto quanto tempo leva para construir um destes
complexos.

— Eu não entendo, Damian! O que eu fiz de errado?

Aposto que um único pedido significa comissão suficiente para


o vendedor viver por um ano.

— Então por que você não retorna minhas ligações?

Provavelmente deve ser quase impossível entrar neste


mercado.

— Pensei que tudo estivesse bem entre nós. Estava, não


estava?

Hmm. O tempo de resposta neste serviço deve ser curto. Caso


contrário, o empreiteiro simplesmente procurará outro cliente.

— Eu não manterei minha voz baixa, Damian! Você não pode


mais me dizer o que fazer se não estiver comigo!

Eu me pergunto... me pergunto quais são as margens de lucro.

Meus pensamentos se desconectaram quando ouço a resposta


melancólica de Damian.

— Eu teria mantido você para sempre se acreditasse que


éramos certos um para o outro.

Uma terrível angústia encheu o corredor. Senti minha


garganta formigar desconfortavelmente. Arrisquei um olhar por
cima do ombro e desejei não ter feito.

63
A linda ruiva desabou aos pés de Damian, o rosto
pressionando a coxa dele com força. Seus longos dedos se
emaranharam em seus cabelos numa inestimável tentativa de
conforto.

Reconheci o olhar da mulher. Piedade, ódio e miséria me


atingiram. Não consegui ouvir o sussurro, consegui ler seus lábios.

— Ele fará o mesmo com você também se não tomar cuidado.

64
Capítulo 13
Risa
Naquela noite considerei suas palavras como um aviso. Agora
como uma maldição.

Minha mente lutou em uma teia própria, mesmo enquanto


meu corpo mantinha o ritmo febril de Damian.

Foi ódio que vi em seus olhos. Sei agora… e sabia então…


simplesmente não queria admitir. Damian sabe que estou
apaixonada por ele e tudo o que deseja é me foder. É tudo no que
sou boa para ele... a menos que me torne um problema. Por isso ele
se livrou da ruiva... e... das outras... elas o amavam e ele não as
amava... então se livrou delas... como cachorros malcomportados.

O corpo de Damian endureceu. Seus quadris colados nos


meus, ele me inundou até que pude senti-lo escorrendo pela minha
coxa. Normalmente gemia como uma cadela no cio quando sentia
sua liberação. Desta vez permaneci quieta. Esperei até que ele
caísse de costas antes de me movimentar. Assim que sua
respiração desacelerou, atrevi-me a olhar por cima do meu ombro.

65
Braço descansando acima da sua cabeça, rosto tranquilo, o
corpo grande e perfeito relaxado, parecia angelical. Foi o mais
próximo da felicidade que já vi, sem um insistente estimulo da
minha parte.

— Aonde você vai?

Eu tive um prazer perverso em senti-lo tocar minha coxa


quando parei no meio do movimento. — Vou me limpar.

— Tão rápido? Não prefere ficar aqui comigo?

Sob circunstâncias normais? Absolutamente. — Estou uma


bagunça.

— Um pedido de desculpas seria uma mentira, já que não


sinto muito por lambuzar você. — O sorriso travesso de Damian
criou uma agitação na minha barriga, principalmente quando
pegou minha mão e beijou os nós dos dedos antes de cair em seu
travesseiro. — Ok. Vá! E volte logo.

Infelizmente não seria possível.

Engolindo em seco, saí da cama e entrei no banheiro. Peguei


uma das “toalhas de sexo” cinza do armário de roupas de cama e
molhei antes de me limpar. Enxaguando o pano completamente,
deixei-o no balcão, como Damian preferia. Meio sorrindo, lembrei-
me da vez em que joguei no cesto e na disciplina que veio depois.

Por que não vi tudo como era? Talvez tenha pensado que era
um jogo... não. Não existe talvez. Nunca vi as coisas como um jogo.

66
Vi como uma nova maneira de viver. Foi emocionante e me deu tudo
o que pensava que queria.

E ainda quero, só não assim. Não mais. Não se ele se ressentirá


de mim e, caso se ressinta, não poderá me amar. Ai, Deus! O que
está acontecendo comigo? Por que, de repente, me sinto tão
incomodada?

Eu não pude responder o porquê, no entanto, aconteceu. E já


que aconteceu, não poderia continuar como se não soubesse. Eu
devia a mim mesma pelo menos isso.

E, de uma maneira distorcida, devia a Damian também. Eu


não queria ser aquela que não podia deixá-lo ir embora. Não se ele
quisesse cair fora. Tanto quanto o amava, eu o queria feliz. Se não
fosse comigo, ele precisava de sua liberdade para encontrar outra
pessoa.

Agarrando a beirada do balcão do banheiro, senti meu corpo


ficar frio e entorpecido. Autossacrifício parecia nobre na teoria,
ainda assim, era terrível passar por ele.

Talvez um pouco de egoísmo seja permitido também.


Precisava cuidar de mim mesma e estar com Damian, esperar o
machado cair e cortar a nossa conexão, era muito difícil.

Não é razoável esperar, é? É muito melhor sair agora, enquanto


ainda posso. E talvez, apenas talvez, venha a perceber que não quer
me deixar ir?

67
Olhei para o meu reflexo no espelho. Era algo patético demais
para ser aceito. Posso estar apaixonada pelo homem mais
emocionalmente indisponível do planeta, entretanto, não significa
que tenha que jogar fora o meu orgulho, não é? Se ele não me ama
agora, depois de tudo o que compartilhamos, depois de tudo o que
ele levou, então nunca me amaria.

Então, não tem mais sentido. Saia agora e talvez mantenha o


que restou de sua dignidade intacta.

Logicamente, tudo fazia sentido. Emocionalmente, senti um


buraco crescendo no meu peito. Doía para respirar. De alguma
forma, voltei para o quarto. Minha atenção passou pelo homem
lindo dormindo tranquilamente no meio do colchão kingsize. Ele
foi meu por um tempo muito curto. Meu coração apertou tão
fortemente com a necessidade obsessiva, que não tinha certeza se
seria capaz de respirar, sem sentir aquele aperto sempre.

Você consegue! Concentre-se apenas no que tem que fazer


agora. Você pode chorar mais tarde, pelo tempo que quiser.

Peguei minhas roupas do armário desfazendo a pilha


organizada, uma peça de cada vez. Vesti-me com calma, calcinha,
sutiã, jeans e suéter, como se fosse qualquer outra vez, como se
não estivesse desmoronando por dentro. Uma vez terminado, tive
que segurar meus pés para me impedir de voltar para o lado dele
como uma mariposa perturbada por sua chama indiferente.

Não. A maneira como ele olhou para mim e como evitou minha
pergunta, prova que estou certa em sair de sua vida. Preciso partir,

68
antes que ele tenha a chance de me expulsar. Assim sairei com, pelo
menos, algum tipo de paz em saber que não fiz uma cena e que
realmente não me machuquei.

Ou que pelo menos pareça que foi assim.

A dignidade pode ter estado em minha mente, o confronto não.


Saí do quarto fechando a porta silenciosamente. Atravessei a
pequena sala de estar, estava chegando à entrada quando o ouvi
chamar por mim.

Damian estava a poucos metros de distância, nu e


intimidante. Ele repetiu meu nome.

— Sim? — Ousei perguntar com um sorriso questionador no


meu rosto. Como se não estivesse me esgueirando, como uma
ladra. Como se meu coração, não estivesse se partindo em um
milhão de pedacinhos.

Damian olhou para mim por vários segundos tensos. — Tire


suas roupas e vá para a cama! Agora!

Eu dei um passo para trás, consciente de sua raiva muito real


por trás de sua expressão e tom suaves.

— Não.

Damian soltou um suspiro profundo. — Aonde você vai?

— Casa.

— Por quê?

69
— Porque está tarde.

— Não minta para mim!

Eu me assustei com seu grito. Minhas mãos tatearam atrás


de mim, tentando encontrar a maçaneta da porta e falhando.
Damian nunca perdeu a paciência comigo.

Nunca!

Ele sempre manteve a compostura, mesmo quando eu era


grosseira. As camadas estavam se desfazendo e eu não conseguia
lidar com a situação. Vergonha corou as minhas bochechas. Eu
não sabia mais o que realmente queria. Tudo que sabia era que
precisava me afastar, procurar o espaço entre a minha obsessão e
a verdade de Damian.

Talvez, as coisas fossem diferentes se eu tivesse dado voz aos


meus pensamentos sombrios.

Estou fugindo porque não conseguirei lidar com você me


deixando primeiro. Não quero chorar aos seus pés, porque você não
me ama mais. Deixe-me ter o que preciso, Damian. Por favor.

— Eu tenho que ir.

— Você está me deixando. — Damian declarou sem inflexão,


todos os sinais visíveis de fúria mortos e enterrados. — Posso
perguntar por quê?

70
Engoli em seco e meus olhos se fixaram vários centímetros
além de seu ombro nu. Eu abri e fechei a boca várias vezes.
Finalmente respondi: — É hora de partir.

— Por quê? Eu te entedio?

Talvez fosse minha imaginação, porém, ouvi a dor tingir as


notas incolores de sua voz suave. — Não! É apenas…

— O que, garotinha?

A lembrança de nossa desigualdade, de como ele certamente


me via, finalmente me fez explodir.

— Eu não sou uma fodida boneca de merda para você brincar


quando quiser e jogar fora quando não estiver mais interessado.
Eu não sou como elas.

— O que significa?

— Significa que para mim já deu.

Não, não e não!

No entanto, era tarde demais. As palavras não podiam ser


apagadas. Damian nem sequer piscou. Sua postura ereta, parecia
mármore, insensível e intocável. Ainda assim, procurei sua
expressão dura, tentando ver se vacilava um pouquinho.

Nada. Seu olhar estava congelado em camadas de prata e


ouro.

71
Suspirei e, em seguida, coloquei um sorriso no rosto. Minhas
palavras frívolas fizeram muito para esconder a dor no coração.

— Estava fadado a acabar eventualmente, certo? Pelo menos,


terminaremos em bons termos.

Damian finalmente endureceu o maxilar em resposta.

— Não dirá nada? — perguntei, sem jeito.

— O que há para dizer, Risa?

Esperança surgiu e desapareceu. Eu lutei para manter minha


máscara alegre.

— Tudo bem então. Adeus!

— Além do mais, receio que seu raciocínio não seja bom o


suficiente para mim, Risa.

Empurrei minha atenção de volta para ele. — Eu não entendo.

— Exatamente.

Queria cair de joelhos e implorar para ele esquecer o que eu


falei. Também queria me virar e fugir para bem longe. Queria ser
corajosa e perguntar o que havia de tão errado comigo que ele não
podia sentir nada além de luxúria.

Eu queria todas essas coisas e não fiz nenhuma delas.

Ao contrário, fingi que nada mudou no último mês. Éramos


empregados da mesma empresa e terminamos um relacionamento.

72
Poderíamos ser adultos responsáveis e, quando eu passasse por
ele no corredor, fingiria que ainda podia olhar para ele e sorrir.

— Chamaremos do que é e sem ressentimentos, ok? — Me


abaixei para colocar meus sapatos, não o vi se aproximando.

Novamente talvez as coisas fossem diferentes se eu tivesse.

73
Capítulo14
Damian
Nunca quis que Risa se tornasse um elemento permanente em
minha vida. Francamente, ela me irritava com frequência. Fazia
muitas suposições sobre mim, que estavam erradas na maioria das
vezes e, regularmente, fazia bagunça em todos os lugares que ia.
Ordem e disciplina, obviamente, não eram qualidades que ela
valorizava.

E o pior de tudo é que nunca, nunca me falou o que realmente


pensava, a não ser que eu estivesse enterrado profundamente
dentro de seu corpo nu.

Deveria ter ficado feliz em ouvi-la tagarelando sobre o término


das coisas entre nós. Eu não estava. As coisas que me irritavam
também eram exatamente as mesmas que eu mais amava nela.

Raiva e descrença ultrapassaram meu controle emocional.


Nunca ninguém me deixou antes, então a experiência deveria ser
registrada como inédita. Talvez tivesse sido, caso se tratasse de
qualquer outra pessoa.

Risa era minha desde o primeiro momento em que a vi.

74
E ponto final.

75
Capítulo 15
Um mês antes no
escritório de Risa
Damian
Fiquei na porta por um segundo a mais do que o necessário.
Um ataque de nervos incomum explodiu antes que eu o matasse
implacavelmente.

Todas as minhas maquinações me levaram ao momento e


tomaria o que queria.

Risa Kelly era uma coisa minúscula e curvilínea que


caminhava graciosamente em saltos altos que só conseguiam
enfatizar o quanto era deliciosamente pequena. Eu a vi quando
cheguei ao local, na semana anterior.

76
Sem esforço chamou minha atenção, no setor financeiro,
quando se encostou na parede e tirou o salto preto.

Meu olhar se concentrou na adorável curva de sua coxa.


Imediatamente, imaginei como seria ver aquela mesma coxa em
volta de meus quadris enquanto martelava implacavelmente nela.

Normalmente, não cobiçava os empregados. Era ruim para os


negócios e poderia me colocar na mira de um advogado ávido por
processos judiciais. A tentação pode ter se esgueirado sobre meus
calcanhares como um gato travesso uma ou duas vezes antes,
embora sem realmente me afetar.

Não assim.

As visitas às minhas empresas geralmente eram um mal


necessário que eu praticava para o bem de todas as partes
envolvidas, nunca me senti tão feliz com uma atribuição em
particular.

Eu a queria, esta morena incrivelmente baixa que ainda não


tinha me visto. Apesar da presunção, eu sabia que meu rosto
bonito abriria o caminho para sua cama muito facilmente.

Agora que estava em seu escritório, achei difícil ostentar a


fachada encantadora que usava com as mulheres. Ao contrário,
simplesmente a encarei como se ela fosse a mulher mais fascinante
que já vi sentada em uma mesa.

77
Abri minha boca, lutando para encontrar minha apresentação
para ela, até que finalmente saiu. — Você está tendo um problema
com seu e-mail.

Risa olhou para mim e ficou imóvel. Eu também.

Eu não era tolo o suficiente para acreditar na versão


romântica de amor à primeira vista. Afinal de contas, meus pais
acreditaram nela e aonde os levou? Laura Peters Konstantinov
recebeu seu corpo crivado de balas e um permanente descanso em
um caixão e Grigor Konstantinov conseguiu uma vingança que
ainda não estava finalizada.

Não, o amor à primeira vista era um mito perigoso.

Ainda assim, descobri que compreendia Laura e Grigor mais


do que nunca.

Risa se fixou em meus olhos incomuns. Eu recebi mais do que


o suficiente da minha cota de atenção sobre eles. Não me importei
tanto desta vez. Me deu a liberdade de encará-la sem parecer
estranho.

Foi a minha chance de começar a cortejá-la. Eu só precisava


lembrar do meu lado sedutor, aquele que me colocou na cama de
várias modelos e atrizes do que poderia contar.

— Sou Damian Black. Senhorita Kelly?

Porra!

78
Não saiu do jeito que deveria. Foi excessivamente contundente
e chocante. Eu poderia ter elogiado sua roupa, o nome, ou até
mesmo perguntado sobre o seu dia. Qualquer coisa seria melhor
do que a frase friamente redigida que acabei de proferir.

— Humm, sim. Acabei de chamar o TI. Obrigada por vir tão


rápido. O olhar de Risa passou por mim novamente. Um lindo
sorriso separou seus lábios rosados.

Minha frustração diminuiu. Gostei de ter sua atenção


completa. Infelizmente, não consegui mencionar as palavras fáceis
que falei milhares de vezes antes. Optei pela competência
impessoal até descobrir o que aconteceu com a minha língua
afiada. — É o meu trabalho.

— Você não é o novo diretor?

— Sim. — Ela sabia sobre mim. Muito bom.

— Então por que está aqui?

— Esta empresa não é tão grande para que eu não possa estar
disponível para suporte técnico.

— Oh! Acontece que o antigo diretor nunca respondeu a este


tipo de ligação.

— É o motivo de ele não estar mais trabalhando aqui.

Aparentemente a fachada carismática se recusou a aparecer


com Risa. Por mais decepcionante que seja, talvez não fosse uma
coisa tão ruim. Eu não ficaria aqui por muito tempo. Eu só

79
precisava avaliar a empresa e, em seguida, voltaria à sede pelo
resto do ano. Risa Kelly não se encaixava nos meus planos, e eu
não precisava do incômodo de me desembaraçar dela e,
definitivamente, não precisava da responsabilidade em potencial.

Ainda assim, seria delicioso tê-la embasbacada com cada


palavra minha. Secamente, guiei nossa conversa de volta aos
trilhos. — O que há de errado com o seu e-mail?

— Eu não consigo enviar nenhum.

— Você ainda está recebendo?

— Uh, sim.

Seu rubor consome minhas convicções. Me perguntei se ela


corou toda. Algo me dizia que sim. Imaginei que tivesse
terminações nervosas muito sensíveis. Adoraria descobrir por mim
mesmo se estava certo...

— Você reiniciou o computador? — Perguntei a ela com muito


mais gentileza, enquanto a imaginava nua no meu colo, um
delicioso rubor rosa, beijando as curvas gostosas do seu corpo
exuberante.

— Não. Eu gosto de seguir as regras, Damian, e a diretriz em


vigor é de não tentar solucionar os problemas nos computadores,
quando temos um setor especializado. Eu pensei que seria melhor
esperar por... alguém... você... vir antes de fazer qualquer coisa.

80
Ela gostava de seguir as regras, certo? Risa não tinha ideia de
como soava atraente para um homem como eu. Eu senti o sorriso
parecer espontâneo, sincero pela primeira vez em muito tempo.

De repente, lembrei-me de Gretchen e me senti culpado por


cobiçar esta mulher quando, recentemente, parti o coração de
Gretchen. Eu não tinha relacionamentos com frequência,
preferindo sexo à conexão emocional, porém, os que eu fazia
importavam. Gretchen importava, embora eu não pudesse dar o
que ela queria.

Poderia pelo menos dar tempo suficiente para passar, antes


de procurar outra parceira.

— Por favor, reinicie.

— Agora?

Balancei a cabeça e cruzei os braços. Minha curiosidade por


Risa teria que ficar satisfeita. Não seria atraído por seu sorriso
encantador, ou sua voz amável e feminina. Nem me afogaria na
escuridão dos seus olhos ou tentaria descobrir os segredos que os
faziam dançar com uma alegria secreta.

Risa Kelly era uma bela distração, ainda sim, eu poderia tirá-
la da minha cabeça. E faria.

— Ok, apenas me dê um minuto para salvar tudo antes de


desligar.

— Reiniciar.

81
— Como?

— Você não desligará. Só reiniciará. — Não pude deixar de


corrigi-la. Era a coisa certa para empurrar uma criatura
espirituosa como Risa para longe de mim.

E se precisasse de mais incentivo, só precisava olhar no


espelho para ver o único legado físico óbvio que minha mãe
biológica me deixou, seu olho âmbar.

Eu sempre o usei como um lembrete para nunca deixar a


paixão me dominar, para que nem eu ou outra pessoa sofresse por
ela permanentemente. Eu precisava desse lembrete mais do que
nunca.

— Oh eu sei. Foi apenas a escolha errada de palavras. — Risa


não deixou transparecer que minhas palavras a irritaram.
Entretanto, eu sabia que sim. Seu rosto expressivo não podia
esconder de mim. Ela apontou para uma das cadeiras em frente à
sua grande mesa.

— Você gostaria de se sentar enquanto espera?

— Não ficarei por muito tempo.

— Ok. Como quiser.

Agora eu sabia que ela, definitivamente, foi afetada pelo meu


tratamento impessoal. Perdi um pouco do sorriso dela e senti
arrependimento em minha alma. Eu poderia ter ficado ali em
silêncio, porém não fiquei. Procurei por algo para dizer e me vi
intimidando-a um pouco.

82
— CTRL-S.

— O quê?

— CTRL-S é o atalho para salvar um documento. Os atalhos


impedem que você dependa apenas do mouse.

O sorriso de Risa morreu. Ela corou furiosamente. Sua falta


de controle sobre suas emoções fez com que o diabo em mim
quisesse cutucá-la mais. Eu me controlei, embora tenha me
arrependido.

— Estou ciente dos atalhos, — respondeu rigidamente. —


Apenas gosto do meu mouse.

— Claro.

— Sério. É verdade. Conheço os atalhos. Uso às vezes.

Risa não precisava se justificar para mim. Estava sendo um


idiota, simplesmente porque ela inesperadamente chegou perto
demais de mim. Não era seguro para nenhum de nós. Não quando
eu brincava de ser Damian Black e não Damian Black-Price ou
Damian Konstantinov.

Impiedoso. Implacável. Um homem completamente sem


misericórdia, quando se tratava de conseguir o que queria. E,
quanto mais eu negava, mais aparente ficava que eu queria Risa
Kelly.

Seriamente. Fechei minhas emoções. Vendo através dela, eu


sabia pela sua expressão que me fiz intocável. Mágoa passou pelos

83
seus olhos. Rapidamente salvou usando seu teclado. A satisfação
me tocou por tempo suficiente para vê-la franzir a testa
furiosamente.

— Você não deveria fazer isso. — Pedi antes que pudesse me


conter. Considerando a minha falta de controle sobre mim mesmo,
provavelmente era demais esperar que Risa ainda me ouvisse.

Ainda? Não existe ainda.

— Parar o quê? — Ela perguntou muito mais educadamente


do que eu merecia.

— Desenvolverá rugas prematuras com o jeito que franze a


testa.

— E arruinarei meu lindo rosto?

Eu abaixei minha cabeça, para ver melhor seu sorriso


provocante.

— Arruinará seu rosto.

Quando ela respirou fundo, percebi meu erro. Eu a insultei


com certeza. Missão cumprida, mesmo que já tivesse me
arrependido da decisão de afastá-la. Principalmente porque meu
instinto exigia que Risa Kelly fosse minha.

A raiva queimou. Eu não estava aqui para brincar, porém até


isso me seria negado, porque o instinto me alertou que eu não
queria brincar com Risa. Eu queria mais.

Tudo.

84
Ela conseguiu me surpreender quando perguntou: — Você
começou esta semana, certo?

— Sim. — Risa era feita de um material mais resistente do que


eu acreditava. Fui grosseiro, rude e longe da pessoa amável que
representava tão facilmente quanto respirava, pelo menos fora do
escritório. Ou quando não estava usando uma versão abreviada do
meu nome ao investigar minhas muitas empresas como um
funcionário quase anônimo.

Mesmo assim, Risa não se intimidou. Normalmente, tal tipo


de teimosia em uma mulher significava problemas para os homens
com meu patrimônio líquido. Gostei de não tê-la enviado para fora
da sala em lágrimas como tantas outras mulheres, quando não
prestei a devida atenção. Ou me atrevi a deixar as rachaduras do
meu outro eu aparecerem.

Sorri em louvor a Risa, embora não pudesse compartilhar o


porquê. Aparentemente, foi o suficiente para ela perguntar: — Você
gostaria de sair para jantar comigo amanhã?

— Não.

Sim.

Nada de bom surgiria se mostrasse meu lado verdadeiro para


Risa. Especialmente agora que estava encorajado pelo quanto ela,
obviamente, me queria. A melhor coisa para nós, era que evitasse
todo o negócio e me concentrasse apenas no motivo de estar aqui.

85
Um pensamento perturbador rompeu minha resolução. E se
eu não pudesse colocar minha máscara, porque queria mostrar a
Risa o verdadeiro Damian?

O novo começo onde Risa Kelly aprenderia que Damian Black


não era exatamente o homem que ela pensava que era...

86
Capítulo 16
Risa
— Você não deveria estar com medo.

Eu ri. Soava tão feio quanto nossas circunstâncias atuais.


Finalmente, Damian estava me confortando. Em qualquer outro
momento ele olharia para mim, com os olhos frios e clínicos, até eu
chorar — O quê?

Eu não me sentia tão insolente agora. Então olhei para as


minhas pernas e sussurrei: — estou com medo.

— Eu sei. — Ajoelhando-se ao lado da cama larga, ele beijou


meu tornozelo nu suavemente. — Você não deveria estar.

Deveria me sentir feliz por finalmente ter sua ternura,


infelizmente não aconteceu. O que só ilustrava como meu mundo
estava de cabeça para baixo. Especialmente porque desejei poder
subir em seu colo e senti-lo acariciando meu cabelo.

— Onde estamos?

Sua resposta imediata não penetrou imediatamente no meu


choque e confusão. — Minha casa de campo.

87
— Sua casa de campo.

— Sim. Estamos em mais de sete mil acres o vizinho mais


próximo fica a pouco mais de quatorze minutos de carro.

A ameaça estava implícita. — Não há mais ninguém aqui?

— Não. Só você e eu, Risa.

Olhei em volta, observando a roupa de cama luxuosa e a


decoração que a acompanhava com olhar neutro.

— Eu não sabia que diretores de TI ganhavam tanto dinheiro.


A menos que você tenha ganhado na loteria?

— A probabilidade estatística de ganhar na loteria é de cerca


de uma em cento e setenta e cinco milhões. Tenho mais chances
de ser atingido por um raio.

Antes teria sorrido e ousado chamá-lo de nerd. O que poderia


ou não me fazer acabar de bruços sobre suas coxas musculosas.
Ou talvez, rastejasse para ele, onde acabaria a seus pés pelo resto
da noite.

Agora tudo que podia fazer era fixar minha atenção no meu
colo. Me sentia derrotada e não assimilava bem. Com motivação
suficiente, eu geralmente conseguia tirar qualquer coisa do
caminho. Porém, um olhar para o rosto de Damian e sabia que
seria melhor economizar meu fôlego.

Meu cérebro e boca não entenderam a mensagem. De má


vontade, perguntei: — Você não ganhou na loteria, então como

88
pode possuir um lugar tão grande? Quer dizer, imagino que seja
grande se o tamanho deste quarto for uma indicação do resto de
sua casa.

— Essa é a pergunta que realmente quer fazer? O tamanho de


seu novo lar?

— O quê? Novo lar? Como assim, Damian?

— É, Risa? — Respondeu habilmente, ignorando totalmente a


frase “novo lar”.

— É realmente o que você quer saber?

O sorriso suave de Damian, acompanhado da ternura em seu


olhar, quase me destruiu.

— Não, não é.

Ele esperou pacientemente que eu perguntasse o óbvio. Se


não quisesse tanto saber, provavelmente deixaria ele apodrecer de
expectativa.

— Por quanto tempo pretende me manter acorrentada assim?


— Fiz um gesto para o meu membro acorrentado com uma
inclinação deliberada de minha cabeça.

— Pelo tempo que for necessário. — Damian estendeu a mão


e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. —
Depende exclusivamente de você.

Mergulhei mais fundo dentro da minha mente, incapaz de


assimilar que este Damian gentil e carinhoso era o mesmo homem

89
que me deixou inconsciente, trouxe para esta mansão isolada e me
acorrentou como um animal selvagem.

Como algo a ser quebrado.

Meus olhos lacrimejaram, obstruindo minha visão. Nada


poderia ser igual novamente.

— Entendo.

Damian subiu na cama e sentou ao meu lado.

— Não creio que você realmente compreenda.

— Não, na verdade não. — Lágrimas desceram pelo meu rosto


imóvel. Fiquei parada quando Damian as limpou com a ponta do
polegar.

— Você está com medo das correntes ou de mim?

— Ambos.

— Sinto muito, Risa. Realmente sinto.

Entorpecida, magoada e devastada, imaginei se poderia ter


feito algo para mudar as coisas. Encontrei-me falando apenas por
falar. Talvez fosse uma maneira desesperada de banalizar minhas
novas circunstâncias.

Ou talvez fosse o meu jeito de começar as negociações com


um louco.

— Esta pode ser a primeira vez que você pediu desculpas.

90
Damian considerou.

— Não. Eu me desculpei quando Gretchen estava esperando


na minha porta.

— Gretchen. Eu me lembro dela muito bem. Ela estava vestida


tão lindamente. Ela era tão, tão linda. — Levantei meus joelhos e
descansei meu queixo. O peso no meu tornozelo esquerdo parecia
incrivelmente real. Ainda esperava que Damian se virasse para
mim e dissesse: — Só estou brincando!

Exceto pelo fato de que eu sabia que Damian nunca brincou.

A desolação me consumiu por completo.

Como você pode ser tão cruel comigo? Você não sabe o quanto
eu te amo? Como pode partir meu coração tão cruelmente?

Eu queria chorar meu desespero. Em vez disso, sentei-me lá


enquanto Damian me acariciava como se eu fosse o animal de
estimação mais amado de sua coleção.

— Não precisava acontecer desta maneira, Risa, embora


esteja feliz que tenha acontecido. Você entenderá mais cedo ou
mais tarde.

Olhei para a porta fechada com sua nova fechadura. Eu o


assisti colocando mais cedo, ainda não compreendendo totalmente
o que aconteceu comigo, apenas para vê-lo sorrir quando perguntei
o seu propósito. Em vez de uma resposta, Damian me deu uma
suave virada de lábios para indicar piedade.

91
Apenas a lembrança me deixou furiosa. Raiva ferveu e minhas
palavras cresceram com dentes afiados.

— Não precisava ser deste jeito, Damian? Sério?

— Não, não precisava.

Eu desviei o olhar.

— Você está mentindo para mim. Teria acontecido, não


importa o que eu fizesse, pois você, obviamente, é um desgraçado
doente.

Damian guiou meu rosto de volta para o dele com um dedo.

— Eu sei que é… desconcertante, porém as regras ainda se


aplicam. Você deve se comportar como uma dama, Risa.

— Você só pode estar brincando! — Eu movi meu pescoço para


o lado. — Um cavalheiro nunca agiria assim com uma dama.

— Nunca prometi ser gentil.

— Mesmo assim você quer uma dama.

— Eu quero você.

— É o que você faz com todas as garotas?

Damian segurou minha bochecha novamente. Seus olhos


arrebatadores se iluminaram com paixão. — Não. Só você. Só você,
Risa. Sempre você.

92
Capítulo17
Risa
Um entusiasmo masoquista passou por mim, antes de ser
afugentado por uma confusão desfigurada pelo auto-aversão.

— Por que você fez, Damian?

— Porque não terminamos e não deixarei você ir até que


termine.

— Não sabia que você se importava tanto assim — falei


sarcasticamente.

— Bem, você está errada. Eu me importo. Muito, Risa. — Uma


expressão dramática surgiu. — Não permitirei que você destrua o
que temos.

Ele não deveria dizer algo assim.

Explodi com desespero acuado. Empurrando-o com todas as


minhas forças, sibilei e cuspi: — É tudo sobre controle, não é? Você
não pode suportar que eu tenha terminado primeiro. Você tem que
ser o único a expulsar as mulheres. Ninguém mais tem o direito,
não é? Bem, você sabe o que, Damian? Vá se foder!

93
Ele bateu a mão grande sobre a minha boca amarga.

— Pare! Não é o motivo de você estar acorrentada a esta cama.

Eu virei meu rosto não querendo nem mesmo um pouco de


conforto do seu toque. — Então por quê?

A expressão de Damian suavizou, significando que ele se


retirou profundamente para dentro de si. Ele me contemplou com
algo parecido com compaixão clínica.

— Eu poderia apenas deixar de lado sua pergunta, porém não


faria muito em nosso benefício a longo prazo.

Sua testa franziu novamente com desconforto.

— Eu tenho que te contar a verdade. Deveria ter contado


desde o começo, mas presumi que você não teria acreditado em
mim.

Mantive minhas palavras frustradas para mim mesma.


Mesmo agora, principalmente agora, ainda ansiava por uma
conexão de confiança entre nós. Então esperei, esticada na
prateleira das confidências de Damian.

— O que é?

Ele olhou de volta para mim. Encantada, vi como seu belo


olhar de duas cores escurecia com a indecisão.

— Eu te amo.

94
Fiquei petrificada, meu coração expandindo alegremente em
seguida murchando com minha descrença. — Não é verdade.

— Por quê? Por que te arrastei até aqui e te acorrentei? —


Damian se aproximou mais até ficarmos cara a cara. — Foi
exatamente por amá-la. Eu te amo, Risa.

Em qual porra de universo seria amor? Ele planejou o tempo


todo? Se sim, por quê?

Damian teve que mentir para mim, mantendo seus


verdadeiros motivos em segredo. Qual seria o propósito? Me
manter quieta, me impedindo de procurar a polícia? Medo apertou
minhas entranhas.

Quem é este homem pelo qual me apaixonei?

Aparentemente, era alguém muito perigoso não só por ter


planejado, mas por ter levado a cabo. Era somente eu ou haveria
garotas trancadas em outros cômodos desta casa?

O terror frio arrepiou toda a minha espinha. Nossas


negociações acabaram de piorar. Lambi meus lábios secos.

— Se me deixar ir agora, não contarei a ninguém o que


aconteceu. Eu prometo. Ninguém precisa saber.

Damian apertou os dentes e me encolhi. Seu olhar se fechou,


bloqueando todos os sentimentos da minha tentativa de
exploração.

95
— E você acabou de provar por que tenho que agir assim. —
Ele suspirou e se levantou da cama. — Não pretendo te matar,
Risa. Você não precisa negociar comigo.

— Por que você não me ouvirá?

— Se é o que você pensa.

Olhei para sua forma imponente. Entre o tempo em que


Damian me deixou inconsciente e o tempo que acordei em luxo
opulento, ele se trocou para um suéter e calças pretas, combinando
com seu coração negro.

Ele ainda é o homem mais bonito que já vi. Lindo, apesar de


louco.

Luxúria devassa me atingiu. Eu ainda o queria. Em outras


circunstâncias, teria relaxado e acomodado meu corpo da melhor
maneira possível, usando a corrente para induzi-lo a algemar a
outra perna. Auto-aversão me fez desviar o olhar da minha
tentação distorcida.

— Você não me deixará ir.

— Ainda não.

— Quando?

— Não até que você me ame novamente.

Sua resposta esvaziou minha raiva justa. — Damian.

96
— Por favor, não grite quando eu sair. — Ele se abaixou e
beijou minha boca muito suavemente. — Não quero te amordaçar.
— Então saiu do quarto e trancou a porta.

O caráter definitivo do som do metal deslocando-se derrubou


minha última defesa. Deitei a cabeça nos travesseiros luxuosos e
chorei.

97
Capítulo18
Damian
Fechei e tranquei a porta cuidadosamente. Sozinho no
corredor escuro, podia ouvir os sons suaves dos soluços de Risa. A
culpa me atingiu por um momento antes que eu a reprimisse
implacavelmente.

Suas lágrimas não significavam nada, se pudesse fazê-la ficar.


E sabia que poderia. Seus sentimentos por mim eram o caminho
para mantê-la ao meu lado. Enquanto me amasse, nunca me
deixaria.

Vagamente, me perguntei se era um monstro. Eu não deveria


estar mais chateado com minhas ações e, mais importante, com a
reação dela?

Pode ser, mas, sou quem sou. E não estou prestes a mudar
de curso. Farei o que for preciso para convencê-la de que seu lugar
é ao meu lado.

Não surpreendentemente, a minha confissão não a acalmou,


nem trouxe seu sorriso brilhante. Evidentemente, minha atitude

98
estava longe de ser irrepreensível. A rejeição irritou meu orgulho
por um momento. Como pude calcular tão mal as coisas?

Esta noite Risa praticamente implorou pelo meu afeto


duradouro e, quando dei a ela, se virou para mim como um gato
furioso. Ingrata, foi a primeira palavra que me veio à mente para
descrevê-la. Estúpido, foi a primeira palavra que veio à mente para
me descrever.

A culpa foi fácil de reprimir, de esquecer como se nunca


tivesse existido. A dor não foi tão fácil. Olhei para a porta, a mão
pairando sobre a maçaneta, debatendo se deveria voltar e pelo
menos abraçá-la.

Minha mão se fechou em punho. Nada que dissesse


consertaria o ferimento que infligi.

Afastei-me da mulher que capturou meu coração. Eu me


afastei.

Ela precisava entender seu lugar na minha vida e o meu na


dela. Eu faria o que fosse preciso para fazê-la entender, que a
situação estava tão fora de controle para mim quanto para ela.

99
Capítulo19
Um mês antes no
apartamento de Damian
Risa
— Acho que devo ir para casa.

— Por quê?

— Você precisa se despedir dela. — O sorriso alegre de Risa


se transformou em uma careta. Ela obviamente sentiu algum
desconforto ao demonstrar qualquer possível vulnerabilidade.

Eu me aproximei. Minha boca contraiu-se quando ela veio na


mesma direção.

— Quero que você espere por mim.

100
— Não. Não creio que seja uma boa ideia.

— Por que não? — Risa acabou de ver minha ex-amante


prostrada aos meus pés. Compreensivelmente, ficou chateada e
desconfortável. Minha incapacidade de permitir que a discrição e
polidez governassem o dia, aparentemente irritou Risa, se o rubor
em suas bochechas fosse qualquer indicação. Previsivelmente, ela
negou com seu sorriso rápido e deu de ombros.

— Eu não me sinto confortável. É tudo.

Eu sabia.

— É lamentável para todos nós, Risa. Embora eu não queira


que estrague a nossa noite. Cuidarei dela e, assim que o fizer,
poderemos continuar.

Risa evitou olhar para a mulher fungando, ainda pairando ao


lado da minha porta trancada.

— Você realmente está perturbado — ela murmurou


suavemente.

Meu ego levou um golpe, mas o que eu poderia dizer?


Definitivamente não estava exibindo meu melhor lado desde que
falei com Risa pela primeira vez. Talvez ela estivesse certa. Talvez
eu esteja perturbado, pelo menos em se tratando dela.

Ainda assim não queria que fosse embora.

— Fique.

101
Ela balançou a cabeça. — Você deveria entrar com ela, lhe dar
algo para beber. Talvez algo para comer também.

— Não é o que você realmente quer. — Meu olhar frio a


desafiou a negar. Muito ruim para mim, ela se afastou.

— Eu quero. — Risa estendeu a mão e alisou a lapela preta


do meu casaco. — Vejo você no escritório amanhã. Passe por lá…
para… se certificar de que minhas árvores de arquivos estejam
organizadas corretamente.

— Eles não estão. Você tem muitos arquivos com nomes de


classificação indistintos. Eventualmente, lhe causará um grande
problema num momento inconveniente. — Meus dedos pararam
suas carícias nervosas. — Você não quer realmente me deixar
sozinho com ela. Por que você está fingindo o contrário?

Eu sei que você está com medo, Risa. Não pense que esconde
de mim.

— Não estou fingindo. — Ela ficou na ponta dos pés e beijou


minha bochecha. — Faça o que precisa fazer. — Risa engoliu em
seco e se atrapalhou com suas palavras. — Se as coisas mudarem,
ou se você mudar de ideia sobre me ver, não se preocupe. Sem
ressentimentos, ok?

— Tenho que admitir uma coisa Risa. — Eu absolutamente


odiava a cautela escondida por trás do seu entusiasmado
movimento de cabeça e o sorriso digno de um vendedor. Ela nunca
deveria ter usado este olhar perto de mim, não quando estava

102
sendo tão civilizado. — Eu não suporto a sua postura “sem
ressentimentos”.

— Sério? Por quê?

Ela me interrompeu antes que eu pudesse responder.

— Eu só quero que você saiba, que ainda podemos ficar bem


um com o outro se as coisas não derem certo.

— Para uma gestora de contas, você desiste muito facilmente.

— Eu não!

— Sim. — Eu me abaixei e saboreei sua emoção fisicamente


dominada pelo meu tamanho. Eu nunca namorei alguém tão
pequeno em estatura. Me perguntei o quão diferente seria estar na
cama com ela, em comparação com as mulheres mais altas que
tive no passado. — Não há nenhuma razão para não dar certo,
garotinha, então, por favor, evite me dar suas palestras
conciliatórias.

Risa bufou. — Chama-se ser legal, Damian. Algo que


recomendo que você tente ser. De verdade.

Eu a impedi de se afastar de mim com um puxão firme em seu


rabo de cavalo.

— Você não quer legal. Se quisesse, teria me dado um soco na


garganta muito antes.

— Sério?

103
Ela pensou que eu estivesse brincando. Estava
completamente sério. — Sério, muito sério.

— Você é tão arrogante.

— Tomarei como verdade. — Me abaixei para sussurrar em


seu ouvido: — Eu realmente quero que você espere por mim.

— Enquanto você faz o quê? — Risa manteve sua voz tão


suave quanto a minha.

Ela estava descongelando. Muito bom.

— Levarei Gretchen até o carro dela e voltarei para que


possamos continuar a nossa noite.

Sua cabeça se abaixou em consideração. Eu podia ver a


batalha entre o que ela realmente queria e o que seu orgulho
ditava. Imaginei que seu coração estivesse tentando sair de seu
peito, por toda sua falsa quietude.

Ela precisava de estímulos, algo no qual eu era muito bom.

— Não é tão difícil tomar uma decisão, é? Tudo que você tem
a fazer é esperar por mim cinco minutos. Nada mais.

Apenas faça o que eu digo, Risa e não se arrependerá!

— Não, eu vou para casa.

Então soube que havia perdido minha conexão com ela. Não
tive que me virar para saber por quê.

104
— Estou pronta para voltar para o meu hotel, Damian e não
me sinto confortável para dirigir.

— Gretchen, eu pedi que você esperasse por mim. — Percebi


meu erro colossal, assim que as palavras lacônicas surgiram.

Como pude dizer a ela a mesma coisa que acabei de dizer para
Risa? Porra!

Risa se retirou para dentro de si mesma, deixando-me do lado


de fora de sua indiferença superficial. Deu outro sorriso falso e se
virou com uma rápida saudação.

— Deixarei vocês dois sozinhos. Obrigada pelo jantar. Até


amanhã no escritório!

— Sinto muito, por esta noite.

— Não é nada demais! — Ela falou por cima do ombro. Saltos


se afastaram em silêncio, me deixando sozinho com o meu
passado.

— Boa garota. Foi por causa dela que você me deixou?

— Não. Eu te deixei muito antes de conhecê-la e, mais


importante, deixei você porque estava na hora. — O lamento
angustiado de Gretchen mostrou a necessidade de eu minimizar
seu sofrimento. — Sinto muito pela forma como as coisas
terminaram. Realmente sinto.

— Não sente o bastante para não seguir em frente.

105
— Não, não sinto o suficiente para não seguir em frente. —
Esperei que Risa voltasse. Viemos no meu carro e o apartamento
dela ficava a cinco quilômetros do meu.

Ela não poderia caminhar uma distância tão longa.


Especialmente a noite.

— Eu a odeio.

— Não, você não odeia.

— Sim, eu odeio, Damian. Eu a odeio por tirar você de mim.

Eu não me preocupei em negar sua acusação. Acreditaria no


que quisesse e não estava disposto a tentar argumentar com ela.
Além do mais, apenas lhe daria falsas esperanças.

— Eu te odeio por mudar para cá e assumir a posição do


diretor quando realmente não precisava.

— Meu negócio dita minhas ações, Gretchen. Você sabe muito


bem.

— Tudo bem. Eu odeio que esteja acabado entre nós e não


exista nada que eu possa fazer.

— Sinto muito pelo término também, Gretchen. — Minha


atenção fixa no final da passagem. Nada, surpreendentemente,
Risa deixaria seu orgulho ditar suas ações. Menina tola. Eu teria
que reprimir este tipo de comportamento no futuro.

— Ela sabe quem você realmente é?

106
— Claro que não.

— Ela sabe como você é realmente?

— Não. Você realmente não sabe quem eu sou também. — Eu


não queria que minha declaração fosse indelicada. Simplesmente
era a verdade.

Gretchen respirou fundo. — Talvez sim, porém você não está


jogando justo com ela. Pode explodir na sua cara. Eu já vi acontecer
antes.

— Não comigo.

— Não. Quer dizer, já vi acontecer com outra pessoa.

Desejei que Risa voltasse para mim. A passarela ainda vazia


provou que não aconteceria. Não deveria ter cedido ao seu orgulho.
Eu deveria tê-la jogado por cima do meu ombro e trancado no meu
quarto.

É cedo demais para tal gesto. Muito cedo.

— Damian?

A voz lírica de Gretchen estava começando a me irritar.

— Eu te ouvi. É a história de outra pessoa. Não minha.

— Talvez. Você não pode manipular alguém para este tipo de


mundo, Damian. No seu mundo. Você sabe muito bem. Você é um
canalha encantador quando deseja ser. Use seu feitiço e ela cairá
em seus braços. Ela quer... tudo o que você precisa fazer é se abrir

107
um pouco. — Gretchen fungou deselegantemente. — Embora,
ninguém saiba por que estou te dizendo o que fazer.

Um raro sorriso cruzou meus lábios. — Eu agradeço sua


lealdade, Gretchen, mesmo que seja um pouco grosseira.

Ela se moveu e tocou brevemente meu braço.

— Me desculpe por ter vindo. Agora posso ver que foi um erro.
Realmente, pensei que éramos certos um para o outro.

A dor de Gretchen se agarrava a mim como um perfume ácido.


Eu afastei a sensação em respeito ao que compartilhamos. — Eu
também.

— Então o que mudou?

— Confundi meu carinho por você com algo permanente.


Estava errado.

— Se você só quer transar com ela, então faça. Contanto que


volte para mim, realmente não me importo com o que faz.

Eu sabia o quanto custou a Gretchen dizer tais palavras.


Inteligente, orgulhosa e implacável, ela era minha igual em tudo,
menos nisso.

— Eu nunca faria algo assim com você. Eu não compartilho e


nunca esperaria que você compartilhasse.

— Então o que você quer? — A boca apertada de Gretchen e


a testa franzida imploravam por compreensão.

108
— Eu a quero. Completamente. Quero quebrá-la, corrigir suas
imperfeições e transformá-la em quem eu sei que ela pode ser.

— Eu deixo você fazer comigo, Damian. Nunca deixei ninguém


fazer, só para você saber. Eu quebro homens. Eu não os deixo me
quebrar e ainda assim, deixaria você fazer.

Não se trata de me deixar. Eu não quero que ela me deixe. Eu


quero que Risa faça. Eu quero obrigá-la a fazer e que ela me ame
ainda mais por forçá-la.

Suspirei. Era uma coisa vil e mesquinha. — Você me deu


muitas lembranças lindas, Gretchen, agradeço por todas elas.

— Você está partindo meu coração com sua amabilidade.


Prefiro que me ponha em suas pernas e me espanque até eu gritar.

Finalmente me virei, desistindo de esperar que Risa voltasse.


Segurei a bochecha de Gretchen. Minha ternura lhe trouxe mais
tristeza e fiquei muito triste. — Você só está jogando do meu lado
do mundo, Gretchen. Nunca foi feita para ser minha.

— Você está errado. Estava destinada a ser sua. Eu tinha que


ser... — sua voz falhou. Seus cílios se abaixaram para esconder as
lágrimas brilhando em seu olhar ferido. — Por que mais sentiria o
que sinto por você?

— Porque você se permite. Eu era a opção mais segura porque


alguma parte de você sempre soube que terminaria assim. — Eu a
envolvi em meus braços. O cheiro delicado do seu perfume me

109
lembrava rosas e tempos mais felizes entre nós. — Você nunca
poderia ser só minha. Não do jeito que eu quero.

Gretchen deu um passo para trás e fechou os olhos com força.


— Eu deixei você fazer tudo o que queria comigo. Como pode não
ter sido suficiente?

— O que estou procurando, o que vejo em Risa, não é o mesmo


que nós tivemos.

— Então, o que é?

Eu sorri com a pergunta relutante. O intelecto curioso de


Gretchen não podia ser negado mesmo no meio da mágoa. Ela
acabaria vendo que fiz a nós dois um grande favor ao deixá-la ir.
Gretchen possuía a alma de um predador. Seu tempo de presa
comigo deixaria a fome mais apurada, especialmente agora que
entendia como era ser devorada.

O negócio de Gretchen como dominadora estava destinado a


se beneficiar de sua mágoa. Eventualmente ela veria que era tudo
para o melhor. Gretchen Smith merecia toda a felicidade do mundo
e um homem que a visse do jeito que eu via Risa.

Como o desafio final e mais importante...

Passei os dedos em sua bochecha aristocrática, de repente


sentindo minhas emoções suavizarem com nostalgia e satisfação
por possuir a devoção desta bela criatura por tanto tempo.

Adeus, minha doce fada.

110
— O que é isso?

É algo que nem eu entendo completamente. Tudo o que sei é


que, ao sofrer por ela, finalmente encontrarei meu propósito.

— Qual seria?

Meu tom refletia o dela, medo e perplexidade.

— Amar somente ela.

111
Capítulo
20
Risa
Damian me deixou sozinha pelo resto da noite, mas apareceu
assim que se tornou claro o suficiente para se qualificar como
manhã.

Eu me assustei, acordando assim que a pesada porta se abriu.


Me encostei na cabeceira da cama, a boca fechada e os olhos
cautelosos fixos nele. Sem camisa, Damian usava as mesmas
calças que usou na noite anterior. Sabendo o quão meticuloso ele
era em relação a suas roupas, esperava que significasse que ele
não estava completamente confortável com a situação quanto
parecia estar.

Espero que se sinta mal. Espero que ele engasgue com isso.

Damian equilibrava uma bandeja de prata em uma das mãos


e carregava um copo grande na outra. A comida capturou minha
atenção completamente. Meu estômago roncou alto.

112
— Não perguntarei se você dormiu bem. No entanto, quero
saber se gostaria de ir ao banheiro antes ou depois de comer.

Vários segundos se passaram em tenso silêncio. Damian


ergueu a sobrancelha e esperou com a paciência de santo. Ou
demônio. Era bastante difícil dizer qual, considerando as
circunstâncias.

— Banheiro.

— Ok. Você deveria saber que é por aquela porta ali.

— Você fará algo sobre isto? — Apontei para a corrente,


recusando-me a tocá-la.

Sua sacudida decisiva de cabeça levou minha esperança de


que a manhã traria algo novo.

— Não. Isto fica.

— Damian... eu...

Ele parou no meio de colocar a bandeja e copo. Avisou sem


olhar para mim — não vou tirá-la.

— Você está me machucando. — Minha voz saiu áspera,


estrangulada pelo meu profundo sentimento de traição. — Você
está me machucando tanto.

— Eu sei.

A calma de Damian desencadeou um grito de raiva. Peguei um


travesseiro atrás de mim e joguei nele. Que simplesmente se

113
esquivou do míssil de penas. Cerrei os punhos e gritei: — Por que
você está agindo assim?

Olhe para mim! Por favor não faça isso! Por favor, Damian!

Damian colocou a comida rapidamente na mesa de cabeceira


ao lado da cama antes de ligar a lâmpada.

— Você não está no estado de espírito certo para ouvir


qualquer coisa que eu tenha a dizer. Você quer suco?

— Responda-me! — Eu o chutei com os meus dois pés.

Ele respirou profundamente e bateu o copo. As palavras


saíram dele ríspidas e impiedosas.

— Porque é o que você precisa.

— Não!

— Sim! — Damian me virou na cama. Ele pressionou meus


joelhos com uma mão, pondo fim à minha birra agitada. — Você
está me perguntando o óbvio, não o que realmente deseja saber.

Minha fúria vacilou por causa da sua confiança.

— Você está errado. Eu realmente quero saber por que você


me acorrentou como um cachorro!

— Poderia ter te acorrentado sempre que quisesse, Risa, você


teria adorado. Poderia ter feito você gozar só de pensar em ser meu
animalzinho de estimação. Não é o que está te incomodando.

114
Seu pronunciamento foi muito próximo dos meus
pensamentos da noite anterior. Recuei e o chutei no estômago. O
som de sua dor deixou uma marca satisfatória em uma situação
de pesadelo.

— Experimente ser acorrentado contra a sua vontade e então


pode me dar um sermão sobre o que realmente está me
incomodando.

Damian se ergueu. Ele era um gigante muito ágil. — Pare de


deixar seu orgulho e como você acha que deveria reagir controlar o
que está realmente sentindo.

Eu queria gritar. Não queria que Damian falasse comigo como


se eu fosse culpada pela situação. Odiava seu exterior calmo e
sereno, acima de tudo, eu me odiava.

Até mesmo agora, só queria que ele me abraçasse e fizesse


tudo melhorar. Idiota! Como posso pensar tanto lixo?

— Você planejou desde o início.

Ele não negou, nem confirmou. — Por que você acredita que
eu faria algo assim, Risa?

— Para provar que está no comando! Para provar que não


posso fazer algo com o qual você discorda! Para me punir!

— Errado.

Soltei um grito de impotência e desespero. Eu queria pegar


minha corrente e envolvê-la em seu pescoço.

115
Damian caiu na cama ao meu lado. — Coloque tudo pra fora,
garotinha. Diga-me o que está sentindo.

— Não! — Eu apontei um dedo em seu rosto. — Não tente agir


como se você se importasse, como se quisesse me fazer sentir
melhor. — A lembrança bateu em mim. Respirei fundo como se
estivesse mortalmente ferida.

É exatamente o que Gretchen pensou. Exatamente o que ela


sentiu enquanto chorava a seus pés. Como ela sobreviveu? Como eu
sobreviverei?

— Sim, eu me importo. Você sabe por quê? Porque você


pertence a mim e sempre pertencerá. — Damian me abraçou. —
Sssh, garotinha. Pare de lutar. Eu ainda sou o homem que você
ama. Nada mudou.

O constrangimento me fez passar por idiota. — Amo? Como


você sabe... por que você acha que... eu não amo...

— Você termina a frase e realmente farei você se desculpar


por mentir para mim.

O veneno na ameaça de Damian me silenciou por três


segundos. — Você não merece nenhum tipo de verdade de mim.
Você fodeu tudo, Damian.

Ele suspirou e se recostou na cabeceira da cama comigo


firmemente na mão.

— Eu não planejei, Risa, mas tirarei o melhor proveito.

116
— O melhor proveito. Me nocautear e me trazer para cá e me
amarrar como um animal malcomportado é a sua ideia de fazer o
melhor possível?

— Sim. Você verá. — Eu tentei me afastar. Damian apertou


seus braços em volta de mim. — Estou feliz por você tentar fugir.

— Eu não estou feliz por você ter me pegado.

— Você diz agora.

— Direi sempre. — Nossa luta me lembrou dos velhos tempos,


tempos melhores.

— Nós não podíamos continuar do jeito que estávamos. Não


era honesto. Nós transamos, passamos tempo juntos, brincamos,
fodemos um pouco mais, só não era o que eu queria para nós, Risa.

— Eu gostei o suficiente.

— Mentirosa! — Ele beliscou meu quadril. — Não tenha medo,


nem tudo mudou.

— Mudou. Eu não posso confiar em você.

— Você nunca confiou. Você teve um pé fora todo o tempo que


estivemos juntos.

A perspicácia de Damian me chocou. Nunca suspeitei que ele


soubesse. Mesmo assim, não consegui admitir.

— Não é verdade.

117
— Sim. Tem sido assim desde que você viu Gretchen.

Empurrei o braço dele.

— Então por que continuei me encontrando com você?

Damian apertou seu abraço até que ofeguei.

— Ciúmes.

— Você é tão presunçoso! — Estremeci aguardando um aperto


brutal que nunca veio.

— Não sou. Apenas te conheço, Risa. É tudo. Conheço você


desde a primeira vez que a vi. — Ele acariciou minha bochecha
gentilmente. — Soube que você seria tudo para mim. Soube e me
irritou.

— Por quê?

— Porque eu não queria ter que machucar Gretchen, por


nunca ser capaz de voltar para ela.

118
Capítulo 21
Risa
Eu mexi um dos meus braços livres e dei um tapa em Damian.
O som feio de carne atingindo a carne inflamou minha miséria.
Nunca o atingi ou a alguém assim antes. Eu não era uma pessoa
violenta. Realmente não era, a raiva que fervia dentro de mim me
transformou em outra pessoa.

Alguém que não reconhecia.

Oh meu Deus!

Amargando minha culpa, eu gritei: — Se você a amava tanto,


talvez devesse ter ficado com ela em vez de desperdiçar seu tempo
comigo!

Sua bochecha ficou vermelho sangue. Meu tapa se tornou


uma tatuagem lindamente não permanente. O olhar de Damian
brilhou de raiva, sua voz permaneceu suave como sempre.

— Estou deixando você se safar neste momento porque está


provando que estou certo. Não faça de novo.

119
— Eu não deveria ter feito. Sinto muito, mas você não tem o
direito de jogar na minha cara, Damian.

— Por que você reagiu tão violentamente quando falei o nome


dela? Você é ciumenta?

— Não!

Ele tocou sua bochecha brevemente.

— Sim, você é. Você está doente de ciúmes, sempre esteve.


Lamento se não fiz mais para resolver antes, resolverei agora.

A arrogância deste homem! — Não se incomode.

— Eu me recuso a passar o resto das nossas vidas com isso


pairando sobre nossas cabeças.

Meu estômago se contorceu ainda mais. A imaginação de


Damian era uma paisagem elegantemente brutal. Sua ameaça
poderia significar qualquer coisa. Sufoquei meu medo com
desprezo fingido.

— Não é ciúme. Só não gosto de você esfregando a pobre


Gretchen na minha cara. Talvez não goste de você me culpando por
deixá-la. E talvez, apenas talvez, não goste do que você fez comigo!

— Eu não a deixei por sua causa. Eu a deixei, porque nosso


relacionamento seguiu seu curso. Você não teve nada a ver com
esta encruzilhada em particular.

O sangue frio de Damian ficou sob a minha pele. — Eu não


me importo.

120
— Claro que se importa. Você prefere me ouvir dizer que a
deixei por sua causa? Que me apaixonei por você à primeira vista?
Acalma seu orgulho, Risa?

Fechei os olhos e saboreei a corrida masoquista por Damian


se enraizando em meu eu secreto. Eu realmente me tornei
superficial? — Você teria acorrentado Gretchen assim?

— Não, menina vaidosa, eu não faria com ela ou com qualquer


uma com quem estive. Eu já te falei. Eu fui sincero.

Algo bonito e sombrio empurrou o terreno árido da


normalidade.

Ele não está mentindo para mim.

Eu murchei e descansei minha cabeça no o peito dele. Meu


coração se aliviou apenas o suficiente para dizer: — O cativeiro me
torna especial então.

— Sim. Estou feliz que tenha entendido tão rapidamente. —


Ele beijou minha bochecha. Estremeci com a pessoa por quem me
deixei aprisionar.

— O que há de errado? Está com frio?

— Você sempre me faz pagar por tudo que faço contra você.

— Sim, é verdade.

— Eu dei um tapa em você. Forte.

— Sim eu percebi.

121
— Você me cobrará por bater em você.

Ele me apertou e riu.

— Não seria punição se você soubesse quando e o que


aconteceria, seria?

— Não, não seria.

— Não faça beicinho, Risa. É impróprio da minha garota


especial. — Ele suavizou a severa repreensão, me colocando de
joelhos. — Você vai parar de lutar comigo?

Sim. Quero que as coisas voltem a ser como eram.

Era impossível. Tudo havia mudado.

Me assustou como capitulei tão rapidamente sob o feitiço de


Damian. Bastou uma simples sugestão de amor e afeto facilmente
lançada para me ter sob seu controle novamente. Eu sabia o que
precisava fazer.

O que já deveria ter pensado assim que cheguei.

De alguma forma precisava que Damian baixasse a guarda e


então conseguiria fugir. O que aconteceria depois era algo que não
conseguia pensar agora.

— Sim.

— Não.

122
Ele me observou, me puxando sem esforço para seu olhar
exótico.

— Posso confiar em você, certo?

— Sim.

— Não.

— Você não lutará comigo?

— Tanto quanto eu posso me impedir.

— Cada passo do caminho.

Ele sorriu.

— Eu acredito em você.

Tenho a estranha sensação de que ele estava me testando.


Envergonhada, tentei distraí-lo.

— Damian, você sabe que é tudo loucura, certo? Acreditar em


mim?

Uau. O que acabei de perguntar a ele? Estava tentando me


sabotar?

— Eu acredito em você.

Baixei meu olhar. Além da lógica, além do certo, senti-me


culpada.

— Eu sempre confiei em você também, Damian.

123
— Até agora.

Ele balançou a cabeça com a minha mentira.

— Se você tivesse, você não teria tentado me deixar na noite


passada.

Não existia nada que eu pudesse dizer que pudesse afetar


nossa situação. Eu tinha o direito de sair se quisesse. Obviamente,
Damian não concordou é o motivo de eu estar acorrentada à cama.
Qualquer coisa dita neste momento seria simplesmente andar em
círculos.

Ainda assim, eu não podia ignorar a mágoa muito real que se


escondia por trás das palavras dele.

— Por que você tentou me deixar?

Eu apertei meu queixo.

— Que diferença faz?

— Porque eu quero saber. Você me deve pelo menos uma


explicação.

— Porque eu... — eu amo você e você não me ama. — Você


realmente quer saber?

— Conte-me.

— Porque vi como você estava olhando para mim.

124
— Como eu olhei para você? Você tentou terminar comigo por
causa de um olhar.

Sua fala arrastada me fez sentir ridícula além das palavras.

— Você parecia me odiar. — Eu vi.

— Por que eu odiaria você?

Damian perguntou com a certeza de um homem inocente. Eu


não sabia o que era pior, a dor crescente no meu coração ou a
contusão em meu orgulho.

— Risa?

O tom impaciente me persuadiu a dizer: — Eu sei que você


não gosta muito de mim na maior parte do tempo. Você
constantemente, pega no meu pé por tudo o que eu digo ou faço.
O único momento em que parece gostar de mim é quando estou
nua. Eventualmente o desejo acabaria. Decidi nos salvar do
constrangimento.

Damian me tirou de cima dele colocando-me do seu lado. Ele


então espelhou minha posição.

— Não, você decidiu poupar-se do constrangimento por não


discutir seus sentimentos comigo.

— Você teria me escutado?

Ele não respondeu imediatamente.

125
— Estou ouvindo agora. O que você chama de – pegar no pé –
eu chamo de – interesse. No entanto, você está certa. Existem
certas coisas que não gosto em seu comportamento.

O silêncio carregado se estendeu entre nós. Limpei minha


garganta e cruzei meus tornozelos. Seria uma longa lista. Eu
poderia muito bem me acomodar e suportar o melhor que pudesse.

— Tais como?

— Eu não gosto da sua necessidade contínua de esconder as


coisas de mim.

— Eu não escondo tudo de você. Eu só preciso de alguma


privacidade. É tudo.

— E é um problema.

— Não, não é. Não sei quase nada sobre você. Por que você
tem direito à privacidade e eu não?

— Você nunca perguntou sobre a minha vida.

Eu abri minha boca para retrucar antes de me calar. Ele


estava certo. Fiz questão de não forçar.

— Você é sempre tão cauteloso com suas palavras, imaginei


que seria assim com sua vida.

Seus lábios sensuais se curvaram em um sorriso irônico.

— Eu não sou sempre tão cauteloso.

126
— Então, é só comigo?

— Na verdade, sim.

— Acho difícil de acreditar.

Damian riu.

— Eu sei, mas é verdade.

Sua felicidade me atingiu como uma faca. Agora ele queria


estar perto, eu não. Não assim. Mesmo que meu coração idiota
vibrasse com o fato de ele finalmente compartilhar confidências
comigo, precisava permanecer forte.

Eu não podia esquecer que, apesar de toda a gentileza,


Damian ainda estava me mantendo em sua casa contra a minha
vontade. Em contraste direto com o aperto no peito, falei
levemente: — Bem, nós não temos nada além de tempo para
compartilhar agora, já que não irei a lugar nenhum tão cedo.

127
Capítulo
22
Risa
Damian beijou minha face. — Obrigado.

— Pelo quê?

— Por ainda querer me amar.

Lá vem de novo. Dor. Dor porque, desde que conheci Damian,


tudo que sempre quis foi o amor dele e agora tudo que eu possuía
era arrependimento. Estava com medo e com raiva. Pior, quanto
mais ficava com Damian, mais confusa me sentia sobre estar aqui
com ele.

Se fosse apenas sexo, não ficaria tão aflita. Adoraria ser


acorrentada a sua cama durante um fim de semana inteiro.
Adorava ser o centro de sua atenção, no entanto, parecia tudo tão
errado.

128
Não era?

— Você pretende me liberar na segunda-feira? — perguntei,


enquanto desenhava um círculo na minha perna.

— Depende de você.

Eu odiava sua atitude evasiva! — Serei demitida se não for


trabalhar, Damian. Você tem que entender.

— Não, você não será demitida. Eu prometo.

— Como pode prometer?

— Eu tenho autoridade para dizer que seu chefe não a


demitirá.

— Você não explicará melhor?

Damian balançou a cabeça dando-me outro pequeno sorriso


enigmático.

Minha raiva retornou. Engoli tudo e foquei a atenção em


minhas mãos.

— Se você confiasse em mim, não ficaria chateada, Risa.

— Se eu confiasse em você? — Explodi. — Damian, você


realmente não entende que o que fez é errado? Você enlouqueceria
se eu fizesse a mesma coisa com você.

Ele bateu em minha testa com o dedo. — Eu não sou você.

129
Eu não dava a mínima para minha testa franzida. — Não, você
não é. Aparentemente sou uma completa idiota por não pegar esta
corrente e sufocá-lo até a morte com ela.

— Você ficaria com o coração partido pelo resto de sua vida.


— Damian beijou o topo da minha cabeça e me abraçou com força
para se garantir. — Não ficaria? Diga-me!

— Talvez. — Esfreguei minha bochecha em seu peito nu. Eu


tinha um papel a desempenhar até conseguir minha liberdade,
embora fosse muito fácil esquecer quando estava em seus braços.
Estar com Damian parecia tão certo. — Você realmente me
manterá prisioneira.

— Claro. Não há ninguém para nos impedir.

Significa que você já fez e não posso te impedir.

— Você me acorrentou a uma cama, me trancou em um


quarto, e estou deitada bem perto de você. Quero dizer o que sua
atitude diz sobre nós? Sobre mim?

Se não corrigir minha conexão cérebro-boca logo me


entregaria para Damian.

— A sociedade não importa. O que outras pessoas pensam,


não importa. Nada importa além de nós.

— Tenho certeza de que a polícia pensaria diferente.

Damian segurou minha nuca.

130
— Tenho certeza que sim. Embora seja bastante hipócrita,
considerando-se que a lei é conhecida por ser criativa na solução
de problemas.

— Você é tão confiante.

— Eu tenho que ser. De outra forma…

— Caso contrário, o quê?

— Você é inteligente, Risa. Preencha os espaços em branco.

Você me manterá aqui para sempre ou até um de nós se


quebrar.

— E se eu não concordar com o que você fizer?

— Você irá.

— E se eu não puder te dar o que você quer?

— Você pode.

— E se eu desaparecer?

— Eu te encontrarei.

— Você realmente me ama?

— Sempre.

Eu não conseguia controlar meus sentimentos ou minhas


palavras mais do que as estrelas. Talvez fosse o estresse das
últimas doze horas ou talvez porque ele estivesse bem aqui, do jeito

131
que sempre sonhei, de repente, precisava ser honesta, pelo menos
sobre meus sentimentos.

— Damian, eu também te amo. Eu te amo para sempre.

Seu sorriso extasiado fez minha loucura questionável valer a


pena.

— Você aceitará tudo sem lutar comigo?

— Sim.

Não.

— Mesmo sem saber o que virá?

Meu entusiasmo vacilou. — Sim.

Não.

— Será brutal, Risa. Para nós dois. Lembre-se.

Balancei a cabeça. — Lembrarei.

— Bom.

Limpando minha garganta falei: — Damian, odeio ser rude,


preciso fazer xixi.

— Ok — Ele colocou um braço por baixo das minhas pernas


e me levantou da cama.

— O que você está fazendo?

— Levando você ao banheiro.

132
— Eu posso ir sozinha!

— Você perdeu esse privilégio quando usou suas mãos contra


mim.

— Quer dizer que não posso ir sem você me levar?

— Gosto tanto de seu raciocínio rápido. Nos poupa muito


tempo.

— Tem que haver outra coisa que você possa fazer.

— Negociar não é uma opção comigo. Espero que entenda tão


rápido quanto entendeu neste momento. — Damian abriu a porta
do grande banheiro da suíte. Ele me deixou perto do vaso sanitário.
Fiel à sua palavra, a corrente tinha comprimento suficiente para
entrar na banheira de hidromassagem também.

Meu batimento cardíaco acelerou, mas tentei manter o


controle sobre minhas emoções externas.

— Ok, você pode ir agora. Obrigada pela carona.

— Não, minha doce Risa.

O horror dominou minha descrença quando o sorriso


angelical de Damian escureceu com prazer sádico.

— Me desculpe... eu... eu não entendi.

— Você entendeu perfeitamente bem.

133
Capítulo 23
Três semanas antes no
prédio de escritórios de
Risa e Damian
Ela estava me evitando. Novamente.

Controlei meu temperamento quando sua saia preta voou em


sua corrida louca para o banheiro. Foi quase cômico o jeito que ela
me deu uma olhada, antes de se lançar para a porta.

Você realmente magoará meus sentimentos se for mais óbvia.

Depois de ver Gretchen entrar em seu carro na noite anterior,


dirigi o trajeto entre o meu apartamento e o de Risa oito vezes. Nada
de encontrá-la. Liguei duas vezes. Sem resposta. Eu a amaldiçoei
duzentas e sessenta e sete vezes. Nenhum alívio.

134
Agora, vendo-a em perfeita saúde, entusiasmada o bastante
para se esquivar de mim, escondendo-se no banheiro e me achando
estúpido o suficiente para continuar caminhando apenas para
manter as aparências, criou uma ruptura perigosa dentro do meu
autocontrole.

Que se dane! É hora de Risa ver um pouco de quem realmente


posso ser.

Fui até a porta, verifiquei o corredor e entrei. Se existisse


alguém além dela, faria uma expressão confusa, tagarelaria
minhas desculpas e me retiraria.

Se não…

Risa, esse tipo de comportamento é completamente inaceitável.


Hoje será o dia em que você aprenderá diretamente da minha mão.

Olhei ao entrar e sorri. Pequeno, com apenas três cabines


desocupadas, era fácil vê-la desprovida de obstáculos irritantes
para respirar. O banheiro vazio imediatamente se transformou em
uma caixa de tesouro cheia de deliciosas possibilidades.

Pena que é muito cedo em nosso relacionamento para


realmente fazer algo a respeito.

Tranquei a porta e caminhei até a pequena mulher que


pairava na parede oposta.

— Pare de franzir a testa!

135
Ela se virou, respirando meu nome em choque. — O que você
está fazendo aqui?

O pequeno tremor em sua voz me deixou duro. Normalmente,


tentava ser um bom menino, porém algo nela despertava o homem
mau em mim. Esperava forçar seus limites um pouco mais.

— O mesmo vale para você.

Ela esticou a cabeça para olhar ao redor do meu braço.

— Damian! Você não pode estar aqui! E se alguém entrar?

— Eu tranquei a porta.

— Você não pode estar aqui, tem que sair agora.

Ordenou, realmente esperando que a obedecesse. Pobre


garota. Ela ainda não entendeu que tipo de homem assumiu
quando concordou em sair comigo.

— Por que você está me evitando?

— Eu não estou. — Seu rubor a traiu.

— Mentirosa! — Eu invadi seu espaço pessoal. Ela recuou


para a parede cinza. O alto de sua cabeça ia até a parte inferior da
gravura de flores emolduradas. — Eu procurei por você ontem.
Estava muito preocupado que algo pudesse ter lhe acontecido.

— Bem, como pode ver, estou bem. — Sua explicação ofegante


terminou com um deslumbrante sorriso falso.

136
— Você não atendeu o telefone ontem.

Ela desviou o olhar. — Eu sei. Simplesmente não estava com


vontade de conversar.

— Por que não queria conversar comigo?

— Tenho certeza que você pode descobrir, Damian. — Seu


olhar ressentido bateu em mim antes de se afastar.

Desafio. Interessante.

— Eu não queria que você fosse embora ontem.

— Você estava mais do que ocupado para me receber.

— Sim, mas eu queria passar um tempo com você.

— E Gretchen queria passar o tempo com você. Triângulo


estereotipado, certo?

Eu sorri. Meus dedos formigaram com o desejo impróprio de


puxá-la para mim.

— Só pode existir triângulo se o vértice superior não puder


decidir entre os vértices inferiores. Nós somos definitivamente um
segmento de linha.

— É o que você diz agora.

— E direi sempre. — Peguei sua jaqueta preta com camisa


combinando. — Você está muito bonita. — Minha mudança de

137
assunto a confundiu. Estava satisfeito, mal resisti ao impulso de
dar um tapinha em sua carranca.

— Obrigada.

— Você notou algo semelhante em nós?

Os olhos escuros de Risa dispararam do meu peito, para cima,


para baixo e depois voltaram novamente. — Você também está
vestido todo de preto hoje.

— Sim. Você sabe por quê? — Eu esperei até que ela


balançasse a cabeça. — Provavelmente pela mesma razão que você.

— Qual seria?

— Estava muito zangado com o pensamento de que hoje seria


o dia em que pararíamos de nos encontrar.

A boca carnuda de Risa se contraiu em uma ruga vermelha e


apertada. — Eu não sou a única que ainda está apegada.

— Nem eu.

Ela cruzou os braços pequenos no peito. Eu assisti com


desgosto quando ela contorcer sua metade superior afastando-se
de mim.

— Pergunte-me, Risa.

— Perguntar o quê?

— Pergunte-me por que Gretchen estava na minha porta.

138
— Realmente não me importo. — Nenhum de nós acreditava
nela. Risa tentou novamente.

— Quer dizer eu quero, porém não é da minha conta.

— Verdade. Não é da sua conta, ainda assim, quero te dizer


de qualquer maneira. Então me pergunte.

Abaixou a cabeça e obedeceu de má vontade. — Por que ela


estava lá?

Ela me lembrava um coelho, cauteloso, preocupado, adorável


e, acima de tudo, curioso. Eu queria acariciá-la, acaricia-la e
devorá-la, não necessariamente nesta ordem.

Eu adorarei ter você embaixo de mim. Me pergunto se terei que


colocar travesseiros sob seus joelhos quando você chupar meu pau
porque você é tão baixinha.

— Gretchen estava perdida. Ela entendeu melhor agora e


nunca mais nos atrapalhará.

— É uma maneira estranha de explicar as coisas.

— Sim, embora não seja menos verdadeira.

Risa olhou para mim. Seus olhos traíram uma escuridão


terrível por dentro. — Ela é sua ex-namorada?

— Sim. Um pouco mais íntimos, na verdade.

— Oh!

139
A tristeza penetrou em sua postura. Ela me lembrou uma flor
de origami amassada – lindamente artificial e ainda mais frágil por
causa disso.

— Sinto muito, Damian.

Essa é a primeira coisa honesta que me disse e aposto que nem


sabe o que realmente quer dizer.

— Obrigado.

— Foi um rompimento difícil?

— Sim.

— Eu nunca namorei alguém por tempo suficiente para me


apegar demais. Não consigo imaginar como deve ser terminar um
relacionamento tão sério.

— Risa, estou te contando por um motivo que vai além da


simpatia e condolências. Meu relacionamento com Gretchen
acabou há três meses. Ontem foi a primeira vez que a vi desde que
encerramos nosso contato.

— Mesmo? Acho que é bastante cruel.

— Acha?

— Sim — Ela deu um suspiro rápido antes de se virar


completamente para mim. — Gretchen obviamente ainda te ama
muito. Terminar as coisas e ficar sem vê-lo durante todo esse
tempo deve ter sido doloroso demais para ela.

140
— É muito nobre de sua parte se preocupar com os
sentimentos de outra mulher.

— Não estou tentando ser.

— Sim, mas é, de qualquer jeito.

— Obrigada.

— Nos encontraremos esta noite?

Ela franziu a boca novamente. — Não sei.

— Eu prometo que a noite passada não se repetirá. Eu quero


ver você novamente. Diga sim.

— Damian...

— Diga sim, ou não destrancarei a porta.

— Você está brincando.

— Teste-me.

141
Capítulo 24
Damian
Seu sorriso cativante provou que ela não acreditava em quão
sério eu estava sendo. Provavelmente pensou que estava
brincando. Já fiz muito disso com ela.

Foi fácil. Foi divertido. Foi diferente para um homem como eu.
Nunca me envolvi em flertes complicados, todos seguiam o mesmo
roteiro.

— Tudo bem. — Ela descruzou os braços e concordou


agitadamente. — Agora você tem que sair, antes que alguém te
pegue e faça você ser demitido.

— Você se importaria?

— Claro que sim! Eu provavelmente seria despedida também,


por confraternizar durante o horário de trabalho!

— Muito bem, garotinha. Mais tarde, organizarei suas árvores


de arquivos.

O olhar tímido de Risa encontrou o meu.

142
— Eu não estava falando sério sobre eles.

Ela gosta de mim chamando-a de garotinha. Terei que me


certificar de chamá-la assim com frequência.

— Sorte sua que eu estou. Seu sistema confuso lhe causará


problemas. É melhor cuidar deles o mais rápido possível.

— Talvez eu goste do meu sistema.

— Talvez goste mais do meu.

Ela cedeu facilmente. — Oh, tudo bem. Eu acho que vale a


pena tentar.

De fato. Suas bochechas floresceram em um tom de rosa


apropriado. Eu me perguntei se ela sabia quão facilmente ela
corava na minha presença. — Risa?

— Sim?

— Tem apenas mais uma coisa que preciso de você antes de


deixá-la sair.

— O que é?

— Fui te procurar na noite passada e não consegui te


encontrar. Te liguei e não recebi resposta.

— Sim, eu entendi. Você já me falou.

143
Estendi a mão e passei as costas dos meus dedos em sua
clavícula. — Você me colocou em uma posição terrível. Fiquei
muito preocupado com você e é algo simplesmente inaceitável.

— Oh, me desculpe.

— Tenho certeza que sim, no entanto, suas desculpas não são


o bastante, garotinha. — Meu outro lado estava subindo cada vez
mais rapidamente para a superfície.

Ela mexeu e se esforçou para me perguntar: — O que você


quer dizer? Eu não entendo.

— Eu preciso de algo de você, em troca de toda a preocupação


que me causou.

Desde o momento em que te conheci, na verdade.

— E se eu te comprasse o almoço?

— Não.

— Humm, tudo bem. Jantar?

— Não.

— O que você quer então?

Abaixei-me e sussurrei contra o pescoço dela: — Você foi


muito má, Risa. Você era apenas uma garotinha em um mundo
muito grande. E se um estranho decidisse fazer de você sua
filhinha, quer você gostasse ou não?

144
Sua risada nervosa soou encantadora em meu ouvido.

— Você está sendo bobo. Eu sou uma garota grande, Damian.


Ninguém me fará nenhum mal. Além disso, não foi tanto tempo de
caminhada.

— Realmente? Bem, então como é que este homem muito


maior acabou de trancá-la em um banheiro público sem a sua
permissão? E só para você saber, foi muito, muito fácil, garotinha.

— Damian! — Risa gaguejou, respirando ofegante em meu


pescoço. — Pare de tentar me assustar.

— Estou te assustando?

— N-não!

Mentirosa. Você está com medo. Bom. Talvez da próxima vez


você não ande sozinha à noite.

— Você não tem medo de mim?

— Claro que não!

— Bom. Já que você não tem medo de mim, então deve saber
que meus sentimentos sobre sua imprudência vêm de um lugar
bom e não ameaçador.

— Certo.

— Então, como um homem não ameaçador e muito maior que


se trancou com você em um banheiro público, preciso que saiba
que realmente não deveria estar aqui comigo.

145
As palmas das mãos de Risa empurraram meus ombros sem
entusiasmo. — Eu não concordo.

— Eu não pensei que concordaria. — Me afastei dela e


ordenei: — Vire-se, mãos no balcão e abaixe a cabeça!

— O quê? De jeito nenhum!

— Agora, Risa.

— Não!

Seu desafio aguçou meu apetite pelo domínio. Minha voz


baixou, profunda e ameaçadora no limite da calma. — Sim. Faça
agora ou as coisas ficarão muito piores para você.

Risa guinchou meu nome. Notei os dedos dela se enroscando


e se enredando novamente.

— Você não pode estar falando sério.

— Estou. Faça! — Eu pontuei meu comando com um sorriso


plácido.

Ela mordeu o lábio indecisa. Justo quando pensei que teria


que forçá-la, Risa se virou e fez o que ordenei.

— Você é uma menina tão boa. — Me aproximei, ciente que


estava encarando meu reflexo no espelho em pânico. — Prometo
que não demorará muito.

O riso nervoso de Risa morreu rapidamente quando passei


minha mão por sua coxa. — O que você está fazendo?

146
Correndo um risco enorme, aparentemente.

— Sssh. Você logo verá. — Levantei a saia com um movimento


hábil do meu pulso. Consciente de seu pânico crescente, me
certifiquei de manter meus olhos fixo nos dela através do espelho.
— Eu não descerei sua calcinha já que é a sua primeira vez, ainda
assim, tenho certeza de que uma garotinha travessa como você,
definitivamente estará nessa posição novamente.

— Damian, você não está levando as coisas longe demais?

— Não longe o suficiente. Agradeça minha consideração. —


Seu silêncio teimoso me proporcionou a oportunidade perfeita.

Tapa!

Meu rosnado abafou seu grito estrangulado. — Agradeça,


garotinha.

Os ombros de Risa se ergueram enquanto sua cabeça


afundava. Ela estremeceu, os olhos excessivamente brilhantes, as
bochechas pintadas de escarlate e a boca escancarada em uma
mistura inebriante de indignação e luxúria.

Tapa!

Eu tinha esta mulher deslumbrante completamente.


Confiança rugiu em minhas veias.

Diga: — Obrigada, Damian.

147
Ela gemeu um pequeno som delicioso de angústia. Mudou,
sua linguagem corporal indicando claramente que estava dividida
entre obediência e a luta apenas por lutar.

Tapa!

— Continuaremos até que me dê o que eu preciso de você.

Quando levantei a minha mão no ar, ela gritou: — Obrigada,


Damian!

— Boa menina. — Esfreguei a palma da mão sobre seu


traseiro. — Agora disciplinarei você com cinco palmadas. Você sabe
por quê?

Risa olhou nos meus olhos pelo espelho. Ela se esforçou para
sussurrar: — Por que eu te preocupei?

— Sim. Você fez birra, saindo sozinha pela noite. Não pensou
no quanto era perigoso, nem no quanto eu estaria preocupado. Não
satisfeita se recusou a atender minhas ligações, adicionando mais
estresse ao meu estado já preocupado. Algo inaceitável, Risa.

— Sinto muito.

Seu sussurro rouco me convenceu de sua sinceridade. Me


permiti um sorriso.

— Agora seja uma garota corajosa e logo terminará. Você pode


ser uma garotinha corajosa para mim?

Ela assentiu. Seus olhos arregalados me disseram o que suas


palavras não faziam, estava imensamente excitada pelo modo como

148
a estava tratando. Risa Kelly queria que eu tornasse sua altura um
fetiche. Eu me encontrei não precisando de instruções para fazer o
que ela desejava.

— Não, eu quero que você me responda usando palavras de


menina grande.

— Sim.

— Sim, o quê?

— Sim, eu posso ser uma... corajosa...

— Uma corajosa o quê? — Eu a incitei com o suficiente de


comando em meu tom para fazer com que obedecesse.

— Eu posso ser uma garotinha corajosa para você, Damian.

Sorri, completamente orgulhoso dela e de nossa pequena


vitória juntos. Fiz questão de injetar calor em meu tom. — Você
aprende muito rápido. Agora prepare-se, ok?

— Sim, Damian.

Eu resisti ao desejo de beijar o alto da sua cabeça. Ordem e


ritual eram tudo. Precisava garantir que mantivesse a disciplina
para seguir os dois ou ela poderia ficar confusa.

Sabia que entraria na linha. É absolutamente feita para mim.

Não permiti que meu olhar saísse dela, sabendo que precisava
forjar este importante elo entre nós. Deixei minha mão cair em um
globo arredondado antes de mudar para o outro.

149
E então realmente comecei a quebrar Risa me tornando a
outra metade do meu eu oculto.

— Você concorda que foi uma garotinha insensível, que correu


risco de um ataque na noite passada, sem levar em conta o quanto
poderia me preocupar?

— Sim!

— Você concorda que foi uma atitude imprudente e perigosa


de sua parte?

— Sim!

— Você concorda que não deveria ter feito?

— Sim!

— Você concorda que nunca, nunca, jamais ignorará sua


segurança em favor do orgulho novamente?

— Sim!

— Último, garotinha.

— Oh Deus! — Ela não parecia se importar com o fato de sua


voz se tornar cada vez mais alta. Sua resposta ecoou ao nosso
redor, eu também parecia não me importar com as possíveis
consequências.

Minha respiração acelerou e meu pau parecia


insuportavelmente cheio e pesado. Queria pegá-la e jogá-la contra
a parede, enquanto violava seu corpo até que estivesse saciado por

150
tempo suficiente para levá-la para fora do prédio e fazer tudo
novamente.

No meu carro, no meu apartamento, no apartamento dela...

— Você concorda que te disciplinarei novamente se você


ignorar minha preocupação?

— Sim, Damian, sim!

Desci sua saia. Agarrei-a levemente pelo braço, virei-a para


meu abraço. — Você foi tão bem, garotinha. Estou muito orgulhoso
de você. Sssh. Não chore. Está tudo acabado.

Risa apertou minha cintura e enterrou o rosto no meu peito.

Foi quando senti — felicidade.

151
Capítulo 25
Risa
A desorientação ameaçou desconectar minha cabeça do meu
corpo. Nossas trocas de amor pareciam uma alucinação. Meus
planos para obedecer e miná-lo desapareceram em uma explosão
de choque.

— Eu não posso fazer se você estiver me observando.

— Eventualmente, você conseguirá.

— E se eu tiver que...

— Cagar? — Ele esperou pelo meu relutante aceno de cabeça.


— Então você terá que cagar.

— De jeito nenhum. De jeito nenhum! Não posso fazer na sua


presença. Não farei!

— Você ficará terrivelmente desconfortável, Risa, sem


nenhum motivo, então fará de qualquer maneira. Pode acabar com
seu incômodo agora, faça o que precisa fazer.

152
— Você é louco! Maldito idiota! Eu me afastei dele. A parede
bege oscilou, ondulou e balançou sob o meu olhar aterrorizado.
Meus ombros se curvaram em uma tentativa lamentável de
esconder os tremores que cortavam meu corpo.

— Você só está chorando porque está resistindo.

Me esforcei para amaldiçoá-lo antes de gritar: — Estou


chorando porque é humilhante.

— Porque você está resistindo.

Damian me virou. A corrente rastejou pelos ladrilhos frios,


zombando de minha fraqueza ao ceder tão facilmente àquele
homem perverso. Enfiei meu queixo no meu ombro e tentei sufocar
meus soluços.

Como sobreviveria tempo suficiente para conseguir minha


liberdade, se Damian me faria passar por tal tipo de humilhação?

— Risa! Você acabou de prometer não lutar comigo.

— Eu não prometi não lutar. Eu falei que tentaria.

— Não é...

— Não pode me pedir algo assim! Está me fazendo sofrer.

— E eu não estou sofrendo ao ouvir minha garotinha chorar


assim? — Damian me levantou e cobriu meu rosto de beijos. —
Também me dói, eu te amo muito.

— Eu não quero que você me veja!

153
— Ficará tudo bem, Risa.

— Não, não ficará!

— Claro que vai.

— Não! Não é sensual... ou... ou qualquer uma daquelas


coisas que costumamos fazer!

— Não se trata de sensualidade. Não quero ver você fazer suas


necessidades fisiológicas porque acho excitante. Quero que faça,
porque não quero que exista nenhuma parede entre nós.

— Deveria ser privado. Você não tem o direito de me forçar a


fazer na sua presença.

— Você usa a privacidade como uma desculpa para se fechar


para mim.

— E me observar usando o sanitário deveria nos aproximar?

— Sim.

Eu não podia deixá-lo usar o que eu realmente queria para


nós como uma maneira de me fazer obedecê-lo. O tempo de
proximidade acabou. — Damian, eu realmente não quero!

— O que de pior pode acontecer, Risa? Todos nós vamos ao


banheiro. Não tem nada que você faça que eu não tenha feito.

Minha bexiga estava prestes a explodir nesse ponto. Eu gemia


e me balançava como não fazia desde quando era uma criança
pequena. Ele me colocou de pé e deu um passo atrás.

154
— Ficarei muito desapontado com você, se for obrigado a
limpar sua bagunça.

Eu olhei para ele, desafiando-o a me lembrar de parar de


franzir a testa ou bater na minha testa com o indicador e os dedos
do meio. O tédio estava gravado em seu rosto. Damian cruzou os
braços, encostou-se na parede e esperou.

Oh merda! Eu terei que fazer.

— Tudo bem, seu desgraçado doente! — Eu me fixei no chão


enquanto meus dedos se atrapalhavam com o botão do meu jeans.
Descendo-os, me sentei no vaso sanitário. Me curvei e fechei os
olhos com força. A urina fluiu tão rapidamente quanto meus
músculos poderiam empurrá-la para fora.

Oh! Ele pode me ouvir fazer xixi. É tão embaraçoso. Graças a


Deus não tenho que fazer a outra coisa ainda. Não precisarei, estarei
livre até lá. Segurarei para sempre, se for preciso.

Limpando-me o mais rápido possível do ponto de vista


sanitário, puxei rapidamente as calças. Lavei minhas mãos ainda
evitando olhá-lo.

— Vá em frente e escove os dentes enquanto eu reaqueço seu


café da manhã.

A porta se fechou atrás de mim com um clique nada


dramático. Eu olhei para o local onde ele esteve pela última vez.

Como assim? Sem regozijo? Nenhum sermão? Nada?

155
Peguei a escova desajeitadamente arrancando-a da
embalagem de plástico. Escovei os dentes meticulosamente não
querendo pensar muito na humilhação que acabei de passar. Como
ele pôde agir assim comigo e como é que eu não consegui lutar com
força suficiente?

Damian entrou assim que coloquei minha escova de dentes


no suporte cromado.

— O café da manhã está pronto novamente. Vá em frente e


coma.

Eu não queria olhar para o rosto dele. Saí pela porta antes
que Damian pudesse mudar de ideia, a corrente metálica do meu
cativeiro sibilando cada vez mais rápido enquanto eu fugia. Pulei
na cama para escapar. A corrente caiu com um baque
assustadoramente previsível.

Lutei para encontrar uma maneira de lidar com o que acabou


de acontecer, tornar menos horrível, então me impedi de desabar
em lágrimas.

Apenas trate como um jogo por enquanto. Quão ruim pode ser?
Damian já me espancou, sufocou, cuspiu em mim e gozou em todo
meu rosto. Muitas e muitas vezes. E amei todas elas.

Eu posso fazer. Ainda é Damian. Não importa, desde que fique


livre.

A conversa estimulante soou vazia.

— Eu lhe disse para comer sua comida. Não para olhá-la.

156
Eu me assustei e estendi a mão para a bandeja. Damian
soltou outro suspiro de decepção. Ele caminhou até a cabeceira e
arrancou-a cuidadosamente dos meus dedos.

— O que eu fiz de errado desta vez?

— Pedi para fazer uma coisa muito simples. Coma seu café da
manhã. Você se recusa até a comer.

— Eu não estou me recusando. Estava apenas pensando nas


coisas.

— Como o quê?

Como deixar você, para começar.

Evitei responder perguntando: — Posso comer minha comida


agora? Parece muito saborosa.

Damian segurou a bandeja no alto. Seu olhar desinteressado


quebrou minha fachada alegre.

— Por que você está olhando assim para mim?

— Assim como, Risa?

Como se tivesse desapontado você. Como se eu não valesse o


tempo que gasta comigo. Como se soubesse exatamente o que estou
realmente tentando fazer ao ceder.

— Como nada. Nada importante. — Pontuei as mentiras com


uma pequena sacudida de minha cabeça.

157
— Tudo bem então. — Damian se virou. Ele abriu uma porta
diferente da que ele entrou e saiu do quarto, levando minha comida
deliciosa com ele.

Gritei, esperando que ele voltasse. Vários minutos se


passaram. Eu me arrastei para fora da cama, sempre consciente
da corrente que me prendia no lugar. Os elos frios pressionaram
minha palma enquanto evitava que a algema batesse no chão.

O que eu fiz de errado agora, Damian?

A porta aberta me atraiu com a intensidade de uma miragem.


Quando cheguei lá, esperava que Damian me empurrasse para trás
e a fechasse. Espreitando ao redor da porta, ignorei a cama
kingsize em um estrado elevado, a parede de janelas e a lareira
acesa, porque o vi sentado em um sofá de dois lugares.

Comendo meu café da manhã.

— Damian!

— Sim?

— Era meu café!

— Disse bem, era. Não mais.

— Por quê?

— Você não estava realmente com fome. Eu sim. Então estou


comendo. Se você quiser comida, tem que merecê-la.

— Merecer como?

158
Sua boca se torceu em um sorriso cruel.

— É a questão, não é? Talvez um estômago vazio a torne mais


obediente. O que acha?

Corri para o quarto apenas para cair de joelhos. Dando a


Damian um pouco de diversão.

— Cuidado, garotinha. Pisos de madeira fazem coisas terríveis


nos joelhos. Odiaria ver você ferida. — Ele terminou a torrada com
uma mordida. — Além disso, odiaria ver você se machucar assim,
quando há muitas outras maneiras mais criativas de se machucar.
Você gostaria de tentar uma agora? Por esta fatia de bacon?

Me levantei de novo, estremecendo com a dor já latejando em


meus pobres joelhos. — Não.

— Você tem certeza?

— Sim.

Não.

Damian sorriu de uma maneira que sugeria que ele sabia que
eu era uma mentirosa pervertida. — Eles doem?

Eu mudei de uma perna para a outra, confusa com o interesse


que ele mostrou. — Um pouco.

Ele assentiu. — Eu não espero que você repita este erro


novamente. Embora saiba que cometerá outros. — Damian pegou
outra fatia de bacon. Ele mastigou, os olhos brilhando em

159
especulação, antes de tomar um pequeno gole de suco. — Estou
ansioso por eles.

Entrelacei meus dedos, a imagem externa de inocência. — Por


quê?

— Para te punir, é claro.

— Não serão como minhas outras punições, não é?

Seu sorriso virtuoso colocou meus nervos em chamas. Seu


silêncio transformou-os em um inferno.

— Damian?

Ele desviou sua atenção de mim e terminou meu café da


manhã.

Olhei para sua postura tranquila e vi como ele me baniu


completamente dos seus pensamentos. Funguei. Meus olhos
coçaram e minha boca se contraiu. A dor arranhou meu peito,
exigindo ser liberada em uma torrente de lágrimas e maldições.

Eu dei um passo para trás. Damian continuou comendo com


os movimentos educados. Continuei meus passos até ficar na
porta. Ele simplesmente espetou um punhado de ovos mexidos.

O abandono aumentou. Imagens passaram pela minha


mente. O amor de Damian se transformou em uma provocação
manipulada por um homem muito cruel. Minha garganta soltou
algo que finalmente chamou sua atenção.

— O que você falou?

160
— Você me ouviu.

Ele se levantou. Eu me virei para o quarto e bati a porta com


força. Subi na cama, levantei meus joelhos e olhei para a porta
fechada.

161
Capítulo 26
Risa
— Risa.

Abafada apenas ligeiramente pela barreira de madeira, a voz


calma e firme de Damian vibrou em minha rebeldia. Coloquei meu
queixo no meu joelho esquerdo enquanto envolvia minhas pernas
com os braços.

— Responda.

Balancei a cabeça.

— Eu lhe darei trinta segundos para abrir esta porta por sua
própria vontade.

Encolhi meus ombros.

Os segundos foram sugados por uma sufocação semelhante a


um pântano. Um clique depois e Damian estava na porta,
emoldurado e iluminado com uma intensidade ameaçadora.

— Você se importaria de repetir o que você falou?

162
Eu olhei para seu ombro esquerdo com atenção apática. — Te
odeio.

— Não odeia.

— Sim. Odeio.

Damian inclinou a cabeça para o lado. Seu foco se estabeleceu


no meu nariz avermelhado.

— Você é, indubitavelmente, minha garotinha má. Suspeitava


que teria um ataque de raiva em breve, porém, não tão cedo. Você
acordou cedo demais?

— Cale a boca!

O meio sorriso divertido desapareceu. Os olhos de Damian


endureceram em duas pontas de pedra.

— Risa, você já está em apuros pelo seu desrespeito anterior.


O que, com certeza, a levará a um lugar que você realmente não
quer visitar.

— Eu não me importo. Eu não tenho que seguir suas regras.


— Meus planos grandiosos de enganá-lo e escapar arrefeceram. Eu
alimentei meu ressentimento, sentindo-me plenamente justificada
no que disse.

Se ele não se importava o suficiente comigo para me


alimentar, por que eu deveria me importar com o que disse a ele?

Damian respirou profundamente antes de dizer tudo de uma


vez.

163
— Ok, Risa. Nós faremos do seu jeito. Apenas lembre-se que
foi você que escolheu.

Ele se aproximou da cama. Endureci, esperando um tapa forte


pelo meu desafio. Em vez disso Damian me arrancou da cama e foi
para o banheiro. A corrente deslizou pelo chão, sibilando que eu
era uma tola.

Eu queria tampar meus ouvidos.

Damian me colocou no chão com um murmúrio. — Fique bem


aqui e não se mova — antes de se virar para a banheira. Ele ajustou
a água e testou-a com várias passadas da palma da mão antes de
encontrar a temperatura certa. Então analisou dois sais de banho
diferentes retirados de uma prateleira acima da banheira antes de
se decidir pelo aroma de baunilha.

Vários minutos se passaram enquanto observava Damian


escolher uma variedade de artigos de banho. Ele pegou várias
buchas, inspecionando cada uma antes de colocá-las de lado e
passar para outra. Fez o mesmo com as esponjas de banho. Uma
vez satisfeito com suas escolhas, passou para os géis, xampus e
esfoliantes.

Está totalmente focado nos detalhes. E, mais uma vez, está


me ignorando.

Quando mudei de posição, Damian imediatamente parou sua


inspeção atenta, agarrou-me pelo braço e bateu no meu traseiro.
Com força. — Eu falei para ficar bem aí. — Ele esperou até que
assenti de má vontade antes de retornar à sua tarefa.

164
Senti um conforto estranho no ardor. A dor fazia sentido em
nossos padrões distorcidos. Qualquer coisa era melhor que sua
indiferença, do que a total falta de cuidado comigo e minhas
necessidades.

Fiquei mais irritada com Damian comendo minha comida do


que me sequestrando e me mantendo prisioneira contra a minha
vontade. O que o fato demonstra sobre como eu realmente vejo as
coisas? Damian está certo? É realmente o meu orgulho que machuca
mais do que tudo?

Significa que realmente ficaria aqui assim?

Não tenho que me perguntar. Sabia a resposta. Se tivesse


acontecido em qualquer outra noite, estaria feliz, pulando por aí,
imaginando-me como a escrava de Damian e como eu trabalharia
muito para agradar meu mestre taciturno.

Que garota estúpida eu fui. Não era uma fantasia. Era real.
Era o que acontecia com as garotas que pensavam que a submissão
era algo que poderia ser retirado por um capricho.

— Levante seus braços!

Eu obedeci. Estava tão cansada de lutar com ele.

Damian tirou o suéter em um puxão suave. Seus dedos


abriram meu sutiã, me deixando imaginar como ele removeria meu
jeans.

A resposta veio na forma de tesouras perigosamente afiadas


puxadas de uma gaveta.

165
— Você sabe por que eu queria que você ficasse quieta,
garotinha? Por causa do que farei. — Damian segurou a tesoura
semiaberta na frente do meu nariz. — Se você se mexer, mesmo
que seja o menor movimento, elas te cortarão. Não! Se! Mova!
Entendeu?

— Sim, Damian — balbuciei, aparentemente incapaz de fazer


outra coisa senão obedecer, agora que as dúvidas cutucavam
minha indignação do mesmo modo que o cansaço me arrastava
para baixo.

Ele se abaixou em um joelho, pegou meu cós e escorregou a


tesoura para baixo até que descansou contra o meu quadril.

Corte.

O som me lembrou uma máquina de cortar papel. Uma


fascinação vertiginosa me invadiu a cada corte controlado.

Corte.

Damian terminou com a minha perna direita depois repetiu o


processo do lado esquerdo. Meu mundo inteiro se reduziu a
estudá-lo com adoração fanática. Damian raramente franzia as
sobrancelhas, preferindo evitar que suas emoções e pensamentos
o traíssem de maneira tão deselegante. Sinais sutis foram meu guia
para o precioso santuário de seus verdadeiros pensamentos.

Corte.

166
Olhos estreitados em concentração, seu olhar cinza e âmbar
tão duro e brilhante quanto o metal em sua mão, me induziram a
interpretar o que via.

Preocupação, determinação e dúvida brilhavam numa


resolução caleidoscópica. A mágoa interrompeu o caos controlado,
danificando os padrões de sua adoração por mim. Damian não
ficou tão indiferente à minha declaração maldosa quanto eu
pensava.

Corte.

— Damian

— Sssh.

Ignorei o comando e falei: — Estou cansada demais para lutar


com você agora. Estou pedindo uma trégua. — Então me empurrei
para a lâmina hipnótica assim que chegou ao meu joelho.

— Porra! Eu não te falei para ficar quieta?

Prendi a respiração, cedendo às sensações contraditórias de


dor e alívio disparando por todo o meu corpo. O instinto de tocar a
ferida enrolou meus dedos em garras. Me forcei a aceitar a agonia
ardente da carne cortada em punição.

Perdoe-me, Damian. Eu não deveria ter dito que odiava você.


Eu não te odeio. Odeio o que você fez agora, ainda assim eu nunca
poderia te odiar. Eu não sei como te dizer, então é tudo que posso
fazer.

167
A tesoura bateu em um canto do banheiro. Damian rasgou o
tecido com um puxão violento.

— Você fez de propósito, Risa! Não pense que eu não sei!

Respirei longa e profundamente antes de sorrir, uma


contração doentia e medonha dos lábios.

Ok, está ficando melhor. Tudo o que tenho que fazer é continuar
respirando e acabará logo.

Damian pressionou uma toalha úmida em minha perna.

— Sente-se na beirada — ele me conduziu para a banheira


enorme.

Meu batimento cardíaco errático se estabilizou em sua


velocidade normal enquanto meu foco se afastava da dor latente
voltando para Damian.

— Você acha que precisará de pontos?

Seu olhar queimava o meu.

— Não. Seu plano de fuga falhou, Risa. Não haverá pronto-


socorro para você.

— Eu não fiz para escapar de você. — Eu me recostei e fechei


os olhos.

— Então por quê?

— Simplesmente fiz.

168
— Por quê?

Minha conexão boca-cérebro vacilou novamente. — Porque eu


mereci.

Damian pressionou minha perna com mais força. — Não


precisava se machucar, Risa. Um pedido de desculpas teria
bastado.

Talvez fosse uma combinação de exaustão e fome, mas eu ri.


O que o trouxe para mais perto de mim. Senti Damian examinando
meu rosto, provavelmente para ver se ele finalmente quebrou sua
garotinha boba.

Não exatamente, mas perto.

— Este é meu pedido de desculpas. Espero ter cicatriz.

— Você provavelmente terá.

— Bom.

Ele retirou a toalha. Olhei para baixo. Minha perna não estava
tão ruim. O sangramento do corte fino já estava diminuindo.

— Eu sangrei por você, Damian.

Ele permaneceu em silêncio vigilante.

Encorajada, talvez pelo silêncio dele, perguntei: — Posso lhe


contar uma coisa?

— Qualquer coisa.

169
— Eu gosto de ver meu sangue em você. É meu sacrifício para
você. Você aceita?

Damian abriu a mão. Ele esfregou o polegar no meu queixo.


Senti a mancha de sangue como uma pintura macabra. — Sim, eu
aceito.

Me lancei para a frente, envolvendo meus braços em suas


costas nuas e o beijei.

170
Capítulo 27
Duas Semanas Antes
no apartamento de
Damian
Damian
O rubor de Risa veio sem o incentivo do álcool. Empoleirada
na beira da minha cama, ela balançou seus pequenos pés de
felicidade.

— Não acredito que consegui! Quero dizer, foi um tiro no


escuro para mim, considerando-se que a empresa sempre teve uma
reputação de ser um clube masculino conservador.

171
— O que mudou?

— A velha guarda está fora e a nova guarda é jovem, vigorosa


e dirigida pela neta.

— Parabéns, Risa!

— Obrigada.

— Braços para cima.

Ela me obedeceu e continuou tagarelando sobre seu triunfo.


Escutei atentamente. Balancei a cabeça nos momentos certos e a
elogiei quando a necessidade ditou enquanto a despia.

Uma pequena tagarela.

Gretchen não era uma pessoa que compartilhava sua mente


tão facilmente. Abriu seu corpo para mim, sim. Seus pensamentos
sem censura, não. O mesmo acontecia comigo. Cada palavra dita
era devidamente calculada. Não necessariamente por manipulação
e sim, pelo instinto de autopreservação.

O respeito silencioso manteve meu passado seguro.

O muro entre Gretchen e eu parecia alto. Dividido em nossos


espaços privados, nunca deixando nossas esferas mentais
individuais se aproximarem demais, proporcionando uma
existência confortável.

Risa parece não ter ideia do quanto me deixa enxergar seu


interior. Nossas conversas são unilaterais com ela falando noventa

172
e oito por cento do tempo, realmente podia ouvi-la falar por dias
seguidos. Não me incomoda.

Risa me interessou além de seu exuberante e delicioso corpo.

Eu adorava ouvi-la falar sobre o que ouvia no rádio pela


manhã, o que almoçou, que nova conta pretendia conseguir, o que
gostaria comer no jantar e no quanto desejava que eu a fodesse.

Eu particularmente amava ouvir essa parte de sua tagarelice.

Especialmente quando ela implora tão lindamente.

No entanto não estava satisfeito. O descontentamento


interrompeu a tranquilidade de estar com ela porque estava me
apegando depressa demais.

Comecei a me perguntar como daria a notícia de que não era


Damian Black, diretor de TI e sim, Damian Black-Price — fundador
e CEO da Bridgewater National e sua empresa controladora, a
Black-Price Holdings. O que ela pensaria sobre descobrir que o
patrimônio líquido de seu amante o colocou na lista dos — 10
maiores bilionários com menos de trinta anos?

Por acaso, imaginei se chegaria a um ponto em que poderia


contar a ela sobre os Konstantinov? Como minha esposa ela
merecia saber.

Esposa?

173
A facilidade e permanência desses pensamentos me
perturbaram. Ainda assim, a ideia de deixar Risa Kelly ir embora
não era absolutamente uma possibilidade. Agora não.

Não era o tipo de posição que eu esperava estar. Juntando-se


ao fato de que Risa parecia alheia ao meu carinho por ela, bem, era
o suficiente para me exasperar.

Ela fala sobre tudo e qualquer coisa, não o que eu realmente


quero ouvir.

Risa nunca falou sobre sua família, seu amor por mim e sua
dor crescente em manter silêncio sobre os dois. Algo que me
enfurecia. Odiava que mantivesse qualquer parte de seus
pensamentos escondida de mim e odiava ter que fingir que não
sabia o que havia além de seu sorriso brilhante.

É o mundo para o qual ela corre quando não quer que eu a veja.
Onde se recusa a reconhecer a insegurança que está consumindo.
Ainda tem medo do que significa para mim. Ela finge que não, sei
que está mentindo.

E não estou ajudando, porque não sei como mostrar a ela.

O homem que aprendeu com dois dos melhores camaleões do


mundo como espelhar, misturar e encantar qualquer um, tinha a
sutileza de um gigante socialmente atrofiado. Era como se todas as
minhas lições nunca tivessem acontecido.

No entanto, de alguma forma, Risa respondeu à minha corte


grosseira.

174
E, embora o sorriso da minha amante fosse um dos pontos
altos do meu dia, existia um que eu realmente estava chegando ao
ponto de odiar, seu sorriso falso, o que usava quando queria me
fechar do lado de fora. Eu odiava quase tanto quanto o silêncio que
antigamente tanto valorizava.

— Então, agora eu estou liderando as vendas. Não é incrível?

— Com certeza. Você é muito talentosa no que faz.

— Obrigada. — Risa levantou os quadris, tornando mais fácil


retirar sua saia. — Oh! Cá estou eu tagarelando novamente. Sinto
muito. Como foi o seu dia?

— Do mesmo jeito que ontem. — Desci as meias dela e as


coloquei ordenadamente dentro de um dos sapatos.

— Você ainda quer contratar alguém para reformular o site?

— Estou aceitando propostas.

— Oh. — Ela levantou a cabeça e franziu a testa. — Você não


pretende contratar alguém?

— Não. Terceirizaremos.

— Mesmo? Eu só pensei...

Toquei seus lábios com um dedo. Ela se acalmou


imediatamente.

— Deixemos o trabalho de lado.

175
Risa abaixou a cabeça e timidamente sorriu. — Você está
certo. Desculpe.

Eu ainda a deixo nervosa. Gostaria que não fosse o caso. Seria


mais fácil, se fosse por causa da minha rispidez. Embora nunca
pareça realmente incomodá-la. Estranho.

Palavras desajeitadas, rudes ao ponto da grosseria. Risa


parecia aceitar minha atitude e era... bom.

Gostaria que fosse aberta comigo também. Forçá-la seria


redundante. Não serviria a outro propósito além de aprofundar
suas inseguranças e me incomodar por não conseguir resolver esta
terrível anomalia em sua personalidade, que é extraordinária em
outros aspectos.

Vai exigir muito tempo e muito mais reflexão.

Pendurei suas roupas nos cabides de cetim acolchoado que


comprei para ela, antes de colocá-las no meu armário. Evitei seu
olhar enquanto me dirigia para a poltrona. Ela me observou, olhos
cautelosos e corpo tenso na expectativa dos meus caprichos.

Pensa que me cansarei dela. Não podia estar mais enganada.


Como posso tranquilizá-la? Nunca aprendi as palavras necessárias
antes. Tudo o que posso fazer é demonstrar através de minhas
atitudes.

— Venha aqui, Risa.

Ela saiu da cama e se aproximou para ficar entre minhas


pernas.

176
— Sim, Damian?

Dei um tapinha na minha coxa. Ela subiu em minhas pernas


com um suspiro aliviado. Ela enroscou os braços no meu pescoço
e esfregou a bochecha quente em meu ombro. O fato de estar
completamente vestido e ela quase nua não a incomodou, preferia
assim.

— O que você gostaria de comer, garotinha?

— Eu não me importo.

— É uma resposta?

— Pode ser.

Eu a empurrei na minha perna. — Responda-me


corretamente.

Risa enterrou o rosto mais fundo. — Frango.

— Sim?

— Frango frito com batatas fritas da KFC.

— Biscoitos de chocolate da padaria?

Ela assentiu.

Eu dei um beijo no alto da sua cabeça. A questão escapou


antes que eu pudesse analisar sua necessidade de existir naquele
momento em particular. — Por que você está com tanto medo de
mim?

177
— Eu não estou. — Risa recuou e pulou do meu colo. Eu a
deixei ir aguardando o que mais ela faria. — Não estou realmente
com fome de comida no momento. — Ela tirou o sutiã preto e a
calcinha combinando. — Prefiro ter você.

Levantei-me. Agarrei sua nuca com uma das mãos e apertei.


Ignorando seu grito de surpresa, colei meus lábios nos dela muito,
muito suavemente.

Eu pensei em pegar o que ela estava oferecendo. Me imaginei


enfiando meus dedos profundamente dentro dela, torcendo e
acariciando até que ela desmoronasse de prazer. Pensei em usar a
mesma mão para empurrá-la de volta para a cama, antes de
ordenar que lambesse cada dedo para limpar. Até pensei em fazer
tudo de novo e de novo, até que ela me implorasse para parar.

Pensei muito, só não consegui encontrar o desejo de fazer tal


coisa quando era, obviamente, muito errado.

— Não use seu corpo deste jeito, Risa. Vulgariza o que


fazemos.

178
Capítulo 28
Damian
Eu a guiei até a cama, a mão ainda presa em seu pescoço,
antes de acomodá-la debaixo das cobertas. — Tire uma soneca
enquanto busco a comida.

— Mas Damian...

— Silêncio.

Ignorei a súplica silenciosa, mesmo que não pudesse ignorar


a rejeição em seus olhos.

Não é o que você pensa, Risa.

— Eu quero que você durma enquanto estou fora. Você


entendeu?

— Sim.

— Você deve ficar nesta cama até eu voltar. Compreendeu?

Ela assentiu.

— Responda-me corretamente, Risa.

179
— Sim, Damian.

— Sim, Damian, o quê?

— Ficarei nesta cama até você voltar.

— E você fará o quê?

— Darei um cochilo.

— Por quê?

— Porque você mandou.

— E porque não quero que minha menina doce esteja agitada


e irritadiça esta noite. — Eu alisei sua testa com a palma da mão
e dei um beijinho em seus lábios enrugados. — Quero você feliz e
não acontecerá se você estiver muito cansada. Não é verdade?

— Sim — ela respondeu com um suspiro angelical.

Apagando as luzes, fiz menção de sair do quarto quando ouvi


um pequeno fungar seguido de outro. Voltei para a cama em duas
passadas apenas para encontrar Risa enterrada sob as cobertas.

— O que houve?

— Nada. Estou bem.

Lutei contra o desejo violento de arrancar o edredom.

— Você está mentindo para mim.

— Eu não estou! Eu apenas…

180
Esperei que terminasse. Quando ficou claro que não tinha
intenção de continuar, respirei fundo, fechei os olhos procurando
paciência. Com cuidado para manter minha voz calma e suave,
perguntei:

— Risa? Por que você está chorando?

— Eu não sei!

O gemido terrível terminou em um soluço abafado.

Então me bateu o que aconteceu.

— Não estou rejeitando você.

O silêncio quebrado pelas ondas de sua dor fustigou meus


ouvidos.

— Você me ouviu? Não estou rejeitando você. — Ela se mexeu


sob o monte de algodão. Eu me abaixei para ouvir seu sussurro
molhado.

— Sim, você está.

— Eu não minto. — Esfreguei a área cobrindo suas costas. —


Por que não acredita em mim? — Suspirei em frustração quando
ela se afastou. — Risa, pare com isso!

— Não!

Abriria um precedente perigoso se cedesse à sua birra. As


coisas eram novas demais entre nós para ignorar a disciplina. Eu
sabia que a ideia de Risa nesse tipo de dor me esmagaria. A

181
observei por um momento antes de me decidir pelo próximo
movimento.

É tudo que sei fazer.

— Garotinha, você não receberá um único biscoito esta noite.

Risa fez uma pausa longa em seu choro suficiente para dizer:

— O quê? — Antes de chiar alto.

Eu tirei os cobertores e a puxei pelo meu joelho. A bela bunda


redonda tensionou em antecipação à minha mão pesada.

Eu não a decepcionei.

Deixando de lado apenas quando sua carne combinava com a


névoa vermelha e zangada do meu cérebro, apertei seus ombros e
a joguei na cama. Seus lábios sussurraram meu nome quando torci
suas pernas.

Não é assim que quero estar com ela, porém não posso evitar.
Não tenho ideia do motivo de me incomodar.

Acalmei minha consciência por tempo suficiente para me


render ao instinto animal. Meus dedos fizeram um rápido trabalho
de cinto, botão e zíper.

— Puxe para fora. Agora!

Suas mãos se mexeram para me apaziguar. Notei suas


bochechas manchadas de lágrimas e sofri uma mistura nociva de
culpa, luxúria e algo não identificável. Sua dor, diretamente

182
inspirada por mim, embora não por mim, me obrigou a revidar de
maneira cruel.

— Deixe sua boceta excitada e molhada para mim.

Risa esfregou a cabeça inchada contra sua fenda por vários


longos minutos antes de levantar seus quadris para me deixar
afundar nela.

— Agora me agradeça por deixar você se sentir bem mesmo


quando está sendo tão má.

Alívio masoquista substituiu a dor sombria em sua voz.

— Obrigada, Damian. Muito obrigada, de verdade.

— De nada, sua vadiazinha.

Continuei a estocar nela. Eu comi Risa, grosseiramente e com


pouca tentativa de ternura. Raiva cega arrancou meu controle,
desfazendo-o até não restar nada a não ser a vontade de machucá-
la.

Eu não virei toda a minha vida de cabeça para baixo para você
se comportar assim.

Alheia à minha raiva ou o motivo dela, Risa agarrou minha


cintura com força e enterrou o rosto no meu pescoço. Seus gemidos
de — Oh, sim! Sim! Sim! Sim! — junto com sua risada rouca de
felicidade quando gozou fez minhas entranhas se contraírem de
necessidade voraz.

183
Enterrei meu rosto num travesseiro quando terminei, dentes
cerrados e lábios apertados impedindo o menor gemido. A
costumeira euforia do orgasmo continha uma nova sujeira
indesejável.

Eu odiei.

Risa gemeu meu nome enquanto distribuía pequenos beijos


ao longo do meu pescoço descoberto.

— Você não sabe o quanto eu precisava. Obrigada.

Sua tagarelice me enfureceu pela primeira vez.

Eu me afastei, precisando colocar distância entre nós.


Inspecionei minhas roupas decidindo que estavam muito sujas
para serem vistas em público. A loquacidade de Risa dizendo —
acho que posso tirar uma soneca agora — e — mal posso esperar
pelo jantar — empilhada em cima de minhas roupas sujas,
ameaçavam quebrar meu silêncio de uma maneira muito
desagradável.

Como você pode ser tão cega, Risa?

Formigamento começou em meus dedos das mãos e pés,


espalhando por meus membros, e criando a sensação bizarra de
não ter controle sobre o meu corpo. Pisquei várias vezes, lutando
contra uma estranha fraqueza que tornava difícil me concentrar
em qualquer coisa além dos sentimentos que me invadiam.

Estou ficando doente?

184
Eu a observei se acomodar sob as cobertas aconchegando-se
de forma confortável. Fechou os olhos, interrompendo-me de forma
tão sucinta quanto fazia quando sorria.

Como você pode agir como se simplesmente não tivesse me


manipulado para fazer algo que não queria fazer?

Fui para o armário. Meus dedos coçaram para arrancar


minhas roupas e jogá-las no chão. Claro que não fiz. Então removi
metodicamente meus sapatos, amarrando os cadarços antes de
colocá-los em seu local na sapateira de madeira.

Tirei o resto das minhas roupas em ordem deliberada.


Pendurei a camisa e as calças na parte do armário designada para
a próxima remessa de lavagem a seco. Retirei o resto de minha
roupa substituindo-as por camiseta, cuecas e meias limpas.
Vestido com uma roupa idêntica, complementada por uma gravata
cor de carvão, peguei outro par de sapatos polidos.

Não encontrei conforto em minha rotina familiar. O caos


turvou minha mente, tornando difícil dissecar e identificar por que
estava tão furioso.

Eu cedi a ela. Por quê? Por que fui tão fraco?

Só então me ocorreu.

Meu espiral de agressão, cedendo a ela e a raiva que se seguiu


foi tudo por causa de uma coisa, Risa me machucou. Sua
incapacidade de ver o que sua desconfiança de mim estava criando,

185
seu silêncio e sua falsidade abriram um enorme buraco de dor
dentro de mim.

Minha meiga garotinha me esmagou completamente.

Como poderia fazê-la enxergar o que eu sentia por ela?

186
Capítulo 29
Risa
Talvez não devesse estar tão ansiosa para beijá-lo depois de
tudo que ele me fez passar. Não importava para mim. Quis Damian,
desde o primeiro momento em que o conheci e a corrente no
tornozelo não diminuiu em nada meu sentimento.

Minha boca devorou a dele. Eu não conseguia o suficiente.


Seu gosto disparou através de mim como vodca.

Frio. Quente.

Com um golpe dos seus dedos, ele desligou a água. Então me


ancorou firmemente a ele com a mão no meu cabelo. Gemi minha
necessidade por ele enquanto empurrava meus quadris contra os
dele com força.

— Eu preciso de você, Damian. Eu preciso de você dentro de


mim.

Minhas palavras duramente sussurradas me deram o que


queria.

187
Ele se levantou, nos deslocando até que se sentou na beirada
da banheira comigo aberta amplamente sobre suas pernas. Nossas
mãos percorrendo um ao outro com uma necessidade febril. Meus
lábios se afastaram para beijar e beliscar a pele da sua garganta.
Esfreguei minha bochecha em sua barba por fazer, excitada por vê-
lo em um dos seus raros momentos de desleixo. Damian sempre
foi tão exigente com sua aparência, tão cuidadoso, perfeitamente
barbeado o tempo todo. Sentir o arranhão em minha pele era uma
delícia rara.

As palavras nos falharam, nossos corpos não.

Empurrei meus quadris sensualmente enquanto ele segurava


meu rosto com suas mãos fortes. Deu longos beijos em minha boca
até que pensei que morreria de prazer. Lindos flashes do sol e da
lua surgiam toda vez que eu abria meus olhos.

Era primorosamente íntimo, belo além da descrição.

Logo nós caímos no chão de mármore, Damian recebendo o


impacto da queda quando pousei em cima dele. Ele sorriu
brevemente, me hipnotizando, como sempre, enquanto eu
procurava seu olhar, tentando descobrir o que estava pensando
para fazê-lo sorrir assim.

Você está pensando em mim? Eu te faço feliz de alguma


maneira?

Meus pensamentos se desvaneceram quando me virou de


costas e se abaixou para beijar meus seios. Eu quase gozei ali

188
mesmo com cada forte puxão de seus lábios em meus mamilos
sensíveis.

Agarrou meus pulsos com uma das mãos. Presa no chão, senti
um estranho tipo de liberdade, apesar do grilhão na minha perna.
Não podia me mover exceto pela extensão que ele me permitia.
Apenas tive que aceitar o prazer que extraiu do meu corpo sem
esforço.

Seu nome um canto em meu coração, arqueei em excitação


quando esfregou seus quadris contra minha boceta. Depois de se
esfregar em mim por longos momentos delirantes, finalmente se
afastou. Ele não se incomodou em tirar minha calcinha. Seus
longos dedos afundaram em mim em mim do jeito que eu gostava,
preparando-me para ele. Minhas pernas se abriram largamente,
gananciosas por mais.

O riso baixo encheu meus ouvidos. A alegria me aqueceu com


suas familiares notas roucas. Eu sorri e me ergui para alcançar
sua boca. Seu pau grosso penetrou em mim com um impulso.
Puxando minha boca da dele, ofeguei alto e passei minhas pernas
ao redor de sua cintura.

Empurrando-me contra ele o encontrei com um golpe


implacável. Respiração pesada encheu os pequenos espaços entre
nós, não foi suficiente para abafar os sons da minha corrente
raspando no chão de pedra.

Seus dedos inteligentes desceram entre nós. Seu polegar e


indicador acariciando o centro dos meus prazeres mais intensos.

189
Soltei um gemido gutural. Minha boca se abriu, palavras prontas
para cair em súplica, como fui treinada para fazer com este homem
bonito.

Ele balançou sua cabeça. — Não!

Não, eu não podia gozar? Não, não implore?

Seu nome passou como um sussurro de súplica. Damian


apenas balançou a cabeça novamente, enquanto seus dedos me
manipulavam mais rápido até que o êxtase me invadiu. Pressionei
meu rosto corado em seu braço estendido e gemi. Risadas fizeram
cócegas na minha garganta, engoli tudo quando ouvi o chamado
metálico do meu cativeiro.

— Risa...

Damian soltou meus pulsos. Suas mãos fortes seguraram


meus quadris, me levantando mais alto para que pudesse ir mais
fundo. Agarrei seu corpo forte, lembrando de nós nesta posição,
inúmeras vezes.

Ele se curvou e me beijou com força, acalmando a picada dos


dentes contra a pele antes de mover sua língua para brincar com
a minha. Logo se retirou de mim e habilmente me colocou de
joelhos antes de entrar em mim suavemente.

A natureza primitiva do nosso amor nos emocionou, se seus


gemidos fossem alguma indicação. Agarrei a beirada da banheira
enquanto seus impulsos aceleravam. Ele não duraria muito mais
tempo. Rosnou meu nome e me esmagou em seus braços.

190
Eu conheci a felicidade.

Depois, nos enrolamos no chão. Cara a cara. Damian passou


as pontas dos dedos pela minha bochecha. Então se abaixou e
trouxe minha coxa para cima tocando meu corte gentilmente. A
luta entre nós desapareceu quando olhei em seus olhos lindamente
diferentes.

Eu amava a paz temporária, só não tanto quanto o amava.

191
Capítulo 30
Risa
Estávamos na banheira minhas costas em seu peito.

— Risa, diga-me por que escolheu se cortar em vez de se


desculpar.

A água correndo camuflou meu gaguejo inicial e minha


hesitação. Eu achei mais fácil explicar enquanto estava afastada
de seu olhar dolorosamente direto.

— Me pareceu o mínimo que eu poderia fazer depois de ferir


seus sentimentos.

Damian parou brevemente no meio de esfregar meus ombros.

— Por que você pensa que feriu meus sentimentos?

— Eu podia ver em seus olhos. E me senti tão mal. Não quero


te machucar. Nunca. Meus olhos se fecharam enquanto ele lavava
minhas costas.

— Dói?

— Não, não realmente. Não tanto quanto você pensa.

192
— Não estava falando sobre sua perna.

— Oh! — Engoli a pergunta óbvia. Dando-me um momento


para pensar, respondi devagar: — Sim. Ferir você me machuca.

— Fico feliz em saber. Quanto à sua perna, é muito ruim.


Talvez um joelho latejante seja um lembrete eficiente para manter
sua imprudência sob controle.

— Eu nunca fui imprudente até te conhecer, Damian.

— Sério? De alguma forma eu duvido.

— É verdade. Nunca fiz nada parecido com as coisas que


fazemos até encontrar você. Nunca soube que esta vida poderia
existir. — Eu cedi à pressão da palma de sua mão em meu peito.
Eu me acomodei confortavelmente entre suas pernas.

— Então o que você estava procurando? — Damian


abandonou a esponja para usar as mãos. Ele jogou uma grande
quantidade de gel entre meus seios. Seus dedos alisaram o líquido
viscoso sobre a minha pele.

— Sentir-se segura, protegida e completamente possuída?

Desfrutei do carinho que ele mostrou com meu corpo. Me fez


feliz. Também me confundiu. Tudo mudou e nada mudou. Éramos
iguais e diferentes.

Eu queria o seu amor e, agora que finalmente consegui, não


confiava completamente nele. Obviamente, era por causa da
corrente, mas, por que nunca confiei realmente nele?

193
— Por que você pensa que eu estava procurando por algo?
Como você soube, antes que eu soubesse?

— Era óbvio para qualquer um com o meu tipo de olhar.

— Você quer dizer alguém com sua tendência sádica?

— Sim.

Eu ganhei coragem por não ter que olhar na cara dele.

— Damian, você foi tão frio comigo no começo.

— Eu sei. — Sua mão não parou de alisar minhas costas.

— Por que saiu comigo?

Damian segurou a água e jogou na minha pele.

— Porque eu queria você.

Ele não continuou, então eu perguntei: — Foi apenas uma


coisa de sexo?

— Não apenas.

Eu ri um pouco.

— Você sabia que eu queria você. Sempre soube.

— Sim.

— No entanto, eu não sabia que você me queria. Nunca tive


certeza.

194
Seus lábios tocaram a minha nuca. Seus dedos brincaram
com a corrente pendurada sobre a beirada da banheira, rolando os
elos em sua mão. — Isto é prova para você?

— Eu preferia rosas, perfume ou joias, primeiro.

Ele riu.

— Mais tarde a cobrirei com o suficiente para durar uma vida


inteira.

— Eu só tenho que sobreviver a este julgamento.

— Nós dois temos que sobreviver. — Damian beijou meu


ombro e sussurrou: — Você ainda me odeia por não permitir que
fosse embora?

Meus olhos se fecharam.

— Eu nunca o odiei.

— Sim, você odiou. Eu me odiaria se fosse você.

Eu me virei e segurei seu rosto. As bochechas não barbeadas


arrepiaram meus dedos. Tracei seus belos lábios, descendo pelo
seu queixo perfeito, antes de subir para as maçãs de seu rosto. Eu
olhei fixamente em seus olhos lindos, fascinada pelas cores
drasticamente diferentes. Era como olhar para o sol e a lua, o céu
e o inferno ao mesmo tempo.

O sentimento de traição já desaparecido. Fiquei


impressionada com a bênção de estar tão perto deste homem
perigosamente imprevisível.

195
Seus longos e femininos cílios desenharam meus lábios. Eu
beijei cada olho enquanto ele se mantinha quieto. Meus beijos
desceram lentamente até chegar aos seus lábios. Beijei-os
suavemente, ternamente. Minha língua empurrou ao longo da
junção dura de seus lábios até que se abriram para mim.

Nossas línguas carinhosamente emaranhadas. Senti tremores


suaves passarem pelo seu corpo grande. Refletiram os que
passavam pelo meu.

— Eu odeio o que você fez na noite passada e o que está


fazendo. Porém…

— Porém?

— Mas sempre te amarei mais. Acredite, mesmo que não


acredite em mais nada de mim.

Ele me deu um assentimento de cabeça.

— Você nunca foi tão aberta comigo antes, Risa. Já vale a


pena para mim. Agora tudo o que tenho que conseguir é fazer você
gostar da corrente. — Ele sorriu sugestivamente. — O que,
considerando o quanto você é masoquista, não demorará muito.

Eu gostaria de poder compartilhar sua diversão. De repente


me senti como se, de alguma forma, tivesse pedido por tudo o que
estava acontecendo porque gostava. Bem, antes da noite passada.

— O que isso diz sobre eu gostar de...

Gostar de você me machucar só para melhorar tudo?

196
— Dor? Não diz nada que você não queira dizer. Não significa
que seja uma depravada. Quanto a mim, por outro lado...

Damian realmente fez uma piada! Ou pelo menos o mais


parecido com uma piada que eu já o ouvi fazer. Eu me virei, não
antes de sorrir e perguntar: — Como você soube que era assim?

— Eu sempre soube.

— Sério?

— Sim, sério.

Seus braços enrolaram em volta da minha cintura. Foi


maravilhoso. — Quantos anos tinha quando começou a fazer esse
tipo de coisa?

— Dezesseis.

— O que você fez?

— Não muito. Um pouco de espancamento, alguma


escravidão.

Eu gaguejei e girei. — Não muito? Parece mais do que muito.

Damian sorriu docemente antes de pegar sua mão grande e


virar minha cabeça para trás.

— Continue olhando para frente.

— Por quê? Está envergonhado?

— Você sabe que não. Estou te salvando do constrangimento.

197
— Eu não estou envergonhada!

— E por que está corando?

Bati as mãos cheias de espuma em minhas bochechas. — Eu


não estou!

— Eu poderia me aposentar agora se recebesse cinco dólares


para cada vez que fiz você corar.

— Você não é um homem muito agradável.

— Você sabe desde o começo.

— Eu não entendo por que sempre gostei de você.

Meu resmungo saiu mais petulante do que ameaçador.

— Porque não pode evitar.

— Verdade. — Eu ri.

— O quê? — Ele pressionou enquanto beijava meu ombro


docemente.

Deixando cair a cabeça para a frente, eu pensei: — Ninguém


no trabalho realmente conhece você de verdade. Todos pensam que
você é um exemplo brilhante e perfeitamente autossuficiente do
trabalhador corporativo moderno, ainda assim, eu o conheço
melhor.

— Eu sou um exemplo brilhante e perfeitamente


autossuficiente do trabalhador corporativo moderno.

198
— Bem, sim, também é um valentão malvado, rude, vulgar e
desbocado.

— Apenas para você. Além do mais, um não tem nada a ver


com o outro. Abaixe a cabeça para trás.

Damian esperou até que eu obedecesse antes de pegar o jarro


decorativo no canto da banheira. Eu o assisti mergulhar na água e
fechei os olhos em antecipação.

— Você é educado com todos, menos comigo — persisti.

— Sim. Então o que você acredita que significa?

— Eu sou seu alvo... sua liberação para emoções negativas.

Água encharcou meu rosto, inundando meu nariz me fazendo


tossir e espirrar simultaneamente.

— Seu idiota! Por que fez isso? — Eu me joguei para frente


segurando-me na beirada da banheira e o encarei maldosamente.

Damian encolheu os ombros.

— Você queria se fazer de mártir. Eu te ajudei.

— Você... você... — gaguejei.

— Eu? — Ele perguntou com um sorriso benevolente.

199
Capítulo 31
Risa
Não tive tempo de cobrir minha boca antes que outro violento
espirro me pegasse. Muco e saliva escorreram, me tornando uma
garota pouco atraente.

— Aqui, deixe-me ajudar.

Eu me agitei e empurrei seu braço para longe. — ECA! Não,


Damian!

— Não. Olhe para mim!

— Não!

Horrorizada, tentei esconder meu rosto, Damian segurou


meus pulsos com as mãos.

— Olhe para mim.

— Por quê? — Me contorci em seu abraço. Cravei minhas


unhas nele. — Solte-me!

Damian me puxou para ele. A água espirrou para fora da


banheira.

200
— Você acabou de dizer que me machucar machuca você. No
entanto, está disposta a fazer de novo para poder se esconder. Você
vê a correlação? Ou preciso ser mais explícito?

Sua fala sussurrada me envergonhou. Mais uma vez tratei


Damian como se não tivesse sentimentos, como se não se
importasse comigo. Fiquei flácida.

— Sinto muito, infelizmente, não posso mudar quem eu sou.


— Mantive meu rosto virado, escolhendo esconder meu queixo no
meu ombro.

— Você está lutando comigo mais agora do que quando te


acorrentei. Você não vê a loucura de sua atitude?

Minhas bochechas esquentaram mais. — Por que é tão


importante para você? Eu me sinto nojenta.

— Importa para mim porque estou dizendo que sim. É tudo


que precisa saber.

— Não é justo!

— Nem lutar comigo o tempo todo.

Eu soltei um longo suspiro e pisquei para conter as lágrimas


de raiva.

— Você é o único que sabe o que é certo para mim, Damian?


Não sou capaz de tomar minhas próprias decisões? Você me vê
como criança?

— Não. Você pode ser. De vez em quando.

201
Sua sequência de respostas fazia sentido para mim.

— Então por quê?

— Porque não quero que você seja aquela perda da qual me


arrependo. Não quero que você seja alguém que encontrarei daqui
a alguns anos em um bar, conversando sobre como as coisas foram
ótimas, enquanto me sinto como se tivesse sido enganado em
nossa vida juntos. Não aceitarei.

Sua confissão me surpreendeu.

— Eu só precisava de um pouco de espaço, Damian.

— Você diz agora. Não teria dito se saísse pela porta. Você se
lembra de ter me contado que nunca esteve em um relacionamento
longo o suficiente para chamá-lo de longo prazo? Por que você
pensa que nunca esteve?

— Porque tenho conhecido o tipo errado de homens. — Lancei


a ele um olhar ressentido que não deixou nenhuma dúvida sobre
em qual categoria pensava que ele se encaixava.

— Pode ser. Ou talvez seja você.

— Pode ser. Ou talvez seja você.

Ele sorriu. — Eu gostei quando você foi muito mais amável


comigo no mês passado.

— Mesmo? Eu gostei mais quando você não era tão louco.

202
O sorriso de Damian desapareceu. O ar ficou pesado com a
tensão. Eu gostaria de poder pegar de volta as palavras, mais
ainda, gostaria de não tê-las pronunciado.

— Você disse que eu parecia que te odiava na noite passada.


Se existiu algum ódio em mim era por você continuar me afastando
toda vez que me aproximo demais. Tudo o que você precisava fazer
era ser sincera comigo.

Não é culpa minha.

Eu apertei meus lábios.

— Creio que nossa trégua terminou.

Damian se levantou. Meu olhar voou sobre seu corpo


maravilhosamente nu. Ele encontrou meu olhar sem pestanejar.
Deixou a banheira e caminhou até uma pilha de toalhas verde-
água. Levou três para a banheira e colocou-as na beirada. Então
pegou uma para si e saiu.

Não dirigiu uma única palavra a mim pelo resto do dia.

203
Capítulo 32
Damian
Nós não nos falamos desde ontem de manhã. Eu trouxe seu
café da manhã, almoço e jantar como um servo dedicado, além de
deixar uma variedade de bebidas e lanches entre as refeições. Ela
começou a me agradecer pela primeira refeição, meu olhar gelado
congelou o resto de suas palavras em sua garganta.

Risa foi minha boneca muda desde então.

Depois que a deixei no banho coloquei um vestido simples


para ela usar junto com um sutiã, sem calcinha, por razões óbvias.
Como removi todos os telefones e computadores na noite em que a
trouxe — exceto os que mantinha no escritório — ela não possuía
acesso à internet e, provavelmente, ficaria louca de tédio. Para
compensar deixei uma pilha de livros e outra de DVDs, todos seus
favoritos.

Ela provavelmente aceitou a existência deles como prova dos


meus planos nefastos. Na verdade, eram presentes que havia
comprado e planejado dar a ela nos feriados. Sua finalidade
funcionou a meu favor.

204
Eu não podia negar minha raiva por seu afastamento, porém
teria feito de qualquer maneira. A distância entre nós era
necessária. Posso estar obcecado, não insano.

Mesmo que fosse o que ela pensava. Eu estava sendo sensível?


Não sabia. Nunca fui antes.

Risa me queria mais do que nunca, mas seu orgulho e visão


do mundo exigiam que tentasse se libertar. O isolamento lhe daria
tempo para pensar e admitir que precisava de mim tanto quanto
eu precisava dela.

Entrei em contato com seu supervisor, bem como com o CEO


e o RH. Eu lhes dei a desculpa de que contratei Risa para um
projeto particular e ela não voltaria por um período indeterminado.
Também informei ao CEO que minha investigação estava completa
e eles poderiam contratar um novo diretor de TI. Então ordenei a
minha equipe pessoal que garantisse que todas as obrigações
financeiras dela fossem pagas pelo resto do ano.

Era bom ser rei às vezes.

Passei o resto do dia trabalhando. Enquanto era capaz de


compartimentar bem o suficiente para executar uma longa lista de
tarefas, Risa nunca ficou muito longe dos meus pensamentos.

Cada meia hora mais ou menos, a verificava através da


câmera escondida no teto. Ela dormiu metade do dia, a cabeça
embaixo dos cobertores. Não gostava da posição, pois não
conseguia ver se chorou.

205
Como não conseguiria manter minha distância facilmente se
ela tivesse chorado, provavelmente era o melhor. Não gostei de
suas lágrimas. Elas me fizeram sentir desconfortável e fora de
controle.

Quando acordou, Risa explorou o quarto antes de voltar sua


atenção para o grilhão em seu tornozelo. Eu forrei o interior com
um acolchoado grosso para manter sua pele intacta.

Duvidava que desse valor ao meu gesto.

Ela não sabia o quanto poderia ser pior para ela. Sendo uma
típica garota americana de boa família, por que saberia?

Um Konstantinov sabia o que significava para uma garota


acabar como uma mercadoria. Um dos familiares saberia dos
passaportes confiscados, clubes intermináveis a serem
embaralhados, tentando pagar uma dívida que crescia cada vez
mais, se ela tivesse sorte.

Entretanto, eu não era um Konstantinov. Era um Black-Price,


criado por um casal que nunca tentou se passar por meus pais,
eram meus tutores. O que não significava que fossem rudes ou
distantes, ainda assim, o afeto não ia além do que um empregado
teria por seu empregador.

Soube desde muito jovem como nasci, quem eu precisava ser


e que nada poderia ficar no caminho do meu papel no mundo.

Não tenho a menor dúvida de que sequestrar minha amante,


trancá-la em uma das minhas propriedades particulares e

206
acorrentá-la à cama ia contra a ambição da minha vida. Liberdade
era uma ilusão na melhor das hipóteses. Minha gaiola não podia
ser vista, o que não significava que não existisse.

Risa examinou a corrente e as algemas, obviamente


procurando um jeito de abri-la. Não aconteceria. A única maneira
de ela se libertar contra a minha vontade era se roubasse a chave
da minha gaveta trancada.

O jantar foi solitário. Risa comeu em seu quarto e eu na sala


de jantar. Não era foi nada como imaginei quando a trouxe para
cá.

Não importa. Era onde estávamos agora. Presos num impasse.

As coisas, no entanto, começaram a melhorar para mim desde


esta manhã. Quando levei o café da manhã com waffles com
bananas, chantilly, calda de chocolate e nozes, Risa sentou-se e
me observou atentamente.

Embora tenha varrido meu olhar sobre ela só uma vez, vi


nitidamente a saudade que sentia de mim. Era o mesmo olhar
assombrado usado tantas vezes quando pensava que eu não estava
olhando.

Ignorei-a completamente. Apenas coloquei a bandeja na mesa


de cabeceira antiga antes de entrar no armário e tirar outro vestido,
este de malha preta com mangas compridas. Assim que o coloquei
na cama saí tão silenciosamente quanto entrei.

Há três horas.

207
A impaciência me consumia. Eu ansiava por sua capitulação,
quase tanto quanto ansiava por sentir seu gosto. Estive enterrado
profundamente em Risa nem vinte e quatro horas antes,
aparentemente vinte e três horas e cinquenta e nove minutos era
muito tempo.

Apenas venha na minha direção, Risa. Sei que você me ama.


Eu te amo. Por que tudo é tão difícil?

Irônico, considerando meu passado. Eu tive mais do que


minha cota de amores ruins. Meu entendimento era que uma
mulher apaixonada não queria nada mais do que estar com o
homem que amava. Meus problemas anteriores eram que eu não
queria estar com elas.

Risa não quer estar com você pelo mesmo motivo. Ela não te
ama. Não como você a ama. Você foi uma distração bastante
agradável em sua vida, agora você se tornou um risco.

Eu levantei abruptamente, fechando meu laptop com força.


Meu pau doía por Risa e meu instinto exigia que invadisse seu
quarto e a obrigasse a pensar.

Não consegui.

Eu precisava cuidar de seus sentimentos, os mesmos que eu


pisoteei tão implacavelmente quando a acorrentei como um animal
e não a mulher que eu amava mais do que qualquer outra coisa ou
qualquer pessoa no mundo.

208
Se esse era o eu apaixonado, odiaria ver o que poderia fazer
com alguém que desprezo.

Inspirando profundamente, olhei para o meu relógio de pulso.


O almoço estava chegando. Traria para Risa uma de suas comidas
favoritas e de sobremesa um brownie recém-assado. E talvez,
apenas talvez, ela finalmente pudesse ver que todas as pequenas
coisas que eu fazia para ela possuíam um significado vindo de um
homem como eu.

Uma esperança frágil, no momento era tudo que poderia


oferecer.

209
Capítulo 33
Risa
Deixei o filme, um romance dramático estrelado por Sandra
Bullock e Harry Connick Jr., passando enquanto caminhava em
frente à janela. Damian não me dirigiu uma palavra desde ontem
e odiava. Já chorei mais do que gostaria e sentia sua falta até o
ponto de enjoar.

Ele, por outro lado, me dispensou a mesma atenção


superficial que daria a um gato que estivesse alimentando como
um favor ao seu vizinho. Para alguém que precisava de sua fixação
em um grau doentio, era um inferno.

Cheguei ao ponto de ficar toda empolgada quando ouvia a


porta ser destrancada apenas para ficar amargamente
desapontada quando ele depositava minha comida na mesa de
cabeceira e saía.

A distância estava me consumindo muito rapidamente.

O caos quebrou meus pensamentos em pequenos pedaços.


Não consegui me concentrar em nada por tempo suficiente antes
de o belo rosto de Damian surgir em meus pensamentos. O

210
maníaco estava me mantendo aqui contra a minha vontade, por
que estava tão magoada por ele não se incomodar em interagir
comigo?

Pior, ansiei tanto por Damian na noite passada quando


tentava dormir. Me acostumei tanto, a me aconchegar ao seu corpo
grande que me senti perdida e com frio na grande cama. Depois de
acordar ao lado de Damian pela primeira vez, descobri que não
conseguia dormir sem ele. Uma vez dirigi até seu apartamento às
duas da manhã para poder acordar ao seu lado quatro horas
depois.

Aconteceu há apenas três semanas?

Essa necessidade por ele era uma dor que não diminuía.
Exausta, infeliz e perdida quanto ao que fazer a seguir, mal comi o
que ele trouxe esta manhã. Waffles empilhados com minhas
coberturas favoritas, tão doces que poderia ser uma sobremesa. Eu
só fui capaz de engolir algumas pequenas mordidas antes de meu
apetite fugir.

Muito parecido com o que queria fazer, só que agora não sabia
se era para longe de Damian ou na direção dele. Não entendia por
que minha postura sobre quão errada era a situação oscilou. Ainda
estava muito furiosa com ele por me aprisionar, não obstante,
começava a questionar se poderia estar certo em suas
justificativas.

Não, não posso me permitir pensar dessa maneira. Não agora.

211
Ouvi a personagem da Sandra dizer como as pessoas se
apaixonavam e depois davam o fora.

Embora tenha assistido a este filme em particular mil vezes,


a futilidade das palavras me atingiu com força. Desespero me
invadiu. Eu não podia suportar que fosse verdade. Não sobre
apaixonar. Não sobre ele.

O que significava que ainda havia esperança.

Esperança de que, de alguma forma, pudéssemos consertar


as coisas. Que o último mês aprendendo a amar este homem de
fala mansa e socialmente direta não foi um erro. Que Damian não
era louco e eu não era uma vítima que se apaixonou por seu captor
porque era mais fácil.

Com os olhos arregalados, abaixei-me e levantei minha


corrente. Eu a puxei, soltando um grito estridente de frustração
quando permaneceu desafiadoramente intacta. Jogando os elos de
metal no chão, me virei procurando por algo, qualquer coisa que
pudesse abri-la.

Enquanto Damian me mantivesse acorrentada contra a


minha vontade, nunca seria capaz de estar em pé de igualdade com
ele. Precisava sair, mesmo que fosse apenas pelo tempo suficiente
para eu defender meu caso e ouvir seu veredito.

A fuga viria de qualquer maneira. Fosse para seus braços ou


não.

212
Foi quando meu olhar pousou na janela. Estava nublado do
lado de fora, o céu cinzento do inverno escondendo a tela do céu.
Quanto mais olhava para ela, mais rápido um plano grosseiro
surgia e tomava forma em minha mente.

Se Damian fosse o homem que eu esperava que fosse, seria


forçado a me mover. Se ele me movesse, teria que abrir a corrente.

Faça! Agora!

Eu não me dei uma saída. Pegando a cadeira, corri para a


janela e bati contra o vidro. Não surpreendentemente, quebrou
depois de três ou quatro golpes.

Por favor, Damian, não me decepcione.

213
Capítulo 34
Damian
Aproximando-me do quarto de Risa com a bandeja na mão,
ouvi os sons delicadamente violentos de vidro quebrado. Meus pés
engoliram a distância restante e rapidamente abri a porta. A
imagem com a qual me deparei me paralisou mais do que quando
assisti meu primeiro assassinato.

Risa cercada por cacos de vidro. Abaixada, a mão alcançando


um fragmento irregular. Vermelho explodiu nos meus olhos. Joguei
a bandeja no chão e, antes que percebesse, bati a palma da minha
mão em seu pulso com quase toda a minha considerável força.

Seu grito áspero de dor mal foi registrado. Fúria e medo me


estrangularam. Eu a levantei do chão e caminhei até a cama.
Jogando-a violentamente, rosnei a menos de um centímetro de seu
rosto branco como a neve. — Não faça a porra de um movimento,
Risa!

Esperei até que ela me deu um reles assentimento de cabeça


antes de sair pela porta que conectava nossas suítes. Em menos
de um punhado de segundos, voltei com a chave. Não tinha como

214
mantê-la aqui, não com centenas de cacos de vidro à sua
disposição.

O pensamento de que se machucaria para escapar... que


realmente quebraria a janela apenas para pegar o vidro e cortar
seus pulsos, ou talvez até mesmo seu pescoço...

A agonia derrubou meus portões mentais cuidadosamente


construídos.

Damian Black desapareceu.

Damian Konstantinov surgiu.

215
Capítulo 35
Risa
Damian soltou o grilhão da minha perna e me puxou para
seus braços. — Você quer morrer tanto assim?

O tom que ele deu àquelas palavras cruas foi tão, tão suave.
Tão, tão frio.

Meu olhar assustado fixou nele, tentando procurando pistas


do que havia mudado. Seu rosto era uma bela máscara. Raiva seria
bem-vinda, não havia nada lá. Estava com medo do vazio olhando
para mim.

O perigo arrepiou minha espinha. Tarde demais percebi que


calculei mal como ele reagiria ao meu plano. Balancei minha
cabeça de um lado para o outro. — N-não!

Ele sorriu maldosamente, aumentando meu medo óbvio.

— Acho que você deve — ele ronronou. — Vamos ter certeza.

— Damian, o que você vai fazer? — sussurrei quando ele me


levantou. Tudo estava indo rápido demais. Eu não poderia nos
atrasar.

216
— Sssh! — Ele caminhou até a janela. — Você quer pular,
Risa? É o que deseja? Quer morrer para escapar de mim?

Minhas pequenas mãos pressionaram seu peito. — Não é


verdade. Eu não estava tentando ir embora... eu só... — Minhas
palavras sumiram quando estávamos perto da janela quebrada.
Uma rajada de vento frio soprou fustigando meu cabelo. Estávamos
no terceiro andar, era um longo caminho até a calçada de lá
embaixo.

Mais uma vez, a questão de onde estávamos e de como ele


comprou uma propriedade tão suntuosa me deixou curiosa por
tempo suficiente para me perguntar de quem realmente era aquela
casa. E, se realmente fosse dele, que outros segredos ele escondia
de mim?

Obviamente, não era o momento de perguntar. Eu me


perguntei se algum dia teria a chance de perguntar e se ele me
responderia.

Damian me colocou na frente dele. Abraçou meu corpo por


trás, o queixo apoiado em meu ombro. Seu abraço imitava o de um
amante carinhoso. No entanto, suas palavras cruéis quebraram a
ilusão.

— Dê uma boa olhada, garotinha. Você vê quão alto é? Você


pula e seus ossos se quebrarão. Este belo corpo parecerá ter sido
golpeado repetidamente com um bastão. Dependendo de como
cair, seu rosto será destruído. Se não se importa com o que sinto,
como acha que Richard e Lila se sentirão? Hein?

217
— Você sabe o nome dos meus pais? — Estranho como foi no
que me concentrei.

— Claro que sim. Você é... especial... para mim.

O dedo de Damian traçou meu pescoço. De repente o imaginei


quebrando o osso. Estremeci com a escuridão dos meus
pensamentos.

— Sei tudo sobre você. Sei sobre a multa por excesso de


velocidade que recebeu no ano passado. Sei em qual universidade
você se formou. Sei que mudou seu curso de Gestão Esportiva para
Marketing no segundo ano de faculdade.

— Você me investigou? Por que você investigaria?

Damian resmungou.

— Porque eu quis. Você é um livro aberto para mim e agora


quer fechá-lo. É uma vergonha. Você é minha história favorita.

Meu corpo rígido se contorceu. Ele apertou seus braços até


que minha respiração escapar de mim.

— Eu não estava tentando me matar. Não foi o motivo de ter


quebrado a janela.

— Então o que você estava fazendo? Pode me dizer a verdade


ou inventará uma mentira? — Seu rosnado interrogativo fez
minhas pernas ficarem fracas. Teria gostado do tom se a situação
não fosse tão terrível.

218
— Eu precisava de uma mudança de cenário? —
Previsivelmente, minha piada saiu como um balão de chumbo.

— Mentira então. Veja, Risa.

Damian nos levou ainda mais perto da janela. Seus sapatos


afundando ainda mais o vidro no chão de madeira. Vagamente,
imaginei quão profundas as ranhuras seriam. A mão grande de
Damian segurou minha nuca. Ele empurrou até que meu rosto
estava do outro lado do buraco irregular do vidro.

— Está vendo?

Lambendo meus lábios secos, murmurei: — O quê?

— Você queria uma imagem. Diga-me o que você vê.

Eu engoli o nó crescente na minha garganta. — Não vejo nada.

— Você tem certeza?

A boca de Damian estava tão perto do meu ouvido. Tremi


quando meus sentidos aumentaram com cada passagem de hálito
quente. — Tenho certeza.

— Está certa. Não há nada lá fora. Nada mesmo. Mas aqui,


tem tudo que você poderia precisar. E estou tentando dar a você.
Você é cega demais para enxergar. Como sempre.

— Como sempre. O que você quer dizer? — Eu não consegui


controlar o tom indignado, mesmo tendo alcançado meu objetivo.
Damian me libertou. E finalmente estava falando comigo. Era a

219
minha chance de reiniciar o último dia e, ao contrário do que
desejava estava discutindo com ele.

Como a minha atração por ele, simplesmente não pude evitar.

— Tudo remonta ao início, Risa. A noite em que você viu


Gretchen mudou nossa trajetória. Você não confiou em mim o
suficiente para acreditar que eu queria você.

— Não sou tão superficial.

— Talvez não. Talvez sim.

— Não há talvez. Eu sei que você queria meu corpo, mesmo


que você não suportasse a pessoa ligada a ele a maior parte do
tempo. A dor estremeceu minha voz. — Ah e gostaria de salientar
que você não é um prêmio. Está tão emocionalmente fechado que
até o próprio Deus teria dificuldade em conseguir algo de você.

Embora tenha sido ríspida me sentia melhor por dizer.

— Talvez, porém gostei o suficiente para ficar com você, para


trazê-la para cá.

— Eu deveria estar lisonjeada então? Desculpe-me, Damian,


não me interesso por este tipo de escravidão.

Ele expirou longa e lentamente.

— Você odeia a corrente, não é? Você acha que estou te


tratando como uma escrava? Bem, te contarei

220
uma coisa sobre o mundo lá fora. Uma escrava não me faria
cozinhar para ela e servir suas refeições na melhor porcelana,
também não ficaria num belo quarto digno da esposa de um
homem muito rico.

— Pare! — Tentei olhar para ele, ainda assim, se recusou a


me deixar. Suas palavras venenosas continuaram a penetrar mais
fundo, diminuindo minha indignação.

— Uma escrava não me teria separando roupas para ela duas


vezes ao dia nem dormiria em lençóis da mais alta qualidade.

— Não é o mesmo...

Damian interrompeu meus fracos protestos com facilidade. —


Exatamente. Você não é uma escrava, Risa. Se você quer realmente
saber como é ser uma escrava, jogarei você no porão. Devemos ir
agora?

Eu vacilei. — Não!

— Você tem certeza? — Damian caminhou até a porta e me


colocou no chão. De pé ali na porta aberta com a cabeça esticada
para trás, senti a imensa diferença em nossos tamanhos
imediatamente.

— Você sabe que eu não quero. — Meus dedos se


contorceram.

Ele me olhou uma vez. — Na verdade creio que você gostaria.

221
— Você está falando assim para me assustar — tive a coragem
de dizer.

— Será?

— Você sabe que sim.

— Você sabe o que eu penso? Que você quer ser uma vítima
para que possa justificar sua fuga de mim, dos seus sentimentos.

Sua declaração bateu muito perto da verdade.

— E quanto aos seus sentimentos, Damian, você diz que me


ama...

— Eu amo.

— Por que você esperou até ontem para me dizer? Você teve
todas essas semanas e nem uma vez disse “eu te amo, Risa”.
Esperou até eu tentar terminar para me dizer. Se tivesse me dito
que me amava antes, nada disso teria acontecido!

Ele apertou os lábios. Algo semelhante ao remorso cintilou em


seu olhar.

— Eu não posso simplesmente dizer as palavras, Risa. São


apenas palavras. Qualquer um pode dizê-las.

Algo mudou dentro de mim. Senti como se tivesse acabado de


dar uma espiada dentro de Damian, dentro de uma sala que não
sabia que existia. Precisava ir com cuidado se quisesse manter meu
ponto de vista.

222
Eu me atrevi a tocá-lo.

— São palavras que precisava ouvir. Eu nunca soube o que


você estava realmente sentindo a menos que estivéssemos fodendo.
Eram as únicas vezes que conseguia ver seu eu verdadeiro.

Ele fechou os olhos.

— Existe mais coisas sobre mim do que posso contar, Risa.


Eu... — Ele engoliu em seco, franzindo a testa como se não
quisesse compartilhar mais nada. — Você é uma gestora de contas.
Você mais do que ninguém deveria saber com que frequência as
pessoas dizem coisas que não significam nada para conseguir seu
objetivo.

— Não você.

— Eu não. Não com você.

223
Capítulo 36
Risa
Eu lambi meus lábios, coração martelando no meu peito.

— Você realmente me ama, Damian?

— Sim. Pelo visto, as palavras não são o bastante.

— Não, elas não são.

— Por causa disto? — Damian me girou de modo que nós dois


encarássemos a corrente descartada. Estava no chão, piscando na
luz fraca como uma arma. — Não significa nada, Risa. Você a teria
usado sempre que eu quisesse.

Meu olhar se afastou. O desejo se retorceu através de mim.

— Pode ser verdade, acontece que você não me perguntou.


Você me obrigou e foi muito errado!

Seu fino lábio se curvou em desprezo.

— Se eu dissesse que você está certa, mudaria alguma coisa?

224
Eu não precisava simplesmente ouvir as palavras. Precisava
saber que ele acreditava nelas.

— Você acredita que agiu errado?

Damian me levantou sem esforço até estarmos cara a cara.


Minhas pernas balançaram no ar.

— O que acredito não importa. Responda minha pergunta.

Estar tão perto dele, ver cada mancha em seus olhos prata e
âmbar, cheirar a colônia que sempre usava provocou uma reação
diferente da que deveria sentir. O medo que senti quando ele veio
pela primeira vez se transformou em outra coisa.

Algo sombrio e excitante.

Meu batimento cardíaco disparou como um coelho. Meus


mamilos se contraíram com excitação dolorosa. Queria beijá-lo,
queria que me pressionasse contra a parede enquanto me excitava
até eu gritar seu nome.

Seus olhos se estreitaram. A luxúria endureceu as linhas de


sua expressão. Soltei um suspiro estrangulado. Eu conhecia
aquele olhar. Gozei com aquele olhar inúmeras vezes. De repente,
precisava muito prová-lo.

— Você me quer agora, Risa?

Lambi meus lábios sem conseguir responder.

A boca de Damian se apertou. — Última chance.

225
Eu não queria mais estar em conflito com ele. Agora que o
peso físico do meu cativeiro diminuiu, percebi que não importava.
Meu amor por ele garantiria que continuasse se manifestando
dentro de mim.

— O que você quer que eu diga? Você sabe a verdade!

Só queria que a gente fosse para a cama, para encontrar nossa


felicidade através da paixão e das palavras ardilosas da luxúria.

— Como eu poderia saber? — Ele perguntou suavemente.

— Mostrei que o queria desde o primeiro momento em que pus


os olhos em você!

— Mas você não falou.

— Eu mostrei a você.

— Assim como eu. — O tom de Damian ficou áspero de


emoção. — Eu nem olhei para outra mulher desde que estive com
você. Passo todo o meu tempo livre com você. Faço amor com você
sempre que posso. Você vê um lado meu que ninguém mais tem
acesso. Este é meu amor por você, Risa. Sim, até mesmo trazendo-
a para cá e mantendo-a prisioneira. Eu não creio que esteja errado.
Não se te fizer admitir o que já sei que é verdade.

Fiquei comovida com suas palavras, contra a minha vontade.


Minha visão do mundo mudou, abrindo espaço para o que estava
me dizendo.

Damian está me dizendo a verdade. Sei que está.

226
Pode ser cru e não um material para romances apaixonados,
ainda assim, era verdadeiro.

Meu silêncio deve ter se arrastado por muito tempo, pois ele
me colocou no chão. Dando um grande passo para trás, perguntou
numa voz tão fria quanto o vento soprando através da janela
quebrada. — Vale a pena me perder por causa de seu maldito
orgulho? Vale a pena perder o que sentimos?

Sua pergunta se retorceu como uma adaga no meu coração.

227
Capítulo 37
Damian
Risa engasgou. Seu rosto empalideceu roubando-me suas
bochechas rosadas. Um medo terrível cobriu seu olhar. Em todo
este tempo, desde que a trouxe para cá à força, ainda não havia
mostrado tal nível de pavor. Mesmo quando eu era frio e implacável
em meus métodos recentes ainda teve a tenacidade de se opor.

Agora tudo o que havia era uma cópia silenciosa da minha


preciosa garotinha.

— O que será? — Pressionei mais.

— Você não pode tomar todas a decisões.

Sua voz tremia como a de um pássaro iniciando o voo. Eu não


podia permitir que fugisse de mim. Agora não. Nunca! Endureci
meu coração.

— Eu posso e farei.

— Não está certo!

228
— É o que você gosta. Não negue. Conheço o seu tipo de
mulher. Vi no dia em que te conheci. Você estava acostumada a
puxar as cordas e estava entediada. Não pode puxar minhas cordas
como fazia e você adora.

Seus olhos pareciam grandes demais em seu pequeno rosto.

— Eu não adoro não saber qual é o meu lugar em sua vida.

— Eu já te falei.

— Agora.

Xingamentos escaparam do meu controle.

— Você é a mulher mais teimosa que já encontrei. Agora ou


antes, que diferença faz?

— Faz toda a diferença, pois... — sua boca fechou e abriu


novamente. O vermelho a pintou delicadamente. Quando as
lágrimas iluminaram seu olhar, me preparei contra sua dor ou os
sentimentos inevitáveis que tentavam surgir. Além disso, ela não
queria meu conforto. Ela queria um pedaço da minha pele.

— Por quê?

—Tem alguma ideia de quantas noites passei com medo de


que você se cansasse de mim e dissesse que estava acabado? Que
você encontraria outra pessoa para me substituir porque se cansou
do nosso caso?

— Não foi um caso.

229
— Era o que parecia para mim, você não entende?

Sua pergunta foi um chute em meu orgulho. Tive casos antes.


O que havia entre nós não chegava nem perto. Era completamente
dedicado a ela, nunca considerei arranjar outra pessoa. Alguém
mais maleável.

Tudo o que tomei de Risa, devolvi completamente. Antes dela,


comprava meu caminho na cama de uma mulher, presenteando-a
com milhares de bugigangas caras para facilitar minha entrada. O
jantar nunca foi feito por minhas próprias mãos. Nunca preparei o
banho para alguém que não fosse eu mesmo. Nunca cuidei de
ninguém, incluindo Gretchen, da maneira que cuidei de Risa.

Como ela podia não entender?

Risa não sabe quem você realmente é.

Resumidamente, considerei colocar minhas cartas na mesa,


ou, pelo menos, aquelas que podia. As coisas estavam se tornando
mais difíceis para mim por não dizer a Risa que eu valia mais de
um bilhão de dólares? Será que a raiva razoável de Risa em relação
a mim suavizaria quando ela percebesse que eu poderia e
compraria qualquer coisa que seu coração almejasse?

A ideia de poder comprá-la me deixou frio. Considerando


quem eu era, sempre foi uma barreira ou uma sedução para o sexo
feminino, ainda assim, sabia que Risa me amava por mim. Não o
charmoso cafajeste que interpretei com demasiada frequência, mas
o homem sombrio que, de alguma forma, encontrou a garota de
seus sonhos escondida à vista de todos.

230
Ainda assim, Risa duvidou de mim.

Raiva e algo muito desconfortavelmente perto da dor, engoliu


minha voz.

— Se estar comigo era tão ruim, por que ficou por tanto
tempo? Eu não agi diferente de quando começamos. Aliás, ajo
melhor agora.

— Você sabe o motivo de eu ter ficado — acusou suavemente.


— Por que está tentando me fazer dizer de novo?

Porque nunca será suficiente. Sempre vou querer ouvir as


palavras, Risa, pois sei que são sinceras.

— Diga-me!

Seus ombros caíram derrotados.

— Eu te amo, Damian. Tentei impedir meu coração, não


consegui. Não contra você.

Foram as palavras mais bonitas que já ouvi. Muito mais


bonitas do que sua relutante declaração de amor. E apenas um
pouco mais bonitas do que o doce sussurro de seu orgasmo ao
redor do meu pau...

Por minha causa.

Suas lágrimas se derramaram. Caíram em cascata por suas


bochechas lisas. O desejo de afastá-las com o dedo surgiu. A
escuridão agitou dentro da minha alma. Eu deveria ficar triste ao
ver as trilhas prateadas. Eu deveria pedir seu perdão.

231
Eu não faria.

As lágrimas eram prova de sua devoção por mim. Assim como


o corte em sua perna, foi um sacrifício para mim, não podia negar
o poder de suas lágrimas sobre mim. Não pela primeira vez,
questionei meu amor por Risa Kelly.

O que você fez comigo, garotinha? Como conseguiu me possuir


assim?

Meu olhar se desviou para a corrente caída no chão, enrolada


como uma serpente pronta para atacar. Eu tinha que estar irritado.
Se estivesse no controle total de minhas emoções, nunca teria ido
tão longe.

Se eu tivesse a capacidade de recuperá-lo, teria telefonado


imediatamente ao meu advogado para que fizesse um acordo com
Risa que me mantivesse fora da prisão. O encanto do dinheiro
falhando, teria pressionado sua afeição por mim até que ela
cedesse.

Então deixaria o cenário do meu maior fracasso e viajaria para


minha ilha particular nas Maldivas acompanhado por uma ou
duas lindas modelos ucranianas. Lá esqueceria o dia em que vi
Risa encostada na parede tirando o sapato.

Sabia que não faria nenhuma dessas coisas. Iria até o fim. A
loucura pairou sobre mim no último mês e era tarde demais para
mudar de rumo.

Eu me concentrei nela. — Você me ama, não é?

232
— Sim, eu amo.

— Você ainda quer me deixar?

Ela suspirou. — É complicado...

Ergui minha mão. — Pare! — Ela me obedeceu, para variar.


— Não precisa ser complicado. Não, se você não quiser complicar.
— Recorrendo aos meus métodos de coerção recentemente
inexistentes, olhei para a corrente e tomei uma decisão.

Tudo o que Risa precisava era escolher.

Eu olhei para ela e sorri. — Você quer ficar comigo?

A resposta, quando chegou, não poderia ser outra, senão


"sim".

O que aconteceu depois foi certamente o nosso destino e não


poderia ser mudado. Risa não me decepcionaria porque me amava.

Eu não me arrependo de nada. Faria tudo de novo.

E era a minha maior verdade. Eu seria qualquer coisa —


monstro, mestre e carcereiro — desde que no final, Risa me
amasse.

Nada mais importava.

233
Capítulo 38
Risa
Com o coração martelando no meu peito, não ousei olhar por
cima do meu ombro. Forcei minhas pernas e braços enquanto
corria direto para a mata ao longe. Minha respiração ficando mais
difícil a cada passo.

Pensei ter ouvido Damian gritar meu nome, não tinha certeza.
Poderia ser ele. Poderia ser o vento.

De qualquer maneira precisava ir mais rápido, pois, trinta


minutos atrás, ele me deu uma escolha.

***

— Você quer ficar comigo? — Damian perguntou gentilmente


com aquela voz deliciosamente aveludada que amava tanto.

Eu poderia ter voltado para cobrir o mesmo terreno


danificado. Poderia ter dito que ele não tinha o direito de me
perguntar, considerando as atuais circunstâncias. Respondi
honestamente.

— Eu quero. Mais do que tudo.

234
— Você confia em mim?

Evitei sua pergunta.

— Eu quero que consigamos fazer funcionar.

A decepção cintilou, porém, a voz de Damian permaneceu


gentil como sempre.

— Bom.

Ele então me levantou e carregou para o seu quarto. Uma vez


lá, me colocou em uma otomana3 em frente à lareira e ordenou: —
Fique aqui.

Eu observei quando saiu do quarto e voltou para o meu. O


que estava fazendo? Estaria trazendo a corrente de volta? Apenas
me trocou de lugar, mas seria mantida na mesma situação?

Retornou rapidamente. Em seus braços havia um pequeno


pacote de roupas. Eu as reconheci, eram minhas. Entregou-as
para mim.

Olhando para a pilha bem dobrada no meu colo, perguntei: —


O que são?

Sua boca se levantou em um lindo meio sorriso.

— Eu pensei que fosse bastante óbvio, Risa.

3 Uma otomana é um tipo de sofá que normalmente não tem um encosto. Pode ter cantos circulares ou
quadrados, e como regra, é o que os estofadores chamam de “sobrestofado” — isto é, a madeira não é visível.
Pode ser usada como banco, escabelo, mesa de centro ou como um sofá.

235
Meu sorriso reapareceu.

— Eu sei. Quero dizer, por que as trouxe?

— Eu as arrumei apenas no caso. — Ele deu de ombros


expansivamente. — Meu momento “apenas no caso”
aparentemente chegou.

Esperando por mais explicações, verifiquei a pilha. Camiseta,


suéter grosso, roupa íntima, jeans, meias e botas. Meu sorriso
desapareceu. Estas roupas foram projetadas para o exterior.

Estaria me deixando partir?

Eu deveria ficar em êxtase com a ideia. Poderíamos voltar ao


meu apartamento, resolver nossas diferenças de maneira
responsável, como adultos civilizados. Talvez depois de várias
rodadas de sexo intenso, pudéssemos discutir nosso futuro e
Damian poderia jurar que nunca, jamais recorreria a tais práticas
criminosas novamente.

Era tudo bastante lógico e esperado, mesmo que fosse


rebuscado e apologético em seu método de varrer todo o desagrado
para debaixo do tapete.

Porém não era mais o que eu queria.

Em algum momento entre o nosso banho e a janela quebrada,


algo mudou. Não conseguia entender o que movia Damian antes,
no entanto agora sabia que em seu jeito não ortodoxo e quase
obsessivo, ele me amava. Assim como o amava o suficiente para

236
tentar ser o que pensava que ele queria, a garota que ele poderia
olhar e dizer — você é perfeita para mim, Risa.

Nenhum de nós estava necessariamente dizendo a verdade


todo o tempo, ainda assim ambos queríamos exatamente a mesma
coisa. Amor.

Damian simplesmente não podia me deixar ir depois de tudo


que aconteceu.

— Não está frio aqui. — Eu fiz a minha melhor tentativa de


um sorriso ensolarado. — Eu poderia escorregar para debaixo das
cobertas e me aquecer — especialmente se você se juntar a mim.

— Mmmm, é muito tentador, mas, ainda não. Coloque suas


roupas!

Hesitei. — Por quê?

— Porque eu quero.

Seu olhar encontrou o meu opaco, embora vigilante. Segurei


mais forte no jeans antes de me levantar abruptamente. Troquei-
me rapidamente, ciente de seu olhar de admiração o tempo todo.
O desejo pulsou e estava sem fôlego quando terminei.

Damian estendeu a mão e tocou a minha. Ele me puxou para


mais perto.

— Eu te darei uma escolha.

— Estou ouvindo.

237
— Vinte minutos lá fora. Se não conseguir te encontrar, você
decide se ficamos aqui ou se voltamos para casa. Se te encontrar a
trancarei no meu quarto pelos próximos dois dias. Depois, iremos
para casa.

Eu lambi meus lábios, o batimento cardíaco acelerando com


uma mistura estonteante de excitação e nervosismo. — E então?

Damian inclinou a cabeça, o questionamento iluminou seus


lindos olhos.

Esclarecendo, perguntei: — O que acontece quando a gente


for para casa?

— O que você quer que aconteça?

— Eu ainda quero estar com você. De qualquer forma. —


Damian não respondeu, apenas esperou que eu soletrasse a minha
verdadeira pergunta. — Você ainda ficará comigo quando eu
ganhar?

Ele sorriu e segurou meu queixo, dando um leve aperto.

— Você está tão confiante de que vencerá. Sabe que não


permitirei que aconteça.

Desejo cresceu em meu estômago. Sua confiança, como


sempre, era um afrodisíaco. O que despertou a sedutora em mim.

— Por que está me dando uma escolha?

— Por você. Para que perceba também.

238
***

Alguns minutos depois, Damian me levou para o andar de


baixo e me vestiu com meu casaco pesado. Então colocou um
relógio em meu pulso, explicando que o alarme dispararia em vinte
minutos. Novamente ele me lembrou que se não me pegasse até lá,
eu venceria. Caso contrário, eu era dele.

Completamente dele.

Então me empurrou para fora da porta e rosnou: — Vá! — A


presa em mim respondeu ao predador nele.

Disparei e estava correndo desde então.

Deixei de ver a casa principal cerca de dez minutos atrás. O


breve vislumbre que tive provou minha suspeita de que era de fato
uma mansão. Três andares de pedra, telhado graciosamente
inclinado, entrada circular com uma fonte cercada de jardins
indicativos de uma deslumbrante paisagem durante os meses
quentes, a casa era o sonho de um amante da arquitetura francesa.

Agora estava nas profundezas da floresta com nada além de


árvores nuas observando minha corrida louca. Folhas rangiam
ruidosamente sob minhas botas. A respiração irregular soltava
ondas de vapor branco. Nunca me considerei descuidada quando
se tratava de condicionamento físico, ainda assim esta corrida
frenética me obrigou a reavaliar minhas crenças.

Parei cambaleando. Descansando a mão numa árvore, casca


áspera arranhando-a, respirei fundo. Embora o fôlego queimasse

239
ao entrar, era tão bom ser capaz de parar. Eu só esperava que
tivesse me afastado de Damian o suficiente para compensar a
pausa.

Olhando para o relógio, vi que restavam apenas quatro


minutos. Olhei ao meu redor. Nada. A confiança me invadiu. Ia
realmente ganhar. Imediatamente senti várias pontadas de
decepção.

Seria muito mais fácil concordar em ficar se não tivesse


escolha.

Congelo.

Damian era um homem brilhante. Assustadoramente


brilhante. Ele realmente sabia que me sentia assim o tempo todo?
Era o motivo de ter planejado tudo? Então eu também perceberia?

Ouvi um ramo estalar ameaçadoramente no espaço irregular


do meu batimento cardíaco e respirar ofegante. Girando, procurei
pela fonte. Nada.

Teria que ser Damian. Ninguém mais está aqui fora, certo?

Deixei a árvore e disparei em alta velocidade. Mal conseguia


ouvir qualquer coisa além do som de minha fuga confusa.
Infelizmente, minha mente não podia ser silenciada. O que
começou como uma brincadeira assumiu um cenário mais feio
quando minha imaginação se precipitou em um território mais
sombrio.

240
Assumi que éramos apenas Damian e eu aqui fora. E se não
fosse? Poderia haver caçadores espreitando para matar veados e
me encontrar? E se existissem grandes felinos que não estivessem
satisfeitos comigo vagando pelos campos de caça? Ursos que
acordei quando tentei aliviar meu pulmão.

Foda-se o barulho! Estou fora!

Em pânico por meus pensamentos, mudei de direção e


ziguezagueei de volta para a casa, em vez de me afastar dela. A
segurança estava lá. Não aqui fora. Nem me importei em verificar
o relógio ou qualquer outra coisa. Apenas me concentrei em colocar
um pé na frente do outro e levar meu rabo de volta.

Foi quando Damian saiu de trás de uma árvore.

241
Capítulo 39
Damian
Risa teria me atropelado se não a agarrasse primeiro. Ela
soltou um grito estridente. Seus olhos estavam vidrados de medo
e estava ofegando tanto que era óbvio que mal podia respirar.

— Risa!

Ela fixou seu olhar em mim. Reconhecimento filtrando. —


Damian?

Antes que pudesse responder pulou em minha direção e se


agarrou a mim. Subiu pelo meu corpo como um macaco adorável
e passou os braços ao redor do meu pescoço.

Senti os tremores sacudindo sua pequena estrutura, tremores


que iam além de sua respiração irregular. — O que houve? O que
aconteceu?

— Eu… eu… estava tão… eu… oh Deus!

Preocupação se apoderou de mim. Não era o resultado


pretendido pelo exercício. Tentei descê-la, ela apertou os quatro
membros em mim com mais força.

242
— Risa, o que aconteceu? — Estudei a floresta ao nosso redor.
Ninguém poderia ter entrado na propriedade sem que o sistema de
segurança me alertasse.

Olhando por cima do meu ombro, lembro-me de ter visto


pedras a cerca de cinquenta metros de distância. Seria um bom
lugar para descansar. E nos proteger, caso necessário.

A violência não afetou minha vida nestas paragens,


entretanto, gerações de violência marcaram profundamente meus
instintos. A arma na minha jaqueta e a outra em meu tornozelo me
traziam um pouco de conforto. Nunca fui a lugar nenhum sem
levar pelo menos uma arma.

A sorte sempre favoreceu os preparados. Meus tutores me


ensinaram desde cedo, chegando até a me treinar para a
possibilidade de sequestro, assalto e tentativas de assassinato
assim que tive idade suficiente para segurar uma arma. Era um
excelente atirador aos nove anos de idade e só me aperfeiçoei desde
então.

Risa se assustou em meus braços. Estendi a mão e desliguei


o alarme do relógio. Risa amoleceu imediatamente contra mim.
Com a consciência intensificada do ambiente, entrei no abrigo das
rochas. Não conseguia ver nada além de árvores nem ouvir
qualquer coisa que não fosse o vento.

Enfiei a mão no bolso e verifiquei meu telefone. Nada


desarmou o sistema e tudo continuava ativo e intacto. Risa e eu
éramos os únicos aqui, exceto pela vida selvagem.

243
Eu me encostei na rocha e acariciei suas costas enquanto ela
repetia em um sussurro, — Estou tão feliz por ter sido você! —
Várias vezes.

Não a pressionei por detalhes. Apenas esperei que se


acalmasse o suficiente para se afastar e olhar para mim. Um
sorriso envergonhado percorreu sua boca deliciosa. — Me
desculpe, eu me assustei.

Não poderia ser tão ruim já que se desculpou. Embora ainda


precisasse saber. — O que aconteceu?

— Ah você sabe. Deixei minha imaginação correr solta.

— Sua imaginação, é? O que sua imaginação fez acontecer?


— Prestei muita atenção em sua resposta apenas no caso de não
ser sua imaginação. A tecnologia, embora ótima, poderia falhar
sabia melhor do que ninguém.

Seus dedos apertaram meus ombros. — Eu ouvi um galho


estalar.

— E depois?

— Então tive a certeza de que um caçador, um leão da


montanha e um urso estavam todos na espreita para me pegar. Se
tivesse mais tempo, teria me convencido de que o Diabo de Jersey
também morava aqui, embora estejamos longe de Jersey.

Eu não pude deixar de sorrir um pouco. Alívio apareceu. —


Tudo na minha floresta, Risa?

244
Ela abaixou a cabeça. — Eu sei. Muito idiota, certo?

— Sua imaginação a coloca em apuros na maioria das vezes,


não concorda? Monstros na minha floresta... eu te dando olhares
de ódio enquanto estou fazendo amor com você... humm. O que
mais inventará? Eu deveria estar com medo da sua imaginação,
Risa.

— Ok, agora você está tirando sarro de mim.

Beijei sua suave boca vermelha muito rapidamente.

— Só um pouco. — Amei o desejo em seu olhar escurecido.


Ela sempre respondeu tão bem a mim. Era viciante ter essa mulher
me querendo do jeito que ela queria.

— Damian?

— Sim, garotinha?

— Você me pegou antes de o alarme disparar.

Aha! O que temos aqui?

Balancei a cabeça, o olhar penetrando em seus olhos


desenterrando todas as suas delicadas e deliciosas emoções. Na
verdade, o desejo de Risa pareceu ficar mais agudo com a minha
leitura.

— Acho que significa que você ganhou.

Ela era tão tímida em sua capitulação. Eu não pude resistir a


provocá-la. — Você acha?

245
— Você ganhou. — Mordeu o lábio carnudo. Desapontamento
coloriu as notas de suas palavras. — Teria ganho se não tivesse
surtado.

O humor fazia cócegas em meus sentidos diante do total


equívoco de sua declaração. — Realmente?

— Sim, com certeza. Você só me alcançou porque estava


correndo de volta para casa.

Sorri. Doce menina. Ela não fazia ideia de que o relógio em


seu pulso indicava sua localização a cada passo do percurso. Risa
nunca ganharia. Manteria o fato apenas para mim, pois era um
cretino neste nível.

— E agora, Damian?

Inclinei minha cabeça. Reconheci o olhar sensual em seus


olhos. As coisas estavam prestes a ficar infinitamente
interessantes.

246
Capítulo 40
Risa
— Então, agora o quê? — Perguntei com mais do que um
pouco de flerte.

Agora que estava realmente segura e verdadeiramente presa,


a liberdade soou através de mim. Eu não precisava me preocupar
com a crueldade de Damian e com minha reação a ela. Não
precisava mais pensar em fugir. Poderia simplesmente me render
e ficar com ele.

Parecia fantástico.

Olhando para o seu rosto de cair o queixo, senti meu corpo


inteiro se derreter por ele. Eu poderia ficar com Damian sem culpa.
Sem medo.

Finalmente entendi que me queria com ele. Ele me amava


como eu o amava.

Euforia. Começou como um formigamento nos dedos das


mãos e dos pés. Então viajou pelos meus membros e pelas minhas

247
veias. Tudo parecia mais leve, como se eu pudesse flutuar se ele
não estivesse me segurando.

Olhei-o com novos olhos. Como não precisava mais ter medo,
podia me concentrar nas partes de nós que sempre existiram.
Damian sempre cuidou de mim. Cozinhou para mim, me despiu,
lavou minhas roupas, leu para mim... todo o seu tempo livre foi
dedicado a mim.

Como não podia ver que era o seu jeito de demonstrar seu
amor?

Meus dedos percorreram as maçãs do rosto salientes antes de


traçar suas sobrancelhas. Seus olhos, Deus, seus olhos! Eu
adorava ser mantida assim, alto o suficiente para ficarmos cara a
cara, só para poder olhar profundamente em seus lindos olhos
singulares.

Céu e inferno. Amor e ódio. Homem e mulher. Tudo no mundo


que eu sempre seria ou precisava está bem aqui com Damian.

Por que sempre tive medo de me abrir como na floresta e


antes, de volta às nossas vidas “reais”? Seria por minha imaginação
não conseguir enxergar algo assim? Tirando o sexo bizarro e os
jogos de dominação que jogávamos tão facilmente quanto respirar,
qual era a verdade escondida por trás de Risa Kelly?

Seria por não conseguir acreditar que um homem tão


brilhante e bonito pudesse amar alguém como eu?

248
Conhecia minhas falhas. Nunca tive um relacionamento que
durasse mais do que alguns encontros. Era normal para mim.
Jantar, filme, sexo. Nem sempre nesta ordem. Adorava estar perto
de homens que me desafiavam, quando o desafio passava eu caía
fora.

Como sempre gostaram mais de mim do que eu deles, ia


embora. Até queria gostar deles, no entanto, não importava quão
agradáveis eles fossem, simplesmente não conseguia sentir nada
mais profundo.

Até Damian Black.

Antes dele era incapaz de manter uma intimidade verdadeira.


Maldição, diria que ainda não sou muito boa no quesito. Recorri
aos velhos hábitos e fugi na noite de sexta porque estava com medo
de ouvi-lo dizer o que eu disse a tantos.

Então Gretchen aconteceu.

Vê-la aos pés dele naquela noite me deixou doente de medo.


Só confirmou o que eu já sabia desde a primeira vez que Damian
pisou no meu escritório. De alguma forma, eu sabia que ele era o
único que teria o poder de romper as paredes que ergui durante
toda a minha vida adulta.

Eu deveria ter corrido. Ao contrário, fui atraída, como uma


mariposa, por sua intensa chama. Totalmente masoquista e
carente por uma migalha de afeto até que entendi, sofri porque
estava lendo a história de forma completamente errada.

249
Agora era diferente.

Poderia me curvar um pouco e confiar em seu amor. Só foi


necessário um sequestro, uma corrente e uma corrida pela floresta.

— Como está seu joelho?

Piscando em confusão, levei alguns minutos para perceber o


que acabou de me perguntar. — Meu joelho? Está bem.

Damian inclinou a cabeça ligeiramente. — Você tem certeza?


Foi um arranhão feio.

— Eu sei. — Sorri. — Mas nem está doendo.

— Se não é o seu joelho, me diga por que parece estar com


dor?

Um dia atrás não responderia a sua pergunta com franqueza


total. Desviaria com um sorriso largo e mudaria de assunto.

— Porque gostaria de ter deixado você me amar desde o


começo.

Surpresa disparou através do seu olhar. Para seu crédito,


Damian não tentou esconder.

— Você finalmente entendeu.

— Exatamente.

Seus braços apertaram minhas coxas.

— Não é fácil para mim — ele começou e parou bruscamente.

250
Como ficou em silêncio por muito tempo perguntei
gentilmente: — O quê?

— Dizer o que sinto. Mostrei meus sentimentos por um longo


tempo e precisava que fosse o suficiente. Agora sei que não era
assim para você. Eu nunca… me senti… deste jeito por ninguém
antes.

Meu coração saltitou de alegria. — Nunca?

— Nunca.

— Nem eu.

Um olhar arrogante surgiu em seus olhos hipnotizantes.

— Eu sei.

— Como você sabe...

Damian me cortou no meio da pergunta. Sua boca esmagou a


minha e beijou todos os pensamentos para longe da minha mente.
Quase instantaneamente estava gemendo alto, empurrando meu
corpo macio contra seu corpo musculoso enquanto me esfregava
nele mais rápido.

Damian enfiou a mão pelo meu cabelo, puxando minha


cabeça para trás para beijar, morder e lamber até a minha
garganta. Minha respiração explodiu no ar frio. A aspereza de suas
carícias imediatamente me levou àquele limite viciante entre prazer
e dor.

251
Gritei seu nome quando seus dentes afundaram na pele
sensível entre o pescoço e o ombro. Damian me empurrou contra
a pedra. Ouvi mais do que senti a aspereza nas minhas costas.
Desejei ter vestido uma saia esvoaçante para que ele pudesse
mergulhar direto em mim.

Damian saqueou minha boca, arrancando-me gemidos


vertiginosos. Eu me contorci contra ele, sussurrando o quanto
queria e precisava dele.

Em vez de me provocar e arrastar minha luxúria para fora


apressadamente me colocou no chão. Minhas pernas tremeram.
Ele se ajoelhou e colocou meu pé em sua coxa. Assisti através de
um olhar semicerrado enquanto, sem esforço, desamarrou o
cadarço de uma das botas e depois e da outra.

Normalmente ele as colocava cuidadosamente, lado a lado,


antes de lentamente puxar minhas calças e dobrá-las. Damian
jogou minhas botas e depois puxou meu jeans. Eu mal saí deles
antes que ele puxasse minha calcinha com força também.

Seu sorriso feroz me fez tremer enquanto ele olhava para o


meu sexo. Suas bochechas se encovaram com fome. Timidamente
abri mais as pernas. Ele não precisava de mais convite.

Meus gemidos baixos viajaram longe no ar calmo. Damian me


abriu com uma das mãos enquanto sua língua me lambia longa e
profundamente, dando atenção especial ao meu clitóris a cada
lambida. Quando tentei levantar minha perna em seu ombro,
bateu na minha coxa com força.

252
— Eu não ordenei que se mexesse.

Seu rosnado brutal quase me levou ao limite. Eu trouxe


minhas mãos em punhos para a minha boca e sofri lindamente os
golpes provocantes e beijos que ele distribuiu em minha boceta.

— Está gostoso?

Ofeguei minha afirmação.

— Diga-me!

Oh Deus! Eu não sabia se poderia colocar em palavras o


quanto era bom sentir sua língua quente passando sobre minha
carne sensível, sentir o arranhar suave da barba por fazer na parte
interna das minhas coxas.

Sua boca desacelerou. Frenética com a possibilidade e ele


parar, balbuciei: — É tão bom!

Ele se afastou, apesar de meu gemido estrangulado. Fitei-o e


vi sua boca molhada com meus sucos. Minhas pernas se
dobraram. Alcançando-o, salpiquei pequenos beijos em seus lábios
implorando: — Por favor, não pare!

Damian riu, obviamente satisfeito com meu entusiasmo. Me


recompensou empurrando um dedo dentro de mim. Balancei
descaradamente contra sua mão, amando seus dedos em meu
clitóris extremamente sensível.

Sem pedir, eu gemi:

253
— Oh Deus, Damian! Não está nem perto de ser suficiente,
ainda assim, é tão bom. Eu só quero gozar de novo e de novo.

Ele não respondeu, introduziu outro dedo juntando-o ao


primeiro. Eu me encostei na rocha e empurrei meus quadris em
sua direção, na esperança de tentá-lo a voltar a me beijar do jeito
que eu amava.

— Diga-me o que você quer, garotinha.

Deveria saber que de alguma forma ele saberia exatamente o


que eu pensava. Para alguém que gostava de mim sendo submissa
a ele, Damian definitivamente gostava de me ouvir expressar
verbalmente. Então, eu fiz.

— Lamba minha boceta até eu gozar! — O pedido saiu com


um ar imperioso.

Sua mão diminuiu e uma carranca se estabeleceu em seu


rosto lindo. Apesar de estar de joelhos, Damian exercia seu
domínio com bastante facilidade. — O que você falou Risa?

Minhas mãos tremiam desamparadamente. — Por favor! Por


favor, lamba minha boceta até eu gozar.

Ele me estudou com os olhos apertados por vários minutos


desconfortáveis. Uma luz sádica entrou em seu olhar. — Muito
bem, garotinha!

Embora ele concordasse que estava no meu limite. Damian


nunca recompensou meu mau comportamento e eu,
definitivamente, errei ao lhe dar ordens.

254
— Você tem dez segundos. Conte-os.

Ah não!

255
Capítulo 41
Damian
Risa fechou os punhos adoráveis. Eu podia ler seus
pensamentos tão claramente quanto podia ver o céu acima.

— Como posso gozar se tiver que contar? Não conseguirei! Se


não conseguir, significa que Damian não me deixará gozar?

Minha resposta seria " provavelmente não”.

Eu era um cretino por ameaçá-la deste jeito. Queria que me


contasse como a fazia se sentir por mim, não tentar me comandar.
Agora ela pagaria o preço.

— Não perca a conta ou vou parar.

Seu gemido me fez sorrir.

— Pronta? — Estoquei meus dedos em aviso. Risa olhou para


baixo, olhos selvagens com desejo e apreensão, assentiu com a
cabeça bruscamente. — Comece!

— Um!

256
Eu puxei seus quadris para mim abrindo-a com minha mão
livre. A fodi com meus dedos lentamente, o tempo todo.

— D-dois!

Soprando na minúscula pérola dura, brinquei com minha


língua ao longo de cada lado antes de pressionar a parte plana da
minha língua na frente. Seu forte estremecimento trouxe alegria ao
meu coração.

— Tre... três!

Acariciei seu clitóris com meus lábios. Passei por eles como
uma pluma de um lado para o outro. Risa soltou um suspiro
estrangulado.

— Qua... quatro!

Deixando seu centro de prazer, esfreguei um lado de sua


boceta de cima para baixo, depois fiz o mesmo do outro lado. Cada
vez que chegava onde meus dedos estavam enterrados, mexia
minha língua em sua entrada. Ela deveria dizer outro número.
Retirei quase totalmente meus dedos em alerta.

— Cinco!

Ela era uma garota tão boa. Infelizmente, eu teria que começar
tudo de novo. Soprei em seu clitóris e Risa choramingou alto. Não
pude deixar de sorrir ao som feminino de angústia.

— Seis!

257
Minha língua prestou especial atenção à sua doce joia,
lambendo-a delicada e rapidamente. Suas coxas se apertaram e
sua barriga lisa estremeceu de tensão. Não pude evitar. Passei a
palma da minha mão sobre seu estômago, desfrutando
completamente de seu sobressalto assim que toquei.

— S... sete!

Ela praticamente engasgou com o número. Meu sorriso era


realmente perverso. Adorava negar seu prazer simplesmente por
ela não ter a astúcia de esconder de mim. O mesmo acontecia ao
provocá-la fora da cama. Metade da minha diversão era ver seus
olhos brilharem de irritação e sua boca se curvar em um beicinho
adorável.

Entretanto a hora da provocação chegou ao fim.

Franzi meus lábios em torno de seu clitóris e chupei


ritmicamente, do jeito que a fazia se desintegrar todas as vezes.

— Oh Porra! Oito! Sim... por favor, não pare, Damian!

Trabalhei minha mão com mais força, sentindo-a apertar seus


músculos em resposta. Não lhe restava muito tempo. Precisava
fazê-la gozar antes que tivesse a chance de passar dos dez.

— Ah... nove!

Balançando a língua em seus lábios carnudos e inchados, a


lambi profundamente. Seu sabor era tão bom que eu queria tomar
meu tempo e saboreá-la corretamente. Pena que teria que fazer só
quando voltássemos para casa.

258
Meu polegar puxou seu capuz delicado, expondo-a totalmente
para mim. Sabendo que ela estava muito perto do limite, só precisei
chicoteá-la com a minha língua algumas vezes.

— Dez! Dez! — Risa empurrou-se e soltou uma longa e gemida


versão do meu nome. Ela esfregou a boceta em meu rosto, alheia a
qualquer coisa exceto o êxtase que lhe proporcionei.

Este era o meu amor. Faria o meu melhor para dar a Risa as
palavras que ela ansiava, no entanto, na verdade, as palavras não
importavam. Ações sim.

Toda a minha existência foi baseada em um milhão de


palavras que eram mentiras habilidosas, começando nas palavras
ditas à minha mãe fazia muito tempo. Ela acreditou nas falsas
palavras de que seu marido, meu pai, era alguém simples que a
amaria e protegeria para sempre.

Ela ainda teria se casado com o homem que era uma força em
ascensão na família Konstantinov se soubesse a verdade, se não
tivesse acreditado em suas palavras bonitas, embora sinceras?
Será que seguiria cegamente aquele adolescente até o beco, ao qual
certamente a levou com palavras falsas, para ser baleada sete
vezes?

Eu não era muito diferente. Usei minhas palavras com tanta


habilidade enquanto odiava o quão cegamente as pessoas aderiam
à sua superfície brilhante. Eu fazia e continuava fazendo, o que
não significa que eu tenha que gostar ou respeitar minha língua de
prata.

259
Somente Risa parecia ter minha versão rude e franca que eu
nem sabia que existia. Não importa.

Eu a amava e era meu dever e prazer dar o que ela precisasse.


Se precisasse das palavras, as daria a ela. Lambendo meus lábios
e provando sua doçura, decidi que ela precisava de todos os meus
vinte e três centímetros bem enterrados nela.

Sem lhe dar tempo para descer de seu êxtase carnal, levantei-
me e levantei a minha garotinha. Eu me virei de modo que minhas
costas ficassem encostadas da rocha. Com suas coxas espalhadas
amplamente sobre meus antebraços, ordenei em seus lábios
macios — leve-me para fora.

Seu olhar de pálpebras pesadas ardia de antecipação. Não


tenho que adivinhar se seu olhar espelhava o meu. Suas mãos
hábeis encontraram meu cinto e soltaram-no rapidamente. Fez o
mesmo com o botão da minha calça. Um áspero desabotoar, um
puxão da minha cueca e estava livre.

— Eu quero você em mim, Damian. Por favor, deixe-me fazer


você se sentir tão bem quanto me fez.

Como eu poderia lhe negar qualquer coisa?

Ciente da arma na minha jaqueta, tive que me certificar de


que não a tocasse acidentalmente. Perguntas que eu não estava
pronto para responder certamente viriam. — Mantenha suas mãos
em meus ombros. Não as mova.

— Sim Damian.

260
Satisfeito com a sua pronta obediência a provoquei colocando
apenas um pouco do meu pau duro antes de me retirar.
Prolongando nossa satisfação mútua, repeti o movimento várias
vezes, indo mais fundo uma fração de centímetro de cada vez.

Foi um inferno glorioso.

Nossos beijos devoradores. Desesperada, ela agarrou meus


ombros. Sua impaciência nunca deixou de me divertir. Eu amava
tantas coisas nesta garota minúscula e frustrada, sua
incapacidade de se controlar era uma das que mais amava.

Era um grande contraste comigo e como vivi a minha vida.

Risa, erroneamente, pensou que precisava ser mais parecida


comigo, mais fria e menos falante e impulsiva. Estava errada. Era
perfeita assim como era, não importa o quanto possa ter me
sentido incomodado no começo.

Os músculos da minha coxa se contraíram enquanto me


segurava para não mergulhar nela tão forte e profundo quanto
podia. Aconteceria mais tarde. Agora tudo o que eu desejava era
desfrutar dela. Me concentrar na delicada sensação de sua carne
macia ao redor do meu pau.

Meus beijos suavizaram. Eu tomei um gosto de sua boca,


trazendo seus suspiros irregulares para mim e dando-os a ela em
troca. Ainda mantive minha lenta pressão para frente. Suas mãos
seguraram minhas bochechas e ela olhou para mim.

261
Hipnotizada, mal piscou. Olhou-me da mesma maneira que
sempre fazia. Seu amor por mim, um amor que provavelmente não
merecia, cintilando tão fortemente desde o nosso primeiro
encontro, quando fui tão brusco com ela.

Ele queimou quando fiz amor com ela pela primeira vez. Ficou
incandescente a primeira vez que a ensinei a se submeter a mim.

Risa não sabia o quanto dava de si mesma toda vez que me


olhava, porém eu ansiava por ele com tanta intensidade quanto ela
ansiava pelo meu olhar de prata e ouro. Para mim, eram os
mesmos olhos que via todos os dias, um aviso biológico para
manter minhas duas metades separadas.

Para ela, eram algo fantástico e sobrenatural.

Talvez nós dois estivéssemos certos.

Sorri e observei enquanto ela se derretia. Não mais satisfeito


com a provocação, empurrei mais fundo só para que pudesse
observar seus olhos enquanto escureciam de felicidade. Este rosto
era só meu, aqueles gemidos pertenciam a mim. A visão era muito
preciosa e eu a guardaria com o zelo de um dragão com seu ouro.

Centímetro por centímetro entrei até que estava


profundamente enterrado nela. Nós dois soltamos gemidos baixos
de satisfação. Fiquei assim, saboreando a proximidade de ser um
antes que eu a enlouquecesse como uma fera.

— Sinto seu batimento cardíaco, Damian.

— Eu sinto o seu.

262
Seu sorriso travesso apareceu. Ela balançou a cabeça
ligeiramente.

— Não. Aqui não. Posso mover minha mão?

Atento e pronto para fazer um comando caso ela chegasse


perto do meu casaco, assenti.

Lentamente ela pressionou sua pequena mão no meu peito.


— Dentro de mim.

Flexionei. — Você quer dizer assim.

— Aí, sim. Desse jeito.

Nosso tempo para falar acabou. Eu a beijei levantando-a mais


alto antes descê-la. Seus braços se enrolaram ao redor do meu
pescoço e pressionou seu corpo no meu com força.

Bom não descreveria. Esplêndido também não. Êxtase pode


ter chegado perto. Sexo sempre foi ótimo entre nós, sua submissão
a mim neste momento era maior do que quando a tive amarrada
aos meus pés, quando bati em sua bunda, ou quando ela brincou
de gatinha por uma noite.

Era diferente porque era para sempre.

Minhas mãos se moveram para sua bunda para que pudesse


trazê-la ainda mais perto. Seu profundo e gutural gemido de
satisfação trouxe um meu em resposta. Eu não duraria muito mais
tempo, não creio que nenhum de nós realmente se importasse. Risa

263
empurrou seus quadris bem torneados contra mim e suas rajadas
de respiração curta me alertaram para seu orgasmo iminente.

— Você está perto? — sussurrei rispidamente.

Ela assentiu, os olhos fechados em concentração.

— Bom. — Apertei seu traseiro delicioso enquanto a


posicionava um pouco mais baixo. A mudança veio imediatamente
dela. Puxou forte e me apertou mais forte em cima e embaixo.

Ela gozou segundos depois. — Oh caramba! Damian, Damian,


oh, eu te amo!

Fechei meus olhos. A felicidade martelou meu coração


endurecido. Eu ouvi as mesmas palavras muitas vezes antes, no
entanto, nunca assim. Nunca de alguém que estava no mesmo
lugar emocional ao mesmo tempo que eu.

Minhas bolas apertaram e meu eixo engrossou. Abri meus


olhos para vê-la me encarando. Seu olhar se afastou ao ser
flagrada.

— Olhe para mim. Eu quero que você me veja enquanto encho


sua boceta com minha porra.

Seus lábios se separaram e suas bochechas coraram com seu


jeito único de constrangimento e excitação. — Ok.

Não era bom o suficiente. — Diga-me, garotinha. Diga-me o


que quero que você faça. — Minha última palavra terminou em um
gemido. Meu estômago contraiu e meus quadris aceleraram.

264
A mão de Risa flexionou na base do meu pescoço. — Você quer
que eu olhe para você enquanto preenche minha bocetinha
apertada com sua deliciosa porra.

Foi por isso que precisei das palavras dela.

Dei a ela um sorriso de lobo e comecei a fazer exatamente o


que falei. Uma vez que terminei de jorrar profundamente dentro
dela, segurei-a beijando-a gentilmente até que nossa respiração
desacelerou voltando ao normal.

— Eu amo você, Risa. — Embora soubesse que ela sentia o


mesmo, ainda era difícil dizer, pretendia repetir tantas vezes que
logo me sentiria confortável.

Ela mordeu o lábio e olhou timidamente para baixo. — Eu


ainda não consigo acreditar.

Puxando-a, perguntei severamente: — Preciso te acorrentar


de novo, garotinha, para fazê-la acreditar?

Risa riu e respondeu com um olhar atrevido, — Pensei que


fosse fazer de qualquer maneira considerando-se que eu perdi?

— Acho que alguém não se importou tanto quanto quis


demonstrar.

— Não, eu importei. Só não me importo mais. — Ela me bicou


na bochecha e sorriu.

Eu me encontrei sorrindo. Risa abaixou a cabeça novamente.


Ela podia ser muito tímida às vezes. Tomara que fosse uma

265
característica que nunca iria embora. Eu me vi alternadamente
querendo protegê-la e atraí-la, apenas para ouvir seus protestos
ultrajados.

Humm, o tempo certo era tudo e não era o momento.

Relutantemente, a coloquei no chão. Sua pele estava fria com


o ar do inverno. Precisava vesti-la novamente e depois nos levar de
volta para casa. Talvez um banho seja a coisa certa para o resto de
nossa tarde?

Assim que a soltei, ela se curvou e me chupou com força em


sua boca macia. Eu me encostei na pedra e cedi às deliciosas
sensações que só ela podia me dar. Risa me limpou completamente
com os lábios e a língua.

— Aí está. Tudo pronto — ela murmurou um longo minuto


depois.

Cortei meu olhar. — Você é uma garota tão suja, não é?

— Sim. Sua garota suja, Damian.

Minha, mesmo.

A puxei para mim e fechei meus braços ao seu redor. Beijei o


topo de sua cabeça e perguntei: — Você me perdoa por este fim de
semana?

Ela demorou a responder. Eu não gostei do nervosismo


apertando meu peito. Risa precisava entender o motivo de ter feito
o que fiz.

266
— Eu te perdoo, Damian. Eu só queria que você pudesse ter
me dito sobre seus sentimentos sem... você sabe.

— Acorrentá-la?

— Sim. Eu gostaria que você pudesse ter feito sem correntes.

Levantei seu queixo e esperei até que tivesse toda a sua


atenção.

— Você teria realmente escutado ou teria fugido porque estava


com medo? Diga a verdade!

Meu comando de aviso a fez fechar a boca. Um brilho culpado


surgiu em seus olhos. — Eu não sei se teria escutado.

— Tenho certeza que não teria. Você teria se fechado


mentalmente ou fugido assim que minhas costas estivessem
viradas. Infelizmente, é o seu jeito.

— Ok, você está certo.

— Sei que estou. Nunca tive dúvidas.

Risa mostrou a língua. Um sorriso travesso se abriu. — Quem


mantém uma corrente assim, Damian?

— Alguém como eu, quando tem alguém como você.

— Então, é apenas a minha corrente?

267
Seu tom indiferente não enganou nenhum de nós. Risa
possuía uma veia ciumenta. Era uma coisa muito boa, de fato, que
eu fosse um monogamista firme ou teríamos sérios problemas.

— A corrente é só para você, garotinha.

— Oh. Fico feliz então.

Balancei minha cabeça mentalmente. De fato, ciumenta.

— Por mais que adore te manter seminua, é hora de


voltarmos.

Um arrepio percorreu seu corpo sedutor como se tivesse


acabado de registrar o quanto estava frio. — Concordo. — Suas
mãos tocaram meu cinto e depois procuraram permissão.

Balancei a cabeça. — Preciso ter minha garotinha vestida


rapidamente antes que pegue um resfriado. — Fazendo o trabalho
rápido de me enfiar de volta na minha calça, peguei sua calcinha.
Uma vez que ela a colocou e as ajustei, pressionei um beijo rápido
em seu sexo. Depois, não perdi tempo em colocar seus jeans, meias
e botas.

— Pronta?

Ela enfiou a mão na minha. Parecia perfeito, como sempre.

Enquanto caminhávamos em silêncio sociável, fiquei


imaginando se e quando deveria abordar o assunto da minha casa
e o resto. Como ela reagiria ao descobrir que eu não era só um

268
diretor de TI e sim o proprietário de sua empresa além de acionista
de outras?

Talvez tivesse sorte e ela apenas presuma que invadi a


mansão?

269
Capítulo 42
Risa
Aproximamo-nos da casa na colina pouco depois de
começarmos a caminhar. Fiquei surpresa por ter chegado tão
longe, considerando o quanto ainda me sentia atordoada pelo
orgasmo fantástico que Damian acabou de me proporcionar.
Surpreendentemente, foi a primeira vez que fiz sexo ao ar livre.
Estou pronta para fazer novamente, contanto que seja em um local
isolado como hoje.

Entretanto, considerando a facilidade com que dou a Damian


tudo o que ele deseja, provavelmente faria na frente de uma
multidão se ele quisesse.

Realmente deveria estar envergonhada de mim mesma.

Nossos pés esmagaram o cascalho enquanto seguíamos para


a porta maciça. Examinei-a mais atentamente, agora que tive a
chance. Era realmente uma casa linda com inúmeras janelas
emolduradas por venezianas pesadas. Arbustos cercavam a
fundação em agrupamentos uniformes e perfeitos.

270
Definitivamente parecia francês, achei estranho considerando
a parte do país na qual estávamos.

Olhei para ele, um pouco insegura do que poderia fazer e como


deveria agir agora que, oficialmente, não estávamos apenas saindo
e sim num relacionamento. Tudo era novo para mim porque nunca
cheguei tão longe com mais ninguém. Não conhecia as regras e, já
que Damian era cheio delas, precisava saber onde estava.

Ainda assim, nunca saberia se não tentasse. Sempre foi meu


lema. Além do mais, uma coisa era ser submissa, outra era ser
passiva. Fui passiva por muito tempo.

— Damian?

Ele soltou um pequeno zumbido.

— A quem realmente pertence esta casa?

— Eu já respondi.

— Sim, mas, convenhamos. Pertence ao seu pai ou a alguém


de sua família? Talvez um amigo?

— É tão difícil acreditar que seja minha, garotinha?

Minha barriga vibrou como sempre fazia quando ele me


chamava assim. Eu amava o quanto me fazia sentir adorada e
especial.

— Bem, sim. Eu sei que você ganha um bom dinheiro no seu


trabalho, mas não tão tanto assim.

271
Damian parou. Seu tom caiu em vários graus.

— Como sabe meu salário, Risa? Julie foi muito acessível com
as informações das pessoas? Informações pessoais dos
funcionários?

— Claro que não! É só que a menos que estejam te pagando


milhões de dólares por ano... — Eu me perguntei se o ofendi. Eu
não me importava com o valor de seu salário. Tenho minha própria
carreira e não precisava de seu dinheiro para pagar minhas
despesas.

Seu sorriso foi breve demais.

— Seria demais, não seria? — Damian começou a andar de


novo, puxando-me para que eu me apressasse para acompanhar
seus passos largos.

Não sabia se estava com raiva ou não, todavia, não me


arrependi de perguntar. Apenas lamentei por ele não ter me dado
uma resposta direta.

Só espero que ele não tenha invadido a casa. Odiaria que os


proprietários nos surpreendessem enquanto estávamos rolando na
cama. Não posso nem imaginar ligar para meus pais pedindo para
pagar a fiança.

— Mãe? Papai? Ei! Vocês podem livrar a mim e ao meu


namorado da cadeia? O que nós fizemos? Uh... arrombamento e
invasão. Alô? Mãe? Pai?

272
Ele destrancou a porta da frente. Dei uma olhada nas chaves
em sua mão e as reconheci como as que sempre carregava. O que
significava…

Damian estava dizendo a verdade?

Ok. Olhei ao redor com novos olhos. Vestíbulo espaçoso,


escadaria ampla uma decoração cara e de bom gosto, não o tipo
que se encontra em uma grande loja de departamentos.

Ele sentiu minha necessidade de estudar o ambiente. Ou isso


ou o fato de eu ter parado de andar o alertou. Soltou minha mão.
Olhando por cima do meu ombro, esperei suas instruções. Ele
balançou a cabeça e esperou com as mãos nos bolsos do casaco.

Hesitante, embora cheia de curiosidade, andei pelo primeiro


andar. Damian me seguiu, não muito longe, nem muito perto.
Silenciosamente, entrei na sala de estar. Ou deveria ser chamada
de salão?

Seja qual for nome oficial, a sala era decorada em amarelo,


azul e branco, com toques dourados espalhados por toda parte.
Molduras requintadas ancoravam o teto alto e as cortinas cobriam
o chão como só seda pesada podia. Procurei por fotos pessoais,
qualquer coisa que desse uma dica sobre Damian e a vida que eu
não conhecia.

Saí daquele cômodo e lentamente explorei alguns dos outros.


Todos pareciam servir a um propósito: sala de música, terraço, sala
de jantar, cozinha. Cada cômodo complementava o anterior em cor
e design.

273
Finalmente voltei a onde começamos.

— Sua casa é linda.

— Obrigado.

— Sinto muito por ter quebrado uma de suas janelas.

Um pequeno sorriso e depois — eu não sinto.

Não sabia mais o que dizer, então esperei que preenchesse a


lacuna. Nunca um tagarela, ele não pareceu se importar com o
crescente silêncio. Limpei minha garganta.

— Então, existe algo que você gostaria de compartilhar


comigo?

— Não.

Um pequeno suspiro me escapou. Obviamente não queria


satisfazer minha curiosidade. Se quisesse me dizer, diria. Se não
fizesse era porque não queria. Era tudo ridiculamente simples em
sua mente, mesmo que fosse inconveniente para mim.

Apenas tranquilize minha mente dizendo que você não é algum


tipo de criminoso.

Minha irritação sumiu tão rapidamente quanto apareceu.

Sabia da personalidade do meu amante, ainda assim o amava


e gostava de estar com ele sempre que podia. Que diferença
realmente fazia como ele conseguiu a casa, se fosse realmente dele?

274
Ele me diria quando estivesse pronto e ponto final.

— Ok. O que você quer fazer?

— Você realmente precisa perguntar? — Seu olhar intenso


não deixou nenhuma dúvida sobre o que estava em sua mente.

Dei um passo para trás até que alcancei a escada. — Creio


que não.

Não esperei que respondesse. Me virei e subi as escadas


correndo. Quando ele me alcançou em segundos, tenho certeza que
minha risada ecoou por toda a casa.

275
Capítulo 43
Risa
Passamos o resto do dia na cama. Foi intenso, glorioso e me
mostrou o quanto estive perdendo. Damian ainda era Damian,
ríspido com suas palavras e vigilante como sempre, mas havia
ternura permeando tudo o que ele fazia.

Não quando ele me disciplinava, é claro, depois. Damian me


abraçava, enxugando gentilmente minhas lágrimas toda vez que
ficava oprimida pelas minhas emoções rebeldes.

E quando digo que passamos na cama, foi basicamente o que


fizemos. Só saímos para comer, tomar banho ou quando precisou
trabalhar. Mesmo assim, me queria com ele. Enroscada em uma
cadeira, passei mais tempo observando-o do que lendo meu livro.

Domingo se transformou em segunda-feira. Acordei cedo,


incapaz de dormir e nervosa com a ideia de não ligar para o
trabalho. Embora tenha tentado tirar o pensamento da minha
mente, não consegui. Comecei a sair de debaixo de seu braço, ele
me parou.

276
— O que você está fazendo? Durma novamente. — Ele beijou
o topo da minha cabeça e esfregou círculos suaves em minha coxa.

Eu me deitei, aquecendo-me sob seu toque suave, então


sussurrei: — Existe um telefone que eu possa usar?

Damian abriu um olho sonolento. Ele brilhava como ouro


polido nas sombras do amanhecer.

— Por quê?

— Quero ligar avisando que não irei ao trabalho hoje.

Damian fechou os olhos e abafou um bocejo. —


Completamente desnecessário.

— Não direi nada sobre nós, ou o que aconteceu neste fim de


semana.

— Sei que não.

— Tudo bem então. Só preciso...

Damian me puxou para mais perto dele e me calou.

— Está tudo resolvido, Risa. Volte a dormir

— Como?

— Apenas está.

Até tentei esquecer. Um minuto ou mais se passou antes que


sussurrasse seu nome. Uma vez. Duas vezes. Damian gemeu alto

277
irritado. Gritei e tentei sair da cama. Ele me segurou pelo tornozelo,
deixando-me em uma posição bastante vulnerável.

— Você obviamente me queria acordado. Estou acordado.

Tentei me libertar dele. Damian apertou mais até que eu parei.

— Sinto muito por ter te acordado. Você pode voltar para a


cama. — Ele resmungou tão irritado que não pude deixar de rir.
Engoli em seco quando vi seu rosto descontente.

— É tão engraçado você nos acordar quando fomos dormir há


apenas duas horas. Meu senso de humor deve estar desligado.

Ou inexistente.

— Bem, ok, talvez não seja tão engraçado.

A grande mão de Damian aterrissou com força em meu


traseiro nu.

— Eu concordo. — Ele me bateu de novo. Já estava dolorida


com nossa brincadeira anterior, então não foi preciso muito esforço
para eu gritar. — Não é nada engraçado.

— Nem um pouco?

— Não. — Ele me bateu novamente e desta vez meu grito foi


muito mais alto. Damian sorriu. — Você quer outro ou prefere se
aconchegar a mim e dormir?

Obviamente, existia apenas uma resposta correta. Até mesmo


um masoquista precisava de uma pausa de vez em quando.

278
Infelizmente, também era teimosa. Uma grande característica
no ramo de vendas, nem tão grande quando se tratava de me
manter fora de problemas, como estava para descobrir mais cedo
ou mais tarde.

Quando me esgueirei para procurar um telefone naquela


tarde, Damian imediatamente me encontrou.

— O que você está fazendo?

Para um homem tão grande, ele tinha passos leves como um


gato. Sequer o ouvi entrando. Me afastei da mesa, sem dúvida
parecendo culpada. — Eu - eu...

— Você não estava procurando por isto, não é? — Damian


levantou o celular.

— Talvez.

Ele guardou o telefone no bolso e entrou no quarto. — Risa,


Risa. O que farei com você?

— Ninguém falou que você precisa fazer alguma coisa.


Realmente. — Meu sorriso brilhante, aquele que fechou acordo
após acordo para mim, não fez nada amansá-lo. Saco!

Reconhecendo a natureza predadora de seu caminhar,


coloquei a mesa entre nós. Rapidamente ele a contornou. Eu corri
para o outro lado. Ele rosnou meu nome em advertência. Segurei
minhas mãos em súplica.

— Apenas uma ligação. Serei breve.

279
Damian não respondeu. Ele deu um passo para a esquerda,
dei outro para a direita. Quando circulamos a mesa duas vezes, ele
disse: — Podemos continuar o dia todo, entretanto, você sabe que
te pegarei. Quanto mais demorar...

Não havia dúvidas sobre o que viria a seguir. Enquanto eu


amava a aspereza do nosso jogo, especialmente quando Damian
me pegava pelo pescoço enquanto estocava em mim, realmente
precisava fazer a ligação.

— Um minuto, Damian. Apenas um.

— Não é algo aberto a negociação. Você já deveria saber.

— Você está sendo irracional.

Seu olhar completamente congelado. Ok, não foi a minha


melhor jogada.

— Bom, é verdade!

— Risa, pensei que você confiasse em mim. — Damian fingiu


ir para a direita antes de se mover para a esquerda. Mal evitei ser
pega. Meu coração disparou. Suas palavras me machucaram
porque pude ver que o estava machucando.

— Eu confio em você.

— Então por quê?

— Porque me preocupo com o meu trabalho. Não me coloque


numa posição na qual preocupar com meu trabalho significa que
não me importo com você.

280
Damian congelou no lugar. Algo semelhante ao choque
moldou suas feições. Aproveitei a chance e corri para a porta. Seus
passos trovejaram pela sala. Ele me pegou e carregou para fora de
seu escritório voltando para o andar de cima, apesar dos meus
protestos.

— Risa, não é o que desejo que você sinta.

— É o que sinto.

— Por quê? Já não falei para não se preocupar?

— Eu sei, porém...

— Não. Faça o que falei. Compreendeu?

— Não, eu não entendo! Como você pode trabalhar e eu sequer


posso avisar? E se for demitida?

Mantive minhas queixas verbais, mas meu corpo ainda


parado. Não queria que, acidentalmente, caíssemos escada abaixo
e quebrássemos nossos pescoços.

— Você não será.

— Você tem certeza de que não serei, sem me explicar o motivo


de tanta convicção.

Damian parou no meio da escada. Então praguejou baixinho.

— Você precisa das palavras.

— Sim, eu preciso das palavras.

281
— Tudo bem, não esqueça. Foi você que pediu.

— O quê? — Ele não me respondeu. Apenas continuou


caminhando em direção ao seu quarto. — Damian, o quê?

Ele cuidadosamente me colocou na cama.

— Não se mova. — Quando me mexi, ele parou e se virou de


novo. — Nem um centímetro, Risa, ou a acorrentarei novamente.

Eu fiquei quietinha no lugar.

282
Capítulo 44
Damian
Saí do quarto e parei no corredor. O momento chegou e não
sabia o que dizer. Sabia com certeza que não contaria a ela sobre
minhas verdadeiras origens como Konstantinov, ainda assim no
que diz respeito ao resto? Como começar?

Desconforto. Senti e não gostei.

Podia imaginar que sua reação não seria de alegria por ter
conseguido um bilionário sem nem mesmo tentar. Não. Ela
presumiria que menti porque nunca planejei ficar em sua vida por
muito tempo.

Pensaria que eu a usei.

Não poderia culpar sua lógica. Se fosse o contrário, acreditaria


na mesma coisa. Não importaria que estivesse contando, pois só
assumiria que contei por causa do que fiz a ela neste fim de
semana. Talvez tomasse como um aviso sutil para não ir à polícia
porque meu dinheiro me tornava intocável.

283
O que seria uma conclusão fácil considerando-se que não
permiti que usasse o telefone.

A verdade é que não temia que Risa fosse pedir ajuda. Temia
o que ela ouviria quando seu supervisor explicasse que já sabia de
sua ausência prolongada.

Você fez uma bagunça. Limpe. Simples assim. Torcer as mãos


como uma velha não resolverá nada.

Apertando meus dentes, respirei fundo várias vezes até me


acalmar. Decisão tomada, entrei no quarto que foi de Risa e peguei
a corrente descartada.

Você não podia criar o hábito acorrentá-la toda vez que precisar
dizer algo do qual ela não gostará.

Talvez fosse verdade. No entanto, precisava abrir uma exceção


desta vez, Risa era uma fugitiva e, quando contasse a ela o que eu
precisava, provavelmente tentaria escapar.

Quando voltei para o quarto, Risa se surpreendeu


visivelmente com o que estava em minhas mãos.

— De novo? É realmente necessário? Pensei que tivéssemos


resolvido esse tipo de coisa.

Não ouvi raiva ou medo em seu tom. Apenas curiosidade e um


pouco de pesar. Talvez não fosse tão ruim quanto previ.

— Perdoe-me, você entenderá em poucos minutos a minha


necessidade de tomar tal precaução.

284
Seu rosto empalideceu. Um sorriso trêmulo e depois: — Você
nunca pediu perdão antes. Deve ser muito ruim.

Não podia confortá-la, então nem tentei. Tirei suas botas,


desejando que fosse pelo mesmo motivo da última vez. Mantendo
suas meias, fechei as algemas sobre o tornozelo. A culpa me
atingiu. Risa não lidaria bem com minha atitude.

Assim que coloquei a outra ponta da corrente na cama, dei


vários passos para trás. Passei a mão pelo meu cabelo e, quando
percebi o que fiz, deixei meu braço cair. Não seria fácil, então era
melhor começar.

— Risa.

— Sim?

Olhar para seu lindo rosto tornou mais difícil continuar. Seria
melhor manter meu olhar em outro lugar. De repente, lembrei-me
de como aquela era a postura favorita de Risa toda vez que se
aproximava de mim depois da minha primeira rejeição. Minha
simpatia por ela cresceu. Encará-la não era fácil.

— Risa, possuo esta casa porque paguei por ela. Eu não


herdei e não foi dada a mim. Também não ganhei na loteria.

— Ok. Você fez alguns investimentos realmente bons?

Um sorriso sem humor passou pela minha boca. Claro, ela


verbalizou a única coisa que não fiz.

285
— Não. Não foi o que fiz. Sou dono desta casa porque também
sou dono de sua empresa.

O ar saiu da sala. Eu a olhei de relance e vi seus olhos


arregalados de choque e descrença.

— Você é o dono?

— Sim.

— Não é apenas o diretor de TI?

— Não. — Comecei, precisava terminar. — Sua empresa é


apenas uma entre as muitas que possuo.

Ela balançou a cabeça lentamente, os olhos fixos em mim. —


Existem outras?

— Mais de cem.

Os ombros de Risa se curvaram. — Sério?

— Sim. — Eu a encarei completamente. Ela estava prestes a


explodir.

— Como? Por quê?

— Eu visito várias empresas todos os anos. Diferentes. Entro


como um funcionário regular para que possa realmente ver como
os trabalhos estão sendo executadas. Partindo daí volto para
minha sede e implemento as mudanças necessárias.

— Sede? Você quer dizer, não aqui? Não neste estado?

286
— Exatamente.

Risa se afastou de mim. Levantou as pernas e apoiou o queixo


no joelho. Sua voz, embora suave, permaneceu clara.

— Alguém sabe no trabalho?

— Apenas o Diretor Executivo e o Diretor Financeiro.

— Julie sabe?

— Não.

— Eu entendo. — Ela ainda não olhou para mim. — O antigo


diretor da TI realmente foi demitido ou voltará?

— Foi demitido.

— Oh. Agora entendi. Você escolheu agir assim para poder


espionar mais facilmente. Você tem acesso a toda a nossa rede e
pode ler tudo o que aparece. Nossos hábitos de navegação, quanto
tempo gastamos em e-mails, tudo.

Eu me senti ofendido com uma palavra em particular.

— É minha companhia. Não estou espionando.

— Sim. Você usa o que encontra contra as pessoas. Você os


culpará por serem humanos, por ter uma vida fora de suas
empresas. As pessoas têm o direito de ter tempo para se divertir,
no trabalho, para serem algo diferente de drones corporativos. Não
podemos trabalhar sem parar, Damian. Precisamos de uma certa
liberdade.

287
Risa parou abruptamente. Ela pegou a corrente e soltou.

— Espera. Você provavelmente não entende, não é?

O quê? Como o assunto se transformou em uma discussão


sobre ética nos negócios? E por que nós estávamos voltando aos
meus métodos para mantê-la comigo? Nós vimos os respectivos
lados. O fato de ter funcionado provou que meus métodos estavam
corretos.

— Preciso te lembrar que você perdeu? Você concordou em


usar a corrente se eu quisesse.

Ela levantou o queixo.

— Não estou brigando com você.

— Minha presença aqui não é para espionar quanto tempo os


funcionários navegam na rede ou se os recursos de minha empresa
estão sendo usados para assistir a filmes online. Contanto que a
produção permaneça eficiente e está, seus métodos coletivos são
seus.

— Oh! Então por que veio?

— Para garantir que a cultura da empresa não seja uma que


me fará ser multado daqui até a eternidade. Para me certificar de
que os diretores não estão apenas me dizendo o que pensam que
desejo ouvir. Para saber a verdade.

Risa não respondeu imediatamente. Desenhou círculos na


cama com o dedo anelar. — Por quanto tempo pretendia ficar?

288
— Já terminei.

Minha resposta chamou sua atenção. Ela levantou a cabeça.

— O que você quer dizer?

— Sei tudo o que precisava e minha tarefa acabou.

— Bem assim.

Balancei a cabeça. Meu pescoço arrepiou. Sua raiva surgiria


a qualquer momento agora. Suas recriminações seriam difíceis de
subjugar, especialmente considerando como este fim de semana
progrediu.

— Foi o motivo de você não permitir que eu ligasse hoje? Por


que já sabem e alguém me diria?

— Ninguém sabe. Só pensarão que eu era temporário.

— É a sua história?

Balancei a cabeça.

— E quanto a mim? — Ela engoliu em seco. — Serei demitida


por me envolver com você?

— Estamos mais do que envolvidos, Risa. — Meu sorriso


sugestivo não pareceu ajudar em nada para acalmá-la. Na verdade,
seu olhar estreitou e os primeiros sinais de raiva surgiram em sua
expressão.

— Você trabalha disfarçado várias vezes por ano, certo?

289
Tive a sensação de que não gostaria do que aconteceria depois
que eu respondesse.

290
Capítulo 45
Risa
— Correto.

Como Damian conseguiu parecer tão frio e impessoal? A


mágoa se misturava com a raiva, quanto mais o olhava. Agora
entendia o motivo de ele ter me acorrentado outra vez. Se pensava
que seria o suficiente para me impedir de bater nele, estava
enganado.

— Então, você estava planejando me contar ou eu descobriria


quando você desaparecesse?

Sua boca deliciosa se apertou.

— Não teria me envolvido com você se não planejasse te


contar.

Um pensamento terrível trovejou através de mim. De repente


me senti mal.

— Quantas vezes você se envolveu com funcionárias,


Damian? Em todas as empresas? É assim que você passa o tempo

291
quando se mistura aos pobres mortais? Seduz uma garota e bate
nela?

Ele deu um passo em minha direção. Recuei na cama e


levantei a mão.

— Não se aproxime!

Como sempre ele não escutou.

Me puxou para o seu colo, mesmo eu lutando o tempo todo.


Suas grandes mãos seguraram meu rosto, forçando-me a olhá-lo,
mesmo que eu não quisesse.

— Eu nunca fiz antes, Risa.

— Oh Deus. Gretchen. Foi assim que você a conheceu?

Damian me deu uma sacudida de cabeça enérgica.

— Não.

— Como foi então?

— Não através do trabalho.

Mais uma vez, Damian se esquivou da minha pergunta. Algo


que já fez tantas vezes que era normal, entretanto, agora, tendo
conhecimento de quem ele era...

Deus. Ele não era simplesmente um cara comum. Não era


alguém com quem eu poderia realmente viver a vida, Damian Black
não existia...

292
— Seu nome é realmente Damian Black?

A culpa queimava metálico brilhante em seus olhos


maravilhosamente diferentes.

Meu estômago embrulhou. — É ou não é?

— Não completamente. Sou Damian Black-Price.

Respirei agitadamente. Tudo se encaixou. Lembrei-me do


distinto logotipo preto e prateado da orientação de alguns anos
atrás. Não dei muita atenção na época, se soubesse o que sei
agora...

— A Black-Price Holdings pertence a você.

— Sim. — Damian beijou minha bochecha. — Como eu sou


seu, Risa. Já te disse. Eu te amo.

As coisas estavam indo rápido demais. Uma dor de cabeça


abriu caminho para o primeiro plano. Lembrei-me de como Damian
não gostou que eu insistisse em ligar para o trabalho.

Não queria que eu soubesse.

Falei para ele que confirmou dizendo: — Não, eu não queria


compartilhar ainda.

— Por que não?

A ternura em seu olhar fez meus olhos se encherem de


lágrimas. Era o olhar de adoração completa, de alguém totalmente

293
apaixonado. Damian me soltou o suficiente para passar as costas
de seus dedos pelas minhas bochechas.

— Porque não queria sobrecarregá-la ainda mais. Eu sei que


este fim de semana foi mais do que estressante para você estava
tentando poupá-la.

Um riso agudo irrompeu da minha garganta.

— Corrente versus verdade e você crê que a corrente seja mais


fácil.

Suas sobrancelhas se franziram profundamente.


Aparentemente, meu amor não encontrou humor nas minhas
palavras. Ele disse meu nome em censura. Sua dignidade ofendida,
murmurou rigidamente:

— Eu tentei o meu melhor. Lamento que não tenha sido o


bastante.

— Damian… sério. Não pedirei desculpas pelo que falei.

— Não espero que peça. E não estou pedindo que se desculpe.

Suas mãos deixaram meu rosto. Eu senti falta do seu toque


desesperadamente.

— Por que me contou?

— Porque... porque você precisava saber.

— Por quê?

294
Seu olhar sério pousou em mim.

— Palavras de novo, Risa?

— Sim. Palavras outra vez.

Ele suspirou, aparentemente incomodado pela minha


necessidade de clareza verbal.

— Porque eu quero meu para sempre com você.

Meu coração pulou na minha garganta.

— Para sempre?

— Sim.

— Você não está exagerando?

— Não.

Silêncio.

Finalmente, depois que o silêncio se arrastou, eu não aguentei


mais.

— Você está me pedindo para...

Seu telefone tocou. O toque interrompeu a pergunta mais


importante de todas que já fiz. Damian o retirou do bolso, olhando
feio para o aparelho por ter nos interrompido.

A expressão irritada em seu rosto mudou. Olhou para mim


brevemente, seu olhar opaco e impenetrável.

295
— Com licença. Preciso atender a ligação.

Ele se levantou e saiu da sala sem outra palavra.

Minha boca se abriu em surpresa. O que poderia ser mais


importante do que o que estávamos prestes a dizer?

Oh meu Deus! Ele estava prestes a me pedir em casamento?


Era o que pretendia?

Não. Não poderia ser. Eu só podia estar alucinando. Nós


ficamos juntos por apenas um mês e acabamos de dizer — eu te
amo. — Não era possível que Damian estivesse pronto para um
compromisso tão rápido.

Especialmente se ele fosse o bilionário que declarou ser.


Provavelmente namorou as mulheres mais lindas do mundo. Era
quase impossível que quisesse se estabelecer, ainda mais com uma
gestora de contas.

Não importa quanto dinheiro ela ganhe com seu trabalho.

Bati levemente nas minhas bochechas. Tive que puxar meus


pensamentos do devaneio e me acalmar.

Mais fácil falar do que fazer.

A porta se abriu e Damian entrou. Seu rosto era uma máscara


bonita e inexpressiva. Parecia vivo apenas pelos movimentos mais
simples.

— Está tudo bem?

296
Ele flexionou o maxilar rapidamente.

— Vou te pedir um favor, Risa.

— Qualquer coisa. — Corri para o final da cama, os adoráveis


pensamentos de estar casada com este homem amado
temporariamente esquecidos. — O que você precisa?

Guardou o telefone e sentou-se ao meu lado, segurando


minhas duas mãos nas dele.

— Precisarei te deixar sozinha pelas próximas horas.

O nervosismo contorceu minha barriga.

— Ok. Tudo bem. Você me deixará a chave para que eu possa


me libertar se algo acontecer?

Damian piscou, obviamente sem entender o que estava


perguntando a ele.

— A chave. Claro. — Ele expirou brevemente. — Não. Não há


necessidade. Não te deixarei trancada.

Assisti enquanto pegava a chave e abria minha algema. Por


mais estranho que pareça, já sentia falta do peso, agora que sabia
o que significava para ele.

— Voltarei tarde. Temo que você tenha que fazer seu próprio
jantar. Consegue administrar ou devo providenciar que uma
refeição seja trazida até você?

297
Sorri e provoquei: — Eu só cozinho para mim desde que era
adolescente. Tenho certeza de que me sairei bem.

Levou um momento para minha brincadeira ser registrada. —


Ah. Claro.

Me movi até que consegui subir em seu colo. Abracei-o e


coloquei minha cabeça sobre seu coração. A batida constante me
acalmou.

— Estarei aqui quando você voltar. — Beijei o local sobre seu


coração. — Espero que esteja tudo bem e, se não estiver, espero
que tudo corra bem. Eu também espero que você possa me contar
o que aconteceu, se você não puder, entenderei.

— Obrigado. — Ele acariciou minhas costas. — Você é a


garota mais meiga que já conheci.

— Tenho meus momentos.

Ele finalmente sorriu. — Assim como eu?

— Como você.

Nossas bocas se encontraram em um beijo cheio de amor e


adoração. Ele recuou um longo minuto depois.

— Estarei de volta à noite, Risa.

— Ok.

Ele tossiu.

298
— Além disso, haverá algo diferente na propriedade.

Eu parei. — O que seria?

— Seguranças.

— Uh, Damian. Por que precisaria?

— Faz parte do meu mundo. Às vezes. Você não os verá e eles


irão embora quando eu voltar.

Meus sentimentos vertiginosos por ele esfriaram quando uma


suspeita criou raízes.

— Eles estão aqui para se certificar de que eu não fuja?

— Absolutamente não.

Sua veemência garantiu que eu acreditasse nele. — Tudo


bem.

Sua boca se apertou da maneira que se tornou muito familiar


quando me dizia coisas que eu realmente não queria saber.

— Risa, eles não estão aqui para garantir que você não escape,
mas gostaria que ficasse dentro de casa até eu voltar. Por favor.

Houve compreensão e depois entendimento cego.

— Damian, o que está acontecendo?

Ele franziu a testa por um segundo antes de dizer.

299
— Não posso explicar. Não agora. Promete fazer o que eu pedi?
Ou precisa de um encorajamento?

Não foi dito para ser uma ameaça e sim uma sedução. Em
outras circunstâncias, com certeza, teria aceitado.

— Não. Farei o que você pediu.

A tensão em seus ombros diminuiu.

— Você é uma garotinha tão boa! Eu te amo mais do que


nunca por ser assim.

Me remexi em seu colo. Tal tipo de elogio não estava fazendo


muito para me manter boazinha. Me fez desejar que Damian fizesse
coisas ruins comigo.

— Sim e poderá me mostrar quão boa sou com tentações em


abundância, quando você voltar.

Damian espalmou minha testa. — Garota mandona.

— Sua garota mandona?

A ternura suavizou seu olhar novamente.

— Sim, minha garota. Minha garota perfeita. A única para


mim.

300
Capítulo 46
Damian
Pouco antes de tudo ficar ainda mais sombrio, lembrei-me da
minha conversa com Gretchen sobre Risa.

— Eu a quero. Completamente. Quero quebrá-la, corrigir suas


imperfeições e transformá-la em quem eu sei que ela pode ser.

Quanta arrogância.

Agora era tarde demais. Não ouviria mais sua risada, nem a
pegaria no colo levando-a para onde quisesse porque me agradava.
Esse tempo acabou e mesmo assim não me arrependo.

Faria tudo outra vez.

Passaria por aquele momento fatídico para vê-la tirar seu


único sapato.

Pegaria aquele pedido de suporte de Malcolm e iria até o


escritório dela e me atreveria a resistir aos seus encantos.

Iria chocá-la com uma conversa depravada e sem sentido no


corredor.

301
Seria o idiota rude de novo, porque, pelo menos, seria
impossível Risa me ignorar ou me confundir com sua inclinação
por homens com impressionantes históricos acadêmicos.

A cortejaria do meu jeito desajeitado recém-descoberto e não


trocaria nada no mundo pelo nervosismo e excitação que senti ao
ir ao nosso primeiro encontro.

Faria amor com ela uma centena de vezes novamente.

A seduziria para me deixar dominá-la sexualmente, tirando


vantagem de seu fascínio por mim para que pudesse fazer o que
quisesse com ela todas as noites.

Cozinharia para ela cem refeições, não importava quão


gordurosas fossem, só para que pudesse vê-la praticamente
derreter de felicidade em sua cadeira.

Eu beijaria suas lágrimas.

Eu a impediria de me deixar.

Eu a drogaria, raptaria e a colocaria em meu avião particular


novamente.

E viveria todas essas coisas indefinidamente com ela.

Com ela.

Para ela.

O arrependimento me atingiu. Eu gostaria de ter mais tempo


com Risa, infelizmente, não era para ser. A umidade se misturou

302
ao sangue. Lágrimas. Embora minha vida estivesse sangrando,
sabia que era apenas outra experiência que tive por causa da
mulher pela qual me apaixonei perdidamente…

Ela estará segura. Pelo menos isto poderia fazer por ela...
Risa...

Uma lembrança final surgiu.

— Ok! Sou toda honestidade, Damian. Com o que devemos


começar? Oh! Que tal começarmos com você sabe de onde vem meu
nome? Sério? Na verdade, é de Star Trek e...

O que ela diria? Por que era tão importante para ela que fosse
a primeira coisa que compartilhou comigo?

Risa...

303
Capítulo 47
Risa
Acompanhei Damian até a porta mais cedo, bem no início do
crepúsculo. Minhas mãos alisaram diligentemente as lapelas de
seu sobretudo, sentindo tristeza por sua partida, especialmente
por algo que, obviamente, lhe causava uma quantidade
significativa de estresse.

— Você pode ir aonde quiser. Não existem portas trancadas


para mantê-la fora desta casa. É tão sua quanto minha.

Suas palavras me encheram de tanta alegria que precisei


morder o interior da minha bochecha para não sorrir como uma
adolescente.

— Nenhuma sala guardando as cabeças de suas esposas


anteriores ou algo horrível assim?

— Embora tenha medo de desapontá-la, garotinha, não sou


Barba Azul. — Damian bateu na ponta do meu nariz e sorriu.

— Droga!

304
— Há muita comida na cozinha. Você pode até fritar um pouco
de frango, se quiser.

Minha comida caseira favorita. Apertei sua mão antes de


trazê-la aos meus lábios.

— Você pensou em tudo, não é?

— Claro. Você será uma boa menina enquanto eu estiver fora,


certo?

— Claro que sim.

Seus lábios se uniram em um pequeno sorriso.

— Não existe “claro” quando se trata de você, Risa. Você tem


imã para atrair problemas.

— Eu. Não. Tenho.

— Sim. Você. Tem.

Franzi meu nariz aflito com um bufo. Estraguei o efeito


olhando para ele e piscando.

Damian me levantou no ar e me girou. Acima dos meus gritos,


gritou: — Vê? Já em apuros.

Rindo, esperei até que ele parasse. — Você está usando sua
altura superior contra mim. Não é justo.

Damian me puxou para perto. Seus lábios pairaram sobre os


meus.

305
— Superior? Não, não penso assim. Acho que sua altura é boa
o bastante. Veja como se encaixa perfeitamente em meus braços.

— Só porque são seus braços. — Preenchi a distância entre


nós e o beijei. Foi carinhoso e doloroso, terminando muito
rapidamente.

Eu amava este homem estranho, complicado, taciturno, lindo


e exótico com todo o meu coração.

Ele me colocou no chão, relutantemente, se a rigidez de seu


queixo fosse uma indicação.

— Voltarei para você esta noite, Risa. Não importa o que


aconteça.

Um calafrio percorreu minha espinha.

— Você diz coisas assim e fico nervosa, Damian. Costumo


fazer coisas estranhas quando fico nervosa.

Ele não correspondeu ao meu sorriso provocador.


Simplesmente jurou: — Eu voltarei.

— Ok.

Olhou para mim um pouco mais antes de dizer: — Adeus!

— Até mais tarde!

— Tranque a porta assim que eu sair.

— Ok.

306
Era tudo doméstico e familiar, mesmo que um pouco rude.
Era Damian. Dificilmente poderia esperar que ele mudasse sua
personalidade agora que declarou seu amor por mim. Verificando
as fechaduras, tentei o meu melhor para me livrar do meu
nervosismo com seu humor extremamente sombrio. Provavelmente
era um negócio ou uma das mil coisas relacionadas a ele.

Tinha que ser. Ele teria me dito se fosse algo sério, não teria?

Dei alguns passos antes de ouvir a porta destrancar.


Rodopiando, fiquei surpresa ao vê-lo entrando novamente. Antes
que eu pudesse fazer uma brincadeira, ele segurou meu rosto com
as mãos.

— Eu te amo, Risa.

Por seu sussurro rouco junto ao seu olhar fervoroso valia a


pena pagar qualquer preço. Colocando minhas mãos sobre as dele,
murmurei: — Eu também te amo. Muito Damian. Mais do que
tudo. Eu te amei desde a primeira vez.

— Eu sei. Eu também. — Ele acariciou minha bochecha


quente com seus lábios. — Obrigado por este fim de semana.

Seu olhar ardeu no meu. Não consegui desviar os olhos. —


Você não tem nada para me agradecer. Eu fui terrível.

— Não, nem perto. — Ele então possuiu minha boca. Sua


língua mergulhou fundo, sensualmente esfregando-se contra a
minha, antes de recuar.

307
Sem fôlego, o alcancei novamente. Damian cedeu e, antes que
eu percebesse, nós, de alguma forma tropeçamos contra uma
parede próxima. Voraz, passei minha mão por seu cabelo e ancorei
minha perna na dele.

A fraqueza em mim queria implorar para que esquecesse a


ligação e ficasse comigo. Não importa o quanto quisesse,
obviamente não era a coisa certa para ele fazer.

Ele precisava ir. Ainda assim, era difícil ser tão razoável
quando só queria que me carregasse para a cama.

Finalmente se libertou. Ele se curvou e apoiou a cabeça no


meu ombro. Eu o abracei com força, sentindo a tensão em todas
as partes de seu corpo. Embora quisesse respeitar seu espaço, não
pude deixar de perguntar: — Damian o que está acontecendo?

Qualquer emoção forte o suficiente para trazê-lo de volta aos


meus braços, infelizmente, se dissipou com a minha pergunta. Ele
se ergueu em toda a sua altura e segurou meu queixo com a mão
firme. — Eu voltarei, Risa. Fique bem.

O segui, incapaz de acenar para ele com medo de que, o que


não estava me dizendo, fosse voltar para nós em grande estilo.

Você está apenas sendo paranoica. Ficará tudo bem.

Foi o que estive repetindo para mim mesma nas últimas seis
horas.

Assisti alguns DVDs na biblioteca, aninhei-me no sofá de


couro com um cobertor aconchegante e fiz o meu melhor para me

308
concentrar na história de amor entre Keira Knightly e seu Sr.
Darcy. Mais tarde, nem mesmo Ryan Gosling em sua clássica
história de amor conseguiu me deixar encantada, embora tenha
chorado no final, como sempre aconteceu.

A escuridão já havia caído há várias horas, mesmo assim,


ainda olhei para fora das janelas, na esperança de ter um
vislumbre dos seguranças. Saber que estavam lá fora, fez eu me
sentir ao mesmo tempo segura e nervosa.

Não por não confiar neles, mas porque sua presença


significava que algo terrivelmente importante, levou Damian e
estava com medo de que não fosse apenas negócios.

Eu me forcei a fazer algo para comer. Meu frango era incrível,


embora as circunstâncias avisassem que seria um desperdício.
Então fiz um pequeno prato com frutas, queijo e biscoitos.
Normalmente não era uma bebedora, encontrei uma garrafa de
rum e decidi que um pouco de bebida alcoólica ajudaria.

Enquanto enchia meu copo ouvi a campainha tocar com


muita urgência.

Congelei, sem saber o que fazer. Era noite, estava sozinha e,


até onde sabia, os seguranças podiam ter sido massacrados pela
coisa da qual estavam me protegendo.

A campainha tocou de novo.

Eu precisava fazer algo. Com o coração preso na garganta, fui


até o balcão e peguei uma faca de açougueiro do suporte. Se eu a

309
usaria em alguém ainda não sabia, no entanto era melhor estar
preparada.

Segurando a faca nas minhas costas, caminhei lentamente


até a entrada, sentindo-me exposta por causa de todas as janelas.
O majestoso portal de vidro e madeira era pela beleza, não para
segurança. De alguma forma, o fato me fez sentir um pouquinho
melhor. Damian não teria tal tipo de porta se não confiasse em seu
entorno. Também não teria me deixado aqui se não confiasse que
eu ficaria bem.

Tinha certeza.

Destrancando a porta, abri o suficiente para ver dois homens


esperando. Ambos estavam vestidos com casacos escuros, gravata
azul-cobalto emolduradas contra camisas brancas parecendo
corretores bem-vestidos, ex-militares ou algo parecido.

— Sim?

— Senhora. Kelly, você deve vir conosco. Agora!

Recuei, buscando um centímetro de segurança de cada vez.


— Eu não entendo.

— Sr. Kon... - Ele parou no meio da conversa quando o outro


homem interrompeu num sussurro soando como uma língua da
Europa Oriental. Ele deu um breve assentimento de cabeça e
começou de novo. — Sr. Black-Price exige que você esteja ao seu
lado.

310
Meu corpo ficou dormente. — Aconteceu alguma coisa com
ele?

O olhar azul gelado do guarda não revelava nada. — Precisa


vir conosco.

— Mas...

— Por favor, Srta. Kelly, não temos muito tempo.

A faca escorregou da minha mão e caiu no chão. Nenhum dos


homens pareceu surpreso com a sua existência ou com o meu
comportamento.

Pisquei empurrando uma onda de lágrimas, pensando em


como faria Damian parecer mal diante de sua equipe pelo meu
descontrole emocional. O pensamento não fazia sentido, porém me
agarrei a ele como havia me agarrado mais cedo.

Damian tinha que estar bem. Ele só precisava...

Agarrei minhas emoções rebeldes e as enfiei em uma pequena


caixa.

— Preciso pegar meu casaco e sapatos. Por favor, esperem.

Os dois deram fortes acenos com o sentido de – urgência –


subi as escadas, corri pelo corredor e invadi meu quarto. Olhei
automaticamente para a janela que destruí, estava parcialmente
tampada e coberta por cortinas pesadas.

Ainda assim, senti o frio se infiltrando, deixando todo o quarto


frio. Tão frio quanto não saber o que aconteceu ao meu Damian.

311
Cautelosamente fui até o armário, consciente de que mesmo
que Damian tivesse limpado o chão, era possível que um fragmento
tivesse ficado. Minhas roupas estavam penduradas no
impressionante armário. Em outra ocasião, teria admirado as
paredes azul-safira, o acabamento dourado e a iluminação
agradável, porém o pânico me manteve concentrada em pegar
minhas coisas e voltar correndo para o andar de baixo.

Eu vi minha bolsa na ilha e rapidamente verifiquei para ter


certeza de que estava com a minha identidade. Abrindo ainda mais,
vi meu passaporte e puxei-o com uma carranca. Damian foi
extremamente meticuloso na preparação para qualquer
eventualidade.

Personalidade do tipo A até o âmago.

Peguei meu casaco e corri para fora do quarto. Estava no meio


do caminho quando uma dor aguda perfurou meu pé e arrancou o
ar de mim. — Droga! — Mancando até uma cadeira próxima, cruzei
a perna sobre o joelho e verifiquei meu pé.

Uma lasca de vidro perfurou minha meia. O sangue fluiu,


pontuando o algodão branco como sangue na neve.

Estremeci, sentindo a força de uma premonição que não


poderia ser negada.

312
Capítulo 48
Damian
Risa

Risa

Risa

Risa

Ri… sa…

Ri…

313
Capítulo 49
Risa
A vista da janela nunca mudou. Era o frio cinza do inverno,
do meu espírito e alegria.

Eu me mexi na cadeira. Minhas pernas estavam dormentes,


não me importei. Apenas me certifiquei de que ainda pudesse
segurar sua mão sem perturbá-lo.

Lá estava novamente. Dor. Um tipo terrível de dor que não


ficava mais fácil a cada vez que eu sentia.

Lágrimas inundaram meus olhos, fazendo as palavras na


página rodopiarem loucamente. Eu as deixei cair como tem
acontecido por dois meses. Eu me atrapalhei com o livro,
colocando-o nas minhas pernas peguei um copo d’água enquanto
segurava sua mão. Então peguei o livro e comecei a ler de onde
parei.

— Ao ouvir outra pessoa…

As palavras eram tanto para mim, quanto para ele. Tentei me


concentrar no agora e não no depois.

314
Agora Damian estava vivo. Embora parecesse morto com um
buraco na cabeça.

Os seguranças, o SUV preto e o trajeto em alta velocidade até


o hospital eram um pesadelo que me visitava todas as noites. Então
fiz o que qualquer pessoa normal faria — mal dormi. Se não
estivesse lendo para Damian, estava falando com ele e, se não
estivesse fazendo nenhum das duas coisas, cantava. Qualquer
coisa para impedir que o silêncio nos engolisse vivos.

A insanidade me tocava cada vez que me perguntava se meu


Damian ainda estava lá, dormindo em algum lugar naquele cérebro
brilhante que levou uma bala e, de alguma forma, conseguiu não
explodir.

Lá estava novamente. Dor.

Agora. Precisava me concentrar apenas no momento.

Não em quando conheci os pais de Damian e as outras


pessoas que o reclamaram com uma ferocidade que beirava a
ameaça de violência fria e metódica. A segurança circulava do lado
de fora, como sempre, guardando meu Damian nesta clínica
particular exclusiva com um fanatismo que me trouxe conforto,
mesmo que não tivesse certeza de que deveria sentir.

A única vez que saí do seu lado foi quando sua mãe me forçou
a ir ao banheiro tomar um banho rápido.

— Quando ele acordar, gostará de ver você com sua melhor


aparência.

315
Embora quisesse rir amargamente e gritar que eu não dava a
mínima para a minha aparência, sempre fazia o que me
mandavam. Apesar de sua impecável aparência, não existia dúvida
de que ela se preocupava com ele tanto quanto eu.

E ela sempre dizia – quando — e não — se. O que me


confortava enquanto ficava sob o chuveiro lavando um corpo que
não parecia mais ser o meu. Sem o seu toque, os ossos apareceram,
no lugar das curvas. Eu sabia que deveria ter me incomodado, no
entanto, não me importei. Era apenas um corpo, um recipiente.

Assim como o corpo na cama que parecia meu Damian, mas


não era ele.

Usava as roupas que ela ou sua assistente me trouxeram.


Caras, criações exclusivas que poderiam ter me dado prazer na
minha vida de antes. Sua mãe comentava toda semana que os
tamanhos estavam ficando menores, eu assentia e dava de ombros.

— Eu sinto muito.

As pessoas vieram e foram. Médicos, enfermeiros e outros.


Balançavam a cabeça em saudação, entretanto reservaram a
maioria de suas breves conversas para Damian ou seus pais, em
russo. Eu me acostumei com a aspereza de sua língua, sentindo
um pouco de falta quando mudavam para um Inglês com forte
sotaque para falar comigo.

O laconismo me lembrou o modo de falar contundente de


Damian. Era um pequeno conforto para se ter num tempo em que
havia pouco com o que se confortar. Eu não sabia exatamente

316
quem eram estas pessoas, amigos íntimos ou funcionários dos pais
de Damian, prometi a mim mesma que aprenderia a falar sua
língua.

Talvez Damian pudesse me ajudar a polir meu sotaque? Se


algum dia ele...

Nunca consegui terminar o pensamento. E assim meus dias


transformaram em um após o outro. Embora a visão nunca
mudasse. Frio, neve, morto e esperando a primavera. Assim como
eu.

Sempre ficava lendo até tarde da noite, ignorando minha


fome, minhas necessidades básicas até que não pudesse aguentar
para depois correr de volta para seu lado.

A ironia do nosso último final de semana não me escapou.


Estava tão zangada por Damian me impedir de fugir dele que
pensei que fosse explodir. No entanto, nada poderia me afastar dele
agora. O que parecia importante então, parecia tão idiota no
momento. Orgulho, sentimentos feridos e a incapacidade de dizer
a ele o que eu realmente sentia — nada disso existia dentro de mim.

Se soubesse o quão rápido ele poderia ser tirado de mim,


nunca teria esperado tanto tempo para lhe dizer que o amava. Teria
me submetido a ele como ele sempre quis e nunca questionaria sua
lealdade para comigo.

Estranho como podia enxergar claramente o que tudo


significava, agora que eu não havia nada além de tempo.

317
Eu não precisava mais de uma corrente física, embora
desejasse uma. Usaria qualquer coisa para manter Damian
trancado ao meu lado e longe da frieza dos bips e blips mecânicos.

— Porque eu quero meu para sempre com você.

As palavras me assombraram. O que viria a seguir? Eu queria


saber. Precisava saber.

Virei a página. As palavras dançaram novamente, estava tudo


bem. Elas endireitariam novamente e eu seguiria em frente. Um
suspiro irregular saiu. Eu balancei a cabeça. Não gostei da frase –
seguir em frente – a retiraria do meu vocabulário.

Abrindo minha boca, tentei falar, outro suspiro saiu. Então


uma tosse. Depois nada.

Olhei para trás pela janela. Frio. Sem vida. Para sempre
inverno.

Eu era a garota esperando seu príncipe acordar. Eu o beijei


várias vezes, suave e castamente, na esperança de trazê-lo de volta
à vida. Nada. Então o tubo chegou e não houve mais beijos. A sala
se distorceu sob o peso das minhas lágrimas que fluíam
rapidamente.

Dois meses. Duas vezes mais do que estivemos juntos.

Não importa o quanto tentasse, não consegui deter as


lágrimas desta vez. Não consegui encontrar minha voz. Não pude
lutar contra o silêncio.

318
Tempo passou. A equipe veio e se foi e nós ficamos.
Silenciosos, sem movimentos. Congelados.

E então o milagre aconteceu.

Caí em um sono profundo e soltei sua mão. O movimento


hesitante, fraco como o de um recém-nascido, me acordou. Fiquei
de pé, o olhar fixo em sua mão, implorando para que fosse real e
não um sonho.

Moveu-se novamente. Meu coração bateu com tanta força no


meu peito que eu podia sentir o som do sangue bombeando pelo
meu corpo.

— Damian?

Seus dedos se contraíram. Não podia ser uma reação


involuntária. Simplesmente não podia. Peguei sua mão, tremendo
com esperança de que hoje fosse finalmente o dia em que ele
cumpriria sua promessa.

Você disse que voltaria para mim, Damian. Você tem que voltar,
você nunca quebrou uma promessa feita para mim. Esta não pode
ser a primeira vez.

Lambi meus lábios e me atrevi a olhar para seu rosto. Seus


olhos estavam abertos. Ele me olhou e piscou. Então tentou se
sentar.

— Oh meu Deus! Espere, já volto. — Não me preocupando em


apertar o botão de chamada, saí correndo do quarto e gritei para a
enfermeira.

319
— Ele está acordado! Ele está acordado!

Pés correram e então eu estava à margem. Não importava.


Damian estava finalmente acordado e deste lado conosco. Mal senti
a pressão das mãos em meus braços enquanto minhas pernas
pareciam ter dificuldade para me segurar. Agradeci ao guarda de
terno e pedi que avisasse a mãe de Damian.

Ela saiu para o almoço ou foi o jantar? Não conseguia me


lembrar. Olhando por cima do meu ombro, vislumbrei o meu
amado e a equipe que estava verificando seus sinais vitais e uma
tonelada de outras coisas que eu conhecia e que, de alguma forma,
escaparam da minha mente.

Olhei para a janela e vi a mesma imagem que vislumbrei por


dois meses. Um sorriso forçou meus músculos faciais relutantes a
responder.

A primavera estava chegando.

320
Capítulo 50
Risa
Alguns dias se passaram. Damian dormia mais do que ficava
acordado, porém era diferente do estado de morte de antes. A
esperança era que tivesse uma recuperação completa, embora um
possível dano neurológico não pudesse ser ignorado.

Não me importei. Nós passaríamos por qualquer coisa. Nunca


o deixaria, não importa o que acontecesse.

Ele falou com os médicos, algumas palavras de cada vez e não


por muito tempo, no entanto, ainda não tinha dito qualquer coisa
para mim. Sorria e olhava para mim muitas vezes. Sempre que me
afastava de seu leito, seu olhar se fixava no meu, intrigado. Eu me
vi tagarelando novamente, assim como fiz no começo sempre que
estava com ele por mais de dez segundos.

Minhas palavras pareciam fazer com que ele sorrisse


fracamente com mais frequência do que não. Embora sentisse falta
de sua voz, era o suficiente. Saber que estava acordado e vivo era
o bastante para mim.

E então tudo implodiu.

321
Estava arrumando seus cobertores, alisando-os do jeito que
me lembrava que gostava quando ele me parou com uma pressão
cuidadosa no meu pulso. Olhando-o com um sorriso questionador,
estava despreparada para suas primeiras palavras dirigidas a mim.

— Quem é você?

— O quê?

Ele virou a cabeça e me estudou de uma maneira tão familiar


e, de repente, tão estranha.

— Desculpe-me. Tenho tentado me lembrar e não consigo.


Não sei quem é você. Foi contratada para me fazer companhia?

Olhei para o seu olhar lindamente incompatível e não me vi


de forma alguma. Era óbvio que fui completamente apagada de sua
mente.

A vida saiu de mim.

Fim
Por Enquanto!

322
AVISO 1
Por favor, não publicar o arquivo do livro em redes sociais ou qualquer
outro meio!

Quer baixar livros do PL? Entre no nosso grupo ou em grupos parceiros


do Telegram, lá você encontrará todos os livros que disponibilizamos e
acompanhará nossos lançamentos!

Postagens dos livros em outros meios podem acarretar problemas ao PL!

Ajude-nos a preservar o grupo!

AVISO 2
Cuidado com comunidades/fóruns que solicitam dinheiro para ler
romances que são feitos e distribuídos gratuitamente!

Nós do PL somos contra e distribuímos livros de forma gratuita, sem


nenhum ganho financeiro, de modo a incentivar a cultura e a divulgar
romances que possivelmente nunca serão publicados no Brasil.

Solicitar dinheiro por romance é crime, pirataria!

Seja esperta (o).

EQUIPE

PEGASUS LANÇAMENTOS

Você também pode gostar